Antropologia - RC

16
DOMINGOS DOS SANTOS DA SILVA BENGO UM ESPELHO PARA A HUMANIDADE, DE KOTTAK ANTROPOLOGIA RESENHA CRÍTICA 1 Angola, Janeiro de 2015

Transcript of Antropologia - RC

   

DOMINGOS DOS SANTOS DA SILVA BENGO

UM ESPELHO PARA A HUMANIDADE, DE KOTTAK

ANTROPOLOGIA

RESENHA CRÍTICA 1

Angola, Janeiro de 2015

2    

American World University United States of America / Distance Learning

Latin American Division

RC RC

Dados de Identificação do aluno e da obra

Nível Graduação Tradicional

Curso Filosofia

Disciplina Antropologia Filosófica e Cultural

Aluno Domingos dos Santos S. Bengo

Matrícula LAD 4316

Título do Livro Um espelho para a humanidade

Autor (a) Conrad Phillip Kottak

Editora AMGH: Porto Alegre, 2013 – 8ª edição.

Mini Curriculum Conrad Phillip Kottak, fez AB e doutorado na Universidade de Colúmbia, é professor emérito da cadeira Julian H. Steward de Antropologia, na Universidade de Michigan, onde foi chefe do departamento de Antropologia de 1996 a 2006. Em 1991 foi homenageado pela Universidade e pelo Estado de Michigan. O professor Kottak fez trabalho de campo etnográfico no Brasil, em Madagascar e nos Estados Unidos. Seu interesse geral são os processos pelos quais as culturas são incorporadas – e resistem à incorporação.

Tipo de Obra Resenhada ------- Didático-Pedagógica Data da Produção 26/10/2014 – 19/01/2015 Data da Recepção ___/___/___

Angola, Janeiro de 2015

1 X 2

3    

INTRODUÇÃO

A antropologia filosófica é certamente uma dimensão empírica da teoria da práxis. Não teoria no sentido de balbuciar a vivência do homo sapiens, e sim na medida em que fundamenta cronologicamente a historicidade da vida humana.

Importa ressaltar, portanto, que tal cronologia não obedece a uma lógica temporal rígida, de sorte que mil e quinhentos anos podem ser narrados como sendo apenas uns poucos anitos.

Entenda, pois, por exemplo, que; o abismo temporal que separa a barbárie da civilização, embora percorridos e, por isso mesmo, unificados por uma fina membrana de sucessão, que representa às nefastas lágrimas do deus Chronos, não pode ser ignorado; Se o casamento da “pedra polida com a vara” é narrado como uma cerimónia encerrada num mesmo período histórico, que aquele que um e outro foram gerados, é por questões pedagógicas. Pois, a nossa limitada percepção seria incapaz de assimilar os pormenores de três mil anos de colectores-nômades, que nos escoltaram aos três mil e quinhentos anos de horticultores semi-sedentários.

A situação histórica dos fenómenos sociais é imprescindível. Ignorá-la é ignorar a corrente cultural e espiritual de luz que governa, os desígnios do nosso coração pulsante, desde Adão.

O discurso de Conrad Phillip Kottak, narrado em “Um espelho para a humanidade” circunscreve-se nessa tradição histórica.

Com base neste texto de Kottak, pôde-se inferir: a Antropologia parte da indagação; que é o homem? – todas outras indagações, como por exemplo, “de onde viemos?” e “para onde vamos?”, são questões paralelas que nos remetem à tentativa de compreensão da indagação; que é o homem?

Longe de apropriar-se de uma abordagem clássica – quer platónica, quer aristotélica, a antropologia parte, entretanto, do pressuposto segundo o qual; o homem é um animal histórico.

Esta historicidade porém, incita-a, a vislumbrar; quer a visão platónica, quer a visão aristotélica, do próprio humano.

A questão supra-apresentada e sua respectiva hipótese, encerram em si toda a pesquisa antropológica. Contudo, levantam uma questão pedagógica; por que os antropólogos prendem-se em narrativas tão massudas?

Conrad com seu texto presunçoso não consegue sobreviver ao estilo académico. Um espelho para a humanidade parece ser uma réplica do legado antropológico; o volume da obra, o tamanho, a forma, os tópicos, a sequência, o estilo, a linguagem, etc. Parece que os antropólogos têm-se replicado paralelamente. Ou, talvez, seja apenas o procedimento!

