Instituições Militares no Monumento de Mafra

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Manuel J. Gandra

INSTITUIÇÕES MILITARES NO

MONUMENTO DE MAFRA *

BANDAS MILITARES DE MAFRA

* 1ª GUERRA MUNDIAL

COMBATENTES DO CONCELHO DE MAFRA

Mafra – Rio de Janeiro

2014

Editores: Instituto Mukharajj Brasilan & Centro Ernesto Soares de Iconografia e

Simbólica-Cesdies

Est. da Grota Funda, 2440 – Guaratiba

Rio de Janeiro/RJ – CEP 22785-330

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Título: INSTITUIÇÕES MILITARES NO MONUMENTO DE MAFRA

Autor: Manuel J. Gandra

Coordenação Editorial: Loryel Rocha [[email protected]]

Projeto Gráfico: Diogo Gandra

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1ª Edição Luso-Brasileira: Julho de 2014 – 102 exemplares, todos numerados e

assinados pelo autor; e-book.- impresso a pedido.

ÍNDICE

4

Siglas e Acrónimos

5 Antelóquio

7

INSTITUIÇÕES MILITARES NO MONUMENTO DE MAFRA

9 Primeiro

Unidades Militares Internacionais

35 Segundo

As Linhas de Torres

49 Terceiro

Instituições e Unidades Militares Nacionais

231 BANDAS MILITARES DE MAFRA

249

MEMÓRIAS

283 1ª GRANDE GUERRA

Combatentes do concelho de Mafra

313 Bibliografia

SIGLAS E ACRÓNIMOS

AHM = Arquivo Histórico Militar AHMM = Arquivo Histórico Municipal de Mafra BNRJ = Biblioteca do Rio de Janeiro CMEFD = Centro Militar de Educação Física e Desportos cx. = caixa Un. = Unidade

Antelóquio

Reúno neste volume dois estudos afins pelo tema: as Instituições Militares na sua relação com o Monumento de Mafra.

O primeiro resulta da revisão e ampliação de um artigo redigido para o Boletim Cultural da Câmara Municipal de Mafra 2008, mas, entretanto, arbitrariamente excluído dele (censurado seria o termo adequado), já que ao subscritor se achava oficialmente cometida a coordenação editorial da referida publicação.

Se me reporto a este lamentável episódio (um entre diversos outros da mesma índole que poderia evocar) é, justamente, para que conste. A História também se constrói a partir das mesquinhas circunstâncias da baixa história.

O segundo, àcerca das Bandas Militares de Mafra, já havia sido incluído num número anterior do supracitado Boletim Cultural (2006).

Complementando-os, publico um conjunto de documentos inéditos que creio constituem um contributo inestimável para a história da participação nacional e, mais particularmente mafrense, na I Grande Guerra.

Enfim, o leitor achará neste volume um substancial número de minudências àcerca do historial das guarnições militares estacionadas no Monumento de Mafra, a par de um álbum iconográfico, constituído por inúmeras fotografias e documentos, na sua maioria inéditos ou, simplesmente, esquecidos.

A tudo o já enunciado, acresce ainda o indispensável aparato de fontes e estudos que decorrem de qualquer investigação empenhada e proficiente e que testemunham, justificam e alicerçam as asserções feitas.

O Batalhão de Artilharia de Mafra (1810?-1826?) e o Batalhão de Caçadores 27 (1837 / 1840-1842), terão sido as primeiras Unidades Militares instaladas com carácter permanente no Monumento de Mafra.

Desde então, até à actualidade, apenas o período que mediou entre 1860 e 1887, constituiu uma excepção, durante a qual várias Unidades destacadas para Mafra, aí terão estado provisoriamente aquarteladas.

Não logrei encontrar rasto de todas as registadas por Guilherme Assunção no seu À Sombra do Convento, tendo constatado a não exacta conformidade de muitas das notícias veiculadas por este autor. Em contrapartida, como se comprovará pelo elenco que ora disponibilizo, não só alargo o âmbito das Unidades temporariamente aboletadas, como lanço nova luz sobre a generalidade das demais.

Mafra, 2014, no aniversário do nascimento

de D. Nuno Álvares Pereira

INSTITUIÇÕES MILITARES NO

MONUMENTO DE MAFRA

Primeiro

UNIDADES MILITARES INTERNACIONAIS

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2ª Divisão do Corpo de Observação da Gironda

(8.12.1807 – 25.7.1808)

Prevendo a instalação em Mafra (derradeira residência da corte portuguesa antes da sua partida para o Brasil) de um contingente militar, Junot ordenou a realização, prévia, de reconhecimentos logísticos e geográficos, a cargo do engenheiro militar Girod de Novilars e do comandante de batalhão E. Paris. Com vista à melhoria das condições sanitárias da tropa que, eventualmente, pudesse vir a ser aquartelada no Palácio e Convento de Mafra, este chegou a sugerir o levantamento do soalho e a demolição de divisórias e tabiques de muitas salas do edifício, estimando que com tal expediente se poderiam obter cerca de 1300 m2 de madeira, destinada às tarimbas de igual número de soldados 1.

As Memórias de Eusébio Gomes registam a entrada em Mafra, a 8 de Dezembro de 1807, de “uma Divisão dos franceses composta de Infantaria, Cavalaria, um parque de Artilharia [sob o comando do General Loison], que no dia seguinte se dividiu por Torres Vedras e Peniche, ficando aqui o Quartel-General. Na entrada os oficiais encaminharam-se para o Palácio, e como achassem fechada a porta que no fim da escada dá entrada para o Palácio, mandaram chamar o Guardião. Este veio logo, mas como ele não tinha as chaves do Palácio, não podia mandar abrir as portas; então o Lagarde encolerizado deu uma bofetada na face do Guardião, e este com toda a humildade ofereceu a outra face, com que o pérfido Lagarde ficou inteiramente confundido, e deu mostras de estar arrependido da indigna acção que praticou.

Aquartelados os Franceses no Palácio e convento, e os oficiais pelas casas da Vila, marcharam dois dias depois os que foram para Torres e Peniche, e ficou aqui o resto comandados pelo general Loison que se portou honrosamente com os frades, e com a gente da vila, a ponto de não consentir que saísse do convento mais nenhum dos Religiosos, que ainda aqui encontrou, que eram 20, porque os mais que havia já todos se tinham retirado para os diferentes conventos da sua Ordem, e estes 20 que aqui achou foram por ele general

1 Cf. António Pedro Vicente, Le Génie Français au Portugal sous l’Empire, Lisboa, 1984, p. 211-213

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respeitados, e lhes mandou desde logo abonar rações de comida enquanto aqui se conservaram os franceses, que foi até à capitulação depois da batalha do Vimeiro”.

General Henri-Louis Loison, o Maneta

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Esta é uma visão não consensual, conforme se infere de diversas circunstâncias documentadas, a saber: 1. A Carta remetida (Mafra, 14 de Dezembro de 1807) pelo Juiz de Fora de Mafra, João António Ribeiro de Sousa, ao Intendente Geral da Polícia, dando conta da exaustão da população de Mafra face à sustentação das tropas estrangeiras [AHMM: leitura actualizada pelo signatário]

Carta do Juiz de Fora de Mafra ao Intendente-Geral da Polícia

Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor, Não obstante as sábias Providências tomadas no ofício com a data de 7 de Dezembro que acabo receber, pelas quais se assegura a tranquilidade pública e passa a Constituir-nos norma para reger nossos deveres e obrigação; Contudo eu não deverei deixar de representar a Vossa Excellencia o Calamitoso estado deste pobre Povo e suas vizinhanças para Vossa Excelência prover de remédio e como tal passo a representar-lhe o Seguinte: 1.º além de transitarem 900 homens; e pela segunda vez transitarem 6000 que nos deixaram todos em desolação; a Guarnição de 600 para 700 que aqui são aquartelados a cujo municiamento sou obrigado nos Continua a nossa desgraça em Consequência do fornecimento para a mesma de pão, vinho, carnes, camas, e o mais utensílios que tudo está de todo Consumido 2.º depois de serem Consumidos quantos bois tinham os Marchantes desta Vila; Continuam aqueles na requisição de Carnes. Eu, não tendo outra recurso, a requerimento deles Mando tirar aos Lavradores os próprios e únicos que Conservam para o fabrico e agricultarem seus campos: tirados os quais, de necessidade para o futuro se sentirá a maior das desgraças e seremos reduzidos á total penúria e á fome. 3.º Acham-se no Comando daquela Guarnição mais de 12 oficiais além de 17 dos que Comandam a Tropa Espanhola, Estes enquanto na Uxaria se encontraram com víveres e o necessário para a sua sustentação deixaram descansar o Povo; porém agora que se Consumiram é necessário o azeite a manteiga, o queijo, a hortaliça, o Leite, o Café e, finalmente, tudo. Consequentemente ou fornecer a Uxaria ou o povo gemer quando eles são municiados de pão vinho e carne.

