Trabalho integracao
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Introdução
Com o presente trabalho, pretende-se estabelecer, em
nível de direito comparado, qual a actual posição da
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), e do
MERCOSUL. Evidente que os dois “sistemas” estão em níveis
completamente diferentes, em termos de fases evolutivas, o que
implica em uma distinção a priori e necessária da modalidade
de Direito existente nos dois "sistemas". No entanto, a
problematização colocada desta maneira é pertinente, tendo em
vista que tanto os países integrantes da SADC como os do
MERCOSUL, aparentemente, procuram imitar o sistema europeu,
tomando-o como paradigma.
Considerando que o Direito Comunitário do ordenamento
jurídico das comunidades de integração, procurou-se e
evidenciar, num plano histórico, as origens e a conformação do
que se entende por Direito Comunitário. Para isto, faz-se
necessário traçar o perfil das duas comunidades: SADC e
MERCOSUL, com uma abordagem clássica, isto é, evolução
histórica, fontes e estrutura, objectivando ter uma ideia
precisa da situação actual.
1.DIREITO COMPARADO ENTRE MERCOSUL E DA SADC:
1.1 Breves considerações sobre o Direito comparado
Assim como existem vários estados, e consequentemente
vários ordenamentos jurídicos, cada Estado com ordenamento
jurídico próprio, existe também nas comunidades internacionais
de integração regional, por via da harmonização das normas dos
estados membros, aquilo que se chamaria de ordem jurídica das
comunidades destinada a integração jurídica dos Estados
membros.
Desta feita, o direito comparado consiste no estudo dos
ordenamentos jurídicos dos Estados assim como das comunidades
internacionais, utilizando a método comparativo. Para uma
melhor compreensão dos vários sistemas jurídicos existentes em
cada comunidade.1
1 ROCHA Isabel, BATALHAO Carlos, ARGAO Luís, Introdução ao Direito, porto Editora, pg. 128
A génese, e a concretização de um ordenamento jurídico
comunitário, comporta várias aspectos polémicos, como a
soberania dos Estados, a autonomia da entidades supra estatais
e a harmonização legislativa, além do estabelecimento do se
entende por "Direito Comunitário".
Do ponto de vista de Direito Comparado, há que se
destacar a questão da harmonização legislativa, que não
significa o mesmo que unificação. Na formação do direito
comunitário, dá-se a harmonização das legislações, pois a
unificação corresponderia à existência de um estado federal,
ou mesmo de um estado unitário.
Não é objectivo central deste trabalho definir se há ou
não um ordenamento jurídico comunitário no Mercosul e na Sadc,
embora esta discussão seja pertinente no contexto.
O objectivo deste trabalho, é comparar o ordenamento
jurídico da Sadc com o do Mercosul, enquanto comunidades de
integração. Dando-se, especial ênfase as questões relativas as
fontes jurídicas, a harmonização legislativa, os sistemas de
soluções de controvérsias e as relações com os ordenamentos
jurídicos nacionais, aspectos cruciais da estrutura do Direito
surgido nas comunidades de integração.
1.2 Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)
1.2.1 Historial
O Mercado Comum do Sul, teve sua origem a partir da
constituição do mercado comum entre a República Argentina e a
República Federativa do Brasil, República do Paraguai e
República Oriental do Uruguai, a partir da assinatura do
Tratado de Assunção, em 26 de Março de 1991, sendo considerado
como um dos mais importantes passos para o processo de
integração entre os países latinos2.
Com o objectivo de estabelecer um processo de integração
latino-americano, o tratado de Instituiu o Mercado Comum do
Sul, como ema União aduaneira, zona de livre comércio e a
adopção de uma pauta externa comum. O Mercado Comum seria uma
união aduaneira e a abolição de restrições aos movimentos de
factores de produção (pessoas e capitais).
O processo de integração configura-se em um processo
evolutivo, dividido em estágios, de livre Comércio, abolição
de direitos aduaneiros e restrições quantitativas relativos à
circulação de produtos (mercadorias) entre países
participantes e manutenção das pautas externas próprias em
relação aos países terceiros.
