MONOGRAFIA SOBRE ADUANA AEROPORTUÁRIA NO MERCOSUL

73
ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA MO- 2004 DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DAM MONOGRAFIA (CAEPE) O TRANSPORTE AÉREO, A INTEGRAÇÃO REGIONAL E A SEGURANÇA DA AMÉRICA DO SUL: ALTERAÇÕES NA ADMINISTRAÇÃO ADUANEIRA AEROPORTUÁRIA BRASILEIRA

Transcript of MONOGRAFIA SOBRE ADUANA AEROPORTUÁRIA NO MERCOSUL

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

MO-2004DEPARTAMENTO DE ESTUDOS

DAM

MONOGRAFIA (CAEPE)

O TRANSPORTE AÉREO, A INTEGRAÇÃO REGIONALE A SEGURANÇA DA AMÉRICA DO SUL:

ALTERAÇÕES NA ADMINISTRAÇÃO ADUANEIRAAEROPORTUÁRIA BRASILEIRA

Auditor-Fiscal da Receita Federal

MARCOS ANTONIO BEZERRA BRITO

O TRANSPORTE AÉREO, A INTEGRAÇÃO REGIONAL E A

SEGURANÇA DA AMÉRICA DO SUL: ALTERAÇÕES NA

ADMINISTRAÇÃO ADUANEIRA AEROPORTUÁRIA BRASILEIRA

MONOGRAFIA APRESENTADA COMO EXIGÊNCIA CURRICULAR

PARA A OBTENÇÃO DO DIPLOMA DO CURSO DE ALTOS

ESTUDOS EM POLÍTICA E ESTRATÉGIA

ORIENTADOR: CF (FN) AUGUSTO

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

c2004.

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

Av. João Luís Alves, s/no. – CEP: 22.291-090 – Fortaleza de

São João, Urca

Rio de Janeiro / RJ

Este trabalho, nos termos da legislação que resguarda

os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA

SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial

de textos do trabalho, ou mencioná-lo, para comentários e

citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja

feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de

responsabilidade do autor e não expressam qualquer

orientação institucional da ESG.

DEDICATÓRIA

ao estado brasileiro, que me proporcionou

educação, civismo, e esta oportunidade.

SUMÁRIO

RESUMO ..........................................................................................................................

INTRODUÇÃO GERAL ..................................................................................................

CAPÍTULO I – TRANSPORTE AÉREO: INTEGRAÇÃO E SEGURANÇA DEPESSOAS, BENS E INTERESSES 1-1. Da Cooperação à Integração, e Do Transporte Aéreo Internacional ao Inter-regional............................................................................

CAPÍTULO II – INTRODUÇÃO À INTEGRAÇÃO REGIONAL: FORMAÇÃO DA UNIÃO EUROPÉIA2-1. A integração econômica com 40 anos de paz e segurançana Europa ................2-2. Os Passos do Tratado de Maastricht ........................................................2-3. Motivos, Finalidades, Princípios e Passos de Uma Integração ....

CAPÍTULO III – UMA INTRODUÇÃO AO MERCOSUL

CAPÍTULO IV – INTEGRAÇÃO REGIONAL, SEGURANÇA NA AMÉRICA DOSUL E OS PROCEDIMENTOS ATUAIS DA ADUANA BRASILEIRA EMAEROPORTOS INTERNACIONAIS: JURISDIÇÃO ADUANEIRA E OCONTROLE DO FLUXO DE PESSOAS E BENS NO TRANSPORTEAÉREO .........

CONCLUSÃO ................................................

6

7

9

10

151720

26

33

41

44

..........................................................

........

Referências Bibliográficas ................................................................................................

RESUMO

BRITO, Marcos A. B. O transporte aéreo, a

integração regional e a segurança na América do

Sul: alterações na administração aduaneira

aeroportuária brasileira. ESG: 2004. Monografia.

Análise dos conceitos de transporte aéreo

internacional, integração regional e segurança,

atualmente inseridos na dinâmica da administração

aduaneira no âmbito do MERCOSUL, com ênfase nos

procedimentos de segurança e controle do fluxo de

pessoas e bens nos aeroportos internacionais

brasileiros. Analisa os principais dispositivos da

nova regulação aduaneira brasileira e seu grau de

pertinência e adequação aos atuais vetores

geopolíticos e geoeconômicos de integração e

segurança na América do Sul.

O TRANSPORTE AÉREO, A INTEGRAÇÃO REGIONAL E ASEGURANÇA DA AMÉRICA DO SUL: ALTERAÇÕES NAADMINISTRAÇÃO ADUANEIRA AEROPORTUÁRIA BRASILEIRA

INTRODUÇÃO GERAL

O transporte aéreo surgiu já como vetor do

desenvolvimento dos povos na paz e defesa na guerra

no início do século XX, modificando indelevelmente

as relações humanas entre o tempo e o espaço, pelo

que o espaço aéreo tornou-se via, caminho, rota a

ligar diretamente e em curto prazo povos sem

fronteiras terrestres. Inicialmente, no curso das

duas guerras mundiais e da guerra fria, embora

polarizadas geopoliticamente as relações entre os

povos, desde logo o transporte aéreo demandou para

seu desenvolvimento – incontestável consenso entre

os estados - um crescente entendimento e acordo. Já

hoje, a dinâmica da integração regional e da

globalização, expressão atual de imperativos

sistêmicos econômico-administrativos 1, trouxe novas

e inafastáveis premissas nas relações entre

cidadãos e entre estes e demais entes políticos, e

entre os tradicionais atores das relações

internacionais, alterando seu outrora predominante

perfil geopolítico, pela ampliação do espaço de

relações para além da dimensão territorial estatal,

a demandar, no âmbito deste estudo da América do

Sul, um redimensionamento das atividades afetas à

segurança, portanto da segurança aeroportuária, já

agora a ser cogitada e concebida também em âmbito

regional integrado. Para tanto, consideraremos

neste estudo os contornos do atual processo de

integração regional - que se dá também pela

expressão econômica do poder -, que tem

antecedentes na União Européia, daí para os

contornos do processo de integração regional da

América do Sul (e quiçá latina, com o recente

1 Tema desenvolvido notadamente por Jürgen Habermas, que dá contada influência inafastável no nosso cotidiano ocidental dos imperativosmicroeconômicos (oferta-procura de bens, serviços e fatores deprodução), macroeconômicos (política cambial, fiscal e monetária) doestado e entre os estados, organizações e/ou corporações, eimperativos administrativos de suas relações com os cidadãos.

pleito mexicano de ingresso), relacionando-os com

aspectos de procedimentos aduaneiros de controle de

circulação de pessoas e bens nos aeroportos

internacionais adequados ao estágio de nossa

integração regional no âmbito do MERCOSUL, qual

seja uma união aduaneira. Todas estas variáveis

estão a demandar do transporte aéreo nova

racionalidade e flexibilidade logística para que,

atendendo às novas diretivas de segurança deste

início de século, mantenha o imprescindível grau de

competitividade de qualidade e custos.

Para compreendermos o sentido deste nosso processo

de integração do MERCOSUL e seus reflexos para o

transporte aéreo e a segurança, entendemos

necessário o conhecimento do que seja um processo

de integração, e o exemplo mais adequado e recente

é o da União Européia, iniciado logo ao final da

Segunda Guerra Mundial, mesmo em conseqüência da

necessidade de um mínimo de consenso entre os povos

europeus para reerguer-se economicamente da

destruição sem precedentes havida. No entanto, o

processo de integração europeu já ultrapassou 40

anos de formação, estando em fase de consolidação,

pelo que o consideramos oportuno para o

conhecimento do processo de integração regional do

MERCOSUL, e daí explorando o regramento jurídico em

torno do qual se dão as relações privadas e

públicas afetas ao transporte aéreo, focalizando o

papel da Aduana Brasileira no tema da segurança e

controle da circulação de pessoas e bens nos

aeroportos internacionais, em vista da recente

alteração da regulação aduaneira, resultante mesmo

do processo em curso de integração regional do

MERCOSUL, importante vetor de nossa hegemonia na

América do Sul.

CAPÍTULO I – TRANSPORTE AÉREO: INTEGRAÇÃO E

SEGURANÇA DE PESSOAS, BENS E INTERESSES

A globalização e a regionalização econômica,

social e política, fenômeno que atua dentro e além

da geografia territorial, alcança o transporte

aéreo de hoje exigindo-lhe alternativas seguras e

economicamente viáveis de deslocamento de pessoas e

bens, no tempo real dos interesses públicos e

privados, somente possíveis pela integração

aeronáutica mundial.

O caráter universalista do aperfeiçoamento da

gestão aeroportuária moderna, em especial no mundo

em desenvolvimento, induz à cooperação

internacional e, por conseguinte, ao regionalismo e

à associação aeronáutica. A este respeito é preciso

considerar dois aspectos. O primeiro chama a

atenção para o universalismo do transporte aéreo e

para a hierarquia das relações, no que se refere à

infra-estrutura aeroportuária. O segundo é relativo

à questão aeroportuária por meio do estabelecimento

de entidades internacionais públicas ou privadas e

aos mecanismos de cooperação.

