per213659_1973_00086.pdf - Coleção Digital de Jornais e ...
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MAIO 1973
UMA PUBLICAÇÃO
DA EDITÔRA ABRIL
ANO VIII — N.° 86
p
! I |p Seis
receitas de comprovada 0
eficiencia no ramo
dos afrodisiacos; experimente.
p [ ! [|(
Dos 309 deputados da Camara. 42
tem menos de 40 anos.
0 que pensam e pretendem fazer?
ECONC)M iA Todos estao atras do 26
ouro. E assim que
comeca a derrota do dolar.
COMPORTAMENTO havendo
uma volta ao passado
Na moda, na rrausica,
no cinema. E a nostalgia.
J jCf
MA Melancolia, depressao, fossa. 46
Tudo e a mesma coisa.
0 importante e escapar dela.
AVFMTi ji-r Um fotografo italiano faz as £1^
primeiras fotos do
gorila gigante, na selva do Zaire
CC DEO A Os melhores trechos do livro f-\~7
LOrtvJAL A Gaivota, um dos ^
maiores/jest-seders do momento.
\ /li li LJIID "Se me dessem o papel de uma
MULHtK gra-fina. acho que nao /D
conseguiria fazer." E Regina Leclery .
FSPIONAGEM A
tecnologia da guerra do Vietnam 82
J aplicada aos problemas
dom6sticos dos Estados Unidos.
Ft J TFBOL ^
Selecao de 50 reunida outra 88
vez no Maracana.
0 que aconteceu com ela ?
HUMOR
A Europa para turistas de primeira
viagem; uma visão (com
muito humor) do cartunista Claudius
você ajeita 6om.o puDeí^
^ POLTTPOMS e>R5C»AiMtMC
PlCMt Jv t COKrrf K'vk:-MvrA5
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EDITORA ABRIL
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Civita
Conselho Editorial Edgard de Silvio Faria Hernsm Dona
to. Mino Carta. Odylo Costa filho Pompeu de Sou/a
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quim Floriano 417 r Domingos de Moraes 1851 . r Barlo de Cnmptnas 452 r Oraooqu*' 9 1 no ABC r 15 de Novembro 452 (Santo André) no Rio de Janeiro r Sacadura Cabral 141 pedidos paio correio caixa postal 945 Séo Paulo / Temo* emestoque somente as ultimas seis edições / Todos os direitos reservados ' Impressa edistribuída com exclusividade no país pela Abril S.A Cultural e Industrial Séo Paulo Asopiniôen dos artigos assinados náo séo necessariamente ns adotadas por esta revista
podando até ser contrárias ás mesmas
CARTAS
O PESO DO
IMPOSTO DE RENDA
Sr. Diretor: Palmas pela oportu
nidade da reportagem sobre o iní
quo imposto de renda relativo à
pessoa física. Pena é que nào fbs
sem mais explorados os pontos
mais importantes da questão,
principalmente o que diz respeito
às despesas de cada um para sus
tento próprio e da família.
André da Silva Neto
Santos — SP
Sr. Diretor: Deus o abençoe pelo
artigo do imposto de renda. Mas
posso discordar da entrevista do
sr. ministro? Ele diz que ninguém
compensa os sacrifícios do pre-
sente com os benefícios do futu-
ro. E os santos? e os que pagam
um terço e um quarto de sua
aposentadoria para o imposto de
renda, sem chorar para evitar
maiores complicações? Quando
o eminente, ilustre e mui esclare-
cido ministro ficar velhinho, apo-
sentado, como eu, que tenho
oitenta anos, verá que a classe
média que ele acha difícil de defi-
nir é a que mais sofre. Nós velhos
pertencemos a uma classe despre-
zada, humilhada, incômoda para
todos e até para nós próprios.
Luíza P. C. Branco
Sào Paulo —
SP
Sr. Diretor: Faltou dizer, quanto
ao imposto de renda, que existe
uma injustiça para o con.tri-
buinte, quer pessoa física, quer
jurídica, ou seja, não se poder
abater no ano seguinte como des-
pesa o imposto pago no ano ante-
rior, o que constitui uma bitribu-
tação. E ainda que existam muito
poucos fiscais, e apesar da com-
putaçào eletrônica, é grande o
número de sonegadores,
Adalberto Theodoro Schmidt
Ijuí—RS
Sr. Diretor: Na reportagem Os
Demônios do Imposto de Renda,
fala-se que o desenhista Percy
Deane ganha 5 000 cruzeiros e
paga 450 de imposto de renda. Se
o teto do INPS refere-se a 10
salários mínimos, como pode o
desenhista recolher tanto?
Sérgio Kronka Beluzzo
Bariri —
SP
Os 450 cruzeiros são a soma dos
descontos pagos ao INPS por
marido e mulher, assim como
5 000 cruzeiros è a renda fami
liar.
RENDA
CONCENTRADA
Sr. Diretor: No artigo sobre
distribuição da renda, REALI
DA DE abandonou seus padrões
de análise crítica pela badalaçào
das credenciais acadêmicas do
professor Langoni. Afinal, os
resultados que ele expõe vão
desde o banal ("a renda é mais
mal distribuída nas cidades do
que no campo") até o absurdo
("os investimentos feitos hoje em
saúde, no Brasil, sào um exemplo
típico de desperdício"). Chega a
declarar que
"a educação é o
maior responsável pela concen
tração da renda no Brasil" (além
do crescimento econômico), con-
fundindo causa e efeito (a má
distribuição da renda também
leva à má distribuição da instru-
çào). Diz que conseguiu o 7.°
lugar no vestibular "porque
nào
fez cursinho", frase que revela
preconceitos típicos do seu traba-
lho. O fato é que, dados o vesti
bular e as deficiências no ensino
secundário, poucos alunos conse
guem entrar nas faculdades sem
o cursinho — e os meios finan
ceirosde fazê lo.
Charles L. Wright
Piracicaba — SP
O DÉFICIT
DE NEGRÃO
rando como real a importância
dc 630 milhões, isso eqüivaleria a
23% da receita prevista, e sabe
mos que esta foi superada.
Como, portanto, comprar, em
face desses dados, com o déficit
que recebi da administração an
terior, aquele que meu governo
transmitiu ao meu sucessof?
Francisco Negrão de Lima
Rio de Janeiro — GB
EM DEFESA
DA CERVEJA
Sr. Diretor: No artigo assinado
por Pedro Alexander Pinto, na
reportagem Rio, Ex-Capital h'e
deral, afirma se que a boate Ka
takombe "tenta
ser ao mesmo
tempo alemã e tropical, e para
conseguir isso serve bebidas du
vidosas e mostra mulatas apet«to
sas". Casa noturna com mais de
vinte anos de tradição, nosso
chope é famoso, modéstia à
parte, porque conservamos o
mesmo sistema de "tirada"
usado
nas melhores cervejarias alemãs.
E todas as nossas bebidas estão
permanentemente à disposição de
quem quer que seja para qual-
quer vistoria. Por isso, ficamos
tristes e magoados com a obser
vaçào. Só nào ficamos porque o
autor do artigo é ilustre desço
nhecido, inteiramente deslocado
do contexto carioca.
Luciano — Katakombe
Bar e Restaurante Lida.
Rio de Janeiro —
GB
Sr. Diretor: Na excelente reporta
gem sobre o Rio, publicada em
fevereiro último, lê-se: "Encon-
trando um déficit de 630 milhões
de cruzeiros (equivalente, mais
ou menos, ao de 200 milhões que
Negrão herdara de Lacerda). . ."
Data venia, essa equivalência é
absurda. Meu governo herdou do
seu antecessor a dívida de 229
milhões de cruzeiros, equiva-
lentes a 44% da receita arreca-
dada em 1966, primeiro ano da
minha administração. Meu go
verno, segundo parecer do Tri-
bunal de Contas do Estado,
aprovado por unanimidade,
transmitiu ao meu sucessor uma
dívida de 491 milhões de cruzei-
ros, equivalente, mais ou menos,
a 17% da receita prevista para
1971. Como nesse ano houve
superávit, a relação receita-
dívida foi ainda inferior ao per-
centual de 17%. Mesmo conside-
OCORPO DO
PRESENTE
Sr. Diretor: Se o ser humano
fosse apenas o corpo, poderia
mesmo doá lo, para depois da
morte física. Mas a nossa parte
imortal, o espírito, está ligada ao
corpo físico, e nào se desliga
imediatamente após a mortefísica.
E se houver a doação, a pessoa
sofrerá em* espírito a estirpaçào
do órgão, como se estivesse viva,
c seu espírito não se desligará,
enquanto o órgão viver no corpo
de outra pessoa. Para reconhecer
melhor o assunto, basta ler a
Mensagem do Graal (Na Luz da
Verdade), Abdruschin.
Zilma Bueno Bittencourt
Curitiba — PR
Sr. Diretor: Sou religiosa e sem
qualquer preconceito. Tenho 28
4
Escrava para a Ravista REALIDADE
Caixa Postal 2372
Sáo Paulo — SP
anos, sou casada e tenho boa
saúde, ao que parece. Caso possa
fazer agora, ern vida. a doaçao de
todo o meu corpo para fins de
ciência, estou disposta a fazê Io,
embora nào saiba como. Pode
me responder ou entregar esta
carta ao Hospital das Clínicas?
Quero também felicitar o jorna
lista José Hamilton Ribeiro por
sua luta e pela continuidade de
seu trabalho, que nos propor-
ciona artigos como o da doação
de partes do corpo para o bem do
próximo, cheio de lucidez e bom
senso.
Ana Maria Almeida Xavier
Rio de Janeiro — GB
Encaminhamos sua carta à dire-
ção do Hospital das Clínicas de
Sáo Paulo.
CONTRA
OS IMIGRANTES
Sr. Diretor: Em adendo à carta
do leitor R. Silveira, que sugere a
proibição de que retirantes doen-
tes, pobres e analfabetos pene-
trem em território guanabarino,
quero sugerir que, para salvar
nossa Cidade Maravilhosa, nào
se vote em candidatos cabeças-
chatas ou de outros Estados,
como fazem aqui em Minas e em
outros lugares. Devemos eleger
apenas candidatos da própria
terra, que só pensarão no bem
dos seus conterrâneos, em vez de
protegerem os migrantes.
Carlos A Iberto Benevides
Belo Horizonte — MG
A FACULDADE
INEXISTENTE
Sr. Diretor: Na reportagem sobre
integralismo, falou-se do "mé-
dico e professor Domingos da
Silva Lima, da Faculdade de
Medicina de Ilhéus, Bahia". Essa
faculdade nunca existiu.
A Ifredo Rodrigues
Ilhéus — BA
REALIDADE errou. A Facul-
dade é de Salvador, Bahia.
ENDEREÇOS
DO MAR
Sr. Diretor: Participo de um
empreendimento que visa à cria-
ção de peixes e crustáceos e,
numa de nossas reuniões, discuti-
mos matéria de REALIDADE
sob o título O Cientista Almiran
te, que se refere ao almirante
Paulo Moreira da Silva, e outra
intitulada O Camarão Aprisio
nado, que trata da Acaspec.
Gostaria que vocês nos dessem
os endereços.
João Ricardo Drummond
Niterói — RJ
Os endereços são estes: Almi-
rante Paulo Moreira da Silva:
Fundação dos Estudos do Mar,
rua Marquês de Olinda, 18, Bota-
fogo, Rio de Janeiro,
GB.Acaspec —
Associação de
Crédito e Assistência Pesqueira
de Santa Catarina, rua Francisco
Tolentino, 10, Florianópolis, SC.
A FALTA
DE POESIA
Sr. Diretor: Ao ler o artigo Os
Heróis Depois da Volta, sobre os
astronautas, concluí que o
homem nào passa de uma crian-
ça mimada. Acho que, realmente,
o que falta aos astronautas é um
pouco de espírito poético. Alan
Shepard, por exemplo, revela,
com o que diz, ser um verdadeiro
materialista. E acho que por falta
de poetas é que o mundo passa
por tanta miséria e tanta malda-
de. Os seres humanos se esque-
cem de que existe um Criador, e
que não se chega até ele apenas
com aviões a jato ou foguetes.
Edmundo Buzzo Filho
Sao Paulo — Capital
A DEFESA
DO SUL
Sr. Diretor: O leitor João Eucli-
des da Cunha, de Maranguape,
Ceará, cuja carta foi publicada
no número 84 dessa revista,
desrespeita até o nosso eminente
chefe, o presidente Médici, que
está levando o progresso ao nor
deste e que também é sulista e
descendente de estrangeiros. Os
descendentes de imigrantes traba-
lham e produzem riquezas para o
progresso do nosso querido país.
Aquele leitor se esquece de que o
clima aqui no sul, em certas épo-
cas do ano, produz temperaturas
abaixo de zero, que uma popula-
ção subnutrida nào agüentaria.
Seria um dispare trocar as popu-
lações do sul e do nordeste.
Quanto às cascavéis, é bom lem-
brar que as do sul sào mais fortes
e mais bem nutridas, e por isso
mais perigosas.
Antonieia Petroni
Curitiba — PR
Sr. Diretor: O nordeste, uma das
regiões mais atrasadas do
mundo, merece mais atençào dos
órgãos governamentais. A Sude
ne fracassou em 90% dos seus
objetivos, isto porque deu muita
atençào à industrialização nas
capitais, o que provocou enorme
deslocamentos de pessoas do in
terior. O certo seria começar pelo
interior, como ocorreu em Sào
Paulo com o ciclo do café.Mas
com esse erro nasceram as dezes
seis grandes favelas do Recife. Se
tudo permanecer como está, o
nordeste será sempre a região
mais atrasada do mundo, segun
do os técnicos da FAO, ONU,
UNESCO, etc.
Joel Massa de Carvalho
Nova York — EUA
O JOVEM
QUADRADO
Sr. Diretor: Quanto à reportagem
Nossos Jovens São Quadrados,
quero dizer que sou jovem, tenho
23 anos, acadêmico, desejo ar-
dentemente uma pátria de ho
mens de responsabilidade e estou
certo de que esse cabotinismo
intelectual dos jovens está con-
correndo demais para a igno
rância e, conseqüentemente, para
a subversão. O jovem está se
esquivando dos deveres cívicos,
entregando-se totalmente ao ho-
mossexualismo. Os moços estão
amofinados, recusando-se até ao
serviço militar só para nào cortar
os cabelos e as barbas longas, e
imagine o senhor se estivéssemos
na iminência de uma convocação
bélica!
Carlos José Ibiapina
Natal — RN
A HEDIONDA
RESSACA
Achei espetacular a reportagem
sobre a ressaca, de Luís Lobo
Ele soube retratar com fidelidade
esse hediondo mal que constante
mente nos persegue, e deu ótimos
conselhos. Coloouei-os na prá
tica com excelentes resultados.
Espero que esses esclarecimentos
moderem as bebedeiras e nào
façam criar ébrios inveterados,
pois os problemas dos tóxicos
podem incontestavelmente con
duzir a um final drástico. Infeliz
mente a juventude ainda nào se
defende bem dessa hedionda ver
dade.
A ntônio de Pádua Pereira
Aguanil — MG
ALÔ, ALÔ
WILSON RIO APA
Desde que fo publicada a Edição
de Cidades de REALIDADE, n.°
74, maio de 1972, tenho tentado
entrar em contato com o escritor
Wilson Rio Apa, pessoa que a
rece levar um tipo de vida com
que simpatizo. Como até agora
nào consegui localizá-lo, solicito
que me forneçam o endereço
dele, ou, se for melhor, que publi-
quem essa carta com o meu ende
reço, para que Wilson Rio Apa
se comunique comigo. Teria
muito prazer em trocar idéias
com ele, depois do que li a seu
respeito nas páginas 206 a 208
da Edição de Cidades. Meu ende
reço é Rua Peixoto Gomide 326,
apto. 64, CEP 02409, fone
256 4582, Cerqueira César, Sào
Paulo, SP.
Décio Coltro
São Paulo — SP
OTRABALHO
DE UM ANO
Está ótima a reportagem sobre
"Um ano em busca dos gigan
tes", na qual Orlando e Cláudio
Villas Boas sào retratados como
uma verdadeira ponte entre o
índio e o homem civilizado. Pa-
rabéns por esse belo trabalho,
principalmente por essas belas
fotografias, mostrando as princi-
pais atividades do índio e a ver-
dadeira natureza em que ele vive.
Mariano Cyganczuk
Curitiba — PR
Notável o trabalho do repórter-
Luigi Mamprim sobre os índios
gigantes. E foi comovente ver a
foto em que aparece aquela sim-
pies mas belíssima homenagem a
Sérgio Porto, dando seu nome ao
posto de trabalho da imprensa na
selva.
Jacob S. A Itman
Rio de Janeiro, GB
ROTIRO
Minhas senhoras, senhores: e
preciso que. agora, nós faça'mos
um minuto de silêncio diante da
informação de que a poluição m>
nora está redu/indo sensível
mente (?!) a capacidade sexual
do homem E onde se lê do
homem, leia se da espécie, por
que a mulher nào pode fazer "ou
vidos de mercador" ao excesso
de ruído que. segundo os cicntis
tas. tem levado até à impotência.
Fntào. silenciosamente, passe
mos ao nosso breve discurso em
torno das armas que nào atiram.
Do muito que li. ouvi e experi
mentei nesse campo e nas cida
des, o certo é que há anafrodi
síacos: álcool demais, fumo cm
excesso, muito café. o uso conti
nuado de tranqüilizantes e baru
lho demais, para só citar os cin
cos maiores. em termos
estatísticos.
Ora. direi: se há anafrodi
síacos. tudo leva a crer que haja
afrodisíacos. E vos direi que
assim é. porque de fato há práti
cas, filtros, comidas e bebidas
que estimulam o desejo sexual.
Onde a confusão é grande é na
definição de afrodisíacos. Em
verdade vos digo que os afrodi
síacos são capazes de estimular,
prolongar e até mesmo de desper
tar o apetite. Mas, como bem
notou e, segundo dizem, também
provou o Marquês de Sade, o
apetite nào é tudo: há os que
Em grandes quantidades, o álcool atua como inibidor da potência
sexual. Mas bem dosado ele é conhecido como afrodisiaco, sobre
tudo na forma de alguns coquetéis. Luís Lobo, especialista na maté
ria (isto é, de coquetéis), dá aqui uma pequena lição para princi
piantes, acompanhada de seis receitas de comprovada eficiência.
Aos coquetéis
afrodisíacos
comem sem apetite, assim como
há os que têm um apetite formi
dá\el mas são incapazes de
comer. Em outras palavras: o
interes^nte. no di/.cr do saudável
Nhô Chico, que em Cachoeiro do
Kio do Vento teve filho até de
pois dos oitenta anos. o interes
sante. di/ia. é juntar a fome com
a vontade de comer. Ou de beber.
Que nisso de bebida afrodi
•>íaca estào aparecendo muitos li
vros de receitas, prometendo
mundos e fundos no sentido de
elevar (com o perdão da má pala
vra) o nível da libido das senho
ras e senhores.
No duro, no duro. não há
receitas mágicas e poções mila
grosas. Diz-se que Hércules, de
pois de beber satyricon, foi capaz
de deflorar as cinqüenta filhas de
Tcspius. Mas isto é mitologia,
embora Petrónio, no Satyricon,
escrevesse que provou da bebera
gem, o que começou a induzir
cada uma das sua> fibras a
lascívia. . .
Nào c a toa que ü\ídio, nu
\rie de Amar. condena os que
"ensinam o poder eficaz das
ervas", por crer que
"tais coisas
envenenam o amor". E certo que
o que se usava provocava ho
mens e mulheres daquela época a
grandes façanhas, mas é duvi
doso que daí derivasse grande
prazer e nào muito prejuízo.
O xeque Nefznaoui, autor do
Jardim das Delícias, oferecia ele
também muito de beber "para
o
tratamento do enfraquecimento
do desejo sexual". Como a bebe
ragem feita com o fruto da aroei
ra da praia espremido e mace
rado com óleo e mel. Ou a
semente da cebola pisada, penei
rada. misturada com mel e bebi
da em jejum. Ou as ervilhas ver
des fervidas com cebolas e
polvilhadas com canela, gengibre
e cardamomos bem pisados. Para
— - -
CCV~ i
os muito rápido> o xeque reco
mendava mel bem ralo com no/
moscada e incenso. E para os
muito lentos sugeria leite de ca
melo misturado com mel e toma
do regularmente receita que
poucas vezes chegv>u a ser experi
mentada em nosso meio, devido à
dificuldade de obtenção de leite
de camelo. Mas. de todos os con
selhos, preferia um: "Bebei,
de
preferência, o que a vossa amada
tem. ela mesma, para oferecer. E
melhor afrodisiaco nào há".
O Kama Sutra receita leite
misturado com açúcar, rai/ de
uchata, ovos de codorna e alca
çu/, mesma receita que aqui. sem
a uchata. chama o povo de "guin
daste.v> A mesma fonte sugere
ainda (oferecendo "ótimos
rcsul
tados") beber leite com açúcar
fervido com testículos de bode. E
mais algumas dezenas de mistu
ras geralmente impraticáveis
para nós. pobres ignorantes que
nào sabemos o que é a Sanse
vieria roxburghiana, a / rapa bis
pinosa, a kasurika, o jasmim
toscano ou a kshirakapoli.
Já os orientais, principalmente
os chineses preferem o suco de
gengibre e, mais ainda, a sopa de
ninho de andorinhas do mar.
realmente um grande potcnciali
zador de desejo e ereçào, por
conta das algas e das ovas de pei
xes e crustáceos.
Se continuarmos na biblio
grafia acabaremos passando por
bebidas incríveis que figuram nos
rcceituários afrodisíacos da
Idade Média na Europa, com*.) a
urina de uma virgem de dezesseis
anos e o sêmem de veado adulto,
como está nos escritos de Pauli
nus.
Mareei Rouet, autor de Le
Paradis Sexuel des Aphrodi
siaques (traduzido, no Brasil,
para O Paraíso Sensual dos
Afrodisíacos) e lançador das
bases do que considera uma ciên-
cia, a afrodisiologia, é quem traz
atualmente as melhores informa
ções a respeito. Escrevendo sobre
o erotismo sensorial, M. Rouet
sugere que a única maneira de
chegar ao sexo profundo é voltar
a desenvolver os sentidos: o pala
dar, o olfato, a visão, a audiçào,
o tato. todos esses sentidos que
estamos comprometendo cada
segue
ò
Osr. Luiz Daniele, motorista de táxi,
trabalha com Opala
porque
é o carro
que
dá mais dinheiro na
praça
O ponto
do sr. Luiz é na
Rodoviária de São Paulo,
lá no fim da Av. Duque de Caxias.
Pelas 4 largas portas
do seu Opala
Especial azul, entram e saem
as mais variadas pessoas.
E quase
todas saem sorrindo,
deixando uma boa gorjeta.
"O
conforto do passageiro
é importante. Passageiro espremido,
gorgeta também".
Ninguém melhor do que
o sr. Luiz para
falar disso Ele roda
pela cidade, sempre carregado de
gente e bagagem. E seu Opala leva
5 passageiros
com todo conforto.
Não chacoalha, não trepida,
não deixa o passageiro agitado.
"250
km por
dia,
sim senhor. Mais ou menos".
250 km com 25 I itros.
Mais ou menos. Com toda a
potência do seu motor de 4 cilindros
e 2500 cc, o Opala consegue ser
um carro econômico. É só fazer
as contas.
"Não
dá dor de cabeça.
A gente
só vai em oficina, quando
algum passageiro
vai buscar
o carro dele que quebrou".
Sem comentários.
"Estou
com a vida
e o faturamento que pedi
a Deus.
Há 25 anos, sempre trabalhei com
Chevrolet. Com o Opala,
desde que
ele saiu".
Para o sr. Luiz Daniele.
o Opala é o carro perfeito. Qualquer
dia desses, passe na Rodoviária
para conhecer os dois.
E decida-se pelas
vantagens
de um Opala. O que
o Opala faz
pelo Sr. Luiz, o Opala faz
por você.
Chevroletr
Nfocê terá suas próprias
razões.
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ROTEIRO contin<<acio
POR CORRESPONDÊNCIA
Você quer saber o que é Parapsicologia
- Telepatia - Clarividência -
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Será que existe fundamento na macumba,
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bem legíveis).
2.°) Taxa de Cr$ 20,00 mensais, com direito ao rece-
bimento das lições e correspondência.
3.°) As mensalidades devem ser enviadas por cheque
visado, endereçado ao Instituto de Parapsicolo-
ia "Mens
Sana" - Av. Cons. Rodrigues Alves,
- Vila Mariana - 04014 - São Paulo.
4.°) No final do curso haverá uma prova-teste em sua
, casa. Os aprovados receberão certificado.
gia
804
vez mais com os diversos tipos de
poluição (a do ar, a das águas, a
da terra, a sonora e ate mesmo a
visual) e que estào fazendo com
que nossas armas fiquem enferru
jadas.
E é no capítulo da afrodisia
oral que ele coloca os coquetéis
afrodisíacos, apenas um detalhe
na fachada da catedral do amor.
A folhas tantas, está a adver
tcncia: "Os
coquetéis que exci
tam a mulher nào têm. necessari
mente, o mesmo efeito sobre o
homem. Inversamente, a mulher
• nem sempre se beneficia de uma
bebida afrodisíaca que serve ao
parceiro".
Depois de afirmar que há bebi
das que
"levam o casal ao
mesmo diapasào", M. Rouet
acrescenta, sem justificar sua in
formação: "Os
coquetéis cuja
base é o champanha convém
mais particularmente à mulher,
porque as colocam em excelente
disposição"'. Os contendo gemas
de ovos nos parecem ser bebera
gens nas quais os amantes encon
tram novas forças que permitam
prosseguir em seus embates."
"As bebidas secas põem o
homem em feliz disposição."
De toda forma, aconselha-se
prudência ao beber. Do ponto de
vista técnico, o álcool produz
energia de alto valor calorífico,
sendo o alimento que o orga
nismo assimila mais pronia
mente, por nào exigir processo
digestivo ou qualquer outro es-
forço. Um .coquetel fornece cerca
de sete calorias de energia por
grama. E enquanto é absorvido já
começa a inibir parcialmente a
ação vaso constritora, provo-
cando uma ação dilatadora dos
vasos sangüíneos e um afluxo
maior de sangue nos pequenos
vasos da superfície do corpo.
Daí. . .
Relaxante dos nervos, só não
podemos é passar do ponto
exato, porque então ele passa a
funcionar como inibidor, atuan
do sobre o tecido nervoso. Doses
excessivas de álcool anestesiam o
cérebro, provocam fadiga, falhas
na coordenação motora e inércia
muscular. Daí. . .
Dito o que, passamos a algu-
mas receitas de coquetéis afrodi-
síacos. E no mais, senhoras e
senhores, encerro meu breve dis-
curso lembrando o mote de um
cavalheiro das minhas relações
que morreu com mais de oitenta
anos e em plena forma, apre-
ciando todos os prazeres da vida:
"A arma que não atira é que
enferruja".
Às armas, cidadãos!
A laranja
mecânica
Duas doses de champanha
seco, uma de suco de laranja
espremida na hora c seis gotas de
amargo angustura.
Pick-me-up
Num copo fino e alto, cheio de
gelo moído, derrame o suco fres
co de meia laranja, uma dose de
curaçau. uma dose de Drambuie
e complete com champanha seco.
Mexa. Ponha por cima pequenos
pedaços de laranja e limão. Sirva
com canudinho de palha.
Canadian
Love
Numa taça com gelo picado
pingue duas gotas de angustura.
outras duas de curaçau e uma co
lher (das de café) de xarope de
açúcar. Aí, é só completar com
uísque canadense, juntar casca
fina de limão e servir com canu-
dinho.
Ruiva
sanguinária
Para cada dose de suco de to
mate junte uma pitada de pimen
ta do reino, outra de pimenta
branca, outra de noz-moscada e
outra de sal de aipo. Mexa bem.
O escocês
voador
Uma pitada de noz-moscada e
outra de pimenta preta. Dissolva
em quanta angustura for necessá
ria. Junte uma dose de licor de
uísque (Drambuie, por exemplo).
Beba tragando o licor, como
quem estivesse fumando, em pe-
queninos sorvos, e com cuidado
para nào engasgar.
B B
Junte dois ovos crus a dois
copos de leite e bata até espumar.
Deixe assentar a espuma e junte
uma pitada de sal, duas doses de
sherry (sherry e nào cherry, que-
rida!) e duas colheres (das de
sopa) cheias de mel refinado.
Torne a bater e sirva-se, bebendo
devagar.
88888188888^
Canoe abre o
jogo.
Paris - New Y ork
Colônia, Sabonete, Talco, fixador, Creme de Barbear, Loção após Barba.
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K&ra{£ a—MMmlii1 i Ife'jS^^atiffli^E^^B1 \f^^l£$HSfl^H^H^H^HH^^^H«H^HI^^^^H^^HnHfiHPtm^3wQiIi!fi&l&Sr^]IH
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ROTEIRO
J
O preço
da arte
Marinho de Azevedo tenta descobrir onde é mais barato comprar
quadros e objetos de arte, comparando preços no Brasil e exterior.
Dois objetos nunca são identi
cos c. muito menos, dois objetos
de arte. O mercado, porém, fun
ciona à base de comparações: se
pagaram tanto por um trabalho
de um pintor, em Paris, um desc
nho dele deve valer mais ou
menos tanto, em São Paulo ou no
Rio de Janeiro. Sào comparações
baseadas em critérios sumários
tudo depende da obra. do
local e da época da venda. No
Rio de Janeiro por exemplo, um
súbito temporal pode esvaziar as
salas de um leiloeiro e fazer com
que obras de valor sejam vendi
das abaixo do preço estipulado
anteriormente. Mas se o leiláo for
realizado na casa de alguma
família de nome conhecido, peças
sem interesse (que. muitas vezes,
nem pertenceram ao proprietário
da casa) podem ser arrematadas
a preços absurdamente altos.
Quando nos detemos nas
obras de cotação internacional, a
comparação fica ainda mais inte
ressante. I a lógica ainda mais
difícil de ser definida. Há obras
de arte de valores internacio
nalmente conhecidas que. no
Brasil, sào vendidas a preços
incompatíveis com os do merca
do internacional. Algumas muito
mais caro, outras bem mais bara
to. A verdade é que aqui poucos
sabem o que estão comprando e
vendendo, o que dá margem às
mais diversas confusões de valo
res.
Numa tentativa de compara
çào. escolhemos seis peças vendi
das (ou à venda) no Rio e em Sào
Paulo e similares vendidas no
ano de 1971 72 pela Soíhebv 's
&
Park Bemet em Londres e Nova
York. É preciso levar em conta
que as pinturas e os objetos ven-
didos no exterior foram escolhi
dos entre os de melhor qualidade
e os mais raros. A escolha nem
sempre é possível no Brasil. Mas
a comparação dá uma idéia das
características de nosso mercado.
(Sào Paulo)
Baccarai: CrS 2 000,00
tiaccarai: CrS I 500 00 Saini l ouls: CrS I 800,00
(par de maçanetas).
^
(Londres).
'Baccaral: CrS 16 500.00.
Baccaral: CrS 21 750,00.
Saini Louis: CrS 39 000.00.
Baccaral: CrS 21 750,00. Baccaral: CrS 16 500.00.
Os pesos de papel .vendidos em Londres são excepcionais.
Mas os preços não podem ser comparados.
¦
Fernand Léger:
"Quadro Objeto'
CrS 150 000.00.
São Paulo.
Fernand Léger:"Paisagem
A niniada ",
CrS 435 000,00.
Nova York.
Jtii- Jj.i'r % * HLj±i'~W-
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O "Carlitos"
é bem menos representativo da obra de Léger que a "Paisagem",
mas ainda assim
foi vendida bem abaixo de seu preço no mercado internacional.
10
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Cadeira holandesa, séc. X VIII.
Crí 24 000.00 o par (Rio).
Cadeira holandesa.
Séc. XVIli.CrS 22 500.00
as quatro (Londres).
Dois óleos que só interessam a colecionadores
especializados. O Rio é mais rico que Londres?
Exemplos das disparidades entre
nossas cotações e às do exterior.
Righini: Vista do Rio de Janeiro.
Cerca de 1850 — CrS 100 000.00 (Rio).
Bartholomew Kidd: Jamaica.
Cerca de 1840 — CrS 49 500,00 (Londres).
Duas miniaturas do século XIX de qualidade média.
CrS 500.00 (São Paulo); CrS 5 700.00 (Londres).
l)aum: abal jour — CrS 7 000,00 (Rio); Daum: vaso — CrS 6 500.00
(Londres). Preços equivalentes: o abat jour é mais fácil de coloca
Quando a temperatura aumenta os
cavalheiros não reclamam: tomam Gin Seagers.
o gin
mais
vendido
no Brasil
' ' *
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Bah
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M
ROTEIRO.onehitAo
Paulo Celso
Moutinho
— É o único que nào aparece
aqui com seu nome verdadeiro
nem com seu verdadeiro rosto.
Cronista gastronômico do Jornal
do Brasil, ele precisa manter o
anonimato, senão, explica, nunca
mais terá sossego, com tantos
pedidos e convites. "O
melhor é o
da Casa da Suíla (Cândido Men
des, 157). Eles têm uma mesa de
frios que é sensacional, e os pre
ços não são exagerados. Le
Mazot (Paula Freitas, 31-A) e Le
Bec Fin são também muito
bons."
— Um dos fundadores da
Confraria dos Gastrónomos é
sem dúvida, uma das pessoas que
mais entendem de comida e vi
nhos no Rio. Por isso. quando
vai a um restaurante, nunca pede
um vinho francês, porque tem
certeza de que nào será bem tra
tado. Prefere beber os bons vi
nhos em casa, ou em casa de
amigos.
"Os melhores são muitos. Mas
o que freqüento mais é o Bec
Fin."
Marco Rubião
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ppmt-
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Antonio
Houais
Em cada estômago uma sentença: dos dez entrevistados, só três
escolheram o*mesmo restaurante. A vantagem da diversidade foi
uma lista, onde cada um pode escolher o gênero que prefere.
— Um gastrônomo é um inte-
lectual, que dedica aos assuntos
culinários a mesma atenção mi-
nu ciosa com a qual já organi-,
zou uma enciclopédia e está
organizando outra: "Para
dizer a
verdade, acho que os melhores
restaurantes do *
Rio de Janei-
ro. . . estão em São Paulo. Basta
pegar a ponte-aérea. Os restau-
rantes dc luxo daqui servem uma
comida internacional degene-
rada. E, além do mais, cobram
caríssimo. Só milionários podem
freqüentá-los. Para mim, o me-
lhor restaurante ainda é o A de-
gão Português na Zona¦ Norte
(Campo de São Cristóvão, 212),
pela variedade e qualidade das
aves, carnes, caças e peixes que
serve. Tem também boa bebida
além dos bons vinhos portu-
Onde se come
bem no Rio?
Juscelino
Kubitschek
Qual o melhor restaurante do
Rio? Dez pessoas —
que gostam
de comer ou que gostam de sair
— foram ouvidas. Impossível
chegar a uma conclusão. O que
recebeu mais votos foi o Bec Fin,
mas assim mesmo só recebeu
três. Pouco para fazer maioria. E,
entre os entrevistados, houve um
que o considerasse o pior e o
mais caro lugar da cidade. (Foi a
opinião do colunista social Da-
niel Más, cuja recomendação —
a Churrascaria Carreta — deve
ser entendida como uma sarcás
tica advertência.) Em compensa
çào, o humorista Millór Fernan
des fez sua indicação rigorosa
mente a sério.
De uma maneira geral, pode se
observar uma constante nas res-
postas. A preferência nem sem
pre é ditada, exclusivamente, por
um julgamento gastronômico. O
melhor restaurante, muitas vezes,
é aquele que mais se freqüenta,
onde se é conhecido pelos gar-
çons. Ou melhor: o que mais se
parece com nossa casa.
gueses e alemães. Mas, por me
lhor que seja o restaurante, para
comer direito é preciso saber
escolher".
é a churrascaria Carreta (Vis-
conde de Pirajá. 451). Lá você
come leve, tranqüilo, nào tem
complicações digestivas e vê
gente divertida. No outro dia,
jantei lá e havia duas mesas
imensas, uma de americanos e
outra de brasileiros, comemo
rando aniversário. Pode haver
coisa mais engraçada?" Mas fa
lando sério, o melhor serviço é o
do Bistrot (Fernando Mendes.
7-A), mas o lugar nào é muito
alegre. Agora, o pior restaurante
do Rio de Janeiro é o Bec Fin.
Seus preços são incríveis".
— Nào pode ser considerado
um gastrônomo, nem um guloso.
(Quando mais nào fosse, por
medo de perder a linha.) Mas é
uma das pessoas que mais fre-
qüenta a noite carioca. E pode
compará-la com a das grandes
capitais: "Em
matéria de comida,
o melhor é o Bec Fin (av. Copa-
cabana, 178-A). O do Hotel
Ouro Verde (av. Atlântica, 1456)
também é bom. Quanto ao am-
biente, o mais agradável é o
Antonio's (B. Mitre, 297-C).
Daniel Más
— Cronista social. Um voto
que, sem dúvida, vale mais pela
originalidade de seu estilo sarcás-
tico do que pelo critério pura-
mente gastronômico:
"O melhor
— N unca escondeu sua prefe-
rência pela comida mineira, de
preferência feita em casa. Duran-
te muito tempo, seu ponto predi-
leto era a Pérgula do Copaca-
bana Palace. "O
restaurante que
mais freqüento, atualmente, é Le
Chalet Suisse (Xavier da Silveira,
112). Gosto muito da fondue de
queijo que servem. Sempre que
posso, vou lá, aos domingos."
Jorge Guinle
12
+4 » -in WM'i
Lftk, ., x ¦
v
J; v::. A': , mfc r >
Guilherme
Guimarães
— Costureiro. Seu voto é
um exemplo de que o hábito,
muitas vezes, dita a preferência.
Deve-se levar em conta também
que, por estar sempre viajando.
Guilherme é um freguês que pode
comparar o que lhe oferecem
com o que há de melhor. "Não
tem dúvida: o Open (Maria Qui-
teria, 83). O serviço e a comida
são maravilhosos. Janto lá todas
as noites."
Luis Sá
Pereira
— Como Paulo Celso Mouti-
nho e Antônio Houaiss, é mem-
bro da Confraria dos Gastrôno-
mos. Excelente cozinheiro
(REALIDADE publicou, no mês
passado, algumas de suas recei-
tas), ele é dos que poderiam lem-
brar que comem em casa melhor
do que em qualquer restaurante.
"O melhor é o Bec Fin. A comida
e o serviço sào muito bons. No
Le Relais (General Venâncio
Flores, 411) também se come
direito."
Ivo Pitangui
— O mais famoso cirurgião
plástico brasileiro é também um
dos poucos médicos sul-ameri-
canos de renome internacional.
Por prazer e para atender chama
dos profissionais, está constante-
mente viajando. É outro voto que
vale pela exigência apurada nos
bons endereços da Europa. "É
difícil escolher. Existem inúme-
ros restaurantes ótimos na cidade
do Rio de Janeiro. Eu, por uma
questão de fidelidade, prefiro o
restaurante do Country Club"
(único da lista que não é aberto
ao público).
Millôr
Fernandes
— É outro que reclama dos
preços cobrados na maioria dos
restaurantes de certa categoria:
"Há lugares que são ótimos, mas
que eu não posso freqüentar por-
que não tenho dinheiro. O melhor
restaurante do Rio, hoje, para
mim, é o Mário (Ataulfo de
Paiva, 706 B). O serviço é excep-
cional, e o cozinheiro, muito
bom".
Uma àrvorezinha
para
cada
gôsto.
Num dia de 1 950 apareceu uma àrvorezinha nas bancas de todo o país. Era a primeira revista da Abril.
Com o tempo, apareceram muitas e muitas outras, trazendo na capa o símbolo da Abri! e de uma alta qualidade jornalística, editorial e gráfica.
Hoje a Abril edita revistas de atualidades, de interêsse geral, femininas, infantis, especializadas em automóveis e turismo, esportes, televisão, foto-
novelas educacão, moda. Além disso, publica mensalmente uma revista para executivos e diversas revistas técnicas, de circulação dirigida.
Ao todo. foram lançadas até agora 36 revistas, dedicadas a informar, instruir, entreter ou servir todo tipo de leitor. A Abril tem uma àrvorezinha para
cada gôsto Uma para cada medida de interêsse.
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^ »**•»•»?
turma o aviso funebre. Gramas ao suiddio suportar mclhor cstes quilometros de corre- para vender aos seus colegas de bairro.
de Vargas, ia haver futebol. dores, escadas, e saloes que o Legisla- REALIDADE escolheu dez, entre os
Vinte anos depois, esses meninos que tivo foi ganhando com as reformas. novos deputados de menos de quarenta
foram capazes de assistir com tanta frivoli- A Camara que foi diplomada em feve- anos, para mostrar o que pensam e estao
dade ao encerramento de um ciclo da hist6- reiro de 1963 era, certamente, uma casa fazendo os possiveis renovadores da poli-
ria brasileira estao todos sentados, em ainda mais velha. Havia entao mais de cem tica brasileira.
MU «}': iM t
'W M
v- *' >,».. - ¦ •¦ KIT^rrV"**":9t'',tfW'hWh
^¦jr*^
'
0 QUE
FAZEM
OS JOVEIS BESTA CASA
Dos SM deputados federais,
42 tem meios de 40 aaos.
Eles estariam roaovaado a política
?
TEXTO JOSÉ CARLOS BARDAWIL FOTOS LUIZ HUMBERTO
NI
a madrugada de 24 de agosto de
1954, com um tiro no coração,
Getúlio Dome lies Vargas retirou-se
da vida pública brasileira, deixando
para uma perplexa geração de políticos a
carta-testamento, o herdeiro João Goulart e
complicado espólio das instituições nacio-
nais, cuja partilha litigiosa levou dez anos
para ser concluída.
