Novas fronteiras da obrigação de indenizar e da determinação da responsabilidade civil
O tratamento dado pelo Código Civil às sociedade de responsabilidade limitada.
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A SOCIEDADE LIMITADA NO NOVO CÓDIGO CIVIL DE 2002
João Filippe Rossi Rodrigues
Aluno do 2º ano do Curso de Direito
da UNESP (campus de Franca-SP)
Sumário: 1. Introdução. 2. Sobre o tratamento geral das sociedades no
direito civil. 3. Sociedades Personificadas. 4. Sociedade limitada. 4.1.
Natureza e legislação aplicável. 4.2. Contrato social. 4.3. Administração
da sociedade. 4.4. Distribuição dos resultados. 4.5. Responsabilidade
dos sócios. 4.6. Alteração do contrato social. 4.7. Deliberações sociais.
4.8. Conselho fiscal. 4.9. Exclusão de sócios minoritários por justa caus.
Conclusão. Referências.
1 INTRODUÇÃO
Com a aprovação do Novo Código Civil em janeiro de 2002,
houve a tentativa de uma unificação do direito civil e do
direito comercial, este antes regulado pelo Código Comercial
de 1850, derrogado em grande parte, restando apenas a segunda
parte, onde encontram-se as normas sobre o direito marítimo.1
1 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. 4. ed.Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO. 2014. ARQUIVO EPUB. ISBN 978-25-02-21799-7, p. 61.
Fundado nos princípios da eticidade, socialidade e da
operabilidade2, este diploma apresentou um grande avanço no
tratamento geral do direito privado e também mantendo
considerável diálogo com a Constituição Federal de 1988.
Em questão das atividades comerciais, o Código Civil de
2002 apresentou a filiação à teoria da empresa, inspirado pelo
Codice Civile De 1942, onde o tratamento das atividades econômicas
passou a ser tratada pela ótica de relações entre
particulares.3
Em grande correspondência com a tendência de evolução do
capitalismo mundial, o novo tratamento normativo dado no
Brasil ao tema da empresa veio representa a consolidação das
atitudes correntes no país antes mesmo da aprovação do novo
Código, mesmo que o Código Comercial ainda estivesse em vigor.
Por se tratar de um sistema com grande preocupação em
corresponder a vontade do consumidor e por ser totalmente
imprevisível quanto ao seu arranjo4 é comum que o estado,
traduzido principalmente através de suas leis, venha a
apresentar certa incorrespondência temporal5.
A jurisprudência brasileira já demonstrava um considerável
distanciamento da teoria francesa dos atos de comércio e
evidenciava sua aproximação com a teoria italiana da empresa.
2 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil. v.1. 16. ed. SãoPaulo: Saraiva. 2014. ARQUIVO EPUB. ISBN 978-25-02-21799-7, p. 149.3 Coelho, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. v.1.16. ed. São Paulo:Saraiva. ARQUIVO EPUB. ISBN 978-85-02-15803-0, p. 34. 4 MISES, Ludwing von. As seis lições. Traduzido por Maria Luiza Borges. 7.ed. São Paulo: Instituto Ludwing von Mises Brasil. 2009. Disponível em<http://mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=39>, acesso em 12 jan de 2015. 5 MISES, Ludwing von. A mentalidade anticapitalista. Traduzido por Carlosdos Santos Abreu. 2. ed. São Paulo: Instituto Ludwing von Mises Brasil.2010. Disponível em < http://mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=271>, acessoem 12 jan de 2015.
Exemplo disto foi a concessão, por parte de juízes, de
concordatas a pecuaristas e a renovação compulsória de
contrato de aluguel a sociedades prestadoras de serviços. 6
Desta forma o novo Código Civil veio a afirmar o que
encontrava-se já em prática e firmar paradigmas para o livre
desenvolvimento do capitalismo em território brasileiro, em
total consonância com o modelo da livre iniciativa
capitalista7.
Um ramo do agora direito empresarial que sofreu bastante
modificação normativa foi o do direito societário, do qual é
localização dos institutos que esse artigo pretende expor
breves esclarecimento.
A sociedade limitada do modo como hoje é configurada,
mostra uma clara evolução no sentido da simplificação e da
adaptação do Direito das Empresas à realidade das trocas
sociais e voluntárias. Este artigo tratará de alguns aspectos
principais e breves a fim de explorar a regulamentação das
limitadas.
