DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO DE EXECUÇÃO Autor: Lúcio Flávio Siqueira de Paiva

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Direito Processual Civil Processo de Execução DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO DE EXECUÇÃO AUTOR: LÚCIO FLÁVIO SIQUEIRA DE PAIVA Advogado. Mestrando em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento pela UCG. Especialista em Direito Empresarial com MBA pela Fundação Getúlio Vargas / RJ Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Católica de Goiás Professor Efetivo de Direito Processual Civil e Prática Cível da Universidade Católica de Goiás Professor da Escola Superior de Advocacia – ESA/GO Professor da Escola Superior da Magistratura – ESMEG Professor do Axioma Jurídico 1 Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva

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DIREITO PROCESSUALCIVIL

PROCESSO DEEXECUÇÃO

AUTOR: LÚCIO FLÁVIO SIQUEIRA DE PAIVAAdvogado.

Mestrando em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento pela UCG.Especialista em Direito Empresarial com MBA pela Fundação Getúlio Vargas / RJ

Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Católica de GoiásProfessor Efetivo de Direito Processual Civil e Prática Cível da Universidade Católica

de GoiásProfessor da Escola Superior de Advocacia – ESA/GO

Professor da Escola Superior da Magistratura – ESMEGProfessor do Axioma Jurídico

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Contato com o Professor:e-mail: [email protected]: 3252-10-12

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ÍNDICE

CAPÍTULO I – TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO.......................3Conceito....................................................3Princípios Específicos Do Processo De Execução..............3Competência.................................................5Legitimidade................................................6Requisitos Para Realizar Qualquer Execução..................9A Responsabilidade Patrimonial.............................14Limitações Da Responsabilidade Patrimonial.................18A Responsabilidade Processual Civil Das Partes Na Execução. 19A Nova Liquidação De Sentença (De Acordo Com A Lei 11.232/05)...........................................................19CAPÍTULO II – AS VÁRIAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO...............23Notas Introdutórias........................................23A Execução Para A Entrega De Coisa Certa...................23A Execução Para Entrega De Coisa Incerta...................25Execução Das Obrigações De Fazer E Não Fazer...............27A Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente.......29Do Cumprimento Da Sentença (Ou Execução Por Quantia Certa DosTítulos Judiciais).........................................29Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente Fundada EmTítulo Extrajudicial.......................................36Da Avaliação...............................................49Das Técnicas Expropriativas De Bens – Novidade Da Lei 11.382/06..................................................49CAPÍTULO III – AS DEFESAS DO EXECUTADO.....................52Embargos do Devedor........................................52Exceção de Pré-Executividade...............................52

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CAPÍTULO I – TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO

1) CONCEITO

Execução é o “conjunto de atos estatais através dos quais, com ou sem avontade de devedor (e até contra ela), invade-se seu patrimônio para, à custa dele,realizar-se o resultado prático desejado concretamente pelo direito objetivomaterial”. (DINAMARCO1)

O conceito transcrito dá a nota clara da atividade executiva:em contraposição ao processo de conhecimento, em que se tem,de forma preponderante, atividade certificadora do direito, aexecução anela tornar efetivo o direito que já foipreviamente tido por certo. Na clássica lição de DINAMARCO2,enquanto o processo de conhecimento é orientado à solução dascrises jurídicas de certeza, o processo executivo é destinadosolucionar as crises de adimplemento, as quais, ressalte-se,presumem a existência de um direito já previamentecertificado.

2) PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Explica ARAKEN DE ASSIS3 que os princípios devem serentendidos como valores historicamente preponderantes,originados de prévio consenso e estabelecidos em dadosistema. São, por assim dizer, a diretriz basilar de umsistema jurídico. Nas felizes palavras de ALEXANDRE FREITASCÂMARA, os princípios são vetores hermenêuticos que orientam ainterpretação do sistema jurídico.

Optou-se, neste item, por expor apenas os princípios típicosou específicos do processo executivo. Deve, porém, ficar1 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, Execução Civil,, Malheiros.2 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, Malheiros.3 ARAKEN DE ASSIS, Manual da Execução, 11ª ed., RT, 2007.

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claro que à execução aplicam-se também todos os princípiosgerais do processo, hauridos originariamente do próprio textoconstitucional. É certo, pois, que o devido processo legal, aampla defesa e contraditório, para citar apenas os mais famosos,são também aplicáveis à execução, pois que impõem, na felizexpressão de CASSIO SCARPINELLA BUENO4, um modelo constitucional deprocesso. Seguem, pois, analisados, apenas aqueles que tocamespecificamente ao processo de execução.

Princípio da Autonomia: este princípio contava com notamarcante na estrutura original do CPC, dividido que fora, porAlfredo Buzaid, em três tipos diferentes e autônomos deprocesso: conhecimento, execução e cautelar. Hoje, todavia,tem-se adotado, cada vez mais, o modelo sincrético de processo,que contempla a possibilidade de, em única baseprocedimental, efetivarem-se atos de natureza cognitiva eexecutiva5. Todavia, alerta autorizada doutrina que subsistea autonomia funcional do processo de execução, pois aindaquando realizados no bojo do processo cognitivo, seus atosdistinguem-se daqueles, na medida em que orientam-se arealizar o direito previamente reconhecido na sentença.

Princípio da realidade da execução: toda execução é real,isto é, a atividade executiva deve atingir, regra geral, opatrimônio no executado e não sua pessoa. As exceçõesadmitidas são: devedor de pensão alimentícia e depositárioinfiel.

Princípio do menor sacrifício possível ao executado: art. 620do CPC: “quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juizmandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”.

4 CASSI SCARPINELLA BUENO, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, vol.1, Saraiva, 2007.5 Com a inserção do §7◦ ao art. 273 do CPC, não se pode deixar de mencionar apossibilidade de se ter também a concessão de tutelas cautelares no seio doprocesso de conhecimento, o que não deixa de ser um tipo de sincretismoprocessual, que rompe com a regra clássica da autonomia do processo cautelar.

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Princípio do desfecho único (ou Princípio do Resultado): oúnico fim normal do processo de execução é a satisfação docredor. Qualquer outro resultado é considerado anômalo.

Princípio da especificidade da execução: dizer que a execuçãodeve ser específica significa que esta deve seguir a máximade dar ao credor aquilo e exatamente aquilo que ele tem direito, ouseja, deve coincidir no máximo possível com o resultado quese obteria caso o devedor cumprisse a obrigação de formaespontânea.

Princípio da disponibilidade de execução: encontra-se esteprincípio positivado no artigo 569 do CPC: “o credor tem afaculdade de desistir de toda a execução ou de apenas algumas medidasexecutivas”. De fato, como visto em item anterior, o processo deexecução desenvolve-se rumo a uma única finalidade, qualseja, satisfazer o crédito. Assim, eventual desistência daação executiva não traria prejuízo ao devedor, antes, comobem observa MARCELO ABELHA RODRIGUES6, traria um benefício. Anorma citada (art. 569), entretanto, fixou limites dessadesistência, certamente visando coibir a desistência noscasos em que o exeqüente se visse na iminência de ser vencidona ação de embargos do devedor. Por isso, deu tratamentoespecífico aos efeitos da desistência em casos de execuçãoembargada, conforme se lê do parágrafo único e alíneas domesmo dispositivo.

Princípio do respeito à dignidade humana: segundo HUMBERTOTHEODORO JUNIOR7, a execução não pode ser utilizada comoinstrumento para causar a ruína, a fome e o desabrigo dodevedor e de sua família, gerando situações incompatíveis coma dignidade humana. Daí porque, para proteger esse que sepode chamar de patrimônio mínimo, institui o legislador oregime das impenhorabilidades.

6 MARCELO ABELHA, Manual da Execução Civil, Ed. Forense Universitária, 7 HUMBERTO THEODORO JUNIOR, Curso de Direito Processual Civil, vol. II, 41ª ed., Ed. Forense, 2007.

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Princípio do título: toda execução fundar-se-á em títuloexecutivo. Isto é o que dispõe o artigo 586 do CPC: “a execuçãopara cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquidae exigível”.. Segundo ARAKEN DE ASSIS, ele é o bilhete de acessoà via executiva.

3) COMPETÊNCIA

O CPC alude a 4 espécies de competência, a saber: a)funcional (ligada à natureza, grau, peculiaridades da funçãoexercida pelo órgão jurisdicional – art. 93); b) material(relacionada à natureza da relação jurídica deduzida nademanda – art. 91); c) por valor (valor atribuído à causa –art. 91); d) territorial (arts. 94 e seguintes).

3.1. A Competência para a Execução por Título Judicial

Competência funcional do juízo da cognição: por força doartigo 575 do CPC, a competência para a execução de títulojudicial era do juízo perante o qual tramitou a demandacognitiva. Entretanto, com a lei 11.232/05 essa antiga regrafoi alterada, sendo que a nova sistemática dada pelo par.único do art. 475-P estipula que tal cumprimento poderáocorrer perante o juízo do local onde se encontram benssujeitos a execução e o juízo do novo domicílio do executado.Em outras palavras, houve uma migração da antiga e rígidaregra de competência funcional (absoluta) do juízo prolatorda sentença condenatória, para uma nova sistemática, decompetência territorial (relativa, portanto) concorrente.Ressalte-se que a competência dos tribunais para execução sóocorre quando perante eles fluiu, originariamente, o processocognitivo. O fato de terem apreciado a demanda em sederecursal não desloca essa competência.

Ainda sobre a execução dos títulos judiciais, há algumassituações peculiares que merecem atenção, quais sejam:

a) Sentença penal condenatória: a execução da sentença penalcondenatória foge da regra segundo a qual o juízo prolator da

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sentença tem competência para sua execução, pois o artigo575, IV, expressamente remete para o juízo cível competente.

b) Sentenças estrangeiras homologadas pelo STJ: esse tipo detítulo executivo judicial, por força do artigo 109, X, daCF/88, tem sua execução perante a Justiça Federal de primeirainstância.

c) Sentença arbitral: a execução da sentença arbitralcondenatória igualmente foge da regra segundo a qual o juízoprolator da sentença tem competência para sua execução, poisque, nesse caso, o juízo arbitral não detém competência paraa fase executiva, a qual, obrigatoriamente, deve realizar-seperante o Poder Judiciário. Por isso, o artigo 575, IV,expressamente remete para o juízo cível competente a execuçãodesse título judicial.

3.2 – A Competência para a Execução de Título Extrajudicial

Segue, em geral, as regras estabelecidas no CPC para oprocesso de conhecimento.Quanto à competência para a execução de título extrajudicialcom origem no exterior, há que se observar o seguinte: seráde competência da Justiça brasileira sempre que (i) no Brasilfor domiciliado o devedor, (ii) no Brasil deva ser cumprida aobrigação, ou (iii) aqui se situe o imóvel sobre o qual hajade incidir a execução. As duas primeiras, de índoleconcorrente; a última, exclusiva.

4) LEGITIMIDADE

De acordo com LIEBMAN8, parte legítima é a pessoa que podepromover a execução e contra a qual se pode promover aexecução. Esse tema encontra-se enfrentado pela legislaçãonos artigos 566 e 567, que definem a legitimidade ativa e noartigos 568, que trata da legitimidade passiva. No presentecapítulo, adotar-se-á a classificação das legitimidades ativa8 Apud ARAKEN DE ASSIS, obra citada pág. 381.

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e passiva idealizada por ARAKEN DE ASSIS, por se tratar damais completa sobre o tema.

4.1. Legitimidade Ativa Ordinária

- A legitimidade ativa ordinária poderá ser primária ousuperveniente. Primária será a legitimidade daqueles quefiguram nominados no título executivo, enquanto asuperveniente ocorre quando, não obstante omisso o título,determinados sujeitos assumem a qualidade de legitimadosativos à execução.

4.1.1. Legitimidade Ativa Ordinária Primária

Conforme dispõe o artigo 566, I, do CPC, em regra, terálegitimidade ativa primária o credor a quem a lei conferetítulo executivo. O legitimado ativo primário, em regra,figurou como parte no processo que originou o título ouparticipou do acordo de vontades que deu origem ao títuloextrajudicial.

4.1.2. Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente

- Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente do Espólio,Herdeiros e Sucessores: nos termos do artigo 567, I, do CPC.A doutrina tem reservado a essa legitimidade ativa adenominação de ordinária superveniente. É ordinária porque oespólio, herdeiros e sucessores buscam em nome próprio,direito próprio (art. 6◦ do CPC); é, por sua vez,superveniente, por não figurarem no título executivo comocredores, pois que não participaram da sua formação (ver item4.1.).

- Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente do Cessionário:nos termos do artigo 567, II, do CPC. Hipótese aplicável aoscasos de cessão que antecedem ao processo de execução. Acasojá proposta a demanda, tratar-se-á de alienação de direitolitigioso, devendo observar-se o artigo 42 do CPC. Sobre otema, esclarece ALEXANDRE FREITAS CÂMARA: “É de se notar, aqui,

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porém, que a cessão do crédito que se dê no curso do processo executivo éverdadeira alienação do direito litigioso (art. 42 do CPC), o que significa dizer quea legitimidade das partes não é alterada. Em outros termos, nada impede que, adespeito da cessão do crédito exeqüendo, o cedente permaneça no processoexecutivo, agora atuando em nome próprio na defesa de interesse alheio (docessionário), como substituto processual). Não é preciso, porém, que nestahipótese aja concordância do executado para que possa ocorrer a sucessãoprocessual no pólo ativo. O cessionário poderá ingressar no processo, em lugar docedente, sendo para isso irrelevante o consentimento do executado”.

- Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente do Sub-rogado:nos termos do artigo 567, III, do CPC, sendo a esta hipóteseaplicável tudo o que se disse quanto ao cessionário.

4.2. Legitimidade Ativa Extraordinária

- Os casos de legitimidade ativa no processo de execuçãotornaram-se mais comuns com a ampliação da tutela coletiva dedireitos. Trata-se, contudo, de legitimidade extraordinária(pois o MP atua em nome próprio na defesa de direito alheio),sendo a mais típica delas, na atualidade, a legitimaçãoextraordinária para promover a execução coletiva, fenômenotambém denominado de fluid recovery9. Há, ainda, a legitimidadedo MP para promover a execução de sentença de procedênciaproferida em ação popular, se o demandante ou outro qualquercidadão não demandar a execução no prazo de sessenta diascontados da publicação da decisão de segundo grau dejurisdição (art. 16 da lei 4.717/65).

4.3. Legitimidade Passiva

4.3.1. Legitimidade Passiva Ordinária Primária: nos termos doartigo 568, I, é legitimado passivo ordinário primário odevedor, reconhecido como tal no título executivo. Trata-se,

9 O tema das ações coletivas e a possibilidade de execução coletiva pelo MinistérioPúblico, a despeito de interessante, extrapola os singelos limites dessaapostila. Por isso, aos interessados, indica-se a leitura da excelente obra deFREDIE DIDIER JR. e HERMES ZANETI JUNIOR, Curso de Processo Civil, Processo Coletivo, vol. 4,Ed. JusPodivm, Salvador, 2006.

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aqui, de legitimidade ordinária passiva e primária, já que oexecutado consta como devedor no título executivo.

4.3.2. Legitimidade Passiva Ordinária Superveniente

- O Espólio, os Herdeiros ou Sucessores do Devedor, nostermos artigo 568, II, do CPC. É caso de legitimidade passivaordinária, mas de natureza superveniente, pois que oslegitimados adquiriram essa condição em momento posterior aoda formação do título executivo, por obra da sucessão causamortis. Como bem pontua ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, é necessáriodestacar que, nesse caso, os sucessores só respondem pelasdívidas do de cujus nos limites de sua herança, ou seja, noslimites do quinhão hereditário que lhes haja sido adjudicado.Há ainda, no caso em comento, peculiaridade digna de nota: aresponsabilidade patrimonial pela sucessão causa mortis competeao espólio até a partilha, razão pela qual, ao invés deingressar com a execução, pode o credor optar por postular oadimplemento da dívida no juízo do inventário, pela via dahabilitação de crédito, prevista nos arts. 1017 e seguintesdo CPC.

- O Novo Devedor, nos termos do artigo 568, III, do CPC:segundo ARAKEN DE ASSIS10, a situação legitimadora do artigo568, III, abriga todas as formas de cessão de dívida. Pontua,entretanto, que a cessão de dívida, no direito brasileiro, sóadquire eficácia perante o credor com o seu consentimento.Entretanto, caso exista a cessão válida da dívida, ou seja,presente a concordância do credor, não mais será possível oprosseguimento da execução contra o antigo devedor, pois queeste não mais estará submetido à responsabilidadepatrimonial. Deve haver, pois, a sucessão processual no pólopassivo.caso.

4.3.3. A POLÊMICA DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO FIADOR

O artigo 568, III, do CPC, traz ainda como situaçãolegitimadora no pólo passivo, a do fiador judicial. Segundo10 ARAKEN DE ASSIS, obra citada, pág. 397.

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prestigiosa doutrina, fiador judicial é “aquele que presta, no cursodo processo, garantia pessoal ao cumprimento da obrigação de uma das partes”.Inadimplida a obrigação pela qual se obrigou o fiadorjudicial, poderá a execução ser instaurada contra ele11.Trata-se de legitimidade passiva ordinária superveniente,apesar de ARAKEN DE ASSIS12 afirmar, com argumentos robustos,tratar-se de legitimidade passiva extraordinária.Por outro lado, apesar da redação da lei referir-se ao fiadorjudicial, polêmica se formou quanto à legitimidade passiva dofiador convencional. Parte da doutrina, partindo de umainterpretação literal, simplesmente nega legitimidade passivaao fiador convencional na execução. É a posição firme deSERGIO BERMUDES, citado por ARAKEN DE ASSIS13: “contra o fiador nãojudicial, descabe execução sem prévia condenação, imposta por sentençaproferida em relação processual de conhecimento, à qual foi devidamenteintegrado”.Outra parcela da doutrina, vê o fiador convencional comolegitimado passivo ordinário primário, com base nos arts.585, III e IV. É a posição de THEODORO JR. Outrossim, adoutrina de ARAKEN DE ASSIS, que entende o fiadorconvencional como legitimado passivo extraordinário,afirmando que “existirá extensão da eficácia subjetiva do título, em que constao afiançado, redundando na legitimidade extraordinária do fiador”.Dentre as três posições, certamente a segunda é a que seapresenta mais correta. Aderindo a ela, explica ALEXANDREFREITAS CÂMARA14: “Outros autores, porém, consideram ter o fiadorconvencional legitimidade passiva ordinária primária, estando esta legitimidadeincluída no alcance do art. 568, I, do CPC. A razão, a nosso sentir, está com estaúltima posição. O CPC não fala do fiador convencional por ser tal referênciaexpressa desnecessária. O art. 585, III, do Código coloca, no elenco dos títulosexecutivos extrajudiciais, o contrato de caução, gênero a que pertence,indubitavelmente, o contrato de fiança. Assim sendo, o fiador convencional édevedor (ou, para sermos mais rigorosos tecnicamente, responsável) reconhecido

11 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada, pág. 182.12 ARAKEN DE ASSIS, na obra tantas vezes citada, conclui pela legitimaçãoextraordinária do fiador judicial, trazendo à baila a clássica diferenciaçãoentre dívida e responsabilidade. Sobre o tema, remete-se o leitor ao item abaixoque trata da RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL.13 ARAKEN DE ASSIS, obra citada pág. 400.14 ALEXANDRE FEITAS CÂMARA, obra citada, pág. 183.

