REVISTA TRIMESTRAL JURISPRUDÊNCIA

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL REVISTA TRIMESTRAL DE JURISPRUDÊNCIA Organizada pela Dipitão de Juri.rprudencia Vol. 38 (p. 1— 224) Outubro 1966

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

REVISTA

TRIMESTRALDE

JURISPRUDÊNCIA

Organizada pela

Dipitão de Juri.rprudencia

Vol. 38 (p. 1— 224) Outubro 1966

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTROS

Alvaro Moutinho RIBEIRO DA COSTA (30.1.46), Pre-sidente

CÂNDIDO MOTTA FILHO (2.5.56), Vice-PresidenteAntônio Carlos LAFAYETTE DE ANDRADA (8.11.45)HAHNEMANN GUIMARÃES (30.10.46)LUIZ GALLOTTI (22.9.49)Antônio Martins VILAS BOAS (20.2.57)Antônio GONÇALVES DE OLIVEIRA (15.2.60)VICTOR NUNES Leal (7.12.60)PEDRO Rodovalho Marcondes CHAVES (26.4.61 )HERMES LIMA (26.6.63 )EVANDRO LINS e Silva (4.9.63)ADALICIO Coelho NOGUEIRA (25.11.65)José Eduardo do PRADO KELLY (25.11.65)OSWALDO TRIGUEIRO de Albuquerque Mello (25.11.65)ALIOMAR de Andrade BALEEIRO (25.11.65)ELOY JOSÉ DA ROCHA (15.9.66)

COMISSÃO DE REGIMENTO

Ministros LAFAYETTE DE ANDRADA, HAHNEMANNGUIMARÃES e CÂNDIDO MOTTA FILHO

COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA

Ministros GONÇALVES DE OLIVEIRA, VICTOR NUNESe PEDRO CHAVES

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO

Ministros CÂNDIDO MOTTA FILHO, VILAS BOAS eHERMES LIMA

PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

ALCINO de Paula SALAZAR (6.12.65)

REVISTA TRIMESTRALDE JURISPRUDÊNCIA

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SUSTERÁ ESTRANGEIRA N.° 4.874 — PORTUGAL

(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Requerente: Joaquim Rodrigues.

Sentença estrangeira homologada para todos os eleitos dedireito. Satisfeitos os requisitos exigidos pelos arta. 791 e 792 doC. Pr. Civ.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, acor-dam os Ministros do Supremo Tribu-nal Federal, em sessão plenária, porunanimidade de votos, na conformida-de da ata do julgamento e das notastaquigráficas, homologar a sentença.

Brasília, 12 de maio de 1966. —Cândido Motta Filho, Presidente. —Hermes Lima, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hermes Lima: —Joaquim Rodrigues, português, casado,portador da carteira modelo 19 doS.R.E., registro 140.771, proprietá-rio, residente no Rio de Janeiro, re-quereu, satisfeitas as exigências legais,homologação da sentença proferidapelo Juiz da Comarca de Lamego, Por-tugal, que reconheceu o suplicantecomo filho ilegítimo de Clemente Pe-reira, para todos os efeitos legais, in-clusive os do art. 129 do Código CivilPortuguês, na ação de processo ordi-nário que moveu contra Margarida daPiedade e outros.

Requereu a citação dos suplicados,residentes no Brasil, que enumerou.

Extraiu-se carta de ordem para acitação dos executados. Apresentou-secontestação à carta de ordem.

Dr. Curador à lide nomeado dei-xou de dar parecer, em virtude de ha-verem todos os interessados, maiores ecapazes, respondido à citação, não ha-vendo, assim, se caracterizado a hipó-tese prevista no art. 162 do Regi-mento Interno do Tribunal.

requerente contestou os embargosapresentados à sua pretensão.

parecer da douta Procuradoriaconsidera satisfeitos, o quentura satis,os requisitos exigidos pelos arts. 791e 792 do C. Pr. Civ. Considerou,ainda, que a oposição feita não aba-lou, nos termos do art. 793, II, a au-tenticidade do documento, nem tam-pouco a sentença homologando.

Nesse sentido, opinou pela homolo-gação.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Hermes Lima (Re-lator): — Sr. Presidente, homologoa sentença, pelas razões no Relatórioque acabo da ler ao Tribunal.

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VOTOO Sr. Ministro Evandro Lins (Re-

visor): — Voto no sentido da homo-logação da sentença para que produzaos efeitos de direito.

A objeção levantada pelos executa-dos, consistente no fato de existir eracurso uma ação no Faro do Brasil,pleiteando a mesma coisa que veio aser reconhecida pela Justiça de Portu-gal, não é motivo que impeça a homo-logação requerida, porque não está en-tre os requisitos enumerados no Có-digo de Processo Civil.

Por outro lado, como se vê da cer-tidão de f. 44, o requerente formuloupedido de desistência da referida ação,que se encontra em andamento naPrimeira Vara de Família do Estadoda Guanabara. Não há noticia nos au-tos se essa desistência, solicitada em23.6.64, foi ou não homologada pelojuiz.

Assim sendo, defiro a homologaçãorequerida, de acOrdo com o eminenteRelator.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Homologada nos termosdo voto do Relato:, h unanimidade.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroCândido Motta Filho. Relator, o Ex-celentíssimo Sr. Ministro HermesLima. Revisor, o Exmo. Sr. MinistroEvandro Lins e Silva. Tomaram par-te no julgamento os Exmos. Srs. Mi-nistros Carlos Medeiros, Aliomar Ba-leeiro, Ossvaldo Trigueiro, Prado Kel-ly, Adalicio Nogueira, Evandro Lins eSilva, Hermes Lima, Pedro Chaves,Victor Nunes Leal, Gonçalves de Oli-veira, Vilas Boas e Luiz Gallotti. Li-cenciados, os Exrnos. Srs. MinistrosRibeiro da Costa e Hahnemann Gui-marães. Ausente, justificadamente, oExmo. Sr. Ministro Lafayette de An-drade.

Brasília, 12 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N. 15.873 — DF

(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Recorrente: Agildo da Gama Barata Ribeiro. Recorrida: União Federal.

Anistia. Cabimento. D. Leg. 18, de 15.12.61. Provimentoem parte do recurso para assegurar a reforma na conformidade dodisposto no 2.° do D. Leg. 18, de 1961. O impetrante anistiadopelo art. 1.0 do Decreto acima não pode reverter ao serviço ativoporque essa reversão estava condicionada a despacho favorável doMinistro da Guerra.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos, acor-

dam os Ministros do Supremo Tribu-nal Federal em Terceira Turma, porunanimidade de votos, dar provimen-to em parte ao recurso, na conformi-dade da ata do julgamento e das no-tas taquigráficas.

Brasília, 5 de agasto de 1966.Luiz Gallotti, Presidente. — HermesLima, Relator.

RELATÓRIO•9 Sr. Ministro Hermes Lima: —

Agildo da Gama Barata Ribeiro im-petrou segurança ao colendo TribunalFederal de Recursos contra ato do Se-nhor Ministro da Guerra, alegando queera oficial do Exército, teve sua pa-tente cassada pelo D. 558, de 31.12.35,publicado no D.O. de 13.11.36.

Baseado no D. Leg. 18, de 15.12.61,solicitou sua reintegração, juntando

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para tal fim os documentos previstosna Portaria n.° 276, de 3.5.62. Mas

Ministro lhe indefiriu a petição, ale-gando falta de amparo legal, uma vezque o requerente não havia sofridocondenação judicial (D .0. de 13.11.63).

As informações do Ministro daGuerra dizem:

0a) que o peticionário de f. nãotem direito ao benefício de reversãode que trata o art. 2,, gg 1, e 2.°,do D. Leg. 18, de 1961, de vez quea sua perda de patente e piisto re-sultou do D. 558, ainda válido, bai-xado pelo Poder Executivo, em31.12.35, e não de uma decisão judi-ciai, de uma condenação, como exige

mencionado dispositivo, para a con-cessão daquele benefício;

b) que também, em virtude da re-ferida exigência legal, estudada noitem 3 deste parecer (constatações I

II), o peticionário não está anistia-do pela letra a do art. 1.° do D. Le-gislativo 18;

c) que, finalmente, se, em processopor crime político, ainda que origi-nário dos mesmos fatos motivadoresdo D. 558, o peticionário sofreu penaprivativa de liberdade, também nãohá como falar em reversão para Me,visto que em ta/ caso, ao tempo decondenação, não mais possuía a qua-lidade de militar, de oficial do Exér-cito."

A segurança foi denegada pelo acór-dão, de f. 23, de que foi Relator oilustre Ministro Armando Rollemberg,cujo voto foi o seguinte:

"Nos termos da L. 1.533, de1951, a petição inicial deverá preen-cher os requisitos dos arte. 158 e 159do C. Pr. Civ., dentre os quais está

de vir instruída com os documentosem que se fundar o pedido.

O impetrante não sOmente não apre-sentou qualquer documento, como, aofinal de sua petição, se referiu a cri-mes correlatas com o crime políticoque teria sido anistiado, sem esclare-cer nada a respeito.

Não há como, em conseqüência, afe-rida liquidez e certeza do seu direito,

Denego a segurança."Manifestou-se recurso ordinário no

qual se alinha cérea de uma dúzia demandados de segurança concedidospela aplicação do D. Leg. 18, de15.12.61.

parecer da douta Procuradoria épelo não provimento do recurso por-que "o recorrente não anexou à peti-ção inicial os documentos em quefundou seu pedido."

o relatório.

VOTOSr. Ministro Hermes Lima (Re-

lator): — No que concerne à alegaçãode que não foram preenchidos os re-quisitos dos arta. 158 e 159 do

Pr. Civ., tenho que a impetraçãoestá suficientemente instruída. O im-petrante alega que era oficial do Exér-cito, que teve sua patente cassada, querequereu sua reintegração, que o Mi-nistro da Guerra indeferiu o pedidoalegando falta de amparo legal. In-dica os números do Diário Oficial emque saíram o decreto da cassação, opedido de reintegração dirigido ao Mi-nistro da Guerra e o indeferimento doMinistro, além do fundamento legaldo pedido. TOclas as indicações sãocorretas.

Além disto, nas informações presta-das, o Ministro da Guerra expõe a ra-zão pela qual a seu ver o impetrantecarece de amparo legal, alinhando de-cretos, datas e argumentos. Os pres-supostos legais do mandato, para se co-nhecer da segurança, estão assim pre-sentes.

Quanto ao mérito, dou provimentoem parte ao recurso para assegurar aoimpetrante a reforma na conformidadedo disposto no g 2.° do art. 2.° do

Leg. 18, de 1961. O impetrantenão pode reverter ao serviço ativo por-que essa reversão está condicionada adespacho favorável do Ministro daGuerra "que lhe foi contrário (art. 2.°,

1.°) . Mas tem direito a reforma naforma do g 2.° do art. 2.°" que deter-

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mina: "aqueles que de acôrdo com oparágrafo anterior (isto é, os que nãoobtiverem despacho favorável) não pu-derem reverter ao serviço ativo con-tarão o tempo de afastamento apenaspara efeito de aposentadoria ou refor-ma no pasto que ocupavam quando fo-ram atingidos pela penalidade".

O impetrante foi anistiado pelo ar-tigo 1.° do D. Leg. 18. Diz o artigo:São anistiados:

a) os que participaram, direta ou in-diretamente, de fatos ocorridos no ter-ritório nacional, desde 16.7.34, até apromulgação do Ato Adicional e queconstituam crimes políticos definidosem lei, inclusive os definidos nos arti-gos 6.°, 7.° e 8.° da L. 1.079, de10.4.50, observado o disposto nos ar-tigos 13 e 74 da mesma lei e mais osque constituam crimes definidos nosarte. 2.0, 6.°, 7.°, 11, 13, 14, 17 e18 da L. 1.802, de 5.1.53.

Como precedentes deste voto, citoos RMS 15.529 e 15.509, dos quaisfoi Relator o eminente Ministro LuizGallotti, julgados em 31.3.66, em quea segurança foi concedida por unani-midade.

Disse o eminente Relator como ra-zão de decidir em ambos os recursos:

"Tenho como evidente que assisterazão aos recorrentes, ou seja, umavez que o Ministro da Guerra foi con-trário à sua reversão ao serviço ativo,cabe-lhes o direito de contarem o tem-po de afastamento apenas para efeitode reforma no pOsto que ocupavamquando foram atingidos pela penalida-de, conforme o disposto no § 2.° doart. 2.° do D. Leg. 18, de 1961.

O pedido, aliás, é alternativo. Visaa obter a reversão ao serviço ativo oua reforma, de acOrdo com o D. Leg. 18,de 1961 (f. 6), sem direito a venci-mentos ou proventos atrasados (arti-go 2.°, caput).

Nada importa que os impetrantestenham perdido as patentes, não porefeito de decisão judicial mas desdelogo, e sem prejuízo dela, por ato do

Poder Executivo, conforme permitiua Emenda n.° 2 à Constituição de1934, pois não se nega que a penali-dade decorreu de participação no mo-vimento subversivo de 1935. E, comobem acentua o eminente Ministro Pra-do Kelly, em acórdão unânime de quefoi Relator (RMS 14.337, julgado em11 do corrente), a anistia visa essen-cialmente a extingiiir ações penais pro-movidas por delitos contra a seguran-ça do Estado, e a sua configuração temdado lugar a que o Parlamento pre-veja as várias conseqüências do seu de-creto, ainda as que excedam o campoda repressão judiciária e abranjam orestabelecimento de direitos e garan-tias afetados pelos fatos de que se ori-ginou a mesma repressão, acrescentan-do: "Assim, a incidência da anistiasôbre as várias situações previstas nosinc. b a 1 do art. 1P do D. Leg. 18,de 1961, está necessàriamente relacio-nada com a prática de crimes políti-cos, no período de 16.7.34 à promul-gação do Ato Adicional. As puniçõesdisciplinares que a lei manda esque-cer (art. 1.°, c) são as de nexo cau-sal com os fatos determinantes da açãopública em defesa do Estado; não osque derivem de motivos estranhosàqueles acontecimentos."

Ora, o caso dos impetrantes não sesitua em qualquer dos itens b a f, masno próprio item a, que diz respeito,precisamente, aos crimes políticos.

Incontestável é, portanto, que cabea aplicação da anistia concedida peloD. Leg. 18.

Mas, sendo o pedido alternativo,como notei, e dependendo a reversãode despacho favorável do Ministro daGuerra, que foi contrário ao pedidodos impetrantes, dou provimento aorecurso, para conceder a segurança,garantindo aos impetrantes a reforma,consoante o disposto no § 2P do arti-go 2.° do D. Leg. 18, de 1961."

Assim, dou provimento em partepara assegurar ao impetrante a refor-ma no pasto que tinha quando foipunido.

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DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Deu-se provimento, emparte. Unânime.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroLuiz Gallotti. Relator, o Esmo. Se-

nhor Ministro Hermes Lima. Toma-ram parte no julgamento os Excelen-tíssimos Srs. Ministros Prado Kelly,Hermes Lima, Gonçalves de Oliveirae Luiz Gallotti.

Brasília, 5 de agasto de 1966. —José Amaral, Secretário de Turma.

MANDADO DE SEGURANÇA N.' 1.6.512 — DF

(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Osvialdo Trigueiro.

Requerente: Engenharia Souza e Barker Ltda. e outros. Requerido: Se-nado Federal.

Resolução do Senado Federal, suspensiva da execução de nor-ma legal cuja inconstitucionalidade foi declarada pelo SupremoTribunal Federal. lnconstitucioraalidade de segunda resolução da-quele órgão legislatório, para interpretar a decisão judicial, moditi-cando-lhe o sentido ou lhe restringindo os eleitos. Pedido de se-gurança conhecido como representação, que se julga procedente.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Supre-mo Tribunal Federal, em sessão plená-ria, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, co-nhecer do pedido como representação,por maioria de votos.

Brasília, 25 de maio de 1966. —A. M. Ribeiro da Costa, Presidente

Osvaldo Trigueiro, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro:o adligo de Impostos e Taxas de

São Paulo (D. 22.022, de 31.1.53)dispa° em seu livro II:

"Art. 1.0 O impôsto sôbre transa-ções, criado pelo art. 2.° da L. 2.485,de 16.12.35, recairá sabre as transa-çaes efetuadas por empresas comer-ciais ou civis, individuais ou coletivas,que se dedicarem a negócios de:

(...) b) construção, reforma epintura de prédios e obras congêneres,por administração ou empreitada:"

Tendo o arquiteto Abelardo Reidyde Souza se recusado a pagar esse tri-buto, que lhe foi exigido sôbre os ho-

norários contratados para a fiscaliza-ção de obra a ser construída por contado proprietário, foi executado pelaFazenda Estadual, cuja pretensão oTribunal de Justiça julgou procedente.

Não se conformando, aquele profis-sional interpôs recurso extraordinário,que aqui tomou o n.0 38.538, tevecomo Relator o eminente Ministro Vi-las Boas e foi julgado em sessão ple-nária de 16.6.61.

O acórdão 4 o seguinte:"Ementa — Inconstitucional a co-

brança do "impOsto sôbre transações",feita pela Fazenda de São Paulo, combase na legislação tributária estadual,— tendo por fato gerador a renda au-ferida em virtude de contratos de lo-cação de serviços profissionais (Cons-tituição, arts. 15, 19 e 21):

Relatados e discutidos estes autos deRE 38.538 — São Paulo — Recor-rente: Abelardo Reidy de Souza eRecorrida: Fazenda do Estado:

Resolve o Supremo Tribunal Fe-deral declarar a inconstitucionalidadealegado, ut notas taquigráficas."

A decisão foi unanime. e tomadapelo voto do Relator e dos Srs. Mi-

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nistros Cândido Motta Filho, Gonçal-ves de Oliveira, Ary Franco, Hahne-mann Guimarães e Lafayette de An-drade.

Posteriormente, em 27.8.65, noRE 53.432 (Construtora de ImóveisSão Paulo S.A. v. Fazenda do Es-tado), o Supremo Tribunal teve idên-tico pronunciamento, na Segunda Tur-ma, pelo voto dos Srs. Ministros Vi-las Boas, Hermes Lima e Victor Nu-nes.

Como acima esclarecido, a decisãodo Tribunal Pleno, sôbre a inconstitu-cionalidade do tributo questionado, foiprolatada em 19.8.60, seguindo-se adecisão da Turma em 24.10.61.

Em 21.8.62, o eminente Presidentedo Supremo Tribunal, pelo Ofício ...621-P, enviou ao Senado Federal có-pias autênticas de acórdãos que decla-ravam inconstitucionais diversas leis,estaduais e municipais, bem como re-soluções de entidades autárquicas, in-cluindo nessa relação o acórdão doRE 38.538, esclarecendo, entre parên-teses: "Inconstitucionalidade da co-brança do impôsto sôbre transações."

Em 25.3.65, promulgou o Senado aseguinte resolução (D.O., Seção I— Parte I, de 28.3.65, p. 6.003):

"Resolução n.° 32, de 1965Suspende a execução da alínea b do

art. 1P, do Livro II, do Código deImpostos e Taxas do Estado de SãoPaulo, por infringência aos arts. 15,inc. IV, e 21 da Constituição Fe-deral.

Art. 1.0 É suspensa, nos termos dadecisão definitiva proferida pelo Su-premo Tribunal Federal em sessão de16.6.61, no RE 38.538, do Estado deSão Paulo, a execução da alínea b, doart. 1.°, do Livro II, do Código deImpostos e Taxas do mesmo Estado,por infringência aos arte. 15. inc. IV,e 21 da Constituição Federal.

Art. 2.0 Esta Resolução entrará emvigor na data de sua publicação, re-vogadas as disposições em contrário."

Não aquiesceu a Fazenda Estadualem considerar revogado o questionadodispositivo do art. 1.°, letra b, do Li-vro II, do Código de Impostos e Ta-xas. Como se vê do documento def. 20, o Coordenador da Receita, pelaInstrução n° 3-65, entendeu que a in-

constitucionalidade declarada deveriarestringir-se às hipóteses rigorosamen-te idênticas à do arquiteto que, emprimeiro lugar, trouxera o caso à apre-ciação do Supremo Tribunal. Nessesentido, determinou:

"1 — É inexigível, em face do deci-dido no RE 38.538, o Impôsto sôbreTransações, tendo por fato gerador arenda auferida em virtude de contratode locação de serviços profissionais.

2 — Nas demais hipóteses, o Im-pôsto sôbre Transações é exigível porfôrça da legislação fiscal vigente."

Com apoio nessa interpretação, oGovernador do Estado, em 15.9.65,representou ao Senado Federal, soli-citando resolução de caráter intepreta-tivo, no sentido de ser esclarecida oumodificada a Resolução n.° 32-65, deforma a amoldá-la, com a precisão de-sejável, àquilo que, a respeito, f Oradecidido pelo Supremo Tribunal.

O caso foi submetido à considera-ção da Comissão de Constituição eJustiça, que opinou pela procedênciada representação, entendendo que aResolução 32 dava ensejo a interpreta-ções altamente desfavoráveis à econo-mia paulista. A Comissão apresentouprojeto que o plenário aprovou e seconverteu em nova resolução, promul-gada em 14.10.65, e que é do teor se-guinte:

°Resolução n.° 93, de 1965Suspende cobrança de impôsto feita

pela Fazenda de São Paulo com basena legislação tributária estadual.

Art. 1.0 É suspensa a execução doart. /.°, alínea b, do D. 22.022, de31.1.53, do Estado de São Paulo, queautorizava a cobrança do impôsto sô-bre transações, tendo por fato gera-dor a renda auferida em virtude decontratos de locação de serviços pro-fissionais, considerada inconstitucionalpelo Supremo Tribunal Federal, emdecisão definitiva prolatada no RE 38.538.

Art. 2.0 É revogada a Resoluçãon.o 32, de 1965.

Art. 3.° Esta Resolução entra emvigor na data de sua publicação."

É contra esta nova Resolução doSenado Federal que a EngenhariaSouza e Barker Ltda. e mais (27)

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vinte e sete emprés' as construtoras im-petram o presente mandado de segu-rança, em que alegam:

a) que a segunda resolução do Se-nado Federal é inconstitucional na suaorigem, natureza, forma e finalidade,

está ocasionando prejuízo irremediá-vel às impetrantes;

11) que, suspendendo a suspensãoanterior, o Senado usurpou funçõeslegislativas estaduais — restabelecendolei inexistente — e Lê-lo sem estar ba-seado em nova decisão judicial;

c) que, aceitando a interpretaçãodada ao julgado pela administração es-tadual, o Senado procedeu como sefôsse uma super-instância, revogandoprâticamente uma decisão do SupremoTribunal, e atribuindo a este Pensa-mento por ele não manifestado:

cl) que as impetrantes estão sendoobrigadas a pagar tributo declaradoinconstitucional, com efeito retroativo

com os ônus decorrentes da corre-ção monetária.

Para melhor esclarecimento do caso,em seus diversos aspectos, leio ao Tri-bunal o pedido de segurança (f . 1-10)

as informações prestadas pelo Exce-lentíssimo Sr. Presidente do SenadoFederal (f. 55-59) .

O parecer da douta Procuradoria-Geral da República encontra-se à f. 61

diz o seguinte:"Em petição de 7.2.66 as impe-

trantes empresas construtoras, com sedeem São Paulo, requerem mandado desegurança contra a Mesa e o Plenáriodo Senado Federal para que seja con-siderada nula a Resolução mo 93, dessacasa do Congresso Nacional.

Essa resolução, aprovada em 14.10.65,revogou resolução anterior, de n.° 32,aprovada em 25.3.65, pela qual oSenado suspenderá a execução de de-terminado dispositivo do Código Pau-lista de Impostos e Taxas, em virtudede decisão deste eg. Supremo Tribu-nal "que o julgara inconstitucional."

A argüição das impetrantes é a deque, declarada por este Alto Tribunala inconstitucionalidade do mencionadodispositivo, suspenso este pelo Senadoem seguida a oficio de comunicaçãodo julgado, mediante resolução, nãoera licito ao mesmo Senado revo-gar esta resolução nem substitui-lapor outra.

Nas informações (f. 55-59), de9.3.66, o Exmo. Sr. Presidente doSenado explica que a segunda Reso-lução era de natureza interpretativae estaria ajustada aos exatos termosda decisão judicial; e que era legítimaa modificação ou revogação de umaResolução daquele órgão do Legisla-tivo por outra.

Quanto ao cabimento do mandadocontra ato do Senado, hoje está asse-gurado no art. 101, inc. I, letra I, daConstituição, com a redação dada pelaE. C. 16, de 26.11.65.

Há, porém, ainda, uma questão pre-liminar — a de saber se este Supre-mo Tribuna/ Federal pode, como que-rem os impetrantes, anular a resolu-ção senatorial.

Se uma resolução, falando-se, emtese, é de caráter administrativo ou,mais precisamente, é um ato adminis-trativo, entre tantos que ao órgão le-gislativo é lícito praticar, a anulaçãose pode dar, pois que se trata de umasituação particular ou individuada.

Se, porém, ao revés, a hipótese éde ato revestido da generalidade pró-pria da função legislativa, de ato re-gra, já a solução é negativa. Não setrata, aí, de ato jurídico suscetível deanulação pelo judiciário, ressalvada ahipótese de declaração de inconstitu-cionalidade.

No caso o ato é inquestionàvelmen-te da função legislativa. É uma leique perde a eficácia em conseqüên-cia do pronunciamento do órgão legis-lativo que completa o do Judiciário.

Fica, assim, fora do alcance domandado de segurança, segundo a ju-risprudência deste Alto Tribunal.

sendo ato legislativo, pode serrevogado por outro da mesma natu-reza.

Claro e que a suspensão da exe-cução da lei declarada inconstitu-cional, no todo ou em parte, comoPrevê o art. 64 da Constituição, háde se condicionar aos termos do deci-dido. Se o não fôr, ocorrerá então ahipótese de inconstitucionalidade, cujadeclaração terá lugar por via de pro-cesso adequado.

dispositivo legal aqui impugna-do estatuiu que o impôsto sôbre tran-sações recairia sôbre as efetuadas porempresas comerciais ou civis, indi-

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vidueis ou coletivas, que se dedicas-sem a negócio de... "b) construção,reforma e pintura de prédios e obrascongêneres, por administração ou em-preitada."

A ementa do acórdão de que resul-tou a primeira resolução do Senadoé esta:

"Inconstitucional a cobrança do im-pôsto sôbre transação, feita pela Fa-zenda do Estado de São Paulo, combase na legislação tributária estadual,tendo por fato gerador a renda auferi-da em virtude de contratos de loca-ção de serviços profissionais."

Aquela primeira Resolução dispôs:"Art. IP É suspensa, nos termos

da decisão definitiva proferida peloS.T.F., em sessão de 16.6.61, noRE 38.538, do Estado de São Paulo,a execução da alínea b do art. 1.°,do livro II, do Cód. de Imp. e Taxasdo mesmo Estado por infringênciaaos arte. 15, IV, e 21 da Constitui-ção Federal.

Atendendo a representação do Go-vernador do Estado que alegou ter adecisão judicial se referido apenas aimpôsto calculado sare o valor deobras tendo por base contratos de lo-cação de serviços profissionais de ar-quitetura, desenho, especificação e fis-calização, o Senado aprovou a segun-da resolução que declarou revogadoa primeira e

"suspensa a execução do art. /Palínea b, do dec.... que autoriza acobrança do impôsto sôbre transaçõestendo por fato gerador a renda aufe-rida em virtude de contratos de loca-ção de serviços profissionais..."

Em suma: teria havido diver gên-cia entre o acórdão e sua ementa:esta mais ampla que aquela.

Na realidade, porém, o acórdãoquestionado, segundo o voto do Se-nhor Ministro Cêndido Motta Filhoabrange todo o dispositivo impugna-do (f. 12-13). Deveria, conseqüente-mente, prevalecer a primeira resolu-ção do Senado.

Mas, como ficou exposto, nãopossível o veto judicial a qualquerresolução de natureza legislativa da-quele órgão, a não ser in concretoou mesmo in genere, mas no proces-so próprio.

Não cabendo mandado de seguran-ça contra lei em tese (Súmula 266),está compreendida a hipótese da re-solução de caráter geral.

De resto, a lei paulista impugnadaé de 1953; o acórdão que suspendeuum de seus dispositivos é de 1961; eas duas resoluções são de 1965. Jáhoje a matéria constitucional discuti-da tem outra disciplina (EmendanP 16) .

Em face do exposto, o parecer épela denegação do pedido de manda-do de segurança por inadmissível con-tra resolução do Senado suspensivade execução de lei.

Contra a mesma resolução os mes-mos impetrantes, na mesma data, ecom os mesmos argumentos apresen-taram a êste Supremo Tribunal re-clamação que tomou o nP 691 e foidistribuída ao Esmo. Sr. MinistroCarlos Medeiros, em cujo processo foidado o parecer constante da cópiaanexa sendo, pois, o caso de julga-mento conjunto."

SUSTENTAÇÃO DE PARECERO Dr. Alcino Salazar (Procurador-

Geral da República): — Esmo. Se-nhor Presidente e Exmos. Srs. Mi-nistros, há uma questão de ordemgeral, uma tese da maior imponên-cia, neste caso, e que, na verdade, en-volve a autoridade dêste eg SupremoTribunal Federal.

Declarada a inconstitucionalidadede disposição de uma lei do Estadode São Paulo e comunicado essa de-liberação dêste Excelso Tribunal aoSenado, êste suspendeu a execução dodispositivo dado como inconstitucio-nal. Em seguida, porém, meses de-pois, o Senado, numa segunda resolu-ção, revendo e interpretando o acór-dão dêste Tribunal, revogou sua reso-lução anterior, dando ao dispositivotido como inconstitucional uma exten-são menor, distinguindo, na realidade,onde o Supremo Tribunal Federal nãohavia distinguido.

Então, surge a questão de saber seo Senado pode revogar uma resoluçãosua acatando comunicação do Supre-mo Tribunal e suspendendo, conse-qüentemente, o dispositivo dado comoinconstitucional. E, ainda, se pode

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entrar na apreciação do acórdão, paraformular as suas diretrizes.

A primeira questão que surge é apreliminar do cabimento do mandadode segurança contra uma resoluçãodessa natureza. O parecer, que tiveoportunidade de oferecer, foi no sen-tido do não cabimento do mandadode segurança, neste caso, por se tratarde um ato de caráter geral e, portan-to, de um ato de natureza legislati-va. Não se tratava de um ato indi-viduado, de um ato administrativo oude um ato de caráter outro, mas darevogação da suspensão de um dispo-sitivo legal. Assim sendo, a meu vere, inquestionavelmente, um ato legis-lativo e está imunizado em relata° aomandado de segurança. Então, tería-mos a aplicação da Súmula 266: "Nãocabe mandado de segurança contra leiem tese". Aí seria um ato de natu-reza legislativa.

Há, porém, também uma reclama.ção, levantada pela parte, neste sen-tido; impetrou o mandado de segu-rança e levantou uma reclamaçãocontra o ato do Senado em relaçãoao julgado do Supremo Tribunal Fe-deral.

O parecer, proferido nessa mesmaocasião com relação à reclamação, foino sentido também do, não cabimentoda reclamação, porque o processo ade-quado, o processo próprio, seria, nocaso, a representação, representaçãocontra inconstitucionalidade do ato doSenado, que não podia corrigir deci-do do Supremo Tribunal Federal.Então, caberia, aí, representação con-tra ato dessa natureza.

Mas, neste ponto, peço licença pararetificar asse segundo parecer, retifi-cação no sentido de, 13111 face de nevoexame do assunto, considerar inadmis-sível a reclamação, porque não se po-deria substituir a reclamação por umprocesso de representação de incons-titucionalidade, pois no caso da re-presentação há audiência da autorida-de, do órgão de que emanou o atoimpugnado. Então, não se poderiaem tese substituir o processo de re-presentação de inconstitucionalidadepelo processo de reclamação. Mas su-cede, no caso que a autoridade, oPresidente do 'Senado, foi ouvida.

A reclamação não tem um processorígido e estou informado de que nareclamação há, também, audiência doórgão. Parece-me que no processo derepresentação não há a mesma rigidezestabelecido, por lei, para o processoda reclamação. Mas, de qualquer for-ma, no caso essa audiência se deu,ela se deu no mandado de segurança,que tem o mesmo objeto da recla-mação.

De modo que, ressalvando o pontode vista de que para estes casos oprocesso adequado é a representaçãode insconstitucionalidade, na hipótese,entretanto, considero admissivel o co-nhecimento da matéria, como se fás-se reclamação, ou que seja conhecidadesde logo a reclamação formulada.

Este é o parecer da Procuradoria-Geral da República sabre a questão.

VOTOO Sr. Ministro Oewardo Trigueiro

(Relator): — Ainda que se queiraapontar certa imprecisão na ementado acórdão prolatado no RE 38.538,tenho como insuscetivel de dúvida que

Supremo Tribunal declarou a in-constitucionalidade postulada pelo re-corrente.

Como consta da ata, declarou-se"inconstitucional o tributo em ques-tão." Ci tributo em questão era oprevisto no livro II, art. 1.0, letra b,do Código de Impostos e Taxas doEstado de São Paulo.

Na ralação constante do ofícioenviado ao Presidente do Senado Fe-deral, para os efeitos do art. 64 daConstituição, incluiu-se o RE 38.538,com o esclarecimento, entre parênte-ses, de que ele dizia respeito à "in-constitucionalidade da cobrança doimpesto sabre transaçaes,"

Foi em razão desse expediente queSenado, pela Resolução 32, mento-

deu, nos termos da decisão definitivado Supremo Tribunal Federal, a exe-cução da alínea b do art. 1.° do Li-vro II do Código de Impostos e Ta-xas, por infringência doe arte. 15, IV,

21 da Constituição Federal. Com-pletou-se, assim, o processo estabele-cido para o contrale de constitucio-nalidade: a declaração do SupremoTribunal foi seguida de manifestação

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formal do Senado, suspensiva da exe-cução da norma legal questionada.

Depois disso, poderia o Senado —por outra Resolução, de sua iniciati-va, promulgada sete meses depois —revogar a anterior, para interpretara decisão do Supremo Tribunal, poressa forma atendendo à reclamaçãoapresentada pelo Estado de São Pau-lo? R e primeira questão a ser exa-minada.

Em face da decisão do SupremoTribunal e da primeira Resolução doSenado, entendeu o fisco estadualque a discutida atnea b não fara eli-minada do Código de Impostos e Ta-xas. Seria ela inaplicável aos casosrigorosamente idênticos ao examina-do no RE 38.538, porém continuavaem vigor para a generalidade doscontribuintes.

A essa exegese aderiu o Senado, eisso o levou a revogar a Resolução32 para, por outra Resolução, a den.o 93, alterar, corrigir, ou apenas in-terpretar como se queria, o que feraobjeto de declaração pelo SupremoTribunal.

compreensível o zelo publicanoda administração estadual. Parece-me, todavia, que se ela entendeu quea decisão em causa feira obscura ouomissa, poderia ter vindo com embar-gos de declaração, oportuno tempore.Se, diversamente, estava convencidade que o julgado do Supremo tinhaalcance limitado — permitindo, assim,que o tributo em causa continuassea ser exigido nas hipóteses não expres-samente consideradas — cabia-lhepromover a cobrança do tributo, oudelimitar-lhe o campo de incidência,por via legislativa.

apelo ao Senado é que me pare-ce incabível, porque essa Casa doCongresso não tem, no elenco de suasatribuições, nem e de rever as deci-sões do Supremo Tribunal, nem a desuprir omissões que eventualmente severifiquem no campo legislativo dosEstados.

Pelo art. 64 da Constituição, in-cumbe ao Senado suspender, no todoou em parte, a execução de lei oudecreto declarado inconstitucional, pordecisão definitiva do Supremo Tribu-nal. Através desse expediente — ori-ginário da Constituição de 1934 --

deu-se ao Senado, em nossa siste-mática política, o encargo de tornarinoperante, erga onmes, as leis ounormas que o Poder Judiciário deixade aplicar, in coam por eiva de in-constitucionalidade.

Não está sujeito a qualquer san-ção especdfica o exercício dessa atri-buição pelo Senado mas este de certotem como um de seus deveres primor-diais e de velar pela ordem jurídica

preservar a harmonia que deve pre-sidir à convivêacia dos Poderes.

É curial que. se, ao receber pedidode mopensão de execução de lei ounorma inconstitucional, o Senado ti-ver qualquer dúvida, quain o à forme,ou mesmo quanto ao sentido da de-claração judicia l., poderá pedir ao Se•premo Tribunal os escia:uc mentosque entender necessários, Parece-me,entretanto, que, depois de atender àsolicitação do Supremo Tribunal —promulgando resolução suspensiva dalei inconstitucional — a competênciado Senado está exaurida.

Penso, por isso, que ele não pode-ria rever a matéria, quer para inter-pretar de decisão do Supremo Tri-bunal, sem que este Visse ouvido, querpara dirimir dúvida suscitada, no âm-bito estadual, atine a validade parcialda norma questionada. Na primeirahipótese, estaria ele atuando na esfe-ra judiciária; na segunda, teria ido até

campo da legislação estadual.Nestas condições, tenho como ino-

perante a segunda Resolução, promul-gada sob o n.o 93, sem que isso im-porte em desapreço ao Senado Fe-deral, que terá procedido como enten-deu de seu dever, e- certamente mo-vido por solicitação de interesse pú-blico, consoante o pronunciamento desua Comissão de Justiça. () caso cer-tamente está colocado no plano dasrelações entre os poderes constitucio-nais da República, parecendo-me,entretanto, sem proporções para con-figurar conflito de que resulte qual-quer implicação de caráter político.

Passando a segunda questão — ado cabimento do mandado de segu-rança — não vejo como dele conhe-cer, para o efeito pretendido na im-petração.

Em primeiro lugar, porque o man-dado de segurança é inadmissível

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contra a lei em tese, princípio consa-grado em nossa jurisprudência predo-minante e inscrito na Súmula 266.Para o objetivo que se tem em vista,considero a Resolução do Senado comoequivalente da lei, em seu aspectomaterial.

Qualquer que seja o alcance daResolução impugnada, parece-me in-dubitável que dela não resulta, ime-diatamente, lesão a direito liquido ecerto de qualquer dos postulantes.Admitindo-se que ela possa autorizara revivescência parcial da norma le-gal que, desde a publicação da Reso-lução 32, fóra expungida da legisla-ção fiscal do Estado de São Paulo,disso resultaria apenas a possibilida-de de vir a Fazenda Pública a exi-gir, em alguns casos e de alguns con-tribuintes, o malsinado tributo. En-quanto essa cobrança não se materia-liza, ou não se apresenta como amea-ça iminente, não há lesão de direitoremediável por via de segurança. Seessa ameaça já existe, cabe então omandado, contra os exatores estaduais.Nesse caso, porém, a medida não podeser impetrada originei-lamente ao Su-premo Tribunal.

Se, em vez de reclamar do Senado,como preferiu fazer, houvesse o Es-tado de São Paulo editado nevo di-ploma legal &Obre a matéria — vol-tando a exigir o tributo questionado,nos casos porventura não abrangidospela declaração do Supremo Tribunal— 4 bvio que os prejudicados pode-riam recorrer à ação de segurança,para resguardo de seus direitos. Masesta ação teria que ser dirigida —não contra a Assembléia Legislativa,por ter aprovado a lei — e sim con-tra os agentes da Fazenda, incumbi-dos de dar-lhe execução em casos con-cretos. É o que se verifica, com fre-qüência, na prática judiciária, quan-do os contribuintes, com ou sem ra-zão, se sentem lesados por imposi-ções fiscais.

Por estas razões, não conheço dopedido.

VOTO-O Sr. Ministro Pedro Chaves: —

Sr. Presidente, bastava a importânciadeste caso — saliente-se que é a pri-meira vez que isto ocorre na Repú-

blica e no Supremo Tribunal Federal— bastava isto, Sr. Presidente, paraque eu ousasse pedir a atenção doseminentes colegas, para sustentar umponto de vista absolutamente contrá-rio ao dos dois ilustres Relatores quejá se pronunciaram.

Sei, Sr. Presidente, que é uma ou-sadia da minha parte, mas que estáenvolta na obrigação que tenho demanifestar minha opinião, principal-mente, num caso desta natureza, quevai ser o primeiro a ser apreciado peloSupremo Tribunal Federal, uma ques-tão de relevo constitucional excepcio-nal. E daqui talvez parta uma dou-trina. Talvez este julgamento seja apedra angular de uma construção doSupremo Tribunal Federal.

Com esta explicação preliminar, Se-nhor Presidente, sem a pretensão demodificar a opinião de quem quer queseja, mas, apenas, para esclarecer, paraemitir urna opinião que formei, atra-vés de estudos e de meditação, é queouso antepor minha opinião àquelasque já foram expostas pelos eminentescolegas Relator do mandado de segu-rança e Relator da reclamação.

Sr. Presidente, em primeiro lugar,Supremo Tribunal Federal tem uma

função construtiva; e quando o Supre-mo Tribunal Federal, por iniciativabrilhante, oportuna e magnifica deV. Excia., introduziu no seu Regi-mento Interno o recurso de Reclama-ção, estava desempenhando uma fun-ção constitucional construtiva, dentrodas suas prerrogativas porque, se oSupremo Tribunal Federal é o guarda

é o responsável pela Constituição,é lógico, Sr. Presidente, que dentrode seus poderes, dentro desta obriga-ção que a Constituição lhe impõe, deguardá-la, ele precisava erigir meioscapazes para tanto, que, se não cons-tavam do texto constitucional expressonem de lei ordinária, tinham que sur-gir da sua interpretação criadora.

E por que?Porque a maior virtude do recurso

de Representação, introduzido com ca-ráter correcional no Regimento Inter-no do Supremo Tribunal Federal, poriniciativa de V. Excia., rePito> com

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aplauso geral, é manter a soberaniadas decisões deste Tribunal, que dei-xaria de ser um Poder da República,deixaria de ser o guardião da Consti-tuição, se Mese um órgão impotente,um guarda incapaz, que não tivessemeios hábeis para preservar a integri-dade dessa mesma Constituição.

Do modo que não foi sugestão decaráter meramente correcional queV. Excia. apresentou e conseguiu queo Supremo Tribunal aprovasse, masum meio hábil, para tornar efetiva aobrigação do Supremo Tribunal Fe-deral.

Em segundo lugar, Sr. Presidente,justifico o recurso de reclamação, te-nho que justificar o conhecimento dosdois recursos, e a minha primeira di-vergência com os votos dos eminentesMinistros Relatares e a opinião ma-nifestada pelo eminente Dr. Procura-dor-Geral da República, é que eu nãoconsidero a Resolução do Senado umato legislativo, nem considero o pedi-do afrontoso a uma lei em tese. Oato do Senado da República, SenhorPresidente, a meu ver, é um meroato conseqüente, secundário, de exe-cução de dispositivo, porque a Cons-tituição Federal, no seu art. 64, im-põe ao Senado — impõe ao Senado,não lhe dá opção — cumprir as de-cisões do Supremo Tribunal Federal.

Declarada a inconstitucionalidade,pelo Supremo Tribunal Federal, delei ou ato legislativo de outra natu-reza, porque só o Supremo TribunalFederal pode fazer essa declaração,êste Tribunal comunica ao Senado. Ediz a lei: "incumbe ao Senado sus-pender a execução".

Por quê Sr. Presidente?Porque, de certa forma, essa sus-

pensão de execução é um ato legisla-tivo, importa na revogação de umalei, e o Poder Judiciário não tem com-petência para revogar leis, tem com-petência para aplicá-las. Quem temcompetência para revogar leis é o Po-der Legislativo, por intermédio deuma outra lei.

Unta lei declarada inconstitucionalnão mais pode ser mantida com eficá-cia nos quadros da legislação brasilei-

ra, porque o Supremo Tribunal Fe-•deral, dentro de sua competência única

exclusiva, disse que ela era inconsti-tucional, e pela Constituição incumbeao Senado suspender a execução dasleis que o Supremo Tribunal Federaldeclarar inconstitucionais; é ato con-seqüente, secundário, de execução dedispositivo do Supremo Tribunal Fe-deral. Conseqüentemente, o Senado,quando pratica êsse ato, é o executarde uma decisão do Supremo Tribunal.Por isso que admito a reclamaçãocontra êsse ato do executor. Não háopção, frente ao dispositivo cogenteda Constituição.

Sr. Presidente, a Constituição foiparca no tratamento do assunto.

O problema de que nos ocupamos éoriginal, de agora, nunca foi discutidoanteriormente. De maneira que preci-samos argumentar com lógica, dentrodos princípios.

A lição de Pontes de Miranda, emduas ou três linhas, em Comentáriosao art. 64 á a seguinte que resumo:

Senado recebe a comunicação doSupremo Tribunal Federal de que foidecretada a inconstitucionalidade dalei tal, na forma do acórdão, notas te-quigráficas, etc., uma comunicação am-pla e plena.

O Senado não á mero cartório deregistro de atos do Supremo TribunalFederal. Ele terá que examinar aquestão que lhe foi levada por ofícioprocedente do Supremo Tribunal Fe-deral, fazendo um juizo prelibatório,um exame das condições de objetivida-de das decisões do Supremo TribunalFederal, para ver se existe a decisão

se essa decisão foi lançada dentrodos termos legais do processo e doprocesso constitucional, se foi obser-vado aquele quorum do art. 200 daConstituição, se a composição do Su-premo Tribunal era, ou não, plena, sea votação apurada satisfez, ou não,aquela percentagem estatuída no arti-go 200 e reproduzida no RegimentoInterno do Supremo Tribunal Federal.É só sabre êste aspecto formal. O Se-nado não tem competência para exa-minar o mérito de decisão do Supre-mo Tribunal, para interpretá-la, paraampliá-la ou restringi-la . Não tem

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opção, nestas condições, Sr. Presiden-te, na normalidade do processo cons-titucional, o Senado é mero executorda decisão do Supremo Tribunal Fe-deral. E, considerando esse ato comoum ato de execução, ato complemen-tar, ato secundário, conseqüente e sub-seqüente àquele ato judiciário prati-cado pelo Supremo Tribunal Federal,obediente as normas da Constituição,e que acho que o Senado Federal emero executor constitucional e a sua"Resolução" e ato administrativo, deexecução, em obediência a decisão doSupremo Tribunal Federal, do qualnão se pode tomar juiz, cujas decisõesnão pode interpretar, nem ampliar emuito menos restringir.

Tratando-se de ato de execução,praticado o ato, promulgada e publi-cada a Resolução n.° 32, eu estou, eneste ponto com o apoio do lúcido ebrilhante voto do eminente Relator doMandado de Segurança, que ele nãopodia mais revogá-la.

Tratava-se de execução completa,havia res judicata e havia execução;não podia mais a autoridade executo-ra rever o ato de execução já cumpri-do e aperfeiçoado, e rever ainda ondeatingia a própria execução exeqiienda;não tinha capacidade legal; não tinhacapacidade jurídica, nem funcional se-quer, porque não se encontra em qual-quer dispositivo da Constituição essepoder de revisão do Senado dos atosque pratica em execução de sentençado Supremo Tribunal Federal.

Por todos estes fundamentos, Se-nhor Presidente, conheço do Mandadode Segurança. Se não conhecesse doMandado de Segurança, conheceria daReclamação, que está sendo julgadaao mesmo tempo, e, numa ou noutraqualquer forma, proveria o recurso ouconcederia as medidas para restabele-cer o direito magoado pelo ato do Se-nado da República.

VOTOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

— Sr. Presidente, peço a Deus e aoseminentes juízes me perdoem se dis-ser alguma heresia, nesta Casa, por-que o único meio de o Supremo Tri-

bunal Federal construir a Constitui-ção, é por esse processo de tentar,errar e corrigir o erro.

Portanto, se um erro eu posso co-meter, divergindo, é com grande em-baraço para mim, porque tenho emalto apreço intelectual a opinião doeminente Sr. Ministro Pedro Chaves.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Muito obrigado a V. Excia.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Adoto o voto do eminente SenhorMinistro Osvaldo Trigueiro, na parteem que considera o mandado de se-gurança inadequado para o fim preten-dido pelo impetrante.

Como ambos os Relatores frisarambem, o interesse de uma resolução doSenado para a execução do art. 64 daConstituição, é de ordem normativa —ou, para usar da expressão do Sr. Mi-nistro Carlos Medeiros, "quase legis-lativa". Revogar uma lei, suspendera execução de uma lei, é um ato ju-rídico de caráter normativo.

mandado de segurança, nessecaso, não se pode utilizar pelo mesmoprincípio de que ele não é utilizadocontra a norma em tese.

Também acompanho o voto do emi-nente Sr. Ministro Carlos Medeiroscontra a reclamação, data venia doeminente Dr. Procurador-Geral da Re-pública, porque ela tem um carátercorrecional que a toma absolutamenteimprópria para ser dirigida contra umdos órgãos dos Poderes da República.Até porque este órgão não tomariaconhecimento, nem daria a menor im-portância a essa decisão do SupremoTribunal Federal. Ele a ignoraria. Eisso não seria, de maneira nenhuma,proveitoso ao prestígio do SupremoTribunal Federal, nem, também, aoprincipio de harmonia e independên-cia dos poderes.

A reclamação de maneira nenhumacaberia. O Mandado de Segurança demaneira nenhuma caberia. Talvezfess° possível a representação, por in-termédio do Procurador-Geral da Re-pública, já que o art. 1.0 da Emendan.° 16, acrescentando mais uma alí-nea k ao art. 101, inc. I, da Consti-

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tuição Federal, estendeu essa medida aque se referem os arte. 7.° e 8.° daConstituição contra as leis estaduais,também às leis federais. Talvez.

Mas, no caso concreto, não interes-sa saber se é ou não a representaçãoque cabe. É que não cabe o Manda-do de Segurança nem a reclamação decaráter regimental.

Poderia parar meu voto aqui, po-rém, acredito que o julgado de hojeserá uma decisão como aquelas que in-tegram o livro do Ministro Edgar Cos-ta, Os Grandes Julgamentos do Supre-mo Tribunal Federal. Estamos, hoje,exercendo uma das funções mais im-portantes, justamente a de equilíbriodos Poderes dentro da República, den-tro da Constituição.

Nesse ponto, com a permissão doeminente Sr. Ministro Oswaldo Tri-gueiro, não creio que tenhamos pode-res para dizer que o Senado não podesuspender uma resolução com base noart. 64.

Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro(Relator): — Se nós tivermos de jul-gar, amanhã, em grau de recurso or-rinário, mandado de segurança oriun-do de São Paulo, como poderemos nosescusar à apreciação da matéria?

Sr. Ministro Luiz Gallotti: —S. Excia. acha que, mesmo de meritis,

Supremo não pode anular o segun-do ato do Senado.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Talvez não tivesse sido claro.Vou pôr o problema nos termos emque o eminente Sr. Ministro Osval-do Trigueiro o colocou, há pouco, commuito brilho.

A primeira pergunta foi essa: podeSenado Federal revogar a sua reso-

lução tomada com base no art. 64?E e segunda, posta, aqui, pelo emi-nente Sr. Ministro Pedro Chaves:pode o Senado deixar de suspender alei que lhe é apresentada como incons-titucional?

Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro(Relator): — Infelizmente, pode, por-que não há prazo nem sanção. É o

que assinalei no meu voto. O Senadopode ser omisso durante vinte anos. '

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro —Tenho impressão de que o eminenteSr. Ministro Pedro Chaves, talvez pormá percepção minha, levantou a tesede que o Senado é obrigado a executaraquilo que o Supremo Tribunal Fe-deral disse, quando afirma a incons-titucionalidade de uma lei. A expres-são de S. Excia. foi: "o Senado é umexecutor das decisões do Supremo Tri-bunal Federal. Então, S. Excia. ad-mitiu que o Senado possa penetrar nojulgado do Supremo Tribunal e apre-ciar se Me está formalmente compa-tível com a Constituição, isto é, se Mefoi vetado por um quorum adequado,de acôrdo com o art. 200 da Cons-tituição, etc.

Aí, não. Acho que, quando o Su-premo Tribunal Federal decide, oacórdão que sai daqui tem, por si, apresunção de que o julgamento foitomado como tôdas as cautelas cons-titucionais.

Sr. Ministro Pedro Chaves • —Mas, ninguém pode chegar a essa pre-sunção sem as cautelas necessárias.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Será o próprio Supremo Tribunal

Federal que verificará se foram toma-das as cautelas, de acôrdo com as nor-mas legais adequadas. O Senado, ameu ver, não pode fazer isso. É maté-ria interna corporis.

Agora, o Senado, na minha opinião,tem discricionarismo político de sus-pender ou não. Se convier, ele sus-pende; se não convier, ele, ao invésde prestigiar a decisão do SupremoTribunal, pode tomar a iniciativa deuma emenda à Constituição, ou ficarinerte.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Era assim, no tempo da Carta de1937.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Só não poderá emendar se, com

isso, Me vier a ofender a Repúblicaou a Federação. São os dois limitesdo poder de emendar do CongressoNacional.

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O eminente Sr. Ministro PedroChaves citou a Constituição de 1937,que permitiu ao Poder Legislativo senão se conformasse com as decisões doSupremo Tribunal, anulá-las. E nóssabemos que, desgraçadamente, o di-tador, exercendo funções de Poder Le-gislativo em que se investira, suspen-deu, de fato, pelo menos um acórdãodo Supremo Tribunal, em 1939, ou1940 e, se não me falha a memória,num caso em que os Desembargado-res da Balda haviam pedido um remé-dio judicial para não pagar o impes-to de renda, que tara introduzido emredação aos magistrados, por um de-creto-lei de março daquele ano. Re-cordo-me muito bem, apesar de terocorrido há tantos anos do pungenteacórdão em que, nesse caso melancó-lico o eminente Ministro Carlos Ma-ximi/iano, um dos maiores nomes quepassaram por esta Casa, se referiu aoassunto, dizendo que ele aí não dariamais o remédio judicial, porque nãoficava bem ao Supremo dar, para nãoser cumprido. E, então, lembrou otempo em que se dava precedência aosjuizes nas cerimônias públicas. Foium dos acórdãos mais famosos da his-tória do Supremo Tribunal Federa/ emais dolorosos, mesmo prolatado nostempos mais atormentados desta COrte.

Agora, o que sustento é que o Se-nado tem o direito de dar ou não dara suspensão de lei impugnada comoinconstitucional. Pode fazê-lo, paraobservar se o Supremo Tribunal seestabiliza na matéria e vem a ter umajurisprudência predominante sabre ela.

Não podemos negar que, na histó-ria do Supremo Tribunal, a respeitode inúmeras teses, a sua jurisprudên-cia tem vacilado, e encontramos, àsvezes, num espaço pequeno de tempo,decisões declarando que tal lei é in-constitucional, e outras, que é consti-tucional, acerca de vários problemas.

Sabemos, acerca do art. 141, § 34,que se pode encontrar uma série dejulgados num e noutro sentido.

A respeito da possibilidade de umalei federal poder isentar do impOstoestadual ou municipal um serviço noqual a União tenha interesse, há

acórdãos nesses dois sentidos. E oscasos poderiam ser multiplicados aoinfinito.

O Senado tem o direito, mesmo de-pois da Súmula, de esperar que se pa-cifique, que afinal se tranqüilize o en-tendimento do Supremo Tribunal; por-que pode acontecer que passe a reso-lução numa tarde e, nessa mesma tar-de, resolva o Supremo que aquela lei,que era constitucional, seja inconstitu-cional. E pode ser, também, que o Se-nado prefira a reforma da Constitui-ção, para prevalecer o sentido da lei,pugnado pelo Supremo Tribunal; epode, também, não fazer nada, cruzaros braços, deixar a matéria em pontomorto, que nada lhe acontece, porquenão há qualquer sanção para a sua re-sistência.

Será justificável que o faça, às ve-zes, porque é velho que um Tribunalda altitude do Supremo Tribunal Fe-deral, ou da arte Suprema dos Esta-dos Unidos ou da Argentina, legisle,num caso concreto.

As vezes, há matizes, em cada caso,e aquela decisão que diz que a lei é.inconstitucional, assim procede em fun-ção de determinadas circtmstâncias edistinções, e não em face da lei.

Por essas razões, Sr. Presidente,adoto os votos de ambos os eminentesSrs. Ministros Relatores, não conhe-cendo nem do mandado de segurança,nem de reclamação. E, com ressalva arespeito desses poderes do Senado,que, a meu ver, podemos nos dispen-sar de apreciá-los, mesmo para nãonos comprometermos, desde já o quenão é necessário para a solução destecaso.

VOTOO Sr. Ministro Prado Kelly: —

Sr. Presidente, consinta o Tribunalque, antes de entrar, própriamente, naquestão relativa ao rerneditm) juris,chame a atenção dos eminentes Minis-tros para a unanimidade que se estáconstituindo quanto ao fundo da ques-tão ora debatida. Depara-se uma re-solução, uma deliberação do Senado,em contraste com o juizo que forma-mos do modo pelo qual ele deveráexercitar a sua missão constitucional.

16 R.T.J. 38

Le moi est haissable, diz o velhoprovérbio; fico de certo modo, cons-trangido ao lembrar as origens dessedispositivo, porque fui quem o propôs,na Constituinte de 1934. Mas por queo fiz?

A jurisprudência pacífica do Supre--mo 'Tribunal Federal negava a exten-são a outros interessados dos efeitosdas suas decisões. O julgado estava,como é de corrummis opinio, adstrito àquestão focalizada perante a Côrte. Sóem habeas corpus (impetrado o pri-meiro deles pelo Conselheiro Rui Bar-irosa, para assegurar a liberdade dereunião em praça pública) se admi-tiu a extensão da medida erga ornnes.

Então, acudia naturalmente aos es-tudiosos dos fatos jurídicos a conve-niência de instituir-se meio adequadoa pronta suspensão dos efeitos, paraterceiros, das leis oti regulamentos de-clarados inconstitucionais pela Supre-ma Cinte.

Foi uma inspiração de ordem práti-ca. Mas a fórmula, adotada pela Cons-tituinte de 1934, obedecia, ainda, a ra-zões de ordem técnica. O regulamen-to, a lei, podiam provir da União, dosEstados-Membros ou dos Municípios.Se se aguardasse a revogação, para al-cance gera/, de norma eivada de in-constitucionalidade, escaparia ao Legis-lativo Federal o ensejo, em muitos ca-sos, de corrigir os defeitos de diplomasestranhos à sua competência, como, porexemplo, os da órbita estadual ou mu-.nicipal.

Hoje, em Direito Público, a difi-'cuidado acha-se vencida. E vale comoparadigma o preceito correlato daConstituição italiana.

Note-se que a questão de "ilegitimi-dade constitucional" não implica, ne-cessàriamente, a revogação de textos,pois a regra é que uma lei só se re-voga por outra lei, um regulamentopor outro regulamento, uma norma pornorma de igual 'categoria.

Mas o estatuto italiano deu ao Pre-sidente da Côrte Constitucional a fa-culdade de declarar a ineficácia dedisposição normativa, reputada "ilegí-tima:' pela mesma arte.

Inspirado pelo precedente, o PoderExecutivo, se encaminhar ao Congres-so projeto que se converteu na Emen-da n.° 16, sugeriu a adoção daquelecritério, tecnicamente perfeito, pordistinguir, eximiamente, entre a incom-patibilidade da norma ordinária coma constitucional e a revogação das leisou regulamentos.

Mas o Senado reagiu à proposta doExecutivo e manteve o art. 64, comoestava redigido.

Em face desse artigo, qual a missãoque o Senado está exercendo?

A missão que o Senado exerce épolitica, e, do ponto de vista formal,não se confunde com a função legisla-tiva. Política, em virtude do princí-pio de harmonia entre os Poderes daUnião, o que ainda se reforça com ar-gumento de ordem histórica: na Cons-tituinte de 1933, se quis dar a um"Conselho Federal", que mais tarde setransformou em "Senado" (por emen-da redacional de undécima hora) oencargo de arbitrar dissídios entre osPoderes, e, então, o Senado exercita-ria ainda mais facilmente aquela atri-buição.

Mas, no sistema da Constituição de1891, restabelecido na de 1946, nãoexiste dúvida quanto à preeminênciada decisão judicial.

Quando o Supremo assenta a in-constitucionalidade de texto, não hácomo admitir a revisão do seu arestopor um órgão político.

Que lei não é, basta lembrar o Re-gimento do Senado. A expressão neleusada é "Resolução". Não é, sequer,"decreto legislativo", o qual corres-ponde à competência exclusiva do Con-gresso, nem "projeto de lei", que cor-responde a atos sujeitos à sanção pre-sidencial. Denomina-se "resolução"porque o Senado não encontrou outrotermo para melhor o caracterizar.

Nestas condições, indago, de mimpara mim, se o fundo da questão,como o focalizamos, comporta dúvidarazoável.

Pedindo escusas ao Plenário pelaextensão involuntário dada a este voto,passo a examinar a questão de renas-dium juris.

R.T.J. 38 17

Fácil seria sustentar que, na formada nova Emenda n.° 16, se depara ahipótese prevista na nova letra k, doinciso I do art. 101, da Constituição:

"Representação contra inconstitucio-nalidade de lei ou ato de naturezanormativa federal ou estadual, enca-minhada pelo Procurador-Geral daRepública."

Defronta-se aqui "ato de naturezanormativa", porque, desde que se es-tendem erga omnes os efeitos de umjulgado a singulis, temos caracteriza-da a feição geral e obrigatória do "atopolítico".

Mas qual a conseqüência?O Supremo, conhecendo da "repre-

sentação", declararia nula a segunda"resolução" do Senado. Subsistiria aprimeira, mas nada impede pronuncia-mento ulterior da Câmara Alta, dandotambém pela revogação daquela.

Volto a pedir escusas, recordandoum episódio do passado: fui, comoadvogado, um dos que postularam, pe-rante o Supremo Tribunal Federal, aadoção do instituto da "reclamação".Creio que V. Excia., Sr. Presidente,era o Relatar de um dos feitos, lá sevão muitos anos. Sustentávamos quedevia haver um expediente enérgico erápido, sempre que as decisões do Su-premo Tribunal Federal deixassem dereceber a obediência esperada.

Nos habeas corpus políticos, se so-licitou muitas Vazes, por esta via, aoSupremo Tribunal, a determinação demedidas capazes de assegurar a in-violabilidade de suas decisões.

No caso concreto, que lhe foi pre-sente por meu intermédio, tratava-sede matéria decidida em recurso extra-ordinário e reexaminada mais tardepelo colendo Tribunal de São Paulo.Esta Côrte acolheu a Representação evi, depois, que ela acabou consagradana Emenda n.° 15. O art. 1.° daEmenda dá-lhe tal elasticidade, quenele poderíamos incluir a hipótese,Pois diz, em princípio:

"O Supremo Tribunal Federal pode-rá admitir Reclamação do Procurador-Geral da República ou do interessadona causa, a fim de preservar e inte-

gridade de sua competência ou asse-gurar a autoridade de seu julgado."

Tôdas as vezes que estivesse emcausa a "autoridade" da decisão ou a"integridade" da competência, o casoseria de Reclamação. Mas sou forçadoa reconhecer, de acôrdo com os ilus-tres pré-opinantes, que, nos dispositi-vos que complementam o princípio,não se configurou a hipótese de quese trata.

Os artigos seguintes referem-se amedidas processuais, como sejam as deevocar o conhecimento do processo ad-ministrativo ou determinar o envio deautos do processo.

Parece que ficou limitado o âmbitodo instituto.

Tomo a indagar:— Qual é o obstáculo fundamentar

à concessão da segurança?

Argumenta-se que o vvrit se dirigecontra uma "lei" ou "quase lei".

Mas de "lei" ou "quase lei" não setrata, a meu ver. Na vigência da.Constituição de 1946 era restrita a.competência do Supremo, para consi-derar atos do Senado, porque, pelo.art. 101, inc. I, letra i, só cabia a estaCôrte conhecer de mandado de segu-rança contra ato do Presidente da Re-pública, de Mesa da Câmara ou do.Senado e do Presidente do próprioTribunal. Mas a Emenda n.° 16 dila-tou aquela competência, com admitiro pronunciamento desta Côrte nosmandados de segurança contra ato doPresidente da República, do Senado eda Câmara dos Deputados.

É certo que a doutrina relativa aomandado de segurança excluiu o cabi-mento dele contra "lei em tese".

Mas, se e Constituição se refere a"atos do Senado" (já não se cuida de"ato da Mesa") e se entre esses atosnão se inclui, por construção jurispru-dencial, a "lei" — que outro ato me-lhor exemplificaria a nossa competên-cia, senão o que ora apreciamos?

Por estes motivos, Sr. Presidenta,acompanho a argumentação vitoriosa(a meu ver) quanto à parte do mé-rito; até o instante, não ouvi uma sópalavra de justificativa à reconsidera-

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ção, pelo Senado Federal, de seu pri-meiro ato.

Concedo a segurança, porque a repu-to o meio mais expedito de fazer valer,neste caso, a autoridade do Tribunal,sem os inconvenientes que poderiaacarretar o deferimento da Represen-tação ou da Reclamação.

VOTOSr. Ministro Adalicio Nogueira:

Sr. Presidente, eu considero que, nocaso, não se trata prOpriamente deuma lei em tese, mas de um ato do Se-nado Federal, que o praticou em nomeda Constituição, para complementar,digamos assim, aquilo que o eg. Su-premo Tribunal Federal decidiu. Pra-ticando ta/ ato, o Senado Federal es-tava, por conseqüência, cumprindo mis-são constitucional, que lhe foi outor-gada, de acatar e complementar a de-

, cisão deste eg. Supremo Tribunal Fe-deral. Acho que se trata, como bemdisse o eminente Ministro Pedro Cha-ves, de um ato conseqüente de reso-lução anterior do Supremo TribunalFederal.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Permite o eminente juiz um

aparte?Eu queria ponderar a V. Excia. e

ao Tribunal aquela cláusula do art. 64:"incumbe ao Senado Federal suspen-der a execução, no todo ou em parte,de lei ou decreto declarados inconsti-tucionais por decisão definitiva do Su-premo Tribunal Federal."

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Mas, no todo ou em parte, se o Su-premo Tribunal Federal houver decla-rado a inconstitucionalidade, no todoou em parte, isso é evidente.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Com a devida vênia, o Senado Fe-

deral tem opção para aceitar a conve-niência de suspender um dos disposi-tivos, se forem mais de um, e não sus-pender os demais. Está na letra, estána própria essência...

Sr. Ministro Adalicio Nogueira:Não tenho aqui o dispositivo cons-

titucional, mas o que ao Senado com-

pete é, justamente, cumprir a decisãodo Supremo Tribunal Federal, man-dando, portanto, aplicar ou suspen-der...

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:O Senado não á um mero executor,

um mero carimbo de borracha, paradar autenticidade ao ato.

Sr. Ministro Adalicio Nogueira:Nos termos da Constituição, o Se-

nado, acatando a decisão do SupremoTribunal Federal, suspenderá a dispo-sição.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:A redação é a seguinte:

"Incumbe ao Senado Federal sus-pender a execução, no todo ou em par-te, de lei ou decreto declarados incons-titucionais por decisão definitiva doSupremo Tribunal Federal."

Êle tem, a meu ver, como está nestedispositivo, o poder de, se forem doisou três dispositivos, suspender um enão suspender os demais. O papel doSenado Federal não 6 de um simplescarimbo de borracha das decisões doSupremo Tribunal; Me tem uma opçãopolítica de achar conveniente suspen-der ou não.

Sr. Ministro Adendo Nogueira:Se é integro e completo, êle tem

de manter integralmente.Sr. Ministro Alienar Baleeiro:

Não há razão para se manter. Po-de ser que a nação inteira aceite umalei defeituosa, inconstitucional, e 10indivíduos, apenas, não a aceitem.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Se a incumbência não fesse investigara decisão do Supremo Tribunal Fede-ral, Me estaria legislando, revogandouma lei, sem a cooperação da Câmarados Deputados e do Presidente da Re-pública.

Sr. Ministro Adalicio Nogueira:Parece-me que a decisão do Supre-

mo Tribunal Federal está dentro dessaproporção. De maneira que, assimsendo, eu também voto, data vêniados eminentes Ministros que me ante-cederam e do eminente Ministro Alie-mar Baleeiro, que foi o voto que se

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seguiu imediatamente aos votos doseminentes Ministros Relatores, conhe-cendo, também, do mandado de segu-rança, para deferi-lo, nos termos dovoto dos eminentes Ministros PradoKelly e Pedro Chaves.

VOTO

Sr. Ministro Evandro Lins: —Sr. Presidente, dispõe o art. 1.° daL. 1.533, de 31.12.51:

"O mandado de segurança será con-cedido para proteger direito líquido ecerto sempre que, ilegalmente ou comabuso de poder, alguém sofrer viola-ção ou houver justo receio de sofrê-lapor parte de autoridade, seja de quecategoria fór e sejam quais forem asfunções que exerça."

Cabe ao Supremo Tribunal Federaljulgar os atos do Senado Federal, deacôrdo com o ìi 1.°, acrescentado aoart. 101 da Constituição pela Emen-da nP 16, de 1965.

Discute-se se se trata de lei em teseou de ato administrativo. Não meparece que se trate de norma legisla-tiva, mas de ato agi generis. O Mi-nistro Prado Kelly mostrou que não

lei.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Permite V. Excia. um aparte? Oeminente Ministro Prado Kelly, datavênia — e S. Excia sabe com querespeito divirjo dele — afirmou quenão era lei, mas depois concedeu queera um ato de caráter normativo.

Sr. Ministro Evandro Lins: —seu nome é Resolução. Lei não é,

porque, se o fôsse, haveria de ser apro-vada pelas duas Casas do Legislativo:

Senado e a Cêmara, e sancionadapelo Presidente da República. Por-tanto, lei não é. É um ato do Senado.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:nome não importa. O orçamento

designado, na Constituição, como tal,outras vezes por lei orçamentária, e

não é, materialmente, uma lei.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Trata-se de ato cuja destinação é tor-nar obrigatória, em relação a todos —erga ornes uma decisão do Supremo

Tribunal Federal. Uma vez que o Se-nado Federal determinou a suspensãoda lei, de acêrdo com o art. 64 daConstituição, essa sua decisão passa,então, a operar para todo o país, emrelação a todos os cidadãos, ergaonmes.

Senado não podia mais voltaratrás, como o Supremo Tribunal Fe-deral também não o poderia, em re-lação à decretação de inconstituciona-lidade da lei. É essa a opinião do pre-claro Pontes de Miranda, à f. 463,do tomo II, dos seus Comentários àConstituição de 1946.

"Suspensa a lei, não pode mais oSupremo Tribunal Federal, ou qual-quer tribunal, ou juízo, aplicá-la: nãoé eficaz, portanto não incide. Se novalei se faz e o Supremo Tribunal Fe-deral não na tem como contrária àConstituição, é essa lei — e não ou-tra, a que sofreu suspensão — quese aplica. Não há suspensão de sus-pensão, bem que, ao primeiro exame,nos tivesse parecido admissivel a voltaatrás do Supremo Tribunal Federal edo Senado".

Dr. Moino Salazar (Procura-dor-Geral da República): — PermiteV. Excia. uma ponderação? Todo atodo Estado, do Poder Público, invarià-velmente, pode ser legislativo, admi-nistrativo ou judicial. Fora daí não háclassificação possível. Então esse atotem que ter um conceito, tem que serfixado numa dessas três categorias,fora das quais não existe função, atodo Estado.

eminente Ministro Prado Kellyentendeu que, por se tratar de umaresolução, era ato de natureza admi-nistrativa.

Sr. Ministro Prado Kelly: —Não cheguei a dize-lo. Com a devidavênia de V. Excia. não fiz essa afir-mação. O que declarei é 'que era umato político, de alcance normativo.Isto o é, efetivamente. Para mim, seele se aproxima mais das leis do quedos atos administrativos, é questão se-cundária, em face do meu argumentesabre a competência.

Sr. Ministro Evandro Lins: —A realidade é que lei não é. Que

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V. Excia. o classifique como ato ad-ministrativo ou como lei, ou lhe dêqualquer outra denominação, a reali-dade é que se Me é ilegal, ou se foipraticado com abuso de poder, podeser corrigido pelo Supremo TribunalFederal, que tem competência originá-ria para apreciar os atos do SenadoFederal, através do mandado de se-gurança, que é um recurso amplo con-tra todos os atos ilegais, que podemresultar em prejuízo para os interes-sados.

Sr. Ministro Victor Nunes: —V. Excia. permite uma ponderação?Quando o Supremo Tribunal nega ca-bimento ao mandado de segurançacontra lei em tese, tem usado a pala-vra lei no seu sentido mais amplo, nosentido de norma ou ato normativo.Por isso é que, ate em casos de segu-rança impetrado contra portarias mi-nisteriais ou contra decretos do Pre-sidente da República, que tenham ca-ráter normativo, não temos conhecidodo mandado de segurança.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Depende do caso.

Sr. Ministro Victor Nunes: —O que se leva em conta e a naturezado ato, não a sua hierarquia. Sendoo ato de substância legislativa, isto é,normativa, não se configura ainda umalesão do direito individual. E é alesão de direito individual, ainda queiminente, que o mandado de seguran-ça protege.

Sr. Ministro Evandro Lins: —V. Excias. vão ver que já temos de-cidido que, quando há lesão (e tenhoaqui, inclusive, um memorial em quehá decisões do Supremo Tribunal... ).

Sr. Ministro Victor Nunes: —Pediria permissão a V. Excia. paracompletar as ponderações que vinhafazendo.

Parece-me que poderíamos afastartôda essa discussão, examinando maisatentamente a sugestão que há poucofez o Dr. Procurador-Geral. Existe,agora, pela E.C. 16, um procedimentoconstitucional que nos permite enre-dar os atos normativos em tese, quan-

to à sua constitucionalidade, indepe-dentemente de uma lesão de direitoindividual. De outro lado, o proces-so que estamos examinando tem todosos requisitos formais da representaçãode inconstitucionalidade, porque foiencampado, pelo Procurador-Geral, quetem a iniciativa da representação, ten-do sido ouvida a autoridade cujoato se impugna. .élk vista disso, se con-cordarmos em conhecer do caso comorepresentação, afastaremos tôdas as di-ficuldades sôbre o cabimento de recla-mação ou mandado de segurança, por-que iá indiscutível que cabe o processode representação.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Para atingir essa finalidade (Vossa Ex-celência me perdôo, pois, infelizmen-te, estamos ouvindo um pouco tarde,já na altura da votação final, a opi-nião de V. Excia.), eu disse, no meuvoto, que conhecia como mandado desegurança, como representação ou comoreclamação.

Sr. Ministro Victor Nunes: —Parece-me indiscutível o voto de Vos-sa Excelência, quando conclui pelo ca-bimento da representação.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Eu conheço de qualquer remédio parareparar o direito lesado, dentro danossa competência.

Sr. Ministro Victor Nunes: —Se a representação é o processo pró-prio, porque fazermos raciocínios ela-borados para que a medida caiba emoutro procedimento menos próprio? SecOnhecermos do caso como representa-ção, estará tudo resolvido, quanto àpreliminar. Mas o que está aconte-cendo é que, na discussão da prelimi-nar já estamos prejulgando o mérito.Conheçamos, então, do pedido comorepresentação e passemos ao exame domérito.

Sr. Ministro Carlos Medeiros: —Não há representação em officio.

Sr. Ministro Victor Nunes: —A representação é sempre de iniciati-va do Procurador-Geral, mas Sua Ex-celência já perfilhou o pedido comorepresentação. Fez há pouco um Mei-

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do pronunciamento oral, transforman-do seu parecer em representação deinconstitucionalidade.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Muito obrigado pela valiosa contribui-ção de V. Excias. Prossigo em meuvoto: Estou em que o mandado desegurança é cabível. Mesmo que setratasse de lei ou de decreto, que nãoé o ato impugnado, já temos decidido,como lembrou o ilustre advogado im-petrante, ser cabível o mandado desegurança. São citadas decisões. Nãohá uma formulação, na Siar' nula, quenão permita atender aos casos con-cretos.

Sr. Ministro oswaldo Trigueiro(Relator): — Isso não ocorre na hi-pótese. Só há obrigação se o Estadotomar a iniciativa de executar o de-vedor. Se não tomar, a Resolução doSenado é inócua.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Lógico. Sem qualquer procedimentoadministrativo, não se aplica a leique permite cobrar o tributo, não te-nho dúvida.

Assim, Sr. Presidente, apesar de en-tender cabível o mandado de seguran-ça, para obviar a dificuldade, umavez que estamos todos de acôrdo emrelação ao mérito, adiro à sugestãofeita pelo eminente Ministro VictorNunes para que, caso não se conheçado mandado de segurança ou da recla-mação, se conheça do pedido como re-presentação, uma vez que está devida-mente instruído.

Portanto, conhecendo da representa-ção, eu a julgo procedente, para anu-lar a segunda resolução do Senado Fe-deral; ou concedo o mandado de se-gurança, ou, também, julgo proceden-te a reclamação, qualquer que seja afórmula que se queira acolher.

EXPLICAÇÃO

Sr. Ministro Adalleio Nogueira:— Sr. Presidente, eu me referi, tam-bém, ao mandado de segurança; mas,pode ser reclamação. Se se conhecer,está no pressuposto.

La EXPLICAÇÃOSr. Ministro Ribeiro da Costa

(Presidente): — Peço a atenção doseminentes colegas.

Tendo sido sustentada a preliminarde que cabe, no caso, em última aná-lise, a representação, estabelecido esteponto de vista pelo eminente SenhorProcurador-Geral da República e, tendoem atenção, ainda a economia proces-sual — porque é tempo perdido estaro Tribunal a discutir tese em Vamo docabimento do mandado de segurança eda reclamação para, a final, chegar àrepresentação — tendo em vista essesentido prático da questão preliminar,.parece-me ser necessário pô-la a votos.

Tribunal conhece do caso comorepresentação?

Sr. Ministro Carlos Medeiros: —V, Excia. não terminou, ainda, a vo-tação da outra preliminar: se conheceda reclamação, ou do mandado desegurança.

Sr. Ministro Ribeiro da Costa(Presidente): — Estou suspendendo ojulgamento, de acôrdo com o ponto devista do Sr. Procurador-Geral da Re-pública, que é a parte principal noprocesso, de que é parte principaltambém o reclamante e impetrante,para submeter a votos, pelo Tribunal,se cabe ou não a representação. Se oTribunal entender que cabe a repre-sentação, preliminarmente, depois to-marei os votos sôbre a matéria demérito.

VOTO SOBRE REPRESENTAÇÃO

Sr. Ministro Ossvaldo Trigueiro(Relator): — Sr. Presidente, fui Re-lator apenas do mandado de segurança.Nessa qualidade não poderia conhecerdo pedido a outro título. Aliás, con-tinuo convencido de que á incabível opedido originário ao Supremo Tribu-nal. A Resolução do Senado, por sisó, não representa ofensa, nem ameaça,ao direito de qualquer contribuinte.

Também não me pronunciei sôbre areclamação, relatada pelo Sr. MinistroCarlos Medeiros, porque sôbre elaainda não fui chamado a votar.

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Quanto a conhecer da espécie comorepresentação, entendo que não poderiafazê-lo ex officio, porque a repre-sentação depende de iniciativa do Pro-curador-Geral da República.

Mas agora, já que o Dr. Procurador-Geral toma essa iniciativa, pedindoque seu parecer seja convertido emrepresentação, dela conheço e a julgoprocedente, pelas razões constantes demeu voto.

VOTO SOBRE REPRESENTAÇÃOSr. Ministro Carlos Medeiros

Silva: — Conheço como representação,de vez que o Sr. Procurador-Gera/da República assim postulou, nestaassentada, e o processo está instruídodevidamente. A autoridade represen-tada no caso, o Senado Federal, jáprestou informações.

VOTO PRELIMINARSr. Ministro Alioniar Baleeiro: —

Sr. Presidente, conheço como repre-sentação, embora ainda não haja umalei regulamentando o exercício delaem relação a leis federais. Conheçoporque, quando entrou em vigor aConstituição de 1946, também nãohavia lei regulamentando o exercíciodesse remédio por parte do SenhorProcurador-Geral da República, e creioque foi Temistocles Cavalcanti queencaminhou as primeiras, independen-temente de um texto legislativo; e oSupremo Tribunal Federal considerouauto-aplicável o dispositivo constitu-cional,

Por estes precedentes, dado que oSr. Procurador-Geral da Repúblicaassumiu a autoria da reclamação etambém o Senado Federal foi ouvido,embora em um prazo menor do queaquele que é concedido às Assembléiasdos Estados em circunstâncias análogas,repito: em face do precedente, co-nheço da representação.

VOTO SOBRE REPRESENTAÇÃOSr. Ministro Prado Kelly: —

Sr. Presidente, conheço da represen-tação, como conheci do mandado desegurança.

SEGUNDA EXPLICAÇÃOSr. Ministro Ribeiro da Costa

(Presidente): — A matéria de méritojá foi debatida pelo substancioso votodo eminente Sr. Ministro Relator. Ovoto de S. Excia. foi secundado, tam-bém quanto ao mérito, pelos eminentesSenhores Ministros que já se manifes-taram.

Está-me parecendo que, sôbre estaparte, o Tribunal tem ponto de vistaconcorde. Entretanto, se não tem, da-rei a palavra a qualquer dos eminentesSrs. Ministros que deseje se mani-festar sôbre o mérito.

VOTO SOBRE REPRESENTAÇÃOSr. Ministro Victor Nunes: — A

questão que ora se discute é muitoimportante. O debate se alongou,abrangendo vários aspectos constitu-cionais, e, como dizia há pouco oSr. Ministro Oswa/do Trigueiro, émuito difícil responder com "sim" ou"não".

Em primeiro lugar, Sr. Presidente,apóio, em parte as considerações doSr. Ministro Aliomar Baleeiro, porque

Senado não é um autômato na apli-cação do art. 64 da Constituição.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Sr. Ministro, no meu voto, cheguei adizer que o Senado não era um meroregistrador de decisões do SupremoTribuna/ Federal. Ninguém atribuiuao Senado Federal a função sectmdária

deprimente de dizer amém paraaquilo que o Supremo Tribunal diz.

V. Excia sustentou a opinião doeminente Sr. Ministro Aliomar Bale-eiro, ponto de vista contra o qual nadatenho a impugnar, mas quero salientarque não fiz essa injúria de dizer que

Senado não é nada, que o Senadoé um "batedor de carimbos de bor-racha" das decisões deste Tribunal.

Sr. Ministro Victor Nunes: —Eu apenas dizia que entendo, como oSr. Ministro Baleeiro, que o Senadonão é um autômato na aplicação doart. 64. O Senado pode, a meu ver,julgar da oportunidade de suspenderou não a execução de lei que tenhamosdeclarado inconstitucional. E há de

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levar em conta, em tais circunstancias,a possível oscilação da jurisprudênciado Tribunal, como foi observado.

Não me refiro, neste passo, à cláu-sula constitucional que permite aoSenado suspender "no todo ou emparte" a lei declarada inconstitucional,porque me parece evidente, como disseo Sr. Ministro Adalício Nogueira, queessa referência da Constituição estávinculada à extensão do julgado doSupremo Tribunal.

Senado não pode, por iniciativaprópria, suspender a vigência de umalei qualquer. Ele só pode suspenderuma lei no pressuposto de haver oSupremo Tribunal decidido contra asua validade. Está, pois, na contin-gência de observar os limites do queo Tribunal decidiu, porque o Senadonão pode alterar a nossa decisão. Seo Senado, ao suspender a vigência deuma lei, pudesse acolher apenas partedo que decidimos e desprezar orestante, `o resultado, em tese, poderiaser contraproducente, especialmentequando as diversas partes do julgado/Usem indissociáveis.

Sr. Ministro Alio= Baleeiro: —Por exceção, a Constituição Brasileira'concede esse direito.

Sr. Ministro Victor Nunes: — AConstituição não deu ao Senado, no:art. 64, o poder de vetar parcialmenteas decisões do Supremo Tribunal. Porisso, ele suspenderá no todo ou em-parte a lei, consoante o Tribunal hou-ver declarado a lei inconstitucional notodo ou em parte.

Mas o Senado terá o seu própriocritério de conveniência e oportunidadepara praticar o ato de suspenção. Seuma questão foi aqui decidida pormaioria escassa e novos Ministros sãonomeados, como há pouco aconteceu,é de todo razoável que o Senado-aguarde nevo pronunciamento antes desuspender a lei. Mesmo porque nãohá sanção específica nem prazo certo-para o Senado se manifestar.

Vem, agora, o problema da naturezado ato que o Senado pratica, quando-suspende a execução de uma lei, emobediência a decisão do Supremo Tri-

bunal. Esse ato, por um lado, é evi-dentemente executório, ou secundário,ou complementar, como disse o SenhorMinistro Pedro Chaves, porque ele dãopoderia ser praticado, se não preexis-tisse a decisão do Supremo Tribunal.Sendo um ato vinculado à decisão, ésecundário, complementar ou execute-rio em relação a ela.

Por outro lado, esse ato não deixade ser normativo. Se a lei é normativae o Senado, ao suspendê-la, retira aeficácia da lei, ele acrescenta algumacoisa à decisão, e esse acréscimo temfôrça tão normativa como a da lei queé posta fora de circulação. Se essaeficácia normativa, que suspende a lei,não derivasse da resolução do SenadoFederal mas do julgado do SupreinoTribunal, a intervenção do Senadoseria desnecessária: a decisão seriaexecutada, desde logo, com efeito nor-mativo. Mas não é este o nossosistema. Daí a necessidade de seacrescentar um Atue à decisão judi-ciária, tornando-a obrigatória ergaomnes, por ser ela, por natureza, obri-gatória sàmente para as partes.

O Sr. Ministro Pedro Chaves: —Funciona como extensão, como escla-receu o eminente Sr. Ministro PradoKelly, porque a decisão judicial éproferida no caso e pela corno/erram-tação do Senado Federal fica extensívela todos, fica suspensa a execuçao.

O Sr. Ministro Victor Nunes: —Perfeitamente, mas eu diria que é hmpouco mais que extensão, porque de-pois que o Senado aprova Resoluçãosuspendendo e lei, os Tribunais nãomais a podem aplicar. Para todos osefeitos, a lei, em tal caso, se considerarevogada.

Mb importa que a lei tenha ema-nado de outro Poder (decreto-lei), oudas duas Câmaras com a colaboraçãodo Presidente. A Constituição é queregula como se fazem as leis e comose revogam. Se a Constituição previu,na hipótese que estamos discutindo,um modo especial de revogação de lei,não podemos negar-lhe obediência; aConstituição há de prevalecer.

Por tudo isso, parece-me que o atesuspensivo do Senado é de natusezanormativa, porque tem o efeito de

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revogar a lei. Por ser normativo, comesse efeito revocatório da lei, parece-m, de todo evidente que o Senadonão pode voltar atrás, pois a lei re-vogada só se restaura por outra lei.O Senado só poderia restaurar a leique ele, ao suspender, revogou, setivesse poder legislativo autônomo, setivesse o poder de fazer a lei origi-nária. Mas esse poder ele não tem,sequer, quanto às leis federais, muitomenos quanto às estaduais, como é ocaso dos autos.

Acolho, portanto, a representação.

EXPLICAÇÃOSr. Ministro Aliornar Baleeiro: —

Sr. Presidente, peço a palavra paraesclarecer meu voto.

V. Excia. está computando meuvoto vencido no mérito, da represen-tação da Procuradoria-Geral, no caso,quando enunciei, inicialmente...

Sr. Ministro Ribeiro da Costa(Presidente): — Por enquanto o queconsta da minuta de julgamento é oseguinte: Conheceram do pedido comorepresentação, julgando-a procedentepara anular o ato impugnado. Restam,agora, os votos que podem diferir.

Sr. Ministro Aliemar Baleeiro:Tive a impressão de que V. Excia.

iria facultar a quem quer que fôsse,votar sôbre o mérito. Porque, quandome pronunciei, inicialmente, me referi,apenas, à preliminar do não conhe-cimento, quer da reclamação, quer domandado de segurança. E disse, mes,ato: não sendo necessário decidir sôbreo mérito, pois não teria razão parame alongar sôbre ele. Agora, quantoao mérito, voto contra o provimentoda representação.

Creio — e, nisso, divirjo do emi-nente Sr. Ministro Victor Nunes Leal,

que é lícito ao Senado rever asua resolução. Creio que S. Excia.está equiparando duas hipóteses dife-rentes. S. Excia., como ouvimos aqui,considerou o ato do Senado com apoiono art. 64 a urna revogação de urnalei. Não. O que o texto diz, inega-velmente, é que a suspensão daexecução é uma situação de direito;

não' é única em nossa Constituição,no art. 64.

Além do caso do art. 64, temos umoutro exemplo de que uma lei Podeficar em vigor e ter sua execução sus-pensa. Veja V. Excia., por exemplo,

art. 141, § 34. Ali, há dois prin-cípios: que um tributo deve ser sempredecretado por uma lei; mas que a suacobrança em cada exercício dependeráde uma prévia autorização orçamen-tária. Então, que acontece se o Con-gresso — estou discutindo no planofederal — ou uma Assembléia deEstado não concedeu autorização orça-mentária para cobrança de um impôstoem determinado orçamento, emboranão haja sido revogada a lei que de-creta esse impaste? A lei está em vigor;apenas faltou o ato que dá eficáciaàquela lei, naquele exercício. Pode oCongresso achar conveniente não re-vogar a lei. e deixá-la para quandojulgar oportuno utilizá-la. E, num de-terminado exercício, considerar que areceita daquele impOsto ou conveni-ência da politica possam não acon-selhar a cobrança, naquele ano.

caso não é único, por isso reco-nheço ao Senado o poder de suspender

rever o seu ato e fazê-lo em qual-quer tempo. Poderia, também, chegarà conclusão de que mais convémaguardar aquela hipótese já aqui ex-posta pelo eminente Sr. MinistroVictor Nunes: uma mudança, porexemplo, da composição do SupremoTribunal, quando a margem de votaçãofoi mínima, apenas um voto de dife-rença, como é, por exemplo o caso dastaxas de incêndio de Pernambuco eMinas Gerais. A diferença de votaçãoé muito pequena, nesse caso. Comopoderia, também, preferir o processoda emenda constitucional.

Por essas razões, não querendo mealongar quanto ao mérito, indefiro arepresentação.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Se V. Excia acha que o Senado poderever...

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— O Senado Federal é um órgão po-lítico; pode rever.

R.T.J. 38 25

Sr. Ministro Hermes Lima: —... isto significa que ele pode deixarde cumprir o acórdão do SupremoTribunal que declarou a lei inconsti-tucional.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Pode. Suspenderá a lei se quiser e

achar conveniente. Mas tem discricio-narismo para não fazê-lo. Não háqualquer sanção para o Senado se nãosuspender a lei na forma do art. 64.

Permita V. Excia. Esqueça, nestemomento, que é um juiz, e volte aotempo em que era político e professorde Introdução à Ciência de Direito.Imagine uma hipótese que ocorreu emoutro país: determinado Estado estáprofundamente conturbado por um pro-blema político, por exemplo, aquelesEstados do Sul dos Estados Unidos,em 1860, e uma decisão, por exemplo,a do célebre caso Dred Scott, pode serprovocada por dois indivíduos, ou porum só indivíduo, enquanto todos osdemais querem cumprir a lei. Issopode provocar tamanha irritação noEstado, que o leve a tomar de armas,como lá aconteceu, em parte, por efeitodo acórdão sôbre Dred Scott.

Então, o Senado não está preso àdisciplina jurídica, não está preso ,,àsformes de direito, e pode optar porcritérios políticos; pode preferir "sus-pender a sua suspensão", para paro-diar Pontes de Miranda, e evitar ummal maior para o País.

A Constituição não é, apenas, umOráculo de Delfos em matéria de or-dem jurídica. Ela é para fazer andaro país; não é para fazer parar a vidado País.

VOTOSr. Ministro Hermes Lima: --

Sr, Presidente, a Resolução n.° 32,do Senado, suspendeu, em função doacórdão do Supremo Tribunal Federalque o declarou inconstitucional, o ar-tigo de lei definido nesse acórdão, naletra p. E, mais tarde, cinco anosdepois, a Resolução 93 suspendeuaquela Resolução 32. Creio que nãopoderia fazê-lo. E não poderia fazê-loporque não ocorreram motivos de or-dem pública.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro;— Isso compete a ele, e não e nós.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Mesmo admitindo que o pudesse fazer,teOricamente, no caso o Senado Federalnão apresentou razões de ordem pú-blica que lhe determinassem esse gesto.Mas, a meu ver, ele não poderá sus-pender uma Resolução que já mandoususpender a execução, no todo ou emparte, de lei declarada inconstitucionalpelo Supremo Tribunal Federal. OSenado, normalmente, não pode deixarde ser obrigado a suspender, no todoou em parte, lei declarada inconsti-tucional pelo Supremo Tribunal Fe-deral. E não pode, exatamente, porquea nossa decisão é relativa ao casoconcreto. Mas, seria injusto que elanão se aplicasse, também, a todos osinteressados.

Por outro lado, o Senado é, normal-mente, doutrinariamente, obrigado, pelaautenticidade da vida constitucional,que não repousa ~ente nos limitesliterais do texto escrito, mas repousana filosofia do regime que inspira aseriedade política dos que ocupam car-gos públicos.

Se fôsse dado ao Senado permaneceraguardando a oportunidade melhor oupior de executar uma decisão do Su-premo Tribunal Federal, suspendendoa execução de lei em todo ou em parte,isso tiraria tôda a seriedade, tôda adignidade da vida constitucional. Avida constitucional passaria a ser entãoum gigo de interesses em que um dosramos do Poder da República poderiaficar esperando a maré oportuna ounão para suspender ou deixar de sus-pender um ato do Senado Federal.

Estou de acôrdo com os eminentesRelatores Oswaldo Trigueiro e CarlosMedeiros.

No mérito, julgo improcedente arepresentação, pelo fundamento deque o normal será, quando o Estadocobrar o impôsto, os interessados ve-nham, por um mandado de segurançaque não será originário mas que aca-bará sendo, manifestado ao SupremoTribunal Federal. E a maneira maisnormal.

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VOTOO Sr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — Sr. Presidente, estou com oseminentes Ministros que consideraramque o Senado Federal tem discrição,tem oportunidade para suspender ali declarada inconstitucional pelo Su-premo Tribunal Federal.

A matéria é de ordem politica, flor-nzalmente, pelo princípio de igualdadede todos perante a lei. Por isso mesmo,deve o Senado Federal suspender aexecução da lei declarada inconstitu-cional pelo Supremo Tribunal Federal.

Mas, às vezes, comd foi realçadoneste Tribunal, a decisão é tomada portun voto apenas; estando na iminênciade serem substituídos os Ministros doTribuna/ ou por motivos quaisquerde conveniência, é lícito deixar aoSenado Federal a faculdade de delon-gar, de deixar passar um espaço detempo maior, a fim de levar a Plenário

decisão sôbre a inconstitucionalidadeda lei decretada pelo Supremo Tri-bunal Federal.

Mas o que me parece certo, SenhorPresidente, é que, tendo-se manifestado

Senado Federal a respeito, nos ter-mos do art. 64 da Constituição,estabeleceu-se o princípio de ca-ráter, político-normativo, suspendeu-see4 execução da lei e, assim, não podemais voltar atrás o Senado, para des-prestigio da decisão do Supremo Tri-buna/ Federal. Se o fizesse, passariaa julgar, a meu ver, da inconstitu-donalidade da lei afirmada pelo órgãomáximo encarregado de assim decidirpeia Constituição da República. OSenado não poderá fazê-lo.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Senado diz que a sua decisão res-

tabelece a lei que o Supremo Tribunaljá havia declarado inconstitucional.

Sr. Ministro Luiz Gallotti: — Oque não poderia fazer, mesmo quea lei Visse federal, acresce que a leie estadual.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — O Senado, manifestando-se,dá-se a exaustão da sua competência,não pode voltar atrás e. fazendo-o,comete ato anulável pelo Supremo

Tribunal Federal, pela competênciaque a Constituição e a E.C. 16 derama este alto Pretório.

VOTOO Sr. Ministro Cândido Moita

Filho: — Sr. Presidente, acho que oprocesso da inconstitucionalidadefeito para garantir, acima de tudo, apermanência da ordem jurídica e dasegurança jurídica.

Quando o Senado Federal, com oseu conteúdo político, suspende, notodo ou em parte, uma lei declaradainconstitucional pelo Supremo TribunalFederal, ele baixa uma resolução, queganha sentido e firma para o Pais ageneralidade daquilo que foi julgadoem particular pelo Supremo Tribunal.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — É o principio da igualdadede todos...

