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Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis 2ª aula _______________________________________________________________________________ 1. VIGÊNCIA, APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA 1. 1 - Vigência, aplicação, interpretação e integração da legislação tributária Nas palavras de Luciano Amaro, 1 “ Lei vigente, ou lei em vigor, é aquela que é suscetível de aplicação, desde que se façam presentes os fatos que correspondam à sua hipótese de incidência.” Já Luiz Felipe Silveira Diffini destaca, 2 “ Os três planos do mundo jurídico são o da existência, o da validade e o da eficácia. No primeiro deles, diz-se que a lei, uma vez promulgada, tem existência jurídica; no segundo, a lei, uma vez vigente, tem validade; e no terceiro, a lei é eficaz, quando apta a produzir efeitos.” Dispõe o art. 101 do CTN sobre vigência das leis tributárias, e as exceções previstas estão expressas nos arts. 102 a 104 e 106 do CTN. Vejamos: Art. 101. A vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária rege- se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado o previsto neste Capítulo. Art. 103. Salvo disposição em contrário, entram em vigor: 1 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, p. 189. 2 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. 4ªed. São Paulo:Saraiva, p. 161. 1

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Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

1. VIGÊNCIA, APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

1. 1 - Vigência, aplicação, interpretação e integração da legislação tributária

Nas palavras de Luciano Amaro, 1“ Lei vigente, ou lei em

vigor, é aquela que é suscetível de aplicação, desde que se

façam presentes os fatos que correspondam à sua hipótese de

incidência.”

Já Luiz Felipe Silveira Diffini destaca, 2 “ Os três

planos do mundo jurídico são o da existência, o da validade e o

da eficácia. No primeiro deles, diz-se que a lei, uma vez

promulgada, tem existência jurídica; no segundo, a lei, uma vez

vigente, tem validade; e no terceiro, a lei é eficaz, quando

apta a produzir efeitos.”

Dispõe o art. 101 do CTN sobre vigência das leis

tributárias, e as exceções previstas estão expressas nos arts.

102 a 104 e 106 do CTN. Vejamos:

Art. 101. A vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária rege-

se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral,

ressalvado o previsto neste Capítulo.

Art. 103. Salvo disposição em contrário, entram em vigor:

1 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, p. 189.

2 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. 4ªed. São Paulo:Saraiva, p. 161.

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I - os atos administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data

da sua publicação;

II - as decisões a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a seus

efeitos normativos, 30 (trinta) dias após a data da sua publicação;

III - os convênios a que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles

prevista.

Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em

que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos

sobre o patrimônio ou a renda:

I - que instituem ou majoram tais impostos;

II - que definem novas hipóteses de incidência;

III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de

maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo

178.

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída

a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação

ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado

em falta de pagamento de tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei

vigente ao tempo da sua prática.

1.2 – Vigência no tempo e espaço da lei tributária

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A LICC ( Lei de Introdução ao Código Civil ) é aplicável

as normas jurídicas em geral, e em seu art. 1º caput dispõe que

salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar, em todo

o país, quarenta e cinco dias depois da publicação.

Neste sentido, se não possuir disposição especifica sobre

a vigência, a lei tributária entra em vigor quarenta e cinco

dias após publicada. Mas diante da agilidade que hoje se

apresenta na esfera tributária a maioria das leis dispõe que a

lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Assim, no que tange a vigência da lei tributária no tempo

estas poderão entrar em vigor na data de sua publicação, em

data determinada, ou após determinado intervalo de tempo, e se

nada dispuserem, aplicar-se-á as regras da LICC e entrará em

vigor quarenta e cinco dias após a publicação.

Já a vigência da lei tributária do espaço “vigora no

território do ente político que a editar, o território é o

limite espacial da soberania, no caso do Estado nacional, e da

autonomia, no caso dos Estados-membros, Distrito Federal e

Municípios. Assim, a lei federal abrange todo o território

nacional, a lei dos demais entes políticos aplica-se, por

igual, nos respectivos territórios.”3

Vejamos as disposições pertinentes, art. 102 do CTN:

3 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, p. 190. 3

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Art. 102. A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites

em que lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que

participem, ou do que disponham esta ou outras leis de normas gerais

expedidas pela União.

1.3 – Vigência e o principio da anterioridade tributária

Eduardo Sabbag, 4 demonstra, “ a vigência e o princípio

da anterioridade tributária são institutos diferentes. A

Constituição Federal, no art. 150, III “b” e “c”, ao tratar

deste principio não abordou a data de vigência das leis

tributárias.”

Vejamos:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

III - cobrar tributos:

(...)

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;

c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

Ensina ainda o Professor Sabbag, “ os respectivos

tributos só serão exigidos a partir do 1º dia do ano seguinte

àquele em que for publicada tal lei ( art. 150, III, b, CF),

4 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 576-577.4

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além de respeitar o principio da anterioridade qualificada ou

nonagesimal ( art. 150, III, c, CF) (...) A questão da vigência

da lei tributária está adstrita ao próprio texto legal, sendo

dele seu intrínseco tratamento. A eficácia da lei tributária,

por sua vez, transborda o desígnio da lei em si e penetra o

âmbito constitucional, de onde extrairá os limites da produção

de seus efeitos.”

1.4 – Aplicação da nova lei em fatos pendentes

Dispõe o art. 105 do CTN:

Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa nos termos do artigo 116.

No artigo em comento a legislação nova aplica-se a fatos

geradores pendentes, isto é, fatos que se iniciam na vigência

de uma legislação e se completam na vigência de outra

legislação. 5

E, o art. 150, III, “a” da Constituição Federal impede

que a lei tributária tenha efeito retroativo, ou seja, proíbe

que se volte no tempo para apanhar atos ou fatos já praticados.6

5 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 584.

6 Ibidem. 5

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Art.150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é

vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

III - cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da

lei que os houver instituído ou aumentado;

Assim sendo, a lei nova não alcança os fatos geradores

pendentes, em obediência ao principio da irretroatividade

tributária.

Entretanto, conforme esclarece o Professor Sabbag 7 “

Acreditamos que pendente não é o fato gerador, mas o negócio

jurídico que lhe dá lastro. O que, de fato, pode ocorrer é o

fato gerador consistente em negócio jurídico sujeito à condição

suspensiva (art. 117, I, CTN). Do, exposto, será possível

verificar que pendente estará o negócio jurídico, e não o fato

gerador. Este ocorrerá ou não. Essa é a razão pela qual, a

nosso ver, a lei tributária só se aplica mesmo a fatos

geradores futuros, pois o debatido “fato gerador pendente” nada

mais é do que uma possibilidade jurídica.”