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como tal no título executivo. Não faria sentido nenhum atribuir-se eficáciaexecutiva ao contrato de fiança sem se conferir legitimidade passiva primária aofiador convencional”.

4.3.4. A LEGITIMIDADE PASSIVA DO RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO

Tema de relevantes conseqüências práticas é o da legitimidadepassiva do responsável tributário. Não se pretende, nessetrabalho, incursionar pelo campo do direito tributário, masrelevante se torna definir quem, à luz desse ramo do direito,é responsável tributário. Nessa toada, responsável é osujeito que, não sendo contribuinte, vale dizer, vinculado aofato gerador, obriga-se por força de lei15. Sobre o temaresponsabilidade tributária indica-se a excelente obra doeminente professor goiano LEONARDO BUISSA FREITAS16.Para o processo civil, o tema é relevante, por exemplo, emsede de execução fiscal, quando, não raro, são trazidos parao campo da responsabilidade patrimonial os sócios da empresaexecutada. Nesses casos, alerta prestigiosa doutrina: “mas aquestão polêmica e de maior transcendência, neste assunto, reside na necessidadeou não de o legitimado extraordinário – ou seja, o responsáveltributário – e, mutatis mutandis, qualquer responsável (...) constarnominalmente na certidão de dívida ativa. Respondido afirmativamente aoquesito, tornar-se-á parte passiva ilegítima o responsável, cuja responsabilidadenão foi previamente apurada”.

5) REQUISITOS PARA REALIZAR QUALQUER EXECUÇÃO

Basicamente, dois são os requisitos para que se possarealizar a execução: um de ordem formal, que é o títuloexecutivo, e outro de ordem prática, que é a constatação dainadimplência do devedor. O próprio Código de Processo Civildeixa clara essa realidade, quando elenca como requisitosnecessários para realizar qualquer execução o inadimplemento do devedore a presença de um título executivo.

5.1 - A INADIMPLÊNCIA DO DEVEDOR15 ARAKEN DE ASSIS, obra citada, pág. 402.16 LEONARDO BUISSA FREITAS, Apostila de Direito Tributário do Axioma Jurídico, 2006, pág. 175.

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O título executivo, que será estudado mais a frente, veiculao prazo dentro do qual o devedor deverá cumprir a obrigação.Não observado esse prazo, constata-se o inadimplemento,tornando a dívida (obrigação) exigível e fazendo surgir parao credor o direito (rectiu, o interesse de agir) de manejaração de execução. Necessário é, pois, que o devedor esteja emmora, ou seja, em estado de inadimplemento.É bem verdade, diga-se de passagem, que os conceitos deinadimplemento e mora não necessariamente são equivalentes.MARCELO ABELHA RODRIGUES17 bem explicita a questão, aoasseverar que “não há correspondência ou consenso entre o conceito legal e odoutrinário (civilista) do vocábulo inadimplemento. Para a doutrina, oinadimplemento e a mora constituem situações jurídicas distintas. Afirma-se que oinadimplemento corresponde sempre a um estado jurídico resultante dodescumprimento de uma obrigação ou do dever legal, que acarreta uma situaçãode impossibilidade ou inutilidade da realização da prestação antes devida. Já amora corresponde sempre a um atraso no cumprimento da prestação devida, masque não afasta a realização da mesma – que ainda se mostra útil ou passível deser realizada”.De todo modo, a despeito de teoricamente relevante adistinção, para fins da satisfação do requisito doinadimplemento que autoriza a instauração do processoexecutivo, tanto o inadimplemento, quanto a mora, sãosuficientes.A inadimplência do devedor é condição da ação de execução,consistente no interesse de agir-necessidade, não obstanteencontre-se em doutrina opinião de que o inadimplementointegra o objeto litigioso da execução, ou seja, seu própriomérito (ARAKEN DE ASSIS).A matéria relativa ao inadimplemento do devedor é reguladapelos arts. 580, 581, 582, e 614, III, do Código de ProcessoCivil, sendo digna de destaque a norma do artigo 582, que emredação infeliz e confusa quis fazer referência à tradicionalexceptio non adimpleti contractus, de modo que, de maneira simples,

17 MARCELO ABELHA RODRIGUES, Manual de Execução Civil, Ed. Forense Universitária, p.143.

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“não poderá ser exigida uma prestação pelo exeqüente se ele mesmo não cumpriua sua parte”18.

5.2 – O TÍTULO EXECUTIVO

5.2.1. Conceito: Para CÂNDIDO DINAMARCO19, “Título Executivo é o atoou fato jurídico legalmente dotado da eficácia de tornar adequada a tutelaexecutiva para a possível satisfação de determinada pretensão. Ele tornaadequada as medidas de execução forçada para a atuação da vontade da lei”.Para ARAKEN DE ASSIS20, “Faz o título prova legal ou integral do crédito”.

5.2.2. Natureza Jurídica: Principais Teorias:

- Teoria Documental (Carnelutti): o título enquantorepresentação ou prova da existência do crédito exeqüendo.

- Teoria do Ato Jurídico (Liebman):título enquanto atojurídico a que a lei atribui eficácia executiva – teoria quepredomina no Direito pátrio.

- Teoria do Acertamento do Direito (Mandrioli): o títulorepresentaria um prévio acertamento do direito, outroracontrovertido.

- Teoria Mista: o título é ato e representação documental docrédito. (Greco Filho)

5.2.3. Indispensabilidade do Título Executivo para a Ação deExecução:

- Justificativa Política: Proteção à esfera jurídica doindivíduo, pois só o título executivo mostra a probabilidadeda existência de um preceito material descumprido e justificao sacrifício a seus direitos individuais (patrimônio).Princípios Consectários: a) nulla executio sine titulo; b) nullus titulussine lege.

18 Idem, página 147.19 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, obra citada, pág. 474 e seguintes.20 ARAKEN DE ASSIS, obra citada, pág. 143 e seguintes.

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- Justificativa Legal: quanto ao Título Executivo Judicial, aoportunidade prévia de procedimento em contraditório,fiscalizado pelo órgão jurisdicional. Quanto ao Título ExecutivoExtrajudicial, embora não tenha ocorrido tal prévia oportunidade,o legislador elegeu abstratamente atos que, na experiênciacomum, normalmente indicam a existência efetiva de umcrédito, atribuindo-lhes, pois, a condição de títuloexecutivo. Poder-se-ia cogitar, também, que o títuloextrajudicial seria uma oportunidade de acertamento, interparts, do direito eventualmente controvertido, o que acabariapor aproximar essa idéia da teoria do título enquanto ato deacertamento21 – ver 6.2.2 supra.

5.2.4. Função do Título Executivo

A função do título executivo é clara: tornar possível eadequada a tutela executiva. Liga-se, portanto, ao interessede agir in executivis.Afasta-se, com essa afirmação, a idéia de que o títuloexecutivo é a própria causa de pedir da execução.Absolutamente. Ele é o elemento sem o qual o Estado se recusaa ofertar a via executiva. Na execução, a causa de pedir é,da mesma forma que no processo de cognição, a situação defato que originou o direito alegado pelo exeqüente, associadaao fundamento jurídico da pretensão deduzida e à atitude doexecutado, ou seja, o inadimplemento.Afasta-se, também, a idéia de que o título é fator delegitimação, uma vez que pode ser parte legítima para aexecução também aquele que não conste do título (sucessores esub-rogado, por exemplo, que são legitimados ordinários,passivos ou ativos, supervenientes).Não parece, outrossim, adequado considerar o título executivoum pressuposto processual. Ainda que ausente o título, oprocesso – ou a relação processual – é existente e válida,vez que pode ser instaurada mediante provocação da parte(demanda), perante órgão jurisdicional, com regular e válida21 Ressalte-se que a opinião lançada no texto é do Autor em particular, nãorepresentando o entendimento doutrinário corrente.

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citação do executado, por intermédio de advogado (a chamadacapacidade postulatória) – todos esses pressupostosprocessuais de existência; e ainda através de petição inicialapta, manejada perante órgão jurisdicional competente – essesdois pressupostos processuais de validade. O títuloexecutivo, nesse contexto, não se acomoda a qualquer dessascategorias citadas, o que desautoriza considerá-lopressuposto processual.É, pois, sem dúvida, componente do interesse de agir, portornar adequada a tutela jurisdicional executiva.

5.2.5. Requisitos Formais e Substanciais do Título Executivo:

A adoção de qualquer uma das teorias que buscam explicar anatureza do título executivo haverá de influir,inegavelmente, na exata compreensão de seus elementosconstitutivos, elencados pela lei, no art. 586, com a agoracorreta redação que lhe emprestou a lei 11.382/06, comoelementos de uma obrigação dotada de certeza, liquidez e exigibilidade.Abstraídas, de todo modo, concepções puramente teóricas, quemuitas vezes servem apenas para afastar o profissional dodireito da indispensável dimensão prática dos institutosanalisados, parece ter razão ARAKEN DE ASSIS22 ao afirmar queo título tem, em verdade, duas dimensões distintas: “no planomaterial (...) se sobreleva a declaração de certeza (relativa!), tanto obtida atravésdo órgão jurisdicional (...), quando alcançada mediante consenso dos particulares.Na perspectiva processual, porque imprescindível a vista da natureza dos atos dojuiz no curso do processo e da posição de vantagem usufruída pelo credor,interessa o documento, dotado de certos requisitos formais ad hoc”.Quanto a esses requisitos, encontra-se em doutrina (DINAMARCO,Execução Civil) interessante classificação, dividindo-os emrequisitos formais e requisitos substanciais. Nesse passo, requisitosformais seriam aqueles referentes ao ato em si mesmo,regulados pelo direito material e indispensáveis à perfeiçãodo título. Substanciais, por sua vez, seriam os requisitosreferentes ao próprio conteúdo do ato, assim entendida aperfeita individualização do direito a que esse ato se

22 Araken de Assis, Manual da Execução, RT, p. 137.

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refere. São requisitos substanciais: a certeza, a liquidez ea exigibilidade.Todos esses requisitos, destaque-se, relacionam-se com ointeresse de agir in executivis, razão pela qual a ausência de umdeles acarretará o fenômeno conhecido como carência de ação.

5.2.6. Título Executivo Judicial

No direito romano, só tinha acesso ao processo executivo oportador de sentença judicial. Contudo, na Idade Média, com oflorescimento das relações de crédito, surgiu a necessidadede se outorgar a determinadas categorias de crédito umatutela mais segura, rápida e eficaz, razão pela qual houve aequiparação dos títulos criados pelos particulares ao títulooriginado de sentença judicial. Ambos passaram, desde então,a render executio parata.

Os títulos executivos judiciais encontram-se elencados,agora, no art. 475-N, que revogou o art. 584 do CPC.

- Art. 475-N, I: a sentença proferida no processo civil que reconheça aexistência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia.

Havendo provimento com eficácia condenatória em uma sentença,esta habilitará o acesso ao processo de execução.O termo sentença merece interpretação ampliada. Tambémacórdãos, que substituem a sentença nos limites da matériaimpugnada, rendem ensejo à execução. Também decisõesinterlocutórias, em determinados casos, possibilitamexecução.Outrossim, não se pode deixar de afirmar que a redação atualdo art. 475-N, I, não corresponde à antiga redação do artigo584, revogado por este. Lá, no antigo dispositivo, falava-seem sentença condenatória; neste, o novo artigo, fala-se emsentença que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregarcoisa ou pagar quantia. Tal modificação tem sido utilizada porparte da doutrina para se defender que, após a mudança legal,as sentenças meramente declaratórias, propostas quando jápossível o manejo da demanda condenatória, assumiriam

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eficácia executiva. O tema, com certeza, é controvertido, eabordá-lo em suas minúcias desbordaria os limites dessetrabalho. De todo modo, apenas para citar o tamanho dadivergência: de um lado, defendendo a eficácia executiva dedeterminadas sentenças declaratórias, FREDIE DIDIER JR23 eHUMBERTO THEODORO JUNIOR24; de outro lado, defendendo queapesar da mudança tudo prossegue como antes, ALEXANDREFREITAS CÂMARA25 e ARAKEN DE ASSIS26.

- Art. 475-N, II: Sentença Penal Condenatória Transitada emJulgado

Um mesmo fato contrário ao direito pode gerar efeitosdiversos nas esferas penal e civil. É o fenômeno denominadomúltipla incidência.A sentença penal condenatória traz como efeito anexo aoutorga de título executivo em favor da vítima ou seusherdeiros.Em sendo efeito anexo que decorre de expressa disposiçãolegal, é absolutamente irrelevante o fato de o juiz indicá-laou não em seu provimento.Esta sentença penal submete-se a fase de liquidação, sendoque a revisibilidade pro reo da sentença criminal não inibe aexecução.

- Art. 475-N, III: Sentença Homologatória de Conciliação eTransação, ainda que inclua matéria não posta em juízo

Por terem eficácia de coisa julgada, as sentençashomologatórias de transação e conciliação podem lastrearexecução forçada sempre que uma das partes tiver a obrigaçãode prestar um bem à outra. Podem envolver até matérias nãopostas em juízo.

23 FREDIE DIDIER JUNIOR, Curso de Direito Processual Civil, 6ª. Ed, JusPodivm, pág. 19 e seguintes.24 HUMBERTO THEODORO JUNIOR, Curso de Direito Processual Civil, 41ª ed., pág. 74 e seguintes.25 ALEXANDRE FREITAS CAMARA, Lições de Direito Processual Civil, 14ª ed., pág. 192.26 ARAKEN DE ASSIS, Manual da Execução, 11ª ed. RT, pág. 156 e seguintes.

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- Art. 475-N, IV : Sentença Arbitral

Regulada pela lei 9307/96, o laudo arbitral foi equiparado,em termos de eficácia, à sentença judicial, submetendo-se,assim, à execução nos moldes de um título judicial.

- Art. 475-N, V: O acordo extrajudicial, de qualquernatureza, homologado judicialmente

Trata-se, aqui, de novidade inserida pela lei 11.232/05. Oacordo extrajudicial já é, à luz do art. 585, títuloexecutivo extrajudicial, desde que obedecidas as formalidadesali elencadas. O interesse de submetê-lo à homologaçãojudicial decorre, por um lado, da maior estabilidade que ostítulos judiciais sabidamente têm, e em segundo lugar, paralimitar as possíveis defesas a serem postas à disposição doexecutado em eventual Impugnação ao cumprimento da sentença(defesa do executado na execução dos títulos judiciais).

- Art. 475-N, VI: Sentença Estrangeira Homologada

Como ressalta ARAKEN DE ASSIS, a jurisdição se ligaessencialmente à soberania, razão pela qual, em princípio,atos judiciais emanados de autoridades judiciais estrangeirasnada valem em outro território.Entretanto, por força do sistema de colaboração existenteentre os Estados, é possível atribuir validade a esses atos.No Brasil, adota-se o juízo de delibação, sendo concedidaeficácia à sentença estrangeira após exame extrínseco de suaharmonia com o direito pátrio.Atualmente, por força de alteração trazida pela EC n◦ 45/04,a competência para homologar sentença estrangeira pertence aoSuperior Tribunal de Justiça.

- Art. 475-N, VII: Formal ou Certidão de Partilha

A partilha de bens, em inventário ou arrolamento, se homologapor sentença. É representada pelo formal ou certidão.

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Acaso algum herdeiro, a fim de igualar quinhões, devarepassar quantia certa a outro, cabível será ação de execuçãofundada nesse título.Cumpre destacar que o formal ou a certidão de partilha nãoautorizam execução para entrega de coisa, ou seja, para haveros bens móveis ou imóveis partilhados. Encontrando-se essebens na posse de herdeiros ou legatários, o desapossamentodeverá ser feito nos próprios autos do inventário; estando emposse de terceiros, cabível será ação reivindicatória.

5.2.7. Títulos Executivos Extrajudiciais

Disciplinados no art. 585 do CPC e em diversas leisextravagantes.

6) A RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

Instituto extremamente importante para o processo deexecução, pode-se conceituar a responsabilidade patrimonialcomo a “situação meramente potencial, caracterizada pela sujeitabilidade dopatrimônio de alguém às medidas executivas destinadas à atuação da vontadeconcreta do direito material”. (DINAMARCO27). Encontra-se prevista no artigo 591 do CPC: “O devedor responde,para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes efuturos, salvo as restrições estabelecidas em lei”.Trata-se de instituto diretamente ligado ao princípio darealidade da execução, antes estudado, pois que faz incidir aresponsabilidade do devedor sobre o seu patrimônio e nãosobre sua pessoa, como já ocorreu em remoto passado.Importante notar que, a teor da norma antes transcrita, aresponsabilidade incide sobre os bens existentes quando dainstauração da demanda executiva e, também, sobre aqueles quevierem a ser adquiridos em seu curso. Os bens passados,todavia, salvo exceções (as fraudes que serão estudadas aseguir), ficam fora da incidência da execução.Outrossim, mostra-se muito importante proceder-se à divisãoconceitual entre DÍVIDA e RESPONSABILIDADE: dívida é deverjurídico de realizar uma prestação; trata-se de noção27 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, Execução Civil, Malheiros.

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decorrente do direito material. Responsabilidade, por suavez, é a sujeição do patrimônio para assegurar a satisfaçãodo credor. É noção processual. Por essa distinção, admite-seexistir dívida sem responsabilidade (jogo), eresponsabilidade sem dívida (fiador).Essa distinção torna possível o entendimento do artigo 592,que trata de casos em que, apesar de existir responsabilidadepatrimonial, inexiste dívida propriamente dita.É daí que decorre a diferenciação, feita pelo próprio código,de responsabilidade patrimonial primária e secundária. Aquelaconsiste na exposição dos bens do devedor à execução, sendoque este é, a um só tempo, devedor e responsável. Aquela -responsabilidade patrimonial secundária - é a sujeição depatrimônio de um responsável, não originariamente devedor.

