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A TEORIA DO RECONHECIMENTO DE AXEL HONNETH Axel Honneth é um dos mais influentes autores do debate contemporâneo da filosofia social e da teoria política, é uma das figuras mais proeminente da nova geração da Teoria Crítica. A Teoria Crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt, especialmente por Horkheimer e abrangia uma releitura do pensamento de Karl Marx. Esse campo teórico do marxismo tornou-se uma tradição de pensamento que tomou por referência teórica fundamental as formulações de um texto publicado em 1937 por Max Hoerkheimer “ Teoria Tradicional e Teoria Crítica”. Honneth se concentra no campo da Filosofia Social e da Ciência Social, investigando os fundamentos sistemáticos de uma Teoria do Reconhecimento e o desenvolvimento de uma Teoria Crítica da Sociedade por meio de um diálogo com os princípios contemporâneo na Ontologia Social e da Teoria dos Sistemas. Sua teoria foi dividia em dois momentos diferentes: em primeiro momento em fez uma crítica a Habermas, segundo ele a teoria habermasiana não via a centralidade do conflito. Para Honneth limitou-se a alarga o conceito de racionalidade, que criticou em Horkheimer e Adorno, e de ação social. Em segundo momento, ele procura desenvolver sua própria versão de teoria crítica ancorada num processo de construção social de identidade, buscando em autores como Hegel a fundamentação para construção. A partir de uma Teoria do Reconhecimento Honneth desenvolve uma gramática dos conflitos sociais para explicar como o social se estabelece enquanto um lugar

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A TEORIA DO RECONHECIMENTO DE AXEL HONNETH

Axel Honneth é um dos mais influentes autores do

debate contemporâneo da filosofia social e da teoria

política, é uma das figuras mais proeminente da nova

geração da Teoria Crítica. A Teoria Crítica desenvolvida

pela Escola de Frankfurt, especialmente por Horkheimer e

abrangia uma releitura do pensamento de Karl Marx. Esse

campo teórico do marxismo tornou-se uma tradição de

pensamento que tomou por referência teórica fundamental as

formulações de um texto publicado em 1937 por Max

Hoerkheimer “ Teoria Tradicional e Teoria Crítica”.

Honneth se concentra no campo da Filosofia Social e da

Ciência Social, investigando os fundamentos sistemáticos de

uma Teoria do Reconhecimento e o desenvolvimento de uma

Teoria Crítica da Sociedade por meio de um diálogo com os

princípios contemporâneo na Ontologia Social e da Teoria

dos Sistemas. Sua teoria foi dividia em dois momentos

diferentes: em primeiro momento em fez uma crítica a

Habermas, segundo ele a teoria habermasiana não via a

centralidade do conflito. Para Honneth limitou-se a alarga

o conceito de racionalidade, que criticou em Horkheimer e

Adorno, e de ação social. Em segundo momento, ele procura

desenvolver sua própria versão de teoria crítica ancorada

num processo de construção social de identidade, buscando

em autores como Hegel a fundamentação para construção.

A partir de uma Teoria do Reconhecimento Honneth

desenvolve uma gramática dos conflitos sociais para

explicar como o social se estabelece enquanto um lugar

fundamental da construção de uma conjuntura. Para Honneth é

através do reconhecimento intersubjetivo que os sujeitos

garantem a plena realização de suas capacidades e uma

autorrelação de integridade. É na interação com os seus

parceiros que estes sujeitos podem alcançar uma

autorrelação positiva. Honneth desenvolve uma luta social

na teoria do reconhecimento que não acontece por uma

autoconservação como pensava Thomas Hobbes, mas uma luta

que tem origem na experiência de desrespeito social, que

vem suscitar uma ação coletiva que buscar regatar relações

de reconhecimento. Esse desrespeito acontece a principio em

uma esfera individual, mas depois atinge um coletivo,

processo que o autor chamou de semântica coletiva. Para ele

a tensão moral que surge com o desrespeito as dimensões do

direito e da estima social podem suscitar os movimentos

sociais, foi essa mesma lógica que as análises deste

trabalho seguiram.

O RECONHECIMENTO

Para se compreender a proeminência da “gramática moral

do reconhecimento” é preciso o entendimento de dois pontos

básicos: o primeiro trata da reconstrução do ponto de vista

do social, Honneth usa essa versa para forma seu ponto de

vista sobre a questão do desenvolvimento da história da

teoria crítica. “Honneth enxerga na virada comunicativa a

possibilidade de se colocar no elemento social e, a partir

dele, reconstruir as bases normativas da sociabilidade

contemporânea” (NOBRE, p.3,2013). Em um segundo ponto diz

respeito o papel do social onde se tecem as normas sociais

fundamentais, Honneth critica alguns elementos da teoria de

Habermas, para ele a teoria habermasiana tem uma visão

limitada do conflito e de seu papel central na formação do

social (NOBRE, 2013).

A Teoria do Reconhecimento de Axel Honneth aponta o

remédio para as patologias sociais hodiernas, cujos

sintomas advêm da ausência de reconhecimento intersubjetivo

e social e não da desigualdade material dos indivíduos. A

mesma relativiza a precariedade econômica como causa

principal das lutas sociais e urbanas (Fuhrmann,2013). A

tese central desta teoria seria que a identidade dos

indivíduos se determina por um processo intersubjetivo

mediado pelo mecanismo do reconhecimento. A ausência do

reconhecimento intersubjetivo e social seria o mote dos

conflitos sociais, a luta por este reconhecimento seria

então o “motor” das mudanças sociais e conseqüentemente da

evolução das sociedades.

Um sujeito só pode adquirir consciência de si mesmo e

do seu papel na sociedade na medida em que ele aprende a

perceber sua própria ação da perspectiva, simbologicamente

representada, de uma segunda pessoa, essa ação de

reciprocidade está relacionada ao pensamento de Mead e sua

psicologia social, que associada ao pensamento do jovem

Hegel no período de Jena, formam a base do pensamento de

Honneth.

Em Hegel ele foi buscar um projeto de uma Teoria

Social com conteúdo normativo, buscando inspiração no

conceito de “luta por reconhecimento”, fez isso por

acreditar que ele possui elementos em uma luta atribuída

aos impulsos morais dos sujeitos.

Hegel defende naquela época a convicção de queresulta de uma luta dos sujeitos peloreconhecimento recíproco de sua identidade umapressão intrassocial para o estabelecimentoprático político de instituições garantidorasde liberdades; trata-se da pretensão dosindivíduos ao reconhecimento intersubjetivo desua identidade, inerente à vida social desde ocomeço da qualidade de uma tensão moral quevolta impelir para além da respectiva medidainstitucionalizada do progresso social e, dessemodo, conduz pouco a pouco a um estado deliberdade comunicativamente vivida, pelocaminho negativo de um conflito e se repetir demaneira gradativa (HONNETH, 2003, p. 30)

Esse conceito de reconhecimento discutido por Hegel é

revisitado por Honneth, porém o autor buscar atualizar a

ideia hegeliana,buscando uma visão inovadora de conflito

social. Para o autor da teoria do reconhecimento no meio do

caminho Hegel teria abandonado seu propósito de reconstruir

filosoficamente a construção de uma coletividade ética,

renunciando a intersubjetividade entendida enquanto o

impulso ético originário para a constituição da identidade

individual e coletiva.Honneth, por sua via, resgatará os conceitoscentrais desenvolvidos por Hegel, (...).Critica, porém os passos de Hegel, que passoude uma análise calcada no movimento dasrelações humanas interativas para uma teoria daconsciência, o que faz com que a reflexão emtorno das formas de interação social resvalepara um estudo das etapas que compõem aconsciência individual. Isso significa para

Honneth, abdicar da centralidade das relaçõescomunicativas como anteriores aos indivíduos oucomo mediadoras da consciência individual, masapenas e tão somente um médium dauniversalização social (LEVY, p.80,2012).