A totalidade dos Estados vê o transporte

aéreo de modo universal e essa visão leva a

políticas nacionais em que a aviação civil

desempenha um papel de integração ao nível

nacional, regional e internacional. Assim, suas

políticas nas áreas diplomática, econômica e social

implicam o desenvolvimento do transporte aéreo e da

infra-estrutura aeroportuária.

No campo do direito público internacional,

vale ressaltar que há vários organismos em

diferentes níveis, cuja função específica é

contribuir para as relações aéreas internacionais,

e as Nações Unidas e seus programas de assistência

são elementos fundamentais na estruturada

cooperação internacional encetada desde o fim da 2 a.

Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. As

correspondentes alterações decorrentes da operante

transição das relações econômicas internacionais da

multilateralidade para a integração, portanto da

internacionalidade para a inter-regionalidade são

sinteticamente refletidas a seguir.

1-1. Da Cooperação à Integração, e Do

Transporte Aéreo Internacional ao Inter-

regional

Considerando-se que o regionalismo e a

cooperação internacional são já agora

acontecimentos mais do que uma tendência, é preciso

organizá-los de modo prático e objetivo em um

ambiente político e econômico que ainda não

alcançou a maturidade em grande número de Estados.

É preciso levar esta heterogeneidade dos agentes

públicos e privados em consideração a fim de

apreciar os seus componentes e especificar seus

papéis nas relações aeronáuticas e de transporte

aéreo, em vista das relações multilaterais, de

integração, ou inter-regionais.

O vetor da integração regional é econômico,

daí porque as primeiras iniciativas de integração –

que pressupõem não o multilateralismo, em que de

início há vários lados, interesses distintos, mas

tem como ponto de partida interesses e

posicionamentos comuns – apontam para a queda das

barreiras aduaneiras, com a conseqüente modificação

nos procedimentos de controle de entrada e saída de

pessoas e bens entre os estados, repercutindo

imediatamente nos procedimentos aeronáuticos e de

transporte aéreo (e.g. comunicação entre as

aeronaves e os aeroportos, unitização de carga,

respectivamente pela apresentação de pessoas e bens

aos serviços de imigração e aduaneiro).

A tendência regional e universal que se

manifesta ativamente na aviação civil há vários

anos tem raízes num sistema jurídico que pôs em

convívio princípios universalistas e práticas

nacionais fundadas na soberania do Estado,

expressando certa redistribuição das forças

políticas mundiais nascidas da descolonização a

partir da Segunda Guerra Mundial, mas

gradativamente mitigadas pelo processo de

mundialização da produção e distribuição de bens,

direitos e interesses.

As expressões bem definidas desse movimento

internacional são os regionalismos e o

internacionalismo.Eles compreendem duas faces bem

distintas, pois podem ser vistos como um meio ou

como um fim, assumindo matizes por vezes

antagônicos. Eles são um meio na medida em que se

tratar de encontrar instrumentos jurídicos capazes

de promover o ordenamento do intercâmbio

aeronáutico. Mais ainda, se certos Estados assim o

desejarem, fornecer uma base comum para a adoção

conjunta de iniciativas individuais de interesse

geral. No primeiro caso, o regionalismo permite

preencher certas lacunas, oferecendo um quadro mais

próprio à solução de problemas cuja importância

ultrapasse as fronteiras da área de atuação

nacional. No segundo caso, ele favorece a criação

de entidades regionais para a realização de

objetivos comuns bem definidos. O regionalismo e o

internacionalismo serão atividades-fim se

alicerçarem iniciativas cuja consecução exija a

aliança ou união de Estados. No atual contexto

mundial, essa reação deve ser explorada com

cuidado, pois significa abandono parcial de

soberania. Os Estados, especialmente no mundo em

desenvolvimento, são pouco favoráveis a essa

renúncia parcial.

De qualquer modo, para a consecução desse

objetivo, será preciso solucionar, antecipadamente,

as dificuldades de negociação e repartição de

poderes entre a instituição internacional e seus

membros. A introdução de novos procedimentos e de

um sistema de relações comandadas pelo

multilateralismo torna-se, por vezes, muito difícil

quando implica as questões primordiais da

independência dos Estados e da identidade nacional.

A título ilustrativo, é possível citar o exemplo

dos acordos multilaterais, que diferentemente dos

bilaterais, não permitem temperar as concessões

pela reciprocidade ou através da negociação direta

com o parceiro. Outrossim, a regionalização pode

representar uma ofensa quando um grupo de Estados

quer impor uma iniciativa a fim de harmonizar suas

posições contra outros Estados considerados

exteriores ao bloco regional, territorial ou

convencional.

A criação de uma entidade regional ou

multinacional fundamenta-se em aspectos objetivos e

subjetivos. Os primeiros referem-se a

características, como o território e a comunidade

humana, que são objetos de uma ação coesiva. Os

últimos referem-se às razões e motivações de que é

feita a vontade política de união. A este respeito,

a especificidade do transporte aéreo, em relação a

outras modalidades de transporte, compreende

mobilidade, inexistência de fronteiras, rapidez,

organização jurídica e necessidade de infra-

estrutura. Esses elementos levantam dificuldades

para definir um quadro territorial e especificar os

interesses comuns. No que se refere ao quadro

territorial, a dificuldade provem do fato de que

falta precisão à noção de região. Por exemplo, há

várias Europas: a Europa geográfica, a Europa da

U.E. Da mesma forma, é possível perguntar se o

México faz parte integrante da América do Norte ou

da América Latina. Ou se o Egito situa-se na África

ou no Oriente Médio. Dependendo da classificação

adotada - política, econômica, lingüística, étnica

ou outra - o Estado fará ou não parte de uma

região.

Os interesses comuns também provocam

dificuldades que variam de acordo com os setores de

atividades e as circunstâncias. As associações de

aeroportos são diferentes das companhias de

transporte aéreo regular, que por sua vez, são

diferentes das companhias de transporte aéreo não

regular. Os interesses a serem conciliados

ultrapassam muitas vezes as fronteiras do conceito

territorial. E como a circulação transfronteiras de

pessoas e bens é mediada em maior ou menor medida

pelas soberanias nacionais, fazem diferença acordos

bilaterais e multilaterais dos acordos regionais de

integração econômica, na medida em que nestes

últimos, tendência operante no século XXI, em

benefício da dinamização e irradiação do progresso

e bem-estar, os controles aduaneiros são

simplificados, diferenciados daqueles em que, caso

a caso, unilateral a unilateral, são especificados

os pontos de maior ou menor gravame tarifário,

fitossanitário, ou de outro gênero, em qualquer

caso de tempo dispendido no trâmite. E o tempo é o

bem mais caro aos empreendimentos transfronteiras

terrestres.

Quanto aos elementos subjetivos, é preciso

observar que a formação de um movimento regional,

que questiona a soberania dos Estados e a

identidade das companhias, implica certo número de

concessões. A sua implementação e resultado

dependem da expressão de uma vontade, de modo

amplamente heterogêneo formada nos Estados que

intentam integrar-se economicamente, lembrando-se

que no campo político essa vontade até o fim da

Guerra Fria só era possível por um perigo externo

ou em vista da existência de um movimento de união

política interna, cuja aplicação à aviação

comercial representava uma das manifestações

concretas.

Assim sendo as motivações, no

multilateralismo, e os pontos iniciais de consenso,

num processo de integração, devem fundamentar-se em

bases muito sólidas e devem ser permanentes.

Aproximação entre Estados é obra de longo prazo,

que deve vencer resistências para obter êxito e

durar. Mesmo se a conjunção dos dados jurídicos e

econômicos e da vontade política permitir

considerar a formação de uma entidade multilateral

ou regional coerente e sólida, é necessário

definir-se o objetivo ou seja, a finalidade para a

qual tendem as forças mobilizadas, no caso do

multilateralismo, e no caso do regionalismo o bloco

de consenso inicial para a adoção de um

posicionamento externo comum no campo econômico,

antes de se formar algum vetor permanente comum no

campo político.

Mais que definir os conceitos regional e

multilateral, seus domínios de aplicação, que

compreendem componentes complexos e múltiplos, ou

sua finalidade, dependentes de inúmeras motivações

imprecisas, melhor é tê-los abertos para o tempo,

compreendendo-os em seus acontecimentos

O regionalismo e o multilateralismo não se

apresentam como uma reação institucional do direito

positivo internacional. Eles surgiram

progressivamente na aviação civil, sob forma de

corrente de idéias e de soluções práticas para o

desenvolvimento aeronáutico. A abordagem política

das relações internacionais levou, durante a Guerra

Fria, à adoção de uma estratégia que traduzia a

vontade de ter ou conservar posições privilegiadas

nos intercâmbios aeronáuticos mundiais ou

regionais. A abordagem política das relações

internacionais que introduziram novas formas de

trabalhar com os conceitos políticos e econômicos

que vinham extrair o máximo do sistema

internacional existente, sem, no entanto, alterar a

sua natureza, modificou-se indelevelmente com o

advento do mundo econômico multipolar, embora, no

campo político, entendam alguns estarmos em um

mundo unipolar.

