Estudos de Direito Penal

31
1º Bimestre QUADRILHA OU BANDO – Art. 288 do Código Penal Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes : Pena - reclusão, de um a três anos. (Vide Lei 8.072, de 25.7.1990) Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado. “Quadrilha ou bando é a associação estável de pelo menos quatro pessoas, com o fim de cometer reiteradamente crimes.” (Vitor Rios Gonçalves). 1) Expressão “Quadrilha ou Bando” “Quadrilha ou Bando” – São expressões sinônimas, não é relevante estabelecer quaisquer diferenças, entretanto, podemos apontar duas tendências diferenciadoras: 1.1.) À época da edição do Código Penal, a maioria da população brasileira habitava a zona rural, portanto “bando” seria a denominação para o crime do artigo 288 cometido naquela esfera. Já se o delito ocorresse na zona urbana, a denominação correta seria de “quadrilha”. 1.2.) Para o Professor Rogério Grecco, a denominação adequada seria “quadrilha” quando o tipo penal do artigo 288 envolvesse a associação de quatro pessoas. Entretanto, se o número de agentes fosse superior a quatro, a expressão definidora seria de “bando”. 2) “Associação Estável” A Quadrilha é um “crime plurisubjetivo”, ou seja, exige a atividade de várias pessoas. Os crimes plurissubjetivos também são chamados de “crimes de concurso necessário de agentes”, cuja diferença para os crimes de “concurso eventual de agentes” – também chamados de crimes monossubjetivos –reside simplesmente no fato de EXIGIREM para sua consumação o envolvimento de VÁRIOS AGENTES, enquanto os crimes de concurso eventual de agentes ( monossubjetivos) PODEM envolver VÁRIOS AGENTES. Agora que compreendemos que o crime de quadrilha é um crime de concurso, precisamos diferencia-lo de todos os demais crimes plurissubjetivos existentes.

Transcript of Estudos de Direito Penal

1º Bimestre

QUADRILHA OU BANDO – Art. 288 do Código Penal

Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando,para o fim de cometer crimes:

Pena - reclusão, de um a três anos. (Vide Lei 8.072, de 25.7.1990)

Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando éarmado.

“Quadrilha ou bando é a associação estável de pelo menos quatro pessoas,com o fim de cometer reiteradamente crimes.” (Vitor Rios Gonçalves).

1) Expressão “Quadrilha ou Bando”

“Quadrilha ou Bando” – São expressões sinônimas, não é relevanteestabelecer quaisquer diferenças, entretanto, podemos apontar duas tendênciasdiferenciadoras:

1.1.) À época da edição do Código Penal, a maioria da população brasileirahabitava a zona rural, portanto “bando” seria a denominação para o crime doartigo 288 cometido naquela esfera. Já se o delito ocorresse na zona urbana, adenominação correta seria de “quadrilha”.

1.2.) Para o Professor Rogério Grecco, a denominação adequada seria“quadrilha” quando o tipo penal do artigo 288 envolvesse a associação de quatropessoas. Entretanto, se o número de agentes fosse superior a quatro, a expressãodefinidora seria de “bando”.

2) “Associação Estável”

A Quadrilha é um “crime plurisubjetivo”, ou seja, exige a atividade devárias pessoas.

Os crimes plurissubjetivos também são chamados de “crimes deconcurso necessário de agentes”, cuja diferença para os crimes de “concursoeventual de agentes” – também chamados de crimes monossubjetivos –residesimplesmente no fato de EXIGIREM para sua consumação o envolvimento de VÁRIOSAGENTES, enquanto os crimes de concurso eventual de agentes ( monossubjetivos)PODEM envolver VÁRIOS AGENTES.

Agora que compreendemos que o crime de quadrilha é um crime de concurso,precisamos diferencia-lo de todos os demais crimes plurissubjetivos existentes.

A diferença é:

Na quadrilha, os indivíduos se reúnem de maneira ESTÁVEL, enquanto no concurso areunião é MOMENTÂNEA.

3) “Pelo menos quatro pessoas (Mais de três”)

NUNCA existirá o crime de quadrilha, se o número de agentes for MENORQUE QUATRO.

Inclusive, o crime estará consumado mesmo se na contagem dos agentesincluirmos na conta os seguintes indivíduos:

- Os incapazes

- Os agentes falecidos após o ingresso na quadrilha

- Todos aqueles que não foram devidamente identificados

4) “Fim de cometer crimes”

Desta questão, extraímos duas conclusões:

4.1.) A finalidade deve ser cometer MAIS DE UM CRIME, do contrário, odelito de quadrilha não estará caracterizado.

4.2.) A finalidade de praticar CONTRAVENÇÕES PENAIS NÃO configura o crimede quadrilha.

CLASSIFICAÇÕES DO DELITO:

A) Objetividade Jurídica: Manter a paz pública

Neste caso, a lei só protege UM BEM JURÍDICO, portanto trata-se de CRIMESIMPLES, e não CRIME COMPLEXO, no qual se protegeria MAIS DE UM BEM DA VIDA.

O crime é DE PERIGO, pois se consuma com a MERA EXPOSIÇÃO DE RISCO ao bemjurídico, portanto, não é DE DANO, pois NÃO EXIGE A EFETIVA LESÃO AO BEM.

B) Sujeito Ativo:

Comum e de Concurso Necessário

Comum: QUALQUER PESSOA pode praticar, não se exige uma condição especialdo autor, do contrário o crime seria Próprio.

Concurso Necessário: é um crime plurissubjetivo, ou seja, exige umaPLURALIDADE DE CONDUTAS. Estas condutas são PARALELAS, quer dizer, “auxiliam-se

mutuamente com vista a um resultado comum”. Portanto, tais condutas nãoconvergem (bigamia), nem se contrapõe (richa).

