Post on 28-Apr-2023
Desenvolvimento industrial em Mirandela, em torno da linhado Tua: a fábrica de cortiças de Clemente Menéres, a CUF e
o Complexo Agro-Industrial do Cachão 1
Albano Viseu (investigador do CITCEM e do projecto FOZTUA)Eduardo Beira (Instituto Superior Técnico e coordenador do projecto
FOZTUA)J. M. Lopes Cordeiro (U. do Minho e coordenação do projecto FOZTUA)
Resumo - Inaugurada em 1887, logo a linha do Tua se tornou
impulsionadora de algumas valências para a região
transmontana, entre Foz Tua e Mirandela, e a partir de 1906,
entre Mirandela e Bragança.
A linha ajudou a transformar um pouco o mundo dos
transmontanos: a economia, a sociedade, a cultura, a religião,
a política, os transportes, a mentalidade, os valores e as
tradições, os campos de significação e do simbólico...
Os modelos que escolhemos para estudo de caso ajudarão a
compreender como a linha representou um suporte de apoio a
unidades agro-industriais da região de Mirandela, surgidas em
momentos históricos diferentes, que projectaram a sua imagem e
canalizaram os seus produtos para o mercado: a Quinta do Romeu
e as fábricas de cortiça de Clemente Menéres (a partir de
1874); o Complexo fabril da CUF (a partir de 1926) e o Complexo
Agro-Industrial do Cachão (a partir de 1964).
1 Trabalho de pesquisa, apresentado em Tomar, no dia 16 de Abril de 2015, naBiblioteca Municipal Dr. António Cartaxo da Fonseca, no II EncontroIndústria, História e Património, promovido pelo Instituto de HistóriaContemporânea. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Novade Lisboa. Momento de intervenção: Indústria, industrialização - Foz Tua(14.30 às 18:00 h).
Palavras-chave: industrialização, complexos agro-industriais, cortiça, adubos,
linha do Tua
1. Introdução
A linha quebrou o isolamento daquela região transmontana,
ajudou a fixar quadros, movimentou estudantes a caminho das
escolas e populações a caminho de organismos de centralidade
assistencial (hospitais, dispensários, centros de saúde),
administrativa (Câmaras Municipais e repartições de finanças),
judicial (Tribunais), económica (mercados, feiras, mercearias,
a banca que se organiza em torno das actividades da região,
quintas, cooperativas, complexos agro-industriais, unidades
individuais de produção…), religiosa e profana (festas,
romarias, jogos e tradições), comunicativa (CTT, telégrafo,
telefone), militar (recrutamento, incorporação e cumprimento do
serviço), identitária e libertadora das populações rurais
(saída para outras regiões do país e do mundo, à procura de
melhores condições de vida).
Se, de certa forma, contribuiu para ajudar a esvaziar
alguns centros populacionais de vilas e aldeias, de um universo
apegado aos seus contextos de mundividência, também concorreu
para o crescimento e para o desenvolvimento de localidades como
o Tua, o Cachão, Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Bragança.
Os armazéns, e os celeiros de cereais, que se estabeleceram
nestas localidades, serviram para escoar, em maior quantidade
do que em outras estações e apeadeiros da linha do Tua, muitos
dos produtos que da região eram enviados para o Porto, para o
litoral e para Lisboa, e em movimento ascendente para captar
mercadorias que abasteciam esses locais e suas regiões
envolventes. Macedo de Cavaleiros, Bragança e Cachão eram
centros importantes de expedição de cereais.
As grandes dificuldades de circulação de pessoas, de bens e
mercadorias, numa região em que perduraram por muito tempo as
antigas vias romanas, em que faltavam estradas e se transitava
por caminhos esburacados, térreos, lamacentos (inverno) e
poeirentos (verão), foram sendo ultrapassadas com o
aparecimento do comboio.
A Estada Real n.º 6, em macadame, inaugurada em 1870, uniu
Bragança e o Porto seis anos mais tarde, passando por Macedo de
Cavaleiros, Romeu, Mirandela, Murça, Vila Real, Amarante,
Penafiel e Paredes, canalizava a produção agro-alimentar e
animal das terras transmontanas para maiores centros de
consumo, ainda que as viagens fossem perigosas e demoradas.
O rio Douro foi utilizado, desde longa data, como uma via
alternativa de comunicação circulante pelas populações
transmontanas e durienses das duas margens que a ela recorreram
para escoar as suas produções essencialmente para a Régua, para
Lamego e para o Porto, e para receber as mercadorias
necessárias à sua subsistência e à sua actividade.
Em 1792, foi vencido o estrangulamento que representava o
Cachão da Valeira, e a partir de 1811 o tráfego de mercadorias
com o Porto, através do rio Douro, estendeu-se até à fronteira
com Espanha. As populações acima Cachão deixaram de dar
primazia ao negócio fronteiriço e ao comércio das rotas dos
almocreves que por elas passavam e viram as suas produções
agrícolas (vinho, azeite, amêndoa, sumagre, figos…) mais
valorizadas, no contexto da economia nacional.
Em 1887, o caminho-de-ferro da Linha do Douro e da Linha do
Tua passou a ligar o Porto a Barca de Alva e a Mirandela,
surgindo como uma via concorrencial, em relação às
anteriormente referidas e trazendo outras possibilidades de
desenvolvimento à região transmontana e duriense.
A estação de caminho-de-ferro de Mirandela, como local
central desta linha, usufruiu de condições que, a partir do
século XIX, lhe deram movimento e serviram de apoio ao núcleo
de serviços industriais da região: as suas oficinas fizeram a
reparação do material circulante e deram assistência à via e às
máquinas nas suas secções (motorizado; forjas; vapor; tornos;
material rebocado; pilha de carvão; placa giratória) e, por
vezes, atenderam empresas da região, e o armazém serviu para
fazer a expedição e a captação da carga.
Os três exemplos escolhidos para o estudo de caso que aqui
apresentamos ajudam a compreender como a linha foi importante
para Mirandela, e para as populações que viveram em torno das
suas dinâmicas, contribuindo para o aparecimento de empresas
valorizadoras dos produtos locais: a Quinta do Romeu (1874) e a
Sociedade Clemente Menéres, Lda. (1902): cortiça, vinho e
azeite; o complexo fabril da CUF, a partir de 1926: azeite e
óleo de bagaço de azeitona, de grainha e casca da uva, do
gérmen de milho, da copra e do coquenote; e o Complexo Agro-
Industrial do Cachão, a partir de 1964: azeitonas, picles,
azeite, mel, compotas de vários doces, feijão cozido de vários
tipos, marmeladas e geleias, vários legumes cozidos e
enlatados, frutas em calda e cristalizadas, frutos secos,
queijo, vinhos e aguardentes vínicas …, produtos especialmente
destinados à exportação, mas também para consumo interno.
A linha do Tua, tanto na sua extensão até Mirandela como na
sua secção até Bragança deu azo ao desenvolvimento de
indústrias e de complexos agro-industriais e pecuários e
movimentou o seu comércio, mostrando a importância da novel e
poderosa forma de transporte e de comunicação com o litoral.
Demonstraremos os factores que levaram à instalação destas
três unidades na região, os seus objectivos e aspirações, as
suas realizações concretas e as razões para o seu encerramento
(quando este se verificou).
Analisaremos, em seguida, do ponto de vista do património
industrial, o que restou destes empreendimentos e de que forma
esses vestígios foram ou não utilizados.
2. O desenvolvimento “industrial” de Mirandela, em
torno da Linha do Tua
2.1. Clemente Menéres Lda., o comboio e a cortiça
Fig. 1. Clemente Menéres (1843-1916)Fonte: Quinta do Romeu. Disponível em: http://www.quintadoromeu.com/ Data
de consulta: 7/4/2015
Nome da unidade empresarial: Quinta do Romeu e Fábrica de
cortiças de Mirandela
Protagonista principal: Clemente Menéres (1874) e Sociedade
Clemente Menéres, Lda. (a partir de 1902)
A unidade empresarial:
-Factores que levaram à sua instalação
Clemente Menéres (1843-1916) foi um empresário que, na
segunda metade do século XIX, após uma breve e bem-sucedida
estadia no Brasil, para onde emigrara com apenas 16 anos de
idade, regressou a Portugal em 1863, estabelecendo-se no Porto
e passando a dedicar-se à exportação de produtos agrícolas para
várias regiões do mundo.
Nas suas digressões pela Europa, Médio Oriente e Norte de
África, apercebeu-se das vantagens em investir na produção de
vinho e de cortiça, produtos que já então comercializava, antes
de os canalizar para os mercados externos.
A região transmontana que ele visitou, a fim de estudar os
melhores locais onde realizar os investimentos, poderia
fornecer-lhe não apenas a cortiça, que existia em grande
quantidade e de boa qualidade no concelho de Mirandela, mas
também o vinho, o azeite e outros produtos agrícolas.
Em Maio de 1874, adquiriu, no Romeu, em Mirandela, grandes
extensões de terreno e matas de sobreiros, iniciando a
constituição de uma empresa agrícola que se dedicaria,
maioritariamente, à exploração da cortiça, embora também
produzisse vinho e azeite. As propriedades que adquiriu e que
passaram a integrar o domínio da empresa estendiam-se pelo
concelho de Mirandela, por outros seis concelhos do distrito de
Bragança, e ainda pelo de Valpaços, no distrito de Vila Real.
Com matéria-prima abundante e de boa qualidade2 – não
apenas a proveniente das suas propriedades, mas também a que
adquiria na região –, decidiu dedicar-se à sua extracção,
transformação e comercialização, pelo que montou uma fábrica,
transformando-se, assim, num dos pioneiros da industrialização
daquele produto no Norte do país.
Instalada a fábrica de cortiças no Romeu e em Mirandela, a
fim de fazer frente à concorrência de outras fábricas de
cortiça e de outros pretendentes à instalação de unidades
congéneres, Clemente Meneres conseguiu garantir, dessa forma, o
controlo sobre uma grande parte da cortiça produzida na região.2 VISEU, 2007: 244
-Objectivos, aspirações e realizações
Em 1902, a Sociedade Clemente Meneres, Lda. tinha dois
grandes objectivos: «explorar agricolamente na Província de
Trás-os-Montes bens rústicos, próprios ou arrendados, para
produção de vinho, azeite e cortiça e, acessoriamente, cereais,
madeiras, mel e outros produtos agrícolas; manufacturar e
vender os produtos dessa exploração agrícola»3.
