Reflexões filosóficas da linguagem

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1 Reflexões filosóficas sobre a linguagem Percebe-se que já na Antiguidade, no pensamento socrático, a linguagem se tornara objeto de estudo e interesse para os sofistas. Podemos ainda destacar duas relevantes teses: a primeira, defendida por Górgias 1 , sobre a impossibilidade do discurso verdadeiro, e a segunda, que é a tese convencionalista de Demócrito, sobre a significação das palavras. 1 Górgias (485 a.C.- 380 a.C.)chamado também de niilista, foi um retórico e um filósofo grego, natural de Leontinos, na Sicília. Juntamente com Protágoras de Abdera formou a primeira geração de sofistas. Como outros sofistas estava continuamente mudando de cidade, praticando e dando demonstrações públicas de suas habilidades em diversas cidades, e nos grandes centros como Olímpia e Delfos, cobrando por suas apresentações e aulas. Uma característica especial de suas aparições era de ouvir questões de plateia sobre todos os assuntos e respondê-las sem qualquer preparo. Seu principal legado foi ter levado a retórica desde sua Sicília natal para a Ática, e contribuir com a difusão do dialeto ático como idioma da prosa literária.

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Reflexões filosóficas sobre a linguagem

Percebe-se que já na Antiguidade, no pensamentosocrático, a linguagem se tornara objeto de estudoe interesse para os sofistas. Podemos aindadestacar duas relevantes teses: a primeira,defendida por Górgias1, sobre a impossibilidade dodiscurso verdadeiro, e a segunda, que é a teseconvencionalista de Demócrito, sobre asignificação das palavras.

1Górgias (485 a.C.- 380 a.C.)chamado também de niilista, foi umretórico e um filósofo grego, natural de Leontinos, na Sicília.Juntamente com Protágoras de Abdera formou a primeira geração desofistas. Como outros sofistas estava continuamente mudando de cidade,praticando e dando demonstrações públicas de suas habilidades emdiversas cidades, e nos grandes centros como Olímpia e Delfos,cobrando por suas apresentações e aulas. Uma característica especialde suas aparições era de ouvir questões de plateia sobre todos osassuntos e respondê-las sem qualquer preparo. Seu principal legado foiter levado a retórica desde sua Sicília natal para a Ática, econtribuir com a difusão do dialeto ático como idioma da prosaliterária.

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Os sofistas2 eram os mestres da retórica ou dacultura geral e, tivera, na Grécia notávelinfluência no clima intelectual da época (séculosV e IV a.C.).

2 Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidadeem cidade realizando aparições públicas para atrair estudante, de quemcobravam taxas para oferecer-lhes educação. O foco central de seusensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco emestratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiammelhorar seus discípulos ou, em outras palavras, que a "virtude" seriapassível de ser ensinada. Protágoras, Górgias e Isócrates estão entreos primeiros sofistas conhecidos. Diversos sofistas questionaram aentão sabedoria recebida pelos deuses e a supremacia da cultura grega(uma ideia absoluta à época). Argumentavam, por exemplo, que aspráticas culturais existiam em função de convenções ou nomos e que amoralidade ou imoralidade de um ato não poderia ser julgada fora docontexto cultural em que aquele ocorreu. Tal posição questionadoralevou-os a serem perseguidos, inclusive, por aqueles que se diziamamar a sabedoria: os filósofos gregos. A conhecida frase: "o homem é amedida de todas as coisas" surgiu dos ensinamentos sofistas. Uma dasmais famosas doutrinas sofistas é a teoria do contra-argumento. Elesensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser refutado por outroargumento, e que a efetividade de um dado argumento residiria naverossimilhança (aparência de verdadeiro, mas não necessariamenteverdadeiro) perante uma dada plateia. Os sofistas foram consideradosos primeiros advogados do mundo, ao cobrar de seus clientes paraefetuar suas defesas, dada sua alta capacidade de argumentação. Sãotambém considerados por muitos os guardiões da democracia naantiguidade, na medida em que aceitavam a relatividade da verdade.Hoje, a aceitação do ponto de vista alheio é a pedra fundamental dademocracia moderna. Na Grécia clássica, os sofistas foram os mestresda retórica e oratória, professores itinerantes que ensinavam sua arteaos cidadãos interessados em dominar melhor a técnica do discurso,instrumento político fundamental para os debates e discussõespúblicas, já que na pólis grega as decisões políticas eram tomadas nasassembleias. Foram contemporâneos de Sócrates, Platão e Aristóteles, foramcombatidos por tais filósofos, que condenavam o relativismo dossofistas e sua defesa da ideia de que a verdade é resultado dapersuasão do consenso entre os homens. A metafísica se constituiuassim, nesse momento, em grande parte em oposição à sofística (que secaracteriza pela preocupação com questões práticas e concretas da vidada cidade, pelo relativismo em relação à moral e ao conhecimento, peloantropocentrismo, pela valorização da retórica e da oratória como

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É verdade que a sofística não era propriamente umaescola filosófica, mas uma orientação genérica,que os sofistas acataram genericamente pelaspróprias exigências de sua profissão.

Insurgiu contra a sofística Platão que defendeuque existe uma reflexão sobre a linguagem. Entreos diálogos platônicos que tratam sobre alinguagem, destaca-se o Crátilo3( 388 a.C.), ondeapós indagar sobre como uma expressão adquire suasignificação, respondeu o filósofo por meio daadoção da teoria naturalista da linguagem, segundoa qual as palavras apresentam a essência dascoisas.

Crátilo é oficialmente o texto fundador dadiscussão filosófica sobre a linguagem. Foraescrito originalmente no século V a.C. e apresentatrês personagens: 1) Crátilo, filósofo que tem umacompreensão naturalista da linguagem; 2)instrumentos da persuasão que caracterizava a função do sofista e, emconsequência, pelo conhecimento da linguagem e o domínio do discurso,essenciais para o desenvolvimento da argumentação).3Crátilo foi um filósofo grego, discípulo de Heráclito e Éfeso. Asdatas tanto de nascimento e morte de Crátilo não são conhecidas. Nodiálogo Crátilo, Platão apresenta-o como sendo mais jovem queSócrates. Foi mestre de Platão, antes de Sócrates, segundo Aristóteles(Metafísica, I, 6), ou depois, segundo Diógenes Laércio (III,6).Crátilo leva ao extremo o conceito heraclítico de fluxo (panta rei: "tudoflui") e de devir, afirmando que não só não se pode mergulhar duasvezes do mesmo rio mas nem mesmo uma única vez, porque a água quemolha a ponta do pé não será a mesma que molha o calcanhar. Da mesmaforma, pensava que fosse impossível dar um nome às coisas, pois,estando estas em constante devir, não seriam mais aquelas. Limitava-seportanto a apontá-las. Daí se segue sua teses de incognoscibilidade doreal, que antecipa de certa forma o pensamento cético.

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Hermógenes, que tem uma visão convencionalista emrelação à linguagem; e, por derradeiro Sócrates,melhor dizendo, o Sócrates platônico .

Nesse diálogo, no Crátilo, Platão então abordou umassunto novo, ou seja, a linguagem, e nestemomento, se concretiza que "Platão que fala pelaboca de Sócrates".

Nesse contexto Crátilo e Hermógenes representampois dois polos extremos e, por conseguinte, emconflito. Crátilo que segundo a tradiçãofilosófica de Heráclito (de quem era discípulo)defendeu a tese de que os nomes ou sãoverdadeiros, ou não são nomes de qualquer espécie.Para o filósofo, ou uma palavra é a expressãoperfeita de uma coisa, ou é apenas mero somarticulado.

Por outro lado, Hermógenes defendeu que o ato denomear, de dar nome aos objetos, é convencional.Para ele os nomes podem ser dados arbitrariamentede acordo com os interesses e valores sócio-culturais envolvidos.

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Já Sócrates4 emerge como a alternativa a estes doispolos antagônicos. Segundo ele, o objetivo daespeculação sobre a linguagem não é demonstrar sea mesma é natural (posição defendida por Crátilo)ou convencional (posição defendida de Hermógenes)mas que tenha uma dimensão natural, no sentido deque existem categorias universais e metafísicas aserem observadas, e, ao mesmo tempo, convencional,visto que a mesma está ligada à diversidade dasatividades sócio-culturais do ser humano.

4 A verdade em Crátilo traduz que a dialética está sempre presente nafilosofia de Platão. Sua argumentação não segue os padrões da lógicaformal criada por Aristóteles, que investiga a força ou sentido decertas palavras, sempre a partir de modelos de proposições ouenunciados. No diálogo de Platão, percebe-se a força argumentativa,uma preocupação com a verdade que o distingue dos sofistas. Adialética do perguntar e do responder defende-se de raciocíniosfalsos, dos sofismas, prestando atenção não só às palavras,masprincipalmente ao problema ou à realidade em debate. Em Crátilo, aargumentação de Sócrates parte do seguinte: há proposições verdadeirase falsas e as proposições são compostas de nomes. Assim, as partes deuma proposição verdadeira devem ser verdadeiras. A seguir, Sócratesdesloca a questão a questão da verdade e da mentira relacionada àproposição para o exame da função da linguagem. O objetivo do nome éser instrumento do falante para um determinado fim. Ao formador denomes, o nomoteta, o legislador caberá configurá-los com sílabas eletras, com sons, naturalmente adequados à coisa que nomeia. Aodialético, porém, compete distinguir julgar se uma linguagem está bemou não. Mas qual é a função da linguagem? É a de simplesmente nomearesta ou aquela entidade ou uma maneira de nomear coisas diferentes?Platão esclarece ao dizer que um nome é correto quando quem o atribuiexpressa a relação entre a natureza da coisa e a forma da homem donome em letras e sílabas. Não importam as sílabas e as letras usadasdesde que a propriedade do objeto seja reproduzida. Assim sendo, aquestão da verdade da exatidão do nome torna-se o problema daverdade, do conhecimento e do significado da linguagem. É nesta últimaque Platão procura o meio eficaz e verdadeiro para dizer a essênciadas coisas.