Em Mead, Honneth encontra os aspectos da Psicologia

Social e busca trazer aspectos da concepção

intersubjetivista da autoconsciência humana, um sujeito só

é capaz de adquirir consciência de si quando consegui

compreender o reflexo das suas ações no outro, se

constituindo em um processo de interação. Ao aprender a generalizar em si mesmo asexpectativas normativas de um número cada vezmaior de parceiros de interação, a ponto dechegar à representação das normas sociais deação, o sujeito adquire a capacidade abstratade poder participar nas interaçõesnormativamente reguladas de seu meio; poisaquelas normas interiorizadas lhes dizem quaissão as expectativas que pode dirigirlegitimamente todos os outros, assim como osquais são as obrigações que ele tem de cumprirjustificadamente em relação a eles. (HONNETH,2003, p. 135).

As ideias de Mead são importantes na medida em que se

ocupam com o tema da autorelação prática do ser humano e a

formação da identidade prático-moral do sujeito. Os seus

escritos contêm até hoje os meios mais apropriados para

reconstruir as intuições da teoria da intersubjetividade do

jovem Hegel, suas obras demonstram coincidências. Mead

também busca procurar fazer da luta por reconhecimento o

ponto referencial de uma construção histórica que deve

explicar a evolução moral da sociedade.

Mead busca com a psicologia social clarificar os

problemas filosóficos do idealismo alemão, procedendo

empiricamente na busca de elevar o saber dos estudiosos

sobre as operações cognitivas particulares do ser humano.

AS TRÊS FORMAS DE RECONHECIMENTO

A formação prática da identidade humana pressupõe aexperiência do reconhecimento intersubjetivo. Para Honnetha reprodução da vida social se efetua sob o imperativo deum reconhecimento recíproco, porque os sujeitos só podemchegar a uma autorelação prática quando aprendem a seconceber, da perspectiva de seus parceiros de interaçãocomo seus destinatários sociais.

Honneth observa a necessidade de uma justificação natripartição feita por Hegel e Mead das formas dereconhecimento recíproco. Essas três esferas possuempadrões diferentes de reconhecimento, aos quais devemcorresponder respectivamente um potencial particular deenvolvimento moral e formas distintas de autorrelaçãoindividual.

As três formas de reconhecimento: amor; direito esolidariedade, se constituem de forma independente epossibilitam um potencial de desenvolvimento moral doindivíduo. A luta por reconhecimento se inicia pelodesrespeito a estas três esferas do reconhecimento. Aautorrealização do indivíduo em uma sociedade, somente éalcançada quando há, na experiência de amor, apossibilidade autoconfiança, quando ele encontraexperiência de direito, o autorrespeito e quando há naexperiência de solidariedade, a autoestima (SALVADORI,2003).

AMOR

Honneth começa definindo o conceito de relações amorosas:todas as relações primárias, na medida em que elas consistam em ligações emotivas fortes

entre poucas pessoas, segundo padrão de relações eróticas entre dois parceiros, de amizade e

relações pais/filhos (HONNETH, ano, p. 159). Para ele essas são as

relações primárias, ligações emotivas fortes entre poucas

pessoas. Em Hegel o Amor representa a primeira etapa do

reconhecimento, onde os sujeitos se confirmam mutuamente na

natureza concreta de suas carências, é nessa experiência de

dedicação amorosa que os mesmos se percebem dependentes.

Essa esfera está fortemente relacionada à existência

“corporal” dos outros concretos, os mesmos demonstram entre

si sentimentos de uma estima especial.

Honneth faz um resgate dos estudos do psicanalista

inglês Doanal W. Winnicott, que faz um trabalho com a

psicologia infantil. O ponto de partida é a fase da

simbiose, em seus primeiros meses de vida a criança depende

de tal modo da mãe, que a relação dos dois está fundida,

eles estão em estado de indiferenciação. Essa unidade

originária do comportamento, vivenciada de forma recíproca,

foi denominada por Winnicott de “intersubjetividade

primária”. Essa dependência absoluta significa que os dois

parceiros de interação dependem aqui, na satisfação de suas

carências, inteiramente um do outro, sem estar em condições

de uma delimitação de quem seja mãe ou filho. Só apenas na

relação com mãe que o bebê pode aprender a coordenar suas

experiências motoras e sensoriais em torno daquele único

centro de vivência que é mãe. Essa fase começa a fluir

quando a mãe precisa ampliar seu campo social e voltar a

rotina de convívio como, por exemplo, de trabalho. A

criança passa a ter novas referências familiares com as

quais passa a conviver, a esse novo estágio Winnicott

chamou de “dependência relativa.”

Nessa nova fase se desenvolvem as mais decisivas

capacidades infantis, nesse processo de desilusão a criança

precisa tem o desafio de reconhecimento de si próprio e da

mãe como um ser de direito pobre, pois ele já não é mais

onipotente. Segundo Honneth o que podemos concluir das

analises de Winniccot

É possível partir da hipótese de que todas asrelações amorosas são impelidas pelareminiscências inconsciente da vivência defusão originária que marcara a mãe e o filhonos primeiros meses de vida (...) Só a quebrada simbiose faz surgir aquela balança produtivaentre delimitação e deslimitação, que paraWinnicott pertecente à estrutura de uma relaçãoamora amadurecida pela desilusão amora mútua. Oato da deslimitação recíproca, no qual ossujeitos de experienciam como reconciliados unscom os outros, pode assumir(...) as formas maisdiversas: nas amizades, pode ser a experiênciacomum de um diálogo que nos absorve ou o estar-junto enteiramente espontâneo (...). Nesseaspecto, a forma de reconhecimento do amor, queHegel havia descrito como um “ser-si-mesmo emum outro”, não designa um estadointersubjetivo, mas um arco de tensõescomunicativas que medeiam continuamente aexperiência do poder-estar-só como a do estar-fundido; a “refenrencialidade do eu” e asimbiose representa aí os contrapesosmutuamente exigidos que, tomamos em conjunto,possibilitam um recíproco estar-mesmo no outro(HONNETH, 2003, p. 175).

Nessa análise pode-se concluir que essa confiança na

dedicação materna faz com que a criança desenvolva a

autoconfiança. O amor somente passa a existir quando não

existe mais a relação simbiótica, ou seja, quando a criança

consegue perceber o outro como independente e não se ver

mais um ser onipotente.A grande contribuição do estudo dessa dimensãodo reconhecimento é, seguramente, apossibilidade que abre para o desenvolvimentode uma autorrelação na qual os sujeitosadquirem confiança em si próprios, através deuma segurança emotiva elementar, que só é bem-sucedida em razão do sucesso no equilíbrio desuas carências e de suas demandas psicológicaspróprias em situações relacionaisintersubjetivas. Isso, para Honneth, é basepara todas as outras formas de autorrespeito(LEVY, p. 87, 2012).

Para Levy, a análise da importância do amor no

entendimento de Honneth e a centralidade dada por ele para

que se possa compreender as outras formas de autorrespeito,

atentando para autorrelação na qual os sujeitos adquirem

confiança em si mesmos e suas carências psicológicas.

Honneth sustenta que o nível de reconhecimento do amor é o

núcleo fundamental de toda moralidade. O amor é o

fundamento da autoconfiança, pois permite aos indivíduos

conservarem sua identidade, é nessa primeira esfera que o

sujeito desenvolve a autoconfiança que é indispensável para

o seu desenvolvimento em sociedade e nos grupos sociais

onde o indivíduo está inserido, o amor é assim a forma mais

elementar de reconhecimento (SALVADORI, 2003). Assim esse é

responsável pelo desenvolvimento da autoconfiança, sendo

esta a forma que precede todas as outras formas de

reconhecimento.

DIREITO

Essa outra esfera de interação deve ser concebida como

um tipo diferenciado de um mesmo padrão de socialização.

Hegel e Mead perceberam uma relação semelhante no direito,

segundo eles só podemos chegar a uma compreensão de nós

mesmos enquanto portadores de direitos quando possuímos, um

saber sobre as obrigações que temos de observar em face do

outro. Honneth chama atenção para a formulação do predicado

livre utilizado pelos dois autores, segundo ele, em Hegel o

termo demonstra a autonomia individual do singular e se

deve a um modo particular de reconhecimento recíproco,

incorporado no direito positivo. Já em Mead havia um

interesse na lógica de um reconhecimento jurídico. Segundo

Honneth essa diferença entre um direito ligado à tradição e

direito pós-tradicional, torna-se claro que a forma de

reciprocidade especial de reconhecimento jurídico,

diferentemente daquele do amor, só pôde se constituir na

seqüência de uma evolução histórica e de uma transformação

social.

