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MAIO 1973

UMA PUBLICAÇÃO

DA EDITÔRA ABRIL

ANO VIII — N.° 86

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! I |p Seis

receitas de comprovada 0

eficiencia no ramo

dos afrodisiacos; experimente.

p [ ! [|(

Dos 309 deputados da Camara. 42

tem menos de 40 anos.

0 que pensam e pretendem fazer?

ECONC)M iA Todos estao atras do 26

ouro. E assim que

comeca a derrota do dolar.

COMPORTAMENTO havendo

uma volta ao passado

Na moda, na rrausica,

no cinema. E a nostalgia.

J jCf

MA Melancolia, depressao, fossa. 46

Tudo e a mesma coisa.

0 importante e escapar dela.

AVFMTi ji-r Um fotografo italiano faz as £1^

primeiras fotos do

gorila gigante, na selva do Zaire

CC DEO A Os melhores trechos do livro f-\~7

LOrtvJAL A Gaivota, um dos ^

maiores/jest-seders do momento.

\ /li li LJIID "Se me dessem o papel de uma

MULHtK gra-fina. acho que nao /D

conseguiria fazer." E Regina Leclery .

FSPIONAGEM A

tecnologia da guerra do Vietnam 82

J aplicada aos problemas

dom6sticos dos Estados Unidos.

Ft J TFBOL ^

Selecao de 50 reunida outra 88

vez no Maracana.

0 que aconteceu com ela ?

HUMOR

A Europa para turistas de primeira

viagem; uma visão (com

muito humor) do cartunista Claudius

você ajeita 6om.o puDeí^

^ POLTTPOMS e>R5C»AiMtMC

PlCMt Jv t COKrrf K'vk:-MvrA5

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EDITORA ABRIL

Editor • Oirutor VICTOR ClVITA

Diretoras: Edgard de Silvio Faria Richairi Civita Roberto

Civita

Conselho Editorial Edgard de Silvio Faria Hernsm Dona

to. Mino Carta. Odylo Costa filho Pompeu de Sou/a

Richard Civita Roberto Civita e Victoi Civita

REALIDADE

Editoras: Audálio Dantas. Hamilton Ribeiro Mano Esco

bar de Andrade Roger Bestei (fotografia)

Redatores a Repórteres Antônio Euclides Teuena Patn

cio Renato. Ruv Fernando Barbo»

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REALIDADE e uma publicação da tditrtra Abril Ltd.i Radaçáo «iv Otaviano Ai.es dolima 800. tels 266 0011 «206 0022 Publicidada a Correspondência av OtavianoAlvo» d«* Lima 800 tels 266-2842 (Grupo Comercial Femin.np) 266 2921 (GrupoComercial Masculinoi a 266 2906 (Grupo Comercial do Revistas Técnicas) AdminiatraçAo r EmHio Goaldi 576 tatl 5111. caisa postal 2372 tale* 02 l 503 SéoPaulo/Tale* om Nova York fedabnl 423 063 I«critérios Balém trav Campos Sales9RR 4* andar «»l«« 401 'v Beln Hnrirnnta r Álvaro* Cabral 90fl tel ?7 17?0 telex037-224. telegramas AhrilprattvBraailia SCS Proietada 6 Edifício Contrai 12."andar, tala» 1201/8 tels 24-9160 a 24 7116 telegramas AtjniprnswCuritiba rMarechal Floriano Peuoto 22B. Edifício 8anri»ul 9 "andar conjs 901/2 tal 23 0262a 22 9541 telegrama*. Abrüprass/PoKo Alegre av Otávio Rocha 11b 11" andarconjs 1102/3 tel 24-4778. telegramas Abrilpres» Racife r Siqueira Camj>os 45Edificio Lygia Uchoa Madeiro* conjs. 204/5 tal 24 4957 telegramas Abrllpre**/Rioda Janeiro r do Pattfteio 56 6."/1 1 • andares tels 222 4543 222 988b e253 3740 caixa postal 2372 tela* 031 -451'Salvador : trav Bonifácio Costa 1 Edificio Martins Catarlno salas 903/4 tels 3 6301 a 3 6605 telegramas Abrilrres& Diatribuidoraa am BAo Paulo: AGÊNCIA PENHA rua Antônio da Barros. 435 / AGÊNCIALAPA rua Joáo Pereira, 197 / AGÊNCIA JARDIM rua Joaquim Floriano 427 / AGÊNCIA ABC rua 15 da Novembro. 107 - Sto André / Diatribuidor nos EUA M&Z Roprosantativaa. 112 Foriy Stroat Nawark NJ 07105 tal (2011 589 2794/ Proco doeaemplar avulso o constante na capa/ Preço da assinatura o mesmo do exemplar avulso mais o frete reqistrado do superfície ou aéren multiplicado pelo número de ediçõesdo período deseiado (máximo de um ano minimo de sois meses) / Ninguém estácredenciado a anqariar assinatura se for procurado por alguém denuncia-o ás nutondadas locais / Numoros atrasados ao preço da ultima edicéo em banca por intermédiodo seu lornaleiro ou no distribuidor Abril do sue cidade Em Séo Paulo av Tiraoentes1391 r Séo Domingos 212. r Antônio do Burros 435. r Joio Pereira, 19 7 r Joa

quim Floriano 417 r Domingos de Moraes 1851 . r Barlo de Cnmptnas 452 r Oraooqu*' 9 1 no ABC r 15 de Novembro 452 (Santo André) no Rio de Janeiro r Sacadura Cabral 141 pedidos paio correio caixa postal 945 Séo Paulo / Temo* emestoque somente as ultimas seis edições / Todos os direitos reservados ' Impressa edistribuída com exclusividade no país pela Abril S.A Cultural e Industrial Séo Paulo Asopiniôen dos artigos assinados náo séo necessariamente ns adotadas por esta revista

podando até ser contrárias ás mesmas

CARTAS

O PESO DO

IMPOSTO DE RENDA

Sr. Diretor: Palmas pela oportu

nidade da reportagem sobre o iní

quo imposto de renda relativo à

pessoa física. Pena é que nào fbs

sem mais explorados os pontos

mais importantes da questão,

principalmente o que diz respeito

às despesas de cada um para sus

tento próprio e da família.

André da Silva Neto

Santos — SP

Sr. Diretor: Deus o abençoe pelo

artigo do imposto de renda. Mas

posso discordar da entrevista do

sr. ministro? Ele diz que ninguém

compensa os sacrifícios do pre-

sente com os benefícios do futu-

ro. E os santos? e os que pagam

um terço e um quarto de sua

aposentadoria para o imposto de

renda, sem chorar para evitar

maiores complicações? Quando

o eminente, ilustre e mui esclare-

cido ministro ficar velhinho, apo-

sentado, como eu, que tenho

oitenta anos, verá que a classe

média que ele acha difícil de defi-

nir é a que mais sofre. Nós velhos

pertencemos a uma classe despre-

zada, humilhada, incômoda para

todos e até para nós próprios.

Luíza P. C. Branco

Sào Paulo —

SP

Sr. Diretor: Faltou dizer, quanto

ao imposto de renda, que existe

uma injustiça para o con.tri-

buinte, quer pessoa física, quer

jurídica, ou seja, não se poder

abater no ano seguinte como des-

pesa o imposto pago no ano ante-

rior, o que constitui uma bitribu-

tação. E ainda que existam muito

poucos fiscais, e apesar da com-

putaçào eletrônica, é grande o

número de sonegadores,

Adalberto Theodoro Schmidt

Ijuí—RS

Sr. Diretor: Na reportagem Os

Demônios do Imposto de Renda,

fala-se que o desenhista Percy

Deane ganha 5 000 cruzeiros e

paga 450 de imposto de renda. Se

o teto do INPS refere-se a 10

salários mínimos, como pode o

desenhista recolher tanto?

Sérgio Kronka Beluzzo

Bariri —

SP

Os 450 cruzeiros são a soma dos

descontos pagos ao INPS por

marido e mulher, assim como

5 000 cruzeiros è a renda fami

liar.

RENDA

CONCENTRADA

Sr. Diretor: No artigo sobre

distribuição da renda, REALI

DA DE abandonou seus padrões

de análise crítica pela badalaçào

das credenciais acadêmicas do

professor Langoni. Afinal, os

resultados que ele expõe vão

desde o banal ("a renda é mais

mal distribuída nas cidades do

que no campo") até o absurdo

("os investimentos feitos hoje em

saúde, no Brasil, sào um exemplo

típico de desperdício"). Chega a

declarar que

"a educação é o

maior responsável pela concen

tração da renda no Brasil" (além

do crescimento econômico), con-

fundindo causa e efeito (a má

distribuição da renda também

leva à má distribuição da instru-

çào). Diz que conseguiu o 7.°

lugar no vestibular "porque

nào

fez cursinho", frase que revela

preconceitos típicos do seu traba-

lho. O fato é que, dados o vesti

bular e as deficiências no ensino

secundário, poucos alunos conse

guem entrar nas faculdades sem

o cursinho — e os meios finan

ceirosde fazê lo.

Charles L. Wright

Piracicaba — SP

O DÉFICIT

DE NEGRÃO

rando como real a importância

dc 630 milhões, isso eqüivaleria a

23% da receita prevista, e sabe

mos que esta foi superada.

Como, portanto, comprar, em

face desses dados, com o déficit

que recebi da administração an

terior, aquele que meu governo

transmitiu ao meu sucessof?

Francisco Negrão de Lima

Rio de Janeiro — GB

EM DEFESA

DA CERVEJA

Sr. Diretor: No artigo assinado

por Pedro Alexander Pinto, na

reportagem Rio, Ex-Capital h'e

deral, afirma se que a boate Ka

takombe "tenta

ser ao mesmo

tempo alemã e tropical, e para

conseguir isso serve bebidas du

vidosas e mostra mulatas apet«to

sas". Casa noturna com mais de

vinte anos de tradição, nosso

chope é famoso, modéstia à

parte, porque conservamos o

mesmo sistema de "tirada"

usado

nas melhores cervejarias alemãs.

E todas as nossas bebidas estão

permanentemente à disposição de

quem quer que seja para qual-

quer vistoria. Por isso, ficamos

tristes e magoados com a obser

vaçào. Só nào ficamos porque o

autor do artigo é ilustre desço

nhecido, inteiramente deslocado

do contexto carioca.

Luciano — Katakombe

Bar e Restaurante Lida.

Rio de Janeiro —

GB

Sr. Diretor: Na excelente reporta

gem sobre o Rio, publicada em

fevereiro último, lê-se: "Encon-

trando um déficit de 630 milhões

de cruzeiros (equivalente, mais

ou menos, ao de 200 milhões que

Negrão herdara de Lacerda). . ."

Data venia, essa equivalência é

absurda. Meu governo herdou do

seu antecessor a dívida de 229

milhões de cruzeiros, equiva-

lentes a 44% da receita arreca-

dada em 1966, primeiro ano da

minha administração. Meu go

verno, segundo parecer do Tri-

bunal de Contas do Estado,

aprovado por unanimidade,

transmitiu ao meu sucessor uma

dívida de 491 milhões de cruzei-

ros, equivalente, mais ou menos,

a 17% da receita prevista para

1971. Como nesse ano houve

superávit, a relação receita-

dívida foi ainda inferior ao per-

centual de 17%. Mesmo conside-

OCORPO DO

PRESENTE

Sr. Diretor: Se o ser humano

fosse apenas o corpo, poderia

mesmo doá lo, para depois da

morte física. Mas a nossa parte

imortal, o espírito, está ligada ao

corpo físico, e nào se desliga

imediatamente após a mortefísica.

E se houver a doação, a pessoa

sofrerá em* espírito a estirpaçào

do órgão, como se estivesse viva,

c seu espírito não se desligará,

enquanto o órgão viver no corpo

de outra pessoa. Para reconhecer

melhor o assunto, basta ler a

Mensagem do Graal (Na Luz da

Verdade), Abdruschin.

Zilma Bueno Bittencourt

Curitiba — PR

Sr. Diretor: Sou religiosa e sem

qualquer preconceito. Tenho 28

4

Escrava para a Ravista REALIDADE

Caixa Postal 2372

Sáo Paulo — SP

anos, sou casada e tenho boa

saúde, ao que parece. Caso possa

fazer agora, ern vida. a doaçao de

todo o meu corpo para fins de

ciência, estou disposta a fazê Io,

embora nào saiba como. Pode

me responder ou entregar esta

carta ao Hospital das Clínicas?

Quero também felicitar o jorna

lista José Hamilton Ribeiro por

sua luta e pela continuidade de

seu trabalho, que nos propor-

ciona artigos como o da doação

de partes do corpo para o bem do

próximo, cheio de lucidez e bom

senso.

Ana Maria Almeida Xavier

Rio de Janeiro — GB

Encaminhamos sua carta à dire-

ção do Hospital das Clínicas de

Sáo Paulo.

CONTRA

OS IMIGRANTES

Sr. Diretor: Em adendo à carta

do leitor R. Silveira, que sugere a

proibição de que retirantes doen-

tes, pobres e analfabetos pene-

trem em território guanabarino,

quero sugerir que, para salvar

nossa Cidade Maravilhosa, nào

se vote em candidatos cabeças-

chatas ou de outros Estados,

como fazem aqui em Minas e em

outros lugares. Devemos eleger

apenas candidatos da própria

terra, que só pensarão no bem

dos seus conterrâneos, em vez de

protegerem os migrantes.

Carlos A Iberto Benevides

Belo Horizonte — MG

A FACULDADE

INEXISTENTE

Sr. Diretor: Na reportagem sobre

integralismo, falou-se do "mé-

dico e professor Domingos da

Silva Lima, da Faculdade de

Medicina de Ilhéus, Bahia". Essa

faculdade nunca existiu.

A Ifredo Rodrigues

Ilhéus — BA

REALIDADE errou. A Facul-

dade é de Salvador, Bahia.

ENDEREÇOS

DO MAR

Sr. Diretor: Participo de um

empreendimento que visa à cria-

ção de peixes e crustáceos e,

numa de nossas reuniões, discuti-

mos matéria de REALIDADE

sob o título O Cientista Almiran

te, que se refere ao almirante

Paulo Moreira da Silva, e outra

intitulada O Camarão Aprisio

nado, que trata da Acaspec.

Gostaria que vocês nos dessem

os endereços.

João Ricardo Drummond

Niterói — RJ

Os endereços são estes: Almi-

rante Paulo Moreira da Silva:

Fundação dos Estudos do Mar,

rua Marquês de Olinda, 18, Bota-

fogo, Rio de Janeiro,

GB.Acaspec —

Associação de

Crédito e Assistência Pesqueira

de Santa Catarina, rua Francisco

Tolentino, 10, Florianópolis, SC.

A FALTA

DE POESIA

Sr. Diretor: Ao ler o artigo Os

Heróis Depois da Volta, sobre os

astronautas, concluí que o

homem nào passa de uma crian-

ça mimada. Acho que, realmente,

o que falta aos astronautas é um

pouco de espírito poético. Alan

Shepard, por exemplo, revela,

com o que diz, ser um verdadeiro

materialista. E acho que por falta

de poetas é que o mundo passa

por tanta miséria e tanta malda-

de. Os seres humanos se esque-

cem de que existe um Criador, e

que não se chega até ele apenas

com aviões a jato ou foguetes.

Edmundo Buzzo Filho

Sao Paulo — Capital

A DEFESA

DO SUL

Sr. Diretor: O leitor João Eucli-

des da Cunha, de Maranguape,

Ceará, cuja carta foi publicada

no número 84 dessa revista,

desrespeita até o nosso eminente

chefe, o presidente Médici, que

está levando o progresso ao nor

deste e que também é sulista e

descendente de estrangeiros. Os

descendentes de imigrantes traba-

lham e produzem riquezas para o

progresso do nosso querido país.

Aquele leitor se esquece de que o

clima aqui no sul, em certas épo-

cas do ano, produz temperaturas

abaixo de zero, que uma popula-

ção subnutrida nào agüentaria.

Seria um dispare trocar as popu-

lações do sul e do nordeste.

Quanto às cascavéis, é bom lem-

brar que as do sul sào mais fortes

e mais bem nutridas, e por isso

mais perigosas.

Antonieia Petroni

Curitiba — PR

Sr. Diretor: O nordeste, uma das

regiões mais atrasadas do

mundo, merece mais atençào dos

órgãos governamentais. A Sude

ne fracassou em 90% dos seus

objetivos, isto porque deu muita

atençào à industrialização nas

capitais, o que provocou enorme

deslocamentos de pessoas do in

terior. O certo seria começar pelo

interior, como ocorreu em Sào

Paulo com o ciclo do café.Mas

com esse erro nasceram as dezes

seis grandes favelas do Recife. Se

tudo permanecer como está, o

nordeste será sempre a região

mais atrasada do mundo, segun

do os técnicos da FAO, ONU,

UNESCO, etc.

Joel Massa de Carvalho

Nova York — EUA

O JOVEM

QUADRADO

Sr. Diretor: Quanto à reportagem

Nossos Jovens São Quadrados,

quero dizer que sou jovem, tenho

23 anos, acadêmico, desejo ar-

dentemente uma pátria de ho

mens de responsabilidade e estou

certo de que esse cabotinismo

intelectual dos jovens está con-

correndo demais para a igno

rância e, conseqüentemente, para

a subversão. O jovem está se

esquivando dos deveres cívicos,

entregando-se totalmente ao ho-

mossexualismo. Os moços estão

amofinados, recusando-se até ao

serviço militar só para nào cortar

os cabelos e as barbas longas, e

imagine o senhor se estivéssemos

na iminência de uma convocação

bélica!

Carlos José Ibiapina

Natal — RN

A HEDIONDA

RESSACA

Achei espetacular a reportagem

sobre a ressaca, de Luís Lobo

Ele soube retratar com fidelidade

esse hediondo mal que constante

mente nos persegue, e deu ótimos

conselhos. Coloouei-os na prá

tica com excelentes resultados.

Espero que esses esclarecimentos

moderem as bebedeiras e nào

façam criar ébrios inveterados,

pois os problemas dos tóxicos

podem incontestavelmente con

duzir a um final drástico. Infeliz

mente a juventude ainda nào se

defende bem dessa hedionda ver

dade.

A ntônio de Pádua Pereira

Aguanil — MG

ALÔ, ALÔ

WILSON RIO APA

Desde que fo publicada a Edição

de Cidades de REALIDADE, n.°

74, maio de 1972, tenho tentado

entrar em contato com o escritor

Wilson Rio Apa, pessoa que a

rece levar um tipo de vida com

que simpatizo. Como até agora

nào consegui localizá-lo, solicito

que me forneçam o endereço

dele, ou, se for melhor, que publi-

quem essa carta com o meu ende

reço, para que Wilson Rio Apa

se comunique comigo. Teria

muito prazer em trocar idéias

com ele, depois do que li a seu

respeito nas páginas 206 a 208

da Edição de Cidades. Meu ende

reço é Rua Peixoto Gomide 326,

apto. 64, CEP 02409, fone

256 4582, Cerqueira César, Sào

Paulo, SP.

Décio Coltro

São Paulo — SP

OTRABALHO

DE UM ANO

Está ótima a reportagem sobre

"Um ano em busca dos gigan

tes", na qual Orlando e Cláudio

Villas Boas sào retratados como

uma verdadeira ponte entre o

índio e o homem civilizado. Pa-

rabéns por esse belo trabalho,

principalmente por essas belas

fotografias, mostrando as princi-

pais atividades do índio e a ver-

dadeira natureza em que ele vive.

Mariano Cyganczuk

Curitiba — PR

Notável o trabalho do repórter-

Luigi Mamprim sobre os índios

gigantes. E foi comovente ver a

foto em que aparece aquela sim-

pies mas belíssima homenagem a

Sérgio Porto, dando seu nome ao

posto de trabalho da imprensa na

selva.

Jacob S. A Itman

Rio de Janeiro, GB

ROTIRO

Minhas senhoras, senhores: e

preciso que. agora, nós faça'mos

um minuto de silêncio diante da

informação de que a poluição m>

nora está redu/indo sensível

mente (?!) a capacidade sexual

do homem E onde se lê do

homem, leia se da espécie, por

que a mulher nào pode fazer "ou

vidos de mercador" ao excesso

de ruído que. segundo os cicntis

tas. tem levado até à impotência.

Fntào. silenciosamente, passe

mos ao nosso breve discurso em

torno das armas que nào atiram.

Do muito que li. ouvi e experi

mentei nesse campo e nas cida

des, o certo é que há anafrodi

síacos: álcool demais, fumo cm

excesso, muito café. o uso conti

nuado de tranqüilizantes e baru

lho demais, para só citar os cin

cos maiores. em termos

estatísticos.

Ora. direi: se há anafrodi

síacos. tudo leva a crer que haja

afrodisíacos. E vos direi que

assim é. porque de fato há práti

cas, filtros, comidas e bebidas

que estimulam o desejo sexual.

Onde a confusão é grande é na

definição de afrodisíacos. Em

verdade vos digo que os afrodi

síacos são capazes de estimular,

prolongar e até mesmo de desper

tar o apetite. Mas, como bem

notou e, segundo dizem, também

provou o Marquês de Sade, o

apetite nào é tudo: há os que

Em grandes quantidades, o álcool atua como inibidor da potência

sexual. Mas bem dosado ele é conhecido como afrodisiaco, sobre

tudo na forma de alguns coquetéis. Luís Lobo, especialista na maté

ria (isto é, de coquetéis), dá aqui uma pequena lição para princi

piantes, acompanhada de seis receitas de comprovada eficiência.

Aos coquetéis

afrodisíacos

comem sem apetite, assim como

há os que têm um apetite formi

dá\el mas são incapazes de

comer. Em outras palavras: o

interes^nte. no di/.cr do saudável

Nhô Chico, que em Cachoeiro do

Kio do Vento teve filho até de

pois dos oitenta anos. o interes

sante. di/ia. é juntar a fome com

a vontade de comer. Ou de beber.

Que nisso de bebida afrodi

•>íaca estào aparecendo muitos li

vros de receitas, prometendo

mundos e fundos no sentido de

elevar (com o perdão da má pala

vra) o nível da libido das senho

ras e senhores.

No duro, no duro. não há

receitas mágicas e poções mila

grosas. Diz-se que Hércules, de

pois de beber satyricon, foi capaz

de deflorar as cinqüenta filhas de

Tcspius. Mas isto é mitologia,

embora Petrónio, no Satyricon,

escrevesse que provou da bebera

gem, o que começou a induzir

cada uma das sua> fibras a

lascívia. . .

Nào c a toa que ü\ídio, nu

\rie de Amar. condena os que

"ensinam o poder eficaz das

ervas", por crer que

"tais coisas

envenenam o amor". E certo que

o que se usava provocava ho

mens e mulheres daquela época a

grandes façanhas, mas é duvi

doso que daí derivasse grande

prazer e nào muito prejuízo.

O xeque Nefznaoui, autor do

Jardim das Delícias, oferecia ele

também muito de beber "para

o

tratamento do enfraquecimento

do desejo sexual". Como a bebe

ragem feita com o fruto da aroei

ra da praia espremido e mace

rado com óleo e mel. Ou a

semente da cebola pisada, penei

rada. misturada com mel e bebi

da em jejum. Ou as ervilhas ver

des fervidas com cebolas e

polvilhadas com canela, gengibre

e cardamomos bem pisados. Para

— - -

CCV~ i

os muito rápido> o xeque reco

mendava mel bem ralo com no/

moscada e incenso. E para os

muito lentos sugeria leite de ca

melo misturado com mel e toma

do regularmente receita que

poucas vezes chegv>u a ser experi

mentada em nosso meio, devido à

dificuldade de obtenção de leite

de camelo. Mas. de todos os con

selhos, preferia um: "Bebei,

de

preferência, o que a vossa amada

tem. ela mesma, para oferecer. E

melhor afrodisiaco nào há".

O Kama Sutra receita leite

misturado com açúcar, rai/ de

uchata, ovos de codorna e alca

çu/, mesma receita que aqui. sem

a uchata. chama o povo de "guin

daste.v> A mesma fonte sugere

ainda (oferecendo "ótimos

rcsul

tados") beber leite com açúcar

fervido com testículos de bode. E

mais algumas dezenas de mistu

ras geralmente impraticáveis

para nós. pobres ignorantes que

nào sabemos o que é a Sanse

vieria roxburghiana, a / rapa bis

pinosa, a kasurika, o jasmim

toscano ou a kshirakapoli.

Já os orientais, principalmente

os chineses preferem o suco de

gengibre e, mais ainda, a sopa de

ninho de andorinhas do mar.

realmente um grande potcnciali

zador de desejo e ereçào, por

conta das algas e das ovas de pei

xes e crustáceos.

Se continuarmos na biblio

grafia acabaremos passando por

bebidas incríveis que figuram nos

rcceituários afrodisíacos da

Idade Média na Europa, com*.) a

urina de uma virgem de dezesseis

anos e o sêmem de veado adulto,

como está nos escritos de Pauli

nus.

Mareei Rouet, autor de Le

Paradis Sexuel des Aphrodi

siaques (traduzido, no Brasil,

para O Paraíso Sensual dos

Afrodisíacos) e lançador das

bases do que considera uma ciên-

cia, a afrodisiologia, é quem traz

atualmente as melhores informa

ções a respeito. Escrevendo sobre

o erotismo sensorial, M. Rouet

sugere que a única maneira de

chegar ao sexo profundo é voltar

a desenvolver os sentidos: o pala

dar, o olfato, a visão, a audiçào,

o tato. todos esses sentidos que

estamos comprometendo cada

segue

ò

Osr. Luiz Daniele, motorista de táxi,

trabalha com Opala

porque

é o carro

que

dá mais dinheiro na

praça

O ponto

do sr. Luiz é na

Rodoviária de São Paulo,

lá no fim da Av. Duque de Caxias.

Pelas 4 largas portas

do seu Opala

Especial azul, entram e saem

as mais variadas pessoas.

E quase

todas saem sorrindo,

deixando uma boa gorjeta.

"O

conforto do passageiro

é importante. Passageiro espremido,

gorgeta também".

Ninguém melhor do que

o sr. Luiz para

falar disso Ele roda

pela cidade, sempre carregado de

gente e bagagem. E seu Opala leva

5 passageiros

com todo conforto.

Não chacoalha, não trepida,

não deixa o passageiro agitado.

"250

km por

dia,

sim senhor. Mais ou menos".

250 km com 25 I itros.

Mais ou menos. Com toda a

potência do seu motor de 4 cilindros

e 2500 cc, o Opala consegue ser

um carro econômico. É só fazer

as contas.

"Não

dá dor de cabeça.

A gente

só vai em oficina, quando

algum passageiro

vai buscar

o carro dele que quebrou".

Sem comentários.

"Estou

com a vida

e o faturamento que pedi

a Deus.

Há 25 anos, sempre trabalhei com

Chevrolet. Com o Opala,

desde que

ele saiu".

Para o sr. Luiz Daniele.

o Opala é o carro perfeito. Qualquer

dia desses, passe na Rodoviária

para conhecer os dois.

E decida-se pelas

vantagens

de um Opala. O que

o Opala faz

pelo Sr. Luiz, o Opala faz

por você.

Chevroletr

Nfocê terá suas próprias

razões.

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ROTEIRO contin<<acio

POR CORRESPONDÊNCIA

Você quer saber o que é Parapsicologia

- Telepatia - Clarividência -

Precognição - Superstição

- Radiestesia-

Copo Advinhatório - etc.?

Será que existe fundamento na macumba,

no feitiço, no despacho?

Há casas e lugares "assombrados"?

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negativa dos outros?

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de Parapsicologia por correspondência, organi-

zedo por uma equipe de professores e médicos

do Instituto "Mens

Sana", com um ano de du-

ração. No fim do curso será dado um certificado.

Condições:

1.°) Pedido de inscrição (mande nome e endereço

bem legíveis).

2.°) Taxa de Cr$ 20,00 mensais, com direito ao rece-

bimento das lições e correspondência.

3.°) As mensalidades devem ser enviadas por cheque

visado, endereçado ao Instituto de Parapsicolo-

ia "Mens

Sana" - Av. Cons. Rodrigues Alves,

- Vila Mariana - 04014 - São Paulo.

4.°) No final do curso haverá uma prova-teste em sua

, casa. Os aprovados receberão certificado.

gia

804

vez mais com os diversos tipos de

poluição (a do ar, a das águas, a

da terra, a sonora e ate mesmo a

visual) e que estào fazendo com

que nossas armas fiquem enferru

jadas.

E é no capítulo da afrodisia

oral que ele coloca os coquetéis

afrodisíacos, apenas um detalhe

na fachada da catedral do amor.

A folhas tantas, está a adver

tcncia: "Os

coquetéis que exci

tam a mulher nào têm. necessari

mente, o mesmo efeito sobre o

homem. Inversamente, a mulher

• nem sempre se beneficia de uma

bebida afrodisíaca que serve ao

parceiro".

Depois de afirmar que há bebi

das que

"levam o casal ao

mesmo diapasào", M. Rouet

acrescenta, sem justificar sua in

formação: "Os

coquetéis cuja

base é o champanha convém

mais particularmente à mulher,

porque as colocam em excelente

disposição"'. Os contendo gemas

de ovos nos parecem ser bebera

gens nas quais os amantes encon

tram novas forças que permitam

prosseguir em seus embates."

"As bebidas secas põem o

homem em feliz disposição."

De toda forma, aconselha-se

prudência ao beber. Do ponto de

vista técnico, o álcool produz

energia de alto valor calorífico,

sendo o alimento que o orga

nismo assimila mais pronia

mente, por nào exigir processo

digestivo ou qualquer outro es-

forço. Um .coquetel fornece cerca

de sete calorias de energia por

grama. E enquanto é absorvido já

começa a inibir parcialmente a

ação vaso constritora, provo-

cando uma ação dilatadora dos

vasos sangüíneos e um afluxo

maior de sangue nos pequenos

vasos da superfície do corpo.

Daí. . .

Relaxante dos nervos, só não

podemos é passar do ponto

exato, porque então ele passa a

funcionar como inibidor, atuan

do sobre o tecido nervoso. Doses

excessivas de álcool anestesiam o

cérebro, provocam fadiga, falhas

na coordenação motora e inércia

muscular. Daí. . .

Dito o que, passamos a algu-

mas receitas de coquetéis afrodi-

síacos. E no mais, senhoras e

senhores, encerro meu breve dis-

curso lembrando o mote de um

cavalheiro das minhas relações

que morreu com mais de oitenta

anos e em plena forma, apre-

ciando todos os prazeres da vida:

"A arma que não atira é que

enferruja".

Às armas, cidadãos!

A laranja

mecânica

Duas doses de champanha

seco, uma de suco de laranja

espremida na hora c seis gotas de

amargo angustura.

Pick-me-up

Num copo fino e alto, cheio de

gelo moído, derrame o suco fres

co de meia laranja, uma dose de

curaçau. uma dose de Drambuie

e complete com champanha seco.

Mexa. Ponha por cima pequenos

pedaços de laranja e limão. Sirva

com canudinho de palha.

Canadian

Love

Numa taça com gelo picado

pingue duas gotas de angustura.

outras duas de curaçau e uma co

lher (das de café) de xarope de

açúcar. Aí, é só completar com

uísque canadense, juntar casca

fina de limão e servir com canu-

dinho.

Ruiva

sanguinária

Para cada dose de suco de to

mate junte uma pitada de pimen

ta do reino, outra de pimenta

branca, outra de noz-moscada e

outra de sal de aipo. Mexa bem.

O escocês

voador

Uma pitada de noz-moscada e

outra de pimenta preta. Dissolva

em quanta angustura for necessá

ria. Junte uma dose de licor de

uísque (Drambuie, por exemplo).

Beba tragando o licor, como

quem estivesse fumando, em pe-

queninos sorvos, e com cuidado

para nào engasgar.

B B

Junte dois ovos crus a dois

copos de leite e bata até espumar.

Deixe assentar a espuma e junte

uma pitada de sal, duas doses de

sherry (sherry e nào cherry, que-

rida!) e duas colheres (das de

sopa) cheias de mel refinado.

Torne a bater e sirva-se, bebendo

devagar.

88888188888^

Canoe abre o

jogo.

Paris - New Y ork

Colônia, Sabonete, Talco, fixador, Creme de Barbear, Loção após Barba.

IljMpsHHHttlilllBHHIHHHHIMiHMI^^B^M

K&ra{£ a—MMmlii1 i Ife'jS^^atiffli^E^^B1 \f^^l£$HSfl^H^H^H^HH^^^H«H^HI^^^^H^^HnHfiHPtm^3wQiIi!fi&l&Sr^]IH

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ROTEIRO

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O preço

da arte

Marinho de Azevedo tenta descobrir onde é mais barato comprar

quadros e objetos de arte, comparando preços no Brasil e exterior.

Dois objetos nunca são identi

cos c. muito menos, dois objetos

de arte. O mercado, porém, fun

ciona à base de comparações: se

pagaram tanto por um trabalho

de um pintor, em Paris, um desc

nho dele deve valer mais ou

menos tanto, em São Paulo ou no

Rio de Janeiro. Sào comparações

baseadas em critérios sumários

tudo depende da obra. do

local e da época da venda. No

Rio de Janeiro por exemplo, um

súbito temporal pode esvaziar as

salas de um leiloeiro e fazer com

que obras de valor sejam vendi

das abaixo do preço estipulado

anteriormente. Mas se o leiláo for

realizado na casa de alguma

família de nome conhecido, peças

sem interesse (que. muitas vezes,

nem pertenceram ao proprietário

da casa) podem ser arrematadas

a preços absurdamente altos.

Quando nos detemos nas

obras de cotação internacional, a

comparação fica ainda mais inte

ressante. I a lógica ainda mais

difícil de ser definida. Há obras

de arte de valores internacio

nalmente conhecidas que. no

Brasil, sào vendidas a preços

incompatíveis com os do merca

do internacional. Algumas muito

mais caro, outras bem mais bara

to. A verdade é que aqui poucos

sabem o que estão comprando e

vendendo, o que dá margem às

mais diversas confusões de valo

res.

Numa tentativa de compara

çào. escolhemos seis peças vendi

das (ou à venda) no Rio e em Sào

Paulo e similares vendidas no

ano de 1971 72 pela Soíhebv 's

&

Park Bemet em Londres e Nova

York. É preciso levar em conta

que as pinturas e os objetos ven-

didos no exterior foram escolhi

dos entre os de melhor qualidade

e os mais raros. A escolha nem

sempre é possível no Brasil. Mas

a comparação dá uma idéia das

características de nosso mercado.

(Sào Paulo)

Baccarai: CrS 2 000,00

tiaccarai: CrS I 500 00 Saini l ouls: CrS I 800,00

(par de maçanetas).

^

(Londres).

'Baccaral: CrS 16 500.00.

Baccaral: CrS 21 750,00.

Saini Louis: CrS 39 000.00.

Baccaral: CrS 21 750,00. Baccaral: CrS 16 500.00.

Os pesos de papel .vendidos em Londres são excepcionais.

Mas os preços não podem ser comparados.

¦

Fernand Léger:

"Quadro Objeto'

CrS 150 000.00.

São Paulo.

Fernand Léger:"Paisagem

A niniada ",

CrS 435 000,00.

Nova York.

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O "Carlitos"

é bem menos representativo da obra de Léger que a "Paisagem",

mas ainda assim

foi vendida bem abaixo de seu preço no mercado internacional.

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Cadeira holandesa, séc. X VIII.

Crí 24 000.00 o par (Rio).

Cadeira holandesa.

Séc. XVIli.CrS 22 500.00

as quatro (Londres).

Dois óleos que só interessam a colecionadores

especializados. O Rio é mais rico que Londres?

Exemplos das disparidades entre

nossas cotações e às do exterior.

Righini: Vista do Rio de Janeiro.

Cerca de 1850 — CrS 100 000.00 (Rio).

Bartholomew Kidd: Jamaica.

Cerca de 1840 — CrS 49 500,00 (Londres).

Duas miniaturas do século XIX de qualidade média.

CrS 500.00 (São Paulo); CrS 5 700.00 (Londres).

l)aum: abal jour — CrS 7 000,00 (Rio); Daum: vaso — CrS 6 500.00

(Londres). Preços equivalentes: o abat jour é mais fácil de coloca

Quando a temperatura aumenta os

cavalheiros não reclamam: tomam Gin Seagers.

o gin

mais

vendido

no Brasil

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Bah

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ROTEIRO.onehitAo

Paulo Celso

Moutinho

— É o único que nào aparece

aqui com seu nome verdadeiro

nem com seu verdadeiro rosto.

Cronista gastronômico do Jornal

do Brasil, ele precisa manter o

anonimato, senão, explica, nunca

mais terá sossego, com tantos

pedidos e convites. "O

melhor é o

da Casa da Suíla (Cândido Men

des, 157). Eles têm uma mesa de

frios que é sensacional, e os pre

ços não são exagerados. Le

Mazot (Paula Freitas, 31-A) e Le

Bec Fin são também muito

bons."

— Um dos fundadores da

Confraria dos Gastrónomos é

sem dúvida, uma das pessoas que

mais entendem de comida e vi

nhos no Rio. Por isso. quando

vai a um restaurante, nunca pede

um vinho francês, porque tem

certeza de que nào será bem tra

tado. Prefere beber os bons vi

nhos em casa, ou em casa de

amigos.

"Os melhores são muitos. Mas

o que freqüento mais é o Bec

Fin."

Marco Rubião

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Antonio

Houais

Em cada estômago uma sentença: dos dez entrevistados, só três

escolheram o*mesmo restaurante. A vantagem da diversidade foi

uma lista, onde cada um pode escolher o gênero que prefere.

— Um gastrônomo é um inte-

lectual, que dedica aos assuntos

culinários a mesma atenção mi-

nu ciosa com a qual já organi-,

zou uma enciclopédia e está

organizando outra: "Para

dizer a

verdade, acho que os melhores

restaurantes do *

Rio de Janei-

ro. . . estão em São Paulo. Basta

pegar a ponte-aérea. Os restau-

rantes dc luxo daqui servem uma

comida internacional degene-

rada. E, além do mais, cobram

caríssimo. Só milionários podem

freqüentá-los. Para mim, o me-

lhor restaurante ainda é o A de-

gão Português na Zona¦ Norte

(Campo de São Cristóvão, 212),

pela variedade e qualidade das

aves, carnes, caças e peixes que

serve. Tem também boa bebida

além dos bons vinhos portu-

Onde se come

bem no Rio?

Juscelino

Kubitschek

Qual o melhor restaurante do

Rio? Dez pessoas —

que gostam

de comer ou que gostam de sair

— foram ouvidas. Impossível

chegar a uma conclusão. O que

recebeu mais votos foi o Bec Fin,

mas assim mesmo só recebeu

três. Pouco para fazer maioria. E,

entre os entrevistados, houve um

que o considerasse o pior e o

mais caro lugar da cidade. (Foi a

opinião do colunista social Da-

niel Más, cuja recomendação —

a Churrascaria Carreta — deve

ser entendida como uma sarcás

tica advertência.) Em compensa

çào, o humorista Millór Fernan

des fez sua indicação rigorosa

mente a sério.

De uma maneira geral, pode se

observar uma constante nas res-

postas. A preferência nem sem

pre é ditada, exclusivamente, por

um julgamento gastronômico. O

melhor restaurante, muitas vezes,

é aquele que mais se freqüenta,

onde se é conhecido pelos gar-

çons. Ou melhor: o que mais se

parece com nossa casa.

gueses e alemães. Mas, por me

lhor que seja o restaurante, para

comer direito é preciso saber

escolher".

é a churrascaria Carreta (Vis-

conde de Pirajá. 451). Lá você

come leve, tranqüilo, nào tem

complicações digestivas e vê

gente divertida. No outro dia,

jantei lá e havia duas mesas

imensas, uma de americanos e

outra de brasileiros, comemo

rando aniversário. Pode haver

coisa mais engraçada?" Mas fa

lando sério, o melhor serviço é o

do Bistrot (Fernando Mendes.

7-A), mas o lugar nào é muito

alegre. Agora, o pior restaurante

do Rio de Janeiro é o Bec Fin.

Seus preços são incríveis".

— Nào pode ser considerado

um gastrônomo, nem um guloso.

(Quando mais nào fosse, por

medo de perder a linha.) Mas é

uma das pessoas que mais fre-

qüenta a noite carioca. E pode

compará-la com a das grandes

capitais: "Em

matéria de comida,

o melhor é o Bec Fin (av. Copa-

cabana, 178-A). O do Hotel

Ouro Verde (av. Atlântica, 1456)

também é bom. Quanto ao am-

biente, o mais agradável é o

Antonio's (B. Mitre, 297-C).

Daniel Más

— Cronista social. Um voto

que, sem dúvida, vale mais pela

originalidade de seu estilo sarcás-

tico do que pelo critério pura-

mente gastronômico:

"O melhor

— N unca escondeu sua prefe-

rência pela comida mineira, de

preferência feita em casa. Duran-

te muito tempo, seu ponto predi-

leto era a Pérgula do Copaca-

bana Palace. "O

restaurante que

mais freqüento, atualmente, é Le

Chalet Suisse (Xavier da Silveira,

112). Gosto muito da fondue de

queijo que servem. Sempre que

posso, vou lá, aos domingos."

Jorge Guinle

12

+4 » -in WM'i

Lftk, ., x ¦

v

J; v::. A': , mfc r >

Guilherme

Guimarães

— Costureiro. Seu voto é

um exemplo de que o hábito,

muitas vezes, dita a preferência.

Deve-se levar em conta também

que, por estar sempre viajando.

Guilherme é um freguês que pode

comparar o que lhe oferecem

com o que há de melhor. "Não

tem dúvida: o Open (Maria Qui-

teria, 83). O serviço e a comida

são maravilhosos. Janto lá todas

as noites."

Luis Sá

Pereira

— Como Paulo Celso Mouti-

nho e Antônio Houaiss, é mem-

bro da Confraria dos Gastrôno-

mos. Excelente cozinheiro

(REALIDADE publicou, no mês

passado, algumas de suas recei-

tas), ele é dos que poderiam lem-

brar que comem em casa melhor

do que em qualquer restaurante.

"O melhor é o Bec Fin. A comida

e o serviço sào muito bons. No

Le Relais (General Venâncio

Flores, 411) também se come

direito."

Ivo Pitangui

— O mais famoso cirurgião

plástico brasileiro é também um

dos poucos médicos sul-ameri-

canos de renome internacional.