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Nesse sentido, uma palavra é justa ou certa, namedida em que apresenta a coisa, respeitando oslimites impostas pela essência do objeto. Opensamento é concebido como espécie de visãointelectual5: a contemplação do ser verdadeiro.

Assim, a ordem objetiva, uma vez captada, serve demedida, de norma de retidão para a linguagem,estabelecendo-se, então, um isoformismo entre aestrutura gramatical e a estrutura ontológica, ouseja, a construção de uma língua não é puramentearbitrária (rejeição da teoria convencionalista).

5 Interessante é ressaltar que o estudo do pensamento e da linguagem éuma das áreas da psicologia em que é muito relevante ter-se uma claracompreensão das relações inter-funcionais existentes. Posto que nãopoderemos responder a nenhuma das questões mais específicas destedomínio e nem mesmo levantá-las. O ponto de vista segundo o qual o some o significado são dois elementos separados com vidas divorciadasafetou gravemente os estudos sobre a linguagem, o fonético e osemântico. A função primordial da linguagem é a comunicação,intercâmbio social. Ao estudar-se a linguagem por meio da análise emelementos, dissociou-se também esta função da função intelectual dodiscurso. Tratava-se ambas como se fossem duas funções separadas,embora paralelas, sem prestar atenção às suas interrelaçõesestruturais e evolutivas; contudo, o significado das palavras éunidade de ambas as funções da linguagem. É axioma da psicologiacientífica que a compreensão entre espíritos é impossível semqualquer expressão mediadora. Na ausência de um sistema de signos,lingüísticos ou não, só é possível o mais primitivo e limitado tipode comunicação.

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Afirmou então Platão6 haver uma correspondênciaentre a linguagem e o ser, pois os nomes separam edistinguem essências.

Quanto é exato, o nome apreende todas as coisas,entre as diversas que possuem a mesma essência,sendo, por isso, um instrumento de ensino(diadascallion7).

Desse modo, a adequação dos nomes às coisas semede pela sua capacidade de correspondência àestrutura ontológica dos objetos. Daí porque quemjulga a exatidão dos nomes é precisamente aquele

6 Platão iniciou o debate apresentando a famosa máxima de Heráclitoonde afirmou que tudo passa e nada permanece, e compara o que existe àuma corrente de rio, para concluir que ninguém se banha duas vezes nasmesmas águas (Crátilo, 402a). É preciso observar que Crátilo é, semdúvida, o diálogo mais irônico de Platão. E encharcado de sensocrítico. O que torna tal texto de difícil compreensão e interpretação.Quais seriam os limites entre a ironia cômica e a crítica filosóficadentro do Crátilo? Essa é uma pergunta que talvez jamais sejarespondida definitivamente. Ao final do Crátilo, Platão realiza uma desuas inúmeras ironias e, afirmou que: "(...) quanto mais reflito e meocupo com ela (com a máxima de Heráclito), tanto mais sou inclinado aaceitar a opinião de Heráclito".Entretanto, tal ironia só pode sercompreendida à luz da advertência que fez logo no início do diálogo:"acautela-te, para que eu não faça uma tramóia contigo".Em outros termos, "cuidado pois eu posso te enganar!" De fato, se odiálogo for literalmente lido haverá a impressão de que Platãofinalmente concordou com Heráclito. Mas, quando se parte dopressuposto que se trata de mais uma ironia cômica, então se percebeque o que Platão fez foi criticá-lo e desdenhar, combatendofrontalmente a teoria da linguagem de Heráclito.7Didascalicon foi também a denominação de um tratado escrito por Hugo deSão Vitor (1096-1141) que serviu de referência tanto aos estudantescomo os professores das recém-abertas escolas catedralícias da Europamedieval. A obra divide e classifica, sistematicamente, as formas deconhecimento.

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que é capaz de conhecer as essências, ou seja, ofilósofo.

A principal tese platônica afirmou é que o real éconhecido verdadeiramente em si, sem a utilizaçãode palavras, isto é, sem a mediação linguística (éa contemplação de ideias de Platão).

A linguagem não é constitutiva da experiência doreal, mas é apenas um instrumento com a funçãodesignativa, utilizado posteriormente paraexpressar o objeto do pensamento.

Desta forma, é possível se conceber um sistemaideal de sinais, que, melhor realizando sua funçãodesignativa, permite ao homem dominar o mundoobjetivo8.

8 Parece [...]que os homens de antigamente quando estabeleceram osnomes, se encontravam em situação idêntica a da maioria dos sábios donosso tempo, os quais, à força de andar à roda para investigar anatureza das coisas, acabam tomados de vertigem, acreditando que sãoas próprias coisas que giram e que tudo o mais ao redor deles é pelomesmo teor. Não atribuem a culpa dessa maneira de pensar ao que sepassa em seu íntimo, mas imaginam que decorre das próprias coisas, quenada é estável e permanente, e que tudo passa e se movimenta, e seencontra em permanente estado de modificação e geração (Crátilo, 411b-411c). Pode-se concluir precariamente é que para Platão a teoria dalinguagem de Heráclito é vertigem. Posto que se estivesse correto,então os objetos enquanto cópias imperfeitas do mundo das ideias ouformas, estão condenadas a se modificarem e até desaparecerem.Entretanto, se não houver o pensamento para captar esse movimento, nãohaverá fluxo algum. O que Heráclito fez foi anunciar o movimento dedecadência dos objetos, enquanto cópias imperfeitas do mundo dasideias.

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Há a separação radical entre a palavra e o ser, oque constitui o fundamento da teoriainstrumentalista da linguagem até os nossos dias.Tal questão permaneceu no pensamento deAristóteles que desenvolveu a teoria dosignificado9, na qual ao estudar o discurso emgeral, deu especial atenção às proporções,observando que no discurso, se faz abstração daexistência da coisa significada, a significaçãonão contém em si referência à existência.

9 Em Filosofia existem dois tipo principais de teoria do significado.Mas, o termo "teoria do significado" tem figurado de certa forma, emum grande número de debates filosóficos durante a última metade doséculo XX. E, infelizmente significando coisas diferentes. O primeirotipo de teoria semântica é a que designa conteúdos semânticos e asexpressões de uma língua. E as abordagens da semântica podem serdivididas de acordo conforme as linguagens atribuem ou não proposiçõesaos significados das frases e, se o fazem, qual é a visão que elas noslevam a pensar sobre a natureza dessas proposições.O segundo tipo deteoria, a teoria fundamental de sentido é a que afirma os fatos emvirtude da qual as expressões possuem conteúdo semântico que estaspossuem. As abordagens dessa teoria podem ser divididas em teorias queexplicam, e as teorias que não explicam os significados das expressõesda linguagem utilizada por um grupo tem termos do conteúdo dos estadosmentais dos membros desse grupo.

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Já na proposição, há uma referência à existênciada coisa10, uma vez que é um julgamento a respeitoda existência do que é significado.

A proposição é, desse modo, o lugar da verdade ouda falsidade, já que pode corresponder ou não àscoisas. Não é enquanto significante, mas enquantoa verdadeira que a linguagem humana se assemelhaao real (discurso judicativo).

10 Prosseguiu Platão a criticar a ideia heraclitiana do "fluxocontínuo", ou seja, de que a realidade é fluxo constante. E questiona:se todas as coisas mudam e a realidade é um fluxo, então como épossível explicar a existência das cidades e de tudo o mais que o serhumano conhece? Independentemente das mudanças históricas e culturaiso belo é uma categoria do pensamento sempre reconhecida pelos homens.Se Heráclito realmente estivesse correto sobre o belo, enquantocategoria de pensamento, teria desaparecido. no entanto, o belocontinuava a existir no período em que o diálogo foi escrito, isto é,o século V a.C. Portanto, para Platão, a palavra não é a única formade conhecer os objetos, tal como defendeu Heráclito. A palavra é mera"imitação vocal" do objeto. Apesar de ser essencial dentro do processode comunicação, esta não é a mais perfeita representação do objeto.Antes da palavra existe o pensamento. E, por sua vez, o pensamento nãocogita na palavra, e sim, do objeto. A palavra é elo de ligação entreo pensamento e o objeto. E, mais tarde, descobriremos que entre osujeito e o objeto. Além disso, contra-argumentando Heráclito, Platãoapresentou o problema da existência do conhecimento. In litteris: "Nemseria mesmo razoável afirmar, Crátilo [representando Heráclito], apossibilidade do conhecimento, se todas as coisas se transformam enada permanece fixo. Se isso mesmo, o conhecimento, não se modificanem se afasta do conhecimento, então o conhecimento permanecerá ehaverá conhecimento. Mas, se a própria idéia do conhecimento semodificar, terá de transformar-se numa idéia diferente doconhecimento, e então não haverá conhecimento. Se sempre setransformasse, nunca poderia haver conhecimento e, pela mesma razão,não haveria alguém que conhecesse (Crátilo, 440b)." Assim, finalmentePlatão demonstrou que tudo se transforma e nada permanece fixo comodefendeu Heráclito, então até o conhecimento seria impossível.