Com essa evolução histórica o autor busca mostra que

houve uma mudança na concepção de direito, juntamente com o

surgimento de uma sociedade pós-tradicional. Ocorreu uma

separação da função do direito do juízo de valor assim,

para que o direito possa ser aplicado de forma universal se

faz necessário duas formas distintas de respeito

No momento, é importante saber aqui apenasquais conclusões se podem tirar preliminarmenteda comparação entre reconhecimento jurídico eestima social: em ambos os casos, como jásabemos, o homem é respeitado em virtude dedeterminadas propriedades, mas no primeiro casose trata daquela propriedade universal que fazdele uma pessoa; no segundo caso, pelocontrário trata-se das propriedadesparticulares que o caracterizam diferentementede outras pessoas. Daí ser central para oreconhecimento jurídico a questão de como sedetermina aquela propriedade constitutiva daspessoas como tais, enquanto para a estima secoloca a questão de como se constitui o sistemareferencial valorativo no interior do qual sepode medir o “valor” das propriedadescaracterísticas (HONNETH, p.187,2003)

Como se pode observar o reconhecimento jurídico está

relacionado às propriedades universais dos sujeitos, as

virtudes pelas quais devem ser reconhecidos, o sistema

jurídico precisa ser entendido como uma expressão dos

interesses universalizáveis de todos os membros da

sociedade, não admitindo exceções e privilégios, pois a

obediência de normas jurídicas só pode acontecer quando os

sujeitos envolvidos se compreendem como sendo livres e

iguais, se reconhecendo enquanto possuidores de direitos,

capazes de decidir com autonomia individual sobre normas

morais.

Em seguida, o autor busca esclarecer a capacidade pela

qual os sujeitos se respeitam mutuamente, quando se reconhecem como

pessoas de direitos, “a definição das propriedades que

caracterizam o ser humano constitutivamente como pessoa

depende das assunções de fundo acerca dos pressupostos de

sujeitos que capacitam para a participação de uma formação

racional da vontade” (HONNETH, 2003, p. 188). Assim, um

indivíduo respeita o outro por saber-se merecedor do

respeito deste.

Honneth destaca ainda que nas sociedades modernas a

ampliação de pretensões jurídicas individuais, pode ser

entendida como um processo em que a extensão das

propriedades universais de uma pessoa moralmente imputável

foi crescendo, sob a pressão de uma luta por

reconhecimento, devem sempre ser adicionados novos

pressupostos para a participação e formação da vontade.

Aqui o autor busca na seqüência utilizada por Marshall uma

maneira de explicitar sua lógica de distinção de direitos:

direitos liberais; direitos políticos e direitos sociais.

No esquema histórico de Marschall há uma ampliação dos

direitos individuais fundamentais que é obtida por meio de

uma luta social, o que assegurou aos indivíduos uma

participação no processo público de formação da vontade.

O direito moderno trouxe um princípio de igualdade,

onde o status de pessoa foi ampliado para além do aspecto

objetivo alcançando atribuições que estendem ao aspecto

social, as relações jurídicas modernas contêm

estruturalmente essas duas possibilidades evolutivas, os

confrontos práticos que surgem devido ao desrespeito,

representam um conflito em torno da ampliação tanto de

conteúdos objetivos como social (HONNETH, 2003).

Para SAAVEDRA E SOBOTTKA (2008), apesar de Honneth

sempre utilizar um conceito problemático de direito

subjetivo, a sua correta intuição pode ser observado quando

ele se utiliza de estudos feitos a partir da reconstrução

histórica de Marshall, onde se pode observar que: os atores

sociais só conseguem desenvolver a consciência de que eles

são pessoas de direito e agir de acordo com isso, no

momento em que surge historicamente uma forma de proteção

jurídica contra a invasão da esfera da liberdade, que

proteja a chance de participação na formação pública da

vontade e que garanta um mínimo de bens materiais para a

sobrevivência destes sujeitos. Essa forma de reconhecimento

cria condições que permitem o sujeito desenvolver

autorrespeito, tomando consciência da sua própria

autonomia, essa garantia de participação possibilita aos

atores sociais mecanismos de atuação política.

Assim como no amor, a criança adquire a confiança

mediante a experiência de simbiose com a mãe, no direito, o

sujeito tem a possibilidade de conceber a sua ação como uma

manifestação da própria autonomia, respeitada pelos demais,

mediante a experiência do reconhecimento jurídico. Um sujeito é capaz de se considerar, naexperiência do reconhecimento jurídico, comouma pessoa que partilha como todos os outrosmembros da coletividade as propriedades quecapacitam para a participação numa formaçãodiscursiva da vontade; e a possibilidade de sereferir positivamente a si mesmo desse modo é oque podemos chamar de “autorrrespeito”( HONNETH, 2003, p. 197).

Essa visão positiva de si mesmo possibilita o sujeito

uma consciência do seu papel na sociedade enquanto cidadão

e permite também o mesmo compreender que suas ações são

manifestações da sua própria autonomia, reflexo de ação uma

política. Levy (2012), afirma que Honneth tem a expectativa

de que os indivíduos atuantes da sociedade, só são capazes

de desenvolver seu potencial se sua liberdade de participar

da formação pública da vontade estiver juridicamente

protegida.

ESTIMA SOCIAL

Nessa terceira esfera de reconhecimento são postas em

questão as propriedades que tornam os indivíduos diferentes

dos demais, as suas particularidades e singularidades, ou

seja, seus valores intersubjetivos. A estima social se

aplica às propriedades particulares que caracterizam os

seres humanos em suas diferenças pessoais, essa forma de

reconhecimento está ligada também à pressuposição de um

contexto de vida social cujos membros constituem uma

espécie de comunidade de valores mediante a orientação de

concepções de objetivos comuns. Essa outra esfera expressa

as diferenças de propriedades entre os sujeitos, que estão

intersubjetivamente vinculados e com os quais se

relacionam. A estima social é determinada pelas concepções

do que são objetivos éticos presentes em cada sociedade,

sendo assim de certa variedade, tendo um alcance social que

vai depender do grau de pluralização destes valores que são

definidos socialmente assim como do caráter dos ideais de

personalidade.

Honneth afirma que assim como a relação jurídica, a

estima social, passou por uma transição de conceitos. Nas

sociedades tradicionais a reputação de uma pessoa era

definida de acordo com sua honra social e de maneira

hierárquica: uma estratificação vertical das tarefas

sociais de acordo com sua suposta contribuição para

realização dos valores centrais, o seu valor resulta da

contribuição coletiva para a realização das finalidades

sociais, o valor de cada sujeito é resultante da medida

socialmente definida da sua contribuição coletiva na

realização das finalidades sociais. O termo “honra”, em

sociedades estamentais, designa a medida relativa de

reputação social que uma pessoa é capaz de adquirir quando

consegue cumprir com as expectativas de um comportamento

social. O comportamento tido como honroso é apenas um

suplemento que cada individuo deve apresentar para agregar

a sua reputação social, que foi atribuída de maneira

coletiva ao seu estamento em virtude de um conjunto de

valores culturais.

Assim as formas de reconhecimento assumiam um caráter

de relações simétricas por dentro e assimétrica por fora:

simétricas, porque no interior dos grupos onde as os grupos

são determinadas por status, os sujeitos envolvidos se

estimam mutuamente como pessoas, partilham das mesmas

capacidades. Já entre os grupos definidos por status, as

relações de estimas são escalonadas, ou seja, diferenciadas

e, portanto hierarquizadas.

Com o processo de desvalorização da eticidade

tradicional, que aconteceu com a passagem para a

modernidade, houve a quebra de uma barreira cognitiva que

determinavam os padrões de um comportamento honroso

específico dos estamentos, que devia sua validade social as

tradições religiosas e metafísicas e por isso estavam

ancoradas na autocompreesão cultural na qualidade de uma

grandeza metassocial. (HONNETHE, 201, p.203).