Assim, hoje O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um amplo
projecto de integração concebido por Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai, que envolve dimensões económicas,
políticas e sociais, o que se pode inferir da diversidade de
órgãos que ora o compõem, os quais cuidam de temas tão
variados quanto economia, agricultura ou familiar. No aspecto
económico, o Mercosul assume, hoje, o carácter de União
2 Http://pt.wikipedia.org/wiki/Mercado_Comum_do_Sul
Aduaneira, mas seu fim último é constituir-se em verdadeiro
Mercado Comum, seguindo os objectivos estabelecidos no Tratado
de Assunção, por meio do qual o bloco foi fundado, em 1991.
1.2.2 Ordenamento jurídico do MERCOSUL
O ordenamento jurídico do MERCOSUL, encontre-se positivamente
estabelecido fundamentalmente, em tratados inegavelmente
exactos: o Tratado de Assunção que tem apenas 24 artigos; e o
seu Protocolo complementar, o Protocolo de Ouro Preto, com 53
artigos.
1.2.2.1 Fontes Jurídicas do Mercosul
O tratado de assunção de (1991), não enunciou as fontes
do Mercosul e também não estabeleceu a hierarquia entre as
diversas normas que integram seu ordenamento jurídico.
Situação esta que o seu protocolo complementar (protocolo Ouro
Preto), veio a suprir no seu art. 42, onde estabeleceu que as
fontes jurídicas do MERCOSUL são as seguintes:
“I - O Tratado de Assunção, seus protocolos e os
instrumentos adicionais ou complementares;
II - Os Acordos celebrados no âmbito do Tratado de
Assunção e seus protocolos;
III - As Decisões do Conselho do Mercado Comum, as
Resoluções do Grupo Mercado Comum, e as Diretrizes da Comissão
de Comércio do Mercosul - adoptadas desde a entrada em vigor
do Tratado de Assunção ”.
Diante disso, é possível vislumbrar o direito que emerge
do MERCOSUL em duas vertentes, desde que guardadas as devidas
proporções se o compararmos com o modelo europeu:
1) A do direito originário (ou primário);
2) A do direito derivado (ou secundário).
O Direito Originário (ou primário) se compõe do Tratado
de Assunção, seus protocolos e Anexos, assim como pelos
Protocolos de Brasília e de Ouro Preto.
O Tratado de Assunção é um tratado "marco" que contém
regras de carácter pragmático, na medida em que devem ser
implementadas e desenvolvidas pelos órgãos do Tratado ou do
Mercosul, os quais receberam competência normativa (Conselho e
Grupo Mercado Comum), bem como normas de carácter obrigatório,
dirigidas aos Estados partes, como, por exemplo, os arts. 4º e
7º (5).
Já o direito derivado, é composto pelos actos emanados
das instituições decisórias do consórcio sediado no Cone Sul,
quais sejam: as decisões (CMC3), os regulamentos (GMC4) e as
directrizes (CCM5). Tais normas, unilaterais, são endereçadas à
3 (CMC) - Conselho do Mercado Comum, art. 1 do POP;4 (GMC) – Grupo Mercado comum, art. 1 do POP5(CCM) – Comissão de Comercio do Mercosul, art. 1 do POP
Organização e aos Estados Partes, e delas as de maior nível
hierárquico são as Decisões (porque oriundas do Conselho, que
é o órgão superior, consoante o artigo 3º do POP6).
1.2.2.2 A Pirâmide Jurídica do Mercosul
Imaginando a pirâmide jurídica do Mercosul, veremos na
sua base o direito originário, isto é, seus tratados
constitutivos, anexos e modificações. Logo depois, encontramos
os acordos celebrados com terceiros países, ou entre os
Estados-membros do Mercosul, os quais devem estar de acordo
com o Tratado de Assunção e seus documentos complementares.
As normas de direito derivado vêm logo após, e não podem
contradizer o direito originário. As decisões do Conselho
prevalecem sobre as resoluções do Grupo e essas sobre as
directrizes da Comissão de Comércio.
1.2.2.2A Harmonização Legislativa no Mercosul
A quarta parte do Tratado de Assunção diz que este
mercado comum implica no "compromisso dos Estados Partes de
harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para
lograr o fortalecimento do processo de integração".
