Trabalho integracao

22
Introdução Com o presente trabalho, pretende-se estabelecer, em nível de direito comparado, qual a actual posição da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), e do MERCOSUL. Evidente que os dois “sistemas” estão em níveis completamente diferentes, em termos de fases evolutivas, o que implica em uma distinção a priori e necessária da modalidade de Direito existente nos dois "sistemas". No entanto, a problematização colocada desta maneira é pertinente, tendo em vista que tanto os países integrantes da SADC como os do MERCOSUL, aparentemente, procuram imitar o sistema europeu, tomando-o como paradigma. Considerando que o Direito Comunitário do ordenamento jurídico das comunidades de integração, procurou-se e evidenciar, num plano histórico, as origens e a conformação do que se entende por Direito Comunitário. Para isto, faz-se necessário traçar o perfil das duas comunidades: SADC e MERCOSUL, com uma abordagem clássica, isto é, evolução histórica, fontes e estrutura, objectivando ter uma ideia precisa da situação actual.

Transcript of Trabalho integracao

Introdução

Com o presente trabalho, pretende-se estabelecer, em

nível de direito comparado, qual a actual posição da

Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), e do

MERCOSUL. Evidente que os dois “sistemas” estão em níveis

completamente diferentes, em termos de fases evolutivas, o que

implica em uma distinção a priori e necessária da modalidade

de Direito existente nos dois "sistemas". No entanto, a

problematização colocada desta maneira é pertinente, tendo em

vista que tanto os países integrantes da SADC como os do

MERCOSUL, aparentemente, procuram imitar o sistema europeu,

tomando-o como paradigma.

Considerando que o Direito Comunitário do ordenamento

jurídico das comunidades de integração, procurou-se e

evidenciar, num plano histórico, as origens e a conformação do

que se entende por Direito Comunitário. Para isto, faz-se

necessário traçar o perfil das duas comunidades: SADC e

MERCOSUL, com uma abordagem clássica, isto é, evolução

histórica, fontes e estrutura, objectivando ter uma ideia

precisa da situação actual.

1.DIREITO COMPARADO ENTRE MERCOSUL E DA SADC:

1.1 Breves considerações sobre o Direito comparado

Assim como existem vários estados, e consequentemente

vários ordenamentos jurídicos, cada Estado com ordenamento

jurídico próprio, existe também nas comunidades internacionais

de integração regional, por via da harmonização das normas dos

estados membros, aquilo que se chamaria de ordem jurídica das

comunidades destinada a integração jurídica dos Estados

membros.

Desta feita, o direito comparado consiste no estudo dos

ordenamentos jurídicos dos Estados assim como das comunidades

internacionais, utilizando a método comparativo. Para uma

melhor compreensão dos vários sistemas jurídicos existentes em

cada comunidade.1

1 ROCHA Isabel, BATALHAO Carlos, ARGAO Luís, Introdução ao Direito, porto Editora, pg. 128

A génese, e a concretização de um ordenamento jurídico

comunitário, comporta várias aspectos polémicos, como a

soberania dos Estados, a autonomia da entidades supra estatais

e a harmonização legislativa, além do estabelecimento do se

entende por "Direito Comunitário".

Do ponto de vista de Direito Comparado, há que se

destacar a questão da harmonização legislativa, que não

significa o mesmo que unificação. Na formação do direito

comunitário, dá-se a harmonização das legislações, pois a

unificação corresponderia à existência de um estado federal,

ou mesmo de um estado unitário.

Não é objectivo central deste trabalho definir se há ou

não um ordenamento jurídico comunitário no Mercosul e na Sadc,

embora esta discussão seja pertinente no contexto.

O objectivo deste trabalho, é comparar o ordenamento

jurídico da Sadc com o do Mercosul, enquanto comunidades de

integração. Dando-se, especial ênfase as questões relativas as

fontes jurídicas, a harmonização legislativa, os sistemas de

soluções de controvérsias e as relações com os ordenamentos

jurídicos nacionais, aspectos cruciais da estrutura do Direito

surgido nas comunidades de integração.

1.2 Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)

1.2.1 Historial

O Mercado Comum do Sul, teve sua origem a partir da

constituição do mercado comum entre a República Argentina e a

República Federativa do Brasil, República do Paraguai e

República Oriental do Uruguai, a partir da assinatura do

Tratado de Assunção, em 26 de Março de 1991, sendo considerado

como um dos mais importantes passos para o processo de

integração entre os países latinos2.