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4.º Formou-se um hospital para o qual têm entrado mais de 25 ou 30 estes demandam maior cuidado despesa e decência nas camas e na prestação de camisas. 5.º Além de 260 Cavalos de Guarnição aqui, continuam os assíduos trânsitos de outra Tropa os quais fazem avultadíssima despesa de palha e Cevada que por isso vai a terminar toda quanta se achava em ser nos respectivos Celeiros E no caso de se não prover de remédio a desgraça Caminhará por diante rapidamente. 6.º Finalmente nada escapa aos Franceses e Espanhóis porque de noite tudo furtam quanto encontram: e o mais é que até arombam portas e exigem todo o comer e beber. Eis aqui o mísero estado em que se conta esta Vila e sua vizinhança Vossa Excelência já por si e Sua Autoridade queira prover de remédio o que lhe for possivel, e já pelas representações que poderá fazer às diferentes repartições: queira valer e fazer conservar toda a Polícia afim de se evitarem alguns males pois que até o presente sem omissão tenho lançado Mão de tudo, afim de manter em conservação a tranquilidade pública quanto possível. Lembrando muito a Vossa Excelência que os Marchantes não têm gado; a terra nenhum oferece; e só tirando da Lavoura é que posso suprir o fornecimento de Carnes que me pedem; mas para a agricultura e a fome será inevitável para o futuro; e Eu não desejava ser a causa de tantos males se a evitá-los depender da minha representação por isso vou Certificar a Vossa Excelência do que acontece para me determinar o que for de seu agrado e mais justo. Deus Guarde a Vossa Excelência Mafra em 14 de Dezembro de 1807

2. O tratamento reservado por Loison a Jacinto Correia, fuzilado a 1 de Janeiro de 1808, por ter resistido às arbitrariedades dos ocupantes.

Proclamação de Loison

Quartel General de Mafra, 1 de Janeiro de 1808 Portugueses: Um dos vossos Compatriotas, Jacinto Correia, convencido de um grande crime, foi condenado à morte: esta severidade das Leis assegura a tranquilidade

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pública, de quem dependem as vossas vidas, e propriedades. Se Sua Excelência o Comandante em Chefe entregou às Leis um dos Habitantes do País, todos presenciaram que tratou com a mesma severidade os Soldados Franceses, quando se abandonaram a alguns excessos. Portugueses, agradeçam a Sua Excelência, que se interessa à vossa segurança, e acautelem-se contra todas as pessoas, que procurariam [sic] abusarem da vossa credulidade para vos conduzirem a excessos, cujos males incalculáveis recairão sobre vós. O General de Divisão, o Governador do Palácio de S. Cloud, Comandante da Segunda Divisão do Exército. Loison

3. Os Autos Cíveis de Justificação (13 de Fevereiro de 1816), a requerimento dos Irmãos da Mesa da Real Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Mafra, com o objectivo de comprovar como durante o período do Governo Francês Intruso a casa da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, onde se guardavam as imagens dos Santos, foi assaltada pela Tropa Francesa, aquartelada na Vila de Mafra. Alguns dos objectos furtados, no valor estimado de 300§000 réis, seriam ulteriormente observados pelo Juiz de Fora nos aposentos ocupados no Paço de Mafra pelos oficiais franceses, quando da substituição da guarnição comandada por Loison por outra procedente de Torres Vedras que veio rendê-la quando a Divisão do Maneta foi transferida para Peniche [AHMM].

Enquanto os franceses permaneceram em Mafra, a Sala dos

Actos foi transformada em açougue. Durante o ano de 1816, haviam de surgir pedidos de

compensação por parte de alguns populares, espoliados de seus bens (juntas de bois), ou coagidos a fornecer mantimentos (gado, pão, etc.) à tropa francesa, durante a permanência desta na região de Mafra 2:

2 Cf. Registo de uma Provisão sobre os objectos e papéis importantes que foram usurpados pelos Agentes Franceses (18 de Janeiro de 1816): O Príncipe Regente D. João ordena que todas as instituições seculares e religiosas, bem como os particulares, que tenham sido alvo de usurpações por parte dos invasores franceses ou de outras pessoas (até Setembro de 1808), remetam à Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, no prazo de 30 dias após a publicação da presente Portaria, uma relação descritiva dos objectos roubados [AHMM: Livro de Registos da Câmara Municipal de Mafra, n. 7 (1806-1820), fl. 209v-210]. Cf. Irina Alexandra Lopes, A

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Autos Cíveis de Justificação (23 de Janeiro de 1816) José Dias, Casal do Zambujeiro (Termo da Vila de Mafra) requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso lhe foi tirada à força, por ordem do Juiz de Fora João António Ribeiro de Sousa, uma junta de bois (no valor de 76$800 réis), para sustento da Tropa Francesa que estava instalada na Vila de Mafra 3. Autos Cíveis de Justificação (13 de Fevereiro de 1816) Irmãos da Mesa da Real Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Mafra requerem justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso a casa da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, onde que guardavam as imagens dos Santos, foi assaltada pela Tropa Francesa, aquartelada na Vila de Mafra, cujo prejuízo foi avaliado em 300$000 réis 4. Autos Cíveis de Justificação (20 de Fevereiro de 1816) Simão Gomes, Salgados (Termo da Vila de Mafra) requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso lhe foi levada, por ordem do Juiz de Fora João António Ribeiro de Sousa, uma junta de bois, no valor de 14 moedas de ouro e 3 sacos de farinha, na importância de 28$800 réis 5. Autos Cíveis de Justificação (22 de Fevereiro de 1816) Beneficiado Inácio José Dias Raposo, Mafra, requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso lhe foi tirado, por ordem do Juiz de Fora João António Ribeiro de Sousa, para municiar a Tropa Francesa, 57 almudes de vinho, no valor de 54$150 réis e 2 cântaros de azeite, na importância de 18$000 réis, perfazendo o montante de 72$150 réis. Uma vez que a referida dívida não foi paga e pretendendo obedecer às ordens de Sua Alteza Real D. João VI, requer uma justificação legal da mesma 6.

Guerra Peninsular no Concelho de Mafra: Catálogo de fontes do Arquivo Histórico Municipal de Mafra, in Boletim Cultural 2007, Mafra, 2008, p. 621-643. 3 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/94; Cota Antiga: 2619. 4 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/96; Cota Antiga: 1436. 5 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/98; Cota Antiga: 3017. 6 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/95; Cota Antiga: 1441.

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Autos Cíveis de Justificação (22 de Fevereiro de 1816) Gertrudes Maria, viúva de João da Silva Veneno, Murgeira (Termo da Vila de Mafra), requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso foi tirado a seu defunto marido, por ordem do Juiz de Fora João António Ribeiro de Sousa, 11 cabeças de gado (entres bois e vacas), na importância de 390$600 réis, as quais foram distribuídas pela Tropa Francesa, aquartelada na Vila de Mafra 7. Autos Cíveis de Justificação (27 de Fevereiro de 1816) João Filipe, Padeiro, Mafra, requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso foi obrigado, pela Tropa Francesa e por ordem do Juiz de Fora João António Ribeiro de Sousa, a cozer para o referido exército mais de 20 moios de farinha, gastando na cozedura do pão a lenha que tinha de comprar, tendo ainda pago à sua custa a mão-de-obra necessária para executar essa tarefa, perfazendo 120$000 réis de despesa 8. Autos Cíveis de Justificação (27 de Fevereiro de 1816) Joaquina Maria, Casal do Querido (Termo da Vila de Mafra), requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso cozeu para a Tropa Francesa mais de 20 moios de pão, importando na quantia de 120$000 réis de despesa 9. Autos Cíveis de Justificação (1 de Março de 1816) Tomé Jorge, Merceeiro, Mafra, requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso e por ordem do Juiz de Fora João António Ribeiro de Sousa foi obrigado a cozer, para a Tropa Francesa, mais de 36 moios de farinha, suportando as expensas da lenha e de quem contratou para o ajudar, contabilizando 21$600 réis de despesa. Foi ainda sujeito a fornecer 17 canadas e meia de azeite, 7 arráteis de manteiga e 7 arráteis de toucinho, importando as três parcelas em 11$340 réis, o que perfaz, no total, 227$340 réis de despesa 10.

7 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/97; Cota Antiga: 2742. 8 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/99; Cota Antiga: 1442. 9 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/100; Cota Antiga: 2595. 10 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/105; Cota Antiga: 1445.

