Estação Coletiva de trabalho Adaptada

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10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA) Estação Coletiva de trabalho Adaptada Adapted Collective Work Station Müller, Marcelle Suzete; Mestranda em Design com Ênfase em Tecnologia; UFRGS [email protected] Malysz , Simone Cristina; Mestranda em Design com Ênfase em Tecnologia; UFRGS [email protected] Batista, Vilson João. Prof° Pós-Dr., UFRGS [email protected] Pacheco, Joyson; Prof° Dr.; UFRGS [email protected] Teixeira, Fábio Gonçalves. Prof° Pós-Dr., UFRGS [email protected] Resumo O projeto consiste em uma estação de trabalho adaptada para integração infantil no âmbito escolar. A base teórica envolveu estudos prévios sobre Tecnologia Assistiva, desenvolvimento de crianças com deficiência, inclusão social, paralisia cerebral, ergonomia e um estudo de caso. A metodologia abrangeu 4 etapas distintas e interdependentes: projeto informacional, conceitual, executivo e otimização. Palavras Chave: Tecnologia Assistiva; Inclusão Social; Paralisia Cerebral; Ergonomia. Abstract The project this is a work station adapted for integration of infant in school scope. The theoretical base previous studies involved about Assistive Technology, development of child’s with disability, social inclusion, cerebral palsy, ergonomic and case study. The methodology involved four distinct stages and interdependent: Informational project, conceptual, executive and optimization. Keywords: Assistive Technology; Social Inclusion; Cerebral Palsy; Ergonomics.

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10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA)

Estação Coletiva de trabalho Adaptada Adapted Collective Work Station

Müller, Marcelle Suzete; Mestranda em Design com Ênfase em Tecnologia; UFRGS

[email protected]

Malysz , Simone Cristina; Mestranda em Design com Ênfase em Tecnologia; UFRGS

[email protected]

Batista, Vilson João. Prof° Pós-Dr., UFRGS

[email protected]

Pacheco, Joyson; Prof° Dr.; UFRGS

[email protected]

Teixeira, Fábio Gonçalves. Prof° Pós-Dr., UFRGS

[email protected]

Resumo

O projeto consiste em uma estação de trabalho adaptada para integração infantil no âmbito escolar. A

base teórica envolveu estudos prévios sobre Tecnologia Assistiva, desenvolvimento de crianças com

deficiência, inclusão social, paralisia cerebral, ergonomia e um estudo de caso. A metodologia

abrangeu 4 etapas distintas e interdependentes: projeto informacional, conceitual, executivo e

otimização.

Palavras Chave: Tecnologia Assistiva; Inclusão Social; Paralisia Cerebral; Ergonomia.

Abstract

The project this is a work station adapted for integration of infant in school scope. The

theoretical base previous studies involved about Assistive Technology, development of child’s

with disability, social inclusion, cerebral palsy, ergonomic and case study. The methodology

involved four distinct stages and interdependent: Informational project, conceptual, executive

and optimization.

Keywords: Assistive Technology; Social Inclusion; Cerebral Palsy; Ergonomics.

10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

1. Introdução

Andrade (1996) usa as palavras Paralisias e Cerebrais para descrever uma condição de ser,

um estado de saúde, uma deficiência física adquirida, um Distúrbio de Eficiência Física que

durante muito tempo foi significado de "invalidez". Atualmente, o termo Paralisia Cerebral

(P.C.) vem sendo usado como o significado do resultado de um dano cerebral, que leva à

inabilidade, à dificuldade ou ao descontrole de músculos e de certos movimentos do corpo.