Por prazer e para atender chama

dos profissionais, está constante-

mente viajando. É outro voto que

vale pela exigência apurada nos

bons endereços da Europa. "É

difícil escolher. Existem inúme-

ros restaurantes ótimos na cidade

do Rio de Janeiro. Eu, por uma

questão de fidelidade, prefiro o

restaurante do Country Club"

(único da lista que não é aberto

ao público).

Millôr

Fernandes

— É outro que reclama dos

preços cobrados na maioria dos

restaurantes de certa categoria:

"Há lugares que são ótimos, mas

que eu não posso freqüentar por-

que não tenho dinheiro. O melhor

restaurante do Rio, hoje, para

mim, é o Mário (Ataulfo de

Paiva, 706 B). O serviço é excep-

cional, e o cozinheiro, muito

bom".

Uma àrvorezinha

para

cada

gôsto.

Num dia de 1 950 apareceu uma àrvorezinha nas bancas de todo o país. Era a primeira revista da Abril.

Com o tempo, apareceram muitas e muitas outras, trazendo na capa o símbolo da Abri! e de uma alta qualidade jornalística, editorial e gráfica.

Hoje a Abril edita revistas de atualidades, de interêsse geral, femininas, infantis, especializadas em automóveis e turismo, esportes, televisão, foto-

novelas educacão, moda. Além disso, publica mensalmente uma revista para executivos e diversas revistas técnicas, de circulação dirigida.

Ao todo. foram lançadas até agora 36 revistas, dedicadas a informar, instruir, entreter ou servir todo tipo de leitor. A Abril tem uma àrvorezinha para

cada gôsto Uma para cada medida de interêsse.

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«* #t4^na>B»-»»»M>«»^' »****•• *

^ »**•»•»?

turma o aviso funebre. Gramas ao suiddio suportar mclhor cstes quilometros de corre- para vender aos seus colegas de bairro.

de Vargas, ia haver futebol. dores, escadas, e saloes que o Legisla- REALIDADE escolheu dez, entre os

Vinte anos depois, esses meninos que tivo foi ganhando com as reformas. novos deputados de menos de quarenta

foram capazes de assistir com tanta frivoli- A Camara que foi diplomada em feve- anos, para mostrar o que pensam e estao

dade ao encerramento de um ciclo da hist6- reiro de 1963 era, certamente, uma casa fazendo os possiveis renovadores da poli-

ria brasileira estao todos sentados, em ainda mais velha. Havia entao mais de cem tica brasileira.

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OS JOVEIS BESTA CASA

Dos SM deputados federais,

42 tem meios de 40 aaos.

Eles estariam roaovaado a política

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TEXTO JOSÉ CARLOS BARDAWIL FOTOS LUIZ HUMBERTO

NI

a madrugada de 24 de agosto de

1954, com um tiro no coração,

Getúlio Dome lies Vargas retirou-se

da vida pública brasileira, deixando

para uma perplexa geração de políticos a

carta-testamento, o herdeiro João Goulart e

complicado espólio das instituições nacio-

nais, cuja partilha litigiosa levou dez anos

para ser concluída.

De manha, aos oito anos, o menino Mar-

ceio Medeiros foi presenteado, como toda a

população do país, com um feriado sabo-

roso e inesperado. E saiu de casa para brin-

car, e de calças curtas, na terra da praça

Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, desa-

tento ao pesado clima de apreensão que

cercava seu pai, o procurador-geral da

República, Carlos Medeiros Silva. Um

pouco mais velho, cultivando cabelos enca-

racolados e engomados teminhos da casa

O Príncipe (que vestia "hoje

o homem de

amanhã'*), Emílio Nina Ribeiro aproveitou

para cultivar sua precocidade,

sempre

admirada em reuniões de família, fazendo

versos e namorando pela vizinhança de

Botafogo, no Rio. E, no Recife, o ginasiano

Marco Antônio despejou-se pelos corredo-

res do colégio aos gritos de

"bola, bola",

depois que um padre solene veio fazer à

turma o aviso fúnebre. Graças ao suicídio

de Vargas, ia haver futebol.

Vinte anos depois, esses meninos que

foram capazes de assistir com tanta frivoli-

dade ao encerramento de um ciclo da histó-

ria brasileira estão todos sentados, em

Brasília, na Câmara dos Deputados,

procurando a fugidia receita da renovação

política nacional. Estão entre os 42 deputa-

dos que, sem terem ainda transposto o limi-

te da idade dos quarenta, muitos sem pas-

sado partidário, alguns sem lembranças

bastante remotas para recomporem, de

memória, o ministério de João Goulart,

começaram a ingressar no Congresso Na-

cional a partir de 1964. Em sua maioria,

senão na sua totalidade, eles parecem acre-

ditar que na sua própria juventude estaria

o segredo mágico da fórmula capaz de ope-

rar a transformação dos hábitos, valores e

métodos da política.

Na verdade, se ainda não realizaram as

profundas e revitalizantes reformas que

defendem, esses novos deputados já fize-

ram, pelo menos, a renovação biológica da

Câmara. Em 1966, a média de idade dos

deputados federais, eleitos naquele ano, era

de 53 anos. Em 1970 essa faixa caiu para

45 anos e seis meses. Em 310 nomes, 152

estavam assumindo o seu primeiro manda-

to federal ou voltando à Câmara depois de

um longo afastamento. E ser jovem, atual-

mente, no Congresso —

comentava recen-

temente um velho senador — teria uma

indiscutível vantagem: "eles

conseguem

suportar melhor estes quilômetros de corre-

dores, escadas, e salões que o Legisla-

tivo foi ganhando com as reformas.

A Câmara que foi diplomada em feve-

reiro de 1963 era, certamente, uma casa

ainda mais velha. Havia então mais de cem

deputados com mais de cinqüenta anos.

Quinze haviam nascido no século XIX,

oito entre os governos de Floriano Peixoto

e Prudente de Morais. Desde a Revolução,

atingidos em grande parte pelas cassações,

mortos, convocados para sucçssivos minis-

térios ou transferidos para os governos

estaduais e para o Senado, 154 desses

nomes de dez anos atrás desapareceram

das listas de presença da Câmara. Há os

que desapareceram apenas da política, e até

os que sumiram do país.

Esse processo, que corroeu antigas lide-

ranças e sólidos feudos eleitorais, abrindo

indiscutivelmente o caminho à ascensão

dos novos deputados, tem raízes que,

indiscutivelmente, se afundam pelas últi-

mas décadas da política brasileira, até e

além da morte de Vargas. Mas desvincu-

ladas dessas origens.

Como Faria Lima, que numa noite de

1961 chegou à casa do pai, onde morava, e

encontrou seu quarto ocupado. Jânio Qua-

dros renunciara naquele dia e estava dor-

mindo lá dentro, hospedado por seu grande

amigo, o brigadeiro Roberto Faria Lima.

Anos antes, Henrique Eduardo, filho do

velho udenista Aluísio Alves, apanha no

escritório do pai as vassourinhas janistas

para vender aos seus colegas de bairro.

REALIDADE escolheu dez, entre os

novos deputados de menos de quarenta

anos, para mostrar o que pensam e estão

fazendo os possíveis renovadores da poli-

tica brasileira. *•»«•

NOVOS POLÍTICOS

Marcelo,

o discípulo

de Negrào

Na

scssào de abertura do Congresso

Nacional, este ano, diante do plenário

modorrento e quase vazio do fim de expe

diente, o deputado Marcelo Medeiros apro-

ximou-se discretamente da mesa da Cama-

ra e entregou, ao sacrifício inevitável pela

maioria arenista, mais um projeto de lei de

iniciativa do MDB. No dia seguinte, oposi-

çào e governo descobriram que, apresen

tando no primeiro dia da legislatura o pro-

jeto de regulamentação do colégio eleitoral

que escolherá em janeiro o presidente

e

vice-presidente da República, ele acabara

de tomar posse do mais importante assunto

político do ano. Marcelo Medeiros havia

invadido silenciosamente as terras proibi-

das da sucessão presidencial.

O projeto, antes mesmo de ser debatido,

serviu para arrancá lo imediatamente do

anonimato de mais de dois anos de uma

atuação extremamente modesta. Tímido,

Marcelo Medeiros ocupou a tribuna tão

poucas vezes quantas

foram absolutamente

indispensáveis, desde que se elegeu pelo

MDB da Guanabara, em 1970, estreando

na política, como deputado federal, aos 24

anos, com uma das maiores votações de

seu Estado. Sem discursos, sem cargos-

partidários ou parlamentares, confundido

até mesmo pelos guardas da Câmara, que

lhe exigiram em mais de uma ocasião a car-

teira de deputado, ele apareceu raras vezes

antes de apresentar o projeto do colégio

eleitoral. Numa delas, ano passado, defen-

deu para os diplomatas aposentados a

extensão dos aumentos gerais da carreira

concedidos pelo governo.

Na verdade, para quem é filho do jurista

Carlos Medeiros Silva, ex-ministro da Jus-

tiça (governo Castello Branco) e autor da

Constituição de 1967, mais difícil do que

encontrar um lugar próprio entre os depu-

tados é escapar, na política, da sombra

paterna. Por isso, não faltou quem visse em

seu projeto —

de técnica parlamentar per-

feita —

a colaboração do pai, que foi o

introdutor do dispositivo das eleições presi-

denciais indiretas no texto constitucional.

Mas o próprio Marcelo não está preocu-

pado em esconder, entre suas virtudes poli-

ticas, a de escolher bons assessores.

Afinal, na Guanabara, por onde se ele-

geu, ele é ao mesmo tempo o amigo do ex-

governador Negrão de Lima

— o nome

mais popular do Estado —

e do atual

governador Chagas Freitas

— dono do

MDB, de dois jornais e de um sólido patri-

mônio de votos suburbanos. De Negrào,

por quem foi escolhido ainda acadêmico de

direito para trabalhar em seu gabinete,

despediu-se numa carta emocionada, ao

pedir exoneração do cargo para ser candi

dato, chamando-o de mestre. "O

seu mode

lo de homem de gove*rno", escreveu, "criou

em meu espírito de moço o ânimo de tentar

a carreira política, quando muitos, infeliz

mente, dela se desencantam e afastam."

Mas Marcelo Medeiros parece capaz de

guardar também a exata distância entre os

compromissos familiares, de amizade e

políticos, o que lhe assegura o direito a

uma certa originalidade c, eventualmente, a

fazer surpresas. É filho de líder revolucio-

nário e entrou para a oposição. Escrevendo

uma coluna semanal para o jornal A Noíf•

cia, de Chagas Freitas, nào se engajou no

programa de hostilidades mais ou menos

veladas do governo da Guanabara contra

Negrào.

Medeiros conseguiu votos para seu man-

dato de deputado federal insistindo, sobre-

tudo, em que a revolução havia afastado os

jovens da política, embora eles tivessem na

própria idade um álibi político perfeito:

moços demais antes de 64, nào tiveram

participação nas crises de Jango, Jânio ou

JK. Eleito, afirma hoje que

"a nossa posi-

çào nào deve ser nunca a de lamentar a

perda das prerrogativas, mas de lutarmos

pela sua reconquista". Considera o atual

Congresso Brasileiro como "o

maior con-

glomerado de talentos, com a mais alta

taxa de subemprego e a mais baixa remune-

ração". E explica: "O

deputado Tancredo

Neves pode ganhar dez vezes mais do que

na Câmara, em qualquer empresa privada,

e, no entanto, comparece assiduamente às

sessões. E isso me parece uma evidência de

que ainda há alguma coisa para se fazer em

política".

Marcelo Medeiros e sua mulher, Heloísa,

tiveram este ano seu primeiro filho, que

provocou a sua mudança e fixação em Bra-

sília. Para compensar a distância do Rio,

Marcelo estabeleceu uma rotina de ter sem-

pre convidados no jantar —

quando se a-

caba falando, inevitaveimente, de política.

Medina,

o economista

da oposiç&o

âos

catorze anos, Rubem Medina pediu

em casa aumento de mesada e ouviu de

seu pai que, no dia seguinte, fosse ao seu

escritório, cedo e de terno, para arrumar

emprego. Medina foi e encontrou o pai com

a página de classificados de um jornal na

mão, pronto para orientar a escolha.

Assim, com pequena ajuda paterna,

Rubem Medina tornou-se representante de

uma fábrica de latas de lixo. E, com um

auxílio um pouco mais concreto, tornou-se

em poucos meses o mais jovem e bem suce-

dido vendedor de latas de lixo da história

do Brasil — 4 000 unidades imediatamente

desestocadas. É verdade que muitas coisas

ficam mais fáceis, mesmo para um comer-

ciante aprendiz, quando se é filho de

Abraão Medina, proprietário de uma ca-

deia de lojas na Guanabara, várias empre-

sas e patrocinador, na época, com a marca

Rei da Voz, do início da carreira de Flávio

Cavalcanti na TV. Para aumentar a procu-

ra de seus produtos, Rubem Medina imagi-

nou a campanha "Ajude

a manter sua cida-

de limpa". Obteve generoso apoio

publicitário e. dias depois, em cada esquina

do Rio, havia uma lata de lixo cercada de

detritos por todos os lados.

Rubem Medina, hoje aos 31 anos, em

seu segundo mandato na Câmara Federal

(pelo MDB), começou cedo. Formado cm

economia (abandonou um curso de arquite

tura porque, trabalhando, nào conseguia a

freqüência obrigatória), fez uma vertigi

nosa carreira nas empresas do pai, depois

de sua estréia no comércio, galgando toda a

ampla escala hierárquica que separa o

banco de um ajudante de motorista de

caminhão do escritório refrigerado do

vice-presidente. Com um futuro tão pro

missor no mundo dos negócios. Rubem

Medina pode realmente calcar em argu

mentos muito sólidos a explicação, de

outro modo cândida, de que em 1966 resol

veu entrar para a política

"por ideal".

Antes de tomar a decisão, ele viajou aos

Estados Unidos, como diretor de uma

empresa de publicidade, e conseguiu gravar

para a televisão uma entrevista exclusiva

com o presidente John Kennedy.

"Eu, Flá

vio Cavalcanti e Murilo Nery estivemos

com ele uma hora", lembra Medina. "Eu

estava ali, diante do presidente do mundo,

que ficou me falando sobre a necessidade

de participação dos jovens na administra

çào, na política, em tudo. E dizia que ele

mesmo era jovem para um presidente."

Meses depois, Kennedy morria e Medina

começava a estudar assuntos políticos.

Acabou transformado no deputado mais

jovem, com 24 anos e 55 000 votos, de sua

legislatura. E um empresário definitiva

mente menos promissor.

"O trabalho parlamentar pode ter preju

dicado em muitas coisas a minha vida pri

vada", ele explica. "Eu

ainda ganho mais

dinheiro fora da Câmara, trabalhando dois

dias por semana na iniciativa privada, do

que vindo a Brasília, ficando longe da famí

lia e morando em hotel. Nào se pode nem

dizer que, sendo deputado, eu posso reali-

zar grandes negócios. Ao contrário, eu

prejudiquei vários negócios, meus e da

família, quando presidi, no outro mandato,

a Comissão Especial de Análise da Desna-

cionalização da Economia Brasileira. O

prestígio que o cargo dá também é relativo.

Então é claro que eu acredito que ser depu-

tado ainda tem uma importância na vida

brasileira."

Rubem Medina prefere o trabalho téc-

nico ao de plenário. E, eleito este ano para

a presidência da Comissãtrde Economia da

Câmara, ele pretende transformar o órgão

num centro formulador de política econó-

mica em setores, como: humanizaçào de

empresas, análise de empresas multina-

cionais e estudo das alternativas dos incen-

tivos fiscais. Quando presidiu a Comissão

de Análise da Desnacionalização da Eco-

nomia Brasileira, durante um ano, conse-

guiu convocar para fazer exposições o seu

ex-professor, Mário Henrique Simonsen,

Roberto Campos, Delfim Netto, Dias

Leite, Jarbas Passarinho e Macedo Soares,

o que, aos 28 anos, certamente representa

uma conquista. E ele considera que pelo

N

menos conseguiu se. na época, corrigir vá

rios dados sobre os problemas que eram

considerados oficiais.

Medina. ao contrário da maioria dos

deputados novos e recém chegados à Câ

mara. foi considerado, em seu primeiro

mandato, pela imprensa, um dos deputados

mais atuantes. E com alguns gestos de

audácia. Com um mês de casa. por exem

pio. solicitou o tempo da liderança, para

fazer, no grande expediente e durante uma

hora. uma análise sobre a economia brasi

leira. Nào teve apartes, com que temia ser

esmagado, e foi conseguindo se livrar dos

constrangimentos iniciais de deputado

muito novo.

Casado há três anos com a Miss 4."

Centenário do Rio. Solange Novelli. e pai

de um filho pequeno. Rubem Medina chega

semanalmente a Brasília terça feira de

manhà e volta ao Rio na sexta à tarde. Fica

no Hotel Nacional, numa "república"

de

deputados — com Henrique Eduardo

Alves. Léo Simões e. até o ano passado.

Marcelo Medeiros —

juntando dois ou três

apartamentos. Eles conseguiram também

juntar se em gabinetes mais ou menos pró

ximos e se reuniram na mesma comissão.

"Fm nossa

'república', pelo menos", co

menta Medina. "deputado

manda."

Marco Antonio,

o modelo

para o futuro

Aos

33 anos. Marco Antônio Maciel, da

Arena pernambucana, é quase um mo

delo experimental do que poderá vir a ser,

dentro de alguns anos. o político brasileiro

pós-revoluçào, ou, pelo menos, é um dos

mais bem sucedidos. Membro da Comissão

Executiva da Arena, ele trabalha em gran

de proximidade, e com bom entrosamento,

com o senador Filinto Müller, presidente

do partido, o melhor exemplo de boas rela-

çôes de um parlamentar com o governo

desde a Revolução, mas, certamente, uma

amostra muito pouco reveladora da reno

vaçào política brasileira.

Apesar disso, afirma Marco Maciel: O

senador é um exemplo de boa convivência c

nunca procura influir em nossa atividade

individual como deputado . Talvez por

isso, sem deixar a assessoria especial de

Filinto, ele dê hoje a impressão de ser um

dos jovens deputados mais preocupados

em

prever o sentido da transformação política

no Brasil e no mundo, e se preparar para a

profunda mutação requerida para

a sobre-

vivência nos novos tempos. Dedicado prin-

cipalmente a trabalhos técnicos, ele já pro

duziu, um longo trabalho sobre a missão

do político", procurando situar o que res-

tou para o Congresso depois da perda

das

funções legisferantes. E concluiu que ainda

sobrou muito em fiscalização e controle

dos governos. E apresentou, em seguida,

um projeto que permite ao Congresso con

vocar ministros de Estado para serem ouvi

dos em plenário ou por comissões.

Ao contrário da maior parte dos deputa

dos jovens. Marco Maciel teve um envolvi

mento mais ou menos profundo com poli

tica estudantil nos tempos da Faculdade de

Direito do Recife. Presidiu duas vezes o

diretório da faculdade, uma vez a Uniào

Estadual dos Estudantes — onde conse

guiu ser eleito com 75% dos votos — e foi.

chefiando uma delegação, a uma das últi

mas grandes reuniões da UNE*, cm São

Paulo. "É

coisa de mau-caráter dizer isso

hoje, mas me insurgi contra a orientação da

UNE. Li um manifesto baseado nas posi

çòes sociais da Mater et Magislra, e quase

apanhamos de 5 000 estudantes. Era em

1962 e eu vi as coisas pretas." Extrema

mente calmo, aparentando uma idade inde

finível, com seu tipo alto. magro, lem

brando ligeiramente os leptossomáticos

Gustavo Capanema e Mário de Andrade.

Marco Maciel é considerado, quase unani

memente, na Arena e no MDB, como um

dos mais preparados parlamentares jovens,

em técnica legislativa. Foi titular muitos

anos da disciplina de Direito Internacional

Público na Universidade Federal de Per-

nambuco. E fazia o mestrado, quando a

Revolução afastou Arrais do governo e

tomou posse o governador Paulo Guerra.

Ele foi convidado para secretário assis

tente, encarregado de entendimentos com

operários e estudantes, numa fase particu

larmente delicada. "Escapei

pela pouca

idade", conta Maciel, "sessenta

dias depois

um deputado da oposição descobriu que eu

tinha 23 anos, e a Constituição Estadual,

que era realmente muito pouco consubstan

ciada, exigia o mínimo de 25 anos/

Maciel pediu exoneração,

"pela letra fria

da Constituição", e foi no mesmo dia

nomeado assessor. Em 1966 candidatou-se

a deputado estadual, foi o nono mais vota-

do, entre 65 candidatos. Foi líder do gover-

no Nilo Coelho, "para

minha surpresa".

Em 70 candidatou-se a deputado federal,

com base num pequeno reduto eleitoral.

"Mas o governador

Nilo Coelho era depu-

tado federal e nào se desincompatibilizou

para ser candidato: eu me elegi com os

votos dele", confessa tranqüilamente Ma-

ciei.

Marco Maciel fez campanha com base

na renovação "de

métodos e processos",

que sempre foi sua preocupação mais dire-

ta. E é um permanente defensor da Sudene,

"que

provocou desde logo o aparecimento

de novas lideranças, com estilo diferente, e

voltadas para problemas realmente de

estrutura".

Marco Maciel vai pouco à tribuna, tal-

vez porque esteja convencido da

"crise da

palavra". Explica:

"Hoje não se acredita

em nada que nào tenha apoio em dados

estatísticos, percentagens, tabelas e gráfi-

cos. Num discurso de Milton Campos, por

exemplo, se acreditava porque o raciocínio

era claro, as idéias bem colocadas e havia a

sua imensa autoridade".

Filho de um consultor geral da Repú-

blica, José do Rego Maciel, pai de dois

filhos, Marco Maciel é tão sério que, aos

domingos, em Brasília, na freqüência imu-

tável do Clube do Congresso, costuma reu

nir a sua volta uma roda permanente de

debates políticos. Com uma diferença: no

dia em que surgiu uma dúvida, ele se levan

tou da beira da piscina para ir buscar cm

casa um exemplar da Constituiçào.

Nina Ribeiro,

mais lacerdista

que Lacerda

0

deputado Emílio Nina Ribeiro (35 anos,

carioca de Botafogo) tem em seu currí-

culo político um título possivelmente

inve-

jável para muitos outros políticos

brasilei-

ros: pegou em armas pela

Revolução em

1964. Na noite de 31 de março, "sentindo

cheiro de pólvora no ar", conforme seu

próprio relato, ele entrou no palácio

Gua

nabara e imediatamente solicitou da guar-

da uma metralhadora Ina, calibre 45. de

duas travas. Passou 48 horas rondando

incansavelmente pelos corredores, segu-

rando firmemente a arma com as duas

mãos, pois, de outro modo, nào poderia

dispará-la, em caso de necessidade. "Eu

es-

tava disposto a tudo. Até a morrer, ao lado

do governador Carlos Lacerda, que era

ameaçado pelas tropas do almirante Ara

gào", diz, hoje, no seu gabinete de vice

líder da Arena.

E se há quem duvide da sinceridade de

alguns discursos de Nina Ribeiro (ele cos-

tuma falar em defesa do consumidor, recla

mando pesos e medidas exatas para certos

produtos, assim como medidas de segu-

rança nos automóveis nacionais), nào exis-

tem dúvidas sobre a sua disposição para a

luta. Desde os tempos de estudante da PUC

do Rio de Janeiro, Nina Ribeiro demonstra

uma sensível inclinação pelas discussões ou

situações complicadas. Como em 1959,

quando ele compareceu a uma reuniào da

extinta Uniào Nacional dos Estudantes

(UNE) para reclamar contra a cassação de

sua credencial ao Congresso Latino-Ame-

ricano de Estudantes, em Caracas. "Pro

testo contra os lacaios de Moscou", gritou,

por entre apupos e aplausos, logo transfor-

madosem socos e pontapés. Ou como em

1963, quando, já deputado estadual, rece-

beu a ameaça de um deputado que depois

seria cassado: "Se

falares de Jango, eu te

dou um tiro na cara". Sua resposta foi ir à

tribuna e referir-se a João Goulart como

sendo "um

contrabandista de gado que, por

acaso, é o presidente da República". O

deputado sacou de um revolver e fez ponta-

ria. -Num

gesto teatral ao seu gosto, Nina

Ribeiro rasgou a camisa e gritou:

"Atira,

mas atira logo, porque vais matar um

homem!" O outro hesitou, do que se apro-

veitaram udenistas, companheiros de parti

do de Nina Ribeiro, para desarmá-lo e pro-

vocar as iras do petebista, inciando-se

então o que os jornais cariocas descreviam,

no dia seguinte, como "uma

verdadeira

batalha campal na Assembléia", na qual

Nina Ribeiro aplicou golpes de capoeira e

levou tantos socos que perdeu um pedaço

de um dente incisivo superior.

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Marcelo: "Ainda

há alguma coisa para se fazer".

Nina Ribeiro: "Eu

teria morrido por Lacerda".

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NOVOS POLÍTICOS ..

O tempo, porem, dá suas voltas e acaba

mudando muitas coisas, inclusive ligações

políticas. Talvez por isso Nina Ribeiro seja

hoje deputado federal enquanto seu antigo

modelo político e ídolo. Carlos Lacerda,

cassado, se dedica a dirigir prósperas

empresas.

"Foi ele que deixou de ser lacerdista. na

época da frente ampla. Nào eu. não nós.

Justifica se e assegura que sua posição,

contrária às idéias políticas de Carlos

Lacerda a partir de 1965. foi anunciada,

com toda a clareza, pela imprensa, depois

de explicada, com antecipação, ao próprio

Lacerda.

Solteiro aos 35 anos. Nina Ribeiro,

dorme tarde mas acorda inapelavelmente

por volta das sete horas, pois, às oito. faz

sempre uma hora de natação num dos três

clubes de Brasília de que é sócio. Aos sába

dos e domingos, costuma ir ao Rio de

Janeiro e Petrópolis (onde mantém ligações

de infância). Em Brasília, vive solitário no

apartamento oficial de quatro quartos,

tendo como companhia seus livros jurídi-

cos, discos de Tchaicóvski e Chopin e um

papagaio amazônico, especialista em pala

vrões "aprendidos

durante a viagem para

Brasília, pois era de um ex-marinheiro",

"faz

questão de justificar.

No Rio, hospe

da-se no seu apartamento da avenida

Atlântica, onde mora sua mãe, dona Maria

da Glória Mallet.

Lyra,

o tribuno dos

velhos tempos

Quando

o deputado Fernando Lyra (34

anos, bacharel em direito, pernambu

cano de Caruaru, casado, pai de três meni-

nas) vai ao microfone dos apartes, ou

ocupa a tribuna, há, no mínimo, um movi-

mento de curiosidade entre os parlamen-

tares presentes às sessões plenárias da Cã-

mara. Em apenas dois anos de atividade,

Lyra conseguiu ser visto como um aspi-

rante às glórias conquistadas em outras

épocas por aparteantes temíveis como Car-

los Lacerda, oradores imaginosos como

Otávio Mangabeira ou improvisadores ex-

travagantes como Vieira de Melo. Nos

apartes, mostra-se de início irônico e frio,

para, logo depois, utilizar sua voz extensa e

bem timbrada em todo o volume. Nos dis-

cursos, usa o claro-escuro veemente dos

oposicionistas tradicionais e nào permite

que os aparteantes sequer possam desen-

volver seus pensamentos, interrompendo-os

a todo instante com observações sarcás-

ticas ou simplesmente provocativas. É, tal

vez, entre os novos, a única vocação de tri

buno já manifestada.

No entanto, um exame da carreira esco

lar de Fernando Lyra jamais deixaria pre-

ver um orador. Ao contrário da maioria

dos seus colegas de destaque, ele não foi

primeiro aluno e nem sequer um estudante

aplicado. No internato do Colégio Salesia-

no, em Recife, era incapaz de submeter-se à

rígida disciplina. Nos colégios Osvaldo

Cruz e Padre Félix. nunca passou de um

aluno medíocre. Tanto que nào se atreveu a

permanecer no Recife: findo o curso cientí

fico. voltou a Caruaru para trabalhar com

o pai e formar se. com mais facilidade, na

recém-criada Faculdade de Direito da

cidade.

Filho de político. Lyra desde cedo pôde

participar das campanhas eleitorais do pai.

em Caruaru, nào demorando a mostrar vir

tudes em palanques eleitorais. Em 1959.

quando o pai foi eleito prefeito pela UDN.

derrubando a tradicional oligarquia pesse

dista, seus discursos — embora toscos e

provincianos —

já provocavam sensação.

Um ano mais tarde, o jovem estudante e

empresário (dirigia a empresa de ônibus do

pai) participava de novos comícios, pre

gando a candidatura de Jânio Quadros à

presidência da República.

Até então, a política, para ele, nào passa

va dos limites de Caruaru. Sentado na pol

trona do seu apartamento oficial em Brasí

lia. por entre um cigarro e outro (fuma dois

maços por dia. ou mais), confessa: "eu

nào

tinha qualquer idéia mais definida a res

peito dos problemas nacionais. Acredito

que poucos jovens em Pernambuco tives

sem tais idéias. Política, para mim, era a

disputa local, mesquinha e, no fim das con

tas, decepcionante para quem, como eu.

esperava mudar alguma coisa". Foi somen-

te em 1965, depois da extinçào dos antigos

partidos, que Fernando Lyra decidiu dedi

car-se à política em tempo integral:

"abria-se uma perspectiva

nova no MDB.

onde nào estavam os velhos políticos, que

preferiam a Arena. Candidatei-me a depu

tado estadual e conveci meu pai a voltar à

política. Como candidato a deputado fede

ral". Os dois foram eleitos, e Fernando nào

tardou a conseguir o título de líder da opo

siçào na Assembléia de Pernambuco, gra-

ças à palavra fácil, à habilidade no debate

e, principalmente, à falta de quadros do

MDB, depois das cassações de 1968. Em

1970, cotnandou a retirada dos deputados

do MDB do plenário, quando da eleição

indireta do governador. E mostrou outra

habilidade: a de articulador político. Con

versando sorridente com todos, de trato

agradável e maneiras simples, foi lenta-

mente atraindo simpatias e obtendo apoios

à sua candidatura a deputado federal,

agora já sem a ajuda do pai, que, desencan

tado, decidira deixar a política.

Elegeu-se com 38 310 votos e, tào logo

chegou à Câmara, conquistou, após rápi

das articulações com a cúpula emedebista,

o título de vice-líder. Dois meses depois, os

chefes emedebistas estavam arrependidos-

Fernando Lyra aparecia como um dos

organizadores do grupo

"autêntico" que

atacava, diariamente, pelos jornais, a cúpu-

la "moderada"

exigindo-lhe maior decisão

no combate ao governo. De qualquer

modo, "autêntico"

hábil, a ponto de um

líder moderado dizer que seu nome seria o

único do grupo rival que poderia encontrar

receptividade para uma eventual candida

tura à liderança, "pois,

afinal de contas,

com o Fernando nós podemos conversar'*.

Político jovem. Lyra é. no entanto, um

homem extraordinariamente humilde dian

te dos seus triunfos. Considera que sua

reeleição, "como

todas da oposiçào, será

dificílima". Rigorosamente, Fernando

Lyra. esse homem gordo que agora faz

regime, disciplinada e humildemente (seus

87 quilos, para 1.65 de altura, já foram

105. há dois anos), tem uma vaidade na

vida: sua filha Patrícia, a mais velha, que

pretende transformar na primeira política

de sua região. Uma esperta garota de seis

anos que já se iniciou nos palanques na

campanha municipal de Caruaru, no ano

passado, obtendo grande sucesso, embora

se recusasse a decorar os discursos que lhe

prepararam com antecedência ("Vou falar

o que eu quiser", exigiu). E que já é da opo-

siçào, como o pai. Tanto que. quando

conhece alguma nova amiguinha. vai logo

perguntando:

"Teu pai é da Arena, ou do

MDB?" E cria até situações constrange

doras. como recentemente, quando abor

dou o deputado arenista Homero Santos e

lhe perguntou por que dispunha de carro

oficial. "Porque

sou vice-líder", respon

deu lhe o deputado. "Mas

meu pai é vice

líder e nào tem carro oficial." Homero San

tos explicou, sorridente: "Bem,

eu sou

vice líder da Arena". E a menina: "Ah.

sim".

Jerônimo,

o herói

da Amazônia

A homem gordo, óculos baratos no rosto

sem rugas (em que predominam o nariz

achatado, os pêlos da barba sempre por

fazer e a testa larga da calvície precoce),

bengala de jacarandá na mào direita para

disfarçar o caminhar balançante provocado

pela perna mais curta; vestindo roupas

frouxas, de corte superado e amarfanhadas,

parece, ao entrar na Câmara, muito mais

um fazendeiro do interior goiano do que

um deputado federal. Jerônimo Garcia de

Santana não é mesmo um deputado na tra

dição do termo: é o representante único de

Rondônia. Ele nào tem chefe de bancada,

nem líderes a obedecer na esfera regional.

Pelas funções e o prestígio que detém no

território, assemelha-se mais a um senador.

Mas os senadores nào são tào jovens

quanto Jerônimo Santana (38 anos, do

MDB), nem se parecem eom ele nos gestos,

atitudes e maneira de ser. Pela sua simplici

dade no falar e no agir, por nào demonstrar

nenhuma das habilidades que fizeram o

apanágio dos políticos eficientes de outros

tempos, e porque se mostra geralmente tào

corajoso que chega a ser considerado ingê

nuo. Jerônimo é chamado por alguns de

seus colegas, numa paródia nào muito ori

ginal, de "o

herói do sertào". Afinal, ne

nhum dos 310 deputados da atual sessão

legislativa sente se disposto, .como ele, a

acusar nominalmente um ministro de Esta-

do (Dias Leite, das Minas e Energia) de

estar "envolvido

com interesses estran

geiros na exploração de minérios da Ama

/.ônia'\ Ningüém ataca o governador de

seu Estado com a insistência e dureza que

ele. em discursos quase diários, vem dedi-

cando aos administradores do Território de

Rondônia, desde que iniciou seu mandato.

Santana nào se preocupa em falar bonito,

nem com o português de suas catilinárias já

rotineiras, e nem mesmo com a maneira

monocórdia com que as lê, numa voz

aguda e sem impostaçào, no plenário da

Câmara. Orgulha se de ter pronunciado

139 discursos em 1971 e 133 em 1972, em

bora a maioria tenha passado desperce-

bida, nos horários reservados ao "pequeno

expediente". Talvez porque já saiba que, no

seu caso, a quantidade acabou se tornando

qualidade: seus discursos, agora, já ocu-

pam espaços do "grande

expediente" e

obrigaram a liderança do partido do gover-

no a nomear um deputado do norte goiano

(Siqueira Campos) especialmente para

combatê-lo. No plano regional, demons-

trou. na eleição municipal de 1972, que seu

prestígio é ascendente: elegeu a maioria da

Câmara de Vereadores de Porto Velho,

tradicionalmente arenista, e teve a sorte de

ver seu inimigo figadal. o governador do

Território de Rondônia. Marques Henri-

ques, ser substituído por ato do presidente

da República. Capitalizou imediatamente a

queda e reiniciou, implacável e inflexível,

seus ataques, agora contra o governador

Theodorico Gahyva. Hoje, o "homem

da

bengala", como o chamam em Rondônia,

já influi até na política do Acre, onde os

emedebistas o convidaram a candidatar se

ao Senado. Mas tem os pés na terra: "Sei

que minha reeleição vai ser duríssima.

Cobrirão Rondônia de dinheiro, para me

derrotar. Mas acredito no povo e na minha

luta. Afinal, luto desde que me conheço por

gente".

A luta de Jerónimo Santana começou na

década de 30, quando Goiás, onde ele nas-

ceu, na fazenda Campo Limpo, município

de Jatai, nào passava de um Estado pobre

que vivia em isolamento total, devido à

falta de estradas. Ele descendia da ilustre

estirpe dos Garcia de Santana, coloniza-

dores de vastas extensões de terras em

Goiás e Mato Grosso a partir de 1835,

cujas glórias chegaram a ser contadas em

livros e estabeleceram nos campos cerrados

da região, para todos os seus integrantes, a

fama de homens resolutos, corajosos e

violentos.

Mas a origem nào o impediu de perma-

necer analfabeto até os doze anos, pois,

quando nasceu, o pai

e o avô enfrentavam

dificuldades e vertdiam suas tetras para

pagar dívidas. O menino Jerónimo, mais

velho de seis filhos, teve de capinar roça e

cortar lenha na pequena fazenda que

restou

ao pai até que foi enviado para

a cidade,

Jatai, que só conhecia de rápidas visitas e

lhe dava medo. Estudou até o terceiro ano

primário, mas acabou voltando à fazenda,

num ano de seca em que seu pai adoeceu.

Autodidata solitário, prestou exame de

admissão aos dezenove anos, depois de

uma adolescência sacrificada e triste: na

fazenda, só tinha um par de botinas e duas

roupas surradas e. por isso, nào ia às festas,

nem se sentia em condições de tentar con-

seguir uma namorada. De Jatai, onde fez o

ginásio graças à ajuda do bispo da cidade,

dom Germano Campon (de quem era secre

tário e cobrador dos "foros

), até Belo

Horizonte, onde cursou o científico e a

faculdade de direito, a história de Jerónimo

Santana daria um romance de Charles Dic

kens, pelos momentos dramáticos que pas-

sou, na maior parte devidos às suas dificul-

dades financeiras. Formado advogado aos

31 anos, logo desistiu de ganhar a vida em

Belo Horizonte. Depois de uma tentativa

fracassada em Barra do Garças, terminou

em Rondônia, onde fora realizar uma

cobrança, e acabou ficando, porque um

aventureiro argentino, dom Tito Aseril

propôs-lhe sociedade na descoberta de

minas riquíssimas na região do Ariquana.

Fascinado com a perspectiva da fortuna

fácil, Jerónimo vendeu tudo o que a mãe

recebera como herança, apurou 20 000 cru-

zeiros e retornou a Porto Velho, depois de

três meses em Jatai para efetivar a opera-

çào de venda. Mas nào mais encontrou o

argentino, preso por nào pagar o hotel. Pior

ainda: dois comerciantes de Rondônia

revelaram-lhe que dom Tito lhes vendera o

"mapa da mina", já requerida ao governo.

Santana nào desistiu: financiou três expedi

çôes de garimpeiros à região do rio Abuna.

Gastou dinheiro com advogados no Rio de

Janeiro para tentar requerer as terras, viveu

dois anos de esperanças frustradas. No fim,

sem dinheiro nenhum e sem coragem de

voltar à sua terra, começou a advogar no

quarto de hotel com uma máquina de escre-

ver emprestada. Três anos depois era um

ídolo popular em Porto Velho e presidente

do MDB. Em 1970, concorreu ao único

cargo de deputado federal e, surpreendente-

mente, destruiu por 2 000 votos de dife-

rença o reinado dos arenistas, depois de

uma campanha feita de ônibus e que nào

lhe permitiu sequer chegar aos distritos de

fronteira. Eleito, pediu um empréstimo ban-

cário para pagar a viagem de aviào a Brasí-

lia, onde há dois anos vive monastica-

mente, a princípio em hotel e agora no

apartamento oficial que lhe foi destinado

pela Câmara, gastando as noites com a

preparação de discursos ou com sua inten-

sa correspondência. Quando janta fora,

escolhe o restaurante popular O Espanhol,

onde encontra tipos parecidos com os que

se acostumou a ver no Territorio. Ainda sol-

teiro ("nunca tive tempo nem condições

financeiras de namorar"), anda pensando,

agora, em casamento. A candidata, cujo

nome eie não revela, é uma paulista para

quem telefona de vez em quando e quase

nunca vê pessoalmente. Em questões

de

amor, Jerónimo Santana — o político que

considera o atual parlamento

"uma farsa

e a política do governo

na Amazônia

"inteiramente errada, porque

esquece as

populações miseráveis da região e entrega

os recursos minerais e as imensas florestas

aos ávidos grupos estrangeiros"

— conti-

nua sendo o mesmo menino de roça. tímido

e temeroso, da década de 30.

Harii,

um arenista

rebelde

às

agitadas sessões da Câmara dos

Deputados na década de 50, no Rio,

costumavam contar, nas galerias, com a

presença deslumbrada de um estudante

paraibano chamado Antônio Marques da

Siíva Mariz. "Eu

me extasiava com os dis-

cursos do Prado Kelly, do Afonso Arinos,

do Vieira de Melo. E só queria um dia estar

no lugar deles, fazendo política", conta o

hoje deputado federal da Arena da Paraíba,

no seu gabinete de trabalho repleto de li-

vros sobre a escrivaninha e nas estantes,

coleções de livros de bolso franceses, gros-

sos volumes da filosofia clássica e de auto

res políticos contemporâneos.

Tanta atraçào pela política tinha até

razões atávicas. O bisavô de Mariz, Jose

Antônio da Silva Guimarães, padre e

latifundiário na Paraíba, iniciara uma tra-

diçào de domínio político na sua região (foi

vice-presidente de província e fez do irmào

deputado), criando aos poucos uma verda-

deira oligarquia, consolidada depois pelo

avó, Antônio Marques da Silva Mariz (de

putado federal) e continuada, embora em

escala já reduzida devido ao empobreci-

mento da família, pelo seu proprio pai, José

Mariz, deputado estadual e chefe político

municipal. Mas Antônio Mariz nào parecia

ter quaisquer chances de transformar seu

sonho em realidade. Perdera o pai aos

quinze anos de idade, a màe sobrevivia em

João Pessoa fazendo bolos e pintando por-

celana, e ele estava no Rio graças à boa

vontade de uma tia, que o hospedava e lhe

pagava os estudos. Obstinado, contudo, tào

logo se formou, viajou para João Pessoa e

começou a procurar um modo de entrar na

política paraibana. Aprovado num con-

curso para promotor público, Antônio

Mariz foi para o interior, onde iniciou

intensos contatos com as forças políticas

locais e acabou conseguindo que o gover-

nador Pedro Gondim o nomeasse sub-chefe

da Casa Civil. Dali saiu, um ano mais

tarde, para se candidatar a prefeito

de

Sousa e derrotar, pelo ex PTB, a tradi-

cional oligarquia dos gadelhas (PSD), por

dez votos de diferença.

Deputado federal desde 1970, Antônio

Mariz, aos 35 anos, aparece como um dos

jovens rebeldes da Arena, que

nào rezam

pela cartilha da fidelidade partidária abso-

luta e irretorquível, exigida pela atual lide-

rança do partido do governo.

