Trab final sucot
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Introdução
Os seres humanos percebem os diferentes temas e valores da vida a partir de historias significativas narradas por eles mesmos. Como Kieran Egan disse: “a narração é uma tecnica para ordenar fatos do passado, ideias, personagens e demais elementos reias ou não, numa unidade significativa que moldam nossas respostas afetivas. Constitui uma ferramenta conceitual básica para proporcionar coerencia, contiunidade, conexão entre as partes e seu significado, criando a partir desses processos um nivel de significado superior”. 1
A história da festa de Sucot ocorre ao longo de todo o periodo que o povo judeu vagou pelo deserto do Sinai. Por tratar-se de um periodo muito longo, com várias pequenas narrativas e historias que entre cortam a narrativa principal, não se tem uma unica fonte resumida para ler nesta festa. Além disso, por ser uma história longa, com muitas situações problematicas, com um enorme enredo e personagens, se contruiram diferentes narrativas da mesma festividade.
Cada uma dessas narrativas tras o choque entre relevancia e autenticidade, choque comum em todas as festas judaicas e sua forma de serem percebidas e aprendidas pelo povo. Dentro disso, surge o dilema da valorização dos valores (tidos como ) universais ou a necessidade de se destacar os valores particulares do povo. E ainda, de que forma é construida a memoria coletiva do povo judeu.
O trabalho não visa dirimir todos os aspectos envolvidos na festa de Sucot, porém trazer algumas analises sobre as diferentes narrativas da mesma.
1 Egan, Kieran Primary Understanding, pp. 96 - 129
A importancia da historia na construção de significados 2
Do valor educativo da história falava já Platão, insistindo no poderoso fascínio que
exercem sobre a mente, sobretudo das crianças, mas não só, tornando fácil de memorizar e
interiorizar o significado que lhes está associado. Para o grande filósofo grego tal potencial
deveria ser utilizado para veicular as "boas" mensagens e os exemplos desejáveis, adentro da
utopia moralista e fortemente normativa que concebeu na "República". O que me leva a referir
aqui este pai fundador do pensamento ocidental não é a sua particular concepção da utilidade
socio-educativa das histórias nem os controversos fins doutrinadores que reputava de
desejáveis, mas sim o fato de que se tenha dado conta do potencial transmissivo e interactivo
de que a história, enquanto artefacto cultural, é portadora.
O significado do conceito do que é uma historia (conto tradicional, lenda, mito,
parábola, e até romance, peça de teatro ou história de cinema), apresenta como características
definidoras comuns (1) o desenvolvimento de uma ação desencadeada por uma situação
conflitual, descrita num quadro narrativo/temporal, real ou imaginário, (2) a vivência pelos
protagonistas de tensões ou oposições binárias geradoras de conflitos, e(3) a resolução final
dessas tensões, positiva, negativa, ou requestionante, através de algume forma de superação
dos conflitos desenvolvidos ao longo da ação.
Este formato, relativamente simples, parece particularmente acessível e significativo
para a compreensão da realidade, talvez pela semelhança extrema com o padrão mais comum
das experiências vividas intimamente por cada um no plano emocional, na resolução dos
conflitos com que se constrói, desde bem cedo e pouco a pouco, a apreensão da realidade
pelo indivíduo.
O proprio Kieran Egan afirma que as histórias e todos os elementos que compoem as
mesmas devem ser apresentados de forma que o leitor possa identificar-se com a trama. Que
se possa conectar os elementos ficticios com os fatos da vida real. O autor diz que quanto mais
facil seja essa conecção, melhor será para nossa memorização. “O leitor busca ver a sua
própria vida como uma grande história”.
2 topico baseado em Egan, Kieran Primary Understanding, pp. 96 - 129
Uma outra característica da história que aparece associada à sua função de
organizadora privilegiada do mundo envolvente reside no seu carácter mediato, isto é,
transposto, que torna possível ao sujeito o suficiente distanciamento afetivo necessário á
apreciação de situações, eventos, emoções e decisões.e, simultaneamente a proximidade que
se gera através dos mecanismos de identificação suscitados pela história.
Fundamental entender que todo o relato biblico do periodo que o povo judeu vagou no
deserto, não está descrito com uma narrativa poetica, e sim como uma descrição de fatos,
narrados em ordem cronologica com muitas historias entre cortando a narrativa principal.
Segundo o metodo de interepretação literario filosofico, as formas e as estruturas utilizadas
pelo autor são essenciais para compreender o texto.
Apesar de não estar escrito de forma tradicional a narrativa biblica do periodo do
deserto traz no seu corpo uma apresentação dos personagens e do enredo que apesar das
diferenças contextuais o leitor pode identificar-se com os personagens. A maioria dos conflitos
dentro da história são problematicas humanas, conflitos éticos e dinamicas sociais que
independete do contexto histórico, podem muito bem serem transpostas para os dias de hoje.
A construção da memoria coletiva e a identidade social
A priori, a memória parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo,
próprio da pessoa. Mas Maurice Halbwachs3, nos anos 20-30, já havia sublinhado que a
memória deve ser entendida também, ou sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou
seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações,
mudanças constantes.
Nesta sua obra mais famosa, Halbwachs inicia seu discurso argumentando que para a
memória se tornar “ativa” é preciso que se estabeleça “traços”, fazendo o papel de um elo. A
memória coletiva só é ativada se as memórias individuais estabelecerem os traços
necessários. A memória individual é capaz de absorver da memória coletiva coisas que lhe
parecem suas lembranças, mais ou menos como se cada memória individual fosse um ponto
de vista sobre a memória coletiva, e este ponto de vista mudasse conforme o lugar que a
pessoa ocupa, E este lugar muda segundo as relações que ela mantêm com outros meios.