Art. 117. Para os efeitos do inciso II do artigo anterior e salvo disposição

de lei em contrário, os atos ou negócios jurídicos condicionais reputam-se

perfeitos e acabados:

I - sendo suspensiva a condição, desde o momento de seu implemento;

1.5 – A retroatividade da lei tributária

7 Ibidem, p. 586. 6

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Sabbag, 8destaca “ A lei se aplica ao passado, senão ao

presente. Em regra, a lei serve para regular fatos ocorridos a

partir do inicio de sua vigência e, excepcionalmente, para

regular fatos ocorridos antes de sua edição.

Entretanto, conforme art. 106 do CTN existem duas

ressalvas à regra de irretroatividade da aplicação da

legislação tributária, vejamos:

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída

a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação

ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado

em falta de pagamento de tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei

vigente ao tempo da sua prática.

Luciano Amaro, 9 nos ensina, “ Há algumas situações

excepcionais, em que é possível a aplicação da lei tributária

nova a fatos passados, mesmo que ela nada diga nesse sentido.

Isso se dá particularmente no campo da retroatividade benigna,

em matéria de infrações (...). O Código Tributário Nacional

8 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 586.

9 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, p. 195. 7

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pretende, ainda, que as leis ditas interpretativas também

aplicação retroativa (...). tratando-se de interpretação

autêntica (ditada pelo próprio legislador), a lei nova apenas

objetivaria aclarar o sentido da lei anterior, devendo, por

essas razões, aplicar-se o preceito interpretativo

retroativamente, desde o momento em que principiou a vigorar a

lei interpretada.

Já no que tange a retroatividade benigna em matéria de

infrações, o CTN dispõe a aplicação retroativa a nova lei,

quando mais favorável ao acusado do que a lei vigente à época

da ocorrência do fato.

1.6 – Interpretação e integração da legislação tributária

“ Interpretar a norma jurídica consiste em identificar o seu sentido e alcance.”10

Luciano Amaro, 11 esclarece “ a aplicação da lei é o

enquadramento de um fato concreto no comando legal que lhe

corresponda, seja ela feita pela autoridade administrativa,

pelo julgador, ou pelo próprio sujeito passivo da obrigação

tributária, supõe que a lei seja interpretada, vale dizer, que

seja identificado o seu significado o seu alcance. (...). A

integração é o processo pelo qual diante da omissão ou lacuna

da lei se busca preencher o vácuo. A distinção entre

10 Ibidem, p. 201.

11 Ibidem. 8

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interpretação e integração está, portanto, em que, na primeira,

se procura identificar o que determinado preceito legal quer

dizer, o que supõe, é claro, a existência de uma norma da lei,

sobre cujo sentido e alcance se possa desenvolver o trabalho do

interprete. Na segunda, após se esgotar o trabalho de

interpretação sem que se descubra preceito no qual determinado

caso deva subsumir-se, utilizando-se os processos de

integração, a fim de dar solução à espécie.

Nos ensinamentos, Paulo de Barros Carvalho 12 “ A

doutrina tem aconselhado vários métodos de interpretação. São

eles: o literal ou gramatical, o histórico ou histórico-

evolutivo, o lógico, o teleológico e o sistemático.

E, o Professor Sabbag, 13analisa os meios de interpretação:

Gramatical, denominado também como método lógico-

gramatical, pauta-se na interpretação conforme o texto,

analisa apenas o que está escrito, o método gramatical por

si só não é suficiente para uma interpretação jurídica a

contento.

Lógica, funda-se na interpretação conforme o contexto,

analisando de modo extrínseco, o que se quis dizer, e não o

que está dito, procura-se o sentido lógico do texto, para

se evitarem incoerências, contradições, tentando-se

harmonizar entre si todas as disposições da lei.

12 CARVALHO, Paulo de Barros.Curso de direito tributário, 16 ed.São Paulo:Saraiva, p.97.

13 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 594. 9

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Histórica, é o mecanismo de detecção das circunstancias

eventuais e contingentes que motivaram a edição da lei, sua

razão de nascer e de ser.

Teleológica, trata-se de processo investigativo que prima

pela busca da finalidade da norma, concentrando-se no

resultado colimado pela lei.

Sistemática, por esse método procede-se à comparação da lei

interpretada com outras leis e com o ordenamento jurídico,

como um todo, para que a eles harmonicamente se ajuste.

Por derradeiro, cabe ainda ressaltar os entendimentos do

Professor Harada 14 “ no campo do direito tributário, ganha

relevo a consideração do aspecto econômico na interpretação das

normas, especialmente em relação àquelas pertinentes a impostos

que, por representarem uma retirada da parcela de riquezas dos

particulares, assentam os fatos geradores em realidade

econômicas substancialmente aptas a suportar a carga

tributária. (...) A doutrina e jurisprudência, atuando

conjugadamente com os diversos métodos interpretativos,

fornecem elementos valiosos e importantíssimos na correta

interpretação, integração e aplicação de normas tributárias.

1.7 – Integração da legislação tributária, analogia, princípios

gerais de direito, eqüidade

A integração da legislação tributária é a busca do

preceito aplicável ao caso concreto, assim o CTN em seu artigo

14 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 410.

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108 fixa uma ordem hierárquica dos métodos para aplicação da

legislação tributária.

Vejamos:

Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente

para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem

indicada:

I - a analogia;

II - os princípios gerais de direito tributário;

III - os princípios gerais de direito público;

IV - a eqüidade.

§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo

não previsto em lei.

§ 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do

pagamento de tributo devido.

Analogia, por força do principio da legalidade tributária,

a analogia tem sua aplicação na área do direito processual

tributário, pois o emprego da interpretação analógica não

poderá resultar na exigência de tributo não previsto em

lei. 15

Princípios gerais de direito tributário, os princípios

próprios do Sistema Tributário Nacional, tais como o da

legalidade, da isonomia, da capacidade contributiva, da

imunidade, da vedação de efeito confiscatório, entre

15 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 411.

11

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outros, são ferramentas para o interprete recorrer para a

solução do caso concreto. 16

Princípios gerais de direito publico, decorrem de todo o

sistema do Direito Público, abarca inclusive outros ramos

do Direito, como o Financeiro, o Constitucional, o

Administrativo, etc.17

Equidade, é a mitigação do rigor da lei, isto é, o seu

abrandamento, com o fito de adequá-la ao caso concreto. É o

ato de humanizar a aplicação da norma, utilizando-se o

critério de justiça ao caso concreto, por meio do qual se

permite ao aplicador pautar-se pelo senso geral de justiça.18

2. SISTEMA TRIBUTÁRIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

2.1 - Sistema Tributário Constitucional

Nas palavras de Kiyoshi Harada 19 “ Sistema Tributário

Nacional é o conjunto de normas constitucionais de natureza

tributária, inserido no sistema jurídico global, formado por um

conjunto unitário e ordenado de normas subordinadas aos

princípios fundamentais, reciprocamente harmônicos, que

16 Ibidem, p. 412.

17 Ibidem.

18 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 610.

19 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 302.

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organiza os elementos constitutivos do Estado, que outra coisa

não é senão a própria Constituição.”