A Sociedade Clemente Menéres, Lda., constitui um
interessante caso de longevidade societária e de sucesso a
nível de exploração, de transformação, de qualidade e de
canalização para o mercado da sua produção agrícola,
continuando nos dias hoje a representar um dos principais
empregadores da região.
-Algumas características
A Quinta do Romeu constitui uma unidade económica de
vanguarda na forma como se cultivam os produtos, como se lançam
novas tecnologias e métodos na agricultura (irrigação, métodos
de extracção de azeite, do fabrico e tratamento dos vinhos, da
jeropiga e da aguardente, do cultivo e da apanha de frutas),
como aposta na qualidade das frutas, do azeite, do vinho (de
3 Cit. por VISEU, 2013: 30
mesa e do Porto), como se explora a cortiça e como se faz a
comercialização destes produtos4.
Na Quinta do Romeu destacaram-se três núcleos principais:
Jerusalém do Romeu (centro onde fica o Palacete da família
Menéres, com as suas divisões e casarios, cada uma com a sua
função, os armazéns, a fábrica de cortiça e o armazém de apoio
ao escoamento da produção, localizado junto à linha do Tua);
Vila Verdinho (centro de desenvolvimento e de protecção
florestal do Quadraçal, onde funcionou a primeira fábrica de
cortiças) e Monte Meões (o principal centro vinhateiro).
A exploração agrícola estava organizada nos seguintes
sectores: florestal (montados de sobreiros e alguns soutos de
castanheiros), agrícola (vinhas, olivais, pomares, hortas,
lameiros, culturas de sequeiro de cereais e outras), pecuário
(animais de carga e de trabalho e animais de rendimento como as
ovelhas e as cabras), tecnológico (lagares, barragens,
maquinaria) e transformador (fábrica de rolhas)5.
-Razões para o encerramento das fábricas de cortiça em
Trás-os-Montes
Um dos motivos que explica o abandono da transformação da
cortiça em Trás-os-Montes prende-se com a questão do transporte
da matéria-prima e dos produtos derivados.
De 1874 a 1878, o escoamento da cortiça era assegurado por
carreteiros, recorrendo a carregamentos em carroças e em
carros-matos, puxados por bois, que a conduziam por terra para
4 VISEU, 2013: 355 VISEU, 2013: 31-32
o Porto ou para os portos fluviais (Foz Sabor, Pocinho, Tua)
onde era carregada em barcos (almadia), e seguia através do rio
Douro para o Porto.
Em 1878, quando foi instalada a “fábrica velha” no
Quadraçal, devido às fracas vias de comunicação – Mirandela
estava ligada ao Porto, a partir de 1870, pela Estrada Real n.º
6, mas o percurso era longo e moroso – surgiram problemas para
o escoamento da cortiça, das rolhas e dos outros produtos
derivados desta matéria-prima.
A ligação ao Porto, depois de 1880, a partir da estação de
caminho-de-ferro do Pinhão, pouco contribuiu para alterar esta
situação, porque o percurso entre Mirandela e o Pinhão era
longo e difícil de percorrer, quer ao utilizar os carros-matos,
quer as carroças, quer os carros de bois, quer os animais de
carga.
O comboio seria essencial para Clemente Menéres canalizar a
sua produção para os mercados, pelo que se tornou num dos
principais batalhadores para que este meio de transporte fosse
uma realidade e para que o mesmo lhe passasse à porta.
Clemente Menéres foi o grande obreiro do caminho-de-ferro
de Foz Tua a Mirandela, «pelo seu pragmatismo, pela sua
inflexibilidade, perante as dificuldades do processo e pela
capacidade de congregar diversas personalidades em torno de um
projecto indispensável ao desenvolvimento agrícola, industrial
e comercial das terras transmontanas»6.
O comboio passou a facilitar o transporte da produção da
Sociedade Clemente Menéres, Lda., e a cortiça das suas
diferentes propriedades, que se situavam ao longo da linha,6 PARREIRA, 1997: 70
passou a ser canalizada quer para a fábrica de Mirandela, quer
para a fábrica do Porto.
A partir de Setembro de 1887, passou a existir uma ligação
ferroviária entre Mirandela e Foz Tua, que entroncava nesta
estação na Linha do Douro, pelo que a implantação de fábricas
de cortiça junto do principal centro produtor, no Romeu, deixou
de ter interesse.
Com a abertura pública da linha do Tua, a fábrica da Horta
da Massada perdeu importância e, como o principal obstáculo
para o transporte da cortiça estava ultrapassado, a fábrica de
cortiça de Monchique, instalada na cidade do Porto, ganhou nova
vitalidade. O escoamento da cortiça para esta fábrica ficava,
assim, assegurado pelo comboio.
A fábrica de cortiça de Monchique, cuja produção diminuíra,
entre 1 de Fevereiro de 1879 e 30 de Abril de 1887, reanimou a
sua actividade com a chegada do comboio a Mirandela. Além da
cortiça, Clemente Menéres exportava, nesta altura, rolhas,
conservas (sardinha, doce, fruta em calda, geleia e marmelada),
azeite e fruta (contudo, a produção para a fábrica de conservas
que o empresário tinha instalado no Porto não obteve êxito).
Atestando a qualidade do seu fabrico, os produtos das
fábricas de Clemente Menéres conheceram, muito rapidamente, um
considerável sucesso, tanto a nível nacional como
internacional, tendo sido premiados nas Exposições de
Filadélfia (1876), de Lisboa (1884) e de Paris (1889).
As fábricas do Romeu e de Mirandela trabalhavam a cortiça e
seus derivados (rolhas, quadros, aparas, feixes) e a produção
obtida era enviada para o Porto.
A cortiça em bruto e em fardos foi sempre escoada em
grandes quantidades para a sucursal da Sociedade Clemente
Menéres, Lda., ao longo dos tempos: «Dei ordem ao Cleto para que
acabasse de despachar toda a cortiça que cá [no Romeu] existia da casa
[Menéres] e juntamente 3 sacos com vários quadros que aqui havia, ainda
antigos, assim como 2 sacos de carvão de sobreiro que aqui estavam a fazer
estorvo e a contaminar os sacos»7.
Até 1887, as dificuldades de transporte terão impedido a
preparação da cortiça em prancha, pelo que se fabricaram apenas
rolhas. As facilidades de transporte possibilitadas pela
inauguração da Linha de Foz Tua a Mirandela, nesse ano,
transferiram a quase totalidade da produção rolheira para a
fábrica de Monchique.
Em 1895, a fábrica de rolhas de Jerusalém do Romeu, ainda
se mantinha em funcionamento, embora com uma produção muito
reduzida, ocupando apenas um trabalhador a tempo inteiro, o
qual era ajudado a cozer e a quadrar a cortiça por mais um ou
dois trabalhadores que eram dispensados de outros trabalhos.
A preparação e a transformação da cortiça, seguindo os
modelos industriais, só se verificará com a instalação da
fábrica de cortiças de Mirandela.
Entre 1895 e 1905, Clemente Menéres dedicou-se à Quinta do
Romeu, reactivando a fábrica de cortiças do Bairro do Toural,
em Mirandela, e exportando, durante este período, cortiça,
rolhas, vinhos, bebidas e azeite.
Em 1900, a fábrica de Mirandela já empregava 20 famílias e
estava equipada com 25 máquinas accionadas por uma máquina a
vapor: 9 de quadrar cortiça e 16 de fazer rolhas e de contar. 7 BARBAS: 1891
Em 1905 (Julho), a linha chegou ao Romeu e em 1906 (1 de
Dezembro) atingiu Bragança. A cortiça passou a ser carregada em
vagões em várias estações e apeadeiros da Linha do Tua
(Salselas, Macedo de Cavaleiros, Romeu, Mirandela, Cachão,
Abreiro, Brunheda, S. Lourenço, Tralhariz …). Esta matéria-
prima viria a ser o verdadeiro motor da empresa de Clemente
Menéres, pois as suas exportações para diferentes praças da
Europa, da Ásia e da América, às quais se deve acrescentar o
vinho e o azeite, proporcionaram avultados lucros.
Na realidade, foram cinco as fábricas de cortiça que
Clemente Menéres fundou, uma no Porto e quatro em diversos
locais do concelho de Mirandela.
Na Cidade Invicta fundou, em 1872, nas instalações do
antigo convento de Madre de Deus de Monchique, em Miragaia, a
sua primeira fábrica de rolhas de cortiça, que ao longo do
tempo conheceu vários períodos de laboração.
Na Quinta do Romeu, mais propriamente na ribeira do
Quadraçal, fundou em 1878 outra fábrica de rolhas e de
preparação de cortiça em prancha – que, por ter sido a primeira
da região, ficou conhecida por “fábrica velha” –, a qual se
manteve em funcionamento até 1881.
No Inquérito Industrial publicado nesse ano, Clemente
Menéres já possuía uma outra fábrica, no lugar do Carriço, em
Jerusalém do Romeu, que manteve o mesmo tipo de produção da
fábrica anterior, isto é, rolhas e cortiça em prancha, mas que
raramente funcionava, porque a maior parte da cortiça era
canalizada para a fábrica de Monchique, no Porto, a partir da
estação do Pinhão, inaugurada em 1880.
Apesar do empresário possuir uma plantação de sobreiros nas
proximidades da nova fábrica, estas árvores eram ainda muito
novas para produzir cortiça, capaz de se ajustar às
necessidades de produção. Por conseguinte, em 1883 a fábrica do
Carriço cessou a laboração, entrando nesse mesmo ano em
funcionamento uma nova fábrica na Horta da Massada, no Romeu.
Finalmente, em 1900, Clemente Menéres transferiu grande
parte dos equipamentos da fábrica de Monchique, para o Bairro
do Toural, na chamada Canelha do Outeiro, em Mirandela, onde
instalou uma nova fábrica, a qual veio a cessar a laboração em
1913, regressando os equipamentos à fábrica do Porto, a partir
de 1909.
