DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO CAUTELAR LÚCIO FLÁVIO SIQUEIRA DE PAIVA ADVOGADO. MESTRE EM DIREITO PELA PUC/GO. PROFESSOR DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL DA PUC/GO, ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA, AXIOMA JURÍDICO E INSTITUTO IOB-SP. 1

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DIREITOPROCESSUAL CIVIL

PROCESSOCAUTELAR

LÚCIO FLÁVIO SIQUEIRA DE PAIVAADVOGADO. MESTRE EM DIREITO PELA PUC/GO.

PROFESSOR DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL DA PUC/GO,ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA,

AXIOMA JURÍDICO EINSTITUTO IOB-SP.

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PROCESSO CAUTELAR – PARTE GERAL

1 – CONCEITO

Segundo ALEXANDRE FREITAS CÂMARA1, processocautelar “é o processo que tem por fim assegurar a efetividade de umprovimento jurisdicional a ser produzido em outro processo”. Para MÁRCIOLOUZADA CARPENA2, é o processo “de caráter instrumental e provisório,destinado a, com base em cognição sumária, afastar um dano capaz decomprometer a utilidade da prestação jurisdicional num processo deconhecimento ou de execução, já ou a ser instaurado”.

Trata-se de processo tido pela ampla maioria dadoutrina como um terceiro tipo de processo (tertium genus),ao lado do processo de conhecimento e de execução.Entretanto, encontra-se nas lições de BARBOSA MOREIRA3

crítica a esse entendimento, observando o eminenteprocessualista carioca que, em verdade, há dois tipos deprocesso: os de cunho satisfativo – conhecimento e execução– e o cautelar, eminentemente instrumental e não-satisfativo.

2 – ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DO PROCESSO CAUTELAR

2.1. AUTONOMIA – no aspecto formal, o processocautelar goza de autonomia com relação à demanda principal.Isso quer dizer que a demanda cautelar rende ensejo aosurgimento de uma nova relação jurídica processual,possuindo autos separados (próprios), procedimento e ritoespecíficos. Essa autonomia não se repete quanto ao aspecto1 Alexandre Freitas Câmara, Lições de Direito Processual Civil III, 3ª.Ed., LúmenJúris.2 Márcio Louzada Carpena, Do Processo Cautelar Moderno, 2ª. Ed., Forense.3 Assevera José Carlos Barbosa Moreira: “Ao meu ver, aliás, talvez não seja muitocontrapor-se o processo cautelar, como um terceiro gênero, a esses dois antes mencionados.Creio que ele mais verdadeiramente se contrapõe ao processo de conhecimento e ao processode execução considerados em conjunto, já que um e outro têm natureza satisfativa, visando,portanto, à tutela jurisdicional imediata, ao passo que o processo cautelar se distingueprecisamente por constituir uma tutela mediata, uma tutela de segundo grau” (JoséCarlos Barbosa Moreira, O processo cautelar: estudo sobre um novo código de processocivil, Líber Júris, 1974)

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material, uma vez que o resultado do processo principalinfluencia na demanda cautelar. Pode-se afirmar, pois, queo processo cautelar é formalmente autônomo e materialmentevinculado ao processo principal.

Por outro lado, não se pode deixar de mencionarque mesmo a autonomia formal do processo cautelar perdeucerto espaço nos últimos tempos, com as reformasprocessuais de 2001/2002. Exemplo dessa perda de autonomiaencontra-se no artigo 273, §7° (com redação dada pela Lei10.444/2002) do CPC, que passou a permitir a concessãoincidental de tutelas cautelares no seio do processo deconhecimento, mediante aplicação do princípio dafungibilidade das tutelas de urgência.

2.2. INSTRUMENTALIDADE – deve-se a PIEROCALAMANDREI4 a construção da idéia de instrumentalidade doprocesso cautelar. Segundo o mestre florentino e um dosmaiores luminares da ciência processual italiana, ainstrumentalidade é a nota verdadeiramente típica doprocesso cautelar, uma vez que esse tipo de tutela nãopossui um fim em se mesma, mas sim servir de instrumento deproteção à eficácia de um processo principal. Essa notacaracterística da tutela cautelar, a que CALAMANDREI chamoude instrumentalidade hipotética, conceito que se pode compreenderda forma seguinte: a tutela cautelar é instrumental, pois quesempre a serviço da proteção da eficácia de um provimentojurisdicional a ser proferido em outro processo, não tendofim em si mesma e não podendo satisfazer a pretensão dedireito material; é hipotética pois que baseada em juízo decognição sumária (fumus boni iures), concedida para a hipótesede requerente da medida cautelar vir a ter seu direitoreconhecido na ação principal. Esse conceito encontracorrespondência no que atualmente se tem denominadoreferibilidade e não-satisfatividade do processo cautelar.

2.3. TEMPORARIEDADE – temporário é algo que nãodura para sempre. A cautelar assim o é, pois tem duraçãolimitada no tempo, produzindo efeitos até que desapareça asituação de perigo que a ensejou, ou nos casosexpressamente previstos nos artigos 806 e 808 do CPC.

4 Piero Calamandrei, Introdução ao Estudo Sistemático dos Procedimentos Cautelares, Ed. Servanda.

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2.4. REVOGABILIDADE – Como será visto, a tutelacautelar é concedida com base em summaria cognitio, ligada asituações de emergência (periculum in mora) e que demandamsuperficial cognição sobre o direito discutido (fumus boniiuris). Por isso, não se poderia deferir à tutela cautelarcaráter de irrevogabilidade e imutabilidade, uma vez que éa mesma deferida com fundamento em conhecimento parcial esumário do litígio. Com efeito, sempre que se verificar aausência dos requisitos que renderam ensejo à concessão datutela cautelar, deverá ela ser revogada pelo magistrado(artigo 807 do CPC), de ofício ou a requerimento da parte.

2.5. MODIFICABILIDADE – Os mesmos motivos queconduzem à revogabilidade das cautelares podem ser aplicadosà possibilidade de sua modificação. Assim, para melhoratender ao escopo da tutela cautelar – que como visto éproteger a eficácia do processo principal -, poderá omagistrado modificar a medida pleiteada para adequá-la aocaso concreto.