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Entende Aristóteles11 a linguagem como símbolo doreal, o símbolo não substitui o objeto, sendo umaintervenção do espírito (convenção), em umdeterminado sentido. Assim, a linguagem nãomanifestaria o real, mas o significaria.

Surge aí, um busilis pois, se as palavras sãosignificativas por convenção, o que garante que asmesmas conservem uma unidade de significação?Portanto, para a comunicação ser possível énecessário pressupor um fundamento objetivo, que éa própria essência.

O que garante, por exemplo, que a palavra “aula12”tenha uma significação una é o mesmo que faz comque a “aula” seja sempre aula, ou seja, a ousia(essência).

11 A lógica aristotélica representou o maior desenvolvimento da teorialógica, que foi respeitado durante séculos. Kant, que estava dez vezesmais distante de Aristóteles do que nós, assegurou que nada designificante fora adicionado à lógica de Aristóteles durante doismilênios. O trabalho da lógica de Aristóteles é concentrado em seistextos que são conhecidos, de forma coletiva, como o "Organon"("instrumento").

Dois desses textos, em particular, o "Primeiras Analíticas" e aInterpretação, contêm o mais importante pensamento de Aristótelessobre o tratamento das sentenças e inferência formal. O nascimento dachamada lógica moderna, através do trabalho de Gottlob Frege eBertrand Russell, trouxeram a tona sérias limitações da lógicaaristotélica.

12A palavra aula deriva do latim aulae que significa pátio ou palácio.Vem de adaptação do grego no sentido de ser "espaço ao ar livro,pátio".

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Percebemos que assim a permanência da essência épressuposta como fundamento da unidade de sentido:é porque as coisas possuem essência que aspalavras têm sentido.

Analisando a linguagem chegamos até a ontologiapois há correspondência entre a exigêncialinguística de unidade e o princípio ontológico deunidade. Então, a essência aparece como condiçãode possibilidade da comunicação.

A Idade Média representou um período homogêneo emrelação à Antiguidade, salientando-se, porém, queessas questões passaram a ser pensadas no interiorda Revelação Cristã13.

13 No início era o Verbo essa é conhecida abertura do primeiro capítulodo Evangelho de João, que em seus versículos iniciais retoma o mito dacriação cristã, tema ainda presente no primeiro capítulo do Gênesis.Ao tratar o deus cristão como o próprio "Verbo", João Evangelistaincorpora à tradição cristã a concepção grega da oposição existenteentre logos e caos, oposição também existente nos textos como aTeogonia de Hesíodo, escrito por volta de 900 d.C. Corresponde aoquarto e último evangelho. "(...) No princípio era o Verbo, e o Verboestava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito semele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.» (João 1:1-4)".

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Tal contexto fora modificado pelo nominalismo14,representado pelo pensamento de Guilherme deOkham15 que significou uma ruptura com o movimentoanterior, ao defender entre outras teses, aausência de substancialidade dos universais,afirmando que estes são desprovidos de realidadeontológica, na medida em que existem apenas nointelecto humano, como signos, designando umconjunto de semelhanças abstraídas de coisasindividuais.

Mesmo assim prosseguiu a tradição filosóficaocidental que perdurou por toda modernidade, aideia de que a consciência pode atingir a certezaplena (questão fundamental da teoria doconhecimento), independente da mediaçãofilosófica.

14Nominalismo é a doutrina que não admite a existência universal nem nomundo das coisas, nem do pensamento. Em sua forma mais radical surgiuno século XI por intermédio de Roscelino de Compiègne (que atribuíauniversalidade aos nomes, daí a origem do termo).15Guilherme de Ockham ou em inglês William of Ockam. Existem variadasgrafias sobre o nome: Ockham, Ockam, Occam, Auquam, Hotham einclusive, Olram. (1215-1347) Foi um frade franciscano, filósofo,lógico, teólogo escolástico inglês, considerado como o representantemais eminente da escola nominalista principal corrente oriundo dopensamento Roscelino de Compiègne(1050-1120). Conhecido como o "doutorinvencível" ou doctor invicibilis e o iniciador venerável (venerabilis inceptor),nasceu na vila de Ockham, nos arredores de Londres, na Inglaterra em1285, e dedicou seus derradeiros anos de vida ao estudo e à meditaçãonum convento de Munique. Morreu em 09 de abril de 1347 vítima da pestenegra (foi uma pandemia de peste bubônica que assolou a Europa duranteo século XIV e dizimou entre 25 a 75 milhões de pessoais quecorresponderia a um terço da população da época).

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Segundo Habermas o progresso gerado pela filosofiade G. Frege16 significou o primeiro passo para ochamado linguistic turn. O que foi capaz de oferecerrelevante distinção entre o pensamento (Gedanke) erepresentação (Vorstellung) mas não foi suficientepara romper essa tradição, que continuoupredominando no pensamento filosófico do séculoXX.

16Friedrich Ludwig Gottolob Frege ou Gottlob Frege ( 1848-1925) foi ummatemático, lógico e filósofo alemão. Trabalhando na fronteira entre afilosofia e a matemática. Foi o principal criador da lógica matemáticamoderna, sendo considerado juntamente com Aristóteles, o maior lógicode todos os tempos. Em 1903 publicou o segundo volume de Grundgesetze derArithmetik (Leis básicas da Aritmética), em que expunha um sistema lógicono qual seu contemporâneo e admirador Bertrand Russell encontrou umacontradição, que ficou conhecida como o paradoxo de Russell. Esseepisódio impactou profundamente a vida produtiva de Frege. SegundoRussell, apesar da natureza de suas descobertas marcarem época, suaobra permaneceu na obscuridade até 1903, quando o próprio filósofo ematemático inglês chamou atenção para a relevância dos escritos. Ogrande contributo de Frege para a lógica matemática foi a criação deum sistema de representação simbólica (Begriffsschrift, conceitografia ouideografia) para representar formalmente a estrutura dos enunciadoslógicos e suas relações, e a contribuição para a implementação docálculo dos predicados. Esse parte da decomposição funcional daestrutura interna das frases (em parte substituindo a velha dicotomiasujeito-predicado, herdada da tradição lógica Aristotélica, pelaoposição matemática função-argumento) e da articulação do conceito dequantificação (implícito na lógica clássica da generalidade), tornadoassim possível a sua manipulação em regras de dedução formal. (Asexpressões "para todo o x", "existe um x", que denotam operações dequantificação sobre variáveis têm na obra de Frege uma de suasorigens).Ao contrário de Aristóteles, e mesmo de Boole, que procuravamidentificar as formas válidas de argumento, e as assim chamadas "leisdo pensamento", a preocupação básica de Frege era a sistematização doraciocínio matemático, ou dito de outra maneira, encontrar umacaracterização precisa do que é uma “demonstração matemática”. Fregehavia notado que os matemáticos da época freqüentemente cometiam errosem suas demonstrações, supondo assim que certos teoremas estavamdemonstrados, quando na verdade não estavam. Para corrigir isso, Fregeprocurou formalizar as regras de demonstração, iniciando com regraselementares, bem simples, sobre cuja aplicação não houvesse dúvidas. Oresultado que revolucionou a lógica foi o desenvolvimento do cálculode predicados (ou lógica de predicados).

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Nessa direção, encontra-se, por exemplo, oneopositivismo lógico17 do Círculo de Viena18, comose percebe em Moritz Schlick e Rudolf Carnap.Warat observa que há uma ideia medular no Círculode Viena, que é referente às condições semânticasde verificações como critérios de significação17 O neopositivismo lógico é também chamado de positivismo lógico,filosofia analítica,empirismo contemporâneo ou empirismo lógicocorresponde a uma corrente de pensamento que se desenvolveu no iníciodo século XX através do Círculo de Viena. O neopositivismo lógicoparte da premissa que todo saber começa na experiência sensível, daíser também chamado de empirismo lógico. E, nesse sentido épositivista, posto que o saber se daria através do fenômenos dapercepção imediata, impressões, e, etc. Ao mesmo tempo, apresenta-sefisicalista, abandonando a metafísica e trazendo ao mundo dos corposa base da experiência: isso marca a recusa total de qualquermetafísica. Dessa forma, pregavam os seguidores dessa linha aimpossibilidade de conhecer a constituição e as leis do mundo realatravés de pura reflexão, sem qualquer controle empírico.Preciosomarco desse pensamento foi a obra de Rudolf Carnap, que fixou por baseque a única fonte do saber é o imediatamente dado na percepçãosensível, de modo que todos os conceitos produzidos devem serconduzidos por esses dados básicos, para que tenham valorfilosófico. Outra marca do Neopositivismo Lógico foi a redução daFilosofia à Epistemologia (como explicitado acima), e desta última àSemiótica, buscando dar dignidade científica à Filosofia e tambémdemonstrando a importância dada à linguagem como instrumento do sabercientífico.18O Círculo de Viena, ou em alemão, Wiener Kreis foi o nome como ficouconhecido um grupo de filósofos que se juntou informalmente naUniversidade de Viena de 1922 a 1936 com a coordenação de MortzSchlick. Também foi chamado de Sociedade Ernst Mach ou Verein Ernst Machem homenagem a Ernst Macht; Realizavam reuniões semanais ondeprocuravam reconceitualizar o empirismo a partir das novas descobertascientíficas e demonstrar as falsidades da metafísica. Suas atividadescessaram quando Schlick foi assinado por um de seus discípulo, figuradestacada do movimento nazista, os membros do Círculo e então sedispersaram frente à perseguição nazista. Seu sistema filosófico ficouconhecido como "positivismo lógico ou neopositivismo ou ainda,empirismo lógico. Os membros do Círculo de Viena uma visão comum dafilosofia, que consistia na aplicação das postulações de Wittgensteinexpostas em sua primeira obra. Embora Wittgenstein insistisse que opositivismo lógico fosse uma visão errada sobre seus escritos. Ainfluência do Círculo de Viena na Filosofia do século XX foi imensa.

