Método Dalcroze - educação musical para o corpo e a mente (monografia)
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ANA LÚCIA IARA GABORIM MOREIRA
Método Dalcroze:
educação musical para o corpo e a mente
Monografia apresentada para conclusão da disciplina “Tópicos em Educação Musical – Música e Educação: tradição e contemporaneidade”, ministrada pela Profa. Dra. Marisa Trench de Oliveira Fonterrada no Programa de Pós-graduação em Música da UNESP (Mestrado).
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
SÃO PAULO, 2003
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Sumário
Introdução 3
Pequena biografia 4
O Instituto Jaques-Dalcroze de Genebra 7
O método Dalcroze 10
Problemas na execução musical 12
Eurritmia 15
Solfejo 18
Improvisação 20
O método Dalcroze no Brasil 22
Bibliografia 23
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Introdução
No início do século XX, o estudo da música estava reservado a um pequeno
número de “predestinados”, cujas aptidões espontâneas (caracterizadas como um “dom”) e
o meio favorável em que se desenvolviam chamavam a atenção dos professores
encarregados de instruí-los na profissão de músicos.
Dentro dessa atmosfera, seria realmente uma grande inovação uma proposta
de ensino de música que privilegiasse a relação entre os movimentos naturais do corpo, o
ritmo musical, e a capacidade de imaginação e reflexão, podendo ser acessível a todos e
desenvolvendo simultaneamente as faculdades auditivas e motoras, a sensibilidade, a
criatividade e a expressão. Seria, nas palavras de Dalcroze, uma educação pela música e
para a música.
Sendo assim, a bibliografia de Dalcroze ressalta a idéia de que o pedagogo
suíço não criou apenas um novo método de ensino: propôs uma experiência nova e
revolucionária, em oposição às tendências tradicionais de educação musical. Outrossim, o
método Dalcroze não pode ser simplesmente definido como “pedagogia, arte ou
disciplina”. Dentro do processo de aprendizagem, Dalcroze nos trouxe uma importante
contribuição, reconhecendo que a experiência significativa do movimento, associada ao
desenvolvimento auditivo e à improvisação, facilita e reforça a compreensão dos conceitos
musicais, realça a musicalidade e enfoca a consciência física e motora, necessária à
performance artística.
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Pequena biografia
Emile Jaques-Dalcroze nasceu em Viena, Áustria, em 06 de julho de 1865.
Aos 10 anos, muda-se com sua família para Genebra, Suíça, onde termina o ensino
secundário e inicia seus estudos musicais. Posteriormente, vai para Paris estudar com Léo
Delibes e em Viena é aluno de Anton Bruckner. Durante estes anos, revela um dom
especial para a composição, e escreve proficuamente. Sua reputação como compositor
começa a se estabelecer com a orquestração de “Humoresque”, de Hugo de Senger (1891),
e com seu oratório “La Veillé”. Em 1897, sua ópera cômica “Sancho” recebe o
reconhecimento da crítica internacional. Durante esse período, também escreveu canções
que se tornaram populares em toda a Suíça.
Em 1892 é nomeado professor de Harmonia no Conservatório de Genebra, e
aos poucos a pedagogia se torna sua atividade central. Logo, é também nomeado professor
de Solfejo (leitura e percepção), e encontra em seus alunos certas deficiências rítmicas,
interessando-se por elas. Assim, passa a observar seus alunos mais cuidadosamente. Pensa
na possibilidade de ensinar música levando em conta a consciência cinética, ou seja, a
consciência do movimento.
Comenta-se o fato de Dalcroze ter observado que um de seus alunos, apesar
de ter problemas rítmicos nas aulas de música, andava ritmicamente. Assim, ele concluiu
que as pessoas possuem ritmo musical instintivo, mas não transferem seus instintos para
resolver suas dificuldades. Esse episódio marca o começo de seus experimentos com
exercícios rítmicos, propondo aos estudantes que caminhassem com a música, em tempos
variados, acompanhando a sua improvisação. Dalcroze deu segmento ao experimento,
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incluindo cada vez mais a musculatura, e eventualmente descobriu que o sucesso para a
realização deste exercício dependia do uso do corpo inteiro.