Mais adiante, o autor diz que todos nós possuímos memórias coletivas e individuais.
Estas se inter-relacionam, porém não se misturam. O primeiro tipo de memória (interior,
3 Halbwachs, Maurice. Memoria Coletiva. Ed. Centauro. 2006
pessoal e autobiográfica) se apoia na segunda (exterior, social e histórica), pois a história da
nossa vida se insere na história em geral. Mas a segunda seria, naturalmente, bem mais ampla
do que a primeira.
Os elementos constitutivos da memória, individual ou coletiva, em primeiro lugar, são
os acontecimentos vividos pessoalmente. Em segundo lugar, são os acontecimentos que eu
chamaria de "vividos por tabela", ou seja, acontecimentos vividos pelo grupo ou pela
coletividade à qual a pessoa se sente pertencer. São acontecimentos dos quais a pessoa nem
sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é
quase impossível que ela consiga saber se participou ou não. Se formos mais longe, a esses
acontecimentos vividos por tabela vêm se juntar todos os eventos que não se situam dentro do
espaço-tempo de uma pessoa ou de um grupo. É perfeitamente possível que, por meio da
socialização política, ou da socialização histórica, ocorra um fenômeno de projeção ou de
identificação com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase que
herdada.Sobre esse ponto, o filosofo judeu Martin Buber trouxe um grande aporte para
entender a propria construção da memoria historica do povo judeu.
Na sua obra Moshe4, Martin Buber apresenta sua teoria a qual baseia-se na premissa
que a alegoria e os fatos historicos tëm a mesma raiz (semente historica). Segundo Buber os
fatos historicos são percebidos de diferentes formas pelas pessoas que os vivenciam. A partir
dessa vivencia cada um construi sua verdade individual a qual é baseada na suas reações
frente ao acontecido.
A verdade historica é fruto da emoção dispertada no ser humano frente a um
acontecimento importante em sua vida. Cada ser humano percebe a realidade de maneira
distinta, e a partir de sua percepção pode traduzir os fatos do “mundo real”, para a escrita do
mundo histórico. Além disso, dita percepção será muito influenciada por todos os elementos
sociologicos, teologicos e ambientais de quando se sucedeu dito fato.
Segundo Buber, “Por culpa do empenho de gerações em re-escrever as lendas de
modo a ficarem mais claras e significativas... o metodo de investigação deve ser redutivo: deve-
se retirar, uma por uma, das camadas das criações existentes para penetrar na mais antiga
essencia. Não teremos nenhuma certeza de havermos chegado ao que “foi em realidade”.
Apesar disso, comprenderemos de maneira clara o sentimento do povo naquele momento.” Se
poderá entender todas as relações emocionais envolvidas na percepção do fato e na criação
da verdade, e assim se entenderá o produto daquele encontro: o documento histórico. E não se
obterá nenhum fundo histórico da lenda quando se extrai seu entusiasmo.
4 Buber, Martin. Moshe: ED.Iman Buenos aires. 1949
Esse último elemento da memória - a sua organização em função das
preocupações pessoais e políticas do momento mostra que a memória é um fenômeno
construído. A construção, em nível individual, quer dizer que os modos de construção podem
tanto ser conscientes como inconscientes. O que a memória individual grava, recalca, exclui,
relembra, é evidentemente o resultado de um verdadeiro trabalho de organização.
Se pode dizer que, em todos os níveis, a memória é um fenômeno construído social e
individualmente, quando se trata da memória herdada pela tradição, pode-se também dizer que
há uma ligação fenomenológica muito estreita entre a memória e o sentimento de identidade.
Aqui o sentimento de identidade é o sentido da imagem de si, para si e para os outros. Isto é, a
imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela própria, a imagem que ela
constrói e apresenta aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação,
mas também para ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros.
As diferentes narrativas da festa de Sucot são o resultado deste sentimento de
identidade e de como o povo judeu percebeu-se e foi percebido ao longo da história.
Diferentes narrativas para a decisão da data de Sucot :
Narrativa religiosa:
Durante Nissan, mês da primavera em Israel, o clima fica mais quente, usualmente saímos para ficar em
cabanas. E é exatamente em Tishrei que as pessoas voltam a ficar em casa devido às chuvas e ao frio
das noites. Portanto, quando neste período os judeus residem em tendas, fica claro perante todos que
isto está sendo feito para servir a D'us e cumprir Sua vontade, como está escrito: "A fim de que as
gerações saibam."
Além disso, o grande sábio Rashbam explica que foi nesta época do ano que todas as colheitas haviam
justamente sido reunidas na terra de Israel, e dentre as abundantes pilhas de cereal, o fazendeiro
poderia se envaidecer e dar-se um tapinha orgulhoso, com a certeza de que ele tinha feito aparecer todo
este grão com o suor de sua testa e a força de suas mãos. Portanto, é exatamente neste momento que
ele deve entrar na sucá e lembrar-se que somente conseguiu a sua colheita pela ajuda divina.
