Tópicos em Ciências Agrárias Volume 6 - Editora Poisson

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Editora Poisson

Tópicos em Ciências Agrárias

Volume 6

1ª Edição

Belo Horizonte

Poisson

2020

Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade

Conselho Editorial Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais

Msc. Davilson Eduardo Andrade Dra. Elizângela de Jesus Oliveira – Universidade Federal do Amazonas

Msc. Fabiane dos Santos Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia

Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy

Ms. Valdiney Alves de Oliveira – Universidade Federal de Uberlândia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T674

Tópicos em Ciências Agrárias - Volume 6 –

Organização: Editora Poisson - Belo

Horizonte - MG: Poisson, 2020

Formato: PDF

ISBN: 978-65-86127-68-3  DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3 

Modo de acesso: World Wide Web

Inclui bibliografia

1. Agricultura 2. Meio Ambiente 3. Tecnologia 4. Ciências Agrárias I. Título.

CDD-630

O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de

responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores

www.poisson.com.br

[email protected]

SUMÁRIO Capítulo 1: Aplicação de jogos em uma Oficina de Extensão para despertar o interesse de estudantes para as ciências agrárias ........................................................................................... 08

Grazieli Suszek, Marcio Palácios de Carvalho, Mauro de Lima, Pâmela Melquiades Santana, Marisa de Souza Gouvea

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.01

Capítulo 2: Perfil socioeconômico dos ingressantes no Curso de Agronomia 2016 na Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus Capanema-PA ...................................... 17

Camila Nunes Sagais, Ismael de Jesus Matos Viégas, Aline Oliveira da Silva, Deila da Silva Magalhães, Socorro de Fátima Souza da Silva Viégas, Dioclea Almeida Seabra Silva

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.02

Capítulo 3: Eficiência do húmus de minhoca no desempenho do milho crioulo no Nordeste Paraense .................................................................................................................................... 25

Nelson Ken Narusawa Nakakoji, Ítala Duam Souza Narusawa, Cleison Freitas da Silva, Cícero Paulo Ferreira, Gilberta Carneiro Souto

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.03

Capítulo 4: Vermicompostagem: Conversão de resíduos orgânicos em benefícios para solo e plantas ............................................................................................................................................... 35

Marlenildo Ferreira Melo, Eulene Francisco da Silva, Francisco Cleilson Lopes Costa, Elisson Alves Santana, Aline de Almeida Vasconcelos, Eveline de Almeida Ferreira, Diana Ferreira de Freitas, Nildo da Silva Dias, Francimar Maik da Silva Morais, Larissa Fernandes da Silva

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.04

Capítulo 5: Uso do biofertilizante bovino na produção de mudas de Schizolobium parahvba var. amazonicum (Huber ex Ducke) Barneby ........................................................... 47

Mauro Dias Souza, Wellington Queiroz Ramos, Luiz Augusto de Queiroz Gomes, Madson Alan Rocha de Sousa

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.05

Capítulo 6: Composição centesimal da matéria seca de macroalgas marinhas Gracilaria birdiae cultivados no município de Rio do Fogo (RN), Brasil ................................................. 57

Ivanilson de Souza Maia, Beatriz Cristina Lopes, Vanessa Clarice Fernandes Alves, Andréia Amanda Bezerra Jácome, Natália Carla Fernandes de Medeiros Dantas

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.06

SUMÁRIO Capítulo 7: Resposta da aplicação nitrogenada suplementar tardia na cultura da soja cultivada em latossolos do Cerrado ................................................................................................... 64

Paulo Henrique Dalto, Chayanne da Costa Santos, Lucas da Rocha Franco

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.07

Capítulo 8: Concurso regional de redução de perdas na colheita da soja – regional de Maringá PR, João Vitor Ganem Rillo Paz Barateiro, Gustavo Soares Wenneck, Luiz Gustavo Pavão, José Marcos de Bastos Andrade ......................................................................... 73

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.08

Capítulo 9: Silício no controle de podridão pós colheita em maçã Maxi Gala ................ 77

Daiane Correa

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.09

Capítulo 10: Entomosporiose em pereira europeia em resposta a aplicação de fungicidas ...................................................................................................................................................... 80

Daiane Correa, Amauri Bogo, Joseane de Souza Hipolito, Suelen Cristina Uber, Fabiane Nunes Silveira, José Roberto Rodrigues

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.10

Capítulo 11: Desenvolvimento de Entomosporium mespili em Pyrus communis L. .. 84

Daiane Corrêa

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.11

Capítulo 12: Desempenho de um sistema de microirrigação por gotejo utilizando água de esgoto doméstico tratado ................................................................................................................. 88

Silvanete Severino da Silva, Claudia Facini dos Reis, Bárbara Davis Brito dos Santos, José Roberto Lopes da Silva, Roberto Vieira Pordeus

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.12

Capítulo 13: Avanço da desertificação no Estado do Ceará ................................................... 95

Brenda de Assis Ferreira Carvalho, Janacinta Nogueira de Souza, Lívya Thamara de Queiroz Feitosa, Luiza Bruna Matos Damasceno, Emanuel Marcel Braga Costa, Waleska Martins Eloi

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.13

SUMÁRIO Capítulo 14: Análise de produção da cultura do abacaxi (Ananas comosus L. Merril) no município de Floresta do Araguaia/PA e estado da Paraíba ................................................... 103

Claudomiro Roberto de Araújo Júnior, Diego Maia de Oliveira, Myrella Katlhen da Cunha de Araujo, Márcia Alessandra Brito de Aviz

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.14

Capítulo 15: Bananicultura: Produção de banana dos principais municípios produtores do Nordeste Paraense, no período de 2004 a 2016, sob análise Shift-Share .................. 110

Gutierre Pereira Maciel, Thiago Feliph Silva Fernandes, Maura da Silva Costa Furtado, Helane Cristina Aguiar Santos, Antonio Santana Batista de Oliveira Filho, Wanderson Cunha Pereira

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.15

Capítulo 16: Guaraná, a história de um produto de grande potencial econômico: Ensaios e perspectivas da transferência de tecnologia agroindustrial ............................................... 116

Indramara Lôbo de Araújo Vieira Meriguete, Dalvino Pereira de Araújo Júnior, Jane Márcia Pinto Moura, Elison de Souza Sevalho, Carlos Gustavo Nunes da Silva, Spartaco Astolfi Filho

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.16

Capítulo 17: Comercialização e destino de frutas e hortaliças após as feiras agroecológicas de Municipios Paraibanos ...................................................................................... 139

Jordânia Araújo, Jairo Janailton Alves dos Santos, Flávio Gomes Fernandes, Vanessa da Costa Santos, Raunira da Costa Araújo

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.17

Capítulo 18: Análise sobre a agricultura familiar na comunidade de Carará Mirim/Ma ............................................................................................................................................................................ 145

Maria Suely Quadros de Sousa, Ilka South de Lima Cantanhêde, Olga Oliveira dos Anjos, Adelana Maria Freitas Santos, Luciano Cavalcante Muniz, Natannael Castro Vilhena

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.18

Capítulo 19: Impactos sociais e ambientais do cultivo de dendezeiro no estado do Pará ............................................................................................................................................................................ 149

Markus Wybero Nunes Brito, Mateus Higo Daves Alves, Matheus Henrique Resueno dos Santos, Ruy Geovane Monteiro de Souza, Dioclea Almeida Seabra Silva

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.19

SUMÁRIO Capítulo 20: Pró-semiárido: Relato de experiência no território de identidade piemonte norte do Itapicuru - Bahia. ..................................................................................................................... 156

Cleiton Lin Oliveira Silva, Carlos Henrique Souza Ramos

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.20

Capítulo 21: Estudo comparativo de séries temporais para previsão dos números de casos semanais de dengue em alguns municípios de Pernambuco ..................................... 160

Jucarlos Rufino de Freitas, Mickaelle Maria de Almeida Pereira, Leika Irabele Tenório de Santana, Antonio Samuel Alves Silva, Moacyr Cunha Filho, Ana Luíza Xavier Cunha

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.21

Capítulo 22: Comparação de modelos preditivos para o nível de radiação no município de Garanhuns ............................................................................................................................................... 171

Ruben Vivaldi Silva Pessoa, Jucarlos Rufino de Freitas, Joelma Mayara da Silva, Mickaelle Maria de Almeida Pereira, Moacyr Cunha Filho

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.22

Capítulo 23: Comportamento e bem-estar dos Pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) do Aquário Natal .......................................................................................................... 181

Matheus Melo Dantas, Brena Karisa Campos de Melo, Laércio Nogueira Medeiros, Maria Lucivânia Diniz da Silva, Viviane da Silva Medeiros

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.23

Capítulo 24: Composição do leite de Cabras em confinamento, no Sertão Paraibano ............................................................................................................................................................................ 187

Maria Evelaine de Lucena Nascimento, Natalia Ingrid Souto da Silva, Francisca Camila Gomes Machado, Maiza Araujo Cordão, Tatiana Gouveia Pinto Costa, Suely Cristina Pereira de Lima Oliveira, Deyvid Eduardo do Nascimento Oliveira, Ramon Ferreira dos Santos, Igor Morais Bem

DOI: 10.36229/978-65-86127-68-3.CAP.24

Autores .......................................................................................................................................................... 191

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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Capítulo 1

Aplicação de jogos em uma Oficina de Extensão para despertar o interesse de estudantes para as ciências agrárias

Grazieli Suszek

Marcio Palácios de Carvalho

Mauro de Lima

Pâmela Melquiades Santana

Marisa de Souza Gouvea

Resumo: Este estudo científico tem como objetivo analisar a contribuição do jogo

didático como recurso pedagógico capaz de despertar o interesse de estudantes para os

cursos de Ciências Agrárias. Para tanto, foram elaborados três jogos didáticos, estilo

dominó, relacionados às áreas Zootécnica, Engenharia Agrícola e Fruticultura. No

processo de elaboração dos materiais, considerou-se as características e especificidades

de uma Escola Pública Federal, localizada na cidade de Nova Andradina, localizada a 300

quilômetros de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul - MS. Na

fundamentação teórica deste manuscrito, recorreu-se a pesquisas científicas aplicadas

que verificam a importância do lúdico no âmbito da Educação Básica regular (HUIZINGA,

2000; MIRANDA, 2002; KISHIMOTO, 2017), da Educação Científica e Tecnológica

(JORGE, 2017; PEIXE, 2014) e da Educação Superior, especificamente, trabalhos

realizados nas Ciências Agrárias (FUJIWARA; MARQUES, 2017; PEREIRA JUNIOR, 2014),

entre outros. A metodologia consistiu na elaboração dos recursos lúdicos, de acordo com

as áreas citadas, uso do material em uma ação extensionista aplicada em uma Escola da

Rede Estadual de Educação daquele município. No final da ação, aplicou-se um

questionário composto por 4 questões de múltiplas escolhas via formulário Google. Os

resultados revelaram que esse material contribui para que os estudantes participantes

conheçam, compreendam e sintam-se motivados para estudar algum curso das áreas de

ciências agrárias. Com base nesses resultados, conclui-se que o recurso lúdico é um dos

recursos que a instituição pode usar no processo de divulgação de seus cursos.

Palavras-Chave: Aprendizagem significativa, Integração, Ludicidade.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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1. INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta resultados parciais de um projeto de extensão desenvolvido em uma escola pública da Rede Estadual de Educação na cidade de Nova Andradina, município localizado a 300 quilômetros de Campo Grande, capital do Estado do Mato Grosso do Sul- MS. Esta ação teve como objetivo analisar o uso de jogos didáticos como estratégia para despertar o interesse para os cursos das áreas de Ciências Agrárias.

Segundo Jorge et al (2018), o processo de ensino e aprendizagem se torna mais relevante para o aprendiz quando se relaciona com experiências vivenciadas a partir de seu entorno. No entanto, em contextos urbanos, às vezes, os aprendizes têm pouco contato com atividades desempenhadas nessa área do conhecimento. Além disso, a falta de materiais didáticos específicos na escola pode fazer com que o assunto seja explorado de maneira artificial, despertando, assim, pouco interesse no aprendiz em pesquisar e conhecer as oportunidades que um Agrônomo, um Engenheiro Agrícola um Zootecnista, um Técnico em Agropecuária, entre outras profissões podem atuar.

No intuito de preencher essa lacuna e considerando as características agrícolas do Estado do MS, do município de Nova Andradina e aliado ao perfil dos cursos de Ciências Agrárias de uma instituição pública federal que integra à Rede de Educação Profissional, Científica e Tecnológica naquele município foram elaborados três jogos, contemplando as área da Zootecnia, da Engenharia Agrícola e o campo de atuação de um Fruticultor.

A produção e o uso de jogos didáticos em uma oficina de extensão foram motivados pela escassez de material de apoio didático relacionado ao contexto regional e local, pela oportunidade de fazer com que o público participante conheça e tenha interesse nas pesquisas e estudos na área das Ciências Agrárias. Vale mencionar que mesmo na era digital, a ludicidade não foi deixada de lado, pelo contrário, sempre esteve presente na sociedade, o que mudou, com o passar do tempo, foi a perspectiva; ora adulta ora infantil (CASAGRANDE, 2019).

No que diz respeito ao vocábulo lúdico, a sua origem vem da Língua Latina Ludus que significa brincar, porém, é preciso considerar que um mesmo jogo pode apresentar muitas variações, visto que esse recurso traz consigo aspectos sociais e culturais (Kishimoto, 2017) e o seu uso não se limita a um público específico (PEIXE et al 2017).

Diante do exposto, este estudo científico buscou analisar a contribuição do jogo didático como recurso pedagógico capaz de despertar o interesse de estudantes para os cursos de Ciências Agrárias, por meio da observação do uso do material e da aplicação de um questionário composto por 4 questões.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com Huizinga (2008), a atividade lúdica não é exclusiva dos seres humanos, basta observar os animais quando estão brincando, respeitam determinadas regras como, por exemplo, não morder com violência e fingem que estão zangados. Nessa ação, é possível perceber um instituto de imitação que se relaciona com uma atividade desenvolvida pelos adultos.

De forma semelhante, percebe-se que no mundo humano, o jogo não é uma ação forçada, pelo contrário, quando um participante responde sim à seguinte pergunta: Vamos jogar? sabe que há determinadas regras que deverão ser cumpridas, assim, nos momentos iniciais de uma atividade lúdica, os participantes naturalmente procuram entender, compreender e saber o objetivo do jogo, pois normalmente se relaciona com uma atividade específica e muitas vezes possui uma função social (HUIZINGA, 2008).

Em consonância com o autor, este estudo recorreu a um material produzido para uma situação específica; contextualizar por meio de jogos didáticos, estilo dominó, as áreas Zootécnica, Engenharia Agrícola e Fruticultura. A esse respeito, Pereira Junior et al (2014) argumentam que o jogo proporciona assimilação da realidade, adaptando a situação ao ambiente em que a atividade é desenvolvida, desperta a curiosidade para conhecer mais o assunto e com esse recurso, é possível transmitir conteúdos complexos de forma descontraída.

Ao dissertar sobre o assunto, Fujiwara e Marques (2017) verificaram que o uso do jogo didático nos cursos de Engenharia Agronômica e Florestal apresentou resultados favoráveis, capazes de envolver os participantes com o conteúdo, reforçar os conhecimentos pré-adquiridos, promover uma mudança na dinâmica da aula e estimular a concentração no decorrer da atividade.

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No âmbito da Educação Básica, materiais lúdicos têm-se demonstrado ser relevantes para aprendizagem de vários assuntos. Miranda (2002) explica que os jogos despertam, injetam alegria, ânimo e entusiasmo. Acrescenta que há uma participação ativa dos jogadores, logo, com a não utilização de jogos didáticos faz com que a escola deixe de ofertar uma educação criativa, interacional e participativa.

Ao propor uma ação extensionista de educação socioambiental, Peixe et al (2017) recorreram à produção de materiais lúdico residuais, visto que é possível explorar tanto ludicidade como a posicionamento crítico dos participantes e acrescentam que:

Quando se trata de materiais lúdicos, brinquedos ou brincadeiras, vale considerar que esses elementos não podem ser limitados apenas ao âmbito da infância, considerando que vão muito além dessa etapa, uma vez que apresentam relação direta com o universo cultural da humanidade (PEIXE et al 2017, p. 444).

Devido a esses pontos favoráveis, usar materiais lúdicos produzidos a partir da análise cotidiano das Ciências Agrárias pode auxiliar no processo de conhecimento e compreensão dos cursos da área mencionada, ao mesmo tempo que, abre espaço para um espaço para abordar as pesquisas e estudos da área em um ambiente mais participativo, descontraído e motivador.

Quando um conteúdo é apresentado de forma espontânea em um ambiente em que todos estão envolvidos com o assunto, há um favorecimento da aprendizagem, uma vez que se estabelece uma relação de cooperação e engajamento (FUJIWARA; MARQUES, 2017).

A contribuição significativa do jogo didático para aprendizagem, segundo Almeida (2013), acontece quando o docente inclui a utilização desse recurso, juntamente com o desenvolvimento de um conteúdo, considerando algumas variáveis como, o nível de complexidade do jogo, a matéria a ser ministrada, o tempo para a atividade lúdica e a faixa etária dos aprendizes.

Do mesmo modo, é importante organizar a sala de aula, agrupar as carteiras, colocar cartazes nas paredes com o objetivo e as regras do jogo. Essas estratégias ajudam os estudantes no envolvimento da atividade, vão perceber que se trata de prática educativa vinculada a um ação pedagógica. Ao defender uma pedagogia lúdica, Rau (2012, p. 28) acrescenta que “a ludicidade tem como característica lidar com as sensações e por isso traz à tona sentimentos de alegria, companheirismo e cooperação”.

Por ser um material que abre espaço para uma ampla possibilidade de desenvolver práticas pedagógicas vinculadas a um objetivo proposto, julgou-se relevante usá-lo como uma ferramenta para apresentar as áreas das Ciências Agrárias, visto que promove o envolvimento dos participantes (FUJIWARA; MARQUES, 2017).

3. METODOLOGIA

A produção dos jogos aconteceu em duas etapas: na primeira foram selecionadas as áreas que o material ia contemplar, considerando o perfil dos cursos na instituição de ensino local e as atividades mais desempenhadas na agricultura regional e local. Dessa forma, definiu-se três grandes áreas, a saber: Zootécnica, Engenharia Agrícola e Fruticultura, portanto, foram elaborados 3 jogos didáticos.

A segunda fase consistiu em selecionar fotos em consonância com o campo de atuação da área. As imagens presentes nos jogos didáticos foram selecionadas em um site que disponibiliza imagens com alta resolução de forma gratuita1. A seguir, apresenta-se parte de um jogo didático, destinado ao conhecimento das atividades realizadas na área Zootécnica.

1 Trata-se de um banco de imagens gratuito, no entanto, há possibilidade de o usuário adquirir a versão premium.

Para a produção das peças apresentadas, foram disponibilizadas aos alunos a versão completa. Disponível em: <https://www.freepik.com/home>. Acesso em 15 out. 2019.

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Fonte: Jogo elaborado pelos autores (2019).

Cada jogo didático possui 28 peças, com as seguintes dimensões; 8 centímetros de altura e 4 centímetros largura. Na parte superior, há uma imagem relacionada a um contexto sobre uma área selecionada no estudo, a saber; Zootécnica, Engenharia Agrícola ou Fruticultura e , na parte inferior, há um nome que se conecta a uma imagem de outra peça.

A exposição dos cursos da área das Ciências Agrárias aconteceu em uma turma do 9º ano composta por 13 estudantes de uma escola da Rede Municipal de Educação da cidade de Nova Andradina, foi apresentado por uma acadêmica do curso de Agronomia. Ressalta-se que este recorte do projeto teve, basicamente, duas fases. Na primeira, foram elaborados jogos didáticos e na segunda a aplicação os materiais juntamente com a apresentação dos cursos. As imagens a seguir mostram em a) apresentação da aluna e em b) o público alvo participante recebendo orientações de um docente membro da equipe do projeto de extensão.

a) b)

Fonte: O autores (2019)

Antes do início da partida do jogo, a sala de aula foi organizada; as carteiras foram reunidas em grupo de 4, a acadêmica explicou as regras do jogo didático, comentou que as peças haviam sido elaboradas de acordo a partir do contexto das Ciências Agrárias, de modo que os alunos pudessem conhecer um pouco mais sobre esse campo de atuação.

Em seguida, os próprios membros de cada equipe realizaram um sorteio ou decidiam quem iria iniciar a partida. Destaca-se que não havia uma peça específica, mas os participantes teriam que saber o nome da imagem ou o significado da palavra que estava escrito peça. Quando um jogador tinha a peça que correspondia à imagem ou à palavra, passa a vez para o próximo participante.

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Algumas dúvidas surgiram nas primeiras rodadas do jogo didático, no entanto, logo os participantes aprenderam os nomes e as imagens do material construído, jogaram várias partidas, somente pararam porque os oficineiros pediram.

A próxima etapa constituiu na aplicação de um questionário, via Formulário Google, composto por quatro questões, a saber; a) Com o jogo didático é possível conhecer sobre a área de atuação das Ciências Agrárias?; b) O jogo didático auxilia na compreensão da área de atuação das Ciências Agrárias?; c) Você sentiu motivado em estudar algum curso relacionado à área das Ciências Agrárias? e d) O jogo didático contribui para a interação na sala de aula sobre o assunto em questão?

Dessa forma, foi possível coletar alguns dados sobre o desempenho desse recurso didático em uma turma de um escola da rede municipal da cidade de Nova Andradina, conforme já mencionado. Os resultados serão apresentados, a seguir, na seção de análise dos dados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção apresentam-se os dados obtidos na aplicação de três jogos didáticos no estilo de um dominó, contendo imagens e palavras. Em seguida, analisam-se os resultados da ação extensionista por meio da aplicação de um questionário composto quatro questões de múltiplas escolhas com as seguintes possibilidades de respostas; sim, não e talvez.

O gráfico 1, refere-se à possibilidade de conhecer a área de atuação das Ciências Agrárias, recorrendo a um jogo didático.

Gráfico 1- Com o jogo didático é possível conhecer a área de atuação das Ciências Agrárias?

Fonte: Dados obtidos por meio da aplicação de um questionário (2019).

De acordo com os dados do gráfico 1, todos os participantes da ação extensionista responderam que é possível conhecer as áreas de atuação das Ciências Agrárias, por meio de um recurso lúdico. Esse resultado vem ao encontro da hipótese inicial levantada de que é possível usar um recurso lúdico para despertar, no aprendiz, o interesse por conhecer uma determinada área do conhecimento, nesse caso a área das Ciências Agrárias.

Destaca-se que, ao analisar a interação entre os estudantes, notou-se que o recurso lúdico despertou a curiosidade dos participantes. Antes do início da primeira partida, olharam todos as peças, com curiosidade, realizaram questionamentos e comentaram com os demais membros da equipe.

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Diante desse fato, Casagrande (2019) comenta que mesmo na era digital o lúdico não foi deixado de lado, Kishimoto (2017) argumenta que há aspectos sociais e culturais e que, portanto o jogo didático não se limita a um público específico (PEIXE et al 2017). O gráfico 2 apresenta resultados obtidos sobre a compreensão da área de atuação das Ciências Agrárias.

Gráfico 2- O jogo didático auxilia na compreensão da área de atuação das Ciências Agrárias?

Fonte: Dados obtidos por meio da aplicação de um questionário (2019).

Analisando as respostas obtidas 69,2% dos participantes disseram que sim, com o jogo é possível compreender a área de atuação das Ciências Agrárias e 30,8% responderam que talvez, é importante mencionar que nenhum estudante respondeu que o jogo didático não contribui, portanto, para este estudo os resultados mostraram relevantes. A esse respeito Pereira Junior et al (2014) explicam que trabalhos realizados com jogos didáticos no ensino de Ciências Agrárias vem apresentado bons resultados, despertam emoção, proporcionam um engajamentos dos aprendizes e tornam o processo de ensino e aprendizagem mais dinâmico.

Analisando o perfil da instituição de ensino superior e as oportunidades de levar mais materiais lúdicos para a comunidade local e assim despertar o interesse de estudantes, tem-se, na área da educação lúdica, a possibilidade de criar, futuramente, uma “Ludoteca de Jogos para Fins Específicos”. Dessa forma, o estudo estará contribuindo para a melhoria da educação; incentivando a pesquisa aplicada no processo de produção de jogos e na extensão, na aplicação dos recursos lúdicos construídos.

É importante ressaltar que o processo de elaboração de um jogo didático tem-se demonstrado relevante para a compreensão de conteúdos complexos nos cursos de Ciências Agrárias (FUJIWARA; MARQUES, 2017), poucos explorados em manuais didáticos (JORGE, 2019). Esses recursos podem ser usados para introduzir um novo conteúdo, durante uma sequência planejada pelo docente como atividade bem como final de uma atividade para reforçar o conteúdo compreendido (ALMEIDA, 2013; FUJIWARA & MARQUES, 2017).

No gráfico a seguir, apresentam-se os resultados sobre a motivação que os participantes em frequentar um curso relacionado às Ciências Agrárias.

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Gráfico 3- Você sentiu motivado em estudar algum curso relacionado as áreas das Ciências Agrárias?

Fonte: Dados obtidos por meio da aplicação de um questionário (2019).

De acordo com os dados no terceiro gráfico, 91% dos participantes responderam que o uso do jogo didático contribui para despertar a motivação em estudar algum curso das áreas das Ciências Agrárias, 8% disseram que talvez e apenas 1% respondeu que o material não havia despertado nenhum interesse. Diante desses resultados, o uso do jogo lúdico demonstrou ser um importante recurso para despertar a motivação. Nesse mesmo sentido, Miranda (2002) já havia constato que a ludicidade deserta alegria, ânimo e entusiasmo na sala de aula. No que diz respeito a essas características, Kishimoto (2017) argumenta que aspectos sociais e culturais estão relacionados ao jogo, por isso que quando se utiliza esse recurso de modo planejado na sala de aula (ALMEIDA, 2013), há uma contribuição positiva para o processo educacional.

Observou-se a interação, o companheirismo, a curiosidade dos estudantes por descobrir o nome das imagens e significados das palavras. Nesse momento, os membros da pesquisa explicaram o funcionamento das áreas de atuação nas Ciências Agrárias, a importância dos procedimentos e equipamentos.

Os aprendizes sentiram-se mais à vontade para realizar perguntas sobre as pesquisas que são realizadas e melhor conhecer os cursos relacionados às Ciências Agrárias. Essa observação está em consonância com os estudos de Rau (2012) quando afirma que a ludicidade ajuda o aprendiz a lidar com sensações, por isso que sentimentos de alegria e espontaneidade geralmente são manifestados.

O gráfico 4, apresenta resultados sobre o processo de interação proporcionada pelo uso do jogo didática em uma ação de extensão.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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Gráfico 4- O jogo didático contribui para a interação na sala de aula sobre o assunto em questão?

Fonte: Dados obtidos por meio da aplicação de um questionário (2019)

Segundo o quarto gráfico, 92% dos alunos responderam que o material utilizado contribui para o processo de interação na sala de aula e 8% afirmaram que talvez. Esses dados influenciam positivamente no processo de divulgação Programa Despertando Vocações para as Ciências Agrárias - Pdv agro na comunidade local, visto que desperta o envolvimento dos participantes (FUJIWARA; MARQUES, 2017) que passaram a conhecer e a compreender o jogo didático (HUIZINGA, 2008).

Destaca-se que nenhum participante respondeu que o jogo didático não promove a interação e em sala de aula, o que comprova a relevância desse material como recurso didático no processo educacional.

5. CONCLUSÕES

Este estudo teve como objetivo analisar a contribuição do jogo didático como recurso pedagógico capaz de despertar o interesse de estudantes para os cursos de Ciências Agrárias. A motivação que impulsionou o uso da ludicidade em uma escola pública da comunidade de Nova Andradina foi a constatação de que esse material vem demonstrando ser eficiente na promoção da aprendizagem.

O mesmo resultado foi constatado nesta pesquisa, além disso, percebeu que com a utilização de jogos didáticos, abre possibilidade, no contexto local, para estudos científicos de cunho aplicado sobre a contribuição da ludicidade para o processo educacional, bem como a criação de uma ludoteca para atender a comunidade da instituição e da comunidade de Nova Andradina.

A partir da observação em uma escola pública, percebeu a viabilidade de integrar o ensino, a pesquisa e a extensão. No ensino, o lúdico vem demonstrando relevância para o aprendizado do estudante (FUJIWARA; MARQUES, 2017), na pesquisa, constatou-se que é criatividade, a concentração, interação, o envolvimento de aspectos sociais durante a interação Kishimoto (2017) manifestam-se entre os alunos que precisam dialogar para chegar a um consenso durante a criação do jogo e das regras, consequentemente, passam a compreender um determinado assunto (FUJIWARA; MARQUES, 2017) e, por fim, na extensão os trabalhos realizados apontam que lúdico vem despertando a curiosidade, o posicionamento crítico (PEIXE et al, 2017).

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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REFERÊNCIAS

[1] ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica. teorias e práticas. Vol. 1: Reflexões e fundamentos. 1ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

[2] CASAGRANDE, C. B. Educação lúdica . Editora Senac São Paulo, 2019.

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[10] RAU, Maria Cristina Trois Dorneles. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba: InterSaberes, 2012.

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Capítulo 2

Perfil socioeconômico dos ingressantes no Curso de Agronomia 2016 na Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus Capanema-PA

Camila Nunes Sagais

Ismael de Jesus Matos Viégas

Aline Oliveira da Silva

Deila da Silva Magalhães

Socorro de Fátima Souza da Silva Viégas

Dioclea Almeida Seabra Silva

Resumo: O perfil dos ingressantes no ensino superior está relacionado à realidade da

sociedade local afim de, observar a necessidade de se ofertar determinados cursos

superiores assim como avaliar a estrutura do campus universitário, se este atende a

demanda e como a Universidade influencia na comunidade, promovendo a reflexão

sobre o cenário universitário e suas perspectivas. As expectativas no ensino superior

estão relacionadas a melhores condições de vida e realização profissional, no entanto a

evasão de alunos por causas internas aos recursos humanos, como aspectos didático-

pedagógicos, infraestrutura e as causas externas como aspectos sócio-políticos e

econômicos é uma realidade que precisa ser investigada. Por isso, avaliar o perfil desses

graduandos torna-se essencial para efetivar mudanças de forma benéfica e construtiva

ao individuo e a Universidade. O trabalho foi realizado na Universidade Federal Rural da

Amazônia, Campus de Capanema-PA, a pesquisa foi de caráter exploratório, aplicaram-se

formulários aos ingressantes do curso de agronomia. O campus comporta em maioria

estudantes oriundos de escolas públicas, grande parte de ingressantes do curso de

agronomia no Campus de Capanema são é baixa renda, trabalha para se manter, e uma

quantidade significativa dos discentes é oriunda de cidades do interior do Pará. Desta

forma, o Campus de Capanema proporcionou que alunos dessa região e regiões

próximas possam adentrar no ensino superior sem ter que se deslocar a capital.

Palavras-chave: Universidade, Baixa renda, Ensino Superior.

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1. INTRODUÇÃO

A importância de conhecer o perfil dos ingressantes no ensino superior está relacionada a realidade da sociedade local, pois a partir desta é possível pode-se entender a necessidade dos cursos ofertados, se estes atendem a demanda e como a Universidade influencia na comunidade, assim como a influência dos ingressantes na universidade, ou seja, promove a reflexão sobre o cenário universitário e suas perspectivas.

No que diz respeito às aspirações do aluno ao ingressar no ensino superior, Maia (1984) infere que o aluno é motivado, pela expectativa de melhores condições de vida e de realizações pessoais, profissionais e ascensão social, essas motivações variam de acordo com a renda e escolaridade.

Pode-se observar desde a República anos 90 até a presente década, que houve importante crescimento nos níveis de escolaridade da População Economicamente Ativa (PEA), com uma significativa diminuição da porcentagem de pessoas com menos escolaridade e um aumento nos níveis superiores de escolaridade, refletindo positivamente no mercado de trabalho. No conjunto da PEA, a porcentagem de pessoas com menos de quatro anos de estudo diminuiu de 35% para 24%, com menos de oito anos passou de 67% para 53% (ABRAMO, 2006).

A educação superior no Brasil compõe o curso histórico dos ciclos do ensino superior nacional e suas transformações. Entretanto, a questão é saber se realmente essas transformações provocadas pela atual expansão das matrículas em níveis superiores, corrige a sua natureza democrática (GOMES; MORAES, 2009).

O considerável aumento de pessoas de diferentes classes sociais que, atualmente, frequentam o ensino superior, caracteriza-se, como uma das grandes transformações experimentada pela sociedade brasileira no campo educacional depois de 1891, ano em que a Constituição descentralizou a oferta de ensino superior (GOMES; MORAES, 2009).

No entanto, há vários entraves durante a vida acadêmica que implicam na saída dos discentes da universidade, em vista que estes podem enfrentar questões financeiras, familiares, sociais, estrutura do campus, identificação com o curso, entre outros como empecilho para sua permanência.

De acordo com Biazus (2004), causas internas aos recursos humanos, como aspectos didático-pedagógicos, infraestrutura e as causas externas como aspectos sócio-políticos e econômicos da mesma forma que causas relacionadas ao aluno quanto à vocação e outros de ordem pessoal, também são responsáveis pela evasão do discente. O ensino público é uma forma de tornar a educação acessível à massa, como desenvolve Paulo Freire em 1986, sobre educação popular.

A democratização do ensino superior através da Lei nº 12.711/2012, lei de cotas, destina 50% das vagas a alunos oriundos de ensino público e consideram fatores raciais, renda e outras peculiaridades, tornando o ensino superior um espaço inclusivo e por isso também promove o incentivo a qualificação profissional de pessoas que por essas questões teriam menores possibilidades de ingressarem em universidades públicas.

Outro fator é a identificação do acadêmico com o curso escolhido, de acordo com Albuquerque (2008), a universidade pode ser um ambiente prazeroso com crescimento pessoal e profissional para o acadêmico, bem como, poderá se caracterizar como um ambiente gerador de frustração, angústia e de dificuldades caso o curso não seja realmente o desejado ou se não houver adaptação do ingressante.

O Campus de Capanema é um dos mais novos da UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia) criado em 2011 e inauguração em outubro de 2012, ainda há muitas mudanças a serem realizadas tanto no quesito estrutura, quanto no organizacional, esse fator se dá devido a adequação a realidade local e de seus ingressantes.

Diante disso, o objetivo do trabalho foi analisar o perfil socioeconômico dos ingressantes no curso de agronomia para servir de suporte a eventuais mudanças que possam ocorrer de forma benéfica e construtiva aos alunos e a universidade, buscando a qualidade do ensino e contribuindo para a diminuição da evasão dos alunos, através das problemáticas apresentadas pelos próprios.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus de Capanema localizada no nordeste paraense a uma latitude de 01º11’45” Sul e longitude 47º10'51" Oeste. Os alvos da pesquisa foram alunos que ingressaram no ensino superior, mais especificamente no curso de agronomia.

Figura 1- Localização da Universidade Federal Rural da Amazônia, campus Capanema-PA.

Fonte: Google Earth (2020).

O trabalho se baseou em um estudo de caso, inicialmente com a realização de uma pesquisa in loco para a coleta dos dados primários com caráter exploratório. A natureza da pesquisa foi do tipo quali-quantitativa utilizando-se de métodos qualitativos e quantitativos para obter uma compreensão mais ampla do tema estudado com os resultados obtidos.

Para a obtenção dos dados, foi realizada a aplicação de 33 questionários semiestruturados para alunos ingressantes do curso de agronomia 2016. As perguntas foram objetivas previamente estruturadas, utilizou-se o método simultâneo sobre os formulários aplicados a fim de integrar os dados e obter o melhor aproveitamento das respostas assim como destacar os dados mais relevantes extraídos dos entrevistados.

Após a obtenção dos dados os mesmos foram tabulados e organizados em planilhas no software Microsoft Excel 2010 para elaboração de gráficos, ajudando assim, a melhor interpretação e análise das informações obtidas na pesquisa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maior parte dos ingressantes no curso de agronomia na UFRA foi advinda do ensino público, sendo que 64% e 54% dos alunos cursaram o ensino médio e ensino fundamental integralmente em escolas públicas respectivamente, e 33% dos alunos estudaram no ensino médio e fundamental em escolas particulares, 3% do ensino médio e 13% do fundamental cursaram escolas particulares, mas com bolsas de estudo. (Gráfico 1).

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Gráfico 1- Porcentagem de ingressantes no curso de agronomia da UFRA Campus de Capanema que estudaram o Ensino médio e Ensino fundamental em escolas públicas, particulares e com bolsas de estudo,

Capanema-PA.

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Pode-se observar que a quantidade de alunos menos privilegiada que cursou a educação básica em instituições públicas, vem aumentando gradativamente no decorrer dos anos seu percentual no ensino superior público. Possivelmente, esse fator pode ser explicado pelo maior incentivo e investimento do governo federal em programas que possibilite a entrada desses jovens nas universidades públicas, devido sua limitada fonte de renda.

Historicamente as vagas do ensino superior público eram majoritariamente ocupadas pelas classes privilegiadas, ou seja, de ensino particular, devido a uma maior qualidade destes quanto aos seus profissionais, organização e estrutura do ambiente de estudo, sendo assim apresentavam um melhor desempenho nos exames classificatórios (ALMEIDA, 2000).

Segundo dados do Pnad-c 2012/2016 (IBGE), CES 2012/2016 e Enem 2011/2015 (Inep) a porcentagem de jovens entre 18-24 anos, PPI e baixa renda, entre 2012 e 2016 nas IFES do Estado do Pará compara que em 2012 a população desses jovens era de 68,5%, antes da lei de cotas e a evolução em 2016 posterior a lei de cotas com a população desses jovens já em 72,4%.

Esses sistemas de cotas e diversos outros programas que possibilitam o acesso dos jovens ao ensino superior se faz de extrema importância, visto que, a maioria dos ingressantes no curso de agronomia são pessoas de baixa renda. De acordo com o gráfico 2, constata-se que 21,6% dos entrevistados possuem como renda familiar menos de um salário mínimo, 45% relataram sobreviver com até um salário mínimo, 20% com mais de um salário e apenas 13% dos entrevistados possuem sua renda familiar maior que dois salários mínimos.

Gráfico 2- Renda familiar de ingressantes no curso de agronomia da Universidade Federal Rural da

Amazônia, Campus Capanema-PA.

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

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É sabido que a renda influencia não somente na entrada dos alunos ao ensino superior, mas atua diretamente na permanência dos mesmos dentro das universidades, sendo esse um dos principais fatores da evasão no ensino público, visto que, muitos dos alunos que vão frequentar universidade têm que deixar suas cidades de origem e se deslocarem ou se mudarem para a cidade, onde está localizada a instituição, muitas dessas pessoas não possuem condições de se manterem em outras cidades sem auxilio da universidade ou do governo.

A evasão acontece mesmo em um cenário de alta concorrência por vagas nas universidades, como demonstra a Comissão Especial de Estudos sobre Evasão, através de Portaria SESU/MEC, que foi criada em 1995 com objetivo de analisar as variáveis que determinam a desistência de alunos no ensino superior.

Programas que permitem o acesso à educação como Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), assim como políticas de assistência aos alunos em universidade como bolsas de iniciação científica (Pibic) e Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) têm a proposta de criar a possibilidade de permanência do aluno no espaço educacional, assim como incentivar o estudo e a pesquisa, ampliar a formação acadêmica e diminuir a desistência por questões financeiras (CNPQ, 2020).

De acordo com o gráfico 3, apenas 10% dos alunos recebem o auxilio estudantil, resultado esse muito inferior quando comparados aos 90% dos alunos que não são beneficiados com esse auxilio.

Gráfico 3- Porcentagem de ingressantes que recebem auxilio estudantil, do curso de agronomia 2016, na

UFRA Campus Capanema-PA.

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Em 2010 se tornou obrigatório a existência de planos que garanta a permanência e dê suporte aos alunos no decorrer de sua formação. Nesse mesmo ano foi criado o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) que tem como objetivo garantir diferentes auxílios aos estudantes de renda mínima per capta familiar que possuem de 1 a 2 salários mínimos (CNPQ, 2020).

De acordo com Saccaro (2019), as políticas criadas para a concessão de benefícios para estudantes em vulnerabilidade social são apontadas como importantes ferramentas para diminuir o abandono do ensino superior.

Manzini (2008) afirma que esse acesso deve ser compreendido no momento do ingresso do aluno ao ensino superior e que isso é atrelado à sua permanência na instituição. O espaço universitário deve ser provido de ferramentas, profissionais, estrutura condizentes com as reais necessidades do campus assim como a de seus usuários que possa auxiliá-los na trajetória acadêmica de forma a diminuir as desistências na educação superior.

Quando esses alunos de baixa renda não tem acesso aos auxílios estudantil são obrigados a procurarem outra fonte de renda para poder se manter na Universidade. Consolidando esse cenário, 66,6% dos alunos declararam que trabalham para poderem se manter na universidade, 12,6% estão à procura de trabalho e 20,8% relataram não exercer nenhum tipo de atividade remunerada (Gráfico 4).

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Gráfico 4- Porcentagem de ingressantes do curso de agronomia 2016, que exercem atividade remunerada para se manterem na UFRA, Campus Capanema-PA.

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Os 66,6% que exercem atividade remunerada relataram que decidiram ir a procura de trabalho por necessidade, muitos destes não são naturais de Capanema onde está localizada a UFRA e por isso precisam pagar aluguel e diversos outros gastos para se manter na Universidade. Constatou-se que 84,8% dos entrevistados saíram de cidades do interior para morar em Capanema, os outros 15,2% já residiam na cidade estudando.

Pode-se observar, que o Campus universitário de Capanema proporcionou que alunos da região e cidades próximas pudessem adentrar no ensino superior sem ter que se deslocar a Belém, capital do Estado.

É interessante mencionar que 66,6% necessita trabalhar para poder concluir o ensino superior pode ser prejudicado quando comparado aos alunos que tem dedicação exclusiva aos estudos. Dutra-Thomé (2016) explica que a experiência laboral pode afetar a dedicação dos jovens aos estudos, especialmente quando estes acumulam responsabilidades e precisam assumir compromissos precoces, como pagar as suas próprias contas ou auxiliar na renda familiar. Ou seja, para essa parcela de estudantes o caminho acadêmico pode ser mais atribulado devido outras responsabilidades além do estudo.

Dentre os entrevistados, com relação a forma de moradia dos mesmos, 40% moram em habitações coletivas, 22,5% moram em casas de parentes, 20% com a família, 12,5% residem sozinhos em kitnets e 5% moram em casas de amigos (Gráfico 5).

Gráfico 5- Porcentagem de ingressantes do curso agronomia 2016 Campus da UFRA de Capanema-PA, e

seus tipos de habitações,

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

A maioria dos entrevistados ingressantes no curso de agronomia optou por morar em habitações coletivas, uma das hipóteses para essa escolha se deve a baixa renda apresentada pela maioria dos alunos

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e como os mesmos não recebem auxílio moradia, preferem dividir o aluguel com uma maior quantidade de pessoas.

Kafuri, Ramon (1985) explicam que a maioria dos alunos se muda para residirem na cidade onde está situada a universidade, e nesse novo cenário muitos têm dificuldades para dividirem despesas com aluguel e a alimentação fazendo com que alguns desistam do curso.

4. REFLEXÕES

A maioria dos estudantes ingressantes do curso de agronomia do Campus da UFRA de Capanema é oriunda de escolas públicas.

A maioria dos ingressantes do curso de agronomia do Campus da UFRA de Capanema possui baixa renda familiar per capta, não recebe auxilio estudantil e muitos necessitam trabalhar para se manter na academia, não recebem auxilio estudantil e são advindos de outras cidades do interior da região.

Devido à baixa renda dos universitários a maioria mora de favor ou reside em habitações coletivas.

Com base nessas constatações infere-se que os discentes ingressantes no curso de agronomia Campus de Capanema têm motivos para se desmotivarem do curso destacando-se principalmente as questões financeiras o que pode contribuir marcantemente para uma das causas da evasão; portanto é necessário que o governo ofereça melhores condições de auxílio financeiro estudantil, bem como infraestrutura de acomodação e alimentação para esse público.

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16/01/2020.

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Capítulo 3

Eficiência do húmus de minhoca no desempenho do milho crioulo no Nordeste Paraense

Nelson Ken Narusawa Nakakoji

Ítala Duam Souza Narusawa

Cleison Freitas da Silva

Cícero Paulo Ferreira

Gilberta Carneiro Souto

Resumo: A vermicompostagem é um tipo de compostagem que utiliza minhocas além

dos micro-organismos naturais para degradar a matéria orgânica. As minhocas se

alimentam da matéria orgânica e a transformam em húmus, um adubo nobre com

quantidades expressivas de todos os nutrientes prontamente assimiláveis para as

plantas. Existem relatos dos efeitos positivos do húmus de minhoca, sobre os mais

diversos cultivos realizados pelos agricultores. Quando o húmus é produzido com as

condições minimamente controladas, aproveita-se muitos resíduos e rejeitos orgânicos

existentes nas propriedades, como estercos e restos vegetais, que podem, em muitos

casos, suprir a necessidade de adubo em uma horta de pequeno ou médio porte,

especialmente nas condições das agriculturas de base ecológica. Nesse sentido, este

trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência do húmus de minhoca na adubação do

milho crioulo (Zea mays L.). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente

casualizado (DIC), os tratamentos utilizados foram T0 (Tratamento testemunha), T1 (2

kg de húmus/m²), T2 (4 kg de húmus/m²), T3 (6 kg de húmus/m²) e T4 (8 kg de

húmus/m²). Cada tratamento teve 5 repetições, totalizando 25 parcelas. Como resultado

se constatou que o tratamento T3 apresentou maior incremento em todos os parâmetros

avaliados da cultura. O húmus de minhoca por proporcionar incremento na produção do

milho crioulo é uma opção aplicável e pode ser uma alternativa de adubação; a dosagem

de melhor desempenho agronômico para o milho local foi de 6,59 kg/m2. A cultura do

milho apresentou melhor desempenho de aproveitamento do húmus de minhoca do que

olerícolas como o jambu (Acmella oleracea[(L.) R. K. Jansen].

Palavras-Chave: Vermicompostagem, Adubação Orgânica, Zea mays L., Matéria orgânica,

Variedade local.

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1. INTRODUÇÃO

Pertencente à família Poaceae, espécie Zea mays L., o milho é uma cultura de grande importância econômica, sendo uma das mais cultivadas e estudadas em todo mundo. Atualmente, é uma das espécies de maior interesse agronômico e fornece vários produtos com aplicações em diversos setores (GLAT, 2010). Segundo dados do IBGE (2006), a cultura do milho por sua versatilidade, tanto no seu uso na produção animal quanto no aspecto social, se consolidou uma das mais importantes do Brasil no setor agrícola.

As populações crioulas de milho, também chamadas de variedades locais, tradicionais ou landraces, são variedades cultivadas por comunidades indígenas e agricultores familiares, e que geralmente são submetidas à uma sucessiva seleção para características relacionadas à produção de cada safra, onde as melhores espigas são selecionadas, proporcionando bom desempenho nas condições ambientais especificas em que são cultivadas (TEIXEIRA et al., 2005).

Fernandes et al. (1999) e Paiva et al. (2012) demonstraram experimentalmente, que o milho é um grande extrator de nitrogênio. Nessa perspectiva, como os solos do nordeste paraense apresentam baixas propriedades químicas (GAMA et al., 2007), e isso interfere diretamente na fertilidade do solo, bem como experiências com adubação orgânica em folhosas, culturas de ciclo curto, na área experimental de olericultura do campus Castanhal tem apresentado limitação quanto a absorção de nitrogênio (CAVALCANTE, 2015), o uso de plantas de ciclo anual como o milho, podem ter respostas diferenciadas no aproveitamento do húmus de minhoca, rico em nitrogênio.

Erig et al. (2002), ao trabalharem em condições de cultivo no Paraná, mostraram que o húmus de minhoca é uma alternativa de adubação viável, tendo resultados positivos na produção de grãos de milho, porém necessitando de mais estudos.

Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência do húmus de minhoca na adubação do milho crioulo no nordeste paraense.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A vermicompostagem se apresenta como uma opção para adubação de milho crioulo, pois é um tipo de compostagem que utiliza minhocas além dos micro-organismos naturais para degradar a matéria orgânica. O processo ocorre mais rápido que a compostagem na ausência de minhocas e produz como substrato o húmus de minhoca. Este é um adubo rico em nutrientes e ótimo para as plantas (EMBRAPA, 2018).

De uma maneira geral, é possível fazer húmus de qualquer material que se decomponha aasim qualquer resíduo orgânico disponível e não aproveitado em alguma propriedade rural pode ser utilizado. A vermicompostagem, que nada mais é do que as excreções da minhoca, quando se aplica ao solo, tem atuação benéfica sobre suas características físicas, químicas e biológicas, favorecendo a sua conservação e auxiliando o desenvolvimento das plantas (SCHIEDECK, 2008).

Com isso, o aproveitamento de forma integral e racional de todos os recursos disponíveis dentro da propriedade rural, com a introdução de novos componentes tecnológicos, como a vermicompostagem, permite o aumento da estabilidade dos sistemas de produção, maximizando a eficiência deles, reduzindo os custos e melhorando significativamente a produtividade (KONZEN & ALVARENGA, 2007).

A matéria orgânica incorporada ao solo pelo húmus funciona como fonte de energia para microrganismos úteis, melhora a estrutura e o arejamento do solo evitando a compactação, aumenta a capacidade de armazenar umidade, regula a temperatura do solo, diminui a fixação do fósforo, aumenta a CTC e protege contra lixiviação (MALAVOLTA et al. 2002). Existem relatos dos efeitos positivos do húmus de minhoca, sobre os mais diversos cultivos realizados pelos agricultores. Quando o húmus é produzido com as condições minimamente controladas, aproveita-se muitos resíduos e rejeitos orgânicos existentes nas propriedades, como estercos e restos vegetais, que podem, em muitos casos, suprir a necessidade de adubo em uma horta de pequeno ou médio porte, especialmente nas condições das agriculturas de base ecológica. No entanto esse é um importante recurso natural que é pouco aproveitado pelos agricultores em suas propriedades (SCHIEDECK, 2008).

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3. METODOLOGIA

O experimento foi desenvolvido no setor de olericultura do IFPA – Campus Castanhal, no município de Castanhal, Pará (S1°17'53.51" W47°55'1.83"), localizado na mesorregião metropolitana de Belém, no período de agosto de 2018 a fevereiro de 2019. O clima da cidade de Castanhal segundo a classificação de Köppen e Geiger é Af (tropical equatorial) com uma pluviosidade média anual de 2432 mm (CLIMATE, 2018). (Imagem 01).

Imagem 01- Mapa de Castanhal

Fonte: Autores, 2019.

O milho crioulo utilizado no experimento, foi doado por um agricultor familiar do sítio Dedê (1°20’02S, 47°00’13.2’’W), situado na cidade de Santa Luzia do Pará. Em relato, o proprietário informou que seu cultivo se iniciou na propriedade a partir da década de 70, e desde então, sempre realiza a reserva das sementes para futuros plantios através da seleção das maiores espigas de milho.

Anteriormente, a área experimental havia recebido um experimento com tratamento de biofertilizante a base de esterco bovino, de fermentação anaeróbica e posteriormente deixado em pousio por seis meses. O lugar apresentava uma vegetação com gramíneas espontâneas e densa, onde foi efetuado uma limpeza e levantamento de leiras representando as parcelas.

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Figura 01- Área experimental

Fonte: Autores, 2019

Após a limpeza do local, foram realizadas a coleta de solo da área do experimento, e no minhocário do IFPA – Campus Castanhal, coletou-se o húmus. Em seguida, encaminhados para o laboratório de solos Terra, localizado em Goiânia-GO, onde foram realizadas as análises de fertilidade do solo e do húmus, seguindo a metodologia de análise da Embrapa (2009).

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC), e os tratamentos utilizados foram T0 (Tratamento testemunha), T1 (2 kg de húmus/m²), T2 (4 kg de húmus/m²), T3 (6 kg de húmus/m²) e T4 (8 kg de húmus/m²). Cada tratamento teve 5 repetições, totalizando 25 parcelas experimentais de 1,5m por 2m. O plantio do milho foi distribuído no espaçamento de 0,75m entre linhas e 0,20m entre plantas, totalizando três linhas de cultivo em cada parcela, com 5 plantas por metro linear, sendo considerados para análise somente as 6 plantas do interior da parcela, para evitar o efeito bordadura. Cada parcela apresentava 0,8m de distância entre si como isolamento entre os tratamentos. (Figura 01)

Figura 01- Croqui da Plantação de milho na horta no IFPA- Castanhal

Fonte: Autores, 2019

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Para Fancelli (2010), as etapas V4 e V12 do milho são os estágios mais demandantes de nutrientes. Por essa razão, a primeira aplicação dos tratamentos ocorreu na semeadura, depois aos 15 dias e pôr fim aos 30 dias, divididas em 3 doses iguais. (Figura 02)

Figura 02- Ciclo vegetativo do milho

Fonte: Autores, 2019

No final do ciclo vegetativo, ocorreu a aferição dos seguintes componentes: massa fresca, massa seca, diâmetro do colmo e altura da planta. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (Teste F), regressão de equação polinomial e teste de Tukey, todos a 5% de significância. Os programas computacionais utilizados foram o Sisvar e o Microsoft Excel. (Figura 03, 04)

Figura 03- Aferição da planta

Fonte: Autores, 2019

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Figura 04- Aferição da planta/massa fresca e massa seca

Fonte: Autores, 2019

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos teores obtidos pela análise granulométrica do solo, e pela utilização do triângulo textural (Silte 14 %, Argila 17% e Areia 69%), pode-se classificar o solo como Franco Arenoso.

Na análise química do solo (Tabela 01), pode se notar ausência de alumínio e teores de 3 cmolc/dm³ de Ca+Mg. Segundo Brasil & Cravo (2007), esses teores de Cálcio e Magnésio são considerados medianos, e pela ausência de alumínio solúvel, não há necessidade de correção de acidez do solo.

Tabela 01 – Análise de solo utilizado no experimento

Profundidade pH em

CaCl2

MO N K P Ca Mg AI CTC

g kg−1 % mg dm⁻³ cmolc dm⁻³

0-20 cm 5,3 12,0 0,06 52,0 56 2,6 0,4 0,0 5,23

Fonte: Laboratório Terra (2018)

Na análise do húmus de minhoca (Tabela 02), percebe-se uma relação baixa de carbono/nitrogênio e teores consideráveis de macronutrientes, principalmente do nitrogênio e cálcio. O húmus de minhoca possui 21,6 vezes mais nitrogênio do que o teor encontrado no solo analisado e transformando para a mesma grandeza dimensional da análise de solos (cmolc dm-3 ) o valor de cálcio da análise de húmus é de Ca = 52,4 cmolc dm-3 , dessa forma, percebe-se que o vermicomposto possui 21,15 vezes mais Cálcio do que o teor encontrado no solo, com isso corroborando os resultados de incremento demonstrado posteriormente. Segundo He et al. (2012), o nitrogênio é o elemento que mais influencia o número, comprimento, diâmetro e produtividade de espigas comerciais e grãos do milho.

Tabela 02 – Análise do Húmus de minhoca utilizado no experimento

Umidade pH em CaCl2 N P K Ca Mg C/N

%

19,9% 6,8 1,3 0,29 0,44 1,05 0,38 10/8

Fonte: Laboratório Terra (2018)

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Sendo assim, ao analisar as doses de húmus de minhoca no cultivo do milho local, constatou-se que houve efeito positivo das doses de húmus nos índices de crescimento analisados (altura, diâmetro do colmo, massa verde e massa seca) com valor de significância a (P<0,05) (Tabela 03), refletindo boas características do húmus de minhoca como fertilizante. O aumento na matéria seca (MS) em função do aumento da dosagem de adubação orgânica, também foi observado por Barbosa et al. (2007).

Tabela 03 – Tratamento testemunha (T0), tratamento com 2kg de húmus de minhoca/m² (T1), tratamento com 4kg de húmus de minhoca/m² (T2), tratamento com 6kg de húmus de minhoca/m² (T3), tratamento com 8kg de húmus de minhoca/m² (T4). Médias, na coluna, seguidas de letras diferentes, diferem entre si

(P<0,05) pelo teste Tukey Tratamento Altura (m) Diâmetro do colmo (mm) Massa Verde (kg) Massa Seca (kg)

T0 1,37 a 13,84 a 0,90 a 0,15 a

T1 1,50 ab 15,61 ab 1,31 ab 0,16 a

T2 2,03 cd 18,28 b 1,58 abc 0,22 ab

T3 2,18 d 22,15 c 1,97 bc 0,27 b

T4 1,82 bc 18,64 bc 2,06 c 0,21 ab

CV (%) 8,28 9,47 21,32 18,78

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

A análise da estatística demonstrou que no tratamento T3, as plantas exibiram maior altura, com média de 2,18 m, proporcionando melhor incidência solar e mais realização de fotossíntese; o diâmetro do colmo, foi o de maior diâmetro (22,15 mm), ocasionando maior fluxo de xilema e floema (MAGALHÃES et al., 1995), e por fim o incremento da massa acumulada pela planta, ou seja, da massa seca novamente T3 foi significativo estatisticamente, com 0,27 gramas. Pode-se observar, que a incrementação proporcionada pelo húmus de minhoca reforça o trabalho de Erig et al. (2002), que constata que o húmus de minhoca pode ser utilizado como fonte alternativa de adubação na cultura do milho.

Entretanto, o tratamento T4 tendo a maior quantidade de adubação (8 kg de húmus/m²), proporcionou menor incremento em relação ao tratamento T3 (6 kg de húmus/m²), em especial na análise da massa seca. Taiz & Zeiger (1998), afirmam que as plantas comumente respondem ao aumento na dose de insumos com incrementos crescentes, até o ponto em que outro fator limitante ao crescimento passe a predominar, reduzindo o incremento. Na matéria seca das plantas (com exceção do carbono, hidrogênio e oxigênio), o Nitrogênio é três vezes mais abundante que qualquer outro elemento e o incremento da matéria seca está associado a quantidade de N, disponibilizado para a planta (MALAVOLTA, 1981; MALAVOLTA et al.,1997).

Todavia, para Wetselaar & Farquhar (1980), existe uma possível ocorrência de perdas de nitrogênio da parte aérea, continuamente durante todos os estádios de crescimento da planta, resultando em perdas de tecidos das raízes e da parte aérea, de perdas de compostos nitrogenados solúveis por lavagem pela chuva, orvalho ou água de irrigação, e por volatilização. De acordo com Duarte et al. (2003), no milho essas perdas de massa se tornam presentes quando há maior nível de Nitrogênio do que a taxa de absorção pelas raízes.

Segundo Beleze et al. (2003), existe correlação positiva entre a massa seca (MS) e o aumento da produção do grão. Assim, ajustou-se uma função polinomial para o comportamento da massa seca em função da dose de adubação do húmus de minhoca (Gráfico 01). O valor de F significativo foi de 0,017, sendo o coeficiente de determinação de 98%, o erro amostral da massa seca oscilando entre -0,008 kg/m2 a 0,0104 kg/m2 , sendo este um modelo preditor de grande assertividade.

Deste modo, pôde obter através da função modelada y = -0,0012x3 + 0,0124x2 - 0,007x + 0,1493, o valor de 6,59 kg/m2 de húmus de minhoca, sendo o valor de máxima adubação para o incremento da matéria seca, ratificando o teste de médias, sendo o tratamento T3 (6 kg de húmus/m2) o mais bem colocado entre os tratamentos.

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Gráfico 01 – Linha resposta da massa seca em função da dosagem de húmus de minhoca por m^2 a Significância do teste F<0.05.

Fonte: Elaborada pelos autores (2019)

Fazendo comparativo com o jambu (Acmella oleracea[(L.)R. K. Jansen], o milho crioulo conseguiu expressar sua máxima potencialidade com menos quantidade de adubação de húmus de minhoca, pois para essa olerícola bastante apreciada no estado do Pará, sua dose de melhor expressão agronômica foi de 10 kg de húmus de minhoca/m², descrita por Souto (2016) no mesmo setor de olericultura (IFPA-Canpus Castanhal). (Figura 05)

Figura 05– Plantação de jambu, na horta do IFPA-Castanhal

Fonte: Autores, 2019.

O nitrogênio oriundo da matéria orgânica é assimilado pelas plantas de 2 a 5 % no período de um ano (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006). O milho, por ser uma cultura de ciclo mais longo que as hortaliças, a adubação de húmus de minhoca é mais bem aproveitada. Também em alcance de sistema radicular, o milho consegue colonizar com maior profundidade que as folhosas, possuindo dupla vantagem agronômica, proporcionando rendimento de adubação.

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5. CONCLUSÕES

Como resultado se constatou que o tratamento T3 apresentou maior incremento em todos os parâmetros avaliados da cultura. O húmus de minhoca por proporcionar incremento na produção do milho crioulo é uma opção aplicável e pode ser uma alternativa de adubação; a dosagem de melhor desempenho agronômico para o milho local foi de 6,59 kg/m2. A cultura do milho apresentou melhor desempenho de aproveitamento do húmus de minhoca do que olerícolas como o jambu (Acmella oleracea[(L.) R. K. Jansen].

REFERÊNCIAS

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[10] FANCELLI, A. L. Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes na cultura do milho. Informações agronômicas, n. 131, p. 1-16, 2010.

[11] FERNANDES, L A. et al. Preparo do dolo e adubação nitrogenada na produção de grãos e matéria seca e acúmulo de nutrientes pelo milho. Pesquisa agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n 9, p. 1691-1698, 1999.

[12] GAMA et al. Recomendações de Adubação e Calagem para o Estado do Pará. 1. Ed. Belém/PA, 2007. 25 p.

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[14] HE, J.; Dukes, M.D.; Hochmuth, G.J.; Jones, J.W.; Graham, W.D. Identificação das melhores práticas de manejo de irrigação e nitrogênio para a produção de milho doce em solos arenosos, utilizando o modelo Ceres- milho. Gainesville, v.109, p.61- 70, 2012.

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[18] MALAVOLTA, E. Manual de Química Agrícola Adubos e Adubação. São Paulo: Nobel, 1981. p.31.

[19] MALAVOLTA, E.; Vitti, G. C.; Oliveira, S. A. Avaliação do estado nutricional das plantas: Princípios, métodos e técnicas de avaliação do estado nutricional. 2.ed. Piracicaba: Potafos, p. 319, 1997.

[20] MALAVOLTA, E.; Gomes, F. P.; Alcarde, J. C. Adubos e Adubações. São Paulo: Nobel, 2002. p.29- 110.

[21] PAIVA M. R. F. C. et al. Doses de nitrogênio e de fósforo recomendadas para a produção econômica de milho verde na chapada do Apodi-RN. Revista Caatinga, Mossoró, v. 25, n 4, p 1-10, 2012.

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[22] PIRES, A. M. M.; Andrade, C. A, Souza, N. A. P.; Carmo, J, B.; Coscione, A. R.; Carvalho, C. S. Disponibilidade e mineralização do nitrogênio após aplicações sucessivas de LE no solo, estimadas por meio de incubação anaeróbica. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.50, p.333- 342, 2015.

[23] SCHIEDECK, G. A minhocultura e a produção de húmus no contexto da agricultura familiar. Embrapa Clima Temperado. Brasília, DF. Abril. 2008. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/746014/minhocultura-e-roducao-de-humus-para-a-agricultura-familiar/. Acesso em: 07 agosto de 2018.

[24] SOUTO, Gilberta Carneiro. Desempenho agronômico a acúmulo de nutrientes pela planta de jambu. 2016. 47f. Tese (Doutorado em Agronomia: Fitotecnia) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró-RN, 2016.

[25] TAIZ, L.; Zeiger, E. Fisiologia Vegetal, 2. Ed., Artmed, 1998. 792.p

[26] TEIXEIRA, F. F.; SOUZA, B. O.; ANDRADE, R. V.; PADILHA, L. Boas práticas na manutenção de germoplasma de variedades crioulas de milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2005. 8 p. (Embrapa Milho e Sorgo. Comunicado Técnico,113). Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMS/17627/1/Com_113.pdf/. Acesso em: 09 agosto de 2018.

[27] MOREIRA F. M. S. & Siqueira J. O. Microbiologia e Bioquímica do Solo. 2. ed. Lavras/ MG: Ed. UFLA, 2006. 341p.

[28] WETSELAAR, R.; Farquhar, G. D. Nitrogen losses from tops of plants. Advances in Agronomy, New York, v. 33, p. 263 - 302, 1980.

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Capítulo 4

Vermicompostagem: Conversão de resíduos orgânicos em benefícios para solo e plantas Marlenildo Ferreira Melo

Eulene Francisco da Silva

Francisco Cleilson Lopes Costa

Elisson Alves Santana

Aline de Almeida Vasconcelos

Eveline de Almeida Ferreira

Diana Ferreira de Freitas

Nildo da Silva Dias

Francimar Maik da Silva Morais

Larissa Fernandes da Silva1

Resumo: A vermicompostagem é um dos métodos mais eficientes de conversão de

materiais orgânicos em produtos úteis e ecológicos, que consiste em acelerar a

decomposição e humificação desses resíduos com o auxílio de minhocas e

microrganismos associados, em ambiente controlado. O processo tem sido usado com

sucesso no tratamento de lodo de esgoto, resíduos da indústria de celulose, destilaria,

domiciliares e de alimentos, e esterco animal, contribuindo para redução no impacto

ambiental do descarte indevido desses materiais no ambiente. O vermicomposto

apresenta elevado potencial como condicionador do solo, aumentando a porosidade,

capacidade de troca de cátions e ânions, conteúdo e disponibilidade de macro e

micronutrientes, formação e estabilidade de agregados, atividade microbiana e atividade

de enzimas. Tais melhorias nos atributos do solo favorecem o crescimento,

produtividade e sanidade das plantas, além de aumentar a taxa fotossintética, atividade

de enzimas de defesa, produção de biomassa radicular e aérea, produção e qualidade de

frutos, e tolerância a condições de estresses abióticos, como seca e salinidade. Assim,

cada vez mais, são necessárias informações sobre os materiais utilizados, os métodos de

preparo, condução e monitoramento da pilha de resíduos, e condições ideais para se

obter um produto de qualidade. Por fim, essa revisão tem por finalidade gerar

informações sobre os benefícios da utilização do vermicomposto, em substituição aos

fertilizantes químicos, para melhoria das características do solo e crescimento das

plantas.