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Autos Cíveis de Justificação (23 de Dezembro de 1816) Bartolomeu Duarte, Lavrador, Casal da Amoreira (Termo da Vila de Mafra), requer justificação em como durante o período do Governo Francês Intruso lhe foi levada, por ordem do Juiz de Fora João António Ribeiro de Sousa, uma junta de bois, os quais foram mortos para sustentação da Tropa Francesa, estacionada na Vila de Mafra, no valor de 105$600 réis 11.

Eusébio Gomes assinala a partida dos franceses de Mafra, no dia 25 de Julho de 1808: “Hoje partiram os franceses a marchas forçadas contra Évora, onde entraram no dia 30 […]”.

11 AHMM: PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/104; Cota Antiga: 2557.

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Granadeiros de Castela Velha

(8.12.1807 – 20.6.1808)

A 12 de Junho de 1808, Eusébio Gomes anota nas suas Memórias:

“Neste dia os franceses desarmaram e prenderam em Mafra o

primeiro batalhão de Granadeiros de Castela Velha, e uma força de cavalaria de Maria Luísa, que para aqui tinham vindo com os franceses. Tinham os espanhóis ido à Missa e logo que entraram para a Igreja saíram todos os franceses armados, para o largo das cavalariças e aí formaram em coluna aberta tendo na retaguarda a Cavalaria e no lado do poente a Artilharia carregada e com morrões acesos; logo em seguida marchou uma força e foi entrar para o quartel dos espanhóis; forçaram e prenderam a guarda, entraram no quartel, apoderaram-se do armamento que foi logo retirado do quartel e vieram juntar-se aos que estavam no largo, formados em coluna. Os espanhóis saíram da igreja e marcharam para o quartel seguindo pelo lado do torreão Norte para entrar pelo portão do pátio das bicas, segundo o costume; naquele intervalo, mandaram fazer alto, e logo os franceses fecharam o portão, a Cavalaria e a Artilharia correram a tomar-lhe a retaguarda, e o comandante francês intimou ao coronel e oficiais espanhóis que estavam prisioneiros. Os espanhóis vendo-se cercados e que não tinham partido nem força para resistir, cederam e entregaram-se. Passados 8 dias veio uma força de cavalaria para os conduzir para Lisboa e foram mandados a bordo das Naus Russas que estavam no Tejo. No mesmo dia e à mesma hora foram desarmados e presos os que estavam em Lisboa e Santarém”.

Cavalaria de Maria Luísa (1807-1808)

Força militar que chegou a Mafra com a tropa francesa. Foi

desarmada, presa e recambiada para Espanha em Naus Russas surtas no Tejo, de resto, à exacta semelhança do que aconteceu com os Granadeiros de Castela Velha (vd.).

20

Unidades britânicas (21.8.1808 – 11.3.1828)

Retrato de Sir Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington, por Thomas Lawrence, 1814

21

Sir Arthur Wellesley tencionava marchar sobre Mafra, nas vésperas da batalha do Vimeiro, a 21 de Agosto de 1808. Esse evento adiaria o desiderato para 2 de Setembro do mesmo ano, tendo o exército inglês sido recebido "ao som dos sinos e dos carrilhões".

Uma gravura de William Heath (1795-1840) regista a entrada das tropas inglesas na vila de Mafra, evento, aliás, incorrectamente, situado em finais de Agosto de 1808 (cf. Adam Neale, Londres, 1809).

Distant view of Mafra and the Mountains of Cintra Entrada das tropas inglesas em Mafra, em 2 de Setembro de 1808.

Gravura de William Heath, in Adam Neale, Letters from Portugal and Spain, compraising an account of the operations of the armies under their

excellencies Sir Arthur Wellesley and Sir John Moore […] (Londres, 1809, p. 66)

Várias Unidades militares britânicas haviam de, doravante, estacionar no Monumento de Mafra, ou cruzar a região, em trânsito

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para outros locais de aquartelamento. Anoto as seguintes, aboletadas em Mafra, a título de exemplo:

Em 1810, documento autógrafo do então administrador dela, Estêvão João de Carvalho, alude à possível entrada na Primeira Tapada de gado pertencente ao exército britânico.

No dia 10 de Outubro de 1810, o Regimento 16th [Queen] Light Dragoons, estacionava nos “estábulos e claustros do convento” de Mafra 12.

Cavaleiro do Regimento 16th [Queen] Light Dragoons

12 Cf. Henry N. Shore, Three Pleasant Springs in Portugal, Londres, 1899, p. 120. Presente no Buçaco, este Regimento não entrara em combate, a 20 de Setembro. No dia 22 de Outubro seguiria para o Ramalhão (Sintra).

23

Tendo assumido o comando do 71º Highland Light Infantry Regiment, a 2 de Outubro de 1810, em Mafra o Tenente-coronel Henry Cadogan reunir-se-ia ao exército de Wellington no Sobral de Monte Agraço, a 10 do mesmo mês.

71th Highland Light Infantry Regiment

A 12 de Outubro de 1812, o supracitado responsável pela Tapada, lamenta a circunstância de, em consequência da edificação dos redutos das Linhas de Torres no interior da propriedade, ela ter ficado “aberta por todos os lados”, encontrando-se o muro completamente derruído em alguns pontos e, em outros, com 3 palmos “de alto de dentro para fora”, o que obrigava os guardas a uma constante vigilância, sobretudo durante a noite para impedir a entrada de lobos (desde o início do ano, até então, já haviam sido abatidos onze), os quais a manter-se este estado de coisas contribuiriam para a total extinção da caça na Tapada. Informa, ainda, que o Marechal de campo Richard Blunt “tem continuado a tomar alguns bocados de

24

terra para horta dos batalhões, posto dizer-lhe que é preciso ordem de V.A.R.” [AHMM] 13.

XXIII Royal Welsh Fusiliers

Dois regimentos, segundo William Morgan Kinsey 14 (três, a

crer nas informações veiculadas por Julia Pardoe 15), mantinham-se aquartelados na ala Sul do Monumento de Mafra, em 1827, um dos quais era comandado pelo General Sir Richard Blakeney 16.

13 Deste oficial britânico há no acervo da Rice University uma carta, datada de Mafra, a 25 de Agosto de 1811. 14 Cf. Carta XVI, in Portugal Illustrated, Londres, 1828 (?). 15 Cf. Traits and Traditions of Portugal, collected during a residence in that country, v. 2, Londres, 1833. 16 Cf. Three Pleasant Springs in Portugal, Londres, 1899, p. 120.

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De acordo com o aludido sacerdote anglicano, fellow do Trinity College de Oxford (1788-1851), uma vez em Mafra, onde chegou procedente de Torres Vedras, “[…] deparou com os únicos dois regimentos da guarnição inglesa que não tinham sido chamados a Belém devido à instabilidade política reinante, na qual, afirma, os ingleses não pretendiam interferir.

Verifica que os frades cederam quase por completo o lugar à tropa inglesa no convento, encontrando-se "a maior parte das janelas sem vidros e fechadas com postigos pintados de vermelho que conferem um aspecto miserável ao edifício".

Estandarte Regimental do XXIII Royal Wesh Fusiliers

Por fim, apenas um pequeno destacamento britânico se

conservou aboletado no Convento e Palácio até 11 de Março de 1828. Um dos raros testemunhos conservados dessa estadia é uma

inscrição produzida, a 13 de Janeiro de 1828, pelo soldado E. Ryan, do

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XXIII Regimento dos Royal Welsh Fusiliers, na ombreira esquerda de uma porta sita diante da actual Sala 8 e junto à Messe de Oficiais, na face poente do corredor do terceiro piso que dá para o Jardim do Buxo : E RYAN 3C / XXIII R : W.F / JANY 13. 1828.

Esgrafito do soldado E. Ryan

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A GUERRA PENINSULAR EM MAFRA

1807 Dezembro 8 Entra em Mafra a 2ª Divisão do Corpo de Observação da Gironda do exército francês, sob o comando do General Henri-Louis Loison. Dezembro 14 Carta do Juiz de Fora de Mafra ao Intendente-Geral da Polícia do Reino, denunciando o estado calamitoso da população residente na vila e seu termo.

