DIREITO PROCESSUAL PENAL II DOS PROCEDIMENTOS DO TRIBUNAL DO JURI

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DIREITO PROCESSUAL PENAL II DOS PROCEDIMENTOS DO TRIBUNAL DO JURI 1) INTRODUÇÃO A instituição do Júri, grande polemica possui sobre a mesma quanto a sua preservação ou não, não só na legislação brasileira, mas também em outros países, existindo posicionamentos dos mais diversos, sejam eles contrários ou favoráveis a instituição acima mencionada. Trata-se de um sistema jurídico em que há participação popular dando contornos democráticos ao processo penal. A participação popular dos julgamentos de crimes de maior potencial ofensivo é o instrumento utilizado desde os primórdios na Grécia sendo contemplado em diversos países de 1º Mundo, como Austrália, Canadá, E.UA, França, Itália, dentre outros. Para conhecimento outros paises em tempos recentes vem retornando o sistema jurídico do júri como a Espanha em 1995, a Rússia existindo inclusive na atualidade a discussão no Japão a fim de instaurá-lo novamente como procedimento. 2) POSICIONAMENTOS CONTRÁRIOS E FAVORÁVEIS AO JURI 2.1) FAVORÁVEIS

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DIREITO PROCESSUAL PENAL II

DOS PROCEDIMENTOS DO TRIBUNAL DO JURI

1) INTRODUÇÃO

A instituição do Júri, grande polemica possuisobre a mesma quanto a sua preservação ou não,não só na legislação brasileira, mas também emoutros países, existindo posicionamentos dosmais diversos, sejam eles contrários oufavoráveis a instituição acima mencionada.

Trata-se de um sistema jurídico em que háparticipação popular dando contornosdemocráticos ao processo penal.

A participação popular dos julgamentos de crimesde maior potencial ofensivo é o instrumentoutilizado desde os primórdios na Grécia sendocontemplado em diversos países de 1º Mundo, comoAustrália, Canadá, E.UA, França, Itália, dentreoutros. Para conhecimento outros paises emtempos recentes vem retornando o sistemajurídico do júri como a Espanha em 1995, aRússia existindo inclusive na atualidade adiscussão no Japão a fim de instaurá-lonovamente como procedimento.

2) POSICIONAMENTOS CONTRÁRIOS E FAVORÁVEIS AO JURI

2.1) FAVORÁVEIS

Os doutrinadores de paises que admitem otribunal do júri utilizam alguns dos argumentosabaixo transcritos, para mantê-lo ou re-inseriro procedimento do júri. Vejamos:

a)O júri não está em extinção, muito pelocontrário, vem se expandindo em vários países.

b)Traz uma garantia á liberdade individual e aoregime democrático.

c)O julgamento é melhor quando feito por 07pessoas distintas.

d)Dá maior legitimidade ao Estado e a Justiça,haja vista que quem é o julgador é própriopovo.

e)O julgamento feito pelo júri não se atém áfrieza do texto legal, mas sim de acordo com aconsciência de cada um dos jurados, havendodesta forma maior sensibilidade do julgamento.

f)No júri há um julgamento além do fato, pois naverdade se está julgando também o homem.

g)A maior aproximação da sociedade para com ajustiça.

2.2) DESFAVORÁVEIS

a)Não há fundamentação na decisão do júri.b)Julgamento é feito em segredo.c)Falta de experiência e conhecimento jurídico

por parte dos jurados.d)Imprevisibilidade quantos aos resultados do

julgamento.e)Influencia da mídia no veredicto.f)Decisões são tomadas em face da persuasão do

operador do direito perante os jurados e nãona razão.

g)Constancia de erro no momento de votar porparte dos jurados.

h)Grande quantidade de decisões absurdas, ondehá uma freqüência na absolvição.

i)Possibilidade dos jurados de seremintimidados, dentre outros.

Estes são apenas alguns dos argumentos favoráveise desfavoráveis ao tribunal do júri.

3) FUNDAMENTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI

Conforme dito acima muita divergência existequanto ao Júri, não sendo diferente no que dizrespeito à origem do mesmo em nosso país, noBrasil, atualmente, a constituição de 1988assegura o tribunal popular do júri nos crimesdoloso contra vida. Art. 5º, XXXVIII da CRFB/88.

Desde a constituição de 1828 (constituição doimpério), já havia previsão do tribunal popularque tinha competência para julgar crimespraticados contra bens jurídicos relevantes, emespecial os contra a vida, a única constituiçãobrasileira que não veio a prever o tribunalpopular foi a de 1937. Conforme dito acima, aconstituição de 88 preveu o tribunal popular comoum direito e garantia fundamental do cidadão.

