Anatomia da entoação
COHEN, A.; T'HART, J. Língua, 19, p.177-192, 1967
Os estudos dedicados à descrição de traços prosódicos sempre mostraram a consciência de
se estar lidando com um problema altamente complexo tanto em seus traços físicos, como
frequência, intensidade e tempo, quanto em suas contrapartidas psicológicas (pitch, loudness
e duração) e suas interações, que desempenham um papel importante.
Nos últimos anos, houve uma tendência a concentrar-se no estudo de um desses traços,
com a expectativa de que, com essa forte redução, uma melhor compreensão do papel da
prosódia, em geral, poderia ser obtida.
Sem nos voltarmos da direção de detalhes bibliográficos, gostaríamos de salientar alguns
poucos trabalhos que ilustram os caminhos que levam o estudo do pitch até nós. São, em
ordem cronológica, Bolinger (1958; 1962), Delattre el alii (1965), Hadding-Koch e Studdert-
Kennendy (1964), Isačenco e Schadlich (1964; 1965), Lieberman (1965) e Mattngly (1966). Na
Seção 4, Discussão, teremos ocasição para mostrar o que partilhamos com alguns desse
autores.
Sem mencionar especificamente qualquer um desses trabalhos anteriores nesse campo,
gostaríamos de salientar que a chegada de nossos esforços tem muita similaridade com Tone I,
desenvolvido com Daniel Jones para a entoação do inglês.
Da mesma maneira que muitos pesquisadores nesse campo, compartilhamos a crença
comum de que a redução do problema da entoação ao fenômeno do pitch poderia ser uma
abordagem proveitosa. O passo seguinte é selecionar um método que nos habilite a
estabelecer quais movimentos de pitch são interpretados como relevantes pelo ouvinte.
De acordo com o que dissemos no Firth International Congress on Acoustics at Liège (Cohen
and t'Hart, 1965), acreditamos que esses movimentos relevantes de pitch relacionam-se com
atividades correspondentes da parte do falante. Presume-se serem caracterizados por
comandos discretos aplicados às cordas vocais e serem recuperáveis também como eventos
discretos no contorno resultante do pitch, que pode apresentar-se, ele próprio, à primeira
vista, como uma variação contínua no tempo.
Nas páginas seguintes, relataremos um método capaz de estabelecer meio de checar a
hipótese envolvida nessa pressuposição. Tal método foi seguido para estabelecer regras que
parecem controlar as atividades dos falantes na geração desses contornos, bem como na sua
interpretação dos ouvintes ao percebê-los.
Na Seção 2, um grande número de técnicas, que constituem, juntas, o que chamamos de
"análise perceptiva", serão descritas.
Esse método será aplicado no estudo da entoação do holandês de maneira a tornar a
análise objetivamente manipulável e a validade de suas regras ser derivada de experimentos
confiáveis.
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Os resultados dados na Seção 3 foram selecionados para ilustrar os achados dessa
abordagem e poderem ser interpretados como uma reflexão do trabalho em andamento.
No sentido de apresentar um esboço contra o que investigações atuais poderiam criticar,
um grande número de considerações poderiam ser mencionadas. Elas se construiriam pela
inclusão ou pela exclusão de noções derivadas de outros, bem como desenvolvidas por nós
mesmos.
1. Considerações básicas
A consideração mais importante a se fazer é que é possível usar das representações
internas dos padrões linguísticos de uma falante nativo. Essa faculdade, que será empregada
em nossas investigações do fenômeno do pitch, pode ser usada no final para apresentar
critérios para a seleção do material de fala a ser estudado.
Essa consideração implica que a estrutura linguística não é o objetivo, o que, na prática,
quer dizer que o material escolhido não corresponde a uma unidade linguística, como, por
exemplo, uma sentença.
Outra consideração importante é que ter os olhos exclusivamente voltados para funções
distintivas não permite esperar resultados no estabelecimento de traços que são
característicos de uma língua particular. De fato, nós acreditamos que o estudo dos traços não
distintivos é mais promissor para a compreensão do que realmente ocorre na entoação. Dessa
maneira, estamos de acordo com as noções intuitivas sobre a contribuição importante de
traços entoacionais para além das características de uma língua particular, fato amplamente
confirmado do Delattre (1965).