Em 1971, no

seu primeiro ano de mandato, votou favo-

ravelmente, na Comissão de Justiça, ao

projeto do líder do MDB, Pedroso Horta,

que previa a extinção do decreto lei 477,

justificando que considerava o problema

apenas pelo lado jurídico. No ano passado,

pronunciou se favorável às eleições diretas,

durante a discussão da emenda constitu-

cional. que previa o pleito indireto para os

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Henrique Alves: "Deputado

do nordeste e diferente".

Faria Lima: "A

ideologia nao tem appeal".

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NOVOS políticos rontlutSo

governos de Estado, em 1974. E apoiou o

MDB. dando parecer favorável a um proje

to do gaúcho Aldo Fagundes, prevendo a

discussão pelo Congresso das decisões

governamentais que dispõem sobre os

municípios de segurança nacional.

Aos que vêem nestes atos sinais eviden

tes de rebeldia partidária, ele responde que

em todos os casos defendeu posições jurídi

cas. como bacharel que é. E acrescenta que

jamais deixou de votar favoravelmente à

Arena, nas "questões

fechadas". De qual

quer modo, parece claro que Antônio

Mariz, eleito por forças que na sua regiào

sào tradicionalmente contrárias à oligar

quia dos gadelhas (hoje no MDB), nào

pode deixar de cortejá-las. na Câmara

Federal. Discretamente, embora, ele procu

ra manter uma certa linha de indepen-

dência em relação à liderança partidária, o

que acaba nào agradando a muita gente

dentro da Arena. Possivelmente, entre estes

estào os próprios dirigentes partidários,

que, até hoje, nào lhe deram qualquer

cargo.

Comedido e contido, o Antônio Mariz

de 1973 pouco se parece com o estudante

atirado da Nacional de Direito do Rio, que.

em 1958. em companhia de um grupo de

amigos, viajou para a Europa num car

gueiro do Lóide, gratuitamente, depois de

insistentes pedidos feitos ao próprio presi-

dente Juscelino Kubitschek e ao almirante

Lúcio Meira, ministro da Viaçào. Da via

gem Mariz recorda, até hoje, os seus aspec-

tos mais surpreendentes: "Nós

pensávamos

que ia ser duro, mas transformou-se num

verdadeiro roteiro turístico. O navio parava

em tudo o que era porto e ficava lá por três

ou quatro dias".

Paradoxalmente, embora quase sempre

calado e prudente nas declarações, ele sente

crescer seu prestígio. Especialmente na sua

regiào eleitoral, onde, no último pleito

municipal, elegeu todos os prefeitos. Sua

posição política parece definitivamente fir-

mada e nào se baseia no tradicional "clien-

telismo" dos políticos nordestinos: Mariz

raramente sai de Brasília, onde vive com a

mulher e duas filhas no apartamento oficial

da superquadra 302. Na Paraíba, recebe os

amigos e eleitores na típica casa do século

XIX, do seu tio, Otávio Mariz, de cumeei-

ras altas, paredes de meio metro, grandes

quartos e muitas janelas, ou toma longos

banhos de mar na praia de Tambaú, mas

nào lhes promete benesses, nem distribui

dinheiro, como é costumeiro na regiào.

Nessas ocasiões costuma definir-se como

"um

político que acredita profundamente

na democracia e no poder que o povo tem

de escolher as opções que melhor cônsul-

tam seus interesses"* e costuma afirmar que

"nenhum segmento da sociedade de um

país pode arvorar-se em árbitro do inte

resse nacional". Aos mais íntimos confessa

que, hoje, talvez nào se obstinasse tanto em

ser político.

"A

política me fascinou por

que decidia. Agora isso nào mais acontece

e, certamente por isso, os jovens de agora

não gostam dela. nem dos políticos."

Henrique Alves,

o herdeiro

de Aluísio

âo

entrar, com 21 anos, para a Câmara

dos Deputados, nas últimas eleições.

Henrique Eduardo Alves aprendeu rapida

mente o valor relativo dos títulos de preço

cidade. O mais jovem deputado brasileiro

de todos os tempos tropeçava diariamente

em problemas com porteiros,

cabineiros e

todos os "eiros"

e "istas"

do Congresso

que se dedicam a zelar pelas prerrogativas

internas dos senhores parlamentares.

Vinte dias depois, ele subia à tribuna

para saudar a ascensão ao cardinalato de

dom Eugênio Sales, arcebispo do Rio de

Janeiro e rio-grandense-do-norte como ele:

foi para a tribuna com as màos suando e a

sensação falsa e incômoda de que todos

estavam com a atenção voltada para ele.

Saiu com a impressão confortável, mas

igualmente falsa, de que conseguira uma

vitória política, por nào ter recebido apar

tes. A verdade, descobriu depois, é que

teria sido muito difícil encontrar na Cama

ra uma oposição organizada aos problemas

do Estado do Vaticano.

Apesar de sua extrema juventude, Henri-

que Eduardo nào é exatamente o que se

poderia chamar de um representante da

renovação política do Rio Grande do

Norte. Sua família faz política no Estado

desde os tempos do avô, Manuel Alves

Filho, descendo seus ramos até os tios, pri-

mos e afins, para aprimorar-se em prefei-

turas do interior, câmaras municipais e

assembléias legislativas, até concentrar-se

na supreendente liderança de seu pai. Aluí

sio Alves, governador em 1961. Portanto,

se houve realmente, no Rio Grande do

Norte, uma verdadeira revolução política,

ela foi deflagrada e consolidada nas cam

panhas e no governo de Aluísio, um fantás-

tico orador capaz de suportar 72 horas

consecutivas de comícios e movimentar um

eleitorado que levou a cargos eletivos uma

geração inteira de Alves. Desde 1964, a

começar por Aluísio, os Alves foram sendo

rapidamente dizimados por uma epidemia

de cassações que passou pelo Estado, moti

vada por problemas políticos internos. E

Henrique Eduardo assumiu, sozinho, a

vasta e rica herança política do "aluisis-

mo".

Mas é certo, também que para ela Henri-

que Eduardo se preparou com grande

antecedência. Quando o pai estava no

governo e recebia à porta de casa, em

Natal, a romaria de chefes políticos do

interior, correligionários e eleitores, ele

aprendeu a sentar-se com os políticos para

escutar. E assim se habilitava para subir,

aos catorze aoos. ao primeiro palanque,

discursando em campanha do Senado. Ia

de uniforme escolar e avisava: "Eu

nào fui

almoçar para estar aqui com o povo". De

vido talvez a esse hábito. Henrique Eduar

do seja magro até hoje. mas pôde banque

tear-se com um quinto da votação total do

Estado, quando se candidatou a deputado,

em 1970.

A campanha de Henrique Eduardo foi.

indiscutivelmente, a mais movimentada,

assistida e participante dos últimos anos.

feita com pequeno custo — uma rural com

alto falante, um motorista locutor e um

amigo secretariando — e o grande esforço

de percorrer duas vezes todos os municí

pios do Rio Grande do Norte, conseguindo

talvez os únicos comícios com mais de

5 000 pessoas das últimas eleições. O

"alui

sismo" foi ressuscitado aos gritos de "é

o

filho, é o filho, minha gente".

Contudo, se promete se transformar

rapidamente num novo fenômeno eleitoral

no nordeste, Henrique Eduardo tem se

conservado, prudentemente, na Câmara,

nos limites de uma atuação discreta — em

bora acompanhada com certa atenção

pelos outros deputados. Alguns já arriscam

prognósticos de que ele será o futuro gover

nador de seu Estado. E Henrique Eduardo

aprende cuidadosamente, dedicando se in

clusive a freqüentar assiduamente comis

sòes (para ouvir e aprender com velhos

deputados, como. ainda menino, ouvia na

sala da casa os chefes do interior).

É o artilheiro do time de futebol da Cá

mara. E enche grande parte de seu tempo,

em Brasília, correndo repartições públicas,

porque

"ser deputado pelo

nordeste é muito

diferente de ser deputado pelo sul", explica,

"eu recebo diariamente umas sete cartas de

prefeitos do Rio Grande do Norte, com

problemas para tratar na capital". Nos fins

de semana (hábito de dois anos de manda

to) ele embarca invariavelmente para o Rio

ou Natal.

Continho,

um aristocrata

renovador

p ilho de senhor de engenho e político,

bacharel e fazendeiro, o deputado Joa

quim Coutinho parece dispor de todos os

ingredientes para se misturar a fórmula

exata de um aristocrata açucareiro. Contu

do, graças aos artifícios sinuosos da políti

ca, ele pode representar também um dado

da renovação dos quadros da política

nordestina.

Vindo das elites pessedistas de Nazaré

da Mata, zona canavieira a 70 quilômetros

do Recife, Joaquim Cootinho conseguiu

compor, aos 37 anos, uma das mais varia

das biografias da Câmara. Tinha catorze

anos quando começou a freqüentar os

palanques da campanha de Agamenon

Magalhães ao governo do Estado. Em

1954, percorreu todo Pernambuco com o

marechal Cordeiro de Farias, "um

candi

dato leve", recorda, "fácil

de ser carrega

do". Formou-se "inevitavelmente"

em di

reito e andou advogando para empresas até

que, em 1961, no governo Jânio Quadros, o

atual presidente do 1NCRA, José de Moura

Cavalcanti, foi nomeado governador do

Amapá. E Coutinho aceitou convite para ir

trabalhar na chefia de seu gabinete,

"para

fazer a minha experiência tropical". Mas

Jânio Quadros resistiu no governo menos

tempo do que eles resistiriam nos trópicos.

Joaquim Coutinho arrumou as* malas avi

sando que ia para a África.

"Era ministro das Relações Exteriores

San Tiago Dantas", ele conta; "eu

fui apre

sentado por um amigo ao chefe de gabinete

Gibson Barboza. Queria ira para Gana.

onde acreditava que pudesse ter a mellhor

experiência do caldeirão político africano,

que me fascinava. Mc ofereceram ser adido

cultural em Túnis. Era melhor do que nada.

e eu fui."

Em Túnis, de verba curta. Joaquim Cou

tinho engomava, à noite, os lençóis do

Hotel Salambò, sem calefaçào, para poder

dormir. E acabou conhecendo todos os li

deres da independência da Argélia. Reivin

dica até hoje ter previsto, numa conversa

com diplomatas, que Ben Bella tomaria o

poder na Argélia, mas se manteria pouco

tempo. Como nào existe registro de pro

priedade para idéias surgidas em conversas

de salào, é-muito difícil fazer valer seus

direitos. Em todo caso. Coutinho parece ter

aprendido coisas na experiência diplomá

tica que se situam bem adiafite da capaci

dade de vidência da Câmara. Em 1971 ele

trabalhou sozinho, sem consultoria, num

discurso em que sugeria uma nova orienta

çào nas relações comerciais do Brasil com

as nações africanas e pedia o reatamento

das relações com a China. Preparou o dis

curso, mostrou o a colegas, ficou espe

rando a vez de falar — e no meio tempo

saiu o anúncio da visita de Nixon à China.

Joaquim Coutinho já foi deputado esta

dual. depois de ter sido secretário do gover

no Paulo Guerra. Com o quase recesso da

Assembléia Legislativa, depois do Al 5, em

1969 foi para

"Santa Helena"

— o nome

providencial de sua fazenda em Pernam

buco que lhe permite em campanha fazer

discursos inflamados, dizendo nào ter

medo de nada, "porque

já tenho pronto o

meu exílio entre vacas e passarinhos, mas

sem ingleses". E dedicou-se a aumentar a

produção de leite,

"para complementar os

proventos magros do recesso". Mas lembra

que

"não adiantava, o mercado consumi

dor no nordeste é muito pobre e as pessoas

pediam: ele nào quer

ser deputado? F.ntào

que dê o leite pra gente".

Capaz de conversar longamente sobre

produção leiteira, bicheiras, carrapatos e

outros temas do repertório agrícola, Joa

quim Coutinho consegue grande

identifi-

cação com os pequenos proprietários e os

''cabras" da região.

Ele fala cinco línguas fluentemente e está

aproveitando Brasília para aprender ale

mão.

Joaquim Coutinho se situa num grupo

arenista menos acomodado à disciplina

partidária. Em seu apartamento em Brasí

lia, recebe por isso para

longas conversas,

quase toda noite, invariavelmente sobre

política e quase

sempre sobre as alterna

tivas do partido, essa turma de arenistas. E

se desculpa, sempre, pela falta de salgadi

nhos. pois ele é desquitado, com três filhos.

Faria Lima,

o defensor

do ambiente

Oque

pode fazer, no seu primeiro manda

to. um deputado jovem eleito pela

influência política do tio recém falecido,

ídolo popular incontestável e aparente

mente inesqugcível? Calar-se e observar —

aconselharam a José Roberto Faria Lima

(32 anos, carioca, da Arena de São Paulo)

seus amigos mais íntimos. "Conseguir

um

tema e tornar se crônico nele", concluiu o

próprio José Roberto, depois de muito pen

sar a respeito, logo após ter recebido

154 914 votos em mais de quinhentos

municípios paulistas, no pleito de 1970.

única e exclusivamente porque se apresen

tava ao eleitorado como sobrinho do briga

deiro José Vicente Faria Lima.

Hoje, dois anos depois, seu objeto está

praticamente atingido. O deputado Faria

Lima já nào depende tanto do nome que

leva, graças à sua constante atividade

como presidente da Comissão Especial de

Poluição —

grupo de parlamentares que

estuda os males causados pelas mais diver

sas formas poluidoras do ar, da água e do

solo, com a pretensão de apresentar um

projeto de lei que regule definitivamente c

assunto. Incansável visitante dos ministé-

rios governamentais e mantendo em dia

seus contatos eleitorais em São Paulo, ele

pretende pelo menos manter sua votação

no próximo pleito e, embora nào o confes

se, tem secretas esperanças de chegar ao

governo de Sào Paulo num prazo nào

muito remoto.

Ex vendedor de computadores da IBM

(recordista de vendas durante vários anos,

superando em 400% as previsões que lhe

ofereciam), José Roberto Faria Lima é um

convicto partidário da programação

anteci-

pada, inclusive na política.

Foi através dela

que ele acabou chegando.ao seu "tema

crô

nico", a poluição:

"Decidi que os proble

mas da Grande São Paulo, onde tive

140 000 votos, seriam a base da minha

atuação. Aí, programei: quais eram esses

problemas? Falta de recreação, zonea

mento, migração, abastecimento, sanea

mento, poluição. Desses problemas

todos,

o menos explorado e o mais rentável em

termos políticos era o da poluição.

A res-

posta me apareceu clara como a de um

computador: ela, a poluição, seria o meu

tema crônico".

O raciocínio do jovem deputado confir-

mou se integralmente na prática: foi fácil

para ele patrocinar, em poucos

meses, a

criação de uma comissão especia' de polui

ção e, mais tarde, até um "simpósio

brasi

leiro de poluição", que reuniu em Brasília

mais de trezentos técnicos.

Desde cedo, José Roberto Faria Lima

acostumou-se a ser um vencedor. Seu pai, o

brigadeiro Roberto Faria Lima (hoje Co

mandante Geral do Ar) obngou-o, ainda

menino, a estudar horas suplementares,

com- o objetivo de vê lo primeiro aluno.

Tratava o rigidamente, dando lhe o que

agora Faria Lima chama de "uma

educa

çào tipicamente militar". Mesmo quando

moraram em Washington por dois anos.

José Roberto lembra se. nitidamente, do

pai autoritário e determinado, exigindo lhe

as melhores notas da turma, "porque,

na

opinião dele. eu. sendo brasileiro, tinha de

mostrar que era mais do que todos os

americanos". (Até hoje, Faria Lima guarda

sua coleção de diplomas e currículos esco

lares num álbum especial, que mostra

freqüentemente aos seus visitantes, junta

mente com as coleções de moedas e selos

do filho nrais velho, na verdade patroci

nada e inspirada por ele próprio, um cole

cionador inveterado.)

Nos anos que se seguiram o pai conti

nuou determinando-lhe o modo de ser e de

agir e todos os seus passos na vida. Fê-lo

estudar no Mackenzie. prestar vestibular de

economia ("Eu, com quarenta anos, che

guei a coronel. Você nunca conseguirá isso.

Será mais do que eu", argumentou). Conse-

guiu-lhe emprego no IPESP através da

influência do irmão José, então secretário

de Obras do governo de Sào Paulo. Só não

lhe escolheu a namorada Neide, com quem

ele se casou aos dezenove anos, depois de

garantir ao pai que era isso mesmo o que

desejava. Dando aulas de inglês e vendendo

computadores, nào tardou a obter um nível

de vida estável. De repente, o tio morre. As

eleições se aproximam e vários políticos

falam em nome do "limismo".

José Rober

to desperta para a política, irritado com a

exploração do nome do tio. Resolve lan

çar-se candidato, depois de tentar uma

aproximação com os "limistas'

e verificar

que nào aceitavam nem tinham na menor

conta suas sugestões. Gastando apenas

26 000 cruzeiros, elege-se facilmente: "Só

precisei mostrar ao povo quem eu era".

Aos 32 anos, confiando nos dois anos de

sucesso na política, ele já se permite algu-

mas definições: "Gostaria

de ser um poli

tico bem sintonizado com meu tempo. Um

tempo de transição em que as vacas sagra

das estão mortas". E quando lhe pedem

explicações, acrescenta: "A

ideologia, por

exemplo, vaca sagrada de outros tempos, já

nào tem aquela conotação, aquele appeal.

O mundo se torna cada vez mais utilitário

— só tem valor, agora, aquilo que tem

utilidade".

Dos três filhos fala com carinho e espe

rança. Thereza Cristina, a mais velha, é

"uma menina, supermadura para a idade

que tem, doze anos". Paulo Roberto, de

nove. "é

inteligente, aplicado e coleciona

selos e moedas de todos os tipos". José

Ricardo, de seis , "é

turrão e superinteli

gente, joga muito bem xadrez, vou levá lo

ao clube de xadrez assim que puder". A

mulher, Neide, estuda sociologia na Uni

versidade de Brasília e anda à procura de

uma empregada. E ele, José Roberto Faria

Lima, anda um tanto gordo pela falta de

exercício, e recorda, c#om saudade, a época

em que tinha tempo de praticar o judô.

como faixa marrom.

m

"Ouro?

Nem conheço

-

assim disse Napoleão Bonaparte.

Mentira. O homem venera o ouro.

E mais ainda que o dólar,

segundo provaram

fatos recentes.

TEXTO DE ALESSANDRO PORRO

isse uma vez Vladimir Ilyich Ulia

nov, conhecido como Lênin nos

meios revolucionários do começo

do século: "No

dia em que nossa

vitória for definitiva, construiremos em ouro

latrinas públicas nas ruas principais

das

maiores cidades do mundo"'.

Os tempos mudaram. Hoje, a Uniào

Soviética nào somente.não despreza o ouro

com tamanho vigor, mas, muito pelo

contrário, é considerada pelos economistas

internacionais como uma das protagonistas

da recente crise monetária, em virtude de

uma manobra francamente capitalista: nas

semanas cruciais de fevereiro e março deste

ano, quando o ouro chegou a cotações ines-

peradas, o Banco Central de Moscou limi-

tou-se a fechar repentinamente suas expor-

tações, tornando assim o mercado mais

carente ainda, e valorizando suas reservas.

Este é apenas um episódio do confuso

romance do ouro, cujo último capítulo che

gou praticamente a surpreender não somen

te os investidores mais astuciosos, mas

também o modesto homem da rua, cuja

principal preocupação com o metal tão

cobiçado foi até agora limitada à aquisição

da aliança de noivado ou à prótese dentá

ria.

Nos primeiros meses da ascensão ao

poder de Adolf Hitler na Alemanha, Ernst

Wagemann. presidente do Instituto de Pes

quisas Econômicas de Berlim, constatada a

completa ausência de ouro nos cofres

nazistas de 1933, quis tranqüilizar o país, e

declarou: "Afinal,

nào quer dizer nada o

fato de haver ou nào ouro no Reischsbank.

O povo nào se pergunta:

'Quanto custa

uma barra de ouro?', mas quer saber quan

to custa a manteiga, o leite, o pão, as bata

tas, os ovos..."

Se fosse obrigado a argumentar como o

pior estudante do primeiro ano de ciências

econômicas, Wagemann não encontraria

hoje, no mundo livre, nenhum imitador.

Qualquer dona de casa de 1973 sabe que

seu orçamento cotidiano vai ser fatalmente

atingido pela crise dos últimos meses. Mas

esta mesma vítima de acontecimentos tão

complexos e longínquos, nào chega a

entender, e pergunta hesitante:

"Mas o que

tenho a ver com isso? Que culpa tenho

eu ?

D

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Forte Knox, em Kentucky: o ouro defendido por aço, concreto, tanques, caminhões e helicópteros.

"Culpados somos todos nós", é a res-

posta do moralista e filósofo italiano Remo

Cantoni, que explica: "Durante

7 000 anos

a humanidade não fez outra coisa que

dobrar-se diante do ouro, para obter as ale-

grias dos prazeres e da vaidade. Mas este

culto irracional e pernicioso vai ficar impu-

ne até quando?"

É sempre difícil responder às perguntas

dos filósofos. No caso do ouro, isso é prati-

camente impossível. Até quando? Quem

sabe nossa geração não é a involuntária

protagonista deste castigo que pode ter

começado a ser aplicado ao mundo há dois

ou três meses.

O ouro valorizado

O new gold rush, a nova febre do ouro,

estourou em Londres, exatamente ao meio-

dia de 23 de fevereiro de 1973, quando a

onça do metal precioso (pouco mais de 38

gramas) foi cotada a 95 dólares

— isto é,

570 cruzeiros —, enquanto o câmbio ofi-

ciai era 42,22 dólares. Foi um dia frenético

e agitadíssimo para os investidores, opera-

dores de bolsa, economistas e políticos do

mundo inteiro.

Até a linguagem hermética dos iniciados

não chegou a esconder a gravidade da

situação. Um verdadeiro vendaval monetá-

rio pairava sobre o cenário econômico

internacional, ameaçando o caos. Por quê?

Uma das muitas respostas parece estar

escondida na ingênua moral desta histori-

nha chinesa de Lieh Tzu: na rua principal

da cidade, quando o movimento é mais

intenso, um homem quebra a vitrina de um

joalheiro para roubar algumas peças de

ouro. O ladrão é preso, e o delegado de

polícia lhe pergunta:

"O

que deu em você

de roubar ouro na frente de tanta gente?" E

o homem: "Acredite,

senhor delegado:

quando eu roubei o ouro não vi ninguém

em volta de mim. A única coisa que eu vi

foi o ouro..."

Para o editorialista do Financial Times

de Londres, Gordon Tether, o vertiginoso

aumento do metal confirma a tese de que o

ouro está voltando à moda, não somente no

meio dos investidores particulares, mas

também como instrumento de reserva inter-

nacional dos bancos nacionais. A falta de

fé no dólar e nas outras moedas de papel

que o acompanham, teria sugerido aos xe-

ques árabes e aos emires do golfo Pérsico a

conversão em ouro das substanciosas reser-

vas em dólares, em ienes e em marcos acu-

muladas nos últimos tempos, em troca de

royalties para a exploração de petróleo

local. Os países produtores de petróleo

recebem cerca de 5 bilhões de dólares ao

ano, destinados a aumentar até 40 bilhões

daqui a 1980. Essa espantosa quantia, em

um primeiro tempo transformada em mar-

cos alemães e em ienes japoneses, estaria

agora sendo novamente trocada por barras

de ouro. E, se a manobra continuar, o

metal poderá chegar a 100 dólares por

onça, tranqüilamente, até dezembro de

1973. Isto vai certamente acontecer, tam-

bém considerando outra eventualidade: a

de a União Soviética e a África do Sul, os

maiores produtores de ouro do mundo (veja

mapa publicado na página 34), continua-

rem, como fizeram a partir de fevereiro

deste ano, a manter fechadas suas exporta-

ções do metal precioso.

A última cartada

Os Estados Unidos —

protagonistas

deste confuso acontecimento —

estão dis-

postos a jogar até a última carta para sal-

var a supremacia do dólar, que eles consi-

deram tão importante e precioso quanto o

ouro. De um lado, eles não olham com

excessivo temor uma nova desvalorização

da moeda nacional, que já baixou de 10 por

cento em fevereiro de 1973: muito pelo

contrário, uma nova desvalorização só

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Forte Knox: guarda 12 bilhões de dólares em barras de ouro.

poderia favorecer as exportações e conter

as importações. For outro lado, Washing-

ton insiste tenazmente em querer manter a

paridade do dólar com o preço oficial do

ouro —

preço que, pelo visto, ninguém

mais respeita.

Uma das maneiras de conter a avançada

do metal precioso: o ouro, poderia ser a de

lançar no mercado parte das reservas que

os norte-americanos guardam nos cofres

subterrâneos de Fort Knox, no Estado do

Kentucky.

O maior depósito de ouro do mundo, a

50 quilômetros da cidade de Louisville e a

1 000 quilômetros da costa do Atlântico,

foi inaugurado em 1936. Construído em

aço e concreto, o grande cofre federal surge

como um iceberg no meio de uma zona

desértica. Somente a imaginação de Yan

Fleming, o inventor do herói cinemato-

gráfico James Bond, poderia ter posto em

dúvida a segurança de Fort Knox, pano de

fundo do romance GolcUfinger. Na realida-

de, nem um bombardeio atômico poderia

vencer a fortaleza do Kentucky, projetada

para guardar ouro no valor de 19 bilhões

de dólares, e que em janeiro último conti-

nha o equivalente, em metal, a 12 bilhões,

guardados por dois batalhões de soldados,

por tanques, canhões e vigiados continua-

mente por uma patrulha de helicópteros.

O governo do presidente Richard Nixon

poderia decretar a venda de parte deste

ouro, para enfrentar a especulação mun-

dial. Mas o que iria acontecer no dia em

que, além dos países do golfo Pérsico, tam-

bém as companhias multinacionais (que

possuem nos cálculos do senador ameri-

cano Frank Church 280 bilhões de dólares)

resolvessem comprar ouro? Trata-se de

uma eventualidade praticamente irreal,

considerando que boa parte dessas compa-

nhias são controladas por capitais total-

mente norte-americanos. Mas a política

monetária internacional é a arte do possí-

vel: e quando se fala em ouro, qualquer

análise lúcida e aparentemente correta

corre o risco de naufragar no profundo mar

da irracionalidade.

Prova disto está nas conclusões da últi-

ma reunião do Fundo Monetário Interna-

cional, realizada em Washington em mea-

dos de março: poderia ter sido, em vista

dos acontecimentos, uma reunião impor-

tante e definitiva para uma realística e

necessária reforma do sistema monetário

mundial. Muito pelo contrário, não aconte-

ceu absolutamente nada. Deixou-se a maior

parte das moedas do mundo flutuar acom-

panhando não mais o bamboleante cami-

nho do velho Rei Dólar, mas os caprichos

da oferta e da procura. Afinal, quem

saiu

fortalecido mais uma vez da reunião de

Washington foi o ouro.

O vil metal desejado

Uma das peças menos conhecidas do

teatro feita pelo teatrólogo inglês William

Shakespeare, Timon, o Ateniense, publi-

cada em 1623 e poucas vezes representada

(nunca exibida no Brasil), tem um trecho

que merece ser lembrado. O trecho na fiel

tradução do economista brasileiro Santiago

Fernandes, é este:

"Ouro? O metal amarelo, luzento e pre-

cioso? Ê isto que torna branco o preto,

justo o injusto, certo o errado, nobre o

torpe, jovem o velho e valente o covarde.

Por que, deuses? Por que há de ser assim?

Por que qfasta sacerdotes e fiéis de vosso

lado e tira aos homens mais fortes a paz de

espírito?

Vil metal, capaz de fazer e desfazer reli-

giões, abençoar amaldiçoados, tornar o

horrendo leproso adorado e colocar la-

drões, dando-lhes títulos, reverência e apro-

vação, no banco dos senadores. É ele que

faz a decrépita viúva casar outra vez; a ela,

a cuja vista o hospital e as chagas ulcerosas

se nauseariam, ele dará aroma e sabor em

nova primavera.

Maldita substância, prostituta comum

da humanidade, criadora da discórdia entre

as nações, vem, hei de te fazer cumprir tua

verdadeira missão ".

Pelo visto, moralistas e filósofos, teatro-

logos e revolucionários, sem falar de mui-

tos economistas, investidores e poetas,

todos criticam o ouro e seu poderio. O

ensaísta francês Charles Louis Montes-

quieu, em 1750, chegava a denunciar:

"Não há nada de mais extravagante que

fazer morrer um número incalculável de

homens para tirar da terra o ouro, este

metal absolutamente inútil..."

A denúncia de Charles Louis Montes-

quieu não serviu a nada: o costume de

matar, torturar, escravizar, morrer e enlou-

quecer em nome do deus Ouro estava radi-

cado há milênios no coração de toda

humanidade.

O ouro sempre foi acompanhado pelo

sucesso. Sua relativa facilidade de extra-

ção, sua maleabilidade e sua presença em

maior ou menor quantidade em todas as

regiões do mundo garantiram logo sua

popularidade.

Nas ruínas de Ur, na Caldéia, onde nas-

ceu o patriarca Abrão, foram encontradas

as primeiras jóias rudimentares de ouro tra-

balhado a mão. Mais tarde, os arqueólogos

deviam descobrir o requinte dos ourives de

Tróia e de Micenas, onde o ouro já repre-

sentava um papel social e psicológico. No

Antigo Egito, cerca de 1 500 anos antes de

Cristo, o ouro constituía valor de troca,

regularmente contratado. Há referência de

que no VI século a.C., na Lídia, Ásia

Menor, o rei Cresus foi um dos primeiros a

usar o ouro como moeda oficial: pesava

pouco menos de 11 gramas, trazia os perfis

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Se o ouro e^iá difícil de encontrar perto

de casa. é preciso procurá lo mais longe. E

assim os limites da terra e dos mares

ampliam se de década em década. Começa

com Henrique, de Portugal, inaugurando

uma política de além mar. Sempre de Lis

boa, partem mais tarde Bartolomeu Dias.

González, Vasco da Gama, e voltam tra

zendo ouro e escravos, da África e da

índia.

O navegador Cristóvão Colombo, judeu

convertido, nascido em Gênova, em 1451.

na base de experiências anteriores, e acei

tando a teoria da esfericidade da Terra, lan

çada pelo astrônomo florentino Paolo dai

Pozzo Toscanelli, projeta chegar até a Ásia

seguindo um caminho novo, em direção do

Ocidente. Os reis da Espanha gostam da

Os mapas da mina

de liino cabeças, de leão e louro. A moeda

chamava se siaiere, do grego sicu), que quer

dizer "estou

firme", c firme ficou, no reina

do do mundo inteiro

Somente em 46 a.C., em Roma, C ésar

cunha sua primeira moeda de ouro: é me

nor do uue a de Cresus pesa 8.18 gramas,

mas sua influência vai abranger logo todo o

Império e as novas terras conquistadas,

virando arma de pressão política e inaugu

rando um estilo que seria sempre imitado

até nossos dias.

A aventura do ouro desenrola se sem

solução de continuidade durante o primeiro

milênio da era contemporânea. Na longa

noite da Idade Média, de vez em quando

uma luz cintilante afugenta as trevas: é o

ouro (pouco) trazido pelos cruzados que

voltam do Oriente Médio. Quanto custou

este metal em vidas humanas, é melhor

esquecer.

No século XIII, na Itália que conhece

mais do que outras nações os segredos dos

negócios, das trocas, dos fretes e dos b ín

cos —, o ouro assume um papel de defini

tivar importância. Agora o problema é

onde achar mais? A procura é frenética, e

começa a interessar os estudiosos de uma

antiga ciência árabe, os alquimistas. Par

tindo do principio de que na natureza tudo

se transforma e nada se destrói, e da posi

çào mística de que Deus não impediu ao

homem de criar ou recriar à vontade, os

alquimistas chegam a fazer pactos com o

Diabo para transformar em ouro metais

mais vulgares. As experiências são miste

riosas e caríssimas. Mas há mecenas dis

postos a financiar o trabalho dos mestres.

Um deles, Cosimo de Mediei, em 1430,

após ter sustentado durante anos as pesqui

sas de mestre Martius, em FlorenÇa, abre

os olhos e diz: chega. Ao novo e urgente

pedido de Martius, responde enviando uma

bolsa vazia, com o lacônico recado: "Aqui

está a bolsa para Martius encher com seu

ouro. Se não conseguir, que se vá a outras

terras. Comigo, as experiências acabaram"

(Sobre alquimia, veja texto publicado na

página 32.)

O ouro derrotado, pelo

diamante.

30

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idéia, e fornecem a Colombo homens,

dinheiro e navios, para chegar até às ín

dias. Cristóvão Colombo parte, confiante

em suas qualidades de bom navegador e

bom cartografo, e finalmente em 12 de

outubro de 1492 descobriu a América.

Para o governo real da Espanha pouco

faz que se trate das índias ou da América:

tem ouro esta terra? Parece que sim, mas,

voltando de sua primeira viagem, Colombo

consegue trazer somente 4 quilos. Após

mais duas travessias, e pouco ouro, Colom-

bo morre na miséria, esquecido, na cidade

espanhola de Valladolid, em 1506: igno-

rando ter descoberto um novo mundo e ter

aberto para a Espanha as portas do

Eldorado.

Depois de Cristóvão Colombo, agora

que o caminho jà está traçado, é a vez dos

"conquistadores": Cortez, Pizarro,

D^lmagro. E é, finalmente, a vez do ouro

abundante, mas que custa aos indígenas do

México, de Panamá, de Sào Domingos, do

Peru, milhares de vidas humanas. Em

1492, Sào Domingos, por exemplo, conta

com pouco mais de l milhão de habitantes.

S«fiut

coAtmws^êo

Em 1514, só restam 13 000. Mas a Espa

nha é rica.

E o Brasil? Descoberto por Pedro Álva

res Cabral em 1500, os portugueses só

começam a tirar proveito efetivamente de

suas minas em fins do século XVII, quan-

do, após o domínio espanhol (1580-1640),

a metrópole enfrenta uma espantosa crise

econômica. Dizem em Lisboa: "O

impor-

tante é tirar o maior proveito no menor

tempo possível para evitar a ruína". Mas a

coisa nào é tão fácil assim. No México e no

Peru, por exemplo, o ouro era já conhecido,

trabalhado e venerado pelos indígenas.

Aqui, no Brasil, o índio nem se interessava

por este metal, macio demais para fazer

armas, abundante demais para valer algu-

ma coisa.

Para extrair o ouro, é preciso importar

escravos. Mas chegam da metrópole tam-

bém os brancos, com os olhos e o coração

cheios de esperança. Diz um cronista da

época: "Das

cidades, das vilas, dos recón

ca vos, do fundo dos sertões acorriam bran

cos, pardos, negros, índios. A mistura era

de toda a condição de pessoas: homens,

mulheres, moços e velhos, pobres e ricos,

plebeus e fidalgos, seculares e clérigos, reli-

giosos de diferentes institutos, muitos que

nào tinham no Brasil nem convento nem

casa".

As jazidas das Minas do Ouro (mais

tarde Minas Gerais) atraíam tanta gente de

São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, que o

governo foi obrigado a tomar providências

para que não se despovoasse a costa. Mas,

assim mesmo, as lavouras do litoral eram

abandonadas, os engenhos fechados, as

fazendas de criação esvaziadas.

Em 1699 foram enviados para Portugal

os primeiros 725 quilos de ouro. Calcula-se

que, em um século, o Brasil forneceu 80

por cento da produção mundial da época,

com cotas máximas de 4 350 quilos por

ano. (Nos últimos cinco anos, a produção

média do Brasil tem oscilado entre 10 e 12

toneladas anuais, segundo o Ministério de

Minas e Energia. O Brasil é o 14.° produtor

mundial de ouro.)

As grandes corridas

Enquanto no Brasil o ciclo do ouro

acaba praticamente em 1762, tendo sido

firme e cruelmente aplicada a fórmula do

"maior

proveito no menor tempo possível",

na América do Norte prepara-se o terreno

para a mais louca e aventurosa corrida ao

ouro. Até janeiro de 1848 são feitas peque-

nas descobertas isoladas, que enchem mais

de orgulho que de riqueza seus protago

nistas. Mas, de repente, uma palavra mági

Eu vi o Conde de Saint-Germain (236

anos de idade)

Você

gostaria de ver um pedaço

de chumbo transformar-se em

ouro?" O estranho convite foi feito a

Alessandro Porro, quando corres-

pondente da Editôra A bril em Paris,

em março de 1971. Aqui ele conta a

experiência:

O convite partiu de um amigo,

Philippe Latour, presidente de uma

sociedade de ciências ocultas, com

sede no bairro de Montparnasse. (Em

Paris há cerca de duzentos destas

sociedades, algumas com mais de mil

membros, outras contando com as-

sembliias de apenas dez pessoas).

Eu havia freqüentado outras vezes

esta associação, como "membro

ob-

servador", e atê participado de um

debate sobre alquimia, que durou

dois dias, e do qual saímos todos (eu,

Philippe e mais uns quinze interessa-

dos) cansados, mas com as mesmas

dúvidas e perplexidades iniciais.

Agora Latour — estudioso de

alquimia, e confiante na existência

da "panacéia

universal", remédio

capaz de sarar todos os males físicos

e morais da humanidade, e da "pedra

filosofal", indispensável para trans-

formar em ouro os metais mais vul-

gares —

fazia-me este desconcer-

tante convite com a maior

naturalidade. E eu fui.

A reunião foi organizada num

pequeno apartamento da Avenue du

Maine, pouco distante da estação de

Montparnasse, numa atmosfera que

não lembrava em nada os laborató-

rios e as usinas herméticas de Para-

celso, de Papus ou de outros mestres

da alquimia. Móveis brancos, carpe-

te, um televisor, um conjunto de som

e alguns quadros de cores vivazes

contribuíam, muito pelo contrário,

para lembrar à pequena assistência

(onze pessoas) o racionalismo e as

exigências da sociedade de consumo.

De qualquer maneira foi aqui que a

"coisa" aconteceu, da maneira que

vou tentar relatar com a prudência e

a isenção de um escrivão.

O "mestre"

chegou pouco depois

das dez horas. Um "oh "

de surpresa

recebeu o convidado de honra: foi

nesse pequeno apartamento de Mont-

parnasse que eu tive a oportunidade

de conhecer pessoalmente o conde de

Saint-Germain. Agora, que fosse ele

mesmo, ou um brilhante misttfíca-

dor, não sei. Os outros convidados

não tiveram a menor dúvida em

cumprimentar o hóspede, velho co-

nhecido. Alto, magro, o cabelo sal e

pimenta, o rosto jovem, o porte

nobre. Duas coisas podiam deixar-

nos perplexos: sua idade (236 anos) e

sua fama: a de imortal.

O Conde de Saint-Germain foi

muito popular na França do século

XVIII. Conselheiro de Luís XV,

favorito da marquesa de Pompadour.

O rei, fascinado com suas capaci-

dades (sabia aumentar o tamanho

das pedras preciosas, transformar em

ouro moedas de prata e possuía a

receita do "elixir

de longa vida"),

ofereceu ao conde o castelo de

Chambord, onde ele montou um

laboratório de pesquisas, sem dúvida

o mais bem equipado de todos os

tempos.

Vítima dos ciúmes da corte, Saint

Germain foi obrigado ao exílio na

Alemanha, onde continuou seus estu-

dos. Um dia, ele literalmente sumiu:

falaram de morte, mas nunca nin-

guém encontrou seu corpo. Quando

desapareceu, Saint-Germain estava

com 49 anos. Por isso, feitas as con-

tas, quando eu o encontrei, deveria

estar com 236.

Desde 1784, quando sumiu, o

conde provou o poder de sua imorta-

lidade e de sua clartvidência: man-

dou dizer à rainha Maria Antonieta

quão trágica seria sua morte, e mais

tarde conseguiu ser recebido por

Napoleõo, a quem anunciou — no

momento de seu máximo esplendor

imperial — o exílio na ilha de Santa

Helena.

Em tempos mais recentes, Saint-

Germain previu o suicídio de Adolf

Hitler, o atentado contra John Ken

nedy, o sangrento fim de Sharon

Tate e, finalmente, a morte do filho

de Aristóteles Onassis, Alexandre.

Estas terríveis previsões, que po

der iam ter feito do conde imortal o

rei dos azarentos, só conseguiram

que Saint-Germain (numa Paris onde

o esoterismo mistura-se com a mun-

danidade) fosse ainda mais benquisto

e mimado. Até a mais famosa colu-

nista social do país, Carmen Tessier,

que goza da amizade dos poderosos,

como o presidente da República

Georges Pompidou e o cardeal Jean

Danielou, fala dele como de um

charmant garçon, que veste como

ninguém as roupas de Pierre Cardin.

O conde cumprimentou todo

mundo polidamente, e sem perder

tempo disse: "Estou

pronto". Então

um dos convidados ofereceu-lhe um

pedaço de fusível de chumbo, de uns

5 centímetros de comprimento, que

todos nós examinamos com a devida

atenção e desconfiança, e outro apre

sentou-lhe uma tigelinha de aço, com

tampa. O recipiente estava novo,

mas todos, com a qjuda de um prego,

riscamos o fundo e as partes laterais,

para qfastar qualquer hipótese de

truque. Era aço mesmo, foi o vere-

dicto.

Fi

ca faz a volta do mundo: Califórnia. O

ouro está lá, descoberto por acaso por um

marceneiro, James W. Marshall, que traba

lha por conta de um emigrado suíço, Jo

hann August Sutter. As terras onde está o

ouro são de Sutter, ele tem todos os docu-

mentos em ordem, testemunhas e sentenças

de tribunais. .. Mas para que serve tudo

isto, quando 4 milhões de pessoas chegam

á Califórnia em menos de quinze anos, pro

curando o ouro?

James W. Marshall e Johann August

Sutter, praticamente, sào os únicos a ficar

pobres. De 1848 até 1857, em nove anos, a

Califórnia produz ouro equivalente a 445

milhões de dólares. Marshall, pouco antes

de morrer, é nomeado general do exército

norte-americano. Sutter, pouco depois de

morto, é lembrado num monumento de

mármore. Foram as únicas coisas que o

governo americano pôde fazer, para agra-

decer aos protagonistas do mais fantástico

e extraordinário gold rush da humanidade.