1808 Janeiro 1 Proclamação de Loison. Janeiro 21 Ofício do coronel Vincent, remetido ao coronel Caula, ordena o início do reconhecimento das zonas costeiras entre Lisboa e Peniche e dos cálculos de triangulação. José Maria das Neves Costa integra a equipa de engenheiros responsáveis por esse trabalho que continuaria mesmo após a derrota dos franceses. Janeiro 26 Fuzilamento de Jacinto Correia na Alameda. Janeiro 27 Relatório do Girod de Novilars, um dos engenheiros militares franceses, encarregado, juntamente com o comandante de batalhão, E. Paris, de fazer o reconhecimento das estradas entre Lisboa e Peniche. Março 1 E. Paris envia a Junot um relatório consignando os dados resultantes do reconhecimento das estradas entre Lisboa e Peniche. Depreende-se do documento que Junot procurava um local onde o seu exército pudesse aboletar-se e, concomitantemente, realizar manobras. O oficial aponta três possibilidades: uma situada a duas léguas de Mafra, à direita da estrada para a Ericeira; outra, na estrada de Sintra para Mafra, distante cerca de duas léguas desta vila; finalmente, o próprio palácio de Mafra, susceptível de abrigar dez mil homens, apesar das deficientes condições sanitárias. Para melhorar as condições sanitárias da tropa que, eventualmente, pudesse ser aquartelada no Palácio e Convento de Mafra, sugere o levantamento do soalho e a demolição de divisórias e tabiques de muitas salas do edifício, estimando que, com esse expediente, se poderiam obter cerca de 1300 metros quadrados de madeira, para servirem como tarimbas a igual número de soldados (cf. António Pedro

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Vicente, Le Génie Français au Portugal sous l’Empire, Lisboa, 1984, p. 211-213 e 253-255). Março – Abril Mafra, Ericeira, Enxara dos Cavaleiros e Gradil contribuem com cerca de 500$000 réis por conta dos 6 milhões de cruzados cobrados por Junot à Junta do Comércio. Junho 12 Desarmamento e prisão dos Granadeiros de Castela a Velha e do corpo de Cavalaria de Maria Luísa, contingentes espanhóis incorporados no exército francês. Agosto 21 Sir Arthur Wellesley tenciona marchar sobre Mafra quando se trava a batalha do Vimeiro. Em consequência da retirada apressada dos franceses, após esse confronto, alguns livros não terão sido restituídos à Biblioteca do Palácio de Mafra, tendo-se conservado, até 1880, os respectivos recibos de empréstimo (Júlio Ivo, Os Franceses em Mafra, in O Concelho de Mafra, 27 Jun. 1908). Setembro 2 Chegada das tropas inglesas a Mafra, ao som de sinos e carrilhões. Setembro 14 Instalação de um hospital para enfermos do Exército português, em Mafra. Setembro 26 Habitantes de Ribamar deslocam-se a Mafra com o objectivo de se familiarizarem com o manejo de armas de fogo de molde a servirem no exército Anglo-Luso.

1809 Janeiro 17 Início do donativo mensal da população da Vila de Mafra e seu termo, da quantia de 52$840, por tempo de um ano, para acudir às necessidades urgentes do Estado Português, na sua luta contra o jugo francês. O valor total de tal donativo rondará os 6000$000 réis [Livro de Registos da Câmara Municipal de Mafra, n. 7 (1806-1820), fl. 112v-118v]. Fevereiro 4 Chegada a Mafra, procedente de Almeida, de uma coluna do exército britânico, formado por 307 praças. Incêndio do Hospital Militar das Reais Barracas, sito na Tapada Real. Fevereiro 15 O Governador Militar de Mafra solicita ao Senado Municipal a nomeação de um aparelhador para dirigir as obras de Fortificação da Vila, de acordo com o traçado elaborado pelo Sargento-Mor, Engenheiro responsável pela referida fortificação [AHMM: Livro de Registos da Câmara Municipal de Mafra, n. 7 (1806-1820), fl. 123-123v].

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Fevereiro 27 Por determinação do Comando Geral Militar da Província da Estremadura, José Pinto Madureiro é nomeado aparelhador das obras de fortificação da vila de Mafra, com o objectivo de dar continuidade à referida obra [AHMM: Livro de Registos da Câmara Municipal de Mafra, n. 7 (1806-1820), fl. 123v-124]. Abril 4 Criação na Real Tapada do depósito de gado vacum e bestas muares do exército Anglo-Luso. Junho 7 Alvará Régio estabelece a Primeira Contribuição Extarordinária para a Defesa e salvação do Estado, da Santa Religião e conservação da Independência Nacional. Mafra, Ericeira, Enxara dos Cavaleiros, Cheleiros, Gradil e Carvoeira contribuem com cerca de 900$000 réis. Novembro 2 Beresford visita o Palácio de Mafra, retirando para Sintra.

Marechal William Carr Beresford

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Novembro 6 Francisco Carneiro Homem Sotto Maior, Governador Militar da Vila de Mafra, informa D. Miguel Pereira Forjaz que o forte da Ericeira se acha desguarnecido.

1810 Fevereiro 8 Visita de observação e análise estratégica do território entre Torres Vedras e Ericeira pelos generais Wellesley e Beresford. A Tapada é incluída na 2ª das Linhas de Torres. Março Abertura de duas novas portas na Tapada (Vale da Guarda e Muro Seco) para saída da maior parte da madeira utilizada na edificação dos redutos da 2ª Linha de defesa. Março 2 Início da edificação dos quatros redutos da Tapada, cuja direcção cabe ao Tenente-coronel Fletcher, coadjuvado pelos engenheiros militares capitão William Ross e Tenente Rice Jones.

Tenente-coronel Fletcher

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Abril Nas obras de fortificação da 2ª Linha de Defesa trabalham diariamente mais de 200 homens, além do regimento de Milícias da Figueira da Foz, destacado para Mafra com esse objectivo. Os religiosos do convento de Santo António e demais eclesiásticos da região recusam-se a participar nos trabalhos. Junho 28 Para satisfazer “o apetite do Almirante inglês” (?), o Conde de Castro Marim solicita a cooperação do Administrador da Tapada no sentido de viabilizar a realização de uma caçada de 4 gamos [Casa Real, cx. 3753, capilha 5, Correspondência da Real Tapada de Mafra (1809-1812)]: “Para que seja satisfeito o apetite do Almirante Inglês obséquio no qual se dará por muito bem servido S.A.R. o Príncipe Regente Nosso Senhor, sou a esperar de sua conhecida atenção que dentro dessa Tapada de Mafra facilite e consinta, que possa fazer uma caçada de 4 Gamos ajudado pelos Guardas da dita Tapada o Couteiro-Geral das Reais Coutadas José Januário da Costa Mineiro a quem tenho incumbido semelhante lisonjeiro = Serviço entretanto que no meu particular estimarei muitas ocasiões de obsequiá-lo, e comprazer-lhe. Deus guarde a Vm.ce . Xabregas, 28 de Junho de 1810”. Conde de Castro Marim Julho 12 Por ofício, o Administrador da Tapada Real de Mafra, Estêvão João de Carvalho informa o rei que foram mortos alguns gamos para o Almirante Inglês, tal como solicitado pelo Conde de Castro Marim. Agosto 3 Primeira transmissão recorrendo ao telégrafo óptico, entre o capitão John Jones, em Alhandra e o Tenente-coronel Fletcher, em Mafra. Outubro Criação do Hospital Militar de Mafra, nas enfermarias e dormitórios do convento de Santo António. Estabelecimento de vivandeiros em Alverca, Bucelas, Sobral de Monte Agraço, Monchique, Mafra e Torres Vedras para abastecimento do exército Anglo-Luso. Outubro 5 Wellesley solicita a La Romana a sua participação na defesa das Linhas de Torres. Duas Divisões espanholas sob o seu comando, acampam na Enxara dos Cavaleiros. Novembro 7 Na Sala da Bênção tem lugar um magnífico banquete com luminárias, seguido de baile, para mais de 400 pessoas, com a presença da Regência, Wellesley, Beresford e Marquês de la Romana (1761-1811). No decorrer dele, o Marechal Beresford é armado cavaleiro da Ordem do Banho (Bath). Para tal efeito, João Diogo de Barros empresta “trastes e pratas” [BNRJ: cx. 705].

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Marquês de La Romana Novembro 8 O Administrador da Real Tapada informa que os soldados das Divisões espanholas, sob o comando do Marquês de la Romana têm depredado a caça, perante a impotência dos guardas da propriedade para pôr cobro a tais desmandos [Correspondência da Real Tapada de Mafra (1809-1812)]:

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“Como Administrador desta Real Tapada de Mafra tenho a honra de representar a V.A.R. que os soldados do Exército, principalmente os Espanhóis com grande força têm entrado na Real Tapada, fazendo uma grande mortandade na Caça levando vinte cabeças por dia tenho buscado todos os meios para impedir este procedimento com os Guardas da dita Tapada o que nada tem feito pela desigualdade de força igualmente dei parte aos Comandantes dos respectivos Corpos que de nada valerão. Igualmente tenho a honra de fazer saber a V. A. R - que em consequência das requisições do Governador Militar desta Vila e do Juiz de Fora tenho dado a lenha precisa ao Regimento de Viseu que aqui esta igualmente para o Hospital Português aqui novamente estabelecido. Mafra, 8 de Novembro de 1810”. Estêvão João de Carvalho.