Algumas noções originalmente defendidas foram rejeitadas em favor de ideias sugeridas
por outros; isto se aplica à consideração colocada adiante por Lieberman (comunicação
pessoal) de que o falante tem uma ideia do que ele vai dizer e, modulando sua voz, fará
movimentos antecipatórios de pitch no início de sua locução, em relação o que ainda está por
vir. Essa noção é contrária àquela que tivemos há um tempo, que era efeito do estudo da
entoação de palavras isoladas caracterizadas por diferentes padrões acentuais, que esperava
estabelecer regras a partir das quais se pudessem derivar regras correspondentes que
explicassem a entoação de grandes porções da fala.
Finalmente, para deixar clara a esperança de que a tarefa indutiva encontrará regularidades
nas mensurações de pitch em um grande material, nós procuramos conscientemente um
método de análise "ativo" sobre a base perceptiva. Esse princípio foi inspirado pelos trabalhos
de Mattingly em J.S.R.U.
2 Método
2.1 Audição análítica
O método de análise perceptiva associa-se a três aspectos: o primeiro deles, a audição
analítica, foi tratado mais completamente no 5th ICA at Liège. Nesta técnica partes sucessivas
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de 30ms de voz gated de uma sentença foram alinhadas por pitch pelo ouvido com um sinal
acústico similar gerado, com frequência ajustável e mensurável.
2.2 Análise ativa
O segundo aspecto é chamado de análise ativa, indicando assim um procedimento em que
ideias sobre a origem do fenômeno a ser mensurado fossem introduzidas de maneira que
tomassem parte ativa na própria análise. Esse procedimento pode tomar formas diferenciadas:
no nosso caso, um conjunto preliminar de noções que eram supostas para explicar as
mensurações eram apresentadas explicitamente, como foi dada liberdade para predições
sobre os padrões de pitch das sentenças para comparações visuais com as medições atuais
(sobre esta técnica cf. COHEN e t'HART, 1965). Uma segunda forma de análise ativa,
subsequentemente empregada por nós como consequência lógica da primeira, consistiu em
usar um instrumento chamado Intonator (cf. COOPER, 1961), construído com o propósito de
gerar padrões de pitch previstos. Esse procedimento é muito similar ao princípio de análise por
síntese, tal como foi usado para checar a teoria acústica da produção da fala para explicar
composição espectral de sons semelhantes às vogais.
Uma vez que padrões de pitch previsto poderiam ser formulados basicamente em torno de
uma queda contínua e gradual no correr da sentença, interrompida por aumentos e quedas
em momentos discretos, o instrumento a ser construído conteria uma função geradora
conjugando essas demandas: caso não tenha outra indicação, o instrumento deve gerar um
declive gradual, e ainda ser capaz de produzir fortes degraus de aumentos ou quedas de pitch
nesse declive previsto, quando fosse disparado para esse fim em momentos específicos. Para
esse último propósito, um contador ativo foi usado.
Este gerador controla a taxa de repetição de F0 de uma fonte artificial de voz que é parte final
da síntese de um circuito de análise-síntese convencional tal como se conhece na telefonia. O
circuito é alimentado por uma fala natural, gravada em um loop de fita magnética.
O resultado é que a entoação original da locução gravada é substituída por uma entoação
artificial, enquanto que as características acústicas gerais da fala, espectrais, temporais e
dinâmicas, são preservadas suficientemente bem para dar à fala expressa um caráter natural.
Esse conjunto habilita-nos a julgar essas produções de fala processadas quanto à sua
aceitabilidade em relação ao contorno de pitch. Dessa maneira, acrescentando à prática de
análise por síntese, nós substituímos pela comparação visual da mensuração e das curvas
previstas, tais como plotadas no papel, uma comparação auditiva de padrões representados
internamente e gerados teoricamente.
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Fig. 1, Diagrama de bolo do Intonator. Em (a) a palavra contida na mensagem da fala original é preservada
enquanto sua informação de pitch é perdida: em (b) um novo contorno de pitch pode ser gerado por uma função do
gerador controlado por uma fonte sonora artificial de voz; em (c) os comandos no tempo da função geradora são
selecionado com um contador ativo.
