COHEN, A.; T'HART, J. Anatomia da entoação. 1967.

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Anatomia da entoação COHEN, A.; T'HART, J. Língua, 19, p.177-192, 1967 Os estudos dedicados à descrição de traços prosódicos sempre mostraram a consciência de se estar lidando com um problema altamente complexo tanto em seus traços físicos, como frequência, intensidade e tempo, quanto em suas contrapartidas psicológicas (pitch, loudness e duração) e suas interações, que desempenham um papel importante. Nos últimos anos, houve uma tendência a concentrar-se no estudo de um desses traços, com a expectativa de que, com essa forte redução, uma melhor compreensão do papel da prosódia, em geral, poderia ser obtida. Sem nos voltarmos da direção de detalhes bibliográficos, gostaríamos de salientar alguns poucos trabalhos que ilustram os caminhos que levam o estudo do pitch até nós. São, em ordem cronológica, Bolinger (1958; 1962), Delattre el alii (1965), Hadding-Koch e Studdert- Kennendy (1964), Isačenco e Schadlich (1964; 1965), Lieberman (1965) e Mattngly (1966). Na Seção 4, Discussão, teremos ocasição para mostrar o que partilhamos com alguns desse autores. Sem mencionar especificamente qualquer um desses trabalhos anteriores nesse campo, gostaríamos de salientar que a chegada de nossos esforços tem muita similaridade com Tone I, desenvolvido com Daniel Jones para a entoação do inglês. Da mesma maneira que muitos pesquisadores nesse campo, compartilhamos a crença comum de que a redução do problema da entoação ao fenômeno do pitch poderia ser uma abordagem proveitosa. O passo seguinte é selecionar um método que nos habilite a estabelecer quais movimentos de pitch são interpretados como relevantes pelo ouvinte. De acordo com o que dissemos no Firth International Congress on Acoustics at Liège (Cohen and t'Hart, 1965), acreditamos que esses movimentos relevantes de pitch relacionam-se com atividades correspondentes da parte do falante. Presume-se serem caracterizados por comandos discretos aplicados às cordas vocais e serem recuperáveis também como eventos discretos no contorno resultante do pitch, que pode apresentar-se, ele próprio, à primeira vista, como uma variação contínua no tempo. Nas páginas seguintes, relataremos um método capaz de estabelecer meio de checar a hipótese envolvida nessa pressuposição. Tal método foi seguido para estabelecer regras que parecem controlar as atividades dos falantes na geração desses contornos, bem como na sua interpretação dos ouvintes ao percebê-los. Na Seção 2, um grande número de técnicas, que constituem, juntas, o que chamamos de "análise perceptiva", serão descritas. Esse método será aplicado no estudo da entoação do holandês de maneira a tornar a análise objetivamente manipulável e a validade de suas regras ser derivada de experimentos confiáveis.

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Anatomia da entoação

COHEN, A.; T'HART, J. Língua, 19, p.177-192, 1967

Os estudos dedicados à descrição de traços prosódicos sempre mostraram a consciência de

se estar lidando com um problema altamente complexo tanto em seus traços físicos, como

frequência, intensidade e tempo, quanto em suas contrapartidas psicológicas (pitch, loudness

e duração) e suas interações, que desempenham um papel importante.

Nos últimos anos, houve uma tendência a concentrar-se no estudo de um desses traços,

com a expectativa de que, com essa forte redução, uma melhor compreensão do papel da

prosódia, em geral, poderia ser obtida.

Sem nos voltarmos da direção de detalhes bibliográficos, gostaríamos de salientar alguns

poucos trabalhos que ilustram os caminhos que levam o estudo do pitch até nós. São, em

ordem cronológica, Bolinger (1958; 1962), Delattre el alii (1965), Hadding-Koch e Studdert-

Kennendy (1964), Isačenco e Schadlich (1964; 1965), Lieberman (1965) e Mattngly (1966). Na

Seção 4, Discussão, teremos ocasição para mostrar o que partilhamos com alguns desse

autores.

Sem mencionar especificamente qualquer um desses trabalhos anteriores nesse campo,

gostaríamos de salientar que a chegada de nossos esforços tem muita similaridade com Tone I,

desenvolvido com Daniel Jones para a entoação do inglês.