D) Sujeito Passivo

Inicialmente a COLETIVIDADE. Trata-se de um “crime vago”, pois o sujeitopassivo não possui personalidade jurídica.

Em caso de concurso material com outros crime, o pólo passivo serácomposto tanto pela Coletividade, quanto pela sujeito efetivamente prejudicado.Assim, se a quadrilha obtém êxito na prática de um roubo, os lesados serão tantoa sociedade quanto o sujeito roubado.

C) Atos executórios (“conatus proximus”)

Forma Livre: o crime de quadrilha pode ser PRATICADO DE DIVERSAS FORMAS,do contrário, seria um crime de forma vinculada, pois a lei prescreveria umamaneira específica.

Comissivo: exige uma AÇÃO, assim, o crime não é omissivo, pois não pode seconsumar com uma omissão.

D) Consumação (“consumatio” \ “meta optata”)

Crime FORMAL: para sua consumação não se exige a produção de um resultadonaturalístico, ou seja, a quadrilha não precisa realizar seus objetivos decometer crimes para se consumar.

Crime PERMANENTE: no momento em que a associação estável criminosa dequatro o mais pessoas se formar, o crime de quadrilha estará consumado, eenquanto o grupo se mantiver, a consumação se prolongará no tempo.

E) Elemento Subjetivo

É o dolo, mais precisamente o “elemento subjetivo especial” (antes chamado“dolo específico”), ou seja, o agente tem a VONTADE de cometer MAIS DE UM crime.

Não se admite a modalidade culposa, por falta de previsão legal.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA

Aplica-se a pena em dobro se quadrilha for ARMADA, ou seja, basta haveruma única arma, em mãos ou não, própria ou imprópria, à disposição daassociação.

QUALIFICADORA

Segundo a Lei dos Crimes Hediondos (8.072/92), a pena será de três a seisanos, se o objetivo da quadrilha for a prática de crimes hediondos.

DIFERENÇAS ENTRE QUADRILHA E ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA:

1) Quadrilha: crime específico/ Organização criminosa: “FORMA” de cometercrimes.

2) Quadrilha: quatro ou mais pessoas/ Organização criminosa: três ou maispessoas.

3) Quadrilha: finalidade de cometer crimes/ Organização criminosa:objetivo de cometer crimes GRAVES (puníveis com pena privativa de liberdade dequatro anos ou mais)

4) Quadrilha: sem hierarquia e divisão de tarefas/ Organização Criminosa:há hierarquia e divisão de tarefas.

QUADRILHA X ASSOSIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE DROGAS.

1) Quadrilha: quatro ou mais pessoas/ Associação para o tráfico de drogas:duas ou mais pessoas.

2) Quadrilha: objetivo de cometer mais de um crime/ Associação para otráfico de drogas: finalidade de praticar o tráfico de drogas.

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Crime funcional.

Diz-se que os crimes contra Administração Pública são crimes próprios,pois exigem uma condição especial do agente, e mais que isso: são crimesfuncionais, pois essa condição especial consiste no fato de o sujeito ativo SERFUNCIONÁRIO PÚBLICO.

COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO

O fato de ser funcionário público é uma CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR, ou seja,sem ela não haverá o crime.

Dispõe o artigo 30 do Código Penal:

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráterpessoal, salvo quando elementares do crime.

Portanto, o particular (extraneus) que acometer em coautoria ou participação,juntamente a funcionário público (intraneus), nos crimes contra a AdministraçãoPública, incorrerá nestes crimes funcionais, entretanto é essencial que oPARTICULAR SAIBA DA CONDIÇÃO DE FUNCIONÁRIO DO COMPARSA.

PROCEDIMENTO ESPECIAL

Trata-se de um procedimento processual diferenciado, previsto pelo Códigode Processo Penal para os crimes praticados por funcionário público contra aAdministração.

Ocorre quando o a denúncia tem por base provas obtidas por outroprocedimento administrativo que não o inquérito policial. Por exemplo:sindicância.

O Juiz, antes de decidir se recebe ou não a denúncia, deverá notificar ofuncionário para que apresente defesa escrita em 15 dias, após os quais, se oMagistrado decidir pelo recebimento, o procedimento será o comum ordinário,mesmo que a pena máxima seja inferior a quatro anos. Exceção: se tratar-se deinfração de menor potencial ofensivo, o rito será o sumaríssimo (JECRIM).

Entretanto, como normalmente ocorre, as denúncias são instruídas porInquérito Policial. Neste sentido, a súmula do 330 do STJ:

330) É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 doCódigo de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial.

Conceito de Funcionário Público

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou funçãopública

Transitoriamente: “não se trata do provimento efetivo ou vitalício, massim da mera passagem do indivíduo pela Administração Pública, exemplo: oestagiário.

Sem remuneração: “o funcionário não recebe quaisquer vencimentos ousubsídios, pois trabalha gratuitamente.

Cargo Público: “são criados por lei, em número definido, com denominaçãoespecífica, e custeados pelo erário”. Exemplo: Juiz de Direito.

Emprego Público: “é aquele que trabalha para a Administração sob regimeceletista”. Exemplo: Professores municipais, cuja municipalidade rejeitou oregime estatutário.

Função Pública: “é o conjunto de atribuições que não impliquem em cargo ouemprego público”. Exemplo: mesário.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exercecargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quemtrabalha para empresa prestadora de serviço contratadaou conveniada para a execução de atividade típica daAdministração Pública.