4    

Numa palavra, toda narrativa antropológica parece ser uma estranha citação do legado de Morgan. Uma citação quase que nunca citada.

Ao introduzir-nos ao maravilhoso mundo da antropologia, Kottak tenta dar-nos uma visão histórica do homem, de modo a justificar a sua historicidade. Porém sua historicidade é pouco ou nada crítica.

Esta ambiguidade porém, não retira o mérito de sua obra. A falta de pensamento vivo no texto de Kottak não causa grandes problemas ao seu

público-alvo, pois na antropologia, ao que parece, o que conta é a descrição. Quanto mais fiel e mecanizada – melhor a descrição. Daí o grande investimento da antropologia nas técnicas de coleta e disposição de dados.

Um problema, portanto, de uma obra que se diz introdutória, é que não esclarece numa só palavra “o que é antropologia”. Kottak dedica um capitulo completo à esta questão. Contudo sem objectividade alguma.

Espero que essa recensão crítica do texto de Kottak seja capaz de fazê-lo considerar a abordagem antropológica da condição humana nos seus juízos sobre a humanidade; O homem é um animal histórico. A antropologia é o espelho pelo qual se pode perscrutar o reflexo de tal historicidade. Mas é preciso um olhar atento e crítico para contemplar esse mesmo reflexo, ou então toda historicidade humana acumulada pela antropologia não transcenderá de uma tradição estéril, incapaz de transformar.

OBJECTIVOS  

• Compreender o papel da Antropologia em relação ao homem contextualizado; • Estudar a Antropologia em quatro abordagens principais:

o Arqueologia o Linguística o Antropologia Cultural e Física

5    

CAPITULO I O QUE É ANTROPOLOGIA?

A antropologia é o estudo holístico, biocultural e comparativo da humanidade. É a exploração sistemática da diversidade biológica e cultural humana no tempo e no espaço, (Kottak, p. 41).

(...) Creio que o livro poderia ter começado melhor. Uma definição etimológica da antropologia bem antes do conceito, seria uma forma cortez de iniciar uma obra introdutória para melhor situar o leitor e introduzi-lo como deve ser.

Já que o inicio parecia uma novela, segui a minha leitura esperançoso, acreditando que o futuro seria melhor. Mas nada! – até à página 335 Conrad não fragmenta o termo “antropologia”. E, sem nenhum exagero esta atitude de omissão etimológica parece ser propositada, pois é comum dentre os antropólogos ignorar este pormenor, mesmo sabendo que tal pormenor esclarece numa só palavra, toda indagação conceitual do leitor.

Não obstante, para um bom entendedor, este capítulo é suficiente para des-sofistimetizar o mito da “natureza humana”, impondo-nos a dureza concreta da “condição humana”.

Kottak estrutura este capítulo mais ou menos assim: • Adaptabilidade humana: adaptação, variação e mudança; • Antropologia geral: as forças culturais formam a biologia humana; • Os subcampos da antropologia:

o Antropologia cultural o Antropologia arqueológica o Antropologia biológica ou física o Antropologia linguística

• Antropologia e outros campos acadêmicos; • Antropologia aplicada: antropologia hoje.

O tema, “As forças culturais formam a biologia humana” é o principal apologista da tese da [condição humana] em detrimento daquela da [natureza humana]. Segundo Kottak, “a perspectiva comparativa e biocultural da antropologia reconhece que as forças culturais moldam constantemente a biologia humana” (2013, p. 31). A cultura é uma força ambiental fundamental na determinação de como os corpos humanos crescem e se desenvolvem, acrescenta.

Uma ilustração muito bem apresentada dessa relação entre “forças culturais” e “biologia humana” é apresentada pelo autor para esclarecimento dessa mesma tese:

6    

Anos de natação esculpem um físico diferenciado: torso superior alargado, pescoço grosso e ombros e costas robustos. As nadadoras de sucesso tendem a ser grandes, fortes e volumosas. Os países que mais produzem atletas femininas da natação são Estados Unidos, Canadá, Austrália, Alemanha, os países escandinavos, a Holanda e a ex-União Soviética, onde esse tipo de corpo não é tão estigmatizado como em países latinos. As nadadoras desenvolvem corpos rígidos, mas a cultura brasileira diz que as mulheres devem ser delicadas, com quadris e nádegas grandes, sem ombros largos. Muitas jovens nadadoras do Brasil optam por abandoar o exporte para manter o corpo “feminino” ideal, (Kottak, p.32).