4) PRINCIPIOS CONSTITUICIONAIS ATINENTES AO TRIBUNAL DO JURI.

Tais princípios se encontram elencados no art. 5º,XXXVIII da CF 88, sendo eles:

1º) A Plenitude de Defesa: mais do que reconhecera ampla defesa, tal principio traz uma concepçãomais abrangente sendo ela não só a de ter umadefesa ampla, mas a possibilidade do acusadoparticipar da escolha de jurados que comporão oconselho de sentença, este conselho de JuizesPopulares vem a ser integrados por classe sociaisdiversas, bem como face o reconhecimento por partedo Juiz Presidente de que no caso o Réu possaestar indefeso, este Juiz venha a dissolver oconselho de sentença e nomear outro defensor,marcando outro julgamento.

2º) Sigilo das Votações: a votação realizada pelosjurados será feita em sala especial denominadasala secreta, conforme Art. 485 do CPP, em que osjurados recebem cédulas de papel contendo palavrasSIM e NÃO e estes de forma secretamente vêm aapresentar os votos em uma urna. Tal princípio tempor fim salvaguardar a pessoa do jurado, evitandodesta forma possíveis intimidações em face domesmo.

Há um sigilo tanto no que diz respeito ao voto,quanto no que diz respeito ao local do voto, ambosos sigilos acima demonstrados, seja por meio daSala Secreta (local do voto), seja por meio dascédulas de papel colocadas em urnas (o voto emsi), na sala secreta a presença apenas de pessoasindispensáveis a este ato processual, sendo eles:o Juiz de Direito, jurados, Membros do MP,Advogados e Auxiliares de Justiça, conformepreconiza o Art. 485 do CPP.A título de ilustração o Parágrafo 1º do citadoartigo, descreve que na ausência de sala especialem uma comarca o Juiz determinará a retirada do

público, permanecendo apenas as pessoasindispensáveis.

Grande preocupação quanto ao sigilo do voto,também se encontra no Art. 483 em seus parágrafos1º e 2º, dados pela nova redação advinda com a lei11.689/08, justamente para se evitar oconhecimento de uma possível votação unânime dosjurados. Tal princípio do tribunal popularapresenta-se como uma exceção ao principioconstitucional da publicidade dos atosprocessuais, previsto no Art. 93, IX da CF/88(vide artigo 5º LX da CF).

3º) Soberania Dos Veredictos: A soberania dosveredictos diz respeito ao julgamento do fato(elementos que integram o crime), onde uma vezdecididos pelos jurados não poderá havermodificação destes julgamentos dos fatos seja peloJuiz Togado, seja pelo tribunal em um eventualrecurso. A soberania do veredicto não importa emque haja um novo julgamento, ou seja, haverá umnovo júri quando houver um julgamento por partedos jurados completamente contrário à prova dosautos (deverá haver uma apelação com escopo deanular o julgamento e mandar o acusado a um novojúri).

Não há como mudar a decisão dos jurados quanto àmaterialidade do crime, a autoria, qualificadoras,dentre outras, uma vez que são questões fáticasrecaindo sobre elas o principio da soberania dosveredictos.

Tal princípio, contudo não é absoluto sendopossível a absolvição do réu que tenha sido

condenado injustamente pelo júri por meio de umaação de revisão criminal a ser julgada pelotribunal de justiça.

4º) A Competência Para Julgamento De CrimesDolosos Contra A Vida: Tal competência mínima dojúri não pode ser retirada por legislaçãoinfraconstitucional.

Conforme dito acima tal competência é mínima,havendo, portanto a possibilidade do legisladorvir a ampliar a competência do tribunal do júriincluindo desta forma outras condutas delitivas aserem julgadas por esse tribunal.

São crimes dolosos contra vida:a)Homicídio Doloso em todas as suas formas

(simples, privilegiada ou qualificada).b)Induzir, instigar ou auxiliar o suicídio.c)Infanticídiod)Aborto em todas as suas modalidades

Os Crimes acima serão julgados pelo tribunal dojúri tanto na forma consumada quanto na formatentada.

Observação deve ser feita quanto a sumula 603 doSTF.

A própria constituição federal prevê exceçõesquanto a competência do tribunal do júri, tem-secomo exemplo quando o autor dos fatos gozar doforo por prerrogativa de função.

5)A REFORMA OCORRIDA NO PROCEDIMINTO DO TRIBUNALDO JURI

Muito se discutiu quanto a reforma trazida aoprocedimento do tribunal do júri pela lei11689/2008 de 9 de junho de 2008.