Já não são mais as propriedades coletivas consideradas

eticamente admissíveis, mas sim as capacidades

biograficamente desenvolvidas do indivíduo, aquilo por que

começa a se orientar a estima social, é nesse quadro

histórico que se compõe o conceito de prestígio social, que seria

a medida da estima que o indivíduo goza socialmente quanto

a suas realizações e suas capacidades próprias e

individuais. Ao contrário da honra, o prestígio se refere

ao grau de reconhecimento social em que o indivíduo merece

para sua forma de autorealização, já que o mesmo de alguma

maneira contribui com ela à implementação prática dos

objetivos da sociedade. Nessa nova ordem de reconhecimento

individualizado, tudo depende da forma como o horizonte

universal de valores é determinado, que tanto deve estar

aberto a formas distintas de autorealização como também

deve servir como um sistema predominante de estima.

A transição se dá, em resumo, através dasuperação de um referencial cognitivo calcadona tradição religiosa e na metafísica – típicode sociedades tradicionais nas quais osobjetivos éticos são ordenados substancialmentee que por isso, valoram os cidadãos de acordocom o status e a honra social (na qual asrelações são simétricas por dentro eassimétricas por fora) – para uma sociedadeque, superando a ordem hierárquica da estruturade estima social, atinge uma noção de sujeitoque é, em si, dotada de uma noção deindividualidade bem definida (Levy, p. 92,2012).

A estima social assume uma posição que confere as

formas de reconhecimento associadas a ela o caráter de

relações assimétricas entre os sujeitos. A autorrelação

prática de uma experiência de reconhecimento faz com que o

indivíduo tenha um sentimento de orgulho ou honra social

coletiva; os indivíduos se percebem enquanto membros de um

mesmo grupo social que está em condições de realizações

comuns, cujo valor para a sociedade é o reconhecimento dos

outros membros que compõe aquele grupo, essas formas de

interação assumem o caráter de relações solidárias.

Solidariedade nesse caso seria uma espécie de relação de

interação onde os sujeitos envolvidos que têm interesses

recíprocos por seus modos de vida diversos e diferentes,

pois estes se estimam entre si, o conceito de solidariedade

é central nas relações de estima social. A solidariedade na

sociedade moderna está vinculada a condições de relações

sociais simétricas de estima entre os indivíduos autônomos

e a possibilidade de desenvolverem a sua autorrealização

(HONNETH, 2003).

A estima social possibilita uma confiança emotiva em

suas capacidades que são percebidas como valiosas pelo

coletivo de uma sociedade, sendo esta compreendida como

autoestima ou autoconfiança.Modos de

Reconhecimento

Dedicação

Emotiva

Respeito

Cognitivo

Estima Social

Dimensões da

personalidade

Natureza

carencial e

afetiva

Imputabilida

de moral

Capacidades e

propriedade

Formas de

Reconhecimento

Relações

primárias

(amor,

amizade)

Relações

jurídicas

(direitos)

Comunidades

de valores

(solidariedad

e)

Potencial

evolutivo

Generalizaçã

o,

materializaç

ão

Individualiza

ção,

equalização

Autorrelação

prática

Autoconfian

ça

Autorrespeit

o

Autoestima

Formas de

desrespeito

Maus-tratos

e violação

Privação de

direitos e

exclusão

Degradação e

ofensa

Componentes

ameaçados da

personalidade

Integridade

física

Integridade

social

“Honra”,

dignidade

A LUTA POR RECONHECIMENTO

Honneth busca em Hegel as explicações para sua Teoria

do Reconhecimento, começando pela sua filosofia da

consciência que mesmo tendo sido usada de maneira

incompleta foi de fundamental importância para a construção

do Conceito de Espírito. Hegel usou da filosofia da

consciência durante os anos de Jena. A influência patente

de Hegel expressa-se no núcleo do pensamento da luta por

reconhecimento, Honneth concordo com ele quanto ao

entendimento de que é a vida em sociedade que vai ser

condição para sua existência ( LEVY,2012).

A primeira parte da análise filosófica do Espírito

consiste em reconstruir o processo de formação do espírito,

à autoexperiência da consciência individual, esclarece

quais experiências, repletas de exigências um sujeito

precisa ter feito ao todo antes de estar em condições de

conceber-se a si mesmo como uma pessoa dotada de direito.

Uma autoexperiência integral, só é possível quando esse

sujeito aprende a conceber-se também com um sujeito que

possui atividades práticas.

Os conflitos surgem do desrespeito a qualquer uma das

formas de reconhecimento, ou seja, de experiências morais

decorrentes da violação de expectativas normativas. A

identidade moral é formada por essas expectativas. Uma

mobilização política somente ocorre quando o desrespeito

expressa a visão de uma comunidade. Portanto, a lógica dos

movimentos coletivos é a seguinte: desrespeito luta por

reconhecimento, e mudança social. Honneth, seguindo as

idéias de Hegel, afirma que a eticidade é o conjunto de

condições intersubjetivas, que funcionam como condições

normativas necessárias à autodeterminação e a

autorrealização.

A integridade do ser humano se deve aos padrões das

três esferas de reconhecimento discutidas aqui. Assim como

os padrões de reconhecimento são organizados em três formas

distintas, no desrespeito também existe uma esfera

recíproca para cada tipo de negação do reconhecimento. De

acordo com Levy (2012), compreender que para Honneth a cada

dimensão do reconhecimento tida como positiva há uma

manifestação negativa, que se materializa no desrespeito,

seria o ponto central para a compreensão das motivações que

dão origens a uma luta por reconhecimento de acordo com que

pensou o filósofo alemão. Para tornar a sua teoria plausível, Honnethprecisa, por consequência, encontrar nahistória social traços de uma tipologiatripartite negativa da estrutura das relaçõesde reconhecimento. Esta tipologia negativa devecumprir duas tarefas: (1) para cada esfera derelação de reconhecimento deve surgir umequivalente negativo, com o qual a experiênciade desrespeito possa ser esclarecida, seguindoa estrutura da forma de reconhecimentocorrespondente; (2) a experiência dedesrespeito deve ser ancorada de tal forma emaspectos afetivos do ser humano, que a suacapacidade motivacional de desencadeamento deuma luta por reconhecimento venha à tona(SAAVEDARA E SOBOTTKA, p.14, 2008).

Sendo assim, na primeira esfera, a do amor, sendo a

forma mais elementar, os maus-tratos, que impedem a livre

disposição do corpo representam à forma do desrespeito a

esfera, uma espécie de rebaixamento pessoal. Representa um

tipo de desrespeito referente à integridade corporal de uma

pessoa. Não é necessariamente a dor física que leva a essa

situação, mas o sentimento de estar sujeito à vontade do

outro, o que faz com que o sujeito perca seu senso de

liberdade, este tem sua confiança ferida o que gera a perca

da autoconfiança. Aquela autonomia que foi adquirida

anteriormente em uma relação de socialização é perdida aqui

com a quebra da confiança em si mesmo.

As outras duas formas de desrespeito estão inseridas

em um processo histórico de mudança e de construção de

conceitos, são, portanto evolutivos. A princípio em uma

sociedade os sujeitos participam de forma igual da ordem

institucional dos direitos. A violação do autorrespeito se

refere aos modos de desrespeito pessoal sofridos por um

sujeito, onde este fica excluído da posse de determinados

direitos no interior de uma sociedade, ou seja, há uma

negação de direitos e um sentimento de ameaça a integridade

social. Para os sujeitos lesados essa negação de pretensões

jurídicas que socialmente vigentes significa uma frustração

das expectativas de um reconhecimento que possibilite a

formação de um juízo moral em relação a si mesmo, assim ele

perde a capacidade de interagir com os que estão próximo. O

indivíduo que sofre esse rebaixamento acaba por referir-se

negativamente ao valor social de indivíduos e grupos. Essa

experiência varia de acordo com o contexto histórico no

qual este sujeito encontra-se inserido, a privação de

direitos de mede pelo grau de universalização e pelo

alcance material dos direitos constitucionalmente

garantidos.