Uma forma de ampliar os movimentos, bem como inserir essas crianças em atividades que

ampliem suas habilidades é através da inclusão delas em ambientes de ensino com crianças

sem deficiência, pois o conhecimento é construído através da vivência, com uma profunda

interação entre as nossas primeiras experiências, como tocar, ouvir, cheirar, ver e sentir. A notável demanda por instrumentos que facilitem o aprendizado de crianças

cadeirantes foi fator motivador para o desenvolvimento desse projeto, que vem a ser uma

contribuição na ampliação de instrumentos de Tecnologia Assistiva. Aplicando o design como

ferramenta facilitadora da acessibilidade no âmbito escolar, a proposta é inovar o mobiliário

escolar, de maneira que seja adaptado à criança com lesões cerebrais que façam ou não o uso

de cadeira de rodas. Tendo como objetivos específicos: promover a autonomia da criança com

deficiência de acordo com as limitações individuais; proporcionar segurança e conforto na

realização das atividades propostas e gerar a integração da criança cadeirante com os demais

colegas a partir da proposta de mobiliário modular.

O presente trabalho utilizou como estudo de caso uma Instituição que atende crianças

com paralisia cerebral em Porto Alegre, onde se constatou uma carência por mobiliários que

atendam a realização das atividades de ensino e que supram as necessidades de crianças com

limitações motoras, assim o interesse pelo projeto de mobiliário poderá estender-se às demais

instituições que atendam crianças com deficiência.

A realização deste projeto se justifica pela sua relevância e contribuição social, dada

esta importância, a busca por realizar um projeto baseado em situações e necessidades reais

proporcionou relevante apoio na coleta de dados e delimitação do problema, caracterizando

assim o início desta pesquisa.

2. Inclusão Escolar através da Tecnologia Assistiva

Andrade (1996) usa as palavras Paralisias e Cerebrais para descrever uma condição de

ser, um estado de saúde, uma deficiência física adquirida, um Distúrbio de Eficiência Física

que durante muito tempo foi significado de "invalidez". Atualmente, o termo Paralisia

Cerebral (P.C.) vem sendo usado como o significado do resultado de um dano cerebral, que

leva à inabilidade, à dificuldade ou ao descontrole de músculos e de certos movimentos do

corpo. Uma forma de ampliar os movimentos, bem como inserir essas crianças em atividades

que ampliem suas habilidades é através da inclusão dessas crianças em ambientes de ensino

com crianças sem deficiência, pois o conhecimento é construído através da vivência, com

uma profunda interação entre as nossas primeiras experiências, como tocar, ouvir, cheirar, ver

e sentir. Bersch (2007, p.25) defende que a oportunidade de realizar um trabalho rentável

depende hoje de escolaridade e capacitação específica. Por isso, serão fundamentais as

políticas de inclusão escolar e formação profissional para pessoas com deficiência, pois a

qualificação é que criará oportunidades de inserção no mercado de trabalho.

A integração escolar é mais do que solucionar problemas práticos de conformação

ambiental ou adequação curricular. Falar em educação inclusiva é pensar em estratégias que

busquem melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos. Essa ligação é fruto da

preocupação com o desenvolvimento de serviços, produtos, equipamentos e tecnologias

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adaptadas a usos que favoreçam e simplifiquem atividades cotidianas desses grupos. A esse

campo dá-se o nome de Tecnologia Assistiva (TA). Segundo BERSCH (2005), o termo

Assistive Technology, traduzido no Brasil como Tecnologia Assistiva, foi criado oficialmente

em 1988 como importante elemento jurídico dentro da legislação norte americana, conhecida

como Public Law 100-407, que compõe, com outras leis, o ADA - American with Disabilities

Act. Essas leis regulamentam os direitos dos cidadãos com deficiência nos EUA, além de

prover a base legal dos fundos públicos para compra dos recursos que estes necessitam. Essa

legislação entende Assistive Technology como Recursos e Serviços. Recursos, no texto da

ADA é “todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou sistema fabricado em

série ou sob medida, utilizado para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais

das pessoas com deficiência”.

3. Acessibilidade em sala de aula

Para a sala de aula ser acessível, a escola deve seguir os preceitos do desenho

universal, desde a sua edificação. Esta abordagem ainda é incipiente, pois se identifica

facilmente lacunas desde a construção civil do prédio, como na fabricação dos móveis e

equipamentos de uso escolar. Em casos específicos poderá haver salas de recursos dotadas de

equipamentos e ajudas técnicas dirigidas à educação complementar.

