DIREITO CIVIL - CONTRATOS CONTRATO

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1 DIREITO CIVIL - CONTRATOS CONTRATO Contrato é o acordo de vontades realizado com o fim de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas patrimoniais. O pacto é um contrato acessório, fala-se, por exemplo, em pacto de fiança, pacto adjecto de hipoteca, pacto de retrovenda. Não há diferença ontológica, isto é, na essência, entre pacto e contrato, pois em ambos há um acordo de vontades para criar, modificar ou extinguir obrigações patrimoniais. É proibido o contrato consigo mesmo, de modo que o contrato sempre pressupõe duas partes antagônicas, justamente para que haja o acordo de vontades. O procurador que porventura compra o bem, e estaria realizando o negócio consigo mesmo, esse negócio é anulável, por exemplo, dou uma procuração para você vender minha casa e, você resolveu vender para você mesmo, é um negócio anulável e não nulo, artigo 117 1 do Código Civil. Todavia, admite-se a procuração em causa própria, também chamada de mandato in rem suam, esta procuração é aquela em que o procurador tem poderes para vender o bem para terceiros e tem poderes para ele mesmo comprar o bem. Referida procuração é irrevogável, nem a morte revoga a procuração em causa própria. Portanto, na procuração em causa própria, é possível o procurador comprar o bem. REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO São os mesmos requisitos de validade dos demais negócios jurídicos: a) agente capaz, b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável, c) forma prescrita ou não defesa em lei. Portanto, o contrato para ser válido é preciso preencher esses requisitos. AGENTE CAPAZ Os absolutamente incapazes não podem celebrar pessoalmente nenhum contrato, sob pena de nulidade absoluta, mas eles podem celebrar contratos, validamente, através de seu representante legal. Os relativamente incapazes podem celebrar pessoalmente todos os contratos, desde que assistidos pelo representante legal. Sem a assistência o contrato não é nulo, é apenas anulável. A partir dos dezesseis anos é possível ser mandatário sem assistência, por exemplo, é possível passar uma procuração para um menor púbere e ele não precisa estar assistido para celebrar esse contrato de mandato. O absolutamente ou relativamente incapaz quando pretender alienar bens imóveis é preciso autorização do juiz, artigo 1691 2 do Código Civil, portanto, mesmo o relativamente incapaz, para alienar imóvel, não basta a assistência, é preciso autorização do juiz. OBJETO 1 Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. 2 Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

CONTRATO Contrato é o acordo de vontades realizado com o fim de criar, modificar ou extinguir relações

jurídicas patrimoniais. O pacto é um contrato acessório, fala-se, por exemplo, em pacto de fiança, pacto adjecto de

hipoteca, pacto de retrovenda. Não há diferença ontológica, isto é, na essência, entre pacto e contrato, pois em ambos há um acordo de vontades para criar, modificar ou extinguir obrigações patrimoniais.

É proibido o contrato consigo mesmo, de modo que o contrato sempre pressupõe duas partes antagônicas, justamente para que haja o acordo de vontades.

O procurador que porventura compra o bem, e estaria realizando o negócio consigo mesmo, esse negócio é anulável, por exemplo, dou uma procuração para você vender minha casa e, você resolveu vender para você mesmo, é um negócio anulável e não nulo, artigo 1171 do Código Civil.

Todavia, admite-se a procuração em causa própria, também chamada de mandato in rem suam, esta procuração é aquela em que o procurador tem poderes para vender o bem para terceiros e tem poderes para ele mesmo comprar o bem. Referida procuração é irrevogável, nem a morte revoga a procuração em causa própria.

Portanto, na procuração em causa própria, é possível o procurador comprar o bem. REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO São os mesmos requisitos de validade dos demais negócios jurídicos: a) agente capaz, b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável, c) forma prescrita ou não defesa em lei. Portanto, o contrato para ser válido é preciso preencher esses requisitos. AGENTE CAPAZ Os absolutamente incapazes não podem celebrar pessoalmente nenhum contrato, sob pena

de nulidade absoluta, mas eles podem celebrar contratos, validamente, através de seu representante legal.

Os relativamente incapazes podem celebrar pessoalmente todos os contratos, desde que assistidos pelo representante legal. Sem a assistência o contrato não é nulo, é apenas anulável.

A partir dos dezesseis anos é possível ser mandatário sem assistência, por exemplo, é possível passar uma procuração para um menor púbere e ele não precisa estar assistido para celebrar esse contrato de mandato.

O absolutamente ou relativamente incapaz quando pretender alienar bens imóveis é preciso autorização do juiz, artigo 16912 do Código Civil, portanto, mesmo o relativamente incapaz, para alienar imóvel, não basta a assistência, é preciso autorização do juiz.

OBJETO

1 Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu

interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. 2 Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles,

obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.

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O objeto do contrato deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. Objeto lícito: é aquele que está de acordo com a lei, moral e bons costumes. É nulo, por exemplo, contrato de herança de pessoa viva, que é o pacto corvina, artigo 4263

prevê a nulidade absoluta desse negócio. O objeto possível, fisicamente e juridicamente. A impossibilidade física absoluta é aquela em

que o objeto é irrealizável por qualquer pessoa, por exemplo, ressuscitar um morto, nesse caso o contrato é nulo, nulidade absoluta.

A impossibilidade física relativa é aquela em que o objeto é de difícil realização, mas é possível realizá-lo, por exemplo, correr 100 metros em 10 segundos, nesse caso, o negócio é válido, se for descumprido caberá perdas e danos.

O objeto ainda deve ser determinado, isto é, individualizado desde o nascimento do contrato, ou determinável, que é a hipótese em que o contrato fornece elementos para que o objeto seja identificado posteriormente, exemplo, compra e venda dos peixes que caírem na rede do pescador.

FORMA No tocante a forma vigora, no silêncio, o princípio da liberdade das formas, isto é, o contrato

pode ser feito por qualquer forma, verbal, tácita, não exige, portanto, forma escrita. Essa é a regra. A forma escrita, quando exigida por lei, é requisito de validade do contrato, fala-se, então, em

contrato formal ou solene, que é aquele que exige uma forma escrita. Pode ser um escrito particular, como é o caso da fiança, ou pode ser uma escritura pública como alienação de imóvel de valor superior a trinta salários mínimos.

Nos contratos solenes, se a forma for violada, se for nula, anula-se todo o contrato, porque a forma é requisito de validade do contrato.

Nos contratos de forma livre, são os chamados contratos informais, mas que foram celebrados por escrito, nesse caso, se a forma for nula, não se anula o contrato, continua sendo válido porque ele pode ser provado por outros meios.

De modo que nos contratos de forma livre quando celebrados por escrito são chamados de contratos ad probationem tantum, por exemplo, uma locação pode ser verbal, mas se as partes celebrarem por escrito é um contrato ad probationem tantum, nesse caso, se houver uma nulidade na forma adotada não se anula o contrato, porque a forma aqui não é requisito de validade, é apenas um meio de prova, e, esse contrato pode ser provado por outros meios.

O silêncio não é manifestação de vontade. Juridicamente quem cala não consente. Portanto, o silêncio, em regra, não é uma forma de celebrar contrato. Por exemplo, uma revista me manda um exemplar dizendo: parabéns você é um novo assinante, sem que eu tenha pedido, e ainda, veio um boleto junto e eu não paguei; eu não celebrei contrato nenhum com essa revista, de modo que ela não poderá me cobrar.

Excepcionalmente, o silêncio vale como forma de manifestação de vontade, ocorre quando a lei prevê esse efeito para o silêncio, por exemplo, na doação pura, se não aceitar no prazo, diz a lei: presume-se que aceitou. O silêncio indica aceitação de uma doação pura.

Outra situação é quando houver costume entre as partes para negociar através do silêncio. Imaginemos dois empresários que pelo costume entre eles um sempre manda mercadoria, sem o outro pedir, e sempre negociaram assim através do silêncio. Quando o silêncio funciona como manifestação de vontade, ele se chama silêncio eloquente ou conclusivo ou circunstanciado. Portanto, o silêncio, em regra, não é uma proposta de contrato, não é uma aceitação de contrato,

3 Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

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salvo nos casos em que a lei prevê ou quando os costumes admitirem. CLÁUSULAS CONTRATUAIS As cláusulas contratuais podem ser essenciais, naturais e acidentais. a) essenciais são aquelas necessárias para a existência do contrato, faltando uma dessas

cláusulas o contrato não existe. Na compra e venda as cláusulas essenciais são: uma cláusula que descreve a coisa, outra que

descreve o preço e o consentimento. b) naturais: são as consequências normas do negócio e não precisam constar expressamente,

pois elas estão subentendidas. Na compra e venda as cláusulas naturais são: a obrigação do vendedor de entregar e a

obrigação do comprador de pagar. c) acidentais: são aquelas que modificam as consequências naturais, depende de menção

expressa. As cláusulas acidentais são: o termo, a condição e o encargo; portanto, termo, condição e

encargo só existem no negócio, se houver menção expressa. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS Princípios contratuais são os postulados fundamentais que inspiram a elaboração, a

interpretação e a aplicação das normas contratuais. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE (PRINCÍPIO DA LIBERDADE CONTRATUAL) Este princípio significa que as partes são livres para contratar, se quiser, com quem quiser, e,

como quiser. Portanto, as partes são livres, inclusive para fixar as cláusulas contratuais, podendo dispor de forma diferente do que consta no Código Civil.

As normas do Código Civil sobre contratos são normas dispositivas, isto é, que podem ser afastadas pela vontade das partes.

Todavia, naquilo que o contrato é omisso, aplica-se obrigatoriamente o Código Civil. Portanto, as partes podem dispor de forma diferente do Código Civil, mas naquilo que o contrato é omisso, aplica-se o Código de maneira subsidiária, de maneira supletiva.

O princípio da Autonomia da Vontade não é absoluto, é um princípio relativo porque ele sofre exceções através dos princípios da supremacia da ordem pública, função social do contrato e boa-fé objetiva.

PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA Limita a vontade das partes, é o que proíbe cláusulas contratuais que violem a ordem pública,

os bons costumes ou leis cogentes. Portanto, as cláusulas contratuais não podem violar leis cogentes, isto é, leis de ordem

pública que são aquelas leis que não podem ser modificadas pelas partes, não podem modificar bons costumes, não podem modificar a ordem pública.

Assim, por exemplo, é nula a cláusula contratual de um contrato de sociedade que prevê cláusula leonina, que é a cláusula que proíbe sócio de participar dos lucros.

No contrato de doação é nula a doação universal, isto é, doação de todos os bens.

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Portanto, a liberdade de contratar não é absoluta, ela sofre limites. É o que se chama de dirigismo contratual. Dirigismo contratual é a intervenção do Estado no conteúdo do contrato para manter o equilíbrio entre as partes e evitar o abuso do poder econômico de uma das partes. Essa intervenção do Estado se dá através de leis cogentes, leis de ordem pública, leis que não podem ser modificadas pelas partes. Essas leis devem emanar da União, pois compete a União legislar sobre contratos, nos termos do artigo 224 da Constituição Federal. Lei Estadual que versa sobre contrato é inconstitucional, igualmente uma lei municipal, assim, se uma lei estadual quiser disciplinar o contrato de seguro, essa lei será, portanto, inconstitucional.

PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO (art. 4215 do CC) É a prevalência dos interesses coletivos sobre os interesses individuais dos contratantes. Essa

liberdade contratual deve ser exercida observando a função social, isto é, o interesse coletivo prevalece sobre os interesses individuais dos contratantes.

Esse princípio tem dois aspectos. 1º) aspecto interno: o conteúdo do contrato deve observar esse princípio, os interesses da

4 Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V - serviço postal; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII - comércio exterior e interestadual; IX - diretrizes da política nacional de transportes; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI - trânsito e transporte; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV - populações indígenas; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012) (Produção de efeito) XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; XX - sistemas de consórcios e sorteios; XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares; XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; XXIII - seguridade social; XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; XXV - registros públicos; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional; XXIX - propaganda comercial. 5 Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

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coletividade devem ser preservados. Assim, por exemplo, é proibida uma cláusula que viole a dignidade da pessoa humana, porque isso contraria os interesses da sociedade; é proibida cláusula que onera excessivamente uma das partes, porque isso contraria os interesses da sociedade.

2º) aspecto externo: é a eficácia externa do princípio da função social. Significa que o contrato deve respeitar direitos de terceiros, direitos da sociedade. Assim, o contrato não pode violar o meio ambiente, por exemplo.

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA (CONCEPÇÃO ÉTICA DA BOA-FÉ) É a obrigação de os contratantes cumprirem os deveres anexos ou implícitos no contrato.

Portanto, o rol de deveres contratuais é exemplificativo, porque além daqueles deveres explicitados no contrato, há ainda, os deveres implícitos ou anexos, é o que se chama princípio da boa-fé objetiva, é a obrigação que as partes têm de cumprir deveres que não estão escritos, mas que estão implícitos. São deveres anexos baseados na lealdade, na confiança.

Esse princípio vigora em todas as fases do contrato, ou seja, na fase pré-contratual, na fase contratual, na fase da execução ou cumprimento do contrato e na fase pós-contratual.

Embora o Código Civil diga que esse princípio vigore na fase contratual e na fase do cumprimento do contrato, a doutrina é pacífica que ele vigora também na fase pré-contratual e na fase pós-contratual. Exemplo: após o término de uma compra e venda o comprador está com dificuldade para registrar a escritura e precisa do apoio do vendedor que tem alguns documentos, precisa de algumas informações. O vendedor é obrigado a prestar essas informações, embora o contrato tenha terminado, estamos na fase pós-contratual, e, embora isso não esteja escrito, é um dever implícito.

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ SUBJETIVA (PRINCÍPIO DA CONCEPÇÃO PSICOLÓGICA DA BOA-FÉ) Presume-se a boa intenção dos contratantes. Quem alega má-fé tem o ônus da prova.

Portanto, a boa-fé subjetiva é presumida, presume-se que as partes celebraram o contrato, bem intencionadas.