Entidade Paraestatal – são as:

- Autarquias (exemplo: INSS);

- Fundações (exemplo: FAPESP);

- Empresas Públicas (exemplo: Caixa Econômica Federal);

- Sociedades de Economia Mista (exemplo: PETROBRAS)

Atividade típica da Administração Pública: trata-se daquelas atividadesque apenas o Estado pode desempenhar.

Aumento de Pena

§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimesprevistos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou defunção de direção ou assessoramento de órgão da administração direta,sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelopoder público.

Cargo em Comissão: o indivíduo é nomeado em razão de pura confiança, sem arealização de concurso público. Assim, ocorrido um crime, há quebra deconfiança, por isso o aumento de pena.

Função de Direção: são os dirigentes da Administração Pública. Ex:Presidente da República.

Função de Assessoramento: são os assistentes dos dirigentes. Ex: Ministrosde Estado.

Alcance da Equiparação

Há duas correntes:

1) A equiparação apenas ocorre em relação ao sujeito ativo. (assim, xingarum caixa da Sociedade de Economia Mista Banco do Brasil é mera injúria, e nãodesacato).

2) A equiparação estende-se também para o sujeito passivo. (emboraminoritária, há precedentes no STF, veja-se: (HC 79.823-RJ – Rel. Min. MoreiraAlves, 28.03.2000)

CONCUSSÃO

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda quefora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagemindevida:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Exigir: a exigência da vantagem pode ser direta (o funcionário explicitaquerer uma vantagem), ou indireta (o funcionário se manifesta por intermédio deterceiro, ou o faz pessoalmente, mas de maneira velada).

Toda exigência carrega intrinsecamente uma ameaça, que pode ser:

- Explícita: promete-se a realização de um mal caso não se cumpra aexigência.

- Implícita: A vítima se apavora com o mero temor que o exercício de cargopúblico proporciona.

Fora da Função: exemplo – funcionário de férias.

Antes de assumi-la: exemplo – indivíduo aprovado em concurso público, masque ainda não tomou posse do cargo.

Vantagem Indevida – 2 correntes:

1) A vantagem deve ser necessariamente patrimonial (Damásio, NelsonHungria, Magalhães Noronha).

2) A vantagem pode ser de qualquer espécie, pois a lei não fazdeterminações nesse sentido (Mirabete, Capez).

Obs.: se a vantagem for devida, há o crime de Abuso de Autoridade (4º,“H”, Lei 4.898/65)

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica,quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;

Classificações do Delito:

Objetividade Jurídica:

- “moralidade da Administração Pública” (apenas um bem jurídico, trata-se de umCRIME SIMPLES, portanto).

Sujeito Ativo:

- trata-se de um crime próprio, pois exige uma condição especial do agente,neste caso, trata-se de um crime funcional, de modo que a condição especialconsiste em “ser funcionário público”.

- é um crime monossubjetivo, pois pode ser praticado por uma única pessoa, masadmite-se o concurso de agentes, que não é obrigatório para a caracterizaçãodeste delito, de maneira que PODE OCORRER OU NÃO, sendo portanto, crime deCONCURSO EVENTUAL.

Obs.: os agentes não precisam ser todos funcionário públicos, entretanto, pelomenos um deles deverá ser, para que a circunstância elementar se comunique.

Atos Executórios (“conatus remotus”)

Trata-se de um crime de ação livre, ou seja, pode ser praticado dediversas maneiras.

Consumação (“consumatio” \ “meta optata”)

O crime é formal, ou seja, prescinde da produção de um resultadonaturalístico para a sua consumação.

Assim, basta que a exigência chegue ao conhecimento da vítima paraque o crime esteja consumado.

Por fim, a efetiva entrega da vantagem constitui MERO EXAURIMENTO,de modo que sua devolução não desnatura o crime, sendo na verdade uma simplesforma de arrependimento posterior.

É também um crime instantâneo, pois a consumação ocorre e cessa noexato instante em que a vítima conhece a exigência da vantagem indevida.

Elemento Subjetivo

É o dolo do autor de obter vantagem indevida, por meio de ameaça, emfunção de sua condição de funcionário público. Logo, existe aqui o ELEMENTOSUBJETIVO ESPECIAL (ou “dolo específico).

Não se admite modalidade culposa.

Tentativa

É possível, exemplos:

- funcionário incumbe terceiro de fazer a exigência (exigência indireta), e estemorre antes de fazê-lo.

- Carta contendo a ameaça é extraviada antes de chegar ao seu destino.

CORRUPÇÃO PASSIVA E ATIVA

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ouindiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas emrazão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagemou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato deofício ou o pratica infringindo dever funcional.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício,com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Solicitar – significa o funcionário “pedir” ao particular a vantagem indevida.Aqui não há a “exigência” da concussão, logo é evidente que a corrupção passivaé um crime mais leve, entretanto, a pena dela é mais alta, tudo em função da Lei10.763/2003, que alterou esse ponto do Código Penal. Absurdo, não?

Na solicitação, mesmo que o particular proporcione a vantagemsolicitada, não responderá pelo crime de corrupção ativa, por falta de previsãolegal.

Receber – significa entrar na posse da vantagem indevida. Aqui, entende-se quea iniciativa de conceder o benefício ao funcionário partiu do próprioparticular. Portanto, este responde pelo Crime de Corrupção Ativa.

Obs.: um agente responde por um crime, o outro incorre em crime diverso.

Vamos relembrar:

Teoria Monista/ unitária: ocorrido o crime, todos os seus agentes respondem porum único crime.

Teoria Dualista: há um crime para o autor, e outro delito para o coautor oupartícipe.

Teoria Pluralista: existirão tantos crimes quantos sejam seus agentes, de acordocom a conduta de cada um.