A Fig. 1 dá um esboço das necessidade aparentes para o propósito mencionado. Um conjunto de filtros, cada
uma seguido por um retificador, mede a composição espectral da fala de entrada em termos de um DC-voltagem
em função do tempo. Enquanto isso, um detector de ausência/presença de voz atuar para determinar a escolha de
uma fonte de voz ou de ruído. O sinal vindo dessas fontes são levados para um segundo banco de filtros, em
princípio, idênticos, cujas saídas são reguladas em amplitude por moduladores controlados por DC-voltagem obtida
na análise. A fonte de voz é controlada por uma função geradora, pela qual a taxa de repetição é vailed por funções
logarítmicas do tempo. A essas funções podem-se acrescentar, com graus variáveis, a saída de um envelope
detector, que a casa a frequência que vai acima e abaixo com a amplitude da fala de entrada. Um filtro de 1600 Hz
shunt vai incluído nesse sistema para aumentar a inteligibilidade, sobretudo em relação às oclusivas e às fricativas.
Evidências experimentais mostraram que a informação do pitch presente nessa região de frequências altas deixam a
impressão do pitch derivada de uma fonte artificial de voz completamente não afetada. IPode-se ser facilmente
demonstrar, por exemplo, que o sistema, definido para F0 constante, dá origem a uma impressão monótona apesar
das flexões naturais da voz de entrada.
O dispositivo, denominado acima de contador ativo, proporciona, dentro de um ciclo de duração máxima de 10
segundos, um número de impulsos em momentos precisos no tempo para o próximo milissegundo, relacionados
com um momento zero na reposição dada por um impulso na segunda faixa da loop da fita. Estes momentos, em
que as várias rampas do gerador de função são acionados, podem ocorrer em local variado à vontade.
Com base nos dados obtidos a partir do método de previsão, foi possível estabelecer a relação entre as rampas
originalmente independentes. Nesta relação, a taxa de variação pode ser controlada como um todo.
A tarefa principal do Intonator consiste em apresentar contornos satisfatórios para a
comparação perceptiva com os padrões de pitch internamente representados, mais do que
copiar em detalhes o pitch da fala de entrada. Dessa maneira, foi possível procurar
conscientemente por uma redução gerenciável do número dos graus de liberdade do sistema.
A restrição que nós adotamos foi calculada para preservar a liberdade para variar o padrão
temporal da configuração do pitch, que é apontada como essencial para nossa abordagem
geral.
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2.3 íntese por regra
O terceiro aspecto da análise perceptiva pode ser designada de síntese por regra (cf.
Lieberman et al. 1959). Esse termos é usado para distinguir um procedimento de geração de
fala baseado num inventário de prescrições de um no qual os parâmetros são derivados de
representações acústicas de sentenças normalmente faladas. Normalmente, a síntese por
regra se constitui num ideal que, se cumpridas, habilitariam o investigador a mostrar, usando o
conhecimento explícito em termos quantitativos, que ele foi bem sucedido ao fazer uma
análise adequada do fenômeno que ele estudou. Em nosso caso, isso significaria a aplicação de
um prontamente disponível conjunto de regras que resultariam em tornar padrões de
entoação satisfatoriamente audíveis para qualquer sentença do holandês.
Na prática, mesmo se nós estivermos ainda longe desse ideal, nós não seremos capazes de
aplicar essa técnica. Ao contrário, no processo de análise ativa, de maneira a estudar o efeito
da mudança de um parâmetro, é desejável estabelecer, para o momento, valores específicos
para os parâmetros remanescentes. Assim, por exemplo, no estágio em que nós fazemos
previsões, os momentos em que aumentos e quedas poderiam ocorrer eram tomados como
garantia no sentido de determinar seus respectivos declives, enquanto que, num estágio
posterior, nos incluímos o conhecimento obtido sobre esses declives no Intonator, de maneira
a examinar suas localizações no tempo.
3. Resultados
A apresentação dos resultados refletem as operações que nós realizamos sobre o material
de pitch através de um grande número de seções, cada uma descobrindo características que
podem ser distinguidas como sendo superpostas umas sobre as outras.
Três classes de fenômenos podem agora ser descritos. Primeiro, uma classe básica,
chamada "maior", caracterizada por uma padrão de pitch recuperável de qualquer entrada de
fala holandesa; com o mesmo exemplar, proporciona-se a base para o padrão sintético a ser
gerado. Segundo, uma classe que contém traços dependentes na maioria dos casos de um uso
incidental de palavras, a chamar-se "menor". Tanto os movimentos de pitch maior e menor
podem ser tomados com resultados do comando do falante, contrariamente aos traços que
pertencem à terceira classe, a serem chamados "micro" que são somente uma consequência
de fatores fisiologicamente determinados. A última afirmação não exclui a presença de
fenômenos involuntários dentro das outras duas classes.