Com o objectivo de estabelecer um processo de integração

latino-americano, o tratado de Instituiu o Mercado Comum do

Sul, como ema União aduaneira, zona de livre comércio e a

adopção de uma pauta externa comum. O Mercado Comum seria uma

união aduaneira e a abolição de restrições aos movimentos de

factores de produção (pessoas e capitais).

O processo de integração configura-se em um processo

evolutivo, dividido em estágios, de livre Comércio, abolição

de direitos aduaneiros e restrições quantitativas relativos à

circulação de produtos (mercadorias) entre países

participantes e manutenção das pautas externas próprias em

relação aos países terceiros.

Assim, hoje O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um amplo

projecto de integração concebido por Argentina, Brasil,

Paraguai e Uruguai, que envolve dimensões económicas,

políticas e sociais, o que se pode inferir da diversidade de

órgãos que ora o compõem, os quais cuidam de temas tão

variados quanto economia, agricultura ou familiar. No aspecto

económico, o Mercosul assume, hoje, o carácter de União

2 Http://pt.wikipedia.org/wiki/Mercado_Comum_do_Sul

Aduaneira, mas seu fim último é constituir-se em verdadeiro

Mercado Comum, seguindo os objectivos estabelecidos no Tratado

de Assunção, por meio do qual o bloco foi fundado, em 1991.

1.2.2 Ordenamento jurídico do MERCOSUL

O ordenamento jurídico do MERCOSUL, encontre-se positivamente

estabelecido fundamentalmente, em tratados inegavelmente

exactos: o Tratado de Assunção que tem apenas 24 artigos; e o

seu Protocolo complementar, o Protocolo de Ouro Preto, com 53

artigos.

1.2.2.1 Fontes Jurídicas do Mercosul

O tratado de assunção de (1991), não enunciou as fontes

do Mercosul e também não estabeleceu a hierarquia entre as

diversas normas que integram seu ordenamento jurídico.

Situação esta que o seu protocolo complementar (protocolo Ouro

Preto), veio a suprir no seu art. 42, onde estabeleceu que as

fontes jurídicas do MERCOSUL são as seguintes:

“I - O Tratado de Assunção, seus protocolos e os

instrumentos adicionais ou complementares;

II - Os Acordos celebrados no âmbito do Tratado de

Assunção e seus protocolos;

III - As Decisões do Conselho do Mercado Comum, as

Resoluções do Grupo Mercado Comum, e as Diretrizes da Comissão

de Comércio do Mercosul - adoptadas desde a entrada em vigor

do Tratado de Assunção ”.

Diante disso, é possível vislumbrar o direito que emerge

do MERCOSUL em duas vertentes, desde que guardadas as devidas

proporções se o compararmos com o modelo europeu:

1) A do direito originário (ou primário);

2) A do direito derivado (ou secundário).

O Direito Originário (ou primário) se compõe do Tratado

de Assunção, seus protocolos e Anexos, assim como pelos

Protocolos de Brasília e de Ouro Preto.

O Tratado de Assunção é um tratado "marco" que contém

regras de carácter pragmático, na medida em que devem ser

implementadas e desenvolvidas pelos órgãos do Tratado ou do

Mercosul, os quais receberam competência normativa (Conselho e

Grupo Mercado Comum), bem como normas de carácter obrigatório,

dirigidas aos Estados partes, como, por exemplo, os arts. 4º e

7º (5).

Já o direito derivado, é composto pelos actos emanados

das instituições decisórias do consórcio sediado no Cone Sul,

quais sejam: as decisões (CMC3), os regulamentos (GMC4) e as

directrizes (CCM5). Tais normas, unilaterais, são endereçadas à

3 (CMC) - Conselho do Mercado Comum, art. 1 do POP;4 (GMC) – Grupo Mercado comum, art. 1 do POP5(CCM) – Comissão de Comercio do Mercosul, art. 1 do POP

Organização e aos Estados Partes, e delas as de maior nível

hierárquico são as Decisões (porque oriundas do Conselho, que

é o órgão superior, consoante o artigo 3º do POP6).

1.2.2.2 A Pirâmide Jurídica do Mercosul

Imaginando a pirâmide jurídica do Mercosul, veremos na

sua base o direito originário, isto é, seus tratados

constitutivos, anexos e modificações. Logo depois, encontramos

os acordos celebrados com terceiros países, ou entre os

Estados-membros do Mercosul, os quais devem estar de acordo

com o Tratado de Assunção e seus documentos complementares.