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(uma ideia é sempre representação de certosefeitos sensíveis). Acontece que essas concepçõessemiológicas encontram-se comprometidas com umafilosofia da ciência, que devota um cultoobstinado e cego a certas concepções míticas deverdade.

Assim, todo enunciado, que não possa serrelacionado como critério de verdade, carece desentido, o que marginaliza as outras funções dalinguagem.

Os neopositivistas assumem o rigor discursivo comoparadigma da investigação científica, aparecendo alinguagem como instância fundamental, na medida emque serve para só para o intercâmbio deconhecimentos, como também como forma de controledestes, que podem ser obscurecidos por certasperplexidades de natureza estritamentelinguística.

Para estes, onde não há rigor linguístico étraduzir em uma linguagem rigorosa os dados domundo. Segundo essa concepção, o signo que écomposto por dois elementos: o indicador(significado) e o indicado(referência), é estudadosob três pontos de vista, a partir das relaçõesque podem manter.

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O primeiro ponto de vista é o da sintaxe, que é arelação de um signo com os outros signos; osegundo é o da semântica, relação do signo com osobjetos designados, e o terceiro é o da pragmáticaque é a relação entre os usuários.

O Positivismo, seguindo a tradição conforme jádemonstrado, privilegiou os dois primeirosaspectos, isto é, o da sintaxe, onde se estuda asrelações dos signos entre sim, prescindindo dosusuários e das designações (v.g., estuda as regrasde formação e da derivação de toda linguagem), eda semântica, cujo problema central é o problemada verdade, em detrimento do aspecto pragmático.

Uma expressão linguística, bem formuladasintaticamente, é semanticamente verdadeira, sepuder ser empregada para subministrar umainformação verificável sobre o mundo, ou seja, setiver correspondência com os fatos.

Exemplificando, “o livro é vermelho” ou “a bola éamarela” são enunciados aos quais se pode aplicaro predicado verdadeiro, já que expressam um fatoque efetivamente pode ocorrer.

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Porém, outros enunciados como “os duendes sãoverdes e se apaixonam em abril” são semanticamentesem sentido porque se referem aos fatos que nãopodem ocorrer.

A verdade opera como critério ou condição desentido, pois um enunciado não será semanticamentesignificativo se não for empiricamenteverificável.

Por isso, positivismo lógico procura formular ascondições semânticas de sentido, o que expressamas condições, nas quais um enunciado pode adquiriro estatuto de uma sentença científica, separando-se, assim, aqueles que não podem ser aceitos comointegrantes de uma linguagem científica.

Essa regra de significação exposta estabelece quedeterminado enunciado somente poderá integrar odiscurso da ciência, se ele for de algum modoverificável.

Por isso, são desprovidos de sentido os enunciadosque extrapolam as fronteiras do discurso fático,por fronteiras do discurso fático, por nãopossuírem referência empírica (v.g. os enunciadossobre a justiça).

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Alerta Warat19 que, dentro dessa teoria surge anecessidade de se estabelecer dois níveis delinguagem (linguagem-objeto e metalinguagem) comoforma de se evitar o paradoxo, que resulta doobjeto de nossa reflexão a própria linguagem.

É célebre o exemplo da antinomia do mentiroso: umcretense afirma: “todo cretense é mentiroso”, ondeou o que ele diz é verdade, essa frase tem que serfalsa, pois quem a afirma é um mentiroso, ou o queele diz é falso e, desse modo, a frase seráverdadeira. De qualquer forma, não conseguimosfugir do paradoxo20.

19 Oferece um bom momento de reflexão dado por Warat em sua segundaedição da obra "O direito e sua linguagem", cujo esboço remonta háexatamente duas décadas e trazia, então, à consideração um discursoque pretendia denunciar, provocar e balançar o conjunto dassignificações jurídicas imaginárias pelas quais foi possível legitimara desigualdade imposta pela modernidade.

20 A palavra paradoxo tem ampla abrangência e aplicação. Tendo acepçãomuito vasta incluindo vasta gama de problemas. Etimologicamente,paradoxo é composto de "para" que significa ao lado de, além de e,"doxa" que significa juízo, opinião, crença. Segundo Guerreiro, Cíceroafirmou que a palavra era usada pelos gregos ao se referirem aosdeterminados ditos que os romanos consideravam assombrosos ou seconflitavam com o senso comum. Um paradoxo pode ser definido como umaconclusão inaceitável, derivada de raciocínio aparentemente aceitávele a partir de premissas aparentemente aceitáveis.A história da mentirasob o ponto de vista do paradoxo parece uma empreitada sem sentido: amentira é em si paradoxal. O máximo que se pode fazer é procurarconstruir a história da mentira sob o ponto de vista lógico, ahistória da abordagem lógica que a mentira sofreu, quando foi tomadacomo tema da lógica com o célebre Paradoxo do Mentira. A versão maisantiga do paradoxo do mentiroso é atribuída ao filósofo gregoEubúlides de Mileto (384-322 a.C.).

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Daí a noção de metalinguagem desenvolvida porAlfred Taski21 segundo a qual a firmação citada nãopertenceria ao conjunto objeto. Na linha dametalinguagem teria por objeto o estudo daestrutura da linguagem científica, determinandoassim, as regras de precisão e de controle dodiscurso.

No campo da ciência jurídica Kelsen foi o primeiroa trabalhar com essas categorias, a linguagem-objeto e a metalinguagem, ainda que de formaimplícita, ao estabelecer para a ciência dodireito, a tarefa de efetuar uma descrição dodireito positivo do Estado.

21 Na discussão da antinomia do mentiroso (O exemplo de Tarski é: “ASENTENÇA IMPRESSA EM VERMELHO À PAGINA 65 DO NÚMERO DE JUNHO DE 1969DO SCIENTIFIC AMERICAN É FALSA”;que o tradutor adapta para “A SENTENÇAIMPRESSA EM MAIÚSCULAS À PÁGINA 100 DESTA TRADUÇÃO É FALSA”.), duaspodem ser as abordagens principais, conforme ensina Tarski, exatamenteopostas. Uns tratam a questão como não séria, e simplesmente adesconsideram. Outros, a consideram como fonte do progresso real. Maso autor não foge da polêmica e pretende enfrentar o problema com ointuito de eliminá-lo positivamente, isto é, pretende revisar osprincípios pré-estabelecidos para elaborá-los de forma a extinguir asantinomias.Após rejeitar algumas teorias, Tarski resolve pelo uso da noção deverdade, porém com algumas restrições, e decide pela análise dalinguagem comum que, segundo ele, é a formadora da antinomia domentiroso por excelência. Ora, todos sabemos, essa linguagem éuniversal. Então, como aplicar uma formulação que de antemão vimos quenão se aplicaria às linguagens universais? Tarski resolve essa questãocom mais um corte. Se por um lado a linguagem comum é universal, emalgumas situação ela tem objeto tão específico que o foco reduz-se adeterminados aspectos que são tratados dentro de um rigor absoluto,tornando essa face da linguagem passível de análise lógica. É o casodas várias ciências. Os cientistas, ao tratarem de um assunto,preliminarmente acordam quanto ao uso dos termos para determinadascoisas, e, pois, há um fechamento do vocabulário e a noção de verdadepode ser considerada nesse contexto. Essas são, segundo Tarski, aslinguagens formalizadas.

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Assim as proposições descritivas assumiram umametalinguagem que não poderiam ser confundidas comas regras de direito.

Desta forma, a validade da norma está sempre umapreocupação metalinguística, de se definir aspropriedades que a mesma necessita para serconsiderada válida (estabelecimento de critérioque permitam decidir se qualquer enunciado ouproposição pertence ao conjunto formado pelalinguagem objeto).

As insuficiências do positivismo lógico conduziramao estudo da linguagem ordinária, com apreocupação de se dar maior ênfase ao nívelpragmático de análise em contraposição ao que erafeito pela positivismo22.

22Nesse sentido, Tarski confirma "decidir em que casos uma determinadasentença é verdadeira é objeto da própria ciência e não da lógica ouda teoria da verdade. A teoria da verdade é o que dá suporte àsconclusões científicas. Mas não poderia, de fato, pretender determinaro que é ou não é verdade em todos os campos da ciência, posto que paraisso, deveria ser todas as ciências, o que não acontece. Por outrolado, toda ciência trabalha com a verdade, e, pois é preciso que seestabeleça um critério de verdade e, mais, que se determine um métodode demonstração dessa verdade, porquanto somente assim será possível otrabalho científico. isto é, não basta estabelecer o que é verdadefaz-se necessário demonstrar essa verdade, mas isso já é tarefa decada ciência particular. Vale dizer, a lógica ou a teoria da verdadedeve preocupar-se com a validade formal da ciência, e não com avalidade material.