Segundo

AS LINHAS DE TORRES

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Correspondendo a solicitação do coronel Vincent, comandante

do Corps du Génie endereçada à engenharia portuguesa, em Janeiro de 1808, José Maria das Neves Costa apresentaria em Maio do ano seguinte, um memorando sobre a defesa de Lisboa (Carta Militar do Terreno ao Norte de Lisboa, concluída em Fevereiro de 1809), o qual havia de servir como base de trabalho a Wellington para a construção das Linhas de Torres (memorando enviado a Fletcher em 20.10.1809).

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Esse complexo, formado por três linhas sucessivas de obras de fortificação, dispostas de molde a funcionarem como um todo integrado, comunicando entre si por uma rede viária, e destinado a garantir a defesa da capital, foi edificado em segredo, mediante a expropriação de terras a muitos dos habitantes da região, os quais também haviam de ser requisitados para trabalhar na sua construção, sendo rendidos semanalmente, o que não sucedia aos dois regimentos de milícias, cuja aplicação era permanente.

Uma vez concluído, o sistema defensivo das Linhas de Torres Vedras era constituído por 139 posições fortificadas, excluindo alguns redutos que não chegaram a receber numeração. As fortificações eram complementadas com trincheiras, minas, paliçadas, fossos e barricadas. Para além das tipologias de forte, reduto ou bateria, existiam ainda posições que constituíam entrincheiramentos ou outras - não numeradas - que não sendo destinadas a albergar ou proteger soldados e artilharia, auxiliavam a fortificação, conferindo defensibilidade ao terreno mediante escarpamentos ou abatizes.

A configuração de cada reduto dependeu das características do terreno a fortificar e da finalidade específica que se pretendia alcançar com cada obra. Em cada reduto existia um depósito de ferramentas, água potável em tonéis, à razão de 4,5l por cabeça e um, dois ou mais paióis, de acordo com o número de peças de artilharia.

Concomitantemente, foram minadas estradas e pontes, para que pudessem ser destruídas à aproximação do inimigo.

Sir William Napier História da Guerra Peninsular

As Linhas de Torres Vedras

A segunda, situada entre 9 a 16 km à retaguarda da primeira, estendia-

se desde Quintela, junto ao Tejo, até à foz do rio São Lourenço [hoje em dia chamado Safarujo], numa extensão de 38 km. […].

A parte mais próxima da Segunda Linha distava cerca de 38 km de Paço d'Arcos. Destas estupendas Linhas, a segunda, quer do ponto de vista da sua força, quer da sua importância, era, sem dúvida, a principal, sendo as outras apenas reforços, uma como um local de refúgio final, a outra como uma estrutura avançada, para conter a primeira investida violenta do inimigo e para permitir que o exército ocupasse as suas posições na Segunda Linha sem precipitações ou pressões. Tendo Massena desperdiçado a época de Verão nas

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fronteiras, a Primeira Linha adquiriu tamanha força, tanto pela mão-de-obra como pela intensidade da chuva, que Lord Wellington resolveu aguardar aí o ataque do inimigo. […]

Esta era a natureza da Primeira Linha de defesa; a segunda era ainda mais formidável.

1. Da foz do rio S. Lourenço [actualmente chamado Safarujo] a Mafra, numa distância de 11 km, havia uma cadeia de montes, naturalmente íngremes, artificiosamente escarpados e protegidos por uma ravina profunda e, em muitas zonas, impraticável. Os pontos salientes estavam protegidos por fortes, que flanqueavam e dominavam os poucos locais acessíveis; mas como esta Linha era extensa, fortificou-se um posto secundário, alguns quilómetros para a retaguarda, de modo a proteger uma estrada que ia da Ericeira para Sintra.

2. Para a direita da linha mencionada anteriormente, a Tapada, ou Parque Real de Mafra, apresentava algum terreno aberto para um ataque. No entanto, era forte e, juntamente com o desfiladeiro de Mafra, estava defendida por um sistema de 14 redutos, construídos com muito trabalho e cuidado, de considerável importância, no que diz respeito à disposição natural do terreno e, em certa medida, relacionado com o posto secundário acima mencionado; em frente, a Serra de Chipre, protegida com redutos, vedava todos os acessos à própria vila de Mafra.

3. Da Tapada até ao desfiladeiro de Bucelas, uma área de 16 a 19 km, que constituía o centro da Segunda Linha, o terreno é estrangulado por Montachique, o Cabeço - ou "cabeça" -, que se encontra no centro de todas as outras massas montanhosas, dominando-as. Uma estrada, que seguia ao longo duma linha de montes, alta e saliente, mas menos declivosa do que quaisquer outras zonas da Linha, ligava Mafra ao Cabeço e era defendida por diversos de fortes. O terreno fronteiro apresentava grandes dificuldades, e uma segunda e mais forte cadeia de montes, paralela, e à retaguarda da primeira, oferecia uma boa posição de combate, que só poderia ser atingida pela artilharia, a partir da estrada de ligação situada em frente; e para chegar a essa estrada, tanto a Serra de Chipre, à esquerda, como o desfiladeiro do Cabeço de Montachique, à direita, teriam de ser tomados. Ora, as fortificações que defendiam este último, consistiam num conjunto de redutos, construídos nos cabeços rochosos mais baixos e avançados, em relação ao Cabeço, dominando completamente todos os acessos e, tanto pela sua fortaleza artificial como natural, quase inexpugnáveis, perante um ataque frontal. O Cabeço e os seus flancos mais próximos eram considerados seguros, na sua natural fortaleza escarpada e, de igual modo, as cumeadas que ligavam o Cabeço ao desfiladeiro de Bucelas, sendo inexpugnáveis, foram deixadas incólumes, salvo o bloqueio de um caminho para muares, em muito mau estado, que os atravessava.

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* * *

As obras de fortificação nas vizinhanças de Mafra foram

iniciadas, em 17 de Fevereiro de 1810, dirigidas pelo Tenente-coronel Fletcher e pelo Capitão Ross, incluindo provavelmente os fortes da Serra de Chipre, à esquerda do Gradil, o desfiladeiro da Murgeira, fortes junto da Tapada, cobrindo a estrada de Mafra para a Malveira e fortes que cobrem a estrada que desde o Gradil segue pela Malveira até perto de Montachique.

No dia 19 do mesmo mês, o Tenente Jones iniciou a fortificação da zona e Ericeira e Carvoeira, incluindo as fortificações que protegem a Foz do Lizandro e, possivelmente as que protegem os desfiladeiros entre a Picanceira e Ribamar, à esquerda da Serra de Chipre.

O início da edificação destas fortificações assinalou uma viragem na construção das Linhas de Torres Vedras, pois deu origem a uma linha efectiva de defesa, ulteriormente denominada segunda linha, a qual cobria os desfiladeiros pelos quais passavam as vias de acesso viáveis até Lisboa: Tejo-Vialonga, Bucelas, Montachique, Mafra-Murgeira, Picanceira-Ribamar e Cheleiros - este interceptado na zona da foz do Lisandro, junto à Carvoeira. Juntamente com a constituição desta Linha, foi reforçada a linha de postos avançados, pela construção das fortificações em Alhandra - após o abandono de Castanheira - e construídas fortificações junto de Arruda e no vale do Sizandro, dificultando o flanqueamento das posições de Torres Vedras e Sobral de Monte Agraço.

Em Julho de 1810, na eminência de um ataque, Richard Fletcher é chamado para junto do exército de Wellington, partindo de Mafra no dia 6 (onde provavelmente visitava algumas fortificações ainda em construção, caso de alguns dos fortes da zona de Ribamar), para Alverca da Beira, onde existe notícia da sua chegada em 14 de Julho.

Para comandar as obras em curso nomeou John Thomas Jones com ordens especificas para, após terminar as fortificações ainda em construção, proceder a um levantamento exaustivo das diferentes posições, devendo promover igualmente o aperfeiçoamento das fortificações, nomeadamente das plataformas para o tiro de artilharia.