3.1 Fenômenos de classe maior
O padrão canônico da classe maior foi encontrado com forma semelhante a um chapéu (ver
Fig. 2). Ele se compõe, da esquerda para a direita, de um queda gradual, a ser chamado de
declinação; um alçamento acentuado¸ um segmento de movimento ascendente da linha de
declinação, uma queda acentuada, e uma declinação final que é a extensão da linha de
declinação inicial.
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Fig 2. O "padrão chapéu" constitui-se na forma canônica da classe maior da entoação do holandês, como visto
contra medidas reais da sentença ih moet eerst m'n kleren phaken (Eu tenho de buscar minhas roupas primeiro).
Esse padrão consiste dos três segmentos da declinação (a), (c), (e) alçamento (b) e queda (d).
Por conveniência dos leitores pouco familiarizados com a língua holandesa, exemplos comparáveis em inglês serão
acrescidos embaixo da transcrição fonética da sentença em holandês. (O padrão de chapéu ilustrado para um
material em o holandês não é superposto para representar a entoação própria para o exemplo inglês.)
A partir desse padrão, dependendo da presença ou da ausência das três subseções da
declinação, sete outras formas podem ser derivadas:
Fig. 3. Diferentes formas do padrão chapéu. Coluna esquerda: alçamento e queda em sílabas separadas com
diferentes tipos de ocorrência de declinação. Coluna direita: o mesmo, com alçamento e queda em uma sílaba.
A inclinação da linha de declinação foi de 3%, a de alçamento de 25%, e a da queda de 50%
a cada 100 ms, numa situação normal, ao passo que, em condições enfáticas, esses valores de
inclinação aumentam-se proporcionalmente.
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A duração de um alçamento é normalmente em torno de 100ms, e a de uma queda
verificamos em torno de 75ms. Novamente, em condições de ênfase, esses valores podem ser
maiores.
A posição de alçamento de queda coincide com sílabas proeminentes das palavras que têm
um papel dominante na sentença. Em muitos casos, a parte vocálica da sílaba contém ao
menos uma parte desses movimentos.
A tolerância perceptiva da localização precisa do alçamento e da queda foi determinada
experimentalmente por meio do Intonator. O fator condicionante mais importante a esse
respeito que se encontrou foi a natureza das consoantes do entorno; um alçamento, por
exemplo, tendia a tomar forma logo no início com consoantes prevocálicas surdas, com que
com consoantes sonoras.
As formas, marcadas como e-h na Fig. 3, implicam coincidências tanto de alçamento como
de queda em uma única sílaba.
Ainda que o padrão maior, o chapéu, seja apresentado aqui como um continuum, ele é, de
fato, interrompido por partes não vozeadas da sentença.
3.2 Fenômenos de classe menor
Uma vez encontrado um padrão único que caracteriza a classe maior, encontramos nesse
momento quadro traços não relacionados que pertencem à classe menor.
Fig. 4. Quatro traços de classe menor (mostrados pela linha contínua): vale antecipatório (a); dente no padrão
chapéu (b); movimento sinuoso, não finalizador (c); movimento sinuoso, finalizador (d). Como referência, a linha
pontilhada representa a construção de acordo com as regras.
Como vai ilustrado na Fig. 4, o padrão chapéu pode ser precedido por um vale
antecipatório, (a). Um segundo traço pode ser encontrado entre o alçamento e a queda,
causando um dente no padrão chapéu, (b). Um terceiro traço, no complexo dos padrões de
chapéu, aparece como um movimento sinuoso seguido pela retomada do pitch como uma
extensão da linha de declinação, (c). O quarto traço consiste em um movimento sinuoso, após
o que o pitch é retomado independentemente de seu contorno prévio, (d).