O princípio da boa-fé subjetiva exerce função preponderante na interpretação dos contratos. Os contratos devem ser interpretados de acordo com a boa-fé e os usos, os costumes do lugar da celebração, é o que diz o artigo 1136 do Código Civil.

Já a boa-fé objetiva exerce função preponderante na integração, isto é, supre as lacunas do contrato, quando o contrato não prevê determinados deveres, entra em cena a boa-fé objetiva. Lembrando que os deveres implícitos da boa-fé objetiva. Quem viola a boa-fé objetiva está abusando de direito, e a responsabilidade civil para quem abusa de direito é objetiva, tem de indenizar independente de culpa.

No tocante à boa-fé subjetiva há exceções no Código de Defesa do Consumidor que presume a má-fé do fornecedor em casos de processo civil.

Há duas situações em que o juiz pode inverter o ônus da prova e presumir a má-fé do fornecedor, competindo a este provar que não teve má-fé:

1ª) se o consumidor for hipossuficiente, que é aquele consumidor que não entende da mercadoria que comprou, do produto que está levando;

2ª) se a alegação do consumidor for verossímel, isto é, tiver fundamento segundo as regras de experiência do magistrado.

6 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

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PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO Os contratos são, em regra, consensuais, isto é, eles se formam com o simples acordo de

vontades, independentemente da entrega da coisa. Portanto, o contrato já existe, a partir do momento em que há o acordo de vontades, assim, por exemplo, a compra e venda já é obrigatória a partir do momento em que as partes chegaram a um consenso, então o contrato se forma com a aceitação da proposta, com o acordo de vontades.

Exceções: contratos reais são aqueles que só se formam com a entrega da coisa, quer dizer, além do acordo de vontades, é preciso ainda a entrega da coisa. Portanto, nos contratos reais o simples acordo de vontades não faz nascer o contrato, é preciso que a coisa seja entrega.

Quais são os contratos reais? O mútuo que é o empréstimo de coisas fungíveis; o comodato; depósito; penhor e a doação

manual de coisa móvel de pequeno valor, essas doações podem ser verbais, mas só nascem se houver a entrega do bem, por exemplo, eu prometo meu livro para você, ainda não existe contrato, o contrato verbas de doação só existirá quando eu te entregar o livro.

PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS (PACTA SUNT SERVANDA, isto é, os

pactos devem ser observados) É a força vinculante dos contratos, o contrato é lei entre as partes. Este princípio significa que os contratos devem ser fielmente cumpridos. Quem celebra

contrato não pode voltar atrás. O princípio da obrigatoriedade proíbe que a parte altere unilateralmente cláusulas

contratuais. As cláusulas são intangíveis, não podem ser alteradas unilateralmente pela vontade de uma das partes, mas sim, é preciso acordo entre as partes. Nem o juiz pode alterar cláusulas, o máximo que o juiz pode fazer é anular uma cláusula, mas modificar, redigir, isso não pode.

Esse princípio comporta algumas exceções: a) Teoria da Imprevisão, é a única hipótese em que o juiz pode modificar cláusulas; b) Caso fortuito ou força maior, o contrato deixa de ser cumprido; c) Art. 49 do CDC, quando o consumidor realiza uma compra fora do estabelecimento

comercial, por exemplo, faz uma compra pela internet, nesse caso, ele tem sete dias para desistir do negócio, a contar da assinatura do recebimento do produto ou serviço.

PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS O contrato só vincula as partes. O contrato não beneficia nem prejudica terceiros. Esse princípio sofre marcante exceção no CDC, porque o consumidor tem o direito de mover

ação por vício do produto ou vício do serviço, não só contra quem ele contratou, mas também contra o fabricante, o importador, o montador, ou seja, pode processar outras pessoas. Portanto, o princípio da relatividade não vigora no CDC.

No CC há algumas exceções a esse princípio, por exemplo, as estipulações em favor de terceiro, alguém pode fazer um seguro para beneficiar um terceiro, e, no entanto, esse terceiro não participou do contrato.

Outra exceção, os herdeiros do morto são obrigados a cumprir o contrato, embora eles não tenham participado.

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FORMAÇÃO DOS CONTRATOS O contrato se forma com a aceitação da proposta. No momento em que a proposta é aceita, nasce o contrato, salvo os contratos reais, estes só

nascem com a entrega da coisa. FASES DE FORMAÇÃO DO CONTRATO 1ª FASE: NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES (FASE PRÉ-CONTRATUAL OU FASE DA PUNTUAÇÃO) São as conversas prévias que antecedem a proposta. Portanto, nas negociações preliminares

ainda não há proposta, é a fase do estudo do negócio antes de formular a proposta. Esta fase não vincula os entabulantes, eles ainda não são contratantes, são entabulantes. Quem desiste das negociações preliminares não precisa indenizar a outra parte.

Exceção: se desistiu injustamente, isto é, sem motivo após induzir a outra parte a fazer despesas, criando-lhe expectativa de que iria contratar, não será obrigado a contratar, mas terá de indenizar nas perdas e danos. Exemplo: estou negociando o meu apartamento e digo para você pegar um avião e vir para fechar o negócio e chegando aqui, eu não quis nem conversar, desisti sem motivo, mas te induzi a fazer despesas, vou ter que te indenizar dessas despesas, é uma responsabilidade civil extracontratual, baseada no art. 1867 do CC, quem causa dano a outrem tem de indenizar, mas não serei obrigado a celebrar o contrato.

No CDC a fase das negociações preliminares é vinculante, o fornecedor é obrigado a celebrar o contrato, ele não pode desistir das negociações preliminares injustamente, ele é obrigado a celebrar o contrato nos moldes como ele tratou as negociações preliminares.

2ª FASE: PROPOSTA (POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO OU OFERTA) É a declaração de vontade dirigida à pessoa com quem se quer contratar, contendo as

cláusulas essenciais do negócio. Portanto, só posso chamar de proposta, uma declaração de vontade que é dirigida, comunicada a outra parte, ou seja, é um negócio receptivo, porque tem que ser comunicado e tem de conter as cláusulas essenciais.

Assim, a proposta para ser válida deve ser completa, isto é, conter as cláusulas essenciais, por exemplo, numa compra e venda tem que descrever a coisa, o preço, a forma de pagamento, porque se você diz que vai vender teu carro, mas não diz o preço, isso não é proposta, e, proposta incompleta é nula, tem de ser uma proposta séria, com intenção de contratar.

E, finalmente, tem de ser uma proposta dirigida, isto é, que seja comunicada a parte com quem se quer contratar.

Proposta aberta ao público é aquela que é dirigida a um número indeterminado de pessoas, é a proposta feita pelo jornal, pela televisão, pela internet. A proposta aberta ao público é válida como outra proposta qualquer, desde que ela contenha as cláusulas essenciais.

Vigora o princípio da irrevogabilidade da proposta, isto é, quem faz proposta não pode voltar atrás, não pode se arrepender, não pode revogar a proposta unilateralmente. Nem a morte, ou interdição do proponente revoga proposta, se o sujeito faz a proposta e morre ou fica louco, os herdeiros ou curador, respectivamente, devem cumprir essa proposta.

7 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a

outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

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O princípio da obrigatoriedade da proposta comporta algumas exceções: a) se a falta de obrigatoriedade resultar dos próprios termos da proposta, por exemplo, o

sujeito fez uma proposta e colocou ‘proposta não vinculante, proposta não obrigatória’; b) se a falta de obrigatoriedade resultar da natureza do negócio, art. 4278 do CC. Evidente que

se eu faço um anúncio no jornal para vender meu carro e quando você chegou, outro já havia comprado, ela deixou de ser obrigatória, porque a falta de obrigatoriedade resulta da natureza do negócio, a proposta é obrigatória até eu vender o carro, a partir do momento que eu vendi, deixa de ser obrigatória.

c) quando a falta de obrigatoriedade resulta das circunstâncias do caso, art. 427 do CC. Essa hipótese se desdobra em quatro situações:

1ª) contrato é uma proposta feita sem prazo entre pessoas presentes, se ela não for aceita imediatamente, ela deixa de ser obrigatória, exemplo: digo a você: quer comprar meu carro, dez mil reais, você pensa por um minuto, quando você volta, eu digo que não vendo mais; proposta dita para pessoa presente sem prazo, significa que deve ser aceita imediatamente, é pegar ou largar, senão ela deixa de ser obrigatória.

2ª) contrato é uma proposta sem prazo feita a pessoas ausentes, por exemplo, pelo correio, ela deve ser aceita dentro do prazo moral. Prazo moral é aquele fixado pelo juiz como sendo suficiente para aceitar, se você podia aceitar em meia hora e você demorou uma hora, a proposta deixa de ser obrigatória, o juiz vai analisar o negócio para ver qual é esse prazo moral.

3ª) a proposta feita com prazo à pessoa ausente ou presente, deixa de ser obrigatória se não for aceita no prazo.

Qual a diferença de contrato entre presentes e entre ausentes?

Contrato entre presentes é quando as partes negociam diretamente ou por procuradores com poderes especiais ou por telefone ou outro meio similar ao telefone.

Contrato entre ausentes é quando das partes negociam por correspondência, pelo correio, ou através de núncios, que são mensageiros, são intermediários, não são procuradores, por exemplo, dois irmãos no mesmo prédio, mas um não fala com o outro e estão negociando por meio de um núncio, um sujeito que vai até lá e leva proposta de um, de outro, nesse caso é um contrato entre ausentes.

4ª) a proposta deixa de ser obrigatória se ela for retratada. É possível a retratação da

proposta, desde que o proponente se retrate antes da proposta chegar até o aceitante, ou desde que ele retrate junto com a chegada da proposta ao aceitante. Exemplo: fiz uma proposta pelo correio, telefonei ou mandei um telegrama me retratando.

3ª FASE: ACEITAÇÃO Aceitação é adesão total à proposta, é a resposta afirmativa à proposta. A aceitação para ser válida tem de ser total, a aceitação parcial, ou condicional, não é

aceitação, é uma contraproposta, isto é, é uma nova proposta. Se o sujeito aceita e morre em seguida, o contrato já está formado, os herdeiros tem de

cumprir. Se o sujeito aceita e fica louco em seguida, o contrato já está formado, o curador tem de

8 Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do

negócio, ou das circunstâncias do caso.

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cumprir. Se o sujeito morre ou fica louco antes de aceitar, daí extingue a proposta, porque a proposta

foi para ele e não para os herdeiros. CONTRATOS POR CORRESPONDÊNCIA EPISTOLAR OU POR TELEGRAMA, ISTO É, POR CARTA,

PELO CORREIO Em que momento se forma esse contrato? O CC adotou a Teoria da Expedição, que significa que o contrato se forma no momento em

que a carta de aceitação é expedida, é enviada, colocada no correio. Só que adota essa teoria sob a condição de chegar dentro do prazo, quer dizer, se a aceitação chega dentro do prazo significa que o contrato está formado, desde o momento em que ela foi expedida. Isso é importante porque, imaginemos que um sujeito colocou no correio uma carta aceitando o contrato e morreu em seguida, se a carta chegar dentro do prazo, significa que o contrato está formado desde o momento em que foi expedida a carta, mas se chegar fora do prazo o contrato não se forma.

A Teoria da Informação diz que o contrato só se forma quando o proponente lê a carta de aceitação. Essa teoria não é adotada.

A Teoria da Declaração ou Agnição Propriamente Dita ou Recepção (quando a carta chega), diz que o contrato se forma quando a carta de aceitação é redigida. Também não é aceita.

Quem aceita pode se retratar?

Pode se retratar, desde que a retratação da aceitação chegue antes da aceitação ou junto com ela.

LUGAR DA CELEBRAÇÃO DOS CONTRATOS. Nos contratos celebrados em que tanto a proposta quanto a aceitação ocorrem no Brasil,

esses contratos se consideram celebrados no lugar da proposta, artigo 4359 do Código Civil. Mas isso não tem muita importância, porque a ação envolvendo o contrato não é no lugar do

contrato, mas sim no domicílio do réu. Nos contratos internacionais em que as partes estão em países diferentes, o contrato se

considera celebrado no lugar em que residir o proponente, art. 9º, §2º10, da LINDB. Então, aplica-se a lei do local da residência do proponente, não é necessariamente a lei brasileira. Exemplo: paraguaio residente na Alemanha, da Suíça ele fez uma proposta para um brasileiro aqui no Brasil; aplica-se a lei da residência do proponente, ou seja, o Código Civil Alemão.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS CONTRATOS UNILATERAIS E BILATERAIS a) Contrato unilateral: é aquele que no momento do seu nascimento, no momento da sua

formação, só uma das partes assume obrigações em face da outra. Uma das partes é exclusivamente credora, a outra parte é exclusivamente devedora, por isso que é unilateral.

9 Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.

10 Art. 9

o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituirem.

§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente.

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Exemplo de contratos unilaterais: na doação pura porque o doador é devedor e o donatário é credor, tem o direito de receber o bem em doação; mandato é um contrato unilateral; mútuo; comodato; depósito.

b) contrato bilateral ou sinalagmático: é aquele que no momento do seu nascimento, da sua formação, ambas as partes são ao mesmo tempo credoras e devedoras umas das outras, o contrato nasce com esse perfil. Exemplo: compra e venda, quem vende deve entregar a coisa, mas tem o direito de receber o preço, quem compra deve o preço, mas tem o direito de receber a coisa. Exemplos: compra e venda, locação, permuta, etc.

CONTRATOS ONEROSOS E GRATUITOS a) contrato oneroso: é o que traz benefícios e ônus para ambas as partes. Quando se fala em

oneroso não quer dizer que vai prejudicar as partes, mas sim, que vai trazer vantagens e desvantagens, é o caso da compra e venda, da locação, da permuta. Todo contrato bilateral é oneroso, que vai trazer vantagens e desvantagens.

b) contrato gratuito ou benéfico: é aquele em que uma das partes só tem vantagens, a outra só tem ônus. Exemplo: doação pura, comodato, todo contrato unilateral, em regra, é gratuito, se eu te empresto um bem, só você tem vantagem, empréstimo gratuito.