Da mesma maneira que muitos pesquisadores nesse campo, compartilhamos a crença

comum de que a redução do problema da entoação ao fenômeno do pitch poderia ser uma

abordagem proveitosa. O passo seguinte é selecionar um método que nos habilite a

estabelecer quais movimentos de pitch são interpretados como relevantes pelo ouvinte.

De acordo com o que dissemos no Firth International Congress on Acoustics at Liège (Cohen

and t'Hart, 1965), acreditamos que esses movimentos relevantes de pitch relacionam-se com

atividades correspondentes da parte do falante. Presume-se serem caracterizados por

comandos discretos aplicados às cordas vocais e serem recuperáveis também como eventos

discretos no contorno resultante do pitch, que pode apresentar-se, ele próprio, à primeira

vista, como uma variação contínua no tempo.

Nas páginas seguintes, relataremos um método capaz de estabelecer meio de checar a

hipótese envolvida nessa pressuposição. Tal método foi seguido para estabelecer regras que

parecem controlar as atividades dos falantes na geração desses contornos, bem como na sua

interpretação dos ouvintes ao percebê-los.

Na Seção 2, um grande número de técnicas, que constituem, juntas, o que chamamos de

"análise perceptiva", serão descritas.

Esse método será aplicado no estudo da entoação do holandês de maneira a tornar a

análise objetivamente manipulável e a validade de suas regras ser derivada de experimentos

confiáveis.

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Os resultados dados na Seção 3 foram selecionados para ilustrar os achados dessa

abordagem e poderem ser interpretados como uma reflexão do trabalho em andamento.

No sentido de apresentar um esboço contra o que investigações atuais poderiam criticar,

um grande número de considerações poderiam ser mencionadas. Elas se construiriam pela

inclusão ou pela exclusão de noções derivadas de outros, bem como desenvolvidas por nós

mesmos.

1. Considerações básicas

A consideração mais importante a se fazer é que é possível usar das representações

internas dos padrões linguísticos de uma falante nativo. Essa faculdade, que será empregada

em nossas investigações do fenômeno do pitch, pode ser usada no final para apresentar

critérios para a seleção do material de fala a ser estudado.

Essa consideração implica que a estrutura linguística não é o objetivo, o que, na prática,

quer dizer que o material escolhido não corresponde a uma unidade linguística, como, por

exemplo, uma sentença.

Outra consideração importante é que ter os olhos exclusivamente voltados para funções

distintivas não permite esperar resultados no estabelecimento de traços que são

característicos de uma língua particular. De fato, nós acreditamos que o estudo dos traços não

distintivos é mais promissor para a compreensão do que realmente ocorre na entoação. Dessa

maneira, estamos de acordo com as noções intuitivas sobre a contribuição importante de

traços entoacionais para além das características de uma língua particular, fato amplamente

confirmado do Delattre (1965).

Algumas noções originalmente defendidas foram rejeitadas em favor de ideias sugeridas

por outros; isto se aplica à consideração colocada adiante por Lieberman (comunicação

pessoal) de que o falante tem uma ideia do que ele vai dizer e, modulando sua voz, fará

movimentos antecipatórios de pitch no início de sua locução, em relação o que ainda está por

vir. Essa noção é contrária àquela que tivemos há um tempo, que era efeito do estudo da

entoação de palavras isoladas caracterizadas por diferentes padrões acentuais, que esperava

estabelecer regras a partir das quais se pudessem derivar regras correspondentes que

explicassem a entoação de grandes porções da fala.

Finalmente, para deixar clara a esperança de que a tarefa indutiva encontrará regularidades

nas mensurações de pitch em um grande material, nós procuramos conscientemente um

método de análise "ativo" sobre a base perceptiva. Esse princípio foi inspirado pelos trabalhos

de Mattingly em J.S.R.U.

2 Método

2.1 Audição análítica

O método de análise perceptiva associa-se a três aspectos: o primeiro deles, a audição

analítica, foi tratado mais completamente no 5th ICA at Liège. Nesta técnica partes sucessivas

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de 30ms de voz gated de uma sentença foram alinhadas por pitch pelo ouvido com um sinal

acústico similar gerado, com frequência ajustável e mensurável.