O artigo 38 do Protocolo de Ouro Preto, o qual
institucionalizou o MERCOSUL, dando prosseguimento ao período
6 (POP) - Protocolo de Ouro Preto
de transição iniciado com o Tratado de Assunção, reza que os
Estados-partes comprometem-se a adoptar todas as medidas
necessárias para assegurar, em seus respectivos territórios, o
cumprimento das normas emanadas dos órgãos do MERCOSUL, porém,
vezes há em que faz-se mister uma aproximação das legislações
ou uma harmonização das mesmas. Esta tem por objectivo
suprimir ou amenizar as diferenças entre as disposições de
direito interno, na medida em que o exija o funcionamento do
Mercado Comum, importa a alteração dos respectivos conteúdos.
Já a aproximação das legislações correlaciona-se com o
procedimento especial para garantir o bom funcionamento do
Mercado Comum. Apesar de constituírem-se procedimentos
diferentes, ambos pretendem estabelecer uma certa conformidade
entre as disposições legislativas que já vigoram ou irão
vigorar nos Estados empenhados num processo de integração.
Assim, com muita nitidez, vemos a diferença entre a
"harmonização supranacional" e a tradicional "harmonização
internacional", que seria a única actualmente possível e
vigente no Mercosul.
1.2.2.3 O Sistema de Soluções de Controvérsias
As solução de controvérsias dentro de um estrutura de
integração, no sentido de se ter um grupo de Estados que
pertencem à um organização, em qualquer estágio, ou fase de
integração, pode se dar de várias maneiras. Podem os Estados
adoptar um modelo baseado nos sistemas clássicos de solução de
controvérsias, ou adoptarem um sistema semelhante, mas com a
imposição da interveniência dos órgãos da organização (caso do
Mercosul), ou pode constituir uma Corte de Justiça
supranacional (caso da União Europeia).
Actualmente, o Sistema de Solução de Controvérsias do
MERCOSUL é regulamentado pelo Protocolo de Olivos (PO),
assinado em 18 de Fevereiro de 2002 e vigente desde 1º de
Janeiro de 2004. Antes desse instrumento era aplicado o Anexo
III do Tratado de Assunção e, até a entrada em vigor do PO, o
Protocolo de Brasília.
No âmbito do último, e de seu Regulamento (aprovado por meio
da Decisão CMC Nº. 17/98), foram proferidos dez laudos
arbitrais.
Por sua vez, existem etapas anteriores e paralelas ao
sistema: os procedimentos de Consultas e os de Reclamações,
regulamentados pela Directriz CCM Nº. 17/99, e pelo Anexo do
Protocolo de Ouro Preto e a Decisão CMC Nº. 18/02,
respectivamente. Esses mecanismos são administrados pela
Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM) e pelo Grupo Mercado
Comum (GMC).
Uma das principais inovações do PO foi a criação do Tribunal
Permanente de Revisão (TPR), órgão principal do sistema, em
razão de sua competência para conhecer e resolver nos recursos
de revisão contra os laudos dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc
(TAHM).
O TAHM7 é formado a partir das Listas de Árbitros
depositadas por cada Estado Parte na Secretaria do MERCOSUL,
cujas Funções são:
- Conhecer e resolver em matéria de controvérsias
que venham a surgir entre os Estados Partes, a
pedido de um deles, ou de particulares;
- Emitir Recursos de Esclarecimento;
- Proferir medidas provisórias;
- Resolver divergências a respeito do cumprimento do
laudo;
- Pronunciar-se sobre as medidas compensatórias
adoptadas pelo Estado Parte beneficiado pelo laudo
na controvérsia.
O Tribunal Permanente de Revisão, é o órgão constituído
como instancia jurisdicional para conhecer e resolver em
matéria de:
- Opiniões Consultivas: poderão ser solicitadas por todos
os Estados-Partes em conjunto, os órgãos com capacidade
decisória do MERCOSUL, os Tribunais Superiores de Justiça
dos Estados Partes, e o Parlamento do MERCOSUL;
- Revisão contra o laudo do TAH apresentado por quaisquer
das partes;
- Actuação em única instância em caso de controvérsias;
7Tribunais Arbitrais Ad Hoc do Mercosul
- Casos nos quais os Estados Partes activem o
procedimento estabelecido para as medidas excepcionais de
urgência;
Os laudos que venham a proferir os TAHM e o TPR serão
obrigatórios para os Estados Partes na controvérsia assim que
se tenham tornado firmes e tenham, então, adquirido força de
caso julgado. As opiniões consultivas não serão obrigatórias
nem vinculastes.