O pecado deste capitulo já foi referido inicialmente [situação etimológica do termo], contudo, se o leitor for perspicaz e tiver sólidos pontos de ancoragem sobre Dialética, saberá encontrar no discurso claro de Kottak a situação etimológica do termo “antropologia”.

CAPITULO II CULTURA

Estrutura do capítulo:

• Que é cultura? o A cultura é aprendida o A cultura é simbólica o A cultura compartilhada o Cultura e natureza o A cultura é abrangente o A cultura é integrada o A cultura é instrumental, adaptativa e mal-adaptativa

• A base evolutiva da cultura: o que compartilhamos com outros primatas o Como nos diferenciamos dos outros primatas

• Universalidade, generalidade e particularidade: o Universais e generalidades o Particularidade: padrões de cultura

7    

• A cultura e o indivíduo: agência e prática; • Níveis de cultura; • Etnocentrismo, relativismo cultural e direitos humanos; • Mecanismos de transformação cultural; • Globalização: antropologia hoje – vivenciando a cultura; espaço pessoal e

demonstração de afeto. Ruth Benedict, citado por Carlos Nogueira Fino em seu artigo sobre, “A etnografia

enquanto método: um modo de entender as culturas locais”, faz uma apreciação muito clara daquilo que se pode condensar da abordagem antropológica da cultura. Ele observa:

A história da vida individual de cada pessoa é acima de tudo uma acomodação aos padrões de forma e de medida tradicionalmente transmitidos na sua comunidade de geração para geração. Desde que o indivíduo vem ao mundo os costumes do ambiente em que nasceu moldam a sua experiência dos factos e a sua conduta. Quando começa a falar ele é o frutozinho da sua cultura, e quando crescido e capaz de tomar parte nas actividades desta, os hábitos dela são os seus hábitos, as crenças dela as suas crenças, as incapacidades dela as suas incapacidades, (Benedict, p.15 apud Fino, Carlos).

Esta abordagem da cultura para além de apresentar de forma descomprometida, a

primeira impressão, a visão mais objectiva sobre a relação do homem com sua cultura, problematiza a própria cultura. A problematização da cultura é já um exercício da prática filosófica e portanto, um caminho seguro para a transformação da realidade concreta e imediata dos indivíduos.

Kottak, ilustra esta inferência:

A abordagem à cultura conhecida como teoria da prática (Ortner, 1984) reconhece que os indivíduos de uma sociedade ou cultura têm motivos e intenções diversos, bem como diferentes graus de poder e influência. Tais contrastes podem ser associados a gênero, idade, etnia, classe e outras variáveis sociais. A teoria da prática trata como esses indivíduos variados – por suas opções e práticas ordinárias e extraordinárias – administram e influenciam, criam e transformam o mundo em que vivem, (Kottak, p. 56).

8    

Para Kottak, a teoria da prática reconhece adequadamente uma relação recíproca entre a cultura e o indivíduo. O sistema [a cultura] define como os indivíduos vivenciam e respondem a eventos externos, mas estes também cumprem um papel ativo na forma como a sociedade funciona e muda. A antropologia filosófica deve facilitar a dinâmica social, pois compreende que o pragmatismo reconhece tanto as restrições sobre os indivíduos quanto a flexibilidade e a mutabilidade de culturas e sistemas sociais.

Um aspecto muito importante neste capítulo é o etnocentrismo. Esta questão é bastante realçada pelo autor, pois trata-se de um tema recorrente. É comum dentre as pessoas, julgarem sua própria cultura como sendo a mais pronta, correcta, divina, moral e acabada possível, e então julgam as demais a partir de seus próprios padrões marginalizando-as. Para evitar esta tendência [etnocêntrica], Kottak ensina que, “para entender bem outra cultura, deve-se tentar ver como as pessoas naquela cultura enxergam as coisas. O que as motiva – o que elas estão pensando – quando fazem essas coisas?”