De manha, aos oito anos, o menino Mar-
ceio Medeiros foi presenteado, como toda a
população do país, com um feriado sabo-
roso e inesperado. E saiu de casa para brin-
car, e de calças curtas, na terra da praça
Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, desa-
tento ao pesado clima de apreensão que
cercava seu pai, o procurador-geral da
República, Carlos Medeiros Silva. Um
pouco mais velho, cultivando cabelos enca-
racolados e engomados teminhos da casa
O Príncipe (que vestia "hoje
o homem de
amanhã'*), Emílio Nina Ribeiro aproveitou
para cultivar sua precocidade,
sempre
admirada em reuniões de família, fazendo
versos e namorando pela vizinhança de
Botafogo, no Rio. E, no Recife, o ginasiano
Marco Antônio despejou-se pelos corredo-
res do colégio aos gritos de
"bola, bola",
depois que um padre solene veio fazer à
turma o aviso fúnebre. Graças ao suicídio
de Vargas, ia haver futebol.
Vinte anos depois, esses meninos que
foram capazes de assistir com tanta frivoli-
dade ao encerramento de um ciclo da histó-
ria brasileira estão todos sentados, em
Brasília, na Câmara dos Deputados,
procurando a fugidia receita da renovação
política nacional. Estão entre os 42 deputa-
dos que, sem terem ainda transposto o limi-
te da idade dos quarenta, muitos sem pas-
sado partidário, alguns sem lembranças
bastante remotas para recomporem, de
memória, o ministério de João Goulart,
começaram a ingressar no Congresso Na-
cional a partir de 1964. Em sua maioria,
senão na sua totalidade, eles parecem acre-
ditar que na sua própria juventude estaria
o segredo mágico da fórmula capaz de ope-
rar a transformação dos hábitos, valores e
métodos da política.
Na verdade, se ainda não realizaram as
profundas e revitalizantes reformas que
defendem, esses novos deputados já fize-
ram, pelo menos, a renovação biológica da
Câmara. Em 1966, a média de idade dos
deputados federais, eleitos naquele ano, era
de 53 anos. Em 1970 essa faixa caiu para
45 anos e seis meses. Em 310 nomes, 152
estavam assumindo o seu primeiro manda-
to federal ou voltando à Câmara depois de
um longo afastamento. E ser jovem, atual-
mente, no Congresso —
comentava recen-
temente um velho senador — teria uma
indiscutível vantagem: "eles
conseguem
suportar melhor estes quilômetros de corre-
dores, escadas, e salões que o Legisla-
tivo foi ganhando com as reformas.
A Câmara que foi diplomada em feve-
reiro de 1963 era, certamente, uma casa
ainda mais velha. Havia então mais de cem
deputados com mais de cinqüenta anos.
Quinze haviam nascido no século XIX,
oito entre os governos de Floriano Peixoto
e Prudente de Morais. Desde a Revolução,
atingidos em grande parte pelas cassações,
mortos, convocados para sucçssivos minis-
térios ou transferidos para os governos
estaduais e para o Senado, 154 desses
nomes de dez anos atrás desapareceram
das listas de presença da Câmara. Há os
que desapareceram apenas da política, e até
os que sumiram do país.
Esse processo, que corroeu antigas lide-
ranças e sólidos feudos eleitorais, abrindo
indiscutivelmente o caminho à ascensão
dos novos deputados, tem raízes que,
indiscutivelmente, se afundam pelas últi-
mas décadas da política brasileira, até e
além da morte de Vargas. Mas desvincu-
ladas dessas origens.
Como Faria Lima, que numa noite de
1961 chegou à casa do pai, onde morava, e
encontrou seu quarto ocupado. Jânio Qua-
dros renunciara naquele dia e estava dor-
mindo lá dentro, hospedado por seu grande
amigo, o brigadeiro Roberto Faria Lima.
Anos antes, Henrique Eduardo, filho do
velho udenista Aluísio Alves, apanha no
escritório do pai as vassourinhas janistas
para vender aos seus colegas de bairro.
REALIDADE escolheu dez, entre os
novos deputados de menos de quarenta
anos, para mostrar o que pensam e estão
fazendo os possíveis renovadores da poli-
tica brasileira. *•»«•
NOVOS POLÍTICOS
Marcelo,
o discípulo
de Negrào
Na
scssào de abertura do Congresso
Nacional, este ano, diante do plenário
modorrento e quase vazio do fim de expe
diente, o deputado Marcelo Medeiros apro-
ximou-se discretamente da mesa da Cama-
ra e entregou, ao sacrifício inevitável pela
maioria arenista, mais um projeto de lei de
iniciativa do MDB. No dia seguinte, oposi-
çào e governo descobriram que, apresen
tando no primeiro dia da legislatura o pro-
jeto de regulamentação do colégio eleitoral
que escolherá em janeiro o presidente
e
vice-presidente da República, ele acabara
de tomar posse do mais importante assunto
político do ano. Marcelo Medeiros havia
invadido silenciosamente as terras proibi-
das da sucessão presidencial.
O projeto, antes mesmo de ser debatido,
serviu para arrancá lo imediatamente do
anonimato de mais de dois anos de uma
atuação extremamente modesta. Tímido,
Marcelo Medeiros ocupou a tribuna tão
poucas vezes quantas
foram absolutamente
indispensáveis, desde que se elegeu pelo
MDB da Guanabara, em 1970, estreando
na política, como deputado federal, aos 24
anos, com uma das maiores votações de
seu Estado. Sem discursos, sem cargos-
partidários ou parlamentares, confundido
até mesmo pelos guardas da Câmara, que
lhe exigiram em mais de uma ocasião a car-
teira de deputado, ele apareceu raras vezes
antes de apresentar o projeto do colégio
eleitoral. Numa delas, ano passado, defen-
deu para os diplomatas aposentados a
extensão dos aumentos gerais da carreira
concedidos pelo governo.
Na verdade, para quem é filho do jurista
Carlos Medeiros Silva, ex-ministro da Jus-
tiça (governo Castello Branco) e autor da
Constituição de 1967, mais difícil do que
encontrar um lugar próprio entre os depu-
tados é escapar, na política, da sombra
paterna. Por isso, não faltou quem visse em
seu projeto —
de técnica parlamentar per-
feita —
a colaboração do pai, que foi o
introdutor do dispositivo das eleições presi-
denciais indiretas no texto constitucional.
Mas o próprio Marcelo não está preocu-
pado em esconder, entre suas virtudes poli-
ticas, a de escolher bons assessores.
Afinal, na Guanabara, por onde se ele-
geu, ele é ao mesmo tempo o amigo do ex-
governador Negrão de Lima
— o nome
mais popular do Estado —
e do atual
governador Chagas Freitas
— dono do
MDB, de dois jornais e de um sólido patri-
mônio de votos suburbanos. De Negrào,
por quem foi escolhido ainda acadêmico de
direito para trabalhar em seu gabinete,
despediu-se numa carta emocionada, ao
pedir exoneração do cargo para ser candi
dato, chamando-o de mestre. "O
seu mode
lo de homem de gove*rno", escreveu, "criou
em meu espírito de moço o ânimo de tentar
a carreira política, quando muitos, infeliz
mente, dela se desencantam e afastam."
Mas Marcelo Medeiros parece capaz de
guardar também a exata distância entre os
compromissos familiares, de amizade e
políticos, o que lhe assegura o direito a
uma certa originalidade c, eventualmente, a
fazer surpresas. É filho de líder revolucio-
nário e entrou para a oposição. Escrevendo
uma coluna semanal para o jornal A Noíf•
cia, de Chagas Freitas, nào se engajou no
programa de hostilidades mais ou menos
veladas do governo da Guanabara contra
Negrào.
Medeiros conseguiu votos para seu man-
dato de deputado federal insistindo, sobre-
tudo, em que a revolução havia afastado os
jovens da política, embora eles tivessem na
própria idade um álibi político perfeito:
moços demais antes de 64, nào tiveram
participação nas crises de Jango, Jânio ou
JK. Eleito, afirma hoje que
"a nossa posi-
çào nào deve ser nunca a de lamentar a
perda das prerrogativas, mas de lutarmos
pela sua reconquista". Considera o atual
Congresso Brasileiro como "o
maior con-
glomerado de talentos, com a mais alta
taxa de subemprego e a mais baixa remune-
ração". E explica: "O
deputado Tancredo
Neves pode ganhar dez vezes mais do que
na Câmara, em qualquer empresa privada,
e, no entanto, comparece assiduamente às
sessões. E isso me parece uma evidência de
que ainda há alguma coisa para se fazer em
política".
Marcelo Medeiros e sua mulher, Heloísa,
tiveram este ano seu primeiro filho, que
provocou a sua mudança e fixação em Bra-
sília. Para compensar a distância do Rio,
Marcelo estabeleceu uma rotina de ter sem-
pre convidados no jantar —
quando se a-
caba falando, inevitaveimente, de política.
Medina,
o economista
da oposiç&o
âos
catorze anos, Rubem Medina pediu
em casa aumento de mesada e ouviu de
seu pai que, no dia seguinte, fosse ao seu
escritório, cedo e de terno, para arrumar
emprego. Medina foi e encontrou o pai com
a página de classificados de um jornal na
mão, pronto para orientar a escolha.
Assim, com pequena ajuda paterna,
Rubem Medina tornou-se representante de
uma fábrica de latas de lixo. E, com um
auxílio um pouco mais concreto, tornou-se
em poucos meses o mais jovem e bem suce-
dido vendedor de latas de lixo da história
do Brasil — 4 000 unidades imediatamente
desestocadas. É verdade que muitas coisas
ficam mais fáceis, mesmo para um comer-
ciante aprendiz, quando se é filho de
Abraão Medina, proprietário de uma ca-
deia de lojas na Guanabara, várias empre-
sas e patrocinador, na época, com a marca
Rei da Voz, do início da carreira de Flávio
Cavalcanti na TV. Para aumentar a procu-
ra de seus produtos, Rubem Medina imagi-
nou a campanha "Ajude
a manter sua cida-
de limpa". Obteve generoso apoio
publicitário e. dias depois, em cada esquina
do Rio, havia uma lata de lixo cercada de
detritos por todos os lados.
Rubem Medina, hoje aos 31 anos, em
seu segundo mandato na Câmara Federal
(pelo MDB), começou cedo. Formado cm
economia (abandonou um curso de arquite
tura porque, trabalhando, nào conseguia a
freqüência obrigatória), fez uma vertigi
nosa carreira nas empresas do pai, depois
de sua estréia no comércio, galgando toda a
ampla escala hierárquica que separa o
banco de um ajudante de motorista de
caminhão do escritório refrigerado do
vice-presidente. Com um futuro tão pro
missor no mundo dos negócios. Rubem
Medina pode realmente calcar em argu
mentos muito sólidos a explicação, de
outro modo cândida, de que em 1966 resol
veu entrar para a política
"por ideal".
Antes de tomar a decisão, ele viajou aos
Estados Unidos, como diretor de uma
empresa de publicidade, e conseguiu gravar
para a televisão uma entrevista exclusiva
com o presidente John Kennedy.
"Eu, Flá
vio Cavalcanti e Murilo Nery estivemos
com ele uma hora", lembra Medina. "Eu
estava ali, diante do presidente do mundo,
que ficou me falando sobre a necessidade
de participação dos jovens na administra
çào, na política, em tudo. E dizia que ele
mesmo era jovem para um presidente."
Meses depois, Kennedy morria e Medina
começava a estudar assuntos políticos.
Acabou transformado no deputado mais
jovem, com 24 anos e 55 000 votos, de sua
legislatura. E um empresário definitiva
mente menos promissor.
"O trabalho parlamentar pode ter preju
dicado em muitas coisas a minha vida pri
vada", ele explica. "Eu
ainda ganho mais
dinheiro fora da Câmara, trabalhando dois
dias por semana na iniciativa privada, do
que vindo a Brasília, ficando longe da famí
lia e morando em hotel. Nào se pode nem
dizer que, sendo deputado, eu posso reali-
zar grandes negócios. Ao contrário, eu
prejudiquei vários negócios, meus e da
família, quando presidi, no outro mandato,
a Comissão Especial de Análise da Desna-
cionalização da Economia Brasileira. O
prestígio que o cargo dá também é relativo.
Então é claro que eu acredito que ser depu-
tado ainda tem uma importância na vida
brasileira."
Rubem Medina prefere o trabalho téc-
nico ao de plenário. E, eleito este ano para
a presidência da Comissãtrde Economia da
Câmara, ele pretende transformar o órgão
num centro formulador de política econó-
mica em setores, como: humanizaçào de
empresas, análise de empresas multina-
cionais e estudo das alternativas dos incen-
tivos fiscais. Quando presidiu a Comissão
de Análise da Desnacionalização da Eco-
nomia Brasileira, durante um ano, conse-
guiu convocar para fazer exposições o seu
ex-professor, Mário Henrique Simonsen,
Roberto Campos, Delfim Netto, Dias
Leite, Jarbas Passarinho e Macedo Soares,
o que, aos 28 anos, certamente representa
uma conquista. E ele considera que pelo
N
menos conseguiu se. na época, corrigir vá
rios dados sobre os problemas que eram
considerados oficiais.
Medina. ao contrário da maioria dos
deputados novos e recém chegados à Câ
mara. foi considerado, em seu primeiro
mandato, pela imprensa, um dos deputados
mais atuantes. E com alguns gestos de
audácia. Com um mês de casa. por exem
pio. solicitou o tempo da liderança, para
fazer, no grande expediente e durante uma
hora. uma análise sobre a economia brasi
leira. Nào teve apartes, com que temia ser
esmagado, e foi conseguindo se livrar dos
constrangimentos iniciais de deputado
muito novo.
Casado há três anos com a Miss 4."
Centenário do Rio. Solange Novelli. e pai
de um filho pequeno. Rubem Medina chega
semanalmente a Brasília terça feira de
manhà e volta ao Rio na sexta à tarde. Fica
no Hotel Nacional, numa "república"
de
deputados — com Henrique Eduardo
Alves. Léo Simões e. até o ano passado.
Marcelo Medeiros —
juntando dois ou três
apartamentos. Eles conseguiram também
juntar se em gabinetes mais ou menos pró
ximos e se reuniram na mesma comissão.
"Fm nossa
'república', pelo menos", co
menta Medina. "deputado
manda."
Marco Antonio,
o modelo
para o futuro
Aos
33 anos. Marco Antônio Maciel, da
Arena pernambucana, é quase um mo
delo experimental do que poderá vir a ser,
dentro de alguns anos. o político brasileiro
pós-revoluçào, ou, pelo menos, é um dos
mais bem sucedidos. Membro da Comissão
Executiva da Arena, ele trabalha em gran
de proximidade, e com bom entrosamento,
com o senador Filinto Müller, presidente
do partido, o melhor exemplo de boas rela-
çôes de um parlamentar com o governo
desde a Revolução, mas, certamente, uma
amostra muito pouco reveladora da reno
vaçào política brasileira.
Apesar disso, afirma Marco Maciel: O
senador é um exemplo de boa convivência c
nunca procura influir em nossa atividade
individual como deputado . Talvez por
isso, sem deixar a assessoria especial de
Filinto, ele dê hoje a impressão de ser um
dos jovens deputados mais preocupados
em
prever o sentido da transformação política
no Brasil e no mundo, e se preparar para a
profunda mutação requerida para
a sobre-
vivência nos novos tempos. Dedicado prin-
cipalmente a trabalhos técnicos, ele já pro
duziu, um longo trabalho sobre a missão
do político", procurando situar o que res-
tou para o Congresso depois da perda
das
funções legisferantes. E concluiu que ainda
sobrou muito em fiscalização e controle
dos governos. E apresentou, em seguida,
um projeto que permite ao Congresso con
vocar ministros de Estado para serem ouvi
dos em plenário ou por comissões.
Ao contrário da maior parte dos deputa
dos jovens. Marco Maciel teve um envolvi
mento mais ou menos profundo com poli
tica estudantil nos tempos da Faculdade de
Direito do Recife. Presidiu duas vezes o
diretório da faculdade, uma vez a Uniào
Estadual dos Estudantes — onde conse
guiu ser eleito com 75% dos votos — e foi.
chefiando uma delegação, a uma das últi
mas grandes reuniões da UNE*, cm São
Paulo. "É
coisa de mau-caráter dizer isso
hoje, mas me insurgi contra a orientação da
UNE. Li um manifesto baseado nas posi
çòes sociais da Mater et Magislra, e quase
apanhamos de 5 000 estudantes. Era em
1962 e eu vi as coisas pretas." Extrema
mente calmo, aparentando uma idade inde
finível, com seu tipo alto. magro, lem
brando ligeiramente os leptossomáticos
Gustavo Capanema e Mário de Andrade.
Marco Maciel é considerado, quase unani
memente, na Arena e no MDB, como um
dos mais preparados parlamentares jovens,
em técnica legislativa. Foi titular muitos
anos da disciplina de Direito Internacional
Público na Universidade Federal de Per-
nambuco. E fazia o mestrado, quando a
Revolução afastou Arrais do governo e
tomou posse o governador Paulo Guerra.
Ele foi convidado para secretário assis
tente, encarregado de entendimentos com
operários e estudantes, numa fase particu
larmente delicada. "Escapei
pela pouca
idade", conta Maciel, "sessenta
dias depois
um deputado da oposição descobriu que eu
tinha 23 anos, e a Constituição Estadual,
que era realmente muito pouco consubstan
ciada, exigia o mínimo de 25 anos/
Maciel pediu exoneração,
"pela letra fria
da Constituição", e foi no mesmo dia
nomeado assessor. Em 1966 candidatou-se
a deputado estadual, foi o nono mais vota-
do, entre 65 candidatos. Foi líder do gover-
no Nilo Coelho, "para
minha surpresa".
Em 70 candidatou-se a deputado federal,
com base num pequeno reduto eleitoral.
"Mas o governador
Nilo Coelho era depu-
tado federal e nào se desincompatibilizou
para ser candidato: eu me elegi com os
votos dele", confessa tranqüilamente Ma-
ciei.
Marco Maciel fez campanha com base
na renovação "de
métodos e processos",
que sempre foi sua preocupação mais dire-
ta. E é um permanente defensor da Sudene,
"que
provocou desde logo o aparecimento
de novas lideranças, com estilo diferente, e
voltadas para problemas realmente de
estrutura".
Marco Maciel vai pouco à tribuna, tal-
vez porque esteja convencido da
"crise da
palavra". Explica:
"Hoje não se acredita
em nada que nào tenha apoio em dados
estatísticos, percentagens, tabelas e gráfi-
cos. Num discurso de Milton Campos, por
exemplo, se acreditava porque o raciocínio
era claro, as idéias bem colocadas e havia a
sua imensa autoridade".
Filho de um consultor geral da Repú-
blica, José do Rego Maciel, pai de dois
filhos, Marco Maciel é tão sério que, aos
domingos, em Brasília, na freqüência imu-
tável do Clube do Congresso, costuma reu
nir a sua volta uma roda permanente de
debates políticos. Com uma diferença: no
dia em que surgiu uma dúvida, ele se levan
tou da beira da piscina para ir buscar cm
casa um exemplar da Constituiçào.
Nina Ribeiro,
mais lacerdista
que Lacerda
0
deputado Emílio Nina Ribeiro (35 anos,
carioca de Botafogo) tem em seu currí-
culo político um título possivelmente
inve-
jável para muitos outros políticos
brasilei-
ros: pegou em armas pela
Revolução em
1964. Na noite de 31 de março, "sentindo
cheiro de pólvora no ar", conforme seu
próprio relato, ele entrou no palácio
Gua
nabara e imediatamente solicitou da guar-
da uma metralhadora Ina, calibre 45. de
duas travas. Passou 48 horas rondando
incansavelmente pelos corredores, segu-
rando firmemente a arma com as duas
mãos, pois, de outro modo, nào poderia
dispará-la, em caso de necessidade. "Eu
es-
tava disposto a tudo. Até a morrer, ao lado
do governador Carlos Lacerda, que era
ameaçado pelas tropas do almirante Ara
gào", diz, hoje, no seu gabinete de vice
líder da Arena.
E se há quem duvide da sinceridade de
alguns discursos de Nina Ribeiro (ele cos-
tuma falar em defesa do consumidor, recla
mando pesos e medidas exatas para certos
produtos, assim como medidas de segu-
rança nos automóveis nacionais), nào exis-
tem dúvidas sobre a sua disposição para a
luta. Desde os tempos de estudante da PUC
do Rio de Janeiro, Nina Ribeiro demonstra
uma sensível inclinação pelas discussões ou
situações complicadas. Como em 1959,
quando ele compareceu a uma reuniào da
extinta Uniào Nacional dos Estudantes
(UNE) para reclamar contra a cassação de
sua credencial ao Congresso Latino-Ame-
ricano de Estudantes, em Caracas. "Pro
testo contra os lacaios de Moscou", gritou,
por entre apupos e aplausos, logo transfor-
madosem socos e pontapés. Ou como em
1963, quando, já deputado estadual, rece-
beu a ameaça de um deputado que depois
seria cassado: "Se
falares de Jango, eu te
dou um tiro na cara". Sua resposta foi ir à
tribuna e referir-se a João Goulart como
sendo "um
contrabandista de gado que, por
acaso, é o presidente da República". O
deputado sacou de um revolver e fez ponta-
ria. -Num
gesto teatral ao seu gosto, Nina
Ribeiro rasgou a camisa e gritou:
"Atira,
mas atira logo, porque vais matar um
homem!" O outro hesitou, do que se apro-
veitaram udenistas, companheiros de parti
do de Nina Ribeiro, para desarmá-lo e pro-
vocar as iras do petebista, inciando-se
então o que os jornais cariocas descreviam,
no dia seguinte, como "uma
verdadeira
batalha campal na Assembléia", na qual
Nina Ribeiro aplicou golpes de capoeira e
levou tantos socos que perdeu um pedaço
de um dente incisivo superior.
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Marcelo: "Ainda
há alguma coisa para se fazer".
Nina Ribeiro: "Eu
teria morrido por Lacerda".
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Medina: 'Ser
deputado ainda e import ante". Maciel: "So
falo apoiado em graficos e tabelas .
Lyra: "Eu
etperava poder mudar alguma coisa".
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Maciel: "Só
falo apoiado em gráficos e tabelasMedina:
"Ser deputado ainda é importante
Lyra: "Eu
esperava poder mudar alguma coisa'
mm-
m^,i
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mm
NOVOS POLÍTICOS ..
O tempo, porem, dá suas voltas e acaba
mudando muitas coisas, inclusive ligações
políticas. Talvez por isso Nina Ribeiro seja
hoje deputado federal enquanto seu antigo
modelo político e ídolo. Carlos Lacerda,
cassado, se dedica a dirigir prósperas
empresas.
"Foi ele que deixou de ser lacerdista. na
época da frente ampla. Nào eu. não nós.
Justifica se e assegura que sua posição,
contrária às idéias políticas de Carlos
Lacerda a partir de 1965. foi anunciada,
com toda a clareza, pela imprensa, depois
de explicada, com antecipação, ao próprio
Lacerda.
Solteiro aos 35 anos. Nina Ribeiro,
dorme tarde mas acorda inapelavelmente
por volta das sete horas, pois, às oito. faz
sempre uma hora de natação num dos três
clubes de Brasília de que é sócio. Aos sába
dos e domingos, costuma ir ao Rio de
Janeiro e Petrópolis (onde mantém ligações
de infância). Em Brasília, vive solitário no
apartamento oficial de quatro quartos,
tendo como companhia seus livros jurídi-
cos, discos de Tchaicóvski e Chopin e um
papagaio amazônico, especialista em pala
vrões "aprendidos
durante a viagem para
Brasília, pois era de um ex-marinheiro",
"faz
questão de justificar.
No Rio, hospe
da-se no seu apartamento da avenida
Atlântica, onde mora sua mãe, dona Maria
da Glória Mallet.
Lyra,
o tribuno dos
velhos tempos
Quando
o deputado Fernando Lyra (34
anos, bacharel em direito, pernambu
cano de Caruaru, casado, pai de três meni-
nas) vai ao microfone dos apartes, ou
ocupa a tribuna, há, no mínimo, um movi-
mento de curiosidade entre os parlamen-
tares presentes às sessões plenárias da Cã-
mara. Em apenas dois anos de atividade,
Lyra conseguiu ser visto como um aspi-
rante às glórias conquistadas em outras
épocas por aparteantes temíveis como Car-
los Lacerda, oradores imaginosos como
Otávio Mangabeira ou improvisadores ex-
travagantes como Vieira de Melo. Nos
apartes, mostra-se de início irônico e frio,
para, logo depois, utilizar sua voz extensa e
bem timbrada em todo o volume. Nos dis-
cursos, usa o claro-escuro veemente dos
oposicionistas tradicionais e nào permite
que os aparteantes sequer possam desen-
volver seus pensamentos, interrompendo-os
a todo instante com observações sarcás-
ticas ou simplesmente provocativas. É, tal
vez, entre os novos, a única vocação de tri
buno já manifestada.
No entanto, um exame da carreira esco
lar de Fernando Lyra jamais deixaria pre-
ver um orador. Ao contrário da maioria
dos seus colegas de destaque, ele não foi
primeiro aluno e nem sequer um estudante
aplicado. No internato do Colégio Salesia-
no, em Recife, era incapaz de submeter-se à
rígida disciplina. Nos colégios Osvaldo
Cruz e Padre Félix. nunca passou de um
aluno medíocre. Tanto que nào se atreveu a
permanecer no Recife: findo o curso cientí
fico. voltou a Caruaru para trabalhar com
o pai e formar se. com mais facilidade, na
recém-criada Faculdade de Direito da
cidade.
Filho de político. Lyra desde cedo pôde
participar das campanhas eleitorais do pai.
em Caruaru, nào demorando a mostrar vir
tudes em palanques eleitorais. Em 1959.
quando o pai foi eleito prefeito pela UDN.
derrubando a tradicional oligarquia pesse
dista, seus discursos — embora toscos e
provincianos —
já provocavam sensação.
Um ano mais tarde, o jovem estudante e
empresário (dirigia a empresa de ônibus do
pai) participava de novos comícios, pre
gando a candidatura de Jânio Quadros à
presidência da República.
Até então, a política, para ele, nào passa
va dos limites de Caruaru. Sentado na pol
trona do seu apartamento oficial em Brasí
lia. por entre um cigarro e outro (fuma dois
maços por dia. ou mais), confessa: "eu
nào
tinha qualquer idéia mais definida a res
peito dos problemas nacionais. Acredito
que poucos jovens em Pernambuco tives
sem tais idéias. Política, para mim, era a
disputa local, mesquinha e, no fim das con
tas, decepcionante para quem, como eu.
esperava mudar alguma coisa". Foi somen-
te em 1965, depois da extinçào dos antigos
partidos, que Fernando Lyra decidiu dedi
car-se à política em tempo integral:
"abria-se uma perspectiva
nova no MDB.
onde nào estavam os velhos políticos, que
preferiam a Arena. Candidatei-me a depu
tado estadual e conveci meu pai a voltar à
política. Como candidato a deputado fede
ral". Os dois foram eleitos, e Fernando nào
tardou a conseguir o título de líder da opo
siçào na Assembléia de Pernambuco, gra-
ças à palavra fácil, à habilidade no debate
e, principalmente, à falta de quadros do
MDB, depois das cassações de 1968. Em
1970, cotnandou a retirada dos deputados
do MDB do plenário, quando da eleição
indireta do governador. E mostrou outra
habilidade: a de articulador político. Con
versando sorridente com todos, de trato
agradável e maneiras simples, foi lenta-
mente atraindo simpatias e obtendo apoios
à sua candidatura a deputado federal,
agora já sem a ajuda do pai, que, desencan
tado, decidira deixar a política.
Elegeu-se com 38 310 votos e, tào logo
chegou à Câmara, conquistou, após rápi
das articulações com a cúpula emedebista,
o título de vice-líder. Dois meses depois, os
chefes emedebistas estavam arrependidos-
Fernando Lyra aparecia como um dos
organizadores do grupo
"autêntico" que
atacava, diariamente, pelos jornais, a cúpu-
la "moderada"
exigindo-lhe maior decisão
no combate ao governo. De qualquer
modo, "autêntico"
hábil, a ponto de um
líder moderado dizer que seu nome seria o
único do grupo rival que poderia encontrar
receptividade para uma eventual candida
tura à liderança, "pois,
afinal de contas,
com o Fernando nós podemos conversar'*.
Político jovem. Lyra é. no entanto, um
homem extraordinariamente humilde dian
te dos seus triunfos. Considera que sua
reeleição, "como
todas da oposiçào, será
dificílima". Rigorosamente, Fernando
Lyra. esse homem gordo que agora faz
regime, disciplinada e humildemente (seus
87 quilos, para 1.65 de altura, já foram
105. há dois anos), tem uma vaidade na
vida: sua filha Patrícia, a mais velha, que
pretende transformar na primeira política
de sua região. Uma esperta garota de seis
anos que já se iniciou nos palanques na
campanha municipal de Caruaru, no ano
passado, obtendo grande sucesso, embora
se recusasse a decorar os discursos que lhe
prepararam com antecedência ("Vou falar
o que eu quiser", exigiu). E que já é da opo-
siçào, como o pai. Tanto que. quando
conhece alguma nova amiguinha. vai logo
perguntando:
"Teu pai é da Arena, ou do
MDB?" E cria até situações constrange
doras. como recentemente, quando abor
dou o deputado arenista Homero Santos e
lhe perguntou por que dispunha de carro
oficial. "Porque
sou vice-líder", respon
deu lhe o deputado. "Mas
meu pai é vice
líder e nào tem carro oficial." Homero San
tos explicou, sorridente: "Bem,
eu sou
vice líder da Arena". E a menina: "Ah.
sim".
Jerônimo,
o herói
da Amazônia
A homem gordo, óculos baratos no rosto
sem rugas (em que predominam o nariz
achatado, os pêlos da barba sempre por
fazer e a testa larga da calvície precoce),
bengala de jacarandá na mào direita para
disfarçar o caminhar balançante provocado
pela perna mais curta; vestindo roupas
frouxas, de corte superado e amarfanhadas,
parece, ao entrar na Câmara, muito mais
um fazendeiro do interior goiano do que
um deputado federal. Jerônimo Garcia de
Santana não é mesmo um deputado na tra
dição do termo: é o representante único de
Rondônia. Ele nào tem chefe de bancada,
nem líderes a obedecer na esfera regional.
Pelas funções e o prestígio que detém no
território, assemelha-se mais a um senador.
Mas os senadores nào são tào jovens
quanto Jerônimo Santana (38 anos, do
MDB), nem se parecem eom ele nos gestos,
atitudes e maneira de ser. Pela sua simplici
dade no falar e no agir, por nào demonstrar
nenhuma das habilidades que fizeram o
apanágio dos políticos eficientes de outros
tempos, e porque se mostra geralmente tào
corajoso que chega a ser considerado ingê
nuo. Jerônimo é chamado por alguns de
seus colegas, numa paródia nào muito ori
ginal, de "o
herói do sertào". Afinal, ne
nhum dos 310 deputados da atual sessão
legislativa sente se disposto, .como ele, a
acusar nominalmente um ministro de Esta-
do (Dias Leite, das Minas e Energia) de
estar "envolvido
com interesses estran
geiros na exploração de minérios da Ama
/.ônia'\ Ningüém ataca o governador de
seu Estado com a insistência e dureza que
ele. em discursos quase diários, vem dedi-
cando aos administradores do Território de
Rondônia, desde que iniciou seu mandato.
Santana nào se preocupa em falar bonito,
nem com o português de suas catilinárias já
rotineiras, e nem mesmo com a maneira
monocórdia com que as lê, numa voz
aguda e sem impostaçào, no plenário da
Câmara. Orgulha se de ter pronunciado
139 discursos em 1971 e 133 em 1972, em
bora a maioria tenha passado desperce-
bida, nos horários reservados ao "pequeno
expediente". Talvez porque já saiba que, no
seu caso, a quantidade acabou se tornando
qualidade: seus discursos, agora, já ocu-
pam espaços do "grande
expediente" e
obrigaram a liderança do partido do gover-
no a nomear um deputado do norte goiano
(Siqueira Campos) especialmente para
combatê-lo. No plano regional, demons-
trou. na eleição municipal de 1972, que seu
prestígio é ascendente: elegeu a maioria da
Câmara de Vereadores de Porto Velho,
tradicionalmente arenista, e teve a sorte de
ver seu inimigo figadal. o governador do
Território de Rondônia. Marques Henri-
ques, ser substituído por ato do presidente
da República. Capitalizou imediatamente a
queda e reiniciou, implacável e inflexível,
seus ataques, agora contra o governador
Theodorico Gahyva. Hoje, o "homem
da
bengala", como o chamam em Rondônia,
já influi até na política do Acre, onde os
emedebistas o convidaram a candidatar se
ao Senado. Mas tem os pés na terra: "Sei
que minha reeleição vai ser duríssima.
Cobrirão Rondônia de dinheiro, para me
derrotar. Mas acredito no povo e na minha
luta. Afinal, luto desde que me conheço por
gente".
A luta de Jerónimo Santana começou na
década de 30, quando Goiás, onde ele nas-
ceu, na fazenda Campo Limpo, município
de Jatai, nào passava de um Estado pobre
que vivia em isolamento total, devido à
falta de estradas. Ele descendia da ilustre
estirpe dos Garcia de Santana, coloniza-
dores de vastas extensões de terras em
Goiás e Mato Grosso a partir de 1835,
cujas glórias chegaram a ser contadas em
livros e estabeleceram nos campos cerrados
da região, para todos os seus integrantes, a
fama de homens resolutos, corajosos e
violentos.
Mas a origem nào o impediu de perma-
necer analfabeto até os doze anos, pois,
quando nasceu, o pai
e o avô enfrentavam
dificuldades e vertdiam suas tetras para
pagar dívidas. O menino Jerónimo, mais
velho de seis filhos, teve de capinar roça e
cortar lenha na pequena fazenda que
restou
ao pai até que foi enviado para
a cidade,
Jatai, que só conhecia de rápidas visitas e
lhe dava medo. Estudou até o terceiro ano
primário, mas acabou voltando à fazenda,
num ano de seca em que seu pai adoeceu.
Autodidata solitário, prestou exame de
admissão aos dezenove anos, depois de
uma adolescência sacrificada e triste: na
fazenda, só tinha um par de botinas e duas
roupas surradas e. por isso, nào ia às festas,
nem se sentia em condições de tentar con-
seguir uma namorada. De Jatai, onde fez o
ginásio graças à ajuda do bispo da cidade,
dom Germano Campon (de quem era secre
tário e cobrador dos "foros
), até Belo
Horizonte, onde cursou o científico e a
faculdade de direito, a história de Jerónimo
Santana daria um romance de Charles Dic
kens, pelos momentos dramáticos que pas-
sou, na maior parte devidos às suas dificul-
dades financeiras. Formado advogado aos
31 anos, logo desistiu de ganhar a vida em
Belo Horizonte. Depois de uma tentativa
fracassada em Barra do Garças, terminou
em Rondônia, onde fora realizar uma
cobrança, e acabou ficando, porque um
aventureiro argentino, dom Tito Aseril
propôs-lhe sociedade na descoberta de
minas riquíssimas na região do Ariquana.
Fascinado com a perspectiva da fortuna
fácil, Jerónimo vendeu tudo o que a mãe
recebera como herança, apurou 20 000 cru-
zeiros e retornou a Porto Velho, depois de
três meses em Jatai para efetivar a opera-
çào de venda. Mas nào mais encontrou o
argentino, preso por nào pagar o hotel. Pior
ainda: dois comerciantes de Rondônia
revelaram-lhe que dom Tito lhes vendera o
"mapa da mina", já requerida ao governo.
Santana nào desistiu: financiou três expedi
çôes de garimpeiros à região do rio Abuna.
Gastou dinheiro com advogados no Rio de
Janeiro para tentar requerer as terras, viveu
dois anos de esperanças frustradas. No fim,
sem dinheiro nenhum e sem coragem de
voltar à sua terra, começou a advogar no
quarto de hotel com uma máquina de escre-
ver emprestada. Três anos depois era um
ídolo popular em Porto Velho e presidente
do MDB. Em 1970, concorreu ao único
cargo de deputado federal e, surpreendente-
mente, destruiu por 2 000 votos de dife-
rença o reinado dos arenistas, depois de
uma campanha feita de ônibus e que nào
lhe permitiu sequer chegar aos distritos de
fronteira. Eleito, pediu um empréstimo ban-
cário para pagar a viagem de aviào a Brasí-
lia, onde há dois anos vive monastica-
mente, a princípio em hotel e agora no
apartamento oficial que lhe foi destinado
pela Câmara, gastando as noites com a
preparação de discursos ou com sua inten-
sa correspondência. Quando janta fora,
escolhe o restaurante popular O Espanhol,
onde encontra tipos parecidos com os que
se acostumou a ver no Territorio. Ainda sol-
teiro ("nunca tive tempo nem condições
financeiras de namorar"), anda pensando,
agora, em casamento. A candidata, cujo
nome eie não revela, é uma paulista para
quem telefona de vez em quando e quase
nunca vê pessoalmente. Em questões
de
amor, Jerónimo Santana — o político que
considera o atual parlamento
"uma farsa
e a política do governo
na Amazônia
"inteiramente errada, porque
esquece as
populações miseráveis da região e entrega
os recursos minerais e as imensas florestas
aos ávidos grupos estrangeiros"
— conti-
nua sendo o mesmo menino de roça. tímido
e temeroso, da década de 30.
Harii,
um arenista
rebelde
às
agitadas sessões da Câmara dos
Deputados na década de 50, no Rio,
costumavam contar, nas galerias, com a
presença deslumbrada de um estudante
paraibano chamado Antônio Marques da
Siíva Mariz. "Eu
me extasiava com os dis-
cursos do Prado Kelly, do Afonso Arinos,
do Vieira de Melo. E só queria um dia estar
no lugar deles, fazendo política", conta o
hoje deputado federal da Arena da Paraíba,
no seu gabinete de trabalho repleto de li-
vros sobre a escrivaninha e nas estantes,
coleções de livros de bolso franceses, gros-
sos volumes da filosofia clássica e de auto
res políticos contemporâneos.
Tanta atraçào pela política tinha até
razões atávicas. O bisavô de Mariz, Jose
Antônio da Silva Guimarães, padre e
latifundiário na Paraíba, iniciara uma tra-
diçào de domínio político na sua região (foi
vice-presidente de província e fez do irmào
deputado), criando aos poucos uma verda-
deira oligarquia, consolidada depois pelo
avó, Antônio Marques da Silva Mariz (de
putado federal) e continuada, embora em
escala já reduzida devido ao empobreci-
mento da família, pelo seu proprio pai, José
Mariz, deputado estadual e chefe político
municipal. Mas Antônio Mariz nào parecia
ter quaisquer chances de transformar seu
sonho em realidade. Perdera o pai aos
quinze anos de idade, a màe sobrevivia em
João Pessoa fazendo bolos e pintando por-
celana, e ele estava no Rio graças à boa
vontade de uma tia, que o hospedava e lhe
pagava os estudos. Obstinado, contudo, tào
logo se formou, viajou para João Pessoa e
começou a procurar um modo de entrar na
política paraibana. Aprovado num con-
curso para promotor público, Antônio
Mariz foi para o interior, onde iniciou
intensos contatos com as forças políticas
locais e acabou conseguindo que o gover-
nador Pedro Gondim o nomeasse sub-chefe
da Casa Civil. Dali saiu, um ano mais
tarde, para se candidatar a prefeito
de
Sousa e derrotar, pelo ex PTB, a tradi-
cional oligarquia dos gadelhas (PSD), por
dez votos de diferença.
Deputado federal desde 1970, Antônio
Mariz, aos 35 anos, aparece como um dos
jovens rebeldes da Arena, que
nào rezam
pela cartilha da fidelidade partidária abso-
luta e irretorquível, exigida pela atual lide-
rança do partido do governo.
Em 1971, no
seu primeiro ano de mandato, votou favo-
ravelmente, na Comissão de Justiça, ao
projeto do líder do MDB, Pedroso Horta,
que previa a extinção do decreto lei 477,
justificando que considerava o problema
apenas pelo lado jurídico. No ano passado,
pronunciou se favorável às eleições diretas,
durante a discussão da emenda constitu-
cional. que previa o pleito indireto para os
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Henrique Alves: "Deputado
do nordeste e diferente".
Faria Lima: "A
ideologia nao tem appeal".
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NOVOS políticos rontlutSo
governos de Estado, em 1974. E apoiou o
MDB. dando parecer favorável a um proje
to do gaúcho Aldo Fagundes, prevendo a
discussão pelo Congresso das decisões
governamentais que dispõem sobre os
municípios de segurança nacional.
Aos que vêem nestes atos sinais eviden
tes de rebeldia partidária, ele responde que
em todos os casos defendeu posições jurídi
cas. como bacharel que é. E acrescenta que
jamais deixou de votar favoravelmente à
Arena, nas "questões
fechadas". De qual
quer modo, parece claro que Antônio
Mariz, eleito por forças que na sua regiào
sào tradicionalmente contrárias à oligar
quia dos gadelhas (hoje no MDB), nào
pode deixar de cortejá-las. na Câmara
Federal. Discretamente, embora, ele procu
ra manter uma certa linha de indepen-
dência em relação à liderança partidária, o
que acaba nào agradando a muita gente
dentro da Arena. Possivelmente, entre estes
estào os próprios dirigentes partidários,
que, até hoje, nào lhe deram qualquer
cargo.
Comedido e contido, o Antônio Mariz
de 1973 pouco se parece com o estudante
atirado da Nacional de Direito do Rio, que.
em 1958. em companhia de um grupo de
amigos, viajou para a Europa num car
gueiro do Lóide, gratuitamente, depois de
insistentes pedidos feitos ao próprio presi-
dente Juscelino Kubitschek e ao almirante
Lúcio Meira, ministro da Viaçào. Da via
gem Mariz recorda, até hoje, os seus aspec-
tos mais surpreendentes: "Nós
pensávamos
que ia ser duro, mas transformou-se num
verdadeiro roteiro turístico. O navio parava
em tudo o que era porto e ficava lá por três
ou quatro dias".