Segundo o Professor Luiz Regis Prado, o Direito Penal Brasileiroadotou a teoria monista/ unitária sob a forma mitigada/matizada, pois admiteexceções dualistas e pluralistas.

Neste caso dos crimes de corrupção ativa e passiva, podemos dizer que existeexceção à teoria monista.

Aceitar Promessa – basicamente, o funcionário concorda com uma propostareferente à percepção de vantagem indevida, formulada pelo particular.

Corrupção Passiva Própria e Imprópria

Própria: o funcionário recebe ou almeja receber vantagem indevida, em troca depraticar ou deixar de praticar um ATO ILEGAL.

Imprópria: o funcionário público recebe ou almeja receber vantagem indevida, emtroca de praticar ou deixar de praticar ATO LEGAL.

Causa de Aumento de Pena (317 § 1º)

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagemou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato deofício ou o pratica infringindo dever funcional.

Sabemos que os três verbos-núcleo do tipo do crime de corrupção passivasão: solicitar; receber; aceitar promessa.

Quando ocorre a “solicitação” ou a “aceitação da promessa”, o crime estáconsumado, de maneira que a percepção da vantagem será MERO EXAURIMENTO.Entretanto, se tratamos do núcleo-verbo “receber”, a consumação só ocorrerá nomomento da percepção da vantagem indevida.

Porém, o que nos interessa aqui são os fatos posteriores a consumação.Falamos é claro, de quando funcionário público cometer um ato ilegal, ou deixarde praticar um ato de ofício, ou fazê-lo com retardo, em retribuição a vantagempercebida ou da promessa desta. Nesta situação, a pena será aumentada em 1/3 (umterço).

Corrupção Passiva Privilegiada (317 § 2º)

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício,com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Nesta hipótese, o funcionário pratica o crime, deixa de praticar ouretarda ato de ofício, não objetivando obter uma vantagem indevida, mas simatender as expectativas de terceiro, manifestadas por pedido ou influência.

Obs.: nesta hipótese o crime só se consuma com a prática, abstenção daprática, ou retardamento da prática de ato funcional. Portanto, trata-se decrime material, ou seja, que exige para sua consumação a ocorrência de umresultado naturalístico.

Situações Excepcionais que não configuram Corrupção Passiva:

1) Se o agente exige ou solicita vantagem indevida para não cobrar tributoou contribuição social, não há nem concussão nem corrupção passiva, mas simCRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, como dispõe o artigo 3º, II, da Lei 8.137/90:

Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordemtributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848,de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI,Capítulo

II - exigir, solicitar ou receber, para si ou paraoutrem, direta ou indiretamente, ainda que fora dafunção ou antes de iniciar seu exercício, mas em razãodela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de talvantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo oucontribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena -reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

2) A testemunha ou o perito não oficial, que recebem vantagem indevida pararealizar falso testemunho ou falsa perícia não cometem corrupção passiva, massim no crime do artigo 342, do Código Penal, que dispõe:

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade comotestemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial,ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dadapela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

3) Constituem condutas criminosas tanto o oferecimento, e a entrega de vantagemindevida, bem como sua aceitação, quando o objetivo destas transações é a“compra de votos”, entretanto não se trata de corrupção ativa e passiva, mas simde um delito previsto no artigo 299 da Lei 4.737/65 (Código Eleitoral), quedispõe:

Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou paraoutrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou darvoto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não sejaaceita:

Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.

4) Aceitar ou solicitar, para si ou para outrem, para falsear ou alterarresultado de competição desportiva, não incorre em corrupção passiva, mas sim em“corrupção passiva desportiva”, prevista no artigo 41-C da Lei 10.671/2003(Estatuto do Torcedor), - alterado pela lei 12.2999/2010 - ,que dispõe:

Art. 41-C.  Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem oupromessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer atoou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competiçãoesportiva:   (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. (Incluído pela Lei nº12.299, de 2010).

Classificações do Delito

Objetividade Jurídica:

“a Moralidade da Administração Pública (apenas um bem jurídico protegido,portanto, temos um crime simples)”.

Sujeito Ativo:

Crime próprio (novamente, crime funcional); de concurso eventual (novamenteadmite-se o concurso de agentes, que não é obrigatório).

Atos Executórios (“conatus próximos”)

De “ação livre”; comissivo.

Consumação (consumatio/ meta optata)

Crime formal, e instantâneo.

Elemento Subjetivo

Dolo Específico (elemento subjetivo especial ) de perceber, de imediato oufuturamente, vantagem indevida, em função da condição de funcionário público.

PECULATO

Peculato – Apropriação

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ouqualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posseem razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

“Apropriar-se” – significa fazer sua a coisa de outra pessoa, neste casoinverter o ânimo sobre o bem. O funcionário possuía o bem devido a sua condiçãode funcionário público, mas deseja ser seu proprietário.

“Bem móvel” – não existe peculato de bem imóvel, nem de mão de obra humana,constituindo esta última hipótese um “ato de improbidade administrativa”,segundo o artigo 9º, IV, da Lei 8.429/92, senão vejamos:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importandoenriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonialindevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ouatividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:

  IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou àdisposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bemcomo o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiroscontratados por essas entidades;

Entretanto, se o funcionário público for prefeito haverá o crime específico doartigo 1º, II, do Decreto-lei n. 201/67, que dispõe:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos aojulgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento daCâmara dos Vereadores:

Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens,rendas ou serviços públicos;

“Público ou Particular”

Tratando-se de peculato sob bem particular sob custódia da Administração, há ochamado “Peculato – Malversação”.