Haverá outros, na Sierra Nevada, no

Alasca, no Canadá, na Austrália, mas ne

nhum deles será tão frutífero como o da

Califórnia. Somente na África do Sul, em

1886, vai acontecer algo parecido: ali, após

seis anos de pesquisas, os irmãos Struben

fazem sua descoberta, num planalto a 200

metros sobre o nível do mar. Em homena-

gem ao presidente da República da época,

o bôer Stephanus Johannes Paulus Kruger,

em 20 de setembro de 1886 a cidade funda

da pelos garimpeiros chegados de todo o

mundo cnai.ia-se Johannesburg. Em 1890,

a África do Sul produz 440 000 onças de

ouro. Após nove anos, as onças sào 3

milhões e 600 mil. Apesar da guerra contra

os ingleses, em 1900, e da derrota dos bôe-

res, a produção de ouro vai manter pratica

mente seu nível constante, e ainda hoje a

extração do metal representa o primeiro

recurso do país (com uma produção de 775

toneladas anuais colocando-se como o pri

meiro produtor mundial

— mais de 27

milhões de onças). O Estado controla a

produção, mas fornece aos concessionários

os benefícios de uma política fiscal bas-

tante branda. Outra facilidade o Estado

fornece aos exploradores das minas: ho-

mens para trabalhar, negros, mantidos na

segregação racial e obrigados aceitar salá-

rios irrisórios.

E os russos? Se houve corrida, ninguém

soube. Primeiro produtor de ouro do

mundo, antes da Califórnia, a Rússia dos

Czares conseguiu manter uma boa posição

até o começo do século, com 30 toneladas

em 1900 e 55 em 1914. Depois, com a

Revolução de outubro de 1917, o trabalho

nas minas parou de vez. Já sabemos o que

itgut

transformar um pedaço

de chumbo em ouro

"Estou pronto", disse novamente

SaintGermain, e mostrou para todos

um medalhão que portava pendurado

ao peito, embaixo da camisa, em

contato com o corpo. Esse medalhão

era daqueles que se abrem: dentro,

havia um pó cintilante, com reflexos

verdes e azulados. A assistência

comentou baixinho, com respeito e

admiração: "É

o pó de projeção".

Isto é, na linguagem dos alquimistas,

a pedra filosofal pulverizada.

O conde pediu que o pedacinho de

chumbo fosse

"molhado " no pó, de

leve, antes de ser posto na tigela

imediatamente tampada. Assim foi

feito, e logo após fomos todos para a

cozinha. Uma cozinha bem pequena,

que cheirava a ovos fritos e mostar-

da. O fogão foi ligado, o gás logo

envolveu a tigelinha, e passaram-se

sete minutos, durante os quais Saint-

Germain ficou na sala, perto dajane-

la, olhando para a noite de Paris.

"Está recitando mentalmente a

fórmula esotérica que somente ele

conhece", disse um. "Nada

disto, ele

não precisa, ele é bom demais ",

disse

outro. "Será

que vai sair ouro

mesmo?", comentou um terceiro,

falando baixinho. Todos lhe dirigi-

ram um olhar de censura, e o cético

ficou vermelho e calado.

Finalmente, Saint-Germain apare-

ceu na cozinha. Seu rosto estava

sereno, seu olhar ainda mais pene-

trante. Sem olhar sequer para a tige-

la, disse: "Habemus

aurum ",

temos o

ouro. O latim é uma das oito línguas

que o conde fala normalmente, inclu-

sive o chinês e o sãnscrito. O gás foi

apagado, a tigela destampada, e lá

estava o ouro.

Durante sete minutos, o pedacinho

de metal amarelado, do mesmo ta-

manho do fusível de chumbo, ficou

resfriando. Enquanto isso, na sala, o

ourives Raymond Schillinger, 39

anos, com loja no número 3 da Rue

Cité Berger, que tinha sido especial-

mente convidado, preparava seus

instrumentos de análise: mas bastou

uma gota de ácido nítrico para que o

ourives olhasse espantado para o

conde — agora sorridente

— e dis-

sesse: "Mas

é ouro, não há dúvida

nenhuma, c'est de l'our".

Foi assim que eu vi, com meus

olhos, um pedaço de chumbo trans-

formar-se em ouro. O Conde de

Saint-Germain ficou mais um pou-

quinho com a gente, e respondeu

tranqüilamente a muitas perguntas.

"O senhor aceita a idéia da

morte?"

"Sim, porque ela nào existe."

"Mas para que serve a eterni-

dade?"

"Serve-me para continuar

minha procura do Absoluto."

"Como o senhor vive, física-

mente?"

"Eu nào como, quase nào

durmo, mas, se nào chego a me

condicionar, acabo ficando cansado

e sentindo terríveis dores."

"O que representa para o se-

nhor a transformação do chumbo em

ouro?"

"A transformação é o resul-

tado de nossa sabedoria, é a recria-

ção da matéria."

"Dizem que o senhor vive

luxuosamente..."

"É verdade, mas já vivi muito

melhor, como no castelo de Cham-

bord, nos tempos de Sua Majestade

Luís XV. Por outro lado — se é isto

que querem saber —, eu nào uso o

ouro que fabrico para minhas exigên-

cias pessoais: é uma questão de

ética..."

"Afinal, senhor conde: por que

o- senhor realiza de vez em quando

estas experiências em público ? "

"É preciso provar aos homens

que existem aqueles que possuem a

chave da existência. Eu sou um deles.

Eu, e poucos outros, possuímos o

segredo da Pedra. Um dia, talvez,

este segredo será revelado, e a huma-

nidade viverá mais tranqüila. Ou

acabará de vez: este é um risco que

quem possui o segredo da Pedra

pode correr."

Nos últimos dois anos, o Conde de

Saint-Germain realizou outras vezes

suas experiências em público. Na

noite de 28 de janeiro de 1972, ele

transformou uma barra de chumbo

em ouro na frente das câmaras da

ORTF, a televisão francesa, durante

o programa

"O Terceiro Olho

", diri-

gido por Jacqueline Boudrier e René

Marchand. Hoje, Jacqueline é dire-

tora do Segundo Canal de TV fran-

cesa, e confessa: "Em

quinze anos de

televisão, nunca vi algo parecido

".

A transformação de um vil metal

em ouro não é de hoje. Desde a Idade

Média, os alquimistas estudaram,

procuraram e talvez conseguiram

penetrar no mistério da pedra filo so-

fal. Uma prática oculta e perigosa,

que muitas vezes levou seus partici-

pontes à loucura ou a fazer pactos

com o Demônio. Com exemplar luci-

dez, o estudioso lisboeta do século

XIX Cecílio Rodigênio adverte no

seu raríssimo volume A Arte de

Fazer Ouro: "Esta

atividade é peri-

gosa por dois motivos: o primeiro é o

pacto com o Diabo, e o segundo a

fraude, quando esse ouro é empre-

gado na fábrica de dinheiro, o que só

ao Estado épermitido ".

OURO.

Lènin achava do "vil

metal'*. Sialtn. ao que

parece, não acompanhou o caminho indi

cado por sou ilustre companheiro de lutas,

e começou a olhar para o ouro da Sibéria

como qualquer concessionário burguês.

Afinal, mão de obra para a extração é que

não faltava.

A última notícia sobre o ouro soviético é

da CIA, Agência Central de Informações

norte americana, que garantia para o

ano de 1940 — uma produção bastante

substanciosa de 127 toneladas. Depois, é o

mistério. Um mistério praticamente impe

netrável, que deixa abertas as portas para

mais de uma avaliação: dizem os Estados

Unidos que a União Soviética produz 150

toneladas por ano. Os ingleses calculam a

mesma produção em 500 toneladas, e

garantem que é verdade: os serviços secre

tos de Sua Majestade conseguiram contar

as caixas de madeira de pinho que o Banco

Central da URSS usa para a condicionar

as barras.

Com estas e outras avaliações, chega se

á média de 345 toneladas por ano (isto é.

aproximadamente 12 milhões de onças). O

que não é nada mau, considerando o valor

dobrado do ouro, e as dívidas da URSS

com o mundo ocidental realizadas nos últi

mos anos para importar trigo: afinal, o pão

que chega á mesa dos soviéticos, após o

incrível aumento de Londres, vai ficar

quase de graça.

Todo o ouro do mundo

O ouro: é uma coisa séria? A pergunta é

de George Bernard Shaw, o teatrólogo

Os países que

mais produzem

ouro

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b Jj ..¦à.. a .d. Bll tfitíiaUüS.

inglês, e .se não existissem as mil u agé

dias que acompanharam durante setenta se

culos sua história poder se ia responder

como Napoleão Bonaparte: "L'or?

Con

nais pas" (O ouro? Nem conheço). Mas.

desde 1944, ele não pode ser ignorado:

nesse ano, os Estados Unidos, ainda em

guerra, mas com a vitória garantida, reuni

ram na cidadezinha de Bretton Woods os

representantes de todos os países industria

lizados do Ocidente, e estabeleceram o gold

pool, isto é uma espécie de consórcio do

ouro, que previa uma relação indissociável

entre o dólar e o metal. O acordo durou até

quando a economia americana deu sinais

de boa saúde. Quando começaram as pri

meiras crises, foi o fim de Bretton Woods c

de suas boas intenções. Agora, conside

rando o ouro dos Estados Unidos, o da

URSS. o da África do Sul, o de todos os

outros países, e até o ouro dos pequenos

investidores, existem no mundo não mais

de 100 000 toneladas de ouro. Isto significa

5 000 metros cúbicos, ou melhor, um cubo

medindo 17,8 metros de cada lado. Uma

coisa insignificante, perto das pirâmides do

Egito. Diz o economista francês René

Sedillot: "Pensem

só: 7 000 anos, 100 000

toneladas, e uma febre que não acaba

nunca Jirtt

Uma

jóia por

dez milhões de dólares

Contai: o ouro está na moda.

Aloja

fica no número 12 da Rue de

la Paix (uma das mais sofisti

cadas do centro de Paris). Na entra

da, porém, uma placa bastante dis

creta diz simplesmente: Joaillerie

Cartier". Aí estão os mais famosos

joalheiros do mundo, constantemente

solicitados por artistas de cinema,

monarcas, ou magnatas do petróleo.

Dentro da loja a decoração também

é discreta, com paredes de madeira

cinza trabalhada, provavelmente

para realçar as jóias, colocadas em

mostradores de vidro. Existem seis

saletas, cada uma com uma espécie

de escrivaninha, e os clientes são

atendidos isoladamente, por funcio

nários que usam terno azul marinho

e gravata sóbria. Não há limite de

escolha: pode-se comprar desde um

simples isqueiro folheado a ouro, pot

400 francos (pouco mais de 400

cruzeiros), ou um colar de 600000

dólares (mais de 3,5 milhões de

cruzeiros). E, se alguém desejar uma

jóia de 10 milhões de dólares, demo

ra um pouco, mas também é perfeita

mente possível.

Jean Charles Contat, o jovem

responsável pelo departamento de

criação, é quem decide o que vai ou

não ser fabricado. Ele usa dois anéis,

tipo aliança, de ouro fosco, um bra

celete de ouro no pulso direito e a

corrente do relógio, no pulso esquer

do, também é de ouro. Em seu sóbrio

escritório, ele deu um depoimento a

REALIDADE, explicando por que a

procura pelo ouro não é uma questão

de moda:

"Na verdade, o ouro sempre esteve

na moda. De vez em quando pode

haver uma preferência por outros

metais, como no início do século,

quando Louis Cartier lançou os

engastes de platina para certas pe

dras preciosas. Mas o ouro repre

senta um desejo permanente da hu

manidade. Antigamente (a casa

existe desde 1847), os nossos~clientes

eram pessoas para as quais o di

nheiro não tinha muita importância,

nem mesmo sentido: os czares da

Rússia, rainhas da Espanha, ioda a

aristocracia da Europa, a milionária

americana Barbara Huton, todas fi

guras importantes. O rei George VII,

sempre que vinha a Paris, não deixa

va de comprar alguma coisa para os

amigos. Vinha muitas vezes a Paris e

tinha muitos amigos. Nunca pergun

tou o preço de nada. Mas, hoje, as

coisas mudaram: antes de comprar,

até Aristóteles Onassis discute o

preço das jóias. Em compensação.

descobrimos a juventude. Essa era

uma clientela que não existia anits.

E essa passou a ser a nova orienta

ção da casa. Estudos de mercado qut

encomendei recentemente vieram

apenas confirmar uma impressão que

eu já tinha."O

gosto pelo ouro atinge a juven

tude de todo o mundo, e a prova está

no êxito dos nossos colares, bracele

tes, correntes e os milhares de isquei

ros que exportamos. Na verdade,

ouro puro não existe em jóias. O

ouro de 24 quilates é tão maleável

que não se torna possível fazer qual

quer coisa durável com ele. O ouro

começa a ser empregado à partir de

22 quilates. Na França, a lei exige

que não se desça abaixo de 18 quila

tes, mas nos Estados Unidos ou Itá

lia é possível ir até pouco menos de

14 quilates. Naiuralmente, o preço

de uma jóia depende da arte com-que

ela foi fabricada. Uma jóia assinada

por Cartier, sempre terá um valor

acima da média. De qualquer manei

ra, pode se dizer que, mesmo sem

considerar o preço do ouro bruto, a

compra de jóias foi desde o começo

do século um grande investimento,

devido ao encarecimento da mão de

obra. Assim, um broche que custava

1 000 dólares em 1920, custaria hoje

pelo menos 50 000 ".

34

Escolha aqui o tipo de emoção

que

você

quer

despertar em mala

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MiL' ¦• •**¦, 1 *F^*ai/^^t •

vt^ l»5y -v.

Para maio, a época do ano em que

as mulheres mandam mais

ainda, a Colorex tem o presente que

elas estão esperando.

Lindas caixas com aqueles produtos que já

estão acostumados

a fazer o coração de todas bater mais forte.

A linha Colorex Marfim, com peças para

usar todo dia sem

medo de derrubar no chão, porque

é difícil de quebrar

e fácil de repor.

A linha Colorex Arabesque, todinha em branco com

decoração marrom, especial para quem gosta

de jantar

à luz de

velas e receber gente

importante em casa.

E as caixas Colorex, que

têm a combinação das linhas

Marfim, Arabesque e Transparente, numa embalagem que

deixa o

presente com cara de coisa importada.

Em maio, dê Colorex.

E prepare-se para

reações incríveis.

Até o entregador vai ficar comovido, principalmente

com a gorgeta que

ele vai receber por

entregar

um produto

tão emocionante em caixas tão lindas.

A mãe enxuga

uma furtiva lágrima

pensando na cara

do filho querido,

quando ela servir

aquela comidinha

gostosa num

prato

Colorex Arabesque.

Qualquer noiva

solta gritinhos

emocionados por

um jogo

de

Colorex Marfim.

Um casamento feliz

pode começar

com gritos.

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Um produto

Santa Marina

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SAUDADES,

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ANEKAMENTE

l

Reparem nas duas mulheres ao lado. A do porta-retratos,

Marilyn Monroe,

morreu há mais de dez anos. A outra, Elke, assumiu o espectro de

Marilyn, veste-se como ela e proclama:

"A

moda nunca se renova.

Está sempre procurando

recursos do passado.

Logo, a única maneira de

enfrentar a moda é partir para

o deboche".

Como Marilyn, fonte de inspiração, e Elke, discípula fiel, imagens

de antigamente e consumidores de hoje mantêm um diálogo

cada vez mais intenso. A nostalgia se espalha nas roupas, nos filmes»,

nos discos, que

voltam ou imitam os de ontem, nos automóveis,

nos anúncios.

"O

passado é sempre feliz", dizem os

psicólogos.

"Não

há futuro no passado",

condenam os sociólogos.

"O

passado vende", contentam se os industriais da novidade.

Separadas por

dezenas de anos, as duas mulheres da foto

simbolizam um vendaval de suspiros que

tomou conta do Ocidente

e faz de 1973 o ano das reprises, submetendo todos

a uma poderosa

lei que

os obriga a sentir saudades.

IhXIO DE Gfc.RAi DO MA\ KlNK

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HOJE

I em os vermes chatos da praia

de Copacabana escapam da lei.

Quando transferidos para um

^ aquário, eles continuam fazendo

durante algum tempo inúteis movimentos

de enfiar-se e sair de uma areia imaginária.

A memória, ou "persistência

do passado",

é esta lei autoritária e fundamental para

todos os seres vivos. E na estima pelo dia

de ontem, assim como no prazer do retro-

cesso, está um sentimento que atualmente

percorre o mundo: a nostalgia.

A (tostalgia

de 1973 foi precedida por

muitas outras. Os antigos romanos inveja

vam o sistema político dos gregos. Os poe

tas do século XIX, temerosos pela transfor

maçào de estilo de vida que a Revolução

Industrial lhes impunha, sonhavam com a

"arte

pela arte" e lembravam os modelos

do Renascimento quinhentista. Mas a re-

prise de agora é tão gigantesca e tão cheia

de detalhes anacrônicos que os ponteiros

da saudade humana jamais giraram em

velocidade tão frenética. Esta marcha à ré

tem seus defensores felizes, como os indus-

triais da novidade que adaptam qualquer

lei — mesmo a da memória — às leis do

mercado e das vendas. Tem também seus

críticos sombrios, como o filósofo alemão

Marx Horkheimer, co-fundador da célebre

Escola de Frankfurt (de onde saiu um outro

pensador muito citado até recentemente,

Herbert Marcuse), que lamenta: "Os

radi-

cais da negação, de antes, olham com sau

dades para trás, para o que não mais

existe".

Felicidade e desespero tecem a onda de

nostalgia em partes certamente desiguais.

A superfície é brilhante. As mulheres se

vestem como suas mães e avós há vinte,

trinta ou quarenta anos atrás. Na mitoló-

gica Carnaby Street, em Londres, onde os

compradores remexem em busca dos tem-

pos perdidos, os farrapos históricos estão

expostos nas vitrinas por ordem de antigui-

dade, em décadas, a partir da de 20.

Dentro das casas, os sintomas conti

nuam insistindo. A televisão se trans

formou no grande museu da memória hu-

J*

S|||

Em cena: Chaplin, Bogart

mana e quem liga o seu aparelho, em

qualquer noite da semana, pode presenciar

situações tão esquecidas que alguns che-

gam a duvidar de sua autenticidade. Há

Lucille Bali (presença constante nas TVs

americana e brasileira, com seu programa

cheio de velhas celebridades, como os

remanescentes Irmãos Marx) e John Agar

fazendo juntos a impossível viagem de O

Tapete Mágico (1951). Há Henry Fonda

declarando de cima de um cavalo a Cathy

Downs, no final de Paixão dos Fortes

(1946): "Clementina.

Que nome bonito,

meu Deus!" E mesmo Errol Flynn, numa

Por Cr$ 2 300,00, este

Volkswagen ganhou a

frente de um Rolls-

Royce. modelo 19S3.

de suas incontáveis aventuras de guerra,

conclamando seus homens a enfrentar os

inimigos de ontem: "Agora,

vamos acabar

com os malditos amarelos!"

Velhos filmes de Charlie Chaplin são

oferecidos sistematicamente aos especta

dores mais novos. Casablanca (1943), cujo

fascínio para as platéias de hoje cresce a

cada representação, mereceu até um filme

recente, Sonhos de um Sedutor, no qual

Woody Allen sonha em ser Humphrey

Bogart. Uma retrospectiva de Greta Garbo,

no começo do ano, agüentou-se oito sema

nas em cartaz em São Paulo, para surpresa

da própria dona dos filmes, a Metro, a

mesma empresa que todos os anos, numa

pontualidade maníaca, reexibe o seu festi-

vai de operetas, encabeçado pela célebre

dupla de namorados cantadores: Jeannette

McDonald e Nelson Eddy.

Os sinais do dfyà vu não se limitam à

tela da TV ou às reprises. Qualquer ouvido

A

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L

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O Mercedes-Benz modelo

1928 está rodando de

novo nos Estados Unidos,

numa cópia exata.

Esta reprodução do MG de

1932, apresentada no Salio

do Automóvel, já está à

venda no Brasil.

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A reprise geral: cartazes, faces

e momentos de antigamente estão

de volta nos cinemas ou através

da televisão. Filmes modernos

vão sendo rodados segundo

modelos de ontem. Raquel Welch

(à esquerda) foi a última estrela

lançada com o velho apelo sexual

Marta Raye, 56 anos, a

vedete de No, No Nanette

Lucílle Bali (esquerda) e Harpo Man

Mar Iene Dietrich (1932)

Jeanette McDonald e Nelson Eddy

Em família: Judy Garland

(com Mickey Rooney, em

1938), Liza Minei li em

Cabaret, em 1972.

Greta Garbo e Melvyn Douglas (1939)

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pode captar iu> iadio sons do além como os

de Civis, "lhe

Pelvis", Presley cantando

sua velha Tutu Frutti e a mais recente

(cronologicamente) Sylvia. O Trio Irakuà

lembram? reapareceu no fim do ano

passado com o l F Os Sucessos que Goslu

mos de Cantar e até mesmo heróis implau

síveis para o gosto de hoje, como Pai

Boone, o moço imaculado cujo topete ja

mais roçou a lesta de suas namoradas nos

filmes, mereceu um relançamento em forma

de antologia. Os Grandes Sucessos de

Hollywood.

Como foi bom o ano de 1972! Com

ponto de exclamação e suspiros, este pode

bem ser o lema de uma indústria disposta a

aumentar os índices do Saudosismo Nacio

nal Bruto. E esta indústria não parece dis

posia a viver apenas da reedição de

momentos passados. O melhor filme do

ano passado, segundo muitos críticos brasi

leiros e estrangeiros, foi A Última Sessão

de Cinema, produzido em 1971 mas am

bientado em 1951, revelando às novas pia

téias, entre outras coisas, a beleza que pode

existir numa tela quadrada e no preto e

branco. Os tiros de O Poderoso Chefão,

disparados numa Nova York mudando

entre os anos 30 e 50, e as canções de

Cabaret, cantadas e sapateadas por Liza

Minnelli na Berlim de 1931, arrancaram

aplausos e cifrões. "l.aife

i< Inuuiul. I aite

is biútiful!". grilava Joel (irey, o mestre de

cerimônias de Cubarei, cuja maquilagem

branca e boca em forma de coração reapa

receram no último carnaval carioca.

Mais que uma canção, o grilo entoado

em Cabaret aparece como hino e porta es

landarie de um movimento tão amplo que

passa da moda ao cinema, da música aos

padrões de comportamento, dos automó

veis à publicidade. No Brasil, a indústria

do SNB pode ainda ser considerada modes

ia e ignorante da carga de nostalgia que o

"país do futuro" pode ou não pode

suportar. Não há aqui nada parecido com

os 50 000 exemplares de velhas aventuras

de Buck Rogers consumidos mensalmente

nos Estados Unidos ou o pool de mais de

trezentas estações de rádio americanas que

passaram a reprisar seus seriados dos anos

30 e 40. Nem a inflação de velhos musicais

encenados na Broadway (um deles, No,

No, Nanelte, de 1925, está outra vez em

cartaz há três anos com Manha Raye.de56

anos, no papel principal), h nem o requinte

das reedições sucessivas da revista Liberty,

que reproduz notícias e boatos de antiga

mente (uma manchete recente da revista:

"Bonnit e Clyde Ia/cm uovas .iiiuaçus

meio oeste ). I*. seria exagerado esperar

tanto do mercado brasileiro. Os anierica

nos, mais que qualquer oulio povo. já se

moldaram a esse riiual obsessivo. A canção

White Christmas, por exemplo, cantada

por Bing Crosby. apareceu durante a

Segunda (iuerra em IX rpm. Virou faixa

num LP de 1955, foi adaptado para estéreo

em I9M, para fila em I9b6 e para estéreo

cassette em I96K. Nada nem mesmo

uma bela e politizada canção natalina da

extinta dupla Simon & Garfunkel. inierca

lando sinos e órgãos com notícias da guer

ra do Vietnam arranca os lares america

nos de seu momento de ternura celebrado

por Bing Crosby. Parece natural: não ape

nas Frank Sinatra jamais cede lugar entre

os maiores vendedores de discos, mantendo

o mesmo repertório, como está se tor

nando imaginável um programa de rock

sem gravações antigas dos Beatles ou dos

Rolling Stones.

Para a maioria dos países que passaram

a desenterrar imagens e ruídos do seu pas

sado, o exemplo americano foi, com toda

Cauby Peixoto

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1968, ano do tropicalismo liderado por ele, Segunda Guerra Mundial), Nelson Gomjal

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conhecido no Brasil) e —

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certa desde o seu desaparecimento, na

Segunda Guerra Mundial), Nélson Gonçal-

ves, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Bill

Haley (o primeiro nome do rock a se tornar

conhecido no Brasil) e — pasmem!

— os

primeiros de Roberto Carlos, do tempo do

"Calhambeque". O LP de Nora Ney

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so. Em 1967, ano de Alegria, Alegria, e

1968, ano do tropicalismo liderado por ele,

letras e canções e roupas dos músicos

Os Rolling Siones em 1966

Bing Crosby

Frank Sinatra

Caetano VclosoRay Conniff Roberto Carlos

Louis Armstrong

Elvis Presley

Luiz Gonzaga

D alva de Oliveira

Pat Boone

Dick Farney

justiça, o primeiro a ser seguido. A revista

alemã Der Spiegel queixa se, com ainargu

ra, que os americanos "infeccionaram

a

Europa com o seu capitalismo de consu

mo". No front interno americano, porém,

outros observadores justificam que o país

tendia naturalmente para defender se com

o que tinha de melhor. James A. DufTy,

diretor da cadeia de televisão ABC, afirma

que

"uma

parcela ponderável" de telespec

tadores simplesmente desliga seus apare

lhos diante de programas que tratem de

assuntos como poluição, guerra ou aumen

to da criminalidade nas cidades. A revista

Newsweek —

uma das três ou quatro mais

influentes do país —

chega a relacionar a

reeleição de Richard Nixon com tempos

mais felizes: "É

um reflexo das saudades

americanas pelos anos aparentemente sere

nos que precedem o trauma dos anos 60".

Se esses anos eram ou não realmente mais

felizes, pouco importa para a lei da memó

ria. Em 1945 — quando os americanos já

entoavam o White Christmas — a imagem

mais repetida pela imprensa era a de Jane

Russell mostrando metade dos seios num

carta/ de O ProscrUo. Esta imagem itapu

receu em revistas nostalgieas dos anos 70 c

virou pôster. Em 1945, alguns milhares dc

americanos haviam morrido antes que u

guerra acabasse, embora o pôster renas

cesse duas décadas e meia depois como

evocação de "tempos

felizes". Seriam me

lhores os dias dos americanos de 1972.

com o país envolvido na guerra do Viet

nam, enquanto em Las Vegas a última ten

tativa de Hollywood em lançar uma estrela

segundo os padrões do "Sex

Symbol", Ra

chel Welch, era aclamada a número 1?

Os brasileiros, como todos os outros

povos, podem também partir em busca de

"tempos mais felizes", com ou sem aspas,

em seu curto passado. O exemplo da can

çào natalina como expoente máximo de

nostalgia parece perfeitamente adequado.

Nos Estados Unidos, como no Brasil, sau

dade se sente primeiro com os ouvidos -

ou em mesa de botequim. A lista de reedi

ções de espetáculos musicais relançados no

Brasil, de 1968 para cá. forma a pré his

tória da atual nostalgia brasileira e um dos

principais redatores das linhas mestras do

enredo é — como não? —

Caetano Velo

v.omcçuvum insistentemente a leuituar um

passado brasileiro de bananeiras e "vcca

çào agrícola" nu época já meio sepultado.

Cármen Miranda, morta em 1955 e a prin

cipal redescoberta de Caetano (outras:

Lui/ Gon/aga, o rei do baião, e Vicente

Celestino, de Coração Materno), passou a

ser uma espécie de santa padroeira e mode

Io do "show

business" nacional. Cármen

foi reverenciada indiretamente por Leila

Diniz em Tem Banana na Banda (1970) e

diretamente por Marília Péra em A Peque

na Notável (197 1), além de ter fornecido a

outros setores -

como a moda — os seus

turbantes ornados com a flora tropical e

seus saltos estratosféricos.

Estas imagens e sons tirados do túmulo

não passaram despercebidos. As gravado-

ras prepararam se para um estouro de anti-

guidades, embora as proporções do merca

do tenham até o momento permitido

apenas o barulho de um estalo. Os discos

mais vendidos em algumas lojas do centro

do Rio, segundo seus donos, são de Ray

ConnifT (que sempre dá a impressão de ser

mais antigo do que realmente é), Glenn

Miller (as reedições de vendagem mais

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Lívio Rangan, do Consórcio da Moda

Brasileira: um "mau

gosto

sublimado'* para a mulher de 72-73

O cabeleireiro Richard Matauron: os

penteados saltam cinqüenta anos

para trás, procurando a naturalidade

Ugo Castellana: mulheres mais

esguias, com a cintura menos

marcada, como na década de 50

primeiro em mais de dez anos — vendeu

5 000 cópias nos quarenta primeiros dias

de circulação, só* no Rio e São Paulo, em

fins do ano passado. Outros pontos de refe-

rência — como Tito Madi e Dick Farney

— já haviam sido testados durante o sau-

doso ano de 1972, com resultados conside-

rados satisfatórios pelas gravadoras, ven-

dendo cada um cerca de 20 000 discos.

Dois luxuosos álbuns de Francisco Alves,

"o Rei da Voz", e um de Dalva de Oliveira,

a rainha dos trinados, saíram no começo de

1973. Milton Miranda, diretor artístico da

Odeon, responsável por estes lançamentos,

não acredita porém em nostalgia. "É

mais

um caso de alfabetização. Um público mais

culto valoriza o que é bom." As mesmas

reservas transparecem nas declarações de

Armando Pitigliani, diretor da todo-pode-

rosa Philips. Ainda assim, a gravadora Phi-

lips arriscou — e não se saiu mal. A série

No Tempo dos Bons Tempos (doze discos,

3 000 coleções vendidas, num total de

36 000 cópias) abriu o caminho para as

fanfarras e os surdos de uma superpro-

dução digna da Hollywood de antigamente,

Cem Anos de Carnaval. Com 130 músicas

tocadas pela famosa Banda do Canecão, "a

maior cervejaria do mundo".

O barulho provocado por estes lança-

mentos foi bastante alto para chegar até um

velho prédio da praça Mauá, no Rio,

quartel-general da mais poderosa emissora

de rádio que o país já conheceu, a Radio

Nacional. Mas muitas das pistas para a

ressurreição do p&ssado parecem, no caso

da Nacional, perdidas para sempre. O jor-

nalista Júlio Hungria, que assumiu a dire-

ção artística da emissora por dois meses,

em 1970, conta que relançou o programa

Vale a Pena Ouvir de Novo ao meio-dia

(antes era transmitido à meia-noite), com

apresentação do veterano Renato Murce, e

recebeu uma quantidade

"incrível" de car-

tas e telefonemas de ouvintes. Quando

Hungria chegou para o seu primeiro dia de

trabalho, encontrou algo parecido a uma

trincheira arrasada. Discos contendo pro-

gramas que deliciaram outras gerações —

Gente que Brilha, Papel Carbono, PRK-30,

Piadas do Manduca, Um Milhão de Melo-

dias e Nada Além de Dois Minutos —

estavam jogados num banheiro do 22.°

andar.

Ainda assim, a emissora apresentou al-

guns sinais de vida, com a ressurreição de

um de seus pratos fortes, a radionovela,

varrida das programações com a ascensão

da televisão. Quem se interessaria por ela?

"Muita

gente", revela Daisi Lúcidi, a dire-

tora do departamento de radionovela. Uma

pesquisa revelou que o público da Nacional

estava mais interessado em ouvir novelas

antigas do que novos enredos. Diz Daisi,

que é também uma atriz de voz delicada e

que em outros tempos se especializou em

interpretar heroínas românticas: "Existem

ainda muitas pessoas que não têm televisão

e que encontram no rádio um grande

companheiro".

Assim, ela teve a idéia de dar mais força

ao horário das 2 às 5 da tarde, o tempo útil

das donas de casa entre os últimos esterto-

res do almoço e os primeiros aromas do

jantar. Nestas três horas a radionovela era-

vara suas bandeiras, desde a década de 40.

Em agosto, começou a ser transmitida,

mais uma vez, A Noite do Meu Destino

(originalmente apresentada em 1957), com

Daisi e Paulo Gracindo nos principais

papéis e mais Cauby Peixoto numa ponta e

cantando o tema musical. Quando chegou

ao fim, em dezembro, entrou no seu lugar

A Casa da Solidão e, num outro horário,

Ternura (lançada pela primeira vez em

1944), com Tereza Amayo e Cláudio

Cavalcanti. Daisi garante o sucesso de A

Noite do Meu Destino, embora não possa

indicar índices de audiência. A Nacional,

mesmo com a volta de suas novelas, conti-

nua sendo anterior ao Ibope.

Contemporâneos a muitos dos sons e

ruídos emitidos por estes personagens hoje

semi-esquecidos são as cores e enfeites que

as mulheres aplicam a seus corpos. Alguns

costureiros têm convicção — embora só os

mais corajosos ou mais cínicos o afirmem

— de que a única moda original é a par-

reira de Adão e Eva. Nos planos dos indus-

triais e comerciantes, no entanto, tudo se

passa de maneira diferente. Todo ano nasce

uma "nova

mulher" e a de 1972/73 (talvez

até de antes) aparece com decotes agressi-

vos, drapeados, tecidos colantes, estampa-

dos de "mau

gosto sublimado", na expres-

são de Lívio Rangan, do Consórcio da

Moda Brasileira. E mais: a cintura marca-

da, os saltos "ortopédicos".

Assim, não foi difícil à bútique Frágil, de

Ipanema, viver desde 1970 na base da fan-

tasia. Nos seus boás, plumas, vestidos de

jérsei compridos com cortes laterais trans-

parecem os modelos originais de atrizes do

passado, como Jean Harlow, Marilyn Mon-

roe ou Marlene Dietrich — figuras fantas-

magóricas para a maioria das compradoras

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dessas roupas. Numa outra loja, a Bonita,

considerada o termômetro do gosto da

classe média carioca, vendem se frentes

únicas (modelo 1950), tamancos de 10

centímetros, saias compridas mas tudo

muito bem comportado, num outro sinal de

que a nostalgia indumentária vai deixando,

também, de ser uma extravagância dos

mais ricos ou mais cheios de imaginação.

Esta "proletarizaçào".

segundo alguns, é

natural. Nào só as mulheres que a desfru

taram em casa ou cm ambientes universi

tários se beneficiam do seu conhecimento

do passado. Tudo é muito natural na moda:

a tendência nostálgica representaria justa

mente uma reação tanto ao estilo "jean"

quanto à moda espacial, de linhas rígidas,

que teriam transformado a mulher numa

silhueta despersonalizada e antifeminina.

Esta reação, segundo o costureiro Ugo

Castellana, romano há dez anos*no Brasil,

remete a mulher aos anos 50: "A

mulher

parece mais esguia, e com a cintura menos

marcada. Acredito que daqui a duas cole

çòes vai ser possível marcar mais a cintura,

desde que as mulheres façam ginástica".

Mas este efeito de máquina do tempo nào

poderia passar sem algumas tempestades.

O cabeleireiro Richard Mareei Matairon.

de São Paulo, acha que saudosismo é falta

de imaginação: "A

mulher de hoje tem um

estilo de vida inteiramente diferente do da

mulher de 1950. Acontece que os pentea

dos de 1960 eram extremamente artificiais,

com os eriçados e os laquês, e a mulher

procurou voltar aos penteados naturais, de

cinqüenta anos para trás"\

Nostalgia fora de moda?

E alguns se arrependeram de sua adesão

rápida demais ao apelo do passado. Clodo-

vil, um verdadeiro pioneiro da nostalgia,

que quase três anos atrás vestira uma noiva

de Cármen Miranda, acusa: a nostalgia

nào tem rqfinnement. E coloca uma lápide:

"As mulheres procuram se fantasiar bus-

cando na indumentária a diversão que não

conseguem ter de outra forma. É a recher-

che du temps perdu. A nostalgia está

demodée ".

Estará? Alguns críticos sustentam que

esta volta ao passado é forçada pelos meios

de comunicação como uma forma a mais

assumida pelo Júpiter da sociedade indus-

trial, o vendedor. Nos cartazes e filmes de

propaganda da cerveja Carlsberg e nos dos

automóveis Dodge, no ano passado, a nos-

talgia espalhava-se valentemente como

apelo ao consumo. A cerveja era relacio-

nada a um Cabaré do estilo "belle

époque",

onde o próprio protótipo do artista boêmio

do século XIX, o pintor Toulouse-Lautrec,

aparecia numa das mesas. O automóvel, de

linhas modernas, era encaixado entre pes-

soas de fraque, passeando num campo de

um verde inverossímil numa cidade de

hoje. A Ford preferiu usar filmes mudos,

com suas imagens desfilando apressada

mente: a mocinha aparecia amarrada numa

44

Cores modernas, balanço de ontem

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Enfeites, originais ou de imitação

Para quem usa chapéu

linha de trem, mas o mocinho aparecia a

tempo, montando o seu Corcel. para salva

Ia da locomotiva assassina.

Enfim, esses anúncios apenas oferecem

produtos de hoje aproveitando como mol

dura as saudades de ontem. Mas o fenó

meno da nostalgia pode, numa última

etapa, ir mais longe, confundindo se tam

bém com o luxo, com o culto pelo raro. Um

dos grandes sucessos automobilísticos nos

Estados Unidos, em 1972, foi a cópia de

um Mercedes Benz de 1928. A contrapar

tida nacional apareceu no último Salão do

Automóvel, quando os Móveis Láfer apre

sentaram — sob aplausos e admirações ge

rais — uma réplica do carro MG, modelo

1952, que sofreu algumas mudanças imper-

ceptíveis para aumentar a funcionalidade e

o conforto. Só no Salão foram feitas 140

reservas, a CrS 25 000 cada. Até o fim do

ano, estarão dirigindo esses carros muitos

brasileiros de 1973 que, em 1952, ou nào

tinham idade ou nào tinham dinheiro para

comprar o original. Até mesmo * alguns

milagres plásticos podem ser notados na

indústria automobilística da saudade. O

sedà Volkswagen, o menos nostálgico de

todos os objetos, com sua eterna repetição

do modelo original dos anos 30, está sendo

oferecido no Brasil com uma profunda

cirurgia na sua parte dianteira. Por CrS

2 500,00, o interessado pode instalar um

capô Míni-Rolls no seu fusca, dando por

um instante a impressão de que seu carro é

um Rolls-Royce 1955, de onde o capô foi

copiado. A firma brasileira Edmorba, que

faz o lançamento, pretende colocar 24 000

J desses Volks-Royce nas ruas até o fim do

£ ano. Toda uma indústria começa a movi

$ mentar seus negócios com esta saudade:

o cadeiras de balanço, porta-chapéus, objetos

2 de estanho, relógios para lareira, enfeites, o

exército de peças expulsas das casas mo

dernas passa a ser oferecido em velhos ori-

ginais ou produzidos em série de imitação.

E o que mais? No mais, muitas novida

des em matéria de nostalgia vão surgindo

enquanto a maioria das pessoas continuar

achando o seu passado mais estimulante

que suas perspectivas futuras. As fantasias,

os penduricalhos, os turbantes, os carros,

objetos, ritmos e imagens de outras épocas

podem perfeitamente atender a comer-

ciantes e consumidores, cumprindo de

mãos dadas o fatalismo das leis da memó-

ria e do mercado. Os dois santos nomes

mais citados neste século já haviam ditado

os limites e o parentesco dessas leis. Karl

Marx, no Manifesto do Partido Comunista

(1848), afirma que na sociedade burguesa o

passado domina o presente. Sigmund

Freud, nos anos 20, publicou algumas de

suas experiências sobre a memória e a

necessidade incontrolável do ser humano

de lembrar seus momentos felizes. A nos-

talgia é um sonho? Pouco importa. Quando

a moda passar, todqs se sentirão mais ou

menos como a criança privada de sobre-

mesa pela mãe. Um dia esta criança acorda

feliz, e conta sorridente que durante a noite

comera todas as cerejas da casa.

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PARIS

ZURICH

MADRID

PANAMÁ

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RIO DE JANEIRO

SÃO PAULO

Avianca

pode

levar

voce a meio mundo

Todas as segundas e quinta-feiras,

pela manhã, um Boeing da Avianca

parte

do Rio e de São Paulo.

Logo depois de um almoço sobre os

Andes, esse jato pousa

em Bogotá,

Colômbia.

A partir

daí, em conexão, a Avianca

lhe oferece o seu meio mundo. São 174

cidades nas 3 Américas e na Europa.

Rapidamente, no vôo mais reto que

existe, a Avianca deixa você no México

e Los Angeles.

Ou em Miami e New York.

Ou em San Juan

e Europa.

Ou numa meia dúzia de países

sul

americanos na costa do Pacífico.

A escala em Bogotá lhe dá o tempo

justo de

percorrer as lojas tax free do

aeroporto e se abastecer de scotch,

vinhos, perfumes,

câmeras, objetivas,

e mil presentes.

Mas você pode prolongar

a sua

estada na Colômbia.

Pode adiar a chegada ao seu destino

final porque

vale a pena.

A Colômbia oferece o Caribe, com

suas águas mornas e incrivelmente azuis.

Oferece os picos

eternamente nevados dos

Andes. A sua floresta amazônica, com ín-

dios e tudo. Cidades modernas, cidades

históricas, casinos, vida noturna.

Tudo isso a preços

de deixar o brasi-

leiro doido.

Uma diária em hotel de luxo, com

piscina, boite, televisão e refrigeração em

todos os quartos,

custa Cr$ 80,00 por

dia, por

casal.

Uma refeição de abade, com vinho e

música, não passa

de Cr$ 40,00.

Esse paraíso

do turismo é o trampo-

lim da Avianca para o seu meio mundo.

Venha conhecê-lo.

Avianca

A primeira linha acrca das Américas

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Hi ara Churchill. era um cachorro preto,

que o seguia com uma fidelidade

desesperante e incansável. Para Abraham

Lincoln, o sonho, todas as noites repetido,

com seu próprio caixào. Para Pascal, a

imagem de um abismo que. a seu lado. ia se

abrindo à medida que ele andava.