O internacionalismo e o regionalismo

conciliam-se, ora como ação defensiva ora como ação

ofensiva no campo político, e no campo econômico

com os posicionamentos dos blocos regionais de

Estados economicamente integrados. Assim, o fim

político de uma redistribuição das forças nos

intercâmbios aeronáuticos e um deslocamento em

direção ao equilíbrio no plano universal ou no

plano regional. E no aspecto econômico não têm-se

necessariamente objetivos definidos, senão bases de

posicionamento unificadas, pontos iniciais de

consenso.

O movimento regional ocupa, no meio

aeronáutico de intercâmbio internacional do

transporte aéreo, um lugar muito importante e

crescente no plano político, porém pouco efetivo

nos planos jurídico e comercial, aí dependente

portanto dos vetores macroeconômicos dos Estados

eventualmente ingressantes em um processo de

integração econômica.

CAPÍTULO II – INTRODUÇÃO Ã INTEGRAÇÃO

REGIONAL: FORMAÇÃO DA UNIÃO EUROPÉIA

No momento em que o Brasil protagoniza o

Mercado Comum do Sul com Argentina, Uruguai e

Paraguai, a partir do Tratado de Assunção, já com

adesões de Chile, Bolívia, Venezuela e México, e

que deverá ser estendido progressivamente a mais

países da região, torna-se particularmente

interessante o conhecimento da integração européia,

para bem relacionar-se com a Europa unificada e

utilizar com um real proveito todos os ensinamentos

que esta positiva experiência teve e tem condições

de transmitir ao longo dos anos.

2-1. A integração econômica com 40 anos de

paz e segurança na Europa

Até mesmo muito antes da criação formal das

Comunidades Européias (CE), a idéia de uma união

sólida entre os Estados europeus já havia

manifestado uma expressão, seja política ou

econômica, sob as mais variadas formas. Foram, por

exemplo, empreendidos diversos esforços neste

sentido de impor uma unidade à Europa, tanto

através de uma posição de hegemonia, tanto sob o

jugo de um ditador. No primeiro caso, recorda-se as

tentativas de Napoleão Bonaparte, que ambicionava,

antes de tudo, uma unificação total da Europa sob o

domínio francês; na segunda hipótese, o esforço

mais marcante em tal sentido foi o de Hitler, que

aspirava a submissão da Europa ao poder do terceiro

Reich, pela força. Sobretudo após as terríveis

experiências suportadas na Primeira Guerra Mundial,

por praticamente todos os povos europeus,

desenvolveram-se também vários modelos para uma

pacífica e voluntária união entre parceiros, com

idênticos direitos. Mas todas estas e outras

tentativas de unificação pacífica da Europa

falharam, em razão dos ideais de imperialismo e

nacionalismo então dominantes em muitos pontos do

território europeu; pelo contrário, a explosão de

inovação e de potência ocorrida na Europa, tinha

sido, na verdade, acompanhada de uma grande

irradiação político-militar. Em 1939, às vésperas

da Segunda Guerra Mundial, a mesma Europa já

dominava política, cultural, militar e

economicamente grande parte do globo terrestre,

tanto que controlava mais de um terço das terras

emersas, ou seja, um espaço nada menos do que

trinta vezes superior à sua base metropolitana. A

Segunda Guerra recoloca em discussão todos esses

dados, pois ela eclodiu na Europa, arrasando e

dividindo o continente: milhões de mortos, uma

economia em destruição, uma influência política em

declínio, um inteiro poder que lentamente

desaparece. A guerra trouxe, além de tudo, um caos

completo para toda a Europa; assim, após a

industrialização e a expansão, quase na metade do

século XX a Europa perdia a sua secular supremacia.

Infelizmente, foi necessário a Europa ficar mais

uma vez em ruínas para que vigorasse a consciência

de que uma rivalidade incessante seria

absolutamente ineficaz e, até mesmo, fatal para

todo o continente europeu.

Somente este desabamento total da Europa

permitiu que fosse dado um impulso à idéia de uma

nova ordem européia, com a criação de um novo tipo

de relação entre os Estados, capaz de evidenciar as

solidariedades e de traduzi-las então em concretos

termos institucionais. As dimensões territoriais

e/ou econômicas dos países europeus, considerados

individualmente, resultavam claramente muito

modestas, em especial se confrontadas com aquelas

das duas potências da época (USA e URSS), ou com as

do Japão. Assim, um tal fenômeno comunitário

extraiu todo o seu dinamismo do projeto visionário

e generoso de seus fundadores, nos quais a guerra

havia suscitado a firme vontade de criar todas as

condições possíveis, para uma séria paz duradoura e

definitiva entre os povos europeus.

2-2. Os Passos do Tratado de Maastricht

O primeiro dos objetivos da nova união,

mencionados no artigo B do Tratado, é a promoção de

um progresso econômico e social equilibrado e

duradouro, em todo o território comunitário, em

particular, através da criação de um espaço sem

fronteiras internas, do reforçamento da coesão

econômica e social, além do estabelecimento de uma

União Econômica e Monetária, com a adoção de uma

moeda única, o Euro. Por outro lado, a real

afirmação de uma identidade européia na cena

internacional, constitui o segundo objetivo da nova

União, perseguido mediante a atuação de uma

política externa comum, que compreende a Política

Exterior e de Segurança Comum (PESC), a política de

cooperação ao desenvolvimento e as relações

externas nos outros setores de competência da

União. O destaque aqui é dado também para a

definição de uma política comunitária autônoma de

defesa, com prazo determinado, que deverá conduzir

gradativamente e sem recuos a uma defesa comum.

A União se compromete, ainda, com seu

terceiro objetivo fixado, no mesmo dispositivo

legal, ao reforço da defesa dos direitos e dos

interesses dos cidadãos de seus Estados-membros,

mediante a inovadora instituição de uma “cidadania

da União” e a realização progressiva de uma

política social comunitária. A União também

estabelece expressamente o seu quarto objetivo, que

é o efetivo desenvolvimento de uma cooperação mais

estreita no setor da justiça e dos assuntos

internos. Esse objetivo conduziu ao nascimento de

um órgão de coligação entre as políticas nacionais,

que opera sobre o plano da prevenção e da luta

contra a criminalidade, e entre as respectivas

autoridades judiciárias, um serviço interligado de

segurança e uma corte de justiça. A tal propósito,

o novo tratado alarga os poderes sancionadores da

Corte de Justiça Comunitária, fornecendo à mesma,

uma certa faculdade de impor multas aos eventuais

governos inadimplentes; ainda neste setor de

atuação, prepara a elaboração de uma verdadeira

política comum da imigração. Finalmente, o relativo

à “conservação de tudo o que foi adquirido em nível

comunitário e do seu posterior desenvolvimento,

examinando em que medida as políticas comuns e as

formas de cooperação introduzidas pelo Tratado

podem ser revistas com o objetivo de garantir uma

maior eficácia dos mecanismos e das instituições

comunitárias”. Esta disposição legal tem a clara

intenção de proteger, de forma totalmente

abrangente, a manutenção da integralidade do acervo

comunitário. Todavia, a Europa unida não deverá, de

maneira alguma, ser transformada num tipo de Estado

centralizado com estruturas rígidas: a União

Européia atual tem uma constituição sem Estado.

As diversidades culturais nacionais,

regionais e locais devem ser mantidas. Por isto, a

atuação dos objetivos da nova UE deve ocorrer no

mais absoluto respeito ao princípio fundamental da

subsidiariedade (Capítulo Terceiro). Tal princípio,

embora desde sempre tenha tido ampla aceitação

doutrinária e uma coerente aplicação

jurisprudencial, é pela primeira vez explicitamente

consagrado neste Tratado, o que significa que a

amplitude do seu âmbito define com exatidão todos

limites da ação comunitária. Em poucas palavras,

este principio determina que a nova União deve

assumir apenas as funções que pode desempenhar

melhor do que os Estados-membros e/ou do que suas

regiões. Então, nos “domínios que não sejam das

suas atribuições exclusivas, a nova Comunidade

intervém apenas de acordo com este princípio da

subsidiariedade, na medida em que os objetivos da

ação encarada não possam ser suficientemente

realizados pelos Estados e possam ser melhor

alcançados ao nível comunitário”. Reafirma-se assim

princípio através do qual todas as decisões, desde

que viáveis, devem ser adotadas sempre o mais

próximo possível aos cidadãos.

A integração européia se desenvolveu em

várias etapas e em formas diversas. Logo depois da

CECA, em 1952, nasceram, em 1957, a EURATOM e,

respectivamente, a CEE: o interesse era, desde

então, antes de tudo dirigido à completa integração

econômica. Em 1967 todas as principais instituições

comunitárias das três Comunidades Européias, foram

oficialmente unificas. Assim, se de um lado a Corte

de Justiça das CE e Parlamento Europeu tinham sido

desde o início competentes para as três

Comunidades, a partir daquele exato momento também

a Comissão e o Conselho passaram a sê-los. Já

naquele ponto, para a maioria dos cidadãos europeus

existia somente uma unida Comunidade Européia.