Narrativa individual/psicologica:
Nossos sábios também responderam à pergunta por que observamos Sucot depois de Yom Kipur: Em
Rosh Hashaná D'us julga todos os habitantes do mundo; em Yom Kipur Ele sela o julgamento. E uma
vez que possa ter sido decretado que Israel vá ao exílio, erigimos a sucá
Narrativa nacional:
Em Yom Kipur, Moshê desceu do monte. No dia seguinte, está escrito: "Moshê reuniu toda a
congregação dos filhos de Israel e disse... tomai de vós uma oferenda para D'us." Nos dois dias
seguintes - dia 12 e 13 de Tishrei - eles trouxeram suas contribuições. No dia 14 de Tishrei, os artesãos
que construíram o Mishcan receberam todas as contribuições de Moshê. No dia 15, começou a
construção e, então, as nuvens de glória retornaram e formaram uma sucá - uma cobertura protetora -
sobre o acampamento de Israel.
As narrativas da Festa
Narrativa social5
Pirkei Avot (4:27): RabiMeier dizia: “Não olhes a vasilha mas , sim, o que há dentro dela”. Os lugares recebem o valor por quem lhes habita.
Rav Hirsch interpreta o mandamento Divino de habitar na fragilidade das tendas,
durante Sucot explicando o propósito da festividade, que visa a preservação física e espiritual
na fartura e na escassez, na riqueza ou na pobreza, sempre confiantes na mão de D’s a guiar o
povo:
“... A festa de Sucot é dedicada à preservação física de Israel por D’s. É a época
quando a colheita do ano está quase terminada e o celeiro e a casa estão abastecidos. Já não
mais voltas, ansioso, teus olhos aos céus, implorando por uma bênção, pois já colheste o que
te tocava e, confiante no que estocaste, enfrentas o inverno com serenidade. Por outro lado, a
colheita do ano pode ter-te dado escassos resultados e, refletindo sobre tua privação e
pobreza, tu e tua mulher e teus filhos podem tornar-se desesperançados e, tomados pelo
desespero, vislumbrar um futuro submerso em necessidade.”
Com isso a mitzva ganha mais força no seu aspecto social:
“... Deixa tua moradia, sólida e segura; habita sob o esparso teto de folhagens e
aprende a lição que estas nos transmitem: teu D’s, fez com que teus antepassados habitassem
em tendas durante quarenta anos, quando os tirou do Egito; e Ele os sustentou em suas
cabanas e desta forma revelou-Se como a Divina Providência que a todos ampara ... Se és
rico, fica ciente de que não são as riquezas nem as posses – nem tampouco os talentos dos
quais o homem tanto se orgulha – os deuses que tornam mais segura a tua existência.”.
Os textos do Rav Hirsch mostram o real valor da vida, quão fugazes são as riquezas,
quão vazio é o culto ao dinheiro e aos bens materiais. Apontam a riqueza que há na humildade,
busca nos judeus o respeito a D’s, que segundo sua visão é O que nos sustenta e nos ampara,
onde quer que estejamos, no deserto ou na segurança de nossos lares, nesta e em todas as
gerações de nosso povo. Reforça a maxima que o judeu não pode trabalhar para dois deuses-
ou D’s ou o dinheiro:
“...Lembra-te, também, de que cada talento adquirido pode mudar e que os
antepassados dos hoje ricos netos, viveram em cabanas, durante 40 anos, na aridez do
5 Os trechos selecionados fazem parte da obra Samson Raphael Hirsch, Isidore. HOREB: A Philosophy of Jewish Laws and Observances. Grunfeld: Books.
deserto. Portanto, aprende a não ser escravo da tua riqueza e a não te afastar de D’s. Te
sentirás livre sob Sua proteção, quer estejas em uma cabana coberta de folhagens ou sob um
firme teto de cimento. No final, se estabeleceres teu próspero lar não sobre a riqueza e o
conforto, mas sobre D’s – pois que Ele guarda a tua morada ainda que teu telhado seja de
pedra; e foi apenas através de Sua bondade que conseguiste conquistar tuas posses e
sobretudo mantê-las – só assim aprenderás – através da opulência e da riqueza – a depositar
tua confiança apenas em D’s.”
“...Será a loucura com a qual cada um de nós constrói sua própria Torre de Babel, levando-nos
a nos sentirmos seguros em nossos falsos abrigos? Que a festa de Sucot possa livrar-nos
dessa loucura; que dessa idolatria das posses e bens materiais e das obras humanas possa
nossa submissão à Sucá nos libertar.”
Além de toda essa questão de não podermos hiper valorizar os bens materiais, de vivermos na Suca como simbolo de nossa humildade e fragilidade, é nessa festa que rico e pobre devem alegrar-se. “Quando tu recolheres os produtos de tua eira e deposito de vinho, tu celebraras o festival de sucot por sete dias. Tu te rejubilaras em teu festival junto com tua filho e filha, teu escravo e escrava, o levita, o proselito, o orfão e a viuva de tuas terras.” 6
Desse versículo Maimónides extrai: “Quando um come e bebe (nos festivais), debe
alimentar o extrangeiro, o orfão e a viuva, junto dos pobres e dos esquecidos. Já que quem
fecha as portas de sua mora comendo e bebendo só com seus filhos e mulher, e não alimenta
e não dá de beber aos pobres e aflitos, não cumpre com o preceito de alegrar-se senão que
alegra somente ao seu estomago.” 7
Outro elemento muito simbolico é a tradição mistica8 iniciada na idade média de receber
a visita de sete convidados (ushpizim) em cada dia da semana de Sucot. Cada um dos
visitantes traz consigo uma mensagem: 9
1. Abraham, é a bondade (JESED);
2. Itzhak não é forte numa luta, mas sim, é mais forte que consegue permitir-se não entrar
nela. Sua força esta em controlar seus próprios impulsos e abster-se da confrontação
6 (Deuteronomio 16:13) 7 (Mishne Tora, Hiljot Iom Tov 6:18)8 (Zohar 5,103b) 9 sp.morim.org/Contents.aspx?id=1940
com o próximo. Como está escrito no Pirkei Avot: “Quem é forte? Aquele que pode
dominar seus impulsos.”10 ;
3. A voz de Iaacov, que é a voz da Torá, representa o silencio, o estudo, a oração e a
capacidade de estar amável e tranquilo;
4. Moshé, profesor para a eternidade. É o homem mais humilde de todos os tempos;
5. Aaron, esplendor interior, que está representado por esta vocação de aproximar as
pessoas da paz;
6. Iosef, a base do comportamento correto;
7. David foi eleito rei por sua humildade, que demonstrava pastorando suas ovelhas, pelo
cuidado que tinha com seu rebanho. Dito cuidado seria traduzido como proteção ao seu
povo.