Se o funcionário público apropria-se de bem público, para se ressarcir dedívidas que o Estado tem com ele, alguns defendem a existência do crime de“exercício arbitrário das próprias razões”, entretanto, a melhor corrente nosparece ser a que preconiza a ocorrência de Peculato-Apropriação.

Peculato- Desvio

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualqueroutro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão docargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

“Desviar” - significa o funcionário público alterar o destino correto de um bemque está em seu poder, com o objetivo de trazer proveito para si ou paraterceiros.

Tal proveito pode ser material (patrimonial) ou moral (exemplo:obtenção de vantagem política).

Se o desvio não for em proveito próprio ou de terceiros, mas sim daAdministração Pública, haverá o crime de “emprego irregular de verbas ou rendaspúblicas”, do artigo 315 do Código Penal, que dispõe:

Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa daestabelecida em lei:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Obs.: ocorrido o peculato-desvio, mesmo em caso de eventual aprovaçãode contas pelo Tribunal de Contas, o crime não será excluído.

PECULATO DE USO

Trata-se de o funcionário público utilizar o bem, e depoisdevolvê-lo.

A jurisprudência só admite o referido instituto quando se tratar debem infungível, pois do contrário, tratando-se de bem fungível, mesmo que o

funcionário público restitua a Administração, entregando bem equivalente, ocrime estará consumado, e a devolução constituirá mero arrependimento posterior.

Entretanto, mesmo não havendo o delito de peculato, quando o bem forinfungível, tal conduta representará ato de improbidade administrativa, segundoo artigo 9º, IV, da Lei 8.492/92, que dispõe:

  Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importandoenriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonialindevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ouatividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou àdisposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bemcomo o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiroscontratados por essas entidades;

E se na mesma hipótese, o funcionário público for um Prefeito queutiliza bem público fungível, haverá o crime do artigo 1º, II, do Decreto-Lein.201/67, que dispõe:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos aojulgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento daCâmara dos Vereadores:

Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens,rendas ou serviços públicos;

PECULATO-FURTO (312 § 1º)

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualqueroutro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão docargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

§1º. Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre paraque seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se defacilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Nesta hipótese, o funcionário público não tem o poder sobre o bem,entretanto, ele se vale das facilidades que lhe proporcionam sua condição defuncionário para realizar duas condutas possíveis:

1) Subtrair o bem

2) Facilitar a subtração do bem por terceiro, funcionário ou não.

PECULATO CULPOSO

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualqueroutro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão docargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede àsentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz demetade a pena imposta.

Para a ocorrência do peculato culposo são fundamentais duascircunstâncias:

1) Culpa do Funcionário Público – que com seu descuido facilitou a ocorrência deum crime contra a Administração Pública praticado por outro funcionário público,ou por um particular.

2) Dolo do terceiro – que, se valendo do descuido do funcionário público, cometecrime contra a Administração Pública.

Obs.: o peculato-culposo se consuma com a ocorrência do crime por parte doterceiro, assim, caso exista o descuido por parte do funcionário público, maspor qualquer motivo, o segundo crime não venha a ocorrer, o fato será atípico.

Reparação do Dano no Peculato Culposo:

Trata-se de figura equivalente ao arrependimento posterior, entretanto, compeculiaridades específicas referentes a este delito, são elas:

A) Se a reparação ocorrer antes do trânsito em julgado da sentença, estaráextinta a punibilidade.

B) Se ocorrer após o trânsito em julgado da sentença, a pena imposta seráreduzida pela metade.

CLASSIFICAÇÕES DO DELITO

Objetividade Jurídica: Simples e de Dano.

Peculato-Apropriação; Peculato-Furto: probidade da Administração Pública.

Peculato Culposo: Moralidade da Administração Pública.

Sujeito Ativo: Próprio e de Concurso Eventual

Execução (“conatus proximus”): de ação livre

Consumação (“consumatio”/ “meta optata”): material e instantâneo.

Exceção: peculato culposo: o crime se consuma quando ocorre a consumação docrime perpetrado pelo terceiro.

Elemento subjetivo: dolo específico (elemento subjetivo especial) de apropriar-se de bens em seu poder, ou subtrair bens valendo-se de sua condição defuncionário público. Exceção: peculato culposo.

2º Bimestre

Peculato por Erro de Outrem

Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercíciodo cargo, recebeu por erro de outrem:Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Neste crime, o agente se apropria de um bem que lhe foi confiadoequivocadamente.

A doutrina costuma se referir a este tipo penal como “Peculato-Estelionato”. Entretanto, essa terminologia está errada, pois no estelionato oagente induz a vítima a erro, já nesta espécie de peculato, a vítima comete oerro sozinha, e o criminoso apenas silencia e se aproveita do engano havido.

Lembra-se que esse crime era muito mais comum no passado, quando pagávamosnossos tributos diretamente na repartição pública. Nessa época, se umfuncionário incompetente para receber o pagamento, se valesse da ingenuidade doparticular, aceitasse a quantia e dela se apropriasse, estaria configurado ocrime.

Mas como bem sabemos, hoje o pagamento dos tributos costuma ocorrer pelavia bancária. De maneira, que a ocorrência deste crime é pouco freqüente.

“Peculatos Eletrônicos”

Existem duas espécies de peculato eletrônico: inserção de dados falsos emsistema de informações, e modificação ou alteração não autorizada em sistema de informações.

1) Inserção de Dados Falsos em Sistema de Informações

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção dedados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nossistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública como fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causardanoPena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Neste crime, temos duas condutas típicas:

A) O funcionário público inserir ou facilitar a inserção de dados falsosno sistema informatizado, ou banco de dados, da Administração Pública.