Paradoxalmente, embora quase sempre
calado e prudente nas declarações, ele sente
crescer seu prestígio. Especialmente na sua
regiào eleitoral, onde, no último pleito
municipal, elegeu todos os prefeitos. Sua
posição política parece definitivamente fir-
mada e nào se baseia no tradicional "clien-
telismo" dos políticos nordestinos: Mariz
raramente sai de Brasília, onde vive com a
mulher e duas filhas no apartamento oficial
da superquadra 302. Na Paraíba, recebe os
amigos e eleitores na típica casa do século
XIX, do seu tio, Otávio Mariz, de cumeei-
ras altas, paredes de meio metro, grandes
quartos e muitas janelas, ou toma longos
banhos de mar na praia de Tambaú, mas
nào lhes promete benesses, nem distribui
dinheiro, como é costumeiro na regiào.
Nessas ocasiões costuma definir-se como
"um
político que acredita profundamente
na democracia e no poder que o povo tem
de escolher as opções que melhor cônsul-
tam seus interesses"* e costuma afirmar que
"nenhum segmento da sociedade de um
país pode arvorar-se em árbitro do inte
resse nacional". Aos mais íntimos confessa
que, hoje, talvez nào se obstinasse tanto em
ser político.
"A
política me fascinou por
que decidia. Agora isso nào mais acontece
e, certamente por isso, os jovens de agora
não gostam dela. nem dos políticos."
Henrique Alves,
o herdeiro
de Aluísio
âo
entrar, com 21 anos, para a Câmara
dos Deputados, nas últimas eleições.
Henrique Eduardo Alves aprendeu rapida
mente o valor relativo dos títulos de preço
cidade. O mais jovem deputado brasileiro
de todos os tempos tropeçava diariamente
em problemas com porteiros,
cabineiros e
todos os "eiros"
e "istas"
do Congresso
que se dedicam a zelar pelas prerrogativas
internas dos senhores parlamentares.
Vinte dias depois, ele subia à tribuna
para saudar a ascensão ao cardinalato de
dom Eugênio Sales, arcebispo do Rio de
Janeiro e rio-grandense-do-norte como ele:
foi para a tribuna com as màos suando e a
sensação falsa e incômoda de que todos
estavam com a atenção voltada para ele.
Saiu com a impressão confortável, mas
igualmente falsa, de que conseguira uma
vitória política, por nào ter recebido apar
tes. A verdade, descobriu depois, é que
teria sido muito difícil encontrar na Cama
ra uma oposição organizada aos problemas
do Estado do Vaticano.
Apesar de sua extrema juventude, Henri-
que Eduardo nào é exatamente o que se
poderia chamar de um representante da
renovação política do Rio Grande do
Norte. Sua família faz política no Estado
desde os tempos do avô, Manuel Alves
Filho, descendo seus ramos até os tios, pri-
mos e afins, para aprimorar-se em prefei-
turas do interior, câmaras municipais e
assembléias legislativas, até concentrar-se
na supreendente liderança de seu pai. Aluí
sio Alves, governador em 1961. Portanto,
se houve realmente, no Rio Grande do
Norte, uma verdadeira revolução política,
ela foi deflagrada e consolidada nas cam
panhas e no governo de Aluísio, um fantás-
tico orador capaz de suportar 72 horas
consecutivas de comícios e movimentar um
eleitorado que levou a cargos eletivos uma
geração inteira de Alves. Desde 1964, a
começar por Aluísio, os Alves foram sendo
rapidamente dizimados por uma epidemia
de cassações que passou pelo Estado, moti
vada por problemas políticos internos. E
Henrique Eduardo assumiu, sozinho, a
vasta e rica herança política do "aluisis-
mo".
Mas é certo, também que para ela Henri-
que Eduardo se preparou com grande
antecedência. Quando o pai estava no
governo e recebia à porta de casa, em
Natal, a romaria de chefes políticos do
interior, correligionários e eleitores, ele
aprendeu a sentar-se com os políticos para
escutar. E assim se habilitava para subir,
aos catorze aoos. ao primeiro palanque,
discursando em campanha do Senado. Ia
de uniforme escolar e avisava: "Eu
nào fui
almoçar para estar aqui com o povo". De
vido talvez a esse hábito. Henrique Eduar
do seja magro até hoje. mas pôde banque
tear-se com um quinto da votação total do
Estado, quando se candidatou a deputado,
em 1970.
A campanha de Henrique Eduardo foi.
indiscutivelmente, a mais movimentada,
assistida e participante dos últimos anos.
feita com pequeno custo — uma rural com
alto falante, um motorista locutor e um
amigo secretariando — e o grande esforço
de percorrer duas vezes todos os municí
pios do Rio Grande do Norte, conseguindo
talvez os únicos comícios com mais de
5 000 pessoas das últimas eleições. O
"alui
sismo" foi ressuscitado aos gritos de "é
o
filho, é o filho, minha gente".
Contudo, se promete se transformar
rapidamente num novo fenômeno eleitoral
no nordeste, Henrique Eduardo tem se
conservado, prudentemente, na Câmara,
nos limites de uma atuação discreta — em
bora acompanhada com certa atenção
pelos outros deputados. Alguns já arriscam
prognósticos de que ele será o futuro gover
nador de seu Estado. E Henrique Eduardo
aprende cuidadosamente, dedicando se in
clusive a freqüentar assiduamente comis
sòes (para ouvir e aprender com velhos
deputados, como. ainda menino, ouvia na
sala da casa os chefes do interior).
É o artilheiro do time de futebol da Cá
mara. E enche grande parte de seu tempo,
em Brasília, correndo repartições públicas,
porque
"ser deputado pelo
nordeste é muito
diferente de ser deputado pelo sul", explica,
"eu recebo diariamente umas sete cartas de
prefeitos do Rio Grande do Norte, com
problemas para tratar na capital". Nos fins
de semana (hábito de dois anos de manda
to) ele embarca invariavelmente para o Rio
ou Natal.
Continho,
um aristocrata
renovador
p ilho de senhor de engenho e político,
bacharel e fazendeiro, o deputado Joa
quim Coutinho parece dispor de todos os
ingredientes para se misturar a fórmula
exata de um aristocrata açucareiro. Contu
do, graças aos artifícios sinuosos da políti
ca, ele pode representar também um dado
da renovação dos quadros da política
nordestina.
Vindo das elites pessedistas de Nazaré
da Mata, zona canavieira a 70 quilômetros
do Recife, Joaquim Cootinho conseguiu
compor, aos 37 anos, uma das mais varia
das biografias da Câmara. Tinha catorze
anos quando começou a freqüentar os
palanques da campanha de Agamenon
Magalhães ao governo do Estado. Em
1954, percorreu todo Pernambuco com o
marechal Cordeiro de Farias, "um
candi
dato leve", recorda, "fácil
de ser carrega
do". Formou-se "inevitavelmente"
em di
reito e andou advogando para empresas até
que, em 1961, no governo Jânio Quadros, o
atual presidente do 1NCRA, José de Moura
Cavalcanti, foi nomeado governador do
Amapá. E Coutinho aceitou convite para ir
trabalhar na chefia de seu gabinete,
"para
fazer a minha experiência tropical". Mas
Jânio Quadros resistiu no governo menos
tempo do que eles resistiriam nos trópicos.
Joaquim Coutinho arrumou as* malas avi
sando que ia para a África.
"Era ministro das Relações Exteriores
San Tiago Dantas", ele conta; "eu
fui apre
sentado por um amigo ao chefe de gabinete
Gibson Barboza. Queria ira para Gana.
onde acreditava que pudesse ter a mellhor
experiência do caldeirão político africano,
que me fascinava. Mc ofereceram ser adido
cultural em Túnis. Era melhor do que nada.
e eu fui."
Em Túnis, de verba curta. Joaquim Cou
tinho engomava, à noite, os lençóis do
Hotel Salambò, sem calefaçào, para poder
dormir. E acabou conhecendo todos os li
deres da independência da Argélia. Reivin
dica até hoje ter previsto, numa conversa
com diplomatas, que Ben Bella tomaria o
poder na Argélia, mas se manteria pouco
tempo. Como nào existe registro de pro
priedade para idéias surgidas em conversas
de salào, é-muito difícil fazer valer seus
direitos. Em todo caso. Coutinho parece ter
aprendido coisas na experiência diplomá
tica que se situam bem adiafite da capaci
dade de vidência da Câmara. Em 1971 ele
trabalhou sozinho, sem consultoria, num
discurso em que sugeria uma nova orienta
çào nas relações comerciais do Brasil com
as nações africanas e pedia o reatamento
das relações com a China. Preparou o dis
curso, mostrou o a colegas, ficou espe
rando a vez de falar — e no meio tempo
saiu o anúncio da visita de Nixon à China.
Joaquim Coutinho já foi deputado esta
dual. depois de ter sido secretário do gover
no Paulo Guerra. Com o quase recesso da
Assembléia Legislativa, depois do Al 5, em
1969 foi para
"Santa Helena"
— o nome
providencial de sua fazenda em Pernam
buco que lhe permite em campanha fazer
discursos inflamados, dizendo nào ter
medo de nada, "porque
já tenho pronto o
meu exílio entre vacas e passarinhos, mas
sem ingleses". E dedicou-se a aumentar a
produção de leite,
"para complementar os
proventos magros do recesso". Mas lembra
que
"não adiantava, o mercado consumi
dor no nordeste é muito pobre e as pessoas
pediam: ele nào quer
ser deputado? F.ntào
que dê o leite pra gente".
Capaz de conversar longamente sobre
produção leiteira, bicheiras, carrapatos e
outros temas do repertório agrícola, Joa
quim Coutinho consegue grande
identifi-
cação com os pequenos proprietários e os
''cabras" da região.
Ele fala cinco línguas fluentemente e está
aproveitando Brasília para aprender ale
mão.
Joaquim Coutinho se situa num grupo
arenista menos acomodado à disciplina
partidária. Em seu apartamento em Brasí
lia, recebe por isso para
longas conversas,
quase toda noite, invariavelmente sobre
política e quase
sempre sobre as alterna
tivas do partido, essa turma de arenistas. E
se desculpa, sempre, pela falta de salgadi
nhos. pois ele é desquitado, com três filhos.
Faria Lima,
o defensor
do ambiente
Oque
pode fazer, no seu primeiro manda
to. um deputado jovem eleito pela
influência política do tio recém falecido,
ídolo popular incontestável e aparente
mente inesqugcível? Calar-se e observar —
aconselharam a José Roberto Faria Lima
(32 anos, carioca, da Arena de São Paulo)
seus amigos mais íntimos. "Conseguir
um
tema e tornar se crônico nele", concluiu o
próprio José Roberto, depois de muito pen
sar a respeito, logo após ter recebido
154 914 votos em mais de quinhentos
municípios paulistas, no pleito de 1970.
única e exclusivamente porque se apresen
tava ao eleitorado como sobrinho do briga
deiro José Vicente Faria Lima.
Hoje, dois anos depois, seu objeto está
praticamente atingido. O deputado Faria
Lima já nào depende tanto do nome que
leva, graças à sua constante atividade
como presidente da Comissão Especial de
Poluição —
grupo de parlamentares que
estuda os males causados pelas mais diver
sas formas poluidoras do ar, da água e do
solo, com a pretensão de apresentar um
projeto de lei que regule definitivamente c
assunto. Incansável visitante dos ministé-
rios governamentais e mantendo em dia
seus contatos eleitorais em São Paulo, ele
pretende pelo menos manter sua votação
no próximo pleito e, embora nào o confes
se, tem secretas esperanças de chegar ao
governo de Sào Paulo num prazo nào
muito remoto.
Ex vendedor de computadores da IBM
(recordista de vendas durante vários anos,
superando em 400% as previsões que lhe
ofereciam), José Roberto Faria Lima é um
convicto partidário da programação
anteci-
pada, inclusive na política.
Foi através dela
que ele acabou chegando.ao seu "tema
crô
nico", a poluição:
"Decidi que os proble
mas da Grande São Paulo, onde tive
140 000 votos, seriam a base da minha
atuação. Aí, programei: quais eram esses
problemas? Falta de recreação, zonea
mento, migração, abastecimento, sanea
mento, poluição. Desses problemas
todos,
o menos explorado e o mais rentável em
termos políticos era o da poluição.
A res-
posta me apareceu clara como a de um
computador: ela, a poluição, seria o meu
tema crônico".
O raciocínio do jovem deputado confir-
mou se integralmente na prática: foi fácil
para ele patrocinar, em poucos
meses, a
criação de uma comissão especia' de polui
ção e, mais tarde, até um "simpósio
brasi
leiro de poluição", que reuniu em Brasília
mais de trezentos técnicos.
Desde cedo, José Roberto Faria Lima
acostumou-se a ser um vencedor. Seu pai, o
brigadeiro Roberto Faria Lima (hoje Co
mandante Geral do Ar) obngou-o, ainda
menino, a estudar horas suplementares,
com- o objetivo de vê lo primeiro aluno.
Tratava o rigidamente, dando lhe o que
agora Faria Lima chama de "uma
educa
çào tipicamente militar". Mesmo quando
moraram em Washington por dois anos.
José Roberto lembra se. nitidamente, do
pai autoritário e determinado, exigindo lhe
as melhores notas da turma, "porque,
na
opinião dele. eu. sendo brasileiro, tinha de
mostrar que era mais do que todos os
americanos". (Até hoje, Faria Lima guarda
sua coleção de diplomas e currículos esco
lares num álbum especial, que mostra
freqüentemente aos seus visitantes, junta
mente com as coleções de moedas e selos
do filho nrais velho, na verdade patroci
nada e inspirada por ele próprio, um cole
cionador inveterado.)
Nos anos que se seguiram o pai conti
nuou determinando-lhe o modo de ser e de
agir e todos os seus passos na vida. Fê-lo
estudar no Mackenzie. prestar vestibular de
economia ("Eu, com quarenta anos, che
guei a coronel. Você nunca conseguirá isso.
Será mais do que eu", argumentou). Conse-
guiu-lhe emprego no IPESP através da
influência do irmão José, então secretário
de Obras do governo de Sào Paulo. Só não
lhe escolheu a namorada Neide, com quem
ele se casou aos dezenove anos, depois de
garantir ao pai que era isso mesmo o que
desejava. Dando aulas de inglês e vendendo
computadores, nào tardou a obter um nível
de vida estável. De repente, o tio morre. As
eleições se aproximam e vários políticos
falam em nome do "limismo".
José Rober
to desperta para a política, irritado com a
exploração do nome do tio. Resolve lan
çar-se candidato, depois de tentar uma
aproximação com os "limistas'
e verificar
que nào aceitavam nem tinham na menor
conta suas sugestões. Gastando apenas
26 000 cruzeiros, elege-se facilmente: "Só
precisei mostrar ao povo quem eu era".
Aos 32 anos, confiando nos dois anos de
sucesso na política, ele já se permite algu-
mas definições: "Gostaria
de ser um poli
tico bem sintonizado com meu tempo. Um
tempo de transição em que as vacas sagra
das estão mortas". E quando lhe pedem
explicações, acrescenta: "A
ideologia, por
exemplo, vaca sagrada de outros tempos, já
nào tem aquela conotação, aquele appeal.
O mundo se torna cada vez mais utilitário
— só tem valor, agora, aquilo que tem
utilidade".
Dos três filhos fala com carinho e espe
rança. Thereza Cristina, a mais velha, é
"uma menina, supermadura para a idade
que tem, doze anos". Paulo Roberto, de
nove. "é
inteligente, aplicado e coleciona
selos e moedas de todos os tipos". José
Ricardo, de seis , "é
turrão e superinteli
gente, joga muito bem xadrez, vou levá lo
ao clube de xadrez assim que puder". A
mulher, Neide, estuda sociologia na Uni
versidade de Brasília e anda à procura de
uma empregada. E ele, José Roberto Faria
Lima, anda um tanto gordo pela falta de
exercício, e recorda, c#om saudade, a época
em que tinha tempo de praticar o judô.
como faixa marrom.
m
"Ouro?
Nem conheço
-
assim disse Napoleão Bonaparte.
Mentira. O homem venera o ouro.
E mais ainda que o dólar,
segundo provaram
fatos recentes.
TEXTO DE ALESSANDRO PORRO
isse uma vez Vladimir Ilyich Ulia
nov, conhecido como Lênin nos
meios revolucionários do começo
do século: "No
dia em que nossa
vitória for definitiva, construiremos em ouro
latrinas públicas nas ruas principais
das
maiores cidades do mundo"'.
Os tempos mudaram. Hoje, a Uniào
Soviética nào somente.não despreza o ouro
com tamanho vigor, mas, muito pelo
contrário, é considerada pelos economistas
internacionais como uma das protagonistas
da recente crise monetária, em virtude de
uma manobra francamente capitalista: nas
semanas cruciais de fevereiro e março deste
ano, quando o ouro chegou a cotações ines-
peradas, o Banco Central de Moscou limi-
tou-se a fechar repentinamente suas expor-
tações, tornando assim o mercado mais
carente ainda, e valorizando suas reservas.
Este é apenas um episódio do confuso
romance do ouro, cujo último capítulo che
gou praticamente a surpreender não somen
te os investidores mais astuciosos, mas
também o modesto homem da rua, cuja
principal preocupação com o metal tão
cobiçado foi até agora limitada à aquisição
da aliança de noivado ou à prótese dentá
ria.
Nos primeiros meses da ascensão ao
poder de Adolf Hitler na Alemanha, Ernst
Wagemann. presidente do Instituto de Pes
quisas Econômicas de Berlim, constatada a
completa ausência de ouro nos cofres
nazistas de 1933, quis tranqüilizar o país, e
declarou: "Afinal,
nào quer dizer nada o
fato de haver ou nào ouro no Reischsbank.
O povo nào se pergunta:
'Quanto custa
uma barra de ouro?', mas quer saber quan
to custa a manteiga, o leite, o pão, as bata
tas, os ovos..."
Se fosse obrigado a argumentar como o
pior estudante do primeiro ano de ciências
econômicas, Wagemann não encontraria
hoje, no mundo livre, nenhum imitador.
Qualquer dona de casa de 1973 sabe que
seu orçamento cotidiano vai ser fatalmente
atingido pela crise dos últimos meses. Mas
esta mesma vítima de acontecimentos tão
complexos e longínquos, nào chega a
entender, e pergunta hesitante:
"Mas o que
tenho a ver com isso? Que culpa tenho
eu ?
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Forte Knox, em Kentucky: o ouro defendido por aço, concreto, tanques, caminhões e helicópteros.
"Culpados somos todos nós", é a res-
posta do moralista e filósofo italiano Remo
Cantoni, que explica: "Durante
7 000 anos
a humanidade não fez outra coisa que
dobrar-se diante do ouro, para obter as ale-
grias dos prazeres e da vaidade. Mas este
culto irracional e pernicioso vai ficar impu-
ne até quando?"
É sempre difícil responder às perguntas
dos filósofos. No caso do ouro, isso é prati-
camente impossível. Até quando? Quem
sabe nossa geração não é a involuntária
protagonista deste castigo que pode ter
começado a ser aplicado ao mundo há dois
ou três meses.
O ouro valorizado
O new gold rush, a nova febre do ouro,
estourou em Londres, exatamente ao meio-
dia de 23 de fevereiro de 1973, quando a
onça do metal precioso (pouco mais de 38
gramas) foi cotada a 95 dólares
— isto é,
570 cruzeiros —, enquanto o câmbio ofi-
ciai era 42,22 dólares. Foi um dia frenético
e agitadíssimo para os investidores, opera-
dores de bolsa, economistas e políticos do
mundo inteiro.
Até a linguagem hermética dos iniciados
não chegou a esconder a gravidade da
situação. Um verdadeiro vendaval monetá-
rio pairava sobre o cenário econômico
internacional, ameaçando o caos. Por quê?
Uma das muitas respostas parece estar
escondida na ingênua moral desta histori-
nha chinesa de Lieh Tzu: na rua principal
da cidade, quando o movimento é mais
intenso, um homem quebra a vitrina de um
joalheiro para roubar algumas peças de
ouro. O ladrão é preso, e o delegado de
polícia lhe pergunta:
"O
que deu em você
de roubar ouro na frente de tanta gente?" E
o homem: "Acredite,
senhor delegado:
quando eu roubei o ouro não vi ninguém
em volta de mim. A única coisa que eu vi
foi o ouro..."
Para o editorialista do Financial Times
de Londres, Gordon Tether, o vertiginoso
aumento do metal confirma a tese de que o
ouro está voltando à moda, não somente no
meio dos investidores particulares, mas
também como instrumento de reserva inter-
nacional dos bancos nacionais. A falta de
fé no dólar e nas outras moedas de papel
que o acompanham, teria sugerido aos xe-
ques árabes e aos emires do golfo Pérsico a
conversão em ouro das substanciosas reser-
vas em dólares, em ienes e em marcos acu-
muladas nos últimos tempos, em troca de
royalties para a exploração de petróleo
local. Os países produtores de petróleo
recebem cerca de 5 bilhões de dólares ao
ano, destinados a aumentar até 40 bilhões
daqui a 1980. Essa espantosa quantia, em
um primeiro tempo transformada em mar-
cos alemães e em ienes japoneses, estaria
agora sendo novamente trocada por barras
de ouro. E, se a manobra continuar, o
metal poderá chegar a 100 dólares por
onça, tranqüilamente, até dezembro de
1973. Isto vai certamente acontecer, tam-
bém considerando outra eventualidade: a
de a União Soviética e a África do Sul, os
maiores produtores de ouro do mundo (veja
mapa publicado na página 34), continua-
rem, como fizeram a partir de fevereiro
deste ano, a manter fechadas suas exporta-
ções do metal precioso.
A última cartada
Os Estados Unidos —
protagonistas
deste confuso acontecimento —
estão dis-
postos a jogar até a última carta para sal-
var a supremacia do dólar, que eles consi-
deram tão importante e precioso quanto o
ouro. De um lado, eles não olham com
excessivo temor uma nova desvalorização
da moeda nacional, que já baixou de 10 por
cento em fevereiro de 1973: muito pelo
contrário, uma nova desvalorização só
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Forte Knox: guarda 12 bilhões de dólares em barras de ouro.
poderia favorecer as exportações e conter
as importações. For outro lado, Washing-
ton insiste tenazmente em querer manter a
paridade do dólar com o preço oficial do
ouro —
preço que, pelo visto, ninguém
mais respeita.
Uma das maneiras de conter a avançada
do metal precioso: o ouro, poderia ser a de
lançar no mercado parte das reservas que
os norte-americanos guardam nos cofres
subterrâneos de Fort Knox, no Estado do
Kentucky.
O maior depósito de ouro do mundo, a
50 quilômetros da cidade de Louisville e a
1 000 quilômetros da costa do Atlântico,
foi inaugurado em 1936. Construído em
aço e concreto, o grande cofre federal surge
como um iceberg no meio de uma zona
desértica. Somente a imaginação de Yan
Fleming, o inventor do herói cinemato-
gráfico James Bond, poderia ter posto em
dúvida a segurança de Fort Knox, pano de
fundo do romance GolcUfinger. Na realida-
de, nem um bombardeio atômico poderia
vencer a fortaleza do Kentucky, projetada
para guardar ouro no valor de 19 bilhões
de dólares, e que em janeiro último conti-
nha o equivalente, em metal, a 12 bilhões,
guardados por dois batalhões de soldados,
por tanques, canhões e vigiados continua-
mente por uma patrulha de helicópteros.
O governo do presidente Richard Nixon
poderia decretar a venda de parte deste
ouro, para enfrentar a especulação mun-
dial. Mas o que iria acontecer no dia em
que, além dos países do golfo Pérsico, tam-
bém as companhias multinacionais (que
possuem nos cálculos do senador ameri-
cano Frank Church 280 bilhões de dólares)
resolvessem comprar ouro? Trata-se de
uma eventualidade praticamente irreal,
considerando que boa parte dessas compa-
nhias são controladas por capitais total-
mente norte-americanos. Mas a política
monetária internacional é a arte do possí-
vel: e quando se fala em ouro, qualquer
análise lúcida e aparentemente correta
corre o risco de naufragar no profundo mar
da irracionalidade.
Prova disto está nas conclusões da últi-
ma reunião do Fundo Monetário Interna-
cional, realizada em Washington em mea-
dos de março: poderia ter sido, em vista
dos acontecimentos, uma reunião impor-
tante e definitiva para uma realística e
necessária reforma do sistema monetário
mundial. Muito pelo contrário, não aconte-
ceu absolutamente nada. Deixou-se a maior
parte das moedas do mundo flutuar acom-
panhando não mais o bamboleante cami-
nho do velho Rei Dólar, mas os caprichos
da oferta e da procura. Afinal, quem
saiu
fortalecido mais uma vez da reunião de
Washington foi o ouro.
O vil metal desejado
Uma das peças menos conhecidas do
teatro feita pelo teatrólogo inglês William
Shakespeare, Timon, o Ateniense, publi-
cada em 1623 e poucas vezes representada
(nunca exibida no Brasil), tem um trecho
que merece ser lembrado. O trecho na fiel
tradução do economista brasileiro Santiago
Fernandes, é este:
"Ouro? O metal amarelo, luzento e pre-
cioso? Ê isto que torna branco o preto,
justo o injusto, certo o errado, nobre o
torpe, jovem o velho e valente o covarde.
Por que, deuses? Por que há de ser assim?
Por que qfasta sacerdotes e fiéis de vosso
lado e tira aos homens mais fortes a paz de
espírito?
Vil metal, capaz de fazer e desfazer reli-
giões, abençoar amaldiçoados, tornar o
horrendo leproso adorado e colocar la-
drões, dando-lhes títulos, reverência e apro-
vação, no banco dos senadores. É ele que
faz a decrépita viúva casar outra vez; a ela,
a cuja vista o hospital e as chagas ulcerosas
se nauseariam, ele dará aroma e sabor em
nova primavera.
Maldita substância, prostituta comum
da humanidade, criadora da discórdia entre
as nações, vem, hei de te fazer cumprir tua
verdadeira missão ".
Pelo visto, moralistas e filósofos, teatro-
logos e revolucionários, sem falar de mui-
tos economistas, investidores e poetas,
todos criticam o ouro e seu poderio. O
ensaísta francês Charles Louis Montes-
quieu, em 1750, chegava a denunciar:
"Não há nada de mais extravagante que
fazer morrer um número incalculável de
homens para tirar da terra o ouro, este
metal absolutamente inútil..."
A denúncia de Charles Louis Montes-
quieu não serviu a nada: o costume de
matar, torturar, escravizar, morrer e enlou-
quecer em nome do deus Ouro estava radi-
cado há milênios no coração de toda
humanidade.
O ouro sempre foi acompanhado pelo
sucesso. Sua relativa facilidade de extra-
ção, sua maleabilidade e sua presença em
maior ou menor quantidade em todas as
regiões do mundo garantiram logo sua
popularidade.
Nas ruínas de Ur, na Caldéia, onde nas-
ceu o patriarca Abrão, foram encontradas
as primeiras jóias rudimentares de ouro tra-
balhado a mão. Mais tarde, os arqueólogos
deviam descobrir o requinte dos ourives de
Tróia e de Micenas, onde o ouro já repre-
sentava um papel social e psicológico. No
Antigo Egito, cerca de 1 500 anos antes de
Cristo, o ouro constituía valor de troca,
regularmente contratado. Há referência de
que no VI século a.C., na Lídia, Ásia
Menor, o rei Cresus foi um dos primeiros a
usar o ouro como moeda oficial: pesava
pouco menos de 11 gramas, trazia os perfis
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comprova a existAncia de ouro de lavagem a 30 lequas da Vila dd; , *¦ j [
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Ipanam daí em busr.a de nqoeias minerais principalmente
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quês anunciando a descoberta da ouro em SAo Vicente
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comprova a existência de ouro de lavaqem a 30 léguas da Vila de
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Se o ouro e^iá difícil de encontrar perto
de casa. é preciso procurá lo mais longe. E
assim os limites da terra e dos mares
ampliam se de década em década. Começa
com Henrique, de Portugal, inaugurando
uma política de além mar. Sempre de Lis
boa, partem mais tarde Bartolomeu Dias.
González, Vasco da Gama, e voltam tra
zendo ouro e escravos, da África e da
índia.
O navegador Cristóvão Colombo, judeu
convertido, nascido em Gênova, em 1451.
na base de experiências anteriores, e acei
tando a teoria da esfericidade da Terra, lan
çada pelo astrônomo florentino Paolo dai
Pozzo Toscanelli, projeta chegar até a Ásia
seguindo um caminho novo, em direção do
Ocidente. Os reis da Espanha gostam da
Os mapas da mina
de liino cabeças, de leão e louro. A moeda
chamava se siaiere, do grego sicu), que quer
dizer "estou
firme", c firme ficou, no reina
do do mundo inteiro
Somente em 46 a.C., em Roma, C ésar
cunha sua primeira moeda de ouro: é me
nor do uue a de Cresus pesa 8.18 gramas,
mas sua influência vai abranger logo todo o
Império e as novas terras conquistadas,
virando arma de pressão política e inaugu
rando um estilo que seria sempre imitado
até nossos dias.
A aventura do ouro desenrola se sem
solução de continuidade durante o primeiro
milênio da era contemporânea. Na longa
noite da Idade Média, de vez em quando
uma luz cintilante afugenta as trevas: é o
ouro (pouco) trazido pelos cruzados que
voltam do Oriente Médio. Quanto custou
este metal em vidas humanas, é melhor
esquecer.
No século XIII, na Itália que conhece
mais do que outras nações os segredos dos
negócios, das trocas, dos fretes e dos b ín
cos —, o ouro assume um papel de defini
tivar importância. Agora o problema é
onde achar mais? A procura é frenética, e
começa a interessar os estudiosos de uma
antiga ciência árabe, os alquimistas. Par
tindo do principio de que na natureza tudo
se transforma e nada se destrói, e da posi
çào mística de que Deus não impediu ao
homem de criar ou recriar à vontade, os
alquimistas chegam a fazer pactos com o
Diabo para transformar em ouro metais
mais vulgares. As experiências são miste
riosas e caríssimas. Mas há mecenas dis
postos a financiar o trabalho dos mestres.
Um deles, Cosimo de Mediei, em 1430,
após ter sustentado durante anos as pesqui
sas de mestre Martius, em FlorenÇa, abre
os olhos e diz: chega. Ao novo e urgente
pedido de Martius, responde enviando uma
bolsa vazia, com o lacônico recado: "Aqui
está a bolsa para Martius encher com seu
ouro. Se não conseguir, que se vá a outras
terras. Comigo, as experiências acabaram"
(Sobre alquimia, veja texto publicado na
página 32.)
O ouro derrotado, pelo
diamante.
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idéia, e fornecem a Colombo homens,
dinheiro e navios, para chegar até às ín
dias. Cristóvão Colombo parte, confiante
em suas qualidades de bom navegador e
bom cartografo, e finalmente em 12 de
outubro de 1492 descobriu a América.
Para o governo real da Espanha pouco
faz que se trate das índias ou da América:
tem ouro esta terra? Parece que sim, mas,
voltando de sua primeira viagem, Colombo
consegue trazer somente 4 quilos. Após
mais duas travessias, e pouco ouro, Colom-
bo morre na miséria, esquecido, na cidade
espanhola de Valladolid, em 1506: igno-
rando ter descoberto um novo mundo e ter
aberto para a Espanha as portas do
Eldorado.
Depois de Cristóvão Colombo, agora
que o caminho jà está traçado, é a vez dos
"conquistadores": Cortez, Pizarro,
D^lmagro. E é, finalmente, a vez do ouro
abundante, mas que custa aos indígenas do
México, de Panamá, de Sào Domingos, do
Peru, milhares de vidas humanas. Em
1492, Sào Domingos, por exemplo, conta
com pouco mais de l milhão de habitantes.
S«fiut
coAtmws^êo
Em 1514, só restam 13 000. Mas a Espa
nha é rica.
E o Brasil? Descoberto por Pedro Álva
res Cabral em 1500, os portugueses só
começam a tirar proveito efetivamente de
suas minas em fins do século XVII, quan-
do, após o domínio espanhol (1580-1640),
a metrópole enfrenta uma espantosa crise
econômica. Dizem em Lisboa: "O
impor-
tante é tirar o maior proveito no menor
tempo possível para evitar a ruína". Mas a
coisa nào é tão fácil assim. No México e no
Peru, por exemplo, o ouro era já conhecido,
trabalhado e venerado pelos indígenas.
Aqui, no Brasil, o índio nem se interessava
por este metal, macio demais para fazer
armas, abundante demais para valer algu-
ma coisa.
Para extrair o ouro, é preciso importar
escravos. Mas chegam da metrópole tam-
bém os brancos, com os olhos e o coração
cheios de esperança. Diz um cronista da
época: "Das
cidades, das vilas, dos recón
ca vos, do fundo dos sertões acorriam bran
cos, pardos, negros, índios. A mistura era
de toda a condição de pessoas: homens,
mulheres, moços e velhos, pobres e ricos,
plebeus e fidalgos, seculares e clérigos, reli-
giosos de diferentes institutos, muitos que
nào tinham no Brasil nem convento nem
casa".
As jazidas das Minas do Ouro (mais
tarde Minas Gerais) atraíam tanta gente de
São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, que o
governo foi obrigado a tomar providências
para que não se despovoasse a costa. Mas,
assim mesmo, as lavouras do litoral eram
abandonadas, os engenhos fechados, as
fazendas de criação esvaziadas.
Em 1699 foram enviados para Portugal
os primeiros 725 quilos de ouro. Calcula-se
que, em um século, o Brasil forneceu 80
por cento da produção mundial da época,
com cotas máximas de 4 350 quilos por
ano. (Nos últimos cinco anos, a produção
média do Brasil tem oscilado entre 10 e 12
toneladas anuais, segundo o Ministério de
Minas e Energia. O Brasil é o 14.° produtor
mundial de ouro.)
As grandes corridas
Enquanto no Brasil o ciclo do ouro
acaba praticamente em 1762, tendo sido
firme e cruelmente aplicada a fórmula do
"maior
proveito no menor tempo possível",
na América do Norte prepara-se o terreno
para a mais louca e aventurosa corrida ao
ouro. Até janeiro de 1848 são feitas peque-
nas descobertas isoladas, que enchem mais
de orgulho que de riqueza seus protago
nistas. Mas, de repente, uma palavra mági
Eu vi o Conde de Saint-Germain (236
anos de idade)
Você
gostaria de ver um pedaço
de chumbo transformar-se em
ouro?" O estranho convite foi feito a
Alessandro Porro, quando corres-
pondente da Editôra A bril em Paris,
em março de 1971. Aqui ele conta a
experiência:
O convite partiu de um amigo,
Philippe Latour, presidente de uma
sociedade de ciências ocultas, com
sede no bairro de Montparnasse. (Em
Paris há cerca de duzentos destas
sociedades, algumas com mais de mil
membros, outras contando com as-
sembliias de apenas dez pessoas).
Eu havia freqüentado outras vezes
esta associação, como "membro
ob-
servador", e atê participado de um
debate sobre alquimia, que durou
dois dias, e do qual saímos todos (eu,
Philippe e mais uns quinze interessa-
dos) cansados, mas com as mesmas
dúvidas e perplexidades iniciais.
Agora Latour — estudioso de
alquimia, e confiante na existência
da "panacéia
universal", remédio
capaz de sarar todos os males físicos
e morais da humanidade, e da "pedra
filosofal", indispensável para trans-
formar em ouro os metais mais vul-
gares —
fazia-me este desconcer-
tante convite com a maior
naturalidade. E eu fui.
A reunião foi organizada num
pequeno apartamento da Avenue du
Maine, pouco distante da estação de
Montparnasse, numa atmosfera que
não lembrava em nada os laborató-
rios e as usinas herméticas de Para-
celso, de Papus ou de outros mestres
da alquimia. Móveis brancos, carpe-
te, um televisor, um conjunto de som
e alguns quadros de cores vivazes
contribuíam, muito pelo contrário,
para lembrar à pequena assistência
(onze pessoas) o racionalismo e as
exigências da sociedade de consumo.
De qualquer maneira foi aqui que a
"coisa" aconteceu, da maneira que
vou tentar relatar com a prudência e
a isenção de um escrivão.
O "mestre"
chegou pouco depois
das dez horas. Um "oh "
de surpresa
recebeu o convidado de honra: foi
nesse pequeno apartamento de Mont-
parnasse que eu tive a oportunidade
de conhecer pessoalmente o conde de
Saint-Germain. Agora, que fosse ele
mesmo, ou um brilhante misttfíca-
dor, não sei. Os outros convidados
não tiveram a menor dúvida em
cumprimentar o hóspede, velho co-
nhecido. Alto, magro, o cabelo sal e
pimenta, o rosto jovem, o porte
nobre. Duas coisas podiam deixar-
nos perplexos: sua idade (236 anos) e
sua fama: a de imortal.
O Conde de Saint-Germain foi
muito popular na França do século
XVIII. Conselheiro de Luís XV,
favorito da marquesa de Pompadour.
O rei, fascinado com suas capaci-
dades (sabia aumentar o tamanho
das pedras preciosas, transformar em
ouro moedas de prata e possuía a
receita do "elixir
de longa vida"),
ofereceu ao conde o castelo de
Chambord, onde ele montou um
laboratório de pesquisas, sem dúvida
o mais bem equipado de todos os
tempos.
Vítima dos ciúmes da corte, Saint
Germain foi obrigado ao exílio na
Alemanha, onde continuou seus estu-
dos. Um dia, ele literalmente sumiu:
falaram de morte, mas nunca nin-
guém encontrou seu corpo. Quando
desapareceu, Saint-Germain estava
com 49 anos. Por isso, feitas as con-
tas, quando eu o encontrei, deveria
estar com 236.
Desde 1784, quando sumiu, o
conde provou o poder de sua imorta-
lidade e de sua clartvidência: man-
dou dizer à rainha Maria Antonieta
quão trágica seria sua morte, e mais
tarde conseguiu ser recebido por
Napoleõo, a quem anunciou — no
momento de seu máximo esplendor
imperial — o exílio na ilha de Santa
Helena.
Em tempos mais recentes, Saint-
Germain previu o suicídio de Adolf
Hitler, o atentado contra John Ken
nedy, o sangrento fim de Sharon
Tate e, finalmente, a morte do filho
de Aristóteles Onassis, Alexandre.
Estas terríveis previsões, que po
der iam ter feito do conde imortal o
rei dos azarentos, só conseguiram
que Saint-Germain (numa Paris onde
o esoterismo mistura-se com a mun-
danidade) fosse ainda mais benquisto
e mimado. Até a mais famosa colu-
nista social do país, Carmen Tessier,
que goza da amizade dos poderosos,
como o presidente da República
Georges Pompidou e o cardeal Jean
Danielou, fala dele como de um
charmant garçon, que veste como
ninguém as roupas de Pierre Cardin.
O conde cumprimentou todo
mundo polidamente, e sem perder
tempo disse: "Estou
pronto". Então
um dos convidados ofereceu-lhe um
pedaço de fusível de chumbo, de uns
5 centímetros de comprimento, que
todos nós examinamos com a devida
atenção e desconfiança, e outro apre
sentou-lhe uma tigelinha de aço, com
tampa. O recipiente estava novo,
mas todos, com a qjuda de um prego,
riscamos o fundo e as partes laterais,
para qfastar qualquer hipótese de
truque. Era aço mesmo, foi o vere-
dicto.
Fi
ca faz a volta do mundo: Califórnia. O
ouro está lá, descoberto por acaso por um
marceneiro, James W. Marshall, que traba
lha por conta de um emigrado suíço, Jo
hann August Sutter. As terras onde está o
ouro são de Sutter, ele tem todos os docu-
mentos em ordem, testemunhas e sentenças
de tribunais. .. Mas para que serve tudo
isto, quando 4 milhões de pessoas chegam
á Califórnia em menos de quinze anos, pro
curando o ouro?
James W. Marshall e Johann August
Sutter, praticamente, sào os únicos a ficar
pobres. De 1848 até 1857, em nove anos, a
Califórnia produz ouro equivalente a 445
milhões de dólares. Marshall, pouco antes
de morrer, é nomeado general do exército
norte-americano. Sutter, pouco depois de
morto, é lembrado num monumento de
mármore. Foram as únicas coisas que o
governo americano pôde fazer, para agra-
decer aos protagonistas do mais fantástico
e extraordinário gold rush da humanidade.
Haverá outros, na Sierra Nevada, no
Alasca, no Canadá, na Austrália, mas ne
nhum deles será tão frutífero como o da
Califórnia. Somente na África do Sul, em
1886, vai acontecer algo parecido: ali, após
seis anos de pesquisas, os irmãos Struben
fazem sua descoberta, num planalto a 200
metros sobre o nível do mar. Em homena-
gem ao presidente da República da época,
o bôer Stephanus Johannes Paulus Kruger,
em 20 de setembro de 1886 a cidade funda
da pelos garimpeiros chegados de todo o
mundo cnai.ia-se Johannesburg. Em 1890,
a África do Sul produz 440 000 onças de
ouro. Após nove anos, as onças sào 3
milhões e 600 mil. Apesar da guerra contra
os ingleses, em 1900, e da derrota dos bôe-
res, a produção de ouro vai manter pratica
mente seu nível constante, e ainda hoje a
extração do metal representa o primeiro
recurso do país (com uma produção de 775
toneladas anuais colocando-se como o pri
meiro produtor mundial
— mais de 27
milhões de onças). O Estado controla a
produção, mas fornece aos concessionários
os benefícios de uma política fiscal bas-
tante branda. Outra facilidade o Estado
fornece aos exploradores das minas: ho-
mens para trabalhar, negros, mantidos na
segregação racial e obrigados aceitar salá-
rios irrisórios.
E os russos? Se houve corrida, ninguém
soube. Primeiro produtor de ouro do
mundo, antes da Califórnia, a Rússia dos
Czares conseguiu manter uma boa posição
até o começo do século, com 30 toneladas
em 1900 e 55 em 1914. Depois, com a
Revolução de outubro de 1917, o trabalho
nas minas parou de vez. Já sabemos o que
itgut
transformar um pedaço
de chumbo em ouro
"Estou pronto", disse novamente
SaintGermain, e mostrou para todos
um medalhão que portava pendurado
ao peito, embaixo da camisa, em
contato com o corpo. Esse medalhão
era daqueles que se abrem: dentro,
havia um pó cintilante, com reflexos
verdes e azulados. A assistência
comentou baixinho, com respeito e
admiração: "É
o pó de projeção".