Sr. Ministro Cindido Moita Fi-lho: — É o principio da igualdadede todos perante a lei. O SenadoFederal não pode, de maneira alguma,revogar essa resolução, sob pena detrazer ao País a insegurança jurídica,que é a base d& ordem constitucio-nal.

VOTOSr. Ministro Luis Gallotti: —

Enquanto ouvia os eminentes colegase o eminente Procurador-Geral daRepdlica, tomei algumas notas e,com base nelas, passo a proferir omeu voto:

ato do Senado, previsto no arti-go 64, da Constituição, não é um ato

Se fase, teria que competir não sóao Senado mas, também, à Câmara,dependendo ainda de sanção do Presi-dente da República.

Se fôsse, não poderia abranger leisestaduais, como é a de que se trata,conforme bem assinalou, em seu votomagistral, o eminente Ministro PradoKelly

Trata-se de atribuição, que o arti-go 64 da Constituição confere ao Se-nado, de suspender, no todo ou emparte, a execução dei lei declarada in-constitucional, no todo ou em parte,pelo Supremo Tribunal, fazendo com

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que a decisão deste produza efeitoerga omnes. Porque as decisões ju-diciais, em nosso sistema, têm seu al-cance limitado às partes em litígio,salvo nos casos de representação doProcurador-Geral da República sôbreinconstitucionalidade em tese (inova-ção trazida pela Constituição de 4'6).

ato do Senado é complementarde uma decisão judicial, ampliativodos efeitos desta.

Em nosso regime, prevalece, comonos Estados Unidos, o chamado sis-tema de freios e contrapesos. Cs Pre-sidente da República pratica ato denatureza legislativa, quando sancionaou veta. O Poder Legislativo praticaato administrativo, quando nomeia.O mesmo ocorre com o Poder Judi-ciário. Assim, também, o Senado nãopratica ato legislativo no caso queestamos examinando e em outros,como, por exemplo, quando aprova,antes da nomeação, escolhas feitaspelo Presidente da República, quandojulga este, ou os Ministros do Supre-mo Tribunal, etc.

Pode o Senado, ao exercer a atri-buição que lhe confere o art. 64 daConstituição, rever, em sua substân-cia, a decisão do Supremo Tribunal?

Não. Poderá, quando muito, ver sefoi observado o quorum do art. 200da Constituição, etc. (aspectos for-mais).

Mas isso não está em causa.eminente Ministro Oswaldo Tri-

gueiro, para não admitir o mandadode segurança, argumentou com a hi-pótese de promulgar o Estado novalei igual à que o Supremo julgara in-constitucional e cuja execução o Se-nado suspendera. Não caberia o man-dado de segurança por ser contra leiem tese. Ora, na hipótese, haverá leiem tese. Mas lei em tese não é, comovimos, o ato do Senado que, comple-mentando decisão do Supremo, apenassuspende os efeitos da lei julgada in-constitucional.

eminente Ministro Prado Kellyinvocou, muito bem, a E.C. 16, queadmite mandado de segurança contraatos do Senado e não apenas contraatos de sua Mesa, como dizia a Cons-tituição de 1946 em seu texto primiti-vo (art. 101, n.0 /, i).

Mesmo antes da Emenda n.° 16,no mandado de segurança requeridopelo Sindicato dos Bancos contra aResolução da Câmara que ordenara apublicação de inquérito feito no Ban-co do Brasil, entendi, e entendeu oTribunal, que se deveria ter comoimplícita a competência do Supremapara conhecer, também, de mandadode segurança contra atos da própriaCâmara, pois o mandado de seguran-ça cabe, seja qual fôr a autoridaderesponsável (Const., 141, 24) e ou-tro Tribunal não existe acima do Su-premo.

Assim, conheço do mandado de se-gurança. Se não conhecido pelo Tri-bunal, eu conheceria do pedido comoreclamação.

Objetou, de inicio, o eminente Pro-curador-Geral que o caso seria de re-presentação, mas que o julgamentodesta depende de informações, a.quais não são solicitadas na reclama-ção. Na verdade, são. Mas tenhosempre entendido, e tem decidido oTribunal, que o fato de caber a re-presentação não exclui o uso, pelo.interessados, de outros remédios ju-diciais. Porque a representação com-pete privativamente ao Procurador-Geral da República. Sua Excelênciaé livre de usá-la, ou não. Logo, nãose deve retirar aos interessados a -sibilidade de recorrerem aos outrosremédios cabíveis.

Objetou o eminente Ministro Alio-mar Baleeiro que o Senado poderianão cumprir a decisão que viéssemos.a tomar contra o ato impugnado, semincorrer em qualquer sanção, pois ne-nhuma está prevista na Constituiçãoou na lei. Isso me faz lembrar oque ocorreu, quando Presidente daRepública o inolvidável EpitácioPessoa. Estava o Presidente em SãoPaulo e jornais do Rio estranharam,que, estando a terminar o prazo legalde 30 dias para preenchimento deuma vaga no Supremo, esta continuas-se aberta. Epitácio telefonou a Pires-e Albuquerque, então Ministro Pro-curador-Geral da República, indagan-do se a lei lhe fixava aquele prazo.Pires respondeu afirmativamente.Perguntou então Epitácio: Mas a lei'prevê sanções para o caso de não serobservado o prazo? Esta a resposta.

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de Pires, que a intimidade entre osdois lhe permitia: a lei não prevêsanções, porque supõe que o Presidenteda República cumpra o dever que elalhe impõe.

No caso, anulada a segunda Resolu-ção do Senado, prevaleceria a pri-meira.

Depois do seu pronunciamento ini-cial, o eminente Procurador-Geral, ve-rificando que houvera pedido de in-formações e que estas foram presta-das, concordou em que o caso seriade representação, endossando-a, por-tanto.

Isso nos permite conhecer da ma-téria por esse meio, caso o Tribu-nal decida não conhecer do mandadode segurança ou da reclamação (euconheceria por qualquer destes doismeios, conforme sustentou, em seubrilhante voto, o eminente MinistroPedro Chaves).

Quanto ao mérito, os eminentes Mi-nistros Oswaldo Trigueiro e PradoKelly fizeram cabal demonstração deque o pedido é procedente.

Estou de ackdo com os eminentesMinistros Victor Nunes e AliomarBaleeiro em que o Senado, atendendoa razões de conveniência e oportuni-dade, pode suspender, ou não, a exe-cução da lei declarada inconstitucio-nal, estendendo ou não, erga numes,os efeitos da decisão do Supremo.

O que não pode é, depois de sus-pender, baixar nova Roso/mão, parainterpretar o acórdão da Côrte Su-

prema, restringindo-o. Porque isso se-ria, no caso, revigorar o Senado, emparte, uma lei estadual (o que nãopode) ou revigorar, em casos outros,uma lei federal (o que também nãopode, sOzinho).

Julgo procedente a Representação,urna vez que por este meio decidiu oTribuna/ conhecer da matéria, ao eco,lher a proposta do eminente Minis-tro Victor Nunes.

DECISÃO

Como Consta da ata, a decisão foie seguinte: Conheceram do pedidocomo Representação, julgando-a proce-dente para anular o ato impugnado,contra os votos dos Ministros AliomarBaleeiro e Hermes Lima, no Mérito.

Presidência do Esmo. Sr. MinistroA. M. Ribeiro da Costa. Relator. oExmo. Sr. Ministro Oswaldo Triguei-ro. Tomaram parte no julgamento osErmos. Srs. Ministros Carlos Medei-Das, Aliomar Baleeiro, Oswaldo Tri-gueiro, Prado Kelly, Adalício Noguei-ra, Evandro Lins, Hermes Lima, Pe-dro Chaves, Victor Nunes, Gonçalvesde Oliveira, Vilas Boas, Cândido Mot-ta Filho, Luiz Gallotti e Lafayette deAndrade. Licenciado, o Exmo. Se-nhor Ministro Hahnemann Guima-rães.

Brasília, 25 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 30.851 — BA(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Medeiros Silva.

Recorrente: João Barral Cavadas. Recorrido: Cândido Lege Pino & Filho.

Despejo — Retomada do prédio locado — Reexame de provasAplicaçÃo da Súmula 279.— A presuncio de sinceridade do pedido de retomada de pré-

dio locado, para uso próprio do locador, cede à prova em contrário.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Ter-

ceira Turma do Supremo Tribunal Fe-deral, na conformidade da ata de julga-mento e das notas taquigráficas, por

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unanimidade de votos, conhecer do re-curso e lhe dar provimento.

Brasília, 5 de maio de 1966. —Luiz Gallotti, Presidente. — CarlosMedeiros Silva, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos MedeirosSilva: — João Banal Cavadas, pro-prietário e locador, notificou a firmalocatária Cândido Lago Pião & Filhode que precisava, para uso próprio, doprédio locado, destinado a atividadecomercial (Rua Agripino Dória, 64,em Salvador).

Findo o prazo da notificação (90dias), o locador propôs ação de des-pejo, que foi julgada procedente (sen-tença de f. 67-68).

Em acórdão de f. 95-104, a I.° Câ-mara Civil do Tribunal de Justiça daSabia, por votação unânime, reformoua sentença, para julgar a ação impro-cedente e condenar o autor ao paga-mento de honorários de advogado, me-diante arbitramento, "pela manifestaintenção dolosa do seu procedimento"(f. 104).

Foi interposto o recurso extraordi-nário (f. 105) com base nas letras ae d do art. 101, UI, da Constituição;como lei ofendida foi indicado o ar-tigo 15, V, da L. fed. 1.300, revi-gorada pela de :IP 1.708, de 1952, e,para comprovação do dissídio, acórdãosdeste eg. Pretório, segundo os quais aretomada, para uso próprio, tanto podeatingir o prédio residencial, como ocomercial e, bem assim, que o locadornão precisa provar a sinceridade dopedido, que se presume por fana delei, nesse caso de retomada.

O recurso foi admitido (f. 106),impugnado (f. 112) • a firma loca-

titia pediu carta de sentença para aexecução do julgado (f. 113).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos MedeirosSilva (Relator): — Diz a Súmula 410que, "se o locador, utilizando prédiopróprio para residência ou atividadecomercial, pede o imóvel locado parauso próprio, diverso do que tem o porêle ocupado, não está obrigado a pro-var a necessidade, que se presume."

Mas, no caso dos autos, tal presun-ção foi ilidida pela prova em contrá-rio, feita pelo locatário. Diz o acór-dão recorrido expressamente: "A pre-sunção de sinceridade admite prova emcontrário. Esta prova avulta dos au-tos" (f. 103) e passa a enumerar osfatos e elementos comprobatórlos dessaafirmação.

Assim sendo, é de aplicar-se a Sú-mula 279, segundo a qual não cabe re-curso extraordinário para simples co-axamo de provas.

Conheço, pois, do recurso, pelo dis-sídio jurisprudencial apostado, maslhe nego provimento, porque simonteatravés do exame de provas, seria pos-sível, no caso, concluir-se de outraforma.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conhecido e não provido.Unanime.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroLuiz Gallotti. Relato; o Esmo. Se-nhor Ministro Carlos Medeiros. To-maram parte no julgamento os Exce-lentíssimo. Sn. Ministros Carlos Me-deiros, Prado Kelly, Hermes Lima,Gonçalves de Oliveira e Luiz Oanani.

Brasília, 5 de maio de 1966. —Alvaro Parreira dos Santos, Vice-Dite.tor-Gerei.

30 R.T.J. 38

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 34.032 — MG

i(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro.

Recorrente: Estado de Minas Gerais. Recorridos: Caimme José Boschi eoutros.

Execução de sentença. Liquidação de perdas e danos. Jurosdevidos a partir da sentença que lixa o valor da condenação. Re-curso provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, conhecerdo recurso, e lhe dar provimento emparte.

Brasília, 25 de março de 1966. —A. C. Latayette de Andrade, Presi-dente. — Osivaldo Trigueiro, Re/ator.

RELATÓRIO

Sr. Ministro Ossvaldo Trigueiro:— A 2.° Câmara Civil do Tribunalde Justiça de Minas Gerais, por una-nimidade de votos, julgou procedenteação ajuizada por Caiais José Bos-chi e outros, para serem indenizadosdos danos sofridos com a depredaçãoda casa comercial que possuíam emBelo Horizonte, e condenou o Estadode Minas Gerais a pagar-lhes Cr$ 567.370, mais honorários de ad-vogado, juros de mora e custas (f. 343verso).

Estado de Minas Gerais, inconfor-mado, interpôs recurso extradrdinário,com fundamento nas alíneas a e d doart. 101, Hl, da Constituição Federal.

parecer de douta Procuradoria-Geral da República é pelo provimen-to parcial do recurso (f. 361).

VOTO

Sr. Ministro Osvaldo Trigueiro(Relator): — Para chegar à conclu-

são a que chegou, o Tribunal recorri-do examinou detidamente os fatos dacausa, como se esclarece no acórdão:

"Fez-se prova suficiente e bastante,dentro da execução, sendo de notarque está ela corroborada com outrasobtidas no período de instrução dacausa. Um laudo pericial unânime,realizado por peritos de probidadeinatacável, que descrevem circunstan-ciadamente suas diligências e se ba-seiam em conhecimentos pessoais quetinham do objeto vistoriado, documen-tos existentes nos autos; depoimentosde testemunhas. Fez-se, destarte, bomcálculo da indenização a que os exe-qüentes tem direito pelos danos so-fridos."

Na parte em que visa a alterar oquentura resultante da liquidação, coma reapreciação de tôda a matéria defato, o recurso 4 evidentemente inca-bível.

Julgo, porém, que ele é procedente,em parte, nos termos do parecer daProcuradoria-Geral, pois que, tratan-do-se de sentença ilíquida, os juros sê-mente são devidos a partir da data dadecisão que já na fase da execuçãofixa o valor da condenação, e não dadata da decisão que dá pela procedên-cia da ação, como claramente dispu-nha o art. 3.0 do D. 22.785, de31.5.33, então vigente.

Assim sendo, conheço do recurso elhe dou provimento, em parte, paradeterminar que os juros sejam conta-dos a partir do acórdão de f. 343-344,que fixou o valor da condenação.

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DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conheceram do recurso, ederam provimento em parte. Decisãounânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, oErmo. Sr. Ministro Oswaldo Triguei-

ro. Tomaram parte no julgamento osErmos. Srs. Ministros Oswaldo Tri-gueiro, Evandro Lins, Cândido Mottae Lafayette de Andrade. Licenciado, oErmo. Sr. Ministro Victor Nunes.

Brasília, 25 de março de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 45.242 — SP(Primeira Turma)

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Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal

Recorrentes: Dante Lazzeroni e outro. Recorridos: Hilda Del Nero Bisquoloe outros.

1) Se a nulidade da fiança é pedida na constância da sociedadeconjugal, a sua ineficácia é total; se, entretanto, é postulada sarnen-ta depois da extinção da sociedade conjugal, a meação da mulherfica excluída dos eleitos da fiança, quer a ação tenha sido propostapor ela (caso de desquite), ou por seus herdeiros. 2) Semente amulher ou seus herdeiros têm legitimidade ativa para pleitear anulidade.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, conhecer dorecurso e dar-lhe provimento em parte.

Brasília, 12 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente. — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Victor Nunes: —

Os herdeiros de Dona Avelina SalviaDel Nero propuseram ação para anu-lar a fiança prestada, sem sua outorga,pelo marido da falecida, que era o in-ventariante do seu espólio. Consistiua defesa em que a anulação só po-deria excluir os bens da meação dainventariada.

Tanto na primeira (f. 45) como na2.11 instância (f. 101), foi a fiançaanulada em sua totalidade. Disse oacórdão que "a sentença bem decidiu

na conformidade da jurisprudência do-minante, a qual tem firmado ser nulapor inteiro a fiança prestada sem oconsentimento do outro cônjuge".A fiança fira prestada em contrato

de cessão de quotas sociais (f. 5). Osréus — o cessionário das quotas e asociedade — interpuseram recurso ex-traordinário, pela letra d (f. 102),alegando divergência com os acórdãospublicados na R.P. 104/485 e 102/272,o primeiro do Supremo Tribunal (RE8.113). Ali se decidiu que a fiançasem outorga uxória é simplesmenteanulável, não se comunicando à mea-ção da mulher, mas imputando-se àdo marido.

Admitido o recurso (f. 109), obser-varam os recorrentes, nas razões (fa-lha 111):

"... é fundamental deixar bem sa-lientado um detalhe deveras impor-tante: a presente ação foi propostaapós a extinção da sociedade conjugal.(cf. doc. de f. 23, em confronto coma data da inicial, que é de 30.12.57).

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Precisamente porque, como sobera-namente decidiu o eg. Tribunal deJustiça de São Paulo:

"... só na hipótese de dissolução dasociedade conjugal é que se imputaráa responsabilidade pela fiança à mea-ção do marido". — cf. "R.T.,142/249'.

Citam, a seguir, a opinião de Aze-vedo Marques:

"Enquanto existir a sociedade con-jugal, seja qual fôr o regime de bens,a mulher poderá, por ação própria,anular integralmente a fiança prestadapelo marido sem o consentimento dela,para fazer respeitar o preceito do ar-tigo 235, n.° III, do C. Civ., mas ex-tinta a sociedade conjugal, ela s6 po-derá pedir que a sua meação não res-ponda pela fiança, tendo então apli-cação o art. 263, rz.° X" (R.T., vo-lume 142-250)."

Os recorridos impugnaram o recurso(f. 107), sustentando ser hoje pacíficoo entendimento de que a fiança semoutorga uxória é nula e não anulável.

Parta jurisprudência é citada nos au-tos, de lado a lado.

VOTOO Sr. Ministro Victor Nunes (Re-

lator): — O Supremo Tribunal, emacórdãos mais recentes, tem decididoque é nula a fiança sem outorga uxó-ria. Das mais recentes é a decisão da2, Turma, Relator o eminente Minis-tro Hahnemann Guimarães, no RE29.858 (21.7.64), D.J. 24.9.64, pá-gina 734. S. Excia. reportou-se aoacórdão da 1.a Turma, da lavra doeminente Ministro Evandro Lins, noRE 55.664 (14.5. 64), D.J. 9. 7. 64,p. 466.

Neste outro caso, haviam sido men-cionados, pelo Relator, outros prece-dentes: RE 3.128, R.F. 85/366, RE10.280, A.J. 82/136, RE 23.605,R.F. 165/114, RE 52.568 (30.4.63),D.J. 11.7.63, p. 532 (do qual fui Re-lator).

Um dos acórdãos citados é do emi-nente Ministro Orozimbo Nonato (RE23.605, 27.4.54), com esta ementa:

"É nula, e não simplesmente anulávelou imputável à meação do fiador afiança dada sem outorga uxória".

Em seu voto, disse o festejado civi-lista, depois de historiar nossa legisla-ção sôbre o assunto, desde as Ordena-ções: "No regime do Código Civil, asanção é a ineficácia da fiança, semque se metam no texto distinções que,como observou em substanciosa sen-tença Galdino de Siqueira, iriam atin-gir a inalterabilidade do regime de co-munhão de bens".

Entretanto, no citado acórdão doSr. Ministro Evandro Lins (RE55.664), vem transcrito este trecho deoutro acórdão do eminente MinistroOrozimbo Nonato: "Nem o art. 235,III, se acha em antinomia — o que éimpresurnível — com o art. 263, X(do C. Civ.). A hipótese em que êstevigora é a da fiança não anulada, ex-tinta a sociedade conjugal. A mulherpoderá ainda pleitear a exclusão dafiança de sua meação, que só entãoexiste".

Eis aí uma lúcida distinção, queharmoniza os arts. 235, III, e 263, X,do C. Civ., que os recorrentes, nesterecurso, dão por violados. Tendo emconta essa distinção, se a nulidade dafiança é pedida na constância da so-ciedade conjugal, a sua ineficácia étotal; se, entretanto, é postulada só-mente depois da extinção da socieda-de conjugal, a meação da mulher ficaexcluída dos efeitos da fiança, quer aação tenha sido proposta por ela (casode desquite), ou por seus herdeiros.

Esta última hipótese é que se apli-ca ao caso em julgamento, onde osherdeiros da mulher pleitearam a nuli-dade da fiança, quando ainda era vivoo marido, inventariante do espólio.

A distinção, a que nos referimos, seharmoniza perfeitamente com a res-salva feita pelo eminente MinistroGonçalves de Oliveira no RE 55.664,onde S. Excia. aludiu à possibilidadede existir, em outros casos, patrimô-nios separados do marido e da mulher,possibilidade que será mais freqüenteapós a L. 4.121, de 27.8.62, que re-gulou a situação jurídica da mulhercasada, modificando o Cód. Civil, eestabelecendo várias hipóteses de in-

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comunicabilidade dos bens do maridoou da mulher.

Creio que uma parte da confusãoexistente sôbre a matéria tem resul-tado do uso da fórmula aimplista deconsiderar a fiança sem outorga uxó-ria, ou nula, ou anulável. Essa fór-mula genérica induz a equívoco Sa-bre as conseqüências jurídicas do ato.E o que mais importa é distinguir en-tre essas conseqüências, para que nãofique derrogada, por simples interpre-tação, a norma do art. 263, X, doC. Civ.

Basta recordar esta circunstância:mesmo alguns dos que sustentam sernula a fiança, não extraem radas asconseqüências dessa premissa, porqueentendem que ~ente a mulher ouseus herdeiros têm legitimidade ativapara pleitear a nulidade. Eis aí umaprimeira restrição em matéria de fian-ça, ao conceito de nulidade abso/uta,porque esta, a rigor, poderia ser de-cretada até ez officio.

Outra distinção, que parece razoá-vel, é a que adotamos neste voto, combase no ensinamento do Sr. Ministro Brasília, 12 de maio de 1966. —Orozimbo Nonato, citado pelo Senhor Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-Ministro Evandro Lins, no RE 55.664. tor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 53.898 — GB• (Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Recorrente: União Federal. Recorridos: Flávio Ferreira Pereira e outros.

Equiparação a Tesoureiro-Auxiliar. Conferente. Apostilamen-to de título. L. 3.780, art. 61. A lei excluiu do sistema de classi-ficação os tesoureiros e tesoureiros auxiliares, mas não lhes tirou odireito aos dimbohos e ao conteúdo dêstes, pois símbolos iguais nãoPodem ter conteúdo diferente.

Recurso não conhecido.

Portanto, no caso dêstes autos, comojá se achava extinta a sociedade con-jugal; ao ser pleiteada a nulidade dafiança prestada pelo marido, sem ou-torga uxória, devem ser excluídos daresponsabilidade fiduciária sómente osbens da meação da mulher falecida.Para esse efeito é que, conhecendo dorecurso, lhe dou provimento a parte.

DECISÃO

Como consta da ata a decisão foia seguinte: Conheceram do recurso elhe deram provimento em parte. De-cisão unânime. •

Presidência do EX111.0 . Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, o Ex-celentíssimo Sr. Ministro Victor Nu-nes Leal. Tomaram parte no julga-mento os Ermos. Srs. Ministros Os-waldo Trigueiro, Evandro Lins e Silva,Victor Nunes Leal e Lafayette de An-drade. Ausente, por se encontrar noexercício da Presidência do Tribunal,o Extno. Sr. Ministro Cândido MottaFilho.

ACÓRDÃOVistos e relatados êstes autos acor-

dam os Ministros do Supremo Tribu-nal Federal em Terceira Turma, porunanimidade de votos, não conhecerdo recurso, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas.

Brasnia, 21 de junho de 1966. —Luis Gallotti, Presidente. — HermesLima, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hermes Lima: —Flávio Ferreira Pereira impetrou man-dado de segurança contra o Diretor doServiço do Pessoal do Ministério daFazenda para o fim de se apostilar seutítulo com o símbolo 5-C, alegandoque é Conferente, símbolo CC-5, doMinistério da Fazenda, equiparadopela L. 403, de 24.9.48 (arte. 15

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16) aos Tesoureiros-Auxiliares; queart. 66 da L. 3.780, de 12.7.60

(Plano de Classificação) estabeleceua correspondência dos vencimentos dosocupantes de cargos de direção abran-gidos pelo art. 7.° da L. 2.188, de3.3.54, aos dos cargos em comissãoque lhes fêssem correspondentes. Ora,nos cargos de provimento efetivo pre-visto no art. 7.° da L. 2.188, e pelosnovos níveis salariais estabelecidos pelaL. 2.745, de 12.3.56, o impetranteteve seus vencimentos fixados no sím-bolo CC-5 (art. 2.°). Aconteceu quea L. 3.780, pelo art. 61, pela rejei-ção do veto, excluiu. expressamente oimpetrante dos benefícios de que trataa L. 40348, mas o símbolo CC-5 cor-responde, pela Tabela B do anexo IIIda L. 3.780, ao símbolo 5-C.

Postulou, então, o apostilamento doseu título neste último símbolo.

Muitos Conferentes do símbolo CC-5do Ministério da Fazenda requereramseu ingresso no processo na qualidadede litisconsortes.

O juiz julgou procedentes os pedi-dos concedendo a segurança para que

Diretor do Serviço de Pessoal doMinistério da Fazenda apostilasse ostítulos com o símbolo 5-C da Tabe-la B, Anexo III da L. 3.780-60.

A sentença, mantida pelo acórdão def. 212, no qual se lê:

"Teria razão a União Federal parase opor à fundamentação e conclusãoda sentença agravada, se o art. 63 dosubstitutivo do DASP tivesse sidomantido, porém, não o foi, eis que noPlano de Reclassificação esse disposi-tivo não conseguiu permanecer e quan-do veio a L. 3.780, foi Me elimina-do pela emenda supressiva do SenadorVivaldo Lima, sob o n.° 41, aprovadaem plenário, na sessão de 1 de abril

publicada no Diário do Congresso,sessão primeira de 2.4.60, conformeficou documentalmente comprovadonos autos.

Assim, manifesta ficou a vontadedo legislador, por forma inequívoca dequerer fazer e de ter feito a perfeitacorrespondência entre os SímbolosCC-5 e 5-C. Um antes da L. 3.780

outro, com a aplicação do critériodessa lei. Tudo isso, Sr. Presidente,

tôdas essas questões foram por estaPrimeira Turma discutidas e acertadasno julgamento do agravo de Petiçãoem mandado de segurança do referidoCrysostomo de Faria, que recebeu on.° 22.593.

E desde que o veto não foi manti-do pelo Congresso desapareceu a fôrçade sua alegação oponível à pretensãodos impetrantes agravados, como sevê do Diário do Congresso Nacionalano 15, n.° 40, p. 212, 4.5 coluna, dodia 9-11-60. Assim, o argumento daUnião Federal de que a pretensão dosimpetrantes estaria ainda a dependerda solução que o Congresso viesse adar sôbre o veto, desapareceu com asua rejeição. E note-se ainda que comessa rejeição mais uma vez o Con-gresso quis demonstrar, bem claramen-te, que havia perfeitamente correspon-dência entre os símbolos em questão.Aliás, essa tem sido a interpretaçãonão só do Judiciário, através de di-versos julgados deste Tribunal e doeg. Supremo Tribunal Federal, apon-tados pelos impetrantes, como tam-bém da própria administração, tam-bém focalizados nos autos. Como disse,

trabalho do Judiciário limitou-se arecompor a injustiça através da pro-clamação da ilegalidade existente nahipótese, no setor da administração.Daí a tese certa, legal e jurispruden-cial, de que os valôres monetários es-tabelecidos no Plano de Classificacão,para os símbolos 3-C a 7-C, são cor-respondentes, para todos os efeitos, aossímbolos de que trata a L. 3.205, de1957, que alterou a L. 403, de 1948.As sentenças já confirmadas, dos juí-zes Bezerra Câmara e Milhomens,transcritas nos autos, estudam porme-norizadamente a hipótese sub judice"

A União recorreu extraordinaria-mente dando como violados os artigos133, § 1.0, do C. Pr. Civ. e 201 daConstituição da República, pois o man-dado de segurança deveria ser conhe-cido originariamente na Capital daRepública onde, por lei, tem sede oMinistério da Fazenda. Desse modo,

Tribunal Federal de Recursos de-veria, preliminarmente, anular a deci-são e cometê-la a um dos juízes daFazenda Pública desta Capital (f6-

R .T . J. 38 35

lha 220). Feriu-se ainda o art. 18 daL. 1.533-51, pois sendo a I,. 3.780de 1960, impossível por via manda-mental pleitear-se qualquer direito combase na mesma, em junho de 1961, umano após a sua vigência.

Alega, ainda contrariedade do 1.°do art. 8.0 do Regimento Interno e oinc. IV do art. 34 da L. 1.341-51.

O recurso foi impugnado (f. 228).Repele a preliminar de incompetên-cia argüida pela União Federal, poisa competência do mandado de segu-rança seria mesmo da Justiça do Es-tado da Guanabara, pois, na forma doart. 201, parte final, da Constituição,as causas intentadas contra a Uniãopoderão ser aforadas na capital do Es-tado ou Território em que fôr domi-ciliado o autor; na capital do Estadoem que se verificou o ato ou fato ori-

ginador da demanda ou que esteja si-tuada a coisa; ou ainda no DistritoFederal.

Ocorre que o ato foi praticado peloDiretor do Serviço de Pessoal do Mi-nistério da Fazenda e essa Diretoriaainda está funcionando normalmenteno Estado da Guanabara. NaqueleEstado os Diretores da Fazenda man-têm seu gabinetes, inclusive o Minis-tro da Fazenda, e dela é que emanamilidas as decisões, portanto, naquele lo-cal é que foi praticado o ato violadordo direito liquido e certo do impetran-te e dos demais litisconsortes. Por-tanto, na conformidade do que já deci-diu esta Certa, no C J 1.728, ésempre competente para julgar segu-rança o Juízo da jurisdição onde temexercício a autoridade coatora. Ora,autoridade coatora ainda reside, traba-lha e administra no Estado da Guana-bara. Além disso, autoridade coatorajamais impugnou a competência daJustiça do Estado da Guanabara.

No mérito, apresenta dois pareceres,um do Ministro Orozimbo Nonato eoutro do jurisconsulto Pontes de Mi-randa no qual se apóiam.

A douta Procuradoria é pelo conhe-cimento e provimento do recurso.

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Herrnes Lima (Re-

lator): — Não houve cerceamento dedefesa da União. O lapso de f. 138foi a tempo corrigido pela manifesta-ção da Subprocuradoria à f. 220.

f. 138 existe um despacho dizen-do que os autos foram requisitados, afim de serem feitas as juntadas daspetições dos litisconsortes, e depoisdisso não se deu vista à Subprocura-dora. Entretanto, esta falou no re-curso extraordinário de f. 220).

Quanto ao mérito da questão, o quese depreende dos autos é que os Te-soureiros-Auxiliares, beneficiados pelasL. 40348, 1.095-50 e 3.205-57, fa-zem jus aos símbolos correspondentesno Plano de Classificação de Cargos,isto é, na L. 3.780, de 12.7.60. OTesoureiro-Auxiliar foi excluído do sis-tema de classificação da L. 3.780-60com a rejeição do veto do Presidenteao art. 61 daquela lei, mas, os níveisdesta lei, conforme acentuou o rela-tor no acórdão recorrido, permanece-ram guardando correspondência comos da legislação anterior específica.Assim é que a L. 3.205, de 15.7.57,que alterou o art. 1.° da L. 403, de24.9.48, fixou os vencimentos dosconsulentes no símbolo CC-5, com osníveis salariais da L. 2.745, de/2.1.56. Entretanto, com o advento

da L. 3.780, de 12.6.60, passou o sím-bolo 5-C a corresponder ao símboloCC-5, suprimido que foi pela emenda41 e art. 63. Portanto, os Tesourei-ros e os Tesoureiros-Auxiliares, bene-ficiados pela L. 403-48, 1.095-50 e3.205-57, fazem jus ao símbolo esta-belecido no Plano de Classificação deCargos (L. 3.780, de 12.7.60).

Desse modo, o que a L. 3.780, ar-tigo 61, fez, foi excluir do sistema declassificação os Tesoureiros e os Te-soureiros-Auxiliares, não lhes tirandoo direito aos sfinbolos e ao conteúdodites, pois shnbolos iguais não podemter conteúdos diferentes.

Desse modo não conheço do re-clino.

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DECISÃOCorno consta da ata, e decisão foi

a seguinte: Não conhecido. Unênime.Presidência do Esmo. Sr. Ministro

Luiz Gallotti. Helator, o Ermo. Se-nhor Ministro Hermes Lima. Toma-tem parte no julgamento os Excelen-tíssimos Srs. Ministros Carlos Medei-

roa, Hermes Lima, Gonçalves de Oli-veira e Luiz Gallotti. Ausente, justi-ficadamente, o Ermo. Sr. MinistroPrado Kelly.

Brasília, 21 de junho de 1966. —Álvaro Peneira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 57.992 — SP

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Companhia Municipal de Transporte* Coletivos, Recorrida:Sebastiana Alves Ferreira.

Responsabilidade civil. Acidente de transporte. Incapacidadeparcial permanente. Indenização progressiva. 'Precedentes do Su-premo Tribunal.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos êstes

autos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquig' ráficas,Por unanimidade de votos, conhecer dorecurso, mas negar-lhe provimento.

Brasília, 12 de maio de 11366. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente. — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Victor Nunes: —

Em virtude de incêndio no bonde emque viajava, a ora recorrida sofreuincapacidade parcial permanente, ava-liada em 28%. Reconhecida a culpain vigilando, a empresa transportadorafoi condenada a pagar essa percenta-gem sabre o salário mínimo com suasulteriores variações (f. 103). OTribunal de Justiça de São Paulo(f. 132) Confirmou a sentença, repe-lindo a alegação de ter havido julga-mento ultra petita:

"Não houve o alegado julgamentoultra perita. Pedira a autora, entreoutras coisa, uma pensão vitalícia,

"levando-se em conta o salário mínimoentão vigente, e suas ulteriores alte-rações. Não lhe foi dado mais do quefoi pedido!•

A transportadora interpõe recursoextraordinário (f. 133, 143), por vio-lação do art. 1.060 do C. Civ., queexcluiria a indenização progressiva, edo art. 181 do C. Pr. Civ., porquesó após a contestação teria sido pedidaa continuada revisão da indenização.

despacho de recebimento excluiuesta alegação, mas admitiu que a de-cisão foi além da Súmula 314 do Su-premo Tribunal (f. 140).

A recorrente e a recorrida citamdecisões que lhes são favoráveis.

VOTOSr. Ministro Victor Nunes (Re-

lator): — Conheço do recurso pordissídio jurisprudencial, mas lhe negoprovimento.

problema do critério da indeni-zação, nos acidentes de transporte, jáencontrou solução parcial na Súmula314 do Supremo Tribunal, pela qual"não é contrário à lei tomar para basede indenização o salário do tempo da

R.T.J. 38 37

perícia ou da sentença". Mearam, as-sim, superadas as decisões anterioresque mandavam fazer o cálculo pelo sa-lário da época do evento: entre outros,RE 7.014 (1949), RE 11.109 (1947),BRB 19.224 (1955), ERE 24.438.

Mas esta Súmula não resolveu todosos problemas envolvidos, notadamenteo da indenização progressiva, à basede aumentos salariais posteriores è sen-tença. E é deste problema que secogita no presente recurso.

A recorrente afirma que foi anteci-padamente determinada a revisão dapensão, o que encontraria obstáculo nacoisa julgada (RE 31.495, 43.214,28.746). Mas, aqui, não é de revisãoque se trata, porque o pedido de in-denização progressiva foi formulado,claramente, na inicial (f. 4), e aco-lhido na sentença esclarecimento quetambém afasta e alegação de ofensa aoart. 181 do C. Pr. Civ.

Embora ainda haja decisões diver-gentes (RE 34.531, 36.610, 37.179,39.802), o Supremo Tribunal já admi-tiu, em vários casos, a indenizaçãoprogressiva. Entre outros: ERE37.372, 39.360, 40.069, 42.250, 42.277,42.628, 42.990, 46.536, 47.529, 49.095;EAg 24.873; RE 43.553, 46.921,50.747, 55.150. Em um ou outrocresses recursos, o eminente MinistroGonçalves de Oliveira declarou querespeitava o critério do juiz, a quema lei dava ampla liberdade (RE42.277, 50.747), mas em outros nãofez essa ressalva (cfr. ERE 47.529).

Limitei-me, em duas oportunidades,votando como Relator, a citar prece-dentes desta Certe (RE 46.921, ERE39.360). Em outras, justifiquei maislongamente meu voto, como nos Em-bargos 37.372.

Retomando essa fundamentação, comligeiros acréscimos, parece-me que aindenização progressiva em acidente detransporte não ofende os arte. 1.059e 1.060 do C. Civ., pelas seguintesrazões:

1) A matéria é regulada por leiespecial, o D. 2.681, de 7.12.12,cujos arte. 21 e 22, como bem pon-derou o eminente Ministro Gonçalvesde Oliveira (ERE 42.277), dão am.

pia liberdade ao juiz, mandando queMe fixe "uma indenização conveni-ente".

O prOprio C. Civ., ao regularas conseqüências de dano pessoal re-sultante de ato ilícito, admite, noart. 1.539, que a reparação se traduzaem pensão, mesmo quando não hajadolo, mas semente culpa (art. 1.545).

Essa pensão, como já tem sidodecidido, é de caráter alimentar (ERE19.224, ERE 46.536, RE 50.747,RR 55.150). embora nem sempre istotenha sido admitido. (ERE 37.372.38.408).

A matéria é também reguladapelos arte. 911 e 912 do C. Pr. Civ.,disposições que são de direito substan-tivo, e não apenas adjetivo, tendoderrogado normas anteriores em con-trário. E a reparação ali prevista temcaráter nitidamente alimentar, comose vê do art. 912, que dispõe: "...Sea vítima falecer em conseqüência doato ilícito, prestará o responsável ali-mentos às pessoas a quem ela os devia,levada em conta a vida provável devítima..."

A condenação em alimentos éjustamente uma das exceções à regrada imutabilidade das decisões judiciá-rias, como se vê do art. 401 do C.Civ. e do art.' 289, LI, do C. Pr.Civ. É caso típico de condenação quepode ser fixada progressivamente.

6) Finalmente, o legislador temadotado, em diversas situações, a cor-reção monetária para aliviar os efeitosda inflação

Parece-me, pois, perfeitamente com-patível com os preceitos legais apli-cáveis à espécie a indenização de valorprogressivo. No caso, à falta de outrosíndices, foi ela vinculada às variaçõesdo salário mínimo, pelas condições davítima, e noa limites da taxa deincapacidade.

Na maioria dos casos trazidos aonosso conhecimento, limitamo-nos aconfirmar decisão da Justiça local, queestabelecia a indenização progressiva.Mas, em alguns outros, pelo menos emtrês de que tenho nota, modificamosa decisão recorrida para estabeleceraquele critério. No RE 43.553 (1962),

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D. J. 25.4.63, p. 217, o eminenteMinistro Hahnemann Guimarães assimdecidiu, com apoio da 2.° Turma:

..dou provimento, em parte, ao pri-meiro recurso, para que a pensão variaem razão da fixação de novos níveisdo salário mínimo..." Esta soluçãoatende ao disposto no D. 2.681, de7.12.12, arte. 17, 20 e 21, e e juris-prudência deste Tribunal. No ERE37.372, restauramos a sentença deprimeira instância, para aquele efeito,do mesmo modo que no RE 42.990.

Por estas razões é que, conhecendoembora do recurso, nego-lhe provi-mento.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conheceram do recurso elhe negaram provimento. Decisão una-nime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, oExmo. Sr. Ministro Victor Nunes.Tomarem parte no julgamento osExmos. Srs. Ministros Oswaldo Tri-gueiro, Evandro Lins, Victor Nunes eLafayette de Andrade. Ausente, justi-ficadamente, o Exma. Sr. MinistroCândido Motta Filho.

Brasília, 12 de maio de 1966. —Álvaro Peneira dos Santos, Vice-Di-tar Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.f35 — GB(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Recorrente: Antônio Alyntho Ribeiro Cruz. Recorrida: Marleine HabibMangia.

Desquite. No acerdo de desquite não se admite renúncia aosalimentos. Êstes podem ser pleiteados ulteriormente, desde queverificados os pressupostos legais. No caso, estes pressupostos nãose verificaram. Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos, acor-

dam os Ministros do Supremo TribunalFederal, em Terceira Turma, por una-nimidade de votos, conhecer do recurso

lhe dar provimento na conformidadeda ata do julgamento e das notas te-quigráficas.

Brasília, 29 de abril de 1966. —Luiz Gallotti, Presidente. — HermesLima, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Hermes Lima: —

A ementa do acórdão recorrido é aseguinte:

"Alimentos. A mulher que, em des-quite amigável, dispensa o marido deprestar-lhe pensão alimentícia, poderá,a qualquer tempo, dele demandar ali-

mentos, independentemente de provarseu estado de pobreza."

Manifestou-se recurso extraordináriopelas letras a e d.

parecer da douta Procuradoria ápelo não provimento. -

e relatório.VOTO

Sr. Ministro Hermes Lima (Re-/ator): — O direito a alimentos pode

deixar de exercer-se mas não se poderenunciar ao mesmo (art. 404 do C.Civ.). Portanto, a cláusula da re-núncia do desquite não tinha valorjurídico, eis porque a Súmula 379 dis-põe:

"No acôrdo de desquite não seadmite renúncia aos alimentos, quepoderão ser pleiteados ulteriormente,verificados os pressupostos legais."

R.T.J. 38 39

Entretanto, o acórdão diz ,textual-mente:

"É certo que a embargado nãocomprovou os requisitos do art. 399do C. Civ."

O acórdão diz que exigir-lhe essaprova seria transferir-lhe um ônus querecai sôbre o embargante e ora recor-rente. Portanto, o pedido ulterior dealimentos deve ser deferido.

No caso em questão, a recorrida vivecom o pai, tem automóvel registradoem seu nome, embora diga que per-tence ao pai. Alega que o magistérioparticular que exercia, professôra deMúsica, não a estava amparando con-venientemente e ainda, ao contrário detudo quanto se infere dos autos, quese desquitou por circunstâncias coerci-tivas então exercidas pelo seu ex-ma-rido.

Entendo que os pressupostos legaisnão se verificaram no caso para opedido de alimentos. O ex-maridotambém é um pequeno funcionário,cujo salário, como está comprovadonos autos, não vai além de Cr$ 86.000mensais.

Assim, meu voto é conhecendo dorecurso e lhe dando provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Sr. Presidente, estou deacôrdo com o eminente Ministro Re-fator em que desistindo, renunciandoe espasa a alimentos, por ocasião dodesquite, e sendo este homologado —talvez não devesse ter sido homolo-gado com a renúncia, mas, de qual-quer forma, o foi — em principio,asseguro-lhe o direito de pedir essapensão, se, como acentuou o eminenteRelator, estiverem provados os pressu-postos, entre eles o da pobreza, o danecessidade da alimentando. no caso,autora da ação.

Na hipótese, S. Excia. esclareceque o marido não tem uma situaçãoboa para prestar alimentos à autora.que tem o amparo de seu pai, é pro-fessOra e tem automóvel.

Com estas considerações, estou deacerdo com o eminente Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Luis Gallotti (Pre-sidente): — O Tribunal, realmente,firmou a tese de que, mesmo tendo aespOsa renunciado à pensão no desquiteamigável, pode ela depois pleiteá-la.se vier a necessitar.

Lembro-me de que houve largo de-bate aqui, em que o eminente MinistroGonçalves de Oliveira invocou o pre-ceito do Código de Processo Civil e noqual o eminente Ministro Victor Nu-nes e eu fomos votos vencidos. Mas,hoje, o entendimento do Tribunal é,realmente, esse a que se referiram oseminentes Ministros Hermes Lima eGonçalves de Oliveira. Assim, eu,para dar provimento ao recurso, aindateria uma razão a mais do que aquelaem que se apoiou o eminente Relator;mas, no caso, não preciso invocá-la,porque S. Excia. mostrou muito bemque os pressupostos legais não foramdemonstrados.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conhecido e provido. Unâ-nime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLuiz Gallotti. Rektor, o Exmo. Se-nhor Ministro Hermes Lima. Tomaramparte no julgamento os Eimios. Se-nhores Ministros Carlos Medeiros,Prado Kelly, Hennes Lima, Gonçalvesde Oliveira e Luiz Gallotti.

Brasília, 29 de abril de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 88.197 — GB(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Lins e Silva.

Recorrente: Estado de Guanabara. Recorridos: José Duarte Gonçalves deRocha e outros.

Magistrados. Atualização de proventos. Orno que compete aoRatado da Guanabara, embora a inatividade provenha de ato an-terior á sua criação. Interpretação razoável da L. 9.752, de 14.4.60,que não dá lugar a apelo extraordinário. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os

autos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em Primeira Turma, na confor-midade da ata do julgamento e dasnotas taquigráficas, por maioria devotos, não conhecer do recurso.

Brasília, 23 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente. — Evandro Lins e Silva, Re-lator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Evandro Lins: —

O parecer da douta Procuradoria-Ge-ral, da lavra do ilustre Dr. AntónioTorreão Brez, e subscrito pelo emi-nente Dr. Oswaldo Trigueiro, hojeministro do Supremo Tribunal Federal,resume e esclarece a controvérsia:

"1, O Desembargador José DuarteGonçalves da Rocha e outros magis-trados da Justiça do antigo DistritoFederal, aposentados anteriormente àmudança da Capital da República,pediram segurança objetivando a mes-ma remuneração percebida pelos ma-gistrados transferidos para o Estadoda Guanabara, exigindo deste o pa-gamento da diferença.

2. Sustentam que o seu direitoadvém da incidência das regras jurí-dicas dos arta. 2.° e 3P, parágrafos2.° e 4.°, da L. 3.752, de 14.4.60,assim redigidos:

"Art. 2P Passam ao Estado daGuanabara, a partir de sua constituição,independentemente de qualquer ato detransferência, os direitos, encargos eobrigações do atual Distrito Federal,

o domínio e a posse dos bens móveisou imóveis a ele pertencentes e osserviços públicos por ele prestados oumentidos.

"Art. 3P (...) § 2.° — A Uniãocompete pagar:

a remuneração do pessoal lotadonos serviços transferidos, correspon-dente aos cargos atuais e àqueles aque os servidores venham a ser promo-vidos, com exclusão das majoraçõesdecretadas pelo Estado da Guanabara.

os proventos da inatividade, quevierem a ser concedidos aos meemosservidores. (...)

§ 4.° Ao Estado da Guanabaracompete pagar:

a remuneração correspondenteaos cargos isolados e de carreira dosserviços transferidos, cujo provimentoseja posterior à transferência, com ex-ceção das promoções a que se refereo § 1.°, alínea a;

os proventos da inatividade quevier a conceder aos servidores por elenomeados;

c) as diferenças devidas ao pessoalremunerado pela União, inclusive oinativo, correspondentes às majoraçõesde vencimentos, proventos e vantagensdecretadas pelo Estado".

3. O Tribunal de Justiça, peloacórdão de f 205-208, concedeu a se-gurança, firmando a tese de que "aatualização dos proventos dos magis-trados aposentados, nu Estado daGuanabara, conquanto a inatividadeprovenha de ato anterior a sua criação,é ônus que compete ao Estado cum-prir".

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4. Dai o recurso excepcional ma-nifestado com fulcro na alínea a dopermissivo constitucional, dando comoviolados pelo venerando acórdão re-corrido os arte. 18 e 141, § 24, daConstituição Federal e as le. 3.752 e3.754, ambas de 1960.

5. O desate da questão está emsaber se o comando do art. 3.°, § 4.0,letra c, da L. 3.752, de 1960, incidenos casos de inatividade anterior àcriação do Estado da Guanabara. Anosso entender, o diploma legal ematinência, no art. 3.° e seus parágrafos,só contempla duas classes de servi-dores: a) os que, nomeados pela União,passaram à inatividade após a cons-tituição do Estado da Guanabara; b)os que, nomeados pelo Mv° Estado,foram depois aposentados na qualidadede funcionário estadual, sem vinculaçãoalguma com a União. Para obviarfuturos malentendidos e interpretaçõesdissonantes, que inevitavelmente resul-tariam da duplicidade de situações,houve por bem dispor, no § 2.°, letrafs, que à União competiria pagar osproventos da inatividade, que viessema ser concedidos aos servidores porela nomeados e lotados nos serviçostransferidos, e, no § 4.°, letra b quecaberia ao Estado o pagamento dosproventos da inatividade que viesse aoutorgar aos servidores por éle nomea-dos. Portanto, quando, na letra c domesmo § 4.°, atribuiu à Guanabara

dever de pagar as diferenças devidasaos inativos, correspondentes às majo-rações de proventos e vantagens de-cretados pelo Estado, estése referindo,sem sombra de dúvida, ao inativo jámencionado na letra b do § 2.0.

6. O equivoco, data mania, do vent:.rando acórdão recorrido consistiu eminterpretar isoladamente a norma docitado art. 3.°, § 4.°, letra c, cujaliteralidade conduz a hesitações. Istoporque a leitura da lei em seuconjunto induz a certeza de; que adisposição aub examen só incide noscasos de aposentação verificada apósa criação do Estado da Guanabara,Pelo § 1.0 do mesmo art. 3.0, v.g.,passaram à jurisdição dane tão-sê-mente os serviços transferidos, expres-samente mencionados no caput, e "o

pessoal :igen lotado". Ora, se os im-petrantes não estavam mais lotadosnaqueles serviços à data da transfe-rência da Capital, exatamente porquese encontravam na inatividade (e nãoé mister invocar argumentos de auto-ridade para demonstrar que o inativonão tem lotação), é lógico que nãopassaram à jurisdição do Estado daGuanabara. Conseqüentemente, nãoestão sujeitos à autoridade estadual,nem às leis que regulam as relaçõesentre esse Estado e seus servidores.Não se há cogitar, por outro lado, deincidência, ia cem, do art. 2.°, quedispôs sôbre a transferência, para oatual Estado da Guanabara, de todosos direitos, encargos e obrigações doantigo Distrito Federal. Nenhumainterferência tem essa norma com asituação dos impetrantes, os quais,sôbre serem remunerados pela União,não estão vinculados às autoridadeslocais. Outras normas paralelas, in-sanas na L. 3.754, de 14.4.60, con-duzem a essa exegese, segundo seinfere pela leitura dos parágrafos doart. 97.

7. Admitindo-se, porém, ad argu-mentandurn, que a norma do art.§ 4.°, letra c, abrangesse os recor-ridos, ainda assim não se lhe po-deria reconhecer qualquer eficácia, faceà sua inconstitucionalidade flagrante.Com efeito, o ônus que eles pretendemimpor ao Estado da Guanabara, sobcolor de que a Lei assim dispôs, lançapor terra um dos princípios básicos daFederação, qual seja o da autonomiaestadual, consagrado no art. 18 daCarta de 1946. Ora, se Boamente medi-ante acOrt* to, consoante está expresso no§ 3.° dessa disposição constitucional,será licito à União cometer a funcio-nários estaduais o encargo da execuçãode leis e serviços federais, como admi-tir-se que possa impor ao Estado-mem-bro encargo muito mais pesado, que á

de pagar os proventos dos seusservidores inativos? A vingar a tese dovenerando acórdão recorrido, seria for-çoso admitir que o legislador federalordinário pode suprimir ou substituir

Legislativo estadual, exatamente emmatéria de peculiar intata:use local, oque é, • tadas se luzes, incompatível

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com o conceito de Federação, na sábiaadvertência de Alcino Pinto Falcão(Novas Instituições do Direito PolíticoBrasileiro, 1961, p. 110).

8. Pelas razões expostas, somos peloconhecimento e provimento do recurso,já porque os dispositivos legais invo-cados não alcançam, em sua incidência,os recorridos, já porque estariam ei-vados de inconstitucionalidade, se ocontrário ocorresse".

Dou por feito o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Evandro Lins (Re-

/ator): — A segurança foi concedidaaos recorridos, por 13 votos contra12. A maioria vencedora atendeu,primacialmente, a que, pela L. 3.752,de 14.4.60, passaram ao Estado daGuanabara, a partir de sua consti-tuição, os direitos, encargos e obri-gações do então Distrito Federal, odomínio e a posse dos bens móveis ouimóveis a ele pertencentes, e os ser-viços públicos por êle prestados oumantidos.

Desse preceito genérico, que trans-feriu ao nevo Estado os direitos, en-cargos e obrigações da antiga CapitalFederal, o acórdão passou a invocaras disposições específicas constantes doart. 3.°, §§ 2.° e 4.° da mesma lei,que discriminam a competência daUnião e do Estado da Guanabara para

pagamento dos servidores que inte-gravam os quadros do Distrito Federalde então.

Daí o argumento principal, extraídodo citado art. 3.°, § 4.", onde seestabelece que ao Estado da Guana-braa compete pagar:

"letra c — as diferenças devidas aopessoal remunerado pela União, in-clusive o inativo, correspondentes àsmajoreções de vencimentos, proventos

vantagens decretadas pelo Estado.Prossegue o acórdão:"Ora, quando a lei fala em inativos

há de necessàriamente referir-se àque-les que já o eram, como os impetrantes,pois os demais inativos, isto e, aquelesque assim se tornariam de futuro es-tavam com a sua situação deÉinida no

item b do art. 3.°, § 4.°, da leimencionada. Vejamos, ainda, o que seestabeleceu, como regra legal, no ar-tigo 97, § 3.°, da L. 3.754, de 14.4.60— Organização Judiciária de Brasília:"A União não pagará ao pessoal daJustiça, de seus serviços auxiliares edo Ministério Público do antigo Dis-trito Federal, que passe a integrarserviços correspondentes do Estado daGuanabara: a) as diferenças devidasdo citado pessoal remunerado pelaUnião, inclusive o inativo, correspon-dentes às majoreções de vencimentos,de proventos e vantagens concedidaspelo Estado da Guanabara".

Diz-se, em tal dispositivo, expressa-mente, que a União não pagará aosinativos. Como, pois, adotar-se o pontode vista da Autoridade apresentadacomo coetora, no sentido de que osinativos referidos no aludido § 4.°,item c, sejam aqueles que forem ouvierem a ser aposentados? Para adigna Autoridade seriam, precisamente,aqueles que na época da lei es-tivessem em atividade e, depois, seaposentassem. Diga-se: atuais ativos(na época da lei) e futuros inativos.Tal interpretação não poderá preva-lecer, desde que, quando a lei men-cionou o inativo, só poderia referir-seàqueles que, na data da lei, já eraminativos. Isso porque os que se apo-sentaram, após a vigência da lei, jáse encontravam com sua situação defi-nida, na própria lei, quando esclareceuna letra c, as diferenças devidas pelopessoal remunerado pela União".óbvio que o servidor que em tais con-dições passasse à inatividade, gozaria(porque não lhe seria retirado) oaumento que lhe tivesse sido dado peloEstado.

É regra legal e, até constitucional,que eo inativo cabe igualar-se ao ativo,nos aumentos concedidos. Basta ver aConstituição Federal (1946), art. 193,sendo o princípio reproduzido nosEstatutos, quer do pessoal da União,quer do pessoal do antigo Distrito Fe-deral, o qual continua em vigor parao Estado da Guanabara (art. 177). Epara espancar qualquer dúvida, aliás,já totalmente dirimida há, por fim, oart. 1.° do Ato das Disposições Cons•

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titucionais Transitórias (ConstituiçãoEstadual), que ressalta: "O regimejurídico dos servidores transferidos aoEstado, mas cuja investidura é federal,é o da lei federal aplicável, exten-dendo-se-lhes a lei estadual no quefôr mais favorável".

Ainda integrou a maioria vencedorasaudoso Desembargador Rornão Cer-

tas de Lacerda, que fez declaração devoto, nestes termos:

"O art. 4.°, 4.°, do ADCT daCarta de 1946 determinou que, mu-dada a Capital da União, o antigoDistrito Federal passasse a constituir

Estado da Guanabara. Evidente-mente, o que passou a constituir onevo Estado foi o Distritci Federal,com todos Ge elementos — material

pessoal — que o constituíam, apli-cados nos serviços que formavam aantiga pessoa jurídica de direito pú-blico — o Distrito Federal — e quevinham sendo, em grande parte (Jus-tiça,- Polícia, etc.), por SONE, dasConstituições, inclusive a vigente, pro-viseriamente, isto é, enquanto não setransferia a Capital, administrada, ecusteada, por motivos políticos, pelaUnião. Com a transferência da Ca-pital, operou-se metamorfose, isto á,

Distrito Federal passou a formar oEstado da Guanabara, com seus bens

serviços, seu ativo e passivo. One-rou-se, pois, uma Sucessão Universal,sucedido o Distrito Federal, sucessor

nevo Estado.fora de dúvida, pois, que os então

servidores do Distrito Federal nassa-ram a sê-lo do nevo Estado na mesmacondição jurídica que tinham na datada sucessão, pouco importando estives-sem em atividade ou em inatividade(aposentados ou em disponibilidade).Passaram todos a ser servidores do Es-tado, na situação de ativos ou inativos,urna vez que constituíam pessoal doantigo Distrito Federal, sucedido, todoêle, integralmente, universalmente. Pelonevo Estado, sem exclusão de qualquerpartícula. Teia a fOrça e o alcance aoart. 4.0, 6 40, citado. Os magistradosque então se achavam aposentadospassaram a ser, em vez de magistradosdo antigo Distrito Federal aposentados,magistrados do Estado da Guanabara,

aposentados. Concretizando: o cargo doDesembargador José Duarte ou do De-sembargador Frederico Sussekind, porexemplo, á, incontestavelmente, o deDesembargador aposentado do Tribu-nal de Justiça do Estado da Guana-bara; é esse e continua a sê-lo. E issopor finesa do disposto no art. 4.°,

4.°, citado. Para ter-se certeza abso-luta disso basta supor-se, em tese, quequalquer magistrado, aposentado antesou depois da mudança para Brasília,pretendesse a reversão à atividade(E.F.P. da União, art. 68; do Estado,art. 66). A quem requereria a reversãoe, se deferida, para que cargo se dariaela, senão para o de Desembargadordo Tribunal de Justiça do Estado daGuanabara?"

Sr. Ministro Victor Nunes: —Não estou compreendendo bem qualé a pretensão ajuizada. Tenho lem-brança de que a lei em causa atribulaà União o pagamento dos proventose vencimentos dos servidores, no nívelque estivesse sendo pago na época, edeixava ao Estado o ônus das rnajo-rações que ele fizesse. Que é que sepede neste processo? É só a majo-ração?

Sr. Ministro Evandro Lins (Re-lator): — A majoração semente, feitapelo Estado em relação aos magis-trados e serventuários da Justiça, comoveremos no MS 15.069, posteriormente.O Estado majorou os vencimentos dosdesembargadores.

Sr. Ministro Victor Nunes: —A Constituição estadual manda aplicaressas majorações aos inativos?

Sr. Ministro Evandro Lins (Re-latar): — Sim. A Constituição esta-dual manda aplicar aos inativos. Orecurso é do Estado. Ésse argumentodo Desembargador Romão C.ertes deLacerda é que me convenceu; porquepassaram todos, ativos e inativos, parao Estado de Guanabara, porque nãopediram transferência para o DistritoFederal. ( .. • )

(...) — Continua a leitura do voto:"É evidente que o cargo de cada

um era, e continua a sê-lo, o que

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consta do seu título de provimento,apenas com o acréscimo "aposentado'e "transferido para o Estado da Gua-nabara". Do contrário, como se qua-lificaria asse titular? Desembargadordo Tribunal de Brasília? Mas ele nãofoi transferido, nem o pediu. O ar-tigo 4.°, § 4.°, do ADCT o transferiu,sim, para o Estado da Guanabara,com o Tribunal de que era membro.O cargo atual de qualquer dos reque-rentes é o que consta do respectivotítulo de provimento, apostilado, ape-nas, com as qualificações acima apon-tadas. E nenhuma lei podia ou podealterar essa situação, pois infringiria ocitado art. 4.°, 4.0, disposição cons-titucional da mesma categoria quequalquer outra, permanente".

.Sr. Ministro Victor Nunes; —Mas os que já eram aposentados, aépoca da mudança da Capital, estãorecebendo as majorações de proventosdecretadas pela União para os seusservidores?

Sr. Ministro Evandro Lins (Re-lator): — Recebem, ao que parece.

Sr. Ministro Victor1 Nunes: —Mas, então, alguma coisa está contraa lei. Se a lei estabeleceu um regimepelo qual o que se pagava na épocaficou a cargo da União e o que seacrescentasse seria encargo do Estado,uma vez que os aposentados anterior-mente estejam recebendo os dois au-mentos, parece, à primeira vista, queum deles é indevido.

Sr. Ministro Evandro Lins (Re-latar): — Dei a V. Excia. a infor-

mação de que os recorridos recebiamos aumentos que, por ventura, tivessemsido decretados pela União, após amudança da Capital, porque foi o queme pareceu, à primeira vista. Mas nãohá, nos autos, nenhuma informaçãoneste sentido, nem e matéria é objetode debate neste processo. O que sediscute, apenas, é se os magistradosaposentados têm, ou não, direito aserem contemplados com as majoraçõesdecretadas pelo Estado, se têm direitoa receber dos cofres do Estado asmajorações decretadas posteriormenteà mudança da capital. Este é o pro-blema que está sendo discutido.

Não posso dar uma resposta à per-gunta de V. Excia., eminente MinistroVictor Nunes, porque os autos nãoinformam se eles têm recebido, ou não,as majorações decretadas pela União.Disse que sim, porque assim supus.

Sr, Ministro Victor NIMBO: —Também é possível que leis posteriorestenham criado nôvo encargo para aUnião.

Sr. Ministro Evandro Lins (Re-lator): — Retifico, portanto, a infor-mação que dei a V. Excia., de queeles recebiam tais majorações. ( ...)

( . • • ) Sigo lendo o voto:"Os requerentes continuaram, pois,

aposentados em idêntica situação comos demais aposentados que se aposen-taram depois da formação do nôvoEstado. Nenhuma lei podia impedirisso, e nenhuma de fato o impediu, outentou impedir. Se os requerentes con-tinuam aposentados nos mesmos cargosque ocupavam, como os aposentadosdepois de Brasília, cabem-lhes, é claro,os mesmos direitos dos seus colegas; equem o reconhece é nada menos queo art. 4.°, 4.°, das Disposições Tran-sitórias da Constituição, sendo, até,ocioso, no ponto, invocar lei ordinária.Magistrados aposentados do Estado nãose lhes pode atribuir, ceteris Pauis,proventos inferiores aos dos seus co-legas aposentados depois da formaçãodo Estado; seus proventos têm queser reajustados à remuneração atualda ativa, ex vi do art. 177 do E.F.P.local transcrito à f. 8, e da jurispru-dência do eg. Supremo Tribunal,invocado a f. 10 e segs., e não podemser diversos dos demais magistrados damesma classe, por lei estadual maisfavorável; o Estado pagará a diferença(L. 3.752, art. 3.°, 4.0, c). Aargumentação em contrário omite, in-voluntariamente, o elemento principala considerar, isto é, o efeito do dis-posto ao citado art. 4.°

'4.°, do -

ADCT, de transferir todos os magis-trados do D.F. antigo parai cargoscorrespondentes no Estado, automati-camente, desde a transferência daCapital".

R.T.J. 38 as

A minoria vencida adotou os funda-mentos do brilhante voto vencido doilustre Desembargador Martinho Gar-cez Neto, constante de f. 209-216, osmais estão resumidos no parecer dadouta Procuradoria-Geral da República,que transcrevi no relatório.

Devo assinalar que o recurso sefunda exclusivamente na letra a dopermissivo constitucional.

A meu ver, nos termos em que foipasto o apelo supremo, fundado emviolação da letra da Constituição ede lei federal, não há cabimento paraque dele se conheça.

Já está consignado na Súmula 400,da jurisprudência predominante do Su-premo Tribunal Federal, que "decisãoque deu razoável interpretação à lei,ainda que não seja a melhor, nãoautoriza recurso extraordinário, pelaletra a do art. 101, III, da Consti-tuição Federal".

Os fundamentos dos votos vence-dores demonstram a razoabilidade dainterpretação adotada pelo ilustre tri-bunal local. Interpretação desarrazoada

aquela que está contra a lógica,contra a razão, o que se constitui numaheresia jurídica, ou numa violaçãopatente e grosseira do texto legal.

No caso, combinando as disposiçõesda L. 3.752 (art. 3.°, fi 4.°, letra c),

3.754, (art. 97, 3.°), ambas damesma data, isto é, de 14.4.60, oTribunal entendeu que os inativos aireferidos eram não só aqueles que jáestavam aposentados como os queviessem a se aposentar no futuro.

Realmente, a L. 3.752 permite quese distinga os inativos posteriormenteà criação do Estado da Guanabara(letra b, do art. 3.°, 4.0), e osInativos que já o eram antes da criaçãoda nova unidade federativa (letra cdo mesmo dispositivo).

O acórdão recorrido ainda invoca,para esteio de sua conclusão, o que sedispõe no art. 97, § 3.°, da L. 3.754,que é a Lei de Organização Judiciáriade Brasília.

Esta lei foi sancionada na mesmadata que a L. 3.752, e ambas tiveramobjetivo comum, no que diz respeitoà instalação do Estado da Guanabara eà organização judiciária do DistritoFederal de Brasília.

Por outro lado, não enxergo qual-quer procedência na alegação de quea decisão recorrida teria vulnerado oart. 18 da Constituição Federal, porter impósto ao Estado da Guanabaraônus a que ale não está obrigado, eque incumbe tão-sómente à União Fe-deral. Ao contrário disso, a União,através de leis adequadas, transferiuos seus serviços e tudo que eranecessário ao funcionamento da novaunidade federativa. Atendendo às pe-culiaridades da mudança, a Uniãoprestou valiosa contribuição à orga-nização do nevo Estado, assumindo,inclusive, a responsabilidade de pagaraos seus servidores transferidos.

Não digo que tenha havido genero•sidade nesse critério legislativo, masuma solução realista, para que o nevoEstado da Guanabra não começasse asua existência sob o peso de grandesenoargos.

O certo é que a União não impõeónus demasiados à nova unidade daFederação, na legislação pertinente,como se alegou nas razões de recurso.

Por outro lado, parecem-me bemponderáveis os argumentos do ilustree saudoso Desembargador Romão Cor-tes de Lacerda, sobretudo quandomostra que os magistrados que entãose achavam aposentados passaram aser, em vez de magistrados do antigoDistrito Federal, aposentados, magis-trados do Estado da Guanabara, apo-sentados. O que passou para o Estadoda Guanabara foi todo o mecanismodo Judiciário. As vantagens ou me-lhorias que viessem a beneficiar osmagistrados em atividades deveriam,

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consectàriamente, beneficiar tambémos magistrados inativos.

Pelos motivos expostos, não conheçodo recurso.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Victor Nunes: —Pelos esclarecimentos que me foramdados pelo eminente Relator, verificoque está em causa apenas o problemade saber se as majorações de proventosdoa servidores, inclusive da Justiça,que já eram aposentados à época dacriação do Estado da Guanabara, cor-rem por conta do Estado ou por contada União.

O eminente Relator concluiu que oacórdão recorrido, tendo atribuído esseônus ao Estado, não violou a lei.Interpretou-a de maneira razoável.

Eu concluo da mesma maneira,Sr. Presidente. E raciocino do modocomo o fiz em pareceres que profericomo Consultor-Geral da República.A transformação do antigo DistritoFederal em Estado não foi obra dolegislador ordinário, foi obra da Cons-tituição. Quando a Constituição trans-formou o Distrito Federal em Estado,evidentemente, transferiu para o nôvoEstado — por um processo idênticoao da sucessão, como disse o SenhorDesembargador Romão Côrtes de ta-cerda — todos os ônus que antespertenciam ao Distrito Federal. Esteera o efeito necessário do fenômenode transformação de uma unidade po-lítica, que tinha o aratus distrital, epassou a ter o datas estadual.

Que fêz, então, e legislação ordináriaque regulou a mudança da Capital?Essa legislação, o que fêz, foi criarônus para a União, porque, por ela,a União se obrigou a responder poruma parte das despesas que, de outromodo, seriam, integral e inevitável-mente, do Estado.

Não há, pois, que falar em ofensaà autonomia estadual, por ter a leifederal carregado ao Estado despesasvultosas, sem o seu consentimento. Alei federal fêz justamente o oposto.Transferiu para a União — e podiafazê-lo, por ser lei federal — despesasque, na ausência de lei, aplicando-seapenas a Constituição, teriam de cor-rer, exclusivamente, por conta doEstado.

Ao aplicarmos essa legislação, nãopodemos transferir à União mais des-pesas do que a lei federal lhe atribuiu.Como a lei não transferiu à União asmajorações de proventos dos inativos,esses acréscimos de despesa, evidente-mente, correm por conta do Estado.

Não conheço do recurso, de acôrdocom o eminente Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Cindido Moela:Conheço do recurso e lhe dou provi-mento, data venia do eminente MinistroRelator.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conheceram, do re-curso, contra o voto do Ministro Cân-dido Motta que dele conhecia.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, oErmo. Sr. Ministro Evandro Lins eSilva. Impedido, o Ermo. Sr. MinistroOswaldo Trigueiro. Tomaram parte nojulgamento os Ermos. Srs. MinistrosEvandro Lins e Silva, Victor NunesLeal, Cândido Motta Filho e Lafayettede Andrade.

Brasília, 23 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santo; Vice-Di-retor-Geral.

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ANCIII180 EXTRAORDINÁRIO N.° 58.367 — 1I0

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Lins e Silva.

Recorrente: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários. Recor-rido: Gerson Pires de Abreu.

Acidente de Trabalho. A reversão de 50% da indenização aoInstituto de Previdência, na conformidade do art. 64, g 4.°, n,da Lei Orgânica da Previdência Social (L. 3.807-60) aplica-se atodos os acidentados, independentemente do período del carência.Revogação, nesse ponto, do art. 12 da Lei de Acidentes doTrabalho. Recurso extraordinário não conhecido.

ACÓRDÃO VOTO

Vistos, relatados e discutidos osautos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em Primeira Turma, na confor-midade da ata do julgamento e dasnotas taquigráficas, por unanimidadede votos, não conhecer do recurso.

Brasília, 2 de maio de 1966. — A.C. Ltdayette de Andrade, Presidente.— Evandro Lins e Silva, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Evandro Lins: — OInstituto de Aposentadoria e Pensõesdoe Industriários recorre extraordinà-demente, alegando violação de lei fe-deral, de acórdão do eg. Tribunal deJustiça de Minas Gerais (f. 25), quedecidiu: ainda no caso de o seguradohaver completado o seu período decarência, só 50% da indenização de-vida por acidente de trabalho devemreverter à autarquia previdenciária,para fim de acréscimo da pensão, nostêrmos do art. 64, § 4•0, II, da LeiOrgânica da Previdência Social, queentendeu ter revogado o art. 22 daLei dos Acidentes do Trabalho.

Admitido o recurso, arrazoou orecorrente, opinando a Procuradoria-Geral da República pelo conhecimentoe provimento do recurso.

É o relatório.

O Sr. Ministro Evandro Lins (Re-lator): — Diz o art. 22 da Lei dosAcidentes do Trabalho (Dl. 7.036, de10.11.44), com a redação que lhe deua L. 3.245, de 19.8.57:

"Uma vez que exceda de Cr$ 24.000(vinte e quatro mil cruzeiros) aindenização a que tiver direito o aci-dentado, nos casos de incapacidadepermanente, ou, na hipótese de suamorte, os seus beneficiários, a dife-rença será destinada è instituição deprevidência social a que Ne pertencer,para o fim de ser concedido acréscimona aposentadoria ou pensão".

Nos §,§ 2.° e 3.°, alude-se è hipóteseem que o acidentado não tiver com-pletado o período de carência neces-sário à concessão do benefício: casoem que, do mencionado excesso, sededuziria o total das contribuiçõeSnecessárias à integração do período,destinando-se a sobra ao acréscimo dapensão. Caso o mesmo excesso nãobastasse a suprir as contribuições,seria, então, devolvido ao segurado ouseus beneficiários.

De seu lado, a Lei Orgânica dePrevidência Social (n.° 3.807, de26.8.60), após tratar, no mond doart. 64 da contagem dos períodos decarência relativos aos vários benefícios.dispõe:

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"§ 4P — Independem de carência:( • • • ) II — a concessão de auxílio-

doença, aposentadoria por invalidez oupensão, nos casos de incapacidade oumorte resultantes de acidente no tra-balho, devendo para êsse fim reverterà instituição de previdência social ametade da indenização que couber, naforma da legislação de acidente dotrabalho".

Está em questão, no presente re-curso, saber se a disposição da LeiOrgânica diz apenas respeito aos aci-dentados no curso do período decarência ou se e de aplicá-lo, também,aos que já completaram o mesmo pe-ríodo, revogando, desta forma, a normado art. 22 da Lei dos Acidentes doTrabalho.

Pela segunda alternativa pendeu oacórdão recorrido; pela primeira, pugnaO recorrente.

Apesar do esfôrço do ilustre Pro-curador da Autarquia, Dr. Levy deAlmeida Azedo, que arrazoou longa-mente o feito, trazendo ao debate aopinião de doutrinadores, em sufrágiode sua tese, entendo que o eg. Tri-bunal de Minas Gerais deu às dispo-sições em exame não só razoável, comocorreta interpretação.

A matéria tratada no art. 22 da Leide Acidentes é a mesma de que cuidao art. 64 da Lei Orgânica da Previ-dência Social. Os dois textos, entre-tanto, não se conciliam quanto à formade partilhar a indenização devida aosegurado. A divergência deve sersolucionada, primeiro pela prevalênciada lei posterior, que equiparou assituações do acidentado no período decarência e as dos que já completaramêsse período. Cuida-se de interpretaçãode lei de caráter social, cuja finalidadeé beneficiar o segurado. E o legisladorlevou em conta, como deverá fazê-lo,também, o intérprete, que o valor daindenização fixado em Cr$ 24.000,nada mais representa. A lei nova quisaumentar êsse valor, fazendo um rea-

justamento assistencial para compensara desvalorização da moeda, aviltada acada dia pela inflação.

O argumento fundamental, entre-tanto, em favor da exegese adotadapela decisão recorrida, está em que ainterpretação contrária, pretendida pelorecorrente, levaria ao seguinte absurdo:— o contribuinte que ainda não hou-vesse completado o prazo de carênciaficaria em situação mais vantajosa queaquele que já houvesse cumprido êsseperíodo. Com isso se beneficiaria exa-tamente o que tivesse pago menornúmero de contribuições à instituiçãode previdência.

O que a lei hoje determina, noscasos de incapacidade ou morte resul-tante de acidente do trabalho é quea indenização independe de carência,devendo reverter a metade da mesmaà instituição de previdência social

Já estava escrito este voto quandoesta 1.a Turma julgou o Ag 36.745Relator o eminente Ministro VictorNunes Leal, em 11.4.66, no mesmosentido da conclusão a que cheguei.

Por esses motivos, não conheço dorecurso, que se funda sômente na letraa do permissivo constitucional.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foi aseguinte: Em decisão unânime, nãoconheceram do recurso.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, oErmo. Sr. Ministro Evandro Lins.Tomaram parte no julgamento osErmos. Srs. Ministros Oswaldo Tri-gueiro, Evandro Lins e Silva, VictorNunes Leal e Lafayette de Andrade.

Brasília, 2 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

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REPRESENTAÇÃO N.° 664 SO

(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Lins e Silva.

Representante: Procurador-Geral da República. Representada: AssembléiaLegislativa do Estado de Santa Catarina.

Representação. Argüição de inconstitucionalidade de lei, quecriou o Município de Aurora, no Estado de Santa Catarina. Re-presentação deficientemente instruída, e, por isso, julgada impro-cedente.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os au-

tos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em sessão plenária, na confor-midade da ata do julgamento e dasnotas taquigráficas, por unanimidadede votos, julgar improcedente a re-presentação.

Brasília, 16 de março de 1966. —A. M. Ribeiro da Costa, Presidente— Evandro Lins e Silva, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Evandro Lins: —

Baseado em representação firmada porRodolfo Niehues e outros, o Exce-lentíssimo Senhor Dr. Procurador-Geral da República submete ao Su-premo Tribunal Federal a argüição deinconstitucionalidade da L. 958. de8,4.64, do Estado de Santa Catari-na, pela qual foi criado o Municípiode Aurora, desmembrado do territó-rio do Município de Rio do Sul, ale-gando o seguinte:

"1. A inconstitucionalidade da leiimpugnada decorre do não atendi-mento aos requisitos imprescindíveisit criação de município, segundo o es-tabelecido nos arte. 96, n.° I, e 98,parágrafo único, da Constituição Es-tadual, e art. 5.°, n.° I, da Lei Or-genica dos Municípios Catarinenses(Documentos de 16 a 18).

2. Pelo documento de n.° 14, osautores da Representação comprovamnão possuir o Município de Auroraaquela população mínima de 10 milhabitantes, constante que é de ape-nas 5.000, não contando com condi-

ções econômicas e administrativaspara sua emancipação.

A carência dessas condicões vi-cia a lei atacada, e a desobediênciaa tais normas estaduais fere frontal.mente o Princípio da autonomia mu-nicipal, assegurado pelo art. 79, nú-mero VII, e, da Constituição Federal.

Em apoio da argüição, a re-presentação invoca farta jurisprudên-cia do Supremo Tribunal Federal, des-tacando julgamento das Repr. 296 e275, referentes à inconstitucionalidadeda criação de municípios de SantaCatarina, por inobservância dos tex-tos constitucionais.

5. Em conclusão, a representaçãopretende que se declare a inconsti-tucionalidade da lei, porque: a) nãose observaram os requisitos fixadospelos arts. 96, n.0 I, e 98, parágra-fo único, da Constituição do Estado,e art. 5.°, n.o I, da sua Lei Orgâ-nica dos Municípios; b) violou-se aautonomia do Município de Rio doSul, de cujo território foi desmem-brado o de Aurora com ofensa aoprincípio protegido pelo art. 7.°,e, da Constituição Federal."

Solicitei informações, e a Assem-bléia Legislativa prestou-as, nestestermos:

"1. A L. 958, de 8.4.64, criando,neste Estado, o Munic:pio de Aurora,resultou da Resolução n.° 56, de15.10.63, da Câmara Municipal deRio do Sul.

2. A Constituição do Estado, emo seu art. 22, n.° 10, atribui compe-tência exclusiva a esta Assembléiapara "aprovar" as resoluções dos or-

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gãos legislativos municipais sôbre in-c‘a ração, subdivisão ou desmembra-mento de municípios. A L. 22. de14. 12.47 (Lei Orgânica dos Municí-pios), no seu art. 63, inc. IX, dis-pondo sôbre e Matéria, diz: "É dacompetência exclusiva da Câmara Mu-nicipal resolver sôbre incorporação,subdivisão ou desmembramento domunicípio, submetendo as resoluções àaprovação da Assembléia Legislativa."

A competência, neste particular,é legítima. A Assembléia Legislati-va deu cumprimento, tão-sèmente, àsdisposições constitucionais e legais,não se verificando, portanto, nenhu-ma falha que a incrimine.

Dispõe a nossa Constituição doEstado, no seu art. 99 (art. 28 daConstituição Federal):

"A autonomia dos municípios seráassegurada:

— pela eleição dos prefeitos ados vereadores;

II — pela administração própria,no que concerne ao seu peculiar inte-resse e, especialmente;

à decretação e arrecadação dostributos de sua competência e à apli-cação das suas rendas;

à organização dos serviços pú-blicos locais.

É assegurada, à Câmara Muni-cipal de Rio do Sul, competência pri-vativa para desmembramento do seumuniémio. Não poderia esta Assem-bléia Legislativa recusar validade, sobpena de atentar contra a autonomiamunicipal, à Resolução daquela amata .

O ponto central desta represen-tação é, segundo o seu autor, o desa-tendimento ao requisito populacionalque, nos termos do art. 96, inc. I,da Constituição do Estado, alteradopela L. Const. nP 7, de 21.12.61,é de 10 mil habitantes.

7. Esta Assembléia ao votar aL. 958, de 8.4.64, criando o Muni-cípio de Aurora, apoiou-se na Reso-lução nP 56, de 15.10.63, da Câma-ra Municipal, que, aliás, satisfez todosos requisitos exigidos nos diplomas le-gais acima citados.

Dentro da configuração do princí-pio de autonomia municipal, tal comose encontra no art. 28 da Constitui-ção Federal (art. 99 da Constitui-ção Estadual), seria impertinência seessa Assembléia condicionasse a apro-vação da Resolução n.° 56, editadapela Câmara Municipal de Rio doSul, em virtude de sua competênciaprivativa, à exibição, por essa mes-ma Câmara, das provas da observân-cia dos requisitos essenciais para cria-ção de municípios. Ressalte-se, po-rém, que todos os requisitos foramsatisfeitos.

8. A Câmara Municipal de Rio doSul, agindo como agiu, satisfez tôdasas exigências constitucionais e le-gais."

Dou por feito o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Evandro Lins (Re-

lator): — A Representação foi apre-sentada à Procuradoria-Geral da Re-pública insuficientemente instruída,como notou o eminente Dr. OswaldoTrigueiro, no despacho de f. 24,quando baixou os autos em diligên-cia, para que os interessados juntas-sem os textos legais referidos, ou se-ja, os arts. 96, n.° I, e 98, parágrafo(mico, da Constituição do Estado deSanta Catarina, e art. 5.°, nP I, daLei Orgânica dos Municípios.

A exigência foi cumprida parcial-mente. Como se vê dos documentosde f. 26-30, foram juntos textos in-completos, não sendo possível verifi-car a procedência das alegações conti-das na Representação.

O desmembramento do Municípiode Rio do Sul, para a criação do Mu-nicípio de Aurora resultou de inicia-tiva da Câmara Municipal de Rio doSul, como informa a Assembléia Le-gislativa.

A principal argüição dos interessa-dos é de que teria sido desatendidoo requisito populacional, que é 10.000habitantes. Realmente, o documentode f. 22, da Agência Municipal deEstatística, informa que a antiga lo-calidade de Alto Rio do Sul. quehoje constitui o Município de Auro-

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ra, tinha 5.000 habitantes no ano de1960, quando a Constituição do Es-tado exige, para a criação de nevomunicípio, a população mínima de10.000 habitantes.

Não consta dos autos a resoluçãoda Câmara Municipal de Rio do Sul,no sentido da criação do Municípiode Aurora, desconhecendo-se se essapopulação aumentou entre os anos de1960 e 1964, de modo a satisfazer aexigência constitucional.

Como consta das informacões, aCâmara Municipal de Rio do Sul,dentro de suas atribuições, exibiu asprovas da observância dos reauisitospara a criação de município.

Acrescentam as informações que to-dos os requisitos foram satisfeitos.Não há elementos nos autos quecontrariem essas informações. Por is-so não há como desecolhê-las. razãopela qual julgo improcedente a Re-presentação, que está deficientementeinstruída.

o meu voto.

SUSTENTAÇÃO DE PARECER

O Sr. illcind Salasar, Procurador-Geral da República: — Ermo. Se-nhor Presidente, Ermos. Srs. Ministros,há aqui um outro aspecto, que convémser focalizado, sempre com o objetivode esclarecer tão importante questão.

Como o eg. Tribunal ouviu a ex-posição do Sr. Ministro Relator, aAssembléia declarou expressamente serimpertinência de sua parte subordinara votação da lei de criação de ummunicípio à exibição de prova. Seriaimpertinência de sua parte submetere criação do município, à exibição deprova dos requisitos contidos na pró-pria Constituição, sob o fundamentode que sai da competência da CâmaraMunicipal e que, então, o que deviafazer a Assembléia era apenas votara criação do município. Ora, isso cou-beste inteiramente com o dispositivoa que fez referencia o eminente Mi-nistro Hermes Lima no caso anterior,relativo ao assunto contido no AI 2,que é o seguinte:

"Art. 22. %mente poderão sercriado, município, novos depois defeita prova cabal de sua viabilidadeeconômico-financeira, perante a Assem-bléia Legislativa",

É um dispositivo do AI 2, justa-mente no sentido de coibir o abusona criação de municípios, gerandoessas situações que aqui tantas vezes,têm sido observadas. Temos, então,um dispositivo de nivel constitucional,exigindo prova cabal, e vem uma in-formação da Assembléia dizendo queseria impertinência subordinar o atode criação de município à exibição deprova, isto e, a observância dos re-quisitos do AI 2.

Por fim, termino estas considerações,focalizando um aspecto de importância,e que foi apontado pelo Ministro PradoKelly, quando, em sessão anterior, sediscutiu o assunto. É que a obser-vância da Lei Orgânica é a obser-vância do princípio de autonomia dosmunicípios, porque, muitas vezes, éatravés da Lei Orgânica que o muni-cípio fica resguardado da possibilidadede um esfacelamento. Essa Lei Orgâ-nica, que a Constituição dos Municí-pios estabeleceu, é o meio de garantira autonomia do município.

Sr. Presidente, reitero a Repre-sentação da Procuradoria-Geral daRepública, no sentido da sua proce-dência.

ADITAMENTO AO VOTOO Sr. Ministro Evandro Lins (Re-

fator): A Representação dirigidaao Procurador-Geral da República foiinsuficientemente instruída, tanto quen eminente Dr. Oswaldo Trigueiro, àf. 24, baixou os autos em diligência,nestes termos:

"1. A presente Representação fun-da-se na alegação de infringência dosarta. 96, n.0 I, e 98, parágrafo único,da Constituição do Estado de SantaCatarina, e art. 5.°, n.° I, da LeiOrgânica dos Municípios. Todavia,não foram anexados os textos das nor-mas estaduais invocadas, sequer sendotranscritos na Representação.

2. Dessa forma, oficie-se ao autorda Representação solicitando-se que

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seja diligenciada e juntada dos textoslegais em referência, do que dependeráo processamento da argüição.

Brasília, 25 de março de 1965. —a) Oswaldo Trigueiro, Procurador-Ge-ral da República".

As considerações feitas pelo emi-nente Dr. Oswaldo Trigueiro, entãoProcurador-Geral da República, mos-tram a grande relevância, do pontode vista político, econômico e social,da criação de um município. Entendoque pode ser da maior gravidade urnadecisão do Supremo Tribunal Federal,julgando inconstitucional lei que criamunicípio. Muitas vezes, o Represen-tação vem a ser julgada procedenteanos depois, provocando problemasmuito mais graves do que a manu-tenção de um município, que teria sidocriado com alguma irregularidade.

Penso mesmo que, diante do rele-vante papel do Supremo TribunalFederal na vida institucional do País,nós só devíamos julgar tais processoscom informações mais recentes a res-peito do funcionamento desse municí-pio. Devíamos saber se ele realmenteé populoso e se tem uma economiacapaz de sustentar a manutenção dosseus serviços. Uma verificação dessaordem seria da maior utilidade. Tal-vez fôsse aconselhável que o legisladorencarasse esse problema, dando, porexemplo, poderes à Procuradoria-Geralda República para que, nas proximi-dades do julgamento dessas represen-tações perante o Supremo TribunalFederal, verificasse as condições desobrevivência desses municípios.

Sempre me inclinei, nesses casos,quando não há prova cabal de ilega-lidade ou de inconstitucionalidade,como no caso, a julgar improcedentea Representação.

No caso, temos um detalhe: conheçoa região, que é a de Rio do Sul, fa-zendo parte do Vale do Itajai.

Sn Ministro Hahnemann Gui-marães: — V. Excia. converteria ojulgamento em diligência?

Sr. Ministro Evandro Lia (Re-'ator): Não, julgo improcedente a

Representação. Conheço a região. Émunicípio de Rio do Sul, já des-

membrado do de Blumenau há maisde 20 anos. Aliás, é grande a capa-cidade criadora do Município deBlumenau, que produziu vários outrosmunicípios, no governo Nereu Ramos.Nesse período, vários municípios fo-ram desmembrados do de Blumenau,

todos eles têm vida própria e sãoprósperos.

Tudo indica, por estes precedentes,que o Município de Aurora tem con-dições de vida própria. Quem propôs

desmembramento foi o próprio mu-nicípio desmembrado, o Município deRio do Sul.

Por essas razões, Sr. Presidente,julgo improcedente a Representação.

VISTA

Sr. Ministro Prado Kelly: —Peço vista.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Pediu vista o MinistroPrado Kelly após o voto do Relatorjulgando improcedente a representa-ção. Adiado.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroA. M. Ribeiro da Costa. Relator, oExmo. Sr. Ministro Evandro Lins

Brasília, 2 de março de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

VOTO

Sn Ministro Prado Kelly: —Há quase 20 anos se vem ordenandoa jurisprudência do Supremo Tribunala propósito do desmembramento ter-ritorial de Municípios para a criaçãode outras unidades político-administra-tivas. Pareceu-me, por isso, conveni-ente à solução das representações emcurso extrair daquele dilatado ensino,expresso numa centena de acórdãos,alguns princípios insistentemente pro-clamados e certos critérios cuja obser-vância contribuirá para a uniformidade

a coerência de nossas decisões.

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1raiz de todos or debates, depara-

se invariavelmente o zelo da Altacerto pela autonomia municipal, se-gundo a plasmaram os fatos políticos

a consagrou enfaticamente a Cons-tituição.

As franquias locais, mal enunciadasno texto de 1891, ganharam vulto econsistência, mediante construções ju-rídicas lenta e aàbiamente empre-endidas por este pretório.

A bem dizer, a I República, pelaação vigilante do Judiciário, completouorganicamente um processo histórico,iniciado na fase colonial e desenvol-vido ao longo de dois reinados. Sóentão se cumpriu o voto da Carta de1824, que procurara assegurar, maisliterária que efetivamente, "o governoeconómico e municipal das cidades evilas"; pois, em todo o período mo-nárquico, não logrou aquela promessavencer os preconceitos da época, —antes a lei regulamentar de 1828 mar-cou um incrível retrocesso, definindoos Municípios como "corporações me-ramente administrativas", vedando-lhesexercer qualquer jurisdição contenciosa

sujeitando-as à tutela dos poderescentrais, quer na subordinação diretaao presidente da província, quer nadependência, em certas matérias, doMinistro do Império e da legislaturageral. A função corregedora, que re-manesce de alguma forma nas atuaisAssembléias, procede, como se sabe,do Ato Adicional de 1834. Mas nãosó com isso se minimizou a partici-pação política local, senão ainda setraduziu um estado -de espírito fun-dado na errónea suspeita de imaturi-dade do povo para o self-government,como chegou a escrever o Visconde deUtruguai. Os novos rumos, esboçadospor Outo Preto ao fim do Império, emtOrtio da instituição de tributos priva-tivos das comunas, só repercutiriammeio século mais tarde, na Constituintede 1934.

Foi a jurisprudência, desde o co-meço da República até a admirável,enérgica, persistente ação de PedroLesse nesta arte O Direito, vo-lumes 88/156 e 111/263; Revista do

Supremo Tribunal, vol. 1, pt.p. 104 e 255; vol. 2, pt. La, p. 100

406; vols. 5/364 9/197, 10/67,13/173 e 335, 32/220, 34/62, 46/207,53/378, 63/423, 69/273; Levi Car-neiro — Pandectas, vol. II, pt. 2.a,P. 156X que estatuiu as bases daformulação constitucional em vigor(arts. 28, 29, 15, §§ 2.° e 4.°, 23 e24). Não seria a jurisprudência agoraque renegasse tão meritório concursoà formação do nosso direito público.Sob iguais inspirações, o Supremo Tri-bunal vem resguardando a mesmaautonomia à sombra doa preceitosconstitucionais da União (art. 7.0,VII, e) e dos Estados, aos quais sereconhece, em harmonia com o exem-plo norte-americano, a faculdade de"organizar os Municípios" (CastroNunes, Do Estado Federado, pá-gina 144), mas aos quais se nega oarbítrio de restringir, direta ou obli-quamente, a amplitude consagrada nalei maior (Acórdãos nas Repr.:n.° 223 de São Paulo, Relator o Mi-nistro Ribeiro da Costa; n.° 275 deSanta Catarina, Relator o MinistroCândido Motta; n.° 314 do Rio deJaneiro, Relator o Ministro Lafayettede Andrade; n.° 577 de Santa Cata-rina, Relator o Ministro Hermes Li-ma).

No particular do desmembramentoterritorial, acentuou o Ministro LuizGallotti que, se a Constituição garantiuaos Estados o direito a território, não

fez em relação aos, Municípios(Acórdãos nas Repr. ns. 199, 206,224, 233). Mas fama é convir que,também no tocante a Estados-mem-bros, a lei básica admite se incorporementre si, se subdividam e se desmem-brem para se anexarem a outros oucomporem novas unidades, consoanteos meios formais que ela indicou noart. 2.0, — a verdadeira fonte dedisposicões homólogas das Constitui-ções Estaduais, no que pertine aosMunicípios.

Tão exato é este raciocínio que ondea norma competente obriga (em als09de desmembramento) è realizarão deplebiscito entre as populações interes-sadas este arte deu por seguido, enão por desacato, o modelo federal

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(Acórdãos nas Repr.: n.° 234 deSão Paulo, Relatar o Ministro Oro-zinho Nonato; nP 302 de São Paulo,Relator o Ministro Cândido Motta;n.° 349 do Ceará, Relator o MinistroLuiz Gallotti; n.° 358 de Alagoas,Relator o Ministro Luiz Gallotti; nú-mero 401 do Paraná, Relator o Mi-nistro Cândido Motta; n.° 404 deAlagoas, Relator o Ministro AryFranco; n.° 226 de São Paulo, Relator

Ministro Nelson Hungria; e n.° 423do Rio de Janeiro, Relator o MinistroSampaio Costa). E nisto andou comvisível acerto, porquanto não é diversaa tendência do moderno direito cons-titucional, principalmente o europeu,em matéria de jurisdição territorial.Na Alemanha, p. ex., se previu areorganização do território em funçãodos sentimentos de afeição local, delaços históricos e culturais, das con-veniências econômicas e de estruturasocial". A Constituição de 1949 con-sentiu que, nas porções de provínciadesmembradas da originária em 1945,

décimo de eleitores a Dieta ti-vesse a iniciativa, no prazo deum ano, de pedir alteração da lei.Ordenou também que a lei geral anun-ciada fôsse objeto de referendum daspopulações atingidas por ela; e, sehouvesse divergências "parciais", anova decisão federal seria submetidaa referendum em todo o território doReich (art. 29, § 19 e 7.°). Emcasos que tais, a consulta popular selegitima de todos os ângulos, ao con-trário do que sucede, entre as especia-listas, com o "plebiscito prOpriamentedito", ou seja a confiança pedida emfavor de um homem ou de uma polí-tica (M. Duverger, Droit Ccmsti-tutlonnel et Institutiona Politlquea,p. 228; G. Vedei, Manuel Elémen-taire de Droit Constitutionnel, p. 137).

Partindo desse princípio, o Supremocondicionou a validade do desmembra-mento à observância de todos os re-quisitos e formalidades estabelecidosna respectiva ConstituiçãO, conside-rando que "a divisão, sendo feitacontra, a lei básica do Estado, seráuma violência que o Município não

está obrigado a obedecer" (Acórdãosnas Repr.: n9 212 de Minas, Relator

Ministro Mário Guimarães; n9 200de São Paulo, Relator o MinistroAfrânio Costa; n.° 217 do Rio Grandedo Norte, Relator o Ministro LuizGallotti; n.° 218 da Paraíba, Relator

Ministro Lafayette de Andrade; nú-mero 221 da Paraíba, Relator o Minis-tro Nelson Hungria; n.° 222 de SantaCatarina, Relator o Ministro Abner deVasconcellos; n.° 229 de Santa Cata-rina, Relator o Ministro HahnemannGuimarães; n.° 242 do Maranhão, Re-lator o Ministro Lafayette de Andrada;n.° 283 do Rio Grande do Norte,Relator o Ministro Vilas Boas; n.° 293do Pará, Relator o Ministro Luiz Gal-lotti; n.° 297 do Rio Grande do Norte,Relator o Ministro Lafayette de An-drade; n.° 298 de Pernambuco, Re-lator o Ministro Henrique d'Avila;n.° 352 do Ceará, Relator o MinistroCândido Motta; n.° 374 de Santa Ca-tarina, Relatar o Ministro Ary Franco;n.° 393 de Goiás, Relator o MinistroAry Franco; n.° 399 de Santa Cata-rina, Relator o Ministro Cândido VS-bo; n.° 400 de Alagoas, Relator oMinistro Lafayette de Andrade; nú-mero 402 de Santa Catarina, Relator

Ministro Barros Barreto; n.° 451do Rio Grande do Norte, Relator oMinistro Cândido Motta; n.° 501 daBahia, Relator o Ministro CândidoMotta; n.° 507 de Santa Catarina,Relator o Ministro Victor Nunes Leal;n.° 534 de Santa Catarina, Relator oMinistro Victor Nunes Leal; n.° 574do Rio Grande do Norte, Relator oMinistro Evandro Lins e Silva; nú-mero 576 de Alagoas, Relator o Mi-nistro Hahnemann Guimarães; n.° 592de Goiás, Relator o Ministro PedroChaves; n.° 598 de Santa Catarina,Relator o Ministro Cândido Motta).Nesse rumo, ainda reclamou o cumpri-mento de cláusula inserta em "Dispo-sições Constitucionais Transitórias"(Acórdão na Repr. 215 da Bahia.Relator o Ministro Ribeiro da Costa).