2.6. FUNGIBILIDADE – As mais autorizadas liçõessobre processo cautelar5 indicam o artigo 805 do CPC comonorma consagradora do princípio da fungibilidade das tutelascautelares. Nas palavras do Professor MARCIO LOUZADACARPENA6, “na esfera da ação cautelar, impera o princípio da fungibilidade,pelo qual é lícito ao julgador substituir a medida requerida por outra que semostre mais adequada à situação fática”. Esse princípio éreconhecido pela ampla maioria da doutrina (ver BAPTISTA,THEODORO Jr., MONIZ DE ARAGÃO) e liga-se à idéia de que oprocesso cautelar possui uma forte dose de proteção aointeresse público, pois que ao assegurar a efetividade dosprocessos de conhecimento e de execução, protege, em últimaanálise, os interesses da própria jurisdição. Há, porém,doutrinadores que lhe conferem menor amplitude (FREITASCÂMARA e CALMON DE PASSOS) ao princípio da fungibilidadecautelar, atentos aos limites ditados pelo interesse deagir no caso concreto.

3 – EFICÁCIA NO TEMPO

5 Por todos, Humberto Theodoro Jr., Processo Cautelar, Ed. Leud.6 Marcio Louzada Carpena, obra citada.

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Conforme exposto no item anterior, uma dasnotas características da tutela cautelar é a suatemporariedade, entendida essa como o prazo de validade damedida cautelar eventualmente deferida. O CPC expressamentearrolou as causas que rendem ensejo à perda da eficácia dasmedidas cautelares, encontrando-se elas descritas no artigo808 do diploma processual civil.

O inciso I do artigo citado assevera que cessaa eficácia da medida cautelar “se a parte não intentar a ação noprazo previsto no artigo 806”. O artigo 806 do CPC, a seu turno,reza que “cabe à parte propor a ação, no prazo de 30 (trinta) dias, contadosda data da efetivação da medida cautelar, quando esta for concedida emprocedimento preparatório”. Trata-se de disposição protetiva dosinteresses do requerido, na medida em que evita que orequerente da cautelar antecedente se satisfaça com osefeitos obtidos com a medida e deixe de manejar a açãoprincipal em prazo razoável (trinta dias). Como bem definiuilustre doutrinador7, “não seria correto que se emitisse medida judicialpara proteger um processo principal que não se concretiza em prazo razoável,estendendo de forma demasiada e às custas da parte adversa, a manutençãoprovisória de ordem acautelatória com base em cognição sumária”.

Outrossim, conforme amplo entendimentodoutrinário e jurisprudencial, é norma que só se aplica àsmedidas cautelares constritivas de direitos do requerido.As cautelares, classificadas como conservativas, que nãoacarretam prejuízos à esfera jurídica do demandado – taiscomo a produção (rectius, asseguração) antecipada de provas,exibição e justificação – não se submetem a esseregramento.

O segundo caso de perda da eficácia da medidacautelar é o de não ser ela executada (rectius, efetivada) noprazo de trinta dias. Trata-se de norma destinada a evitarque a medida cautelar deferida seja efetivada a qualquertempo. Por óbvio que a perda da eficácia só ocorrerá quandoa não efetivação for imputável à parte requerente.Tratando-se, por exemplo, de não efetivação por morosidade

7 Marcio Louzada Carpena, obra citada.

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da justiça, certamente não se deve aplicar a norma emcomento.

Finalmente, assevera o inciso III do artigo 808que a medida cautelar perderá sua eficácia se “o juiz declararextinto o processo principal com ou sem julgamento de mérito”. A regra emanálise tem direta relação com a já analisadainstrumentalidade da tutela cautelar. Com efeito, voltando-seo processo cautelar para a proteção da eficácia de um outroprocesso, dito principal, não há razão para que essacautela prossiga gerando efeitos se a razão maior de suaexistência – que é o processo principal – não maissubsiste, ou seja, foi extinto. Trata-se de aplicação daconhecida regra de que o acessório, no caso a cautelar,segue o destino do principal. Nada obstante, cumpreobservar o alerta feito ALEXANDRE FREITAS CÂMARA e OVÍDIOBAPTISTA no sentido de que essa norma não pode serinterpretada literalmente, havendo casos em que mesmo com aextinção do processo principal, a cautelar deve prosseguircom sua eficácia.

De fato, nem sempre a extinção do processoprincipal acarretará a perda da eficácia da tutelacautelar. Explica-se. Como sabido, o processo pode serextinto de duas formas: sem ou com a resolução de mérito(sentenças terminativas e definitivas – arts. 267 e 269 doCPC). Quando a sentença do processo principal é terminativa(sentença que não aprecia o mérito), dúvida não há quanto àincidência da norma em comento, perdendo a cautelar suaeficácia. Entretanto, quando a sentença é definitiva(sentença que aprecia o mérito), deve o intérprete cercar-se de maiores cuidados. Sendo de improcedência do pedidoinicial, normalmente incidirá a regra do art. 808, III,perdendo a cautelar sua eficácia (o que é de todo lógico,uma vez que a cognição exauriente do processo principal,dando pela improcedência do pedido autoral, demonstracabalmente que o requerente da medida cautelar não édetentor de fumus boni iuris). Sendo de procedência o pedidoformulado pelo autor, a medida cautelar continuará aproduzir efeitos enquanto for necessária para assegurar aefetividade do processo principal.

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4 – COMPETÊNCIA NO PROCESSO CAUTELAR

4.1. COMPETÊNCIA GERAL - A competência, segundodoutrina consagrada no processo civil, pode ser definidacomo a forma de distribuir, entre os vários órgãosjudiciários, as atribuições relativas ao desempenho dajurisdição.

No processo cautelar, a regra básica decompetência encontra-se inserida no artigo 800 do CPC: “asmedidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa; e, quandopreparatórias, ao juiz competente para conhecer a ação principal”.

Assim sendo, é possível afirmar que serácompetente para conhecer e julgar a lide cautelar o mesmojuízo que é competente para conhecer a ação principal. Aregra em comento recebe críticas por parte da doutrina pordesconsiderar o que os autores de nomeada8 denominamcompetência cumulativa entre o juiz da causa principal e ojuiz do local onde a medida tem de ser cumprida. O CPC,como se depreende da leitura do artigo 800, não admite essacumulação de competências, estatuindo juízo específico paraconhecer e julgar a cautelar (o juízo da ação principal).Tal sistemática, contudo, pode ocasionar o perecimento doobjeto da ação cautelar, quando essa tiver de ser cumprida,com urgência, em local diferente daquele em que tramita outramitará a ação principal. LOPES DA COSTA, citado porALEXANDRE FREITAS CÂMARA, trazia exemplo ilustrativo:“Imagine-se o devedor domiciliado em Goiás, vendendo o gado que invernounumas pastagens em Minas Gerais. O credor há de requerer o embargo emCatalão, para que o juiz de lá depreque a execução ao de Alfenas, por exemplo.É possível que, ao chegar a precatória, as reses já tenham virado bife”.