6.1. Os casos de responsabilidade patrimonial secundária

Os casos designados como sendo de responsabilidadepatrimonial secundária encontram-se expostos no CPC, art.592: ficam sujeitos à execução os bens: I – do sucessor a título singular,tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória; II –do sócio, nos termos da lei; III – do devedor, quando em poder de terceiros; IV – docônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meaçãorespondem pela dívida; V – alienados ou gravados com ônus real em fraude deexecução.

6.2. A Alienação Fraudulenta de Bens

O direito brasileiro conhece três tipos distintos dealienação fraudulenta de bens, cada qual variando de acordocom seu grau de intensidade e sanção prevista em lei, sendo:fraude pauliana ou fraude contra credores; fraude à execução;e alienação de bem penhorado. Para fins didáticos pode-seafirmar que, no direito pátrio, o termo alienação fraudulenta debens é gênero, que comporta a três espécies antesmencionadas.

6.2.1. Fraude contra Credores

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Também chamada de fraude pauliana, consiste na diminuiçãopatrimonial do devedor até o ponto de reduzi-lo àinsolvência. A doutrina aponta como requisitos para a suaconfiguração: a) eventus damni – redução do devedor àinsolvência; b) concilium fraudis – elemento subjetivo,consistente na prova da intenção do devedor em praticar aalienação a fim de provocar a redução patrimonial ao estadode insolvência.Sobre esse requisito subjetivo – concilium fraudis – calhatranscrever pertinente lição de notável processualistacarioca28: “Quanto a este requisito subjetivo, porém, é preciso estabeleceralgumas distinções. Assim é que, sendo o ato fraudulento praticado a títulogratuito (por exemplo, uma doação), não se deve cogitar da verificação do intuitofraudulento, que se presume de forma absoluta. Já nos atos onerosos, é precisoque o devedor tenha, ao menos, o potencial conhecimento de que seu ato otornará insolvente (pouco importando, aqui, que o devedor aja com animusnocendi, ou seja, com a intenção deliberada de fraudar) e – além disso – exige-sedo terceiro adquirente que este tenha conhecimento (efetivo ou presumido) dacondição de insolvência a que se reduzirá o devedor com aquela alienção”.Requer ação própria para ver seus efeitos revertidos –denominada de ação pauliana ou revocatória, que não passa, narealidade, de uma ação de conhecimento, de procedimento comum, ritoordinário -, cujo objetivo é ver reconhecido, por sentença, aineficácia29 da alienação com relação ao credor do alienante.A sentença proferida na ação pauliana assume eficáciadeclaratória e desconstitutiva, tornando o negócio jurídicoineficaz com relação ao credor30.

6.2.2.Fraude à Execução

A fraude de execução é uma espécie de alienação fraudulentade bens que a lei considera mais grave que a fraude contra28 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada, pág. 224.29 Apesar de a lei referir-se, a todo momento, a invalidade, o Autor do presentetrabalho filia-se à corrente processualista majoritária (ver DINAMARCO, FREITASCÂMARA, THEODORO JUNIOR entre outros) que entende tratar-se, em realidade, deineficácia do ato de alienação. Discorrer sobre o tema, de enorme importânciaprática, redundaria em extravasamento dos limites desse trabalho, razão pela qualindica-se a leitura do livro Execução Civil, cap. VI, de Cândido Rangel Dinamarco,que com maestria trata do tema.30 No mesmo sentido do texto, ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada, pág. 229/230.

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credores. Por isso, a lei dispensa a demonstração dorequisito subjetivo – concilium fraudis – necessário àconfiguração da fraude pauliana.Encontra-se prevista no art. 593, II, do CPC: considera-sefraude de execução quando, ao tempo da alienação ou oneração,corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo àinsolvência.São requisitos objetivos para a sua configuração: a)litispendência; b) redução à insolvência.Ressalte-se que não apenas a pendência de execução, mastambém demanda cognitiva condenatória configura a fraude deexecução, pois que também a demanda cognitiva é capaz dereduzir o devedor ao estado de insolvência.Trata-se de ineficácia originária do negócio jurídico – aocontrário da fraude pauliana, em que a ineficácia ésucessiva, ou seja, necessita de sentença judicial que areconheça -, razão pela qual não se mostra necessário ajuizardemanda destinada a seu reconhecimento. Trata-se de alienaçãoque não retira o bem do âmbito da responsabilidadepatrimonial.O tema em comento, por sua enorme importância, é semprelevado ao conhecimento dos tribunais, que claudicam no quetoca à forma de reconhecer a existência da fraude deexecução. Entretanto, a 3ª Turma do STJ, no julgamento doREsp 618625-SC, relatado pela eminente Ministra NANCYANDRIGHI, trilhou sendo interpretativa interessante, com aqual o autor da presente apostila em tudo concorda. Parafacilitar a leitura e manter a fidelidade à fonte, segue oresumo do julgado, trazido no Informativo STJ n◦ 345, de 18 a22 de fevereiro de 2008:

FRAUDE. EXECUÇÃO. CIÊNCIA. AÇÕES.

A questão consiste em saber se a pendência de ação deconhecimento da qual possa decorrer a insolvência do devedor éabrangida pela hipótese prevista no art. 593, II, do CPC. A Min.Relatora ressaltou que a incidência do disposto no mencionadoartigo não é automática, isto é, decorrente apenas da alienação

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na pendência de demanda capaz de reduzir o alienante àinsolvência. E, segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal,ficou esclarecido que, para existir fraude à execução, é precisoque a alienação do bem tenha ocorrido após registrada a citaçãoválida do devedor ou, então, que o credor prove o conhecimentodo adquirente sobre a existência da demanda pendente contra oalienante ao tempo da aquisição (precedente: AgRg no REsp625.232-RJ, DJ 2/8/2004). Por outro lado, doutrina ejurisprudência têm exigido, nos casos em que inexiste o registroda citação ou da penhora, que ao credor cabe o ônus de provarque o terceiro tinha ciência da demanda em curso ou daconstrição. Assim, para a caracterização da fraude de execução, épreciso que a alienação tenha ocorrido depois da citação válida,devendo este ato estar devidamente inscrito no registro, ou quefique provado que o adquirente sabia da existência da ação(precedente: REsp 218.290-SP, DJ 26/6/2000). Todavia, meditandomelhor sobre a questão e, principalmente, considerando que esseentendimento acaba por privilegiar a fraude à execução portorná-la mais difícil de ser provada, a Min. Relatora diverge doentendimento acima transcrito quanto à questão relativa ao ônusda prova sobre a ciência pelo terceiro adquirente da demandaem curso ou da contrição. Isso porque o inciso II do art. 593 doCPC estabelece uma presunção relativa da fraude que beneficia oautor ou exeqüente. Portanto, em se tratando de presunção, é daparte contrária o ônus da prova da inocorrência dospressupostos da fraude de execução (CPC, art. 334, IV), porque, apessoa a quem a presunção desfavorece suporta o ônus dedemonstrar o contrário, independentemente de sua posiçãoprocessual, nada importando o fato de ser autor ou réu. Caberáao terceiro adquirente, através dos embargos de terceiro (art.1.046 e ss. do CPC), provar que, com a alienação ou oneração,não ficou o devedor reduzido à insolvência, ou  demonstrarqualquer outra causa passível de ilidir a presunção de fraudedisposta no art. 593, II, do CPC, inclusive a impossibilidade de terconhecimento da existência da demanda. De fato, impossíveldesconhecer-se a publicidade do processo gerada pelo seuregistro e pela distribuição da petição inicial (CPC, arts. 251 e263), no caso de venda de imóvel de pessoa demandadajudicialmente, ainda que não registrada a penhora ou mesmo a

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citação. A partir da vigência da Lei n. 7.433/1985, para alavratura da escritura pública relativa a imóvel, o tabeliãoobrigatoriamente consigna no ato notarial, a apresentação dodocumento comprobatório dos feitos ajuizados. Não é crível quea pessoa que adquire imóvel (ou o recebe em dação empagamento) desconheça a existência da ação distribuída (ou dapenhora) em nome do proprietário do imóvel negociado. Diantedisso, cabe ao comprador provar que desconhece a existência daação em nome do vendedor, não apenas porque o art. 1º damencionada lei exige a apresentação das certidões dos feitosajuizados em nome do vendedor para lavratura da escriturapública de alienação de imóveis, mas, sobretudo, porque só sepode considerar, objetivamente, de boa-fé o comprador que tomamínimas cautelas para a segurança jurídica da sua aquisição(precedente: REsp 87.547-SP, DJ 22/3/1999). As pessoasprecavidas são aquelas que subordinam os negócios de compra evenda de imóveis à apresentação das certidões negativasforenses. Portanto, tem o terceiro adquirente o ônus de provar,nos embargos de terceiro, que, mesmo constando da escritura detransferência de propriedade do imóvel a indicação daapresentação dos documentos comprobatórios dos feitosajuizados em nome do proprietário do imóvel, não lhe foi possíveltomar conhecimento desse fato. Na hipótese, observa-se que oacórdão recorrido é omisso em relação à existência da prova deque o adquirente, ora recorrente, não tinha conhecimento daação de indenização ajuizada em face do proprietário do imóvel,ao tempo em que recebeu em dação em pagamento o imóvel emquestão. E concluiu a Min. Relatora que, partindo-se da análisefática exposta no acórdão recorrido, a alegação de violação doart. 593, II, do CPC esbarra no teor da Súmula n. 7 deste SuperiorTribunal. REsp 618.625-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgadoem 19/2/2008.

Ainda sobre o tema, ponto importante é a novidade trazidapelo artigo 615-A do CPC, disposição inserida no código pelalei 11.382/06 Como antes visto, um dos requisitos essenciaisà configuração da fraude de execução é o estado delitispendência, entendido este, para o réu, como aquele que

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ocorre após a sua citação válida, isso a teor do clássicoartigo 219 do CPC.Todavia, o novo artigo 615-A altera esse termo a quo(litispendência para o réu, com a sua citação) para fins deconfiguração da fraude de execução, antecipando-o, conformese nota da leitura do novo dispositivo, in verbis: Art. 615-A. Oexeqüente poderá, no ato da distribuição, obter certidão comprobatória doajuizamento da execução, com identificação das partes e do valor da causa, parafins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outrosbens sujeitos à penhora ou arresto. (...) §3 . Presume-se em fraude à execução a◦alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação”.Em função dessa mudança, não resta dúvida em afirmar que, umavez realizada a averbação constritiva – que tem sidodenominada em doutrina de averbação premonitória – qualquer atode alienação ou oneração que lhe seja posterior seráconsiderado fraude de execução, ainda que o executado/devedornão tenha sido citado para a demanda capaz de lhe reduzir àinsolvência.

6.2.3. Alienação de Bem Penhorado

Estando o bem penhorado (constrito judicialmente), não poderáeste ser alienado. Em o sendo, o negócio será ineficaz emrelação ao juízo da execução, ou seja, a alienação não afastao bem do campo da responsabilidade patrimonial.Difere da fraude de execução, pois não exige a redução dodevedor à insolvência. Como ensina ALEXANDRE FREITAS CÂMARA31:“Verifica-se, assim, a existência de uma escalada de situações, quanto ao nível degravidade, entre as diversas modalidades de fraude. Da menos grave (fraudepauliana, onde se exige a redução do devedor à insolvência e o elemento subjetivofraude), passando pela fraude de execução (onde apenas o elemento objetivo,insolvência do devedor, é exigido), até chegar-se à modalidade mais grave(alienação de bem penhorado) onde nem mesmo a insolvência do devedor érequisito da fraude”.

7) LIMITAÇÕES DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

31 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada pág. 234.

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Como visto no item anterior, o devedor responde, pela dívida,com seus bens presentes e futuros. Essa a regra. Todavia, porforça de imperativos de tutela de um patrimônio mínimo para oexecutado e sua família, entendeu por bem o legisladorexcluir determinados bens da esfera de responsabilidadepatrimonial do devedor. A esta sistemática dá-se o nome deregime de impenhorabilidade,explicado no artigo 648 – não estãosujeitos à execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis –e regulamentado nos artigos 649 e 650 do CPC.

8) A RESPONSABILIDADE PROCESSUAL CIVIL DAS PARTES NAEXECUÇÃO

8.1. A Responsabilidade Processual Civil do Exeqüente

- artigo 574 do CPC- Responsabilidade Objetiva- Requisitos: (i) sentença, (ii) transitada em julgado, (iii)que declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigaçãoque deu lugar à execução.- Efeito Anexo e liquidação nos próprios autos da execução

8.2. A Responsabilidade Processual do Executado

- Lealdade processual: arts. 599 e 600 do CPC- A indenização do artigo 601 do CPC- A relação do artigo 600 com o contempt of court – pena de 20%sobre o valor atualizado do débito em execução.

9) A NOVA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA (de acordo com a Lei11.232/05)

9.1. Notas Introdutórias

A lei 11.232/05, como se sabe, foi a responsável porprofundas modificações levadas a efeito no processo deexecução. Adotando um novo paradigma, a lei nova vem rompercom a estéril e pouco efetiva “pureza” das tutelasprocessuais até então existente, criando o que se

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convencionou chamar de um processo “sincrético”, divido emmeras fases destinadas à efetivação do direito e não maisprocessos estanques e burocratizados como até então seconhecia.

No que tange ao antigo sistema de liquidação das sentenças, amudança foi expressiva, sendo a primeira delas, topológica: oque era o capítulo intitulado “Liquidação de Sentença” e quefazia parte do Livro II, destinado o processo de execução,migrou para o Livro I, em claro sinal dado pelo legisladorque o que se tem – e isso a doutrina sempre pontuou – naliquidação é autêntica atividade cognitiva. Agora, contudo,e na esteira da atual reforma, não mais se pode falar emprocesso de liquidação de sentença, mas em mera fase deliquidação, que em alguns casos antecederá a fase próxima, àqual a lei batizou de cumprimento de sentença.

9.2. A Finalidade da Liquidação de Sentença

Segundo CASSIO SACARPINELLA BUENO32, “a liquidação de sentença temcomo finalidade a descoberta do valor da condenação, a quantificação do valorda obrigação a ser adimplida pelo devedor, tal qual reconhecida pela sentença”.Esse, a propósito, o sentido e alcance definidos na próprialei, que traz no caput do novo artigo 475-A a seguintedefinição: “quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se àsua liquidação”.

9.3. Análise dos Dispositivos: Artigos 475-A a 475-H

O § 1◦ do artigo 475-A traz importantíssima inovação.Atestando a opção do legislador por tornar a liquidação umamera fase do processo destinado a reconhecer o direito etorná-lo efetivo, tem-se agora a intimação do devedor para afase de liquidação e não mais a sua citação, como no antigoregime.Por óbvio que a inovação em tela agrega celeridade aoprocedimento, porquanto dispensa, para dizer o mínimo, as32 Cássio Scarpinella Bueno, A Nova etapa da Reforma do Código de Processo Civil, Saraiva, 2006.

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incansáveis diligências para proceder a citação do réu,muitas vezes frustradas pela própria atitude desleal deste,que busca por todas as formas ocultar-se e com isso impedir acitação. O §1º, aliás, diz que a parte será intimada napessoa de seu advogado, o que facilita ainda mais oprocedimento, mormente nas capitais, onde intimações tais sãofeitas mediante publicação no Diário de Justiça.Essa simplicidade, ressalte-se, demonstra o intento dolegislador de desburocratizar o processo civil, unificando,em uma única base procedimental, todas as fases necessáriasao alcance da real e prática efetivação do direito.NELSON NERY JR. também parece reconhecer essa nova posturaadotada pela reforma, conquanto insista em fixar a liquidaçãode sentença como verdadeira ação, como se nota do trechoseguinte: “a liquidação é ação de conhecimento, de natureza constitutivo-integrativa, que visa complementar o título executivo (...). Mesmo sendo ação, aatual sistemática empreendida pela lei 11232/05 simplifica e agiliza a liquidação,de modo a dar-lhe rito procedimental mais expedito, sem a autonomia eindependência que havia no regime revogado”.33

O § 2◦ do art. 475-A, por sua vez, indica que “a liquidaçãopoderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em autosapartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido comcópia das peças processuais pertinentes”. O dispositivo em questão temrecebido aplausos de toda doutrina34, sendo batizado peloProfessor CASSIO SCARPINELLA de liquidação provisória.É de se destacar que o interessado poderá requerer aliquidação da sentença, tenha ou não o recurso de apelaçãosido recebido no efeito suspensivo. Isso quer dizer que, emqualquer caso é possível adiantar o trabalho, liquidando emprimeiro grau a sentença, enquanto essa se encontra pendentede julgamento no juízo ad quem.Como é natural, o recebimento do recurso de apelação produz oefeito de levar os autos (fisicamente, inclusive) do processoao tribunal, razão pela qual deverá a parte extrair cópia daspeças pertinentes, para que se possa iniciar a fase deliquidação no juízo a quo.

33 Nelson Nery, Código de Processo Civil Comentado, RT, 2006.34 Ver, por todos, Alexandre Câmara, em Lições de Direito Processual Civil, vol.II.

