Responsabilidade do Agente Marítimo por infrações no SISCOMEX/SISCARGA

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Responsabilidade do Agente Marítimo por infrações no SISCOMEX/SISCARGA Luciana de Mello Rodrigues *

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Responsabilidade do Agente Marítimo por infrações no

SISCOMEX/SISCARGA

Luciana de Mello Rodrigues

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Objeto dos autos de infração

- SISCOMEX e SISCOMEX CARGA – regulado pela Instrução Normativa da RFB n. 800, de 27/12/2007

- Receita Federal x Transportadores e Agentes Marítimos

- Autos de Infração e multas de R$ 5.000,00 por cadaocorrência assim descrita:

NÃO PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE VEÍCULO OU CARGA TRANSPORTADA, OU SOBRE OPERAÇÕES QUE EXECUTAR

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Principais argumentos de defesa

- Nulidade do lançamento por ausência dos elementos que devem concorrer para a validade do ato administrativo e vinculado que é: ARTIGOS 113 e 142 e seguintes do CTN – princípios da legalidade e da observância do prévio procedimento

-Nulidade do auto de infração, por ilegitimidade do agente marítimo para figurar como infrator e responsável pela penalidade imposta: ARTIGO 97 III do CTN – princípio da reserva legal

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Principais argumentos de defesa

- Nulidade do auto de infração por inobservância do disposto no ARTIGO 10 do Decreto n. 70.235/72, ARTIGO 2º da Lei n. 9.784/99, e ARTIGOS 5º LV e 37 da CF/88: equívoco na descrição dos fatos, do enquadramento legal, ferindo os princípios básicos da administração

- Insubsistência do auto de infração – necessidade de verificação de cada situação apontada como infração e de aplicação do ARTIGO 112 do CTN: prazos e formas previstas na IN SRF 28/1994, Decreto-lei 37/1966 e Ato Declaratório Executivo COREP n. 03/2008 – em caso de dúvida, interpreta-se a lei da maneira mais favorável ao contribuinte.

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Principais argumentos de defesa

- Insubsistência do auto de infração por ocorrênciade DENÚNCIA ESPONTÂNEA: ARTIGO 138 do CTN e § 2º do ARTIGO 102 doDecreto-lei 37/66, com redação dada pela Lei 12350/2010

- Nulidade das multas aplicadas mais de uma vez:ARTIGO 107, IV, ‘e’, do Decreto-lei 37/66

- Nulidade do auto de infração por impossibilidade de modificação do sujeito passivo – aplicação do ARTIGO 137 inciso I do CTN

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Enquadramento legal dos autos de infração

DECRETO-LEI n. 37, de 18/11/1966:

Art. 37- O transportador deve prestar à Secretaria da Receita Federal, na forma e no prazo por ela estabelecidos, as informações sobre as cargas transportadas, bem como sobre a chegada de veículo procedente do exterior ou a ele destinado.

§1º- O agente de carga, assim considerada qualquer pessoa que, em nome do importador ou do exportador, contrate o transporte de mercadoria, consolide ou desconsolide cargas e preste serviços conexos, e o operador portuário, também devem prestar as informações sobre as operações que executem e respectivas cargas. *

Art . 32- É responsável pelo imposto: (com redação dada pelo Decreto-lei n. 2472/88)

I- o transportador, quando transportar mercadoria procedente do exterior ou sob controle aduaneiro, inclusive em percurso interno;

Parágrafo único- É responsável solidário: (com a redação dada pela Medida Provisória n. 2158-35, de 2001)

II - o representante, no País, do transportador estrangeiro;

Art. 107- Aplicam-se ainda as seguintes multas:IV - de R$ 5.000,00 (cinco mil reais):e) por deixar de prestar informação sobre veículo ou carga nele transportada, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, aplicada à empresa de transporte internacional, inclusive a prestadora de serviços de transporte internacional expresso porta-a-porta, ou ao agente de carga;

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Enquadramento legal dos autos de infração

Enquadramento legal dos autos de infração

INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB n. 800, de 27/12/2007:

Art. 1º-. O controle de entrada e saída de embarcações e de movimentação de cargas e unidades de carga em portos alfandegados obedecerá ao disposto nesta Instrução Normativa e será processado mediante o módulo de controle de carga aquaviária do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), denominado Siscomex Carga.