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Há dois níveis elementares de significação de umtermo, a saber: a significação de base e asignificação contextual. “É proibido usar tanga”possui um significado padronizado, que nos permiteentender que a ordem está relacionada comdeterminada peça do vestuário; porém o sentido damensagem e a adoção de um comportamento frente àmesma variação conforme se trate de cartazcolocado na praia de Ipanema ou numa praia denudismo (ou utilizar uma peça de banho maior ounão usar nada).

Porém ocorre que existem expressões cujasignificação de base apresenta cuja significaçãode base apresenta “anemia significativa”, de modoque seu sentido designativo é semprecontextualmente construído.

São os chamados estereótipos entre os quaisencontramos expressões como abuso de direito oulegítima defesa que, sob aparência de definiçõesempíricas, encobrem juízos de valor.

Tais expressões como abuso de direito não sãopassíveis de definições abstratas daí o porquê ascargas valorativas possua elemento indispensávelpara a detecção das justificações e legitimaçõestravestidas de explicações, quando se procura

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efetuar leituras ideológicas dos discursosjurídicos.

A vagueza é um problema ligado ao aspectodenotativo, ou seja, inexiste uma regra definidaquanto à aplicação de um termo que é, por isso,impreciso. Exemplo célebre mencionado peloBertrand Russell23 sobre o termo “calvo” inexistem23Bertrand Arthur William Russel, terceiro Conde Russell (1872-1970)foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos queviveram no século XX. Político liberal, ativista e popularizador dafilosofia, Russell foi respeitado por muitas pessoas como um tipo deprofeta da vida racional e da criatividade. Sobre alguns temas, suapostura fora controversa. Recebeu o Nobel de Literatura de 1950 emreconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quaisele lutou por ideiais humanitários e pela liberdade dopensamento.Durante sua longa e produtiva vida, elaborou um das maisinfluentes teses filosóficas do século XX. E ajudou a fomentar uma dassuas tradições filosóficas, a chamada Filosofia Analítica. Destacaram-se a tese logicista, ou da lógica simbólica, de fundamentação daMatemática. Segundo Russel. todas as verdades matemáticas e não apenasas da aritmética, como pensava Frege, poderiam ser deduzidas a partirde umas poucas verdades lógicas e todos os conceitos matemáticosreduzidos a uns poucos conceitos lógicos primitivos. Um dos elementosimpulsionadores desse projeto foi a descoberta, em 1901, de umparadoxo no sistema lógico de Frege, o chamada paradoxo de Russell. Asolução para esses e outros paradoxos foi a teoria dos tipos(inicialmente, a teoria simples dos tipos; posteriormente, a teoriaramificada dos tipos), um dos pilares do seu logicismo. SegundoRussell, trata-se de se imporem certas restrições à suposição de quequalquer propriedade que pode ser predicada de uma entidade de um tipológico possa ser predicada com significado de qualquer entidade deoutro ou do mesmo tipo lógico. O tipo de uma propriedade deve ser deuma ordem superior ao tipo de qualquer entidade da qual a propriedadepossa com significado ser predicada. Como outro pilar desse projeto,concebeu a teoria das descrições definitivas, apresentada em oposiçãoa algumas de suas antigas ideias, especialmente, as contidas em suateoria do significado, e da denotação defendida no seu livro Osprincípios da Matemática e à teoria do sentido e a referência deFrege. Para esse filósofo, a análise lógica precisa de frasesdeclarativas contendo descrições definidas... tais como o número primopar, o atual rei da França e, etc.. deve deixar clara que,contrariamente às aparências, essas frases não expressam proposiçõessingulares - algumas vezes denominadas de proposições russellianas,

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regras que estabeleçam as condições necessáriaspara a utilização denotativa, não sendo possíveldecidir, na totalidade dos casos, os seus limitesprecisos.

Já ambiguidade que difere da vagueza, refere-se aoaspecto designativo, ocorrendo quando o termoutilizado possui mais de um subconjunto depropriedades designativas (como os homônimos, porexemplo, da palavra “manga”).

A análise das definições léxicas feitas pelafilosofia da linguagem ordinária, postula umatécnica definitória chamada de definição dedomínio que consiste no exame de diferentescontextos nos quais os termos podem serempregados.

Às definições lexicográficas, cujo exemplo maissignificativo é o dos termos existentes nodicionário opõem-se as definições especulativas,como é o caso do termo democracia que possuisentido denotativo incerto, dependente decritérios axiológicos adotados, o quecorresponderia a uma opção entre várias definiçõeslexicográficas.

mas proposições gerais .

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O pensamento de Ludwig Wittgenstein24 que, em suacrítica contundente contra as concepções quecaracterizaram a filosofia da consciência,demonstra que a teoria da linguagem abraçada pelatradição, incorre em grave erro de base, na medidaem que vem, ao longo dos anos, afirmando, de formareducionista que a única, que a única, ou pelomenos, a principal função da linguagem é a funçãodesignativa ou descritiva.

Para Wittgenstein não existe um mundo em si cujaestrutura possa ser conhecida pela razão dosujeito cognoscente, independentemente da mediaçãolinguística.

Então, a linguagem não é mero instrumento decomunicação do conhecimento, esta é, antes detudo, condição de possibilidade para a própriaconstituição do conhecimento.

24 Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (1889-1951) foi um filósofoaustríaco, naturalizado britânico. Foi um dos principais atoresda virada linguística na filosofia do século XX. Suas principaiscontribuições foram nos campos da lógica, filosofia dalinguagem, filosofia da matemática e filosofia da mente. Muitoso consideram o filósofo mais relevante do século passado. Seupensamento é dividido m duas partes. Para identificá-las, muitosautores recorrem ao artifício os escritos da juventude aoPrimeiro Wittgenstein e a obra posterior ao SegundoWittgenstein, como se designasse autores distintos.

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Rejeitando-a concepção tradicional de linguagem,de base ontológica (a ideia de que as palavraspartem das essências). Para Wittgenstein nãoexistem essências e nem fronteiras definitivasentre o uso das palavras.

A significação das palavras não está estabelecidade modo definitivo, porém o fato de não serpossível conhecer todos os casos de aplicação deuma palavra não implica que ela não tenha sentido.

O primeiro passo é abandonar o ideal da exatidãoda linguagem (mito filosófico), pois esse idealcompletamente desligado de uso em situaçõesconcretas, carece de qualquer sentido.

É impossível se determinar a significação daspalavras sem uma consideração do contexto sócio-prático, em que as mesmas são usadas, uma vez queos conceitos são intrinsecamente abertos,admitindo abertos, admitindo a possibilidade deaplicação aos casos não previstos, anteriormente(é no uso efetivo que a palavra ganhasignificação).

Entende Wittgenstein entende a linguagem como umaatividade humana como o andar ( a relação entre alinguagem e a ação), que só pode ser compreendidasno contexto (formas de vida) em que está inserida.

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Nesse sentido, introduz a noção de jogos delinguagem25, pretendendo acentuar que, nosdiferentes contextos, são seguidas diferentesregras, a partir das quais é possível sedeterminar o sentido das expressões linguísticas.

A semântica só atinge sua finalidade por meio dapragmática, pois o sentido das palavras só podeser resolvido no contexto pragmático. Só se podecogitar de significado quando há uma compreensãoque é tida como verdadeira e outra que é falsa, oque só ocorre quando há regras para diferenciarambas.

A mudança da postura de Wittgenstein a partir desua primeira obra intitulada de "InvestigaçõesFilosóficas" é tão grande que se costuma falar queexistem vários Wittgensteins (o I e II) sobre oassunto, há menção em Robert Alexy. Teoria de La

25 O conceito de jogo de linguagem utilizado pelo Wittgenstein, além deser um dos conceitos centrais para constituição de sua teoria, é introduzido – assim me parece – natentativa de explicar como o significado da palavra pode ser entendido como o seu uso em umdeterminado contexto. Para Wittgenstein, agora o significado não devemais ser compreendido como algo fixo e determinado, como umapropriedade que emana da palavra, mas sim como algo que as expressõeslingüísticas, a linguagem, exerce em um contexto específico e comobjetivos específicos. O que significa que o significado pode variardependendo do contexto em que a palavra é utilizada e do propósitodesse uso.

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Argumentación Jurídica. Madri: Centro e EstudiosConstitucionales, 1997. p.64.

Acontece que, para Wittgenstein, o aprendizado deuma regra não implica sua aplicação automática, jáque pressupõe um ato de liberdade.

Mesmo seguindo as mesmas regras, ninguém joga domesmo modo, pois não se trata de reflexoscondicionados. O seguir de uma regra significa,pois, adquirir uma determinada práxis de umadeterminada (hábitos e costumes).

Ainda dentro dessa linha de superação do paradigmada filosofia da consciência situa-se o pensamentodo filósofo alemão Jürgen Habermas26, comodesdobramento das investigações empreendidas porG. Frege, C. Pierce e pelo próprio Wittgenstein.

26 Jürgen Habermas é um filósofo e sociólogo alemão inserido natradição crítica e do pragmatismo. É conhecido por suas teoriassobre a racionalidade comunicativa e a esfera pública sendoconsiderado um dos mais importantes intelectuais contemporâneos.Associado a Escola de Frankfurt tratou dos fundamentos da teoriasocial e da epistemologia, da análise da democracia nassociedades sob o capitalismo avançado, do Estado do direito emum contexto de evolução social.