A partir de 1908, a cortiça em bruto, produzida na região –
a Casa Menéres sempre escoou grandes quantidades de cortiça em
bruto, ao longo dos tempos –, passou a ser transportada para a
fábrica de Monchique, que reanimou a sua actividade, suspensa
desde 1900. E em 1909, após ter-se expandido para novas áreas
do antigo convento de Monchique, e ter sido reapetrechada com a
maior parte das máquinas que vieram de Mirandela por caminho-
de-ferro, assim como com o pessoal operário que trabalhava
nesta fábrica, a fábrica do Porto estava já a laborar
normalmente.
Consequentemente, em finais de 1913, a fábrica do Toural,
em Mirandela, cessou definitivamente a actividade.
-Relação com a linha do Tua
A consulta dos dados relativos à carga de mercadorias na
linha de Foz Tua a Bragança, incluídos nos Relatórios de Contas
Anuais da Companhia Nacional dos Caminhos-de-Ferro, operadora
da linha de Foz Tua a Mirandela (desde 1887) e, depois, de
Mirandela a Bragança (a partir de 1906) permitem chegar a
algumas conclusões, sobre a evolução do negócio da cortiça em
Trás-os-Montes, em especial na zona do Vale do Tua.
Grande parte dessa cortiça pertencia à Casa Menéres que a
enviava para o Porto para alimentar a fábrica de Monchique e
também para ser exportada.
A quase totalidade da carga expedida pela linha do Tua
(cerca de 90%) tinha origem na estação de Mirandela e como
destino a linha do Douro, para ser canalizada para o Porto.
Antes de 1891, data da grande reestruturação financeira da
Companhia Nacional, em que o controlo de gestão foi assumido
pelos obrigacionistas, salvando, assim, a empresa da falência,
nunca foram publicados dados de tráfego e carga nos relatórios
anuais.
O gráfico 1 refere a tonelagem total de cortiça, expedida
ao longo da linha, desde 1891 a 1933:
Gráfico 1 – Cortiça expedida ao longo da Linha do Tua
(1891-1933). Fonte: Relatórios Anuais da Companhia Nacional
de Caminhos-de-Ferro (RACNCF).
Da observação do gráfico 1, podem inferir-se algumas
conclusões:
a carga média expedida de cortiça variou habitualmente
entre as 1.000 e as 1.500 toneladas anuais, sem que
seja visível uma tendência nos dados;
os anos em que essa tendência esteve abaixo desses
valores: 1906, 1915; 1917-1920; 1928; e acima desses
valores: 1916, 1923, 1933;
a abertura da linha de Mirandela a Bragança não parece
ter tido uma grande influência nas expedições totais de
cortiça, uma vez que já antes dessa inauguração a
cortiça era comprada e transportada para a estação de
Mirandela;
ao contrário de outras mercadorias, o período da I
Guerra Mundial não parece ter afectado grandemente as
expedições desta matéria-prima.
O gráfico 2 mostra a evolução das cargas totais de
mercadorias e de cortiça (em toneladas e movimentadas em ambos
os sentidos) expedidas quer pela linha do Tua a Mirandela, quer
pela linha de Mirandela a Bragança, no mesmo período (1891-
1933).
Gráfico 2 – Evolução das cargas totais de mercadorias e
cortiça movimentadas em ambos os sentidos. Fonte: RACNCF.
A análise dos dados do gráfico 2 permite concluir que a
importância das cargas de cortiça, no tráfego total da linha,
se manteve estacionário a longo prazo, não seguindo as
tendências gerais do tráfego total de mercadorias.
Este tráfego mostra uma tendência crescente, até final da
primeira década do século XX, com um salto entre 1905 e 1907,
associado à abertura progressiva da linha até Bragança.
Gráfico 3 – Tonelagem da cortiça movimentada, em relação à
carga total. Fonte: RACNCF.
No entanto, apenas nos primeiros anos de exploração da
linha, entre Foz Tua e Mirandela, é que a cortiça teve uma
quota importante da tonelagem movimentada em pequena
velocidade: próximo dos 8% da carga total, no seu início de
actividade, mas já só cerca de 4% ao virar do século, tendo
posteriormente estabilizado à volta de 2% (gráfico 3).
A linha de Foz Tua a Mirandela representou, mesmo após a
abertura da ligação a Bragança, cerca de 70% da carga total,
porque Mirandela continuou a ser o principal pólo de negócio e
de expedição das cargas de cortiça.
Um conjunto de fenómenos explica a irregularidade do
negócio da cortiça: no início, pouca cortiça era enviada para o
Porto, porque foi necessário esperar que os sobreiros dessem
cortiça mansa e apta para ser transformada; os incêndios e a
entrada das cabradas nos sobreirais dificultaram a extracção e
a obtenção de cortiça; graças ao trabalho dos feitores, dos
guardas, dos fiscais e dos colaboradores, a "propriedade" e a
quantidade de sobreiros aumentou, como foi aumentando a área em
que se comprava cortiça a terceiros; a mão-de-obra constituiu
um problema, porque era escassa para a execução das tarefas
agrícolas e estava pouco preparada para a transformação da
cortiça nos seus derivados; as dificuldades de comunicações e
os problemas de transportes, relacionados com os carros de
bois, os animais de carga, e o transporte por camioneta, após
1915; a possibilidade do roubo da cortiça que devia ser
guardada ou colocada em lugares seguros para que isso não
acontecesse.
Tudo isto contribuiu para o apuramento de um valor variável
na obtenção de cortiça.
Ao longo do período em análise, vários carregamentos
significativos de cortiça foram enviadas em bruto directamente
da exploração agrícola (Casa Menéres) e de outros locais
(Cachão, Azibo, Salsas, Abreiro...), sem terem passado pela
fábrica, um fenómeno que sempre se verificou, como a leitura
dos copiadores da correspondência entre os feitores e Clemente
Menéres parece indicar; a procura da cortiça em prancha passou
a ser maior do que a transformada em rolhas; a reactivação da
fábrica de Monchique representou uma maior movimentação e criou
a necessidade de captar a cortiça ainda em bruto; a
concorrência de outras fábricas e de outros negociantes da
cortiça surgiu em Vimioso e em Mogadouro.
A linha do Tua foi essencial no transporte da cortiça e dos
seus derivados, ajudando Clemente Menéres e a Sociedade
Clemente Menéres, Lda., a partir da sua criação em 1902, a
alimentar a exportação destes produtos e a fábrica de
Monchique, quando se veio a organizar, e a trazer até à região
transmontana inovações técnicas e novos métodos de produção e
de transformação (maquinaria, bacelos, adubos, utensílios,
carboreto, gasómetros, ceiras, alfirme, corda, enxofre,
sulfato, carvão, géneros alimentares, manutenção de
equipamentos, o telefone…).
A diferença de bitola, existente entre as Linha do Tua e do
Douro, levantou dificuldades ao negócio da cortiça, pois era
preciso fazer o seu transbordo na estação de Foz Tua, o que
tornava o serviço lento e mais caro, e o pouco cuidado na
descarga e carga dos vagões danificava a cortiça, afectando-lhe
a sua qualidade.
Houve outros factores que se tornaram adversos8 à
continuidade das fábricas de rolhas no Romeu e em Mirandela: a
dificuldade em contratar operários especializados (escolhedores
de rolhas e quadradores) e de os operários contratados na
região de Lisboa não desejarem fixar-se em Mirandela; os baixos
níveis de qualidade das rolhas ali fabricadas; o facto de a
cortiça ter passado a possuir mais valor se exportada em
prancha do que se fabricada em rolhas9; os problemas com a
8 VISEU; 2013: 749 MENÉRES: Entrevista de Maio 2013
manutenção das máquinas e a dificuldade de assegurar a sua
assistência técnica em Mirandela, pois os técnicos qualificados
tinham de se deslocar do Porto.
O caminho-de-ferro contribuiu também para a
desindustrialização da região, pelo menos no que diz respeito à
indústria corticeira, pois ajudou a deslocalizar máquinas e
operários de Mirandela para Monchique.
Património industrial: o que subsistiu; utilização dos
equipamentos
O património agro-industrial da Quinta do Romeu está bem
preservado em Monte Meão, em Jerusalém do Romeu, em Vale de
Couço e no Romeu. Apesar de algumas unidades se encontrarem
desactivadas, ainda se encontram conservadas e a funcionar as
instalações de produção e de engarrafamento de vinho e de
azeite e encontram-se em bom estado as unidades de apoio à
exploração e ao negócio das produções (residência da família
Menéres, escritório, casas de apoio, restaurante Maria Rita….)
O Museu de Curiosidades encontra-se aberto ao público e
constitui um verdadeiro acervo da memória da família Menéres e
das pessoas da região, reportando-se a tecnologias, maquinaria
e à época dos melhoramentos das aldeias de Vade de Couço, Vila
Verdinho, Vimieiro e Romeu.
As fábricas de cortiça estão desactivadas e restam apenas
as instalações da fábrica Velha no Quadraçal, que por se manter
quase na íntegra representa uma autêntica «cápsula no tempo».
O arquivo da Sociedade Clemente Menéres, Lda., existente no
Romeu e em Monchique (Porto), é magnífico para o estudo
aprofundado sobre a acção empresarial de Clemente Menéres e dos
seus descendentes, assim como para aprofundar a forma como a
Sociedade se manteve em actividade e indivisa, até aos nossos
dias. O primeiro núcleo, localizado no Romeu, precisa de um
espaço de conservação dos documentos nele existente
(copiadores) e o segundo, localizado em Monchique, precisa de
um trabalho de arquivo e de catalogação.
As máquinas e as inovações introduzidas na Quinta do Romeu
constituíram um símbolo de «progresso» e de modernidade,
encontrando-se muitos desses equipamentos expostos no Museu de
Curiosidades do Romeu e em armazéns e unidades de
transformação, pertencentes à Quinta do Romeu.
2.2. O complexo Fabril da CUF em Mirandela
Fig. 2. Alfredo da Silva (1871-1942)
Fonte: O criador de empresas. Disponível em:http://economico.sapo.pt/noticias/o-criador-de-empresas_196941.html.