Parágrafo único- As informações necessárias aos controles referidos no caput serão prestadas à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) pelos intervenientes, conforme estabelecido nesta Instrução Normativa, mediante o uso de certificação digital:

I- no Sistema de Controle da Arrecadação do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (Mercante), gerenciado pelo Departamento do Fundo da Marinha Mercante (DEFMM), pelos transportadores, agentes marítimos e agentes de carga; e II- diretamente no Siscomex Carga, pelos demais intervenientes.

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Enquadramento legal dos autos de infração

Art. 2ª- ...

§1º- Para os fins de que trata esta Instrução Normativa:

IV- o transportador classifica-se em:

a) empresa de navegação operadora, quando se tratar do armador da embarcação; b) empresa de navegação parceira, quando o transportador não for o operador da embarcação; c) consolidador, tratando-se de transportador não enquadrado nas alíenas "a" e "b" responsável pela consolidação da carga na origem; d) desconsolidador, no caso de transportador não enquadrado nas alíenas "a" e "b” responsável pela desconsolidação da carga no destino; e e) agente de carga, quando se tratar de consolidador ou desconsolidador nacional;

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Enquadramento legal dos autos de infração

Art. 4º- A empresa de navegação é representada no País por agência de navegação, também denominada agência marítima.

§1º- Entende-se por agência de navegação a pessoa jurídica nacional que represente a empresa de navegação em um ou mais portos no País.

§2º- A representação é obrigatória para o transportador estrangeiro.

§3º -Um transportador poderá ser representado por mais de uma agência de navegação, a qual poderá representar mais de um transportador.

Art. 5º- As referências nesta Instrução Normativa a transportador abrangem a sua representação por agência de navegação ou por agente de carga.

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Enquadramento legal dos autos de infração

Art. 6º- O transportador deverá prestar à RFB informações sobre o veículo e as cargas nacional, estrangeira e de passagem nele transportadas, para cada escala da embarcação em porto alfandegado.

Art. 45. O transportador, o depositário e o operador portuário estão sujeitos à penalidade prevista nas alíneas "e" ou "f" do inciso IV do art. 107 do Decreto-Lei nº 37, de 1966, e quando for o caso, a prevista no art. 76 da Lei nº 10.833, de 2003, pela não prestação das informações na forma, prazo e condições estabelecidos nesta Instrução Normativa.

§ 1º Configura-se também prestação de informação fora do prazo a alteração efetuada pelo transportador na informação dos manifestos e CE entre o prazo mínimo estabelecido nesta Instrução Normativa, observadas as rotas e prazos de exceção, e a atracação da embarcação.

§ 2º Não configuram prestação de informação fora do prazo as solicitações de retificação registradas no sistema até sete dias após o embarque, no caso dos manifestos e CE relativos a cargas destinadas a exportação, associados ou vinculados a LCE ou BCE.

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Enquadramento legal dos autos de infração

DECRETO n. 6.759, de 05/02/2009 (Regulamento aduaneiro):

Art. 54- Os transportadores, bem como os agentes autorizados de embarcações procedentes do exterior, deverão informar à autoridade aduaneira dos portos de atracação, na forma e com a antecedência mínima estabelecidas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, a hora estimada de sua chegada, a sua procedência, o seu destino e, se for o caso, a quantidade de passageiros.

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Ausência de previsão legal contra o AGENTE MARÍTIMO

- DECRETO-LEI n. 37 de 1966, com redação dada pela Lei 10.833/2003: a obrigação de prestar as informações no SISCOMEX/SISCOMEX CARGA é do transportador, do agente de carga e do operador portuário, bem como que os intervenientes nas operações de comércio exterior

- ARTIGOS 113-§ 2º, 115 e 97-V, todos do CTN: somente a lei pode estabelecer uma obrigação tributária acessória, seu fato gerador e a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos

- ARTIGO 100 do CTN: Instrução Normativa é um ato administrativo que visa complementar ou regular legislação já em vigor

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Da ilegitimidade do Agente Marítimo

1- Ausência de previsão legal para atuação/responsabilização do agente marítimo – Instrução Normativa não é uma norma legítima para tanto.