Apesar disto, os três textos dos Tratados

continuaram a existir juridicamente de uma forma

distinta, sem serem “fundidos” de fato. Esta

situação não foi modificada, nem mesmo pela ocasião

da reforma operada em 1987, com o Ato Único

Europeu, permanecendo, de maneira surpreendente,

ainda igual, com o Tratado de Maastricht. De fato,

o Tratado da União Européia de 1992 contém amplas

modificações e integrações dos três Tratados

existentes, simultaneamente para a CECA, a EURATOM

e a CEE. Além da concreta “fusão” das três

Comunidades Européias, criaram-se procedimentos de

participação decisional do Parlamento Europeu sobre

o orçamento da nova união e sobre a União Econômica

e Monetária (UEM). Ainda no final de 1992, as

comunidades Européias se transformaram formalmente

num grande mercado único que permite que os bens,

serviços, cidadãos e capitais circulem livremente,

como se estivessem no interior de um singular

Estado-membro.

Os numerosos problemas desta União de caráter

não exclusivamente econômico, como por exemplo, a

proteção do meio ambiente e as disposições

relativas à cooperação nos setores da justiça e dos

assuntos internos, em especial sobre uma eficaz

cooperação entre todas as políticas e autoridades

judiciárias, assumiram um peso bem maior, a par com

cidadãos privados e/ou com operadores efetuando

pagamentos em todo o continente e fora dele, e

interesses em nível internacional sendo defendidos

por instituições comuns: estes são os principais

objetivos da edificação da Europa do século XXI.

2-3. Motivos, Finalidades, Princípios e

Passos de Uma Integração

Com o fim da bipolaridade geopolítica, e o

advento da transnacionalidade das comunicações,

integra-se portanto o mundo em tempo real. E embora

possam os países isoladamente encetar esforços no

sentido do desenvolvimento, a sobrevivência das

próprias organizações estatais já hoje depende de

um esforço de agrupamento em associações de estados

dentro de determinado critério, seja de posições

geográficas, afinidades políticas, língua comum,

características tipológicas ou mesmo por

necessidades militares, cujo primeiro passo de

aproximação tem vetor macroeconômico. Com a

globalização e a regionalização das nações

industrializadas, os países subdesenvolvidos se

vêem compelidos a fortalecer por esta via sua

inserção internacional.

Em princípio, num processo de integração

regional buscam as sociedades tornar possível: a)

que os países utilizem as suas já existentes

capacidades agrícolas e industriais mais

completamente suprindo as necessidades mútuas; b)

que novos investimentos ocorram em indústrias que

não o poderiam fazer se conflitadas aos mercados

nacionais individuais; c) que tanto as antigas

quanto as novas indústrias reduzam seus custos

beneficiando-se das economias de maior produção e

especialização; d) que sejam eliminados os

estrangulamentos externos do comércio, permitindo

em conseqüência a expansão das exportações; e) que

sejam modernizados e completados os sistemas de

transporte e comunicação dos estados membros; e f)

que se reduzam a dependência dos grandes centros

econômicos de modo a aumentar o poder de negociação

externa da região e dos seus países membros. Um

desenvolvimento econômico pressupõe portanto

desenvolvimentos industrial e tecnológico e que

tais desenvolvimentos serão facilitados se as

barreiras do comércio interno da região forem

reduzidas ou eliminadas. O maior aproveitamento de

capacidades instaladas transfronteiras, mas

regionalmente consideradas, permite substituir

produção proveniente de terceiros países extra-

bloco, evitando o possível fechamento de indústrias

intra-bloco, se devidamente acordados setorialmente

instrumentos preventivos da competência da produção

entre países membros, pela segmentação setorial da

produção e da oferta. No entanto, os resultados

dependerão em muito da situação macroeconômica dos

países e da verdadeira compreensão dos governos de

que os custos dos ganhos econômicos futuros,

derivados de uma ampliação de mercados regionais,

devem ser pagos, hoje, através da redução das

autonomias na condução das políticas econômicas

nacionais.

A integração econômica pode ser entendida como um

processo pelo qual são abolidas as discriminações

entre unidades econômicas, com o objetivo de

determinar-se o aumento da taxa de crescimento do

produto real da área integrada. Não é entretanto

suficiente, para que seja alcançada a integração, a

eliminação de fatores discriminatórios - barreiras

alfandegárias, impostos sobre produtos importados,

restrições quantitativas e todo e qualquer

artifício que vise a discriminar contra produto de

origem externa e impedir o livre movimento de

fatores de produção - tornando-se necessário também

mudanças nas instituições e políticas econômicas

prevalecentes nas unidades a serem agrupadas.

A integração também corresponde à criação de

uma estrutura econômica mais eficiente, mediante a

supressão, na medida do possível, não só dos

obstáculos artificiais como dos naturais, de

maneira a propiciar maior liberdade ao comércio e

ao movimento de fatores produtivos. Não só é

necessário, como essencial, para se atingir a

integração, a redução ou eliminação de obstáculos

naturais, atenuando-se, por exemplo, os efeitos

econômicos das distâncias mediante o planejamento

de eficiente sistema de transportes. Temos, neste

caso, a chamada integração física que se concretiza

através da construção de pontes, estradas,

ferrovias e hidrovias interligando centros

econômicos de dois ou mais países. E do ponto de

vista do transporte aéreo, a criação e expansão de

uma infraestrutura aeroportuária regionalizada por

padrões de procedimentos quanto ao fluxo de pessoas

e bens intra-região e extra-região uniformizados;

tal é, como veremos adiante, o novo papel das

aduanas aeroportuárias no âmbito do MERCOSUL.

A integração econômica, como fenômeno

dinâmico, pode se apresentar sob diferentes formas,

alcançando diversos graus de profundidade e

perseguindo distintos objetivos. Entre as formas de

integração, encontramos a completa ou global, a

setorial ou parcial e a por projetos específicos.

Na primeira se está referindo à adoção de medidas e

ações acordadas que alcançam a vida econômica total

dos países em processo de integração, independente

da divisão por graus que se aceite. Não existem, em

princípio, temas excluídos, quando se trata de

abolição de barreiras alfandegárias, de abolição

dos obstáculos à livre circulação dos fatores

produtivos ou da coordenação e harmonização das

políticas econômicas nacionais. Na integração

setorial, surge um critério diferente em relação

aos mecanismos do processo embora sejam mantidos os

objetivos finais. Com efeito, para se integrar as

diferentes atividades ou indústrias, procura-se

efetuar a integração sucessiva, de setor em setor

da economia, para chegar, como no modelo anterior,

à integração completa dos países envolvidos.

Finalmente, na integração por projetos específicos

temos uma forma flexível, de fácil instrumentação e

execução, que se apresenta quando dois ou mais

países de uma região decidem realizar projetos

econômicos de interesse comum e que serão geradores

de interdependência econômica. Como existem

diferentes níveis de interpretação e compromissos

entre as economias dos países envolvidos, surge o

estabelecimento de diferentes graus no processo de

integração econômica. Eles se ordenam do menor ao

maior grau, desde a simples concessão de

preferências tarifárias até a unificação completa

das economias participantes.

Há uma classificação que resultou em grande

parte da experiência da União Européia, que prevê:

a área de intercâmbio preferencial, a zona de livre

comércio, a união aduaneira, o mercado comum, a

união econômica e a integração total. Assim, temos:

a) Área preferencial: caracterizada pela

redução de tarifas para um elenco de produtos sem

atingir a estabilidade das tarifas e sem incluir a

eliminação total dos tributos e outras restrições

às importações. É apenas uma margem de preferência

em favor dos países da área. Ao ser criado o GATT,

ficou proibida a criação de novas áreas, abrindo-se

posteriormente exceção para que países

desenvolvidos concedessem preferências tarifárias

para países em desenvolvimento.

b) Zona de Livre Comércio: é a forma mais

simples de associação econômica entre os estados

aceita pelo GATT e é configurada mediante um acordo

entre os países participantes para suprimir as

tarifas e outras restrições quantitativas o

intercâmbio de bens, porém, mantendo cada país

membro, em relação ao resto do mundo, sua autonomia

financeira, comercial, e aduaneira. Ele pode ser

visto como uma forma de transição entre a

cooperação internacional e a integração econômica,

pois não requer instituições ou competências e os

laços que cria se circunscrevem ao intercâmbio de

bens entre os países membros. No Brasil, como não

objeto de regulamentação pelo congresso, terminou

por ser implantada através de construção

jurisprudencial a partir do ingresso brasileiro

neste acordo geral de tarifas e comércio.

c) União Aduaneira: é conseguida mediante

acordo entre os países participantes para garantir

a liberdade total de comércio entre os membros e

pressupõe uma política comercial comum em relação a

terceiros países cujo principal instrumento é o

estabelecimento de uma tarifa externa comum. Com a

adoção dessa tarifa, desaparecem as vantagens

artificiais entre os países membros, ligadas a

diferenças de suas tarifas comerciais.

d) Mercado Comum: com o Mercado Comum os

países membros não só acordam suprimir as

restrições comerciais e quantitativas do comércio

recíproco assim como também os obstáculos que

dificultam o livre movimento dos fatores de

produção capital e mão-de-obra. É este aspecto que

constitui a diferença fundamental deste grau de

integração em relação aos anteriores e significa a

livre circulação dos trabalhadores e dos movimentos

de capital entre os países signatários. Assim como

o direito ao estabelecimento empresarial, sem

discriminações, em qualquer deles.

e) União Econômica: é a etapa do processo de

integração em que se combinam a supressão de todo

tipo de restrições ao movimento de mercadorias e de

fatores produtivos com um grau considerável de

harmonização das políticas econômica, monetária,

financeira, fiscal, industrial, agrícola e social

dos Estados participantes.

f) Integração Total: é a etapa final do

processo e vai além dos graus anteriores na medida

que pressupõe a união de todas as políticas

nacionais dos países membros: econômica,

monetária, fiscal, social, etc e, em conseqüência,

prevê o estabelecimento de uma autoridade

supranacional, cujas decisões deverão ser acatadas

por todos os membros, e até a adoção de uma moeda

comum e de um Banco Central único.