A norma NBR 14006:2008 – Móveis Escolares – estabelece que as salas de aula

devem estar preparadas com mobiliário e equipamentos adequados a todos os usuários. A

norma não aborda especificamente o mobiliário escolar acessível, em seu escopo destaca a

diversidade dos padrões antropométricos da população escolar: os móveis que compõem as

salas de aula devem ser disponibilizados em até 8 tamanhos proporcionais às estaturas e

dimensões dos usuários. (Prado; Lopes; Ornstein, 2010).

Nas escolas públicas e privadas de nosso país as salas de aula possuem em média a

área mínima de 1,00 m² a 1,20 m² /aluno. São as medidas mínimas recomendadas pelas

normas técnicas, dificultando o uso de mobiliário que possuem dimensões relativamente

maiores para abrigar um cadeirante. A NBR 9050:2004, estabelece que toda escola deva ter

no mínimo uma mesa acessível para pessoas usuárias de cadeira de rodas a cada duas salas de

aula. (Prado; Lopes; Ornstein, 2010). A bibliografia não traz referências quanto ao arranjo de

mobiliário em ambientes escolares relativos à pré-escola. De acordo com relatos das

pedagogas da instituição pesquisada, a disposição de classes nas séries iniciais é normalmente

arranjada de forma não linear, ou seja, os alunos ocupam o ambiente de maneira que possam

perceber e interagir com as atividades desenvolvidas pelo grupo.

4. Postura e equilíbrio

Bersch (2007, p.25) considera que postura e equilíbrio são as bases da atividade

motora, que, por sua vez, é a plataforma onde se apóiam os processos de aprendizagem.

Resolvidas as questões fundamentais de alinhamento e estabilidade postural, somos capazes

de explorar o meio, mantendo atenção em tempo prolongado e interferindo nele em processo

criativo. Os alunos que se beneficiarão com este projeto possuem disfunções neuromotoras e

precisam de recursos específicos que supram suas necessidades posturais.

Bersch (2007) observa que desconfortáveis, as crianças têm dificuldades em manter

contato visual com o professor e colegas. Assim, utilizam grande parte de suas energias

preocupadas em não cair e dificilmente conseguem manusear materiais escolares e explorá-

los criativamente. A figura 01 demonstra duas crianças que, em um primeiro momento,

encontram-se mal posicionadas, instáveis ou tensas.

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Figura 01: Exemplos de adequação postural.

Fonte: Atendimento Educacional Especializado (BERSCH Rita, 2007)

5. Metodologia

Não existe uma fórmula exata para a resolução de problemas de design. Cada

profissional, com base em sua experiência, desenvolve sua metodologia própria baseada em

outras já existentes. O método projetual pode ser considerado o processo do qual o designer

faz uso com a finalidade de encontrar alguma solução, levando-se em consideração todas as

características e processos pelos quais um produto deverá passar para atender

satisfatoriamente aos seus pré-requisitos.

Partindo desses conceitos e da clara necessidade da adoção de um método projetual

que sirva de apoio no desenvolvimento deste projeto, o modelo auxiliar escolhido será o

proposto por Löbach (2001). Segundo o autor, o conceito de design compreende a

concretização de uma ideia em forma de projetos ou modelos, mediante a construção e

configuração, resultando em um produto industrial passível de produção em série. O designer

realiza então o processo configurativo do objeto desenhado, estabelecendo uma relação que

pode ser denominada de “processo de design”. Sendo dividido em quatro fases distintas:

preparação; geração; avaliação e realização. Tal metodologia possibilitou o desenvolvimento

deste projeto em três etapas evolutivas e complementares: projeto informacional, conceitual,

executivo e otimização.