Entretanto, a idéia de responder fisicamente à música não foi bem aceita pela
sociedade conservadora de Genebra, nesse início do século XX. Começa, então, a
demonstrar o método em conferências internacionais, como a Conferência Internacional de
Educadores Musicais, realizada em 1905.
Em 1910, é convidado por um grupo de empresários para ir a Hellerau,
Alemanha. Esse grupo acreditava que todas as pessoas deveriam ter uma iniciação artística,
e mostraram-se entusiasmados com as idéias pedagógicas de Dalcroze. Assim, pôde ser
concretizada a construção de uma escola para colocar em prática seu método de ensino,
com o apoio da família Dorhn: o Instituto Jaques-Dalcroze (Bildungsanstalt).
Rapidamente, o Instituto adquiriu reputação internacional e muitos artistas
(músicos, dançarinos, atores) vieram a conhecer seu método. Entre eles, Paderewski e
Rachmaninoff. Nessa época, Dalcroze também começou a colaborar com seu compatriota
Adolphe Appia1, introduzindo importantes inovações para o design de palco teatral.
Seu método é apresentado nos Estados Unidos em 1911, começando a ser
introduzido em algumas cidades americanas.
Em 1914, com o estouro da Primeira Guerra Mundial, é forçado a deixar a
Alemanha e voltar para Genebra, onde seu trabalho é finalmente reconhecido. Nesse
mesmo ano, cria um espetáculo, La Fête de Juin, celebrando o centenário da entrada de
Genebra na Federação Suíça - comemorado até hoje.
1 Adolphe Appia (1862-1928) – artista gráfico, cenógrafo, diretor teatral e escritor de arte. Em fins do século XIX, inspirado pelos dramas musicais de Richard Wagner, desenvolveu suas teorias revolucionárias que são base do cenário e da direção do teatro moderno, aplicando-as no Teatro Dalcroze.
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Com a ajuda financeira de seus amigos suíços, que lhe providenciam uma
sede para que possa continuar seu trabalho, Dalcroze inaugura em 1915 o Institut Jaques-
Dalcroze Genève, à rue de la Terrassière, 44 – onde funciona até hoje. Seu principal
espaço de performance, “la Grande Salle”, foi organizado de acordo com os princípios
usados em Hellerau: sem separação entre o palco e a platéia e com um sistema de degraus
flexíveis no final da sala, permitindo a representação em diversos níveis.
Dalcroze foi o diretor do Instituto desde a inauguração da sede, em 1915, até
a sua morte, em 1o. de julho de 1950. Durante 35 anos, ministrou cursos, conduziu
pesquisas, preparou conferências e escreveu artigos em diversas publicações, formando
gerações de alunos ao redor do mundo. Ainda sob a sua liderança, é fundada a FIER
(Féderation Internationale des Enseignants de Rhyhtmique) e são inaugurados os cursos e
congressos de verão, que recebem interessados do mundo todo – músicos, dançarinos,
atores, terapeutas e arte-educadores até os dias atuais.
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O Instituto Jaques-Dalcroze de Genebra
Desde que foi fundado pelo próprio Dalcroze, o Instituto mantém sua
estrutura original, sendo apenas ampliado em 1965 (centenário da morte de seu fundador) e
em 1990, quando uma nova reforma triplicou o espaço disponível. Apesar de receber
subsídios do governo de Genebra, o Instituto é estabelecido como uma fundação de
iniciativa privada, e desde 1970 faz parte da Federação de Escolas de Música de Genebra,
responsável pela supervisão da educação musical em todas as escolas.
A Escola de Música do Instituto tem atualmente cerca de 50 professores e
2500 alunos, passando pelos cursos de Eurritmia2, Solfejo, Piano e Improvisação ao piano.