Para realizar estes trabalhos, Jones teve ao seu dispor um corpo de engenheiros que ficaram sob o seu comando. A equipa de

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engenharia que trabalhava nas construções, no dia 6 de Julho de 1810, era composta pelos capitães Holloway, Williams e Dickinson, pelos tenentes Stanway, Thomson, Forster, Trench, Píper, Tapp, Reid e Hulme e ainda pelo capitão Wedekind e pelo tenente Meineke da Legião Real Alemã e pelos tenentes portugueses Lourenço Homem [da Cunha d'Eça], Sousa e [Joaquim Norberto Xavier de] Brito.

Em 5 de Outubro de 1810, poucos dias antes da ocupação efectiva das Linhas de Torres Vedras, o sistema de comunicação era constituído pelos postos de Alhandra, Alqueidão, Serra do Socorro, Torres Vedras e Ponte do Rol, na primeira Linha, e pelos de Montachique, Serra de Serves, Tapada de Mafra e Ribamar, na segunda Linha, chegando as comunicações a Lisboa através de um posto de sinais sito em Monsanto.

De modo a garantir a funcionalidade e a gerir os recursos durante a defesa de Lisboa, Wellington decidiu dividir as fortificações em seis distritos, cada um dos quais seria atribuído, a um oficial de engenharia, o qual ficava incumbido de constituir uma equipa a quem competia a condução das tropas até às diferentes posições.

Estes distritos não correspondem aos sete tradicionalmente consignados às Linhas de Torres Vedras, sendo tal divisão posterior.

A divisão comunicada a Jones, em 5 de Outubro de 1810, dividia as fortificações em seis distritos, a saber: 1º Desde o oceano até Torres Vedras, com Quartel-general em Torres Vedras; 2º Desde Sobral de Monte Agraço até ao vale de Calhandriz, com Quartel-general em Sobral de Monte Agraço; 3º Desde o vale de Calhandriz até ao Tejo, na direita da posição de Alhandra, com Quartel-general em Alhandra; 4º Desde a margem do Tejo, junto a Alverca, até ao desfiladeiro de Bucelas, com Quartelgeneral em Bucelas; 5º Desde o desfiladeiro do Freixial, na esquerda do desfiladeiro de Bucelas, até ao desfiladeiro de Montachique, com Quartel-general em Montachique; 6º Desde o desfiladeiro de Mafra até ao oceano, com Quartel-general em Mafra.

A primeira linha contava quatro distritos:

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1º, desde Alhandra sobre o Tejo até Arruda, Quartel-general em Alhandra. 2º, de Arruda a Monte Agraço, Quartel-general no Sobral. 3º, da Zibreira até às alturas da Cadriceira. 4º, desde Runa, Torres Vedras até ao Mar, Quartel-general em Torres Vedras.

Ocupavam estes quatro distritos as seguintes posições principais: Planície que bordeja o Tejo junto e áquem da vila de Alhandra. Alturas de Alhandra e Subserra. Calhandriz, Trancoso de Cima, S. Sebastião, Mata. Alturas de Arruda. Serra de Monte Agraço. Codriceira, Ribaldeira, Zibreira, Matacães, Torres Vedras. Alturas do Varatojo. Ponte do Rol, S. Pedro da Cadeira, oceano.

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A segunda linha ficaria dividida em três distritos: 5º, desde o Tejo próximo de Alverca até Bucelas, Quartel-general em Bucelas. 6º, do Freixial, Montachique, Malveira até à Tapada de Mafra, Quartel-general em Montachique. 7º, da Tapada de Mafra ao mar, Quartel-general em Mafra.

Eram posições desta segunda linha nos três distritos os seguintes pontos fortificados: Planície que bordeja o Tejo entre Alverca e Póvoa. Alturas de Alverca e vale de Vialonga. Alturas da Verdelha e Serves. Bucelas, Freixial, Montachique. Cabeço da Atalaia entre Montachique e Venda do Pinheiro. Alturas da Malveira. Alturas da Tapada de Mafra, Murgeira. Alturas do Gradil. Alturas da margem esquerda do vale da Picanceira, desde a Murgeira, Paz, Pinheiro, até ao oceano. As alturas da montanhosa região da Malveira aproveitadas para a defesa da capital, como posições militares fortificadas da segunda linha, após a Cabeça de Montachique, e o alto da Atalaia sobre o lugar da Asseiceira ou Asseiceira Pequena da freguesia de S. Miguel do Milharado, pela estrada real da Venda do Pinheiro à Malveira, aí se encontrando.

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FORTES DAS LINHAS DE TORRES NA TAPADA DE MAFRA

Na Real Tapada de Mafra, incluída na segunda das Linhas de Torres, foram erguidos quatro redutos: o Forte do Juncal (n. 74), na 1ª Tapada, os Fortes do Sonível (n. 75) e da Milhariça (n. 76), na 2º Tapada, e o Forte do Valério (n. 64), na 3ª Tapada.

A sua edificação começou em Fevereiro de 1810 sob a direcção do Tenente R. Jones. Ocupavam pontos dominantes para baterem as ravinas e interditarem a passagem para a estrada que corre a Sul. Os acidentes geomorfológicos que dominam as aproximações à Tapada seriam ocupados por outras fortificações.

Em conjunto dispunham de 8 peças de artilharia de calibre 12 e 5 de calibre 9, podendo albergar uma guarnição de 1050 soldados de infantaria, eventualmente mílicias e ordenanças.

Carta Militar e Topographica das Linhas de Lisboa construída nos anos de 1810 e 1811 ao norte da capital […] (escala: 1/25000). Levantada por Manuel Joaquim Brandão de Sousa, oficial do Real Corpo de Engenheiros (1871)

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75 - Milhariça Posição N 258 WE 134; Coordenadas UTM: 29SMD751108 CMP: 388 / Mafra; Secção Q; 2 Alt. 302 m Junto ao limite Sul da 2ª Tapada, ligeiramente a Leste do forte do Sonível. Reduto destinado a 70 homens, munido de 2 peças de artilharia de calibre 9. Conserva o fosso e os taludes, encontrando-se envolto em coberto vegetal e rodeado por árvores.

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76 - Sonível Posição N 258 WE 140; Coordenadas UTM: 29SMD746110 CMP: 388 / Mafra; Secção Q; 2 Alt. 356 m Sito na 2ª Tapada, na cota mais elevada da propriedade. Reduto destinado a 390 homens, munido de 4 peças de artilharia de calibre 12. Envolto em denso coberto vegetal, o fosso mantém uma profundidade considerável.

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77 - Juncal Posição N 252 WE 153; Coordenadas UTM: 29SMD732104 CMP: 388 / Mafra; Secção Q; 82 Alt. 317 m A Nordeste da porta da Vermelha, junto ao muro exterior da 1ª Tapada. Reduto destinado a 380 homens, munido de 4 peças de artilharia de calibre 12. Apesar dos abrigos de metralhadora escavados no seu âmbito, conserva o fosso, talude e as trincheiras interiores.

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64 - Valério ou Canto do Muro da Tapada Posição: N 259 – WE 116; Coordenadas UTM: 29SMD758105 CMP: 402 / Malveira; Secção H Alt.: 288 m Situava-se no canto do muro homónimo, no limite Sudeste da 1ª Tapada. Reduto destinado a 210 homens, munido de 3 peças de artilharia de calibre 9. Destruído

Terceiro

INSTITUIÇÕES E UNIDADES MILITARES NACIONAIS

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Regimento de Milícias de Viseu

(1810?)

Ocupava a Vila de Mafra, comandado pelo Coronel João

Azevedo e Sousa Mello e Vasconcelos. A sua força total era de 756 homens e o número dos presentes 691.

Batalhão de Artilharia de Mafra (1810?-1826?)

Na Vila de Mafra existiu artilharia guarnecida por 251 homens,

comandados pelo Major Francisco de Paula Xavier. A Unidade militar citada num dos ofícios contantes das "Instruções gerais para o fim de obstar ao progresso das ruínas praticadas nas fortificações das linhas de defesa ao norte de Lisboa pelos habitantes das povoações vizinhas" (1825, Dezembro, 22 - 1826, Maio, 24), da autoria do marechal-de-campo Manuel de Sousa Ramos, do Real Corpo de Engenheiros 17.

O ofício em apreço foi remetido por José Gorjão Nicolau Alberto, ajudante do Batalhão de Artilharia de Mafra, ao coronel Lourenço Homem da Cunha d'Eça.

Batalhão de Milícias de Tomar (1832?)

Chegou a Mafra no dia 21 de Novembro de 1832,

desconhecendo-se durante quanto tempo permaneceu na vila (cf. Memórias de Eusébio Gomes).