6. Projeto Informacional

Nesta etapa, se fez necessário um estudo de caso, tendo como objetivo coletar dados,

comprovar ou contradizer hipóteses quanto à formulação e resolução do problema. Esta

pesquisa contou com análises in loco na instituição denominada Cerepal, Centro de

Reabilitação de Porto Alegre, que recebe crianças com lesão cerebral por meio de um

atendimento especializado. O estudo focou-se na Educação Infantil Nível 01. A Cerepal foi

fundada em 1964 e é caracterizada como entidade privada sem fins lucrativos, realiza um

atendimento multidisciplinar, buscando alcançar o máximo desenvolvimento potencial e

possibilitar aos alunos a independência e integração na sociedade.

6.1. Análise da situação real

Interessam-se na solução desta demanda os usuários primários, sendo os alunos

iniciantes nas atividades escolares, com idade entre 4 e 7 anos. Por conta da lesão cerebral,

alguns alunos não apresentam controle satisfatório de tronco, possuem em maior ou menor

grau dificuldades funcionais nos movimentos, assim são dependentes da cadeira de rodas.

Com o projeto desenvolvido, as pedagogas (usuários secundários) serão também beneficiadas

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de modo que o mobiliário facilite a execução, rendimento e gerenciamento das atividades

propostas, como por exemplo: pintura, desenhos e colagens.

Na instituição Cerepal, a mesa utilizada para realização das tarefas não contempla

todo o grupo de alunos. Constitui-se em uma bancada que impossibilita a aproximação física,

gerando assim uma sensação de isolamento às crianças cadeirantes, como pode ser observado

na figura 02.

Figura 02: Oficina pedagógica/Cerepal – Situação real de integração das crianças.

A impossibilidade de aproximação das crianças cadeirantes ao tampo da mesa

dificulta a realização das tarefas. Considerando isso, as próprias pedagogas mobilizaram-se

para a confecção de equipamentos facilitadores das atividades. São soluções tecnológicas de

baixo custo, com características de TA, apresentados na figura 03.

Figura 03: Prancheta adaptada para realização de tarefas.

O projeto da bancada adaptada busca promover a realização das atividades de modo

coletivo e com maior autonomia pelo aluno, como indivíduo capaz de realizar as atividades

com conforto e sem o constante apoio físico do cuidador.

6.2. Análise da relação produto-usuário por meio da antropometria infantil

A seleção de dados antropométricos adequados baseia-se no problema específico de

cada projeto. São poucos autores que abordam a antropometria infantil, e as variáveis de

medidas geralmente partem dos 6 anos de idade. Tilley e Dreyfuss (2005) abordam estes

padrões como na figura 04 e figura 05.

Situação 01 Situação 02 Situação 03

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Figura 04: Antropometria Infantil para crianças com idade de 4 anos.

Fonte: Tilley (2005).

Figura 05: Antropometria Infantil para crianças com idade de 2,5 a 3 anos.

Fonte: Tilley (2005).

A carência de bibliografia acerca da antropometria de crianças de 4 a 7 anos com

paralisia cerebral e que fazem uso de cadeira de rodas com reclinação, demandou um estudo

de novas medidas. Fez-se necessária a coleta e análise de medidas das cadeiras de rodas

utilizadas pelo público alvo, exemplificadas na figura 06.

Figura 06: Coleta de medidas.

Realizou-se um parâmetro (quadro B/figura 07) baseado nos dados antropométricos de

Tilley e Dreyfuss (quadro A/figura 07) e as medidas coletadas das crianças na Instituição

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Cerepal, resultando assim em um estudo antropométrico mais preciso para dimensionar a

estação de trabalho adaptada.

A B

Figura 07: Estações de trabalho e lazer para crianças.

A: Antropometria de Dreyfuss. Fonte: Tilley e Dreyfuss (2005).

B: Estudo antropométrico desenvolvido para crianças cadeirantes.

7. Projeto Conceitual

Com base nas pesquisas bibliográficas, coleta e análise de dados realizados,

formularam-se os requisitos projetuais que configurarão o produto: Regulagem de altura;

regulagem angular para inclinação do tampo (30° e 70°); projeto modular; possibilitar a

integração de 6 crianças (usuárias ou não de cadeira de rodas); fácil transporte; resistente a

impactos; bom acabamento com material atóxico e resistente ao uso (prolongar a vida útil);

ausência de cantos vivos; seguir os preceitos do desenho universal sendo acessível ao

universo pesquisado; atender às diferentes dificuldades de cada criança; permitir aproximação

do tampo até o usuário; conter suporte para objetos; obedecer a normas técnicas e não conter

componentes facilmente removíveis.