No sentido de se fazer uma especificação quantitativa desses traços, isso ainda pode ser
feito somente para o dente, cuja forma pode ser descrita em termos de queda e alçamento,
que pode ser separada por um segmento da linha de declinação. O alçamento coincide com
uma palavra dominante e tem, bem como a queda, a mesma inclinação daquela do padrão
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chapéu. A despeito da semelhança externa da Fig. 4b como um complexo de dois padrões de
chapéu, um grande número de características da primeira queda pedem uma descrição como
um dente em um único padrão chapéu. Essas característica, em oposição às da segunda
queda, vão listadas abaixo.
Primeira queda Segunda queda
Palavra não dominante Palavra dominante A palavra imediatamente precedente é dominante e leva um alçamento em sua sílaba proeminente
A palavra imediatamente precedente não precisa ser dominante
O começo da queda preferencialmente em um intervalo não vozeado
O início da queda preferencialmente na vogal
A queda tende a ir até a linha de declinação A queda tende a ultrapassar a linha de declinação estendida.
3.3 Fenômenos de classe micro.
Ao registrar fenômenos de mensuração de pitch, encontramos ligeiras elevações que
coincidiam com todas as vogais. Entretanto, a forma dessas elevações foi vista como
dependente da natureza da consoantes do entorno. Assim, por exemplo, o contorno de pitch
da vogal nessa camada foi encontrado como diferente após uma consoante precedente surda
em relação àquela precedida por uma sonora. (ver Fig.5)
Fig. 5. Ilustração de uma traço micro comum: o efeito do pitch da vogal sob a influência da consoante precedente,
—— (linha contínua) quando sonora; ---- (linha pontilhada) quando surda.
4. Discussão dos resultados
Na discussão seguinte, os pontos levantados estão diretamente relacionados com os
resultados mencionados acima.
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Em todos os três aspectos da análise perceptual descrita sob Seção 2 'Método", audição
analítica, análise ativa e síntese por regra, o material falado utilizado foi preferencialmente
derivado de sentenças observadas em situações de fala natural (conversas, leituras, etc.) Na
maioria dos casos, nós mesmos fomos os únicos sujeitos, tanto na mensuração quanto no
julgamento dos contornos entoacionais sintéticos e naturais. Sempre que alistamos outros
sujeitos, que preenchiam as condições de serem falantes nativos do holandês, nenhuma
diferença significativa foi encontrada.
A ideia de se tentar descrever os padrões entoacionais em termos de um número de classes
em uma ordem hierárquica específica, que também foi advogada por Fónagy (1965), originou-
se da consideração de que, na produção de flexões da voz, diferentes controles funcionam
simultaneamente, refletindo as complexidades da estrutura linguística bem como dos
mecanismos fisiológicos. Entretanto, métodos acústicos seguros da mensuração dos contorno
de pitch poderão ser confrontados com a superposição de traços nessas várias classes
postuladas.
O padrão chapéu estilizado, que se presume ser representativo do contorno de entoação
de uma grande número de sentenças, preenche uma função na descrição do contorno de pitch
do holandês semelhante à "bird" de Delattre (1965) para o alemão.
O conceito de linha de declinação vem como resultado de uma pesquisa consciente para
uma meio de se relacionar variações acima e abaixo de uma referência média do nível de voz.
Tal média não pode ser estabelecida como nós pensamos em termos de uma linha horizontal,
cuja existência tende-se impressionisticamente a pressupor. A solução para esse problema
veio muito bem com o padrão descendente que Bolinger sugeriu como um universal linguístico
no contorno do pitch.
A introdução dessa declinação tornou possível acomodar alçamentos e quedas como
eventos discretos no tempo, resultantes de uma contorno geral que, quando sintetizado,
parece muito natural. Ainda que se esteja normal e compreensivelmente inclinado a associar o
pitch com a partes sonoras da sentença, comandos controladores do alçamento ou da queda
tomam lugar em partes não sonoras da sentença e não são excluídos. Como uma
consequência, alçamentos e quedas por não ser encontrados no contorno do pitch como tal.
Ainda que a noção de dominância ainda requeira uma definição própria, estamos hábeis
para manipular isso numa base impressionística, o que não significa excluir uma subsequente
interpretação linguística.
Enquanto o padrão chapéu já teve seu uso como um dispositivo descritivo, ele se constitui
em um desafio interessante com respeito à sua fundação em uma realidade linguística ou
psicológica.
Até agora apenas resultados qualitativos receberam explicação detalhada, para resultados
quantitativos poder-se-ia apontar o seguinte: os valores dados para as inclinações de
alçamento e queda não precisam ser tomados como se tivessem um papel decisivo no padrão.