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A filosofia de Habermas se desenvolve dentro doparadigma da comunicação, através da noção darazão comunicativa, que substitui a reflexãotranscendental, solitária anterior à fala, pelaconfiguração da ação e do discurso interior doprocesso comunicativo... ela substitui o conceitode razão não processual, centrado no sujeito, porum conceito processual comunicativo, deduzido deuma lógica pragmática da argumentação, a qual seexpressa através de uma compreensãodescentralizada de mundo.

Nesse sentido, afirma Habermas: "Saltam aos olhosos novos instrumentos de representação e deanálise que a filosofia do século XX empresta àsemântica fregeana e a lógica pós-aristotélica,desenvolvida no século XIX".

Todavia, o elemento especificamente moderno, queatingiu todos os movimentos do pensamento, nãoreside tanto no método como nos motivos dopensamento. Quatro motivos caracterizam a rupturacom a tradição. Os tópicos podem sercaracterizados da seguinte maneira: pensamentopós-metafísico, guinada da linguística, de modo desituar a razão e inversão do primado da teoriafrente à prática, ou seja, superação dologocentrismo27.27 Logocentrismo é termo cunhado pelo filósofo alemão Ludwig Klages nosanos de 1920 e se refere à tendência no pensamento ocidental de se

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A passagem do paradigma da filosofia daconsciência para o paradigma da filosofia dalinguagem representou um corte, a partir do qualos sinais linguísticos, que serviam apenas comoinstrumento e equipamento das representaçõesadquirem, como reino intermediário dossignificados, uma dignidade própria. As relaçõesentre linguagem e mundo, entre a proposição e oestado de coisas, substituem as relações desujeito-objeto28.

Nesse contexto, a "filosofia da comunicação29",considera insuficiente a posição semântica formal,exposta por Frege, para elucidar a questão darazão através da linguagem, uma vez que estálimitada à relação que se estabeleceu entre

colocar o logos (palavra grega que significa palavra ou razão) como ocentro de qualquer texto ou discurso. Jacques Derrida usou o termopara caracterizar boa parte do pensamento ocidental desde Platão: umabusca constante pela "verdade".28 A palavras não devem apenas ser usadas para descrever a realidade,como supunha a semântica tradicional, mas também para realizar algoobjetivo como fazer uma saudação, pedido, dar uma ordem, agradecer,pedir socorro, contar piadas, ministrar uma aula e, etc. A mesmapalavra pode ser utilizada em diferentes contextos dotada dediferentes significados. E, são esses diferentes contextos de uso comseus objetivos específicos que Wittgenstein denomina jogo delinguagem.29 A filosofia foi o elo de união entre a ciência e religião. Foucaultdiz que "as palavras da filosofia se propõem ao homem como coisas adecifrar. A grande metáfora do livro que se abre, que se soletra e quese lê para conhecer a natureza não é mais que o reverso visível de umaoutra transferência, muito mais profunda, que constrange a linguagem aresidir ao lado mundo, em meio as plantas, as ervas e animais. A vontade de comunicar e a capacidade de comunicar aindaestão distantes e limitadas.

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linguagem e o mundo (função designativa),abstraindo sua dimensão pragmática, referente àrelação entre os sujeitos, no momento em que secomunicam sobre algo no mundo.

É verdade que a guinada aconteceu inicialmente nointerior dos limites do semanticismo, onde sepagou o preço das abstrações que tornaramimpossível explorar plenamente o potencial desolução do novo paradigma.

A análise semântica permanece essencialmente umaanálise de formas de proposição, principalmentedas formas das proposições assertóricas elaprescinde da situação da fala, do uso de linguageme de seus contextos, das pretensões, das tomadasda posição e dos papéis dialogais dos falantes,numa palavra prescinde da pragmática da linguagem,a qual iria deixar a semântica formal entregue umoutro tipo de abordagem, a saber, à consideraçãoempírica.

Segundo Habermas, a abstração semântica pode alinguagem, desfigurando-a, ao amputar o seucaráter autorreferencial, graças ao qual o ato quefala revela a intenção do falante.

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O ouvinte pode deduzir, do conteúdo semântico doproferimento, o modo como a sentença proferida éutilizada, ou seja, pode saber qual é o tipo deação realizado através dele. "As açõeslinguísticas interpretam-se por si mesmas, uma vezque possuem uma estrutura autorreferencial."

Habermas afirma que as três teorias do significadomais conhecidas são: a) a semânticaintencionalista (de Grice, por exemplo); b) asemântica formalista (de Frege); c) a teoria dosignificado enquanto uso, cujo precursor foi osegundo Wittgenstein, são parciais, abordandoapenas um dos aspectos do processo desseentendimento. Estas pretendem esclarecer osignificado de uma expressão e uma únicaperspectiva: a) do que é pensado (intenção); b) doque é dito (aspecto textual); c) do uso eminterações.

O agir comunicativo é um desdobramento da intuiçãode que o telos do entendimento habita a linguagem.Não é, pois, possível separar a questãofundamental da teoria do significado da questãoreferente ao contexto em que essa expressão podeser aceita como válida. Na linguagem, as dimensõesdo significado e da validez estão ligadasinternamente.

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Desse modo, compreende-se um enunciado afirmativo,por exemplo, quando se sabe que tipo de razões umfalante deveria aduzir, a fim de convencer umouvinte, de que tem o direito de levantar umapretensão de validade (verdade) para a sua frase.

Portanto, as condições de compreensão, sãopreenchidas na prática comunicativa cotidiana,induzem a um suposto jogo de argumentação no qualo falante, na qualidade de proponente, poderiaconvencer em ouvinte de que a pretensão devalidade possivelmente problemática é justificada.

Após essa guinada epistêmica de semântica daverdade, não podemos mais considerar a questão devalidade de uma proposição como se fora umasimples questão de nexo objetivo entre a linguageme o mundo, completamente alheia ao processo decomunicação.

Cabem as reflexões filosóficas sobre a linguagem,cabe ressaltar ainda que a teoria da argumentaçãojurídica de Robert Alexy é devedora também dascontribuições oriundas das teorias da linguagemnormativa (metaéticas30), como por exemplo, as30 Metaética é o ramo da ética que procura entender a natureza daspropriedades éticas, enunciados, atitudes e juízos. É um dos trêsramos da ética geralmente reconhecidos pelos filósofos. Os outros sãoa ética aplicada e a ética normativa, teoria ética e ética aplicadaformam a ética normativa. A metaética tem recebido considerável

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desenvolvidas por R. M. Hare e, por St. E.Toulmin, na medida em que, como o próprio Alexyreconhece, na base de uma teoria da fundamentaçãode enunciados normativos tem que estar uma teoriada linguagem normativa, pois, enfim deve-seprimeiro saber o que os enunciados normativos são.

Interessa a Alexy a distinção estabelecida entreos significados descritivo e valorativo, dasexpressões morais, que correspondem às duas regrasfundamentais da argumentação moral: o princípio dauniversalidade e o da prescritividade.

O princípio da universalidade é fundamentado pelofato de todos os objetos possuírem as mesmascaracterísticas relevantes devem necessariamenteser classificados do mesmo modo. Ora, asexpressões valorativas, como demonstra Hare,também têm essa mesma qualidade, uma vez quepossuem, em si, a dimensão descritiva.

A designação de algo como bom está ligada àexistência de certas características, quecorrespondem a determinado standard (critérios)referente ao significado descritivo do valor bom,não é também bom.atenção dos filósofos acadêmicos nas últimas décadas. Há três tipos deproblemas metaéticos: 1) qual o significado dos termos e juízosmorais?; 2) Qual natureza dos juízos morais?; 3)Como os juízos moraispodem ser apoiados e defendidos?.

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Ao afirmarmos que algo é bom é porque ele possuideterminadas propriedades que, em razão doprincípio da universalidade, nos obrigam adesignar, como bons todos os objetos que tenham asmesmas características.

Assim, o fato de possuir as mesmas propriedadesrelevantes é a razão, doravante suficiente paraque se afirme que algo é bom, estabelecendo-se,assim, uma conexão entre a afirmação de que algo ébom e a razão que temos para fazê-lo.

Essa conexão existe exatamente como regra moralque diz que o fato e algo ter determinadasqualidades é uma razão para designá-lo de bom.

É mister, então, se formular o princípio daprescritividade que nada mais é do que a regra deouro (é o exemplo retirado do Novo Testamento,Mateus, 18:2331).

Em relação à teoria de Toulmin interessa Alexy aquestão sobre o motivo que permite que um conjunto

31 Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quisfazer contas com os seus servos;Mateus 18:23.

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particular de fatos reais seja uma boa razão paraalguma conclusão ética particular.

Isso ocorre, devido à existência das regras deinferência, específicas dos argumentos morais, quepossibilitam a passagem do plano das razõesfáticas gerais a uma conclusão normativa.

Ao procurar demonstrar como é possível justificaras convicções morais, Alexy aceita como concepçãofundamental a de que o discurso moral é umaatividade guiada por regras, rejeitando, dessemodo, as posturas defendidas pelo emotivismo, pelointuicionismo e na naturalismo.

A filosofia analítica trata da investigação dalinguagem e suas relações com o real na virada doséculo XIX para o século XX. Através da análiselógica da linguagem, procurava esclarecer osentido das expressões (conceitos, enunciados, usocontextual) e seu uso no discurso linguístico.