Há um contrato unilateral oneroso, é o mútuo feneratício, isto é, mútuo com juros. O mútuo é

um contrato real porque nasce quando te entrego o dinheiro, no momento que nasceu o contrato só o mutuário tem obrigações, de devolver o dinheiro, por isso que é unilateral, mas é oneroso porque você terá de pagar juros.

Nos contratos gratuitos não se pode reclamar evicção e vícios redibitórios. Os contratos gratuitos devem ser interpretados restritivamente, art. 11411 do CC, ao passo

que essa exigência não se aplica aos contratos onerosos. Se um insolvente celebra um contrato gratuito, é presunção absoluta de fraude contra

credores. Se um insolvente celebra um contrato oneroso, quem alega a fraude contra credores tem de provar que houve a fraude.

CONTRATOS COMUTATIVOS E ALEATÓRIOS a) contratos comutativos: são aqueles em que as prestações são equivalentes, as prestações

não variam, cada parte sabe de antemão o que vai ganhar e o que vai perder. Exemplo: numa compra e venda, numa locação, as prestações são pré-definidas, cada um sabe o que ganha e o que perde, não há risco.

b) contrato aleatório: é o contrato de risco, é aquele em que a prestação de uma ou ambas as partes pode variar, está sujeita a um risco, está sujeita a um evento incerto.

Os contratos aleatórios podem ser: - aleatórios pela própria natureza: são aqueles em que o risco é da essência do contrato, não

há como celebrá-lo sem risco. Exemplo: contrato de aposta, contrato de seguro, sempre tem um risco.

- contratos acidentalmente aleatórios: são aqueles contratos que normalmente são comutativos, não há risco, mas que no caso concreto as partes de comum acordo colocaram

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Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.

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expressamente o elemento risco, as partes resolvem de comum acordo assumir o risco. Esses contratos podem ser:

1) Emptio spei que é a venda da esperança, art. 45812 do CC. Emptio spei é a venda de coisa futura em que o comprador assume o risco da existência da coisa, ele diz que paga, ainda que a coisa não exista. Exemplo: compro por mil reais todos os peixes que caírem na rede que você vai lançar no mar, e, se não cair nenhum, eu pago os mil reais do mesmo jeito. Outro exemplo: eu compro a sua safra de café do ano que vem por cem mil reais, e, se você não colher nada, eu pago do mesmo jeito; isso é o emptio spei, assume o risco da existência; se a coisa não vier a existir, por caso fortuito ou força maior, mesmo assim o sujeito terá de pagar.

2) Emptio rei speratae, que é a venda da esperança ou venda da coisa esperada, que é o art. 45913 do CC. É a compra e venda em que o comprador assume o risco da quantidade, ele diz, se a coisa existir nessa quantidade eu pago, mas tem de existir alguma coisa. Exemplo: eu pago mil reais pelos peixes que caírem na rede, mas tem de cair pelos menos um.

3) Compra e venda de coisa existente, mas que está exposta a perigo. Exemplo: compro a carga de um navio em alto-mar e digo que pago, ainda que o navio afunde, assumo o risco da existência. O art.46014 prevê a hipótese de que se o sujeito compra uma coisa exposta a risco, e ele assume o risco da existência da coisa, e, quando ele celebrou o negócio a coisa já não existia (já havia afundado o navio) ele tem de pagar; se quem vendeu estava de boa-fé, não sabia, o comprador terá que pagar, é o único contrato sem objeto, porque na celebração a coisa já não existia, mas o vendedor estava de boa-fé e o comprador assumiu o risco da existência.

CONTRATOS PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS a) contratos principais: são aqueles que têm existência autônoma. b) contratos acessórios ou dependentes: são os pactas adjectas são aqueles contratos que

para existir depende de outro contrato principal, são aqueles contratos que visam assegurar o cumprimento de outro contrato principal. Exemplo: fiança, arras, etc., se o contrato principal for inválido, o contrato acessório também será inválido, é o princípio da gravitação jurídica, isto é, o acessório segue o principal.

Prescrita a obrigação principal, prescreve também a obrigação acessória. CONTRATO DERIVADO OU SUBCONTRATO É aquele que emana de um contrato básico e tem o mesmo objeto de um contrato básico.

Exemplo: sublocação, subempreitada, é diferente do contrato acessório porque o contrato acessório tem o objeto diferente, já o contrato derivado tem o mesmo objeto do contrato básico.

Em princípio é possível a subcontratação, um sujeito que celebre um contrato pode

terceirizar, pode subcontratar, salvo se for um contrato personalíssimo. Exemplo: show com um

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Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. 13

Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. 14

Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

cantor, não poderá mandar outro cantar no lugar, ou se for um contrato de execução instantânea que tem de ser cumprido imediatamente, daí também não dá para subcontratar.

CONTRATOS TÍPICOS E ATÍPICOS a) contratos típicos: são aqueles disciplinados por lei, o Código Civil prevê 23 contratos:

compra e venda, troca, doação, etc. b) contratos atípicos: são aqueles criados pelas partes, que não estão previstos em lei. CONTRATO PRELIMINAR (PACTO DE CONTRAENDO) Contrato preliminar é aquele em que as partes assumem obrigação de celebrar no futuro

outro contrato. Exemplo: compromisso de compra e venda, as partes assumem obrigação de celebrar no futuro uma compra e venda.

O contrato preliminar deve ter os mesmos requisitos do contrato definitivo, salvo quanto à forma. A forma do contrato preliminar não precisa ser a mesma do contrato definitivo, por exemplo, a venda de imóvel acima de 30 salários mínimos exige escritura pública, já o compromisso de compra e venda pode ser por instrumento particular.

CONTRATOS PESSOAIS E IMPESSOAIS a) contratos pessoais: são os contratos intuito personae, são aqueles contratos em que a

prestação deve ser cumprida pessoalmente pelo devedor, o devedor não pode mandar um terceiro cumprir no lugar. Exemplo: obrigação de fazer infungível (show com cantor); fiança, etc., esses contratos personalíssimos se extinguem com a morte. Portanto, são contratos intransmissíveis, não podem ser transmitidos por ato inter vivos nem por ato causa mortis.

b) contratos impessoais: são os contratos cuja prestação pode ser realizada pelo devedor ou por terceiro, é o caso, por exemplo, da obrigação de entregar um bem, quem vendeu pode mandar outra pessoa entregar; obrigação de fazer fungível. Exemplo: fazer um muro, o pedreiro que assumiu essa obrigação pode mandar outra pessoa fazer. Os contratos impessoais se transmitem por ato inter vivos ou causa mortis, portanto, não se extinguem com a morte.

CONTRATOS PARITÁRIOS E CONTRATOS DE ADESÃO a) contrato paritário: é aquele em que há a possibilidade de as partes discutirem o teor das

cláusulas contratuais. Exemplo: vou vender meu carro para você, então vamos discutir as cláusulas. b) contrato de adesão: é quando não há possibilidade da parte discutir as cláusulas

contratuais, isto é, o contrato é elaborado exclusivamente por uma parte que detém o monopólio do objeto do negócio, e, a outra parte não tem opção de discutir cláusulas contratuais, é impossível a discussão de cláusulas contratuais.

No Código Civil, o contrato para ser de adesão, exige que a parte que elaborou o contrato tenha o monopólio do objeto do negócio, de modo que, ou se contrata com ela, ou não vai contratar com mais ninguém.

Já no CDC, para o contrato ser de adesão, basta que as cláusulas tenham sido elaboradas pelo fornecedor, sem possibilidade do consumidor discutir as cláusulas principais, ainda que o fornecedor não tenha o monopólio do objeto do contrato.

No contrato de adesão as cláusulas ambíguas ou contraditórias devem ser interpretadas em

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

favor da parte aderente, quer dizer, as cláusulas duvidosas e contraditórias, é o que diz o art. 42315 do CC.

O art. 42416 do CC diz que é nula nos contratos de adesão, a cláusula em que a parte aderente tenha renunciado antecipadamente a direitos inerentes ao negócio, ou seja, a parte que aderiu não pode renunciar previamente ao direito de reclamar vícios redibitórios, direito de reclamar evicção, é proibida renúncia antecipada de direitos em contratos de adesão

EFEITOS DOS CONTRATOS BILATERAIS Os efeitos são: a) a exceptio nom adimpleti contractus; b) a cláusula resolutiva tácita; c) os vícios redibitórios; d) a evicção. EXCEPTIO NOM ADIMPLETI CONTRACTUS (EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO) É a defesa pela qual o contratante justifica que não cumpriu as suas obrigações pelo fato da

outra parte não ter cumprido as obrigações dela. Essa defesa pode ser alegada nos contratos de execução instantânea, que são aqueles em que

as prestações devem ser cumpridas ao mesmo tempo. Assim, por exemplo, se você move uma ação de cobrança contra mim, eu me defendo dizendo que não paguei porque você não me entregou a mercadoria. Se o juiz acolher essa defesa, o processo é extinto sem resolução do mérito, porque se a parte ainda não cumpriu as obrigações dela, ela não pode exigir que a outra cumpra.

Se a parte descumpriu as obrigações por caso fortuito ou força maior, ainda assim, a outra parte pode alegar a exceptio nom adimpleti contractus, por exemplo, comprei um carro e você não me entregou por conta de caso fortuito ou força maior, se você me cobrar eu posso alegar, tenho o direito de alegar a exceptio nom adimpleti contractus.

Se a obrigação for cumprida parcialmente ou defeituosamente, por exemplo, você me entregou um carro, mas o carro está com o motor estourado, ainda assim cabe alegar a exceptio nom adimpleti contractus, só que nesse caso chama-se exceptio nom rite adimpleti contractus, isto é, a parte pode dizer que ainda não cumpriu a obrigação porque a outra parte não cumpriu corretamente, cumpriu de forma defeituosa ou parcialmente.

A EXCEPTIO NOM ADIMPLETI CONTRACTUS NÃO PODERÁ SER ALEGADA EM ALGUMAS

SITUAÇÕES: 1) se houve adimplemento substancial, isto é, a parte cumpriu as obrigação quase que na

íntegra, nesse caso, a outra parte terá de cumprir as obrigações dela. Exemplo: contratei um construtor para construir minha casa e ele construiu tudo, só está faltando um retoque, daí ele move uma ação de cobrança; eu não poderei dizer que não vou pagar porque ele ainda não cumpriu as obrigações; se houve adimplemento substancial, a outra parte tem que cumprir a parte

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Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. 16

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

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dela, e, se for o caso, pode até mover uma ação de perdas e danos para cobrar o que ficou faltando. 2) contratos administrativos com o poder público. Se o poder público não paga o contratante,

ainda assim, o contratante tem que continuar prestando serviços públicos durante 90 dias, por força do princípio da continuidade dos serviços públicos.

3) quando há cláusula solve et repete, significa: pague e depois reclame, é a cláusula pela qual o contratante assumiu no contrato, concordou em primeiro cumprir com as suas obrigações, ainda que a outra parte não cumpra; ele renuncia o direito de alegar a exceptio nom adimpleti contractus, ou seja, ele terá que pagar, ainda que a mercadoria não seja entregue. Nesse caso, se a mercadoria não chegou, quem vendeu pode mover ação de cobrança e quem comprou terá de pagar.

O solve et repete não cabe em contrato de adesão porque é uma renúncia antecipada ao direito de alegar, artigo 424 do Código Civil.

Nos contratos de execução sucessiva que são aqueles em que as prestações são cumpridas sucessivamente, isto é, as prestações não são cumpridas ao mesmo tempo (contrato de execução sucessiva é aquele em que ficou combinado que primeiro uma parte vai cumprir com as suas obrigações e depois a outra vai cumprir); ex., primeiro eu pago e depois você me entrega a mercadoria ou o inverso. Nesses contratos, a parte que assumiu a obrigação de cumprir primeiro, não poderá alegar a exceptio nom adimpleti contractus, porque está combinado que ela vai cumprir primeiro. Só que nesse contrato, se acontecer de a parte que deve cumprir por último, apresentar dificuldades financeiras, a parte que vai cumprir primeiro tem duas opções: 1) só vai cumprir a obrigação se a outra parte cumprir a dela ao mesmo tempo; 2) exigir uma garantia, uma hipoteca, um fiador, uma garantia que a outra parte vai cumprir lá na frente. Se a outra parte não concordar com essas opções, o contrato extingue sem perdas e danos, é o que diz o artigo 47717 do Código Civil.

CLÁUSULA RESOLUTIVA TÁCITA É aquela que está implícita em todo contrato bilateral, significa que todo contrato bilateral, se

houver inadimplência, isto é, descumprimento das obrigações, a outra parte pode pedir a resolução, a extinção do contrato.

Cláusula resolutiva tácita é a que admite, permite a extinção do contrato, caso haja inadimplência de uma das partes.

VÍCIOS REDIBITÓRIOS São os defeitos ocultos que diminuem a utilidade ou a vantagem da coisa, de tal modo que o

negócio não seria realizado, se esse defeito fosse conhecido. Exemplo: o sujeito adquiriu uma coisa defeituosa.

Quem aliena onerosamente um bem, responde por vícios redibitórios. O alienante do bem se alienou onerosamente, mediante contratos comutativos, por exemplo, vendeu, deu em pagamento, permuta, responderá pelos vícios redibitórios.

O doador não responde por vícios redibitórios, salvo se for doação com encargo ou doação remuneratória, que é aquela em que a doação é feita para pagar serviços prestados e não cobrados, por exemplo, você sempre me fez favores e eu te dôo um bem para pagar esses favores.

No vício redibitório o defeito deve ser oculto, aquele defeito imperceptível pelo homem

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Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

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médio. Se o vício for aparente, isto é, de fácil constatação não cabe indenização nos negócios do Código Civil, mas cabe indenização nos negócios do Código de Defesa do Consumidor.

O vício redibitório deve existir antes da entrega da coisa, é um vício anterior a entrega da coisa, e o vício deve ser grave, isto é, diminuir a utilidade da coisa, diminuir o valor da coisa. Um vício meramente estético, uma coisinha de nada, isso não vício redibitório.

Em suma, o vício redibitório só pode ser alegado se for uma aquisição onerosa, se for um defeito oculto, defeito este que existia antes da entrega e que se reveste de gravidade, isto é, que diminua o valor ou a qualidade da coisa.