A terceira forma de rebaixamento é aquela que ofende

e/ou degrada o modo de vida de determinado grupos ou

sujeitos, referindo-se ao valor social dos mesmos. Quando

isso acontece os atingidos são impossibilitados de ter a

suas próprias propriedades pessoais.A degradação valorativa de determinados padrõesde autorrealização tem para seus portadores aconseqüências de eles não poderem se referir àcondução de sua vida como a algo a que caberiaum significado positivo no interior de umacoletividade; por isso, para o indivíduo, vaide par com a experiência de uma taldesvalorização social, de maneira típica, umaperda de autoestima pessoal, ou seja, um perdada possibilidade de se entender a si própriocomo um ser estimado por suas propriedades ecapacidades características. Portanto, o queaqui é subtraído da pessoa pelo desrespeito emtermos de reconhecimento é o assentimentosocial a uma forma de autorrealização que elaencontrou arduamente com o encorajamentobaseada na solidariedade de grupos (HONNETH, p.217-218, 2003).

Esse rebaixamento impacta negativamente na vivência

deste indivíduo em coletividade e no processo de formação

de uma identidade, pois gera a perca de uma autoestima que

foi adquirida na vivência com os grupos sociais, que

motivaram este sujeito gerando entre estes membros um

sentimento de solidariedade.

Essas três formas de rebaixamento ou desrespeito, nos

estudos psicológicos que investigam as seqüelas pessoais

das experiências desse tipo de violação, em relação ao

desrespeito na primeira forma de reconhecimento a seqüela

seria a “morte psíquica”; em relação a privação de

direitos, ganhou cidadania o conceito de “morte social”; e

quanto ao desrespeito encontrado no rebaixamento social dos

sujeitos, a categoria é a “vexação” (HONNETH, 2003, p).

As respostas a tais formas de desrespeito podem

apresentar a base motivacional afetiva da luta por

reconhecimento. Segundo Honneth, os seres humanos não podem

reagir de forma emocionalmente neutra diante das situações

de ofensas sociais e privações de direitos. Toda reação

emocional negativa em resposta a um tipo de desrespeito

contêm a possibilidade de se tornar o motivo da resistência

política. As formas de reconhecimento do direito e da

estima social são caracterizadas por objetivos

generalizados, diferente do que acontece com o amor, “uma

luta só pode ser caracterizada de “social” quando seus

objetivos se deixam generalizar para além do horizonte das

intenções individuais, chegando a um ponto em que eles

podem se tornar a base de um movimento coletivo” (HONNETH,

2003, p.256).

O direito e a estima social representam um quadro

moral de conflitos sociais, pois as mesmas dependem de

critérios socialmente generalizados, as experiências de

desrespeito vivenciadas pelos sujeitos podem afeta-los e

serem apresentadas como algo maior e coletivo, afetando

potencialmente um número maior de sujeito, por isso se

generaliza. Essa universalização social não acontece na

esfera do amor, que se encerra nos limites das relações

primárias, dentro do que foi exposto, Honneth formula seu

conceito preliminar do que seja uma luta social.

Trata-se do processo prático no qualexperiência individuais de desrespeito sãointerpretadas como experiências cruciaistípicas de um grupo inteiro, de forma que elaspodem influir, como motivos diretores da ação,na exigência coletiva por relações ampliadas dereconhecimento (HONNETH, 2003, p.256).

Segundo o autor os motivos de uma luta social se geram

dentro de um quadro de experiências morais de violação das

expectativas de reconhecimento, estas estão profundamente

relacionadas à formação da identidade dos sujeitos, quando

há uma quebra destas expectativas ocorre um sentimento de

desrespeito por parte dos indivíduos. Estas experiências

começam no âmbito individual e depois ganham uma relação de

coletividade. Esse sentimento só pode se tornar base

motivacional para uma luta social “quando o sujeito é capaz

de articulá-los num quadro de interpretação intersubjetivo

que os comprova como típicos de um grupo inteiro, nesse

sentido, o surgimento de movimentos sociais depende da

existência de uma semântica coletiva” (HONNETH, p.258,

2003). É essa semântica coletiva que permite que as

experiências de desapontamento pessoal sejam interpretadas

como algo que atinge não apenas o indivíduo mais um número

maior de sujeitos, atingindo uma coletividade.

Pode-se afirma que o sentimento de desrespeito

constitui o cerne de experiências morais, que são

vivenciadas nas relações sociais, pois os sujeitos possuem

sentimentos de expectativas de reconhecimento, quando isso

não acontece pode levar a ocorrência de ações coletivas, na

medida em que são compartilhadas por estes sujeitos. O

engajamento desse sujeito em ações políticas pode tirá-los

de uma situação de passividade e tolerância, onde ele passa

a convencer-se do valor moral de si próprio.

Para Arcanjo (200X) a teoria honnethiana segue a forma

desrespeito, luta por reconhecimento e mudança social, o

modelo de conflito deve ser compreendido como um processo

histórico e de desenvolvimento moral da sociedade. Esses

modelos de conflitos começam com o sentimento de injustiça

social e pela busca de um reconhecimento e se organizam em

ações coletivas. Segundo Levy (2012) quando uma pessoa é

atingida na sua dignidade, em sua expectativa de moral de

respeito, abre-se caminho para uma luta social, sendo “o

combustível para os movimentos sociais”.

Honneth afirma que existe a necessidade de se pensar

uma alternativa para a formação das ações coletivas e

movimentos sociais. Para ele, existe um ponto importante na

determinação das condições de possibilidade da constituição

desses movimentos que é a formação de um horizonte abstrato de

valores éticos, capaz de possibilitar as lutas por reconhecimento em

sociedades ditas modernas, fortemente marcadas pelo

conflito, sem que se perca, com isso, o potencial de

solidariedade das formas coletivas de identidade (Moraes,

200X).

Os sentimentos morais de desrespeito seriam o “mote”

das lutas sociais, o porquê do surgimento de ações

coletivas como, por exemplo, os movimentos sociais

(HONNETH, 2003). A existência de uma semântica coletiva

funciona como uma ponte que une os sujeitos ao ponto de

construir uma identidade coletiva, essa dinâmica antecede a

formação da ação política de um movimento social.

MOVIMENTOS SOCIAIS

No entendimento de Maria da Gloria Gohn, os movimentos

sociais se constituem em “ações sociais coletivas de

caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas

formas da população se organizar e expressar suas demandas”

(GOHN, 2010, p.13). Essas ações coletivas se formam para

Honneth a partir do sentimento de injustiça social e da

busca por reconhecimento. Ele deixa claro o caráter

coletivo dessas ações, sendo esta uma das questões centrais

das lutas sociais, as bases motivacionais saem das relações

primárias e atingem o âmbito universal.

Para Gohn (2008) Axel Honneth é uma referência nos

estudos acerca dos movimentos sociais em relação a

identidade e o reconhecimento. Para ela, o autor ver nos

conflitos um papel educativo, eles podem indicar onde não

há o reconhecimento e os problemas que decorrem daí.

Surgindo uma articulação política, uma luta social, um

movimento propriamente dito, o sentimento de injustiça só

passa a ter relevância política enquanto movimento social.

Reconhecimento não é algo que se conquista de uma vez

por todas, nem um bem a ser distribuído é um produto da

relação que requer a consideração do outro. As lutas por

reconhecimento são intrinsecamente intersubjetivas, estando

intimamente relacionado com a questão da identidade.Com a identidade e o reconhecimento inicia-se oprocesso de dar sentido às ações, individuaisou coletivas. Nesse processo, os indivíduos, deatores sociais – que ocupam diferentes lugaresna estrutura social (como pais, trabalhadores,membros de alguma organização, movimento,partido, sindicato, religião etc.) -transformam-se em sujeitos, autores de açõeshistóricas que ultrapassam as ações cotidianasno desempenho individual ou grupal (GOHN, 2005, p. 32).