Narrativa agrícola/ecologica
Por culpa que a maioria do povo judeu não trabalha mais com a terra o aspecto agricola
não se destaca tanto. Mesmo assim, Sucot é a terceira festa de peregrinação que junto com
Pesach e Shavuot compoe a tríade agrícola que marca o trabalho na terra e a vinda do povo a
Jerusalem para oferecer em sacrificio parte de sua colheita. Em palavras do texto bíblico:
“ Três vezes no ano me celebrarás festa: A festa dos pães ázimos guardarás: sete dias
comerás pães ázimos como te ordenei, ao tempo apontado no mês de Nissan, porque nele
saíste do Egito e ninguém apareça perante mim de mãos vazias também guardarás a festa da
sega, a das primícias do teu trabalho, que houveres semeado no campo igualmente guardarás
a festa da colheita à saída do ano, quando tiveres colhido do campo os frutos do teu
trabalho.”11
Hoje em dia, a unica lembrança do contexto Agricola de Sucot esta na Tefila para a
chuva, e os outros elementos relacionados a agua. Segundo o texto talmudico12 é na festa de
Sucot que se julga sobre a agua ("נידונים על המים"). No tempos do templo havia durante Chol
Hamoed o ato de celebração do derramamento de agua sobre o altar de sacrificios.
10 Pirkei Avot (4:1)11 (Éxodo 23:14-16) 12 Mishna Tratado de rosh Hashana ((א,ב
Essa cerimonia era feita no ultimo dia de Sucot (Shemini Atzeret) com muita alegria,
danças, musicas... Dita celebração era tão importante que no Talmud diz que quem não a viu,
não sabe o que é felicidade de verdade. Como disse Rambam: “Então, como feliz foi: tocam
flauta de sopro, violino e outros instrumentos , e cada um, com um instrumento musical que ele
saiba tocar; E quem sabe cantar, canta; Dançando, se satisfazendo, se regozijando cada um
como saiba fazer, e dizem palavras de canções e jubilo.. para ampliar a alegria” 13
Esta oração foi deixada para o ultimo dia da festividade de modo a não invocar a chuva
justamente quando necessitamos desfrutar do bom tempo, para que podamos habitar a Suca.
Nas orações se introduz a frase “Mashiv haruaj vemorid agueshem” até Pessach.
Narrativa nacional
A Festa de Sucot por ser uma das festas de peregrinação, também era um marco de
identidade nacional. Nas três vezes que os judeus iam a Jerusalém, a população da cidade
duplicava. Grande parte de todo povo se reunia e aquela peregrinação passava a simbolizar
ser parte do povo de Israel.
Jerusalem voltava a ser os espaço fisico de reunião por alguns dias durante o ano.
Como uma unidade de sentido inter-pessoal de tempo e espaço. A cidade passa a ser um
simbolo das conquistas e dos valores daquele povo. Transmite a ideia de soberania, dominio
sobre uma terra, um povo e uma cultura; uma tradição que remonta aos antepassados comuns
do povo.
Não é a toa que a construção da Suca possui uma enorme quantidade de regras, entre
elas esta a não delimitação do tamanho maximo de diametro. Significando que caso o povo
queira, pode construir uma única “casa” para todos. Uma casa de portas abertas para receber
todo aquele que queira, pois mais importante que o lado de fora, é o que é construido do lado
de dentro.
Outra tradição de Sucot desde os tempos da Mishna é a leitura: "אני והו הושיעה נא". Segundo Tosafot :14
רמב"ם הלכות לולב ח' י"ב 13
(סוכה מ"ה עא) 14
"משום דדרשינן באיכה רבתי קרא דכתיב ביחזקאל "ואני בתוך הגולה" וקרא דכתיב בירמיהו "והוא אסור בזיקים"
כביכול הוא בעצמו והיינו הושענא שיושיע לעצמו".
Ou seja, segundo essa interpretação, o Rav Ahi Gaon disse o mesmo, que essa
composição é um pedido de “redenção para mim e para ti”. Dessa forma, idéia aqui é que o
ser humano não consegue expressar-se pela linguagem de prosa; Que aproximou-se o Senhor
de seu povo, e seu amor a Israel é grande, que o exilio do povo de israel de sua terra, e sua
dispersão entre os outros povos, e assim como eles foram castigados po D’us, ele que trará a
redenção. E ele também está afastado de seu lar, por isso também está sofrendo.
- ִאּתו אני סובל עמו אנכי בצרה
אני - ה' - בתוך הגולה
- ה' בעצמו ובכבודו והוא אסור בזיקים .