Data de consulta: 7/4/2015
Nome da unidade empresarial: Fábrica da CUF de Mirandela
Protagonista principal: Alfredo da Silva
A unidade empresarial:
-Factores que levaram à sua instalação
A região de Mirandela possuía abundância de matérias-
primas, indispensáveis para o funcionamento da fábrica:
azeitona, bagaço de azeitona, grainhas e cascas de uvas, lenha
e troncos para alimentar a caldeira.
Cada unidade tinha três pessoas para trabalhar as 24 horas
em todo o dia. Uma caldeira tinha três fogueiros, contando
ainda com três ajudantes, e a central eléctrica tinha também
três pessoas para tomar conta do serviço. E havia mão-de-obra
necessária para esses e para outros serviços.
A CUF possuía um lagar onde se fazia azeite e se obtinha o
bagaço, apesar deste produto que abastecia a fábrica ser
também proveniente de diversas localidades. Os grandes
vendedores de bagaço existiam por todo o Nordeste, em Freixo
de Numão, em Moncorvo, em Foz Coa e, até mais a sul, em
Idanha-a-Nova, perto de Castelo Branco.
Quando Alfredo da Silva decidiu instalar o lagar em
Mirandela, o acontecimento causou um grande impacto sobre os
industriais de Mirandela que não acolheram bem a ideia: o Dr.
Manuel Maria Pires, médico da CUF, o Dr. Aires Lima, o Conde
Fijó, o Capitão Ilídio Esteves, o «Zé» Lima, o Hermenegildo
Castilho, o Dr. Amândio… Alguns deles só produziam o azeite,
pois tinham os seus lagares, e vendiam o bagaço para a CUF.
A unidade da CUF de Mirandela passou a ser compradora desse
subproduto da região e tornou-se também no empregador favorito
para muitas pessoas, para além de criar uma ocupação para os
angariadores, «os comissários», que angariavam o bagaço na zona
onde viviam, com o objectivo de o venderem à CUF.
A existência de espaço necessário para instalar as várias
unidades, mesmo ao lado da linha do Tua, em Mirandela,
correspondia a uma exigência de Alfredo da Silva que instalou
todas as suas fábricas onde havia linhas de caminho-de-ferro e
matérias-primas e utilizava este meio de transporte, para
escoar a sua produção e para abastecer os armazéns de produtos.
A fábrica em Mirandela ficou servida por um ramal de
caminho-de-ferro, ligado à Linha do Tua, e ainda por um
guindaste para cargas e descargas.
A fábrica tinha óptimas instalações e estava equipada com
todo o material necessário para fazer face a um incêndio.
Na caldeira, havia uma buzina que funcionava a vapor:
chamavam-lhe a buzina da CUF e ouvia-se a 20 km de distância,
regulando as horas de entrada e de saída do pessoal.
-Objectivos, aspirações e realizações
A CUF constituiu um gigantesco conglomerado empresarial,
com actividade em inúmeros sectores económicos, como a
indústria, a banca, os seguros, etc, tendo baseado o seu
crescimento em cinco grandes segmentos de produção:
Química orgânica: refinação de óleos, azeite, sabões,
farinhas e rações.
Química inorgânica: fabrico de ácidos.
Metalúrgica: cobre, chumbo, ouro e prata e tratamento de
cinzas de pirite.
Metalomecânica: oficinas de ferro, bronze e fabrico de aço
especial para a indústria do ácido sulfúrico.
Têxtil: primeiro com embalagens para os adubos e, depois,
alargada à produção de diversos tecidos.
Na década de 1930, para corresponder ao objectivo principal
da empresa, a CUF já tinha fábricas em Lisboa, Barreiro,
Alferrarede, Soure, Canas de Senhorim e Mirandela (química
orgânica) e empregava 16 mil pessoas.
A CUF era a infra-estrutura económica mais importante da
região transmontana, dado que era praticamente a única, pelo
que desempenhou um papel fundamental na sua história e,
particularmente, na de Mirandela.
Constituía uma unidade de primeiro plano, tendo criado uma
rede de comissários, que realizavam parte das compras, o que
acabava por não ser rentável para a CUF, porque a azeitona era
paga a diferentes preços. Um comissário comprava a azeitona na
aldeia dos Avantos e vendia-a como se fosse de Mascarenhas ou
de Mirandela, o que tinha implicações no rendimento … A fim de
solucionar este problema, a CUF criou um pequeno laboratório e
passou a comprar azeitona com amostra laboratorial.
Em toda a região de Mirandela, o aquecimento fez-se durante
muitos anos, a partir do subproduto da CUF. O bagaço queimado
era vendido para as lareiras e produzia um borralho excelente.
Nos anos 40 e 50, tanto na altura da II Guerra Mundial,
como no pós-guerra, a CUF constituiu também uma infra-
estrutura de apoio social. A fome foi então muito sentida na
região, sobretudo pelas classes mais humildes. Como Mirandela
era uma excelente zona agrícola, foi criada a inspecção dos
abastecimentos, a fim de se evitar o mercado negro, sendo
instituído um sistema de senhas.
O agricultor não podia vender livremente a sua produção,
sendo obrigado a entregá-la à CUF. De Mirandela, alguns
comboios iam directamente para a Alemanha, outros para os
Aliados, e os «junkers» de Alijó vinham comprar o minério e o
azeite. As padarias vendiam o pão, o denominado «charrão», que
era já só farelo…
A CUF foi de extrema importância para a região de
Mirandela: garantiu postos de trabalho ao longo dos 70 anos da
sua existência; adquiriu os produtos da região; abasteceu-se
no mercado local; dominou a actividade comercial de Mirandela
e da região; proporcionou apoio à agricultura local; os
seguros e a camionagem viverm 80% à volta da CUF; movimentou o
serviço de cargas e descargas da CP; forneceu energia
eléctrica a Mirandela e o bagaço para aquecimento. A população
tirou vantagens da existência da CUF, porque umas vendiam
(azeitona, bagaço, grainha, amêndoa), outras compravam
(adubos, rações, bagaço) e os trabalhadores viam os seus
ordenados garantidos.
-Algumas características
A fábrica da CUF em Mirandela foi construída em 1926 num
local conhecido por Vale da Azenha ou Cruzeiro, perto da
estação de caminho-de-ferro da linha do Tua, numa área de 38
000 m2, abrangendo uma área coberta de 11 000 m2.
Da área coberta faziam parte: o lagar de azeite, a unidade
de extracção de óleos, a caldeira, a central eléctrica, os
secadores verticais, o armazém do bagaço de azeitona, as tulhas
de azeitona, o armazém do subproduto, o armazém de matérias, as
oficinas, a casa das bombas, a casa do boi, os balneários e os
refeitórios do pessoal.
Esta unidade era ainda composta por: uma chaminé com 38 m
de altura, ainda hoje existente, como símbolo da indústria da
CUF instalada no local; uma buzina que se ouvia a 20 km de
distância, e servia de referência às populações como
sinalizador temporal, marcando o ritmo da vida e das
actividades; um ramal da linha do Tua, um guindaste e uma
roldana elevatória; o Bairro da CUF; a casa do director; a casa
da gerência e a casa para receber os vendedores.
Fig. 3. A chaminé do complexo fabril da CUF em Mirandela
Fonte: Mirandela – ninho de cegonha (habitado). Foto de Luís A. D.Liberal. Disponível em: http://www.panoramio.com/photo/14763526. Data
de consulta: 7/4/2015
O Bairro da Fábrica, ou Bairro da CUF, era composto por
sete edifícios, destinados a diverso pessoal da fábrica:
electricista, serralheiro, pessoal de escritório, o director, o
encarregado de pessoal. Havia uma casa para receber os
vendedores que percorriam a área e para nela descansarem, e a
casa da gerência, um edifício ainda hoje existente, o qual só
era habitado pelo fundador da empresa, Alfredo da Silva, quando
visitava Mirandela, acompanhado pela sua secretária, uma
senhora francesa. O empresário só dispunha de habitações em
Mirandela e em Alferrarede, localizadas nas proximidades das
estações da CP, onde se instalava, aquando das suas visitas. As
casas eram de excelente qualidade e já possuíam aquecimento.
Fig. 4. Casa da gerência da CUF em Mirandela
Fonte: Mirandela – casa do Encarregado da CUF. Foto de Luís A.D.Liberal. Disponível em:
http://www.alltravels.com/portugal/braganca/mirandela/photos/current-photo-86852580. Data de acesso: 7/4/2015
Em 1929, entrou em laboração a fábrica de azeite da CUF, em
Mirandela, que alargou as possibilidades de valorização de um
produto da agricultura regional, a azeitona, em cuja frontaria
se podia ler, em letras de grandes dimensões: Companhia União
Fabril – fabrica os melhores adubos.
Em 1970, a fábrica já não era como a primitiva, mandada
instalar por Alfredo da Silva, uma vez que o lagar fora
remodelado em 1956 e a extracção de óleos em 1963.
O funcionamento da fábrica, propriamente dito, mantinha-se
sem grandes alterações, mas o subproduto, o bagaço, já
produzia óleo alimentar, enquanto que, anteriormente, o óleo
de bagaço só era útil para sabão.
O azeite só passou a ser feito de modo contínuo, a partir
de 1956, altura em que o lagar trabalhava com 26 prensas
tradicionais, 4 moinhos de pedra e em que utilizavam nas
prensas, alimentadas por vagonetas, capachos de Cairo.
Em 1956, o lagar foi remodelado, passando a ocupar uma
décima parte do edifício, tendo sido instalado um equipamento
Alfa Laval, de fabrico italiano, por técnicos franceses, e
estava preparado para trabalhar a azeitona da região. Já
laborava 50 toneladas nas 24 horas. Não havia capachos, mas sim
grandes lavadeiras por jacto de ar que faziam uma boa lavagem
da azeitona. A azeitona era moída por moinhos de martelos e
depois seguia para os malaquecadores que trabalhavam com 2 sem-
fins, um direito e outro esquerdo.
Toda a massa era aquecida, através de uma câmara a vapor.