Essas e inúmeras outras obsessões insóli

tas de homens célebres fazem as delícias

dos biógrafos e de seus leitores. Para os

psiquiatras, psicanalistas e psicólogos,

porém, o cachorro, o caixào e o abismo

nada tem de estranho. Nào passam de sim

bolos de uma doença crônica que ator

menta o homem desde que ele existe. Na

Grécia do século V antes de Cristo. Hipó

crates batizou a de "melancolia",

atribuin

do-a ao excesso de bílis preta. Depois de

Freud, ela é conhecida pelo nome menos

romântico de "depressão".

Acredita se que

seja a causa de metade dos 60 000 suicídios

que ocorrem, em média, por ano, nos Esta

dos Unidos. No Brasil, estatísticas impreci

sas dificultam comparações. Mas sào sufi

cientes para que o dr. Aluísio Colares,

diretor do Sanatório da Glória, no Rio.

afirme que,

"dentre as doenças mentais, o

estado de depressão é o responsável pelo

maior índice de suicídios".

O que é a depressão? Freud a definiu

como reação à perda, consciente ou incons

ciente, de um objeto amado. Tentando um

exemplo, zoologicamente concreto, o psi

quiatra de formação psicanalítica, Hum

berto Haydt de Souza Mello, de Brasília,

imagina o encontro de um coelho e um

leão:

"Quando vê o leão, o coelho sente medo.

angústia. É a reação do organismo diante

de uma ameaça. Quando o leão o ataca, ele

sente dor. Se escapar, ferido ou aleijado,

sofrerá o peso da depressão. Já passou o

perigo e a dor: sobrou a perda. Por menos

que tenha sofrido, a imagem que fazia de si

mesmo foi atingida. Aquilo que gostaria de

ser, diante do leão, transformou-se em uma

fantasia que os fatos desmentiram."

O homem, mais imaginativo que o coe-

lho, é também mais vulnerável. Ele se atola

na depressão pelos motivos mais imprevisí

veis. Os especialistas discutem até hoje

sobre o assunto. Uns dizem que a depres

são é uma doença física, como todas as

outras. Sua origem estaria na química

imperfeita do corpo. Outros afirmam que o

mal é puramente psíquico. Para estabelecer

uma base de discussões e comparações, a

maioria dos médicos aceita a distinção

entre a depressão endógena e a exógena.

A depressão endógena (também conhe

cida como psicótica, autônoma ou prima

ria) não parece ser provocada por nenhum

trauma exterior significativo na vida do

doente. Ela é o resultado de um conflito

interno. O dr. Baron Shopsin, do Centro

Médico da Universidade de Nova York.

chega a suspeitar de causas bioquímicas.

Os sintomas mais importantes da depres

48

sào endógena sào apatia, falta de amor

próprio, perda de apetite e de desejo sexual.

O doente acha difícil continuar traba

lhando. Seu estado de ânimo é instável,

com quedas pela manhã e melhorias ao

anoitecer. Seu quadro clínico é parecido ao

de um alcoólatra cm fase de recuperação.

As crises depressivas podem durar meses e.

de repente, desaparecer. Em outros casos,

elas se repetem com uma regularidade

calculável. Os depressivos endógenos sào

particularmente sensíveis ao tratamento

por remédios.

^j^á a depressão exógena (também

chamada de reativa, secundária ou neuró

tica) teria sua origem em acontecimentos

externos. Os depressivos exógenos -

muito sensíveis e. em geral, de personali

dade dependente — dormem e comem

exageradamente, como para compensar a

sensação de perda. Sofrem de apatia e desá

nimo, mas a variação de seu estado de espí

rito é bem menos previsível. As altas e bai

xas podem ocorrer a qualquer momento.

Quando tratados, os pacientes reagem me

lhor à psicanálise e à psicoterapia do que

aos tratamentos psiquiátricos mais tradi

cionais, baseados no uso de remédios e.

eventualmente, no recurso a choques elétri

cos.

Mas as divergências sobre as causas nào

impedem os especialistas de observar cer

tas constantes no aparecimento de estados

depressivos. Um fenômeno que se notou é

que a procura de psiquiatras e psicanalistas

é mais intensa depois das férias ou de festas

como Natal, Ano Bom e carnaval. Cha

mou se a isso de "paradoxo

das férias". E

apontaram-se várias razões.

Uma delas é que o período de férias traz

à tona lembranças da infância e põe em

contato mais íntimo pessoas da mesma

família que. durante o resto do ano, só se

encontram esporadicamente. As férias são

também, desde a infância, um período do

qual se espera muito. É a época dos presen

tes e das retribuições. Para o adulto,

porém, essa expectativa infantil, nunca

esquecida, é quase sempre decepcionante.

"As férias", diz o dr. Arthur Prange Jr., da

Universidade de Carolina do Norte, nos

Estados Unidos, "são

organizadas para

garantir o desapontamento". O dr. Marco

Aurélio Baggio, psicanalista e psiquiatra de

Belo Horizonte, constata que,

"após o car

naval, que coincide com o fim da tempo

rada do verão e do período de férias, o nú

mero de quadros depressivos aumenta

nitidamente. Éa vivência da quarta feira de

Cinzas — a própria depressão —

que, para

muitos, se estende por bem mais do que um

dia".

Para o dr. Marco Aurélio, o fenômeno

pode ser observado dentro de uma periodi

cidade ainda menor. "Mais

freqüente que o

paradoxo das férias", diz ele. "é

o 'para

doxo do fim de semana*: o indivíduo traba-

lha a semana inteira. No sábado c domingo

está irritado, mal humorado, abatido e nào

consegue descansar c divertir se como

tinha planejado. O mais freqüente é buscar

alívio no álcool."

dr. Humberto

contesta o interesse da estatística. "Sc

o

Natal e as férias fossem motivos de depres

sào. a melhor maneira de curá Ia seria aca

bar com eles. Ê ingênuo afirmar que ;i

depressão aumenta num determinado pc

ríodo do ano, pois o verdadeiro motivo

está no indivíduo. Ele tem todo o disposi

tivo montado para entrar em depressão, só

falta um pretexto para desencadear o pro

cesso. As férias nào produzem necessaria

mente uma sensação de perda. Mas. se uma

pessoa tem o trabalho como única maneira

de existir, e porque ela nào possui uma

identidade, uma personalidade desenvol

vida, nem maturidade cm sua relação com

o mundo. Entào, durante as férias sente se

deprimida, como se tivesse perdido um pe

daço de si. Outra coisa que é importante

lembrar é que o reverso da depressão é a

mania: a procura de objetos externos para

compensar uma sensação de perda interior.

Trabalho, passeios e viagens podem ser

recursos maníacas. De modo que existem

pessoas que sempre foram depressivas c

nunca souberam disto."

Seja como for. os dados mostram

com clareza que. para aqueles que estào

predispostos à depressão, as férias podem

ser trágicas e mesmo fatais. "As

depressões

realmente graves e os suicídios ocorrem

nos quatro primeiros dias de janeiro", afir

ma o médico americano dr. Robert Litman.

co diretor do Centro de Prevenção ao Sui

cídio. de Los Angeles. "F.

a pior semana do

ano."

Também o dr. Marco Aurélio Baggio

concorda dom a existência de um "calen

dário depressivo": "A

partir de março, co

meça a aparecer um grande número de pes

soas deprimidas, à procura de ajuda para

desmanchar o cipoal de seus conflitos psí

quicos. A incidência da depressão, inician

do se em março, evolui durante os meses

mais frios, até o fim de cada ano. quando é

freqüente o aparecimento de uma forma

leve de depressão, o famoso esgotamento,

milagrosamente curado, na maioria dos

casos, com a simples troca de ano".

No Rio de Janeiro, o psiquiatra Belmiro

Salles observou que em dezembro há uma

maior freqüência de atendimentos em am

bulatórios psiquiátricos. (Nem todos os

casos, porém, sào de depressão.) No início

de cada ano. principalmente cm janeiro,o

índice se mantém alto. caindo na época do

carnaval e voltando a subir em março. No

%egue

As mil maneiras de se tratar

Depressão pode ser um desânimo passageiro,

que se dissolve numa dose de uísque. Ou um

desalento tão profundo que leva ao suicídio. Se

for provocado per fatores externos (morte de

alguém, por exemplo), é absolutamente normal.

Se for de origem puramente subjetiva, poderá

srr uma neurose ou mesmo uma p rico se (cotfio

no caso extremo da catatonia, na qual o doente

permanece dias completamente imóvel).

Como curar as neuroses e as psicoses? Em li

nhas gerais, pode se dizer que existem três tipos

de tratamento; a psiquiatria, a psicanálise e a

psicoterapia Ou sela, se traduzirmos os radicais

gregos: "a

cura da olmo ". "a

análise da alma "

e

"o tratamento da alma

". Mas a etimologia

não esclarece as dúvidas, assim como a enurrte

ração simplificada não abrange todas as tera

pias existentes. No Brasil, existem represen¦

tantes de quase todas as correntes mundiais de

terapias de neuroses e psicoses. Sem entrar em

detalhes, pode se enumerar:

Psicanálise Ortodoxa, ou Freudiana

O paciente deita se num divà. de costas para o analis

ta, que tenta descobrir e levar a sua consciência às ori

gens da neurose. P. defendida como o único tratamento

capaz de chegar às origens da doença. Sua desvantagem

é ser cara (de Cr$ 80.00 a Cr$ 250.00 por sessão, cinco

vezes por semana e nào tem pra/o de duração previsí

vel). A Psicanálise Kleincana (baseada nos estudos dc

Mclanie Klein) deriva se da Ortodoxa. Fxistem. no Brn

sil, 299 psicanalistas, filiados à Associação Brasileira

de Psicanálise. Quase todos são ortodoxos ou kleinen

nos.

Psicanálise Culturalista

Ou da Escola Americana. Baseada na teoria de Fricb

Fromm e outros. Processa se em um nível mais cons

ciente c procura ver o paciente cm relação ao meio (cul

tura) no qual vive. Não se usa o divà e as scssòes podem

ir dc três a cinco por semana Os psicanalistas ortodo

xos acusam os culturalistas dc serem pouco científicos e

mesmo pouco responsáveis

Psicanálise Jungiana

Fundamentada nos estudos de Jung, discípulo c.

depois, adversário de Freud. Ê feita da mesma maneira

que a psicanálise ortodoxa: divà c cinco vezes por

semana. Mais mística, interessa se principalmente pelo1-

símbolos oníricos, reveladores do "inconsciente

colcti

vo". e na pesquisa dos lados misteriosos da alma huma

na. Seus adversários a chamam de "espiritismo

da

psicanálise". Tem poucos seguidores no Brasil.

Psicanálise Existencial

Baseada em Heidegger tem. ao contrário das outras

terapias, raízes filosóficas e não científicas, o que leva

muitos a nào a considerarem como uma psicanálise. No

método (uso do divà. etc.) é igual A ortodoxa.

Psicoterapia de apoio

É uma terapia mais rápida, indicada para os casos de

menor gravidade. A participação do analista é mais

intensa e as sessões podem ir de duas a quatro por

semana. O preço de cada sessão varia de Cr$ 60.00 a

Cri 180.00.

Psicoterapia reflexolõgica

Baseada nos estudos de Pavlov. Age sobre os sinto

mas e se propõe a erradicar os condicionamentos nega

tivos. Ê, em geral, usada para resolver problemas espe

cíficos — impotência sexual, fobias ou cacoetes. O

médico mantém contactos não só com o paciente, como

com seus familiares. Os adversários da reflexologia afir

mam que, por nào chegar às raízes da doença, ela não a

cura realmente, limitando se a provocar o desapareci

mento de alguns de seus sintomas.

Psicoterapia Gestaltista

Encara a neurose como o resultado de uma visão errada

do mundo e propoe se a mostrar ao paciente outros

pontos de vista. Sem o divà. Sessões de duas a quatro

vezes por semana.

Laboratório de Sensibilidade

Em três sessões, de seis horas seguidas cada. um grupo

de dez a quinze pessoas, orientadas pelo terapeuta.

tenta pôr a nu a personalidade e os problemas de cada

um. usando jogos, técnicas psicodramáticas. técnicas

nào verbais (tocarem se sem dizer nada) e expressão

corporal. Nào chega a ser uma terapia e, pela violência

que pode atingir, nào é recomendado para pessoas que

não esteiam em tratamento.

Psicodrama

Ou "técnicas

dramáticas", é um método utilizado em

algumas forma , de terapia. Pode ser realizado indivi-

dualmente. cm grupos, casais ou famílias. Os pacientes

dramatizam seus problemas ou representam o papel dos

outros, em uma tentativa de compreender suas motiva

çôes.

Treino de Sensibilidade

Ê uma espécie de Laboratório de Sensibilidade, com

menos gente e menos violência. Realiza se. em geral,

uma vez por semana e cada sessão dura uma hora. P.

muito usado em teatro, para desinibir os atores. Como

tratamento, é considerado uma pré terapia.

Ludoterapia

Usada no tratamento dc criancas O medico induz a

paciente a brincar c* fazer jogos e analisa seu

comportamento.

Psicoterapia de Grupo,

de Orientação Analítica

O grupo é composto de oito a doze pessoas e o analista

tenta uma interpretação coletiva do material apresen

tado. De duas a três sessões por semana.

Psicoterapia Preventiva

Usada para ajudar o paciente a enfrentar uma crise

objetiva que pode prever: mudança de emprego ou dc

cidade, por exemplo. Quando o tratamento é feito de

pois de um choque violento (morte de parente, etc ), é

chamado de Psicoterapia de Crise.

Grupo de Crescimento

Terapia de conjunto. Um casal de psicólogos e cinco

pacientes dos dois sexos. Usada para ajudar a enfrentar

problemas de puberdade. É uma das variações da co te

rapia (tratamento por dois psicólogos).

Psicoterapia Breve

São tratamentos com tempo limitado e destinados a

resolver um problema determinado. Na entrevista de

contrato o prazo e o objetivo são fixados pelo psicólogo

e o paciente. A média é de dezesseis sessões, duas vezes

por semana. O psicólogo evita tratar de outros proble

mas além do principal, mas pode haver um recontrato.

caso haja necessidade de tratar de outros assuntos.

Tratamentos Psiquiátricos

São, em geral, feitos com o auxílio de remédios e. em

certos casos, de internação e aplicação de eletrocho

ques. As escolas mais modernas empregam, ao mesmo

tempo, as técnicas clássicas e a psicoterapia e mesmo a

psicanálise. A experiência mais interessante que está

sendo feita neste campo são as Comunidades Terapêu

ticas. Trata se de clínicas onde os pacientes são trata

dos de maneira a nào ficarem segregados do mundo

exterior (como nos hospícios e casas de saúde). O trata

mento é feito através de remédios, psicoterapia e entre

vistas com as famílias. Alguns pacientes, que nào preci

sam ser internados, passam o dia na clínica e dormem

em casa (chama se a isto Hospital Dia). Numa comuni

dade terapêutica particular, o tratamento custa de CrS

3 500,00 a CrS 5 000.00 mensais.

Outras Terapias

Vários psicanalistas e psiquiatras utilizam métodos

baseados em suas próprias observações e descobertas.

É o caso do dr. José Ângelo Gaiarsa. de São Paulo, que

da ênfase especial à relação entre ps nrur "ses e o apare

lho respiratório.

Nas psicoterapias de grupo, os problemas que surgem são encarados em função do conjunto.

¦9%

No psicodrama, os pacientes representam seus problemas e emoções, numa tentativa de compreender suas origens.

i-

^jjj^^lllll^l^^lll

Em quase todas as técnicas psicanalíticas, o paciente deita se num diva, sem olhar o médico.

5'

¦9%

DE PRESS A<

resto do ano a média c variável, com uma

ligeira elevação cm julho.

A maioria dos médicos concor

da com o dr. Humberto Haydt quando este

afirma que, por mais corretas que sejam as

estaüsticas, elas só dizem respeito ao

aspecto mais superficial da questão. As

verdadeiras causas dos estados depressivos

sào internas. A observação de uma maior

ou menor incidência de suicídios ou dcpres

soes em determinados meses só tem inte

resse no que possa ajudar à descoberta das

raízes do mal.

As férias, por exemplo, no que implicam

em inatividade. obrigam as pessoas a

enfrentarem seu mundo interior. Da mesma

maneira que as festas anuais funcionam

como um teste das relações familiares.

"Desde criança", diz o dr. Haydt,

"nos

ensinaram que o Natal é a época de a famí

lia toda estar reunida. Época de confrater

nizaçào. quando os inimigos fazem as

pazes e as pessoas se presenteiam e se des

culpam. A realidade, porém, é muitas vezes

diferente e frustrativa. Com o carnaval

acontece a mesma coisa. Se o investimento

psicológico tiver sido muito grande, a quar

ta-feira de Cinzas significará perda. Pode

mos notar isto pelas próprias canções de

carnaval. A maioria dos bailes acaba com

todos cantando: 'É

hoje só. amanhã não

tem mais'. É a própria canção da melanco

lia. A canção do objeto bom que está fugin

do do nosso alcance."

4

entro desse ponto de

importante quanto as épocas do ano são as

épocas da vida. Nos Estados Unidos obser

va se uma maior incidência de depressão

entre os jovens. Alguns psiquiatras salien

tam a existência, na juventude, de um esta

do de apatia penetrante que acreditam ser

fruto da confusão de valores sociais provo

cada pela guerra do Vietnam. Outros falam

do uso intensivo de drogas. "Na

maioria

das vezes", afirma o dr. Litman. "o

recurso

às drogas não passa de uma medicação

auto-receitada contra a depressão."

Mas sejam quais forem as causas, os nú

meros são significativos. Segundo o Centro

de Prevenção ao Suicídio, de Los Angeles,

a proporção de suicídios entre pessoas de

vinte a trinta anos, mais do que dobrou: de

18 para 41, em cada grupo de 100 000.

Enquanto isto, o percentual de suicídios

entre os mais velhos tem diminuído cons

tantemente. No Hospital de Yale-New

Haven. o número de pacientes que deram

entrada por tentativa de suicídio aumentou

onze vezes desde 195 5, muito mais do que

ceria previsível pelo aumento da popula

ção. A maioria tinha menos de trinta anos.

O fenômeno não parece ser caracte

rístico da sociedade norte americana. O dr.

Galeno Procópio Alvarenga, do Hospital

Psiquiátrico Raul Soares.de Belo Horizon

te, situa a faixa de maior número de tentati

vas de suicídio entre 15 e 25 anos. O psi

quiatra carioca Bclmiro Salles tem uma

explicação para o fato. O que existe, segun

do ele, não é uma crise da juventude, agra

vada pelas condições do mundo moderno.

A juventude e só uma das crises de transi

ção, inevitáveis na vida das pessoas.

"A adolescência, por exemplo", explica,

"é a fase onde se registra urtia incidência

muito grande de casos de depressão e suicí

dio. Ê a época em que o jovem está saindo

de um período agradável de sua vida. na

qual se sente protegido pela família e só

pensa em se divertir e se vê forçado a assu

mir a condição de adulto. A partir daí. a

vida vai exigir dele que trabalhe, assuma

compromissos e aceite responsabilidades.

Outra fase difícil é a que se situa dos 38 aos

46 anos. quando as pessoas começam noto

riamente a descobrir que vão ficar velhas.

O trabalho vai ficando mais difícil, a saúde

já não é tão boa, os filhos, à medida que

crescem, afastam se cada vez mais dos

pais. A tomada de consciência de que a

velhice é inevitável provoca as reações

mais diversas A depressão c uma das mais

freqüente1;"

Ma tentativa de procurar as causai

que levam à depressão e facilitar seu diag

nóstico por um médico não especialista, o

dr. Aaron Beck. da Unidade de Pesquisas

sobre Depressão, do Philadelphia General

Hospital, elaborou um "inventário

depres•

SIVO .

Trata se de uma simples lista de declara

ções, dividida em categorias, que incluem

aspecto emocional, motivação, imagem que

as pessoas têm de si próprias, sintomas físi

cos e comportamento. Cada declaração é

um ponto marcado em uma escala ascen

dente de diagnóstico de depressão. Por

exemplo: "Eu

não me sinto desapontado

com minha própria pessoa" marca zero,

enquanto "Eu

me detesto" marca 3. Dentro

da categoria Perigo para Si Mesmo, "Eu

não tenho nenhuma vontade de causar

algum mal a mim mesmo"' marca zero, ao

passo que

"Eu me mataria se tivesse

oportunidade" marca 3. Na categoria Ima

gem de Si Mesmo, as declarações variam

de "Eu

não acho que minha aparência é

pior do que antes" (zero), ate "Acho

que

sou feio e minha aparência é repulsiva" (3).

Um total inferior a 4 indica um estado

normal. De 4 a 7, estamos diante de um

caso de depressão suave; de 8 a 15, de

depressão moderada e, acima de 16, de

depressão grave. O dr. Beck admite que o

diagnóstico da depressão é complexo, mas

acredita que os sintomas das cinco áreas

abrangidas pelo teste fazem um todo. "Sc

você descobriu sintomas na área emocio

na!'*, afirma ele. "provavelmente

os encon

trará também no comportamento, motiva

ção e nas outras categorias."

Discute se muito, atualmente, sobre a

importância da tensão nas crises depressi

vas. Haverá, realmente, a depressão endó

gena pura,que se origine totalmente no inte

rior do doente? Um estudo feito em 1960.

na Washington Univcrsity, cm Saint Louis.

sugere esta possibilidade. Entre os quarenta

pacientes internados por depressão no Bar

nes Hospital, somente alguns tinham passa

do por episódios que podiam ser considc

rados importantes para a doença

Investigações mais recentes, porem, leva

ram a outros resultados. Médicos da Uni

dade de Pesquisa sobre Depressão, do Cen

tro de Saúde Mental de Connecticut.

estudando a vida de 185 pacientes, desço

briram que a maioria tinha sofrido alguma

espécie de trauma logo antes da doença

manifestar se.

Dentro dessa linha de raciocínio, o dr.

Thomas Holmes, da Washington Univer

sity, de Seattle. elaborou uma lista de 43

choques emocionais que podem ocorrer na

vida de qualquer um. dando um valor

numérico para cada um deles. O valor

varia, conforme a gravidade, da morte de

um cônjuge (100 pontos), às festas de Natal

(12) e a uma pequena violação da lei (11).

Quando pediu a 54 estudantes de medicina

que anotassem as tensões que tinham sofri

do durante um ano. Holmes verificou que

86% dos que haviam acumulado mais de

300 pontos tinham sofrido uma mudança

importante na saúde e muitos apresen

tavam sintomas de depressão. O dr. Wil

liam E. Bunney. do Instituto Nacional de

Saúde Mental, constatou que.mesmo entre

os depressivos endógenos. um trauma apa

rentemente insignificante quase sempre

problemas conjugais ou sexuais — tinha

precedido à internação. Sua conclusão:

praticamente todos os estados depressivos

sào mais ou menos diretamente provocados

por algum tipo de tensão.

classe social de uma pessoa pode torná Ia

mais propensa à depressão. Baseando se no

fato de que muitos homens emulheres céle

bres eram depressivos, alguns médicos che

garam a sugerir a hipótese de que as pes

soas criativas, sensíveis ou ricas, seriam

particularmente vulneráveis. A explicação

parece ser mais simples: de modo geral, só

uma pessoa rica pode pagar um psicana

lista ou um psiquiatra. Estudos que estão

sendo feitos agora, nos Estados Unidos,

entre pacientes de clínicas psiquiátricas

gratuitas, mostram que os estados depres

sivos sào muito freqüentes entre os pobres."Os

sintomas básicos e os sintomas típi

cos", diz Myrna Weissman. da Unidade de

Pesquisa de Depressão, do Centro de

Saúde Mental de Connecticut. "sào

seme

lhantes para pretos e brancos e para

pacientes de alta ou baixa classe."

O eletro sono é uma das técnicas utilizadas pelos reflexologistas para erradicar os condicionamentos negativos.

O psiquiatra e psicanalista Francisco de

Paes Barreto, de Belo Horizonte, oferece

uma explicação. "Acho

que, no Brasil", diz

ele, "a

depressão é, proporcionalmente,

mais comum nas camadas ricas da socieda

de. Entre os pobres, ela apresenta sintomas

diferentes. O mais comum é a somatiza

çao.

A discussão se repete quando se fala de

uma maior incidência de casos de depres

são e suicídio em países ricos do que nos

subdesenvolvidos. Estatisticamente, em ter-

mos de mortalidade, o suicídio por depres-

são é um problema tão sério, nos Estados

Unidos, quanto o diabetes ou a leucemia.

"O suicídio é uma doença de proporções

suficientes para ser considerado problema

de saúde pública", diz o dr. Seymour Fer

lin, diretor do Programa de Suicidologia da

Hopkins University.

No Brasil, as estatísticas, como sempre,

são incompletas. Uma das razoes é que não

existe enlrosamento entre as Secretarias de

Justiça e Saúde e o IBGE. Os suicídios

cometidos cm casa sào da alçada da Justi

ça, mas as pessoas que morrem nos hospi

tais públicos ficam sob a jurisdição da

Secretaria de Segurança local. O resultado

é que o IBGE afirma que, em 1969, houve

122 suicídios na Guanabara, enquanto o

Instituto Médico Legal registrou 285. Oúl

timo Anuário Estatístico que fornece dados

sobre o assunto é o de 1971, registrando,

em todo o Brasil, 3 105 suicídios e 4 524

tentativas em 1969 e revelando um maior

número de ocorrências nas capitais.

"No campo, as pessoas estão mais prote

gidas pela natureza", diz o dr. Aluísio

Colares. "A

gente vê o dia amanhecer.

Fica se mais próximo da fonte da vida. É

como se estivesse mais junto da mãe. Na

cidade grande, o homem fica mais despro

tegido, sente vontade de encolher. E o enco

lhimento maior é o suicídio."

¦ elas estatísticas do IBGE. o índi

ce dc suicídios, no Brasil, seria de 3.7 para

cada 100 000 habitantes. Na Alemanha

Ocidental, esse índice é de 41,7; na Dina

marca de 19,1 e na Suécia de 18,5. Na

América do Sul, porém, o Brasil lidera a

porcentagem, com mais suicídios que o

Chile (3,1), Peru (1,4) e Equador (0,6).

"Embora sem números exatos", afirma o

dr. Luís da Rocha Cerqueira, coordenador

da Assistência Psiquiátrica do Estado de

São Paulo, "sabe

se que os suicídios obede-

cem, no Brasil, a uma regra mais ou menos

universal: nas sociedades desenvolvidas há

maior número de suicídios e menos homicí

dios. Nos Estados do sul, por exemplo, há

mais suicídios do que no nordeste, onde a

violência se manifesta em homicídios. No

Canadá ou na Suécia acontece o contra

rio."

Os dados parecem confirmar a crença

em que o suicídio, como a depressão —

uma de suas principais causas —, crescem

em função direta do progresso. Como a

poluição do meio ambiente, seriam um dos

componentes da face negra da civilização

*egue

DEPRESSÃO con<lu««o

industrial. Mas, da mesma maneira que a

afirmação de que as pessoas ricas sào mais

sensíveis a crises depressivas, a conclusão

pode ser apressada. O professor Othon

Bastos, do Departamento de Psiquiatria e

Psicologia Médica da Faculdade de Medi

cina da Universidade Federal de Pernam

buco, resume o mal entendido em uma

frase: "Nào

é que a Suécia tenha um maior

número de suicidas. Acontece que. lá, os

dados sào honestos".

A s estatísticas, porém, mesmo

quando honestas, nào apresentam uma

radiografia exata da realidade. Da mesma

maneira que há depressivos que nunca che

gam a tomar conhecimento de seu mal,

escondendo-se atrás de uma atividade fre

nética, há milhares de suicídios que nào são

recenseados. "Nào

posso me basear em

dados estatísticos", afirma o dr. Humberto

Haydt, "mas

tenho a impressão de que

morre muito mais gente por suicídio do que

por doenças graves. Digo mais: a metade

dos suicídios nào chega a ser descoberta.

Se levarmos em conta a quantidade de sui-

cídios 'a

prestação* que existe por aí,

vamos ver que o suicídio é uma instituição.

Ê quase uma maneira de viver se matando.

São modalidades de suicídio inconsciente.

A intenção consciente é viver mas, incons-

cientemente, o indivíduo pensa na morte."

Mas, mesmo incompletas, as estatísticas

já são bastante expressivas para assustar os

médicos. Nos últimos anos, uma farmaco-

péia inteiramente nova de drogas contra a

depressão apareceu no mercado. Um medi-

camento antigo foi redescoberto: os sais de

lítio, componente comum de águas mine-

rais de várias partes do mundo. A ação do

lítio ainda não é bem conhecida, mas ele

está sendo, cada vez mais, usado como tra

tamento específico de crises maníacas. To-

mado com regularidade, pode prevenir epi-

sódios maníacos e alguns médicos acham

que diminui, também, o risco de quedas

depressivas.

Além dos novos remédios, tem havido

uma grande melhoria nas técnicas de terá-

pia por eletrochoques. O tratamento ainda

é matéria de grande controvérsia entre os

psiquiatras, mas tem sido usado com consi-

derável sucesso em muitos pacientes. O

National Institute of Mental Health de

Washington iniciou um programa de pes-

quisa em grande escala, sobre a terapia da

depressão. O projeto, com um orçamento

de alguns milhões de dólares, contará com

a colaboração das maiores instituições de

saúde mental dos Estados Unidos, para

avaliar e melhorar as possibilidades de tra

tamento da depressão através de remédios,

psicoterapia e choques.

eletrochoque foi descoberto, por

acaso, na França, quando um paciente acu

sou melhoras depois de ter recebido uma

descarga elétrica. "Quando

o método foi

aperfeiçoado", lembra o dr. Humberto

Haydt, "virou

uma verdadeira cachaça.

Todo mundo queria usar o eletrochoque

para curar tudo. Hoje já se sabe que tem

indicações precisas: os estados depressivos

profundos, a catatonia e surtos delirantes

agudos de certas psicoses. Para essas indi-

cações, é um grande instrumento terapèu

tico mas, apesar disto, está sendo evitado,

porque já existem remédios que o substi

tuem."

O eletrochoque tem, sobre as outras terá

pias antidepressivas, a vantagem de pro

porcionar resultados imediatos, o que o

torna particularmente valioso no controle

de pacientes potencialmente suicidas. O

tratamento consiste em uma descarga de

150 a 170 volts aplicada na cabeça do

paciente, através de um par de elétrodos.

Não se sabe ainda explicar exatamente por

que o método funciona. Alguns médicos

acham que a descarga elétrica altera a quí

mica do cérebro. E muitos acreditam que o

uso excessivo dessa técnica pode ter efeitos

permanentes na memória e no conheci

mento.

T o nos Estados Unidos quanto

no Brasil há denúncias sobre o uso arbi-

trário do tratamento. Um levantamento

feito, há meses, em Massachusetts, con-

cluiu que o choque elétrico é, em várias

ocasiões, usado indiscriminadamente em

hospitais e consultórios médicos. Mais

grave ainda é a afirmação do dr. Haydt:

"Nas instituições mais antigas, que ainda

merecem o nome de hospício, já vi ameaça

rem pacientes com o choque, transfor-

mando esse instrumento terapêutico numa

arma de tortura".

A partir de 1 950, baseando-se na evi-

dência de que a depressão, pelo menos em

alguns casos, coincide com alterações na

química do cérebro, médicos americanos

intensificaram suas pesquisas no campo

dos remédios. Observaram que a reserpina,

que era então usada para o tratamento da

pressão alta, provocava sintomas depres-

sivos em muitos pacientes. Pouco depois,

constataram que a iproniazida, empregada

no tratamento da tuberculose, provocava

euforia.

Estudos subseqüentes, feitos em animais,

mostraram que ambas as drogas agiam

sobre os dois ncurotransmissores do cére-

bro —

ou seja, os agentes químicos que

ajudam a transmitir os impulsos nervosos

de célula para célula.

Atualmente, os psicobiologistas estão

muito interessados em confirmar se as defi-

ciências nos neurotransmissores fazem

parte do quadro depressivo dos seres huma-

nos. Até agora, as descobertas, embora

significativas, foram limitadas. Um estudo

mostrou que o cérebro dos suicidas contém

menor quantidade de um dos subprodutos

da serotina do que os cérebros de pessoas

mortas em acidentes. Descobriu se. tam

bém, que o índice de um dos subprodutos

da norepinefrina sào mais baixos na urina

de alguns pacientes depressivos do que nas

amostras de indivíduos normais. Mas, até

agora, não se chegou a conclusão se essas

deficiências sào causas ou resultados da

depressão. Ou se nào passam de uma

coincidência.

Um grupo de remédios antidepressivos

está relacionado com a droga TBiproni-

zada. Sào eles Marplan, Parmate, Nardil e

Eutonyl, e parecem funcionar bloqueando a

ação de uma enzima do cérebro, chamada

oxidase monoamina (MAO), que diminui a

norepinefrina. Da mesma maneira, uma

nova classe de drogas antidepressivas, cha

madas tricíclicas (Teofranil, Elavil, Perto

frane e Sinequan) elimina a diminuição da

serotina, outro neurotransmissor impor

tante, que se acredita estar relacionado

com a depressão.

M

¦ VI as essas drogas têm, potencial

mente, sérios efeitos colaterais, a menos

que sejam administradas sob cuidadosa

supervisão médica. Se forem ingeridos com

alimentos tais como chocolate ou queijo

fermentado, os inibidores MAO podem

causar um violento aumento da pressão

sangüínea. As tricíclicas podem causar

sonolência profunda e. algumas vezes, tre-

mores e rigidez muscular, semelhantes aos

da doença de Parkinson. Em muitos casos,

principalmente quando a depressão é de

origem psíquica, as drogas não oferecem

grandes benefícios.

Os médicos brasilèiros, segundo informa

o dr. Humberto Haydt, têm evitado ultima-

mente os inibidores MAO, porque modifi-

cam muito o metabolismo. "Existem

outros

antidepressivos, tipo neurolético, que agem

diretamente sobre o tecido nervosoVexplica

o psiquiatra."Esses contêm alguns deriva

dos de iperazina e outras substâncias. Al

guns remédios têm pequenas diferenças

moleculares, devido à inclusão de um

átomo de enxofre ou de lítio. que faz com

que certas substâncias tenham ação mais

rápida que outras."

De unia maneira geral, médicos

americanos e brasileiros concordam que a

depressão nào pode ser tratada de uma só

maneira. "Não

há fórmuías mágicas", afir-

ma o dr. Aluísio Colares. E o dr. Humberto

Haydt conclui o raciocínio: "Há

casos em

que não é necessário choques nem remé

dios: a psicoterapia é suficiente. Em outros

casos, convém que o paciente, ao mesmo

tempo que faz uma psicoterapia, seja medi

cado. Isso varia muito de acordo com cada

caso. Não há fórmulas. Se houvesse, nào

existiria necessidade de consulta".

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GORILA

As primeiras

fotografias

cios maiores

gorilas cias

selvas africanas

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e e • i ' (/»>r 11 Li hcr i r1 -'c i

!"""! a;1 1de [ i >d<1 -> ^1 r 11, i n.

' '-'ra; .i J. i

pela primeira

• e/ rn > -cli pn

>prh > reduh >.

¦ rtiv»r: rc> \ ir ,;,^a. ri»> / a ire.

A í í1 1 r e - r : d e r: v, i

pr irn ;r:a ree

>t e urna cadeia

de '•

t\o >e- extintos.

!^Ti"rTTc~.m' rria• - de 4 000 mct~ro~s

.1 e ai í u ra. Ali. ií i d if erer 11 e

"!¦ tempestades,

rarefaçào

J11 ar. u t11 r 11 a

v r. e e s-e repnkJu/. .-V> lado.

1 • autor das fntos. o italiano

VS alter Bnnatti. junto an tu mu Io

de C arl Akele \, o descobridor

dessa espécie de gorila. Aqui

Bonatti conta como

fotografou osgorilas.

OP1 RIfiH r MOSDADORIPRIr sS

I

O pico

do Karisimbi (4 510 metros), o mais alto

da cadeia tios montes Virunga, sempre

coberto de neve. Km sua volta, o reino dos gorilas.

Ei

i > < mui I! um >i ||.1 I. "1 c 11 habita! r

• 1111,1 I , 11 i I . i 11 i 11 C I i. 11 >! i > l' r,) t, I 11 i

r impo ,m\.cI. I 'i |.i di . .

) m , 111111' | n ¦

i i ¦ 11¦ i n,i ! 11'' ¦ :. i i u j 1 h •

i. i

M< > ,1111 .1 t |i > / ;i 11 i ¦.

pr 11 \ | m |i i. h Í-.

(' \ l M111!', I \ n (I, i n < I < > ; i v / ¦ .; ,, t ,

- ¦ . i

;u h li > U( < cli ao. mi u l i! k ,kti • [I- i ,J ;

I li Ic 11 ir!) I ('. h a\. i, i i In K I ict( ) p r 1 !: -i •

|iir m iii li.i s ti m, ;i tr r m in.i e rr

f1 ;

i,11 ;im unia m;in,i dt p< n

I )i II ,1111 r 0 -si.' tr llipo. as \r/rs (.'lu-

!' I I' I .1 < >ll\ II SC II •< !' I lio | IH (MltlCI SIM -

;h";\h1.is. i c( (.-li1rI a I r mesmo os \i. uni

111 .i. i'ii 11 c .i s i (>p.i , de 11 ni ,i ,ii voi r. M as .i

'¦'.i¦;i i - ,i tri 11\ rIinrutr rmai anliada. niinUs

impriKl i ,iv rl pi m l .iiis.i ili >s despi'

u i, hK no,, i' iim;i som In a rseut a r nebu losa

I1'. tv,i i (Mi lantcmcntr ao redoi Nicssas

•1''«i:v• h- .imda i)iir ru c< »n uTinssr rhrrai

• ''trr11(• rur pri Io deles. como poderia

Deschreiver e seus auxiliares, na região do Kahuzi.

I«> I < >i' i a I a los.' I iH|iianlo ru pensava nisso,

r Ir s dr sapat ceei a m Ai i r >olvi dr si .In

Alguns dias drp< >i . puicin n mi lua' i

\dnrn I )csi In civri. uni beh.\i cjiir dividiu

vivei no inalo Mais rsprcil ícamcnlc. ali

nas piovunidadcs dos tnonlcs \ ii uiism.

I )esi li rciv et acritou acompanhai mr na

liorcst a rm busca dos inu lias. sr u . i (ui lusa

dos. Com um pouco dr ,oile. podrnanios

Ha uni "contato

com rlcs I ssr lioinrm.

uni autcnl ico avcntuiciro. passou mais da

metade dr sua vida no tasiro dr bulalos r

rlrlanlrs. Mui dia. lia cinco anu.. topou

com uni dr ssr s «'.orilas enormes. i|iie. lurio

s<c aluou sr cm sua direção No primciio

passo. I )csclueivcr tropeçou ( . caindo, pci

dru o lu/il Sr as coisas aconlcccsscm

'orno eram previstas. rlc punais poderia

contai sua aventura. Mas as coisas se [ias

saram de mancua inteiramente inespera

da pequenino. imóvel, indefeso. Des

chreiver permaneceu estendido no chão,

enquanto o gorila se limitou a observar sua

possível vitima, por alguns instantes, reti

rando sc em seguida. Desde esse dia. Des

chreiver decidiu tornar se amigo dos gori

^^H^hbbhbsi

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fej I& i' Y| .,' •

J#- yy: r^ja i:1. \ • jl =$"?1ii j*

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Wr ¦,¦'•«¦ • ** •«

''*'

O acampamento da expedição,

nas proximidades do monte Mikeno

Ao lado, a localização

dos montes Virunga e da região

do Kahu/i, onde vivem os gorilas.

Ak«tio 0But#

Coquilhatvl

I Morrtt

Virunj»

Montt

kKãnuzI

Olnong

mi'lHIUl^UHMUIl'iUBIfWnimAllfflBTIlftgmWWmW

A floresta dos gorilas:

aqui, eles vivem em grupos (uni macho,

várias fêmeas e jovens de ambos os sexos). Eles

abrem caminho pela mata arrebentando os

galhos (fotos abaixo)

e, ao pôr (Jo sol, preparam seus ninhos

(foto maior), onde se deitam de costas, com os braços cruzados,

e dormem pesadamente até as primeiras

luzes da manhã.

Ias. a >n seg ii ind< > nesses cinco .nn>s

!.tt11111ai 1/ .11 sc coin dois gi upos d ilci entes.

Depois de niarchaimos na mande lio

te ta tio kahu/i. alias deles, encoiiti anio^

anais da sua passagem: rastros c galhos

que i.'lcs quebi ain para ahrn caminho.

mm • ¦

contato

I malmente loi possivcl. entao. ouvir ate

seus sussurros: eles estavam descansando

Jpt>is da refeição, lealmente abundante.

A hora do repouso apos a comida e um

momento delicado para abordai esses sus

cctiveis animais. I pieciso espci ar. I.spera

nios cerca de meia hora. quando o barulho

de um galho quebrado av isa que eles come

çam a se movimentar. () contato, gradas a

presença amiga de I)cschreiver. esta paia

acontecer c durara talvc/ poucos minu

tos. talvc/ uni par de horas, ate que o líder

do bando apateta manifestando neivo

sismo. I nt.io, será preciso n embora paia

cv ilar compile ações per igosas.

1'assam sc de/ minutos c uma sombia

escura, silenciosa, ameaça aparecei entie

os íamos, ao mesmo tempo que um forte

cheiro sc espalha pelo ar. De repente, ecoa

na floresta um terrível brado. A mancha

diante de nos mostra sc totalmente c apare

ee um monstro gesticulantc. em pé. com

pelo menos 2 metros de altuia. I sta a nao

mais do que sete pa-%sos de nos.

I iii novo rugido horroroso parece que

vai |h>i abaixo todas as arvores da floresta.

em a boca escancarada, na qual branque

iam dois enormes caninos. Dois olhos

assustadores no rosto de expressão fero/,

enquanto a garganta continua emitindo

i ugidü^ v iguiusu.s.

('ont os bi aços potentes e inquietos atira

socos no ar. em diieção ao ceu. Depois,

ritmadamente. bate no peito que retumba

como um tambor: é uma cena terrificante.

Poi alguns instantes permaneço paralisado.

Depois me lembro que ha mais de quin/e

dias me meti na floresta para fotografa los.

Passo a mão na maquina e começo a apei

tar o botão.

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Finalmente, eis o monstro, de frente. Apesar de seu

tamanho (2 metros de altura e cerca

de 3(X) quilos de peso) e de sua

prodigiosa força, capa/

de abater qualquer animal, ele é

exclusivamente vegetariano. Nas fotos menores, um

deles está pondo fim a um cacho de banana.