Vale ressaltar que aos distintos estágios de

um processo de integração correspondem nos países

arranjos de controle de procedimentos e logística

no transporte aéreo e serviço aduaneiro, a atender

as diferenciadas espécies de demandas resultantes

das igualmente diferenciadas relações econômicas e

políticas intra e extra-bloco. Nos países altamente

industrializados a integração espera tirar seu

maior benefício na realocação da produção já

existente, enquanto entre os países em

desenvolvimento, deve orientar-se de modo a gerar

aquela produção, propiciando condições para o pleno

desenvolvimento e aproveitamento dos fatores

produtivos disponíveis, e para o aumento da taxa de

formação de capital. Pelo fato de já manterem,

entre si, elevada produção de seu comércio de

anterior global, entre países desenvolvidos a

integração pode basear-se, em grande parte, na

liberação de comércio, porque eles já dispõem de

amplas facilidades de transporte e de uma infra-

estrutura comercial bem desenvolvida. Já para os

países em desenvolvimento, a pequena percentagem do

comércio entre eles diminui sobremodo os benefícios

da simples liberação do comércio. Trata-se

portanto, de criar algo mais, estabelecendo novos

canais de comércio e contatos comerciais,

desenvolvendo fontes de abastecimento e mercados e

propiciando novas facilidades de transportes.

Pode-se dizer portanto que para os países

industrializados a integração contém um componente

ligado ao seu crescimento, enquanto que para os

países subdesenvolvidos inclui-se o imperativo do

desenvolvimento, que contém o componente de

propiciar-se um crescimento com progresso social,

sendo portanto tarefa condicionante a exigir

decidido apoio político.

CAPÍTULO III – UMA INTRODUÇÃO AO MERCOSUL

Os objetivos fixados no artigo 1º do Tratado

de Assunção - ou seja, a constituição, até 31 de

dezembro de 1994, de um mercado comum,

caracterizando pela "livre circulação de bens,

serviços e fatores produtivos", pelo

"estabelecimento de uma tarifa externa comum" e

pela "coordenação de políticas macroeconômicas",

assim como o “compromisso dos Estados Parte de

harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes”

– estão ainda sendo implementados e dão conta do

início de processo para formação de um espaço

econômico, cuja primeira etapa constitui-se numa

união aduaneira.

Uma integração sul-americana, com a

progressiva complementaridade dos sistemas

produtivo dos países da região, estimula

vigorosamente os intercâmbios intra-setoriais tanto

na indústria como na área de serviços, notadamente

no tocante aos sistemas elétricos e às redes de

transporte do continente. Outrora voltado quase que

exclusivamente ao transporte de passageiros e de

bens de pequeno peso/volume e grande valor

agregado, o transporte aéreo regional de bens no

âmbito do MERCOSUL tem conhecido grande incremento

com o atual estágio integrativo da união aduaneira,

já que a diminuição de custos pela queda de

barreiras tarifárias viabiliza a utilização do

transporte por via aérea, que embora mais caro

serve como nenhum outro à necessidade de rapidez e

presteza da prática negocial competitiva

contemporânea.

De rigor, a formação de espaços regionais

entre países tem sua origem necessariamente

vinculada à quebra de barreiras tributárias, a

começar pela tarifa aduaneira. O grande

inconveniente deste tipo de tributo regulatório

reside no fato de que ele, embora haja uma espinha

dorsal comum e um controle elaborado pelo GATT, no

passado e hoje, pela Organização Mundial do

Comércio, continua sendo um instrumento de

regulação do comércio internacional, em cada país,

inclusive entre as nações mais desenvolvidas.

Nações em dificuldades, não hesitam em criar

esquemas protecionistas para impor suas políticas

aduaneiras a produtos externos, sempre que

entendem que a política local encontra-se em

perigo. As countervai l ing duties do direito americano,

se examinadas em maior profundidade, não seguem a

tradição dos acordos internacionais nesta matéria.

São de adoção exclusiva pelo governo dos Estados

Unidos, sempre que entende haver subsídios nos

produtos importados, aplicando-lhes as sobretaxas

no comércio internacional sem consulta ou

discussão prévia junto à OMC.

A tributação internacional tem como origem os

sistemas aduaneiros. No próprio Evangelho, Cristo,

quando chamado a pagar tributo, recorda que a

tradição é cobrar tributos dos estrangeiros e não

dos cidadãos locais, lembrando-se que os primeiros

crimes contra a ordem tributária, reconhecidos como

tal, foram os de contrabando ou descaminho,

vinculados à fraude para evitar o pagamento de

tributos aduaneiros.

Esta é a razão pela qual, na formação dos

espaços regionais, impõe-se, de início, a adoção de

uma política aduaneira própria do grupo de países

que o compõem, com a livre circulação de bens entre

as nações, signatárias dos tratados e uma proteção

externa em relação aos produtos e serviços vindos

de outros países.

Como os espaços regionais são criados sem

igualdade de condições prévias, criam-se regimes de

exceção para que economias em estágios diferentes

de desenvolvimento possam se adaptar ao novo regime

de circulação de bens e serviços, outorgando-1hes

período de carência para esta adaptação.

Há que se lembrar que os regimes jurídicos

tributários podem ser distintos, mas há, no

concernente às tarifas aduaneiras, sistema

universal que serve de proteção a cada país.

Interessante é notar que os países desenvolvidos,

quando do 2° choque do Petróleo (1979), partiram

para soluções protecionistas nunca vistas na

segunda metade do século, tendo sido encampada, no

Tókio Round, tal visão do mercado externo proposta

pelos países desenvolvidos, como forma de conter a

explosão dos preços do petró1eo. A estabilização

dos preços do petróleo, o descompasso econômico da

OPEP em face da guerra entre as nações árabes, as

medidas corretivas dos desajustes nas balanças

comerciais e de pagamentos, a desaceleração da

pressão soviética, sua crise econômica e o

desfazimento de seu império levaram as grandes

nações a mudar seu objetivo da década anterior, de

"protecionismo internacional" para o

"competitivismo", tendo sido a globalização da

Economia o caminho encontrado para que as grandes

nações, com maior tecnologia e capital,

predominassem no mundo nos anos 90.

Os países emergentes travaram aguda luta para

estabilizar suas moedas, com um custo recessivo

elevado, desemprego e acentuada desnacionalização

de seus parques empresariais. Dados da ONU

demonstram que de 1993 para 1998, o desemprego dos

países desenvolvidos caiu de 30% do desemprego

mundial para 16%, com uma exportação de empregos

dos países emergentes para as nações mais

desenvolvidas. A União Européia, o Japão e os

Estados Unidos passaram a ser os grandes

beneficiários da globalização, impondo seus

estilos, assim como a competitividade selvagem. O

Japão só não se beneficiou, por inteiro, do

processo, por ter a Banca japonesa entrado em

financiamentos duvidosos em toda a Ásia, gerando

uma intranqüilidade mundial diante de sua

instabilidade. De qualquer forma, as crises que

surgiram no México, países asiáticos emergentes,

Rússia e Brasil foram o reflexo de um fenômeno em

que a globalização praticamente tornou-se caminho

de uma só mão, com grandes benefícios para os

países desenvolvidos e poucos resultados para os

países emergentes ou em desenvolvimento.

Neste quadro, a criação do Mercosul objetivou

ofertar melhor proteção para os países da região

perante o fortalecimento de outros blocos. A

capacidade negocial, em nível de comércio

internacional, é sempre superior quando as nações

se unem, pois aparecem mais fortes. A União

Européia protegeu seu mercado agrícola durante

anos, melhor do que faria qualquer dos países

isoladamente perante as Américas do Norte e Latina

e só fez concessões no momento em que recebeu

concessões em troca. Apesar disto, o protecionismo

agrícola europeu é imenso. O Mercosul, por outro

lado, surgiu como forma de enfrentar o poderio dos

Estados Unidos, cujo PIB é 5 vezes maior do que

todo PIB da América Latina. O fortalecimento da

ALCA nos termos desejados pelos Estados Unidos

implicaria uma redução da capacidade de negociar

dos países latino-americanos, razão pela qual todo

o esforço para que o Mercosul cresça com a adesão

de outros países, decorre da necessidade de se

contrabalançar a posição americana e equilibrar,

até o limite possível, as relações de comércio

internacional. É de se lembrar que, ainda

recentemente, a Secretária do Governo Americano

dizia que sua função era a de fortalecer e defender

os interesses americanos e não os dos outros

países. É de se lembrar, também, que até hoje o

Nafta não permite a livre circulação de pessoas, de

tal maneira que os mexicanos não podem entrar

livremente nos EUA, apesar de pertencerem ao Nafta.