Depois de estar quente, seguia para as prensas contínuas que
funcionavam com um crivo em aço inox e um sem-fim, tipo
parafuso. As prensas tinham um comprimento de 3 metros e um
diâmetro de 70 cm. Eram reguladas por uma tampa de ferro
fundido e uma alavanca de ferro com pesos de ferro fundido. A
primeira separação da miscela era feita, através de uma grande
centrífuga que separava três produtos em simultâneo: o azeite,
a água e a borra. O azeite passava para uma segunda centrífuga
normal, por um filtro e por um arrefecedor, seguindo depois
para o armazém. O caroço da azeitona saía das prensas com uma
pureza de 3,5% a 4% e seguia para o secador.
Em 1963, trabalhavam na fábrica, durante todo o ano, 40
trabalhadores efectivos e 40 sazonais (sazonais, neste
contexto, significa que não pertenciam ao quadro, mas que se
encontravam efectivamente ao serviço durante o ano inteiro,
desempenhando as tarefas que lhes eram atribuídas).
Como a fábrica estava modernizada, funcionava
continuamente ao longo do ano, estando equipada para as mais
variadas funções. Até chegou a produzir farinha com o
excedente da batata.
A extracção de óleos laborava 24 horas/dia, durante todo o
ano, com o bagaço da azeitona, com a grainha da uva, que
também dava cerca de 12% de óleo para a alimentação, com a
copra e o coquenote (vinham de África milhares e milhares de
toneladas), com o gérmen de milho e com a azeitona.
Durante um ano, seis meses eram para trabalhar o bagaço da
azeitona, dois meses eram para trabalhar a grainha da uva;
três meses para trabalhar os outros produtos (copra,
coquenote, milho) e um mês para reparações.
Os extractores tinham uma carga de 6.000 Kg cada um e, em
2 a 3 segundos, descarregava-se o produto todo do extractor,
conforme se desejava, a 1 kg ou a 1,5 kg de pressão, em 2 a 3
segundos, através de uma porta de descarga.
Dentro da fábrica, o bagaço era transportado em vagonetas
manuais, movimentadas manualmente, numa linha que existia ao
longo de toda a fábrica. Mais tarde, a movimentação dos
produtos era efectuada por «dumpers» e máquinas carregadeiras.
Existiam também uns secadores verticais para secar o
subproduto. Este percorria vários andares até que caía seco.
Funcionava a lenha ou a vapor.
O transporte do subproduto para a extracção era efectuado,
depois de seco, por uma conduta subterrânea de 100 metros de
comprimento, por metro e meio de largura e 2 metros de altura.
Na extracção, o carregamento do extractor fazia-se através
de um tapete que transportava o bagaço para o exterior, o qual
tinha um tegão que funcionava em cima de carris. Trabalhava
com uma redutora e cabo de aço.
Central Eléctrica
Quando a fábrica iniciou a sua actividade, os motores eram
poucos e a maior parte a vapor. Eram conhecidos por
«burrinhos» embora, na realidade, fossem motores de pistão. A
base principal que fazia movimentar toda a fábrica era
constituída pelas caldeiras – duas – que trabalhavam com a
pressão de 12 Kg/cm2; tinham 8 m de comprimento por,
aproximadamente, 1,5 m de altura, e 100 tubos atestados de
água para aquecer.
As duas caldeiras, que trabalhavam todos os dias, faziam
movimentar toda a fábrica: a extracção, os secadores e, em
caso de necessidade, o lagar e a Central.
Os dois geradores eram a vapor e produziam energia para
poderem accionar os motores que forneciam energia a Mirandela
(nas festas da N.ª S.ª do Amparo, em que havia grande consumo
deste tipo de energia, este fornecimento tornou-se essencial).
Inicialmente, a Central funcionava a vapor. A partir de
1963, o vapor tinha outro consumo, pelo que era preferível
dispor de uma central eléctrica. Através de um transformador,
a electricidade que era recebida da rede eléctrica nacional em
alta tensão, passava a baixa tensão, a fim de poder ser
distribuída.
Nos anos 60, a CUF tinha completa autonomia, nomeadamente
para a manutenção dos equipamentos, e dispunha da melhor
oficina de Mirandela. Já se encontrava equipada com um torno,
que torneava, se fosse necessário, um veio com 30 metros de
comprimento. As oficinas da CP também dispunham de um bom
equipamento, mas as da CUF estava melhor equipada: um bom
limador, um bom torno, um engenho de furar…
A caldeira trabalhou durante muito tempo a lenha, que era
transportada pelo caminho-de-ferro, e nessa época havia todos
os dias mais de 10 homens a rachar lenha. A lenha vinha de
Rossas e de outros sítios onde houvesse linha de caminho-de-
ferro para poder transportar os troncos. Depois passou a
trabalhar com o bagaço, mas ainda se vendiam milhares de
toneladas de lenha para as cerâmicas e para o consumo da
população local. Também se consumiu muita casca de amêndoa.
A CUF era das empresas portuguesas que oferecia boas
condições para os trabalhadores. O Hospital da CUF era
exclusivo para os trabalhadores da empresa e estes já possuíam
Caixa de Previdência. Os filhos dos trabalhadores da CUF eram
subsidiados nos estudos e recebiam roupa e brinquedos pelo
Natal.
Um serralheiro recebia, em 1963, numa oficina de
Mirandela, 30$00/dia, enquanto se trabalhasse na CUF ganharia
47$00/dia e receberia de 15 em 15 dias.
A CUF tinha duas bombas no rio Tua, de quatro polegadas,
que estavam 24 h a extrair água para dois tanques com a
capacidade de 300 mil litros cada um, mas mesmo assim era
necessário proceder-se à recuperação de água, através de
bombas de recuperação, para uns tanques, uma vez que o consumo
de água era bastante grande.
A água que entrava na fábrica era recuperada, através de
umas bombas de circulação, uns tanques, uns tubos
refrigeradores, que a aspergiam. Posteriormente era misturada
com a que vinha do rio, que a arrefecia, passando a circular
por toda a fábrica.
Também se procedia à recuperação da hexana, através de um
depósito, uma cisterna, que se localizava a um metro de
profundidade.
Os adubos que eram produzidos no Barreiro, tal como as
rações, eram vendidos em Mirandela no posto, no armazém da
distribuição da CUF, o qual era servido por um ramal
ferroviário, em que o adubo vinha nos vagões, ensacado, sendo
descarregado por um guindaste, existente na plataforma da
fábrica, capaz de suportar 2.500 Kg de carga.
Esse guindaste servia para, após a chegada dos vagões à
plataforma, auxiliar a tarefa de transportar os produtos para
paletes, passando depois para «dumpers» que os conduziam para
a respectiva tulha. O bagaço vinha também em vagões.
Esse ramal, que estabelecia a ligação com a linha do Tua,
ficava próximo da estação de Mirandela. Junto das oficinas da
CP de Mirandela existia uma agulha giratória, que permitia as
manobras dos vagões.
-Razões para o encerramento da fábrica da CUF
Em 1975, o maior grupo empresarial privado em Portugal, a
CUF, foi nacionalizado.
A fábrica de Mirandela encerrou em 1987 e até 1994 foi
realizada a venda dos terrenos, a expropriação e a legalização
pelos compradores.
-Relação com a linha do Tua
O volume de negócios da CUF de Mirandela era quase todo
escoado pela linha do Tua.
O azeite era despachado para o Barreiro em bidões de 200
litros.
Os adubos – constituídos por ureia, sulfato de cobre,
fosfato, curato, enxofre em pó e molhado – começaram a ser
transportados para o armazém de distribuição de Mirandela
quando a fábrica foi montada (1926), sendo vendidos ao público
até 1994.
A CUF, que beneficiou bastante do apoio da CP,
especialmente para o transporte de adubos, utilizou sempre o
caminho-de-ferro, até terminar a sua actividade em Mirandela,
tendo encerrado em 1994 o ramal de caminho-de-ferro que a
servia.
Quando o caminho-de-ferro entrou numa fase de decadência,
já existia um serviço de camionetas que faziam o transporte
directo de produtos, como aconteceu com a copra e o coquenote.
Nos anos 70, ficava mais barato à empresa fazer o
transporte de produtos, através do comboio da Linha do Douro,
até Foz Tua, onde eram carregados em camionetas, através de um
sem-fim, montado pela empresa naquela estação, e seguiam para
Mirandela.
O transbordo também levantou problemas a esta empresa,
pelo que este processo ficava-lhe mais económico e era uma
operação mais rápida e eficiente.
O sem-fim era um parafuso que empurrava os produtos,
funcionando como elevador: era só encostar a camioneta e esta
era facilmente carregada, pois bastava abrir a tremonha do
vagão, o sem-fim caía, e iniciava-se o carregamento.
Património industrial: o que subsistiu; utilização dos
equipamentos
O património industrial foi completamente demolido,
restando apenas a chaminé da fábrica, a casa da gerência e a
roldana elevatória que fazia a carga e descarga dos vagões de
mercadorias.
Fig. 5. – Estação elevatória da CUF (cargas e descargas)Fonte: Foto de Albano Viseu
O espaço foi ocupado pelos edifícios do Campus do Instituto
Jean Piaget/ Mirandela, pelo Hospital Terra Quente, por parques
de estacionamento e por lotes de terreno para construção de
habitações.
A nível do acervo documental, durante a pesquisa realizada
na casa da gerência, não foi possível encontrar documentos,
apenas algumas fotografias. Muita documentação foi destruída e
graças a uma pesquisa realizada no arquivo da CUF, no Barreiro,
constatou-se que ali não subsiste nada de importante para a
reconstituição do impacto sócio-económico da CUF no concelho de
Mirandela.
2.3. O Complexo Agro-Industrial do Cachão
Fig. 6. Camilo de Mendonça (1921-1984).
Fonte: Camilo de Mendonça. Disponível em:http://www.politipedia.pt/mendonca-camilo-de-n-1921/. Data de
consulta: 7/4/2015
Nome da unidade empresarial: Complexo Agro-Industrial do Cachão
Protagonista principal: Eng.º Camilo de Mendonça, presidente
do Grémio dos Agricultores e da Federação dos Grémios da
Lavoura do Nordeste Transmontano (extinta em 12/12/1986).