Isto é, na linguagem dos alquimistas,
a pedra filosofal pulverizada.
O conde pediu que o pedacinho de
chumbo fosse
"molhado " no pó, de
leve, antes de ser posto na tigela
imediatamente tampada. Assim foi
feito, e logo após fomos todos para a
cozinha. Uma cozinha bem pequena,
que cheirava a ovos fritos e mostar-
da. O fogão foi ligado, o gás logo
envolveu a tigelinha, e passaram-se
sete minutos, durante os quais Saint-
Germain ficou na sala, perto dajane-
la, olhando para a noite de Paris.
"Está recitando mentalmente a
fórmula esotérica que somente ele
conhece", disse um. "Nada
disto, ele
não precisa, ele é bom demais ",
disse
outro. "Será
que vai sair ouro
mesmo?", comentou um terceiro,
falando baixinho. Todos lhe dirigi-
ram um olhar de censura, e o cético
ficou vermelho e calado.
Finalmente, Saint-Germain apare-
ceu na cozinha. Seu rosto estava
sereno, seu olhar ainda mais pene-
trante. Sem olhar sequer para a tige-
la, disse: "Habemus
aurum ",
temos o
ouro. O latim é uma das oito línguas
que o conde fala normalmente, inclu-
sive o chinês e o sãnscrito. O gás foi
apagado, a tigela destampada, e lá
estava o ouro.
Durante sete minutos, o pedacinho
de metal amarelado, do mesmo ta-
manho do fusível de chumbo, ficou
resfriando. Enquanto isso, na sala, o
ourives Raymond Schillinger, 39
anos, com loja no número 3 da Rue
Cité Berger, que tinha sido especial-
mente convidado, preparava seus
instrumentos de análise: mas bastou
uma gota de ácido nítrico para que o
ourives olhasse espantado para o
conde — agora sorridente
— e dis-
sesse: "Mas
é ouro, não há dúvida
nenhuma, c'est de l'our".
Foi assim que eu vi, com meus
olhos, um pedaço de chumbo trans-
formar-se em ouro. O Conde de
Saint-Germain ficou mais um pou-
quinho com a gente, e respondeu
tranqüilamente a muitas perguntas.
"O senhor aceita a idéia da
morte?"
"Sim, porque ela nào existe."
"Mas para que serve a eterni-
dade?"
"Serve-me para continuar
minha procura do Absoluto."
"Como o senhor vive, física-
mente?"
"Eu nào como, quase nào
durmo, mas, se nào chego a me
condicionar, acabo ficando cansado
e sentindo terríveis dores."
"O que representa para o se-
nhor a transformação do chumbo em
ouro?"
"A transformação é o resul-
tado de nossa sabedoria, é a recria-
ção da matéria."
"Dizem que o senhor vive
luxuosamente..."
"É verdade, mas já vivi muito
melhor, como no castelo de Cham-
bord, nos tempos de Sua Majestade
Luís XV. Por outro lado — se é isto
que querem saber —, eu nào uso o
ouro que fabrico para minhas exigên-
cias pessoais: é uma questão de
ética..."
"Afinal, senhor conde: por que
o- senhor realiza de vez em quando
estas experiências em público ? "
"É preciso provar aos homens
que existem aqueles que possuem a
chave da existência. Eu sou um deles.
Eu, e poucos outros, possuímos o
segredo da Pedra. Um dia, talvez,
este segredo será revelado, e a huma-
nidade viverá mais tranqüila. Ou
acabará de vez: este é um risco que
quem possui o segredo da Pedra
pode correr."
Nos últimos dois anos, o Conde de
Saint-Germain realizou outras vezes
suas experiências em público. Na
noite de 28 de janeiro de 1972, ele
transformou uma barra de chumbo
em ouro na frente das câmaras da
ORTF, a televisão francesa, durante
o programa
"O Terceiro Olho
", diri-
gido por Jacqueline Boudrier e René
Marchand. Hoje, Jacqueline é dire-
tora do Segundo Canal de TV fran-
cesa, e confessa: "Em
quinze anos de
televisão, nunca vi algo parecido
".
A transformação de um vil metal
em ouro não é de hoje. Desde a Idade
Média, os alquimistas estudaram,
procuraram e talvez conseguiram
penetrar no mistério da pedra filo so-
fal. Uma prática oculta e perigosa,
que muitas vezes levou seus partici-
pontes à loucura ou a fazer pactos
com o Demônio. Com exemplar luci-
dez, o estudioso lisboeta do século
XIX Cecílio Rodigênio adverte no
seu raríssimo volume A Arte de
Fazer Ouro: "Esta
atividade é peri-
gosa por dois motivos: o primeiro é o
pacto com o Diabo, e o segundo a
fraude, quando esse ouro é empre-
gado na fábrica de dinheiro, o que só
ao Estado épermitido ".
OURO.
Lènin achava do "vil
metal'*. Sialtn. ao que
parece, não acompanhou o caminho indi
cado por sou ilustre companheiro de lutas,
e começou a olhar para o ouro da Sibéria
como qualquer concessionário burguês.
Afinal, mão de obra para a extração é que
não faltava.
A última notícia sobre o ouro soviético é
da CIA, Agência Central de Informações
norte americana, que garantia para o
ano de 1940 — uma produção bastante
substanciosa de 127 toneladas. Depois, é o
mistério. Um mistério praticamente impe
netrável, que deixa abertas as portas para
mais de uma avaliação: dizem os Estados
Unidos que a União Soviética produz 150
toneladas por ano. Os ingleses calculam a
mesma produção em 500 toneladas, e
garantem que é verdade: os serviços secre
tos de Sua Majestade conseguiram contar
as caixas de madeira de pinho que o Banco
Central da URSS usa para a condicionar
as barras.
Com estas e outras avaliações, chega se
á média de 345 toneladas por ano (isto é.
aproximadamente 12 milhões de onças). O
que não é nada mau, considerando o valor
dobrado do ouro, e as dívidas da URSS
com o mundo ocidental realizadas nos últi
mos anos para importar trigo: afinal, o pão
que chega á mesa dos soviéticos, após o
incrível aumento de Londres, vai ficar
quase de graça.
Todo o ouro do mundo
O ouro: é uma coisa séria? A pergunta é
de George Bernard Shaw, o teatrólogo
Os países que
mais produzem
ouro
uimtub ¦'///7,j\mm <//
in v
jjK- •
Fi'rr
b Jj ..¦à.. a .d. Bll tfitíiaUüS.
inglês, e .se não existissem as mil u agé
dias que acompanharam durante setenta se
culos sua história poder se ia responder
como Napoleão Bonaparte: "L'or?
Con
nais pas" (O ouro? Nem conheço). Mas.
desde 1944, ele não pode ser ignorado:
nesse ano, os Estados Unidos, ainda em
guerra, mas com a vitória garantida, reuni
ram na cidadezinha de Bretton Woods os
representantes de todos os países industria
lizados do Ocidente, e estabeleceram o gold
pool, isto é uma espécie de consórcio do
ouro, que previa uma relação indissociável
entre o dólar e o metal. O acordo durou até
quando a economia americana deu sinais
de boa saúde. Quando começaram as pri
meiras crises, foi o fim de Bretton Woods c
de suas boas intenções. Agora, conside
rando o ouro dos Estados Unidos, o da
URSS. o da África do Sul, o de todos os
outros países, e até o ouro dos pequenos
investidores, existem no mundo não mais
de 100 000 toneladas de ouro. Isto significa
5 000 metros cúbicos, ou melhor, um cubo
medindo 17,8 metros de cada lado. Uma
coisa insignificante, perto das pirâmides do
Egito. Diz o economista francês René
Sedillot: "Pensem
só: 7 000 anos, 100 000
toneladas, e uma febre que não acaba
nunca Jirtt
Uma
jóia por
dez milhões de dólares
Contai: o ouro está na moda.
Aloja
fica no número 12 da Rue de
la Paix (uma das mais sofisti
cadas do centro de Paris). Na entra
da, porém, uma placa bastante dis
creta diz simplesmente: Joaillerie
Cartier". Aí estão os mais famosos
joalheiros do mundo, constantemente
solicitados por artistas de cinema,
monarcas, ou magnatas do petróleo.
Dentro da loja a decoração também
é discreta, com paredes de madeira
cinza trabalhada, provavelmente
para realçar as jóias, colocadas em
mostradores de vidro. Existem seis
saletas, cada uma com uma espécie
de escrivaninha, e os clientes são
atendidos isoladamente, por funcio
nários que usam terno azul marinho
e gravata sóbria. Não há limite de
escolha: pode-se comprar desde um
simples isqueiro folheado a ouro, pot
400 francos (pouco mais de 400
cruzeiros), ou um colar de 600000
dólares (mais de 3,5 milhões de
cruzeiros). E, se alguém desejar uma
jóia de 10 milhões de dólares, demo
ra um pouco, mas também é perfeita
mente possível.
Jean Charles Contat, o jovem
responsável pelo departamento de
criação, é quem decide o que vai ou
não ser fabricado. Ele usa dois anéis,
tipo aliança, de ouro fosco, um bra
celete de ouro no pulso direito e a
corrente do relógio, no pulso esquer
do, também é de ouro. Em seu sóbrio
escritório, ele deu um depoimento a
REALIDADE, explicando por que a
procura pelo ouro não é uma questão
de moda:
"Na verdade, o ouro sempre esteve
na moda. De vez em quando pode
haver uma preferência por outros
metais, como no início do século,
quando Louis Cartier lançou os
engastes de platina para certas pe
dras preciosas. Mas o ouro repre
senta um desejo permanente da hu
manidade. Antigamente (a casa
existe desde 1847), os nossos~clientes
eram pessoas para as quais o di
nheiro não tinha muita importância,
nem mesmo sentido: os czares da
Rússia, rainhas da Espanha, ioda a
aristocracia da Europa, a milionária
americana Barbara Huton, todas fi
guras importantes. O rei George VII,
sempre que vinha a Paris, não deixa
va de comprar alguma coisa para os
amigos. Vinha muitas vezes a Paris e
tinha muitos amigos. Nunca pergun
tou o preço de nada. Mas, hoje, as
coisas mudaram: antes de comprar,
até Aristóteles Onassis discute o
preço das jóias. Em compensação.
descobrimos a juventude. Essa era
uma clientela que não existia anits.
E essa passou a ser a nova orienta
ção da casa. Estudos de mercado qut
encomendei recentemente vieram
apenas confirmar uma impressão que
eu já tinha."O
gosto pelo ouro atinge a juven
tude de todo o mundo, e a prova está
no êxito dos nossos colares, bracele
tes, correntes e os milhares de isquei
ros que exportamos. Na verdade,
ouro puro não existe em jóias. O
ouro de 24 quilates é tão maleável
que não se torna possível fazer qual
quer coisa durável com ele. O ouro
começa a ser empregado à partir de
22 quilates. Na França, a lei exige
que não se desça abaixo de 18 quila
tes, mas nos Estados Unidos ou Itá
lia é possível ir até pouco menos de
14 quilates. Naiuralmente, o preço
de uma jóia depende da arte com-que
ela foi fabricada. Uma jóia assinada
por Cartier, sempre terá um valor
acima da média. De qualquer manei
ra, pode se dizer que, mesmo sem
considerar o preço do ouro bruto, a
compra de jóias foi desde o começo
do século um grande investimento,
devido ao encarecimento da mão de
obra. Assim, um broche que custava
1 000 dólares em 1920, custaria hoje
pelo menos 50 000 ".
34
Escolha aqui o tipo de emoção
que
você
quer
despertar em mala
/OOQCxwWlXQ^L^ jt
MiL' ¦• •**¦, 1 *F^*ai/^^t •
vt^ l»5y -v.
Para maio, a época do ano em que
as mulheres mandam mais
ainda, a Colorex tem o presente que
elas estão esperando.
Lindas caixas com aqueles produtos que já
estão acostumados
a fazer o coração de todas bater mais forte.
A linha Colorex Marfim, com peças para
usar todo dia sem
medo de derrubar no chão, porque
é difícil de quebrar
e fácil de repor.
A linha Colorex Arabesque, todinha em branco com
decoração marrom, especial para quem gosta
de jantar
à luz de
velas e receber gente
importante em casa.
E as caixas Colorex, que
têm a combinação das linhas
Marfim, Arabesque e Transparente, numa embalagem que
deixa o
presente com cara de coisa importada.
Em maio, dê Colorex.
E prepare-se para
reações incríveis.
Até o entregador vai ficar comovido, principalmente
com a gorgeta que
ele vai receber por
entregar
um produto
tão emocionante em caixas tão lindas.
A mãe enxuga
uma furtiva lágrima
pensando na cara
do filho querido,
quando ela servir
aquela comidinha
gostosa num
prato
Colorex Arabesque.
Qualquer noiva
solta gritinhos
emocionados por
um jogo
de
Colorex Marfim.
Um casamento feliz
pode começar
com gritos.
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Santa Marina
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SAUDADES,
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Reparem nas duas mulheres ao lado. A do porta-retratos,
Marilyn Monroe,
morreu há mais de dez anos. A outra, Elke, assumiu o espectro de
Marilyn, veste-se como ela e proclama:
"A
moda nunca se renova.
Está sempre procurando
recursos do passado.
Logo, a única maneira de
enfrentar a moda é partir para
o deboche".
Como Marilyn, fonte de inspiração, e Elke, discípula fiel, imagens
de antigamente e consumidores de hoje mantêm um diálogo
cada vez mais intenso. A nostalgia se espalha nas roupas, nos filmes»,
nos discos, que
voltam ou imitam os de ontem, nos automóveis,
nos anúncios.
"O
passado é sempre feliz", dizem os
psicólogos.
"Não
há futuro no passado",
condenam os sociólogos.
"O
passado vende", contentam se os industriais da novidade.
Separadas por
dezenas de anos, as duas mulheres da foto
simbolizam um vendaval de suspiros que
tomou conta do Ocidente
e faz de 1973 o ano das reprises, submetendo todos
a uma poderosa
lei que
os obriga a sentir saudades.
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HOJE
I em os vermes chatos da praia
de Copacabana escapam da lei.
Quando transferidos para um
^ aquário, eles continuam fazendo
durante algum tempo inúteis movimentos
de enfiar-se e sair de uma areia imaginária.
A memória, ou "persistência
do passado",
é esta lei autoritária e fundamental para
todos os seres vivos. E na estima pelo dia
de ontem, assim como no prazer do retro-
cesso, está um sentimento que atualmente
percorre o mundo: a nostalgia.
A (tostalgia
de 1973 foi precedida por
muitas outras. Os antigos romanos inveja
vam o sistema político dos gregos. Os poe
tas do século XIX, temerosos pela transfor
maçào de estilo de vida que a Revolução
Industrial lhes impunha, sonhavam com a
"arte
pela arte" e lembravam os modelos
do Renascimento quinhentista. Mas a re-
prise de agora é tão gigantesca e tão cheia
de detalhes anacrônicos que os ponteiros
da saudade humana jamais giraram em
velocidade tão frenética. Esta marcha à ré
tem seus defensores felizes, como os indus-
triais da novidade que adaptam qualquer
lei — mesmo a da memória — às leis do
mercado e das vendas. Tem também seus
críticos sombrios, como o filósofo alemão
Marx Horkheimer, co-fundador da célebre
Escola de Frankfurt (de onde saiu um outro
pensador muito citado até recentemente,
Herbert Marcuse), que lamenta: "Os
radi-
cais da negação, de antes, olham com sau
dades para trás, para o que não mais
existe".
Felicidade e desespero tecem a onda de
nostalgia em partes certamente desiguais.
A superfície é brilhante. As mulheres se
vestem como suas mães e avós há vinte,
trinta ou quarenta anos atrás. Na mitoló-
gica Carnaby Street, em Londres, onde os
compradores remexem em busca dos tem-
pos perdidos, os farrapos históricos estão
expostos nas vitrinas por ordem de antigui-
dade, em décadas, a partir da de 20.
Dentro das casas, os sintomas conti
nuam insistindo. A televisão se trans
formou no grande museu da memória hu-
J*
S|||
Em cena: Chaplin, Bogart
mana e quem liga o seu aparelho, em
qualquer noite da semana, pode presenciar
situações tão esquecidas que alguns che-
gam a duvidar de sua autenticidade. Há
Lucille Bali (presença constante nas TVs
americana e brasileira, com seu programa
cheio de velhas celebridades, como os
remanescentes Irmãos Marx) e John Agar
fazendo juntos a impossível viagem de O
Tapete Mágico (1951). Há Henry Fonda
declarando de cima de um cavalo a Cathy
Downs, no final de Paixão dos Fortes
(1946): "Clementina.
Que nome bonito,
meu Deus!" E mesmo Errol Flynn, numa
Por Cr$ 2 300,00, este
Volkswagen ganhou a
frente de um Rolls-
Royce. modelo 19S3.
de suas incontáveis aventuras de guerra,
conclamando seus homens a enfrentar os
inimigos de ontem: "Agora,
vamos acabar
com os malditos amarelos!"
Velhos filmes de Charlie Chaplin são
oferecidos sistematicamente aos especta
dores mais novos. Casablanca (1943), cujo
fascínio para as platéias de hoje cresce a
cada representação, mereceu até um filme
recente, Sonhos de um Sedutor, no qual
Woody Allen sonha em ser Humphrey
Bogart. Uma retrospectiva de Greta Garbo,
no começo do ano, agüentou-se oito sema
nas em cartaz em São Paulo, para surpresa
da própria dona dos filmes, a Metro, a
mesma empresa que todos os anos, numa
pontualidade maníaca, reexibe o seu festi-
vai de operetas, encabeçado pela célebre
dupla de namorados cantadores: Jeannette
McDonald e Nelson Eddy.
Os sinais do dfyà vu não se limitam à
tela da TV ou às reprises. Qualquer ouvido
A
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L
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O Mercedes-Benz modelo
1928 está rodando de
novo nos Estados Unidos,
numa cópia exata.
Esta reprodução do MG de
1932, apresentada no Salio
do Automóvel, já está à
venda no Brasil.
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A reprise geral: cartazes, faces
e momentos de antigamente estão
de volta nos cinemas ou através
da televisão. Filmes modernos
vão sendo rodados segundo
modelos de ontem. Raquel Welch
(à esquerda) foi a última estrela
lançada com o velho apelo sexual
Marta Raye, 56 anos, a
vedete de No, No Nanette
Lucílle Bali (esquerda) e Harpo Man
Mar Iene Dietrich (1932)
Jeanette McDonald e Nelson Eddy
Em família: Judy Garland
(com Mickey Rooney, em
1938), Liza Minei li em
Cabaret, em 1972.
Greta Garbo e Melvyn Douglas (1939)
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pode captar iu> iadio sons do além como os
de Civis, "lhe
Pelvis", Presley cantando
sua velha Tutu Frutti e a mais recente
(cronologicamente) Sylvia. O Trio Irakuà
lembram? reapareceu no fim do ano
passado com o l F Os Sucessos que Goslu
mos de Cantar e até mesmo heróis implau
síveis para o gosto de hoje, como Pai
Boone, o moço imaculado cujo topete ja
mais roçou a lesta de suas namoradas nos
filmes, mereceu um relançamento em forma
de antologia. Os Grandes Sucessos de
Hollywood.
Como foi bom o ano de 1972! Com
ponto de exclamação e suspiros, este pode
bem ser o lema de uma indústria disposta a
aumentar os índices do Saudosismo Nacio
nal Bruto. E esta indústria não parece dis
posia a viver apenas da reedição de
momentos passados. O melhor filme do
ano passado, segundo muitos críticos brasi
leiros e estrangeiros, foi A Última Sessão
de Cinema, produzido em 1971 mas am
bientado em 1951, revelando às novas pia
téias, entre outras coisas, a beleza que pode
existir numa tela quadrada e no preto e
branco. Os tiros de O Poderoso Chefão,
disparados numa Nova York mudando
entre os anos 30 e 50, e as canções de
Cabaret, cantadas e sapateadas por Liza
Minnelli na Berlim de 1931, arrancaram
aplausos e cifrões. "l.aife
i< Inuuiul. I aite
is biútiful!". grilava Joel (irey, o mestre de
cerimônias de Cubarei, cuja maquilagem
branca e boca em forma de coração reapa
receram no último carnaval carioca.
Mais que uma canção, o grilo entoado
em Cabaret aparece como hino e porta es
landarie de um movimento tão amplo que
passa da moda ao cinema, da música aos
padrões de comportamento, dos automó
veis à publicidade. No Brasil, a indústria
do SNB pode ainda ser considerada modes
ia e ignorante da carga de nostalgia que o
"país do futuro" pode ou não pode
suportar. Não há aqui nada parecido com
os 50 000 exemplares de velhas aventuras
de Buck Rogers consumidos mensalmente
nos Estados Unidos ou o pool de mais de
trezentas estações de rádio americanas que
passaram a reprisar seus seriados dos anos
30 e 40. Nem a inflação de velhos musicais
encenados na Broadway (um deles, No,
No, Nanelte, de 1925, está outra vez em
cartaz há três anos com Manha Raye.de56
anos, no papel principal), h nem o requinte
das reedições sucessivas da revista Liberty,
que reproduz notícias e boatos de antiga
mente (uma manchete recente da revista:
"Bonnit e Clyde Ia/cm uovas .iiiuaçus
meio oeste ). I*. seria exagerado esperar
tanto do mercado brasileiro. Os anierica
nos, mais que qualquer oulio povo. já se
moldaram a esse riiual obsessivo. A canção
White Christmas, por exemplo, cantada
por Bing Crosby. apareceu durante a
Segunda (iuerra em IX rpm. Virou faixa
num LP de 1955, foi adaptado para estéreo
em I9M, para fila em I9b6 e para estéreo
cassette em I96K. Nada nem mesmo
uma bela e politizada canção natalina da
extinta dupla Simon & Garfunkel. inierca
lando sinos e órgãos com notícias da guer
ra do Vietnam arranca os lares america
nos de seu momento de ternura celebrado
por Bing Crosby. Parece natural: não ape
nas Frank Sinatra jamais cede lugar entre
os maiores vendedores de discos, mantendo
o mesmo repertório, como está se tor
nando imaginável um programa de rock
sem gravações antigas dos Beatles ou dos
Rolling Stones.
Para a maioria dos países que passaram
a desenterrar imagens e ruídos do seu pas
sado, o exemplo americano foi, com toda
Cauby Peixoto
^Nelson
Atau'f° Alves
relangado dentro ^H
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Cármen Miranda (centro) e imitadoras: Leila Oiniz e Manlia Pêra.
40
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so. Em 1967, ano de Alegria, Alegria, e certa desde o seu desaparecimento, na
1968, ano do tropicalismo liderado por ele, Segunda Guerra Mundial), Nelson Gomjal
letras e can^oes e roupas dos musicos ves, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Bill
Haley (o primeiro nome do rock a se tornar
conhecido no Brasil) e —
pasmem! —
os
primeiros de Roberto Carlos, do tempo do
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Bing Crosby
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^HBFVai ^^jjl^Hjj^ Luiz Gonzaga
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certa desde o seu desaparecimento, na
Segunda Guerra Mundial), Nélson Gonçal-
ves, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Bill
Haley (o primeiro nome do rock a se tornar
conhecido no Brasil) e — pasmem!
— os
primeiros de Roberto Carlos, do tempo do
"Calhambeque". O LP de Nora Ney
— o
»«gu«
so. Em 1967, ano de Alegria, Alegria, e
1968, ano do tropicalismo liderado por ele,
letras e canções e roupas dos músicos
Os Rolling Siones em 1966
Bing Crosby
Frank Sinatra
Caetano VclosoRay Conniff Roberto Carlos
Louis Armstrong
Elvis Presley
Luiz Gonzaga
D alva de Oliveira
Pat Boone
Dick Farney
justiça, o primeiro a ser seguido. A revista
alemã Der Spiegel queixa se, com ainargu
ra, que os americanos "infeccionaram
a
Europa com o seu capitalismo de consu
mo". No front interno americano, porém,
outros observadores justificam que o país
tendia naturalmente para defender se com
o que tinha de melhor. James A. DufTy,
diretor da cadeia de televisão ABC, afirma
que
"uma
parcela ponderável" de telespec
tadores simplesmente desliga seus apare
lhos diante de programas que tratem de
assuntos como poluição, guerra ou aumen
to da criminalidade nas cidades. A revista
Newsweek —
uma das três ou quatro mais
influentes do país —
chega a relacionar a
reeleição de Richard Nixon com tempos
mais felizes: "É
um reflexo das saudades
americanas pelos anos aparentemente sere
nos que precedem o trauma dos anos 60".
Se esses anos eram ou não realmente mais
felizes, pouco importa para a lei da memó
ria. Em 1945 — quando os americanos já
entoavam o White Christmas — a imagem
mais repetida pela imprensa era a de Jane
Russell mostrando metade dos seios num
carta/ de O ProscrUo. Esta imagem itapu
receu em revistas nostalgieas dos anos 70 c
virou pôster. Em 1945, alguns milhares dc
americanos haviam morrido antes que u
guerra acabasse, embora o pôster renas
cesse duas décadas e meia depois como
evocação de "tempos
felizes". Seriam me
lhores os dias dos americanos de 1972.
com o país envolvido na guerra do Viet
nam, enquanto em Las Vegas a última ten
tativa de Hollywood em lançar uma estrela
segundo os padrões do "Sex
Symbol", Ra
chel Welch, era aclamada a número 1?
Os brasileiros, como todos os outros
povos, podem também partir em busca de
"tempos mais felizes", com ou sem aspas,
em seu curto passado. O exemplo da can
çào natalina como expoente máximo de
nostalgia parece perfeitamente adequado.
Nos Estados Unidos, como no Brasil, sau
dade se sente primeiro com os ouvidos -
ou em mesa de botequim. A lista de reedi
ções de espetáculos musicais relançados no
Brasil, de 1968 para cá. forma a pré his
tória da atual nostalgia brasileira e um dos
principais redatores das linhas mestras do
enredo é — como não? —
Caetano Velo
v.omcçuvum insistentemente a leuituar um
passado brasileiro de bananeiras e "vcca
çào agrícola" nu época já meio sepultado.
Cármen Miranda, morta em 1955 e a prin
cipal redescoberta de Caetano (outras:
Lui/ Gon/aga, o rei do baião, e Vicente
Celestino, de Coração Materno), passou a
ser uma espécie de santa padroeira e mode
Io do "show
business" nacional. Cármen
foi reverenciada indiretamente por Leila
Diniz em Tem Banana na Banda (1970) e
diretamente por Marília Péra em A Peque
na Notável (197 1), além de ter fornecido a
outros setores -
como a moda — os seus
turbantes ornados com a flora tropical e
seus saltos estratosféricos.
Estas imagens e sons tirados do túmulo
não passaram despercebidos. As gravado-
ras prepararam se para um estouro de anti-
guidades, embora as proporções do merca
do tenham até o momento permitido
apenas o barulho de um estalo. Os discos
mais vendidos em algumas lojas do centro
do Rio, segundo seus donos, são de Ray
ConnifT (que sempre dá a impressão de ser
mais antigo do que realmente é), Glenn
Miller (as reedições de vendagem mais
41
NOS 1ALGIA immmi
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Lívio Rangan, do Consórcio da Moda
Brasileira: um "mau
gosto
sublimado'* para a mulher de 72-73
O cabeleireiro Richard Matauron: os
penteados saltam cinqüenta anos
para trás, procurando a naturalidade
Ugo Castellana: mulheres mais
esguias, com a cintura menos
marcada, como na década de 50
primeiro em mais de dez anos — vendeu
5 000 cópias nos quarenta primeiros dias
de circulação, só* no Rio e São Paulo, em
fins do ano passado. Outros pontos de refe-
rência — como Tito Madi e Dick Farney
— já haviam sido testados durante o sau-
doso ano de 1972, com resultados conside-
rados satisfatórios pelas gravadoras, ven-
dendo cada um cerca de 20 000 discos.
Dois luxuosos álbuns de Francisco Alves,
"o Rei da Voz", e um de Dalva de Oliveira,
a rainha dos trinados, saíram no começo de
1973. Milton Miranda, diretor artístico da
Odeon, responsável por estes lançamentos,
não acredita porém em nostalgia. "É
mais
um caso de alfabetização. Um público mais
culto valoriza o que é bom." As mesmas
reservas transparecem nas declarações de
Armando Pitigliani, diretor da todo-pode-
rosa Philips. Ainda assim, a gravadora Phi-
lips arriscou — e não se saiu mal. A série
No Tempo dos Bons Tempos (doze discos,
3 000 coleções vendidas, num total de
36 000 cópias) abriu o caminho para as
fanfarras e os surdos de uma superpro-
dução digna da Hollywood de antigamente,
Cem Anos de Carnaval. Com 130 músicas
tocadas pela famosa Banda do Canecão, "a
maior cervejaria do mundo".
O barulho provocado por estes lança-
mentos foi bastante alto para chegar até um
velho prédio da praça Mauá, no Rio,
quartel-general da mais poderosa emissora
de rádio que o país já conheceu, a Radio
Nacional. Mas muitas das pistas para a
ressurreição do p&ssado parecem, no caso
da Nacional, perdidas para sempre. O jor-
nalista Júlio Hungria, que assumiu a dire-
ção artística da emissora por dois meses,
em 1970, conta que relançou o programa
Vale a Pena Ouvir de Novo ao meio-dia
(antes era transmitido à meia-noite), com
apresentação do veterano Renato Murce, e
recebeu uma quantidade
"incrível" de car-
tas e telefonemas de ouvintes. Quando
Hungria chegou para o seu primeiro dia de
trabalho, encontrou algo parecido a uma
trincheira arrasada. Discos contendo pro-
gramas que deliciaram outras gerações —
Gente que Brilha, Papel Carbono, PRK-30,
Piadas do Manduca, Um Milhão de Melo-
dias e Nada Além de Dois Minutos —
estavam jogados num banheiro do 22.°
andar.
Ainda assim, a emissora apresentou al-
guns sinais de vida, com a ressurreição de
um de seus pratos fortes, a radionovela,
varrida das programações com a ascensão
da televisão. Quem se interessaria por ela?
"Muita
gente", revela Daisi Lúcidi, a dire-
tora do departamento de radionovela. Uma
pesquisa revelou que o público da Nacional
estava mais interessado em ouvir novelas
antigas do que novos enredos. Diz Daisi,
que é também uma atriz de voz delicada e
que em outros tempos se especializou em
interpretar heroínas românticas: "Existem
ainda muitas pessoas que não têm televisão
e que encontram no rádio um grande
companheiro".
Assim, ela teve a idéia de dar mais força
ao horário das 2 às 5 da tarde, o tempo útil
das donas de casa entre os últimos esterto-
res do almoço e os primeiros aromas do
jantar. Nestas três horas a radionovela era-
vara suas bandeiras, desde a década de 40.
Em agosto, começou a ser transmitida,
mais uma vez, A Noite do Meu Destino
(originalmente apresentada em 1957), com
Daisi e Paulo Gracindo nos principais
papéis e mais Cauby Peixoto numa ponta e
cantando o tema musical. Quando chegou
ao fim, em dezembro, entrou no seu lugar
A Casa da Solidão e, num outro horário,
Ternura (lançada pela primeira vez em
1944), com Tereza Amayo e Cláudio
Cavalcanti. Daisi garante o sucesso de A
Noite do Meu Destino, embora não possa
indicar índices de audiência. A Nacional,
mesmo com a volta de suas novelas, conti-
nua sendo anterior ao Ibope.
Contemporâneos a muitos dos sons e
ruídos emitidos por estes personagens hoje
semi-esquecidos são as cores e enfeites que
as mulheres aplicam a seus corpos. Alguns
costureiros têm convicção — embora só os
mais corajosos ou mais cínicos o afirmem
— de que a única moda original é a par-
reira de Adão e Eva. Nos planos dos indus-
triais e comerciantes, no entanto, tudo se
passa de maneira diferente. Todo ano nasce
uma "nova
mulher" e a de 1972/73 (talvez
até de antes) aparece com decotes agressi-
vos, drapeados, tecidos colantes, estampa-
dos de "mau
gosto sublimado", na expres-
são de Lívio Rangan, do Consórcio da
Moda Brasileira. E mais: a cintura marca-
da, os saltos "ortopédicos".
Assim, não foi difícil à bútique Frágil, de
Ipanema, viver desde 1970 na base da fan-
tasia. Nos seus boás, plumas, vestidos de
jérsei compridos com cortes laterais trans-
parecem os modelos originais de atrizes do
passado, como Jean Harlow, Marilyn Mon-
roe ou Marlene Dietrich — figuras fantas-
magóricas para a maioria das compradoras
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NOSTALGIA,». nuaiAa
dessas roupas. Numa outra loja, a Bonita,
considerada o termômetro do gosto da
classe média carioca, vendem se frentes
únicas (modelo 1950), tamancos de 10
centímetros, saias compridas mas tudo
muito bem comportado, num outro sinal de
que a nostalgia indumentária vai deixando,
também, de ser uma extravagância dos
mais ricos ou mais cheios de imaginação.
Esta "proletarizaçào".
segundo alguns, é
natural. Nào só as mulheres que a desfru
taram em casa ou cm ambientes universi
tários se beneficiam do seu conhecimento
do passado. Tudo é muito natural na moda:
a tendência nostálgica representaria justa
mente uma reação tanto ao estilo "jean"
quanto à moda espacial, de linhas rígidas,
que teriam transformado a mulher numa
silhueta despersonalizada e antifeminina.
Esta reação, segundo o costureiro Ugo
Castellana, romano há dez anos*no Brasil,
remete a mulher aos anos 50: "A
mulher
parece mais esguia, e com a cintura menos
marcada. Acredito que daqui a duas cole
çòes vai ser possível marcar mais a cintura,
desde que as mulheres façam ginástica".
Mas este efeito de máquina do tempo nào
poderia passar sem algumas tempestades.
O cabeleireiro Richard Mareei Matairon.
de São Paulo, acha que saudosismo é falta
de imaginação: "A
mulher de hoje tem um
estilo de vida inteiramente diferente do da
mulher de 1950. Acontece que os pentea
dos de 1960 eram extremamente artificiais,
com os eriçados e os laquês, e a mulher
procurou voltar aos penteados naturais, de
cinqüenta anos para trás"\
Nostalgia fora de moda?
E alguns se arrependeram de sua adesão
rápida demais ao apelo do passado. Clodo-
vil, um verdadeiro pioneiro da nostalgia,
que quase três anos atrás vestira uma noiva
de Cármen Miranda, acusa: a nostalgia
nào tem rqfinnement. E coloca uma lápide:
"As mulheres procuram se fantasiar bus-
cando na indumentária a diversão que não
conseguem ter de outra forma. É a recher-
che du temps perdu. A nostalgia está
demodée ".
Estará? Alguns críticos sustentam que
esta volta ao passado é forçada pelos meios
de comunicação como uma forma a mais
assumida pelo Júpiter da sociedade indus-
trial, o vendedor. Nos cartazes e filmes de
propaganda da cerveja Carlsberg e nos dos
automóveis Dodge, no ano passado, a nos-
talgia espalhava-se valentemente como
apelo ao consumo. A cerveja era relacio-
nada a um Cabaré do estilo "belle
époque",
onde o próprio protótipo do artista boêmio
do século XIX, o pintor Toulouse-Lautrec,
aparecia numa das mesas. O automóvel, de
linhas modernas, era encaixado entre pes-
soas de fraque, passeando num campo de
um verde inverossímil numa cidade de
hoje. A Ford preferiu usar filmes mudos,
com suas imagens desfilando apressada
mente: a mocinha aparecia amarrada numa
44
Cores modernas, balanço de ontem
%
4
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I Hk* AK
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Enfeites, originais ou de imitação
Para quem usa chapéu
linha de trem, mas o mocinho aparecia a
tempo, montando o seu Corcel. para salva
Ia da locomotiva assassina.
Enfim, esses anúncios apenas oferecem
produtos de hoje aproveitando como mol
dura as saudades de ontem. Mas o fenó
meno da nostalgia pode, numa última
etapa, ir mais longe, confundindo se tam
bém com o luxo, com o culto pelo raro. Um
dos grandes sucessos automobilísticos nos
Estados Unidos, em 1972, foi a cópia de
um Mercedes Benz de 1928. A contrapar
tida nacional apareceu no último Salão do
Automóvel, quando os Móveis Láfer apre
sentaram — sob aplausos e admirações ge
rais — uma réplica do carro MG, modelo
1952, que sofreu algumas mudanças imper-
ceptíveis para aumentar a funcionalidade e
o conforto. Só no Salão foram feitas 140
reservas, a CrS 25 000 cada. Até o fim do
ano, estarão dirigindo esses carros muitos
brasileiros de 1973 que, em 1952, ou nào
tinham idade ou nào tinham dinheiro para
comprar o original. Até mesmo * alguns
milagres plásticos podem ser notados na
indústria automobilística da saudade. O
sedà Volkswagen, o menos nostálgico de
todos os objetos, com sua eterna repetição
do modelo original dos anos 30, está sendo
oferecido no Brasil com uma profunda
cirurgia na sua parte dianteira. Por CrS
2 500,00, o interessado pode instalar um
capô Míni-Rolls no seu fusca, dando por
um instante a impressão de que seu carro é
um Rolls-Royce 1955, de onde o capô foi
copiado. A firma brasileira Edmorba, que
faz o lançamento, pretende colocar 24 000
J desses Volks-Royce nas ruas até o fim do
£ ano. Toda uma indústria começa a movi
$ mentar seus negócios com esta saudade:
o cadeiras de balanço, porta-chapéus, objetos
2 de estanho, relógios para lareira, enfeites, o
exército de peças expulsas das casas mo
dernas passa a ser oferecido em velhos ori-
ginais ou produzidos em série de imitação.
E o que mais? No mais, muitas novida
des em matéria de nostalgia vão surgindo
enquanto a maioria das pessoas continuar
achando o seu passado mais estimulante
que suas perspectivas futuras. As fantasias,
os penduricalhos, os turbantes, os carros,
objetos, ritmos e imagens de outras épocas
podem perfeitamente atender a comer-
ciantes e consumidores, cumprindo de
mãos dadas o fatalismo das leis da memó-
ria e do mercado. Os dois santos nomes
mais citados neste século já haviam ditado
os limites e o parentesco dessas leis. Karl
Marx, no Manifesto do Partido Comunista
(1848), afirma que na sociedade burguesa o
passado domina o presente. Sigmund
Freud, nos anos 20, publicou algumas de
suas experiências sobre a memória e a
necessidade incontrolável do ser humano
de lembrar seus momentos felizes. A nos-
talgia é um sonho? Pouco importa. Quando
a moda passar, todqs se sentirão mais ou
menos como a criança privada de sobre-
mesa pela mãe. Um dia esta criança acorda
feliz, e conta sorridente que durante a noite
comera todas as cerejas da casa.
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CARACAS
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NEW YORK ^
SAN JUANmtmWÊÊÊmmrn^/
FRANKFURT
PARIS
ZURICH
MADRID
PANAMÁ
MEDELLIN
RIO DE JANEIRO
SÃO PAULO
Avianca
pode
levar
voce a meio mundo
Todas as segundas e quinta-feiras,
pela manhã, um Boeing da Avianca
parte
do Rio e de São Paulo.
Logo depois de um almoço sobre os
Andes, esse jato pousa
em Bogotá,
Colômbia.
A partir
daí, em conexão, a Avianca
lhe oferece o seu meio mundo. São 174
cidades nas 3 Américas e na Europa.
Rapidamente, no vôo mais reto que
existe, a Avianca deixa você no México
e Los Angeles.
Ou em Miami e New York.
Ou em San Juan
e Europa.
Ou numa meia dúzia de países
sul
americanos na costa do Pacífico.
A escala em Bogotá lhe dá o tempo
justo de
percorrer as lojas tax free do
aeroporto e se abastecer de scotch,
vinhos, perfumes,
câmeras, objetivas,
e mil presentes.
Mas você pode prolongar
a sua
estada na Colômbia.
Pode adiar a chegada ao seu destino
final porque
vale a pena.
A Colômbia oferece o Caribe, com
suas águas mornas e incrivelmente azuis.
Oferece os picos
eternamente nevados dos
Andes. A sua floresta amazônica, com ín-
dios e tudo. Cidades modernas, cidades
históricas, casinos, vida noturna.
Tudo isso a preços
de deixar o brasi-
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Avianca
A primeira linha acrca das Américas
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Hi ara Churchill. era um cachorro preto,
que o seguia com uma fidelidade
desesperante e incansável. Para Abraham
Lincoln, o sonho, todas as noites repetido,
com seu próprio caixào. Para Pascal, a
imagem de um abismo que. a seu lado. ia se
abrindo à medida que ele andava.
Essas e inúmeras outras obsessões insóli
tas de homens célebres fazem as delícias
dos biógrafos e de seus leitores. Para os
psiquiatras, psicanalistas e psicólogos,
porém, o cachorro, o caixào e o abismo
nada tem de estranho. Nào passam de sim
bolos de uma doença crônica que ator
menta o homem desde que ele existe. Na
Grécia do século V antes de Cristo. Hipó
crates batizou a de "melancolia",
atribuin
do-a ao excesso de bílis preta. Depois de
Freud, ela é conhecida pelo nome menos
romântico de "depressão".
Acredita se que
seja a causa de metade dos 60 000 suicídios
que ocorrem, em média, por ano, nos Esta
dos Unidos. No Brasil, estatísticas impreci
sas dificultam comparações. Mas sào sufi
cientes para que o dr. Aluísio Colares,
diretor do Sanatório da Glória, no Rio.
afirme que,
"dentre as doenças mentais, o
estado de depressão é o responsável pelo
maior índice de suicídios".
O que é a depressão? Freud a definiu
como reação à perda, consciente ou incons
ciente, de um objeto amado. Tentando um
exemplo, zoologicamente concreto, o psi
quiatra de formação psicanalítica, Hum
berto Haydt de Souza Mello, de Brasília,
imagina o encontro de um coelho e um
leão:
"Quando vê o leão, o coelho sente medo.
angústia. É a reação do organismo diante
de uma ameaça. Quando o leão o ataca, ele
sente dor. Se escapar, ferido ou aleijado,
sofrerá o peso da depressão. Já passou o
perigo e a dor: sobrou a perda. Por menos
que tenha sofrido, a imagem que fazia de si
mesmo foi atingida. Aquilo que gostaria de
ser, diante do leão, transformou-se em uma
fantasia que os fatos desmentiram."