Assim sendo, o Sistema Tributário Nacional é um conjunto

de princípios e regras harmônicos e interdependentes,

constantes na Constituição do país. No Brasil à partir da

Emenda Constitucional nº 18 de 1965, Constituição de 1946,

contamos com um Sistema Constitucional Tributário.20

2.2 – Tributos, definição e natureza jurídica

“Tributo é gênero de que são espécies os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria.”21

O Código Tributário Nacional, em seu art. 3º traz a

definição de tributo. Vejamos: “ Tributo é toda prestação pecuniária

compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua

sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa

plenamente vinculada.”

Nas palavras de Luciano Amaro, “O tributo, portanto,

resulta de uma exigência do Estado, que nos primórdios da

historia fiscal, decorria da vontade do soberano, então

identificadas com a lei, e hoje se funda na lei, como expressão

da vontade coletiva” (...) Portanto, “ O tributo é uma

prestação que deve ser exigida nos termos previamente definidos

20 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. 4ªed. São Paulo:Saraiva, p. 70.

21 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 304.

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pela lei, contribuindo dessa forma os indivíduos para o custeio

das despesas coletivas.”22

Analisaremos a definição de tributo demonstrada no art.

3º do CTN, destacando seus elementos. Vejamos:

a-) Prestação pecuniária compulsória seu comprimento se faz

pela entrega de dinheiro e é compulsória porque o dever

jurídico tributário é imposto coativamente pelo Estado. 23

b-) Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, “ a forma usual

de satisfazer o tributo é em moeda corrente, porém, nada impede

que possa o pagamento do tributo ser feito por algo equivalente

à moeda, desde que a legislação ordinária de cada entidade

tributante assim o determine.”24

c-) Que não constitua sanção de ato ilícito, “essa expressão,

distingue o tributo da multa, que sempre representa uma sanção

pecuniária pela pratica de ato ilícito.”25

d-) Instituída em lei “ com decorrência do principio da

legalidade tributária (CF, art. 150, I ), o tributo só pode ser

instituído (ou aumentado) por lei.”26

22 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, p. 16-17.

23 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. 4ªed. São Paulo:Saraiva, p. 20.

24 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 303.

25 Ibidem.

26 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. 4ªed. São Paulo:Saraiva, p. 22.

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e-) E cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada “

isto é, sem qualquer margem de discrição do agente público, que

deverá portar-se fielmente como prescrito no mandamento legal

para a edição do ato do lançamento, que é a constituição do

crédito.”27

Já a natureza jurídica dos tributos segundo o Professor

Luiz Felipe S. Difini 28 “é de direito público, assim como o

direito tributário. A obrigação tributária e a relação jurídica

tributária, de onde ela se origina, são inquestionavelmente,

obrigação e relação de direito público, respectivamente.

Vejamos as disposições pertinentes do Código Tributário

Nacional:

Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato

gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la:

I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei;

II - a destinação legal do produto da sua arrecadação

2.3 – Espécies de tributos

As espécies tributárias previstas em nosso ordenamento

jurídico são: impostos, taxas, contribuições de melhoria,

empréstimo compulsório, contribuições sociais do art. 149 da

27 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 304.

28 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. 4ªed. São Paulo:Saraiva, p. 23.

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Constituição Federal, e contribuições sociais do art. 195 da

Constituição Federal.

O Código Tributário Nacional dispõe: “ Art. 5º Os tributos são

impostos, taxas e contribuições de melhoria.”

2.4 – Impostos

“Impostos são exações desvinculadas de qualquer atuação

estatal, decretadas exclusivamente em função do jus imperii do

Estado. Seu fato gerador é sempre uma situação

independentemente de qualquer atividade estatal especifica

relativa ao contribuinte. O imposto sempre representa uma

retirada da parcela de riqueza do particular, respeitada a

capacidade contributiva deste.”29

Vejamos a disposição constitucional,

“  Art. 145 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

poderão instituir os seguintes tributos:

I – impostos

Portanto, a Constituição Federal prevê de modo taxativo

os impostos de competência federal, estadual e municipal.

Impostos Federais, dispostos nos artigos 153 e 154 da

Constituição Federal. Vejamos:

Art.153 - Compete à União instituir impostos sobre:

I - importação de produtos estrangeiros;29 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 305.

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II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou

nacionalizados;

III - renda e proventos de qualquer natureza;

IV - produtos industrializados;

V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou

valores mobiliários;

VI - propriedade territorial rural;

VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.

Art.154 - A União poderá instituir:

I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo

anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador

ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;

II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários,

compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão

suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. 

Com efeito, os impostos de competência federal, elencados

no artigo 153, são:

1. Imposto sobre importação de produtos estrangeiros (II)

2. Imposto sobre exportação para o exterior de produtos

nacionais ou nacionalizados (IE)

3. Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza (

IR)

4. Imposto sobre produtos industrializados (IPI)

5. Imposto sobre operações financeiras (IOF)

6. Imposto territorial rural (ITR)

7. Imposto sobre grandes fortunas 17

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Já, os elencados no artigo 154, são:

1. Imposto residual

2. Imposto Extraordinário de Guerra (IEG)

Nos moldes do entendimento do Professor Sabbag, 30 “ Urge

relembrar que os impostos, previstos na Constituição Federal,

deverão ser instituídos, como regra, por meio de lei

ordinária. Todavia, dois casos de impostos federais atrelam-

se à lei complementar: o imposto sobre grandes fortunas

( art. 153, VII,CF) e o imposto residual (art. 154, I, CF).”

Impostos Estaduais, dispostos no artigo 155 da Constituição

Federal, vejamos:

ART.155 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos

sobre:

I - transmissão "causa mortis" e doação, de quaisquer bens ou direitos;

II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de

serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação,

ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

III - propriedade de veículos automotores.

Portanto, os impostos de competência dos Estados e do

Distrito Federal, são: Impostos Transmissão causa mortis e

doação, de quaisquer bens ou direitos (ITCMD), Operações

relativas à circulação de mercadoria e sobre prestações de30 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 362.

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serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de

comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem

no exterior, (ICMS) e imposto sobre propriedade de veiculo

automotor (IPVA).

Impostos Municipais estão previstos no artigo 156 da

Constituição Federal, vejamos:

ART.156 - Compete aos Municípios instituir impostos sobre:

I - propriedade predial e territorial urbana;

II - transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens

imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,

exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;

III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art.155, II,

definidos em lei complementar.

No artigo em comento, vislumbramos que os impostos de

competência municipal, são: Imposto sobre propriedade

territorial urbana (IPTU), Imposto sobre transmissão inter

vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis,

(ITBI) e Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS).