B) O funcionário público altera ou exclui indevidamente dados corretos nosistema informatizado, ou banco de dados, da Administração Pública.

2) Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações

Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ouprograma de informática sem autorização ou solicitação de autoridadecompetente172:Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se damodificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública oupara o administrado.

Este crime guarda duas principais diferenças em relação à espécie anteriorde peculato eletrônico, são elas:

A) O objeto material do crime do artigo 313-A, são os dados do sistemainformatizado ou banco de dados. No artigo 313-B, o objeto material é o própriosistema informatizado.

B) Enquanto o crime do artigo 313-A, só pode ser praticado por funcionáriopúblico autorizado a operar o sistema de informações ou banco de dados, o tipodo artigo 313-B, pode praticado por qualquer funcionário.

Causa de Aumento de Pena: se o crime causar dano para a Administração ou para o administrado, a pena será aumentada de um terço até a metade.

Desacato

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou emrazão dela:Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Inicialmente, desacatar significa “desrespeitar” o funcionário público.

Desacato X Injúria

O crime de injúria encontra previsão no artigo 140 do Código Penal. Já oartigo 141, II, admite a prática deste crime contra funcionário público:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por suanatureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da penacorrespondente à violência.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora dedeficiência:

Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, sequalquer dos crimes é cometido:

II - contra funcionário público, em razão de suas funções;

Quando um funcionário público é ofendido no exercício de sua função,precisamos saber se está caracterizado o crime de desacato ou de injúria.

Para esta resposta, é necessário atentar para uma única circunstância docrime: se ele foi praticado na presença do funcionário ou não.

Se o delito foi cometido com o funcionário presente, evidencia-se odesacato. Se a ocorrência se deu na ausência do funcionário, haverá injúriaqualificada.

Injúria Qualificada do artigo 140 3º

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora dedeficiência:

Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Se o funcionário for ofendido, mesmo que em sua presença, pela utilizaçãodos elementos referidos no parágrafo 3º do artigo 140, estará caracterizado ocrime de injúria qualificada.

Resistência

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ouameaça a funcionáriocompetente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos.§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentesà violência.

Resistir significa “opor-se” à realização do ato. É possível a tentativa.

O ato deve ser legal, do contrário, não estará configurado o delito.

Além disso, é necessário que o ato esteja ocorrendo, ou em vias deocorrer, a resistência não se configura em face do ato já consumado.

A resistência pode ocorrer pela violência, ou pela ameaça, que nãonecessita ser grave. A resistência passiva não caracteriza o crime.

Havendo resistência simultânea a vários funcionários, restará ocorrido umúnico crime de resistência, que se conta pelo número de atos praticados, e nãopelo número de sujeitos passivos.

Existirá concurso material de crimes para todos os delitos de violênciapraticados como resistência. Assim, se o agente matar um funcionário ao resistirao ato, estará configurado o concurso material entre os crimes de homicídio ede resistência, os quais terão suas penas somadas.

Para a jurisprudência, estarão absorvidos pela resistência, não havendoconcurso de crimes, as seguintes infrações: ameaça; desacato; desobediência;contravenção de “vias de fato”.

Por fim, a resistência é um crime formal, ou seja, prescinde da ocorrênciade um resultado naturalístico para sua consumação. Deste modo, não é necessárioque o ato legal do funcionário seja impedido para que se consume o crime, seisso ocorrer, a não realização do ato será mero exaurimento, mas que servirácomo qualificadora do delito.

Favorecimento Pessoal

Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crimea que é cominadapena de reclusão:Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa.§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmãodocriminoso, fica isento de pena.

Inicialmente, este crime só pode ser praticado por quem não foi partícipedo crime praticado pelo auxiliado. Se isso ocorrer, o auxílio será meroexaurimento, não haverá favorecimento pessoal.

Não é necessário que o agente esteja sendo perseguido por autoridadepública.

O auxiliado deve ter praticado crime, e não contravenção penal. Se o crimepraticado for punível com reclusão, haverá uma figura privilegiada, e a penaserá reduzida, nos termos do parágrafo 2º.

A tentativa é possível, ou seja, o agente pode tentar auxiliar o criminoso, e não obter êxito nisso.

Por fim, se o agente for ascendente, descendente, cônjuge ou irmão, haveráescusa absolutória, que funcionará como excludente de punibilidade, de modo quea autoridade policial ficará impedida de instaurar inquérito.

Favorecimento Real

Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou dereceptação, auxílio destinadoa tornar seguro o proveito do crime:Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.

Trata-se de ajudar o criminoso a tornar seguro o resultado obtido com ocrime praticado. Assim, guardar o dinheiro roubado do banco é favorecimentoreal, já guardar a arma utilizada no roubo não, pois ela é instrumento e nãoproduto do crime praticado.

Enquanto no favorecimento pessoal a conduta do agente recai sobre ocriminoso, no favorecimento pessoal ela recai sobre o produto do crime. Atentativa é possível.

A diferença entre favorecimento real e receptação é que nesta última, oagente espera obter lucro protegendo o proveito do crime.

Não há previsão legal de escusas absolutórias.

Denunciação Caluniosa

Art. 339 - Dar causa à instauração de investigação policial, de processojudicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou açãode improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de queo sabe inocente:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve deanonimato ou de nome suposto.§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática decontravenção.

Denunciação Caluniosa X Calúnia

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido comocrime:Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propalaou divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Exceção da verdade

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido nãofoi condenado por sentença irrecorrível;II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art.141;III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foiabsolvido por sentença irrecorrível.

Existem três diferenças entre o crime de calúnia e o de denunciaçãocaluniosa:

1) A calúnia é crime contra a honra, já a denunciação caluniosa é contra aadministração da justiça;

2) A calúnia tem como objetivo somente atingir a honra objetiva de alguém,já a denunciação caluniosa, além de ferir a honra, também movimentaindevidamente a máquina estatal.