Os alunos podem iniciar a partir dos 3 anos de idade, no curso “mamãe-e-bebê”. Os cursos
de eurritmia abrangem dois estágios: pré-solfejo, para crianças a partir de 4 anos, e solfejo,
a partir de 6 anos. Através de brincadeiras livres e do uso da imaginação, lhes são
apresentados os elementos da música e os símbolos musicais. As aulas incluem uma
variedade de atividades que enfatizam a percepção, o movimento rítmico e a improvisação
melódica cantada. Os conceitos básicos são formados e o vocabulário é adquirido para que
posteriormente sejam desenvolvidas a leitura de notas, a notação rítmica e a habilidade de
leitura à primeira vista. Em um ano, a criança explora um vasto campo musical através de
experiências de ouvir, movimentar-se e cantar. Como exemplos de atividades, temos: correr
na ponta dos pés, balançar um objeto, ou cair suavemente, imaginando o movimento das
folhas. Essas atividades são originadas no mundo imaginário infantil, que constitui a
experiência de vida que a criança traz para dentro da sala de aula.
2 Eurritmia - Palavra traduzida do inglês Eurhythmics (ritmo bom). A palavra ainda é encontrada em outras fontes, traduzida como “eurítmica”, “ginástica rítmica”, ou ainda com a grafia “euritmia”.
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Aos 7 anos, a criança já pode ingressar no curso de introdução ao piano
através da improvisação, que dá suporte ao curso de instrumento para as crianças que
prosseguem no curso. O objetivo não é preparar peças para um recital ou fazer com que a
criança domine a técnica pianística com perfeição, mas permitir que ela se expresse
livremente, respondendo espontaneamente à música e utilizando seus próprios recursos.
Para a pedagogia Dalcroze, é importante que o desenvolvimento do ouvido preceda o
desenvolvimento dos dedos.
O curso de instrumento se encerra somente após 10 ou 15 anos de estudos
musicais, e o Instituto fornece um certificado de estudo instrumental não-profissional.
Para adultos, o Instituto oferece cursos para todos aqueles que amam a
música – não-músicos interessados na aquisição de habilidades musicais, indivíduos com
pouco conhecimento musical, instrumentistas, cantores, dançarinos e artistas que desejam
ampliar seus conhecimentos e idéias, bem como professores motivados a expandir-se
musicalmente, propensos a se tornarem professores dalcrozianos.
Já a Escola Profissional do Instituto oferece cerca de 40 vagas e é dividida
em três níveis, para adultos com diferentes interesses, necessidades e experiências: a
Licença para ensinar Eurritmia e Solfejo (curso de 4 anos em período integral); o Diploma
Superior (curso de 1 ou 2 anos após a Licença) ou o Certificado (curso de 2 anos em meio
período), que pode ser complementado por uma graduação em outro campo. Para alcançar
o Certificado, o aluno deve comprovar sua competência em eurritmia, solfejo,
improvisação, piano, expressão corporal, pedagogia e outras matérias complementares,
como harmonia, percussão, dança folclórica, piano, canto e teoria musical. Também é de
extrema importância que o professor saiba improvisar ao piano para a realização dos
exercícios com os alunos, pois nem sempre é possível encontrar exemplos musicais com
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ritmo flexível, ou seja, com mudança de fórmulas de compasso repentinas, accelerandos e
ritardandos freqüentes, alternância constante de sons e pausas, etc.
O método Dalcroze enfatiza fortemente o princípio de que quanto mais o
professor se desenvolve, mais ajuda os outros a se desenvolverem. Sendo assim, para
ensinar música, deve ser um músico bem preparado, pois só se pode ensinar aquilo que se
sabe bem. Além disso, o professor dalcroziano deve sempre se aperfeiçoar e crescer. É
requerido um auto-exame periódico, onde o professor reflete sobre o que está fazendo e
porque está fazendo. Para ser um professor de sucesso, deve ter sempre em mente seus
objetivos – o que ensinar e de que maneira. Dessa forma, o professor pode inspirar os
alunos a amar a música e se realizar através dela, construindo suas habilidades inatas.
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O método Dalcroze
Jaques-Dalcroze afirmava que todo elemento musical poderia ser realizado
corporalmente3: a altura, através da posição e direção dos gestos no espaço; a intensidade,
através da dinâmica muscular; o timbre, caracterizado pela diversidade de formas corporais;
a melodia, sendo a sucessão contínua de movimentos isolados; o contraponto, como a
oposição de movimentos; o acorde, representado pelo gesto em grupo e a construção da
forma, por meio da distribuição dos movimentos no tempo e no espaço.