O homem, mais imaginativo que o coe-
lho, é também mais vulnerável. Ele se atola
na depressão pelos motivos mais imprevisí
veis. Os especialistas discutem até hoje
sobre o assunto. Uns dizem que a depres
são é uma doença física, como todas as
outras. Sua origem estaria na química
imperfeita do corpo. Outros afirmam que o
mal é puramente psíquico. Para estabelecer
uma base de discussões e comparações, a
maioria dos médicos aceita a distinção
entre a depressão endógena e a exógena.
A depressão endógena (também conhe
cida como psicótica, autônoma ou prima
ria) não parece ser provocada por nenhum
trauma exterior significativo na vida do
doente. Ela é o resultado de um conflito
interno. O dr. Baron Shopsin, do Centro
Médico da Universidade de Nova York.
chega a suspeitar de causas bioquímicas.
Os sintomas mais importantes da depres
48
sào endógena sào apatia, falta de amor
próprio, perda de apetite e de desejo sexual.
O doente acha difícil continuar traba
lhando. Seu estado de ânimo é instável,
com quedas pela manhã e melhorias ao
anoitecer. Seu quadro clínico é parecido ao
de um alcoólatra cm fase de recuperação.
As crises depressivas podem durar meses e.
de repente, desaparecer. Em outros casos,
elas se repetem com uma regularidade
calculável. Os depressivos endógenos sào
particularmente sensíveis ao tratamento
por remédios.
^j^á a depressão exógena (também
chamada de reativa, secundária ou neuró
tica) teria sua origem em acontecimentos
externos. Os depressivos exógenos -
muito sensíveis e. em geral, de personali
dade dependente — dormem e comem
exageradamente, como para compensar a
sensação de perda. Sofrem de apatia e desá
nimo, mas a variação de seu estado de espí
rito é bem menos previsível. As altas e bai
xas podem ocorrer a qualquer momento.
Quando tratados, os pacientes reagem me
lhor à psicanálise e à psicoterapia do que
aos tratamentos psiquiátricos mais tradi
cionais, baseados no uso de remédios e.
eventualmente, no recurso a choques elétri
cos.
Mas as divergências sobre as causas nào
impedem os especialistas de observar cer
tas constantes no aparecimento de estados
depressivos. Um fenômeno que se notou é
que a procura de psiquiatras e psicanalistas
é mais intensa depois das férias ou de festas
como Natal, Ano Bom e carnaval. Cha
mou se a isso de "paradoxo
das férias". E
apontaram-se várias razões.
Uma delas é que o período de férias traz
à tona lembranças da infância e põe em
contato mais íntimo pessoas da mesma
família que. durante o resto do ano, só se
encontram esporadicamente. As férias são
também, desde a infância, um período do
qual se espera muito. É a época dos presen
tes e das retribuições. Para o adulto,
porém, essa expectativa infantil, nunca
esquecida, é quase sempre decepcionante.
"As férias", diz o dr. Arthur Prange Jr., da
Universidade de Carolina do Norte, nos
Estados Unidos, "são
organizadas para
garantir o desapontamento". O dr. Marco
Aurélio Baggio, psicanalista e psiquiatra de
Belo Horizonte, constata que,
"após o car
naval, que coincide com o fim da tempo
rada do verão e do período de férias, o nú
mero de quadros depressivos aumenta
nitidamente. Éa vivência da quarta feira de
Cinzas — a própria depressão —
que, para
muitos, se estende por bem mais do que um
dia".
Para o dr. Marco Aurélio, o fenômeno
pode ser observado dentro de uma periodi
cidade ainda menor. "Mais
freqüente que o
paradoxo das férias", diz ele. "é
o 'para
doxo do fim de semana*: o indivíduo traba-
lha a semana inteira. No sábado c domingo
está irritado, mal humorado, abatido e nào
consegue descansar c divertir se como
tinha planejado. O mais freqüente é buscar
alívio no álcool."
dr. Humberto
contesta o interesse da estatística. "Sc
o
Natal e as férias fossem motivos de depres
sào. a melhor maneira de curá Ia seria aca
bar com eles. Ê ingênuo afirmar que ;i
depressão aumenta num determinado pc
ríodo do ano, pois o verdadeiro motivo
está no indivíduo. Ele tem todo o disposi
tivo montado para entrar em depressão, só
falta um pretexto para desencadear o pro
cesso. As férias nào produzem necessaria
mente uma sensação de perda. Mas. se uma
pessoa tem o trabalho como única maneira
de existir, e porque ela nào possui uma
identidade, uma personalidade desenvol
vida, nem maturidade cm sua relação com
o mundo. Entào, durante as férias sente se
deprimida, como se tivesse perdido um pe
daço de si. Outra coisa que é importante
lembrar é que o reverso da depressão é a
mania: a procura de objetos externos para
compensar uma sensação de perda interior.
Trabalho, passeios e viagens podem ser
recursos maníacas. De modo que existem
pessoas que sempre foram depressivas c
nunca souberam disto."
Seja como for. os dados mostram
com clareza que. para aqueles que estào
predispostos à depressão, as férias podem
ser trágicas e mesmo fatais. "As
depressões
realmente graves e os suicídios ocorrem
nos quatro primeiros dias de janeiro", afir
ma o médico americano dr. Robert Litman.
co diretor do Centro de Prevenção ao Sui
cídio. de Los Angeles. "F.
a pior semana do
ano."
Também o dr. Marco Aurélio Baggio
concorda dom a existência de um "calen
dário depressivo": "A
partir de março, co
meça a aparecer um grande número de pes
soas deprimidas, à procura de ajuda para
desmanchar o cipoal de seus conflitos psí
quicos. A incidência da depressão, inician
do se em março, evolui durante os meses
mais frios, até o fim de cada ano. quando é
freqüente o aparecimento de uma forma
leve de depressão, o famoso esgotamento,
milagrosamente curado, na maioria dos
casos, com a simples troca de ano".
No Rio de Janeiro, o psiquiatra Belmiro
Salles observou que em dezembro há uma
maior freqüência de atendimentos em am
bulatórios psiquiátricos. (Nem todos os
casos, porém, sào de depressão.) No início
de cada ano. principalmente cm janeiro,o
índice se mantém alto. caindo na época do
carnaval e voltando a subir em março. No
%egue
As mil maneiras de se tratar
Depressão pode ser um desânimo passageiro,
que se dissolve numa dose de uísque. Ou um
desalento tão profundo que leva ao suicídio. Se
for provocado per fatores externos (morte de
alguém, por exemplo), é absolutamente normal.
Se for de origem puramente subjetiva, poderá
srr uma neurose ou mesmo uma p rico se (cotfio
no caso extremo da catatonia, na qual o doente
permanece dias completamente imóvel).
Como curar as neuroses e as psicoses? Em li
nhas gerais, pode se dizer que existem três tipos
de tratamento; a psiquiatria, a psicanálise e a
psicoterapia Ou sela, se traduzirmos os radicais
gregos: "a
cura da olmo ". "a
análise da alma "
e
"o tratamento da alma
". Mas a etimologia
não esclarece as dúvidas, assim como a enurrte
ração simplificada não abrange todas as tera
pias existentes. No Brasil, existem represen¦
tantes de quase todas as correntes mundiais de
terapias de neuroses e psicoses. Sem entrar em
detalhes, pode se enumerar:
Psicanálise Ortodoxa, ou Freudiana
O paciente deita se num divà. de costas para o analis
ta, que tenta descobrir e levar a sua consciência às ori
gens da neurose. P. defendida como o único tratamento
capaz de chegar às origens da doença. Sua desvantagem
é ser cara (de Cr$ 80.00 a Cr$ 250.00 por sessão, cinco
vezes por semana e nào tem pra/o de duração previsí
vel). A Psicanálise Kleincana (baseada nos estudos dc
Mclanie Klein) deriva se da Ortodoxa. Fxistem. no Brn
sil, 299 psicanalistas, filiados à Associação Brasileira
de Psicanálise. Quase todos são ortodoxos ou kleinen
nos.
Psicanálise Culturalista
Ou da Escola Americana. Baseada na teoria de Fricb
Fromm e outros. Processa se em um nível mais cons
ciente c procura ver o paciente cm relação ao meio (cul
tura) no qual vive. Não se usa o divà e as scssòes podem
ir dc três a cinco por semana Os psicanalistas ortodo
xos acusam os culturalistas dc serem pouco científicos e
mesmo pouco responsáveis
Psicanálise Jungiana
Fundamentada nos estudos de Jung, discípulo c.
depois, adversário de Freud. Ê feita da mesma maneira
que a psicanálise ortodoxa: divà c cinco vezes por
semana. Mais mística, interessa se principalmente pelo1-
símbolos oníricos, reveladores do "inconsciente
colcti
vo". e na pesquisa dos lados misteriosos da alma huma
na. Seus adversários a chamam de "espiritismo
da
psicanálise". Tem poucos seguidores no Brasil.
Psicanálise Existencial
Baseada em Heidegger tem. ao contrário das outras
terapias, raízes filosóficas e não científicas, o que leva
muitos a nào a considerarem como uma psicanálise. No
método (uso do divà. etc.) é igual A ortodoxa.
Psicoterapia de apoio
É uma terapia mais rápida, indicada para os casos de
menor gravidade. A participação do analista é mais
intensa e as sessões podem ir de duas a quatro por
semana. O preço de cada sessão varia de Cr$ 60.00 a
Cri 180.00.
Psicoterapia reflexolõgica
Baseada nos estudos de Pavlov. Age sobre os sinto
mas e se propõe a erradicar os condicionamentos nega
tivos. Ê, em geral, usada para resolver problemas espe
cíficos — impotência sexual, fobias ou cacoetes. O
médico mantém contactos não só com o paciente, como
com seus familiares. Os adversários da reflexologia afir
mam que, por nào chegar às raízes da doença, ela não a
cura realmente, limitando se a provocar o desapareci
mento de alguns de seus sintomas.
Psicoterapia Gestaltista
Encara a neurose como o resultado de uma visão errada
do mundo e propoe se a mostrar ao paciente outros
pontos de vista. Sem o divà. Sessões de duas a quatro
vezes por semana.
Laboratório de Sensibilidade
Em três sessões, de seis horas seguidas cada. um grupo
de dez a quinze pessoas, orientadas pelo terapeuta.
tenta pôr a nu a personalidade e os problemas de cada
um. usando jogos, técnicas psicodramáticas. técnicas
nào verbais (tocarem se sem dizer nada) e expressão
corporal. Nào chega a ser uma terapia e, pela violência
que pode atingir, nào é recomendado para pessoas que
não esteiam em tratamento.
Psicodrama
Ou "técnicas
dramáticas", é um método utilizado em
algumas forma , de terapia. Pode ser realizado indivi-
dualmente. cm grupos, casais ou famílias. Os pacientes
dramatizam seus problemas ou representam o papel dos
outros, em uma tentativa de compreender suas motiva
çôes.
Treino de Sensibilidade
Ê uma espécie de Laboratório de Sensibilidade, com
menos gente e menos violência. Realiza se. em geral,
uma vez por semana e cada sessão dura uma hora. P.
muito usado em teatro, para desinibir os atores. Como
tratamento, é considerado uma pré terapia.
Ludoterapia
Usada no tratamento dc criancas O medico induz a
paciente a brincar c* fazer jogos e analisa seu
comportamento.
Psicoterapia de Grupo,
de Orientação Analítica
O grupo é composto de oito a doze pessoas e o analista
tenta uma interpretação coletiva do material apresen
tado. De duas a três sessões por semana.
Psicoterapia Preventiva
Usada para ajudar o paciente a enfrentar uma crise
objetiva que pode prever: mudança de emprego ou dc
cidade, por exemplo. Quando o tratamento é feito de
pois de um choque violento (morte de parente, etc ), é
chamado de Psicoterapia de Crise.
Grupo de Crescimento
Terapia de conjunto. Um casal de psicólogos e cinco
pacientes dos dois sexos. Usada para ajudar a enfrentar
problemas de puberdade. É uma das variações da co te
rapia (tratamento por dois psicólogos).
Psicoterapia Breve
São tratamentos com tempo limitado e destinados a
resolver um problema determinado. Na entrevista de
contrato o prazo e o objetivo são fixados pelo psicólogo
e o paciente. A média é de dezesseis sessões, duas vezes
por semana. O psicólogo evita tratar de outros proble
mas além do principal, mas pode haver um recontrato.
caso haja necessidade de tratar de outros assuntos.
Tratamentos Psiquiátricos
São, em geral, feitos com o auxílio de remédios e. em
certos casos, de internação e aplicação de eletrocho
ques. As escolas mais modernas empregam, ao mesmo
tempo, as técnicas clássicas e a psicoterapia e mesmo a
psicanálise. A experiência mais interessante que está
sendo feita neste campo são as Comunidades Terapêu
ticas. Trata se de clínicas onde os pacientes são trata
dos de maneira a nào ficarem segregados do mundo
exterior (como nos hospícios e casas de saúde). O trata
mento é feito através de remédios, psicoterapia e entre
vistas com as famílias. Alguns pacientes, que nào preci
sam ser internados, passam o dia na clínica e dormem
em casa (chama se a isto Hospital Dia). Numa comuni
dade terapêutica particular, o tratamento custa de CrS
3 500,00 a CrS 5 000.00 mensais.
Outras Terapias
Vários psicanalistas e psiquiatras utilizam métodos
baseados em suas próprias observações e descobertas.
É o caso do dr. José Ângelo Gaiarsa. de São Paulo, que
da ênfase especial à relação entre ps nrur "ses e o apare
lho respiratório.
¦9%
No psicodrama, os pacientes representam seus problemas e emoções, numa tentativa de compreender suas origens.
i-
^jjj^^lllll^l^^lll
Em quase todas as técnicas psicanalíticas, o paciente deita se num diva, sem olhar o médico.
5'
¦9%
DE PRESS A<
resto do ano a média c variável, com uma
ligeira elevação cm julho.
A maioria dos médicos concor
da com o dr. Humberto Haydt quando este
afirma que, por mais corretas que sejam as
estaüsticas, elas só dizem respeito ao
aspecto mais superficial da questão. As
verdadeiras causas dos estados depressivos
sào internas. A observação de uma maior
ou menor incidência de suicídios ou dcpres
soes em determinados meses só tem inte
resse no que possa ajudar à descoberta das
raízes do mal.
As férias, por exemplo, no que implicam
em inatividade. obrigam as pessoas a
enfrentarem seu mundo interior. Da mesma
maneira que as festas anuais funcionam
como um teste das relações familiares.
"Desde criança", diz o dr. Haydt,
"nos
ensinaram que o Natal é a época de a famí
lia toda estar reunida. Época de confrater
nizaçào. quando os inimigos fazem as
pazes e as pessoas se presenteiam e se des
culpam. A realidade, porém, é muitas vezes
diferente e frustrativa. Com o carnaval
acontece a mesma coisa. Se o investimento
psicológico tiver sido muito grande, a quar
ta-feira de Cinzas significará perda. Pode
mos notar isto pelas próprias canções de
carnaval. A maioria dos bailes acaba com
todos cantando: 'É
hoje só. amanhã não
tem mais'. É a própria canção da melanco
lia. A canção do objeto bom que está fugin
do do nosso alcance."
4
entro desse ponto de
importante quanto as épocas do ano são as
épocas da vida. Nos Estados Unidos obser
va se uma maior incidência de depressão
entre os jovens. Alguns psiquiatras salien
tam a existência, na juventude, de um esta
do de apatia penetrante que acreditam ser
fruto da confusão de valores sociais provo
cada pela guerra do Vietnam. Outros falam
do uso intensivo de drogas. "Na
maioria
das vezes", afirma o dr. Litman. "o
recurso
às drogas não passa de uma medicação
auto-receitada contra a depressão."
Mas sejam quais forem as causas, os nú
meros são significativos. Segundo o Centro
de Prevenção ao Suicídio, de Los Angeles,
a proporção de suicídios entre pessoas de
vinte a trinta anos, mais do que dobrou: de
18 para 41, em cada grupo de 100 000.
Enquanto isto, o percentual de suicídios
entre os mais velhos tem diminuído cons
tantemente. No Hospital de Yale-New
Haven. o número de pacientes que deram
entrada por tentativa de suicídio aumentou
onze vezes desde 195 5, muito mais do que
ceria previsível pelo aumento da popula
ção. A maioria tinha menos de trinta anos.
O fenômeno não parece ser caracte
rístico da sociedade norte americana. O dr.
Galeno Procópio Alvarenga, do Hospital
Psiquiátrico Raul Soares.de Belo Horizon
te, situa a faixa de maior número de tentati
vas de suicídio entre 15 e 25 anos. O psi
quiatra carioca Bclmiro Salles tem uma
explicação para o fato. O que existe, segun
do ele, não é uma crise da juventude, agra
vada pelas condições do mundo moderno.
A juventude e só uma das crises de transi
ção, inevitáveis na vida das pessoas.
"A adolescência, por exemplo", explica,
"é a fase onde se registra urtia incidência
muito grande de casos de depressão e suicí
dio. Ê a época em que o jovem está saindo
de um período agradável de sua vida. na
qual se sente protegido pela família e só
pensa em se divertir e se vê forçado a assu
mir a condição de adulto. A partir daí. a
vida vai exigir dele que trabalhe, assuma
compromissos e aceite responsabilidades.
Outra fase difícil é a que se situa dos 38 aos
46 anos. quando as pessoas começam noto
riamente a descobrir que vão ficar velhas.
O trabalho vai ficando mais difícil, a saúde
já não é tão boa, os filhos, à medida que
crescem, afastam se cada vez mais dos
pais. A tomada de consciência de que a
velhice é inevitável provoca as reações
mais diversas A depressão c uma das mais
freqüente1;"
Ma tentativa de procurar as causai
que levam à depressão e facilitar seu diag
nóstico por um médico não especialista, o
dr. Aaron Beck. da Unidade de Pesquisas
sobre Depressão, do Philadelphia General
Hospital, elaborou um "inventário
depres•
SIVO .
Trata se de uma simples lista de declara
ções, dividida em categorias, que incluem
aspecto emocional, motivação, imagem que
as pessoas têm de si próprias, sintomas físi
cos e comportamento. Cada declaração é
um ponto marcado em uma escala ascen
dente de diagnóstico de depressão. Por
exemplo: "Eu
não me sinto desapontado
com minha própria pessoa" marca zero,
enquanto "Eu
me detesto" marca 3. Dentro
da categoria Perigo para Si Mesmo, "Eu
não tenho nenhuma vontade de causar
algum mal a mim mesmo"' marca zero, ao
passo que
"Eu me mataria se tivesse
oportunidade" marca 3. Na categoria Ima
gem de Si Mesmo, as declarações variam
de "Eu
não acho que minha aparência é
pior do que antes" (zero), ate "Acho
que
sou feio e minha aparência é repulsiva" (3).
Um total inferior a 4 indica um estado
normal. De 4 a 7, estamos diante de um
caso de depressão suave; de 8 a 15, de
depressão moderada e, acima de 16, de
depressão grave. O dr. Beck admite que o
diagnóstico da depressão é complexo, mas
acredita que os sintomas das cinco áreas
abrangidas pelo teste fazem um todo. "Sc
você descobriu sintomas na área emocio
na!'*, afirma ele. "provavelmente
os encon
trará também no comportamento, motiva
ção e nas outras categorias."
Discute se muito, atualmente, sobre a
importância da tensão nas crises depressi
vas. Haverá, realmente, a depressão endó
gena pura,que se origine totalmente no inte
rior do doente? Um estudo feito em 1960.
na Washington Univcrsity, cm Saint Louis.
sugere esta possibilidade. Entre os quarenta
pacientes internados por depressão no Bar
nes Hospital, somente alguns tinham passa
do por episódios que podiam ser considc
rados importantes para a doença
Investigações mais recentes, porem, leva
ram a outros resultados. Médicos da Uni
dade de Pesquisa sobre Depressão, do Cen
tro de Saúde Mental de Connecticut.
estudando a vida de 185 pacientes, desço
briram que a maioria tinha sofrido alguma
espécie de trauma logo antes da doença
manifestar se.
Dentro dessa linha de raciocínio, o dr.
Thomas Holmes, da Washington Univer
sity, de Seattle. elaborou uma lista de 43
choques emocionais que podem ocorrer na
vida de qualquer um. dando um valor
numérico para cada um deles. O valor
varia, conforme a gravidade, da morte de
um cônjuge (100 pontos), às festas de Natal
(12) e a uma pequena violação da lei (11).
Quando pediu a 54 estudantes de medicina
que anotassem as tensões que tinham sofri
do durante um ano. Holmes verificou que
86% dos que haviam acumulado mais de
300 pontos tinham sofrido uma mudança
importante na saúde e muitos apresen
tavam sintomas de depressão. O dr. Wil
liam E. Bunney. do Instituto Nacional de
Saúde Mental, constatou que.mesmo entre
os depressivos endógenos. um trauma apa
rentemente insignificante quase sempre
problemas conjugais ou sexuais — tinha
precedido à internação. Sua conclusão:
praticamente todos os estados depressivos
sào mais ou menos diretamente provocados
por algum tipo de tensão.
classe social de uma pessoa pode torná Ia
mais propensa à depressão. Baseando se no
fato de que muitos homens emulheres céle
bres eram depressivos, alguns médicos che
garam a sugerir a hipótese de que as pes
soas criativas, sensíveis ou ricas, seriam
particularmente vulneráveis. A explicação
parece ser mais simples: de modo geral, só
uma pessoa rica pode pagar um psicana
lista ou um psiquiatra. Estudos que estão
sendo feitos agora, nos Estados Unidos,
entre pacientes de clínicas psiquiátricas
gratuitas, mostram que os estados depres
sivos sào muito freqüentes entre os pobres."Os
sintomas básicos e os sintomas típi
cos", diz Myrna Weissman. da Unidade de
Pesquisa de Depressão, do Centro de
Saúde Mental de Connecticut. "sào
seme
lhantes para pretos e brancos e para
pacientes de alta ou baixa classe."
O eletro sono é uma das técnicas utilizadas pelos reflexologistas para erradicar os condicionamentos negativos.
O psiquiatra e psicanalista Francisco de
Paes Barreto, de Belo Horizonte, oferece
uma explicação. "Acho
que, no Brasil", diz
ele, "a
depressão é, proporcionalmente,
mais comum nas camadas ricas da socieda
de. Entre os pobres, ela apresenta sintomas
diferentes. O mais comum é a somatiza
çao.
A discussão se repete quando se fala de
uma maior incidência de casos de depres
são e suicídio em países ricos do que nos
subdesenvolvidos. Estatisticamente, em ter-
mos de mortalidade, o suicídio por depres-
são é um problema tão sério, nos Estados
Unidos, quanto o diabetes ou a leucemia.
"O suicídio é uma doença de proporções
suficientes para ser considerado problema
de saúde pública", diz o dr. Seymour Fer
lin, diretor do Programa de Suicidologia da
Hopkins University.
No Brasil, as estatísticas, como sempre,
são incompletas. Uma das razoes é que não
existe enlrosamento entre as Secretarias de
Justiça e Saúde e o IBGE. Os suicídios
cometidos cm casa sào da alçada da Justi
ça, mas as pessoas que morrem nos hospi
tais públicos ficam sob a jurisdição da
Secretaria de Segurança local. O resultado
é que o IBGE afirma que, em 1969, houve
122 suicídios na Guanabara, enquanto o
Instituto Médico Legal registrou 285. Oúl
timo Anuário Estatístico que fornece dados
sobre o assunto é o de 1971, registrando,
em todo o Brasil, 3 105 suicídios e 4 524
tentativas em 1969 e revelando um maior
número de ocorrências nas capitais.
"No campo, as pessoas estão mais prote
gidas pela natureza", diz o dr. Aluísio
Colares. "A
gente vê o dia amanhecer.
Fica se mais próximo da fonte da vida. É
como se estivesse mais junto da mãe. Na
cidade grande, o homem fica mais despro
tegido, sente vontade de encolher. E o enco
lhimento maior é o suicídio."
¦ elas estatísticas do IBGE. o índi
ce dc suicídios, no Brasil, seria de 3.7 para
cada 100 000 habitantes. Na Alemanha
Ocidental, esse índice é de 41,7; na Dina
marca de 19,1 e na Suécia de 18,5. Na
América do Sul, porém, o Brasil lidera a
porcentagem, com mais suicídios que o
Chile (3,1), Peru (1,4) e Equador (0,6).
"Embora sem números exatos", afirma o
dr. Luís da Rocha Cerqueira, coordenador
da Assistência Psiquiátrica do Estado de
São Paulo, "sabe
se que os suicídios obede-
cem, no Brasil, a uma regra mais ou menos
universal: nas sociedades desenvolvidas há
maior número de suicídios e menos homicí
dios. Nos Estados do sul, por exemplo, há
mais suicídios do que no nordeste, onde a
violência se manifesta em homicídios. No
Canadá ou na Suécia acontece o contra
rio."
Os dados parecem confirmar a crença
em que o suicídio, como a depressão —
uma de suas principais causas —, crescem
em função direta do progresso. Como a
poluição do meio ambiente, seriam um dos
componentes da face negra da civilização
*egue
DEPRESSÃO con<lu««o
industrial. Mas, da mesma maneira que a
afirmação de que as pessoas ricas sào mais
sensíveis a crises depressivas, a conclusão
pode ser apressada. O professor Othon
Bastos, do Departamento de Psiquiatria e
Psicologia Médica da Faculdade de Medi
cina da Universidade Federal de Pernam
buco, resume o mal entendido em uma
frase: "Nào
é que a Suécia tenha um maior
número de suicidas. Acontece que. lá, os
dados sào honestos".
A s estatísticas, porém, mesmo
quando honestas, nào apresentam uma
radiografia exata da realidade. Da mesma
maneira que há depressivos que nunca che
gam a tomar conhecimento de seu mal,
escondendo-se atrás de uma atividade fre
nética, há milhares de suicídios que nào são
recenseados. "Nào
posso me basear em
dados estatísticos", afirma o dr. Humberto
Haydt, "mas
tenho a impressão de que
morre muito mais gente por suicídio do que
por doenças graves. Digo mais: a metade
dos suicídios nào chega a ser descoberta.
Se levarmos em conta a quantidade de sui-
cídios 'a
prestação* que existe por aí,
vamos ver que o suicídio é uma instituição.
Ê quase uma maneira de viver se matando.
São modalidades de suicídio inconsciente.
A intenção consciente é viver mas, incons-
cientemente, o indivíduo pensa na morte."
Mas, mesmo incompletas, as estatísticas
já são bastante expressivas para assustar os
médicos. Nos últimos anos, uma farmaco-
péia inteiramente nova de drogas contra a
depressão apareceu no mercado. Um medi-
camento antigo foi redescoberto: os sais de
lítio, componente comum de águas mine-
rais de várias partes do mundo. A ação do
lítio ainda não é bem conhecida, mas ele
está sendo, cada vez mais, usado como tra
tamento específico de crises maníacas. To-
mado com regularidade, pode prevenir epi-
sódios maníacos e alguns médicos acham
que diminui, também, o risco de quedas
depressivas.
Além dos novos remédios, tem havido
uma grande melhoria nas técnicas de terá-
pia por eletrochoques. O tratamento ainda
é matéria de grande controvérsia entre os
psiquiatras, mas tem sido usado com consi-
derável sucesso em muitos pacientes. O
National Institute of Mental Health de
Washington iniciou um programa de pes-
quisa em grande escala, sobre a terapia da
depressão. O projeto, com um orçamento
de alguns milhões de dólares, contará com
a colaboração das maiores instituições de
saúde mental dos Estados Unidos, para
avaliar e melhorar as possibilidades de tra
tamento da depressão através de remédios,
psicoterapia e choques.
eletrochoque foi descoberto, por
acaso, na França, quando um paciente acu
sou melhoras depois de ter recebido uma
descarga elétrica. "Quando
o método foi
aperfeiçoado", lembra o dr. Humberto
Haydt, "virou
uma verdadeira cachaça.
Todo mundo queria usar o eletrochoque
para curar tudo. Hoje já se sabe que tem
indicações precisas: os estados depressivos
profundos, a catatonia e surtos delirantes
agudos de certas psicoses. Para essas indi-
cações, é um grande instrumento terapèu
tico mas, apesar disto, está sendo evitado,
porque já existem remédios que o substi
tuem."
O eletrochoque tem, sobre as outras terá
pias antidepressivas, a vantagem de pro
porcionar resultados imediatos, o que o
torna particularmente valioso no controle
de pacientes potencialmente suicidas. O
tratamento consiste em uma descarga de
150 a 170 volts aplicada na cabeça do
paciente, através de um par de elétrodos.
Não se sabe ainda explicar exatamente por
que o método funciona. Alguns médicos
acham que a descarga elétrica altera a quí
mica do cérebro. E muitos acreditam que o
uso excessivo dessa técnica pode ter efeitos
permanentes na memória e no conheci
mento.
T o nos Estados Unidos quanto
no Brasil há denúncias sobre o uso arbi-
trário do tratamento. Um levantamento
feito, há meses, em Massachusetts, con-
cluiu que o choque elétrico é, em várias
ocasiões, usado indiscriminadamente em
hospitais e consultórios médicos. Mais
grave ainda é a afirmação do dr. Haydt:
"Nas instituições mais antigas, que ainda
merecem o nome de hospício, já vi ameaça
rem pacientes com o choque, transfor-
mando esse instrumento terapêutico numa
arma de tortura".
A partir de 1 950, baseando-se na evi-
dência de que a depressão, pelo menos em
alguns casos, coincide com alterações na
química do cérebro, médicos americanos
intensificaram suas pesquisas no campo
dos remédios. Observaram que a reserpina,
que era então usada para o tratamento da
pressão alta, provocava sintomas depres-
sivos em muitos pacientes. Pouco depois,
constataram que a iproniazida, empregada
no tratamento da tuberculose, provocava
euforia.
Estudos subseqüentes, feitos em animais,
mostraram que ambas as drogas agiam
sobre os dois ncurotransmissores do cére-
bro —
ou seja, os agentes químicos que
ajudam a transmitir os impulsos nervosos
de célula para célula.
Atualmente, os psicobiologistas estão
muito interessados em confirmar se as defi-
ciências nos neurotransmissores fazem
parte do quadro depressivo dos seres huma-
nos. Até agora, as descobertas, embora
significativas, foram limitadas. Um estudo
mostrou que o cérebro dos suicidas contém
menor quantidade de um dos subprodutos
da serotina do que os cérebros de pessoas
mortas em acidentes. Descobriu se. tam
bém, que o índice de um dos subprodutos
da norepinefrina sào mais baixos na urina
de alguns pacientes depressivos do que nas
amostras de indivíduos normais. Mas, até
agora, não se chegou a conclusão se essas
deficiências sào causas ou resultados da
depressão. Ou se nào passam de uma
coincidência.
Um grupo de remédios antidepressivos
está relacionado com a droga TBiproni-
zada. Sào eles Marplan, Parmate, Nardil e
Eutonyl, e parecem funcionar bloqueando a
ação de uma enzima do cérebro, chamada
oxidase monoamina (MAO), que diminui a
norepinefrina. Da mesma maneira, uma
nova classe de drogas antidepressivas, cha
madas tricíclicas (Teofranil, Elavil, Perto
frane e Sinequan) elimina a diminuição da
serotina, outro neurotransmissor impor
tante, que se acredita estar relacionado
com a depressão.
M
¦ VI as essas drogas têm, potencial
mente, sérios efeitos colaterais, a menos
que sejam administradas sob cuidadosa
supervisão médica. Se forem ingeridos com
alimentos tais como chocolate ou queijo
fermentado, os inibidores MAO podem
causar um violento aumento da pressão
sangüínea. As tricíclicas podem causar
sonolência profunda e. algumas vezes, tre-
mores e rigidez muscular, semelhantes aos
da doença de Parkinson. Em muitos casos,
principalmente quando a depressão é de
origem psíquica, as drogas não oferecem
grandes benefícios.
Os médicos brasilèiros, segundo informa
o dr. Humberto Haydt, têm evitado ultima-
mente os inibidores MAO, porque modifi-
cam muito o metabolismo. "Existem
outros
antidepressivos, tipo neurolético, que agem
diretamente sobre o tecido nervosoVexplica
o psiquiatra."Esses contêm alguns deriva
dos de iperazina e outras substâncias. Al
guns remédios têm pequenas diferenças
moleculares, devido à inclusão de um
átomo de enxofre ou de lítio. que faz com
que certas substâncias tenham ação mais
rápida que outras."
De unia maneira geral, médicos
americanos e brasileiros concordam que a
depressão nào pode ser tratada de uma só
maneira. "Não
há fórmuías mágicas", afir-
ma o dr. Aluísio Colares. E o dr. Humberto
Haydt conclui o raciocínio: "Há
casos em
que não é necessário choques nem remé
dios: a psicoterapia é suficiente. Em outros
casos, convém que o paciente, ao mesmo
tempo que faz uma psicoterapia, seja medi
cado. Isso varia muito de acordo com cada
caso. Não há fórmulas. Se houvesse, nào
existiria necessidade de consulta".
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t\o >e- extintos.
!^Ti"rTTc~.m' rria• - de 4 000 mct~ro~s
.1 e ai í u ra. Ali. ií i d if erer 11 e
"!¦ tempestades,
rarefaçào
J11 ar. u t11 r 11 a
v r. e e s-e repnkJu/. .-V> lado.
1 • autor das fntos. o italiano
VS alter Bnnatti. junto an tu mu Io
de C arl Akele \, o descobridor
dessa espécie de gorila. Aqui
Bonatti conta como
fotografou osgorilas.
OP1 RIfiH r MOSDADORIPRIr sS
I
O pico
do Karisimbi (4 510 metros), o mais alto
da cadeia tios montes Virunga, sempre
coberto de neve. Km sua volta, o reino dos gorilas.
Ei
i > < mui I! um >i ||.1 I. "1 c 11 habita! r
• 1111,1 I , 11 i I . i 11 i 11 C I i. 11 >! i > l' r,) t, I 11 i
r impo ,m\.cI. I 'i |.i di . .
) m , 111111' | n ¦
i i ¦ 11¦ i n,i ! 11'' ¦ :. i i u j 1 h •
i. i
M< > ,1111 .1 t |i > / ;i 11 i ¦.
pr 11 \ | m |i i. h Í-.
(' \ l M111!', I \ n (I, i n < I < > ; i v / ¦ .; ,, t ,
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;u h li > U( < cli ao. mi u l i! k ,kti • [I- i ,J ;
I li Ic 11 ir!) I ('. h a\. i, i i In K I ict( ) p r 1 !: -i •
|iir m iii li.i s ti m, ;i tr r m in.i e rr
f1 ;
i,11 ;im unia m;in,i dt p< n
I )i II ,1111 r 0 -si.' tr llipo. as \r/rs (.'lu-
!' I I' I .1 < >ll\ II SC II •< !' I lio | IH (MltlCI SIM -
;h";\h1.is. i c( (.-li1rI a I r mesmo os \i. uni
111 .i. i'ii 11 c .i s i (>p.i , de 11 ni ,i ,ii voi r. M as .i
'¦'.i¦;i i - ,i tri 11\ rIinrutr rmai anliada. niinUs
impriKl i ,iv rl pi m l .iiis.i ili >s despi'
u i, hK no,, i' iim;i som In a rseut a r nebu losa
I1'. tv,i i (Mi lantcmcntr ao redoi Nicssas
•1''«i:v• h- .imda i)iir ru c< »n uTinssr rhrrai
• ''trr11(• rur pri Io deles. como poderia
Deschreiver e seus auxiliares, na região do Kahuzi.
I«> I < >i' i a I a los.' I iH|iianlo ru pensava nisso,
r Ir s dr sapat ceei a m Ai i r >olvi dr si .In
Alguns dias drp< >i . puicin n mi lua' i
\dnrn I )csi In civri. uni beh.\i cjiir dividiu
vivei no inalo Mais rsprcil ícamcnlc. ali
nas piovunidadcs dos tnonlcs \ ii uiism.
I )esi li rciv et acritou acompanhai mr na
liorcst a rm busca dos inu lias. sr u . i (ui lusa
dos. Com um pouco dr ,oile. podrnanios
Ha uni "contato
com rlcs I ssr lioinrm.
uni autcnl ico avcntuiciro. passou mais da
metade dr sua vida no tasiro dr bulalos r
rlrlanlrs. Mui dia. lia cinco anu.. topou
com uni dr ssr s «'.orilas enormes. i|iie. lurio
s<c aluou sr cm sua direção No primciio
passo. I )csclueivcr tropeçou ( . caindo, pci
dru o lu/il Sr as coisas aconlcccsscm
'orno eram previstas. rlc punais poderia
contai sua aventura. Mas as coisas se [ias
saram de mancua inteiramente inespera
da pequenino. imóvel, indefeso. Des
chreiver permaneceu estendido no chão,
enquanto o gorila se limitou a observar sua
possível vitima, por alguns instantes, reti
rando sc em seguida. Desde esse dia. Des
chreiver decidiu tornar se amigo dos gori
^^H^hbbhbsi
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l ' - ^
fej I& i' Y| .,' •
J#- yy: r^ja i:1. \ • jl =$"?1ii j*
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y^i|^^k^^'''-']i^j^MfiUdikMi^MhfattlidHaiWiittlH^^bldjl n V" iiilft f <;*Yl-iflti
|k«u>^f^i^| *hl^ti&iif i: •
f "T^fV1 >aiiii*'^finilr'*'
Wr ¦,¦'•«¦ • ** •«
''*'
O acampamento da expedição,
nas proximidades do monte Mikeno
Ao lado, a localização
dos montes Virunga e da região
do Kahu/i, onde vivem os gorilas.
Ak«tio 0But#
Coquilhatvl
I Morrtt
Virunj»
Montt
kKãnuzI
Olnong
mi'lHIUl^UHMUIl'iUBIfWnimAllfflBTIlftgmWWmW
A floresta dos gorilas:
aqui, eles vivem em grupos (uni macho,
várias fêmeas e jovens de ambos os sexos). Eles
abrem caminho pela mata arrebentando os
galhos (fotos abaixo)
e, ao pôr (Jo sol, preparam seus ninhos
(foto maior), onde se deitam de costas, com os braços cruzados,
e dormem pesadamente até as primeiras
luzes da manhã.
Ias. a >n seg ii ind< > nesses cinco .nn>s
!.tt11111ai 1/ .11 sc coin dois gi upos d ilci entes.
Depois de niarchaimos na mande lio
te ta tio kahu/i. alias deles, encoiiti anio^
anais da sua passagem: rastros c galhos
que i.'lcs quebi ain para ahrn caminho.
mm • ¦
contato
I malmente loi possivcl. entao. ouvir ate
seus sussurros: eles estavam descansando
Jpt>is da refeição, lealmente abundante.
A hora do repouso apos a comida e um
momento delicado para abordai esses sus
cctiveis animais. I pieciso espci ar. I.spera
nios cerca de meia hora. quando o barulho
de um galho quebrado av isa que eles come
çam a se movimentar. () contato, gradas a
presença amiga de I)cschreiver. esta paia
acontecer c durara talvc/ poucos minu
tos. talvc/ uni par de horas, ate que o líder
do bando apateta manifestando neivo
sismo. I nt.io, será preciso n embora paia
cv ilar compile ações per igosas.
1'assam sc de/ minutos c uma sombia
escura, silenciosa, ameaça aparecei entie
os íamos, ao mesmo tempo que um forte
cheiro sc espalha pelo ar. De repente, ecoa
na floresta um terrível brado. A mancha
diante de nos mostra sc totalmente c apare
ee um monstro gesticulantc. em pé. com
pelo menos 2 metros de altuia. I sta a nao
mais do que sete pa-%sos de nos.
I iii novo rugido horroroso parece que
vai |h>i abaixo todas as arvores da floresta.
em a boca escancarada, na qual branque
iam dois enormes caninos. Dois olhos
assustadores no rosto de expressão fero/,
enquanto a garganta continua emitindo
i ugidü^ v iguiusu.s.
('ont os bi aços potentes e inquietos atira
socos no ar. em diieção ao ceu. Depois,
ritmadamente. bate no peito que retumba
como um tambor: é uma cena terrificante.
Poi alguns instantes permaneço paralisado.
Depois me lembro que ha mais de quin/e
dias me meti na floresta para fotografa los.
Passo a mão na maquina e começo a apei
tar o botão.
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Finalmente, eis o monstro, de frente. Apesar de seu
tamanho (2 metros de altura e cerca
de 3(X) quilos de peso) e de sua
prodigiosa força, capa/
de abater qualquer animal, ele é
exclusivamente vegetariano. Nas fotos menores, um
deles está pondo fim a um cacho de banana.
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Eles vagam entre a espessa e alta vegetação da floresta,
numa procura
constante de comida. Têm a cara
larga, os olhos inquietos e expressivos. As orelhas são
pequenas, os lábios finos e enrugados: tudo
neles demonstra um aspecto quase humano. Mas não caminham
em pé: usam as mãos. Quando estão calmos,
emitem uma grande variedade de sons
— alguns até suaves.
Quando ficam irritados, um odor forte emana
do seu corpo e pode ser percebido a mais de 20 metros
de distância. Sobreviveram até agora
principalmente pelas dificuldades naturais de
se chegar até o seu habitat.
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GLHA
Com o Guia Quatro Rodas no porta-luvas, vocô sabe onde encontrar
os serviços autorizados e oficinas. O Guia tem os mapas das principais cidades brasileiras
e indicações de hotéis, restaurantes, cinemas, teatros, museus, passeios, praias, igrejas,
pontos turísticos.
E mais: o Guia tem um mapa-gigante do Brasil e mapas verticais com todas as
estradas. Desde as de terra até as auto-estradas.
Vá viajar. Aproveite as férias, o sol e o Guia Quatro Rodas do Brasil 1973.