2.4.1- Impostos reais e pessoais

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“Impostos pessoais levam em conta a qualidade individual

do contribuinte, sua capacidade contributiva para a dosagem do

aspecto quantitativo do tributo.”31

Já, nas palavras do Professor Sabbag, 32“ os impostos

pessoais levam em conta as condições particulares do

contribuinte, ou seja, aquelas qualidades pessoais e

juridicamente qualificadas do sujeito passivo. Assim, o imposto

pessoal possui um caráter eminentemente subjetivo (exemplo:

imposto sobre a renda)”

“E, os impostos reais, são aqueles decretados sob a

consideração única da matéria tributável, com total abstração

das condições individuais de cada contribuinte.”33

“Já os impostos reais, também intitulados impostos de

natureza real, são aqueles que levam em consideração a matéria

tributária, isto é, o próprio bem ou coisa, sem cogitar das

condições pessoais do contribuinte (exemplo: IPI, ICMS, IPTU,

IPVA, ITR, IOF etc., ou seja, com exceção do IR, todos os

demais).”34

31 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 305.

32 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 363.

33 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 305.

34 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 363. 20

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2ª aula _______________________________________________________________________________

2.4.2- Impostos diretos e indiretos

“O imposto direto seria aquele em que não há repercussão

econômica do encargo tributário, isto é, aquela pessoa que

praticou o fato tipificado na lei suporta o respectivo ônus

fiscal.”35

O contribuinte suporta, portanto, a carga tributária do

fato gerador. São exemplos de imposto direto: Imposto de Renda

(IR), Imposto Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre

propriedade de veículo automotor (IPVA), Imposto sob

Transmissão inter vivos, a qualquer titulo, por ato oneroso, de

bens imóveis ( ITBI ), Imposto sobre transmissão causa mortis e

doação de qualquer bens ou direitos ( ITCMD).

“Já, o imposto indireto seria aquele em que o ônus

financeiro do tributo é transferido ao consumidor final, por

meio do fenômeno da repercussão econômica.”36

“Vale dizer, que, no âmbito do imposto indireto,

transfere-se o ônus para o contribuinte de fato, não se

onerando o contribuinte de direito ( exemplos: ICMS e IPI).”37

2.5 – Taxas

35 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 305.

36 Ibidem.

37 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 363. 21

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As taxas são tributos vinculados, ou seja, pressupõem uma

contraprestação de atividade estatal especifica, e divisível.

“ Podemos conceituar a taxa como um tributo que surge da

atuação estatal diretamente dirigida ao contribuinte, quer pelo

exercício do poder de policia, quer pela prestação efetiva ou

potencial de um serviço público especifico e divisível, cuja

base de cálculo difere, necessariamente, da de qualquer

imposto.”38

O art. 77 do Código Tributário Nacional, dispõe:

Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal

ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como

fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização,

efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao

contribuinte ou posto à sua disposição.

Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador

idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função

do capital das empresas.

E, neste sentido a Constituição Federal recepcionou o

artigo em comento, vejamos:

 Art. 145 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão

instituir os seguintes tributos:

38 HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, p. 305.

22

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2ª aula _______________________________________________________________________________

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,

efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados

ao contribuinte ou postos a sua disposição;

Assim, sendo a União, Estados, Distrito Federal e

Municípios podem exigir o pagamento de taxas pelos

contribuintes, que tiverem posto a sua disposição de serviço

publico especifico e divisível.

Cabe ainda, fazer a distinção entre taxas e preços

públicos, já destacando que não existe uma posição pacifica na

doutrina, mas descreveremos as principais distinções.

Taxa é um tributo, portanto sujeitos aos princípios de

direito tributário, e seu pagamento é compulsório.

Preço são contratados e podem ser cobrados mediante a

utilização efetiva do serviço.

Para contribuir na elucidação do tema a Súmula 545 do

Supremo Tribunal Federal, trata da matéria: “ Preços de

serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas,

diferentemente daqueles, são compulsórias e tem sua cobrança

condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à

lei que as instituiu”.

“Taxa é tributo e preço não”39

Luiz Felipe Silveira Difini, 40destaca vários critérios

distintivos demonstrados pela doutrina, entre estes,

39 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. 4ªed. São Paulo:Saraiva, p. 40.

40 Ibidem, p. 42. 23

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2ª aula _______________________________________________________________________________

destacaremos o critério definido por quem prestou o serviço.

“Se o serviço é prestado por pessoa jurídica de direito público

(União, Estado, Distrito Federal, Município ou autarquias )

deverá ser remunerado por taxa; se é prestado por pessoa

jurídica de direito privado (empresa pública, sociedade de

economia mista ou delegado a particulares), a contraprestação

toma a espécie de preço ou tarifa. O poder público pode delegar

ou não a prestação de serviços: se os prestar diretamente,

haverá taxa; se os delegar, o delegado ( que não tem capacidade

tributária ativa) será remunerado por preço público.”

2.6 – Contribuições de melhoria

Nas palavras de Harada, “ é espécie tributária que tem por

fato gerador a atuação estatal mediatamente referida ao

contribuinte. Entre a atividade estatal e a obrigação do

sujeito passivo existe um elemento intermediário que é a

valorização do imóvel. A sua cobrança é legitimada sempre que

dá execução de obra pública decorrer valorização imobiliária,

fundada no principio da equidade. ( art. 145, III da CF ).”41

 Art. 145 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

poderá instituir os seguintes tributos:

III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

2.7 – Empréstimos compulsórios são decretados privativamente pela

União, através de leis complementares, utilizado para atender

41 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 307.

24

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2ª aula _______________________________________________________________________________

despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública,

guerra externa ou sua iminência, ou no caso de investimento

público urgente e de relevante interesse nacional. Caso seja

decretado deverá obedecer ao principio da anterioridade. Cabe

salientar que a aplicação dos recursos arrecadados através da

cobrança do empréstimo compulsório estará vinculada a despesa que

motivou a sua instituição. (art. 148, I e II da CF).42

Art.148 - A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:

I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;

II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art.150, III, b.

Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.

2. 8 – Contribuições sociais

Entre os vários entendimentos doutrinários acerca das

contribuições sociais, destacaremos os entendimentos do

Professor Harada, “ contribuição social é espécie tributária

vinculada à atuação indireta do Estado. Tem como fato gerador

uma atuação indireta do poder público mediatamente referida ao

sujeito passivo da obrigação tributária. A contribuição social

caracteriza-se pelo fato de, no desenvolvimento do Estado de

determinada atividade administrativa de interesse geral,

42 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 308.

25

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2ª aula _______________________________________________________________________________

acarretar maiores despesas em prol de certas pessoas

(contribuinte), que passam a usufruir de benefícios

diferenciados dos demais ( não contribuinte). Tem seu

fundamento na maior despesa provocada pelo contribuinte e na

particular vantagem a ela proporcionada pelo Estado.

A Constituição Federal prevê duas espécies de

contribuições sociais: as previstas no art. 149, de intervenção

no domínio econômico, e as mencionadas no art. 195.