Manifestando a idéia escondida e mistica da redenção divina. No momento que Israel
está exilada, também D’us está completo. E ainda, pela interpretação mais moderna, de forma
gramatical:
"ואני בתוך הגולה", "והוא אני (במקום צורת הפעול) והו (במקום ואותו) הרי זה על שם הפסוקים שהבאנו
.אסור בזיקים"
Essa interpretação do pedido do povo: Salve-nos, mas também a ti mesmo, do nosso
exilio amargo- e compreendendo a profundidade do PIUT dito todos os dias de Hoshana Raba
depois das Akafot :
"כהושעת אלים בלוד עמך"
E assim como muitos piutim históricos que conectam a idéia de que D’us é o redentor
do povo de israel, e com a sua redenção, também causa a redenção divina.
Dentro da narrativa nacional é fundamental trazer a simbologia das quatro especies.
Sendo elas o simbolo da união do povo. Porém, sobre as quatro especies será tratado em
tópico separado, para analisar a processo de figuração da simbologia.
Outro aspecto interessante para a narrativa nacional está no texto das Haftarot dos dias
de Sucot. No primeiro dia se lê a profecia de Zacarias que prevê uma grande guerra entre o
povo de Israel contra os povos do mundo. No texto se friza a união do povo, a questão que se
estiverem juntos e fieis aos mandamentos divinos, D’us irá redimi-los e assim vencerão a
batalha.
Na Haftara do segundo dia, está justamente o relato da escolha de Jerusalem como
capital unificadora do povo de israel e a construção do primeiro templo por idéia de David, mas
com a realização por Salomão. Justamente ambos episódios são tidos como os dois principais
marcos unificadores nacionais.
A construção de Jerusalem simbolizou a unificação das 12 tribos em uma única nação.
E o templo unificou os rituais religiosos, criou a tradição das peregrinações e, com isso, as
datas de festivais que congregavam todo o povo.
Nos dias de hoje, devido a crise hidrica que o Estado de Israel vive, toda a ligação da
festa de Sucot com a água também passou a ser vista como um elemento importante. Em
muitos lugares pelo país são feitos atos de celebração pelo “julgamento das aguas”, quando
segundo a tradição judaica é decidido o quanto de chuva terá ao longo do ano. È utilizada a
festa de Sucot para trabalhar com as crianças a importancia das chuvas e da agua para o
Estado.
Narrativa individual/psicologica
A ultima das narrativas está ligada ao conceito individual/psicologico de Teshuva da
festa. Na noite de Hoshana Raba, se costuma permanecer acordado toda a noite, no que se
costuma chamar: tikun leil Hoshana Raba. Este costume tem origem na tradição de que o dia
de Hoshana Raba será o ultimo momento quando cada um de nós receberá a decisão final
sobre seu ano.
A festa de Sucot por ser logo depois das festas de Rosh Hashana e Yom Kipur é vista
por muitos como a última chance de Teshuva. Os judeus são exilados de suas casas, e neste
exílio fazem todo o processo de Cheshbon hanefesh para perdoar e serem perdoados. Eles
estarão exilados por sete dias, para não o serem o resto de suas vidas.
Dentro das halachot de Sucot estão todas as regras para a construção da Suca. Dentre
as regras está a proibição de mantermos uma suca construida durante todo o ano. O Talmud
declara também que não podemos usar uma sucá que foi erigida trinta dias antes do feriado, mas sim
que devemos construir uma nova sucá a cada ano. Rabeinu Bachya explica que isso nos lembra que o
mundo, representado pela sucá, não é simplesmente governado por leis naturais, mas é criado
novamente a cada momento, sendo portanto novo e não para ser tomado como garantido.
Algumas decisões são decididas nesta festa. O tempo se decide em Sucot, em sua
dupla concepção, seja de peregrinação agricola ou seja de sua alegria pelos julgamentos
metafisicos. O lugar se decide no balance entre cidade e a Suca; entre os exitos da civilização
e os pedidos de não alienar-se neles ou por eles. Mas todas as confluencias não teriam sentido
se nesse contexto não se compreende-se que a Suca (a casa) é habitada por pessoas, que
traçam relações entre elas. Sem estas pessoas não há comunidade (ou povo) e Sucot perderia
todo o seu sentido.
Por isso, não há como falar de Sucot sem entender a simbologia das quatro especies. A
origem das quatro especies e sua relação com a festa está no texto biblico:
No primeiro dia, tomareis para vós outros frutos de árvores formosas, ramos de palmeiras,
ramos de árvores frondosas e salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis perante o
SENHOR, vosso Deus.15
Quatro vegetais com características tão diferentes são reunidos na festividade. Desde o
citro, fruto de uma árvore linda, com aroma e sabor, ao salgueiro que carece de ambos, nesta
festa todos são vistos como um só ramo. E mais, de acordo com a Halacha devemos estar com
as quatro especies juntas no momento da benção correspondente. Caso falte algumas delas, a
pessoa fica impossibilitada de fazer a benção. 16
O significado das Quatro Espécies e o processo de figuração da festa
Apesar de que na festa de Sucot não se tem personagens tipicos de qualquer historia,
as quatro especies passam a fazer este papel. Em cada uma é projetado um tipo de judeu para
assim realizar o processo de figuração, onde todo o povo judeu é representado.
Nossos sábios procuram responder sobre o significado das Quatro Espécies,
comparando-as aos quatro tipos de judeus que formam nosso povo.17 O Etrog tem sabor e
aroma, o Lulav tem sabor mas não tem aroma, o Hadas tem aroma mas não tem sabor e o
Arava não possui nem um nem outro.