A doutrina discuti dizendo que pouca, ou quasenada foi alterada, tendo sido na verdade apenasmais um caso de “inflação legislativa”, conformequestionado pelo processualista Mougenot.

Poucas foram as alterações que vieram a trazermaior celeridade processual ao procedimento emquestão.

6)PROCEDIMENTO BIFÁSICO

Trata-se de um rito escalonado, isto ébifásico, composto por duas etapas (fases)completamente distintas uma da outra; sendo elas:fase preliminar (preparatória) e uma fasedefinitiva.

A primeira fase chamada de judicium accusationis,juízo de admissibilidade, sumário de culpa; sendoesta fase muito parecida com o do procedimentocomum ordinário.

Nesta fase, que se inicia com o recebimento dadenuncia (com sua rejeição ou recebimento), logoem seguida o réu será citado para apresentardefesa preliminar – alegações escritaspreliminares), e depois a audiência de instrução ejulgamento (AIJ) com a oitiva da vitima/ofendidose possível, testemunhas de acusação, testemunhasde defesa, esclarecimento dos peritos, acareações,reconhecimentos, diligências (se necessárias) einterrogatório do acusado (s). Posteriormente vem

a sentença que pode ser a de pronuncia, momento emque será encaminhado o processo para a segunda eúltima fase.

A segunda fase chamada de judicium causae, que seinicia com a preclusão da decisão de pronuncia, etermina com a sentença após votação doquestionário.

Ambas as fases serão estudadas oportunamentemais para frente.

7)“JUDICIUM ACCUSATIONIS” – PRIMEIRA FASE

Conforme informado acima o procedimento doscrimes dolosos contra a vida iniciam-se com orecebimento da denuncia, que é a peça inicialacusatória.

Recebida a denuncia o juiz determinará acitação do acusado para apresentar reposta aacusação (defesa preliminar), em conformidade como artigo 406 do CPP.

Aberto o prazo de 10 dias para apresentar adefesa preliminar, que é consideradaimprescindível, onde uma vez o acusado nãoapresentando no prazo legal será nomeado defensorpara o mesmo (vide artigo 408 do CPP).

Nesta defesa preliminar poderá o réu argüirtodo tipo de preliminar e exceções conformeredação do artigo 407 do CPP e artigo 406 §3ºtambém do CPP.

Apresentará documentos e pleiteará provas aserem produzidas, dentre elas as testemunhas dedefesa em número máximo de 08 (oito).

Após a defesa preliminar abre-se vista o MP,com prazo de 05 dias para se manifestar a respeitodesta defesa preliminar (artigo 409 do CPP).

Em seguida será marcada a audiência deinstrução e julgamento, em conformidade com oartigo 411 do CPP.

Procede-se aos debates orais e prolação dasentença tudo como preceituado no artigo acimadescrito.

Prazo de encerramento do procedimento é de 90dias (artigo 412 do CPP).

Das decisões a serem dadas ao final do juízo deadmissibilidade, encontram-se elencadas nosartigos 413 a 421 do CPP, sendo elas: decisão depronúncia, impronúncia absolvição sumária edesclassificação.

a)Da decisão de pronúncia:Caso o juiz se convença da existência do crime

e de indícios de autoria delitiva, dará os motivospelos quais o reconhece, pronunciando o réu.

Nota-se que se fala em indícios suficientes deautoria, sendo mais do que mero indicio. Portanto,basta que se reconheça a presença de indíciossobre a responsabilidade do acusado na açãodelitiva, para que o juiz pronuncie o réu,fazendo-o encaminhar o feito ao tribunal do Júri.

Salienta-se que nesta fase, caso o juiz possuadúvida, deverá ele pronunciar o réu, remetendo-oao plenário, vigorando, portanto, a máxima do indúbio pro societate.

A decisão de pronuncia encontra-se no artigo413 do CPP, onde se vê o seguinte:

“o juiz fundamentadamente, pronunciará oacusado,se o convencido da materialidade do fato eda existência de indícios suficientes de autoriaou de participação.”

A decisão de pronúncia é uma decisãointerlocutória mista, ou seja, encerra apenas umafase do procedimento, fazendo-se remeter o feito àfase do plenário.

Nesta decisão, como diz o artigo 413, §1º doCPP, deverá o juiz indicar os dispositivos legaisem que achar incurso o réu, apresentando oselementos do tipo, qualificadoras, causasespeciais de aumento de pena.

Deve ainda dizer se o crime foi tentado ouconsumado; contudo o juiz não deve dizer sobre ascausas de diminuição, nem sobre agravantes eatenuantes, nem a possível concurso de crimes.,tudo conforme prevê o §1º do artigo acima.