2. SOBRE O TRATAMENTO GERAL DAS SOCIEDADES NO DIREITO CIVIL
O capitalismo apresentou-se como um sistema econômico de
grande mutabilidade na história moderna e contemporânea. Não6 RAMOS, op. cit., p. 58. 7 Como observado no caput e no parágrafo único do art. 170 da Constituiçãode 1988 que diz que a “ordem econômica, fundada na valorização do trabalhohumano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existênciadigna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintesprincípios: [...] Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercíciode qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãospúblicos, salvo nos casos previstos em lei.”
de outra maneira os seus elementos e agentes também apresentam
uma evolução que está longe de se manter estáticos em seu modo
de ação, mesmo que tenham conservado durante toda essa
trajetória.
Podem ser identificadas, nesse processo de transformação e
adaptação, a figura das sociedades comerciais ou, como são
chamadas atualmente, as sociedades empresariais. Fábio Ulhoa
Coelho identifica já na época do Renascimento exemplos de
sociedades que exerceram atividades de natureza empresarial.8
O art. 981 abre o segundo título do Livro II do Código
Civil, inciando identifica na sociedade o contrato onde as
partes se obrigam a “contribuir, com bens ou serviços, para a
o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos
resultados.”
No entanto, segundo o art. 982 percebe-se que nem toda
sociedade, por mais que uma de suas características seja a
atividade econômica, é empresária, fazendo este artigo
distinção entre sociedades empresárias e sociedades simples.
Seguindo a mesma orientação do art. 966, o direito
brasileiro atrela ao aspecto empresarial a necessidade desta
atividade econômica ser organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços. Desta forma a sociedade que
se encaixar nestes parâmetros é tomada como sociedade
empresária, aplicando-se as regras específicas relativas a
estas e, por exclusão, as que não se identificarem com essas
características são denominadas de sociedade simples.
8 COELHO, op. cit., p. 109.
Por objeto de interesse do atual artigo a análise se
focará dos arts. 1.052 ao 1.087 do Código Civil de 2002,
relativos à Sociedade de Responsabilidade Limitada (LTDA).
Para maiores detalhes cabe-se voltar a atenção para o art.
44 do Código Civil, onde diz que são pessoas jurídicas de
direito privado: I- as associações; II- as sociedades; III- as
fundações; IV- as organizações religiosas; V- os partidos
políticos; VI- as empresas individuais de responsabilidade
limitada.
Logo conclui-se que os institutos que trataremos aqui são
também regidas pelas normas. O §2º remete que as disposições
relativas às associações aplicam-se subsidiariamente às
sociedades, além das que estudam-se no Livro II.
É importante lembrar que nem todas as sociedades são
personificadas, ou seja, não estão em dia com o seu registro,
são as sociedades em comum e as sociedade em conta de
participação, que estão disciplinadas pelos artigos 986 a 990
e os artigos 991 a 996.
É interessante observar que essas regras guardam uma
relação com a morosidade no registro de empresas no território
brasileiro. Empresas, que pelo excesso de burocracia e
ineficiência que podem advir do Estado9, acabam recebendo
disciplina do Código Civil para facilitar a operação dessas
sociedades em operação.
9 ESTADÃO. Abrir uma empresa demora 107 dias e pagamento de impostos rouba 2,6 mil horas no Brasil. Disponível em: < http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,abrir-uma-empresa-demora-107-dias-e-pagamento-de-impostos-rouba-2-6-mil-horas-no-brasil,4650,0.htm>, acesso em 15 de jan 2015.
3. SOCIEDADES PERSONIFICADAS
É importante também ter-se registrado o conceito e a
disciplina que o Código dá para as sociedades personificadas,
nas quais estão incluídas a sociedade limita e a sociedade
anônima. Diferentemente do direito inglês, no Brasil nem
sempre sociedade personalizada está ligada à limitação da
responsabilidade, já que o ordenamento interno tem incorporado
tipos societários que permitem a responsabilização dos
sócios10.
É importante lembrar que nem todas as sociedades são
personificadas, ou seja, o seu registro não se encontra
totalmente regulado, são elas identificadas pelo Código Civil
de 2002 como as sociedades em comum e as sociedades em conta
de participação, que estão disciplinadas pelos artigos 986 a
990 e os artigos 991 a 996.
A título de comentário, é interessante observar que essas
regras guardam uma relação com a morosidade no registro de
empresas no território brasileiro. Empresas, que pelo excesso
de burocracia e ineficiência que podem advir do Estado11,
acabam recebendo disciplina do Código Civil para facilitar a
operação dessas sociedades em operação.