7.1 Alternativas de projeto

Ao considerar os requisitos de projeto e uma prévia análise de similares indiretos, a

primeira preocupação foi propor diferentes maneiras de combinação de módulos (tampos). E,

assim, selecionar o arranjo que permitisse que o módulo quando utilizado em grupo ou

individualmente tivesse seu aspecto visual associado ao funcional. Buscou-se o conceito

baseado em um catavento girando, as formas orgânicas e o arranjo divertido visam propor

sensação visual de dinamismo. Para tal configuração considerou-se a hipótese de inserir

módulos com recorte para acomodação do tronco do usuário e sem recorte. Parte do processo

criativo que gerou alternativas de soluções, pode ser conferido nas imagens 08,09 e 10 por

meio esboços manuais.

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Após a geração dos primeiros conceitos, fez-se uma avaliação procurando definir qual

deles melhor se adequaria à solução do problema. Considerando a otimização de espaço no

ambiente e para realização das tarefas, inserção de regulagens e viabilidade de fabricação, o

Figura 10 – Estudo de novas possibilidades de tampo.

Figura 08: Alternativa 01 – Estudo de arranjos e tampo.

Figura 09: Alternativa 02 – Estudo de tampo e arranjo.

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arranjo trapezoidal foi escolhido devido à sua forma simplificada e que atendia os requisitos

necessários. Dessa forma, gerou-se uma nova alternativa (figura 11).

Na seqüência, partiu-se para a geração de um modelo que unisse características de

algumas das alternativas anteriores por meio de uma matriz combinatória (figura 12):

Como resultado prévio, gerou-se um modelo virtual (figura 13), considerado mais

viável em relação ao funcionamento das regulagens.

Figura 11: Melhor alternativa de arranjo

Figura 12: Matriz combinatória de alternativas.

Figura 13: Render esquemático solução gerada.

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8. Projeto Executivo: Análise funcional e estrutural

Por meio de desenhos esquemáticos simulatórios foram realizadas análises funcionais,

com o objetivo de visualizar a configuração do módulo desenvolvido com os demais módulos

e também a integração dos usuários (figura 14).

9. Otimização

Neste capítulo serão apresentadas as intervenções feitas no produto com o objetivo de

obter melhorias funcionais. Considerou-se além do uso, o processo produtivo, de distribuição

e a sustentabilidade ambiental, realizando as seguintes intervenções:

9.1 Redução de Peso e Volume

Por meio de uma análise da forma do produto aliada à sua funcionalidade e

simplificação, levantou-se a seguinte hipótese: retirando o porta-objeto do local antes

determinado, permite-se reduzir o tamanho do tampo, volume, material e consequentemente o

peso. Permitindo também maior integração visual aos usuários. A figura nº 15 apresenta o

antes e depois da intervenção.

Figura 14: Teste simulatório de funcionalidade – uso individual e coletivo.

Figura 15: Antes e depois da intervenção no tampo.

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Antes Depois

9.2. Readequações estruturais

Com a redução do tampo, o porta-objetos deveria ser recolocado em um local que

facilitasse seu uso, permitir melhor alcance das mãos do usuário e ser removível para facilitar

a manutenção e limpeza. Definiu-se então fixa-lo por manípulo em um dos pés da mesa

(figura 16).

Figura 16: Render esquemático comparativo – porta objetos.

Buscando simplificar o produto e conservar de sua funcionalidade, a inclusão da

corrediça e cremalheira foi revisada pelo fato de ter que produzi-la por termoformagem, o que

elevaria o custo do produto. Buscou-se então uma nova solução: retirar o sistema com

corrediça e substituir a cremalheira pelo articulador angular que permite a regulagem através

de um roscamento por manípulo, trava o tampo na angulação estipulada (30° e 70°) pela

pressão exercida sobre o articulador que fica fixo entre o manípulo e o tampo. A figura nº 17

ilustra esta otimização.