É bastante a localização desses movimentos, o que extremamente crítico, que se poderia
estabelecer a partir de testes para tolerância perceptiva por meio do Intonator.
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Assim, por exemplo, quando se confronta com uma queda, tem-se que determinar seu
caráter como final de um padrão de chapéu ou como o começo de um dente dentro dele.
Descobriu-se que, sob condições semelhantes, uma mudança no início da queda em algumas
dezenas de ms poderia determinar o caráter da que queda de uma outra maneira, como vai
ilustrado na Fig. 6.
Fig. 6. Ilustração do meio pelo qual uma mudança de algumas dezenas de milissegundos de uma queda pode
resultar na formação de uma queda final ou de uma não final, dando, então, possibilidade de interpretar a sentença
em termos de duas sentenças. (There is a man. He wants to talk. 'Há um homem. Ele quer falar.') ou uma
respectivamente (There is a man wishing to talk 'Há um homem querendo falar.).
Quando a queda em questão se constitui o final de padrão chapéu, ela é chamada 'final', no
outro caso, quando é parte de um dente, 'não final'. Nós temos muitas razões para acreditar
que a queda final preenche a função de anunciar o final de uma unidade de fala.
Estamos cientes das limitações severas que a introdução de padrão chapéu apresenta em
relação à entoação rela. Por isso, nós nos esforçamos tanto para acomodar os traços menores
quanto para explicá-los de um ponto de vista perceptivo. Essa abordagem implica que os
inventário de traços obtido até agora não foi exaustivo, como se torna aparente das sentenças
faladas, que mostram todas toda a diversificação a ser observada na fala espontânea.
Dois traços menores requerem maiores comentários. O que aparece como um alçamento
na Fig. 4c pode ser considerado como um traço 'inter-chapéu', uma vez que ele antecipa uma
continuação da linha original de declinação. Também pelo alçamento ilustrado na Fig. 4d, ele
pode ser interpretado que uma alçamento 'pós-chapéu'. A diferença entre os dois é inerente
não tanto ao formato da curva mas quando ao contorno que lhe segue: assim, 4c pode ser
definido como um traço de continuação, e 4d como de não continuação.
Exemplos do último alçamento podem ser encontrados no final de locuções conhecidas
como um certo tipo de sentença interrogativa. Esse assim chamado alçamento interrogativo
não precisa ocorrer em palavras dominantes nem mesmo em sílabas proeminentes, em
oposição às quedas finais. Em outras palavras, esse alçamento não deve ser tomado para
substituir uma queda final, mas precisa ser visto como um traço acrescentado.
Também para a classe micro, a experiência passada com a geração de fala sintética já nos
mostrou a importância de ligeiros movimentos de f0 no sentido de se obter naturalidade na
inflexão, tal como poderia ser derivado de um acoplamento de controle de f0 com a
intensidade. Na fala real, movimentos similares observados no contorno de pitch podem bem
11
ser explicados como causados pela influência da pressão subglotal. O efeito ilustrado na Fig. 5
pode ser invocados como suporte para essa hipótese.
5. Avaliação crítica
Na próxima parte de nossa discussão, gostaríamos de comparar um grande números de
pontos salientes em nossa abordagem em relação aos de outros. Nós não temos razão para
nos queixar da afirmação de Delattre: 'The value of an investigtion depends on its research
technique' ['O valor de uma investigação depende de sua técnica de pesquisa']
Nós compartilhamos sua insistência nas características não distintivas da entoação.
Portanto, objetamos dar atenção exclusiva para as funções distintivas da entoação, bem como
isso foi feito no trabalho de Isačenko e Schädlich (1964,1965)
Nossa experiência na mensuração de curvas de pitch (técnicas de alinhamento) mostrou
três discrepâncias entre a realidade física e a interpretação subjetiva. Primeiro, o nível do pitch
presumido estendido sobre sílabas inteiras não se materializou. Segundo, em alguns poucos
casos partes dos contornos que pareciam obstruir eles próprios como erroneamente alta,
mostraram-se apenas como quedas rápidas. Esse tipo de consequência está de acordo com os
resultados de Lieberman (1965) obtidos ao solicitar a linguistas treinados o julgamento de
contornos de pitch. Terceiro, o fenômeno da declinação estabelecido experimentalmente
parece fugir da observação normal.