Palavras-chave: Biologia do Solo; Eisenia fetida; materiais; matéria orgânica do solo.

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1. INTRODUÇÃO

A vermicompostagem é uma tecnologia simples, barata e ecologicamente valiosa, que envolve a decomposição de frações orgânicas com o uso de minhocas e microorganismos associados, em ambiente controlado, que resulta em um produto (vermicomposto) rico em micro e macro nutrientes e hormônios vegetais, que pode ser facilmente armazenado, manipulado e aplicado para campos agrícolas sem efeitos adversos (DOMÍNGUEZ & EDWARD, 2004; ALI et al., 2015). Neste processo, as minhocas atuam sobre as frações orgânicas de maneira física, por meio da fragmentação, revolvimento e aeração, e bioquímica, com a digestão enzimática e enriquecimento de nitrogênio (EDWARDS & LOFTY, 1972). Nesse processo, com a ação de microorganismos associados, nutrientes como N, K, P, e Ca são convertidos em formas mais solúveis e disponíveis para as plantas (NDEGWA & THOMPSON, 2001). Ao final do processo, é possível obter um material com acelerada humificação, baixa relação C:N e elevado teor de nutrientes. Além disso, a vermicompostagem tem a vantagem de ter um baixo investimento financeiro e simplicidade de operação (COTTA et al., 2015, ANTUNES et al., 2016). O composto gerado na vermicompostagem tem alcançado excelente resultado agronômico por atuar sobre atributos físicos do solo, como aeração, porosidade, densidade e capacidade de retenção de água, além de disponibilizar nutrientes sob formas prontamente assimiláveis pelas plantas, além de enzimas, ácidos húmicos e hormônios vegetais (LIM et al., 2015).

Dentre os resíduos sólidos orgânicos utilizados como substrato na vermicompostagem destacam-se: resíduos de plantas e estercos (ZIBETTI et al. 2015; LIMA et al., 2019; GUSAIN & SUTHAR, 2020), serragem, casca de arroz, resíduos urbanos (DOMÍNGUEZ et al., 2000; COTTA et al. 2015; SHARMA & GARG, 2018, SENA et al., 2019; ZHI-WEI et al., 2019; LI et al., 2020), resíduos agroindustriais (ELVIRA et al., 1997; KAUSHIK & GARG 2003; MALAFAIA et al. 2015; SANTOS et al., 2019 COTTA, 2019), resíduos da destilaria e cervejaria (BUTT, 1993; MAHALY et al., 2018; BUDRONI et al., 2020), biochar (MALIŃSKA et al. 2016; GONG et al. 2018), dentre outros. Com o uso desses resíduos orgânicos na vermicompostagem, os benefícios vão além da obtenção de um produto com elevado potencial agrícola (vermicomposto), esse benefício se estende a redução de milhares de toneladas de matéria orgânica que não seriam depositadas no meio ambiente, reduzindo problemas ambientais como poluição do solo e eutrofização de corpos hídricos, e socio-econômicos, como propagação de doenças e perda de serviços ecossistêmicos no solo e água.

Na região semiárida brasileira, devido à escassez de água, e temperaturas e evapotranspiração elevadas o ano todo, são recomendadas o uso de compostos orgânicos na agricultura, especialmente no cultivo de plantas frutíferas. Por ser uma atividade perfeitamente adaptada à pequena escala de produção, ter simplicidade no manejo, e pouca necessidade de espaço físico, a vermicompostagem vem sendo impulsionada pela agricultura familiar e produtores agroecológicos. Assim, cada vez mais, é necessário informações sobre os materiais utilizados, os métodos de preparo, condução e monitoramento da pilha de resíduos, e condições ideais para se obter um produto de qualidade. Por fim, essa revisão vem contribuir também com informações sobre os benefícios da utilização do vermicomposto para melhoraria das características do solo, aumento do crescimento das plantas e a produção como um todo.

2. OPÇÕES DE MATERIA-PRIMA UTILIZADOS NA VERMICOMPOSTAGEM

Podem ser utilizados na vermicompostagem os resíduos orgânicos domésticos, industriais, vegetais e dejetos de animais. Materiais mais recalcitrantes, como casca de arroz podem ser utilizados se tratadas anteriormente por procedimentos que favoreçam os processos de estabilização das substâncias húmicas. A vermicompostagem oriunda da combinação de restos de frutas (banana, melão e mamão) com cascas de arroz moídas na proporção de 1:1, permitiu incremento dos níveis de Ca, K, P e C, sendo que a combinação de restos de mamão com cascas de arroz a que apresentou maiores teores nutricionais (LIM et al., 2012). Sharma & Garg (2018) analisando a mistura de palha de arroz, resíduos de papel e esterco bovino na vermicompostagem, observaram enriquecimento nos teores de NPK obtendo um produto com menor relação C:N. Todavia, quando se aumentou a proporção da palha de arroz acima de 50%, esta foi prejudicial a reprodução e o desenvolvimento das minhocas. A vermicompostagem de lodo de curtume sem a adição de esterco bovino mostra-se inviável, devido provavelmente à toxicidade elevada às minhocas (MALAFAIA et al., 2015).

Diversos resíduos vegetais podem ser utilizados pelo processo de vermicompostagem, como palha de gramíneas (aveia, milho e forragem), bagaço de cana, sabugo triturado e palha de leguminosas (feijão guandú e crotalárias), restos de frutas, casca de arroz, serragem e erva-mate. Aquino (2003) relata que a adição de materiais ricos em N, como as leguminosas, pode trazer uma série de vantagens, desde que facilmente disponíveis.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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A utilização de palha ou similares, leucena e esterco, na proporção de 1:1:2, respectivamente, proporciona a produção de vermicomposto 30% mais rico em N e considerável economia de esterco.

O bagaço de cana-de-açúcar contém grande quantidade de constituintes resistentes à decomposição, tais como celulose (50%), hemicelulose (28%) e lignina (10%), de forma que a estabilidade do composto, quando usada na vermicompostagem, pode ser mais lenta. Aquino et al. (2005) observaram que quando se utilizou somente esterco bovino levou cerca de 70 dias para apresentar relação C/N estável, enquanto que a mistura de esterco + bagaço (cana) e o esterco + bagaço (cana) + guandu levaram 90 dias, com enriquecimento de nitrato e coloides totais ao associar esterco, bagaço mais essa leguminosa. Aquino (2003) relatou que nas proporções de 1:1 e 3:1 de esterco:bagaço promove maior número de minhocas jovens e maior sobrevivência das adultas do que em esterco bovino puro. Isso se deve provavelmente porque o bagaço, misturado ao esterco, favorece a circulação de água, a aeração do ambiente, promovendo assim espaço para as minhocas se moverem.

Outro material que tem sido bastante utilizado é a borra de café, cuja quantidade de matéria prima tem aumentado devido ao aumento de consumo de café especiais e cafeterias. A borra de café (25%) associado ao esterco bovino (75%), ou a borra de café (25%) associado ao esterco bovino (50%) e casca de amendoim (25%), favoreceram a biomassa e produção de casulos de minhoca, todavia não se teve no experimento dados sobre nutrientes (ZIBETTI et al., 2015). Ao comparar compostagem e vermicompostagem de resíduos vegetais, esterco bovino e serragem, Cotta et al. (2015) verificaram que os tratamentos utilizando a vermicompostagem apresentaram diminuição no teor de carbono e relação C/N, e aumento nos teores de ácido húmico e de nutrientes minerais (N, P e K).

A serragem ou pó de madeira a ser utilizada no processo de vermicompostagem, necessita ser misturada com material com alto teor de N, pois possui elevada relação C/N devido ao seu alto teor de C (ALMEIDA, 2011). Almeida et al. (2018) observaram que a adição de percentagens maiores ou iguais a 25% de serragem proporciona uma alta relação C/N na mistura dos substratos esterco bovino e cinza de casca de arroz, podendo ser prejudicial à vermicompostagem. Materiais pobres em N necessitam ser misturados a outros resíduos ricos em N, para fornecer nutrientes. Pois o corpo das minhocas é constituído por cerca de 65% de proteína e por isso, necessitam de grande quantidade de N em sua dieta (AQUINO, 2003).

A combinação de materiais como cama de ovelha e esterco bovino tem se mostrado promissor no aumento da qualidade de vermicompostos, sendo que a adição de esterco bovino reduz o tempo de vermicompostagem e aumenta a qualidade do produto obtido (CESTONARO et al., 2017). Outros materiais como lipídeos vegetais, como por exemplo, uso do óleo da palma, um produto originado da moagem dessa cactácea, apresentou-se como um componente de excelente valor para produção de vermicomposto, por sua riqueza em nutrientes (RUPANI et al., 2010).

Alguns materiais não são recomendados para produção de vermicomposto, como os que são de difícil e lenta decomposição como carnes, ossos, lipídeos de origem animal, laticínios, manteigas. Estes materiais, além de atrair animais indesejáveis (moscas e ratos), têm decomposição muito lenta, o que desequilibra a produção do vermicomposto, aumentando os custos, mau-cheiro e labor. Fezes humanas e de cachorros também não são recomendadas por serem potenciais transmissoras de doenças. Além disso, frutas cítricas e cascas também não são recomendadas por atraírem ácaro-vermelho-das-palmeiras (Raioella indica Hirst), o que pode tornar o vermicomposto um material disseminador da praga, principalmente para as culturas do coqueiro e da bananeira (MORAES et al., 2017). Todos esses fatores reduzem a eficiência da vermicompostagem, podendo até inviabilizá-la, dependendo da escala de trabalho.

Outros materiais menos convencionais estão sendo vermicompostados, como por exemplo biochar (biocarvão) e biossólidos obtendo bons resultados agronômicos. Gong et al. (2018) observaram que a adição de 6% de biochar de bambu aumentou o crescimento e a reprodução de minhocas (Eisenia fetida), bem como a atividade enzimática do composto. Também foram observadas melhoria na qualidade do vermicompostos na capacidade de troca catiônica, carbono orgânico dissolvido, humificação e transformação de nitrogênio. Já com relação aos biossólidos, Godoy et al. (2009) verificaram que biossólidos produzidos de fossas sanitárias seja puro, ou misturas (biossólido + grama (1:1), biossólido + serragem (1:1) e biossólido + grama + serragem (1:1:1)) apresentaram após a vermicompostagem qualidades desejáveis a um fertilizante orgânico, como alto teor de matéria orgânica, baixa relação C/N e concentração de metais pesados, e alta concentração de nutrientes, principalmente N e P.

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3. MINHOCAS UTILIZADAS NA VERMICOMPOSTAGEM

No uso da vermicompostagem, a escolha das minhocas é um aspecto importante na evolução do processo, pois de acordo com Reynolds (1994), existem cerca de 7.254 espécies de Oligochaeta, das quais cerca da metade (3.627) são minhocas terrestres, com um acréscimo anual médio de 68 novas espécies descritas na ciência, destas 8-10 espécies são adequadas para a preparação de vermicomposto (KAR, 2020). Geralmente, são classificadas conforme sua coloração em vermelha e cinzenta. Do grupo das vermelhas destaca-se a minhoca vermelha (Lumbricus rubellus) e a vermelha-da-califórnia (Eisenia fetida). Do grupo das cinzentas encontra-se a minhoca do campo (Allolobophora caliginosa) e a minhoca da noite (Lumbricus ferrestris) (CARLESSO et al., 2011). No Brasil existem entre 240 e 260 espécies de minhocas (SCHIEDECK et al., 2006). Mas dentre as poucas espécies mundiais que se adaptam em cativeiro para a produção de vermicomposto, a Vermelha da Califórnia (Eisenia fetida), que apesar do nome, é europeia, é a preferida para a produção de húmus pois, além de se adaptar facilmente às condições de cativeiro, apresenta capacidade de produção de húmus e velocidade de reprodução elevadas, sendo altamente capaz de se acasalar durante praticamente toda sua fase adulta (OLIVEIRA et al., 2008; CARLESSO et al., 2011; RIBEIRO et al., 2012; KAUR, 2020). Comparando duas espécies de minhoca Eisenia fetida e Eudrilus euginae na vermicompostagem de Lantana camara (arbusto aromático) associado a esterco bovino, Devi & Khwairakpam (2020) constaram que a E. fetida foi mais eficiente na bioconversão e no enriquecimento do vermicomposto com nutrientes.

A Eisenia fetida ou Eisenia foetida é uma espécie hermafrodita que gera grande quantidade de húmus, pois a mesma consegue consumir diariamente o equivalente ao seu peso em matéria orgânica (SCHIEDECK et al., 2006; CARLESSO et al., 2011). Pode medir em média de 6 a 10 cm de comprimento, e apesar de hermafroditas, essa espécie precisa acasalar-se com outra de sua espécie para atingir bons níveis de reprodução. Para reproduzirem, as minhocas precisam estar na idade adulta, o que pode ser verificado pela presença do clitelo bem desenvolvido, as quais atingem essa condição entre os 40 e 60 dias de vida. Produzem um casulo por período reprodutivo (cada 3 a 7 dias), contendo em seu interior entre 2 a 5 novas minhocas (SCHIEDECK et al., 2006; CARLESSO et al., 2011). Domínguez e Gómez-Brandón, (2010) em uma revisão detalhada sobre a biologia dessa espécie indica que em condições ideais, seu ciclo de vida (desde o momento em que o casulo é depositado até próxima geração) variam de 45 a 51 dias. Os juvenis atingem a maturidade entre 21 a 30 dias. As cópulas ocorrem perto da superfície e a postura inicia-se por volta de 48 horas após a cópula. A taxa de produção é de 0,35-0,5 casulos por dia. A eclodibilidade (taxa de eclosão) é de 72 a 82% e o tempo de incubação varia de 18 a 26 dias. O número de descendentes por casulo varia entre 2,5 e 3,8, dependendo da temperatura.

Quanto a temperatura e umidade, a E. foetida tolera uma ampla faixa, o que a torna muito resistente e, consequentemente, uma espécie dominante em culturas mistas. A temperatura ótima para seu crescimento é de 25 °C, sendo que o indivíduo vivendo a 32 °C, desde o nascimento, tem seu crescimento inibido. No entanto, se esta temperatura for precedida por um período de crescimento normal a 25-28 °C por um mês ou mais, o crescimento pode continuar a 32 °C. A temperatura crítica em que ocorre a morte é de 33,3 °C ou acima, embora indivíduos que foram aclimatados gradualmente possam estar ativos após 11 dias a 35°C. Apesar de tolerar uma ampla faixa de umidade, o ideal para esta espécie é em torno de 80 a 90 % (DOMÍNGUEZ & GÓMEZ-BRANDÓN, 2010; KAUR, 2020).

4. PREPARO, PROCESSO E TEMPO DA VERMICOMPOSTAGEM

O vermicomposto deve ser feito em local com mínima variação de temperatura e umidade, escolhendo materiais para construção do minhocário que permitam boas condições de ambiência para o desenvolvimento das minhocas, como a madeira, por exemplo, que impede trocas de calor com o meio. Dependendo da escala, o processo pode ser caseiro ou industrial. Para pequenas e médias propriedades, pode ser utilizado a alvenaria para dar mais estabilidade e evitar ataques de cupins sobre as câmaras de compostagem. Considerando-se que as minhocas se deslocam preferencialmente no sentido horizontal, os canteiros devem ter no máximo 40 cm de altura, e preferencialmente uma cobertura com palha para manter a umidade e proteger as minhocas contra a luz (AQUINO, 2003). Recomenda-se não misturar espécies de minhocas para manter o índice de reprodução adequado e a uniformidade de vermicomposto produzido (SCHIEDECK, 2006). O pré-tratamento como forma de acelerar a degradação das substâncias lignocelulósicas, caso necessário, pode ser realizada pela aplicação de soluções fracas de ácido para celulose e, de alcalinas para decomposição da lignina (LOOW et al., 2016).

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Esse tipo de pré-tratamento pode ser uma alternativa para redução dos custos e do tempo da vermicompostagem. Importante salientar o cuidado para não alterar os valores de pH de maneira que prejudique o desenvolvimento das minhocas.

A faixa de umidade do material a ser compostado deve ser entre 60 a 90%, sendo o ideal segundo Kaur (2020) de 80 a 90% e, sua manutenção é importante por causa das trocas gasosas realizadas pelas minhocas através da epiderme. Uma forma prática de mensuração é apertar uma amostra do substrato na mão, e o ponto ideal é aquele que não escorre água. Na região semiárida, devido as temperaturas e evapotranspiração elevadas deve-se manter o recipiente com vermicomposto à sombra com a verificação da umidade diariamente. Em caso de chuva forte, deve-se cobrir o recipiente para evitar alagamento do vermicomposto e hipóxia do meio. Pode ser conveniente a trituração dos resíduos vegetais caso estejam em tamanhos grandes a ponto de retardar a conclusão do processo. Quanto mais variados e mais picados os componentes (tamanho máximo de 6 cm), melhor será a qualidade do composto ou húmus de minhoca e a finalização do processo será mais rápida.

Quanto ao processo da vermicompostagem, a primeira fase ocorre sob atuação mecânica e enzimática do intestino das minhocas e de microrganismos que ali vivem, envolvendo redução de tamanho e da complexidade. Materiais ureídeos, muco, açúcares podem ser incrementados na estrutura do vermicomposto. Após expelido do intestino das minhocas, o vermicomposto passa para a fase de cura, e continuam sofrendo transformações por microrganismos do meio externo ao corpo das minhocas, para redução da estrutura e da complexidade, e nessa etapa são liberados íons que podem servir de nutrientes para as plantas (PANDEY et al., 2017) e, podendo ficar adsorvidos às cargas das substâncias húmicas em formação. Até que se complete a estabilização da matéria orgânica, nesta ocasião, as cinzas do vermicomposto ficam em torno de 45%. Quando o vermicomposto está pronto para uso, apresenta cheiro de solo ou leve odor de mofo com aspecto de pó de café, e de coloração mais escura (AQUINO, 2003), sem muita aderência às mãos.

A vermicompostagem dos resíduos representa um ganho no tempo na transformação e na qualidade do produto final. Em comparação com a compostagem tradicional, a presença de muco intestinal das minhocas acelera a taxa de liberação de minerais e a taxa de humificação. Além disso, a presença de muco estimula o crescimento e atividade bacterianos, principalmente sobre resíduos vegetais e frutas (HUANG & XIA, 2018). Para evitar que as minhocas fiquem magras e migrem para as partes mais inferiores procurando mais alimentos, deve-se retirar o vermicomposto pronto e alimentar o processo com mais resíduos conforme a necessidade. O tempo para que o vermicomposto fique pronto varia com a composição original dos resíduos, mas em geral a vermicompostagem do esterco bovino leva, em média, 45 dias e, quando complementado com material fibroso, pode levar até 90 dias (AQUINO, 2003).

A qualidade do vermicomposto pode ser aferida. O teor de carbono deve estar em torno de 50%, neste caso, as substâncias húmicas e nutrientes devem ser estáveis dando indicativo do fim dos processos de estabilização das mesmas. A relação C:N ideal é de 18:1. As partículas ficam com tamanho de 30 a 50% menores que os materiais iniciais, aumentando a área superficial (PANDEY et al., 2017). Em um bom vermicomposto, estão ausentes patógenos, fertilizantes e silte e outros aditivos que possam comprometer o caráter orgânico do vermicomposto. Um bom vermicompostos tem textura fibrosa, esponjosa e granular. É poroso para retenção de água, aeração suficiente para manutenção da respiração das raízes das plantas e permitir boa drenagem, quando necessário.

5. BOAS CONDIÇÕES PARA VERMICOMPOSTAGEM

As boas condições para a vermicompostagem são aquelas adequadas para o crescimento, reprodução e alimentação das minhocas. As condições ideais de pH, umidade, temperatura, luminosidade, aeração, relação C/N e taxa de alimentação (proporção entre quantidade de resíduos e de minhocas) adequadas para o processo de vermicompostagem, e a quantidade de nitrogênio amoniacal, e outras informações, estão apresentadas na Tabela 1.

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Tabela 1. Boas condições para a vermicompostagem. Fator Condições adequadas

pH 5,0-9,0

Umidade 80-90% (Limite 60-90%)

Temperatura 15-20 °C (Limite 4-30 °C)

Luz Minhocas preferem ambientes escuros

Oxigênio Aerobiose

Relação C/N Depende da espécie: 25 para produção de vermicomposto estável; 10 para a criação de minhocas

Origem do material orgânico Resíduos de origem doméstica (lixo orgânico), industrial, agrícola, animal, de abatedouros, como também produtos lácteos, lodo de esgoto, lama de biogás, biochar entre outros.

Taxa de alimentação Depende da espécie: 0,75 kg de ração por kg de minhocas por dia para substrato biosólido; 0,77 kg de minhocas por m² de esterco para esterco bovino

Conteúdo de amônia Baixo (<1 mg g-1), Adequado (< 500 mg kg-1), Pré-compostagem é necessária.

Conteúdo de sais <0,5%

Tipo de solo Solos leves e argilosos são melhores do que muito argiloso ou areia solta

Esterco Estimula a vermicompostagem. Esterco líquido possui efeito depressivo devido ao elevado conteúdo de amônia e sais

Predadores de minhocas Formigas, pássaros, salamandras, cobras, toupeiras, gatos, ratos, cachorros etc.

Fonte: Adaptado de Ibrahim et al. (2016); Kaur (2020).

O pH influencia a distribuição, número e espécies de minhocas no solo e/ou no resíduo orgânico. As minhocas preferem pH próximo a neutralidade, no entanto, conseguem sobreviver entre pH 5,0 e 9,0. Fora dessa faixa, algumas espécies não sobrevivem. Diante de uma variação no gradiente de pH do substrato, as minhocas se movem em direção a materiais mais neutros (KHARE et al., 2005).

A umidade influencia o número e a biomassa das minhocas. Uma faixa de 80 a 90% de umidade considerada adequada. As minhocas conseguem sobreviver com até 50% de umidade, no entanto, as taxas de crescimento, alimentação e reprodução são sensivelmente reduzidas (DOMINGUEZ & EDWARDS, 2011). A condição ótima de umidade para o crescimento e reprodução da espécie Eisenia fetida foi de 70% com esterco bovino e 75% com esterco suíno (LONG et al., 2002). As minhocas se movimentam das regiões mais secas do substrato para as regiões mais úmidas. Porém, se toda a área estiver seca, elas ainda são capazes de se ajustar para sobreviver através da perda de água do seu corpo, ou se acumulando dentro de células esféricas de solo revestidas de muco. Por outro lado, as minhocas não sobrevivem sob inundação, condição que pode reduzir a aeração e limitar a respiração, além de reduzir o pH a níveis fatais. Dessa forma, manter todo o substrato uniformemente umedecido é fundamental para o processo de vermicompostagem (IBRAHIM et al., 2016).

O processo de vermicompostagem deve ocorrer em temperaturas entre 15 e 30 °C, o que depende da espécie de minhoca utilizada. A temperatura ideal para vermicompostagem usando as espécies Eisenia fetida, E. eugeniae e Perionyx excavatus é de 20 a 30 °C. No entanto, outras espécies requerem faixas de temperatura de 15 a 20 °C. Fora da faixa ideal de temperatura, a atividade, metabolismo, crescimento, respiração, reprodução e fecundidade das minhocas são sensivelmente afetados, comprometendo o processo de vermicompostagem (WEVER et al., 2001; DOMINGUEZ & EDWARDS, 2010).

Temperaturas baixas reduzem a taxa de alimentação (<10 °C) e cessa completamente a produção de casulos e o crescimento das minhocas jovens (<4 °C), podendo levá-las a hibernarem ou a migrarem para regiões mais fundas. Por outro lado, temperatura elevadas (>30 °C) favorecem o crescimento e atividade dos microrganismos, elevando o consumo do oxigênio e afetando a respiração das minhocas. Portanto, o processo de vermicompostagem deve ocorrer a temperatura constante em torno dos 25 °C, diferente da compostagem que apresenta uma fase termofílica com aumento da temperatura de até 70 °C (DOMINGUEZ & EDWARDS, 2011).

A vermicompostagem deve ocorrer em ambiente escuro. As minhocas têm aversão a luz, e a exposição direta aos raios ultravioletas causa paralisia parcial ou completa, e essa exposição por várias horas é fatal. Além disso, a exposição direta aos raios solares resseca a pele das minhocas causando sufocamento, pois o corpo da minhoca precisa estar úmido para que o oxigênio do ar ou da água atravesse a pele e chegue até os vasos capilares. Assim, as minhocas movem-se para as regiões mais escuras fugindo da luz. Isso pode ocasionar desuniformidade na pilha de vermicompostagem (IBRAHIM et al., 2016).

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As minhocas respiram através da pele, por onde ocorrem as trocas de oxigênio e gás carbônico com o ambiente. Portanto, as minhocas são muito sensíveis a condições anaeróbicas, podendo morrer. Assim, deve-se manter aeração na pilha para garantir o sucesso da vermicompostagem. Se a pilha estiver muito úmida ou muito material for colocado, o nível de oxigênio pode reduzir a níveis fatais (SHERMAN, 2003).

A relação C/N adequada para o processo de vermicompostagem depende do tipo de material, da espécie de minhoca utilizada, e do produto final desejado (produção de húmus ou de minhocas). Utilizando a espécie Eisenia fetida, uma relação C/N média de 25 é recomendada para a produção de um vermicomposto estável, e de 10 para criação da minhoca, quando se usa biossólidos como resíduo (NDEGWA & THOMPSON, 2000; AMOUEI et al., 2017). Entretanto, quando se usa esterco suíno, o aumento da relação C/N favorece a produção de biomassa da minhoca (AIRA et al., 2006). Assim, baixa relação C/N (10) favorece a produção de biomassa da minhoca, e média (entre 25 a 30) favorece a produção do resíduo estável.

A taxa de alimentação é a quantidade de resíduo fornecido às minhocas durante um período. Recomenda-se 0,75 kg de resíduo por kg de minhocas por dia para a vermicompostagem de biossólidos utilizando a espécie E. fetida. Já a densidade de estoque é a quantidade de minhocas adicionada por área de resíduo (NDEGWA & THOMPSON, 2000). A densidade ideal depende do resíduo utilizado, sendo 8 minhocas por 100 g de esterco bovino, suíno ou de aves (peso seco) a mais favorável para a vermicompostagem (LONG et al., 2002). Assim, para a produção de vermicomposto estável é recomendado alta densidade de estoque e baixa taxa de alimentação.

A amônia (NH3) é tóxica para as minhocas. As minhocas excretam o excesso de nitrogênio do corpo na forma de amônio (NH4+) por difusão através de estruturas especializadas localizadas na pele (nefrídia). No entanto, se o conteúdo de NH3 no ambiente estiver mais alto do que na sua pele, elas não conseguem excretar a amônia para fora de seu corpo, causando morte. Portanto, o conteúdo de nitrogênio amoniacal (somatório do conteúdo de NH3 e NH4+ livres) da pilha de compostagem não deve exceder 500 mg por kg de substrato (DOMINGUEZ & EDWARDS, 2011).

6. BENEFÍCIOS DA VERMICOMPOSTAGEM PARA AS PLANTAS E O SOLO

A aplicação de vermicomposto no solo melhora os atributos físicos e químicos como porosidade, densidade, pH, condutividade elétrica, capacidade de troca de cátions e de ânions, conteúdo e disponibilidade de macro e micronutrientes, formação e estabilidade de agregados, atividade microbiana e atividade de enzimas do solo. Tais melhorias nos atributos do solo pelo uso de vermicomposto refletem em maior crescimento, produtividade e sanidade das plantas, com acréscimos na taxa fotossintética, atividade de enzimas, produção de biomassa, altura da planta e área foliar, produção, peso e qualidade de frutos, e tolerância a estresses abióticos. Na Tabela 2 serão listados os efeitos dos vermicompostos em atributos medidos em plantas e no solo, bem como os estudos onde foram constatadas tais afirmações.

Além disso, uma quantidade significativa de hormônios vegetais como citocininas, auxinas, 18 tipos de giberelinas e 6 tipos de brassinosteróides foram encontrados em lixiviados de vermicomposto (LV). Esse coquetel de reguladores de crescimento naturais e ácidos fenólicos promovem numerosas respostas fisiológicas, tais como maior crescimento e rendimento, bem como maior tolerância a estresses bióticos e abióticos em plantas tratadas (AREMU et al., 2015).

A vermicompostagem tem outras vantagens, como a diminuição da migração e disponibilidade de metais pesados provenientes de estercos bovino e suíno. Esses metais poderiam estar livres potencializando efeitos tóxicos para as plantas, caso esses resíduos orgânicos tivessem sido tratados por compostagem convencional (LV et al., 2016). A vermicompostagem utilizando resíduos das plantas daninhas Parthenium hysterophorus, Eichhornia crassipes e Cannabis sativa Linn com a minhoca da espécie Eisenia fetida elevou os teores de nitrogênio, fósforo e potássio do solo e reduziu as relações C/N e C/P, dando mais equilíbrio à solução do solo (SAHA et al., 2018). Outra viabilidade da vermicompostagem é o aproveitamento de plantas daninhas que produzem compostos tóxicos alelopáticos, que se aplicadas de forma natural como adubos verdes ou utilizadas na compostagem convencional, causariam danos ao desenvolvimento das culturas agrícolas, causando prejuízos na produção.

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Tabela 2. Melhoria de atributos da planta e solo pela aplicação de vermicompostos Cultura Efeito na planta Efeito no solo Referência

Alface (Lactuca sativa L.)

Encurtamento do ciclo, maior número de folhas, maior produção de proteína, maior absorção de nitrato, e maior atividade da nitrato redutase e da fenilalanina amônia liase nas folhas.

Hernandez et al.,

2015.

Caupi (Vigna unguiculata L.)

Aumento no número de vagens por plantas e sementes por vagem, aumento na absorção de nitrogênio nas sementes.

Khan et al., 2017.

Mamoeiro (Carica papaya L.)

Maior rapidez de germinação, taxa de emergência e índice de germinação. Maior número de folhas, diâmetro do caule, altura das mudas, comprimento de raízes, massa fresca de raízes e massa fresca da parte aérea.

Melhora no pH do solo, no conteúdo de matéria orgânica do solo, nitrogênio total, nitrogênio disponível, fósforo total, aumento da atividade das enzimas urease e sucrase, aumento no número de agregados (>2 mm).

Beniwal et al., 2016; Xiang et al., 2018.

Milho (Zea mays L.) Maior altura da planta e produção de matéria seca total

Redução do pH, CE, e do Na+ trocável, reduzindo os efeitos da salinidade na cultura; aumento da CTC, carbono orgânico do solo, nitrogênio total e fósforo extraível, K+, Ca2+, e Mg2+ trocáveis, e da atividade microbiana.

Oo et al., 2015.

Morangueiro (Fragaria × ananassa Duch.)

Maior produção de biomassa, altura e área foliar, maior produção, peso, conteúdo de açúcar solúvel e vitamina C dos frutos. Aumento do conteúdo de clorofila e a taxa fotossintética no estágio de fruta branca. Melhorou atividade da superóxido dismutase e reduziu o conteúdo de malondialdeído.

Melhorias na atividade microbiana e enzimática do solo, na capacidade de troca de cátions e na atividade das raízes.

Zuo et al., 2018.

Tomateiro (Solanum lycopersicum L.)

Maior produção de biomassa, diâmetro do caule, altura de planta, peso seco da parte aérea e raiz, número de folhas, número de frutos e peso de frutos, sólidos solúveis dos frutos.

Aumento no conteúdo de macronutrientes, nitrato, amônio, fósforo disponível, pH e condutividade elétrica (CE).

Mupondi et al., 2014; Kashem et al., 2015; Truong et al., 2018.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vermicompostagem é uma técnica barata, promissora e ecológica, por utilizar resíduos que seriam despejados no ambiente, causando danos em todas as esferas (ambiental, social e econômica), os quais são transformados por minhocas e microrganismos em um rico produto, com um grande potencial agrícola.

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O vermicomposto pode ser utilizado como condicionador do solo, melhorando atributos físicos e químicos, como densidade, porosidade, quantidade e disponibilidade de nutrientes, CTC, pH, que se convertem em maior crescimento e desenvolvimento das plantas tratadas com ele, resultando em maior produtividade das safras de diversas espécies cultivadas.

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Capítulo 5

Uso do biofertilizante bovino na produção de mudas de Schizolobium parahvba var. amazonicum (Huber ex Ducke) Barneby (Paricá)

Mauro Dias Souza

Wellington Queiroz Ramos

Luiz Augusto de Queiroz Gomes

Madson Alan Rocha de Sousa

Resumo: O setor de florestas plantadas possui uma demanda crescente por mudas de

espécies florestais nativas, necessitando de pesquisas relacionadas ao uso de

biofertilizante capaz de proporcionar mudas de qualidade e com elevadas taxas de

sobrevivência em campo. O biofertilizante, como efluente líquido biologicamente

estabilizado de biodigestores, contém nutrientes essenciais para o desenvolvimento da

estrutura vegetal. Objetivou-se investigar o desenvolvimento de mudas de Schizolobium

parahvba var. amazonicum (Huber ex Ducke) Barneby (Paricá) por 30 dias, com

aplicação de biofertilizante líquido, oriundo da bovinocultura no município de

Paragominas-PA. O biofertilizante coletado, foi submetido a 6 categorias de tratamento

de diluição, T25 (25%), T50 (50%), T75 (75%), T100 (100%) e CT (apenas água). As

plântulas desenvolvidas, separadas por tratamento, foram analisadas dos parâmetros

morfológicos (diâmetro do coleto, altura da parte aérea e índice de robustez) realizada

no 30º dia. As plântulas do tratamento T25 possuíram um caráter de sobrevivência de

100%, enquanto os as mudas do tratamento CT, apenas 71,4 %. O tratamento T25, foi o

único que obteve valores de altura superiores a 15 cm. Todos as mudas, demonstraram

ter diâmetro superiores a 2 mm. Na verificação do índice de robustez, os tratamentos

T50, T100 e T75 em ordem decrescente, apresentam em média mudas de paricá mais

robustas, em contrapartida, o T25 e CT mudas mais delgadas. O uso de biofertilizante na

produção de mudas de Paricá, influencia positivamente nos parâmetros de crescimento

e qualidade da espécie, em especial no diâmetro do coleto, quando comparados a

irrigação somente com água.

Palavras-chave: Schizolobium Amazonicum. Biofertilizante bovino. Parâmetros

morfológicos.

1. INTRODUÇÃO

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O setor de florestas plantadas é uma atividade extremamente importante para a economia brasileira, pois representou 6,2% do PIB industrial do país em 2016. No ano seguinte, a produção totalizou 14,8 bilhões de reais, equivalentes a 9,8 milhões de hectares de florestas comercias, destinadas à produção de celulose, papel, painéis de madeira, pisos laminados, carvão vegetal e biomassa (IBÁ, 2017; IBGE, 2018).

Na região norte do Brasil a espécie nativa Schizolobium parahyba var. amazonicum (Huber ex Ducke) Barneby, vulgarmente conhecida como paricá, ocupou uma área de 90 mil hectares em 2016. Trata-se de uma espécie promissora para o cultivo de florestas plantadas na região, em virtude da boa qualidade da sua madeira, rápido crescimento, até mesmo em áreas alteradas e versatilidade para compor diferentes Sistemas Agroflorestais (IBÁ, 2017; OHASHI; YARED; FARIAS NETO, 2010)

Ademais, são antigas as preocupações referentes ao êxito dos povoamentos florestais, que dependem principalmente da qualidade das mudas empregadas. Esses espécimes além de sobrevir às condições adversas existentes no campo, devem proporcionar uma boa produtividade volumétrica (GOMES et al., 1991, 2002).

A produção de mudas de qualidade e alta produtividade está associada a fatores como, irrigação, radiação solar, temperatura, tamanhos e modelos de recipientes, qualidade genética e fisiológica da espécie e fertilizantes (GOMES; PAIVA, 2004; PEZZUTTI; SCHUMACHER; HOPPE, 1999). Todavia, devido a relevância para o tema abordado nesse estudo, destaca-se a fertilização, pois ela provoca efeitos benéficos sobre todos os aspectos morfológicos e fisiológicos relacionados a qualidade das mudas florestais, muitos deles determinantes para o sucesso dos plantios comerciais (OLIET et al. 1999).

Geralmente para a fertilização de mudas florestais são utilizados uma adubação de base com fertilizantes químicos, contendo macro e micronutrientes essenciais, em estado sólido e, ao longo do desenvolvimento dos mudas são feitas fertilizações líquidas (MORAES NETO et al., 2003). No entanto, em virtude dos custos onerosos da fertilização química, bem como dos impactos ambientais oriundos do seu uso indiscriminado, almejam-se soluções alternativas para fertilização em viveiros florestais, que sejam eficientes, de baixo custo e sustentáveis. Nesse sentido, enfatiza-se o aproveitamento de resíduos (excreções) animais, na forma de biofertilizantes, para substituir ou complementar as adubações químicas (SOUZA; PERES, 2016).

O biofertilizante pode ser definido como um subproduto da biodigestão anaeróbia, isto é, o efluente líquido biologicamente estabilizado dos biodigestores, dessa forma, apresentam microrganismos que auxiliam na disponibilidade e absorção de nutrientes por parte das plantas (BLEY JÚNIOR et al., 2009; VESSEY, 2003). A legislação pertinente diz que o biofertilizante é um produto composto por princípio ativo ou agente orgânico, livre de agrotóxicos, capaz de agir sobre as plantas cultivadas, aumentando sua produtividade, sem considerar valor hormonal ou estimulante (MAPA, 2004).

Cabe ressaltar que a produção de mudas florestais de boa qualidade, também depende da aplicação de doses ideais de fertilizante, diretamente relacionadas as exigências nutricionais da espécie (CECONI et al. 2006; GONÇALVES et al. 2010; MARQUES et al. 2006; ROCHA et al. 2013. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo avaliar os efeitos de diferentes diluições de biofertilizante bovino no crescimento e qualidade de mudas da espécie paricá.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em uma propriedade localizada em área rural, no município de Paragominas, o qual apresenta clima quente e úmido, do tipo Aw (Clima tropical chuvoso) segundo a classificação de Köppen (MONTEIRO et al, 2009), com temperatura média anual de 26° C, umidade relativa média do ar igual a 81 % e precipitação concentrada no período de dezembro a maio (PINTO et al., 2009). A seguir, pode ser observado conforme a figura 01, a localização do município de Paragominas.

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Figura 01. Localização do Município de Paragominas

(Fonte: Autores, 2016).

3. PREPARO E CARACTERIZAÇÃO DO BIOFERTILIZANTE

O biofertilizante foi produzido pelo processo de biodigestão anaeróbia de esterco bovino, ocorrido em um biodigestor de operação contínua, visualizado na figura 02. O equipamento (biodigestor) encontra-se na Fazenda Rancho Fundo, uma pequena propriedade rural, localizada na rodovia PA 256, km 06, no município de Paragominas-PA.

Figura 02. Biodigestor de operação contínua

(Fonte: Autores, 2016).

Para o preparo do biofertilizante, a biomassa residual (esterco bovino) foi homogeneizada em água na proporção de um (01) quilograma de esterco fresco para cada 1,2 quilograma de água. A mistura homogênea (esterco e água) totalizou 209 kg, sendo retida no biodigestor por um período de 30 dias, que de acordo com Bley Júnior et al. (2009), geralmente, esse é o tempo indicado de retenção da mistura, para se obter biogás e biofertilizante.

Após os 30 dias de retenção, o biofertilizante utilizado no cultivo de mudas de paricá apresentou características satisfatórias, como uma redução significativa do odor e não atraiu moscas (BLEY et al., 2009). A figura 3 (a) apresenta um recipiente com amostra de esterco diluído em água, recém coletado da fazenda, enquanto na figura X (b) apresenta amostra de biofertilizante, em seu 30º dia de biodigestão.

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Figura 3. a) Recipiente contendo esterco bovino fresco e água. b) Recipiente com Biofertilizante do 30º dia. a)

b)

(Fonte: Autores, 2016).

O biofertilizante, após coletado, foi armazenado em garrafas de Polietleno (PET’s), e transportadas para a o campus da Universidade do Estado do Pará (UEPA) de Paragominas.

Silva (2012), ao estudar o uso de biofertilizante no cultivo de mudas de figueira (Ficus carica var. roxo de valinhos), realizou a caracterização química (macro e micronutrientes) do biofertilizante em diferentes diluições, visualizadas na tabela 01. A mistura homogênea (esterco bovino e água), proporções e tempo da biodigestão no preparo do biofertilizante utilizado pelo autor, assemelham-se as descritas neste estudo, desse modo, é possível ter uma estimativa da composição química do biofertilizante produzido na condição de campo.

Tabela 01. Características químicas do biofertilizante em diferentes diluições. Diluições

(%) Macronutrientes (g/L) Micronutrientes (mg/l)

N P k Ca Mg S Fe Zn Cu Mn B Na

20 0,16 0,15 0,25 0,12 0,06 0,06 14,6 1,17 0,4 1,86 0,32 35

40 0,31 0,29 0,49 0,24 0,11 0,08 29,21 2,35 0,82 3,72 0,48 70

60 0,47 0,44 0,68 0,35 0,17 0,13 43,82 3,52 1,22 5,59 0,97 105

100 (puro) 0,78 0,73 1,19 0,59 0,28 0,21 73,04 5,88 2,04 9,32 1,62 175

Fonte: adaptado de Silva (2012).

3.1. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

A aplicação do biofertilizante na produção de mudas de paricá foi conduzida no campus VI da Universidade do Estado do Pará-UEPA, município de Paragominas-PA, nos meses de outubro a novembro de 2016.

As sementes de paricá foram fornecidas pelo Laboratório de Engenharia Florestal da UEPA e encontravam-se escarificadas manualmente. Segundo Melo et al. (2011), a escarificação manual ou mecânica é um método de quebra de dormência das sementes, que consiste em encostar um terço das laterais das sementes (parte que as une à saída do embrião) em um esmeril durante alguns segundos.

Diante disso, semeou-se 70 sementes em terra preta, contidas em sacos de polietileno de 1100 cm³, com uma semente por saco, com aproximadamente 250 g de substrato (terra preta). As semeaduras foram divididas em cinco tratamentos, com 14 repetições cada. Do 1º ao 5º dia (marcada pela germinação das plântulas), as sementes receberam doses de 180 ml de água, à tarde. Cada tratamento possui diferentes diluições de biofertilizante (BIO), e um tratamento controle regado somente com água, conforme apresentado na Tabela 2.

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Tabela 02. Tratamentos de diluição do biofertilizante Tratamento Composição Volume de cada aplicação

Tratamento Controle (CT)

Água 50 ml

Tratamento T25 25% BIO + 75% água 12,5 ml BIO + 37,5 ml água

Tratamento T50 50% BIO + 50% água 25 ml BIO + 25 ml água

Tratamento T75 75% BIO + 25% água 37,5 ml BIO + 12,5 ml água

Tratamento T100 100% BIO 50 ml BIO

Fonte: Autores (2016).

Após a germinação, todos os tratamentos (14 repetições), receberam diariamente, pela parte da manhã, 50 ml de diluição (CT, T25, T50, T75 e T100), por 30 dias de estudo. Além disso, a irrigação das mudas ocorreu ao ar livre, sob cobertura plástica transparente, com auxílio de uma proveta (figura 4).

Figura 4. Cultivo das mudas de Paricá

(Fonte: Autores, 2016).

3.2. PARÂMETROS MORFOLÓGICOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para obtenção do padrão de qualidade das mudas florestais, são bastante utilizados os parâmetros morfológicos por parte dos viveiristas (GOMES et al., 2002). Tendo isso em vista, os parâmetros mensurados para qualidade das mudas de paricá foram o diâmetro do coleto (DC) e a altura da parte aérea (H). A determinação dos parâmetros morfológicos ocorreu 30 dias após a semeadura. O DC foi determinado com um paquímetro digital ao nível do substrato, a altura H foi mensurada com uma fita milimetrada tomando-se a distância entre o colo (nível do substrato) até a inserção do último par de folhas no ápice das plantas (HEBERLE; JESUS; MALAVASI. 2014).

Neste trabalho, também foi levantada a relação H/DC, representando o índice de robustez. Os efeitos dos tratamentos sobre os parâmetros morfológicos foram submetidos à análise estatística, através da análise de variância (ANOVA), pelo “teste F” e quando observado diferenças, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

a) Percentual de sobrevivência

Conforme pode ser visto na tabela 03, os tratamentos com 25 e 75% de biofertilizante foram os que obteram 100% de sobrevivência. Por outro lado, o tratamento controle correspondeu ao menor percentual de sobrevivência com 71,4 %, muito próximo ao tratamento com fertilizante puro, demonstrando que as porcentagens de sobrevivência não resultaram exclusivamente da fertirrigação, sendo necessário considerar outros fatores como, qualidade das sementes, fatores genéticos (árvore matriz), fatores bióticos (pragas e fungos), manejo adequado, entre outros.

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Tabela 03 – Percentual de sobrevivência das mudas de Paricá em cada tratamento.

Tratamentos Mudas plantadas Mudas

sobreviventes Sobrevivência

(%)

Controle 14 10 71,4

25 % 14 14 100

50 % 14 12 85,7

75 % 14 14 100

100 % 14 11 78,5

Fonte: Autores (2016).

Devido às taxas de sobrevivência das mudas utilizadas no teste de diluição, terem sido diferentes, foram selecionados 10 indivíduos por tratamento, que visualmente apresentavam-se mais desenvolvidos e saudáveis para mensuração dos parâmetros de qualidade.

b) Parâmetros morfológicos e Índice de robustez

Os valores médios (��) e coeficientes de variações (cv) dos parâmetros morfológicos (H, DC) e índice de robustez (H/DC) para cada tratamento encontram-se na tabela 4. Diante dos resultados obtidos, observa-se que de maneira geral, os valores médios dos atributos morfológicos, referentes aos tratamentos com BIO, sobressaíram-se em relação ao CT. Exceto para robustez do tratamento T25, que obteve �� superior ao obtido na categoria CT, representando um fator negativo na perspectiva de Ferraz e Engel (2011), pois, segundo os autores, maiores relações do H/DC representam baixa qualidade das mudas, e consequentemente menor capacidade de sobrevivência em campo.

Apesar do T25 apresentar �� de robustez maior em relação aos demais tratamentos com BIO e CT, não significa dizer que tal circunstância ocorreu em virtude da presença de biofertilizante, uma vez que o CT, ou seja, sem BIO, obteve a segunda maior �� de robustez entre os tratamentos. Muito provavelmente a robustez do CT e T25 devem-se a um desequilíbrio no crescimento das mudas de paricá, que pode ser caracterizado por H desproporcionais aos DC (GOMES; PAIVA, 2004).

Em relação aos cv visualizados na tabela 4, percebe-se que estes variaram de 8-12% para DC, de 12-18% para H/DC e 7-19% para H. Todavia, os cv da referida tabela, mantiveram-se dentro um nível aceitável, cujos valores de cv entre 10 a 15% e 15 a 20%, indicam respectivamente, ótima e boa prescrição do experimento (FERREIRA, 1991), ou ainda, baixa (≤ 10 %) e média ( 10 a 20%) dispersão de dados (GOMES, 2000).

Tabela 4. Valores médios dos parâmetros morfológicos das mudas de Paricá.

Tratamentos H (cm) DC (mm) H/DC

�� cv (%) �� cv (%) �� cv (%)

CT 13,25 19 3,13 9 4,23 17

T25 16,8 7 3,93 10 4,33 14

T50 14,05 15 4,19 8 3,37 18

T75 14,75 14 4,15 8 3,57 15

T100 14,65 10 4,37 12 3,39 12

Fonte: Autores (2016)

Pela análise de variância observou-se que os tratamentos demonstraram efeitos relevantes (teste-F), com diferenças significativas (Valor-P < 0,05) para a altura, diâmetro do coleto e robustez (Tabela 5). Isso comprova que houve diferença entre os tratamentos, o que pode indicar, que o uso de BIO promoveu efeitos benéficos sobre a qualidade das mudas de paricá, considerando-se os parâmetros e índice mensurados neste estudo.

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Tabela 5. Efeitos dos tratamentos sobre os parâmetros morfológicos das mudas de Schizolobium amazonicum.

Efeitos H(cm) DC(mm) H/DC

F Valor-p F Valor-P F Valor-P

Tratamentos 4,658 0,003122 15,809 0,000000 6,239 0,000441

Resíduo

Fonte: Autores (2016).

Estudos com outras espécies florestais apontam que a utilização de biofertilizante produziu efeitos favoráveis no crescimento e na qualidade de mudas de Cedrela fissilis (CARDOSO et al., 2017), Eucalyptus dunnii (PICHLER, 2011; TASIOR; TROJAN, ANO) e Jatropha curcas (SOUSA et al., 2013),

Diante do exposto, através do teste tukey (5% significância) é possível visualizar as médias dos tratamentos que se diferenciaram significativamente (<0,05). Nesse cenário, o tratamento T25 além de obter a maior altura entre os tratamentos, também divergiu expressivamente dos tratamentos CT e T50 (Figura 5).

Segundo Dosani et al. (1999), normalmente o biofertilizante proporciona uma maior solubilização e mobilização de nutrientes para o sistema nutricional da planta, resultando em indivíduos nutricionalmente mais equilibrados. O T25 pode ter favorecido uma solubilização bem maior dos nutrientes contidos no biofertilizante, que porventura melhorou a absorção dos nutrientes por parte das mudas.

Figura 5 –Altura média da parte aérea

(Fonte: Autores, 2016).

Corroborando com a literatura o tratamento T25 atingiu em média boa qualidade de altura (mínima 15 cm) para plantio em campo (GUERREIRO; COLLI JUNIOR; 1984; PAIVA; GOMES, 2000; WENDLING; DUTRA, 2010), ademais os tratamentos remanescentes não estão aptos para plantio. Contudo, cabe ressaltar que a mensuração da altura ocorreu 30 dias após a semeadura. Para Carvalho (2007), as mudas de paricá atingem porte adequado para plantio, por volta dos 60 dias após a semeadura, quando as mudas atingirem de 20 a 35 cm de altura.

A altura está entre os parâmetros morfológicos mais utilizados para determinação da qualidade das mudas, pois é um método não destrutivo e fácil mensuração (GOMES et al., 2002). Segundo os mesmos autores a altura contribui com 50,26% para índice de qualidade das mudas (IQD), quando se considera mudas de até 60 dias. Porém, isoladamente pode não predizer com exatidão o desempenho inicial das mudas em campo (GOMES; PAIVA, 2004; GASPARIN et al.,2014).

O diâmetro do coleto é tão importante quanto à altura para determinar a qualidade das mudas para plantio definitivo (PIAS et al., 2015). Segundo Kramer e Kozlowski (1972), o DC pode representa melhor a qualidade das mudas, pois essa variável está diretamente associada as condições de cultivo. Além disso, o padrão de qualidade das mudas é altamente influenciado pelo DC, no qual mudas com diâmetros menores facilmente tombam em campo, resultando em grandes taxas de mortalidade pós plantio (CUNHA et al., 2005; PUÉRTOLAS et al., 2012).

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Em relação ao diâmetro do coleto obtidos nesse estudo, percebe-se que as médias dos tratamentos com BIO não divergiram significativamente entre si pelo teste Tukey. Entretanto, o CT divergiu de todos os tratamentos com BIO, isso pode indicar que os tratamentos com BIO, destacando-se o T100, apresentaram efeitos favoráveis para desempenho do parâmetro em questão (Figura 6).

Figura 6 –Diametro médio do coleto

(Fonte: Autores, 2016).

Nesse sentido, observa-se uma tendência crescente do DC à medida que concentração de BIO aumenta, tal tendência é relatada por vários autores em espécies florestais, como Tabebuia avellanedae (Polini, 2013), Peltophorum dubium (Strauss et al., 2013) e Theobroma grandiflorum (Soares et al., 2014).

Estudos correlatos indicam que mudas de boa qualidade para plantio em campo devem apresentar DC superior a 2 mm (RIBEIRO et al., 2001; XAVIER et al., 2009; WENDLING; DUTRA, 2010). Isso implica dizer que todos os tratamentos atingiram diâmetros com qualidade satisfatória. Entretanto, o mesmo não se aplica para Gonçalves et al. (2000), esses autores consideram mudas de boa qualidade aquelas que apresentam DC superior a 5 mm.

Embora a H e DC possam ser bons parâmetros morfológicos para avaliar a qualidade das mudas, não se aconselha que estes parâmetros sejam usados separadamente, quando se deseja indicar de forma apropriada o êxito das mudas em campo (HAASE, 2007). Desse modo, faz-se indispensável a utilização de índices que relacionam os parâmetros de qualidade, em especial, o índice de robustez ou quociente de robustez, expresso pela relação (divisão) entre a altura e diâmetro do coleto, que é considerado por muitos um dos mais precisos parâmetros de qualidade (JOHNSON; CLINE, 1991; STURION; ANTUNES, 2000).

Nesse contexto, percebe que a �� do H/DC se comportou de maneira peculiar, com o menor valor para o T50, seguido de perto pelos tratamentos T100 e T75, esses 3 tratamentos se diferenciaram significativamente pelo teste tukey dos tratamentos T25 e CT, exceto o T75 que divergiu apenas do T25 (Figura 7).

Seria sensato dizer que os tratamentos T50, T100 e T75 em ordem decrescente, apresentam em média mudas de paricá mais robustas, em contrapartida, o T25 e CT mudas mais delgadas, pois de acordo com Ritchie et al. (2010), um baixo valor do H/DC expressa a ideia de robustez da planta e um alto valor representa um aspecto delgado. Porém, mudas de paricá com boa qualidade para plantio devem ter robustez situada entre os limites de 5,4 a 8,1 (CARNEIRO, 1995; ARAÚJO et al., 2017)

Assim sendo, quando se considera somente a �� do H/DC, torna-se mais coerente falar que todos os tratamentos desse estudo não produziram mudas aptas para plantio aos 30 dias de avaliação, logo, recomenda-se um período de cultivo maior para que se possa obter mudas de paricá com robustez ideais para plantio. Apesar disso, por outra perspectiva, todos os tratamentos, principalmente o T50, T75 e T100 produziram mudas de boa qualidade, já que mudas com H/DC abaixo de 10, apresentam alta qualidade e maior sobrevivência pós plantio (BIRCHLER et al., 1998; JOSE; DAVIDE; OLIVEIRA, 2005; JOSE et al., 2009).

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Figura 7 –Índice de robustez

(Fonte: Autores, 2016).

5. CONCLUSÃO

O uso de biofertilizante na produção de mudas de Schizolobium parahyba var. amazonicum influencia positivamente nos parâmetros de crescimento e qualidade da espécie, em especial no diâmetro do coleto, quando comparados a irrigação somente com água. Faz-se necessário realizar análises químicas do biofertilizante produzido que complementem esses resultados que são indicados como reflexos do modo de preparo e tempo de produção do biofertilizante, bem como análises que considerem maior tempo de cultivo das mudas, para que assim seja determinada a condição ideal de uso do biofertilizante na produção de mudas de paricá.

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Capítulo 6

Composição centesimal da matéria seca de macroalgas marinhas Gracilaria birdiae cultivados no município de Rio do Fogo (RN), Brasil

Ivanilson de Souza Maia

Beatriz Cristina Lopes

Vanessa Clarice Fernandes Alves

Andréia Amanda Bezerra Jácome

Natália Carla Fernandes de Medeiros Dantas

Resumo: As algas são empregadas na indústria alimentícia, farmacêutica, têxtil, cosmética e fertilizantes. Macroalgas são a principal fonte de ágar, ficocolóide de alto valor econômico, cujo resíduo do processamento vem sendo aproveitado de formas variadas pela indústria. A Gracilaria birdiae é uma alga comestível presente nos bancos naturais do Nordeste (CE, RN e PB) e cultivada em balsas flutuantes por comunidades tradicionais. Em Rio do Fogo (RN), as mulheres da Associação das Maricultoras de Macroalgas (AMAR) usam para a fabricação de cosméticos e alimentos. As maricultoras realizam o processo de secagem e utilizam a matéria seca da alga em forma de pó ou desidratada. Porém, o rendimento em peso da matéria seca é 25% da matéria fresca, por isso orientou-se a produção do extrato de macroalgas visando melhor eficiência produtiva e rendimento financeiro. O objetivo deste trabalho é descrever a composição centesimal do resíduo (matéria seca) obtido após a extração do extrato de macroalga Gracilaria birdiae. Trabalha-se a hipótese de perda de componentes químicos do resíduo após obtenção do extrato das macroalgas. Depois de coletadas, as algas in natura foram lavadas em água corrente e triturado 1kg de algas fresca com 250 ml de água. A parte líquida e sólida foram separadas, rendendo 510g de extrato e 530g de sólido. Foram realizadas análise físico-químicas em triplicatas por amostra. Foi avaliada umidade pelo método gravimétrico, proteínas (fator 6,25) pelo método Kjedahl, lipídios pelo método de Soxhlet e resíduos minerais (cinzas) por incineração, conforme protocolo AOAC (2011). Carboidratos calculados por diferença entre os demais teores. A hipótese levantada foi confirmada, uma vez que o resíduo apresentou redução nas porcentagens de proteínas e carboidratos, evidenciando que a maior parte dos macronutrientes são extraídos na obtenção do extrato.

Palavras-chave: algas marinhas, maricultoras, extrato, resíduo, macronutrientes.

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1. INTRODUÇÃO

As algas são organismos fotossintetizantes, conhecidas frequentemente como “plantas inferiores” devido à sua estrutura avascular e métodos de reprodução relativamente simples. É considerado um grupo polifilético e por esta razão costumam ser agrupadas por diferentes critérios, principalmente de acordo com o tipo de pigmentação (PHANG et al., 2010).

As algas são itens importantes na alimentação de várias culturas do leste asiático há milênios, pois, são fontes de proteínas, carboidratos, minerais (como ferro, cálcio, iodo, potássio e selênio) e vitaminas A, C e B-12, também fornecem ácidos graxos e ômega-3 (McHUGH, 2003; PEREIRA, 2009). Sua utilização vem ganhando espaço no ocidente não apenas na alimentação, mas, principalmente, em processos na indústria alimentícia, farmacêutica, têxtil, cosmética e de fertilizantes (GRESSLER et al., 2011; FLEURENCE et al., 2012).

A produção mundial de algas cultivadas aumentou de 13,5 milhões de toneladas, em 1995, para pouco mais de 30 milhões de toneladas, em 2016. O rápido crescimento e os números expressivos se devem, principalmente, ao cultivo de espécies tropicais que são utilizadas como matéria-prima para a extração da carragena (FAO, 2018). As estatísticas indicam que a produção e o consumo de algas movimentam bilhões de dólares em todo o mundo. Deste valor, as macroalgas representam mais de 99% da biomassa produzida (PHANG, 2010). Toda essa produção é utilizada das mais variadas formas, seja para consumo direto, na fabricação e composição de produtos alimentícios, fármacos, biomateriais e produtos agrícolas (BIXLER; PORSE, 2011).

Além das propriedades nutricionais, as macroalgas são a principal fonte de exploração de Ágar, um ficocolóide de alto valor econômico. Em muitos países a indústria alimentícia processa grandes quantidades de algas com a finalidade de extração do ágar (PEREIRA, 2009). Recentemente, a indústria internacional de extração de ágar se encontra em processo de readaptação, apostando no desenvolvimento de metodologias mais sustentáveis, como: “Multifluxo Zero Efluente” (MUZE). Este novo procedimento visa aproveitar o resíduo gerado após a extração da carragenana (NEISH et al., 2017). Desta forma, pesquisas vêm sendo realizadas e resultados promissores indicam o uso do resíduo líquido como biofertilizante em lavouras como uma excelente alternativa (TARAKHOVSKAYA et al., 2007; CRAIGIE, 2011).

Descobertas atuais têm encontrado novos compostos químicos, terapêuticos e comprovando a grande versatilidade das algas e sua aplicabilidade na indústria, além de serem consideradas uma fonte valiosa para a produção de combustíveis (LORBEER et al., 2013). Em virtude dos avanços recentes, por meio da engenharia metabólica é possível converter diversos carboidratos de biomassa de algas marinhas em biocombustíveis (bioetanol) (WEI et al., 2013).

Dentre as inúmeras espécies de macroalgas marinhas existentes, a Gracilaria birdiae é uma alga comestível, que ocorre nos bancos naturais da costa setentrional do Nordeste, em especial no Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. A mesma vem sendo cultivada em módulos flutuantes por comunidades costeiras, com o objetivo de geração de renda e desenvolvimento econômico e, também, como forma de preservação do ambiente marinho (SIMÕES, 2009; VIDOTTI; ROLLEMBERG, 2004).

A cidade de Rio do Fogo possui uma comunidade de mulheres que cultivam algas para a fabricação de cosméticos e alimentos. A maricultura familiar, uma das fontes mais importantes de renda das populações costeiras, resistiu às transformações causadas pela dinâmica das atividades capitalistas, dado o estado de exploração dos recursos naturais (DIEGUES, 1995). As algas tanto são coletadas na beira da praia, quanto cultivadas em “banco de algas” no litoral.

Historicamente, as mulheres usam a matéria seca das macroalgas em suas preparações, em forma de pó ou desidratada, pelo fato de se utilizarem apenas do processo de secagem das mesmas. Com esse procedimento, as maricultoras não tem conseguido obter um bom faturamento, haja vista que, o rendimento em peso da matéria seca é de até 25% da matéria fresca, desperdiçando o extrato. Diante deste fato, orientou-se a produzir o extrato de macroalgas, pois possibilita um novo produto, melhora a eficiência produtiva e o rendimento financeiro.

Diante desta situação, objetivou-se, com esse trabalho, descrever a composição centesimal do resíduo (matéria seca) obtido após a extração da macroalga Gracilaria birdiae, cultivada pelas mulheres da Associação das Maricultoras de Macroalgas de Rio do Fogo (AMAR), do município de Rio do Fogo, RN.

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Tal procedimento se justifica pela dúvida entre as maricultoras sobre a perda de componentes químicos para o extrato das macroalgas.

2. METODOLOGIA

2.1. CARACTERÍSTICAS DA ÁREA DE ESTUDO

As algas foram coletadas na praia de Rio do Fogo (RN) pelas mulheres da Associação das Maricultoras de Macroalgas de Rio do Fogo (AMAR). O referido município está localizado a 05°16'22"S e 35°22'58"W (Fig. 1), área de transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga, e incluído no Território Mato Grande, considerado o mais pobre do estado. O clima em Rio do Fogo é tropical. De acordo com KÖPPEN (1948) a classificação do clima é Aw. Em Rio do Fogo, a temperatura média é de 26.0 °C e a pluviosidade média anual é de 1096 mm.

Figura 1 – Mapa da localização do município de Rio do Fogo (RN).

Fonte: Walber Ferreira (2020).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O cultivo das macroalgas é feito em balsas, que consistem em estruturas flutuantes no mar, nas quais são colocas as algas em redes tubulares, presas em cordas de nylon e tubos de PVC, ancoradas pelas extremidades em poitas (Figura 2).

O cultivo dura em média 60 dias. É realizado com mudas de algas retiradas de bancos naturais. A retirada se dá de forma sustentável para que a atividade possa se perpetuar. Periodicamente, realizam a manutenção do cultivo, retirando das balsas organismos incrustantes que possam prejudicar o crescimento das algas.

Importante ressaltar que, a AMAR possui licenciamento ambiental e outorga de área (10 hectares) para realizar o cultivo de macroalgas marinhas de espécies nativas, durante 20 anos (SOUZA MAIA et al., 2020). Fato que aproxima instituições a apoiá-las.

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Figura 2. Estrutura de cultivo de macroalgas marinha em Rio do Fogo.

Fonte: Ivanilson de Souza Maia (2020).

As algas in natura para o estudo foram despescadas desta área, embalado e transportado para o Laboratório e Núcleo de Estudos em Desenvolvimento, Meio Ambiente e Extensão Pesqueira e Aquícola (LEME) da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa/Mossoró). Posteriormente, foram lavadas em água corrente até retirada de restos de areia, pigmentos, fauna associada e excesso de sal.

Em seguida, foram trituradas 1kg de algas fresca juntamente com 250 ml de água em processador do tipo comercial. Após a trituração, a parte líquida e sólida foram separadas, utilizando-se um coador de polyester com 1mm de espessura entre as malhas, o que rendeu 510 gramas de extrato e 530 gramas de sólido, conforme demonstra a figura 3.

Figura 3. Rendimento Gracilaria birdiae

Em seguida, as análise físico-químicas foram realizadas em triplicatas para cada uma das amostras, sendo avaliados os parâmetros de umidade, proteínas (fator 6,25), lipídios e resíduos minerais (cinzas), conforme as normas descritas pela AOAC (2011). Carboidratos foi calculado por diferença dos demais teores encontrados.

Para a determinação da umidade, utilizou-se o método gravimétrico, em que operações de pesagem e aquecimento de amostra (3g) dos sólidos são repetidas, submetidas a estufa regulada a 105°C por 24 horas até obtenção de peso constante. O valor da umidade é obtido através da diferença entre a pesagem final e inicial da amostra (AOAC, 2011).

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Os valores de proteínas foram dosados pelo método Kjedahl, que consiste na determinação do nitrogênio total. Para converter o resultado em proteína bruta foi utilizado o fator 6,25 (AOAC, 2011). Para determinação de lipídeos totais foram extraídos a frio pelo método de Soxhlet, utilizando a extração com hexano e lavagem do resíduo (AOAC, 2011).

As cinzas foram obtidas por incineração de uma quantidade conhecida da amostra (2g), levadas a mufla a 550°C, por 4 horas. Em seguida, foi pesado de 1 em 1 hora até obtenção do peso constante (AOAC, 2011).

Os carboidratos presentes na amostra foram obtidos por diferença, segundo o método de Pearson (1976), pelo emprego da seguinte equação: % Carboidratos = (100% da matéria seca) – [(% Cinzas) + (% Proteínas) + (% Lipídios)].

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O processamento para a extração do suco de macroalgas utilizando o tecido poliéster para o coador não contribuiu para alcançar o resultado final aproximado do algébrico (1,250kg), pois, enquanto houve acréscimo de 250 ml de água doce a mais no quilo de matéria fresca, o processo finalizou com apenas 1,040 kg, com perdas nominais de 210g (20%). Observa-se que, essas perdas ocorreram em maior intensidade por parte do resíduo líquido. Portanto, recomenda-se alterar o processo do beneficiamento, caso contrário, a intensão de produzir extrato de macroalgas não contribuirá para aumentar o rendimento financeiro das maricultoras.