2- A relação do agente marítimo com o transportador marítimo ou com aquele que o aponta/nomeia/contrata (seja ele o armador ou o afretador do navio) é meramente de MANDATO, na forma dos arts. 653 e seguintes do Código Civil (Lei n. 10.406/2002): “Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses.”

3- O agente marítimo não pode ser confundido com o agente de carga. “O Agente (marítimo) é o elo indispensável na cadeia de comunicação entre o Armador e diversos personagens que interagem com o navio quando este chega a um Porto Nacional.” (FENAMAR)

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Precedentes Administrativos e Judiciais

(Extinto) Tribunal Federal de Recursos Súmula nº 192 - 19-11-1985 - DJ 25-12-85Agente Marítimo - Exercício Exclusivo das Atribuições Próprias – Responsável Tributário - Transportador - Imposto de Importação de Veículos - Serviço Aduaneiro“O agente marítimo, quando no exercício exclusivo das atribuições próprias, não é considerado responsável tributário, nem se equipara ao transportador para efeitos do Decreto-Lei 37, de 1966”.

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Precedentes

“Tem mandato legal do transportador marítimo, o seu agente marítimo. O que se tem que distinguir é que o agente marítimo não pode ser acionado, ele próprio, como responsável pela indenização. (...) Às vezes cometem-se enganos nesse ponto, por se pretender acionar o agente marítimo em nome próprio. Isso não é possível”. (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Recurso Extraordinário N. 87.138-SP – RTJ 90/1010)

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Precedentes

“(...) O agente marítimo, na condição de responsável pela intermediação de contratos de transporte, não tem poder de gestão sobre a embarcação e não possui responsabilidade pelos negócios do armador, que explora comercialmente uma embarcação mercante, sendo ou não seu proprietário.(...)”(REsp 1.217.083/RJ, Relator Min. Mauro Campbell Marques, DJe 04.03.2011)

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Precedentes

“(...) O agente marítimo não é o afretador do navio, não manuseia a carga, não executa o transporte e muitos menos tem poder de ingerência sobre a navegação - atividade afeta exclusivamente ao armador -, razão pela qual não pode ser responsabilizado por atos praticados no exercício de seu ofício nem pelos atos do armador. Antes, exerce atividade estritamente mandatária e como tal (mandatário) fala e age em nome e por conta do armador (mandante). Logo, é o armador quem irá contrair obrigações e adquirir direitos como se pessoalmente tivesse tomado parte no negócio jurídico.Ressalte-se que a idéia de representação é imprescindível, considerada como elemento subjacente e típico do mandato, pois estabelece um liame obrigacional entre o representado e terceira pessoa, por meio do representante.O mandatário é representante por vontade do representado, daí ser o mandato uma representação convencional, em que o representante recebe poderes para agir em nome do representado.A figura do transportador marítimo não se confunde com a do agente marítimo. Este último, como bem ressaltou a parte autora em sua inicial, apenas representa o proprietário do navio, o armador, o gestor ou o afretador/transportador, atuando, portanto, como mandatário, não podendo, em razão disso, ser responsabilizado por deveres de seu representado.” (Sentença de 09/04/2013 – EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL Nº 5002847-77.2011.404.7008/PR – Vara Federal de Paranaguá)

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Precedentes

(Tribunal Regional Federal da 4ª Região, 3ª Turma, Relator Des. Federal Nicolau Konkel Junior, Apelação Cível n. 5000437-75.2013.404.7008/PR, julgado em 12/03/2014)

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Precedentes

“(...) A imposição de penalidades, tanto no âmbito administrativo como no âmbito tributário, deve observar o princípio da legalidade. Visto que o

agente marítimo não se encontra dentre os sujeitos arrolados no citado dispositivo legal, não subsiste o

auto de infração que aplicou a penalidade de multa à empresa apelada. (...)”

(Tribunal Regional Federal da 4ª Região, 3ª Turma, Relatora Des. Federal Marga Inge Barth Tessler, Apelação

Cível n. 5002847-77.2011.404.7008/PR, julgado em 18/09/2013)

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Denúncia Espontânea

As infrações autuadas, em sua grande maioria, cuidam de situações em que as informações foram prestadas no sistema alegadamente com atraso, contudo, antes do início de qualquer procedimento administrativo fiscal.