Da mesma forma também existem judeus que têm a seu crédito tanto as boas ações
como o estudo da Torá; outros possuem apenas uma dessas virtudes e a outros ainda faltam-
lhes ambas. Assim como essas quatro variedades precisam ser reunidas para que seja
15 Levítico 23:40 16 (Shuljan Aruj, Oraj Jaim 651:12).17 Vaikra Raba 30:12
cumprido o mandamento, assim também é necessário que as quatro categorias de judeus
estejam unidas para formar uma comunidade, um povo.
A união é uma das bases da existência. Enquanto o povo se conservar unido e um velar
pelo bem-estar do outro, estará assegurado o futuro. Este é o intuito das quatro variedades de
plantas - a reunião de todas as partes do povo, não excluindo os que desconhecem a tradição.
Quando seguramos as Quatro Espécies nas mãos, o Etrog, segundo a tradição, deve
estar mais perto das Aravot do que das outras duas variedades. Com isto, mostramos que este
não se recusa a se misturar com as espécies de menor valor, especialmente o Arava; o Etrog
expressa a sua humildade e o desejo de união.
Nas palavras do Midrash, o etrog tem sabor e aroma; assim, também, o povo de Israel
inclui indivíduos que possuem estudo de Torá e praticam boas ações… A tâmara (o fruto do
lulav) tem sabor mas nenhum aroma; assim, também, o povo de Israel inclui indivíduos que têm
Torá mas não praticam boas ações… A hadas tem aroma mas não sabor; da mesma forma, o
povo de Israel inclui pessoas que praticam boas ações mas não têm o estudo de Torá… A
arava não tem sabor nem aroma; assim, também, o povo de Israel inclui indivíduos que não
têm Torá nem boas ações… Disse D’us: "Amarre-os todos juntos em um feixe e um expiará
pelo outro."
O Lubavitcher Rebe enfatiza que o Midrash não está simplesmente dizendo que "todos
são parte do povo judeu" ou "todos são preciosos aos olhos de D’us" ou mesmo que "todos são
necessários"; afirma que "todos expiam uns pelos outros." Isso implica que cada uma das
Quatro Espécies possui alguma coisa que a outra não tem, e assim "expia" e compensa pela
ausência daquela qualidade nas outras três.18
Em outras palavras, não se trata de ser necessárias todas as espécies para formar um
povo – também é necessário todas as espécies para fazer uma pessoa. E Sucot é o tempo em
que nos ligamos uns com os outros, para que as qualidades do outro sejam absorvidas por
nós.
O etrog diz: "Sou perfeito. Combino estudo e ações num equilíbrio impecável. Em minha
vida, o conhecimento e a ação não superam ou desalojam um ao outro, mas completam-se
mutuamente." Isso é algo que todos nós precisamos dizer, pelo menos de vez em quando.
18 Chabad.org
Todos precisamos saber que possuímos o potencial para tal perfeição harmoniosa, e que cada
um de nós tem aqueles momentos na vida em que a atingimos.
O lulav diz: "Sou totalmente devotado à busca da sabedoria, consciência e
autoconhecimento. A ação também é importante, mas minha primeira prioridade é conhecer a
D’us e (assim) meu verdadeiro eu, mesmo que isso signifique afastar-me do envolvimento com
o mundo." Isso é algo que todos nós precisamos dizer, pelo menos uma vez ou outra. Todos
precisamos saber que existe o potencial para esta sabedoria consumada dentro de nós, e que
todos temos aqueles momentos na vida em que a atingimos.
O hadas diz: "O que nosso mundo precisa é de ação. O conhecimento de D’us e a
autoconsciência são objetivos valiosos, mas eu tenho um trabalho a fazer. Preciso construir um
mundo melhor – o esclarecimento vai ter de esperar." Isso é algo que todos precisamos dizer,
pelo menos uma vez ou outra. Todos precisamos saber que nossa missão na vida é "fazer do
mundo físico uma morada para D’us," e que há ocasiões em que a necessidade de ação tem
precedência sobre tudo o mais.
A aravah diz: "Não tenho nada. Não tenho nada." Isso é algo que todos precisamos
afirmar…pelo menos de vez em quando.
Transformation knowledge:
Processos de Transformação do Conhecimento são derivadas das teorias de
aprendizagem organizacional, tal como proposto por Michel Roznak baseada na conversão do
conhecimento das formas tácita e explícita. O conhecimento tácito é o conhecimento prático
que é obtido a partir da experiência do aluno e, portanto, é pragmático e significativo.
De acordo com Roznak "a chave para a criação de conhecimento está na mobilização e
conversão do conhecimento tácito".
O conhecimento explícito é baseado na interação e comunicação entre as pessoas,
assistida com a tecnologia através do qual o conhecimento pode ser armazenado, transferido e
comunicado utilizando de algum tipo de ferramenta, por exemplo alguma tecnologia ou mídia,
tais como documentos, vídeo, áudio, imagens e multimídia.
Alguns modos de transformação do conhecimento são listados a seguir:
1) socialização que é o conhecimento do tácito para a forma tácita, e inclui a formação comum
e a comunicação de conhecimento tácito entre as pessoas em geral, através de reuniões e
fóruns de discussão. O compartilhamento do conhecimento tácito está ligado às idéias de
comunidades e/ou por colaboração.
2) Externalização que é o conhecimento do tácito para a forma explícita e que é realizado por
etapas de conceituação, levantamento e articulação, em colaboração com as fontes de
conhecimento tácito que é capturado de forma explícita para uma maior divulgação e
comunicação. Essa conversão é realizada por um diálogo entre os membros da equipe usando
analogias conhecimentos e técnicas de story board e armazenar os resultados usando a mídia
de tecnologia.