Um país tão grande num livro tão pequeno.
i£ iwl
J
O FANTASTiCO
VÔO DE
UMA GAIVOTA
Richard Bach levou nove anos para
escrever
e dois para
conseguir publicar
o seu livro Jonathan Livingston Gaivota. Desacreditada,
a gaivota pousou
nas prateleiras
de algumas
poucas livrarias até
que, de repente,
partiu para
um vôo fantástico: há um ano, ela domina
a lista dos best-sellers nos Estados Unidos.
O crítico Geraldo Galvão Ferraz resumiu e comentou-
os trechos mais importantes do livro, para
REALIDADE.
67
A história de Junatiian. Ou de Bach.
A
invasão das livrarias foi irresistível
como a hlitzkrieg dos exércitos na
zistas na Segunda Guerra Mundial,
Milhares dc pessoas armadas de notas de 5
dólares (edição normal) ou mais três notas
dc 1 dólar (edição de luxo) conquistaram os
livros, estourando todos os recordes de
venda de Natal, para supresa dos livreiros
surpreendidos em suas fortalezas dc esto -
ques pequenos para a procura.
O livro visado pela onda invasora era
chamado de tudo: "Stanley
Livingston",
"George Gaivota",
"O Livro de Livingston
sobre Gaivotas", "A
Gaivota", de Jona-
than Livingston. Ou "Jonathan
Livingston
Águia", "Jonathan
Livingston Pingüim e
"Jonathan Livingston Pombo". Mas a
maioria sabia o nome certo: Jonathan
Livingston Gaivota. Atinai, os enormes
anúncios da Editora Macmillan, a incan-
sável peregrinação do autor Richard Bach
por rádios e televisões do país inteiro e a
reportagem de capa da revista Time servi-
ram para alguma coisa.
Até para contar a incrível história do
livro que há quase um ano domina as listas
de best sellers nos Estados Unidos.
Era uma vez um antigo capitào da Força
Aérea, já passado dos trinta anos, que edi-
tava e escrevia artigos para revistas de fãs
de aviação. Nas horas vagas, voava em
monomotores e escrevia livros. O seu
maior sucesso era Stranger on the Ground,
sobre as reflexões de um piloto de combate
num vôo da Inglaterra para a França. Total
de vendas: 17 000 exemplares.
Livros e revistas mal davam para viver e,
deprimido, Richard Bach, o ex-capitão
Richard Bach, dedicava-se ao passatempo
mais barato que conhecia: passear à noite à
beira de um canal em Belmont Shores, na
Califórnia. Era 1959 e havia nevoeiro. De
repente, ouviu uma voz cristalina que can-
tava três palavras em seus ouvidos: "Jona
than Livingston Gaivota".
Voltou depressa ao seu quartinho de
escritor e, tomado de inspiração, escreveu
umas 3 000 palavras. Todas sobre uma gai-
vota que ficava descontente com a vida dos
outros pássaros do bando, criaturas odio
sas que só voavam para pegar restos de co-
mida jogados das latas de lixo de barcos de
pesca. Mas, certo dia, a gaivota chamada
Jonathan aprendia a arte do vôo por puro
prazer.
Parou por aí, sem conseguir um fim para
a pequena história. Nove anos e muitos
passeio^ noturnos depois, Bach acordou
bem cedo em Ottumwa, no Estado ameri
cano de Iowa. Lá estava a voz cristalina
ditando o capítulo seguinte. Ao aperfeiçoar
seu vôo a alta velocidade, Jonathan trans-
formara-se num pássaro diferente. Uma
espécie de mestre para outros pássaros.
Houve algumas recusas de editores, mas
o ex-capitão vendeu a história à revista Pri-
vaie Pilot por Cr$ 1 200,00. Tantas cartas
chegaram a redação que Bach teve de
escrever mais dois trechos. Jonathan Li
vingston Gaivota começou a ser reprodu-
/ido em outras revistas que mandavam
muitos cumprimentos e nada de cheques ao
autor. Bach pediu à.) seu agente. Dou Gold.
que se mexesse para publicar Jonathan cm
livro.
Mas o texto era pequeno demais e Gold
decidiu resolver esse problema enviando a
história a editores de livros infantis. As res
postas corteses demonstravam interesse
pelo autor, mas podiam um livro que expli-
casse — de verdade — como os pássaros
voavam. Mais dois anos se passaram antes
que um almoço decidisse tudo.
Num dia do verào de 1969, Eleanor
Friede, editora da Macmillan e piloto ama-
dor, conversou com um amigo de Bach; a
menção do nome do ex-capitão lembrou
Eleanor do autor de Stranger on the
Ground. Logo enviou uma carta a Ottum
wa, dizendo que achava que Bach poderia
escrever um romance. Em menos de uma
semana, chegaram as provas de Jonathan
Livingston Gaivota ã Macmillan.
O
texto agradou a Eleanor, mas os
desenhos duros e cheios de minú-
cias científicas que o ilustravam
brigavam demais com a história leve e poé-
tica de Jonathan. Talvez fotografias ficas
sem melhor. Quando foi para Nova York,
Bach resolveu tudo. Tinha um amigo, outro
apaixonado por aviação, chamado Russell
Munson. O fotógrafo Munson tinha —
a
propósito — mil fotos de gaivotas.
Num memorando à direção da Macmil-
lan, propondo sua publicação, Eleanor
disse o que achava: "Embora
a história
tenha interesse especial para pilotos e mari
nheiros, o tema é universal, sugerindo que
através da perseverança, da capacidade e
do amor pelo aprendizado, cada um de nós
pode atingir a perfeição todos os dias da
vida e de vidas futuras. Acho que tem chan
ce de se tornar cada vez mais um livro
padrão, dc longa duração, para todas as
idades".
A diretoria da Macmillan concordou.
Afinal, se fossem vendidos 7 500 exempla-
res com 93 páginas, sendo quarenta de
texto, a quase 5 dólares, a edição estaria
paga. Mas os vendedores ficaram desani-
mados ante a reação dos livreiros e, no dia
da publicação, 3 1 de agosto de 1970, havia
encomendas de menos de 3 000.
Pior ainda, nenhuma revista de grande
circulação, nem Reader's Digest (onde
Bach já escrevera), quis trechos do livro.
Os clubes do livro nem queriam considerar
a oferta da Macmillan sobre o livro. A edi-
tora, mais por rotina, publicou anúncios
pequenos em revistas para livreiros e no
New York Times. Ninguém criticou a obra,
só as fiéis revistas de fãs de aviação.
Na televisão e no rádio, mesmo pano-
rama negativo. Afinal, um sujeito que
escrevia sobre gaivotas devia ser chato
demais, pensavam os produtores.
Nas livrarias, Jonathan começou a voar
devagar, mas, no Natal, a edição se esgo
tou, comprada por fãs de aviação que que
riam dar alguma coisa que fosse mais que
um cartão e menos que um Cessna. A bola
de neve começou a rolar, impulsionada
principalmente por entusiastas de várias
seitas — Ciência Cristã, Ioga, Budismo,
Zen, leosofia, Karl Banhistas —
que,
entre outras coisas, viam em Jonathan uma
alegoria da vida de Jesus.
Bach não precisou mais andar à noite.
Cento c quarenta mil exemplares em oito
edições já davam para viver razoavelmente.
Na primavera de 1972, começou o lenòmc
no: Macmillan começou a publicar anún
cios grandes, Bach foi entrevistado pelo
New York Times c ganhou uma foto em
página dupla na Life. Vário?» editores de
outros países compraram direitos (aqui no
Brasil, a Editora Nordica, que lançará o
livro este mês com o titulo "A
História dc
Fernão Capelo Gaivota"—Cr$ 20,00). O
produtor de cinema Hall Bartlett leu o livro
na cadeira do barbeiro e deixou a barba
pelo meio para telefonar ao agente, ofere
cendo uma quantia não revelada pelos
direitos de filmagem.
A televisão começou a descobrir que o
piloto escritor alto e bigodudo não era o
sujeito detestável que imaginava. Uma
rádio da Califórnia recebeu uma corres
pondência recorde, após a leitura de Jona
than Livingston Gaivota no ar, e começou
a se chamar "A
Estação Jonathan Living
ston Gaivota". A revista Reader's Digest
publicou um resumo da obra, seguindo o
clube do livro do mês que a escolheu como
oferta de abril de 1972. No mesmo mès,
gaivotas eram o animal preferido de todos
os livreiros do país.
A crítica entusiasmada ia do jornal pop
Rolling Stone ao New York Times, com
frases como a de Ray Bradbury, o autor de
Fahrenheit 451: "Com
este livro, Richard
Bach faz duas coisas. Ele me faz voar. Ele
me torna jovem. Pelas duas, estou profun
damente agradecido".
Só uma ou outra voz discordava, censu
rando a ideologia do livro, impelindo as
pessoas a fazerem o que desejam. Os
pouquíssimos adversários da obra lembra
vam que o tenente Calley, em My Lài, foi
impulsionado por um sentimento seme-
lhante e que um jovem viciado em drogas
poderia apresentar a mesma justificativa.
Mas
a reportagem de capa da revis-
ta Time, em novembro, pulveri-
— . —zou as previsões dc estoque dos
livreiros que não souberam enfrentar o
avanço de milhares de leitores, inclusive
gente que nunca entrara antes numa livra-
ria. Outras editoras começaram a sonhar
com gaivotas e outros bichos, mas até
agora só foi lançada uma sátira, Ludwig
von Wolfgang Falcão, que, contra a unani-
midade do seu bando, esforça se para atin
gir a perfeição através da leitura rápida e
da comida vegetariana. (Nas páginas se
guintes, um resumo de alguns trechos do
livro.)
?
I
Richard Bach (à direita)
conta no seu livro
Jonathan Livingston
Gaivota a história de
uma gaivota que
apenas
queria ser livre,
para voar. As fotos
destas páginas,
feitas
por Russel Munson,
também servem de
ilustração para
o livro. 1 ' *-**^S§... » ^^rPrfflBrV-w > - - £ stSt . ' j* 'jt.1 -'' **, *' ^"^4Jv"
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I¦
"Para
essa gaivota, não era comer o importante,
mas voar. Jonathan Livingston (raivota. mais que
nada no mundo, gostava de voar.
"Assim
Richard
Bach descreve Jon, o personagem de seu livro,
cujos principais trechos são aqui resumidos.
Era
de manha. O sol novo irra-
diava ouro pela espuma do mar
sereno.
Um barco de pesca, a quase
dois quilômetros da praia, lan
çava iscas na água e o aviso de
comida zuniu pelo ar, até que
uma multidão de mil gaivotas
surgiu, brigando e mergulhando
por pedaços de alimento. Co-
meçava outro dia duro.
Mas longe, sozinho, só ele além do barco e da praia,
Jonathan Livingston Gaivota treinava. No céu, a uns trinta
metros, baixou os pés chatos, ergueu o bico e se esforçou
para fazer uma curva difícil e penosa sem soltar as asas. A
curva obrigou-o a voar devagar. Diminuiu a velocidade até
o vento ser um sussurro em seu rosto, até o oceano se imobi-
lizar sob ele. Apertou os olhos em concentração rígida,
prendeu a respiração, forçou 90. . . mais. . . um pouqui-
nho. . . da curva. . . Encresparam-se as penas, perdeu velo-
cidade e caiu.
Gaivotas, como se sabe, nunca vacilam, nunca perdem o
impulso. Perder a velocidade no ar é vergonha e desonra
para elas.
Mas Jonathan Livingston Gaivota, sem se envergonhar,
estirando as asas outra vez para fazer a curva difícil que o
fazia tremer —
reduzindo, reduzindo e perdendo o impulso
novamente —, não era um pássaro qualquer.
A maioria das gaivotas não se preocupa em aprender
nada além das noções rudimentares de vôo — da praia à co-
mida e vice-versa. Para a maioria das gaivotas, o importante
não é voar, é comer. Mas para essa gaivota não era comer o
importante, mas voar. Jonathan Livingston Gaivota, mais
que nada no mundo, gostava de voar.
Esse jeito de pensar, descobriu, não torna ninguém popu-
lar entre as outras aves. Até seus pais ficavam infelizes
quando passava dias sozinho, fazendo centenas de vôos
rasantes, experimentando.
"Por
que, Jon, por quê?", perguntava sua mãe. "Por
que
é tão difícil ser como o resto do bando, Jon? Por que não
deixa o vôo rasante para os pelicanos, para os albatrozes?
Por que não come? Jon, você está osso e penas!"
Nos dias seguintes, tentou comportar-se como as outras
gaivotas; tentou mesmo, gritando e lutando com o bando,
perto do cais e dos barcos de pesca, mergulhando em busca
de restos de peixe e pão. Mas não era feito para aquilo.
Era tão sem sentido, pensou, deixando cair deliberada-
mente uma anchova duramente conquistada para uma gai-
vota velha que o perseguia. Poderia aproveitar esse tempo
para aprender a voar. Há tanto para aprender!
Não demorou muito e Jonathan Gaivota estava sozinho
outra vez, mar adentro, faminto, feliz, aprendendo.
Velocidade era seu objetivo e, numa semana, aprendeu
mais sobre velocidade que a mais rápida gaivota existente.
Subir a 300 metros. Embicar para a frente primeiro, com
todo impulso, descendo depois, asas batendo, num mergulho
vertical. Daí, sempre, sua asa esquerda imobilizava-se num
impulso para cima, mas ele virava violentamente para a
esquerda, a asa direita equilibrando o precariamente — lá
ia como uma faísca num parafuso selvagem para a direita.
Dez ve/es tentou e dez ve/es', ao passar os cento e de/
quilômetros, virava uma massa confusa de penas, descon
troladas, explodindo contra a água. Achou, entào, enquanto
escorria água, que o segredo deveria ser manter as asas
paradas mesmo em alta velocidade
— bater até oitenta e
parar.
Tentou outra vez, agora de seiscentos. entrando no mer
gulho com o bico bem à frente, asas bem abertas e paradas
exatamente nos oitenta quilômetros por hora. Precisou de
um esforço enorme, mas deu certo. Em dez segundos, pas-
sou a cento e cinqüenta quilômetros por hora. Jonathan ba
tera o recorde mundial de velocidade para gaivotas.
Mas a vitória durou pouco. No instante em que começou
a reduzir a velocidade, no instante em que mudou o ângulo
das asas, mergulhou no mesmo desastre terrível e incontro-
lado. A cento e cinqüenta quilômetros, o efeito foi o da dina-
mite. Jonathan Gaivota explodiu no ar e chocou se contra
um mar duro como pedra.
Quando voltou a si, já era noite alta; flutuava no luar da
superfície do oceano. Suas asas eram esfarrapadas barras de
chumbo, mas o peso do fracasso era maior ainda. Ainda se
o peso fosse suficiente para arrastá lp suavemente até o
fundo, acabando com tudo!
Uma estranha voz surda soou dentro dele.'Não dava
mesmo. Sou uma gaivota. Sou limitado por minha natureza.
Se fosse feito para aprender tanto sobre vôo, teria mapas em
vez de cérebro; se fosse feito para voar em velocidade, teria
as asas curtas do falcão e comeria ratos em vez de peixe.
Meu pai tem razão. Devo esquecer essa besteira, voltar para
o bando e me contentar com o que sou, uma pobre e limi-
tada gaivota.
Ser apenas mais um do bando foi uma decisão que o fez
sentir-se melhor. Estava livre do impulso que o levara a
aprender; acabaram os desafios e fracassos. Era maravi-
lhoso parar de pensar, só voar pela escuridão, rumo às luzes
sobre a praia.
Escuridão! A voz surda irrompeu em alarma. Gaivotas
nunca voam no escuro!
Desça! Gaivotas nunca voam no escuro. Se fosse feito
para voar na escuridão, teria olhos de coruja! Mapas em
vez de cérebro! Asas curtas de falcão!
Asas curtas. A sas curtas de falcão!
Era isso! Que idiota fui! Tudo que preciso são umas asi
nhas, .basta encolher boa parte das minhas e voar só com as
pontas. Asas curtas!
Subiu até seiscentos metros acima do mar negro e, sem
pensar um instante em fracasso ou morte, encolheu as asas
bem junto do corpo, só deixando de fora as pontas estreitas
das asas, adagas estendidas ao vento, para cair num mergu-
lho vertical.
O vento era ;m rugido de monstro na sua cabeça. Cento
e dez quilômetros por hora, cento e cinqüenta, cento e
noventa e ainda mais. A duzentos e vinte, o vento não era
tão forte quanto havia sido a cento e dez e, com um agitar
leve das pontas das asas, saiu do mergulho e disparou sobre
as ondas, uma cinzenta bala de canhão sob a Lua.
Fechou os olhos até virarem fendas ante o vento e exul-
tou. Duzentos e vinte quilômetros por hora! E sob controle!
Se eu mergulhar de mil e quinhentos metros em vez de seis-
centos, devo fazer uns. . .
As promessas de instantes atrás foram esquecidas, varri-
das pela maravilhosa ventania. Mas não se sentia culpado
por quebrar as promessas que fizera a si mesmo. Eram pro-
messas feitas apenas pelas gaivotas que aceitam a rotina.
Uma que tivesse aproximado a perfeição em seu aprendi
/ado não precisava desse tipo de promessa.
Quando o sol surgiu, Jonathan Gaivota ainda treinava.
De mi! e quinhentos metros os barcos de pesca eram ponti
nhos na planície de água azul. o bando era uma débil nuvem
de grãos de poeira, em círculos.
Ele estava vivo, vibrando de prazer, orgulhoso de ter con-
trolado seu medo. Então, sem hesitação, encolheu as asas,
estendeu as pequenas pontas das asas em ângulo e lançou se
diretamente no rumo do mar. Quando passou os mil e
duzentos metros, chegou à velocidade máxima; o vento era
uma sólida barreira pulsando sons, contra a qual não podia
mover-se mais depressa. Agora, voava em linha reta, a tre-
zentos e cinqüenta quilômetros por hora. Engoliu em seco,
sabendo que se suas asas se abrissem nessa velocidade, ele
explodiria cm milhões de pedacinhos de gaivota. Mas velo-
cidade era poder, velocidade era alegria, velocidade era bele-
za pura.
Começou a sair do mergulho a trezentos metros, as pon-
tas das asas batendo e agitando-se ao vento que soprava
forte. O barco e a multidão de gaivotas obliquando e cres-
cendo como um meteoro em queda na sua direção.
Não podia parar; nem sabia como dar a volta nessa
velocidade.
Uma colisão seria morte instantânea.
Então, fechou os olhos.
Foi naquela manhã, então, pouco depois do nascer do sol,
que Jonathan Livingston Gaivota disparou como uma seta
pelo centro do bando, a uns trezentos e cinqüenta quilóme-
tros por hora, olhos fechados, num enorme rugido de vento
e penas. A Gaivota da Sorte sorriu lhe desta vez e ninguém
morreu.
Quando ergueu o bico direto para o ccu, ainda zunia a
uns duzentos e cinqüenta quilômetros por hora. Ao reduzir
finalmente para trinta quilômetros por hora e estender as
asas, o barco era uma migalha no oceano, mil e duzentos
metros abaixo.
Pensou no triunfo. Velocidade máxima! Uma gaivota. A
trezentos e cinqüenta quilômetros por hora! Era uma con
quista, o maior momento isolado da história do bando e,
nesse instante, uma nova era se abriu para Jonathan
Gaivota.
Descobriu que uma única pena da ponta da asa, moven-
do-se numa fração de esforço, causava uma suave curva em
arco numa velocidade tremenda. Mas antes de aprender
isso, descobriu que, a essa velocidade, mover mais de uma
pena era entrar em parafuso como uma bala de rifle . . e
Jonathan fizera a primeira acrobacia de uma gaivota no
mundo.
Quando se uniu ao bando na praia, era noite alta. Estava
tonto e muito cansado. Mas só de alegria tez um loop para
descer, com urna volta em torno do seu eixo horizontal bem
na hora de pousar. Quando ouvissem falar da Conquista,
ficariam loucos de alegria. Como é melhor viver agora! Fm
vez de ir e vir tristemente em busca dos barcos de pesca,
havia uma razão para viver! Podemos erguer-nos para sair
da ignorância, descobrir que somos criaturas de qualidade,
inteligência e capacidade. Podemos ser livres! Podemos
aprender a voar!
As gaivotas estavam reunidas no Conselho quando pou-
sou e pareciam estar reunidas há algum tempo. Na verdade,
estavam esperando.
"Jonathan Livingston Gaivota! Para o Centro!" As pala-
vras do Ancião soaram numa voz da maior formalidade.
Para o Centro só podia significar grande vergonha ou gran-
de desonra. Para o Centro de Honra era a forma de destacar
os maiores líderes das gaivotas. Claro, pensou, o bando viu
a Conquista hoje de manhã! Mas não queria honras. Não
desejo ser. líder. Só quero partilhar o que descobri, mostrar
os horizontes que nos esperam. Adiantou se.
"Jonathan Livingston Gaivota", disse o Ancião,
"para o
Centro a fim de ser degradado diante das gaivotas do
bando!"
Parecia que levara uma paulada. Os joelhos enfraque-
ceram, as penas murcharam, um rugido dominava os ouvi-
dos. No Centro para degradação? Impossível! A Conquis-
ta! Não entendiam! Errados, estavam errados!
". . .por sua total irresponsabilidade", entoou a voz sole-
ne, "violando
a dignidade e a tradição da Família das
Gaivotas. . ."
icar no centro para degradação
significava que seria afastado da
sociedade das gaivotas, banido
para uma vida solitária nos Pe
nhascos Distantes.
"...um dia, Jonathan Living-
ston Gaivota aprendera que a
irresponsabilidade não compen-
sa. A vida é o desconhecido e o
insondável, mas fomos colocados
neste mundo para comer, para
vivermos o máximo possível."
Uma gaivota nunca responde ao Conselho, mas a voz de
Jonathan se ergueu: "Irresponsabilidade?
Meus irmãos!",
gritou.
"Quem é mais responsável que uma gaivota que des-
cobre e segue um significado, um objetivo mais alto na
vida? Durante mil anos mendigamos cabeças de peixe, mas
agora temos uma razão para viver —
para aprender, desço-
brir, ser livre! Dêem me uma chance, deixem me mostrar o
que descobri..."
O bando parecia de pedra.
"A Fraternidade foi rompida", entoaram em coro as gai-
votas e, com isso, fecharam-lhe os ouvidos e voltaram-lhe as
costas.
Jonathan Gaivota passou o resto dos seus dias sozinho,
mas voava bem para lá-dos Penhascos Distantes. Aprendia
mais todo dia. Aprendeu que um mergulho aerodinâmico, a
alta velocidade, poderia fazer com que achasse os peixes
raros e deliciosos que nadavam a três metros abaixo da
superfície do oceano; não precisava mais dos barcos de
pesca nem de pão amanhecido para sobreviver. Aprendeu a
dormir no ar, fixando um curso noturno ao longo do vento
de mar alto, cobrindo cento e cinqüenta quilômetros do
crepúsculo à aurora. Com o mesmo controle interno, voava
através de densos nevoeiros marinhos e subia acima deles
para céus claros e brilhantes. . . bem na hora em que todas
as gaivotas permaneciam no chão, só em meio da cerração
e da chuva. Aprendeu a usar os ventos que, bem alto so-
pratvam para o interior, nos quais se regalava com insetos
escolhidos. Então, certa noite, vieram. E descobriram
Jonathan planando tranqüilo e sozinho, pelo seu ama
do céu/ As duas gaivotas que apareceram ao seu
lado eram brancas como a luz das estrelas e seu
brilho era delicado e amistoso no ar noturno.
Mas o melhor de tudo era o modo hábil com que
voavam, as pontas das asas movendo-se com
precisão e constância, a uma distân-
cia mínima da sua. Sem
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/ uma palavra, Jonathan testou as, um teste que
nenhuma gaivota jamais realizaria. Virou as
asas, reduziu para um quilômetro e meio por hora,
' $ chegando ao mínimo para continuar no ar. Os dois
pássaros brilhantes reduziram como ele, suavemente,
mantendo a formação. Sabiam tudo sobre voar lento.
Recolheu as asas, virou se e projetou-se num mergulho
a trezentos quilômetros por hora. As duas mer-
gulharam junto, perdendo altura numa formação imutável.
Finalmente, deu a volta para o alto, num longo lonneau
vertical. Elas o acompanharam, sorrindo.
"Muito bem, quem são vocês?"
"Somos de seu bando, Jonathan. Somos seus irmãos." As
palavras vieram firmes e tranqüilas. "Viemos
para levá-lo
mais alto, para casa."
"Não tenho casa. Não tenho bando. Sou o Proscrito.
Agora estamos voando no alto do Vento da Grande Monta-
nha. Este velho corpo não pode ir mais alto."
"Mas
pode, Jonathan. Pois você aprendeu. Acabou um
curso e chegou a hora de começar outro."
Pela vida inteira, uma luz de compreensão brilhara nele e
ela iluminou esse momento para Jonathan Gaivota. Esta-
vam certos. Ele podia voar mais alto e era tempo de ir para
casa.
Deu uma última olhada para o céu, para a magnífica
extensão prateada onde aprendera tanto.
"Estou
pronto", disse por fim.
E Jonathan Livingston Gaivota elevou-se com as duas
gaivotas que brilhavam como estrelas, desaparecendo num
perfeito céu escuro.
ntào isto é o céu, pensou, sor-
rindo para si. Não era muito
respeitoso analisar o céu no
momento em que se está voan
do para entrar nele.
Deixando a Terra, acima das
nuvens e em formação cerrada
com as duas gaivotas brilhan-
tes, percebeu que seu corpo
começava a ter a mesma luz.
Era em tudo um corpo de gai-
vota, mas já voava muito melhor do que o antigo voara. As
penas agora eram de branco brilhante e as asas, macias e
perfeitas como lâminas de prata polida. Cheio de alegria,
começou a testar o poder das novas asas.
As nuvens se abriram e da sua escolta gritaram:
"Boa
viagem, Jonathan". E as duas gaivotas simplesmente desa-
pareceram no ar. Só muito tempo depois é que Jonathan
lembrou do lugar onde o bando vivia, com seus olhos
hermeticamente fechados à alegria de voar. Saíra com seu
instrutor e descansavam na praia.
"Onde eslá todo mundo, Sullivan?", perguntou silencio
samente, agora dominando a telepatia fácil que as gaivotas
usavam, em vez de gritos e grasnidos.
"Por
que não somos
mais? Onde eu vivia, havia milhares. . ."
". . .milhares e milhares de gaivotas. Eu se» disso. O que
72
sei também, Jonathan. é que você é uma exceção enorme,
um sujeito num milhão. A maioria demorou bastante par »
chegar aqui. Perambulamos de um mundo para outro, sem-
pre iguais, esquecendo imediatamente de onde vínhamos,
sem pensar para onde vamos, vivendo so o presente. Sabe
quantas vidas vivemos até termos no mínimo a noção de que
a vida era mais que comer, lutar ou mandar no bando? Mil
vidas, Jòn. dez mil! E mais cem vidas até começarmos a
descobrir que a perfeição existe e outras cem para nos
convencermos que nosso objetivo deve ser descobrir essa
perfeição e demonstrá-la."
epois disso, certa noite em
que as gaivotas pensavam
na praia, Jonathan reuniu
coragem e perguntou à ve-
lha gaivota, ao Ancião —
que com a idade voava mais
e melhor que qualquer um
—, "Chiang, este mundo
não é o Paraíso, não é?"
O Ancião sorriu, ao luar:
"Você está recomeçando a
aprender, Jonathan".
"Bom, o que vem depois disto? Para onde vamos? Não
há um Paraíso?"
"Não, Jonathan, esse lugar não existe. O Paraíso não é
um lugar, nem um tempo. Paraíso é ser perfeito."
Ficou em silêncio por um momento. "Você
começará a
atingir o Paraíso, Jonathan, no momento em que atingir a
velocidade perfeita. E isso não quer dizer voar a mil quilo
metros por hora, nem um milhão, nem à velocidade da luz.
Porque qualquer número é um limite e a perfeição não tem
limites. Velocidade perfeita, meu filho, é estar ali."
Sem avisar, Chiang desapareceu e apareceu à beira da
água, a quinze metros de distância, no agitar de um instante.
Depois, desapareceu de novo e, no mesmo milissegundo, es-
tava ao lado de Jonathan. "É
divertido", disse.
"Pode me ensinar a voar assim?" Jonathan Gaivota
vibrava ante a conquista de outro desconhecido.
"Claro, se você quiser aprender."
"Diga-me o que fazer", pediu Jonathan, com os olhos bri-
lhando estranhamente.
Chiang falou devagar: "Para
voar com a rapidez do
pensamento, para qualquer lugar, é preciso que comece
sabendo que já chegou ..."
O truque, segundo Chiang, era Jonathan deixar de se ver
preso num corpo limitado de 1,07 metro de envergadura das
asas, cuja performance poderia ser registrada num mapa. O
truque era saber que sua natureza existia, tão perfeita quan-
to um número não escrito, por toda parte além do espaço e
do tempo.
"Esqueça tudo sobre fé!", vivia repetindo Chiang.
"Você
não precisou de fé para voar. Precisou entender o que era
voar. Agora é a mesma coisa. Experimente outra vez."
E certo dia, parado na praia, fechando os olhos, concen-
trando-se, Jonathan entendeu o que Chiang queria dizer.
\Mas é verdade! Eu sou uma gaivota perfeita e sem
limites!"
Então, um dia, Chiang desapareceu. Conversara tranqiii-
lamente com todos estimulando-os a nunca pararem de
aprender, de lutar para entender o princípio invisível e per-
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J
feito üa essência da vida. Enquanto falava, as penas se tor
naram cada vez mais brilhantes, até nenhuma gaivota p<xler
olhar para ele.
"Jonathan, continue a trabalhar no amor", foram suas úl
timas palavras.
onathan ficou trabalhando com os
novos que chegavam, todos muito
espertos, mas não conseguia parar
de pensar que lá na Terra deveria
haver uma ou duas gaivotas que
também poderiam aprender. De re
pente, estava lá ao lado do jovem
Fletcher Lynd Gaivota, um pária,
exilado para os Penhascos Distantes
"só
por causa de umas voltinhas de
brincadeira, em torno do Ancião do
Bando".
Fletcher viu à sua direita a mais brilhante gaivota branca
do mundo, planando sem esforço, seguindo a velocidade
máxima de Fletcher. E na sua mente, uma voz suave pergun-
tou: "Você
quer voar, Fletcher Lynd Gaivota?"
"Sim, eu quero voar! Sim, voar é só o que eu quero!"
"Nesse caso, Fletcher, vamos começar com o vôo
horizontal..."
Ao fim de três meses, Jonathan tinha mais seis alunos,
todos proscritos e curiosos pela nova idéia de voar pelo pra-
zer de voar.
"Cada um de nós", dizia Jonathan,
"é uma idéia ilimitada
de liberdade e o vôo de precisão é um passo no sentido da
expressão da nossa natureza real. Tudo que nos limita deve
ser abandonado."
Um mês depois, Jonathan revelou que chegara a hora de
voltar ao bando, apesar da Lei proibindo a volta de um
proscrito, nunca desobedecida em dez mil anos.
Voando a duzentos e vinte quilômetros por hora, chega-
ram sobre a Praia do Conselho, com Jonathan à frente e
Fletcher à direita. A formação derivou lentamente para a
direita, como se fosse um só pássaro. Nivelsír. . . inver-
ter. . . nivelar. . . Os protestos do bando foram cortados
como se a formação fosse uma faca gigantesca e oito mil
olhos de gaivotas deixaram de piscar. Um a um, os oito pás-
saros desceram suavemente. Foi como um raio! Aqueles
pássaros eram proscritos! E haviam voltado!
evou mais de uma hora até a
palavra do Ancião percorrer o
bando: "Ignorem-nos.
A gaivo-
ta que fala a um proscrito tam-
bém é proscrita".
Jonathan não se incomodou
e começou a passar o tempo
ÍAnr\ çpno o 111« r> rCWíU awuo UIIOO, ¥ UailUU
através da noite, das nuvens,
das tempestades, só pelo prazer
de voar, enquanto o bando fica-
va miseravelmente cravado no chão. Pouco a pouco, quan
do os alunos repousavam na areia, formou-se um outro cír-
culo de gaivotas curiosas que ouviam Jonathan durante
horas na escuridão, debandando antes do amanhecer.
Depois que Kirk Maynard Gaivota tomou coragem de
sair desse círculo e começou a aprender a voar, quase mil
pássaros rodearam os alunos, examinando Maynard com
curiosidade, não se incomoílando de serem vistos, tentando
compreender o que Jonathan dizia. Coisas muito simples
que uma gaivota tem direito de voar, que a liberdade é da
própria natureza do seu ser, o que se atravessar no caminho
dessa liberdade deve ser afastado, seja rito, superstição ou
limitação de qualquer forma.
"Mesmo
que seja a Lei do Bando?"
"A única lei verdadeira c a que leva à liberdade. Nau exis-
te outra", respondeu Jonathan.
No dia em que Jonathan desapareceu, ele voava com
Fletcher ao amanhecer. B dizia: "É
preciso treinar e enxer
gar a gaivota verdadeira, o lado bom de cada uma delas e
ajudá-las a se descobrirem. É isto que chamo de amor. Lem-
bro-me de um pássaro jovem e valente — Fletcher Lynd
Gaivota. Acabara de ser proscrito e estava pronto para lutar
até a morte contra o bando. Mas, em vez disso, está aqui
hoje, construindo seu Paraíso e guiando o bando todo na
sua direção".
Uma fagulha de pavor brilhou nos olhos de Fletcher
Lynd Gaivota: "£i<
guiando? Você é que é o instrutor, não
pode ir embora!"
"Não? Não acha que há outros bandos, outros Fletcher
que precisam mais de um instrutor que este aqui. que está a
caminho da luz? Você ja não precisa de mim, pois só preci
sa continuar a descobrir o verdadeiro e ilimitado Fletcher
Gaivota. Ele é seu instrutor."
N
um momento, o corpo de
Jonathan alçou se no ar,
brilhou debilmente e co
meçou a ficar transparen
te. "Não
deixe que espa-
lhem tolices sobre mim ou
que me tornem um deus.
Entendeu. Fletcher? Eu
sou uma gaivota. Gosto de
voar, talvez..."
"Jonathan!"
O brilho sumiu. Jonathan Livingston Gaivota desapare-
cera.
Algum tempo depois, Fletcher Lynd Gaivota voou arras-
tadamente para enfrentar um novo grupo de alunos, ansio
sos pela primeira lição.
"Para começar", disse sombriamente,
"você tem de
compreender que uma gaivota é uma idéia ilimitada de liber
dade, feita à imagem da Grande Gaivota, e que todo o corpo
de vocês nada mais é que seu próprio pensamento."
As jovens gaivotas olharam no sem entender. "Ora,
meu
amigo, isso não está parecendo uma aula de loop."
Fletcher suspirou e começou tudo de novo: "Hum.
. .
Ah. . . muito bem", disse. "Vamos
começar com o vôo
horizontal.' Ao dizer isso, compreendeu subitamente que
seu amigo, honestamente, não fora mais divino do que ele
próprio.
Ilimitado, Jonathan?, pensou.
Bom, nesse caso, não vai demorar muito e eu
cairei docéu na sua praia e lhe darei um aulinha de vôo!
Embora tentasse parecer severo como devia, diante
dos alunos, Fletcher Gaivota viu-os de repente
como eram realmente, por um instante só,
e não gostou, amou o que estava vendo.
Ilimitado, Jonathan?, e sorriu.
Começava sua corrida
para aprender.
fim
Mesmo depois de muitos anos de trabalho duro,
o pick-up
Chevrolet nunca vai deixar você na máo.
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V *>5sjfci 'L ~
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'iHHHHHHHHHRF^^HHMHHMHHHHHr^HilHMH^HBHERI^RMrap^
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da caçamba em madeira com estrias de aço. E você
tem ainda a garantia
de assistência técnica perfeita
e peças
originais em qualquer ponto do Brasil, através
da ampla rede de Oficinas Autorizadas e Concessio-
nários de Qualidade Chevrolet.
Além disso tudo, o pick-up Chevrolet nunca
deixa você na mão. Nem na hora de vender.
Primeiro lugar é para quem pode.
As razões deste
fato são simples e con-
vincentes: acima de tu-
do, a proverbial resis-
tência do pick-up Che-
vrolet, resultado direto
do rigoroso Controle de
Qualidade de cada com-
ponente que entra em
sua fabricação.
Uma segunda
razão é o fato do pick-up
Chevrolet ser todo con-
cebido como um conjun-
to harmônico e perfeito,
e não como peças isoladas para
uma montagem pos-
terior.
Mais uma razão: o motor Chevrolet de seis
cilindros em linha. Não carrega cilindros inúteis e dis-
pendiosos, nem sofre a falta de cilindros necessários.
Por isso, é mais durável e econômico.
Outro fator importante é a suspensão: a única
realmente independente. Qualquer choque ou sola-
vanco em qualquer dos lados é absorvido pela
sus-
pensão, não passando para
a cabina nem para o outro
lado do veículo. É muito mais conforto, segurança e
durabilidade.
E tem muito mais: o pick-up Chevrolet oferece
mais modelos do que qualquer
outra marca, é o único
com o tanque de gasolina fora da cabina e assoalho
man
L^
COMO E BOM SER
MULHER OBJETO!
(Revelações de
Regina Leclèry, estrela
de Who is Beta?)
i>h
DE 1
M-\hb\ \L\hSDELIMA !W
Regina
Léclery é bonita, rica e famosa como tantas
outras. Mas o que faz com que ela seja especial é uma
espontaneidade que poucas pessoas (e muito menos
as famosas e ricas) têm. Com o mesmo ar tranqüilo com que
se declara apaixonada pelo marido, ela nào hesita em afir
mar que
"um dos segredos do sucesso, para as mulheres que
querem subir na vida, é saber se entregar toda na hora
certa".
Em uma entrevista, há dois anos, ela revelou que, apesar do
que dizem, demorou muito para seguir seu próprio conselho.
Culpa da educação burguesa da classe média. Regina
Rosemburgo nasceu no Leme, em 1942. Trabalhou como
recepcionista em banco. Foi Charm-Girl, Glamour Girl,
Miss Lagoinha Country Club — "aquelas
frescuras todas",
como as definiu depois.
Casou se em 1963 como milionário WallinhoSimonsen e
passou a freqüentar o JetSet. Em outubro de 1963, o casal
passou com John Kennedy, em sua propriedade de Palm
Beach, o último weekend da vida do presidente: na sexta
feira seguinte ele era assassinado.
Amiga de Salvador Dali, Roger Vadim, Jane Fonda, Marisa
Berenson e Gunther Sachs, Regina teve o bom gosto de nào
esquecer as amizades antigas e obscuras. Bom gosto que se
revelou próximo do bom senso: apesar de ser uma mulher
que tem tudo para suscitar inveja, Regina é uma pessoa da
qual ninguém fala mal. Separou se em 1966, quando já
conhecia Gérard Léclery, dono da maior indústria de calça
dos da França. Mas só se casou com ele em 1968, depois de
uma perseguição de dois anos e meio, que admite ter sido
árdua, mas que começou da maneira mais desinteressada
possível: ao ser apresentada ao futuro marido, achou que ele
não passava de um dos secretários de Gunther Sachs.
Atualmente, Regina Maria Rosemburgo Léclery tem
casas na França, na Suíça e na Barra da Tijuca, além de um
apartamento em Paris. Tinha um grande iate, ancorado
permanentemente em Taiti, mas ele pegou fogo. Seu mari
do acaba de inaugurar, no Rio, uma fábrica de sapatos, Cie
rina. E ela acaba de filmar, com Nélson Pereira dos Santos,
Who is Beta? (Quem é Beta?), um science fiction que, em
francês, se chamará Pas de Viulence entre Nous (Nada de
Violência Entre Nós). Os que viram o filme dizem que ele é
bom. Mas Regina faz questão de afirmar que não se acha
uma grande atriz, apenas uma mulher objeto satisfeita com
sua condição.*egue
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REGINA LECLÈKY
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Gérard, Regina e a filha Georgiana,
de três anos (há ainda Roberta e Márcia).
Realidade — Quando foi seu primeiro
passo para o cinema?
Regina — Há dez anos. Eu era muito
amiga do Gláuber Rocha. Ele escreveu
Deus e o Diabo lá em casa. Nós traba
lhamos juntos, eu que ia fazer o filme.
Meus amigos, na época, eram Paulo César
Sarraceni, Cacá Diegues, Nélson Pereira
dos Santos, Luís Carlos Barreto, Joaquim
Pedro. Gláuber estava se separando da pri-
meira mulher, a Helena Ignês. A atual, a
Rosinha, ele conheceu comigo. Nós fomos
fazer um curso de cinema na Católica, em
1961. Aliás, a única vez que eu entrei numa
faculdade na minha vida foi com Gláuber
para fazer esse curso de cinema. E a Rosi-
nha estava lá. Mas aí eu me casei com o
Wallinho Simonsen e não fiz mais o filme.
A gente era bem garoto. Eu esticava o ca
belo do Gláuber, ele ia lá pra casa e mamãe
dizia para ele: "Entra
direto para o
banheiro e toma banho. Depois vem
comer!" Várias cenas de Deus e o Diabo a
gente imaginou juntes. Mas então eu me
casei com o Wallinho Simonsen e não fiz
mais o filme. O papel da loná Magalhães
era o meu.
Realidade —
Não foi Gugu Mendes que
resolveu produzir o filme e exigiu que loná,
casada com cie naquela época, fizesse o
papel?
Regina Foi. Ela veio da Bahia e esta
va começando a fazer umas pontinhas em
televisão, mas era pouco conhecida.
Realidade Entào a carreira cinemato
gráfica foi adiada pelo casamento?
Regina — Sim. Mas de vez em quando
eu tinha vontade de fazer um filme com
Gláuber, que era o meu melhor amigo. Ele
orientou minha cultura, me mandava ler,
me ensinava mil coisas. Então era o so
nho da minha vida fazer um filme com
Gláuber.
Realidade — Daí até seu casamento
com Gérard Léclery o cinema foi esqueci
do, nào? E depois de Gérard?