Ocorre, porém, que nem todos osEstados-membros, em suas Constitui-ções, estabeleceram condições ou exi-gências para a criação, a anexação, odesmembramento ou a supressão de

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Municípios. Fizeram-no Goiás (ar-tinos 86 a 90), Mato Grosso (art. 80).Minas (art. 80), Rio Grande doNorte (arta. 74, 76, 77), Rio Grandedo Sul (art. 139 e parágrafo único).Rio de Janeiro (art. 84) e SantaCatarina (arts. 96 e 98). Outros de-legaram tal atribuição às "leis orgâ-nicas", como Alagoas (art. 88), Ama-zonas (art. 101), Espírito Santo (ar-tigo 54, parágrafo único), Guanabara(art. 52 cb. com o art. 9.° das"Disposições Transitórias"), Pará (ar-tigos 65, 85, 86), Paraíba (arta. 77,81, 83), Paraná (art. 132 e parágrafoúnico), Pernambuco (art. 103 ega 1.0 e 2.°), Piauí (art. 16) eSergipe (art. 92) . Outros ainda par-tilharam aquela tarefa entre a Cons-tituição e a "lei orgânica" (Bahia,arte. 93, II, e 91; Ceará, arts. 88 e89; Maranhão, arte. 85 a 87; SãoPaulo art. 73).

Por identidade de motivos, o Su-premo, em grande cópia de decisões,pautou o seu julgamento pelo queprescreviam, em concorrência, as Cons-tituições e as "leis orgânicas" (Acór-dãos nas Repr.: n.° 193 da Bahia,Relatar o Ministro Ribeiro da Costa;n.° 207 de São Paulo, Relatar o Mi-nistro Ribeiro da Costa; n.° 210 deMato (lrosso, Relatar o Ministro Ro-cha Lagoa; n.° 214 da Bahia, Relatos

Ministro Hahnemann Guimarães:n.° 216 da Bahia, Relatar o MinistroMatado Ludolf; n.° 244 do EspíritoSanto, Relatar o Ministro Ribeiro daCosta; n.° 247 de São Paulo, Relatar

Ministro Rocha Lagoa; n.° 254 doRio de Janeiro, Relatar o MinistroRibeiro da Costa; na. 259 e 260 daBahia, Relatar o Ministro Ary Franco;n.° 273 de São Paulo, Relatar o Mi-nistro Rocha Lagoa; n.° 296 de SantaCatarina, Relatar o Ministro Luiz Gal-lotti; n.° 397 de Santa Catarina, Re-latar o Ministro Barros Barreto; n.° 403de Santa Catarina, Relatar o MinistroLefayette de Andrade; n.° 424 daBalda, Relatar o Ministro CândidoMoita; n.° 506 de São Paulo, Relatar

Ministro Gonçalves de Oliveira;n.0 522 da Paraíba, Relatar o MinistroGonçalves de Oliveira; n.° 529 doRio Grande do Norte, Relatar o Mi-

nistro Hahnemann Guimarães; n.° 534do Rio Grande do Norte, Relatar oMinistro Ary Franco; n.° 573 de Ala-goas, Relatar o Ministro Pedro Cha-ves; n.° 586 do Piauí, Relatar o Mi-nistro Luiz Gallottl; n.° 590 do Ceará,Relatar o Ministro Hahnemann Gui-marães; n.° 638 do Maranhão, Relatar

Ministro Cândido Motta) •E, quando só a "lei orgânica" se

defrontava, o Tribunal a sobrepôs à"lei especial" (Acórdãos nas Repr.:n.° 294 do Maranhão, Relatar o Mi-nistro Ribeiro da Costa; n.° 347 deMinas, Relatar o Ministro Ribeirada Costa; n.° 377 de Alagoas, Relatar

Ministro Lafayette de Andrada;n.° 398 de Santa Catarina, Relatar oMinistro Nelson Hungria; n.° 475 daBailia, Relatar o Ministro Lafayette deAndrade).

nrNas espécies pendentes de decisão,

objeta-se que, obedecendo a igual tra-mitação nas Assembléias Estaduais asleis orgânicas e as leis específicas decriação de Municípios, estas últimas,quando destoam das primeiras, devem.sempre prevalecer em seus efeitos, por-que terão derrogado, na parte con-flitante, os textos anteriores.

A conclusão levaria à conseqüênciade serem, em tal matéria, desnecessá-rias, inúteis, redundantes as leis orgâ-nicas.

Opinando acerca do assunto. o cul-to Procurador-Geral rememorou no-meadamente e reforçou com seu apoiea divergência que manifestei em re-lação a tese adotada, há pouco tem-po, neste plenário, pelo eminente Mi-nistro Victor Nunes.

Senti-me no dever de acudir àconvocação, e pedi vista dos autos.

Em verdade me pareceu inaceitável,concorra venia, a objeção renovadanaquele ensejo e prestigiada por vo-tação recente do Tribunal Pleno, emoposição aos inúmeros acórdãos queacabo de trazer à conferência.

Melhor do que eu sabe o eg. Tri-bunal que, se forma/mente se nivelamaquelas espécies de "leis", divo:min-

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cem materialmente, seja por sua na-tureza, seja por seu alcance. LembraEamein que a variedade das fun-ções das Câmaras não impede que ti-da decisão tomada por elas, conformea seu poderes e em texto idêntico, tra-ga o nome genérico de "leis" — e isto,em dada terminologia, está certo doponto de vista da "forma". "Mas,quanto ao fundo (acrescenta) muitasdelas não são "leis' e sim "atos par-ticulares que não firmam regra geralde duração indefinida, nem corres-pondem, por isso, à qualificação cor-reta de lei" (Êlément de DroitConstitutionnel, vol. II, p. 879-80) .Indigita, noutro tópico (p. 15, nota1), entre aquelas "resoluções parti-culares, os privilegia que os Romenosherdaram dos Gregos e arrola exem-plos de estatutos em "matéria legisla-tiva" na prática do parlamento in-glês e do parlamento francês (p. 952e s.).

Se o confronto assim se arma emrelação a "leis da mesma categoria"(ou "gerais" ou "privadas" — pri-vate bills), que se não dirá da com-paração entre as "leis orgânicas" e as"leis ordinárias", levando-se em contaque as primeiras são complementaresda Constituição?

Ao levantar o rol daqueles diplo-mas, na Comissão Mista designadapelo Congresso, o Relator João Man-gabeira inspirou-se em conhecida ad-vertência de Ruy: "As Constituiçõesnão têm caráter analítico das codifi-cações legislativas. São, como se sabe,largas sínteses, sumas de princípiosgerais, onde, por via de regra, só seencontra o substractum de cada ins-tituição nas suas normas dominantes,a estrutura de cada uma reduzida, asmais das vezes, a uma característica,a uma indicação, a um traço. Ao le-gislador cumpre, ordinãriamente, re-vestir-lhes a ossatura delineada. im-por-lhes o organismo adequado e dar-lhes capacidade de ação". (Documen-tos Parlamentares XCIII — Leis Com-plementares, vol. I, p. 197-198). E,como Ruy se louvara no lexicógrafoDomingos Vieira ("Leis orgânicas sãoas que têm por objeto regular o modoe a ação das instituições ou estabeleci-mentos cujo princípio foi consagrado

por uma lei precedente") . Louvou-seMangabeira na lição de Duguit: "Estacategoria compreende não sómente asleis constitucionais rígidas, mas tam-bém as de organização política, ad-ministrativa e judiciária". Nesse pla-no superior, elas se equiparam, por-tanto, às Constituições e, tanto quan-to estas, limitam (até serem refor-madas) a atividade normal das le-gislaturas.

Por semelhantes razões, o saudosoProfessor Sampaio Doria distinguiu,em seu "Projeto" de 1946, as "leisorgânicas" e as "ordinárias", exigin-do para a votação ou emenda dasprimeiras quorum qualificado, mais nu-meroso que o das segundas. E aí es-tava a seguir as modernas tendênciasdo direito, que assinam às "leis orgâ-nicas", em benefício da lógica "for-mai", um lugar intermédio entre asConstituições e as leis ordinárias,como realça G. Burdeau (Droit Cons-titutionnel et Institutions Politirmes,ed. 1965, p. 61) e veio a ser adota-do na Constituição francesa de 1958

Sirat, Les Lois Organiques etla Constitution de 1958, 1960, Chron,p. XXVII; M . Prélot, InstitutionsPolitiques et Droit Constitutionnel,1961, p. 749; D. Pickles, The FifthFrench ~afilio, 1960, p. 99) •

Mas creio trazer para a discussãoum argumento decisivo.

distinção, feita em direito cons-titucional, entre "competência exclu-siva" do Congresso (art. 66) e "atri-buições dependentes de sanção presi-dencial" (art. 65) corresponde, emdireito parlamentar, a diferença entre"decreto legislativo" e "lei", caracte-rizada de modo inequívoco nos regi-mentos das duas Câmaras.

A discriminação tem tida a impor-tância para o objeto e os trâmites dosprojetos, porque, se a "sanção" nãoimporta (ao contrário do que pareceue vários publicistas) em "colaboraçãolegislativa", constitui "ato extrínseco"de outro Poder e, como Exidamenteponderou Herculano de Freitas, na Fa-culdade de São Paulo, "o legisladorconstituinte afirmou assim não ter oCongresso Nacional um poder absoluto

R.T.J. 38 57

S legislação, e seu trabalho precisaconformar-se com a utilidade e a ne-cessidade pública e com os preceitosde lei fundamental" (Direito Constitu-cional, p. 183). É bem de ver que as

como tais entendidas e em cujaformação participam ambos os Podereseletivos, hão de primar, em suas nor-mas gerais e obrigatórias, sabre os"decretos", mediante os quais o Par-lamento exerce "atribuicões exclusi-vas", dependentes apenas da sua opção[tontice.

Ora, o padrão federal, no preceitoque serviu de fonte, como dissemos,às cláusulas estaduais ora examinadas(Constituição, art. 2.°), configurauma "competência exclusiva" do Con-gresso (art. 66, VI) que se exercita,não mediante "leis", e sim mediante"decretos legislativos".

De igual modo devem proceder,nos Estados, as respectivas Assem-bléias," no que toca ao desmembra-mento de áreas municipais, como,aliás, ficou determinado nas Consti-tuições da Bahia (art. 100), do Es-pírito Santo (art. 18, VIII), de Goiás(art. 21, XV), do Rio Grande doSul (art. 39, VI) e de Santa Cata-rina (art. 22, X). E é curioso obser-var: .

L0) que, se as demais se fizeramomissas a respeito, nem por isso dei-xaram algumas de prever, em iden-tidade de situação, outras deliberaçõesrelativas à vida municipal (Amazo-nas, art. 23, XII; Ceará, art. 17,XIII- Rio Grande do Norte, art. 21,VI);

2.0) que, correta ou errOneamente(com sanção ou sem ela), teclas pre-viram a hipótese do art. 2.° da Cone-titutição Federal.

Destarte, jamais se pode dar a de-nominação de "lei" ao "ato" da As-sembléia que aprova, ou não, a se-paração de parte de um Municípiopara erigir-se em Município autô-nomo.

E, se de "decreto legislativo" setrata, há Me de subordinar-se aos man-damentos da "lei" que o discipline,seja ela "ordinária", seja "orgânica",elaboradas ambas de igual maneira,com sanção do Governador, indispen-

sável à eficácia e à exectatoriedade dotexto.

Uma "lei" só se entenderá revogadapor outra de igual categoria (Intro-dução ao Código Civil, art. 2P), nun-ca por um "decreto legislativo" oupor uma "resolução" de câmara ouassembléia.

Se o "decreto legislativo" entestacom a "lei", deixa de ser operante,como deixarão de sê-lo, no mesmo ca-so, os "decretos executivos".

IVResta agora aplicar os princípios

acima enunciados às questões em jul-gamento.

A 1P Representação (nP 581 doPiauí), relatada pelo eminente Mi-nistro Vilas Boas, despreza os inci-dentes do processo legislativo, antesfocalizados, e cinge a inconstituciona-lidade da L. 2.566, de 2.1.64 (ati-nente à criação do Município de Pa-dre Marcos) a duas argüições:

infringência do princípio de re-visão qüinqüenal da divisão adminis-trativa, expresso no art. 37, n.° 8, daConstituição Estadual;

violação da autonomia reconhe-cida na Constituição Federal, comsujeitar a nova comuna à administra-ção de prefeito nomeado pelo gover-nador.

A primeira das argüições repousano pressuposto de que, inexistindo(como se confessa à f. 5) lei de di-

visão administrativa após a Consti-tutição, da promulgação desta se con-tam os qüinqüênios proibitivos.

Não interpreto por esta forma oart. 37, inc. 8, da ConstituiçãoPiauiense. Já Hely Lopes Meirelles,no Direito Municipal Brasileiro (vol.

p. 40), frisou o descabido da fra-se "a União não tem Municíoios",desde que a lei máxima prescreveuregras peculiares como reage (entreoutras a que mantém inalterável, porum qüinqüênio, a divisão judiciária,art. 124, I). Este é, de fato, o mol-de do dispositivo em causa e, à luzdaquele preceito se entenderá o úl-timo; tanto mais quanto o mesmo au-tor aduz que, embora a divisão judi-

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'birita não se confunda com a admi-ndetrativa, "os Estados-membros reali-zam uma e outra na mesma época,para que vigorem ambas pelo mesmoqüinqüênio". Ora, o ponto de parti-da para a contagem do período não é,pela Constituição Federal, o da pro-mulgação do seu texto nem o da pro-mulgação do texto estadual que repitaa norma, e sim o da lei ordinária res-pectiva: "... da data da lei aue asestabelecer (divisão e organização)".Se, após a Constituição do Estado nãose ditou lei alguma a respeito, nãoocorre o impedimento que ambos osestatutos prevêem, um em relação àdivisão judiciária, outro em relação aesta e à divisão administrativa.

Também não colhe a segunda argüi-ção, porquanto se sanou o defeito in-quinado, em face da eleição e posseulteriores de prefeito, vice-prefeito evereadores, como se alega à f. 108 ese comprova à f. 109-119.

2.4 Representação (n.° 664 deSanta Catarina), relatada pelo emi-nente Ministro Evandro Lins e Silva,firma-se em que, exigindo a Constitui-ção e a Lei Orgânica o mínimo de10.000 habitantes do distrito vara asua transformação em Município ....(f. 1), só 5.000 contava Aurora, quan-

do se desmembrou de Rio do Sul.

Na espécie, todavia, é de atentarem que a prova produzida não ofe-rece condições de certeza, pois a esti-mativa da Agência Municipal de Es-tatística resultou de recenseamento aque se procedeu há seis anos e, nes-sa parte, a Representação não se podehaver como cabalmente instruí-da (caso análogo aos da Repr. 572do mesmo Estado e 578 de Alagoas,das quais foram Relatores os eminen-tes Ministros Victor Nunes e VilasBoas, respectivamente).

Acresce que a Assembléia não sóobtempere "terem sido satisfeitos to-dos os requisitos" em causa, senãotambém informa que, na conformida-de do art. 63, IX, da Lei Orgânica(1. 35), foi o próprio Município deRio do Sul que, pela Resolução nú-mero 56, de 1963, sujeita à aprova-ção do Legislativo Estadual, delibe-rou sôbre o desmembramento, de que

ora se cuida. A invalidado do pre-ceito acima citado seria patente drpois da vigência do AI 2. de 27.10.65,que obriga as legislaturas a exigirem"prova cabal de viabilidade econômi-co-financeira" de "Municípios novos"(art. 22). Até então, a invalidado se-ria discutível e dificilmente serviriade suporte à denúncia de violação de"autonomia local", pois a própria en-tidade autônoma assim o quis e deli-berou, e nisso aquiesceu o Estado(principio consentâneo com o argu-mento da Repr. 255 de São Paulo,da qual foi Relator o eminente Mi-nistro Luiz Gallotti).

A 3.° Representação (n.o 656 doRio Grande do Norte), relatada peioeminente Ministro Hermes Lima, ba-seia-se em dois argumentos:

ter-se desatendido a requisitossubstanciais do art. 3.° da Lei Orgâ-nica (n.o 109, de 1948, modificadapeias L. 410, de 1951, e 1.187, de1955);

ter sido a L. 2.779, de 10.5.62(pela qual se criou o Município deLagoa de Pedras) editada em ano demilésimo dois, e não de três e oito,como exige a Constituição.

Não dou pdlo segundo argumento,quer em vista da opinião já manifes-tada a propósito da Reclamação an-tecedente (n.° 581 do Piauí), quer emvirtude da informação prestada pelaAssembléia (f. 22-23) de haver aL. 2.890, de 25.6.63 (ano de mi-lésimo três) ratificado a lei anterior(n.o 2.779, de 1962).

Mas, dou pelo primeiro argumen-to, pois está comprovado:

que Brejinho e Lagoa de Pe-dra, conforme censo escolar recente(1964), têm respectivamente 4.070 •4.125 habitantes (f. 11 e 14)

que nenhum dos dois Municí-pios, segundo as atestações de f. 12e 15, possui açougue e matadouro, esó no Ultimo existe mercado:

c) que falecem, portanto, os requi-sitos do art. 3.0, I e IV.

Limita-se a Assembléia a sustentarque as leis inquinadas de inconstitu-cionalidade revogaram a lei orgânica:

R.T.J. 38 59

penso ter demonstrado a sem-razão datese nas longas considerações feitas naprimeira parte do presente voto.

A última Representação (a° 645do Rio Grande do Norte), relatadapelo eminente Ministro Hermes Lima,reputa inconstitucional a L. 3.037,de 27.12.63, que criou o Municí-pio de Passagem, desmembrado dode Brejinho, por inconformidade delacom o art. 3.° da Lei Orginka, re-trocitada.

Também aqui se provou (f. 12)que a população é de 2.800 almas(em contraste com a exigência subs-tancial de 10.000) e não existem pré-dios para matadouro e mercado (con-tra o que exige o mencionado artigo,nos inc. I e IV).

Também aqui a Assembléia reedi-ta a tese insustentável de aue aL. 3.037 revogou a Lei Orgânica.

Em face do exposto, julgo as qua-tro Representações pela seguinteforma:

improcedente a de n.° 581 doPiauí;

improcedente, por deficiência deinstrução, a de n.° 664 de Santa Ca-tarina;

procedentes as de ns. 656 e 645do Rio Grande do Norte, para decla-rar a inconstitucionalidade das L. 2.832, 2.779 e 3.035 que criaram,respectivamente, os Municípios deBrejinho, Lagoa de Pedras e Passa-

VOTOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

— Sr. Presidente, meu voto é jul-gando improcedente as Representa-ções.

Estou de acôrdo tanto com o emi-nente Relator, como com o voto ex-tremamente brilhante e fecundo doMinistro Prado Kelly, até mesmo se-gundo o argumento, que eu percebi,de que a Assembléia teria impôstoao nôvo Município do Piauí um pre-feito nomeado durante algum tempo.Isto não me impressionaria, porque,conquanto essa disposição de lei es-tadual seja de evidente inconstitucio-nalidade, a meu ver, o município, de-

pois de admitido, não é obrigado acumpri-la.

Eu me fundo na construction daCôrte Suprema dos Estados Unidos, apropósito dos chamados EnablingActa, pelos quais os antigos Territó-rios são admitidos à condição de Es-tado.

Nenhum território pode ser admiti-do, nos Estados Unidos, sem a apro-vação do Congresso, e agora isso faz-se um ato, chamado, na linguagem lo-cal enalbling act. Depois que o Ter-ritório prepara SIM Constituição —convocando, para isso, uma Constituin-te (Convention) — entrega o projetoaprovado ao Governador do Territó-rio. Este o remete ao Presidente daRepública, que o submete ao Con-gresso. Depois disso o Congresso deter-mina as condições no Enabling Act.Agora, depois de admitido, o nôvo Es-tado não é obrigado a cumpri-las.

Isto foi decidido em doia casos. umdeles, relativo a Oklahoma. Impôs-seque Oklahoma conservasse, duranteum período de 1906 até 1913 a Ca-pital atual, isto é, aquela do momentoda admissão. Isto não convinha aOklahoma que, depois de 4 ou 5anos, mudou a capital para OklahomaCity. Houve litígio e foi consideradoque a lei de admissão não obriga oEstado a cumprir as condições (Coy-le versus Smith, 221 U.S. 559, de1911).

A meu ver, o nôvo município, de-pois de admitido, não é obrigado asujeitar-se a êsse prefeito nomeado.Poderá promover a eleição.

Estou de acôrdo com ambos os vo-tos.

VOTO

O Sr. Ministro Adalício Nogueira:— Sr. Presidente, também estou depleno acôrdo com o voto do eminen-te Sr. Ministro Prado Kelly. nas duasRepr. 581, do Piauí, e 664, de SantaCatarina, voto que coincide com osvotos dos eminentes Relatores; e que-ro aproveitar a oportunidade para lou-var a alta lição de Direito Constitu-cional com que nos acaba de brindaro Senhor Ministro Prado Kelly.

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Julgo improcedentes as Representa-ções.

VOTOSr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — Senhor Presidente, do dou-to e lúcido voto do eminente SenhorMinistro Prado Kelly, o ponto altofoi quando S. Excia mostrou ao Tri-bunal que as várias Constituições de-ram relevo à organização judiciária,deixando o assunto não limitado aopróprio texto constitucional, mas re-metendo, muitas delas, o legislador or-dinário não sé para os textos daConstituição Estadual, mas, também,para dispositivos das leis orgânicas.

Sr. Ministro Luiz Gallotti: —problema da prevalência das leis

orgânicas só surge nas duas outrasRepresentações. Aqui, ele não apa-rece.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — De qualquer forma, o emi-nente Sr. Ministro Prado Kelly,quando adversou a opinião do SenhorMinistro Victor Nunes, no sentido deque, no caso concreto, havia uma leie não teria importância se essa leidesobedecesse à lei orgânica, produ-ziu um longo e substancioso voto echamou a atenção do Tribunal paraa relevância do seu argumento: quea aprovação dos Municípios pelas As-sembléias era, muitas vezes, matériade decreto legislativo, e não matérialegislativa. Não tinha sanção do Go-vernador do Estado e, portanto, a leiordinária não estava modificada coma aprovação desse decreto legislativo.

A meu ver, a opinião de S. Excia.enunciado, com muita clareza, pôs demanifesto que, de nenhuma maneira,a aprovação, pelas Assembléias Le-gislativas, de organizações administra-tivas, importa em revogação de lei or-gânica.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Sr. Ministro Prado Kelly demons-

trou, à evidência, que essa doutrinada prevalência da última lei — deorganização judiciária — enfim, con-tra a lei orgânica, demonstraria a inu-tilidade dessa lei.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Mas, naquela ocasião, a

maioria do Tribunal se avolumavacontra a tese do Sr. Ministro PradoKelly. Já naquela oportunidade, mehavia pOsto de acôrdo com S, Excia.,que teve a generosidade .de se refe-rir ao modesto voto que proferi numaRepresentação em que assinalava ha-ver a lei orgânica sido observada pe-las Assembléias Legislativas, como sefera lei constitucional.

Verifico que o Tribunal acolhe,como até agora acolheu, as doutasconsiderações de S. Excia.

No caso da organização judiciária,para ficar, mesmo, dentro da contro-vérsia, parece que a dúvida maiorserá a de que o Município foi criadonos primeiros 5 anos da ConstituiçãoEstadual, depois da Constituição de1946.

Tive ensejo de portear S. Excia.,dizendo que o princípio vinha daConstituição de 1937. De sorte queesses 5 anos poderiam ser contados daúltima organização administrativa es-tadual.

Parece, portanto, que este é umponto relevante. Se a criação desseMunicípio foi feita dentro desse pra-zo de 5 anos, a contar da última or-ganização administrativa do Estado...

Sr. Ministro Pedro Chaves: —O dias a quo poderia partir da úl-tima lei.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Mas, parece que os votosdos eminentes Srs. Ministros Relatore Prado Kelly foram no sentido dedar validade a esta reforma adminis-trativa, e, portanto, à criação desseMunicípio. Há tantos anos que esseMunicípio foi criado, e a Represen-tação não tem argumento decisivo parapôr por terra a sua criação. O Mu-nicípio está constituído, tem sua vi-gência constitucional há muito tempo.Na dúvida, voto pela prevalência doMunicípio.

Com essas considerações, acompa-nho os doutos votos dos Senhores Mi-nistros Relator e Prado Kelly no sen-tido de julgar improcedente a Repre-sentação.

VOTOSr. Ministro Ribeiro da Costa

(Presidente): — Meus votos nas

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Repr. sai, do Piauí, e 664, de San-ta Catarina, são no sentido dos votosdos eminentes Sra. Ministros Relato-res e Prado Kelly, pela improcedênciadas mesmas.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Julgaram improcedente arepresentação, à unanimidade (Votouo Presidente).

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Ribeiro da Costa. Relator, oExmo. Sr. Ministro Evandro Lins eSilva. Tomaram parte no julgamento

os Ermos. Srs. Ministros AlioraarBaleeiro, Prado Kelly, Adalício Re-gueira, Evandro Lins e Silva, HermesLima, Pedro Chaves, Gonçalves deOliveira, Vilas Boas, Cândido MoitaFilho, Luiz Gallotti, Hahnemann Gui-marães, Lafayette de Andrada e Ri-beiro da Costa. Impedido, o Exce-lentíssimo Sr. Ministro Oswaldo Tri-gueiro, Ausente, justificadamente, oErmo. Sr. Ministro Carlos Medeiros.Licenciado, o Ermo. Sr. MinistroVictor Nunes.

Brasília, 16 de março de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECLAILW10 lIt 691 — SP(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Medeiros Silva.

Reclamantes: Engenharia Sóuza e Barker Ltda. e outros. Reclamado: Se-nado Federal da República.

Ato do Senado Federal de suspensão de execução de lei oudecreto. Aplicação do art. 64 da Constituição. Reclamação —Mandado de Segurança — O ato praticado pelo Senado Federal,com base no art. 64 da Constituição é de natureza quase legisla-tiva; contra ele não cabe a reclamação, de feição correicional, nemo mandado de segurança, porque de caráter normativo.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos ênea

autos, acordam os Ministros do Supre-mo Tribunal Federal, em sessão ple-nária, na conformidade da ata de jul-gamento e das notas taquigráficas, porunanimidade de votos, conhecer dopedido como representação e, pormaioria, julgá-la procedente.

Brasília, 25 de maio de 1966. —A. M. Ribeiro da Costa, Presidente.— Carlos Medeiros Silva, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Carlos Medeiros

Silva: — Engenharia Souza e BarkerLtda. e outros, invocando os artigos200,64 e 36 da Constituição e no Re-gimento Interno diste eg. Tribunal,formularam Reclamação contra a Re-

solução 93 (f. 31) do Senado Fede-ral que modificou a anterior de núme-ro 32 (f. 17); pediu seja declaradoque a dita Resolução 93 "não corres-ponde a nenhuma decisão de inconsti-tucionalidade diste Pretório e que adecisão prolatada no Processo 38.538,em 19.8.60 (Rec. Extr.) com suaRepresentação â Câmara Alta da Re-pública não foi objeto de • suspensãopor parte daquele órgão do Poder Le-gislativo, encontrando-se descumpridoo disposto no art. 64 da Constituiçãovigente". -

Solicitadas informações, prestou-as,a f. 67-70, o Ermo. Sr. Presidentedo Senado Federal, que assim con-cluem: (ler f. 68.69).

A douta Procuradoria-Geral da Re-pública opinou, a f. 72-73, pela int-.

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procedência da Reclamação; mas ob-servou que sabre a mesma controvér-sia foi impetrado o MS 16.512, Re-lator o Exmo. Sr. Ministro °amoldoTrigueiro, e propôs tenham julgamen-to conjunto os dois feitos.

o relatório.

SUSTENTAÇÃO DO PARECERO Sr. Alcino Salasar (Procurador-

Geral da República): — Ermo. Se-nhor Presidente e Ramos. Srs. Mi-nistros, há uma questão de ordem ge-ral, uma tese de maior importância,neste caso, e que, na verdade, envolvea autoridade deste eg. Supremo Tri-bunal Federal.

Declarada a inconstitucionalidade dedisposição de uma lei do Estado deSão Paulo e comunicado essa delibe-ração deste Excelso Tribunal ao Se-nado, este suspendeu a execução dodispositivo dado como inconstitucional.Em, seguida, porém, meses depois, oSenado, numa segunda resolução, re-vendo e interpretando o acórdão desteTribunal, revogou sua resolução an-terior, dando ao dispositivo tido comoinconstitucional uma extensão menor,distinguindo, na realidade, onde o Su-premo Tribunal Federal não havia dis-tinguido.

Então, surge a questão de saber seo Senado pode revogar uma resoluçãosua acatando comunicação do SupremoTribunal e suspendendo, conseqüente-mente, o dispositivo dado como incons-titucional. E, ainda, se pode entrar naapreciação do acórdão, para formularas suas diretrizes.

A primeira questão que surge é apreliminar do cabimento do mandadode segurança contra uma resoluçãodessa natureza. O parecer, que tiveoportunidade de oferecer, foi no sen-tido do não cabimento do mandadode segurança, neste caso, por se tra-tar de um ato de caráter geral e, por-tanto, de um ato de natureza legisla-tiva. Não se tratava de um ato indi-viduado, de um ato administrativo oude um ato de caráter outro, mas derevogação da suspensão de um dis-positivo legal. Assim sendo, a meu

ver é, inquestionavelmente, um ato le-gislativo e está imunizado em relaçãoao mandado de segurança. Então, te-riamos a aplicação da Stirmufa 266:"Não cabe mandado de segurança con-tra lei em tese". Ai seria um ato denatureza legislativa.

Há, porém, tombem, uma reclama-ção, levantada pela parte, neste sen-tido; impetrou o mandado de segu-rança e levantou uma reclamação con-tra o ato do Senado em relação aojulgado do Supremo Tribunal Federal.

O parecer, proferido nessa mesmaocasião com relação à reclamação, foino sentido tombem do não cabimen-to da reclamação, porque o processoadequado, o processo próprio, seria, nocaso, a representação, representaçãocontra inconstitucionalidade do ato doSenado, que não podia corrigir de-cisão do Supremo Tribunal Federal.Então, caberia, ai, representação con-tra ato dessa natureza.

Mas, neste ponto, peço licença pararetificar esse segundo parecer, retifi-cação no sentido de, em face de nevoexame do assunto, considerar inadmis-sível a reclamação, porque não se po-deria substituir a reclamação por umprocesso de representação de inconsti-tucionalidade, pois no caso da repre-sentação há audiência da autoridade,do órgão de que emanou o ato impug-nado. Então, não se poderia em tesesubstituir o processo de representaçãode inconstitucionalidade pelo processode reclamação. Mas sucede, no caso,que a autoridade, o Presidente do Se-nado, foi ouvida.

A reclamação não tem um processorigido e estou informado de que na re-clamação há, também, audiência doórgão. Parece-me que no processo derepresentação não há a mesma rigi-dez estabelecido, por lei, para o pro-cesso da reclamação. Mas, de qual-quer forma, no caso, essa audiência sedeu, no mandado de segurança, quetem o mesmo objeto da reclamação.

De modo que, ressalvando o pontode vista de que para estes casos o pro-cesso adequado é a representação deinconstitucionalidade, na hipótese, en-

R.T.J. 38 63

tretanto, considero admissivel o conhe-cimento da matéria, como se Rose re-clamação, ou que seja conhecida desdelogo a reclamação formulada.

Este é o parecer da Procuradoria-Geral da República sabre a questão.

VOTOO Sr. Ministro Carlos Medeiros

Silva (Relator): — O ato do Sena-do Federal, praticado com base noart. 64 da Constituição, ainda quefundado em decisão definitiva do Su-premo Tribunal Federal, é de nature-za quase-legislativa porque suspende"a execução no todo ou em parte delei ou decreto"; obriga, como a lei, atôdas as pessoas, naturais ou jurídi-cas, e tem vigência em qualquer partedo território nacional.

Como ato autónomo, do Senado Fe-deral, no uso de uma atribuição cons-titucional a sua execução fica sujeitaao contrate jurisdicional, como os de-mais emanados dos Poderes Legislati-vo, ou Executivo, pela via judicial quecomporta a impugnação, excluídos, po-rém, a reclamação porque restrita con-tra o executor, em cada caso concreto,medida com feição correicional, criadaem Regimento Interno, para asseguraro cumprimento da decisão proferidapelo Supremo Tribunal- Federal, bemcomo o mandado de segurança, dado ocaráter normativo da resolução sena-torial. Isto pasto:

Acompanho o brilhante voto do emi-nente Relatar, não conhecendo do pe-dido, ressalvando aos interessados asargüições que entenderem de formularem cada caso, na via ordinária, ouexecutiva de cobrança do tributo im-pugnado.

Não conheço, também, do pedido,como reclamação que não se enquadrana previsão dos arta. 1.° e 39 daEmenda Regimental (Cap. V) de2.10.57.

ADITAMENTO AO VOTO ESCRITO

O Sr. Ministro Carlos MedeirosSilva (Relator): — Sr. Presidente,tendo em vista a modificação do pa-

recer do eminente Procurador-Geralda República, no sentido de transfor-mar o feito, em Representação, assimpoderá ser julgado; mas quero reite-rar o meu ponto de vista que criadaem Regimento Interno do SupremoTribunal Federal, a medida chamada— Reclamação — tem feição correicio-nal contra o executor, em cada casoconcreto.

Evidentemente, um Poder da Re-pública, como é o Senado, não podeficar sujeito a uma medida meramen-te correicional instituída em nosso Re-gimento. Nem ao menos foi instituí-da na Constituição, nem nas leis. Maspenso que deixei bem claro, no meuvoto, que, pelo fato de não conhecerdo mandado de segurança e não co-nhecer da Reclamação, não ficarão osinteressados privados das vias judiciaiscabíveis, no sentido — como bemacentuou o eminente Ministro Relatordo Mandado de Segurança do pre-valecimento da primeira Resolução,porque, como demonstrou S. Excia.,a segunda Resolução do Senado exor-bitou.

O Sr. Alcino Salazar (Procurador-Geral da República): — V. Excia.me permite dar um esclarecimento?

Estou inteiramente de acêrdo comas ponderações de V. Excia., no to-cante à Reclamação, porque, realmen-te, há um processo criado no Regi-mento para cada caso e para o exe-cutor. Considero, entretanto, no caso,que a Reclamação contém todos oselementos da Representação. Então,considerar-se-ia inútil ou desnecessáriomudar para o processo da Represen-tação, quando todos os elementos destase encontram no da Reclamação.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Chaves: —Sr. Presidente, bastava a importânciadeste caso — saliente-se que é a pri-meira vez que isto ocorre na Repú-blica e no Supremo Tribunal Federal— bastava isto, Sr. Presidente, paraque eu ousasse pedir a atenção doseminentes colegas, para sustentar umponto de vista absolutamente contrário

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ao dos dois ilustres Relatores que jáse pronunciaram.

Sei, Sr. Presidente, que é uma ou-sadia da minha parte, mas que estáenvolta na obrigação que tenho demanifestar minha opinião, principal-mente, num caso desta natureza, quevai ser o primeiro a ser apreciado peloSupremo Tribunal Federal, uma ques-tão de relevo constitucional excepcio-nal. E daqui talvez parta uma doutri-na. Talvez este julgamento seja a pe-dra angular de uma construção do Su-premo Tribunal Federal.

Com esta explicação preliminar, Se-nhor Presidente, sem a pretensão demodificar a opinião de quem quer queseja, mas, apenas, para esclarecer, paraemitir uma opinião que formei, atra-vés de estudos e de meditação, é queouso antepor minha opinião àquelasque já foram expostas pelos eminentescolegas Relator do Mandado de Segu-rança e Relator da Reclamação.

Sr. Presidente, em primeiro lugar,o Supremo Tribunal Federal tem umafunção construtiva; e quando o Supre-mo Tribunal Federal, por iniciativabrilhante, oportuna e magnifica deV. Excia., introduziu no seu Regi-mento Interno o recurso de Reclama-ção, estava desempenhando uma fun-ção constitucional construtiva, dentrodas suas prerrogativas porque, se oSupremo Tribunal Federal é o guardae é o responsável pela Constituição, élógico, Sr. Presidente, que dentro deseus poderes, dentro desta obrigaçãoque a Constituição lhe impõe, deguardá.la, ele precisava erigir meioscapazes para tanto, que, se não cons-tavam do texto constitucional expres-so nem de lei ordinária, tinham quesurgir da sua interpretação criadora.

E por quê?Porque a maior virtude do recurso

de Representação, introduzido com ca-ráter correicional no Reg. S.T.F.,por iniciativa de V. Excia., repito,com aplauso geral, é manter a sobe-rania das decisões deste Tribunal, quedeixaria de ser um Poder da Repúbli-ca, deixaria de ser o guardião da Cons-tituição, se Visse um órgão impotente,

um guarda incapaz, que não tivessemeios hábeis para preservar a integri-dade dessa mesma Constituição.

De modo que não foi sugestão decaráter meramente correicional queV. Excia. apresentou e conseguiu que oSupremo Tribunal aprovasse, mas ummeio hábil, para tomar efetiva a obri-gação do Supremo Tribunal Federal.

Em segundo lugar, Sr. Presidente,justifico o recurso da reclamação, te-nho que justificar o conhecimento dosdois recursos, e a minha primeira di-vergência com os votos dos eminentesMinistros Relatores e a opinião mani-festada pelo eminente Dr. Procurador-Geral da República, é que eu nãoconsidero a Resolução do Senado umato legislativo, nem considero o pedidoafrontoso a uma lei em tese. O atodo Senado da República, Sr. Presi-dente, a meu ver, é um mero ato con-seqüente, secundário, de execução dedispositivo, porque a Constituição Fe-deral, no seu art. 64, impõe ao Sena-do — impõe ao Senado, não lhe daopção — cumprir as decisões do Su-premo Tribunal Federal.

Declarada a inconstitucionalidade,pelo Supremo Tribunal Federal, de leiou ato legislativo de outra natureza,porque só o Supremo Tribunal Federalpode fazer essa declaração, este Tribu-nal comunica ao Senado. E diz a lei:"incumbe ao Senado suspender a exe-cução".

Por quê, Sr. Presidente?Porque, de certa forma, essa sus-

pensão de execução é um ato legisla-tivo, importa na revogação de umalei, e o Poder Judiciário não tem com-petência para revogar leis, tem com-petência para aplicá-las. Quem temcompetência para revogar leis é o Po-der Legislativo, por intermédio de umaoutra lei.

Uma lei declarada inconstitucionalnão mais pode ser mantida com eficá-cia nos quadros da legislação brasilei-ra, porque o Supremo Tribunal Fe-deral, dentro de sua competência úni-ca e exclusiva, disse que ela era incons-titucional, e pela Constituição incumbeao Senado suspender e execução das

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leis que o Supremo Tribunal Federaldeclarar inconstitucionais; é ato con-seqüente, secundário, de execução dedispositivo do Supremo Tribunal Fe-deral. Conseqüentemente, o Senado,quando pratica êsse ato, é o executorde uma decisão do Supremo Tribunal.Por isso que admito a reclamação con-tra êsse ato do executor. Não háopção, frente ao dispositivo cogente daConstituição.

Sr. Presidente, a Constituição foiparca no tratamento do assunto.

o problema de que nos ocupamos éoriginal de agora, nunca foi discutidoanteriormente. De maneira que preci-samos argumentar com lógica, dentrodos princípios.

A lição de Pontes de Miranda, emduas ou três linhas, em Comentáriosao art. 64 é a seguinte que resumo:o Senado recebe a comunicação do Su-premo Tribunal Federal de que foidecretada a inconstitucionalidade dalei tal, na forma do acórdão, notas ta-quigráficas, etc., uma comunicaçãoampla e plena.

O Senado não é mero cartório deregistro de atos do Supremo TribunalFederal. Ele terá que examinar aquestão que lhe foi levada por ofícioprocedente do Supremo Tribunal Fe-deral, fazendo um juízo prelibatório,um exame das condições de objetivi-dade das decisões do Supremo Tribu-nal Federal, para ver se existe a de-cisão e se essa decisão foi lançada den-tro dos termos legais do processo edo processo constitucional, se foi obser-vado aquele quorum do art. 200 daConstituição, se a composição do Su-premo Tribunal era, ou não, plena, sea votação apurada satisfez, ou não,aquela percentagem estatuída no arti-go 200 e reproduzida no Reg. S.T.F.

só sabre este aspecto formal. O Se-nado não tem competência para exa-minar o mérito de decisão do Supre-mo Tribunal, para interpretá-la, paraampliá-la ou para restringi-la. Nãotem opção, nestas condições, Sr. Pre-sidente, na normalidade do processoconstitucional, o Senado é mero exe-cutor da decisão do Supremo Tribu-

nal Federal. E, considerando êsse atocomo um ato de execução, ato com-plementar, ato secundário, conseqüen-te e subseqüente àquele ato judiciáriopraticado pelo Supremo Tribunal Fe-deral, obediente às normas da Consti-tuição, é que acho que o Senado Fe-dera/ é mero executor constitucional ea sua "Resolução" é ato administrati-vo, de execução, em obediência a de-cisão do Supremo Tribunal Federal,do qual não se pode tomar juiz, mijasdecisões não pode interpretar, nem am-pliar e muito menos restringir.

Tratando-se de ato de execução, pra-ticado o ato, promulgada e publicadaa Resolução n.o 32, eu estou, e nesteponto com o apoio do lúcido e brilhan-te voto do eminente Relator do Man-dado de Segurança, que ele não podiamais revogá-la.

Tratava-se de execução completa,havia res judicata e havia execução;não podia mais a autoridade executorarever o ato de execução já cumprido eaperfeiçoado, e rever ainda onde atin-gia a própria execução exeqüenda; nãotinha capacidade legal; não tinha ca-pacidade jurídica, nem funcional se-quer, porque não se encontra em qual-quer dispositivo da Constituição êssepoder de revisão do Senado dos atosque pratica em execução de sentençado Supremo Tribunal Federal.

Por todos estes fundamentos, Se-nhor Presidente, conheço da Recla-mação.

EXPLICAÇÃO DE VOTOO Sr. Ministro Carlos Medeiros

Silva (Relator): — Sr. Presidente,dadas as brilhantes considerações doeminente Sr. Ministro Pedro Chaves,peço vênia a V. Excia. pare melhoresclarecer o meu ponto de vista.

Quando entendi que não cabia recla-mação, era porque, como sabe Sua Ex-celência e todo o Tribunal, a recla-mação tem uma feição correicionalo Supremo Tribunal não pode aplicaruma medida de caráter correicional aum órgão da República, como o Se-nado, mesmo porque, aplicada, podo-ria cair no vazio; e o Supremo Tri-

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bunal não teria meios de fazer valera sua resolução, como aconteceria emse tratando de uma autoridade judi-ciária inferior, ou de uma autoridadeexecutiva, o Supremo Tribunal, nessecaso, poderia promover a responsabi-lidade criminal do executor, omisso oufaltoso.

Ora, esta sanção jamais poderia seraplicada ao Senado da República.

Quando disse que a resolução do Se-nado, que tem fundamento direto naConstituição, é de natureza quase le-gislativa, á porque dela não participaa Câmara dos Deputados, não partici-pa o Presidente da República, sancio-nando e promulgando a lei.

Também não me parece que essaresolução seja de caráter meramenteadministrativo. É uma resolução quesuspende a vigência de uma lei; elaobriga, em todo o território nacional,e a todos quantos nele habitam.

Finalmente, deixei claro, em meuvoto — e também assim o fez o emi-nente Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro

que, pelo vosso voto, houve exorbi-tância do Senado na 2.a resolução. Eressalvamos, expressamente, aos inte-ressados, que façam valer, em exe-cução, este nosso ponto de vista.

Agora, nesta oportunidade, data ve-rde do eminente Sr. Ministro PedroChaves, penso não podemos dar o re-médio nem pela via da reclamação,nem pela via do mandado de segu-rança.

VOTO

O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Sr. Presidente, peço a Deus e aos

eminentes juízes me perdõem se disseralguma heresia, nesta Casa, porque oúnico meio de o Supremo TribunalFederal construir a Constituição é poresse processo de tentar, errar e corri-gir o erro.

Portanto, se um erro eu posso co-meter, divergindo, é com grande em-baraço para mim, porque tenho emalto apreço intelectual a opinião doeminente Sr. Ministro Pedro Chaves.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Muito obrigado a V. Excia.

Sr. Ministro Aliornar Baleeiro:Adoto o voto do eminente Sr. Mi-

nistro Oswaldo Trigueiro, na parte emque considera o mandado de segurançainadequado para o fim pretendido peloimpetrante.

Como ambos os Relatores frisarambem, o interesse de uma resolução doSenado para a execução do art. 64da Constituição, é de ordem normativa

ou, para usar da expressão do Se-nhor Ministro Carlos Medeiros, "qua-se legislativa". Revogar uma lei, sus-pender a execução de uma lei, é umato jurídico de caráter normativo.

O mandado de segurança, nesse caso,não se pode utilizar pelo mesmo prin-cipio de que êle não é utilizado contraa norma em tese.

Também acompanho o voto do emi-nente Sr. Ministro Carlos Medeiroscontra a reclamação, data venha doeminente Dr. Procurador-Geral daRepública, porque ela tem um carátercorreicional que a toma absolutamen-te imprópria para ser dirigida contraum dos órgãos dos Poderes da Repú-blica. Até porque este órgão não to-maria conhecimento, nem daria a me-nor importância a essa decisão do Su-premo Tribunal Federal. Ele a ignora-ria. E isso não seria, de maneira ne-nhuma, proveitoso ao prestigio do Su-premo Tribunal Federal, nem, tam-bém, ao princípio da harmonia e inde-pendencia dos poderes.

A reclamação de maneira nenhumacaberia. O mandado de segurança demaneira nenhuma caberia. Talvezfôsse possível a representação, por in-termédio do Procurador-Gera/ da Re-pública, já que o art. 1.° da Emen-da n.° 16, acrescentando mais uma alí-nea k ao art. 101, inc. /, da Consti-tuição Federal, estendeu essa medida aque se referem os arts. 7.0 e 8.0 daConstituição contra as leis estaduais,também às leis federais. Talvez.

Mas, no caso concreto, não interessasaber se é ou não a representação quecabe. É que não cabe o mandado de

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segurança nem a reclamação de cará-ter regimental.

Poderia parar meu voto aqui, po-rém, acredito que o julgado de hojeserá uma decisão como aquelas queintegram o livro do Ministro EdgarCosta, Os Grandes Julgamentos do Su-premo Tribunal Federal. Estamos,hoje, exercendo uma das funções maisimportantes, justamente a de equilí-brio dos Poderes dentro da República,dentro da Constituição.

Neste ponto, com a permissão doeminente Sr. Ministro Oswaldo Tri-gueiro, não creio que tenhamos pode-res para dizer que o Senado não podesuspender urna resolução, com base noart. 64.

Sr. Ministro Osvaldo Trigueiro:Se nós tivermos de julgar, amanhã,

em grau de recurso ordinário, manda-do de segurança oriundo de São Paulo,como poderemos nos escusar à aprecia-ção da matéria?

Sr. Ministro Luiz Gallotti: —S. Excia. acha que, mesmo de me-ntis, o Supremo não pode anular osegundo ato do Senado.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:—Talvez não tivesse sido claro. Voupôr o problema nos termos em que oeminente Sr. Ministro Guwaldo Tri-gueiro o colocou, há pouco, com muitobrilho.

A primeira pergunta foi essa: podeo Senado Federal revogar a sua reso-lução tomada com base no art. 64? Ea segunda, posta, aqui, pelo eminenteSr. Ministro Pedro Chaves: pode oSenado deixar de suspender a lei quelhe é apresentada como inconstitu-cional?

Sr. Ministro Osvaldo Trigueiro:Infelizmente, pode, porque não há

prazo nem sanção. É o que assinaleino meu voto. O Senado pode ser omis-so durante vinte anos.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Tenho impressão de que o eminen-

te Sr. Ministro Pedro Chaves, talvezpor má percepção minha, levantou atese de que o Senado é obrigado a

executar aquilo que o Supremo Tri-bunal Federal disse, quando afirma ainconstitucionalidade de uma lei. Aexpressão de S. Excia. foi: "o Sena-do é um executor das decisões do Su-premo Tribunal Federal". Então, SuaExcelência admitiu que o Senado possapenetrar no julgado do Supremo Tri-bunal e apreciar se ele está formal-mente compatível com a Constituição,isto é, se ele foi votado por um quo-rum adequado, de acôrdo com o arti-go 200 da Constituição, etc.

Aí, não. Acho que, quando o Su-premo Tribunal Federal decide, oacórdão que sai daqui tem, por si, apresunção de que o julgamento foi to-mado com tôdas as cautelas constitu-cionais.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Mas, ninguém pode chegar a essa pre-sunção sem as cautelas necessárias.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Será o próprio Supremo Tribunal

Federal que verificará se foram to-madas as cautelas, de acôrdo com asnormas legais adequadas. O Senado, ameu ver, não pode fazer isso. É ma-téria interna corporis.

Agora, o Senado, na minha opinião,tem discricionarismo político de sus-pender ou não. Se convier, êle sus-pende; se não convier, êle, ao invésde prestigiar a decisão do SupremoTribunal, pode tomar a iniciativa deuma emenda à Constituição, ou ficarinerte.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Era assim, no tempo da Carta de1937.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Só não poderá emendar se, com

isso, êle vier a ofender a República oua Federação. São os dois limites dopoder de emendar do Congresso Na-cional.

eminente Sr. Ministro PedroChaves citou a Constituição de 1937,que permitiu ao Poder Legislativo, senão se conformasse com as decisões doSupremo Tribunal. anulá-las. E nóssabemos que, desgraçadamente, o dita-dor, exercendo funções de Poder Le-

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gislativo em que Se investira, suspen-deu, de fato, pelo menos um acórdãodo Supremo Tribunal, em 1939, ou1940 e, se não me falha a memória,num caso em que os Desembargadoresda Bahia haviam pedido um remédiojudicial para não pagar o impOsto derenda, que fôra introduzido em rela-ção aos magistrados, por um decreto-lei de março daquele ano. Recordo-me muito bem, apesar de ter ocorridohá tantos anos, do pungente acórdãoem que, nesse caso melancólico, o emi-nente Ministro Carlos Maxirailiano, umdos maiores nomes que passaram poresta Casa, se referiu ao assunto, dizen-do que Me ai não daria mais o remédiojudicial, porque não ficava bem ao Su-premo dar, para não ser cumprido. E,então, lembrou o tempo em que sedava precedência aos juizes nas ceri-mônias públicas. Foi um dos acórdãosmais famosos da história do SupremoTribunal Federa/ e mais dolorosos,mesmo prolatado nos tempos maisatormentados desta Côrte.

Agora, o que sustento é que o Se-nado tem o direito de dar ou não dara suspensão de lei impugnada comoinconstitucional. Pode fazê-lo, paraobservar se o Supremo Tribunal se es-tabiliza na matéria e vem a ter umajurisprudência predominante sôbre ela.

Não podemos negar que, na históriado Supremo Tribunal, a respeito deinúmeras teses, a sua jurisprudênciatem vacilado, e encontramos, às vezes,num espaço pequeno de tempo, deci-sões declarando que tal lei é inconsti-tucional, e outras, que é constitucional,acerca de vários problemas.

Sabemos, acerca do art. 141, 34,que se pode encontrar uma série dejulgados num e noutro sentido.

A respeito da possibilidade de umalei federal poder isentar do impasteestadual ou municipal um serviço noqual a União tenha interesse há acór-dãos nesses dois sentidos. E os casospoderiam ser multiplicados ao infi-nito.

O Senado tem o direito, mesmo de-pois da Súmula, de esperar que sepacifique, que afinal se franquiam) o

entendimento do Supremo Tribunal;porque pode acontecer que passe aresolução numa tarde e, nessa mesmatarde, resolva o Supremo que aquelalei, que era constitucional, seja incons-titucional. E pode ser, também, que

Senado prefira a reforma da Consti-tuição, para prevalecer o sentido dalei, pugnado pelo Supremo Tribunal;

pode, também, não fazer nada —cruzar os braços, deixar a matéria emponto morto, que nada lhe acontece,porque não há qualquer sanção paraa sua resistência.

Será justificável que o faça, àsvezes, porque ã velho que um Tri-bunal da altitude do Supremo Tribu-nal Federal, ou da Côrte Suprema dosEstados Unidos ou da Argentina, legis-le, num caso concreto.

As vezes, há matizes, em cada caso,aquela decisão que diz que a lei e

inconstitucional, assim procede em fun-ção de determinadas circunstâncias edistinções, e não em face da lei.

Por essas razões, Sr. Presidente,adoto os votos de ambos os eminentesSrs. Ministros Relatares, não conhe-cendo nem do mandao de segurança,nem da reclamação. E, com ressalvaa respeito desses poderes do Senado,que, a meu ver, podemos nos dispensarde apreciá-los, mesmo para não noscomprometermos, desde já o que nãoé necessário para o solução deste caso.

VOTO

O Sr. Ministro Prado Kelly: —Sr. Presidente, consinta o Tribunalque, antes de entrar, própriamente, naquestão relativa ao remediar!: Mis,chame a atenção dos eminentes Mi-nistros para a unanimidade que seestá constituindo quanto ao fundo daquestão ora debatida. Depara-se urnaresolução, uma deliberação do Sena-do, em contraste com o juizo que for-mamos de modo pelo qual Me deveraexercitar a sua missão constitucional.

Le moi est haissable, diz o velhoprovérbio; fico, de certo modo, cons-trangido ao lembrar as origens dessedispositivo, porque fui quem o propôs,

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na Constituinte de 1934. Mau por queo fiz?

A jurisprudência pacífica do Supre-mo Tribunal Federal negava a exten-são a outros interessados dos efeitosdas suas decisões. O julgado estava,como é de comutais opinio, adstrito àquestão focalizada perante a arte.S6 em habeas corpos (impetrado oprimeiro deles pelo Conselheiro RuiBarbosa, para assegurar a liberdadede reunião em praça pública) se ad-mitiu a extensão da medida ergaomnes.

Então, acudia naturalmente aos es-tudiosos dos fatos jurídicos a conve-niência de instituir-se meio adequadoà pronta suspensão dos efeitos, paraterceiros, das leis ou regulamentos de-clarados inconstitucionais pela Supre-ma arte.

Foi uma inspiração de ordem práti-ca. Mas a fórmula, adotada pela Cons-tituinte de 1934, obedecia, ainda, arazões de ordem técnica. O regula-mento, a lei, podiam provir da União,dos Estados-Membros ou dos Municí-pios. Se se aguardasse a revogação,para alcance geral, de norma eivadade inconstitucionalidade, escaparia aoLegislativo Federal o ensejo, em muitoscasos, de corrigir os defeitos de diplo-mas estranhos à sua competência,como, por exemplo, os da órbita esta-dual ou municipal.

Hoje, em Direito Público, a difi-culdade acha-se vencida. E vale cornoparadigma o preceito correlato daConstituição italiana.

Note-se que a questão de "ilegiti-midade constitucional" não implica,necessàriamente, a revogação de tex-tos, pois a regra é que uma lei só serevoga por outra lei, um regulamentopor outro regulamento, uma normapor norma de igual categoria.

Mas o estatuto italiano deu ao Pre-sidente da Cêrte Constitucional a fa-•culdade de declarar a ineficácia dedisposição normativa, reputada "ilegí-tima" pela mesma Córte.

Inspirado pelo precedente, o PoderExecutivo, ao encaminhar ao Congres-

se projeto que se converteu na Emen-da n.° 16, sugeriu a adoção daquelecritério, tecnicamente perfeito, por dis-tinguir, eximiamente, entre a incompa-tibilidade da norma ordinária com aconstitucional e a revogação das leisou regulamentos.

Mas o Senado reagiu à proposta doExecutivo e manteve o art. 64, comoestava redigido.

Em face desse artigo, qual a missãoque o Senado está exercendo?

A missão que o Senado exerce é po-lítica, e, do ponto de vista formal, nãose confunde com a função legislativa.Política, em virtude do princípio deharmonia entre os Poderes da União,o que ainda se reforça com argumentode ordem histórica: na Constituinte de1933, se quis dar a um "Conselho Fe-deral", que mais tarde se transformouem "Senado" (por emenda redacio-nal de undécima hora) o encargo dearbitrar dissidios entre Os Poderes, e,então, o Senado exercitaria ainda maisfàcilmente aquela atribuição.

Mas, no sistema da Constituição de1891, restabelecido na de 1946, nãoexiste dúvida quanto à preeminênciada decisão judicial.

Quando o Supremo assenta a in-constitucionalidade de texto, não hácomo admitir a revisão do seu arestopor um órgão político. Que lei nãoé, basta lembrar o Regimento do Se-nado. A expressão nele usada é "Re-solução". Não é, sequer, "decreto le-gislativo", o qual corresponde à com-petência exclusiva do Congresso, nem"projeto de lei", que corresponde aatos sujeitos à sanção presidencial. De-nomina-se "resolução" porque o Se-nado não encontrou outro termo paramelhor o caracterizar.

Nestas condições, indago, de mimpara mim, se o fundo da questão,como o focalizamos, comporta dúvidarazoável.

Pedindo escusas ao Plenário pela ex-tensão involuntária dada a este voto,passo a examinar a questão do terna-ditou juris.

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Fácil seria sustentar que, na formada nova Emenda n.0 16, se depara ahipótese prevista na nova letra k, doinc. I, do art. 101 da Constituição:

"Representação contra inconstitucio-nalidade de lei ou ato de naturezanormativa federal ou estadual, enca-minhada pelo Procurador-Gera/ da Re-pública".

Defronta-se aqui "ato de naturezanormativa", porque, desde que se es-tendem erga mimes os efeitos de umjulgado a singulto, temos caracterizadaa feição geral e obrigatória do "atopolítico".

Mas qual a conseqüência?O Supremo, conhecendo da "repre-

sentação", declararia nula a segunda"resolução" do Senado. Subsistiriaa primeira, mas nada impede pronun-ciamento ulterior da Câmara Alta,dando também pela revogação daquela.

Volto a pedir escusas, recordandoum episódio do passado: fui, comoadvogado, um dos que postularam, pe-rante o Supremo Tribunal Federal, aadoção do instituto da "reclamação".Creio que V. Excia., Sr. Presidente,era o Relator de um dos feitos, lá sevão muitos anos. Sustentávamos quedevia haver um expediente enérgicoe rápido, sempre que as decisões doSupremo Tribunal Federal deixassemde receber a obediência esperada.

Nos habeas corpos políticos se so-licitou muitas vezes, por esta via, aoSupremo Tribunal, a determinação demedidas capazes de assegurar a invio-labilidade de suas decisões.

No caso concreto, que lhe foi pre-sente por meu intermédio, tratava-sede matéria decidida em recurso ex-traordinário e reexaminada mais tar-de pelo co/endo Tribunal de São Pau-/o. Esta Córte acolheu a Representa-ção e vi, depois, que ela acabou con-sagrada na Emenda n.0 15. O art. 1.0da Emenda dá-lhe tal elasticidade quenele poderíamos incluir a hipótese,pois diz, em princípio:

"O supremo Tribunal Federal po-derá admitir Reclamação do Procura-

dor-Geral da República ou do interes-sado na causa, a fim de preservar aintegridade de sua competência ou as-segurar a autoridade de seu julgado."

Tôdas as vezes que estivesse emcausa a "autoridade" da decisão ou a"integridade" da competência, o casoseria de Reclamação. Mas sou força-do a reconhecer, de acôrdo com osilustres pré-opinantes, que, nos dispo-sitivos que complementam o princí-pio, não se configurou a hipótese deque se trata.

Os artigos seguintes referem-se amedidas processuais, como sejam as deevocar o conhecimento de processoadministrativo ou determinar o en-vio de autos do processo.

Parece que ficou limitado o âmbitodo instituto.

Tomo a indagar:— Qual é o obstáculo fundamental

à concessão da segurança?Argumenta-se que o writ se dirige

contra uma "lei" ou "quase lei".Mas de "lei" ou "quase lei" não

se trata, a meu ver. Na vigência daConstituição de 1946 era restrita acompetência do Supremo, para con-siderar atos do Senado, porque, peloart. 101, inc. I, letra 4 só cabia aesta Côrte conhecer de mandado desegurança contra ato do Presidente daRepública, da Mesa da Câmara ou doSenado e do Presidente do próprioTribunal. Mas a Emenda n.° 16 di-latou aquela competência, com admi-tir o pronunciamento desta Côrte nosMandados de Segurança contra ato doPresidente da República, do Senadoe da Câmara dos Deputados.

É certo que a doutrina relativa aomandado de segurança excluiu o ca-bimento dele contra "lei em tese".

Mas, se a Constituição se refere a"atos do Senado" (já não se cuida de"ato da Mesa") e se entre esses atosnão se inclui, por construção jurispru-dencial, a "lei", — que outro ato me-lhor exemplificaria a nossa competên-cia, senão o que ora apreciamos?

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Por estes motivos, Sr. Presidente,acompanho a argumentação vitoriosa(a meu ver) quanto à parte do méri-to; até o instante, não ouvi uma sópalavra justificativa à reconsideração,pelo Senado Federal, de seu primei-ro ato.

Concedo a segurança, porque a repu-to o meio mais expedito de fazer va-ler, neste caso, a autoridade do Tri-bunal, sem os inconvenientes que po-deria acarretar o deferimento da Re-presentação ou da Reclamação.

VOTO

Sr. Ministro Adalicio Nogueira:Sr. Presidente, eu considero que,

no caso, não se trata prOpriamente deuma lei em tese, mas de um ato doSenado Federal, que o praticou emnome da Constituição, para comple-mentar, digamos assim, aquilo que oeg. Supremo Tribunal Federal deci-diu. Praticando tal ato, o Senado Fe-deral estava, por conseqüência, cum-prindo missão constitucional, que lhefoi outorgada, de acatar e complemen-tar a decisão deste eg. Supremo Tri-bunal Federal. Acho que se trata, co-mo bem disse o eminente MinistroPedro Chaves, de um ato conseqüen-te de resolução anterior do SupremoTribunal Federal.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Permite o eminente juiz um aparte?

Eu queria ponderar a V. Excia. e aoTribunal aquela cláusula do art. 64:"incumbe ao Senado Federal suspen-der a execução no todo ou em partede lei ou decreto declarados inconsti-tucionais por decisão definitiva do Su-premo Tribunal Federal."

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Mas, no todo ou em parte, se o Su-premo Tribunal Federal houver decla-rado a inconstitucionalidade, no todoou em parte, isso é evidente.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Com a devida vênia, o Senado Fe-

deral tem opção para aceitar a con-veniência de suspender um dos dis-positivos, se forem mais de um, e não

suspender os demais. Está na letraestá na própria essência...

Sr. Ministro Adalicio Nogueira:Não tenho aqui o dispositivo cons-

titucional, mas o que ao Senado com-pete é, justamente, cumprir a decisãodo Supremo Tribunal Federal, man-dando, portanto, aplicar ou supen-

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:O Senado não é um mero executor,

um mero carimbo de borracha, paradar autenticidade ao ato.

Sr. Ministro Adalício Nogueira:Nos termos da Constituição, o Se-

nado, acatando a decisão do SupremoTribunal Federal, suspenderá a dis-posição.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:A redação é a seguinte:

"Incumbe ao Senado Federal sus-pender a execução, no todo ou em par-te, de lei ou decreto declarados incons-titucionais por decisão definitiva doSupremo Tribunal Federal".

Ele tem, a meu ver, como está nestedispositivo, o poder de, se forem doisou três dispositivos, suspender um enão suspender os demais. O papel doSenado Federal não é o de um sim-ples carimbo de borracha das decisõesdo Supremo Tribunal; ele tem umaopção política de achar convenientesuspender ou não.

Sr. Ministro Adalício Nogueira:Se é íntegro e completo, ele tem

de manter integralmente.Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

Não há razão para se manter. Po-de ser que a nação inteira aceite umalei defeituosa, inconsttitucional, e 10individuos, apenas, não a aceitem.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Se a incumbência não Mago investi-gar a decisão do Supremo TribunalFederal, ele estaria legislando, revo-gando uma lei, sem a cooperação daCâmara dos Deputados e do Presiden-te da Repáblica.

Sr. Ministro Adalicio Nogueira:Parece-me que a decisão do Supremo

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Tribunal Federal está dentro dessaproporção. De maneira que, assimsendo, eu também voto, data vertia,dos eminentes Ministros que me ante-cederam e do eminente Ministro Alio-mar Baleeiro, que foi o voto que seseguiu imediatamente aos votos doseminentes Ministros Relatores, conhe-cendo, também, do mandado de segu-rança, para deferi-lo, nos termos dovoto dos eminentes Ministros PradoKelly e Pedro Chaves.

VOTOSr. Ministro Evandro Lins: —

Sr. Presidente, dispõe o art. 1.° daL. 1.533, de 31.12.51:

"O mandado de segurança será con-cedido para proteger direito líquido ecerto sempre que, ilegalmente ou comabuso de poder, alguém sofrer viola-ção ou houver justo receio de sofrê-lapor parte de autoridade, seja de quecategoria fôr e sejam quais forem asfunções que exerça".

Cabe ao Supremo Tribunal Federaljulgar os atos do Senado Federal, deacôrdo com o § 1.0, acrescentando aoart. 101 da Constituição pela Emen-da n.° 16, de 1965.

Discute-se se se trata de lei em teseou de ato administrativo. Não me pa-rece que se trate de norma legislati-va, mas de ato sei generis. O Minis-tro Prado Kelly mostrou que não élei.

Sr. Ministro Alienar Baleeiro:Permite V. Excia. um aparte? O emi-nente Ministro Prado Kelly, data ve-nia — e S. Excia. sabe com querespeito divirjo dêle — afirmou quenão era lei, mas depois concedeu queera um ato de caráter normativo.

Sr. Ministro Evandro Lins: —O seu nome é Resolução. Lei não é,porque, se o fôsse, haveria de ser apro-vada pelas duas Casas do Legislativo:— o Senado e a Camara, e sancionadapelo Presidente da República. Por-tanto, lei não é. É um ato do Se-nado.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— O nome não importa. O Orçamen-

to é designado, na Constituição, comotal, e outras vezes por lei orçamentá-ria, e não é, materialmente, uma lei.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Trata-se de ato cuja destinação é tor-nar obrigatória, em relação a todos —erga omnes — uma decisão do Supre-mo Tribunal Federal. Uma vez que oSenado Federal determinou a suspen-são da lei, de acardo com o art. 64 daConstituição, essa sua decisão passa,então, a operar para todo o país, emrelação a todos os cidadãos, ergaomnes.

Senado não podia mais voltaratrás, como o Supremo Tribunal Fe-deral também não o poderia, era rela-ção à decretação de inconstitucionali-dade da lei. É essa a opinião do pre-claro Pontes de Miranda, à f. 463,do tomo II, dos seus Comentários àConstituição de 1946:

"Suspensa a lei, não pode mais oSupremo Tribunal Federal, ou qual-quer tribunal, ou juizo, aplicá-la: nãoé eficaz, portanto não incide. Se novalei se faz e o Supremo Tribunal Fe-deral não na tem como contrária àConstituição, é essa lei — e não ou-tra, a que sofreu suspensão que seaplica. Não há suspensão de suspen-são, bem que, ao primeiro exame, nostivesse parecido admissivel a voltaatrás do Supremo Tribunal Federal edo Senado".

Dr. Akino Salazar (Procurador'Geralda República): — PermiteVossa Excelência uma ponderação?Todo ato do Estado, do Poder Públi-co, invariàvelmente, pode ser legisla-tivo, administrativo ou judicial. Foradai não há classificação possível. En-tão, esse ato tem que ter um concei-to, tem que ser fixado numa dessastrês categorias, fora das quais nãoexiste função, ato do Estado.

eminente Ministro Prado Kellyentendeu que, por se tratar de umaresolução, era ato de natureza admi-nistrativa.

Sr. Ministro Prado Kelly: —Não cheguei a dizê-lo Com a devidavênia de V. Excia., não fiz essa afir-mação. O que declarei é que era umato político, de alcance normativo.

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Isto o é, efetivamente. Para mim, seNe se aproxima mais das leis do quedos atos administrativos, é questão se-cundaria, em face do meu argumentosare a competência.

Sr. Ministro Evandro Lins: —A realidade é que lei não é. Que Vos-UI Excelência o classifique como atoadministrativo ou como lei, ou lhe dêqualquer outra denominação, a reali-dade é que se ele ié ilegal, ou se foipraticado com abuso de poder, podeser corrigido pelo Supremo TribunalFederal, que tem competência originá-ria para apreciar os atos do SenadoFederal, através do mandado de segu-rança, que é um recurso amplo contratodos os atos ilegais, que podem re-sultar em prejuízo para os interessados.

Sr. Ministro Victor Nunes: —V. Excia. permite uma ponderação?Quando o Supremo Tribunal nega ca-bimento ao mandado de segurançacontra lei em tese, tem usado a pala-vra lei no seu sentido mais amplo, nosentido de norma ou ato normativo.Por isso é que, até em casos de segu-rança impetrado contra portarias mi-nisteriais ou contra decretos do Pre-sidente da Repáblica, que tenham ca-ráter normativo, não temos conhecidodo mandado de segurança.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Depende do caso.

Sr. Ministro Victor Nunes: —que se leva em conta é a natureza

do ato, não a sua hierarquia. Sendo oato de substancia legislativa, isto é,normativa, não se configura ainda umalesão do direito individual. E é alesão de direito individual, ainda queiminente, que o mandado de seguran

-ça protege.Sr. Ministro Evandro Uns: —

ir. Excias. vão ver que já temos de-cidido que, quando há lesão (e tenhoaqui, inclusive, um memorial em quebk decisões do Supremo Tribunal...)

Sr. Ministro Victor Nunes: —Pediria permissão a V. Excia. paracompletar as ponderações que vinhafazendo. Parece-me que poderíamosafastar tida essa discussão, examinou-

do mais atentamente a sugestão quehá pouco fêz o Dr. Procurador-Geral.Existe, agora, pela E.C. a.° 16, umprocedimento constitucional que nospermite apreciar os atos normativosem tese, quanto à sua constitucionali-dade, indepedenternente de uma lesãode direito individual. De outro lado,o processo que estamos examinandotem todos os requisitos formais da re-presentação de inconstitucionalidado„porque foi encampado pelo Procura-dor-Geral, que tem a iniciativa da re-presentação, tendo sido ouvida a au-toridade cujo ato se impugna. 21/4 vistadisso, se concordarmos em conhecerdo caso como representação, afastare-mos têdas as dificuldades sôbre o ca-bimento de reclamação ou mandadode segurança, porque é indiscutívelque cabe o processo de representação.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Para atingir essa finalidade (VossaExcia. me perdôo, pois, infelizmente,estamos ouvindo um pouco tarde, jána altura da votação final, e opiniãode V. Excia.), eu disse, no meu voto,que conhecia como mandado de segu-rança, como representação ou recla-mação.

Sr. Ministro Victor Nunes: —Parece-me indiscutível o voto de VossaExcia., quando conclui pelo cabimentoda representação.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Eu conheço de qualquer remédio parareparar o direito lesado, dentro danossa competência.

Sr. Ministro Victor Nunes: —Se a representação é o processo pró-prio, porque fazemos raciocínios ela-borados para que a medida caiba emoutro procedimento menos próprio? Seconhecermos do caso como representa-ção, estará tudo resolvido, quanto àpreliminar. Mas o que está aconte-cendo é que, na discussão da prelimi-nar, já estamos prejulgando o mérito.Conhecemos, então, do pedido comorepresentação e passemos ao examedo mérito.

Sr. Ministro Carlos Medeiros(Relator): — Não há representaçãoex officio.

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Sr. Ministro Victor Nunes: —A representação é sempre de iniciati-va do Procurador-Geral, mas Sua Exce-lência já perfilhou o pedido como re-presentação. Fez há pouco um lúcidopronunciamento oral, transformandoseu parecer em representação deconstituciondidade.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Muito obrigado pela valiosa contribui-ção de V. Excias. Prossigo em meuvoto: Estou em que o mandado de se-gurança é cabível. Mesmo que se tra-tasse de lei ou de decreto, que não éo ato impugnado, já temos decidido,como lembrou o ilustre advogado im-petrante, ser cabível o mandado desegurança. São citadas decisões. Nãohá uma formulação, na Sénula, quenão permita atender aos casos con-cretos.

Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro:— Isso não ocorre na hipótese. Sóhá obrigação se o Estado tomar a ini-ciativa de executar o devedor. Se nãotomar, a Resolução do Senado éinócua.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Lógico Sem qualquer procedimentoadministrativo, não se aplica a lei quepermite cobrar o tributo, não tenhodúvida.

Assim, Sr. Presidente, apesar deentender cabível o mandado de segu-rança, para obviar a dificuldade, umavez que estamos todos de acôrdo emrelação ao mérito, adiro, à sugestãofeita pelo eminente Ministro VictorNunes para que, caso não se conheçado mandado de segurança ou da recla-mação, se conheça do pedido comorepresentação, uma vez que está de-vidamente instruído.

Portanto, conhecendo da represen-tação, eu a julgo procedente, para anu-lar a segunda resolução do Senado Fe-deral; ou concedo o mandado de se-gurança, ou, também, julgo procedentea reclamação, qualquer que seja a fór-mula que se queira acolher.

EXPLICAÇÃOO Sr. Ministro Adalicio Nogueira:

— Sr. Presidente, eu me referi, tam-

bém, ao mandado de segurança; mas,pode ser reclamação. Se se conhecer,está no pressuposto.

1 a EXPLICAÇÃO

O Sr. Ministro Ribeiro da Casta(Presidente): — Peço a atenção doseminentes colegas.

Tendo sido sustentada a pitai-nar de que cabe, no caso, em últimaanálise, a representação, estabelecidoeste ponto de vista pelo eminenteSr. Procurador-Geral da República e,tendo em atenção, ainda, a economiaprocessual — porque é tempo perdidoestar o Tribunal a discutir tese emtermo de cabimento do mandado desegurança e da reclamação para, afi-nal chegar à representação — tendoem vista esse sentido prático da ques-tão preliminar, parece-me ser neces-sário pó-/a a votos.

Tribunal conhece do caso comorepresentação?

Sr. Ministro Carlos Medeiros(Re/ator): — V. Excia. não terminou,ainda, a votação da outra preliminar:se conhece da reclamação, ou do man-dado de segurança.

Sr. Ministro Ribeiro da Costa(Presidente): — Estou suspendendo ojulgamento, de acôrdo com o pontode vista do Sr. Procurador-Geral daRepública, que é a parte principalno processo, de que é parte principaltambém o reclamante e impetrante,para submeter a votos, pelo Tribuna/,se cabe ou não a representação. Seo Tribunal entender que cabe a repre-sentação, preliminarmente, depois to-marei os votos sôbre a matéria de mé-rito.

VOTO SôBRE AREPRESENTAÇÃO

Sr. Ministro Qswaldo Trigueiro:— Sr. Presidente, fui Relator ape-nas do mandado de segurança. Nessaqualidade não poderia conhecer do pe-dido a outro título. Aliás, continuoconvencido de que é incabível o pedi-do originário ao Supremo Tribuna/.A Resolução do Senado, por si só, não

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representa ofensa, nem ameaça, ao di-reito de qualquer contribuinte.

Também não me pronunciei sabrea reclamação, relatada pelo SenhorMinistro Carlos Medeiros, porque sê-bre ela ainda não fui chamado a votar.

Quanto a conhecer da espécie comorepresentação, entendo que não pode-ria fazê-lo er officio, porque a repre-sentação depende de iniciativa do Pro-curador-Geral da República.

Mas agora, já que o Dr. Procura-dor-Geral toma essa iniciativa, pedin-do que seu parecer seja convertido emrepresentação, dela conheço e a julgoprocedente, pelas razões constantes demeu voto.VOTO SOBRE REPRESENTAÇÃO

O Sr. Ministro Carlos Medeiros(Relator): — Conheço como repre-sentação, de vez, que o Sr. Procura-dor-Geral da República assim postu-lou, nesta assentada, e o processo estáinstruído devidamente. A autoridaderepresentada no caso, o Senado Fe-deral, já prestou informações.

VOTO PRELIMINARO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

— Sr. Presidente, conheço como re-presentação, embora ainda não hajauma lei regulamentando o exercíciodela em relação a leis federais. Co-nheço porque, quando entrou em vi-gor a Constituição de 1946, tambémnão havia lei regulamentando o exer-cício desse remédio por parte do Se-nhor Procurador-Geral da Repúblicae creio que foi Temtstocles Cavalcên-ti que encaminhou as primeiras, in-dependentemente de um texto legisla-tivo; e o Supremo Tribunal Federalconsiderou auto-aplicável o dispositi-vo constitucional.

Por estes precedentes, dado que oSr. Procurador-Geral da Repúblicaassumiu a autoria da reclamação etambém o Senado Federal foi ouvi-do, embora em um prazo menor doque aquele que é concedido às Assem-bléias dos Estados em circunstanciasanálogas, repito: em face do preceden-te, conheço da representação.

VOTO SOBRE REPRESENTAÇÃOSr. Ministro Prado Kelly: —

Sr. Presidente, conheço da represen-tação, como conheci do mandado desegurança.

SEGUNDA EXPLICAÇÃOSr. Ministro Ribeiro da Costa

(Presidente): — A matéria já foi de-batida pelo substancioso voto do emi-nente Sr. Ministro Relator. O votode S. Excia. foi secundado, tambémquanto ao mérito, pelos eminentes Se-nhores Ministros que já se manifes-taram.

Está-me parecendo que, sôbre estaparte, o Tribunal tem ponto de vistaconcorde. Entretanto, se não tem, da-rei a palavra a qualquer dos eminen-tes Srs. Ministros que deseje se ma-nifestar sObre o mérito.

VOTO SOBRE REPRESENTAÇÃOSr. Ministro Victor Nunes: —

A questão que ora se discute é muitoimportante. O debate se alongou,abrangendo vários aspectos constitu-cionais, e, como dizia há pouco o Se-nhor Ministro Oswaldo Trigueiro,muito difícil responder com "sim" ou"não".

Em primeiro lugar, Sr. Presidente,apóio, em parte, as considerações doSr. Ministro Aliomar Baleeiro, por-que o Senado não é um autômato naaplicação do art. 64 da Constituição.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Sr. Ministro, no meu voto, cheguei adizer que o Senado não era um meroregistrador de decisões do SupremoTribunal Federal. Ninguém atribuiuao Senado Federal a função secundá-ria e deprimente de dizer amém paraaquilo que o Supremo Tribunal diz.

V. Excia. sustentou a opinião doeminente Sr. Ministro Aliomar Ba-leeiro, ponto de vista contra o qualnada tenho a impugnar, mas querosalientar que não fiz essa injúria dedizer que o Senado não é nada, queo Senado é uma "batedor de carimbosde borracha" das decisões deste Tri-bunal.

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Sr. Ministro Victor NIMBE —Eu apenas dizia que entendo como oSr. Ministro Baleeiro, que o Senadonão é um autômato na aplicação doart. 64. O Senado pode, a meu ver,julgar da oportunidade de suspenderou não a execução de lei que tenha-mos declarado inconstitucional. E háde levar em conta, em tais circunstân-cias, a possível oscilação da jurispru-dência do Tribunal, como foi obser-vado.

Não me refiro, neste passo, à cláu-sula constitucional que permite ao Se-nado suspender "no todo ou em par-te" a lei declarada inconstitucional,porque me parece evidente, como disseo Sr. Ministro Adalício Nogueira, queessa referência da Constituição estávinculada à extensão do julgado doSupremo Tribunal.

Senado não pode, por iniciativaprópria, suspender a vigência do umalei qualquer. Ele só pode suspenderurna lei no pressuposto de haver o Su-premo Tribunal decidido contra a suavalidade. Está, pois, na contingência deobservar os limites do que o Tribunaldecidiu, porque o Senado não pode al-terar a nossa decisão. Se o Senado,ao suspender a vigência de uma lei,pudesse acolher apenas parte do quedecidimos e desprezar o restante, o re-sultado, em tese, poderia ser contrapro-ducente, especialmente quando as di-versas partes do julgado fôssem indis-sociáveis.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Por exceção, a Constituição Brasi-leira concede esse direito.

Sr. Ministro Victor Nunes: —A Constituição não deu ao Senado, noart. 64, o poder de vetar parcialmen-te as decisões do Supremo Tribunal.Por isso, Me suspenderá no todo ouem parte a lei, consoante o Tribunalhouver declarado a lei inconstitucio-nal no todo ou em parte.

Mas o Senado terá o seu própriocritério de conveniência e oportunida-de para praticar o ato de suspensão.Se uma questão foi aqui decidida pormaioria escassa e novos Ministros são

nomeados, como há pouco aconteceu,é de todo razoável que o Senadoaguarde ruivo pronunciamento antesde suspender a lei. Mesmo porquenão há sanção específica nem prazocerto para o Senado se manifestar.

Vem, agora, o problema da natu-reza do ato que o Senado pratica,quando suspende a execução de umalei, em obediência a decisão do Supre-mo Tribunal. Esse ato, por um lado,é evidentemente executório, ou secun-dário, ou complementar, como disse oSr. Ministro Pedro Chaves, porqueêle não poderia ser praticado, se nãopreexistisse a decisão do Supremo Tri-bunal. Sendo um ato vinculado à de-cisão, é secundário, complementar ouexecutório era relação a ela.

Por outro lado, esse ato não deixade ser normativo. Se a lei is norma-tiva e o Senado, ao suspendê-la, retiraa eficácia da lei, êle acrescenta algu-ma coisa à decisão, e esse acréscimotem fôrça tão normativa como a dalei que é posta fora de circulação. Seessa eficácia normativa, que suspendea lei, não derivasse da resolução do Se-nado Federal mas do julgado do Supre-mo Tribunal, a intervenção do Senadoseria desnecessária: a decisão seria exe-cutada, desde logo, com efeito norma-tivo. Mas não é este o nosso sistema.Daí a necessidade de se acrescentarum plus à decisão judiciária, toman-do-a obrigatória erga omnes, por serela, por natureza, obrigatória sOmentepara as partes.

O Sr. Ministro Pedro Chaves: —Funciona como extensão, como esclare-ceu o eminente Sr. Ministro PradoKelly, porque a decisão judicial é pro-ferida no caso e pela complementaçãodo Senado Federal fica extensível atodos, fica suspensa a execução.

O Sr. Ministro Victor Nunes: —Perfeitamente, mas eu diria que é umpouco mas que extensão, porque de-pois que o Senado aprova resoluçãosuspendendo a lei, os Tribunais nãomais a podem aplicar. Para todos osefeitos, a lei, em tal caso, se considerarevogada.

R.T.J. 38

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Não importa, que a lei tenha ema-nado de outro Poder (decreto-lei), oudas duas Câmaras com a colaboraçãodo Presidente. A Constituição é queregula como se fazem as leis e comose revogam. Se a Constituição previu,na hipótese que estamos discutindo,um modo especial de revogação de lei,não podemos negar-lhe obediência; aConstituição há de prevalecer.

Por tudo isso, parece-me que o atosuspensivo do Senado é de naturezanormativa, porque tem o efeito de re-vogar a lei. Por ser normativo, comêsse efeito revocatório da lei, parece-me de todo evidente que o Senado nãopode voltar atrás, pois a lei revogadasó se restaura por outra lei. O Se-nado só poderia restaurar a lei queMe, ao suspender, revogou, se tivessepoder legislativo aut8mono, se tivesseo poder de fazer a lei originária. Masêsse poder êle não tem, sequer, quan-to às leis federais, muito menos quan-to às estaduais, como é o caso dosautos.

Acolho, portanto, a representação.

EXPLICAÇÃO

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Sr. Presidente, peço a palavra para

esclarecer meu voto.V. Excia. está computando meu

voto vencido no mérito, da represen-tação da Procuradoria-Geral, no caso,quando enunciei, inicialmente...

Sr. Ministro Ribeiro da Costa(Presidente): — Por enquanto o queconsta da minuta de julgamento, é oseguinte: Conheceram do pedido comorepresentação, julgando-a procedentepara anular o ato impugnado. Restam,agora, os votos que podem diferir.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:Tive a impressão de que Vossa Ex-

celência iria facultar a quem quer quefôsse, votar sabre o mérito. Porque,quando me pronunciei, inicialmente,me referi, apenas, à preliminar do nãoconhecimento, quer da reclamação,quer do mandado de segurança. Edisse, mesmo: não sendo necessáriodecidir sabre o mérito, pois não teria

razão para me alongar sabre Me. Ago-ra, quanto ao mérito, voto contra •provimento da representação.

Creio — e, nisso, divido do emi-nente Sr. Ministro Victor Nunes Leal,— que é lícito ao Senado rever a suaresolução. Creio que S. Excia. estáequiparando duas hipóteses diferentes.S. Excia., como ouvimos aqui, consi-derou o ato do Senado com apoio noart. 64 a uma revogação de uma lei.Não. O que o texto diz, inegàvelmen-te, é que a suspensão da execução éuma situação de direito; não é (micaem nossa Constituição, no art. 64.

Além do caso do art. 64, temos umoutro exemplo de que uma lei podeficar em vigor e ter sua execução sus-pensa. Veja V. Excia., por exemplo,o art. 141, â 34. Ali, há dois princí-pios: que um tributo deve ser sempredecretado por uma lei; mas que a suacobrança em cada exercício depende-rã de uma prévia autorização orça-mentária. Então, que acontece se oCongresso — estou discutindo no pla-no federal ou uma Assembléia de Es-tado não concedeu autorização orçamanteria para cobrança de um impôs-to em determinado orçamento, emboranão haja sido revogada a lei que de-creta êsse impôsto? A lei está emvigor; apenas faltou o ato que dá efi-cácia àquela lei, naquele exercício.Pode o Congresso achar convenientenão revogar a lei e deixá-la para quan-do julgar oportuno utilizá-la. E, numdeterminado exercício, considerar quea receita daquele impôsto ou conve-niência da política possam não acon-selhar a cobrança, naquele ano.

O caso não é único, por isso reco-nheço ao Senado o poder de suspen-der e rever o seu ato e fazê-lo emqualquer tempo. Poderia, também,chegar à conclusão de que mais con-vém aguardar aquela hipótese já aquiexposta pelo eminente Sr. MinistroVictor Nunes Leal: — uma mudança,por exemplo, da composição do Su-premo Tribunal, quando a margem devotação foi mínima, apenas um votode diferença, como é, por exemplo, ocaso das taxas de incêndio de Per-nambuco e Minas Gerais.

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A diferença de votação é muito pe-quena, nesse caso. Corno poderia,também, preferir o processo da emen-da constitucional.

Por essas razões, não querendo mealongar quanto ao mérito, indefiro arepresentação.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Se V. Excia. acha que o Senado poderever...

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:O Senado Federal é um órgão políti-co; pode rever.

Sr. Ministro Hermes Lima: —... isto significa que ele pode deixarde cumprir o acórdão do Supremo Tri-bunal que declarou a lei inconstitu-cional.

St . Ministro Mimam. Baleeiro:— Pode. Suspenderá a lei se quiser

achar conveniente. Mas tem discri-cionarismo para não fazê-lo. Não háqualquer sanção para o Senado se nãosuspender a lei na forma do art. 64.

Permita V. Excia. Esqueça, nestemomento, que é um juiz, e volte aotempo em que era político e professorda Introdução à Ciência do Direito.Imagine uma hipótese que ocorreu emoutro pais: determinado Estado estáprofundamente conturbado por umproblema político, por exemplo, —aqueles Estados do Sul dos EstadosUnidos, em 1860, e uma decisão, porexemplo, a do célebre caso Dred Scott,pode ser provocada por dois indiví-duos, ou por um só indivíduo, en-quanto todos os demais querem cum-prir a lei. Isso pode provocar tama-nha irritação no Estado, que o leve atomar de armas, como lá aconteceu,em parte, por efeito do acórdão sôbreDred Scott.

Então, o Senado não está preso àdisciplina jurídica, não está preso àsformas de direito, e pode optar porcritérios políticos; pode preferir "sus-pender a sua suspensão", para paro-diar Pontes de Miranda, e evitar ummal maior para o País.

A Constituição não é, apenas, umOráculo de De/fos em matéria de or-

dem jurídica. Ela iá para fazer andaro país; não é para fazer parar a vidado País.

VOTOSr. Ministro Hermes Lima: —

Sr. Presidente, a Resolução n.° 32,do Senado, suspendeu, em função doacórdão do Supremo Tribunal Federalque o declarou inconstitucional, o ar-tigo de lei definido nesse acórdão, naletra p. E, mais tarde, cinco anos de-pois, a Resolução n.° 93 suspendeuaquela Resolução n.° 32. Creio quenão poderia fazê-lo. E não poderiafazê-lo, porque não ocorreram motivosde ordem pública.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Isso compete a ele, e não a nós.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Mesmo admitindo que o pudesse fazer,teOricamente, no caso o Senado Fe-deral não apresentou razões de ordempública que lhe determinassem essegesto. Mas, a meu ver, ele não po-derá suspender urna Resolução que jámandou suspender a execução, notodo ou em parte, de lei declarada in-constitucional pelo Supremo TribunalFederal. O Senado, normalmente, nãopode deixar de ser obrigado a suspen-der, no todo ou em parte, lei declara-da inconstitucional pelo Supremo Tri-buna/ Federal. E não pode, exatamen-te, porque a nossa decisão é relativaao caso concreto. Mas, seria injustoque ela não se aplicasse, também, atodos os interessados.

Por outro lado, o Senado e, nor-ma/mente, doutrinàriamente, obrigado,pela autenticidade da vida constitu-cional, que não repousa sèmente noslimites literais do texto escrito, masrepousa na filosofia do regime queinspira a seriedade política dos queocupam cargos públicos.

Se fôsse dado ao Senado permane-cer aguardando a oportunidade melhorou pior de executar uma decisão doSupremo Tribunal Federal, suspenden-do a execução de lei em todo ou emparte, isso tiraria tôda a seriedade,tôda a dignidade da vida constitucio-nal. A vida constitucional passaria a

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ser, então, um Aço de interesses emque um dos ramos do Poder da Repú-blica poderia ficar esperando a maréoportuna ou não para suspender oudeixar de suspender um ato do Se-nado Federal.

Estou de adirá° com os eminentesRelatores Oswaldo Trigueiro e Car-los Medeiros.

Nb mérito, julgo improcedente a re-presentação, pelo fundamento de queo normal será, quando o Estado cobraro impôsto. os interessados venham, porum mandado de segurança que nãoserá originário mas que acabará sen-do, manifestado ao Supremo Tribu-nal Federal. É a maneira mais nor-mal.

VOTOO Sr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — Sr. Presidente, estou com oseminentes Ministros que consideraramque o Senado Federal tem discrição,tem oportunidade para suspender alei declarada inconstitucional pelo Su-premo Tribunal Federal.

A matéria é de ordem política, nor-malmente, pelo princípio de igualda-de de todos perante a lei. Por issomesmo, deve o Senado Federal sus-pender a execução de lei declaradainconstitucional pelo Supremo Tribu.nal Federal.

Mas, às vezes, como foi realçadoneste Tribunal, a decisão é tomada porum voto apenas; estando na iminênciade serem substituídos os Ministros doTribunal ou por motivos quaisquer deconveniência, é lícito deixar ao Se-nado Federal a faculdade de delongar,de deixar passar um espaço de tempomaior, a fim de levar a Plenário adecisão sabre a inconstitucionalidadede lei decretada pelo Supremo Tribu-nal Federal.

Mas o que me parece certo, SenhorPresidente, é que, tendo-se manifesta-do o Senado Federal a respeito, nostermos do art. 64 da Constituição,estabeleceu-se o princípio de caráterpolítico-normativo, suspendeu-se a exe-cução da lei e, assim, não pode mais

voltar atrás o Senado, para despres-tígio da decisão do Supremo TribunalFederal. Se o fizesse, passaria a jul-gar, a meu ver, da inconstitucionali-dade da lei afirmada pelo órgão má-ximo encarregado de assim decidirpela Constituição da Repúbl ica. OSenado não poderá fazê-lo.

Sr. Ministro Evandro Lins: —O Senado diz que a sua decisão res-tabelece a lei que o Supremo Tri-bunal já havia declarado inconstitu-cional. -

Sr. Ministro Luiz Gallotti: —O que não poderia fazer, mesmo quea lei fôsse federal, acresce que a leiestadual.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — O Senado manifestando-se,dá-se a exaustão da sua competência,não pode voltar atrás e, fazendo-o, co-mete ato anulável pelo Supremo Tri-bunal Federal, pela competência quea Constituição e a E.C. n.s 16 de-ram a este alto Pretória

VOTO

Sr. Ministro Cândido MottaFilho: — Sr. Presidente, acho que oprocesso da inconstitucionalidade éfeito para garantir, acima de tudo, apermanência da ordem jurídica e dasegurança jurídica.

Quando o Senado Federal, com oseu conteúdo político, suspende, notodo ou em parte, uma lei declaradainconstitucional pelo Supremo Tribu-nal Federal, Me baixa uma resolução,que ganha sentido e firma para o Paísa generalidade daquilo que foi julgadoem particular pelo Supremo Tribunal.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — o princípio da igualdadede todos...

Sr. Ministro Cândi& MottaFilho: — É o princípio da igualdadede todos perante a lei. O Senado Fe-deral não pode, de maneira alguma,revogar essa resolução, sob pena detrazer ao País a insegurança jurídica,que é a base da ordem constitucional.

80 R.T.J. 38

VOTO

Sr. Ministro Luis Gallotti: —Enquanto ouvia os eminentes colegase o eminente Procurador-Geral da Re-pública, tomei algumas notas e, combase nelas, passo a proferir o meuvoto:

ato do Senado, previsto no arti-go 64 da Constituição, não é uni atolegislativo.

Se fôsse, teria que competir nãosó ao Senado mas também à Câmara,dependendo ainda de sanção do Pre-sidente da República.

Se fôsse, não poderia abranger leisestaduais, como é a de que se trata,conforme bem assinalou, em seu votomagistral, o eminente Ministro PradoKelly

Trata-se de atribuição, que o arti-go 64 da Constituição confere ao Se-nado, de suspender, no todo ou emparte, a execução de lei declarada in-constitucional, no todo ou em parte,pelo Supremo Tribunal, fazendo comque a decisão deste produza efeitoerga ornnes. Porque as decisões judi-ciais, em nosso sistema, têm seu alcan-ce limitado às partes em litígio, salvonos casos de representação do Pro-curador-Geral da República sôbre in-constitucionalidade em tese (novaçãotrazido pela Constituição de 1946).

ato do Senado é complementarde uma decisão judicial, ampliativo dosefeitos desta.

Em nosso regime, prevalece, comonos Estados Unidos, o chamado siste-ma de freios e contrapesos. O Presi-dente da República pratica ato de na-tureza legislativa, quando sanciona ouveta. O Poder Legislativo pratica atoadministrativo, quando nomeia. Omesmo ocorre com o Poder Judiciário.Assim, também, o Senado não praticaato legislativo no caso em que esta-mos examinando e em outros, como,por exemplo, quando aprova, antes danomeação, escolhas feitas pelo Presi-dente da República, quando julga este,ou os Ministros do Supremo Tribu-nal, etc.

Pode o Senado, ao exercer a atri-buição que lhe confere o art. 64 daConstituição, rever, em sua substân-cia, a decisão do Supremo Tribunal?

Não. Poderá, quando muito, ver sefoi observado o quorum do art. 200da Constituição, etc. (aspectos for-,mais).

Mas isso não está em causa.O eminente Ministro Oswaldo Tri-

gueiro, para não admitir o mandadode segurança, argumentou com a hipó-tese de promulgar o Estado nova leiigual à que o Supremo julgara incons-titucional e cuja execução o Senadosuspendera. Não caberia o mandadode segurança por ser contra lei emtese. Ora, na hipótese, haverá lei emtese. Mas lei em tese não é, comovimos, o ato do Senado que, comple-mentando decisão do Supremo, apenassuspende os efeitos da lei julgada in-constitucional.