A pessoa jurídica é um instituto jurídico, não
preexistente a este, que por se apresentar como uma técnica10 COELHO, op. cit., p. 2011 ESTADÃO. Abrir uma empresa demora 107 dias e pagamento de impostos rouba 2,6 mil horas no Brasil . Disponível em: < http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,abrir-uma-empresa-demora-107-dias-e-pagamento-de-impostos-rouba-2-6-mil-horas-no-brasil,4650,0.htm>, acesso em 15 de jan 2015.
jurídica acaba por auxiliar a comunidade jurídica na solução
de conflitos ou a composição de interesses. Tomado isto cabe-
se observar quais são os seus principais efeitos quando se
define que as sociedades empresárias são reconhecidas como
pessoas jurídicas.
A principal consequência da personificação que a sociedade
fica reconhecida como sujeito de direito, apresentando
personalidade e, consequentemente, patrimônio distinto e
autônomo dos sócios que a constituíram, dando uma das bases
para a configuração da responsabilidade limitada. Assim, a
própria sociedade responde por suas obrigações sociais12.
Acrescenta-se ainda que a titularidade processual é também é
diversa das dos sócios.
Segundo o art. 44 do Código Civil, são pessoas jurídicas
de direito privado: I- as associações; II- as sociedades; III-
as fundações; IV- as organizações religiosas; V- os partidos
políticos; VI- as empresas individuais de responsabilidade
limitada.
Logo conclui-se que os institutos que trataremos aqui são
também regidas pelas normas. O §2º remete que as disposições
relativas às associações aplicam-se subsidiariamente às
sociedades, além das que estudam-se no Livro II.
4. SOCIEDADE LIMITADA
A sociedade limitada representa o tipo societário mais
utilizado na prática empresarial brasileira, correspondendo12 Como assim demonstra o art. 1.024 do Código Civil.
cerca de 90% dos registros de sociedade no Brasil. A
contratualidade e a limitação da responsabilidade dos sócios
são as duas características específicas deste tipo que podem
explicar a sua grande adesão nas atividades comercial.
É certo que nem sempre o interesse social coincide com os
interesses individuais dos sócios, da mesma forma que os
resultados conseguidos com as decisões tomadas no curso de
suas atividades são coincidentes com as aspirações
individuais.
Desta forma o descolamento da personalidade individual dos
sócios da personalidade jurídica da sociedade representa um
grande incentivo para os empreendedores em potencial iniciarem
suas atividades econômicas.
A limitação da responsabilidade dos sócios nesse tipo
societário vem a expressar essa condição, já que o risco
empresarial não será posto totalmente sobre a pessoa
individual do societário, e o seu patrimônio será protegido,
nos termos legais, das obrigações e responsabilidades
contraídos pela sociedade.
No entanto, outros tipos societários também apresentam
essa característica, como a sociedade anônima, de modo que
isto, apenas, não explique a grande atratividade deste tipo de
regulação.
Há de se considerar como fator contribuinte para o
prestígio da sociedade limitada a sua contratualidade, que
representa um atrelamento à autonomia da vontade, integrante
da liberdade econômica, grande fator de sucesso econômico e de
desenvolvimento humano para as sociedades13.
O contrato social, documento de caráter liberal e fundador
da sociedade, portanto, será o principal instrumento de
regulação das atividades e dos procedimentos concernentes à
sociedade limitada.
Diferentemente da sociedade anônima, como será visto
adiante, as regras previamente estabelecidas pela legislação
não constituem o principal meio norteador das atividades dos
sócios, mas sim o contrato pelos sócios estabelecidos, com
clausulas e regras compactuadas por eles mesmos.
4.1 Natureza e Legislação aplicável
No entanto, cabe-se a observação de que há regras
previamente estabelecidas pelo Código Civil de 2002, a fim de,
principalmente, garantir uma tipificação necessária e
garantidora de certa previsibilidade para esta espécie
societária.