Figura 17: Render esquemático comparativo – regulagens.

9.3. Modificação nos tubos/pés

A remoção da corrediça implicou no seguinte problema: o conflito dos pés do usuário

com o tubo central (ilustrado na figura º18). Tal situação demandou uma readequação nos pés

tubulares, estrutura que sustenta o tampo.

Figura 18: situação problema – pés do usuário em atrito com o tubo central.

Antes

Depois

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A função da corrediça seria permitir a aproximação do tampo até a criança que utiliza

a cadeira de rodas inclinada, proporcionando uma altura máxima do tampo de 86 cm. A

quantidade e posicionamento dos pés/tubo da mesa foram modificados, impedindo desta

maneira o desconfortável atrito já descrito. A figura nº19 ilustra a solução para o problema. O

modo de junção desses tubos também foi substituído pelo processo de roscamento.

Figura 19: Alteração na estrutura tubular.

9.4. Melhoria Ergonômica

Preocupações com a ergonomia do produto foram consideradas e realizaram-se

intervenções a fim de adequar melhor o produto ao usuário:

Redução do peso e volume: maior facilidade na montagem e regulagem pelo usuário

secundário.

Readaptação do porta-objetos: melhor aproximação das mãos dos usuários, evitando

assim a fadiga muscular dos braços.

Novo mecanismo para angulação do tampo: melhor estabilidade e segurança.

Modificação na pega e maior angulação dos cantos: conforto e suavidade no

manuseio.

Conhecer a capacidade humana máxima para levantar e transportar cargas é fator

essencial para que tarefas, máquinas e produtos sejam corretamente dimensionadas dentro

desses limites. IIDA (2005, p. 179) classifica em dois tipos as situações de trabalho quanto ao

levantamento de pesos: levantamento esporádico e trabalho repetitivo. O levantamento

esporádico de cargas, que está relacionado com a capacidade muscular, é foco de estudo desta

etapa. O autor destaca também que a capacidade de carga máxima é variável de uma pessoa

para outra e depende dos músculos usados, pernas, braços ou dorso. Com base nas orientações

disponíveis no quadro 01, determinou-se que o peso máximo para o tampo deve ser de 32 kg.

Quadro 01: Força para movimentos (Chaffin in Garg, 1980).

Fonte: IIDA (2005).

Antes

Depois

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De acordo com cálculos realizados, o peso do tampo em polímero será de aprox. 8,2

kg, adequado para um levantamento esporádico. Somando ao peso dos tubos em alumínio,

tem-se o peso total do produto estimado em 14,6 Kg.

9.5. Embalagem e transporte

O produto é de fácil montagem e desmontagem, tanto na fase de produção quanto na

fase de uso, sendo assim fator importante para facilitar o processo de reciclagem e/ou

reaproveitamento dos componentes; facilitar a manutenção e limpeza e otimizar o espaço na

embalagem e transporte.

Visando uma possível redução no custo de produção, buscou-se aproveitar

componentes disponíveis no mercado. O produto foi planejado de forma a minimizar o uso da

embalagem, otimizando o espaço interno por ela proporcionado. As vantagens decorrentes

disto são: Redução do emprego de matéria prima (papelão) e otimização dos espaços nos

containers, o que contribui para reduzir a emissão de resíduos gerados pelos meios de

transporte, bem como um melhor aproveitamento dos espaços nos locais de armazenamento.

O quadro 02 ilustra o planejamento desta embalagem.

Quadro nº 02: planejamento da embalagem.