Ver também o que preceitua o artigo 413 emseus §§ 2º e 3º no que tange a fiança crime eliberdade provisória, em caso de réu preso, epossível decretação de prisão no caso de réusolto.

Observação importante a ser feita diz respeitoao teor desta decisão proferida pelo juiz ao finaldo judicium accusationis. Nesta decisão o juiz nãodeve se aprofundar nas provas, onde ao pronunciardeve apenas trazer um juízo de suspeita, e não umjuízo de certeza, pois se nesta decisão eletrouxer firmeza quanto a analise do fato, acabarápor violara a clausula do devido processo legal, eassim trazer nulidade ao feito.

Quer se ressaltar neste ponto que esta decisãoé meramente interlocutória, ou seja apenas põemfim a uma parte do procedimento, fazendo com que oréu seja encaminhado ao plenário.

Como se expressa o doutrinador Mugenot:“...uma vez que sua decisão tem caráter

interlocutório e sua parte final tem naturezameramente classificatória e provisória, nãopodendo ultrapassar os limites do artigo 413 doCPP.”

Outra observação a ser feita diz respeito aquem deve ser intimado da decisão de pronúncia,sendo elas as pessoas do acusado, do defensornomeado, membro do MP (intimação pessoal); já nocaso de defensor constituído,querelante e oassistente da acusação serão intimados por meio dediário oficial. VIDE ARTIGO 420 DO CPP.

Terceira observação é quanto ao recursocabível da decisão de pronúncia: é o recurso emsentido estrito (artigo 581, IV do CPP).

A jurisprudência diz que esta decisão nãoproduz coisa julgada, haja vista encerrar apenasum juízo de admissibilidade de imputação penal.

b)Da decisão de impronúncia:

A decisão de impronúncia se encontra no artigo414 do CPP, sendo que esta ocorrerá quando o juiznão tiver o convencimento da existência do crimeou de indícios suficientes de autoria, julgando,desta forma, improcedente a denúncia.

Esta decisão é uma decisão terminativa, umavez que, conforme dito acima, julga improcedente apretensão acusatória do Estado acusador em fazerlevar o réu a julgamento pelo tribunal do júri.

Salienta-se que esta decisão não vem aanalisar o mérito da causa, desta forma, nadaimpede que, surgindo novas provas e ainda nãotenha ocorrido uma causa de extinção dapunibilidade, seja instaurado um novo processo;tudo conforme artigo 414, parágrafo único.

Nesta decisão não se está julgando a pretensãopunitiva do estado acusação, mas está ocorrendosim uma absolvição de instância.

Surgindo novas provas nada impede que o MPofereça nova denuncia

O Recurso cabível contra a decisão deimpronúncia é a apelação (artigo 416 do CPP).

C) da decisão de absolvição sumária

Neste caso, a decisão proferida acaba porjulgar o mérito da ação penal, sendo desta formaum julgamento antecipado.

A decisão em estudo acaba por decidir que adenúncia é improcedente, trazendo força de coisajulgada material, impedindo, desta forma que sejauma nova demanda iniciada.

Esta decisão além de encerrar a primeira fase,impede que o réu seja encaminhada para a segundafase (do plenário), haja vista ter sido o réuabsolvido sumariamente.

Antes de reforma procedimental deste rito dotribunal do júri pela lei 11.689/08, somente sepoderia falar em absolvição sumária quando ficassecomprovada que o fato em julgamento fora praticadosob uma das hipótese de excludente de ilicitude ouem situação de inimputabilidade do acusado (doençamental, desenvolvimento mental incompleto ouretardado e no caso de embriaguez não voluntária).

Com a reforma, trazida pela lei acimamencionada, o procedimento do júri, no que tange aabsolvição sumária ocorrerá nas hipóteses do

artigo 415 do CPP, sendo adotadas as seguintespossibilidades de reconhecimento da absolviçãosumária:

1-Provada a inexistência do fato;

2-Comprovação de não ser o acusado oautor ou participe do fato: é aprova da negativa de autoria ouparticipação;

3-O fato não constituir uma infraçãopenal: onde fica demonstrado queapesar do fato ter ocorrido, o mesmonão constitui crime. Como porexemplo, esta sendo acusado pelocrime de aborto (em tese criminoso),mas durante a fase do judiciumaccusationis fica comprovado que oaborto foi espontâneo;

4-Comprovada uma causa de insenção depena ou de exclusão do crime, ouseja a presença de uma excludente deilicitude ou de culpabilidade

Da decisão que absolve sumariamente caberecurso de oficio, na verdade reexame necessários,com previsão do artigo 575, inciso II do CPP.