A unidade empresarial:
-Factores que levaram à sua instalação
No início dos anos 60, o Eng.º Camilo de Mendonça realizou
uma primeira reunião, na sede do Sport Clube de Mirandela,
para criar uma cooperativa de olivicultores, medindo, dessa
forma, a resistência da maioria dos participantes e tendo de
enfrentar três baluartes económicos, com grande poderio
naquela altura: a CUF, o capitão Ilídio (presidente da Câmara
de 1946 a 1959) e o Dr. Pires (delegado de Saúde). Defenderam,
nessa reunião, que não se justificava a criação de uma
cooperativa daquelas, porque os nove lagares de azeite que
havia em Mirandela se mantinham em funcionamento10.
Existiu, por conseguinte, desde o início, uma oposição por
parte de alguns sectores da população, de muitas casas
agrícolas, os quais consideravam que esse empreendimento
representaria um concorrente aos produtos das suas explorações
agrícolas, tendo aceitado com má vontade a instalação das
fábricas em Mirandela.
Os terrenos no Choupim, junto ao rio Tua, em Mirandela,
local em que o Eng.º Camilo de Mendonça pensara instalar o seu
projecto, atingiram valores tão altos que ele pensou instalá-
lo no Cachão, onde o complexo fabril seria construído mais
economicamente, e permaneceria no concelho.
O Complexo Agro-Industrial começou a ser instalado no
Cachão em 1962, numa região plana, próxima do rio Tua, e
dispondo de duas vias de comunicação: o caminho-de-ferro e a
estrada nacional.
O complexo precisava de um grande caudal de água para
funcionar (rio Tua e barragem Eng.º Castro Serra) e do caminho-
10 VISEU, 2007: 277.
de-ferro para escoar os seus produtos e para captar matérias-
primas, máquinas, equipamentos, técnicos e operários.
O Complexo Agro-Industrial do Cachão viria a atingir «uma
área de 18 ha de terreno»11 e em 1964, ano em que entrou em
actividade, ocupava «uma área coberta de cerca de 9 ha»12, prevendo-se
que viria a constituir um importante pólo de desenvolvimento da
agricultura de toda a região transmontana. Foi criado pela
Federação dos Grémios da Lavoura do Nordeste Transmontano
(FGLNT), mas com uma gestão própria. As suas diversas unidades
fabris foram construídas por trabalhadores da própria FGLNT,
organismo assim denominado até ao 25 de Abril de 197413, tendo
contribuído para o crescimento da aldeia do Cachão.
No seguimento da implantação das construções do
empreendimento e com o arranque da laboração de algumas
fábricas, fixaram-se no Cachão trabalhadores, técnicos e
chefias, para os quais foram construídas casas, com o objectivo
de angariar e de fixar mão-de-obra.
O Complexo foi projectado para suportar uma verdadeira
revolução agrícola que colocaria a agricultura transmontana ao
nível das melhores congéneres europeias.
Para além de um Complexo destinado à agro-indústria, o
empreendimento incluía a extensão do regadio a uma vasta área,
suportado pela construção de 130 barragens de terra. E, na
realidade, conseguiu alcançar o patamar de maturidade
industrial14.
11 Notícias de Mirandela, de 25/7/1968.12 Breve Historial do Complexo Agro-Industrial do Cachão: 1964-1992. Associação Comercial eIndustrial do Cachão. 2002: 1.13 Entrevista n.º 1. 14 Entrevista n.° 2.
-Objectivos, aspirações e realizações
O Complexo Agro-industrial do Cachão surgiu com o propósito
de valorizar a região transmontana, através do lançamento de
projectos que modernizassem e expandissem as explorações agro-
pecuárias (irrigação, tosquia mecânica, maquinaria, estábulos,
transformação industrial), assegurassem a qualidade da produção
e contribuíssem para o seu escoamento para o mercado interno e
externo15.
O promotor e impulsionador de uma obra desta envergadura,
que lutou «pela dignificação e pela libertação das gentes da região do Nordeste
Transmontano»16, foi o Eng.º Camilo de Mendonça, com a cooperação
do Dr. Trigo de Negreiros e o apoio do Estado Novo, que
concluíra que para a desenvolver e poder fixar as suas
populações havia a necessidade de desenvolver a indústria
(empreendimento do Cachão) e nela implantar o ensino superior
(UTAD)17, com núcleos de mecanização dispersos pelo distrito,
amparados e orientados por técnicos e complementados por um
avultado apoio financeiro, capaz de contribuir para a
indispensável mudança das mentalidades e assegurar a
mecanização da agricultura.
O CAICA conseguiu imprimir dinamismo na aldeia do Cachão e
na região, possibilitando a promoção das principais indústrias
transformadoras locais, como a olivicultura, a vinicultura, a
panificação, a queijeira e os lanifícios.
15 VISEU, 2007: 337.16 Breve Historial …, 2002: 1.17 VISEU, 2007: 340.
As casas do núcleo primitivo fixaram-se junto à estrada e
próximo da estação de caminho-de-ferro. No Bairro Social, um
pouco acima do Complexo Agro-Industrial, na estrada que conduz
a Vila Flor, viviam os trabalhadores e as chefias do Complexo,
que chegou a possuir um jardim-de-infância, escola primária e
um posto médico18.
Entre os vectores dinâmicos que contribuíram para a
elevação do Cachão à categoria de aldeia e ao respectivo
desenvolvimento, contam-se: a estação de caminho-de-ferro e o
complexo agro-industrial.
O complexo recebia o apoio dos Grémios da Lavoura, sócios
da Federação, que procediam ao fomento dos produtos mais
adequados à sua zona de acção. Existia também o apoio dos
técnicos agrários e de maquinaria (equipamento mecânico,
tractores, alfaias agrícolas), sempre com tecnologias de ponta
para a época.
Estes núcleos agrários, denominados núcleos de mecanização,
eram promovidos pela FGLNT, em colaboração e com o
envolvimento dos agricultores.
Como a água era primordial para a agricultura, foram
construídas várias represas, como a do Cachão, Macedo de
Cavaleiros, Vilarelhos, Santa Comba, Alfândega da Fé, e
existiam ainda outras em projecto19.
-Algumas características
18 VISEU, 2007: 208-209 e 331-333.19 Entrevista n.º 1.
O Complexo integrava várias fábricas: de frutos preparados
(conserva de azeitona, cereja, figo com respectivo
embalamento, produção de fruta cristalizada e canditada); de
frutos secos (castanha, figo, leguminosas, amêndoa, noz,
pinhão e avelã); de hortícolas (produção de doces diversos,
marmelada, fruta em calda, picles, polpa de tomate e ketchup,
diversos molhos, enlatados de feijão e outras leguminosas,
espargos, castanha para congelação, pimento vermelho,
preparação de couve-flor, tremoços, ervilhas, etc.); de
queijaria (produção de queijo de diversos tipos, manteiga,
etc…); uma adega de vinhos (produção de vinhos de mesa, entre
outros); uma destilaria (produção de aguardente bagaceira, a
partir de frutos como figo e outros em estado deteriorado;
queima de vinho para aguardente vínica e álcool); uma fábrica
de rações (alimento composto para animais, para abastecer os
fornecedores do leite, em compensação da entrega deste
produto); uma lavandaria das lãs (lavagem e preparação de
lãs); um lagar de azeite (com extracção de azeite e seu
posterior embalamento); uma central de vapor (diversas linhas
de vapor para todas as fábricas e, inclusive, através do
vapor, a produção de energia eléctrica, garantindo a auto-
suficiência ao complexo fabril); um matadouro (para abate de
gado bovino, ovino e suíno); estavam projectadas e em
esqueleto outras fábricas, como as de curtumes, óleos,
refinaria, salsicharia e charcutaria. Dentro do Complexo
funcionavam ainda um lagar, um laboratório e oficinas de
apoio.
O Complexo era composto por estas unidades industriais
(instaladas em pavilhões) dispostas em planos sucessivos na
base do monte da N.ª S.ª da Assunção, próximas do rio Tua, do
caminho-de-ferro e da Estrada Nacional n.º 213, contemplando
os seguintes sectores: Fruticultura (essencialmente
azeitonas), Horticultura (tomate, pimento, espargo,
ervilhas…), Destilação e Vinhos, Lacticínios (queijo),
Azeites, Rações, Frutos secos e uma Lavandaria de lãs20.
Todas as fábricas, e inclusive a sua edificação, os
arruamentos, a rede de água, a electricidade, o saneamento, e
posteriormente a sua manutenção e os melhoramentos contaram
com os denominados serviços auxiliares, com diversos sectores
como: mecânica fabril, electricidade, canalizações,
serralharia, mecânica auto, carpintaria, pintura, construção
civil e armazém de materiais.
Com a instalação do Complexo do Cachão, proporcionou-se o
aproveitamento de culturas tradicionais, a introdução de novas
culturas, mais rentáveis, passando a existir a agro-indústria,
caracterizada por novos factores de desenvolvimento: o
acompanhamento técnico, a mecanização, o fornecimento de
sementes, a irrigação, a adubação…
Com esta alteração, que surgiu numa época em que o país
procurava explorar as novas condições económicas resultantes da
sua integração na EFTA, incrementando a sua industrialização,
nascia um novo impulso económico para a aldeia, para a região e
para o país.
20 VISEU, 2007: 330.
O Complexo, para se abastecer de produtos com que as
fábricas laboravam, recorria à «produção de terceiros, dos
agricultores»21, recebendo produtos de várias localidades:
a castanha de Bragança, Valpaços, Carrazedo de Montenegro
e até de Penedono;
o espargo da zona de Valpaços, Vinhais e Carrazeda de
Ansiães;
o morango de Macedo de Cavaleiros
o tomate na zona da Vilariça.
No Cachão e na região, havia uma agricultura tradicional e
o Complexo Agro-Industrial acabou por causar um impacto nas
explorações agrícolas, com a selecção de produtos (sementes e
plantas), a adubação e a introdução de máquinas. «A agricultura era
modernizada e os agricultores até aceitaram essa alteração, o que acabou por
lançar as bases de uma agricultura mais moderna»22.