2.2 Análise ativa

O segundo aspecto é chamado de análise ativa, indicando assim um procedimento em que

ideias sobre a origem do fenômeno a ser mensurado fossem introduzidas de maneira que

tomassem parte ativa na própria análise. Esse procedimento pode tomar formas diferenciadas:

no nosso caso, um conjunto preliminar de noções que eram supostas para explicar as

mensurações eram apresentadas explicitamente, como foi dada liberdade para predições

sobre os padrões de pitch das sentenças para comparações visuais com as medições atuais

(sobre esta técnica cf. COHEN e t'HART, 1965). Uma segunda forma de análise ativa,

subsequentemente empregada por nós como consequência lógica da primeira, consistiu em

usar um instrumento chamado Intonator (cf. COOPER, 1961), construído com o propósito de

gerar padrões de pitch previstos. Esse procedimento é muito similar ao princípio de análise por

síntese, tal como foi usado para checar a teoria acústica da produção da fala para explicar

composição espectral de sons semelhantes às vogais.

Uma vez que padrões de pitch previsto poderiam ser formulados basicamente em torno de

uma queda contínua e gradual no correr da sentença, interrompida por aumentos e quedas

em momentos discretos, o instrumento a ser construído conteria uma função geradora

conjugando essas demandas: caso não tenha outra indicação, o instrumento deve gerar um

declive gradual, e ainda ser capaz de produzir fortes degraus de aumentos ou quedas de pitch

nesse declive previsto, quando fosse disparado para esse fim em momentos específicos. Para

esse último propósito, um contador ativo foi usado.

Este gerador controla a taxa de repetição de F0 de uma fonte artificial de voz que é parte final

da síntese de um circuito de análise-síntese convencional tal como se conhece na telefonia. O

circuito é alimentado por uma fala natural, gravada em um loop de fita magnética.

O resultado é que a entoação original da locução gravada é substituída por uma entoação

artificial, enquanto que as características acústicas gerais da fala, espectrais, temporais e

dinâmicas, são preservadas suficientemente bem para dar à fala expressa um caráter natural.

Esse conjunto habilita-nos a julgar essas produções de fala processadas quanto à sua

aceitabilidade em relação ao contorno de pitch. Dessa maneira, acrescentando à prática de

análise por síntese, nós substituímos pela comparação visual da mensuração e das curvas

previstas, tais como plotadas no papel, uma comparação auditiva de padrões representados

internamente e gerados teoricamente.

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Fig. 1, Diagrama de bolo do Intonator. Em (a) a palavra contida na mensagem da fala original é preservada

enquanto sua informação de pitch é perdida: em (b) um novo contorno de pitch pode ser gerado por uma função do

gerador controlado por uma fonte sonora artificial de voz; em (c) os comandos no tempo da função geradora são

selecionado com um contador ativo.

A Fig. 1 dá um esboço das necessidade aparentes para o propósito mencionado. Um conjunto de filtros, cada

uma seguido por um retificador, mede a composição espectral da fala de entrada em termos de um DC-voltagem

em função do tempo. Enquanto isso, um detector de ausência/presença de voz atuar para determinar a escolha de

uma fonte de voz ou de ruído. O sinal vindo dessas fontes são levados para um segundo banco de filtros, em

princípio, idênticos, cujas saídas são reguladas em amplitude por moduladores controlados por DC-voltagem obtida

na análise. A fonte de voz é controlada por uma função geradora, pela qual a taxa de repetição é vailed por funções

logarítmicas do tempo. A essas funções podem-se acrescentar, com graus variáveis, a saída de um envelope

detector, que a casa a frequência que vai acima e abaixo com a amplitude da fala de entrada. Um filtro de 1600 Hz

shunt vai incluído nesse sistema para aumentar a inteligibilidade, sobretudo em relação às oclusivas e às fricativas.