3) A calúnia, pelo parágrafo 3º do artigo 138, admite, em regra, a exceçãoda verdade. Já a denunciação caluniosa nunca a permite.

Falso Testemunho ou Falsa Perícia

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade comotestemunha, perito,contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,inquérito policial, ou e juízo arbitral193:Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticadomediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada aproduzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parteentidade da administração pública direta ou indireta.§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em queocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

O crime em tela, além de ser próprio (só pode ser praticado pelas pessoasdescritas no tipo penal), é também de mão própria, pois não admite co-autoria,mas apenas participação.

Além disso, é possível a retratação do agente nesse crime, desde que feitaantes da prolação da sentença do processo no qual o agente tentou mentir.

Crimes contra a Fé Pública

A fé pública é a crença das pessoas na veracidade dos documentos que sãoutilizados diariamente na vida em sociedade.

A violação da fé pública caracteriza o crime de falso, que possui doisrequisitos:

1) Imitação da verdade, que pode ser:

1.1. Immutatio veri: mudar o verdadeiro. Aqui o agente modifica o teor de umdocumento verdadeiro já existente.

1.2. Imitatio veri: imitar o verdadeiro. Aqui o agente cria um documentonovo, imitando um verdadeiro.

2) Dano Potencial: os prejuízos decorrentes do falso não precisamefetivamente ocorrer. Basta que a falsidade tenha potencial para gerar qualquerprejuízo. Assim, a falsidade grosseira, perceptível por todos, não configura umdano potencial.

Existem três modalidades de falso:

1) Falsidade Material: é a forma do documento, são seus elementosexteriores.

2) Falsidade Ideológica: é o conteúdo do documento.

3) Falsidade Pessoal: trata-se de fingir ser outra pessoas.

Moeda Falsa

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálicaou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:Pena - reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia,importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ouintroduz na circulação moeda falsa.§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa oualterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punidocom detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.§ 3º - É punido com reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e multa, ofuncionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão quefabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cujacirculação não estava ainda autorizada.

Inicialmente, cumpre ressaltar que o crime de moeda falsa é de competênciada Justiça Federal.

Se a falsificação for grosseira, restará caracterizado o crime deestelionato, de competência da Justiça Estadual, nos termos da Súmula 73 do STJ,que dispõe:

STJ Súmula nº 73 - 15/04/1993 - DJ 20.04.1993Papel Moeda Falsificado - Estelionato - CompetênciaA utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese,o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

O parágrafo primeiro do artigo 289 enumera diversas condutas como puníveiscom as mesmas penas da falsificação de moeda.

O parágrafo segundo apresenta uma forma privilegiada do crime de moedafalsa, em que o agente recebe a moeda de boa-fé, mas a restitui à circulação,sabendo de sua condição de falsa.

O parágrafo terceiro aponta uma forma qualificada do crime, praticada pelofuncionário público relacionado à emissão oficial de moedas.

O parágrafo quarto pune com as mesmas penas aquele que desvia moedas cujacirculação ainda não estava autorizada, e as faz circular.

Por fim, é bom lembrar que o crime de moeda falsa não comporta o princípioda insignificância, ou seja, o crime deverá ser punido ainda que a moeda seja debaixíssimo valor. Isso ocorre pois o referido princípio só atinge crimes cujobem jurídico protegido seja o patrimônio, e neste caso o bem tutelado é a fépública, de modo que não importa o valor monetário, mas sim que a fé pública foiviolada.

Falsificação de Documento Público

Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado oude Município;II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou aautoridade, ou sinal público de tabelião:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.§ 1º - Incorre nas mesmas penas:I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo deoutrem ou em proveito próprio ou alheio.III – quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglasou quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ouentidades da Administração Pública163.§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-sedo cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

Inicialmente, cabe ressaltar que documento é toda peça escrita,de autorcerto, que contém o pensamento de alguém, sendo capaz de provar um fato ou arealização de um ato de relevância jurídica. Assim, uma imagem, a princípio, nãoé documento, mas se estiver autenticada, o será.

Documento Público é aquele elaborado por funcionário público, seguindo osditames da lei.

O documento público pode ser “formalmente público”, ou “substancialmentepúblico”.

No primeiro caso, embora o conteúdo traduza uma relação jurídica dedireito privado, a lei impõe uma forma pública ao documento. Exemplo: escriturade compra e venda.

Já no segundo caso, além da forma, o conteúdo do documento também é dedireito público. Exemplo: passaporte.

Este crime pode ser praticado por qualquer pessoa, exceto pelo funcionáriopúblico competente para fabricar ou alterar o documento. Entretanto, se o agentefor um funcionário público, que mesmo sendo incompetente, valeu-se do cargo paraa prática do crime, a pena será aumentada pela sexta parte.

rt. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterardocumento público verdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-sedo cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público oemanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível porendosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e otestamento particular.

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pelaLei nº 9.983, de 2000)

I - na folha de pagamento ou em documento de informações que sejadestinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que nãopossua a qualidade de segurado obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de2000)

II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou emdocumento que deva produzir efeito perante a previdência social,declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Leinº 9.983, de 2000)

III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionadocom as obrigações da empresa perante a previdência social, declaraçãofalsa ou diversa da que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de2000)

§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionadosno § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, avigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.(Incluído pelaLei nº 9.983, de 2000)

Alteração X Falsificação Parcial

Na alteração, o documento é verdadeiro, mas o agente o altera inserindodados falsos ou suprimindo dados verdadeiros.