Esta reflexão incita-nos a julgar o comportamento humano com base em valores humanos superiores e nãos àqueles enraizados na autoridade metafísica de nossa aldeia. Estes valores teoricamente inexoráveis definem um padrão de tolerância global. Para R. Wilson (1996), citado por Conrad, “a ideia dos direitos humanos invoca um reino de justiça e moralidade que está além de leis e costumes de determinados países, culturas e religiões”. CAPITULO III FAZENDO ANTROPOLOGIA

• Métodos de pesquisa em antropologia cultural; • Etnografia: a estratégia distintiva da antropologia; • Tecnicas etnográficas:

o Observação e observação participante o Conversação, entrevistas e roteiro de entrevista o método genealógico o Interlocutores culturais chave o Histórias de vida o As crenças e as percepções locais e as do etnógrafo o A evolução da etnografia o Etnografia orientada por problemas o Estudos longitudinais, pesquisa em equipe e etnografia multissituada

• Pesquisa tipo survey;

9    

• Fazendo antropologia certa e errada: questões éticas; o Código de ética o Os antropólogos e o terrorismo

O próprio tema deste capítulo, “Fazendo Antropologia”, sugere aquilo que pode ser

inferido como sendo a abordagem principal da obra. Tal inferência, portanto, embora dá-nos uma perspectiva geral do texto de Kottak, no que refere sua pretensão a priori, não encerra em si, numa única palavra, toda a discussão antropológica. Torna-se claro, então, que o enfoque principal deste texto é Didático-pedagógico. Isto é, mesmo quando Kottak faz-nos entender, etnograficamente, o ponto de vista do nativo, seu objectivo inicial permanence introduzir-nos à arte de fazer antropologia. Somente a análise cerrada do estilo e linguagem de Kottak pode denunciar tal abordagem, uma vez que não há qualquer revelação explícita da pedagogia do texto de Kottak.

Assim, somente a disposição e ordem dos tópicos, a linguagem [dialógica] de Kottak seriam argumentos suficientes para denunciar a abordagem Didático-pedagógica do texto em questão.

Por outro lado, este capítulo também comporta a dimensão mais pragmática da obra. Não é de admirar que Kottak dedica todo um capítulo para contemplar a etnografia, pois tal attitude, denuncia o interesse privado do autor em priorizar a estratégia distintiva da antropologia.

Porém, não o culpo por tamanha pretensão. Pois, a etnografia constitui uma ferramenta de trabalho útil para outros profissionais de Humanidades, como é o caso de filósofos, sociólogos ou, sem nenhum exagero, pscólogos socio-históricos. CAPITULO IV LINGUA E COMUNICAÇÃO

Quando ouvimos uma língua estrangeira nada familiar é comum a impressão de que seus interlocutores comunicam-se usando um código sem nexo. Esta ilusão sugere-nos que essas pessoas emitem sons indiferentes que pouco ou nada apontam para a base de um sistema de comunicação complexo; como é o caso da nossa língua* – que sugere uma extrutura linguística nada simplista.

Ademais, essa experiência é engraçada. Por isso não poucas vezes julgamos hilariante o linguajar de nossos irmãos amarelos, por assim dizer. _________________ * Referência ao comportamento etnocêntrico [supervalorização da própria língua e marginalização das demais; ex. Inglês é língua de cão; num falo kimbundu!]

10    

Este capítulo “Língua e Comunicação” ajuda-nos a superar este equívoco. Não obstante, Kottak parece carregar tal equívoco para o reino animal [convencionalismo; meaning – outros animais]. Assim, ao resolver um problema linguístico (a língua padrão é uma construção social e culturalmente imposta), introduz um outro [problema] (língua de sinais; sinais de chamamento – inferioridade linguística).

Um velho adágio filosófico ensina que “nenhum geólogo tem mais conhecimentos sobre rochas que uma rocha”. Só isto explica que todo geólogo sensato só o é [geólogo] porque tem a coragem de implorar à rocha que lhe ensine tudo que sabe sobre sua família, pois de outro modo o conhecimento útil seria impossível;

Como entender o código de comunicação verbal dos Chineses? - Fácil! Estudamos a estrutura de sua língua, aprendemos seu idioma. Como forçar um macaco a ensinar-nos seu código de comunicação verbal? - Não possuem um, pois não são humanos (sua biologia não permite!) – sim, diz

que sim (…). Assunto encerrado.