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Eles vagam entre a espessa e alta vegetação da floresta,

numa procura

constante de comida. Têm a cara

larga, os olhos inquietos e expressivos. As orelhas são

pequenas, os lábios finos e enrugados: tudo

neles demonstra um aspecto quase humano. Mas não caminham

em pé: usam as mãos. Quando estão calmos,

emitem uma grande variedade de sons

— alguns até suaves.

Quando ficam irritados, um odor forte emana

do seu corpo e pode ser percebido a mais de 20 metros

de distância. Sobreviveram até agora

principalmente pelas dificuldades naturais de

se chegar até o seu habitat.

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GLHA

Com o Guia Quatro Rodas no porta-luvas, vocô sabe onde encontrar

os serviços autorizados e oficinas. O Guia tem os mapas das principais cidades brasileiras

e indicações de hotéis, restaurantes, cinemas, teatros, museus, passeios, praias, igrejas,

pontos turísticos.

E mais: o Guia tem um mapa-gigante do Brasil e mapas verticais com todas as

estradas. Desde as de terra até as auto-estradas.

Vá viajar. Aproveite as férias, o sol e o Guia Quatro Rodas do Brasil 1973.

Um país tão grande num livro tão pequeno.

i£ iwl

J

O FANTASTiCO

VÔO DE

UMA GAIVOTA

Richard Bach levou nove anos para

escrever

e dois para

conseguir publicar

o seu livro Jonathan Livingston Gaivota. Desacreditada,

a gaivota pousou

nas prateleiras

de algumas

poucas livrarias até

que, de repente,

partiu para

um vôo fantástico: há um ano, ela domina

a lista dos best-sellers nos Estados Unidos.

O crítico Geraldo Galvão Ferraz resumiu e comentou-

os trechos mais importantes do livro, para

REALIDADE.

67

A história de Junatiian. Ou de Bach.

A

invasão das livrarias foi irresistível

como a hlitzkrieg dos exércitos na

zistas na Segunda Guerra Mundial,

Milhares dc pessoas armadas de notas de 5

dólares (edição normal) ou mais três notas

dc 1 dólar (edição de luxo) conquistaram os

livros, estourando todos os recordes de

venda de Natal, para supresa dos livreiros

surpreendidos em suas fortalezas dc esto -

ques pequenos para a procura.

O livro visado pela onda invasora era

chamado de tudo: "Stanley

Livingston",

"George Gaivota",

"O Livro de Livingston

sobre Gaivotas", "A

Gaivota", de Jona-

than Livingston. Ou "Jonathan

Livingston

Águia", "Jonathan

Livingston Pingüim e

"Jonathan Livingston Pombo". Mas a

maioria sabia o nome certo: Jonathan

Livingston Gaivota. Atinai, os enormes

anúncios da Editora Macmillan, a incan-

sável peregrinação do autor Richard Bach

por rádios e televisões do país inteiro e a

reportagem de capa da revista Time servi-

ram para alguma coisa.

Até para contar a incrível história do

livro que há quase um ano domina as listas

de best sellers nos Estados Unidos.

Era uma vez um antigo capitào da Força

Aérea, já passado dos trinta anos, que edi-

tava e escrevia artigos para revistas de fãs

de aviação. Nas horas vagas, voava em

monomotores e escrevia livros. O seu

maior sucesso era Stranger on the Ground,

sobre as reflexões de um piloto de combate

num vôo da Inglaterra para a França. Total

de vendas: 17 000 exemplares.

Livros e revistas mal davam para viver e,

deprimido, Richard Bach, o ex-capitão

Richard Bach, dedicava-se ao passatempo

mais barato que conhecia: passear à noite à

beira de um canal em Belmont Shores, na

Califórnia. Era 1959 e havia nevoeiro. De

repente, ouviu uma voz cristalina que can-

tava três palavras em seus ouvidos: "Jona

than Livingston Gaivota".

Voltou depressa ao seu quartinho de

escritor e, tomado de inspiração, escreveu

umas 3 000 palavras. Todas sobre uma gai-

vota que ficava descontente com a vida dos

outros pássaros do bando, criaturas odio

sas que só voavam para pegar restos de co-

mida jogados das latas de lixo de barcos de

pesca. Mas, certo dia, a gaivota chamada

Jonathan aprendia a arte do vôo por puro

prazer.

Parou por aí, sem conseguir um fim para

a pequena história. Nove anos e muitos

passeio^ noturnos depois, Bach acordou

bem cedo em Ottumwa, no Estado ameri

cano de Iowa. Lá estava a voz cristalina

ditando o capítulo seguinte. Ao aperfeiçoar

seu vôo a alta velocidade, Jonathan trans-

formara-se num pássaro diferente. Uma

espécie de mestre para outros pássaros.

Houve algumas recusas de editores, mas

o ex-capitão vendeu a história à revista Pri-

vaie Pilot por Cr$ 1 200,00. Tantas cartas

chegaram a redação que Bach teve de

escrever mais dois trechos. Jonathan Li

vingston Gaivota começou a ser reprodu-

/ido em outras revistas que mandavam

muitos cumprimentos e nada de cheques ao

autor. Bach pediu à.) seu agente. Dou Gold.

que se mexesse para publicar Jonathan cm

livro.

Mas o texto era pequeno demais e Gold

decidiu resolver esse problema enviando a

história a editores de livros infantis. As res

postas corteses demonstravam interesse

pelo autor, mas podiam um livro que expli-

casse — de verdade — como os pássaros

voavam. Mais dois anos se passaram antes

que um almoço decidisse tudo.

Num dia do verào de 1969, Eleanor

Friede, editora da Macmillan e piloto ama-

dor, conversou com um amigo de Bach; a

menção do nome do ex-capitão lembrou

Eleanor do autor de Stranger on the

Ground. Logo enviou uma carta a Ottum

wa, dizendo que achava que Bach poderia

escrever um romance. Em menos de uma

semana, chegaram as provas de Jonathan

Livingston Gaivota ã Macmillan.

O

texto agradou a Eleanor, mas os

desenhos duros e cheios de minú-

cias científicas que o ilustravam

brigavam demais com a história leve e poé-

tica de Jonathan. Talvez fotografias ficas

sem melhor. Quando foi para Nova York,

Bach resolveu tudo. Tinha um amigo, outro

apaixonado por aviação, chamado Russell

Munson. O fotógrafo Munson tinha —

a

propósito — mil fotos de gaivotas.

Num memorando à direção da Macmil-

lan, propondo sua publicação, Eleanor

disse o que achava: "Embora

a história

tenha interesse especial para pilotos e mari

nheiros, o tema é universal, sugerindo que

através da perseverança, da capacidade e

do amor pelo aprendizado, cada um de nós

pode atingir a perfeição todos os dias da

vida e de vidas futuras. Acho que tem chan

ce de se tornar cada vez mais um livro

padrão, dc longa duração, para todas as

idades".

A diretoria da Macmillan concordou.

Afinal, se fossem vendidos 7 500 exempla-

res com 93 páginas, sendo quarenta de

texto, a quase 5 dólares, a edição estaria

paga. Mas os vendedores ficaram desani-

mados ante a reação dos livreiros e, no dia

da publicação, 3 1 de agosto de 1970, havia

encomendas de menos de 3 000.

Pior ainda, nenhuma revista de grande

circulação, nem Reader's Digest (onde

Bach já escrevera), quis trechos do livro.

Os clubes do livro nem queriam considerar

a oferta da Macmillan sobre o livro. A edi-

tora, mais por rotina, publicou anúncios

pequenos em revistas para livreiros e no

New York Times. Ninguém criticou a obra,

só as fiéis revistas de fãs de aviação.

Na televisão e no rádio, mesmo pano-

rama negativo. Afinal, um sujeito que

escrevia sobre gaivotas devia ser chato

demais, pensavam os produtores.

Nas livrarias, Jonathan começou a voar

devagar, mas, no Natal, a edição se esgo

tou, comprada por fãs de aviação que que

riam dar alguma coisa que fosse mais que

um cartão e menos que um Cessna. A bola

de neve começou a rolar, impulsionada

principalmente por entusiastas de várias

seitas — Ciência Cristã, Ioga, Budismo,

Zen, leosofia, Karl Banhistas —

que,

entre outras coisas, viam em Jonathan uma

alegoria da vida de Jesus.

Bach não precisou mais andar à noite.

Cento c quarenta mil exemplares em oito

edições já davam para viver razoavelmente.

Na primavera de 1972, começou o lenòmc

no: Macmillan começou a publicar anún

cios grandes, Bach foi entrevistado pelo

New York Times c ganhou uma foto em

página dupla na Life. Vário?» editores de

outros países compraram direitos (aqui no

Brasil, a Editora Nordica, que lançará o

livro este mês com o titulo "A

História dc

Fernão Capelo Gaivota"—Cr$ 20,00). O

produtor de cinema Hall Bartlett leu o livro

na cadeira do barbeiro e deixou a barba

pelo meio para telefonar ao agente, ofere

cendo uma quantia não revelada pelos

direitos de filmagem.

A televisão começou a descobrir que o

piloto escritor alto e bigodudo não era o

sujeito detestável que imaginava. Uma

rádio da Califórnia recebeu uma corres

pondência recorde, após a leitura de Jona

than Livingston Gaivota no ar, e começou

a se chamar "A

Estação Jonathan Living

ston Gaivota". A revista Reader's Digest

publicou um resumo da obra, seguindo o

clube do livro do mês que a escolheu como

oferta de abril de 1972. No mesmo mès,

gaivotas eram o animal preferido de todos

os livreiros do país.

A crítica entusiasmada ia do jornal pop

Rolling Stone ao New York Times, com

frases como a de Ray Bradbury, o autor de

Fahrenheit 451: "Com

este livro, Richard

Bach faz duas coisas. Ele me faz voar. Ele

me torna jovem. Pelas duas, estou profun

damente agradecido".

Só uma ou outra voz discordava, censu

rando a ideologia do livro, impelindo as

pessoas a fazerem o que desejam. Os

pouquíssimos adversários da obra lembra

vam que o tenente Calley, em My Lài, foi

impulsionado por um sentimento seme-

lhante e que um jovem viciado em drogas

poderia apresentar a mesma justificativa.

Mas

a reportagem de capa da revis-

ta Time, em novembro, pulveri-

— . —zou as previsões dc estoque dos

livreiros que não souberam enfrentar o

avanço de milhares de leitores, inclusive

gente que nunca entrara antes numa livra-

ria. Outras editoras começaram a sonhar

com gaivotas e outros bichos, mas até

agora só foi lançada uma sátira, Ludwig

von Wolfgang Falcão, que, contra a unani-

midade do seu bando, esforça se para atin

gir a perfeição através da leitura rápida e

da comida vegetariana. (Nas páginas se

guintes, um resumo de alguns trechos do

livro.)

?

I

Richard Bach (à direita)

conta no seu livro

Jonathan Livingston

Gaivota a história de

uma gaivota que

apenas

queria ser livre,

para voar. As fotos

destas páginas,

feitas

por Russel Munson,

também servem de

ilustração para

o livro. 1 ' *-**^S§... » ^^rPrfflBrV-w > - - £ stSt . ' j* 'jt.1 -'' **, *' ^"^4Jv"

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"Para

essa gaivota, não era comer o importante,

mas voar. Jonathan Livingston (raivota. mais que

nada no mundo, gostava de voar.

"Assim

Richard

Bach descreve Jon, o personagem de seu livro,

cujos principais trechos são aqui resumidos.

Era

de manha. O sol novo irra-

diava ouro pela espuma do mar

sereno.

Um barco de pesca, a quase

dois quilômetros da praia, lan

çava iscas na água e o aviso de

comida zuniu pelo ar, até que

uma multidão de mil gaivotas

surgiu, brigando e mergulhando

por pedaços de alimento. Co-

meçava outro dia duro.

Mas longe, sozinho, só ele além do barco e da praia,

Jonathan Livingston Gaivota treinava. No céu, a uns trinta

metros, baixou os pés chatos, ergueu o bico e se esforçou

para fazer uma curva difícil e penosa sem soltar as asas. A

curva obrigou-o a voar devagar. Diminuiu a velocidade até

o vento ser um sussurro em seu rosto, até o oceano se imobi-

lizar sob ele. Apertou os olhos em concentração rígida,

prendeu a respiração, forçou 90. . . mais. . . um pouqui-

nho. . . da curva. . . Encresparam-se as penas, perdeu velo-

cidade e caiu.

Gaivotas, como se sabe, nunca vacilam, nunca perdem o

impulso. Perder a velocidade no ar é vergonha e desonra

para elas.

Mas Jonathan Livingston Gaivota, sem se envergonhar,

estirando as asas outra vez para fazer a curva difícil que o

fazia tremer —

reduzindo, reduzindo e perdendo o impulso

novamente —, não era um pássaro qualquer.

A maioria das gaivotas não se preocupa em aprender

nada além das noções rudimentares de vôo — da praia à co-

mida e vice-versa. Para a maioria das gaivotas, o importante

não é voar, é comer. Mas para essa gaivota não era comer o

importante, mas voar. Jonathan Livingston Gaivota, mais

que nada no mundo, gostava de voar.

Esse jeito de pensar, descobriu, não torna ninguém popu-

lar entre as outras aves. Até seus pais ficavam infelizes

quando passava dias sozinho, fazendo centenas de vôos

rasantes, experimentando.

"Por

que, Jon, por quê?", perguntava sua mãe. "Por

que

é tão difícil ser como o resto do bando, Jon? Por que não

deixa o vôo rasante para os pelicanos, para os albatrozes?

Por que não come? Jon, você está osso e penas!"

Nos dias seguintes, tentou comportar-se como as outras

gaivotas; tentou mesmo, gritando e lutando com o bando,

perto do cais e dos barcos de pesca, mergulhando em busca

de restos de peixe e pão. Mas não era feito para aquilo.

Era tão sem sentido, pensou, deixando cair deliberada-

mente uma anchova duramente conquistada para uma gai-

vota velha que o perseguia. Poderia aproveitar esse tempo

para aprender a voar. Há tanto para aprender!

Não demorou muito e Jonathan Gaivota estava sozinho

outra vez, mar adentro, faminto, feliz, aprendendo.

Velocidade era seu objetivo e, numa semana, aprendeu

mais sobre velocidade que a mais rápida gaivota existente.

Subir a 300 metros. Embicar para a frente primeiro, com

todo impulso, descendo depois, asas batendo, num mergulho

vertical. Daí, sempre, sua asa esquerda imobilizava-se num

impulso para cima, mas ele virava violentamente para a

esquerda, a asa direita equilibrando o precariamente — lá

ia como uma faísca num parafuso selvagem para a direita.

Dez ve/es tentou e dez ve/es', ao passar os cento e de/

quilômetros, virava uma massa confusa de penas, descon

troladas, explodindo contra a água. Achou, entào, enquanto

escorria água, que o segredo deveria ser manter as asas

paradas mesmo em alta velocidade

— bater até oitenta e

parar.

Tentou outra vez, agora de seiscentos. entrando no mer

gulho com o bico bem à frente, asas bem abertas e paradas

exatamente nos oitenta quilômetros por hora. Precisou de

um esforço enorme, mas deu certo. Em dez segundos, pas-

sou a cento e cinqüenta quilômetros por hora. Jonathan ba

tera o recorde mundial de velocidade para gaivotas.

Mas a vitória durou pouco. No instante em que começou

a reduzir a velocidade, no instante em que mudou o ângulo

das asas, mergulhou no mesmo desastre terrível e incontro-

lado. A cento e cinqüenta quilômetros, o efeito foi o da dina-

mite. Jonathan Gaivota explodiu no ar e chocou se contra

um mar duro como pedra.

Quando voltou a si, já era noite alta; flutuava no luar da

superfície do oceano. Suas asas eram esfarrapadas barras de

chumbo, mas o peso do fracasso era maior ainda. Ainda se

o peso fosse suficiente para arrastá lp suavemente até o

fundo, acabando com tudo!

Uma estranha voz surda soou dentro dele.'Não dava

mesmo. Sou uma gaivota. Sou limitado por minha natureza.

Se fosse feito para aprender tanto sobre vôo, teria mapas em

vez de cérebro; se fosse feito para voar em velocidade, teria

as asas curtas do falcão e comeria ratos em vez de peixe.

Meu pai tem razão. Devo esquecer essa besteira, voltar para

o bando e me contentar com o que sou, uma pobre e limi-

tada gaivota.

Ser apenas mais um do bando foi uma decisão que o fez

sentir-se melhor. Estava livre do impulso que o levara a

aprender; acabaram os desafios e fracassos. Era maravi-

lhoso parar de pensar, só voar pela escuridão, rumo às luzes

sobre a praia.

Escuridão! A voz surda irrompeu em alarma. Gaivotas

nunca voam no escuro!

Desça! Gaivotas nunca voam no escuro. Se fosse feito

para voar na escuridão, teria olhos de coruja! Mapas em

vez de cérebro! Asas curtas de falcão!

Asas curtas. A sas curtas de falcão!

Era isso! Que idiota fui! Tudo que preciso são umas asi

nhas, .basta encolher boa parte das minhas e voar só com as

pontas. Asas curtas!

Subiu até seiscentos metros acima do mar negro e, sem

pensar um instante em fracasso ou morte, encolheu as asas

bem junto do corpo, só deixando de fora as pontas estreitas

das asas, adagas estendidas ao vento, para cair num mergu-

lho vertical.

O vento era ;m rugido de monstro na sua cabeça. Cento

e dez quilômetros por hora, cento e cinqüenta, cento e

noventa e ainda mais. A duzentos e vinte, o vento não era

tão forte quanto havia sido a cento e dez e, com um agitar

leve das pontas das asas, saiu do mergulho e disparou sobre

as ondas, uma cinzenta bala de canhão sob a Lua.

Fechou os olhos até virarem fendas ante o vento e exul-

tou. Duzentos e vinte quilômetros por hora! E sob controle!

Se eu mergulhar de mil e quinhentos metros em vez de seis-

centos, devo fazer uns. . .

As promessas de instantes atrás foram esquecidas, varri-

das pela maravilhosa ventania. Mas não se sentia culpado

por quebrar as promessas que fizera a si mesmo. Eram pro-

messas feitas apenas pelas gaivotas que aceitam a rotina.

Uma que tivesse aproximado a perfeição em seu aprendi

/ado não precisava desse tipo de promessa.

Quando o sol surgiu, Jonathan Gaivota ainda treinava.

De mi! e quinhentos metros os barcos de pesca eram ponti

nhos na planície de água azul. o bando era uma débil nuvem

de grãos de poeira, em círculos.

Ele estava vivo, vibrando de prazer, orgulhoso de ter con-

trolado seu medo. Então, sem hesitação, encolheu as asas,

estendeu as pequenas pontas das asas em ângulo e lançou se

diretamente no rumo do mar. Quando passou os mil e

duzentos metros, chegou à velocidade máxima; o vento era

uma sólida barreira pulsando sons, contra a qual não podia

mover-se mais depressa. Agora, voava em linha reta, a tre-

zentos e cinqüenta quilômetros por hora. Engoliu em seco,

sabendo que se suas asas se abrissem nessa velocidade, ele

explodiria cm milhões de pedacinhos de gaivota. Mas velo-

cidade era poder, velocidade era alegria, velocidade era bele-

za pura.

Começou a sair do mergulho a trezentos metros, as pon-

tas das asas batendo e agitando-se ao vento que soprava

forte. O barco e a multidão de gaivotas obliquando e cres-

cendo como um meteoro em queda na sua direção.

Não podia parar; nem sabia como dar a volta nessa

velocidade.

Uma colisão seria morte instantânea.

Então, fechou os olhos.

Foi naquela manhã, então, pouco depois do nascer do sol,

que Jonathan Livingston Gaivota disparou como uma seta

pelo centro do bando, a uns trezentos e cinqüenta quilóme-

tros por hora, olhos fechados, num enorme rugido de vento

e penas. A Gaivota da Sorte sorriu lhe desta vez e ninguém

morreu.

Quando ergueu o bico direto para o ccu, ainda zunia a

uns duzentos e cinqüenta quilômetros por hora. Ao reduzir

finalmente para trinta quilômetros por hora e estender as

asas, o barco era uma migalha no oceano, mil e duzentos

metros abaixo.

Pensou no triunfo. Velocidade máxima! Uma gaivota. A

trezentos e cinqüenta quilômetros por hora! Era uma con

quista, o maior momento isolado da história do bando e,

nesse instante, uma nova era se abriu para Jonathan

Gaivota.

Descobriu que uma única pena da ponta da asa, moven-

do-se numa fração de esforço, causava uma suave curva em

arco numa velocidade tremenda. Mas antes de aprender

isso, descobriu que, a essa velocidade, mover mais de uma

pena era entrar em parafuso como uma bala de rifle . . e

Jonathan fizera a primeira acrobacia de uma gaivota no

mundo.

Quando se uniu ao bando na praia, era noite alta. Estava

tonto e muito cansado. Mas só de alegria tez um loop para

descer, com urna volta em torno do seu eixo horizontal bem

na hora de pousar. Quando ouvissem falar da Conquista,

ficariam loucos de alegria. Como é melhor viver agora! Fm

vez de ir e vir tristemente em busca dos barcos de pesca,

havia uma razão para viver! Podemos erguer-nos para sair

da ignorância, descobrir que somos criaturas de qualidade,

inteligência e capacidade. Podemos ser livres! Podemos

aprender a voar!

As gaivotas estavam reunidas no Conselho quando pou-

sou e pareciam estar reunidas há algum tempo. Na verdade,

estavam esperando.

"Jonathan Livingston Gaivota! Para o Centro!" As pala-

vras do Ancião soaram numa voz da maior formalidade.

Para o Centro só podia significar grande vergonha ou gran-

de desonra. Para o Centro de Honra era a forma de destacar

os maiores líderes das gaivotas. Claro, pensou, o bando viu

a Conquista hoje de manhã! Mas não queria honras. Não

desejo ser. líder. Só quero partilhar o que descobri, mostrar

os horizontes que nos esperam. Adiantou se.

"Jonathan Livingston Gaivota", disse o Ancião,

"para o

Centro a fim de ser degradado diante das gaivotas do

bando!"

Parecia que levara uma paulada. Os joelhos enfraque-

ceram, as penas murcharam, um rugido dominava os ouvi-

dos. No Centro para degradação? Impossível! A Conquis-

ta! Não entendiam! Errados, estavam errados!

". . .por sua total irresponsabilidade", entoou a voz sole-

ne, "violando

a dignidade e a tradição da Família das

Gaivotas. . ."

icar no centro para degradação

significava que seria afastado da

sociedade das gaivotas, banido

para uma vida solitária nos Pe

nhascos Distantes.

"...um dia, Jonathan Living-

ston Gaivota aprendera que a

irresponsabilidade não compen-

sa. A vida é o desconhecido e o

insondável, mas fomos colocados

neste mundo para comer, para

vivermos o máximo possível."

Uma gaivota nunca responde ao Conselho, mas a voz de

Jonathan se ergueu: "Irresponsabilidade?

Meus irmãos!",

gritou.

"Quem é mais responsável que uma gaivota que des-

cobre e segue um significado, um objetivo mais alto na

vida? Durante mil anos mendigamos cabeças de peixe, mas

agora temos uma razão para viver —

para aprender, desço-

brir, ser livre! Dêem me uma chance, deixem me mostrar o

que descobri..."

O bando parecia de pedra.

"A Fraternidade foi rompida", entoaram em coro as gai-

votas e, com isso, fecharam-lhe os ouvidos e voltaram-lhe as

costas.

Jonathan Gaivota passou o resto dos seus dias sozinho,

mas voava bem para lá-dos Penhascos Distantes. Aprendia

mais todo dia. Aprendeu que um mergulho aerodinâmico, a

alta velocidade, poderia fazer com que achasse os peixes

raros e deliciosos que nadavam a três metros abaixo da

superfície do oceano; não precisava mais dos barcos de

pesca nem de pão amanhecido para sobreviver. Aprendeu a

dormir no ar, fixando um curso noturno ao longo do vento

de mar alto, cobrindo cento e cinqüenta quilômetros do

crepúsculo à aurora. Com o mesmo controle interno, voava

através de densos nevoeiros marinhos e subia acima deles

para céus claros e brilhantes. . . bem na hora em que todas

as gaivotas permaneciam no chão, só em meio da cerração

e da chuva. Aprendeu a usar os ventos que, bem alto so-

pratvam para o interior, nos quais se regalava com insetos

escolhidos. Então, certa noite, vieram. E descobriram

Jonathan planando tranqüilo e sozinho, pelo seu ama

do céu/ As duas gaivotas que apareceram ao seu

lado eram brancas como a luz das estrelas e seu

brilho era delicado e amistoso no ar noturno.

Mas o melhor de tudo era o modo hábil com que

voavam, as pontas das asas movendo-se com

precisão e constância, a uma distân-

cia mínima da sua. Sem

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/ uma palavra, Jonathan testou as, um teste que

nenhuma gaivota jamais realizaria. Virou as

asas, reduziu para um quilômetro e meio por hora,

' $ chegando ao mínimo para continuar no ar. Os dois

pássaros brilhantes reduziram como ele, suavemente,

mantendo a formação. Sabiam tudo sobre voar lento.

Recolheu as asas, virou se e projetou-se num mergulho

a trezentos quilômetros por hora. As duas mer-

gulharam junto, perdendo altura numa formação imutável.

Finalmente, deu a volta para o alto, num longo lonneau

vertical. Elas o acompanharam, sorrindo.

"Muito bem, quem são vocês?"

"Somos de seu bando, Jonathan. Somos seus irmãos." As

palavras vieram firmes e tranqüilas. "Viemos

para levá-lo

mais alto, para casa."

"Não tenho casa. Não tenho bando. Sou o Proscrito.

Agora estamos voando no alto do Vento da Grande Monta-

nha. Este velho corpo não pode ir mais alto."

"Mas

pode, Jonathan. Pois você aprendeu. Acabou um

curso e chegou a hora de começar outro."

Pela vida inteira, uma luz de compreensão brilhara nele e

ela iluminou esse momento para Jonathan Gaivota. Esta-

vam certos. Ele podia voar mais alto e era tempo de ir para

casa.

Deu uma última olhada para o céu, para a magnífica

extensão prateada onde aprendera tanto.

"Estou

pronto", disse por fim.

E Jonathan Livingston Gaivota elevou-se com as duas

gaivotas que brilhavam como estrelas, desaparecendo num

perfeito céu escuro.

ntào isto é o céu, pensou, sor-

rindo para si. Não era muito

respeitoso analisar o céu no

momento em que se está voan

do para entrar nele.

Deixando a Terra, acima das

nuvens e em formação cerrada

com as duas gaivotas brilhan-

tes, percebeu que seu corpo

começava a ter a mesma luz.

Era em tudo um corpo de gai-

vota, mas já voava muito melhor do que o antigo voara. As

penas agora eram de branco brilhante e as asas, macias e

perfeitas como lâminas de prata polida. Cheio de alegria,

começou a testar o poder das novas asas.

As nuvens se abriram e da sua escolta gritaram:

"Boa

viagem, Jonathan". E as duas gaivotas simplesmente desa-

pareceram no ar. Só muito tempo depois é que Jonathan

lembrou do lugar onde o bando vivia, com seus olhos

hermeticamente fechados à alegria de voar. Saíra com seu

instrutor e descansavam na praia.

"Onde eslá todo mundo, Sullivan?", perguntou silencio

samente, agora dominando a telepatia fácil que as gaivotas

usavam, em vez de gritos e grasnidos.

"Por

que não somos

mais? Onde eu vivia, havia milhares. . ."

". . .milhares e milhares de gaivotas. Eu se» disso. O que

72

sei também, Jonathan. é que você é uma exceção enorme,

um sujeito num milhão. A maioria demorou bastante par »

chegar aqui. Perambulamos de um mundo para outro, sem-

pre iguais, esquecendo imediatamente de onde vínhamos,

sem pensar para onde vamos, vivendo so o presente. Sabe

quantas vidas vivemos até termos no mínimo a noção de que

a vida era mais que comer, lutar ou mandar no bando? Mil

vidas, Jòn. dez mil! E mais cem vidas até começarmos a

descobrir que a perfeição existe e outras cem para nos

convencermos que nosso objetivo deve ser descobrir essa

perfeição e demonstrá-la."

epois disso, certa noite em

que as gaivotas pensavam

na praia, Jonathan reuniu

coragem e perguntou à ve-

lha gaivota, ao Ancião —

que com a idade voava mais

e melhor que qualquer um

—, "Chiang, este mundo

não é o Paraíso, não é?"

O Ancião sorriu, ao luar:

"Você está recomeçando a

aprender, Jonathan".

"Bom, o que vem depois disto? Para onde vamos? Não

há um Paraíso?"

"Não, Jonathan, esse lugar não existe. O Paraíso não é

um lugar, nem um tempo. Paraíso é ser perfeito."

Ficou em silêncio por um momento. "Você

começará a

atingir o Paraíso, Jonathan, no momento em que atingir a

velocidade perfeita. E isso não quer dizer voar a mil quilo

metros por hora, nem um milhão, nem à velocidade da luz.

Porque qualquer número é um limite e a perfeição não tem

limites. Velocidade perfeita, meu filho, é estar ali."

Sem avisar, Chiang desapareceu e apareceu à beira da

água, a quinze metros de distância, no agitar de um instante.

Depois, desapareceu de novo e, no mesmo milissegundo, es-

tava ao lado de Jonathan. "É

divertido", disse.

"Pode me ensinar a voar assim?" Jonathan Gaivota

vibrava ante a conquista de outro desconhecido.

"Claro, se você quiser aprender."

"Diga-me o que fazer", pediu Jonathan, com os olhos bri-

lhando estranhamente.

Chiang falou devagar: "Para

voar com a rapidez do

pensamento, para qualquer lugar, é preciso que comece

sabendo que já chegou ..."

O truque, segundo Chiang, era Jonathan deixar de se ver

preso num corpo limitado de 1,07 metro de envergadura das

asas, cuja performance poderia ser registrada num mapa. O

truque era saber que sua natureza existia, tão perfeita quan-

to um número não escrito, por toda parte além do espaço e

do tempo.

"Esqueça tudo sobre fé!", vivia repetindo Chiang.

"Você

não precisou de fé para voar. Precisou entender o que era

voar. Agora é a mesma coisa. Experimente outra vez."

E certo dia, parado na praia, fechando os olhos, concen-

trando-se, Jonathan entendeu o que Chiang queria dizer.

\Mas é verdade! Eu sou uma gaivota perfeita e sem

limites!"

Então, um dia, Chiang desapareceu. Conversara tranqiii-

lamente com todos estimulando-os a nunca pararem de

aprender, de lutar para entender o princípio invisível e per-

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feito üa essência da vida. Enquanto falava, as penas se tor

naram cada vez mais brilhantes, até nenhuma gaivota p<xler

olhar para ele.

"Jonathan, continue a trabalhar no amor", foram suas úl

timas palavras.

onathan ficou trabalhando com os

novos que chegavam, todos muito

espertos, mas não conseguia parar

de pensar que lá na Terra deveria

haver uma ou duas gaivotas que

também poderiam aprender. De re

pente, estava lá ao lado do jovem

Fletcher Lynd Gaivota, um pária,

exilado para os Penhascos Distantes

"só

por causa de umas voltinhas de

brincadeira, em torno do Ancião do

Bando".

Fletcher viu à sua direita a mais brilhante gaivota branca

do mundo, planando sem esforço, seguindo a velocidade

máxima de Fletcher. E na sua mente, uma voz suave pergun-

tou: "Você

quer voar, Fletcher Lynd Gaivota?"

"Sim, eu quero voar! Sim, voar é só o que eu quero!"

"Nesse caso, Fletcher, vamos começar com o vôo

horizontal..."

Ao fim de três meses, Jonathan tinha mais seis alunos,

todos proscritos e curiosos pela nova idéia de voar pelo pra-

zer de voar.

"Cada um de nós", dizia Jonathan,

"é uma idéia ilimitada

de liberdade e o vôo de precisão é um passo no sentido da

expressão da nossa natureza real. Tudo que nos limita deve

ser abandonado."

Um mês depois, Jonathan revelou que chegara a hora de

voltar ao bando, apesar da Lei proibindo a volta de um

proscrito, nunca desobedecida em dez mil anos.

Voando a duzentos e vinte quilômetros por hora, chega-

ram sobre a Praia do Conselho, com Jonathan à frente e

Fletcher à direita. A formação derivou lentamente para a

direita, como se fosse um só pássaro. Nivelsír. . . inver-

ter. . . nivelar. . . Os protestos do bando foram cortados

como se a formação fosse uma faca gigantesca e oito mil

olhos de gaivotas deixaram de piscar. Um a um, os oito pás-

saros desceram suavemente. Foi como um raio! Aqueles

pássaros eram proscritos! E haviam voltado!

evou mais de uma hora até a

palavra do Ancião percorrer o

bando: "Ignorem-nos.

A gaivo-

ta que fala a um proscrito tam-

bém é proscrita".

Jonathan não se incomodou

e começou a passar o tempo

ÍAnr\ çpno o 111« r> rCWíU awuo UIIOO, ¥ UailUU

através da noite, das nuvens,

das tempestades, só pelo prazer

de voar, enquanto o bando fica-

va miseravelmente cravado no chão. Pouco a pouco, quan

do os alunos repousavam na areia, formou-se um outro cír-

culo de gaivotas curiosas que ouviam Jonathan durante

horas na escuridão, debandando antes do amanhecer.

Depois que Kirk Maynard Gaivota tomou coragem de

sair desse círculo e começou a aprender a voar, quase mil

pássaros rodearam os alunos, examinando Maynard com

curiosidade, não se incomoílando de serem vistos, tentando

compreender o que Jonathan dizia. Coisas muito simples

que uma gaivota tem direito de voar, que a liberdade é da

própria natureza do seu ser, o que se atravessar no caminho

dessa liberdade deve ser afastado, seja rito, superstição ou

limitação de qualquer forma.

"Mesmo

que seja a Lei do Bando?"

"A única lei verdadeira c a que leva à liberdade. Nau exis-

te outra", respondeu Jonathan.

No dia em que Jonathan desapareceu, ele voava com

Fletcher ao amanhecer. B dizia: "É

preciso treinar e enxer

gar a gaivota verdadeira, o lado bom de cada uma delas e

ajudá-las a se descobrirem. É isto que chamo de amor. Lem-

bro-me de um pássaro jovem e valente — Fletcher Lynd

Gaivota. Acabara de ser proscrito e estava pronto para lutar

até a morte contra o bando. Mas, em vez disso, está aqui

hoje, construindo seu Paraíso e guiando o bando todo na

sua direção".

Uma fagulha de pavor brilhou nos olhos de Fletcher

Lynd Gaivota: "£i<

guiando? Você é que é o instrutor, não

pode ir embora!"

"Não? Não acha que há outros bandos, outros Fletcher

que precisam mais de um instrutor que este aqui. que está a

caminho da luz? Você ja não precisa de mim, pois só preci

sa continuar a descobrir o verdadeiro e ilimitado Fletcher

Gaivota. Ele é seu instrutor."

N

um momento, o corpo de

Jonathan alçou se no ar,

brilhou debilmente e co

meçou a ficar transparen

te. "Não

deixe que espa-

lhem tolices sobre mim ou

que me tornem um deus.

Entendeu. Fletcher? Eu

sou uma gaivota. Gosto de

voar, talvez..."

"Jonathan!"

O brilho sumiu. Jonathan Livingston Gaivota desapare-

cera.

Algum tempo depois, Fletcher Lynd Gaivota voou arras-

tadamente para enfrentar um novo grupo de alunos, ansio

sos pela primeira lição.

"Para começar", disse sombriamente,

"você tem de

compreender que uma gaivota é uma idéia ilimitada de liber

dade, feita à imagem da Grande Gaivota, e que todo o corpo

de vocês nada mais é que seu próprio pensamento."

As jovens gaivotas olharam no sem entender. "Ora,

meu

amigo, isso não está parecendo uma aula de loop."

Fletcher suspirou e começou tudo de novo: "Hum.

. .

Ah. . . muito bem", disse. "Vamos

começar com o vôo

horizontal.' Ao dizer isso, compreendeu subitamente que

seu amigo, honestamente, não fora mais divino do que ele

próprio.

Ilimitado, Jonathan?, pensou.

Bom, nesse caso, não vai demorar muito e eu

cairei docéu na sua praia e lhe darei um aulinha de vôo!

Embora tentasse parecer severo como devia, diante

dos alunos, Fletcher Gaivota viu-os de repente

como eram realmente, por um instante só,

e não gostou, amou o que estava vendo.

Ilimitado, Jonathan?, e sorriu.

Começava sua corrida

para aprender.

fim

Mesmo depois de muitos anos de trabalho duro,

o pick-up

Chevrolet nunca vai deixar você na máo.

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da caçamba em madeira com estrias de aço. E você

tem ainda a garantia

de assistência técnica perfeita

e peças

originais em qualquer ponto do Brasil, através

da ampla rede de Oficinas Autorizadas e Concessio-

nários de Qualidade Chevrolet.

Além disso tudo, o pick-up Chevrolet nunca

deixa você na mão. Nem na hora de vender.

Primeiro lugar é para quem pode.

As razões deste

fato são simples e con-

vincentes: acima de tu-

do, a proverbial resis-

tência do pick-up Che-

vrolet, resultado direto

do rigoroso Controle de

Qualidade de cada com-

ponente que entra em

sua fabricação.

Uma segunda

razão é o fato do pick-up

Chevrolet ser todo con-

cebido como um conjun-

to harmônico e perfeito,

e não como peças isoladas para

uma montagem pos-

terior.

Mais uma razão: o motor Chevrolet de seis

cilindros em linha. Não carrega cilindros inúteis e dis-

pendiosos, nem sofre a falta de cilindros necessários.

Por isso, é mais durável e econômico.

Outro fator importante é a suspensão: a única

realmente independente. Qualquer choque ou sola-

vanco em qualquer dos lados é absorvido pela

sus-

pensão, não passando para

a cabina nem para o outro

lado do veículo. É muito mais conforto, segurança e

durabilidade.

E tem muito mais: o pick-up Chevrolet oferece

mais modelos do que qualquer

outra marca, é o único

com o tanque de gasolina fora da cabina e assoalho

man

L^

COMO E BOM SER

MULHER OBJETO!

(Revelações de

Regina Leclèry, estrela

de Who is Beta?)

i>h

DE 1

M-\hb\ \L\hSDELIMA !W

Regina

Léclery é bonita, rica e famosa como tantas

outras. Mas o que faz com que ela seja especial é uma

espontaneidade que poucas pessoas (e muito menos

as famosas e ricas) têm. Com o mesmo ar tranqüilo com que

se declara apaixonada pelo marido, ela nào hesita em afir

mar que

"um dos segredos do sucesso, para as mulheres que

querem subir na vida, é saber se entregar toda na hora

certa".

Em uma entrevista, há dois anos, ela revelou que, apesar do

que dizem, demorou muito para seguir seu próprio conselho.

Culpa da educação burguesa da classe média. Regina

Rosemburgo nasceu no Leme, em 1942. Trabalhou como

recepcionista em banco. Foi Charm-Girl, Glamour Girl,

Miss Lagoinha Country Club — "aquelas

frescuras todas",

como as definiu depois.

Casou se em 1963 como milionário WallinhoSimonsen e

passou a freqüentar o JetSet. Em outubro de 1963, o casal

passou com John Kennedy, em sua propriedade de Palm

Beach, o último weekend da vida do presidente: na sexta

feira seguinte ele era assassinado.

Amiga de Salvador Dali, Roger Vadim, Jane Fonda, Marisa

Berenson e Gunther Sachs, Regina teve o bom gosto de nào

esquecer as amizades antigas e obscuras. Bom gosto que se

revelou próximo do bom senso: apesar de ser uma mulher

que tem tudo para suscitar inveja, Regina é uma pessoa da

qual ninguém fala mal. Separou se em 1966, quando já

conhecia Gérard Léclery, dono da maior indústria de calça

dos da França. Mas só se casou com ele em 1968, depois de

uma perseguição de dois anos e meio, que admite ter sido

árdua, mas que começou da maneira mais desinteressada

possível: ao ser apresentada ao futuro marido, achou que ele

não passava de um dos secretários de Gunther Sachs.

Atualmente, Regina Maria Rosemburgo Léclery tem

casas na França, na Suíça e na Barra da Tijuca, além de um

apartamento em Paris. Tinha um grande iate, ancorado

permanentemente em Taiti, mas ele pegou fogo. Seu mari

do acaba de inaugurar, no Rio, uma fábrica de sapatos, Cie

rina. E ela acaba de filmar, com Nélson Pereira dos Santos,

Who is Beta? (Quem é Beta?), um science fiction que, em

francês, se chamará Pas de Viulence entre Nous (Nada de

Violência Entre Nós). Os que viram o filme dizem que ele é

bom. Mas Regina faz questão de afirmar que não se acha

uma grande atriz, apenas uma mulher objeto satisfeita com

sua condição.*egue

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REGINA LECLÈKY

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Gérard, Regina e a filha Georgiana,

de três anos (há ainda Roberta e Márcia).

Realidade — Quando foi seu primeiro

passo para o cinema?

Regina — Há dez anos. Eu era muito

amiga do Gláuber Rocha. Ele escreveu

Deus e o Diabo lá em casa. Nós traba

lhamos juntos, eu que ia fazer o filme.

Meus amigos, na época, eram Paulo César

Sarraceni, Cacá Diegues, Nélson Pereira

dos Santos, Luís Carlos Barreto, Joaquim

Pedro. Gláuber estava se separando da pri-

meira mulher, a Helena Ignês. A atual, a

Rosinha, ele conheceu comigo. Nós fomos

fazer um curso de cinema na Católica, em

1961. Aliás, a única vez que eu entrei numa

faculdade na minha vida foi com Gláuber

para fazer esse curso de cinema. E a Rosi-

nha estava lá. Mas aí eu me casei com o

Wallinho Simonsen e não fiz mais o filme.

A gente era bem garoto. Eu esticava o ca

belo do Gláuber, ele ia lá pra casa e mamãe

dizia para ele: "Entra

direto para o

banheiro e toma banho. Depois vem

comer!" Várias cenas de Deus e o Diabo a

gente imaginou juntes. Mas então eu me

casei com o Wallinho Simonsen e não fiz

mais o filme. O papel da loná Magalhães

era o meu.