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Encerrando o artigo 475-A, é de se destacar o conteúdo de seu§3◦, cuja redação é a seguinte: nos processos sob procedimentocomum sumário, referidos no art. 275, inciso II, alíneas d e e desta Lei, é defesa asentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar de plano, a seu prudentecritério, o valor devido”.Tratam, as alíneas d e e do incisso II do art. 275, da ação deressarcimento por danos causados em acidente de veículo devia terrestre e ação de cobrança de seguro, relativamente aosdanos causados em acidente de veículo. Em casos tais, a leipassou a vedar a prolação de sentença ilíquida. Assim sendo,ou há elementos nos autos que conduzam a uma definição doquantum e o juiz condenará em sentença já líquida ou, em nãohavendo tais elementos, deverá o magistrado estipular oquantum de acordo com seu prudente critério.ALEXANDRE FREITAS CÂMARA35 tece severa crítica ao dispositivoem questão, afirmando que, “no caso de cobrança devida por seguradora,parece-nos razoável a vedação da sentença ilíquida, uma vez que o sinistro já teráocorrido e o contrato de seguro tem de prever as coberturas, o que dá ao juizparâmetros seguros para fixar o valor da condenação. Já no caso da reparação dedano por acidente de veículo de via terrestre, a nova regra nos parecedesarrazoada. É comum que acidentes de trânsito gerem a necessidade de sesubmeter a vítima a longos tratamentos, os quais muitas vezes superam emduração o próprio tempo do processo. Por isso, a lei processual permite que seformule pedido genérico quando, no momento da propositura da demanda, aindanão é possível determinar a extensão da obrigação. Ora, nesses casos podeperfeitamente ocorrer de não ser ainda possível determinar-se o quantumdebeatur no momento da prolação da sentença.Ocorre que com a novadisposição legal, o juiz teria de arbitrar um valor de indenização, o que pode gerarinjustiças (...). Pensamos, assim, que a solução será, nesse caso, admitir-se aconversão do procedimento sumário em ordinário, no qual inexiste a proibição desentença condenatória genérica. Mais razoável seria, porém, que não houvesseessa vedação (...)”.Por sua vez, o artigo 475-B traz disposição que não é nova,porquanto já existente na sistemática anterior. Trata-se doscasos em que a determinação do quantum da condenação dependerapenas de cálculos aritméticos, que o credor possa fazersozinho, sem auxílio de técnico. Em casos tais, deverá serseguido procedimento do cumprimento de sentença contido no artigo35 Obra citada, p. 463.

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475-J, sendo que incumbe ao credor, fazer acompanhar aorequerimento que inaugurará a fase executiva do processo, umaplanilha de cálculos demonstrando como chegou ao valor quepretende executar.Estando em poder o devedor dados essenciais para se chegar aocálculo do quantum da condenação, determina o § 1◦ do artigo475-B que o juiz determinará sejam esses apresentados dentrode, no máximo, 30 (trinta) dias, sob pena de não sendoapresentados no prazo e não havendo justificativa, nos termosdo § 2◦ do mesmo artigo, reputarem-se corretos os cálculosque forem apresentados pelo credor. Segundo ensina NELSONNERY, “como a norma reputa como corretos os cálculos apresentados pelocredor na hipótese de recusa injustificada do devedor em fornecer os dadosnecessários à elaboração da memória de cálculo, isso quer significar que odevedor fica impedido de opor impugnação por excesso de execução (art. 475-L V).Trata-se de presunção iures et de iure, que não admite prova em contrário”.O §3◦, a seu turno, aduz que o juiz, de ofício, poderá valer-se de contador do juízo, quando a memória apresentada pelocredor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüendae, ainda, nos casos de assistência judiciária. Essaprovidência, por óbvio, só tem lugar quando os cálculosapresentados pelo credor em muito sobejarem, aparentemente, oque se poderia ter como correto para a execução. Issoocorrendo, o juiz lançará mão dos cálculos feitos pelo expertdo juízo, que poderá encontrar valor diferente daqueleapresentado pelo credor. Nesse caso, segundo entendimentoesposado por NELSON NERY, deve-se abrir um contraditório paraque possa o credor debater o novo valor encontrado, mormentese este for a menor. Somente após se ter por decidido esteincidente é que se pode aplicar a regra do § 4◦ do mesmoartigo, que diz que a execução far-se-á pelo valor encontradopelo devedor, mas a penhora terá por base o valor encontradopelo contador.Noutra banda, os arts. 475-C, 475-D, 475-F e 475-G tratam doprocedimento das liquidações por arbitramento e por artigos.Nesse particular, a lei 11232/05 não trouxe inovações,mantendo-se o esquema já conhecido da sistemática revogada.A liquidação por arbitramento, como destaca o artigo 475-Cterá lugar quando assim for determinado na sentença ou

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convencionado pelas partes, ou ainda quando o exigir anatureza do objeto da liquidação. Essa liquidação porarbitramento é realizada por perito nomeado pelo juízo.A liquidação por artigos, a seu turno, terá lugar quando sefizer necessário alegar e provar fato novo para se chegar aoquantum da obrigação. É a modalidade mais comum deliquidação, sendo importante destacar, conquanto pareçaóbvio, que os fatos a serem alegados e provados referem-se,apenas, ao quantum da condenação. A obrigação em si éindiscutível nessa fase, principalmente porque o foi, deforma exauriente, até o momento da prolação da sentença. Poresse motivo é que o artigo 475-G é peremptório: é defeso, naliquidação, discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou.Finalmente, o artigo 475-H, que traz uma das maioresnovidades na liquidação de sentença: da decisão de liquidação caberáagravo de instrumento. Aqui se nota a clara intenção dolegislador de abandonar o sistema burocratizado de processosautônomos, transformando tudo em meras etapas ou fases de ummesmo processo. Por isso é que, coerente com o novo paradigmaque a lei 11323/05 vem impor, a decisão é que resolve a fasede liquidação de sentença qualifica-se como interlocutória e,assim sendo, desafiará recurso de agravo de instrumento e nãomais apelação, como antes se tinha.

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CAPÍTULO II – AS VÁRIAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

1. Notas Introdutórias

O procedimento a ser observado na execução dependerá, a teordo Livro II do CPC, do tipo de obrigação que se pretendeexecutar. Assim, para cada uma das obrigações – fazer e nãofazer, entregar coisa e dar – corresponderá procedimentoespecífico.Não se pode deixar de notar, outrossim, que com as recentesreformas do Código de Processo Civil, o procedimento tambémpode variar de acordo com o título executivo que embasa aexecução. Assim, tem-se que a execução das obrigações defazer/não fazer e entregar coisa, quando fundada em títulojudicial, dar-se-á nos termos do artigo 461 e 461-A do CPC(Lei 10.444/02), enquanto que a execução das obrigações dedar (leia-se, pagar), quando fundadas em título judicial,dar-se-á na forma do recém inserido sistema de “cumprimentode sentença”, trazido pela novel lei 11.323/05. Por outrolado, as obrigações de pagar quantia consubstanciadas emtítulo executivo extrajudicial prosseguem com execuçãoautônoma, segundo o modelo clássico do CPC de 1973,revitalizado, agora, pela reforma profunda levada a cabo pelalei 11.382/06.Com efeito, o presente capítulo apresentará uma necessáriacombinação desses dois critérios. Primeiramente, seráobservada a divisão das diversas espécies de execução deacordo com a obrigação exeqüenda e, dentro do tópico dedicadoa cada uma dessas execuções, far-se-á a distinçãoprocedimental quando forem estas embasadas em título judiciale extrajudicial.

2. A Execução para a Entrega de Coisa Certa

A execução para a entrega de coisa certa tem procedimentodiferenciado das demais espécies de execução, daí porquemerece análise em tópico específico. Outrossim, nos termos do

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que foi explicitado no item anterior, seu procedimentocomportará variações em função do título que embasa essaexecução.

2.1 – A Execução para Entrega de Coisa Certa Fundada emTítulo Executivo Judicial

Para execuções tais, deve-se observar o procedimento previstono artigo 461-A do CPC, complementado, no que for cabível,pelas disposições contidas no artigo 461 do mesmo diplomalegal.Tais disposições, como reiteradamente explica a doutrina maisabalizada, referem-se ao que se convencionou chamar de tutelaespecífica, entendida essa como aquela destinada a obter objetodiferente de dinheiro – a tutela que pretende obter dinheiro,por sua vez, reservou-se a denominação de tutela genérica.Destarte, a tutela específica das obrigações de entregarcoisa certa fundada em título judicial seguem o art. 461-A,que reza que “na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, aoconceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação”. Em casos tais, julgado procedente o pedido, o juiz fixaráprazo para o cumprimento da obrigação, ou seja, para aentrega da coisa certa, sob pena de, conforme o caso,determinar a busca e apreensão da coisa, quando móvel, ou aimissão na posse, quando imóvel. Poderá, ainda, o julgador,dado o caráter mandamental da decisão em tela36 arbitrar amulta por descumprimento prevista no artigo 461 (a famosaastreinte), em verdadeira combinação de mecanismossancionatórios de sujeitação (busca e apreensão e imissão naposse) e mecanismos sancionatórios de indução (multa portempo de atraso)37.36 Ressalta-se, por oportuno, que não se pretende, nesse momento, ingressar napolêmica da classificação das eficácias preponderantes da sentença, se trinariaou quinária. De todo modo, não se pode negar que, mesmo admitindo-se que assentenças mandamentais nada mais são do que espécies de sentença de eficáciacondenatória, a sua subclassificação em mandamental e executiva lato sensu tem, nomínimo, forte apelo didático, razão pela optou-se por adotar essa denominação notexto.37 Sobre o tema, consultar a magnífica obra de Eduardo Talamini, Tutela Relativa aos Deveres de Fazer e Não Fazer.

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Não é demais destacar que a execução (ou como prefere o CPC,efetivação) dessa obrigação ocorre nos próprios autos dademanda cognitiva, dispensando a formação de processo deexecução autônomo, o que revela a adoção, pelo legislador,daquilo que se convencionou chamar de processo sincrético,dispensando a tradicional e pouco eficiente executio ex intervallo.Tal opção legislativa, diga-se de passagem, que se inicioucom a efetivação das tutelas específicas, mostrou-se de tal modoeficiente, que acabou por ser estendida ao cumprimento datutela genérica (obrigação de pagar), por força da recente lei11.232.05.

2.2 – A Execução para Entrega de Coisa Certa Fundada emTítulo Executivo Extrajudicial

O procedimento desse tipo de execução, quando fundado emtítulo executivo extrajudicial, dar-se-á em processoautônomo, que se inicial mediante demanda oferecida pelocredor e que se submete ao regramento dos artigos 621 a 628do Código de Processo Civil.Assim, nos termos do artigo 621 do CPC, “o devedor de obrigação deentrega de coisa certa, constante de título executivo judicial, será citado para,dentro de 10 (dez) dias, satisfazer a obrigação ou, seguro o juízo (art. 737, II),apresentar embargos”.A redação do artigo mencionado, reconheça-se, não é dasmelhores, pois que dá a impressão que o executado será citadopara, no prazo de dez dias contados da juntada do mandadocitatório aos autos, satisfazer a obrigação, mediante entregada coisa, ou oferecer embargos, mediante depósito da mesma.Todavia, não é bem assim. O executado, uma vez citado, terá oprazo de dez dias para entregar a coisa, satisfazendo aobrigação – o que, por óbvio, terá o condão de encerrar oprocesso -, ou o mesmo prazo de dez dias para depositar acoisa em juízo, caso pretenda oferecer embargos à execução.Seguro, então, o juízo, pelo depósito, abrir-se-ia novo prazopara o oferecimento dos embargos.Ocorre que a lei 11.382/06 promoveu profunda alteração nasistemática dos embargos do devedor – inclusive revogando oart. 737 do CPC, a que o artigo 621 faz expressa menção -,

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sendo duas dessas alterações dignas de menção pois queimportam ao estudo do artigo 621 do CPC: (i) a primeira é adesnecessidade atual de prévia garantia do juízo para ooferecimento de embargos; (ii) a segunda, o prazo que agora éde 15 dias, contados da juntada aos autos do processo domandado citatório devidamente cumprido.Assim, surgem os seguintes questionamentos: haveria ainda anecessidade, para o oferecimento de embargos è execução paraentrega de coisa certa, de prévia garantia do juízo, ou seja,do depósito da coisa? Outrossim, qual seria o prazo para taloferecimento?ALEXANDRE FREITAS CÂMARA38 assim se posiciona sobre taisquestões: “Agora, é de se considerar que o executado é citado para, em dezdias, entregar a coisa ao exeqüente. Feita a entrega, extinguir-se-á a execução.Poderá, ainda, o executado oferecer a coisa em depósito, no mesmo prazo de dezdias e, com isso, evitar a incidência de multa. O depósito, porém, deixou de serexigido para oferecimento dos embargos do executado, cabíveis em quinze dias acontar da juntada aos autos do mandado de citação devidamente cumprido”.A essa interpretação aderimos, bem como parcela da doutrina,como se extrai das lições de PAULO HENRIQUE LUCON39. De fato,citado, as seguintes atitudes podem ser adotadas peloexecutado: (i) entrega a coisa no prazo de 10 dias,encerrando-se a execução pois que satisfeita a obrigação;(ii) não deposita a coisa e oferece embargos no prazo de 15dias, contados da juntada aos autos do mandado citatóriocumprido; (iii) deposita e coisa e oferece embargos, nessemesmo prazo; (iv) queda-se inerte.O parágrafo único do mesmo dispositivo assevera, a seu turno,que o juiz pode determinar a aplicação de multa diária pelodescumprimento da obrigação. Caso queira o devedor forrar-sea esse risco deve ou cumprir a obrigação no prazo de 10 diasou, então, depositar a coisa nesse mesmo prazo e discutir aobrigação em sede de embargos.Pode ainda ocorrer que o devedor, devidamente citado deixatranscorrer in albis o prazo de 10 dias, momento em que o juizdeterminará ou a busca e apreensão da coisa, ou a imissão na

38 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, Lições de Direito Processual Civil, Lúmen Júris, 2006.39 PAULO HENRIQUE LUCON e outros, Código de Processo Civil Interpretado, Ed. Atlas,3ª Ed. 2008.

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posse, conforme se trate de coisa móvel ou imóvel – artigo625 do CPC.Nos termos do artigo 626, estando a coisa em poder deterceiro, contra este será lavado mandado para apreensão dacoisa, sendo que se abre a esse terceiro a possibilidade dedefender a sua posse pelo procedimento especial dos embargosde terceiro.Outrossim, pode ocorrer de ter a coisa certa perecido, fatoque acarretará a transformação da execução em quantia certa,mediante prévia liquidação (pelo mecanismo dos já estudadosartigos 475-A usque 475-H), ou diretamente, quando o títuloextrajudicial já trouxer o valor da coisa.Finalmente, havendo benfeitorias feitas pelo executado,deverá ser observado o artigo 628 do CPC, uma vez que, nessecaso, o executado, autor das benfeitorias, tem direito de serindenizado.Em casos tais, segundo a sempre lúcida lição de ALEXANDREFREITAS CÂMARA40, “tendo o executado realizado benfeitorias indenizáveis nacoisa, não poderá o exeqüente recebê-la antes da liquidação de seu valor.Havendo saldo em favor do autor das benfeitorias, este deverá ser depositado pelodemandante quando requerer o levantamento do bem; havendo saldo em favordo demandante ( o que pode ocorrer quando o demandante também for credorde alguma quantia em dinheiro, operando-se a compensação dos créditos comsaldo em seu favor), este poderá executá-lo nos mesmos autos (art. 628)”.

3. A EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA INCERTA

O procedimento para a entrega de coisa incerta respeita,assim como aquele tratado no item anterior (entrega de coisacerta), variação procedimental quando for aparelhado portítulo judicial ou extrajudicial. Quando a execução forembasada neste último, ter-se-á processo autônomo, seguindo orito previsto nos arts. 629 a 631 do CPC; quando for embasadono primeiro, será executiva lato sensu, em sistema sincréticode cognição e execução (separado por fases e não“processos”), nos termos dos artigos 461 e 461-A do CPC.Remete-se, pois, o leitor, às considerações sobre esse temaque foram expendidas no item 02 supra.40 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, Lições de Direito Processual Civil, Lúmen Júris, 2006.

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3.1. Coisa Incerta x Coisa Fungível

A questão que inicialmente se coloca quando se comenta oprocedimento em tela é definir-se o que se pode entender porcoisa incerta. Nesse particular, alguma divergência doutrináriase constata, mormente no que tange a se saber se coisaincerta e coisa fungível seriam a mesma coisa.A disputa noticiada decorre do próprio texto legal, quedefine como coisa incerta “aquelas determinadas pelo gênero equantidade”, conceito que é adequado, por vezes, tanto paracoisas efetivamente incertas, quanto para coisas fungíveis, oque conduziu parcela da doutrina a não fazer diferença entreambos.No entanto, como bem ressalta LUIZ RODRIGUES WAMBIER41, “coisafungível e coisa incerta não coincidem necessariamente. Há exemplo elucidativo,comumente formulado: a obrigação de ‘entregar um quadro de Picasso’ recaisobre coisa incerta (há de se definir um dentre tantos quadros do pintor), masnem por isso se trata de bem fungível, na medida em que cada quadro do artista éúnico e insubstituível. Mas também não é certo afirmar que jamais será necessáriaa individualização de bens fungíveis. Recorra-se a outro exemplo mais uma vezapresentado pela doutrina: a obrigação de entregar mil sacas de soja tem porobjeto bens fungíveis, e, no entanto, poderá ser necessário o procedimento deescolha, a fim de definir qual o tipo desse cereal deve ser entregue. Em suma,caberá a execução para a entrega de coisa incerta toda vez que o título confira aocredor ou ao devedor a incumbência de individualizar o bem, a partir de seugênero e quantidade, pouco importando sua relativa fungibilidade intrínseca”.ALEXANDRE CÂMARA, por sua vez, acolhendo lição do eméritoprofessor BARBOSA MOREIRA, entende de maneira diferente,aduzindo que, sempre que for fungível a coisa, deverá sesubmeter à execução para a entrega de coisa certa, porquanto“a coisa fungível, por definição, pode ser substituída por outra do mesmo gênero,qualidade quantidade. Deste modo, sendo alguém obrigado a entregar dez sacasde feijão preto, pouco importa – já que a qualidade deve ser sempre a mesma – sesão entregues essas ou aquelas sacas. Assim, parece mais adequado considerarque o CPC, ao tratar da execução para entrega de coisa incerta, está se referindoàs hipóteses em que alguém obrigado a entregar coisa indeterminada (mas

41 Luiz Rodrigues Wambier et alli, Curso Avançado de Direito Processual Civil 2, RT, 2006.

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determinável), devendo o objeto a ser entregue ser escolhido entre coisas dequalidade diversa”.42

A nosso ver, a despeito das sempre felizes lições de CÂMARA eBARBOSA MOREIRA, assiste razão à parcela da doutrina que,simplificando o raciocínio, afirma ser cabível, em regra, aexecução para entrega de coisa certa sempre que fungíveis osbens, salvo se se mostrar necessário, no caso concreto, aprévia individualização da coisa, ocasião em que se deveinicialmente obedecer o procedimento da execução para entregade coisa incerta.