Vide artigo 416 do CPP.

c)da decisão de desclassificação:

Esta desclassificação ocorrerá quando for dadauma nova classificação jurídica ao fato, sendo queesta nova classificação ocorrerá para uma infraçãopenal que não seja de competência constitucionaldo tribunal do júri.

Portanto, ao término da primeira fase doprocedimento do júri, no judicium accusationis, o juizsingular ao se convencer que o fato em julgamentonão se trata de um crime doloso contra a vida,fará a remessa do mesmo para o juiz competente.

Cabe ressaltar que nesta decisão o juiz nãopoderá dar definição jurídica de qual crime foi opraticado, mas apenas deve se ater a dizer que ofato não é um crime contra a vida.

A desclassificação apresenta uma natureza dedecisão interlocutória modificadora decompetência, estando prevista no artigo 419 doCPP.

Antes do processo ser encaminhado para aquelejuiz para qual foi declinado, ou setor dedistribuição, torna-se necessário aguardar odecurso do prazo para recurso, uma vez que épossível o recurso em sentido estrito da decisãoque desclassifica

8) A ORGANIZAÇÃO DO JURI

A fim de darmos inicio ao estudo doprocedimento em si, devemos primeiro esclarecercomo será organizado o formará o júri.

a)A existência de listas:

A seleção dos jurados será feita por meio delistas, como preceitua o artigo 425 do CPP.

Primeiro será formada uma lista anual emconformidade com o artigo acima de acordo com onúmero da população de cada cidade.

Depois será feita uma lista para cada sessão,onde será feito um sorteio com os nomes daspessoas previamente alistadas, formando-se o corpode jurados da reunião para a qual serão convocadospara o Tribunal do Júri.

Por fim será formada a lista definitiva queforma o conselho de sentença.

Fazer a leitura do artigo 425 e 426 do CPP.

b)Dos jurados:

1- Caráter obrigatório - Primeiro deve-sedizer que o serviço de jurado éobrigatório, conforme se vê no artigo 436caput do CPP, devendo-se esclarecer quaissão os requisitos para ser jurado, sendoeles:

Ser cidadão maior de 18 anos – novidadetrazida pela reforma processual ocorrida em junho

de 2008, já que o legislador baixou a idade doserviço do júri de 21 anos para 18 anos;

Ser pessoa de notória idoneidade (muitocriticado pela doutrina tal requisito, uma vez quenão é possível que uma pessoa de 18 anos tenhanotória idoneidade, haja vista estar iniciando asua vida);

Ser alfabetizado

Possuir saúde física e mental para a função

Observação deve ser feita quanto à alteraçãoda idade, baixando para 18 anos, uma vez que podetrazer um risco para a constituição do conselho desentença por demais jovem, composto por pessoassem experiência de vida, com pouco contato com osproblemas da vida e do mundo.

2- Recusa ao serviço do jurado: se encontranos artigo 438 e 436 §2º do CPP.

3- Direitos dos jurados ( artigo 439, 440 e441 do CPP).

4- Não comparecimento do jurado (artigo 442 e443 do CPP)

5- Dispensa do jurado (artigo 444 do CPP)

6- Isenção do serviço de jurado (artigo 437 doCPP)

7- Proibições e impedimentos

As mesmas previstas para o juiz togado(artigo 252, 253 e 254 do CPP)

Artigo 448 I a VI do CPPArtigo 449 do CPP

9) Do judicium causae : segunda fase do tribunal do júri

1)introduçãoTendo sido o acusado pronunciado ao final da

primeira fase do tribunal do júri, será o mesmoremetido a esta segunda fase que ocorrerá a partirdo momento da preclusão da pronúncia, ou seja, coma certidão dessa decisão, precluiu tanto para o MPquanto para a defesa, haja vista a ausência derecurso.

Torna-se necessário ressaltar que casoprocesso possua dois ou mais acusados o ideal éque todos sejam julgados em um único júri, contudoa exceção pode ocorrer tendo então cada acusadoser julgado por um júri em separado, este fatopode acontecer em razão de diversas causas, toma-se como exemplo no caso de dois acusados serempronunciados, mas apenas um deles recorrer dadecisão de pronúncia para este então o processoprosseguirá sendo submetido ao júri, enquanto ooutro não até a decisão do recurso.