Presentes esses requisitos o adquirente do bem pode mover uma das ações edilícias, que são as seguintes:

1) Ação redibitória: é aquela em que se pede a extinção do contrato, o sujeito quer rescindir o

negócio. 2) Ação quanti minoris, também chamada de ação estimatória: é aquela em que se pede o

abatimento proporcional do preço. O adquirente fica com o bem, mas como ele está com defeito, pede um desconto, um abatimento do preço.

O adquirente é livre para escolher entre uma e outra ação. Se ele adquiriu coisas em conjunto, por exemplo, um caminhão de laranja e uma delas está estragada, ou algumas estragadas, o artigo 503 proíbe a rescisão do contrato, proíbe a ação redibitória, neste caso, só cabe a ação quanti minoris, ação para pedir abatimento do preço.

As ações edilícias podem ser cumuladas com perdas e danos? Se o alienante estava de má-fé, isto é, sabia do vício, ele vai responder também pelas perdas

e danos; se ele estava de boa-fé ou se o vício foi fortuito, mesmo assim o alienante responde pelo vício redibitório, ainda que o vício seja oriundo de caso fortuito ou força maior, desde que seja um vício anterior à tradição, neste caso, ele responde pelos vícios, mas não responde pelas perdas e danos; portanto, só vai responder por perdas e danos se ele estava de má-fé.

PRAZO PARA PROPOR AS AÇÕES EDILÍCIAS: O prazo é decadencial.

Para bem móvel: 30 dias; Para bem imóvel: 1 ano.

O prazo se conta da entrega efetiva do bem. Se quando o adquirente comprou, ele já estava

na posse do bem, o prazo conta-se da alienação, isto é, do contrato, e nesse caso, o prazo cai pela metade, ou seja, 15 dias para bem móvel, 6 meses para imóvel.

Em algumas hipóteses o prazo começa a conta de forma diferente: 1) quando o vício pela natureza só pode ser conhecido mais tarde, aqueles vícios que

demoram para aparecer, por exemplo, um apartamento que só vai inundar quando chover muito, então, nesse caso, se conta da ciência do vício;

2) quando se tratar de venda de animais, o prazo é regido por leis especiais, se não houver

leis especiais aplica-se o CC. Lembrando que doença em animal também pela própria natureza,

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

demora para aparecer, de modo que vai contar da ciência do vício. O prazo se conta da ciência do vício nos casos em que demora para aparecer o defeito, mas

se o vício aparecer só daqui a vinte anos não vai começar a contar só daqui vinte anos, mas sim, o CC diz que conta-se da ciência do vício, mas o vício tem de aparecer em 180 dias se for bem móvel, e, se imóvel, dentro de 1 ano; porque se não aparecer dentro desse período, o prazo vai ser contado da tradição, e não da ciência do vício.

PRAZO DE GARANTIA: Prazo de garantia é aquele lapso de tempo em que o alienante assumiu a obrigação de

consertar a coisa, de garantir que se houver qualquer problema ele irá arrumar. Então, se houver prazo de garantia, durante o prazo de garantia não corre o prazo para as ações edilícias. Só que nos negócios do CC, em regra, não há prazo de garantia, só haverá prazo de garantia se houver cláusula expressa.

Se for convencionado prazo de garantia, a partir do momento que aparecer o vício, o adquirente tem de comunicar o alienante, sob pena de perder a garantia, sob pena de decadência da garantia.

Não confundir o vício redibitório com erro essencial sobre a coisa.

No vício redibitório o sujeito adquiriu a coisa que ele queria adquirir, só que a coisa está estragada, o negócio é válido, ele pode rescindir o contrato, ação redibitória, ou pedir abatimento do preço, ação quanti minoris.

Já no erro é quando o sujeito adquire uma coisa que não tinha as qualidades que ele imagina ter, adquire coisa diversa da que ele queria. Exemplo: comprou um relógio dourado pensando que era de ouro; então o erro anula o negócio, o prazo é de 4 anos; mas se o relógio é de ouro, mas está estragado, daí é vício redibitório.

No CDC o consumidor pode reclamar vício redibitório, isto é, vício oculto, e pode reclamar

também, vício aparente, isto é, vício de fácil constatação. O consumidor pode mover a ação redibitória para rescindir o contrato, pode mover a ação

quanti minoris para pedir abatimento no preço, e, pode mover outra ação que é a ação para pedir a troca do produto ou do serviço; no CC não tem essa terceira opção.

No CDC o consumidor sempre poderá cumular essas ações com perdas e danos; o fornecedor responde objetivamente, independente de má-fé, dolo ou culpa.

No CDC sempre tem prazo de garantia por força de lei. No silêncio a garantia é de 30 dias, sendo que esse prazo de garantia pode ser reduzido para 7 e pode ser aumentado para no máximo 180 dias.

O prazo para o consumidor mover essas ações é um prazo decadencial. Se for produto ou serviço não durável é de 30 dias; se for durável é de 90 dias. Se for vício redibitório conta-se da ciência do vício; se for vício aparente conta-se da entrega do produto ou do serviço.

O consumidor antes de sair movendo essas ações ele tem de reclamar para o fornecedor, tem de dar oportunidade para o fornecedor consertar o produto, exatamente no prazo de garantia; se não consertar, daí então ele move as ações.

Esses prazos do CDC, embora sejam decadenciais, se suspendem em duas situações: 1) se for instaurado inquérito civil por esse produto; suspende até a conclusão do inquérito;

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

2) quando o consumidor reclama ao fornecedor, suspende o prazo até a resposta escrita do fornecedor; reclamar ao PROCON não suspende prazo, mas só a reclamação ao fornecedor.

EVICÇÃO Evicção é a perda da propriedade ou posse de uma coisa por sentença que a atribui a terceiro. Exemplo: compro um carro ou uma casa, aparece um terceiro e se diz dono, e o juiz dá uma

sentença a favor desse terceiro; ocorreu a evicção, perda da coisa por sentença. Quem aliena onerosamente um bem, responde pela evicção, isto é, tem de indenizar o evicto,

que é aquele que perdeu o bem por sentença. O alienante responde pela evicção, se for um contrato oneroso ou uma doação com encargo

ou doação remuneratória, aquelas para pagar serviços que não foram cobrados. E também responde pela evicção na doação para casamento com certa e determinada pessoa, o doador responde pela evicção, se ele doou um bem em contemplação de casamento e depois os nubentes perderam esse bem para um terceiro.

O evicto é aquele que perdeu o bem por sentença e tem direito a indenização contra o alienante, vai poder pedir as perdas e danos contra o alienante.

O meio processual para ele pedir a indenização: 1ª corrente: ele tem que pedir a indenização na denunciação da lide. Na ação de evicção ele

tem que, no prazo da contestação, fazer a denunciação da lide, então é na denunciação da lide que ele vai pedir a indenização. Ele pode pedir do alienante ou pode pedir dos anteriores proprietários do bem, então, é possível uma denunciação da lide por saltos, pode pedir do alienante ou anteriores proprietários, o CC permite isso, mas tem de ser na denunciação da lide, sob pena de preclusão.

O STJ, porém, diz que ele tem duas opções para pedir a indenização: pode pedir na denunciação da lide ou então, se ele não fez a denunciação da lide, pode pedir em uma ação direta de indenização com base na evicção, de modo que, se ele não fizer a denunciação da lide, ele não vai perder o direito de indenização. Essa é a orientação dominante no STJ.

Qual o valor que ele tem direito a indenização?

Ele tem que ser indenizado não pelo preço que pagou pelo bem, mas sim, pelo valor do bem ao tempo do trânsito em julgado da sentença que atribuiu o bem a terceiro.

É possível renunciar a evicção?

É possível a renúncia a evicção, só que renúncia tem de ter três requisitos: 1º) cláusula expressa de renúncia. Ex: estou renunciando a evicção; 2º) cláusula específica dando ciência do risco específico. Ex: renuncio a evicção e estou ciente

do risco, estou ciente que João da Silva se julga dono desse bem; 3º) cláusula em que o evicto assume o risco de que ele foi informado. Então são três cláusulas para a renúncia: cláusula de renúncia; cláusula cientificando do risco

específico e cláusula pelo qual assume o risco de que foi informado. Presente essas três cláusulas, se ocorrer a evicção, o alienante não terá que indenizar

ninguém. Se presentes apenas uma ou duas dessas cláusulas, o alienante tem que indenizar, mas a indenização será só a devolução do preço, não vai ser a indenização pelo valor do bem ao tempo do

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trânsito em julgado. Não responde pela evicção quem adquirir coisa alheia sabendo que é alheia, e quem adquirir

coisa litigiosa, sabendo que era litigiosa, nesses casos não há direito a indenização pela evicção. Evicção parcial é a perda de uma parte do bem ou de alguns direitos que recaiam sobre o

bem por sentença. Na evicção parcial o evicto tem duas opções: 1ª) rescindir o contrato, simplesmente ele devolve a parte que lhe sobrou; 2ª) ele fica com a parte que sobrou, e evidentemente, vai pedir a indenização da parte que

perdeu. Lembrando que a indenização é pelo valor do bem ao tempo do trânsito em julgado. O CC diz que se o sujeito adquiriu um bem em hasta pública, seja judicial ou extrajudicial,

(arrematou um bem no fórum), se posteriormente ocorrer evicção, isto é, ele perder esse bem por sentença, ele tem direito a indenização. Portanto, quem adquire bem em hasta pública tem direito de ser indenizado pela evicção.

EXTINÇÃO DOS CONTRATOS A extinção normal se dá pelo cumprimento das obrigações é o que se chama de pagamento,

que é o modo voluntário de extinguir a obrigação através do cumprimento da prestação devida. A extinção anormal é a que se dá sem pagamento. A extinção anormal pode ser p.ex., porque

o contrato é inválido, isto é, nulo ou anulável, isto é, as causas de nulidade anulabilidade são anteriores ou nascem junto com o contrato, pode ser extinto também por resolução, por resilição e por morte.

Lembrando que a morte de um dos contratantes, ou de ambos, não extingue contrato, em regra, salvo se for contrato personalíssimo. Portanto, a morte não extingue proposta, nem contrato a não ser que seja personalíssimo.

RESOLUÇÃO Resolução é a extinção do contrato por inadimplência, é a extinção por inadimplemento, isto

é, por descumprimento das obrigações. Se a parte descumpre as obrigações por culpa, a outra parte pode pedir a extinção do

contrato, pode pedir a resolução do contrato. É preciso notificar antes? Nesse caso é preciso distinguir a cláusula resolutiva expressa da tácita. Cláusula resolutiva

expressa é quando consta expressamente no contrato que a inadimplência gerará a sua extinção, nesse caso, a mora é ex re, isto é, não precisa notificar para constituir mora, de modo que, se não cumprir com as obrigações, a parte pode entrar com ação para extinguir o contrato sem precisar notificar antes.

Se não houver cláusula expressa sobre a extinção por inadimplência, daí vigora a cláusula resolutiva tácita, está implícito em todo contrato bilateral, se as obrigações não forem cumpridas, a outra parte pode pedir a extinção do contrato, mas nesse caso, antes de mover a ação para extinguir o contrato é preciso notificar judicialmente a parte inadimplente.

Na extinção por resolução, a extinção vai retroagir, isto é, o contrato vai ser extinto desde o momento em que foi celebrado, é uma extinção ex tunc, retroativa; a não ser nos contratos de prestações continuadas, p.ex., uma locação, porque aí o contrato é extinto com efeito ex nunc, isto

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

é, a partir da sentença. Se o inadimplemento, isto é, o descumprimento das obrigações ocorreu por caso fortuito ou

força maior, uma resolução por inexecução involuntária, quer dizer, a parte não cumpre as obrigações, mas por caso fortuito ou força maior, daí é preciso distinguir algumas situações:

1) a inadimplência fortuita gerou uma situação que agora é impossível cumprir o contrato,

p.ex., o sujeito não entregou o carro porque o raio destruiu, nesse caso, extingue o contrato, a extinção é automática, a partir do caso fortuito extingue-se o contrato retroativamente.

2) a inadimplência gerou uma situação provisória desse cumprimento, quer dizer, não dá pra cumprir o contrato, mas só por um tempo, p.ex., o sujeito não consegue entregar a mercadoria porque a cidade em que ele está inundou, caiu uma ponte, nesse caso, não se extingue o contrato, mas vai suspender o contrato.

Então, se o descumprimento fortuito gerar uma situação transitória de descumprimento, daí suspende; se gerar uma situação definitiva de descumprimento, daí extingue o contrato.

Se por caso fortuito ou força maior deteriorar a coisa, p.ex., você deveria me entregar o carro e não entregou, mas agora por caso fortuito ou força maior o carro está todo amassado. Nesse caso, a outra parte tem a opção de rescindir o contrato ou aceitar no estado em que se encontra, mas pedindo abatimento do preço, é o que diz o artigo 23518 do Código Civil.

Temos então a resolução por inadimplemento culposo, a resolução por inadimplemento fortuito e, temos ainda, a resolução por onerosidade excessiva que outra situação, aí entra em cena a Teoria da Imprevisão, que foi adotada no CC.

TEORIA DA IMPREVISÃO É aquela baseada na cláusula rebus sic stantibus, isto é, o contrato deve ser cumprido

enquanto a situação permanecer a mesma. Se surgir um fato novo que altere radicalmente a situação inicial, esse contrato pode ser extinto. Exemplo: me comprometi em entregar café daqui trinta dias, só que estourou uma guerra e, me comprometi a entregar cem reais a saca e agora está dez mil reais; surgiu um fato novo que alterou radicalmente a situação contratual.

A teoria da imprevisão é a que permite a extinção do contrato, isto é, a resolução do contrato ou a revisão judicial, isto é, a modificação das cláusulas, quando surgir um fato novo, isto é, superveniente, extraordinário, imprevisível que altere radicalmente a situação inicial onerando excessivamente uma das partes e causando vantagem para a outra.