As ações coletivas fazem parte de um amplo processo de

mudança nas relações de reconhecimento, a capacidade de uma

sociedade em garantir a integridade coletividade dos atores

que a compõe está ligada a uma ampliação destas relações.É possível perceber aqui uma espécie dedialética positiva entre o reconhecimento e adiferenciação de identidades que leva àquelaampliação das relações de reconhecimento, istoé, com a possibilidade de diferenciaçãoindividual possibilitada pela forma deinteração moderna, também aumenta apossibilidade de ampliação das relações dereconhecimento. Seria desnecessário dizer queeste processo está sendo tratado aqui apenasenquanto possibilidade normativa, mas que,empiricamente, os conflitos sociais são a formamais comum pela qual se dá a ampliação destasrelações; também não precisaria ser dito queeste processo está sujeito a momentosregressivos, dependendo de como se desenvolve aluta política que lhe dá vida (SOUZA, 2012,p.13).

Souza analisa a teoria do reconhecimento através de

uma perspectiva dialética, que leva a uma ampliação das

relações dentro de uma sociedade e das formas de interação.

Ele continua discutindo a teoria e afirma que as relações

entre as esferas do reconhecimento jurídico e social podem

trazer a ampliação dos horizontes de sociabilidade, das

interações entre os sujeitos e do seu modo de vida. Ao

compreender os aspectos positivos dessa relação o autor

chama atenção para a capacidade que os conflitos sociais

têm de ampliar estas relações e que o processo de

reconhecimento compreendido por Honneth está sujeito

momentos de regressão, pois se desenvolve de acordo com a

luta política.

Gohn (2013) diz que as energias sociais que antes

estavam dispersas são canalizadas pelos movimentos sociais

na busca da construção do novo, embora em alguns casos

tenhamos aqueles que são conservadores. No caso nos

movimentos sociais que buscam um reconhecimento estes

estariam elencados nos que a autora chamou de

progressistas, que segundo ela atuam com uma agenda

emancipatória, onde realizam diagnósticos sobre a realidade

na qual estão inseridos e constroem propostas.

Na busca de analisar as teorias que estudam os

movimentos sociais Alexander faz um resgate do Modelo

Clássico que segundo ele foi o primeiro usado para estudar

os movimentos sociais, este estava centrado em torno de

duas correntes: marxista e funcionalista, este predominou

até os anos 60 do século passado, se desenvolveu nos

Estados Unidos, não adquirindo uma forma homogênea. Este

modelo centrava o indivíduo em torno das lutas de classe,

as ações políticas e sociais destes estavam marcadas por

uma transformação histórica (Costa, 2013 – mono). No modelo

clássico deu grande ênfase às motivações econômicas, além

disso, destacava a reação psicológica dos indivíduos diante

das mudanças, reação considerada como comportamento

irracional, estes eram considerados como fruto de tensões

sociais, ideia de uma anomia social. Os movimentos sociais

foram identificados segundo o modelo dos movimentos

revolucionários, reformistas e reacionários, entendidos

como mobilizações de massa que visam apossar-se do poder de

um Estado antagônico.

O indivíduo era visto dentro de macroestruturassociais. A grande questão era a inadaptaçãodeles àquelas estruturas, o que geravadesajustes e conflitos. Os movimentos sociaisnasciam neste universo, eram elementosdistributivos. A ideia durkheimiana de anomiasocial permeava analise (GOHN, p.23,2008).

Este modelo, de acordo com Alexander (s, d) é

fortemente impregnado por um materialismo ontológico na

busca pelo controle do poder. Assim, os teóricos do modelo

clássico interpretaram os movimentos como sendo respostas

práticas e coerentes a distribuição desigual das privações

sociais criada pela mudança institucional. Criava-se uma

concepção de Reforma Social, o paradigma teórico mais amplo

era o do processo de mudança e transformação social.

O leque das abordagens teóricas dos movimentos sociais

é amplo e diversificado, em cada paradigma interpretativo,

podemos encontrar também uma grande variedade de teorias,

sejam elas focadas em eixos culturais ou justiça social

(GOHN, 2008, p, ). Até 1970 era frequente a associação das

lutas políticas dos movimentos sociais a um suposto quadro

de luta de classe no interior de uma sociedade capitalista,

em uma concepção que sugere que os movimentos sociais um

produto da ação histórica da sociedade, diante das

contradições do sistema capitalista (MACHADO, 2007, p. ).

Após 1970 um novo olhar é lançado sobre os movimentos

sociais, agora mais particular deixando de lado o

determinismo econômico, focando-se na multiplicidade de

fatores que causam uma ação coletiva, assim de acordo com

Alexander:

A necessidade de introduzir uma correção aomesmo tempo histórica e teórica no enfoqueclássico para incluir os significadosculturais, identidades psicológicas e umateorização dos fatores institucionais parecelevar diretamente aos estudos dos novosmovimentos sociais (ALEXANDER, ..... p. 8)

Essa nova linha de pensamento parte de um pressuposto

em que leva em conta a subjetividade dos sujeitos

envolvidos em ação coletiva, sua identidade, assim como os

aspectos históricos e institucionais envolvidos. “A

identidade passa a ser uma categoria utilizada com

múltiplos sentidos e significados, da identidade jurídica a

cultural.” (GOHN, 2008, p.45). É importante ressaltar a

contribuição de Alain Toraine na reformulação dessa

perspectiva de análise dos movimentos sociais, outro nome

que também merece destaque é o de Alberto Melucci, tendo

este último contribuído com análises mais radicais e

categórica (ALEXANDER, .....). Toraine direciona sua

crítica ao modelo clássico por sua miopia em relação as

instituições. (TOURAINE,1981, ....). A hierarquia de

classes subsiste no âmbito da integração cultural mais

geral da sociedade industrial, e as lutas pela hegemonia

ideológica, não são só pelo poder e dinheiro, são também

caracterizas pelos conflitos em torno de mudanças sociais,

é nessa perspectiva que se encontram os novos movimentos

sociais. De acordo com Melucci

Quando se fala de um movimento social, refere-se, geralmente, a um fenômeno coletivo que seapresenta com uma certa unidade externa, masque, no seu interior, contém significados,formas de ação, modos de organização muitodiferenciados e que, frequentemente, investeuma parte importante das suas energias paramanter unidas as diferenças (MELUCCI, 2001,p.29).

Esse fenômeno é para o autor uma ação heterogênea, o

agir coletivo não é para ele o resultado de leis da

história, são respostas dos atores a certas disfunções do

sistema social, por isso são contraditórios, “nenhum

fenômeno de ação coletiva pode ser assumido na sua

globalidade” (MELUCCI, 2001, p.33), o autor diz isso porque

os movimentos sociais não únicos. A ação coletiva de um

movimento pode manifestar-se através da ruptura de uma

compatibilidade com um sistema de relações sociais, um

movimento não se limita, portanto, a manifestar um

conflito, mas o leva para além dos limites deste sistema a

qual essa ação se destina, isso pode ocorrer por meio do

rompimento de regras de jogos, questionamento da

legitimidade do poder etc.

O aprofundamento das instituições democráticas

possibilitou uma diversificação dos movimentos sociais,

lutando pelas causas mais diversas, tem-se então o termo

“novos” movimentos sociais, eles reuniam coletivos de

mulheres, ambientalistas, movimentos identitários,

pacifistas e outros. Outras dimensões da realidade vieram à

tona, estando predominantemente presentes nos campos das

experiências de participação em lutas e movimentos sociais,

culturais etc. As formas contemporâneas de ação coletiva

são múltiplas e variáveis, envolvendo atores sociais

diversos, tornando mais explícita a pluralidade dos fatores

envolvidos em um mesmo fenômeno (MELUCCI, 2001, .....).

Ainda na tentativa se explicar o que marca os novos

movimentos sociais o autor continua sua análise

O que é “novo” nos “novos movimentos sociais”?Estando entre aqueles que têm introduzido otermo “novos movimentos sociais” na literaturasociológica, assisti com embaraço à progressivareificação desta categoria. A “novidade” está,com efeito, na definição de um conceitorelativo, que tem a função temporária deassinalar algumas diferenças comparativas entreas formas históricas do conflito de classe e asformas emergentes de ação coletiva (MELUCCI,2001, p.24).