A composição centesimal aproximada da matéria seca após a extração do suco (umidade, cinzas, proteínas e lipídeos) obtidos em triplicata da alga Gracilaria birdiae, encontra-se descrita na Tabela 1. Os resíduos sólidos contêm, respectivamente, a umidade como componente principal (89,09%), seguida da proteína (5,91%), carboidrato (0,16%), cinzas (4,48%) e lipídeos (0,37%). Nesta tabela, também, foram acrescentados dados de outras publicações, tanto para a matéria seca após a extração do suco como em relação a alga desidratada, para avaliar os resultados nas duas condições e entre os mesmos.

Tabela 1: percentual médio dos valores obtidos na análise da alga Gracilaria birdiae.

Composição centesimal Gracilaria birdiae

Matéria Seca

Após extração do suco Alga desidratada

Análises Presente trabalho

Gomes et al. (2012)

França Pires et al.

(2012) Torres (2017) Batista (2008)

Umidade (%) 89,09 88,83 15,25 10,69 10,30

Cinzas (%) 4,48 4,53 5,58 9,25 35,60

Proteína (%) 5,91 1,11 12,62 12,21 13,50

Lipídios (%) 0,37 0,13 0,11 0,54 0,80

Carboidratos (%) 0,16 1,83 66,44 15,25 59,03

Fonte: Dados do próprio trabalho e adaptado dos trabalhos de GOMES et al. (2012), FRANÇA PIRES et al. (2012), TORRES (2017) e BATISTA (2008).

O pescado tem como principal componente a água, podendo variar de 60% a 85%, esta porcentagem depende de fatores e características como a espécie, época do ano em que foi capturado, idade, sexo e estado nutricional de cada organismo (GONÇALVES, 2011). Neste contexto, os valores discrepantes observados em relação a umidade refletem os diferentes processamentos na qual a macroalga foi submetida antes da análise. É de se esperar que a amostra que não foi submetida ao processo de desidratação apresente valores mais elevados de umidade. É por esta razão que, os dados do presente trabalho só se aproximam do apresentado por GOMES et al. (2012), registrando a maior porcentagem de umidade quando comparada aos demais trabalhos.

Em relação a proteína, esperava-se que o resíduo sólido apresentasse menores concentrações quando comparado com as amostras após a extração do suco. No entanto, os resultados produzidos por Torres (2017) de 12,21%; FRANÇA PIRES et al., (2012) de 12,62%; e BATISTA (2008) de 13,5% contradiz esta expectativa ao demostrar valores semelhantes. Nota-se na presente pesquisa que, após a obtenção do extrato, o resíduo sólido apresentou redução nas porcentagens de proteínas e carboidratos quando comparados aos demais resultados da literatura, implicando que tais macronutrientes são extraídos no extrato.

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Os valores para cinzas obtidos neste trabalho (4,48%) assemelharam-se, somente, ao apresentado por GOMES et al. (2012) na condição após a elaboração do extrato e a FRANÇA PIRES et al., (2012), que registrou o valor de 5,58%, em relação as algas desidratadas. Entretanto, os demais autores apresentaram valores bem superiores, chegando até sete vezes do valor apresentado.

As médias apresentadas para os lipídeos (0,37%) não apresentaram grandes discrepâncias quando comparado aos demais valores, dessa forma, é possível que a quantidade deste macronutriente não se altere após a obtenção do extrato.

5. CONCLUSÕES

A composição físico-química da Gracilaria birdiae evidencia que seu aproveitamento promove enriquecimento nutricional tanto para consumo direto quanto para composição de produtos alimentícios, em especial, pelo aporte de proteínas e de fibras. O consumo de algas deve ser estimulado como hábito de ingestão de alimentos saudáveis por apresentar excelente aporte nutricional.

Os resultados demonstram que o resíduo sólido gerado após a extração do extrato da macroalga Gracilaria birdiae apresenta valores consideráveis de proteínas, alto teor de sais minerais e reduzidos valores de lipídios e carboidratos. Por esta razão, este material pode ser utilizado como uma fonte suplementar de proteína de alta qualidade na alimentação humana, na alimentação animal ou como biofertilizante (fonte de nitrogênio). Por ser pobres em lipídios o consumo das algas pode ser recomendado para pessoas que estejam submetidas a controle de peso corpóreo.

Por fim, o resíduo sólido apresentou redução nas porcentagens de proteínas e carboidratos, implicando que a maior parte dos macronutrientes são extraídos no extrato. A hipótese levantada pelas maricultoras foi confirmada.

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Capítulo 7

Resposta da aplicação nitrogenada suplementar tardia na cultura da soja cultivada em latossolos do Cerrado

Paulo Henrique Dalto

Chayanne da Costa Santos

Lucas da Rocha Franco

Resumo: Objetivou-se com esse trabalho avaliar o efeito da aplicação tardia de (N)

nitrogênio via foliar no estádio fenológico (R5), inicio do enchimento de grãos, interfere

na produtividade e no peso de matéria seca. O estudo foi realizado na Fazenda Chapada

do Céu localizado em Sebastião Leal - PI, em Latossolo Amarelo, no sistema de plantio

direto a variedade ao qual foi conduzido o experimento foi a FT4280 IPRO (ciclo médio

100 - 115). O experimento foi conduzido sistema de delineamento inteiramente

casualizados, com dois tratamentos e seis repetições: T1 – Inoculação padrão (IP) com B.

japonicum, + Potamol 100 ml.ha-1 + MS-mn20RR 300 g.ha-1 + 300 g.ha-1+ Kymon Plus

300 ml.ha-1, em estádio fenológico V6, que serviu de testemunha e T2 - Inoculação

padrão (IP) com B. japonicum, + Potamol 100 ml.ha-1 + MS-mn20RR 300 g.ha-1 + 300

g.ha-1 + Kymon Plus 300 ml.ha-1 em estádio V6 + N32 2,7 L.ha-1, em R5. Os dados foram

avaliados através de análise de variância e teste F (Fisher) a 5% de probabilidade. Na

avaliação de produtividade o tratamento T1 apresentou 3.938,27 kg.ha-1 e o tratamento

T2, 4074,07 kg.ha-1, na avaliação peso de matéria seca o T1 foi 8.382,07 kg.ha-1 e o T2,

8.643,79 kg.ha-1, os mesmo não se diferiram estatisticamente. A aplicação de 2.7 L.ha-1

de N proporcionou aumento na produtividade e no peso de matéria seca. Embora se

observasse aumento na produção em torno de 135,8 kg ha-1, é economicamente viável a

aplicação de nitrogênio na cultura da soja, levando em consideração o custo da aplicação.

Palavras-Chave: Nitrogênio, Plantio direto, Floração, Piauí.

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1. INTRODUÇÃO

A cultura da soja (Glycine max (L.) Merril), é a cultura de maior importância econômica no país, a produção nacional na safra 17/18, foi de 119.281,7 milhões de toneladas, a área plantada 35.149,2 milhões de hectares (ha), com produtividade média de 3.394 kg.ha-1 (CONAB, 2019). A estimativa da produção de soja em grãos para a safra 2018/19 é de 113.449,1 milhões de toneladas, área plantada 35.818,8 milhões de hectares, com a produtividade média esperada de 3.168 kg.ha-1 (CONAB, 2019). Com os resultados da safra de 2018, o Brasil responde por cerca de 34% das 350 milhões de toneladas produzidas no mundo, consolidando-se como o segundo produtor global da oleaginosa e a caminho da liderança, atrás dos Estados Unidos (KRUPEK, 2019).

A área plantada com soja no estado do Piauí, na safra 17/18, passou de 710,5 mil ha, chegando à produção de 2.538,6 mil Mg, com produtividade média de 3.573 kg.ha-1, para safra 18/19 estima-se uma produção de 2.298,6 mil Mg, com uma produtividade média de 3,032 kg.ha-1 da oleaginosa (CONAB, 2019). Destaque para as regiões de Baixa Grande do Ribeiro com produção de 570.487 mil Mg e Uruçuí com 485.076 mil Mg, sendo os maiores produtores de estado (IBGE, 2018)

O nitrogênio (N) é o nutriente requerido em maior quantidade pela cultura da soja, estima-se que para produzir 1000 kg de grãos são necessários aproximadamente 80 kg de N (Silva et al., 2011), destes aproximadamente 65% são exportados para os grãos (Duarte; Cantarella, 2007). A principal fonte desse N provém da fixação biológica de nitrogênio (FBN), mas também da mineralização da matéria orgânica do solo e, eventualmente, de fontes minerais sintéticas (EMBRAPA SOJA, 2011).

A recomendação técnica para o fornecimento desse nutriente é a inoculação adequada das sementes com inoculantes à base de Bradyrhizobium japonicum, tanto em quantidade quanto em qualidade, de modo a propiciar a nodulação precoce e abundante e, consequente, maior capacidade de fornecimento de N à cultura via FBN (EMBRAPA Soja, 2011). O processo de inoculação tradicional consiste em aplicar a bactéria nas sementes, desta forma, logo após a germinação a bactéria penetra na raiz, coloniza e forma nódulos, fixando nitrogênio atmosférico (FERREIRA et al., 2011). Há que se salientar, entretanto, que algumas práticas e produtos químicos empregados para o tratamento de sementes são incompatíveis com as bactérias fixadoras de N, levando à morte das mesmas. (FERREIRA et al., 2011).

Atualmente, questões têm sido levantadas quanto à capacidade da FBN em suprir a demanda de N na fase de enchimento de grãos para atender a altos níveis de produtividade de soja (CÂMARA, 2014). Desse modo, objetivou-se avaliar a resposta da aplicação tardia de N via foliar na fase reprodutiva na cultura da soja na safra 18/19 em uma propriedade rural localizada no município de Sebastião Leal - PI.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A cultura da soja (Glycone max (L.) Merril) é uma espécie de grande importância economia do cenário agrícola para o Brasil, em virtude do seu volume produzido, proporcionado pelos altos rendimentos e pela amplamente adaptação da cultura a diferentes latitudes.

O aumento da produtividade da soja é uma demanda atual, cuja está associado ao aumento da produção de alimento e da rentabilidade ao produtor. O grande fator limitante da produtividade da soja no Brasil é o déficit hidrológico ao longo do ciclo (SENTELHAS et al., 2015).

A soja é muito exigente em nitrogênio (N), o qual se constitui o elemento mineral requerido em maior quantidade pela cultura, isso porque ele constitui os ácidos nucléicos, as proteínas e moléculas. (EMBRAPA SOJA, 2001).

No solo a matéria orgânica é a principal fonte de N para as culturas, contendo em torno 5% de N. Pelo processo de decomposição da matéria orgânica promove-se a sustentabilidade biológica e a produtividade dos ecossistemas (SCHLOTER et al., 2003). A liberação ou imobilização dos nutrientes depende da atividade e dinâmica dos microrganismos, resíduos vegetais, do rápido retorno e eficiência de utilização de carbono pela microbiota (BAUDOIN et al., 2003; HUNGRIA et al., 2001).

Segundo Nicolás et al. (2006), grande parte do N requerido é fornecida via fixação simbiótica com bactérias do gênero Bradyrhizobium, que dependem de simbioses altamente eficazes. Com o avanço das pesquisas em microbiologia do solo tornou-se possível à obtenção de quase todo o N demandado pela cultura, através da FBN (fixação biológica de nitrogênio) (BARBERI et al., 2004; HUNGRIA et al., 2006). Alves et al. (2006) observaram acúmulo médio de 193 kg ha-¹ de N na cultura da soja, proveniente da FBN.

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Nos sistemas de produção de soja de alta tecnologia, em que altas produtividades são obtidas, as necessidades de N requerida são grandes, demandando quantidades entorno de 300 kg ha-¹ de N que serão requeridas para as sementes em desenvolvimento durante o enchimento das vagens (LAMOND; WESLEY, 2001).

Contudo resultados de pesquisa, obtidos nos Estados Unidos, com resposta da soja à aplicação tardia de N, no pré-florescimento e no início do enchimento de grãos, confirmaram que o suprimento de N pode não ser totalmente atendido mediante a fixação biológica e fornecimento do solo, necessitando, portanto de adubações nitrogenadas complementares para altas produtividades (WESLEY et al., 1998; LAMOND ; WESLEY, 2001).

A fase de desenvolvimento da planta é o período em que os nutrientes são absorvidos em quantidade maior. Porém, fica mais intensa durante a floração e início de enchimento de grãos. Nessa fase também ocorre uma elevação na taxa de translocação da planta (STAUT, 2007).

Staut (2007) diz que, os nutrientes disponibilizados nas plantas de soja em forma de solução, podem ser absorvidos tanto pelas raízes quanto pelas folhas. Essa característica fez com que o mercado produzisse e disponibilizasse diferentes produtos para realização de adubação foliar.

Diante da problemática, Lopes (2018), defende que para o aumento da produtividade, se faz necessário se aumentar a eficiência do sistema produtivo com uma adição de fertilizantes da forma mais racional possível.

3. METODOLOGIA

O estudo foi conduzido entre dezembro de 2018 e abril de 2019 na Fazenda Chapada do Céu no município de Sebastião Leal-PI situada nas coordenadas 07°40’48.077” S e 44°04'25.838" W, o solo foi classificado como Latossolo Amarelo (EMBRAPA, 2013) e o clima da região é classificado como Aw (clima tropical com estação seca de Inverno) de acordo com Köppen e Geiger, com temperaturas médias de 26.0 °C e 1006 mm de pluviosidade média (CLIMATE-DATE.AGR, 2019).

3.1. HISTÓRICO DA ÁREA

O preparo inicial da área ocorreu na safra 11/12, onde foi executada a supressão florestal, enleiramento e a cata de raízes. Utilizou-se 5,5 Mg.ha-1 de calcário, incorporada com grade aradora de 28”, seguida de uma sequência de duas passadas de subsoladores com um ângulo de aproximadamente 30º uma da outra e duas passadas de grade niveladora 22”. No plantio utilizou-se 174 Kg.ha-1 do formulado 10-20-20 na base sendo semeada a cultura do arroz (Oryza sativa). Na safra seguinte (12/13), utilizou-se 4,5 Mg de calcário ha-1 e 1 Mg.ha-1 de gesso incorporados com grade aradora de 28” seguida de grade niveladora de 22” para o plantio da cultura da soja, utilizando-se 338 Kg,ha-1 do formulado 00-15-30 na base.

Na safra 13/14 introduziu-se o plantio direto (PD) seguindo com este manejo até a safra 17/18, quando foi aplicado 1 Mg.ha-1 de gesso em cobertura, sem incorporação, continuando a área no PD e sendo cultivada com a cultura da soja durante esse período. Na safra 18/19 a adubação consistiu-se de 200 Kg.ha-1 de KCL distribuído a lanço antes do plantio. Para o controle de plantas invasoras utilizou-se a dessecação em pré-plantio, ocorrida em 02 de dezembro de 2018, onde foram utilizados os herbicidas de ação sistêmica, Glifosato Potássico (ZAPP QI 620) na dose de 3 L.ha-1, Clorimurom-Etílico (Clorimurom) na dose 100 g.ha-1, Diclosulam (Spider 840 WG) na dose 34 g.ha-1, junto com o inseticida-acaricida de contato e ingestão (Clopirifós) na dose 1 L.ha-1.

A análise química do solo foi realizada pelo laboratório Exata (Hoff & Brait Ltda), localizado na cidade de Jataí-GO, as amostras de solo foram coletadas na profundidade de 0 a 20 cm, e os resultados podem ser observados na Tabela 01.

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Tabela 1 - Análise química do solo (0–20 cm) da área experimental realizada antes da realização do experimento de campo, abril de 2018.

M.O.: matéria orgânica; V%: saturação por bases; CTC: capacidade de troca catiônica. Fonte: Própria (2019)

Para o tratamento de sementes fez-se uso dos inseticidas, Lambda-Cialotrina + Clorantraniliprole (Ampligo) na dose 50 ml.ha-1, Fipronil (Fipronil 800WG) dose 25 g.ha-1, Tiametoxam (Cruiser 350 FS) dose 75 ml.ha-1, fungicida sistêmico precursor de Tiofanato-Metílico + Fluazinam (Certeza) na dose 100 ml.ha-1, utilizou-se ainda complexo de molibdênio 14% m/m, cobalto 1,5% m/m (CoMo ML-14) dose 50ml.ha-1 e Inoculante 1 dose ha-1.

O plantio em semeadura direta sob palhada residual da cultura de milho safrinha foi realizado no dia 05 de dezembro de 2018 com a cultivar FT4280 IPRO com uma população final foi de 248.888 plantas.ha-1, esta apresenta grupo de maturação 8.0 e ciclo de crescimento indeterminado. A precipitação, entre os meses de setembro de 2018 e março de 2019, estão representados na Figura 1, com acumulado de 751 mm.

Figura 1 - Precipitação (mm) ocorrida na Fazenda Chapada do Céu, durante a condução do experimento.

Fonte: Própria (2019)

3.2. TRATOS CULTURAIS

A aplicação em pós-emergência, realizada em 12 de dezembro de 2018, objetivou o controle de plantas infestantes, foi realizada utilizando-se o herbicida Glifosato Potássico (ZAPP QI 620) na dose 2 L.ha-1 e o herbicida Haloxifope-P-Metílico (Verdict R) na dose 200 g.ha-1 (para o melhor controle de plantas daninhas de folha estreita e o controle do milho voluntário resistente ao herbicida Glifosato) além do inseticida Metomil (Brilhant BR) na dose 800 ml.ha-1 para o controle de pragas.

A aplicação no estádio fenológico V6 objetivou o controle de fungos e a nutrição foliar ocorrendo em 30 de dezembro de 2018, fez se uso dos fungicidas Flutriafol (Notável BR) na dose de 600 ml.ha-1, Tiofanato-metílico (Nofotil) na dose 600 ml.ha-1, mais complexo nutricional foliar, Potamol 100 ml.ha-1 (K2O Sol. em água: 12,0 e Mo Sol. em água: 14,0), MS-mn20RR na dose 300 g.ha-1 (Enxofre em água: 15,6; Boro em água: 3,00; Cobre em água: 2,00; Manganês em água: 20,00 e Zn: 4,00) e Kymon Plus na dose 300 ml.ha-1 (N 9,0%; K2O 3,0% e Carbono Orgânico 11,5%) para promover melhor distribuição da calda sobre as superfícies tratadas, diminui a tensão superficial e facilita a penetração do agrotóxico foi adicionado à calda óleo mineral (Assist) na dose 200 ml.ha-1.

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A aplicação no estádio fenológico R1 visou o controle de fungos e insetos, ocorrendo em 21 de janeiro de 2019, fez-se uso dos fungicidas Fluxapiroxade + Piraclostrobina (Orkestra SC) dose 300 ml.ha-1, Oxicloreto de cobre (Status) dose 300 ml.ha-1 e o inseticida Cipermetrina (Cyptrin 250 EC) dose 370 ml.ha-1 mais óleo mineral (Assist) 200 ml.ha-1.

A aplicação no estádio fenológico R3 também visou o controle de fungos e insetos e ocorreu em 12 de fevereiro de 2019, fez se uso do fungicida Ciproconazol + Picoxistrobina (Aproach Prima) 300 ml.ha-1 do inseticida fisiológico, Lufenurom (Match EC) 350 ml.ha-1 mais óleo mineral (Assist) 200 ml.ha-1.

3.3. INSTALAÇÃO DO EXPERIMENTO

O experimento foi conduzido no sistema de delineamento inteiramente casualizados, com dois tratamentos e seis repetições. O tratamento 1 serviu de testemunha, no tratamento 2 foi realizada aplicação do fertilizante foliar N-32 (2,7 L.ha-1), composto por 32% de N nas três formas: amídica, nítrica e amoniacal com densidade 1,3 kg.L-1, na fase de enchimento de grãos (R5), sendo realizada no dia 21 de fevereiro de 2019. A aplicação foi realizada utilizando um pulverizador terrestre modelo SP3500, equipado com bicos tipo cone cheio (modelo JFC 80), com a vazão 80L.ha-1.

3.4. COLETA DOS DADOS

As amostras foram coletadas deixando o espaçamento de 105 m a partir da estrada, espaço serviu de bordadura e em cada tratamento foram coletadas seis parcelas, cada parcela com 3 m, coletando todas as plantas e cada repetição foi espaçada 10 m uma da outra (Figura 2).

Foi coletada toda a parte aérea da planta, sendo o corte feito na base da mesma, rente ao solo, com a utilização de tesoura de poda. As amostras foram secas ao sol até atingir umidade constante. Após a secagem, foi realizada a pesagem das amostras, avaliando peso de matéria seca e em seguida, após debulha manual o peso dos grãos.

Figura 2 - Croqui da área experimental, mostrando os critérios obedecidos para as coletas das amostras para avaliação, 105 m bordadura, 10 m entre repetições e 3 m área colhida.

Fonte: Própria (2019)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se pelo teste Fisher a variável produtividade e peso de matéria seca não apresentaram diferenças estatísticas entre os tratamentos testados.

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Tabela 2 - Análise de variância (F) e coeficiente de variação (CV) para os diferentes efeitos nos componentes na produtividade da soja, em função da aplicação foliar nitrogenada. Sebastião Leal-PI,

2018/19. F P CV

Produtividade 0,63 0,44 7,39

Matéria seca 1,81 0,20 3,95

Fonte: Própria (2019)

As médias de produtividade dos tratamentos apresentaram coeficiente de variação de 7,39 % para produtividade e 3,95 % para peso de matéria seca, segundo Pimentel Gomes (2000), experimentos de campo com coeficiente de variação inferior a 10 %, são classificados de baixa variação e de alta precisão.

Tabela 3 - Produtividade da soja e peso de matéria seca em função da aplicação foliar nitrogenada no estádio R5 na cultura da soja. Sebastião Leal (PI), 2018/19.

Produtividade (kg.ha-1) Matéria seca (kg.ha-1)

T1 – Testemunha 3.938,27 ns 8.382,07 ns

T2 – Nitrogênio 4.074,07 ns 8.643,79 ns

ns - não significativamente diferente pelo teste Fisher ao nível de 5% de probabilidade. Fonte: Própria (2019)

Analisando a variável produtividade, apesar de estatisticamente não haver diferença, o peso para o T1 (sem N em R5) foi de 3.938,27 kg.ha-1 e para o T2 (com N em R5) 4.074,07 kg.ha-1, houve um aumento de 135,8 kg.ha-1, que corresponde a aproximadamente 3,44%, um acréscimo de 2,26 sc.ha-1 em relação ao tratamento T1, que foi de 65,6 sc.ha-1, esse aumento pode ser considerado significativo para a maioria dos produtores, indicando que seriam necessários mais estudos para verificar se ele se mantem em outros anos. Uma possível explicação para este resultado a maior pode estar associada ao fato de que o N aplicado após a floração é, em geral, utilizado diretamente para os grãos (ZILLI et al., 2010). O contrário ocorre antes da floração, em que o N é rapidamente incorporado em novas proteínas vegetativas, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento vegetativo da planta (SALES et al., 2016).

Pasqualli e Pittelkow (2014) em Lucas do Rio Verde – MT, utilizando doses de N foliar (32 %) em R3 também não encontraram diferença estatística, porém, assim como neste estudo notaram incremento de produtividade para os tratamentos com dose de 3 e 5 L.ha-1 de N foliar, apresentando médias de 3.384,00 kg.ha-1 e 3.465,50 kg.ha-1, respectivamente. Segundo Broch e Fernandes (2000), a demanda de nitrogênio da soja não está sendo suprida pela fixação biológica de N, e o nutriente é um estimulador para absorção de outros nutrientes pela planta, mostrando assim uma resposta positiva quando aplicado na cultura via foliar.

Já Rosa et al., (2015) em Campo Mourão - PR encontraram resultados positivos com tratamentos que aplicaram duas doses de 4 L.ha-1 de N foliar (30 % N) em dois estágios distintos (R4+R5), porém quando a aplicação foi realizada apenas em R4 ou em R5, estes não apresentaram diferença estatística da testemunha, como no presente estudo.

No trabalho de Mendes et al, (2008) não houve resultados significativos quanto a inoculação e a aplicação de doses de N nos estádios R1 e R5 para a produção de grãos de soja, porém observaram os maiores valores para os tratamentos que receberam aplicação de fertilizante nitrogênio em relação ao que apenas teve inoculação, assim como no presente trabalho.

Bahry et al., (2014) também não encontraram resposta da aplicação de N mineral em vários estádios reprodutivos da soja para massa de mil grãos. Somente aplicações em estádios reprodutivos avançados, como R5.2, resultaram em aumento significativo nessa variável, comparado a aplicações em R1 e R3.

Resultados diferentes foram obtidos por Schefer et al., (2016), estes autores verificaram resposta de 11,43 sacas por hectare com aplicações de N em R3 e R5, porém a dose utilizada por eles foi de 45 kg.ha-1, uma dose muito superior a utilizada no presente estudo.

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Figura 3 - Produtividade da soja e peso de matéria seca em função da aplicação foliar nitrogenada no estádio R5 na cultura da soja. Sebastião Leal (PI), 2018/19.

Verifica-se que a disponibilização de N em estádios de maior necessidade pela cultura é essencial, uma vez que o solo em alguns casos pode não conseguir suprir tal demanda, representando uma limitação ao seu perfeito desenvolvimento e produtividade quando o suprimento via solo é limitado, visto que durante o enchimento dos grãos e senescência foliar, os fotossintatos produzidos e os nutrientes que foram armazenados durante o desenvolvimento da planta são translocados para os órgãos reprodutivos (FERNANDES, 2006), uma vez que o N está presente em grande quantidade nas proteínas (MALAVOLTA, 2006), e os grãos contém em média 40% de proteínas (SEDIYAMA, 2009).

No entanto, com o incremento na produtividade de 2,2 sc.ha-1 de soja resultaria em lucro para os produtores, ao se considerar o preço de R$ 30,00 para 2,7 L de N.ha-1 e de R$ 69,00 para a saca de soja – cotados um Uruçuí-PI em maio de 2019, o lucro para os produtor nessa situação, ficaria em torno de R$ 121,80 por hectare, sem inclusão do custo do transporte do adubo e de sua aplicação, pois nesse estádio já é realizada uma aplicação de defensivos pela fazenda.

5. CONCLUSÕES

Não houve influência da aplicação de 2,7 L.ha-1 de N foliar no estádio R5 na cultura da soja para as variáveis, produtividade e peso de matéria seca da mesma.

O tratamento com aplicação de N foliar apresentou incrementos numéricos na produção de 2,2 sc.ha-1. Há necessidade de mais estudos para confirmar se o aumento na produtividade se mantem com a aplicação de N foliar em R5, visto que o aumento encontrado nesse estudo, apesar de não significativo estatisticamente, justificaria financeiramente a aplicação.

REFERÊNCIAS

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Malavolta, E. Manual de Nutrição Mineral de Plantas. 1.ª Ed. São Paulo, Agronômica Ceres, p. 638, 2006.

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[22] PASQUALLI, R. M.; PITTELKOW, F. K. Efeito da aplicação de ubyfol N-32 na cultura da Soja em Lucas do Rio Verde, MT. Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Rio Verde. Lucas do Rio Verde, 2014.

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[24] ROSA, L. S.; SILVA, A. P. DA; JESUS, V. V. DE; KOLESKA, L.; PETEAN, L. P. Influência da utilização de nitrogênio aplicado via foliar na fase reprodutiva da soja. ISSN 1983-7178. Anais... VI CONCCEPAR: Congresso Cientifico da Região Centro-Ocidental do Paraná/Faculdade Integrado de Campo Mourão. Campo Mourão, 2015.

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[32] WESLEY, T. L.; LAMOND, R. E.; MARTIN, V. L.; DUNCAN, S. R. Effects of late-season nitrogen fertilizer on irrigated soybean yield and composition. Journal of Production Agriculture, v.11, p.331-336, 1998.

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Capítulo 8

Concurso regional de redução de perdas na colheita da soja – regional de Maringá PR

João Vitor Ganem Rillo Paz Barateiro

Gustavo Soares Wenneck¹

Luiz Gustavo Pavão

José Marcos de Bastos Andrade

Resumo: O Concurso Regional de Redução de Perdas na Colheita da Soja é realizado há

mais de duas décadas, em parceria da Embrapa Soja com o EMATER, realizando

atividades e estudos que visam a redução de perdas na colheita, no aspecto social e

econômico. A Agro Júnior Consultoria, empresa júnior do curso de Agronomia da

Universidade Estadual de Maringá, regulamenta e organiza a participação de acadêmicos

do curso de Agronomia na coleta de amostras a campo, para cálculo de perdas e

posterior avaliação pelo laboratório de pesquisa da Embrapa.

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1. INTRODUÇÃO

As perdas de grãos numa lavoura podem ocorrer antes do início de operação de colhedoras. A debulha natural é um processo ligado a cultivar, existindo as que são mais suscetíveis do que outras (Queiroz et al.,1978).

Mesquita e Gaudêncio (1982) desenvolveram um método volumétrico que estima as perdas na colheita de soja, por meio da correlação entre o peso e o volume dos grãos. Com uma confiabilidade de 94%, este método consiste, basicamente, de duas operações (Mesquita, 1995).

Em 1982, Mesquita e Gaudêncio, desenvolveram um método mais simples coloca-los em um recipiente graduado denominado medidor de perdas na colheita da soja e do trigo.

Dados do periódico Sistemas de Produção organizado pela Embrapa Soja apontam a porcentagem[...]:

a) 80% a 85% ocorrem durante ação dos mecanismos externos da plataforma de corte das colhedoras (barra de corte, molinete e caracol). b) 12% são ocasionados pelos mecanismos internos das colhedoras (trilha, separação e limpeza). c) 3% deiscência natural das plantas (EMBRAPA, 2003, citado por Bezerra).

O Concurso realizado anualmente pelo EMATER, na região de Maringá-PR, apresenta mútuos benefícios para os produtores envolvidos, e a comunidade acadêmica. Esta, regulamentada pela AgroJr. Consultoria, participa voluntariamente da coleta de grãos perdidos na lavoura, analisando possíveis causas desta perda, junto à técnicos e extensionistas do Instituto. Já os produtores, participantes do concurso, têm a oportunidade facilitada do conhecimento técnico, com o objetivo socioeconômico, da redução de perdas durante o processo de operação da colheita.

A tecnologia de cultivo utilizada pela maioria dos produtores está baseada na utilização de insumos modernos (fertilizantes e defensivos e outros). Entretanto, além da utilização, às vezes excessiva, de insumos, perde-se também parcela significativa de produção por ocasião da colheita, por falta de manejo adequado da lavoura e por deficiência na regulagem e operação das colhedoras (Oliveira et al., 1980). Geralmente, cerca de 80% das perdas ocorrem na plataforma de corte (Costa e Tavares,1995)

2. OPERACIONAL NO CAMPO

Na prática de campo, colhe-se uma faixa de lavoura com a regulagem da máquina feita pelo operador ou produtor. Após a avaliação das perdas, realizam-se as regulagens ou ajustes necessários, e colhe-se nova faixa, avaliando-se novamente as perdas. A avaliação das perdas, antes e depois das regulagens, é repetida por cinco vezes. Formas práticas de estimar a velocidade de deslocamento da colheitadeira e a velocidade do molinete, descritas no manual do produtor (Mesquita et al.,1994).

Embora, a recomendação seja de 5 coletas, na prática, a mesma é realizada por 3 vezes após a passagem completa da máquina, devido ao objetivo do concurso e a logística operacional no campo.

Figura 1: coleta de grãos, realizada por acadêmicos da Universidade Estadual de Maringá-PR. Fonte: João Vitor G. R. P. Barateiro/AgroJr. Consultoria.

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O acadêmico por meio de contato com os técnicos do EMATER-PR e produtores da região, têm a oportunidade de aplicar conhecimentos aprendidos em sala de aula, ou até mesmo adquirir experiências não possibilitadas na Instituição de ensino.

Figura 2: Produtor rural e extensionista do EMATER-PR, acompanhando a coleta de grãos realizada pelos acadêmicos de Agronomia-UEM. Fonte: João Vitor G. R. P. Barateiro/AgroJr. Consultoria.

As amostras coletadas no campo são enviadas para laboratórios da Embrapa Soja em Londrina-PR, e os agricultores têm o retorno dos dados analisados, durante o jantar de premiação realizado pelo EMATER em Maringá-PR, premiando o que menos perdeu durante a colheita.

A partir dos dados conhecidos, o produtor tem a possibilidade de rever atitudes e processos operacionais realizados, além do melhor período e estádio fenológico do cultivar, visando uma colheita de melhor qualidade.

Ao todo, 22 acadêmicos da Universidade Estadual participaram do Concurso, totalizando uma participação em 11dias de saídas a campo, nos municípios de Maringá, Ivatuba, Floresta, Iguatemi, São Domingos e outras cidades da região.

3. DISCUSSÃO

Apesar da disponibilidade de uma tecnologia eficiente como o do copo medidor de perdas (Embrapa), esta é ainda desconhecida para alguns dos produtores de soja. Dessa forma, o desperdício atinge quantidades significativas de grãos, os quais posteriormente voltam a germinar trazendo sérios problemas de doenças para as culturas subsequentes, e gastos para o produtor, devido ao déficit econômico consequente da perda total da lavoura.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adoção de tecnologia do copo volumétrico, no controle da redução de perdas na colheita da soja pode trazer significativos benefícios socioeconômicos para o Brasil. Um exemplo disso, é o operador José Agnaldo Nunes, do Município de Maringá, que foi o vencedor do concurso, registrando apenas 3,54 kg/ha perda. A região de Maringá, tem obtido destaque nacional, por apresentar perdas muito abaixo do aceitável, que é determinada como 60kg/ha (1 saco), pela Embrapa Soja.

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REFERÊNCIAS

[1] Mesquita, C.de M.; Galerani, P.R.; Costa, N.P. da; Andrade, J.G.M. de; Domit, L.A.; Tavares, L.C.V.; Portugal, F. Manual do produtor: como evitar desperdício na colheita de soja. Londrina: Embrapa-CNPSo, 1994. 32p. (Embrapa-CNPSo.Documento,82).

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[4] Bezerra, W. DE S. Perdas na Colheita do Grão de Soja - Estudo experimental Fazenda Wehrmann. Disponível em: < HTTP://BDM.UNB.BR/BITSTREAM/10483/4651/1/2012_Joseweslleydesouzabezerra.PDF> . Acesso em: 26 fev 2016.

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Capítulo 9

Silício no controle de podridão pós colheita em maçã Maxi Gala

Daiane Correa

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência do silício no

controle de podridão pós colheita em maçã Maxi Gala. Frutos da cultivar Maxi Gala,

provenientes de pomar comercial foram submetidos a tratamentos com diferentes doses

de silício: 0; 1; 2; 3; 4 e 5 g Si/L Após a realização das lesões, os frutos foram submersos

nas soluções contendo os diferentes tratamentos e submetidos à inoculação com o

patógeno, através da aspersão da suspensão de conídios de Penicillium spp. na

concentração de 105 conídios ml-1, (1 ml) sobre cada lesão. Os frutos foram

acondicionados em câmaras de crescimento sob temperatura de 24oC e fotoperíodo de

12 horas. Foram avaliadas a incidência (% de frutos com lesões) e severidade (diâmetro

de lesões mm) máxima, após 7 dias. Os resultados foram comparados pelo Teste do

Tukey (P<0,05). As doses de 3 e 4 g/L de Si apresentaram maior potencial de controle

sobre o desenvolvimento de lesões de mofo azul nos frutos de maça Maxi Gala.

Palavras-chave: Mallus domestica L., Penicillium spp., mofo azul.

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1. INTRODUÇÃO

O silício (Si) é um elemento benéfico as plantas, que tem sido utilizado na supressão de doenças de plantas e ataques de insetos pragas, pois o seu efeito esta relacionado ao acúmulo na epiderme, protegendo a cutícula dos tecidos, podendo formar complexos com compostos orgânicos, favorecendo o acúmulo de compostos fenólicos nas paredes celulares das células, aumentando assim a sua resistência à degradação por enzimas liberadas pelos fungos (EPSTEIN, 1999).

O silício tem sido relacionado também ao aumento da zona bloqueadora da necrose, com rápida mudança citológica através da migração nuclear, deposição de papila e aumento da resposta de hipersensibilidade, levando à morte das células com infeção ocasionadas por patógenos (OLIVEIRA et al., 2015).

Produtos à base de silício, têm sido indicados no controle de diversas doenças, reduzindo a incidência e principalmente sua severidade, podendo ser uma alternativa no controle de doenças em pós colheita. As podridões que ocorrem nos mais diversos frutos, como a maçã, após a colheita podem ser iniciadas ainda no campo ou nos períodos de colheita e armazenamento (VIEIRa at al., 2018).

Dentre os principais patógenos que causam perdas por podridões encontra-se o fungo Penicillium spp., causador do mofo azul, que pode ser encontrado em todas as regiões produtoras de maçã do Brasil, causando severas perdas (BLUM et al., 2007). Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência do silício no controle de podridão pós colheita em maçã Maxi Gala.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos para o controle das podridões em pós colheita foram realizados no Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, com frutos da cultivar Maxi Gala, provenientes de pomar comercial no município de Vacaria-RS.

Os tratamentos testados foram diferentes doses de silício (Gigamix): 0; 1; 2; 3; 4 e 5 g Si/L. Para obtenção da solução de esporos para realizar a inoculação nos frutos de maçã, os patógenos foram isolados a partir de frutos infectados. A solução contendo o filtrado de esporos, foi ajustada com o auxílio da Câmara de Neubauer, até a obtenção de uma suspensão na concentração de 105 conídios ml-1 de P. expansum.

Os frutos foram previamente desinfestados, posteriormente, foram realizadas duas lesões de 4 mm de profundidade nos fruto. Após a realização das lesões, os frutos foram submersos nas soluções contendo os diferentes tratamentos e submetidos à inoculação com o patógeno, através da aspersão da suspensão de conídios (1 ml) sobre cada lesão.

Os frutos foram acondicionados em câmaras de crescimento sob temperatura de 24oC e fotoperíodo de 12 horas. Foram avaliadas a incidência (% de frutos com lesões) e severidade (diâmetro de lesões mm) máxima, após 7 dias. O delineamento foi inteiramente casualizado, com quatro repetições de 15 frutos. Os resultados foram submetidas à análise de variância e comparados pelo teste de Tukey (P<0,05) com o programa estatístico Statistical Analysis System (SAS®) versão 9.1.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os primeiros sintomas do mofo azul nos frutos de maça Maxi Gala foram observados 48 horas após a inoculação. A incidência máxima ocorreu no tratamento composto pela testemunha, que diferiu de todas as doses de silício testadas.

A maior dose de Si, composta por 4 g/L apresentou a menor incidência máxima após o período de 7 dias acondicionados em câmaras de crescimento, com 22% dos frutos com lesões sintomáticas características da doença em pós colheita, apresentando assim o melhor controle de infecção nos frutos, controlando o desenvolvimento do mofo azul em 78quando comparado a testemunha (Tabela 1). Para Brackmann et al. (2005), diferentes formulações de fosfitos também apresentaram potencial no controle de incidência e severidade de lesões de Penicillium spp., observando que o aumento de doses interfere na redução do diâmetro das colônias ocasionadas nos tecidos dos frutos.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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Tabela 1 - Incidência máxima (Imax), controle da incidência máxima (CImax) severidade máxima (Smax) e controle da severidade máxima (CSmax) em frutos de maça Maxi Gala submetidos a diferentes doses de

silício. Doses si Imax (%) Cimax (%) Smax (mm) Csmax (%)

0 100 a - 34 a -

1 72 b 38 30 a 10

2 50 c 50 21 b 29

3 45 c 55 16 b 46

4 22 d 78 14 b 53

C.V. 5,8 - 6,2 -

Médias seguidas da mesma letra na coluna, para cada variável, não diferem entre si pelo teste Tukey (P˂0,05).

Para a severidade máxima, a testemunha e o tratamento com 1g/L Si mão houve diferenças significativas entre si, entretanto apresentaram as maiores lesões ocasionadas por Penicillium spp., sendo que as doses 2, 3 e 4g de Si apresentaram melhor controle sobre a severidade máxima da doença os frutos de maça. Resultados semelhantes foram encontrados por Corrêa et al. (2017), em que doses crescentes de Si apresentam redução significativa do tamanho da lesão ocasionada por mofo azul em frutos de pereira.

Como os frutos apresentam uma deterioração muito rápida quando infecionados pelo mofo azul, inviabilizando sua conservação e comercialização, tendo em vista o seu consumo in natura, é essencial que ocorra a redução da incidência máxima, representando o menor número de frutos contaminados destinados ao consumidor final. Para Botelho et al. (2010), há vários produtos alternativos com ação fungistática, capaz de inibir processos infecciosos ocasionados por Penicillium sp., reduzindo assim a incidência de mofo azul em frutos de maçã.

4. CONCLUSÃO

As doses de 3 e 4 g/L de Si apresentaram maior potencial de controle sobre o desenvolvimento de lesões de mofo azul nos frutos de maça Maxi Gala.

REFERÊNCIAS

[1] BLUM, L. E. B. et al. Fosfitos aplicados em pós-colheita reduzem o mofo-azul em maçãs 'Fuji' e 'Gala'. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 29, n. 2, p. 265-268, 2007.

[2] BOTELHO, R. V. Quitosana no controle de Penicillium sp. na pós-colheita de maçãs. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 5, n. 2, p. 200-206, 2010.

[3] BRACKMANN, A. et al. Controle de podridão póscolheita de Penicillium spp., em maçã ‘Fuji’ com fosfitos e fungicidas. Revista Brasileira de Agrociência, v.11, n.2, p.251-254, 2005.

[4] CORREA, D. et al. Eficiência no controle da entomosporiose e de podridões em pereira europeia. Acta Iguazu, v. 6, n. 3, p. 1-10, 2017.

[5] EPSTEIN, E. Silicon. Annual review of plant physiology and plant molecular biology, v. 50, p. 641-664, 1999.

[6] OLIVEIRA, M. et al. Fosfito e silicato de potássio no controle da ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi Syd. & P. Syd) Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v. 10, n. 1, p. 60-65, 2015.

[7] VIEIRA, A. M. F. D. et al. Óleos essenciais para o controle pós-colheita do mofo-azul e a qualidade de maçãs 'Fuji'. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 53, n. 5, p. 547-556, 2018.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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Capítulo 10

Entomosporiose em pereira europeia em resposta a aplicação de fungicidas

Daiane Correa

Amauri Bogo

Joseane de Souza Hipolito

Suelen Cristina Uber

Fabiane Nunes Silveira

José Roberto Rodrigues

Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a intensidade da entomosporiose em

pereira europeia em resposta a aplicação de fungicidas. As plantas de pereira cultivar

copa Rocha e combinações de portaenxerto Adams e EMA foram submetidas aos

tratamentos 1: Controle; 2: Tiofanato metílico; 3: Piraclostrobina+Metiram; 4:

Tebuconazole e 5: Mancozeb. A incidência e a severidade foram avaliadas semanalmente

após o início do aparecimento dos sintomas em 100 folhas aleatórias distribuídas em 4

ramos medianos por planta. A incidência foi calculada pela percentagem das folhas com

pelo menos uma lesão em relação ao número total de folhas avaliadas e a severidade

através de classes de infecção. Com os dados obtidos foram confeccionadas as curvas de

progresso da doença e as epidemias comparadas em relação a: a) início do aparecimento

dos sintomas (IAS); b) tempo para atingir a máxima incidência e severidade da doença

(TAMID e TAMSD); c) valor máximo de incidência e severidade (Imax e Smax) e d) área

abaixo da curva do progresso da incidência e da severidade da doença (AACPID e

AACPSD). Em todas as combinações de cultivar copa e porta enxerto avaliadas, os

fungicidas Tiofanato metílico e Mancozeb demonstraram maior eficiência de controle da

doença sobre as variáveis epidemiológicas.

Palavras-chave: Entomosporium mespili. Pyrus communis L. Controle químico.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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1. INTRODUÇÃO

A pereira é cultivada em diversos países o que a torna de grande aceitação e importância nos mercados internacionais. No Brasil, a espécie mais difundida é Pyrus communis L., popularmente conhecida como pereira europeia. A pereira é a fruta fresca importada em maior quantidade pelo Brasil, pois a demanda de produção não atende ao consumo interno (IBRAF, 2017).

Desta forma, o cultivo de pera surge como alternativa consistente para a diversificação da fruticultura de clima temperado na região Sul do Brasil (Pereira; Herter, 2010). Entre os fatores limitantes para a expansão da cultura estão as doenças, como a entomosporiose, que vem interferindo na produção da cultura devido a carência de informações sobre o monitoramento epidemiológico e susceptibilidade das cultivares, bem como formas eficientes de controle químico (JONES; ALDWINCKLE, 1990).

A Entomosporiose (Entomosporium mespili) é a principal doença da pereira, o patógeno causa infecções em mais de 50 espécies de plantas, as lesões são visíveis em ambas as faces das folhas como lesões pequenas, avermelhadas à púrpuras, que tornam-se escuras. As folhas severamente infectadas apresentam aspecto necrótico e caem, ocasionando a desfolha precoce (BELL; VAN DER ZWET, 2005). Contudo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a intensidade da Entomosporiose em pereira europeia em resposta a aplicação de fungicidas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em pomar experimental de pereiras europeias do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, localizado no município de Lages. As plantas do pomar experimental eram da cultivar copa Rocha, com portaenxertos de marmeleiro EMA ou Adams, que foi implantado em 2008. Os tratamentos foram constituídos por diferentes fungicidas.

As pulverizações foram realizadas a partir do aparecimento das primeiras folhas que foram de setembro a março do ano agrícola. As pulverizações foram realizadas conforme a recomendação técnica, de acordo com o efeito residual de cada produto que compõe cada tratamento: Mancozeb (250,0 g) intervalos de 7 dias; Tiofanato Metílico (200,g), Piraclostrobina + Metiram (250,0 g) intervalos de 10 dias; Tebuconazole (75 ml) intervalos de 14 dias, utilizando atomizador costal de 20 L, até o ponto de escorrimento da folha, sem a presença de óleo ou adjuvantes.

Cada tratamento foi composto por cinco plantas, onde a incidência e severidade foram avaliadas semanalmente em 100 folhas marcadas, distribuídas em 4 ramos medianos da planta. Foram realizadas 23 avaliações, durante 154 dias, entre os meses de setembro e março do ciclo agrícola.

A incidência e a severidade foram avaliadas ao surgimento do primeiro sintoma, sendo a incidência calculada pela percentagem das folhas com pelo menos uma lesão em relação ao número total de folhas avaliadas e a severidade através de classes de infecção adaptado de Llorente et al. (2010), sendo: classe 0: sem lesões; classe 1: 1-5 lesões; classe 2: 6-25 lesões; classe 3: 26-50 lesões; classe 4: 51-75 lesões e classe 5: mais de 75 lesões.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado. A partir dos dados obtidos foram confeccionadas as curvas de progresso da incidência e da severidade, e as epidemias foram comparadas quanto: a. início do aparecimento dos sintomas (IAS); b. tempo para atingir a máxima incidência e severidade da doença (TAMID e TAMSD); c. valor máximo da incidência e da severidade (Imax e Smax) e d. Área Abaixo da Curva de Progresso da Incidência e da Severidade (AACPI e AACPS).

Para o cálculo da Área Abaixo da Curva de Progresso de Doença (AACPD) utilizou-se a seguinte fórmula: AACPD = Σ ((Yi+Yi+1)/2)(ti+1 – ti), onde ‘Y’ representa a intensidade da doença, ‘t’ o tempo e ‘i’ o número de avaliações no tempo (CAMPBELL; MADDEN, 1990) empregando-se o teste de Tukey (P<0,05) para a comparação das médias, com o programa estatístico Statistical Analysis System (SAS®) versão 9.1.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os primeiros sintomas da entomosporiose foram observados somente no mês de janeiro, aos 110 e 102 dias após o início das avaliações na combinação Rocha/EMA e Rocha/Adams. As condições climáticas durante a safra agrícola foram temperatura média de 18,1 oC, precipitação de 638,7 mm e a umidade relativa de 72,4%.

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Plantas submetidas ao tratamento com os fungicidas Tiofanato metílico e Mancozeb apresentaram o maior período para o IAS, TAMID e Imax representando menor danos as plantas (Tabela 1).

Tabela 1 - Início do aparecimento dos sintomas (IAS), tempo para atingir máxima incidência (TAMID) e severidade (TAMSD) de doença, e incidência máxima (Imax), severidade máxima (Smax), área abaixo da

curva do progresso da incidência (AACPID) e severidade média (AACPSD) da Entomosporiose em pereira Rocha/EMA submetida a diferentes tratamentos de controle químico.

Tratamentos IAS (dias) TAMID (dias)

TAMSD (dias)

Imax (%) Smax (%)

AACPID (%)

AACPSD (%)

Testemunha 110,0 c 140,0 b 154,0 a 100,0 a 0,5 a 700,0 a 10,6 a

Tiofanato metílico

145,0 b 152,0 a 141,0 b 8,0 b 0,1 c 45,0 b 0,1 c

Piraclostrobina+Metiram

109,0 b 128,0 c 148,0 ab 97,0 a 0,4 b 672,0 a 9,0 b

Tebuconazole 110,0 b 130,0 c 154,0 a 95,0 a 0,4 b 665,0 a 9,4 b

Mancozeb 141,0 a 151,0 a 131,0 b 17,0 b 0,1 c 108,0 b 0,3 c

C.V. 9,5 6,3 4,1 8,3 8,2 7,6 10,0

Médias seguidas da mesma letra na coluna, para cada variável, não diferem entre si pelo teste Tukey (P˂0,05).

O maior índice de severidade (Smax) entre os fungicidas foi constatado nos tratamentos com fungicidas foram Piraclostrobina+Metiram e Tebuconazole, com 0,4%, sendo significativamente diferente de todos os outros tratamentos testados. Segundo Nunes (1991), os tratamentos com Tiofanato metílico e Dodine obtiveram o melhor controle sobre a incidência de entomosporiose em marmeleiro, quando comparados aos tratamentos com Triforine, e Iprodione.

Os fungicidas Tiofanato metílico e Mancozeb reduziram significativamente a severidade da doença em mais de 50% em relação à testemunha, apresentando os menores índices de Smax. Este resultado pode ser explicado em função do modo de ação dos fungicidas benzimidazóis, como o Tiofanato metílico, que controlam a doença após o patógeno causar a infecção no hospedeiro, pois os fungicidas atuam sistemicamente na planta.

Independente da combinação avaliada e tomando como critério a Imax, Smax, AACIPD e AACSPD, os tratamentos Tiofanato metílico e Mancozeb demonstraram os menores índices de doença, não diferindo entre si e consequentemente apresentando a maior eficiência de controle da entomosporiose.

O IAS da entomosporiose na combinação Rocha/Adams demoraram mais à surgir nos tratamentos com os fungicidas Tiofanato metílico e Mancozeb, com 147 e 133 dias, que não diferiram entre si, bem como o TAMID, com 154 e 147 dias respectivamente (Tabela 2).

Tabela 2 - Início do aparecimento dos sintomas (IAS), tempo para atingir máxima incidência (TAMID) e severidade (TAMSD) de doença, e incidência máxima (Imax), severidade máxima (Smax), área abaixo da

curva do progresso da incidência (AACPID) e severidade média (AACPSD) da Entomosporiose em pereira Rocha/Adams submetida a diferentes tratamentos de controle químico.

Tratamentos IAS (dias) TAMID (dias)

TAMSD (dias)

Imax (%) Smax (%)

AACPID (%)

AACPSD (%)

Testemunha 102,0 d 141,0bc 152,0 a 100,0 a 0,6 a 700,0 a 11,2 a

Tiofanato metílico 147,0 a 154,0 a 148,0 b 24,0 b 0,1 d 101,0 b 0,2 b

Piraclostrobina+Metiram

112,0 c 133,0 c 154,0 a 100,0 a 0,5 b 700,0 a 9,9 a

Tebuconazole 113,0 c 134,0 c 154,0 a 97,0 a 0,4 c 679,0 a 8,8 a

Mancozeb 133,0 b 147,0 a 140,0 b 42,0 b 0,1 d 280,0 b 1,1 b

C.V. 5,21 6,72 6,21 17,9 22,4 8,6 35,6

Médias seguidas da mesma letra na coluna, para cada variável, não diferem entre si pelo teste Tukey (P˂0,05).

Para a Imax, os fungicidas a base de Tiofanato metílico e Mancozeb não diferiram entre si, demonstrando controlar mais de 50% da doença quando comparado à testemunha. O tratamento com Tiofanato metílico obteve o menor Imax, com 24%. Para a Smax, os tratamentos Tiofanato metílico e Mancozeb obtiveram maior controle da severidade da Entomosporiose.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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Neste contexto, é importante observar que os patógenos apresentam grande variabilidade genética, podem tornar-se resistentes a determinados fungicidas de ação específica, pois o problema da resistência depende, em grande parte, da pressão de seleção que é exercida pelo aumento na frequência de pulverizações (ZAMBOLIM et al., 2008).

Assim como para a AACPID, em que mesmos fungicidas, Tiofanato metílico e Mancozeb, que diferiram dos demais tratamentos, apresentaram os menores resultados, com 101 e 280 dias respectivamente. Para a AACPSD, os melhores tratamentos foram a base de Tiofanato metílico e Mancozeb. Resultados similares foram obtidos por Berton et al. (2007), que testou diferentes formulações de fungicidas para o controle da sarna da macieira, que demonstraram maior eficiência de controle sobre a incidência e severidade da doença ao longo de 10 pulverizações.

A menor AACPSD foi para o fungicida Tiofanato metílico, com o valor 1,6. Conforme Rosemberger (2009), os fungicidas a base de Mancozeb foram considerados como os mais eficazes para o controle da entomosporiose em pereira e marmeleiro no estado de Nova Iorque – Estados Unidos da América, mas a sua utilização é limitada por necessitar de um intervalo de 77 dias antes da colheita. Desta forma, tem sido realizado o controle da doença através do fungicida Ziram nos pomares de pereira durante o verão. Os fungicidas Piraclostrobina+Metiram e Tebuconazole apresentaram menor eficiência de controle sobre a doença quando comparada com Tiofanato metílico e Mancozeb, entretanto, demonstraram superioridade em determinavas variáveis quando comparado com a testemunha.

Neste contexto, a principal medida de controle da entomosporiose é o uso de fungicidas, pois a cultivar é suscetível à doença. Os fungicidas sistêmicos inibem, seletivamente, processos metabólicos específicos, em grupos restritos de patógenos, como a síntese dos ácidos nucléicos, de proteínas, de lipídios, de quitina, de ergosterol e na respiração celular e podem conter o avanço da doença no campo (ZAMBOLIM et al., 2008). Portanto, é importante salientar o benefício para o produtor e para o sistema de produção ter opções de fungicidas para o controle da entomosporiose (Corrêa et al., 2017), como o Tiofanato metílico e o Mancozeb, que são de diferentes grupos e formas de ação para o correto manejo da entomosporiose.

4. CONCLUSÃO

Os fungicidas Tiofanato metílico e Mancozeb demonstraram melhor resposta e eficiência de controle da entomosporiose em pereira europeia cv. Rocha.

REFERÊNCIAS

[1] BELL, R. L.; VAN DER ZWET, T. Host Resistance in Pyrus to Fabraea Leaf Spot. HortScience, v. 40, p. 21-23. 2005.

[2] CAMPBELL, C. L.; MADDEN, L.V. Introduction to plant disease epidemiology. New York: Wiley, 1990. 560 p.

[3] CORREA, D. et al. Eficiência no controle da entomosporiose e de podridões em pereira europeia. Acta Iguazu, v. 6, n. 3, p. 1-10, 2017.

[4] IBRAF. Instituto Brasileiro de Frutas. Frutas frescas - Importação. Disponível em:<http://www.ibraf.org.br/estatisticas/Exportação/Comparativo_das_Exportações_Brasileiras_de_Frutas_frescas_2015-2016.pdf>. Acesso em: 14 de fev. 2017.

[5] JONES, A. L.; ALDWINCKLE, H. S. Compendium of apple and pear diseases. St. Paul: American Phytopathological Society, 1990. 100p.

[6] NUNES, J. M. S. Seleção de fungicidas para o controle da entomosporiose em marmeleiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 26, n.11, p. 2065-2068, 1991.

[7] PEREIRA, J. F. M.; HERTER, F. G. Tecnologias para o aumento da produtividade e regularidade de produção de pera na região Sul do Brasil. In: III Reunião Técnica da Cultura da Pereira, 2010, Lages. Anais... Lages, SC, p. 12-19. 2010.

[8] ROSENBERGER, D. A. et al. In: APS Northeastern Division Meeting. Oil sprays control Fabraea leaf spot on pears. Abstracts… Newport, RI, p. 195, 2009.

[9] VAN DER ZWET, T. Compendium of apple and pear disease. The American Phytophathologic Society: St. Paul, 1990, 234p.

[10] ZAMBOLIM, L. et al. Produtos fitossanitários. Viçosa: UFV, 2008. 652 p.

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Capítulo 11 Desenvolvimento de Entomosporium mespili em Pyrus communis L.

Daiane Corrêa

Resumo: O patógeno Entomosporium mespili, causador da entomosporiose é o

responsável pela principal doença foliar na cultura da pereira no Brasil. O objetivo deste

trabalho foi avaliar o desenvolvimento de Entomosporium mespili em Pyrus communis L.

Os tratamentos foram constituídos por combinações de cultivares copa de pereira e de

porta enxertos de marmeleiro, sendo Rocha/EMA, Rocha/Adams, Abbè Fetel/EMA, Abbè

Fetel/Adams, Santa Maria/EMA e Santa Maria/Adams implantada em pomar didático do

CAV-UDESC. A incidência e a severidade de Entomosporium mespili foram avaliadas

semanalmente após o início do aparecimento dos sintomas em 100 folhas aleatórias

distribuídas em 4 ramos medianos por planta. A incidência foi calculada pela

percentagem das folhas com pelo menos uma lesão em relação ao número total de folhas

avaliadas e a severidade através de classes de infecção, sendo: classe 0: sem lesões;

classe 1: 1-5 lesões; classe 2: 6-25 lesões; classe 3: 26-50 lesões; classe 4: 51-75 lesões e

classe 5: mais de 75 lesões. Com os dados obtidos foram confeccionadas as curvas de

progresso da doença e as epidemias comparadas em relação a: a) início do aparecimento

dos sintomas (IAS); b) tempo para atingir a máxima incidência e severidade da doença

(TAMID e TAMSD); c) valor máximo de incidência e severidade (Imax e Smax) e d) área

abaixo da curva do progresso da incidência e da severidade da doença (AACPID e

AACPSD). Todas as combinações de cultivares e portaenxertos foram suscetíveis a E.

mespili.

Palavras-chave: Entomosporiose, patógeno, pereira.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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1. INTRODUÇÃO

A pera (Pyrus communis L.) é a fruta fresca importada em maior quantidade pelo Brasil, pois a demanda de produção não atende ao consumo interno, com volume de produção estimado em 20.548 toneladas (t), sendo necessário a importação de aproximadamente 200 mil t ano, correspondendo a aproximadamente 168.593,157 de dólares (US$). Esta situação destaca o Brasil como o quarto colocado entre os maiores importadores de pera, com cerca de 90% do volume consumido, representando a maior percentagem no total dos frutos in natura importados pelo Brasil, com 57,9% da quantidade e 45,6% do valor (IBRAF, 2016).

A pereira não tem se destacado entre as frutíferas de maior expressão, apesar do grande mercado consumidor interno, pois se observa por um lado, uma pequena produção, praticamente estagnada e, por outro, a importação que se mantém em um patamar elevado, superior a produção nacional. O cultivo de pera surge como alternativa consistente para a diversificação da fruticultura de clima temperado na região Sul do Brasil. A limitação da cultura não tem sido a falta de mercado, uma vez que a demanda pela fruta é alta, mas sim por apresentar uma baixa expressão em termos de área cultivada e produtividade (PEREIRA; HERTER, 2010).

A baixa produtividade tem contribuído para que a cultura tenha um desenvolvido de forma lenta no Brasil, principalmente em cultivares europeias (PEREIRA; HERTER, 2010). Entre os fatores mais limitantes para a expansão da cultura está a Entomosporiose, doença que vem limitando a produção da cultura em função de danos quantitativos e qualitativos, devido a carência de informações sobre o monitoramento epidemiológico e susceptibilidade das cultivares utilizadas no Brasil, bem como formas eficientes de controle químico (JONES; ALDWINCKLE, 1990).

O patógeno Entomosporium mespili é responsável por ocasionar a principal doença da pereira, sendo que a entomosporiose além de causar lesões no limbo foliar, contribui com a desfolha precoce nas plantas, interferindo na capacidade fotossintética, resultando na redução de produtividade (JONES; ALDWINCKLE, 1990). Desta forma, o estudo do desenvolvimento de E. mespili em cultivares de pereira, permitirá o monitoramento e estudo epidemiológico da doença, através da incidência e severidade da doença. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o desenvolvimento de Entomosporium mespili em Pyrus communis L.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos em pomar experimental de pereiras europeias do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, localizado no município de Lages, sob coordenadas geográficas de 27o48’ Latitude Sul e 50o19’ Longitude Oeste, com altitude média de 916 m.

O solo da área experimental é classificado como Cambissolo Húmico alumínico léptico, de textura franco argilosa. O município de Lages apresenta clima do tipo CFB (Clima temperado com verão fresco) e temperatura média anual de 14,3 oC.

O pomar composto de combinações de cultivares (Rocha, Abbè Fetel e Santa Maria) e portaenxertos de marmeleiro (EMA e Adams) foi implantado em 2008, com mudas pré-formadas, conduzidas em forma de líder central, com espaçamento de 1 m entre plantas e 3 m entre linhas. Os tratamentos foram constituídos por combinações de Rocha/EMA, Rocha/Adams, Abbè Fetel/EMA, Abbè Fetel/Adams, Santa Maria/EMA e Santa Maria/Adams.

Cada tratamento foi composto por cinco plantas, onde a incidência e severidade foram avaliadas semanalmente em 100 folhas marcadas, distribuídas em 4 ramos medianos da planta. Foram realizadas 23 avaliações durante 154 dias, compreendendo os meses de setembro a março do ciclo agrícola.

A incidência e a severidade foram avaliadas ao surgimento do primeiro sintoma, sendo a incidência calculada pela percentagem das folhas com pelo menos uma lesão em relação ao número total de folhas avaliadas e a severidade através de classes de infecção adaptado de Llorente et al. (2010), sendo: classe 0: sem lesões; classe 1: 1-5 lesões; classe 2: 6-25 lesões; classe 3: 26-50 lesões; classe 4: 51-75 lesões e classe 5: mais de 75 lesões.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado. Os dados climáticos foram obtidos através do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), diariamente, com intervalos de 12 horas, durantes as duas safras agrícolas. A partir dos dados obtidos foram confeccionadas as curvas de progresso da

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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incidência e da severidade, e as epidemias foram comparadas quanto: a. início do aparecimento dos sintomas (IAS); b. tempo para atingir a máxima incidência e severidade da doença (TAMID e TAMSD) e c. Área Abaixo da Curva de Progresso da Incidência e da Severidade da Doença (AACPID e AACPSD).

Para o cálculo da Área Abaixo da Curva de Progresso de Doença (AACPD) utilizou-se a seguinte fórmula: AACPD = Σ ((Yi+Yi+1)/2)(ti+1 – ti), onde ‘Y’ representa a intensidade da doença, ‘t’ o tempo e ‘i’ o número de avaliações no tempo (CAMPBELL; MADDEN, 1990) empregando-se o teste de Tukey (P<0,05) para a comparação das médias, com o programa estatístico Statistical Analysis System (SAS®) versão 9.1.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os primeiros sintomas da doença surgiram no mês de dezembro, 74 dias após a primeira avaliação, na combinação Santa Maria/Adams e aos 84 dias na combinação Santa Maria/EMA (Tabela 1), apresentando diferenças significativas entre si, demonstrando assim ser a cultivar mais suscetível à entomosporiose. Nas combinações Rocha/EMA e Abbè Fetel/EMA não houve diferenças significativas entre os resultados obtidos, porém as combinações apresentaram o maior IAS, demonstrando maior tolerância à doença.

As combinações Rocha/EMA, Rocha/Adams, Abbè Fetel/EMA, Abbè Fetel/Adams, Santa Maria/EMA e Santa Maria/Adams não apresentaram diferenças significativas para as variáveis TAMID, TAMSD e AACPID.

Tabela 1 - Área abaixo da curva do progresso da incidência (AACPID) e severidade média da doença (AACPSD), início do aparecimento dos sintomas (IAS), tempo para atingir máxima incidência (TAMID) e severidade (TAMSD) de doença Entomosporiose em combinações de pereira e portaenxerto Rocha/EMA, Rocha/Adams, Abbè Fetel/EMA, Abbè Fetel Adams, Santa Maria/EMA e Santa Maria/Adams.

COMBINAÇÕES IAS (dias) TAMID (dias)

TAMSD (dias)

AACPID AACPSD

Rocha/EMA 110,0 a 140,0 a 154,0 a 700,0 a 10,6 d Rocha/Adams 102,0 b 141,0 a 152,0 a 700,0 a 11,2 d Abbè Fetel/EMA 105,0 a 138,0 a 154,0 a 700,0 a 12,9 c Abbè Fetel/Adams 98,0 b 137,0 a 151,0 a 700,0 a 14,6 c Santa Maria/EMA 84,0 c 134,0 a 154,0 a 700,0 a 16,5 b

Santa Maria/Adams 74,0 d 135,0 a 149,0 a 700,0 a 21,7 a

C.V.(%) 4,9 5,7 5,1 3,5 10,8 Média 95,5 137,5 152,3 700,0 14,5

*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente ao nível de 5 % de significância pelo teste Tukey.

Para a AACPSD, a cultivar Rocha sobre os portaenxertos EMA e Adams obteve os menores valores, com 10,6 e 11,2% respectivamente. A cultivar Abbè Fetel sob ambos portaenxertos apresentou diferenças significativas para a cultivar Santa Maria, em que a combinação sobre o Adams demonstrou maior suscetibilidade. Segundo Corrêa et al. (2017), todas as cultivares de pereira europeia introduzidas no Brasil são suscetíveis a entomosporiose.

Segundo Bell e van der Zwet (2005), a infecção causada pelo patógeno ocorre em sob temperatura ótima entre 19ºC e 25ºC e umidade relativa acima de 70%, principalmente após períodos chuvosos, sendo que as lesões podem ser visualizadas sete dias após o contato do patógeno com o hospedeiro. Neste contexto, o período avaliado, entre setembro e março apresentam elevados índices de precipitação na região.