De acordo com essa corrente, muitos dos problemasfilosóficas se reduziriam a equívocos e mal-entendidos originados do uso ambíguo da linguagem.Destacaram-se alguns nomes tais como o alemãoJohann Gottlob Frege, o britânico Ludwig

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Wittgenstein e Bertrand Russell, John LangshawAustin32 e Gilbert Ryle.

O desenvolvimento da filosofia da linguagem einfluenciou filósofos de outros campos dafilosofia, que passaram a atentar mais para ofenômeno da linguagem. Um dos filósofoscontemporâneos que se vale dos resultados dafilosofia analítica é Jürgen Habermas, pertencenteà Escola de Frankfurt33.

O movimento da filosofia analítica passou porvárias etapas, nas quais se voltou para asquestões específicas em relação à linguagem. Oreconhecimento da importância do sentido e a32 John Langshaw Austin (1911-1960) foi filósofo da linguagem,britânico desenvolveu a maior parte da atual teoria dos atos dodiscurso. Filiado à vertente da Filosofia Analítica interessou-se peloproblema do sentido em filosofia.As teorias de Austin foram propagadasnos Estados Unidos por seu aluno John Searle. Searle com sua obraSpeech Acts Theory (1969) . Também o filósofo francês Jacques Derridadesenvolveu uma teoria da linguagem baseada no trabalho de Austin.33 Escola de Frankfurt ou Franfurter Schule refere-se a escola de teoriasocial interdisciplinar neomarxista, particularmente associada com oInstituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt. A escolainicialmente consistia de cientistas sociais marxistas dissidentes queacreditavam que alguns dos seguidores de Marx tinha se tornado"papagaios" de um limitada seleção de ideias de Marx, usualmente emdefesa dos ortodoxos partidos comunistas. Entretanto, muitos dessesteóricos admitiam que a tradicional teoria marxista não poderiaexplicar adequadamente o turbulento e inesperado desenvolvimento desociedades capitalistas no século XX. Críticos tanto do capitalismo edo socialismo da União Soviética, as suas escritas apontaram para apossibilidade de caminho alternativo para o desenvolvimento social.Desde de 1960, a teoria crítica de Escola de Frankfurt tem sidocrescentemente guiada pelo trabalho de Habermas na razão comunicativa,intersubjetividade linguística e o Habermas chama de discursofilosófico da modernidade.

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linguagem que desempenham o papel fundamental nafilosofia.

Essa preocupação começou com Frege que era lógicoe matemático que percebendo que a linguagem comumcontém expressões, propôs a constituição de umalinguagem formal que restringisse osinconvenientes e imprecisões da linguagem comum.

Bertrand Russell desenvolveu a análise dalinguagem chegando à teoria do atomismo lógico.Segundo essa teoria, a cada proposição simples,que ele chama de proposição atômica, correspondeum, fato simples, o fato atômico.

Por exemplo: "O livro azul" é uma proposiçãoatômica, pois consiste num enunciado simples queindica que determinada coisa tem determinadapropriedade ou está em determinada relação.

Na linguagem, essas proposições podem articularformando as proposições compostas ou moleculares.Por exemplo: "O livro é azul e pertence a Paulo".

O problema, de acordo com Russell, é que, no usoda linguagem comum, na maioria das vezes nãoparamos para fazer análise da linguagem. Nós

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tendemos aceitar as proposições em seu conjunto,como um todo, e não analisá-las em suas partes.

Isso pode levar a equívocos que conduzem às falsasquestões recolhidas pela filosofia. Quandoconstruímos uma proposição causal como "A casapegou fogo porque além dormiu com o cigarro aceso"pode ser que, embora as duas proposições possamestar corretas.

Com isso, Russell concluiu que ou a lógica formalnão consegue captar a riqueza da linguagem comum,que traduz noções confusas como causalidade,finalidade etc., que criam problemas filosóficos.

Desta forma, muitas dos problemas filosóficosseriam simplesmente frutos de equívocos eimprecisões da linguagem comum. LudwigWittgenstein34 propôs que seria necessário fazeruma "terapia da linguagem"; ao final da qualmuitos dos problemas filosóficos se mostrariamcomo falsos problemas, como simples problemas delinguagem.

O percurso filosófico de Wittgenstein pode serdividido em duas grandes fases. Em sua primeira

34 "Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo"Ludwig Wittgenstein.

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fase no Tractatus logico-philosophicus, intensificou abusca de uma estrutura lógica que pudesse darconta do fracionamento da linguagem.

A estrutura da linguagem deveria corresponder àrealidade dos fatos. Em suas palavras: "um estadode coisas é pensável, quer dizer: podemos fazeruma figura dele. A totalidade dos pensamentosverdadeiros é uma figura do mundo.

Já a segunda fase do filósofo britânico, seafastou dessa compreensão de que a verdade daproposição deve ser verificada na experiência domundo real, e passou a afirmar a impossibilidadede uma redução legítima entre um conceito lógico(da linguagem) e um conceito empírico (darealidade).

Em outras palavras, a linguagem não é capturaconceitual da realidade, isto é, não é areprodução do objeto, mas sim, uma atividade, umjogo. E os jogos de linguagem adquirem o seusignificado no uso social, nos diferentes modos deser, e de viver no qual a fala está inserida.

A linguagem comum possui uma riqueza e espécies ede tipos de frases que são utilizadas em situaçõesespecíficas(mandar, pedir, relatar, descrever,

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inventar, agradecer e, etc.,) e formam os "jogos elinguagem" e não individualmente (vai desde odiscurso acadêmico até a gíria utilizada pelosjovens e marginais).

Com essa perspectiva, Wittgenstein abandonou aintenção de fazer da linguagem comum a "pintura darealidade" como ele mesmo havia dito. O termolinguístico não poderia mais ser explicado pormeio de uma análise lógica, mas apenas a partir deseu uso social.

Na sua obra "Investigações Filosóficas' o filósofoexplicou: "A linguagem é como uma caixa deferramentas". Para ele, não se trata de considerarse é falsa ou verdadeira, mas de saber usá-la. Atarefa da filosofia é usar adequadamente alinguagem, sabendo seus limites e calando-sediante do que não pode ser falado.

A Escola de Frankfurt é o nome dado ao grupo depensadores alemães do Instituto de PesquisasSociais fundado em 1920. Sua produção ficouconhecida como teoria crítica. Entre eles, sedestacaram Theodor Adorno, Max Horkheimer35, Walter35 Max Horkheimer (1895-1973) foi um filósofo e sociólogo alemão. Comogrande parte dos intelectuais da Escola de Frankfurt, era judeu deorigem, filho de industrial Moses Horkheimer, e ele próprio estavadestinado a dar continuidade as negócios paternos. Por meio de seuamigo Friedrich Pollock, associou-se em 1923 ao Instituto paraPesquisa Social, do qual foi diretor,em 1931, sucedendo o historiador

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Benjamin, Herbert Marcuse36, Erich Fromm, JürgenHabermas.

Apesar das diferenças de pensamento entre todosesses pensadores e estudiosos, identificamosnestes a preocupação comum em estudar os variadosaspectos da vida social de modo a compor umateoria crítica da sociedade como um todo.

Para tanto, investigaram as relações existentesentre os campos da economia, da psicologia, dahistória e da antropologia. Os pontos de partidaaustríaco Carl Grünberg.a teoria crítica de Horkheimer pretende que oshomens protestem contra a aceitação resignada da ordem totaltotalitária. A "razão polêmica" de Horkheimer, ao se opor à razãoinstrumental e subjetiva dos positivistas, não evidencia somente umadivergência de ordem teórica. Ao tentar superar a razão formalpositivista, Horkheimer não visa suprimir a discórdia entre razãosubjetiva e objetiva através de um processo puramente teórico. Essadissociação somente desaparecerá quando as relações entre os sereshumanos, e destes com a natureza, vierem á configurar-se de maneiradiversa da que se instaura na dominação. A união das duas razões exigeo trabalho da totalidade social, ou seja, a práxis histórica.36 Herbert Marcuse (1898-1979) foi influente sociólogo e filósofoalemão naturalizado norte-americano (nasceu em Berlim). No livro"Ideologia da Sociedade Industrial", Marcuse repete a crítica aoracionalismo da sociedade moderna, e tenta ao mesmo tempo esboçar ocaminho que poderá nos afastar dele. O caminho será, por um aspecto, acontestação da sociedade pelos marginais que a sociedade desprezou ounão conseguiu beneficiar. Será por outro aspecto o desenvolvimentoextremo da tecnologia, que deverá ter, segundo Marx e Marcuse, efeitosrevolucionários. Quais são estes efeitos? O problema da sociedademoderna é a invasão da mentalidade mercantilista e quantificadora atodos os domínios do pensamento. Essa mentalidade se representaeconomicamente pelo valor de troca, ligado de modo íntimo aosprocessos de alienação do homem. E, segundo Marx, com odesenvolvimento extremo da tecnologia "a forma de produção assente novalor de troca sucumbirá". A sociedade moderna, sentindo, que sua basea tecnologia - contém seu rompimento, age repressivamente para evitareste avanço extremo. Marcuse tinha esperança de que não.

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fundamentais de suas reflexões foram a teoriamarxista (elaborando uma leitura original a partirdessa tese) e a teoria freudiana que trouxe à tonaelementos novos sobre o psiquismo.

A Escola de Frankfurt concentrou seu interesse naanálise da sociedade de massa, termo que buscacaracterizar a sociedade atual, na qual o avançotecnológico é colocado à serviço da reprodução dalógica capitalista, enfatizando o consumo e adiversão como formas de garantir o apaziguamento ea diluição dos problemas sociais.