Será que o facto de não possuirmos cauda ou quatro patas como muitos outros animais faz-nos inferior à eles? Será a nossa postura erecta efectivamente uma vantagem!? – Ignoro!

(…) Tudo que julgamos saber sobre nós mesmos e sobre a natureza é ilusório, quando julgado abaixo de qualquer medida de certeza. Verossimilmente o antropocentrismo é como um câncer, pois corroi a dignidade humana, ao impor uma visão de homem precária e muito afastada de seu habitat natural; Deus fez o homem para habitar o Jardim do Edem, o jardim do edem não jaze na quinta dimensão!

Esta pretensão fez com que nos iludíssemos a respeito de quase tudo ao incitar-nos a olhar para fora de nós com desdém e preconceito. Porém não havia na natureza nada de exterior a nós; não existe “o homem e a natureza” nem o “eu e o outro”, pois o homem, como animal que é, é natureza, e eu, sou o outro, porque só existo individualmente partindo do outro como pressuposto da minha própria existência. Então somos todos um; eu, o outro e a natureza.

Assim, já não se pode dizer nem aceitar que outros animais sejam inferiores ou superiores a nós, quer na comunicação, quer no desenvolvimento, porque corremos em sentidos opostamente iguais. Isto é; temos em comum a luta pela sobrevivência, porém desenvolvemos diferentes técnicas de sobrevivência.

Isto não pressupõe igualdade nem seu extremo oposto. Pois não se deve comparar o incomparável; que critérios devemos usar para comparar “couve com papel”, no que refere a alimentação? Ou que critérios usar para comparar “camelo com cerveja” no que respeita a resistência de animais no deserto? Ser-nos-ia permitido dizer, por exemplo, para nossos convidados: preferis comer “couve ou papel?”; ou, por assim dizer: preferis

11    

levar convosco, (para atravessar o deserto) “camelo ou cerveja?”. Obviamente, em ambos os casos as preferências seriam unânimes.

Quem quiser falsear minha objecção cética correlação ao simplismo linguístico de outros animais que não nós, homens e mulheres naturalmente seleccionados para a superioridade e divinamente eleitos senhores da terra; só tenho a dar-lhe forças para levar a bom porto tamanha empreitada. Não obstante, antes dir-lhe-ia: Irmão, oblai uma linda mansão à um pardal, sendo que, ele é incapaz de erigir imponente obra. Porém asseguro-te, portanto, que esse mesmo pardal há-de fazer seu próprio ninho no local mais adequado que julgar encontrar no interior ou não de tal mansão.

Só isto não atesta de todo a parcialidade de Kottak, é preciso considerar que ele procura explicar a evolução humana que tornou possível a fala para os homens e negou-a aos chimpanzés – como se eles precisassem de tagarelar!

Entretanto, o maior pecado de Kottak consiste naquilo que poderiamos classificar como “publicidade enganosa”. Sim! Publicidade enganosa!; Kottak baptiza um tópico de “A Origem da Língua”. Porém, Quando submetido à luz da razão seu conteúdo nada oferece para medicar a curiosidade patológica dispertada pelo tema proposto.

Foi preciso recorrer ao consultório linguístico de Ludwig Wittgenstein para achar consolo para tanta desolação;

Quando os adultos nomeavam um objecto qualquer voltando-se para ele, eu percebia e compreendia que o objecto era designado pelos sons que proferiam, uma vez que queriam chamar a atenção para ele. Deduzia isto, porém, de seus gestos, linguagem natural de todos os povos, linguagem que através da mímica e dos movimentos dos olhos, dos movimentos dos membros e do som da voz anuncia os sentimentos da alma, Quando esta anseia por alguma coisa, ou segura, ou repele, ou foge. Assim, pouco a pouco eu aprendia a compreender o que designam as palavras que eu sempre de novo ouvia proferir nos seus devidos lugares, em diferentes sentenças. Por meio delas eu expressava os meus desejos, assim que minha boca se habituava a esses signos, (Agostinho, Santo apud Wittgenstein, Ludwig, p. 15)