Desta maneira, com a premissa de que o corpo humano é a fonte de todas as
idéias musicais e que o movimento afeta a percepção musical, Dalcroze enfatiza a
importância de desenvolver a sensibilidade em primeiro lugar, para depois expressar os
elementos da música: “sinta primeiro, demonstre depois”. Em outras palavras, a experiência
sensorial deve preceder o pensamento intelectual, e da mesma forma a prática deve sempre
anteceder a teoria, preceito oposto aos paradigmas da educação musical de sua época.
O método Dalcroze está dividido em três partes: a eurritmia, o solfejo e a
improvisação. Os alunos que se desenvolvem nessas três áreas tem condições de se
tornarem bons músicos, o que para Dalcroze consiste em: possuir percepção auditiva,
sensibilidade nervosa, sentido rítmico (no sentido das relações existentes entre tempo e
espaço) e faculdade de exteriorizar espontaneamente as sensações emotivas. Essas
qualidades, segundo ele, se desenvolverão potencialmente na própria prática, provando que
a música está dentro do indivíduo, sendo parte de seu organismo.
3 In Apostila de Didática Musical do Curso de Música da Uni-Rio, organizada pela professora Regina Márcia Simão Santos.
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Além de tudo, o método Dalcroze é uma oportunidade para que os alunos
explorem suas capacidades pessoais, provando os seus próprios limites, criando condições
de superá-los e conhecendo melhor a si mesmos.
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Problemas na execução musical
Dalcroze pôde definir o campo de ação de seu método de educação musical
pela observação de seus alunos e dos problemas que apresentavam. As interpretações
musicais – vocais ou instrumentais – dos alunos indicavam, por exemplo, o accelerando ou
ritardando inconsciente do movimento, o corte repentino de uma execução, o medo de
realizar um acompanhamento, o acento rítmico demasiado forte ou impreciso, a dificuldade
de frasear... Assim, Dalcroze elabora uma lista de problemas que denomina arritmia
musical:
· Ser incapaz de prosseguir um movimento durante todo o tempo necessário para sua
normal realização;
· Acelerar ou retardar um movimento que deve permanecer uniforme;
· Não saber acelerar ou retardar um movimento que requeira mudança de andamento;
· Realizar um movimento de forma impulsiva, sem controle do mesmo;
· Não saber diferenciar o legato e o staccato;
· Não conseguir identificar o momento exato em que começa e termina um movimento;
· Não saber encadear um movimento de uma espécie com outro, de outra espécie (lento-
rápido, flexível-rígido, enérgico-suave, etc.);
· Ser incapaz de executar simultaneamente dois ou mais movimentos diferentes;
· Ser incapaz de realizar gradações de intensidade (do piano ao forte, por exemplo);
· Não poder acentuar o movimento métrica ou ritmicamente conforme a lógica musical.
Segundo a hipótese de que todas as causas de arritmia musical são de ordem
física, Dalcroze classifica em três categorias, que se relacionam atualmente com a
psiquiatria ou a neurofisiologia:
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1. Incapacidade do cérebro para dar ordens suficientemente rápidas aos músculos
encarregados de executar o movimento. Em outras palavras, a perturbação se situa em nível
de emissão. Segundo Dalcroze, esta se relaciona com a incapacidade dos indivíduos de
executar ordens, dentro do tempo que têm à sua disposição.
2. Incapacidade do sistema nervoso para transmitir essas ordens tranqüilamente, sem se
confundir quanto à direção. Aqui, a perturbação se situa no nível da transmissão: nestes
indivíduos, o cérebro concebe normalmente o ritmo, mas os membros, que seriam capazes
de executá-lo, não o conseguem porque o sistema está perturbado.
3. Incapacidade dos músculos para executar o movimento conscientemente. Nestes
indivíduos, os membros são capazes de executar as ordens cerebrais, mas por ansiedade ou
falta de treinamento, não conseguem cumpri-las satisfatoriamente.