Em situações como a narrada, nas quais aeficácia da medida cautelar pode ficar comprometida por nãocoincidir o juízo competente com o do local em que a medidadeva ser efetivada, tem-se admitido o manejo da açãocautelar onde se fizer necessário, mesmo que o juízo sejarelativamente incompetente para apreciá-la9.

8 Por todos, Márcio Louzada Carpena, obra citada.9 É essa a opinião esposada por Ovídio Baptista, Sérgio Shimura,Alexandre Freitas Câmara e Marcio Louzada Carpena.

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4.2. COMPETÊNCIA CAUTELAR EM SEGUNDO GRAU DEJURISDIÇÃO - O parágrafo único do artigo 800 do CPCconsigna: “interposto o recurso, a medida cautelar será requeridadiretamente ao tribunal”.

A norma em comento não tem interpretaçãouniforme na doutrina. MARCIO LOUZADA CARPENA defende que asmedidas cautelares devem ser requeridas para o juízo(monocrático ou colegiado) que se encontre com toda ajurisdição sobre o processo principal. Segundo leciona,“somente quando já tiver acabada a prestação jurisdicional do juízo a quo,terá o ad quem competência originária para apreciar e julgar a ação cautelarincidentalmente ajuizada”. Concluindo seu entendimento,assevera: “ora, se o que dispusesse a competência fosse a interposição dorecurso (assim como imprecisamente redigiu o legislador) e, não o ofíciojurisdicional sobre toda a lide, no caso de agravo de instrumento ter-se-iamedida cautelar endereçada ao tribunal, acompanhando o instrumento,enquanto o processo tramita normalmente no primeiro grau, o que não teriasentido”. Sobre essa questão, aliás, cumpre destacar que apendência de agravo não atribui competência ao tribunalpara o processo cautelar incidente, isso porque o agravonão leva ao conhecimento do tribunal toda as questõesdiscutidas no processo, mas apenas a devolução acerca dadecisão interlocutória recorrida.

OVÍDIO BAPTISTA, por sua vez, não faz qualquerressalva, pugnando pela competência do juízo ad quem tendosido interposto o recurso. NELSON NERY parece trilhar omesmo caminho, como se percebe da leitura da nota n◦ 4, doscomentários que faz ao artigo 800 do CPC10. Finalmente,encontra-se também posição segundo a qual não basta ainterposição do recurso para atribuir competência cautelarà instância ad quem, sendo necessário que o processo tenhaefetivamente chegado ao tribunal (é o que defende SERGIOBERMUDES).

A nosso ver, a questão melhor se resolvelevando em consideração o exercício do juízo deadmissibilidade recursal. Assim, já admitido o recurso na

10 NELSON NERY e ROSA NERY, Código de Processo Civil Comentado, Ed. RT, pág. 1182.

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origem, a competência para a eventual ação cautelar será dojuízo ad quem; pendente, ainda, o juízo de admissibilidaderecursal, a competência para a cautelar será (ainda) dojuízo a quo.

É esse o atual entendimento do SuperiorTribunal de Justiça quanto às ações cautelares queobjetivam conceder efeito suspensivo a recurso especial.Confira-se o seguinte aresto:

AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR. PEDIDO DEATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIALPENDENTE DE JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.MEDIDA EXCEPCIONAL. COOPERATIVA MÉDICA. PEDIDO DEREINSERÇÃO DO QUADRO DE COOPERADOS. REEXAME DE PROVAS.INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. FUMUS BONI IURIS NÃOCONFIGURADO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS Nº 634 E Nº 635 DOSTF. PRECEDENTES.1. A competência do Superior Tribunal de Justiça para aapreciação de medida cautelar, objetivando concessão deefeito suspensivo a recurso especial, instaura-se apósultrapassado o juízo de admissibilidade, a cargo dotribunal de origem.2. A atribuição, em caráter excepcional, de efeitosuspensivo a recurso especial, pendente de juízo deadmissibilidade, depende da presença cumulativa dosrequisitos do periculum in mora e do fumus boni juris,aliados à teratologia ou à manifesta ilegalidade dadecisão.3. A verificação dos requisitos autorizadores daconcessão da medida cautelar está relacionadadiretamente com a probabilidade de êxito do recursoespecial, de modo que conveniente o exame da viabilidadedo apelo extremo, ainda que de modo superficial.4. No caso dos autos, em um exame perfunctório, não seconstata a plausibilidade jurídica do recurso dorequerente.5. Ausente um dos requisitos autorizadores da concessãoda medida cautelar, que devem estar necessariamenteconjugados, inviável o deferimento do pleito.6. Agravo regimental não provido.(AgRg na MC 18.416/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔASCUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/10/2011, DJe21/10/2011)

5 – CLASSIFICAÇÃO

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Diversas são as classificações propostas peladoutrina acerca do processo cautelar. Adota-se, por suasimplicidade e clareza, a proposta pelo Professor ALEXANDREFREITAS CÂMARA, que defende sejam as medidas cautelaresclassificadas de 3 formas: quanto à tipicidade, quanto aomomento de postulação e quanto à finalidade.

Quanto à tipicidade, as medidas podem ser típicas(nominadas), caso estejam descritas em lei, ou atípicas(inominadas), caso sejam requeridas e deferidas com base nopoder geral de cautela.

Quanto ao momento da postulação, as cautelarespoderão ser antecedentes, se pleiteadas antes dapropositura da ação principal, ou incidentes, acasopostuladas quando já em curso a demanda principal.

Finalmente, quanto à finalidade, as cautelarespodem ser classificadas em medidas de garantia de cognição,quando objetivas assegurar a eficácia de um processo decognição (exemplo: asseguração de prova); medidas degarantia de execução, que se destinam a garantir a eficáciade um processo executivo (exemplo: arresto); e medidas queconsistem em caução, como é o caso da contracautelaprevista no art. 804 do CPC.