3) Combinação que é o conhecimento a partir do explícito à forma explícita e que é
compartilhável através de reuniões, fóruns de discussão, educação e formação, documentos,
e-mails, etc O uso da tecnologia para gerenciar e pesquisar coleções de conhecimento explícito
está bem estabelecido . As fontes de informação recolhida são diversas e podem ser
organizadas, classificadas, reconfiguradas, sendo mutável e adaptável.
Transformational Knowledge aplicado a Sucot
A sucá é definida como "uma morada temporária" que, durante os sete dias de Sucot,
torna-se o lar do judeu. Como supra citado, a cada ano cabe a pessoa ou a familia construir
uma nova Suca. Sendo que uma das grandes diferenças entre as mitzvot de Sucot e outras
mitzvot, esta no fato que nesta festa a maioria das mitzvot se cumpre de corpo inteiro. Ou seja,
construir, comer e morar na Suca não é algo que se pode realizar “ a meias”. È necessario o
todo de cada um, fator fundamental para toda a experiencia educativa de Sucot.
A sucá tem um altura mínima — o máximo de dez tefachim (aproximadamente um
metro), que não é uma "morada", mas um espaço onde se precisa rastejar. Também não pode
ser alta demais — se o teto tem mais de 20 amot (cerca de dez metros) acima do chão, a sucá
é grande demais para ser considerada uma habitação temporária. A lei da Torá especifica
também o comprimento e largura mínimos, o número mínimo de paredes, o máximo de espaço
permitidos para vãos nas paredes, sob as paredes e acima delas. E vai por aí — algumas
porções do Código da Lei Judaica parece mais um manual do construtor que um texto
religioso.19
פ"א-פ"ב סוכה משנה 19
Todas estas especificações têm uma exceção: não há limite para o comprimento e
largura de uma sucá. Pode-se construir a sucá do tamanho de uma cidade, ou de um
continente — ainda será uma sucá casher.
O versículo biblico diz o seguinte: "Em sucot (cabanas) habitareis por sete dias; todos
os cidadãos de Israel habitarão em sucot."20 Neste versículo, a palavra hebraica sucot, o plural
de sucá, é escrita sem a letra vav, significando que a palavra também pode ser lida como
sucat, "a sucá [de]." Assim, o versículo também está dizendo (sob o sistema da Torá de
exegese de múltiplo significado) que "todos os cidadãos de Israel habitarão na sucá." O Talmud
explica: a Torá deseja sugerir que "é apropriado que todo o povo de Israel habite em uma única
sucá."
O Talmud ensina que a palavra sucá é derivada de schach que, em hebraico, significa
cobertura. A sucá é uma habitação formada por paredes e teto. Para a fabricação das
divisórias pode-se usar qualquer tipo de material sólido (pedra, madeira, ferro, vegetal, plástico
e até junco). Porém, para construir a cobertura da cabana onde se deve habitar durante Sucot
só é permitido usar material vegetal recém-cortado, como folhagem, bambu e madeira, entre
outros.
Tal qual o seder de pessach os costumes de Sucot constroem um conhecimento
vivencial muito importante para as crianças. Não existindo um “mestre” o qual irá transmitir os
conhecimentos (Mimetic Knowledge), e sim uma construção conjunto. Cabe as crianças serem
parte da experiencia educativa, construindo, comendo e morando na Suca.
Busca-se nesse tipo de processo educativo que o conhecimento tácito, passe a ser
explicito e significativo para os infantes. Com isso, gerará uma interiorização do conhecimento
e de seus valores. Como consequencia o aprendiz poderá fazer suas próprias relações entre o
que sabia antes e o novo, e assim construir novos caminhos.
Essa ordem sobre a cobertura da Suca e morar na mesma, recebe respaldo na maior
das mitzvot de Sucot que é “Fazer com as novas gerações, saibam que nossos antepassados
foram salvos, morando em Sucot”. Dita frase se assemelha muito a ordem de que em Pessach
“vermos a nós mesmos como se estivessemos saindo do Egito”.
20 (Vaicrá 23:42)
Na tentativa de transforma o conhecimento em algo muito mais tangível e claro, o
Talmud21 traz a comparação entre a construção do Mishkan e a contrução das sucot hoje em
dia. Nesse relato as construções de hoje, passam a simbolizar a criação de santuarios
sagrados e conectam os judeus de nossos dias com aqueles que viveram no deserto.
Fortalecendo a mitzva acima mencionada.
Atividade de Sucot dada para 7ª. serie do Colegio Israelita Brasileiro de Porto Alegre-Brasil
Publico: 50 alunos da 7ª. serie do Colegio Israelita (12 e 13 anos)
Objetivo: Apresentar e analisar os diferentes aspectos de sucot relacionados com a
temporariedade de nossas vidas.
Materiais necessários: letra da musica Turn, Turn do The birds, trecho do livro Kohelet, papel e
canetas e Ipod.
Desenvolvimento:
O professor traz a turma de alunos para dentro da Suca da Escola. Dentro dela ele começa
contar os diferentes simbolos, regras de construção, costumes... conversa um pouco da
21 (Tratado Sukkah 11b)
importancia de comemorar a festa, os valores ligares a mesma, comenta sobre as festas de
peregrinação e assim como em Pessach devemos nos conectar ao povo judeu no deserto...
Então o professor pede para que cada um pegue um papel e uma caneta e faça uma divisão de
todos os seus horarios semanais. A divisão deve ser em forma de grafico de pizza, para faciliatr
a visualização.