Realidade —

Não foi Gugu Mendes que

resolveu produzir o filme e exigiu que loná,

casada com cie naquela época, fizesse o

papel?

Regina Foi. Ela veio da Bahia e esta

va começando a fazer umas pontinhas em

televisão, mas era pouco conhecida.

Realidade Entào a carreira cinemato

gráfica foi adiada pelo casamento?

Regina — Sim. Mas de vez em quando

eu tinha vontade de fazer um filme com

Gláuber, que era o meu melhor amigo. Ele

orientou minha cultura, me mandava ler,

me ensinava mil coisas. Então era o so

nho da minha vida fazer um filme com

Gláuber.

Realidade — Daí até seu casamento

com Gérard Léclery o cinema foi esqueci

do, nào? E depois de Gérard?

Regina — Bom, Gérard e Nélson se

conheceram e resolveram escrever uma his

tória Juntos. Tiveram a idéia durante um

fim de semana, em Búzios. Primeiro ia ser

uma história complicadíssima no sentido

de mil coisas, superprodução, aventuras. Ia

ser filmado no Havaí. Depois resolveu-se

que o filme seria feito na França. No fim

acabou sendo uma história que se passa de

pois de uma Terceira Grande Guerra, lá

pelo ano 2000 ou mais.

Realidade — Como você acha que a cri

tica, que sempre apoiou Nélson, vai enca

rar seu novo filme?

Regina — Sinceramente, não sei. Per

guntei isso a ele no outro dia. Porque todo

o seu trabalho sempre teve um enfoque

social. Se bem que o Who Is Beta? não

deixe de ter também — talvez até tenha

demais. Ê toda uma outra abertura. Talvez

as pessoas se assustem por ser um filme do

Nélson, mas vão gostar. É um filme tão

bonito! Uma respiração enorme. Sem a

menor complicação, claro e cheio de vida.

As pessoas são muito engraçadas. Vivem

repetindo tudo, a ponto de esquecer a pró

pria opinião na bolsa. Quando cheguei de

Paris todas as mulheres vinham me procu-

rar, qflitas:

"Você viu o Tango? E a man

teiga, hein?"É isso. A primeira pessoa que

viu o Tango falou na manteiga, e até hoje

não se fala outra coisa sobre o filme.

Realidade — Seu papel em Who is Beta?

foi escrito especialmente?

Regina — Ah, não. Eu sempre pedia a

todos os meus amigos: me dê uma ponta!

Eu não queria ser atriz, eu queria fazer uma

ponta para ver se me realizava nessa. Só

agora apareceu a oportunidade. Acho en

graçado que as pessoas pensem que entrei

no filme porque Gérard é produtor majori

tário. Fiz o papel porque o Néison achou

que eu podia fazer.

Realidade — Por coincidência, acabou

sendo o melhor papel do filme?

Regina — Mas a estrela é a Sylvie Fen

nec. Se bem que é todo um trabalho de

equipe. Não sei, eu acho este filme do Nél

son tão especial. . . a história se passa toda

nos olhares das pessoas. Nem teria sido

necessário haver diálogo. Não há nenhuma

cena de sexo ou mesmo de violência real.

Há o jo%o constante. Levei um susto quan

do um crítico francês ficou revoltado dizen

do que lanta violência era uma falta de res

peito para quem estava assistindo.

Realidade — Durante a filmagem, como

é que as pessoas encaravam você, mulher

grá fina?

Regina No começo morri de medo.

Achava que o pessoal não iria me aceitar.

No fim eles viram que não era nada disso e

não teve problema nenhum.

Realidade — Dizem que a equipe sc

apaixonou por você.

Regina — Eu é que me apaixonei pelo

diretor e pelos atores.

Realidade —

Ou eles teriam se apaixo

nado pelo vinho francês e os brioches que

você mandava servir o tempo todo?

Regina — Vinho francês? Mas ora, se

aqui em casa eu só tenho vinho brasileiro,

muita cerveja e muita cachaça... tem,

evidentemente, um champanhe zinho fran

cês, mas. . . não. A relação que se criou

enquanto fazíamos o filme foi ótima. Foi

genial porque eu fazia o almoço, sanduíche

de ovo, presunto, ficava abrindo buraco

para aquelas cenas de trincheiras. Me reali

zei fazendo o filme. Não porque estivesse

fazendo o jogo da grande atriz, mas, sim,

pelo trabalho gostoso de equipe. Amanhã,

se me chamassem para ser assistente de

direção em vez de aparecer com a minha

carinho no filme eu ia gostar do mesmo

jeito. Depende evidentemente do diretor

Lembro que eu perguntei ao Jack Nichol

son como é que ele se sentia em relação ao

seu trabalho de ator. Se o seu grande pro

blema era acertar o cachê. Ele está na posi

ção que eu curti: não é o dinheiro que

comanda a sua linha de ação. Como o

clima que houve durante a filmagem de O

Último Tango em Paris.

Realidade — O cinema vai afastá la do

society?

Regina — Ora, eu é que me afastei dele.

Realidade — O clima hollywoodiano

nào a atrai?

Regina — Quando eu pude

— conhecia

o Zanuck e aquela turma toda — dei as

costas. Eu estava noutra. Map não é esse

clima de cinema o que eu iria gostar não.

Filmar aqui no Brasil com Nélson me deu

um momento de felicidade incrível.

Realidade — Você já trabalhou alguma

vez em sua vida?

Regina — Trabalhei, sim, mas não no

setor artístico. Trabalhei antes de me casar,

pela primeira vez. Trabalhei em banco,

como recepcionista. Era um banco do pai

do Didu Souza Campos. Na época eu era

uma simples funcionária que recebia mui

tas cantadas do Gustavo Magalhães* Eu

tinha dezessete anos, naquela época. Não

me lembro qual era o banco. Sei que depois

foi vendido para aquele tal de Paiva. Tam

bém trabalhei para ele.

*Freqiientador assíduo das colunas sociais do

Rio de Janeiro.

78

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"Se me chamassem para fazer

*>apel de uma

grã-fina, acho que eu nunca conseguiria."

Realidade — Qual foi o salário que esti

pularam para você no filme?

Regina — Não ganhei salário.

Realidade — Ninguém ganhou?

Regina — Cada um ganhou seu salário,

imagina!

Realidade — Só porque seu marido é o

produtor você trabalhou de graça?

Regina — Foi.

Realidade — Vocês sào casados em

comunhão de bens?

Regina — Não. Mas os milhões de dóla

res eu já tenho. Meu lucro foi a experiência.

Abri trincheira, cozinhei, representei, em

vez de ficar aqui apanhando sol.

Realidade — Como as pessoas vêem Gé

rard Léclery como produtor?

Regina — Dificultou tudo, porque é

aquela história: "Ah,

Gérard é o milionário

francês" — e queriam cobrar tudo três

vezes mais caro pra gente. Eu sei, por

exemplo, que muita gente do cinema ficou

pichando o Nélson porque achou que ele

linha entrado numa de muito dinheiro

rolando e caviar.

Realidade — Qual foi a média de

salários?

Regina — Sinceramente, não sei.

Realidade — Por que Frederick Pascal

fez o papel que seria para o Maurice

Ronet?

Regina — Maurice pediu 10 000 dóla

res. Era um preço muito alto para a produ

ção do nosso filme.

Realidade — É verdade que Frederick

disse que viria até de graça, quando soube

que Nélson seria o diretor do filme?

Regina — Não, o Frederick

queria era

vir filmar no Brasil. Na França ele ainda

não é muito cònhecido. O que ajudou um

pouco ao Frederick foi ter aparecido em

Operação França. Noutro filme, que ele fez

com Yves Montand, a gente sente que cor

taram toda parte dele .**

Realidade — Você pretende continuar

no cinema?

Regina Gostaria Ue Jazer outra filme

ugora, depressa, mas aqui no brasil, htr

causa das minhas três filhas, que estão na

escola, e porque realmente estou um pouco

cansada. A gente vai, mas na verdade mora

aqui. Se tivesse que fazer cinema la fora

seria muito absorvente.

Realidade E se Bertolucci a convi

dasse?

Regina Bom, quem é que não ia que

rer? Você não ia? Até o Lulu Malle, que é

muito meu amigo, se me convidasse, eu

iria. Então transferiria as crianças para lá e

pronto. O que eu não queria é entrar naque

la de começar a fazer carreira cinemato

grqfica lá fora. Ah, isso leva muito tempo e

deve ser chato.

Realidade - Lulu é Louis Malle?

Regina — Sim. A cunhada de l ulu é

brasileira, a Bom bom, casada com o Ber

nard. Aliás, eu soube que ela está no Rio.

Realidade — É verdade que Bombom

serviu de modelo para uma série de mulhe

res brasileiras?

Regina — Bombom era muito amiga da

Danuza Leão, da Vera Simões. . . Todas

as mulheres começaram a imitar Bombom.

A escola Bombom fazia o maior sucesso.

Apareceram mil mulheres fazendo gênero

de chique, desligada, que fala engraçado e

faz loucuras bobinhas. Bombom foi a pri

meira pessoa que eu conheci quando fui à

Europa, em 60. Ela me apresentou a todos

os gràfinos de Paris. Eu não sabia de nada.

Realidade — Qual foi a primeira pessoa

do cinema internacional que você conhe

ceu?

Regina — O Louis Malle mesmo. O

irmão mais moço, Vincent, que agora é

dono da maior cadeia de cinemas em Paris,

era um garoto de calça curta. O sonho da

minha vida era fazer aquele conto do Gui

marães Rosa, O Buriti. Mas daqui a pouco

fico velha — já estou com 31 anos — e

não vou conseguir. Você leu ? É lindo. Uma

mulher divina que chega numa fazenda e

acaba dominando a família do marido.

Realidade — Bunuel nào vai fazer esse

filme?

Regina — Luiz Carlos Barreto disse

isso. . . mas talvez o Bunuel nem saiba.

Realidade — E por que vocês nào o

fazem? Gérard nào quer fazer outro filme?

Regina — Ele

quer, sim, mas agora está

ocupado com a fábrica de calçados. A

inauguração da fábrica vai completar lodo

um ciclo de paixão que Gérard tem pelo

Brasil. Começou apaixonando se por mim.

Depois pelo Brasil. O filme faz parte de um

plano de integração, não sei se dá para

entender. E a fábrica já entra num gabarito

mais sério. Gérard tinha a imagem do

homem rico que só sabe se divertir. Essa fá

brica vai render 5 milhões de dólares e

600 000 de divisas por ano ao Brasil; além

disso vai dar emprego a muita gente. De

**Faz o papel de um artista da TV francesa

que é contratado por traficantes de drogas para

transportar tóxicos em seu carro.

pois da maugui açáo iieraiU vai fazer um

documentário pela Amazônia. O que ele

mais gosta é ser camcrainan.

Realidade O material que vocês usa

ram para filmar Who is Beta? era alugado?

Regina Ah, não. Todo nosso. Olha,

desde aquela viagem que nós fizemos, de

volta ao mundo, Gérard comprou equipa

menlo completo de 35 mm. Em 67 ele fez

um filme linha underground: Pulsation.

Realidade Se chamassem você para

fazer papel de uma grà fina?

Regina — Acho que nunca conseguiria.

Você acha que eu conseguiria? No outro

dia fui ver Toda Nudez, que amei, e quando

cheguei em casa fui fazer a prostituta em

frente ao espelho. Não consegui e fiquei

uma fera. Não conseguiria nem Jazer o

papel de prostituta nem o de grà fina. Por

isso foi que me qfastei de tudo um pouco.

Chega de canasirice. Fiquei frustradíssima.

Achei que nunca seria atriz.

Realidade — Nào acha que tudo dcpcn

de do diretor?

Regina — Sim, mas o meio termo é que

me assusta. Eu nunca sabia quando era que

estava fazendo certo. Se estava represen

tando de mais ou de menos. Repetia uma

cena seis vezes e nunca tinha noção de qual

delas eu linha jeito melhor. Na verdade, eu

acho que ninguém vai me convidar paru

fazer uma coisa que eu não possa fazer.

Realidade — Você se esquece de sua

imagem de mulher sensacionalista, que

toma banho de leite de cabra, que nào sabe

o que fazer com seus dólares. . . a mulher

amiga de Omar SharilTe de Onassis.

Regina — Eu nunca sei o que as pessoas

pensam de mim. Talvez seja até por isso

que fico nessa insegurança. Mas não acho

que pensem que eu sou de tomar banho de

leite de cabra. Isso quem deve fazer é a Síl

via Amélia.

Realidade — Ela detestou o cinema,

não?

Regina — Mas ela fez cinema? Foi hor

rível, ela mesma me contou. Acabou se

chateando com o Bráulio Pedroso. Eu acho

que também teria odiado 'fazer

cinema"

naquele esquema. Spots, maquilagens, rou

pas longas e jóias, afofação de cabelo. . .

Não dá. Eu filmei ao ar livre, sobrevivente

de uma guerra nuclear, correndo pelo mato,

caindo no chão, lutando, amando. . . É

outra coisa. A história é genial. Não tem na

da a ver com o mundo atual. É como se a

gente tivesse feito uma viagem interplane

tária. Um grupo de brasileiros viu o filme

agora, em Paris, e adorou.

Realidade — Você entraria no esquema

da Florinda Bolkan?

Regina — Não. Não entraria

porque

nossas ambições são diferentes, só por isso.

Eu agora quero saber de mim. Eu amo a

Florinda. Aquele cavalo selvagem maravi

lhoso, solto. E acho Florinda boa como

atriz. Gosto mesmo. vezes um pouco

disciplinada demais. Eu não entraria no

esquema de atriz objeto. Pra mim, basta a

mulher objeto. »,m

(U-2P m»)

L

deslavei... ¦ A II

o mundo c das mulheres

w

Margarida, Clarabela, Minie,

Vovó Dona,Ida, Titia Métralha,

Branca-de-Neve e muitas outras

ma-ra-vi-lho sas personagens

i

d63 Walt Disney estão tomando

conta do mundo, num volume

com muito amor, muito carinho,

nnuito BLÁ- BLÁ-BLÁ e . . . muita

fofoca também. Nesta edição

O MUNDO É DAS MULHERES

fljSNblTPTv | ff I1!'.1:1. j

RBcmM 1' J1111 *j

i v ^ 1

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28 HISTORIAS COMPLETAS

292 PÁGINAS A CORES

AS MELHORES HISTÓRIAS EM

QUADRINHOS DE WALT DISNEY

DISNEY ESPECIAL N*4

AS MULHERES

EM TODOS OS JORNALEIROS

POR APENAS Cr$ 5.00

<1 ©1

R

teira (subordinada ao Departamento de tronicos quando fez a adapta^ao dos senso I

J list i<; a) adotou a mesma barrel ra dc antiin- res a frontcira: "Haveria

implicates politi- ji

filtracao utilizada- pelos militares para cas pelo fato de usar os equipamentos de M

detectar movimentos de tropas ou de cami- observaQao junto ao territorio de um pais 0

Q ^ t

nhoes na Trilha de Ho Chi Minh. Diversos amigo. Por isso, selecionamos equipa- P*U

pontos foram guarnecidos com sensores mentos que podem ser montados sem cha- Ay Vi

jl semelhantes aos Acousids e Minis ids, que mar a aten9ao e sao facilmente ocultaveis".

* Cerca de 19,5 bilhoes de cruzeiros, o que J A

I

9LL ^ *v equivale a quase a metade da receita do o —\

I

Brasil para este ano.(41 bilhoes de cruzei- — I

A M

oOs

Estados Unidos gastaram 3,25

bilhões de dólares *

em equipa-

mentos automáticos para espio-

nagem e observação, durante a guerra do

Vietnam. Agora a guerra, se não acabou,

ao menos foi definitivamente "vietnami-

zada", os últimos soldados voltam para

casa, e com eles a experiência da guerra,

que já deu, nos Estados Unidos, alguns fru-

tos pouco divulgados: muitos americanos

não sabem disso, mas estão sendo observa-

dos pelo mesmo equipamento de espiona-

gem desenvolvido e utilizado na guerra,

contra os vietnamitas.

O contrabando na fronteira mexicana

diminuiu, desde que a Patrulha de Fron-

teira (subordinada ao Departamento de

Justiça) adotou a mesma barreira de antiin-

filtraçào utilizada- pelos militares para

detectar movimentos de tropas ou de cami-

nhões na Trilha de Ho Chi Minh. Diversos

pontos foram guarnecidos com sensores

semelhantes aos Acousids e Minisids, que

t ^

* Cerca de 19,5 bilhões de cruzeiros, o que

¦x eqüivale a quase a metade da receita do

Brasil para este ano.(41 bilhões de cruzei-

ros).

detectavam sons e vibrações de passos e

veículos no Vietnam. Os QU-22B, aviões

sem piloto, com controle remoto — que se

tornaram ultrapassados no Vietnam com a

introdução dos drones (zangões), mais

sofisticados —, sobrevoam a fronteira, ser-

vindo de monitores para os sensores e

transmitindo dados aos pontos de controle

central.

Mas os sensores apresentaram alguns

problemas. Assim, como no Vietnam, os

sofisticados aparelhos eletrônicos não são

capazes de distinguir entre amigos e inimi-

gos, e um burro perdido pode provocar o

envio de uma patrulha. Outra dificuldade

foi levantada pela Sylvania-Sistemas Ele-

trônicos quando fez a adaptação dos senso-

res à fronteira: "Haveria

implicações políti-

cas pelo fato de usar os equipamentos de

observação junto ao território de um país

amigo. Por isso, selecionamos equipa-

mentos que podem ser montados sem cha-

mar a atenção e são facilmente ocultáveis".

Outros sistemas de sensores de observa

çào dotados de estridente alarma, que soa

quando alguém se aproxima, estão sendo

colocados larga escala em volta de prisões,

universidades, residências oficiais, depen

dências industriais e governamentais. Nos

arredores de Washington, sensores eletrõ

nicos estão ocultos nos arbustos de uma

sebe que circunda uma zona "de

máxima

segurança", de 67 casas, cada qual no

valor de 200 000 dólares.

Muitas casas nos arredores da capital

norte-americana foram equipadas com sen-

sores, que fazem soar uma campainha na

delegacia mais próxima à menor provoca

ESPIONAGEM DOMESTICA.

UMA LICAO DO VIETNAM

Para observar contrabandistas. po

iticos e até as compras

de donas de casa, a polícia

americana

usa equipamentos de espionagem criados para

a guerra

TEXTO DE ROBERT BARKAN

Copyright New Scientist.

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ção. Maí. como coelhos, cachorros e galhos

de arvores sào os "criminosos"

mais

comuns, a polícia nào lhe dá muita

atenção.

Existe pouca informação acessível a res

peito do sucesso dos sensores no Vietnam.

porém algumas evidências sugerem a exis

tência de problemas. Os primeiros sensores

no Vietnam foram ativados por búfalos.

chuva forte e até mesmo pelo vento pas

sando no capinzal. Os militares desperdi

çaram muita artilharia tentando matar a

chuva, mas depois os operadores dos cen

tros de observação de infiltração aprende

ram a diferenciar entre pingos de chuva e

passos de gente.

A contra-espionagem

Mas os vietnamitas também aprende

ram. Leonard Sullivan, chefe da seção do

Pentágono para o sudeste asiático, admite

que

"o inimigo mostrou uma extraordinária

esperteza em assimilar algumas coisas

novas que nós introduzimos. Era raro que

se passassem mais do que alguns meses,

após a introdução de alguma novidade,

sem que interceptássemos um documento

do inimigo, explicando a maneira de enga

nar o novo aparelhamento". Veteranos da

guerra do Vietnam contam, por exemplo,

que os engenhos guerrilheiros enganavam

os "farejadores

de gente" americanos,

simplesmente pendurando frascos de urina

nas árvores.

Apesar de todo o aparato bélico dos sen

sores, muitos observadores duvidam de que

a barreira eletrônica tenha funcionado de

fato para deter a onda de homens e de

material que descia pela Trilha de Ho Chi

Minh.

Sensores testados na guerra foram tam

bém colocados debaixo dos gramados da

Casa Branca e nos jardins das outras casas

do presidente Nixon em San Clemente.

Califórnia e Key Biscayne, Flórida. Na

Flórida, a espuma do mar próximo ativou

os sensores, e a comunidade local teve de

fazer uma campanha a fim de impedir que

o governo alterasse a linha do litoral para

evitar que respingos da ressaca atingissem

o gramado.

A revista Eletronics noticiu que um cin

turão de segurança da Westinghouse estava

sendo testado na residência presidencial.

Um cinturão semelhante instalado no Cen

tro Federal da Juventude, em Ashland.

Kentucky, consiste em dois tubos de borra

cha, com 180 metros de comprimento cada.

contendo partes iguais de água e de

anticongelador, enterrados a 40 cen time

tros da superfície do gramado. Um disposi-

tivo na ponta de cada tubo alerta para

quaisquer pressões sofridas pelo líquido.

Na luta contra o vício

Sensores infravermelhos e óticos, ante

riormente utilizados em aviões e satélites

para fins de reconhecimento no Vietnam,

estão servindo agora à guerra contra os tó

xicos. O governo norte americano está gas

tando este ano 2 milhões de dólares para

descobrir a forma pela qual a planta da

maconha reflete calor e luz sob várias con

dições de solo e de clima. Desta maneira,

será possível detectar plantações em qual

quer país do mundo, graças a sensores

remotos colocados a bordo de satélites que

giram em torno da Terra. O mesmo poderá

ser feito* com a papoula, matéria prima

para a heroína e a cocaína.

No Alabama, na Geórgia, na Carolina

do Norte e no Tennessee, agentes federais

já utilizam exploradores infravermelhos

(impressionados pelo calor do solo) para

detectar destilarias ilegais. Voando a uma

altura de 600 metros, de manhã bem cedo,

o explorador "olha"

para faixas do solo e

memoriza os impulsos num filme. Os agen-

tes depois examinam o filme com lentes de

aumento e localizam os lugares "quentes".

Para ver à noite

Uma outra tecnologia de guerra agora

usada nos Estados Unidos é uma caixa

preta, capaz de ver através de paredes de

tijolos. É o radar de observação PPS-14, de

"penetração nas folhagens", desenvolvido

para localizar grupos de guerrilheiros nas

densas selvas do Vietnam. Tem o tamanho

de um livro grande e pesa menos de 5 qui

los. É utilizado na observação de distúrbios

civis.

A polícia norte americana já vê no escu

(«gu#

83

ESPIONAI ;FM

ro, graças a equipamentos anteriormente

usados para localizar grupos guerrilheiros

à noite. De Nova York até a Flórida,

departamentos policiais os usam em patru

lhas de rotina.

Muitos departamentos policiais utilizam,

normalmente, o sistema de câmara Z 378.

introduzido em 1970 pela Divisão de

Librascope, da Singer. A luz noturna obti

da passa por duas lentes de uma objetiva de

alta velocidade e de longo comprimento

focai para um intensificador eletrônico de

dois estágios, que amplifica a imagem

7 500 vezes (um terceiro estágio opcional

dá um aumento de 125 000 vezes). A ima

gem ótica, reconvertida num filme padrão,

preto e branco, de 35 milímetros, tem deta

lhes suficientes para que se possa reconhe

cer indivíduos a uma distância de 70

metros, com pouquíssima iluminação. A

Singer informou que o sistema foi utilizado

para

"vigiar encontros de grupos suspei

tos" e que é "especialmente

adequado"

para

"operações de vigilância, quando

colocado em aposentos escuros".

A maior parte dos aparelhos para visão

noturna custa entre 2 000 e 8 000 dólares,

mas está sendo criado um modelo que eus

tará menos de 600 dólares. Peter F. Lefort,

vice presidente da Aerojet Delft, produtora

do owl eve ("olho de coruja"; preço, 7 500

dólares), prevê que no fim de 1973 os equi

pamentos de visão noturna estarão instala

dos na quase totalidade dos 172 000 carros

de polícia do país.

A polícia também está instalando cqui

pamentos de visão noturna nos seus heli

cópteros. Os aparelhos são fabricados pela

RCA e pela International Telephone and

Telegraph.

A Volta de Dick Tracy

A Associação de Indústrias Fletrônicas

dos Estados Unidos calculou o volume do

mercado interno anual para produtos ele

trônicos em 400 milhões de dólares, a

maior parte dos quais se refere às compras

da polícia. Tornando realidade recursos

fantásticos usados pelos heróis de histórias

em quadrinhos —

como o rádio de pulso

do detetive Dick Tracy — a polícia ameri

cana adquire sistemas de controle e coman

do. equipamento sonoro, tele impressores

para impressões digitais e máquinas dígi

to-impressoras laser. Técnicos do governo

e engenheiros reúnem se para discutir os úl

timos avanços dos dispositivos e engenhos

para fins policiais, em reuniões anuais,

como o último Simpósio Nacional sobre

Leis de Subvenção à Ciência e à Tecnolo

gia, em Chicago, e a Conferência Carna

han sobre Medidas Eletrônicas Defensivas

contra o Crime, na Universidade de Ken

tucky.

Na Conferência Carnahan, por exemplo,

engenheiros do Laboratório Sylvania de

Socio sistemas divulgaram um relatório

sobre Sistema de Baixa Luz para Televisão.

Em Mount Vernon, Nova York. duas cã

maras de 1 quilo e 200 gramas de peso,

resistentes a quaisquer modificações de

temperatura, foram montadas a 7 metros

acima do nível do solo sobre pilares espe-

ciais. Nos quartéis generais da polícia elas

são manejadas através de controle remoto.

Cada câmara está montada sobre pilares

especiais numa pequena torre sobre um

aparelho que pode girar até 360 graus (ou

seja, uma circunferência completa), e a sua

inclinação vertical chega a 120 graus,

tendo ainda um zoom de alcance e aproxi

mação sobré objetos até 800 metros de

distância. O sistema é também uma adapta

ção de um equipamento desenvolvido para

a guerra do Vietnam.

O Departamento de Justiça, que subven

cionou o projeto com 47 000 dólares, espe

ra poder calcular a reação do público a

uma intermitente vigilância. "Somente

o

tempo poderá dizer se os cidadãos objeta

rào ou não a uma atmosfera do tipo Big

Brother "•*,

diz um engenheiro da Sylvania.

Mas alguns engenheiros e funcionários

governamentais não estão esperando a res

posta do tempo. Um estudo financiado pelo

Departamento de Justiça recomendou uma

vigilância constante de 24 horas diárias em

todas as ruas de Nova York. A recomenda

ção foi feita por um comitê da Academia

Nacional de Engenharia. A fim de testar a

produtividade de uma vigilância pela televi

são por 24 horas diárias, o comitê estimu

lou a administração Nixon a implantar um

programa de cinco ahos (custos: 7,5 mi

Ihões de dólares) a fim de vigiar 94 quilo

metros de ruas no bairro do Brooklyn. Este

programa piloto consistiria de 140 cáma

ras de televisão do sistema de baixa luz,

montadas em esquinas alternadas, de ma

neira que cada rua seria inspecionada uma

vez cada minuto. Quarenta por cento do

montante previsto seria destinado ao paga

mento dos salários de 175 vigilantes. Além

de receber 2 dólares por hora para verem

televisão, eles teriam a possibilidade de uti

lizar o zoom para chegarem mais perto de

excitantes cenas de rua, tais como uma par

tida de handball, o beijo de despedida de

um casal de adolescentes ou uma dona de

casa fazendo compras.

Vigilância total

Em 1971 foi incluída, num conjunto resi

dencial de Nova York (custos: 10 milhões

de dólares) a instalação de câmaras de tele

visão de circuito interno. Qualquer pessoa

que entra nos edifícios precisa apertar um

** Big Brother (Irmão Grande) é a enti

dade que, no romance 1984, de George

Orwell, controla a vida de todos os cida

dãos, através de câmaras de TV instaladas

em todas as ruas. prédios e na casa dc cada

um.

o*

84

I

botào, que o põe cm contato com um apar

tamento. O dono deste, cntào. aperta um

botão que projeta a imagem do visitante no

visor do seu aparelho dc televisão. Os

moradores do prédio, assim, podem ainda

inspecionar as atividades nas portarias, no

estacionamento, nos elevadores e no play

ground das crianças. Os funcionários do

Departamento de Justiça recomendaram

que sistemas como este se espalhem por

todo o país.

A indústria desenvolveu equipamentos

cada vez mais sofisticados a fim de atender

à sempre maior demanda por aparelhagens

de vigilância. Recentemente, o birô de

investigações de Torrance, na Califórnia,

anunciou o seu Sistema de Vigilância Total

para administradores de prédios de aparta

mentos e segurança industrial. Um mini

computador e um disco de memória fazem

toda a vigilância rotineira, chamando o

guarda em caso de anormalidade. O siste

ma é capaz de manejar até cinqüenta câma

ras a partir dc um único sistema de contro

le. Ele explora uma média de trinta

seqüências por segundo, c vai comparando

aquilo que a câmara vê com a imagem

armazenada no circuito da memória. Sc

não pcrccbe nenhuma mudança, o compu

tador passa à próxima seqüência. Caso,

porém, houver uma modificação, o compu

tador aciona uma campainha para alertar o

guarda c mostra no visor do aparelho de

televisão as imagens da ccna. antes, duran

te e depois. As imagens aparccem rapida

mente e são repetidas, mostrando visual

mente qualquer modificação ocorrida no

local do crime.

Fsse porteiro eletrônico, segundo seus

fabricantes, "é

capaz de comparar pessoas

que entram com as fotografias dc suas car

teiras de identidade".

Sistemas dc vigilância, baseados cm eir

cuitos internos dc televisão, também estão

sendo instalados em helicópteros da polícia

c outros veículos. Um desses sistemas cons

truídos para os helicópteros da polícia é

oferecido pela Microwavc Associates de

Burlington, cm Massachusetts. Seu custo é

dc 200 000 dólares.

Plagiando uma idéia do seriado dc telcvi

são Missão Impossível, o Departamento dc

Justiça concedeu ao Estado de Delaware

alguns milhares dc dólares para a instala

çào de um equipamento de vigilância de

circuito fechado de televisão, que funciona

24 horas por dia. Incluída nessa verba esta

va a importância de 3 800 dólares para o

aluguel de caminhões civis, os quais têm a

finalidade de servir de base para a patrulha

que está sendo realizada sob camuflagem.

Ou seja: disfarçados de tintirreiros, vende

dores, ou representantes de serviços de uti

lidades públicas, torna se mais fácil aos

investigadores penetrar na vizinhança dese

jada sem chamar a atenção. O equipa

mento será utilizado na vigilância diurna c

noturna de pessoas e lugares e será utili

/ado pelas equipes dc patrulha para foto

grafar pessoas cujas atividades sejam de

natureza suspeita.

O campo aberto

Os projetos de sensores e de vigilância

pela televisão são ainda em pequena escala.

Porém, o interesse combinado da indústria

e do governo está deflagrando uma rápida

escalada, desimpedida de qualquer regula

mentação legal. "Existe

grande área sem

restrições à vigilância eletrônica e às medi

das eletrônicas anticrime. as quais necessi

tam de expansão e de inovações constan

tes". disse um funcionário governamental

aos engenheiros da Conferência de Carna

han. "Geralmente

não existem limitações

legais", acrescentou, "e

o campo está

completamente aberto."

Firmas norte americanas, diante dos de

crescentes fundos federais para a navega

çào espacial e para a defesa, estào procu

rando rapidamente novos mercados.

Equipamentos de vigilância para o front

doméstico é uma transferência particular

mente fácil de toda a tecnologia desenvol

vida para o Vietnam.

Além disso, as centenas de milhões de

dólares destinadas à manutenção da ordem

interna constituem um estímulo mais con

creto e vantajoso do que programas mais

"simpáticos", como os planos de combate

à poluição. Enquanto as medidas de prote

çào ao meio ambiente preocupam a uma

ainda reduzida faixa de legisladores e estu

diosos. a crescente onda de criminalidade

nos EUA já não comporta mais as pacien

tes explicações de sociólogos ou psicólo

gos. É um problema dolorosamente imedia

to, que exige medidas práticas e eficientes

que devolvam à maioria dos americanos

um mínimo de segurança para andar nas

ruas, ou mesmo ficar em casa.

Se a indústria puder satisfazer a essas

necessidades, nada mais natural que tenha

lucros ao explorar os interesses e recursos

existentes. O problema é saber controlar,

através de uma legislação atualizada, a

aplicação dos recursos disponíveis.

Na década de sessenta, a produtividade

americana, impulsionada por amplos fun

dos federais, transformou em realidade a

fantasia de Júlio Verne, colocando o

homem na Lua. Se não for conveniente

mente controlada, essa fascinante capaci

dade de transformar sonhos em realidade

poderá antecipar para os anos setenta a

assustadora fantasia que Gcorge Orwell

previa para 1984, com o temível "Rig

Rrothcr".

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ESTA E A SELEÇÃO DA COPA Dü!

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aracanà, 16 de julho de 1950.

Augusto, o capitão da Seleção

Brasileira de Futebol surgiu no

túnel e as duzentas e tantas mil pessoas que

lotavam o estádio quase entraram em deli-

rio. Aquela tarde de domingo tinha sido

reservada para

o Brasil ser campeão mun-

dial de futebol: bastava um empate contra o

Uruguai. Mas nem se falava em empate. Afi-

nal, o Brasil havia vencido o México de 4 a

0, a Iugoslávia de 2 a 0, a Suécia de 7 a I, a

Espanha de 6 a 1. Um empate (2 a 2) já

tinha sido permitido à Suíça, como uma con-

cessào suprema. Era o que pensavam todos

os brasileiros naquela tarde.

Também foi para

isso —

para uma gran-

de festa —

que havia sido construído o

maior estádio do mundo. Mas o jogo come-

çou e os uruguaios foram resistindo. Resisti-

ram o primeiro tempo todo e até os 4 minu-

tos do segundo, quando Friaça fez o

primeiro gol para o Brasil, quase desenca-

deando uma alucinaçào coletiva.

Na tribuna de honra, trazendo na mào um

pedacinho de papel amarrotado, o velho

Jules Rimet, presidente da FIFA, ainda ten-

tava decorar uma pequena saudação, em

português, que faria ao entregar a taça ao

capitão do time brasileiro.

Mas, 17 minutos depois, os uruguaios

empataram e, a 9 minutos do final, fizeram o

segundo gol

— provocando paradas cardía-

cas e tentativas de suicídio por todo o país.

Jules Rimet viu o jogo até pouco depois

do gol de empate. Em seguida, com a taça de

ouro na mão, tomou o elevador para descer

até o campo. No campo haveria uma guarda

de honra e, perfilado ao lado dos campeões,

ele ouviria o hino nacional. Então faria a

saudação e entregaria a taça. Este relato está

no seu livro de memórias: "O

empate favore-

cia ao Brasil e, quando desci, o estádio se

agitava como uma tempestade que se abate

sobre o mar, e as vozes se avolumavam

como os rumores de um furacão. Cinco

minutos depois, quando cheguei à saída do

túnel, um silêncio dc morte havia substituído

todo aquele tumulto. Quando o jogo acabou,

me vi sozinho, empurrado por todos os

lados, com a taça na mão, sem saber o que

fazer com ela. Terminei por descobrir o

capitão uruguaio e lhe entreguei a taça quase

às escondidas, sem ao menos lhe dizer uma

palavra".

E a Seleção Brasileira, o que aconteceu

com ela? Respostas nas páginas seguintes.

88

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TEXTO DE ANTÔNIO EUCLIDES TEIXEIRA, ALBÂNIO CASTRO, CARLOS LIBÓRIO, HÉLIO TEIXEIRA E DJAIR DANTAS

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TINTE E TRÊS

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aracanà, 26 de março de 1973.

Augusto, por coincidência, foi o

primeiro a surgir no túnel: gordo,

os cabelos brancos e escassos, mas ainda

assim pisou os degraus com firmeza e olhou

o estádio vazio como se ele estivesse cheio.

Os outros vieram atrás com seus passos len-

tos e ocuparam o círculo central do campo,

diante do fotógrafo de REALIDADE.

Um pouco antes, eles haviam se encon-

trado fora do estádio, junto ao hall de entra-

da. Embora fizesse calor, Friaça chegou

com uma malha de lâ, falando com certa

dificuldade, pois perdeu quase todos os den-

tes num desastre de automóvel, que quase

lhe tira um olho e a vida também. Ademir,

agora jornalista e relações

públicas, chegou

de terno e gravata, muito animado. Danilo

contava os problemas do seu time, o ABC

de Natal. E Jair tinha pressa de ir embora

para dirigir um treino do seu, o Madureira.

Zizinho, elegante, conservando ainda nos

seus 67 quilos e 51 anos a linha de atleta.

Bigode, muito calado. Bauer, Juvenal e

Mário Américo (o massagista) chegaram

juntos. Eram os três que estavam mais afas-

tados dos demais, principalmente Juvenal,

quase desaparecido em Salvador. Roupas

simples, um sapato de lona provavelmente

comprado para a viagem, Juvenal chega a se

emocionar no abraço dos velhos companhei-

ros. Barbosa interrompeu seu serviço, como

funcionário do próprio Maracanã. E Chico

foi o último a chegar: deixou a mãe doente

no hospital.

No centro de campo, eles ocupam as mes-

mas posições de 22 anos e 255 dias atrás,

quando posaram como futuros campeões do

mundo. E o título não veio. Para alguns isso

foi fatal, para outros não. Vamos mostrar

aqui como vivem os ídolos de 1950.

A Seleção da Copa de 1950: 1 — Barbosa, 2 — Augusto,

3 — Danilo, 4 — Juvenal, 5 — Bauer, 6 — Bigode, 7 —

Friaça, 8 — Zizinho, 9 — Ademir, 10 — Jair, 11

Chico, 12 — Mário Américo (massagista). O outro massa

gista, Johnson (ao lado de Friaça), morreu em 1971.

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Barbosa ganhou

as travos do prosonto

Quando

o juiz inglês George

Readers apitou o fim do jo

go, apontando para o centro do

campo, ele correu os olhos pelas

arquibancadas superlotadas do

Maracanã e procurou o marca

dor. Lá estava: Brasil 1. Uruguai

2. Voltou os olhos para o campo

e viu o início da festa dos uru

guaios. Procurou novamente o

marcador, para se certificar. Não

havia dúvida:*Uruguai, 2 a I.

São as últimas lembranças que

Moacir Barbosa, paulista de

Campinas, 52 anos. o goleiro na

Copa de 1950, tem da tarde de

16 de julho.

— Não sei nem como cheguei

em casa naquele dia. Acredito

que tenha ido a pé até Olaria.

Até hoje, 23 anos depois. Bar

bosa não conseguiu se livrar das

acusações de que teria sido um

dos culpados pelo gol que deu a

vitória aos uruguaios: um chute

do ponteiro direito Gighia, do ân

guio esquerdo da grande área,

que, entrou entre Barbosa e a

trave esquerda.

Entre esse lance e a sua deci-

são de abandonar o campo se

passaram mais doze anos. Mas, a

partir daí, nunca mais lhe confia

ram uma camisa da Seleção. E,

como que para lembrá lo sempre

de sua possível culpa, quando o

campo foi reformado, deram lhe

de presente as próprias traves do

Maracanã, no começo de 1969.

Cinco anos depois da Copa.

Barbosa deixou o Vasco (para

onde tinha ido em 1944, saindo

do Ipiranga, um pequeno clube

de São Paulo já extinto para o

futebol), emprestado ao Santa

Cruz do Recife. Um ano depois,

estava de volta ao Rio para trei-

nar o Olaria. Teve ainda uma

curta passagem pelo Bonsuccsso

e em 1957 estava de novo no

Vasco. E de novo no gol. Ficou

no Vasco até 1960 e só resolveu

abandonar o gol em 1962. com

42 anos de idade.

Foram 22 anos de carreira e,

ao encerrá-la. apesar de ter sido

considerado um dos melhores

goleiros já surgidos no Brasil,

restaram-lhe apenas os títulos

que o Expresso da Vitória, o

Vasco, continuou conquistando

ao longo da década de 50. Hoje.

depois de ter tentado ser técnico

(Canto do Rio e São Cristóvão),

vive numa modesta casa em

Ramos, no Rio: foi tudo que o

futebol lhe deixou. Trabalha na

Adeg (Administração dos Está

dios da Guanabara), por três

salários mínimos e. à noite, treina

o time das Mercearias Nacionais,

por 500 cruzeiros por mês.

E lamenta que, por tão pouco,

o futebol tenha-lhe exigido tanto:

Uma vez minha mulher

teve a iniciativa de, durante três

anos (de 1947 a 1950), contar os

dias em que passei em casa, sem

nenhum compromisso com o

Vasco. Sabem quantos dias fiquei

em casa? Acreditem se quiserem:

foram 37 dias.

Antes de entrar para o campo,

trabalhou dois anos como quí

mico farmacêutico, "com

car

teira assinada" e, somando a isso

todos os anos dedicados ao fute

boi e ao funcionalismo público,

conclui que já trabalhou 35 anos.

É com essa idade que a

gente se aposenta, não é? Acho

mesmo que está na hora de parar,

para fazer aquilo que sempre

quis: ficar em casa com a minha

mulher (não têm filhos), cni

dando das galinhas.

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Augusto está

garantido pola polícia

32 anos (em 1940). Au

gusto da Costa, um parrudo

lateral direito do São Cristóvão,

cruzou o portão da sede da Poli

cia Especial (uma espécie de

guarda pessoal do ex presidente

Getúlio Vargas), fez os exames e

conseguiu sua vaga. Hoje. aos 52

anos, com uma barriga avanta

jada e os últimos fios de cabelo

completamente brancos, ainda

que conserve uma alegre joviali

dade. sua figura não lembra em

nada à do zagueiro atlético que

participou de todas as soleni

dades oficiais como capitão da

Seleção Brasileira, no Campeo

nato Mundial de 1950.

O futebol acabou depois dc

dezessete anos de atividade pro

fissional. Hoje. ele vive com o

salário de 2 200 cruzeiros que re

cebe como técnico em Censura

na Polícia Federal, no Palácio do

Catete (com a promessa de ser

aumentado para 3 600 até o fim

do ano). E e como policial que

ele estará aposentado daqui a três

anos.

— Com exceção da Copa de

1950, não posso dizer que tive

decepções no futebol. Ao contrá

rio, ganhei muitos títulos e um

dinheiro razoável. O que sinto

mesmo do futebol é saudade.

Saudade daquele grande time do

Vasco da Gama, o Expresso da

Vitória, com que ganhamos vá

rios títulos.