Regina — Bom, Gérard e Nélson se
conheceram e resolveram escrever uma his
tória Juntos. Tiveram a idéia durante um
fim de semana, em Búzios. Primeiro ia ser
uma história complicadíssima no sentido
de mil coisas, superprodução, aventuras. Ia
ser filmado no Havaí. Depois resolveu-se
que o filme seria feito na França. No fim
acabou sendo uma história que se passa de
pois de uma Terceira Grande Guerra, lá
pelo ano 2000 ou mais.
Realidade — Como você acha que a cri
tica, que sempre apoiou Nélson, vai enca
rar seu novo filme?
Regina — Sinceramente, não sei. Per
guntei isso a ele no outro dia. Porque todo
o seu trabalho sempre teve um enfoque
social. Se bem que o Who Is Beta? não
deixe de ter também — talvez até tenha
demais. Ê toda uma outra abertura. Talvez
as pessoas se assustem por ser um filme do
Nélson, mas vão gostar. É um filme tão
bonito! Uma respiração enorme. Sem a
menor complicação, claro e cheio de vida.
As pessoas são muito engraçadas. Vivem
repetindo tudo, a ponto de esquecer a pró
pria opinião na bolsa. Quando cheguei de
Paris todas as mulheres vinham me procu-
rar, qflitas:
"Você viu o Tango? E a man
teiga, hein?"É isso. A primeira pessoa que
viu o Tango falou na manteiga, e até hoje
não se fala outra coisa sobre o filme.
Realidade — Seu papel em Who is Beta?
foi escrito especialmente?
Regina — Ah, não. Eu sempre pedia a
todos os meus amigos: me dê uma ponta!
Eu não queria ser atriz, eu queria fazer uma
ponta para ver se me realizava nessa. Só
agora apareceu a oportunidade. Acho en
graçado que as pessoas pensem que entrei
no filme porque Gérard é produtor majori
tário. Fiz o papel porque o Néison achou
que eu podia fazer.
Realidade — Por coincidência, acabou
sendo o melhor papel do filme?
Regina — Mas a estrela é a Sylvie Fen
nec. Se bem que é todo um trabalho de
equipe. Não sei, eu acho este filme do Nél
son tão especial. . . a história se passa toda
nos olhares das pessoas. Nem teria sido
necessário haver diálogo. Não há nenhuma
cena de sexo ou mesmo de violência real.
Há o jo%o constante. Levei um susto quan
do um crítico francês ficou revoltado dizen
do que lanta violência era uma falta de res
peito para quem estava assistindo.
Realidade — Durante a filmagem, como
é que as pessoas encaravam você, mulher
grá fina?
Regina No começo morri de medo.
Achava que o pessoal não iria me aceitar.
No fim eles viram que não era nada disso e
não teve problema nenhum.
Realidade — Dizem que a equipe sc
apaixonou por você.
Regina — Eu é que me apaixonei pelo
diretor e pelos atores.
Realidade —
Ou eles teriam se apaixo
nado pelo vinho francês e os brioches que
você mandava servir o tempo todo?
Regina — Vinho francês? Mas ora, se
aqui em casa eu só tenho vinho brasileiro,
muita cerveja e muita cachaça... tem,
evidentemente, um champanhe zinho fran
cês, mas. . . não. A relação que se criou
enquanto fazíamos o filme foi ótima. Foi
genial porque eu fazia o almoço, sanduíche
de ovo, presunto, ficava abrindo buraco
para aquelas cenas de trincheiras. Me reali
zei fazendo o filme. Não porque estivesse
fazendo o jogo da grande atriz, mas, sim,
pelo trabalho gostoso de equipe. Amanhã,
se me chamassem para ser assistente de
direção em vez de aparecer com a minha
carinho no filme eu ia gostar do mesmo
jeito. Depende evidentemente do diretor
Lembro que eu perguntei ao Jack Nichol
son como é que ele se sentia em relação ao
seu trabalho de ator. Se o seu grande pro
blema era acertar o cachê. Ele está na posi
ção que eu curti: não é o dinheiro que
comanda a sua linha de ação. Como o
clima que houve durante a filmagem de O
Último Tango em Paris.
Realidade — O cinema vai afastá la do
society?
Regina — Ora, eu é que me afastei dele.
Realidade — O clima hollywoodiano
nào a atrai?
Regina — Quando eu pude
— conhecia
o Zanuck e aquela turma toda — dei as
costas. Eu estava noutra. Map não é esse
clima de cinema o que eu iria gostar não.
Filmar aqui no Brasil com Nélson me deu
um momento de felicidade incrível.
Realidade — Você já trabalhou alguma
vez em sua vida?
Regina — Trabalhei, sim, mas não no
setor artístico. Trabalhei antes de me casar,
pela primeira vez. Trabalhei em banco,
como recepcionista. Era um banco do pai
do Didu Souza Campos. Na época eu era
uma simples funcionária que recebia mui
tas cantadas do Gustavo Magalhães* Eu
tinha dezessete anos, naquela época. Não
me lembro qual era o banco. Sei que depois
foi vendido para aquele tal de Paiva. Tam
bém trabalhei para ele.
*Freqiientador assíduo das colunas sociais do
Rio de Janeiro.
78
Rh ;|NA ItLLÉKV
"Se me chamassem para fazer
*>apel de uma
grã-fina, acho que eu nunca conseguiria."
Realidade — Qual foi o salário que esti
pularam para você no filme?
Regina — Não ganhei salário.
Realidade — Ninguém ganhou?
Regina — Cada um ganhou seu salário,
imagina!
Realidade — Só porque seu marido é o
produtor você trabalhou de graça?
Regina — Foi.
Realidade — Vocês sào casados em
comunhão de bens?
Regina — Não. Mas os milhões de dóla
res eu já tenho. Meu lucro foi a experiência.
Abri trincheira, cozinhei, representei, em
vez de ficar aqui apanhando sol.
Realidade — Como as pessoas vêem Gé
rard Léclery como produtor?
Regina — Dificultou tudo, porque é
aquela história: "Ah,
Gérard é o milionário
francês" — e queriam cobrar tudo três
vezes mais caro pra gente. Eu sei, por
exemplo, que muita gente do cinema ficou
pichando o Nélson porque achou que ele
linha entrado numa de muito dinheiro
rolando e caviar.
Realidade — Qual foi a média de
salários?
Regina — Sinceramente, não sei.
Realidade — Por que Frederick Pascal
fez o papel que seria para o Maurice
Ronet?
Regina — Maurice pediu 10 000 dóla
res. Era um preço muito alto para a produ
ção do nosso filme.
Realidade — É verdade que Frederick
disse que viria até de graça, quando soube
que Nélson seria o diretor do filme?
Regina — Não, o Frederick
queria era
vir filmar no Brasil. Na França ele ainda
não é muito cònhecido. O que ajudou um
pouco ao Frederick foi ter aparecido em
Operação França. Noutro filme, que ele fez
com Yves Montand, a gente sente que cor
taram toda parte dele .**
Realidade — Você pretende continuar
no cinema?
Regina Gostaria Ue Jazer outra filme
ugora, depressa, mas aqui no brasil, htr
causa das minhas três filhas, que estão na
escola, e porque realmente estou um pouco
cansada. A gente vai, mas na verdade mora
aqui. Se tivesse que fazer cinema la fora
seria muito absorvente.
Realidade E se Bertolucci a convi
dasse?
Regina Bom, quem é que não ia que
rer? Você não ia? Até o Lulu Malle, que é
muito meu amigo, se me convidasse, eu
iria. Então transferiria as crianças para lá e
pronto. O que eu não queria é entrar naque
la de começar a fazer carreira cinemato
grqfica lá fora. Ah, isso leva muito tempo e
deve ser chato.
Realidade - Lulu é Louis Malle?
Regina — Sim. A cunhada de l ulu é
brasileira, a Bom bom, casada com o Ber
nard. Aliás, eu soube que ela está no Rio.
Realidade — É verdade que Bombom
serviu de modelo para uma série de mulhe
res brasileiras?
Regina — Bombom era muito amiga da
Danuza Leão, da Vera Simões. . . Todas
as mulheres começaram a imitar Bombom.
A escola Bombom fazia o maior sucesso.
Apareceram mil mulheres fazendo gênero
de chique, desligada, que fala engraçado e
faz loucuras bobinhas. Bombom foi a pri
meira pessoa que eu conheci quando fui à
Europa, em 60. Ela me apresentou a todos
os gràfinos de Paris. Eu não sabia de nada.
Realidade — Qual foi a primeira pessoa
do cinema internacional que você conhe
ceu?
Regina — O Louis Malle mesmo. O
irmão mais moço, Vincent, que agora é
dono da maior cadeia de cinemas em Paris,
era um garoto de calça curta. O sonho da
minha vida era fazer aquele conto do Gui
marães Rosa, O Buriti. Mas daqui a pouco
fico velha — já estou com 31 anos — e
não vou conseguir. Você leu ? É lindo. Uma
mulher divina que chega numa fazenda e
acaba dominando a família do marido.
Realidade — Bunuel nào vai fazer esse
filme?
Regina — Luiz Carlos Barreto disse
isso. . . mas talvez o Bunuel nem saiba.
Realidade — E por que vocês nào o
fazem? Gérard nào quer fazer outro filme?
Regina — Ele
quer, sim, mas agora está
ocupado com a fábrica de calçados. A
inauguração da fábrica vai completar lodo
um ciclo de paixão que Gérard tem pelo
Brasil. Começou apaixonando se por mim.
Depois pelo Brasil. O filme faz parte de um
plano de integração, não sei se dá para
entender. E a fábrica já entra num gabarito
mais sério. Gérard tinha a imagem do
homem rico que só sabe se divertir. Essa fá
brica vai render 5 milhões de dólares e
600 000 de divisas por ano ao Brasil; além
disso vai dar emprego a muita gente. De
**Faz o papel de um artista da TV francesa
que é contratado por traficantes de drogas para
transportar tóxicos em seu carro.
pois da maugui açáo iieraiU vai fazer um
documentário pela Amazônia. O que ele
mais gosta é ser camcrainan.
Realidade O material que vocês usa
ram para filmar Who is Beta? era alugado?
Regina Ah, não. Todo nosso. Olha,
desde aquela viagem que nós fizemos, de
volta ao mundo, Gérard comprou equipa
menlo completo de 35 mm. Em 67 ele fez
um filme linha underground: Pulsation.
Realidade Se chamassem você para
fazer papel de uma grà fina?
Regina — Acho que nunca conseguiria.
Você acha que eu conseguiria? No outro
dia fui ver Toda Nudez, que amei, e quando
cheguei em casa fui fazer a prostituta em
frente ao espelho. Não consegui e fiquei
uma fera. Não conseguiria nem Jazer o
papel de prostituta nem o de grà fina. Por
isso foi que me qfastei de tudo um pouco.
Chega de canasirice. Fiquei frustradíssima.
Achei que nunca seria atriz.
Realidade — Nào acha que tudo dcpcn
de do diretor?
Regina — Sim, mas o meio termo é que
me assusta. Eu nunca sabia quando era que
estava fazendo certo. Se estava represen
tando de mais ou de menos. Repetia uma
cena seis vezes e nunca tinha noção de qual
delas eu linha jeito melhor. Na verdade, eu
acho que ninguém vai me convidar paru
fazer uma coisa que eu não possa fazer.
Realidade — Você se esquece de sua
imagem de mulher sensacionalista, que
toma banho de leite de cabra, que nào sabe
o que fazer com seus dólares. . . a mulher
amiga de Omar SharilTe de Onassis.
Regina — Eu nunca sei o que as pessoas
pensam de mim. Talvez seja até por isso
que fico nessa insegurança. Mas não acho
que pensem que eu sou de tomar banho de
leite de cabra. Isso quem deve fazer é a Síl
via Amélia.
Realidade — Ela detestou o cinema,
não?
Regina — Mas ela fez cinema? Foi hor
rível, ela mesma me contou. Acabou se
chateando com o Bráulio Pedroso. Eu acho
que também teria odiado 'fazer
cinema"
naquele esquema. Spots, maquilagens, rou
pas longas e jóias, afofação de cabelo. . .
Não dá. Eu filmei ao ar livre, sobrevivente
de uma guerra nuclear, correndo pelo mato,
caindo no chão, lutando, amando. . . É
outra coisa. A história é genial. Não tem na
da a ver com o mundo atual. É como se a
gente tivesse feito uma viagem interplane
tária. Um grupo de brasileiros viu o filme
agora, em Paris, e adorou.
Realidade — Você entraria no esquema
da Florinda Bolkan?
Regina — Não. Não entraria
porque
nossas ambições são diferentes, só por isso.
Eu agora quero saber de mim. Eu amo a
Florinda. Aquele cavalo selvagem maravi
lhoso, solto. E acho Florinda boa como
atriz. Gosto mesmo. vezes um pouco
disciplinada demais. Eu não entraria no
esquema de atriz objeto. Pra mim, basta a
mulher objeto. »,m
(U-2P m»)
L
deslavei... ¦ A II
o mundo c das mulheres
w
Margarida, Clarabela, Minie,
Vovó Dona,Ida, Titia Métralha,
Branca-de-Neve e muitas outras
ma-ra-vi-lho sas personagens
i
d63 Walt Disney estão tomando
conta do mundo, num volume
com muito amor, muito carinho,
nnuito BLÁ- BLÁ-BLÁ e . . . muita
fofoca também. Nesta edição
O MUNDO É DAS MULHERES
fljSNblTPTv | ff I1!'.1:1. j
RBcmM 1' J1111 *j
i v ^ 1
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''id
28 HISTORIAS COMPLETAS
292 PÁGINAS A CORES
AS MELHORES HISTÓRIAS EM
QUADRINHOS DE WALT DISNEY
DISNEY ESPECIAL N*4
AS MULHERES
EM TODOS OS JORNALEIROS
POR APENAS Cr$ 5.00
<1 ©1
R
teira (subordinada ao Departamento de tronicos quando fez a adapta^ao dos senso I
J list i<; a) adotou a mesma barrel ra dc antiin- res a frontcira: "Haveria
implicates politi- ji
filtracao utilizada- pelos militares para cas pelo fato de usar os equipamentos de M
detectar movimentos de tropas ou de cami- observaQao junto ao territorio de um pais 0
Q ^ t
nhoes na Trilha de Ho Chi Minh. Diversos amigo. Por isso, selecionamos equipa- P*U
pontos foram guarnecidos com sensores mentos que podem ser montados sem cha- Ay Vi
jl semelhantes aos Acousids e Minis ids, que mar a aten9ao e sao facilmente ocultaveis".
* Cerca de 19,5 bilhoes de cruzeiros, o que J A
I
9LL ^ *v equivale a quase a metade da receita do o —\
I
Brasil para este ano.(41 bilhoes de cruzei- — I
A M
oOs
Estados Unidos gastaram 3,25
bilhões de dólares *
em equipa-
mentos automáticos para espio-
nagem e observação, durante a guerra do
Vietnam. Agora a guerra, se não acabou,
ao menos foi definitivamente "vietnami-
zada", os últimos soldados voltam para
casa, e com eles a experiência da guerra,
que já deu, nos Estados Unidos, alguns fru-
tos pouco divulgados: muitos americanos
não sabem disso, mas estão sendo observa-
dos pelo mesmo equipamento de espiona-
gem desenvolvido e utilizado na guerra,
contra os vietnamitas.
O contrabando na fronteira mexicana
diminuiu, desde que a Patrulha de Fron-
teira (subordinada ao Departamento de
Justiça) adotou a mesma barreira de antiin-
filtraçào utilizada- pelos militares para
detectar movimentos de tropas ou de cami-
nhões na Trilha de Ho Chi Minh. Diversos
pontos foram guarnecidos com sensores
semelhantes aos Acousids e Minisids, que
t ^
* Cerca de 19,5 bilhões de cruzeiros, o que
¦x eqüivale a quase a metade da receita do
Brasil para este ano.(41 bilhões de cruzei-
ros).
detectavam sons e vibrações de passos e
veículos no Vietnam. Os QU-22B, aviões
sem piloto, com controle remoto — que se
tornaram ultrapassados no Vietnam com a
introdução dos drones (zangões), mais
sofisticados —, sobrevoam a fronteira, ser-
vindo de monitores para os sensores e
transmitindo dados aos pontos de controle
central.
Mas os sensores apresentaram alguns
problemas. Assim, como no Vietnam, os
sofisticados aparelhos eletrônicos não são
capazes de distinguir entre amigos e inimi-
gos, e um burro perdido pode provocar o
envio de uma patrulha. Outra dificuldade
foi levantada pela Sylvania-Sistemas Ele-
trônicos quando fez a adaptação dos senso-
res à fronteira: "Haveria
implicações políti-
cas pelo fato de usar os equipamentos de
observação junto ao território de um país
amigo. Por isso, selecionamos equipa-
mentos que podem ser montados sem cha-
mar a atenção e são facilmente ocultáveis".
Outros sistemas de sensores de observa
çào dotados de estridente alarma, que soa
quando alguém se aproxima, estão sendo
colocados larga escala em volta de prisões,
universidades, residências oficiais, depen
dências industriais e governamentais. Nos
arredores de Washington, sensores eletrõ
nicos estão ocultos nos arbustos de uma
sebe que circunda uma zona "de
máxima
segurança", de 67 casas, cada qual no
valor de 200 000 dólares.
Muitas casas nos arredores da capital
norte-americana foram equipadas com sen-
sores, que fazem soar uma campainha na
delegacia mais próxima à menor provoca
ESPIONAGEM DOMESTICA.
UMA LICAO DO VIETNAM
Para observar contrabandistas. po
iticos e até as compras
de donas de casa, a polícia
americana
usa equipamentos de espionagem criados para
a guerra
TEXTO DE ROBERT BARKAN
Copyright New Scientist.
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ção. Maí. como coelhos, cachorros e galhos
de arvores sào os "criminosos"
mais
comuns, a polícia nào lhe dá muita
atenção.
Existe pouca informação acessível a res
peito do sucesso dos sensores no Vietnam.
porém algumas evidências sugerem a exis
tência de problemas. Os primeiros sensores
no Vietnam foram ativados por búfalos.
chuva forte e até mesmo pelo vento pas
sando no capinzal. Os militares desperdi
çaram muita artilharia tentando matar a
chuva, mas depois os operadores dos cen
tros de observação de infiltração aprende
ram a diferenciar entre pingos de chuva e
passos de gente.
A contra-espionagem
Mas os vietnamitas também aprende
ram. Leonard Sullivan, chefe da seção do
Pentágono para o sudeste asiático, admite
que
"o inimigo mostrou uma extraordinária
esperteza em assimilar algumas coisas
novas que nós introduzimos. Era raro que
se passassem mais do que alguns meses,
após a introdução de alguma novidade,
sem que interceptássemos um documento
do inimigo, explicando a maneira de enga
nar o novo aparelhamento". Veteranos da
guerra do Vietnam contam, por exemplo,
que os engenhos guerrilheiros enganavam
os "farejadores
de gente" americanos,
simplesmente pendurando frascos de urina
nas árvores.
Apesar de todo o aparato bélico dos sen
sores, muitos observadores duvidam de que
a barreira eletrônica tenha funcionado de
fato para deter a onda de homens e de
material que descia pela Trilha de Ho Chi
Minh.
Sensores testados na guerra foram tam
bém colocados debaixo dos gramados da
Casa Branca e nos jardins das outras casas
do presidente Nixon em San Clemente.
Califórnia e Key Biscayne, Flórida. Na
Flórida, a espuma do mar próximo ativou
os sensores, e a comunidade local teve de
fazer uma campanha a fim de impedir que
o governo alterasse a linha do litoral para
evitar que respingos da ressaca atingissem
o gramado.
A revista Eletronics noticiu que um cin
turão de segurança da Westinghouse estava
sendo testado na residência presidencial.
Um cinturão semelhante instalado no Cen
tro Federal da Juventude, em Ashland.
Kentucky, consiste em dois tubos de borra
cha, com 180 metros de comprimento cada.
contendo partes iguais de água e de
anticongelador, enterrados a 40 cen time
tros da superfície do gramado. Um disposi-
tivo na ponta de cada tubo alerta para
quaisquer pressões sofridas pelo líquido.
Na luta contra o vício
Sensores infravermelhos e óticos, ante
riormente utilizados em aviões e satélites
para fins de reconhecimento no Vietnam,
estão servindo agora à guerra contra os tó
xicos. O governo norte americano está gas
tando este ano 2 milhões de dólares para
descobrir a forma pela qual a planta da
maconha reflete calor e luz sob várias con
dições de solo e de clima. Desta maneira,
será possível detectar plantações em qual
quer país do mundo, graças a sensores
remotos colocados a bordo de satélites que
giram em torno da Terra. O mesmo poderá
ser feito* com a papoula, matéria prima
para a heroína e a cocaína.
No Alabama, na Geórgia, na Carolina
do Norte e no Tennessee, agentes federais
já utilizam exploradores infravermelhos
(impressionados pelo calor do solo) para
detectar destilarias ilegais. Voando a uma
altura de 600 metros, de manhã bem cedo,
o explorador "olha"
para faixas do solo e
memoriza os impulsos num filme. Os agen-
tes depois examinam o filme com lentes de
aumento e localizam os lugares "quentes".
Para ver à noite
Uma outra tecnologia de guerra agora
usada nos Estados Unidos é uma caixa
preta, capaz de ver através de paredes de
tijolos. É o radar de observação PPS-14, de
"penetração nas folhagens", desenvolvido
para localizar grupos de guerrilheiros nas
densas selvas do Vietnam. Tem o tamanho
de um livro grande e pesa menos de 5 qui
los. É utilizado na observação de distúrbios
civis.
A polícia norte americana já vê no escu
(«gu#
83
ESPIONAI ;FM
ro, graças a equipamentos anteriormente
usados para localizar grupos guerrilheiros
à noite. De Nova York até a Flórida,
departamentos policiais os usam em patru
lhas de rotina.
Muitos departamentos policiais utilizam,
normalmente, o sistema de câmara Z 378.
introduzido em 1970 pela Divisão de
Librascope, da Singer. A luz noturna obti
da passa por duas lentes de uma objetiva de
alta velocidade e de longo comprimento
focai para um intensificador eletrônico de
dois estágios, que amplifica a imagem
7 500 vezes (um terceiro estágio opcional
dá um aumento de 125 000 vezes). A ima
gem ótica, reconvertida num filme padrão,
preto e branco, de 35 milímetros, tem deta
lhes suficientes para que se possa reconhe
cer indivíduos a uma distância de 70
metros, com pouquíssima iluminação. A
Singer informou que o sistema foi utilizado
para
"vigiar encontros de grupos suspei
tos" e que é "especialmente
adequado"
para
"operações de vigilância, quando
colocado em aposentos escuros".
A maior parte dos aparelhos para visão
noturna custa entre 2 000 e 8 000 dólares,
mas está sendo criado um modelo que eus
tará menos de 600 dólares. Peter F. Lefort,
vice presidente da Aerojet Delft, produtora
do owl eve ("olho de coruja"; preço, 7 500
dólares), prevê que no fim de 1973 os equi
pamentos de visão noturna estarão instala
dos na quase totalidade dos 172 000 carros
de polícia do país.
A polícia também está instalando cqui
pamentos de visão noturna nos seus heli
cópteros. Os aparelhos são fabricados pela
RCA e pela International Telephone and
Telegraph.
A Volta de Dick Tracy
A Associação de Indústrias Fletrônicas
dos Estados Unidos calculou o volume do
mercado interno anual para produtos ele
trônicos em 400 milhões de dólares, a
maior parte dos quais se refere às compras
da polícia. Tornando realidade recursos
fantásticos usados pelos heróis de histórias
em quadrinhos —
como o rádio de pulso
do detetive Dick Tracy — a polícia ameri
cana adquire sistemas de controle e coman
do. equipamento sonoro, tele impressores
para impressões digitais e máquinas dígi
to-impressoras laser. Técnicos do governo
e engenheiros reúnem se para discutir os úl
timos avanços dos dispositivos e engenhos
para fins policiais, em reuniões anuais,
como o último Simpósio Nacional sobre
Leis de Subvenção à Ciência e à Tecnolo
gia, em Chicago, e a Conferência Carna
han sobre Medidas Eletrônicas Defensivas
contra o Crime, na Universidade de Ken
tucky.
Na Conferência Carnahan, por exemplo,
engenheiros do Laboratório Sylvania de
Socio sistemas divulgaram um relatório
sobre Sistema de Baixa Luz para Televisão.
Em Mount Vernon, Nova York. duas cã
maras de 1 quilo e 200 gramas de peso,
resistentes a quaisquer modificações de
temperatura, foram montadas a 7 metros
acima do nível do solo sobre pilares espe-
ciais. Nos quartéis generais da polícia elas
são manejadas através de controle remoto.
Cada câmara está montada sobre pilares
especiais numa pequena torre sobre um
aparelho que pode girar até 360 graus (ou
seja, uma circunferência completa), e a sua
inclinação vertical chega a 120 graus,
tendo ainda um zoom de alcance e aproxi
mação sobré objetos até 800 metros de
distância. O sistema é também uma adapta
ção de um equipamento desenvolvido para
a guerra do Vietnam.
O Departamento de Justiça, que subven
cionou o projeto com 47 000 dólares, espe
ra poder calcular a reação do público a
uma intermitente vigilância. "Somente
o
tempo poderá dizer se os cidadãos objeta
rào ou não a uma atmosfera do tipo Big
Brother "•*,
diz um engenheiro da Sylvania.
Mas alguns engenheiros e funcionários
governamentais não estão esperando a res
posta do tempo. Um estudo financiado pelo
Departamento de Justiça recomendou uma
vigilância constante de 24 horas diárias em
todas as ruas de Nova York. A recomenda
ção foi feita por um comitê da Academia
Nacional de Engenharia. A fim de testar a
produtividade de uma vigilância pela televi
são por 24 horas diárias, o comitê estimu
lou a administração Nixon a implantar um
programa de cinco ahos (custos: 7,5 mi
Ihões de dólares) a fim de vigiar 94 quilo
metros de ruas no bairro do Brooklyn. Este
programa piloto consistiria de 140 cáma
ras de televisão do sistema de baixa luz,
montadas em esquinas alternadas, de ma
neira que cada rua seria inspecionada uma
vez cada minuto. Quarenta por cento do
montante previsto seria destinado ao paga
mento dos salários de 175 vigilantes. Além
de receber 2 dólares por hora para verem
televisão, eles teriam a possibilidade de uti
lizar o zoom para chegarem mais perto de
excitantes cenas de rua, tais como uma par
tida de handball, o beijo de despedida de
um casal de adolescentes ou uma dona de
casa fazendo compras.
Vigilância total
Em 1971 foi incluída, num conjunto resi
dencial de Nova York (custos: 10 milhões
de dólares) a instalação de câmaras de tele
visão de circuito interno. Qualquer pessoa
que entra nos edifícios precisa apertar um
** Big Brother (Irmão Grande) é a enti
dade que, no romance 1984, de George
Orwell, controla a vida de todos os cida
dãos, através de câmaras de TV instaladas
em todas as ruas. prédios e na casa dc cada
um.
o*
84
I
botào, que o põe cm contato com um apar
tamento. O dono deste, cntào. aperta um
botão que projeta a imagem do visitante no
visor do seu aparelho dc televisão. Os
moradores do prédio, assim, podem ainda
inspecionar as atividades nas portarias, no
estacionamento, nos elevadores e no play
ground das crianças. Os funcionários do
Departamento de Justiça recomendaram
que sistemas como este se espalhem por
todo o país.
A indústria desenvolveu equipamentos
cada vez mais sofisticados a fim de atender
à sempre maior demanda por aparelhagens
de vigilância. Recentemente, o birô de
investigações de Torrance, na Califórnia,
anunciou o seu Sistema de Vigilância Total
para administradores de prédios de aparta
mentos e segurança industrial. Um mini
computador e um disco de memória fazem
toda a vigilância rotineira, chamando o
guarda em caso de anormalidade. O siste
ma é capaz de manejar até cinqüenta câma
ras a partir dc um único sistema de contro
le. Ele explora uma média de trinta
seqüências por segundo, c vai comparando
aquilo que a câmara vê com a imagem
armazenada no circuito da memória. Sc
não pcrccbe nenhuma mudança, o compu
tador passa à próxima seqüência. Caso,
porém, houver uma modificação, o compu
tador aciona uma campainha para alertar o
guarda c mostra no visor do aparelho de
televisão as imagens da ccna. antes, duran
te e depois. As imagens aparccem rapida
mente e são repetidas, mostrando visual
mente qualquer modificação ocorrida no
local do crime.
Fsse porteiro eletrônico, segundo seus
fabricantes, "é
capaz de comparar pessoas
que entram com as fotografias dc suas car
teiras de identidade".
Sistemas dc vigilância, baseados cm eir
cuitos internos dc televisão, também estão
sendo instalados em helicópteros da polícia
c outros veículos. Um desses sistemas cons
truídos para os helicópteros da polícia é
oferecido pela Microwavc Associates de
Burlington, cm Massachusetts. Seu custo é
dc 200 000 dólares.
Plagiando uma idéia do seriado dc telcvi
são Missão Impossível, o Departamento dc
Justiça concedeu ao Estado de Delaware
alguns milhares dc dólares para a instala
çào de um equipamento de vigilância de
circuito fechado de televisão, que funciona
24 horas por dia. Incluída nessa verba esta
va a importância de 3 800 dólares para o
aluguel de caminhões civis, os quais têm a
finalidade de servir de base para a patrulha
que está sendo realizada sob camuflagem.
Ou seja: disfarçados de tintirreiros, vende
dores, ou representantes de serviços de uti
lidades públicas, torna se mais fácil aos
investigadores penetrar na vizinhança dese
jada sem chamar a atenção. O equipa
mento será utilizado na vigilância diurna c
noturna de pessoas e lugares e será utili
/ado pelas equipes dc patrulha para foto
grafar pessoas cujas atividades sejam de
natureza suspeita.
O campo aberto
Os projetos de sensores e de vigilância
pela televisão são ainda em pequena escala.
Porém, o interesse combinado da indústria
e do governo está deflagrando uma rápida
escalada, desimpedida de qualquer regula
mentação legal. "Existe
grande área sem
restrições à vigilância eletrônica e às medi
das eletrônicas anticrime. as quais necessi
tam de expansão e de inovações constan
tes". disse um funcionário governamental
aos engenheiros da Conferência de Carna
han. "Geralmente
não existem limitações
legais", acrescentou, "e
o campo está
completamente aberto."
Firmas norte americanas, diante dos de
crescentes fundos federais para a navega
çào espacial e para a defesa, estào procu
rando rapidamente novos mercados.
Equipamentos de vigilância para o front
doméstico é uma transferência particular
mente fácil de toda a tecnologia desenvol
vida para o Vietnam.
Além disso, as centenas de milhões de
dólares destinadas à manutenção da ordem
interna constituem um estímulo mais con
creto e vantajoso do que programas mais
"simpáticos", como os planos de combate
à poluição. Enquanto as medidas de prote
çào ao meio ambiente preocupam a uma
ainda reduzida faixa de legisladores e estu
diosos. a crescente onda de criminalidade
nos EUA já não comporta mais as pacien
tes explicações de sociólogos ou psicólo
gos. É um problema dolorosamente imedia
to, que exige medidas práticas e eficientes
que devolvam à maioria dos americanos
um mínimo de segurança para andar nas
ruas, ou mesmo ficar em casa.
Se a indústria puder satisfazer a essas
necessidades, nada mais natural que tenha
lucros ao explorar os interesses e recursos
existentes. O problema é saber controlar,
através de uma legislação atualizada, a
aplicação dos recursos disponíveis.
Na década de sessenta, a produtividade
americana, impulsionada por amplos fun
dos federais, transformou em realidade a
fantasia de Júlio Verne, colocando o
homem na Lua. Se não for conveniente
mente controlada, essa fascinante capaci
dade de transformar sonhos em realidade
poderá antecipar para os anos setenta a
assustadora fantasia que Gcorge Orwell
previa para 1984, com o temível "Rig
Rrothcr".
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ESTA E A SELEÇÃO DA COPA Dü!
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aracanà, 16 de julho de 1950.
Augusto, o capitão da Seleção
Brasileira de Futebol surgiu no
túnel e as duzentas e tantas mil pessoas que
lotavam o estádio quase entraram em deli-
rio. Aquela tarde de domingo tinha sido
reservada para
o Brasil ser campeão mun-
dial de futebol: bastava um empate contra o
Uruguai. Mas nem se falava em empate. Afi-
nal, o Brasil havia vencido o México de 4 a
0, a Iugoslávia de 2 a 0, a Suécia de 7 a I, a
Espanha de 6 a 1. Um empate (2 a 2) já
tinha sido permitido à Suíça, como uma con-
cessào suprema. Era o que pensavam todos
os brasileiros naquela tarde.
Também foi para
isso —
para uma gran-
de festa —
que havia sido construído o
maior estádio do mundo. Mas o jogo come-
çou e os uruguaios foram resistindo. Resisti-
ram o primeiro tempo todo e até os 4 minu-
tos do segundo, quando Friaça fez o
primeiro gol para o Brasil, quase desenca-
deando uma alucinaçào coletiva.
Na tribuna de honra, trazendo na mào um
pedacinho de papel amarrotado, o velho
Jules Rimet, presidente da FIFA, ainda ten-
tava decorar uma pequena saudação, em
português, que faria ao entregar a taça ao
capitão do time brasileiro.
Mas, 17 minutos depois, os uruguaios
empataram e, a 9 minutos do final, fizeram o
segundo gol
— provocando paradas cardía-
cas e tentativas de suicídio por todo o país.
Jules Rimet viu o jogo até pouco depois
do gol de empate. Em seguida, com a taça de
ouro na mão, tomou o elevador para descer
até o campo. No campo haveria uma guarda
de honra e, perfilado ao lado dos campeões,
ele ouviria o hino nacional. Então faria a
saudação e entregaria a taça. Este relato está
no seu livro de memórias: "O
empate favore-
cia ao Brasil e, quando desci, o estádio se
agitava como uma tempestade que se abate
sobre o mar, e as vozes se avolumavam
como os rumores de um furacão. Cinco
minutos depois, quando cheguei à saída do
túnel, um silêncio dc morte havia substituído
todo aquele tumulto. Quando o jogo acabou,
me vi sozinho, empurrado por todos os
lados, com a taça na mão, sem saber o que
fazer com ela. Terminei por descobrir o
capitão uruguaio e lhe entreguei a taça quase
às escondidas, sem ao menos lhe dizer uma
palavra".
E a Seleção Brasileira, o que aconteceu
com ela? Respostas nas páginas seguintes.
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TINTE E TRÊS
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aracanà, 26 de março de 1973.
Augusto, por coincidência, foi o
primeiro a surgir no túnel: gordo,
os cabelos brancos e escassos, mas ainda
assim pisou os degraus com firmeza e olhou
o estádio vazio como se ele estivesse cheio.
Os outros vieram atrás com seus passos len-
tos e ocuparam o círculo central do campo,
diante do fotógrafo de REALIDADE.
Um pouco antes, eles haviam se encon-
trado fora do estádio, junto ao hall de entra-
da. Embora fizesse calor, Friaça chegou
com uma malha de lâ, falando com certa
dificuldade, pois perdeu quase todos os den-
tes num desastre de automóvel, que quase
lhe tira um olho e a vida também. Ademir,
agora jornalista e relações
públicas, chegou
de terno e gravata, muito animado. Danilo
contava os problemas do seu time, o ABC
de Natal. E Jair tinha pressa de ir embora
para dirigir um treino do seu, o Madureira.
Zizinho, elegante, conservando ainda nos
seus 67 quilos e 51 anos a linha de atleta.
Bigode, muito calado. Bauer, Juvenal e
Mário Américo (o massagista) chegaram
juntos. Eram os três que estavam mais afas-
tados dos demais, principalmente Juvenal,
quase desaparecido em Salvador. Roupas
simples, um sapato de lona provavelmente
comprado para a viagem, Juvenal chega a se
emocionar no abraço dos velhos companhei-
ros. Barbosa interrompeu seu serviço, como
funcionário do próprio Maracanã. E Chico
foi o último a chegar: deixou a mãe doente
no hospital.
No centro de campo, eles ocupam as mes-
mas posições de 22 anos e 255 dias atrás,
quando posaram como futuros campeões do
mundo. E o título não veio. Para alguns isso
foi fatal, para outros não. Vamos mostrar
aqui como vivem os ídolos de 1950.
A Seleção da Copa de 1950: 1 — Barbosa, 2 — Augusto,
3 — Danilo, 4 — Juvenal, 5 — Bauer, 6 — Bigode, 7 —
Friaça, 8 — Zizinho, 9 — Ademir, 10 — Jair, 11
Chico, 12 — Mário Américo (massagista). O outro massa
gista, Johnson (ao lado de Friaça), morreu em 1971.
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SELEÇÃO DE 50
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5x545
Barbosa ganhou
as travos do prosonto
Quando
o juiz inglês George
Readers apitou o fim do jo
go, apontando para o centro do
campo, ele correu os olhos pelas
arquibancadas superlotadas do
Maracanã e procurou o marca
dor. Lá estava: Brasil 1. Uruguai
2. Voltou os olhos para o campo
e viu o início da festa dos uru
guaios. Procurou novamente o
marcador, para se certificar. Não
havia dúvida:*Uruguai, 2 a I.
São as últimas lembranças que
Moacir Barbosa, paulista de
Campinas, 52 anos. o goleiro na
Copa de 1950, tem da tarde de
16 de julho.
— Não sei nem como cheguei
em casa naquele dia. Acredito
que tenha ido a pé até Olaria.
Até hoje, 23 anos depois. Bar
bosa não conseguiu se livrar das
acusações de que teria sido um
dos culpados pelo gol que deu a
vitória aos uruguaios: um chute
do ponteiro direito Gighia, do ân
guio esquerdo da grande área,
que, entrou entre Barbosa e a
trave esquerda.
Entre esse lance e a sua deci-
são de abandonar o campo se
passaram mais doze anos. Mas, a
partir daí, nunca mais lhe confia
ram uma camisa da Seleção. E,
como que para lembrá lo sempre
de sua possível culpa, quando o
campo foi reformado, deram lhe
de presente as próprias traves do
Maracanã, no começo de 1969.
Cinco anos depois da Copa.
Barbosa deixou o Vasco (para
onde tinha ido em 1944, saindo
do Ipiranga, um pequeno clube
de São Paulo já extinto para o
futebol), emprestado ao Santa
Cruz do Recife. Um ano depois,
estava de volta ao Rio para trei-
nar o Olaria. Teve ainda uma
curta passagem pelo Bonsuccsso
e em 1957 estava de novo no
Vasco. E de novo no gol. Ficou
no Vasco até 1960 e só resolveu
abandonar o gol em 1962. com
42 anos de idade.
Foram 22 anos de carreira e,
ao encerrá-la. apesar de ter sido
considerado um dos melhores
goleiros já surgidos no Brasil,
restaram-lhe apenas os títulos
que o Expresso da Vitória, o
Vasco, continuou conquistando
ao longo da década de 50. Hoje.
depois de ter tentado ser técnico
(Canto do Rio e São Cristóvão),
vive numa modesta casa em
Ramos, no Rio: foi tudo que o
futebol lhe deixou. Trabalha na
Adeg (Administração dos Está
dios da Guanabara), por três
salários mínimos e. à noite, treina
o time das Mercearias Nacionais,
por 500 cruzeiros por mês.
E lamenta que, por tão pouco,
o futebol tenha-lhe exigido tanto:
Uma vez minha mulher
teve a iniciativa de, durante três
anos (de 1947 a 1950), contar os
dias em que passei em casa, sem
nenhum compromisso com o
Vasco. Sabem quantos dias fiquei
em casa? Acreditem se quiserem:
foram 37 dias.
Antes de entrar para o campo,
trabalhou dois anos como quí
mico farmacêutico, "com
car
teira assinada" e, somando a isso
todos os anos dedicados ao fute
boi e ao funcionalismo público,
conclui que já trabalhou 35 anos.
É com essa idade que a
gente se aposenta, não é? Acho
mesmo que está na hora de parar,
para fazer aquilo que sempre
quis: ficar em casa com a minha
mulher (não têm filhos), cni
dando das galinhas.
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Augusto está
garantido pola polícia
Há
32 anos (em 1940). Au
gusto da Costa, um parrudo
lateral direito do São Cristóvão,
cruzou o portão da sede da Poli
cia Especial (uma espécie de
guarda pessoal do ex presidente
Getúlio Vargas), fez os exames e
conseguiu sua vaga. Hoje. aos 52
anos, com uma barriga avanta
jada e os últimos fios de cabelo
completamente brancos, ainda
que conserve uma alegre joviali
dade. sua figura não lembra em
nada à do zagueiro atlético que
participou de todas as soleni
dades oficiais como capitão da
Seleção Brasileira, no Campeo
nato Mundial de 1950.
O futebol acabou depois dc
dezessete anos de atividade pro
fissional. Hoje. ele vive com o
salário de 2 200 cruzeiros que re
cebe como técnico em Censura
na Polícia Federal, no Palácio do
Catete (com a promessa de ser
aumentado para 3 600 até o fim
do ano). E e como policial que
ele estará aposentado daqui a três
anos.
— Com exceção da Copa de
1950, não posso dizer que tive
decepções no futebol. Ao contrá
rio, ganhei muitos títulos e um
dinheiro razoável. O que sinto
mesmo do futebol é saudade.
Saudade daquele grande time do
Vasco da Gama, o Expresso da
Vitória, com que ganhamos vá
rios títulos.
Augusto é uma das exceções
entre os jogadores da Seleção de
1950: tem uma ótima casa na
ilha do Governador, onde mora
com a mulher e os dois filhos,
Augusto Jr., 26 anos, e Glória
Maria, nove. Tem também algum
dinheiro aplicado c "uma
vida
organizada, graças a Deus".
Começou jogando de zagueiro
central pelos juvenis do São Cris
tóvào (bairro onde nasceu), cm
1937. Dois anos depois passou
para o time titular e. em 1944. foi
vendido ao Vasco por 50 contos
de réis. Um ano depois era deslo
cado para a lateral direita (posi
ção que adotou até o final da
carreira).
Parou em 1954, ainda no
Vasco, com 33 anos de idade. E.
embora tivesse o emprego na
Polícia Federal, durante algum
tempo ainda insistiu em perma
necer em campo: ficou no pró
prio Vasco como auxiliar do téc
nico Flávio Costa. Foi também
auxiliar de Martim Francisco
(outro técnico de fama). E. em
1957, aceitou um convite para
treinar o Belencnses, de Portugal.