E tal circunstância vem caracterizar a DENÚNCIA ESPONTÂNEA, afasta a responsabilidade, ou melhor, determina que aquele ato deixou de ser definido como infração e, portanto, sujeito à penalidade administrativa.

Código Tributário Nacional Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração.Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.

Decreto-lei n. 37/1966 – Artigo 102§2º- A denúncia espontânea exclui a aplicação de penalidades de natureza tributária ou administrativa, com exceção das penalidades aplicáveis na hipótese de mercadoria sujeita a pena de perdimento.

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Denúncia Espontânea

ARTIGO 138 – CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL e § 2º do ARTIGO 102 do DECRETO-LEI 37/1966

“Assunto: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIASData do fato gerador: 09/05/2007Multa do artigo 107, V, “e”, do DL 37/1966.A “denúncia espontânea”, em face da nova redação do artigo 102, § 2º, do DL 37/1966, dada pela Lei 12.350/2010, atinge a multa administrativa.Impugnação Procedente.Crédito Tributário Exonerado”(Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo II – SP – Acórdão 17-52.982 – 2ª Turma da DRJ/SP2 – Processo 11128.005067/2007-03 – julgado 11/08/2011)

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Denúncia Espontânea

“Processo n. 10907.002580/2008-85Recurso VoluntárioAcórdão n. 3803-003.959 – 3ª Turma EspecialSessão de 27 de fevereiro de 2013Matéria: AUTO DE INFRAÇÃO ADUANEIRO – MULTA ADMINISTRATIVAASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIASPeríodo de apuração: 26/05/2004 a 19/09/2004MULTA. INTEMPESTIVIDADE DO CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. REGISTRO DE EMBARQUE. DENÚNCIA ESPONTÂNEA.Aplica-se o instituto da denúncia espontânea às obrigações acessórias de caráter administrativo cumpridas intempestivamente, mas antes do início de qualquer atividade fiscalizatória e após o desembaraço da mercadoria, relativamente ao dever de informar, no Siscomex, os dados referentes ao embarque anteriormente declarado em Declaração de Exportação (DDE).” (CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS – TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO)

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Denúncia Espontânea

Regulamento Aduaneiro – Decreto n. 6.759, de 05/02/2009

Art. 683. A denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento dos tributos dos acréscimos legais, excluirá a imposição da correspondente penalidade (Decreto-Lei n. 37, de 1966, art. 102, caput , com a redação dada pelo Decreto-Lei n. 2.472, de 1988, art. 1º; e Lei n. 5.172, de 1966, art. 138, caput ). § 1º- Não se considera espontânea a denúncia apresentada (Decreto-Lei n. 37, de 1966, art. 102, § 1º, com a redação dada pelo Decreto-Lei n. 2.472, de 1988, art. 1º): I - no curso do despacho aduaneiro, até o desembaraço da mercadoria; ou II - após o início de qualquer outro procedimento fiscal, mediante ato de ofício, escrito, praticado por servidor competente, tendente a apurar a infração. § 2º- A denúncia espontânea exclui a aplicação de multas de natureza tributária ou administrativa, com exceção das aplicáveis na hipótese de mercadoria sujeita a pena de perdimento (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 102, § 2º, com a redação dada pela Lei n. 12.350, de 2010, art. 40). (Redação dada pelo Decreto n. 8.010, de 16 de maio de 2013)§ 3º- Depois de formalizada a entrada do veículo procedente do exterior não mais se tem por espontânea a denúncia de infração imputável ao transportador.

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Conclusões

I. Autos de infração lavrados pela Receita Federal com vícios que maculam sua legalidade

II. Ilegitimidade dos agentes marítimos: ausência de previsão legal para autuação e penalização destes que atuam como meros mandatários dos transportadores

III. Configuração de denúncia espontânea na prestação de informações com atraso no SISCOMEX/SISCOMEX CARGA – exclusão de responsabilidade

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Contato

Luciana de Mello Rodrigues

Rua Rodrigues Alves, n. 800 – conjuntos 705/706

Centro Histórico – Paranaguá/PR

tel. (41) 34252672

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