2.8.1 – Contribuições sociais do art. 149 da CF

Harada, 43destaca que “as contribuições sociais de

intervenção no domínio econômico são as seguintes:

a-) Taxa de Marinha Mercante (TMM), destina-se a intervenção

da União nas atividades de apoio ao desenvolvimento da marinha

mercante, bem como ao desenvolvimento de nossa industria de

construção e reparação naval. Esse adicional é cobrado mediante

incidência de alíquotas diversificadas sobre o frete, por

ocasião da entrada da embarcação no porto de descarga.

b-) Contribuição ao Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), tem

fundamento nos Decretos-lei nº 308/67, 1.712/79 e 1.952, de 16-

7-82, é devida pelos produtores de açúcar e do álcool para o

custeio da atividade intervencionista da União na economia

canavieira nacional. 43 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 313.

26

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2ª aula _______________________________________________________________________________

c-) Contribuição ao Instituto Brasileiro do Café (IBC), foi

instituída originariamente pela instrução nº 205, de 12-5-61 da

antiga Sumoe ( Superintendência da Moeda e do Crédito ), hoje,

restabelecida pelo Decreto-lei nº 2.295, de 21-11-86, é devida

pelos exportadores de café, em valor fixado em dólar,

relativamente a cada saca de 60(sessenta) quilos.”

d-) Contribuição – CIDE- Combustível, instituída pela Lei nº

10.336/2001, incide sobre a importação e a comercialização de

petróleo e gás natural, e seus derivados, e álcool etílico

combustível. São contribuintes desta contribuição o produtor, o

formulador e o importador, pessoa física ou jurídica, que

realizem operações de importação e de comercialização no

mercado interno de vários combustíveis.

Vejamos, o artigo em comento:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais,

de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias

profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas

respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e

sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições

a que alude o dispositivo.

§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão

contribuição, cobrada de seusservidores, para o custeio, em benefício

destes, do regime previdenciário de que trata o Art 40, cuja alíquota não

27

Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos

da União.

§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de

que trata o caput deste artigo:

I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;

II – incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou

serviços.

III - poderão ter alíquotas:

a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor

da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro;

b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada.

§ 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá

ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei.

§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma

única vez.

Ainda demonstra o Ilustre Professor 44“as contribuições

sociais de interesse de categorias profissionais ou econômicas”

podem ser enumeradas:

a-) Contribuição sindical prevista no art. 578 e seguintes da

CLT, nova denominação dada ao antigo imposto sindical (art.

217, I, do CTN) tem fundamento no art. 8º, IV (in fine) c/c

art. 149 da CF. Só pode ser instituída por lei sendo

compulsório seu pagamento. No âmbito rural existe a

contribuição sindical disciplinada pelo Decreto-lei nº 1.166,

44 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 316.

28

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2ª aula _______________________________________________________________________________

de 15 de abril de 1971, que cabe ao Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária – INCRA – proceder ao seu

lançamento e cobrança (art. 4º e § 1º), devendo ela ser paga

juntamente com o imposto territorial rural do imóvel a que se

referir ( art. 5º).

b-) Contribuições sociais arrecadadas para a manutenção do

SENAI, do SENAC, do SESC, do SESI, da OAB etc. Essas entidades,

a exceção da OAB, que é uma autarquia federal, são pessoas

jurídicas de direito privado e, como tais, não poderiam ser

sujeitos ativos de tributos. Logo, não teriam essas

contribuições a natureza tributária. De outro modo, posto que o

produto de sua arrecadação não integra o orçamento fiscal da

União, nem o orçamento de seguridade social (art. 165, § 5º,

incisos I e III da CF) essas exações não poderiam, também, à

luz do critério da destinação da verba arrecadada, ser

classificada como contribuições sociais. Por isso, essas

exações constituem as chamadas contribuições parafiscais. “

6.8.2 – Contribuições sociais do art. 195 da CF

As contribuições sociais previstas no art. 195 da CF

constitui-se uma espécie de tributo vinculado, pois objetiva

custear a previdência social.

Harada, esclarece “ a verdade é que essas contribuições

são compulsórias e se enquadram perfeitamente na definição de

tributo dada pelo art. 3º do CTN. Sua natureza jurídica específica

resulta do fato gerador da respectiva obrigação, sendo

irrelevantes para qualificá-la a denominação e demais29

Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

características formais adotadas pela lei, assim como, a

destinação legal do produto de sua arrecadação (art. 4º do CTN).

“45

Artigo 195 - A seguridade social será financiada por toda a

sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante

recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições

sociais: (Ver art. 12, da EC n. 20, de 15.12.1998).

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na

forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou

creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,

mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social,

não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão

concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o

artigo 201; (Incisos I e II com redação dada pela Emenda

Constitucional n. 20, de 15.12.1998). (Incisos I e II com redação dada

pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998).

III - sobre a receita de concursos de prognósticos.

45 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 316.

30

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2ª aula _______________________________________________________________________________

§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

destinadas à seguridade social constarão dos respectivos

orçamentos, não integrando o orçamento da União.

§ 2º - A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada

de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde,

previdência social e assistência so-cial, tendo em vista as metas e

prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias,

assegurada a cada área a gestão de seus recursos.

§ 3º - A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade

social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder

Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou

creditícios.

§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a

manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o

disposto no artigo 154, I.

§ 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser

criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de

custeio total.

§ 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser

exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei

que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o

disposto no artigo 150, III, "b".

§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as

entidades beneficentes de assistência social que atendam às

exigências estabelecidas em lei.

31

Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

§ 8º - O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o

pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam

suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados

permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a

aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da

produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. (§ 8º com

redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998). (§

8º com redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de

15.12.1998).

§ 9º - As contribuições sociais previstas no inciso I deste artigo

poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão

da atividade econômica ou da utilização intensiva de mão-de-obra.

(§ 9º acrescentado pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998).

(§ 9º acrescentado pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998).

§ 10 - A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o

sistema único de saúde e ações de assistência social da União para

os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os

Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos. (§ 10

acrescentado pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998). (§

10 acrescentado pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998).

§ 11 - É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições

sociais de que tratam os incisos I, "a", e II deste artigo, para débitos

em montante superior ao fixado em lei complementar. (§ 11

acrescentado pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998). (§

11 acrescentado pela Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998).

32

Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

Vejamos, quais são as contribuições sociais para a seguridade

social:

a-) Contribuições sobre a folha de salários, “a base de

cálculo dessa contribuição social é o total das remunerações pagas

ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados

empregados, empresários, trabalhadores avulsos e autônomos que lhe

prestem serviços. “ 46

b-) Contribuições Sociais sobre a faturamento, “como

modalidades dessa subespécie de contribuição social temos o

Finsocial e o PIS. O Finsocial foi instituído pelo Decreto-lei

1.940, de 25 de maio de 1982, com destinação a custear

investimentos de caráter assistencial em alimentação, habitação

popular, saúde, educação e amparo a pequeno agricultor. A Lei

complementar nº 70, de 30 de dezembro de 1991 instituiu o COFINS em

substituição ao extinto Finsocial.”47

O PIS/PASEP incide sobre o faturamento mensal, assim

considerada a receita bruta das vendas de mercadorias e serviços. 48

Harada, explica “ a contribuição para o Programa de Integração

Social foi instituída pela Lei complementar nº 7, de 7 de setembro

de 1970, ao passo que a contribuição para o Programa de Formação do

Patrimônio do Servidor Público foi pela Lei complementar nº 8, de 3

de dezembro de 1970. A partir do advento da Carta Política de 1988

essas duas contribuições passaram a financiar, nos termos que a lei

46 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 319.