Dentre os fatores ambientais, a temperatura e a umidade são os que mais influenciam no desenvolvimento de doenças. A influência da temperatura na quantificação dos parâmetros monocíclicos, como frequência de infecção, período latente e infeccioso e esporulação, tem sido objeto de estudo em diversos patossistemas. O período de molhamento foliar consiste em um importante fator para o desenvolvimento de doenças, pois a maioria dos patógenos necessitam de água livre na superfície da folha para a germinação e penetração na planta hospedeira (VAN DER ZWET, 1990).

Estes fatores favorecem a intensidade e o grau de desenvolvimento da doença, com intervalos de

variabilidade onde o patógeno se desenvolve. Dentro destes intervalos, existe há variabilidade de

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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expressão dos sintomas, conforme o fungo se desenvolve. Fatores como cultivar, a quantidade de inóculo

do ano anterior, bem como a temperatura e umidade durante o inverno também vão influenciar na

resistência, tolerância e suscetibilidade de cultivares dentro de um patossistema.

4. CONCLUSÃO

Todas as combinações de cultivares de Pyrus communis L. foram suscetíveis a Entomosporium mespili, em que a cultivar Santa Maria apresentou maior desenvolvimento da doença ocasionada pelo patógeno.

REFERÊNCIAS

[1] BELL, R. L.; VAN DER ZWET, T. Host Resistance in Pyrus to Fabraea Leaf Spot. HortScience, v. 40, p. 21-23. 2005. [2] CAMPBELL, C. L.; MADDEN, L.V. Introduction to plant disease epidemiology. New York: Wiley, 1990. 560 p. [3] CORREA, D. et al. Eficiência no controle da entomosporiose e de podridões em pereira europeia. Acta Iguazu, v. 6, n. 3, p. 1-10, 2017. [4] IBRAF. Instituto Brasileiro de Frutas. Frutas frescas - Importação. Disponível em:<http://www.ibraf.org.br/estatisticas/Exportação/Comparativo_das_Exportações_Brasileiras_de_Frutas_frescas_2010-2011.pdf>. Acesso em: 20 de mar. 2016. [5] JONES, A. L.; ALDWINCKLE, H. S. Compendium of apple and pear diseases. St. Paul: American Phytopathological Society, 1990. 100p. [6] LLORENTE, I. et al. Control of brown spot of pear by reducing the overwintering inoculums through sanitation. European Journal of Plant Pathology, v. 128, p. 127 - 141, 2010. [7] PEREIRA, J. F. M.; HERTER, F. G. Tecnologias para o aumento da produtividade e regularidade de produção de pera na região Sul do Brasil. In: III Reunião Técnica da Cultura da Pereira, 2010, Lages. Anais... Lages, SC, p. 12-19. 2010. [8] VAN DER ZWET, T. Compendium of apple and pear disease. The American Phytophathologic Society: St. Paul, 1990, 234p.

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Capítulo 12

Desempenho de um sistema de microirrigação por gotejo utilizando água de esgoto doméstico tratado

Silvanete Severino da Silva

Claudia Facini dos Reis

Bárbara Davis Brito dos Santos

José Roberto Lopes da Silva

Roberto Vieira Pordeus

Resumo: As águas provenientes de esgoto doméstico para fins agrícolas se

fundamentam-na conservação da água disponível e na possibilidade de aporte e

reciclagem de nutrientes, principalmente, em regiões com baixas precipitações e alta

evapotranspiração, garantindo a preservação do meio ambiente. Assim, o presente

trabalho objetivou avaliar o desempenho de um sistema de microirrigação por gotejo

utilizando água de esgoto doméstico tratado. A instalação do experimento foi conduzida

na sede administrativa do Instituto Nacional do Semiárido – INSA, localizada no

município de Campina Grande - PB. Para a realização da avaliação em campo do sistema

de irrigação, composto por tubos gotejadores, PC DripNet – Netafim–autocompensantes,

espaçados a cada 2 m, vazão nominal de 2,0 L h-1, diâmetro interno de 3,9 mm e pressão

correspondente a 14 m.c.a. A frequência de irrigação aplicada consistiu em: aplicação

diária de 2,8 L dia-1; aplicação duas vezes por semana de 7 L dia -1; aplicação diária de 1,4

L dia-1; e aplicação de uma vez por semana de 7 L dia-1, aplicação uma vez por semana de

14 L dia-1(exceto sábados e domingos). Com a extração dos valores de vazão, foi

calculado o coeficiente de uniformidade de Christiansen para os 32 gotejadores em 96

repetições em quatro diferentes épocas. A utilização de águas de esgoto doméstico não

proporcionou diminuição na uniformidade de distribuição do sistema de irrigação ao

longo dos 365 dias de uso do sistema.

Palavras-chave: Irrigação localizada, vazão, coeficiente de uniformidade

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89

1. INTRODUÇÃO

O semiárido brasileiro é caracterizado por variabilidade interanual das chuvas, com anos marcados por estiagens severas e outros chuvosos. Com temperaturas elevadas e altos níveis de radiação solar a região possui alta evapotranspiração atuando como perda de água (COSTA et al., 2020). Diante destes fatores, a sustentabilidade da agricultura na região fica comprometida, com isso, a produção agrícola necessita de alternativas para suprir a demanda hídrica necessária para a produção de alimentos (GREEN et al., 2018).

As águas residuárias provenientes de esgoto doméstico são fontes prontamente disponíveis para suprir a necessidade hídrica das culturas, que permite a produção agrícola em regiões com restrições hídricas, contribuindo para a conservação dos corpos hídricos e, além disso, fornecem nutrientes para as plantas (MEDEIROS et al., 2017). Por exemplo, num ciclo de uso da água rural, parte da água é utilizada na pia da cozinha, banheiro (vaso, banho e pia) e demais ralos da casa, sendo essa água, que escorre até, normalmente ao sumidouro ou em algum corpo hídrico, desperdiçada e lançada sem nenhum tratamento estabelecido. Quando essa água é reutilizada, ela passa a ser fonte hídrica para a produção de alimentos, daí a sua importância.

Assim, as águas residuárias é toda água que teve suas características naturais alteradas após o uso doméstico, comercial ou industrial e seus níveis de impureza variam de acordo com sua utilização, mas sempre contém agentes contaminantes e potencialmente prejudiciais à saúde humana e à natureza de modo geral (LAMBAIS, LAMBAIS e MEDEIROS, 2019).

Todavia, a irrigação torna-se uma alternativa viável para destinação mais nobre desse recurso hídrico disponível. A utilização por sistemas localizados, garante maior eficiência na aplicação, principalmente, o método por gotejo, pois, garante maior eficiência na aplicação, reduzindo a demanda de água aplicada, além de diminuir os riscos de contaminação da produção agrícola por agentes patogênicos (COMAS et al., 2019), o que culmina em inúmeras variáveis, entre elas, a eficiência do sistema de irrigação. Para tanto, é necessário avaliar a uniformidade de distribuição, já que, o entupimento do emissor é um dos fatores limitantes do sistema de irrigação por microirrigação, principalmente quando se utiliza águas residuárias devido ao aumento da incrustação química e biológicas que podem alterar a uniformidade de distribuição da água pelo emissor (GREEN et al., 2018).

O entupimento do gotejador está relacionado à qualidade da água de irrigação, que dependem diretamente da quantidade e do tamanho das partículas em suspensão (OLIVEIRA et al., 2019), a composição química e da presença de micro-organismos também podem afetar o bom funcionamento dos emissores (MANBARI et al., 2020). Além disso, a eficiência do tratamento adotado pode ser fator determinante para a redução de obstrução dos gotejadores, como é o caso do processo de decantação e filtração. Quando esses processos não separaram os sedimentos e/ou os nutrientes não foram diluídos por totalidade, ocorrerá perda da eficiência do sistema.

Assim, se faz necessário fazer a avaliação, sobretudo, em situações em que não se tenham os filtros de controle de partículas, afim de evitar redução da vazão do gotejador. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho de um sistema de microirrigação por gotejo utilizando água de esgoto doméstico tratado.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido nas instalações da sede administrativa do Instituto Nacional do Semiárido - INSA, localizada no município de Campina Grande-PB, correspondente à região fisiográfica Cariris Velhos do Estado da Paraíba, com as seguintes coordenadas geográficas: latitude 07° 27' S, longitude 35° 95' W e altitude média 550 m. A região está entre a zona urbana e rural do município, a qual apresenta clima quente e úmido com regime pluviométrico irregular e longo período de estiagem classificado como As’ de acordo com a classificação de Köeppen (1918). A temperatura do ar varia entre a máxima anual de 28,6°C e a mínima 19,5 °C e a umidade relativa com média em torno de 80%.

Para aplicação da lâmina de água se utilizou a microirrigação do tipo gota a gota, composto por tubos gotejadores, PC DripNet – Netafim–autocompensantes, emissores espaçados a cada 2 m, vazão nominal de 2,0 L h-1 (conforme fabricante), diâmetro interno de 3,9 mm e pressão correspondente a 14 m.c.a., o qual já havia dois anos de uso, cujo croqui experimental é mostrado na Figura 1.

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Figura 1: Croqui da área experimental, estação de tratamento da água residuária e o sistema de microirrigação por gotejo, Campina Grande-PB.

Fonte: INSA. 2018

A área de estudo sendo cultivada com um sistema silvipastoril composto por cinco espécies florestais, a saber: Aroeira (Astronium urundeuva Allemão/Engl.), Brauna (Schinopsis brasiliensis Engl.), Catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul), Freijó (Cordia trichotom Vell), Ipê roxo (Handroanthus impetiginosus Mart.). Os tratamentos foram constituídos por três combinações de tipo e volume de irrigação. Dessa forma os tratamentos consistiram na frequência de irrigação com: a aplicação diária de 2,8 L dia-1; aplicação duas vezes por semana de 7 L dia -1; aplicação diária de 1,4 L dia-1; e aplicação de uma vez por semana de 7 L dia-1, aplicação uma vez por semana de 14 L dia-1(exceto sábados e domingos). Em todos os tratamentos a irrigação foi realizada por gotejamento localizados a 10 cm de distância do caule das plantas.

O solo pertence a classe textural franco arenosa (708,54 g kg-1 de areia grossa, 148,61 g kg-1 de silte e 142,85 g kg-1 de areia fina) com histórico de retirada de seus horizontes, A e B, de acordo com metodologia da Embrapa (DONAGEMA, 2011).

Para a verificação de uniformidade nas vazões, existem várias metodologias propostas, sendo a principal delas a de Keller e Karmeli (1975) e suas derivações para 32 ou 16 gotejadores avaliados. Assim, determinaram-se as vazões em 32 gotejadores dentro do sistema de irrigação, selecionando-se quatro linhas laterais ao longo da linha de derivação, que foram: a primeira, a 1/3, a 2/3 e a última. Em cada uma delas selecionou-se oito gotejadores, a saber: o primeiro os gotejadores situados a 1/3 e a 2/3 do comprimento e o último gotejador. Essa metodologia foi repetida em 04 tempos (a cada 03 meses) ao longo de um (1) ano, totalizando, 128 avaliações (04 repetições em cada gotejador). As avaliações foram realizadas nas linhas de números 1, 7, 13 e 20, para 8 gotejadores de números 1, 4, 9, 13, 17, 21 e 30, conforme Quadro 1.

Quadro 1. Resumo da metodologia e execução dos tratamentos aplicado no estudo

Tempo total(Ano)

INTERVALO DE TEMPO(Meses)

Tratamento(Época) Linhas Derivação Gotejadores(n

linha-1)

1

1 1 Primeira 1 1 4 2 1/3 7 4 7 3 2/3 13 9

12 4 Última 20 13

17 21 26 30

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Através da razão entre o volume e o tempo, foi obtido a vazão, sendo o volume determinado pela coleta com o auxílio de um recipiente de volume conhecido que ficavam a baixo dos emissores selecionados pelo período de 15 minutos (cronômetro digital), utilizando provetas graduadas de 500 mL. A coleta foi realizada com 3 repetições por emissor. Os dados de vazão foram interpretados pelo Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (1942), apresentado na equação 1:

𝑪𝑼𝑪 = 𝟏𝟎𝟎. (𝟏 −∑ |𝑿𝒊−��|𝑵𝒊=𝟏

𝑵.��) (1)

Em que:

CUC é o Coeficiente de Uniformidade de Christiansen, em %;

qi é a vazão do i-ésimo ponto de emissão, em L h-1;

q é a vazão média de todos os pontos de emissão, em L h-1; e

n é o número de pontos de emissão.

A água residuária se originou dos banheiros e cozinhas da sede do INSA, que é destinada a uma estação de tratamento com capacidade para o fluxo diário de até 48 pessoas, localizada próxima à área experimental, a qual segue o Manual de Saneamento – Orientações Técnicas, FUNASA/Ministério da Saúde, 2006, a saber: Primário – tanque séptico; Secundário – filtro anaeróbio.

Os dados qualitativos da água residuária oriunda do processo produtivo da estação de tratamento, foram analisados no Laboratório de Referência em Dessalinização – LABDES da UFCG/CCT/ (Tabela 1).

Tabela 1. Resultados das análises de água proveniente da água esgoto doméstico tratado

PARÂMETROS Unidade Resultado VMP

Condutividade Elétrica µmℎo cm-1/a 25º C 8.260,0 ---

Ph 7,9 6,0 a 9,5

Turbidez 59,5 5,0

Dureza em Cálcio (Ca++) mg L-1 162,0 ---

Dureza em Magnésio (Mg++) mg L-1 274,2 ---

Dureza Total (CaCO3) mg L-1 1.547,5 500,0

Sódio (Na+) mg L-1 1.304,2 200,0

Potássio (K+) mg L-1 24,9 ---

Alumínio (Al3+) mg L-1 0,08 0,2

Ferro Total mg L-1 0,45 0,3

Alcalinidade em Hidróxidos (CaCO3) mg L-1 0,0 ---

Alcalinidade em Carbonatos (CaCO3) mg L-1 0,0 ---

Alcalinidade em Bicarbonatos (CaCO3) mg L-1 290,0 ---

Alcalinidade Total mg L-1 290,0 ---

Sulfato (SO4-) mg L-1 189,4 250,0

Fósforo Total mg L-1 0,0 ---

Cloreto (Cl-) mg L-1 2.887,9 250,0

Nitrato (NO3-) mg L-1 0,13 10,0

Nitrito (NO2-) mg L-1 0,02 1,0

Amônio (NH3) mg L-1 4,46 1,5

Sílica (SiO2) mg L-1 5,7 ---

(*) VMP – Valor Máximo Permissível ou recomendável pela Legislação Brasileira (PORTARIA 2914/11 MS).

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Com os resultados analíticos da Tabela 1, esta água não se encontra dentro dos padrões de potabilidade no que se refere aos parâmetros físico e químicos, quanto a turbidez, a dureza total (CaCO3), sódio (Na+), ferro total, cloreto (cl-) e amônio (NH3), os quais apresentaram superiores as recomendações, com: 59,5; 1.547,5; 1.304,2; 0,45; 2.887,9; e 4,46 mg L-1, respectivamente, e portanto, a mesma apresenta alto nível de salubridade. Entretanto, a água de esgoto doméstica está sendo aproveitada num sistema silvipastoril, com relevo suave ondulado e, portanto, adequado ao uso.

Para análise dos dados, empregou-se a estatística descritiva e os cálculos de CUC foram processados com auxílio de planilhas eletrônicas do Excel.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 2, estão apresentados os valores do CUC determinados para as unidades de microirrigação abastecidas com água de esgoto doméstico tratado em sistema agrícola. Verificou-se que os valores médios do CUC na unidade de irrigação com aplicação d’água residuária oriundo de esgoto doméstico foram de 96% 92% 90% e 89% nas diferentes épocas de seu funcionamento, em 1 ano de monitoramento do sistema, após dois anos de uso. A diminuição da uniformidade com o tempo deve-se provavelmente ao entupimento e desgaste do emissor pelos sais da água, o qual, gerou decréscimo de até 7,29% sendo considerado, bom de 80-90% (BERNARDO et al., 2006).

Tabela 2. Valores obtidos em campo pelo coeficiente de uniformidade em diferentes épocas

CUC Valores obtidos em campo (%)

Época 1 96

Época 2 92

Época 3 90

Época 4 89

Observa-se na Figura 2, a média das vazões ao longo das diferentes épocas avaliadas: época 1; 2; 3 e 4, respectivamente (em intervalos de três meses e monitoração total de um ano), no sistema de gotejamento abastecido com água de esgoto doméstico tratado, as quais foram observadas nas quatro estações do ano (de janeiro a janeiro). De forma geral, as maiores médias de vazões foram obtidas na Linha 20 e as menores na Linha 1, seguida da Linha 7. A topografia apresenta características de relevo suavemente ondulado, na qual passa a Linha 1 de irrigação e com área de maior cota em aclive no terreno e ao contrário ocorre com a linha 20 de irrigação, sendo aquela de cota menor em elevação, o que acrescenta fluxo a favor da gravidade (9,8 m s-2), atendendo as recomendações de Mantovani (2009) e Bernardo et al. (2006). Além disso, o modelo dos tubos gotejadores, PC DripNet – Netafim são autocompensantes, o que contribuí para a maior uniformidade em linhas laterais com desnível.

Oscilações nas vazões das demais linhas entre (maior e menor vazão ao longo do tempo), são justificáveis diante do fato de que a cada avaliação trimestral ocorrem procedimentos de desobstrução, com abertura de final de linha a aumento total de pressão na saída de bomba, ocasionando desentupimento de possíveis obstruções (Figura 2). Sendo que, em sistemas montados em declive as linhas iniciais despressurizam com mais tempo do que as demais, por estarem no aclive. E as linhas finais geralmente são aquelas que apresentam armazenamento de volume interno mesmo com pressurização desligada e ao mesmo tempo, são as primeiras linhas a desobstruírem após a ligação do sistema, situações encontradas semelhantes no experimento de estudo. Deste modo, as linhas posicionadas entre 7 e 13 são aquelas que apresentam maior oscilação de vazão, ocasionada por obstrução e ou vazamentos (BERNARDO et al., 2006).

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Figura 2. Valores das vazões obtidos ao longo das diferentes épocas avaliadas, do sistema de microirrigação por gotejo abastecido com água de esgoto doméstico tratado.

As avaliações evidenciaram que os resultados são aceitáveis de acordo com a literatura. Dantas et al. (2014) estudaram o desempenho de um sistema de irrigação por gotejamento quando aplicado com esgoto doméstico, o qual foi avaliado em quatro diferentes tipos de água, com área plantada inferior a 450 m². Os autores enfatizaram a importância da avaliação do sistema de irrigação, devendo ser rotineiras, para que se efetuem medidas de ajuste no manejo da irrigação, e as plantas não sofram estresse hídrico. Dessa forma, pode-se afirmar que a uma tendência de entupimento dos gotejadores ao longo do tempo, em que diminuirá a vazão dos gotejadores, entretanto, o estudo apresentou baixa redução (7,29% até o final do experimento, dois anos após a instalação) comprovando alta eficiência do sistema de tratamento de esgoto doméstico.

4. CONCLUSÃO

As águas provenientes de esgoto doméstico tratado não proporcionaram reduções significativas na uniformidade de distribuição ao longo dos 365 dias de uso do sistema, sendo recomendado seu uso, no que tange as preocupações com uniformidade;

Os valores encontrados no CUC, obtidos através na avaliação de campo do sistema de microirrigação por gotejamento apresentam-se dentro dos níveis aceitáveis segundo a literatura pertinente; e

É recomendado o monitoramento do esgoto doméstico constantemente, assim como o sistema de irrigação por gotejamento deverá ser avaliado pelo menos, a cada duas vezes ao ano.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional do Semiárido - INSA, Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pelo aporte técnico, intelectual e financeiro. A toda equipe de pesquisadores e estudantes que auxiliaram nesta pesquisa.

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REFERÊNCIAS

[1] Bernardo, S.; Soares, A. A.; Mantovani, E. C. Manual de irrigação. 8. ed. Viçosa: UFV. p. 625, 2006.

[2] Christiansen, J. E. Irrigation by sprinkling. Berkeley, University of California: Agricultural Experiment Station, (Bulletin, 670), p. 124, 1942.

[3] Comas, L. H.; Trout T. J.; DeJonge, K. C.; Zhang, H.; Gleason, S. M. Produtividade da água sob irrigação por déficit de crescimento estratégico em milho. Agricultural Water Management, V. 212, p. 433-440, 2019.

[4] Costa, R. L.; Baptista; G. M. M.; Gomes, H. B.; Silva, F. D. S.; Rocha Júnior, R.L.; Salvador, M. A.; Herdies, D. L. Análise de índices extremos climáticos no nordeste do Brasil de 1961 a 2014. Weather and Climate Extremes. V.28, 2020.

[5] Dantas, D. da C.; França e Silva, Ê. F. de; Mélo, R. F. de; Dantas, M. S. M.; Silva, F. da; Silva, M. M. da. Desempenho do sistema de irrigação por gotejamento utilizando efluente doméstico. Irriga, Botucatu, Edição Especial 01, p. 179-189, 2014.

[6] DONAGEMA, G. K. Manual de métodos de análises de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, p. 230, 2011.

[7] FUNASA. Fundação Nacional de Saúde. Aplicação controlada de água e lodo de esgoto no solo, para melhorar e incrementar a agricultura do semiárido nordestino. Brasília, DF, 120p, 2007.

[8] Green, O., Katz, S.; Tarchitzky, J. Formação e prevenção de entupimento de biofilme e precipitado mineral em sistemas de irrigação por gotejamento aplicando água residual tratada. Irrigation Science 36, 257-270, 2018.

[9] Keller, J.; Karmeli, D. Trickle irrigation desing. Glendora: Rain Bird Sprinkler Manufacturing, p. 133, 1975.

[10] Köeppen, W. Klassification der klimate nach temperatura, niederschlag und jahreslauf. Pet. Geo. Mitt. Gotha, v.64, p.193-203, 1918.

[11] Lambais, G. R.; Lambais, É. O.; Medeiros, S. de S. Reúso de água na agricultura familiar: cuidados sanitários para utilização segura. Campina Grande-PB, INSA. v. 1, p. 10, 2019.

[12] Manbari, N.; Maroufpoor, E.; Aminpour, Y.; Kamangar, B. B.; Bargués, J. P. Efeito de um sistema combinado de filtração e laterais de irrigação por gotejamento na qualidade do efluente da fazenda de trutas arco-íris. Irrigation Science 38, 131-145, 2020.

[13] Mantovani, E. C.; Bernardo, S.; Palaretti, L. F. Irrigação: princípios e métodos – Viçosa: Ed. UFV ed. 3, 355p. 2009.

[14] Medeiros, A. S., Nobre, R. G., Campos, A. C., Queiroz, M. M. F., Magalhães, I. D.; Ferraz, R. L. S. Características biométricas e acúmulo de fitomassa da berinjeleira sob irrigação com água residuárias e doses de nitrogênio e fósforo. Revista Brasileira de Agricultura Irrigada, 11(7), 1975-1985, 2017.

[15] Oliveira, C. F.; Lavanholi, R.; Camargo, A. P.; Ait-Mouheb, N.; Frizzone, J. A.; Tomas, S.; Molle, B. Entupimento de gotejadores causados por suspensões de argilas de caulinita e montmorilonita. Irrigation Science 38, 65-75, 2020.

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Capítulo 13

Avanço da desertificação no Estado do Ceará

Brenda de Assis Ferreira Carvalho

Janacinta Nogueira de Souza

Lívya Thamara de Queiroz Feitosa

Luiza Bruna Matos Damasceno

Emanuel Marcel Braga Costa

Waleska Martins Eloi

Resumo: O uso inadequado dos recursos naturais, a comercialização e a ocupação

desordenada vêm contribuindo para o aumento da degradação e dos desequilíbrios

ambientais. O objetivo da pesquisa foi relatar o avanço do processo de desertificação que

o estado do Ceará vem sofrendo ao longo dos anos. O trabalho foi realizado a partir da

revisão bibliográfica de artigos originais, estudos de casos que trataram o assunto de

maneira abrangente. Os resultados mostram que todo o território do estado do Ceará no

período analisado está suscetível à desertificação, assim como 17.042,16 km² estão

fortemente degradados, equivalente a 11,45% da área total do estado. Pode-se concluir

que, apesar da desertificação ser um assunto discutido mundialmente, com diversos

programas que visam combater e recuperar regiões degradadas, ainda se torna difícil

conter as causas que provocam o processo de desertificação.

Palavras-chave: degradação; solo; semiárido.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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1. INTRODUÇÃO

A interferência do ser humano no meio ambiente tem acarretado desequilíbrios ambientais de grandes proporções nos diferentes cenários das regiões que compõem o planeta. A utilização inadequada dos recursos naturais e a sua comercialização vêm contribuindo para o aumento da degradação e descontrole ambiental.

No ano de 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento (CNUMAD), foi definido, por meio do documento chamado Agenda 21, que o termo desertificação faria referência à degradação do solo em áreas áridas, semiáridas e subsumidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de atividades humanas.

Durante a CNUMAD, em 1992, a Assembleia Geral da ONU aprovou a negociação da Convenção Internacional de Combate à Desertificação, iniciada em janeiro de 1993 e concluída em Paris, em 17 de junho de 1994 – data estabelecida como o “Dia Mundial de Luta Contra a Desertificação”. Em seguida, o documento foi aprovado por cerca de 155 países, em dezembro de 1996, incluindo o Brasil, sendo finalmente confirmado pelo Congresso Nacional Brasileiro em dezembro de 1997. No documento gerado pela Convenção, o capítulo 12 afirma que “A desertificação deve ser entendida como a degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas, resultante de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas” (SAMPAIO; SAMPAIO, 2002).

Segundo Pacheco et al. (2014), o processo de desertificação decorre da “fragilidade natural do meio frente às ações de uso e ocupação do solo e da consequente suscetibilidade aos processos de degradação, basicamente marcadas pelas limitações climáticas e edáficas locais”.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21 relatam que a desertificação afeta cerca de 1/6 da população da terra, 70 % de todas as terras secas, atingindo 3,6 bilhões de hectares e 1/4 da área terrestre total do mundo.

O Brasil possui grande parte da sua área localizada em região semiárida, dessa maneira, seu território está sujeito ao fenômeno da desertificação. As regiões mais suscetíveis à desertificação se encontram principalmente no Nordeste, o qual possui uma área de 1.542.000 km2, representando 18,26% do território brasileiro. Sendo que a região mais afetada periodicamente por secas no Nordeste é denominada de Polígono das Secas, que abrange a maior parte do nordeste brasileiro e uma pequena parte do Sudeste (ALVES et al., 2009; MARENGO; BERNASCONI, 2015).

O estado do Ceará está localizado na Região Nordeste do Brasil e possui uma área de 148.886,3 km², o equivalente a 9,58% da área pertencente à Região Nordeste e 1,75% da área do Brasil, aproximadamente 93% do seu território está inserido na região semiárida, fator este que torna o estado suscetível à seca e a escassez hídrica. Além das irregularidades dos períodos chuvosos, parte muito significativa dos solos apresentam-se degradada ou em estágios avançados de desertificação (IPECE, 2007). Segundo Sousa (2016), a desertificação vem se destacando no estado do Ceará, principalmente nos sertões, por apresentar condições ambientais vulneráveis, as quais se retratam pelas secas frequentes e as irregularidades chuvosas.

Os sinais de desertificação exibidos no território cearense são mais atuantes nas áreas onde a semiaridez se acentua para a secura ou onde historicamente existiu ocupação desordenada. É o que se observa nos sertões do Médio Jaguaribe, dos Inhamuns e nos sertões do Centro Norte, abrangendo os sertões de Irauçuba (CEARÁ, 2005). Segundo Meira et al. (2019), a realização de estudos no estado do Ceará é de caráter indispensável devido ao clima semiárido e, principalmente, aos elevados índices de modificação do ambiente natural, cenário proveniente do uso prolongado e extensivo de técnicas rudimentares, como a agropecuária, fruto de uma ocupação histórica.

O uso e o manejo inadequado dos solos são apontados como as principais causas de origem antrópica relacionadas à desertificação. No Nordeste, existem várias maneiras de utilização do solo que podem agravar o processo de desertificação, como o extrativismo, tanto vegetal quanto mineral, sobrepastoreio das pastagens nativas ou cultivadas e o uso agrícola por culturas que expõem os solos aos agentes da erosão e a salinização dos solos (MANZATTO et al., 2002).

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A desertificação afeta gravemente o meio ambiente, ocasionando uma série de impactos ambientais, trazendo perdas sociais e econômicas refletidas na diminuição da capacidade produtiva, acentuando o desemprego, a concentração de renda e o empobrecimento de um contingente significativo da população afetada, sendo uma das causas da migração (Oliveira et al., 2009).

Segundo Landim et al. (2011), a degradação das terras é resultante dos sistemas de utilização da terra por um processo ou uma combinação de processos, incluídos as consequências das atividades humanas e padrões de povoamento, tais como: a erosão do solo causada pelo vento ou pela água; a deterioração das propriedades físicas, químicas e biológicas ou das propriedades econômicas do solo; e a perda duradoura da vegetação natural. De acordo com (Barbosa et al., 2005), a desertificação é acelerada por atividades humanas, por meio de práticas desapropriadas, a qual resulta em consequências negativas para a terra e para quem dela tira o sustento.

O processo da desertificação é complexo, de ampla duração, relativamente lento e vem ocorrendo desde a colonização. Por suas características, ele pode passar despercebido; a nova paisagem e a realidade socioeconômica instalada podem passar a ser consideradas como “naturais”, pela falta da percepção das modificações do espaço, no tempo e na história do processo evolutivo da região (Oliveira et al., 2009).

Com o auxílio da percepção é possível definir políticas públicas para combater à desertificação e aplicar ações mitigadoras aos efeitos da seca, visando o desenvolvimento sustentável para a recuperação da capacidade produtiva do Estado e melhorando a qualidade de vida da população, já que a desertificação é um risco à vida (LANDIM et al., 2011).

Dessa forma, o presente artigo, através de uma revisão bibliográfica de artigos e trabalhos relacionados à desertificação no estado do Ceará, tem o objetivo de relatar sobre o avanço do processo de desertificação que o estado cearense vem sofrendo ao longo dos anos, bem como relacionar cenários históricos referentes ao processo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho trata de um estudo de revisão bibliográfica sobre o avanço da desertificação no estado do Ceará. Neste estudo, foram incluídos artigos originais, estudos de caso e de revisão bibliográfica, que trataram o assunto de maneira abrangente, com dados encontrados no início de 1990 ao ano de 2010. Em seguida, procurou-se analisar e entender as principais questões envolvidas com o cenário estudado. Após ser realizada uma avaliação geral de todos os artigos selecionados e cruzar dados destes, foi possível transmitir de forma clara e direta os panoramas observados por diversos autores.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apresenta-se a seguir diversos cenários de degradação causados pelo processo de desertificação no estado do Ceará nos últimos anos.

Leite et al. (1993) citam em seu estudo que 50,4% do Ceará encontra-se sob a influência semiárida, sendo uma área suscetível aos processos de desertificação equivalente a 10,2%. Os autores ainda afirmam que as regiões de destaque foram: Irauçuba, as regiões de Inhamus/Sertões de Cratéus e Médio Jaguaribe, tais regiões apresentaram devastação da cobertura vegetal nativa e um processo intenso de erosão.

Sá e Angelotti (2009) relatam que o Nordeste possui uma área de 200.000 km² atingida de forma grave ou muito grave pela desertificação e, em alguns locais, o solo está impróprio para a agricultura. Quando se soma as áreas em que o processo de desertificação ocorre de forma moderada com as áreas que foram totalmente atingidas pela degradação, o valor sobe para aproximadamente 600.000 km², cerca de 1/3 de todo o território nordestino. O estado do Ceará juntamente com o estado de Pernambuco são os estados que apresentam maior área em processo de degradação.

Segundo a FUNCEME (2006 apud CEARÁ, 2010), o estado do Ceará tem 10% de seu território afetado pelo processo de desertificação. Os municípios da mesorregião de Jaguaribe, além de Irauçuba e região dos Inhamuns, possuem os maiores índices de degradação ambiental, em que o município de Jaguaribe lidera o índice de degradação ambiental e desertificação na região do Médio Jaguaribe com quase 1/4 do município, cerca de 23,54%, susceptível aos processos de desertificação.

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Em algumas áreas do estado, como os sertões do médio Jaguaribe e Inhamuns, além de Irauçuba e da região do médio Curu, a degradação ambiental já atingiu condições praticamente irreversíveis exibindo severo grau de desertificação (CEARA, 2010).

Sá e Angelotti (2009) relatam que, no núcleo de Irauçuba, as principais causas da degradação ambiental são o desmatamento, práticas de queimada e ocupação desordenada do solo. Também relatam que, historicamente, a plantação de algodão ocorrida no período entre os anos de 1950 e 1960 foi responsável por degradar o solo, situação semelhante ao ocorrido com os desmatamentos da década de 1970, quando a madeira era usada principalmente para produção de energia. Segundo Nobrega Filho (2009), o município de Irauçuba é um dos mais atingidos, com cerca de 50% de seu território em processo de desertificação.

Silva e Pacheco (2016) retratam que o processo de desertificação na região do semiárido, em especial no município de Irauçuba e localidades do entorno, é intensificado em função de um conjunto de variáveis ambientais adicionadas ao processo de poluição, falta de educação ambiental e manejo incorreto dos recursos naturais.

Nobrega Filho (2009) também relata que a expansão histórica do estado foi um fator importante para o processo de desertificação. O autor ainda afirma que o ambiente natural se encontra bastante degradado, ou seja, a cobertura vegetal primitiva encontra-se alterada em quase todo o estado: nas chapadas, planaltos, serras e áreas semiáridas da depressão sertaneja.

De acordo com Ceará (2005), o desmatamento e as culturas irrigadas estão levando a salinização dos solos, aumentando ainda mais a evaporação da água contida neles e acelerando o processo de desertificação. Além disso, a utilização das queimadas para substituir a vegetação natural por culturas de plantio também contribui para tal processo.

As atividades antrópicas degradam drasticamente o solo, no entanto, outros fatores cooperam fortemente para o avanço do processo de desertificação. Segundo Oliveira et al., (2008), ressalta-se que as condições climáticas características do semiárido colabora na desertificação. Precipitações pluviométricas intensas e alta taxa de evapotranspiração proporcionam grandes problemas como a perda de matéria orgânica do solo e sua salinização.

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), no ano de 1990, realizou um estudo com o objetivo de mostrar e mapear as áreas dos municípios do estado do Ceará susceptíveis aos processos de desertificação, bem como a ocorrência de degradação nessas áreas, dos componentes físicos e biológicos identificados a partir da análise de imagens orbitais mediante o uso de técnicas de sensoriamento remoto (LIMA; CORDEIRO; BASTOS, 2016).

Futuramente, no ano de 2010, o Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAE-CE) foi iniciado. Esse programa delimitou Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD) em todo o estado a partir de imagens de satélite, indicadores naturais e socioeconômicos (LIMA; CORDEIRO; BASTOS, 2016).

Segundo CGEE (2016), dos 148.886,31 km² do território Cearense, 17.042,16 km² estão fortemente degradados, equivalente a 11,45% do estado. Dessa forma, essa área se tornou infértil, ou seja, perdeu a capacidade de produzir. Na Figura 1a e 1b pode-se observar as áreas que estão fortemente degradadas em dois momentos, primeiramente no mapeamento da FUNCEME, no ano de 1990, e posteriormente no mapeamento do PAE-CE, no ano de 2010.

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Figura 1: Evolução da degradação de áreas no território Cearense, comparativo dos anos de 1990 e 2010

(A) (B)

Fonte: Ipece (2007 Fonte: Ipece (2007)

Segundo Ceará (2010), todo o território do estado do Ceará está suscetível à desertificação. Foram delimitados três núcleos com níveis de ocorrência muito graves que são em sequência (Figura 1b): Núcleo I - Sertões de Irauçuba e Centro-Norte, abrangendo os municípios de Irauçuba, Santa Quitéria, Miraíma e Canindé; Núcleo II - Sertões dos Inhamuns, abrangendo os municípios de Arneiroz, Independência e Tauá; e Núcleo III - nos Sertões do Médio Jaguaribe, abrangendo os municípios de Jaguaretama, Jaguaribe, Alto Santo e Morada Nova.

Na figura 1a, pode-se observar que os locais destacados são áreas degradadas que foram identificadas no estudo da FUNCEME (1990). Quando se faz um comparativo das áreas identificadas com a Figura 1b no estudo PAE-CE (2010), percebe-se que as mesmas continuam, porém de maneira mais agravada, e consequentemente viraram núcleos com processo de desertificação muito grave. Já na Figura1b, pode-se observar que todo o território se encontra suscetível à desertificação, com áreas apresentando degradação grave e moderada, e regiões como o litoral e sul do estado apresentando baixa suscetibilidade à desertificação. Essas áreas suscetíveis à desertificação desenvolveram quadros de degradação ambiental devido às condições climáticas e à formação geológica. Aliados a estes fatores, estão envolvidas as atividades antrópicas, que agravam seriamente o ecossistema tornando-o mais vulnerável a processos erosivos, na medida em que as populações extraem de forma desordenada os recursos naturais explorando-os até o seu limite. As figuras apresentaram a evolução, ao longo do tempo, do processo de desertificação no Ceará.

De acordo com o G1 Ceará (2017), os cincos anos consecutivos de seca contribuíram para o aumento da desertificação no estado, pois os reservatórios criam um ambiente mais úmido que abrange o solo. No ano de 2013, foram contabilizados mais de 30 mil açudes pequenos de até meio hectare. Posteriormente, no ano de 2016, a quantidade foi reduzida para 18 mil açudes.

Outro estudo que resultou na confirmação de um cenário de degradação ambiental e atestou para a desertificação, foi o executado no município de Jaguaribe – Ceará, por Guerra, Souza e Lustosa (2010), que estabeleceram características e critérios relacionados ao clima, solo e vegetação e, junto a isso, construíram mapas num período de 20 anos, compreendendo os anos de 1988 a 2008.

Segundo as informações mapeadas e as analisadas em campo por Guerra, Souza e Lustosa (2010), considera-se que ocorreu, no município de Jaguaribe - Ceará, em um período de 20 anos, regressão da vegetação, maior expansão de áreas plantadas e maior exposição de solos, como mostra o quadro 1.

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Quadro 1- Demonstração do avanço das áreas degradadas

Classes mapeadas Ano de 1988 Ano de 1997 Ano de 2008

km2 % km2 % km2 %

Solo exposto 792,79 42,24 566,05 30,16 707,53 37,76

Vegetação 830,98 44,28 779,39 41,52 667,39 35,56

Agricultura/pasto 177,28 9,45 510,15 27,18 455,29 24,26

Fonte: Guerra, Souza e Lustosa (2010).

O estudo sobre a desertificação em áreas semiáridas do nordeste brasileiro que dispõe o caso do município de Jaguaribe - Ceará, de Guerra, Souza e Lustosa (2010), ratifica a ocorrência de um recuo gradativo da vegetação. Expõe que existiu um avanço nas áreas de agricultura/pasto na década de 90, e que o dado de maior relevância que apresenta o diagnóstico de desertificação é o avanço das áreas de solo exposto.

Ressalta-se também o estudo de Rodrigues et al., (2010), que construíram uma metodologia com diversos indicadores e conseguiram, a partir disso, analisar dados e relacionar a estes indicadores criando assim o índice parcial de propensão a desertificação e, diante disso, puderam calcular o Índice de Propensão à Desertificação (IPD). Ao fazer está análise, foi possível identificar a situação dos 184 municípios do Ceará, onde todos apresentaram propensão à desertificação, sendo uns de nível baixo e os outros de nível elevado (RODRIGUES et al, 2010).

Destacam-se os municípios de Iguatu e Aracati, os quais apresentaram os maiores índices de desertificação. Presume-se que alguns fatores possam ser responsáveis por acelerar o processo de desertificação nestes municípios: além dos aspectos naturais, a forte ação antrópica pode ter favorecido. Exemplo disso é a notória presença de indústrias potencialmente poluidoras e reconhecidamente agressivas ao meio ambiente em Iguatu. Já em Aracati, existe a forte presença do turismo desordenado que, apesar de gerar renda à região, traz sérios danos ambientais também (RODRIGUES et al, 2010).

Segundo Rodrigues (2003), para combater a desertificação, apenas atenuar a erosão, a salinização, o assoreamento ou as outras consequências não é suficiente. É necessário também extinguir as causas que provocam a desertificação. Aliás, no combate à desertificação na região semiárida, é necessário que haja uma mudança radical de visão do problema e na estrutura organizacional.

Para se combater o processo de desertificação, é necessário prevenir e/ou reduzir a degradação, reabilitar as áreas parcialmente degradadas e recuperar as áreas que foram degradadas (CEARÁ, 2010). De acordo com a meta 15-3 da Agenda 2030 da ONU, o Brasil tem o objetivo de “até 2030, combater a desertificação, restaurar a terra e o solo degradado, incluindo terrenos afetados pela desertificação, secas e inundações, e lutar para alcançar um mundo neutro em termos de degradação do solo”.

Desta forma, salienta-se a importância de geotecnologias de mapeamento geomorfológico utilizadas como ferramenta de análise para os estudos sobre a desertificação, tendo em vista que estas aumentam o poder de investigação e detalham informações, exemplificadas em pesquisas como a de Rocha e Souza (2016). Além disso, estas tecnologias podem orientar ações governamentais e estratégias para mitigação dos impactos e/ou convivência socioambiental com a desertificação.

4. CONCLUSÕES

Conforme a pesquisa realizada, o estado do Ceará se encontra, em sua maior porção, na zona semiárida, possuindo características que o torna suscetível ao processo de desertificação. Pode-se perceber que, além de fatores naturais, a desertificação no estado foi agravada pela ação humana, como extrativismo, queimadas, sobrepastoreio, ocupação desordenada do solo, entres outras causas.

A partir dos dados obtidos, verificou-se que o estado cearense apresentava apenas 10,2% do seu território suscetível à desertificação. Porém, o documento mais atual avaliado mostra que todo o território cearense está suscetível à desertificação, e que 11,45% estão com índice alto de degradação.

Pode-se observar que o cenário de desertificação do estado do Ceará, ao longo do tempo, agravou-se de maneira impactante, apresentando áreas irreversíveis a recuperação. As regiões que apresentam maiores índices de degradação são: Inhamuns, Irauçuba e Médio Jaguaribe.

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Apesar de a desertificação ser um assunto discutido mundialmente, com diversos programas que visam combater e recuperar regiões degradadas, ainda se torna difícil conter as causas que provocam o processo de desertificação. Muitas são as propostas, mas, até o momento, não se visualizou uma quebra no processo e/ou redução deste no Ceará.

REFERÊNCIAS

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[10] IPECE. Caracterização territorial. Disponível em: < http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/capitulo1/12.htm > Acesso 18 de out. 2017.

[11] IPECE. Lista dos Mapas. Disponível em: < http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/lista/index.htm > Acesso 18 de out. 2017.·.

[12] LANDIM, R. B. T. V.; Silva, D. F.; Almeida, H. R. R. C. Desertificação em Irauçuba (CE): Investigação de Possíveis Causas Climáticas e Antrópicas. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 01, p. 01-21, 2011.

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[15] MANZATTO, C. Vainer; JUNIOR, E.F.; de; Peres, J. R. R. Uso agrícola dos solos brasileiros. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2002.

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[17] MEIRA, S. A.; Silva, A. M. da; Silva, E. V. da. Fator Solo em Núcleos de Desertificação no Estado do Ceará, Brasil. Revista da Casa da Geografia de Sobral (RCGS), v. 21, n. 2, p. 227-240, 2019.

[18] NOBREGA FILHO, A. (org). Desertificação: Causas, Efeitos e Perspectivas de Controle. Fortaleza: Editora INESP, 2009.

[19] OLIVEIRA, D. A.; Duda, G. P.; Mendes, A. M. S.; Oliveira, R. A.; Fernandes, M. B. Caracterização química do solo em uma área de implantação do projeto de recuperação de áreas degradadas da Jica no município de Pedro Avelino-RN. Revista Caatinga, v. 21, n. 1, p. 179-188, 2008.

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[20] Oliveira, E. M.; Santos, M.J.; Araújo, L.E.; Da Silva, D.F. (2009). Desertificação e seus impactos na região semi-árida do Estado da Paraíba, Revista Ambiência, Paraná, v.5, n.1, 67-79.

[21] ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em:< https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/ >. Acesso em 20 de out. 2017.

[22] PACHECO, A. P.; Lucas, A. A.; Silva. B. B.; Mariano, G. Desertificação: contextualização e sensoriamento remoto. Estudos Geológicos, v. 24, p. 2, 2014.

[23] ROCHA, D. F.; Souza, H. C. de. Importância do mapeamento geomorfológico como subsídio aos estudos sobre desertificação. Revista de Geociências do Nordeste, v. 2, p. 201-211, 2016.

[24] RODRIGUES, V. Preservação e combate a desertificação. Curso de Desenvolvimento Sustentável para o Semi-árido Nordestino. Campina Grande: ABEAS, Módulo: 8, 2003. 50 p. Apostila

[25] RODRIGUES, M. I. V.; Lima, P. V. P. S.; Mayorga, M. I. O.; Filho, F. C. N.; Cabral, N. R. A. J. Análise de impactos em áreas propensas à desertificação em municípios do estado do Ceará. 2º Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas. Fortaleza - Ceará. Agosto, 2010.

[26] SÁ, I. B.; Angelotti, F. Degradação ambiental e desertificação no Semi-Árido brasileiro. EMBRAPA, Semiárido-Capítulo em livro científico, 2009.

[27] SAMPAIO, E.; Sampaio, Y. Desertificação. Recife: EDUFPE, 2002. 85 p.

[28] SILVA, F. G. C. S.; pacheco, J. S. Processo de desertificação: estudo de caso em Irauçuba-CE. Revista Eletrônica Teccen, v. 9, n.1, p. 47-51, 2016.

[29] SOUSA, M. L. M. Susceptibilidade à degradação/desertificação na sub-bacia hidrográfica do Riacho Feiticeiro (Ceará/Brasil) e na micro-bacia da Ribeira Grande (Santiago/Cabo Verde). 2016. Tese de Doutorado.

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Capítulo 14

Análise de produção da cultura do abacaxi (Ananas comosus L. Merril) no município de Floresta do Araguaia/PA e estado da Paraíba

Claudomiro Roberto de Araújo Júnior

Diego Maia de Oliveira

Myrella Katlhen da Cunha de Araujo

Márcia Alessandra Brito de Aviz

Resumo: O Brasil é o segundo maior produtor de abacaxi do mundo, com uma produção de 1,8 bilhão de abacaxis perdendo apenas para a Tailândia. Com destaque para os estados do Pará e a Paraíba, os maiores produtores do país, em especial o município de Floresta do Araguaia se apresentando como principal produtor do Norte e o munícipio que mais produz no País, responsável por mais de 70% da produção no Pará. Dois estados importantes no cenário agroindustrial da abacaxicultura, com produtividade em abacaxi acima da média nacional. Cultura explorada economicamente gerando emprego, renda e movimentando a economia do país. Porém, as tecnologias existentes estão concentradas nas mãos de produtores que possuem maior poder aquisitivo. Desta forma, o produtor familiar explora a cultura de forma rústica e tradicional, ocasionando baixa produtividade e pouca rentabilidade aos produtores. Com isso, o trabalho tem objetivo de comparar o desenvolvimento durante o período de 10 anos (2009 à 2018) da região de Floresta do Araguaia e o estado da Paraíba. Logo, os dados foram obtidos a partir do Levantamento Sistemático De Produção Agrícola (2018), usando informações quanti e qualitativas do (IBGE) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, analisando as variáveis: Quantidade Produzida, Valor da Produção, Área Plantada, Área Colhida e Rendimento Médio, em que nessa situação mostrou dados significantes nas produção dos dois locais, onde no decorrer dos ultimos 10 anos aumentaram potencialmente sua produtividade, destaque para o aumento considerável na produção do município de Floresta do Araguaia no Pará que no ano de 2009 produziu 175,5 milhões de frutos e no ano de 2018 produziu 336 milhões de frutos, ou seja, um aumento de 91% na produção, o que acarretou no aumento das outras variáveis como no caso da Paraíba que no ano de 2009 chegou ao valor da produção de R$ 210,09 milhões e no ano de 2018 aumentou aproximadamente 64,4% chegando ao valor de R$ 345,2 milhões. Dessa forma a pesquisa pode comparar o aumento no setor de produçao das duas regiões, e concluir a que teve maior desempenho nas variáveis, onde Floresta ao longo de 10 anos quase dobrou sua produção e teve um maior crescimento no rendimento médio e a paraíba não teve oscilações expressivas em seus resultados.

Palavras-Chave: Abacaxi, Floresta do Araguaia, Paraíba, Produção, Fruticultura.

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1. INTRODUÇÃO

O Abacaxi é originário e domesticado na bacia Amazônica. A produção mundial se iniciou em meados do século XV e foi introduzido em países tropicais e na Europa. Com isso, a Tailândia é o maior produtor de abacaxi, responsável por 13% da produção global, seguido por Brasil e Costa Rica (HOSSAIN, 2016).

A cultura do abacaxizeiro (Ananas comosus L. Merril) pertence ao gênero Ananás e é a mais significativa da família Bromeliaceae (MARIN, 2008). Uma das frutíferas de destaque no Brasil, estando entre as três principais frutas em produção e valor na fruticultura brasileira, garante ao país foco mundial como segundo maior (MARTINS et. al., 2019), dado ampla utilização para produção de geleias, compotas e sucos (GRANADA et al., 2004).

No cenário nacional, a região Nordeste destaca-se como maior produtora da cultura, com produção de 687.759 toneladas, sendo a Paraíba o maior Estado produtor, contribuindo com 337.832 toneladas, e seguido pelo Pará com 225.860 toneladas. (BEZERRA et. al., 2018).

Ainda, as variedades Cayenne (Smooth Cayenne), Pérola (Pernambuco) e Boituva (amarelo comum) são as mais produzidas no Brasil. No entanto, estima-se que 70% da produção mundial tenham como base a cultivar Smooth Cayenne (GRANADA et al., 2004). Em vista disso, a atividade é fonte de emprego e renda para o agronegócio brasileiro.

A cultura é explorada economicamente, gerando emprego, renda e movimentando a economia do país. Porém, as tecnologias existentes estão concentradas nas mãos de produtores que possuem maior poder aquisitivo. Desta forma, o produtor familiar explora a cultura de forma rústica e tradicional, ocasionando baixa produtividade e pouca rentabilidade aos produtores (BEZERRA et. al., 2018).

Com isso, o escopo do presente trabalho é comparar variáveis de produção do município de Floresta do Araguaia e o estado da Paraíba, detendo informações dos últimos 10 anos que possam comprovar o aumento significativo na produção da abacaxicultura.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O abacaxizeiro (Ananas comosus L. Merril) é uma espécie tropical, originária da região Amazônica, cujo fruto é denominado como abacaxi ou ananás, com significado de origem tupi “fruto que cheira”. A planta é uma herbácea da família Bromeliaceae e gênero Ananas, com diferentes variedades na América Latina, tanto para consumo in natura quanto para a indústria. Têm-se as variedades Smooth Cayenne e Pérola, muito populares, e Perolera cultivada comercialmente na Colômbia e Venezuela (NORONHA et al., 2016).

O Brasil é um dos maiores produtores de abacaxi, com principais contribuidores os estados da Paraíba, Pará e Minas Gerais. Regiões com condições edafoclimáticas adequadas para produção do fruto, disponibilidade de áreas de cultivo e tecnologias, ao qual são satisfatórias ao comércio interno e externo brasileiro (NUNES et al., 2017).

No ano de 2013 o município de Floresta do Araguaia/PA obteve maior área colhida de abacaxi no estado do Pará (SIMÃO et al., 2015), representatividade que correspondeu a 76,45% da produção paraense, sendo o maior produtor nacional de abacaxi (TAVARES et al., 2015).

Denominado cidade do abacaxi, o município de Floresta do Araguaia/PA possui cerca de 19 mil habitantes e uma colheita que proporciona em média 3 mil empregos diretos e indiretos. No entanto, os produtores ainda encontram problemas com escassez de mão de obra local, e ainda, o trabalho é superexplorado, mal remunerado e com poucas condições de segurança durante o processo produtivo (RIBEIRO e SILVA, 2018).

A região da Paraíba/PA também como grande produtora de abacaxi, apresenta como principais variedades, Pérola e a Smooth Cayenne. A produção de abacaxi na região é composta por pequenos agricultores, em pequenas áreas de plantio, com 6 a 5 ha em regime de sequeira. Ainda, o fruto de maior importância econômica com área plantada com mais de 11.000 ha, e produtividade expressiva a nível nacional com cerca de 23 t/ha (FRANCISCO et al., 2015).

Ademais, devido a elevada produtividade de abacaxi nas diferentes regiões, o objeto de estudo é comparar o desenvolvimento produtivo dos últimos 10 anos entre as maiores regiões produtoras de abacaxi no Brasil, Paraíba/PB e Floresta do Araguaia/PA, assim, considerando quantidade produzida de frutos, valor da produção, área plantada, área colhida e rendimento médio.

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3. METODOLOGIA

Foi feito um levantamento de dados secundários baseados no Levantamento Sistemático de Produção Agrícola do IBGE (2018), para verificar os dados de produção da abacaxi na região da Paraíba e em Floresta do Araguaia no período de 2009-2018, considerados o maior estado produtor e o município de que mais produz.

Os locais estudados foram escolhidos pela grande produção de abacaxi sendo destaque no cenário nacional da agroindústria brasileira considerando-se a necessidade de escala no sistema de produção de frutos, que apresenta produtividade acima da média nacional em abacaxi.

A pesquisa de propriedade qualitativa foi desenvolvida a partir da revisão literária de Morales-Abarca, (2018); Cardoso, (2013); Chan, (2016); SEDAP, (2018); Cecibel, (2018); Brito Neto (2008); Silva, (2007); e Huaynalaya, (2014).

Neste estudo foram analisados 10 safras entre os anos de 2009 à 2018, de forma quanti qualitativa das especificidades da abacaxicultura no Brasil e no mundo, verificando: Quantidade Produzida (x1000 frutos), Área Plantada (ha), Área Colhida (ha), Valor da Produção (x1000 R$), e Rendimento Médio (frutos/ha), para apurar os princípios que dominam os resultados positivos da produção e potencializar a agroindústria de Floresta do Araguaia e da Paraíba.

Os resultados foram apurados segundo o Levantamento Sistemático de Produção Agrícola Nacional do IBGE (2018). Assim, tabulados a partir do teste de média (teste t) com (p < 0,05), com auxílio do software (SPSS).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. QUANTIDADE PRODUZIDA

Segundo Morales-Abarca (2018), o Brasil ocupou a terceira posição de maior exportador de abacaxi no mundo no ano de 2014, exportando 2.478.178 toneladas, perdendo apenas para a Tailândia com 2.650.000 toneladas, e Costa Rica com cerca de 2.484.729 toneladas de abacaxi.

A Paraíba e Floresta do Araguaia tem elevado a quantidade produzida no país, tornando o Brasil um dos maiores produtores do mundo. Uma vez que a região da Paraíba no ano de 2014 produziu cerca de 444.774,4 toneladas do fruto, enquanto Floresta do Araguaia produziu 366.800 toneladas. Dados que correspondem a 33% da produção nacional como a maior cidade produtora e o estado que mais produz.

Ao comparar as regiões produtoras nos anos de 2009 a 2018 Floresta do Araguaia produziu em média 241.965,4 (x1000 frutos), enquanto que o estado da Paraíba produziu 298.355,5 (x1000 frutos), demonstrando diferença significativa na quantidade produzida nos últimos 10 anos dos dois locais, como mostra a tabela 1.

Tabela 1 – Quantidade Produzida em (x1000 frutos) entre os anos de 2009-2018 no município de Floresta do Araguaia PA, e o estado da Paraíba.

Anos Floresta do Araguaia Paraíba

2009 175.500 263.000

2010 192.500 273.910

2011 210.000 276.250

2012 245.000 294.640

2013 245.000 285.715

2014 262.000 317.696

2015 290.000 290.772

2016 314.820 283.362

2017 148.500 363.330

2018 336.000 334.880

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola 2018.

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Sucesso que pode ser atribuído as práticas de manejo, pois Cardoso (2013) afirma que as práticas adequadas aumentam significativamente a produção, disponibilidade de nutrientes no solo e o fornecimento a cultura, agregado a utilização de variedades resistentes a pragas e doenças, tipos de mudas, irrigação e manejo de pragas e doenças, essas práticas em Floresta do Araguaia e a Paraíba resultaram em médias de produção superiores à média nacional dos últimos 10 anos.

4.2. VALOR DA PRODUÇÃO

A produção de abacaxi na região de Floresta do Araguaia apresentou amplitude de 105,3 mil a 451,9 mil (x1000 R$), e média de 218 mil (x1000R$) no decorrer de 10 anos. Mas a maior produção foi alcançada em 2018, pois em 2017 houve o declínio de 43% da produção em relação a 2016 (SEDAP et. al., 2018).

Uma alternativa seria o aumento da produção, a fim de recuperar as perdas de 2017. Visando isso, a Secretaria Estadual de Fazenda do Pará (SEFA) contabilizou o incremento da ordem de 1,83% na comercialização frutos in natura para outros estados em relação ao ano anterior, passando de 136,2 milhões para 138,7 milhões de unidades. No mesmo ano, as vendas de frutos e produtos do Abacaxi paraense, sucos e polpas, destinadas ao mercado interestadual e exportação somaram cerca de R$ 180,8 milhões (SEDAP et. al., 2017).

Analisando o estado da Paraíba onde se obteve uma amplitude de 210 mil a 369,2 mil (x1000 R$) encontrado na tabela 2, no mesmo período, a análise de variância apresentou diferença significativa em relação a região de Floresta do Araguaia. Resultados que demonstraram que a maior produção no estado da Paraíba.

Tabela 2 – Valor da Produção (x1000 R$) entre os anos de 2009-2018 no município de Floresta do Araguaia PA, e o estado da Paraíba.

Anos Floresta do Araguaia Paraíba

2009 105.300 210.093

2010 115.500 228.994

2011 136.500 273.096

2012 181.790 320.799

2013 198.940 325.639

2014 209.600 309.918

2015 362.918 333.249

2016 283.338 321.089

2017 134.887 369.268

2018 451.920 345.276

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola 2018.

4.3. ÁREA PLANTADA

O estudo de Chan (2016) relata que a área cultivada de abacaxi no mundo foi de 906.000 ha, com crescimento de 7,1% da área em 2010 comparado ao ano 2006. No qual Brasil, Filipinas, Tailândia, Costa Rica e Indonésia concentram 49,6% da área cultivada. Contudo, as áreas de plantio no Brasil vem sendo ampliada nos últimos anos, reitera Melo (2016) que o país plantou no ano de 2014 cerca de 96.800ha de abacaxi.

O município de Floresta do Araguaia teve em suas áreas plantadas crescimento de 116%, passando de 6.500 ha em 2009 para 14.000 ha no ano de 2018. Em contrapartida, o estado da Paraíba cresceu apenas de 21% apenas, passando de 8.918 ha em 2009 para 10.912 ha em 2018 situado na tabela 3.

Floresta do Araguaia ocupa o posto de município que mais produz abacaxi no Brasil, alcançando no ano de 2018 14.000 ha de área plantada. Que de acordo com Chan (2016) foi aproximada ao México em 2010, com 16.604 ha, ao qual representa o 11° no ranking mundial em área cultivada com abacaxi. Os dados da Paraíba também são elevados quanto a área plantada. Segundo Cecibel (2018) em 2017 o estado plantou cerca de 12.136 ha, quase o dobro plantado em todo o Equador, com 6.104.00 ha de abacaxi.

Com isso, observa-se que os dois locais pesquisados tiveram aumento em área plantada. Floresta do Araguaia obteve uma média de 7.829 ha nos últimos 10 anos e o estado da Paraíba média de 9.963,8 ha.

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Tabela 3 – Área Plantada (ha) entre os anos de 2009-2018 no município de Floresta do Araguaia PA, e o estado da Paraíba.

Anos Floresta do Araguaia Paraíba

2009 6.500 8.918

2010 5.500 9.299

2011 6.000 9.216

2012 7.000 9.847

2013 7.000 9.564

2014 7.490 10.614

2015 8.300 9.697

2016 9.000 9.435

2017 7.500 12.136

2018 14.000 10.912

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola 2018

4.4. ÁREA COLHIDA

Com os dados obtidos, Floresta do Araguaia apresentou em área colhida média de 7.641,5 ha entre os anos de 2009-2018 e o estado da Paraíba média de 9.821,8 ha conforme a tabela 4, havendo diferença significativa em área colhida entre os locais de estudo. Contudo, Floresta do Araguaia nem sempre teve área colhida equivalente a área plantada, implicando em perdas no rendimento médio da produção. No entanto, não existem dados que descrevam os motivos de tais perdas (BRITO NETO et. al., 2008).

Tabela 4 – Área Colhida em (ha) entre os anos de 2009-2018 no município de Floresta do Araguaia PA, e o estado da Paraíba.

Anos Floresta do Araguaia Paraíba

2009 6.500 8.918

2010 5.500 9.299

2011 6.000 9.216

2012 7.000 9.847

2013 7.000 9.564

2014 7.490 10.614

2015 8.300 9.697

2016 9.000 9.435

2017 5.625 10.716

2018 14.000 10.912

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola 2018

Outrossim, o estado da Paraíba também já teve o rendimento médio baixo, pois a área colhida não foi a mesma plantada, visto que no ano de 2017 o estado plantou 12.136 ha e colheu 10.716 ha. Como justificativa, diversos problemas têm dificultado o desenvolvimento da abacaxicultura na Paraíba, dentre estes destaca-se a predominância de pragas e doenças como a Fusariose, Cochonilha e a Broca do talo. Resultando na diminuição considerável na quantidade de frutos viáveis produzidos por hectare, bem como a forma indiscriminada de produtos químicos (BRITO NETO et. al., 2008). Mas mesmo com as perdas, as duas regiões tem grande aproveitamento entre área planta e área colhida.

Segundo Huaynalaya (2014) a Guatemala é o 7° no ranking mundial, e no ano de 2014 teve 9.086ha de área colhida, valor próximo ao obtido por Floresta do Araguaia no ano de 2016 com 9.000ha. Igualmente, a região da Paraíba em 2014 teve área colhida de 10.614ha, e superior a Gana, que colheu 10.500 ha.

4.5. RENDIMENTO MÉDIO

O Rendimento Médio do fruto/hectare em Floresta do Araguaia no ano de 2009 foi de 27.000 frutos/hectare, já de 2010 a 2013 atingiu 35.000 frutos/hectare localizado na tabela 5. Aumento de 29% no rendimento, levando em consideração que no mesmo período a área plantada também teve um aumento, fator que pode ter influenciado diretamente nesse total.

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Tabela 5 – Rendimento Médio em (frutos/ha) entre os anos de 2009-2018 no município de Floresta do Araguaia PA, e o estado da Paraíba.

Anos Floresta do Araguaia Paraíba

2009 27000 29490

2010 35000 29455

2011 35000 29975

2012 35000 29922

2013 35000 29874

2014 34980 29932

2015 34980 29986

2016 34980 30033

2017 26400 33905

2018 24000 30689

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola 2018.

De 2014 a 2016 ocorreu uma pequena redução no rendimento médio partindo de 35000 frutos/hectare para 34980, diminuição de 0,05% em relação aos 4 anos anteriores, e novamente um aumento na área plantada. No ano 2017, houve uma redução de 20% da área plantada e perda de 25% no rendimento, atingindo o valor de 26400 frutos/hectare. Por fim, em 2018 o rendimento sofreu mais um decréscimo, obtendo o valor de 24000 frutos/hectare, o mais baixo durante os 10 anos, com média de 32234 frutos/hectare e área plantada de 14000 hectares, a maior durante esse período.

O estado da Paraíba durante essa mesma década demonstrou estabilidade em seu rendimento, com valores superiores a 29000 frutos/hectare, ultrapassando a marca de 30000 frutos/hectare de 2016 a 2018, com média correspondente a 30326.1 frutos/hectare.

Logo, com a comparação e análise dos dados, as médias apresentaram diferença significativa. Ainda, o rendimento médio de Floresta do Araguaia teve grande variação, destacando a expressiva redução no ano de 2018, enquanto o estado da Paraíba conseguiu manter seu rendimento pouco oscilatório durante o período.

5. CONCLUSÕES

As duas regiões estudadas obtiveram um alto desempenho na abacaxicultura, destaque para Floresta do Araguaia que aumentou consideravelmente sua produção tendo um melhor aproveitamento no Rendimento médio nos últimos 10 anos ao nível de superar um dos estados que mais produz abacaxi no Brasil que é o caso da Paraíba. No entanto, outros setores poderiam ser mais explorados pela pesquisa científica, bem como a logística do produto, que se torna fundamental na produção, podendo afetar todo o sistema agroindustrial.

REFERÊNCIAS

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[8] HOSSAIN, M. F. World Pineapple Production: An Overview. African Journal of Food, Agriculture, Nutrition and Development. Bangladesh. v. 16, n. 4, p. 11445, 2016.

[9] HUAYNALAYA, E. L.; GARCÍA N. M.; DORIA N. S.; Planeamiento Estratégico de la Piña de Junín. Tesis Para Obtener el Grado de Magíster en Administración Estratégica de Empresas. Surco, p.12-14. 2017.

[10] IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento Sistemático da produção Agrícola 2018. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/floresta-do-araguaia/pesquisa/14/10193?ano=2017&indicador=10196&tipo=ranking>. Acesso em: set de 2019.

[11] MARIN, J. O. B.; CARVALHO, S. P. D.; PRADO, L. D. A.; PEREIRA, J. M. L. Panorama geral da produção de abacaxi no Brasil e comportamento sazonal dos preços do abacaxi “pérola” comercializados em Goiás. Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER). Rio Branco. n. 109-788, 2008.

[12] MARTINS, D. O. Propagação Vegetativa Do Abacaxi Por Meio Do Fracionamento Do Caule. (Trabalho de Conclusão de Curso). Faculdade Evangélica De Goianésia. Goianésia. n. 13, p. 13, 2019.

[13] MELO, L. G. L.; SILVA, E. K. C.; NETO, J. R. M. C.; LINS, S. R. O.; RODRIGUES, A. A. C.; OLIVEIRA, S. M. A. Indutores de resistência abióticos no controle da fusariose do abacaxi. Pesquisa agropecuária brasileira, Brasília, v.51, n.10, p.1703, 2016.