Evidências experimentais mostraram que a informação do pitch presente nessa região de frequências altas deixam a

impressão do pitch derivada de uma fonte artificial de voz completamente não afetada. IPode-se ser facilmente

demonstrar, por exemplo, que o sistema, definido para F0 constante, dá origem a uma impressão monótona apesar

das flexões naturais da voz de entrada.

O dispositivo, denominado acima de contador ativo, proporciona, dentro de um ciclo de duração máxima de 10

segundos, um número de impulsos em momentos precisos no tempo para o próximo milissegundo, relacionados

com um momento zero na reposição dada por um impulso na segunda faixa da loop da fita. Estes momentos, em

que as várias rampas do gerador de função são acionados, podem ocorrer em local variado à vontade.

Com base nos dados obtidos a partir do método de previsão, foi possível estabelecer a relação entre as rampas

originalmente independentes. Nesta relação, a taxa de variação pode ser controlada como um todo.

A tarefa principal do Intonator consiste em apresentar contornos satisfatórios para a

comparação perceptiva com os padrões de pitch internamente representados, mais do que

copiar em detalhes o pitch da fala de entrada. Dessa maneira, foi possível procurar

conscientemente por uma redução gerenciável do número dos graus de liberdade do sistema.

A restrição que nós adotamos foi calculada para preservar a liberdade para variar o padrão

temporal da configuração do pitch, que é apontada como essencial para nossa abordagem

geral.

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2.3 íntese por regra

O terceiro aspecto da análise perceptiva pode ser designada de síntese por regra (cf.

Lieberman et al. 1959). Esse termos é usado para distinguir um procedimento de geração de

fala baseado num inventário de prescrições de um no qual os parâmetros são derivados de

representações acústicas de sentenças normalmente faladas. Normalmente, a síntese por

regra se constitui num ideal que, se cumpridas, habilitariam o investigador a mostrar, usando o

conhecimento explícito em termos quantitativos, que ele foi bem sucedido ao fazer uma

análise adequada do fenômeno que ele estudou. Em nosso caso, isso significaria a aplicação de

um prontamente disponível conjunto de regras que resultariam em tornar padrões de

entoação satisfatoriamente audíveis para qualquer sentença do holandês.

Na prática, mesmo se nós estivermos ainda longe desse ideal, nós não seremos capazes de

aplicar essa técnica. Ao contrário, no processo de análise ativa, de maneira a estudar o efeito

da mudança de um parâmetro, é desejável estabelecer, para o momento, valores específicos

para os parâmetros remanescentes. Assim, por exemplo, no estágio em que nós fazemos

previsões, os momentos em que aumentos e quedas poderiam ocorrer eram tomados como

garantia no sentido de determinar seus respectivos declives, enquanto que, num estágio

posterior, nos incluímos o conhecimento obtido sobre esses declives no Intonator, de maneira

a examinar suas localizações no tempo.

3. Resultados

A apresentação dos resultados refletem as operações que nós realizamos sobre o material

de pitch através de um grande número de seções, cada uma descobrindo características que

podem ser distinguidas como sendo superpostas umas sobre as outras.

Três classes de fenômenos podem agora ser descritos. Primeiro, uma classe básica,

chamada "maior", caracterizada por uma padrão de pitch recuperável de qualquer entrada de

fala holandesa; com o mesmo exemplar, proporciona-se a base para o padrão sintético a ser

gerado. Segundo, uma classe que contém traços dependentes na maioria dos casos de um uso

incidental de palavras, a chamar-se "menor". Tanto os movimentos de pitch maior e menor

podem ser tomados com resultados do comando do falante, contrariamente aos traços que

pertencem à terceira classe, a serem chamados "micro" que são somente uma consequência

de fatores fisiologicamente determinados. A última afirmação não exclui a presença de

fenômenos involuntários dentro das outras duas classes.

3.1 Fenômenos de classe maior

O padrão canônico da classe maior foi encontrado com forma semelhante a um chapéu (ver

Fig. 2). Ele se compõe, da esquerda para a direita, de um queda gradual, a ser chamado de

declinação; um alçamento acentuado¸ um segmento de movimento ascendente da linha de

declinação, uma queda acentuada, e uma declinação final que é a extensão da linha de

declinação inicial.