6 – REQUISITOS GENÉRICOS PARA A CONCESSÃO DA TUTELACAUTELAR

Como visto anteriormente, a missão do processocautelar é proteger a eficácia de um outro processo (ou deum provimento jurisdicional a ser concedido em outroprocesso), dito principal, quando esteja este – o principal– correndo risco de tornar-se ineficaz pelo decurso dotempo.

Trata-se a tutela cautelar de medida que nascesob o signo da urgência. É preciso pressa para que oprocesso principal possa ser garantido. Dessa situação deurgência decorre o primeiro requisito para a concessão dascautelares: o chamado periculum in mora ou perigo na demora.Note-se que a situação de perigo deve referir-se ao

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processo principal e sua possível ineficácia, ao queCALAMANDREI chamou de periculum in mora de infrutuosidade.

Ainda em decorrência da urgência inerente aoprocesso cautelar, tem-se o segundo requisito para aconcessão desse tipo de tutela: o fumus boni iuris.

Em sede de processo cautelar, justamente porquenão há tempo para que o juiz perquira profundamente sobre odireito debatido (cognição essa dita exauriente e que sóterá lugar no processo principal), há que se analisarapenas a aparência desse direito. Não se pode pretender, emsede de processo cautelar, constatar cabalmente aexistência do direito afirmado pela parte requerente, masapenas a possibilidade de que esse direito afirmado possaexistir.

Por isso, afirma-se ser superficial a cogniçãorealizada no processo cautelar. Não é necessária ademonstração exaustiva, pelo requerente, do direito queafirma assistir-lhe, mas apenas a sua possibilidade ou, emoutras palavras, a sua fumaça.Com efeito, presentes esses dois requisitos – fumus boni iurise periculum in mora -, deve a tutela cautelar ser concedida.

Questão importante e cercada de controvérsiasdoutrinárias é a colocação sistemática dos requisitos deconcessão da tutela cautelar no objeto da cogniçãojudicial. Seriam fumus boni iuris e periculum in mora condiçõesespeciais da ação cautelar, ao lado das conhecidas etradicionais legitimidade, interesse e possibilidade jurídica do pedido(rectius, possibilidade jurídica da demanda), ou tratar-se-iado próprio mérito da ação cautelar?

A doutrina, ao apreciar a controvérsia, divide-se, prevalecendo a corrente que considera fumus boni iuris epericulum in mora o próprio mérito da ação cautelar. É essa aposição de ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, MÁRCIO LOUZADA CARPENAe OVÍDIO BAPTISTA.

7 - PROCEDIMENTO

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7.1. A PETIÇÃO INICIAL - Tendo em vista que umadas características do processo cautelar é a sua autonomiaformal, nada mais natural que se inicie esse processo com aapresentação, em juízo, de uma petição inicial, a qual, nalição abalizada de DINAMARCO, é o instrumento da demanda, nocaso, o instrumento da demanda cautelar.

Essa petição inicial do processo cautelar deveobservar, primeiramente, todos os requisitos do artigo 282do CPC, e também as disposições contidas no artigo 801 domesmo diploma legal.

Desse dispositivo, merecem atenção especial osincisos III e IV.

O inciso IV determina que o requerente damedida cautelar deverá indicar a exposição sumária do direitoameaçado e o receio da lesão. Trata-se, em outras palavras, deexigência da demonstração do fumus boni iuris e do periculum inmora, requisitos genéricos para a concessão de tutelacautelar e, como visto anteriormente, consistentes no seupróprio mérito.

O inciso III, a seu turno, exige que orequerente indique, na petição inicial, a lide e seu fundamento,norma que é complementada pelo parágrafo único do mesmoartigo, que assevera tratar-se de exigência aplicávelapenas às cautelares preparatórias, ou seja, às cautelaresantecedentes.

Ao se referir, o dispositivo em comento, a lide eseu fundamento, está o legislador a se referir à açãoprincipal, ou seja, ao processo (conhecimento ou execução)a ser protegido pela demanda cautelar. Outrossim, dispensaas cautelares incidentes desse requisito por já estarem, alide principal e seu fundamento, declinadas e expostas naprópria petição inicial do processo principal, o que tornadespicienda a sua repetição na petição inicial da demandaacessória.

Esse requisito, aplicável, como visto, apenasàs cautelares antecedentes, tem sua razão de ser. O

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requerente da medida cautelar antecedente, ao declinar alide e o fundamento da ação principal, permite que o juizanalise o interesse de agir do demandante, pesquisando anecessidade e a adequação da medida pleiteada.

Essa petição inicial terá autuação própria edeve correr em apenso à lide principal.

Havendo pedido de concessão da tutela cautelarliminarmente, inaudita altera pars, deverá o magistrado apreciá-lo com a máxima urgência, sob pena de se frustrar apresteza e a eficácia da própria medida requerida. Nãoestando o julgador inteiramente convencido do alegado,poderá determinar a realização de audiência de justificação(art. 804), de forma que possa melhor decidir sobre odeferimento ou não do pleito de urgência. Outrossim, poderáo juiz condicionar a concessão da liminar à prestação, pelorequerente, de contracautela.

7.2. CITAÇÃO E RESPOSTA DO REQUERIDO – Segundodispõe o artigo 802 do CPC, o requerido será citado, qualquer queseja o procedimento cautelar, para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar opedido, indicando as provas que pretende produzir. A norma em comentoexige atenção especial, uma vez que, contemplando o caráterde urgência e sumariedade da ação cautelar, reduz o prazopara o oferecimento de defesa pelo requerido para exíguos 5dias. Outra observação pertinente é que, não obstanterefira-se o dispositivo a contestar o pedido, é certo queoutras modalidades de resposta do réu serão possíveis, taiscomo as exceções de impedimento, suspeição e incompetênciarelativa. A resposta na modalidade de reconvenção, contudo,não é possível, dado os estreitos limites da cognição quese realiza em sede cautelar. Outrossim, não se admite açãodeclaratória incidental.