O Complexo Agro-Industrial do Cachão comercializou
azeitonas (verdes, pretas e recheadas), picles, azeite,
compotas de vários doces, feijão cozido de vários tipos,
marmeladas e geleias, vários legumes cozidos e enlatados,
frutas em calda e cristalizadas, frutos secos, leite e queijo,
aguardentes vinícolas.
Todos os produtos eram devidamente embalados e
comercializados com as marcas Nordeste, Tua, Sabor e Vilariça.
A marca “Nordeste” teve um enorme impacto devido à qualidade
das matérias-primas regionais, ao conhecimento dos quadros
21 Entrevista n.° 2.22 Entrevista n.° 2.
técnicos, à experiência e saber dos seus executantes, o que
proporcionava a obtenção de produtos de alta qualidade.
Entre os maiores mercados, para onde os produtos eram
escoados, contam-se: «o Canadá, a América, França, Suíça, Áustria,
Alemanha»23.
O Complexo Agro-Industrial do Cachão «gerou inúmeros postos de
trabalho para ser edificado. Havia muita mão-de-obra, quer de Trás-os-Montes, quer
até do Minho (especialmente de Viana do Castelo), de onde vieram muitos canteiros,
uma vez que os edifícios foram todos construídos em granito, proveniente da zona
da Carrazeda de Ansiães e de Vila Flor.
Com cerca de três centenas de pessoas a trabalhar, causou um enorme
impacto na aldeia. A indústria veio a ser a tónica dominante, pois aqui seriam
transformados os produtos agrícolas e pecuários da região do Nordeste
Transmontano»24.
Fig. 7 – A Vila Nordeste e o CAICA.
23 VISEU, 2007: 330.24 Entrevista n.º 1.
Fonte: Concelho de Mirandela. Freguesia de Frechas. Disponível em:
http://www.cm-mirandela.espigueiro.pt/freguesias/freg_frechas.html. Data de
consulta: 7/9/2006.
A aldeia era o complexo fabril. A água canalizada, o
saneamento e a electrificação surgiram pelas necessidades
impostas pelo Complexo.
O Cachão contava com uma cantina, denominada “COOPENORD”,
onde os trabalhadores se abasteciam de grande parte dos
géneros alimentícios para o seu quotidiano.
As pessoas deslocavam-se a Mirandela frequentemente, para
realizar compras, principalmente aos sábados, ou para idas ao
cinema, às festas, ao futebol. Mirandela foi sempre, para as
gentes do Cachão, o centro de atracção (cultural, comercial e
social).
No Cachão, as pessoas tinham alguns espaços de encontro, de
convívio, de partilha de ideias, onde passavam os tempos
livres: dentro das instalações do Complexo, num pequeno bar, o
CAT (Centro de Alegria no Trabalho), onde se serviam bebidas
(café, cerveja...) e havia jogos (bilhar, matraquilhos...); e
fora das instalações do Complexo os lugares frequentados pelos
trabalhadores eram duas tabernas e um café, com muito movimento
à noite25.
Já na década de 80 a Direcção do Complexo promoveu a
formação de um clube de futebol, criando um campo para o
efeito.
25 VISEU, 2007: 175.
-Razões para o encerramento das fábricas do CAICA
Toda a aldeia estava absorvida na dinâmica do CAICA, graças
à criação de emprego, gerador de riqueza e de desenvolvimento:
as produções regionais eram canalizadas para as diversas
unidades fabris, para a respectiva transformação e
comercialização, e daí a concretização do slogan «do produtor ao
consumidor ou do prado ao prato»26.
Após o 25 de Abril, o sector entrou em colapso e o CAICA
passou por uma gestão de diversas comissões instaladoras, ao
sabor do enquadramento político da época, o que veio a
desacreditar uma obra que tinha sido idealizada como o “Motor
da Região Nordestina”.
Em 1974, o MFA tomou conta da gestão do complexo e manteve-
a por dois anos. A Comissão Administrativa, nomeada para a
FGLNT, era constituída por 4 elementos e presidida pelo Capitão
Teófilo Bento.
No dia 25/09/74, dá-se a extinção dos Grémios da Lavoura e
das suas Federações.
Nessa época, «a relação entre a administração, os
directores e os trabalhadores era normal para a época pós
revolucionária. Era normal, porque foi um período marcado por
greves, de Norte a Sul do País, reivindicações sociais, etc.
Só que o complexo agro-industrial empobrecia, definhava e
a cada dia que passava as dificuldades pareciam crescer…
Portanto, não havia muito a reivindicar, a não ser esperar que,
26 Entrevista n.º 1.
no fim do mês, houvesse o salário (precário)… E assistia-se a
uma morte lenta e anunciada.27»
Entre 1974 e 1980, o complexo perdeu a identidade própria.
Em 1976, a propriedade do complexo ficou desafectada da
Federação, passando a empresa pública.
Dia 26/6/ 80, o Cachão passou a sociedade, mas a escritura
de constituição da Sociedade Anónima CAICA - Complexo Agro-
Industrial do Cachão, S.A. só é assinada a 6/1/1981.
Em 1983, o complexo é alvo do primeiro processo de
recuperação.
Dia 8/11/1986, há uma tentativa de relançar e de sanear a
empresa, concretizando-se a transferência de direitos sociais
e da titularidade de participações e os objectivos não
atingidos.
Em Setembro de 1992, o CAICA, SA é dado como falido e
encerra as suas portas. E, depois de uma série de tentativas
goradas de revitalização, a 17/9/1993 foi entregue pelo Estado
às Câmaras Municipais de Mirandela e de Vila Flor que
recuperaram o projecto, tornando-se detentoras de 97% do seu
capital, tendo-se constituído a A.I.N. - Agro-Industrial do
Nordeste, S.A.
Em 1998, a maioria das unidades é reactivada, instalam-se
25 empresas no complexo28 e constitui-se um Parque Industrial.29
A região muito esperava deste Complexo Industrial, mas as
políticas menos correctas, em relação a este, e os tormentos
27 Entrevista n.º 1.28 VISEU, 2007: 25 e Vol. II: 9 e 10.29 Entrevista n.º 1.
políticos, centrais e regionais, não levaram o complexo a “bom
porto”, nem conseguiram criar um “oásis” na região nordestina,
como era o ideal projectado e preconizado30: não houve o
controle sobre o emprego dos dinheiros públicos, nem a
imputação de responsabilidades, perante aqueles que procederam
a uma incorrecta utilização dos mesmos; os desfalques; os
prémios de produção a chefias e a quadros técnicos afectaram
uma empresa imersa numa grave crise financeira; o planeamento,
a certa altura, fracassou; não se resolveram os problemas
reais, capazes de garantir à região o fornecimento da matéria-
prima necessária ao contínuo funcionamento das várias fábricas
do complexo; as dificuldades levantadas pelo não ajustamento da
CP às necessidades de transporte da empresa (a via reduzida
dificultava o transbordo e a circulação dos produtos e das
matérias-primas e tornava o processo moroso; a empresa tinha
necessidade de ter ao seu dispor uma rede de carrinhas para ir
buscar os produtos às estações de caminho-de-ferro e para os
conduzir para os armazéns e para o mercado consumidor, …); a
falta de entendimento entre o CAICA e a CUF, em termos de
cooperação na utilização de equipamentos e na transformação de
produtos idênticos…
-Relação com a linha do Tua
A linha não teve um papel relevante na exploração da
unidade, embora tenha sido importante para a escolha do local
de implementação.
30 Entrevista n.º 1.
Inicialmente, transportou muitos produtos e foi essencial
para fazer o deslocamento de pessoal entre as aldeias vizinhas
(Codeçais, Brunheda,...) e as fábricas do Cachão e entre esta
localidade e Mirandela.
Nos anos 70, a linha continuou a ser atractiva para o
transporte de passageiros, mas não para as mercadorias: o CAICA
tinha transportes privativos; a concorrência dos transportes
rodoviários; a aquisição de veículos automóveis; a diminuição
da produção; a quebra do poder de compra; os atrasos das
composições, devido à reparação de alguns troços da via; a
saída de pessoas para outros locais do país e do estrangeiro. 31
Os produtos tinham de ser levados a um lugar qualquer e não
era muito prático, através do caminho-de-ferro. E tinham de ter
carrinhas para ir buscar os produtos às estações.
O complexo tinha armazéns próprios em Lisboa e no Porto e,
depois, tinha carrinhas de distribuição.
O complexo tinha também dois autocarros para o transporte
de pessoal (um, para a zona de Carrazeda de Ansiães e de Vila
Flor e, o outro, para a de Mirandela) quatro carrinhas, com
bancos e com lonas, para levar e trazer os trabalhadores de
Vale da Sancha, Vale Frechoso e Vilarinho das Azenhas.
A linha estreita causou problemas no transbordo no Tua,
como já referimos, e encareceu o transporte dos produtos
transformados, a ponto de o complexo arranjar uma frota
própria, porque com o comboio era muito complicado.
Os adubos seguiam, nos últimos tempos, pela via larga da
Linha do Douro, até ao Pocinho, para não andarem a fazer o
transbordo. Desta estação, seguiam para os armazéns que a31 VISEU, 2007: 287.
empresa mandara construir na Vilariça, onde havia uma báscula,
e onde eram depositados, e era a partir dali que eram
distribuídos.
Património industrial: o que subsistiu; utilização dos
equipamentos
A Revolução de Abril “ditou” o abandono do projecto. Apesar
da grandiosidade e da riqueza de todas as infra-estruturas a
ele associadas, o CAICA entrou em decadência, após a Revolução
de 25 de Abril de 1974. Contudo, algumas fábricas, bem como as
barragens de Alfândega da Fé, Cachão, Carvalheira, Vila Flor,
Vilares da Vilariça e Vilarelhos resistiram ao abandono do
empreendimento.
A situação económica complicou-se progressivamente,
agravada pelo facto de Portugal passar a integrar a Comunidade
Económica Europeia e porque a região ficava afastada dos
principais e maiores centros urbanos e de consumo, sendo que o
transporte e a distribuição de produtos saíam encarecidos pelas
más acessibilidades.