Voltou um ano depois. Treinou o
Bonsucesso por três meses ape
nas: transferido para Brasília,
dirigiu o Guará e foi diretor da
Federação Brasiliense de Fute
boi. De volta ao Rio de Janeiro
em 1967, resolveu deixar o fute
boi de lado.
Mas não deixou de voltar ao
Maracanã para ver os jogos do
Vasco durante os campeonatos
embora o estádio cheio traga de
volta as lembranças da tarde dc
16 de juího. O que procura com
pensar com uma visão otimista
das coisas:
— E claro
que lamentamos
aquela perda. Mas já conquis
tamos a Taça Jules Rimet em
definitivo, provando ao mundo
nossa superioridade no futebol. E
não me parece absurdo admitir
que aquela derrota, de alguma
forma, tenha servido para nos
ajudar a encontrar o caminho do
tricampeonato.
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Juvenal vê o íim
do logo
de graça
Juvenal
Amarijo tem 1.81
metro de altura, pesa ainda
os 76 quilos da época da Copa de
1950. mas já nào conserva o
porte elegante do zagueiro deci
dido que afastava todos os peri
gos da área brasileira. Aos 44
anos, mostra que a vida lhe trou
xe muito mais aborrecimentos
que a perda do título mundial no
Maracanã.
Gaúcho de Santa Vitória do
Palmar, começou jogando pelo
Brasil de Pelotas. Passou pelo
F arroupilha, Cruzeiro e chegou
ao Flamengo. Do Flamengo para
a Seleção Carioca. Da Seleção
Carioca para a Seleção Brasi
leira. Uma ascensão tão rápida
quanto a queda: depois da Copa.
o Palmeiras, daí para o Bahia e
linalmente o Ipiranga (ainda de
Salvador).
Embora ainda no Palmeiras
conhecesse dias gloriosos, o fute
boi se foi, deixando o na mesma
situação em que havia começado,
catorze anos antes. De seu ficou
apenas um terreno, de 300 me
ros quadrados, em Santa Vitória
lo Palmar. Lembra se de que no
'almeiras
ganhou seu maior sa
ário como jogador: 12 contos
>or mês. Mas não tem idéia pre
isa de quanta o futebol lhe deu
certo que ganhou bastante,
orno também gastou muito com
>s amigos.
Quando a bola fugiu dos seus
'és, descobriu que não sabia
fazer nada: trabalhou uns tempos
orno auxiliar de escritório, foi
*')cio de um bar no largo do Tan
Mue em Jacarepaguá. tomou
t-onta de uma cantina de uma
agência bancária e acabou no
tampo de novo. para tentar ser
técnico. Dirigiu o Guarani de
Salvador (já extinto) e teve tam
bém uma passagem pelo Sergipe
de Aracaju. Nào deu certo:
Meu temperamento, nào dá
para técnico. Eu brigava muito
com os jogadores. Queria que
cies fizessem como eu faria, se
estivesse dentro de campo.
Mas há quem diga que Juvenal
nào foi um bom técnico de fute
boi justamente por nào saber bri
gar com os jogadores. Conta se
inclusive que. quando técnico do
Guarani, ele bebeu até tarde com
um dos jogadores. No dia seguin
te. na hora do jogo. distribuiu as
camisas e deixou o jogador far
rista de fora. F o rapa/ reclamou
com ele:
Mas, Juva. vocc que é meu
amigo vai me deixar de fora?
E Juvenal:
F. claro, onde já se viu
jogador poder beber com o téc
nico do time.
Hoje, Juvenal, quando nào
está pescando em Itapoà, traba
lha como despachante no cartó
rio do Tabelião Franklin,em Sal
vador. "Um
bom emprego",
segundo ele, pois lhe garante 600
cruzeiros por mcs. Para comple
tar o orçamento doméstico (des
quitou se da mulher e vive com
outra, com a quai tem dois
filhos), trabalha também como
bilheteiro no Estádio da Fonte
Nova: a quantia que recebe de
pende da renda, mas em média
dá 70 cruzeiros por jogo. Mas
com uma vantagem:
Depois de prestar conta
dos ingressos vendidos para
aquela partida, a gente é liberado
e ainda pode assistir das arqui
bancadas aos 10 ou 15 minutos
finais do jogo. De graça.
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Baner prefere
lembrar dos bondes
wosé Carlos Bauer, nascido a
• 21 de novembro de 1925. fi
lho de mãe negra e pai suíço,
estudante na Escola Alemà na
rua Olinda (Sào Paulo), nào con
seguiu um lugar para treinar
entre os meninos do São Paulo,
em 1940. porque era magro de
mais e não tinha chuteira. Um
ano depois, Porfírio da Paz (téc
nico dos juvenis) o levou até a
rus José Paulino e lhe deu um
terno cinza de presente. Ganhou
também uma chuteira de bico
duro, mas o Sào Paulo nem tinha
campo, só jogava no campo dos
adversários: "E
o Feola enfiava
um passe de bonde no bolso da
gente e dava a dica de onde era o
jogo".
Em 1950. foi considerado o
maior jogador da Copa e lhe
deram o apelido de "Monstro
do
Maracanã". Mas ainda hoje.
quando fala em futebol, sua me
mória procura lembranças mais
amenas. Todas as outras lem
branças. porém, estão bem vivas.
Inclusive as daquele 16 de julho:
— Perdemos o jogo, e até'hoje
uns acusam o Bigode, outros
acusam o Barbosa. Ou mesmo o
Juvenal. Eles não tiveram culpa.
Como perdemos, endeusaram
Obdulio Varela e os uruguaios.
Mas eu posso garantir que eles
entraram em campo apavorados.
Dizem que nosso time se acovar
dou; é mentira. Dizem que o
Obdulio deu um tapa no Bigode;
é mentira. O Bigode deu, sim.
uma entrada dura em Júlio Pérez.
e o Obdulio passou a mão na ca
beça dele e disse: "Quê
se passa,
muchacho?" Posso garantir que.
se Obdulio desse mesmo um
tapa, o Bigode teria acabado com
o jogo naquela hora. no braço. Na
verdade, culpados foram todos:
jogadores, dirigentes, imprensa.
Mas a derrota nào o tirou das
outras seleções e, em 1954, dis
putou outra Copa, na Suíça,
quando inclusive foi o capitão do
time brasileiro.
Em 1956. depois de uma fratu
ra na perna, trocou o Sào Paulo
pelo Botafogo. Voltou um ano
depois, para a Portuguesa de
Desportos e foi dar seus últimos
chutes no Sào Bento de Soroca
ba. Transformado em técnico,
dirigiu pequenos clubes de Sào
Paulo e Paraná. Andou também
pelo México, por Portugal e pela
Colômbia.
Fora do futebol, montou um
atelier de costura, mas os negó
cios nào andaram certo. Teve um
bar no centro de Sào Paulo, que
também nào deu certo. Hoje.
com a mulher e quatro filhos (um
deles jogando no juvenil do San
tos), tem um único investimento
com o dinheiro conseguido no
futebol: uma casa no Brooklin
(Sào Paulo). E continua depen
dendo do instável emprego dc
técnico para sobreviver.
— Quanto dinheiro
ganhei?
Nunca calculei. Sei que, no meu
tempo de Sào Paulo, assinei con
tratos em branco. Além disso tal
vez tenha feito coisas erradas:
quando saí do Sào Paulo ganha
?a 25 contos por mês, fui ganhar
20 no Botafogo; um ano depois o
Botafogo me ofereceu 40 e eu
nào quis ficar.
Por isso, está tratando de regu
larizar sua situação junto ao
INPS. que paga com alguns
intervalos desde 1946. e a que
nunca imaginou precisar recor
rer.
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SELEÇÃO DE 50
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o
Danilo foi
príneipo so om campo
Éfala
ainda é mansa, pausada
e cautelosa. O perfil elegan
te ganhou uns poucos quilos.
Mas no homem de hábitos sim
pies —
ouvir rádio, ver televisão,
conversar com os dirigentes de
seu clube atual, o ABC, de Natal
— poucos reconheceriam o Prín-
cipe Danilo, o estilista máximo
do futebol brasileiro de vinte
anos atrás. Hoje, após trinta anos
de futebol, ele tem sido apenas
técnico de equipes modestas, em
bora entre as suas conquistas es-
teja um título de campeão sul-
americano, em 1962, como
técnico da Bolívia, também uma
seleção modesta.
Um dos mais bem pagos joga-
dores de sua época, Danilo não
conseguiu guardar muita coisa,
além do apartamento onde mora
sua família (a mulher e o filho
único), no bairro do Flamengo, e
outro em Copacabana, que deu
aos seus pais —
e assim mesmo
comprados quando já era treina
dor.
Depois da Copa de 1950, con-
tinuou jogando pelo Vasco, onde
ainda foi campeão carioca em
1951 e 1952. Em 1953 chegou
mais uma vez à Seleção Brasi-
leira, que disputou (e perdeu) o
Campeonato Sul-Americano em
Lima. De volta, trocou o Vasco
pelo Botafogo, onde ficou até
1956, ao encerrar sua carreira.
Pelo último contrato, ganhava
600 cruzeiros por mês (bem
acima da média geral), o que hoje
corresponderia a uns 10 000.
Para um jogador famoso, a
idade é sempre um problema,
mas as oportunidades não fal
tam. Aos 35 anos, entre as ofer
tas do Bonsucesso e Olaria para
continuar perseguindo a bola e
um convite para ser vendedor de
automóveis, Danilo optou pela
mudança de ramo. Junto com
Maneca (outro jogador da Sele
çào de 1950, já falecido) e Ernâni
(ex goleiro do Vasco), Danilo
não tinha problemas para vender
um Dauphine, que na época eus
tava 250 contos:
Na verdade, não era eu
quem vendia. Eram eles que com-
pravâm. pois eu só sabia falar de
futebol. E acho que até hoje é
assim.
Chegando à conclusão de que
seu lugar era mesmo o campo de
futebol, aceitou um convite para
ir para Uberaba (MG), onde seria
técnico e jogador ao mesmo
tempo. Como era ainda uma
atração, tinha participação na
renda, mas o fôlego não ia além
do primeiro tempo. Continuou
sua peregrinação por clubes pe-
quenos até que o título obtido
pela Bolívia, em 1962, lhe deu
um lugar no Botafogo. Mas o
emprego durou menos de um
ano. De volta aos clubes peque-
nos, andou por Minas, Alagoas,
Sergipe e agora está no ABC, de
Natal, ganhando 5 000 cruzeiros
por mês e luvas de 8 000. Além
de técnico, também é funcionário
do Ministério da Agricultura:
Um simples emprego, que
me garante 550 cruzeiros por
mês.
Mas chegou até a ser demitido,
por causa de suas viagens. Mas a
demissão veio num momento de
sorte: Danilo era o técnico do
Remo, de Belém, onde treinava,
entre os juvenis, o jovem Jarbas
Passarinho Júnior. Assim, por
força do ministro, a medida foi
revogada. E é pelo Ministério que
Danilo vai se aposentar.
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distância
Bigode qner
do Maracanã
Foi
aos 36 minutos do segun-
do tempo: Obdulio Varela
(o negro enorme que comandou
no grito a Seleção do Uruguai)
apanhou a bola no meio de
campo e jogou na ponta direita
para Gighia. Gighia dominou Bi
gode na corrida e começou a cor
rer. Para Bigode, mestre no carri-
nho, era fácil atirar-se por trás e
tirar a bola ou pelo menos fazer
uma falta. Mas Bigode continuou
apostando uma corrida inútil,
inexplicavelmente. Talvez espe-
rasse dar um passo a mais, para
tirar a bola sem o risco de come-
ter nenhuma infração. Talvez
esperasse que Juvenal viesse em
seu socorro. Assim, Gighia en-
trou pelo bico da grande área e
chutou: 2 a 1 para o Uruguai.
Nenhum outro jogador, entre
os onze que perderam a Copa de
1950, sofreu tanto quanto Bigo-
de. A fama de covarde correu
pelo país inteiro, com a mesma
rapidez com que haviam se espa-
lhado os gritos antecipados de
"Brasil campeão". Ele esperou as
duzentas e tantas mil pessoas dei-
xarem o Maracanã e, quando já
era noite, foi de ônibus para casa.
Não dormiu: reviveu os lances do
jogo, gravados na memória, prin-
cipalmente a jogada de Gighia. O
dia seguinte chegou e ele simples-
mente não fez nada, ficou espe-
rando que alguma coisa aconte-
cesse. Aconteceu: vieram uns
amigos e o convenceram a ir até
a Cinelândia. para jantar. Entra-
ram num restaurante da rua do
Passeio e ele ouviu o comentário
de uma senhora, na mesa ao
lado:
— Não entendo nada de fute
boi. nem fui ao jogo ontem, so-
mente sei que o tal de Bigode
foi o culpado pela nossa derrota.
Bigode abandonou o restau
rante e ainda hoje, embora te
nha-se transformado simples
mente no João Ferreira, nascido
há 51 anos em Belo Horizonte,
continua fugindo dos comentá
rios desse tipo. Mora num humil
de apartamento da rua Viveiros
de Castro, em Copacabana, e
passa o dia consertando televisão
— o que lhe rende quase 1 500
cruzeiros por mês. Sozinho
(nunca se casou), costuma fre
qüentar um único bar, quase na
esquina de Viveiros de Castro
com Belfort Roxo, mas geral
mente está em casa mesmo:
Sabe como é, sempre pode
aparecer um bêbado qualquer,
dizer um desaforo, chamar a
gente de covarde. Eu já ouvi isso
demais, de 1950 para cá.
Vindo do Sete de Setembro, de
Belo Horizonte, com passagem
pelo Atlético Mineiro, ele chegou
ao Fluminense em 1943 e passou
para o Flamengo em 1949. De
pois da Copa, voltou ao Flumi
nense e aí, em 1956, encerrou sua
carreira de quinze anos. Depois
disso, ainda tentou uma volta ao
futebol, como treinador do Amé
rica de São José do Rio Preto
(1962). Não deu certo: entregou-
se às televisões quebradas.
Em 1965, as mesmas seleções
do Brasil e do Uruguai voltaram
a se encontrar no Maracanã,
para um jogo de confraterni
zação. E, embora Obdulio tivesse
insistido para que ele compare
cesse. Bigode não apareceu:
Desde 1950
que o Maraca
nã não é um lugar agradável para
mim. O Maracanã e as pessoas
que continuam achando que eu
perdi so/inho a Copa do Mundo.
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Friaça den saas
trombadas por
aí
Em
fins dc fevereiro deste
ano. Adriano Cardoso Fria
ça foi preso em Santos, depois dc
roubar a carteira dc um casal dc
turistas, na praia. No dia seguin
te. o jornal /I Notícia, do Rio.
saiu com esta manchete: "Friaça
preso como rato dc praia cm
Santos".
Para Friaça, o ponta direita da
Scleçào Brasileira, Vasco da
Gama, Sào Paulo, Ponte Preta c
Guarani. autor do único gol hra
sileiro na final de 16 dc julho, era
apenas mais uma notícia ruim.
entre tantas ocorridas nos últi
mos tempos. Primeiro tinha sido
também uma notícia de jornal,
que o dava como morto, como
mendigo. (Na verdade, o mendi
go que havia morrido estava ape
nas de posse de sua carteira de
identidade, perdida havia muito
tempo.) Depois, foi um desastre
de automóvel na estrada
Rio—Majé, em que ele, a mulher
e o filho de colo escaparam
milagrosamente. Finalmente a
outra notícia: também desta vez
nào se tratava do verdadeiro
F riaça. O verdadeiro Friaça (Al
bino Friaça Cardoso), 48 anos.
fluminense de Porciúncula, en
frentou tudo com a resignação de
católico fervoroso, que vai à
missa todo domingo e reza em
casa todos os dias.
Sua carreira terminou em
1958. no Guarani de Campinas.
( ali mesmo surgiu a oportuni
^ade de ser técnico dos juvenis.
Mas alguns meses foram sufi
cientes para mostrar que. se sabia
fazer as coisas dentro de campo.
Friaça não sabia ensiná Ias fora.
Por isso decidiu voltar ao Rio.
Para escolher uma outra profis
sao. Comprou uma oficina mccâ
nica na rua Sào Clemente, em
Botafogo, que lhe rendia
quase
tanto quanto o próprio futebol.
Logo depois comprou também
uma oficina dc cromagem no
Catumbi. Mas os negócios nào
foram bem e acabou perdendo
tudo. Passando dificuldades, re
correu à Fugap (Fundação dc
Garantia ao Atleta Profissional)
e conseguiu financiamento para
comprar um táxi. Com o táxi
conseguiu estabilizar sua situa
çào. Mas:
A vida de motorista de táxi
é muito dura. Principalmente em
casos como o meu: às vezes, um
passageiro virava pra mim e
dizia que eu era muito parecido
com o Friaça, fazia perguntas.
Eu ficava calado, nào dava con
versa. Daí sofri aquele desastre,
quase perdi o olho e fiquei quatro
meses parado.
Apesar das dificuldades que já
enfrentou, nunca precisou deixar
o bom apartamento na Urca (alu
gado por 500 cruzeiros por mês),
onde mora com a mulher e os
quatro filhos. Nem precisou
mexer nas terras que tem em
Porciúncula ("e que devem valer
uns 200 000 cruzeiros"). H tam
bém nunca fez queixas da vida.
pois nunca exigiu muita coisa
dela:
Há muito tempo que a
minha única extravagância é sair,
de manhãzinha, pela praia Ver
melha, respirando ar puro.
Agora acaba de comprar outra
oficina mecânica, no Catumbi.
onde vai começar tudo de novo:
Nào é fácil começar de
novo, quando já se teve quase
tudo na mão. Mas a gente ainda
deve agradecer a Deus pela nova
chance.
Zizinho está
pedindo mais respeito
âos
41 minutos do segundo
tempo, ganhando de 2 a l, o
Uruguai estava levando a Copa
do Mundo embora, ainda que um
simples empate desse o título ao
Brasil. Foi quando Chico levou a
bola pela ponta esquerda e cru
zou pelo alto, parecendo que
todo o Maracanã se atirou para
dentro da área uruguaia, junto
com todo o time brasileiro. E, no
meio dos valentes zagueiros uru
guaios, surgiu o pequeno Zizi-
nho, para acertar uma violenta
cabeçada, que mandou a bola à
trave do goleiro Máspoli.
Se essa bola tivesse entrado,
provavelmente teria alterado vá
rios capítulos da história do fute
boi brasileiro. Mas não entrou. E
Zizinho ainda hoje pede que se
reconheça pelo menos o esforço
digno da Seleção de 1950:
— Perdemos o jogo e o título,
é certo. Mas nào é justo que uma
simples derrota na final distorça
tantas verdades. Outras seleções
brasileiras também ganharam e
perderam. Nào houve covardia
de ninguém: luta principalmente
foi o que nào faltou.
Embora a mágoa pela Copa
perdida ainda nào o tenha aban
donado, profissionalmente Zizi-
nho foi um dos jogadores menos
prejudicados com o desastre de
1950: continuou sendo convo
cado para as seleções posteriores,
tendo inclusive jogado na Sele-
çào que classificou o Brasil para
o Mundial de 1958, na Suécia.
No ano anterior, porém, depois
de jogar onze anos no Flamengo,
sete no Bangu e um no Sào
Paulo, ele havia encerrado sua
carreira como jogador.
Para quem foi um dos grandes
talentos do futebol brasileiro, os
dezenove anos de atividade pro-
fissional (de 1939 a 1957) nào
deixaram muita coisa: um apar-
tamento na rua General Pereira
da Silva, um sítio em Marambaia
(também Estado do Rio) e umas
poucas economias.
Uma coisa eu garanto: nào
tenho reclamações contra o fute
boi do meu tempo. Acho que ga
nhei muito bem, embora hoje os
jogadores ganhem muito mais.
Deixando o campo, conseguiu
um emprego de agente fiscal, que
mantém até hoje. Mas logo vol
tou para ser técnico: dirigiu o
Bangu, o Audax Italiano (do
Chile, onde chegou também a
jogar algumas vezes), duas vezes
o América do Rio, três o Bonsu
cesso, duas o Vasco, seu último
clube — onde ficou até o ano
passado. Agora, desempregado
(mantendo-se apenas com o em
prego de agente fiscal), espera em
Niterói por uma proposta para
voltar ao cargo de treinador, de
pois de haver desistido de ser
jornalista: entre 1970 e 1971
escreveu para o Jornal dos
Sports.
Aos 51 anos, desquitado, pai
de duas moças, Thomas Soares
da Silva, que em campo chegou a
ser o Mestre Ziza, so tem uma
reclamação:
Acho um absurdo um jo
gador que vestiu a camisa da
Seleção durante quinze anos (de
1942 a 1957), como eu, ter que
entrar de favor no Maracanã. Em
1965, num jogo Brasil e Alemã
nha, fui barrado na porta pelos
próprios dirigentes da CBD.
Uma coisa humilhante. Pelo
menos nos jogos da Seleção,
acho que deveríamos ter o direito
de entrar sem pagar. «•gu«
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SELEÇÃO DE 50 con*inu«<Ao
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Ademir
continua indo ao ar
Diariamente,
de segunda a
sexta feira, o artilheiro da
Copa de 1950, com oito gols.
Ademir Marques de Menezes,
pernambucano do Recife. 48
anos de idade, apenas um pou
quinho mais gordo do que há 23
anos, entra no ar. às 18 horas,
pela Rádio Mauá, do Rio. Faz
um breve comentário sobre o
jogo do dia anterior, ou daquela
noite, ou da rodada do próximo
fim de semana, ou simplesmente
analisa o fato esportivo mais
importante do dia. Sempre com
uma preocupação:
— No microfone, procuro
nào me esquecer do lado humano
do jogador e tenho me mantido,
sempre que possível, dentro dessa
linha. Sabe como é: apesar de
tudo o que já conseguimos no
futebol, o jogador continua sendo
um marginal.
Antes, entre 4 e 5 da tarde,
aparece na redação dos jornais O
Dia e A Notícia (de propriedade
do atual governador da Guana
bar a. Chagas Freitas), procura
uma máquina de escrever que es-
teja livre na editoria de esportes e
faz sua crônica. Depois sempre
encontra um pouco de tempo
para bater papo com os reporte
res, invariavelmente procura
saber as novidades do Vasco ("o
clube do coração"), despede se e
vai embora.
O resto do dia passa visitando
empresas, bancos, repartições,
como relações públicas do IBC
(Instituto Brasileiro do Café).
Está no IBC desde 1961. quando
prestou concurso com mais 350
pretendentes às 120 vagas a fis
cal do café. Há três anos passou
para o departamento de relações
públicas.
Esses empregos lhe dão uma
certa tranqüilidade financeira:
somando todos, recebe pouco
mais de 5 000 cruzeiros por mês.
— Não faço gastos maiores,
sou desquitado, tenho somente
uma filha, a Claudinha. moro
num apartamento próprio na rua
Belfort Roxo, Copacabana (com
prado em 1952 por 80 contos de
réis). Tenho um carro e uns terre
nos no Estado do Rio. É certo
que, pelo que ganhei no futebol,
deveria ter muito mais. mas nào
me queixo; assim está bom.
Começou em 1942, no Sport
Club do Recife. Nessa época,
além dos gols, fazia também o
curso de medicina. Mas os estu
dos tiveram que ser suspensos
quando o Vasco o contratou, em
!943. No Rio, apenas para satis
fazer a vontade da mãe, chegou a
concluir o curso de odontologia,
em Niterói. Mas nunca exerceu a
profissão: ele próprio tem medo
de entrar num consultório.
Com uma passagem de dois
anos pelo Fluminense, voltou ao
Vasco em 1948, fazendo o me
lhor contrato de sua vida: só de
luvas ganhou 900 contos. Oito
anos depois, ainda no Vasco,
encerrou sua carreira.
Com o dinheiro do futebol
montou uma fábrica de porce
lana e cerâmica, mas um incên
dio interrompeu ainda no começo
sua carreira de empresário. Vol
tou ao futebol para treinar o
Vasco ("numa fase horrível em
que nada deu certo") e o Olaria,
em 1962; outra carreira que
durou pouco tempo.
— No futebol é assim mesmo:
tudo passa rápido demais. E, às
vezes, quando a gente acorda, já
é tarde.
Jair ainda tem
sonhos no fntebol
Sua
carreira começou em
1938, no Madureira. Daí foi
para o Vasco. Em seguida. Fia
mengo. Depois, Palmeiras, San
tos, São Paulo, Ponte Preta.
Juventus. Deu seus últimos chu
tes em 1963, tornou se treinador
de futebol, começando outra vez
pelo Madureira. onde iniciara
como jogador. Depois. Olaria.
Vitória de Salvador, Santos. Fi
nalmente, Madureira de novo: di
rige o time sem receber um tostão
e nào faz questão disso, pois sabe
que o clube não está em condi
çõesde pagar.
Somando toda a sua carreira:
26 anos como jogador, sete como
treinador.
Assim, Jair Rosa Pinto, flumi
nense de Quatis, passou 33 dos
seus 54 anos dentro dos campos
de futebol. Durante esse tempo
jogou nos maiores clubes do Bra
sil, foi à Seleção, disputou os tor
neios mais importantes, conheceu
quase o mundo todo — e ainda
nào pensa em parar:
Do futebol, a única coisa
que estou esperando agora é que
a Itália anule aquela lei que proí
be aos estrangeiros jogar em
times de lá ou dirigi los. para que
o empresário Gerardo Sanella me
leve para ser treinador de qual
quer clube de Roma, Milão ou
Turim. Time grande, é claro.
Necessidade de dinheiro?
Nào: Jair confessa estar satisfeito
com o que tem, embora como
Ademir, pudesse ter muito mais:
Moro aqui, nesse enorme
apartamento (rua General Roca.
na Tijuca). num bairro excelente,
que dá de sobra para mim. minha
mulher, a sogra e meus dois
filhos. Tenho um carro e algumas
economias. E sempre um empre
go de técnico em perspectiva.
Entre a decisào de parar de
jogar, em 1963 (aos 44 anos
um dos casos mais raros do fute
boi brasileiro), e a de se tornar
técnico, em 1965, arrumou um
emprego na Adcg. onde é funcio
nário até hoje, com salário de
900 cruzeiros por mês. Em 74. já
pode requerer sua aposentadoria,
de acordo com a legislação tra
balhista atual. O que, certamente,
nào fará: prefere continuar traba
lhando, ainda que de graça, no
seu humilde Madureira.
É um dos poucos jogadores a
quem a Copa do Mundo de 1950
nào conseguiu deixar marcas.
Mesmo depois da perda do cam
peonato ainda fez bons contratos,
muitos deles inspirados no seu
poderosíssimo chute de esquerda,
que lhe deu a fama de um dos
maiores cobradores de falta do
país. Da Copa prefere lembrar as
grandes atuações do Brasil
( principalmente aqueles 6 a 1
contra a Espanha"). E se resolve
falar dos acontecimentos do dia
16 de julho é apenas para tentar
restabelecer algumas verdade1
históricas:
— O que todo mundo deve
saber é que nenhum jogador
foi
covarde naquele jogo final, nem o
nosso técnico (Flávio Costa) teve
a mínima culpa. Culpados foram
os dirigentes daquela época, que
transformaram a Seleçào num
circo e abriram as portas para o>
políticos, que entraram na con
centração, para fazer discursos
prometer bobagens ao povo
usando a nossa fama de ídolos
Também, pergunto eu: de que va
adiantar eu estar dizendo isso
hoje?
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Chico podia
tor
comprado Copacabana
o saguão de entrada da Au
to Modelo, na rua Haddock
Lobo, entre Estácio e Tijuca.
Francisco Aramburu, aos 51
anôs de idade, conservando o
mesmo cabelo jogado com capri
cho para trás, o sotaque gaúcho,
não é simplesmente o Chico,
ponta-esquerda do Vasco e da
Seleção Brasileira. É um sisudo
senhor com a tarefa de preposto
de seguros da revendedora Volks
wagen, de terno e gravata, salário
de pouco mais de 3 000 cruzeiros
por mês (além de um emprego na
Adeg, que lhe rende mais 900).
casa de cinco quartos, salão com
galpão
"para
preparar churrasco
de domingo", na rua Ana Neri.
construída com o dinheiro ganho
em seus quinze anos de jogador
de futebol.
— Ganhei muito dinheiro
com o futebol. Ganhei, sim. E
todos aqueles que jogaram comi
go, no Vasco, (naquela época, o
melhor time do Brasil, dispara
do), também ganharam. O que
acontece é que a turma pegava o
dinheiro e saia por aí, gastando à
toa. Eu mesmo sou um exemplo.
Recebia 15 contos no Vasco,
antes de 1950, e isso era muito
dinheiro. Basta dizer que se com
prava um apartamento em Copa-
cabana, naquela época, com 60
contos de réis. Era só guardar
quatro salários (a gente podia
praticamente viver só com os
prêmios, porque o time ganhava
todas), e já dava para comprar
um apartamento de três quartos,
garagem e tudo o mais. Dava
para comprar meio bairro. Mas
gastei tudo. Toda semana estava
indo e voltando de avião para
Uruguaiana, onde nasci e onde
estava minha família.
Chegou ao Vasco em 1941.
trazido do Grêmio de Porto Ale
gre. E no Vasco jogou os seus
quinze anos de profissionalismo,
até 1954. Ao sair do Vasco, pas
sou ainda pelo Flamengo, mas só
ficou dezessete dias, pediu resci
são de contrato e nunca mais
quis saber de futebol, nem de ser
treinador.
Nessa época já tinha três táxis
(um Dodge e dois Chevrolet). Foi
trabalhar com um deles, mas não
se ajeitou. Meteu-se em negócios
imobiliários, perdeu o que tinha e
acabou vivendo uns tempos
como funcionário da Estrada de
Ferro de Ilhéus, até conseguir o
emprego na Adeg, em 1964.
Do futebol guardou bons e
maus momentos. Impossível es
quecer um jogo entre Brasil e
Argentina, em 1946, no estádio
do River Plate, em Buenos Aires:
quatro jogadores e mais de quin
ze policiais argentinos cercando
o junto ao alambrado, numa das
maiores brigas já vistas num
campo de futebol.
Bati, dei soco, pontapés.
Apanhei muito também. Nem sei
como saímos vivos do campo.
No dia da nossa chegada ao Rio.
tiraram minha camisa no aero
porto e fotografaram: estava em
carne viva, com a marca dos sa
bres dos policiais.
Chico, e a Copa de 1950?
Ah, tenho uma recordação
dela, sim. É um terreno que ga
nhei em Arcozinho, perto de Cor
reias (Estado do Rio), presente
pela minha participação como
titular. Não sei nem quantos me
tros tem, nunca construí nada lá,
mas, quando alguém pergunta se
quero vender, digo que não. É a
minha herança da Copa.
Mário Américo
corron o guardou
tudo
Como
filho de um peão
(amansador de cavalo xu
cro) do interior de Minas, que
sempre deu murros pela vida.
Mário Américo até que escolheu
a profissão certa: foi ser lutador
de boxe. Aos sábados, o velho
Estádio Brasil, erguido ao lado
da antiga praia das Virtudes
(onde hoje existe o Museu da
Imagem e do Som, no Rio), fica
va lotado, e ali o peso leve Mário
Américo ganhava de 20 a 30 mil
réis por luta. Entre uma luta e
outra, cuidava de uma oficina de
guarda-chuvas e vendia roupas
feitas de casa em casa. Antes
tinha sido também músico, mas a
carreira de baterista foi interrom
pida pelo Juizado de Menores:
com apenas dezessete anos, ele
não podia tocar nos clubes notur
nos. Foi ali no Estádio Brasil que
ele conheceu Almir do Amaral,
médico e técnico do Madureira.
E Almir o transformou no mas
sagista do seu time, em 1936.
Todas as profissões —
de
baterista a massagista — apren
deu sozinho. Levado ainda por
Almir do Amaral, matriculou se
na Escola Nacional de Educação
Física, como ouvinte. Mas só em
1966 (depois de trabalhar mais
de vinte anos para a Seleção) é
que fez o curso de massagista
e tirou o primeiro lugar.
Do Madureira passou para o
Vasco, em 1943, atraído por um
salário quatro vezes maior: 800
mil réis. E no ano seguinte era
chamado pela primeira vez para
trabalhar com a Seleção (Sul
Americano no Chile). Ficou no
Vasco dez anos: saiu em 1953
para a Portuguesa. E só saiu da
Portuguesa em 1971 porque os
dirigentes insistiam em que ele
devia curar o ponta esquerda
Piau, cujo problema estava fora
do alcance de um simples massa
gista.
Durante esse tempo foi teste
munha de uma longa faixa da
história do futebol: trabalhou
com a Seleção em seis Copas (de
1950 a 1970). E os seus 37 anos
dedicados ao futebol lhe ensina
ram a guardar tudo o que ga
nhou. Hoje, aos 61 anos. tem de?
casas em São Paulo, três terrenos
e um sítio com piscina em Fran
co da Rocha (SP).
Muita coisa? Talvez não.
se você reparar que dei ao futebol
mais da metade da minha vida
Pouco depois da Copa dc
1970, aposentou se (como mas
sagista, sempre pagou IA PC),
recebendo 1 380 cruzeiros por
mês. Hoje, com as correções, a
aposentadoria subiu para 1 800.
O que já daria para
viver
com a família, no meu sitiozinho.
Mas ele tem ainda o seu
consultório, na sua própria ca a.
no bairro do Imirim (SP), orde
atende de vinte a trinta pessoas
por dia. Isso lhe garante no total
uma renda de uns 3 mil cruzeiros
por mês. Mas não é o dinheiro
que o preocupa, no momento.
Atualmente, desligado do fute
boi, sem a mesma rapidez nas
corridas (com que varava o
campo para atender a um joga
dor) e com que chegou a empol
gar as platéias de mais de cin
qüenta países, ele não quer ser
esquecido para a Copa de 1974:
Em 1974, se for lembrado,
completarei trinta anos de Sele
ção. Mas a gente nem sempre
pode confiar na memória do
futebol.
98
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I
I
Chegadepapa
Agora
vamos ver
qual
e o time
que
tem mais
torcedores
no Brasil.
SANTOS PALMEIRAS PORTUGUESA - BOTAFOGO FLAMENGO
Nome
CidadeEstado
z |
Endereço
| Qual é o clube mai* querido do Brasil?
1
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Qual é o clube mais querido do meu Estado?
Qual è o único jogador de futebol tn campeão do mundo'
l
Placar está lançando um sensacional concurso:
5
O Clube mais Querido.
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Você encontra um cupom, igual ao modelo do lado,
I«nas páginas de Placar
(todas as terças-feiras
j |
nas bancas). Preencha o cupom e envie-o para
Placar."
•
Todos os votos do Brasil serão apurados
II para sabermos de uma vez por
todas qual
é o time
L_ rwiwin
JI
Que tem mais torcedores.
AMERICA INTERNACIONAL GRÊMIO -ABC- CEARA - C R ¦ - BAHIA - VITORIA • CORITIBA
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O tlTÍlC VÔIlCCdOr ÚQ CcICÍâ 6StãCÍO TeCCbCrá UIT1 tFOféll.
0 clube mais querido do Brasil vai
ganhar um monumento de 1,60 m de altura.
E você também vai ganhar.
Votando no seu clube, estará concorrendo ao sorteio de
um VW SP 1 zerinho. Torcedor vnrp. nrp.piçfl inr»p«tí\/ar q §0y tiniC
PLACAR
às terças-feiras nas bancas
PLACAR
PARTICIPAÇÃO¦• •
P0S SP0RTS <R|0). O ESTADO (SC), TRIBUNA DO PARANA, DIÁRIO DA NOITE
(Sf). DIAmO DA TARDE (MG), O DIÁRIO (ES), O POPULAR (GO), O ESTADO DE MATO
?»»? ??' DIAmo DA SERRA (MT), GAZETA DE SERGIPE, O NORTE
(PB), GAZETA DE ALAGOAS, DIÁRIO DE PERNAMBUCO,
A TRIBUNA DO NORTE (RN), O POVO (CE),o ESTADO (PI), O IMPARCIAL (MA). O LIBERAL (PA).A NOTÍCIA (AM), O RIO BRANCO (ACRE),
DIÁRIO DE BRASÍLIA (DF).
Yote no seu clube e
ganhe umVW SP1 de PlACAft.
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uma fuga que o leve ao chefe da organização.
Mas para chegar a isso é preciso fazer-se amigo
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A fim de localizar os chefes de poderosa
quadrilha, um policial é mandado
para a mesma
prisão que o bandido. Seu objetivo: facilitar
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Uüudius,que
jõ morou no Holondo b no Itolio,
agora é professor
de Arquitetura na Suica. Aqui
ele da boas lições de como ter o que
contar
aos amigos, depois de urna excursão ã Europa
Qualquer excursão tem, certamente, uma série de surpresas. Elas podem
.^er agradáveis ou desagradáveis, e é de esperar-se que
todo turista queira,
quanto possível, eliminar a possibilidade de surpresas desagradáveis. Por
isso, ao pensar em ir à Europa
pela primeira vez, é bom que
ele se previna
quanto a alguns problemas que precisará enfrentar, antes, durante e depois
da viagem. Que países
visitar? Quais os documentos necessários? Como
obtê los? Como se comportar durante a excursão? Quanto dar de
gorjeta?
Como aproveitar as visitas aos museus e monumentos históricos? O que
comprar? O que
dizer aos amigos, na volta?
Mas como esses problemas não devem
parecer tão grandes a
ponto de
tirar o bom humor do turista, quem
responde a essas perguntas é o humo-
rista Claudius, velho conhecedor da Europa e do mundo.
Ele agora leciona na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Gene-
bra, onde é o ilustre professor assistente Claudius Sylvius Petrus Ceccon. É
também colaborador do semanário O Pasquim e de diversos jornais e revis-
tas européias, como cartunista. Com 36 anos, é casado e tem dois filhos:
Flávio, de dez anos, que também desenha
(já publicou alguns trabalhos no
Pasquim e no Jornal do Brasil), e Cláu-
dia, de oito. Depois de ter feito no Bra-
sil, com outros humoristas, os livros
Hay Gobierno?, Seis Desenhistas Brasi-
leiros de Humor e Dez em Humor, e de
concluir seus estudos de arquitetura, na
Universidade do Brasil, Claudius já
fez
diversos cursos de especialização em
planejamento e urbanismo e trabalhou
em Roma, Roterdam (Holanda),Chicago
(EUA) e no Chile. Está na Suíça desde
1968. Tem tudo, para
falar de viagens à
Europa de maneira bem humorada. E é
o que
ele faz, nas próximas páginas. O cartunista Claudius Sylvius Petrus.
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TURISMO..
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A GM não faria apenas mais um carrinho.
Simplesmente
porque
a GM
sabe
que
voce não iria comprar
apenas mais um carrinho.
Fbr isso, o carro
pequeno
da GM
tem mais desempenho, mais espaço,
mais conforto, mais estabilidade.
Eaté mesmo mais economia.
h como dissemos:
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A GM não faria apenas mais um carrinho.
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^¦ENCONTRAR TUDO tSÍD
EM OUTOO CARRO PB3UEN0.
Na primeira pagina
deste anúncio, simplesmente afirmamos uma série de vantagens do
Chevette. Agora e aqui, provamos porque
o Chevette é mais. Em frente.
Mais desempenho.
FáciL O Chevette tem um motor com comando de válvulas na cabeça e 68 robustos HP.
Sem entrar em detalhes técnicos, isso se resume no seguinte: desenho moderno e construção
simplificada, para
oferecer o máximo de desempenho com o mínimo de consumo e manutenção.
Se você reparar, vai ver que quase
todos os carros de corridas do mundo usam e abusam de
iâotores com comando de válvulas na caoeça. Eles devem ter boas razões paraisso.
Você precisa
de um motor desses para
evitar aborrecimentos em subidas longas e fogremes,
ou com camtnhfies que
a& andam e nem saem da frente. Boas razGes também.
Maisespaç^wYV* rn**fcrto. ^S .
O Chevette foi desenhado para
ser um carro pequegio por
fora egrande por
dentro. E ele é.
No Chevette você tem espaço para
5 pessoas,
e não apenas bancos para
5 pessoas.
Muito espaço mesmo para pernas, quadris,
braços, ombros, e cabeças que
nunca encontram o teto.
^^^^^^Èissoservçtgwjénipara a bagagem. O porta-malas
do Cnevette tem capacidade quase
duas
e meia maior que
a daquele carrinho que
você conhece tík> bem. Chevette: espaço, enfim.
Mais estabilidade. < ii
O Chevette faz
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no Brasil, onde nossas cufvas estão cheias de estradas.
^^^^HmP^^^^Hcurva
como se tivesse sido construído para
ela, sob medida. Primeiro,
^^^JCheyette tem estilo aerodinâmico,
que oferece menor resistência ao vento. Isto faz o Chevette
^^^^^^¦^Mlpoiqpe
o Chevette tem sÉipensão dianteira mdepéndente, com molas helicoidais
3as. lão faz o Chevette estável Terceiro, porque
o Chevette tem barras estabilizadoras,
Isto faz o Chevette estável Parece que
ficou claro: o Chevette é estável
E até mesmo mais economia.
Depois de tudo isto, é até difidl acreditar em economia* Mas pode
acreditar, porque
é verdade.
Õ Chevette é o que
se pode
chamar de um cano econômico. A manutenção é rara e simples:
óleo, só a cada 5 mil km; lubrificaçãoda suspensão, nunca; e assim por
diante. Para finalizar, o Chevette
é o carro pequeno que
menos bebegasolina neste país.
O Chevette é mais econômico. Em tudo.
Golpe de misericórdia.
Agora que
você já
está suficientemente convencido da vantagens do Chevette e
razoavelmente disposto a comprar um, pedimos:
esqueça-se de tudo o que
você leu nestas páginas.
Basta que
você vá até o Concessionário Chevette/Chevrolet mais próximo,
e que
você dirija
um Chevette. Isto, por
si só, já
é mais que
suficiente.
A GM não faria apenas mais um carrinho. ¦ ^oL
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