3.2. O Procedimento

O primeiro passo do procedimento é determinar-se a quemincumbe a escolha da coisa: se ao credor, deverá este indicá-la na petição inicial (seja na inicial da demanda cognitiva,que terá por base o artigo 461-A do CPC, seja na inicial daação de execução do título extrajudicial que determine aobrigação de entregar coisa incerta). Cabendo a escolha aodevedor, este será citado para, ou fazer a escolha nacontestação da demanda cognitiva, ou, no caso de execução detítulo extrajudicial, terá o devedor o prazo de dez dias paraentregar a coisa ou depositá-la para que possa oferecerembargos. Natural concluir, nesse particular, que o devedor,ao entregar a coisa ou depositá-la para oferecer embargos, jáa terá escolhido. Quedando-se inerte, porém, o devedor, emqualquer caso a escolha passa a ser do credor.Feita a escolha – incidente que se denomina concentração daobrigação -, a parte contrária – ou seja, aquela que submete àescolha – poderá oferecer impugnação no prazo de 48 horas.Caso seja o devedor quem formule tal impugnação, até que sejaa mesma decidida, restará suspenso o prazo para ooferecimento dos embargos.Resolvido o incidente de acerca da concentração da obrigação,deverá ser observado o procedimento aplicável à execução paraa entrega de coisa certa.

4. EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER42 ALEXANDRE CÂMARA, Lições de Direito Processual Civil, Lúmen Júris, 2006.

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Na execução das obrigações de fazer e não fazer, uma vez maisse mostra pertinente destacar que o procedimento serádiferenciado, conforme a natureza do título que aparelha aexecução.Quando fundada em título executivo judicial, far-se-áconforme o artigo 461 do CPC, que trata da tutela específica,dispositivo que, por tantas vezes ter recebido comentários aolongo do presente resumo, dispensa maiores aprofundamentosnessa passagem.Passa-se, pois, diretamente à análise dos artigos que tratamda execução das obrigações de fazer e não fazer quandofundada em título extrajudicial, cujas técnicas podem tambémreceber aplicação subsidiária dos dispositivos destinados àefetivação dessas obrigações quando fundadas em sentença.

4.1. Execução das obrigações de fazer quando fundada emtítulo extrajudicial

Essa execução, quando aparelhada por título extrajudicial,iniciar-se-á pela apresentação, em juízo, de uma petiçãoinicial, na qual o credor requererá, nos termos do artigo 632do CPC, a citação do executado para que satisfaça a obrigaçãono prazo que o juiz lhe assinalar, se outro prazo não estiverdeterminado no título executivo extrajudicial. O juiz, então,estando em termos a petição, determinará a citação do devedorpara que, em prazo específico, cumpra a obrigação ou ofereçaembargos, sob pena de incidir em multa diária pelo atraso,nos termos do artigo 645 do CPC, que assevera: na execução deobrigação de fazer ou não fazer, fundada em título extrajudicial, o juiz, aodespachar a inicial, fixará multa por dia de atraso no cumprimento da obrigaçãoe a data a partir da qual será devida.Uma vez recebida a inicial, fixado prazo para o cumprimento eeventualmente arbitrada a multa pelo atraso no cumprimento daobrigação, o devedor será citado, ocasião em que, conformelição do Professor LUIZ RODRIGUES WAMBIER43, três alternativasno procedimento serão abertas:

43 Luiz Rodrigues Wambier, Curso Avançado de Processo Civil vol. II, RT, 2006.

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1) o executado atende ao mandado, cumprindo a obrigação defazer. Nesse caso, o processo de execução terá atingido suafinalidade – a satisfação do credor -, razão pela qual deveráreceber sentença que o extinga, declarando cumprida aobrigação.2) o devedor propõe embargos à execução, no prazo de 15 diascontados da juntada, aos autos da execução, do mandandocitatório cumprido. Ressalte-se que esse prazo, ou seja, 15dias, para embargar, deve ser observado como prazo geral deembargos às execuções fundadas em títulos extrajudiciais. 3) o devedor nem embarga a execução e nem cumpre a obrigação,momento a partir do qual, além da passar a incidir a multadiária, a execução prosseguirá rumo à “tentativa” de promovera satisfação da obrigação.Diz-se “tentativa” por ser imprescindível, nesse momento, aperquirição quanto à fungibilidade ou não da prestaçãodevida. Sendo absolutamente infungível, deverá ser convertido oprocedimento em perdas e danos, com uma liquidação incidentee seguindo-se, daí em diante, a sistemática da execução porquantia certa.Pode ser, entretanto, que conquanto infungível, seja possívela obtenção do resultado prático equivalente44, ocasião em queo credor poderá optar ou por esse resultado práticoequivalente – o que se obtém através da prestação daobrigação de fazer por ato de terceiro – ou pela conversão daobrigação em perdas e danos, seguindo, por óbvio, deliquidação incidente e execução por quantia certa.Outrossim, tratando-se de obrigação de fazer fungível, poderáa mesma ser prestada por terceiro ou, ainda, convertida emperdas e danos, conforme claramente assevera a norma doartigo 633: se, no prazo fixado, o devedor não satisfizer a obrigação, é lícitoao credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja executada àcusta do devedor, ou haver perdas e danos; caso em que ela se converte emindenização.

44 Alexandre Câmara cita exemplo esclarecedor: “É o que se dá, por exemplo, no caso daindústria obrigada a colocar filtros em suas chaminés para impedir a emissão da gases poluentes. Embora setrate de obrigação infungível, é possível alcançar-se resultado prático equivalente (através, por exemplo, deprovimento judicial que determine o fechamento da empresa)”.

42Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva

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4.2. Execução das obrigações de não fazer quando fundada emtítulo extrajudicial

Regra geral, à execução das obrigações de não fazer aplica-seo procedimento que regula as obrigações de fazer. Isto pois,conforme bem observa ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, citando liçãode MENDONÇA LIMA, “não existe, em verdade, uma execução por títuloextrajudicial de obrigação de não fazer. Tal afirmativa decorre do fato de que nãoexiste mora nesse tipo de execução. A obrigação de não fazer é uma obrigaçãonegativa, e estará sendo cumprida enquanto o obrigado não realizar a atividade aque está obrigado a não fazer.”45

Com efeito, a execução das obrigações de não fazer apenas temlugar quando o executado pratique o ato que lhe era vedado,vindo o exequente a juízo pleitear o desfazimento do mesmo,conforme demonstra a cristalina redação do art. 642: se odevedor praticou o ato, a cuja abstenção estava obrigado pela lei ou pelocontrato, o credor requererá ao juiz que lhe assine prazo para desfazê-lo. Ora, oato de desfazer é positivo, consistente em um fazer,motivo peloqual, como se afirmou antes, aplica-se o procedimento para aexecução dessas obrigações.

5. A EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

No regime anterior à lei 11.232/05, tanto a execução porquantia certa fundada em título judicial, quanto aquelaaparelhada por título extrajudicial seguiam exatamente omesmo procedimento. Isso, ressalte-se, não acontecia quantoàs execuções de tutela específica, que desde antes da lei11.232/05 já possuíam sistema próprio de efetivação nospróprios autos – processos sincréticos – quando fundadas emsentença.Entretanto, o legislador, provavelmente motivado pelo êxitoalcançado pelo sistema trazido pelos arts. 461 e 461-A doCPC, resolveu unificar as execuções fundadas em títulojudicial. A partir da lei 11.232/05, seja qual for aobrigação exeqüenda, se fundada em título judicial, seráprocessada segundo o instituto do cumprimento de sentença, tal45 Alexandre Freitas Câmara, obra citada, p. 259.

43Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva

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como destacado no novel artigo 475-I do CPC: o cumprimento dasentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se deobrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos demais artigos destecapítulo.Em suma, com a unificação promovida pela lei 11.232/05,também a execução por quantia certa dar-se-á por processosincrético, dividido apenas por fases destinadas à efetivaçãodo direito reconhecido na sentença.Com efeito, agora as execuções por quantia também comportam amesma variação procedimental, a depender do título que asaparelha: se título judicial, cumprimento de sentença; setítulo extrajudicial, execução autônoma, nos moldestradicionais, mas profundamente reformulado pela lei11.382/06.Para obedecer a essa sistemática, o presente trabalho, aexemplo do que até aqui ocorreu, analisará a execução porquantia de acordo com as variantes decorrentes do títuloexecutivo.

6. Do Cumprimento da Sentença (ou Execução por Quantia Certados Títulos Judiciais)

Como bem destaca o Professor NELSON NERY JR.46, a grandereforma trazida pela lei 11232/05 foi desburocratizar oprocesso de execução. Essa simplificação, segundo o autor,“faz com a que as ações de conhecimento, liquidação e execução, sejamprocessadas em seqüência, sem solução de continuidade – a execução não seprocessa ex intervallo, mas sim sine intervallo”. Com efeito, não há que se ter medo de firmar que a execução –em processo autônomo, ressalte-se - por quantia certa contra devedorsolvente fundada em título judicial não mais existe no direitobrasileiro, tendo sido substituída pelo instituto ora emestudo, qual seja, o do cumprimento de sentença.O artigo 475-I, que inaugura essa parte da reforma, écristalino ao dispor:

46 Obra citada, p. 640

44Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva

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Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts.461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantiacerta, por execução, nos termos dos demais artigos deste capítulo.

§1 . É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e◦provisória quando se tratar de sentença impugnada medianterecurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo.§2 . Quando na sentença houver uma parte líquida e outra◦ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execuçãodaquela e, em autos apartados, a liquidação desta.

O procedimento do cumprimento de sentença se inicia na forma doartigo 475-J, cujo caput assevera:

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantiacerta ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de 15(quinze) dias, o montante da condenação será acrescido de multano percentual de 10% (dez por cento) e, a requerimento do credor eobservado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se ámandado de penhora e avaliação.

O artigo transcrito, por sua novidade, conduz a algunsquestionamentos. O primeiro deles: a partir de que momento,ou seja, qual é o termo a quo que deve ser levado em contapara a fluência do prazo de 15 dias descrito no artigo?O tema, de contornos a princípio singelos, tem sido objeto dedivergência doutrinária e jurisprudencial.Formaram-se, até o momento, três posições diferentes sobre aquestão47: a) a primeira, entende que o prazo correautomaticamente, ou seja, do dia seguinte ou ao trânsito emjulgado da sentença, ou do recebimento do recurso de apelaçãosem efeito suspensivo48; b) a segunda posição, que entendecorrer o prazo a partir da intimação do advogado do devedor,para que cumpra o comando sentencial no prazo de 15 (quinze)dias49; c) e finalmente a terceira, que entende correr o prazoda intimação pessoal do devedor.

47 Alexandre Freitas Câmara, A Nova Execução de Sentença, Ed. LumenJuris, pág. 114.48 Tese defendida por ATHOS GUSMÃO CARNEIRO.49 Tese esposada por CÁSSIO SACARPINELLA BUENO e NELSON NERY.

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Salvo melhor juízo, a segunda posição parece mais consentâneacom o espírito da reforma, sendo mesmo a que tem imperado, emgeral, na prática forense50, conforme se nota do seguintejulgado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás51,publicado em agosto de 2007:

3ª Câmara CívelDJ 15056 de 06/08/07

Acórdão de 10/07/07Processo n◦ 200701385388Rel. Des. JOÃO WALDECK FELIZ DE SOUZA

Agravo de Instrumento n◦ 55298-5/180

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTIMAÇÃO DO DEVEDOR VIA DIARIO DAJUSTICA, PARA DAR CUMPRIMENTO A SENTENÇA. OBEDIENCIA AOPRINCIPIO DO CONTRADITORIO. NAO OBSTANTE O PRINCIPIO DACELERIDADE PROCESSUAL CONSAGRADO NA CONSTITUICAO FEDERAL,ART. 5, LXXVIII E, DO ATUAL DIRECIONAMENTO DO PROCESSO DEEXECUCAO, NAO SE PODE DESCARTAR QUE O CODIGO DE PROCESSOCIVIL VIGENTE PAUTA-SE PELA OBSERVANCIA DOS PRINCIPIOS DOCONTRADITORIO E DA AMPLA DEFESA, IGUALMENTE PREVISTOS NACONSTITUICAO (ART. 5, LV) E, NESTA VERTENTE, LOGICO CONCLUIRPELA NECESSIDADE DA INTIMAÇÃO DO EXECUTADO PARA CUMPRIR ASENTENÇA (ART. 475-J, CPC). IMPRIMIR CONDUTA DIVERSA EDESCARTAR O MANDAMENTO LEGAL, O QUE IMPLICA EM ERROR INPROCEDENDO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO."

Todavia, o STJ, em também recente recurso especial,referendou o posicionamento de que o prazo de 15 (quinze)dias flui automaticamente, a partir do trânsito em julgado eindependentemente de intimação do devedor. Confira-se:

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 954.859 - RS (2007/0119225-2)

RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS

50 Em nossa atuação profissional, temos visto preponderar esse entendimento.51 Cumpre mencionar que neste julgado, foi considerada obrigatória a intimação viadiário de justiça, na pessoa do advogado do devedor, que é justamente oposicionamento defendido no texto.

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RECORRENTE : COMPANHIA ESTADUAL DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA

ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO MENEZES DE OLIVEIRA

CAMILA THOMAZI S MORAES E OUTRO(S)

RECORRIDO : JOSÉ FRANCISCO NUNES MOREIRA E OUTROS

ADVOGADO : CONRADO ERNANI BENTO NETO

E M E N T A

LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMOINICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. 1. A intimação dasentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediantepublicação, pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazorecursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor. 2. Transitada emjulgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida,pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la. 3. Cabe aovencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena dever sua dívida automaticamente acrescida de 10%. ACÓRDÃO Vistos, relatadose discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam osMinistros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecerdo recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito e CastroFilho votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra.Ministra Nancy Andrighi..

Brasília (DF), 16 de agosto de 2007(Data do Julgamento).

Vale ressaltar, entretanto, que a despeito de relevante,trata-se de julgado ainda isolado, que não representa, pelomenos ainda, a posição definitiva daquela egrégia Corte.Repise-se, pois, que pelo menos em tese, o prazo de 15(quinze) dias para a satisfação da obrigação conta-se apartir da intimação do advogado do devedor. Outrossim, comotem apontado a doutrina, a intimação é ato de ofício domagistrado, que já poderá determinar a realização de talprovidência na própria sentença que condenar o réu a pagarquantia certa.Outro questionamento relevante que tem ocupado osdoutrinadores é acerca da necessidade / desnecessidade dotrânsito em julgado da sentença para que possa incidir amulta de 10% cominada no caput do dispositivo.NELSON NERY JR. parece entender que o trânsito em julgado énecessário. É o que se percebe de seus comentários ao verbete

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cumprimento voluntário da sentença, em que assevera: “Transitada emjulgado a sentença, o princípio da lealdade processual traz como conseqüência odever de a parte condenada à obrigação de pagar quantia em dinheiro cumprir ojulgado (...)”.(sem grifo no original)CASSIO SCARPINELLA BUENO52, por sua vez, adota posição umpouco diferente, visto que admite a incidência da multa emcasos de execução provisória. Afirma o jovem e notávelprocessualista paulista sobre o assunto: “De qualquer sorte,mantendo-me fiel à proposta inicial deste trabalho, o que destaco, para todos osfins, é que o devedor tem de pagar a quantia identificada na sentença, assimque ela estiver liquidada e não contiver nenhuma condição suspensiva, isto é,assim que ela tiver aptidão para produzir seus regulares efeitos. De forma bemdireta: desde que a sentença tenha transitado em julgado ou desde que elaadmita sua ‘execução provisória’, o devedor tem de pagar”.Sobre essa controvérsia que começa a se formar é de sepontuar o seguinte: primeiramente, interposto recurso deapelação que seja recebido com efeito suspensivo, discussãonão há, pois não incidirá nem a multa de 10% e nem serápossível a execução provisória, visto que inexigível o títuloem face da suspensividade do recurso apelatório. Por outrolado, há a situação de recurso de apelação desprovido deefeito suspensivo. Como ficaria a multa nesse caso?A questão é, de fato, complexa, mas parece que a únicasolução compatível com o atual sistema da lei 11232/05 é deque a multa, nesse caso, deve incidir. No futuro, acaso sejareformado o julgado para desfazer-se, por exemplo, acondenação – que é o principal -, a multa, acessório, tambémrestará prejudicada.Outra dúvida que tem assaltado os intérpretes da nova lei é aseguinte: no caso do cumprimento de sentença, como não hápropriamente um novo processo mas apenas uma fase executiva,seriam devidos honorários advocatícios? Em outras palavras,na fase executiva devem ser arbitrados novos honorários deadvogado?A doutrina tem se inclinado pela posição que pugna pelaincidência desses honorários. CASSIO SCARPINELLA53, nesse

52 Cassio Scarpinella Bueno, A Nova Etapa da Reforma do Código de Processo Civil, Saraiva, 2006, pág. 73.53 Obra citada, pag. 75.

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particular, é peremptório: “Minha resposta a essas questões é no sentidode que são devidos honorários advocatícios para a fase ou etapa de execução (...)”.NELSON NERY54, a seu turno, esposa o mesmo entendimento: “Aodeferir a petição inicial, o juiz determinará a expedição de mandado de penhora eavaliação fixando, desde logo, os honorários de advogado (art. 20 §4 ), que são◦devidos ex vi legis, cumulativamente com a multa de que trata o caput doCPC 475-J”.Interessante notar que a despeito da doutrina, percebe-se naprática do foro a tendência dos magistrados é de nãoarbitrarem os honorários advocatícios na fase de cumprimentode sentença55. O argumento mais utilizado, data venia, ésimplista: não há honorários, pois não haveria um novoprocesso. Esse posicionamento da magistratura goiana deprimeiro grau, encontra eco também junto ao TJGO, que temreferendado entendimento tal, conforme se pode constatar daleitura dos acórdãos a seguir transcritos, proferidos pela 2ªe 3ª Câmara Cível, respectivamente:

2ª Câmara CívelFonte: DJ 51 de 17 de março de 2008Acórdão de 26/02/2008Processo 200704312888Des. Alan S. de Sena ConceiçãoRecurso Agravo de Instrumento 59347-0/180

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARTIGO 940 DO CODIGO CIVIL. MA-FE DO CREDOR. NAOCOMPROVACAO. HONORÁRIOS ADVOCATICIOS. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.DESCABIMENTO. 1 - NAO SE AFIGURA VIAVEL A COMINACAO DA SANCAO DO ARTIGO940 DO CODIGO CIVIL, QUANDO NAO RESTAR DEMONSTRADA A MA-FE DO CREDOR AODEMANDAR QUANTIA ACIMA DA DEVIDA, NEM MESMO QUANDO O PROCEDIMENTO ELEITOPARA A COBRANCA FOR INADEQUADO. 2 - E INCABIVEL A FIXACAO DE HONORÁRIOSADVOCATICIOS NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ADVINDA COM A LEI N.11.232/05, PORQUANTO SE TRATA DE MERA FASE DO PROCEDIMENTO CONDENATORIO.AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO."