Da decisão de pronúncia, será o réu preso,intimado pessoalmente já o réu solto será intimadopor edital, previa o CPP anterior a alteração dalei 11.689/08 a existência denominada libelo queera a petição inicial que dava inicio à segundafase do júri, fixando a amplitude da acusação,onde também eram arroladas as testemunhas pelas

partes, contudo a lei acima explicitada veio aretirar (suprimir) o libelo. O libelo era um peçaque já trazia dentro das regras legais uma divisãodo relato dos fatos parte a parte passando pelofato principal qualificadoras causas de aumento ese houvesse circunstâncias agravantes, desta formacom o libelo havia o desmembramento fáticodelimitando a acusação a fim de torna-la maiscompreensível para os jurados, bem como servir deparâmetro para a elaboração dos quesitos.

Com a reforma do procedimento do júri, sendodesta forma o mesmo sido simplificada, suprimindo-se o libelo, passando então a pronúncia a servir,justamente como parâmetro de todo o desenrolar dasegunda fase do júri, inclusive para a elaboraçãodos quesitos (que também foram simplificados). Apresença do contra-libelo, ou seja, da resposta aolibelo crime acusatório por parte da defesa tambémtinha previsão anterior ao procedimento sendo umafaculdade, também com a reforma, tal peça foisuprimida, sendo a mesma substituída pelorequerimento de oitiva das testemunhas por parteda defesa, que poderá ainda pleitear diligencias eacostar documentos, tudo isso no prazo de 05 dias,sendo que a apresentação deste requerimento é merafaculdade.

Conforme preceitua o art. 421 do CPP, preclusaa decisão de pronúncia os autos serão encaminhadosao Juiz Presidente do Tribunal do Júri, logo emseguida determinara o mesmo a intimação do MP oudo querelante bem como do defensor para que em 05dias ofereça um rol de testemunhas, no máximo 05que irão depor no plenário, podendo ainda serjuntado documentos e ser requerida diligencias.

Já o art. 423 do CPP, nos instrui no sentidode que o Juiz devera deliberar sobre as provasrequeridas a serem produzidas ou exibidas noplenário e com isso sanar qualquer nulidade ouesclarecer fatos de interesse, tomando logo emseguida a conduta de elaborar um relatório sucintoe ordenando a inclusão do processo em pauta dereunião do tribunal do júri.

Deve-se observar o que preceitua o art. 424 doCPP

2) Do Desaforamento:

Previsto no art. 427 e 428 do CPP, talinstituto tem por natureza deslocar a competênciados processos dos crimes dolosos contra a vidapara uma comarca mais próxima, possui caráterexcepcional e necessidade de preenchimento de umdos pressupostos previsto em lei, seu procedimentose dará nas formas dos artigos acima mencionados.

3) Da organização da pauta do Júri (arts. 429a 431 do CPP):

Em comarcas onde haja uma grande quantidade dejulgamentos pelo júri a serem realizadas algunsjulgamentos terão preferências conformeestipulados no art. 429 do CPP onde dentre estesterá a preferência o julgamento dos acusados quese encontram presos e assim por diante conformeincisos do referido artigo.

Caso exista interesse de haver assessoramentoà acusação este deverá requerer sua habilitação noprazo de até 05 dias, conforme art. 430 do CPP.

4)Do sorteio e convocação dos jurados (arts.432 a 435 do CPP):

Da formação da reunião periódica (composta por25 jurados)

5)Da instalação da sessão do Júri:Até o momento do inicio da sessão deverá o

juiz: analisar sobre os pedidos de isenção edispensa dos jurados, bem como de adiamentosconsignando tudo em ata, logo após serem adotadasas medidas previstas no artigo 454 a 462 do CPP.

Conforme preceitua o art. 463 do CPP, no dia ehora designados para reunião do Júri presente oórgão do MP, o Juiz Presidente consideraráinstalada a sessão, anunciando o processo que serásubmetido a julgamento desde que tenhamcomparecido pelo menos 15 jurados, o oficial dejustiça logo em seguida apregoará as partes.

Caso não haja a presença dos 15 juradosprocederá ao sorteio dos suplentes quantos foremnecessários, designando nova data para a sessão dojúri, art. 464 do CPP, onde tudo será consignadoem ata, conforme art. 465 do CPP.

Observações devem ser feitas quanto:

a)Não comparecimento do órgão do MP Art. 455do CPP.

b)Não comparecimento do defensor art. 456 doCPP.

c)Não comparecimento do réu art. 457 do CPPd)Não comparecimento da testemunha art. 458 ao

461 do CPP

Antes da constituição do conselho de sentençaas testemunhas de acusação e defesa serãoseparadas e recolhidas em local de onde não sepoderão ouvir os debates e depoimentos umas dasoutras.