10. Descrição da solução final

Nesta etapa, realizou-se uma lista de apoio ao marketing, destacando os diferenciais

do produto para futura comercialização, entre elas estão: atender a necessidade de ampliar a

integração de crianças com deficiência; uso coletivo ou individual, doméstico ou escolar;

possibilidade de diferentes arranjos em sala de aula; cores: voltada para um uso confortável e

atrativo; possibilidade de ajustes de altura e angulação do tampo, propondo conforto no uso;

facilidade de montagem e ajuste. Os ajustes atendem a crianças de diferentes tamanhos e

idades, propondo assim um prolongamento da vida útil do mobiliário.

No planejamento da vida útil do produto considerou-se as fases de concepção,

produção, uso e descarte de um produto, que estão sujeitas a causar os mais variados danos

Estocagem

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ambientais, assim é imprescindível que se busque alternativas que reduzam o impacto

ambiental. Manzini e Vezzoli (2005) consideram que quando um produto tem sua vida útil

reduzida, ele não só gera precocemente mais lixo, mas determina também outros impactos

indiretos, como a necessidade de ter que substituí-lo. Com base nestas orientações, buscou-se

empregar as seguintes medidas que amenizassem o impacto ambiental gerado durante o ciclo

de vida do produto:

Produção: Uso de materiais recicláveis (polipropileno e alumínio); não utilização de

cola para fixação de componentes facilitando a reciclagem do material após o

descarte.

Distribuição: Os pés desmontáveis propõem uma otimização de espaço para a

embalagem e consequentemente na armazenagem e transporte.

Uso: A facilidade de montagem e ajuste do mobiliário atende a crianças de diferentes

tamanhos e idades, propondo assim um prolongamento da vida útil do produto. A

facilidade na manutenção e higiene também contribuirá para uma maior durabilidade

do mobiliário.

Facilitar a atualização e adaptabilidade de produto: O projeto modular permite sua

reconfiguração para a adaptação em diversos ambientes.

Por fim, o resultado final alcançou os requisitos de projeto de forma satisfatória

contemplando 6 crianças, sejam elas usuárias de cadeira de rodas ou não. A configuração do

produto permite a disposição dos módulos em arranjos circulares, semicirculares, intercalados

ou lineares. As figuras 19, 20 e 21 demonstram por meio de renderings, o resultado final.

.

Figura 19: arranjo coletivo e individual.

Figura 20: arranjo coletivo e individual.

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Figura 21: simulação de uso.

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As quatro etapas do projeto, informativa, conceitual, executivo e otimização

caracterizaram uma metodologia complementar, evolutiva e interdependente, onde o sucesso

no desenvolvimento de uma, garantiria o desempenho das posteriores. Por algumas vezes foi

necessário e inevitável revisar etapas anteriores no sentido de solucionar lacunas e rever

informações, processo natural em projetos de design. A validação do resultado será possível

por meio de estudos com a confecção de um protótipo a ser experimentado pelos usuários

primários e secundários, que fornecerão informações sobre o grau de satisfação em relação ao

uso e percepção do produto.

Um relevante fator favorável foi a excelente receptividade que a equipe deste projeto

teve na instituição Cerepal, bem como o apoio do professor orientador para a continuidade e

melhoria do projeto. Na instituição foram encontrados diversos mobiliários que são

alternativas de TA de baixo custo e, mesmo com seus problemas, são exemplos da

preocupação por parte das pedagogas em proporcionar segurança para as crianças, e as falhas

podem ser resultantes dos limites de projeto, materiais, confecção e até mesmo custo. A partir

dessas observações associadas a depoimentos das pedagogas quanto à necessidade de

mobiliários adequados no âmbito escolar, revela-se a importante necessidade e contribuição

do design como elemento facilitador para a inclusão social. Caracterizando assim um dos

fatores gratificantes da profissão sob a ótica do design inclusivo.

NOTA

Este projeto foi desenvolvido como atividade integrante da disciplina Metodologia de Projeto

de Produto, cursada em 2011 no Mestrado em Design com ênfase em Tecnologia da UFRGS,

ministrada pelo Prof° Dr. Joyson Pacheco.

REFERÊNCIAS

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2011.

10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

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e Tonolli (ATACP 1998 - Assistive Technology Applications Certificate Program / CSUN

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