De acordo com o art. 53 do PO "Antes de culminar o
processo de convergência da Tarifa Externa Comum, os Estados
Partes efectuarão uma revisão do actual sistema de solução de
controvérsias, com vistas à adopção do Sistema Permanente de
Solução de Controvérsias para o Mercado Comum a que se refere
o numeral 3 do Anexo III do Tratado de Assunção".
1.2.2.4 As Relações com os Ordenamentos Jurídicos Nacionais
O art. 42 do Protocolo de Ouro Preto determina que "as
normas emanadas dos órgãos do Mercosul terão carácter
obrigatório e deverão, quando necessário, ser incorporadas aos
ordenamentos jurídicos nacionais mediante os procedimentos
previstos pela legislação de cada país".
Certamente, esta obrigatoriedade deve ser entendida nos
limites das competências de cada órgão, de tal forma que as
decisões têm maior nível hierárquico.
Contudo, ao aprovar o Protocolo de Ouro Preto, o
Congresso Nacional, no Decreto Legislativo 188, deixou claro
que: "São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer
actos que possam resultar em revisão do referido protocolo,
assim como quaisquer actos complementares que, nos termos do
art. 49,I da Constituição Federal, acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao património nacional".
Desta forma, entende-se que as normas emanadas do
Mercosul que representam encargos económicos ou obrigações
para o património nacional devem ser objecto de aprovação pelo
Congresso Nacional. Da mesma forma, as normas que ampliam e
modificam as estruturas do Mercosul também se submetem a essa
condição.
Como se vê, a obrigatoriedade para os Estados-membros,
prevista no art. 42 do Protocolo de Ouro Preto, reside na sua
implementação. Trata-se, portanto, de obrigação de meio, isto
é, existindo os instrumentos legislativos que permitam a sua
entrada em vigor no ordenamento jurídico interno, o Poder
Executivo tem a obrigação - decorrente do Protocolo.
Isto para dizer que, a mecânica de incorporação do
direito do Mercosul aos direitos nacionais, foi e continua
sendo a mecânica clássica. O direito do Mercosul se assenta no
modelo clássico, isto é, advém de Tratados Internacionais
negociados pelos governos e que posteriormente aprovados pelos
Congressos são ratificados pelos Estados-Membros e
promulgados, incorporando-se assim a norma do Mercosul ao
direito nacional de cada um dos seus integrantes. Trata-se do
típico e clássico fenómeno da recepção, que consequentemente
afasta de alguma forma a figura de supra-nacionalidade.
1.3Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC8)
1.3.1Historico
SADC: organização regional criada inicialmente, a 1 de
Abril de 1980, como Conferência para a Coordenação do
Desenvolvimento da África Austral (SADCC), com o objectivo
principal de coordenação de projectos de desenvolvimento como
forma de reduzir a dependência económica em relação à então
África do Sul do apartheid.
Países fundadores: Angola, Botswana, Lesoto, Malawi,
Moçambique, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Mais
tarde se juntaram os seguintes países: Maurícias, Namíbia,
África do Sul, República Democrática do Congo, Madagáscar e
Seychelles)9.
Deu-se a transformação da SADCC em SADC, para promover
maior cooperação e integração económica, uma necessidade
premente para os governos dos Estados Membros da SADC de
transformar e reestruturar as suas economias. A independência8 (SADC), do ingles, Southern African Development Community.9VALIGY, Ismael (1989), SADCC: Um Modelo de Cooperação Regional. Desenvolvimento, Relações Internacionais, e Integração na África Austral, Seminário Conjunto CEA/IEEI. Lisboa
da Namíbia em 1990 e o fim do apartheid na África do Sul
levaram a redefinir a base de cooperação entre os Estados
Membros, de uma associação voluntária, para uma instituição
juridicamente vinculativa. Assim, na sua reunião Cimeira, em
Windhoek, a 17 de Agosto de 1992, os Chefes de Estado e
Governo assinaram um Tratado que transformava a “SADCC”, de
Conferência de Coordenação, em SADC.