No Mercosul, o livre trânsito de mercadorias e

pessoas já é uma realidade, de modo que, por

exemplo, desnecessita-se de passaporte para

deslocamento de pessoas entre os países do bloco

inicial do Mercosul.

Neste contexto, o fortalecimento do Mercosul

perante EUA e UE oferta melhores condições de

negociação em nível internacional, até porque a

ALCA terá seu perfil definitivo em meados da

primeira década deste milênio, período em que

também o número dos Países-Membros do Mercosul será

maior, o que já se vê pela aproximação de Bolívia,

Chile, Venezuela e México. Problemas, todavia,

remanescem como o dos incentivos regionais, as

pressões de governos em face da crise de seus

vizinhos e a inexistência de um tributo comum

incidente sobre a circulação de bens e serviços.

Os sistemas de impostos e de contribuições de

cada um dos membros do Mercosul podem ser distintos

sem gerar problemas. A política de cada país, no

concernente aos impostos diretos e às

contribuições, não afeta a dinâmica do Mercosul, ou

de qualquer agrupamento de países, pois

correspondente exclusivamente à política interna de

cada um. Devem apenas respeitar tratamento

isonômico para os produtos nacionais e do espaço

regional, com o que a liberdade de imposição é

única. No máximo, o país que desejar tributar mais

seus nacionais, perderá competitividade perante

seus parceiros, razão pela qual os espaços pluri-

regionais têm o condão de servir como um

balizamento do aumento de carga tributária interna,

portanto media os níveis de controles

administrativos estatais das atividades dos

cidadãos de repercussão econômica. A questão que se

coloca está portanto no imposto circulatório, cuja

estrutura deve ser semelhante ao IVA europeu para

ter viabilidade maior. O imposto comunitário por

excelência é o imposto circulatório. Na União

Européia, o IVA é adotado pelos próprios países,

com o regime de destino, que leva a ser

beneficiário e também coletor da receita, o país

adquirente de produto. Desde 1993 está em

discussão, na comunidade, alteração para que a

coleta se dê no país de origem, mas a receita seja

destinada ao país de recepção, através de uma

Câmara de compensações. A Câmara, todavia, não

impediria a existência de países "exportadores

líquidos" e de outros "importadores líquidos", que

continuariam beneficiados pelo regime dominante no

IVA. No Mercosul, o problema já se coloca, tendo o

governo brasileiro entregue ao Congresso Nacional o

PEC 175 (Projeto de Emenda Constitucional n° 175),

em maio de 1995, e um novo projeto de reforma

tributária, em 1999, em que se federaliza o IVA,

embora mantendo o nome de ICMS, com o que a

integração com os demais Países-Membros e

associados do Mercosul será mais fácil, pois é a

tendência natural dos espaços comunitários terem um

regime único para seu Imposto Circulatório. Os

demais impostos são nacionais, mas o IVA é, por

excelência, um Imposto comunitário.

Por fim, é de se lembrar que, enquanto não

vier a reforma brasileira, discute-se, na Suprema

Corte, se, perante os parceiros, poderia no Brasil

a União determinar as alíquotas dos impostos

circulatórios estaduais, o que é vedado pelo artigo

150, § 6°, da Constituição Federal. Trata-se de

definir se prevaleceria o direito comunitário ou o

direito constitucional sobre as desonerações

tributárias, havendo, na doutrina, posições a favor

e contra o alargamento do poder isencional da União

sobre as competências impositivas estaduais e

municipais.

O trajeto é longo a percorrer. As crises

econômicas que têm abalado o mundo e mais

recentemente o Brasil têm, também, afetado posições

dos países do Mercosul (como na recente questão das

listas de eletrodomésticos e outros bens de consumo

brasileiros sob risco de sobretaxação Argentina)

cujas regras acordadas não podem, e não devem ser

mudadas a cada crise. Todavia, um sistema

tributário centrado num regime comum do IVA,

consolidado na desoneração aduaneira e fundado na

tarifa externa comum facilitará a integração futura

de um tratado que ainda está no patamar de mera

união aduaneira. Há um largo caminho a percorrer

para que as sociedades nacionais reflitam sobre a

necessidade de fortalecimento do Mercosul, para

melhorar as condições de negociação internacional

com outros países, objetivando a unificação de

regimes jurídicos e, inclusive, para fortalecimento

da posição latino-americana perante a ALCA.

No período inicial de transição, tratou-se

sobretudo de remover obstáculos à livre circulação

de bens, capitais e pessoas entre os territórios

dos países membros, passo anterior à construção de

estruturas políticas do tipo comunitário. A

preocupação imediata dos negociadores

governamentais dos quatro países foi a remoção do

"entulho protecionista e anti-integracionista",

constituído aqui e ali ao longo das últimas décadas

de industrialização substitutiva. Para tanto, as

atenções estiveram focalizadas, até o final de

1994, para 1) eliminação de entraves e barreiras ao

livre comércio intra-regionais; 2) identificação

das assimetrias setoriais e institucionais que

pudessem dificultar a fluidez no intercâmbio; 3)

correção ou harmonização das regras e medidas

administrativas que pudessem impedir ou dificultar

a liberdade de comércio; e 4) adoção de

regulamentos e procedimentos comuns para facilitar

a consecução dos objetivos fixados.

A viabilidade de formação desse sistema, sem

embargo de inúmeros e complexos problemas a serem

especificamente considerados, resulta do fato de

que, na América do Sul há significativas

facilidades físicas de intercomunicação,

notadamente no tocante aos sistemas elétricos e às

redes de transporte do continente, notadamente

aqui redes de transporte aéreo, cuja

infraestrutura no Brasil se encontra em franca

expansão, inclusive com o alfandegamento de mais

aeroportos, como o de Navegantes, ocorrido no

período de feitura desta monografia.

CAPÍTULO IV – INTEGRAÇÃO REGIONAL, SEGURANÇA

NA AMÉRICA DO SUL E OS PROCEDIMENTOS ATUAIS

DA ADUANA BRASILEIRA EM AEROPORTOS

INTERNACIONAIS: JURISDIÇÃO ADUANEIRA E O

CONTROLE DO FLUXO DE PESSOAS E BENS NO

TRANSPORTE AÉREO

A regulação da atividade aduaneira tem forte

tradição ligada à territorialidade. Daí porque, com

o avanço da integração regional, o Regulamento

Aduaneiro foi revogado, substituído pelo atualmente

vigente Decreto n. 4.543, de 26 de dezembro de

2002, que veio inserir dispositivos consentâneos

com os consensos transterritoriais que

progressivamente o Brasil enceta com seus parceiros

sul-americanos, levando a que as fronteiras

econômicas sejam gradativamente alargadas, a

demandar das aduanas dos países do MERCOSUL um

esforço de flexibilização, e simultaneamente de

manutenção dos níveis de segurança também

recentemente alterados, notadamente após a inflexão

geopolítica causada pelos acontecimentos de 11 de

setembro de 2001 no controle do fluxo de pessoas e

bens em aeroportos. Assim sendo, procedemos neste

capítulo a um comentário dos dispositivos da nova

regulação aduaneira brasileira afetos ao transporte

aéreo internacional, considerando as novas demandas

no âmbito da segurança e a integração regional em

curso na América do Sul.

DECRETO Nº 4.543,   DE 26 DE DEZEMBRO DE 2002.

Regulamenta a

administração das

atividades aduaneiras, e a

fiscalização, o controle e

a tributação das operações

de comércio exterior.

        O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da

atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da

Constituição,

        DECRETA:

        Art. 1o A administração das atividades

aduaneiras, e a fiscalização, o controle e a

tributação das operações de comércio exterior serão

exercidos em conformidade com o disposto neste

Decreto.

Comentário: A atividade da Aduana Brasileira era

regulada com base no DL 37/1966, inserido no

anterior Regulamento Aduaneiro, hoje revogado.

Neste decreto, editado em um período no qual as

relações internacionais estavam polarizadas pela

Guerra Fria, a profusão e variedade de normas

gerais e específicas de controle da circulação de

mercadorias, e mesmo de pessoas, refletia no Brasil

o vetor político de protecionismo ao empresário

nacional, a quem era reservado, ora pela restrição,

ora pela pura e simples proibição da importação de

mercadorias ou mesmo insumos, o então mercado

consumidor nacional. Daí porque a sua revogação e

substituição por este novo texto legal regulador,

já agora compatibilizador - pelas normas

específicas de tratamento diferenciado de operações

de comércio exterior no âmbito do MERCOSUL – com o

vetor político-econômico da integração e segurança

regional. Tal é o que veremos a seguir, pela

análise da translação nos procedimentos aduaneiros

aeroportuários, que mantiveram a característica

regra geral do controle, flexibilizando-o em sua

rigidez tarifária ou de requisitos para o trânsito

ou desembaraço aduaneiro, em se tratando de países

de procedência ou destino os do MERCOSUL.