As normas de direito derivado vêm logo após, e não podem

contradizer o direito originário. As decisões do Conselho

prevalecem sobre as resoluções do Grupo e essas sobre as

directrizes da Comissão de Comércio.

1.2.2.2A Harmonização Legislativa no Mercosul

A quarta parte do Tratado de Assunção diz que este

mercado comum implica no "compromisso dos Estados Partes de

harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para

lograr o fortalecimento do processo de integração".

O artigo 38 do Protocolo de Ouro Preto, o qual

institucionalizou o MERCOSUL, dando prosseguimento ao período

6 (POP) - Protocolo de Ouro Preto

de transição iniciado com o Tratado de Assunção, reza que os

Estados-partes comprometem-se a adoptar todas as medidas

necessárias para assegurar, em seus respectivos territórios, o

cumprimento das normas emanadas dos órgãos do MERCOSUL, porém,

vezes há em que faz-se mister uma aproximação das legislações

ou uma harmonização das mesmas. Esta tem por objectivo

suprimir ou amenizar as diferenças entre as disposições de

direito interno, na medida em que o exija o funcionamento do

Mercado Comum, importa a alteração dos respectivos conteúdos.

Já a aproximação das legislações correlaciona-se com o

procedimento especial para garantir o bom funcionamento do

Mercado Comum. Apesar de constituírem-se procedimentos

diferentes, ambos pretendem estabelecer uma certa conformidade

entre as disposições legislativas que já vigoram ou irão

vigorar nos Estados empenhados num processo de integração.

Assim, com muita nitidez, vemos a diferença entre a

"harmonização supranacional" e a tradicional "harmonização

internacional", que seria a única actualmente possível e

vigente no Mercosul.

1.2.2.3 O Sistema de Soluções de Controvérsias

As solução de controvérsias dentro de um estrutura de

integração, no sentido de se ter um grupo de Estados que

pertencem à um organização, em qualquer estágio, ou fase de

integração, pode se dar de várias maneiras. Podem os Estados

adoptar um modelo baseado nos sistemas clássicos de solução de

controvérsias, ou adoptarem um sistema semelhante, mas com a

imposição da interveniência dos órgãos da organização (caso do

Mercosul), ou pode constituir uma Corte de Justiça

supranacional (caso da União Europeia).

Actualmente, o Sistema de Solução de Controvérsias do

MERCOSUL é regulamentado pelo Protocolo de Olivos (PO),

assinado em 18 de Fevereiro de 2002 e vigente desde 1º de

Janeiro de 2004. Antes desse instrumento era aplicado o Anexo

III do Tratado de Assunção e, até a entrada em vigor do PO, o

Protocolo de Brasília.

No âmbito do último, e de seu Regulamento (aprovado por meio

da Decisão CMC Nº. 17/98), foram proferidos dez laudos

arbitrais.

Por sua vez, existem etapas anteriores e paralelas ao

sistema: os procedimentos de Consultas e os de Reclamações,

regulamentados pela Directriz CCM Nº. 17/99, e pelo Anexo do

Protocolo de Ouro Preto e a Decisão CMC Nº. 18/02,

respectivamente. Esses mecanismos são administrados pela

Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM) e pelo Grupo Mercado

Comum (GMC).

Uma das principais inovações do PO foi a criação do Tribunal

Permanente de Revisão (TPR), órgão principal do sistema, em

razão de sua competência para conhecer e resolver nos recursos

de revisão contra os laudos dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc

(TAHM).

O TAHM7 é formado a partir das Listas de Árbitros

depositadas por cada Estado Parte na Secretaria do MERCOSUL,

cujas Funções são:

- Conhecer e resolver em matéria de controvérsias

que venham a surgir entre os Estados Partes, a

pedido de um deles, ou de particulares;

- Emitir Recursos de Esclarecimento;

- Proferir medidas provisórias;

- Resolver divergências a respeito do cumprimento do

laudo;

- Pronunciar-se sobre as medidas compensatórias

adoptadas pelo Estado Parte beneficiado pelo laudo

na controvérsia.