Segundo o autor, o “novo” que há os “novos movimentos

sociais”, é o contraponto existente entre as formas de

análise do modelo clássico, que como já foi dito

anteriormente, tinha um olhar voltado para a luta de

classes e os movimentos sociais eram identificados segundo

o modelo dos movimentos revolucionários, entendidos como

mobilizações de massa que visam apossar-se do poder de um

Estado antagônico.

Novos sujeitos entram em cena, novas temáticas são

colocadas em discussão abrangendo as mais diversas

temáticas que vão desde a globalização até a

biodiversidade. As categorias de analise dos movimentos

também sofreram mudanças

As categorias de análise também se alteram:redes passam a ter, para vários pesquisadores,um papel até mais importante do que o movimentosocial. Mas eles as redefinem para redes demobilização social. A questão da emancipaçãosocial persiste, mas restrita a alguns teóricose não mais sobre o crivo exclusivo da abordagemmarxista. Território passa a ser uma categoriaressignificada e uma das mais utilizadas paraexplicar as ações localizadas, mas é uma novaconcepção de território (...). Território passaa se articular com as questões dos direitos edas disputas pelos bens econômicos, de um lado,e, de outro, pelo pertencimento ou pelas raízesculturais de um povo ou etnia (GOHN, 2008,p.44).

As análises ainda consistem entre o global e o local;

objetividade e subjetividade; entre o macro e o micro,

incluindo novas tensões nas questões de gênero, raça e

etnia relacionada a aspectos culturais e identitário, o que

seria uma busca pelo reconhecimento das necessidades

humanas, segundo Honneth.

As conceituações de movimentos sociais têm sido

tipificadas através de três características principais. A

primeira dela diz respeito à determinação da identidade,

que era feita através de categorias pertencentes apenas

estrutura social; a segunda, esta relacionado ao caráter

revolucionário; e a última, atribui aspectos da esfera

política. Então, o que caracteriza os novos movimentos

sociais é que através deles rompeu-se a unida destes três

aspectos do paradigma (LACLAU, 2006, ......).

Nos anos 90, novas categorias de análises ganharam

centralidade, tais como: mundialização; sistema-mundo;

sociedade mundial e sociedade de indivíduos; processos de

exclusão e inclusão social e cidadania coletiva (GOHN,

2008, ....). Segundo Gohn (2008) no Brasil o início dos

anos de 1990 foi marcado pelo surgimento de um novo cenário

sociopolítico, o período anterior marcado pela

redemocratização do país, possibilitou o surgimento de

novos atores sociais e de novas problemáticas. Os anos de

1990 são marcados pelo fortalecimento das ONGs

(Organizações Não- Governamentais) e as organizações do

terceiro setor. Nessa mesma década o movimento alter ou

antiglobalização irrompem o cenário internacional, usando

formas de comunicação diferentes das que foram usadas em

anos anteriores, a era dos computadores já predominava,

unindo sujeitos de diferentes partes do mundo em ideias e

ações comuns.

Um dos fundamentos que dão base aos movimentosaltermundialistas iniciados nos 1990 está naeconomia, especialmente nos efeitos perversosda globalização econômica. Contudo, encontram-se também um saldo organizatório das lutasidentitárias décadas anteriores. O chamadoessencialismo foi da luta de classes foisubstituído pelo pluralismo de lutasantirraciais, feministas, etc (GOHN, 2014,p.14).

Dentro da temática dos novos movimentos sociais, Gohn

(2008) chama atenção para os estudos de Axel Honneth, e a

referência que autor faz a identidade e reconhecimento.

Embora ele cite e analise alguns movimentossociais, está mais preocupado em entender asações sociais onde os acontecimentos históricosocorrem, os conflitos sociais e as redes deinterações de lutas sociais, e os processos deinterpretação e entendimento dessas lutas porseus participantes, enquanto sujeitos da ação,para analisar a orientação prática dos grupossociais (GOHN, 2008, p.48).

Para Melucci (2001), os movimentos sociais, podem

desenvolver três diferentes tipos de condutas: a primeira,

de um movimento reinvindicatório, quando o conflito e a

ruptura das regras acontecem dentro de um sistema definidos

por papéis e funções, o ator coletivo reivindica uma

distribuição de recursos mais eficiente, defende as

vantagens de uma categoria, tentando ultrapassar os limites

da organização daquele sistema. A segunda conduta seria

pela ruptura dos limites de um sistema político, pela

ampliação da participação nas decisões, levando-se em

consideração que no jogo político existe um desequilíbrio

que beneficia certos interesses. Esses movimentos buscam

melhorar os canais de participação além dos limites

previsto no sistema políticos. E por último, os movimentos

antagonistas, questionam o controle de recursos coletivos

fundamentais. Esse tipo de movimento deve ocorre com a

mediação dentro do sistema político, tendo uma relação com

os mecanismos de representação e de decisão.

Em um movimento pode uma destas dimensões prevalecer

sobre as demais, ou se misturarem atuando de forma

diferenciada, cada movimento é resultado de uma ação

orientada que se constrói através de relações sociais que

acontecem no interior de campo de oportunidades e de

vínculos, essas ações são construídas por atores por meio

de investimentos organizados, onde eles definem seu campo

de atuação, com agir e os objetivos que perseguem.

Os conflitos se movem, então, rumo àapropriação do sentido contra os aparatosdistantes e impessoais que fazem daracionalidade instrumental a sua “razão” esobre esta base impõe identificações. Asquestões antagonistas não se limitam a atingiro processo produtivo em sentido estrito, masconsideram o tempo, o espaço, as relações, osi-mesmo dos indivíduos. Surgem questõesrelacionadas com o nascimento, com a morte, coma saúde, com a doença, que colocam, em primeiroplano, a relação com a natureza, a identidadesexual e afetiva, do agir individual. Nessasáreas, aumenta a intervenção dos aparatos decontrole e de manipulação, mas se manifesta,

também, uma reação difusa à definições externasde identidade, surgem questões de reapropriaçãoque reivindicam o direito de ser eles mesmos( MELUCCI, 2001, p. 81).

Esses movimentos contemporâneos como chamou Melucci,

têm objetivos que são dificilmente negociáveis, porque são

irredutíveis à mediação política, não buscam uma tomada do

poder, mas o controle das condições de existência e das

reivindicações dentro do espaço no qual encontram-se

inseridos. Outra característica marcante destes movimentos

é a solidariedade, a ideia de pertencimento que une estes

atores coletivos em uma ação em busca de uma identidade

comunitária. Para Gonh (2000), estes novos movimentos

sociais não estão suficientemente explicados, o que se tem

é o diagnóstico das manifestações contemporâneas que

geraram mudanças significativas tanto na sociedade civil

quanto na política.

Ao buscar uma formulação do conceito de movimentos

social a autora afirma que “movimento social refere-se à

ação dos homens na história” (GOHN, 2000, p. 247) essa ação

envolve um fazer e um pensar de ideias que motivam à mesma,

tratando-se assim de uma práxis.

Procurar entender o que demandam estes novos

movimentos requer uma análise de uma conjuntura, pois cada

organização ou protesto está envolvido em realidade com

características singulares que têm eixos temáticos que vão

desde democracia e liberdade de expressão como é o caso do

Oriente Médio; na Europa os protestos são contra as

reformas econômicas e o desemprego. É interessante notar

que estes protestos acontecem em espaços públicos o que dá

uma maior visibilidade a uma determinada manifestação.

Outro ponto que deve ser levado em consideração é que estes

movimentos têm conseguido alterar alguns discursos

políticos, levando a mudanças e a formação de agendas para

a formação de políticas para alguns segmentos. O campo de

luta destes movimentos é diferenciado, mas o igualitarismo

democrático expressa-se como uma bandeira presente nestes

movimentos (GOHN, 2014).

Os novos movimentos sociais têm construído

representações que são consideradas por Gohn (2010)

“simbólicas afirmativas”, por meio de discursos e práticas.