Já na falsificação parcial, também chamada contrafação, o documento nascefalso, mas apenas em parte, pois apenas alguns de seus dados são inverídicos.

Requisitos da Falsidade

1) Idoneidade da Falsificação

O documento falso deve ser capaz de induzir as pessoas a erro, tendo comobase o homem médio. Já no estelionato, leva-se em conta vítima do caso concreto.

2) Relevância Jurídica

O falso deve ser juridicamente relevante, ou seja, capaz de produzirconsequência relevantes. Segundo a jurisprudência dominante, o falso que nãoproduza conseqüências razoáveis é fato atípico.

Falso X Estelionato

Quando o crime de falso só puder ser utilizado uma única vez, o falsoficará absorvido pelo estelionato. Assim dispõe a Súmula n. 17 do STJ:

STJ Súmula nº 17 - 20/11/1990 - DJ 28.11.1990Estelionato - Potencialidade LesivaQuando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, épor este absorvido.

Entretanto, quando o falso não se exaurir no estelionato, haverá concursomaterial de crimes.

Falsificação de Documento X Uso de Documento Falso

Uso de documento falsoArt. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a quese referem os arts. 297 a 302:Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

O crime de uso de documento falso pode ser praticado por qualquer pessoa,exceto aquela que o fabricou. Assim, caso o fabricante venha também a usar odocumento, haverá um “post factum” impunível, e apenas o crime de falso estarácaracterizado.

O uso de documento falso é considerado um “crime remetido”, pois remete aoutros crimes, tanto no preceito primário quanto no secundário.

O tipo penal primário fala em “fazer uso”. Ressalta-se que isso traduz umaconduta voluntária. Entretanto, se o documento for uma Carteira Nacional deHabilitação (CNH) encontrada dentro do veículo do agente, estará caracterizado ocrime, mesmo que a carteira nem tenha sido efetivamente utilizada. Isso ocorrepois a CNH é o único documento de porte obrigatório no Brasil, isto é, se apessoa estiver dirigindo um veículo.

Falsificação de Chassi X Falsificação Documento Identificativo de Veículo Automotor

Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinalidentificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento:Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou emrazão dela, a pena é aumentada de 1/3 (um terço).§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para olicenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendoindevidamente material ou informação oficial.

Neste caso, se o agente, além de falsificar o documento do automóvel,também falsificar seu chassi, terá cometido dois crimes, de modo que haveráconcurso material de crimes.

Falsificação de Documentos Previdenciários

Aquele que não efetua a anotação na CTPS de seu empregado, responde pelocrime de falsificação de documento público previsto no parágrafo quarto doartigo 297, aliás de competência da Justiça Federal, vejamos:

§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionadosno § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, avigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.(Incluído pelaLei nº 9.983, de 2000)

Já a falsa anotação em CTPS, quando atribuída à empresa privada, é decompetência da Justiça Estadual, como dispõe a Súmula n. 62 do STJ:

STJ Súmula nº 62 - 19/11/1992 - DJ 26.11.1992Competência - Crime de Falsa Anotação na Carteira de Trabalho ePrevidência Social Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação naCarteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada.

Falsificação de Documento Particular

O crime de falsificação de documento particular é bem parecido com o defalsificação de documento público, o que muda apenas é o objeto material dodelito, qual seja, o próprio documento.

É documento particular todo aquele que não é público, e nem equiparado apúblico.

Assim, o cartão magnético de débito ou crédito é considerado documentoparticular.

Já o cheque é documento equiparado a público, por ser um título de créditotransmissível por endosso. Entretanto, se o cheque perder essa característica,sendo, por exemplo, devolvido por falta de fundos, estará perdida sua naturezadocumental pública, e ele será um documento particular.

O documento público nulo é considerado um documento particular, pois suanulidade decorre da inobservância de algum requisito legal de validade.

A petição jurídica, - inclusive a denúncia feita pelo Ministério Público -não é documento. Entretanto, se ela for juntada aos autos do processo, passará aser um documento dos mesmos.

Falsidade Ideológica

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que deledevia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa daque devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação oualterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, se o documento épúblico, e reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, se o documento éparticular.Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crimeprevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é deassentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte

Nesse crime, o documento é verdadeiro, mas seu conteúdo é falso

O sujeito ativo desse crime pode ser qualquer pessoa, mas caso o agenteseja funcionário público ou a falsidade/alteração é de assentamento de registrocivil, haverá causa de aumento de pena pela sexta parte.

A conduta de registrar como seu o filho de outrem (popularmente conhecidacomo “adoção à brasileira”), configura o delito do artigo 242, já o registro defilho inexistente, caracteriza o crime do artigo 242.

Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho deoutrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterandodireito inerente ao estado civil: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Condutas Possíveis:

1) “Omitir declaração que dele deveria constar” – trata-se de norma penalem branco, pois o tipo penal não especifica quais são as declarações.

2) Inserir declaração falsa, ou diversa da que deveria constar –declaração “falsa” é fictícia, totalmente desprovida de realidade, já a “diversada que deveria constar”, é verdadeira, mas descreve outro objeto que não o seu.Exemplo: junto a descrição verdadeira do imóvel A ao imóvel B.

3) Fazer inserir declaração falsa, ou diversa da que deveria constar – umterceiro faz a inserção da declaração.

Elemento Subjetivo Especial (dolo específico)

O crime de Falsidade Ideológica exige para sua consumação que o agentetenha a intenção de produzir um dos seguintes efeitos:

1) Prejudicar direito;

2) Criar obrigação;

3) Alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

Por fim, ressalta-se que a tentativa é possível apenas na modalidadecomissiva.