O Tribunal Permanente de Revisão, é o órgão constituído

como instancia jurisdicional para conhecer e resolver em

matéria de:

- Opiniões Consultivas: poderão ser solicitadas por todos

os Estados-Partes em conjunto, os órgãos com capacidade

decisória do MERCOSUL, os Tribunais Superiores de Justiça

dos Estados Partes, e o Parlamento do MERCOSUL;

- Revisão contra o laudo do TAH apresentado por quaisquer

das partes;

- Actuação em única instância em caso de controvérsias;

7Tribunais Arbitrais Ad Hoc do Mercosul

- Casos nos quais os Estados Partes activem o

procedimento estabelecido para as medidas excepcionais de

urgência;

Os laudos que venham a proferir os TAHM e o TPR serão

obrigatórios para os Estados Partes na controvérsia assim que

se tenham tornado firmes e tenham, então, adquirido força de

caso julgado. As opiniões consultivas não serão obrigatórias

nem vinculastes.

De acordo com o art. 53 do PO "Antes de culminar o

processo de convergência da Tarifa Externa Comum, os Estados

Partes efectuarão uma revisão do actual sistema de solução de

controvérsias, com vistas à adopção do Sistema Permanente de

Solução de Controvérsias para o Mercado Comum a que se refere

o numeral 3 do Anexo III do Tratado de Assunção".

1.2.2.4 As Relações com os Ordenamentos Jurídicos Nacionais

O art. 42 do Protocolo de Ouro Preto determina que "as

normas emanadas dos órgãos do Mercosul terão carácter

obrigatório e deverão, quando necessário, ser incorporadas aos

ordenamentos jurídicos nacionais mediante os procedimentos

previstos pela legislação de cada país".

Certamente, esta obrigatoriedade deve ser entendida nos

limites das competências de cada órgão, de tal forma que as

decisões têm maior nível hierárquico.

Contudo, ao aprovar o Protocolo de Ouro Preto, o

Congresso Nacional, no Decreto Legislativo 188, deixou claro

que: "São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer

actos que possam resultar em revisão do referido protocolo,

assim como quaisquer actos complementares que, nos termos do

art. 49,I da Constituição Federal, acarretem encargos ou

compromissos gravosos ao património nacional".

Desta forma, entende-se que as normas emanadas do

Mercosul que representam encargos económicos ou obrigações

para o património nacional devem ser objecto de aprovação pelo

Congresso Nacional. Da mesma forma, as normas que ampliam e

modificam as estruturas do Mercosul também se submetem a essa

condição.

Como se vê, a obrigatoriedade para os Estados-membros,

prevista no art. 42 do Protocolo de Ouro Preto, reside na sua

implementação. Trata-se, portanto, de obrigação de meio, isto

é, existindo os instrumentos legislativos que permitam a sua

entrada em vigor no ordenamento jurídico interno, o Poder

Executivo tem a obrigação - decorrente do Protocolo.

Isto para dizer que, a mecânica de incorporação do

direito do Mercosul aos direitos nacionais, foi e continua

sendo a mecânica clássica. O direito do Mercosul se assenta no

modelo clássico, isto é, advém de Tratados Internacionais

negociados pelos governos e que posteriormente aprovados pelos

Congressos são ratificados pelos Estados-Membros e

promulgados, incorporando-se assim a norma do Mercosul ao

direito nacional de cada um dos seus integrantes. Trata-se do

típico e clássico fenómeno da recepção, que consequentemente

afasta de alguma forma a figura de supra-nacionalidade.

1.3Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC8)

1.3.1Historico

SADC: organização regional criada inicialmente, a 1 de

Abril de 1980, como Conferência para a Coordenação do

Desenvolvimento da África Austral (SADCC), com o objectivo

principal de coordenação de projectos de desenvolvimento como

forma de reduzir a dependência económica em relação à então

África do Sul do apartheid.

Países fundadores: Angola, Botswana, Lesoto, Malawi,

Moçambique, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Mais

tarde se juntaram os seguintes países: Maurícias, Namíbia,

África do Sul, República Democrática do Congo, Madagáscar e

Seychelles)9.

Deu-se a transformação da SADCC em SADC, para promover

maior cooperação e integração económica, uma necessidade

premente para os governos dos Estados Membros da SADC de

transformar e reestruturar as suas economias. A independência8 (SADC), do ingles, Southern African Development Community.9VALIGY, Ismael (1989), SADCC: Um Modelo de Cooperação Regional. Desenvolvimento, Relações Internacionais, e Integração na África Austral, Seminário Conjunto CEA/IEEI. Lisboa

da Namíbia em 1990 e o fim do apartheid na África do Sul

levaram a redefinir a base de cooperação entre os Estados

Membros, de uma associação voluntária, para uma instituição

juridicamente vinculativa. Assim, na sua reunião Cimeira, em

Windhoek, a 17 de Agosto de 1992, os Chefes de Estado e

Governo assinaram um Tratado que transformava a “SADCC”, de

Conferência de Coordenação, em SADC.