17 AHM: DIV/3/01/06/13 (13 fls. manuscritas).

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Batalhão de Caçadores 27

(1837/1840-1842)

Criado por Decreto de 4 de Janeiro de 1837 e destinado a Mafra. No entanto, a sua organização efectiva terá sido posterior a 1840, ano a que remontam as primeiras nomeações de oficiais para este Batalhão (Decreto de 26 de Outubro e Ordem do Exército, n. 55), tendo sido colocados: um coronel, um major, 7 capitães, 5 tenentes e 5 alferes.

A 24 de Março de 1841, o convento de Mafra (com excepção da Sala dos Actos e suas dependências, do Refeitório e Cozinhas dos Religiosos, da Capela do Campo Santo e das Casas da Botica) seria entregue ao Ministério da Guerra para aquartelamento desta força militar (que, de facto, o ocupava desde finais de 1840), ficando os espaços cedidos à sua inteira disposição a partir de Agosto do mesmo ano.

Batalhão de Caçadores 8 (1842 - 1847)

Criado por Decreto de 28 de Novembro de 1842 e pela Ordem

do Exército, n. 56 (15 de Dezembro de 1842), em substituição do Batalhão de Caçadores 30 (sedeado em Leiria, desde 1837).

Abandonou as instalações de Mafra no ano de 1847.

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Ofício remetido pelo Batalhão de Caçadores 8 (Quartel em Mafra, 11 Set. 1844) [AHMM]

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Real Colégio Militar (1848-1859, 1870-1873)

Herdeiro do Colégio de Educação do Regimento de Artilharia

da Corte (Feitoria, S. Julião da Barra), fundado por iniciativa do coronel António Teixeira Rebelo, em 1803.

Por decisão da Regência, havia de adoptar, no ano de 1813, a designação de Real Colégio Militar. Destinava-se à educação dos filhos dos oficiais do Exército e da Armada, aos quais faltassem os meios de lhes ministrarem instrução condigna e, especialmente, aos filhos daqueles que se houvessem distinguido por qualquer forma.

Portaria de 7 de Janeiro de 1814 determinou que seriam cem os internados, devendo ficar albergados nas casas do hospício de Nossa Senhora dos Prazeres, à Luz (Carnide), outrora pertencentes aos freires da Ordem de Cristo. Um decreto de 18 de Março de 1814, ordenava a concretização imediata das obras de adaptação das instalações que acolheram, inicialmente, apenas 50 internados, i. e., metade dos previstos na portaria instituidora. Nova portaria de 1816, havia de aumentar para duzentos o número dos internados: “[…] cem que serão sustentados à custa de seus pais e tutores; dos cem lugares

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para colegiais do Estado, oitenta e quatro pertencerão ao Exército e dezasseis à Marinha”. Durante seis anos, os alunos receberiam a educação, passando, ulteriormente, a diversas armas, consoante as aptidões entretanto demonstradas. Entrariam nas escolas respectivas, sendo, depois, promovidos a alferes.

Aqueles que, enquanto bolseiros do Estado, não concluíssem os estudos até aos dezassete anos serviriam como oficiais inferiores até que o comandante em chefe do Exército os julgasse aptos para o galão. Ensinavam-se-lhes desde as primeiras letras às regras e disciplinas da mais sofisticada instrução militar. O plano de estudos era muito exigente, tendo sofrido sucessivas remodelações.

No ano de 1835, o número de alunos sustentados pelo Estado foi elevado para 135, atendendo-se aos filhos dos que haviam padecido pelos ideais constitucionalistas. Concomitantemente, o Colégio seria transferido para o antigo convento de Rilhafoles e o seu plano curricular novamente revisto e adaptado aos novos tempos.

O Real Colégio Militar foi transferido, uma primeira vez, para o Real Edifício de Mafra, em Novembro de 1848. Um ano depois, na Câmara dos Deputados, Fontes Pereira de Melo havia de pedir a revogação da ordem que provocara a transferência, alegando que dificilmente as famílias podiam ir visitar os internados. A despeito disso, só em Setembro de 1859 tornava a ocupar as suas primitivas instalações, reabrindo as aulas no dia 6 de Outubro.

Em 1870, a fim de dar cumprimento a um decreto (14.6.1870) do Duque de Saldanha, com vista a aplicar uma mais rígida instrução aos estudantes, a qual melhor se garantia (ao que parece) longe de Lisboa, voltaria a instalar-se em Mafra, na intenção de, anexado ao Asilo dos Filhos dos Soldados, se transformar numa escola completa de Infantaria e Cavalaria para oficiais e sargentos.

Frustrada tal reforma, regressaria, a 20 de Agosto de 1873, definitivamente, à Luz, onde ainda permanece.

No relato da sua visita a Mafra, William Edward Baxter alude ao Colégio Militar 18.

18 Cf. The Tagus and the Tiber, v. 1, Londres, 1852, cap. III.

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Rosto do Regulamento do Colégio Militar (Mafra, 1854)

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Antigos alunos do Colégio Militar, reunidos em Mafra (1908)

Antigos alunos do Colégio Militar, reunidos em Mafra (1910)

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Regimento de Infantaria 7 (RI 7)

(1850, 1880-1881)

Apesar de o seu aquartelamento em Mafra, bem como a sua saída, não constarem de qualquer Ordem do Exército, a Lista Geral dos Oficiais e Empregados Civis do Exército (1 de Agosto de 1850) reporta-se-lhe, bem assim como alguma correspondência remetida ao Administrador do Concelho de Mafra (1880-1881) [AHMM].

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Batalhão de Caçadores 2 (1855-1856)

A transferência deste Batalhão para Mafra não consta de

nenhuma Ordem do Exército, apenas sendo referida no Almanaque do Exército para 1 de Julho de 1855 e num ofício remetido à Administração do Concelho [AHMM]. Ignora-se a data da sua saída.

D. Pedro V convidou os 80 militares desta Unidade para uma batida na Tapada de Mafra, na Primavera de 1856, cujo relato ficou consignado numa obra do General Henriques das Neves, intitulada Esboços Individuais. No final da caçada foi servido um lanche de bacalhau cozido com batatas e um quartilho de vinho a cada soldado (O Concelho de Mafra, 31 Dez. 1960).

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Retrato equestre de D. Pedro V (óleo sobre tela; 2830 x 1960 mm; subscr.: H. Petit, 1855 [PNM: inv. 2047]) Montado num cavalo branco, voltado de perfil à direita, o soberano, fardado de Generalíssimo, com o chapéu armado na mão direita, passa revista a uma

formatura do regimento de Caçadores 2 no Terreiro diante do Palácio de Mafra, sendo acompanhado pelo seu Estado-Maior.

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Batalhão de Caçadores 2 em exercícios nos arredores de Mafra

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Regimento de Infantaria 1 (RI 1) / Batalhão 2

(1858; 1888-1889; 1910-1916; 1918-1921)

O seu trânsito por Mafra apenas é referido no Almanaque do Exército para o ano de 1858.

O Batalhão 2 do RI 1, regressaria a Mafra no período de 1888-1889 e de 1910-1916 (correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM]) e, novamente, a partir de 1918, conforme Circular n. 28 (25 de Junho de 1918) da Rep. Gab. / MG. Seria transferido para Lisboa, por determinação da Ordem do Exército n. 5 (7 de Maio de 1921, p. 342).

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Depósito Geral de Recrutas

(1859-1860)

Organismo criado pela Ordem do Exército, n. 29, de 10 de Julho de 1859, com o objectivo de centralizar a instrução dos recrutas. Ficou aquartelado em Mafra. O seu Quadro de Pessoal era constituído por 703 efectivos, assim distribuídos:

Estado-maior: formado pelo Comandante, o Segundo-comandante, um Ajudante Geral, um Ajudante de Ordens do Comandante, um cirurgião-mor, 2 cirurgiões-ajudantes e um quartel-mestre.

Estado-menor: formado por um Sargento quartel-mestre, um Mestre de corneteiros, um Mestre de tambores, um Coronheiro e um Espingardeiro.

Escola Complementar: um Comandante (Coronel de Cavalaria António José da Cunha Salgado), seis Instrutores, três Ajudantes e doze Monitores;

Uma secção de Caçadores (comandada pelo Tenente-coronel Joaquim José de Macedo e Couto);

Duas secções de Infantaria (comandadas pelo Major D. Luís de Mascarenhas).

A Unidade, da qual foi Comandante-geral o Brigadeiro Luís

António de Oliveira Miranda, teve uma existência efémera, em consequência de uma grave doença infecto-contagiosa que causou a morte de 94 recrutas e a baixa por incapacidade de mais de oito dezenas, no curto período de cinco meses.

Foi extinto por determinação de Dom Pedro V, emitida em 13 de Maio de 1860.

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Asilo dos Filhos dos Soldados

(1863-1873)

Também denominado Asilo de Mafra. Herdeiro do Asilo Rural Militar, tinha por objecto formar bons oficiais inferiores e hábeis coronheiros, espingardeiros e músicos.