O prazo para apresentar a defesa começa acorrer: I) da juntada aos autos do mandado de citaçãodevidamente cumprido; ou II) da juntada aos autos domandado de execução da cautela, quando concedidaliminarmente ou após justificação prévia. Vale lembrar quena hipótese do inciso II só se terá por iniciado o prazopara a defesa se : a) a execução da cautela for cumprida

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contra o requerido, e não contra terceiro; b) no momento daefetivação da medida o requerido assinar o mandado ou acarta citatória. Finalmente, as modalidades de citação noprocesso cautelar são aquelas descritas no artigo 221 doCPC, observadas as peculiaridades de cada caso concreto.

Conforme lição do Professor MARCIO LOUZADACARPENA, “havendo mais de um réu com procuradores diferentes, o prazopara contestar, bem como para recorrer ou falar nos autos de modo geral,será em dobro, já que empregável é o art. 191 do CPC”.

Quanto ao conteúdo da contestação, parece óbvioque, sendo os requisitos do periculum in mora e do fumus boniiuris o próprio mérito da ação cautelar, é principalmente nosentido de demonstrar a sua inexistência que deve seconcentrar o esforço defensivo do requerido. Poderá,outrossim, opor todas as defesas processuais (carência deação, por exemplo), buscando a extinção do processo semresolução do mérito (art. 267 CPC) e ainda alegardecadência ou prescrição do direito do requerente, nostermos do artigo 810 do CPC, o que acarretará a extinção doprocesso cautelar com resolução do mérito, inclusive comforça de coisa julgada material, o que representa exceção àregra geral das sentenças cautelares, que como será vistoadiante, não possuem essa qualidade especial daimutabilidade.

7.3. INSTRUÇÃO – O Livro III do CPC, ao tratardas medidas cautelares, não disciplinou a fase instrutóriadesse tipo de processo. Por isso, aplicam-se as regrasconstantes do Livro I dedicado ao processo de conhecimento.É de se firmar que a prova no processo cautelar deve terlimitação clara: demonstrar a ausência ou a presença dofumus boni iuris e do periculum in mora. Matérias estranhas aesses limites devem ser discutidas na ação principal e nãona ação cautelar.

7.4. SENTENÇA – Sendo demanda autônoma, tambémo processo cautelar tem como ato final uma sentença, quetanto poderá ser terminativa (quando ausentes, por exemplo,pressupostos processuais e condições da ação), quantodefinitiva, essa última de procedência do pleito cautelar

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(quando presentes fumus boni iuris e periculum in mora) ou deimprocedência do mesmo, se ausentes tais requisitos.

No que tange à eficácia preponderante dasentença cautelar, conquanto exista alguma divergênciadoutrinária – mormente entre aqueles doutrinadores quenegam a classificação quinária das eficácias da sentença -,a mais abalizada doutrina ressalta a mandamentalidade dasentença cautelar11.

Por se fundar em cognição superficial e tutelarapenas a aparência do direito, a sentença cautelar, emregra, não faz coisa julgada material, apenas formal.Exceção positivada na lei é a do artigo 810 do CPC,permitindo que a sentença cautelar faça coisa julgadatambém material quando o juiz acolher alegação dedecadência ou prescrição do direito do autor.

Contra a sentença cautelar caberá recurso deapelação, com a especificidade de que o mesmo serárecebido, em regra, apenas no efeito devolutivo, por forçado que dispõe o artigo 520, IV, do CPC.

Por oportuno, vale ressaltar que o sistemarecursal aplicável ao processo cautelar é o mesmo previstono Livro I, cabendo agravo das decisões interlocutórias,apelação das sentenças, bem como os demais recursos,inclusive os excepcionais, quando for o caso.

8 – RESPONSABILIDADE PROCESSUAL CIVIL EM MATÉRIA CAUTELAR

Não se pode encerrar o estudo da parte geral doprocesso cautelar sem se promover uma análise, ainda quebreve, do artigo 811 do CPC, que veicula norma relativa àresponsabilidade processual civil cautelar.

Segundo esse dispositivo, o requerente damedida cautelar responde pelos prejuízos que causar aorequerido se essa medida vier a ser, de qualquer forma,revogada, extinta ou desconfirmada em momento posterior.11 Por todos, OVÍDIO BAPTISTA e MARCIO LOUZADA CARPENA. Contra,ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, que considera a sentença cautelar “um novo tipode sentença”.

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Como já observava CALAMANDREI, “a responsabilidade éo preço da prontidão”, sendo que não raro medidas cautelaressão deferidas, efetivadas e trazem danos à parte requeridae a terceiros, mostrando-se, ao final e ao cabo, injustas,ante o fato de não ter o requerente razão.

Em casos tais, nos termos do artigo 811 do CPC,deve o requerente autor indenizar o requerido. Segundopacífico entendimento doutrinário, trata-se deresponsabilidade civil objetiva, não havendo, pois, que secogitar do elemento culpa para sua configuração.

Na sempre precisa lição de MARCIO LOUZADACARPENA, a responsabilidade civil do artigo 811 do CPC ébaseada na teoria do risco proveito, pela qual responsável civilé o que tira proveito do fato causador do dano a outrem.Afirma o eminente professor: “o fato de a parte ré ter que se sujeitar amandamentos, antes de uma decisão definitiva, traz a seu favor o direito de,caso demonstrada a insustentabilidade do mandamento deferido, ver-seressarcida de todos os prejuízos sofridos, independente de análise da condutaculposa do autor da cautela”.

O direito à indenização prevista no art. 811 doCPC prescinde de condenação ou manifestação específica.Trata-se de efeito colateral da decisão que reconhece ainsustentabilidade do pleito cautelar. Esse efeito anexopode decorrer tanto da sentença cautelar, quanto dasentença do processo principal.

Deve a obrigação ser liquidada nos autos dopróprio processo cautelar, no qual apurar-se-á o quantum.Uma vez prolatada sentença no processo de liquidação,torna-se possível a instauração de cumprimento de sentença.

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PROCESSO CAUTELAR – PROCEDIMENTOS CAUTELARESESPECÍFICOS

1 – ARRESTO – arts. 813 a 821 do CPC

CONCEITO: “medida cautelar de apreensão de bens destinadaa assegurar a efetividade de um processo de execução por quantia certa”(Alexandre Câmara). Para Ovídio Baptista, trata-se de“medida cautelar típica, instituída para segurança dos créditos monetários”.

Trata-se de medida típica de caráternitidamente cautelar, por ter clara referibilidade.

CABIMENTO: o artigo 813 do CPC trata docabimento do arresto. Segundo entendimento doutrináriomajoritário, trata-se de enumeração exemplificativa, sendopossível o deferimento do arresto em casos outros que nãoaqueles descritos na norma em comento.