3ª Câmara CívelFonte: DJ 21 de 31 de janeiro de 2008

54 Obra citada, pág. 641.55 É essa a tendência que temos percebido em nossa atuação profissional,na condição de advogado que milita, predominantemente, perante o PoderJudiciário do Estado de Goiás.

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Acórdão de 31/01/2008Processo 20060477849Des. Rogério Arédio FerreiraRecurso Agravo de Instrumento 53682-2/180

EMBARGOS DE DECLARACAO NOS EMBARGOS DE DECLARACAO NO AGRAVO DEINSTRUMENTO. ACAO DE INDENIZACAO. INEXISTENCIA DOS VICIOS ELENCADOS NOART. 535 DO CPC. ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATICIOS NA FASEEXECUTORIA. INDEVIDO. INTELIGENCIA DO ART. VERBA HONORARIA JAESTABELECIDA NA SENTENÇA PROFERIDA NOS AUTOS DA ACAO DE CONHECIMENTO. 1 -NAO OBSTANTE OS EMBARGOS DECLARATORIOS TEREM SIDO OPOSTOS COM AFINALIDADE DE VER MODIFICADO O JULGADO, MISTER SEJAM OBSERVADOS OSLIMITES TRACADOS PELO ART. 535 DO CPC. LOGO, NAO OCORRENDO NENHUMA DASHIPOTESES PREVISTAS NO REFERIDO DISPOSITIVO LEGAL, IMPOEM-SE A REJEICAODO RECURSO DE EMBARGOS DE DECLARACAO, NOTADAMENTE, POR INEXISTIRQUAISQUER OBSCURIDADE A SER SANEADA. 2 - A FASE DE CUMPRIMENTO DESENTENÇA E APENAS UM DESDOBRAMENTO DA ACAO COGNITIVA, VALE DIZER, UM MEROINCIDENTE PROCESSUAL DERIVADO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO. ASSIM, OSHONORÁRIOS ADVOCATICIOS FIXADOS NA SENTENÇA DE MERITO SAO SUFICIENTESPARA REMUNERAR O ADVOGADO. EMBARGOS DE DECLARACAO CONHECIDOS, POREMREJEITADOS.

Entretanto, o Colendo Superior Tribunal de Justiça, noexercício de seu mister maior que é dar a corretainterpretação à legislação federal, preferiu seguir o caminhoque a doutrina mais autorizada trilhava, qual seja, nanecessidade do arbitramento de honorários também na fase decumprimento de sentença. A 3ª Turma do STJ, no julgamento doREsp 978.545-MG56, relatado pela eminente Ministra NancyAndrighi, adotou posicionamento que tende a ser opredominante, doravante. Confira-se o texto do REsp, extraídodo Informativo STJ n◦ 348, de 10 a 14 de março de 2008:

EXECUÇÃO. FIXAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

A controvérsia pretende determinar se, na nova sistemáticade execução estabelecida a partir da edição da Lei n.11.232/2005, há incidência de honorários advocatícios naimpugnação ao cumprimento da sentença. Para a Min.Relatora, as alterações perpetradas pela mencionada leitiveram o escopo de unificar os processos de conhecimentoe execução, tornando este último um mero desdobramento oucontinuação daquele. Note-se ainda, que o art. 475-I doCPC é expresso em afirmar que o cumprimento da sentença,

56 Informativo STJ n◦ 348, de 10 a 14 de março de 2008.50

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nos casos de obrigação pecuniária, faz-se por execução.Ora, se haverá arbitramento de honorários na execução(art. 20, § 4º, do CPC) e se o cumprimento da sentença sefaz por execução, outra conclusão não é possível, senão ade que haverá a fixação de verba honorária na fase decumprimento da sentença. No mais, o fato de a execuçãoagora ser um mero “incidente” do processo não impede acondenação em honorários, como, aliás, ocorre em sede deexceção de pré-executividade, na qual esta Corte admite aincidência da verba. Outro argumento favorável aoarbitramento de honorários na fase de cumprimento dasentença decorre do fato de que a verba honorária fixadana fase de cognição leva em consideração apenas o trabalhorealizado pelo advogado até então. Nem poderia serdiferente, já que, naquele instante, sequer se sabe se osucumbente irá cumprir espontaneamente a sentença ou seirá opor resistência. Por derradeiro, é aqui que reside omaior motivo para que se fixem honorários também na fasede cumprimento de sentença, há de se considerar o próprioespírito condutor das alterações pretendidas com a Lei n.11.232/2005, em especial a multa de 10% prevista no art.475-J do CPC. Considerando que, para o devedor, éindiferente saber a quem paga, a multa do mencionadoartigo perderia totalmente sua eficácia coercitiva e anova sistemática impressa pela Lei n. 11.232/2005 nãosurtiria os efeitos pretendidos, já que não haverianenhuma motivação complementar para o cumprimentovoluntário da sentença. Ao contrário, as novas regrasviriam em benefício do devedor que, se antes ficavasujeito a uma condenação em honorários que poderiaalcançar os 20%, com a exclusão dessa verba, estaria agoratão-somente sujeito a uma multa percentual fixa de 10%.Tudo isso somado – embora cada fundamento pareça per sebastante – leva à conclusão de que deve o juiz fixar, nafase de cumprimento da sentença, verba honorária nostermos do art. 20, 4º, do CPC. REsp 978.545-MG, Rel. Min.Nancy Andrighi, julgado em 11/3/2008.

Prosseguindo na análise do texto legal e pago que seja, aindaque de forma parcial, o débito constante do título, a multade 10% incidirá sobre o valor residual, nos termos do § 4◦ dodispositivo em comento: efetuado o pagamento parcial no prazo previstono caput deste artigo, a multa de 10% incidirá sobre o restante.

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Volvendo à análise do caput do art. 475-J, nota-se que, após afluência do prazo inicial de 15 dias e a incidência da multa,a fase executiva propriamente dita só se iniciará medianterequerimento do credor. Quer parecer que a lei, ao se referir arequerimento, quis, de fato, simplificar o procedimento, oque leva a concluir que se trata de requerimento formuladovia petição simples, à moda das petições interlocutórias57 58.Oferecido o requerimento, o juiz determinará a expedição demandado de avaliação e penhora59, cujo procedimento seguirá,no não conflitar, com as disposições constantes doprocedimento de execução por quantia fundado em títuloextrajudicial. Nesse requerimento, poderá desde logo o credorfazer a indicação de bens do devedor a serem penhorados, istocom o objetivo de agilizar essa fase do procedimento,conforme autoriza expressamente o § 3◦ do art. 475-J emcomento: o exeqüente poderá, em seu requerimento, indicar desde logo os bensa serem penhorados.Realizada que seja a penhora, será dela o devedor intimado,podendo, então, oferecer sua defesa, denominada pela lei deimpugnação, a seguir analisada.Finalmente, reza o §4◦ do artigo 475-J que, “não sendo requeridaa execução no prazo de 6 (seis) meses, o juiz mandará arquivar os autos, semprejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte”. Como ensina NELSONNERY, na obra tantas vezes citada, “transitada em julgado a sentençae intimado o devedor a cumpri-la, os autos deverão aguardar em cartório aprovocação do credor (requerimento de execução), para que se inicie a execução.Passados seis meses sem que tenha sido requerida a execução, o juiz determinaráo arquivamento dos autos”.

6.1. Especificamente sobre a Impugnação ao Cumprimento deSentença57 NELSON NERY tem entendimento divergente, aduzindo que “o credor que quiser executar asentença deverá dirigir ao juiz petição inicial nesse sentido”. Com a devida venia, discordamos desseposicionamento, por entendermos ser o mesmo contrário aos objetivos anelados pelanova lei.58 A despeito de ser verdadeira interlocutória, o TJGO tem exigido o recolhimentode custas iniciais, o que data venia é divorciado do espírito da reforma e tangenciaa ilegalidade.59 Sobre detalhes acerca da avaliação, penhora e outros atos expropriativos,remete-se o leitor o para o item dedicado ao estudo desses temas, qual seja, aanálise do procedimento de execução por quantia fundada em título extrajudicial.

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Promovendo mudança relevante no tocante à defesa doexecutado, o legislador reformista substituiu os EMBARGOS DODEVEDOR pela IMPUGNAÇÃO.Trata-se de modalidade incidental de defesa, que prescinde dorecolhimento de custas, tendo natureza jurídica de meroincidente processual e, por isso mesmo, manifestada via petitiosimplex.Trata-se de modalidade de defesa manejável mediante préviagarantia do juízo60, conforme deixa claro o § 1◦ do art. 475-J: “do auto de penhora e avalliação será de imediato intimado o executado, napessoa de seu advogado (...) podendo oferecer impugnação, querendo, noprazo de 15 dias”. Não terá, em regra, efeito suspensivo, podendo, contudo, ojuiz conceder esse efeito quando visualizar a relevância dafundamentação jurídica lançada pelo devedor e o perigo degrave dano a esse, caso a execução prossiga (art. 475-M).Será documentado nos próprios autos se for recebido comefeito suspensivo e em autos apartados em caso contrário.As matérias de defesa argüíveis em sede de impugnação sãobasicamente as mesmas que se podia veicular nos antigosembargos à execução de título judicial.Outrossim, foram alterados os recursos manejáveis nesseincidente: caberá, em regra, agravo – de instrumento,ressalte-se, dada a falta de veículo condutor (futuraapelação) para eventual agravo retido -, salvo quando oacolhimento da impugnação importar em extinção da execução,quando então adequado será o recurso de apelação, pois queestar-se-á diante de verdadeira sentença.

6.2. A Nova Competência para o Cumprimento de Sentença

Outra interessante inovação trazida pela lei 11.232/05 toca àcompetência para promover o cumprimento da sentençacondenatória. Eis o que agora dispõe o parágrafo único doart. 475-P: “no caso do inciso II do caput desse artigo, o exeqüente poderáoptar pelo juízo do local onde se encontram os bens sujeitos à expropriação ou

60 Vale aqui ressaltar que para a impugnação ao cumprimento de sentença a garantia dojuízo continua sendo conditio sine qua non de procedibilidade.

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pelo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos doprocesso será solicitada ao juízo de origem”.A nova regra rompe com a tradicional sistemática decompetência funcional – absoluta, portanto – do juízoprolator da sentença cível condenatória. Aliás, a expressão“poderá optar” constante do texto legal deixa claro que, agora,a competência é relativa e fundada em critérios territoriais(local onde se encontram os bens ou o atual domicílio doexecutado).

6.3. A Nova Execução Provisória “Completa”

A feliz expressão nova execução provisória completa deve-se aoProfessor CASSIO SACARPINELLA BUENO, que em seu excelentelivro de comentários à reforma, tantas vezes já citado aolongo do presente texto, ressalta a principal alteraçãotrazida pela nova lei na execução provisória: se antes essaexecução se notabilizava por não importar em atos dealienação de domínio ou levantamento de dinheiro, agora taisatos expropriativos passam a ser possíveis, desde que oexeqüente preste caução idônea e suficiente.Outra inovação é que, em casos de execução de créditos denatureza alimentar até 60 salários, bem como quando contra otítulo exeqüendo pender agravo (art. 544 do CPC) para“destrancar” recurso especial ou extraordinário, esses atossatisfativos – levantamento de dinheiro e alienação dedomínio – passam a ser possíveis.No mais, a execução provisória se faz da mesma forma que adefinitiva.

7. Execução por Quantia Certa Contra Devedor Solvente Fundadaem Título Extrajudicial

7.1. Noções Gerais

Buscando o cumprimento forçado da obrigação de pagardinheiro, nosso sistema processual estabelece a execução porquantia certa. Antes da lei 11.232/05, esse procedimento eraaplicado à generalidade das execuções. Atualmente, contudo,

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aplica-se apenas às execuções por quantia aparelhadas portítulo extrajudicial.Segundo o disposto no artigo 646 do Código de Processo Civil,o objetivo da execução por quantia certa é “expropriar bens dodevedor, a fim de satisfazer o direito do credor”. Esse mecanismoexpropriativo, por sua vez, pode ocorrer das seguintes formas(art. 647): alienação de bens do devedor, adjudicação dosbens m favor do credor e no usufruto do bem imóvel ou daempresa.Vale lembrar que este gênero de execução – por quantia certa- ainda se divide em duas espécies, de acordo com a situaçãoeconômica do executado: execução contra devedor solvente ouinsolvente. Essa última conta com a particularidade de abrirum concurso de credores e, por essa especificidade, seráestudada em item específico.Por sua vez, dentro da espécie execução por quantia certa contradevedor solvente, o legislador definiu 4 tipos de procedimento:

1. Procedimento padrão, aplicável à generalidade dashipóteses;

2. Execução contra a Fazenda Pública, em função do sujeitopassivo;;

3. Execução de prestação alimentícia, por força daespecialidade do crédito e da específica técnica decoerção pessoal (prisão civil);

4. Execução fiscal, em função do sujeito ativo e daqualidade do crédito exequendo.

Ocupar-se-á, por ora, o presente estudo, do procedimentopadrão da execução por quantia certa.

7.2. Procedimento Padrão da Execução por Quantia Certa contraDevedor Solvente

Divide-se em fase postulatória, instrutória e satisfativa. A fasepostulatória é formada pelo ajuizamento da petição inicial ecitação do executado; a fase instrutória, por sua vez, pelapenhora e demais atos preparatórios do pagamento; e a fasesatisfativa, consubstanciada no pagamento ao demandante.

7.3. A Petição Inicial e o Despacho que a Recebe

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Também a execução está submetida ao princípio da demanda, queé iniciada com a protocolização de seu instrumento: a petiçãoinicial. Necessário, por certo, observar os requisitos doart. 282 do CPC, exceto aqueles que se mostrem incompatíveis,tal como o requerimento de produção de provas, pela próprianatureza do processo de execução.A teor do artigo 614 do CPC, cumpre ao credor, ao requerer aexecução, pedir a citação do devedor e instruir a petiçãoinicial com (i) o título executivo, salvo quando ela sefundar em sentença, (ii) com o demonstrativo do débitoatualizado até a data da propositura da ação e (iii) com aprova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo (art.572).Em termos a petição inicial, deverá o juiz recebê-la eordenar a citação do executado, fixando-se, desde logo, nostermos do novo artigo 652-A, inserido pela lei 11.382/06, oshonorários advocatícios a serem pagos pelo devedor.

7.4. Citação do Executado

Estando em termos a inicial, o juiz mandará citar odemandado, a fim de angularizar a relação processual. Deacordo com o novo artigo 652 do CPC, “o executado será citado para,no prazo de 03 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida”.Observa-se, da leitura do dispositivo, que a lei 11.382/06alterou profundamente o procedimento da citação do devedor,que agora não mais tem a possibilidade de nomear bens àpenhora. Outrossim, chama a atenção nesse artigo a novidadedo parágrafo único, que veicula mecanismo sancionatóriopremial61, in verbis: “no caso de integral pagamento no prazo de três (3) dias,a verba honorária será reduzida pela metade”.É também a partir da citação do executado que se deflagra oprazo de 15 (quinze) para o oferecimento de Embargos àExecução (que agora prescindem de garantia do juízo) ou para

61 O que não é novidade no direito processual civil brasileiro, sendo de naturezasimilar a isenção, no procedimento monitório, das custas e honorários para odevedor que cumpre o mandado monitório no prazo de 15 dias.

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o requerimento de parcelamento da dívida, nos termos do art.745-A do CPC.Na execução por quantia certa admitem-se a citação poroficial (art. 221, II) e a por edital (art. 222, III). Acitação não poderá ser via postal, por expressa vedação doart. 222, “d”, do CPC. O cabimento de citação por oficial dejustiça, realizado por hora certa, já ensejou discussão emdoutrina e jurisprudência, chegando ERNANE FIDELIS a afirmarque no processo de execução não se faz citação por horacerta, já que há disciplina própria, qual seja, não sendoencontrado o devedor, arrestam-se bens e cita-se por edital.Nada obstante a respeitável posição doutrinária, a Súmula 196do STJ parece colocar uma pá de cal no assunto, pois queexpressamente admite a citação com hora certa. Eis o teor dasúmula: SÚMULA STJ 196 – Ao executado que, citado por hora certa ou poredital, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade paraapresentação de embargos.Realizada a citação no prazo e formas legais, os efeitosinterruptivos da prescrição retroagem, nos termos do art.219, § 1◦, do CPC, à data da propositura de demanda.

7.5. O Mandado de Citação, Penhora e Avaliação e a Contagemdo Prazo

Cumprido o mandado de citação, penhora e avaliação, a suajuntada aos autos do feito executivo terá o condão deprovocar o início da contagem de importantes prazos: (i) teráo executado o prazo de 03 para pagar o valor devido, ocasiãoem que ficará, como antes mencionado, liberado de pagar 50%dos honorários de advogado; (ii) terá o executado, também apartir da juntada do mandado aos autos, o prazo de 15 diaspara oferecer Embargos à Execução; (iii) finalmente, poderáno mesmo prazo de 15 dias requerer o parcelamento da dívida,nos termos do art. 745-A do CPC.

7.6. A Pré-Penhora ou Arresto de Bens

De posse do mandado executivo, é cogitável que o Oficial deJustiça, procurando o executado, não o encontre, mas encontre

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bens penhoráveis. Em casos tais, deve incidir a normaconstante do art. 653 do CPC, “o oficial de justiça, não encontrando odevedor, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução”.Esse arresto do art. 653, ressalte-se, não se confunde com oarresto cautelar do artigo 813 e seguintes do CPC. Isso,pois, como bem pondera ARAKEN DE ASSIS, esse arresto no LivroII é ato de natureza executiva, daí porque o famosoprocessualista o denomina de pré-penhora.São requisitos do arresto do art. 653 do CPC: a) constataçãoda ausência do executado; b) existência visível de benspenhoráveis.Realizada a apreensão e o depósito dos bens, o parágrafoúnico do art. 653 determina que “nos 10 (dez) dias seguintes àefetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o devedor três vezes em diasdistintos; não o encontrando, certificará o ocorrido”.O artigo 654, por sua vez, complementa o procedimentoasseverando: “compete ao credor, dentro de 10 dias, contados da data em quefoi intimado do arresto a que se refere o parágrafo único do artigo anterior,requerer a citação por edital do devedor. Findo o prazo do edital, terá o devedor oprazo a que se refere o art. 652, convertendo-se o arresto em penhora em caso denão pagamento”.