Um tema muito presente é a crítica da razão, e deacordo com Max Horkheimer e Adorno, a razãoiluminista, que visava a emancipação dosindivíduos e o progresso social, terminou porlevar a uma maior dominação das pessoas em virtudejustamente do desenvolvimento tecnológico-industrial.

Horkheimer acreditava que o problema estava naprópria razão controladora a instrumental, quebusca sempre a dominação, tanto da natureza quantodo próprio ser humano.

Na obra "A dialética do esclarecimento" de 1947Adorno e Horkheimer tecem duras críticas ao

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iluminismo, que estimulou o crescimento dessarazão controladora e instrumental que predomina nasociedade contemporânea.

Denunciam ainda o desencantamento do mundo, adeturpação das consciências individuais, aassimilação dos indivíduos ao sistema socialdominante.

Um dos fundadores da Escola de Frankfurt, TheodorAdorno desenvolveu crítica ao projeto iluministada modernidade, que teria desembocado na "razãoinstrumental", uma racionalidade que burocratiza edirige as vidas e consciências dos indivíduos.

Adorno elaborou o conceito de "indústria cultural"para referir-se à banalização comercial da culturapelos meios de comunicação de massa: cinema,revistas e televisão e, etc.

Denunciaram Horkheimer e Adorno a morte da razãocrítica, asfixiada pelas relações de produçãocapitalista. Se denúncias semelhantes já haviamsido feitas no campo do marxismo, o que há decaracterístico nos filósofos da Escola deFrankfurt é a desesperança em relação àpossibilidade de transformação dessa realidadesocial.

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Isso se deveria a uma ausência de consciênciarevolucionária no proletariado (trabalhadores) queteria sido assimilado, absorvido pelo sistemacapitalista, seja pelas conquistas trabalhistasalcançadas, seja pela alienação de suasconsciências promovida pela indústria cultural.

Indústria cultural é um termo difundido por Adornoe Horkheimer para designar a indústria da diversãovulgar veiculada pela televisão, rádio, revistas,jornais, músicas e propagandas e, etc.

Através da indústria cultural e da diversão seobteria a homogeneização dos comportamentos, amassificação das pessoas.

A falta de perspectiva de transformação sociallevou Adorno a se refugiar na teoria estética,por entender, que o campo da arte é o único redutoautêntico da razão emancipatória e da crítica àopressão social.

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Walter Benjamin37 se distingue de Adorno eHorkheimer por uma postura mais otimista no que serefere à indústria cultural. Em seu texto "A obrade arte na época de suas técnicas de reprodução"se mostra esperançoso com a possibilidade de que aarte, a partir do desenvolvimento das técnicas dereprodução (discos, reprografia, e processossemelhantes), se torne acessível a todos.

Enquanto, na visão de Adorno e Horkheimer, acultura veiculada pelos meios de comunicação demassa não permite que as classes assalariadasassumam uma posição crítica em relação àrealidade, Benjamin38 acredita que a arte dirigida37 Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892-1940) foi ensaísta, críticoliterário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão Associado àEscola de Frankfurt e à Teoria Crítica fora intensamente inspiradopelos autores marxistas, tal como Bertolt Brecht e também pelo místicoGershom Scholem. Conhecedor profundo da língua e culturas francesas,traduziu para o alemão importantes obras como "Quadros Parisienses" deCharles Baudelaire e "Em Busca do Tempo Perdido" de Marcel Proust. Oseu lavorcombinou ideiais aparentemente antagônicas do idealismo alemão e domaterialismo dialético aliado ainda ao misticismo judaico constituindouma contribuição original para a teoria estética. Entre suas obrasmais conhecidas, registram-se a "A Obra de Arte na Era de SuaReprodutibilidade Técnica (1936) "Teses Sobre o Conceito de História"(1940) e a monumental e inacabada "Paris, Capital do Século XIX"enquanto "A Tarefa do Tradutor" representa até hoje uma referênciapara os estudos literários.38 Benjamin tomou como ponto de partida para sua concepção de linguagema Bíblia, em especial, o Gênesis. E, dois fatos são marcantes paraBenjamin na sua interpretação do texto sagrado. O primeiro é relativoà palavra criadora de Deus, que ao ser proferida dá vida ao mundo:"Deus disse: Faça-se a luz! E a luz se fez." O segundo refere-se aomovimento operado pela linguagem dos nomes que é ao mesmo temporeconhecedora e designadora. Narra o Gênesis que "Deus formou da terratodos os animais selvagens e todas as aves do céu, e os trouxe aohomem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que ohomem lhe desse. E o homem deu nomes a todos os animais domésticos, àsaves do céu e a todos os animais selvagens. Estes dois episódios são

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às massas pode servir como instrumento depolitização.

Além disso, desenvolveu reflexões nas quais buscouconciliar a teoria marxista com a tradiçãojudaica, dando origem a um pensamento de difícilpenetração, ainda que de grande beleza literária.

Herbert Marcuse desenvolveu uma obra marcadasignificativamente pelas teorias freudiana emarxista. Em "Eros e civilização", retornou o temadesenvolvido por Freud da necessidade de repressãodos instintos para a manutenção e odesenvolvimento da civilização.

marcantes para a concepção de linguagem para Benjamin. Um narra opoder que a palavra divina tem de criar e constituir o mundo e, outromarca de forma singular a atividade da linguagem dos nomes, que ésimultaneamente reconhecedora e designadora. Essa capacidadeoriginaria da linguagem dos nomes, que encerra a relação direta entrelinguagem e conhecimento, pois no ato de nomear pressupõe-seintrinsecamente o reconhecimento, decaí com advento da queda. Naqueda, e o mito é interpretado à luz de um teoria da linguagem,inaugura-se a Babel, ou seja, emerge a fissura irremediável entrelinguagem e conhecimento.

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De acordo com Freud39 a história social do homem éa história de sua repressão, do combate ao livreprazer em prol do trabalho, do adiamento doprincípio do prazer para atender ao princípio darealidade.Sem essa, renúncia, a vida social seriaimpossível.

Marcuse considera Freud tem razão em diagnosticaresse fato. Porém, discorda do psicanalista quandoapresenta essa situação como eterna, ou seja, queé impossível uma civilização não repressiva.

Marcuse defendeu que as imposições repressivas sãoantes produtos de uma organização histórico-social

39 Na teoria metapsicológica de Freud, a linguagem desempenha duplafunção em relação à consciência. Em primeiro plano, tornaria possívela consciência que podemos chamar de "mediata", ou seja, a rememoração.E sustentou que é a associação de uma representação com as associaçõeslinguísticas que permitiria a sua rememoração, portanto, antes daconstituição das representações- palavras só haverá a possibilidade deuma consciência imediata, ou seja, resultante diretamente daspropriedades dos estímulos perceptivos.

Mas, a linguagem, além de possibilitar a consciência mediata, teriauma outra função: seria responsável por parte da organização que osestímulos perceptivos sofreriam antes de se tornarem conscientes.Freud formulou a hipótese de que a memória possuiria diversos níveisde registro, de maneira que um estímulo de origem exógena, antes detornar consciente, passaria por uma série de reorganizações, no últimonível da qual as representações seriam reordenadas segundo as relaçõesverbais - processo chamado de elaboração secundária. Assim, alinguagem desempenharia também, em relação à consciência, a função deorganizar o campo perceptivo, o que implica na construção do mundoatravés da linguagem.

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específica do que uma necessidade natural eeterna.

Ele apontou que a possibilidade de civilizaçãomenos repressiva pode surgir do própriodesenvolvimento tecnológico, que criaria condiçõespara a libertação em relação à obrigação dotrabalho e a consequente ampliação do tempo livre.

No entanto, isso não se dará segundo Marcuse, sema intervenção do ser humano para reorientar o rumoda trajetória histórica possibilitada por essedesenvolvimento.

Nesse ponto, a tarefa da filosofia seria anunciaressa possibilidade. Se isso não ocorrer, teremos ocontrário, ou seja, a perpetuação dodesenvolvimento tecnocientífico a serviço dadominação e da homogeneização dos indivíduos,criando o que ele mesmo denominou o homemunidimensional, capaz de criticar a opressão econstruir alternativas futuras.

Habermas propõe um novo conceito de razão, achamada razão comunicativa como forma de retomar oprojeto emancipatório da humanidade fundado emnovas bases.

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O mais influente dos filósofos da atualidade daEscola de Frankfurt, Habermas discorda de Adorno eHorkheimer no que se refere aos conceitos centraisda análise realizada por esses dois filósofos:razão, verdade e democracia.

Assim, de acordo com essa análise Adorno eHorkheimer chegaram a um impasse quanto àpossibilidade de uma razão emancipatória, já que arazão estaria asfixiada pelo desenvolvimento docapitalismo.

De acordo com Habermas, essa é uma posiçãoperigosa em filosofia, pois poderia conduzir a umacrítica radical da modernidade e, em consequência,da razão, que levaria ao irracionalismo.

Em seu artigo "Modernidade versus pós-modernidade"enfatizou esse ponto, afirmando, contra atendência ao irracionalismo presente na chamadafilosofia pós-moderna, que "o projeto damodernidade ainda não foi cumprido".

Ou seja, que o potencial para a racionalização domundo ainda não está esgotado. Por essa razão,

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Habermas é descrito como o último granderacionalista.