Requisitos: 1º) Essa teoria da imprevisão só pode ser alegada em contratos bilaterais de execução

continuada ou de execução futura diferida. a) contrato de execução continuada: são aqueles contratos em prestações sucessivas; tenho

de te entregar café todo mês. b) contrato de execução futura diferida: é aquele em que as prestações devem ser cumpridas

posteriormente, p.ex., assumi a obrigação de entregar a mercadoria daqui a noventa dias. Nesses contratos cabe a teoria da imprevisão, se nesse período surgir um fato novo,

extraordinário, imprevisível que alterou toda a situação.

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Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

Quando o contrato é de execução instantânea e imediata, aqueles contratos que devem ser cumpridos imediatamente, nesses contratos não cabem a teoria da imprevisão. Portanto, a teoria da imprevisão só pode ser alegada nos contratos de execução continuada e nos contratos de execução futura diferida.

2º) É a alteração radical da situação existente ao tempo da celebração do contrato, quer

dizer, surgiu um fato novo que alterou tudo. 3º) É que esse fato novo tenha onerado excessivamente uma das partes e, causado benefício

para outra. 4º) É que esse fato novo seja um fato extraordinário e imprevisível. Extraordinário é um fato

que não é normal acontecer, ex., guerra, terremoto. O fato imprevisível é aquele que ninguém podia imaginar a ocorrência desse fato, o homem médio não podia ter previsto este fato.

Presentes esses requisitos a parte pode invocar a teoria da imprevisão. Como a parte invoca essa teoria? Se as obrigações de ambas as partes ainda não foram cumpridas, nesse caso, a parte lesada

poderá pedir a resolução, extinção do contrato, ela não pode pedir a revisão judicial, isto é, a modificação das cláusulas, mas só a resolução do contrato que será extinto a partir da citação. Se ela pede a resolução, a outra parte pode pedir a revisão do contrato, quer dizer, a parte lesada não pode pedir a revisão, mas a outra parte pode, ao invés de concordar com a extinção, pode pedir para o juiz rever o contrato, pedir a modificação das cláusulas.

Se quando surgiu o fato novo uma das partes já havia cumprido a sua obrigação, de modo que, só restava obrigação para a parte lesada, p.ex., só a parte lesada deveria entregar o café e agora subiu o preço, daí a parte lesada tem a opção de pedir a resolução, isto é, a extinção e daí ela devolve o que tinha recebido, ou então, pode pedir a revisão judicial do contrato.

A teoria da imprevisão é diferente de caso fortuito ou força maior, embora ambas se baseiam em fatos extraordinários, supervenientes, é diferente, porque no caso fortuito ou força maior, o fato superveniente ou extraordinário torna absolutamente impossível o cumprimento da obrigação, p.ex., o raio destruiu o carro; já na teoria da imprevisão o fato superveniente ou extraordinário, dificulta o cumprimento, torna oneroso, quer dizer, é possível cumprir, mas desequilibrou o contrato, houve um desequilíbrio das prestações.

No caso fortuito ou força maior o contrato é extinto desde o caso fortuito ou força maior. Na teoria da imprevisão se for extinto vai ser a partir da citação, sendo que na teoria da imprevisão existe a opção da revisão do contrato, no caso fortuito ou força maior não tem essa opção.

Outra diferença é que o caso fortuito ou força maior pode referir-se a um acontecimento pessoal, p.ex., ficou doente, um sequestro, ou acontecimento geral como guerra. Já a teoria da imprevisão é para fatos de índoles gerais, fatos que afetam o seguimento econômico, não é fato pessoal, doença, sequestro, isso é caso fortuito ou força maior. Lembrando que no caso fortuito ou força maior, às vezes não há extinção, mas apenas a suspensão do contrato.

RESILIÇÃO

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

Cuidado com a terminologia: resolução é extinção por inadimplemento; rescisão é o gênero que abrange tanto a resolução quanto a resilição.

A resilição é a extinção do contrato por acordo entre as partes ou por manifestação da vontade de uma delas.

A resilição pode ser bilateral ou unilateral. a) resilição bilateral: é o distrato, é o acordo entre as partes para extinguir um contrato.

Qualquer contrato pode ser distratado, seja contrato por tempo determinado, seja por tempo indeterminado.

O artigo 47219 diz que o distrato tem de ter a mesma forma exigida para o contrato. CUIDADO: o distrato não precisa ter a mesma forma do contrato, não precisa ter a mesma

forma que as partes adotaram para o contrato, mas sim, precisa ter a forma que a lei exige para o contrato.

Exemplo: contrato de locação, a forma é livre, pode ser verbal, mas as partes celebraram uma locação por escrito, o distrato não precisa ser por escrito, quer dizer, o distrato é a forma que a lei exige para o contrato, pode ser tácito com a entrega de chaves.

Assim, os contratos de forma livre, mas que forma celebrados por escrito podem ser distratados verbalmente ou tacitamente, mas quando a lei exige forma escrita para o contrato, então o distrato tem de ser pela forma escrita. Se a lei exige escritura pública, o distrato tem de ser por escritura pública, compra e venda de imóvel, p.ex., acima de trinta salários mínimos, a lei exige escritura pública, então o distrato tem de ser por escritura pública.

b) resilição unilateral: é a extinção do contrato por vontade exclusiva de uma das partes. Isso

é possível nos contratos por prazo indeterminado, que significa que ninguém se obrigou perpetuamente, então em qualquer momento, qualquer das partes pode notificar a outra para extinguir o contrato.

A resilição unilateral se faz através da denúncia; denúncia é uma notificação para extinguir o contrato, ou seja, não é preciso mover uma ação judicial para resilir contrato, mas basta notificar; a partir do momento que a outra parte toma ciência da notificação, o contrato está extinto.

A resilição é só para contrato por prazo indeterminado. Contrato por prazo determinado não

pode ser resilido unilateralmente porque violaria o princípio da obrigatoriedade dos contratos. Há uma exceção na locação por tempo determinado, se o locador vender o bem o adquirente pode notificar o locatário para extinguir o contrato, é o contrato por prazo determinado que admite a resilição, salvo se a locação tinha duas cláusulas:

1) cláusula de vigência em caso de alienação; 2) e estava averbada no registro de imóveis; nesses casos, quem comprou vai ter de respeitar

a locação, não vai poder notificar e extinguir o contrato. Também cabe a resilição unilateral em contrato de mandato, quem outorga uma procuração

há qualquer momento pode notificar a outra para extinguir, assim como, o mandatário a qualquer momento pode renunciar uma procuração; o mandante pode revogar que é uma espécie de resilição unilateral.

COMPRA E VENDA

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Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

Compra e venda é o contrato pelo qual o vendedor assume a obrigação de transferir a

propriedade de um bem móvel ou imóvel mediante o pagamento de um preço fixado em dinheiro. Portanto, o contrato de compra e venda, por si só, não transfere a propriedade, mas sim, gera

a obrigação de transferir. O que transfere a propriedade é a tradição, isto é, a entrega da coisa quando for bem móvel, ou registro quando for bem imóvel.

Imaginemos: na venda de um bem móvel, A vendeu o carro para B, mas não entregou, B já pagou, mas A não entregou; passado um tempo A vende esse mesmo carro para C e entregou para o C. Quem é o proprietário? Proprietário é aquele que foi feita a tradição em primeiro lugar, então, o proprietário será C; o proprietário não é aquele que celebrou o contrato de compra e venda primeiro, mas sim, o proprietário será aquele a quem a coisa foi entregue primeiro. Nesse caso, o primeiro comprador terá direito apenas a perdas e danos contra o vendedor estelionatário que vendeu o bem para duas pessoas.

NATUREZA JURÍDICA O contrato de compra e venda é bilateral, porque ambas as partes assumem obrigações. É oneroso porque trazem benefícios e ônus para ambas as partes. É um contrato consensual porque se forma com um simples acordo de vontades. Se for venda

de imóvel é um contrato solene, até 30 salários mínimos, pode ser feito por escritura particular, acima de 30 por escritura pública. Se for venda de bem móvel é um contrato de forma livre, pode ser feito verbalmente, salvo quando for navio e aeronave que tem de ser por escrito, e a venda com reserva de domínio que também é bem móvel, mas tem de ser por escrito.

É um contrato comutativo porque as prestações são certas e invariáveis, não há risco, mas nada obsta que as partes celebrem uma compra e venda com risco, que é o caso do contrato acidentalmente aleatório que é a emptio spei, a emptio rei speratae, conforme falamos anteriormente.

ELEMENTOS DA COMPRA E VENDA Elementos são os requisitos de existência do contrato de compra e venda. São três: coisa,

preço e consentimento. Desde que haja um acordo sobre a coisa e o preço, já existe o contrato de compra e venda, é

o que diz o artigo 48220 do Código Civil, a compra e venda é obrigatória a partir do momento em que há um acordo sobre a coisa e o preço.

Percebam que a forma não é requisito de existência da compra e venda, a forma é requisito de validade da compra e venda.

COISA OU OBJETO O primeiro requisito é que a coisa deve ter uma existência potencial. Se o sujeito vende uma

coisa que já havia sido destruída, uma coisa que já não existe mais, a venda é inexistente. Se o sujeito vende uma coisa que está estragada, deteriorada, a venda é válida, mas o adquirente tem opção de rescindir o contrato, ou pedir o abatimento do preço e, se o vendedor teve culpa, o

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Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

comprador poderá pleitear perdas e danos. É possível a venda de coisa futura, desde que ela tenha uma existência potencial, mas essa

venda só será eficaz se a coisa vier a existir; se a coisa não vier a existir a venda é ineficaz, salvo na emptio spei que é aquele contrato em que o comprador assumiu o risco de pagar, ainda que a coisa não venha a existir.

O segundo requisito é a individualização da coisa, ou seja, a compra e venda deve se referir a uma coisa determinada ou determinável, isto é, uma coisa passível de ser identificada no futuro.

O terceiro requisito é a disponibilidade jurídica da coisa, é nula a venda de bem inalienável. A venda de coisa alheia não é nula, é anulável, porque se o comprador estava de boa-fé essa venda se convalida na hipótese de o vendedor adquirir o domínio; exemplo: eu vendo para você um bem que não é meu, mas você está de boa-fé e, depois eu adquiro a propriedade desse bem, convalida-se a nossa venda, é o que diz o §1º21, do artigo 1268 do Código Civil.

A venda de coisa litigiosa que é aquela coisa disputada judicialmente por duas pessoas; exemplo: o sujeito está disputando com o irmão quem será o dono de determinado objeto, daí ele vende o bem para um terceiro; se o terceiro que adquiriu o bem está sabendo que a coisa é litigiosa, a venda é válida, nesse caso, o terceiro poderá substituir o vendedor no processo, mas só se a outra parte concordar que ele ingresse no processo, se a parte não concordar, o vendedor continua no processo e quem comprou vai sofrer os efeitos da sentença; nada obsta que ele ingresse como assistente, mas que ingresse ou não como assistente, vai sofrer os efeitos da coisa julgada, ou seja, o que for decidido ali valerá para ele.

Se o sujeito adquiriu de boa-fé uma coisa litigiosa, ou seja, sem saber que a coisa era litigiosa, daí o negócio é anulável por dolo por omissão, isto é, quem vendeu silenciou sobre um fato importante, que se fosse conhecido, o negócio não teria sido realizado.

PREÇO O preço na compra e venda tem de ser em dinheiro, ou valor que represente dinheiro, como,

por exemplo, o cheque. Se o sujeito adquire uma coisa e entrega outra coisa que não seja dinheiro, daí o contrato não

é de compra e venda, o contrato é de permuta, ou troca, ou escambo. Se ele paga uma parte em dinheiro, uma parte em coisa, se a maior parte for em dinheiro, segue o regime da compra e venda, se a maior parte for em coisa, segue o regime jurídico da permuta.

O preço deve ser sério, real, que é uma contraprestação. Se o valor for irrisório, que é o preço fictício a compra e venda é nula; comprou, por exemplo, um carro por um real, a compra e venda é nula, o preço é fictício, mas nesse caso, pode ser convertido o negócio em doação, se na verdade, a intenção das partes era essa.

O preço não precisa ser justo, isto é, não precisa corresponder ao valor da coisa; se o preço for injusto a venda é válida, salvo se uma das partes for inexperiente ou encontrar-se em situação

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Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono.

§ 1o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a

transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

de necessidade, nesse caso, o negócio será anulável pela lesão, artigo 15722 do Código Civil. O preço pode ser determinado ou determinável. O preço determinável é o que vai ser fixado

após a celebração do contrato, ou seja, vai ser fixado futuramente, por exemplo, o preço vai ser a taxa de determinadas ações da Bolsa de Valores, fixa com base na Bolsa de Valores, com base em outros parâmetros, como barris de petróleo, ou manda um terceiro fixar o preço que é o chamado preço por avaliação; se o terceiro se recusar a fixar, nesse caso a compra e venda fica sem efeito, salvo se as partes chegarem a um acordo para nomear outro terceiro, é o que diz o artigo 48523, lembrando que a decisão do terceiro fixando o preço é soberana, mas é evidente que pode ser anulada se houve dolo, coação, para esse terceiro fixar o preço, mas se ele não foi coagido, não teve dolo, não teve erro, não tem como anular a decisão dele.

A venda sem preço, em regra, não existe, salvo se for venda habitual. Venda habitual é aquela feita por pessoa que tem o hábito de vender, por exemplo, empresários, nesse caso, se for feita uma venda habitual sem preço, entende-se aí que há um preço, entende-se que há um preço tabelado, se houver tabelamento, ou se não houver tabelamento, entende-se que é o preço corriqueiro, o preço corrente, é o que diz o artigo 48824, aquele preço que comumente é praticado pela parte que vendeu.

É nula a compra e venda em que se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço, artigo 48925, é o que se chama de condição potestativa, que depende do arbítrio exclusivo de uma das partes, por exemplo, uma cláusula que diz que o comprador pagará o preço que quiser.

CONSENTIMENTO É o acordo de vontades. Se for venda de imóvel é preciso ainda o consentimento do cônjuge do vendedor, ou seja, é

preciso autorização do cônjuge do vendedor. Dispensa-se essa autorização se o regime de casamento for o da separação de bens, ou se o vendedor for empresário individual e está vendendo imóveis que integram o patrimônio da sua empresa; nessas duas hipóteses dispensa-se a autorização do cônjuge. E no regime de participação final nos aquestos é possível que o pacto preveja cláusula dispensando a autorização do cônjuge, mas se o pacto não falar nada significa que vai precisa dessa autorização.