O art. 814 do CPC, a seu turno, as seguintescondições para o deferimento da medida: a) prova literal dadívida líquida e certa (o que equivaleria ao fumus boni iuris)e; b) prova documental ou justificação de algum dos casosmencionados no art. 813 – (o que equivaleria ao periculum inmora.).

Interpretação do art. 814: A doutrina divergequanto à exegese do artigo 814. Seria, realmente, exigível,para deferimento do arresto, a apresentação, pelorequerente, de prova literal da dívida líquida e certa(equiparável quase a um título executivo) ou a meraprobabilidade da existência do direito de crédito já seriasuficiente para o deferimento da medida? Para ALEXANDREFREITAS CÂMARA, a interpretação liberal se impõe e citacasos que ensejariam monitória. OVÍDIO BAPTISTA segue amesma trilha e critica os artigos do arresto, porconsiderá-los incompreensíveis e em antinomia com o art.798 do CPC. HUMBERTO THEODORO, por sua vez, propõeinterpretação restritiva, mais apegada à letra do CPC.

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BENS ARRESTÁVEIS: Podem ser objeto de arrestoos bens economicamente apreciáveis e passíveis de serempenhorados. Podem ser bens corpóreos (móveis e imóveis) ouincorpóreos (crédito, ações). Ficam excluídos do alcance doarresto os bens impenhoráveis – art. 649 do CPC .

PROCEDIMENTO: Aplica-se ao arresto oprocedimento cautelar comum.

EFEITOS: Afetação do bem arrestado à futuraexecução; Perda, pelo Requerido, da posse direta (não dodomínio); direito de preferência: no concurso entre duaspenhoras sobre o mesmo bem, terá preferência aquele queprimeiro penhorou a coisa, exceto se o outro credor tiver,antes, obtido o arresto

2 – SEQUESTRO – arts. 822 a 825

CONCEITO: “Seqüestro é a medida cautelar que assegurafutura execução para entrega de coisa, e que consiste na apreensão de umbem determinado, objeto do litígio, para lhe assegurar entrega, de bomestado, ao que vencer a causa” (Humberto Theodoro Júnior)

Trata-se de medida típica de caráternitidamente cautelar – referibilidade.

CABIMENTO: o artigo 822 do CPC trata docabimento do sequestro. Trata-se de enumeraçãoexemplificativa.

REQUISITOS PARA CONCESSÃO: como toda e qualquermedida cautelar, são necessários fumus boni iuris e periculum inmora. Deve ser concedido o seqüestro sempre que se fizernecessária a apreensão de um bem determinado, ameaçado dedano, dissipação, ocultação etc, com o objetivo de protegerum possível direito do requerente sobre esse bem.

DIFERENÇAS ENTRE ARRESTO E SEQUESTRO: a) Oarresto é medida cautelar que visa assegurar a eficácia defutura execução por quantia certa, já o seqüestro, por suavez, protege execução para entrega de coisa certa; b) Oarresto incide sobre quaisquer bens do demandado, enquanto

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o seqüestro sobre bem específico – daí a necessidade de sedescrever, na petição inicial, o bem a ser seqüestrado e olocal em que se encontra; c) O arresto comportasubstituição (art. 805 do CPC), o sequestro não.

3 – CAUÇÃO – arts. 826 a 838

Segundo definição encontrada em doutrina,caucionar é assegurar, garantir a realização futura dodireito.

O procedimento previsto nos arts. 826 a 838 doCPC cuida dos casos em que alguém tenha direito ou estejaobrigado a caucionar. Trata-se, claramente, de demanda nãocautelar, porquanto revela-se satisfativa da pretensãolevada a juízo. Ademais, não ostenta referibilidade – na medidaem que não protege a eficácia de um processo principal – etampouco tem o periculum in mora como uma das condições parasua concessão. Trata-se, pois, reafirme-se, de processosatisfativo, com natureza de processo de conhecimento.

Nesses termos, os arts. 826 a 838 do CPClimitam-se a regular o procedimento caucional, destinado aveicular todos os tipos de cauções, sejam elas negociais,legais ou judiciais. Como ensina OVÍDIO BAPTISTA, “não há, nodireito brasileiro, ação de procedimento comum, ordinário ou sumário, parapedirem-se ou prestarem-se cauções. Todas as cauções haverão de ter oprocedimento regulado por estas normas, sejam elas cautelares ou não”.

Por fim, vale destacar que as únicas cauçõesverdadeiramente cautelares estão indicadas no art. 799 doCPC.

4 – BUSCA E APREENSÃO – arts. 839 a 843

CONCEITO: mandamento judicial destinado apromover a busca (procura) e apreensão de coisas e pessoas,com o objetivo de se garantir a eficácia de um processoprincipal.

No direito brasileiro, trata-se de medida queora terá natureza cautelar, ora satisfativa.

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TIPOS DE BUSCA E APREENSÃO ENCONTRADOS NOORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO: a) atos de busca e apreensãode natureza executiva: exemplo § 2° do art. 461-A do CPC –natureza satisfativa; b) busca e apreensão como incidentede outra demanda: poderá ter natureza cautelar ousatisfativa. Exemplo: busca e apreensão de bem arrestado emaliciosamente desviado (cautelar); c) Ação de Busca eApreensão de bem alienado fiduciariamente (satisfativa); d)Busca e Apreensão de menores: cautelar ou satisfativa.

CABIMENTO: Trata-se de medida subsidiária doarresto e do seqüestro. Quando se refere a pessoas, dúvidanão há, pois não se arresta ou seqüestra um indivíduo. Jáquanto a coisas, mais complexa é a distinção. A regra éque, sendo cabível arresto ou sequestro, não se devedeferir busca e apreensão.

PROCEDIMENTO: Observa-se o procedimentocautelar geral, com as seguintes particularidades: deferidaa medida, deverá ser expedido mandado contendo osrequisitos do art. 841 do CPC. Há entendimento de que omandado, cumprido por dois oficiais de justiça, deve sersempre acompanhado por suas testemunhas (§ 2° do art. 842),sob pena de nulidade.

5 – EXIBIÇÃO – arts. 844 a 845

CONCEITO: a ação de exibição tem o objetivo depermitir que o demandante veja, examine, uma coisa oudocumento.