Logo em seguida o juiz informará aos jurados acerca das hipóteses de suspeição, impedimento eincompatibilidade do art. 448 e 449 do CPP, serãoainda advertidos antes do sorteio para a formaçãodo conselho de sentença de que os mesmos uma vezsorteados não poderão se comunicar entre si, nemmanifestar sua opinião quanto ao processo; destaforma iniciará um sorteio do conselho de sentençaonde o juiz ao verificar que as cédulas seencontram na urna relativa aos jurados presentessendo então sorteados sete dentre os jurados com onome nas urnas para a formação do conselho desentença.

Podem as partes, primeiro a defesa e depois oMP, à medida que as cédulas forem sendo retiradasda urna e lidas pelo Juiz, recusar os juradossorteados até três por cada uma das partes sem quehaja justificação quanto ao motivo da recusa.

Ressalta-se que o sorteio dos sete juradospara a formação do conselho de sentença se daránome por nome possibilitando as recusas que podemser com ou sem justificativas e caso seja dado umajustificativa a parte que recusou deveráapresentar provas de sua alegação, as recusas semjustificativa se limitam a 03 para cada parte, jáquanto às recusas justificadas não há limite.

Conseguindo se formar o conselho de sentença,com sete jurados, o juiz presidente levantar-se-áe com ele todos os presentes devendo os juradosprestar o compromisso que se encontra no art. 472do CPP, posteriormente cada jurado receberá cópiada pronúncia na forma do parágrafo único do art.473 do CPP.

6) Da instrução em plenário (artigos 473 a 481do CPP)

Formado o conselho de sentença, dá-se lugar ainstrução em plenário.

No passado iniciava-se esta fase por meio doato de se apregoar e qualificar o réu, contudo coma nova lei (lei nº. 11.689/08), deixou de ser ointerrogatório o primeiro ato instrutório a serrealizado, haja vista a inversão do rito, em quese acabou por dar maior ênfase ao direito da ampladefesa e contraditório (o interrogatório do réu éo ultimo ato antes de se iniciar os debates orais.

A instrução do plenário se iniciará na formaprevista no artigo 473 do CPP, quando o juiz

presidente, o MP, o assistente, o querelante e odefensor do acusado irão tomar diretamente e deforma sucessiva a declaração do ofendido (sepossível, é claro).

Após as declarações da vitima/ofendido,inicia-se a oitiva das testemunhas de acusação edepois da defesa, devendo-se ressaltar que osdepoimentos deverão ser tomados de forma que umatestemunha não venha a ouvir o depoimento dasoutras.

Primeiro a testemunha de acusação, depois astestemunhas de defesa.

As partes deverão formular perguntas para astestemunhas na ordem pré-estabelecida no caput doartigo 473, ou seja: deverão ser formuladas asperguntas para as testemunhas nesta ordem: Juiz,MP, assistente, querelante e depois o defensor doacusado.

Contudo, conforme estabelecido no § 1º doartigo 473 do CPP, no caso das testemunhas dedefesa esta ordem será alterada da seguinte forma:primeiro serão formuladas as perguntas pelodefensor do acusado para depois serem feitas asperguntas pelo MP, assistente e querelante.

Os jurados poderão formular perguntas, masdeverão ser feitas por intermédio do juizpresidente (§ 2º do artigo 473 do CPP).

Observação deve ser feita quanto apossibilidade dos jurados solicitarem o depoimentode pessoas citadas no decorrer da sessão do

julgamento, mas que não foram arroladas, nestecaso sendo necessário, poder[á ocorrer inclusive asuspensão do julgamento a fim de se conseguiridentificar o paradeiro do depoente, até mesmopode ocorrer o caso de dissolução do conselho desentença (artigo 481 do CPP).

Atenção deve ser dada ao artigo 473 §3º doCPP, em que as partes os jurados poderão solicitardiligências, acareações, reconhecimentos, etc.

Ato continuo será feito o interrogatório doacusado nos moldes do procedimento comum, aliadaas especificidades do que se encontra previsto noartigo 474 do CPP.

Dos debates:

Começa com a sustentação oral por parte daacusação, que terá uma hora e meia, podendo seracrescida por mais uma hora se existir mais de umacusado.

Cabe ressaltar que os parâmetros (limites) daacusação oral se encontram nos termos da pronuncia(e ao mais o libelo acusatório, uma vez que estenão mais existe).

Deve-se observar também que o MP emsustentação no plenário pode pleitear agravantes,e inclusive pedir menos do que estiver contido napronuncia, até mesmo requerer absolvição.

Logo depois se manifestará o assistente.