47 Ibidem.

48Ibidem, p. 323. 33

Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

dispuser, o programa do seguro-desemprego e o abono de que trata o

§ 3º deste artigo (art. 239 da CF). “

c-) Contribuições Social sobre o lucro, ( CSSL) foi instituída

pela Lei 7.689, de 15 de dezembro de 1988, tem como fato gerador

o lucro das pessoas jurídicas. Sua Alíquota varia entre 10% e 12%

e a base de cálculo é o valor do resultado do exercício, antes da

provisão para o Imposto de Renda. 49

Aplicam-se à Contribuição Social sobre o lucro as mesmas

normas de apuração e de pagamento estabelecidas para o imposto de

renda das pessoas jurídicas, mantidas a base de cálculo e as

alíquotas previstas na legislação em vigor (Lei nº 8.981, de 1995,

art. 57).50

A Contribuição Social sobre o lucro é devida pelas pessoas

jurídicas, cabendo ressaltar as palavras do Professor Harada, 51 “ a

base de cálculo da contribuição social é o lucro contábil, que nem

sempre corresponde ao lucro real para fins de incidência da

alíquota do imposto de renda.”

Portanto, é sujeito passivo das Contribuições Sociais, as

pessoas jurídicas, e o sujeito ativo é a União. A alíquota de 9% é

aplicado as pessoas jurídicas optantes pelo lucro presumido e pelo

lucro arbitrado.

49Ibidem.

50 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 323.

51 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 328.

34

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2ª aula _______________________________________________________________________________

Art. 57. Aplicam-se à Contribuição Social sobre o Lucro (Lei nº 7.689,

de 1988) as mesmas normas de apuração e de pagamento

estabelecidas para o Imposto de Renda das pessoas jurídicas,

mantidas a base de cálculo e as alíquotas previstas na legislação em

vigor, com as alterações introduzidas por esta lei.

§ 1º Para efeito de pagamento mensal, a base de cálculo da

contribuição social será o valor correspondente a dez por cento do

somatório:

a) da receita bruta mensal;

b) das demais receitas e ganhos de capital;

c) dos ganhos líquidos obtidos em operações realizadas nos

mercados de renda variável;

d) dos rendimentos produzidos por aplicações financeiras de renda

fixa.

§ 2º No caso das pessoas jurídicas de que trata o inciso III do art. 36,

a base de cálculo da contribuição social corresponderá ao valor da

receita bruta ajustada, quando for o caso, pelo valor das deduções

previstas no art. 29.

§ 3º A pessoa jurídica que determinar o Imposto de Renda a ser pago

em cada mês com base no lucro real (art. 35), deverá efetuar o

pagamento da contribuição social sobre o lucro, calculando-a com

base no lucro líquido ajustado apurado em cada mês.

§ 4º No caso de pessoa jurídica submetida ao regime de tributação

com base no lucro real, a contribuição determinada na forma dos §§

1º a 3º será deduzida da contribuição apurada no encerramento do

período de apuração. 35

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2ª aula _______________________________________________________________________________

Art. 58. Para efeito de determinação da base de cálculo da

contribuição social sobre o lucro, o lucro líquido ajustado poderá ser

reduzido por compensação da base de cálculo negativa, apurada em

períodos-base anteriores em, no máximo, trinta por cento.

Art. 59. A contribuição social sobre o lucro das sociedades civis,

submetidas ao regime de tributação de que trata o art. 1º do

Decreto-Lei nº 2.397, de 1987, deverá ser paga até o último dia útil

do mês de janeiro de cada ano-calendário.

2.8.3 – Outras contribuições

No plano da competência residual da União, conforme

dispõe o art. 195, § 4º poderá ser instituído outras

contribuições.

Vejamos:

Art. 195 – A seguridade social será financiada por toda a sociedade,

de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos

provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, e

dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...)

§ 4º. A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a

manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido ao disposto no

art. 154, I

Entretanto conforme destaca o Professor Sabbag, as

contribuições residuais devem respeitar, alguns parâmetros: ser

instituído por lei complementar, por meio da competência

36

Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

legislativa da União, deverá respeitar o principio da não-

cumulatividade, etc.52

Destaca ainda Sabbag, que a competência residual ou

remanescente pode estar associada a impostos ou a contribuições

para a seguridade social, sempre no bojo de lei complementar. 53

3. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

3. 1 - Responsabilidade Tributária

O tributo deve ser cobrado da pessoa que praticou o fato

gerador, surgindo, portanto, o sujeito passivo direto

(contribuinte), entretanto, pode ocorrer situações onde o

sujeito ativo ( entes federativos competentes) deverá cobrar o

tributo de uma terceira pessoa, que não é o contribuinte, será

então do sujeito passivo indireto ( responsável tributário). 54

O Professor Harada,55 destaca em sua obra, o entendimento

de Hugo de Brito Machado, “ a responsabilidade no âmbito do

direito obrigacional pode ser conceituada como o dever de

tornar efetiva a prestação”

3.2 - Conceito 52 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ª ed.São Paulo: Saraiva, p. 490.

53 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ª ed.São Paulo: Saraiva, p. 490.

54 Ibidem, p. 635.

55 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 422.

37

Direito Tributário – Revisão OAB – Profa. Lucia Sirleni Crivelaro Fidelis

2ª aula _______________________________________________________________________________

Assim sendo, “ responsabilidade tributária consiste no

dever de o contribuinte, sujeito passivo natural, tornar

efetiva a prestação de dar, consistente no pagamento de tributo

ou penalidade pecuniária (obrigação principal), ou a prestação

de fazer ou não fazer, imposta pela legislação tributária no

interesse da fiscalização ou da arrecadação tributária

(obrigações acessórias).”56

Vejamos o art. 12l, do CTN:

Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao

pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:

I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação

que constitua o respectivo fato gerador;

II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua

obrigação decorra de disposição expressa de lei.

O Professor Sabbag, 57nos ensina:

“Contribuinte, é a pessoa física ou jurídica, que tenha

relação de natureza econômica, pessoal e direta com a situação

que constitua o respectivo fato gerador. Assim, o contribuinte

é sujeito passivo direto. Sua responsabilidade é originaria

existindo uma relação de identidade entre a pessoa que deve

pagar o tributo e a que participou diretamente do fato

imponível.