LIVRO I

DA JURISDIÇÃO ADUANEIRA E DO CONTROLE

ADUANEIRO DE VEÍCULOS

Da Prestação de Informações pelo Transportador

        Art. 30. O transportador prestará à

Secretaria da Receita Federal as informações sobre

as cargas transportadas, bem assim sobre a chegada

de veículo procedente do exterior ou a ele

destinado.

        § 1o Ao prestar as informações, o

transportador, se for o caso, comunicará a

existência, no veículo, de mercadorias ou de

pequenos volumes de fácil extravio.

        § 2o O agente de carga, assim considerada

qualquer pessoa que, em nome do importador ou do

exportador, contrate o transporte de mercadoria,

consolide ou desconsolide cargas e preste serviços

conexos, também deve prestar as informações sobre

as operações que execute e sobre as respectivas

cargas.

        § 3o Poderá ser exigido que as informações

referidas neste artigo sejam emitidas, transmitidas

e recepcionadas eletronicamente.

        Art. 31. Após a prestação das informações

de que trata o art. 30, e a efetiva chegada do

veículo ao País, será emitido o respectivo termo de

entrada, na forma estabelecida pela Secretaria da

Receita Federal.

        Art. 32.  As empresas de transporte

internacional que operem em linha regular, por via

aérea ou marítima, deverão prestar informações

sobre tripulantes e passageiros, na forma e no

prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita

Federal (Lei no 10.637, de 30 de dezembro de 2002,

art. 28). (Redação dada pelo Decreto nº 4.765, de

24.6.2003).

Comentário: A prestação de informações pelo

transportador aéreo, condição para a identificação

da procedência de pessoas e bens, não é diferente

dentro ou fora do âmbito da integração sul-

americana. Diz respeito mesmo à segurança, que num

processo de integração traduz-se pela formatação,

uniformização dos meios de obtenção e prestação de

informações e ações. E no âmbito econômico da

integração permite, após o procedimento de

identificação feito pelo SISCOMEX (Sistema de

Comércio Exterior da Receita Federal), remeter-se

aos procedimentos aduaneiros gerais ou

simplificados de controle, e de gradação tarifária

menor ou nenhuma no desembaraço aduaneiro.

Seção II

Dos Veículos Aéreos

        Art. 54. Os agentes ou os representantes de

empresas de transporte aéreo deverão informar à

autoridade aduaneira dos aeroportos, com a

antecedência mínima estabelecida pela Secretaria da

Receita Federal, os horários previstos para a

chegada de aeronaves procedentes do exterior.

        Art. 55. Os volumes transportados por via

aérea serão identificados por etiqueta própria, que

conterá o nome da empresa transportadora, o número

do conhecimento de carga aéreo, a quantidade e a

numeração dos volumes neste compreendidos, os

aeroportos de procedência e de destino e o nome do

consignatário.

        Art. 56. As aeronaves procedentes do

exterior que forem obrigadas a realizar pouso de

emergência fora de aeroporto alfandegado ficarão

sujeitas ao controle da autoridade aduaneira com

jurisdição sobre o local da aterrissagem, a quem o

responsável pelo veículo comunicará a ocorrência.

        Parágrafo único. A bagagem dos viajantes e

a carga ficarão sob a responsabilidade da empresa

transportadora até que sejam satisfeitas as

formalidades de desembarque e descarga ou tenha

prosseguimento o vôo.

        Art. 57. As aeronaves de aviação geral ou

não engajadas em serviço aéreo regular, quando

procedentes do exterior, ficam submetidas, no que

couber, às normas desta Seção.

        Parágrafo único. Os responsáveis por

aeroportos são obrigados a comunicar à autoridade

aduaneira jurisdicionante a chegada das aeronaves a

que se refere o caput, imediatamente após a sua

aterrissagem.

Comentário: O disposto no artigo 37, inciso XVIII

da Constituição do Brasil, reconhece precedência à

administração aduaneira com jurisdição nos

aeroportos internacionais, pelo que a informação do

pouso de qualquer aeronave procedente do exterior

deve-lhe ser compartilhada, o que permite à aduana

brasileira juízo em tempo hábil a adotar os

procedimentos aduaneiros de controle e desembaraço

adequados ao caso e ao conteúdo dos tratados

internacionais de que o Brasil seja parte, como é o

caso do MERCOSUL.

Dos Bens Destinados à Construção do Gasoduto

Brasil-Bolívia

        Art. 179. A isenção do imposto na

importação dos bens destinados à construção do

Gasoduto Brasil - Bolívia aplica-se exclusivamente

a materiais, equipamentos, máquinas, aparelhos e

instrumentos, importados, e aos respectivos

acessórios, sobressalentes e ferramentas, que os

acompanhem, adquiridos pelo executor do projeto,

diretamente ou por intermédio de empresa por ele

contratada especialmente para a sua execução

(Acordo para Isenção de Impostos Relativos à

Implementação do Projeto de Gasoduto Brasil-

Bolívia, Art. 1o., promulgado pelo Decreto n o 2.142,

de 1997).

        § 1o A isenção de que trata o caput aplica-

se, exclusivamente, durante o período compreendido

entre a data de início da construção do gasoduto, e

a data em que houver sido alcançada a capacidade de

transporte acordada (Acordo para Isenção de

Impostos Relativos à Implementação do Projeto de

Gasoduto Brasil-Bolívia, Art. 3, promulgado pelo

Decreto no 2.142, de 1997).

        § 2o Compete ao Ministério das Minas e

Energia informar à Secretaria da Receita Federal a

data em que for alcançada a capacidade a que se

refere o § 1o .

Comentário: Outro dispositivo excepcionador das

regras gerais de controle e despacho aduaneiro

contemporâneo das ações político-econômicas

voltadas para a integração regional, qual seja o

gasoduto Brasil-Bolívia. Sem saída para o mar, a

Bolívia tem mais acentuado grau de dependência das

outras modalidades de transporte que não o

marítimo, para fazer chegar, como o Brasil, por via

aérea os equipamentos de maior valor tecnológico e

econômico agregados em menor volume e peso. O

despacho aduaneiro aeroportuário – e não os

controles aduaneiros – não é neste caso

condicionado por tarifação, pois isento de gravame

tributário.

DO RECOM

        Art. 381. O regime aduaneiro especial de

importação de insumos destinados a industrialização

por encomenda de produtos classificados nas

posições 8701 a 8705 da Nomenclatura Comum do

Mercosul (Recom) é o que permite a importação, sem

cobertura cambial, de chassis, carroçarias, peças,

partes, componentes e acessórios, com suspensão do

pagamento do imposto sobre produtos

industrializados (Medida Provisória n o 2.189-49, de

2001, art. 17 e §§ 1 o e 2o ).

        Parágrafo único. O regime será aplicado

exclusivamente a importações realizadas por conta e

ordem de pessoa jurídica encomendante domiciliada

no exterior (Medida Provisória n o 2.189-49, de 2001,

art. 17).

        Art. 382. O imposto de importação incidirá

somente sobre os insumos importados empregados na

industrialização dos produtos referidos no art.

381, inclusive na hipótese do inciso II do art. 383

(Medida Provisória n o 2.189-49, de 2001, art. 17, §

3o ).

        Art. 383. Os produtos resultantes da

industrialização por encomenda terão o seguinte

tratamento tributário (Medida Provisória n o 2.189-

49, de 2001, art. 17, § 4 o ):

        I - quando destinados ao exterior, resolve-

se a suspensão do pagamento do imposto sobre

produtos industrializados incidente na importação e

na aquisição, no mercado interno, dos insumos neles

empregados; e

        II - quando destinados ao mercado interno,

serão remetidos obrigatoriamente a empresa

comercial atacadista, controlada, direta ou

indiretamente, pela pessoa jurídica encomendante

domiciliada no exterior, por conta e ordem desta,

com suspensão do pagamento do imposto sobre

produtos industrializados.

        Art. 384. A concessão do regime dependerá

de habilitação prévia perante a Secretaria da

Receita Federal, que expedirá as normas necessárias

ao cumprimento do disposto neste Capítulo (Medida

Provisória no 2.189-49, de 2001, art. 17, § 6 o ).

Comentário: Trata-se de uma variante, no âmbito da

integração regional do MERCOSUL, dos regimes

aduaneiros de “Draw Back”e de Admissão Temporária,

em que são suspensos os gravames tributários de

modo a incentivar o desenvolvimento industrial, já

agora não somente nacional, mas regional. Tal

suspensão se resolverá apenas em relação aos

insumos que houverem entrado no processo produtivo.

Este regime aduaneiro, como os demais, mantém os

níveis de rigidez de controle gerais,

flexibilizando, no âmbito econômico, os gravames

tarifários, tudo isso a refletir nos procedimentos

aduaneiros aeroportuários, para o que concorrem com

o fornecimento de informações os diversos entes e

órgãos regionais, a subsidiar o despacho aduaneiro

aeroportuário.