O direito brasileiro prevê duas espécies deexibição: a) exibição incidente, prevista nos arts. 355 a363 e 381/382; b) exibição cautelar, regulada nos arts. 844e 845 do CPC.

CABIMENTO: a ação de exibição, cautelar eantecedente, tem cabimento nos casos expostos no art. 844do CPC.

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PROCEDIMENTO: petição inicial, observando odisposto nos arts. 282 e 801 do CPC, além da observância aoartigo 356 do CPC.

6 – AÇÃO DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS (rectius,asseguração de provas) – arts. 846 a 851

CONCEITO: procedimento cautelar destinado à“obtenção preventiva da documentação de estado de fato que possa vir ainfluir, de futuro, na instrução de alguma ação”.(Pontes de Miranda)

Produção ou asseguração de prova? Fases doprocedimento probatório no processo de conhecimento:proposição, admissão e produção. “O procedimento de instruçãopreventiva (...) ainda não produz a prova” (Ovídio Baptista),consistindo, essa cautelar, em instrumento destinado aassegurar uma prova que será futuramente produzida noprocesso principal.

É medida que tem caráter nitidamente cautelar:proteção do direito à prova – tutela de um direito deíndole processual (e não substancial).

CABIMENTO: São três os meios de prova (art. 846do CPC) cuja produção pode ser assegurada: interrogatórioda parte; inquirição de testemunhas; exame pericial.

PROCEDIMENTO: a medida cautelar de asseguraçãode prova é sempre antecedente. Se já instaurado o processoprincipal, cabível será a antecipação da produção da provano próprio processo, com um adiantamento ou inversão dosatos do procedimento.

Na asseguração de prova material (perícia),deve o requerente fazer constar de sua petição inicial osquesitos a serem respondidos pelo perito e a indicação deseu assistente técnico. O demandado deverá fazer o mesmo,no prazo da resposta. Uma vez assegurada a prova, caberá ao juiz proferirsentença homologatória. Os autos devem permanecer emcartório, sendo lícito às partes e interessados solicitaras certidões que quiserem (art. 851 do CPC).

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O juízo em que se desenvolve a cautelar ficacom a sua competência fixada para o processo principal.

Como se trata de medida cautelar não restritivade direitos, a ela não se aplica o art. 808, II, do CPC.

7 – ALIMENTOS PROVISIONAIS – arts. 852 a 854

CONCEITO: são alimentos “que a parte pede para seusustento e para os gastos processuais, enquanto durar a demanda”(Humberto Theodoro Jr.).

NATUREZA JURÍDICA: medida sumária satisfativa(segundo ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, mesma natureza daantecipação da tutela).

DISTINÇÃO ENTRE ALIMENTOS PROVISÓRIOS EPROVISIONAIS: utiliza-se o procedimento especial da ação dealimentos (PROVISÓRIOS) quando se tem prova já constituídada relação jurídica prejudicial da obrigação alimentar.Caso contrário, utiliza-se o procedimento do CPC(PROVISIONAIS).

Comporta execução na forma dos arts. 732 a 735do CPC.

8 – ARROLAMENTO DE BENS – arts. 855 a 860

CONCEITO: medida cautelar destinada a conservaruma universalidade de bens que se encontre em perigo deextravio ou dissipação, através de sua descrição edepósito.

Incide sobre bens indeterminados oudesconhecidos. Tem nítida natureza cautelar(referibilidade).

CABIMENTO: será cabível o arrolamento sempreque se tenha interesse na conservação de bensindeterminados que componham uma universalidade. Objetivainventariar e apreender bens compõem essa universalidade. É

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de abrangência ampla, podendo incidir sobre bens móveis,imóveis e documentos.

9 – JUSTIFICAÇÃO – arts. 861 a 866

CONCEITO: “Justificação é processo autônomo de coletaavulsa de prova testemunhal, utilizável em processo futuro, mas nãonecessariamente destinada a esse fim”.(HUMBERTO THEODORO Jr.)

Não se trata de medida cautelar, porquanto (i)desprovida de referibilidade e (ii) ausente o requisito dopericulum in mora.

CABIMENTO: é cabível a justificação toda vezque alguém tiver interesse em demonstrar, através de provatestemunhal, a existência de um fato ou de uma relaçãojurídica.

Exemplos de utilização do instituto, segundodoutrina de HUMBERTO THEODORO JR: a) Justificar aexistência de união estável; b) Prova junto a órgãos daPrevidência Social; c) Justificar, o servidor público,fatos relativos a sua vida funcional, para suprirdeficiências e lacunas dos registros das repartições; d)Justificar a autoria de obra intelectual criada sob regimede anonimato.A justificação deve ser sempre antecendente.

COMPETÊNCIA: segue a regra geral aplicável aoprocesso cautelar.Trata-se de procedimento unilateral, sem direito a defesaou recurso (Humberto Theodoro Junior)

PROCEDIMENTO: petição inicial, contendo adiscriminação pormenorizada dos fatos a provar, bem como orol das testemunhas a inquirir. Citação dos interessados nademanda (contra quem a prova seja oponível). Designação daaudiência de inquirição das testemunhas. Sentença, julgandoa homologação, dizendo se foi justificada ou não aexistência do ato ou relação jurídica. Entrega dos autos aopromovente, 48 horas após a publicação da sentença.

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10 – PROTESTOS, NOTIFICAÇÕES E INTERPELAÇÕES – arts. 867 a873

O protesto, a notificação e a interpelação sãoprocedimentos não contenciosos, meramente conservativos dedireito. São procedimentos de jurisdição voluntária e nãocautelares (inexistência de referibilidade e periculum inmora).

PROTESTO - CONCEITO: “É o protesto (...) ato judicial decomprovação ou documentação da intenção do promovente”. (HumbertoTheodoro)

FINALIDADE: a) prevenir responsabilidade(engenheiro que notifica construtor que não está seguindo oprojeto); b) prover conservação de direitos; c) proverressalva de direitos (protesto contra alienação de bem quepoderá reduzir o devedor ao estado de insolvência).

NOTIFICAÇÃO- CONCEITO: “Consiste a notificação (...) nacientificação que se faz a outrem conclamando-o a fazer ou deixar de fazeralguma coisa, sob cominação de pena”. (Humberto Theodoro Jr.)

Ex. Notificação do locatário para desocuparprédio alugado.