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Fig 2. O "padrão chapéu" constitui-se na forma canônica da classe maior da entoação do holandês, como visto

contra medidas reais da sentença ih moet eerst m'n kleren phaken (Eu tenho de buscar minhas roupas primeiro).

Esse padrão consiste dos três segmentos da declinação (a), (c), (e) alçamento (b) e queda (d).

Por conveniência dos leitores pouco familiarizados com a língua holandesa, exemplos comparáveis em inglês serão

acrescidos embaixo da transcrição fonética da sentença em holandês. (O padrão de chapéu ilustrado para um

material em o holandês não é superposto para representar a entoação própria para o exemplo inglês.)

A partir desse padrão, dependendo da presença ou da ausência das três subseções da

declinação, sete outras formas podem ser derivadas:

Fig. 3. Diferentes formas do padrão chapéu. Coluna esquerda: alçamento e queda em sílabas separadas com

diferentes tipos de ocorrência de declinação. Coluna direita: o mesmo, com alçamento e queda em uma sílaba.

A inclinação da linha de declinação foi de 3%, a de alçamento de 25%, e a da queda de 50%

a cada 100 ms, numa situação normal, ao passo que, em condições enfáticas, esses valores de

inclinação aumentam-se proporcionalmente.

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A duração de um alçamento é normalmente em torno de 100ms, e a de uma queda

verificamos em torno de 75ms. Novamente, em condições de ênfase, esses valores podem ser

maiores.

A posição de alçamento de queda coincide com sílabas proeminentes das palavras que têm

um papel dominante na sentença. Em muitos casos, a parte vocálica da sílaba contém ao

menos uma parte desses movimentos.

A tolerância perceptiva da localização precisa do alçamento e da queda foi determinada

experimentalmente por meio do Intonator. O fator condicionante mais importante a esse

respeito que se encontrou foi a natureza das consoantes do entorno; um alçamento, por

exemplo, tendia a tomar forma logo no início com consoantes prevocálicas surdas, com que

com consoantes sonoras.

As formas, marcadas como e-h na Fig. 3, implicam coincidências tanto de alçamento como

de queda em uma única sílaba.

Ainda que o padrão maior, o chapéu, seja apresentado aqui como um continuum, ele é, de

fato, interrompido por partes não vozeadas da sentença.

3.2 Fenômenos de classe menor

Uma vez encontrado um padrão único que caracteriza a classe maior, encontramos nesse

momento quadro traços não relacionados que pertencem à classe menor.

Fig. 4. Quatro traços de classe menor (mostrados pela linha contínua): vale antecipatório (a); dente no padrão

chapéu (b); movimento sinuoso, não finalizador (c); movimento sinuoso, finalizador (d). Como referência, a linha

pontilhada representa a construção de acordo com as regras.

Como vai ilustrado na Fig. 4, o padrão chapéu pode ser precedido por um vale

antecipatório, (a). Um segundo traço pode ser encontrado entre o alçamento e a queda,

causando um dente no padrão chapéu, (b). Um terceiro traço, no complexo dos padrões de

chapéu, aparece como um movimento sinuoso seguido pela retomada do pitch como uma

extensão da linha de declinação, (c). O quarto traço consiste em um movimento sinuoso, após

o que o pitch é retomado independentemente de seu contorno prévio, (d).

No sentido de se fazer uma especificação quantitativa desses traços, isso ainda pode ser

feito somente para o dente, cuja forma pode ser descrita em termos de queda e alçamento,

que pode ser separada por um segmento da linha de declinação. O alçamento coincide com

uma palavra dominante e tem, bem como a queda, a mesma inclinação daquela do padrão

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chapéu. A despeito da semelhança externa da Fig. 4b como um complexo de dois padrões de

chapéu, um grande número de características da primeira queda pedem uma descrição como

um dente em um único padrão chapéu. Essas característica, em oposição às da segunda

queda, vão listadas abaixo.

Primeira queda Segunda queda

Palavra não dominante Palavra dominante A palavra imediatamente precedente é dominante e leva um alçamento em sua sílaba proeminente

A palavra imediatamente precedente não precisa ser dominante

O começo da queda preferencialmente em um intervalo não vozeado

O início da queda preferencialmente na vogal

A queda tende a ir até a linha de declinação A queda tende a ultrapassar a linha de declinação estendida.