Atendendo principalmente a anseios dos pequenos e médios
empreendedores, foi regulamentado a fim de estabelecer um tipo
de sociedade que possuísse um modelo legal flexível, simples e
13 Como pode ser observado na comparação entre o Índice de Liberdade Econômica, elaborado pela Heritage Foundation em parceria com o Wall Street Journal (disponível em: <http://www.heritage.org/index/>, acesso em 10 de jan de 2015), e o Índice de Desenvolvimento Econômico (disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx>, acessoem 10 de jan de 2015). O primeiro índice considera dentre os indicativos a liberdade empresarial, expressa pela legislação do país. Numa comparação com o IDH, há a clara constatação de que um país que promove a proteção à liberdade econômica provavelmente estará entre os países mais desenvolvidose, se não, apresentará grande evoluções socioeconômicas (como é o caso, porexemplo, de Botswana, no continente africano).
desburocratizado (ao menos para os padrões brasileiros) que
contasse também com o dispositivo da limitação da
responsabilidade dos sócios nas obrigações contraídas pela
sociedade.
A primeira regulação pode-se perceber na Alemanha, no fim
do século XIX, representando uma clara alternativa à sociedade
anônima, demonstrando a sua entrada recente no direito
empresarial, comparando-se com os outros tipos societários.
No Brasil a primeira lei viria a ser decretada em 1919, a
chamada Lei das Limitadas, no entanto grandemente criticada pela
doutrina e empresários, por legislar mais propriamente a
respeito da sociedade por quotas de responsabilidade, apresentando um
certo fusão entre a sociedade anônima e sociedades contratuais
de pessoas, desta forma apresentando certas discrepâncias com
os anseios empresariais.
Nas palavras de André Luiz C. S. Ramos tem-se que:
Atualmente, a sociedade limitada é um modelo
societário empresarial típicom regulado por um
capítulo próprio do Código Civil (arts. 1.052 a
1.087), que finalmente conferiu um novo perfil a
esta sociedade começando por lhe atribuir nova
nomenclatura: de sociedade por quotas de responsabilidade
limitada passou a ser apenas sociedade limitada.14
A atual legislação, do Código Civil de 2002, a respeito
das sociedades limitadas possui um texto menor que a Lei das
14 RAMOS, op. cit., p. 422.
Limitadas de 1919, no entanto limitando-se a assuntos mais
básicos do que esta.
Além dos 36 artigos que a disciplinam (arts. 1.052 a 1.087
do atual Código Civil), tem-se também a possiblidade de
aplicação dos arts. 997 a 1.038, referente às sociedades simples.
Como já dito, essas regras se aplicam subsidiariamente,
segundo o caput do art. 1.053.
Também no campo das regras das sociedades anônimas há a
possibilidade de aplicação supletiva daquelas regras na
constituição da sociedade de responsabilidade limitada.
Segundo o art. 18 da antiga Lei das Limitadas, havia a
permissão para que os sócios, por expressa disposição
constante do contrato social, pudessem adotar, de modo
supletivo, as normas contidas na Lei das Sociedades por Ações (Lei
6.404/1976 – LSA).
4.2 Contrato social
Como já visto, o contrato social é um dos elementos
caracterizadores das sociedades limitadas. As características
que fazem do contrato social ter natureza jurídica são: a
possiblidade de várias pessoas dele tomarem parte e a affectio
societatis.
O art. 1.054 do Código Civil, determina que “no que
couber, as indicações do art. 997, e, se for o caso, a firma
social”. O art. 997, por sua vez, elenca que deverá constar
nos contratos: a) nome, nacionalidade, estado civil, profissão
e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a
denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; b)
denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; c) capital da
sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender
qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
d) a quota de cada sócio no capital social, e o processo de
realização; e) as prestações das quais se obriga o sócio, caso
a contribuição seja em serviços; f) as pessoas naturais
responsáveis
Não é de se entranhar essa especificação do contrato, já
que ele é um dos elementos caracterizadores e que contribuíram
para o sucesso dessa espécie de sociedade. Tangente a isto, há
o ponto também dele representar a segurança jurídica que
haverá na sociedade.
Ele deverá ser escrito e ser levado ao órgão competente
para o seu registro. Segundo o art. 1.150 do Código Civil,
caso seja uma sociedade empresária, deverá ser levado na Junta
Comercial; caso seja uma sociedade simples o registro deverá
ser levado ao Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
A sociedade limitada, mesmo sendo um tipo societário
notado por ser de índole empresarial, pode sim exercer objeto
que não seja caracterizado como empresarial, onde ostentará a
natureza de sociedade simples
A qualificação dos sócios no contrato social deve ser
feita com o objetivo de uma melhor fiscalização da Junta
Comercial, por exemplo, onde serão verificadas eventuais
pendências ou impedimentos que poderiam impossibilitar um
sócio de adentrar na sociedade.