DESPESAS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA O art. 49026 diz que no silêncio as despesas com a escritura devem ser pagas pelo comprador. Despesas com a escritura abrangem: a lavratura da escritura, o ITBI e o registro. Despesas com a tradição, que seria para contar o bem, para embalar, para entregar, para

transportar, no silêncio quem paga é o vendedor na compra e venda. No contrato de permuta

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Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 23

Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa. 24

Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. 25

Art. 489. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço. 26

Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

todas essas despesas, tanto com a tradição quanto com a escritura, no silêncio divide-se meio a meio, essa é a única diferença que existe entre a compra e venda e a permuta, no restante o contrato de permuta segue o mesmo regime da compra e venda.

RESPONSABILIDADE PELOS RISCOS Risco é o perecimento da coisa por caso fortuito ou força maior, isto é, sem culpa. Vigora o princípio res perit domino, isto é, a coisa perece para o dono; o dono, portanto,

responde pelos riscos. Antes da tradição o dono é o vendedor, após a tradição o dono é o comprador. Portanto, se já

havia entregue a coisa e um raio destrói o bem, o comprador sofre o prejuízo, vai ter de pagar o preço do mesmo jeito, res perit domino, é a tradição que define quem vai responder pelos riscos.

A tradição simbólica é quando a coisa já está colocada à disposição do comprador e se já está à disposição do comprador, entende-se que a partir desse momento o comprador já é o dono; exemplo: você ficou de vir escolher os gados, pode vir escolher, marcar, pois já estão a disposição; isso significa que você já é o dono, §1º, do artigo 49227. A partir desse momento em que a coisa está a sua disposição, se acontecer um caso fortuito ou força maior, quem responde é você, porque já é o dono.

DIREITO DE RETENÇÃO Na venda à vista o vendedor pode reter o bem até receber o preço, é o que diz o artigo 49128

do Código Civil. Na venda a crédito, que foi aquela em que o vendedor vai entregar e ficar recebendo depois,

por prestações, ele tem de entregar, mas se ele perceber que o comprador caiu em uma situação de insolvência, de dificuldade financeira, então ele pode chamar o comprador e diz que não vai entregar o bem, dando ao comprador duas opções: 1) só entrego o bem se me pagar à vista; 2) só entrego se você me pagar uma caução; é o que diz o artigo 49529. Se o comprador não concordar com essas condições, extingue-se o contrato sem perdas e danos.

RESPONSABILIDADE POR DÍVIDAS QUE RECAIAM SOBRE O BEM (art.. 50230/CC) Até o momento da tradição quem responde pelas dívidas é o vendedor, portanto, o

comprador não responde por dívidas anteriores, o comprador só vai responder por dívidas existentes, dívidas que se formarem a partir do momento em que a coisa lhe foi entregue.

Em duas hipóteses, porém, o comprador responde por dívidas anteriores:

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Art. 492. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador.

§ 1o Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que comumente se

recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador, correrão por conta deste.

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Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço. 29

Art. 495. Não obstante o prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradição o comprador cair em insolvência, poderá o vendedor sobrestar na entrega da coisa, até que o comprador lhe dê caução de pagar no tempo ajustado. 30

Art. 502. O vendedor, salvo convenção em contrário, responde por todos os débitos que gravem a coisa até o momento da tradição.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

1) tributo que recai sobre o bem, ex. IPTU, IPVA; 2) condomínio. VENDA A DESCENDENTE (art. 49631/CC) É anulável a venda ao descendente sem autorização dos demais descendentes e sem

autorização do cônjuge do vendedor. Se o vendedor vender sem essas autorizações a venda não é nula, é anulável dentro do prazo

de dois anos a contar do negócio, artigo 17932, portanto, é uma nulidade relativa. A ação anulatória só poderá ser proposta pelos descendentes que deveriam autorizar a venda

e, pelo cônjuge do vendedor que também deveria autorizar a venda. De modo que, o Ministério Público não pode promover essa ação, pois é uma nulidade relativa.

Se o regime de casamento for o da separação obrigatória de bens, o ascendente pode vender para o seu descendente sem a autorização do seu cônjuge.

Exige-se também essa autorização dos demais descendentes ou do cônjuge, quando for celebrar dação em pagamento com descendente, compromisso de compra e venda, permuta de bens, ceder onerosamente direitos hereditários para descendentes, todas essas hipóteses precisa de autorização.

Note-se que para doar para descendente não precisa de autorização dos demais

descendentes, mas para vender aí sim precisa. O art. 49733 diz que a nulidade é absoluta quando o bem é comprado por determinadas

pessoas; tutor, curador, não pode adquirir os bens do pupilo, do curatelado, nem mesmo com ordem do juiz, sob pena de nulidade absoluta. Testamenteiro e administrador também não podem comprar o bem que administram.

E o procurador, pode comprar o bem? A lei proíbe o administrador, não proíbe o procurado, então, teoricamente o procurador pode comprar o bem se o mandante que passou a procuração, comparecer no ato, pois se ele compareceu no ato da venda, significa que ele concordou e revogou a procuração a partir desse momento, mas ele não pode vender para ele mesmo, porque é proibido o autocontrato.

Da mesma forma, servidores públicos não podem comprar bens das pessoas jurídicas perante as quais eles trabalham; quem é funcionário público do município não pode comprar bem do município, quem é servidor público federal não pode comprar bens da união, quem trabalha para o estado não pode comprar bens do estado.

Juízes e funcionários dos tribunais, peritos, também não podem comprar bens onde eles

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Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. 32

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. 33

Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.

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atuaram; por exemplo, um juiz não pode participar de um leilão na comarca onde ele atuou e, muito menos na comarca onde atua.

Leiloeiro e seus prepostos não podem comprar os bens que eles estão incumbidos de vender. VENDA POR CONDÔMINO DE COISA INDIVISÍVEL Condomínio é o fato de um bem pertencer a mais de uma pessoa. Se o bem for indivisível, por exemplo, casa, apartamento, o condômino antes de vender o seu

quinhão para terceiro, precisa dar preferência para os demais condôminos. Se ele vender para terceiro sem dar preferência aos demais condôminos, estes podem mover uma ação reivindicatória deste bem, chamada ação de preempção ou ação de prelação; eles têm 180 dias para mover essa ação a partir do momento que ficaram sabendo da venda, então, não se conta do registro, mas sim do momento em que tomaram ciência da venda.

Para mover essa ação, eles têm de depositar em juízo o preço que o terceiro pagou pelo bem, além de pagar as despesas da escritura, pagar as benfeitorias que foram feitas, pagar o ITBI, etc.

Essa ação é movida contra o condômino que vendeu o bem e, também contra o terceiro que adquiriu o bem. O juiz quando julga procedente essa ação, ele atribui o bem para o condômino que moveu a ação e libera o dinheiro para o terceiro que comprou; então, não vai anular a venda, vai simplesmente atribuir a venda ao condômino que moveu a ação.

Se há mais de um condômino a preferência para mover a ação é daquele que tem a maior benfeitoria. Se todas as benfeitorias forem iguais a preferência é do condômino que tem o maior quinhão. Se as benfeitorias e os quinhões forem iguais a preferência é do condômino que depositou primeiro o dinheiro em juízo, é o que diz o parágrafo único do art. 50434 do Código Civil.

O locatário não tem direito de preferência, salvo se o contrato de locação estiver averbado no registro de imóveis pelo menos trinta dias antes da venda, daí então, ele terá o direito de preferência para adquirir o bem.

VENDA A CÔNJUGE O artigo 49935 diz que é lícita, é possível a compra e venda entre cônjuges com relação aos

bens excluídos da comunhão; por exemplo, aqueles bens comuns que já pertencem a ambos os cônjuges não podem ser vendidos um para o outro, mas os bens excluídos da comunhão, isto é, aqueles bens pertencentes exclusivamente a um dos cônjuges, ele pode vender para o outro.

VENDA AD CORPUS É a venda de uma coisa certa e determinada, de bem imóvel. É aquela venda em que o preço

pago não está relacionado a exata dimensão da área; o sujeito compra um imóvel e o preço não está relacionado a dimensão da área, uma casa, um apartamento, uma fazenda. Nesse caso, se a área for maior, ou menor do que a prevista no título, não cabe ação para reclamar área na venda ad corpus, não cabe ação, não cabe indenização, não cabe nada.

Na venda ad mensuram que é a venda por medida de extensão, ou seja, é aquela em que o preço é fixado com base na dimensão da área; exemplo: pagará 10 mil reais o metro quadrado,

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Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. 35

Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão.

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pagará 50 mil reais o alqueire. Lembrando que as vendas do Código de Defesa do Consumidor são sempre ad mensuram,

exemplo: apartamento na planta. Na venda ad mensuram, se a área for menor que a prevista no contrato qual a ação cabível? É preciso distinguir duas situações: 1) O vendedor tem mais área no local, mais área contígua, anexa, que dá para ele

complementar. Se ele tem área anexa, cabe a ação ex empto que é a ação para pedir o complemento da área.

2) Se o vendedor não tem área contígua no local, daí cabe uma das ações edilícias, isto é, ação redibitória que é para rescindir o contrato, ou ação quanti minoris que é para pedir o abatimento no preço.

Portanto, não são três opções, se tem área contígua é ação ex empto; se não tem área contígua é uma das ações edilícias. É claro que essas ações podem ser cumuladas com perdas e danos, se houve culpa.

Por outro lado, se a área for maior do que a prevista no contrato, numa venda ad mensuram, em princípio não cabe nenhuma ação, porque quem vende tem saber o que vende, se ele não sabia a dimensão da área, ele foi negligente e, não pode mover ação nenhuma. Mas se ele provar que tinha motivos justificáveis para ignorar a exata dimensão da área, então, ele pode mover uma ação para pedir o complemento do preço; nesse caso, o comprador tem a opção de completar o preço e ficar com a área, ou devolver a área excessiva.

Diferença de até 1/20 avos, isto é, 5% do imóvel, presume-se que a venda é ad corpus, quer dizer não cabe ação nenhuma. Se a diferença for superior a 1/20 avos, isto é, superior a 5%, presume-se que a venda é ad mensuram é o que diz o §1º36, do artigo 500, presunção relativa, admite prova em contrário.

O prazo para mover essas ações, ex empto e ações edilícias, é de um ano a contar do registro. Se registrou, mas ainda não tomou posse por culpa do vendedor, daí o prazo se conta do momento em que tomar posse.

RETROVENDA Retrovenda é a cláusula que permite ao vendedor de um imóvel desfazer a venda, dentro de

certo prazo, devolvendo o preço que recebeu; exemplo: vendo um imóvel e no contrato tem uma cláusula dizendo que posso desfazer essa venda dentro de um certo período e devolvendo o mesmo preço.

É uma cláusula resolutiva expressa porque permite ao vendedor extinguir a venda. Evidente que a retrovenda é um pacto acessório, é um contrato acessório da compra e venda. O prazo máximo que pode ser estipulado para a retrovenda é de três anos; então, se

estipulou a retrovenda significa que pode desfazer pelo prazo de três anos, pode até desfazer por

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Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço.

§ 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada

não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.

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um tempo menor, mas no silêncio é de três anos; se fixou prazo maior que três anos, o excesso reputa-se não escrito.

Esse direito de desfazer a venda se transmite aos herdeiros do vendedor, transmissão, portanto, causa mortis, mas não é transmissível por ato intervivos.

O direito de retrovenda, desde que a retrovenda esteja averbada no registro de imóveis, vai poder exercer esse direito ainda que o bem tenha sido alienado a terceiros, ou seja, o terceiro vai perder o bem se for exercido contra ele esse direito de retrovenda.

VENDA A CONTENTO OU VENDA AD GUSTUM A venda a contento é aquela que só se aperfeiçoa se o comprador gostar da coisa, isto é,

aquela venda que está condicionada ao comprador aprovar o bem. Pode ser tanto para bem móvel, quanto para imóvel, mas em regra é mais comum para bem móvel, por exemplo, roupas, bebidas, etc.

É uma venda sob condição suspensiva porque a venda só se forma se o comprador aprovar a coisa; ex., o comprador leva a coisa e diz que vai examinar, se ele gostar a venda nasce, se ele disser que não gostou a venda não se forma; e ninguém pode discutir o gosto dele porque o gosto é pessoal.

O problema dessa venda a contento é que o comprador está levando o bem na condição de mero comodatário, ele ainda não é dono, só será quando disser que gostou do bem, de modo que, quem responde pelos riscos é o vendedor, se a coisa perecer por caso fortuito ou força maior, quem vai sofrer o prejuízo é o vendedor, res perit domino, isto é, o dono responde pelo bem.

VENDA SUJEITA A PROVA OU SOB EXPERIMENTAÇÃO, TAMBÉM CHAMADA VENDA DE

ENSAIO É parecida com a venda a contento. Na venda de ensaio o comprador leva o bem e, a venda

só se formará se ele aprovar a coisa. A diferença é a seguinte: na venda a contento ele pode rejeitar o bem sem dizer os motivos;

na venda de ensaio ele só pode rejeitar o bem com base em dois motivos: 1) a coisa não tem as qualidades que o vendedor prometeu; 2) a coisa não serve para finalidade que ele imaginava.

Ambas são vendas sob condição suspensiva, só nasce quando o comprador aprovar. DIREITO DE PREFERÊNCIA OU PRELAÇÃO Direito de preferência é a cláusula inserida no contrato de compra e venda, pelo qual, o

comprador se um dia resolver vender o bem tem de oferecer para o antigo vendedor. E essa será uma nova venda, um novo preço, não tem nada a ver com a venda anterior.

O direito de preferência tem de estar expresso no contrato, no silêncio não existe direito de preferência.

O prazo máximo que pode ser fixado de direito de preferência é de até 180 dias para bem móvel e, até 2 anos para imóvel. Mas se previu o direito de preferência e não fixou prazo, significa que o prazo é de só 3 dias para bens móveis e, de 60 dias para imóveis.