1.3.2 Ordenamento jurídico da SADC
Ao contrário do Mercosul, não encontramos na Sadc um
diploma orientativo como o Protocolo de Ouro Preto do
Mercosul, onde o ordenamento jurídico deste encontre-se
fundamentalmente estabelecido. Mas, podemos encontrar a
essência do ordenamento jurídico desta comunidade através do
Tratado e Protocolos da SADC, Protocolo do Tribunal da SADC e
outras normas legais complementares.
1.3.2.1 Fontes do Direito Comunitário da Sadc
Apesar do tratado da Sadc não enunciar as fontes e
estabelecer a hierarquia entre as diversas normas que integram
seu ordenamento jurídico, assim como no Mercosul e na maior
parte das comunidades, o ordenamento jurídico comunitário
vigente na Sadc é composto pelo direito originário ou fontes
primárias, onde encontramos o Tratado da Sadc e protocolos
complementares, e pelo direito derivado ou fontes secundárias,
onde encontramos os demais protocolos, a jurisprudência
desenvolvida pelo Tribunal, princípios gerais de direito e
outras normas legais.
Desta feita poderíamos imaginar a pirâmide jurídica da
Sadc, nos mesmos termos em que se apresentaria a pirâmide
jurídica do Mercosul, isto é, encontraríamos na sua base o
direito originário, isto é, o tratado constitutivo da Sadc,
anexos e modificações. Mais adiante, encontramos os acordos
celebrados com terceiros países, ou entre os Estados-membros,
os quais devem estar de acordo com o Tratado da Sadc e seus
documentos complementares. Por fim, vem as normas de direito
derivado, que não podem contradizer o direito originário, que
seriam compostas pelos actos emanados das instituições
decisórias, como a “cimeira” ou o “conselho” quais sejam: as
decisões, os regulamentos e as directrizes. Tais normas,
unilaterais, dirigidas à organização e aos Estados Partes.
Verificando-se aqui no ordenamento jurídico da Sadc a falta da
figura das directrizes.
1.3.2.2 A harmonização Legislativa na Sadc
Segundo o Professor Doutor Gilles Cistac10, O ordenamento
jurídico da Sadc, no seu Tratado da SADC, não consagra nenhum
instrumento que permita razoavelmente concluir pela existência
10CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização Regional verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Direito, Maputo 2008. Pg.10-11
de um real processo de harmonização das legislações dos
Estados membros.
Pelo contrário, o objectivo é de “cooperar”, isto é, coordenar
a acção dos Estados membros num domínio determinado. Sendo
Assim privilegiado como instrumento de opção desta o
“Protocolo”. Assim, esses acordos entre Estados membros
aparecem como instrumentos particularmente indicados e
adaptados para promoção de uma cooperação entre Estados.
Todavia, esses instrumentos não são realmente concebidos
para lutar contra a disparidade das legislações nacionais que
constituem um obstáculo pela realização de um espaço económico
e social verdadeiramente integrado.
Logo, o ordenamento jurídico da SADC não dispõe de
instrumentos jurídicos para diminuir as dificuldades que esta
enfrenta na sua integração. Por outras palavras, a SADC não
criou verdadeiros instrumentos jurídicos que permitissem a
substituição das disparidades de legislações dos Estados
membros num regime jurídico harmonizado ou uniformizado. Pois,
em a regra geral, a harmonização jurídica precisa de técnicas
específicas tais como as “directivas” ou “recomendações” que
uma organização aprova e dirige aos Estados membros. Essas
“directivas” e “recomendações” indicam os resultados a atingir
sem impôr a forma e os meios para conseguir atingir os seus
objectivos.
1.3.2.3 O Sistema de Soluções de Controvérsias
O art. 4 n°5 do Tratado da Sadc estabelecia que as
controvérsias que surgissem entre os Estados partes deveriam
ser resolvidas pacificamente. Porem, o sistema de solução de
controvérsias na Sadc, tem por base, um Tribunal composto por
10 membros. Um órgão cuja a responsabilidade principal será
ajudar os Estados membros na resolução de Controvérsias.
O Tribunal da SADC, que estará sedeado em Windhoek,
Namíbia, será responsável pela resolução de conflitos entre
Estados membro, assim como assegurar a aderência e
interpretação apropriada do Tratado da SADC bem como aos
outros instrumentos subsidiários que aglutinam os Estados da
região.