Só este texto pode escoltar-nos aos primórdios da linguagem humana! Ludwig acrescenta, “nestas palavras temos, ao que parece, uma determinada

imagem da essência da linguagem humana, a saber: as palavras da linguagem denominam objectos – as sentenças são os liames de tais denominações. – Nesta imagem da linguagem encontramos as raízes da idéia: Toda palavra tem um significado. Este significado é atribuído à palavra. Ele é o objecto que a palavra

12    

designa”. Um aspecto interessante neste capítulo, “Língua e Comunicação” é, portanto, o tema

“Estrutura da Língua”, que aborda questões referentes ao estudo científico de uma língua falada. Aqui, Kottak esclarece o conceito de fonologia, morfologia, léxico e sintaxe. O estudo dos subcampos linguísticos apresentados neste tema são muito importantes para o aprendizado de idiomas, pois aprender uma língua é simplesmente conhecer sua estrutura e dominhar os respectivos jogos de linguagem. CAPITULO V GANHANDO A VIDA

Este capítulo trata das diferentes técnicas de sobrevivência ou estratégias adaptativas adoptadas por diferentes povos.

Tal abordagem apela-nos a reflectir sobre os conceitos de pobreza e de riqueza, impondo-nos assim, a consideração da ambiguidade e esterilidade das políticas de combate à pobreza santificadas por vários governos.

A primeira indagação suscitada por esta abordagem seria, a grosso modo: o que é ou como é ser pobre ou rico? A ausência de riqueza pressupõe pobreza e vice-versa? Devo necessariamente ser rico ou pobre? Somos pobres ou ricos em relação à quê ou quem? Por fim, ser rico ou pobre para quê e/ou para quem?

Achar uma resposta para estas questões, ainda que provisórias, é libertar-se de trinta e três anos de angústias.

As estratégias adaptativas de Cohen incluem forrageio (caça e coleta), horticultura, pastoreio e industrialização. O Forrageio foi a única estratégia adaptativa humana até o advento da produção de alimentos (agricultura e pecuária), 10 mil anos atrás, que acabou substituindo-o na maioria dos lugares. Quase todos os forrageios modernos têm alguma dependência da produção ou de produtores de alimentos, (Kottal, p. 136).

A extrutura deste capítulo é deveras ilustrativa:

• Estratégias adaptativas: Forrageio • Estratégias adaptativas baseadas na produção de alimentos: Horticultura,

Agricultura, Pastoreio • Sistemas econômicos: A produção nas sociedades não industriais, Meios de

produção, Alienação em ecomonias industriais • Economizar e maximizar: Finalidades alternativas • Distribuição, troca: O princípio de mercado

13    

CAPITULO VI SISTEMAS POLÍTICOS

• que é “o político”? • Tipos e tendências • Bandos e tribos: Bandos de forrageio, Cultivadores tribais, O chefe da aldeia,

Os grandes homens, Irmandades pantribais, Política nômade • Chefias: Sistemas politicos e econômicos, Sistemas de Status, O surgimento da

estratificação • Sistemas de Estado: Controle populacional, Judiciário, Apoio fiscal • Controle social: Hegemonia e resistência, As armas dos fracos, Vergonha e

fofoca, A guerra de mulheres Ibo

Acredito que esta estrutura fala muito bem por si!

CAPITULOS VII, VIII, IX, X, XI, XII E XIII FAMÍLIAS, PARENTESCO E CASAMENTO GÊNERO RELIGIÃO O SISTEMA-MUNDO E O COLONIALISMO ETNICIDADE E RAÇA APLICANDO A ANTROPOLOGIA O PAPEL DA ANTROPOLOGIA EM UM MUNDO GLOBALIZADO

Por questões meramente pedagógicas, os capítulos subsequentes e acima discriminados foram agrupados numa tabela que apresenta sua estrutura sumarizada e uma breve descrição.

Na verdade, essa estratégia descritiva guarda em si um certo desgaste narrativo impulsionado pela (…) da obra resenhada. Mas nada me Aponte que denuncie tal indolência; Um breve desabafo constituiria prova suficiente! Se assim o fosse – onde repousaria minha liberdade de pensar, e de exteriorizar tal pensamento?