[14] MORALES-ABARCA, L, F. Producción Y Rendimiento Del Cultivo De La Piña (Ananas Comosus) En Costa Rica, Período 1984-2014. E-Agronegocios Revista electrónica semestral, ISSN-2215-3462. v. 4, n. 2, San José, Costa Rica, 2018.

[15] NORONHA, A. C. S.; LEMOS, W. P.; FAZOLIN, M.; SANCHES, N. F.; GARCIA, M. V. B. Abacaxi. In: SILVA, N. M.; ADAIME, R.; ZUCCHI, R. A. Pragas agrícolas e florestais na Amazônia. 1. ed. Brasília, DF: Embrapa, 2016, p. 608.

[16] NUNES, J. S.; LINS, A. D. F.; GOMES, J. P.; SILVA, W. P.; SILVA, F. B. Influência da temperatura de secagem nas propriedades físico-química de resíduos abacaxi. Revista Agropecuária Técnica, Areia-PB, v. 1, n. 1, p. 41-46, 2017.

[17] RIBEIRO, L. A.; SILVA, J. S. Levantamento sobre a saúde do trabalhador rural nas lavouras de abacaxi do município de Floresta do Araguaia - PA. Revista Craibeiras de Agroecologia, v. 1, n. 1, 2018.

[18] SEDAP - Secretaria de desenvolvimento Agropecuário e da Pesca. Abacaxi. Disponível em: <http://www.sedap.pa.gov.br/content/abacaxi>. Acesso em: out de 2019.

[19] SIMÃO, A. H.; MATOS, A. P.; VASCONCELOS, J. A. R.; QUEIROZ, G. B.; RAMAIO, K. A. Estimativa da demanda hídrica e manejo da irrigação na cultura do abacaxi no município de Conceição do Araguaia, Estado do Pará. Embrapa Mandioca e Fruticultura, p. 1-7, 2015.

[20] TAVARES, G.; NORONHA, A. C. S.; MATOS, A. P.; SOUZA, A. F.; PARRY, M. Produção de abacaxi 'perola' em diferentes doses de adubação em Floresta do Araguaia, Pará. In: Simpósio Brasileiro da Cultura do Abacaxi, 6, Conceição do Araguaia. Belém, PA: SEDAP, 2015.

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Capítulo 15

Bananicultura: Produção de banana dos principais municípios produtores do Nordeste Paraense, no período de 2004 a 2016, sob análise Shift-Share Gutierre Pereira Maciel

Thiago Feliph Silva Fernandes

Maura da Silva Costa Furtado

Helane Cristina Aguiar Santos

Antonio Santana Batista de Oliveira Filho

Wanderson Cunha Pereira

Resumo: A banana, umas das principais frutas produzidas e consumidas no mundo,

apresenta grande importância socioeconômica para o estado do Pará, visto que a fruta é

componente frequente da dieta alimentar da população e seu cultivo contribui para

geração de emprego e renda. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desenvolvimento da

produção de diferentes setores associados a cultura da banana, levando em

consideração as expectativas da produção dos principais municípios produtores do Pará,

por meio da Análise de Shift-Share, no período de 2004-2016. As informações foram

adquiridas no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e,

posteriormente, plotadas em planilha eletrônica, para então aplicar a análise matemática

supracitada, caracterizada por decompor os setores de variação e avaliar o grau de

especialização regional. Os resultados demonstraram que os municípios apresentaram

contribuições positivas em todos os setores, em pelo menos uma especificidade, exceto

Santa Izabel do Pará, que não cooperou em nenhuma das especificações. Dentre os

municípios, Castanhal foi o principal destaque, pois contribuiu positivamente para o

aumento da produção da mesorregião, em especial no que tange rendimento,

evidenciando a inserção de técnicas e/ou tecnologias de produção na cadeia produtiva, o

que não ocorre, provavelmente, para os demais. Por fim, infere-se que os municípios

estudados necessitam inserir e/ou expandir o nível técnico e tecnológico de cultivo.

Além disso, as contribuições positivas e/ou negativas na produção de banana verificados

neste estudo, necessitam ser melhor investigadas, no sentido de encontrar os pontos

fortes e fracos do cultivo nesses municípios.

Palavras-Chave: Musa sp., modelagem, economia regional.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

111

1. INTRODUÇÃO

A banana (Musa spp.) é uma das frutas mais importantes do mundo (SOUZA et al., 2011). Cultivadas em mais 130 países, ao longo dos trópicos e subtópicos de Capricórnio, é uma planta caracterizada como herbácea, que pertence à família Musaceae, tendo como centro de origem a região da Ásia Oriental e Índia (DE LANGH et al., 2009; VALMAYOR et al., 2001).

De acordo com a relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAOSTAT, 2018), a banana é a segunda fruta mais produzida depois dos cítricos, contribuindo com um volume aproximadamente de 16% do total de frutas mundialmente. A Índia detém a maior produção, seguido de China, das Filipinas, do Equador e, em quinto lugar o Brasil, que possui em torno de 6,7 milhões de toneladas de banana.

O cultivo da banana no Brasil está distribuído por todo o território nacional, no qual, o Estado do Pará ocupada a sexta posição, com 35.348 hectares (ha), produzindo 423.383 toneladas (t) e rendimento de 11,98 toneladas por hectares (t/ha) (IBGE, 2018). Sendo o principal produtor da região Norte do Brasil, principalmente por apresentar condições edafoclimáticas adequadas para seu cultivo. Porém, ainda é preciso superar sérios entraves, tais como: fitossanitários, baixa eficiência produtiva, manejo de produção, pós-colheita e logístico (LICHTEMBERG; LICHTEMBERG, 2011). De acordo com Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2014), tais problemas estão atrelados, principalmente, ao baixo nível de tecnificação dos produtores.

Para Pospiesz et al., (2011), identificar os principais entraves das regiões é de grande valia, pois direciona melhor as políticas públicas, o que permite ganhos significativos de desempenho socioeconômico da região como um todo. Nesse sentido, encontra-se a análise denominada de shift-share, ou estrutural direcional (GALEANO et al., 2011). Silva (2002) explica que uma região possui vantagens em determinado setor, e a analise shift-share possibilita explicar as diferenças de crescimento entre várias localidades a partir de sua composição produtiva e das vantagens locacionais.

Nesse contexto, estudos com uso de indicadores de averiguação da realidade de cada região é importante para entender os entraves e motivos de crescimento de uma localidade para outra, dentro do próprio Estado.

O método shift-share proposto por Stilwell (1969) é utilizado para detectar, investigar e discutir quais os fatores, sejam eles econômicos, sociais, culturais e/ou políticos, que interferem na dinâmica das variáveis: área plantada, produção, rendimento, entre outros parâmetros, contribuindo, assim, para o avanço da bananicultura paraense. Com isso, este trabalho buscou avaliar o desenvolvimento da produção de diferentes setores associados à cultura da banana, levando em consideração as expectativas da produção dos principais municípios produtores do estado do Pará, por meio da Análise de Shift-Share no período de 2004-2016.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Do plantio a comercialização de produtos e subprodutos, a fruticultura brasileira apresenta grande importância social e econômica, justificada pela geração de postos de trabalho, renda e divisas, em especial em regiões tropicais (SOTO, 2012).

A produção mundial de frutas, em 2014, foi de 830,4 milhões de toneladas, em que a China e a Índia são os maiores produtores, correspondendo a 30,2% e 10,8% dessa produção, respectivamente (FAO, 2018). O Brasil, por sua vez, possui a terceira maior produção (4,8%), a frente dos Estados Unidos (3,4%). Nesse cenário, destaca-se a banana, que é a fruta mais produzida no mundo, com cerca de 144,8 milhões de toneladas, o que representa 17,4 % do total, sendo maior que a produção de melancia (13,4%), maça (10,2%), uva (9,0%), laranja (8,5%), entre outras.

Ainda que o Brasil seja um grande produtor da fruta, responde por apenas 1% das exportações mundiais, reflexo do consumo interno per capita elevado e grande volume populacional (MOREIRA; CORDEIRO, 2006). Em 2010, a produção nacional de banana foi de 69,63 milhões de toneladas, direcionada especialmente ao mercado interno e somente 3% destinado à exportação (COELHO JUNIOR, 2013).

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O país encontra dificuldades para desenvolver uma tradição na exportação de banana em relação a outros países produtores, os quais, por sua vez, investem em tecnologia e mão de obra especializada e qualificada para garantir um produto que atenda aos critérios mínimos internacionais de comercialização (LICHTEMBERG & LICHTEMBERG, 2011). Existem outros fatores contribuem para obtenção de grande volume de banana comercializada, como a produção contínua, alta produtividade, ciclo agronômico reduzido, bom manejo e processo rápido de amadurecimento (MANICA,1997).

A tecnologia da irrigação aplicada na fruticultura do Vale do São Francisco, principal polo de produção e exportação de uva e manga, permitiu dinamizar a economia, trouxe desenvolvimento e prosperidade a região (CORREIA; ARAÚJO; CAVALCANTE, 2001; WYZYKOWSKI; ARAÚJO; ALMEIDA, 2002).

De acordo com o IBGE (2012), São Paulo, Bahia, Santa Catarina e Minas Gerais, são os principais estados brasileiros produtores de banana, representando cerca de 17,69%, 15,50%, 9,53% e 9,40% do volume total produzido.

O estado do Pará, por sua vez, já foi um dos maiores produtores nacionais de banana, porém, sua participação caiu drasticamente nas últimas décadas. Contudo, nesse estado a produção de banana tem sido fonte alternativa para geração de emprego e renda na zona rural, fortalecendo a agricultura familiar bem como os assentamentos estabelecidos pela reforma agrária (LACERDA et al., 2012).

3. METODOLOGIA

Os dados foram obtidos no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e posteriormente tabulados em planilha eletrônica para organizá-los e aplicar a metodologia matemática de Shift-Share. As variáveis analisadas foram área destinada à colheita (ha), área colhida (ha), quantidade produzida (t) e rendimento (t/ha), referentes ao Estado do Pará e aos municípios de Bujaru, Castanhal, Inhangapi, Santa Izabel do Pará e Santo Antônio do Pará, no período de 2004-2016.

O modelo básico de Shift-Share pode ser escrito da seguinte forma:

∑∆𝑋𝑖𝑘 =∑[𝑋𝑖𝑘 − 𝑋𝑖𝑘(𝑡−1)] =∑[𝑁𝑋𝑖𝑘 + 𝑆𝑋𝑖𝑘 + 𝑅𝑋𝑖𝑘]

Onde:

∆𝑿𝒊𝒌 = a variação observada na variável 𝑿𝒊𝒌 ;

𝑿𝒊𝒌 (𝒕) = a variável econômica escolhida como explicativa X, medida na região i, no setor k, no período de análise t;

𝑵𝑿𝒊𝒌 = o componente nacional (regional). Nessa averiguação, esse componente refere−se ao agregado da região;

𝑺𝑿𝒊𝒌 = o componente estrutural de cada localidade (estado) da região; e,

𝑹𝑿𝒊𝒌= o componente regional, no caso, o componente de cada estado que faz parte da região.

A metodologia de Shift-Share ajuda no desenvolvimento de uma gestão rural mais sustentável, pois aponta a competitividade de cada setor em relação ao total, a partir da decomposição dos diferentes componentes do crescimento da produção de banana em outras especificidades que possam favorecer seu comportamento (SOBRAL, PECI & SOUZA, 2006).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise comparativa das contribuições (Figura 1), pode-se inferir que o município de Santo Antônio do Tauá corroborou positivamente para todas as especificações, enquanto Castanhal obteve crescimento positivo apenas para rendimento e quantidade produzida. Bujaru, por sua vez, contribuiu negativamente para todos os setores, à exceção do rendimento.

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O aumento da produtividade verificada nesses municípios pode ser um claro reflexo da entrada de tecnologia e técnicas de produção no pomar, pois são fatores que reconhecidamente aumentam a produtividade e incrementam a renda do produtor. De acordo com Manica (1997), o manejo adequado do espaçamento, adubação, desbaste, seleção de mudas e controle de pragas e doenças são procedimentos que aumentam a produtividade da bananicultura.

Uma boa correção da fertilidade do solo para produção agrícola, pois torna os nutrientes mais disponíveis no solo, a exemplo do potássio, elemento importante para a banana, desde a fase vegetativa até a emissão do cacho (SILVA et al., 2003).

É possível, ainda, que a assistência técnica regional esteja associada a esse avanço, pois embora a tecnologia seja uma realidade, o conhecimento acerca de seu uso correto é fundamental para o sucesso da operação agrícola.

Figura 1. Análise de Shift-Share sobre a produção de banana no período de 2004-2016.

Fonte: IBGE/SIDRA/PPM, 2016. Elaborado pelos autores.

Inhangapi contribuiu positivamente apenas para as variáveis área destina à colheita e área colhida. Isso demostra que a expansão dos cultivos de banana no município pode ter sido associada à ausência de técnicas adequadas de produção e/ou descaso com os produtores que não recebem apoio financeiro.

Santa Izabel do Pará não cooperou de forma positiva para nenhum dos setores, portanto, não atendeu às expectativas do estado, o que deixa evidente a baixa eficiência do manejo cultural empregada no cultivo, desde o plantio até a colheita.

As autoridades governamentais competentes devem atentar-se para esses locais, de modo a elaborar e direcionar políticas públicas que visem melhorar a infraestrutura e o acesso ao crédito rural, máquinas agrícolas, implementos e material genético de qualidade. Caso contrário, o movimento migratório para os grandes centros urbanos será favorecido.

Observa-se também que no decorrer do período analisado, houve uma queda expressiva, decorrendo pequenas oscilações neste período. De acordo com Cordeiro (2003), este comportamento vem ocorrendo, como possivelmente consequência, de problemas fitossanitários como a Sigatoka Amarela e Negra e broca do rizoma.

Além disso, políticas que corroborem para romper com a tradição extrativista e invista em uma cadeia integrada, da produção ao consumo, devem ser incentivadas (GONÇALVES; PEREZ; SOUZA, 1994). A passagem de um modelo de produção de baixa eficiência para um sistema tecnológico aumenta o rendimento e permite, ainda, que o produtor imprima identidade no produto e tenha competividade no mercado, além de fixa-lo no campo.

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De acordo com a análise dos dados, os resultados evidenciam que a cultura carece de novas tecnologias mais eficientes, tais como adubação correta, material vegetal mais resistentes às pragas e doenças e investimento em políticas públicas mais eficientes, além de assistência técnica, mas participativa (CORDEIRO, 2003).

A análise das variáveis dos municípios da Microrregião de Castanhal demonstrou que a maioria dos municípios contribuiu positivamente em pelo menos uma das especificações em relação às mesmas variáveis do estado do Pará. Isso significa que estes munícipios estão acompanhando as especificidades médias em relação ao estado do Pará contribuindo significativamente para o aumento da produção de banana no estado.

5. CONCLUSÕES

É notório que o município de Castanhal foi o que mais contribuiu para o aumento da produção na microrregião estudada dentro do período analisado. Isso torna viável um estudo mais detalhado para verificar os motivos dos consideráveis aumentos.

Para os demais municípios, existe pelo menos duas especificações negativa, as quais, também, devem ser melhor estudadas para determinar quais fatores desfavorecem a atividade no local.

É fundamental, portanto, a elaboração de medidas estratégicas, ou seja, políticas públicas direcionadas aos pontos fracos da cadeia produtiva da banana, o que contribui para o fortalecimento dessa atividade econômica no município.

REFERÊNCIAS

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[3] COELHO JUNIOR, L. M. Concentração regional do valor bruto de produção da banana do Paraná, Brasil (1995 a 2010). Ciência Rural, Santa Maria, online, 2013.

[4] CORDEIRO, Z. J. M. Sistema de produção de banana para o Estado do Pará. 2003. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Banana/BananaPara/ind ex.htm. Acesso em agosto de 2018.

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[7] FAO (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION). FAO statistical databases. Disponível em: <http://www.agricultura.pr.gov.br>. Acesso em: 20 set. 2018.

[8] FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. FAOSTAT. Roma: FAO, 2018. Disponível em:<http://faostat.fao.org>. Acesso em: 01 mai 2020.

[9] GALEANO, E. V.; MERELLES, A. E. F.; WANDERLEY, L. A. Produtividade industrial do trabalho no estado da Bahia e nas regiões do Brasil nos anos 1996- 2007. Revista Desenbahia, Salvador, n. 15, p. 37-60, set. 2011. Disponível em: http://goo.gl/Wiw5sh.

[10] GONÇALVES, J. S.; PEREZ, L. H.; SOUZA, S. A. M. Mercado internacional e produção de banana: a estrutura produtiva e comercial do complexo bananeiro mundial. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 41, t. 3, p. 161-188, 1994.

[11] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa mensal de previsão e acompanhamento das safras agrícolas no ano civil. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, v. 29, n. 2, p. 1-81, 2016.

[12] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção Agrícola Municipal. IBGE, 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 01 mai 2020.

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[14] LICHTEMBERG, L. A.; LICHTEMBERG, P. S. F. Avanços na bananicultura brasileira. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, Volume Especial, E. 029-036, out 2011.

[15] LICHTEMBERG, L. A.; LICHTEMBERG, P. S. F. Avanços na bananicultura brasileira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 33, n. esp., p. 29-36, 2011.

[16] MANICA, I. Fruticultura tropical 4. - Banana. Porto Alegre: Cinco Continentes, 1997. 485 p.

[17] MOREIRA, R. S. Banana: teoria e prática de cultivo. 2.ed. São Paulo: Fundação Cargill, 1999. CD-ROM MOREIRA, R. S.; CORDEIRO, Z. J. M. A história da banana no Brasil. In: REUNIÃO INTERNACIONAL DA ACORBAT, 17., 2006. Joinville. Anais... Joinville: ACORBAT/ACAFRUTA, 2006. v.1, p. 48-82.

[18] POSPIESZ, R.C. SOUZA, M.R.P. DE. OLIVEIRA, G.B. DE. (2011). Análise shift-share: um estudo sobre os estados da região sul de 2005-2008. Caderno de Iniciação Científica. 327–338.

[19] SILVA, J. T. A. DA; BORGES, A. L.; CARVALHO, J. G.; DAMASCENO, J. E. A. Adubação com potássio e nitrogênio em três ciclos de produção da bananeira Prata Anã. Revista Brasileira de Fruticultura, v.25, p.152-155, 2003.

[20] SOBRAL, F.; PECI, A.; SOUZA, G. C. Uma Análise Shift-share da Dinâmica do Setor de Turismo no Brasil: Recomendações para as Políticas Públicas. 30º encontro da ANPAD, Salvador, BA. Brasil. 2006.

[21] SOTO, M. Situación y avances tecnologicos en la producción bananera mundial. Revista Brasileira Fruticultura, v.33, n.spe., p.13-28, 2011.

[22] SOUZA, M. E.; LEONEL, S.; FRAGOSO, A. M. Crescimento e produção de genótipos de bananeiras em clima subtropical. Ciência Rural, v. 41, n. 4, p. 581-591, 2011.

[23] SOUZA, M. E.; LEONEL, S.; FRAGOSO, A. M. Crescimento e produção de genótipos de bananeiras em clima subtropical. Ciência Rural, v. 41, n. 4, p. 581-591, 2011.

[24] STILWELL, F. J. B. Regional growth and structural adaptation. Urban Studies, 6: 162-78, 1969.

[25] VALMAYOR, R.V. Classification and characterization of Musa exotica, M. alinsanaya and M. acuminata ssp. Errans. Infomusa, v.10, p.35-39, 2001.

[26] WYZYKOWSKI, J.; ARAÚJO, J. L. P.; ALMEIDA, C. O. Mercado e comercialização. In: ARAÚJO, J. L. P. Manga, cap.19, p.432-444, 2002.

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Capítulo 16

Guaraná, a história de um produto de grande potencial econômico: Ensaios e perspectivas da transferência de tecnologia agroindustrial

Indramara Lôbo de Araújo Vieira Meriguete

Dalvino Pereira de Araújo Júnior

Jane Márcia Pinto Moura

Elison de Souza Sevalho

Carlos Gustavo Nunes da Silva

Spartaco Astolfi Filho

Resumo: Este estudo apresenta uma compilação histórica do guaraná (Paulinia cupana var. sorbilis) que vai do século XVII à atualidade. O foco é sua potencialidade bioeconômica transregional, dada a capacidade de adaptação da cultura nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste, além da Região Norte. O Brasil é o único produtor mundial de guaraná, que é usado como insumo básico em diversos segmentos de mercado como as indústrias de fármacos, químicos, cosméticos, bebidas, refrigerantes e concentrados. O estudo histórico parte dos usos terapêuticos da planta por comunidades tradicionais que habitam no interior do estado do Amazonas, valorizadas pelos viajantes que desceram e subiram os rios amazônicos classificando e comercializando para seus países plantas nativas. O estudo registra ainda, a dinâmica econômica do auge e declínio da cultura de guaraná do início do século XX até os dias atuais registrando os principais eventos que marcaram as décadas nesse período. Passeia pelas descobertas da ciência que validaram os conhecimentos tradicionais em torno das capacidades terapêuticas do guaraná, apontando suas substâncias ativas por meio de técnicas modernas de engenharia genética, chegando-se a identificar os pares alélicos de seu genoma, um passo importante para o melhoramento genético da planta. Por fim, aponta as cultivares clonais de excelência desenvolvidas pela pesquisa que estão disponíveis ao mercado, possuindo qualidades como alta produtividade e alta resistência à pragas e doenças. Aborda-se também, a ausência de políticas públicas estratégicas para efetivar a transferência dessas tecnologias aos produtores, visando sua adoção e soerguimento desta potente cultura que vive franco declínio, apesar dos seus fortes apelos econômicos e esforços da ciência em favor da estabilidade e sobrevivência desta importante cultura agroindustrial.

Palavras-chave: Guaraná (Paulinia cupana var. sorbilis); Marcos Históricos; Tecnologia Agroindustrial.

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1. INTRODUÇÃO

Desde 2002, o guaraná (Paulinia cupana var. sorbilis) tem sido elencado em estudos dos Núcleos de Arranjos Produtos Locais (APLs) como uma potencialidade bioeconômica do Estado do Amazonas sendo capaz de alavancar, neste Estado, a interiorização do desenvolvimento. Extrapolando as fronteiras da Região Norte, essa cultura demonstrou, ao longo dos anos, sua notável capacidade de adaptar-se em outras regiões (Nordeste e Centro-Oeste) proporcionando um importante acúmulo de capital aos produtores nos Estados que se propuseram a cultivá-lo.

Neste estudo, portanto, abordaremos a saga do guaraná como uma planta de grande potencial econômico, sendo aproveitada como insumo básico em diversas indústrias no País e em particular no Polo de Concentrados do Polo Industrial de Manaus (PIM), o qual se insere nas indústrias de bebidas (energéticos), refrigerantes, fármacos, cosméticos e químicos, tornando esta cultura um dos eixos bioeconômicos do Estado.

A importância deste estudo é que nunca houve um registro que compilasse a história do guaraná desde seu primeiro registro em 1669 por João Filipe Betendorf até o presente momento, quando o guaraná há muito tampo deixou de ser apenas uma planta milagrosa para os índios, tendo seus atributos farmacológicos validados pela ciência, passando também a ser tecnologia agroindustrial (cultivares clonais) prospectada pela pesquisa na Embrapa Amazônia Ocidental (CPAA), que está prestes a lançar sua mais nova cultivar, a BRS Noçoquém, para incremento do portfólio de tecnologias disponíveis ao produtor, sem deixar de citar a grande contribuição científica da Rede Genoma (REALGENE) que identificou no guaraná um cariótipo de 210 cromossomos e realizou pesquisa sobre os genes expressos que se encontram no fruto do guaraná, por uma abordagem de sequenciamento do genoma funcional, identificando diversos genes e possibilitando o estudo de vias metabólicas do guaranazeiro responsáveis pelas excelentes propriedades estimulantes e medicinais dessa planta (FREITAS et al, 2007; ANGELO et al, 2008).

Além do relato histórico, faz-se um breve relato do ensaio em perspectiva de se transferir tecnologia agroindustrial, numa preconcebida Rota-Hub2 que implantou Unidades de Referência Tecnológica (URTs) em cinco municípios da Região Metropolitana do Estado do Amazonas, demonstrando que é necessário investir em novas estratégias de transferência de tecnologia agroindustrial no Estado do Amazonas, ficando assim, este estudo, como um legado histórico para a posteridade.

A Lenda do Guaraná

“Na aldeia havia um casal de índios que tinha um filho. Neste resumiam-se todas as esperanças e felicidade do casal maué. Ele era bom, bom menino, espalhava o bem em derredor de si. Um dia o espírito do mal resolveu eliminar aquele prodígio da aldeia. Apesar da estreita vigilância exercida pela tribo em torno do curumim, este conseguiu iludi-la. Trepou a uma árvore, a fim de colher frutos. Iurupari transformou-se em cobra e atacou-o. Quando foram atrás do garoto, acharam-no morto, os olhos muito-muito abertos para o céu, com uma expressão de rara felicidade boiando neles. Nesse instante, tremenda descarga elétrica sacudiu a paisagem e um raio caiu nas proximidades, fazendo silenciar as lamentações da tribo, calando as carpideiras. Vai então, a mãe do menino falou, falou, explicando que Tupã manifestara-se, pedindo que enterrassem os olhos da criança. A mãe, porém, não poderia fazê-lo, cabendo essa obrigação a outrem. Ninguém na tribo se atrevia a tomar qualquer iniciativa. Recorreu-se à sorte. Uma vez enterrados os olhos do menino, deles brotou uma planta arbustiva. É por isso que as sementes do guaraná são semelhantes a olhos vivos. ” (MONTEIRO, 1965, p. 73).

2Rota-Hub: Rota-Hub e o nome dado por Meriguete, ao circuito/corredor criado na Regiao Metropolitana de Manaus formado pelos cinco municipios (Manaus, Iranduba, Manacapuru, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva) onde foi implantado o Projeto de Expansao da Guaranaicultura com as cultivares altamente produtivas e resistentes a pragas e doenças, desenvolvidas pela Embrapa Amazo nia Ocidental, criando o Corredor Metropolitano de Cultura do Guarana. Os municipios que receberam as Unidades de Refere ncia Tecnologica (URTs) com as cultivares de excele ncia, receberam o nome de Municipios-Hub.

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2. FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DA CADEIA DE VALOR3 DO GUARANÁ NO ESTADO DO AMAZONAS.

Historicamente, o cultivo do guaraná (Paulinia cupana var. sorbilis) é um legado do povo indígena Sateré Mawé. Foram eles, de acordo com Costa (2017), que transformaram uma planta trepadeira em seu estado silvestre em um arbusto domesticado.

Também foram eles, os Sateré-Mawé, que desenvolveram um processo próprio de beneficiamento da semente e iniciaram a comercialização com os europeus, sendo uma espécie de “droga do sertão”. O povo Sateré-Mawé foi o primeiro povo indígena do Brasil a produzir um produto próprio de cultura nativa, processar e comercializar, ganhando o guaraná (waranâ) centralidade na origem organização social deste Povo, representando muito mais que uma atividade agrícola, uma forma de se inserir no mundo fora da aldeia, mantendo a própria cultura (FIGUEIROA, 2016), e, o nome do guaranazeiro originou-se da palavra indígena “varaná”, cujo significado é “árvore que se apoia em outra”. Cientificamente, é denominado de Paullinia cupana variedade Sorbilis e, pertencente à família botânica das Sapindáceas. Na Venezuela a planta também é encontrada, próximo ao rio Orenoco, fazendo fronteira com o rio Negro, assim como é encontrado na Colômbia, porém de variedade diferente (COSTA, 2017).

O pesquisador Pereira (2003) relatou em sua obra “Os Índios Maués”, que a terra onde vive o povo indígena Sateré Mawé hoje, era muito maior, pois via-se vestígio de ocupação deles, numa região geográfica que fazia limites entre os rios Tapajós, Amazonas e Madeira. Vizinhos a eles, os de etnia Mundurucu, Mura, Apiacá, Parintintin e outras populações. Quando do contato com o colonizador, os Sateré Mawé tiveram que se reposicionar territorialmente (Figura 1), num longo processo marcado por resistência e genocídio, onde o território desses povos, segundo Uggê (1991) transformou-se numa luta permanente por demarcação de limites, virou tablado de disputas pelos usos da terra e demonstração de poder.

Foi nesse contexto de lutas, fugas e tentativa de dominação que o povo indígena Sateré Mawé, conhecido também como “os filhos do guaraná”, encontrou nas cabeceiras dos rios Andirá e Marau, um “pedaço de território” que lhe serviu de refúgio e lhe assegurou a resistência, possibilitando-lhe a sobrevivência, reorganizando de vez sua territorialidade.

De acordo com os relatos de Pereira (2003), durante muitos séculos o povo Sateré-Mawé habitou região conhecida como Mundurucânia (rios Tapajós, Madeira e Amazonas, figura 1) onde usava as áreas de terra preta para seus trabalhos agrícolas, entre eles, a principal era cultivar o guaraná, para esse povo um produto ligado à sacralidade, utilizado tanto nos rituais de guerra, como nos ritos religiosos, como medicamento para tratar as doenças. Esse autor designa aos Sateré-Mawé outras denominações: Índios Maués, Andirazes, Maoos, Mabué, Manguês, entre outras. Porém, neste estudo opta-se por denominá-los de Sateré Mawé, sendo esta sua autodenominação.

Figura 1 - Território ancestral do povo Sateré Mawé.

Fonte: IBGE 2010.

3 Cadeia de Valor: A cadeia de valor e um instrumento para gerir processos. Foi criada por Michael Porter, em 1985. Ela demonstra todas as atividades que uma organizaçao empreende para gerar valor aos clientes e aponta os elos que existem entre elas. Com fortalecimento das ligaçoes entre as atividades de uma cadeia e possivel gerar vantagens competitivas para a organizaçao e seus parceiros, favorecendo o crescimento e evoluçao da empresa e seus parceiros, consequentemente, o lucro de todos, (BARBOSA, 2018).

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Os relatos de Uggê (1991) afirmam que esse povo indígena provavelmente como ancestralidade a família linguística Tupi-guarani, onde traduz que o termo Sateré (Lagarta vermelha) é o nome dado ao clã mais antigo e o termo Mawé (papagaio falante) é o nome comum de um dos grupos tribais que sobreviveu à extinção das numerosas tribos indígenas no “Baixo Amazonas”, nas imediações do município de Parintins (Ilha Tupinambarana). Os principais fatos históricos que ocorrem com o guaraná, de acordo com Homma (2014) foram (Quadro 1):

Quadro 1 - Principais acontecimentos que marcaram a história do guaraná entre os séculos XVII E XIX. Ano Século Acontecimentos

1969 XVII

João Filipe Betendorf, missionário, escreveu uma crônica relatando que os índios Andirás usavam o guaraná como “planta milagrosa”: “tem os andirazes em seus matos uma frutinha a qual secam e depois pisam, fazendo delas umas bolas que estimam como os brancos o seu ouro. Chama-se guaraná. Desfeitas com uma pedrinha em uma cuia d’água dão tanta força como bebida que indo à caça um dia até outro não sentem fome, além do que tiram febres, cãibras e dores de cabeça”.

1762 XVIII Nos relatos do Frei João de São José de Queiróz em “Viagem e visita do sertão em o bispado do Grão-Pará em 1762 e 1763, havia referências sobre os usos e benefícios do guaraná aplicados como tratamento medicinal.

1775 XVIII Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, o Ouvidor, relatava: “os maués são famosos pela fabricação da célebre bebida guaraná, frigidíssima, que já se usa na Europa, em que se tem conhecido algumas virtudes no seu uso...”.

1785 XVIII O baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (1756–1815), geógrafo, zoólogo e botânico, fez referência ao uso do guaraná em Barcelos ao qual deu o nome de Franzinia, para homenagear seu professor de matemática, em Coimbra/Portugal.

1800 XVIII Alexandre von Humboldt (1769–1859), procurando a passagem do Rio Orinoco para o Rio Negro, denominou o guaranazeiro de “cupana”, daí a denominação, mais tarde, de Paullinia cupana H.B. Kunth.

1818-1820

XIX

Von Martius impressionou-se com o misticismo que envolvia o guaraná, quando em viagem pela Amazônia. Identificou o guaranazeiro como “Paullinia sorbilis”. Seu fruto era processado e usado pelos índios Maués e Andirás, na forma de bastão, depois ralado na língua do pirarucu, para ser utilizado em pequenas quantidades. O nome Paullinia foi dado para homenagear o médico e botânico alemão C.F. Paullinia, falecido em 1712.

1852 XIX Neste ano foram exportadas 262 arrobas de guaraná para a Europa.

1865 XIX

No dia 23 de abril, chegou ao Rio de Janeiro o suíço Jean Louis Rodolphe Agassiz (1807–1873), para percorrer o Rio Amazonas em toda sua extensão, visitando municípios como Tabatinga, Tefé, Manaus e retornando a Belém. Durante a visita a Maués conheceu o guaraná. Ele chefiava a hayer Expedition, que era financiada pelo milionário americano Nathaniel hayer, com o objetivo de estudar a fauna de peixes da Bacia Amazônica.

Fonte: Serrão; Costa (2016).

A partir dos marcos descritos acima, é importante ressaltar que todos os que conheciam o guaraná queriam aprender seus usos e levá-lo para seus países, assim, o comércio do guaraná não era apenas realizado pelos índios Sateré-Mawé, mas por outros atores que não indigenas, num comércio que se intensificou a partir do século XVIII, com remessas constantes à Europa. Porém, há relatos que o povo Mawé também realizava intenso comércio com outros estados no Brasil, como com o estado de Mato Grosso, apesar da distância:

Todavia, essas qualidades, que foram decantadas e exageradas ao superlativo por alguns escritores, eram conhecidas muito antes de 1775, pois, anteriormente, já os índios Maués mantinham ativo comercio com os cuiabanos, e a massa ou pasta do guaraná era exportada inclusive para a Europa (MONTEIRO, 1965, p.37).

Monteiro (1965) cita que o comércio com os cuiabanos e comerciantes de outros estados era realizado muito antes dos relatos de 1775. De acordo com este autor, os comerciantes de Cuiabá venciam as

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enormes distâncias para chegar a Maués e levar o milagroso guaraná, discorrendo o autor que o produto adquirido com os índios Mawé, chegariam a muitos lugares, inclusive a países adjacentes:

Diz o Dr. Ferreira pena a respeito do assunto: “cada ano descem pelo Madeira mercadores da Bolívia e Mato Grosso dirigindo-se a Serpa e Vila Bela da Imperatriz, para onde trazem seus gêneros de exportação e donde recebem os de importação. Daí antes de regressarem vão a Maués, donde levam mil arrobas de guaraná, regressando então em ubás, carregadas daqueles e deste último gênero, que eles vão vender nos departamentos de Beni, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba na Bolívia e nas povoações do Guaporé e seus afluentes” (MONTEIRO,1965, p. 37).

Ou seja, a boa fama do guaraná ia longe. Era comercializado internamente, mas mantinha uma estreita relação com o capital transregional e transnacional. Podendo-se afirmar que o povo Sateré foi o primeiro a comercializar o guaraná processado. Monteiro (1965) relata que os registros de exportação de guaraná aparecem a partir de 1857, sem que, contudo, haja um registro das quantidades comercializadas, porém, internamente este comércio já estava consolidado (Figura 2). Ficando registrado a importância do povo Sateré-Mawé no cultivo do guaranazeiro e no processamento do guaraná que mais tarde tornou-se aprendizado e herança para o produtor rural (não indígena) de Maués-AM.

Figura 2 - Comercialização do guaraná entre os séculos XVII e XIX.

Fonte: Costa (2017).

De acordo com Monteiro (1965) pode-se afirmar que o comércio do guaraná foi responsável pela base da formação social e econômica do Médio Rio Amazonas e Maués. Este autor também chama atenção para o fato de que o guaraná apesar de ser um componente de destaque na renda desse agricultor que se fixou em Maués, ele não trabalhava apenas com o guaraná, principalmente, pelo fato desta cultura ser sazonal, vindo a compor sua renda de outras formas como a exploração da borracha ainda que de forma tímida, extração de madeiras como o pau-rosa, cumaru, castanha do Brasil, o plantio do arroz, da juta, mandioca, banana, fumo, o extrativismo da pesca e criação de animais.

Segundo o mesmo autor, a produção de guaraná em Maués ganhou impulso forte a partir do início do século XX, com proliferação das indústrias de bebidas que demonstraram interesse no guaraná e pela chegada de imigrantes no Estado, que se assentaram em diversos municípios, entre eles Parintins e Maués. Almeida (2007) relata que a agricultura do Amazonas ganhou impulso com a chegada de muitas famílias vindas do Nordeste do Brasil, do Japão, da Itália, de Portugal, assim como dos judeus que vieram em busca de oportunidades de trabalho, tendo essas famílias dado importantes contribuições ao município de Maués. Todos esses povos haviam aprendido a cultivar o guaraná e processar o que contribuiu sobremaneira para dinamizar, a comercialização do guaraná na região, desde então, firmando o guaraná como potencialidade regional.

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No Quadro 2 é possível observar o grande número de pessoas de diversas nacionalidades e territorialidades que vieram assentar-se no Amazonas, algumas atraídas pelas potencialidades regionais, entre elas o guaraná:

Quadro 2 - Imigrantes que se instalaram em Maués a partir do início do século XX. Imigrantes Famílias Motivos da imigração

Nordestinos

Negreiros, Corrêa, Bizantino, Oliveira, Fernandes, Ferreira, Leda, Guimarães, Macedo, Melo, Miquiles, etc.

Exploração da borracha e seca do Nordeste.

Judeus Levy, Abecassis, Pinto, Hatchwell, Benchaya, Assayag, Benchimol e outras.

Diferentes fatores tais como: pobreza, fome, perseguição, descriminação, destruição de sinagogas, etc.

Italianos Magaldi, Magnani, Desideri, Cardelli, Dinelly, Faraco, Filizola, Zola e outras.

Aliado a motivos variados, dentre os quais: a criação da prelazia do “Baixo Amazonas”, com sede em Parintins com a vinda de Bispos de origem italiana, que incentivou a imigração de Italianos.

Na terra do guaraná, foram responsáveis pela inovação industrial, com a mecanização da pilação do guaraná, das destilarias (Usinas) de Pau-rosa, da indústria cerâmica, construção naval. Organizados foram os primeiros incentivadores da formação do consórcio do guaraná.

Portugueses Alves, Lopes, Antunes, Cavalcante, Martins, Leite, Cruz e outras.

Trabalhar no ramo do comercio e da indústria.

Japoneses Yamane, Ono, Onó, Sakyiama, Kuriyama, Tamioka, Neo, Uchiyma, Okawa e Koide.

Acordo internacional entre o Brasil e o Japão, no qual os imigrantes Japoneses viriam para se dedicar entre outras atividades a agricultura, no caso de Maués, vieram para se dedicar a produção do guaraná. A primeira leva de japoneses veio em 1929 e a segunda e terceira leva em 1930. Porém, após problemas de saúde causados por um surto de Malária na terra do guaraná, muitos acabam deixando Maués e foram para Parintins se dedicar a produção da juta.

Fonte: Carneiro (2013) e Homma (2014). Organização: Costa (2016).

Os registros da comercialização do guaraná nos períodos relatados nos estudos de Carneiro (2013), Homma (2014) e Costa (2017) são importantes, especialmente nas regiões do médio Amazonas e Maués, porque o guaraná ajudou a construir as grandes fortunas das famílias tradicionais, cujos nomes, ainda hoje, repercutem na sociedade amazonense, tais como: Negreiros, Michiles e Sakyiama.

Conforme supramencionado, além dos nordestinos, tiveram destaque na comercialização do guaraná os imigrantes japoneses, cujos primeiros chegaram ao Amazonas por volta de 1929, tendo chegado mais duas levas de imigrantes japoneses no decorrer de 1930. Os japoneses trouxeram importante contribuição com a instalação da primeira Escola Técnica em Agropecuária, criada pelo imigrante japonês Hisae Sakyiama, sendo fundada também, a Associação Nipo-Brasileira de Maués, que até os dias atuais mantém monumento histórico desses áureos tempos do auge do guaraná (CARNEIRO, 2013; HOMMA, 2014; COSTA, 2017).

No período compreendido entre as décadas de 30 e 40, os imigrantes italianos também se destacaram na comercialização do guaraná em Maués. De acordo com Lorenz (1992) eles foram os primeiros a industrializar o processo conhecido como “pilação do guaraná”, cuja finalidade era acelerar a produção do bastão, pois a utilizada pelos índios era muito mais demoradas.

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Essa iniciativa por parte dos italianos permitiu por volta de 1940, que se instalassem no município de Maués, diversas indústrias de pequeno porte para beneficiamento do guaraná, transformando-o em bastão que era a forma predominante sob a qual era comercializado, sendo importante dizer que essa forma de apresentação do produto ao mercado data desde o século XVII até o início do século XX, evoluindo para o predomínio da compra forma de rama, ou seja, grãos torrados, que é a forma como as indústrias de bebidas e refrigerantes adquirem o insumo.

De acordo com Monteiro (1965), até o final da década 50 foi possível registrar, em Maués, o funcionamento de pequenas indústrias de beneficiamento do guaraná na forma de bastão. Segundo este autor, no município de Maués funcionavam três indústrias, uma era de propriedade de Francisco Antônio Magaldi, na Comunidade do Laguinho, outra pertencia a Enrique Magnani, na Comunidade Vera Cruz, de frente para a cidade e, a terceira, pertencente à família de um senhor conhecido apenas por Elias, ficando esta da sede do município de Maués.

A importância dessas pequenas indústrias era grande, pois tinham altas demandas de exportação de guaraná em bastão, necessitando inclusive, empregar trabalhadores assalariados. Este mesmo autor faz minucioso relato do processo utilizado por estas indústrias de beneficiamento do guaraná na forma de bastão:

1) Dois pilões de madeira, pesados, atuando a moda de monjolos, batem alternadamente no côvo e reduzem as sementes a fragmentos; 2) ao mesmo tempo os operários deitam água nos pilões, preparando a liga; 3) a massa sai dos pilões para a mesa onde é pesada (dois quilos, repartidos em porções iguais de 125 gramas cada); 4) estas porções são entregues aos três “padeiros”, que amassam imediatamente e fazem o pão, carimbando-o; 5) o pão passa, na mesma banca de trabalho, ao operário da “plâina” que o alisa e dá a forma definitiva e o tamanho ordinário; 6) daí o pão é arrumado na mesa e depois levado ao “moqueador” para secar a água que contiver. Passa duas horas no moqueador, submetido a fogo forte; 7) em seguida é levado ao fumeiro, onde fica por período de quarenta dias para endurecer (MONTEIRO, 1965, p. 47 e 49).

De acordo com relatos de produtores rurais nas calhas dos rios Urupadi e Paricá, (Figura 3), algumas pequenas indústrias familiares do guaraná em bastão estão em funcionamento nos dias atuais, século XXI, ano de 2019. Segundo eles elas atendem, principalmente, o consumo local.

Este levantamento histórico demonstra que o guaraná sempre esteve presente na história econômica de Maués, consequentemente, na história do povo amazonense, ganhando outros estados brasileiros e até o exterior, ao lado de outras fortes potencialidades amazônidas, também transregionais e transnacionais, como a borracha e a juta entre 1950 e 1980, onde destaca-se que nesse período a produtividade do guaraná estava no auge atingindo mais de 1000t/ano, de acordo com Almeida (2007), depois dessas décadas a cultura só decaiu em produtividade, ficando geralmente entre 700t e 800t no Estado do Amazonas (IBGE, 2018). Sendo a juta uma planta da área de várzea, logo tornou-se um obstáculo físico para o produtor de Maués, cujo território é constituído por 70% de terra firme, deixando para o guaraná o lugar de principal fonte econômica, conforme destaca Monteiro (1965):

Evidentemente toda estrutura econômica municipal repousa sobre o guaraná, e a vida social desenvolve-se à custa dos plantados grandes e pequenos de guaraná. Todo indivíduo que possui um palmo de terra disponível planta preferencialmente guaraná. O maueense vive em função do guaraná como o amazonense em geral dá a mística bisonha da borracha. [...] um sonho de que ninguém deseja despegar-se por que do presente ele é tudo (MONTEIRO, 1965, p.07-08).

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Figura 3: Localização da sede municipal e do polo rural do Urupadi no município de Maués.

Fonte: Costa (2017). Organização: Rildo Marques e Luís Costa, 2017.

2.1. INÍCIO DO SÉCULO XX ATÉ O FINAL DA DÉCADA DE 50.

Do início do século XX até 1950 a comercialização do guaraná manteve a mesma rota e as mesmas características, ou seja, durante meio século foi vendido para as indústrias de bebidas Empresa Paulista Antártica (EPA) e para a Fábrica Andrade de Manaus (FAM), realizando um fluxo como o abaixo, demonstrado na Figura 4:

Figura 4: Comercialização do guaraná do início do século XX até 1950.

Fonte: Carneiro (2013) e Homma (2014).

Organização: Costa, L. F. B., 2016.

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De acordo com a Figura 4, o negócio dos produtores de guaraná adentrou o século XX com uma dinâmica econômica diferente: atender às indústrias de bebidas de São Paulo e do Amazonas, embora mantivessem suas carteiras de clientes no exterior e no Brasil.

Na década de 1950 o crescimento dessas indústrias exigia mais e mais dos plantios de guaraná no município de Maués, havendo nesta década uma grande expansão de área plantada e aumento significativo na produção, até o fim da década de 1980, período no qual a cultura registrou altos índices de produtividade, influenciados pela demanda da indústria de bebidas, fazendo com que o guaraná traçasse trajetória histórica própria em Maués, saindo então do monopólio dos índios e sendo adotado de vez por camponeses como principal fonte de renda em suas propriedades. Aliás, os índios continuavam com sua produção artesanal, enquanto os produtores buscavam processos mais ágeis para sua produção. No Quadro 3, é possível observar os principais eventos que envolvem o guaraná e marcam sua história do início do século XX até meados desse século.

Quadro 3: Principais acontecimentos que marcaram a história da industrialização do guaraná até meados

do Século XX. Ano Acontecimentos

1905

O Dr. Luiz Pereira Barreto, cientista, após pesquisa feita sobre o guaraná, possibilita a fabricação do 1º refrigerante de guaraná com sabor “SOFT DRINK´S”, produto de fabricação da Empresa Antártica Paulista (Ambev). A referida empresa adquiria sementes torradas pelos produtores de Maués. Sendo o primeiro a circular no mundo com este sabor.

1907 Em Manaus, a Fábrica Andrade lança o 1º refrigerante de guaraná tipo “ Champagne” de coloração clara. A empresa comprava as sementes dos produtores de Maués para a fabricação do refrigerante que circulou na região até a década de 1970.

1921 O refrigerante guaraná Antártica foi lançado no País pela Empresa Paulista Antarctica.

1924 A Brahma registra seu primeiro guaraná: Guaraná Genuíno.

1925 A Sociedade Bahiana de Agricultura introduz mudas de guaranazeiro no Horto Botânico, em Retiro, Salvador.

1927 Lançamento do Guaraná Brahma, pela Companhia Cervejaria Brahma.

1930 No dia 02 de janeiro de 1930, chegou ao estado do Amazonas, a primeira leva de imigrantes japoneses. Esses imigrantes dirigiram-se para Maués, onde se dedicaram ao cultivo do guaraná. (http://www.amazonkoutakukai.com/conteudo.php?ident=2, acessado em 03.05.2020).

1933

Iniciaram-se as pesquisas com guaraná na Bahia. Foram plantadas 30 mudas de guaranazeiro, na Estação Experimental de Água Preta, atual Escola Média de Agricultura da Região Cacaueira, em Uruçuca/BA, com vistas a adaptar a cultura nesse Estado, experiência que foi muito bem sucedida, pois transformou a Bahia no maior produtor de guaraná do Brasil e do Mundo.

1938 Fundação da fábrica de produtos Globo, em Belém, priorizando o beneficiamento do guaraná, na forma de xarope e refrigerante, com a razão social Duarte Fonseca & Cia. Ltda.

1940-1945 Foram fundadas as fábricas Magistral, Luseia e Baré, em Manaus. Mais tarde surgiram a marca Brasil, Líder e Tuchaua.

Fonte: Adaptado de Carneiro (2013), Homma (2014) e Costa., (2017).

No Quadro 4 pode-se ver o registro dos principais acontecimentos que envolvem a cadeia produtiva do guaraná nas décadas de 1960 a 1990:

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Quadro 4: Principais acontecimentos da história do guaraná na década de 1960 até a atualidade. Ano Acontecimentos

1964 Instalada em Maués a primeira fábrica de extrato de guaraná da Empresa Paulista Antártica

1971

A Fazenda Cultrosa, no Município de Camamu, Bahia, inicia plantio em escala comercial de guaranazeiro.

Inauguração da Fazenda Santa Helena da Empresa Paulista Antártica em Maués.

1972

O Decreto-Lei 5.823, de 14 de novembro, regulamentado em 1973, ficou conhecido como a “Lei dos Sucos”, beneficiando a domesticação do guaranazeiro. No caso do guaraná, o cumprimento dessa legislação criou uma grande demanda por esse produto, uma vez que estabelecia quantitativos de 0,2 g a 2 g de guaraná para cada litro de refrigerante. No caso do xarope de guaraná, a quantidade variava de 1 g a 10 g de guaraná para cada litro de xarope. Pode-se observar que, em ambas as situações, a quantidade de guaraná entre o mínimo e o máximo permitido legalmente é de 10 vezes. Essa variação pode ser vista comparando os percentuais do guaraná Taí, que contém 0,2 g/l (0,02%) de refrigerante, com o Tuchaua, 1,10 g/l (0,11%).

1975 No município baiano de Camamu, a Agro-Brahma S.A. é implantadaocupando uma área total de 1.250 ha, dos quais 255 plantados com guaranazeiro.

1976 Início das plantações de guaranazeiro no Estado do Mato Grosso, em Alta Floresta, pela Colonizadora Indeco.

1981 O governo do Estado do Amazonas financia a produção de 100 mil mudas de guaranazeiro pelo processo de enraizamento de estacas.

1995

Na cidade de Taperoá, a 300 km de Salvador, a empresa Naturkork e Naturwaren – Import & Grobhandel adquire o guaraná orgânico, reconhecido pelo Instituto Biodinâmico (IBD), e exporta para a Alemanha. Em 1995, foi feita a primeira exportação de 2 t de guaraná orgânico, 3,5 t em 1999 e 4 t em 2000. A empresa adquire aproximadamente 7 t de guaraná orgânico produzido por 21 produtores que cultivam o guaraná orgânico no Projeto Onça.

1999

No dia 1º de julho ocorreu a fusão da Companhia Antárctica e da Companhia Cervejaria Brahma, resultando na Companhia de Bebidas das Américas (AmBev), que a imprensa enfatizou como sendo a primeira multinacional verde-amarela.Lançamento das cultivares de guaranazeiro BRS-Amazonas, tolerante à antracnose, e BRS-Maués, tolerante à antracnose e ao superbrotamento, no dia 28 de novembro, pela Embrapa Amazônia Ocidental, em Maués, Amazonas.

Fonte: Adaptado de Costa (2017).

2.2. A DINÂMICA DO GUARANÁ NA DÉCADA DE 1960.

Nessa década houve um grande período de prosperidade em torno do guaraná, evidenciado, especialmente, pela consolidação e adaptação da força de trabalho de imigrantes, assim como pelo interesse das indústrias de bebidas, principalmente a Antártica de São Paulo e a Andrade de Manaus, sem diminuir o interesse do estado de Mato Grosso, fiel comprador do bastão de guaraná em Maués, adquirido direto dos produtores, para diversos fins, mas especialmente usado com fins farmacêuticos (HOMMA, 2014).

Nesse tempo, a produção de guaraná foi largamente incentivada pela demanda das indústrias de bebidas, o que influenciou grandes e pequenos produtores a produzir o insumo básico para suas fábricas, sendo esta década marcada por dois grandes fatos históricos na cadeia do guaraná e de Maués: a alta escala comercial da produção e a instalação na cidade maueense, da primeira fábrica de extrato de guaraná trazida pela Empresa Paulista Antártica, no ano de 1964, mudando de uma vez dinâmica do comércio do produto, pois esta empresa passaria não apenas a comprar o produto, mas a beneficiá-lo também, vindo anos mais tarde, a ter seu próprio plantio. Esta década representou a época de ouro do guaraná:

Nos anos 60, a demanda por refrigerantes à base de guaraná cresceu fortemente, obrigando a Antarctica (hoje AmBev) a obter matéria-prima em larga escala. A empresa, então, desenvolveu um projeto em caráter de urgência para instalar uma fábrica de extrato em Maués – seu maior fornecedor de guaraná. A iniciativa transformou as características do município, tanto em termos de oportunidades de trabalho para a população quanto em

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infraestrutura. Construída a fábrica, o desafio seguinte consistiu em fomentar a produção local, já que os resultados obtidos com o cultivo tradicional se mostravam insuficientes para as necessidades da indústria (ALMEIDA, 2007, p.49).

Até 1960, o estado do Amazonas, em específico, o município de Maués, era quem dominava produção de guaraná em todo o território brasileiro, sendo o maior produtor, embora os estados da Bahia e Mato Grosso tivessem iniciado seus plantios, também influenciados pelas indústrias de bebidas com sabor guaraná (MONTEIRO, 1965; HOMMA, 2014).

2.3. OS MARCOS ECONÔMICOS DO GUARANÁ NAS DÉCADAS DE 1970 E 1980 NA CADEIA PRODUTIVA DO GUARANÁ.

De acordo com as pesquisas de Almeida (2007) nas décadas de 1970 e 1980, Maués ainda era o maior produtor de guaraná em nível nacional, mesmo com plantios espalhados em outros municípios do estado do Amazonas e do Brasil (Bahia e Mato Grosso).

Foram nessas duas décadas que as indústrias dominaram o cenário econômico da realidade local no município de Maués, com a instalação de fábricas em Maués, provocando transformações significativas no modus vivendi, social, cultural e ambiental dos munícipes maueenses e seu entorno.

Foi em 1971, que a Empresa Paulista Antártica (atual Ambev), inaugurou a fazenda Santa Helena numa área de aproximadamente 1070 hectares, em Maués. A ideia era ter produção própria de guaraná, pois sentia-se ameaçada pela pressão do consumo interno e externo do produto, com medo da falta do insumo para seus produtos. Essa atitude da Empresa Paulista, foi seguida anos depois pelo grupo Coca-Cola, que organizou seu próprio plantio na Fazenda Jayoro, no município de Presidente Figueiredo/AM.

Tempos mais tarde, já com o plantio estabelecido, e, com o início das pesquisas da Embrapa Amazônia Ocidental (CPAA), as duas Fazendas fizeram parcerias com a Organização Pública para realizar pesquisas que objetivavam o melhoramento genético do guaranazeiro, em períodos de tempo diferentes. De acordo com os dados do Relatório Embrapa (EMBRAPA, 2014), a área produtiva da Fazenda Santa Helena foi responsável por atender, aproximadamente, apenas 5% do consumo de guaraná necessário ao funcionamento da sua indústria, esse percentual deve-se à decisão de décadas atrás em plantar para o consumo próprio.

Durante este percurso de instalações de fábricas de extrato de guaraná e da Fazenda produtora, a empresa Paulista Antártica foi se tornando a maior consumidora do produto, conseguindo impor o preço que queria pagar pelo produto, além de interferir na qualidade do insumo adquirido, estreitando e solidificando a relação com os produtores, sem, contudo, permitir que os produtores dessem preço no produto (guaraná) produzido por eles mesmos.

Assim, as fábricas passaram a ditar os preços e monopolizar o mercado de guaraná, interferindo fortemente na economia gerada por essa cultura, oferecendo valores cada vez mais baixos pelo insumo. Recebendo bem menos por suas vendas e sem terem recursos suficientes para realizar os tratos culturais necessários, muitos produtores abandonaram seus plantios, já não valia mais a pena plantar guaraná. Juntando o cenário de forte impacto econômico puxando para baixo o ganho dos produtores com a grave infestação de pragas e doenças nos guaranazais, a cultura entrou em franca decadência a partir da década de 1970, (MONTEIRO, 1965; COSTA 2017).

Uma realidade ficou muito explícita: as fábricas instaladas no município de Maués forçaram uma reestrutura na forma de vida e de trabalho da população local. De repente, quem não plantava guaraná para a empresa, talvez fosse empregado dela, representando novas oportunidades de renda. Também o poder público (estadual, municipal e federal) se reorganizou criando órgãos e secretarias tanto estaduais como municipais para facilitar as atividades industriais, a rede bancária foi levada para a sede do município, a fim de atender essa nova fase que surgiu a partir da fábrica recém-chegada.

Em meados da década de 1970 foi inaugurada em Manaus a sede da Embrapa Amazônia Ocidental (CPAA), que logo depois formalizou parceria com a Empresa Paulista Antártica para os primeiros estudos e pesquisa sobre o guaraná. De acordo com Almeida (2007), Homma (2014) e Costa (2017), até a década de 80, Maués monopolizava a produtividade de guaraná em mais de 1000 toneladas em ralação aos outros Estados que haviam iniciado seus plantios (Bahia e Mato Grosso), mas, já na década de 70 começava a perder gradualmente essa dianteira na produção de guaraná. Estas duas décadas trouxeram profundas mudanças econômicas para os produtores de guaraná em Maués/AM.

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Em 1973, o governo federal sentiu necessidade de regulamentar o teor de insumo natural dentro das bebidas, estabelecendo seu teor em percentuais que deveriam ser encontrados nos produtos quando das fiscalizações do Ministério da Agricultura. Assim, foi criado o decreto-Lei 5.8234, de 17 de novembro de 1972, mais conhecido como a “Lei dos Sucos”. Essa Lei estabelecia para cada litro de refrigerante de guaraná, percentuais entre 0,2g a 2g de guaraná (HOMMA, 2014). Esse decreto-Lei foi reformado pela Lei 8.918 de 14 de julho de 1994 que foi criada para normatizar sobre a padronização, classificação, registro, inspeção, produção e fiscalização de bebidas, tendo sido regulamentada pelo Decreto 6.871, de 04 de junho de 2009. Fiscalizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no artigo 23 dessa Lei tem-se:

§ 4o O refrigerante de guaraná deverá conter, obrigatoriamente, uma quantidade mínima de dois centésimos de grama de semente de guaraná (gênero Paullinia) ou seu equivalente em extrato, por cem mililitros de bebida. (Seção II, Das Bebidas Não Alcoólicas).

2.4. A DÉCADA DE 1990 E OS DESAFIOS DA CULTURA GUARANÍCOLA

A última década do século XX apresentou-se para o município de Maués com a mais aterradora realidade. Os grandes comerciantes que estavam acostumados com os altos ganhos vindos do comércio do guaraná, viu seus campos declinarem vertiginosamente, Vasconcelos (2004).

Conforme relata Vasconcelos (2004, 32) sobre o declínio da cultura guaranícola, “A redução da produção deu-se devido à idade avançada das plantas, pragas, doenças e falta de tecnologia. Para auxiliar o aumento da produção e produtividade do guaraná na região, foi firmado um convenio entre Embrapa, IDAM, Ambev e prefeitura de Maués, onde criaram 12 polos de desenvolvimento agrícola”, ou seja, ninguém se atentou para o replantio dos campos de guaraná, antes que chegasse à exaustão as plantações, como também não se deram conta do avanço silencioso das pragas (inseto tripes5) e das doenças, em particular, da Antracnose6, principal e mais destrutiva doença do guaranazeiro (Paullinia cupana var. sorbilis), causada pela infestação do fungo Colletotrichum guaranicola, causando a mais irremediável queda de produtividade da cultura em Maués, (TAVARES; GARCIA; NASCIMENTO FILHO, 2007).

Juntando-se a isso, os plantios da Bahia vinham obtendo uma produção bem maior, favorecidos pelo clima mais seco, o qual que dificultou a proliferação do fungo causador da Antracnose, ajudando a impulsionar a cultura no Sul desse Estado, que se tornaria o maior produtor nacional do produto, (Figura 5).

Com este cenário, devastador para a cultura, Maués viu o preço do guaraná desabar localmente, desestimulando o plantio da cultura, que foi abandonada pelos grandes produtores, continuando assim até os dias atuais, apesar dos investimentos em pesquisa para o melhoramento da cultura, especialmente realizado pela Embrapa Amazônia Ocidental e seus parceiros como a Ambev e Fazenda Jayoro, além da pesquisa realizada pela Universidade Federal do Amazonas que identificou os cariótipos da cultura, o que muito ajudará em futuras pesquisas.

Com este panorama, a cultura do guaranazeiro adentra o século XXI em declínio completo no Estado do Amazonas, mudando completa e definitivamente a dinâmica de cultivo e comercial da cultura, onde o eixo principal para a aquisição do insumo passou a ser os municípios baianos de Una, Ituberá, Tapeorá, entre outros. Apesar disso, é possível observar que dentro do Estado do Amazonas, Maués ainda lidera a produção, (Tabela 1).

4 Publicação: Diário Oficial da União (DOU) – Seção 1 – 17/11/1972, Página 10241 (Publicação Original),

assinada pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici, e seus Ministros L.F. Cirne Lima e Marcus Vinícius .

Coleção de Leis do Brasil - 1972, Página 64 Vol. 7 (Publicação Original). Brasília, 14 de novembro de 1972;

151º da Independência e 84º da República. 5 O inseto do Tripes Tambem conhecido popularmente como lacerdinha, da ordem dos Thysanoptera, classe Insecta, especie Liothrips adisi, instala-se na parte inferior de folhas e la se desenvolve em sua fase de ovo, ninfa, ate chegar a fase adulta. No estagio inicial de desenvolvimento causa deformaçoes nas folhas, por seu habito de raspagem, ocasionando suas quedas, bem como das infloresce ncias, provocando ainda a prematura secagem das flores, alem de poderem ser vetores de viroses (PAIVA, 2010). 6 A Antracnose , no guaranazeiro, é causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola. Nas plantas infestadas, induz a queima (crestamento) das folhas jovens, com consequente queda, mazelando de forma crescente a planta, levando-a à morte (PAIVA, 2010).

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Figura 5: Maiores produtores de guaraná do Brasil na década de 1990 e inicio da década de 2000.

Fonte: Vasconcelos (2004, p.27)

A baixa produtividade ocorre especialmente, em decorrência de guaranazais velhos, falta de manejo da cultura e ausência de políticas públicas de incentivo ao plantio da cultura. Caso os produtores viessem a adotar as novas cultivares clonais desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental, já seria uma garantia de sucesso no plantio e alta produtividade, mas ao longo dos anos isso não ocorreu por motivos diversos que não cabem análise neste levantamento histórico.

Tabela 1 - Municípios produtores de guaraná no Amazonas em toneladas, entre 1990 a 2002.

Municípios 1990 1999 2000 2001 2002

Autazes 49 20 20 8 14

Boa Vista do Ramos 11 91 91 45 45

Iranduba 16 148 85 43 43

Itacoatiara 42 55 55 24 20

Maués 234 1.639 308 240 360

Nova Olinda do Norte 5 164 164 60 63

Parintins 12 72 19 15 14

Urucará 24 97 97 60 68

Fonte: Adaptado de Vasconcelos (2004).

A Tabela acima (Tabela 1) mostra o panorama da produtividade do guaraná nos municípios do Estado do Amazonas no período entre 1990 a 2002, que a partir da década de 1980 passou a ser comercializado em rama (somente torrado), onde Maués aparece liderando a produtividade entre os municípios amazonenses. sendo possível observar também que os anos 90 (234t, Tabela 1) marcam o franco declínio no Estado, chegando a registrar nessa década os mais baixos índices de produtividade, com exceção do ano de 1999 (1.639t, Tabela 1), voltando a entrar em declínio nos anos posteriores. Com o declínio da cultura guaranícola no Amazonas na década de 90, quem assumiu o marco de maior produtor de guaraná do Brasil foi estado da Bahia.

Na Tabela 2 pode-se ver os patamares a que chegou a produção de guaraná em Maués entre 2006 a 2014, quase duas décadas de permanente oscilação entre declínio e estagnação, onde as maiores altas neste período ficaram em torno de 300 toneladas no ano de 2012 e de 2014.

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Tabela 2: Produção de guaraná em Maués (2006-2014), em Toneladas (t).

Ano Safra Produção (t)

2006 2006/2007 130

2007 2007/2008 150

2008 2008/2009 140

2009 2009/2010 120

2010 2010/2011 270

2011 2011/2012 290

2012 2012/2013 300

2013 2013/2014 150

2014 2014/2015 300

Fonte: Adaptado de Costa (2017).

Na Figura 6, abaixo, Almudi e Pinheiro (2015) relatam o cenário da cultura guaranícola em nível nacional, mostrando quão distante está a produção do Amazonas em relação ao Estado da Bahia, atualmente o maior produtor.

Figura 6: Ranking estadual de produção de guaraná (semente), ano 2013.

Fonte: Almudi e Pinheiro (2015), relatam cenários florísticos de 2013.

De acordo com as informações do IBGE publicadas no Censo Agropecuário de 2017 (Figura 6), o guaraná no brasil é produzido em sete estados, em setenta municípios. Os estados de Mato Grosso, Amazonas e Bahia representam 93,5% da produção nacional em 2018. Em menor percentual, os estados de Rondônia, Pará, Acre e Santa Catarina (este não consta na Figura 6, acima) também produzem guaraná.

Em 2017, havia no Brasil seis mil seiscentos e quarenta e quatro (6.644) estabelecimentos (Tabela 3) em plena produção com cinquenta pés ou mais de guaranazeiros, sendo a maior parte desses (70,3%) no estado da Bahia, seguido pelo Amazonas (25,6%), Mato Grosso (0,9%) e os outros estados que juntos representam 3,2% do total de produtores (FANGUNDES, 2019). A Tabela 3 não deixa dúvidas sobre a atual hegemonia do estado da Bahia quanto à produção de guaraná no País, ainda que essa quantidade venha diminuindo de 2014 para 2019.

Tabela 3: Número de estabelecimentos produtores com cinquenta pés ou mais, estabelecimentos da

agricultura familiar e propriedades até 50 hectares – 2017.

País / Estados Nº de

estabelecimentos Participação

% Agricultura

Familiar Partcipação

%

Propriedades até 50

hectares

Participação %

Bahia 4.674 70,3 4.193 71,1 4.566 79,5

Amazonas 1.701 25,6 1.457 24,7 1.012 17,6

Mato Grosso 58 0,9 50 0,8 43 0,7

Estados Acima 6.433 96,8 5.700 96,7 5.621 97,9

Outros Estados 211 3,2 196 3,3 121 2,1

Total 6.644 100,0 5.896 100,0 5.742 100,0

Fonte: IBGE (2017), Censo Agropecuário. Elaboração: Fagundes (2019).