Sejam quais forem as causas, concluímos que, segundo Dalcroze, a arritmia
provém de uma falta de harmonia e coordenação entre a concepção do movimento e sua
realização. Dessa maneira, Dalcroze divide em cinco categorias os exercícios que servem
para melhorar a flexibilidade muscular; as representações e a rapidez de compreensão; a
resposta instantânea a diversos tipos de estímulo e a qualidade do controle exercido sobre
os membros:
1. exercícios que obrigam os músculos a executar com precisão as ordens do cérebro,
como ordens de iniciar e interromper o movimento;
2. exercícios que buscam a automatização de séries de movimentos e seus múltiplos
encadeamentos;
3. exercícios que ensinam a unir movimentos automáticos com movimentos voluntários
diferentes;
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4. exercícios que orientam a eliminação de gestos inúteis ou excedentes em toda a ação
motora;
5. exercícios que tendem a individualizar as sensações musculares e a aperfeiçoar o
sentido das atitudes.
Todos esses exercícios, segundo Dalcroze, têm a finalidade de proporcionar
um aumento da concentração, uma melhor compreensão e conscientização do sistema
motor, o desenvolvimento da sensibilidade e um maior controle das reações nervosas.
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Eurritmia
Baseada no axioma grego “música e movimento são um e inseparáveis”, a
eurritmia pode ser resumida como a educação do corpo para lidar com os problemas
rítmicos encontrados na música. O corpo é o instrumento natural para o estudo do ritmo,
desde que os ritmos que animam nosso corpo (os batimentos do coração, a respiração, o
caminhar, o balançar, etc) estejam diretamente conectados com o ritmo da música. Assim, o
trabalho de Dalcroze se inicia com movimentos naturais e aos poucos, aos alunos vão se
expandindo, se explorando, se descobrindo e adquirindo um grande vocabulário de
movimentos, abrangendo todas as partes do corpo. Todos os músculos são envolvidos para
despertar e desenvolver a consciência rítmica.
Dentro desse trabalho corporal, o cérebro também deve interagir,
promovendo uma atuação em conjunto – instinto e intelecto devem se desenvolver
simultaneamente.
O uso ativo dos sentidos é desenvolvido à medida que o aluno é treinado
para responder imediatamente aos estímulos, ou seja, reagir espontânea e rapidamente ao
ritmo, sentindo, pensando, vendo e ouvindo ao mesmo tempo. Por esse motivo, o ouvir é a
chave para que o aluno possa experimentar o ritmo corporal. A sensibilidade ao som
determina a sensibilidade à resposta física.
O ritmo musical precisa de dois elementos: tempo e energia. Dalcroze inclui
ainda um terceiro elemento: o espaço, que o corpo precisa ser treinado para usar. O aluno
deve se tornar consciente da relação entre esses três elementos: usando-os nas corretas
proporções, será capaz de movimentar-se de maneira adequada, e essa movimentação
rítmica lhe trará prazer e satisfação.
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Embora esses movimentos muitas vezes sejam interpretados como uma
dança, na eurritmia os alunos não aprendem a decorar seqüências de movimentos pré-
estabelecidos. A professora Diana Goulart comenta: “A dança é uma arte em si mesma; a
euritmia é um meio para se atingir a plena musicalidade.” 4 Os movimentos são sempre
improvisados, de modo que os alunos expressam-se espontânea e criativamente. A frase:
“mostrem-me o que vocês estão ouvindo”, ao invés de “Digam-me o que vocês estão
ouvindo”5, demonstra a atitude do professor em valorizar as manifestações gestuais e não-
verbais, onde os alunos põem em prática os conceitos vivenciados nas aulas.
As aulas de eurritmia são fundamentalmente uma experiência de grupo,
havendo ênfase para o desenvolvimento individual. A sala de aula é o melhor ambiente
para os estudos, havendo o respeito às diferenças e às habilidades de cada aluno. Todos
aprendem a trabalhar juntos, de várias formas, aprendendo e interagindo uns com os outros,
na busca de um resultado comum. A filosofia do “dar e receber” é uma parte importante do
desenvolvimento da auto-consciência, e ajuda a criar uma atmosfera estimulante e alegre,
importante para o aprendizado.