Lembre-se que um incapaz ou um impedido (segundo o art. 972
do Código Civil) até podem participar (o sócio não é o
empresário), desde que não assumam cargos administrativos, já
que não teriam capacidade civil que permitisse a contração de
responsabilidades e obrigações.
O capital social também deverá constar no contrato, já que
é a somatória correspondente aos montantes de cada sócio. No
caso das sociedades limitadas, o Código Civil preferiu arrolar
mais alguns dispositivos a fim de melhor regular as hipóteses
de aumento e redução do capital, nos arts. 1.081 a 1.084.
De acordo com o art. 1.055, o capital social pode ser
dividido em quotas iguais e desiguais, representando a escolha
pelo sistema da pluralidade de quotas, mas não na sua
concepção pura.
Cada sócio fica responsável pela subscrição e pela
integralização das cotas, comprometendo-se a efetivá-la como
prometido. Ela pode ser feita de formas diversas, no entanto o
§2º do art. 1.055 não permite a efetivação através da
realização de serviços.
4.3 A administração da sociedade
A atividade do administrador é personalíssima, não sendo
permitido a ele exercer outra função (art. 1.064). Também não
pode ser exercida por pessoa jurídica (art. 997, VI), além das
pessoas mencionadas pelo art. 1.011, §1º, do Código.
O art. 997, inciso VI, além de chamar a designação dos
administradores (se houver mais de um), também dita a
necessidade de se estabelecerem as suas funções e deveres.
É importante lembrar que há duas formas de se apontar a
maneira como os administradores são escolhidos, através do
próprio contrato social, ou através de documento em separado.
A diferença entre os tipos de nomeação reside no fato de
que aquele nomeado pelo contrato social, quando não sócio,
possui poderes irrevogáveis; enquanto aquele nomeado por ato
em separado tem poder revogáveis a qualquer momento (art.
1.019, CC).
No silêncio da designação dos poderes e atribuições é
entendido que há a autonomia para estes praticarem quaisquer
atos pertinentes à gestão da sociedade, desde que não seja
oneração de bens imóveis (segundo o art. 1.015, do Código).
Na direção do parágrafo único do art. 1.015, aponta-se que
a sociedade responderá por todos os atos dos seus legítimos
administradores, salvos a hipóteses dos incisos I, II e III.
No inciso I está exposto que quando os administradores que
extrapolarem os poderes estabelecidos no contrato social, ou
em ato separado que especifique, não haverá a responsabilidade
para a sociedade.
O inciso II estabelece que, semelhantemente ao primeiro,
quando aos terceiros couber ciência que determinado ato do
administrador não corresponde às suas atribuições, ou seja,
quando provado que os terceiros conhecem as limitações, mesmo
que não registradas em ato oficial, à sociedade também não
caberia a responsabilidade.
O inciso III trata da chamada teoria ultra vires, onde cuida
da hipótese de quando o administrador realiza atividade
diversa dos negócios da sociedade.
Diferentemente das duas primeiras, que trata de quando as
atividades condizem com as atividades da sociedade, esta
teoria, surgida no direito inglês, trata de operações
estranhas.
Os administradores, quando agem com culpa, “respondem
solidariamente perante a sociedade e a terceiros prejudicados”
(art. 1.016).
Por fim, “os administradores são obrigados a prestar aos
sócios contas justificadas de sua administração, e apresentar-
lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e
o de resultado econômico” (art. 1.020, do Código).
4.4 Distribuição dos resultados.
Detalhe importante que não poderia deixar de ser regulado
é justamente o que ocorre com os resultados, sejam eles
positivos ou negativos, ainda mais levando em consideração que
a atividade empresarial leva justamente em conta o caráter
lucrativo e, quando de uma sociedade, a partilha desses
lucros.
Disto trata justamente o inciso VII, do art. 997. Sabe-se
que é vedada a “cláusula leonina”, pelo art. 1.008, do Código
Civil. Desta forma, estando incluído todos os sócios, cabe-se,
no contrato, a indicação de como será dada a divisão dos
resultados, sua participação.
Caso o contrato não determine os parâmetros que serão
determinantes neste assunto, pela legislação civil é aplicado
o art. 1.007 do Código Civil: “salvo, estipulação em
contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na
proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja
contribuição consiste em serviços, somente participa dos
lucros na proporção da média do valor das quotas”.