Adoro encarnar-me nos textos! Assim eles ganham propriedade – vivifíco-os. E então minha vida ganha sentido, um sentido forjado com sangue e pena. Adoro o mundo literário, o mundo especulativo; quer ilusório quer não, pois nele tudo é possível, portanto tudo posso: e assim nele sou feliz. Mas basta de Divagações estéreis, vamos a tabela:

14    

TABELA DE SUMARIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS VII – XIII

N° CAPÍTULOS TÓPICOS RESUMO VII Família, Parentesco e

Casamento Famílias, Descendência, Casamento, O casamento em diferente culturas, Divórcio, Casamentos plurais.

Parentesco e casamento organizam a vida social e política.

VIII Gênero Sexo e gênero, Padrões de gênero recorrentes, Papéis de gênero e extratificação por gênero, Gênero em sociedades industriais, Para além de masculine e feminino, Orientação sexual.

Os papéis de gênero são construções sociais, e culturalmente impostas.

IV Religião Expressões da religião, Controle social, Tipos de Religião, Religiões mundiais, Religião e transformação, Rituais seculares.

O sagrado e o profano são valores terrenos.

X O Sistema-Mundo e o Colonialismo

O sistema-mundo, Industrialização, Efeitos scioeconômicos da industrialização, Colonialismo, Desenvolvimento, O segundo mundo, O sistema-mundo hoje.

O Capital define as relações humanas.

XII Etnicidade e Raça

Etnias e etnicidade, Diversidade biológica humana e o conceito de raça, Raça e etnia, A construção social da raça, Tolerância étnica e acomodação, As raízes do conflito étnico.

Infância e adolescência da extratificação social.

XII Aplicando a Antropologia

O papel do antropólogo aplicado, Antropologia do desenvolvimento, Estratégias para inovação, Antropologia e educação, Antropologia urbana, Antropologia médica, Antropologia e negócios, As carreiras e a antropologia.

Especialista em contextos. Visionário!

XIII Antropologia e Globalização*

Globalização, Mudança climática global, Antropologia ambiental, Contacto interétnico, Fazendo antropologia, Pessoas em movimentos, Povos indígenas, A continuação da Diversidade antropológica hoje.

Mediadora global de conflitos e ações industriais.

_________________ *O Papel da Antropologia em um Mundo Globalizado, (Cap. XIII).

15    

Conclusão

Importa, antes de mais, ressaltar que apesar de supostamente não ter obedecido rigorosamente ao modelo de resenha-crítica (RC) da AWU/LAD, a presente resenha apresenta lealmente tais exigência académicas; Elementos pré-textuais, textuais e pós-testuais, embora estejam de certa forma camuflados no emaranhado de palavras. Palavras que descrevem o texto de Kottak.

Importa também clarificar que o texto de Kottak alcança a plenitude dos objectivos

preconizados. Não obstante, deve ficar claro que tal sucesso só pode ser efectivo se o leitor, qualquer que seja, se permitir transformar antropológicamente. Pois a obra resenhada é dirigida a qualquer pessoa, desde que se proponha contemplar a beleza da humanidade através do espelho que melhor reflecte sua diversidade e unidade.

A antropologia é esse espelho. Porém falta-lhe uma doze de criticismo, só assim seu

pensamento poderá ser realmente transformador. O texto de Kottak atesta que a principal qualidade da antropologia é, em harmonia

com a filosofia, a sua capacidade de secularizar o homo sapiens, ao mesmo tempo que valoriza suas ilusões mais entranhadas na sua vontade de potência.

Não vejo outra maneira de compreender o ser humano senão mediante sua

dimensão histórica. Nisso, homem e filosofia se assemelham, pois as controvérsias de um resultam nas do outro. Tal é a filosofia sempre precária e controversa à semelhança do próprio homem. E assim como compreendemos a filosofia, mediante sua dimensão histórica, procuramos compreender também o homem, mediante sua dimensão histórica.

Nosso guia nessa jornada de convivência com a diversidade e unidade humana é a

antropologia, e Kottak faz ela levar-nos à um passeio impressionante.

16    

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO

Nome do aluno: Domingos dos Santos S. Bengo LAD 4316 Correio electrónico: [email protected]

Domingos  dos  Santos  da  Silva  Bengo  

Domingos Bengo