1.3.2 Ordenamento jurídico da SADC

Ao contrário do Mercosul, não encontramos na Sadc um

diploma orientativo como o Protocolo de Ouro Preto do

Mercosul, onde o ordenamento jurídico deste encontre-se

fundamentalmente estabelecido. Mas, podemos encontrar a

essência do ordenamento jurídico desta comunidade através do

Tratado e Protocolos da SADC, Protocolo do Tribunal da SADC e

outras normas legais complementares.

1.3.2.1 Fontes do Direito Comunitário da Sadc

Apesar do tratado da Sadc não enunciar as fontes e

estabelecer a hierarquia entre as diversas normas que integram

seu ordenamento jurídico, assim como no Mercosul e na maior

parte das comunidades, o ordenamento jurídico comunitário

vigente na Sadc é composto pelo direito originário ou fontes

primárias, onde encontramos o Tratado da Sadc e protocolos

complementares, e pelo direito derivado ou fontes secundárias,

onde encontramos os demais protocolos, a jurisprudência

desenvolvida pelo Tribunal, princípios gerais de direito e

outras normas legais.

Desta feita poderíamos imaginar a pirâmide jurídica da

Sadc, nos mesmos termos em que se apresentaria a pirâmide

jurídica do Mercosul, isto é, encontraríamos na sua base o

direito originário, isto é, o tratado constitutivo da Sadc,

anexos e modificações. Mais adiante, encontramos os acordos

celebrados com terceiros países, ou entre os Estados-membros,

os quais devem estar de acordo com o Tratado da Sadc e seus

documentos complementares. Por fim, vem as normas de direito

derivado, que não podem contradizer o direito originário, que

seriam compostas pelos actos emanados das instituições

decisórias, como a “cimeira” ou o “conselho” quais sejam: as

decisões, os regulamentos e as directrizes. Tais normas,

unilaterais, dirigidas à organização e aos Estados Partes.

Verificando-se aqui no ordenamento jurídico da Sadc a falta da

figura das directrizes.

1.3.2.2 A harmonização Legislativa na Sadc

Segundo o Professor Doutor Gilles Cistac10, O ordenamento

jurídico da Sadc, no seu Tratado da SADC, não consagra nenhum

instrumento que permita razoavelmente concluir pela existência

10CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização Regional verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Direito, Maputo 2008. Pg.10-11

de um real processo de harmonização das legislações dos

Estados membros.

Pelo contrário, o objectivo é de “cooperar”, isto é, coordenar

a acção dos Estados membros num domínio determinado. Sendo

Assim privilegiado como instrumento de opção desta o

“Protocolo”. Assim, esses acordos entre Estados membros

aparecem como instrumentos particularmente indicados e

adaptados para promoção de uma cooperação entre Estados.

Todavia, esses instrumentos não são realmente concebidos

para lutar contra a disparidade das legislações nacionais que

constituem um obstáculo pela realização de um espaço económico

e social verdadeiramente integrado.

Logo, o ordenamento jurídico da SADC não dispõe de

instrumentos jurídicos para diminuir as dificuldades que esta

enfrenta na sua integração. Por outras palavras, a SADC não

criou verdadeiros instrumentos jurídicos que permitissem a

substituição das disparidades de legislações dos Estados

membros num regime jurídico harmonizado ou uniformizado. Pois,

em a regra geral, a harmonização jurídica precisa de técnicas

específicas tais como as “directivas” ou “recomendações” que

uma organização aprova e dirige aos Estados membros. Essas

“directivas” e “recomendações” indicam os resultados a atingir

sem impôr a forma e os meios para conseguir atingir os seus

objectivos.

1.3.2.3 O Sistema de Soluções de Controvérsias

O art. 4 n°5 do Tratado da Sadc estabelecia que as

controvérsias que surgissem entre os Estados partes deveriam

ser resolvidas pacificamente. Porem, o sistema de solução de

controvérsias na Sadc, tem por base, um Tribunal composto por

10 membros. Um órgão cuja a responsabilidade principal será

ajudar os Estados membros na resolução de Controvérsias.

O Tribunal da SADC, que estará sedeado em Windhoek,

Namíbia, será responsável pela resolução de conflitos entre

Estados membro, assim como assegurar a aderência e

interpretação apropriada do Tratado da SADC bem como aos

outros instrumentos subsidiários que aglutinam os Estados da

região.