O eminente Ministro Prado Kellyinvocou, muito bem a E.C. n.° 16,que admite mandado de segurança con-tra atos do Senado e não apenas con-tra atos de sua Mesa como dizia aConstituição de 1946 em seu textoprimitivo (art. 101, n.° 1, i).

• Mesmo antes da Emenda n.° 16, nomandado de segurança requerido peloSindicato dos Bancos contra a Reso-lução da Câmara que ordenara a pu-blicação de inquérito feito no Bancodo Brasil, entendi, e entendeu o Tri-bunal, que se deveria ter como im-plícita a competência do Supremopara conhecer, também, de mandadode segurança contra atos da própriaCâmara, pois o mandado de seguran-ça cabe, seja qual fôr a autoridaderesponsável (Const., art. 141, 24)e outro Tribunal não existe acima doSupremo.

Assim, conheço do mandado de se-gurança. Se não conhecido pelo Tri-bunal, eu conheceria do pedido comoreclamação.

Objetou, de início, o eminente Pro-curador-Geral que o caso seria de re-presentação, mas que o julgamentodesta depende de informações, as quaisnão são solicitadas na reclamação. Na

R.T.J. 38

81

verdade, são.. Mas tenho sempre en-tendido, e tem decidido o Tribunal,que o fato de caber a representaçãonão exclui o uso, pelos interessados,de outros remédios judiciais. Porque arepresentação compete privativamenteao Procurador-Geral da República.S. Excia. é livre de usá-la, ou não.Logo, não se deve retirar aos interes-sados a possibilidade de recorrerem aosoutros remédios cabíveis.

Objetou o eminente Ministro Alio-mar Baleeiro que o Senado poderianão, cumprir a decisão que viéssemos atomar contra o ato impugnado, semincorrer em qualquer sanção, pois ne-nhuma está prevista na Constituiçãoou na lei. Isso me faz lembrar o queocorreu quando Presidente da Repú-blica, o inolvidável Epitácio Pessoa.Estava o Presidente em São Paulo ejornais do Rio estranharam que, estan-do a terminar o prazo legal de 30 diaspara preenchimento de uma vaga noSupremo, esta continuasse aberta. Epi-tácio telefonou a Pires e Albuquerqueque, então Ministro Procurador-Geralda República, indagando se a lei lhefixava aquele prazo. Pires respondeuafirmativamente. Perguntou entãoEpitácio: "Mas a lei prevê sançõespara o caso de não ser observado oprazo?" Esta a resposta de Pires, quea intimidade entre os dois lhe permi-tia: "A lei não prevê sanções, porquesupõe que o Presidente da Repúblicacumpra o dever que ela lhe impõe".

No caso, anulada a segunda Resolu-ção do Senado, prevaleceria a pri-meira.

Depois do seu pronunciamento ini-cial, o eminente Procurador-Geral, ve-rificando que houvera pedido de in-formações e que estas foram presta-das, concordou em que o caso seria derepresentação, endossando-a, portanto.

Isso nos permite conhecer da maté-ria por esse meio, caso o Tribunal de-cida não conhecer do mandado de se-gurança ou da reclamação (eu conhe-ceria por qualquer dêstes dois meios,conforme sustentou, em seu brilhan-te voto, o eminente Ministro PedroChaves).

Quanto ao mérito, os eminentes Mi-nistros Oswaldo Trigueiro e PradoKelly fizeram cabal demonstração deque o pedido é procedente.

Estou de acOrdo com os eminentesMinistros Victor Nunes e Aliomar Ba-leeiro em que o Senado, atendendo arazões de conveniência e oportunida-de, pode suspender, ou não, a execuçãoda lei declarada inconstitucional, es-tendendo ou não, erga omnes, os efei-tos da decisão do Supremo.

O que não pode é, depois de sus-pender, baixar nova Resolução, parainterpretar o acórdão da Carte Supre-ma, restringindo-o. Porque isso seria,no caso, revigorar o Senado, em parte,uma lei estadual (o que não pode) ourevigorar, em casos outros, uma leifederal (o que também não pode, só-zinho) .

Julgo procedente a representação,uma vez que por êste meio decidiu oTribunal conhecer a matéria, ao aco-lher a proposta do eminente MinistroVictor Nunes.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Conheceram do pedidocomo Representação, julgando-a pro-cedente para anular o ato impugnado,contra os votos dos Ministros AliomarBaleeiro e Hermes Lima, no mérito.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroA. M. Ribeiro da Costa. Relator, oEsmo. Sr. Ministro Carlos Medeiros.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Sra. Ministros CarlosMedeiros, Aliomar Baleeiro, OswaldoTrigueiro, Prado Kelly, Adalicio No-gueira, Evandro Lins, Hermes Lima,Pedro Chaves, Victor Nunes, Gonçal-ves de Oliveira, Vilas Boas, CândidoMotta Filho, Luiz Gallotti e Lafayettede Andrade. Licenciado, o Exmo. Se-nhor Ministro Hahnemann Guimarães.

Brasília, 25 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

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RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° i2.783— SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aliornar Baleeiro.Recorrente: Oswaldo Hermsdorf. Recorrida: Fazenda do Estado de São

Paulo.

Posse de funcionário — A ela tem direito, quem foi nomeado,por ter sido julgado habilitado em concurso, não prevalecendo odecreto que declarou sem eleito a nomeação para vaga existente.

ACÓRDÃOVistos e relatados êstes autos de

Mandado de Segurança n.° 12.783, doEstado de São Paulo, em que sãorecorrente, Oswaldo Hermsdorf e re-corrida, Fazenda do Estado de SãoPaulo, decide o Supremo TribunalFederal, pela sua Segunda Turma, darprovimento ao recurso, unanimemente,de acOrdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 10 de maio de1966. — A. M. Vilas Boas, Presi-dente — Aliomar Baleeiro, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

— 1. Adoto o constante do parecerde f. 101-102, da lavra do ilustreProcurador-Geral da República, o hojeMinistro Oswaldo Trigueiro, nos se-guintes termos:

"Oswaldo Hermsdorf impetrou MScontra ato que obstou sua posse nocargo de Julgador da Secretaria daFazenda do Estado de São Paulo,para o qual tara regularmente no-meado.

A informação de f. 19 esclareceque a posse do Impetrante foi, efetiva-mente, sustada ex vi do D. 41.628,de 4.2.63, que tornou sem efeito asnomeações de todos os funcionáriosnomeados pela Administração anterior,desde que ainda não empossados.

A segurança foi denegada pela sen-tença de f. 28-34, confirmada porAcórdão unânime da Primeira Câma-ra Civil do Tribunal de Alçada(f. 76-79).

Pelos jurídicos fundamentos da de-cisão recorrida, nosso parecer á con-trário ao provimento do recurso,"

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aliornar Baleeiro(Relator): — 1. Pergunta o Impe-trante, no recurso, à f. 85, se 6 dis-cricionário o poder que tem, de tor-nar sem efeito a nomeação, a autori-dade que a fez. Invoca, pela negati-va, a douta opinião de Seabra Fa-gundes.

O Supremo Tribunal Federal temrespondido pela negativa sOmente de-pois da posse, que não ocorreu nocaso (Súmula 17).

Mas o Recorrente alega, prova(f. 8) e não é contestado, de quesua nomeação resultou de concurso,no qual logrou aprovação. Nesse caso,que não g o da Súmula 17, penso ha-‘ar direito liquido e certo à posse.Esse direito nasceu da aprovação e,se foi nomeado, havia vaga. Dou pro-Nimento ao recurso.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Deram provimento, unâ-nime.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Vilas Boas. Relator, o Esmo. Se-nhor Ministro Aliomar Baleeiro. To-maram parte no julgamento os Exce-lentíssimos Senhores Ministros Alio-mar Baleeiro, Adalício Nogueira, Pe-dro Chaves e Vilas Boas Licenciado,o Ermo. Sr. Ministro HahnemannGuimarães.

Brasília, 10 de maio de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

R.T.J. 38 83

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° d4.226 — RJ

(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro.

Recorrente: José Carlos de Almeida. Recorrida:Rio.

Fazenda do Estado do

Extranumerário — Não lhe aproveita o tempo em que serviucomo preposto de escrivão, sem ser servidor público. — Dec.-leinão pode prevalecer contra a letra da Constituição Federal.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Mandado de Segurança nP 14.226, doEstado do Rio de Janeiro, em quesão: recorrente, José Carlos de Al-meida e recorrida, Fazenda do Es-tado do Rio, decide o Supremo Tri-bunal Federal, pela sua Segunda Tur-ma, negar provimento ao recurso, una-nimemente, de et-6'rd° com as notasjuntas.

Distrito Federal, 10 de maio de1966. — A. M. Vilas Boas, Presi-dente — Aliomar Baleeiro. Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

— 1. Alega o Recorrente ter sidoilegalmente afastado do cargo deAgente Fiscal, ref. 30, da Secretariadas Finanças do Estado, por fôrça doD. est. 10.767, de 13.2.63, para oqual fôra admitido pela Portaria de17.1.63, fundamentando essa alega-ção no fato de já vir exercendo ocargo de escrevente de justiça desde13.4.50, o que lhe garantiria o di-reito à estabilidade pelos arte. 43,da L. 4.907-61, 30 da L. est. 5.056,de 1962, e 459, da L. est. 5.064-62.Diz mais que o seu afastamento nãofoi precedido de justificativa escritado seu Chefe imediato, como precei-tua o art. 29, parágrafo (mico doDl. 1.321-45.

2. 43 v. Acórdão do eg. T.J. doEstado do Rio de Janeiro (f. 63-67),contra o qual se interpôs o recursode f. 74-76, tem a seguinte ementa:"O tempo de serviço do escreventede justiça nomeado pelo juiz nãoé computável para qualquer efeito.

Extranumerário; sua dispensa fica acritério do Governo."

3. O parecer de f. 87-88, aprovadopelo ilustre Dr. Procurador-Geral daRepública, o hoje Ministro OswaldoTrigueiro, citando a Súmula 50, é nosentido de se dar provimento ao re-curso, concedendo-se, assim, a segu-rança pleiteada.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro(Relator): — 1. A lei estadual, senão colide com a Constituicao Fe-deral nem com a de Estado, podeestabelecer condição para dispensa deextranumerérios (Súmula 50).

Mas esse não é caso dos autos,como bem o demonstra o v. Acórdãorecorrido: a Constituição do Estado doRio declara transitória a situação doextranumerário.

Não vale a invocacão doDl. 1.321-45, que não pode preva-lecer contra a letra e o espirito daConstituição Estadual.

Além disso, o ato de dispensa foijustificado pelo Governador do Esta-do, como medida extrema diante dasituação financeira precarissima doTesouro fluminense.

Nego provimento ao recurso.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Negaram provimento.Unanime.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Vilas Boas. Relator, o Ermo. Sr.-

R4 R.T.J. 38

nhor Ministro Aliomar Baleeiro. To-rnaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Senhores Ministros Alio-mar Baleeiro, Adalício Nogueira, Pe-dro Chaves e Vilas Boas. Licenciado,

o Ermo. Sr. Ministro HahnemannGuimarães.

Em 10 de maio de 1966. — Al-varo Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 14.426 — RJ

(Segunda Turona)

Relator: O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro.

Recorrentes: Rayrnundo Bento Aguiar e outro.Estadual.

Funcionário efetivo — Nomeadoexonerado sob pretexto de economia,Governador a promover a extinção do

Recorrida: Fazenda Pública

e empossado não pode sera qual deveria conduzir ocargo.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Mandado de Segurança n.o 14.426,do Estado do Rio de Janeiro, em quesão: recorrentes, Raymundo Bento.Aguiar e outro e recorrida, FazendaPública Estadual, decide o SupremoTribunal Federal, pela sua SegundaTurma, dar provimento ao recurso,unanimemente, de acôrdo com as no-tas juntas.

Distrito Federal, 10 de maio de1966. — A. M. Vilas Boas. Presi-dente — Aliomar Baleeiro. Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aliornar Baleeiro:— I. Os Recorrentes foram nomea-dos para os cargos isolados de "esta-tístico fiscal", tomaram posse, entra-ram em exercício, obedecidas tôdas asformalidades legais e, quando em ple-na atividade funcional, foram surpre-endidos com o decreto de sua exone-ração, por ato que inquinam de ilegale abusivo, uma vez que não foramdevidamente comprovados a justa cau-sa nem o motivo de interesse públi-co, tal como preceitua o art. 113,§ L°, da Constituição Fluminense.Consideram, ainda, a medida discrimi-natória, já que muitos outros funcio-nários, em identicas condições, conti-nuaram em seus cargos.

Alegam os Recorrentes que seencontram sob o pálio das L. est.5.056 e 5.064, de 1962, adMitidos queforam no serviço público para car-gos em caráter efetivo e se achavamna fase de estágio probatório.

O V. Acórdão do Eg. T.J. doEstado do Rio de Janeiro (f. 83-87)do qual se recorre ordinariamente af. 94-102, tem a seguinte ementa:"Não se computa o tempo vencido noexercício de mandato eletivo de ve-reança ou deputação, para efeito deconquistar estabilidade no servico pú-blico, eis que contrariamente a talpretensão dispõe a Constituição Esta-dual. Ato fundamentado na destitui-ção do serviço público. Segurança de-negada."

4. Contra-arrazoado o recurso af. 105-114, subiu a esta instância,onde a douta Procuradoria-Geral daRepública, com o apoio de seu ilus-tre titular, o Eminente Ministro Os-vvaldo Trigueiro, opina pelo provi-mento do recurso e conseqüente con-cessão da segurança pleiteada.

É o relatório,

VOTOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro

(Relator): — 1. Como argumenta or. voto vencido do DesembargadorPerlingeiro, se a justificativa era ade economia, cumpria ao Governadorpromover a extinção dos cargos e não

R.T.J. 38 85

exonerar os ocupantes. A justifica- Presidência do Esmo. Sr. Minis-ção, constitucionalmente exigida no tro Vilas Boas. Relator, o Excelen-Estado do Rio, não existe no caso. tíssimo Senhor Ministro Aliomar Ba-

2. Dou provimento ao recurso nos leeiro. Tomaram parte no julgamen-têrmos do voto vencido de f. 88-92 to os Ermos. Srs. Ministros Aliomarde acôrdo com o pronunciamento da Baleeiro, Adalício Nogueira, PedroProcuradoria-Geral da República. Chaves e Vilas Boas. Licenciado. o

Ermo. Sr. Ministro Hahnemann Gui-DECISÃO marães.

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Deram provimento. Unâ-nime.

Em 10 de maio de 1966. — Ál-varo Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 15.114 — PE

(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira.

Recorrente: Estaleiros Nordeste S. A . Recorrido : Ermo. Dr. Juiz de Di-reito da Comarca de Igarassu

Mandado de segurança para obstar protesto de titulo. Inde-ferimento. Nega-se o provimento.

ACÓRDÃOVistos, etc.Acorda a Terceira Turma do Su-

premo Tribunal Federal, por decisãounânime, negar provimento ao recur-so, de acôrdo com as notas taquigráfi-CGS.

Custas na forma da lei.Brasília, 3 de junho de 1966. —

Luis Gallotti, Presidente — Gonçal-ves de Oliveira, Relator.

RELATÓRIO

Sr - Ministro Gonçalves de Oli-veira: — O mandado de segurançafoi impetrado para obstar protesto detítulo de dívida.

eg. Tribunal de Justiça de Per-nambuco denegou a segurança, assi-nalando a ementa:

"Mandado de segurança para sustarprotesto de título, por não ser de dí-vida líquida e certa e representarobrigação pagável em moeda estran-geira. Indeferimento. — O poder deverificação do título levado a protes-to, pelo oficial, limita-se as formali-dades extrínsecos. " (f. 46).

Foi interposto recurso ordinário.(f. 55-57).

A Procuradoria-Geral, através doparecer do então Procurador-Geral,Dr. Oswaldo Trigueiro, opinou pelonão provimento.

o relatório.

VOTOSr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira (Relator): — Meu voto é pelodesprovimento de acôrdo com o pa-recer de f. 42, confirmando o acórdãopelos seus fundamentos.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não provido. Unânime.Presidência do Exmo. Sr. Minis-

tro Luiz Gallotti. Relator, o Excelen-tíssimo Senhor Ministro Goncalves deOliveira. Tomaram parte no julga-mento os Ermos. Srs. Ministro CarlosMedeiros, Prado Kelly, Hermes Lima,Gonçalves de Oliveira e Luiz Gallotti.

Em 3 de junho de 1966. — AlvaroFerreira dos Santos, Vice-Diretor- Ge-ral.

86 R.T.J. 38

RI1CURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 16.091 — GB

l(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrentes: Célia Madureira Pedira e outra. Recorrido: Instituto de Apo-sentadoria e Pensões dos Bancários.

Tesoureiro-auxiliar.Direito reconhecido pela jurisprudencia do Supremo Tribunal.Recurso provido, para conceder a segurança.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

recurso de Mandado de Segurança nú-mero 16.031, da Guanabara, em quesão recorrentes Célia Madureira Pá-doa e outra e á recorrido o Institutode Aposentadoria e Pensões dos Ban-cários, decide o Supremo TribunalFederal, em 3.5 Turma, dar provi-mento ao recurso, unanimemente, deacerdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 17 de maio de1966. — Luiz Gallotti, Presidente eRelator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —Esta a sentença (f. 65-68):

"Célia Madureira de Pédua e Noe-mia Freitas de Pa/uffo impetram man-dado de segurança contra ato do Se-nhor Presidente do Conselho Admi-nistrativo do Instituto de Aposentado-ria e Pensões dos Bancários, que senega a determinar o aproveitamentodas Suplicantes, em caráter efetivo,nos cargos de Tesoureiros-Auxiliares,padrão 5-C, a primeira, e no padrão4-C a segunda, nas vagas que referemno pedido de f. 13.

Alegam vir exercendo, como substi-tutas, as funções correspondentes àque-les cargos, situação que lhes atribui-ria os benefícios instituídos pelaL. 3.205, de 1957.

Informações a f. 39-54 defenden-do o acerto legal do entendimento daAdministração.

Oficiou à f. 55v. o Dr. Procura-dor da União Federal.

Tudo visto e examinadoFundamentam, as Suplicantes, sua

pretensão, nas disposições do art. 12da L. 3.826, de 23.11.60, c/c oart. 3." da L. 3.205, de 1957, esta-belecem, respectivamente:

Art. 12. "Os benefícios do art. 3."da L. 3.205, de 15.7.1957, são ex-tensivos aos atuais Tesoureiros-Auxi-liares, Conferentes, Conferentes de Va-/Ores, Interinos, Substituto."

Art. 3•0 "Os Tesoureiros-Auxiliares,Conferentes, Conferentes de Valeres,Interinos, Substituto, que a 8.10.54se encontravam exercendo os respec-tivos cargos, serão aproveitados nasvagas que vierem a ocorrer ou secriarem, após a vigência da presentelei, nos respectivos setores, respeitado

critério de antigüidade."Embora ocupantes dos cargos de

"Escriturárias", foram elas designadaspara, em substituição, exercer as fun-ções de Tesoureiro-Auxiliar, conformea própria autoridade o esclarece nasinformações de f. 50-51.

A recusa ao atendimento do pedido,contudo, baseia-se na convicção de que,

favor legal só beneficiaria os ocupan-tes interinos dos cargos de Tesourei-ro. A natureza eventual da designa-ção das Suplicantes acarretaria a nãoincidência, no caso vertente, das nor-mas invocadas.

Mas, a jurisprudência das instân-cias superiores vem dando outra inte-ligência à locação "interinos substitu-tos", no sentido de compreender nela,

exercício, sob qualquer modalidade,das funções correspondentes ao cargode Tesoureiro.

Assim, o eg. Supremo Tribunal Fe-deral, por exemplo, no julgamento do

R . T . J . 38 87

RMS 10.499, da Guanabara, de quefoi Relator o Ministro Cândido MottaFilho, decidiu, em sessão plena, àunanimidade, que:

"Se os impetrantes ocupavam, dequalquer forma, as funções de Tesou-reiro-Auxiliar, têM os direitos que re-clamam diante da L. 3.205, de 1957"(D.J. de 13.12.62, Apenso número228, p• 832) .

Da mesma forma se pronunciou oeg. Tribunal Federal de Recursos. aoreceber, por unanimidade, os embar-gos na apelação n.° 12.379 do antigoDistrito Federal, interposto, aliás, desentença nossa, onde já sustentáramosigual entendimento.

O v . acórdão, resultante, ostenta aseguinte ementa:

"Preenchendo o servidor os requi-sitos da L. 3.205 para seu aproveita-mento no cargo de Tesoureiro-Auxi-liar, não pode a Administração negar-lhe asse direito, a pretexto de inexis-tência de vagas, e contudo procede,logo após torrente de nomeacões."

Acrescente-se, ademais, que a con-duta do I.A.P.B. sujeita-o à cen-sura de beneficiar-se dos servicos es-pecializados das Suplicantes, sem con-ceder-lhes a retribuição corresponden-te, pois continua a remunerá-las comosimples "Escriturárias."

Por tudo isso, impõe-se o provimen-to do pedido inicial. Mas, dele háde excluir-se a percepção dos efei-tos patrimoniais vencidos, que só nasvias ordinárias poderão ser pleiteados.

Isto pasto, nos termos acima enun-dados, concedo o mandado de segu-rança."

A segurança foi cassada, de adir-do com o seguinte voto do ilustreMinistro Cunha Mello (f. 89):

"A efetivação cogitada implica numaverdadeira criação de novos empregos,ferindo por conseguinte e de maneirafrontal o disposto na Lei Básica, arti-tigo 67, § 2.°. As L. 3.205 e 3.826garantiram um aproveitamento depen-dente de vaga. Mandaram aproveitarservidor ocupante do cargo à data dalei, na medida em que ocorressem va-gas. Dou por isso provimento aos re-cursos, para reformar a sentença ecassar o writ"

Disse o ilustre Ministro Godov Ilha(f. 90):

"Sr. Presidente, segundo se inferedos próprios documentos que instruema inicial, as impetrantes foram desig-nadas para responder pela função, noimpedimento eventual dos respectivostitulares, de modo que não exerciamelas, em verdade, a função de substi-tutas, mas estavam por ela respon-dendo, em caráter eventual, até quecessasse o impedimento dos respectivostitulares. Nestas condições, como te-nho sempre sustentado, não as socor-re o disposto no art. 3P da L. 3.205,de 1957, cuja vigência foi revigoradapelo art. 12 de L. 3.826.

Assim, não tenho como liquido ecerto o direito invocado pelas impe-trantes e isso ficou bem demonstradocom as informações prestadas peloInstituto, às quais me reporto.

Dou provimento aos recursos, paracassar a segurança."

A decisão da Turma foi unânime.Recurso das impetrantes.A Procuradoria-Geral opina (falhas

113-114):"1 Célia Madureira de Pádua e

outra impetraram mandado de segu-rança contra ato do Presidente doI.A.P.B., que se negou a determinaro aproveitamento das suplicantes, emcaráter efetivo, nos cargos de Tesou-reiros-Auxiliares.

Concedida a segurança pela sen-tença de f. 65-68, foi essa decisão re-formada pelo eg. Tribunal Federal deRecursos, com a seguinte ementa:

"Funcionário público interino. —Aproveitamento em funções de Te-soureiro cogitado nas L. 3.205 e3.826. -- Tem que ver com o ocupan-te do cargo à data desses diplomase na medida em que surgirem vagas"(f. 92) .

Opinamos no sentido de que senegue provimento ao recurso interpos-to. As recorrentes foram designadaspara responder pela função, no impe-dimento eventual dos respectivos ti-tulares, não exercendo, assim, a fun-ção de substitutas. Desse modo, nãoas socorre o disposto no art. 3.° da

88 R.T.J. 38

L. 3.205, de 1957, cuja vigência foirevigorada pelo art. 12 da L. 3.826.

Brasília, D.F., 15 de março de1966. — A. G. Valirn Teixeira, Pro-curador da República.

Aprovado: Alcino de Paula Salazar,Procurador-Geral da República."

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-

lator): — As recorrentes invocam ajurisprudência do Supremo Tribunal.

Na sentença foi citado acórdão deque foi Relator o eminente MinistroCândido Motta (f. 67):

"Se os impetrantes ocupavam, dequalquer forma, as funções de Tesou-reiro-Auxiliar, têm os direitos que re-clamam diante da L. 3.205, de 1957( D.J. de 13.12.62, Apenso número228, p. 832)".

E o aproveitamento não foi reque-rido independentemente de vagas, masnas vagas a que se refere o pedido def. 13 (v. sentença, 1. 65).

Assim, dou provimento ao recur-so, para restabelecer a sentença, queconcedeu a segurança.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão, foia seguinte: Provido. Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Luiz Gallotti, Relator. Tomaramparte no julgamento os Ermos. Se-nhores Ministros Carlos Medeiros,Prado Kelly, Hermes Lima, Gonçalvesde Oliveira e Luiz Gallotti.

Em 17 de maio de 1966. — AlvaroFerreira dos Santos, Vice-Diretor-Ge-ral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 42.205 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro. Recorrido:Carlos Eduardo Senger.

Nulidade de testamento em que tildas as testemunhas ins-trumentárias afirmaram ignorar o conteúdo do ato e duas seencontravam em lugar diverso, tendo o herdeiro instituído figuradocomo testemunha da revogação do testamento anterior. Restabe-lecimento da sentença.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, conhecer dorecurso e dar-lhe provimento.

Brasília, 29 de abril de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente. — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Victor Nunes: —

A sentença de La instância, do Juiz da3.a Vara de Família e Sucessões deSão Paulo, anu/ou os testamentos def. 12 e 36, validando o testamentoanterior, de f. 11, em que figuravacomo herdeira instituída a Santa Casade Misericórdia de Santo Amaro.

Como o Ministério Público Federalafirmou o interesse da União, por sera testadora de nacionalidade alemã, oTribuna/ de Justiça de São Paulo(f. 293), se deu por incompetente.

R .T .J. 38 89

O Tribunal Federal de Recursos, emapelação (f. 318), vencido o SenhorMinistro Aguiar Dias, Relator, re-formou a sentença para julgar impro-cedente a ação (f. 318), e êsse acórdãofoi confirmado em grau de embargos(f. 359), vencidos os Srs. MinistrosAguiar Dias, Henrique d'Avila e El-mano Cruz.

A Santa Casa, depois de desistir(f. 370) dos embargos declaratóriosque havia oposto (f. 362), interpôsrecurso extraordinário, pelas letras a,c e d (f. 371) . Alegou: 1.°) incom-petência do Escrivão de Paz, que la-vrou o testamento fora de seu distrito;2.°) ausência absoluta do cumprimentodas formalidades do art. 1.632 doC. Civ.; 3.°) incompetência do Tri-bunal Federal de Recursos, porque,com a promulgação do D. 39.869, de30.8.56, cessou o eventual interêsse daUnião no caso; 4.°) intempestividadeda apelação, que, entretanto, foi pro-vida, sem que essa preliminar tivessesido apreciada; 5.°) divergência comjulgados de outros tribunais que admi-tem prova testemunhal, especialmentedas testemunhas instrumentárias, emcontrário ao que consta do instrumento,

que foi contrariado pelo acórdãorecorrido, que deu prevalência aocertificado do escrivão.

Da sentença, que concluira pelanulidade, do ato revogatório do pri-meiro testamento, bem como dosegundo testamento, constam estas pas-sagens: "...tôdas as testemunhas doato, sem exceção, afirmam nada terassistido e terem assinado sem saberdo que se tratava; duas delas nemse achavam no local, o sítio da testa-dora, mas sim em Santo Amaro, ondeeram comerciantes... É verdade que

réu arranjou várias testemunhas quevieram dizer que as instrumentárias es-tiveram presentes ao ato, assistiramtudo, que foi lido o testamento peloTabelião, e em seguida, todos assina-r.= •

Penso, entretanto, que merecem maisfé as testemunhas instrumentárias...Ademais, as testemunhas do réu de-pilem sôbre tantos fatos, os mais in-significantes, que dão a impressão deprovarem demais... Enfim, no entre-

choque dos depoimentos, pareceram-memais idôneos os das testemunhas ins-trumentárias, sendo de notar-se queuma das testemunhas do réu tem certointerêsse, embora remoto, na manu-tenção do estado atual, pois que éarrendatária do sítio da testadora eestá em desarmonia com o usufrutuário,

companheiro da falecida... Em facedo que disseram as testemunhas instru-mentárias, certo é que foram comple-tamente desprezados os requisitos dosos. II e III do art. 1.632, sendo assim,absolutamente nulo o testamento def. 12. Não é menos nulo o ato def. 36. Também êsse não foi assis-tido pelas testemunhas instrumentárias,como se pode ver do depoimento" (detrês testemunhas nomeadas na sen-tença).

O Sr. Ministro Aguiar Dias, queconfirmava a sentença, disse: "...con-tra as testemunhas instrumentárias nãopode valer testemunha numerária deprocessos, testemunha cujo interêssenão aparece, mas cuja idoneidade nãopode afrontar a idoneidade -das tes-temunhas que teriam servido noato... Por esses fundamentos e pelosdemais que constem da sentença, eua confirmo". Prevaleveu o voto doSr. Ministro Alfredo Bernardes, ondeleio o seguinte: "Diz-se que as tes-temunhas assinaram sem saber do quese tratava, mas elas figuram no ins-trumento e assinaram o testamento...entendo que, para ser decretada anulidade de um testamento, é precisouma convicção plena de que atos, ates-tados pelo tabelião com fé pública,não se realizaram. No caso dos autos,não formo essa convicção inabalável".

O recurso extraordinário foi admi-tido com este despacho (f. 388):

"O recurso é interposto no prazolegal (f. 360 e 371).

Funda-o a recorrente nas letras a,c e d do n.° III do art. 101 da Cons-tituição, alegando que o acórdão re-corrido viola os arte. 823, 862, 5 5P,

877 do C. Pr. Civ., art. 18, § 1.°,da Constituição, e art. 1.632, n.° I,do C. Civ.; que ela, recorrente, con-testa a validade do art. 3.°, parágrafoúnico, do D. 5.204, de 1931, do In-terventor Federal no Estado de São

90 R .T . J . 38

Paulo, em face do art. 4.° do D.fed. n.° 19.398, de 1930, e do art. 11do Código dos Interventores, e o

acórdão recorrido julga válido aqueledispositivo legal; que, finalmente oacórdão recorrido, na interpretação aoart. 1.634 do Cód. Civ. e 862, â 5.°,do C. Pr. Civ., contrariam jurispru.dencia do Supremo Tribunaâ e dosdemais tribunais de Justiça do país,e indicando número e página dos re-pertórios em que está publicada ajurisprudência divergente (f. 371) .

Não há impugnação (f. 387v.).Os pressupostos formais estão satis-

feitos.A procedência ou não do recurso

é matéria de mérito. Prossiga-se".Arrazoaram as partes e a Procura-

doria-Geral da República opinou peloconhecimento e provimento, por in-competência do Tribunal Federal deRecursos, considerando prejudicado odebate da matéria restante (f. 411).

VOTOO Sr. Ministro Victor Nunes (Re-

!ator): — Li, atentamente, as decisõese pareceres proferidos nestes autos.Deixo de acolher várias das alegaçõesda recorrente.

Quanto à intempestividade da ape-lação, não houve embargos declara-tórios contra o acórdão que se omitiunesse ponto.

A incompetência do escrivão depaz também não me parece demons-trada, porque havia lei estadual que

autorizava a praticar o ato. Tam-bém não acolho a incompetência doTribunal Federal de Recursos, porque,por duas vezes, o Ministério PúblicoFederal afirmou o interesse da União,

a afirmação contrária, isto é, doseu desinteresse, semente foi feita emgrau de embargos.

Além disso, omitida a questão dacompetência nos dois julgamentos noTribunal Federal de Recursos, a re-corrente opôs embargos declaratórios,em que a formulou de nevo masdesistiu desses embargos entes dojulgamento.

Resta o problema da validade dodepoimento das testemunhas instru-mentárias. À primeira vista, tendo

em conta sobretudo os termos do votodo Sr. Ministro Alfredo Bernardas,a decisão de ã.° instância consistiriaem mera apreciação de provas Naverdade, porém, foi decidido que odepoimento das testemunhas instru-mentárias não poderia invalidar aatestação do serventuário da Justiçano próprio testamento.

Ocorre, porém, como afirmaram asentença e os votos vencidos no Tri-bunal Federal de Recursos que teclasas testemunhas instrumentárias ne-garam saber o conteúdo do ato queestavam subscrevendo, e duas delas seencontravam em lugar distante da-quele em que o testamento teria sidolavrado, isto é, na propriedade ruralda testadora.

Outra circunstância que me impres-sionou foi ter figurado o herdeiro ins-tituído no segundo testamento comotestemunha instnimentária do ato querevogou o primeiro testamento, o qualfoi lavrado no dia 1.9.45 (f. 36).enquanto que dois dias depois, isto é,a 3 de setembro, era lavrado o se-gundo testamento em que ele apareciacomo herdeiro universal.

Neste passo, entendo que há diver-gência quanturn satis com o acórdãodo Supremo Tribunal no RE 16.045.citado peia recorrente (E, 377) e deque foi Relatar o eminente MinistroOrozimbo Nonato (A. J. 96/318). Alise decidiu que "no conflito entre aprova instrumental o a testemunhal.sobreleva a primeira, a não ser que aúltima tenha o relevo da evidenciae se ostente desadensada de quaisquerperplexidades ou dúvidas".

Também o Tribunal de Minas Ge-rais, em acórdão citado à f. 376(R. F. 130/188) decidiu que "a pre-suncão legal de verdade em favor doinstrumento público só é elididaquando fedas as testemunhas instru-mentárias impugnam a verdade doinstrumento".

O Sr. Ministro Alfredo Bernardasrendava. em seu voto, que ficasse en-fraquecida a fé do serventuário, coma confirmação da sentença. Real-mente, assim seria, no caso de uma ououtra testemunha instrumentária pre-tender invalidar a certificação oficial.

R.T.J. 38 91

Mas, no caso dos autos, nadas astestemunhas instrumentárias negaramsaber qual era o seu conteúdo dotestamento., Não vejo como validar umtestamento -nestas condições. Conheço,pois, do recurso e lhe dou provimento,para restaurar a sentença da 1.a ins-tância.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conheceram do recurso elhe deram provimento. Decisão unâ-nime.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, oEsmo. Sr. Ministro Victor Nunes.Tomaram parte no julgamento osErmos. Srs, Ministros Oswaldo Tri-gueiro, Victor Nunes e Lafayette deAndrada. Ausentes, justificadamente,os Esmos. Srs. Ministros EvandroLins e Cândido Motta.

Em 29 de abril de 1966. — ÁlvaroFerreira dos Santos, Vice-Diretor-Ge-ral.

HABEAS CORPUS N.° 43.275 — GB

(Segunda Turma)

Relatar: O Sr. Ministro Adalicio Nogueira.

Impetrantes: Waldemiro dos Santos e Wilson Quiroga Braga. Paciente:Sérgio Magalhães Theodoro.

- "O casamento da ofendida com quem não seja o ofensor fazcessar a qualidade do seu representante legal, e a ação Penai sópode prosseguir por iniciativa da própria ofendida, observadosos prazos legais de decadência e perempção." (Súmula 388). Ha-beas corpus concedido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os

presentes autos de Habeas Corpusn.o 43.275, do Estado da Guanabara,entre partes como impetrantes Wal-demiro dos Santos e Wilson QuirogaBraga e como Paciente Sérgio Maga-lhães Theodoro,

Acordam os Ministros do SupremoTribunal Federal, por sua SegundaTurma, unanimemente, conceder ohabeas corpus, nos têrmos das notastaquigráficas juntas.

Brasília, 21 de junho de 1966. —A. M. Vilas Boas, Presidente. —Adalicio Nogueira, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Adalicio Nogueira:

— Os advogados acima identificadosimpetraram uma ordem de habeascorram, em prol de Sérgio MagalhãesTheodoro, condenado à pena de dois(2) anos de reclusão por incurso na

sanção penal do art. 217 do Códigorespectivo, pelo Dr. Juiz de Direitoda 12.a Vara Criminal do Estado daGuanabara, em ação penal movida peloMinistério Público, mediante represen-tação. Alegam que a ofendida após aprática do fato delituoso, contraiunúpcias em 19.9.61, com Wilson deVasconcelos (certidão de f. 7 e v. ),outro que não o seu ofensor e assim,nos têrmos da Súmula 388, milita emfavor deste último, o direito à extinçãoda punibilidade.

Vieram as informações de f. 11-12prestadas pelo ilustrado Presidente doTribunal de Justiça da Guanabara,Des. Martinho Games Neto (lê).

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Adalicio Nogueira

(Relator): — É certo que sendo opaciente, réu, em ação pública, movidapelo Dr. Promotor, mediante repre-

92 R.T.J. 38

sentação da mãe da ofendida, cujamiserabilidade se comprovou e sendotal representação irretratável, a açãodeveria prosseguir, visto não tratar-sena espécie, de procedimento meramen-te privado.

Mas, este Excelso Pretório tem dado-à referida Súmula 388 uma interpre-tação ampla e liberal.

É o seguinte o seu enunciado:"o casamento da ofendida com quem

não seja o ofensor faz cessar a quali-dade do seu representante legal, e aação penal só pode prosseguir por ini-ciativa da própria ofendida, observadosos prazos legais de decadência e pe-rempção."

Em hipótese absolutamente igual àpresente, este alto Colégio, em acórdãoproferido no R.FIR 41.253, de Per-nambuco, de que foi Relator o emi-nente Ministro Evandra Lins, assimdecidiu, concedendo a ordem, semdiscrepância:

"O douto relator do acórdão recor-rido desenvolve brilhantes considera-ções no sentido de desenvolver o seuponto de vista quanto à irretratabili-dade da representação, nos casos demiserabilidade da ofendida. A juris-prudência predominante do SupremoTribunal Federal firmou-se pelo votoda maioria dos seus juizes, que deramà lei interpretação consentânea com asua letra, o seu espirito e a realidade-social. A ação pública está condicio-

nada a unia representação válida elegitima. Se o representante perdeu acondição legal, que o autorizava apedir a ação ao Estado, parece-meindispensável que aquele, que adquiriuessa qualidade, ratifique ou renove opedido de intervenção do MinistérioPúblico. O irretratabilidade subordina-se a uma representação legítima. Seesta se transferiu, por fôrça da lei aoutrem, compete a este manifestar,peio menos, a sua concordância com oprosseguimento da ação, pelas sériasrepercussões do fato, do nava larcriado com o casamento" (Em Acór-dãos do S.T.F. Aplicados à Súmula,de Dirceu A. Vitor Rodrigues, vol. 1.0,p. 296-298).

Em face diaso e embora se trate deréu condenado, concedo a ordem, paraanular o processo, por falta de justacausa.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Deferiram o pedido. ITná-nime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroVilas Boas. Relator, o Exmo. SenhorMinistro Adalicio Nogueira. Tomaramparte,no julgamento os Exmos. Se-nhores Ministros Aliomar Baleeiro,Adaticio Nogueira, Pedro Chaves eVilas Boas Licenciado, o Exmo. Se-nhor Ministro Hahnemann Guimarães.

Em 21 de junho de 1966. — ÁlvaroFerreira dos Santos, Vice-Diretor-Ge-ral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 57.872 — GB

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal,

Recorrente: Estado da Guanabara. Recorrido: Flórida Hotel.

Isenção fiscal concedida a hotéis que se construíssem oureconstruíssem sob certas condições. Limitação dessa isenção aosimpostos, excluídas as taxas, pelo D. 8.055, de 3.3.45.

ACÓRDÃO moira Turma do Supremo Tribunal

Vistos, relatados e discutidos estes Federal, na conformidade da ata do

autos, acordam os Ministros da Pri- julgamento e das notas taquigráficas,

R.T.J. 38 93

por unanimidade de votos, conhecerdo recurso e lhe dar provimento, nostermos limtados em que foi interposto,para excluir da isenção as taxas.

Brasília 30 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente. — Victor Nunes Leal, Re-lator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Victor Nunes: —

Trata-se da aplicação da L. 6.7551,de 31.7.44, e 9.289, de 24.5.46, edo D. 8.055, de 3.3.45, que conce-deram isenção fiscal para hotéis quese construíssem ou reconstruíssem den-tro de certo prazo.

O Flórida Hotel, do Rio de Janeiro,foi reconstruído, para ficar com 143apartamentos, mas a obra se fez forado prazo legal, com base em despachosde Prefeitos, que dilataram aqueleprazo, atendendo às circunstânciasentão expostas.

Como a administração ulterior lhenegasse a isenção, que Rira admitidapelas anteriores, ao dilatarem o prazoda obra, veio a juízo com mandadode segurança, que as duas instânciasordinárias concederam, para isentá-lode impostos e taxas.

A sentença (f. 35) contém estasponderações:

..no mérito, dou acolhida à im-petração.

Pretendendo. beneficiar-sé da vanta-gem assegurada pelo Dl. 6.761-44, oimpetrante, antes de fluído o prazofixado de 5 anos, ou seja em setembrode 1947, pleiteou o licenciamento deobras de adaptação do hotel às con-dições legalmente estabelecidas de ummínimo de 120 apartamentos.

Retardada a solução, por fôrça deexigências relacionadas com recuo erecomposição dos lotes da futuraAvenida do Catete, o prazo da lei seescoou.

Mas porque assim se escoasse, nãopor inércia do interessado, mas porimplicações do complexo administra-tivo, o Prefeito concedeu a isenção,sob invocação da eqüidade, esclare-cendo que ela só operaria depois daconclusão das obras em curso e não

alcançaria o ' impesto de licença sabreessas mesmas obras."

"Ultrapassado já estava até mesmoantes do licenciamento da obra e nãosfoi por outra razão além dessa, que aisenção colimada pela sua execução foiconcedida por eqüidade.

Em nada importa a legalidade, ouilegalidade do ato concessivo, porqueem louvor dele é que a obra deadaptação foi executada, consolidando-se, através dessa execução, os efeitossubjetivos que lhe são próprios.

Exatamente porque gerados e con-solidados esses efeitos, esgotou-se acapacidade revisora da administração.

O ato, pois, não podia ser cancelado.Nem se lhe poderia recusar o efeito.Se pudesse, ainda aí o ato denega-

tório cederia prevalência à lei localn.° 2.77, que sobreveio à impetraçãoe que assegurou a mesma vantagemda isenção assim aos que se construí-rem, como aos hotéis já existentesrevestidos de condições mais modestasque as estabelecidas pela legislação aque a impetrante se ajustou."

Foi esta sentença confirmada peloTribunal de Justiça da Guanabara, porseus próprios fundamentos (f. 69).

Pelas informações oficiais, o prazoda obra fera excedido de muito, e cfavor legal não podia ser concedidopor eqüidade:

"...não é possível reconhecer-se oimpetrante como isento do impôstopredial e taras, com base no D. 8.055,de 3.3.45, que estabelece como con-dição para o gero da isenção que ohotel seja construído "no prazo de 5anos contado de 2.8.44, quando oFlórida Hotel só veio a ter sua cons-trução iniciada em data posterior eque só teve "habite-se" em 20.10.60mais de 11 anos depois da expiraçãcido prazo legal estipulado para oreconhecimento da isenção."

"E certo que o impetrante, em 1951,mereceu despachos de antigos Pre-feitos, esclarecendo que "a concessãoserá dada para o hotel após a conclusãodas obras em curso e não alcança os

94 R .T . J. 38

impostos de licença sôbre obras" e énesses despachos que se fundamenta

requerente para pretender agora,mais de 10 anos depois, o reconheci-mento da isenção, julgando que taisdespachos dão um caráter de direitoadquirido à sua pretensão. Ora, nãoexiste direito adquirido contra a letraexpressa da lei. Despachos porventuraexarados em sentido contrário ê letra

ao espírito da lei não podem cons-tituir fetos consumados, principalmentese considerarmos que, quando de suaprolação, não foram examinadas teclasas exigências legais mandadas observarpara o reconhecimento do favor fis-cal

Estado da Guanabara interpósrecurso extraordinário (f. 71), no qualimpugnou a isenção semente no quese refere às taxas, alegando violaçãodo art. 7.° do D. 8.055, de 3.3.45.Entretanto, nas razões, procurou am-pliar a impugnação, para alcançar tam-bém a isenção -d-os impostos (f. 75).

recorrido, depois de observar querecurso fera interposto restritamente,

apenas quanto às taxas, sustenta o seunão conhecimento, pois e autoridadecantora não discutira a questão dastaxas nas informações, nem na contes-tação.

parecer da Procuradoria-Geral daReoóblica (1 85) é pelo conheci-mento e provimento, destacando-senele estas passagens:

"...a isenção de impostos concedidapela lei em apreço era tão-só paraimpostos e pelo período máximo de5 anos, isto é, para os hotéis concluídosaté 1945."

"Afirmou-se que o Prefeito teriaconsentido por eqüidade, que esseprezo fôsse ampliado, quando em1951 despachou uma petição do Im-petrante,...".

"Ampliando-se a isenção legal deimpósto, para incluir tombem as taxasmunicipais, decidiu-se até contra ex-

pressa disposição da lei invocada, poisD. 8.055, de 3.3.45, estabeleceu

claramente em seu art. 7.0: "os fa-vores fiscais concedidos por esta leinão abrangem em hipótese alguma astaxas remuneratOrias de serviços mu-nicipais cobráveis juntamente com o,impostos objeto da isenção".

VOTO

O Sr. Ministro Victor Nanes (Re-lator): — O recurso foi interpostosOmente contra a isenção das taxas,

não podia ser ampliado, nas razõesde sustentação, para alcançar tambémos impostos, pois isso importaria au-mentar o prazo de interposição dorecurso.

Nos termos restritos em que foi for-mulado, conheço do recurso e lhe douprovimento, para excluir as taxas daisenção concedida.

Deixo de examina:, em conseqüência,Vida a argumentação deduzida em re-lação aos impostos. Aliás, a sentença,tendo dado validade ao despacho deeqüidade do Prefeito, também aludiua uma lei municipal, posterior à impe-tração que ampliou os favores da le-gislação federal anterior. E essa leilocal não foi mencionada pelo Estadorecorrente, nem sua aplicação darialugar à interpretação de recurso ex._traordinário.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Em decisão unânime, co-nheceram do recurso e lhe deram pro-vimento.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLefayette de Andrade. Relator, oExmo. Sr. Ministro Victor Nunes.Tomaram parte no julgamento os•Exmos. Srs. Ministros Evandro Lins,Victor Nunes e Lafayette de Andrade.Ausente, justificadamente o Excelen-tíssimo Sr. Ministro Cãndido MottaFilho. Impedido, o E XMO . Sr. Mi-nistro Oswaldo Trigueiro.

Em 30 de maio de 1966. — ÁlvaroFerreira dos Santos, Vice-Diretor-Ge-ral.

R.T.J. 38 95

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.286 — R$(Terceira Turma)

Relator: O Sr. l43nistro Hermes Lima.

Recorrente: Maria Terezinha Franco Barbosa. Recorridos: Justiça Pública,Athanagildo Barbosa e outros.

Homicídio. Condenação pelo Júri. Provimento parcial Para afixação da pena de reclusão em 8 anos. Rejeitadas as nulidadesargüidas que foram consideradas sanadas pelo silêncio das partes.O Conselho foi regularmente constituído por sete jurados desim-pedidos. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos, acor-

dam os Ministros do Supremo TribunalFederal, em Terceira Turma, pormianimidade de votos, não conhecerdo recurso na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas.

Brasília, 14 de abril de 1966. —Gonçalves de Oliveira, Presidente. —Hermes Lima, Relatar.

RELATÓRIOSr. Ministro Hermes Lima: —

A recorrente, inconformada com edecisão do Tribunal do Júri, que, pormaioria de votos, a condenou a 10anos de reclusão, como incurso no ar-tigo 121 combinado com o art. 44,inc. II, alínea f e art. 48, inc. IV,alínea c, do C. Pen., pela prática dehomicídio contra seu próprio cônjuge,interpôs recurso de apelação.

acórdão (f. 365), rejeitando asnulidades suscitadas pela defesa, deu,auanto ao mérito, provimento parcialà apelação para reduzir a pena de re-clusão e fixá-la em 8 anos.

A ementa do acórdão foi a seguinte:"Homicídio. Júri. Nulidades rela-

tivas consideram-se sanadas pelo si-lêncio das partes. É regular a forma-ção do Conselho de Sentença, quando!resultam sorteados 7 jurados desimpe-didos. A ninguém é lícito especularcom a nulidade. Deram provimentoparcial ao mérito, fixando a pena dereclusão em 8 anos."

Daí o recurso extraordinário pelasletras a e d.

parecer da douta Procuradoria épelo não provimento.

o relatório.

VOTOSr. Ministro Hermes Lima (Re-

lator): — Não conheço do recurso.A primeira nulidade apontada diz:

respeito a circunstância de não tersido a recorrente intimada senão, pes-soalmente, não o tendo sido os seusdefensores, De modo que, no enten-dimento da defesa, a decisão emapreço ainda não transitara em jul-gado. Mas, seus defensores, notificados.nos termos e para o fim do art. 421do C. Pr. Pen., ofereceram contrarie-dade ao libelo e silenciaram quanto aapontada irregularidade, desse modosó tardiamente argüida nas razões deapelação. Não resultou para a defesa,portanto, nenhum prejuízo.

A segunda nulidade argüida foi pelafeto de três jurados que haviam fal-tado, sem motivo justificado, à sessãoImediatamente anterior, não terem sidoincluídos, automidicamente, no man-dado da sessão do julgamento, de modeque se dá por infringido o art. 445,§ 3.°, pois estaria irregularmente cons-tituído o Conselho de Sentença.

acórdão observou corretamenteque a nulidade apontada não se en-contra no elenco do art. 564 e, dessamaneira, não suscitada tempestiva-mente, deve considerar-se sanada.

Diz textualmente o acórdão:

96 R.T.J. 38

"Cumpria defesa ter protestado erespeito, quando da publicação pelaimprensa da lista nominal dos juradossorteados (C. Pr, Pen., arta. 428 e429 e seu a 19), ou, quando não,logo após a formação do Conselho deSentença, que, aliás ficou constituídopor sete (7) jurados desimpedidos; eo funcionamento de 7 juizes de fato.desimpedidos é o que a lei exige, comojá decidiu o Colendo Supremo Tri-bunal Federal, para a validade dojulgamento."

Também não houve a violação doart. 474 da L. 263, pois se argumentaque os titulares da acusação excede-rem, por dez minutos, o prazo legal

.de trás horas. Entretanto, o juiz quepresidiu os trabalhos explica-os satis-fatOriamente;

"Afirmando em seu despacho de1. 353-354v. ter havido engano porparte do escrivão ao lançar, na ata dojulgamento que o advogado da parteassistente havia falado durante quinze(15) minutos, quando a verdade éque ocupou ele a tribuna apenas porquatro (4) minutos, após tê-la deixadoo Dr. P.J., que falou durante duashoras e 55 minutos.

Mesmo que assim não Mese, o quecabia à defesa era ter protestado con-tra essa irregularidade, imediatamente

após de encerrado o prazo legal quea lei concede à acusação.

Não o fez, silenciou; não podendo,agora, tardiamente, tirar proveito dela,mesmo porque as nulidades do julga-mento em plenário devem ser ar-güidas logo depois de ocorrerem (C.Pr. Pen., art. 571, inc. VIII).

Nunca á demasiado citar esta pas-sagem da Exposição de Motivos Mi-niterial: "O projeto não deixa respi-radouro para o frivolo curialismo, quese compraz em espiolhar nulidades",de maneira que, no silêncio das partes,as irregularidades, em gerai, ficamsanadas."

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conhecido, unanime-mente.

Presidência do Exmo. Sr. MinistreGonçalves de Oliveira. Relator, oExmo. Sr. Ministro Hermes Lima.Tomaram parte no julgamento osEsmos. Srs. Ministros Hermes Lima,Prado Kelly, Carlos Medeiros e Gon-çalves de Oliveira. Licenciado, oExmo. Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Em 14 de abril de 1966. — ÁlvaroFesteira dos Santos, Vice-Diretor-Ge-ral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.889 — GB(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Recorrente: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários.Recorrida: Real e Benemérita Sociedade Portuguêsa Caixa de SocorrosD. Pedro V.

'Previdência Social. Contribuição da parcela referente aoempregador. A recorrida ó uma sociedade filantrópica; seus dire-tores não recebem remuneração. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃOVistos e relatados gstes autos, acor-

dam os Ministros do Supremo Tri-

bunal Federal, ‘em Terceira Turma,por unanimidade de votos, não conhecerdo recurso na conformidade da ata

R.T.J. 38

97

do julgamento e das notas taquigrá-ficas.

Brasília, 4 de fevereiro de 1966. —Luis Gedlotti, Presidente. — HermesLima, Relator.

RELATÓRIO

Sr. Ministro Hermes Lima: —A recorrida impetrou mandado de se-gurança contra ato do recorrente quelhe exigira o pagamento das contri-buições de previdência social, parcelareferente ao empregador.

Alegou o impetrante que era umaentidade filantrópica de utilidade pú-blica, cujos diretores não recebiamremuneração, estando, de acôrdo coma L. 3.577, de 4.7.59, isenta do pa-gamento das referidas contribuições.

A segurança foi deferida e confir-mada pelo colando Tribunal Federalde Recursos.

Instituto recorreu extraordinaria-mente pela 'letra a, sustentando que oacórdão recorrido teria vulnerado oart. 2P da L. 91, de 28.8.35, aoaceitar como válida, para os efeitosdo art. 1.° da L. 3.577-59, a decla-ração de utilidade pública, reconhecidaà entidade filantrópica por Decretomunicipal. -

parecer da douta Procuradoria épelo provimento do recurso.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Hermes Lima (Re-lator): — O art. 1.° da L. 3.577,dispõe:

"Art. 1.° Ficam isentas de taxas decontribuição de Previdência aos Insti-tutos e Caixas de Aposentadoria ePensões as entidades de fins filantró-picos reconhecidas como de utilidadepública, cujos membros de suas dire-torias não percebam remuneração."

o art. 2.° da L. 91, de a.8.35:"Art. 2P A declaração de utilidade

pública será feita em decreto doPoder Executivo mediante requeri-mento processado no Ministério daJustiça e Negócios Interiores, ou, emcasos excepcionais, ex officio."

A recorrida é incontestavelmenteurna sociedade filantrópica, seus dire-tores não percebem remuneração. Maso recorrente alega que o seu reconhe-cimento de utilidade pública decorrede lei municipal, quando para fazerjus à isenção, deverá decorrer de umato do executivo federal. Entretanto,a recorrida está registrada no Con-selho Nacional de Serviço Social do.Ministério da Educação. Esse registrolhe dá direito de receber subvenções,reconhecida que está, por lei, a suautilidade pública.

Não conheço do recurso.

ADITAMENTO AO VOTO

Sr. Ministro Hermes Lima (Re-lator): — Dêsse modo, Sr. Presi-dente, conheço do recurso, mas lhenego provimento, porque entendo que,.embora a sociedade não tenha tido asua condição de utilidade pública re-conhecida por ato do Poder ExecutivoFederal, a verdade é que ela, registrada!como está no Conselho Nacional deServiço Social, do Ministério da Edu-cação, faz jus a subvenções federais.Portanto, equiparada está, pratica-mente, a sociedades que gozam dofavor da utilidade pública, concedido,por ato do Executivo Federal.

Creio que essa decisão é equitativa.

VOTO PRELIMINAR

O ,Sr. Ministro Prado Kelly: — Nãoconheço do recurso, Sr. Presidente, devez que à disposição legal invocadofoi dada interpretação que não colide,necessariamente, com o seu texto.

RECONSIDERAÇÃO DE VOTOSr. Ministro . Hermes Lime (Re-

latar): — Sr. Presidente, atendendo

98 R.T.J. 38

á sugestão do eminente Ministro PradoKelly, reconsidero o meu voto, não co-nhecendo do recurso, por não haverofensa à letra da lei.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Medeiros: —Sr. Presidente, a L. 3.577, de 1959,diz o seguinte, no seu art. 1.°:

"Ficam isentas da taxa de contri-buição de previdência aos Institutos eCaixas de Aposentadoria e Pensões asentidades de fins filantrópicos reconhe-cidas como de utilidade pública, cujosmembros de suas diretorias não per-cebam remuneração."

Não se refere o texto legal à auto-ridade que deva declarar a utilidadepública. Entretanto, lei anterior nú-mero 91, de 1935 — no seu art 2.°diz o seguinte:

"A declaração de utilidade públicaserá feita em decreto do Poder Exe-cutivo mediante requerimento proces-sado no Ministério da Justiça eNegócios Interiores, ou, em casos ex-cepcionais, es off ido."

Parágrafo único. O nome e carac-terísticos da sociedade, associação oufundação declarada de utilidade pú-blica serão inscritos em livro especial,a êsse fim destinado."

A lei federal estabelece um ritualpara a declaração de utilidade pública:indica o Presidente da Repúblicacomo capaz de expedir o ato, men-ciona o Ministério da Justiça como arepartição incumbida do processamentodessa declaração de utilidade públicae, finalmente, institui um livro deregistro.

Ora, se está em vigor a L. 91, comopoderemos admitir que o fato de tera associação o seu registro no ConselhoNacional do Serviço Social do Minis-tério da Educação — apenas para oefeito de fiscalização — se equipare,èsse registro, à declaração de utilidadepública?

Sr. Ministro Luis Gallotti: —A declaração de utili&de pode sermenos do que a condição de caráterfilantrópico que esta sociedade nobb-riamente tem.

Parece-me que a interpretação doeminente Relator encara o assuntocom maior largueza, para atender aospróprios fins da lei.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Estamos julgando recursoextraordinário.

Sr. Ministro Carlos Medeiros: —Para acompanhar o voto do eminenteRelator faço a seguinte ressalva: ficaequiparada, à declaração de utilidadepública, para este fim específico, oregistro da associação no ConselhoNacional do Serviço Social do Minis-tério da Educação.

Sr. Ministro Hermes Lima (Re-lator): — É o sentido do meu voto.

Sr. Ministro Luis Gallotti: — Oque houve foi uma interpretação ra-zoável, equitativa, perfeitamente ad-missivel.

Sr. Ministro Carlos Medeiros: —Para efeitos futuros, para que não seaplique em demasia o julgado, dese-jaria ficasse expresso no meu voto queconsidero equiparado à declaração deutilidade pública o registro feito noConselho Nacional de Serviço Social,do Ministério da Educação

Assim, minha conclusão é igual àdo eminente Relator.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conhecido. Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLuiz Gallotti. Relator, o Exmo. Se-nhor Ministro Hermes Lima. Tomaramparte no julgamento os Exmos. Se-nhores Ministros Carlos Medeiros,Prado Kelly, Hermes Lima, Gonçalvesde Oliveira e Luiz Gallotti.

Em 4 de fevereiro de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

R.T.J. 38 99

AÇIO RESCIMRIA N.° 676 — GB

,(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Autor: Roland Segurd Blinstrup. Ré: Thereza Merk Blinstrup.

Sentença de divórcio.Homologação negada.Ação rescisória. Não cabe esta por dissídio jurisprudencial.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Ação Rescisória n.° 676, da Guanabara,em que é autor Roland Segurd Blins-trup e ré Thereza Merk Blinstrup,decide o Supremo Tribunal Federal,unânimemente, pela improcedência daação, rejeitada a preliminar de deca-dência, tudo de acôrdo com as notasjuntas.

Distrito Federal, 4 de maio de 1966.Cândido Moita Filho, Presidente.Luiz Gallotti, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luiz ~Md: —

No acórdão rescindendo, este o rela-tório do eminente Ministro AfrânioCosta (f. 45 do apenso):

"É uma sentença do divórcio, pro-ferida pela Justiça americana, docondado de Washoe, Estado de Ne-vada. O requerente teria comparecidopor intermédio de seu advogado e aespôsa residia no Rio de Janeiro. Odivórcio foi concedido. Citada, a es-pôsa apresentou embargos, dizendo:que conforme consta da carteira deestrangeiro da embargante e da de seumarido, ambos residem há vários anosno Brasil, sendo gerente de restaurantedas Lojas Americanas; que conformeprova foram ambos aos Estados Uni-dos em 17.12.52; que o Estado deNevada é um deserto, cujos maioresindústrias são o jôgo e o divórcio, mas,que afora disso, a lei exige dos di-vorciandos residência efetiva e dasentença consta que o requerente de-clarou-se disposto da boa-fé "a fixarresidência em Nevada e, atualmente,ali reside e tem seu domicílio", que

tal declaração encerra uma falsidade.Juntou uma tradução de um passaporteseu (f. 26) provando a ida e voltaaos Estados Unidos no período indi-cado; de f. 41 e resposta a umainformação solicitada ao Ministério daJustiça (ler).

O Dr. Procurador-Geral opina porque seja denegada a homologação".

Este o voto de S. Excia. (f. 48do apenso):

"Nego a homologação. Está provadoque qualquer dos cônjuges não residiaem Nevada, onde foi concedido odivórcio; a mulher residia no Rio deJaneiro e o marido requerente foirepresentado por advogado; outrossim,-opõe-se a espôsa, fundadamente ao pe-dido, evidenciando-se dos documentosjuntos aos autos, informações oficiais

passaporte, não serem verdadeirasas afirmações do requerente, em pontoessencial da causa.

Rá intuito em burlar a lei brasi-leira."

O eminente Revisor, Ministro RochaLagoa, assim votou (f. 49):

"Denego a pleiteada homologação,porque a sentença homologanda foiobtida mediante fraude, por isso que,ao tempo em que foi proferida, ambosos cônjuges tinham domicílio no Bra-sil, pelo que incompetente era a Jus-tiça do Estado de Nevada para odivórcio pretendido, não só frente aoart. 7.° da Lei de Introdução aoCódigo Civil, como ainda frente èprópria legislação daquele Estado, queexige para a processo de divórcio que

autor ali resida e se comprometaa permanecer lá por um prazo indo-

100 R.T.J. 38

unido, 'estando comprovado nos autosque o suplicante ali esteve apenastransitOriamente, regressando, logo emseguida ao Brasil, onde exerce suaatividade, sendo portador da Carteirade Identidade para estrangeiros nú-mero, 219.218."

eminente Ministro HahnemannQuimariies proferiu o seguinte voto(f. 50):

"Sr. Presidente, não homologo asentença, porque o requerente, apesarde haver procurado o faro de suanacionalidade, não observou a próprialei do feiro".

A decisão foi unânime.marido, propondo ação rescisório,

invoca a jurisprudência do SupremoTribunal, favorável à homologação dasentença de divórcio entre estrangeiros,proferida no seu país, ainda que do-miciliado no Brasil.

A espOsa contestou, alegando tam-bém prescrição (f. 27 e seguintes).

autor ofereceu razões finais.A Procuradoria-Geral opina (fa-

lhas 45-46):"Cogita-se de ação rescisório de

acardão do eg. Supremo TribunalFederal, na sentença , estrangeira dedivórcio n.° 1.330, à qual por unani-midade negou-se homologação, fundadoo pedido no art. 798, I, C, do C. Pr.Civ., alegando o rescindente, marido,ofensa literal ao art. 7.°, § 6.°, da Leide Introdução ao Código Civil Brasi-leiro (f. 1-4, e autos da sentença,apensos, f. 45 troque 51).

O venerando aresto rescindendofoi publicado no D.J. de 5.12.57(apenso (f. 54) e a inicial deu entradano Protocolo Geral em 10.12.62, se-gundo mostra o carimbo apOSto àE. 1, alto (Reg. S.T.F., art. 277, 2.°)É de concluir-se, portanto, que foi in-tempestiva a propositura da ação, cujodireito estava precluso em 5.12.62(C. Civ., art. 178, § 10, VIII).

De meritiz, o respeitabilissimojulgado rescindendo, no curso da de-liberação, firmou a sua razão dedecidir no princípio da lei limite,

condensado no art. 17, visto haverencontrado na instrução processualprovas concludentes, em especial as deE. 25 e 26, e o texto da ler feri,Estado de Nevada, EUA (f. 21), deque houve o "intuito de burlar a lerbrasileira", e a "sentença homologadafoi obtida mediante fraude" (apenso,votos dos eminentes Ministros Relator,f. 48, e Revisor, E. 49).

4. Não logra, assim, o autor de-monstrar a incidência da norma indi-cada, que enseja a lide de "julgamentode julgamento". Poder-se-ia, ad ar-gtrmentandum tantum, pretextar "a máapreciação da prova", mas com evi-dente insuficiência para o exercíciojudiciário da rescisão (art. 800).

Ante o exposto, somos pela impro-cedência da ação, preliminarmente, porestar precluso o direito de demandar,e, no mérito, por ser irrescindível naespécie invocado.

Brasília, 18 de dezembro de 1964.— a) Haroldo Mauro, ProcuradorAutárquico, em exercício na Procura-doria-Geral da República.

Subscrevo: a) Oswaldo Trigueiro,Procurador-Geral da República" .

o relatório.

VOTOSr. Ministro Luiz Gallotti (Re-

lator): — A açãd foi ajuizada em/O. /2.62 (dentro do prazo de 5 anos,a contar do dia em que o acórdãorescindendo transitou em julgado).

Seguiram-se as férias, a ação me foidistribuída em 2.4.63 e, no dia se-guinte, ordenei a citação (f. 8).

Não ocorreu decadência, portanto.

Julgo, porém, improcedente a ação.autor invoca jurisprudência, sem

mostrar que os acórdãos apontadoshouvessem apreciado espécie com oscontornos da presente.

Mas, ainda que o mostrasse, a açãorescisório não cabe por dissídio juris-prudencial.

Rejeito a preliminar de decadência,mas julgo improcedente a ação.

R.T.J. 38 101

VOTOSr. Ministro Cândido Moita (Re-

visor): — Estou de acôrdo com oeminente Ministro Relator.

PELA ORDEMSr. Ministro Hermes Lima: —

Sr. Presidente, desejava um esclare-cimento do eminente Ministro Re-lator: no Estado de Nevada não háum prazo de residência? Ai se diz queteria que residir lá por prazo indefi-nido.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Mas, de qualquer maneira,aqui foi considerado, em face da prova,que houve fraude.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Há um prazo de residência em Nevada,

o acórdão falou de "um prazo inde-finido". Se êle permaneceu em Ne-vada pelo prazo da lei, esse requisitofoi preenchido.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — A lei é de Nevada?

Sr. Ministro Hermes Lima: =de Nevada.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Ele foi e voltou logo. Issoaí não é estabelecer residência.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Estou de acôrdo com V. Excia. nesteponto. Mas, não há, no processo, al-guma prova de que êle permaneceu oprazo necessário para residência noEstado de Nevada? E se residiram lánesse prazo? São casados pela leiamericana e teriam que se divorciar noBrasil?

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator) : — Hoje, pela Lei de Introdução,vigora, quanto aos direitos de familia,

princípio domiciliar. O autor fugiuà lei do seu domicílio, que é a brasi-leira. Se um dos cônjuges, pelo menos,houvesse fixado domicílio em Nevada,seria possível dar razão ao autor. Masnão houve isso. O Tribunal julgouprovado que ocorreu fraude. Em açãorescisória penso que não há como aco-lher a presente pretensão. A decisãoroscindenda foi proferida em face daprova.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Não são americanos, casadosna América do Norte?

Sr. Ministro Hermes Lima: —São .

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Têm que voltar para osEstados Unidos, morar lá de nevo, paraque lhes possa ser concedido o di-vórcio?

Temos que verificar se os requisitospelos quais o Tribunal de Nevada de-cretou o divórcio estão satisfeitos.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — O Tribunal tem admitido,aqui, que os estrangeiros domiciliadosno Brasil, que, sem fraude, ajuízem suaação de divórcio no seu País, obtenhamhomologação da sentença. Mas, nestecaso, o Tribunal negou a homologação,porque considerou provada a fraude,

não podemos, em ação rescisória,.dizer que não houve fraude.

Sr. Ministro Hermes Lima: —E onde está a fraude?

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Estaria nisto: é que êlefoi, constituiu advogado e voltou, si-mulando ter lá um domicílio que nãotinha.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Mas só pode ser assim.Eles são domiciliados no Brasil; vãoter que mudar o domicílio para osEstados Unidos, para pedir o divórcio,

voltar para o Brasil?A impressão que tenho é que os

americanos, estando domiciliados eresidindo no Brasil, tendo casado nosEstados Unidos, podem constituir ad-vogado lá e obter o divórcio.

Sr. Ministro Carlos Medeiros: —Seria caso para homologação e nãopara ação rescisória.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Vou ficar vencido. Estouimpressionado com os argumentos doeminente Ministro Hermes Lima.

americano que tivesse fixado ' do-micílio no Brasil, podendo fixar resi-dência no país como permite a lei

102 R.T.J. 38

americana, não teria que mudar nova-mente para os Estados Unidos, fixarresidência lá, passar para lá o pontoprincipal de sua atividade, para pediro divórcio, e voltar para o Brasil, no-vamente, para que se homologasse essasentença de divórcio.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Tenho a impressão que esse Estadodetermina um prazo de residência e,ai, se disse um prazo indefinido. Nãohá prazo indefinido. Bá um prazo deresidência.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Ele procurou um Estadoem que o divórcio á admitido com

• liberalidade.

VOTOSr. Ministro Aliomar Baleeiro:

Sr. Presidente, precisava desta in-formação do eminente Relator: foifeita a prova do direito estrangeiroaplicável ao caso?

Sr. Ministro Carlos MedeirosSilva: — Nos Estados Unidos, a leimaterial varia de Estado para Estado.

Informa o eminente Ministro Os-waldo Trigueiro, que é conhecedor doDireito americano, que o divórcio deNevada não é reconhecido em todos osEstados da própria América do Norte.Lá mesmo, se recusa a homologaçãode divórcio dado em Nevada.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Mas isto é um problema americanointerno, é problema do direito ameri-cano.

Sr. Ministro Alforriar Baleeiro:Confesso que não conheço o direito

de Nevada. Já tenho lido alguma coisasôbre isso.

Precisava desta informação do emi-nente Ministro Relator — se foi feitaprova do direito estrangeiro aplicávelao caso — porque dá margem auma dúvida. Acredito que se poderáconverter o processo em diligência,porque, ai, haverá decisão contra dis-posição literal de lei estrangeira.

Qual seria a lei estrangeira aplicávelao caso?

O Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Diz o ilustre MinistroAfrânio Costa, Relator:

"Nego homologação. Está provadoque qualquer dos cônjuges não residiaem Nevada, onde foi concedido o di-vórcio: a mulher residia no Rio deJaneiro e o marido requerente foirepresentado por advogado; outrossim,opõe-se a espôsa, fundadamente ao pe-dido."

-E um caso em que a espôsa se

opôs ao pedido de homologação. Elareclamou o fôro competente, que é obrasileiro. Uma das condições legaispara a homologação é que a sentençatenha sido proferida por juiz compe-tente. Este não é um desses casos emque marido e mulher estão de acôrdo

assim foi por esta aceita a compe-tência do juiz procurador por aquele.

E, continuando, diz S. Excia.:"Evidenciando-se dos documentos

juntos aos autos, informações oficiaispassaporte, não serem verdadeiras as

afirmações do requerente, em pontoessencial da causa. Há intuito emburlar a lei brasileira."

Agora, o voto do Revisor:"Denego a pleiteada homologação,

porque a sentença homologada foiobtida mediante fraude, por isso queao tempo em que foi proferida, ambosos cônjuges tinham domicilio no Bra-sil, pelo que incompetente era a Justiçado Estado crê Nevada para o divórciopretendido, não só frente ao art. 79da Lei de Introdução ao Código Civil,como ainda frente à própria legislaçãodaquele Estado, que exige para o pro-cesso de divórcio que o autor ali resida

se comprometa a permanecer lápor um prazo indefinido."

Sr. Ministro Hermes Lima: —Ai diz "prazo indefinido", que á oque me parece que não existe lã.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Creio que existe, mas muito curto.

Sr. Ministro Luiz asilarei (Re-/ator): — O eminente Ministro Hah-nemann Guimarães, que é da corrente

R .T .J. 38 103

mais liberal, no sentido de concedera homologação, disse:

"Não homologo a sentença, porqueo requerente, apesar de haver pro-curado o fôro de sua nacionalidade,não observou a própria lei do fôro."

Tribunal assim decidiu. Em açãorescisória vamos anular esse acórdão?Bata venia, penso que não podemos.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Diante da informação que o emi-nente Ministro Relator me prestou eque agradeço, parece que o caso nãoera de rescisória; mas, se a discre-pância era entre acórdãos do próprioSupremo Tribunal Federal e de suasTurmas, deveria vir pelo caminho ade-quado e não pela rescisória.

Por estas razões e mais pela fraudea que se referiu o eminente MinistroRelator, que se deu como provada,acompanho o voto de S. Excia.

VOTO

Sr. Ministro Prado ICelly: —Sr. Presidente, peço ao eminente Mi-ni:1Sr° Relator me informe qual oartigo de lei nacional que se dá comoviolado, a ponto de justificar a resci-sória, como fundamento da ação?

Sr. Ministro Luis adicta (Re-lator) • — Diz aqui: "visa a presenteação rescindir o venerando acórdãoproferido nos autos da homologação desentença estrangeira de divórcio"."Cabimento da ação. Perfeitamentecabível é a ação rescisória contra asseacórdão". Esta ação é fundada emdissídio de jurisprudência. Cita-se oacórdão (f. 2):

"Homologa-se, para todos os efeitosa sentença estrangeira de divórcio,pertencendo ambos os cônjuges ao Es-tado em que a sentença foi proferida(R.F., vol. LXXX, p. 521).

Todavia, "A nova lei de Introduçãoao Código Civil não exige, como ofazia a jurisprudência anterior, que odivórcio decretado no estrangeiro sejade pessoas cuja lei pessoal o permita,basta que os divorciados sejam estran-geiros".

Aqui se confunde, porque a leipessoal tanto pode ser a domiciliarcomo a nacional da pessoa A LeiPessoal, no Brasil, era a Nacional, pelaantiga Lei de Introdução. Hoje, é aLei do domicílio.

"O acórdão rescindendo invocou oart. 7.° da Lei de Introdução aoCódigo Civil brasileiro no sentido deque os direitos de família são regu-lados pele lei do país em que fôrdomiciliado a pessoa, e, no caso subindica o domicílio dos divorciados em

Brasil;"A questão de jurisdição, porém,

como a questão de competência e deprocesso, parece que não são matériasdo direito de família, porém de orga-nização, judiciária e de processo" (Ahomologação das sentenças estrangeirasde divórcio, João de Oliveira Filho,in R.F., vol. 156, p. 492);

"Não tendo a nossa lei estabelecidoque as questões de divórcio ficassemsubmetidas exclusivamente à jurisdiçãobrasileira, parece que seria o caso doque dispõe o Código de Bustamente,art. 318, isto é, ressalvada e hipóteseda lei não excluir determinadas açõesda jurisdição estrangeira, ou, por ou-tras palavras, ressalvada a hipóteseda lei de um país determinar quecertas ações sômente poderão ser pro-postas sob jurisdição dos seus juízes,ficaria lícita às partes a submissão àjurisdição estrangeira, quando, pelomenos, uma das partes seja de nacio-nalidade dessa jurisdição, ou em talpaís tenha domicílio."

ocasião de apreciar aquiBustamente, no que dia-matéria.

Cita êle, depois, uma série deacórdãos,

Sr. Ministro Hermes Lima: —Não cita a lei ofendida.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Nem podia citar.

Sr. Ministro Prado Kelly: —Acompanho o voto do eminente Mi-nistro Relator, sobretudo diante dainformação que S. Excia. teve abondade de ministrar, de que não foi

Aliás, tiveCódigo de

põe sõbre a

104 R.T.J. 38

invocado, na rescisório, preceito de leibrasileira que se pretenda violado.Faltam os pressupostos para a açãointentada. Nestas condições, acompa-nho S. Excia. o Sr. Ministro Relator.

VOTOO Sr. Ministro Hermes Lima: —

Sr. Presidente, estou de acôrdo como eminente Relator, nos termos dovoto do eminente Ministro Prado Kelly.

VOTOO Si-. Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — Sr. Presidente, estava pro-penso a julgar procedente e açãorescisório, mas só julgo ação rescisórioprocedente quando são manifestos osseus pressupostos, quando há manifestaviolação de lei,

A discussão da causa evidenciou quenão houve violação da lei, porque oacórdão se funda em que houve fraude.Nessa questão de domicílio, acreditoque o americano residente no Brasilpode divorciar-se no estrangeiro, mes-mo não saindo do Brasil. Mas creio

que, em ação rescisória, não podemosir a tanto, razão que me leva aacompanhar o eminente Relator.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Rejeitada a preliminar dadecadência, julgou-se improcedente, àunanimidade, de acôrdo com a turma.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroCândido Motta Filho. Relator, o Ex-celentíssimo Sr. Ministro Luiz Gallotti.Revisor, o Esmo. Sr. Ministro Cân-dido Moita. Tomaram parte no jul-gamento os Ermos. Srs. MinistrosCarlos Medeiros, Aliomar Baleeiro,Prado Kelly, Adalício Nogueira, Evan-dro Lins, Hermes Lima, Pedro Chaves,Victor Nunes, Gonçalves de Oliveira,Vilas Boas, Luiz Gallotti e Lafayettede Andrade. Impedido, o Exmo. Se-nhor Ministro Oswaldo Trigueiro.Licenciados, os Ermos. Srs. MinistrosHahnern.ann Guimarães e Ribeiro daCosta.

Brasília, 4 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

APELAÇÃO 'MEL W° 9.634 — PA

,(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Apelante: Cia. de Seguros Previsora Rio Grandense. Apeladas: Maria JoséRibeiro Fernandes e outra.

Prescrição.Sentença confirmada, que apenas poderia merecer restrição

num ponto: quanto à maneira de aplicar a lei nova que reduz oprazo da prescrição em curso.

Mas aqui se trata de lei que aumentou o prazo prescribente.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Apelação Cível n.° 9.634, do Pará,em que é apelante Cia. de SegurosPrevisora Rio Grandense e são ape-ladas Maria José Ribeiro Fernandes eoutra, decide o Supremo Tribunal Fe-deral, unanimemente, negar provimentoà apelação, de acôrdo com as notasjuntas.

Distrito Federal, 2a de abril de1966. — Cândido Moita Filho, Presi-dente. — Luiz Gallotti, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —Esta a sentença, do saudoso Juiz Fe-deral Luiz Estevão de Oliveira os-lhas 85.88v.):

R.T.J. 38 1135

"Contra a Sociedade de Seguros"Garantia da Amazônia", hoje incor-porada pela Sociedade "Provisora RioGrandense", propuseram dd. MariaJose Ribeiro Femandes e PhilomenaAlves Fernandes, e primeira residenteem Lisboa, República de Portugal, ea segunda em Pôrto Alegre, Estadodo Rio Grande do Sul, a presenteação qüindecendial para haverem, naqualidade de beneficiárias do segurofeito sabre a vida de seu falecidoespóso e irmão Arthur Alves Fer-nandes, a indenização do sinistro novalor de vinte e cinco contos de reise mais juros da mora e custas.

Pretende a Ré que o processo énulo por falta de propriedade da açãoutilizada.

Determinando a lei processual queuma vez opostos os embargos no qüin-decendio, a ação de seguros segue oprocesso da ação decendial e nãopodendo esta ser utilizada senão pelaspartes contratantes, é óbvio, argumentaele, que as Autoras, que não foramcontratantes do seguro ajuizado, massimples beneficiadas por ele e, pois,terceiras estranhas à celebração docontrato, careciam e carecem de legi-timidade para moverem a presenteação.

É um argumento inconseqüente.

A ação de seguros não perde o seucaráter próprio pelo fato de seguirde certo termo em diante o rito daassinação de dez dias e a improprie-dade desta última ação não pode serargüida pelo Réu, com fundamento noart. 267 do Reg. 737, quando o Autornão á, como se verifica no caso dosautos, o credor originário (Santos Es-tanislau, Casos Forenses, cap. XI,p. 75-77).

Admitido, porém, ad ardumentandurnque a alegação fôsse procedente, seria,não obstante, impertinente, porquanto,tendo. a ação tomado o curso ordináriocom o recebimento dessa condenaçãodos embargos de f. 24, já não cabe,nem importa, discutir a legitimidadeda primitiva ação para ajuizar o pedidoagora que este se acha definitivamente

formulado por um meio processual depropriedade incontestável.

Pretende ainda a Ré que mesmoquando fôsse autorizada a ação pro-posta, estaria ela prescrita quando foitrazido a Juízo, porquanto dispondo acláusula IX da apólice, lidimamenteinspirada nos princípios jurídicos entãovigentes, que depois de um ano a con-tar da data do óbito do seguradocessaria o direito a qualquer recla-mação, a ação, entretanto, tinha sidoproposta quase dois anos depois da-quele acontecimento.

É outra pretensão desarrazoado.O segurado faleceu em Lisboa, ca-

pital da República de Portugal, a21.9.1917, quando já estava em plenovigor o Código Civil da República.

Ora, dispondo o mesmo Código noart. 178, e 7.°, n.° 5, que a ação dosegurador contra o segurado e vice-versa prescreve no prazo de dois anos,se o fato que a autoriza se verificarfora do Brasil, contado o prazo dodia em que desse fato soube o inte-ressado, á óbvio que tendo sido apresente ação proposta antes de ter-minado o prazo de dois anos a contardo óbito do segurado, como está pa-tente dos autos e não há como desco-nhecer que a propositura da ação sefez no período legal e antes, portanto,que se houvesse consumado á pres-crição.

Impugnar a aplicação do CódigoCivil, na hipótese, com apoio noprincípio constitucional dá irretroati-vidade das leis, é injuridico.

Os prazos de prescrição não com-pletados são modificáveis pela lei nova,sem que com isso haja qualquer ofensaa direitos adquiridos ou violação deação jurídica perfeita, como supõe aré.

Já o autorizado Ribas, repetindo,aliás, a lição de Coelho da Rocha,escrevia há quase meio século:

"Quanto às prescrições já consu-madas, não lhes pode ser aplicável anova lei para o fim de ampliar o seuprazo; compreende, porém, aquelas

106 R.T.J. 38

cujos prazos não estão exaustos, tantopara encurtar, como para alongar estes;etc. (Curso de Dir. Civil Bras., 3.aedição, p. 135).

É a mesma, a lição do insignePlanjo':

Quand une loi en modifie ladure° soit pour Pallonger, soit pourIa reduire, les prescripitions dejàacomplies ne sorzt pas touchées, maiscelles qui sont era couro subi ssentl'effet du changement (Tr. Droit Civil,t. 19, n.o 248, p. 96).

Ainda recentemente Spencer Vam-pre, longamente citado nas alegaçõesfinais de f. 79-82, estudou profici-entemente o assunto à luz dos códigosmodernos e da teoria geral do Direito,tendo chegado às mesmíssimas con-clusões.

Carece, portanto, de fundamento aalegado prescrição do direito das Au-toras.

Só num ponto tem razão a Re: éem não estar obrigada ao pagamentodos juros da mora.

Os termos claros e peremptórios dacláusula IX da apólice não deixamdúvidas a respeito.

Em conseqüência dessa disposiçãocontratual ficou a Ré desobrigado depagar juros das importâncias que hou-vesse de desembolsar amigável oujudicialmente na liquidação da apólice.

Por tudo isso, pois, e pelo maisque dos autos consta, julgo em parteprocedente o pedido para condenar,como condeno, a Ré a pagar imica-mente às Autoras a quantia de vinte

cinco contos de reis, valor do segurode que são estas beneficiárias".

Apelação da ré (f. 92).Os autos se achavam no arquivo.Em 21.5.64 foram distribuídos ao

Ministro Vilas Boas, como agravo.Proferiu S. Excia.' este despacho

(f. 108):"Interposta apelação e determinados

os seus efeitos, as apeladas agravaram.Os autos foram recebidos, na Se-

cretaria da Casa, em 19.10.22, eagora são distribuídos sob a rubricade Agravo.

Trata-se, porem, de uma Apelaçãoe como tal devem eles ser classifi-cados.

Modifique-se a autuação, ou melhor,voltem eles à eg. Presidência paranova distribuição, com outro Termo deApresentação."

Fui então sorteado Relator.Havia sido observado o art. 309-A

do Regimento.Proferi este despacho (f. 111v.):"Verifico que o art. 309-A do Re-

gimento não se aplica a apelações.Vista à Procuradoria-Geral".A Procuradoria-Geral opinou (fe-

l/ia 113):"1. O recurso, que data do ano de

1922, desmerece prosperar, visto queirrepreensível a decisão agravada.

Distrito Federal, 10 de setembro de1965. — a) Murillo Silva, Procura-dor da Novacap — requisitado.

Subscrevo: a) Ossvaldo Trigueiro,Procurador-Geral da República".

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Luiz Gellotti (Re-latar): — A sentença merece confir-mação por seus fundamentos.

Apenas lhes faria restrição numponto: quanto à maneira de aplicara lei nova que reduz o prazo daprescrição em curso.

Mas aqui se trata de lei que au-mentou o prazo prescribente.

Nego provimento à apelação.

VOTO

Sr. Ministro Cândido Motta Filho(Revisor): — Estou de °cerdo com ovoto da eminente Sr. M nistro Re-lator, negando provimento à apelação.

R.T.J. 38 107o

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Negado provimento, àunanimidade.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroCândido Motta Filho. Relator, oEsmo. Sr. Ministro Luiz Gallotti.Revisor, o Ermo. Sr. Ministro Cân-dido Motta Filho. Tomaram parte nojulgamento os Ermos. Srs. MinistrosCarlos Medeiros, Aliomar Baleeiro,Prado Kelly, Adalício Nogueira, Her-

meg Lima, Pedro Chaves, Victor Nu-nee, Gonçalves de Oliveira, Vilas Boas,Luiz Gallotti e Lafayette de Andrada.Impedido, o Exmo. Sr. Ministro Os-waldo Trigueiro. Ausente, justificada-mente, o Ermo. Sr. Ministro EvandroLins Licenciados, os Ermos. Srs. Mi-nistros Ribeiro da Costa, e HahnemannGuimarães.

Brasília, 28 de abril de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

APELAÇÃO CIVIL N.° 9.662 — GB

(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti,

Apelante: Great American Insurance Company. Apelada: Braniff Interna-tional Airways.

Competência, em segunda instância, do Tribunal Federal deRecursos, se a causa é fundada em tratado internacional.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Apelação eive] n.° 9.662, da Guana-bara, em que é apelante Great Ame-rican Insurance Company e apeladaBraniff International Airways, decideo Supremo Tribunal Federal, unâni-memente, remeter os autos ao TribunalFederal de Recursos, de acôrdo comas notas juntas.

Distrito Federal, 28 de abril de1966. — Cândido Motta Filho, Pre-sidente. — Luis Gallotti, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luis Gallotti: —

Great American Insurance Company,com fundamento na Convenção deVarsóvia moveu ação contra a Bra-niff International Airways, para re-clamar, como seguradora sub-rogada,Cr$ 1.704.397, que teve de pagar àseguradora Upjohn do Brasil ProdutosFarmacêuticos Ltda.. em decorrenc l a deextravio de um volume contendo es-peciel :dedes farmacêuticas mercadoriaque era transportada, em av;ão da ré,

do Panamá para São Paulo. Reclamaaquela importância, juros e honorários.advocatícios de 20% (f. 1-2).

A ré contestou que não nega suaresponsabilidade pelo extravio, masimpugna o valor arbitrado pela autora.Nem lhe seria necessário invocar oart. 22 da Convenção de Varsóvia,pois a autora calcula a indenização à •

base de Cr$ 277,182 por dólar, quandoo pagou à razão de Cr$ 18,92. Assim,a indenização devida é de Cr$ 116.339,nu, caso contrário, a resultante docálculo feito conforme o art. 22 daConvenção de Varsóvia (f. 39-41).

O juiz, acolhendo a contestação,.julgou procedente a ação, em parte,para condenar a ré a pagar à autoraa importância correspondente ao totaldn peso do volume em quilogramas,multiplicado pela taxa de Cr$ 200, eressalvando à autora direito regressivocontra a seguradora para reembêlsodo eme lhe pagou a mais (f. 91-991.Cons:rlerou a sentença crua não sãocommitáve's os ágios cambais e quedevo nravalecer e cláusula legal de

108 R.T.J. 38 .

A Procuradoria-Geral opina pelonão provimento. Presidência do Enrico. Sr. Ministro

Cândido Motta Filho, Revisar. Rela-É o relatório. tor, o Exmo. Sr. Ministro LuizPRELIMINAR Gallotti. Tomaram parte no julga-VOTO mento os Ermos. Srs. Ministros Carlos

O Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re- Medeiros, Aliomar Baleeiro, Pradolator): Ré aqui uma questão de Kelly, Adalicio Nogueira, Hermes Li-

ordem. A apelação eivel é dirigida ao ma, Pedro Chaves, Victor Nunes,

Supremo Tribunal por ser a causa Gonçalves de Oliveira, Vilas Boas, Luiz

fundada em tratado internacional. Ga/lotti e Lafayette de Andrada.

Parece que, há poucos dias, este Tri- Impedido, o Exmo. Sr. Ministro Os-

bunal em face da questão suscitada waldo Trigueiro. Ausente, justificada-

pelo eminente Ministro Gonçalves de mente, o Exmo. Sr. Ministro Evandro

Oliveira, na Ap. Civ. 9.618, verificou Lins. Licenciados, os Ermos. Senho-

que, hoje, a competência, em Segunda res Ministros Ribeiro da Costa e

Instância. é do Tribunal! Federal de Hahnemann Guimarães.Recursos, Brasilia, 28 de abril de 1966. —

Assim, de acôrdo com o que já Álvaro Ferreira dos Santo; Vice-Di-

assentou o Tribunal, não conheço da retor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 15.526 — BA

(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrente: Benicio de Souza Go mes . Recorrida: União Federal.

Procurador da República.Direito aos percentuais da L. 4.069, de 1962.Êsse direito se estende aos inativos por fOrça do art. 1.° da

L. 2.622, de 1955, cujo critério de equiparação dos aposentadosaos servidores em atividade só veio a sofrer restrição com arecente L. 4.863, de 1965, art. 29, que concedeu aos primeirosaumento menor.

Recurso provido, para restabelecer a sentença que concedeu asegurança.

ACÓRDÃO corrente Benicio de Souza Gomes erecorrida a União Federal, decide o

Vistos e relatados estes autos de Supremo Tribunal Federal, em 3.aRecurso de Mandado de Segurança Turma, dar provimento ao recurso, de

n.° 15.526, da Bahia, em que é re- acôrdo com as notas juntas.

/imitação da responsabilidade (ler). Apelação e voto pele remessa dos autosPor outro lado, observa que a autora ao Tribunal Federal de Recursos.devera ter trazido aos autos os do- VOTOcumentos que serviram de base aocálculo feito pelo Instituto dei Res- O Sr. Ministro Cándido Motta Filhoseguro do Brasil (f. 78) e que lhe (Revisor): — De edil-do com o emi-foram por estes devolvidos (f. 76). "ente Ministro Relator.

Apelação da autora (f. 100 e se- DECISÃOguintes). Como consta da ata, a decisão foi

Contra-razões da ré (f. 108 e se- a seguinte: Não conhecida para seremguintes). enviados os autos ao eg. Tribunal Fe-

deral de Recursos.

R.T.J. 38 109

Distrito Federal, 18 de fevereiro de1966. — Luis Gallotti, Presidente eRelatar.

RELATÓRIOSr. Ministro Luis Gallotti: --

No Tribunal de Recursos, assim re-latou o ilustre Ministro Godoy Ilha(f. 43):

"O Dr. Juiz da Fazenda Nacionalem Salvador, Bahia, concedeu aoDr. Sonido de Souza Gomes, Pro-curador da República aposentado, omandado de segurança por ele impe-trado contra o Sr. Delegado Fiscal doTesouro Nacional naquele Estado, nosentido de compelir essa autoridade apagar-lhe a majoração dos proventosda inatividade na razão de 80%, naconformidade do que dispõem os ar-tigos 3.° e 14 da L. 4.069, de 1962.

Só em virtude do recurso de ofícioque vem os autos ao Tribunal."

voto de S. Excia. foi este(f. 44-45):

`Pretende o ilustre impetrante — ea sentença de primeira instancia o re-conheceu — o direito de beneficiar-secom uma dupla majoração nos seusproventos da inatividade em que seencontra. Ao aumento de 40% con-cedido pelo art. 3.° da L. 4.069, de1962, vindica se lhe adicione o mesmoaumento de 40% do art. 14 dessediploma, sob a invocação do preceitocontido no art. 193 da Constituição.

Tenho como manifestamente impro-cedente o que se postula nestemandado.

Por ocasião do aumento de venci-mentos dos servidores da União con-cedido através da mencionada L. 4.069,com relação aos inativos, dispas oart. 3.°, in verbis:

"Aos servidores inativos civis pagospelo Tesouro Nacional fica concedidoum aumento de 40%, calculado "Obreas parcelas relativas aos vencimento'do nível que lhe fôr correspondente".

acrescentou no parágrafo único:"O pagamento dos novos proventos

será feito desde logo, independente-

mente de apostila dos respectivos tí-tulos, sem prejuízo do disposto noart. 63 da 3.780, de 12.7.60".

No art. 14, concedeu a L. 4.069um aumento de 40% a todos os ser-vidores do Poder Judiciário e doMinistério Público Federal e outros,vantagens evidentemente destinadassoe servidores em atividade.

Como acentua a douta Subprocura-doria-Geral, a especiosa interpretaçãodada pelo impetrante conduz ao ab-surdo de se criar uma situação dedesigualdade, pois, enquanto o pessoalativo só obteve 40% de aumento, osinativos seriam galardoados com umamajoração de 80%.

Foi para atender ao preceito cons-titucional do art. 193 que a lei es

-tendeu aos inativos o mesmo aumentode 40%, concedido aos servidores ematividade.

Isto pasto, dou provimento ao re-curso, para cassar a segurança."

Concordaram os dois outros juízesda Turma Julgadora.

Recurso do impetrante.A Procuradoria-Geral opina pelo não

provimento.o relatório.

VOTOSr. Ministro Luis Gellotti (Re-

lator): O acórdão recorrido merecereparo ao afirmar que o pessoal ativosó teve, com a L. 4.069, de 1962, •um autuento de 40% (f. 44 in finse 45),

Na verdade, os servidores em ati-vidade, da categoria do impetrante(Procuradores da República), tiveramreconhecido pela Administração odireito à percepção cumulativa dos doispercentuais da referida L. 4.069, de1962: o do art. 14 e o do parágrafoúnico do art. 6.°.

Ene direito se estende aos inativospor ffirça do art. I.° da L. 2.622,de 1955, cujo critério de equiparaçãodos aposentados aos servidores em ati-vidade eó veio a sofrer restrição coma recente L. 4.863, de 1965, art. 29,

110 R.T.J. 38

que concedeu aos primeiros aumentomenor.

O equívoco do acórdão é compre-ensível, porque foi prolatado em15.5.54, enquanto só mediante parecerda "Comissão de Alto Nível" aprovadopelo Presidente da República e publi-cado no D.O. de 17.8.64 (f. 54)ficou definitivamente assentado, naesfera administrativa, o direito dosmembros do Ministério Público aorecebimento dos dois percentuais.

Dou provimento ao recurso, pararestabelecer a sentença que concedeua segurança.

pEastãoComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Provido. Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Tomaram parteno julgamento os Esmos. Sra. Mi-nistros Carlos Medeiros, Hermes Limae Luiz Gulotti. Ausentes, justificada-mente, os Esmos. Srs. Ministros PradoKelly e Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 18 de fevereiro de 1966.— .Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 15.823 — DF

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Mitchel Muni. Recorrida: União Federal.

Mineral atómico. Recusa da lavra, por motivo de interessenacional, após a aprovação da pesquisa. Indenização ressalvada nostermos do art. 36 do Cód. de Minas.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, negar pro-vimento ao recurso.

Brasília, 1 de abril de 1Q66.Cândido Moda Filho, Presidente.Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Victor Nunes: —A ora recorrente obteve autorização depesquisa de minerais que interessam àprodução de energia nuclear. Realizadaa pesquisa e aprovado o respectivorelatório, requereu concessão da lavra.O Ministro das Minas e Energia, fun-dado no art. 36 do Cód. de Minas(Dl. 1.985, de 29.1.40), indeferiu o

pedido, mandando processar a lavraem nome da Comissão Nacional deEnergia Nuclear, que também sé re-quereu.