56 Ibidem, p. 423.

57 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 637. 38

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Responsável, é a pessoa que, sem revestir a condição de

contribuinte tem sua obrigação decorrente de disposição

expressa de lei. Assim, não tendo relação de natureza

econômica, pessoal e direta com a situação que constitua o fato

gerador, o responsável é sujeito passivo indireto, sendo sua

responsabilidade derivada, por decorrer da lei, e não da

referida relação. A obrigação do pagamento do tributo lhe é

cometida pelo legislador, visando facilitar a fiscalização e

arrecadação dos tributos.”

3.3 Requisitos da responsabilidade tributária por transferência ou substituição

Dispõe o art. 128 do CTN:

“ Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de

modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário à terceira

pessoa vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo-se

a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter

supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.”

Portanto, a sujeição passiva em matéria tributaria poderá

ser direta ou indireta, ou seja, é direta quando exigida de

quem praticou o fato gerador, e indireta quando exigida por

terceira pessoa que não praticou o fato gerador.

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Entretanto, a responsabilidade tributária de terceira

pessoa que não praticou o fato gerador, poderá ocorrer pela

transferência ou substituição. Em ambas as hipóteses deverão

atender aos seguintes requisitos:

Expressa previsão legal

Atribuição de responsabilidade tributária só poderá ocorrer

a terceira pessoa vinculada ao fato gerador

Atribuição de responsabilidade ao sujeito passivo

(transferência ou substituição) só poderá se referir a

obrigação tributária principal

3.4 – Responsabilidade dos sucessores

A responsabilidade dos sucessores diante da obrigação

tributária esta disciplinada nos arts. 129 a 133, do CTN.

Vejamos a transcrição dos artigos em comento, para estudo e

analise:

Art. 129. O disposto nesta Seção aplica-se por igual aos créditos

tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à

data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos

mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a

referida data.

Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador

seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem

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assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais

bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos

respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua

quitação.

Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub-

rogação ocorre sobre o respectivo preço.

Art. 131. São pessoalmente responsáveis:

I - o adquirente ou remitente, pelos tributos relativos aos bens adquiridos

ou remidos; (Vide Decreto Lei nº 28, de 1966)

II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos

pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta

responsabilidade ao montante do quinhão do legado ou da meação;

III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura

da sucessão.

Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão,

transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos

tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito

privado fusionadas, transformadas ou incorporadas.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção

de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da

respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou

seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.

Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de

outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento

comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, 41

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sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual,

responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido,

devidos até à data do ato:

I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio,

indústria ou atividade;

II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração

ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova

atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou

profissão.

§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de

alienação judicial: (Parágrafo incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

I – em processo de falência; (Inciso incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

II – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação

judicial.(Inciso incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

§ 2º Não se aplica o disposto no § 1o deste artigo quando o adquirente

for: (Parágrafo incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

I – sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade

controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial;(Inciso incluído

pela Lcp nº 118, de 2005)

II – parente, em linha reta ou colateral até o 4o (quarto) grau,

consangüíneo ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou

de qualquer de seus sócios; ou (Inciso incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

III – identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação

judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária.(Inciso incluído

pela Lcp nº 118, de 2005)

§ 3º Em processo da falência, o produto da alienação judicial de empresa,

filial ou unidade produtiva isolada permanecerá em conta de depósito à

disposição do juízo de falência pelo prazo de 1 (um) ano, contado da data 42

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de alienação, somente podendo ser utilizado para o pagamento de

créditos extraconcursais ou de créditos que preferem ao tributário.

(Parágrafo incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

Diante da analise dos artigos em comento, cabe destacar os

entendimentos, exarados pelo Professor Harada: 58

O art. 129 dispõe que os sucessores respondem pelos

créditos tributários definitivamente constituídos, pelos

que se encontram em fase de constituição, e pelos

constituídos posteriormente, desde que relativos a

obrigações tributárias surgidas até a data da sucessão.

O art. 130 trata da responsabilidade dos adquirentes de

imóveis quanto aos impostos que tem como fato gerador a

propriedade, o domínio útil, ou a posse de bens imóveis,

bem como em relação a taxas de serviço e a contribuição de

melhoria, relacionadas com seus bens imóveis.

O art. 131 versa sobre casos específicos de

responsabilidade pessoais do adquirente ou remitente, do

sucessor e do cônjuge-meeiro e do espolio.

O art. 132 regula a responsabilidade decorrente de fusão,

transformação e incorporação de empresas. Ou seja, as

pessoas jurídicas que resultarem de fusão, transformação ou

incorporação, responde pelos tributos devidos até a data do

ato. Ressaltando que tal responsabilidade é estendida ao

sócio remanescente ou a espólio quando continuar a

58 HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 9ª Ed. São Paulo. Atlas,2002, p. 425-426.

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exploração de atividade da pessoa jurídica extinta, quer

sob a mesma ou outra denominação social, ou ainda sob firma

individual.

3.5 – Responsabilidade de terceiros

A responsabilidade de terceiros está disciplinada nos arts.134 a 135 do CTN vejamos:

Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da

obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com

este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem

responsáveis:

I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;

II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados;

III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;

IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;

V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário;

VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;

VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.

Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter moratório.

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Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos

correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados

com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:

I - as pessoas referidas no artigo anterior;

II - os mandatários, prepostos e empregados;

III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

Nos artigos acima transcritos, encontramos as hipóteses

da responsabilidade tributária atribuída a terceiro, assim,

sendo as obrigações relacionadas no art. 134 referem-se atos ou

omissões de terceiros que, por isso, devem assumir as

conseqüências de sua conduta. 59

O Professor Sabbag, destaca que “ a responsabilidade

prevista no artigo 134 não é solidaria plena, mas sim,

subsidiaria, uma vez que não se pode cobrar tanto de um como de

outro devedor, havendo uma ordem de preferência a ser seguida.

Em primeiro lugar cobra-se do contribuinte, após exige-se o

grave do responsável. 60Afasta-se assim, sem grande esforço

interpretativo o contexto da solidariedade, pois esta não se

coaduna com o beneficio de ordem.”61

59 O Professor Sabbag, destaca que o art. 134 do CTN trata da responsabilidade deterceiro com atuação regular.

60 Destaca o Professor Sabbag, “evidencia-se assim, a natureza de responsabilidade subsidiaria, pois só pode o Fisco acionar o terceiro, em cobrança judicial, se comprovada a ausência ou insuficiência dos bens penhoráveis que possam ser excutidos do patrimônio do contribuinte.