O direito de preferência é um direito pessoal, de modo que, se o sujeito vendeu o bem para um terceiro sem dar o direito de preferência para o antigo vendedor, o antigo vendedor não poderá mover ação contra o terceiro para reivindicar o bem do terceiro, diferentemente do que ocorre na preferência do condômino de bem indivisível que pode mover ação até contra o terceiro; nessa

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preferência contratual não, vai poder pedir perdas e danos apenas, contra o vendedor e perdas e danos contra o terceiro que adquiriu o bem sabendo da preferência, ambos vão responder por perdas e danos, se o terceiro estava de má-fé ele responde por perdas e danos juntamente com o vendedor, é o que diz o artigo 51837 do Código Civil.

O direito de preferência é personalíssimo, isto é, não se transmite, nem por ato intervivos, nem causa mortis, então, se o antigo vendedor faleceu, acabou o direito de preferência, os herdeiros não têm o direito de preferência.

VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO A venda com reserva de domínio é uma venda a prazo, a crédito, envolvendo um bem móvel

infungível, um bem móvel devidamente individualizado em que o comprador toma posse do bem e vai pagando as prestações, mas ele só adquire a propriedade quando ele terminar de pagar a última prestação.

É muito comum essa venda, o sujeito vai a uma loja, compra um fogão, uma geladeira, assina um contrato com reserva de domínio, ele leva o bem, mas não é dono, só vai adquirir a propriedade quando ele terminar de pagar, que se adquire automaticamente quando termina de pagar.

Essa venda com reserva de domínio é um contrato solene porque tem de ser por escrito e, para valer perante terceiros tem de estar registrada no cartório de títulos e documentos do domicílio do comprador. Exemplo: o sujeito fez um contrato com reserva de domínio, se ele vendeu o bem para terceiro, a loja vai poder mover ação contra esse terceiro para recuperar o bem? Se o contrato estava registrado no domicílio do comprador, daí o contrato vale perante terceiros, vai poder mover ação contra o terceiro, mas se o contrato não estava registrado, não cabe ação contra terceiros, só vai caber perdas e danos contra o comprador e além da ação de cobrança.

Se o comprador não pagar as prestações, se ele incidir em mora, o vendedor tem duas opções:

1) mover uma ação para cobrar todas as prestações, tanto as vencidas quanto as vincendas;

portanto, na venda com reserva de domínio, se o comprador não paga uma prestação, vence todas; 2) mover ação de reintegração de posse, ao invés de mover uma ação de cobrança, move a

ação de reintegração para recuperar o bem. Para mover uma dessas ações o vendedor precisa antes constituir em mora o comprador,

mediante protesto do contrato, ou então, interpelar judicialmente, é o que diz o artigo 52538 do Código Civil.

O comprador leva o bem, mas ele não é dono, ele só vai adquirir a propriedade quando ele terminar de pagar a última prestação e, embora ele não seja dono, ele responde pelos riscos, se a coisa perecer por caso fortuito ou força maior, ele é quem vai responder, isto é, vai ter de pagar o valor da coisa do mesmo jeito, é uma exceção a regra res perit domino.

VENDA SOBRE DOCUMENTOS OU CONTRA DOCUMENTOS É aquela em que a tradição da coisa, isto é, a entrega da coisa é substituída pela entrega de

documentos, quer dizer, ao invés de entregar a coisa, entrega primeiro os documentos.

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Art. 518. Responderá por perdas e danos o comprador, se alienar a coisa sem ter dado ao vendedor ciência do preço e das vantagens que por ela lhe oferecem. Responderá solidariamente o adquirente, se tiver procedido de má-fé. 38

Art. 525. O vendedor somente poderá executar a cláusula de reserva de domínio após constituir o comprador em mora, mediante protesto do título ou interpelação judicial.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

A entrega dos documentos simboliza a transferência da propriedade, simboliza a tradição da coisa. É muito comum nos contratos em que se compram mercadorias que vem em navios.

No momento em que o documento é entregue o sujeito já tem de efetuar o pagamento. Efetua o pagamento no local e no momento em que o documento é entregue

Se antes da tradição, da entrega efetiva, se a coisa perecer por caso fortuito ou força maior, quem responde pelos riscos é o vendedor, embora ele não seja mais dono, pois com o documento o comprador já é o dono, o vendedor responde, é mais uma exceção a regra res perit domino, salvo se entre os documentos havia um contrato de seguro, daí então, o vendedor não responde pelos riscos.

DOAÇÃO Doação é o contrato em que o doador por mera liberalidade assume a obrigação de transmitir

bens ou vantagens para outra pessoa. A doação tem dois elementos: 1) animus donandi que é a intenção de fazer uma liberalidade. Assim o sujeito que joga fora

um objeto, não está fazendo doação. Pouco importa os motivos, às vezes é uma doação interesseira, por exemplo, para fins

políticos, para fins eleitorais, mas é doação, o que importa é a liberalidade, ou seja, não teve contraprestação.

2) transferência de bens para o donatário. A doação pura é um contrato unilateral porque só o doador assume obrigações, enquanto o

donatário não tem obrigação nenhuma. Já a doação com encargo, é discutível se seria bilateral ou unilateral, mas prevalece a opinião

de que é bilateral porque ambas as partes assumem obrigações recíprocas, uma em face da outra. A doação é um contrato gratuito porque só o donatário tem vantagens, salvo a doação com

encargo, que é um contrato oneroso porque onera ambas as partes. A doação é um contrato solene. Doação de imóvel acima de 30 salários mínimos depende de

escritura pública; até 30 salários mínimos pode ser por escritura particular. Doação de bem móvel tem de ser por escrito, não pode ser verbal, a única doação verbal que se admite é doação de bem móvel de coisa de pequeno valor, nesse caso, pode ser verbal, mas daí passa a ser um contrato real, um contrato que só se formará com a entrega do bem, ao passo que as demais doações, quando feitas por escrito, são contratos consensuais, nascem com o acordo de vontades, não precisa da entrega do bem.

A aceitação é um requisito essencial para doação. A aceitação pode ser expressa, isto é, por escrito, verbal, por gestos; pode ser uma aceitação tácita que é um ato positivo que revela a intenção de aceitar, por exemplo, doei um carro para fulano e ele já foi e transferiu para o nome dele; e, pode ser uma aceitação presumida que é a que deriva do silêncio.

Admite-se a aceitação presumida nas seguintes hipóteses: 1) Doação pura feita com prazo para aceitar. Se não responder no prazo presume-se que

aceitou, artigo 53939 do Código Civil. 2) Doação propter nuptias, isto é, doação feita em contemplação de casamento, com certa e

determinada pessoa. Nesse caso, com o casamento significa que aceitou a doação. Lembrando que

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Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

essa doação pode ser feita para os próprios cônjuges ou para a futura prole eventual que eles um dia irão ter.

A doação feita ao absolutamente incapaz que esteja sob o poder familiar dos pais, nesse caso, presume-se que os pais aceitaram, há uma aceitação presumida. Se ele estiver sob tutela ou curatela a aceitação de doação por parte do tutor ou do curador, depende de autorização do juiz.

É também possível doação ao nascituro, desde que o representante aceite, mas se foi feita com prazo e o representante não falar nada, presume-se que ele aceitou.

ESPÉCIES DE DOAÇÃO DOAÇÃO PURA OU SIMPLES OU TÍPICA É a mera liberalidade sem nenhuma contraprestação, sem nada em troca. DOAÇÃO COM ENCARGO OU ONEROSA OU MODAL OU GRAVADA É quando se impõe uma obrigação ao donatário, por exemplo, te dou um terreno para você

construir uma igreja, eu te dou uma casa, mas você tem de cuidar da minha tia. DOAÇÃO REMUNERATÓRIA Aquela feita para pagar serviços prestados e não cobrados, por exemplo, você sempre me

prestou algum serviço e nunca me cobrou nada, daí eu te doei um bem para pagar esse serviço; o que passar do valor do serviço é doação pura, até o valor do serviço é doação remuneratória.

DOAÇÃO EM FORMA DE SUBVENÇÃO PERIÓDICA É aquela doação feita em mais de um ato, por exemplo, o sujeito vai pagando mensalmente;

essa doação se extingue com a morte do doador, salvo se o doador estipulou a continuidade dela. DOAÇÃO COM CLÁUSULA DE RETORNO É aquela que o doador estipula, com cláusula expressa, que se o donatário morrer primeiro, o

bem volta para o doador. É possível essa doação. O que não é possível é o fideicomisso intervivos, que seria aquela

doação em que por ocasião da morte do donatário o bem deve passar para determinada pessoa, quer dizer, A doa o bem para B, quando B morrer, ou depois de certo termo ou condição, o bem vai para João; é nula essa cláusula de fideicomisso. Portanto, é possível uma doação para reverter ao próprio doador se o donatário morrer primeiro, mas não é possível uma doação para reverter a outra pessoa após a morte do donatário, ou após certo termo ou condição.

DOAÇÃO CONJUNTA É a que beneficia mais de um donatário, por exemplo, doou um bem para mais de uma

pessoa. No silêncio presume-se que as partes são iguais. A doação conjunta feita para marido e mulher, se o doador não especificou a parte de cada

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

um, quando um dos cônjuges morre a parte dele reverte para o cônjuge sobrevivente, isto é, não vai para os descendentes, é uma exceção a ordem de vocação hereditária. Se o doador especificar a parte de cada um, daí sim vai para os descendentes.

DOAÇÃO FEITA POR PESSOA CASADA Pessoa casada para doar imóveis precisa da autorização do cônjuge, salvo no regime da

separação de bens. Para doar bens móveis particulares, isto é, que não se comunicam, não precisa da autorização

do cônjuge. Para doar os bens móveis comuns precisa da autorização do cônjuge, salvo: 1) regime da

separação de bens; 2) doação remuneratória; 3) doação feita para filho quando se casa; 4) doação para filho quando vai constituir um negócio, quando vai estabelecer uma economia separada.

DOAÇÃO ENTRE CÔNJUGES É possível a doação entre cônjuges, artigo 54440, porém, essa doação é uma antecipação da

legítima, de modo que, quando o doador morrer, o cônjuge donatário tem de devolver o bem para a herança, porque é uma doação colacionável.

DOAÇÃO UNIVERSAL É a doação de todos os bens. É nula, nulidade absoluta, anula tudo. A doação universal, portanto, é proibida, salvo se o doador tinha meios de sobrevivência, daí

é válida. Ou se ele fez doação com reserva de usufruto, que é o usufruto deducto, doou tudo, mas ficou com usufruto.

DOAÇÃO INOFICIOSA É a que invade a legítima dos herdeiros necessários. Herdeiros necessários são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Esses herdeiros têm

direito a legítima que é metade da herança líquida, nesse caso, é nula a parte da doação que excedeu a legítima.

Então, se o patrimônio líquido do doador é 100, e ele tem filhos, ele pode doar para um terceiro 50, se ele doar 60, esses 10 que excederam a legítima é o excesso inoficioso, pode ser anulado.

Se o patrimônio líquido dele é de 100 e ele tem dois filhos, ele pode doar para um dos filhos até 75, ou seja, ele pode doar metade que é o disponível + 25 que é a legítima; para um terceiro ele só poderia doar 50, para o filho ele pode doar o disponível e a legítima, por isso que dá 75.

DOAÇÃO COLACIONÁVEL Toda doação que se faz para descendente ou para cônjuge e colacionável. Colação é o retorno dos bens a herança por ocasião da morte do doador. Então, o pai doa

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Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

uma moto para o filho, quando o pai morre o filho tem de devolver essa moto, ou então, devolver o valor caso a moto não exista mais.

Doação feita para descendente ou para cônjuge é uma doação colacionável. Doação par ascendente, embora o ascendente seja herdeiro necessário, não é colacionável. Essas doações, para descendente ou cônjuge, são condicionais, significa que ela se extingue quando morre o doador, momento em que tem de devolver o bem para a herança.

Não se colaciona: 1) doações remuneratórias, para pagar serviços prestados e não cobrados; 2) frutos e rendimentos do bem doado, então, vai devolver o bem, mas os frutos colhidos não; 3) doação para gastos com filhos menor, referente a educação, alimentação, vestuário, saúde; 4) doação retirada do disponível com cláusula expressa de não colacionar.

Doação retirada do disponível colaciona, para não colacionar é preciso ter uma cláusula dispensando a colação e, essa cláusula que dispensa a colação tem de estar na escritura de doação ou em testamento.

DOAÇÃO FRAUDULENTA É aquela em que o doador é insolvente, nesse caso, é uma fraude contra credores. DOAÇÃO DO CÔNJUGE ADÚLTERO AO SEU CÚMPLICE Pessoa casada não pode doar para cúmplice de adultério, isto é, para concubina, ou para

pessoa com que ele teve relacionamentos sexuais. Se doar a doação não é nula, é anulável dentro de um prazo de 2 anos, e o prazo só se conta

após dissolvida a sociedade conjugal. A ação pode ser proposta pelo cônjuge e, se o cônjuge já morreu, pode ser proposta pelos

herdeiros necessários. DOAÇÃO CAUSA MORTIS É a que visa transferir a propriedade após a morte do doador, por exemplo, o sujeito doa um

bem, mas só vai transferir a propriedade quando ele morrer. É nula a doação causa mortis, nulidade absoluta, é proibida essa doação porque é um

contrato envolvendo herança de pessoa viva, portanto, o doador tem de transferir a propriedade em vida, não pode querer doar para só transferir a propriedade após a morte, para transferir propriedade após a morte tem de fazer testamento e não doação.

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO A doação é um contrato e, em regra, a doação é irrevogável. Admite-se a revogação da doação apenas em duas situações: 1) por ingratidão; 2) por

descumprimento do encargo. Em ambas as situações, a revogação precisa de ação judicial, precisa de sentença, não se pode

revogar uma doação por escritura pública, por testamento, isso não tem valor algum, é preciso mover ação e só nessas duas hipóteses.