Depois de um lento enfraquecimento económico e financeiro,
o CAICA acabou por encerrar. O património dos Grémios da
Lavoura foi integrado nas cooperativas e o Estado tomou conta
do complexo. A maior parte do património que restou do antigo
Complexo, quase 98%, foi posteriormente entregue às Câmaras
Municipais de Mirandela e de Vila Flor.
Esse património passou a ser administrado por uma sociedade
representante de todos os accionistas, a A.I.N. (Agro-
Industrial do Nordeste, S.A.). Ainda funcionam algumas fábricas
no Cachão que empregam cerca de 200 pessoas, mas parte dos
antigos funcionários do CAICA viram-se obrigados a emigrar ou a
procurar trabalho noutros locais da região.
A aldeia parou um pouco no tempo. Foi o desvanecer do sonho
transmontano…
Há marcas indeléveis da presença de um “motor” que firmou
um grande avanço, mas cuja paragem ditou uma tremenda
estagnação. O mesmo bairro, a mesma estrada, o mesmo campo de
futebol. Apenas umas quantas melhorias, quase tudo
reaproveitamentos de tudo quanto ali se fez.
Nos dias de hoje, ainda funcionam algumas unidades originais
(lavagem de lãs), mas perderam-se as de transformação hortícola
e a de lacticínios, que foi exemplar. Ao visitar o escritório,
o laboratório e as unidades de transformação sofre-se um
tremendo impacto, ao constatar que perderam a sua função.
“A aldeia parece então composta por três zonas demarcadas: o bairro dos
trabalhadores (Vila Nordeste), o Complexo, o Cachão Velho (…) A sombra do
cabeço arrepia-me; as bancadas já perderam o calor. Vou embora e despeço-me
com um aceno. Serpenteio até Mirandela, com a cabeça cheia de sol, de ideias e
de cansaço" (Diário de Campo, 2000).
3. Conclusão
A Sociedade Clemente Menéres, Lda. e a CUF foram sociedades
por quotas, mas enquanto a primeira teve continuidade e
persistiu até aos nossos dias, apesar de após o 25 de Abril os
Pioneiros dos Cortiços quererem ocupar as suas instalações e
gerir a Quinta do Romeu; a CUF foi extinta, vindo a assistir-
se mais tarde, em 1998, ao aparecimento da CUF-Quimigal já sob
gerência do grupo Mello.
O CAICA, como projecto agro-industrial, foi modelar no
contexto da industrialização europeia, mas foi esmorecendo e
caminhando de encontro ao adormecimento e à reformulação
necessária, precisando de alento nos nossos dias.
A História ressalvará, na sua trama constante e assertiva,
o encontro com o tempo em que os três projectos industriais
existiram, funcionaram, captaram riqueza e mão-de-obra e
causaram impacto na região transmontana e no todo nacional. E
em que, igualmente, levaram o nome de Portugal, graças à
qualidade dos seus produtos, aos vários recantos do mundo.
O interior continuará a afirmar a constância da qualidade
da sua produção e a defender o valor patrimonial em que as
raízes identitárias serão um suporte de revigoramento.
Muitos projectos industriais tiveram uma existência
efémera, ao longo dos séculos, num interior a precisar de ser
valorizado e desenvolvido, competindo-nos a nós historiadores
analisar e reconstituir a textura desses empreendimentos e
mostrar o que falhou nos seus processos de implementação.
4. Bibliografia
Artigos, monografias, documentos manuscritos e impressos
ALVES, Francisco Manuel (Abade de Baçal) – Memórias Arqueológico-
Históricas do distrito de Bragança. Bragança: Câmara Municipal de
Bragança, 1975-1990, tomo I.
ALVES, Jorge Fernandes – Das pedras fez terra – um caso de
empreendedorismo e investimento agrícola no Nordeste Transmontano
(Clemente Menéres). Revista História da Faculdade de Letras,
Porto, III série, vol. 8, 2007.
BARBAS, Silva (19/1/1891), “Excerto de uma carta dirigida a
Clemente Menéres & Filhos”, In Arquivo dos Copiadores do
Romeu.
Breve Historial do Complexo Agro-Industrial do Cachão: 1964-
1992. Cachão: Associação Comercial e Industrial do Cachão
(2002)
Diário de Campo, 2000.
ENTREVISTA n.º 1 (57 anos, M, natural da freguesia de
Mirandela, pertenceu aos quadros do CAICA de 1987 a 1991,
como Director dos Serviços Auxiliares, actualmente é
sócio-gerente de empresas sedeadas no Parque Industrial
do Cachão, Licenciado em Engenharia Mecânica pela FEUP),
2009.
ENTREVISTA n.º 2 (69 anos, M, natural de Antas, concelho de
Penedono, reformado, Eng.º Agrónomo, trabalhou no CAICA),
2004.
MENÉRES, José Clemente - Entrevista realizada por Albano Viseu,
Leonor Beira e Eduardo Beira. Porto (Monchique/
Escritório da SCM): Maio 2013.
Notícias de Mirandela, de 25/7/1968.
PARREIRA, José Joaquim Andrade – A Acção empresarial de Clemente
Menéres – entre o Porto e Trás-os-Montes (1867-1916). Porto: FLUP
(dissertação de Mestrado em História Contemporânea),
1997.
PARREIRA, José Joaquim A. – A industrialização da cortiça no Norte de
Portugal: o caso das fábricas Menéres. A indústria portuense em perspectiva
histórica. Actas do Colóquio. Lisboa: CLC -FLUP, 1998.
Relatórios Anuais da Companhia Nacional de Caminhos-de-Ferro
(RACNCF).
SALES, Ernesto Augusto Pereira de – Mirandela: apontamentos
históricos. Mirandela: Câmara Municipal de Mirandela, Vol.
I, 1978, e Vol. II, 1983.
VISEU, Albano Augusto Veiga – Memórias históricas de um espaço rural:
três aldeias de Trás-os-Montes (Coleja, Cachão e Romeu), ao tempo do
Estado Novo. Edição de autor. Porto: Faculdade de Letras
da Universidade do Porto (tese de doutoramento), Vol. I e
II, 2007.
VISEU, Albano Augusto Veiga – Clemente Menéres: o homem de negócios e
o comboio do Tua. in Anne McCants, Eduardo Beira, José M.
Lopes Cordeiro and Paulo B. Lourenço (Eds.), Railroads in
Historical Context. Construction, Costs and Consequences.
[S.l.]: Foz Tua – Memory of the Tua Railways and Valley
Interdisciplinary Project/ Universidade do Minho/
Massachusetts Institute of Technology Portugal, 2012.
VISEU, Albano Augusto Veiga - Desenvolvimento da Periferia
Transmontana: a Linha do Tua e a Casa Menéres. Vila Nova de Gaia:
Inovatec. Foz Tua – Memory of the Tua Railways and Valley
Interdisciplinary Project/Universidade do
Minho/Massachusetts Institute of Technology Portugal,
2013.
VISEU, Albano Augusto Veiga - A fábrica de cortiças de Mirandela, in
Anne McCants, Eduardo Beira, José M. Lopes Cordeiro and
Paulo B. Lourenço (Eds.), Railroads in Historical
Context. Construction, Costs and Consequences. [S.l.]:
Foz Tua – Memory of the Tua Railways and Valley
Interdisciplinary Project/Universidade do
Minho/Massachusetts Institute of Technology Portugal,
2014.
VISEU, Albano Augusto Veiga; BEIRA, Eduardo José Castanheira;
CORDEIRO, José Manuel Lopes - A "Fábrica Velha" da
Clemente Menéres & Cª, em Quadraçal, Romeu: uma cápsula
no tempo. In Actas do II Congresso Internacional sobre
Património Industrial. Porto: Universidade Católica. 22 a
24 de Maio de 2014.
Documentos informáticos
Alfredo da Silva - O criador de empresas. Disponível em:
http://economico.sapo.pt/noticias/o-criador-de-
empresas_196941.html.
A chaminé do complexo fabril da CUF em Mirandela - ninho de
cegonha (habitado). Foto de Luís A. D. Liberal.
Disponível em: http://www.panoramio.com/photo/14763526.
A Vila Nordeste e o CAICA. Concelho de Mirandela. Freguesia de
Frechas. Disponível em: http://www.cm-
mirandela.espigueiro.pt/freguesias/freg_frechas.html.
Camilo de Mendonça. Disponível em:
http://www.politipedia.pt/mendonca-camilo-de-n-1921/.
Casa da gerência da CUF em Mirandela - Mirandela – casa do
Encarregado da CUF. Foto de Luís Liberal. Disponível em:http://www.alltravels.com/portugal/braganca/mirandela/photos/c
urrent-photo-86852580.
Clemente Menéres - Quinta do Romeu. Disponível em:
http://www.quintadoromeu.com/
Autores:
Albano Viseu é licenciado em História, mestre em Antropologia
Social e Cultural (As Memórias do Estado Novo no espaço rural: estudo
antropológico de um tempo histórico na freguesia do Romeu) e doutor em História
pela FLUP (Memórias históricas de um espaço rural: três aldeias de Trás-os-Montes
(Coleja, Cachão e Romeu) ao tempo do Estado Novo). Professor aposentado de
História do ensino secundário e superior. Investigador do Centro de
Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (Faculdade
de Letras da Universidade do Porto) e do projecto FOZTUA
(convidado). Autor de vários livros e artigos.
Eduardo Beira é coordenador do projecto FOZTUA. Engenheiro
químico (1974). Professor associado (convidado) da Escola de
Engenharia da Universidade do Minho (2001-2012), docente do programa
MIT Portugal e Senior Research Fellow do IN+ Center for Innovation,
Technology and Public Policy (Instituto Superior Técnico,
Universidade de Lisboa). Autor de diversos livros e tradutor da obra
do filósofo Michael Polanyi.
José Manuel Lopes Cordeiro é doutor em História Contemporânea
pela Universidade do Minho, onde é professor auxiliar no Instituto
de Ciências Sociais. É director do Museu da Indústria Têxtil da
Bacia do Ave, assim como representante nacional do The International
Committee for the Conservation of the Industrial Heritage, organismo
consultor da UNESCO/ICOMOS para o património industrial, e
presidente da Associação Portuguesa para o Património Industrial. É
também director da revista Arqueologia Industrial. Membro da equipa
coordenadora do projecto FOZTUA.