São estas ações que despertam nos participantes envolvidos

um sentimento de pertencimento social, que Honneth chamou

de estima social. Sobre esse novo associativismo a autora

coloca,

Esse novo associativismo é mais propositivo,operativo, e menos reivindicativo – produzmenos mobilizações ou grandes manifestações, emais estratégico. O conceito básico que dáfundamento às ações desse novo associativismo éo de Participação Cidadã (GOHN, 2010, p.18).

O conceito de Participação Cidadã é envolvido pelo o

de cidadania, que objetiva a construção de uma nova

realidade social onde prevaleça o reconhecimento da

diversidade cultural, dos direitos e deveres de casa ser

humano. Trata-se então de uma participação qualificada, que

terá seu lugar inscrito em leis. Gohn, parte do principio

de que todo movimento social é formado por agrupamentos

humanos, coletivos sociais que estão se alguma forma

inseridos na sociedade e estão em busca da construção de

objetivos. Estes participantes estão inseridos dentro de

uma sociedade civil que vem se firmando em um plano

nacional e internacional, onde podemos falar no

protagonismo de atores sociopolíticos transformados em

novos sujeitos de poder.

Esses sujeitos se organizam em torno de um projeto

social que Gohn (2008) entende com um projeto político-

ideológico, “a apropriação de conhecimento e as

experiências dos sujeitos são a base da prática política

que irá nos explicar a construção dos projetos (GOHN, 2008,

p. 6). É esse projeto que norteia a ação destes sujeitos, o

mesmo não é dado de forma acabada, pelo contrário é

construído de acordo com acordo com a realidade política

daquele grupo, assim como acontece com a cultura política

do mesmo que também não é pronta ou preexistente.

O movimento social, como um sujeito socialcoletivo, não pode ser pensado fora de seucontexto histórico e conjuntural. Asidentidades são móveis, variam segundo aconjuntura. Há um processo de socialização daidentidade que vai sendo construída (GOHN,2008, p.2).

Pensar o movimento social como histórico possibilita-

nos compreender sua capacidade de se transformar de acordo

com o contexto no qual estão inseridos e com as redes que

articulam. As identidades que envolvem este movimento são

perfeitamente mutáveis e vão se construindo de forma

processual e não são únicas, podendo variar em contextos e

conjunturas diferentes. A identidade política de movimento

muda de acordo com as articulações feitas pelos sujeitos,

eles se deparam com projetos “diferentes ou convergentes” e

saberão identificar se forem sujeitos ativos nas ações

coletivas.

O movimento social que este trabalho analisa se insere

dentro de uma categoria que Gohn chamou de “Movimentos

sociais construídos a partir das características da

natureza humana: sexo, idade, raça cor”. Segundo ela este

tipo de movimento vem ganhando centralidade devido sua

natureza universalizante que se destaca em relação a outras

lutas sócias da contemporaneidade. Nessa categoria estão os

movimentos como os de mulheres, negros, índios,

aposentados, jovens e dos homossexuais que é o objeto de

estudo deste trabalho.

Na tentativa de construir um conceito de

homossexualidade Fry e MacRae afirmam que não há uma

verdade absoluta sobre esta questão, que as ideias e

práticas são construídas historicamente e que estão

intimamente relacionadas com o todo das sociedades. Para os

autores o conceito pode variar de acordo com a realidade na

qual está inserido, na Grécia tinha um significado

diferente do que tem para um camponês ou para um índio.

O movimento em defesa dos direitos homossexuais teve

início na Europa, no século XIX, de início lutava contra a

criminalização da homossexualidade, para abolir do Código

Penal da Alemanha, mais especificamente, o parágrafo que

punia o comportamento homossexual entre homens. Nessa época

teve importante atuação o Instituto de Ciência Sexual de

Berlim, que realizou congressos internacionais e formou uma

Liga Mundial para uma Reforma Sexual em 1928. O Instituto

foi pioneiro na realização de estudos de experimentação de

mudança de sexo. “Nesse contexto, a defesa dos homossexuais

dava-se no bojo de uma luta mais ampla por reforma sexual,

incluindo mudanças na legislação e campanhas educativas,

que atraíram a aliança de movimentos trabalhistas e

socialistas, além de vários agrupamentos libertários”

(SIMÕES; FACCHINI, 2009, p. 41). A força do nazismo levou a

destruição do Instituto, e o “recrudescimento” das

condenações por homossexualidade, os presos foram levados

para os campos de concentração, sendo obrigados a usar

uniformes com o símbolo de um triângulo rosa, sendo

submetidos a torturas e passíveis castrações.

Nos anos de 1940 o movimento é retomado nos Estados

Unidos, os ativistas nesse país passaram a adotar uma linha

de atuação mais moderna, com uma ênfase na integração

social. Essa nova onda do movimento homossexual buscava uma

politização mais crescente da liberdade sexual. Esse

momento é marcado por fato que entrou para a história do

movimento, conhecido como “Revolta de Stonewall”, uma

tentativa da polícia de Nova York de interditar um bar

chamado Stonewall Inn, o mesmo era frequentado por

homossexuais, houve um confronto entre policias e

frequentadores do bar, o dia era 28 de junho de 1969 e foi

posteriormente chamado de “Dia do Orgulho Gay e Lésbico.”

A partir de 1980, o ativismo passa enfrentar um novo

desafio: a eclosão da epidemia do HIV-Aids. A doença ficou

conhecida como “peste gay” e reacendeu a discussão em torno

da relação entre homossexualidade e doença, tão questionada

pelos ativistas. As respostas as hostilidades desse período

vão resultar em experiências inovadoras para o movimento em

diversas partes no mundo. No Brasil houve uma luta dos

movimentos por políticas de saúde o que possibilitou uma

aproximação entre estes e o Estado. Essas políticas eram

financiadas em alguns casos por organizações internações,

foram realizados estudos e pesquisas na busca no controle

da doença em todas as partes do mundo.

As redes de comunidades globais e o intercâmbio de

culturas trouxe a oportunidade dos ativistas de organizarem

numa base transnacional. O avanço do processo de

globalização promoveu a atuação de diversos atores não-

estatais no cenário internacional, havendo o que Bringel e

Falero ( 2008) chamaram de “transgressão de fronteiras

nacionais”, ou seja, uma ampliação da discussão de questões

políticas de coletivos sociais que rompeu com o local, com

sua territorialidade, ganhando dimensões internacionais,

havendo uma transnacionalização da política e do

território.

Essa integração transnacional ocorre por meio de

redes, que possibilitam o surgimento de novos padrões de

pertencimento. São através dessas redes que os atores

sociais vão construir novas identidades, com isso podem

solidificar sua capacidade de interação e um aumento da

capacidade de barganha na conquista de objetivos.

Com o processo de transnacionalização os movimentos

sociais compartilham recursos, agendas e fortalecem suas

reivindicações, são nos espaços transnacionais que os

ativistas trocam informações, discutem ideias, levantam

sugestões, socializam demandas, o que amplia seus olhares

para realidade na qual estão atuando (Gohn e Bringel/ Riva

e Munõz, 2012 – Movimentos Sociais na Era Global).

A fundação da ILGA ( Internatonal Lesbian, Gay,

Bisexual, Trans and Intersex Association) em 1978 é um

exemplo de trasnacionalização, a ILGA é uma federação

mundial que reúne grupos que lutam pelos direitos de

lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais.

Atualmente sua rede é constituída por mais de 1044

organizações de 117 países (ILGA, 2015). Este é um espaço

de troca de informação e experiência, os membros se

organizam em rede e articulam maneiras de buscarem os

objetivos que traçaram. Essa articulação em rede não exige

(algumas vezes) um deslocamento físico, mas estão unidos

por uma nova estrutura de articulação política acompanhando

uma tendência global hegemônica de uma união vertical

hierarquizada dos lugares e das relações sociais. Essas

novas horizontalidades geram novas sociabilidades através

da instituição de outras formas de relações sociais, assim

como de vínculos afetivos, solidários e de reconhecimento

mútuo (BRINGEL; RIVA; MUNOZ....., .....).