61 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ªed.São Paulo: Saraiva, p. 672.45

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Já, no que tange ao disposto no art. 135 trata de

hipóteses onde se denota atos praticados com excesso de poderes

ou infração a lei, contrato social e estatuto. As pessoas

relacionadas devem praticar atos que denotem em desrespeito a

sua função e atribuição de gestão ou administração. 62

Assevera o Professor Sabbag, “ o contribuinte é vitima de

atos abusivos, ilegais ou não autorizados, cometidos por

aqueles que o representam, razão pela qual se procura

responsabilizar pessoalmente tais representantes, ficando o

contribuinte, em principio afastado da relação obrigacional.

(...) A responsabilidade se pessoaliza, ou seja, torna-se

plena, rechaçando o beneficio de ordem e fazendo com que o ônus

não recaia sobre o contribuinte, mas pessoalmente, sobre o

responsável citado quando houver (I) excesso de poderes ou (II)

infração da lei, contrato social ou estatutos.

3.6 – Responsabilidade por infrações

A responsabilidade por infrações está disciplinada nos

arts. 136 a 137 do CTN, faz-se a transcrição para estudo e

compreensão:

Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por

infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou

do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.

Art. 137. A responsabilidade é pessoal ao agente:

62 O Professor Sabbag, destaca que o art. 135 do CTN trata da responsabilidade deterceiro com atuação irregular.

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I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou

contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de

administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento

de ordem expressa emitida por quem de direito;

II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja

elementar;

III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo

específico:

a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem

respondem;

b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes,

preponentes ou empregadores;

c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito

privado, contra estas.

Sabbag, explica: “ responsabilidade por infrações quer

significar na verdade a responsabilidade por multas aplicáveis

em um liame jurídico-tributário, não tendo nada a ver com

sujeição passiva indireta.”63

3.6.1 – Responsabilidade objetiva

Encontramos no Código Tributário Nacional, artigo 136, as

disposições por infrações relativas ao descumprimento de

obrigações tributárias principais e acessórias, resultando em

multas, e a responsabilidade independe do elemento subjetivo

( dolo ou culpa).

63 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 683.

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Vejamos o artigo em comento:

Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por

infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do

responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.

Assim, sendo, o Fisco desconsidera os elementos

subjetivos que ensejaram o comportamento do agente, aplicando

as penalidades cabíveis, focando na conduta e suas

conseqüências. 64

3.6.2 – Responsabilidade pessoal do agente

O Art. 137 do CTN trata da responsabilidade

pessoal do agente. Vejamos:

“ . A responsabilidade é pessoal ao agente:

I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou

contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de

administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento

de ordem expressa emitida por quem de direito;65

64 Sabbag, dá exemplos: (i) em uma circulação de mercadoria sem nota fiscal, se ocontribuinte escriturou a saída e recolheu o imposto, a falha persistiu e, por ela, independentemente de sua intenção ( se houve dolo ou culpa) o omisso responderá; (II) em virtude de dificuldades financeiras momentâneas, se o contribuinte vê-se em fase de inadimplência tributária, o descumprimento obrigacional será punível, ainda que exista eventual motivo para a sua prática; (III) em razão da entrega extemporânea da Declaração de IRPF, será exigida a multa, ainda que a entrega a destempo seja justificada pelo inadimplente.

65 Sabbag, explica: “ se a infração é tão grave a ponto de ser tipificada como crime ou contravenção, afasta-se a responsabilização da pessoa jurídica, atingindo-se as pessoas físicas dos dirigentes, até mesmo com a aplicação de pena privativa de liberdade ( lei nº 8.137/90).

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II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja

elementar;

III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo

específico:

a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem

respondem;

b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes,

preponentes ou empregadores;

c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito

privado, contra estas”

“No Direito Tributário, como regra, as punições não são

aplicadas pessoalmente sobre o agente da infração, mas sobre o

sujeito passivo da obrigação tributária, principal ou

acessória, que não foi adimplida. Assim no caso de pessoa

jurídica cometer ilícito, a multa será aplicada contra a

própria pessoa jurídica, e não contra o agente ( pessoa física)

que tenha concretizado, efetivamente a conduta ilícita.

Todavia, o artigo ora analisado, traz importantes exceções a

esta regra, determinando punição pessoal, com o afastamento do

sujeito passivo da infração.”66

3.7 – Denúncia espontânea

66 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 686.

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A denuncia espontânea esta prevista no art. 138 do CTN, e

permite que o contribuinte compareça a repartição fiscal

competente para informar a ocorrência da infração e

conseqüentemente pagar os tributos em atraso. Essa

possibilidade fará com que o contribuinte se retrate e afaste a

punibilidade, devendo, entretanto arcar com o pagamento de

juros e correção monetária aplicados ao tributo em atraso.

Vejamos:

Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da

infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e

dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela

autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de

apuração.

Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada

após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de

fiscalização, relacionados com a infração.

Neste sentido, abaixo algumas jurisprudências:

AgRg no REsp 919886 / SCAGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL2007/0016426-3 - TRIBUTÁRIO – PROCESSUAL CIVIL – ART.138 DO CTN – DENÚNCIA ESPONTÂNEA-RECONHECIDA PELA CORTE A QUO – TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO – INOVAÇÃO RECURSAL – IMPOSSIBILIDADE – MULTA MORATÓRIA AFASTADA.

1. O acórdão recorrido entendeu caracterizada a denúncia espontâneaevidenciando que: a) houve pagamento integral do tributo acrescidode multa de mora; b) a Fazenda não contestou o fatoda inexistênciade prévia fiscalização ou abertura de procedimento administrativo.

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2. A Corte a quo não fez distinção entre a natureza do atohomologatório do tributo, se por homologação ou por outro meio,limitando-se a interpretar o art. 138 do CTN. Trata-se de inovaçãorecursal insuscetível de conhecimento dada a ausência deprequestionamento.

3. É desnecessário fazer distinção entre multa moratória e multapunitiva, visto que ambas são excluídas em caso de configuração dadenúncia espontânea. Precedentes.Agravo regimental improvido.

REsp 9421 / PRRECURSO ESPECIAL1991/0005514-0 - TRIBUTARIO. DENUNCIA ESPONTANEA (ART. 138, CTN). INEXISTENCIA DE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. IMPOSTO RECOLHIDO FORA DO PRAZO. MULTA INDEVIDA. PROCESSUAL CIVIL (ART. 535, CPC).

1. Embargos declaratórios inadmissíveis incorrendo obscuridade, duvida, contradição ou omissão ( ART. 535, CPC). Só excepcionalmentepode ser adotada a solução infringente modificativa do julgado.

2. Descaracterizada a divergência com base na orientação do verbete 565 - STF;

3. Sem antecedente procedimento administrativo descabe a imposiçãoda multa, mesmo pago o imposto após a denuncia espontânea (ART. 138, CTN). Exigi-la, seria desconsiderar o voluntário saneamento da falta malferindo o fim inspirador da denuncia espontânea e animando o contribuinte a permanecer na indesejada via da impontualidade. Comportamento prejudicial a arrecadação da receitatributária, principal objetivo da atividade fiscal.

4. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO (ART. 105, III, "A", C.F.).

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