3.3 Fenômenos de classe micro.

Ao registrar fenômenos de mensuração de pitch, encontramos ligeiras elevações que

coincidiam com todas as vogais. Entretanto, a forma dessas elevações foi vista como

dependente da natureza da consoantes do entorno. Assim, por exemplo, o contorno de pitch

da vogal nessa camada foi encontrado como diferente após uma consoante precedente surda

em relação àquela precedida por uma sonora. (ver Fig.5)

Fig. 5. Ilustração de uma traço micro comum: o efeito do pitch da vogal sob a influência da consoante precedente,

—— (linha contínua) quando sonora; ---- (linha pontilhada) quando surda.

4. Discussão dos resultados

Na discussão seguinte, os pontos levantados estão diretamente relacionados com os

resultados mencionados acima.

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Em todos os três aspectos da análise perceptual descrita sob Seção 2 'Método", audição

analítica, análise ativa e síntese por regra, o material falado utilizado foi preferencialmente

derivado de sentenças observadas em situações de fala natural (conversas, leituras, etc.) Na

maioria dos casos, nós mesmos fomos os únicos sujeitos, tanto na mensuração quanto no

julgamento dos contornos entoacionais sintéticos e naturais. Sempre que alistamos outros

sujeitos, que preenchiam as condições de serem falantes nativos do holandês, nenhuma

diferença significativa foi encontrada.

A ideia de se tentar descrever os padrões entoacionais em termos de um número de classes

em uma ordem hierárquica específica, que também foi advogada por Fónagy (1965), originou-

se da consideração de que, na produção de flexões da voz, diferentes controles funcionam

simultaneamente, refletindo as complexidades da estrutura linguística bem como dos

mecanismos fisiológicos. Entretanto, métodos acústicos seguros da mensuração dos contorno

de pitch poderão ser confrontados com a superposição de traços nessas várias classes

postuladas.

O padrão chapéu estilizado, que se presume ser representativo do contorno de entoação

de uma grande número de sentenças, preenche uma função na descrição do contorno de pitch

do holandês semelhante à "bird" de Delattre (1965) para o alemão.

O conceito de linha de declinação vem como resultado de uma pesquisa consciente para

uma meio de se relacionar variações acima e abaixo de uma referência média do nível de voz.

Tal média não pode ser estabelecida como nós pensamos em termos de uma linha horizontal,

cuja existência tende-se impressionisticamente a pressupor. A solução para esse problema

veio muito bem com o padrão descendente que Bolinger sugeriu como um universal linguístico

no contorno do pitch.

A introdução dessa declinação tornou possível acomodar alçamentos e quedas como

eventos discretos no tempo, resultantes de uma contorno geral que, quando sintetizado,

parece muito natural. Ainda que se esteja normal e compreensivelmente inclinado a associar o

pitch com a partes sonoras da sentença, comandos controladores do alçamento ou da queda

tomam lugar em partes não sonoras da sentença e não são excluídos. Como uma

consequência, alçamentos e quedas por não ser encontrados no contorno do pitch como tal.

Ainda que a noção de dominância ainda requeira uma definição própria, estamos hábeis

para manipular isso numa base impressionística, o que não significa excluir uma subsequente

interpretação linguística.

Enquanto o padrão chapéu já teve seu uso como um dispositivo descritivo, ele se constitui

em um desafio interessante com respeito à sua fundação em uma realidade linguística ou

psicológica.

Até agora apenas resultados qualitativos receberam explicação detalhada, para resultados

quantitativos poder-se-ia apontar o seguinte: os valores dados para as inclinações de

alçamento e queda não precisam ser tomados como se tivessem um papel decisivo no padrão.

É bastante a localização desses movimentos, o que extremamente crítico, que se poderia

estabelecer a partir de testes para tolerância perceptiva por meio do Intonator.

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Assim, por exemplo, quando se confronta com uma queda, tem-se que determinar seu

caráter como final de um padrão de chapéu ou como o começo de um dente dentro dele.