7.7. A Nomeação de Bens

Após a lei 11.382/06, perdeu o executado a prerrogativa denomear bens à penhora. Agora, quem pode desde logo indicarbens que quer ver penhorados é o exeqüente em sua petiçãoinicial, devendo indicar bens na ordem do artigo 655 do CPC.

7.8. Penhora

Não havendo o pagamento, pelo executado, no prazo de 03 dias,deve o oficial de justiça penhorar tantos bens quantos bastempara a satisfação do crédito em execução. Trata-se, apenhora, do mais importante ato do processo de execução porquantia certa, porquanto é a partir dele que se inicia aefetiva invasão do patrimônio do executado com vistas àsatisfação do direito do exeqüente.

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Considerando, assim, a relevância do tema, cumpre estudá-lode forma mais aprofundada, a iniciar por seu conceito.

7.8.1. Conceito de Penhora

“A penhora é ato executivo que afeta determinado bem à execução, permitindosua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietárioineficazes em face do processo”. (ARAKEN DE ASSIS62)Trata-se, conforme bem explicitado no conceito, de atotipicamente executivo, em que se separam bens do executadopara que sobre eles possam incidir as técnicasexpropriativas. Segundo CARNELUTTI, a função da penhora é“determinar o bem sobre o qual se realizará a expropriação e fixar sua sujeição àação executiva”.. É, sem dúvida, o mais importante ato doprocesso de execução por quantia certa,uma vez que, comoantes já pontuado, o êxito de toda execução depende dapenhora de bens. Esse raciocínio é, aliás, intuitivo, em facedo princípio da responsabilidade patrimonial: incidindo aexecução sobre os bens do devedor (e não sobre a pessoa),inexistindo bens, a atividade executiva não encontrará seudesfecho único, qual seja, a satisfação do direito do credor.

7.8.2. Efeitos da Penhora

A doutrina em geral aponta os seguintes efeitos da penhora:(i) ineficácia relativa dos atos de disposição; (ii)reorganização da posse; (iii) individualização dos bens nopatrimônio do executado; (iv) conservação dos benspenhorados; (v) direito de preferência (é o que assevera oartigo 612 do CPC): “ressalvado o caso de insolvência do devedor, em quetem lugar o concurso universal (art. 751, III), realiza-se a execução no interesse docredor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os benspenhorados”.; (vi) desencadeamento da técnica expropriativa.

7.8.3 Local da Penhora

Em regra, a penhora deve ocorrer no lugar em que se encontraa coisa. Estando a mesma em outra comarca, deve ser feita a62 ARAKEN DE ASSIS, Execução Civil, RT, 9a edição.

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penhora por carta precatória. A lei 10.444/02 trouxeinovadora sistemática quanto à forma da penhora de bensimóveis, alterando o art. 659, § 5◦ do CPC, para permitir asua realização por termo nos autos mediante a apresentação dacertidão de matrícula, independente da localização do bem. Emcasos de penhora de bens imóveis é medida importante promovera averbação da penhora no registro da matrícula do imóvel, afim de dar conhecimento a terceiros do gravame incidentesobre o bem, conforme esclarece o § 4◦ do mesmo art. 659, inverbis: “A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo depenhora, cabendo ao exequente, sem prejuízo da imediata intimação doexecutado (art. 652, §4 ), providenciar, para presunção absoluta de conhecimento◦por terceiros, a respectiva averbação no ofício imobiliário, mediante aapresentação da certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandadojudicial”.

7.8.4 Tempo da Penhora

Quanto ao tempo da penhora, incidirá a regra geral para aprática dos atos processuais, nos termos do art. 172 do CPC:dias úteis, das 6 da manhã às 8 da noite. Frise-se que essaregra pode sofrer elastério mediante prévia e expressaautorização do juiz, nos termos do §2◦ do mesmo art. 172, queautoriza a realização de citação e penhora em dia não útil efora do horário previsto no caput.

7.8.4. Documentação da Penhora

Realizada a penhora, que em regra pode incidir sobrequaisquer bens (o regime das impenhorabilidades será estudadoa seguir), será a mesma documentada da seguinte forma: a)Penhora por termo nos autos, incumbindo ao escrivão lavrar;b) Auto de penhora, confeccionado pelo oficial de justiça.

7.8.5. Localização de Bens Penhoráveis

Questão importante na execução por quantia certa é alocalização de bens do devedor passíveis de penhora. Como sesabe, inobstante o sistema que busca prevenir as fraudes de

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execução, já estudado, é comum que os devedores ocultem seusbens, para que não incida sobre eles a penhora. Em outrosordenamentos jurídicos (Espanha, p. ex.) há um dever de oexecutado se manifestar, sob juramento, acerca da localizaçãodos bens aptos à satisfação do crédito. No Brasil, contudo,inexiste essa obrigação, restando ao credor lançar-se emcustosa atividade investigativa para tentar localizar benspenhoráveis.Em regra, a incumbência de procurar bens passíveis de penhoraincumbe ao Oficial de Justiça, no que pode e deve serauxiliado pela parte exeqüente, notadamente quando estaindica bens do devedor passíveis de constrição logo nainicial ou no requerimento de instauração da fase decumprimento de sentença. De todo modo, prudente o alerta deARAKEN DE ASSIS: “ninguém deve iniciar uma execução sem assegurar-se daexistência de patrimônio penhorável”.

7.8.6. Adequação da Penhora

A penhora não se realiza “quando evidente que o produto da execuçãodos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas daexecução”. Art. 659, § 2◦, do CPC.

7.8.7. Especificamente a Penhora de Bens Imóveis

Ainda sobre a penhora, no que toca especificamente à penhorade bens imóveis, considerável divergência jurisprudencial edoutrinária formou-se a respeito da necessidade ou não doregistro da penhora perante o álbum imobiliário. Seria válidaa penhora mesmo quando não registrada? Ou, ao contrário, asua validade e perfeição só ocorreria após o seu devidoregistro?Claudicou bastante a doutrina e a jurisprudência acerca dessatema, que finalmente veio a ter desate certeiro com a lei11.382/06 que alterou a redação do parágrafo quarto ao art.659 do CPC: “a penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termode penhora, cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata intimação doexecutado (art. 652, §4 ),providenciar, para conhecimento de terceiros, a◦

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respectiva averbação no registro imobiliário, mediante a apresentação de certidãode inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial”.Tal disposição coloca, ao que tudo indica, uma pá de calsobre a discussão reinante: a penhora é válida e perfeitaassim que realizada no processo, seja mediante auto ou termode penhora; todavia, para que essa penhora vincule tambémterceiros, é indispensável o seu devido registro. Como bemanotou HUMBERTO THEODORO JR63, “havendo negligência a respeito doregistro, a eventual alienação do bem penhorado ficará na incerteza daocorrência ou não de boa-fé do adquirente. A fraude de execução só acontecerá seo adquirente a título oneroso tiver, efetivamente, conhecimento do gravamejudicial. Sem o registro não se pode presumir a sua má-fé, pois, ao contrário, oque de ordinário se presume é a boa-fé”.Noutro giro e a despeito da respeitável opinião doutrinária,a 3ª Turma do STJ, em julgado já citado no presente trabalho(ver item dedicado ao estudo do sistema de fraudes naexecução), no julgamento do REsp 618625-SC, relatado pelaeminente Ministra NANCY ANDRIGHI, trilhou sendointerpretativa diferente e à qual expressamente se adere.Para facilitar a leitura e manter a fidelidade à fonte, segueo resumo do julgado, trazido no Informativo STJ n◦ 345, de 18a 22 de fevereiro de 2008:

FRAUDE. EXECUÇÃO. CIÊNCIA. AÇÕES.

A questão consiste em saber se a pendência de ação deconhecimento da qual possa decorrer a insolvência do devedor éabrangida pela hipótese prevista no art. 593, II, do CPC. A Min.Relatora ressaltou que a incidência do disposto no mencionadoartigo não é automática, isto é, decorrente apenas da alienaçãona pendência de demanda capaz de reduzir o alienante àinsolvência. E, segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal,ficou esclarecido que, para existir fraude à execução, é precisoque a alienação do bem tenha ocorrido após registrada a citaçãoválida do devedor ou, então, que o credor prove o conhecimentodo adquirente sobre a existência da demanda pendente contra o

63HUMBERTO THEODORO JR., Curso de Direito Processual Civil, vol. II, 41ª ed., Forense, 2007.

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alienante ao tempo da aquisição (precedente: AgRg no REsp625.232-RJ, DJ 2/8/2004). Por outro lado, doutrina ejurisprudência têm exigido, nos casos em que inexiste o registroda citação ou da penhora, que ao credor cabe o ônus de provarque o terceiro tinha ciência da demanda em curso ou daconstrição. Assim, para a caracterização da fraude de execução, épreciso que a alienação tenha ocorrido depois da citação válida,devendo este ato estar devidamente inscrito no registro, ou quefique provado que o adquirente sabia da existência da ação(precedente: REsp 218.290-SP, DJ 26/6/2000). Todavia, meditandomelhor sobre a questão e, principalmente, considerando que esseentendimento acaba por privilegiar a fraude à execução portorná-la mais difícil de ser provada, a Min. Relatora diverge doentendimento acima transcrito quanto à questão relativa ao ônusda prova sobre a ciência pelo terceiro adquirente da demandaem curso ou da contrição. Isso porque o inciso II do art. 593 doCPC estabelece uma presunção relativa da fraude que beneficia oautor ou exeqüente. Portanto, em se tratando de presunção, é daparte contrária o ônus da prova da inocorrência dospressupostos da fraude de execução (CPC, art. 334, IV), porque, apessoa a quem a presunção desfavorece suporta o ônus dedemonstrar o contrário, independentemente de sua posiçãoprocessual, nada importando o fato de ser autor ou réu. Caberáao terceiro adquirente, através dos embargos de terceiro (art.1.046 e ss. do CPC), provar que, com a alienação ou oneração,não ficou o devedor reduzido à insolvência, ou  demonstrarqualquer outra causa passível de ilidir a presunção de fraudedisposta no art. 593, II, do CPC, inclusive a impossibilidade de terconhecimento da existência da demanda. De fato, impossíveldesconhecer-se a publicidade do processo gerada pelo seuregistro e pela distribuição da petição inicial (CPC, arts. 251 e263), no caso de venda de imóvel de pessoa demandadajudicialmente, ainda que não registrada a penhora ou mesmo acitação. A partir da vigência da Lei n. 7.433/1985, para alavratura da escritura pública relativa a imóvel, o tabeliãoobrigatoriamente consigna no ato notarial, a apresentação dodocumento comprobatório dos feitos ajuizados. Não é crível quea pessoa que adquire imóvel (ou o recebe em dação empagamento) desconheça a existência da ação distribuída (ou da

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penhora) em nome do proprietário do imóvel negociado. Diantedisso, cabe ao comprador provar que desconhece a existência daação em nome do vendedor, não apenas porque o art. 1º damencionada lei exige a apresentação das certidões dos feitosajuizados em nome do vendedor para lavratura da escriturapública de alienação de imóveis, mas, sobretudo, porque só sepode considerar, objetivamente, de boa-fé o comprador que tomamínimas cautelas para a segurança jurídica da sua aquisição(precedente: REsp 87.547-SP, DJ 22/3/1999). As pessoasprecavidas são aquelas que subordinam os negócios de compra evenda de imóveis à apresentação das certidões negativasforenses. Portanto, tem o terceiro adquirente o ônus de provar,nos embargos de terceiro, que, mesmo constando da escritura detransferência de propriedade do imóvel a indicação daapresentação dos documentos comprobatórios dos feitosajuizados em nome do proprietário do imóvel, não lhe foi possíveltomar conhecimento desse fato. Na hipótese, observa-se que oacórdão recorrido é omisso em relação à existência da prova deque o adquirente, ora recorrente, não tinha conhecimento daação de indenização ajuizada em face do proprietário do imóvel,ao tempo em que recebeu em dação em pagamento o imóvel emquestão. E concluiu a Min. Relatora que, partindo-se da análisefática exposta no acórdão recorrido, a alegação de violação doart. 593, II, do CPC esbarra no teor da Súmula n. 7 deste SuperiorTribunal. REsp 618.625-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgadoem 19/2/2008.

7.9. O Regime das Impenhorabilidades

De acordo com ALEXANDRE CÂMARA64, “todos os bens que se encontram noâmbito de incidência da responsabilidade patrimonial podem ser penhorados”,exceto aqueles que a lei expressamente exclui. Aimpenhorabilidade de um bem pode ser absoluta, quando a leiimpõe a completa impossibilidade de penhora do bem, ourelativa quando, satisfeitos certos requisitos, o bem poderáser penhorado.

64 ALEXANDRE CÂMARA, Lições de Direito Processual Civil, ed. Lúmen Juris

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7.9.1. Impenhorabilidade Absoluta: art. 649 do CPC

A impenhorabilidade absoluta (art. 649) trata do chamadobenefício de competência, definido por ARAKEN DE ASSIS65 como “aimpenhorabilidade absoluta do estritamente necessário à sobrevivência doexecutado, e de sua família, e à sua dignidade”. Encontra-se disciplinadano artigo 649 do CPC, inteiramente renovado com as alteraçõestrazidas pela lei 11.382/06. Com efeito, são os seguintes oscasos de bens absolutamente impenhoráveis:

Art. 649, I – os bens inalienáveis e os declarados, por atovoluntário, não sujeitos à execução;

Os bens inalienáveis encontram-se fora do comércio, daí nãopoderem ser objeto de penhora. Tal inalienabilidade podedecorrer diretamente da lei, como ocorre com os bens públicos(art. 100 do Código Civil de 2002). Por outro lado, épossível que o bem seja, por ato voluntário, gravado comcláusula de impenhorabilidade, como acontece nas hipóteses doart. 1711 a 1722 do Código Civil.

Art. 649, II – os móveis, pertences e utilidades domésticasque guarnecem a residência do executado, salvo os de elevadovalor ou que ultrapassem as necessidades comunscorrespondentes a um médio padrão de vida;

O objetivo dessa hipótese de impenhorabilidade é “evitar penhorasobre bens que geralmente não encontrem preços significativos na expropriaçãojudicial e cuja privação pode acarretar grande sacrifício de ordem pessoal efamiliar para o executado”66. Ficam, todavia, fora do rol deimpenhorabilidade os bens de elevado valor (como obras dearte, tapetes orientais, peças de antiquário, automóveis etc)e os bens que ultrapassem as necessidades comunscorrespondentes a um médio padrão de via.

65 obra citada66 HUMBERTO THEODORO JR., in Curso de Direito Processual Civil, Vol. II, 41ª ed.,Forense.

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Art. 649, III – os vestuários, bem como os pertences de usopessoal do executado, salvo de elevado valor;

Os comentários realizados ao inciso anterior para esse tambémsão válidos. Assim, o relógio do executado é, a priori,impenhorável, não o sendo, entretanto, se se tratar de umcaro rolex ou similares.

Art. 649, IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários,remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios,montepios; quantias recebidas por liberalidade de terceiros edestinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos detrabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,observado o disposto no § 3◦ deste artigo;

Nesse inciso, o legislador agrupou todas as verbas queentendeu terem natureza alimentar e, por isso mesmo, serviremao sustento do devedor e de sua família, tendo merecidoespecial relevo os honorários advocatícios, acerca dos quaisclaudicava a jurisprudência em considerá-los ou nãoimpenhoráveis.Digna de nota é a ressalva feita ao final do inciso, abrindoensejo a que, caso o crédito em execução consista emprestação de alimentos, torna-se cabível a penhora sobre ossalários, remunerações etc.

Art. 649, V – os livros, as máquinas, as ferramentas, osutensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessáriosou úteis ao exercício de qualquer trabalho ou profissão;

O objetivo desse rol de impenhorabilidade é a preservação deinstrumentos e bens móveis essenciais ao exercício daprofissão. Os tribunais pátrios, em jurisprudênciatradicional e longeva, entenderam, por muito tempo, que obenefício descrito na norma em questão seria aplicável apenasàs pessoas físicas e não às pessoas jurídicas.Posteriormente, a jurisprudência evoluiu para estender obenefício também às pessoas jurídicas, desde que organizadas

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como pequenas empresas, na esteira de julgados reiterados doSTJ.Divergência havia quanto à eventual impenhorabilidade doimóvel em que se instalava o escritório, por exemplo, doadvogado, ou o consultório do dentista. Prevalecia, antes darecente reforma, o entendimento de que o imóvel seriampenhorável, estando, pois, fora da incidência protetiva doart. 649, V, do CPC. Com a lei 11.382/06 e a nova redaçãodada a esse dispositivo, tal interpretação para ter sidodefinitivamente reforçada, pois que a lei agora fala em outrosbens MÓVEIS úteis ao exercício de qualquer trabalho ou profissão.

Art. 649, VI – o seguro de vida;

A natureza e a função do seguro de vida é criar, para obeneficiário, um fundo que lhe garanta a subsistência. Tem,pois, natureza alimentar essa verba, razão pela qual erigidaà categoria de verba impenhorável.

Art. 649, VII – os materiais necessários para obras emandamento, salvo se essas forem penhoradas;

Segundo autorizadas lições doutrinárias, os materiais sãoparte integrante da obra. Assim, só se tornam penhoráveis namedida em que o seja a obra como um todo.

Art. 649, VIII – a pequena propriedade rural, assim definidaem lei, desde que trabalhada pela família;

A norma inserida no inciso VIII do art. 649, com redaçãoprofundamente modificada pela lei 11.382/06, segue a esteirado que já dispunha o Texto Constitucional, que no art. 5◦,XXVI, já erigia a impenhorabilidade da pequena propriedaderural, desde que trabalhada pela família. O conceito do queseja pequena propriedade fica a critério da legislaçãoagrária, que traça sua definição.

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Art. 649, IX – os recursos públicos recebidos porinstituições privadas para aplicação compulsória em educação,saúde ou assistência social;

Trata-se de hipótese de impenhorabilidade que foi inseridapela lei 11.382/06. E de fato, é natural que tais verbassejam impenhoráveis porque, nada obstante sejam recebidas porinstituições privadas, não perdem seu caráter público, jáimpenhorável por essência. Vale lembrar que apenas e tãosomente tais verbas são atingidas pela impenhorabilidade Osdemais bens da pessoa jurídica devedora são plenamenteexcutíveis.