É necessário apontar que a parte final não deve ser
considerada, já que conforme o §2º do art. 1.052, que coloca
fora das possibilidades de participação nas quotas da
sociedade, a prestação de serviços.
A distribuição dos lucros ilícitos ou fictícios, por sua
vez, obedece aos preceitos do art. 1.009 do Código Civil, que
diz que os administradores que os realizarem, assim como os
sócios que os receberem, respondem solidariamente, quando
conhecem ou devem conhecer a ilegitimidade de tais.
Ainda segundo o art. 1.059, do Código, os sócios estão
obrigados a reporem eventuais percas lucrativas e também
restituir as quantias retiradas, a qualquer título, mesmo que
pelo contrato autorizados, caso acarrete prejuízo ao capital
social.
4.5 Responsabilidade dos sócios
A responsabilidade dos sócios está expressa no art. 1.052,
do qual já foi falado, ou seja, cada sócio responderá conforme
a sua contribuição ao capital social, mas solidariamente pela
integralização do capital.
Percebe-se que, em regra, não há a responsabilização do
sócio através de seu patrimônio pessoal, firmando uma das
características chamariz deste tipo societário empresarial.
Segundo o art. 1.024, do Código Civil, é consagrado este
princípio, o princípio da autonomia patrimonial. Dessa forma
pode-se afirmar que a responsabilidade dos sócios sempre é
subsidiária, independentemente do patrimônio estar totalmente
ou não integralizado.
No entanto, no caso da segunda hipótese os sócios
responderão solidariamente, mesmo que já possa ter contribuído
totalmente com a sua quota, restando-lhe o direito de
regresso. Lembrando-se, mais uma vez, que é respeitado o
princípio da autonomia patrimonial. O credor, desta forma,
poderá executar qualquer um dos sócios quotistas.
4.6 Alteração do contrato social
Seguindo o exemplo da sociedade pura, o contrato da
sociedade limitada não é um contrato imutável, pode, conforme
a vontade dos sócios, ser mudado. No entanto, é exigido, pelo
Código Civil de 2002, um quórum bastante expressivo.
Conforme o art. 1.076, inciso I, do Código é exigido um
quórum de ¾ do capital social para tal modificação. Essa
modificação sempre deve ser averbada no local onde o registro
foi feito.
4.7 Deliberações sociais
Há decisões que podem ser tomadas unipessoalmente na
sociedade, pelo administrador, decisões mais corriqueiras,
mais comuns, decisões menores. Em oposição decisões de maior
complexidade exigem uma decisão colegiada.
O art. 1.071 do Código Civil arrola quais serão as
decisões que deverão ser tomadas através de deliberação dos
sócios, além de outras que possam conter em outras leis, ou
mesmo no próprio contrato: a) aprovação das contas da
administração; b) a qualificação dos administradores, quando
feita em ato separado; c) a destituição dos administradores;
d) o modo de sua remuneração, caso não tenha sido estabelecido
no contrato; e) a modificação do contrato social; f) a
incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a
cessação do estado de liquidação; g) a nomeação e destituição
dos liquidantes e o julgamento das suas contas; h) o pedido de
concordata.
O órgão competente para tanto é a assembleia dos sócios,
que, no entanto, pelo Código de 2002, pode ser substituído
pela reunião dos sócios, caso a sociedade tenha até dez
sócios. É o que se vê versado no art. 1.072 do Código Civil e
também no seu parágrafo primeiro:
Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido odisposto no art. 1.010, serão tomadas em reunião ouem assembléia, conforme previsto no contratosocial, devendo ser convocadas pelosadministradores nos casos previstos em lei ou nocontrato.§ 1o A deliberação em assembléia será obrigatóriase o número dos sócios for superior a dez.
A diferença entre esses dois regimes de tomada de decisão
está justamente no seu procedimento. Enquanto o regime de
assembleia segue um rito mais solene, que deverá estar de
acordo com o Código Civil; o regime de reunião de sócios, por
sua vez, segue um rito mais simplificado, o qual deverá estar
com os detalhes de seu procedimento descritos no contrato
social.
Segundo o §5º do art. 1.072, todas as decisões deliberadas
fazem lei entre os sócios, mesmo que ausentes ou dissidentes.
No entanto, segundo o art. 1.080, as decisões que ferirem o
contrato tornam os que as aprovaram ilimitadamente
responsáveis por elas.