O Censo Agropecuário de 2017, traz informações importantes sobre os números da cultura guaranícola, um número bem expressivo no tocante ao total de produtores de guaraná, demonstrando que 88,7%

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concentravam-se na categoria de produtores de base familiar e 11,3% pertencem à categoria de produtores não familiares, (Tabela 3).

Desse total de produtores, 71,1% dos classificados como de base familiar estão no estado da Bahia; 24,7% no estado do Amazonas e 0,8% desses agricultores são do Mato Grosso, (IBGE, 2018). Em 2017, o Censo Agropecuário registra que 86,4% dos estabelecimentos com cinquenta ou mais plantas de guaranazeiros estavam em áreas de até 50 hectares. Dessa totalidade, 79,5% estavam na Bahia, 17,6% encontram-se no Amazonas, e, 0,7% foram registrados no estado do Mato Grosso. Nos demais estados, o percentual representado era de 2,1% do total no País, (IBGE, 2018).

Em 2018, o IBGE divulgou em sua publicação “Produção Agrícola Municipal”, uma produção nacional de guaraná com volume de 2,6 mil toneladas, registrando uma redução de 0,7% na comparação com o ano de 2017.

A taxa média anual de recuo da produção nacional foi de 7,3%, entre os anos de 2014 e 2018, mostrando que a cultura do guaraná é uma cultura em retração (Figura 7).

Neste cenário, a Bahia, que atualmente é o principal estado produtor, representou 60,0% da produção nacional total em 2018, registrando uma produção de 1,5 mil toneladas, significando um aumento de 3,1% comparado com o ano de 2017. O aumento da produção em 2018 ocorreu pelo aumento da produtividade em 7,6%, uma vez que a área destinada à colheita nesse estado sofreu uma redução de 4,1%.

Figura 7: Evoluçao da produção de guaraná em semente entre 2014 a 2018, em Toneladas (t).

Fonte: IBGE (2018)

Elaboração: Fagundes (2019)

A Bahia tem registrado redução na produção da ordem de 12,4% entre 2014 e 2018. No estado baiano, há plantio de guaraná em vinte e quatro municípios, contudo, os principais são Ituberá, Taperoá e Valença, que juntos são responsáveis por 63,2% do total produzido pelo Estado em 2018, (Figura 7).

O Amazonas, como segundo maior produtor, foi responsável por 27,7% da produção de guaraná (733,0t) no País no ano de 2018, sofrendo uma redução na produção estadual de 14,2% comparado com o ano de 2016, lembrando que os dados publicados em 2018, referem-se ao ano de 2017, aumentando, portanto, sua produção, em uma taxa média anual de 4,1%, entre 2014 a 2018 (Figura 7). É possível registrar o cultivo do guaraná em quinze municípios amazonenses os principais cultivos estão em Maués, Presidente Figueiredo e Urucará, que juntos são responsáveis por 76,9% da produção total do estado do Amazonas em 2018, (FAGUNDES, 2019).

O estado do Mato Grosso ocupa o terceiro lugar nacional em produção da cultura (5,8%) em 2018 (Figura 7), tendo produzido 154,0 toneladas, apresentando redução produtiva de 14,9% comparado a 2017. Entre 2014 e 2018, neste Estado, a taxa média anual de redução da produção foi de 8,7%. Nesse Estado, dez municípios cultivam guaraná. Os três principais produtores são: Nova Santa Helena, Marcelândia e Alta Floresta, que juntos produziram 86,4% do cultivo estadual em 2018. Nesse Estado, a área total destinada à colheita do guaraná era de 10,1 mil hectares em 2018 representando uma redução de 5,2% na comparação com 2017. Entre 2014 e 2018, a área de colheita de guaraná no país apresentou redução significativa (2,8%) de taxa média anual, (FAGUNDES, 2019).

Pela Figura 8 é possível observar que em 2018, nos estados da Bahia (55,2%) e do Amazonas (39,5%) houve uma significativa redução de 4,1% e de 8,4%, respectivamente, em suas áreas destinadas à colheita, se comparadas com o ano de 2017.

Entre os anos de 2014 e 2018, houve também redução da área destinada à colheita nos dois maiores estados plantadores aqui analisados: Bahia ( 4,4% aa), Amazonas (0,6% aa). No caso do estado do Mato

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Grosso, em 2018, este estado apresentou 3,3% da área nacional destinada à colheita em 2018, havendo aumento nessa área (6,3%) em comparação com o ano de 2017, com 339 hectares. Porém, computados os demonstrativos entre 2014 e 2018, houve redução da taxa anual (3,0%) nesse Estado.

Analisando os três principais estados produtores, a área de colheita encolheu 5,6% em 2018, em comparação com o ano de 2017. E, entre 2014 a 2018, a área composta pelos três estados demonstra uma redução de 2,9% aa.

Figura 8: Evolução da área de colheita do guaraná em semente de 2014 a 2018, em hectares.

Fonte: IBGE (2018).

Elaboração: Fagundes (2019).

Na Figura 9, são demonstradas as produtividades médias nacional e por estado da produção de guaraná. Em 2018, a produtividade média nacional foi de 261 kg/ha, representando um aumento de 4,4%, se comparado com o ano de 2017.

Considerando-se os anos entre 2014 a 2018, a produtividade média nacional da produção retraiu 4,7% da taxa média anual. Na Bahia, em 2018, houve um aumento de 7,6% em comparação com o ano de 2017, representado por uma produtividade de 283 kg/ha. Porém, quando analisado o período entre 2014 a 2018 esse estado demonstra uma redução (8,3%) da taxa média anual de produtividade.

Figura 9: Produtividade do Guaraná em semente (2014-2018), em Kg/hectare.

Fonte: IBGE Elaboração: Fagundes (2019).

O estado do Amazonas registrou uma produtividade de 183 kg/ha, em 2018, apresentando uma retração de 7,1% se comparado com o ano de 2017. Já a produtividade, nesse estado, registrou aumento de 4.6% de taxa média anual.

A produtividade no estado do Mato Grosso, registrou 454 kg/ha, em 2018, apresentando uma significativa retração de 19,9%, comparada ao ano de 2017, mas na média nacional, registra 73,9% acima. Porém, no período compreendido entre 2014 a 2018, a produtividade declinou a uma taxa média anual de 5,9% nesse Estado.

A Figura 10 apresenta um quadro, em valores constantes (2018), referente ao valor bruto real da produção de guaraná que, entre 2014 e 2018, foram corrigidos pelo IGP-DI. No período de 2014 a 2018, houve uma retração na taxa média anual da produção de guaraná de 12,3%, registrando 27,6 milhões em 2018 (em vermelho) (FAGUNDES, 2019).

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Figura 10: Evolução do valor bruto da produção de guaraná (2014-2018), em R$ mil 2018 (correção: IGP-DI)

Fonte: IBGE

Elaboração: Fagundes (2019)

Pela Figura 10 vê-se que apesar da Bahia obter uma liderança nacional de 60,0% em 2018, no valor bruto real totaliza apenas 41,5%. O Amazonas, participou do total nacional com de 27,7% em 2018, e com 50,5% no valor bruto real da produção, maior que a participação da Bahia. Isso ocorreu porque os compradores pagaram mais pelo produto que apresentava, nesse estado da federação, melhor qualidade, melhorando a renda dos produtores do desse Estado. Contudo, tanto a Bahia quanto o Amazonas tiveram retração de 18,1% e 4,2% em valores brutos reais referentes à produção entre 2014 e 2018, e no Mato Grosso, neste mesmo período a retração dessa taxa foi de 30,0% (FAGUNDES, 2019).

2.5. CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA PARA A CADEIA DO GUARANÁ.

A partir da década de 1960 houve muitos incrementos na cadeia produtiva do guaraná, incluindo importantes contribuições científicas como o lançamento de cultivares de guaraná resistentes a praga e doenças ao longo das décadas de 1990 a 2010 realizadas pela Embrapa que surge na década de 1970 no Estado do Amazonas, com a importante missão de trabalhar pela não extinção do guaraná.

A grande importância socioeconômica do guaranazeiro atraiu também considerável interesse científico da “Rede da Amazônia Legal de Pesquisas Genômicas – REALGENE” formado por um consórcio de instituições de pesquisa e apoiado pelo CNPq/MCTIC e pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM. A Rede finalizou os estudos sobre a estrutura do genoma (tamanho do genoma e número de cromossomos) e a análise do genoma funcional do fruto (conjunto de genes que são expressos – Transcriptoma).

O objetivo principal da REALGENE com o sequenciamento do genoma funcional do guaraná (Figura 11) era ampliar o conhecimento sobre as informações básicas do ponto de vista genético e molecular desta planta, como a descoberta de genes de vias metabólicas, entre eles, os genes relacionados com o metabolismo secundário. O trabalho que foi publicado na Revista Plant Cell Reports e caracterizou os genes expressos em três diferentes fases de maturação do fruto. A partir deste estudo, a expressão de importantes genes foi caracterizada, como genes de resistência a insetos e a estresse hídrico, enzimas chaves de importantes rotas metabólicas como da cafeína sintetase, beta caroteno hidroxilase, chalcona sintase (via de síntese de flavonóides), (ÂNGELO et al., 2008).

Conhecer a estrutura dos genomas é cada vez mais importante para a compreensão da evolução e manipulação de genes. No caso do genoma do guaraná sua estrutura apresentou um cariótipo com 210 cromossomos (figura 12) e aproximadamente 22,3 x 109 pares de bases (pb), ou seja, cerca de três vezes e meia o tamanho do genoma humano (6,4 x 109 pb), entretanto esse grande número de cromossomos do guaraná contrasta com o cariótipo das outras plantas do gênero Paullinia, pois todas as sete espécies que já estudadas apresentaram 24 cromossomos. Considera-se, que esse grande número de cromossomos do guaraná, na forma de poliploidia, pode ter sido resultado do seu processo de domesticação realizado através do tempo pelos nativos, (FREITAS et al., 2007).

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Figura 11: Distribuição dos genes que se expressam no fruto do guaraná de acordo com categorias funcionais.

Fonte: Freitas (2009, p.33).

As propriedades fitoterápicas descritas na literatura científica a respeito do guaraná confirmaram os conhecimentos tradicionais indígenas que foram passados no decorrer dos anos (ARAÚJO; et al, 2009). Estes conhecimentos relacionados ao guaraná, com bases científicas comprovadas, adicionados aos novos conhecimentos genômicos, podem e devem direcionar a pesquisa no sentido de descobrir-se tais princípios ativos de Paullinia cupana e possibilitar o desenvolvimento de tecnologia de produção de novos fitofármacos, além também facilitar o melhoramento genético da planta tanto para a melhoria da qualidade e produtividade quanto para aumentar a resistência a doenças e pragas e a estresses abióticos.

Todas as importantes propriedades medicinais e estimulantes do guaraná, hoje cientificamente comprovadas, nos permitem compreender o porquê os indígenas a considerarem “mágicas”, a ponto de ser utilizada em rituais importantes e ter sido motivo de passar para cultura popular como uma lenda ainda hoje, muito lembrada, (MARQUES et al., 2019).

Neste contexto, o Banco Ativo de Germoplama (BAG) de guaraná da Embrapa começou a ser formado no final da década de 1970, com plantas selecionadas no município de Maués, sendo esta seleção ampliada para outras localidades do Estado, sendo a ele incorporadas novas variedades da espécie Com esse acervo, a Embrapa iniciou o Programa de Melhoramento Genético do Guaraná já lançou 18 cultivares que podem ser usadas comercialmente, (EMBRAPA, 2005).

Figura 12: Cariótipo de guaraná Paullinia cupana variedade sorbilis com 105 pares de cromossomos.

Fonte: Araújo; Freitas; Nunes-Silva; Astolfi-Filho, (2009).

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De acordo com registros em Embrapa (2005), algumas das cultivares inicialmente lançadas podem atingir uma produção de 2,5kg de sementes secas por planta, enquanto a média estadual é de apenas 0,2kg. As lançadas entre os anos de 2011 a 2013 (BRS Luzeia, BRS, Andirá, BRS Cereçaporanga, BRS Mundurucânia, BRS Saterê e BRS Marabitana), (Quadro 5), de acordo com a pesquisa, podem oferecer uma a alta produtividade, alcançando em média, 3,5 quilos de sementes secas ou rama por planta, enquanto os plantios tradicionais produzem cerca de 150 gramas por planta, (EMBRAPA, 2011).

Além da alta produtividade, essas cultivares possuem resistência à antracnose que é a principal doença que acomete o guaranazeiro, foi por causa desta doença que na década de 1970, a produção de semente do guaraná alcançou os mais baixos níveis. Causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola que é responsável por atacar as folhas da planta, atrofiando seus galhos e impedindo a frutificação, não raro levando a planta à morte, (EMBRAPA, 2005).

De acordo com Embrapa (2005) todos os guaranazeiros do município de Maués foram infestados pela antracnose, tendo a Embrapa como missão desenvolver uma solução para o problema, iniciando o Programa de Melhoramento Genético do Guaraná, sistematizando os estudos sobre a cultura, tendo como primeiro momento a busca por matrizes. As que foram selecionadas apresentavam como caraterísticas a alta resistência à doença que estava dizimando os guaranazais e a alta produtividade da planta. As selecionadas, eram levadas ao Campo Experimental de Maués, dando início a formação das progêneres com potencial mercadológico, sendo que os primeiros experimentos não coincidiram com os resultados esperados.

Ainda de acordo com Embrapa (2005), no início dos experimentos, num hectare com 400 plantas, pelo menos a metade morria antes de iniciar a frutificação, e, 80% delas apresentava problemas com a antracnose com o passar do tempo, restando somente 10% do cultivo inicial.

Quadro 5: Lançamento de cultivares clonais pela Embrapa de 2011 a 2019.

Ano Acontecimento

2011 Lançado no dia 26 de outubro no Campo Experimental da Embrapa, no Município de Maués, as cultivares BRS Cereçaporanga, BRS Mundurucânia, BRS Luzeia e BRS Andirá, que produzem em média 1,5 kg de sementes secas por planta, enquanto a média regional é de 200g por planta ao ano.

2013 No dia 13.11.2013 são lançadas as cultivares BRS Saterê e BRS Marabitana, mais duas cultivares disponíveis aos produtores rurais da Região Norte do Brasil. Com a mesma capacidade que as anteriores e com potencial de cafeína superior que a maioria das demais cultivares.

2019 Está previsto para o ano de 2019 o lançamento da nova cultivar BRS Noçoquém que já foi registrada no Ministério da Agricultira, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo já noticiado que uma outra cultivar ainda sem nome já está em trâmite de patente em favor da Embrapa, sem previsão para lançamento.

Fonte: Autoria Própria.

Uma das soluções encontradas na época foi a reprodução vegetativa, formação de cultivares clonais a partir das matrizes que possuíam as características desejadas. Muitos testes foram realizados, partir dos quais escolheu-se a técnica da estaquia para produzir as mudas, obtendo-se sucesso neste processo que culminou com o lançamento das duas primeiras cultivares clonais comercializáveis em 1999 e, no ano 2000 foram lançadas mais dez cultivares clonais de guaranazeiro, entre elas a BRS Maués e a BRS Amazonas. Graças à estabilização do banco genético, na atualidade continuam sendo realizadas pesquisas onde as mudas são formadas por meio de sementes, onde está sendo possível observar nas novas cultivares as características importantes da alta produtividade e resistência à antracnose. (EMBRAPA, 2005).

Para o ano de 2019 foi previsto o lançamento de uma nova cultivar que já recebeu o nome de BRS Noçoquém (esta cultivar clonal alcançou 2,3kg de semente seca/planta), (EMBRAPA, 2015). Há também outra cultivar que não foi batizada, aguardando processo de validação, que é demorado e alcançará o mercado mais tardiamente. Avalia-se que a grande vantagem dessas cultivares cuja formação de mudas se dá por sementes é que os agricultores encontrem maior facilidade em produzir suas próprias mudas e maior controle nesse processo e a menor custo.

Todas as pesquisas realizadas pela Embrapa Amazônia Ocidental somente foram possíveis com a preservação do BAG de guaraná, mantido por esta Unidade. Atualmente o Banco Genético abriga 300 acessos da planta, com uma ampla diversidade genética, facilitando as atividades de melhoramento da cultura.

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Com relação ao guaraná, tudo o que é produzido atualmente, não atende à demanda do Polo Industrial de Manaus, o qual necessita atender ao PPB estabelecido pela Suframa adquirindo o produto localmente para usar em seu processo produtivo, porém, nem a Suframa, nem os empresários, nem a Embrapa possuem um plano estratégico conjunto para resolver a situação da escassez do produto que a cada ano diminui sua produtividade nos maiores estados produtores.

2.6. NOVAS PERSPECTIVAS E ENSAIOS PARA A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA AGROPECUÁRIA.

Em 2016, iniciou o Projeto de Expansão da Guaranaicultura para mitigar os entraves de disseminação da cultura dentro do Estado, em que os pesquisadores consideram que o Projeto é uma boa iniciativa para aumentar a produção de guaraná no Estado. Por este projeto, foram distribuídas mais de em torno de 14 mil mudas de guaraná aos produtores familiares, criando Unidades de Referência Tecnológica (URTs), formando uma Rota-Hub, um Corredor de Metropolitano de cultura de Guaraná. Rota esta, que passa dentro de cinco municípios da Região Metropolitana do Estado do Amazonas (Municípios-Hub), são eles: Manaus, Manacapuru, Iranduba, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva, (EMBRAPA, 2016).

Este projeto foi realizado em parceria com duas indústrias, setores do governo estadual (Sepror e Idam) e prefeituras locais (Secretarias de Produção Rural), além de várias organizações não governamentais, entre elas uma filantrópica 3 cooperativas e duas associações, possibilitando implantar 32 Unidades de Referência Tecnológica (URTs), instaladas em 15 comunidades nos Municípios que compõem a Rota-Hub (Manaus, Iranduba, Manacapuru, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva) estabelecida pela autora para o Projeto em análise, totalizando 20 hectares de área plantada com 400 mudas de guaranazeiros/hectare. (EMBRAPA, 2016).

Por este projeto, os produtores receberam materiais tecnológicos de excelência validados pela pesquisa da Embrapa, com alta produtividade, resistência a pragas e doenças e potencial mercadológico. Como instrumentos no processo de transferência de Tecnologia (TT) foram utilizados: capacitação dos produtores em todas as fases da produção de guaraná, plantio das mudas e pós-colheita, além do permanente acompanhamento técnico da Embrapa nas Unidades de Referência Tecnológica (URTs), implantadas.

Esta iniciativa animou as indústrias do Polo de Concentrados do PIM, o Comitê de Apoio ao Agronegócio no Amazonas da Federação das Indústrias (FIEAM) e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas, que iniciaram negociações com a Embrapa para expandir a produção de guaraná no Estado, apontando novas perspectivas para antigos desafios.

3. CONCLUSÃO

O guaraná do Brasil (Paulinia cupana var. sorbilis), tem sido comercializado tanto no mercado interno como no externo, e, até o ano de 1996, era possível acompanhar o perfil das exportações pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Departamento de operações de Comércio Exterior (DECEX), usando a Nomenclatura Brasileira de Mercadoria – NBM, especificando a palavra guaraná.

Em 1997, ao ser criada a Nomenclatura Comum do Mercosul - NCM, o guaraná e seus produtos derivados não receberam codificação específica, ocasionando dificuldades no acompanhamento mercadológico do produto no comércio exterior. De acordo com as pesquisas realizadas para compor este memorial, o guaraná possui um importante potencial econômico transregional, uma vez que é produzido em 3, das 5 Regiões brasileiras.

Desde janeiro de 2018, o município de Maués (AM) pode usar o Selo de Indicação Geográfica, como região tradicional produtora da cultura guaranícola. O guaraná é plantado principalmente por produtores de base familiar, que se beneficiam diretamente com a comercialização, que também é realizada com intervenção de empresas/entidades integradoras, intermediários e cooperativas, que se relacionam comercialmente com compradores de diferentes portes e interesses, como as indústrias de bebidas, fármacos, químicos, cosméticos, refrigerantes e concentrados.

Algumas indústrias do seguimento de refrigerantes como AMBEV e Coca-Cola, líderes de mercado, produzem, em parte, o guaraná de que necessitam nos seus plantéis, com o objetivo de diminuir a dependência por insumo nos mercados locais internos, pois, a escassez do produto tem se acentuado e, neste caso, não há disponibilidade externa para aquisição, pois o Brasil é o único produtor de guaraná do mundo.

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Apesar dos seus apelos econômicos e farmacológicos, a cultura tem regredido em todas as áreas produtoras, conforme pode ser observado nas análises relatadas neste estudo e pelos autores citados nesta compilação histórica, a despeito de todas as iniciativas da ciência para melhorar geneticamente a planta, sem que haja um estudo técnico para identificar os motivos reais e potenciais que dificultam a adoção da cultura pelos produtores, uma vez que há disponibilidade de tecnologia de excelência (cultivares clonais resistentes e altamente produtivas).

Há um desafio que necessita ser transposto pelas instituições de pesquisa, em especial pela Embrapa, que ao longo mais de 20 anos tem ofertado clones melhorados para o soerguimento da cultura, sem que os dados disponibilizados pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) sejam animadores para a cultura em todo o território nacional, apesar da procura pelo produto continuar em alta.

Também seria necessário que fosse disponibilizada assistência técnica com maior frequência aos produtores como forma de facilitar a integração destes com o manejo desta cultura. Recomenda-se que esta assistência seja multifuncional onde estejam presentes os órgãos públicos e iniciativa privada:

a) De pesquisa (Embrapa, universidade Federal do Amazonas (UFAM, Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e,

b) De Extensão Rural (ATER): Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (IDAM),

c) De Ensino: Instituto Federal do Amazonas (IFAM);

d) De políticas públicas para o setor primário: Secretaria de Produção Rural do Amazonas em Maués (SEPROR – Maués) e, ainda,

e) Por organizações integradoras: Ambev (Projeto PEGÁ) e Coca Cola (Fazenda Jayoro) e (Fundação Amazonas Sustentável - FAS, na Unidade de Conservação Floresta Estadual de Maués).

De acordo com a história do guaraná, aqui relatada e sua importância econômica para o Estado do Amazonas, em especial para o município de Maués, conclui-se, que o guaraná continua sendo uma cultura com alto potencial econômico, dentro e fora do Estado do Amazonas, no comércio interno e no exterior, que necessita de ações concretas e urgentes que visem a transferência das cultivares de excelência da Embrapa, que possuem alta resistência e alta produtividade, a fim de que as indústrias, produtores e cidadãos, possam se beneficiar com o fortalecimento dessa cadeia produtiva, para geração de trabalho e alternativa de renda direta e indireta dentro do Estado do Amazonas e em todo o País.

REFERÊNCIAS

[1] ALMEIDA, J. Memória dos brasileiros: saberes e fazeres: o guaraná de Maués. São Paulo: Museu da Pessoa, 2007.

[2] ALMEIDA, R. A. (Re)criação do campesinato, identidade e distinção: a luta pela terra e o habitus de classe. São Paulo: Editora UNESP, 2006.

[3] ALMEIDA, V. N. Cadeia de valor: o que é, para que serve e exemplo de aplicação na gestão de processos. Postado em 11.10.2019. Disponível em: euax.com.br/2019/10/cadeia-de-valor/. Acessado em: 01.02.2020.

[4] ALMUDI, T.; PINHEIRO, J. O. C. Dados estatísticos da produção agropecuária e florestal do estado do Amazonas: ano 2013. Brasília, DF: Embrapa, 2015.

[5] AMAZONKOUTAKUKAI. A História da vinda dos Koutakusei para o Amazonas. Disponível em: http://www.amazonkoutakukai.com/conteudo.php?ident=2, Acessado em 03.05.2020.

[6] ÂNGELO, P. C. S. ; SILVA, C. G. N. ; BRIGIDO, M. M. ; ASTOLFI-FILHO, S; Equipe REALGENE . Guarana (Paullinia cupana var. sorbilis), an anciently consumed stimulant from the Amazon rain forest: the seeded-fruit transcriptome. Plant Cell Reports (Print), v. 27, p. 117-124, 2008.

[7] ARAÚJO, I.L. O conhecimento tradicional do uso do guaraná (Paullinia cupana var. sorbilis) como subsídio à geração de tecnologia terapêutica: um relato da história dos usos do guaraná pelas populações tradicionais validados pelo conhecimento científico. Dissertação de Mestrado em Economia - Desenvolvimento Regional - Universidade Federal do Amazonas Manaus: UFAM, 2009.

[8] BARBOSA, F. S.; SCAVARDA, A. J. Cadeia de valor de megaeventos: um estudo de caso de uma feira de negócios agropecuários. Gestão & Produção, v. 25, n. 3, p. 626-644, 2018.

[9] BENCHIMOL, S. Amazônia – Formação Social e Cultural. 3ª ed. Manaus: Editora Valer, 2009.

[10] CARNEIRO, A. P. Memórias da cidade de Maués. Maués: ed./ Sec, 2013.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

137

[11] COMPRERURAL. As cultivares de guaranazeiros desenvolvidos pela Embrapa têm potencial para aumentar em mais de dez vezes a produtividade da cultura. Disponível em: https://www.comprerural.com/melhoramento-genetico-aumenta-em-ate-7-vezes-produtividade-do-guarana/2017/. Acessado em, 20. 10.2019.

[12] COSTA, L. F. Cultivadores de guaraná: um estudo do processo de monopolização do território pelo capital no município de Maués-AM. Dissertação de Mestrado em Economia em Geografia, Universidade Federal do Amazonas, 2017.

[13] EMBRAPA. Relatório de Avaliação de Impacto das Tecnologias Geradas pela Embrapa. Nome da tecnologia: Boas Práticas de Cultivo do Guaranazeiro (Paulínia cupana var. sorbilis) Ano de avaliação da tecnologia: 2014 Unidade: Embrapa Amazônia Ocidental Equipe de Avaliação: ARAÚJO, I.L.; PINHEIRO, J.O.C.; SILVA, L. J. S.

[14] ______ Portfólio de Cultivares de Guaranazeiro. Embrapa Amazônia Ocidental, 2011.

[15] ______ BRS Noçoquem: Primeira cultivar de guaranazeiro de reprodução via semente para cultivo no estado do Amazonas. Comunicado Técnico, 114. Infoteca. Autores: ATROCH, A.L.; NASCIMENTO FILHO, F.J.; PEREIRA, J. C. R. Embrapa Amazônia Ocidental, 2015.

[16] ______ Projeto: Expansão da Guaranaicultura – Criação do Circuito Metropolitano de Cultura de Guaraná – Metodologia Participativa de Transferência de Tecnologia como Alternativa de Emprego e Renda para Promoção do Desenvolvimento Local. Autores: MERIGUETE, I. L.A. V.; NASCIMENTO FILHO, F.J.; REIS, R. G.; PEREIRA, M. C. N. Embrapa Amazônia Ocidental (2016). Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-projetos/-/projeto/211395/expansao-da-guaranaicultura--criacao-do-circuito-metropolitano-de-cultura-de-guarana--metodologia-participativa-de-transferencia-de-tecnologia-como-alternativa-de-emprego-e-renda-para-promocao-do-desenvolvimento-local). Acessado em: 11.05.2020.

[17] FIGUEROA, A. L. G. Guaraná, a máquina do tempo dos Sateré-Mawé. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 11, n. 1, p. 55-85, 2016.

[18] FAGUNDES; M. H. Guaraná: Análise Mensal. CONAB, Outubro, 2019. Disponível em: www.conab.gov.br › info-agro › item › download. Acessado em: 11.05.2020.

[19] FREITAS, D. V. Caracterização genômica e molecular do guaranazeiro (Paullinia cupana var. sorbilis). Manaus, UFAM, 2009.

[20] FREITAS, D. V. ; CARVALHO, C. R. ; NASCIMENTO-FILHO, F. J. ; ASTOLFI-FILHO, S. . Karyotype with 210 chromosomes in guaraná (Paulinia cupana var. sorbilis). Journal of Plant Research, v. 120, p. 1618-0860, 2007.

[21] HOMMA, A. K. O. Extrativismo vegetal na Amazônia: história, ecologia, economia e domesticação. Embrapa: Brasilia-DF, 2014.

[22] IBGE. Dados de fruticultura. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/ Acesso em: 28.12.2019.

[23] LORENZ, S. S. Sateré Mawé: os filhos do guaraná. São Paulo: Centro de trabalho indigenista, 1992.

[24] MARQUES, L. L. M. et al. Paullinia cupana: a multipurpose plant – a review. Brazilian Journal of Farmacognosy, Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 29, p. 77–110, 2019.

[25] MONTEIRO, M. Y. Antropogeografia. Cadernos da Amazônia: conselho nacional de pesquisa. Manaus, 1965.

[26] PAIVA, O. M. O. A história de Maués: um caminho através do tempo, da sua fundação aos nossos dias. Maués: ed/sec, 2010.

[27] PEREIRA, Nunes. Os índios Maués. 2º ed. Manaus: editora Valer e Governo do Estado do Amazonas, 2003.

[28] UGGÊ, H. As bonitas histórias dos Sateré-Mawé. Imprensa oficial do Estado do Amazonas, Manaus, 1991.

[29] VASCONCELOS, A. S. Cadeia produtiva do guaraná do Amazonas. 80 p. (monografia de conclusão de graduação em ciências econômicas pela Universidade Federal do Amazonas). Manaus, UFAM, 2004.

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ANEXO

O fruto

Fotos: Autores

Beneficiamento de forma tradicional.

Processo de torragem

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Capítulo 17

Comercialização e destino de frutas e hortaliças após as feiras agroecológicas de Municipios Paraibanos

Jordânia Araújo

Jairo Janailton Alves dos Santos

Flávio Gomes Fernandes

Vanessa da Costa Santos

Raunira da Costa Araújo

Resumo: As feiras livres são espaços de comercialização e interações culturais onde são

preservados a cultura popular e alimentar de um povo. Nos últimos anos, a busca por

uma vida mais saudável fez surgir um novo espaço, o das feiras agroecológicas que tem

sido o principal meio de comercialização dos produtos da Agricultura Familiar. Diante

desse contexto, o objetivo do trabalho foi verificar quais os principais produtos

comercializados e ver qual destino dado aos remanescentes das feiras agroecológicas

dos municípios de Bananeiras, Esperança e Remígio, localizados no Estado da Paraíba. A

pesquisa foi realizada utilizando-se questionários pré-elaborados, sistemáticos e

sequencialmente dispostos em itens que constituem o tema da pesquisa, sendo estes

aplicados com os feirantes/agricultores, sendo: cinco em Bananeiras, oito em Esperança

e sete em Remígio. De acordo com os resultados obtidos, Remígio foi o município que

apresentou menores quantidades de frutas e hortaliças em relação as outras duas

cidades. As principais hortaliças comercializadas em todos os municípios foram: coentro,

couve, tomate, alface, repolho, mandioca, pimenta e cebolinha. As principais frutas

foram: banana, laranja, acerola, manga e mamão. Com relação ao destino das frutas e

hortaliças remanescentes das feiras, em todas as cidades pesquisadas, os feirantes

davam um destino adequado aos produtos, tanto eram aproveitadas pra o próprio

consumo quanto para alimentação animal. Sendo assim, não existe desperdício dos

produtos comercializados nas feiras agroecológicas pesquisadas.

Palavras-chave: Agroecologia; Ração animal; Paraíba.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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1. INTRODUÇÃO

A feira agroecológica é um instrumento socioeconômico de inclusão dos produtores rurais, permitindo que os mesmos possam estabelecer uma relação direta de comercialização com o consumidor, sem a necessidade de intermediários, dando assim a oportunidade de este agregar valor a seu produto, sejam frutos ou hortaliças, como princípio a preservação ambiental e o desenvolvimento local sustentável, estabelecendo novas relações entre o campo e a cidade (NEUTZLING et al., 2009).

Frutas e hortaliças orgânicas comercializadas, sejam embaladas ou minimamente processadas, tem conquistado a aceitabilidade por parte dos consumidores desses alimentos, por serem uma alternativa sustentável e de qualidade ao apresentarem características marcantes de frescor. A comercialização em feiras agroecológicas se dá através de locais e dias fixos, onde os alimentos dos produtores são expostos e vendidos para os consumidores predominantes da região (SILVA et al., 2012).

Neste contexto, é primordial a necessidade de analisar quais os principais produtos comercializados em feiras agroecológicas, levando em consideração as tendências mercadológicas na busca por produtos de melhor qualidade, dos municípios do estado da Paraíba, Bananeiras, Remígio e Esperança, onde existe a predominância deste tipo de feiras que comercializam variedades de frutas e hortaliças voltadas aos métodos naturais de cultivo orgânico, o que proporciona mais segurança no momento da compra.

Entretanto, vale destacar a necessidade de identificar quais as alternativas que os produtores buscam para evitar o desperdício desses produtos, seja para o consumo humano ou para alimentação animal. No entanto, esta temática no campo da agroecologia, é considerada como um modo de produção pautado em uma série de ações que propiciam uma produção sustentável e ambientalmente correta, atrelada ainda a questões de ordem social, como a permanência das famílias no campo e a valorização dos saberes locais (SANTOS et al., 2014).

Desta forma, devido à carência de estudos sobre o comércio de produtos orgânicos em feiras agroecológicas do estado da Paraíba, objetivou-se analisar quais os principais produtos comercializados (frutas e hortaliças) em feiras agroecológicas dos municípios de Bananeiras, Esperança e Remígio, além de identificar informações dos principais destinos dados aos produtos orgânicos, que contribuam para atenuar perdas.

2. METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado em feiras livres agroecológicas que ocorrem em três municípios do estado Paraíba (Figura 1), sendo eles: Bananeiras, Esperança e Remígio. As atividades para todos os municípios citados foram realizadas durante o período da manhã. Nos municípios de Remígio e Esperança, as feiras acontecem às sextas-feiras, e em Bananeiras, são realizadas às quartas-feiras.

Figura 1: Localização do Estado da Paraíba no mapa do Brasil.

Fonte: IBGE (2012)

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A pesquisa foi realizada durante o mês de julho de 2016, utilizando-se questionários elaborados de acordo com Verdejo (2006). Os questionários foram aplicados aos vinte produtores dos municípios que produziam e comercializavam em feiras agroecológicas, cinco em Bananeiras, oito em Esperança e sete em Remígio. Das perguntas contidas no questionário foram selecionadas para este trabalho perguntas referentes aos principais produtos comercializados e ao destino dado após as feiras, Quadro 1.

Quadro1. Questionário aplicado aos feirantes das feiras agroecológicas Nome do produtor: Data:

Localização da feira agroecológica

Questionário

Qual mão de obra utilizada para cultivo dos produtos comercializados, familiar ou diarista?

Qual tipo de adubo orgânico utilizado? Caprino, bovino ou adubação verde? Outros?

É realizado algum controle de pragas?

Os produtores recebem assistência técnica?

O produtor comercializa frutas? Quais frutas?

O produtor comercializa hortaliças? Quais hortaliças?

Qual o destino dado aos remanescentes? Próprio consumo ou alimentação animal? Outros?

Foi utilizado um delineamento composto central rotacional (DCCR) para análise dos dados obtidos e elaboração dos gráficos de superfície de resposta, através do software ESTATÌSTICA versão 10. A escala apresentada de ambos os gráficos está codificada da seguinte forma: (-1) Bananeiras (0) Remígio (+1) Esperança. As duas variáveis analisadas foram frutas e hortaliças em função da comercialização e destino (%), (Figura 2) e (Figura 3) respectivamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As feiras agroecológicas são ambientes de comercialização realizada semanalmente, às sextas-feiras nas cidades de Esperança e Remígio, e às quartas-feiras na cidade de Bananeiras, organizada pelo sindicato dos trabalhadores rurais e agricultores das cidades. Os produtores, afirmaram que a mão de obra utilizada para o cultivo e comercialização era familiar, além disso, não recebiam assistência técnica. Ao questionar qual tipo de adubação utilizada no plantio, os produtores de todos os municípios responderam que aplicavam adubo bovino e que não era realizado nenhum tipo de controle de pragas.

Todavia, por serem produtos que durante as práticas agrícolas não utiliza-se de produtos químicos, é possível encontrar uma diversidade de frutas e hortaliças, onde é bastante procurada pelos consumidores por apresentarem alimentos frescos e de boa qualidade. Durante as visitas as feiras livres de Bananeiras, Esperança e Remígio foi realizado uma pesquisa sobre os produtos ofertados para comercialização. Santos et al. (2015) em pesquisa feita identificaram como principais produtos comercializado nas feiras: frutas, legumes e verduras. Os autores ainda relatam que estes produtos requerem alguns cuidados especiais para sua comercialização, pois alguns, como as frutas podem ser comercializados à temperatura ambiente, as principais frutas comercializadas foram: banana, laranja, acerola, manga e mamão. No entanto, alguns necessitam de refrigeração para melhor conservação, condição essa quase sempre inexistentes na maioria das feiras livres.

De acordo com a pesquisa, os principais produtos comercializados na cidade de Bananeiras são as hortaliças: coentro, couve, tomate, alface, repolho, mandioca, pimenta e cebolinha, sendo comercializadas em todas as barracas (Figura 2). Por conta do déficit hídrico no município, houve uma diminuição da produção de hortaliças pelos agricultores que também são os responsáveis por fazer esta comercialização na feira. Assim como em Bananeiras, a feira de Esperança apresenta em 100% das suas barracas a comercialização de hortaliças, por ter uma menor necessidade de irrigação do que as frutas, já que elas requerem uma maior quantidade de água.

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Figura 2. Comercialização (%) de frutas e hortaliças das feiras agroecológicas das cidades de: (-1) Bananeiras (0) Remígio (+1) Esperança.

O motivo não é só a exigência hídrica, que na verdade elas são exigentes também, é ciclo curto, frequência de produção e retorno financeiro rápido. No entanto, a feira não deixa de ofertar uma diversidade de frutas para os consumidores da cidade. Pode-se observar que se obteve nesta feira um maior percentual de barracas comercializando frutas quando comparado as demais. Isto é reflexo de a mesma apresentar proximidade a um manancial hídrico, possibilitando a utilização de irrigação no salvamento das culturas, propiciando assim, uma maior variedade na produção de hortifrutis.

Em Remígio, encontrou-se percentuais menores na produção tanto de frutas quanto de hortaliças do que nas outras duas cidades pesquisadas. Algumas barracas comercializavam apenas um dos tipos de produtos diferentemente das outras duas feiras. Contudo a comercialização de hortaliças foi superior à de frutas na cidade. Não muito diferente da pesquisa realizada por Oliveira et al. (2013), no município de Lagoa Seca, onde os principais produtos comercializados na feira foram as hortaliças.

Para garantir esta comercialização direta dos produtos, a qualidade sensorial do alimento é atribuída à ausência de produtos químicos, porém, cada pessoa associa qualidade a um atributo específico, como por exemplo, aparência, sabor, entre outros (VALENT et al., 2014).

Para garantir uma melhor aparência dos produtos, os que apresentam variação em relação a este parâmetro, são descartados pelos feirantes. Após as feiras, os produtos excedentes e os que apresentaram variação dos atributos visuais seguem caminhos semelhantes em ambas as feiras. Os produtos que apresentam boa aparência após a feira agroecológica de Esperança seguem para doação, consumo familiar ou, em alguns casos, são destinados a feira convencional que é realizada no dia posterior a feira agroecológica (Figura 3). O pouco de material que é descartado por não apresentar uma boa qualidade visual, é destinado a arroçoamento animal (procedimento comum em todas as cidades estudadas).

Na cidade de Remígio, o principal destino do excedente foi para alimentação humana a partir de troca com outros feirantes ou realizada a doação para a Casa do Idoso da cidade (100% dos feirantes). Assim como em Esperança, os materiais que não apresentavam características que podessem ser consumidos foram destinados para arraçoamento dos animais. A feira de Bananeiras por ser menor apresentava apenas dois destinos para as sobras da comercialização, sendo utilizados pela grande maioria para o consumo familiar dos produtores ou até fornecidos a algum dos vizinhos (80%). Já o restante das frutas e hortaliças murchas ou com algumas folhas secas eram destinadas a alimentação animal (20%).

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Figura 3: Destino (%) dos produtos excedentes das feiras agroecológicas das cidades de: (-1) Bananeiras (0) Remígio (+1) Esperança.

Em pesquisa realizada por Araújo e Ribeiro (2017), analisando o destino de excedentes produtivos em feiras livres de Jequitinhonha – MG, destacam que os feirantes de frutas, hortaliças e verduras costumam retornar com os produtos que sobram para sua residência (29%) ou doar a hospitais, escolas, entre outros (27%), ou alimentar seus animais (27%), obtendo assim, características de destino semelhantes as ocorridas na região pesquisada neste artigo. Observa-se que as feiras agroecológicas apresentam como característica a busca por um melhor destino aos produtos comercializados, buscando-se sempre evitar o desperdício de alimentos.

4. CONCLUSÕES

Os municípios de Bananeiras e Esperança, obtiveram um resultado de 100% de comercialização de hortaliças, Remígio obteve 87%. Os feirantes sempre reaproveitam os produtos tanto para o próprio consumo quanto para a alimentação animal. Sendo assim, não existe desperdício dos produtos comercializados nas feiras agroecológicas pesquisadas.

As feiras agroecológicas dos municípios de Bananeiras e Esperança não apresentam uma diversidade de produtos sendo as hortaliças 100% dos produtos comercializados.

Os excedentes das feiras agroecológicas dos municípios estudados são destinados a diferentes espaços de recebimento, destacando-se instituições filantrópicas, consumo próprio, troca com outros agricultores, venda em outros espaços e alimentação animal, não havendo portanto desperdício.

REFERÊNCIAS

[1] ARAUJO, Alexandro Moura; RIBEIRO, Eduardo Magalhães. Feiras do vale: o destino de excedentes produtivos em feiras livres do Jequitinhonha, Minas Gerais. Revista de Administração de Roraima-UFRR, Boa Vista, v. 7, n. 2, p. 221-244, jul./dez. 2017. em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/28827919/os-desperdicios-por

[2] NEUTZLING; D. M; CALLADO, A. L. C; GAMARRA, J. E. T; et al. CONSUMIDOR DE ALIMENTOS ORGÂNICOS: UM ESTUDO NA FEIRA DOS AGRICULTORES ECOLOGISTAS (FAE) DE PORTO ALEGRE. 48º Congresso SOBER- Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural; Campo Grande - MS, 2009.

[3] OLIVEIRA, V. C; COSTA, R. V. S; SANTOS, L. A; SANTOS, S. A. Comercialização de produtos agroecológicos: Relato de experiência da feira agroecológica da cidade de lagoa Seca, PB. Cadernos de Agroecologia- 2013.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

144

[4] SANTOS, C. F.; SIQUEIRA, E. S.; ARAÚJO, I. T.; MAIA, Z. M. G. A agroecologia como perspectiva de sustentabilidade na agricultura familiar. Ambiente & Sociedade, v. XVII, n. 2, p. 33-52, 2014.

[5] SANTOS, V. DA C.; SILVA, R. DOS S.; SANTOS, J. J. A. DOS; et al. Feiras livres: origem e beneficiamento dos produtos vegetais comercializados. I Encontro de Extensão, Pesquisa e Inovação em Agroecologia. IFPB, Picuí – PB. 15 a 18 de dezembro de 2015. Anais... 2015.

[6] SILVA, R. A. R. SILVA SOBRINHO, R. D. SANTOS, R. J. C. et al. DESENVOLVIMENTO DE AÇŐES PARA A MELHORIA DA FEIRA LIVRE DO MUNICÍPIO DE AREIA. 8° seminário de pesquisa e extensão, Centro de Ciências Agrárias UFPB. 2006. Disponível em: :<http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/extensao/documentos/anais/8.TRABALHO/8CCADCFSPEX01.pdf.> Acesso em agosto de 2016.

[7] SILVA, A. G.; SILVA, V. A. F.; SILVA, M. L.; MACHADO, A. L. Avaliação da condição higiênico-sanitária na comercialização de frutas e hortaliças em feiras livres do município de Luís Gomes/RN – Brasil. In: VII Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2012, Palmas. Anais do VII Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação. Palmas, 2012.

[8] SPERS, E E. Qualidade e Segurança em Alimentos. In: In: ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. (Org.). Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000, p. 283-321. tras-do-alimento-que-vai-para-o-lixo. Acesso em: 16 maio. 2020.

[9] VERDEJO, M. E. Diagnóstico rural participativo: guia prático DRP. Brasília: MDA / Secretaria da Agricultura Familiar, 2006.

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Capítulo 18

Análise sobre a agricultura familiar na comunidade de Carará Mirim/Ma

Maria Suely Quadros de Sousa

Ilka South de Lima Cantanhêde

Olga Oliveira dos Anjos

Adelana Maria Freitas Santos

Luciano Cavalcante Muniz

Natannael Castro Vilhena

Resumo: Caracterizar os principais sistemas de cultivos de uma determinada

comunidade é importante para que se possa entender e aprofundar-se da dinâmica do

desenvolvimento do sistema de produção dos agricultores. A presente pesquisa

objetivou caracterizar os sistemas de produção vegetal e animal dos agricultores

familiares da Comunidade Carará Mirim, Município Cândido Mendes/MA e contribuições

da agroecologia. No primeiro momento foi feito uma revisão bibliográfica e visitas locais

a comunidade. Na segunda fase, a pesquisa de campo foi realizada a partir da coleta de

dados através de questionários semi-estruturados direcionados aos agricultores,

alcançando um universo de 41 sujeitos pesquisados. O nível de adoção de manejo

agroecológico pelos agricultores em Carará Mirim é muito baixo. Características pessoais

e culturais dos agricultores e falta de políticas públicas e assistência técnica são fatores

ligados a essa baixa adesão. O incremento na diversificação integrada de sistemas

produtivos de alimentos, melhorando os sistemas existentes e o implemento de outras

estratégias que possam melhorar as condições do modo de vida das famílias da

comunidade tem muito a contribuir para o aumento da produção e da produtividade

sem prejudicar o meio ambiente.

Palavras-chave: sistemas de produção; biodiversidade; agroecologia.

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1. INTRODUÇÃO

Sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo associadas a uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação lógica e ordenada de um conjunto de atividades e operações. No caso da produção animal, esse processo é chamado de sistema de criação (Hirakuri et al. 2012).

A produção de culturas alimentares no estado do Maranhão é feita predominantemente pela Agricultura Familiar em um sistema de derruba, broca, queima e plantio, conhecido como sistema de “roça-em-toco itinerante”, no qual são cultivadas culturas de milho (Zea mays), mandioca (Manihot esculenta), arroz (Oryza sativa), feijão (Phaseolos vulgaris) e algumas hortaliças, sendo todas consorciadas sem nenhuma orientação de espaçamento e os tratos culturais são realizados de acordo com a disponibilidade de mão-de-obra das famílias. Este sistema de produção tem basicamente a mão-de-obra familiar como força de trabalho empregado no ciclo de produção.

Em grande parte estes fatores são entraves no desenvolvimento da agricultura familiar, embora com algumas politicas voltadas para atender as necessidades básicas do setor com alguns programas como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e também programas estaduais de assistência técnica, que se constitui em um imenso desafio a vencer. Mas a agricultura familiar também deve quebrar os obstáculos adaptando e organizando seu sistema de produção a partir das tecnologias disponíveis, melhorar a capacidade organizacional do setor, buscar novos nichos de mercado, agregar valor à produção e assim, conquistar o desenvolvimento sustentável da categoria.

Quando se trata da agricultura familiar do Maranhão o cenário ainda é preocupante porque o modo de exploração da terra por partes dos pequenos agricultores, da região maranhense, reflete nos desafios de baixa e arcaica tecnologia. Tecnologia essa utilizada na maioria das vezes, porém, são inacessíveis para este grupo de agricultores, a grande maioria dos municípios maranhenses não foge desse contexto, visto que faltam políticas públicas acessíveis a essa parcela da população, para a qual o acesso a crédito e assistência técnica é bastante precarizado.

Objetivou-se neste trabalhho conhecer os principais sistemas de cultivos na comunidade para a formulação de políticas descentralizadas de assistência técnica e extensão rural e adoção da agroecologia.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para o levantamento dos dados foi realizado, a priori, um levantamento bibliográfico, documental e consulta a sites na internet que abordavam o objeto de estudo da referida pesquisa. Após o levantamento bibliográfico foi realizado o primeiro contato com os agricultores residentes (82 famílias) na comunidade Carará Mirim, município de Cândido Mendes/MA. Este serviu para que os agricultores fossem informados do objetivo da pesquisa e assim permitissem a sua participação no trabalho a ser realizado.

Na pesquisa de campo foram realizadas diversos contatos com à comunidade de Carará-Mirim, através de visita local e entrevistas, que contemplassem aspectos de interesse do estudo através da aplicação de um questionário. A entrevista foi o principal recurso utilizado no campo para evidenciar a realidade empírica.

O trabalho de campo no município para a coleta de dados foi realizada visando aprofundar o conhecimento sobre a organização da produção agrícola familiar, conhecer o funcionamento das cooperativas e de associações (coletar informações secundárias) e estabelecer os primeiros contatos. Outros momentos foram marcados pela realização de entrevistas e aplicação do questionário que juntamente com a observação e análise da organização da produção (visitas às unidades produtivas, às cooperativas e associações), permitiram a obtenção das informações necessárias ao desenvolvimento da pesquisa.

A aplicação dos questionários - baseados em roteiros semiestruturados - foram realizados com 41 agricultores (50% das famílias que residem na comunidade) e que de alguma forma tem vínculo direto com a agricultura e pecuária no município. Para a coleta de dados do questionário foram abordados os seguintes aspectos: a) sistemas de uso da terra, produção animal e vegetal (sistemas praticados no lote; dados de manejo dos sistemas; uso de agrotóxicos e comercialização) e; b) sobre o cultivo agroecológico e técnicas de agricultura de base ecológica e suas contribuições para a realidade da comunidade.

Os dados obtidos neste estudo foram transportados para o programa Microsoft Excel 2000. Foram organizados em gráficos e tabelas, a partir dos quais foram analisados e discutidos, de acordo com o objetivo deste estudo.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a pesquisa, a produção de alimentos na comunidade, historicamente teve e ainda hoje permanece como maior fonte de renda, de segurança alimentar e nutricional das famílias. Tendo a produção agrícola como carro chefe de sobrevivência dessas famílias. Dos entrevistados 95% trabalham no plantio da mandioca (Manihot esculenta), 93% no milho (Zea mays), 49% feijão (Vigna unguiculata), 12% no cultivo da banana (Musa spp.), açaí (Euterpe oleracea) e arroz (Oryza sativa). Na pecuária, os agricultores de Carará Mirim tem a criação de aves, como carro chefe, chegando a um percentual de 63% dos entrevistados, a criação de bovinos aparece na segunda posição alcançando 32%, já suínos ficam com a terceira posição chegando a 15%.

As hortaliças são cultivadas em pequenas áreas, serve para o consumo da família, mas o maior objetivo dos agricultores é a comercialização, a venda é feita tanto em casa como no mercado e feiras do municipio, é inexistente qualquer tipo de estrutura de classe no sentido de composição de categoria produtora, como o volume de comercialização é pequeno sempre é vendido à vista, o preço depende do equilíbrio de mercado, ou seja, da oferta e da demanda, os produtos são acondicionados em sacolas plásticas.

Por outro lado, o extrativismo do açaí (Euterpe oleracea) é muito importante. Na época da safra (nos meses de setembro a janeiro) a comercialização do fruto ou mesmo do vinho, complementam a renda além de fazer parte da alimentação da sua população diariamente. Os agricultores estão começando a despertar para o cultivo do açaí em terra firme irrigado, durante a pesquisa pode-se constatar alguns desses agricultores com pequena plantação.

Quanto à criação de animais de pequeno e grande porte os agricultores da comunidade são considerados pequenos criadores. Apesar da criação de bovinos aparecer em segundo lugar é o que tem maior importância econômica para os pesquisados.Para a maioria dos envolvidos na pesquisa a criação dos animais de grande porte é realizada no sistema extensivo, onde os rebanhos são criados soltos, pastando em campos naturais, desprovidos de cuidados técnicos, apresentando baixa produtividade, mas há aqueles criadores que tem a chamada “solta” como é denominado as pastagens cultivadas e cercadas. Mesmo com as soltas esses agricultores tem grande dificuldades em manter esses animais na época da seca, pela considerável diminuição na qualidade da pastagem, eles não fazem nenhum tipo de manejo no pasto.

Outro espaço de cultivo e cria observado, na comunidade em sua totalidade foram os agroquintais, esses espaços possuem expressiva diversidade de espécies, que é utilizada para a complementação da dieta familiar, eles cultivam e criam em pequena escala espécies vegetais alimentares, medicinais, ornamentais e pequenos animais como galinha, pato, suíno entre outros. O papel dos quintais é fundamental para entender a relevância desse sistema como prática que garante a sustentabilidade agrícola, econômica e social das famílias dos agricultores, inclusive quando se trata de complementação de renda e da segurança alimentar por fornecer importantes fontes de nutrientes para ingestão diária do núcleo familiar.

Quando questionados sobre as técnicas utilizadas para conservação do solo no preparo da área e no plantio, de agrotóxicos, biodefensivos, entre outros, eles mostraram para alguns itens total desconhecimento. Porém o que ficou evidenciado é que os agricultores da comunidade, fazem uso do fogo e da capina manual para a limpeza da área, o plantio é manual, e no caso da roça o plantio é logo após o ‘coivaramento’; e não é usado nenhum tipo de adubo quimico, apenas adubação organica feita pelos agricultores, e o plantio é realizado no periodo chuvoso.

Para os agricultores familiares da comunidade de Carará Mirim o cultivo agroecológico ainda se constitui como um grande desafio. Segundo Santos et al. (2014), a agroecologia é um caminho que concilia a agricultura familiar e a sustentabilidade para o espaço rural. Contudo, é necessário reconhecer os desafios da transição de um modelo para outro, que envolve a dimensão econômica, tecnológica, social e cultural. Isso foi constatado na comunidade no decorrer da pesquisa, quando foi perguntado aos agricultores: você sabe o que é cultivo/plantio agroecológico ou orgânico? 32 agricultores (78,05%) responderam que não, apenas 9 (21,95%) disseram que sabiam, mas quando se perguntou como tomou conhecimento das práticas agroecológicas? 100% dos que responderam que sabiam, mencionaram que foi através da mídia (televisão).

Outra importante informação é que todos nunca ouviram falar do “selo para alimentos orgânicos” muito menos do “selo para os produtos vindos da agricultura familiar” que é fornecido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA. Nesse contexto o que se observa é a falta de informações, seja ela por parte do agricultor e/ou pela ausência do setor público com ações de assistência técnica, promoção de dia de campo para orientar os agricultores sobre os diversos tipos de cultivo.

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Durante a pesquisa foi observado que o único órgão de assistencia técnica e capacitação presente foi o SENAR realizando cursos na área de tecnologia de aproveitamento de produtos derivados de mandioca e técnicas de cultivo de olerícolas.

A falta de conhecimento sobre práticas agroecológicas não é exclusividade dos agricultores familiares da comunidade Carará Mirim, isto demonstra o quanto é necessário o avanço na adoção de ferramentas participativas, que possam ser construídos e adotados os conhecimentos agroecológicos e de agriculturas de base ecológicas.

4. CONCLUSÃO

O estudo realizado demonstra que a comunidade Carará Mirim do Município de Cândido Mendes é composta por agricultores familiares e que as formas de produção vegetal e animal são realizadas de forma tradicional, sem nenhum tipo de orientação e intervenção tecnológica e isso tem provocado um declínio progressivo na produção de alimentos.

A Agroecologia desponta como estratégia que possibilita intervenções técnicas que possam contribuir na melhoria dos sistemas produtivos das famílias da comunidade estudada

REFERÊNCIAS

[1] HIRAKURI, M. H. et al. Sistemas de produção: conceitos e definições no contexto agrícola. – Londrina: Embrapa Soja, 2012. 24 p.

[2] SANTOS, C.F.; SIQUEIRA, E. S.; DE ARAÚJO, I. T.; MAIA. Z. M. G. A Agroecologia Como Perspectiva de Sustentabilidade na Agricultura Familiar. Revista Ambiente & Sociedade. São Paulo v. XVII, n. 2 n p. 33-52, abr.-jun. 2014.

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Capítulo 19

Impactos sociais e ambientais do cultivo de dendezeiro no estado do Pará

Markus Wybero Nunes Brito

Mateus Higo Daves Alves

Matheus Henrique Resueno dos Santos

Ruy Geovane Monteiro de Souza

Dioclea Almeida Seabra Silva

Resumo: Este artigo tem por objetivo colocar em pauta, através de levantamento

bibliográfico, os principais problemas socioambientais ocasionados com o

estabelecimento de grandes áreas ocupadas pelo cultivo de dendezeiro nos municípios

do estado do Pará. Do ponto de vista Agronômico, as vantagens econômicas e produtivas

do dendê (Elaeis guineensis) comparadas as outras palmas e oleaginosas, são

indiscutíveis, no entanto, as grandes extensões de terras necessárias para sua

implantação bem como a quantidade elevada de maquinários e insumos químicos vem

ocasionando constantes impactos sociais e ambientais para ribeirinhos, quilombolas,

indígenas e agricultores familiares próximos a esta monocultura, ocasionando

mudanças nos aspectos territoriais, sociais e na qualidade de vida dos mesmos. As

empresas de palma absorvem grande quantidade de mão de obra local, além de realizar

programas de incentivo de implantação da cultura na agricultura familiar, o que reduz a

pluralidade de culturas de subsistência e culturais implantadas e comercializadas na

região. Com base na pesquisa realizada, pode-se afirmar que mesmo tendo um potencial

econômico indiscutível, alavancando o PIB do estado no segmento agrícola e gerando

emprego e renda a diversas famílias e trabalhadores rurais (Rural Palmar), a

dendeicultura ainda pouco demonstra ser social e ambientalmente sustentável, ademais

neste momento a qual tanto se prega a sustentabilidade, tendo em vista o quanto de

impactos ambientais se observa no uso indiscriminado de agrotóxicos na cultura,

que por consequência vem causando danos aos recursos hídricos, inviabilizando o uso

da água pela comunidade local, ocasionado diversos problemas respiratórios e

dermatológicos, além de reduzir a biodiversidade na região.

Palavras-chave: dendê, impacto socioambiental, famílias rurais.

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1. INTRODUÇÃO

O dendezeiro (Elaeis guineenses), é uma espécie de palmeira bastante cultivada no Brasil, esta teve como centro de origem o continente africano e o destaque dar-se devido a elevada produção de óleo até mesmo em pequenas unidades de área. No Brasil, dentre os óleos vegetais empregados na produção de biodiesel, o dendê se destaca aos demais, sendo uma opção ao diesel de petróleo e contribuindo para a geração de um mercado para a produção em grande escala de biodiesel (BRAZILIO et al. 2012).

De acordo com Veiga et al (2009), no Pará, a ascensão do dendê teve início por volta de 1967 apoiado pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), que neste período, iniciou o projeto com a implantação de 1.500h de dendê estabelecidos no município de Benevides, Nordeste do Pará, pelo convênio firmado com o Institut de Recherches pour les Huiles et Oléagineux (IRHO – França), posteriormente houve privatização do projeto, dando origem à empresa pioneira do setor, Dendê do Pará S.A. – DENPASA.

Em 1980 conforme Santo, Valois e Neto (1984), foi criado o programa Nacional de Pesquisa de Dendê - PNP Dendê da EMBRAPA, com o objetivo de dar suporte tecnológico ao desenvolvimento da cultura do dendezeiro no Brasil, a qual atuava sob a coordenação do Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira e Dendê.

Em 1982, no município de Tailândia, no estado do Pará se estabelece a empresa de palma denominada Companhia Real Agroindustrial S.A (CRAI), que posteriormente se tornaria AGROPALMA S/A, que até outubro de 2018 possuía 39 mil hectares de palmeiras já plantadas (AGROPALMA, 2018).

Entre os anos de 2003 e 2004, a dendeicultura se expande significativamente e consigo, cresce a produção de óleo principalmente para a produção de biocombustível. Com isso, muitas outras empresas viram uma oportunidade econômica mais que viável neste segmento agrícola levando assim, os surgimentos de diversas outras empresas como a BIOPALMA S/A que atualmente possui quatro polos de produção na região do vale do Acará e baixo Tocantins no Pará. com cerca de 56 mil hectares de palma de óleo plantadas em terras próprias, e 6,8 mil hectares em parceria com Agricultura Familiar (BIOPALMA, 2019).

Além das empresas aqui citadas, diversas outras empresas de mesma importância se situam no Pará (Figura 1), onde de acordo com Nahum e Santos (2013), às políticas estatais associadas aos interesses empresariais criam condições e possibilidades para formar territórios-rede do dendê, os quais se distribuem predominantemente pela macrorregião do nordeste paraense, singularizando-se pela descontinuidade, configurando-se como territórios-rede (HAESBAERT, 2004).

Müller (2005), mostra em seus estudos que atualmente distinguem-se dois grandes pólos de desenvolvimento da dendeicultura no Estado do Pará. O primeiro deles abrange os seguintes dos municípios de Tailândia, Mojú e Acará, situados ao sul de Belém, o segundo, corresponde aos Municípios de Benevides, Santa Izabel do Pará, Santo Antônio do Tauá, Castanhal, Igarapé-Açu, localizados à nordeste da capital paraense.

Um dos principais fatores para o Nordeste Paraense estar associado a cultura do dendê é o clima da região, fazendo com que a cultura se desenvolva em pleno vigor, visto que a região se caracteriza por dois períodos sazonais distintos: chuvoso e menos chuvoso. O período chuvoso apresenta índices pluviométricos suficientes para favorecer o crescimento acelerado na implantação de novas áreas de cultivo de dendê.

Baseado neste contexto, este trabalho tem como objetivo explanar sobre os impactos socioambientais da dendeicultura no estado do Pará, em especial, aos agricultores familiares, a partir de revisão de literatura de autores, que estudam a cultura do dendê na região.

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Figura 1 - Empresas de dendeicultura no estado do Pará até o ano de 2015.

Fonte: Nahum e Santos, 2016

2. IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA CULTURA DO DENDÊ

A seguir serão expostos alguns impactos socioambientais da dendeicultura. Ressalta-se que há tanto impactos positivos como negativos, conforme serão descritos.

De acordo com Brito (s/d), não há atividade econômica no mundo que realizada pelo ser humano não cause algum tipo de impacto sócio-ambiental, entretanto, a cultura da palma consiste em uma das mais criticadas no mundo.

De acordo com Brasilio et al. (2012), no Brasil, dentre os óleos vegetais empregados na produção de biodiesel, o dendê se destaca aos demais, sendo uma opção ao diesel de petróleo e contribuindo para a geração de um mercado para a produção em grande escala de biodiesel. Da mesma forma, Brito (s/d), afirma que por suas características, a cultura da palma apresenta excelente desempenho como atividade âncora em programas de interiorização e fixação do homem ao campo, nos projetos de colonização, e reforma agrária, cooperativas e outros modelos de assentamento rural.

Segundo Nahum e Malcher (2010) os pensamentos apontados pelo Zoneamento Agroecológico do Dendezeiro referentes às zonas Desmatadas da Amazônia Legal, elaborado pela Embrapa, Centro Nacional de Pesquisas de Solos e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento corroboram o crescimento acelerado da dendeicultura. Este trabalho possibilitou a identificação das áreas mais propícias à expansão sustentável do cultivo de dendê. “O somatório das áreas identificadas corresponde a 31,8 milhões de hectares” (VENTURIERI, 2011, p. 16).

Segundo Pandolfo (1978), o custo agrícola de grandes plantações, envolvendo os recursos necessários para implantação e manutenção, até o início da produção, é de US$ 2,800.00 por hectare.Além de ocupar uma posição de destaque na produção de matéria-prima para a geração de energia renovável de origem agrícola somando-se a matriz energética brasileira e como alternativa aos combustíveis fósseis, o país

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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dispõe de extensas áreas agricultáveis que podem ser incorporadas ao processo produtivo de maneira sustentável (BRAZILIO et al. 2012). Podemos dizer a partir disso então que o cultivo de dendezeiro impacta positivamente a sociedade neste sentido, visando a geração de renda e emprego não apenas devido a grandes empresas que cultivam esta palma, mas também a pequenos agricultores que tem como subsistência o plantio da espécie.

De acordo com a Secretaria de Agricultura do Estado do Pará (2005) a produção no estado com o dendê corresponde a um percentual de cerca de 747.666 ton/ano/óleo. Esse valor produtivo significa uma participação considerável na arrecadação de receitas para o Estado, de acordo com dados da mesma secretaria, cerca de 50% da média do PIB agropecuário do Pará está se concentra no vale dos rios Acará e Moju, área que correspondem, a parte das empresas processadoras de dendê.

Além do aumento de consumo decorrente do crescimento populacional e da elevação do poder aquisitivo da população, verifica-se que os óleos vegetais ganham a preferência de consumo, em comparação às gorduras de origem animal, devido causarem menos problemas para a saúde humana. (MÜLLER & ALVES, 1997).

Além dos aspectos econômicos já mencionados, Furlan Júnior et al (2006), frizam que o cultivo da palma é capaz de promover o desenvolvimento sustentável, uma vez que, recuperaria ambientalmente, economicamente e socialmente áreas degradadas pela pecuária. Já Nahum e Bastos (2014) afirmam que o cultivo do dendê constitui um evento, pois reorganiza a paisagem, a configuração territorial, a dinâmica social, enfim o espaço geográfico ou território usado, neste último caso, concordando com Jurlan Junior.

No contexto ambiental, infelizmente o impacto no cultivo do dendezeiro traz algumas consequências negativas: hoje a diversidade das florestas tropicais do mundo como um todo, vem diminuindo de maneira alarmante. Atualmente, estima-se que foram substituídos 27 milhões de hectares de florestas virgens por uma única espécie de árvore, o monocultivo de dendê.

Um dos principais impactos ambientais do dendê já detectados no nordeste paraense (depois da onda de desmatamentos praticados por - ou a mando de - empresas em lotes de agricultura familiar para a implantação de dendê, entre 2008 e 2010) tem sido a contaminação por agrotóxicos de igarapés que alimentam os inúmeros rios - como o Pará, Tocantins, Moju, Acará, Acará-Mirim, Capim, Auiaçu, Maracanã e Camari, entre outros da região (REPÓRTER BRASIL, 2013).