Augusto é uma das exceções

entre os jogadores da Seleção de

1950: tem uma ótima casa na

ilha do Governador, onde mora

com a mulher e os dois filhos,

Augusto Jr., 26 anos, e Glória

Maria, nove. Tem também algum

dinheiro aplicado c "uma

vida

organizada, graças a Deus".

Começou jogando de zagueiro

central pelos juvenis do São Cris

tóvào (bairro onde nasceu), cm

1937. Dois anos depois passou

para o time titular e. em 1944. foi

vendido ao Vasco por 50 contos

de réis. Um ano depois era deslo

cado para a lateral direita (posi

ção que adotou até o final da

carreira).

Parou em 1954, ainda no

Vasco, com 33 anos de idade. E.

embora tivesse o emprego na

Polícia Federal, durante algum

tempo ainda insistiu em perma

necer em campo: ficou no pró

prio Vasco como auxiliar do téc

nico Flávio Costa. Foi também

auxiliar de Martim Francisco

(outro técnico de fama). E. em

1957, aceitou um convite para

treinar o Belencnses, de Portugal.

Voltou um ano depois. Treinou o

Bonsucesso por três meses ape

nas: transferido para Brasília,

dirigiu o Guará e foi diretor da

Federação Brasiliense de Fute

boi. De volta ao Rio de Janeiro

em 1967, resolveu deixar o fute

boi de lado.

Mas não deixou de voltar ao

Maracanã para ver os jogos do

Vasco durante os campeonatos

embora o estádio cheio traga de

volta as lembranças da tarde dc

16 de juího. O que procura com

pensar com uma visão otimista

das coisas:

— E claro

que lamentamos

aquela perda. Mas já conquis

tamos a Taça Jules Rimet em

definitivo, provando ao mundo

nossa superioridade no futebol. E

não me parece absurdo admitir

que aquela derrota, de alguma

forma, tenha servido para nos

ajudar a encontrar o caminho do

tricampeonato.

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Juvenal vê o íim

do logo

de graça

Juvenal

Amarijo tem 1.81

metro de altura, pesa ainda

os 76 quilos da época da Copa de

1950. mas já nào conserva o

porte elegante do zagueiro deci

dido que afastava todos os peri

gos da área brasileira. Aos 44

anos, mostra que a vida lhe trou

xe muito mais aborrecimentos

que a perda do título mundial no

Maracanã.

Gaúcho de Santa Vitória do

Palmar, começou jogando pelo

Brasil de Pelotas. Passou pelo

F arroupilha, Cruzeiro e chegou

ao Flamengo. Do Flamengo para

a Seleção Carioca. Da Seleção

Carioca para a Seleção Brasi

leira. Uma ascensão tão rápida

quanto a queda: depois da Copa.

o Palmeiras, daí para o Bahia e

linalmente o Ipiranga (ainda de

Salvador).

Embora ainda no Palmeiras

conhecesse dias gloriosos, o fute

boi se foi, deixando o na mesma

situação em que havia começado,

catorze anos antes. De seu ficou

apenas um terreno, de 300 me

ros quadrados, em Santa Vitória

lo Palmar. Lembra se de que no

'almeiras

ganhou seu maior sa

ário como jogador: 12 contos

>or mês. Mas não tem idéia pre

isa de quanta o futebol lhe deu

certo que ganhou bastante,

orno também gastou muito com

>s amigos.

Quando a bola fugiu dos seus

'és, descobriu que não sabia

fazer nada: trabalhou uns tempos

orno auxiliar de escritório, foi

*')cio de um bar no largo do Tan

Mue em Jacarepaguá. tomou

t-onta de uma cantina de uma

agência bancária e acabou no

tampo de novo. para tentar ser

técnico. Dirigiu o Guarani de

Salvador (já extinto) e teve tam

bém uma passagem pelo Sergipe

de Aracaju. Nào deu certo:

Meu temperamento, nào dá

para técnico. Eu brigava muito

com os jogadores. Queria que

cies fizessem como eu faria, se

estivesse dentro de campo.

Mas há quem diga que Juvenal

nào foi um bom técnico de fute

boi justamente por nào saber bri

gar com os jogadores. Conta se

inclusive que. quando técnico do

Guarani, ele bebeu até tarde com

um dos jogadores. No dia seguin

te. na hora do jogo. distribuiu as

camisas e deixou o jogador far

rista de fora. F o rapa/ reclamou

com ele:

Mas, Juva. vocc que é meu

amigo vai me deixar de fora?

E Juvenal:

F. claro, onde já se viu

jogador poder beber com o téc

nico do time.

Hoje, Juvenal, quando nào

está pescando em Itapoà, traba

lha como despachante no cartó

rio do Tabelião Franklin,em Sal

vador. "Um

bom emprego",

segundo ele, pois lhe garante 600

cruzeiros por mcs. Para comple

tar o orçamento doméstico (des

quitou se da mulher e vive com

outra, com a quai tem dois

filhos), trabalha também como

bilheteiro no Estádio da Fonte

Nova: a quantia que recebe de

pende da renda, mas em média

dá 70 cruzeiros por jogo. Mas

com uma vantagem:

Depois de prestar conta

dos ingressos vendidos para

aquela partida, a gente é liberado

e ainda pode assistir das arqui

bancadas aos 10 ou 15 minutos

finais do jogo. De graça.

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Baner prefere

lembrar dos bondes

wosé Carlos Bauer, nascido a

• 21 de novembro de 1925. fi

lho de mãe negra e pai suíço,

estudante na Escola Alemà na

rua Olinda (Sào Paulo), nào con

seguiu um lugar para treinar

entre os meninos do São Paulo,

em 1940. porque era magro de

mais e não tinha chuteira. Um

ano depois, Porfírio da Paz (téc

nico dos juvenis) o levou até a

rus José Paulino e lhe deu um

terno cinza de presente. Ganhou

também uma chuteira de bico

duro, mas o Sào Paulo nem tinha

campo, só jogava no campo dos

adversários: "E

o Feola enfiava

um passe de bonde no bolso da

gente e dava a dica de onde era o

jogo".

Em 1950. foi considerado o

maior jogador da Copa e lhe

deram o apelido de "Monstro

do

Maracanã". Mas ainda hoje.

quando fala em futebol, sua me

mória procura lembranças mais

amenas. Todas as outras lem

branças. porém, estão bem vivas.

Inclusive as daquele 16 de julho:

— Perdemos o jogo, e até'hoje

uns acusam o Bigode, outros

acusam o Barbosa. Ou mesmo o

Juvenal. Eles não tiveram culpa.

Como perdemos, endeusaram

Obdulio Varela e os uruguaios.

Mas eu posso garantir que eles

entraram em campo apavorados.

Dizem que nosso time se acovar

dou; é mentira. Dizem que o

Obdulio deu um tapa no Bigode;

é mentira. O Bigode deu, sim.

uma entrada dura em Júlio Pérez.

e o Obdulio passou a mão na ca

beça dele e disse: "Quê

se passa,

muchacho?" Posso garantir que.

se Obdulio desse mesmo um

tapa, o Bigode teria acabado com

o jogo naquela hora. no braço. Na

verdade, culpados foram todos:

jogadores, dirigentes, imprensa.

Mas a derrota nào o tirou das

outras seleções e, em 1954, dis

putou outra Copa, na Suíça,

quando inclusive foi o capitão do

time brasileiro.

Em 1956. depois de uma fratu

ra na perna, trocou o Sào Paulo

pelo Botafogo. Voltou um ano

depois, para a Portuguesa de

Desportos e foi dar seus últimos

chutes no Sào Bento de Soroca

ba. Transformado em técnico,

dirigiu pequenos clubes de Sào

Paulo e Paraná. Andou também

pelo México, por Portugal e pela

Colômbia.

Fora do futebol, montou um

atelier de costura, mas os negó

cios nào andaram certo. Teve um

bar no centro de Sào Paulo, que

também nào deu certo. Hoje.

com a mulher e quatro filhos (um

deles jogando no juvenil do San

tos), tem um único investimento

com o dinheiro conseguido no

futebol: uma casa no Brooklin

(Sào Paulo). E continua depen

dendo do instável emprego dc

técnico para sobreviver.

— Quanto dinheiro

ganhei?

Nunca calculei. Sei que, no meu

tempo de Sào Paulo, assinei con

tratos em branco. Além disso tal

vez tenha feito coisas erradas:

quando saí do Sào Paulo ganha

?a 25 contos por mês, fui ganhar

20 no Botafogo; um ano depois o

Botafogo me ofereceu 40 e eu

nào quis ficar.

Por isso, está tratando de regu

larizar sua situação junto ao

INPS. que paga com alguns

intervalos desde 1946. e a que

nunca imaginou precisar recor

rer.

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SELEÇÃO DE 50

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Danilo foi

príneipo so om campo

Éfala

ainda é mansa, pausada

e cautelosa. O perfil elegan

te ganhou uns poucos quilos.

Mas no homem de hábitos sim

pies —

ouvir rádio, ver televisão,

conversar com os dirigentes de

seu clube atual, o ABC, de Natal

— poucos reconheceriam o Prín-

cipe Danilo, o estilista máximo

do futebol brasileiro de vinte

anos atrás. Hoje, após trinta anos

de futebol, ele tem sido apenas

técnico de equipes modestas, em

bora entre as suas conquistas es-

teja um título de campeão sul-

americano, em 1962, como

técnico da Bolívia, também uma

seleção modesta.

Um dos mais bem pagos joga-

dores de sua época, Danilo não

conseguiu guardar muita coisa,

além do apartamento onde mora

sua família (a mulher e o filho

único), no bairro do Flamengo, e

outro em Copacabana, que deu

aos seus pais —

e assim mesmo

comprados quando já era treina

dor.

Depois da Copa de 1950, con-

tinuou jogando pelo Vasco, onde

ainda foi campeão carioca em

1951 e 1952. Em 1953 chegou

mais uma vez à Seleção Brasi-

leira, que disputou (e perdeu) o

Campeonato Sul-Americano em

Lima. De volta, trocou o Vasco

pelo Botafogo, onde ficou até

1956, ao encerrar sua carreira.

Pelo último contrato, ganhava

600 cruzeiros por mês (bem

acima da média geral), o que hoje

corresponderia a uns 10 000.

Para um jogador famoso, a

idade é sempre um problema,

mas as oportunidades não fal

tam. Aos 35 anos, entre as ofer

tas do Bonsucesso e Olaria para

continuar perseguindo a bola e

um convite para ser vendedor de

automóveis, Danilo optou pela

mudança de ramo. Junto com

Maneca (outro jogador da Sele

çào de 1950, já falecido) e Ernâni

(ex goleiro do Vasco), Danilo

não tinha problemas para vender

um Dauphine, que na época eus

tava 250 contos:

Na verdade, não era eu

quem vendia. Eram eles que com-

pravâm. pois eu só sabia falar de

futebol. E acho que até hoje é

assim.

Chegando à conclusão de que

seu lugar era mesmo o campo de

futebol, aceitou um convite para

ir para Uberaba (MG), onde seria

técnico e jogador ao mesmo

tempo. Como era ainda uma

atração, tinha participação na

renda, mas o fôlego não ia além

do primeiro tempo. Continuou

sua peregrinação por clubes pe-

quenos até que o título obtido

pela Bolívia, em 1962, lhe deu

um lugar no Botafogo. Mas o

emprego durou menos de um

ano. De volta aos clubes peque-

nos, andou por Minas, Alagoas,

Sergipe e agora está no ABC, de

Natal, ganhando 5 000 cruzeiros

por mês e luvas de 8 000. Além

de técnico, também é funcionário

do Ministério da Agricultura:

Um simples emprego, que

me garante 550 cruzeiros por

mês.

Mas chegou até a ser demitido,

por causa de suas viagens. Mas a

demissão veio num momento de

sorte: Danilo era o técnico do

Remo, de Belém, onde treinava,

entre os juvenis, o jovem Jarbas

Passarinho Júnior. Assim, por

força do ministro, a medida foi

revogada. E é pelo Ministério que

Danilo vai se aposentar.

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distância

Bigode qner

do Maracanã

Foi

aos 36 minutos do segun-

do tempo: Obdulio Varela

(o negro enorme que comandou

no grito a Seleção do Uruguai)

apanhou a bola no meio de

campo e jogou na ponta direita

para Gighia. Gighia dominou Bi

gode na corrida e começou a cor

rer. Para Bigode, mestre no carri-

nho, era fácil atirar-se por trás e

tirar a bola ou pelo menos fazer

uma falta. Mas Bigode continuou

apostando uma corrida inútil,

inexplicavelmente. Talvez espe-

rasse dar um passo a mais, para

tirar a bola sem o risco de come-

ter nenhuma infração. Talvez

esperasse que Juvenal viesse em

seu socorro. Assim, Gighia en-

trou pelo bico da grande área e

chutou: 2 a 1 para o Uruguai.

Nenhum outro jogador, entre

os onze que perderam a Copa de

1950, sofreu tanto quanto Bigo-

de. A fama de covarde correu

pelo país inteiro, com a mesma

rapidez com que haviam se espa-

lhado os gritos antecipados de

"Brasil campeão". Ele esperou as

duzentas e tantas mil pessoas dei-

xarem o Maracanã e, quando já

era noite, foi de ônibus para casa.

Não dormiu: reviveu os lances do

jogo, gravados na memória, prin-

cipalmente a jogada de Gighia. O

dia seguinte chegou e ele simples-

mente não fez nada, ficou espe-

rando que alguma coisa aconte-

cesse. Aconteceu: vieram uns

amigos e o convenceram a ir até

a Cinelândia. para jantar. Entra-

ram num restaurante da rua do

Passeio e ele ouviu o comentário

de uma senhora, na mesa ao

lado:

— Não entendo nada de fute

boi. nem fui ao jogo ontem, so-

mente sei que o tal de Bigode

foi o culpado pela nossa derrota.

Bigode abandonou o restau

rante e ainda hoje, embora te

nha-se transformado simples

mente no João Ferreira, nascido

há 51 anos em Belo Horizonte,

continua fugindo dos comentá

rios desse tipo. Mora num humil

de apartamento da rua Viveiros

de Castro, em Copacabana, e

passa o dia consertando televisão

— o que lhe rende quase 1 500

cruzeiros por mês. Sozinho

(nunca se casou), costuma fre

qüentar um único bar, quase na

esquina de Viveiros de Castro

com Belfort Roxo, mas geral

mente está em casa mesmo:

Sabe como é, sempre pode

aparecer um bêbado qualquer,

dizer um desaforo, chamar a

gente de covarde. Eu já ouvi isso

demais, de 1950 para cá.

Vindo do Sete de Setembro, de

Belo Horizonte, com passagem

pelo Atlético Mineiro, ele chegou

ao Fluminense em 1943 e passou

para o Flamengo em 1949. De

pois da Copa, voltou ao Flumi

nense e aí, em 1956, encerrou sua

carreira de quinze anos. Depois

disso, ainda tentou uma volta ao

futebol, como treinador do Amé

rica de São José do Rio Preto

(1962). Não deu certo: entregou-

se às televisões quebradas.

Em 1965, as mesmas seleções

do Brasil e do Uruguai voltaram

a se encontrar no Maracanã,

para um jogo de confraterni

zação. E, embora Obdulio tivesse

insistido para que ele compare

cesse. Bigode não apareceu:

Desde 1950

que o Maraca

nã não é um lugar agradável para

mim. O Maracanã e as pessoas

que continuam achando que eu

perdi so/inho a Copa do Mundo.

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Friaça den saas

trombadas por

Em

fins dc fevereiro deste

ano. Adriano Cardoso Fria

ça foi preso em Santos, depois dc

roubar a carteira dc um casal dc

turistas, na praia. No dia seguin

te. o jornal /I Notícia, do Rio.

saiu com esta manchete: "Friaça

preso como rato dc praia cm

Santos".

Para Friaça, o ponta direita da

Scleçào Brasileira, Vasco da

Gama, Sào Paulo, Ponte Preta c

Guarani. autor do único gol hra

sileiro na final de 16 dc julho, era

apenas mais uma notícia ruim.

entre tantas ocorridas nos últi

mos tempos. Primeiro tinha sido

também uma notícia de jornal,

que o dava como morto, como

mendigo. (Na verdade, o mendi

go que havia morrido estava ape

nas de posse de sua carteira de

identidade, perdida havia muito

tempo.) Depois, foi um desastre

de automóvel na estrada

Rio—Majé, em que ele, a mulher

e o filho de colo escaparam

milagrosamente. Finalmente a

outra notícia: também desta vez

nào se tratava do verdadeiro

F riaça. O verdadeiro Friaça (Al

bino Friaça Cardoso), 48 anos.

fluminense de Porciúncula, en

frentou tudo com a resignação de

católico fervoroso, que vai à

missa todo domingo e reza em

casa todos os dias.

Sua carreira terminou em

1958. no Guarani de Campinas.

( ali mesmo surgiu a oportuni

^ade de ser técnico dos juvenis.

Mas alguns meses foram sufi

cientes para mostrar que. se sabia

fazer as coisas dentro de campo.

Friaça não sabia ensiná Ias fora.

Por isso decidiu voltar ao Rio.

Para escolher uma outra profis

sao. Comprou uma oficina mccâ

nica na rua Sào Clemente, em

Botafogo, que lhe rendia

quase

tanto quanto o próprio futebol.

Logo depois comprou também

uma oficina dc cromagem no

Catumbi. Mas os negócios nào

foram bem e acabou perdendo

tudo. Passando dificuldades, re

correu à Fugap (Fundação dc

Garantia ao Atleta Profissional)

e conseguiu financiamento para

comprar um táxi. Com o táxi

conseguiu estabilizar sua situa

çào. Mas:

A vida de motorista de táxi

é muito dura. Principalmente em

casos como o meu: às vezes, um

passageiro virava pra mim e

dizia que eu era muito parecido

com o Friaça, fazia perguntas.

Eu ficava calado, nào dava con

versa. Daí sofri aquele desastre,

quase perdi o olho e fiquei quatro

meses parado.

Apesar das dificuldades que já

enfrentou, nunca precisou deixar

o bom apartamento na Urca (alu

gado por 500 cruzeiros por mês),

onde mora com a mulher e os

quatro filhos. Nem precisou

mexer nas terras que tem em

Porciúncula ("e que devem valer

uns 200 000 cruzeiros"). H tam

bém nunca fez queixas da vida.

pois nunca exigiu muita coisa

dela:

Há muito tempo que a

minha única extravagância é sair,

de manhãzinha, pela praia Ver

melha, respirando ar puro.

Agora acaba de comprar outra

oficina mecânica, no Catumbi.

onde vai começar tudo de novo:

Nào é fácil começar de

novo, quando já se teve quase

tudo na mão. Mas a gente ainda

deve agradecer a Deus pela nova

chance.

Zizinho está

pedindo mais respeito

âos

41 minutos do segundo

tempo, ganhando de 2 a l, o

Uruguai estava levando a Copa

do Mundo embora, ainda que um

simples empate desse o título ao

Brasil. Foi quando Chico levou a

bola pela ponta esquerda e cru

zou pelo alto, parecendo que

todo o Maracanã se atirou para

dentro da área uruguaia, junto

com todo o time brasileiro. E, no

meio dos valentes zagueiros uru

guaios, surgiu o pequeno Zizi-

nho, para acertar uma violenta

cabeçada, que mandou a bola à

trave do goleiro Máspoli.

Se essa bola tivesse entrado,

provavelmente teria alterado vá

rios capítulos da história do fute

boi brasileiro. Mas não entrou. E

Zizinho ainda hoje pede que se

reconheça pelo menos o esforço

digno da Seleção de 1950:

— Perdemos o jogo e o título,

é certo. Mas nào é justo que uma

simples derrota na final distorça

tantas verdades. Outras seleções

brasileiras também ganharam e

perderam. Nào houve covardia

de ninguém: luta principalmente

foi o que nào faltou.

Embora a mágoa pela Copa

perdida ainda nào o tenha aban

donado, profissionalmente Zizi-

nho foi um dos jogadores menos

prejudicados com o desastre de

1950: continuou sendo convo

cado para as seleções posteriores,

tendo inclusive jogado na Sele-

çào que classificou o Brasil para

o Mundial de 1958, na Suécia.

No ano anterior, porém, depois

de jogar onze anos no Flamengo,

sete no Bangu e um no Sào

Paulo, ele havia encerrado sua

carreira como jogador.

Para quem foi um dos grandes

talentos do futebol brasileiro, os

dezenove anos de atividade pro-

fissional (de 1939 a 1957) nào

deixaram muita coisa: um apar-

tamento na rua General Pereira

da Silva, um sítio em Marambaia

(também Estado do Rio) e umas

poucas economias.

Uma coisa eu garanto: nào

tenho reclamações contra o fute

boi do meu tempo. Acho que ga

nhei muito bem, embora hoje os

jogadores ganhem muito mais.

Deixando o campo, conseguiu

um emprego de agente fiscal, que

mantém até hoje. Mas logo vol

tou para ser técnico: dirigiu o

Bangu, o Audax Italiano (do

Chile, onde chegou também a

jogar algumas vezes), duas vezes

o América do Rio, três o Bonsu

cesso, duas o Vasco, seu último

clube — onde ficou até o ano

passado. Agora, desempregado

(mantendo-se apenas com o em

prego de agente fiscal), espera em

Niterói por uma proposta para

voltar ao cargo de treinador, de

pois de haver desistido de ser

jornalista: entre 1970 e 1971

escreveu para o Jornal dos

Sports.

Aos 51 anos, desquitado, pai

de duas moças, Thomas Soares

da Silva, que em campo chegou a

ser o Mestre Ziza, so tem uma

reclamação:

Acho um absurdo um jo

gador que vestiu a camisa da

Seleção durante quinze anos (de

1942 a 1957), como eu, ter que

entrar de favor no Maracanã. Em

1965, num jogo Brasil e Alemã

nha, fui barrado na porta pelos

próprios dirigentes da CBD.

Uma coisa humilhante. Pelo

menos nos jogos da Seleção,

acho que deveríamos ter o direito

de entrar sem pagar. «•gu«

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Ademir

continua indo ao ar

Diariamente,

de segunda a

sexta feira, o artilheiro da

Copa de 1950, com oito gols.

Ademir Marques de Menezes,

pernambucano do Recife. 48

anos de idade, apenas um pou

quinho mais gordo do que há 23

anos, entra no ar. às 18 horas,

pela Rádio Mauá, do Rio. Faz

um breve comentário sobre o

jogo do dia anterior, ou daquela

noite, ou da rodada do próximo

fim de semana, ou simplesmente

analisa o fato esportivo mais

importante do dia. Sempre com

uma preocupação:

— No microfone, procuro

nào me esquecer do lado humano

do jogador e tenho me mantido,

sempre que possível, dentro dessa

linha. Sabe como é: apesar de

tudo o que já conseguimos no

futebol, o jogador continua sendo

um marginal.

Antes, entre 4 e 5 da tarde,

aparece na redação dos jornais O

Dia e A Notícia (de propriedade

do atual governador da Guana

bar a. Chagas Freitas), procura

uma máquina de escrever que es-

teja livre na editoria de esportes e

faz sua crônica. Depois sempre

encontra um pouco de tempo

para bater papo com os reporte

res, invariavelmente procura

saber as novidades do Vasco ("o

clube do coração"), despede se e

vai embora.

O resto do dia passa visitando

empresas, bancos, repartições,

como relações públicas do IBC

(Instituto Brasileiro do Café).

Está no IBC desde 1961. quando

prestou concurso com mais 350

pretendentes às 120 vagas a fis

cal do café. Há três anos passou

para o departamento de relações

públicas.

Esses empregos lhe dão uma

certa tranqüilidade financeira:

somando todos, recebe pouco

mais de 5 000 cruzeiros por mês.

— Não faço gastos maiores,

sou desquitado, tenho somente

uma filha, a Claudinha. moro

num apartamento próprio na rua

Belfort Roxo, Copacabana (com

prado em 1952 por 80 contos de

réis). Tenho um carro e uns terre

nos no Estado do Rio. É certo

que, pelo que ganhei no futebol,

deveria ter muito mais. mas nào

me queixo; assim está bom.

Começou em 1942, no Sport

Club do Recife. Nessa época,

além dos gols, fazia também o

curso de medicina. Mas os estu

dos tiveram que ser suspensos

quando o Vasco o contratou, em

!943. No Rio, apenas para satis

fazer a vontade da mãe, chegou a

concluir o curso de odontologia,

em Niterói. Mas nunca exerceu a

profissão: ele próprio tem medo

de entrar num consultório.

Com uma passagem de dois

anos pelo Fluminense, voltou ao

Vasco em 1948, fazendo o me

lhor contrato de sua vida: só de

luvas ganhou 900 contos. Oito

anos depois, ainda no Vasco,

encerrou sua carreira.

Com o dinheiro do futebol

montou uma fábrica de porce

lana e cerâmica, mas um incên

dio interrompeu ainda no começo

sua carreira de empresário. Vol

tou ao futebol para treinar o

Vasco ("numa fase horrível em

que nada deu certo") e o Olaria,

em 1962; outra carreira que

durou pouco tempo.

— No futebol é assim mesmo:

tudo passa rápido demais. E, às

vezes, quando a gente acorda, já

é tarde.

Jair ainda tem

sonhos no fntebol

Sua

carreira começou em

1938, no Madureira. Daí foi

para o Vasco. Em seguida. Fia

mengo. Depois, Palmeiras, San

tos, São Paulo, Ponte Preta.

Juventus. Deu seus últimos chu

tes em 1963, tornou se treinador

de futebol, começando outra vez

pelo Madureira. onde iniciara

como jogador. Depois. Olaria.

Vitória de Salvador, Santos. Fi

nalmente, Madureira de novo: di

rige o time sem receber um tostão

e nào faz questão disso, pois sabe

que o clube não está em condi

çõesde pagar.

Somando toda a sua carreira:

26 anos como jogador, sete como

treinador.

Assim, Jair Rosa Pinto, flumi

nense de Quatis, passou 33 dos

seus 54 anos dentro dos campos

de futebol. Durante esse tempo

jogou nos maiores clubes do Bra

sil, foi à Seleção, disputou os tor

neios mais importantes, conheceu

quase o mundo todo — e ainda

nào pensa em parar:

Do futebol, a única coisa

que estou esperando agora é que

a Itália anule aquela lei que proí

be aos estrangeiros jogar em

times de lá ou dirigi los. para que

o empresário Gerardo Sanella me

leve para ser treinador de qual

quer clube de Roma, Milão ou

Turim. Time grande, é claro.

Necessidade de dinheiro?

Nào: Jair confessa estar satisfeito

com o que tem, embora como

Ademir, pudesse ter muito mais:

Moro aqui, nesse enorme

apartamento (rua General Roca.

na Tijuca). num bairro excelente,

que dá de sobra para mim. minha

mulher, a sogra e meus dois

filhos. Tenho um carro e algumas

economias. E sempre um empre

go de técnico em perspectiva.

Entre a decisào de parar de

jogar, em 1963 (aos 44 anos

um dos casos mais raros do fute

boi brasileiro), e a de se tornar

técnico, em 1965, arrumou um

emprego na Adcg. onde é funcio

nário até hoje, com salário de

900 cruzeiros por mês. Em 74. já

pode requerer sua aposentadoria,

de acordo com a legislação tra

balhista atual. O que, certamente,

nào fará: prefere continuar traba

lhando, ainda que de graça, no

seu humilde Madureira.

É um dos poucos jogadores a

quem a Copa do Mundo de 1950

nào conseguiu deixar marcas.

Mesmo depois da perda do cam

peonato ainda fez bons contratos,

muitos deles inspirados no seu

poderosíssimo chute de esquerda,

que lhe deu a fama de um dos

maiores cobradores de falta do

país. Da Copa prefere lembrar as

grandes atuações do Brasil

( principalmente aqueles 6 a 1

contra a Espanha"). E se resolve

falar dos acontecimentos do dia

16 de julho é apenas para tentar

restabelecer algumas verdade1

históricas:

— O que todo mundo deve

saber é que nenhum jogador

foi

covarde naquele jogo final, nem o

nosso técnico (Flávio Costa) teve

a mínima culpa. Culpados foram

os dirigentes daquela época, que

transformaram a Seleçào num

circo e abriram as portas para o>

políticos, que entraram na con

centração, para fazer discursos

prometer bobagens ao povo

usando a nossa fama de ídolos

Também, pergunto eu: de que va

adiantar eu estar dizendo isso

hoje?

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Chico podia

tor

comprado Copacabana

o saguão de entrada da Au

to Modelo, na rua Haddock

Lobo, entre Estácio e Tijuca.

Francisco Aramburu, aos 51

anôs de idade, conservando o

mesmo cabelo jogado com capri

cho para trás, o sotaque gaúcho,

não é simplesmente o Chico,

ponta-esquerda do Vasco e da

Seleção Brasileira. É um sisudo

senhor com a tarefa de preposto

de seguros da revendedora Volks

wagen, de terno e gravata, salário

de pouco mais de 3 000 cruzeiros

por mês (além de um emprego na

Adeg, que lhe rende mais 900).

casa de cinco quartos, salão com

galpão

"para

preparar churrasco

de domingo", na rua Ana Neri.

construída com o dinheiro ganho

em seus quinze anos de jogador

de futebol.

— Ganhei muito dinheiro

com o futebol. Ganhei, sim. E

todos aqueles que jogaram comi

go, no Vasco, (naquela época, o

melhor time do Brasil, dispara

do), também ganharam. O que

acontece é que a turma pegava o

dinheiro e saia por aí, gastando à

toa. Eu mesmo sou um exemplo.

Recebia 15 contos no Vasco,

antes de 1950, e isso era muito

dinheiro. Basta dizer que se com

prava um apartamento em Copa-

cabana, naquela época, com 60

contos de réis. Era só guardar

quatro salários (a gente podia

praticamente viver só com os

prêmios, porque o time ganhava

todas), e já dava para comprar

um apartamento de três quartos,

garagem e tudo o mais. Dava

para comprar meio bairro. Mas

gastei tudo. Toda semana estava

indo e voltando de avião para

Uruguaiana, onde nasci e onde

estava minha família.

Chegou ao Vasco em 1941.

trazido do Grêmio de Porto Ale

gre. E no Vasco jogou os seus

quinze anos de profissionalismo,

até 1954. Ao sair do Vasco, pas

sou ainda pelo Flamengo, mas só

ficou dezessete dias, pediu resci

são de contrato e nunca mais

quis saber de futebol, nem de ser

treinador.

Nessa época já tinha três táxis

(um Dodge e dois Chevrolet). Foi

trabalhar com um deles, mas não

se ajeitou. Meteu-se em negócios

imobiliários, perdeu o que tinha e

acabou vivendo uns tempos

como funcionário da Estrada de

Ferro de Ilhéus, até conseguir o

emprego na Adeg, em 1964.

Do futebol guardou bons e

maus momentos. Impossível es

quecer um jogo entre Brasil e

Argentina, em 1946, no estádio

do River Plate, em Buenos Aires:

quatro jogadores e mais de quin

ze policiais argentinos cercando

o junto ao alambrado, numa das

maiores brigas já vistas num

campo de futebol.

Bati, dei soco, pontapés.

Apanhei muito também. Nem sei

como saímos vivos do campo.

No dia da nossa chegada ao Rio.

tiraram minha camisa no aero

porto e fotografaram: estava em

carne viva, com a marca dos sa

bres dos policiais.

Chico, e a Copa de 1950?

Ah, tenho uma recordação

dela, sim. É um terreno que ga

nhei em Arcozinho, perto de Cor

reias (Estado do Rio), presente

pela minha participação como

titular. Não sei nem quantos me

tros tem, nunca construí nada lá,

mas, quando alguém pergunta se

quero vender, digo que não. É a

minha herança da Copa.

Mário Américo

corron o guardou

tudo

Como

filho de um peão

(amansador de cavalo xu

cro) do interior de Minas, que

sempre deu murros pela vida.

Mário Américo até que escolheu

a profissão certa: foi ser lutador

de boxe. Aos sábados, o velho

Estádio Brasil, erguido ao lado

da antiga praia das Virtudes

(onde hoje existe o Museu da

Imagem e do Som, no Rio), fica

va lotado, e ali o peso leve Mário

Américo ganhava de 20 a 30 mil

réis por luta. Entre uma luta e

outra, cuidava de uma oficina de

guarda-chuvas e vendia roupas

feitas de casa em casa. Antes

tinha sido também músico, mas a

carreira de baterista foi interrom

pida pelo Juizado de Menores:

com apenas dezessete anos, ele

não podia tocar nos clubes notur

nos. Foi ali no Estádio Brasil que

ele conheceu Almir do Amaral,

médico e técnico do Madureira.

E Almir o transformou no mas

sagista do seu time, em 1936.

Todas as profissões —

de

baterista a massagista — apren

deu sozinho. Levado ainda por

Almir do Amaral, matriculou se

na Escola Nacional de Educação

Física, como ouvinte. Mas só em

1966 (depois de trabalhar mais

de vinte anos para a Seleção) é

que fez o curso de massagista

e tirou o primeiro lugar.

Do Madureira passou para o

Vasco, em 1943, atraído por um

salário quatro vezes maior: 800

mil réis. E no ano seguinte era

chamado pela primeira vez para

trabalhar com a Seleção (Sul

Americano no Chile). Ficou no

Vasco dez anos: saiu em 1953

para a Portuguesa. E só saiu da

Portuguesa em 1971 porque os

dirigentes insistiam em que ele

devia curar o ponta esquerda

Piau, cujo problema estava fora

do alcance de um simples massa

gista.

Durante esse tempo foi teste

munha de uma longa faixa da

história do futebol: trabalhou

com a Seleção em seis Copas (de

1950 a 1970). E os seus 37 anos

dedicados ao futebol lhe ensina

ram a guardar tudo o que ga

nhou. Hoje, aos 61 anos. tem de?

casas em São Paulo, três terrenos

e um sítio com piscina em Fran

co da Rocha (SP).

Muita coisa? Talvez não.

se você reparar que dei ao futebol

mais da metade da minha vida

Pouco depois da Copa dc

1970, aposentou se (como mas

sagista, sempre pagou IA PC),

recebendo 1 380 cruzeiros por

mês. Hoje, com as correções, a

aposentadoria subiu para 1 800.

O que já daria para

viver

com a família, no meu sitiozinho.

Mas ele tem ainda o seu

consultório, na sua própria ca a.

no bairro do Imirim (SP), orde

atende de vinte a trinta pessoas

por dia. Isso lhe garante no total

uma renda de uns 3 mil cruzeiros

por mês. Mas não é o dinheiro

que o preocupa, no momento.

Atualmente, desligado do fute

boi, sem a mesma rapidez nas

corridas (com que varava o

campo para atender a um joga

dor) e com que chegou a empol

gar as platéias de mais de cin

qüenta países, ele não quer ser

esquecido para a Copa de 1974:

Em 1974, se for lembrado,

completarei trinta anos de Sele

ção. Mas a gente nem sempre

pode confiar na memória do

futebol.

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Chegadepapa

Agora

vamos ver

qual

e o time

que

tem mais

torcedores

no Brasil.

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Nome

CidadeEstado

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Endereço

| Qual é o clube mai* querido do Brasil?

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Qual é o clube mais querido do meu Estado?

Qual è o único jogador de futebol tn campeão do mundo'

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Placar está lançando um sensacional concurso:

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O Clube mais Querido.

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Você encontra um cupom, igual ao modelo do lado,

I«nas páginas de Placar

(todas as terças-feiras

j |

nas bancas). Preencha o cupom e envie-o para

Placar."

Todos os votos do Brasil serão apurados

II para sabermos de uma vez por

todas qual

é o time

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Que tem mais torcedores.

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0 clube mais querido do Brasil vai

ganhar um monumento de 1,60 m de altura.

E você também vai ganhar.

Votando no seu clube, estará concorrendo ao sorteio de

um VW SP 1 zerinho. Torcedor vnrp. nrp.piçfl inr»p«tí\/ar q §0y tiniC

PLACAR

às terças-feiras nas bancas

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PARTICIPAÇÃO¦• •

P0S SP0RTS <R|0). O ESTADO (SC), TRIBUNA DO PARANA, DIÁRIO DA NOITE

(Sf). DIAmO DA TARDE (MG), O DIÁRIO (ES), O POPULAR (GO), O ESTADO DE MATO

?»»? ??' DIAmo DA SERRA (MT), GAZETA DE SERGIPE, O NORTE

(PB), GAZETA DE ALAGOAS, DIÁRIO DE PERNAMBUCO,

A TRIBUNA DO NORTE (RN), O POVO (CE),o ESTADO (PI), O IMPARCIAL (MA). O LIBERAL (PA).A NOTÍCIA (AM), O RIO BRANCO (ACRE),

DIÁRIO DE BRASÍLIA (DF).

Yote no seu clube e

ganhe umVW SP1 de PlACAft.

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uma fuga que o leve ao chefe da organização.

Mas para chegar a isso é preciso fazer-se amigo

e enfrentar depois um dilema insolúvel . .

A fim de localizar os chefes de poderosa

quadrilha, um policial é mandado

para a mesma

prisão que o bandido. Seu objetivo: facilitar

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Uüudius,que

jõ morou no Holondo b no Itolio,

agora é professor

de Arquitetura na Suica. Aqui

ele da boas lições de como ter o que

contar

aos amigos, depois de urna excursão ã Europa

Qualquer excursão tem, certamente, uma série de surpresas. Elas podem

.^er agradáveis ou desagradáveis, e é de esperar-se que

todo turista queira,

quanto possível, eliminar a possibilidade de surpresas desagradáveis. Por

isso, ao pensar em ir à Europa

pela primeira vez, é bom que

ele se previna

quanto a alguns problemas que precisará enfrentar, antes, durante e depois

da viagem. Que países

visitar? Quais os documentos necessários? Como

obtê los? Como se comportar durante a excursão? Quanto dar de

gorjeta?

Como aproveitar as visitas aos museus e monumentos históricos? O que

comprar? O que

dizer aos amigos, na volta?

Mas como esses problemas não devem

parecer tão grandes a

ponto de

tirar o bom humor do turista, quem

responde a essas perguntas é o humo-

rista Claudius, velho conhecedor da Europa e do mundo.

Ele agora leciona na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Gene-

bra, onde é o ilustre professor assistente Claudius Sylvius Petrus Ceccon. É

também colaborador do semanário O Pasquim e de diversos jornais e revis-

tas européias, como cartunista. Com 36 anos, é casado e tem dois filhos:

Flávio, de dez anos, que também desenha

(já publicou alguns trabalhos no

Pasquim e no Jornal do Brasil), e Cláu-

dia, de oito. Depois de ter feito no Bra-

sil, com outros humoristas, os livros

Hay Gobierno?, Seis Desenhistas Brasi-

leiros de Humor e Dez em Humor, e de

concluir seus estudos de arquitetura, na

Universidade do Brasil, Claudius já

fez

diversos cursos de especialização em

planejamento e urbanismo e trabalhou

em Roma, Roterdam (Holanda),Chicago

(EUA) e no Chile. Está na Suíça desde

1968. Tem tudo, para

falar de viagens à

Europa de maneira bem humorada. E é

o que

ele faz, nas próximas páginas. O cartunista Claudius Sylvius Petrus.

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TURISMO..

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A GM não faria apenas mais um carrinho.

Simplesmente

porque

a GM

sabe

que

voce não iria comprar

apenas mais um carrinho.

Fbr isso, o carro

pequeno

da GM

tem mais desempenho, mais espaço,

mais conforto, mais estabilidade.

Eaté mesmo mais economia.

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A GM não faria apenas mais um carrinho.

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Na primeira pagina

deste anúncio, simplesmente afirmamos uma série de vantagens do

Chevette. Agora e aqui, provamos porque

o Chevette é mais. Em frente.

Mais desempenho.

FáciL O Chevette tem um motor com comando de válvulas na cabeça e 68 robustos HP.

Sem entrar em detalhes técnicos, isso se resume no seguinte: desenho moderno e construção

simplificada, para

oferecer o máximo de desempenho com o mínimo de consumo e manutenção.

Se você reparar, vai ver que quase

todos os carros de corridas do mundo usam e abusam de

iâotores com comando de válvulas na caoeça. Eles devem ter boas razões paraisso.

Você precisa

de um motor desses para

evitar aborrecimentos em subidas longas e fogremes,

ou com camtnhfies que

a& andam e nem saem da frente. Boas razGes também.

Maisespaç^wYV* rn**fcrto. ^S .

O Chevette foi desenhado para

ser um carro pequegio por

fora egrande por

dentro. E ele é.

No Chevette você tem espaço para

5 pessoas,

e não apenas bancos para

5 pessoas.

Muito espaço mesmo para pernas, quadris,

braços, ombros, e cabeças que

nunca encontram o teto.

^^^^^^Èissoservçtgwjénipara a bagagem. O porta-malas

do Cnevette tem capacidade quase

duas

e meia maior que

a daquele carrinho que

você conhece tík> bem. Chevette: espaço, enfim.

Mais estabilidade. < ii

O Chevette faz

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no Brasil, onde nossas cufvas estão cheias de estradas.

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como se tivesse sido construído para

ela, sob medida. Primeiro,

^^^JCheyette tem estilo aerodinâmico,

que oferece menor resistência ao vento. Isto faz o Chevette

^^^^^^¦^Mlpoiqpe

o Chevette tem sÉipensão dianteira mdepéndente, com molas helicoidais

3as. lão faz o Chevette estável Terceiro, porque

o Chevette tem barras estabilizadoras,

Isto faz o Chevette estável Parece que

ficou claro: o Chevette é estável

E até mesmo mais economia.

Depois de tudo isto, é até difidl acreditar em economia* Mas pode

acreditar, porque

é verdade.

Õ Chevette é o que

se pode

chamar de um cano econômico. A manutenção é rara e simples:

óleo, só a cada 5 mil km; lubrificaçãoda suspensão, nunca; e assim por

diante. Para finalizar, o Chevette

é o carro pequeno que

menos bebegasolina neste país.

O Chevette é mais econômico. Em tudo.

Golpe de misericórdia.

Agora que

você já

está suficientemente convencido da vantagens do Chevette e

razoavelmente disposto a comprar um, pedimos:

esqueça-se de tudo o que

você leu nestas páginas.

Basta que

você vá até o Concessionário Chevette/Chevrolet mais próximo,

e que

você dirija

um Chevette. Isto, por

si só, já

é mais que

suficiente.

A GM não faria apenas mais um carrinho. ¦ ^oL

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