Segundo o art. 1.073, a reunião ou a assembleia pode ser
convocada por: a) sócios, quando houver um atraso acima de
sessenta dias por parte dos administradores na convocação, nos
casos regulados por lei e nos contratos; b) pelo conselho
fiscal, em conformidade com o inciso V do art. 1.069.
O quórum de instalação é conseguido com a presença de
titulares com três quartos do capital social, segundo o art.
1.074 do Código Civil, na primeira convocação, e nas demais
com qualquer número. O quórum de deliberação, por sua vez, é
conseguido, conforme o art. 1.076, através de:
I - pelos votos correspondentes, no mínimo, a trêsquartos do capital social, nos casos previstos nosincisos V e VI do art. 1.071; II - pelos votoscorrespondentes a mais de metade do capital social,nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIIIdo art. 1.071; III - pela maioria de votos dospresentes, nos demais casos previstos na lei ou nocontrato, se este não exigir maioria mais elevada.
O sócio pode ser representado na assembleia por outro
sócio, ou por advogado, tendo em vista a outorga de mandato
com o detalhamento dos atos que seriam autorizados, conforme o
art. 1.074. No entanto, “Nenhum sócio, por si ou na condição
de mandatário, pode votar matéria que lhe diga respeito
diretamente” (art. 1.074, §2º).
A presidência da assembleia será composta por sócios entre
os presentes (art. 1.075) e “dos trabalhos e deliberações será
lavrada, no livro de atas da assembléia, ata assinada pelos
me1mbros da mesa e por sócios participantes da reunião,
quantos bastem à validade das deliberações, mas sem prejuízo
dos que queiram assiná-la.” (§1º, art. 1075).
Deverá a sociedade apresentar uma cópia autenticada pelos
administradores da deliberação da assembleia ao Registro
Público de Empresas Mercantis para arquivamento e averbação,
no prazo de vinte dias subsequentes à reunião (art. 1.075,
§3º).
Apesar de toda essa flexibilidade permitida pelo Código
Civil, é exigido, através do mesmo, a realização de pelo menos
uma assembleia ao ano, nos quatro meses seguintes ao término
da atividade, segundo o art. 1.078 do Código Civil, a fim de:
a) tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o
balanço patrimonial e o de resultado econômico; b) designar
administradores, quando for o caso; c) tratar de qualquer
outro assunto constante da ordem do dia.
O direito de retirada do sócio é permitido pelo Código
Civil, no prazo de trinta dias subsequentes à deliberação,
segundo o art. 1.077, nos casos de: a) alteração do contrato
social; b) fusão ou; c) incorporação.
Os arts. 1.079, §3º e 1.078, §4º trataram da
responsabilização dos sócios pelas decisões tomadas em
assembleia. O primeiro diz que a “aprovação, sem reserva, do
balanço patrimonial e do de resultado econômico, salvo erro,
dolo ou simulação, exonera de responsabilidade os membros da
administração e, se houver, os do conselho fiscal”. E o
segundo diz que “extingue-se em dois anos o direito de anular
a aprovação a que se refere o parágrafo antecedente”.
4.8 Conselho fiscal
O Código também cuidou de regular como se dará a formação
do conselho fiscal, que poderá ser instituído pela sociedade,
desde que, de acordo com o art. 1.066, seja estabelecido sem
prejuízos aos poderes da assembleia, devendo ser configurado,
pelo contrato social, com três ou mais membros e suplentes.
Eles receberão remuneração fixa para a realização de suas
atividades (art. 1.068, do Código Civil).
O perfil dos integrantes também é descrito no mesmo
artigo, devendo eles serem residentes no país, eleitos na
assembleia, e podem ou não ser sócios. Não podem participar do
conselho, segundo o §1º do art. 1.066: a) os impossibilitados
pelo art. 1.011, §1º; b) os membros dos demais órgãos da
sociedade ou de outra por ela controlada; c) empregados de
quaisquer delas ou dos administradores; d) cônjuge e parentes
de até terceiro grau.
O conselho fiscal é um órgão facultativo e deve ser
heterogêneo, razão pelo qual o art. 1.066, §2º determinou que
os sócios minoritários que detenham ao menos um quinto do
capital social têm o direito de eleger, privativamente, um
membro do conselho, assim como seu respectivo suplente.