Segundo Cruz e Farias (2017), O uso do agrotóxico, como forma de controle de pragas e doenças e como garantia de produtividade, põe em risco o ecossistema terrestre e aquático, pois a forma de uso que o Brasil vem aplicando e definindo em suas políticas públicas faz com que ocorram inúmeros problemas de contaminações nos ecossistemas, colocando em sérios riscos os meios bióticos e abióticos, devido aos efeitos deletérios dos ditos agrotóxicos.

A gama de produtos fitossanitários utilizados para controle de ervas invasoras é bem extensa, fato este que preocupa ainda mais devido, a diversidade de princípios ativos, conforme são discriminados no Quadro 1, que acabam acarretando em contaminações ambientais.

Quadro 1: Principais agrotóxicos utilizados na dendeicultura. Produto Ingrediente Ativo

Roundup líquido e pó Equivalente de N- (fosfometil) glicinaGlifosato, glifosato- Sal de Isopropilamina

Connect líquido Beta – Ciflutrina, Imidacloprido

Turbo líquido Beta- ciflutrina

Provado 200 SC Imidacloprido

Evidence 700 WG Imidacloprido

Electric em pó Hidróxido de cobre (Ellect)

Dittany em pó Alquilenobis (ditiocarbamato)

DMA 806 BR 2,4-D dimetilamina

Tordon 2,4-D Trisopropanolamina, Amino Piralide Engeo pleno

Engeo pleno Lambda-Cialotrina-Tiametoxam

Dominum Aminopiralide, Fluroxipir-Meptilico

Zartan ptilico Zartan Matsulfurom-metilico

Fonte: Adaptada de Cruz e Farias, 2017.

Do ponto de vista social, Cruz e Farias (2017), alerta que a implantação da dendeicultura provoca um processo de descampesinização, isto é, um campo sem camponeses, paulatinamente impulsionado pela ausência de políticas de Estado para o campo, sobretudo para as comunidades rurais camponesas e como consequência, redireciona a classe camponesa para reprodução de um modo de vida que não é o seu.

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Dentre outros fatores, o avanço da dendeicultura nos municípios paraenses acaba por alterar os aspectos da agricultura familiar, como a maximização o êxodo rural, diminuição das práticas agrícolas tradicionais e a redução de áreas destinadas a mesma.

De acordo Siqueira (2018), problemas antigos, que haviam diminuído voltaram, como é o caso da concentração de terras, algo que vem acontecem devido a necessidade áreas para a cultura do dendê, que usa a velha fórmula do latifúndio. Questões ambientais também fazem parte da agenda de debates sobre a cultura. O desvio da função primordial do produtor familiar que antes produzia alimentos e hoje planta a palmeira do dendê, deve ser visto como um problema, uma vez que os coloca em risco, a segurança alimentar dos agricultores familiares.

Onde de acordo com Nahum e Vieira (2013), o fato de agricultores da comunidade trabalharem na cultura do dendê impactou a produção e o preço do principal ingrediente da dieta alimentar do caboclo, a farinha.

Homma e Vieira (2012), afirmam que a alta nos preços da farinha de mandioca no estado tem sido causada, em parte, pela substituição de áreas produtoras de mandioca por dendezais em municípios do estado do Pará. A figura 2 ilustra a relação entre a dinâmica da dendeicultura nos territórios onde ela aporta e a produção de mandioca. O gráfico mostra claramente que a quantidade da mandioca aumenta ou reduz com a cultura do dendê.

Figura 2 - Produção de mandioca e dendê em Moju no período de 1991 a 2011.

Fonte: IBGE (2010).

Em relação a situação socioeconômica dos agricultores familiares paraenses, pode se dizer que grande parte tem renda mensal de menos de ½ salário mínimo, e grande parte tem como forma de subsistência o cultivo de espécies como mandioca e milho, além da criação de animais de pequeno porte. Diante disso, a incorporação de projetos de cultivo de dendê no estado do Pará tem grande influência sendo dada como uma atividade de extrema significância para geração de renda e emprego para a agricultura familiar.

De acordo com Silva (2017), a dendeicultura foi implantada nos estabelecimentos familiares no Nordeste Paraense porque se conformou um contexto favorável à expansão do dendê, determinado por fatores internos e externos. Além da renda gerada às famílias paraenses devido a empregos gerados pelas grandes empresas dendeicultoras, tem-se também o aumento do cultivo em pequena escala nas próprias áreas agricultáveis dos agricultores familiares, onde, tendo por base os dados do Banco da Amazônia S/A, de 2010, observa-se que até maio de 2016 foram celebrados 1.137 contratos de projeto da Agricultura Familiar com Cultura de Dendê, nos municípios de Acará, Aurora do Pará, Baião, Bujaru, Cametá, Castanhal, Concórdia do Pará, Capitão Poço, Garrafão do Norte, Igarapé-açu, Irituia, Mãe do rio, Mocajuba, Moju, São Domingos do Capim, Tailândia e Tomé-açu.

Entende-se aqui como agricultura familiar uma categoria genérica que engloba uma diversidade de formas de organização social da produção que tem como características principais a centralidade da família nas decisões e organização do estabelecimento agrícola e na construção do patrimônio familiar, como explica Wanderley (2009). Os agricultores familiares, desenvolvem sistemas de produção bem diversificados,

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combinando cultivo de espécies temporárias e permanentes, sendo a dendeicultura inserida nesse contexto.

Diante de todas problemáticas exposta, o grande desafio das grandes empresas é como se desenvolver sustentavelmente e ao mesmo tempo, buscar mitigar os efeitos indesejáveis desse desenvolvimento. A Partir desta indagação, as duas principais empresas de extração de óleo de palma situadas na amazônia (Biopalma S/A e Agropalma S/A) utilizam-se de programas socioeconômicos e de sustentabilidade.

De acordo com Agropalma (2019), a empresa sabe a importância do seu papel na sociedade e na comunidade em que está inserida. Por isso, a empresa promove ações socioeconômicas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram na região Amazônica.Por meio de parcerias com diversas entidades governamentais, promove atividades que contribuem para a geração de renda e emprego.

Desta forma, a empresa afirma que tem como princípios norteadores das suas atividades o respeito ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, sendo que cada vez mais, práticas sustentáveis assumem papel importante no dia a dia da organização e ajudam a reduzir drasticamente o impacto ambiental, desta forma, a cada hectare de plantação de palma, a Agropalma se compromete a conservar 1,6 hectare de floresta, promovendo ações para conhecer, proteger e preservar a fauna e a flora da região.

De acordo com a Biopalma S/A (2016), a empresa apresenta um relatório de Sustentabilidade anualmente, a qual exibe a adoção de práticas sustentáveis na cadeia de produção da palma realizadas pela empresa, a qual busca o equilíbrio entre crescimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. A mesma possui cerca de 157 mil hectares de terras das quais aproximadamente 95 mil hectares são ocupados por reservas florestais protegidas e áreas de preservação permanentes, sendo e 88.907 hectares de florestas aptas para reserva legal, e cerca de 4.555 hectares identificados como Áreas de Preservação Permanente (APPs) onde não se permite supressão vegetal, pesca e caça, o que viabiliza a sequência dos regimes ecológicos no interior dessas áreas.

Em relação à responsabilidade social, a Biopalma S/A (2016), afirma que o território no qual a empresa realiza suas atividades são composto por 10 municípios do nordeste Paraense, abrangendo 7,78% da população total do Pará, 4,87% da população urbana do Pará e 14,09% população rural do Pará, a qual a produção originária de suas atividades contribui para que o percentual do PIB deste território represente 1,3% do PIB do Estado do Pará. Dentro deste panorama, a Biopalma constitui-se como um significativo agente de transformação do território, na medida em que mobiliza recursos humanos e materiais capazes de proporcionar alterações que passam tanto pela produção de riqueza quanto pela dinâmica populacional e o padrão de uso dos recursos da natureza.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na análise da dendeicultura no estado Pará mais especificamente no Nordeste Paraense a partir de revisão de literatura é possível afirmar que essa atividade agrícola tem importância do ponto de vista socioeconômico, ao alavancar a PIB do estado no segmento agrícola, ao mesmo tempo em que gera trabalho e renda na região, tanto nas áreas de cultivos e unidades agroindustriais das empresas do ramo como para as famílias da agricultura familiar, que aderiram ao cultivo de dendê em suas terras, com a elevação de renda.

Por outro lado, o avanço de cultivo provoca a concentração de terra e como consequência tem o êxodo rural na região. Quanto aos agricultores familiares, o cultivo de dendê nas suas terras provoca uma redução de produção de alimentos, característica da agricultura familiar, pondo em xeque a segurança alimentar dessas famílias e em muitos casos, a renda familiar fica limitada exclusivamente a atividade de monocultura de dendê.

Com a implantação de grandes áreas de cultivos de dendê tem-se a redução da biodiversidade na região, diminuindo o número de aves e mamíferos da região e com isso ameaçando a qualidade de vida na comunidade local e a manutenção das condições socioambientais. Além disso, o uso de agrotóxicos na cultura provoca a contaminação dos recursos hídricos superficiais da região, comprometendo o uso da água para determinados fins.

Conclui-se que a atividade agrícola de dendeicultura no Nordeste Paraense é importante e necessária atividade econômica para o estado do Pará e essa atividade provoca impactos socioambientais positivos e negativos, especialmente para a agricultores familiares da região produtora.

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REFERÊNCIAS

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[7] FURLAN, J. et al. Biodiesel. Porque tem que ser dendê. Belém: Embrapa/Palmasa, 2006.

[8] GLASS, V.. O relatório “Expansão do dendê na Amazônia brasileira: elementos para uma análise dos impactos sobre a agricultura familiar no nordeste do Pará” In: Repórter Brasil - Organização de Comunicação e Projetos Sociais. 2013, 15pag.

[9] HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

[10] HOMMA, A. K. O; VIEIRA, I. C. G. Colóquio sobre Dendezeiro: Prioridades de pesquisa econômicas, sociais e ambientais na Amazônia. Amazônia: Ci. & Desenv., v. 8, n. 15, p.79-90, jul./dez. 2012.

[11] Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA, Relatório Técnico. Brasília: 2005

[12] MÜLLER, A. A. ; ALVES, R. M. . A dendeicultura na Amazônia brasileira.. Documentos , Belém, v. 1, n.1, 1997.

[13] MÜLLER, A. A. Possibilidade de consorciamento com dendezeiro. Trabalho apresentado como palestra no primeiro seminário da Agricultura Familiar com a dIntrodução do Dendê. Moju: 2005.

[14] NAHUM, J. S.; SANTOS, C. B. A dendeicultura na Amazônia paraense. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 20, n. 2, p. 281-294, mês. 2016. ISSN 2179-0892.

[15] NAHUM, J. S.; SANTOS, C. B. dos. Impactos socioambientais da dendeicultura em comunidades tradicionais na Amazônia paraense. Acta Geográfica (UFRR), p. 63-80, 2013.

[16] NAHUM, J. S; BASTOS, C. S. Dendeicultura e descampesinização na Amazônia paraense. In: Campo-território: revista de geografia agrária, v. 9, n. 17, p. 469-485, abr., 2014. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php /campo territorio /issue /view /1113>. Acesso em: 08 jul. 2019.

[17] PANDOLFO, C. A cultura do dendê: possibilidades de seu desenvolvimento na Amazônia. Palestra pro ferida no seminário Governo e iniciativa privada na Amazônia - Resultados socio-econô micos. São Paulo, março, 1978.

[18] SANTOS, M. M.; VALOIS, A.C.C.; ROCHA NETO, O. G. Programa Nacional de pesquisa de Dendê na Embrapa: Bases Sólidas para o Desenvolvimento desta Cultura no Brasil. In: 1º Simpósio do Trópico Úmido, 1984, Belém. Resumos do 1º Simpósio do Trópico Úmido. Belém: Embrapa CPATU, 1984. p. 251-251.

[19] SILVA, E. M.; NAVEGANTES-ALVES, L. F. . Transformações nos sistemas de produção familiares diante a implantação do cultivo de dendê na Amazônia Oriental. Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPR), v. 40, p. 345-364, 2017.

[20] SIQUEIRA, A. S. O avanço do dendê no nordeste paraense e seus impactos a produção familiar e a projeção para o município de Santo Antônio do Tauá. Ananindeua, Pará, p 4-23. 2018

[21] VEIGA, A. S.; BORGES, P. P. V.; RAMOS, E. J. A.; PINA, A. J. de A. et al. Denpasa – Dendê do Pará S/A. Disponível em: < http://denpasa.com.br/pt-br/ >Acesso em: 08 jul. 2019.

[22] VENTURIERI, A.; MOURÃO, M.; NASCIMENTO, J. DE D.; BOARI, A DE J.; GOMES, R. A. Áreas prioritárias para a expansão da dendeicultura no estado do Pará: Uma análise do zondendê e a ocorrência do amarelecimento fatal do dendezeiro. eco debate, v. 00, p. 00-00, 2016.

[1] WANDERLEY, M. N. B. O mundo rural como espaço de vida: reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

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Capítulo 20

Pró-semiárido: Relato de experiência no território de identidade piemonte norte do Itapicuru - Bahia.

Cleiton Lin Oliveira Silva

Carlos Henrique Souza Ramos

Resumo: Políticas são ações estabelecidas pelo Estado no sentido de atender as

demandas da sociedade. Instrumentos de intervenção estratégica dos Governos (Federal

– Estadual e Municipal), que possibilitam impactos socioeconômicos. Este trabalho tem

por objetivo socializar a experiência de uma Política do Governo do Estado da Bahia a

partir de um acordo de empréstimo firmado com o Fundo Internacional de

Desenvolvimento Agrícola (FIDA), denominada de Pró-Semiárido. Relata a experiência

da assessoria de políticas públicas e programas governamentais da Companhia de

Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) no âmbito do Território de Identidade

Piemonte Norte do Itapicuru - Bahia, sistematizando os resultados preliminares no lapso

temporal de um ano (2016 a 2017).

Palavra-Chave: Política; Estado; Politicas Públicas; Agricultura Familiar; Território.

“Como a política é um instrumento unificador de vontades

análogas, resta-nos acreditar que a aprovação e a implementação

da política para a agricultura familiar é uma questão de tempo”

(Edélcio Vigna, 2003)

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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1. CONTEXTO

O Pró-Semiárido, é um projeto oriundo de acordo de empréstimo firmado entre o Governo do Estado da Bahia e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), tem como grande propósito a ser alcançado, promover as mudanças efetivas na condição de vida das famílias assistidas, ampliando a produção agropecuária com sustentabilidade, considerando a sociobiodiversidade e as relações de gênero, raça e etnia.

O Projeto definiu focar nas áreas de pobreza rural, utilizando como critérios para a definição dos municípios os menores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Estado da Bahia; os maiores índices de semiaridez e a territorialização, no que tange a aglomeração de municípios. Ademais, critérios para a definição das comunidades rurais também foram utilizados, tais quais: densidade de domicílios com renda abaixo de R$ 140,00/mês; densidade de estabelecimentos rurais da Agricultura Familiar com menos de 20 hectares; densidade das Declarações de Aptidão ao PRONAF (DAPs) emitidas e a aglomeração das comunidades rurais mais próximas. Visa atender 70.000 famílias em 32 municípios do sertão baiano inseridos nos Territórios de Identidade: (Bacia do Jacuípe; Piemonte da Diamantina; Piemonte Norte do Itapicuru; Sisal e Sertão do São Francisco). Conta de um aporte financeiro de R$ 300 milhões para investimento e custeio nas ações de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER); Fomento às atividades de segurança hídrica e produção sustentável; Agroindustrialização e comercialização da produção e Acesso ás políticas públicas para o meio rural e a agricultura familiar. O Projeto propõe um novo paradigma de desenvolvimento, pois reconhece que a agricultura familiar e a reforma agrária são geradoras de trabalho, emprego e renda.

2. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

O significado da palavra “Política” é amplo. É um termo de origem grega politiká, que Aristóteles define como “ciência da felicidade humana”. E, Vargas Velasques (2006) define como “conjunto de sucessivas iniciativas, decisões e ações do regime político frente a situações socialmente problemáticas que buscam a resolução delas, ou pelo menos buscam a solução delas, ou pelo menos trazê-las a níveis manejáveis”. Para Schuartzman (2004, p. 175) só a política não é capaz de transformar a ações governamentais, o autor aponta que “a mediação entre a política e as políticas públicas é feita pelo estabelecimento de uma agenda, que resulta das condições mais gerais – econômicas, políticas, sociais – de uma época, bem como dos valores e percepções que permeiam a sociedade em cada momento. (SCHUARTZMAN, 2004, p. 181).

A Agricultura Familiar (AF) é o foco do Pró-Semiárido. Constitui-se de um sistema produtivo diverso tanto na agricultura quanto na pecuária que utiliza significativamente a mão de obra familiar e, portanto possui relevante influência socioeconômica. Sua terminologia não é recente, entretanto ganhou relevância por conta das ações dos movimentos sociais ao reivindicar políticas públicas voltadas para os interesses desta categoria. No Semiárido brasileiro, a agricultura familiar é marca organizativa das populações do campo. O Semiárido do Brasil abrange cerca de 86% da região Nordeste e norte da região sudeste, onde vivem aproximadamente 30 milhões de pessoas, o equivalente a 15% da população nacional. É um território que abriga, além de uma rica biodiversidade, um grande potencial geológico e energético, um significativo patrimônio cultural, historico e humano.

O enfoque territorial é uma visão essencialmente integradora de espaços, atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas de intervenção. Milton Santos (1985) lembra que o território é onde são realizadas as atividades construídas por meio da herança cultural das pessoas que vivem ali. No movimento de análise de suas próprias produções em 1996, o referido autor complementa suas reflexões sobre o território, afirmando que ele corresponde às interações naturais e sociais onde se tece uma complexa coexistência entre a natureza e as construções humanas. O governo do Estado da Bahia reconhece a organização territorial a partir da Lei N° 13.214/2014 que dispõe sobre princípios, diretrizes e objetivos da Política de Desenvolvimento Territorial do Estado da Bahia. A lei institui o Conselho Estadual de Desenvolvimento Territorial (CEDETER) e os Colegiados Territoriais de Desenvolvimento Sustentável (CODETERS).

O Território de Identidade Piemonte Norte do Itapicuru (TIPNI) , é composto por nove municípios localizados ao norte do estado da Bahia (Andorinha, Antonio Gonçalves, Caldeirão Grande, Campo Formoso, Filadélfia, Pindobaçu, Ponto Novo e Senhor do Bonfim). Abrange uma superfície de 13.766,67 Km², com uma população total de 261.901 habitantes.

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Esse trabalho relata a experiência da assessoria de políticas públicas no Pró-Semiárido no Território de Identidade Piemonte Norte do Itapicuru. Neste território de identidade, o Programa atua, nos 9 municípios, contabilizando cerca de 160 comunidades rurais, subdivididas em 38 (trinta e oito) territórios rurais (TR), totalizando 4.560 agricultores familiares atendidos diretamente. A função do assessor de políticas públicas no Pró-Semiárido consiste: em articulação com os membros da Equipe do Projeto a elaboração, avaliação e implementação dos Planos de Desenvolvimento e Investimentos; Realização de agendas de trabalho com os membros (CODETER), núcleo técnico de desenvolvimento rural, entidades parceiras e secretários de agricultura; Diálogos com os representantes do poder público municipal (Prefeitos e Vereadores) instituições públicos das esferas (Municipal – Estadual e Federal).

Dentre as principais ações desenvolvidas nesse período merecem destaque a de apoio à implantação do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) / Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA): O Intercâmbio ocorrido em Luís Eduardo Magalhães, foi fundamental para potencializar a discussão sobre O SIM no TIPNI. A ação teve por objetivo, conhecer agroindústrias com perfil da agricultura familiar, com o Selo de Inspeção Municipal (SIM). O fato demandou a realização de uma Plenária Territorial para discutir a implantação do (SIM/SUASA) no (TIPNI) e a Elaboração de uma proposta no âmbito do PROINF 2017, apresentada através do Portal de Convênios do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (SICONV) cujo objeto é a aquisição dos equipamentos laboratoriais e veículo utilitários para viabilizar a implantação do referido serviço.

No que tange a Segurança Hídrica, vale salientar a Elaboração de projeto para limpeza de aguadas públicas e coletivas nos municípios do (TIPNI). Proposta que tem como proponente o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Piemonte Norte do Itapicuru (CDS TIPNI) e que tem rubrica de R$ 280.000,00.

A demanda por habitação também é expressiva, e nesse contexto foi elaborado uma proposta no âmbito do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR), projeto para construção de 33 Unidades Habitacionais para Remanescentes de Quilombo de Riacho das Pedrinhas em Filadélfia. O empreendimento tem como proponente a Cooperativa do Piemonte da Diamantina (COOPD) e financiadora a Caixa Econômica Federal (CEF).

Outras questões relevantes estão às ações relacionadas às Políticas para Mulheres, com a elaboração de proposta e apresentação à Secretaria Especial de Agricultura Familiar do Desenvolvimento Agrário tendo como proponente a Prefeitura Municipal de Senhor do Bonfim, a construção da carta de Crédito Rural em parceria com à Cooperativa de Crédito Rural (CREDI NORTE) e as pactuações, objeto das Relações Institucionais, junto aos gestores públicos e vereadores do (TIPNI) para a participação e parceria no Projeto Pró-Semiárido, bem como na orientação para adesão ao Serviço Municipal de Apoio a Agricultura Familiar (SEMAF) e credenciamento no Sistema Informatizado de ATER (SIATER).

3. RESULTADOS

1- Projeto de Reforma do Centro de Reprodução de Caprinos e Ovinos de Andorinha R$ 272.000,00, cujo proponente é a Prefeitura Municipal de Andorinha e o concedente é a (CAR);

2- Proinf 2017 - Proposta cadastrada no SICONV n° 076874/2017 - Objeto: Aquisição de Veiculo e Equipamento de Laboratório para viabilizar o SIM/SUASA no TIPNI - Valor R$ 125.000,00 (Proponente: CDS TIPNI);

3- Proinf Mulher 2017 - Proposta cadastrada no SICONV nº 076913/2017- Objeto: Aquisição de 2 Microtratores e Implementos para 4 Grupos de Mulheres ( PA Serra Verde - Cazumba - Lagoa do Peixe e Barroca do Faleiro) – ( Valor R$ 110.000,00Proponente Prefeitura Municipal de Senhor do Bonfim);

4- Projeto de Limpeza de Aguadas Públicas / Comunitárias nos municípios do TIPNI – Valor R$ 280.000,00 – Proponente: CDS TIPNI;

5- Construção de 33 Unidades Habitacionais através do PNHR em Riacho das Pedrinhas/Filadélfia - Entidade Organizadora COOPD, APF nº 0419581-99 Valor R$ 1.034.550,00.

A agricultura familiar é um setor socioeconômico importante da sociedade, no que tange a geração de emprego e renda, promoção de qualidade de vida com a produção de alimentos, e nesse contexto, há de essencialmente de ter uma atenção especial, no sentido de mitigar os problemas da exclusão social e da pobreza.

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A partir do olhar e da função exercida no âmbito do Pró-Semiárido é possível evidenciar que a definição das coisas na política, são justamente os interesses sociais demandados ao Estado; que precisa ser de fato o indutor da política pública. Contudo, as políticas públicas não se devem restringir-se apenas ao financiamento, mas também à perspectiva do desenvolvimento territorial, que considera os aspectos econômicos, sociais, culturais, ambientais e políticos, como catalisadores do Desenvolvimento Rural.

REFERÊNCIAS

[1] ARRUDA, Inácio. O semiárido brasileiro e o desenvolvimento nacional – Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas – ICID + 18 Fortaleza (CE). Publicação Câmara dos Deputados – Agosto de 2010, p.59 – 72.

[2] BRASIL. MDA/SDT. PRONAT: Referências para o apoio ao Desenvolvimento Territorial. Brasília/DF, outubro de 2004. Documento preliminar (circulação restrita).

[3] LEI Nº 13.214 DE 29 DE Dezembro de 2014. Diário Oficial do Estado da Bahia - Salvador, Bahia · Terça-feira,30 de Dezembro de 2014 Ano · XCIX · No 21.605.

[4] PERICO, Rafael Echeverry. Identidade e território no Brasil / Rafael Echevery Perico. Tradução de Maria Verônica Morais Souto. – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, 2009.

[5] SANTOS, M. ET AL. Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. 3. ed. [S.l.]: Lamparina, 2007.).

[6] Schwartzman, Simon, 1939 – As causas da pobreza / Simon Schwartzman. – Rio de Janeiro : Editora FGV, 2004. 208 p.

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Capítulo 21

Estudo comparativo de séries temporais para previsão dos números de casos semanais de dengue em alguns municípios de Pernambuco

Jucarlos Rufino de Freitas

Mickaelle Maria de Almeida Pereira

Leika Irabele Tenório de Santana

Antonio Samuel Alves Silva

Moacyr Cunha Filho

Ana Luíza Xavier Cunha

Resumo: Nas últimas décadas, o meio ambiente tem sofrido com diversas alterações na sua estrutura, o que faz com que muitos de seus habitantes, em especial os cientistas, se preocupem com os grandes problemas globais do presente e que podem comprometer a qualidade de vida no futuro.

Dentre os alvos das pesquisas voltadas aos problemas ambientais está a Dengue, Zika e Chikungunya, que é um dos maiores problema de saúde pública no Brasil atualmente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que 50 a 100 milhões de pessoas são infectadas anualmente. Diante disso, a metodologia de Box e Jenkins foi utilizada no estudo, com o objetivo de comparar dois modelos de Séries Temporais que permitisse prever possíveis surtos da doença em alguns municípios do estado de Pernambuco. Foram utilizados os dados semanais do número de casos de dengue para alguns municípios do estado de Pernambuco, disponibilizados pela Secretaria de Informação e Comunicação, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2018. A partir dos modelos propostos foram feitas as comparações das predições e a análise residual. Avaliando os ajustes dos modelos, observou-se que os modelos SARIMA estimados apresentaram melhores resultados em relação ao Snaive, onde foram evidenciados menores erros, com base na análise residual. Em suma, os modelos SARIMA conseguiram captar melhor a dinâmica da série estudada com melhor acurácia o número de notificações de dengue para os municípios de Garanhuns, Serra Talhada, Recife, Petrolina e Vitória do Santo Antão. Portanto, esses modelos são boas ferramentas que trazem benefícios ao programa de prevenção de serviços públicos auxiliando em tomadas de decisões e planejamento estratégicos.

Palavras-Chave: Dengue, Modelagem, SARIMA, Snaive, Predição.

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1. INTRODUÇÃO

Com aumento da urbanização, a partir do ano 2000, acarretou em alguns impactos associados as doenças epidemiológicas, entre elas destaca-se a dengue (DE ALMEIDA; DA SILVA, 2018). Pode-se salientar alguns fatores contribuintes para a proliferação do vetor da dengue que são: condições sócio demográficos (migrações e crescimento populacional), aspectos biológicos (ciclo de vida dos insetos), descarte inapropriado do lixo e acúmulo de água em recipientes inadequados (BARCELLOS et al., 2009; VALLE; PIMENTA; DA CUNHA, 2015). As variações climáticas também implicam diretamente na saúde humana, contribuindo para o aparecimento de novas doenças, além de possibilitar o surgimento de doenças reemergentes. De acordo com Barbosa e Da Silva (2015), a dengue é a principal doença reemergente no Brasil na atualidade, bem como para outros países tropicais e subtropicais.

O Aedes Aegypti é o mosquito transmissor da Dengue, Zika e Chikungunya, atualmente é um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que 50 a 100 milhões de pessoas são infectadas anualmente. A transmissão ocorre através da picada da fêmea do mosquito Aedes Aegypti (BARACHO et al., 2014), onde apresenta quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4 (BARBOSA; DA SILVA, 2015), desenvolvendo-se em áreas tropicas e subtropicais.

No Brasil, os casos de notificações de dengue foram mencionados em 1685 na cidade do Recife e erradicado do Brasil em 1950 (SALLES et al., 2018). Em 1980 foi reintroduzido no Brasil (MANIERO et al., 2016; SALLES et al., 2018). Desde então, campanhas de combate do Aedes Aegypti começaram a surgir no Brasil com a tentativa de erradicação do vetor. Contudo, mesmo com o empenho da sociedade a dengue está presente nos 27 estados da federação. De acordo com Programa de Vigilância das Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde (SES), em 2017, o Estado de Pernambuco comunicou que, 84,7% dos municípios estão em ameaça de surto, onde nos anos precedentes houve uma redução nos números de pessoas infectadas (DE FREITAS et al., 2019).

Segundo boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância da Saúde, no estado de Pernambuco foram registrados um aumento de 16,8%, 0,4% e 3,1% na incidência de Dengue, Zika e Chikungunya, com base na Semana Epidemiologia (SE) 1 a 11 em 2019 (3.418, 51 e 471 casos), em relação a SE 1 e 11 no ano anterior (1.852, 19 e 210 casos), com seis casos de óbitos confirmados no Nordeste.

Atualmente, os modelos matemáticos e estatísticos baseados em análise de Séries Temporais (ST) têm sido amplamente utilizados por vários pesquisadores com o objetivo de quantificar e prever um determinado atributo ao longo do tempo, bem como, identificar características, fatores e padrões epidemiológicos, com intuito de informar a comunidade sobre possíveis surtos da doença.

Cortes et al. (2018), em seu estudo, compararam e testaram vários modelos para município de Recife, no período de 2001 a 2014, mostrando a não adequação dos modelos de acordo com a análise de resíduo e técnicas de diagnósticos, sendo necessário retirar da análise os anos 2001 e 2002 pois haviam valores discrepantes. Segundo Amaku et al. (2016), o mesmo padrão foi observado indicando diferentes imensidades das transmissões após 2002. Dentro deste contexto, após a exclusão dos anos 2001 e 2002 o modelo sugerido foi o ARIMA, sem a componente sazonal.

Diante do exposto, o presente estudo consiste em analisar e comparar o comportamento semanal de casos de dengue em Garanhuns, Serra Talhada, Recife, Petrolina e Vitória do Santo Antão, municípios do estado de Pernambuco, no período de 2000 a 2018, utilizando técnicas de ST, mais precisamente, os modelos SARIMA e Snaive, mostrando como estas ferramentas, relativamente simples, conseguem representa o caráter preditivo da doença para os períodos subsequentes.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conforma a literatura, técnicas matemáticos e estatísticos, precisamente as ferramentas de análise de Série Temporal, têm estado largamente empregados para inspecionar e prever a incidência de epidemias na população. Em comunidades específicas, esses modelos colaboram para a compreensão da dinâmica da doença (TENG et al., 2017), possibilitando indicar possíveis surtos em períodos decorrentes às séries analisadas. Destaca-se os modelos, SARIMA (Média Móvel Integrada Autorregressiva Sazonal) e Snaive para previnções, adequa-se as situações em que as observações expõem flutuações sazonais periódicas, que retormam aproximadamente a mesma intensidade a cada ano.

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2.1. TESTE DE ESTACIONARIEDADE

Ao realizar um teste de hipóteses, primeiramente definem-se as hipóteses nula (𝐻𝑜) e a alternativa (𝐻1), depois fixa-se o nível de significância do teste (𝛼) em 0,05.

Hipóteses:

𝐻0: 𝜙 = 1, 𝑍𝑡 não é estacionária;

𝐻1: |𝜙| < 1, 𝑍𝑡 é estacionária.

A verificação da estacionariedade foi realizada utilizando o teste Dickey-Fuller (DF), criado para verificar se o modelo auto-regressivo tem ou não raiz unitária (GUJARATI; PORTER, 2011). O teste estima a seguinte auto-regressão ∆𝑍𝑡 = (ϕ − 1)𝑍𝑡−1 + at, em que at é o choque aleatório com distribuição normal com média zero e variância (𝜎2𝑎𝑡), e ϕ é o parâmetro associado a sua defasagem para o processo auto-

regressivo.

Estatística do teste (T):

𝑇 =ϕ𝑆ϕ⁄ (1)

pvalor = [𝑍 > [𝑇|𝐻0]] (2)

em que ϕ é o estimador do parâmetro associado à sua defasagem para o processo auto-regressivo, 𝑆 é o desvio padrão dos parâmetros ϕ, e 𝑍 é o parâmetro da distribuição normal.

Regra de decisão: Se pvalor < 0,05 rejeita 𝐻0.

2.2. TESTE PARA TENDÊNCIA

Série temporal possui tendência quando apresenta um comportamento monótono na série ao longo do tempo 𝑡, retratando a evolução global no sentido do crescimento ou decrescimento do nível da série.

Hipóteses:

𝐻0: As observações das séries não possuem tendências;

𝐻1: As observações das séries possuem tendência monotônica no tempo.

Seja 𝑦1, 𝑦2, 𝑦3, ⋯ , 𝑦𝑛 as observações de uma série temporal. A partir do teste de Mann-Kendall (MK) (KENDALL, 1962; MANN, 1945), foi analisado se as séries são independente e identicamente distribuída (iid). Sendo assim, sob 𝐻0 a estatística do teste (𝑆) é

𝑆 = ∑ ∑ 𝜎(𝑦𝑗 − 𝑦𝑘) em que (3)

𝑛

𝑗=𝑘+1

𝑛−1

𝑘=1

𝜎(𝑦) = {

1, 𝑦 > 0 0, 𝑦 = 0−1, 𝑦 < 0

(4)

Regra de decisão: Se S < 𝑍𝛼2⁄

rejeita 𝐻0.

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2.3. TESTE DE NORMALIDADE

O teste Shapiro-Wilk (SW), proposto em 1965, é baseado na estatística 𝑊 em que verifica se os dados seguem distribuição normal. Seja 𝑊 dado por:

𝑊 = 𝑏2

∑ (𝑥(𝑖) − ��)2𝑛

𝑖=1

(5)

em que 𝑥(𝑖) são os valores da amostra ordenados. A constante 𝑏 é determinada da seguinte forma

𝑏 =

{

∑𝑎𝑛−𝑖+1 × (𝑥(𝑛−𝑖+1) − 𝑥(𝑖)) se 𝑛 é par

𝑛2

𝑖=1

∑𝑎𝑛−𝑖+1 × (𝑥(𝑛−𝑖+1) − 𝑥(𝑖)) se 𝑛 é ímpar

𝑛+12

𝑖=1

(6)

em que 𝑎𝑛−𝑖+1 são constantes geradas pelas médias, variâncias e covariâncias das estatísticas de ordem de uma amostra de tamanho n de uma distribuição Normal.

2.4. MODELOS PROPOSTO

Modelo Sazonal auto-regressivos integrado de Médias Móveis (SARIMA (p, d, q) (P, D, Q) 12): Os modelos SARIMA (p, d, q) (P, D, Q)12 são modelos matemáticos não estacionário que apresentam uma periodicidade cíclica, com variabilidade no decorrer da sua evolução temporal. Além, de captar o comportamento da autocorrelação entre os valores da ST (Zt), e com base nesse comportamento realizar previsões futuras. Os modelos SARIMA (p, d, q) (P, D, Q)12 resultam da combinação da sazonalidade (𝑆 = 12) e de três componentes (ou filtros): auto regressivo, integrado e médias moveis.

Para Box e Jenkins (1970) o modelo SARIMA (p, d, q) (P, D, Q)12 é definida por

𝜙(𝐵)Ф(𝐵)𝑆(∆𝑑∆𝐷𝑍𝑡) = 𝜃(𝐵)Θ(𝐵𝑆)𝑎𝑡 (7)

em que

(𝑖)Ф(𝐵)𝑆 e Θ(𝐵𝑆) representam os coeficientes sazonais do filtro auto-regressivo e do filtro médias móveis, respectivamente.

(𝑖𝑖)(∆𝑑∆𝐷𝑍𝑡) é a série diferenciadas, com ordens d e D, sendo D a ordem de diferenciação sazonal.

Snaive: O método Snaive também conhecido com previsão ingênua se baseia no conceito de prever o último valor observado da mesma estação do ano. Quando uma ST tem sazonalidade, uma previsão ingênua sazonal pode ser utilizada. Portanto, a previsão do Snaive é definida por

yt = 𝑦𝑡−𝑘 + 𝜀𝑡 𝑘 é o lag (8)

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onde ��𝑡 é a previsão feita em 𝑡 − 𝑘 para o dia 𝑡, 𝑦𝑡 é o valor de retorno observado no dia 𝑡 e 𝜀𝑡 ~ 𝑁(0, 𝜎

2), ∀ 𝑡 ∈ ℕ (DE FELICE; YAO, 2011).

A fim de modelar o número de notificações semanais de dengue para cinco municípios do estado de Pernambuco, foi proposta a análise de ST. Todas as conclusões foram tomadas ao nível de significância de 5%. Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o software estatístico R (R CORE TEAM, 2019).

3. METODOLOGIA

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O espaço selecionado para o estudo da comparação entre modelos de ST foi o estado de Pernambuco, localizado no centro-oeste da região Nordeste entre os paralelos 7° 18’ 17” e 9° 28’ 43” da latitude Sul e os meridianos de 34° 48’ 15” e 41° 21’ 22” longitude Oeste, mais precisamente, os municípios de Garanhuns, Serra Talhada, Recife, Petrolina e Vitoria do Santo Antão (Figura 1). Ocupam uma área de 458,550 km², 2.980 km², 218,435 km², 4.561,872 km² e 96,536 km². O território pernambucano é composto por 185 municípios e subdividido em cinco mesorregiões: Sertão, Agreste, Zona da Mata, Região Metropolitana do Recife e São Francisco. A população estimada dos cinco municípios são de aproximadamente 138.983, 85.774, 1.637.834, 343.865 e 137.915 habitantes (IBGE, 2018).

Figura 1: Espacialização geográfica dos municípios Garanhuns, Serra Talhada, Recife, Petrolina e Vitória do

Santo Antão, Pernambuco, Brasil.

Fonte: Própria (2019).

3.2. DADOS

O conjunto de informações utilizadas para o desenvolvimento do trabalho refere-se aos números de notificações semanais de dengue em Pernambuco, que foram disponibilizados pela Secretaria de Informação e Comunicação (SIC), no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2018. Na base inicial de dados constavam os 185 municípios de Pernambuco, estávamos interessados em analisar, comparar e predizer o comportamento do número de notificações semanais de dengue para as cinco mesorregiões do estado de Pernambuco. Para compor a amostra foi utilizado o processo de amostragem aleatória simples (AAS), onde foram amostrados os municípios das seguintes mesorregiões: Serra Talhada (Sertão Pernambucano), Garanhuns (Agreste Pernambucano), Vitoria do Santo Antão (Mata Pernambucana), Recife (Metropolitana do Recife) e Petrolina (São Francisco Pernambucano).

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Seja 𝑍 = (𝑍1, 𝑍2, 𝑍3, ⋯ , 𝑍𝑡)𝑇 o vetor do número de notificações semanais de dengue em cinco municípios

de Pernambuco no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2018. Na Figura 2, pode-se observar que o recife apresentou maiores índices de variabilidade em relação aos outros munícipios, além disso, os municípios apresentaram uma periodicidade sazonal de comprimento 52 SE, isso já era esperado, uma vez que a incidência de dengue apresenta um ciclo sazonal mensal com maiores incidências no verão do que no inverno. Um estudo extensivo realizado por Costa e Calado (2016) e De Andrade Oliveira et al. (2018), afirmam que o efeito sazonal tem seu papel relevante na influência da expansão geográfica do mosquito, uma vez que a epidemia de dengue é maior nos meses entre janeiro a maio. Conforme observado, foi utilizada a transformação logarítmica de Box-Cox em Z com um incremento uma unidade, ou seja, 𝑍∗ =(log(𝑍1 + 1, 𝑍2 + 1, 𝑍3 + 1,⋯ , 𝑍𝑡 + 1))

𝑇 para reduzir a variabilidade entre os municípios, em particular, essa abordagem não provocou mudanças expressivas na característica das séries (BOX; JENKIS, 1970).

Figura 2: Resposta semanal do número de notificações de dengue para os municípios de Garanhuns e Petrolina (a), Serra Talhada e Vitoria do Santo Antão (b) e Recife (c) no período de janeiro de 2000 a

dezembro de 2018.

Fonte: Própria (2019).

Conforme a Tabela 1, verifica-se pelo o teste MK que o município de Serra Talhada e Recife apresentou uma tendência significativa (pvalor < 0,05), de decrescimento (MK = -0,054) para o município de Serra Talhada e de crescimento (MK = 0,185) para o município de Recife, esse aumento em Recife pode estar associado a fatores climatológicos, pois o município se localiza no litoral e sofre influencias da Zona de Convergência Intertropical tropical (ZCIT). Resultado corroborado por Sippy et al. (2019), afirmam que os padrões sazonais da doença são conduzidos por uma combinação de fatores climáticos ou ambientais, como temperatura ou precipitação, e tendências de tempo do comportamento humano, como horários do ano escolar, feriados e padrões de dias da semana e fins de semana. Entretanto, pelo teste de DF e SW, observa-se que a hipótese nula foi rejeitada para todos os municípios. Sendo assim, admite-se que todas as ST são estacionárias e não apresenta normalidade, ao nível de 5% de significância.

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Tabela 1: Resultados obtidos com a aplicação dos respectivos testes, DF, MK e SW, para os cinco municípios de Pernambuco no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2018.

Municípios Serra Talhada Garanhuns Vitória do santo

Antão Recife Petrolina

DF -8,28 -6,34 -7,00 -6,95 -7,52

p-valor <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01

MK -0,054 0,034 0,043 0,185 -0,011

p-valor 0,023 0,159 0,061 <0,01 0,611

SW 0,444 0,313 0,275 0,300 0,553

p-valor <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01

Fonte: Própria (2019).

Em seguida, foram feitos os ajustes, as comparações e as previsões dos modelos para os cinco municípios, os quais se podem observar na Figura 3. A partir dos modelos SARIMA e Snaive foram feitas as predições dos meses de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. Com base nos valores preditos pelo modelo, a um nível de 95% de confiança, espera-se que ocorram aproximadamente 203(a), 285(b), 681(c), 139(d) e 139(e) notificações de dengue em 2019, o que indica uma redução em comparação ao ano de 2018. A diminuição dos casos das arboviroses decorreu de diversos fatores, entre eles o empenho da sociedade na eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti. Para todos os municípios o modelo SARIMA conseguiu captar o comportamento da série original, diferentemente do modelo Snaive que apresentou um translado da série original. Concluindo assim, que os modelos SARIMA(1,0,1)(1,0,0)52 (a), SARIMA(3,0,2)(1,0,0)52 (b), SARIMA(2,1,3)(0,0,2)52 (c), SARIMA(4,0,5)(2,0,0)52 (d) e SARIMA(1,0,1)(0,0,1)52 foram os melhores que se ajustaram aos dados através do critério AIC proposto por Schwarz (1978). Latorre e Cardoso (2001), realizaram uma análise de ST em epidemiologia: uma introdução sobre os aspectos metodológicos, e constataram quando a sazonalidade ocorre em múltiplos períodos, é necessário que se considere no modelo um componente de sazonalidade estocástica.

Figura 3: Resultado do ajuste, comparações e predições dos modelos para os municípios de Garanhuns (a),

Petrolina (b), Recife (c), Serra Talhada (d) e Vitoria do Santo Antão (e) para o ano de 2000 a 2022.

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Fonte: Própria (2019)

Após a formulação e ajuste do modelo, foi realizada a análise dos resíduos para avaliar os pressupostos de adequação do modelo. Avaliando os resíduos (Figura 4), verificou-se que os resíduos não se comportam como uma sequência de variáveis aleatórias independentes, identicamente distribuídas com média zero e variância constante para os municípios (a), (c), (d) e (e), diante disso, os modelos não seguem distribuição normal com exceção de Petrolina. Contudo, os modelos conseguem captar o nível e inclinação (valores centrais), mas não as flutuações (extremidades), ou seja, estes modelos são bons em predizer observações em pequenos intervalos de tempo. Além disso, observa-se que o modelo SARIMA conseguiu captar o comportamento dos resíduos sobre da reta em relação ao Snaive, pois o modelo Snaive é um método de previsão ingênuo, descrito por um passeio aleatório. Um estudo extensivo realizado por Lizzi (2012), para o número mensal de casos de dengue em Campinas, SP, 1998 a 2008, encontrou valores distintos, em relação aos resíduos, em que sugerem que os resíduos do modelo seguem distribuição normal.

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168

Figura 4: Gráficos de análise de resíduo dos modelos SARIMA (p, d, q) (P, D, Q)52 para os municípios de Garanhuns (a), Petrolina (b), Recife (c), Serra Talhada (d) e Vitoria do Santo Antão (e), 2000 a 2018.

Fonte: Própria (2019).

5. CONCLUSÕES

Nas condições do presente estudo, e de acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que os modelos SARIMA estimados para os municípios apresentaram os melhores resultados, uma vez que o modelo inclui a informação da sazonalidade nas séries, são indicados para descrever o comportamento da epidemia, em que a incidência de dengue apresenta um ciclo sazonal. Esse resultado pode estar associado a condições climáticas, onde há diferenças na intensidade de transmissão. Vale ressaltar que os modelos SARIMA possuem a capacidade de fazer predição com boa acurácia (MAPA e MSE) os números de notificações semanais de dengue para os cincos municípios em relação ao Snaive, além de apresentarem menores erros. Em comparação aos valores estimados e observados dos modelos SARIMA e Snaive, sugerem que o modelo SARIMA conseguem captar o comportamento do fenômeno, sendo uma boa ferramenta para tomadas de decisões, trazendo benefícios ao programa de prevenção de serviços públicos que carecem de informações.

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169

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171

Capítulo 22

Comparação de modelos preditivos para o nível de radiação no município de Garanhuns Ruben Vivaldi Silva Pessoa

Jucarlos Rufino de Freitas

Joelma Mayara da Silva

Mickaelle Maria de Almeida Pereira

Moacyr Cunha Filho

Resumo: Buscando analisar de forma abrangente os dados de radiação dos últimos dez

anos no município de Garanhuns, foram ajustados modelos de series temporais dentre

os classificados como mais indicados, levando em consideração não só a natureza das

informações presentes neste estudo, como também o interesse particular por predizer

os níveis de radiação para os próximos anos na localidade, de forma precisa e leal aos

dados apresentados. Ao selecionar os modelos que melhor se adequariam aos

propósitos do trabalho, foram realizados testes e análises comparativas a fim de

encontrar o que apresentava melhor ajuste e consequentemente, o que possuía maior

capacidade de realizar uma previsão para os níveis de radiação no período estipulado

em Garanhuns. Na pesquisa, foram utilizados dados dos níveis de radiação no município

por dia para o ciclo em análise, e ainda informações acerca de variáveis como a umidade

do ar, a temperatura, características do vento (direção, rajada e velocidade), dentre

outras, sendo todas disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Para análise comparativa entre os modelos, foram utilizados os testes de Dicker-Fuller

Aumentado, Shapiro-Wilk, Kruskal-Wallis, visando verificar a estacionariedade,

normalidade e sazonalidade, respectivamente, para os modelos em questão. Também, os

tipos de modelos que estiveram em comparação foram o ARIMA e o ARIMAX, que

originalmente são semelhantes, o que reforça a importância da aplicação correta dos

testes e análises comparativas. Foi constatado que o melhor modelo a ser aplicado é o

ARIMAX, que identifica bem os ciclos de crescimento e decrescimento dos níveis de

radiação durante o período estudado. Quanto à previsão, para os próximos dez anos, é

esperado que mesmo com a ocorrência do comportamento periódico, a variabilidade

deve aumentar. Por fim, concluiu-se que a utilização do modelo ARIMAX contribui para

prevenção de doenças e para um uso mais eficiente e inteligente da energia solar em

Garanhuns.

Palavras-Chave: Ajuste, Predição, Radiação, Garanhuns.

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172

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o meio ambiente tem sofrido com diversas alterações na sua estrutura, o que faz com que muitos de seus habitantes, em especial os cientistas, se preocupem com os grandes problemas globais do presente e que podem comprometer a qualidade de vida no futuro. A exploração de espécies do mundo animal e a destruição de habitats naturais estão entre os principais fatores que agravam os problemas ambientais ao longo dos anos (BARBIERI, 2017).

Dentre os alvos das pesquisas voltadas aos problemas ambientais, estão as variáveis climáticas. O estudo de tais variáveis se justifica, pois estão diretamente associadas a previsão do clima, cujas projeções são consideradas as mais confiáveis (Hamada, 2017). A radiação solar encontra-se entre tais fatores, visto que está relacionada a variação sazonal da temperatura (OLIVEIRA et al., 2018).

Níveis de radiação e insolação (número de horas de brilho solar) são elementos interligados e seu estudo se faz necessário, não apenas por fatores climáticos mas também pela possibilidade de utilizar a energia solar como fonte renovável de energia (Santos, 2016) e para saúde humana, pois tal variável está interligada a enfermidades dentre as quais destaca-se a ocorrência de câncer de pele com alto número de incidências no Brasil (Instituto Nacional de Câncer -INCA).

Apesar da sua importância, poucos estudos foram realizados no sentido de compreender o comportamento da radiação no Brasil (Medeiros, 2018; Penereiro, 2017; Frazão et al., 2019; Kozmhinsky et al., 2018; Silva et al., 2018 ), dentre as dificuldades encontradas está a extensão territorial do país que aumenta o custo para medição (FUNARI, 2017).

Diante do exposto, o objetivo do projeto consiste em analisar, dentre os modelos ARIMA e ARIMAX, qual apresenta o melhor ajuste para os dados de radiação do município de Garanhuns, e a partir desse modelo, prever os níveis da radiação para os próximos dez anos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. SÉRIES TEMPORAIS

Seja Zt = {zt ∈ ℝ |t = 1,2,⋯ , n} uma série temporal de um conjunto de observação ordenadas no tempo t, sendo n o número de observações. Para que uma determinada série seja classificada como uma série temporal, é necessário que os dados apresentem uma dependência serial entre eles. Segundo a abordagem de componentes não observáveis, as séries temporais podem ser representadas como a combinação de quatro componentes (Mendenhall, 1996): Tendência, Cíclica, Sazonal e Componente do Erro. Pode-se classificar as séries temporais como: estacionárias, não estacionárias e ergódigas, para a confirmação dos componentes e estacionariedade se faz necessário realizar os testes de Dicker-Fuller Aumentado, Shapiro-Wilk e Kruskal-Wallis, logo em seguida realizar a previsão.

2.2. DICKER-FULLER AUMENTADO

O teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF) investiga a existência ou não da estacionariedade entre variáveis individuais num conjunto de dados. O teste consiste em estimar

∇Yt = α +∑(θi

p

i=1

− 1) Yt−1 + ∑ ∑ −θj

p

j=i+1

p−1

i=1

∇Yt−1 + γT + ui (1.1)

em que α, θ eγ são os coeficientes a serem estimados pela regressão correspondente a série Yt na primeira diferença no instante t, ui o ruído branco e T a variável que determina a tendência determinística. E pode ser realizado para testar a seguinte hipótese:

H0 : A série não é estacionária

H1 : A série é estacionária

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SeH0 for rejeitado, a estatística calculada de Dicker-Fuller é significativa, então a série é estacionária. Caso H0 não seja rejeitada, a estatística calculada não é significativa, e a série é não estacionária (TEY; RADAM, 2011; GAIO; ALVES; PIMENTA JÚNIOR, 2009).

2.3. SHAPIRO-WILK

O teste Shapiro-Wilk (SW) (1945) foi desenvolvido para testar a normalidade de uma amostra. O teste é considerado mais poderoso e abrangente na maioria das situações, tornando-se o mais utilizado teste de normalidade devido às boas propriedades de potência em comparação com uma ampla gama de testes alternativos. O teste de SW depende da correlação entre os dados fornecidos e seus escores normais correspondentes. A estatística do teste é dada por

W ={∑ aiX(i)}²

ni=1

∑ (Xi − X)2n

i=1

(1.2)

em que X(i) é a i-ésima maior estatística de ordem, X é a média amostral e n é o número de observações

(MENDES; PALA, 2003; ÖZTUNA; ELHAN; TÜCCAR, 2006; GHASEMI; ZAHEDIASL, 2012).

2.4. KRUSKAL-WALLIS

O teste não paramétrico de Kruskal-Wallis é utilizado para verificação de sazonalidade (PROVENZA; DA SERRA COSTA; DE CARVALHO SILVA, 2018). A sazonalidade nos dados demonstra os padrões de comportamento que acontecem nos períodos de tempos. Sua presença é constatada através da averiguação do gráfico e pelo conhecimento preexistente do comportamento da série temporal. Entretanto, encontra-se algumas séries temporais questionáveis em relação ao componente sazonal (KURUKULASOORIYA; LELWALA, 2014).

Admitindo que as observações foram coletadas em períodos de tempo com espaçamentos iguais, cada coluna K é classificada como uma amostra de tamanho ni, assim tem-se

Zij, j = 1,… , k, i = 1,… , nj N =∑nj

K

j=1

(1.3)

Substituindo as observações Zij pelos referentes postos ou ordem Rij, adquiridos ordenando todas as N

observações, sendo R .j o somatório dos postos relacionados à j-ésima amostra, tem-se que

R. j =∑Rij

nj

i=1

, j = 1,… , k (1.4)

Então a estatística do teste é

T1 =12

N(N + 1)∑

R .j2

nj

k

j=1

− 3(N + 1) (1.5)

As hipóteses consideradas são

H0: Não existe sazonalidade;

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H1: Existe sazonalidade.

Se a estatística do teste for maior ou igual ao valor crítico T1c, então a hipótese nula (H0) será rejeitada (valor tabelado da 𝒳2)(T1 ≥ T1c), dado o nível de significância α (MORETTIN; TOLOI, 2004; SIEBEN, 2017).

2.5. MODELO ARIMA

O modelo ARIMA(p, d, q)representa uma série temporal empregando diferenciação adequadaa um modelo ARMA (uniãodo modelo auto-regressivo (AR) como processo médiasmóveis (MA)), onde ‘p’ diz respeito ao número de defasagens da série, ‘d’ é a ordem de integração e ‘q’ é o número de defasagens dos erros aleatórios (YANG et al., 2017;da SILVA, 2019).

O ARIMA baseia-se na adaptação dos valores observados, objetivando diminuir a diferenciação dos valores produzidos no modelo e os valores observados. Esse modelo apresenta a possibilidade de caracterizar o comportamento das séries estacionárias e não estacionárias, fornecendo versatilidade para uma variedade de situações (Sato, 2013).O modelo ARIMA é definido como

Φ(B)∇dyt = Θ(B)εt (2.1)

em que B representa o retardo temporal, ∇d é o operador de diferenciação, Φ(B) é um polinômio auto regressivo de ordem p, eΘ(B) é um polinômio de média móvel de ordem q.

2.6. MODELO ARIMAX

O modelo ARIMAX é uma generalização do modelo ARIMA em que é obtida através da inclusão de variáveis exógenas. Originalmente, o modelo ARIMAX foi proposto por Box e Tiao (1981), com o intuito de estudar o efeito das velocidades de entrada de gás nas concentrações de saída do dióxido de carbono. Inicialmente para determinar um modelo ARIMAX, se faz necessário ajustar o modelo Arima univariado com apenas uma única entrada (WILLIAMS, 2001). O modelo ARIMAX é definido como

Φ(B)∇dyt = μ + Θ(B)xt + Θ(B)εt (2.2)

em que Brepresenta o operador de deslocamento temporal para defasagens anteriores ou retardo temporal, ∇d é o operador de diferenciação(1 − B)d, Φ(B) = 1 − ∑ ∅iB

pi=1 é um polinômio auto regressivo

de ordem p,Θ(B) = 1 − ∑ θiBqi=1 é um polinômio de média móvel de ordem q. E xt é uma matriz de

variáveis exógenas.

De acordo com Jalalkamali et al., (2015) a vantagem de se trabalhar com o modelo ARIMAX é a inclusão de preditores lineares em sua estrutura, que melhora a precisão da previsão. Segundo Yang et al., (2017) as etapas para obter uma análise e previsão são: (i) Testar a estacionaridade da série de respostas; (ii) Computar as estatísticas que representam as características das séries de respostas, isto é, a função de auto correlação (ACF) e a função de auto correlação parcial (PACF), para estipular os parâmetros p,d eq; (iii) Estimar os parâmetros desconhecidos do modelo e testara significância, como também as séries residuais;(iv)Verificar as séries de entradas da mesma forma que a série de respostas; (v) Estimar o coeficiente de correlação cruzada entre as séries para estabelecer o aspecto do modelo ARIMAX; (vi) Determinar análises de diagnóstico para averiguar se o modelo condiz com às características dos dados.

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3. METODOLOGIA

Neste trabalho analisou-se dados das séries climáticas, apresentando níveis de radiação, umidade do ar, temperatura, velocidade do vento, rajada do vento, direção do vento, temperatura de ponto de orvalho, precipitação, pressão atmosférica do município de Garanhuns no período de 2009 a 2018, disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Os dados horários disponibilizados pelo INMET foram agrupados para obtenção de medidas diárias, onde no caso da precipitação utilizou-se o acumulado diário e para as demais séries utilizou-se a média diária. Os dados faltantes foram interpolados pela média das últimas 10 observações.

Uma pré-analise foi realizada para as variáveis exógenas com o intuito de não haver problema de multicolinearidade no modelo. Também foi calculada a correlação entre as variáveis e verificou-se se que havia variáveis exógenas com alta correlação e, dentre estas, apenas as mais correlacionadas com a radiação foram incluídas no modelo.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pode-se notar que os dados de radiação do município de Garanhuns se distribuem simetricamente em torno da mediana 1500 Kj/m², porém a forte incidência de outliers que pode ser observada na Figura 1 influencia o comportamento da série de tal maneira que o histograma, como visto na Figura 2, apresenta assimetria positiva em torno da média.

Figura 1: Distribuição de frequência de níveis de radiação em Garanhuns, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018.

Fonte: Própria (2019).

Figura 2: Densidade de níveis de radiação em Garanhuns, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018.

Fonte: Própria (2019).

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Na Tabela 1, estão os resultados da aplicação dos testes de Shapiro-Wilk para verificar a hipótese de normalidade, Dickey-Fuller para testar raiz unitária e, consequentemente estacionariedade e o de Kruskal-Wallis para avaliar a presença de comportamento sazonal. Os resultados apresentados confirmam o que analiticamente observa-se nas Figuras 1-2, ou seja, devido a influência dos outliers, que levam a assimetria (característica de distribuições não normais), verifica-se o comportamento de ausência de normalidade dos dados. Os demais testes confirmam propriedades importantes da série de radiação e por meio das hipóteses testadas, conclui-se que a série é estacionaria e não possui comportamento sazonal.

Tabela 1: Resultados obtidos com a aplicação dos respectivos testes, Shapiro-Wilk, Dicker-Fuller e

Kruskal-Wallis para a cidade de Garanhuns/PE, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018. Município Garanhuns

Testes

Shapiro-Wilk Dicker-Fuller Kruskal-Wallis

Estimativas 0,987 -5,918 28,919

p-valor <0,01 <0,01 0,5218

Fonte: Própria (2019).

A Figura 3 apresenta os gráficos LAG’s da série temporal da radiação em Garanhuns, em que o ponto corresponde ao valor da série temporal no tempo t versus o valor no tempo t-1, t-2, t-3 e t-4, usados para exibir eventuais correlações entre valores consecutivos. Embora não exista evidência de um padrão linear claro, isso não implica que a estrutura temporal é completamente desordenada e aleatória. Contudo, os gráficos apresentaram uma correlação alta, conforme Hopkins (2000).

Figura 3: Gráfico LAG’s da série temporal da radiação em Garanhuns/PE para t versus o valor no tempo t-1, t-2, t-3 e t-4, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018

Fonte: Própria (2019).

A modelagem da radiação solar é uma ferramenta importante para estudar o potencial de geração de energia de um local. Couto, Oliveira e Braga (2016) utilizaram médias móveis e projeção exponencial no intuito de realizar projeções de radiação no Ceará e avaliar sua capacidade como fonte de energia renovável. Com este mesmo intuito, para a cidade de Garanhuns, neste trabalho realizou-se duas modelagens para a radiação: a primeira utilizando o modelo ARMA e a segunda utilizando o modelo ARMAX, que trata-se de uma extensão do modelo anterior onde é incluído o efeito de variáveis exógenas, para melhor modelar a variável e de forma a buscar-se diminuir os erros de previsão.

A característica não linear da radiação torna mais difícil encontrar um modelo que capture este comportamento. Neste sentido, Baierle et al. (2019) utilizaram o método de mínimos quadrados com grau polinomial diferente para realizar o ajuste. Através das abordagens, considerando os modelos ARMA e

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ARMAX, na Figura 3 verifica-se que o modelo que melhor se adapta é o ARMAX (1,2), que captura a dinâmica do fenômeno que periodicamente cresce e decresce apesar de não ter se encontrado característica sazonal significativa e, além disso, o modelo também ajusta-se bem ao conjunto teste apresentando boas estimativas. No que se refere à previsão, espera-se que para os próximos dez anos o comportamento periódico continue ocorrendo, porém pode-se notar que a variabilidade anual deve aumentar ocorrendo picos mais elevados nos períodos anuais que contém radiação máxima.

Figura 4:Modelagem utilizando os Modelos ARMA (a) e ARMAX (b) da série temporal da radiação em

Garanhuns/PE, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018.

Fonte: Própria (2019).

Em relação a medidas de eficiência e bondade do ajuste, como apresentado na Tabela 2, foi identificado que a utilização das modelagens com a inserção de variáveis exógenas proporciona melhores desempenhos para os ajustes aos dados observados em comparação aos outros modelos testados nesta pesquisa, isto é, no município de Garanhuns o uso do modelo ARMAX possui um desempenho melhor do que ARMA. Essa afirmação é baseada no fato que o modelo ARMAX apresentou uma redução da variável MAPE de aproximadamente 13,148%, valor inferior ao adquirido na modelagem ARMA cujo valor é de aproximadamente 22,733%. Nota-se ainda que para as demais medidas, o modelo ARMAX apresentou as menores medidas de acurácia, o melhor desempenho do modelo deve ter ocorrido devido a inclusão de variáveis exógenas que influenciam a dinâmica da radiação. Como exemplo, tem-se a temperatura do ar que em Macêdo ET AL. (2016) é utilizada numa modelagem matemática para estimar a radiação.

Tabela 2: Medidas comparativas de eficiência dos modelos de Series Temporais para o município de Garanhuns/PE, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018.

Modelos Medidas de Eficiência

ME RMSE MAE MAPE(%)

ARMA 0,2742 302,48 237,01 22,733

ARMAX -0,0249 185,65 137,89 13,148

Fonte: Própria (2019).

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O melhor modelo sugerido pelo critério AIC para o município de Garanhuns foi ARMA(1,2)X (Temperatura do ar, Temperatura do ponto de Orvalho, Pressão Atmosférica, Direção do Vento, Precipitação). A Tabela 3 apresenta os coeficientes do melhor modelo referente ao município de Garanhuns. As variáveis Temperatura do ar, Pressão Atmosférica e Vento direção têm uma influência positiva significativa para os próximos períodos. De modo análogo, as variáveis Temperatura do ponto de orvalho, Velocidade do vento e Precipitação têm influência negativa significativa para a variável resposta.

Tabela 2:Estimação dos parâmetros do ARMAX para o município de Garanhuns/PE, no período de janeiro

de 2009 a dezembro de 2018. Modelo Estimativa ErroPadrão Estatística p-valor

AR(1) 0,793 0,050 15,747 <0,001

MA(1) -1,548 0,059 -26,355 <0,001

MA(2) 0,567 0,053 10,746 <0,001

Temperatura do ar 195,182 4,495 43,415 <0,001

Temperatura do ponto de orvalho -198,932 4,166 -47,748 <0,001

Pressãoatmosférica 17,201 3,660 4,699 <0,001

Velocidade do Vento -10,835 5,547 -1,953 0,051

Vento direção 0,459 0,216 2,124 0,033

Precipitação -6,271 0,605 -10,365 <0,001

Fonte: Própria (2019).

Avaliando os resíduos do modelo na Figura 5, observa-se que os resíduos não seguem distribuição Normal, pois os pontos que se localizam nas extremidades se desviam da reta ajustada. No entanto, os resíduos se comportam como uma sequência de variáveis aleatórias independentes, identicamente distribuídas com média zero e variância constante. Portanto, esses modelos conseguem captar o nível e inclinação, mas não as flutuações nas extremidades, logo, os modelos são bons em predizer observações em pequenos intervalos de tempo.

Figura 5: Análise residual do modelo ARIMAX para o município Garanhuns/PE, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018.

Fonte: Própria (2019).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às agências de CAPES, CNPq, FACEPE e UFRPE pelo suporte financeiro.

6. CONCLUSÕES

Como vimos, o modelo ARIMAX conseguiu captar o comportamento da radiação global para o município de Garanhuns, onde os valores estimados do modelo acompanharam a série temporal original. Portanto, tal ferramenta é viável para auxiliar na tomada de decisões, tanto das doenças causadas pelo excesso de exposição ao sol quanto dos processos de transformação de energia solar em energia utilizável, em termos das horas/dias de radiação na cidade de Garanhuns. Dessa forma, é possível ajudar nas políticas de saúde

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pública, incentivando ainda mais a utilização de protetores solares nas épocas em que o quantitativo de horas/dias de radiação fosse maior. Ainda, houve uma contribuição no desenvolvimento de pesquisas sobre a transformação de energia solar em energia utilizável.