Como os maiores alçamentos e quedas em nosso tratamento teve correlação com as
sílabas proeminentes das palavras dominantes, pode-se questionar se a proeminência ocorre
em palavras não dominantes. Nós gostaríamos de hipotetizar que, nesses casos, de outra
maneira, os traços concomitantes tais como duração, loudness e timbre, suportam a
comunicação na ausência de um acento dominante de pitch. Isso significaria que a questão da
ordem hierárquica entre outros traços proeminentes no nível de sentenças mais longas torna-
se, então, irrelevante.
Dentro das limitações da classe maior, dois caminhos pode ser abertos para os propósitos
enfáticos: o aumento dos valores de inclinação e como o prolongamento da duração. Em nossa
opinião, nenhum propósito será alcançado ao se tentar por apenas um dos dois, uma vez que,
perceptualmente, os dois movimentos de pitch podem ter o mesmo efeito.
Para essa juntura, parece oportuno estabelecer explicitamente que a via seguida por nós
opões-se àquela seguida pela maioria dos estudos do pitch. A expectativa de correlatar
categorias semânticas e contorno entoacional é alimentada pelo critérios de distintividade, e
aponta para a busca de 'tons' apropriados os quais, eles próprios, parecem ter as funções
semânticas requeridas. Essa abordagem, em nossa opinião, frequentemente mostrou
resultados desapontadores, como pode ser visto a partir dos exemplos seguintes.
Investigadores tem sempre se preocupado em mostrar que o final de uma sentença
coincide com o final de uma queda de pitch. Entretanto, verificamos que, concorde com
12
Isačenko, essa queda não precisa ocorrer no final de uma sentença, mas pode ser seguida por
uma ou mais sílabas na linha de declinação.
Ou exemplo é fornece pelo aborrecido problema de uma entoação interrogativa especial.
Por um lado, o conceito semântico de interrogação é difícil de delinear; por outro, a assim
chamada interrogação normal como manifesta por um alçamento de pitch no final, não precisa
ser representativa das interrogações em geral (na presença de outros meios, tais como a
ordem das palavras, partículas interrogativas, etc.), enquanto esse alçamento pode ser
encontrado em casos em que não há interrogação marcada.
Algumas dessas objeções por ser levantadas contra a maneira como Delattre prejulga a
análise do contorno entoacional pela imposição de conceitos como 'finalidade, continuação
maior e continuação menor' em seu material.
Ao descobrir padrões de alçamento e de queda pela audição analítica, estamos habilitados
para predizer esses alçamentos e quedas baseados na noção de dominância de palavra nas
sentenças. Essa noção particular, que tem sua origem numa análise impressionística que
qualquer usuário da língua é capaz de fazer, está sendo atualmente investigada para dar um
suporte linguístico mais firme. Testes realizados até agora dão-nos muitas razões para
acreditar que alguma relação entre dominância e estrutura sintática serão de fato
encontradas. Por exemplo, ao mudar, com a ajuda do Intonator, a localização do alçamento ou
da queda, foi possível acompanhar uma mudança correspondente na dominância, o que pode
resultar de uma mudança de interpretação pelo sujeito.
Esses testes realizados com os traços de classe maior pode ser estendidos para incluir a
contribuição dos traços presentes na classe menor. Assim, um dente no padrão chapéu por
ser esclarecido de maneira a levar a uma construção de um simples padrão chapéu, e ambos
os padrões podem ser apresentados por avaliação perceptiva.
6. Conclusões
Nosso objetivo foi estudas traços entoacionais de maneira que pudéssemos nos dissociar
de diferentes abordagem mais ou menos tradicionais, que ora mostram resultados que não
têm correlação, ora levam o risco de permanecer dentro de limites do método
impressionístico. O método da análise perceptiva defendido neste ensaio parece ser promissor
na medida em que ele nos permite sistematizar um conjunto limitado de padrões
preferenciais, cujas regras subjacentes podem ser verificadas experimentalmente.
Em nossa opinião, a redução dos aparentemente caprichosos movimentos de pitch para
esse padrões simples tornou possível graças a nossa pressuposta operação de comandos
discretos por parte do falante na geração da entoação.
Institute for Perception Research
Eindhoven, The Netherlands
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