O art. 1.069 do Código arrola as atividades
exemplificativas que caberão ao conselho fiscal eleito, são
elas: a) examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e
papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo
os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações
solicitadas; b) lavrar no livro de atas e pareceres do
conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I
deste artigo; c) exarar no mesmo livro e apresentar à
assembleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as
operações sociais do exercício em que servirem, tomando por
base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; d)
denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem,
sugerindo providências úteis à sociedade; e) convocar a
assembleia dos sócios se a diretoria retardar por mais de
trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram
motivos graves e urgentes; f) praticar, durante o período da
liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo,
tendo em vista as disposições especiais reguladoras da
liquidação.
Note-se que estas prerrogativas acima descritas competem
exclusivamente ao conselho fiscal da sociedade limitada, não
podendo ser exercidas ou delegadas a qualquer outro órgão da
sociedade, segundo disposição do art. 1.070 do Código Civil:
“as atribuições e poderes conferidos pela lei ao conselho
fiscal não podem ser outorgados a outro órgão da sociedade, e
a responsabilidade de seus membros obedece à regra que define
a dos administradores (art. 1.016)”.
Finalmente, é cabível que em alguns casos o bom exercício
de suas atribuições exigirá dos membros do conselho fiscal
conhecimentos técnicos ou contábeis que eles não possuem.
Nessas situações, “o conselho fiscal poderá escolher para
assisti-lo no exame dos livros, dos balanços e das contas,
contabilista legalmente habilitado, mediante remuneração
aprovada pela assembleia dos sócios” (art. 1.070, parágrafo
único).
4.9 Exclusão extrajudicial de sócios minoritários por justa
causa
Também é previsto pelo Código a possibilidade de se
excluir sócios minoritários por justa causa. Isto porque
substancial para a existência e manutenção das sociedades é a
chamada affectio societatis. Não existindo, não há outro caminho a
não ser a dissolução da sociedade. No entanto, quando esta
está restrita a apenas um sócio, é preferível à sociedade
continuar a existir sem ele, em harmonia com o princípio da
preservação da empresa.
A novidade trazida pelo Código de 2002 é que a exclusão de
sócio minoritário não precisará ser exclusivamente por meio da
judicialização, faculta-se à maioria dos sócios a exclusão
extrajudicial de determinado sócio faltoso.
Segundo o art. 1.085 excetuando-se o que dispõe o art.
1.030, quando a maioria dos sócios, representando mais da
metade do capital social, vir a entender que um ou mais sócios
põem em risco a affectio socieatatis, e a própria sociedade, “em
virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da
sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que
prevista neste a exclusão por justa causa”.
Deve-se ser convocada, pelos demais sócios, uma assembleia
ou reunião específica, na onde se haverá exclusivamente a
discussão e votação a respeito da eventual exclusão do sócio
faltoso. Nada mais poderá ser discutido ou votado nessa
assembleia ou reunião.
É exigido ainda que o sócio acusado seja cientificado
acerca da realização da assembleia ou reunião que deliberará a
sua possível exclusão, a fim de que ele possa comparecer na
data e local marcados com a finalidade de se defender das
acusações que lhe são imputadas.
Por fim, destaque-se que o Código Civil exigiu quorum de
maioria absoluta para a exclusão extrajudicial de sócio por
justa causa, razão pela qual apenas os sócios minoritários
poderão ser excluídos da sociedade por tal via, restando
apenas a via judicial para a exclusão de sócio majoritário.
5 CONCLUSÃO
É visível a evolução do sistema capitalista e sua
capacidade de criação de novas demandas. Os anseios dos
empresários por tipificações mais simples na legislação
brasileira para a criação, operação e até mesmo o fim de
empresas, são sempre procurados a fim de ser atendidos.
No quesito do tipo societário mais popular na sociedade
brasileira, a tratada sociedade de responsabilidade limitada,
houve uma clara evolução desde a lei anterior, e uma clara
exposição de que o Código Civil de 2002 soube muito bem tratar
este tipo societário.
Apesar dos dispositivos apresentarem um aumento em questão
de números de artigos, a segurança jurídica e a flexibilidade,
trazida pelo contrato social, apenas melhoram a maneira como o
Estado lidará com as sociedades de responsabilidade limitada,
já que o tratamento a estas é muito semelhante ao dado às
sociedades puras.
Também é interessante perceber como regramentos
concernentes com as sociedades anônimas também podem ser
aplicados.
A limitação da responsabilidade, outro atrativo legal
desta espécie de sociedade empresarial, também regulada pelo
Código Civil de 2002, apresentou grande evolução e o
tratamento dado também é muito satisfatório a fim de se
estimular as atividades empresariais.
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