Daí o presente pedido de segurança,que foi indeferido pelo Tribunal Fe-deral de Recursos (f. 61). Ficou oacórdão com êste teor:

"Mineração. Direito de pesquisa elavra. Na conformidade do Código deMinas, a administração pode, emborasatisfeitos todos ça requisitos, denegara lavra. Ao requerente, em tal caso,a lei assegura indenizações. Em setratando de minerais atômicos, maiore o poder do Governo."

Disse o Sr. Ministro Amanho Ben-jamim, em seu voto (f. 58):

"Acrescento, como fecho do meuvoto que, na hipótese, se trata deareias ilmeniticas, ligadas à produçãoda energia nuclear ou atômica. De

R.T.J• 38 111

acôrdo com as leis vigentes a energianuclear ou atdmica, em todos os seusaspectos, está, pelos interesses em jôgo,pela sua repressão no campo interna-cional, sujeita a uma política especialda Administração Pública. Ao ladode vários dispositivos legais existentes,quero, nesta oportunidade, ressaltar oD. 50.653, de 9.6.61, que dispõesôbre as rendas industriais da ComissãoNacional de Energia Nuclear e re-gula a prospecção, a industrialização,as despesas de administração e aformação de técnicos. De acôrdo comesse decreto e as medidas que êle temem vista, acredito eu, que já a essaaltura, não seja mais possível aplicar-se livremente o Cód. de Minas, nosseus critérios gerais, quando o minérioa pesquisar fôr ou estiver relacionadocom a energia nuclear. Deflui dessedecreto, que ao Governo, em últimaanálise, se reserva a exclusividade deexploração do referido minério."

Recorreu o impetrante para o Su-premo Tribunal (f. 63). Argumenta:1) que a concessão da lavra é con-seqüencia legal da aprovação da pes-quisa; 2) que a Comissão Nacionalde Energia Nuclear não tem poderespara explorar jazidas, mas sementepara orientar a política admica dogoverno, sob a direção do Presidenteda República (D. 30.230-51, arte. 2.°e 22; D. 40.110-56, art. 1P); 3) quea indenização prevista no art. 36 doCód. de Minas teria de ser prévia, emcaso de recusa da lavra, como resultado art. 23 do mesmo Código; 4) quea recorrente, aprovada a pesquisa,firmara contrato com outra sociedadeque, por sua vez, contratou com aComissão Nacional de Energia Nuclear,ficando„ assim, ressalvados os inte-resses nacionais porventura envolvidos.

Parecer contrário da Procuradoria-Geral da República (f. 77), deautoria do nosso eminente colega Mi-nistro Oswaldo Trigueiro.

VOTO

O Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Nego provimento eo recurso.O art. 36 do Cód. de Minas é expres-so: "A autorização será recusada, se a

lavra fôr considerada prejudicial aobem público ou comprometer inte-resses que superem a utilidade daexploração industrial, a juízo do go-verno. Neste último caso, o pesqui-sador terá direito de receber dogoverno a indenização das despesasfeitas com os trabalhos de pesquisa,uma vez que haja sido aprovado orelatório".

A indenização prevista na lei foiressalvada pelo acórdão recorrido, enão cabe ao Judiciário reexaminar osmotivos de interesse nacional, alegadospela Comissão Nacional de EnergiaNuclear, com a aprovação do Ministro.

Por outro lado, o citado art. 36não menciona indenização prévia, e aindenização desse tipo, prevista noart. 23 do Código, é a devida pelopesquisador ao proprietário do solo.

Recordo que, no RMS 7.392(5.4.61), este Tribunal consideroulegítima a suspensão da pesquisa deminerais atômicos por via de um de-creto de aplicação geral. A título deilustração, esclareço que alguns as-pectos penais do comércio de materiaisatômicos foram apreciados nos BC40.074 e 40.132 (1963), D.J. 24.7.54,p. 501.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Foi negado provimento àunanimidade.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroCândido Motta. Relator, o Esmo. Se-nhor Ministro Victor Nunes. Tomaramparte no julgamento os Ermos. Se-nhores Ministros Evandro Lins, VictorNunes e Cândido Moita. Ausente,justificadamente, o Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Impedido, oExmo. Sr. Ministro Oswaldo Tri-gueiro.

Brasília; 1.° de abril de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

113 38

R4CURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N: 16.482 -- MG,(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro.

Recorrente: Jorge Carme Filho. Recorrida: Câmara Municipal de BeloHorizonte.

O Ato Institucional n.° 2 (art. 19) excluiu da apreciação judicialas resoluçõe" s das Assembléias Estaduais e Câmaras Municipais,que cassaram os mandatos ou declararam o impedimento deGovernadores, Deputados, 'Prefeitos e Vereadores, no período com-preendido entre 313.64 e 27.10.65.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em sessãoplenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, negar pro-vimento ao recurso.

Brasília, 1 de junho de 1966. —A. M. Ribeiro da Costa, Presidente.

°gualdo Trigueiro, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro OrwaMo Trigueiro:

Jorge Carona Filho impetrou se-gurança ao Juiz da Primeira Vara daFazenda Pública de Minas Gerais,contra a Câmara Municipal de BeloHorizonte, para o efeito de anular oato que o destituiu do cargo de Pre-feito daquele Município.

Depois de historiar minudentementeos antecedentes do caso, os entendi-mentos que teve com o Governadordo Estado e o General Comandanteda Guarnição Federal, e os apelosque deles recebeu para que renun-ciasse ao mandato, alega:

a) que, no dia 31-1.65, a CâmaraMunicipal, em sessão realizada pelamadrugada, e que durou menos devinte minutos, aprovou a seguinte re-solução:

"Considerando a atual situação po-lítico-social criada em Belo Horizonte,com sérios reflexos junto à populaçãoe à ordem pública;

Considerando a determinação doExmo. Sr. Governador feita aoSr. Secretário da Segurança, reveladorade graves apreensões, que confirmamum estado de coisas incompatíveis coma tranqüilidade do Município, con-forme cOpia anexa;

Considerando que a Lei de Organi-zação Municipal prevê os casos deimpedimento do Chefe do Executivo;

Considerando que se consubstanciamno n.° 4 do art. 47 da L. 28, de22.11.47, motivo suficiente para adecretação da medida do impedimento;

Considerando a ausência do Vice-Prefeito e a emergência criada, pelamcondições acima descritas:

Resolve a Câmara Municipal:

Art. 1.0 Ficam decretados teu impe-dimentos dos atuais Prefeito e Vice-Prefeito de Belo Horizonte.

Art. 2.° A presente resolução en-trará em vigor na data de sua pro-mulgação pela Câmara revogadas asdisposições em contrário."

que, instantes depois, foi con-vocada nova sessão da Câmara Mu-nicipal, na qual foram eleitos para oscargos de Prefeito e Vice-Prefeito, osSrs, Oswaldo Pierucetti e Jair Negrãode Lima, tendo sido o primeiroimediatamente compromissado e em-possado;

que a destituição do impetrante,do mandato de que era legítimo ti-tular, se processou com inteira desobe-

R.T.J. 38 113

diância a tudo quanto está preceituadona legislação federal, na Constituiçãodo Estado de Minas Gerais e na Leide Organizaçao Municipal, sendo, porconseguinte, ato insanevelmente nuloe, por isso, merecedor de correção porvia judicial.

Em favor de sua tese o impetranteinvoca, inicialmente, a ConstituiçãoEstadual, segundo a qual a perda docargo de Prefeito, nos casos por elaadmitidos — e como inicialmente pre-visto no art. 91, 1.° — devia serproferida "pela maioria absoluta daCâmara Municipal, com recurso doPrefeito, ou de qualquer Vereador,para o Tribunal de Contas (nP I, IIe UI) ou para a Assembléia Legislativa(n.° IV, V e VI), sempre com efeitosuspensivo."

A Lei Constitucional n9 3, de3.1.51, modificou a redação do pará-grafo citado, que ficou assim redigido:

"8 1.° A decisão será proferida pelamaioria absoluta da Câmara Municipal.

r§ 2.° Da decisão caberá recurso,sempre com efeito suspensivo, para oTribunal de Contas (n.° I, II e III) ouAssembléia Legislativa (n.o IV, V eVI), sendo este obrigatório quando seconcluir pela cassação do mandato.

0 3.° Só se considerará cassado omandato quando a Assembléia Legis-lativa, ao tomar conhecimento do re-curso, decidir, nesse sentido, pelo votode dois terços de seus membros."

Além disso, a Lei de OrganizaçãoMunicipal (L. 28, de 22.11.47, mo-dificada pela. L. 855, de 26.12.51)preceitua, no art. 47, I°, que adecisão relativa â perda de mandatomunicipal será proferida pela maioriaabsoluta da Câmara, assegurada aoPrefeito plena defesa.

A impetrada informou à f. 51,juntando numerosos documentos e sus-tentando, em resumo:

que o juízo de impeachrnent éirretratável e irrecerrivel — nessesentido citando opinião de Paulo La-cerda;

que, tratando-se de matéria in-terna corparia, o Poder Judiciário não

pode apreciar o mérito nem a justiçaou conveniência da resolução da Câ-mara Municipal;

que esta não podia assistir, inerte,ao descalabro administrativo reinantena Prefeitura Municipal;

que o ato de destituição doPrefeito tem que sei s visto, necessà-clemente, como medida de salvaçãopública, preservadora do interesse e dasegurança social.

O pedido foi denegado pela sen-tença de f 368, que tem a data de5.5.65.

Houve recurso para o Tribunal deJustiça, cuja Terceira Câmara Cíveldeixou de conhecer, dada a superve-niencia do A.I. 2, de 27.10.65, comoconsta do acórdão de f. 541, in verbis:

Acorda a Terceira Câmara Cível doTribunal de Justiça do Estado de Mi-nas Gerais, por sua Quinta Turma,integrado nesta o relatório de f. 479,em deixar de examinar a matéria dorecurso por estar a mesma excluída daapreciação judicial, nos termos don.° II, do art. 19, do A.I. 2, datadode 27.10.65, cujo texto é o seguinte:art. 19 — Ficam excluídos da apre-ciação judicial: n.° II — As reso-luções das Assembléias Legislativase Câmaras de Vereadores que hajamcassado mandatos eletivos ou declaradoimpedimento de Governadores, Depu-tados, Prefeitos ou Vereadores, a par-tir de 31.3.64 até a promulgaçãodeste ato." — Essa justamente aespécie dos autos. O agravante teveseu mandato de Prefeito cassado pelaResolução n.° 143, de 31.1.65, daCâmara Municipal de Belo Horizonte,votada em o período estatuído noA.I. 2, estando sua apreciação, por-tanto, afastada da área do Judiciário."

Não se conformando com essa de-cisão, o impetrante recorreu para oSupremo Tribunal (f. 543).

É contrário ao provimento desserecurso o parecer da Procuradoria-Geral da República (f. 586), queassim conclui:

"Em recline ordinário interpostopara este Colando Supremo Tribunalalega a inaplicabilidade ao casal doA.I. 2, que teria visado apensa atos

114 R.T.J. 38

incompatíveis com os objetivos darevolução.

em memorial datado de 4 demarço corrente distingue o recorrentena citada disposição do mesmo AtoInstitucional duas ordens de atos —os praticados pelo Comando Supremoda Revolução e pelo Governo Federale as resoluções das Assembléias Legis-lativas, de cessação de mandatos oudeclaração de impedimento. No pri-meiro caso não caberia o exame deformalidades intrínsecas. Nos demaiscasos teria sido exigido motivação eobservância da legislação da época.

Não tem razão o impetrante.art. 19 do Ato n.° 2 compre-

endeu explicitamente duas espécies deatos excluídos da apreciação judicial:os praticados pelo Comando Revolu-cionário e pelo Governo Federal comfundamento no primeiro Ato, de9.4.64, e no segundo, bem como nosatos complementares deste; e os atosconsistentes em resoluções das Assem-bléias Legislativas que houvessemcassado mandatos ou declarado impe-dimento a partir de 31.3.64, até adata daquele segundo Ato. A distinçãose fez apenas quanto aos órgãos deque emanaram os atoa imunizados eao tempo em que estes se realizaram.Ficaram, porém, sujeitos todos, dentrodos períodos em que surgiram, ia mesmadisciplina revolucionária, de exceção.

Concluímos, pois, pelo não conheci-mento do recurso.

VOTOSr. Ministro Oswaldo Trigueiro

(Relator): — O A.I. 2, em seu ar-tigo 19, excluiu da apreciação judicialduas espécies de atos, de ackdo comas autoridades de que emanaram: deum lado, atos do Comando Supremoda Revolução e do Governo Federal;de outro, resoluções das AssembléiasLegislativas e Câmaras de Vereadores.

Nesta segunda categoria o AtoInstitucional distinguiu, nitidamente,entre as resoluções que hajam cassadomandatos legislativos--e as resoluçõesque hajam dechírado o impedimentode Governadores, Deputados, Prefeitosou Vereador'es.2-•

No caso do impetrante parececlaro que não se trata de declaraçãode impeachment, mediante o processoprevisto na legislação estadual, comas formalidades, garantias e efeitos quelhe são próprios. A hipótese é decassação do mandato, como ato defeição revolucionária e político quenão atendeu ao formalismo do direitocomum. Como os atos previstos naalínea II do art. 19 não são idênticos,é possível admitir-se que os seus efei-tos tenham maior ou menor extensão,conforme o caso.

De todo o modo porém, — quer setrate de impeacliMent regular, querse trate de cassação revolucionária —é evidente que o ato da Câmara Mu-nicipal, impugnado na presente pos-tulação, praticado que foi no períodocompreendido entre 1.4.64 e 27.10.65,tornou-se insuscetível de apreciaçãojudicial, ex vi do A.I. 2, como decidiu

Tribunal a quo e como pleiteia,nesta instância, a douta Procuradoria-Geral da República.

Pelo exposto, nego provimento aorecurso.

ADITAMENTO AO VOTOO Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro

(Relator): — Pedi a inclusão desteprocesso na pauta do Tribunal Plenopor despacho de 11 de abril último(f. 590 v.).

No dia 28, mandei juntar por linhapetição do impetrante, com data dodia anterior, e com a qual apresentouele novos documentos que, segundoalega, vem corroborar a prova dos atosde pressão política, de que foi vítima,e realçar a ilegalidade do procedimentoda Câmara Municpal de Belo Hori-zonte, quer no pertinente à cassaçãodo mandato questionado, quer quantoà eleição do nOvo Prefeito.

Nessa petição, o impetrante main-festa o receio de vir a ser punido coma pena de suspensão de seus direitospolíticos, com as conseqüências quedesse ato possam decorrer, e pede que

Supremo Tribunal declare qual opreciso alcance do ato que lhe cassou

mandato.Indefiro o pedido, pois não vejo

como converter em ação declaratória

,

R.T.J. 38 115

um mandado de segurança de que nãoposso conhecer, ex vi do A.I. 2.

De resto, a segurança foi impetradapara resguardar um mandato cas-sado pela Câmara Municipal de BeloHorizonte, e não para proteger oimpetrante, preventivamente, contraeventual suspensão de seus direitospolíticos, na forma da legislação ex-cepcional adotada pela Revolução.Disso não cogitou a Câmara Municipalde Belo Horizonte, e certamente nãopoderia fazê-lo.

Quanto aos efeitos do ato impugnadono âmbito eleitoral, creio ser matériaque não está em causa, cabendo àjustiça competente apreciá-la como dedireito, quando oportuno, pela viaprocessual adequada.

QUESTÃO DE ORDEMSr. Ministro Vilas Boas: —

Si. Presidente, pela ordem.Há urna declaração que se pede, e

o eminente Ministro Relator fez umadistinção muito clara, dizendo que nãofoi caso de impeaclunent regular, masum ato revolucionário.

Creio que seria possível urna an-tecipação à Justiça Eleitoral, de-terminando o alcance da decisão. Asressalvas aqui no Tribunal são eu-:nuns.

Evidentemente este caso, excepcio-nalíssimo, não envolve cassação dedireito político. Estamos em vésperasde urna eleição. O ex-prefeito deBelo Horizonte, Jorge Carona Filho,poderá ser candidato a cargos eletivos.Mas, há outro caso aqui a reclamarnossa melhor atenção. O recorrenteé tabelião na cidade de Rio Branco,Estado de Minas Gerais. Seria muitointeressante, pelo menos, uma ressalvano sentido daquelas que o SupremoTribunal Federal faz comumente.

Sr. Ministro Luiz Gallotti: —O eminente Relator diz que não houvesuspensão de direitos.

Sr. Ministro Vilas Boas: — Enão houve. É um caso excepcionalde conseqüências muito séries, inclu-sive, para a manutenção no caso deserventuário da Justiça, que esse ci-dadão está exercendo normalmente.

Sr. Ministro Luis Gallotti: —Êle continua no exercício.

Sr. Ministro ~tildo Trigueiro:(Relator): — Não foi demitido, nemaposentado.

Sr. Ministro Vilas Boas: — Meuvoto, se os eminentes Ministros mepermitem e antecipação, é no sentidodessa ressalva, que foi um ato políticoque se exauriu com a cessação domandato de prefeito do Dr. JorgeCarone Filho, sem quaisquer outrasconseqüências.

REITERAÇÃO DE VOTOSr. Ministro Oswaldo Trigueiro

(Relator): — Sr. Presidente, datavenia, mantenho meu voto, nos ter-mos em que o formulei.

Acho que não cabe a ressalva, por-que o pedido foi feito, precisamente,para a volta ao cargo de Prefeito deBelo Horizonte. É isto que está emcausa. Não posso julgar, extra perita,para outros efeitos.

Deixe/ claro, no meu voto, que aCâmara Municipal já não tem compe-tência para suspender os direitos po-líticos do recorrente. Aliás, nuncateve, porque essa competência é ex-clusiva do Chefe do Poder Executivo.

Por outro lado, ele não foi demitidoou aposentado no cargo de serventuárioda Justiça. Essa matéria é estranhaà postulação.

Sr. Ministro Vilas Boas: — MasSupremo Tribunal está na cúpula

do Poder Judiciário. Seria interessanteque se fizesse urna ressalva.

Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro(Relator): — Acho que o SupremoTribunal Federal se anteciparia à Jus-tiça Eleitoral. É a esta que cabedecidir a respeito se e quando neces-sário.

VOTOSr. Ministro Prado Kelly: —

Sr. Presidente, estou de acêrdo comeminente Relator.Peço a atenção do Tribunal para o

seguinte: a vedação de exame judicialse limita aos atos de cassação ou deimpedimento. radas as demais si-tuações de direito ou de fato, não

116 R.T.J. 38

compreendidas necesser. lamente nessainterdição podem ser apreciadas porvia judiciária, nos termos das leia pro-cessuais.

VOTO

Sr. Ministro Evandro Lins: —Sr. Presidente, entendo que o atoque atingiu o recorrente não interditouseus direitos políticos, como está ex-plícito no voto do eminente Relator.Da mesma sorte, e por via de conse-qüência, aí implicitamente, o ato nãoatingiu a sua função pública efetiva,a função que ele desempenha, detabelião, no interior do Estado deMinas Gerais.

Sr. Ministro Osvaldo Trigueiro(Relator): — Não há nos autos qual-quer informação a respeito.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Assim, acho que a ressalva pode estarcontida no acórdão, sobretudo nos votosque estão sendo proferidos.

Adiro à sugestão do eminente Mi-nistro Vilas Boas, que não está emdesacendo com o voto do eminenteMinistro Relator. É apenas uma ex-plicitação maior, do que foi a decisãodo Tribunal.

Sr. Ministro Vilas Boas: — Emuito útil.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Portanto, faço consignar no meu votoessa ressalva, porque, estando contidano voto do eminente Relator, melhoré que fique dentro da decisão, emtermos expressos.

Quero acentuar apenas isto: tomoexpresso, no meu voto, dentro do pen-samento, já externado pelo eminenteRelator e pelo eminente MinistroVilas Boas, que o ato não atingiu osdireitos políticos e o cargo efetivo dorecorrente.

Estamos proibidos de examinar ape-nas o ato da cassação de mandato.Quanto a essa ressalva, não há proi-bição nenhuma no Ato Institucional.

Nestes termos, voto com e ressalvaque deixei consignada.

VOTOSr. Ministro Pedro Gizavas: —

Sr. Presidente, como juiz, julgo opedido como ele se apresenta. Soucontra ressalvas, que não deo, nemtiram direito de quem quer que seja.

No caso, então, Sr. Presidente, coma limitação pedida pelo eminenteMinistro Evandro Lins, toma-se ateabsolutamente desnecessária essa res-salva, alem de inconveniente e im-própria, dentro do pedido.

eminente Ministro Re/ator disseexpressamente que a Câmara nãocassou direitos políticos, e não podiamais fazê-lo. Interprete a parte ojulgado como foi proferido.

que penso é que o Supremo Tri-bunal Federal não se pode antecipar,por via de ressalva não compreen-didas no pedido, ao julgamento daJustiça Eleitoral do Estado.

Acompanho o eminente Relator.

VOTOSr. Ministi-o Victor Nunes: --

Sr. Presidente, ficou evidente, pelovoto do eminente Relator, que a Câ-mara Municipal não tinha competência,como não tem agora, para suspenderdireitos políticos.

Te-la-ia para aplicar ao recorrentea pena acessória de inabilitação parafunções públicas, mas no processo re-gular de impeaclunent, que não foirealizado.

Portanto, a ressalva sugerida é (IPtodo desnecessária, por ser impossívelextrair-se do ato sub judic., as conse-qüências receados pelo recorrente.

Acompanho o eminente Relator.VOTO

Sr. Ministro Luiz Gallotti: —Sr. Presidente, os eminentes Colegasfundamentaram seus votos e deixarambem claro que o recorrente não tevesuspensos os seus direitos políticos.Conseqüentemente, não está impedidode exercer seu cargo de tabelião, nemé inelegível.

Não faço a ressalva por desneces•etária e, também, porque fazê-la seriaantecipar um julgamento que poderá

R.T.J. 38 117

competir à Justiça Eleitoral, caso oSr. Jorge Carme Filho venha a setnscrever como candidato e seja im-pugnada a sua inscrição.

Acompanho o eminente Relator.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Negaram provimento aorecurso, à unanimidade, fazendo-o osMinistros Vilas Boas, Evandro Linse Hermes Lima, com ressalva.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroRibeiro da Costa. Relator, o Exce-lentísimo Sr. Ministro Oswaldo Tri-

gueiro. Tomaram parte no julgamentoos Exmos. Srs. Ministros AliomarBaleeiro, Oswaldo Trigueiro, PradoKelly, Adalício Nogueira, EvandroLins, Hermes Lima, Pedro Chaves,Victor Nunes, Vilas Boas, CândidoMotta Filho, Luiz Gallotti e Lafayettede Andrade. Impedido, o Excelen-tíssimo Sr. Ministro Carlos Medeiros.Ausente, justificadamente, o Exmo. Se-nhor Ministro Gonçalves de Oliveira.Licenciado, o Ermo. Sr. MinistroHahnemann Guimarães.

Em 1.° de junho de 1966. — AlvaroFerreira dos Santos, Vice-Diretor-Ge-ral,

MASSAS COSPES N.' 42.717 — SP(Tribunal Pleno)

Relator para o acórdão: O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro.

Impetrante: Edgard Magalhães Noronha. Paciente: Alfredo Mortarotti.

Habeas corpus — A denúncia em que se baseia a sentença con-denatária deve revestir-se de nitidez quanto à participação concretado paciente no fato delituoso. Em caso contrário, é de ser conce-dido o habena corpus.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Petição de Habeas Corpus n.° 42.717,do Estado de São Paulo, em que é:paciente, Alfredo Mortarotti, decide oSupremo Tribunal Federal, em sessãoplenária, conceder a ordem, por maio-ria de votos, de acôrdo com as notasjuntas.

Distrito Federal, 7 de dezembro de1966. — A. M. Ribeiro da Costa,Presidente. — Aliomar Baleeiro, Re-lator para o acórdão.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luiz Oanani: —

É impetrante deste habeas corpus oeminente advogado Professor EdgarMagalhães Noronha.

Recebi os autos ao chegar ao Tri-bunal. Assim, vou procurar fazer umresumo da petição. S. Excia. está

presente, vai fazer a defesa oral e su-prirá qualquer deficiência que, por-ventura, eu possa cometer na exposi-ção do pedido.

É um habeas carpas em favor deAlfredo Martarotti, que foi condenadopor crime de falência.

Começa S. Excia. dizendo que asfunções do paciente, na falida, eramde verdadeiro funcionário, "pois, elei-to diretor, apenas in nomine ocupou ocargo, vendo-se, porém, envolvido pelarespeitável sentença, com outros, naquebra fraudulenta, quando, na reali-dade, sempre foi simples empregado".

Além disso, apresenta acórdão daJustiça do Trabalho, resultante deação que êle moveu contra a falida,em que foi reconhecida sua relação deemprego.

Examina, depois, o período em queo paciente trabalhou na falida e aconclusão da preliminar é que ele nun-

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ca foi diretor, de fato, da sociedade,mas mero mestre e chefe de seção.

Alega a nulidade da denúncia, porinépcia do Curador, dizendo:

"Trata-se, aliás, de repetição dolaudo pericial. Na segunda parte, de-clara os diretores incursos em diversosartigos da lei falimentar, que, entre-tanto, não têm conexão com os fatosantes expostos e também não apontaos fundamentos dos dispositivos queagora invoca".

Cita acórdãos do Tribunal de Jus-tiça de São Paulo e a opinião do Pro-fessor José Frederico Marques, para,a seguir, argumentar:

"Com efeito, como se viu, a denún-cia atribuiu ao impetrante "irregulari-dades na escrituração da empresa eapresentação de balanços e anexos quenão correspondiam à realidade" (Do-cumento 14, p. 2), "razão pela qual"foi e/e denunciado nos arta. 186, III e188, VI e VII 00, esqueceu-se, en-tretanto, o digno Dr. Curador de quenos itens 2, 3 e 4 escrevera:

"O livro Diário apresenta-se comlançamentos lacunosos, escrituração decontinuidade defeituosa, registrando asoperações sociais sOmente até 31.12.59,não contendo a transcrição do balançoencerrado nessa data (f. 5); 3—A es-crituração se achava paralisada a par-tir de 3.3.60 (f. 6); 4 — No se-tor das duplicatas, diante da circuns-tância de ter-se verificado que foramutilizadas duplicatas por valor muitosuperior ao das emissões de 1960 maiso saldo de 1959, conclui-se que dupli-catas no valor de alguns milhões decruzeiros tiveram destinação não apu-rada (f. 5)" (Doc. 14. p. IV). Eesqueceu-se, finalmente, o Dr. Cura-dor de que tudo isso se passava quan-do o impetrante, havia mais de doisou três anos, não era diretor da firma,tendo, aliás, dela saído havia mais deum ano, conforme se demonstrou enão se pode pôr em dúvida.

patente a contradição. E se éisso o falso falimentar (art. 188, nú-meros VI e VII) — pois a verdade éque não vislumbramos sequer onde

ele se encontra está demonstrado quenão pode ser atribuído ao impetrante.

Cumpre notar que sio êsses dispo-sitivos que mais lerem e lesam a li-berdade do suplicante, pois o impe-dem de prestar fiança, para, então,sem ofensa a direito tão visceral, po-der discutir o mérito da condena-* "

Analisa a fundamentação da senten-ça condenatória e a individuação.

Aprecia a tese da unitariedade docrime falimentar, quando cita a opi-nião de Oscar Stevenson e outros.

Depois, analisa o acórdão, que ne-gou o habeas corpus ao paciente, razãodo pedido originário e diz:

"Primeiro: não cabe no âmbito dohabeas corpus o exame do fato de oimpetrante ter ou não exercido fun-ções de diretor.

A isso se responde que cabe perfei-tamente a questão, quando a simplesexame ocular de documentos, verifi-ca-se que os fatos delituosos se passa-ram — como se provou — em épo-ca em que não era nominalmente di-retor e posterior à sua saída da firma.Esquece-se, aliás, aquele eg. Tribunalde que no mesmo processo, em babemcorpus, apreciou a questão do impe-trante ser ou não administrador à épo-ca dos fatos, como eloqüentementemostra o Doc. 16, p. 2.

Ademais, cabe a questão quando nãohá a menor prova de gestão do acusa-do, simples mestre de marcenaria,como à sociedade está demonstrado.

Cabe, enfim, quando é patente queos delitos por que foi condenado emnada se relacionam com o oficio queexercia na sociedade.

O segundo ponto do venerando acór-dão é que o art. 191 do estatuto fa-lencial diz que na falência das socie-dades, seus diretores, administradores,gerentes ou liquidantes são equipara-dos ao devedor ou falido para todosos efeitos penais".

Sita Waldernar Ferreira:"Seja, embora, solidária a socieda-

de falida e, nem por isso, solidáriosserão os sócios pelos atos criminosos,visto que cada um responderá pelosque houver praticado e só por esses

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(Curso de Direito Comercial, 1927,2.° vol., p. 304).

Mais adiante, salienta:"Finalmente, soa o venerando Acór-

dão que a violação da unitariedade dodelito falimentar não é motivo parase anular a sentença.

Não nos deteremos aqui. No exa-me da decisão condenatória de pri-meira instância, apresentamos extensorol de Acórdãos do eg. Tribunal deJustiça de São Paulo que anularam asentença, inclusive acolhendo habeascostura, como os da R.T., 222/38 e226/60. E os Docs. 16, p. 2 e 3, e "17, p. 2, mostram que neste mesmoprocesso aquele Colendo Tribunal aquo cancelava todos os delitos anona-dos com reclusão, ao invés de mandar,como mandou agora, o impetranteusar dos recursos ordinários".

É uma das queixas do impetrante,ou seja, que, em outros casos ligadosa essa mesma falência, o Tribunal deSão Paulo apreciou aquilo que, nestecaso, entendeu não dever apreciar.

É o relatório, que completarei, senecessário, depois da sustentação doeminente advogado.

VOTOO Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-

lator): — Sr. Presidente, êste casoé análogo ao de outro habeas corpus,n.0 42.716, de que foi Relator o emi-nente Ministro Victor Nunes, julga-do na sessão de 2 de dezembro, rela-tivo à mesma falência. Tratava-se deoutro diretor que também sustentavaque não era diretor — era emprega-do — e a impetração era do mesmoeminente advogado que acaba deocupar a tribuna, e que eu consideroum dos maiores mestres em direitopenal no Brasil, cujas lições já tenhocitado aqui muitas vezes e de quemsó consigo divergir fazendo violênciaa urna admiração, que é a mais pro-funda.

Naquele caso, julgado no dia 2 dedezembro, o eminente Ministro VictorNunes proferiu o seguinte voto:

"Indefiro a ordem, porque, realmen-te, para se fazer um juízo seguro da

situação do paciente, seria necessárioum exame pormenorizado das provas,inclusive da que tara produzida naJustiça do Trabalho.

Parece, ao primeiro contacto comestes autos e com as peças neles trans-critas, que tanto a denúncia como asentença são defeituosas. Basta dizerque três desembargadores do Tribunalde São Paulo a tinham por nula edois co-réus obtiveram habeas corposparcial. Um dos desembargadores vo-tou até pelo trancamento da ação pe-nal quanto a um deles. É bem possí-vel, portanto, que o paciente, empre-gado que era, desvanecido com a in-vestidura de diretor, encarregado dascompras, tenha sido ludibriado em suaboa-fé.

Mas houve freqüentes substituiçõesde diretores e só um exame aprofun-dado permitiria discernir a posição decada um. No recurso de apelação, oTribunal de Justiça, por certo, verifi-cará de forma criteriosa a situação dopaciente."

Éste voto, que foi acolhido pelo Tri-bunal, está em perfeita harmonia coma orientação que tenho sempre segui-do em matéria de habeas corpus.

Assim, Sr. Presidente, indefiro opedido.

VOTOO ,Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

— Sr. Presidente, gostaria de ouvirainda um pequeno esclarecimento donobre e eminente Relator sare êstecaso. Eu me recordo de que, em umadas últimas sessões deste eg. Tribunal,foi decidido o habeas corpus impetra-do por Wallace Simonsen, em que se ,alegava que, tendo participado de umafirma com muitos outros sócios, firmapor sua vez ligada a um grupo — eacrescento, formando um truste com-posto de várias firmas — a denún-cia não englobava os fatos todos nemseriava as responsabilidades de cadadenunciado: houve isto e isto; foramcometidos tais e tais crimes, e os res-ponsáveis são a, b e c, inclusive o pa-ciente. Esta eg. Cêrte concedeu ohabeas corpos a Simonsen e, se menão engano, no mesmo dia, concedeua outro paciente, por extensão, alegan-do que se deveria individualizar o qui-

120 R.T.J. 38

nhão de responsabilidade, a culpa decada um, como aliás é princípio ele-mentar de direito. Foi concedida aordem, declarando-se inepta a denún-cia em relação a Wallace Simonsen, edepois, noutro caso, em relação a ou-tro responsável.

Não votei neste caso, porque eraimpedido. Tive, na Câmara dos Depu-tados notóriamente, uma atitude hos-til com relação a esse grupo, tendo so-licitado até medidas do Executivo edo Procurador, o Sr. Ministro Oswal-do Trigueiro, para que a ação públi-ca se exercesse na defesa do patrimó-nio nacional, lesado em mais de 25milhões de dólares, ou sejam, 50 bi-lhões de cruzeiros na moeda atual.

Creio que o caso se parece com este.Peço, então, ao eminente Relator queme esclareça se a denúncia da qualresultou esta decisão que repugnou aalguns dos juízes de São Paulo —três deles queriam até o trancamen-to da ação penal — se esta denún-cia, como alegou o Professor Maga-lhães Noronha, é algo semelhante aocaso Mortarotti, se, enfim, descreveum cenário de todos os crimes em con-junto, praticados com o mesmo objeti-vo, embora divergindo em forma dife-rente na técnica de delinqüir, e nãoespecifica a responsabilidade deste pa-ciente, que seria um mero técnico ediretor de fabricação, sem competên-cia comercial própriamente dita.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Vou esclarecer a Vossa Ex-celência. Aliás, fui um dos que nega-ram o babem corpus a que Vossa Ex-celência se referiu. Mas penso que amelhor prova de que esta denúncianão está no mesmo caso da outra éque o eminente Ministro Victor Nu-nes, que concedeu o habeas corpus,negou o presente.

Sr. Ministro Aliornar Baleeiro:— Mas negou em relação a outro pa-ciente.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-ktor): — O eminente Ministro Vic-tor Nunes negou em relação a outropaciente desta falência.

Mas a situação desses dois pacien-tes é a mesma.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Não se pode negar habeas corpos porextensão.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — O que quero dizer pareceque não me fiz compreender bem —é que o eminente Ministro VictorNunes concedeu o habeas corpos aSimonsen. Mas negou a AlexandreBenevento, cuja situação é absoluta-mente idêntica à de Alfredo Morta-rotti. Não há diferença nenhuma. Am-bos eram empregados que se torna-ram diretores.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Compreendi que o Sr. AlexandreBenevento durante 5 ou 7 meses doano de 1957, sendo um chefe de seção,de fabrico, um agente técnico da em-presa, passou a ser um instrumento ju-rídico, não estando habilitado talvezpara as deliberações jurídicas, talvezpor pequena instrução etc., como foiponderado pelo próprio Sr. MinistroVictor Nunes. Não estava êle habili-tado a julgar da responsabilidade e,possivelmente, não tendo dado ordempara que se fizessem aquelas fraudes.Seria, segundo compreendi do voto doeminente Ministro Victor Nunes, des-vanecido pela posição de diretor, porter vindo dos mais baixos escalões so-ciais...

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator)• — O eminente Ministro VictorNunes admitiu que poderia ser umainjustiça, como disse o advogado. Vouler um trecho da denúncia que se re-fere igualmente aos dois pacientes, aodo habeas corpus de que foi Relator

eminente Ministro Victor Nunes eao que é beneficiário do habena cor-pus que estamos julgando hoje:

"Das conclusões do laudo contábilresulta que, por ocasião da apresenta-ção do pedido de concordata, haviairregularidades na escrituração da em-prêsa, apresentação de balanços e ane-xos que não correspondiam a realidade

por elas são responsa'veis os dire-tores em exercício, João Mioti Sa-pienza, Alexandre Benevento, AlfredoMortarotti e Arnaldo Salomão. razãopela qual se enquadram nos artigos

R.T.J. 38 121

186, III e 188, VI e VII da Lei deFalências."

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Mortarotti é marceneiro?

Sr. Ministro Vilas Boas: — Eleé marceneiro e ganhou a causa.

Sr. Ministro Evandro Lins: —Não. há esta diferença entre os doiscasos? Este paciente não foi à Justi-ça do Trabalho?

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-lator) • — V. Excia. vê, o voto doeminente Ministro Victor Nunes diz:

"Indefiro a ordem, porque, realmen-te, para se fazer um juízo seguro dasituação do paciente, seria necessárioum exame pormenorizado das provas,inclusive da que fera produzida naJustiça do Trabalho."

Sr. Ministro Evandro Lins:Lá também.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Na prova produzida lá, mas não peladecisão este foi considerado empre-gado.

Sr. Ministro Hermes Lima: —paciente deixou de ser diretor antes

da concordata, antes da falência, trêsanos antes.

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-latar): — Ele podia ter deixado deser diretor, mas os fatos são do tempoem que se diz que exercia o cargo.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —laudo que foi lido pelo advogado

impetrante diz o contrário. Diz quecaso da falência ocorreu no período

em que ele já não era mais diretor.Sr. Ministro Vilas Boas: —

Também depois da concordata pre-ventiva.

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-latar): — O Tribunal, onde há opi-niões mais liberais que a minha emmatéria de habeas corpus, está intei-ramente à vontade para decidir comoentender, na sua alta sabedoria. O Tri-bunal sabe como sou rigoroso. Estoudizendo que sigo o voto do eminenteMinistro Victor Nunes, porque êle

está em harmonia com meu entendi-mento.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —O voto do eminente Ministro VictorNunes neste caso ainda é uma incóg-nita. Este a que V. Excia. se refe-re foi proferido em outro julgamento.V. Excia. quer compelir o MinistroVictor Nunes a negar este habeas cor-pus por extensão, porque negou Ooutro?

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re.lator): — Quem me disse que oscasos são iguais foi o eminente advo-gado, que até me falou em extensãodo habena corpos. Mas, disse-lhe eu,extensão como, se o outro habeas cor-pos foi negado?

Sr. Ministro Vilas Boas: — OSr. Ministro Luiz Gallotti está eracoerência.

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-lator): — O que quero dizer é queestes dois casos são iguais. O Tribu-nal, examinando o caso, acompanhouo voto do eminente Ministro VictorNunes pela forma que costumo cha-mar de adesão, porque não houve ad-vogado presente, o eminente MinistreVictor Nunes deu seu voto e não sediscutiu. O assunto foi agora melhoresclarecido, o advogado tendo falado,não vejo porque os eminente colegasnão possam divergir do eminente Mi-nistro Victor Nunes e de mim.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Não- há que divergir do Ministro Vic-tor Nunes. Aquele julgamento foi doTribunal. Estamos julgando ez noveeste caso.

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-]ator): — Não há diferença entre osdois casos. O que se alega é a mesmacoisa, até a circunstância de que é.empregado e não diretor também cons-tava do caso anterior. Os casou sioidênticos. O Tribunal, entretanto, podereexaminar.

Sr. Ministro Vilas Boas: —Fraude por meio de escrita, quandohá um marceneiro que ganhou a causanesta qualidade?

122 R T . 38

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-lator): — Penso que este habeas cor-pos não é igual ao de Simonsen, em-bora eu também o tenha negado.

Sr. Ministro Pedro Chaves: —Quanto à inépcia da denúncia, a si-tuação é rigorosamente a mesma. Nocaso da COMAL é ofensiva ao prin-cipio consubstanciado no art. 41 doC. Pr. Pen.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Qual o quinhão dele na culpa?

Sr. Presidente, acho que sou insus-peito em relação aos direitos e garan-tias, enfim, da segurança de todo ci-dadão, neste País, porque sofri umpouco por todos esses direitos e ga-rantias, em defesa alheia.

Creio que o Supremo Tribunal Fe-darei, seguindo aquele rastro lumino-so de Ruy e Pedro Lesse, dos temposda República Velha, na concessão dehabena corpos, tem distorcido esse ins-tituto e ampliado muito. Talvez, hoje,não haja mais necessidade da amplia-ção que o instituto alcançou no pas-sado, na chamada República Velha.

Não sou muito inclinado a fazer doinstituto do habeas corpos este recur-so de revisão criminal, a que se re-feriu o eminente Sr. Ministro Gonçal-vel de Oliveira. Penso que as partesdevem vir pelos recursos adequados enão pelo remédio excepcional de ha-boas corpus. Mas, a jurisprudênciadesta Côrte tem sido esta. Então, pa-recendo-me, como me parece, que estadenúncia não deixou bem claro qualé a participação concreta do Sr. Mor-tarotti negue conjunto de fatos, quesão os crimes falimentares atribuídosaos sócios da firma Windsor S.A. In-dústria Eletrônica, eu concedo o ha-beas corpos. Não há mal maior, por-que isso não inibe a Justiça Públicade, pelas vias ordinárias, vir a apurara responsabilidade do paciente, res-taurando o processo mediante nova de-núncia com os requisitos da lei.

Sr. Ministro Vilas Boas: —Aliás, seja como fôr, estaria prescrito.

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Fui advogado, 20 anos, mas nun-

ca vi ninguém na cadeia por falência.Vi as estatísticas criminais no Brasil.Sei que houve, na depressão econômi-ca de 1930 a 1939, enormes delitos fa-limentares. Se lessem apurados oscrimes dos falidos, ter-se-ia que punirtambém os credores, sobretudo nas as-sembléias de credores. Mas, nunca vifalido responder a sentença. É um de-lito artificial.

Concedo a ordem, data venha doeminente Sr. Ministro Relator.

VOTOO Sr. Ministro Evaradro Lins: —

Sr. Presidente, com a devida vêniado eminente Sr. Ministro Relator,acompanho o eminente Sr. MinistroAliomar Baleeiro, concedendo a or-dem por inépcia da denúncia, porqueela não descreve, não mostra a rela-ção de causalidade entre o ato supos-tamente cometido pelo paciente e afalência. Não há isso na denúncia.Ela não descreve esse fato. E, comoo advogado acentuou, era mm empre-gado que, três anos antes da falência,desempenhou, com presta nome, a fun-ção de diretor; e a Justiça do Traba-lho lhe reconheceu a condição de em-pregado. Quer dizer, há decisão judi-cial neste sentido.

Ora, como é possível, Sr. Presiden-te, numa situação destas, considerar opaciente como diretor da empresa eresponsável pelo estado de insolvên-cia, de insolvabilidade a que chegou afirma?

De modo que acompanho a corren-te vencida no Tribunal de Justiça deSão Paulo, que já concedeu o habenacoroas, inclusive para o trancamentoda ação penal. Já houve voto nestesentido.

Mas, concedendo a ordem pela inép-cia da denúncia, o -resultado é o mes-mo, porque a ação penal está prescri-ta. Segundo informou o advogado,essa sentença, apressadamente proferi-da para evitar a decretação da pres-crição, teria envolvido na sua teia opróprio paciente.

Concedo a ordem, acompanhando oSr. Ministro Aliomar Baleeiro.

R . T . 38 123

VOTOO Sr. Ministro Pedro Chaves: —

Sr. Presidente, já antecipei meu votoem apartes. Também estou de acôrdocom o eminente Sr. Ministro Alio-mar Baleeiro, data venia do eminen-te Sr. Ministro Relatar, concedendo aordem.

VOTOO Sr. Ministro Victor Nunes: —

Sr. Presidente, folgo em ver que oTribunal se inclina a dar o habeascorpus, mas tenho de negá-lo. E onego, porque, no outro caso, que exa-minei como Relator, estava o inteiroteor da sentença. A sentença podeter sido apressada quanto a prazo, masé uma longa e dura sentença em rela-ção às atividades de todos os denun-ciados.

Além disso, o acórdão do Tribunallocal, que, no caso anterior, negou ohabeas corpos, também era longo, edizia que a situação dos diversos di-retores não era idêntica. E esse fatomuito me impressionou: se o Tribunalde São Paulo deu habeas corpus a doisdiretores e negou àquele que repetiuaqui o pedido, de que fui Relator, ar-gumentando que as situações não eramidêntica; teria eu de examinar apron-fundadamente os autos e as provas,para afirmar o contrário, isto é, queas situações seriam idênticas.

Ademais, a denúncia continha umtrecho que marca funda diferença com

caso da COMAL. tese trecho tam-bém está reproduzido nos presentesautos (f . 49):

"Das conclusões do laudo contábilresulta que, por ocasião da apresenta-ção do pedido de concordata, haviairregularidade na escrituração do pe-dido de concordata, havia irregulari-dade na escrituração da empresa, apre-sentação de balanços e anexos quenão correspondiam a realidade e porelas são responsáveis os diretores emexercício, João Miorti Sapienza, Ale-xandre Benevento, Alfredo Mortarotti

Arnaldo Salomão."Trata-se, pois, de diretores que assi-

naram os balanços que a denúncia di-zia serem falsos.

Sr. Ministro Evandro Lina: —Há a relação de causa e efeito com afalência? mate é o problema.

Sr. Ministro Victor Nunes: —Segundo a denúncia e a sentença, quefoi mais explícita do que a denúncia,por ser bem mais longa, os atos queconduziram à falência vinham de anosanteriores, desde a falsificação da es-crita; e, pelo menos uni dos balançosfalsificados tinha a assinatura de todosos diretores denunciados.

Para concluir que um diretor, queassinou o balanço falso, nada tinha aver com a falsificação da escrita, te-ria eu de apreciar tôda a prova daação penal. O Tribunal de São Paulo,em relação a um dos diretores, ex-cluiu a falsificação da escrita, comointegrante do delito falimentar, masafirmou, no caso que eu relatei, quea situação dos diretores era diferente.E • a gestão do impetrante do HC42.716, alcançava o período da falsi-ficação da escrita. Por tudo isso, nãome senti autorizado a fazer reexameprofundo da prova, se bem que, à pri-meira vista, me parecesse que ele nadatinha com a falsificação da escrita.

Sr. Ministro Evandro Lina: —V . Excia. mesmo, no seu voto, admi-tiu a revisão, porque no julgamento daapelação o Tribunal absolveu o pa-ciente. V. Excia. não só admitiu,mas aconselhou a absolvição, por sera denúncia defeituosa.

Sr. Ministro Victor Nunes: —Mas, para conceder o habeas corpos,teria de julgar a apelação, para afir-mar o contrário do que disse o Tribu-nal local O mesmo Tribunal, que ex-cluiu da condenação dois diretores,não livrou aquele. Por que haveria deadmitir que houve má vontade espe-cial com aquele impetrante, quando oacórdão afirmou que a situação dosdiversos diretores não' era igual?

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:-- Meu ponto de vista é que pareceque a denúncia deveria estabelecer: odiretor fulano de tal assinou balançoa, b, c e d, no período de 7 meses,discriminando — de tal a tal perío-do. Suponhamos que ele fôsse diretor-

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técnico, homem encarregado de diri-gir as máquinas, desenhar os móveis,e não tivesse poder de dar ordens aoguarda-livros, não tivesse conhecimen-to dessa parte. Esse homem pode serdenunciado só assim?

O Sr. Ministro Victor Nunes: —Para responder com segurança, eu te-ria de julgar a apelação. Se o balan-ço estava falsificado, não vejo, emprincípio, aquela indeterminação quecomprometeria a denúncia; mencio-nou-se um ato específico praticadopelo paciente. Se a sentença afirmaque o balanço é falso e que essa fal-sidade contribuiu para a falência, amenos que se prove que o pacientenada tinha com a escrita, apesar dehaver assinado o balanço, não faltajusta causa à condenação. E não te-nho nos autos todos os elementos paraconcluir de outro modo e conceder ohabena corpos.

Se este Tribunal der o laabeas cor-pus, não me parece que esteja fazen-do injustiça, porque, à primeira vista,inclino-me a considerar êsses homensInocentes. Mas, como Relator de umdoe casos, tendo lido o inteiro teor dasentença e as decisões do Tribunal deJustiça, não me sinto autorizado a

analisar tão aprofundadamente aprova.

Nego a ordem, de acardo com oeminente Ministro Relator.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Concederam a ordem paraanular o processo por inépcia da de-núncia, contra os votos dos MinistrosRelator, Oswaldo Trigueiro e VictorNunes.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroA. M. Ribeiro da Costa. Relator, oErmo. Sr. Ministro Luiz Gallotti.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Srs. Ministros AliomarBaleeiro, Oswaldo Trigueiro, EvandroLins e Silva, Hermes Lima, PedroChaves, Victor Nunes Leal, Gonçalvesde Oliveira, Vilas Boas, CândidoMotta Filho, Luiz Gallotti e Hahne-mann Guimarães. Licenciado, o Exce-lentíssimo Sr. Ministro Lafayette deAndrade. Ausentes, justificadamente,os Ermos. Srs. Ministros Carlos Me-deiros, Adalício Nogueira e PradoKelly.

Brasília, 7 de dezembro de 1965.— Álvaro Ferreira dos Santos, Vico-Diretor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 55.355 — RJ(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrentes: 'equino de Araújo Batinga e sua mulher. Recorrida: OdeteChino Batinga.

Inalienabilidade e incomunicabilidade.A' cláusula de inalienabilidade acarreta a incomunicabilidade,

salvo se esta foi expressamente excluída pelo testador ou doador.Recurso extraordinário conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados &sies autos de Re-curso Extraordinário n.° 55.355, doEstado do Rio, em que são recorren-tes >suíno de Araújo Batinga e sua

mulher e é recorrida Odete Chino Ba-tinge, decide o Supremo Tribunal Fe-deral, em 3.° Turma, conhecer do re-curso e dar-lhe provimento, unânime-mente, rejeitada a preliminar de deser-

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ção, tudo de acôrdo com as notasjuntas.

Distrito Federal, 18 de março de1966. — Luiz Gallotti, Presidente eRelatar.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luiz Gallotti: —

Trata-se de ação proposta por DonaOdete Cyrino Batinga contra Joaninode Araújo Batinga e sua mulher, paraexcluir do inventário de seu maridoManoel José da Costa Batinga os bensgravados com a cláusula de inalienabi-lidade, e serem, em conseqüência, con-siderados nulos todos os atos pratica-dos no inventário relativos a ditosbens.

O ilustre Juiz Aires Itabaiana deOliveira julgou improcedente a ação,dizendo: José Alves Cyrino e sua mu-lher, por escritura pública de 28.4.37,fizeram doação a seus filhos dos bensdo casal, com as cláusulas de inaliena-bilidade, incomunicabilidade e impe-nhorabilidade vitalícia, inclusive a res-pectiva renda (escritura de f. 7-26,transcrita no Registro de Imóveis).Mas, posteriormente, os doadores, porescritura pública de 24.7.43, averba-da no Registro de Imóveis (f. 26v.-29) revogaram a cláusula de incomu-nicabilidade que gravava os bens doa-dos à autora, continuando os bens gra-vados com as demais cláusulas. Ainalienabilidade importa incomunica-bilidade, pois dizer que os bens ina-lienáveis se comunicam é negar a pró-pria inalienabilidade, porque a comu-nicação é alienação. Assentou o Su-premo Tribunal que a inalienabilidadeimporta incomunicabilidade, salvo se otestador ou doador quis a primeirasem e segunda, uma vez que aquelapode existir sem esta. Na espécie, aintenção dos doadores foi afinal ma-nifestada na escritura de f. 26v.-28v.,em que êles revogaram expressamentea cláusula de incomunicabilidade. Ea carta de f. 32-33 não tem fôrça derevogar uma escritura pública devida-mente averbada no Registro de Imó-veis, a qual é da substância do ato.A autora, ciente da vontade dos doa-dores manifestada na escritura de re-vogação da cláusula de incomunicabi.

lidada, deu inicio ao inventário porfalecimento de seu marido e relacio-nou os réus como herdeiros (f. 46-49), surgindo depois a impugnação,que o Ministério Público, o Procura-dor da Fazenda e o juiz repeliram,dando margem à presente ação, julga-da improcedente (f . 77-84).

Houve apelação da autora.Contra ela opinou o Procurador-Ge-

ral, que, embora defendendo a tesede que a inalienabilidade acarreta aincomunicabilidade, sustentou que esta,no caso, foi expressamente revogadapela segunda escritura. E a carta-res-posta a formulário do advogado da au-tora não tem fôrça para anular a es-critura revogatória (f. 110).

O acórdão de f. 120-133, da lavrado ilustre Des. Agenor Rabelo, con-firmou a sentença.

Ficou vencido o ilustre Des. liará-cio Braga, que disse (f. 133):

"A inalienabilidade acarreta a laca-municabilidade dos bens, visto que, noregime legal da comunhão universal,desde logo, no matrimônio, o patrimô-nio de qualquer dos cônjuges passa apertencer, em metade, ao outro, ope-rando-se, assim, uma alienação".

A autora ofereceu embargos infrin-gentes, que foram recebidos pelo acór-dão unânime de f. 160-167, da lavrado ilustre Des. Luiz pinaud: Consi-derou-se a carta de f. 32 prova vital,porque esclarece a exata intenção dosdoadores, na escritura de revogação.Ninguém melhor do que os própriosdoadores para esclarecer o exato alcan-ce das cláusulas e interpretar, de ma-neira autêntica, a finalidade da doa-ção. Não se trata de saber se a cartatem fôrça de revogar a escritura pú-blica, pois isso seria indefensável. In-teressa tomar e carta como autênticoelemento revelador da vontade dosdoadores, obscurecida na escritura darevogação.

Recurso extraordinário dos réus (alí-neas a e d) — f. 169-176.

O recurso foi indeferido, mas subiu,por efeito de acórdão proferido noagravo em apenso, de que fui Rela-tar. Disse eu, no voto que a Turma

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acolheu, tratar-se de mataria relevan-te, a aconselhar a subida do recurso,para melhor exame.

As partes arrazoaram.A Procuradoria-Geral opina (té-

nia 208-209):"1. Apelo extremo (f. 169-173)

que teve seguimento por fOrça de agra-vo provido verbis:

Agravo provido, visto se suscitarmatéria relevante, a aconselhar a su-bida do recurso extraordinário, paramelhor exame (n.° 28.093, autosapensos).

O respeitável despacho agravado(f. 186-7) data verde, bem apreCiouo apelo interposto. Neste sentido já*e manifestou esta Procuradoria-Geralda República (f. 109-110), autosagravo.

A impugnação (f. 178-183) eas razões da recorrida (1. 195-7) betodemonstram a improcedência do apelo.

E a Sitcnula — enunciado 49 —ampara a recorrida.

"A cláusula de inalienabilidede in-clui a incomunicabilidade dos bens".

Face ao exposto e conhecido queseja o apelo em virtude do agravoprovido, opinamos pelo não provi-mento.

Distrito Federai, 10 de setembro de1965. — a) Abelardo da Silva Go-mes, Procurador da República.

Aprovado: a) Oswaldo Trigueiro,Procurador-Geral da República".

o relatório.

VOTOSr. Ministro Luis Gallotti (Re-

lator): — Conheço preliminarmentedo recurso, em face do dissídio juris-prudencial.

E, conhecendo, julgo a causa de me-tias, conforme a orientação do Tri-bunal, para dar-lhe a solução maisjusta.

A sentença, que o acórdão recorri-do cassou juntamente com o acórdãoque a mantivera, é uma peça jurídi-

o*, fundamentada, a meu ver, com cla-reza e insuperável segurança.

Mostra ela, e assim tenho votado evem decidindo o Supremo Tribunal,que a cláusula de inalienabilidadeacarreta a incomunicabilidade, salvo seesta foi expressamente excluída pelotestador ou doador.

tal exclusão ocorreu, no caso, damaneira expressa e inequívoca.

Depois de dizerem, na primitiva es-critura de 28.4.37, que os bens eramgravados com a cláusula de inalienabi-lidada, incomunicabilidade e impenho-rabilidade (f. 13v.), disseram os doa-dores, na escritura de 24.7.43, quenão era, como no é, intenção delesdeterminar a cláusula de incomunica-bilidade, que só por equívoco foi in-cluída (f. 27v.). E acrescentaramque resolveram revogar, como revoga-do tem, essa cláusula (f. 27v. ). man-tida, as demais.

a carta de E. 32?de 29.12.45 (note-se que a de-

claração dos recorrentes como herdei-ros Mra antes feita pela recorrida em16.8.45 — E. 46) e responde a umacarta dos advogados da autora, di-zendo:

"Em resposta ao seu questionário,venho dizer-lhes, a bem da verdade,o seguinte: Primeiro — Quando fize-mos a doação dos bens aos nossosfilhos, gravamos Unicamente os bensdoados à nossa filha Odette CyrinoBatinga com as cláusulas de inaliena-bilidade, incomunicabilidade e impe-nhorabilidade, porque era ela a únicacujo futuro temíamos, por uma sériede razões, das quais uma era a denão ter o seu casal filho, podendo iros bens às mãos de terceiros. Segun-do — Quando mais tarde fizemos aescritura de revogação da cláusula deinalienabilidade, assim procedemos,porque, ouvido advogado, nos assegu-rou ele ser suficiente essa cláusulapara evitar que os bens se transferis-sem a herdeiros de nosso genro, nãose alterando de modo nenhum o quede início visávamos, pois a cláusulade inalienabilidade envolvia a de in-comunicabilidade, segundo a lei e a

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jurisprudência. Terceiro — Diantedisso, como o nosso genro já estivessedoente, resolvemos aceder ao pedidode nossa filha Odette, uma vez queem nada diminuía as garantias de seupróprio futuro. Quarto — Relativa-mente à importância devida por mi-nha filha de que fala a escritura, foi-lhe emprestada para construção dacasa de número vinte da Rua GeneralAndrade Neves, em terreno, então,nosso, sendo-lhe doada, posteriormen-te, a referida imponência já sub-roga-da no aludido imóvel. Quinta — Dequalquer forma, a nossa intenção quan-do fizemos a doação era a de que osbens pertencessem exclusivamente ànossa filha Odette, enquanto vivaMese ela, não podendo ser alienada porqualquer meio. Sem mais, subscreve-mo-nos, atenciosamente de Vossas Ex-celências. — José Alves Cyrino —Engracia Guimarães Cyrino".

próprio acórdão recorrido reco-nhece que tal carta não poderia modi-ficar a escritura pública de revoga-ção. E o reconhecimento dessa impos-sibilidade não constitui apreciação deprova, mas respeito a um princípio ju-rídico, fixado na lei.

que o acórdão recorrido pretendeé que a carta revela e esclarece a von-tade dos doadores, obscurecida na es-critura revogatória da cláusula de in-comunicabilidade.

Ora, clara, claríssima, é esta escritu-ra e não a carta.

Na escritura se lê (f. 27v.-28):"que não era como não é intenção

deles doadores determinar a cláusulade incomunicabilidade, que só porequívoco foi incluída entre as duasoutras cláusulas estabelecidos; e) que,por isso, e de comum acêrdo com adonatária e o seu marido, únicos in-teressados neste caso, resolveram poreste público instrumento e na melhorforma de direito, revogar, como defato revogado têm, exclusivamente, acláusula de incomunicabilidade, quefica, assim, inoperante, mas continuan-do em seu inteiro e pleno vigor asduas outras, isto é, as de inalienabi-lidada e impenhorabilidade; I) que

revogado por esta forma a escriturade doação na aludida cláusula referen-te aos outorgados outorgantes, é elaratificada e confirmada, não só espe-cialmente nessa Parte, como no seutodo, razão por que fica fazendo parteintegrante da presente para todos osefeitos de direito, nomeadamente a deproceder a revogação dessa cláusula deincomunicabilidade, na transcrição dascláusulas que pesam sôbre aquelesimóveis no livro quatro 93", f. 33 sobo número de ordem 66, do Registro deImóveis da Primeira Circunscriçãodeste Município, para o que ficam osdonatários desde já autorizados, doque dou fé".

Na carta, sim, há confusão e faltade clareza.

Basta ver que ela alude a escriturade revogação da cláusula de inaliena-bilidade (f. 32v.), quando o que hou-ve foi escritura de revogação da cláu-sula de incomunicabilidade, mantida,as, de inalienabilidade e impenhorabi-lidada.

Como iria a carta confusa prevale-cer sôbre a escritura pública de insu-perável clareza, mormente não tendo acarta a fôrça de revogar a escritura,conforme reconhece o próprio acórdãorecorrido?

Em face do exposto, conheço dorecurso e lhe dou provimento, pararestabelecer o acórdão de apelação,que confirmou a sentença da primeirainstância.

ADITAMENTOSr. Ministro Luiz Gallotti (Re-

lator): — No memorial, que ontemà noite recebi, o ilustre patrono darecorrida invoca o art. 1.178, parágra-fo único, do C. Civ.

Diz esse artigo que, salvo declara-ção em contrário, a doação em comuma mais de uma pessoa se entende dis-tribuída entre elas por igual.

o parágrafo acrescenta que, se osdonatários, em tal caso, forem maridoe mulher, subsistirá na totalidade adoação para o cônjuge sobrevivo.

Ora, na espécie, não se trata dedoação em comum a mais de uma pes-

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soa, nem de doação a marido e mu-lher.

Trata-se aqui de bens doados à au-tora e sómente à autora; bens que secomunicaram depois, conforme a lei,ao marido da autora, por isso querevogado feira, expressamente, pelosdoadores, a cláusula de incomunicabi-lidade.

Mantenho o meu voto pelo conheci-mento e provimento do recurso.

VISTASr. Ministro Evandro Lins: —

Sr. Presidente, peço vista dos autos.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Pediu vista o MinistroEvandro Lins, após o voto do Relatorconhecendo do recurso e dando-lheprovimento.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Ausente, justi-ficadamente, o Ermo. Sr. MinistroGonçalves de Oliveira.

Brasnia, 16 de novembro de 1965.— Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

• IMPEDIMENTOSr. Ministro Evandro Lins: —

Sr. Presidente, ao examinar o presen-te recurso verifiquei dos autos do agra-vo em apenso que aprovei o parecerda Procuradoria-Geral da República,como consta à f. 110.

Declaro, portanto, meu impedi-mento.

VISTASr. Ministro Pedro Chaves: —

Sr. Presidente, peço vista dos autos.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Tendo declarado impedi-mento o Ministro Evandro Lins, pediuvista o Ministro Pedro Chaves, O Re-lator votara pelo conhecimento e pro-vimento do recurso.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Impedido, o

Exmo. Sr. Ministro Evandro Lins eSilva.

Brasília, 23 de novembro de 1965.— Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

EXPLICAÇÃO(;) Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-

lator) — Este processo teve seu jul-gamento iniciado na antiga 1." Tur-ma, no dia 16.11.65, quando pediuvista dos autos o eminente MinistroEvandro Lins, que depois verificou,na sessão de 23 do mesmo mês, queera impedido. Pediu vista, então, doprocesso, o eminente Ministro PedroChaves.

Sobreveio a criação de novas Tur-mas e passei a presidir a 3.a Turma.Então, verificamos que este julgamen-to teria de ser renovado. Assim, passoa ler o relatório para conhecimento dosjuízes integrantes da 3.a Turma: (lá).

SEGUNDO ADITAMENTOAO VOTO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Desejo dar ligeiros infor-mes siibre a jurisprudência do Tribu-nal acerca do assunto.

Disse eu como Relator do RE49.004, de Minas Gerais, em grau deembargos:

"O embargante cita acórdãos do Su-premo Tribunal e voto meu, no senti-do de que a inalienabilidade importaincomunicabilidade, se esta não foiressalvada".

No caso, a incomunicabilidade foiexpressamente excluída.

Disse em seu voto o Ministro Pe-dro Chaves:

"Sr. Presidente, estou de acOrdocom V. Excia. Entendo, pelas mes-míssimas razões expostas por VossaExcelência, que a inalienabilidadeimporta na incomunicabilidade, salvohavendo disposição em contrário."

Essa decisão foi citada na Súmula49, o mesmo ocorrendo com a proferi-da no RE 6.720, de São Paulo, Re-lator o Sr. Ministro Waldomar Fal-cão, que traz a ementa:

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"A jurisprudência não dispensa anecessidade de se apurar a vontade dotestador.

A cláusula de inalienabilidade im-porta, em regra, a incomunicabilidadedos bens, salvo se diversa fôr a von-tade do testador".

No RE 41.563, de São Paulo, Re-lator o Ministro Barros Barreto, pedivista dos autos após o voto do Minis-tro Cândido Motta, que votam pelonão provimento. E disse em meu voto:

"Quanto ao mérito, três são as cor-rentes doutrinárias sôbre a questão desaber se a inalienabilidade importa in-comunicabilidade: a que responde afir-mativamente, a que responde negativa-mente, e a intermédia, que admite aincomunicabilidade, se outra não foi,segundo se apurar em cada caso, avontade do doador ou do testador."

Tenho seguido esta terceira cor-rente.

Assim, pus-me de acôrdo com o Re-lator em conhecer do recurso, mas, pe-dindo-lhe vênia, neguei provimento.A Turma conheceu e negou provi-mento.

Houve embargos, que foram rejei-tados.

Com estas considerações, data venia,mantenho o meu voto, rejeitando apreliminar de deserção e conhecendodo recurso para dar-lhe provimento, afim de restabelecer o acórdão de ape-lação, que confirmara a sentença.

VOTOO Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-

lator): — Há uma preliminar sôbredeserção que não tinha sido levanta-da no inicio do julgamento anterior,na antiga I.° Turma. Passo, pois, aexcuniná-la: Uma das datas, nos au-tos, é ilegível. Mesmo admitindo queas datas sejam as que o ilustre advo-gado mencionou (não há como pôr emdúvida a sua palavra), entendo queessa matéria relativa à deserção estásuperada, porque o Regimento é ex-presso. Quem decreta a deserção, oué o Presidente, ou o Relator. Emqualquer dos casos, cabe agravo.

Assim, se a Turma conhecesse ago-ra da matéria, estaria suprimindo uma

instância, porque o Regimento dandoagravo da decisão do Presidente oudo Relator, permite ao agravante jus-tificar a demora. Não tendo nem oPresidente, nem o Relator decretadoe deserção, se a Turma agora a decre-tasse, fá-lo-ia com supressão de umainstância e com prejuízo para o te=corrente, que não teria ensejo de for-mular o seu agravo, para justificar ademora, pois não cabe agravo da de-cisão da Turma.

Além disso, tendo sido iniciado ojulgamento em sessão da antiga 1.8Turma sem que nada, a tal respeito sealegasse, tenho a argüição com tardia.

Vou submeter a votos a preliminar.Tendo todos os eminentes Minis.

tros se manifestado de acôrdo, afastan-do, assim, a preliminar, passo a ler omeu voto: (lê).

VOTOO Sr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — Sr. Presidente, tambémestou de acôrdo com o douto e subs-tancioso voto de V. Excia.

A questão da vontade do doador émenos importante do que a perquiri.ção de vontade do testador.

No caso concreto, a vontade varioucom o correr do tempo. No caso dadoação, há um contrato. O que, nahipótese, houve foi uma mudança davontade do doador, o que, no testa-mento, nunca ocorre, porque o testa-mento é ato de última vontade. Jána doação a intenção pode variar como tempo. O importante é verificar se,na mudança da vontade do contratan-te, isso se fez com observância dasformalidades e dos direitos dos con-tratados, isto é, era importante veri-ficar se os donatários concordaramcom a alteração, porque recolheramum direito. da aplicação da primeiraescritura.

V. Excia., Sr. Presidente, em seubrilhante voto, informa que compare-ceram os donatários da segunda escri-tura e aquiesceram na mudança dacláusula, na eliminação da cláusula deincomunicabilidade, quer dizer, os do-natários concordaram em que rece-

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bisas o imóvel, podendo haver comu-nicação, em caso de falecimento. Foi

que ocorreu, como V. Excia. mos-trou. Faleceu o donatário varão, eos seus herdeiros, os ascendentes dele,recolheram o bem doado.

Depois dai não poderia mais o doa.dor modificar a sua intenção sem aaquiescência dos donatários.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — V. Excia. diz bem. Aber-ta a sucessão, os herdeiros entram naposse. Não era possível que a cartaanulasse uma sucessão já aberta.

01 Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Parece que o advogado querfalar. Será matéria de informação.Se V. Excia. tem alguma dúvida sô-bre a matéria de fato, poderia dar apalavra ao nobre advogado.

Sr. Sigmaringa Seiras (Advoga-do): — Excias., parece-me que, ao serescrita a carta, a sucessão ainda nãoestava aberta.

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-lator): — Estava. Foi no curso doinventário, como assinalei no meuvoto.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — A carta teria dado o con-sentimento do donatário varão.

Sr. Ministro Luis Carlota (Re-lator): — A carta é de 22.12.45, ea declaração de herdeiros no inventá-rio é de se:st° de 1945. Por conse-guinte, a carta é alguns meses poste-rior, não apenas à abertura da suces-são, mas à declaração de herdeiros.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Por isso é que eu digo que

mais importante, no testamento, aperquirição da vontade do testadorque nos contratos de doação.

No caso concreto, evidentemente, odoador não poderia mais unilateral-mente, alterar o contrato de doação.

Sr. Ministro Luis Gallotti (Re.lator): — Vou conferir se foi mesmoem agasto.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Mesmo que róis°.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — A declaração de herdei-ros está à f. 46. Vou conferir, por-que o ilustre e digno advogado le-vantou dúvida.

Sr. Sigmaringa Seiras (Advo-gado): — Absolutamente quero pôrem dúvida a afirmação de V. Exce-lência, Sr. Presidente. Queria acen-tuar que a carta era posterior à pri-meira escritura.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — V. Excia. poderia ter suadúvida. Mas há de ver que a cartaé posterior à própria abertura da su-cessão.

Sr. Sigma:~ Seixos (Advoga-do): — À segunda escritura, que foialterada, é que foi anterior.

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — O que serve de apoio aV. Excia. á a carta. A segunda es-critura revogou a cláusula de incomu-nicabilidade. (3 de que V. Excia. pre-cisaria era a prevalência da carta. Masa carta é posterior, em alguns meses, àabertura da sucessão.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Para terminar, Sr. Presiden-te, digo que a carta, ainda que fôsseanterior à abertura da sucessão, nãopoderia modificar urna escritura dedoação, na qual tomaram parte oscontratantes — os doadores e os do-natários.

Com estas considerações, ponho-meinteiramente de acardo com o douto,lúcido e substancioso voto de VossoExcelência.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Reijeitada a preliminar dedeserção, foi o recurso conhecido eprovido, unanimemente.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Luiz Ga/lotti, Relator. Tomaramparte no julgamento os Ermos. Se-nhores Ministros Carlos Medeiros, Pra-do Kelly, Hermes Lima, Gonçalves deOliveira e Luiz Gallotti.

Brasília, 18 de março de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

R.T.J• 38 131

RECURSO EXTRAORDINÁRIO IV 57.627 — IP(Terceira Turtna$

Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Recorrentes: Domingos Armando e sua mulher. Recorridos: Anna Fernan-das e outros.

Ação de reivindicação. Desde 1919 a posse foi contínua e in-contestada nas mãos doe recorridos. Possuíram o imóvel durantemais de 30 anos, pagando os impostos em seu nome. Títulos eboa-I6 são requisitos que se presumem. Os recorrentes jamaispraticaram qualquer ato no sentido de molestar a posse mansa •pacifica dos recorridos. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos, acór-

dam os Ministros do Supremo Tribu-nal Federal, em Terceira Turma, porunanimidade de votos, não conhecerdo recurso na conformidade da atado julgamento e das notas taquigráfi-cas

Brasília, 1 de abril de 1966. —Gonçalves de Oliveira, Presidente —Hermes 4ima, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Hermes Lima: —

Os recorrentes propuseram ação de rei-vindicação contra os recorridos tendopor objetivo um lote de tereno, ale-gando que logo após o falecimento dovendedor varão, sua viúva e filhos,ora recorridos, instalaram-se no imóvel.

Alegam que por escritura públicade 22.2.19, adquiriram de FranciscoRamos e sua mulher, Da. Anna Per-nandes, um lote de terras com doisalqueires paulistas, denominado "Sítiodos Costas", escritura transcrita sob

n.0 5.034, em 10.4.19; que há 3ou 4 anos atrás, tendo falecido Fran-cisco Ramos, sua mulher, nomeada ia-ventariante do espólio, incluiu citado

• terreno na relação de bens, como semesmo ainda pertencesse ao seu ca-

sal com o de cujos, e tudo feito semconhecimento dos ora recorrentes.Posteriormentei dois dos herdeiros

de Francisco Ramos promoveram, noCartório do Registro de Imóveis decitada Comarca de Mogi das Cruzes,as transcrições de seus títulos. E, de

posse desse documento, ocuparam emcompanhia de seus filhos, herdeiros deFrancisco Ramos, o citado terreno,onde se encontram residindo. Plei-teiam, pois, a restituição do imóvel,bem como todos os frutos colhidos epercebidos, de conformidade com oart. 513 do C. Civ., pois o imóvelpertence aos recorrentes e se encontra,com uso de má-fé, em poder da viú-va meeiro e demais herdeiros.

Os recorridos contestaram a açãodizendo que ela estava prescrita, emface dos arte. 177 e 179 do C. Civ.,pois em seu favor militava o usuca-pião mais que trintenário; que a açãoprópria seria a de nulidade de parti-lha, também já prescrita. Além disso,Da. Anna Fernandes não dera. abso-lutamente, sua outorga uxória à vendado imóvel, que está há mais de 40anos em sua posse mansa e pacífica.

Dr. juiz a quo julgou improce-dente a ação de reivindicação e pro-cedente a ação de prescrição aqui-sitiva.

acórdão deu provimento parcialà sentença na parte em que foi de-terminada a transcrição da sentençano Registro de Imóveis, mantida nomais a sentença pelos seus fundamen-tos, contra o voto vencido que negavaprovimento in totem.

Interpês-se recurso extraordinário pe-las letras a e d. Quanto à letra aporque o acórdão teria violado o ar-tigo 550 do C. Civ. por haver consi-derado a posse dos réus capaz de ge-rar usucapião, ainda que juridicamen-te inadmissível o animas domini napessoa do alimente, pois ninguém

132 R.T.J. 38

pode prescrever contra o próprio tí-tulo. Alega-se ainda violação doe ar-tigos 494, IV e 520, V, do C. Civ.,por não haver o acórdão reconhecidoexistência, no caso, de simples deten-ção e não posse, com base a deten-ção no constituiu possessorio prescritonesses artigos.

Além disso, na conformidade do ar-tigo 594 do mesmo Código, a possedos recorridos é injusta, porque clan-destint, porque se revestiu de clan-destino eurimus domini, pois transmi-tiram a sua posse então legítima emato público e solene.

Desse modo, os recorridos desde aescritura de venda, transcrita em ...10.4.19, não podiam possuir como seu

imóvel cedido e transferido ao ou-torgado comprador.

Assim, não pode haver a prescriçãoaquisitiva ou usucapião em caso como

dos autos, quando aquele que se dizpossuidor é o próprio alienante doimóvel. Portanto, o alienante , quetransmite a sua posse semente pode-ria permanecer no imóvel como de-tentor, por Verça da cláusula constitui°possessorio, pois de outro modo suaposse posterior ao título de transmis-são seria precária e clandestina.

Embora o acórdão diga, argumen-ta-se no recurso que o dito constitui°não foi Expressamente convencionado,nem resulta de qualquer cláusula es-tipulada, a verdade é que o constitui°pode ser considerado existente, semque haja estipulação expressa comoneste caso em que houve transmissãoda posse, pois, segundo os termos daescritura, o vendedor "cedeu e trans-feriu ao outorgado comprador t8claposse, domínio, direito e ações queexerciam no imóvel, para que do mes-mo gozassem e dispusessem como coi-sa sua que ficava sendo." De onde,que a posse de que trata os autos de-verá ser entendida como detencão, ja-mais como posse animus domini.• Cita também vários acórdãos paracomprovar a divergência e nos quaisse afirmam que o usucapião é de in-vocação impossível por quem alienou

imóvel (f. 107).O recurso foi impugnado. E alega-

se que os recorrentes se batem contraa interpretação de fatos para o sou

devido enquadramento no caso legal, ouseja, no art. 550 do C. Civ.

parecer da douta Procuradoria épelo não conhecimento.

o relatório.

VOTOSi. Ministro Hermes Lima (Re-

lator): — Há dois fatos importantesa considerar. Primeiro, o "Sítio dosCostas" foi realmente vendido aos re-correntes por escritura, que está nosautos de 22.2.19.

Os vendedores não sabiam ler e. arego deles, assinou o cidadão Joaquimde Lima Vez em presença de duastestemunhas, o que era legal. A exi-gência de impressão digital ao temponão constava de lei.

outro fato que. emerge dos autosé que, comprado o imóvel em 1919,os recorrentes não tomaram posse, nempuseram no mesmo qualquer pessoapara cultivá-lo em seu nome, perma-necendo os vendedores que trabalharam

sítio, o cultivaram, e dele sempretiraram a sua subsistência.

- Decorridos 43 anos, estão agora oreivindicando. Mesmo que a posse in-justa se caracterizasse, desde 1919 elafera contínua e incontestada. portanto,ocorreu a prescrição pela posse maisque trintenária do imóvel. A verdadeé que os recorridos possuíram o imó-vel como seu durante mais de 30 anos,pagaram, naturalmente, os impostos emseu nome. Não precisam, portanto,nem de exibir título, nem justificar aboa-fé, pois estes são requisitos quese presumem. Além disso, os recor-rentes jamais praticaram qualquer atono sentido de molestar a posse mansa

pacífica dos recorridos.Dos termos da escritura não se pode

deduzir a cláusula constitui° possesso-rio . Durante 43 anos, sem que nin-guém molestasse, os recorrentes vive-ram e trabalharam nesse sítio comodonos. O animas domini expressou-se'na consagração do tempo decorrido.

E, quanto à impossibilidade de otransmitente de um determinado imó-vel usucapi-lo, muito bem ponderou

acórdão, que se trata, no caso, deusucapião extraordinário, a cujo res-peito diz a lei sem restrições: "aque-le que, por 20 anos, sem interrupção,

I/ • 11 ../ • 38 133

nem oposição, possuir seu um imóvel,adquirir-lhe-á o domínio, independen-temente de título e boa-fé, que, emtal caso, se presumem.•

(Art. 550 do C. Civ. com a novaredação dada pela L. 2.437, de7.3.65).

Assim, não conheço do

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não conhecido. Unânime.

Presidência do Ermo, Sr. Minis-tro Gonçalves de Oliveira. Relator,o Ermo. Sr. Ministro Hermes Lima.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Srs. Ministros CarlosMedeiros, Hermes Lima e Gonçalvesde Oliveira. Ausentes, justificadamen,te, os Ermos. Srs. Ministros LuizGallotti e Prado Kelly.

Brasília, 1 de abril de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO IV 58.511 — !AT(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Lins e Silva.

Recorrente: Firmino Cavalcanti. Recorrido: Estado de Mato Grosso.

Extranumerário — Dispensa aunar' ia após mais de 11 anosde serviços contínuos e ininterruptos prestados é Administração. OsEstados podem conceder aos seus funcionários garantias que nãoestão vedadas pela Constituição Federal. Interpretação do art. 109da Constituição de Mato Grosso. Recurso extraordinário conhecidoe provido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os au-

tos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em Primeira Turma, na confor-midade da ata do julgamento e dasnotas taquigráficas, por unanimidadede votos, conhecer do recurso e lhedar provimento.

Brasília, 6 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrada. Presi-dente. — Evandro Lins e Silva, Re-lator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Evandro Lins: —O recorrente propôs ação ordinária con-tra o Estado de Mato Grosso visandoa sua reintegração no cargo de contí-nuo da Secretaria do Interior, Justiçae Finanças, para o qual Uma admitidoem 1950, exercendo-o continuamentedurante 11 anos, até ser dispensadoem 1961.

Entende que, admitido como extra-numerário, teria, no entanto, em seufavor o art. 109 da Constituição Es-tadual, que reza: "O funcionário pú-blico, depois de 2 anos de exercício,quando nomeado em virtude de con-curso, e depois de 5 anos de efetivoexercício nos demais casos, só poderáser exonerado em virtude de sentençajudiciária ou mediante processo admi-nistrativo, respectivamente, em que selhe tenha assegurado ampla defesa."

Reformando sentença de 1.• instân-cia, favorável ao recorrente, o eg. Tri-bunal de Justiça julgou a ação impro-cedente, afirmando:

"Quanto ao mérito, cargo efetivo,pois, é aquele cujo provimento se dáem caráter efetivo, permanente, quenão o extranumerário, transitório, en-sejando a possibilidade de transformar-se o seu titular em estável após 5 anosde efetivo exercício. "Funcionário pú-blico não estável — Demissão — Ad-missibilidade — Perante a Constitui-

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ção • legislação ordinária vigente, jánão subsiste o princípio da indemissi-bilidade sem justa causa dos funcio-nários não estáveis" (Acórdão de9.12.59, publicado em 13.1.60, RMS7.030, Relator Ministro Nelson Hun-gria, Tribunal Pleno, ia R.TJ., volu-me 12, p. 243). Eis demos provimentoao recurso, para julgar improcedentea ação e conseqüentemente sem ne-nhum direito do recorrido!'

Veio o recurso extraordinário pelaletra d do permissivo constitucional,alegando-se dissídio jurisprudencialcom a decisão do Supremo TribunalFederai, publicada no D.1. de ....29.10.64, que afirmou: "as leis es-taduais podem ampliar, em beneficiode seus funcionários, as garantias as-seguradas na Constituição Federal eaos servidores da União."

Contra-arrazoado, subiu o recurso ea douta Procuradoria-Geral da Repú-blica opinou pelo não conhecimento,de vez que se trataria de discussão sê-bre direito local exclusivamente.

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Evandro Lins (Re-

lator)' — Como se viu da leitura dafundamentação do acórdão, este se fun-da em interpretação dada pelo Supre-mo Tribunal Federal à ConstituiçãoFederal, no MS 7.030, Relator o dou-to Ministro Nelson Hungria.

A leitura desse acórdão, no entanto,me convenceu de sua nenhuma aplica-bilidade à espécie. Tratava-se de fim-cionário estadual não estável Que pre-tendia estar amparado pela Constitui-ção Federal contra sua exoneração de-cretada ad notam pelo Governador:entendeu com razão o Tribunal que oprincípio da indemissibilidade sem jus-ta causa, mesmo dos funcionários nãoestáveis, garantido pela Constituiçãode 1934, não faro reproduzido pelaCarta de 1946.

Na espécie, todavia, é a Constitui-ção do Estado, art. 109, que pro-tege o recorrente. Se se trata de ga-rantia que não encontra símile naConstituição Federal, isto não invali-da sua concessão pelo constituinte es-tadual. Data venia das opiniões em

contrário, não vejo onde, na Constitui-ção Federal, explícita ou implicitamen-te, se vede aos Estados conceder aosseus funcionários maiores garantiasque as asseguradas por ele aos servi-dores da União.

Nas razões do Estado, como recor-rido, são citadas duas decisões do Su-premo Tribunal Federal, proferidasnos RE 20.326, Relator o MinistroLuiz Gallotti, e 22.934, Relator o Mi-nistro Nelson Hungria. A primeira nãose assemelha, no trecho transcrito, aocaso dos autos. A segunda, sim, por-que nela se disse que "a expressãoeletivo exercício, empregada no arti-go 109 (da Constituição de MatoGrosso) não pode significar exercíciocontínuo ou ininterrupto, mas exer-cício efetivo, em contraposição a exer-cício interino."

Não adoto essa interpretação pelosmotivos já expostos no início destevoto. Além disso, a equiparação deextramunererios a funcionários efeti-vos tem sido feita pela legislação fe-deral (L. 2.284, de 9.8.54) e pordiversas leis estaduais. Essa eauipa-ração também foi feita pela Consti-tuição Federal, no art. 23 do Ato dasDisposições Transitórias.

No caso dos autos, o recorrente foiadmitido ao serviço do Estado em14.2.50 e dispensado abruptamente,em 27.10.61, ou seja, mais de 11 anosdepois de contínuo e ininterruptoexercício do cargo. Não houve motivoou justificação para o ato da dispen-sa, que se deu sem audiência do re-corrente, sem processo administrativo,sem uma sindicância, sem que sabreele pesasse qualquer acusação. Re-pugna-me aceitar tal ato de ouro ar-bítrio, que afeta os interêsses e as ne-cessidades de um servidor humilde,com mais de I/ anos de trabalho pres-tados à Administração.

Por esses motivos, conheço do re-curso e lhe dou provimento para res-tabelecer a sentença de primeira ins-tância.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conheceram do Recurso ederam provimento. Decisão unânime.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator. o Er-

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atentíssimo Senhor Ministro EvandroLins. Tomaram parte no julgamentoat Exma. Srs. Ministros EvandroUnge Victor Nunes e Lafayette deAndrade. Impedido, o Ermo. SenhorMinistro Oswaldo Trigueiro. Ausen-

te, justificadamente, o Ermo. SenhorMinistro Cândido Motta Filho.

Brasília, 6 de maio de 1966. — Al-varo Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 59.242 — SC(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Lins e Silva.

Recorrentes: Osni Alvaro de Oliveira e outros. Recorrido: Departamentode Estradas de Rodagem.

Reclamação Trabalhista. 1. Empregados de obras. Admissi-vel no regime da L. 1.890/53 a rescisão do contrato de trabalho,por falta de pagamento de salários.

2. Direito de Greve. Não é possível punir o empregado porcessação de atividade destinada a receber salários atrasados. Re-curso extraordinário conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos osautos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em Primeira Turma. na con-formidade da ata do julgamento edas notas taquigráficas, por unanimi-dade de votos, conhecer do recurso elhe dar provimento.

Bradas, 9 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade. Presi-dente. — Evandro Lins e Silva, Re-latar.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Evandro Lins: —Trata-se de reclamação trabalhista,fundada na L. 1.890, de 13.6.53,proposta por 11 empregados do De-partamento de Estradas de Rodagemde Santa Catarina, sob a alegação dedespedida injusta, e pedindo o paga-mento dos salários há 3 meses atrasa-dos, aviso prévio, indenização por res-cisão de contrato de trabalho e as fé-rias vencidas.

Defendeu-se o reclamado, alegando• improcedência da reclamação, no to-

cante à indenização e ao aviso pré-vio, porquanto teria havido justa causapara a despedida dos reclamantes, porterem infringido o art. 482, letras be h, da C.L.T. (incontinência deconduta e atos de indisciplina e insu-bordinação).

Na audiência de julgamento, o recla-mado pagou os salários atrasados, ho-ras extraordinárias e as férias venci-das, prosseguindo a reclamação apenasquanto às indenizações por rescisão doscontratos de trabalho e aviso orévio.

A reclamação foi julgada improce-dente nessa parte, tendo a sentença re-conhecido justa causa para a despedi-da, sob o fundamento de Que os re-clamantes incidiram na falta ',revistano art. 1.°, 2.°, da L. 1.890, de13.6.53, que manda aplicar dispositi-vos da C.L.T. aos diaristas e mansa-listas das entidades de direito público,que não forem funcionários públicosou não gozarem de garantias especiais.

Houve agravo dessa decisão, queveio a ser confirmada pela eg. 14 Ca-mara Civil do Tribunal de Justiça deSanta Catarina, por dois fundamen-tos:

136 R.T.J. 38

porque não De aplicam, aos Ca-sos disciplinados pela le. 1.890, osarta. 483 e 459 da C.L.T.:

porque os reclamantes incorre-ram na falta prevista no art. 4829 le-tra h, da C.L.T., este, sim, aplicávelà espécie, ez vi do art. 1.0 da I.. 1.890,de 13.6.53.

Ainda acrescenta o acórdão. aue osreclamantes não se limitaram à pa-ralisação do trabalho, tendo feito, comalarde, prévia declaração à imprensade que iriam assim proceder, insistin-do, ostensivamente, junto aos seuscompanheiros, para que também ofizessem, e permanecendo em atitudeinamistosa, no pátio da residência, abonto de ser necessária a intervençãoda Polícia, para pôr termo ao inci-dente.

Recusaram os reclamantes. acrescen-ta a decisão recorrida, proposta deconciliação de seu chefe, o engenheiroresidente, consistente no pagamentodos salários relativos aos meses demarço e abril, ficando o do más demaio, já vencido, para outra oportuni-dade, ante a falta de verba disponívelpara efetuá-lo desde logo.

Exigiam os reclamantes o paga-mento integral, para que voltassem aotrabalho, interrompido depois de ha-verem assinado o ponto naquele dia.

Assim ficaram caracterizadas as fi-guras da indisciplina e da insubordi-nação, invocadas pelo reclamado, paraa rescisão do contrato de trabalho,com fundamento na letra d do arti-go 482, da C.L.T.

Dessa decisão, foi interposto recur-so extraordinário, com fundamento nasletras a e d do permissivo constitucio-nal.

O recurso foi indeferido por intem-pestivo (f. 31), tendo, entretanto, su-bido, em conseqüência de provimentodado ao Ag 31.088 (autos em apenso).

As partes arrazoaram e dou por fei-to o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Evandro Lins (Re-latos): — A primeira questão a deci-dir é a da competência da justiça co-mum para julgar, em 2.° instância, re-clamações trabalhistas, fundadas naL. 1.890, uma vez que o SupremoTribunal Federal, no C./ 2.739, jul-gou parcialmente inconstitucional oart. 2.° da citada lei, entendendo, poroutro lado, que a competência parao julgamento das causas de trabalha-dores de empresas estatais é da justi-ça do trabalho.

No caso, não houve impugnação dacompetência da justiça comum.

Assim, entendo que não devemosanular a decisão proferida no presenteprocesso, seguindo a jurisprudência doSupremo Tribunal Federal, em casosrecentes.

Como acentuou o eminente Minia-ria Victor Nunes Leal, no julgamentodo RE 57.127, julgado em 7.5.65,"uma das razões da nossa decisão, nocitado conflito, foi evitar que os re-clamantes perdessem anos discutindo apreliminar da competência, antes deverem resolvida a sua pretensão. Se,no caso, essa pretensão já foi resolvidaem última instância, mandar recome-çar tudo de nóvo seria contrariar umdos fundamentos daquela decisão".(R.T.J. 33, p. 216).

No mesmo sentido, decidimos noRE 58.141, de que foi Re/ator o emi-nente Ministro Cândido Motta. julgadoem 18.4.66, por esta 1.a Turma.

A segunda questão a resolver é se,não constando do art. I.° da L. 1.890referencia ao art. 483, da C.L.T.,que prevê os casos de despedida indi-reta, ficam os trabalhadores das em-presas estatais sem o direito de recla-mar essa garantia prevista na legisla-ção trabalhista.

Penso que a enumeração constantedo art. 1.0 da L. 1.890 não excluioutros dispositivos previstos na Conso-lidação, e ali não expressamente desig-nados, como, por exemplo, o direito ao

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salário-mínimo, a duração do trabalho,a diferença de salários para trabalhoigual, a férias, etc.

Foi isso, implicitamente, o que sedecidiu no referido RE 57.127, re-latado pelo eminente Ministro HermesLima. E que as garantias aos trabalha-dores estão asseguradas na Constitui-ção. Entre êsses direitos se encontra

reclamado pelos ora recorrentes, ouseja, o da garantia dada a todos ostrabalhadores de serem pagos pontual-mente.

Na verdade, o salário constitui oÚnico meio de sustento do trabalhador

de sua família, e seu pagamento re-presenta a principal obrigação do em-pregador.

A meu ver, embora não incluídos noart. 1.° da L. 1.890, todo; ou quasetodos os dispositivos da Consolidaçãodas Leis do Trabalho, não podem dei-xar de ser aplicados a todos os empre-gados, sem discriminações, porque cons-tituem garantias constitucionais, ex-pressamente consignadas na Carta de1946.

A regra constitucional é soberana,aplicando-se aos empregados submeti-dos ao regime da L. 1.890 não só asdisposições aí enumeradas no art. 1.°,sem exclusão de outras, como é o casodo salário-mínimo, das férias, etc.

Portanto, improcede o primeirofundamento da decisão recorrida.

Quanto ao outro fundamento, de quea despedida faro justa, porque os re-correntes praticaram atos de indisci-plina e de insubordinação, por teremparalisado o trabalho, está a mesmaem contradição com vários outros jul-gados citados pelos recorrentes, inclu-sive um do Supremo Tribunal Federal,proferido no Ag. 27.845, de que foi Re-fator' o eminente Ministro Vilas Boas,

onde se decidiu: "Paralisarão de tra-balho justificada pela justiça compe-tente. Emprêsa que retém indevida-mente os salários dos seus auxiliaresnão tem o direito de puni-los, por ces-ação de atividade." •

Coaluicendo do recurso tambémquanto a êste ponto, pela divergênciajurisprudencial, e julgando a causa, ve-rifico que não houve propriamente umaparalisação doe trabalhos, ou dos ser-viços, devendo-se levar em conta alegitimidade da reivindidação dos re-correntes, que apenas desejavam re-ceber salários atrasados e não temos.

Não é só a jurisprudência que tementendido que é legítima a greve, comomanifestação dos trabalhadores, paraobter o pagamento de salários A re-cente L. 4.330, de 1.6.64, que regu-la o direito de greve, estabelece,no art. 4.0: "a greve não pode serexercida pelos funcionários e servidoresda União, Estados, Territórios, Mu-nicípios e autarquias, salvo se setratar de de serviço industrial e o pes-soal não receber remunerarão fixadapor lei, ou estiver amparado pela le-gislação do trabalho". Não houve, pois,ato de insubordinação, ou de indiscipli-na, com a cessação do trabalho, quevisava apenas o recebimento de salá-rios atrasados.

São êsses os motivos por que conhe-ço do recurso e lhe dou provimento.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Em decisão unânime, co-nheceram do recurso e lhe deram oro-‘imento.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, o Ex-celentíssimo Sr. Ministro EvandroLins. Tomaram parte no julgamentoos Ermos. Srs. Ministros envaidoTrigueiro, Evandro Lins, Victor Nu-nes e Lafayette de Andrade. Ausente,justificadamente, o Exmo. Sr. Minis-tro Cândido Motta Filho.

Brasília, 9 de maio de 1966. —Alvaro Parreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

138 R.T.J. 38

8.18OUR8O EXTRAORDINÁRIO 59.874 —

(Segunda Turma)

Relator para o Acórdão; O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro.

Recorrente; Julieta Almeida de Burmester. Recorrida: Celine EstoresFernandes de Almeida (Inventaritmte dos bens de Aristides de AI-:acida).

Sucessão de brasileiro domiciliado no estrangeiro — Vocaçãohereditária — Aplicação da lei do domicilio. AH. 10 da littrodu-filo ao C. Cir.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Recurso Exraordinário n.° 59.871, doEstado do Rio Grande do Sul, em quesão: recorrente, Julieta Almeida deBurmester, recorrida, Colina EstevesFernanda! de Almeida (Inventariantedos bens de Aristides de Almeida),deecide o Supremo Tribunal Federal,pela sua Segunda Turma, por maio-ria de votos, não conhecer do recur-so, de acôrdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 31 de maio de1966. — A. IW. Vilas Boas. Presi-dente — Afamar Baleeiro. Relatorpara o acórdão.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Vilas Boas: —

A douta Procuradoria-Geral da Re-grública opina pelo provimento desteRE 59.871 — RS, para a reformado acórdão de 1. 102 s.

A decisão está consubstanciada naseguinte ementa:

"Lei de Introdução ao Código Ci-vil. Aplicação do art. 10.

— Brasileiro falecido em Montevi-déu, onde residia, deixando bens si-tuados no Brasil. Aplicação à suces-são do disposto no art. 10 da Leide Introdução ao Código Civil Bra-sileiro. Ausência da regra jurídicapara aplicar-se, por analogia, a regraenunciada no parágrafo do mesmoart. 10, eis que tanto a viúva doinventariado, instituído, em testa-mento, sua única e universal herdei-ra, quanto a filha adotiva, são bra-sileiras, residentes em Montevidéu.Validade deste testamento, pOeto que,

pelo direito positivo em vigor noUruguai, o filho adotivo não é her-deiro necessário."

O recurso foi admitido por despa-cho do insigne Presidente João °I-mano de Mello Filho (f. 117 s.)•

A Mesa. — 17.3.66. — a)A. M. Vilas Boas.

VOTOO Sr. Ministro Vilae Boas (Re-

lator): — Oponho, desde logo, àlição do aresto recorrido a do emi-nente Prof. Haroldo Valladão. quecomo autor do anteprojeto oficial daLei de Introdução ao Código Civil,inseriu nele, a seguinte proposiçãocom a pertinente exposição de moti-vos:

"Art. 64... — Parágrafo único.A vocação para suceder em bens mó-veis, existentes no Brasil. de brasi-leiro domiciliado no estrangeiro, seráregulada pela lei brasileira e em be-nefício do cônjuge ou de filhos bra-sileiros, sempre que lhes não sejamais favorável a lei estrangeira(C. F., art. 165)."