INTERPELAÇÃO - CONCEITO: “A interpelação tem o fimespecífico de servir ao credor para fazer conhecer ao devedor a exigência decumprimento de obrigação, sob pena de ficar constituído em mora”.(Humberto Theodoro Jr.).

PROCEDIMENTO: Deve o requerente demonstrarinteresse em manejar a medida e a sua não nocividade. Nãocomporta defesa ou contraprotesto nos mesmos autos. Segundoentendimento doutrinário, a lei permite o protesto, emoutros autos, daquele que foi atingido por protesto. 11 – HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL

Instituto regulado pelo art. 1467 do CódigoCivil de 2002: São credores pignoratícios, independentemente deconvenção: I – os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre

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as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou freguesestiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ouconsumo que aí tiverem feito; II –o dono do prédio rústico ou urbano, sobre osbens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio,pelos aluguéis ou rendas.

A norma em tela institui o penhor legal emfavor de hoteleiros, fornecedores de alimentos e pouso(hotéis, motéis, restaurantes, pensões bares, lanchonetes esimilares) e locadores de imóvel.

É satisfativo, não tendo, portanto, naturezacautelar.

PROCEDIMENTO: Petição inicial, acompanhada daconta pormenorizada das despesas, a tabela de preços e arelação dos objetos retidos. Recebida a inicial, serácitado o demandado para que pague a dívida ou apresentedefesa. Citado, poderá o demandado: a) pagar a dívida; b)permanecer inerte; c) oferecer defesa.

A defesa do demandado deve limitar-se àsmatérias do art. 875 do CPC.

SENTENÇA e EXECUÇÃO: Segundo a doutrinadominante, a sentença homologatória do penhor legal não étítulo executivo. Por isso, deverá o credor valer-se deprocesso de conhecimento para formar o título que ohabilitará a executar o crédito.

12 – DA POSSE EM NOME DE NASCITURO

CONCEITO: “Medida destinada a permitir que se dê proteçãoaos interesses do feto, através da constituição de prova da existência dagravidez, para o fim de permitir que o representante legal do nascituro entrena posse de seus direitos”.Medida adequada para os casos de sucessão causa mortis em queo nascituro venha a ser um dos herdeiros.

PROCEDIMENTO: Petição inicial, pleiteando adeclaração do estado de gravidez, com a investidura dodemandante nos direitos do nascituro. A petição deve ser

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instruída com a certidão de óbito da pessoa de quem onascituro será sucessor. Citação dos herdeiros do falecidopara que ofereçam resposta. Oitiva do MP. Produção de provapericial para atestar o estado de gravidez. Sentençadeclaratória do fato: a gravidez.

13 – DO ATENTADO – arts. 879 a 881

CONCEITO: “Atentado é a criação de situação nova oumudança de status quo, pendente a lide, lesiva a parte e sem razão de direito”.(Humberto Theodoro).

Ocorrendo alteração no estado de fato,decorrente de ato ilícito de uma das partes, surge oatentado.

REQUISITOS: a) pendência de processo; b)inovação no estado de fato inicial; c) ilegalidade dainovação; d) prejuízo para o interesse da outra parte.

SENTENÇA e EXECUÇÃO: São efeitos da sentença deprocedência da ação de atentado: a) reconhecimento dainovação ilícita no estado de fato cometida pelo demandado;b) ordem de restabelecimento do estado anterior; c)suspensão da causa principal ( o que não deve ocorrerquando beneficiar o perpetrador do atentado); d) proibiçãodo demandado falar nos autos do processo principal até apurgação do atentado; e) imposição do ônus da sucumbência;f) se for o caso, condenação do demandado a ressarcir osprejuízos sofridos pelo demandante.

14 – DO PROTESTO E DA APREENSÃO DE TÍTULOS – arts. 882 a887

DO PROTESTO: Não se trata de processo judicial,mas administrativo, porquanto se dá perante o oficial deprotestos e não em juízo.É matéria regulada pela lei n◦9464/97. Com efeito, não se trata de medida cautelar, masato probatório extrajudicial.

DA APREENSÃO DE TÍTULOS: Há casos em que otítulo é entregue ao devedor para aceite ou pagamento e

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indevidamente retido. Nesses casos, surge para o credor odireito de recuperá-lo, através da apreensão de títulos,procedimento previsto nos arts. 885 a 887 do CPC. Não setrata de cautelar, mas processo de conhecimento, de carátersatisfativo. Prisão – art. 885 do CPC – óbviainconstitucionalidade, sendo dispositivo não recepcionadopela CF/88.

15 – OUTRAS MEDIDAS PROVISIONAIS – arts. 888 e 889

I- Obras de conservação em coisa litigiosa oujudicialmente apreendida: qualquer das partes temlegitimidade para requerer. Visa proteger o bem em litígio.

II – Entrega de bens de uso pessoal: os bens deuso pessoal do cônjuge não integram a comunhão. Por isso,não é lícito que, em caso de rompimento do vínculoconjugal, uma das partes retenha bens da outra. Trata-se deprocesso cognitivo de caráter possessório. (AlexandreCâmara)

III – Posse provisória de filhos: visaestabelecer quem vai ficar com os filhos do casal, até quese possa solucionar a ação principal, na qual se busca adissolução do vínculo conjugal.

IV- Afastamento de menor autorizado a contraircasamento: medida decorrente da autorização judicial paraque o menor possa contrair núpcias. O afastamento é medidageralmente preparatória da ação de suprimento deassentimento dos pais para o casamento.

V – Depósito de incapazes castigadosimoderadamente ou induzidos à prática de atos ilícitos ouimorais: Medida antecedente ou incidente a outra, na qualse buscará a suspensão ou perda do pátrio poder.

VI – Afastamento temporário de um dos cônjugesda morada do casal: afastamento temporário x separação decorpos – a separação rompe o vínculo sem exigir afastamentoda residência – a medida do art. 888, VI, implicaafastamento físico, para impedir agressões e outros.

VII – Guarda e educação dos filhos, regulado odireito de visita: regulamentação provisória da guarda edireito de visitas. Não se confunde com a medida do incisoIII, pois nesta a ação principal deve versar sobre a guardados filhos.

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VIII – Interdição e demolição de prédios: prevêe interdição e demolição de prédios para proteger a saúde, a segurança e outros interesses públicos.

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