Finda acusação falará a defesa (artigo 476 doCPP), no mesmo tempo dado para a acusação.

Após poderá ocorrer a replica por parte daacusação, pelo período de uma hora (o dobro seexistir mais de um réu).

Havendo replica a defesa fará jus a treplica,pelo mesmo período.

Juiz presidente e jurados não podem seausentar durante os debates.

O juiz presidente é quem disciplina oprocedimento, inclusive no que diz respeito aosapartes.

Encerrado os debates o juiz presidenteindagará aos jurados se eles se encontram aptospara julgar os fatos.

Da formulação de Quesitos:Previsto nos arts. 482 a 491 do CPP fica

estipulado em tais artigos que o questionárioapresentado no artigo 482 e 483 nada mais é do queum conjunto de quesitos a serem respondidos pelosjurados no que tange ao crime em julgamento.

Deve-se esclarecer que os quesitos devem serformulados em uma linguagem simples, não contendoambigüidades, nem devem ser apresentados na formade perguntas negativas (exemplo: o autor não veioa praticar tal conduta?).

Preceitua o artigo 482 §Único que estesquesitos deverão ser propostos com base nos termos

da pronuncia ou de outra decisão posterior quejulgar admissíveis a acusação.

A disposição dos quesitos encontra-se afixadosno art. 483 do CPP devendo ser seguido essadisposição, quais seriam elas: a) materialidade;b) autoria ou participação; c) possívelabsolvição; d) causas de diminuição; e)circunstâncias qualificadoras ou causas de aumentode pena.

No parágrafo primeiro do art. 483, nosesclarece que se houver respostas negativa s demais de 03 jurados aos quesitos “a” e “b” avotação estará encerrada e o acusado absolvido. Noparágrafo segundo por sua vez, se as respostas aosmesmos quesitos acima, na mesma forma também, ouseja, mais de três se dando de forma afirmativa,será obrigatoriamente formulado outro quesito: “Ojurado absolve o acusado?”.

Diante do parágrafo segundo do art. 483ocorre-se a condenação do autor passando-se a darcontinuidade ao julgamento argüindo aos jurados ascausas de diminuição alegadas pela defesa, bemcomo das qualificadoras com causas de aumento depena, conforme art. 483 §3º do CPP. Deve-seesclarece que caso o julgamento envolva um crimedoloso contra a vida, também outro crime, primeirose fará uma analise do crime doloso contra a vida,para depois serem julgados os crimes conexos(exemplo: crime de ocultação de cadáver).

Após a formulação dos quesitos conformepreceitua os arts. 484 e 485 o Juiz presidente,jurados, MP, assistentes, querelantes, defensor do

acusado, oficial de justiça e escrivão, dirigir-se-ão a sala especial a fim de proceder a votação,nas observâncias do art. 485 §§1º e 2º.

A tomada dos votos ocorrera de quesito porquesito, onde o juiz distribuirá cédulas opacas,07 delas com palavra sim e 07 com palavra não(Art. 486 do CPP). A fim de assegurar o sigilo dasvotações preceitua o art. 487 do CPP que o oficialde justiça recolhera em urna separadas as cédulasutilizadas no voto em uma urna e as não utilizadasem outra urna.

Já o art. 488 nos esclarece que a votação decada quesito será reduzida a termo juntamente coma conferencia das cédulas. Ao final da votação oreferente termo com todos os quesitos votadosserão assinados pelo presidente pelos jurados epelas partes. Art. 491 do CPP. Devendo esclarecerque a decisão do tribunal do júri se dá por meioda maioria dos votos.

A sentença:Primeiro importante esclarecer que todas as

ocorrências existentes deverão ser registradas emata.

A Sentença a ser proferida no procedimento dotribunal do Júri poderá ser absolvição, decondenação ou de desclassificação do crime doloso.

A decisão do júri é uma decisão denominadasubjetivamente complexa, uma vez que cabe ao Juizpresidente elaborar a sentença de acordo com avotação feita pelos jurados, devendo a sentença

após sua confecção ser lida em plenário pelo Juiz,saindo as partes já intimadas e encerrando-se asessão do julgamento.

A sentença do tribunal do Júri prevista noarts. 492 e 493 do CPP, devendo ter pór norte, nocaso da condenação o que se encontra previsto nasalíneas do inciso I do art. 492 CPP, já no caso deabsolvição se encontram nas alíneas do inciso IIdo mesmo artigo e no parágrafo segundo no caso dadesclassificação.

Da ata dos trabalhos (Art. 494 ao 496 do CPP)

Das atribuições do Juiz Presidente (Art. 497do CPP)