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Capítulo 23

Comportamento e bem-estar dos Pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) do Aquário Natal

Matheus Melo Dantas

Brena Karisa Campos de Melo

Laércio Nogueira Medeiros

Maria Lucivânia Diniz da Silva

Viviane da Silva Medeiros

Resumo: Os pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) são a espécie de pinguim de maior ocorrência na costa brasileira. Muitos desses animais chegam ao litoral debilitados, muitas vezes sem condições de retorno ao seu habitat, devido aos fatores que os ameaçam. Como consequência, os pinguins são encaminhados para centros de reabilitação e à vida sob cuidados humanos. O objetivo deste trabalho é relatar as condições oferecidas aos pinguins-de-magalhães no Aquário Natal, localizado na cidade de Extremoz/RN, tendo em vista a necessidade de oferecer conforto à espécie com base no seu comportamento. Durante os meses de julho a setembro de 2017 foi realizada pesquisa para descrição do comportamento dos pinguins em exposição no Aquário Natal. Os animais foram observados por uma hora durante cinco dias consecutivos para os seguintes comportamentos: repouso em pé (RP), repouso deitado (RD), arrumando penas (AP), nadando (N) e olhando para qualquer lugar estando parado (O), anotadas as frequências de cada comportamento durante o período de observação. As medidas de área e elementos de composição do ambiente quanto às necessidades da espécie foram coletadas. Também foram avaliados os parâmetros de qualidade da água, como pH, nitrito, salinidade e temperatura. Após a análise descritiva dos dados, observou-se que o repouso em pé (RP) ocupou 38% do tempo, seguidos de olhar (O) 24%, arrumando penas (AP) 18%, nadando (N) 14%, repouso deitado (RD) 5% e se locomovendo 1%. Quanto aos parâmetros de qualidade da água, o pH variou entre 7,3-7,8, salinidade 36-38ppm, temperatura 16,5-22,5°C, o nitrito, apresentou variação entre de 1,0-2,80mg/L, considerado alto para água de bebida para aves. A estrutura do pinguinário oferece boas condições aos animais. É possível então, concluir que embora os pinguins estejam em um recinto adequado, provavelmente ficam pouco tempo em natação pela elevada concentração de nitrito excedendo os limites admissíveis para aves. O resultado deste trabalho foi levado ao conhecimento da direção do Aquário Natal que tomou medidas para a correção desta situação com a instalação de filtro para a água do pinguinário. Desta forma, observamos a importância da busca constante e rotineira do conforto dos animais.

Palavras-chave: Pinguins-de-magalhães; comportamento animal; qualidade da água.

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1. INTRODUÇÃO

Os Pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) são a espécie de pinguim de maior ocorrência na costa brasileira, possui porte pequeno/médio, sua altura varia entre 60 e 70 centímetros e seu peso, entre 3,5 e 4 quilos, sendo essas as características que mais variam entre as diversas espécies de pinguins e por isso mais importantes para distinção em sua morfologia e coloração (SILVA-FILHO & RUOPPOLO, 2006). Gregários, os pinguins-de-magalhães se reúnem em grandes colônias na costa do Chile, Argentina e Ilhas Malvinas para se reproduzirem.

Segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUNC) 2018, os pinguins-de-magalhães são classificados como uma espécie quase ameaçada de extinção, pela tendência a redução populacional que apresentam, e os principais fatores que ameaçam a vida desses animais são, ainda segundo a IUNC (2018), o derramamento de petróleo, a relação com a pesca e as mudanças climáticas. Estes fatores também fazem com que, muitas vezes, eles acabem chegando ao litoral brasileiro debilitados, incapacitados de voltar para a natureza e posteriormente sejam encaminhados a centros de reabilitação e à vida em confinamento sob cuidados humanos.

Apesar da prática de confinar animais existir desde civilizações antigas (LEIRA et al., 2017), o registro do primeiro zoológico data de 1752, em Viena. Já em 1826, com objetivo de estudar zoologia, fora criado o zoológico de Londres, e em 1888 foi criado o primeiro zoológico brasileiro. Em 1900 na Alemanha foi fundado pelo naturalista Carl Hagenbeck o “Stellingen Zôo”, e nesse estabelecimento havia a preocupação com o bem-estar animal, que tornou-se modelo e estimulou outros países a seguir o exemplo (SANDERS; FEIJÓ, 2007)

A qualidade de vida em Aquários e Zoológicos é significativamente inferior à da vida na natureza, pois a vida sobre cuidados humanos pode ser um fator limitador, levando muitos animais a terem seu comportamento natural alterado em função do confinamento em locais que não lhes proporcionam as mesmas condições do ambiente natural, o que pode interferir no bem-estar dos mesmos (PEREIRA; ALMEIDA; SOARES, 2009). Assim, o objetivo deste trabalho é relatar as condições oferecidas aos pinguins-de-magalhães no Aquário Natal, tendo em vista a necessidade de oferecer conforto a espécie.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os pinguins-de-magalhães de vida livre ou que vivem sob cuidados humanos apresentam um ciclo de vida já observado e descrito na literatura. Em seu ambiente natural, durante os meses de maio a agosto essa ave permanece no mar, até mesmo dormindo à deriva, nos meses de setembro a março os pinguins cuidam dos ovos ou filhotes, porém ainda necessitam voltar ao mar, passando um tempo considerável, em busca de alimentos; nos meses de março e abril as aves permanecem de 2 a 3 semanas em terra, devido a troca de plumagem, que diminui a permeabilidade das penas (Williams e Boersma, 1995; Cranfield, 2003; Silva-Filho e Ruoppolo, 2007) apud (ARGENTIN, 2015).

Em contrapartida, os pinguins-de-magalhães que vivem sob cuidados humanos apresentam comportamento mais sedentário, possuem menos estímulos, como a busca de alimento dentro d'água, busca de parceiros reprodutivos, e isso pode ocasionar menor quantidade de tempo dentro da água dos tanques dos recintos. Esta falta de atividade física pode causar problemas de saúde, como a pododermatite, que é muito frequente em pinguins em cativeiro, e também o aumento de peso, carências nutricionais, entre outras alterações (SILVEIRA, 2017).

Com intuito de aumentar o conforto para esses animais faz-se necessário que os recintos dessas aves sejam sempre observados e que apresentem enriquecimento ambiental com mudanças físicas e sensoriais (ARGENTIN, 2015). A avaliação dos parâmetros de qualidade de água é de suma importância, pois esses animais têm o hábito de passar parte do dia nadando, assim como a utiliza para beber. Com efeito, todos os parâmetros de qualidade da água devem ser sempre observados, sobretudo a quantificação de nitrito, que é o resultado da oxidação da amônia pelas bactérias nitrificantes e é o antecessor do nitrato. O nitrito é tóxico para aves, menos que a amônia, mas ainda assim tóxico.

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3. METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada no pinguinário do Aquário Natal, na cidade de Extremoz, no estado do Rio Grande do Norte/Brasil, durante os meses de julho a setembro. Em seu pinguinário são residentes sete animais, sendo cinco pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus), uma gaivota (Larus delawarensis) e uma fragata (Fregata aquila).

As atividades diárias dos pinguins foram observadas no turno vespertino durante uma hora. A amostragem por escaneamento foi instantânea com intervalo de cinco minutos entre cada observação, por cinco dias consecutivos durante o mês de julho. Os comportamentos observados foram: Repousar em Pé (RP), Repousar Deitado (RD), Arrumar as Penas (AP), Nadar (N), Locomover-se (L) e Olhar (O)(Tabela1). Foram anotadas as frequências de cada um dos comportamentos.

Tabela1: Descrição dos comportamentos

Comportamento Descrição

Repousar em Pé Parado de pé fora da água.

Repousar Deitado Parado deitado fora da água.

Arrumar as Penas Batendo asas ou bicando as penas.

Nadar Nadando no tanque.

Locomover-se Deslocar-se fora da água.

Olhar Olhar fixamente para um ponto durante a observação.

Para descrição do recinto foram tomadas as medidas de área e foram avaliados os elementos que compõem o ambiente quanto às necessidades da espécie. Os parâmetros de qualidade da água, pH, nitrito, salinidade e temperatura foram avaliados semanalmente entre o período de julho a setembro, através de kits de reagentes colorimétricos, refratômetro e termômetro digital, respectivamente. Os resultados obtidos da observação de comportamento foram colocados em médias de cada frequência diária observada e apresentados em gráficos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os pinguins são aves que passam grande parte do dia no mar, sendo os melhores mergulhadores de todas as aves (SILVA-FILHO & RUOPPOLO, 2006). Entretanto, esta pesquisa apresentou que a maior parte do tempo os animais observados permaneceram fora da água (86%). Observou-se que Repousar em Pé representou 38% da média dos 5 dias observados, sendo o comportamento mais frequente entre os animais. Assim como no estudo realizado por Souza e Andrade (2012), em todos os intervalos do dia houve prevalência nos comportamentos em repouso. Os comportamentos Olhar representou 24%, Arrumar as Penas 18%, Repousar Deitado 5% e Locomover-se 1%. Nadar correspondeu a 14% da média geral (Figura 1), que é bem abaixo do que seria desejável em um ambiente mais confortável para esses animais.

Observou-se que os animais tomam banhos na piscina, embora as atividades em área seca ainda sejam as preferenciais dos animais. Tal preferência pode ser decorrente da falta de estímulo, seja social ou reprodutivo.

Diferente dos pinguins apresentados por Souza e Andrade (2012), nenhum pinguim no Aquário Natal apresentou comportamento de “colher material” para formação de ninhos, mesmo possuindo um “buraco” com pedregulhos no recinto. Embora haja disponibilidade, um dos casais estava chocando irregularmente um ovo em ninhos feitos sem o uso desse material, talvez pelo excessivo tamanho dos seixos. Em nenhum momento das observações os turistas ou as outras aves presentes no recinto causaram interferências observáveis com os pinguins.

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Figura 1 - Média das frequências dos comportamentos observados: RP: repouso em pé, RD: repouso deitado, N: nadar, O: olhar, AP: arrumar penas e L: locomoção.

O pinguinário (Figura 2) possui uma área de 115,3 m², com área seca e piscina. A área seca é forrada com areia de praia, possui rochas nas extremidades opostas à piscina e “casinhas” plásticas para acomodar os animais, além de uma pequena área com seixos para estimular a reprodução.

Figura 2 - Pinguinário do Aquário Natal.

Fonte: Própria.

Segundo Silva-Filho e Ruopollo (2006), a piscina do recinto deve possuir rampa levemente inclinada e de fácil acesso aos animais, sua profundidade também não deve ser inferior a 1,3m. Nesses quesitos, o pinguinário se encontra nesse padrão. Também é recomendado o uso de bombas de alta pressão com filtros de areia e o uso de skimmers, para manter a clareza e retirar o excesso de óleo proveniente da defecação e alimentação. A piscina do Aquário não possuía filtragem ou quaisquer movimentações na água, tornando-a não apropriada para os animais após alguns dias, a troca total da água era realizada duas vezes por mês, ou sempre que fosse necessário.

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A qualidade da água da piscina dos pinguins apresentou bons parâmetros quanto ao pH (7,3-7,8), salinidade (36-38 ppm) e temperatura (16,5-22,5°C). No entanto, o nitrito se mostrou muito elevado, o que é um fator que prejudica a qualidade do ambiente e qualidade de vida dos animais.

Segundo Palhares (2005), os parâmetros de qualidade da água de bebida para suínos e aves, em relação ao nitrito, não deve ser superior a 1,0mg/L. O nitrito na piscina dos pinguins apresentou valores que variaram de 1,0-2,80mg/L, sendo que as concentrações mais baixas foram coletadas de 4 a 7 dias após troca total de água (Figura 3). Geralmente tenta-se fazer essa troca a cada 15 dias, mas a frequência com que é realizada a limpeza do recinto é irregular na maioria das vezes, o que ajuda no acúmulo de matéria orgânica e sucessivamente no alto teor de nitrito.

Figura 3 - Valores da concentração de nitrito da piscina dos pinguins do Aquário Natal.

Fonte: Própria. 5. CONCLUSÕES

Conclui-se que os pinguins-de-magalhães alojados no Aquário Natal estão em um recinto em tamanho adequado, entretanto ficam pouco tempo em atividade de nado, provavelmente por conta da qualidade da água que apresentou nitrito acima dos padrões admissíveis para água de bebida de aves. Ainda que não tenham sido encontrados na literatura dados sobre a qualidade de água ideal para pinguins confinados, o Aquário Natal colocou um sistema de filtragem para melhorar a qualidade da água. Sugere-se que novos estudos sejam realizados para avaliar o comportamento dos pinguins diante da mudança do ambiente.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Escola Agrícola de Jundiaí/UFRN por toda a estrutura de ensino e pesquisa proporcionada aos estudantes. Ao Aquário Natal pela confiança e parceria em receber nossos pesquisadores e sempre considerar os dados oferecidos para melhorar os recintos dos animais. Ao Congresso Internacional Despertando Vocações, 2018 por ter aceito este trabalho, o que possibilitou que agora seja publicado neste livro.

REFERÊNCIAS

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Capítulo 24

Composição do leite de Cabras em confinamento, no Sertão Paraibano

Maria Evelaine de Lucena Nascimento

Natalia Ingrid Souto da Silva

Francisca Camila Gomes Machado

Maiza Araujo Cordão

Tatiana Gouveia Pinto Costa

Suely Cristina Pereira de Lima Oliveira

Deyvid Eduardo do Nascimento Oliveira

Ramon Ferreira dos Santos

Igor Morais Bem

Resumo: A criação de caprinos está difundida em todo o território brasileiro, raças

exóticas de produção leiteira estão ganhando espaço na caprinocultura brasileira.

Objetivou-se avaliar a composição do leite de cabras mestiças, em sistema de criação

intensivo no sertão paraibano, nas estações chuvosa e seca. O experimento foi conduzido

no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), campus Sousa. Analisou-se as variáveis gordura,

proteína, densidade, índice crioscópico, acidez titulável, sólidos totais e sólidos não

gordurosos. Não se observou diferença significativa (P>0,05) para as variáveis

analisadas entre período chuvoso e seco. Os valores para as demais variáveis se

mantiveram dentro do preconizado pela Instrução Normativa 37, de 31 de Outubro de

2000 exceto, para os valores de crioscopia e proteína, os quais se apresentaram

ligeiramente reduzidos. Caprinos de linhagens leiteiras avaliados em diferentes estações

do ano, na região de semiárido mantiveram a composição do leite em sua maioria dentro

dos valores estabelecidos para a espécie.

Palavras- Chave: Caprinocultura, Produção Animal, Semiárido.

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1. INTRODUÇÃO

A criação de caprinos no Brasil possui atualmente cerca de 9.592.079 cabeças sendo a região Nordeste detentora de grande maioria da criação, concentrada principalmente nos estados da Bahia, Pernambuco, Piauí, Ceará e Paraíba, este com efetivo de 613.919 cabeças, ocupando a quinta posição no ranking nacional, com produção de leite anual de 15.577 litros (IBGE, 2017). O município de Sousa, pertence ao estado da Paraíba e possui atualmente 2.640 cabeças de caprinos (IBGE, 2017).

Incluído na região semiárida brasileira, o município apresenta temperaturas mais baixas durante o primeiro semestre do ano com 31°C e temperaturas mais elevadas durante o segundo semestre, atingindo máxima de 34°C (INMET, 2010).

O conhecimento das variáveis climáticas, sua interação com os animais e suas respostas comportamentais, fisiológicas e produtivas é preponderante na adequação do sistema produtivo (NEIVA et al. 2004), pois, animais que conseguem se adaptar, apresentam características positivas mantendo bom desempenho produtivo, resistência a doenças e baixa taxa de mortalidade (CUNNINGHAM, 2008).

Por isso, a introdução de raças especializadas e adaptadas se apresenta como alternativa para a caprinocultura a fim de promover maior produtividade do rebanho, principalmente no que se refere ao semiárido nordestino, visto que há poucos estudos relacionados à adaptação desses animais (SILVA et al., 2006).

Apesar das estiagens, a caprinocultura no estado da Paraíba é responsável por uma fonte de renda significativa para os produtores, visto que a rentabilidade da criação de caprinos leiteiros pode chegar a 12%, podendo o produtor estender essa atividade por longo período (OLIVEIRA et al., 2018). Esta atividade tem alcançado crescimento satisfatório no semiárido paraibano, onde os produtores tiveram incentivo governamental, promovendo aquisição de animais, industrialização e distribuição do leite (CARDOSO et al., 2010).

Desse modo, objetivou-se avaliar a produção e composição do leite de cabra mestiças das raças Saanen, Toggenburg e Alpina, submetidas a um sistema de criação intensivo no sertão paraibano durante a estação seca e chuvosa.

2. METODOLOGIA

O experimento foi conduzido no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), campus Sousa, unidade São Gonçalo-PB, no setor de ovinocultura. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para o Uso de Animais (CEUA/IFPB-SOUSA) registrado sob protocolo nº23000.000978.2018-12.

O município de realização do estudo apresenta características climáticas anuais com temperatura média compensada de 26,60 °C, precipitação de 1050,2 mm, umidade relativa do ar de 63,7% e insolação de 3256,6 por hora (INMET, 2010).

2.1 POPULAÇÃO AMOSTRAL

Foram utilizadas 10 cabras leiteiras mestiças das raças Saanen, Toggenburg e Alpina com peso médio de 40 kg e idades semelhantes de aproximadamente 2 anos, as quais permaneceram confinadas por dois meses, sendo um na estação chuvosa (maio) e um mês na estação seca (outubro) de 2018. A divisão das épocas chuvosa e seca foi baseada nos dados pluviométricos cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Os animais permaneceram alojados em baias individuais medindo 1,50 m de largura e 3,00 m de comprimento, em sentido Leste-Oeste, construídas com arame liso e madeira, em chão batido, parcialmente cobertas com telhado de fibrocimento. As baias continham bebedouros e comedouros individuais.

2.2 DIETA

A dieta dos animais era composta por alimento volumoso de feno de Tifton e alimento concentrado com base de farelo de milho, farelo de soja e sal mineral, ofertada duas vezes ao dia. A dieta era correspondente ao consumo e desempenho produtivo dos animais, respeitando-se o fornecimento de 3% do peso vivo

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seguindo recomendação do NRC (2007) para atender as exigências nutricionais de cabras leiteiras. A mesma dieta foi ofertada durante a estação chuvosa e seca.

2.3 ANÁLISES LABORATORIAIS

As análises de composição do leite foram realizadas no laboratório de análise físico-química de alimentos, localizado no IFPB – Campus Sousa. As amostras foram obtidas por meio de ordenha manual, obtendo-se de uma amostra composta por dia de cada animal.

Foi utilizado uma alíquota de 300 mL para as análises físico-químicas a qual foi depositada em recipientes hermeticamente fechados, com identificação e resfriada a 4oC até a realização das análises. Posteriormente, as amostras foram caracterizadas quanto à sua composição, analisando-se quanto aos percentuais de gordura, proteína, densidade, além de determinação do índice crioscópico e acidez titulável. A determinação de sólidos totais (ST) e sólidos não gordurosos (SNG) foi obtida por meio de fórmulas matemáticas (ADOLF LUTZ, 2008).

2.4 ANALISE ESTATÍSTICA

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância por meio do programa estatístico SAS (2003), adotando-se o nível de 5% de probabilidade e teste de medias T.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliando-se a composição do leite nas diferentes estações do ano, não se observou diferença significativa (P>0,05) para as variáveis analisadas entre período chuvoso e seco, exceto para pH (Tabela 1)

Tabela 1-Composição do leite de cabras leiteiras nos períodos chuvoso e seco

Variáveis Períodos Experimentais

Estação Chuvosa Estação seca P

Acidez Dornic (°D) 18,5 18,16 0.5425

Gordura (%) 4,3 3,9 0.3415

Crioscopia (°H) - 0,532 - 0,540 0.2917

Densidade (g / dL) 1,030 1,029 0.3632

pH 6,8 a 6,51b 0.0005

Proteína (%) 2,4 2,41 0.2354

Sólidos Totais (%) 12,98 12,60 0.3998

Sólidos Não Gordurosos (%) 8,73 8,63 0.5623

Médias seguidas de letras distintas nas linhas, diferem estatisticamente pelo teste de T (5%).

Não significativo (P>0,05); Efeito significativo (P<0,05).

Valores obtidos para gordura se mantiveram constantes tanto na estação seca quanto na chuvosa. Segundo Dukes (2017) os níveis de gordura são o componente do leite mais variável, podendo ser influenciado por diversos fatores como intervenções hereditárias, nutricionais e sazonalidade, onde parte significativa da gordura do leite é derivada diretamente da dieta.

No entanto, apesar das condições climáticas estressantes no segundo semestre do ano nessa região, não houve decréscimo na quantidade de gordura, indicando que a sazonalidade não interferiu nesse parâmetro. Provavelmente, a quantidade de gordura não sofreu alteração devido a alimentação que se manteve a mesma nas duas estações, alimento volumoso e concentrado, no qual, a fibra na dieta estimula a produção de gordura no leite, através da produção de ácidos graxos voláteis como o acetato (BERCHIELLI, 2006).

Geralmente existem variações na composição do leite durante as alterações sazonais, onde os níveis de gordura, proteínas, sólidos totais e sólidos não lipídicos são maiores durante os meses de inverno, enquanto os teores de gordura e proteína diminuem durante os meses de verão (DUKES, 2017)

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Os valores para as variáveis se mantiveram dentro do preconizado pela Instrução Normativa 37, de 31 de Outubro de 2000 (BRASIL, 2000), exceto, para os valores de crioscopia os quais se apresentaram ligeiramente reduzidos (-0,550 a -0,585 °H) e proteína (mínimo de 2,8%). Segundo Beloti et al. (2015), animais de alta produção podem apresentar diferença nos valores de crioscopia, podendo estar entre -525 a -527°H, além disso, o teor de lactose e sais minerais presentes no leite são fatores que podem influenciar no índice crioscópico.

Observou-se diferença significativa (P<0,05) para o pH entre as estações. No entanto, apesar disso os valores permaneceram dentro da normalidade para leite caprino o qual está entre 6,4 e 6,8, considerado levemente ácido (BELOTI 2015).

Valores obtidos para proteína se mantiveram constantes tanto na estação seca quanto na chuvosa, não apresentando diferença significativa (P>0,05), porém, os valores se mantiveram abaixo do preconizado por Brasil (2000).

Resultados encontrados por Costa et al. (2008) para animais nativos da região semiárida, encontraram valores para acidez (0,19º D) gordura (3,5%), proteína (3,69%), percentual médio de sólidos totais (13,21%) e produção de sólidos não-gordurosos (8,97%). Em estudos realizados por Brasil et al. (2000), relataram que a porcentagem de gordura, proteína, lactose e sólidos totais diminuíram quando os animais estiveram submetidos a condição de estresse pelo calor.

4. CONCLUSÃO

Caprinos de linhagens leiteiras das raças Saanen Toggenburg e Alpina avaliadas em diferentes estações do ano na região de semiárido, mantiveram a composição do leite dentro dos valores estabelecidos para a espécie.

REFERENCIAS

[1] INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz: métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 1. ed. Digital. São Paulo: IAL, 2008. 1020p.

[2] BELOTI, V. Leite: obtenção, inspeção e qualidade. 1 ed. Londrina: Planta, 2015. 417p.

[3] BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006, 540 p.

[4] CARDOSO, M. C. C.; ARAÚJO D. Â. N.; MORAIS F. C. B. Sistema de produção e comercialização do leite de cabra produzido no município de Currais Novos/RN. Holos, v. 1, n 13, 2010.

[5] DUKES, H. H. REECE.W.O. Fisiologia dos Animais Domésticos. 13 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 925 p. 2017.

[6] BRASIL, Lúcia Helena de Albuquerque et al. Efeitos do estresse térmico sobre a produção, composição química do leite e respostas termorreguladoras de cabras da raça Alpina. Revista Brasileira de Zootecnia, p. 1632-1641, 2000.

[7] BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa nº 37 de 31 de outubro de 2000. Regulamento técnico de produção, identidade e qualidade de leite de cabra. Diário Oficial da União, 2000.

[8] COSTA, R. G. et al. Características químicas e sensoriais do leite de cabras Moxotó alimentadas com silagem de maniçoba. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, n. 4, p. 694-702, 2008.

[9] CUNNINGHAM, J. G. Tratado de Fisiologia Veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 579 p. 2008.

[10] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo agropecuário 2017. Rio de Janeiro, 2017.

[11] INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Gráficos climáticos 2010. Brasília, 2010.

[12] NEIVA, M. N. J. et al. Efeito do estresse climático sobre os parâmetros produtivos e fisiológicos de ovinos Santa Inês mantidos em confinamento na região litorânea do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, p.668-678, 2004.

[13] SILVA, E. M. N. et al. Avaliação da adaptabilidade de caprinos exóticos e nativos no semi-árido paraibano. Ciência e Agrotecnologia, v. 30, n. 3, p. 516-521, 2006.

[14] OLIVEIRA, F.G. et al. Análise da eficiência zootécnica e econômica da caprinocultura leiteira no cariri paraibano. Tecnologia e Ciência Agropecuária, v.12, p.71-78, 2018.

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ALINE DE A. VASCONCELOS

Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) (2008). Mestre (2010) e Doutora (2014) em Solos e Nutrição de Plantas da UFV com período de doutorado sanduíche na Iowa State University (ISU). Pós-Doutorado pela UFV (2016). Docente Adjunta I da Universidade Federal de São João del-Rey - Campus de Sete Lagoas, Departamento de Ciências Agrárias (UFSJ). Atuação na área de Química e Fertilidade do Solo, Nutrição de Plantas, Adubos e Adubação.

ALINE OLIVEIRA DA SILVA

Graduanda em Eng. Agronômica pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) na área de conservação e armazenamento de grãos. É membro Associado no Grupo de Pesquisa Solos e Nutrição de Plantas, participa do Grupo de Estudo de Nutrição de Plantas e Fertilidade do Solo da Amazônia (GENFA), onde atua em projetos de pesquisa.

AMAURI BOGO

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Prof. PhD Biochemical Plant Pathology.

ANA LUÍZA XAVIER CUNHA

Mestranda em Engenharia Ambiental na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Experiência na área de Recursos Hídricos, concluinte do Curso de Engenharia Civil da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Foi bolsista no PIBIC no projeto intitulado: "Radioatividade Ambiental no Estuário de SUAPE: Impacto da Instalação de uma Refinaria de Petróleo", realizado no Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi bolsista de Extensão do CNPq com projeto intitulado: Potencialidade do uso da água, manejo florestal e suas implicações na qualidade de vida das mulheres, adultas e idosas de comunidades do Sertão do Pajeú/PE, com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) e o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) - Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD).

ANDRÉIA AMANDA BATISTA JÁCOME

Engenharia de Pesca graduada pela Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), Mestra em Produção animal também pela UFERSA. Participou do Programa de Iniciação à Docência como monitora da disciplina de malacologia (2013.2). Participou do Programa de Iniciação Científica como bolsista de iniciação científica (2012-2015), estagiou no Laboratório de Moluscos (LABMOL) da UFERSA (2011-2015). Trabalhou na área de tecnologia e inspeção de alimentos, voltando-se para pescado (2017-2019).

ANTONIO SAMUEL ALVES SILVA

Possui Doutorado em Biometria e estatística Aplicada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2015), Mestrado em Biometria e Estatística Aplicada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2012) e graduação em Matemática pela Universidade Regional do Cariri (2009). É Professor do Departamento de Estatística e Informática da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Vem trabalhando no aperfeiçoamento computacional do Modelo Century 4.5 bem como na análise espacial de variáveis ambientais. Tem experiência na área de Matemática, Probabilidade e Estatística, com ênfase em Geoestatística, Probabilidade e Inferência Aplicadas.

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ANTONIO SANTANA BATISTA DE OLIVEIRA FILHO

Graduado em Agronomia, habilitação Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Atualmente é mestrando e bolsista CNPq do programa de pós-graduação em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), atuando principalmente nas áreas de Nutrição de Plantas, Fertilidade do Solo e Manejo de Culturas Agrícolas.

AYESHA SOUZA TAVARES

Graduanda em Engenharia Ambiental e Energias Renováveis pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus Capanema. Atua em pesquisa científica no Grupo de Estudo Meninas da Geotecnologia (Meninas Digitais).

BÁRBARA DAVIS BRITO DOS SANTOS

Possui bacharelado em Agroecologia (UEPB) e mestrado em Engenharia Agrícola na área de Irrigação e Drenagem com ênfase em Manejo de Água e Solo (2020) pela Universidade Federal de Campina Grande-UFCG.

BEATRIZ CRISTINA LOPES

Graduada no curso de Engenharia de Pesca, pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).Tem experiencia com dinâmica populacional de Molusco e chave de identificação, numa pesquisa de marcação do gastrópode. Com carcinicultura num projeto de cultivo de camarão com bioflocos, com Bioquímica de Proteínas, visando o controle de pragas e organismos patogênicos e com composição centesimal de alimentos. Atualmente Mestranda no curso de Pós-graduação em Produção Animal na Ufersa, desenvolvendo uma pesquisa com quantificação e identificação de víbrios em cultivos de camarão.

BRENA KARISA CAMPOS DE MELO

Zootecnista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi bolsista no Programa de Educação Tutorial (Pet Zootecnia) de 2015 a 2017. Atualmente cursa mestrado em Ciências Biológicas pela mesma universidade. Atua no projeto Xerimbabo, onde visa a conscientização de alunos de escola pública sobre bem-estar animal e zoonoses.

BRENDA DE ASSIS FERREIRA CARVALHO

Possui graduação em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal do Ceará - Campus Fortaleza (2017). Atuo como bolsista no Laboratório de Materiais de Construção Civil no IFCE - Campus Fortaleza no período 2015 - 2017. Tem experiência na área de Engenharia Sanitária, com ênfase em gestão dos Recursos Hídricos, hidrologia, educação ambiental, dentre outras. Mestrado em andamento no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Gestão Ambiental no Instituto Federal do Ceará - Campus Fortaleza (2019-2021).

CAMILA NUNES SAGAIS

Graduanda em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), atua em pesquisas científicas do Grupo de Estudo de Nutrição de Plantas e Fertilidade do Solo da Amazônia (GENFA), Grupo de Pesquisa em Geotecnologias e Pedometria (GEOP) e Grupo de Pesquisa de Solos e Nutrição de Plantas.

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CARLOS GUSTAVO NUNES DA SILVA

Professor associado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Fez seu mestrado em Ciências Biológicas (Entomologia) pelo INPA (Inst. Nacional de Pesquisas da Amazônia), doutorado em Biotecnologia pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas) com estágio sanduíche na Heinrich-Heine-Universität Düsseldorf (Alemanha). Ministra aulas nas disciplinas de Engenharia Genética, Uso e Manejo de Recursos Genéticos da Amazônia, Bioinformática, Biossegurança e BioéticaProfessor associado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Fez seu mestrado em Ciências Biológicas (Entomologia) pelo INPA (Inst. Nacional de Pesquisas da Amazônia), doutorado em Biotecnologia pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas) com estágio sanduíche na Heinrich-Heine-Universität Düsseldorf (Alemanha). Ministra aulas nas disciplinas de Engenharia Genética, Uso e Manejo de Recursos Genéticos da Amazônia, Bioinformática, Biossegurança e Bioética. Realiza pesquisas nas áreas de biologia molecular, evolução e microbiologia básica, analise genômica e filogenética com ênfase nas interaçoes microrganismo-hospedeiro. Orienta alunos em seus projetos de pós graduação (mestrado e doutorado) e graduação. Na área administrativa participou na gestão do Centro de Apoio Multidisciplinar da UFAM, na coordenação da pós-graduação em Biotecnologia da UFAM (PPGBIOTEC), vice coordenação do curso de Graduação em Biotecnologia e coordenação de assuntos internacionais do Parque Cientifico Tecnológico Social -PCTIS. Participou como instrutor de equipe na competição internacional iGEM em diversas ocasiões. Atua como membro de bancas de seleção de professores e técnicos administrativos, bem como na seleção de pós-graduandos em nível de mestrado e doutorado nas áreas de biotecnologia e Biodiversidade. Na área de empreendedorismo, assessorou e fez parte do quadro societário de duas empresas nas áreas de purificação de biomoléculas e na área de gestão de resíduos sólidos orgânicos, respectivamente. Realiza pesquisas nas áreas.

CARLOS HENRIQUE DE SOUZA RAMOS

Engenheiro Agrônomo; Técnico em Desenvolvimento Regional - Cia de Desenvolvimento e Ação Regional - (CAR); Coordenado do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Convivência com o Semiárido no Âmbito de Pró-Semiárido.

CHAYANNE DA COSTA SANTOS

Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual do Piauí (2012). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em suporte técnico, consultoria, vendas de insumos, atuando como Consultor de vendas de insumos e Assistente Técnico de Semente. Experiência no campo da Topografia, elaboração de projetos topográficos e levantamento topográfico e como Líder de Operações Agrícolas, atuando no monitoramento integrado de pragas e doenças, acompanhamento e recolhimento de dados do pluviômetro, liderança na frente do manejo e aplicação de corretivos agrícolas , acompanhamento de plantio, soja, milho, algodão, milheto e feijão e acompanhamento de colheita. Planejamento e relatórios diários das atividades de campo.

CÍCERO PAULO FERREIRA

Possui graduação em Licenciatura Plena em Ciências Agrícolas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1989), Mestrado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (1997) e doutorado em Ciências Agrárias pela Universidade Federal Rural da Amazônia (2004). Atualmente é Professor Titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Campus Castanhal. Bolsista do CNPq de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora. Avaliador de Autorização, Reconhecimento e Renovação de Reconhecimento de Cursos de Graduação MEC/INEP. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Solo e Nutrição de Plantas e em Educação do Campo.

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CLAUDIA FACINI DOS REIS

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (ano de 2007), Mestrado na área de Engenharia - Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Estadual do Paraná (2011) e Doutorado em Engenharia - Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Estadual do Paraná (2014). Tem experiência em Educação; Docência; Elaboração de material didático; Coordenação de curso e Consultorias especializadas nas áreas de: Biomedicina, Nutrição, Reuso de água, Saneamento e gestão ambiental, Recursos Hídricos, Educação Ambiental, Educação popular, com ênfase em Popularização das Ciências.

CLAUDOMIRO ROBERTO DE ARAUJO JUNIOR

Graduando no curso de Engenharia Agrícola. Universidade Federal Rural da Amazônia. Campus Tomé-Açu PA.

CLEISON FREITAS DA SILVA

Graduando em Engenharia Agronômica pelo Instituto Federal do Pará - IFPA Campus CastanhaL.

CLEITON LIN OLIVEIRA DA SILVA

Engenheiro Agrônomo; Especialista em ATER, Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável; Especialista em Política e Estratégia; Mestre em Educação, Cultura e Territórios Semiárido.

DAIANE CORREÁ

Prof. Fitotecnia Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT Dra. Produção Vegetal

DALVINO PEREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR

Possui graduação em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Amazonas (2003) com especialização em Marketing Empresarial pela UFAM (2010) e mestrando em Design pela UFAM. Atualmente é Diretor de Criação e sócio da empresa ForBrand Comunicação. Com mais de 15 anos de experiência na área de comunicação, possui várias campanhas publicitárias veiculadas em Manaus e em outros estados da região Norte. Como clientes atendidos na área on-line e off-line estão: Manauara Shopping, Cristal Engenharia, Engenho Dedé, Patrimônio Manaú, Postos Atem, Cachaçaria do Dedé, Postos Equador, Picanha Mania, Info Store, Amazon Print, Ms Casa entre outros. Também foram desenvolvidos projetos na área de design gráfico, tais como: marcas, sistemas de identidade visual e rótulos de produtos regionais como Guaraná Real.

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DEILA DA SILVA MAGALHÃES

Graduanda no curso de Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus Capanema-PA. Integrante do grupo de estudos em Nutrição da Palma de Óleo (Nutripalma); Membro associada do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias e Pedometria (GEOP); Integrante do Grupo Meninas da Geotecnologia (Meninas Digitais); Membro associada do Grupo de Engenharia, Ciência e Tecnologia na Amazônia - (GECTA). Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-2018/2019, 2019/2020)- pelo CNPq.

DEYVID EDUARDO DO NASCIMENTO OLIVEIRA

Graduando em medicina veterinária pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB)

DIANA F. DE FREITAS

Engenheira agrônoma pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM) (2004). Mestre (2008) e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) (2012). Docente Adjunta III da Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Ciências do Solo (UFC/CCA/DCS). Atuação na área de Gênese e Classificação de Solos, Mineralogia de solos e Etnopedologia.

DIEGO MAIA DE OLIVEIRA

Graduando no curso de Engenharia Agrícola. Universidade Federal Rural da Amazônia Campus Tomé-Açu PA.

DIOCLEA ALMEIDA SEABRA SILVA

Docente do Magistério Superior, Adjunta C1- 40 H com dedicação exclusiva, tem doutorado em Ciências Agrárias na Área de Concentração Agroecossistemas da Amazônia, além disso é profa. Da Ufra.

ELISON DE SOUZA SEVALHO

Possui Bacharelado em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (2016), Especialização em Tutoria em EAD e Docência do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes (2017), atualmente Doutorando em Biodiversidade e Biotecnologia pela Rede de BIONORTE vinculada a Universidade do Estado do Amazonas, desenvolvendo a Tese na Universidade Federal do Amazonas. Publicou no momento 6 artigos científicos.

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ELISSON A. SANTANA

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual da Bahia (2014). Mestre em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus de Petrolina, e atualmente é doutorando em Agronomia/Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Atuação na área de Tratos Culturais e Adubação de Frutíferas.

EMANUEL MARCEL BRAGA COSTA

Possui graduação em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal do Ceará - Campus Fortaleza (2019). Atuo como Bolsista de iniciação científica no projeto Hidrontec pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Período: Jan/2015 a Dez/2015 e no período: Jan/2016 a Mai/2018 como Bolsista no laboratório de Saneamento Ambiental do IFCE.

EULENE F. DA SILVA

Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) (2002). Mestre em Agronomia (Produção Vegetal) (2004), na mesma instituição. Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) (2008). Pós-Doutorado pela UFV (2009). Professora visitante na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) (2010). Docente Associada I da Universidade Federal Rural do Semi Árido, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Ciências Agronômicas e Florestais (UFERSA/CCA/DCAF). Atuação na área de Matéria Orgânica do Solo, Fertilidade, Manejo do Solo e Pedologia.

EVELINE DE A. FERREIRA

Graduada em Ciências Biológicas Licenciatura (2004) e Bacharelado (2005) pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre (2008) e Doutora (2012) pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais, com ênfase em Ecologia, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Docente Adjunta III da Universidade Federal Rural do Semi Árido, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Biociências (UFERSA/CCBS/DBC). Atuação na área de Ecologia da Paisagem e Estrutura de Comunidades Biológicas.

FABIANE NUNES SILVEIRA

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Dra. Produção Vegetal.

FLÁVIO GOMES FERNANDES

Bacharel em agroindústria, mestre em tecnologia agroalimentar e doutorando em ciência e tecnologia de alimentos – UFPB.

FRANCIMAR M. DA S. MORAIS

Técnico em Zootecnia pelo Instituto Federal Rio Grande do Norte, Campus Apodi (2014). Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) (2019). Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Manejo de Solo e Água (UFERSA/PPGMSA). Atuação na área de Fitotecnia, com ênfase em frutíferas e Matéria Orgânica do Solo.

FRANCISCA CAMILA GOMES MACHADO

Médica Veterinaria pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Campus Sousa-PB.

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FRANCISCO CLEILSON L. COSTA

Engenheiro Agrônomo pelo Instituto Federal do Ceará, campus Limoeiro do Norte (2018). Mestrado em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (2020) e atualmente é doutorando em Genética e Melhoramento de Plantas na Universidade Federal de Lavras. Atuação na área de Genética Molecular, Produção de mudas, Adubação e Melhoramento de Frutíferas.

GILBERTA CARNEIRO SOUTO

Engenheira Agrônoma, com Curso Superior de Formação de Professores de Disciplinas Especializadas no Ensino de 2º Grau, Esquema I. Professora de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA. Desenvolve ações de Ensino e Pesquisa na área de Fitotecnia, com ênfase em Agroecologia, no campus Castanhal.Fez Mestrado em Educação Agrícola na UFRRJ. Doutorado em Agronomia/Fitotecnia na UFERSA.

GUSTAVO SOARES WENNECK

Engenheiro Agrônomo formado na Universidade Estadual de Maringá-UEM (2018). Mestrando no Programa de Pós-graduação em Agronomia na Universidade Estadual de Maringá (UEM), com área de concentração em Produção Vegetal. Membro do Núcleo de Estudos em Pós-Colheita de Produtos Agrícolas - NEPPA, atuando com pesquisas na Produção e Qualidade Pós-colheita de Produtos Agrícolas.

GUTIERRE PEREIRA MACIEL

Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus Capitão Poço. Atualmente, cursa mestrado em Agronomia, com ênfase no Manejo e Conservação de Recursos Ambientais. Na graduação exerceu a função de monitor das disciplinas de Fisiologia Vegetal, Bioquímica, Álgebra Linear e Cálculo I.

HELANE CRISTINA AGUIAR SANTOS

Engenheira Agrônoma, formada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus Capitão Poço. Atualmente, cursa doutorado em Agronomia, com ênfase em Irrigação e drenagem. Possui experiência de atuação em docência acadêmica na área de ciências exatas, com as disciplinas de Matemática básica e financeira, Cálculo integral e diferencial, Álgebra Linear e Estatística.

HELLEM DAYANE DOS SANTOS PINHEIRO

Acadêmica do curso de Agronomia pela Universidade Federal Rural da Amazônia-UFRA e Técnica em gerência de saúde pela Faculdade Metropolitana da Amazônia-UNIFAMAZ

IGOR MORAIS BEM

Médico Veterinário, formado na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

INDRAMARA LÔBO DE ARAÚJO VIEIRA MERIGUETE

Graduada em Comunicação Social (1998), habilitada em Relações Públicas. É especialista em Marketing (1999) e Biotecnologia (2000), Mestre em Economia - Desenvolvimento Regional (2009) e doutoranda em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal pela Universidade Federal do Amazonas. Construiu experiência profissional em empresas e instituições públicas, privadas e de economia mista. Trabalhou como gerente da Cadeia de Fornecimento Sustentável da Natura Cosméticos (2002-2005). Analista de Projetos na Suframa (2005-2007). Foi Assessora de Comunicação no Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM) (2008-2011). Atualmente, é Analista da Embrapa na área de Transferência de Tecnologia, idealizadora do Projeto de Expansão da Guaranaicultura na Região Metropolitana de Manaus.

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ISMAEL DE JESUS MATOS VIÉGAS

Formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural da Amazônia-UFRA (1971), Mestrado em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (1985) e doutorado em Agronomia pela mesma escola (1994). Pesquisador da Embrapa de 1973 a 2008 e professor visitante da UFRA do curso de doutorado em Ciências Agrárias, área de concentração Agroecossistemas da Amazônia de 2009 a 2011. Professor efetivo da UFRA Campus de Capanema a partir de outubro de 2012. Atua na área de fertilidade do solo e nutrição de plantas em dendezeiro, seringueira, coqueiro, açaizeiro, pupunheira, cupuaçuzeiro, gravioleira, mangostanzeiro, pimenteira-do-reino, espécies florestais (mogno, teca, paricá, taxi) e plantas ornamentais tropicais (helicônias, alpinia, bastão-do-imperador e shampoo).

ÍTALA DUAM SOUZA NARUSAWA

Acadêmica de bacharel em Agronomia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará-Campus Castanhal. Participante do grupo Meninas da Geotecnologia, grupo que viabiliza dar mais participação de mulheres na ciência e tecnologia. Natural de Boa Vista - RR.

IVANILSON DE SOUZA MAIA

Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM); mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Atualmente é professor adjunto, nível 3, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, vinculado ao Departamento de Ciências Animais (DCA/CCA), ministrando as seguintes disciplinas: Extensão pesqueira e aquícola e Elaboração de projetos para pesca e aquicultura; e, Elaboração e viabilidade de projetos para o curso em Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC), vinculado ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas (CCSAH). Coordena o Laboratório e Núcleo de Estudos em Desenvolvimento, Meio Ambiente, Extensão Pesqueira e Aquícola (LEME) e lidera o grupo de pesquisa Articulação, Liderança e Gestão da Agropecuária Sustentável (ALGAS). Tem experiência na área de Ciências Ambientais, com ênfase em Desenvolvimento e meio ambiente, atuando, principalmente, nos seguintes temas: sustentabilidade, indicadores de desenvolvimento, pesca artesanal, inovação tecnológica, extensão, macroalgas, microalgas, aquaponia e aquicultura sustentável.

JAIRO JANAILTON ALVES DOS SANTOS

Agroecólogo, mestre em tecnologia agroalimentar e professor técnico da ecit plínio lemos.

JANACINTA NOGUEIRA COSTA

Consultora ambiental com expertise em Licenciamento ambiental, planos e estudos ambientais. Mestranda em energias renováveis e engenheira sanitarista e ambiental pelo Instituto Federal de educação ciência e tecnologia - Campus Maracanaú com graduação sanduíche na RWTH Aachen University, Alemanha. Vasta experiência com trabalhos voluntários e projetos socioambientais.

JANE MÁRCIA PINTO MOURA

Administradora de Empresas, professora do ensino superior e de pós graduação, nas áreas de Empreendedorismo, Gestão de projetos, Economia, Inovação, expertise em incubadora de empresas, Graduada em Administração-(AM-Brasil), Pós-graduada em Difusão da Inovação Tecnológica-(AM-Brasil), Mestranda em Engenharia de Produção Industrial-Universidade do Minho-(Guimarães-Portugal); Doutoranda/aluna especial do Programa de Pós-graduação BIONORTE na Universidade Federal do Amazonas-UFAM-(AM-BRASIL), Está Superintendente da Rede de Inovação e Empreendedorismo da Amazônia-RAMI.

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JOÃO VITOR GANEM RILLO PAZ BARATEIRO

Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2018); Mestrando em Produção e Proteção Vegetal pelo Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR; Estagiário de Pesquisa na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA Soja.

JOELMA MAYARA DA SILVA

Bacharel em Estatística pela Universidade Federal de Pernambuco(2016.2), Estudante do mestrado em Biometria e Estatística Aplicada (UFRPE). Habilidades computacionais em linguagem R e C, e no software SPSS. Atua nos seguintes temas: Física Estatística, Estudo de séries temporais através de redes complexas, Horizontal Visibility Graph, problema de partição equilibrada, problema de k-partição, metaheurísticas e modelagem estatística.

JORDÂNIA ARAÚJO

Agrecóloga, especialista em gestão dos recursos ambientais do semiárido - ifpb, mestre em tecnologia agroalimentar e doutoranda em agronomia - UFPB.

JOSÉ MARCOS DE BASTOS ANDRADE

Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (1980), mestrado em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal de Lavras (1984) e doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual de Maringá (2003). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Agronomia, atuando principalmente nos seguintes temas: fruticultura, citricultura, poda, maracujazeiro e aceroleira.

JOSÉ ROBERTO LOPES DA SILVA

Possui graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2007), Doutorado em Engenharia Agrícola (2015) na UFRPE. Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase em Engenharia de Água e Solo, atuando principalmente nos seguintes temas: Hidrologia, Instrumentação, Manejo de Irrigação, Conservação do Solo e água, Saneamento e Meio Ambiente. Envolvimento com projetos Técnicos, de Pesquisa e Extensão.

JOSÉ ROBERTO RODRIGUES

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Mestrando em Produção Vegetal.

JOSEANE DE SOUZA HIPOLITO

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Dra. Fisiologia Vegetal.

JUCARLOS RUFINO DE FREITAS

Possui graduação em Bacharelado em Estatística pela Universidade Federal de Pernambuco (2015), Licenciatura em Matemática (2018), especialização em Metodologia do Ensino de Matemática (2019); Mestrado em Estatística Aplicada e Biometria pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2018) . Trabalhou como estagiário na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ - 2014 a 2016). Tem experiência na área de Probabilidade e Estatística, com ênfase em análise de dados, análise de séries temporais, análise de regressão e planejamento de experimentos. Atualmente faz doutorado no Programa de Pós-graduação em Biometria e Estatística Aplicada(PPGBEA) - UFRPE.

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JUCARLOS RUFINO DE FREITAS

Possui graduação em Bacharelado em Estatística pela Universidade Federal de Pernambuco (2015), Licenciatura em Matemática (2018), especialização em Metodologia do Ensino de Matemática (2019); Mestrado em Estatística Aplicada e Biometria pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2018) . Trabalhou como estagiário na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ - 2014 a 2016). Tem experiência na área de Probabilidade e Estatística, com ênfase em análise de dados, análise de séries temporais, análise de regressão e planejamento de experimentos. Atualmente faz doutorado no Programa de Pós-graduação em Biometria e Estatística Aplicada(PPGBEA) - UFRPE.

KLEWTON ADRIANO OLIVEIRA PINHEIRO

Engenheiro Florestal formado pela antiga Faculdade de Ciências Agrárias do Pará – FCAP, com especialização em Engenheira de Segurança do Trabalho pela Universidade da Amazônia - UNAMA e doutorado em Ciências Agrárias pela Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA. Atualmente é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA.

LAÉRCIO NOGUEIRA MEDEIROS

Graduação em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas EAJ-UFRN (2018), graduação em Licenciatura Plena em Português pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2010). Técnico em Informática pelo IFRN- Natal. Formação em teoria musical pelo CEMO- Olinda. Interesse em educação musical, informática e ensino de língua portuguesa. Atualmente cursando especialização em Tecnologias Aplicadas à Educação no Instituto Federal do Rio Grande do Norte-Ceará-Mirim.

LARISSA F. DA SILVA

Graduada em Gestão Ambiental pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) (2017). Mestre em Manejo de Solo e Água pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido – (UFERSA/PPGMSA), Campus Mossoró. Atuação na área de Poluição, Fertilidade e Matéria Orgânica do Solo.

LEIKA IRABELE TENÓRIO DE SANTANA

Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade de Pernambuco - Campus Garanhuns (2016). Mestrado em Biometria e Estatística Aplicada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - Campus Recife (2020). Doutoranda em Biometria e Estatística Aplicada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (PPGBEA/UFRPE).

LÍVYA THAMARA DE QUEIROZ FEITOSA

Possui graduação em Saneamento Ambiental (2017) e nível Técnico em Meio Ambiente (2013), ambos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. Atua nas áreas de: Educação Ambiental, Reúso e Tratamento de Efluentes, dentre outros. Atuou como bolsista de pesquisa e iniciaçao cientifica no periodo de 2012 - 2014. Participou do Projeto Novo Ecoar com a funçao de Instrutora de Educaçao Ambiental, formando jovens multiplicadores ambientais.

LUCAS DA ROCHA FRANCO

Graduando do curso de Engenharia Agronômica, pelo o Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Piauí, Campus-Uruçuí. Participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica a Inovação Tecnológica (PIBIC-IT) durante o ano de 2018 e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), durante o ano de 2019. Possui experiencia em pesquisa científica na área da Agronomia, relacionas a temas como: forragicultura, produção vegetal, ciências do solo, grandes culturas e análises de impactos ambientais.

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LUIZ AUGUSTO DE QUEIROZ GOMES

Graduado em Engenharia Florestal pela Universidade do Estado do Pará - UEPA.

LUIZ GUSTAVO PAVÃO

Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2018). Atualmente atua com consultor na empresa Farmer's Consultoria, abrangendo principalmente tópicos de manejo de solo, principalmente a abordagem em fertilidade do solo e física do solo.

LUIZA BUNA MATOS DAMASCENO

Possui graduação em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (2017).

MADSON ALAN ROCHA DE SOUSA

Graduação em Tecnologia Agroindustrial ênfase em Tecnologia da Madeira pela Universidade do Estado do Pará (2007). Mestrado em Biodiversidade Tropical (Ecologia e Meio Ambiente) pela Universidade Federal do Amapá (2011).

MAIZA ARAUJO CORDÃO

Médica Veterinária, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Centro de saúde e Tecnologia Rural, Campus de Patos-PB. Mestre em Sistema Agrossilvilpastoril (Zootecnia) pela UFCG. Doutora em Medicina Veterinária pela UFCG. Atualmente é professora das Faculdades Nova Esperança/Facene no curso de Medicina Veterinária.

MÁRCIA ALESSANDRA BRITO DE AVIZ

Coordenadora do Projeto PITAYA TA. Docente Adjunta UFRA Campus Tomé-açu/PA. DSc. Ciências Agrárias. Msc. em Ciência Animal. Especialista em Educação. Engª. Agronôma.

MARIA EVELAINE DE LUCENA NASCIMENTO

Mestranda PPGR em Ciencia Animal pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Médica Veterinária pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). Técnica em Agropecuária pelo IFPB.

MARIA LUCIVÂNIA DINIZ DA SILVA

Graduanda do curso de Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Possui interesse na área de comportamento e nutrição de cães e gatos. Atua no projeto Xerimbabo, desde 2017 onde tem trabalhado a conscientização das pessoas sobre bem-estar animal e zoonoses.

MARIELE CORREIA ALVES

Técnica em floresta, formada pelo instituto federal do Pará ( ifpa) Campus Castanhal, graduanda em agronomia pela Universidade Federal Rural da Amazônia ( UFRA), atua em pesquisas científicas no Núcleo de Pesquisa Básica e Aplicada em Agricultura Irrigada ( NUPBAAI).

MARISA DE SOUZA GOUVEA

Possui ensino-fundamental-primeiro-grau pela Escola Municipal Machado de Assis(2017). Atualmente é Bolsista PIBIC do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Zootecnia.

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MARKUS WYBERO NUNES BRITO

Acadêmico de Engenharia Agronômica - Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA Técnico em Agropecuária- Instituto Federal do Pará -IFPA

MARLENILDO F. MELO

Engenheiro Agrônomo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (2016) e Administrador pela Universidade Federal do Ceará (2015). Mestre em Agronomia/Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) (2018) e, atualmente é doutorando em Agronomia/Fitotecnia pela UFERSA/RN. Atuação na área de Adubação, Tratos Culturais, Qualidade e conservação Pós-colheita de frutas e hortaliças.

MATEUS HIGO DAVES ALVES

Acadêmico de Engenharia Agronômica - Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

MATHEUS HENRIQUE RESUENO DOS SANTOS

Acadêmico de Engenharia Agronômica - Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

MATHEUS MELO DANTAS

Técnico em Aquicultura (2017) formado pela EAJ-UFRN, graduando em Medicina Veterinária pelo CSTR-UFCG.

MAURA DA SILVA COSTA FURTADO

Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP), campus Belém. Possui mestrado em Estatística pela Universidade Federal do Pará, UFPA (2011), especialização em Docência no Ensino Superior, pela Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro (2004), graduação em Estatística pela Universidade Federal do Pará, UFPA (1999).

MAURO DIAS SOUZA

Graduado em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Pará - UEPA.

MICKAELLE MARIA ALMEIDA PEREIRA

Doutoranda do Pós - Graduação em Biometria e Estatística Aplicada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (PPGBEA / UFRPE). Possui mestrado em Biometria e Estatística Aplicada (PPGBEA) (2020) pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. Possui graduação em Licenciatura Plena em Matemática pela Universidade de Pernambuco (2016). Integrante do grupo FAMAC (Física Aplicada e Matemática Computacional).

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MOACYR CUNHA FILHO

Possui graduação em Engenharia Civil (1988), especialização em Engenharia e Segurança do Trabalho(1991), Didática das Disciplinas Profissionalizantes (1992) e em Administração Pública (2012); Mestrado em Estatística Aplicada e Biometria pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2002); Doutorado em Ciência do Solo pela UFRPE (2009). Foi Diretor do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) de 1995 a 2000. Foi Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biometria e Estatística Aplicada/UFRPE (Mestrado e Doutorado-Conceito 5-2010 a 2012) e Supervisor da Área de Estatística (2006 a 2012). Atuou como Coordenador Geral de Logística, Tecnologia da Informação e Inovação Institucional da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ-2011 a 2013).

MYRELLA KATLHEN DA CUNHA DE ARAUJO

Graduanda no curso de Engenharia Agrícola. Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus Tomé-Açu PA

NATÁLIA CARLA FERNANDES DE MEDEIROS DANTAS

Tenho graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA - 2011). Sou mestra em Ciência Animal, linha de pesquisa Ecologia, pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA - 2013). Doutora em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (UFC - 2019), na linha de pesquisa de Meio Ambiente e Recursos Pesqueiros. Atualmente sou bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial (DTI) do CNPq e atuo na organização e análise de dados, como também na interpretação de cenários para a elaboração da estatística da pesca do estado do Ceará. Tenho experiência em gerenciamento de projetos, análise de dados e interpretação de cenários. Possuo habilidade de comunicação textual/visual, desenvoltura ao falar em público e capacidade de mediação/resolução de conflitos. Em 2018 iniciei o curso de Licenciatura em Formação Pedagógica para graduados não licenciados, na modalidade à distância pelo IFRN. Este curso está me proporcionando a oportunidade de me posicionar e consolidar como educadora. Sou uma estudiosa e pesquisadora das questões ambientais por paixão. E recentemente me descobri uma educadora por vocação. Participo do grupo de pesquisa Articulação, Liderança e Gestão da Agropecuária Sustentável (ALGAS) da UFERSA, onde realizamos a elaboração e implementação de projetos voltados a consolidação da bioeconomia. Atuo na área de adequação de produtos e serviços aos critérios de sustentabilidade sob a ótica da ecoinovação e da economia circular. Também apresento palestras e cursos na temática de sustentabilidade e desenvolvo projetos de educação ambiental. Presto serviço de consultoria ambiental voltado para a caracterização do ambiente aquático e na elaboração de projetos de empreendimentos aquícolas sustentáveis. No doutorado desenvolvi pesquisa relacionada aos processos de erosão costeira e poluição marinha. Também trabalhei em pesquisa que envolve gestão de resíduos sólidos. Tenho experiência em dialogar com comunidades tradicionais.

NATALIA INGRID SOUTO DA SILVA

Médica Veterinária pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus Sousa (2019). Mestranda em Ciência Animal pela Universidade Federal de Campina Grande (2019)

NELSON KEN NARUSAWA NAKAKOJI

Graduando em Agronomia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, IFPA, Brasil. Natural de Belém - PA.

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NILDO DA S. DIAS

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) (1999). Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) (2001). Doutorado em Agronomia pela Universidade de São Paulo (USP/ESALq) (2004). Pós-doutorado pela Universidade da Califórnia Riverside (UCR) - US Salinity Laboratory (2014). Docente Associada IV da Universidade Federal Rural do Semi Árido, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Ciências Agronômicas e Florestais (UFERSA/CCA/DCAF) e Bolsista de Produtividade em Pesquisa - Nível 1 A. Atuação na área de Manejo e Conservação dos Solos e da Água, com ênfase em tecnologia sociais de convivência com o semiárido e, Manejo da Salinidade.

PAULO HENRIQUE DALTO

Professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI Campus Uruçuí) desde 2014. Possui: Mestrado em Agronomia na área de Produção Vegetal, UFPI, 2016; Especialização em Ciências Ambientais, IFPI, 2013; MBA em Gestão Empresarial, FGV, 2010; Classificador de Produtos Vegetais, UFV, 2009; Graduado em Engenharia Agronômica, UEL, 2005. Tem experiência na área de Administração Rural, Grandes Culturas e Máquinas Agrícolas, com ênfase em Gestão de Propriedades Rurais.

RAMON FERREIRA DOS SANTOS

Médico Veterinário, formado na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

RAUNIRA DA COSTA ARAÚJO

Engenheira agrônoma (ufpb), mestre em agronomia (fitotecnia) - ufla e doutora em agronomia (fitotecnia) - ufv, professora titular da universidade federal da paraíba/centro de ciências humanas, sociais e agrárias.

ROBERTO VIEIRA PORDEUS

O professor Roberto Vieira Pordeus, natural de Campina Grande, estado da Paraíba. Graduado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB (1982), mestrado em Agronomia na área de Irrigação e Drenagem pela Universidade Federal do Ceará-UFC (1990) e doutorado em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande-UFCG (2005). Professor Assistente da Escola Superior de Agricultura de Mossoró-ESAM de junho de 2004 a agosto de 2005. Professor Associado Nível IV da Universidade Federal Rural do Semi-Árido-UFERSA, ingresso em 04 de agosto de 2005. Coordenador do Curso de Engenharia Agrícola e Ambiental por quatro mandatos, de maio/2006 a maio/2008; e de junho/2008 a junho/2010; de maio/2015 a maio/2017 e de maio/2017 a maio/2019;Assessor Especial, de agosto/2008 a janeiro/2009; Diretor Pró Tempore do Campus UFERSA em Angicos-RN, de janeiro/2009 a abril/2010; Diretor Pró Tempore do Campus da UFERSA em Caraúbas-RN, de abril/2010 a março/2012, Diretor provisório do Campus da UFERSA em Pau dos Ferros; Responsável pela implantação dos três campus; Membro Titular do Conselho Universitário da UFERSA, mandato de 02 anos, com início em abril/2013; Representante da UFERSA na Câmara de Agronomia como Conselheiro Regional do CREA-RN, por 6 anos, de 2010 a 2015; No CREA foi Coordenador da Câmara Especializada de Agronomia por dois mandatos janeiro/2011 a dezembro/2012; Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia janeiro/2014 a dezembro/2015; Membro da Comissão de Educação e Atribuição Profissional do CREA-RN de 2013 a 2015; Engenheiro Agrícola da Associação Técnico Cientifica Eng. Paulo de Frontin-ASTEF, de setembro/1989 a maio/1995; Diretor da Divisão Regional de Crateús-CE, da Superintendência de Obras Hídricas-SOHIDRA/Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará, de setembro/1989 a abril/1992; Diretor da Divisão de Estudos Básicos de Projetos da Secretária de Recursos Hídricos do Estado do Ceará, de abril/1992 a fevereiro/1995.

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RUBEN VIVALDI SILVA PESSOA

Mestrando do Programa de Pós-graduação em Biometria e Estatística Aplicada (PPGBEA -UFRPE). Bacharel em Estatística pela Universidade Federal de Pernambuco (2017) e atualmente faz mestrado no Programa de Pós-graduação em Biometria e Estatística Aplicada(PPGBEA) - UFRPE. Trabalhou como estagiário de Estatística no Ministério Público de Pernambuco (MPPE - 2015 a 2017). Habilidade computacional na linguagem R. Tem experiência na área de Probabilidade e Estatística, com ênfase em análise de dados, análise de regressão e planejamento de experimentos. Profissionalmente atua como Estatístico na Universidade Federal de Pernambuco, na Coordenação de Informações Gerenciais da Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças.

RUY GEOVANE MONTEIRO DE SOUZA

Acadêmico de Engenharia Agronômica - Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

SILVANETE SEVERINO DA SILVA

Graduada em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido-UFERSA, campus Angicos (2011) e também em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande-UFCG, campus Campina Grande (2019). Mestrado com ênfase em Manejo de Água e Solo (2015) e doutorado com ênfase em Recursos Hídricos e Sistemas Agroflorestais (2019), na área de concentração em Irrigação e Drenagem pela UFCG, respectivamente. Professora que atua nas áreas de Engenharia: Hidrologia, Projetos e Processos, Planejamento, Manejo de água e solo, Saneamento e Meio Ambiente.

SOCORRO DE FÁTIMA SOUZA DA SILVA VIÉGAS

Graduada em Ciências Sociais, dirigi minha formação profissional para a Administração, mais precisamente para o desenvolvimento de pessoas e sustentabilidade organizacional. Concluí meu curso de Mestrado em Administração com ênfase em Gestão organizacional e sigo agora minha formação como Doutoranda em Administração na Universidade da Amazônia.

SPARTACO ASTOLFI FILHO

Formou-se Bacharel em Ciências Biológicas pela UnB em 1975, Mestre em Biologia Molecular pela UnB 1978 e Doutor em Ciências pela UFRJ em 1987. Realizou em 1988-1989 Pós-Doutorado na área de Engenharia Genética no Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade de Manchester (UK). Coordenou a Rede Genômica da Amazônia Legal, o Programa Multi-Institucional de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBIOTEC/UFAM) e o Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte (PPG-BIONORTE). Aposentou-se como Professor Titular de Biotecnologia da UFAM. Integra o Conselho Científico da Cristália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda e atualmente é Professor Emérito da UFAM.

SUELEN CRISTINA UBER

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Dra. Produção Vegetal.

SUELY CRISTINA PEREIRA DE LIMA OLIVEIRA

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Paraíba(2001), mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Ruminantes pela Universidade Federal de Campina Grande(2005) e doutorado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Campina Grande(2016). Atualmente é Professor de ensino técnico e tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba.

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TATIANA GOUVEIA PINTO COSTA

Professora de ensino básico, técnico e tecnológico, do Instituto Federal da Paraíba, Campus Sousa - PB. Doutora em Zootecnia, na área de Produção e Nutrição Animal (PDIZ - UFPB/UFC/UFRPE) (2009 - 2013). Possui Pós-graduação (Stricto sensu) em Zootecnia - UFC, na área de produção e nutrição animal (2005-2007). Cursou a graduação em Zootecnia - UFPB-CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS (2004).

THIAGO FELIPH SILVA FERNANDES

Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus Capitão Poço. Foi estagiário na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Amazônia Oriente, onde foi bolsista de Iniciação Científica CNPq na área de melhoramento genético de plantas. Atualmente, é mestrando em Agronomia (Produção Vegetal) na Universidade Estadual Paulista, Campus Jaboticabal, onde desenvolve pesquisa em Fisiologia Vegetal [cultura do mamoeiro]: com método não destrutivos utilizando a espectroscopia do infravermelho próximo (NIR).

VANESSA CLARICE FERNANDES ALVES

Possui graduação em Engenharia de Pesca e mestrado em Produção Animal pela Universidade Federal Rural de Semi-Árido. Atua na área ambiental e pesqueiro e, atualmente, desenvolve pesquisas em qualidade, microbiologia. conservação e tecnologia de alimentos, com enfoque em pescado.

VANESSA DA COSTA SANTOS

AGROECÓLOGA – IFPB

VIVIANE DA SILVA MEDEIROS

Médica Veterinária graduada pela UFRPE, Doutora em Psicobiologia com ênfase em comportamento animal pela UFRN. Professora na Escola Agrícola de Jundiaí, trabalhando com comportamento e bem-estar animal, sanidade na aquicultura e criação de anfíbios e répteis. Atuando em projetos na área de educação em saúde e despertando vocações para ciências agrárias.

WALESKA MARTINS ELOI

Possui Graduação em Agronomia (2000) e Mestrado em Irrigação e Drenagem (2003) pela Universidade Federal do Ceará , Doutorado em Irrigação e Drenagem (2007) pela Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Foi líder do grupo Centro de Estudos da Sustentabilidade da Agricultura Irrigada (CESAI) e Coordenadora da Área de Recursos Naturais do IFCE Campus de Sobral. Atualmente é Professora do Departamento de Construção Civil , Coordenadora da Pós-Graduação em Tecnologia e Gestão Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus de Fortaleza. Atua nas seguintes áreas: Recursos hídricos, Salinidade do Solo, Qualidade da Água, Meio Ambiente, Hidrologia.

WANDERSON CUNHA PEREIRA

Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal do Pará, Campus de Santarém (atual UFOPA); Mestrado em Estatística pelo Programa de Pós-Graduação em Matemática e Estatística (PPGME) da UFPA, Campus de Belém; e atualmente é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental (PPBA) da UFPA, Campus Bragança.

WELLINGTON QUEIROZ RAMOS

Graduado em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Pará - UEPA.

Tópicos em Ciências Agrárias – Volume 6

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