O art. 9 do protocolo do tribunal da Sadc, vem

estabelecer que qualquer controvérsia que nasça do exercício

de qualquer função política ou administrativa, ou de qualquer

cargo político em qualquer escritório, serviço de um Estado, a

Comunidade ou uma organização ou exercer qualquer comércio,

vocação ou profissão ou qualquer outra actividade profissional

que possa interferir com o exercício correcto das suas funções

judiciais, imparcialidade e independência, serão resolvidas

por uma decisão do Tribunal de da Sadc.

Quem apresentar casos ao Tribunal deve primeiro esgotar os

recursos locais ou provar que estes não existem, Uma vez que

as decisões do Tribunal são finais e vinculativas.

O Tribunal é composto por dez membros, cinco dos quais são

“regulares”, pois comparecem à apreciação da maioria dos casos

apresentados. Na indisponibilidade de um deles, o Presidente

do Tribunal pode convidar um outro membro para ocupar o cargo

em questão. Os juízes servem um mandato de cinco anos, que é

renovável.

1.3.2.4 As Relações com os Ordenamentos Jurídicos Nacionais

No que diz respeito à estrutura jurídico-organizativa da

SADC segundo CISTAC11, esta não reflecte nenhuma limitação à

soberania dos Estados membros. Os mecanismos organizativos

apenas desenvolvem relações horizontais de simples coordenação

das soberanias estaduais. Os Estados membros ainda desempenham

um papel primordial na vida da SADC. Por exemplo, não há

nenhuma previsão da intervenção directa da SADC na ordem

interna dos Estados membros. Por isso, as suas decisões e

deliberações têm como destinatários os próprios Estados

membros e nunca os seus sujeitos internos, particularmente o

indivíduo. Ou seja, o Estado membro interpõe-se entre a SADC e

a sua ordem interna.

As decisões ou deliberações dos órgãos da SADC, não têm efeito

directo sobre os nacionais dos Estados membros nem sobre as

respectivas administrações. Com efeito, se os protocolos são

aprovados pela Cimeira sob recomendação do Conselho, estes são

sujeitos à ratificação dos Estados membros o que significa que

11CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização Regional verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Direito, Maputo 2008. Pg.10-11

apesar desta decisão da Cimeira, o efeito directo é ainda

inexistente nas ordens jurídicas internas dos Estados membros.

Em resumo, não há transferência de poderes soberanos dos

Estados membros para a SADC.

Assim, as restrições à soberania dos Estados membros da

SADC traduziram-se no facto de existirem relações de

subordinação e não de mera cooperação entre a organização e os

Estados membros, incluindo os seus sujeitos de Direito

interno. Relações essas, que vão cobrindo progressivamente

novos domínios de actividade à medida que a integração avança.

Na prática, o objectivo predominante da SADC, é o de

fomentar relações multilaterais de mera cooperação entre os

Estados membros, na esfera da actividade económica,

correspondente apenas a uma parte do objecto material da

organização que é muito mais rico (manutenção da paz,

segurança, democracia, cultura, etc.)

Conclusão

Como podemos ver a partir da comparação dos ordenamentos

jurídicos destas duas comunidades, nem no âmbito do MERCOSUL

como no da SADC, existe, de maneira verdadeiramente a rigor, o

que se pode denominar por "Direito Comunitário". Porém,

preferiu-se manter esta denominação, pelo menos nos títulos e

chamadas, em virtude de ser uma denominação usual do nascente

direito das comunidades de integração, mas que só se encontra

realizado no seio da União Europeia ou Comunidade Europeia.

Bibliografia

CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito

da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização Regional

verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane,

Faculdade de Direito, Maputo 2008.

http//:www.Sardc.net/editorial/sadctoday/portview.asp?

VALIGY, Ismael (1989), SADCC: Um Modelo de Cooperação

Regional. Desenvolvimento, Relações Internacionais, e

Integração na África Austral, Seminário Conjunto CEA/IEEI.

Lisboa, 23-26 de outubro;

Wagner Rocha D´Angelis, ORDENAMENTO JURÍDICO DO MERCOSUL

Marcos Valadão, MERCOSUL E UNIÃO EUROPÉIA: UM ESTUDO

COMPARATIVO DOS SISTEMAS JURIDICOS, Brasília, Maio de 1999

ROCHA Isabel, BATALHAO Carlos, ARGAO Luís, Introdução ao

Direito, porto Editora