Passado um tempo. O professor pede para que cada um pense o que faria se recebesse
31536000 da coisa mais valiosa do mundo. Depois de um pequeno lapso de tempo ele pede
paa que cada um conte o que faria.
Depois de contadas as ideias, o professor diz que aquela soma é o numero de segundos que
existem no ano. Que todos os anos se recebe essa quantia e não se sabe o que fazer e por
isso as pessoas terminam por despediçar essa coisa tão valiosa. Se cada um tivesse claro
quais são suas prioridades, com certeza saberiam o que fazer do seu tempo.
A atividade termina com uma analise do texto do Kohelet e da música Turn Turn.
Analise da atividade: O professor optou de forma clara por uma atividade tipica da educação
judaica não formal, trazendo os alunos para dentro da Suca, ele criou o ambiente necessário.
Utilizou-se da “pizza de tempo” como Trigger, por tratar-se de um publico judaico chiloni,
provavelmente com pouco conhecimento de fontes judaicas. Além disso, buscou na narrativa
individual/psicologica um tema que tende a ser mais relevante para os alunos, mesmo que em
contra-partida renunciou a conhecimentos e valores mais autenticos da festividade.
Conclusão
Numa epoca de queda de conceitos até então rígidos e que serviam de base para a delimitação das identidades (re)conhecidas - raça, gênero, classe, etc – colabora para a percepção de outras categorias identitárias como, por exemplo, aquelas advindas da orientação sexual e da localidade geopolítica. Processos históricos estão entrando em colapso e novas identidades estão sendo forjadas.
A identidade do sujeito pós-moderno já não é taxada como fixa ou permanente, como
acontecia no Iluminismo. Passa-se a compreender que o indivíduo pode assumir diferentes
posições, conforme o papel que está representando, gerando um processo de identificação que
não é automático, mas pode ser ganho ou perdido ao longo de sua trajetória. A complexidade
da vida cotidiana, atravessada pela globalização que encurta distâncias e conecta
comunidades em novas estruturas de espaço-tempo, impõe que assumamos distintas
identidades que podem ser conflitantes entre si. Posicionamo-nos frente ao outro de acordo
com as expectativas lançadas sobre nós.
Conciliar identidades pode não ser uma tarefa fácil, de maneira que estaremos sempre
deslocados, ou seja, não estamos totalmente em lugar algum, o que nos coloca na situação de
sempre precisarmos dar explicações, por um lado, ou mesmo estarmos em constante
negociação, por outro. Nossa localização é contínua em uma região de barganha, de troca, de
maneira a influenciar nas identidades, que por sua vez tornam-se flutuantes, líquidas, assim
como nosso tempo, conforme sugere Bauman22.
Neste período em que nova roupagem é dada às identidades, estas não devem ser
incorporadas com “unhas e dentes”, como verdade única. Mas é preciso estar pronto para
abandonar uma posição e tão logo assumir outra. Na era líquido moderna, as relações
humanas tendem também a se tornar voláteis, descartáveis, substituíveis como um tênis
comprado há poucos meses e que perde lugar para um modelo mais novo, mesmo estando
ainda em condições de uso. As identidades tornaram-se efêmeras, líquidas, rapidamente
esgotam-se e são abandonadas por outras mais convenientes aos olhos dos indivíduos que as
almejam.
O comprometimento e o compromisso em longo prazo são vistos como armadilhas a
serem evitadas. “O futuro sempre foi incerto, mas o seu caráter inconstante e volátil nunca
pareceu tão inextricável como no líquido mundo moderno da força de trabalho flexível, dos
frágeis vínculos entre os seres humanos, dos humores fluidos, das ameaças flutuantes e do
incontrolável”. 23
Neste contexto o trabalho apresentou os mais diferentes pontos de vistas das diversas
narrativas que a festa de Sucot traz. Numa analise geral, tentou-se trazer como esta festividade
pode ser ensinada nos diferentes marcos educacionais, assim como quais são os processos
envolvidos nessa aprendizagem.
Coube na descrição do processo de formação de memorias coletivas aclarar como
percebo as construções dos fatos históricos da história do povo judeu. Além disso, acredito que
22 (BAUMAN,Zygmunt. 2005,23 (BAUMAN,Zygmunt. 2005, 74).
dita explciação de Martin Buber sobre as alegorias e os fatos histõricos atinge o grande cerne
da questão sobre o periodo dos judeus no deserto.
Vivemos numa epoca a qual tudo é colocado a prova. Caso a ciencia não posso
explicar determinado fato, ele passo a ser tido como uma falsa imporesssão, ou até mesmo
uma mentira. Por causa disso, não faltam vozes nos dias de hoje questionando a veracidade
do relato biblico sobre o exodo do Egito e a vida dos judeus no deserto.
Tal qual dito por Buber, a realidade de fato se existiu ou não um exodo, é muito pouco
relevante em comparação a memoria coleiva construida pelo povo judeu. A partir de sua
percepção e emoção desse fato (veridico ou alegorico) ele passou a ser parte intrinseca da
identidade judaica contemporanea. Assim , legitimando e valorizando a tradição e a historia do
povo.
Sendo assim, cabe as novas gerações compreenderem a realidade que vivemos, das
crises de identidades em tempos liquidos, da busca pela prova material frente a historia e a
tradição. Tendo essa comprensão, elas poderão enfrentar estes desafios e construir uma
“suca” para proteger e viver de forma relevante e autentica as tradições e valores do povo de
Israel.
Bibliografia
Samson Raphael Hirsch, Isidore. HOREB: A Philosophy of Jewish Laws and Observances. Grunfeld: Books.