Descobriu-se que, sob condições semelhantes, uma mudança no início da queda em algumas

dezenas de ms poderia determinar o caráter da que queda de uma outra maneira, como vai

ilustrado na Fig. 6.

Fig. 6. Ilustração do meio pelo qual uma mudança de algumas dezenas de milissegundos de uma queda pode

resultar na formação de uma queda final ou de uma não final, dando, então, possibilidade de interpretar a sentença

em termos de duas sentenças. (There is a man. He wants to talk. 'Há um homem. Ele quer falar.') ou uma

respectivamente (There is a man wishing to talk 'Há um homem querendo falar.).

Quando a queda em questão se constitui o final de padrão chapéu, ela é chamada 'final', no

outro caso, quando é parte de um dente, 'não final'. Nós temos muitas razões para acreditar

que a queda final preenche a função de anunciar o final de uma unidade de fala.

Estamos cientes das limitações severas que a introdução de padrão chapéu apresenta em

relação à entoação rela. Por isso, nós nos esforçamos tanto para acomodar os traços menores

quanto para explicá-los de um ponto de vista perceptivo. Essa abordagem implica que os

inventário de traços obtido até agora não foi exaustivo, como se torna aparente das sentenças

faladas, que mostram todas toda a diversificação a ser observada na fala espontânea.

Dois traços menores requerem maiores comentários. O que aparece como um alçamento

na Fig. 4c pode ser considerado como um traço 'inter-chapéu', uma vez que ele antecipa uma

continuação da linha original de declinação. Também pelo alçamento ilustrado na Fig. 4d, ele

pode ser interpretado que uma alçamento 'pós-chapéu'. A diferença entre os dois é inerente

não tanto ao formato da curva mas quando ao contorno que lhe segue: assim, 4c pode ser

definido como um traço de continuação, e 4d como de não continuação.

Exemplos do último alçamento podem ser encontrados no final de locuções conhecidas

como um certo tipo de sentença interrogativa. Esse assim chamado alçamento interrogativo

não precisa ocorrer em palavras dominantes nem mesmo em sílabas proeminentes, em

oposição às quedas finais. Em outras palavras, esse alçamento não deve ser tomado para

substituir uma queda final, mas precisa ser visto como um traço acrescentado.

Também para a classe micro, a experiência passada com a geração de fala sintética já nos

mostrou a importância de ligeiros movimentos de f0 no sentido de se obter naturalidade na

inflexão, tal como poderia ser derivado de um acoplamento de controle de f0 com a

intensidade. Na fala real, movimentos similares observados no contorno de pitch podem bem

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ser explicados como causados pela influência da pressão subglotal. O efeito ilustrado na Fig. 5

pode ser invocados como suporte para essa hipótese.

5. Avaliação crítica

Na próxima parte de nossa discussão, gostaríamos de comparar um grande números de

pontos salientes em nossa abordagem em relação aos de outros. Nós não temos razão para

nos queixar da afirmação de Delattre: 'The value of an investigtion depends on its research

technique' ['O valor de uma investigação depende de sua técnica de pesquisa']

Nós compartilhamos sua insistência nas características não distintivas da entoação.

Portanto, objetamos dar atenção exclusiva para as funções distintivas da entoação, bem como

isso foi feito no trabalho de Isačenko e Schädlich (1964,1965)

Nossa experiência na mensuração de curvas de pitch (técnicas de alinhamento) mostrou

três discrepâncias entre a realidade física e a interpretação subjetiva. Primeiro, o nível do pitch

presumido estendido sobre sílabas inteiras não se materializou. Segundo, em alguns poucos

casos partes dos contornos que pareciam obstruir eles próprios como erroneamente alta,

mostraram-se apenas como quedas rápidas. Esse tipo de consequência está de acordo com os

resultados de Lieberman (1965) obtidos ao solicitar a linguistas treinados o julgamento de

contornos de pitch. Terceiro, o fenômeno da declinação estabelecido experimentalmente

parece fugir da observação normal.