"Art. 64 e parágrafo único. O an-teprojeto reproduziu, qual não pode-ria deixar de o fazer, o texto do ar-tigo 165 da Constituicão. de trata-mento preferencial do cônjuge e dosfilhos brasileiros na sucessão de bensexistentes no Brasil, injustamentecriticado pela doutrina brasileira, poisrepresenta unia constante secular do°IP brasileiro, proclamada por Pi-menta Bueno desde 1863 (op. cit.,P. 76-77) e vigente em textos detôdas as antigas Convenções Consu-

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139

lares, ratificadas pelo Brasil, de 1876a 1882 (denunciadas na República

pelo Barão do Rio Branco), adotan-do o princípio da lei nacional comreservas das disposições locais sabreimóveis (c/Portugal, Itália, França,Suíça e Alemanha) e expressamenteconcedendo "ao súdito que concorraem seu país com herdeiros estran-geiros o direito de preferir que o seuquinhão hereditário seja regulado nostêrmos da lei de sua pátria" (H. Val-ladão, Conflitos das Leis Nacionaisp. 103-105).

Por tudo isto, o princípio constoudo Projeto Ferido, art. 20, parágra-fo único, e foi consolidado por Car-los de Carvalho, art. 31, parágrafoúnico. A sua elevação à Carta Mag-na impunha-se, representando umapreferência aos brasileiros, só possí-vel em texto constitucional (H. Val-ladão, Bolei. Soc. Bras. Dir. Int.,nP 3, 1946, p. 10-17) e daí os tex-tos que o consagraram nas Constitui-ções de 1934, art. 134, de 1937, ar-tigo 152 e na atual, de 1946, arti-go 165. O parágrafo único completaa finalidade do texto constitucional,aplicando o princípio também noconcurso com a lei estrangeira dodomicílio. Aliás, o princípio existe emgrande número de países, seguidoresou da lei nacional, Alemanha, art. 25(2), Bondaras, 978, Holanda, L. de 7

de abril de 1869; ou da lei do domi-cílio, Chile, art. 998, Salvador, 995,Equador, 1.056, Argentina, 3.470,Colômbia, 1.034, Nicarágua, 1.024,Peru, Código de 1936, art. 659 e norecentissimo Projeto da Venezuela(1963), art. 35 ou de fez rei sitaepare os imóveis e da fez domiciliipara os móveis, França, Lei de14.7.1819, art. 2P, Bélgica, Lei de27.4.1866, art. 4.° Áustria, Lei de9.8.1854, Lichtenstein, Lei de ....4.12.1911, art. 3.°, Projeto francês,art. 55, e até, no regime da fez reisitae para todos os bens, do Projetoargentino de 1954, no art. 18, fine.

Na antiga Introdução, art. 14 fine,o preceito mandando aplicar, sempre,a lei brasileira restringia a opçãotradicional do herdeiro brasileiro, ena Lei de Introdução, o § 1.° "al-terava" o texto constitucional (H.Valladão, in R.T., São Paulo, 203-3

• s., • Bolei. Soa Eiras de Dir.Int, n. 13-14, 34 e s.). Eram tex-tos inconveniente um e inconstitucio-nal o outro. O parágrafo único es-tende o princípio, por fôrça de com-preensão, com justiça, à sucessão dobrasileiro domiciliado no estrangeiro(art. 63), e nesse sentido opinaramEsp:nola e Filho (L. intr. III-137)".

Direi a seguir por que adoto estatese e não a outra que, a meu ver,está em antinomia com a determina-ção constitucional.

Estamos solvendo um conflito deleis. E não é possível uma composi-ção, porque a uruguaia, a que se deuaplicação, diverge muito da nossa,quanto à instituição de herdeiro e àvocação hereditária.

No que interessa, sublinho que, na-quele País, o filho adotivo sarnentaé chamado à falta de posteridade le-gitima e em concorrência com os ir-mãos do defunto (C. Civ., artigo1.027). Entre MÁ, a adoção é equi-parada à legitimidade, restringindoaté a liberdade de testar (C. Civ.,art. 1.605 e 66, e 1.721).

Isto pasto, volto-me para o arti-go 165 da Constituição, a que cor-responde o art. 10, 1.°, da Lei deIntrodução ao C. Civ., e leio:

"A vocação para suceder em bensde estrangeiro existentes no Brasilserá regulada pela lei brasileira e embenefício do cônjuge ou de filhosbrasileiros, sempre que lhes não sejamais favorável a lei nacional do decajus".

A análise gramatical do períodonão dá solução ao problema e trazperplexidade.

Pode-se acaso entender isso? SeAristide, de Almeida Moita fôsseuruguaio, sua filha Celine, brasileira,forçosamente lhe sucederia nos bensaqui deixados, mas, como nasceu noBrasil e emigrou para a RepúblicaOriental, onde residiu, comerciou emorreu, sem renunciar à nacionalida-de, a adotada não herda!

Coisa incrível, e é a asse absurdoque induz a interpretação literal.

Mas, felizmente, mesmo antes deCelso, à ciência das leis jamais teveas dimensões dos textos. E. para

140 E T .J. 38

uma emergência como esta, genera-liza o art. 144 da nossa Lei Maior:"A especificação dos direitos e ga-rantias expressas nesta Constituiçãonão exclui outros direitos e garantiasdecorrentes do regime e dos princí-pios que ela adota". São os poderesa garantias implícitos que aqui secontemplam.

Se a família está sob o amparodo Estado e os princípios que lheregulam a formação visam à prote-ção da prole, fim primário do matri-mônio ( e quanto a isso não há dis-cussão), a solução das delicadasquestões dos Direitos de Família eSucessões não pode jamais derivarpara o absurdo.

Quando a lei é omissa, o juiz ouo Tribunal tem o dever, em qual-quer hipótese sujeita, de recorrer àSmalogin e aos princípios jurídicosgerais. É um modo de discernir, quepressupõe . cultura, preparo e bomsenso. Mas se não o faz, abstraindo-se mesmo da eqüidade, não será fá-cil ao Supremo Tribunal prover arespeito, na apertada via do recursoextraordinário.

Entretanto, na espécie, não se tra-ta de dizer o direito por esse méto-do puramente intelectual, O que sepede é a prevalência dos princípiosconstitucionais desta República, noseu território, sabre a lei estrangeira,que aqui, evidentemente, não podeser recebida, em detrimento das na-cionais.

A garantia impetrado por Calinapara suceder ao pai, nos bens deixa-dos no Rio Grande do Sul, respeita-do naturalmente o testamento naparte disponível, está /atente no ci-tado dispositivo constitucional, quenão é de restrição e sim de maiorsegurança contra um possível desvioou cochilo do legislador ordinário.

Para melhor clareza do conceito:Se o filho brasileiro de estrangeirolhe sucede em bens situados no Bra-sil, Obviamente o filho de brasileiro,porventura domiciliado no Exterior,recolherá a herança aqui existente.

Não é uma exegese por extensão,e sim por inclusão. Fere fundo o ar-ligo 141, § 1.0, a distinção entre fi-lho de estrangeiro e filho de brasi-leiro, ambos em posição igual pe-rante a Constituição, para se deferirmais àquele do que a este.

direito postulado está contidona expressão legal, bastando uma leveincisão nesta, para que ele aflore emplenitude e clareza.

A recusa de reconhecimento. mes-mo em inventário, é manifesta prete-rição dos princípios que informam asucessão legítima.

é por isso que sintetizo as mi-nhas considerações e meu voto nadeclaração de conhecimento e provi-mente do recurso, inserto na alíneaa do permissivo constitucional.

VOTO

Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— Senhor Presidente, quero resumircomo compreendi a causa, a fim deque V. Excia. retifique qualquerequívoco em que, por acaso, eu es-teja incurso.

que V. Excia. expôs e que lino memorial que me foi oferecido, éque se trata de um brasileiro queemigrou para Montevidéu, com suaespOsa, e lá adotou uma mica bra-sileira. Fez anotar essa adoce° noCartório de Santana do Livramento.Falecendo, deixou testamento no qualInstruiu sua herdeira universal a esn8-tu, com exclusão da filha adotiva.

Discute-se, então, que pelo arti-go 10 da Introdução ao C. Civ., elepoderia fazê-lo, porque esse disposi-tivo remete ou recebe a lei do Uru-guai, no caso, mandando aplicar oprincípio de domicílio em matéria desucessão, ao invés da lei nacional, aler patrla.

Recorre extraordineriamente a fi-lha adotiva, invocando violação doart. 165.

R.T.J. 38 141

O brilhante voto de V. Excia, en-tende que, no caso, não há analogia,própriamente, não é caso de aplica-ção do art. 165, por extensão; mas,por uma incisão que se faça no pró-prio art. 10 aflora o sentido nue láestá.

Com todo respeito que tenho porV Excia , cujos votos quase sempreacompanho, mestre eminente em Di-reito Civil e, portanto, também emDireito Internacional Privado, pensode maneira diferente. Creio que nãovale, no caso, a invocação do arti-go 144 da Constituição, porque elenão se refere a essa hipótese em queela não é auto-executável, ela pres-supõe um direito civil a ser legisladode acôrdo com o art. 5.°. XV, le-tra a.

Afastado, portanto, o art. 144, te-nho diante de mim o seguinte: hou-ve violação do art. 165? Não hou-ve. A violação tem que ser de di-reito, da letra da lei. Quando al-guém fundamenta o recurso extraor-dinário na letra a, tem de mostrarque a decisão vai de encontro à le-tra "da lei, que ela a contraria. Ou,como aqueles velhos acórdãos daminha mocidade, acórdãos que o Su-premo Tribunal prolatava há uns 30anos atrás, que dizem: — É precisoque haja violação estridente — ex-pressão muito encontradiça em jul-gados deste Tribunal.

Sou daqueles que pensam, SenhorPresidente, que não podemos bara-tear o recurso extraordinário fora,nos casos taxativos da Constituicão,naquelas quatro letras, do art. 101,//I. Não se pode ser generoso, nessamatéria. Temos que defender a le-tra da lei federal na sua inteireza,mas não a ponto de tolher os Tribu-nais à interpretação dessa lei federalquando não há esse choque frontalcom a letra dela.

Ora, que diz o art. 165? Diz que:

"A vocação para suceder em bensde estrangeiro existentes no Brasilserá regulada pela lei brasileira e

em benefício do cônjuge ou de filhosbrasileiros, sempre que lhes não sejamais favorável a lei nacional dode cujus".

Esse artigo é inaplicável, ou, maisexatamente, é imprestável para afundamentação do recurso extraordi-nário, no caso que nos foi exposto,porque êle só se aplica ao caso desucessão em bens de estrangeiro exis-tentes no Brasil.

Portanto, pela letra não cabe

É verdade que V. Excia, cons.truim maravilhosamente, uma hipó-tese: — se fôsse o Senhor Fernan-des de Almeida um uruguaio, estafilha seria beneficiada. — Mas nãoé. Ele é um brasileiro; o dispositivonão se lhe aplica.

O art. 165 tem uma finalidade,uma proteção à viúva de brasileiro,quando ela concorre com estrangeiro.Brasileiro concorrendo com estran-geiro, com relação aos bens existentesno Brasil, em uma sucessão, e/e tema lei que é mais favorável: seja a leibrasileira, seja a lei estrangeira. Foradisso, não.

Que diz o art. 10 da Introduçãoao C. Civ., em que se apóia o recor-rido? Diz o seguinte:

"A sucessão por morte ou por au-sência obedece à lei do pais em queera domiciliado o defunto ou o desa-parecido, qualquer que seja a natu-reza e a situação dos bens."

Expressamente, o texto não distin-güe nem em relação à natureza mó-vel, ou imóvel, nem em relação à si-tuação dos bens, nem, também, emrelação à nacionalidade dos interessa-dos. Mas, não conflita com o art. 165porque só nessa hipótese de bens deestrangeiro falecido, com interessadosbrasileiros; aí, sim.

Mas a hipótese do art. 165 daConstituição está, a meu, ver, contidano ü 1.° desse art. 10, da Introdu-ção ao C. Civ., quando diz:

142 R.T.J. 38

"I 1.0 A vocação para suceder embens de estrangeiro, situados no Bra-sil, será regulada pela lei brasileiraem benefício do cônjuge brasileiro edos filhos do casal, sempre que lhesnão seja mais favorável a lei dodomicílio . "

Portanto, o principio do art . 165,a meu ver, está contido no § 1.0 doart . 10 como, aliás, já estava nos

textos das Constituições anteriores de1934 e 1937. Não há, a meu ver,nenhum conflito entre o art . 10caput e o art. 165. Não veio demaneira nenhuma.

Para mim, não despiciendo o ar-gumento de que se utilizou o jovemadvogado, da tribuna. S. Sa . sa-lientou um ponto: trata-se de umaconcorrência entre brasileiros — deum lado, uma viúva; de outro lado,uma filha adotiva, casada com es-trangeiro, domiciliado no estrangeiro,cujos filhos são estrangeiros.

Então, nessa concorrência entrebrasileiros prefiro beneficiar a viú-va. Ai, é claro que não há nenhumdireito expresso. A Constituição diz:"a viúva ou filhos"; diz, em primei-ro lugar, "a viúva".

Sabemos que, no Código Civil, háuma espécie de preferência, de pro-priedade em relação ao Parentescode sangue, inclusive a expectativa dedescendência . Sabemos que o Có-digo Civil só permite, embora já ti-vesse diminuído de intensidade, aadoção, não havendo descendentes eo adotante tendo um limite de ida-de. Portanto, há uma prioridadepara o parentesco de sangue, de ver.dade mesmo.

Em segundo lugar, a filha adotivaé caáada pelo regime de comunhãode bens, com estrangeiro, domicilia-do no estrangeiro, cujos filhos, prove-velmente, são estrangeiros . Acho quedevemos proteger, neste caso, a bra-sileira e não aquela que é casadacom estrangeiro; àquela que foi acarne da carne do de cuius e nãoaquela que tem apenas um laço ju-rídico.

Por essas razões, com o máximorespeito e acatamento ao voto de'V . Excia . , peço licença para nãoconhecer do recurso Não á casodele, a meu ver.

VOTO PRELIMINARO Sr. Ministro Adalicio Nogueira:

— Senhor Presidente, data venha osV. Excia. também não conheço dorecurso extraordinário porque não háofensa literal à lei, como bem acabade demonstrar o eminente Sr. Mi,nistro Aliomar Baleeiro, e só umainterpretação um tanto forçada seriacapaz de atingir o objetivo que Vossa Excelência, Sr. Ministro Relator,aliás, tão brilhantemente admitiu,para conhecer do aludido recurso.

Por essas razões, não conheço gomesmo,

VOTO PRELIMINARO Sr. Ministro Pedro Chaves: —

Sr. Presidente, data venia do bri-lhante voto produzido por V. Excianão conheço do recurso. Não vejoofensa ao art . 165 da Constituição.

A brilhante exposição que foi rei.te por V. Excia. poderia ter chega-do a demonstrar dúvidas quanto ainterpretação do Código Civil, se eraou não compreensiva da situaçãooposta, aquela que foi julgada nosentido do voto de V. Excia .

Mas, a nossa jurisprudência diu-turna á no sentido de Que a simplesinterpretação de um texto de lei nãoconstitui ofensa. De modo nue. datavenha de V. Excia . , acompanho ovoto do eminente Sr. Ministro Alio-mar Baleeiro, não conhecendo do re-curso.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conheceram do re-curso, contra o voto do Relator que,cle/e conhecendo, lhe dava provi-mento.

Presidência do Exmo . Sr. Minis-tro Vilas Boas, Relator. Tomaramparte no julgamento os Exraos . Se-nhores Ministros Aliomar Baleeiro,Adalicio Nogueira, Pedro Chaves eVi/as Boas. Licenciado, o Exmo. Se-nhor Ministro Hahnemann Guima-rães .

Em 31 de maio de 1966 — Ál-varo Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

1

M.T.J. 38 143

REMO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° f4.786 — RS

(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Recorrente: Cia . Swift do Brasil S . A . Recorrida : Fazenda do Estado.

Taxa sabre pessoas naturais ou jurídicas que efetuem albina..A taxa instituída pela L. 4.683 tem realmente esse caráter porquerecai sabre um serviço público específico, divisível, pasto à dispo-sição dos contribuintes, serviço público que, efetiva ou potencial-mente, serve aos interesses dos criadores gaúchos. Ao regulamen-tar a L. 4.683, o D. 16.466 ultrapassou os termos da lei referidae violou o art. 27 da Constituição e o art. 2.°, inc. III, da EC 18.A taxa recai sôbre abates e o Regulamento manda, expressamente,cobrar a taxa sôbre exportação de animais vivos. Recurso provido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Supre-mo Tribunal Federal, em sessão ple-nária, na conformidade da ate do jul-gamento e das notas taquigráficas, porunanimidade de votos, dar provimen-to ao recurso.

Brasília, 30 de março de 1966. —A. M. Ribeiro da Costa, Presidente.— Hermes Lima, Relator.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Decidiu-se remeter ao Tri-bunal Pleno. Unanime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLuiz Gallotti. Relator, o Exmo. Se-nhor Ministro Hermes Lima. Toma-ram parte no julgamento os Excelen-tíssimos Srs. Ministros Carlos Medei-ros Silva, Prado Kelly, Hermes Lima,Gonçalves de Oliveira e Luiz Gallotti.

Brasília, 21 de março de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Hermes Lima: —

A lei que o criou, impunha a taxa sô-bre pessoas naturais ou jurídicas queefetuem abates (L. 4.683, de 24.12.63,art. 4.°). A taxa destina-se em 90%ao "fundo de investimentos da pecuá-ria", destinado a financiar empresasligadas à pecuária e à pesca ou uni-

dades econômicas destinadas a criaçãode bovinos, ovinos e suínos. Os 10%restantes destinam-se ao. Serviço deSuionotecnia da Secretaria da Agri-cultura.

O D. 16.466, regulamentador dalei, dispõe no art. 7.0, ê 1.°:

"Equipara-se para efeito de cobran-ça da taxa de Investimentos da Pe-cuária à pessoa natural ou jurídica queefetua abate, aquela que exporta bo-vinos, ovinos, suínos, vivos, e o paga-mento da taxa será feito em cada ope-ração".

A recorrente entende que equipara-ção é ilegal, porque não é abatedora,mas compradora de animais que trans-porta vivos para outros Estados. Ale-ga ainda que falta ao tributo a rela-ção "serviço público-contribuinte", ca-racterística da taxa. E que a lei ins-tituidora da taxa é de 24.12.63, por-tanto, posterior à lei orçamentária,criando-se assim um tributo não cons-tante do orçamento. Esta a postula-ção da inicial. E não se trata de au

-mento mas de criação de tributo.A sentença denegou a segurança, di-

zendo:"A taxa, em seu mais amplo concei-

to, pressupõe um serviço prestado aocontribuinte ou colocado a sua dispo-sição. No caso especial, a taxa, segun-do o parecer do órgão do MinistérioPúblico, é retribuição do serviço de

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combate às doenças e assistência es-pecializada.

O fato gerador da taxa seria, assim,no entender do Juízo, não própria-mente o abate, mas o serviço espe-cializado do Estado, assistência sani-tária. A cobrança da taxa é realiza-da por ocasião do abate. O D. 16.466,de 7.2.64, expedido para regulamen-tar a L. 4.683, mandou equiparar aexportação de bovinos, ovinos e suí-nos, vivos, ao abate, para fins de pa-gamento da Taxa de Investimento daPecuária.

O decreto não alargou o campo deincidência, pois esta se realiza pelaassistência sanitária. A cobrança dataxa se efetiva por ocasião dos aba-tes, realizados no Estado, ou pelatransferência para outro Estado, justa-mente porque o gado transferido vaiser abatido. De outra parte, nem alei instituidora da taxa, nem o decre-to regulamentador, estabeleceram queo fato gerador é o abate. O valor doabate é elemento que serve de baseao cálculo do valor da incidência fis-cal. O abate é, ainda, o elemento queserve de base para a fixação do mo-mento em que a exigência fiscal é rea-lizada.

Ainda merece ser ponderado que alei não estabeleceu que a incidênciaocorre sarnenta em relação aos abatesrealizados neste Estado. Em se tra-tando de taxa, a incidência é uma re-sultante, uma decorrência da existên-cia do serviço de assistência estadualespecífico.

Tenho como constitucional e regu-lar a exigência. A taxa foi instituídasehre os valóres dos abates, sem res-trição ou limitação quanto ao local derealização dos referidos abates. É re-muneração de um serviço colocado àdisposição do contribuinte. A expor-tação de animais, evidentemente des-tinados ao abate, não fica excluída daincidência. O fato gerador não é oabate, mas o próprio Serviço Estadual,sua finalidade específica e suas ativi-dades, que podem ser utilizadas pelocontribuinte.

A Taxa constou do Orçamento doEstado. A publicação do Orçamentoinclui Taxas, inclusive a que é objeto

de discussão (L. 4.644). E houveprevisão específica."

A Companhia recorreu dizendo quefaltava bilateralidade à taxa em ques-tão, que se tratava de simples trans-ferência de mercadoria de um Estadopara outro. A alegação principal doEstado é que o fato gerador da taxanão é o abate de animais, mas o ser-viço público de assistência veteriná-ria e de amparo aos rebanhos. E ar-gumenta:

"A circunstância de ser exigida ataxa no momento do abate não querdizer que o fato gerador seja o próprioabate. A questão da cobrança porocasião desse ato é mera norma re-gulamentar, como ocorre, por exem-plo, com outros tributos. Assim éque, nas vendas à vista, o impeistonão é cobrado desde logo, não é exi-gido no instante da venda, porém naquinzena seguinte. Se a venda é fei-ta para fora do Estado, exige-se o irn-pôsto na ocasião do processamentoda guia e ninguém até hoje ousou dizerque se está a tributar a circulação debens entre unidades da Federação.

De maneira que o Estado, reclaman-do a taxa quando se dá o abate, nãosignifica isto que o abate em si saiaseu fato gerador.

Por outro lado, se a taxa de inves-timento da pecuária é remuneração deserviço, tanto faz que os animais se-jam abatidos no território do Estadoou que se destinem ao abate noutroEstado. De qualquer forma, desde quejulgados em condições de servir aoconsumo público, o estado higiênicodos animais é o resultado, inclusive,de uma atividade estatal constante ecustosa — prevenção e tratamento dasepizootias, mantença de serviço per-manente de assistência veterinária, depostos e estações zootécnicas, distri-buição de sementes de forrageiras eempréstimos de garanhões qualificados.

Parece muito claro que a agravan-te, abastecendo-se de suínos neste Es-tado, usufruiu os benefícios desse ser-viço público, graças ao qual conseguepara sua indústria matéria-prima dealta qualidade, bem reputada nos mer-cados nacionais em virtude do eleva-

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do índice e padrão das criações locais.Dizer que o tributo está sendo exi-

gido sôbre a transferência de porcosvivos é deslocar o problema de seusexatos fundamentos, para ignorar,muito de propósito, que a taxa de in-vestimento da pecuária tem por pres-suposto a assistência do Estado aosrebanhos ovinos, suiims e bovinos, re-clamada de todos quantos abatem den-tro e fora do território rio-grandense.

Outrossim, é errôneo o segundo ar-gumento da recorrente de que essataxa não consta do orçamento em exe-cução, e, por isto, não disporia a suacobrança de prévia autorização legal.

A alegação não é correta, uma vezque a taxa figura no orçamento paraeste ano (Cód. 1.1.2.99), existindo,por conseguinte, previsão específica,como, de resto, está dito na veneran-da sentença.

Finalmente, em resposta ao últimoargumento da recorrente, cabe ponde-rar que se a taxa não é cobrada pelasimples passagem do gado, de um paraoutro Estado, não vem ao caso ser in-vocado o art. 27 da Constituição Fe-deral.

As limitações fiscais, quaisquer quese proíbem nesse artigo, são as que,no território nacional, gravem ou per-turbem a livre circulação dos bens oupessoas e dos veículos que os trans-portam (Pontes de Miranda, in Co-mentários à Constituição de 1946,tomo II, p. 239).

Ora, se a taxa tem por suporte ma-terial o serviço público prestado àque-les que abatem bovinos, suínos e ovi-nos, pois que o Estado concorre paraa sua indústria mediante o contrôlesanitário dos rebanhos, o fato de exi-gir o tributo de quem os transferepara outro Estado a fim de ali os aba-ter, jamais poderia ser confundido comexigência fiscal limitativa ao tráfegointerestadual. A hipótese é símile da-quela outra já lembrada — a cobran-ça do impôsto sôbre vendas para forado Estado no ato de ser processada aguia de transferência. Aqui como alinão se tributa a exportação em si."

O acórdão confirmou a sentença(f. 61) acolhendo as razões do Es-tado já mencionadas. Houve um voto

vencido. O acórdão entendeu comopremissa de sua conclusão que nem aincidência nem a exigência do tributono exercício se revestiu de vícios deinconstitucionalidade.

No recurso, a companhia reafirmousuas alegações e que a taxa feriu oart. 27 da Constituição, transforman-do-se em impôsto de exportação inte-restadual (f. 66), sendo pois inconsti-tucional. E ainda inconstitucional porfalta de prévia autorização orçamentá-ria (f. 68), pois o tributo não foiaumentado mas criado.

parecer da douta Procuradoria épelo não provimento.

Juntou-se aos autos parecer da au.tona do Professor Amilcar Falcão.

o relatório.

VOTOSr. Ministro Hermes Lima (Re-

/ator): — A realidade que serve depano de fundo ao presente mandadode segurança configura um episódioexpressivo do atual estado da econo-mia brasileira. A base da economiagaúcha ainda é a produção de maté-rias-primas. Possuindo o melhor reba-nho de bovinos, ovinos e suínos dopaís, o Estado arca com grandes des-pesas especialmente destinadas a cui-dar da saúde e do aperfeiçoamentodessa gente animal. Mas sua industria-lização se processa, em grande parte,fora do Estado, que se vê, desse modo,privado de importantes fontes de ren-da. A posição de exportador de ma-térias-primas, como no caso da indús-tria de alimentação, não lhe dá con-dições para o desenvolvimento no grauque só a industrialização dessas ma-térias em seu próprio território per-mitiria.

Lê-se no "Plano de Investimento eServiços Públicos" organizado para oEstado para o biênio 1964-1966, queo traço mais marcante da economiagaúcha no último decênio é a sua re-dução na taxa de crescimento. Seuritmo de desenvolvimento não só de-caiu como passou a registrar valõresnegativos". E ainda: "Dado o com-portamento da economia desde 1957,aproximadamente mais de 300 mil

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pessoas devem existir atualmente noRio Grande do Sul sem ocupação!'As vozes nesse sentido irrompem naterra gaúcha de todos os quadrantes,sem distinção.

A economia baseada na exportaçãode matérias-primas passa a dependerdee economias industrializadas, inclusi-ve para a fixação dos preços. Ela re-cebe produtos por preços que lhe sãoimpostos e não tem participação real-mente eficiente nos preços dos produ-tos que vende.

A Taxa de Investimentos de Pecuá-ria foi evidentemente criada para ofim de reforçar o processo de indus-trialização do Rio Grande do Sul, poiso fundo por ela instituído se destina,nas próprias palavras da L. 4.683,art. 4.0, 2.0, a financiar empresasindustriais existentes e a se instala-rem ligadas à pecuária e à pesca, es-pecialmente a indústria do frio e uni-dades econômicas destinadas à criaçãode bovinos e suínos. Estes são, por-tanto, os fundamentos políticos e eco-nômicos da Taxa de Investimento daPecuária.

Agora, resta indagar: qual seu fun-damento legal e de que taxa se trata?

A Constituição no art. 30, n.° II,diz competir à União, aos Estados, aoDistrito Federal e aos Municípios, acobrança de taxas. A EC 18, que dis-pôs sôbre o sistema tributário nacio-nal, dispôs no Capítulo III, das Taxas,art. 18, que "Compete à União, aosEstados, ao Distrito Federal e aos Mu-nicípios no âmbito de suas atribui-ções cobrar taxas em função do exer-cício regular de seu poder de polícia,ou pela utilização efetiva ou poten-cial, de serviços públicos específicose divisíveis prestados ao contribuinteou postos à sua d;zposição.

Parágrafo único — As taxas nãoterão base de cálculo idêntica à quecorresponda a impôsto referido nestaEmenda."

Desde logo se verifica que a emen-da condicionou o conceito de taxa pelasua origem e pela sua prestabilidade.Pelo texto, ela pode basear-se seja nopoder de polícia, seja na utilização dosserviços. Essa utilização será efetivaou potencial. Isto significa que o con-

tribuinte por ela abrangido não seráapenas aquele que recebe concreta-mente, diretamente, o benefício re-sultante de taxa, mas também aquelea quem ela pode interessar ou mes-mo indiretamente dela se beneficie.

Potencial é o benefício possíveldentro de cujo alcance se encontremdeterminados bens, ou determinadaspessoas físicas e jurídicas. Moraes, noDicionário, assim define potencial:"potencial — que pode existir, masainda não existe; não atual!'

Assim, o benefício que o serviço pú-blico presta, pode não estar sendo sen-tido, obtido neste momento; mas pelofato de existir o serviço, de achar-seà disposição do contribuinte, este delese poderá socorrer ou dele poderá re-ceber proveito com o correr do tem-po e o aparecimento de circunstânciasque o convertam de potencial emefetivo.

A esta luz, o exemplo da taxa deserviço contra fogo logo me ocorre.Essa taxa cobrada peld Estado dePernambuco, já foi declarada inconsti-tucional pelo Tribunal como está naSúmula 274. Entretanto, o serviço pú-blico contra incêndios não abrange po-tencialmente as casas de uma cidade,tedas as casas?

Desse modo, a Emenda n.° 18 es-tendeu a área de incidência das taxas.Elas não são legais apenas quandoprestam direta e efetivamente o bene-fício ao contribuinte, mas também osão quando o serviço tiver capacidadede abranger o contribuinte, quandoeste estiver ao alcance dos benefíciosdele derivados. Os proprietários deuma cidade, que possua serviços con-tra fogo, estão todos potencialmenteinscritos como beneficiários dele.

O serviço público terá ainda paradar lugar a taxas, de ser específico,isto é, com destinação determinadapara certo fim e de ser divisível, istoé, suscetível de ser prestado a cadacontribuinte, permitindo assim que va-rie a própria taxa a que dá lugar.

A taxa de investimento de pecuá-ria do Rio Grande do Sul, instituídapela L. 4.683 tem realmente esse ca-ráter, porque recai sabre um serviçopúblico específico, divisível, pôsto à

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disposição dos contribuintes, serviçopúblico que, efetiva ou potencialmen-te, serve aos interesses dos criadoresgaúchos, seja quando recebem amparoe cuidados médicos e sanitários paraseus rebanhos, seja quando favoreceefetiva e potencialmente os criadores,desenvolvendo a infraestrutura da ati-vidade econômica ligada à pecuária.O desenvolvimento dessa infraestru-tura aproveita aos criadores, acarretabenefícios reais para a atividade eco-nômica a que se dedicam.

Não se trata do impôsto de indús-trias e profissões, porque o fato gera-dor da taxa é um serviço público es-pecífico com destinação determinadapara um fim, que não pode ser desli-gado das condições da economia pas-toril gaúcha. É, pois, constitucional.

Todavia, o que a recorrente põe emcausa não é a constitucionalidade dataxa em si mesma. Ela se insurge écontra o D. 16.466 que, no art. 7.°,g 19, dispôs:

"Equipara-se, para efeito da cobran-ça da Taxa de Investimentos da Pe-cuária à pessoa natural ou jurídica queefetua abate, aquela que exporta bovi-nos, ovinos e suínos, vivos, e o paga-mento da taxa será feito em cadaoperação."

Argúi-se que essa equiparação feitapelo regulamento ultrapassou os limi-tes da L. 4.683; que a cobrança dataxa sabre exportação de bovinos, ovi-nos e suínos, vivos, representa um tí-pico tributo interestadual proibido peloart. 27 de Constituição e pelo arti-go 2.°, inc. III, da EC 18.

O art. 27 proíbe limitações do trá-fego de qualquer natureza por meiode tributos interestaduais ou intermu-nicipais, ao passo que o texto do ar-tigo 2.° da Emenda n.° 18 fala quenão se podem estabelecer limitaçõesao tráfego, no território nacional depessoas ou mercadorias por meios detributos interestaduais ou municipais.

Mas a proibição é sempre a mes-ma, com o mesmo caráter absoluto,porque ela decorre da necessidade depreservar na Federação um só país eum só mercado que as limitações aotráfego de pessoas e mercadorias po-

deriam comprometer tanto no terrenoda unidade política como no da uni-dade econômica. A Federação corre-ria o risco de deixar de ser um siste-ma nacional de vide, se tais limita-ções pudessem ocorrer.

Por isto mesmo, a apreciação damatéria em debate terá de pautar-sepor critérios jurídico-constitucionaisque defendam de modo eficaz o pos-tulado da unidade econômica e daunidade politica.

Creio assim, ao cabo destas consi-derações, que o D. 16.466, ao regu-lamentar a L. 4.863, ultrapassou ostermos da lei referida e violou o prin-cípio do art. 27 da Constituição e •art. 2.°, inc. III, da EC 18.

Realmente, pela equiparação feitano Regulamento, o tráfego de merca-dorias está obstado, pois a taxa pelaL. 4.863 recai sôbre abate e o Regu-lamento manda expressamente cobrara taxa sôbre exportação de animaisvivos.

Nem mesmo se poderia afirmar quepotencialmente a taxa abrangeria oexportador, pois os benefícios dela, en-sejando a melhoria dos rebanhos, al-cançam os criadores, porém não oscompradores de seus produtos paraexportação dentro do país.

Dou assim provimento ao recursode segurança.

VOTOO Sr. Ministro Carlos Medeiros

Silva: — Sr. Presidente, também douprovimento ao recurso, de acôrdo como eminente Sr. Ministro Relator.manifesto que o regulamento, na es-pécie, exorbitou da lei.

VOTOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

— Sr. Presidente, o relatório e ovoto brilhantes do eminente Sr. Mi-nistrd Relator demonstram, sem ne-nhuma dúvida, que, no caso, houveregulamento contra legam para a cria-ção do impôsto de exportação interes-tadual, violando, portanto, o art. 27da Constituição.

Estou de acôrdo com S. Excia.,dando provimento ao recurso.

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ANT. AO VOTO ESCRITOSr. Ministro Prado Kelly: —

Sr. Presidente, após o relatório a queprocedeu, na Terceira Turma, à qualpertenço, o eminente Sr. MinistroHennes Lima, e diante de memoriaisque foram distribuídos, tomei, tam-bém, algumas notas para fundamenta-ção do voto, o qual concluirá da mes-ma forma por que o fez em sua bri-lhante explanação o Sr. Ministro Her-mes Lima.

"Deixou claro o relatório... (Lêvoto escrito).

VOTOSr. Ministro Prado Kelly • —

Deixou claro o relatório que a lei sul-riograndense n.° 4.683, de 1963, criou(art. 49), pelo prazo de 10 anos, taxaincidente sôbre "abates de bovinos,ovinos e suínos", a ser paga "pelaspessoas naturais ou jurídicas que efe-tuem abates' — e bem assim que orespectivo Regulamento (D. 16.466,de 1964, art. 79, § 1.°) ampliou talincidência à exportação dos mesmosprodutos animais.

A primeira indagação diz com a va-lidade da cláusula excrescente.

Considero-a nula: a) por exorbitarda atribuição constitucional conferidaao Executivo, ad instar do art. 87, I,do estatuto básico da União, seguidonesta parte pelos dos Estados em aten-ção às regras dos arts. 79, VII, b, e13 da Lei Maior; b) por ferir o prin-cipio da "legalidade dos tributos",enunciado, como "garantia individual",no art. 141, § 34, da Constituição daRepública.

Acresce que a Taxa de Investimen-tos de Pecuária, embora aparente re-cair sôbre "abatedores" ou "exporta-dores", recai, em verdade, sôbre as"unidades abatidas ou exportadas" e,assim, retira fundamento à interpreta-ção (acolhida em erudito parecer doProfessor Amilcar de Araújo Falcão)de assimilar-se o gravame ao "impôs-to de indústrias e profissões" de com-petência municipal (Const., art. 29,V, com a redação dada na Emendan.° 5).

Assimila-se, isto sim, a impôsto só-bre a salda, para outros Estados, debovinos, suínos e ovinos, vendidos outransferidos pelos respectivos criado-res. Nesta hipótese, não se cogita,por nenhum modo, de "abates" nemda "profissão" de quem os efetue.Tanto isto parece evidente que a co-brança se realiza "em cada operação",como ficou expresso no citado § 1.0 doRegulamento.

Mas, se não se trata de "exportaçãopara o estrangeiro" (Const., art. 19,V), nem se discute a competência tri-butária prevista no inc. IV do mes-mo artigo, — a tributação do simplesfato de "transferência para outro Es-tado" incorre em vedação constitucio-nal (art. 27, reproduzido no art. 29,III, da Emenda n.0 18).

VOTOSr. Ministro Adalicio Nogueira:

— Sr. Presidente, é manifesto que oregulamento transcendeu os limites dalei. Estou de acôrdo com o eminenteSr. Ministro Relatar, dando provimen-to ao recurso.

VOTOSr. Ministro Victor Nunes: —

Sr. Presidente, para fundamentar mauvoto, de acôrdo com a conclusão doeminente Relatar, não me parece ne-cessário apreciar a alegada inconstitu-cionalidade da tributação, fundada emobstáculo ao tráfego interestadual.Basta-me o fundamento de que é evi-dente a exorbitância do decreto emface da lei, pois e/e equipara animaisvivos, transportados de um Estadopara o outro, a animais abatidos.

Meu voto, portanto, fica limitado a3ste ponto: a manifesta ilegalidade dodecreto.

VOTOSr. Ministro Hahnemann Guima-

rães: — Sr. Presidente, estou de acen-do com o eminente Sr. Ministro Re-lator, com o acréscimo do voto doeminente Sr. Ministro Victor Nunes,reconhecendo a ilegalidade da co-brança.

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VOTOO Sr. Ministro Ribeiro da Costa

(Presidente): — Estou de acôrdo como voto do eminente Sr. Ministro Re-lator, com o acréscimo de que se tratade simples ilegalidade de um regula-mento.

Dou provimento ao recurso.

EXPLICAÇÃO DE VOTOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:

Sr. Presidente, li com atenção omemorial do jovem advogado e, tam-bém, o parecer do eminente ProfessorAmilcar Falcão.

Não foi objeto do debate do feito ataxa em si Mesma, em relação aos aba-tedores. A parte não discutiu esteassunto. De sorte que não considero omeu voto dalg em relação a estaparte.

Se este assunto vier a ser reabertono Tribunal, pode ser que considerede outro modo e assim, data venia doeminente Sr. Ministro Hermes Lima,divergindo de S. Excia na concei-tuação da taxa.

Era esta a explicação que desejavadar.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

p seguinte: Deram provimento pelailegalidade do Regulamento, não sen-do alcançado o quorum para a decla-ração de inconstitucionalidade (Vo-tou o Presidente).

Presidência do Exmo. Sr. MinistroRibeiro da Costa. Relator, o Excelen-tíssimo Sr. Ministro Hermes Lima.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Srs. Ministros CarlosMedeiros Silva, Aliomar Baleeiro, Pra-do Kelly, Adalício Nogueira, EvandroLins e Silva, Hermes Lima, PedroChaves, Victor Nunes Leal, Gonçalvesde Oliveira, Vilas Boas, Cândido Mot-ta Filho, Luiz Gallotti, HahnemannGuimarães e Lafayette de Andrade.Impedido, o Exmo. Sr. Ministro Os-wa/do Trigueiro.

Brasília, 30 de março de 1966. —Álvaro Ferreira dos, Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 15.710 — DF(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrente: Adelmar de Mello Franco Filho. Recorrida: União Federal.

Funcionário em disponibilidade.Não há que cogitar de freqüência para ele.A sua situação á de exercício ou atividade virtual. O art. 24

das Disposições Constitucionais Transitórias de 1946 restaurou osdireitos do impetrante e não uma parte destes. Se ele é ocupantede um cargo de nível universitário (engenheiro), embora em dispo-nibilidade, direito lhe assistia à gratificação correspondente. Nada,em contrário, existe na lei.

Recurso provido, para conceder a segurança, até a vigência dalei que suprimiu a gratificação de nível universitário.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de Re-

curso de Mandado de Segurança nú-mero 15.710, do Distrito Federal, emque é recorrente Adelmar de Mello

Franco Filho e recorrida a União Fe-deral, decide o Supremo Tribunal Fe-deral, em 3." Turma, dar provimentoao recurso, unânimemente, de acôrdocom as notas juntas.

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Distrito Federal, 11 de março de1966. — Luiz Gallotti, Presidente eRelator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —O impetrante, Dr. Adelmar de MelloFranco Filho, antes de 1937, ocupavadois cargos técnicos:, engenheiro doMinistério da Viação e engenheiro daCaixa Econômica. Vigentes a Consti-tuição de 1937 e o Dl. 24, teve deoptar e optou pelo cargo de engenhei-ro da Caixa Econômica. O art. 24das Disposições Constitucionais Tran-sitórias de 1946 restaurou o seu direi-to, ficando êle em disponibilidade nocargo perdido. Tendo requerido, quan-to a este, a gratificação de nível uni-versitário, foi-lhe negada, por falta defreqüência.

Impetrou segurança e o Tribunal deRecursos a negou, por entender que alei concedia aquela gratificação aosocupantes de cargos de nivel universi-tário, e o impetrante não está em ati-vidade.

Recorreu o impetrante.A Procuradoria-Geral opina pelo

não provimento.É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — Penso que assite razão aoimpetrante. Não há que cogitar defreqüência para o funcionário em dis-ponibilidade. A sua situação é de exer-cício mi atividade virtual. O art. 24das Disposições Constitucionais Tran-sitórias de 1946 restaurou os direitosdo impetrante e não uma parte destes.Se e/e é ocupante de um cargo denível universitário (engenheiro), em-bora em disponibilidade, direito lheassistia à gratificação correspondente.Nada, em contrário, existe na lei.

Dou provimentq ao recurso, paraconceder a segurança, até a vigênciada lei que suprimiu a gratificação denível universitário.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Provido. Unânime.Presidência do Exmo. Sr. Ministro

Luiz Gallotti, Relator. Tomaram par-te no julgamento os Ermos. Srs. Mi-nistros Carlos Medeiros, Prado Kelly,Hermes Lima e Luiz Gallotti. Ausen-te, justificadamente, o Exmo. SenhorMinistro Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 11 de março de 1966. —.AI/varo Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 16.222 — PR

(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira.

Recorrente: Nasser ás Cia. Ltda. Recorrida: Prefeitura Municipal de Curi-tiba.

Mandado de segurança contra expropriação e conseqüenteimissão de posse. Direitos do locatário. Nega-se provimento.

ACÓRDÃOVistos, etc.Acorda a Terceira Turma do Supre-

mo Tribunal Federal, por maioria devotos, negar provimento ao recurso, fi-cando prejudicado o agravo regimen-tal, de acôrdo com as notas taouigrá-ficas.

Custas na forma da lei.Brasília, 13 de maio de 1966. —

Luiz Gallotti, Presidente — Gonçalvesde Oliveira, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — Senhor Presidente. A Pre-

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151

feitura Municipal de Curitiba pro-moveu desapropriação de imóvel lo-cado a Nasser As Cia. Ltda. Obtevemandado de imissão de posse, tendosido rejeitados os embargos opostos àexecução da imissão.

Requereu, então, a locatária manda-do de segurança objetivando:

ser declarado que, sendo parciala desapropriação, não houve rupturatotal da locação, tendo os inquilinosdireito liquido e certo de prosseguirna locação quanto l eo remanescente doprédio;

ser assegurado o direito de serreconstruída a fachada do prédio noalinhamento das ruas, correndo porsua conta as despesas por ser contra alei a pretensão da Prefeitura a ocupa-ção total do imóvel.

Do mandado de segurança não to-mou conhecimento o Tribunal de Jus-tiça, decidindo pelo mérito.

Assim concluiu o acórdão recorrido:"Como tivemos oportunidade de exa-

minar, o mandado de segurança paraprosperar, há de se fundar em direitolíquido e certo do impetrante, ou seja,em direito que não ofereça nenhumadúvida, e que se demonstre logo aoprimeiro exame.

No caso dos autos, o impetrante sefunda no direito de locatário do prédioque teria sido desapropriado parcial-mente, pela Prefeitura Municipal, masessa locação está sendo objeto de vá-rias ações que correm perante o Dou-tor Juiz de Direito da 4.s Vara eivaidesta Capital, e de suas decisões éque resultará o direito de locatário doimpetrante, ou melhor o direito decontinuar como locatário.

Objeto de ação, o direito do impe-trante à qualidade de locatário se tor-na duvidoso, e é nesse direito que seampara para pedir a segurança.

Esse motivo, seria o suficiente parao não conhecimento do pedido.

No entanto, não podemos delirarde reconhecer que não assiste direitoao locatário para reconstruir o prédiolocado, esse direito cabe ao proprietá-rio, e só a ele poderia ser concedidoo alvará para construção, e cabe àPrefeitura Municipal, com o seu poderde Polícia, só conceder o alvará, quan-do verificar que a construção a ser

realizada oferece a necessária segu-rança, e no caso, afirma o Sr. Prefei-to?, tratar-se de prédio que pela suaantigüidade não oferecia a necessáriasegurança para o caso de reconstru-ção.

Legítimo foi, portanto, o ato do Se-nhor Prefeito indeferindo o pedido dealvará para a reconstrução da facha-da, pretendida pelo impetrante.

Diante do exposto, não havendo di-reito líquido e certo do impetrante, enão tendo havido abuso de noder departe do Sr. Prefeito Municipal, noseu ato, não é caso de mandado desegurança, e dele não se conhece."

Não se conformando, a locatária re-correu para o Supremo Tribunal Fe-deral.

Proferi despacho sustando exe-cução que importasse expulsão dos lo-catários de parte do prédio não abran-gido pela desapropriação ou que im-portasse demolição da parte do prédioaté julgamento deste recurso.

Houve agravo na Municipalidade(f. 300).

O parecer da Procuradoria é porque se negue provimento ao recursona parte relativa ao pedido de expe-dição do alvará de reconstrução dafachada do prédio; e de provimento,em parte, para que, até ser indeniza-do a impetrante se mantenha no usodo prédio expropriado. E o seguinte,na integra, o parecer da Procuradoria-Geral:

"EMENTANa ação de expropriação, é o ato

prestacional indenizatório ao locatárioque recite o contrato de locacão doimóvel expropriado.

Não assiste direito ao locatário, porser, simplesmente, locatário, de exigirlhe seja expedido pela Prefeitura Mu-nicipal, alvará de reconstrucão de fa-chada do prédio expropriado.

Nasser e Companhia Limitadarecorreu (a 24.9.65), ordinariamente,fundada no disposto no art. 101, II,a, da Constituição Federal (f. 256).

A Prefeitura Municipal de Curi-tiba, Paraná, promoveu desapropriaçãodc parte de imóvel /ocado à firma re-corrente. Foi, judicialmente, imitadana posse do bem expropriado. Houve

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embargos à execução de imissão naposse, que foram, ao final, repelidos.

Diante disso, os recorrentes pro-puseram ação de pedir segurança, aofito de: a) ser declarado que, sendoparcial a desapropriação, não há rutu-ra total da locação, tendo os inquili-nos direito certo e líquido de prosse-guir na locação, quanto ao remanes-cente do prédio (Inicial, f. 14); e b)ser assegurado o direito certo e lí-quido de reconstruir a fachada doimóvel, no nfivo alinhamento das ruas,correndo de sua conta as despesas, porser contra a lei a pretensão do Pre-feito Municipal de realizar a desocupa-ção de todo o imóvel (Inicial, f. 14).

Pelo venerando acórdão recorri-do, não foi conhecido o pedido de se-gurança, porque verbis:

"—não assiste direito ao locatáriopara reconstruir o prédio locado, essedireito ao proprietário, e só a ele po-deria ser concedido o alvará para cons-trução, e cabe à Prefeitura Municipal,com o seu poder de polícia só con-ceder o alvará, quando verificar quea construção a ser realizada oferecea necessária segurança, e no caso, afir-ma o Senhor Prefeito, tratar-se de pré-dio que pela sua antigüidade não ofe-recia a necessária segurança para ocaso de reconstrução.

Legítimo foi, portanto, o ato do Se-nhor Prefeito indeferindo o pedido dealvará para a reconstrução da facha-da, pretendida pelo impetrante."

"Diante do exposto, não havendo di-reito liquido e certo do impetrante, enão tendo havido abuso de poder departe do Senhor Prefeito Municipal,no seu ato, não é o caso de mandadode segurança, e dele não se conhece"(Acórdão, de f. 216).5. Duas questões se levantam ao

julgamento do recurso ordinário: a) sea ação de expropriar resile o contratode locação; e b) se a Prefeitura Mu-nicipal é, ou não, obrigada a concederao locatário alvará de reconstrução dafachada do prédio parcialmente expro-priado.

O venerando acórdão recorrido -rãoenfrentou a questão: a) entendeu que"o direito de continuar como locatá-rio, ou não, como locatário" (f. 215,in fine) a impetrante, é objeto de vá-

rias ações postas em juizo. Quanto àquestão; b) a respeitável decisão re-corrida é concludente: a PrefeituraMunicipal, no exercício do seu poderde império, não está obrigada a conce-der alvará ao locatário; só o proprie-tário do imóvel tem esse direito.

É princípio inserto no nosso sis-tema jurídico que a expropriação ofi-caciza a perda da propriedade do bemexpropriado e o direito ao uso da coi-sa. Daí resulta, lógicamente, que upoder expropriante fica obrigado a in-denizar, previamente, o proprietário eo locatário. A prestação indenizatórza,no instante em que se realiza, se con-suma, produz a resilição do contrato delocação; não, porém, antes da indeniza-ção. A eficácia do ato expropriató-rio, segundo insinua o art. 141, á 16,da Constituição Federal, depende, sem-pre, de ato prestacional indenizatóriopor parte do poder expropriante. É,por isso, que se diz que a expropria-ção, de si e por si, não resolve os pac-tos de locação.

No caso, a impetrante não foi,ainda, indenizada. O contrato de lo-cação, portanto, há de ser respeitado,até que se realiza a indenização.

Não há, contra essa tese, nenhumpronunciamento, no venerando acórdãorecorrido.

8. No que diz ao direito a alvaráde reconstrução, por parte da impe-trante, estamos em que não merececensura o venerando acórdão recorrido.

A Prefeitura Municipal de Curitiba,se considera o prédio irreconstruivel,inclusive a fachada, à falta de segu-rança, não violou direito algum daimpetrante.

Se a reconstrução da fachada doprédio apresenta, ou não apresenta se-gurança, é questão de alta indagação,que não pode ser objeto de ação depedir segurança. Não há, dessas ra-zões, direito certo e liquido, ampara-va' pela via de segurança.

. De outra parte, na espécie sobexame, a firma impetrante, por rerlocatária, e só por isso, não tem direi-to ao alvará pleiteado. Poderá ter,sim, como representante do proprietá-rio, ou proprietários do imóvel expro-priado.

10. Assim sendo, diante do exposto,havemos que o Colendo Supremo Tri-

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153

bunal Federal negue provimento aorecurso ordinário, na parte relativa aopedido de expedição do alvará de re-construção da fachada do prédio; edê provimento, em parte, para que,até ser indenizado, a impetrante semantenha no uso do prédio expro-priado.

Brasília, 23 de fevereiro de 1966.- Firrnino Ferreira Paz, Procurador

da República.Aprovado: (a) Alcino de Paula Sa-

lazar, Procurador-Geral da República".o relatório

VOTOSr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira (Relator): — Meu voto é ne-gando provimento ao recurso. A Pre-feiura foi imitida na posse na açãode desapropriação. A meu ver, o man-dado de segurança não tem procedên-cia para que a impetrante, ora recor-rente, possa reconstruir a fachada doimóvel. Seria direito do proprietário,se existente. A matéria é de alta in-dagação. A Prefeitura indeferiu essareconstrução sob fundamentos técnicos,de urbanismo e de segurança e nãotemos elementos suficientes paraanular o decisório. O mesmo ocorrequanto à locação. Ao que sustenta aPrefeitura, não será mais possível asubsistência da locação em face daação expropriatória. E é certo que aPrefeitura obteve imissão de posse doimóvel. Não se deverá, a meu ver,anular essa imissão por meio de man-dado de segurança. Quanto à indeni-zação, em princípio, o locatário a elanão tem direito. Mas a matéria serádecidida no processo expropriatório,como parecer ao juiz da causa, comns recursos cabíveis. Mas, não há, ameu ver, direito de retenção a sergarantido por processo distinto, o man-dado de segurança.

Com essas considerações, nego pro-vimento ao recurso. Com êste voto,se aprovado, o agravo de f. 300 ficaprejudicado.

VOTOSr. Ministro Carlos Medeiros . —

Sr. Presidente, a questão é comple-xa e, pelo que entendi dos debates,o mandado de segurança é cabível,

em principio, porque a desapropriaçãofoi parcial, e, na execução de uma de-sapropriação parcial, pretendeu-se rea-lizar uma desapropriação total.

De modo que se me afigura, aí, umabuso de poder, na execução do de-creto expropriatório. A declaração deutilidade pública tinha sido parcial, enão total. Assim, sendo o mandadode segurança um preceito constitu-cional — garantia de direitos indivi-duais — o pedido de mandado de se-gurança não interfere, diretamente, nocurso da ação expropriatória. Ela visa,no caso, obstar, impedir um abuso depoder, isto é, a transformação de umadesapropriação parcial, em desaire,priação total.

Em segundo lugar, também pelo queouvi dos debates, essa desapropriaçãoparcial podia e foi realizada. Trata-va-se do alargamento de uma rua, emfaixa relativamente pequena, e o ob-jetivo da declaração de utilidade pú-blica poderia ser realizado — e pare-ce que o foi, pelo menos, de início —sem afetar todo o edifício. O edi-fício tinha ou tem — condicões deutilização da área remanescente.

Quanto ao direito de reconstruir,que o eminente advogado acentuoucomo sendo prerrogativa do proprie-tário, também não me parece relevan-te o argumento, porque o inquilinotem um contrato de locação em cursoe se trata de realização de benfeito-

ria necessária. O recuo do prédio, coma reconstrução da fachada, é, tipica-mente, uma benfeitoria necessária, e

locatário, em princípio, está - auto-rizado a realizá-la, de acórdo com oCódigo Civil.

Também não se pretende, atravésde mandado de segurança, resolverquestões entre inquilino e proprietá-rio; o que se pretende é obstar queuma desapropriação, declarada, de ini-cio, parcial, se transforme numa desa-propriação total. A Prefeitura poderáfazê-lo, se entender, se houver utili-dade pública na desapropriação de Vi-da a área. Agora, o que não me pa-rece legítimo, é extravasar-se da de-claração de utilidade pública, que foiparcial e que, parcialmente, atenderiaà sua finalidade — isto é, o alarga-mento da rua — para abranger teda

rua.

154 R.T.J. 38

O Sr. Ministro Gonçalves de Olivei-ra (Relator): — Na verdade. a Pre-feitura não quer desapropriar o prédiotodo. O que houve foi uma desapro-priação parcial, e a Prefeitura entendeque não será mais possível a subsis-tência do prédio, por motivo de se-gurança.

Sr. Ministro Carlos Medeiros: —Mas, por que não se declarou de uti-lidade pública todo o prédio?

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira (Relator): — Talvez não hajafundamento. Talvez possa o proprie-tário construir, no local, um grandeedifício. Não, porém, o locatário re-corrente.

Vejamos, aqui, neste edifício: desa-propriar esta sala. Então, não daráe Prefeitura um alvará para que selevante um edifício na parte restante,pois não terá motivo de segurança,

Sr. Ministro Carlos Medeiros:— Isso seria para verificar-se a pos-teriori. A Prefeitura não pode desa-propriar, a não ser que se declare autilidade pública, com fundamento le-gal, deve desapropriar a área inteira,se fôr o caso; Poderá declarar, tôdaa área, de utilidade pública.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira (Relator): — A Prefeitura nãoprecisava da parte restante da área.Mas, dkí não decorre que o locatáriopossa construir.

Sr. Ministro Carlos Medeiros: —Assisti, no Rio de Janeiro, ao alarga-mento da Avenida Presidente Vargas.Houve uma desapropriação das RuasSão Pedro e General Câmara. para re-construção. Há até um Decreto-lei re-gulando esse caso concreto. Isto erapossível na vigência da Constituiçãode 1937, quando foi baixado, cujo

texto, a propósito da garantia do di-reito de propriedade, não era tão pre-ciso, como o de 1946.

Diante dessas considerações, peço vê-nia ao eminente Ministro Relator paradar provimento ao recurso.

VOTOSr. Ministro Prado Kelly: —

Data venia do eminente Ministro Car-

los Medeiros, acompanho a conclusãodo voto do eminente Ministro Rela-tor, por considerar inidôneo o manda-do de segurança para o fim visado.Há falta dos pressupostos legais para asua concessão.

VOTOSr. Ministro Hermes Lima: --

Sr. Presidente, também peço licençaao eminente Ministro Carlos Medeirospara acompanhar o voto do eminenteMinistro Relator.

Do que se pôde apurar do debate,o edifício está pnàticamente derruba-do. Não há apenas a fachada recons-truída, tanto que o locatário se mu-dou. Este é um fato da maior impor-tância. Parece-me, também, que ô/enão tinha que intervir nesse processoexpropriatório.

Por estas razões e pelos fundamen-tos do voto do eminente Relator,acompanho S. Excia., negando provi-mento ao recurso.

VOTOSr. Ministro Luis Gallotti (Pre-

sidente): — Também peço vênia aoeminente Ministro Carlos Medeirospara acompanhar o eminente Relatar.

ilustre advogado• da recorrentedisse que o Relator do presente recur-so de mandado de segurança mantiveraa liminar. Data venia, não concordo,pois a liminar deixara de existir nomomento em que o Tribunal de Jus-tiça do Estado do Paraná negou a se-gurança. Mas como o Relator negaagora provimento ao recurso, o agra-vo regimental, sôbre este ponto, estáprejudicado.

Tenho reiteradamente votado nosentido de que questões como esta nãocomportam o apelo ao mandado desegurança, porque exigem provas pe-riciais que não cabem nesse remédiosumaríssimo e não podem ser substi-tuídas por fotografias.

Data venha, acompanho o eminenteRelator, negando provimento ao re-curso.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Negou-se provimento, con-tra o voto do Ministro Carlos Medei-

R.T.J. 38 I5S

ros, ficando prejudicado o agravo re-gimental.

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Luiz Gallotti. Relator o Exce-lentíssimo Senhor Ministro Goncalvesde Oliveira. Tomaram parte no jul-gamento os Exmos. Srs. Ministros

Gonçalves de Oliveira, Hermes Lima,Prado Kelly Carlos Medeiros e LuizGallotti.

Brasília, 13 de maio de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.° 36.758 — MG

(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Agravante: Celso Faria de Azevedo. Agravado: Centro Estudantil de Quí-mica Industrial de Itajubá.

Obrigações naturais.Tratando-se de atividade ilícita a que aderiu o autor, a obri-

gação para com ele contraída é unia das chamadas obrigações na-turais, a que apenas corresponde um dever moral e cujo cumpri-mento não pode ser exigido judicialmente, embora, quando volun-tariamente cumpridas, não se possa pleitear a restituição do quelei pago (C. Civ., arts. 970 e 1.477).

Agravo não provido.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Agravo de Instrumento n.° 36.758, deMinas Gerais, em que é agravanteCelso Faria de Azevedo e agravadoCentro Estudantil de Química Indus-trial de Itajubá, decide o SupremoTribunal Federal, em 3.0 Turma, ne-gar provimento ao agravo, unânime-mente, de acôrdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 5 de maio de 1966— Luiz Gallotti, Presidente e Rela-tor.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti:Este o despacho (f. 15-16):

"O recorrente moveu acão comina-tória contra o "Centro Estudantil deQuímica Industrial de Itajubá", poiseste fizera uma rifa, tendo como prê-mio um automóvel "Wolkswagen",O Km. Devidos os acontecimentos darevolução de março de 1964, a ex-tração da loteria pela qual seria sor-teado o carro, não se realizou e aLoteria Federal, fez publicar nos jor-nais do Rio, que aquela extração, se

daria no dia 6 de abril. Antes, oCentro Estudantil anunciara pelo rá-dio local, que o sorteio se faria pelaextração do dia 4 de abril. Pela ex-tração do dia 4, o prêmio ficou comum dos bilhetes dos chamados "en-calhe" ou seja, para o próprio Cen-tro: O autor demanda alegando que,sendo dono de um título ao Portador"bilhete de rifa", pode reclamar doemissor, a prestação devida, na con-formidade do art. 1.505 do C. Civ.E traz a cotejo os ensinamentos deCarvalho Santos, em seus Comen-tários, f. 4. Junta documentaçãoconstante do bilhete premiado, dosjornais da localidade e do Rio deJaneiro, transferindo para o dia 6 aextração da Loteria Federal. Contes-tação, f. 22-29, alegando ser a di-vida proveniente de gigo, art. 1.477'do C. Civ. Ser contravenção e querse eximir da entrega do carro. Sa-neador, f. 45, recorrido e por termo,,f. 51. Ação julgada procedente, ta-lhas 74-75v.. O Centro Estudantil,inconformado, apelou. O acórdão def. 100-102, provendo o apelo, julgou -o autor carecedor de ação, conside-rando a rifa como proibida e sem-

156 R. T. J . 38

amparo legal. Oportunamente o autormanifestou recurso extraordinário, im-pugnado a f. 109-110. Inadmito o re-curso extraordinário, porque na espé-cie não há falar em vulneracão do ar-tigo 1.505 do C. Civ. e nem em ocor-rência de divergência jurisprudencialcapaz de amparar o pedido do recor-rente. Intime-se. Belo Horizonte. 4de agosto de 1965. — (a) RaYmorldoGonçalves da Silva".

A Procuradoria-Geral opina pelonão provimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-/ator): — O acórdão impugnado in-voca decisão do Supremo Tribunal deque fui Relator e proferida sare casoanálogo (f. 12v.): "Tratando-se de.atividade ilícita a que aderiu o au-tor, a obrigação para com éle contrai--da é uma das chamadas obrigações na-turais, a que apenas corresponde um

dever moral e cujo cumprimento nãopode ser exigido judicialmente, embo-ra, quando voluntariamente cumpridas,não se possa pleitear a restituição doque foi pago (C. Civ., arts. 970 e1.477). Ninguém se pode escusar ale-gando que não conhece a lei (art. 3.°,da Lei de Introdução ao C. Civ. —R. T., 326-724)"

E não se demonstrou o cabimentodo recurso extraordinário, como se vêdo despacho agravado.

Nego provimento.DECISÃO

Como consta da ata, a decisão •foia seguinte: Não provido. Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Luiz Gallotti, Relator. Tomaramparte no julgamento os EXMOS . Se-nhores Ministro Carlos Medeiros. Pra-do Kelly, Hermes Lima, Gonçalves deOliveira e Luiz Gallotti.

Em 5 de maio de 1966. — ÀlvaroFerreira dos Santos. Vice-Diretor-Ge-ral.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.° 37 439 — RIl(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Agravante: Departamento Nacional de EstradasJarbas Teixeira de Godoy.

Desapropriação.Ao expropriado é que seria licito

ação em 1959 e julgada pelo Tribunalpreço lixado represente, em lace damoeda, o justo valor do imóvel.

Mas o recurso é do expropriante.Agravo não provido.

de Rodagem. Agravado:

contestar que, iniciada ade Recursos em 1964, o

notória desvalorização da

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Agravo de Instrumento n.° 37.439, doRio de Janeiro, em que é agravanteDepartamento Nacional de Estradas deRodagem e agravado Jarbas Teixeirade Godoy, decide o Supremo TribunalFederal, em I° Turma, unânimemente,negar provimento ao agravo, de acendocom as notes juntas.

Distrito Federal, 6 de maio de 1966.— Luiz Gallotti, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —Este o despacho (f. 16):

"Trata-se de ação de desapropriaçãomovida pelo Departamento Nacionalde Estradas de Rodagem. A sentençade f. 152-154 fixou a indenização emCr$ 885.694, mais juros a partir daimissão de posse, custas e honoráriosde advogado na base de 20%, o quemotivou recurso de oficio e apelações

R.T.J. 38 157

do autor e do réu. Por falta de pre-paro, foi julgado deserto o apelo doexpropriado (f . 184). A 2.° Turmadeste Tribunal, unanimemente, deuprovimento, em parte, ao recurso deofício e negou provimento ao da au-tarquia, nos termos do Acórdão de. 193, assim ementado: "Desapro-

priação. Fixação do justo preço. Arbi-tramento de honorários de advogadoem 10%". Inconformado, recorreuextraordinariamente o DNER, a fa-lhas 195-197, com base no art. 101,III, a e d, da Constituição Federal.Indefiro o presente recurso: nas desa-propriações deve prevalecer o critériodo juiz, mormente se baseado nolaudo do perito judicial; é tranqüila ajurisprudência do Excelso Pretória noatinente à concessão de juros a partirda imissão de posse (Súmula 164);também pacifica, atualmente, a inter-pretação de serem cabíveis honoráriosde advogado em casos que tais (Sú-mula 378). Publique-se. Brasília, 22de setembro de 1964. — (a) Henrique.D'Avila, Vice-Presidente, em exercíciona Presidência".

A Procuradoria-Geral opina peloprovimento.

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Luis Canoa; (Re.lator): — O despacho agravado merececonfirmação por seus fundamentos.

Ao expropriado é que seria lícitocontestar que, iniciada a ação em 1959e julgada pelo Tribunal de Recursosem 1964, o preço fixado represente,em face da notória desvalorização damoeda, o justo valor do imóvel.

Mas o recurso é do expropriante.Nego provimento.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não provido. Unânime.Presidência do Ermo. Sr. Ministro

Luiz Gellotti, Relator. Tomaram parteno julgamento os Esmos. Srs, Minis-tros Carlos Medeiros, Prado Kelly,Hermes Lima, Gonçalves de Oliveira eLuiz Gallotti.

Brasília, 6 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.• 38.265 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Lins e Silva.Agravante: Herbert Chrystman. Agravada: Júlia Verworn ou Júlia

Chrystman.

Causa petendi. Art. d.o do C. Pr. Civ.: não o ofende a decisãoque se limita a aceitar, mediante exame de prova, defesa expres-samente articulada pela ré, ainda que subsidiariamente a outra,que se tenha rejeitado. Agravo não provido.

ACÓRDÃO RELATÓRIOVistos, relatados e discutidos os

autos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em Primeira Turma, na confor-midade da ata do julgamento e dasnotas taquigráficas, por unanimidadede votos, negar provimento ao agravo.

Brasília, 6 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente. — Evandro Lins e Silva, Re-/ator,

Sr. Ministro Evandro Lins: —O despacho agravado, do ilustre De-sembargador Euclides Custódio daSilveira, presidente do eg. Tribunalde Justiça de São Paulo, expõe comprecisão a espécie:

"Herbert Chrystman objetiva comesta ação ordinária que move contraJúlia Chrystman ou Júlia Verworn,anular, parcialmente, a escritura decompra e venda de imóvel, bem como

158 R.T.J. 38

cancelamento do nome de JúlistChrystman, na transcrição n.° 37.364,para que subsista, nesta, o nome deReinhold Chrystrnan, seu falecido pro-genitor, do qual Filia era havida comoconcubina.

Contestou a ré. em preliminar sus-citando carência ^da ação, com apoiono fato de haver, ela ré, sido excluídado inventário em curso perante a 14.aVara Cível, por não ter provado aexistência do matrimónio com ReinholdChrystman, que a credenciara comoherdeira; que, entretanto, a decisão,assim manifestada, pendia de recurso,podendo mesmo a vir ser modificada;que, enquanto isso não ocorria, nãopoderia o autor suscitar qualquer açãoreivindicatória. Quanto ao mérito, quea falta de prova documental direta doseu casamento poderia ser supridaatravés de outros meios de prova.

A preliminar argüida hire repelida,afinal julgada improcedente a ação

em primeira instância.

Apelou o autor procurando demons-trar o desacerto da sentença na apre-ciação das provas e dos fatos.

O v. acórdão de f. 153-158, àunanimidade, negou provimento à ape-lação. Entre outras considerações sa-lientou que não conseguira a réfazer prova do divórcio de ReinholdChrystman e do seu casamento comèle. Assim sendo, a ré deveria ser tidacomo concubina do falecido. Que.contudo, tal concubinato datava demais de 30 anos ao tempo do óbitodo amásio e tivera origem na Europa,vindo ambos pare o Brasil, semprevivendo como casados e tidos nessacondição. Que faro incorreta, assim,a sentença de primeira instância emadmitir que a doação do imóvel feitaè ré, encoberta por uma compra evenda, tara legitima porque, ainda queexistente o concubinato, poderia o fa-lecido dispor da metade dos seus benslivremente, nos termos do art. 1.721do C. Civ., porque esta disponibilidadeencontrava limitações legais (arti-gos 1.177 e 1.719, n.° III, do C. Civ.).Entretanto, pela condição da ré, de só-cia do seu amásio, tendo ficado de-

monstrado que o bem imóvel taraadquirido também com os recursos daré e com o produto do seu esfôrço,ficava evidenciada a existência de re-lações econômicas entre os compa-nheiros. Aduziu, por final, o v. arestoque, assim, deveria ser reconhecidauma sociedade de fato entre os amá-sios, e, conseqüentemente, à ré caberiametade do imóvel reivindicado.

Irresignado com essa decisão desegundo grau, o autor interpõe o pre-sente recurso extraordinário, com apoionas letras a e d do permissivo cons-titucional. Alega que o v. mesto vio-lou o art. 4.° do C. Pr. Civ., vistoque a decisão foi extra petila porque"deslocou inteiramente as razões depedir, na inicial. e os motivos dadefesa, na contestação" (aio). Aduziuainda o recorrente, em abono de suaargumentação, que o "v, acórdão re-corrido, depois de negar a qualidadede °apóia legitima reiteradamenteapregoada pela ré, e de contestar quea concubina pudesse receber doaçãodo amásio" (aio), veio, por final,"julgar a ação improcedente porque asrelações de concubinato entre ReinholdChrystman e a ré haviam, no caso,gerado uma sociedade de fato, quegarantia a ela os direitos reclamados"(textual).

de ser indeferido o recurso.

v. acórdão não alterou a causapetendi. Apenas, focalizou os fatos soboutro ângulo, para repelir o pedidodeduzido em juizo — reivindicação deimóvel. É evidente que não se con-testou a tese do art. 4.° do estatutoprocessual civil. Não pode, assim, acontrovérsia suscitada ser reduzida auma questão de direito (Súmulas 282e 279).

No concernente à divergência juris-prudencial, a simples indicação deementa não autoriza o apelo incomum(Súmula 291 e R.F. 116/458) •

R.T.J. 38 159

Deixo, ante o exposto, de admitiro recurso manifestado, indeferida, quefica, a petição de f . 160."

Insiste o agravante no cabimentodo recurso, por ofensa ao art. 4.° doC. Pr. Civ., com os mesmos argu-mentos já resumidos no despacho, e.quanto à invocação do dissídio juris-prudencial, afirma ter seguido a Sú-mula 291, não só citando as ementasdos acórdãos que lhe parecem confi-gurá-lo, mas também referindo os re-pertórios de jurisprudência que ospublicaram e, ainda, transcrevendo ostrechos onde a dissonância estaria pa-tenteada: nada o obrigava a tremere-sri-los na íntegra.

A agravada não ofereceu contrami-nota,

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Evandro Lins (Re-latar): — O agravante, lealmente,trouxe aos autos o traslado da con-testação da agravada, cujo item 16reza textualmente:

"A tal ponto e, aliás, absurda epretensão do autor, que, mesmo admi-tido, apenas como argumento, nãotivesse existido o casamento da ré comReinhold Chrystman (mas matrimôniohouve, só desfeito com a morte dopai do demandante), à contestanteassistiria, sempre, direito à meação.E pelo simples motivo de que, quandoeapôsa não fôsse, teria sido a com-panheira do de cuja Ou seria estRisaputativa, se efetivamente não tivesseocorrido o divórcio de Reinhold de suaprimitiva mulher (fato que não ficouestreme de qualquer dúvida e foisempre afirmado no testamento e narevogação), ou, mesmo como concubina,

teria esse direito, visto que, sob umou outro aspecto, os bens imóveisforam conseguidos através de recursosseus e de seu esfôrço".

A leitura de tal extrato evidenciaque a tese afinal aceita pelo acórdãorecorrido — sociedade de fato geradaem concubinato com cooperação deambos os amásios, na formação dopatrimônio — 'Ora especificamentetrazida como defesa, embora subsidiá-ria, pela agravada.

Desnecessária, pois, a discussão daquestão jurídica que o agravante tentelevantar através do recurso extraor-dinário, peia a mesma não guardaqualquer relação com a espécie.

De outro lado, não há, em come-qüência, dissídio jurisprudencial a sol-ver. O acórdão recorrido se limitou aaceitar, mediante exame das provas,e defesa subsidiária da agravada: de-cisão insuscetível de revisão na ins-tância extraordinária.

Nego provimento ao agravo.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Em decisão unânime, ne-garam provimento.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafeyette de Andrade. Relator, oErmo. Sr. Ministro Evandro Lins.Tomaram parte no julgamento osEsmos. Sn. Ministros Oswaldo Tri-gueiro, Evandro Lins, Victor Nunes eLafayette de Andrade. Ausente, jus-tificadamente, o Exmo. Sr. MinistroCândido Motta Filho.

Ermita, 6 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira doa Sentei, Vice-Di-retor-Geral.

160 R.T.J. 38

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 56.416— SP

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Brada Transportes e Turismo Ltda. Recorrido: Instituto deAposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas.

1) Ação executiva fiscal. Cabimento para cobrança de prêmiode seguro pelas instituições previdenciárias. RE 44.576 (1961),RE 47.761 (1962), Ag 24378 (1961). 2) Obrigatoriedadedo seguro de acidente do trabalho. RE 44.576, RE 47.761, RMS8.722, Ag 24.738. Vigência em São Paulo. 3) Não aplicáveis àdivida ativa das autarquias as prescrições especiais do art. 178do C. Civ. RE 44.880 (1961). •

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, negar pro-vimento ao recurso.

Brasília, 6 de maio de 1966. — A.C. Lafayette de Andrade, Presidente.— Victor Nutres Leal, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Victor Nunes: —

A ação executiva fiscal, movida peloIAPETC, para cobrar prêmio do se-guro obrigatório de acidente do tra-balho, correspondente ao período de1952 e 1953, foi julgada procedentenas duas instâncias (f. 63, 110). Édeste teor a ementa do acórdão doTribunal Federal de Recursos:

"Prêmios de seguro em acidente notrabalho. Aspectos a considerar.

Os prêmios de seguros não pagosconstituem dívida ativa e podem sercobrados executivamente. O Instituto,detentor do monopólio legal, podeatuar desde que publicado o edital deque cuida o regulamento.

A prescrição que disciplina o assuntonão é a prescrição do contrato dedireito privado."

O ilustre Relator, Ministro Amanhonrnjamin, assim se pronunciou:

"Os prêmios deseguro que os Ins-titutos cobram, por autorização legal,

também são considerados contribuições,e, não sendo pagos, constituem dívidasativas, sujeitas, portanto, à cobrançapelo mesmo processo que as demaiscontribuições. Logo, tem cabimento oexecutivo fiscal.

Em segundo lugar, não se pode dis-cutir o monopólio que a legislaçãoconcedeu aos Institutos, para cobrançade tais prêmios, em acidentes de tra-balho. Além do mais, o Institutocumpriu, rigorosamente, a formalidadenecessária, para sujeitar as empresasás determinações da lei, isto é, nodevido tempo foi publicado no DiárioOficial o Edital que a lei recomendou,para que o Instituto entrasse na suaatividade legal. É verdade que noagravo, o executado apresenta um nOvoargumento, que é a Prescrição- Masjá temos decidido que, no caso, aprescrição não é a prescrição de direitoprivado, de contrato de seguro co-mum. Trata-se, com inteira prioridade,de prescrição qüinqüenal, uma vezque a contribuição é equiparadadívida de entidade pública. Em taiscondições, nego provimento ao re-curso."

O trecho do voto de S. Excia., quese refere a edital, está relacionadocom as alegações do Instituto (f. 20),onde vem transcrito o art. 208 doD. 22.367, de 27.12.46:

"Art. 208 — O Instituto desenvol-verá seu plano de seguro de acidentesdo trabalho correlatamente à instalaçãoem cada localidade dos serviços, fi-

R.T.J. 38 161

cando ressalvada a inteira vigência dasapólices que houverem sido emitidasaté a data em que pot edital o Ins-tituto tomar público que iniciou asoperações de seguro de acidente dotrabalho nas localidades que indicar."

Argumentou, então, o Instituto:"Assim, ficou claramente estabele-

cido que os Empregadores não podiam,sob qualquer pretexto, revigorar ourenovar as apólices anteriormente emi-tidas, a partir da data do edital tor-nando público o início das operaçõesda carteira de acidentes do trabalho.

E esse edital foi publicado no Diá-rio Oficial do Estado em 15.2.47.

Necessário ponderar, nesta ordem deconsiderações, que o débito da Em-bargante á relativo ao período de1.1.52 e 31.3.53, o que por si demons-tra que e Embargante nada mais desejasenão relutar em desconhecer as suasobrigações legais."

Acrescentou o Instituto que a Le:1.985, de 19.9.53, no art. 2P, haviarespeitado a exclusividade do seguro deacidente do trabalho em relacão asautarquias previdenciárias que já omantivessem:

"Art. 2.° — Assegurada a exclusi-vidade das , instituições de previdênciasocial que já a possuem, os riscos deacidentes do trabalho continuarão sendocobertos por apólices de seguro emi-tidas, indistintamente, por institutos ecaixas dê aposentadoria e pensões epelas sociedades de seguro e coopera-tivas de sindicato de empregadores,até esta data autorizados a operarnesse ramo".

A executada interpôs recurso extra-ordinário (f .112), pelas letras a e d.Estariam violados: o art. 178, lã 6P,II, do C. Civ., porque a prescriçãoda ação executiva, no caso, era deum ano: o art. 1.432 do mesmoCódigo, porque se admitiu cobrança deprêmio de seguro para riscos passados;e art. 76 de Lei de Acidentes, porqueele isenta do seguro obrigatório oempregador que ofereça aos em-pregados vantagens superiores, comoacontecia no caso, em que estavamamparados por seguro de acidentespessoais.

Quanto ao dissídio jurisprudencial,citou a recorrente: a) o RE. 37.204(8.7.58), Relator o Sr. Ministro La-feyette de Andrade, que negou açãoexecutiva para cobrança de prêmio deseguro pelos institutos de previdência(cópia de f. 115); b) o RE 41.307(2.4.59) e o RE 33.152 (9.1.58),D.J. 29.12.58, p. 4.373, nos quaisse decidiu que o seguro de acidente dotrabalho nas instituições de previdênciasó se tornou obrigatório em carátergeral, a partir de 1.1.54. Estes doisacórdãos foram relatados, respectiva-mente, pelos eminentes Ministros AriFranco e Nelson Hungria. O primeirodeles refere-se a um caso de SãoPaulo, e o segundo, do Distrito Fe-deral.

VOTOO Sr. Ministro Victor Nunes (Re-

lator): — Conheço do recurso, porémlhe nego provimento.

Quanto ao cabimento de ação exe-cutiva fiscal para cobrança de prêmiode seguro, peles instituições de previ-dência, reporto-me, data vens doacórdão citado pela recorrente, a di-versas outras decisões do SupremoTribunal: RE 44.576 (26.1.61);RE 47.761 (19.6.62), não tendo oPlenário, neste segundo caso, conhecidodos embargos de divergência (21.6.63).Também me reporto, especialmente,ao voto que proferi no Az 24.738(19.9.61), com o aporo- da 2.a Turma.Além de citar o Dl. 65, de 14.12.37,art. 2.°, parágrafo único, tive ocasiãode ponderar, ali, que a vigenteLei Orgânica da Previdência Social(3.807-60, art. 84) pôs termo defi

-nitivamente àquela controvérsia.Quanto à obrigatoriedade, em prin-

cipio, do seguro de acidente do tra-,belho, lembrarei, entre outros, osseguintes julgados: RE 44.576, RE47.761, R_MS 8.722, Ag 24.738.

Alega, porém, a recorrente (e issojustifica o conhecimento do recurso)que em dois acórdãos o Supremo Tri-bunal limitou a vigência dessa obri-gatoriedade a partir de 1.1.54, e adívida em cobrança, no caso, é dedata anterior.

Está, porém demonstrada nos e•.r,que, em São Paulo, a obrigatoriedade

162 R.T.J. 38

do seguro de acidente do trabalho noIAPETC era de data bem anterior, oque ficara expressamente ressalvadona L. 1.958-53.

Embora um dos julgados divergentesse refira a caso de São Paulo, nasnotas taquigráficas não há referênciaa ter-se discutido o problema, pOstono caso presente, da publicação deedital, pelo Instituto, em São Paulo,de acOrdo com o regulamento, parae exigibilidade obrigatória do segurode acidente do trabalho. A decisão,portanto, no caso presente, foi tomadaà base da prova, não havendo a iden-tidade ou semelhança que justificasseo recurso.

Finalmente, a prescrição não podiaser de um ano. É numerosa a nossajurisprudência no sentido de que asprescrições especiais do art. 178 doC. Civ. não se aplicam à dívida ativa

da Fazenda Pública, à qual é equi-parada a dívida ativa das instituiçõesprevidenciárias. Para citar um s6 caso,veja-se o RE 44.880, de 10.1.61.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Em decisão unânime, ne-garam proivmento ao recurso.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, oExmo. Sr. Ministro Victot Nunes.Tomaram parte no julgamento osEsmos. Srs. Ministros Evandro Lins,Victor Nunes e Lafayette de Andrade.Impedido, o Exmo. Sr. Ministro Os-waldo Trigueiro. Ausente, justificada-mente, o Esmo. Sr. Ministro CândidoMotta Filho.

Brasília, 6 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 57.717 — SP(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Banco Brasileiro de Descontos S.A. — Recorrida: Viação Leste-Oeste S.A.

Cheque visado. Cheque marcado. Efeitos diversos. Costumecomercial. 1) O uso do cheque visado, admitido por assento co-mercial, reforça o crédito do beneficiário. Não equipara, em seusefeitos, o cheque visado ao cheque marcado. 2) Na insolvênciado banco sacado, que visou o cheque, permanece inalteradaresponsabilidade do emitente em face do beneficiário. 3) Examede precedentes: RE 22.796 (1953) e RE 37487 (1958).

•ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em sessãoplenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,conhecer do recurso e, por maioria devotos, dar-lhe provimento.

Brasília, 14 de outubro de 1965.— A. M. Ribeiro da Costa, Presiden-te. — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIO

O ,Sr. Ministro Victor Nunes: —O Tribunal de Alçada de São Paulo,por seu 1.0 Grupo de Câmaras Civis(f. 81), citando usos e costumes daspraças de São Paulo e Rio de Janei-ro, equiparou os efeitos do cheque vi-sado e do cheque marcado, e exonerouo emitente (Viação Leste-Oeste S.A.),embora se tivesse tomado insolvente osacado (Banco A. E. Carvalho S.A.).

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Foi Relator o ilustre Ministro FlávioTorres.

O favorecido, Banco Brasileiro deDescontos S.A., interpôs recurso ex-traordinário (f. 85), que foi recebidocom este despacho, do ilustre MinistroJosé Carlos Ferreira de Oliveira (Ri-lha 95):

"O Banco Brasileiro de DescontosS.A. ajuizou ação executiva contraViação Leste-Oeste S.A. para cobran-ça da quantia de Cr$ 75.539,44), re-presentada por três cheques emitidospela ré contra o Banco A.E. Carva-lho S.A., cheques esses que, emboravisados pelo Banco sacado, não forampagos em virtude de concordata porele requerida.

Julgada procedente a ação em pri-meira instância e em grau de apela-ção, foi ela, entretanto, declarada im-procedente em grau de embargos in-fringentes, como bem se vê do vene-rando acórdão de f. 81-84.

Entendeu o aresta que o cheque vi-sado, além de comprovar a existênciade fundos, estabelece a prioridade emfavor do apresentante qualificado, tor-nando-se o sacado, por novação, o de-vedor direto e único do cheque, comexoneração do emitente e demais res-ponsáveis.

Inconformado com o r. julgado, oBanco Brasileiro de Descontos S.A.,interpôs recurso extraordinário para oColendo Supremo Tribunal Federal,com fundamento no art. 101, n.° III,letras a e d, da Carta Magna.

Sustenta o recorrente que o v. acór-dão recorrido, adotando a tese de que"o cheque visado, além de comprovara existência de fundos, estabelece aprioridade em favor do apresentantequalificado, tornando-se o sacado, pornovação, o devedor direto e único docheque, com exoneração do emitente edemais responsáveis", atenta contra oart. 11 da L. 2.591, de 1912, que nãocontempla a figura do cheque visadoe semente se refere ao cheque mar-cado, cujos efeitos são muitos diversos.

Além disso, o v. acórdão recorridodiverge frontalmente do julgado doColendo Supremo Tribunal Federal,

proferido no RE 37.587, de São Pau-lo, in R.T.J. do Supremo Tribunal,vol. 9.°, p. 164, e R.F., 192/134, emque se consigna: "Cheque marcado nãose confunde com cheque visado, assimna forma como nos efeitos. A marca-ção vale novação; o vi gamento temcaráter puramente informativo".

Admito o recurso, pelos dois funda-mentos invocados.

Com efeito, sempre sustentei, comapoio na melhor doutrina e jurispru-dência pátrias, que o cheque visadonão pode ser equiparado, entre nós,ao cheque marcado, quer quanto àforma, quer no tocante aos seus efei-tos. Haja vista o meu voto vencidono Recurso de Revista 77.124, de SãoPaulo, julgado pelo eg. Tribunal deJustiça (R.T. 268/492), voto esseque se tornou vitorioso perante o Co-lendo Supremo Tribunal Federal(R.T.J., 9/164).

Realmente, se o cheque visado pro-vém exclusivamente da praxe bancá-ria, resultante de usos e costumes,como pretender equipará-lo, em tudo

por tudo, ao cheque marcado, a quealude o art. 11 da Lei do Cheque(L. 2.591, de 7.8.1912)?

Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto,em sua magnífica monografia O Che-que, fax nítida discriminação entre anatureza e os efeitos do cheque visado

do cheque marcado.A marcação, sim, implica em nova-

ção e obriga o sacado pelo pagamen-to do cheque, exonerando o seu emi-tente. O visarnento, porém, não podeter outro efeito senão o de acusar aexistência de fundos, sem responsabi-lidade para quem o lança, salvo, natu-ralmente, a hipótese de falsidade.

Nessas condições, a tese do v. acór-dão recorrido, equiparando os efeitosdo cheque visado ao marcado, a am-bos considerando como novação daobrigação de pagar, vulnera — datavenia — a letra e o espírito do arti-go 11 da L. 2.591, de 1912.

Demais, o aresta impugnado coloca-se em flagrante e manifesto dissídiocom o julgado do Colando SupremoTribunal Federal acima citado, qual o

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estampado na R.T.J. do Supremo,9/164, em que se asentou "chequemarcado não se confunde com chequevisado, assim na forma como nos efei-tos. A marca vale novação; o viga-mento tem caráter puramente informa-tivo e não implica em novação".

Processe-se, pois, o recurso, por am-bos os fundamentos arrolados."

Os fundamentos do acórdão, na par-te que ora interessa, foram estes:

"Este Grupo, como se vê da R.T.303/445, decidiu,. sendo o Relatordeste subscritor do acórdão, que: "Ocheque visado, alem de comprovar aetistêncie de fundos, estabelece a prio-ridade em favor do apresentante qua-lificado, tornando-se o sacado, por no-vação, o devedor direto e único docheque, com exoneração do emitente edentais responsáveis".

Tal decisão apoiou-se no acórdão,proferido na Revista n.0 77.124, daeg . Seção Civil do Tribunal de Jus-tiça, que, por 18 votos a 3, sustentou

tese do voto vencido (Confira-se,ainda, R.T. 261/184 e 272/496).

Foi a jurisprudência, no silêncio dalei, buscar nos usos e costumes, espe-cialmente das praças de São Paulo eRio de Janeiro, a sua orientação.

Já em 1927 registrou-se, quanto aovisto, assento concernente ao uso docheque visado nas praças paulistas, porsolicitação da Associação dos Bancosde São Paulo, nos seguintes têrmos:"a) serem os cheques visados debita-dos, imediatamente, nas contas dos sa-cadores; b) ficarem, em conseqüência,as respectivas provisões à disposiçãosórnente dos portadores legitimados,podendo achar-se entre estes o próprioemitente".

Da mesma forma, em dezembro de1950, registrou-se assentamento idênti-co, na praça do Rio de Janeiro, a re-querimento do Sindicato dos Bancosdaquela Capital.

E todos os projetos que visam a re-forma da lei do cheque (p. 29), comoanota J. Caldas Cony, em seu traba-lho — O Cheque Visado, traduzemessa orientação nascida dos usos e cos-

tumes e consagrada pela jurispru-dência

Observe-se que, em tal sentido, seinclinam os pronunciamentos do Su-premo Tribunal Federal.

Destaca Caldas Cony, acórdão doSupremo, de 9.1.50 (obra citada,p. 20), confirmando decisão do Tri-bunal de Justiça de São Paulo, dandovalidade a normas costumeiras depo-sitadas na Junta Comercial, e quantoaos efeitos do visto autentica que "napraça de São Paulo é uso comercialregistrado debitarem-se os cheques vi-sados nas contas dos sacadores ficandoas provisões correspondentes à dispo-sição dos portadores legítimos".

Em magnífico trabalho — O VistoBancário — Sua Posição no DireitoBrasileiro, Edgard Leme (R. T.283/49), faz um apanhado da doutri-na nacional da jurisprudência a respei-to do cheque visado, salientando outradecisão do Pretório Excelso, no RE22.796, de 21.7.53, em que "deci-diu a Excelsa Cós-te estribada no as-sento do uso e costume na Junta Co-mercial do Estado de São Paulo. Dadoque o costume é fonte subsidiária doDireito Comercial (Carvalho de Men-donça, Tratado, vol. 1/120, ValdemarFerreira, Instituições, I/145) e reco-nhecendo, por outro lado, que a Leide Cheques, se é omissa a respeito docheque visado, contudo não o repele,

Supremo Tribunal, por maioria devotos, homologou a fórça do costume".

Das razões do recurso extraordinárioextraio estas passagens:

"O nó górdio da questão situa-se emvelha celeuma doutrinária por nós co-nhecida e já fartamente discutida: ados efeitos do visto perante a L. 2.591,usos e costumes.

Em primeiro lugar, convém lembrarque não cabe ação do portador docheque contra o Banco sacado, sair>no caso único e excepcional do che-que marcado. Isto, er vi legis...

"A marcação do cheque consiste emlançar no título uma data determinadaem que o cheque deve ser pago. Reza

art. 11: "Se o portador consentirque o sacado marque o cheque para

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certo dia, exonera todos os outros res-ponsáveis."

Para que se dê, portanto, a mar-cação, três requisitos são indispen-sáveis:

1 — a declaração do dia para oqual se difere o pagamento;

2 — a assinatura do sacado;3 — o consentimento do portador.A) Primeiro requisito:"O primeiro requisito consiste no

lançamento indicativo de um dia de-terminado, posterior ao da apresenta-ção, para o qual fique transferido opagamento que se deveria realizar nomomento da apresentação."

"Se o lançamento indicar a mesmadata da apresentação do cheque nãohaverá marcação alguma; se data an-terior, apenas consignará um absurdoa refutar-se não escrito. O art. 11 dalei fala em "O sacado marcar o paga-mento para certo dia"; pelo que sehá de entender que lhe foi apresen-tado o cheque e que ele espaçou o pa-gamento para depois." (Paulo M. deLacerda, O Cheque, p. 265). (O grifoé nosso).

"A marcação para dia que se nãopossa determinar pelos lançamentosconstantes do titulo em confrontocom o calendário, é nula para todos osefeitos peculiares desse ato; o art. 11da lei fala em "certo dia". O chequeque a contiver continuará a valer ape-nas como cheque visado, uma vez quequalquer lançamento nesse sentido, quenão exprima claramente a repulsa dosacado prova formalmente a apresen-tação a ele e a sua afirmação de que oemitente tem provisão disponível".

"O lançamento pelo qual o sacadose obriga a pagar o cheque não desig-nando, porem, o dia do pagamento, nãoé marcação. Assim quer o art. 11da lei, fonte vínica da matéria. O atoequivalerá, contudo, a um simples vis-to." (idem, p. 267).

E) Segundo requisito:"A lei exige a assinatura do sacado-

marcador, o que é explicável, porqueninguém se obriga csunbieriamente

sem apor no título sua assinatura."(O Cheque, P. 206, Carlos Fulgêncioda Cunha Peixoto).

C) Terceiro requisito:O consentimento para a marcação

deve ser outorgado pelo portador.

"Presume-se que haja consentimen-to do portador se ele apresenta ocheque para pagamento, recebe-o mar-cado, em devolução, e não protesta."

"O sacado pode assinar o chequesem que, por isto, se torne responsá•vel pelo seu valor, como acontece nahipótese do visamento. A assinatura dosacado, neste caso, significa apenadque o emitente tem fundos disponí-veis." (Carlos F. da Cunha Peixoto,idem, p. 207). (O grifo é nosso.)

Tem-se, assim, que "não basta queo sacado firme o cheque para que sejaconsiderado marcado; é necessárioque, além da assinatura do sacado, seencontrem os demais requisitos, istoé, que tenha havido consentimento doportador e transferência do pagamen-to para determinado dia" (Carlos Ful-gêncio da Cunha Peixoto, idem, pá-gina 206).

Ocorrendo a marcação, conforme osrequisitos indicados, "transforma-se emperfeita delegação, imperfeita atéaquele momento" (Tito Fulgêncio, DoChoque, p. 132), exonerando o emi-tente e todos os outros responsáveis, asaber, endossadores e avalistas."...

O visto é criação da prática, à mar-gem da lei, cujo efeito é simplesmen-te o de atestar provisão.

Deu-se sua concretização no assen-to 4, de 21.8.27, da Junta Comercialdo Estado de São Paulo, por maioriade votos. Diz ela:

serem os cheques visados debi-tados imediatamente nas contas dossacadores;

ficarem, em conseqüência, as res-pectivas provisões à disposição, alimen-te, dos portadores legitimados, poden-do achar-se entre êstes o próprio emi-tente.

Mas, esta separação da provisão con-cernente ao cheque visado, fá-lo o

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Banco para o fim de acautelar-se coma possibilidade de vir a ter de pagar

cheque às suas próprias expensas,pois o simples visto exclusivamente,no fólio de conta do depósito, poderiapassar desapercebido ao seu empre-gado responsável pela verificação defundos existentes, por ocasião de apre-sentação de qualquer cheque.

Aliás, como uso e costume, emborahaja assentamento da Junta Comer-cial de São Paulo e do Distrito Fede-rai, não se definiu, ainda, em suasmúltiplas aplicações e conseqüências.Nestas praças há divergências relevan-tes, que não permitem, sequer, sirvameles como fonte subsidiária da leiconstante e uniforme. Enquanto na-quela os efeitos do visto perduramdurante tida a vida útil do cheque,nesta, assegura-se a reserva de provisãopelo prazo de 30 dias aos cheques emi-tidos na praça e 120 dias aos sacadosde fora.

Estes assentamentos, que tanto im-pressionaram aos eg. Julgadores recor-ridos, datíssirna vênia, não permitemconcluir que o cheque visado se equi-pare, em seus efeitos, ao cheque mar-cado, exonerando-se o emitente. Seassim o fôsse, desnaturalizado estaria

instituto do cheque e se haveria dedar foros de verdade a usos e costu-mes contrários à lei.

Nunca se deve perder de vista ofato de que o cheque á sempre umaordem de pagamento expedida pelosacador sôbre fundos líquidos e dis-poníveis que se encontram em poderdo sacado, para pronta satisfação"...