Deste modo, a eurritmia é uma experiência única e pessoal. Sua eficácia
reside na capacidade de favorecer as manifestações motoras espontâneas do indivíduo, e de
fazê-lo consciente destas manifestações, a fim de que as domine e delas disponha
livremente, conforme suas necessidades.
Concluindo, Santos6 resume em sete os objetivos da Eurritmia:
4 e 5 In “Quatro Educadores”, artigo escrito pela professora Diana Goulart (Conservatório Brasileiro de Música – Rio de Janeiro) e disponível na Internet através do site: www.dianagoulart.pro.br 6 SANTOS, Regina Márcia Simão. Op. Cit., p.1
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· Aumento da concentração;
· Prontidão para executar ordens que venham da mente;
· Reação imediata ante um estímulo;
· Dissociação, coordenação e retenção de movimentos;
· Auto-conhecimento e domínio das resistências e possibilidades corporais
· Quantidade de passos na relação espaço x tempo;
· Equilíbrio entre as reações conscientes e automáticas.
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Solfejo O solfejo compreende o estudo da melodia e da harmonia. Assim como o
corpo é usado como o instrumento rítmico natural, a voz é usada como o instrumento tonal
natural, sendo o veículo de expressão do trabalho de solfejo Dalcroze; e enquanto todo o
sistema nervoso atenta para o ritmo, o ouvido atenta para o som. Dessa maneira, ouvido e
voz trabalham em conjunto no desenvolvimento do solfejo.
O objetivo é desenvolver o senso de altura, tanto relativa quanto absoluta. A
escuta relativa é trabalhada para que o aluno perceba as relações entre as tonalidades,
enquanto que a absoluta é treinada para que o aluno reconheça a qualidade dos sons.
Dalcroze afirma que um bom ouvido é essencial para um bom músico. Dessa
forma, seu método procura treinar as pessoas a ouvir melhor, desenvolvendo uma escuta
apurada, com ênfase no canto - os alunos experimentam diversos tons com sua voz. Os
exercícios incluem a construção da escala, acordes, cadências, intervalos, inversões,
modulações, tons e semitons, etc.
Ler e escrever música é parte fundamental do solfejo. Os alunos treinam a
leitura à primeira vista e escrevem ditados melódicos. Para isso, entretanto, é necessário
que antes os alunos tenham desenvolvido seu ouvido interno. De acordo com Dalcroze, o
verdadeiro músico deve ser capaz de escutar internamente o que vê na partitura impressa.
Entre as habilidades que os alunos desenvolvem na aula de solfejo,
destacamos:
· Escutar dois sons simultaneamente e ser capaz de repetí-los;
· Repetir uma seqüência de notas e sentir sua direção;
· Identificar as relações harmônicas dos acordes dentro de uma tonalidade ;
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· Distinguir tons e semitons;
· Perceber o início e o fim de uma frase;
· Memorizar melodias, sendo capaz de repeti-las na aula posterior.
Todavia, qualquer que seja o conteúdo da aula de solfejo, nunca estará
separado da experiência eurrítmica. O corpo fica ativo, através de movimentos condutores,
balanços ou uma variedade de posições com as mãos, mesmo quando os alunos estão
sentados. Assim, o solfejo é apresentado e executado ritmicamente. Os exercícios são
sempre originais e criativos, constituindo sempre uma experiência significativa.
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Improvisação
No método Dalcroze, a improvisação é a consolidação das experiências com
a eurritmia e com o solfejo. Todo o conhecimento do aluno é trazido à tona.
Dalcroze constatou que os estudantes não conseguiam ouvir (pela escuta
interna ou mental) a música que viam escrita na partitura impressa, e que estes mesmos
estudantes executavam o que liam de uma forma mecânica e pouco musical. Estas
observações o levaram a compreender que faltava aos estudantes a coordenação entre
olhos, ouvidos, mente e corpo necessária para aprender o repertório - e principalmente para
tocar bem.