Como os maiores alçamentos e quedas em nosso tratamento teve correlação com as

sílabas proeminentes das palavras dominantes, pode-se questionar se a proeminência ocorre

em palavras não dominantes. Nós gostaríamos de hipotetizar que, nesses casos, de outra

maneira, os traços concomitantes tais como duração, loudness e timbre, suportam a

comunicação na ausência de um acento dominante de pitch. Isso significaria que a questão da

ordem hierárquica entre outros traços proeminentes no nível de sentenças mais longas torna-

se, então, irrelevante.

Dentro das limitações da classe maior, dois caminhos pode ser abertos para os propósitos

enfáticos: o aumento dos valores de inclinação e como o prolongamento da duração. Em nossa

opinião, nenhum propósito será alcançado ao se tentar por apenas um dos dois, uma vez que,

perceptualmente, os dois movimentos de pitch podem ter o mesmo efeito.

Para essa juntura, parece oportuno estabelecer explicitamente que a via seguida por nós

opões-se àquela seguida pela maioria dos estudos do pitch. A expectativa de correlatar

categorias semânticas e contorno entoacional é alimentada pelo critérios de distintividade, e

aponta para a busca de 'tons' apropriados os quais, eles próprios, parecem ter as funções

semânticas requeridas. Essa abordagem, em nossa opinião, frequentemente mostrou

resultados desapontadores, como pode ser visto a partir dos exemplos seguintes.

Investigadores tem sempre se preocupado em mostrar que o final de uma sentença

coincide com o final de uma queda de pitch. Entretanto, verificamos que, concorde com

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Isačenko, essa queda não precisa ocorrer no final de uma sentença, mas pode ser seguida por

uma ou mais sílabas na linha de declinação.

Ou exemplo é fornece pelo aborrecido problema de uma entoação interrogativa especial.

Por um lado, o conceito semântico de interrogação é difícil de delinear; por outro, a assim

chamada interrogação normal como manifesta por um alçamento de pitch no final, não precisa

ser representativa das interrogações em geral (na presença de outros meios, tais como a

ordem das palavras, partículas interrogativas, etc.), enquanto esse alçamento pode ser

encontrado em casos em que não há interrogação marcada.

Algumas dessas objeções por ser levantadas contra a maneira como Delattre prejulga a

análise do contorno entoacional pela imposição de conceitos como 'finalidade, continuação

maior e continuação menor' em seu material.

Ao descobrir padrões de alçamento e de queda pela audição analítica, estamos habilitados

para predizer esses alçamentos e quedas baseados na noção de dominância de palavra nas

sentenças. Essa noção particular, que tem sua origem numa análise impressionística que

qualquer usuário da língua é capaz de fazer, está sendo atualmente investigada para dar um

suporte linguístico mais firme. Testes realizados até agora dão-nos muitas razões para

acreditar que alguma relação entre dominância e estrutura sintática serão de fato

encontradas. Por exemplo, ao mudar, com a ajuda do Intonator, a localização do alçamento ou

da queda, foi possível acompanhar uma mudança correspondente na dominância, o que pode

resultar de uma mudança de interpretação pelo sujeito.

Esses testes realizados com os traços de classe maior pode ser estendidos para incluir a

contribuição dos traços presentes na classe menor. Assim, um dente no padrão chapéu por

ser esclarecido de maneira a levar a uma construção de um simples padrão chapéu, e ambos

os padrões podem ser apresentados por avaliação perceptiva.

6. Conclusões

Nosso objetivo foi estudas traços entoacionais de maneira que pudéssemos nos dissociar

de diferentes abordagem mais ou menos tradicionais, que ora mostram resultados que não

têm correlação, ora levam o risco de permanecer dentro de limites do método

impressionístico. O método da análise perceptiva defendido neste ensaio parece ser promissor

na medida em que ele nos permite sistematizar um conjunto limitado de padrões

preferenciais, cujas regras subjacentes podem ser verificadas experimentalmente.

Em nossa opinião, a redução dos aparentemente caprichosos movimentos de pitch para

esse padrões simples tornou possível graças a nossa pressuposta operação de comandos

discretos por parte do falante na geração da entoação.

Institute for Perception Research

Eindhoven, The Netherlands

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