"Diga-se, também, que o uso do vis-to e anterior à nossa lei, conforme jáse teve oportunidade de salientar àf. 74, e não foi inserido em nosso di-ploma legal, a fim de não o desvir-tuar. Surgiu pelo simples fato demuitas vezes o beneficiário não co-nhecer a pessoa do emitente e suaprovisão e também do péssimo hábitode ;e desviar a finalidade do cheque.

Tenha-se, sobretudo, que a forma damarcação diversifica-se da do visto, ea forma e da substância dos títulosautónomos".

"... Marque-se, outrossim, que ocheque visado está por fôrça doart. 6.° da L. 2.591, sujeito a contra-ordem.

Não há, deste modo, no direito bra-sileiro, suporte legal para que o "viso"no cheque com os mesmos efeitos damarcação, penetre no mundo jurídico.Terá só e exclusivamente o efeito deindicar provisão de fundos. Não obri-ga o sacado perante o tomador; nem,conseqüentemente, exonera o emiten-te.

Esta tem sido a lição ministrada porgrandes luminares do direito pátrio,tais como Carvalho de Mendonça, Ti-to Fulgêncio, Thiers Venoso, PauloM. de Lacerda, Carlos Fulgência daCunha Peixoto e tantos outros".

No RE 37.587, de 2.12.58, emque se funda o recurso extraordinário,

eminente Ministro Vilas Boas, Re-lator, assim se expressou, depois decitar Carlos Fulgêncio da Cunha Pei-xoto (R.T.J. 9/164-5):

"O "visto" e a "marcação" se dis-tinguem, também, nos efeitos.

Aquele tem caráter puramente in-formativo, não engendrando responsa-bilidade para quem o lança, salvo, na-turalmente, a hipótese de falsidade.

Esta, a marcação, produz novação:cheque, emitido pro solvendo, con-

verte-se, assim modificado, em causaextintiva da primitiva obrigação, pois"no cheque marcado o beneficiárioaceita o ritmo devedor e o antigo ficaexonerado".

Ora, no acórdão houve expressa re-cusa a essa diferenciação, verbis: "Paraa Turma julgadora, a melhor e maisjusta solução à questão é aquela queé dada pela segunda corrente, queequipara o cheque visado ao chequemarcado. O sacado torna-se, por no-vação, devedor direto e único do che-que.

O emitente, os endossantes e res-pectivos avalistas exoneram-se. O sa-cado, ao visar o cheque, debita em de-finitivo à conta do emitente".

Mas, o caso e que, para realizaressa identificação, a ilustre Turmafez fôrça contra o disposto no art. 11

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da L. 2.591, que caracteriza a mar-cação como o aceite do cheque paracerto dia, e entrou, também, em di-vergência coni vários julgados, que orecorrente indica." ...

"O sacado entrou em liquidação ex-trajudicial, a cargo da SUMOC, peloque não cumpriu a ordem de paga-mento.

Subsiste, pois, a responsabilidade daré, Fábrica de Doces Neusa Ltda.,emitente do cheque devolvido pelaCâmara de Compensação do Banco doBrasil.

Conheço do recurso como foi mani-festado e dou-lhe provimento."

Acrescentou o eminente MinistroAfrânio Costa:

"Não há muito tempo (e eu o re-lembro apenas para corroborar um de-talhe apontado pelo eminente Senho,Ministro Relator), relatei um caso,nesta mesma Turma, em que haviacheque visado; o sacador Rira, porém,ao banco e retirara os fundos, de modoque, quando o portador apareceu, nãoexistia mais cobertura e o banco de-fendeu-se dizendo que a nossa lei nãoprevê o cheque visado, como sucedona lei americana, na inglesa e na ale-mã, expressamente. Aliás, é uma fa-lha da nossa lei."

Trouxe o processo ao plenário, porsua evidente relevância.

VOTOO Sr. Ministro Victor Nunes (Re-

latar): — O que se discute, nesterecurso, é se o cheque visado e o che-que marcado estão equiparados nosseus efeitos. O juiz de primeira ins-tância deu resposta negativa, dizendocom muita clareza (f. 22):

"Os cheques foram recebidos peloBanco-autor para pagamento de títu-los que possuía em carteira de res-ponsabilidade da firma-ré. Normal-mente, a entrega de cheque é pro sol-vendo, constituindo sõmente um meiode pagamento; assim, quando o porta-dor não venha a receber o dinheiro,através do cheque, pagamento nãohouve e subsiste a responsabilidade doemitente. Pouco importa que se tratede cheque visado ou não"...

"Quando visa o cheque, o Banco sa-cado afirma a existência de fundosnaquele momento; com isso, o chequefica mais valorizado e de aceitaçãomais fácil. Mas o visamento não sig-nifica que o beneficiário, ao receber

cheque em pagamento, esteja impli-citamente concordando com a exone-ração de responsabilidade de emiten-te. Esta subsiste a não ser que de-monstre ter havido expressa exclusãopor parte do portador ou beneficiáriodo cheque.

Em caso semelhante, o SupremoTribunal Federal decidiu pela subsis-tência da responsabilidade do emiten-te do cheque, acentuando que "o visa-mento tem caráter puramente infor-mativo" (v. R. T. J., 9/164)".

O Tribunal de Alçada, no acórdãorecorrido, decidiu de modo contrário,pela liberação do emitente, e nos au-tos se indicou, em seu apoio, o acórdãodo Supremo Tribunal no RE 22.796,de 21.7.53.

Mas deste acórdão, onde prevaleceuvoto do Sr. Ministro Hahnemann

Guimarães, não se pode extrair qual-quer conclusão favorável à decisão re-corrida. Embora os dois julgados setenham fundado na consagração docheque visado, pelo costume comercial,as suas conseqüências, em certo senti-do, são antagônicas. Enquanto a deci-são ora recorrida liberou o emitentedo cheque visado, em caso de insol-vência do banco sacado, o citado acór-dão do Supremo Tribunal declarou ocheque visado irretratável pelo emi-tente. Passo a ler o voto do Relatordesignado, Ministro Hahnemann Gui-marães, no RE 22.796:

"Sr. Presidente, nesta causa, dis-cutem-se dois pontos da lei de chequesôbre os quais divergem as legislações

a doutrina: o da revogabilidade docheque e o do efeito da confirmaçãoou "visto". Basta verificar que a leiuniforme da Convenção de Genebra,de 1931, não resolveu completamente

assunto.A propósito da revogabilidade do

cheque, da contra-ordem, estabeleceu-se na lei uniforme, em princípio, quenão seria válida a revogação entes do

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vencimento do termo de apresentaçãodo cheque, mas determinou-se quecada país resolveria esta matéria emsua própria lei.

A respeito da confirmação, limitou-se a Convenção a admitir que os Es-tados aderentes aceitassem a praxe do"visto", desde que não lhes atribuís-sem o efeito da aceitação do cheque.A lei uniforme do cheque não admiteque os efeitos da confirmação, ou da"visto", valham jamais como aceite.

No direito brasileiro, aceitou-se o"visto" com o efeito de que ele signi-ficaria a reserva de provisão em poderdo sacado para pagamento do cheque

admitiu-se a validade da contra-or-dem, da revogação, em qualquer mo-mento, como acentua Paulo de Lacer-da em seu livro sare o cheque. Osacado é um mandatário, um adjectussolutionis causa, de modo que é possí-vel sempre a revogação do cheque,apesar de o banqueiro ter aposto o"visto", ter feito a confirmação docheque.

Mas esta matéria não pode ser dis-cutida nesta causa, porque, na praçade Santos, se lavrou na Junta Comer-cia/ um assento, em virtude do qualse atribuiu ao "visto" um efeito par-ticular; aliás, o efeito mais moral, nãose admitindo a revogação do cheque,em obséquio à boa-fé. Quem recebeum cheque visado, está certo de que

pagamento lhe será feito necessària-mente. Foi o que resolveu o Tribu-nal de Justiça, em vista de um assen-to lavrado na Junta Comercial deSantos. Aí não é possível ver ofensade letra de lei, nem mesmo dissídiode arestos. É aplicação de um usoadotado na praça de Santos, em vir-tude da um assento na Junta Comer-cial, O Tribunal aplicou esse assen-to ao caso. Os costumes são fontesde direito, eles preenchem a lacunada lei. A doutrina preponderante temadmitido esse uso. Inteiramente deac:irdo com o eminente Sr. MinistroRacha Lagoa, não vejo cabimentopara o recurso extraordinário, porquevão é possível ver ofensa da letra delei, que é omissa, no caso. Tambémnão há possibilidade de admitir dissí-

dio de arestos a respeito da aplicaçãoda lei. O Tribunal de Justiça, de adir-do com a melhor doutrina, observouum uso da praça de Santos.

Não conheço do recurso."Como se vê da leitura, que acabo de

fazer, aquele precedente não deu aoreferido assento da Junta Comercialde São Paulo, de 1927 (Carvalho deMendonça, Tratado, vol. VI), o efei-to de equiparar o cheque visado aocheque marcado, mas tão-sOmente oefeito de consagrar o uso do chequevisado, com a conseqüência, mencio-nada naquele assento, de "serem oscheques visados debitados imediata-mente nas contas dos sacadores", con-soante o parecer, então proferido, porAntão de Morais. Daí a conclusão doSr. Ministro Hahnemann Guimarães'"Quem recebe um cheque visado, estácerto de que o pagamento lhe será fei-to necessariamente".

Esse julgado, portanto, reforça ocrédito do beneficiário contra o emi-tente, e o que fez a decisão ora recor-rida foi o contrário, isto é, liberou oemitente, porque equiparou o chequevisado ao marcado.

Com essa conclusão, o Tribunal deAlçada divergiu frontalmente de outroacórdão do Supremo Tribunal, citadopelo recorrente: RE 37.587, de2.12.58, relatado pelo eminente Mi-nistro Vilas Boas (R.T.J. 9/164), esem que lhe possa socorrer o outroprecedente, há pouco referido, do emi-nente Ministro Hahnemann Guimarães.

Parece-me que a decisão recorridanão pode prevalecer, porque enfra-quece o credito do beneficiário contrao emitente, quando o uso do chequevisado, admitido por assento comer-cia/. tem por finalidade reforçar ocredito do beneficiário. Se a insolvên-cia do banco sacado, que visou o che-que, deixou o beneficiário a descober-to, permanece inalterado a responsabi-lidade do emitente, em cuja conta, nobanco sacado, se fará o necessário es-tOrno do antecipado lançamento dedébito.

Poderia dar-se o contrário, mas poroutra razão, se, por falta de apresen-

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tação do cheque no prazo legal, so-breviesse a insolvência do sacado e aperda da provisão, originàriamenteatestada pelo visto, pudesse ser atribuí-da à dissídio do beneficiário. É oque resulta da 2.° parte do art. 5.° doD. 2.591, de 1912 (ver RE 48.838,julgado nesta mesma sessão). Masesta causa de exclusão de responsabili-dade não é alegado pelo recorrido, nemdela tratou o acórdão impugnado.

Conheço, pois, do recurso, pela le-tra d, e lhe dou provimento.

VISTASr. Ministro Pedro Chaves: —

Sr. Presidente, peço vista dos autos.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: O Ministro Relator Evan-dro Lins e Hermes Lima, conhecendo,deram provimento ao recurso, pedindovista o Sr. Ministro Pedro Chaves.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroRibeiro da Costa. Relatar, o Excelen-tíssimo Sr. Ministro Victor Nunes.Licenciados, os Ermos. Srs. Minis-tros Lafayette de Andrada e Luiz Gal-lotti.

Brasília, 13 de maio de 1965. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

VOTOSr. Ministro Pedro Chaves: —

O que se discute de essencial nesteprocesso, relatado com o brilho e aproclamada proficiência do Sr. Mi-nistro Victor Nunes Leal, na sessão de13 de maio último, em que pedi adia-mento e vista, é Ware os efeitos do"visto" aposto ao cheque pelo bancosacado. No silêncio da lei que doassunto não cuida, surgiu o "uso" le-vado a assento na Junta Comercial deSão Paulo, no sentido de que: a) oscheques visados serão imediatamentedebitados nas contas dos sacadores; 12)as respectivas provisões ficarão à dis-posição dos portadores legitimados, po-dendo achar-se entre eles o próprioemitente.

dissídio de interpretação da teseé evidente no campo jurisprudencial, o

que justifica plenamente o conheci-mento do recurso extraordinário, comotambém na zona estritamente doutri-nária.

Conhecendo do recurso pela letra ddo art. 101, III, da Constituição, co-loco-me em oposição ao eminente Re-lator, pois lhe denego provimento paramanter o venerando aresto recorrido.Peço vênia para justificar o meu pontode vista.

Em primeiro lugar, cumpre salien-tar que não há, na Lei do Cheque,qualquer dispositivo que impeça a ado-ção do uso registrado nas Praças deSão Paulo e do Rio de Janeiro, comrelação ao visamento dos cheques. De-pois não se pode deixar de conside-rar a alta moralidade do assento, quefacilita o uso do cheque, tranquiliza ocomércio, mobiliza o meio circulante econseqüentemente aumenta o montan-te das transações, evitando a manipu-lação de grandes importâncias em es-pécie.

O uso do "visto" consagrado peloregistro não confunde o instituto como da "marcação" porque entre os doispermanece a diferença específica, queé o consentimento do portador, pois sena marcação é indispensável a inter-venção do portador com seu consensopara a indicação do dia certo, no"visto" não há intervenção do porta-dor, nem necessidade dela, porque oato nasce antes da circulação. Por ou-tro lado, não há como considerar o"visto" conto simples aviso de dispo-nibilidade em poder do sacado. Ocheque é ordem de pagamento quepressupõe a existência de provisão,presunção duplamente garantida pelalegislação, que pune a sua burla pelamulta fiscal e pela sanção penal. Dessaforma, o "visto" é um refôrço de ga-rantia a favor do portador que já re-cebe o cheque, na certeza de que suaimportância já foi debitada na contado emitente que. via de conseqüência,perdeu a disponibilidade sOlire ela.Daí resulta a responsabilidade do sa-cado que desonera o emitente da obri-gação, responsabilidade própria, dire-ta, voluntária.

Assim, sem procurar ocultar as gran-des dificuldades da matéria em deba-

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te e as judiciosas e jurídicas razõessustentadas pela corrente contrária, eufico com a orientação do julgado re-corrido e denego provimento ao re-curso.

PEDIDO DE VISTAO Sr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — Peço vista dos autos.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: O Ministro Pedro Chaves,conhecendo do recurso, negou-lhe pro-vimento. Pediu vista o Ministro Gon-çalves de Oliveira.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroRibeiro da Costa. Relator, o Excelen-tíssimo Sr. Ministro Victor Nunes.Licenciado, o Exmo. Sr. Ministro La-fayette de Andrada.

Brasília, 3 de junho de 1965. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

VOTOO Sr, Ministro Gonçalves de Oli-

veira: — O cheque visado não estáconsagrado, de modo expresso, em nos-sa legislação. Nem na Lei Uniforme.Na 29 Conferencia de Haia, de 1912,apôs as doutas exposições do delegadoamericano Mr. Conant e do delegadobrasileiro Rodrigo Otávio, a Conferên-cia rejeitou o aceite no cheque, por-que este é título destinado a pagamen-to, a solver obrigação. Na verdade, ocheque é instrumento de pagamento,ao contrário da letra de cambio, ins-trumento de crédito, era que há oaceite. Aí, com efeito, o caracterís-tico diferencia/ desses dois títulos.

A aceitação, no cheque, por issomesmo ficara, expressamente rejeitada(art. 12). Mas, possibilitou-se, ad-mitiu-se que cada país, na sua legis-lação, disciplinasse o "visto", o che-que certificado, regulando-lhe os efei-tos. Art. 11. "Le chegue ne peut pasetre accepté. Une mention d'accepta-tion portée sur le chegue est repute°non écrite. Est resolve& aux Etatscontratants Ia faculte cflemrnettre fac-

ceptation, te certificat ou le visa d'unchegue et d'en régler les effets".

Essa disposição é repetida na LeiUniforme de Genebra, de 1931, ar-tigos 49 e 69, embora assinalando,dissipando dúvidas, que o visto nãotem efeito de aceite.

"Art. 69 Chague das Hautes Partiascontratants a la faculte d'ammettreque la tire inscrive sur le chegue unemention de certifica tion, confirmation,visa ou autre déclaration equivalenteou pourvu que cette déciaration n'aitpas fet d'une acceptation, et deregler les dieta juridigues."

Na verdade, como assinalava Rodri-go Otávio (Cheque, sua origem, fun-ção econômica e regulamentação 1913)— "a aceitação seria, pois, contrárianatureza jurídica do cheque. Mas, ápossível conciliar a natureza jurídicado cheque com o visto ou certifica-ção. Este ato pode ser consideradocomo começo de pagamento. Ao apre-sentar o cheque, o sacado, invés delhe pedir o pagamento imediato, oportador lhe solicita o visto apenas."

Na Conferência de Genebra? em1931, a discussão sôbre a consagraçãodo visto se renovou. E, como assina-la Edberto Lacerda Teixeira (Do Che-gue, no Direito Comparativo lideramo-ricano), prevaleceu a ponderação dodelegado polonês Namitkiewicz de queo visto, com efeitos diversos em cadapaís, ainda não estava maduro para oacolhimento definitivo na Lei Uniforme. "Mr. Namitkiewicz consideredthat the question was not sufficientlyripe to enable the system of certifica-tion to be given a previleged 'minorain the •Uniform Law" — (II Records,197).

Cada país, cada legislação, tratarádo assunto.

Em nosso país, se a legislação ordi-nária não disciplina o visto, no che-que, contudo, tem Me sido objeto deregulação nos assentos, nos usos e cos-tumes comerciais inscritos em praçascomerciais.

Já Rodrigo Otávio, em seu livro ci-tado, noticiando o maquinismo do che-

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que visado, explica que o emitente che-ga ao Banco e, ao invés de receber

valor do cheque, pede que o estabe-lecimento certifique a existência defundo, no cheque a ser emitido em seufavor, dele próprio emitente (que oendossará posteriormente em branco ouem preto), ou de algum credor, mas,consignando-se o visto no próprio tí-tulo. O Banco visa, então, o cheque,sob sua responsabilidade. O emitentetem fundos, o cheque é bom. E o con-sagrado expositor sabiamente enunciaas conseqüências jurídicas — "Umavez visado o cheque, a importância édeduzida na conta do sacador que selibera de sua responsabilidade perante

portador; a soma necessária ao pa-gamento do cheque é deduzida de suaconta, permanece suspensa, bloqueada,em mãos do sacado, à disposição doportador do cheque".

O Banco praticamente, com o visto,se transforma em devedor do cheque,ficando exonerado o eminente, ficandoem situação idêntica, como no caso demarcação, que exonera os demais fi-gurantes do título. Ainda que o saca-do não tenha provisão, ensina CarlosFulgência da Cunha Peixoto, a marca-ção exonera todos os demais compo-nentes da obrigação, emitente, endos-santes e avalistas (O Cheque, volu-me I, n.° 168, p. 172). Há, em verda-de, na marcação, verdadeira novação,ficando apenas o Banco devedor. Adiferença, que subsiste entre chequevisado e o cheque marcado é que, no"visto", o emitente tem fundos; oBanco canil/Ma, no próprio título, que

cheque é bom, ao passo que, na mar-cação, o emitente pode não ter fun-dos. Excepcionalmente, a lei admiteque o eminente emita cheque semfundos, no dia da emissão, embora oterá, posteriormente, no dia do paga-mento. Isso acontece, no caso de ter

correntista depósito a prazo fixo eque, ordinariamente, se vence no diapara o qual o cheque é marcado. Mas,se em caso de marcação, o Banco seobriga exonerando o emitente e todosos co-obrigados, com mais forte razãoessa obrigação subsiste, no caso do"visto" pois, no dia da apresentação,

emitente tem fundos.

Pelo que se vê, o visto atesta aexistência de fundos e, no prazo deum mês se o cheque é visado para amesma, praça e 120 dias se visadopara outra praça, o credor é obriga-do a apresentá-lo (Lei do Cheque, ar-tigo 4.°, modificado pelo D. 22.924,de 12.7.33). Dentro desse prazo, se

credor não apresenta o cheque, oemitente não será responsável se ti-nha fundos e deixou de tê-los "semfato que seja imputável", como fa-lência do Banco.

Os usos e costumes comerciais daspraças de São Paulo, Distrito Fede-ral e Bahia têm-se preocupado com

cheque visado.Em 9.8.27, a Junta Comercial de

São Paulo assentou o uso no senti-do de:

serem cheques visados debitadosimediatamente nas contas dos saca-dores;

ficarem, em conseqüência, as res-pectivas provisões à disposição sarnen-ta dos portadores legitimados, podendoachar-se entre estes o próprio emi-tente.

Em 30.12.50, foi determinado o as-sentamento do uso, no Distrito Fe-deral, no sentido do cheque visado:

ser debitado imediatamente naconta do emitente;

ficar a provisão do emitente àdisposição do beneficiário, durante oprazo destinado à apresentação parapagamento;

c) inadmitir a contra-ordem nosprazos de 30 a 120 dias, quando ocheque tiver de ser pago no mesmolugar ou em praça diversa da emissão.

Em 24.5.60, foi também determi-nado o assentamento do uso na Bahia,nos seguintes termos:

os cheques visados devem serimediatamente debitados na conta doemitente;

fica a provisão do emitente, emimportância correspondente ao chequevisado, à disposição do beneficiáriodurante o prazo legal destinado àapresentação do mesmo pare o respec-tivo pagamento;

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inadmitir a contra-ordem nosprazos de 30 e 120 dias quando ocheque tiver de ser pago ao mesmolugar ou praça diversa da emissão;

decorridos os prazos de que trataa alínea c, supra, e não apresentadospara pagamento o cheque visado, serárestabelecida, por meio de esterno con-tábil, a crédito do sacador, a quantiabloqueada.

Em 9.5.65, a Junta Comercial deSão Paulo modificou o assentamentofeito em 1927, aproximando-o dos doantigo Distrito Federal e do Estado daBahia.

Por este nevo assentamento, ficoudeliberado:

ficar a provisão à disposiçãoapenas do beneficiário;

os bancos costumam fixar em30 e 120 dias a validade dos "vistos",respectivamente para a praça e parao pais. O resgate de tais cheques, foradesses prazos, costuma-se sujeitar àaprovação especial do Banco sacado.

Com efeito, em sua reunião do dia4.5.65, o Colégio de Vogais da JuntaComercial do Estado de São Pauloaprovou, por unanimidade, o Assenta-mento de Usos e Costumes sôbre Nor-mas Bancárias (D .0 . . do Estado, de8.5.65).

Trata-se de medida importante, poisdesde 1927, é a primeira vez que aque-le órgão se manifesta sôbre o assunto,consolidando e assentando normas ban-cárias que abrangem, especificamente,cheque visado, autenticação mecânica,endossos de títulos e duplicatas a ban-cos e retenção de títulos descontáveis.

O assentamento foi organizado, prin-cipalmente, graças ao trabalho dacomissão encarregada de sua elabora-ção e que era integrada pelos Senho-res Kamel Miguel Nahas, AristátelesRibeiro, Cláudio Salvador Lombro,Manary Vasconcelos Mendes,, OrnarHamam e Paulo Cintra de Camargo.

Eis o Assentamento;"Art. 1.° Os bancos, ao visarem

cheques, retiram, no ato, a respectivaprovisão da conta corrente do emiten-te, transferindo-a para uma conta es-pecífica de cheques visados.

Em conseqüência, fica a provisão àdisposição semente dos portadores le-gitimados, podendo achar-se entre esteso próprio emitente. No ato de paga-mento de tais cheques, os Bancos ape-nas dão baixa na respectiva provisãoanteriormente lançada na conta decheques visados.

Art. 2.° Os bancos costumam fixarem 30 e 120 dias a validade do "vis-to" respectivamente para a praça epara o país. O resgate de tais chequesfora destes prazos costuma sujeitar-seà aprovação do Banco sacado.

Art. 3.0 O cheque visado apresen-tado em praça diferente daquela do"visto', mas, no mesmo estabelecimen-to bancário, poderá ser pago, mas nãoobrigateritunente.

Art. 4.0 Opera-se o cancelamentodo cheque visado quando fôr ele de-volvido por inteiro e sem rasuras aoBanco sacado, acompanhado de soli-citação escrita do emitente. Com basenesta, o banco reverterá para a conta-corrente do emitente o valor do che-que visado.

Art. 5.° Os Bancos podem cancelare restituir ao emitente o valor do che-que visado por este declarado extravia-do, mediante abertura de um proces-so interno de cancelamento. O cance-lamento se faz mediante estamo acrédito da conta-corrente do emiten-te e conseqüente baixa da respectivaprovisão lançada na conta de chequesvisados. No recibo passado pelo emi-tente, pela restituição do valor do che-que extraviado, assume Me perante oBanco a responsabilidade integral poreventual e futura apresentação dochacine".

Segundo tais usos, pois, resulta quehá uma responsabilidade do Banco sa-cado, com o "visto".

O Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Com essa conclusão — aexoneração do emitente — e que nãoestou de acárdo, data venia. Dai anossa divergência, na conclusão.

O Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — O visto do Banco sacadoexonera o emitente, salvo se se trata de

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visto doloso ou culposo em que o emi-tente sabe ou tem razões para saberque o cheque não será pago pelo es-tabelecimento bancário.

No caso, cabia ao credor cobrar doBanco, que visou o cheque, reclaman-do seu pagamento integral. Com aaceitação do cheque visado, o credorexonera o emitente, salvo como sedisse, caso de dolo.

No sentido de ficar exonerado oemitente, decidiu o Tribunal de SãoPaulo, no acórdão recorrido, reportan-do-se, ainda, à decisão tomada nd Re-curso de Revista n.o 77.124, por 18votos a 3. Neste sentido, decidira oSupremo Tribunal no RE 22.796,em 21.7.57, Relator o Ministro La-fayette de Andrade, embora noRE 37.587, R. T. J. 9/164, R. F.192/194, tenha decidido em sentidocontrário.

No referido RE 22.796, assina-lou o eminente Ministro HahnemannGuimarães que "quem recebe o cheque(visado) está certo de que o paga-mento lhe será feito necessàriamente"e, por isso mesmo ...

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator) • — Por isso é que tirei da con-clusão do voto do eminente MinistroHahnemann Guimarães fundamentoem apoio do meu voto. Dizia eu queo "visto" é uma praxe que funcionacomo garantia do credor; não é ga-rantia do devedor. Por isso, não pos-so interpretar urn assento comercial,que manda lançar-se, desde logo, o va-lor do cheque a débito da conta ban-cária do emitente, para garantia docredor, no sentido de que, vindo oBanco a ficar insolvente, o credor équem ficará prejudicado. A garantiado "visto" ficaria, por essa forma,anulada.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Fica bloqueada a quantia,ainda que não receba o cheque visado.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-latar): O que não me parece ló-gico é que uma praxe instituída emfavor do tentador. seja interpretadacontra ele, em caso de insolvênvia doBanco.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Se recebe cheque visado deBanco idôneo, o cheque é certo. Tem-se que o cheque é "bom".

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Quem recebe cheque visadoestá convencido de que se acha maisgarantido. Nunca me passaria pela ca-beça que o cheque visado representas-se garantia menor que a do chequesimples. O "visto" é um refôrço degarantia em favor do credor.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Hoje, não se carrega maisdinheiro. Paga-se em cheque. Nem sepode contar dinheiro, onde se faz opagamento, nem nos cartórios, nosguichês. A pessoa leva cheque visado,se o estabelecimento bancário é idô-neo, se o credor consente em receberêsse cheque visado, exonera-se o de-vedor, mesmo porque não mais podelevantar tal quantia no seu Banco, quevisou o cheque.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Data venia, não posso con-cordar. O credor está convencido deque sua garantia aumentará, e não di-minuirá, com o recebimento de chequevisado.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: tio leva grande vantagem,se já é credor. Vai receber. O "visto"exonera o devedor. Quem quer che-que visado tem que sofrer êsse ônus.Se vou receber Cr$ 10.000, prefiroreceber uma nota a um cheque...

Sr. Ministro Hermes Lima: —No caso, exonera o devedor, que é oBanco.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — O devedor é o emitente docheque. O visto exonera o emitente docheque. O Banco fica como único res-ponsável.

Sr. Ministro Hermes Lima: —O dinheiro já foi separado, em quantiabloqueada.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — O Banco é sempre respon-sável sabre a divida. Quanto a isto,não há dúvida. O que o credor exo-

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nem é o emitente do cheque, que nãotem mais esse depósito no Banco efica à disposição do credor do, chequevisado.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — A questão em debate é sa-ber se o emitente do cheque fica exo-nerado, com a falência do Banco.

Sr. Ministro Hahnemann Guima-rães: — Não. A obrigação se reforça.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — o "visto" no cheque nãoextingue a obrigação do emitente, por-que não produz novação. O que há érefôrço da obrigação como diz o emi-nente Ministro Hahnemann Guimarães.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Temos que ser realistas naprática comercial, e admitir que o"visto" exonera o devedor, que perdea disponibilidade do valor do cheque.Os Bancos todos estão estabelecendoessa responsabilidade exclusiva doBanco, que visa o cheque porque, com

visto, debitam o valor do chequena conta do emitente. O depósito ficaà disposição do credor do cheque visardo, que correrá os riscos, que são raros.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Nenhum devedor paga comcheque visado, a não ser por exigên-cia do credor. O devedor emite o che-que; só o visa, quando o credor o exi-ge. E o credor exige o "visto", naconvicção de estar reforçando sua ga-rantia.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — N6s, os juízes, em regra, nãolidamos com dinheiro e não conhece-mos bem o problema, na prática...

As praças comerciais do DistritoFederal, de São Paulo, da Bahia, tô-das elas vêm em socorro do que estoudefendendo.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Mas os assentos comerciaiscitados não dizem que fica exonerado

emitente por efeito do "visto". Esteé o ponto fundamental. Em nenhumdos assentos, existe a declaração deque o emitente fica exonerado.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Fica exonerado, e vou ex-plicar por que fica exonerado.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Mas V. Excia. assim con-clui por interpretação, e não por cons-tar do texto dos assentos. Respeitomuito a interpretação de Vossa Exce-lência, mas o ponto em que insiste éque aqueles assento não dizem isso.

Sr. Ministro Gonçalves de— Vou ao Banco visar um che-

que e o Banco verifica que tenho fun-dos; então, ele tira a importância daminha conta. Tinha Cr$ 1.000.000;dou um cheque visado de Cr$ 500.090;o Banco tira da minha conta os ....Cr$ 500.000 e fica a quantia bloquea-da. Se o credor recebe esse chequesabe que o único responsável é umBanco idôneo. O credor exige "visto"porque não confia no emitente, con-fia é no Banco, que visa, e ainda pre-tende que o emitente continue respon-sável?

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Mas o lançamento não éfeito a crédito do destinatário do che-que. Mesmo porque só por coincidên-cia teria ele conta no mesmo Banco.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Em um milhão de casos, to-dos os cheques visados são pagos.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Sim, quando o Banco nãofica insolvente, o que é a regra. Quan-do se torna insolvente, é que o paga-mento fica frustrado. Então, o credor,que pensava ter aumentado sua garan-tia com o cheque visado, é que deveficar desamparado?

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Quando o Banco falir, que éuma raridade, o credor não recebe ocheque visado. Mas, foi ele que eri-giu o "visto" do Banco e, assim, exo-nera o emitente.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Na minha casuística profis-sional, nunca vi dar-se cheque visadosenão a pedido do credor. E éle fariaisso para diminuir sua garantia?

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Ci Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — O cheque visado garante opagamento. Concordo que precisa sercheque de estabelecimento idôneo esempre os Bancos são idôneos. O cre-dor que seja cauteloso em pedir o"visto" de estabelecimento bancário,que vai pagar o cheque.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Portanto, aumenta a ga-rantia do credor.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Libera o devedor.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Refôrço de garantia não énovação. Portanto, não libera o de-vedor.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Se o credor não está satis-feito com o cheque apenas do emi-tente, se êle quer mais, se quer queo Banco ateste que o cheque é bom,então, êle aceita o cheque visado eexonera o devedor. É pretender ga-rantia demais do emitente, que, visan-do o cheque, por exigência do credor,não mais pode tirar o dinheiro doBanco; se o credor demora a receber ocheque visado, e o Banco fica insol-vente, a responsabilidade não podeser debitada ao sacador, ao emitentedo cheque, que perdeu a disponibili-dade do dinheiro.

Vamos ser realistas. O que ocorreé que, às vezes, como no caso concre-to, o dono do çheque visado "dormeno ponto" e não vai receber o che-que. Então, o Banco pode falir, o queé raro. O emitente vai ser responsá-vel por isso? Dormientis... É demais,para o devedor, que satisfazendo exi-gência do credor visou o cheque eperdeu a disponibilidade do depósitorespectivo. Se o credor não quer ape-nas o seu cheque e quer mais o vistodo Banco, Me recebe o cheque e de-mora a receber, e quem vai ficar res-ponsável é o emitente?

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Se há demora, este é outro-problema, que está regulado, expres-samente, na lei. Não é o problemaque estamos discutindo.

Também poderia configurar situaçãoespecial, mas não está em discussão.o caso em que o cheque fôsse visadopelo próprio beneficiário, por conve-niência própria.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Mas, o problema é esse enão outro; se sou credor e tenho dá-vida sabre o Banco, não recebo chequevisado desse Banco, porque não vale.Exijo do Banco do Brasil, do Banco deCrédito Real de Minas Gerais, doBanco Hipotecário, do Banco Nacio-nal de Minas Gerais, porque eles ga-rantem o pagamento de cheque visado.

Digo eu, no meu voto:"... assinalou o eminente Minis-

tro Hahnemann Guimarães. que "quemrecebe o cheque (visado) está certode que o pagamento lhe será feito ne-cessáriamente", e, por isso mesmo, ocheqUe é irretratável.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Está certo, porque a irre-tratabilidade aumenta a garantia docredor. Mas a novação, que se preten-de existir no "visto", diminuiria a ga-rantia do credor. Seria uma contra-dição.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Por que se aumentar maisa garantia do credo; se já tem a ga-rantia do Banco? Se Me demora a re-ceber, a culpa é dele. Ele tem açãodireta contra o Banco, para receber,porque o Banco declarou com o "vis-to" que o cheque é bom.

Os usos e costumes comerciais sãofontes de direito, eles preenchem aslacunas da lei. A doutrina preponde-rante tem admitido esse uso.

Com efeito, a melhor doutrina e amelhor jurisprudência, como em re-cente estudo assinala o Prof. EdgardLeme em (R.T., 283/49) o chequevisado é irretratável, o credor receben-do-o tem ação direta contra o Bancopara o recebimento. Ele vale paga-mento. O emitente, entregando o che-que visado, por Banco idôneo, se exo-nera de qualquer responsabilidade.

Pelo exposto, o meu voto é, dataveria do eminente Relato; acompa-

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nhando o voto do Exmo. Sr. Minis-tro Pedro Chaves, no sentido de que,aceitando o cheque visado, o credornão tem ação contra o emitente, peloque, conhecendo do recurso, nego-lheprovimento.

Sr. Ministro Hahnemann Guima-rães: — Extingue a obrigação do emi-tente. Isso é que não me parece acei-tável.

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Parece que sim, porque nãoé razoável que o credor exija do de-vedor o cheque visado e saia a res-pectiva importância da conta do emi-tente, ficando no Banco, e ainda querter ação, contra o emitente? Por quemotivo fica responsável o emitente, sedá cheque de um estabelecimento idô-neo? Para que mais garantia? O cre-dor é que demora a receber e podeficar, por isso, prejudicado.

Temos, a meu ver, que dar uma in-terpretação que acelere o uso do che-que visado. Não podemos ficar volta-dos aos anos de 1915 e 1920, em quese traziam pratas e cobres no bOlsopara pagar as dividas.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-latar): — A interpretação de VossaExcelência, data venia, não leva a esseresultado. Quem vai exigir cheque vi-sado, se com a tese de V. Excia. ficaliberado o emitente?

Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — Mas o emitente nada valediante de uma garantia de um Bancoidôneo. Para que ter duas garantias?O credor, que exija um cheque visa-do de um Banco idôneo.

Se vai vender sua casa, diz: queroum cheque visado de Banco idôneo,de Banco federal. Agora, vamos di-ficultar. A pessoa fica responsável,subsicHriamente, além do Banco? Umparticular que perdeu o contrôle daimportância do cheque, a garantir umbanco é paradoxo. O credor tem açãocontra o Banco, como está nos assen-tos. O credor é que, às vezes, demoraa receber o cheque (o emitente nãotem culpa) e o Banco pode falir, nãopodemos responsabilizar o emitente.

Não se deve ficar no tempo doscarros de bois, em que se levava di-nheiro para, pagar dividas. Auxilie-mos a evolução do cheque visado.

Meu voto, em conclusão, é acom-nhando os usos e costumes das cidadesmais adiantadas do Brasil — Rio deJaneiro, São Paulo, Salvador. Conhe-ço do recurso e lhe nego provimento,acompanhando o voto do eminenteSr. Ministro Pedro Chaves.

VOTO

Sr. Ministro Vilas Boas: — Se-nhor Presidente, fiz um modesto estu-do, quando integrava o Tribunal deJustiça de Minas Gerais, e cheguei auma conclusão inteiramente diferente.Fiz uma distinção entre cheque mar-cado e cheque visado. A marcação éque, importa em reserva de fundos.Esse estudo, parece que está publica-do na Revista Forense.

Em todo o caso, fico por aqui:quando há um assento comercial equi-parando a marcação com o visto, ai, oassento supre a deficiência da lei —porque, realmente, a lei é deficiente.

Mas, numa praça como Belo Ho-rizonte — o Sr. Ministro Gonçalvesde Oliveira não colocou a nossa Ca-pital como uma das mais adiantadasdo Pais — com rede bancária muitogrande e importante, não há esse cos-tume de pagar em cheque.

Assim votei num caso — me pa-rece — do Banco de Crédito Real deMinas Gerais, caso esse em que houvecontra-ordem.

Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Mas o assento não diz queo visto tem o mesmo efeito da mar-cação. O assento manda fazer o lan-çamento do débito.

Sr. Ministro Vilas Boas: —Se houver um assento equiparando osdois atos, o Banco terá de fazer, real-mente, a reserva de fundos.

Sr. Ministro Hermes Lima: —Se houver dúvida, volta aquela quan-tia para a conta do credor.

R .T.J. 38 177

Em todo o caso, parece que houveprejuízo. O Banco veio a falir; e otomador, que tinha em conta, com ovisto, um aumento da garantia, nãopode ficar prejudicado.

Assim, estou de acOrdo com o emi-nente Sr. Ministro Relator, não obs-tante o brilhante voto do eminenteSr. Ministro Gonçalves de Oliveira.

VOTOO Sr. Ministro Hahnemann Guima-

rães: — Sr. Presidente, acompanho ovoto do eminente Ministro Victor Nu-nes, porque me parece que o "visto"não importa extinção da obrigação doemitente, mas tem por efeito refor-çá-la.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conheceram do recurso e

lhe deram provimento, contra os votosdos Ministros Pedro Chaves, Gonçal-mes de Oliveira e Cêndido MottaFilho.

Presidência do Ex.mo. Sr. MinistroA. M. Ribeiro da Costa. Relator, oExmo. Sr. Ministro Victor NunesLeal. Tomaram parte no julgamentoos Ermos. Srs. Ministros EvandroLins e Silva, Hermes Lima, VictorNunes Leal, Gonçalves de Oliveira,Vilas Boas, Cêndido Motta Filho eHahnemann Guimarães. Licenciados,os Ermos. Srs. Ministros Luiz Gal-lotti e Pedro Chaves. Ausente, pornão ter assistido ao relatório, o Exce-lentíssimo Sr. Ministro Lafayette deAndrade.

Brasília, 14 de outubro de 1965.— Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.238 — RS(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrente: Jamil Abdel Fatah. Recorridos: Manoel Augusto Kaiser e suamulher.

Locação.Retomada.O fato de não haver o juiz cominado multa na sentença de

despejo, não impede que o locatário a reclame, no seu justo valor,em ação ordinária, caso o locador não use o imóvel para o fim comque justificou a retomada.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de Re-

curso Extraordinário n.° 58.238, doRio Grande do Sul, em que á recor-rente Jamil Abdel Fatah e são recor-ridos Manoel Augusto Kaiser e suamulher, decide o Supremo TribunalFederal, em 3.° Turma, não conhecerdo recurso, unônimemente, de acôrdocom as notas juntas.

Distrito Federal, 31 de março de1966. — Luiz Gallotti, Presidente eRelator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luiz Gallotti: —

Esta a sentença (f. 56), do ilustreJuiz Flávio Antônio Ramos da Luz:

"Ação de despejo que Manoel Au-gusto Kaiser e sua espósa Alda BiocoKaiser, brasileiros, domiciliados e re-sidentes nesta cidade, movem a seuinquilino Jamil Abdel Fatah, trens-jordano, comerciante, estabelecido nes-ta cidade, com fundamento no artigo15, inc. IV, da L. 1.300, de 28.12.50,e vigência por leis posteriores, visan-do a retomada do imóvel locado aoréu, pois dele necessitam para uso

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próprio da postulante, uma vez que éestabelecido com loja de artigos fe-mininos em lugar impróprio.

Os autores fizeram notificar o réu,em 10 de maio do ano próximo-passa-do, com assinatura do requerido emdata de 17, conforme se vê de f. 4usque 21, não conseguindo a desocupa-ção.

Citado, contestou o réu (f. 26-27),alegando que os autores não mais re-sidiam no apartamento que habitavamquando da notificação, "eis que o Dou-tor Adão Faraco já desocupou o seuapartamento e eles para ali se mu-daram e até mesmo já locaram a ou-

trem o apartamento térreo em queresidiam", e o réu ocupa uma parteprópria para comércio, não se poden-do dizer que pedem o prédio comfundamento no inc. IV do art. 15 daL. 1.300, pois a parte locada é autô-noma e independente. •

Os autores contraditaram e junta-ram documentos (f. 31-35).

Sôbre os documentos, falou o réu,juntando a certidão de f. 38.

Saneador à f. 39, deferindo a pe-nde.

Compromissado o perito único, apre-sentaram as partes os seus quesitos(f. 45 e 46), que foram respondidospelos laudos de f. 49 e 50.

Na audiência de instrução e julga-mento, o Doutor Patrono dos Autoresprocurou mostrar que a parte locadanão é autônoma, não tem condiçõespara subsistir independentemente doresto do prédio, que é de estrutura úni-ca, e reforçou as alegações a inicial,ao passo que, o douto patrono do réureafirma que os autores não pretendemparte do imóvel, mas sim receber umaeconomia autônoma e independente, oque a lei não lhe autoriza, não estan-do provada a necessidade.

A decisão é proferida com atraso, emvirtude do acúmulo de servico nasduas Varas da Comarca.

Isto pôsto.A retomada da parte do prédio de

propriedade do autor e locada peloréu, para fins comerciais, fundamenta-se no art. 15, inc. IV, da L. 1.300/50,ainda vigente.

A autora Alda Bica Kaiser estálicenciada para estabelecer-se, como seestabelecem, com Confecções e Modas(f. 16), pagando devidos tributos (fa-

lhas 10-15).O lugar onde estabelecido o comér-

cio da autora é deficiente e impró-prio, como diz, sem que seja contes-tado.

A parte do prédio, que é locada aoréu, preenche os necessários requisitospara expandir o negócio.

Essa parte do imóvel não é autô-noma, como demonstrado nos autos e,principalmente, como se verifica da(f. 16), pagando devidos tributos (fa-

lhas 38.Os autores residem no mesmo pré-

dio.Não conheço lei que vede o exerc4-

cio do comércio pela autora.A retomada é para uso próprio, pois,

para o negócio ser expandido e melho-rado. O autor á o chefe da sociedadeconjugal.

Em tais termos, julgo procedente aação, de acôrdo com o dispositivo le-gal citado, e fixo o prazo de noventa(90) dias para a desocupação, nostermos do 3.°, art. 15, da lei citada,eis que decreto o despejo."

Apelação do réu, sustentando tra-tar-se de unidade autônoma, e, assim,o caso não se enquadraria no n.° IVdo art. 15 da L. 1.300 mas no n.° V,que exige faça o locador prova da ne-cessidade.

A sentença foi confirmada.Recurso extraordinário do réu (alí-

neas a e d)

A Procuradoria-Geral opina (falhas108-109):

"1. Recorre extraordinitriamente Ta-mil Abdel Fatah contra decisão doTribunal de Justiça do Rio Grande doSul (f. 75), sustentando que o ares-to recorrido teria vulnerado o art. 15,inc. IV, e § 69, da Lei do Inquilina-to e divergido de julgados de outrosTribunais, porque:

incabível era a retomada Parafins comerciais da espôsa do reto-manta;

b) o imóvel era autônomo e iode-pendente; e

R.T.J. 38 179

c) omitiu-se, nos decisórios a multacominado pelo art. 15, 6P. daL. 1.300.

Sem razão o recorrente.Quanto à retomada para fins comer-

ciais, o recurso versa sabre questãonova, não suscitada perante o Tribu-nal a quo. Por outro lado, a senten-ça recorrida, confirmada pelo acórdãode f. 75, afirma que " a parte do imó-vel não é autônoma, como demonstra-do nos autos e, principalmente, comose verifica da prova pericial e do do-cumento de f. 38. Trata-se, assim, dematéria probatória, que não se com-porta nos limites do recurso extraor-dinário.

Finalmente, a aplicação da mul-ta cominado no art. 15. 6.°, daL. 1.300, só foi ventilada na petiçãode interposição do recurso extraordi-nário, não tendo sido prequestionada.

4. Opinamos, assim, pelo não co-nhecimento do recurso e, caso contrá-rio, somos pelo seu não provimento.

Brasília, 27 de agasto de 1965. —(a) A. G. Valim Teixeira, Procura-dor da República.

Aprovado: (a) Oawaldo Trigueiro,Procurador-Geral da República."

É o relatório.

VOTO PRELIMINARO Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-

lator): — Tem razão e douta Pro-.curadoria-Geral.

A matéria suscitada pelo recorrentena apelação Vira decidida em face deprovas: pericial e documental (f. 56).

No mais, alegam-se no recurso az-.traordinário matérias novas, não ar-güidas na apelação e que, assim, tam-bém não podem abrir ensejo ao recursoextraordinário.

É axe notar, entretanto, que o fato,de não haver o juiz cominado multana sentença de despejo, não impedeque o locatário a reclame, no seu justovalor, em ação ordinária, caso o loca-dor não use o imóvel para o fim comque justificou a retomada.

Não conheço do recurso.DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conhecido. Unânime.

Presidência do Empo. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Tomaram par-te no julgamento os Ermos. Srs. Mi-nistros Carlos Medeiros, Prado Kelly,Hermes Lima, Gonçalves de Oliveirae Luiz Gallotti.

Brasília, 31 de março de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. • 58.426 — MG(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Line e Silva.

Recorrente: Viação Cometa S.A. Recorrida: Fazenda Pública do Estado.

Taxa Rodoviária. Os veiados ora trânsito sarnenta pagam tri-buto no município onde tenham sede as respectivas empresas (ar-tigos 76 e 79 do Código Nacional). Recurso extraordinário conhe-cido e provido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os au-

tos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em Primeira Turma, na confor-midade da ata do julgamento e dasnotas taquigráficas, por unanimidade

de votos, conhecer do recurso e lhedar provimento.

Brasília. 6 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente — Evandro Lins e Silva, Re-lator.

180 R.T.J. 38

RELATÓRIOO Sr. Ministro Evandro Lins: —

parecer da douta grocuradoria-Geralda República resume e esclarece acontrovérsia:

"1. Ação executiva fiscal ajuizadapela Fazenda do Estado de Minas Ge-rais contra a Viação Cometa S.A.,empresa sediada em São Paulo, paracobança de Taxas Rodoviárias, Assis-tência Hospitalar, material de empla-cemento, vistoria, selo policia/ e multa.

2. Embargou a executada negandoa dívida, "de vez que tendo sua sede

domicilio na Capital do Estado deSão Paulo, ali procedia ao emplaca-mento regular de todos os seus veí-culos, nada mais se lhe podendo co-brar pela utilização dos mesmos, nascondições em que o faz, no territóriomineiro. E isso à vista do dispostonos arte. 76 e 79 e seu 1.0 do Códi-go Nacional de Trânsito (Dl. 3.651,de 25.9.41, que regula a matéria, porser da competência da União legislara respeito, como se vê do art. 5.°n.° XV, letra 1, e têm decidido os Tri-bunais de Justiça."

3. O v. acórdão de f. 67 julgouprocedente a ação em contrariedadeà sentença de primeira instância.

Irresignada, a executada mani-festou recurso extraordinário (24.2.65),fundado nas letras a e d do permissivoconstitucional.

A recorrente mantém a sua sedeno Estado de São Paulo onde são em-placados os seus veículos, usados notransporte interestadual de passagei-ros.

O trânsito desses veículos emterritório mineiro é que se pretendetributar. E mais: reclama o Estadode Minas Gerais contra o não emula-cemento dos mesmos em sua iurisdi-ção.

Tais exigências contrariam osarta. 76 e 79 do Código Nacional deTrânsito que dispõem: o primeiro, "que

tráfego dos veículos nas vias públi-cas fica condicionado ao licenciamen-to no domicilio de seu proprietário;

o segundo,"que os veículos a frete ficam isen-

tos de tributos do munic:pio em cujo

território transitarem, desde que nãoexerçam o transporte remunerado den-tro das cidades, vilas e povoados queatravessarem".

8. Conhecido o recurso pela alínead, no mérito, opinamos pelo provimen-to do recurso.

Brasília, ir de fevereiro de 1966.— (a) Sebastião Ribeiro Salomão,Procurador da República.

Aprovado: Alcino de Paula Salasar,Procurador-Geral da República."

Dou por feito o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Evandro Lins (Re-lator): — Está demonstrada a diver-gência jurisprudencial.

A 6.° Câmara Cível do antigo Dis-trito Federal decidiu hipótese seme-lhante de maneira diversa do acórdãorecorrido, entendendo que os veículosem trânsito semente pagam impósto delicença, no município onde tenhamsede as respectivas empresas.

No mérito, penso que assiste razãoà recorrente. Segundo o art. 76 doCódigo Nacional de Trânsito, o tráfe-go dos veículos nas vias públicas ficacondicionado ao licenciamento no do-micílio de seu proprietário.

Na conformidade do que dispõe oart. 79 do mesmo Código, os veículosa frete ficam isentos de tributos domunicípio em cujo território transita-rem, desde que não exerçam o trans-porte remunerado dentro das cidades,vilas e povoados que atravessarem.

O parágrafo primeiro dessa dispo-sição estabelece que se consideram emtrânsito, para esse efeito, os veículosa frete que, explorando o comérciode transporte entre pontos determina-dos, não recebam ou deixem passagei-ros ou mercadorias nas localidades in-termediárias.

A recorrente utiliza uma estrada fe-deral para o percurso entre São Pauloe Belo Horizonte, e não exerce trans-porte remunerado dentro das cidadesque atravessa.

No caso, o Estado não tem compe-tência para legislar a respeito, porque

R.T.J• 38 181

essa competência é da União, nos ter-mos do disposto no art. 5.°, XV le-tra j, da Constituição Federal.

Assim, nos termos do parecer dadouta Procuradoria-Geral da Repis-Mica, conheço do recurso e lhe douprovimento.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: A unanimidade, conhece-ram do recurso e lhe deram movi-mento.

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Lafayette de Andrada. Relator, oErmo. Sr. Ministro Evandro Lins.Tomaram parte no julgamento os&unos. Srs. Ministros Oswaldo Tri-gueiro, Evandro Lins, Victor Nunes eLafayette de Andrada. Ausente, justi-ficadamente, o Esmo. Sr. MinistroCândido Motta Filho.

Brasília, 6 de maio de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.525 — SP

(Tergeira Turma)Relator: O Sr. Ministro Hermes Lima.

Recorrente: Sociedade Edifício "Maria Constança". Recorrida: Luisa Costade Luigi.

Ação de Consignação. O locatário deve pagar as despesas decondonlirdo. Entre essas não se incluem as de reforma, porem, seincluem as de conservação do elevador. Deve-se distinguir entreconservação e reforma. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos. acor-

dam os Ministros do Supremo Tribu-na/ Federal, em Terceira Turma, porunanimidade de votos, não conhecerdo recurso na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigraficas.

Brasília, 1 de abril de 1966. —Gonçalves de Oliveira, Presidente —Hermes Lima, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Hermes Lima: —

A recorrida moveu uma ação de con-signação contra a Organização Paulis-ta de Administração Ltda. alegandoque era locatária do apartamento nú-mero 3, do prédio da Avenida da Luz,n.° 526 e, nessa qualidade, vem pa-gando os aluguéis à Organização loca-dora do imóvel; que em abril de 1963a locadora lhe participou que cobra-ria dos inquilinos do prédio as despe-sas de elevador nele instalado no to-tal de Cr$ 1.962.576, o que dariapara cada inquilino uma cota de ...Cr$ 245.322, a serem pagos em 12

prestações; que a recorrida não aceitouessa proposta, achando-a injusta, e queao pretender pagar o aluguel e despe-sas de condomínio houve recusa dalocadora que exigia também o paga-mento da cota relativa à reforma doelevador.

Posteriormente, a Sociedade Edifí-cio "Maria Constança", ora recorrente,moveu ação de despejo contra a recor-rida, locadora da concessionária, pelonão pagamento do aluguel relativo aomês de maio.

A recorrida contestou a acão ale-gando preliminarmente que a Socie-dade era parte ilegítima, pois a loca-ção foi contratada com a OrganizaçãoPaulista de Administração Ltda.

A sentença julgou procedente, emparte, a ação de consignação para ofim de considerar bons e valiosos osdepósitos feitos pela ora recorrida, ejulgou improcedente a ação de des-pejo.

A sentença argumentou que a Lei4.240, de 28.6.63, art. 5.°, autorizaa cobrança de despesas feitas com"materiais para conservação de fuá-

182 R.T.J. 38

vel". Desse modo, a instalação ou areforma de um elevador não constituiconservação.

A Organização embargou a sentençae a Sociedade interpôs embargos in-fringentes.

juiz manteve a decisão embarga-da (f. 135).

A Sociedade interpôs recurso ex-traordinário pelas letras a e d, sem in-dicação dos dispositivos legais viola-dos, antes dizendo que se trata demeteria de interpretação e aplicaçãode legislação do inquilinato. E que adecisão recorrida fixou orientacão di-versa da predominante na jurisprudên-cia e desatende ao fim social da Lei(art. 5.0 da Lei de Introducão aoC. Civ.) (f. 189).

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Hermes Lima (Re-lator): — Não conheço do recurso.Éste Tribunal já decidiu no RE 55.072de que foi Relator o eminente Minis-tro Evandro Lins que "a L. 1.300, de1950, estabeleceu distinção nítida en-tre aluguel e encargos de locação. Sea estipulação do primeiro é livre naslocações novas (art. 3.°), a cobrançados segundos a5 se admite nos casostaxativamente enumerados no art. 8.0.Neles não se incluem as despesas deconservação de elevador."

Pela nova lei, a de n.° 4.494, de25.11.64, o locatário pagará as des-pesas normais de condomínio (art. 30,

$.°)•Entre as despesas normais de con-

domínio, não se incluem as destinadasà conservação do elevador, desde queisto implique em reforma, ou seja,substituição de peças fundamentais aofuncionamento da máquina.

É preciso distinguir entre conserva-ção e reforma. A conservação é, porassim dizer, diária. A reforma é ex-cepcional, porque significa substituirou introduzir melhoramentos na estru-tura do aparelho.

As despesas normais de condomínioincluem as de conservação, porém, nãoas de reforma do elevador.

DECISÃOCorno consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não conhecido. por deci-são unânime.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Gonçalves de Oliveira. Relator, oExmo. Sr. Ministro Hermes Lima.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Senhores Ministros Car-los Medeiros, Hermes Lima e Gonçal-ves de Oliveira. Ausentes, justificada-mente, os Ermos. Srs. Ministros LuizGallotti e Prado Kelly.

Brasília, 1 de abril de 1966. — Ál-varo Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.691 — SP(Prianeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Evandro Lins e Silva.

Recorrente: Sociedade Pinheirense de Instrução. Recorrida: PrefeituraMunicipal de São Paulo.

~isto. Para gozar da imunidade prevista no art. 31, V, le-tra h, da Constituição, niio á necessário que a sociedade de objeti-vo educacional ministre o ensino gratuito totalmente. Recurso ex-traordinário conhecido e Provido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os au-

tos acima identificados, acordam osMinistros do Supremo Tribunal Fe-deral, em Primeira Turma, na confor-midade da ata do julgamento e das

notas taquigráficas, por unanimidadede votos, conhecer do recurso e lhedar provimento.

Brasília, 9 de maio de 1966. —A. C. Latayette de Andrade, Preá-

R.T.T. 38 183

dente — Evandro Lins e Silva, Re-latar.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Evandro Lins: —

O parecer da douta Procuradoria-Ge-ral da República resume e esclareceO caso:

"1. Na ação executiva fiscal ajuiza-da pela Prefeitura Municipal de SãoPaulo, para cobrança de "sisa", defen-deu-se a executada, Sociedade Pinhei-rense de Instrução, alegando sua con-dição de instituição de educação e,conseqüentemente, beneficiária da imu-nidade tributária prevista no art. 31,V, b, da Constituição Federal.

O v. acórdão de f. confirmou asentença de primeira instância, quejulgou procedente a ação. Fundou-sea r. sentença em que "A executada,consoante dispõe seu estatuto, é umasociedade civil, cujo fim é fundar es-colas, sendo que não possui fins lu-crativos (arts. 1.0 e 2.°, f. 29): en-tretanto isso não ocorre, pois, como foiapurado no processo administrativo,mínimo é o número de alunos matri-culados, nos diversos cursos, gratuita-mente (Cf. trenstado de f. 49)."

Como anotou o patrono da Munici-palidade, a executada "não pode as-pirar seu enquadramento entre as ins-tituições abrangidas pelo favor fiscal,mesmo porque o fato de receber alu-nos em pequeno grupo (menos de ..10%) e de conceder mensalidades re-duzidas a outro diminuto número nãoilide o seu caráter econômico e lu-crativo" (f. 117).

Irresignada, a executada mani-festou recurso extraordinário, com fun-damento nas letras a e d do permissi-vo constitucional.

A condição estabelecida no ar-tigo 31, V, b, da Constituição Federal,para a imunidade tributária ali pre-vista em favor, entre outros, das ins-tituições de educação, é a aplicaçãointegral de suas rendas no Pais paraos respectivos fins.

Não vedou a Lei Magna, comose vá, a obtenção de rendas pelosbeneficiários da imunidade.

6. E, no caso, não se alegou sequera inaplicabilidade das rendas da re-corrente no País, para os respectivos

fins, fato que constituiria motivo im-peditivo para o favor pretendido..

7. Ante o exposto, opinamos, preli-minarmente, pelo conhecimento do re-curso, face o dissídio jurisprudencial;no mérito, pelo provimento do re-curso.

Brasília, 15 de fevereiro de 1966.— Sebastião Ribeiro Salomão. Pro-curador da República.

Aprovado: Alcino de Paula Salazar,Procurador-Geral da República."

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Evandro Lins (Re-tator) • — Para que os estabelecimen-tos de educação e de assistência so-cial gozem da imunidade tributáriaconstante do art. 31, V, letra b, deConstituição, exige-se:

aplicação integral, no País, desuas rendas;

aplicação destas rendas nos res-pectivos fins (assistenciais ou educa-cionais).

fato de não haver gratuidade detodas os alunos, ou de grande númerode alunos, nos diversos cursos do es-tabelecimento, não exclui a imunidadetributária.

Esse o fundamento da decisão re-corrida, isto e, a finalidade lucrativaestaria no fato de ser mínimo o núme-ro de alunos matriculados nos diver-sos grupos, gratuitamente.

Tal argumento é insustentável, emface da letra e do espirito da Cons-tituição.

certo que a recorrida apresentououtros argumentos, no curso do proces-so, para salientar que a recorrente nãotem finalidade exclusivamente educa-cional e sim lucrativa. Entre gases ar-gumentos, que não foram adotados nadecisão recorrida, se encontra o de queos Estatutos da Sociedade de Educa-ção, embora digam que ela se destinaà fundação, aquisição e manutençãode casas de ensino, também prevê re-munerações, indenizações dos sócios,bem como distribuição dos bens, emcaso de dissolução da sociedade.

A remuneração dos sócios, previstanos Estatutos, art. 59, letra b, dizrespeito às funções que exerçam nasociedade. Além disso, entre os deve-

184 R.T.J. 38

res dos sócios está o de dedicar tódaa sua atividade profissional à socie-dade (art. 7.°, letra a).

Não vejo como essa remuneraçãopossa excluir a imunidade tributáriaprevista na Constituição, pois ela sedestina a remunerar trabalhos, o quenão significa fim lucrativo, nem tam-pouco destinação das rendas para ob-jetivos estranhos à educação.

Também não vejo qualquer desvioda finalidade da instituição no fatode prever a distribuição dos bens, emcaso de dissolução.

Outrotanto não procede o argumen-to de que a expressão "instituição deeducação" esteja empregada no textoconstitucional no sentido de prestaçãode serviços, sempre gratuitos, sem au-ferição de quaisquer rendas para asua manutenção.

A instituição pode ter rendas e co-brar serviços. A condição para a imu-nidade tributária é que essas rendasou o recebimento da prestação deserviços sejam aplicadas integralmen-te no pais, para as respectivas finali-dades. Se a lei fala em aplicação derendas no pais, e porque admite a exis-tência destas, e, conseqüentemente, oensino retribuído.

Com a imunidade, quis o Estadoatrair a iniciativa particular para o

terreno da educação, suprindo-lhe asdeficiências e secundando-lhe a açãonesse setor de magna importância so-cial.

Assim sendo, improcede o funda-mento da decisão recorrida. porque,para gozar da isenção de impostos, nãoé necessário que a sociedade de ob-jetivo educacional ministre o ensinogratuito totalmente.

Nestes termos e adotando o parecerda douta Procuradoria-Geral da Re-pública, conheço do recurso e lhe douprovimento.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conheceram do recurso elhe deram provimento. Decisão unâ-nime.

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Lafayette de Andrade. Relator, oErmo. Sr. Ministro Evandro Lins.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Srs. Ministros OstvaldoTrigueiro, Evandro Lins, Victor Nu-nes e Lafayette de Andrade. Ausente,justificadamente, o Exmo. Sr. Mi-nistro Cândido Motta Filho.

Brasilia, 9 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 59.054— GB(Terceira Turma)

Re/ator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.Recorrentes: Nelson Ratem e outro. Recorrida: União Federal.

Coisa julgada.Mandado de segurança.A denegação da segurança, tais sejam os termos da decisão,

pode constituir res judicata.No caso, porém, apenas se negou ao impetrante direito líquido

e certo.Claramente se ve, portanto, que excluído ficou o cabimento do

mandado de segurança, mas não o da ação ordinária.Detetives.Inclusão na carreira de comissários de polícia, do Departa-

mento Federal de Segurança PúblicaRecurso extraordinário conhecido e provido, para julgar Pro-

cedente a ação.

ACÓRDÃO Guanabara, em que são recorrentes

Vistos e relatados estes autos de Re- Nelson Ratem e outro e é recorrida

curso Extraordinário n.° 59.054, da a União Federal, decide o Supremo

R.T.J. 38 185

Tribunal Federal, em 3.* Turma, co-nhecer do recurso e dar-lhe provimen-to, unanimemente, de ac6rdo com asnotas juntas.

Distrito Federal, 5 de agasto de1966. — Luiz Gallotti, Presidente eRelator.

RELATÓRIOSr. Ministro Luiz Carlota: —

A sentença (f. 74-78), do ilustre JuizClovis Rodrigues, julgou procedente aação proposta por Nelson Hatem eoutro. Reclamam os dois autores. am-bos detetives, a inclusão na carreirade Comissários de Polícia, do Depar-tamento Federal de Segurança Públi-ca, classe L (L. 705, de 1949, 1.639,de 1952, e 2.212, de 1954). É ma-téria que já veio muitas vezes ao Su-premo Tribunal.

Tribunal de Recursos, por sua 1.*Turma, reformou a sentença e julgouimprocedente a ação. Foram vencedo-res os ilustres Ministros Márcio Ribei-ro e Cândido Lao, vencido o ilus-tre Ministro Aguiar Dias (Relator).

Houve embargos dos autores, que fo-ram rejeitados por maioria.

Daí o presente recurso (alíneas ae d).

A Procuradoria-Geral opina pelo nãoconhecimento ou não provimento.

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — A primeira objeção deUnião é que teria havido coisa julgadacontra os autores, ora recorrentes(f. 64), uma vez que impetrarammandado de segurança e perderam.

Sou dos que admitem que tambéma denegação da segurança, tais sejamos termos da decisão, pode constituirrés judicata.

No caso, porém, o Relator do acór-dão denegatório, após considerar ina-tendível, de mentis, o pedido de se-gurança, concluiu assim o seu voto,unânimemente acolhido (f. 64):

"De modo que o próprio direito queprocuram ostentar não se me afiguralíquido e certo."

Claramente se vê, portanto, que ex-cluído ficou o cabimento do mandadode segurança, mas não o da ação or-dinária.

Outra objeção é que não haveriavaga.

Ora, no julgamento do RE 47.110,de que foi Relator o eminente Minis-tro Victor Nunes, assentou unânime-mente a 2.a Turma do Supremo Tri-bunal:

`Observe-se, porém, ex abundantia,que a falta de vagas não poderia pre-judicar o direito do impetrante: a leimandara aproveitar, automaticamente,os que se encontrassem nas condiçõesindicadas."

No mesmo sentido, decidiu o Su-premo Tribunal no RMS 10.592. deque fui Relator (acórdão unânime de11.3.63).

Alega ainda a União que o aprovei-tamento dependeria de que o funcio-nário houvesse ingressado na Políciapor concurso.

Mas que esse requisito foi satisfeitocom a aprovação no curso especial fei-to pelos autores (prova de habilitaçãoque é espécie do género concurso), as-sentou o Supremo Tribunal em reite-radas decisões (acórdão unânime de6.12.63 no RE 51.787 em grau deembargos, Relator o eminente Minis-tro Ribeiro da Costa; acórdão unâni-me de 8.5.63 no RMS 11.169. Re-lator o eminente Ministro Gonçalvesde Oliveira; acórdão unânime de ...11.3.63, no RMS 10.592, de quefui Relator).

Diz também a União que o 1.° au-tor só completou dez anos de serviçoem 17.3.53 e que o segundo só se di-plomou em direito a 19.12.52.

Ora, decidiu o Supremo Tribunalque cabe o direito questionado aosque preencheram os requisitos antesda L. 2.212, de 31.5.54 (acórdãode 12.3.64, de que fui Relator, noRE 54.521; acórdão do Tribunal Ple-no, de que foi Relator o MinistroGonçalves de Oliveira no RMS 11.169e onde S. Excia cita algumas ou-tras decisões, inclusive urna de que fuiRelator no Ag 20.905).

Na espécie, os requisitos foram sa-tisfeitos entes da L. 2.212, de 1954.

186 R.T.J. 38

Em face do exposto, e de acôrdocom a jurisprudência do Supremo Tri-bunal, conheço do recurso e lhe douprovimento, para restabelecer a sen-tença da primeira instancia.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conhecido e provido. Unâ-nime.

Presidente e relator, o Exmo. Se-nhor Ministro Luiz Gallotti. Toma-ram parte no julgamento os Excelen-tíssimos Senhores Ministros Prado Kel-ly, Hermes Lima, Gonçalves de Oli-veira e Luiz Gallotti.

Brasília, 5 de agOsto de 1966. —José Amaral, Secretário de Turma.

MOEM DE SIISPEPÇÃO N.° 3 — GB(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Agravante: Sr. Governador do Estado da Guanabara.

Suspeição.Indeferimento da exceção, in lirnine.Agravo regimental não provido.

ACóR.DÃOVistos e relatados 'estes autos de

Agravo Regimental na Exceção de Sus-peição n.° 3, da Guanabara, em queá agravante o Governador do Estadode Guanabara, Carlos Lacerda, decidee Supremo Tribunal Federal, unani-memente, negar provimento ao agravo,de acôrdo com as, notas juntas.

Distrito Federa, 8 de junho de1966. — A. M. Ribeiro da Costa,Previdente. Luiz Gallotti, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luis Gallotti: —

Sr. Presidente, o despacho agravadofoi por mim proferido, quando eraVice-Presidente, no exercício da Pre-sidência (f. 36):

"A exceção de suspeição, com queo excipiente pretende afastar do jul-gamento da Repr. 602 cinco dos noveministros ora em exercício no SupremoTribunal Federal, no tocante ao fatode terem quatro dos excetos exercidocargos de confiança em Governos ante-riores, além de oposta fora do prazolegal, evidentemente não se enquadraem qualquer das alíneas do art. 227do Reg. S.T.F., que reproduz o ar-tigo 185 do C. Pr. Civ.

Restaria a alegação de inimizadecapital entre o excipiente e os excetos.Mas esta, como aquela, se existisse,também teria sido tardiamente formu-lada, pois o art. 230 do Reg. S.T.F.marca o prazo de cinco dias seguintesà distribuição, dentro do qual deveráser oposta a exceção, quanto aos mi-nistros que em conseqüência da mesmadistribuição tiverem necessariamentede intervir na causa, salvo quando oargüido de suspeição far chamadocomo substituto, hipótese em que oprazo de cinco dias se contará domomento da intervenção. Não e este,porém, o caso dos autos, porquantoos exceto° não são substitutos e simmembros efetivos do Tribunal. A re-ferência aos ministros, que, em conse-qüência da distribuição, tiverem ne-cessariamente de intervir na causa,visa à hipótese de julgamento por umaTurma, caso em que o Ministro daoutra Turma poderá ser chamado comosubstituto e caberá então, quanto aoprazo, a ressalva referida. Ora, aquise trata de julgamento, não por umaTurma, mas pelo Tribunal Pleno. De-pois do prazo do art. 230, a exceçãosómente poderá ser oposta, se a parteinvocar motivo superveniente (ar-

R.T.J. 38 187

tigo 232), o que não ocorre na espécienem foi alegado.

O acórdão invocado pelo excipiente(RE 8.454) não diz respeito à ex-ceção de suspeição e sim à de coisajulgada, que, como é pacífico, podeser argüida em qualquer fase do li-tígio.

Acresce que é ilegítima a suspeiçãoquando o argüente, depois de mani-festada a sua causa, pratica qualquerato que importe a aceitação do juizrecusado (Código cit., art. 186, eReg. S.T.F., art. 228). E o excipi-ente praticou ato que importava talaceitação, pois contestou a represen-tação, sem recusar os juizes que agorarecusa.

É de notar ainda que os excetos jájulgaram causa de interesse do atualGovêmo da Guanabara, sem que lhesfôsse levantada qualquer suspeição.

Assentou o Supremo Tribunal (Sú-mula 322) que não terá seguimentopedido ou recurso a ele dirigido,quando manifestamente incabível, ouapresentado fora do prazo.

Assim, diante das razões expostas eem obediência ao que dispõe a Súmula,indefiro o pedido de f . 1 e seguintes.Arquive-se."

Houve agravo e mantive o despacho,dizendo o seguinte:

"Antes de ser iniciado o julgamento,disse eu:

"O Governador da Guanabara, porseu procurador Eugênio Sigaud, vi-sando a impedir o julgamento, marcadopara hoje, dia 30, da Repr. 602 ofe-recida pela Assembléia Legislativa doEstado, ofereceu, a 26 do corrente,exceção de suspeição contra cinco dosnove ministros ora em exercício noSupremo Tribunal.

Proferi despacho de indeferimento,que o Tribunal conhece. Despachotalvez demasiadamente sereno, se éque pode existir demasia quando ojuiz cumpre o seu dever de serenidade.Esta, porém, ao que leio na imprensa,não foi compreendida pelo procuradordo Estado, pois eu poderia ter dito enão disse: que a exceção, como foiformulada, era um desrespeito a estaCarta de Justiça, e a ninguém, mais

do que ao seu Presidente, incumbezelar pelo respeito a ela devido; que,englobando no mesmo requerimento aexceção contra cinco juizes, em vez deformular uma relativamente a cadajuiz, como devera, o procurador, es-capando por suas notórias habilidadesà suposição de inépcia, deixava patente

seu propósito malicioso: tomarimpossível o julgamento da exceção,fazendo com que cinco dos nove jui-zes ficassem globalmente impedidos,quando, na verdade, cada um dos cincosemente o seria em relação ao seucaso; que a petição, feita assim, nãotinha viabilidade processual nem aseriedade necessária para ser distri-buída e lograr seguimento. Isso, alémdas razões que constam do meu des-pacho.

Acabo de receber, neste instante, orequerimento de agravo, interposto domeu despacho, pelo procurador Sigaud,

vou examiná-lo, depois de junto aosautos, para proferir a decisão quecouber.

Se errar, o Tribunal me corrigirá.Entendo que a pendência desse

agravo não impedirá o julgamento darepresentação, pois, não reconhecidaa suspeição pelos Ídinistros recusados,as exceções só se podem processar emautos apartados (art. 231 do Regi-mento), sem efeito suspensivo, dizendo

Regimento (art. 235) que, quandojulgada afinal procedente a exceção,se haverá por nulo o que tiver sidoprocessado perante o Ministro re-cusado. E só é admitida a suspensãodo processo, se a parte contrária re-conhece a procedência da suspeição(art. 236).

Tribunal, entretanto, em suasabedoria, dirá se estou certo, pen-sando assim."

Mantenho o despacho agravado.Inclua-se o agravo regimental em

pauta do Tribunal Pleno".o relatório e não tenho voto.

VOTOSr. Ministro Abotoar Baleeiro:

— Sr. Presidente, não dou provimentoao agravo. Não há suspeição, no caso.

188 R.T.J. 38

VOTO

O Sr. Ministro Prado Kelly: —Sr. Presidente, nego provimento aoagravo, pelo fundamento do eminenteMinistro Relator, já acolhido, na parteque diz respeito à aplicação do Códigode Processo Civil, por este Tribunal,quando decidiu a Reclamação relativaao RE 56.604.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Negou-se provimento aoagravo, à unanimidade.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroRibeiro da Costa. Relator, a Exce-lentíssimo Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Tomaram parte no julgamento osExrnos. Srs. Ministros Miomar Ba-leeiro, Prado Kelly, Evandro Lins,Iilennes Lima, Pedro Chaves; VictorNunes, Gonçalves de Oliveira, VilasBoas, Luiz Gallotti e Lafayette deAndrade. Impedidos, os Ermos. Se-nhores Ministros Oswaldo Trigueiro eCarlos Medeiros. Ausentes, justifica-demente, os Ermos. Srs. MinistrosAdalicio Nogueira e tendido MottaFilho. Licenciado, o Exmo. SenhorMinistro Ffelmemann Guimarães.

Brasília, 8 de junho de 1966. —Álvaro Peneira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 13.419 — DF

(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro.

Recorrente: Bismark Ares Leão. Recorrida: União Federal.

Tempo de Serviço Federal — Nele não se computa períodoem que o funcionário foi empregado das empresas de súditos doEixo, em liquidação cometida pelo Governo Federal ao Banco doBrasil. Interpretação do DL 8.249-45.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Mandado de Segurança n.° 13.419, doDistrito Federal, em que são: recor-rente, Bismark Area Leão e, recorrida,União Federal, decide o Supremo Tri-bunal Federal, pela sua SegundaTurma, negar' provimento ao agravo,urifinimemente, de ao:1rd° com as no-tas juntas.

Distrito Federal, 31 de maio de1966. — A. M. Vilas Boas, Presidente.

Aliomar Baleeiro, Relator.RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:1. O alentado recurso de f. 54-62

visa à reforma do v. Acórdão do eg.Tribunal Federal de Recursos (f. 52),que cassou a segurança concedida palar. sentença de f. 27-30, a fim de que

fane computado como de efetivo exer-cício o tempo de serviço prestado peloImpetrante, Tesoureiro do Ministérioda Fazenda, ora Recorrente, a empresasde súditos do Eixo, durante a fase emque estiveram sob intervenção peloGoverno Federal.

O Acórdão recorrido tem a se-guinte ementa: "Servidor público.Contagem de tempo de serviço ante-rior. Quando não cabe. O funcionáriotem, realmente, direito a contar, paraos efeitos de aposentadoria e disponi-bilidade, qualquer tempo de serviçopúblico anterior. Não tem esse caráter,por falta de recomendação expressa dalei, o serviço prestado às empresas desúditos do Eixo, durante a fase deintervenção do Governo."

As contra-razeas de f. 96-98 eo parecer de f. 103-104 aprovado pelo

R.T.J. 38 189

Eminente Ministro Oswaldo Trigueiro,são em sentido contrário ao recursointerposto.

o relatório.

VOTOSr. Ministro Aliomar Baleeiro

(Relator): — 1. ó Recorrente serviucomo empregado em F. Schmitzer —Propaganda de Produtos Knoll e Cia.Merck Brasil S.A., em liquidação, de1.9.50 a 15.10.56, quando essas em-presas de súditos alemães estavam sobintervenção federal (doc. f. 9). AUnião contratou com o Banco do Bra-sil a liquidação dessas e outras em-preses, que, mais tarde, por motivo deconveniência de política externa, res-tituiu aos proprietários confiscados.Não as incorporou, nem administrou.• 2. O Recorrente funda seu direitono Dl. 8.249-45, que considera extra-numerários os servidores de empresasincorporadas ou administradas pelaUnião, se admitidos após a incorpo-

ração. Não é, creio, o caso do Impe-trante, que, assim, não pode pretenderque se aplique à espécie o art. 192da Constituição. Não há lei que lheprestigie o intento e, destarte, falecedireito líquido e certo a ser amparadopela via excepcional do MS. Nãoé certo nem líquido direito que invocaanalogia. Nego provimento.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Negaram provimento. Unâ-nime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroVilas Boas. Relator, o Exmo. Sr. Mi-nistro Aliomar Baleeiro. Tomaramparte no julgamento os Exume. Se-nhores Ministros Aliomar Baleeiro,Adalício Nogueira, Pedro Chaves eVilas Boas. Licenciado, o Ermo. Se-nhor Ministro Hahnemann Guimarães.

Brasília, 31 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N' 15.755 — GB(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrente: Alaor Teixeira. Recorrido: Instituto de Aposentadoria e Pen-sões dos Empregados em Transportes e Cargas.

Tempo de serviço.Contagem.Função gratificada.Para aplicação da L. 1.741, de 22.11.52, soma-se o tempo

de serviço ininterrupto em cargo em comissão e em função gra-tificada.

A L. 1.741, de 22.11.52, é aplicável às autarquias federais.Segurança concedida.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Recurso de Mandado de Segurançan.° 15.755, da Guanabara, em que érecorrente Alaor Teixeira e recorrido

Instituto de Aposentadoria e Pen-sões dos Empregados em Transportes

Cargas, decide o Supremo TribunalFederal, em 3.a Turma, dar provi-

mento ao recurso, unânimemente, deaceirdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 31 de março de1966. — Luiz Gallotti, Presidente eRelator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —O acórdão recorrido está resumido emsua ementa (f. 49):

190 R.T.J. 38

°Funcionário público — O art. 1.0da L. 1.74,1., de 1952, não tem quever com função gratificada — 56atinge cargo de caráter permanente ede provimento em comissão".

Recurso do impetrante.A Procuradoria-Geral opina pelo não

provimento.o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — O recurso está apoiado najurisprudência do Supremo Tribunal(Súmulas 32 e 33).

Diz a primeira:

"Para aplicação da L. 1.741, de22.11.52, soma-se o tempo de serviço

ininterrupto em cargo em comissão eem função gratificada."

E a segunda:"A L. 1.741, de 22.11.52. á apli-

cável às autarquias federais".Assim, dou provimento ao recurso,

para conceder a segurança.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Provido. Unânime.Presidência do Exmo. Sr. Ministro

Luiz Gellotti, Relator. Tomaram parteno julgamento os Ermos. Srs. Mi-nistros 'Carlos Medeiros, Prado Kelly,Hermes Lima, Gonçalves de Oliveirae Luiz Gallotti.

Brasília, 31 de março de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 15.882 — SP

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro.

Recorrente: Cynira Negro. Recorrida: Câmara Municipal de Santos eValentino Pereira dos Santos como Assistente.

A administração pública pode declarar a nulidade dos seuspróprios atos (Súmula 346).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros sda Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, negar pro-vimento ao recuno.

Brasília, 6 de maio de 1966. —A C. Lalayette de Andrada, Presi-dente. — Oswaldo Trigueiro, Relator.

RELATÓRIO

Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro:— Cynira Negro impetrou segurançacontra o ato do Presidente da CâmaraMunicipal de Santos, Estado de São

Paulo, que a exonerou de cargo queocupava na Secretaria daquele órgão.

Alega que: a) admitida como con-tratada em julho de 1961, foi nomeada,dois meses depois, para exercer o cargode Assessor, Padrão "O", criado pelaresolução 90, de 24 de agósto do mes-mo ano; b) tendo sido impugnada anomeação da impetrante, foi esse atoafinal aprovado pela Câmara Muni-cipal, de conformidade com o parecerda Comissão Técnica; o) Passados doisanos, o Presidente da Câmara Muni-cipal, por outra Portaria (n.° 27-63),revogou o ato de nomeação da impe-trante, exonerando-a do cargo em quefAra legalmente investida; d) essaexoneração viola as garantias inscritasna Constituição do Estado (arta. 88 e107); e) tendo adquirido estabilidade

R.T.J. 38 191

no cargo de que era legítimo titular,sua volta à situação anterior configuraato abusivo e ilegal que está a merecera proteção judicial pleiteada.

A autoridade impetrado prestou asinformações seguintes:

"Por Ordem de Serviço n. o 24-61, aimpetrante foi contratada como extra-numerária, Referência 18-A, pare. asfunções de dactilógrafo, tendo tomadoposse a 11.7.61. Em 6.9.61 foi no-meada para o cargo de Assessor, Pa-drão "O", pela Portaria nP 12-61.Por aquela Ordem de Serviço entroua impetrante no serviço público e,por esta Portaria, ingressou no quadro,aproveitada que foi, conforme se veri-fica à f. 18 do incluso Processo nú-mero 763-61, requisitado por esse doutoJuízo.

Pelo citado Processo n.0 76-61,outro funcionário, Valentino Pereirados Santos, inconformado com a in-vestidura da impetrante no cargo daAssessor, "reservado, como afirma de(f. 1 e 2), a funcionários, e não aservidores, como era a situação da-quela", recorreu de anterior decisãoque não provia seu apelo, obtendo,afinal, o despacho de f. 24-25 o pro-vimento do pedido. Em conseqüência,foi revogado o ato, "por ilegal"(f. 24), que nomeara a impetrante,advindo, daí, o recurso desta (Proces-so n.° 765-63) que foi indeferido "porter invocado dispositivo regimental" daimpetrado, quando, o certo, seria"dentro dos recursos do Estatuto doFuncionário Público Municipal".

Juntando os processos ns. 958-61 e620-61, mencionados nestas informa-ções, bem como os de ns. 763-61 e765-63, requisitados por êsse Juízo,que tratam do assunto, aguardamos doalto critério de V. Excia. a decisãofinal da matéria."

Ingressando nos autos como litiscon-sorte passivo (f. 46 e 151), ValentinoPereira dos Santos alegou que: a) anomeação da impetrante faro ilegal,nor não se ajustar aos termos daResolução n.° 90, segundo a qual oscargos por ela criados seriam obriga-tOriamente preenchidos por funcio-nários do Quadro da Secretaria, e as

vagas doe assim nomeados pelos can-didatos aprovados em concurso reali-zado para Oficial Legislativo; b)impugnou essa nomeação em processoadministrativo, por se julgar com di-reito ao cargo questionado, consideradasua condição de Oficial Legislativo,nomeado por concurso, com 13 anos deserviço, casado, e pai de cinco filhos,enquanto que a impetrante, que 4solteira, fôra nomeada quando con-tara apenas 57 dias de serviço comodactilógrafa contratada; c) a impe-trante não adquiriu estabilidade nocargo de Assessor, não só porque suanomeação era ilegal, como porquecontra êsse ato houve recurso adminis-trativo finalmente provido.

A segurança foi denegada pela sen-tença de f. 154, que, inter alia, con-siderou o seguinte:

"O ato reclamado como arbitrárioe abusivo foi o praticado pela Portarian.° 27-63, de 27.8.63, por fotocópiaà f. 31, e pela que/ o Presidente deCâmara Municipal de Santos, usandode suas atribuições, resolveu "revogar,por manifestamente ilegal, a Portarian.° 12, de 6.9.61, e, conseqüente-mente, exonerar, de acôrdo com oart. 9,°, inc. 19, do Regimento In-terno, do cargo de Assessor, padrão"TI-F", da Secretaria da Câmara Mu-nicipal de Santos, a Srta. Cynira Ne-gro, nomeadq em desacôrdo com oart. 2.° da Resolução n.° 90, decidindoque, até deliberação em contrário,volte a exercer as suas primitivas fun-ções, como extranumerário, na Divisãode Expediente desta Secretaria."

Entende a impetrante que a auto-ridade reclamada, assim procedendo,praticou "ofensa à garantia constitu-cional da estabilidade, conquistadapela impetrante quando no exercíciodas funções do cargo de que é titular,e com grosseira quebra da hierarquiafuncional, além de impor à impe-trante lesão patrimonial de intolerávelgravidade" (f. 2).

A garantia aludida o foi com invo-cação do art. 88 da Constituição doEstado de São Paulo: "É asseguradaa estabilidade ao funcionário que con-tar mais de dois anos de exercício."

192 R.T.J. 38

Mas a mesma Constituição dispõe,em seu art. 82: "Considera-se fun-cionário público todo aquêle que exer-ce, em caráter efetivo, mediante provade habilitação, e de saúde, nomeadopor autoridade competente, cargo pú-blico criado por lei."

Acontece que a impetrante exerciao cargo público desde 13.9.61, dataem que prestou compromisso e tomouposse do cargo de Assessor, para oqual ferra nomeada pela Portaria nú-mero 12-61, de 6.9.61 (f. 21).

Assim sendo, quando exonerada, a27.8.63 (f. 31), a funcionária nãohavia alcançado a garantia constitu-cional da estabilidade.

O ato de exoneração também deixaclaro que ela não se deve a qualquerfalta de funcionária, que então teriaque ser apurada em processo judiciárioou administrativo; mas resultou daverificação de uma ilegalidade prati-cada e ainda passível de correção.(Vide fundamentos do despacho af. 68-69).

Certo, ainda, que antes daqueleingresso como funcionária pública mu-nicipal, a impetrante já era servidorapública daquela mesma Edilidade, poisque fóra contratada para a prestaçãode serviços de dactilografia e outras,em data de 11.7.61 (f. 20).

Mas, observe-se, então, que a "ga-rantia" da contratada era nenhuma,pois que a Câmara Municipal reservou-se o direito de dar esse contrato porrescindido "a todo momento, indepen-dentemente de qualquer indenização."

A Constituição Paulista tambémestabeleceu que: A lei ordinária esta-belecerá as garantias e vantagens aeue terão direito os que prestam ser-viço ao Estado, sem pertencerem aoquadro de funcionários" (art. 103)•

Daí porque, afinal, no Município deSantos, a L. 1.813, de 17.1.56, é oEstatuto dos Funcionários Públicos doMunicípio, e a L. 2.180, de 12.9.59,n Estatuto dos Extranumerários Mu-nicipais de Santos (f. 65).

A impetrante, no inciso 17 de suainicial, cometeu dois graves equívocos.Um, de fato, ao afirmar que completou2 anos de exercício de função públicano cargo para o qual foi nomeada

pela Portaria revogada pelo ato im-pugnado. Outro, de direito, ao afirmara garantia da estabilidade no cargo.

Todavia, a estabilidade é uma atri-buição.pessoal do funcionário, que nãose comunica ao cargo. A estabilidadediz com o serviço público e não como cargo (R.D.A., 66/118).

Demais, a impetrante não obteve ocargo público, isolado e de provimentoefetivo, mediante concurso, pelo quesó poderia pretender benefício de es-tabilidade após 5 anos de serviço pú-blico (Constituição Federal, art. 188,II, e I,. mim. 1.803, de 17.1.56,art. 102, II).

De nada forma, porém, com aexoneração do cargo, a impetrantecontinuou como servidora pública mu-nicipal, pois que, no mesmo ato, ficouexplícito que ela voltaria a exercer assuas primitivas funções como extra-numerária (f 70).

Não tem, pois, objeto, a reclamaçãoem termos de garantia de estabilidadeno serviço público municipal, inafe-tada."

Essa decisão foi confirmada poracórdao unanime da Segunda CamaraCivil do Tribunal de Alçada, que lheadotou os jurídicos fundamentos, re-portando-se ainda es razões constantesda contra-minuta do assistente (Pi-lha 256) e do parecer da Procurado-ria-Geral do Estado (f. 278).

Ainda inconformada, a impetranterecorreu para o Supremo Tribunal(f. 287), tendo a douta Procuradoria-Geral da República opinado peloprovimento do recurso (f. 230).

VOTOO Sr. Ministro Osçvaldd Trigueiro

(Relator): — É pacífico, em nossajurisprudência, que a administraçãopública pode declarar a,nulidade deseus próprios atos (Súmula 346).

Não me parece que a autoridadeimpetraria haja praticado abuso depoder, ao anular ato de nomeação quedesobedecera ao prescrito na Reso-lução n.° 90, e contra o qual houvetempestiva e persistente reclamaçãode funcionário que se consideravaprejudicado em seu direito de acessono cargo questionado.

R.T.J. 38 193

Por outro lado, a Constituição doEstado (arte. 82 e 88) não ampara apostulação, pois 'Lamente consideraestável o funcionário que contar maisde 2 anos de exercício, requisito que.como funcionária, a impetrante nãosatisfazia, quando revogado o ato desua nomeação.

O Município de Santos faz nítidadistinção entre funcionários e extranu-merários, submetendo-os a dois Esta-tutos distintos (L. 1.813, de 17.1.56,e L. 2.180, de 12.2.59).

Pelo Estatuto dos Funcionários (ar-figo 14, IM a nomeação em caráterefetivo pressupõe que o candidato sejaocupante de cargo público, com estágioprobatório completo. Como está de-monstrado nos autos, a nomeação daimpetrante desatendeu àquela norma.

Consoante o art. 102, § 2.°, damesma lei, a estabilidade diz respeitoao serviço público e não ao cargo,princípio que não foi infringido, por-que a impetrante voltou à situação queanteriormente tinha no serviço muni-cipal.

A alegação de que esse retôrno im-porta em prejuízo patrimonial, dada a

diferença de vencimentos entre as duassituações, é juridicamente irrelevante,de vez que os servidores públicos,estranhos à carreira judiciária, não sãoprotegidos por irredutibilidade de ven-cimentos.

Por fadas essas considerações, en-tendo que o direito reclamado não seapresenta com a certeza e liquidezindispensáveis para justificarem, aconcessão da segurança postulada.

Nego provimento ao recurso.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Em decisão unánime, ne-garam provimento ao recurso.- Presidência do Ermo. Sr. MinistroLafayette de Andrade. Relator, oExmo. Sr. Ministro Oswaldo Tri-gueiro. Tomarem parte no julgamentoos Exmos. Srs. Ministros OswaldoTrigueiro, Evandro Lins, Victor Nunese Leiayette de Andrade. Ausente,justificadamente, o Exmo. Sr. Mi-nistro Cãndido Motta Filho.

Brasília, 6 de maio de 1966. —A/varo Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO DE MANDADO DE SEGURANÇA N.° 16.496 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrentes: Jose Valim Carvalho Schumenn e outros. Recorrida: UniãoFederal.

Impropriedade do mandado de segurança para readaptação defuncionário público antes de decidido o processo administrativo.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Pri-• meira Turma, do Supremo Tribunal

Federal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, negar pro-vimento ao recurso.

Brasília 8 de junho de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente. — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Victor. Nunes: —Funcionários dos Correios e Telégra-fos em São Paulo impetraram a pre-sente segurança com fundamento noart. 43 da L. 3.780, de 12.7.60,que dispôs sôbre a classificação decargos do Executivo Federal e deter-minou a readaptação de funcionárionas seguintes condições .. exercício inin-terrupto e por prazo superior a 2

194 R.T.J. 38

anos de atribuições diversas das perti-nentes à sua classe ou exercício dessasatribuições até 21.8.59 por mais de5 anos ininterruptos.

A sentença de 1.° instância (f. 82)concedeu a segurança, argumentandodo seguinte modo:

"Os impetrantes, consoante se in-fere dos documentos apresentados, es-tão amparados por referido dispositivolegal, no que tange ao direito à rea-daptação, mesmo porque os fatos quealegaram sequer foram contestados.

Ora, nessas condições, de funcioná-rios com expectativa de readaptação,o verdadeiro será mantê-los nas mes-mas funções em que pretendem serreadaptados, até final apreciação doprocesso de readaptação. O que nãose compreende é, evidentemente, o nãoreconhecimento a priori do direito àreadaptação sem a finalização ou mes-mo a instauração do processo admi-nistrativo respectivo."

O Tribunal Federal de Recursos(f. 117) cassou a segurança. Daementa do acórdão, que é longa, ex-traio esta passagem:

"O instituto da readaptação, inves-tindo o servidor no nôvo cargo, porefeito de transformação, sOmente pro-duz efeitos ex nunc, não só porque asua eficácia jurídica tem início a con-tar da data da publicação do decretono órgão oficial, como também porquea investidura no cargo é que tem capa-cidade para fazer com que, de então,em diante, o funcionário readaptadoadquira uma nova situação jurídica deordem funcional e patrimonial."

Daí o presente recurso (f. 121),onde se pleiteia o restabelecimento da

sentença. Argumenta-se com outro jul-gado, em sentido contrário, do Tri-bunal Federal de Recursos, D.J.20.11.62, p. 3.749.

O parecer da Procuradoria-Geral daRepública (f. 131) é pelo não pro-vimento, com base na Súmula 270.

VOTO

O Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Nego provimento ao recur-so. O mandado de segurança não emeio apropriado para que a Justiça teantecipe à administração, a fim deconceder readaptação de funcionário,quando ainda não concluído o processoadministrativo previsto na L. 3.780e na Estatuto dos Funcionários. Amedida foi requerida prematuramente,envolvendo matéria de fato que' nestaoportunidade não podemos reexaminar.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Negaram provimento emdecisão unânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLafayette de Andrade- Relator, o Ex-celentíssimo Sr. Ministro Victor Nu-nes Leal. Tomaram parte no julgamen-to os Ermos. Srs. Ministros OswaldoTrigueiro, Evandro Lins e Silva, Vic-tor Nunes Leal e Lafayette de Andra-da. Ausente, justificadamente, o Ex-celentíssimo Sr. Ministro CândidoMoita Filho.

Brasília, 8 de junho de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-

tor-Geral.

R.T.J. 38 195

AGRAVO DR INSTRUMENTO N.° 32.079 — RS(Segunda Turma)

Relatos. : O Sr. Ministro Pedro Chaves.

Agravante: Companhia Cimento Brasileiro. Agravado: Instituto de Apo-sentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas.

Serviço Social Rural. Adicional devido por todos os emprega-dores contribuintes de institutos de caixas de previdência. Inter,pretação da L. 2.613, de 23.9.55, art. 6.°, § 4.°. Extraordináriodenegado. Agravo não provido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos de Agravo de Instrumento nú-mero 32.079, do Rio Grande do Sul,sendo agravante Companhia CimentoBrasileiro e agravado Instituto de Apo-sentadoria e Pensões dos Empregadosem Transportes e Cargas,

Acordam os Ministros da SegundaTurma do Supremo Tribunal Federal,à unanimidade, negar provimento aoagravo, ut notas taquigráficas anexas.

Brasília, 31 de maio de 1966. —A. M. Vilas Boas, Presidente. — Pe-dro Chaves, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Pedro Chaves: —

A Cia. Cimento Brasileiro intentoucontra o Instituto de Aposentadoria ePensões dos Empregados em Transpor-tes e Cargas, ação de consignação depagamento de contribuições devidaspela razão de não querer o réu rece-bê-las sem o adicional de 0,3%, a quese refere o art. 6.°, § 4.°, da L. 2.613,23.9.55, que criou o Serviço SocialRural.

A ação foi julgada improcedente emprimeira instância, sendo a sentençaconfirmada em apelação pelo TribunalFederal de Recursos.