Assim, pela improvisação, o aluno é convidado a expressar-se livremente,
desenvolvendo sua criatividade e pondo em prática os conceitos musicais vivenciados na
eurritmia. Desvinculando-se da partitura, o aluno desenvolve melhor a escuta daquilo que
está executando e refina sua sensibilidade musical.
O piano é o principal meio de expressão na improvisação, embora o corpo, a
voz e a percussão também sejam utilizados nas aulas, além de palavras, movimentos,
símbolos, gráficos e idéias. O aluno é guiado para experimentar todos os recursos que o
piano oferece, como os diferentes registros e dinâmicas – assim, desde cedo, se torna
consciente dos vários componentes da improvisação e de suas infinitas possibilidades.
Todos os alunos, independentemente de talento, podem ser treinados para
tocar uma música original espontaneamente. Durante as aulas, os alunos aprendem a
compor suas próprias peças, expressando suas impressões musicais e tendo a oportunidade
de compartilhar algo de si mesmo. Os professores esforçam-se para criar nos alunos um
forte desejo de expressão própria, com o seguinte princípio: se o aluno é capaz de expressar
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seus pensamentos, é também capaz de compreender o pensamento dos grandes
compositores.
Os conceitos de tempo, espaço e energia são transpostos para o piano. O
tempo é o elemento mais importante, porque o aluno não pode parar no meio de uma
improvisação para fazer alterações. Sua composição deve seguir adiante, até o final.
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O método Dalcroze no Brasil Não se sabe exatamente quando as idéias de Dalcroze começaram a ser
introduzidas no Brasil. Hoje, em diversos conservatórios, escolas e universidades de música
é comum aplicar o método Dalcroze associado a outros métodos, como Kodály, Willems,
Orff ou Suzuki, adaptados à cultura brasileira.
Zamith7 comenta: “ainda que extremamente importante, o método Dalcroze
para o ensino de música revela-se muito limitado, pois trata-se de um método
essencialmente rítmico. Precisa necessariamente do suporte de modo a propiciar ao aluno
uma formação musical global.” Entretanto, acompanhando o desenvolvimento do método
Dalcroze na sua totalidade, ou seja, envolvendo o solfejo e a improvisação além da
eurritmia, percebe-se que não se trata de um método essencialmente rítmico, como cita a
professora Zamith. Vimos que o treino do ouvido, do canto e da habilidade de tocar um
instrumento estão presentes desde o início, embora com ênfase na representação corporal. E
observamos também que o método, como um todo, é perfeitamente aplicável à realidade
brasileira.
Concluímos, então, que o método Dalcroze no Brasil tem sido
compreendido somente por seu aspecto rítmico, que realmente é o que mais nos chama
atenção, pelas inovações trazidas nesse campo. Se há professores no Brasil que realmente
dominem o método por inteiro, não são suficientes para atender a demanda nacional.
Assim, faltam ainda professores dispostos a passar por todo o treinamento proposto pelos
Institutos Dalcroze, sejam na Suíça ou nos Estados Unidos, para que haja melhor
7 ZAMITH, Rosa Maria Barbosa. In PAZ, Ermelinda A . Pedagogia Musical Brasileira no século XX. Metodologias e Tendências. Brasília: Editora MusiMed, 2000. p.258-260
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compreensão do método e para que sua aplicação no Brasil seja fiel ao legado do pedagogo
suíço.
Bibliografia BACHMANN, Marie-Laure. La rítmica Jaques-Dalcroze. Una educación por la música y
para la música. Madrid: Ediciones Pirámide, 1998.
COMMANDEUR, Laurence. La formation musicale des danceurs. Paris: Cite de la
Musique, 1998.
SANTOS, Regina Márcia Simão. Apostila de Didática Musical do Curso de Música da
Uni-Rio. s.d.
PAZ, Ermelinda A Pedagogia musical brasileira no século XX. Metodologias e
Tendências. Brasília: MusiMed, 2000.
WAX, Edith. Dalcroze Dimensions. New York: Mostly Movement Ltd., 1979.
Internet:
Dalcroze Society of América www.dalcrozeusa.org Institut Jaques-Dalcroze de Genève www.dalcroze.ch Professora Diana Goulart www.dianagoulart.pro.br