1) REVOGAÇÃO POR INGRATIDÃO DO DONATÁRIO

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

Se o donatário for ingrato o doador pode mover ação para revogar a doação. A ingratidão caracteriza-se pelo homicídio doloso, consumado ou tentado, ou seja, o donatário matou ou tentou matar o doador; ofensa física, ele agrediu o doador; injúria grave, calúnia, ou o fato do donatário ter negado alimentos ao doador que lhe pediu e não tinha a quem se socorrer.

Todas essas hipóteses cabem ação de revogação por ingratidão e, cabe também se o donatário praticar esses atos contra cônjuge, ascendente, descendente, ou irmão do doador, artigo 55841 do Código Civil.

Na ação de revogação por ingratidão, a ação só pode ser movida pelo doador, a não ser no caso de homicídio contra o doador, daí os herdeiros poderão mover a ação; nas demais hipóteses só o doador poderá mover a ação. Se o doador move e morre no curso da ação, os herdeiros poderão prosseguir.

O réu da ação é o donatário, se o donatário já morreu também não se pode mover essa ação. Se o donatário morre no curso da ação, a ação prossegue contra os herdeiros.

O prazo para mover essa ação é de um ano a contar do dia em que o doador tomar ciência que foi o donatário que praticou o fato.

Se o doador perdoar o donatário em vida, então, não cabe a ação. Quando o sujeito faz uma doação ele não pode renunciar antecipadamente ao direito de

revogar a doação; depois que aconteceu o fato, ele pode perdoar. Só se revoga por ingratidão duas doações: 1) doação pura; 2) doação com encargo que ainda não tenha sido cumprido; doação com encargo que foi

cumprido não pode ser revogado por ingratidão. Também não pode ser revogado por ingratidão, a doação para cumprir obrigação natural, isto

é, para pagar dívida prescrita; e, também não pode revogar a doação feita para determinado casamento, por exemplo, o sujeito doou um bem para o casal em contemplação do casamento e, o marido tentou matar o doador; não pode revogar essa doação feita em contemplação do casamento, é a única doação pura que não pode ser revogada, o código civil proíbe.

2) REVOGAÇÃO POR DESCUMPRIMENTO DO ENCARGO Por exemplo: doo um terreno para você construir uma igreja, se o encargo não é cumprido

cabe a revogação da doação. O doador tem a seguinte opção: pode mover ação para revogar a doação, ou então, para

exigir o cumprimento do encargo. E para mover essa ação, o doador tem de notificar o donatário para constituí-lo em mora antes de mover a ação.

Se o encargo beneficiar um terceiro, mesmo assim o doador pode mover uma dessas ações, para revogar ou para exigir o cumprimento do encargo, porém, o terceiro não pode mover ação para revogar a doação, só pode mover para exigir o cumprimento do encargo.

Igualmente o Ministério Público quando o encargo beneficiar a coletividade, por exemplo, doação de um terreno para construir um asilo, um hospital, o MP não pode mover ação para revogar a doação, só pode mover ação para exigir o cumprimento do encargo e, mesmo assim, desde que o doador já tenha morrido.

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Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

FIANÇA No contrato de fiança o fiador se responsabiliza pelo débito do devedor. A fiança é um

contrato entre o fiador e o credor, pelo qual, o fiador se responsabiliza pelo débito de um determinado devedor.

A fiança pode ser realizada sem a participação do devedor e até contra a sua vontade, por isso que é um contrato entre o fiador e o credor, artigo 82042.

O credor não pode por mero capricho rejeitar o fiador que o devedor indicou, mas ele só pode rejeitar o fiador indicado se o fiador não tiver idoneidade moral, se não tiver idoneidade financeira, ou se o fiador residir em outro município.

A fiança é um contrato formal porque depende de forma escrita. É um contrato acessório, de modo que se o contrato principal for nulo, anula também a

fiança. Se o negócio principal for inválido por incapacidade do devedor, o fiador responde, é o que diz o artigo 82443.

Se for um mútuo feito a menor, empréstimo de dinheiro feito a menor, por exemplo, sem assistência, nesse caso, nem o fiador vai responder porque a fiança também se anula, é o que diz o parágrafo único44 do artigo 824.

Em suma quando se anula o negócio principal por problemas de incapacidade, o fiador responde, salvo se for mútuo, empréstimo para menor.

Como a fiança é um contrato acessório, ela não pode ser mais gravosa que o contrato principal, ou seja, não pode ter juros maiores para o fiador, condições de pagamento piores para o fiador.

Interrompida a prescrição contra o devedor, interrompe para o fiador, porque o acessório segue o principal, é o que diz o artigo 204, §3º45. Se interromper para o fiador não interrompe para o devedor. CUIDADO!

A fiança é um contrato benéfico e deve ser interpretado restritivamente. O fiador não vai

responder por obrigações contratuais, por aditamentos do contrato que ele não participou; Súmula 21446 do STJ, o fiador só responde por aquilo que ele assumiu.

A pessoa casada para ser fiador é preciso autorização do cônjuge, salvo no regime da separação de bens, fora desse regime, a fiança é anulável dentro do prazo de 2 anos, a contar da dissolução da sociedade conjugal.

Movida a ação anulatória, anula-se toda a fiança, não é só anular para preservar a meação, é nulidade total; Súmula 33247 do STJ.

Fiança conjunta é quando tem mais de um fiador, nesse caso, os fiadores são devedores

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Art. 820. Pode-se estipular a fiança, ainda que sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade. 43

Art. 824. As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor. 44

Parágrafo único. A exceção estabelecida neste artigo não abrange o caso de mútuo feito a menor.

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Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados. § 3

o A interrupção produzida

contra o principal devedor prejudica o fiador. 46

STJ Súmula nº 214 - Aditamento de Obrigações na Locação - Responsabilidade do Fiador. O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu. 47

STJ Súmula nº 332 - Fiança - Autorização de Um dos Cônjuges - Eficácia da Garantia. A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

solidários, salvo se houver benefício de divisão, isto é, se estipular expressamente que cada fiador só responde por uma parte da dívida, se não houver o benefício de divisão, significa que os fiadores são solidários.

EXONERAÇÃO DO FIADOR Se o contrato é por prazo determinado, o fiador não pode se exonerar antes de terminar o

contrato, é o princípio pacta sunt servanda, mas depois que termina o contrato, o fiador pode se exonerar.

Nos contratos por prazo indeterminado, o fiador se exonera a qualquer tempo e, para o fiador se exonerar, basta notificar, uma notificação judicial ou extrajudicial, não precisa mover ação para se exonerar, é uma mera notificação, só que quando ele notifica, responde ainda durante 60 dias.

O fiador tem direito ao benefício de ordem, isto é, se ele for cobrado, ele pode alegar na contestação que primeiro sejam penhorados os bens do devedor, mas não basta ele alegar o benefício de ordem, ele tem de indicar os bens do devedor, no mesmo município, bens livres e desembaraçados no mesmo município.

É muito comum o fiador renunciar o benefício de ordem, nesse caso, ele passa a ser devedor solidário. É até discutível se ele poderia renunciar antecipadamente ao benefício de ordem, há quem entenda que essa renúncia, em contrato de adesão pelo menos, é tranquilo que essa renúncia é nula, porque ele está renunciando antecipadamente e o artigo 42448 proíbe renúncia antecipada em contrato de adesão.

O fiador que é cobrado, ele pode também, no prazo da contestação além do benefício de ordem, pode fazer o chamamento ao processo dos outros fiadores e também do devedor, daí todos serão condenados junto com ele.

O fiador que pagar sub-roga-se, isto é, adquire o crédito do credor e, tem direito de regresso contra o devedor e contra os outros fiadores, só que contra os outros fiadores ele não poderá cobrar tudo, mas só uma parte de cada um.

EXTINÇÃO DA FIANÇA Se o credor conceder moratória ao devedor sem consentimento do fiador, o fiador estará

livre, extingue a fiança. Moratória após o vencimento, o credor deu um prazo maior para o devedor pagar, isso que é

a moratória, venceu a dívida e o credor deu um prazo maior, nesse caso, se o fiador não consentiu ele estará exonerado, extingue a fiança.

DAÇÃO EM PAGAMENTO Dação em pagamento é quando se entrega uma prestação diversa da devida, extingue a

obrigação. Se houver evicção da coisa dada em pagamento, mesmo assim o fiador continua liberado, por exemplo, o sujeito deu em pagamento um imóvel e depois por sentença um terceiro reivindicou o imóvel e ganhou, ocorreu evicção, perda do bem por sentença, mas a dívida já estava extinta por dação em pagamento, nesse caso, mesmo ocorrendo a evicção o fiador continua livre,

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Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

continua extinta a fiança. A fiança também se extingue toda vez que se extinguir a dívida principal, com a novação,

transação, renúncia, compensação, etc., extingue a fiança. E também se extingue quando morre o fiador, de modo que, os herdeiros do fiador só respondem pelas dívidas existentes até a morte do fiador, pois a morte dele extingue a fiança.

MANDATO Mandato é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a praticar atos jurídicos, ou administrar

interesses de outra pessoa. O mandatário assume obrigação de praticar atos ou de administrar interesses, em nome e por

conta de outra pessoa, é um representante, ele vai agir não em nome próprio, mas sim em nome da pessoa que ele representa.

Em regra, no silêncio, o mandato é gratuito. Para ser oneroso é preciso cláusula expressa, o mandato oneroso é também chamado de mandato salariado.

Quando ser mandatário for profissão, presume-se que o mandato é oneroso, é o caso, por exemplo, de despachantes, advogados, nesse caso, mesmo no silêncio, presume-se que é contrato oneroso.

O mandato pode ser por escrito ou verbal. Para os negócios de forma livre o mandato também é de forma livre, pode ser verbal, pode ser tácito. Se o negócio exige forma escrita, o mandato exige forma escrita. Se o negócio exige escritura pública, o mandato tem de ser por escritura pública; em suma, deve ter a mesma forma que o negócio que se pretende realizar, é o que diz o artigo 65749 do Código Civil.

A partir dos dezesseis anos já é possível ser procurador, já é possível ser mandatário sem

assistência. As pessoas capazes podem outorgar procuração por instrumento particular, salvo se o

negócio exigir escritura pública. A procuração para representar o absolutamente incapaz, quem passa essa procuração é o

representante, que é capaz, logo a procuração pode ser por instrumento particular, salvo se o negócio exigir escritura pública.

No caso do relativamente incapaz, é ele mesmo que passa procuração sob assistência, então, a procuração tem de ser por instrumento público.

A procuração ad judicia, isto é, para advogado, seja absolutamente, seja relativamente incapaz, sempre pode ser por instrumento particular.

SUBSTABELECIMENTO Substabelecimento é a cláusula que permite o mandatário indicar outro procurador para

substituí-lo. O substabelecimento com reserva de poderes é quando o mandatário substabelece, mas

continua com os poderes, ou seja, continua sendo mandatário, podendo inclusive, revogar o substabelecimento, pois continua com os poderes que ele tinha.

Já a procuração sem reserva de poderes, é quando o mandatário substabelece e deixa de ser

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Art. 657. A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito.

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DIREITO CIVIL - CONTRATOS

mandatário. Se o contrato proíbe o substabelecimento e o mandatário mesmo assim substabeleceu, ele

responde pelos danos que o substabelecido causar, ainda que esses danos sejam oriundos de caso fortuito ou força maior, em suma, o mandatário passa a ter responsabilidade objetiva pelos danos que o substabelecido causar.

Se o contrato permite o substabelecimento, o mandatário só responde pelos danos que o substabelecido provocar se ele teve culpa na escolha e nas instruções que ele deu para o substabelecido.

Se o contrato não permite, nem proíbe, simplesmente é omisso e o mandatário substabeleceu, o mandatário responde pelos danos culposos praticados pelo substabelecido.

O mandatário tem o direito de reter a coisa até receber a sua remuneração contratual, é o que diz o artigo 68150.

A extinção do mandato ocorre pela revogação a qualquer tempo. A qualquer tempo o mandante pode revogar a procuração e não precisa fundamentar.

Procuração em causa própria é aquela em que o mandatário tem poderes para adquirir o bem, essa procuração é irrevogável, nem a morte revoga essa procuração.

Se não é procuração em causa própria, mas tem cláusula proibindo a revogação, mesmo assim, pode ser revogada a procuração, mas nesse caso, o mandante responde pelas perdas e danos que ele causou ao mandatário.

Outra hipótese de revogação é a renúncia do procurador, o procurador pode renunciar a qualquer tempo, mas ele tem de comunicar o mandante.

O advogado quando renuncia a procuração, tem de permanecer ainda durante 10 dias, se for

necessário, para evitar prejuízo ao mandante. A morte extingue o mandato, tanto do mandante quanto do mandatário, salvo a procuração

em causa própria, que não se extingue. Se morre o mandante, enquanto o mandatário não sabe da morte, os atos que ele praticar são válidos; se morre o mandatário, os herdeiros dele tem de concluir os negócios que ele iniciou, quando a demora puder acarretar danos ao mandante, artigo 69051.

Também extingue o mandato se sobrevier a interdição tanto do mandante, ou do mandatário, por exemplo, se quem passou a procuração ficar louco, ou se o procurador ficar louco, isso extingue o mandato.

Também extingue quando esgota o prazo, por exemplo, mandato por prazo determinado, venceu o prazo, se extingue. Quando conclui o negócio, por exemplo, dei uma procuração para você praticar um negócio, se já praticou, acabou a procuração.

E também se extingue quando há mudança de estado que inabilite a conferência de poderes por parte do mandante, ou a execução dos poderes por parte do mandatário, por exemplo, o sujeito te passou uma procuração para vender imóvel, e uma semana depois ele se casou, então, agora extinguiu a procuração porque para vender imóvel é preciso a autorização do cônjuge, houve uma mudança do estado civil, é preciso uma autorização do cônjuge, de modo que aquela procuração está extinta.

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Art. 681. O mandatário tem sobre a coisa de que tenha a posse em virtude do mandato, direito de retenção, até se reembolsar do que no desempenho do encargo despendeu. 51

Art. 690. Se falecer o mandatário, pendente o negócio a ele cometido, os herdeiros, tendo ciência do mandato, avisarão o mandante, e providenciarão a bem dele, como as circunstâncias exigirem.