Manifestou a autora recurso extraor-dinário, com fundamento na letra ada permissão constitucional, sob ale-gação de ofensa aos mencionados tex-tos. Entendeu o eminente Presidentedo Tribunal, que o julgado dera à lei,entendimentq que lhe pareceu maisacertado em interpretação que não

leva ao absurdo nem tem aparênciade grosseiro.

Dessa decisão, o presente agravo,oportuno, regular e sôbre cujo não pro-vimento se manifestou a Procuradoria-Geral da República.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Chaves (Re-lator): — A tributação foi criada pelalei que instituiu o Serviço Social Ru-ral em porcentual variável quanto aoscontribuintes,. Para as indústrias enu-meradas no art. 6.0, caput, ns. 1 —13, a taxa é de 3%, sabre a somapaga mensalmente aos empregados.

As empresas de atividades ruraisnão enquadradas na enumeração doart. 6.°, caput, estarão sujeitas à con-tribuição na base de 1%, na formado art. 7.°.

O § 4.° do art. 6.°, sujeita a umadicional de 0,3% (três décimos porcento) as contribuições devidas portodos os empregadores aos institutose caixas de aposentadoria e pensões.

No entendimento do Instituto e dojulgado, a contribuição recai na razãode 3%, sôbre as empresas enumeradasno art. 6.0; na base de l'% sebre asempresas de atividades rurais fora da-quela enumeração, e na razão de 0,3%sabre todos os contribuintes emprega-dores dos institutos e caixas. Insurgin-do-se contra esse entendimento, 'alegaa agravante que se a lei tivesse a fi-nalidade de instituir um adicional sê-bre contribuições devidas pelos em-pregadores em geral aos respectivosinstitutos, o teria feito em artigo se-parado e não em parágrafo ao art. 6.°.

196 R.T.J. 38

O argumento consistiria apenas em sa-lientar uma imperfeição da lei, masimperfeição forma/ que não atinge asubstância.

Apega-se, também, o agravante notexto do art. 25 do decreto regula-mentar n.o 39.319, de 5.6.56, quedefiniu o que se deva ter como "re-muneração" enumerando apenas asatividades das empresas compreen-didas nas alíneas a e b, de naturezarural. O argumento não colhe e nãoinvalida o julgado. As empresas deatividade rural são diretamente taxa-das, nas bases de 3 e 1 por cento,computados sebre a soma paga a seusempregados e por essa razão e que oregulamento esclareceu o que se devaconceituar como remuneração.

Quanto aos contribuintes dos insti-tutos e caixas, não precisava tomar amesma providência, pois eles estão su- Brasília, 31 de maio de 1966. —jeitos apenas a um adicional sabre as Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-contribuições que devam, base já de- tor-Geral.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.° 35.129 — PE

(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Agravante: Genilda dos Santos Nascimento. Agravada: Empresa ExpressoBezerra.

Responsabilidade civil.A Justiça local considerou não estar provada a culpa do pra.

ponente nem a do preposto.Não se configura, assim, o dissídio jurisprudencial sôbre se a

culpa do preposto importa responsabilidade do preponente, mesmonão havendo culpa deste.

Recurso extraordinário sem cabimento.

fluida e apurada. A interpretação queo julgado deu à lei é perfeitamentejustificável e não constitui ofensa quepossa ensejar recurso extraordinário.

Nego provimento ao agravo.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Negaram provimento aoagravo. Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroVilas Boas. Relator, o Exmo. Sr. Mi-nistro Pedro Chaves. Tomaram parteno julgamento os Exmos. Srs. Minis-tros Aliomar Baleeiro, Adalicio No-gueira, Pedro Chaves e Vilas Boas.Licenciado, o Exmo. Sr. MinistroHahnemann Guimarães.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Agravo de Instrumento n.° 35.129, dePernambuco, em que é agravante Ge-ailda dos Santos Nascimento e agra-vada a Empresa Expresso Bezera, de-cide o Supremo Tribunal Federal, em3.° Turma, negar provimento ao agra-vo, unânimemente, de actirdo com asnotas juntas.

Distrito Federal, 13 de maio de1966. — Luis Gallotti, Presidente eRelator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luis Gallotti: —

A Procuradoria-Geral havia opinado(f. 26):

"Impossível conhecer do presenteagravo. Para a formação de instru-mento o agravante não requereu e nãofoi trasladado o despacho denegatériodo recurso.

Pelo não conhecimento.Distrito Federal, 11.11.65. — a)

Olavo Drummond, Procurador da Re-pública.

R.T.J. 38 197

Aprovado: a) Ose,aldo Trigueiro,

Procurador-Geral da República".

Proferi este despacho tf. 27):

"Voltem os autos ao Colendo Tribu-nal de Justiça de Pernambuco, a fimde ser reproduzido o despacho agra-vado, cuja reprodução é obrigatória eindepende de indicação do agravante(art. 845 do C. Pr. Civ.).

Acresce ser a agravante, por sua con-dição de pobreza, beneficiada pela Jus-tiça Gratuita".

O despacho agravado está agora àf. 29:

"Descabe o recurso interposto comfundamento na letra d do inc. III doart. 101 da Constituição Federal. In-corre dissídio jurisprudencial. A de-cisão recorrida deu pela improcedênciada ação por reconhecer inexistir provade culpa do preponente e também dopreposto. Assim, os arestas apontadosnão configuram dissídio jurispruden-cial. Denego a interposição do recur-so. Recife, 28.11.64. — a) AflautoMeia".

A Procuradoria-Geral opina agora(f. 32):

"Para o cumprimento do que dispõeo art. 845 do C. Pr. Civ., o emi-nente Relator determinou voltassem osautos ao Tribunal de origem. Cumpri-da a diligência, retomou, por cópia, odespacho nos autos, f. 29, do instru-mento.

O despacho é lacónico e não ofe-rece convicção do seu acerto. Dadasas circunstâncias que envolveram o

feito e considerando que a declinaçãojurisprudencial se ajusta à espécie,opinamos pela subida do recurso paramelhor exame.

Pelo provimento.

Brasília, 30 de março de 1966.a) Olavo Drummond, Procurador daRepública.

Aprovado: — a) Alcino Salema-,Procurador-Geral da República".

É O relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-latar): — A Justiça local considerounão estar provada a culpa do prepo-nente nem a do preposto.

Não se configura, assim, o dissídiojurisprudencial sôbre se a culpa dopreposto importa responsabilidade dopreponente, mesmo não havendo culpadeste.

Nego provimento ao agravo.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não provido. Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Tomaram par-te no julgamento os Ermos. Srs. Mi-nistros Gonçalves de Oliveira, HermesLima, Prado Kelly, Carlos Medeiros eLuiz Gallotti.

Brasília, 13 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

198 R .T . J . 38

ADUNO DE INSTRUMENTO N. 36.395 — MT(Terceira Turma)

Relatar: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Agravantes: Josué Gordon Ransay e sua mulher. Agravados: José VilanovaTorres e sua mulher.

Venda.O agravante cita acórdãos que exigem, para vales como venda

a procuração em causa própria, contenha ela os três requisitos:coisa, preço e consentimento.

Ora, por conter a questionada procuração êsses três elementos,foi que o acórdão impugnado lhe reconheceu f Orça para autorizar atranscrição.

Agravo não provido.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Agravo de Instrumento n.° 36.395, deMato Grosso, em que são agravantesJosué Gordon Ransay e sua mulher eagravados José Vilanova Torres e suamulher, decide o Supremo TribunalFederal, em r Turma, negar provi-mento ao agravo, unanimemente, deacórdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 6 de maio de1966. — Luiz Gallotti, Presidente eRe/ator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —Este o acórdão (f. 23-24):

"Vistos, relatados e discutidos estesautos de Ap. Civ. 4.462, de °Sca-res, em o qual são apelantes, JosuéGordon Ramsey e sua mulher, e ape-lados, José Vilanova Torres e sua mu-lher, acordam os juízes do Tribunalde Justiça em Turma Civil: negar pro-vimento à apelação para manter a de-cisão recorrida que bem aplicou o di-reito ao caso sub judice, unânimemen-mente. Custas ex more. Trata-se, nocaso em tela, de uma Ação Ordináriade Anulação de transcrição. No dia6.11.55, os apelantes outorgaram aDona Juno Mota Torres (mulher dotambém apelado José Vilanova Tor-res), uma procuração em causa pró-pria, sendo que nessa, dava poderespara vender a quem interessar e etc.",

um lote de terras denominado Perse-verança, naquela Comarca e Municí-pio (f. 8-9). A outorgada posterior-mente substabeleceu dita procuraçãona pessoa de seu marido, o ora apela-do José Vilanova Torres, que a feztranscrever no Livro n.o 3-E (f. 4-L,do Registro de Imóveis daquela Co-marca (f. 7 e 7 v.). Alegaram os oraapelantes a nulidade da procuração emcausa, por entenderem faltarem a elaos elementos que a caracterizariamcomo um contrato de compra e venda.O Dr. Juiz a quo em longa decisãocom fundamentados argumentos julgouimprocedente o pedido. Do exameatento dos autos, verifica-se que facea doutrina e a jurisprudência hodier-na, não tem amparo o que pretendemos apelantes. A referida procuraçãoestá escoimada de qualquer vício, econtém os três elementos ou seja aRes, o Pretiurn e o Consensos, quelhe dá a característica própria tornan-do-a perfeita para a transcrição. Assim,a transmissão do imóvel foi perfeita.Este foi o entendimento da eg. Tur-ma, pelo que negaram provimento aoapelo. Em 30.4.65. — a) WilliamDrosghic, Presidente — Aridio Fon-seca, Relatar — Flávio Varejão Con-gro — Gallieu de Lara Pinto".

O recurso extraordinário foi indefe-rido (f. 26):

"0 recurso extraordinário de f. af. pretende o reexame da prova coli-

R.T.J.. 38 i 199

gida no processo, não sendo lícito ad-miti-lo sob êste aspecto. Na espécie,também, não se verificou infringênciade lei federal, antes, pelo contrário, foiela aplicada consoante razoável inter-pretação que lhe pareceu mais acerta-da e de acôrdo com a apreciação quelhe deu as provas. Assim sendo, ainda,sob êste aspecto fica denegado o re-curso. P. e • intimem-se. Cuiabá,14.6.65. — a) Flávio Varejão Con-gro".

Daí o agravo.A Procuradoria-Geral opina pelo não

provimento.te o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — O recorrente cita acórdãosque exigem, para valer como venda a

procuração em causa própria, conte-nha ela os três requisitos: coisa, pre-ço e consentimento.

Ora, por conter a questionada pro-curação esses três elementos, foi queo acórdão impugnado lhe reconheceufôrça para autorizar a transcrição.

Nego provimento ao agravo.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não provido. Unânime.Presidência do Ermo. Sr. Ministro

Luiz Gallotti, Relator. Tomaram par-te no julgamento os Ermos. Srs. Mi-nistros Carlos Medeiros, Prado Kelly,Hermes Lima, Gonçalves de Oliveirae Luiz Gallotti.

Brasília, 6 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.° 36.716 — SP(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira.

Agravante: Fazenda do Estado. Agravada: Adelina Sora.

Despejo contra Pôsto de Puericultura não considerado unidadesanitária. Recurso extraordinário fundado em lei publicada poste-riormente â sentença. Agravo não provido.

ACÓRDÃOVistos, etc.

Acorda a Terceira Turma do Su-premo Tribunal Federal, por decisãounânime, negar provimento ao agravo,de acôrdo com as notas taquigráficas.

Custas na forma da lei.Brasília, 17 de junho de 1966. —

Luiz Gallotti, Presidente. — Gonçal-ves de Oliveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gonçalves de Oli-veira: — A ação de despejo propostacontra o Pôsto de Puericultura da Se-

cretaria de Saúde de São Paulo foijulgada procedente.

A 3.0 Câmara Cível do Tribunalde Alçada confirmou a sentença.

A Fazenda do Estado interpôs ex-traordinário pela letra a, alegando vio-lação do art. 15 da L. 4.494, sendoinadmitido pelo despacho de f. 17-18.

"Tanto o pedido. de despejo quantoa sua decisão favorável ocorreram noregime da L. 1.300, de 1950, antes,portanto, da vigência da L. 4.494, de25.11.64, publicada no D .0 . daUnião de 30 desse mês e ano.

Ora, o art. 43 da recente Lei doInquilinato dispôs que a sua vigênciasomente ocorreria na data de sua pu-

200 R . T. T . 38

blicação, o que afasta, desde logo,qualquer possibilidade de ofensa, porparte do r. aresto, a qualquer de seuspreceitos.

Demais, Peste de Puericultura nãoé unidade sanitária, tal como o enten-de o art. 15 da nova Lei do Inquili-nato e anteriormente já o entendia ajurisprudência dos tribunais.

Assim, o ven. acórdão recorrido nãovulnerou a L. fed. 4.494-64 e nema recorrente se deu ao trabalho dedemonstrá-lo."

A Procuradoria-Geral opinou peloprovimento.

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira (Re/ator): — A sentença quedecretou o despejo foi prolatada a27.11.64 (f. 13). A L. 4.494, de

25.11.64, que impede despejo de uni-dade sanitária ~ente foi publicadaa 30.11.64, portanto três dias após asentença.

Demais, o Fasto não foi consideradounidade sanitária, pela decisão local.

Nego provimento ao recurso.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não provido. Unânime.Presidência do Ermo. Sr. Ministro

Luiz Gallotti. Relator, o Exmo. Se-nhor Ministro Gonçalves de Oliveira.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Srs. Ministros CarlosMedeiros, Hermes Lima, Gonçalves deOliveira e Luiz Gallotti. Ausente, jus-tificadamente, o Exmo. Sr. MinistroPrado Kelly

Brasília, 17 de junho de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Dire-tor-Geral.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.° 37.273 — MG

I(Tereeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gellotti.

Agravantes: União Federal e Rede Ferroviária Federal S.A. Agravado:Aires Balbino de Carvalho.

Responsabilidade civil de empresa ferroviária.Tratando-se de acidente sofrido por passageiro, a culpa pre-

sumida da empresa ferroviária, até prova em contrário, constituiponto pacifico em nosso direito.

Agravo não provido.

ACORDA°Vistos e relatados estes autos de

Agravo de Instrumento n.° 37.273, deMinas Gerais, em que são agravantesUnião Federal e Rede Ferroviária Fe-deral S.A. e 4 agravado Aires Balbinode Carvalho, decide o Supremo Tri-bunal Federal, em 3•• Turma, negarprovimento ao agravo, unânirnemente,de acôrdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 6 de maio de 1966.Luiz Gallotti, Presidente e Re-

lator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —Este o despacho (f. 24):

"Indefiro o Recurso Extraordinário,interposto a f. 140 e 141, por faltade fundamentação e também por faltade amparo legal. — O art. 863 doC. Pr. Civ., expressamente, exige pe-tição fundamentada. Não há, na petiçãoem referencia, uma só citação de ju-risprudência ou disposição de lei,capaz de caracterizar a fundamentação

R.T.J. 38 201

exigida. P. e I. Data supra. (a) JosePereira de Paiva".

A Procuradoria-Geral opina (f. 36):"1. O respeitável despacho de

f. 24, data venia, reclama reformanos termos da minuta do agravo.

De fato, ao que se vê do recurso,a v. sentença de f. 12, mantida emgrau de embargos (f. 22), parecepadecer dos vícios que lhe são atri-buídos, ao condenar as recorrentes sobassertiva da responsabilidade presu-mida das empresas ferroviárias poracidente (teoria do risco administra-tivo).

Pelo provimento do agravo, paramelhor exame da decisão impugnada.

Brasília, 2 de fevereiro de 1966. —a) José Fernandes Dantas, DefensorPúblico, requisitado.

Subscrevo: a) Alcino de Paula &I-terar, Procurador-Geral da República".

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-

lator): — Tratando-se de acidentesofrido por passageiro, a culpa pre-sumida da empresa ferroviária, atéprova em contrário, constitui pontoPacifico em nosso direito.

Nego provimento ao agravo.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foi aseguinte: Não provido. Unânime.

Presidência do ERMO. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Tomaram parteno julgamento os Ermos. Srs. Mi-nistros Carlos Medeiros, Prado Kelly,Hermes Lima, Gonçalves de Oliveirae Luiz Gallotti.

Brasília, 6 de maio de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

MOMO EXTRAORDINÁRIO N.° 98.266 — SE(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro.

Recorrente: Maria São Pedro de Jesus. Recorrido: Itamar Lima Silveira.

Concubina — Não pode ser legatária de homem casado e,portanto, não tem legitimidade para obstar praça no inventáriodele, ainda que estivesse separado, de fato, da espesa. Absolviçãoda instância no saneador.

ACÓRDÃO RELATÓRIO

Vistos e relatados estes autos deRecurso Extraordinário n.° 38.266, doEstado de Sergipe, em que são: recor-rente, Maria São Pedro de Jesus erecorrido, Itamar Lima Silveira, decideo Supremo Tribunal Federal, pela suaSegunda Turma, unanimemente, nãoconhecer do recurso, de acardo comas notas juntas.

Distrito Federal, 7 de junho de1966. — A. M. Vilas Boas, Presidente.— Aliomar Baleeiro, Relator.

O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:— 1. A Recorrente moveu ação or-dinária para anular à praça em quefoi arrematado pelo ora Recorrido umterreno legado a ela por seu falecidoconcubinário, José Batista dos Santos.Em sua inicial, diz ela que, antesmesmo de liquidados os impostos noprocesso de inventário, a cênjuge su-pérstite, embora privada da inventa-riança, por não conviver com o decajus ao tempo da morte deste, re-quereu a venda do imóvel objeto dapresente ação anulatória.

202 R.T.J. 38

O judicioso e bem fundamentadodespacho saneador de f. 32-35 v.absolveu o Réu de instância, por nãoreconhecer à Autora legitánatio adcausem, além de julgá-la carecedorade ação "por lhe faltar legítimo inte-resse econômico e moral".

O eg. Tribunal de Justiça deSergipe pelo Acórdão de f. 52-53confirmou a decisão agravada, moti-vando o recurso extraordinário inter-posto a f. 56-56v.

4. Contestando as razões de fô-lhas 60-61v., opôs o Recorrido as def. 64-66.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Aliorrear Baleeiro(Relator): — 1. No pungente testa-mento, o companheiro da Recorrenteconfessa o concubinato, que por elenão é contestado e que a tomou in-capaz de receber legado, desde que eleera casado, embora separado de fatoe pelo motivo cruamente aludidonaquele ato jurídico.

2. Não tomo conhecimento doRecurso Extraordinário, por não sercaso dele: — o v. Acórdão aplicou

as disposições federais aplicáveis aocaso (C. Pr. Civ., art. 294, I;C. Civ., art. 1.719, III, e 1.720).Impossível reapreciar a prova doconcubinato em Recurso Extraordi-nário (Súmula 279).

3, A Recorrente poderá obter, tal-vez, por via ordinária a remuneraçãopor prestação de serviços, ou melhorno patrimônio ganho pelo esfôrço co-mum, nos termos da jurisprudênciasôbre a matéria.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não conheceram do re-curso. Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroVilas Boas. Relator, o Exmo. Sr. Mi-nistro Miornar Baleeiro. Tomaramparte no julgamento os Esmos. Se-nhores Ministros Aliomar Baleeiro,Pedro Chaves e Vilas Boas. Licenciado,

Exmo. Sr. Ministro HahnemannGuimarães. Ausente, justificadamente,

Esmo. Sr. Ministro Adalício No-gueira.

Brasília, 7 de junho de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 39.044 — GB

(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro.

Recorrente: União Federal. Recorrida: Muriel Auerbach.

Auxiliar de Consulado — Contratada em carta, na qual sesujeita a quaisquer trabalhos que lhe lassem distribuídos e àdispensa sem indenização Bigorna, não ocupava função perma-nente, e, por isso, não se tomou eztranurnerário mensalista, porterça do art. 26 da 1,. 1.765-62.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos deRecurso Extraordinário n.° 39.044,do Estado da Guanabara, em que são:recorrente, União Federa!, e recorrida,Muriel Auerbach, decide o SupremoTribunal Federal, pela sua SegundaTurma, unanimemente, conhecer do

recurso e lhe dar provimento, de acôrdocom as notas juntas.

Distrito Federal, 7 de junho de1966. — A. M. Vilas Boas, Presidente.

Aliomar Baleeiro, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro:1. Cuidam estes autos de mandado

R.T.J. 38 203

de segurança impetrado pela ora Re-corrida a fim de compelir o Ministrodas Relações Exteriores a reintegrá-lano cargo de Auxiliar contratado da-quele Ministério, do qual foi, no seuentender, ilegalmente dispensada, porter adquirido a estabilidade nos ter-mos da L. 2.284-54. Alega que aL. 1.765-52, no art. 26, elevou oscontratados à condição de extranume-rários mensalistes, e estes ganharamestabilidade pela L. 2.284.

Em suas informações, afirma aautoridade apontada coatont tratar-sede servidora contratada, cujo contratose vinha renovando periOdicamente,com a declaração expressa de que Mepoderia ser rescindido a qualquertempo, ad nuttun da autoridade con-tratante, sem reclamação da contra-tada. Não tinha ela, por isso, direitoà condição de extranumerária, mesmoporque, diz a. informação, para issoseria necessária a criação de uma sériefuncional especial para aproveitamentoda Impetrante. Além disso, fôra dis-pensada por proposta do Cônsul porse ter tornado faltosa, impontual ede nulo rendimento de serviço (f. 29).

O Acórdão do eg. TribunalFederal de Recursos (f. 56), queconcedeu a segurança, diz em suaementa: "O extranumerário contratadotomado mensalista pela L. 1.765-52,torna-se estável, nos termos da Lei2.284.54".

Com essa decisão não se con-forma a União, interpondo o recursode f. 60-62, com fundamento na letraa do permissivo constitucional. Sus-tentado com as razões de f. 64-65, foio recurso contra-arrazoado a f. 67-73.

O parecer de f. 7E, do entãoProcurador-Geral, hoje Ministro CarlosMedeiros, é no sentido de que o re-curso seja conhecido e provido.

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Afiomar Baleeiro

(Relator): — 1. A Impetrante arri-mou-se no art. 26 da L. 1.765-52,que dispõe:

"Os atuais extranumerários contra-tados brasileiros, que ocupem função

de natureza permanente, passarão àcondição de extranumerários mansa-listas, aplicando-se aos mesmos, noque couber, os dispositivos constantesdesta lei, referentes aos atuais dia-ristas".

Pela carta-contrato de f. 5, àqual deu conformidade a Recorrida,ficou convencionado:

"1. Deverá V. Se. executar ostrabalhos da chancelaria, que lhe foremdistribuídos, comparecendo, etc."

"5. Poderá V. Se. ser dispensadapelo Cônsul, ou por seu substituto nopôsto, com prévia autorização do atopelo Ministério das Relações Exte-riores, sem direito a indenização deespécie alguma, sendo-lhe dada comu-nicação de dispensa do cargo com 15dias de antecedência".

Quem aceita expressamente essascondições de mero locador de serviços,sujeito à dispensa sem qualquer inde-nização "para os trabalhos da chance-laria que lhe forem distribuídos", emverdade, — creio — não "ocupa fun-ção de natureza permanente". E sóaos ocupantes dessa "função de natu-reza permanente" favoreceu o art. 26da L. 1.765. É o que se lê nele.

Reconhecem os administrativistasque o Estado "não está sempre obri-gado a recorrer aos processos de Di-reito Público, e que se lhe parecerpreferível, pode contentar-se com pro-cessos de direito privado". Há, naadministração pública, pessoal regidopelo Direito Privado (Laubadêre, Dr.Aduria, 1957, p. 639, n.° 1.250)."Essa situação se analisa como contratode locação de serviços que se asse-melha à dos assalariados das empresasprivadas." (Idem, p. 648, nP 1.270).

Essa era, penso, a situação da Re-corrida, situação que pode ser e, fre-qüentemente, é exercida, nos consu-lados, por estrangeiros. Ela própriaescreve, à f. 73, mostrando não haverinconveniência em ser casada comestrangeiro: "... um Consulado, ésabido, só se ocupa de matéria pura-mente comercial, nada tendo a vercom segredos de Estado..."

4. Esse 'tatus de simples locadorade serviços, à discrição do cônsul,

204 R T:J. 38

que lhe distribuirá os trabalhos, nãose confunde com a ocupação de "fun-ção permanente", específica por defi-nição e estável por natureza. Douprovimento ao recurso, para cassar asegurança, porque não há, no meuentender, direito liquido e certo caRecorrida.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisãoa seguinte: Conheceram do recovo°, aque deram provimento. Unânime.

Presidência do Esmo. Sr. MinistroVilas Boas. Relator, o Exmo. Sr. Mi-nistro Aliomar Baleeiro. Tomaramparte no julgamento os Ermos. Se-nhores Ministros Aliomar Baleeiro,Pedro Chaves e Vilas Boas. Licenciado,o Ermo Sr. Ministro HahnemannGuimarães. Ausente, justificadamente,o Ermo. Sr. Ministro Adalicio No-gueira.

Brasília, 7 de junho de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Gerai.

HABEAS CORPUS N.' 43.330 — DF

(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro,

Impetrante: Rubens Barros Brisolla. Pacientes: Dagoberto NogueiraFonseca e outro.

Falsidade ideológica — Se a denúncia não articula o fimdoloso, não hé justa causa para processo contra Prefeito e Vice-Prefeito que assinaram de boa-fé atestados segundo assentos einformações da repartição e stern qualquer propósito de prejuízo,criação de direito ou alteração da verdade uóbre fato juridicamenterelevante.

ACÓRDÃOVistos e. relatados estes autos de

Hebetas Corpus n.° 43.330, do DistritoFederal, em que são: impetrante, Ru-bens Barros Brisolla e pacientes, Dago-berto Nogueira Fonseca e outro, decideo Supremo Tribunal Federal, pela suaSegunda Turma, unanimemente, con-ceder a ordem, de acórdo com as notasjuntas.

Distrito Federal, 14 de junho, de1966. — A. M. Vilas Boas, Presi-dente. — Aliomar Baleeiro, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Aliomar Baleeiro: —

1. Os pacientes, Prefeito e Vice-Pre-feito de Itanhaem (SP) foram de-=ciados no art. 299, parágrafo único,do C. Pen., porque, procurados pelotabelião, ou preposto deste, deramatestado de que determinadas pessoasaram residentes no Município e nele

não possuíam outro imóvel senão umem curso de aquisição. De posse dessesatestados, o serventuário, a espie:a eum escrevente intercalavam na entre-linha nas escrituras de que as mesmasestavam isentas do selo federal, apropriando-se das quantias que as parteslhes entregavam para esse fim.

O Impetrante juntou certidãoda denúncia, interrogatórios e, ainda,certidão de que, nos livros da Prefei-tura, aquelas pessoas possuíam apenasum imóvel cada. Alega também queos documentos eram inideneos para aprova de fato.

Prestando informações, o Emi-nente Ministro Godoy Ilha, Presidentedo Colendo Tribunal Federal de Re-cursos, enviou cópia do acórdão queindeferiu o MC 1.421, em favor dosmesmos pacientes, porque infundadaa alegação de falta de justa causa.

É n relatório.

R.T.J. 38 205

VOTOO Sr. Ministro Aliou= Baleeiro

(Relatar): — 1. A denúncia, de re-ferência aos pacientes, imputa-lhes aassinatura dos atestados, de que elas"deviam saber" que o Oficial e aespasa estavam prejudicando a União.Mas não diz o porque desta presunção,nada militando em contrário à boa-féde duas autoridades públicas, semquaisquer precedentes desabonatórios,e que, por dever funcional, assinavamdiàriamente muitos papéis à base dainformação dos subordinados.

"É preciso ficar demonstrado que oagente aproveitou da facilidade ouoportunidade proporcionada pelo exer-cido do cargo" — ensina N. Hungria(Coment. ao C. Pen., v. IX, n.° 114,in tine, p. 265). Não se alega von-tade livre de praticar o crime, porparte dos pacientes.

Ora, a certidão de f. 19 afirmeque as pessoas indicadas tinham, cadaunia, só um imóvel em Itanhaem, se-gundq_ os cadastros municipais, e nãose pode exigir do Prefeito e do Vice-Prefeito a ciência de outros imóveisfora do Município, como acontece nncaso. Trata-se da informação prestadapelo Chefe da Seção de Receita doMunicípio ao Juiz de Direito.

Salvo elementos de convicçãoou de presunção veemente, não sepode inferir má-fé da autoridade que

confiou nas informações dos arquivose informações das seções subordinada'.

E essa presunção não assenta emqualquer raciocínio da denúncia.Acresce que os autores da falsidade,aliás denunciados por outro crime, nãoarticulam qualquer palavra ou insi-nuação contra os pacientes, reconhe-cendo que o procuraram para aquelesatestados, alegando tratar-se de for-malidade nova.

4. O art. 299 do C. Pen. exigepara configuração do crime "o fim deprejudicar direito, criar obrigação oualterar a verdade sôbre fato, juridica-mente relevante".

Isso não é alegado na denúncia,concedo o He por falta de justa causa,em relação aos pacientes.

DECISÃOComo ocnsta da ata, a decisão foi

a seguinte: Concederam a ordem, porfalta de justa causa para punição.Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroVilas Boas. Relator, o Exmo. Sr. Mi-nistro Aliomar Baleeiro. Tomaramparte no julgamento os Exmos. Se-nhores Ministros Aliomar Baleeiro,Adalício Nogueira, Pedro Chaves eVilas Boas. Licenciado, o Ermo. Se-nhor Ministro Hahnemann Guimarães.

Brasília, 14 de junho de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 54.569 — MG(Terneira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrente: Manoel de Campos Filho. Recorrido: Roberto Gonçalves.

Locação.Furto, à noite, por terceiros, de um corrimão fora da casa.A Justiça local entendeu, em face das provas, não haver culpa

do inquilino.Recurso extraordinário conhecido.

ACÓRDÃO Minas Gerais, em que é recorrenteManoel de Campos Filho e recorrido

Vistos e relatados estes autos de Roberto Gonçalves, decide o Supremo

Recurso Extraordinário n.° 54.569, de Tribunal Federal, em 3.• Turma, não

206 R.T.J. 38

conhecer do recurso, maniteemente, deatado com as notas juntas.

Distrito Federal, 13 de maio de1966, — Luiz Gallotti, Presidente eRelator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Luiz —

Manoel de Campos Filho moveu emBelo Horizonte ação ordinária contraRoberto Gonçalves, para rescindir ocontrato pelo qual lhe alugara o imó-vel da rua Brumadinho, 256 e recebera indenização de Cr$ 61.500, valorde um corrimão que guarnecia a va-randa e a respectiva escada e queHm subtraído por ladrões. O pedidode rescisão de contrato ficou semobjeto, porque o réu entregara espon-taneamente as chaves do imóvel. Ojuiz julgou improcedente o pedido deindenização. Sua sentença, reformadaem apelação por maioria de votos, foirestaurada em grau de embargos. Oautor interpôs recurso extraordinário.A Procuradoria-Geral opina pelo pro-vimento.

É o relatório.

O corrimão era fora da asa e o fatoocorreu à noite, tendo o inquilinoprocurado logo a Polícia. Quanto àalegação do locador, de que o locatárioestaria com a casa fechada, sem vigia,considerou o acórdão recorrido queisso não foi provado. Trata-se, troetanto, de aplicação da lei em face dasprovas, que não abre ensejo ao recursoextraordinário. Aponta o recorrente,como discrepante, acórdão que consi-derou responsável a empresa pelofurto de carga ocorrido por culpa domotorista que, à noite, abandonara ocaminhão carregado, defronte à suaresidência. O caso é diferente. Ali,verificada a culpa do empregado, jul-gou-se responsável o patrão, conformedispõe e lei. No caso presente, ne-nhum empregado do locatário foi tidocomo culpado.

Não conheço do recurso.DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conhecido. Untam°.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Tomaramparte no julgamento os Esmos. Se-nhores Ministros Carlos Medeiros,Prado Kelly, Hermes Lima, Gonçalvesde Oliveira e Luiz Gallotti.

VOTO PRELIMINARO Sr. Ministro Luis Gellotti (Re-

lator): — O recurso extraordinárionão cabe. A Justiça local entendeu,em face das provas, não haver culpa Brasília, 13 de maio de 1966. —do inquilino, porque o furto é fato de Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-EM-terceiros, que configura fôrça maior. retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.' 55.495 — 11 G(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Cella&

Recorrente: Espólio de Antônio Abrahão. Recorrido: Benjamin PereiraPinto.

Ministério Público.Nulidade, por não ter êle intervindo, apesar de haver no

processo Merano de incapazes.C. Pr. Civ., arte. 80, 2.°, e 84.

Recurso extraordinário conhecido e provido.

ACÓRDÃO Minas Gerais, em que á recorrente oEspólio de Antônio Abrahão e recor-

Vistos e relatados estes autos de rido Benjamin Pereira Pinto, decide o

Recurso Extraordinário n.° 55.435, de Supremo Tribunal Federal, em 3.°

R.T.J. 38 207

Turma, conhecer do recurso e dar-lheprovimento, unânimemente, de acendocom as notas juntas.

Distrito Federal, 13 de maio de1966. — Luiz Collodi, Presidente eRelator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Gallotti: —Ação de consignação em pagamentojulgada procedente (f. 75A verso eseguintes).

Na apelação, alegaram os ora recor-rentes a nulidade do processo, porque,com o falecimento do réu, a ação pros-seguiu contra sua viúva e herdeiros,um dos quais menor. A falta de in-tervenção do Ministério Público, apartir da data em que a herdeiramenor passou a integrar a lide, acar-retou a nulidade doe atos processual(praticados desde então, entre eles asentença.

O, acórdão de f. 114 confirmou asentença.

Dei o recurso extraordinário (alí-neas a e d).

Ao admitir o recurso, disse o Presi-dente do Tribunal de Justiça (f. 128):

"Com relação. à primeira alegação,estou que o recorrente tem razão. Oprocesso decorreu, em todos os seustermos, sem a intervenção do repre-sentante do Ministério Público, emboraame menor um interessado".

O recurso não foi contra-arrazoado.

A Procuradoria-Geral opina peloconhecimento e provimento,

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Luiz Gallotti (Re-lator): — O art. 80, § 2.°, do C. Pr.Civ. diz que será obrigatória aintervenção do Ministério Público nosprocessos em que houver interesse deincapazes.

Note-se que o art. 80 (caput), aotratar da representação e da assistência,distingue entre absolutamente inca-pazes e relativamente incapazes.

Já o § 2.° do art. 80, ao erigir aintervenção do Ministério Público, nãofez a distinção.

o art. 84 declara natos os atosrealizados com preterição das forma-lidades previstas nos arts. 80 a 82.

Assim, conheço do recurso e lhe douprovimento, para anular o processo,conforme pleiteiam os recorrentes.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foi aseguinte: Conhecido e provido. Unâ-nime.

Presidência do Ermo. Sr. MinistroLuiz Gallotti, Relator. Tomaram parteno julgamento os Ermos. Srs. Mi-nistros Carlos Medeiros, Prado Kelly,Hermes Lima, Gonçalves de Oliveirae Luiz Gallotti.

Brasília, 13 de maio de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

208 R.T.J. 38

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.' 55.702 —

(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrente: Fazenda Pública Estadual. Recorrido: Bernardo Monteverde.

Impasto de vendas e consignações.Construtor estabelecido no antigo Distrito Federal, sem ter

filiais ou agências no Estado do Rio e que contratou no mesmoDistrito, com o Ministério da Agricultura, obras a serem exe-cutadas no referido Estado.

Segurança concedida contra a exigência, pelo Estado do Rio,do impêsto de vendas sabre os materiais ali empregados.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Recurso Extraordinário n.0 55.702,do Estado do Rio de Janeiro, em queé recorrente a Fazenda Pública Esta-dual e recorrido Bernardo Monteverde,decide o Supremo Tribunal Federal,em 3.5 Turma, conhecer do recurso enegar-lhe provimento, unanimemente,de acendo com as notas juntas.

Distrito Federal, 6 de maio de 1966.— Luiz Gallotti, Presidente e Re-lator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Idris Gallotti: —

Trata-se de segurança concedida, comfundamento no Dl. 915, a BernardoMonteverde, que era construtor esta-belecido no antigo Distrito Federal,sem ter filiais ou agencias no Estadodo Rio, e contratou no mesmo Dis-trito, com o Ministério da Agricultu-ra, obras a serem executadas no refe-rido Estado. A Fazenda deste exi-giu-lhe imperito de vendas e consigna-ções sôbre os materiais que ali em-pregam.

O impetrante venceu nas duas ins-tancias locais.

Recurso extraordinário do Estadosubiu para melhor exame, por efeitodo provimento do agravo em apenso.

A Procuradoria-Geral opina (fa-lhas 78-79):

"I. Cora fundamento ria letra a dopermissivo constitucional manifestouo Estado do Rio de Janeiro recursoextraordinário do venerando acórdão

de f. que decidiu se indevido o im-pasto de vendas e consignações peloempreiteiro fornecedor de material àrealização do contrato de empreitada,se, no Estado do Rio de Janeiro, nãopossui depósito de material ou filial.

O Dl. 915-38 dispõe em seuart. 1.0 que "o irripósto de vendas econsignações é devido no lugar emque se efetuar a operação."

Em seguida dispôs o Dl. 1.061,de 1939, verbis:

"Art. 1.°Parágrafo único. Para os efeitos fis-

cais, considera-se lugar em que seefetuar a operação (venda ou Consig-nação) o em que está situado o esta-belecimento do vendedor ou consig-nante, seja matriz, filial, sucursal,agência ou representante, com depósi-to, a seu cargo, das mercadorias ven-didas ou consignadas, salvo quando setratar de venda ou consignação efe-tuada diretamente pelo próprio fabri-cante ou produtor, caso em que o lu-gar da operação será aquele ondefabricada ou produzida a mercadoria.Nos casos em que houver simples de-pósitos de mercadorias a serem nego-ciadas por estabelecimentos situadosem território de Estado diferente, olugar da operação é aquele em queestiver situado o depósito onde se en-contrar a mercadoria."

4. Realmente o dispositivo trans-crito refere-se a depósito, mas há queconsiderar - caráter— pe. nunn-nt darinstalações. Não seria Possível consi-derar-se como tal (depósito) o lugaronde o construtor armazena os mate-

R.T.J. 38 209

riais empregados na construção e en-quanto esta durar.

Desta feita, o lugar da operaçãoseria o em que está localizado o es-tabelecimento da.emprese construtora,a Guanabara, falecendo, portanto, com-petência à Fazenda do Estado do Riopara exigir o tributo em questão.

Pelo não provimento do recurso.Brasília, 28 de maio de 1965. —

a) Sebastião Ribeiro Salomão, Pro-curador da República.

Aprovado: — a) Osvaldo Triguei-ro, Procurador-Geral da República."

o relatório.

VOTOSr. Ministro Luiz Gallotti (Re-

lator): — Conheço do recurso, emface do dissídio jurisprudencial.

Mas lhe nego provimento, pois nomesmo sentido decidiu o Supremo Tri-bunal em caso igual, visto que o con-trato Pira celebrado não no Estado

que exigia o tributo, mas no então Dis-trito Federal. O Tribunal dividiu-se.Pedi vista dos autos e acompanhei,entre outros, brilhante voto proferidopelo eminente Ministro Pedro Chavese que se tomou vencedor. Penso quedivergiram os eminentes MinistrosGonçalves de Oliveira e Victor Nunes.

Assim, conhecendo do recurso, nego-lhe provimento.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Conhecido e não provido.Unânime.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Luiz Gallotti, Relator. Tomaramparte no julgamento os Ermos. Senho-res Ministros Carlos Medeiros, PradoKelly, Hermes Lima, Gonçalves deOliveira e Luiz Gallotti.

Em 6 de maio de 1966. — Al-varo Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 56.119 — PI(Terceira. Turma)

Relator: O Sr. Ministro Prado Kelly,

Recorrente: Companhia de Navegação e Comércio do Rio de Janeiro.Recorrido: Estado do Piauí.

Autos remetidos à Secretaria da Alta Oferte em 14.9.1912.Parecer da Procuradoria-Geral no sentido de convocação das partes,no prazo de 90 dias, a manifestar o seu interesse na decisão dorecurso

Sendo facultativa, e não obrigatória, a providência indicadano art. 309-A do Regimento Interno, o Relator deixa de promove-let, por se lhe afigurar que só em Lei se poderão fixar prazospreclusivos ou de decadência, em detrimento de direito adquiridopelas partes ao julgamento de recursos tempestiva e regularmenteinterpostos, máxime quando não é de se lhes imputar a responsa-bilidade da mora processual.

Aplicação ao feito do direito vigente à data da interposiçãodo apelo extremo.

ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos de

Recurso Extraordinário n.° 56.119, emque é recorrente a Cia. de Navegaçãoe Comércio do Rio de Janeiro e é.recorrido o Estado do Piauí, decide a

3.* Turma do Supremo Tribunal Fe-deral, è unanimidade, não conhecer dorecurso, de acordo com as notas juntas.

Distrito Federal, ,29 de abril de1966. — Luiz Gallotti, Presidente.— Prado Kelly, Relator.

210 R.T.J. 38

RELATÓRIOO Sr. Ministro Prado Kelly: — Em

18.6.1912, a Companhia Comércio eNavegação, com sede no antigo Distri-to Federal, requereu ao Juiz da 2.aVara de Teresina, nos termos dosarte. 393 e seguintes do Regulamen-to n.o 737, de 1850, a expedição demandado para depósito em paga/nen-tode dois contos e quinhentos mil reis(2:5008000), oitava prestação previs-ta na cláusula 2.• de contrato firmadocom o Estado do Piauí em 18.17.1908

recusada pela Secretaria da Fazen-da. O juiz deferiu a súplica e lavrou-se termo de depósito (f. 10).

Fm embargos, o promtor públicoalegou a incompetência do Juízo emface do art. 60, d, da ConstituiçãoFederal de 1891.

juiz acolheu a declinatoria tad,

Agravou a autora, sustentando ainaplicabilidade da norma constitucio-nal invocado, por nela se prever "li-tígio" entre um Estado e cidadãos deoutro e não se considerar "litígio"simples processo preventivo da resci-são de um contrato por falta de im-plemento de uma das suas cláusulas"(f. 20).

Mantendo o despacho, o magistradojustificou-se pela seguinte forma:

"É questão já muito discutida, sen-do hoje doutrina firmada, não só peloSupremo Tribunal Federal, comporesse eg. Tribunal que a justiça com-petente para processar e julgar oslitígios entre partes domiciliadaiem Estados diferentes é a Federal

não a Estadual. E nem de outramaneira podiam decidir os tribunaisem vista do dispositivo claro e pre-ciso do art. 60, letra d, da Constitui-ção da República, assim concebido:

— "Compete aos juízes ou Tribu-nais Federais processar e julgar os li-tígios entre um Estado e cidadãos deoutros, ou entre cidadãos de Estadosdiversos, diversificando as leis deste"—1- Esta última-cláusula — rendo as leis destes (Estados) — nãotem sido observada e mesmo pareceuma superfluidade, por isso que,quando se votava a Constituição Fe-

darei, o princípio que predominou foida unidade de direito substantivo e

não a multiplicidade de que o aludidoprojeto se ocupava.

Assim sendo, deve-se ter em vistaobservar-se não a regra de herme-

nêutica que não admite palavras su-pérfluas e inúteis na lei, mas sim aoelemento histórico que revela as cir-cunstâncias especiais em que o legis-lador a concebeu, a razão e o fim que

determinaram a fazê-la, conformea opinião abalizada do Dr. João Bar-belho em seu Comentário à Constitui-ção Federal, p. 253. •

Tratando-se, portanto, nos presentesautos de um litígio entre partes —Autora a Companhia Comércio e Na-vegação, com sede no Rio de Janeiro,

Réu o Estado do Piauí, a justiçacompetente para processá-lo e julgá-loé a Federal e não a Estadual.

Que a ação de depósio é um perfei-to litígio, uma verdadeira demanda,com tôdas as características de um fei-to contencioso ninguém porá em dú-vida, pois que há embargos, dilaçãoprobatória, alegações finais e senten-ça julgando ou não provados os em-bargos (arte. 393, 394 e seguintesdo Regulamento n.° 737, de 25.11.1850.

Este juízo, apesar de já ter o seuantecessor oficiado nos autos despa-chando a petição inicial, e assim jul-gando-se competente, entendeu nãoprosseguir no feito por não ser, nocaso, competente, e preferiu, então, odespacho de que ora se agrava.

Assim procedendo, este juízo nãofez mais do que observar o Acórdãodo Supremo Tribunal Federal, de4.11.1899, que firmou a doutrina deque, sendo a incompetência de juízomatéria de ordem pública, devem,portanto, os juízes e tribunais pronun-ciá-la ainda quando não argüida pelasPortes (O Direito, L. 81, p. 56)".

O Procurador-Geral do Estado es-merou-se em argumentar que entre"causas", ou "litígios", a que se re-feria a Constituição, se incluía o feitoentão processado:

"Quanto • nutmobjeção, de que nofeito atual não há litígio, não he ações,não envolve ela uma causa, dissenti-mos também do modo de ver do peti-cionário agravante.

R.T.J. 38 211

Na expressão — causa — de que aConstituição se serve, se abrangemquaisquer ações propostas para reco-nhecimento ou declaração de um di-to, João Barbalho (Const., p. 249).

O feito atual é uma verdadeira açãocujo fundamento legal se encontra noReg. 737, Tit. VII, cap. W. E todoo título VII, em seus diferentes ca-pítulos, se ocupa das ações preparató-rias, preventivas e incidentes. OD. 763, de 1890, manda aplicá-lo aocível, tirante algumas exceções, entreas quais não está contemplada a açãopreparatória ou preventiva do depósi-to em pagamento. Ao contrário, aque-le doc. mandava aplicá-la ao cível.

Nestas condições, o processo de de-pósito em pagamento é uma ação pre-paratória ou preventiva, denominada.imprOpriamente sumária. Dr. Adol-pho Cirna, Ac. sumários (p. 119).

Sua marcha processual, é conheci-da, está predeterminada em lei, correVida em audiência, com citação pes-soal inicial para sua proposituna, as-sinação à parte contrária do prazopara embargos, da dilação probatória

prazo para as razões.sumária, porque esses prazos são

curtos, não são os das ações ordiná-rias; eia é preparatória ou preventiva,porque é exercida previamente à ou-tra, cujo exercício facilita ou habilita,ou cujo fim garante Adolpho Cirna,Ao. sumários (p. 130).

próprio peticionário agravantealega que seu fim é prevenir a rescisãodo contrato, existente entre sua cons-tituinte e o Estado.

Se é uma ação preventiva ou pre-paratória, é uma causa, cujo julga-mento assiste à justiça federal, atentaa situação e posição dos litigantes.

Não se trata de um ato administra-tivo porque nestes atos o juiz obra,ex officio ou a requerimento, sementepara servir ao direito de quem o re-quer; mas há partes, não há pedidolitigioso.

Na hipótese dos autos, há partes co-nhecidas e há demanda."

Tribunal negou provimento aoagravo, em solução de empate de vo-tos ocorrente na assentada.

Recorreu extraordimiriamente a au-tora, com invocação da letra a doinc. III do art. 59 do antigo texto.

A 14.9.12 (ou fõese, há mais decinqüenta anos) remeteram-se os au-tos ao Supremo Tribunal (f. 39v.).

Aqui permaneceram eles indevida-mente no Arquivo, de onde saírampara a Secretaria em 28.4.64, segun-do certidão de f. 40.

Procurador-Geral em exercício,Dr. Oscar Corrêa Pina, aprovou pa-recer do Procurador Valha Teixeira,nestes termos:

"Trata-se de processo que se en-contrava paralisado há mais de dezanos.

2. De acêrdo com o art. 309-A doReg. S.T.F. (emenda aprovada emSessão de 29.5.64, e publicada noD.J. der 2.6.64), opinamos no sen-tido de cpie sejam convocadas as par-tes, no prazo de 90 dias, a manifes-tar o seu interesse."

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Prado Kelly (Re-'ator): — Deixei de deferir o aue re-quereu a douta Procuradoria, por serfacultativa, e não obrigatória, a provi-dência indicada no art. 309-A doReg. S.T.F.:

"Nos autos de recurso extraordiná-rio, de embargos em recurso extraor-dinário e de agravo de despacho queo tenha indeferido, desde que se en-contrem no Tribunal há dez anos oumais, sem julgamento, o relator poderáconvocar as partes a manifestarem,dentro de noventa dias, a contar daprimeira publicação do despacho, queserá repetida uma vez, o seu interes-se pelo andamento do feito, e esteserá julgado prejudicado, com préviainclusão em pauta, se nenhum dos in-teressado* atender à intimação.

Parágrafo único. A Secretaria farápresentes aos relatores, com a devida

112 R.T.J. 38

informação, os processos a que se re-fere este artigo."

Não usei da faculdade conferida notexto, embora acatando com tôda adeferência a deliberação do Plenário,por se me afigurar que sé em lei, enão em cláusula regimental, se pode-rão fixar prazos preclusivos ou de de-cadência, em detrimento do direito ad-quirido pelas partes ao julgamento derecursos tempestivos e regularmenteinterpostos, máxime quando não é dese lhes imputar a responsabilidade damora processual.

Quando a Alta Côrte, em 1921, edi-tou um parágrafo ao art. 218 do Re-gimento, impondo pena de perempçãono caso de tardar o preparo dos au-tos na Secretaria, o insigne MinistroEdmundo Lins formulou a seguintepergunta:

"Pode o Tribunal legislar sôbreinstitutos ou matérias de direito subs-tantivo ou adjetivo?"

passou a responder:"Perdoem-me os colegas a for-

mulação dessa pergunta que tão deperto contraria a Constituicão Fe-deral, art. 23, comparado com o ar-tigo 15.

Não se tratará, porém, de regraspeculiares ao Regimento Interno, só-bre o qual é indiscutível a nossa com-petência? Já não é tão afrontosa a in-terrogação, porque, ainda na sessão desábado, ouvi a afirmativa categóricade um dos mais ilustrados colegas.Desculpe-me, pois, o Tribunal, se nãome limito a formular a questão e sepasso a respondê-la.

Data venha, absolutamente não. Naverdade, o Regimento Interno de umTribunal é um conjunto de normasconcernentes ao seu funcionamento,policia e ordem dos trabalhos, bemcomo a organização da sua Secretarie,com a definição das atribuições, di-reitos e deveres dos empregados.

até sèmente para essas últimasregras que a Constituição nos outorgacompetência (art. 58), nelas se achan-do implícitas as outras: é o que res-salta dos regimentos internos de todosos tribunais estaduais ou locais, bem

como do nosso atual e do anterior,que jamais incluíram dispositivo idên-tico, omissão que se não explicariadurante trinta anos seguidos. Ne-nhurn regimento interno doe tribu-nais locais, pelo que me foi dadoverificar, inclui esta matéria, excetoreproduzindo anteriores leis vigentes.

Tudo o que pode, de algum modo,concernir às disposições que determi-nam os princípios aplicáveis a cadarelação jurídica (direito substardvo)ou ao modo por que devemos recla-mar a aplicação desses disposições(direito adjetivo), já é da alçada pri-vativa de outro poder o Legisla-tivo — e conseqüentemente não po-dem constituir objeto de regimentointerno, mesmo porque seu efeito senão restringe ao interior do Tribunal

• mas se amplia a todo o interior daNação."

Incumbe-me, em conseqüência, jul-gar o recurso.

E dele não conheço, Pois a "ques-tão federal", trazida há meio séculoà Alta Cor' te, foi resolvida pelo Tri-bunal a quo na conformidade do di-reito aplicável ao tempo da demanda(Pedro Lesse, Do Poder Judiciário,ed. 1915, p. 171 e s.).

Voltando os autos à instância recor-rida e se persistir interêsse patrimo-nial no prosseguimento da ação, dadaa existência da quantia consignadapela autora em favor do Estado, ca-berá ao Tribunal do Piauí encaminharo processo ao juiz competente na for-ma da legislação em vigor.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conhecido. Unânime.Presidência do Esmo Sr. MinistroLuiz Gallotti. Relator, o Exmo. Se-nhor Ministro Prado Kelly. Tomaramparte no julgamento os Exmos. Se-nhores Ministros Carlos Medeiros, Pra-do Kelly, Hermes Lima, Gonçalves deOliveira e Luiz Gallotti.

Brasília, 29 de abril de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

R.T.J. 38 213

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.000 — GB(Primeira Turma)

Reletor: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrentes: 1.° — União Federal. 2.° — Roberto Martin Pacheco eoutros. Recorridos: Os mesmos.

Abono devido ao pessoal de obras, pela L. 1.765-52, até àvigência do D. 40.118-56. Controvérsia no S.T.F.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, não co-nhecer do segundo recurso e, conhe-cendo do primeiro, negar-lhe provi-mento.

Brasília, 9 de maio de 1966. —A. C. L:dayette de Andrade, Presi-dente. — Victor Nunes Leal Relator.

RELATÓRIO

Sr. Ministro Victor Nunes: —Servidores do Serviço Nacional doCâncer, classificados como pessoal deobras, reclamaram, em ação ordinária,o abono provisório da L. 1.765, de12.12.52.

Tribunal Federal de Recursos(f. 83), reformando parcialmente asentença, lhes reconheceu o direitoaté 13.10.56, data da vigência doD. 40.118, ressalvadas as prestaçõesjá prescritas.

êste, na parte substancial, o votovencedor do Sr. Ministro CândidoLóbo (f. 80):

"... o abono de emergência de quetratava a L. 1.765, de 1952, e o abo-no especial temporário, concedido pelaL. 2.412, de 1955, bem como os au-mentos de salários devidos por birrado D. 39.017, de 1.4.56, que dispõesôbre o pessoal pago por dotação glo-bal, foram somados para aplicação doartigo 1.° do D. 40.118, de 13.10.56.

Conheço dos recursos para lhes darprovimento, de modo a reconhecer aosapelados direito de receberem os abo-nos de que tratam as L. 1.765, de1952, e 2.412, de 1955, até 13.10.56,excluídas as prestações abrangidas pelaprescrição qüinqüenal, bem como ho-norários, por indevidos."

Recorreram, extraordinariamente, aUnião (f. 85), alegando violação doart. 18 da citada lei e do art. 2P doC. Pr. Civ., bem como divergênciacom a decisão do S.T.F. no RE47.899; os autores (f. 88), para ob-ter honorários de advogado.

A Procuradoria-Geral da República(f. 103) opinou pelo provimento dorecurso da União e pelo não conheci-mento do segundo recurso, já que oadvogado dos recorrentes não apresen-tou mandato, apesar de intimado parafazê-lo em 30 dias (f. 91v.).

VOTO

O Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Não conheço do segundorecurso, por falta de mandato. Doprimeiro conheço, mas lhe nego pro-vimento.

A questão de ser devido o abonoprovisório da L. 1.765, de 1952. aopessoal de obras é controvertida nes-te Tribunal. Há, pelo menos, seteacórdãos: três contra e quatro a fa-vor.

Negou-se o abono nos casos seguin-tes: 43.134 (1959), Relator o Se-nhor Ministro Vilas Boas, RE 47.899(1961), Relator o Sr. Ministro Ri-

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214 R.T.J. 38

beim da Costa, AM.J.N.I. 82.221,D.J. 28.9.61, p. 2.083; RE 53.420(1963), Relator o Sr. Ministro Cân-dido Motta, D.J. 7.5.64, p. 237.

Reconheceu-se o direito ao abononestes outros: RE 39.143 (1956), Re-lator o Sr. Ministro Henrique D'Avi-la, D.J. 22:11.62, p. 682; RE 41.941(1964), Relator o Sr. Ministro LuizGallotti, Ag 29.421 (1964), Relatoro Sr. Ministro Pedro Chaves, D.J.27.8.64, p. 3.054; RE 54.702 ...(1964), Relator o Sr. Ministro Evan-dro Lins, D.J. 19.11.64, p. 936.

Também na administração pública,o problema suscitou controvérsia. ODASP, depois de afirmar que o pes-soal de obras admitido antes da Lei1.765 continuava com direito ao abo-no (R.D.A. 45/474, 46/367), seioa reconhecer o mesmo direito ao que,admitido posteriormente, não houves-se sido beneficiado com o aumentode vencimentos e salários da L. 2.745de 1956 (R.D.A. 48/409).

Participei de um dos julgamentosanteriormente referidos (RE 47.899),acompanhando o Relator, que nega-. va o abono. Mas refleti melhor sObreassunto, após a leitura do voto favo-rável do Sr. Ministro Evandro Linsno RE 54.702, que a Turma apoiou(ausentes o Sr. Ministro CândidoMona, que em outro caso votara emsentido contrário, e o Sr. MinistroGonçalves de Oliveira).

A colocação exata do problema con-siste em saber se as funções do pes-soal de obras são permanentes, apesarde não o serem os seus ocupantes.Como disse o Sr. Ministro Pedro Cha-ves, "o adjetivo permanente (que seusa na lei) qualifica o substantivofunção e não o substantivo pessoal"(Ag 29.421). Aceitando inteiramenteesse raciocínio, o Sr. MinistroEvandro Lins, no RE 54.702, admi-tiu que as situações individuais pu-dessem ser discriminadas consoante oconceito de função permanente, con-tido no art. 4.0 da L. 525-A, de7.12.48, ou seja, aquela que, "porsua natureza, atenda a um serviçonormal, indispensável à administração,

ou que corresponda ou tenha corres-pondência, sob igual ou diferente de-nominação, a cargo efetivo, criado emlei."

No caso presente, o pedido foi for-mulado em ação ordinária, e não emmandado de segurança, e tanto na pri-meira instância, como no Tribunal Fe-deral de Recursos, aceitou-se o pres-suposto de serem as funções dos auto-res de caráter permanente. Não noscabe rever essa matéria de prova norecurso extraordinário (Súmula 279).

Por outro lado, estamos apreciandouma situação pretérita. O D. 40.118,de 13.10.56, deu nova disciplina aoassunto, e o direito dos ora recorridosfoi reconhecido sOmente até à vigên-cia desse !decreto.

Considere-se ainda que a decisão jáse cumpriu e o abono provisório foidevorado pela espiral inflacionária.Parece-me de suma injustiça obrigaros recorridos a restitui-lo, tanto maisque o tema despertava controvérsianas órbitas do Judiciário e da Admi-nistração.

Por tais razões é que nego provi-mento ao recurso.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Não conheceram do se-gundo recurso, e conhecendo do pri-meiro lhe negaram provimento. De-cisão unânime.

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Lafayette de Andrade. Relatar, oExmo. Sr. Ministro Victor NunesLeal. Tomaram parte no julgamentoos Ermos. Srs. Ministros EvandroLins e Silva, Victor Nunes Leal eLafayette de Andrade. Ausente, justi-ficadamente, o Exmo. Sr. MinistroCândido Mona Filho. Impedido. oExmo. Sr. Ministro Ossvaldo Tri-gueiro.

Brasília, 9 de maio de 1966. —Alvaro Peneira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

R.T.J. 38 215

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 58.253 — GB(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Armes Lima.

Recorrente: Rede Ferroviária Federal S.A. Recorrido: Juan GonzalezPampillon.

Fixação da indenização com base no salário mínimo abran-gidas as variações anteriores. A fixação nesses térreos corresponde

exigência legal de uma indenização justa. É inderázável adeformidade resultante de acidente. Sendo a Rad' e uma autarquiade que a União é acionista exclusiva, os títulos da divida públicapara a formação do capital exigido para , a constituição da rendadisponível para as prestações mensais seriam os da própria União.Assim não violou a Lei adotar-se o critério da consignação emMN* da pensão mensal. Recurso conhecido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, acor-dam os Ministros do Supremo TribunalFederal, em Terceira Turma, por una-nimidade de votos, conhecer do recursoe lhe dar provimento em parte, naconformidade da ate do julgamento edas notas taquigráfices.

Brasília, 14 de abril de 1966. —Gonçalves de Oliveira, Presidente. —Hermes Lima, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Hermes Lima: —

O recorrido interpôs recurso de re-vista perante o colendo Tribunal deJustiça do Estado da Guanabara, noqual apresentou ao colando Grupo deamaras Cíveis três teses. A primei-ra relativa aos lucres cessantes ou sa-lário-base que deve prevalecer parao cálculo da justa indenização, naação ordinária de indenização por eleproposta contra a recorrente.

A segunda funda-se na Lei, artigo911 do C. Pr. Civ., estabelecendoque o capital destinado à garantiadas prestações mensais devidas à vi-tima deverá ter sua aplicação em tí-tulos da dívida pública federal, nãohavendo qualquer exceção.

A terceira tese é relativa à indeni-zação do dano morfológico. Indeniza-ção especial em caso de aleijão oudeformismo previsto no art. 21 doD. leg. 2.681, de 7.12.12.

O acórdão estabeleceu um salário-base fixo invariável vigorante no Rioà época do evento. Assim, o acórdãorecorrido estabeleceu uma tese con-trária à jurisprudência do Tribunalde Justiça, entrando em divergência,quanto ao modo de interpretar o di-reito em tese.

No segundo caso, porque se deci-diu que, em se tratando de socieda-de da qual a União é pràticamenteexclusiva acionista, não se justificavaobrigá-la a depósito de apólices emgarantia de prestações vincendas.

No terceiro caso, negou-se uma in-denização especial para o dano mor-fológico, pois o recorrido teve ampu-tada a perna direita ao nível de umterço médio da perna.

recurso de revista foi impugnado.acórdão de f. 68, rejeitando as

preliminares, conheceu do recurso pe-los três fundamentos invocados e as-sim deu provimento para restabelecera sentença quanto a variação do sa-lário-mínimo básico do pagamento daspensões vincendas, contra votos dedois desembargadores que mandavamatender essa variação até à época daexecução da sentença. Determinou aaplicação dos arte. 911 e 912 doC. Pr. Civ., com o depósito 'de tí-tulos, em garantias das prestaçõesvincendas, por votação unânime, e de-terminou o pagamento de indeniza-ção, por deformidade, que foi arbitra-

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da em Cr$ 100.000, também porunanimidade.

Assim procedeu o acórdão porquea indenização deve ser a mais comple-ta possível e, dessa forma, o valordo salário-mínimo básico do pagamen-to das pensões à vítima deve acom-panhar as diversas variações pelasquis o mesmo passar, prevalecendosempre o da época do pagamento damensalidade da pensão, pois do con-tário, com a desvalorização da moe-da, haveria um desfalque no poderaquisitivo da pensão.

Quanto aos arta. 911 e 912, nãopodia deixar de aplica-los para cons-tituição do capital em títulos da dí-vida pública, pois a lei não abre ex-ceção para a recorrida.

Finalmente, deu ao recorrente umaindenização especial por deformida-de, ex vi do art. 21 do D. 2.681,de 1912.

A Rede Ferroviária Federal S.A.interpôs o extraordinário pelas letrasa e d. O recurso foi impugnado.

parecer da douta Procuradoriaé pelo provimento.

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Hermes Lima (Re-lator): — Conheço do recurso, emparte. A fixação da indenização emvalor correspondente ao salário-míni-mo variável corresponde a exigên-cia legal e legítima de uma indeniza-ção justa e, nesse sentido, tem deci-dido o Tribunal (RE 42.990, de27.6.61) cuja ementa está assim re-digida: "A fixação da indenizaçãocom base no salário-mínimo, com asvariações ulteriores, corresponde aoentendimento dominante no Supre-mo Tribunal." (f. 112v.).

Há outras decisões desta COrte nes-sa conformidade, como as proferidasem grau de embargos dos RE 40.069,de 16.1.61, e 42.628, de 23.1.61.

Quanto à indenização especial pelodano morfológico, também a jurispru-dência deste Tribunal é no sentidode que é indenizável a deformidaderesultante de acidente.

Quanto à formação do capital emtítulos da dívida pública para a cons-tituição da renda disponível pelas

•prestações mensais ela é inócua, Por-que a Rede, mande; uma autarquia deque a União é a acionista exclusiva,os títulos seriam os da própria União.De modo que não viola a lei adotar-se o critério de consignação em falhada pensão mensal. O depósito deapólice da dívida pública seria paragarantir essa pensão. Entretanto,como a garantia repousa em títulosda própria União, não há Porque obri-gar a Estrada a se socorrer delas paraatender a uma indenização que está,em última análise, garantida pelopróprio Governo Federal. Será pro-viivehnente mais fácil receber a pen-são consignada em faia.

VOTOO Sr. Ministro Gonçalves de Oli-

veira (Presidente): — A respeito dosalário-mínimo, realmente, seria umainiqüidade, na inflação tremenda que

Brasil atravessa, o acidentado rece-ber, permanentemente, uma indeniza-ção com base no salário-mínimo es-tático. De modo que a decisão man-dou tomar por base o salário-mínimoda época da sentença. O Tribunal,ao que parece, mandou fazer umarevisão no correr dos tempos.

Em relação ao capital depositado,essa é a melhor forma, mesmo paraos acidentados que receberão, nosguichês da Rede, com mais proveito

mais pontualidade do que recebe-riam nos guichês do Tesouro Nacio-nal, em épocas espaçadas, semestrais,que são os pagamentos dos juros deapólices.

Em relação ao dano estético, a ju-risprudência tem negado quando odano repercute na atividade do aci-dentado porque, na indenização, eleé implícito. No caso, o operário per-de uma perna. Dá-se indenizaçãopela perda da mesma perna, pela di-ficuldade da locomoção, e inclui-se naindenização o dano estético. A lei deresponsabilidade das estradas de fer-ro é uma lei sábia. Em relerão àcomposição de dano, o art. 21 doD. leg. 2.681, de 7.12.12, diz que

juiz fixará uma indemizacão con-veniente. Esta expressão "uma inde-nização conveniente,' dá superfície aque se pague unia indenização Pelo

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dano estético que, no caso, foi fixadomoderadamente, em Cr$ 100.000,como expôs o eminente Relator, comcujo voto estou de acôrdo.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Conheceram e deram pro-vimento, em parte, nos termos dovoto do Relator. Unânime.

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Gonçalves de Oliveira. Relator,o Exmo. Sr. Ministro Hermes Lima.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Senhores Ministros Car-los Medeiros, Prado Kelly, HermesLima e Gonçalves de Oliveira. Licen-ciado, o Exmo. Sr. Ministro LuizGallotti.

Brasília, 14 de abril de 1966. —Álvaro Ferreira dos Santos. Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO BETRAORDINÁRIO N.° 58.684 — GB

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Estado da Guanabara. Recorridas: Sociedade de Engenhariae Representações Técnicas Ltda. e outra.

InzpOsto de cessão (GB). Contrato de construção, obras e con-gênere,. Inconstitucionalidade já declarada. Súmula 199.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Primei-ra Turma do Supremo Tribunal Fe-deral, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, porunanimidade de votos, não conhecer dorecurso.

Brasília, 12 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Victor Nunes: —

O Tribunal de Justiça da Guanaba-ra, por sua 5.1. Câmara Cível (f. 85),confirmou a segurança, porque o Tri-bunal Pleno já havia declarado a in-constitucionalidade do impacto detransação a que se refere a L. est.899, de 28.11.57 (Ag 16.475, 1964).Citou, a respeito, a jurisprudênciacoincidente do Supremo Tribunal eobservou que o próprio Estado aboliuaquêle imposto pela L. 242, de26.12.62, art. 69.

Recorreu o Estado, extraordinitria-mente, pelas letras a e d (f. 87),sendo-lhe desfavorável o parecer da

Procuradoria-Geral da República (fa-lha 104), com apoio na Sizmule 139.

VOTOO Sr. Ministro Victor Nunes (Re-

lator): — Não conheço do recurso,na conformidade da Súmula 139.

É verdade que esta Súmula se re-fere ao art. 58, inc. VI, letra e, dacitada L. est. 899, e no caso dos au-tos cuida-se do inc. I, letras a e d,do mesmo art. 58, que prevê a inci-dência do impôsto sabre negócios deconstrução, obras e congênere!. En-tretanto, a razão de decidir é a mes-ma, porque se trata de atos sujeitos aimpOsto federal.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não conheceram do re-curso, em decisão unânime.

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Lafayette de Andrade. Relator, oErmo. Sr. Ministro Victor Mimes.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Srs. Ministros OswaldoTrigueiro, Evandro Lins, Victor Nu-

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nes e Lafayette de Andrade. Ausen- Brasília, 12 de maio de 1966. —te, justificadamentet, o Excelentíssimo Alvaro Ferreira dos Santos. Vice-D1-Sr. Ministro Cândido Motta Filho. retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 58.919 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Externato Nossa Senhora de Lourdes S.A. Recorrido: Institu-to Baronesa de Rezende.

Não registrev* el, na propriedade industrial, a simples ex-pressão "Nossa Senhora de Lourdes".

Simples interpretação da lei não autoriza recurso extraor-dinário.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos acordam os Ministros da Primei-ra Turma do Supremo Tribunal Fe-deral, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, porunanimidade de votos, não conhecerdo recurso.

Brasília, 36 de maio de 1966. —A. C. Lalayette de Andrade, Presi-dente — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Victor Nunes: —Tribunal Federal de Recursos (M-

lha 108), reformando parcialmente asentença, considerou ilegal o registrodo título "Nossa Senhora de Lour-des." Por isso, restringiu os efeitosdesse registro, associando-o à nature-za do estabelecimento: "ExternatoNossa Senhora de Lourdes".

Assim fundamentou a decisão oilustre Ministro Oscar Saraiva (fé-lha 10$):

"Tenho para mim que a denomina-ção Nossa Senhora de .Lourdes. umdos apelativos que a devoção católi-ca atribui à Mãe de Deus não podeser objeto de apropriação indivi-dual nem se integra no patrimôniode quem quer que seja, como umbem de fundo econômico. A tantonão chega o mercantilismo da nossaépoca.

A prote0o de que a lei cogita, se-mente será dada pela conjugação daexpressão com outra que a particula-rize, qualificando-a como titulo de es-tabelecimento.

Posta nestes termos a questão, en-tendo que o registro, puro e simples,da expressão Nossa Senhora de Lois-des, como constante de E. 5 e 7 (In-dústria Brasileira), não pode subsistir,embora se deva reconhecer ao esta-belecimento réu, a prioridade, tantono registro, quanto no próprio uso daexpressão completa, como se eviden-cia na prova dos autos, e especial-mente pelo registro dessa denomina-ção na Diretoria Geral do Ensino em23.7.31 (f. 39).

Também não socorre à autora, o es-tatuído no art. 96 do Código da Pro-priedade Industrial, eis que deixou amesma de impugnar o pedido de re-gistro e de requerer na repartição, naoportunidade legal, o registro do pró-prio título. A conclusão que se im-põe dessas premissas, é a de que, àré, caberá, na cidade de São Paulo,o uso exclusivo da denominação Ex-ternato Nossa Senhora de Lourdes,enquanto que, o Instituto autor, namesma localidade, semente poderáusar da denominação N. S. de Low-des, em estabelecimento de ensino, sea conjugar com outras expressões quenão reproduzam e nem induzam àconfusão com a denominacão Exter-nato N. S. de Lourdes, de uso exclu-sivo da ré.

R.T.J. 38 219

Nestes termos é que acolho emparte o recurso, para julgar, tambémparcialmente, procedente o pedido,corrigindo os termos do registro efe-tuado e restringindo seus efeitos, àexpressão "Externato N. S. de Lour-des."

estabelecimento réu interpôs re-curso extraordinário por violação dosarte. 115 e 176 do Cód. da Proprie-dade Industrial (Dl. 7.903, de27.8.45), bem como do art. 141,

16, da C.P. e do art. 524 doC. Civ. Também haveria Julgamen-to ultra petita (f. 110, 114).

Não houve contra-razões, e o M.P.Federal pediu justiça (f. 117).

VOTOSr, Ministro Victor Nunes (Re-

lator): — Não houve violação, massimples interpretação da lei, pelo que

não conheço do recurso (Súmula400). Também não houve julgamen-to ultra palita, porque o provimentoficou aquém do que foi pedido.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não conheceram do re-curso, em decisão unânime.

Presidência do Ermo. Sr. Minis-tro Lafayette de Andrade. Relatar, oErmo. Sr. Ministro Victor Nunes.Tomaram parte no julgamento 08Ermos. Srs. Ministros Osvaldo Tri-gueiro, Evandro Lins, Victor Nunese Lafayette de Andrade. Ausente,justificadamente, o Exmo. Sr. Mi-nistro Cândido Motta Filho.

Brasília, 30 de maio de 1966. —Alvaro Ferreira dos Santos. Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 59.450 — GB(Terceira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Gallotti.

Recorrente: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários. Recor-rido: Francisco Pereira de Azevedo (Espólio).

Multa.A segurança e o acórdão confirmatório, no tocante à multa,

aplicaram a lei, procurando inspiração na eqüidade. Não se podedizer que hajam contrariado a letra da lei, de modo a caber o re-curso extraordinário da invocado alínea a.

ACÓRDÃOVistos e relatados êstee autos de Re-

curso Extraordinário n.° 59.450, daGuanabara, em que é recorrente o Ins-tituto de Aposentadoria e Pensões dosIndustriários e o Espólio de FranciscoPereira de Azevedo, decide o SupremoTribunal Federal, em 3." Turma, nãoconhecer do recurso, unanimemente, deac8rdo com as notas juntas.

Distrito Federal, 6 de maio de 1966— Luiz Gallotti, Presidente e Rela-tor.

RELATÓRIOSr. Ministro Luis Gallotti: —

Esta a sentença, do ilustre Juiz J8-

natas Milhomene, que o acórdão re-corrido confirmou (f. 23-24):

"1 — Ação executiva intentadapelo Instituto de Aposentadoria ePensões dos Industriados contra o Es-pólio de Francisco Pereira de Azeve-do, sucessor de Francisco P. de Aze-vedo, para cobrança da importânciade Cr$ 35.913,40, correspondente acontribuições não recolhidas nos me-ses de julho de 1947 a setembro de1948; março a maio de 1949; e feve-reiro de 1950 a novembro de 1951 emulta.

Embargos tempestivos à f. 11.

220 R.T.J. 38

Alega o einbarg,ante, em resumo, oseguinte: não tem procedência o exe-cutivo por não ter sido dada ciênciaao esPólio, na pessoa da sua inventa-riante, da existência do débito; nãopode o espólio responder por multade mora, uma vez que a pena nãodeve ir além da pessoa do infrator;são aplicáveis êstes princípios não sópela circunstância de ter o executadodeixado um filho menor, que seriaresponsabilizado pela referida multa,como também porque não pode corrercontra a meeira, por se tratar deobrigação oriunda de ato ilícito, obri-gação que se não comunica, segundopreceitua o Código Civil.

Pede se julgue improcedente a açãoinsubsistente a penhora ou, na pior

das hipóteses, que seja reduzido o pe-dido, excluindo-se a importância Cor-respondente á mora.

Impugnando os embargos, diz oI.A.P.I. que as alegações do exe-cutado são inteiramente inconsisten-tes, face ao que preceitua o art. 8.0do Dl. 960, segundo o qual a cita-ção de um dás herdeiros dispensa ados demais interessados, quando e dí-vida fôr de espólio. Pede seja julga-da procedente a ação e subsistente apenhora.

feito se processou regularmente.II — Julgo provados, em parte, os

embargos de f. 11.Não conseguiu, o Espólio-embar-

gente, fazer prova de quitação dascontribuições em cobrança e, em quepese o respeito devido à memória doextinto, teria ele, em vida, descontadode seus empregados as contribuições,que não recolheu aos cofres do Insti-tuto-embargado, como era de suaobrigação.

A citação inicial está correta, faceao que recita o dispositivo do arti-go 70 do Dl. 960, pois o citado éherdeiro do devedor que faleceu.

monte responderá pela dívida dascontribuições Cr$ 22.854,60 (vinte edois mi/, oitocentos e cinqüenta equatro cruzeiros e sessenta centavos)

o mesmo monte (x) não ficará,evidentemente, pois o seu quenturaatual (x y) está acrescido daquelascontribuições (ri) que, se recolhidas,daria em resultado o seu real valor x,

Sendo a multa uma penalidade im-posta ao infrator, pelo não cumpri-mento de obrigação legal, por ela nãodevem responder os herdeiros, máxi-me em hipótese como a presente, queevidencia a característica do ilícito.

juiz, na concepção do direito mo-derno, não é mero aplicador das leis;á o órgão capaz de distribuir a ver-dadeira justiça, o que faz sem feriras leis, as quais segundo o apotegmade Bacon, emanando de Deus ou doshomens, qualquer que seja a sua ori-gem, têm tôdas um mesmo fim: — amaior felicidade do homem.

No caso presente, justo não á pa-guem os herdeiros do devedor faleci-do aquilo que representa pena re-sultante de ato dele devedor, contrá-rio à lei.

Nessas condições, condeno o Espólioembargante a pagar Unicamente ascontribuições devidas, no total de ...Cr$ 22.854,60, e as custas do pro-cesso."

Recurso extraordinário do I.A.P./.(alínea a) — f. 51.

A Procuradoria-Geral opina (f. 66):

"1. Decidiu o eg. Tribunal Fe-deral de Recursos:

"Contribuição de previdência. Mul-ta por mora no recolhimento. Só odevedor deve responder pela mesma"(f. 49).

Inconformado, o Instituto deAposentadoria e Pensões dos Indus-triários manifestou recurso extraordi-nário, sustentando que o acórdão re-corrido teria vulnerado o art. 49,inc. II, do Dl. 960, de 1938.

A União Federal, assistente nopresente feito, nada tem a acrescen-tar às razões do Instituto recorrente,opinando, assim, pelo provimento dorecurso.

Brasília, 4 de outubro de 1965. —a) A. G. Valim Teixeira, Procura-dor da República.

Aprovado: a) Oswaldo Trigueiro,Procurador-Geral da República.

o relatório.

R.T.J. 38 221

VOTO

O Sr. Ministro Luis Gallotti (Re-lator): — A sentença e o acórdãoconfirmatório, no tocante à multa,aplicaram a lei, procurando inspiraçãona eqüidade. Não se pode dizer quehajam contrariado a letra da lei, demodo a caber o recurso extraordiná-rio da invocado alínea a.

Não conheço do recurso.

DECISÃOComo consta da ata, a decisão foi

a seguinte: Não conhecido. Unanime.Presidência do Ermo. Sr. Minis-

tro Luiz Gallotti, Relator. Tomaramparte no julgamento os Ermos. Se-nhores Ministros Carlos Medeiros,Prado Kelly, Hermes Lima, Gonçalvesde Oliveira e Luiz Gallotti.

Em 6 de maio de 1966. — Alva-ro Ferreira dos Santos, Vice-Diretor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 59.613 — GB(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: União Federal. Recorridas: Michigan — Cia. Importadora dePeças e outras.

ImpOsto de consumo. Eleito não retroativo do art. 3.°, 8da L. 2.974/56. Precedentes do S.T.F.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo Tribunal Fe-deral, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, porunanimidade de votos, não conhecerdo recurso.

Bras:lia, 16 de maio de 1966. —A. C. Lafayette de Andrade, Presi-dente — Victor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Victor Nunes: —Subiu este recurso pelo provimento,para melhor exame, do Ag 34.697,de que foi Relator o eminente Minis-tro Cândido Motta Filho.

Trata-se de questão muito conhe-cida neste Tribunal: a possibilidade,ou não, de ser cobrada a diferençaa mais, no impesto de consumo, deacôrdo com o art. 3.0, 8 2.°, daL. 2.974-56, quando já pago o tri-buto, antes da lei, por ocasião do de-

!embaraço alfandegário da mercado-ria.

O recurso é da União, por violaçãodo citado dispositivo legal, e teveparecer favorável da Procuradoria-Geral da República.

VOTO

O Sr. Ministro Victor Nunes (Re-lator): — Já tivemos decisões favo-ráveis à União, no problema ora emdebate, como, por exemplo, RMS 7.379 (1960) e RMS 10.617(1963). Entretanto, outras decisões,em maior número, firmaram a juris-prudência do Tribunal em sentidocontrário. Vejam-se, entre outros:RE 45.990 (1961), RMS 10.596(1963), RE 53.238 ( 1964), Ag • • • •30.019 (1964), Ag- 30.087 (1964),Ag 34.146 (1965), Ag 29.706 (1964),Ag 24.706 (1965), ERE 52.931(1965).

Estando, assim, superada a diver-gência, não conheço do recurso (Sú-mula 286) •

222 R.T.J. 38

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Unânimemente, não co-nheceram do recurso.

Presidência do Ex.mo. Sr. Minis-tro Lefayette de Andrade. Relator, oExmo. Sr. Ministro Victor Nunes.

Tomaram parte no julgamento osErmos. Srs. Ministre° Oscvaldo Tri-gueiro, Evandro Lins, Victor Nunes,Cândido Motta Filho e Lafayette deAndrade.

Brasília, 16 de maio de 1966.Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N.° 59.646 — RA

(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Victor Nunes Leal.

Recorrente: Companhia Doces da afila. Recorridas: L. Góis ar Cia. eoutras.

Tesa de Melhoramento dos Portos. Exigível, em 1958, apenasa allquota estipulada na legislação anterior à L. 3.421/58. Pre-cedente: RE 48.826 (1964).

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráficas,por unanimidade de votos, conhecer dorecurso e dar-lhe provimento em parte.

Brasília, 30 de maio de 1966. —Latayette de Andrade, PresidenteVictor Nunes Leal, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Victor Nunes: —As ora recorridas obtiveram, no Tri-bunal Federal de Recursos. fôsse de-clarada inválida a cobrança, no exer-cício de 1958, da taxa de melhora-mento dos portos, prevista na L. 3.421, de 10.7.58.

Daí o recurso extraordinário daCompanhia Docas da Bahia. que su-biu pelo provimento, para melhorexame, do Ag 35.063.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca (f. 91) opinou pelo conhecimentoe provimento, para ser cassada a se-gurança, lembrando decisões do Su-premo Tribunal: RMS 12.899 eRMS 13.341.

VOTOO Sr. Ministro Victor Nunes (Re-

lator): — Muito se discutiu, nesteprocesso, se a taxa de melhoramentodos portos é tributo nOvo ou apenas amesma antiga taxa de emergência, aque se referia o Dl. 8.311, de 6.12.45,cuja denominação foi alterada pelaL. 3.421. Ocorre, porém, que aL. 3.421 também aumentou a ali-quota da referida taxa.

A mesma questão ora em debatefoi amplamente discutida no RE ...48.826, quando o Tribunal Pleno,na sessão de 27.4.62, declarou a in-constitucionalidade da cobrança doaumento no exercício de 1958. An-teriormente, já o Tribunal havia de-cidido pela mesma forma no RMS8.517 (18.10.61).

A seguir, voltando aquêle recursoextraordinário à Turma (2.10.64). foidecidido que, estando em causa amesma antiga taxa de emergência,que apenas mudou de nome, com au-mento da alíquota, era ela devida emparte, isto é, pela aliquota anteriorà L. 3.421; semente a cobrança doaumento é que era ilegítima.

Aliás, a publicação da ementa, na-quele caso, saiu incorreta. Ela se re-

R.T.J. 38 223

fere ao exercício de 1962, quando de-via mencionar o exercício de 1958,

durante o qual foi promulgada aL. 3.421.

De acôrdo com esse precedente,conheço do recurso e lhe dou provi-mento, em parte, para declarar devi-da a taxa, em 1958, à base da ali-quota anterior.

DECISÃO

Como consta da ata, a decisão foia seguinte: Conheceram do recurso

lhe deram provimento, em parte.Decisão unânime.

Presidência do Exmo. Sr. Minis-tro Lafayette de Andrade. Relator,

Exmo. Sr. Ministro Victor Nunes.Tomaram parte no julgamento os Ex-celentíssimos Srs. Ministros OsvaldoTrigueiro, Evandro Lins, Victor Nu-nes e Lafayette de Andrade. Ausen-te, justificadamente, o Exmo. SenhorMinistro Cândido Motta Filho.

Brasília, 30 de maio de 1966.Alvaro Ferreira dos Santos, Vice-Di-retor-Geral.

INDICE POR MATÉRIA

DIR. ADMINISTRATIVO

ATO ADMINISTRATIVO

_ Anulação. Poder Executivo. RMS 15.882 (p. 190)

DESAPROPRIAÇÃO

Indenização. Desvalorização monetária. Ag 37.439 (p. 156)-- Parcial. Execução ampliada. RMS 16.222 (p. 150)

EXTRANUMERÁRIO

Dispensa condicionada. RE 58.511 (p• 133)Dispensa condicionada. Tempo de serviço. RMS 14.226 (p. 83)

FUNCIONALISMO

Abono. L. 1.765/52. Pessoal de obras. RE 58.000 (p. 213)_ Concurso. Nomeação. Direito à posse. RMS 12.783 (p. 82)_ Contratado. Demissibilidade. RE 39.044 (p. 202)

Disponibilidade. A.D.C.T., art. 24. Nivel universitário. RMS15.710 (p. 149)

_ Exoneração. Medida de economia. RMS 14.426 (p. 84)Função gratificada. L. 1.741/52. RMS 15.755 (p. 189)Nível universitário. Disponibilidade. RMS 15.710 (P• 149)

Nomeação. Anulação. RMS 15.882 (p. 190)Procurador da República.RMS 15.526 (p. 108)Reclassificação. Processo(p. 193)Tempo de serviço. Empresa(p. 188)Tesoureiro. Aproveitamento

-- Tesoureiros. Vencimentos.3.780/60). Iei: 53.895 (P.

Proventos. Reajuste da L. 4.069/62.

administrativo prévio. RMS 16.496

particular sob intervenção. RMS 13.419

. RAIS 16.031 (p. 86)Correspondência de símbolos (Lei

33)

II DIR. ADM. - D. CIV.

DIR. ADMINISTRATIVO (cont.)

MAGISTRADO

Proventos. Atualização. Ônus. RE 58.197 (p. 40)

MILITAR

Anistia. D. leg. 18/61. Reversão condicionada. Reforma.RMS 15.873 (p. 2)

MINAS

Material atômico. Pesquisa. Recusa de lavra. RMS 15.823(p. 110)

DIR. CIVIL

DESQUITE

Alimentos. Renúncia. RE 58.135 CP • 38)

FIANÇA

Outorga uxória. RE 45.242 (p.31)

INALIENABILIDADE

Incomunicabilidade excluída pelo testador. RE 55.355 (p. 124)

JUROS

Fazenda Pública. Sentença. RE 34.032 (p. 30)

LeceçA0

Encargos do locatário. Despesas de condomínio. RE 58.525(p. 181)Responsabilidade civil do inquilino. Furto. RE 54.569 (p. 205)

Retomada. Lei aplicável. Unidade sanitária. Ag 36.716 (p. 199)Retomada. Multa por insinceridade. RE 58.238 (P. 177)Retomada. Necessidade. Presunção. RE 30.851 (p. 28)

MANDATO

Procuração em causa própria. Efeito de compra e venda. Ag 36.395(p• 198)

OBRIGAÇÃO NATURAL

Rifa. Ag 36.758 (p• 155)

PRESCRIÇÃO

Dívida ativa de autarquia. RE 56.416 (p. 160)Lei nova. Redução de prazo. Ap. Civ. 9.634 (p. 104)

D. CIV. - D. COM . - D. CONST. 111

DIR. CIVIL (cont.)

RESPONSABILIDADE CIVIL

_ Acidente de transporte. Culpa presumida, Ag 37.273 (p. 200)Acidente de transporte. Indenização progressiva. RE 57.992(p. 36)Culpa do preposto e do preponente. Ag 35.129 (p. 196)Indenização. Pensão variáve/ com o salário mínimo. Dano estético.RE 58.252 (p. 215)

_ Locatário. Furto de coisa locada. RE 54.569 (P. 205)

TESTAMENTO

Cláusula de inalienabilidade. Exclusão da incomunicabilidade.RE 55.355 (p. 124)Legado à concubina. RE 38.266 (p. 201)Testemunhas instrumentárias. Nulidade. RE 42.205 (p. 88)

USUCAPIÃO

_ Requisitos. Aquisição pelo transmitente. RE 57.627 (p. 131)

DIR. COMERCIAL

CHEQUE

Cheque visado. Cheque marcado. Efeitos. Costume comercial.RE 57.717 (p. 162)

PROTESTO

Sustação. Mandado de segurança. RMS 15.114 (P• 85)

USO DO COMÉRCT0

Cheque visado e cheque marcado. RE 57.717 (p. 162)

DIR. CONSTITUCIONAL

ATO INSTITUCIONAL

Cessação de mandato de Prefeito. Exclusão da apreciação judicial.Suspensão de direitos políticos. RMS 16.482 (P. 112)

"IMPEACHMENT"

Prefeito. A.I./2. RMS 16.482 (p. 112)

Mulineto

Criação de Município. Requisitos da Lei Orgânica. Repr. 664(p. 49)

IV D. CONST. — D. IND. D. INTERNAC. — D. PEN. — D. PROC. — PR. CIV.

DIR. CONSTITUCIONAL (cont.)

SENADO FEDERAL

Suspensão de lei inconstitucional. Limites da Resolução respectiva.Recl. 691 (p. 61), MS 16.512 (p. 5)

TRIBUTAÇÃO

Aspectos constitucionais. RMS 14.786 (p. 143), RE 59.646(p. 222)

DIR. INDUSTRIAL

NOME COMERCIAL

Título não relástinvel. RE 58.919 (p . 218)

DIR. INTERNACIONAL

DIVÓRCIO

Lei nacional. Lei do domicílio. Fraude. AR 676 (P• 99)

SUCESSÃO

Brasileiro domiciliado no estrangeiro. Lei do domicílio. RE 59.871(p. 138)

DIR. PENAL

FALSIDADE IDEOLÓGICA

Funcionário público. Boa-fé. IIC 43.330

DIR. PROCESSUAL — PROCESSO CIVIL

AçÃo RESCISÓRIA

Dissídio jurisprudencial. AR 676 (p. 99)

(p. 204)

COISA JULGADA

Mandado de segurança denegado. RE 59.054 (p. 184)

COMPETÊNCIA

T.F.R. Tratado internacional. Ap. Civ. 9.662 (p. 107)

DEFESA

Princípio de eventualidade. Ag 38.265 (p. 157)

EVENTUALIDADE

Contestação. Ag 38.265 (p. 157)

D. PROC. — PR. CIV. — D. PROC. — PR. PEN. — D. PROC. — PR. S.T.P. V

DIR. PROCESSUAL — PROCESSO CIVIL (cont.)

EXCEÇÃO DE SDEDEIÇÃD

Indeferimento liminar. Exc. Susp. 3 (Te. 106)

EXECUTIVO FISCAL

Prêmios de seguro de acidentes do trabalho. RE 56.416 (p. 160)

MANDADO DE SEGURANÇA

Ato de autoridade. Reclassificação de funcionário. RMS 16.496(p, 193)

Desapropriação. Locatário do prédio expropriado. RMS 16.222(p. 150)Renovação do pedido. Coisa julgada. RE 59.054 (p. 104)Sustação de protesto cambial. RMS 15.114 (p. 85)

NULIDADE

Processo relativo a incapazes. Intervenção do Ministério Público.RE 55.435 (p. 206)

DIR. PROCESSUAL — PROCESSO PENAL

AÇÃO PENAL PUBLICA

Crime contra costumes. Casamento da ofendida com terceiro.gc 43.275 (p. 91)

DENÚNCIA

_ Inépcia. RC 42.717 (p. 117)

JÚRI

Nulidade. Suprimento. RE 58.286 (p. 95)

DIR. PROCESSUAL — PROCESSO NO S.T.F.

EXCEÇÃO DE SUSEEIÇÃO

Indeferimento liminar. Exc. Susp. 3 (p. 186)

RECLAMAÇÃO

Descumprimento de decisão do S.T.F. Resolução do Senado Fe-deral. Recl. 691 (p. 61), MS 16.512 (p. 5)

RECUES° EXTRAORDINÁRIO

Demora do julgamento. Reg. ST.F., art. 309-A. RE 56.119(p. 209)Interpretação razoável da lei. RE 59.871 (p, 138)Letra a. Decisão de eqüidade. RE 59.450 (p. 219)

VI D. PROC. — PR. S.T.F. — D. TRAB. — GERAL — D. TRIB.

DIR. PROCESSUAL — PROCESSO NO S.T.F. (cont.)

REG. S.T.F.

Âmbito. RE 56.119 (p. 209)

REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

Criação de Município. Instrução deficiente. Repr. 664 (p. 49)

Iniciativa do Procurador-Geral da República. Recl. 691 (p. 61),MS 16.512 (p. 5)

SENTENÇA ESTRANGEIRA

Homologação. Processo idêntico pendente no Brasil. SE 1.874(p. 1)

DIR. DO TRABALHO — GERAL

CONTRATO DE TRABALHO

Empregado de autarquia. Rescisão. Falta de pagamento de salários.RE 59.242 (p. 135)

GREVE

Reivindicação profissional legítima. RE 59.242 (p. 135)

DIR. DO TRABALHO — ACIDENTE DO TRABALHO

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Reversão de parcela da indenização. RE 58.367 (p. 47)

SEGURO

Compulsoriedade. RE 56.416 (p. 160)

DIR. DO TRABALHO — PREVIDÊNCIA SOCIAL

ACIDENTE DO TRABALHO

Reversão de parcela da indenização. RE 58.367 (p. 47)

CONTRIBUIÇÃO

Isenção. Sociedade filantrópica. Reconhecimento de utilidade pú-blica. RE 58.889 (P. 96)

Serviço Social Rural. Compulsoriedade. Ag 32.079 (p. 195)

DIR. TRIBUTÁRIO

IMPÔSTO DE CESSÃO

Bitributação. Inconstitucionalidade. RE 58.684 (p. 217)

D. TRIB. VII-VIII

DIR. TRIBUTÁRIO (cont.)

IMPUTO DE CONSUMO

Aumento. Irretroatividade. RE 59.613 (p. 221)

ImPbsto DE VENDAS E CONSIGNAÇÕES

Empreitada de materiais. Lugar do pagamento. RE 55.702 (p. 208)

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

_ Entidade educacional. Gratuidade do ensino. RE 58.691 (p. 182)

BENÇÃO Fraca

_ Hotéis. Exclusão de taxas. RE 57.872 (p. 92)

REGULAMENTO FISCAL

Âmbito. RMS 14.786 (p. 143)

TiocA

Conceituação. Usuário potencial. RMS 14.786 (p. 143)

TAXA DE INVESTIMENTO DE PECUÁRIA

_ Natureza. Constitucionalidade. RMS 14.786 (p. 143)

TAXA DE MELHORAMENTO DOS PORTOS

Autorização orçamentária. RE 59.646 (P. 222)

TAXA RODOVIÁRIA

Veículos em transito. RE 58.426 (p. 179)

'raiemo

Limitação de tráfego interestadual. RMS 14.786 (P. 143)

INDICE NUMÉRICO

Pág. Pág.3 (Exc. Susp.) 186 36.716 (Ag) 199

664 (Repr) 49 36.758 (Ag) 155676 (AR)'. 99 37.273 (Ag) 200691 (Reei)! 61 37.439 (Ag) 156

1.874 (SE) 1 38.265 (Ag) 1579.634 (Ap. Civ. ) 104 38.266 (RE) 2019.662 (Ap. Civ.) 107 39.044 (RE) 202

12.783 (RMS) 82 42.205 (RE) 8813.419 (RMS) 188 42.717 (HC) 11714.226 (RMS) 83 43.275 (IIC) 9114.426 (RMS) 84 43.330 (HC) 20414.786 (RMS) 143 45.242 (12E) n 3115.114 (RMS) 85 53.898 (RE) 3315.526 (RMS) 108 54.569 (RE) 20515.710 (RMS) 149 55.355 (RE) 12415.755 (RMS) 189 55.435 (RE) 20615.823 (RMS) 110 55.702 (RE) 20815.873 (RMS) 2 56.119 (RE) 20915.882 (RMS) 190 56.416 (RE) 16016.031 (RIAS) 86 57.627 (RE) 13116.222 (RMS) 150 57.717 (RE) 16216.482 (RMS) I 112 57.872 (RE) 9216.496 (RMS) 193 57.992 (RE) 3616.512 (MS) 5 58.000 (RE) 21330.851 (RE) 28 58.135 (RE) 3832.079 (Ag) 195 58.197 (RE) 4034.032 (RE) 30 58.238 (RE)', 17735.129 (Ag) 196 58.252 (RE) 21536.395 (Ag) 198 58.286 (RE) 95

ÍNDICE NUMÉRICO

Pág. Pág.

58.367 (RE) 47 58.919 (RE) 218

58.426 (RE) 179 59.054 (RE) 184

58.511 (RE) 133 59.242 (RE) 135

58.525 (RE) 181 59.450 (RE) 219

58.684 (RE) 217 59.613 (RE) 221

58.691 (RE) 182 59.646 (RE) 222

58.889 (RE) 96 59.871 (RE) 138