O art. 9 do protocolo do tribunal da Sadc, vem
estabelecer que qualquer controvérsia que nasça do exercício
de qualquer função política ou administrativa, ou de qualquer
cargo político em qualquer escritório, serviço de um Estado, a
Comunidade ou uma organização ou exercer qualquer comércio,
vocação ou profissão ou qualquer outra actividade profissional
que possa interferir com o exercício correcto das suas funções
judiciais, imparcialidade e independência, serão resolvidas
por uma decisão do Tribunal de da Sadc.
Quem apresentar casos ao Tribunal deve primeiro esgotar os
recursos locais ou provar que estes não existem, Uma vez que
as decisões do Tribunal são finais e vinculativas.
O Tribunal é composto por dez membros, cinco dos quais são
“regulares”, pois comparecem à apreciação da maioria dos casos
apresentados. Na indisponibilidade de um deles, o Presidente
do Tribunal pode convidar um outro membro para ocupar o cargo
em questão. Os juízes servem um mandato de cinco anos, que é
renovável.
1.3.2.4 As Relações com os Ordenamentos Jurídicos Nacionais
No que diz respeito à estrutura jurídico-organizativa da
SADC segundo CISTAC11, esta não reflecte nenhuma limitação à
soberania dos Estados membros. Os mecanismos organizativos
apenas desenvolvem relações horizontais de simples coordenação
das soberanias estaduais. Os Estados membros ainda desempenham
um papel primordial na vida da SADC. Por exemplo, não há
nenhuma previsão da intervenção directa da SADC na ordem
interna dos Estados membros. Por isso, as suas decisões e
deliberações têm como destinatários os próprios Estados
membros e nunca os seus sujeitos internos, particularmente o
indivíduo. Ou seja, o Estado membro interpõe-se entre a SADC e
a sua ordem interna.
As decisões ou deliberações dos órgãos da SADC, não têm efeito
directo sobre os nacionais dos Estados membros nem sobre as
respectivas administrações. Com efeito, se os protocolos são
aprovados pela Cimeira sob recomendação do Conselho, estes são
sujeitos à ratificação dos Estados membros o que significa que
11CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização Regional verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Direito, Maputo 2008. Pg.10-11
apesar desta decisão da Cimeira, o efeito directo é ainda
inexistente nas ordens jurídicas internas dos Estados membros.
Em resumo, não há transferência de poderes soberanos dos
Estados membros para a SADC.
Assim, as restrições à soberania dos Estados membros da
SADC traduziram-se no facto de existirem relações de
subordinação e não de mera cooperação entre a organização e os
Estados membros, incluindo os seus sujeitos de Direito
interno. Relações essas, que vão cobrindo progressivamente
novos domínios de actividade à medida que a integração avança.
Na prática, o objectivo predominante da SADC, é o de
fomentar relações multilaterais de mera cooperação entre os
Estados membros, na esfera da actividade económica,
correspondente apenas a uma parte do objecto material da
organização que é muito mais rico (manutenção da paz,
segurança, democracia, cultura, etc.)
Conclusão
Como podemos ver a partir da comparação dos ordenamentos
jurídicos destas duas comunidades, nem no âmbito do MERCOSUL
como no da SADC, existe, de maneira verdadeiramente a rigor, o
que se pode denominar por "Direito Comunitário". Porém,
preferiu-se manter esta denominação, pelo menos nos títulos e
chamadas, em virtude de ser uma denominação usual do nascente
direito das comunidades de integração, mas que só se encontra
realizado no seio da União Europeia ou Comunidade Europeia.
Bibliografia
CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito
da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização Regional
verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane,
Faculdade de Direito, Maputo 2008.
http//:www.Sardc.net/editorial/sadctoday/portview.asp?
VALIGY, Ismael (1989), SADCC: Um Modelo de Cooperação
Regional. Desenvolvimento, Relações Internacionais, e
Integração na África Austral, Seminário Conjunto CEA/IEEI.
Lisboa, 23-26 de outubro;
Wagner Rocha D´Angelis, ORDENAMENTO JURÍDICO DO MERCOSUL
Marcos Valadão, MERCOSUL E UNIÃO EUROPÉIA: UM ESTUDO
COMPARATIVO DOS SISTEMAS JURIDICOS, Brasília, Maio de 1999