Das Atividades Relacionadas ao Despacho Aduaneiro

        Art. 718. As atividades relacionadas ao

despacho aduaneiro de mercadorias importadas e

exportadas, bem assim quaisquer outras relativas a

operações de comércio exterior, poderão ser

realizadas pelo importador, pelo exportador ou por

seus representantes (Decreto-lei n o 2.472, de 1988,

art. 5o ).

        Parágrafo único. As atividades referidas no

caput dependem de prévia habilitação do responsável

legal da pessoa jurídica interessada, bem assim do

credenciamento das pessoas físicas que atuarão em

seu nome no exercício dessas atividades, de

conformidade com o estabelecido pela Secretaria da

Receita Federal e em norma específica.

Seção II

Das Atividades Relacionadas ao Transporte

Multimodal Internacional de Carga

        Art. 719. O exercício da atividade de

operador de transporte multimodal, no transporte

multimodal internacional de cargas, depende de

habilitação pela Secretaria da Receita Federal,

para fins de controle aduaneiro (Lei n o 9.611, de

1998, art. 6o , regulamentado pelo Decreto n o 3.411,

de 12 de abril de 2000, art. 5 o ).

        § 1o Para a habilitação, que será concedida

pelo prazo de dez anos, prorrogável por igual

período, será exigido do interessado o cumprimento

dos seguintes requisitos, sem prejuízo de outros

que venham a ser estabelecidos pela Secretaria da

Receita Federal:

        I - comprovação de registro na Secretaria

Executiva do Ministério dos Transportes;

        II - compromisso da prestação de garantia

em valor equivalente ao do crédito tributário

suspenso, conforme determinação da Secretaria da

Receita Federal, mediante depósito em moeda, fiança

idônea, inclusive bancária, ou seguro aduaneiro em

favor da União, a ser efetivada quando da

solicitação de operação de trânsito aduaneiro; e

        III - acesso ao Siscomex e a outros

sistemas informatizados de controle de carga ou de

despacho aduaneiro.

        § 2o Está dispensada de apresentar a

garantia a que se refere o inciso II do § 1 o a

empresa cujo patrimônio líquido, comprovado

anualmente, por ocasião do balanço, exceder R$

2.000.000,00 (dois milhões de reais).

        § 3o Na hipótese de representação legal de

empresa estrangeira, o patrimônio líquido do

representante, para efeito do disposto no § 2 o ,

poderá ser substituído por carta de crédito de

valor equivalente.

Seção III

Das Atividades de Unitização e de Desunitização de

Carga

        Art. 720. A unitização e a desunitização de

cargas, quando realizadas em locais e recintos

alfandegados, serão feitas somente por agentes

previamente credenciados pela Secretaria da Receita

Federal.

        Art. 721. A Secretaria da Receita Federal

estabelecerá:

        I - termos, requisitos e condições para o

credenciamento dos agentes a que se refere o art.

720; e

        II - hipóteses de cancelamento do

credenciamento.

Comentário: Novamente, os requisitos de

qualificação dos agentes privados intervenientes

direta ou indiretamente no despacho aduaneiro

aeroportuário não diferenciam, em princípio,

agentes intra e extra-bloco regional. Requisitos

como idoneidade financeira e patrimonial para

garantir eventual responsabilização pelos gravames

tarifários são comuns e independem mesmo de acordos

internacionais: são exigências em qualquer regime

tarifário. A qualidade da informação deve sim, ser

fixada dentro de padrões que permitam sua troca e

utilização eficaz pelas aduanas nacionais para,

além da execução da política fiscal de comércio

regional e exterior, cumprir seu papel na segurança

das relações regionais e internacionais.

CONCLUSÃO

O transporte aéreo tem hoje papel de destaque

nas relações internacionais, intra e inter-

regionais, tanto pelo já tradicional consenso em

torno de sua necessária universalização e

padronização, quanto pela importância crescente

desta modalidade de transporte, que além do

deslocamento de pessoas cujo tempo profissional ou

pessoal tem alto valor - como o de executivos,

diretores, presidentes de empresas ou agentes

políticos, cujas decisões afetam grandes grupos de

pessoas -, transporta mercadorias de,

relativamente, pequeno peso e volume, e alto valor

tecnológico e econômico agregados. Sem dúvida, é o

transporte aéreo portanto que tem demandado maior

profusão diferenciada de procedimentos aduaneiros

de controle do trânsito de pessoas e de bens, nos

quais intervêm como critérios tanto o interesse

econômico ou tarifário, quanto o interesse na

segurança, hoje também em processo de

regionalização nas escolas de defesa dos países

latinoamericanos.

Os processos contemporâneos de integração

regional têm uma face mais visível, a econômica,

que mostra-se com facilidade na oferta de empregos

transfronteiras, na variedade de artigos de

consumo a preços acessíveis, no incremento da

demanda pelo transporte aéreo comercial e de

turismo, no bem estar geral que um processo de

integração econômica bem sucedido proporciona

claramente no cotidiano dos cidadãos. Outra parte

de uma integração regional, menos visível, mas

condição da primeira, é a integração no âmbito das

políticas de segurança, promovidas atualmente

pelas instituições de política de defesa dos

países integrantes do processo, coadjuvados pelos

diversos órgãos nacionais e eventualmente

regionais. A Aduana Aeroportuária Brasileira

realiza ambos os papéis, a executar como papel

preponderante a mediação do fluxo cotidiano da

atividade econômica transfronteiras através dos

instrumentos diretos e indiretos de controle

tarifário, e a coadjuvar suas ações aos órgãos a

quem cabe preponderantemente, também nos

aeroportos internacionais, a promoção da segurança

nacional e regional.

Assim, entendemos que a iniciativa das

Adidâncias da Receita Federal em países da América

precisa ser consolidada pelos Ministérios da

Fazenda, das Relações Exteriores, e da Defesa,

para plena inserção aduaneira nos instrumentos de

gestão administrativa de informações

compartilhadas de segurança e defesa brasileiros

em rede com as instituições congêneres dos demais

países americanos.

Para tanto, deve-se valer a Receita Federal

do aproveitamento, preparo e aperfeiçoamento de

servidores de seus quadros de carreira com

experiência aduaneira aeroportuária, qualificados

ao acesso e utilização de bancos de dados

compartilhados de imigração, operações de câmbio e

de transferência de bens / direitos

transfronteiras. A par da destinação de servidores

especializados da Receita Federal para as

Adidâncias, as ações estratégicas da administração

aduaneira aeroportuária no transporte aéreo,

integração regional e segurança da América do Sul,

devem ser coordenadas, para este fim específico,

pelos Ministérios das Relações Exteriores, Defesa,

Fazenda e da Justiça, e do Banco Central do

Brasil, para alcançarem seus efeitos em tempo

real, o tempo da volatilidade dos fluxos

financeiros, de pessoas, bens e direitos, condição

de atingimento dos objetivos de integração e

segurança regionalmente fixados.

BIBLIOGRAFIA:

Constituição da República Federativa do Brasil

Regulamento Aduaneiro

Código Brasileiro de Aeronáutica

Tratados internacionais no âmbito do MERCOSUL

ABREU, Florêncio/ Sérgio Lima. Área Hemisférica de

Livre Comércio - Ministério das Relações

Exteriores. Brasília .

Araújo, Luis Ivani de Amorim, “Curso de direito

aeronáutico”, RJ, Forense, 1998.

Araujo, Nadia de, e outros, “Código do MERCOSUL”,

RJ, Renovar, 1998.

BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA - Março - 1995 -

Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) -

Departamento Técnico de Intercâmbio Comercial

(DTIC).

Baleeiro, Aliomar, “Direito tributário brasileiro”,

RJ, Forense, 2000.

Corrêa, Antonio, “MERCOSUL – Soluções de conflitos

pelos juízes brasileiros”, P.Alegre, S.A.Fabris,

1997.

Habermas, Jürgen, “O discurso filosófico da

modernidade”, SP, Martins Fontes, 2002.

Hefleblower, R. B. “Characteristics of transport

modes, Transport investments and economic

development”, Washington, Brookings Institution,

1986, páginas 34 a 68.

Martins, Yves Gandra (coordenador), “Direito

tributário do MERCOSUL”, RJ/SP, Forense, 2000.

Medeiros, Antonio Paulo Cachapuz de, “O poder de

celebrar tratados”, P.Alegre, S.A.Fabris, 1995.

Mello, Celso D. De Albuquerque, “Direito

constitucional internacional”, RJ/SP, Renovar,

2000.

MERCOSUL: Textos Básicos - Fundação Alexandre de

Gusmão (Coleção Integração Regional 1). Brasília,

1992.

MONROE, R. “Success criteria for small airports”,

Ottawa, Roads and Transportation Association of

Canada, 1985, 65 páginas.

Pacheco, José da Silva, “Comentários ao Código

Brasileiro de Aeronáutica”, RJ, Forense, 1998.

Rangel, Vicente Marota, “Direito e relações

internacionais”, SP, Revista dos Tribunais, 2002.

Torres, Heleno, “Direito tributário internacional”,

SP, Revista dos Tribunais, 2001.

Xavier, Alberto, “Direito tributário internacional

do Brasil”, RJ, Forense, 2002.