Art. 649, X – até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos,a quanta depositada em caderneta de poupança;

Essa hipótese, que também é novidade trazida pela lei11.382/06, erigiu os depósitos em caderneta de poupança quenão sobejem o valor de 40 salários mínimo, à categoria de bemimpenhorável. Trata-se, ao que parece, de considerar que acaderneta de poupança funcionaria como espécie de garantiaalimentar do executado e sua família, razão pela qual mereceuessa especial proteção. Os valores que sobejarem os 40salários, são, obviamente, penhoráveis. Outrossim, o que alei torna impenhorável é o quantum de 40 salários, não sendoatingida pela proteção várias cadernetas de poupança que oexecutado porventura tenha, ainda que os valores depositadosem cada uma delas seja inferior ao limite previsto na lei.

§ 1◦ e 2◦ do art. 649 do CPC: As Ressalvas àImpenhorabilidade Absoluta

No §1◦ do art. 649 do CPC, o legislador construiu norma quepreserva a justiça e o equilíbrio das relações jurídicas,ressalvando que “a impenhorabilidade não é oponível à cobrança do créditoconcedido para a aquisição do próprio bem”. Com efeito, não se podeopor tal impenhorabilidade nos casos dos incisos I, II, III,V, VII e VIII do mesmo art. 649.

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O §2◦ do art. 649 do seu CPC, a seu turno, já foi comentado,e trata dos casos em que há dívida de alimentos, caso em quea impenhorabilidade prevista no inciso IV não pode seralegada pelo devedor.

7.9.1.1. Ainda a Impenhorabilidade Absoluta: O Bem de Família

A lei 8.009, de 29 de março de 1990, erigiu uma outrahipótese de impenhorabilidade absoluta, qual seja, aquela deresguarda o denominado bem de família. A teor do artigo 1◦ dalei mencionada, o imóvel residencial próprio do casal, ou daentidade familiar, é impenhorável e não responderá porqualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjugesou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e neleresidam. Trata-se de impenhorabilidade que compreende oimóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações,as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos,inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem acasa, desde que quitados.Trata-se, a impenhorabilidade do bem de família, de matériade ordem pública, cognoscível de ofício pelo magistrado e,conforme jurisprudência do STJ, irrenunciável: Não tem validadea renúncia ao benefício da impenhorabilidade do bem de família em cláusulacontratual, pela qual o “abre mão do benefício legal, que, por se tratar de normade ordem pública, é sempre preponderante” ( STJ 4ª Turma, REsp507.686-SP)Sobre a extensão do conceito de bem de família, interessantejulgado do STJ reconheceu a impenhorabilidade de bem defamília não habitado e sim locado a terceiros. Confira-se:

RECURSO ESPECIAL Nº 243.285 - RS (1999/0118508-4)RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO

EMENTAO ÚNICO BEM DE FAMÍLIA NÃO PERDE OS BENEFÍCIOS DAIMPENHORABILIDADE - LEI Nº 8.009/90 - SE OS DEVEDORES NELENÃO RESIDIREM E O LOCAREM A TERCEIROS, DESDE QUE A RENDA

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AUFERIDA SEJA DESTINADA A MORADIA E SUBSISTÊNCIA DONÚCLEO FAMILIAR.1. Conforme precedente da Segunda Seção, "em interpretaçãoteleológica e valorativa, faz jus aos benefícios da Lei 8.009/90 odevedor que, mesmo não residindo no único imóvel que lhepertence, utiliza o valor obtido com a locação desse bem comocomplemento da renda familiar, considerando que o objetivo danorma é o de garantir a moradia familiar ou a subsistência dafamília.".2. Viola a Lei o acórdão que deixa de reconhecer os benefícios daimpenhorabilidade do bem de família, em face de os devedoresnão residirem no imóvel. Dissídio configurado.Recurso conhecido e provido

Por força do artigo 2◦ da lei, restam excluídos do regime deimpenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte eadornos suntuosos.Por outro lado, a lei encarregou-se de especificar os casosem que a impenhorabilidade não é oponível, a saber: (I)créditos dos trabalhadores da própria residência; (II)crédito decorrente do financiamento para construção ouaquisição do próprio bem; (III) pelo credor de pensãoalimentícia; (IV) para a cobrança de imposto, predial outerritorial, taxas e contribuições devidas em função doimóvel familiar (quanto à expressão contribuições, ajurisprudência tem firme entendimento ser passível de penhorao imóvel residencial da família, quando a execução se referira contribuições condominiais sobre ele incidentes); (V) paraexecução de hipoteca sobre o imóvel, oferecido como garantiareal pelo casal ou pela entidade familiar; (VI) por ter sidoadquirido com produto de crime ou para execução de sentençapenal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimentode bens; (VII) por obrigação decorrente de fiança concedidaem contrato de locação.Por fim, merece destaque a importante norma contida noparágrafo único do art. 5◦: na hipótese de o casal, ou entidade familiar,ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidaderecairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim,

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no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil (o art. 70 doCC revogado equivale ao artigo 1711 e seguintes do NCCB).

A Impenhorabilidade Relativa: art. 650 do CPC

Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos erendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestaçãoalimentícia.

7.10. Algumas Penhoras Especiais67

Como bem ensina o Professor HUMBERTO THEODORO JUNIOR68, “apenhora de coisas corpóreas (móveis ou imóveis) se faz mediante apreensão física,com deslocamento da posse para o depositário, que é o agente auxiliar do juízo,encarregado da guarda e conservação dos bens penhorados. (...) Há, porém,outros cuidados e algumas particularidades a observar quando a penhora recaisobre bens incorpóreos ou mesmo algumas coisas corpóreas de naturezaespecial”. Ao estudo dessas penhoras, ora designadas como especiais,dedica-se esse tópico.

7.10.1. Penhora de dinheiro em depósito ou aplicaçãofinanceira – penhora on-line

A chamada penhora on-line já era uma prática do forobrasileiro, a despeito da ausência de regulamentação legal.Atualmente, todavia, essa medida, antes de pura construçãopretoriana, passou a expressamente constar do CPC, uma vezque a Lei 11.382/06 inseriu o novo artigo 655-A, que contacom a seguinte redação:

Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ouaplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente,requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário,preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a

67 Pelos limites do presente texto, optou-se por elencar apenas as mais interessantes.68 HUMBERTO THEODORO JR., in Curso de Direito Processual Civil, Vol. II, 41ª ed.,Forense.

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existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmoato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado naexecução.

Ao contrário da construção jurisprudencial até então formada,que entendia tratar-se de penhora excepcional, só cabívelapós o esgotamento das vias outras de localização de bens doexecutado, o legislador erigiu essa forma de constrição àcategoria de modalidade preferencial, o que equivale a dizerque a penhora por meio eletrônico pode ser requerida logo noinício da execução.Com a nova lei, venceu-se, outrossim, restrição que impediamuitos magistrados de deferirem esse tipo de medida: o receiode a constrição incidir sobre verbas salariais ouimpenhoráveis. Para casos tais, o § 2◦ do art. 655-A impôs aoexecutado o ônus da prova de que as quantias eventualmenteatingidas por bloqueio judicial encontram-se revestidas dequalquer forma de impenhorabilidade, ao dispor, in verbis:“compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em contacorrente referem-se à hipótese do inciso IV do caput do art. 649 desta Lei ou queestão revestidas de outra forma de impenhorabilidade”.Vale destacar que o juiz, no ato de requisitar a informaçãosobre a eventual existência de saldo em contas ou aplicações,já deverá determinar o seu bloqueio. Em palavras outras ojuiz, em um só ato, requisita informações e já determina obloqueio dos valores eventualmente encontrados, até o limitedo crédito em execução. Realizada que seja essa penhora,deverá o escrivão providenciar a lavratura do respectivotermo de penhora, com a intimação do executado.

7.10.2. Penhora de Faturamento da Empresa Executada

O mesmo artigo 655-A trouxe normatização para outramodalidade de penhora que, apesar de aceita por parte dajurisprudência, era objeto de certa controvérsia: a penhorado faturamento de empresa.Não raro, as empresas devedoras não apresentam quaisqueroutros bens passíveis de penhora, casos em que surge apossibilidade de penhora sobre seu faturamento.

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Segundo prestigiosa doutrina69, para que seja possível talmedida constritiva, necessário se faz satisfazer osrequisitos seguintes, cumulativamente: a) inexistência deoutros bens penhoráveis, ou, se existirem, seja eles dedificil execução ou insuficientes para saldar o créditoexeqüendo; b) nomeação de depositário administrador comfunção de estabelecer um esquema de pagamento, nos moldes dosarts. 678 e 719; c) o percentual fixado sobre o faturamentonão pode inviabilizar o exercício da atividade empresarial.

7.10.3. Penhora de bem indivisível e preservação da meação docônjuge do executado

Outra solução importante trazida pela Lei 11.382/06 foiquanto à penhora de bens indivisíveis e sujeitos à meação docônjuge do executado. Como se sabe, os bens integrantes dopatrimônio do casal não respondem pelas dívidas contraídasindividualmente pelo cônjuge, além da meação de lhe tocar.Assim, existia polêmica quando um bem do casal, indivisível,era objeto de penhora. A lei, como dito, trouxe a soluçãopreconizando, no art. 655-B, que “tratando-se de penhora em bemindivisível, a meação do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto daalienação do bem”.

7.10.04. Penhora no rosto dos autos

A penhora, como sabido, incide sobre bens do executado.Natural, pois, que possa incidir sobre direito discutido emdemanda judicial, proposta pelo devedor contra terceiro,cotas de herança em inventário etc. Essa modalidade depenhora é efetivada de forma curiosa: o oficial de justiça,no cumprimento do mandado de penhora, lavra o respectivo autoe intima o escrivão que atua no feito para que este averbe aconstrição na capa dos autos.

8. Da Avaliação

69 Humberto Theodoro Jr, ob cit.

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A avaliação é, em regra, realizada pelo Oficial de Justiça,nos termos do art. 680 do CPC.Trata-se de providência das mais importantes para o processode execução por quantia certa, na medida em que é a partir daavaliação que se irá determinar o valor do bem penhorado parafins dos futuros atos de expropriação.Trata-se, como dito, de providência que, em regra, é cumpridapelo oficial de justiça, nos termos do artigo 680 do CPC.Entretanto, em casos complexos, nos quais se mostrenecessário conhecimentos especializados, o juiz nomeará umperito avaliador, fixando-lhe prazo não superior da 10 (dez)dias para a entrega do laudo (art. 680, parte final).Em regra, todos os bens (fora dinheiro, claro!) penhoradosdevem ser avaliados, salvo, nos termos do art. 682, nos casosem que a penhora recair sobre bens da dívida pública, açõesde sociedades e títulos de crédito negociáveis em bolsa,casos em que o valor para fins de avaliação será a suacotação do dia.O art. 683 do CPC, com a redação que lhe deu a lei 11.382/06,fixa a regra de que a avaliação pode ser refeita, quando: (i)qualquer das partes argüir, fundamentadamente, a ocorrênciade erro na avaliação ou dolo do avaliador; (ii) se verificar,posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuiçãono valor do bem; (iii) houver fundada dúvida sobre o valoratribuído ao bem.Uma vez avaliados os bens, é possível que duas situaçõesvenham a ocorrer: ou os bens se mostram insuficientes parafazer face à integralidade do crédito em execução, ou, aocontrário, sejam em valor muito superior. Em casos tais,surge a possibilidade de modificação da penhora, o que se faz ouatravés do reforço de penhora (caso os bens sejam insuficientes)ou redução de penhora (caso os bens sobejem o valor emexecução).

9. Das Técnicas Expropriativas de Bens – Novidade da lei11.382/06

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O processo de execução brasileiro tinha, por tradição, eleitoa alienação em hasta pública como o mecanismo tradicional deexpropriação do bem penhorado.A lei 11.382/06, entretanto, alterou profundamente essequadro, dispondo no artigo 647:

Art. 647. A expropriação consiste:

I – na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoasindicadas no § 2 do art. 685-A desta lei;◦II – na alienação por iniciativa particular;III – na alienação em hasta pública;IV – no usufruto de bem móvel ou imóvel.

Vê-se, pois, da leitura do dispositivo, que a ordem dosmecanismos de expropriação foi alterada: a regra geral, queera a alienação em hasta pública, hoje é terceira opção; aadjudicação agora é a regra, sendo a nova modalidade dealienação por iniciativa particular a segunda opção.Ao estudo de cada um desses mecanismos expropriatóriosdedica-se o item presente.

9.1. Adjudicação

Como leciona ALEXANDRE FREITAS CÂMARA70, “efetua-se a adjudicaçãoatravés da entrega, ao exeqüente, do bem penhorado. Trata-se de um atoexecutivo, através do qual são expropriados bens do patrimônio do executado, osquais haviam sido objeto de penhora, transferindo-se tais bens diretamente parao patrimônio do exeqüente”.Trata-se de mecanismo expropriatório em que o bem penhoradose transfere in natura para o patrimônio do credor,dispensando-se, com isso, as custosas e demoradas diligênciasdestinadas à preparação da hasta pública. Ganhou-se, pois,celeridade e efetividade.A princípio, qualquer bem pode ser adjudicado. Entretanto, adoutrina aponta os seguintes requisitos para a validade desseato: a) requerimento do credor, na medida em que não se lhe

70 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, in Lições de Direito Processual Civil, Ed. LúmenJures, 14ª ed.

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pode impor esse meio expropriatório; b) oferta do pretendentepor preço não inferior ao da avaliação.Em regra, o pretendente a adjudicar, em sendo o exeqüente,está dispensado de exibir o preço, salvo quando o valor dopenhorado sobejar o valor do crédito, ocasião em que deverádepositar imediatamente a diferença.

9.1.1. Legitimação para Adjudicar

De acordo com o artigo 685-A, têm legitimidade da adjudicar:a) o exeqüente, desde que ofereça preço não inferior ao daavaliação; b) o credor com garantia real; c) outros credores,que tenham conseguido penhorar o mesmo bem, mesmo que aalienação esteja sendo promovida em execução diversa da sua.HUMBERTO THEODORO esclarece que “a eventual disputa entre diversoscandidatos à adjudicação resolver-se-á por licitação, ganhando o que melhorpreço oferecer; a ordem das penhoras não cria preferência na adjudicação, massobre o produto da expropriação, razão pela qual o adjudicatário, se não for oprimeiro na ordem de penhoras, terá de depositar o preço para sobre ele realizar-se o direito de preferência de outros concorrentes”; c) o cônjuge, odescendente ou ascendente do executado, que antes podiamremir os bens (figura que desapareceu na atual lei daexecução), agora podem adjudicar, logicamente exibindo opreço; d) a sociedade ou o sócio, quando houver penhora dequota, em execução promovida por terceiro para a realizaçãode crédito contra sócio.

9.1.2. Formalização da adjudicação

A adjudicação é deferida por decisão interlocutória(impugnável, pois, por agravo de instrumento) e formalizadapor intermédio da lavratura do respectivo auto deadjudicação. Em sendo imóvel o bem adjudicado, será expedidaa competente carta de adjudicação, que é o título utilizávelpara a transferência do bem junto ao cartório de registro deimóveis.

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O procedimento referente a cada um desses meiosexpropriativos encontra-se disciplinado no art. 685-A eseguintes do CPC, inseridos pela lei 11.382/06

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CAPÍTULO III – AS DEFESAS DO EXECUTADO

1. EMBARGOS DO DEVEDOR

Considerando que no processo de execução inexiste julgamentodo mérito, os embargos surgem como forma de verificar aprocedência da pretensão do demandante.Trata-se, os embargos, de defesa contra as execuções fundadasem título extrajudicial e nas execuções contra a FazendaPública (mesmo que o título que embase a execução sejajudicial, pois a sistemática de execução contra a FazendaPública permanece inalterada, não se submetendo esta àsistemática do cumprimento de sentença).Poder-se-ia conceituar os embargos como “o processo autônomo,incidente à execução, de natureza cognitiva, dentro do qual se poderá apreciar apretensão manifestada pelo Exequente, para o fim de verificar se a mesma éprocedente ou improcedente”. (Alexandre Freitas Câmara) Recebe, comumente, as seguintes denominações: Embargos doDevedor / Embargos à Execução / Embargos do Executado.Com as recentes e profundas reformas trazidas pela lei11.382/06, os embargos não mais dependem de prévia garantiado juízo e devem ser manejados no prazo de 15 dias, contadosda juntada aos autos do mandado citatório cumprido – arts.736 e 738 do CPC.Outrossim, essa modalidade de defesa, que tradicionalmentesempre gozou de efeito suspensivo, não mais tem, pelo menosem regra, tal suspensividade. É o que reza o artigo 739-A doCPC: os embargos do executado não terão efeito suspensivo.É certo que, entendendo o juiz presente fumus boni iures epericulum in mora, tal efeito suspensivo pode ser concedido, masaí dependerá invariavelmente de prévia segurança do juízo.

2. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

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Conceito: Meio de defesa sui generis de que se pode valer oexecutado dentro do processo de execução, para argüir víciosque seriam, em regra, cognoscíveis de ofício pelo juízo daexecução. De acordo com ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, através daexceção de pré-executividade poderá o executado alegarqualquer matéria de ordem pública, ligada à admissibilidadeda execução e que poderia ser conhecida de ofício pelo juízo.Assim se posicionam também ASSIS e HELENA TOLEDO COELHOGONÇALVES.Há, contudo, respeitável corrente doutrinária que conferemaior elastério à exceção. EDUARDO ARRUDA ALVIM esposa esseentendimento, citando lição de OLAVO DE OLIVEIRA NETO: “porintermédio da objeção de pré-executividade pode-se chegar rapidamente aextinção de execuções nulas, em benefício da economia processual, evitandodiversas diligências e atos processuais realizados inutilmente, e dispensandotambém, a imposição de restrições a quem, apesar de estar sendo executado, nãoé devedor”.Nesse sentido também o entendimento de SERGIOSHIMURA.Percebe-se, pois, que há na doutrina a tendência de seadmitir a argüição também de matérias não cognoscíveis exofficio, DESDE QUE NÃO DEMANDEM DILAÇÃO PROBATÓRIA. EnsinaEDUARDO ALVIM: “se a matéria argüida demandar dilação probatória, entãonecessariamente se há de concluir que é necessária sua ventilação por meio deembargos do devedor”.Em respeito à CF/88, deve ser observado, nesse incidente, ocontraditório, ouvindo-se o exequente antes de se decidir ocaso. Outrossim, por falta de previsão legal, deve-seconcluir que o oferecimento da exceção de pré-executividadenão suspende o curso da ação de execução.Finalmente, da decisão que a indefere cabe agravo deinstrumento e da que a acolhe, por importar em extinção daexecução, apelação.

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