Os asilados, assim que atingissem a idade adequada, ficavam obrigados a servir no exército por espaço de doze anos, abrindo-se, contudo, excepções para aqueles que no momento de abandonar a instituição efectuassem o pagamento integral dos montantes dispendidos na sua instrução e alimentação.

Inicialmente instalado no convento do Varatojo (Torres Vedras), na dependência do director da Escola do Exército, viria, por iniciativa de Dom Pedro V, a ser transferido para o Real Edifício de Mafra, para as dependências antes ocupadas pelo Colégio Militar, na ala Sul do edifício.

Em consequência da morte prematura do monarca, coube a seu irmão, Dom Luís, a honra de presidir às cerimónias de inauguração, ocorridas a 24 de Agosto de 1863, sendo comandante o capitão António José da Cunha Salgado.

O colégio abriu com 57 alunos, “uma súcia de gaiatos e garotos”, a quem o marquês de Fronteira e Alorna, no dia antecedente à abertura, acusava de “toda a qualidade de pouca vergonha” (Memórias, parte 2, p. 215).

A instituição teve vida curta, porquanto seria extinta no decurso do ano lectivo de 1873/1874, com o fundamento de que "os soldados, não podendo casar, não podiam ter filhos legítimos e o asilo, a manter-se, destinar-se-ia aos filhos bastardos daqueles servidores da coroa”.

Tomás de Mello Breyner narra nas suas Memórias (v. 1, Lisboa, 1930, p. 10) que aos rapazinhos do Asilo, bem armados e equipados, se ficou a dever a defesa do quartel de Mafra e a contenção da insurreição do batalhão chamado da Zambézia, ali verificada no ano de 1869.

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Aluno do Asilo dos Filhos dos Soldados (1863) Aguarela de Ribeiro Arthur (1851-1910) do AHM (in Jornal do Exército, 1985)

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Oficial do Estado Maior do Asilo dos Filhos dos Soldados (1868)

Aguarela de Ribeiro Arthur (1851-1910) do AHM (in Jornal do Exército, 1985)

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Batalhão da Zambézia (1869)

Os soldados desta unidade, comandados pelo capitão Xavier,

insubordinaram-se, a 16 de Abril de 1869, aparentemente por lhes ter sido recusada uma deslocação à capital. Desarmados com a colaboração dos adolescentes do Asilo dos Filhos dos Soldados (Asilo de Mafra), seguiriam, no dia imediato para Lisboa, com a fama de desordeiros.

Serpa Pinto que havia sido colocado neste Batalhão, foi promovido a Tenente, a 5 de Maio.

Desembarcando em Moçambique, a 10 de Junho, a Unidade integraria a força expedicionária da Zambézia. (cf. José Joaquim Ferreira / Augusto de Castilho Barreto e Noronha, Recordações da expedição da Zambézia em 1869).

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Batalhão de Caçadores 6 (Out. 1874 – Mar. 1884; 1890)

Destacamento aquartelado em Mafra, conforme

correspondência remetida à Administração do Concelho de Mafra [AHMM].

Em 1890, a Tapada seria cedida ao Exército. Neste ano, quando das suas visitas a Mafra, em 6 e 21 de Maio, D. Carlos foi recebido por um esquadrão de Cavalaria e Batalhão de Caçadores 6, com a respectiva banda marcial, assistindo a exercícios de tiro ao alvo, por elementos da mesma unidade, na Carreira de Tiro da Tapada.

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Regimento de Infantaria 15 (RI 15) / Batalhão 2 (1890)

A 11 de Junho 1890, pelas 3 da tarde, D. Carlos chegou a

Mafra, acompanhado de três oficiais da sua casa militar. Após curta permanência no Palácio, dirigiu-se à Carreira de Tiro, onde assistiu a uma sessão de tiro ao alvo. Às 8 da noite jantou na companhia do comandante da Escola Prática de Infantaria e do 2º batalhão de Infantaria 15, regressando depois a Lisboa.

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Regimento de Infantaria 2 (RI 2) (1880, 1890)

Destacamento aquartelado transitoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho de Mafra [AHMM].

Quando da visita realizada em 29 de Julho de 1890, por D. Carlos a Mafra, acompanhado pelo ajudante de campo, Duval Teles, e pelo oficial às ordens, Roberto Ivens, seria aguardado por numerosos oficiais da Escola Prática de Infantaria e Cavalaria e do Regimento de Infantaria 2, fazendo estes a guarda de honra.

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Batalhão 2 de Caçadores da Rainha

(Mai. 1882)

Destacamento estacionado provisoriamente em Mafra, conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

Batalhão 5 de Caçadores de El-Rei (Jun. 1883)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

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Regimento de Infantaria 11 (RI 11) (1884, 1891, 1893)

Destacamento aquartelado transitoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

Em 27 de Abril de 1893, pelas 13h e 30m D. Carlos chega a Mafra, acompanhado por Pimentel Pinto, Ministro da Guerra, e pelos Tenente-coronel Alberto de Oliveira, Chefe de gabinete do mesmo ministro, Alferes Pacheco Simões, adjunto à repartição do referido gabinete, Marquês de Alvito, camarista de serviço, D. Bernardo Pindela, Secretário do soberano, General Malaquias seu Ajudante de campo e Major Malaquias, oficial às ordens. O monarca era aguardado à porta do Paço Real por diversas instâncias civis locais, pelo comandante e demais oficiais da Escola Prática, bem como por uma

guarda de honra de Infantaria 11.

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Escola Prática de Infantaria e Cavalaria

(1887-1890)

Criada por Carta de Lei de 22 de Agosto de 1887, reinando D. Luís I, e sendo Ministro da Guerra o Visconde de S. Januário, Januário Correa de Almeida, por influência do General de divisão João Crisóstomo de Abreu e Sousa.

Visava fomentar o exercício do tiro, ginástica e esgrima, desenvolver o estudo das armas de fogo, fortificações, táctica aplicada, telegrafia óptica e reconhecimentos, e ainda ministrar o ensino teórico-prático indispensável aos primeiros-sargentos mais antigos na escala de acesso para a sua promoção a alferes. Subjacente à criação de Escolas Práticas, reunindo num estabelecimento a instrução prática e profissional dos Oficiais das duas armas, Infantaria e Cavalaria, está o pressuposto de partilharem algumas especialidades de instrução militar.

Não havendo local escolhido para a sede da Escola e a pedido da comissão dos melhoramentos de Mafra (constituída por José Maria Dias da Silva Saldanha, Manuel Caetano Baptista Ribeiro Júnior, João Sobreira Araújo, Brás Correia de Frias, Domingos Ferreira Alcântara, Augusto Baptista Ribeiro e Cipriano Martins), que teve em D. Luís I um aliado, o Ministro da Guerra decidiu-se pelo Monumento de Mafra, que estava sem utilização e oferecia excelentes condições para o fim em vista: podia recolher, comodamente, alguns milhares de homens; tinha, adjacente, uma Tapada vedada ao público; ficava situado no centro de uma importante região agrícola e relativamente próximo de uma estação de caminho-de-ferro.

O regozijo produzido pela notícia da instalação em Mafra da Escola Prática de Infantaria e Cavalaria é descrito por Guilherme de Assunção:

“Com os clássicos foguetes, a vila de Mafra, mais directamente

beneficiada, não escondeu a sua imensa satisfação. As suas ruas surgiram, à noite, brilhantemente iluminadas e foram percorridas por uma filarmónica e por imenso povo, que não se cansava de corresponder, com calor, aos vivas à comissão dos melhoramentos de Mafra, às autoridades locais, ao parlamento, ao Ministro da Guerra e ao Rei”.

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Na sessão imediata ao acontecimento, o Presidente da Câmara Municipal apresentou a seguinte proposta, que foi aprovada unâni-memente:

“Tendo esta vereação na devida conta o maior interesse no

bem-estar dos seus munícipes e nas prosperidades do concelho, alvitro que na acta da sessão de hoje se lance um voto do mais pro-fundo reconhecimento e eterna gratidão ao Ex. mo sr. Ministro da Guerra, Visconde de S. Januário, pela proposição apresentada por S. Ex.ª e ultimamente votada nas duas casas do parlamento, criando, nesta vila, uma Escola Prática de Infantaria e Cavalaria”.

Carta de Lei que criou a Escola Prática de Infantaria e Cavalaria

Ministério dos Negócios da Guerra (Repartição Central) D. Luís, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc. Fazemos saber a todos os nossos súbditos, que as cortes gerais decretaram e nós queremos a lei seguinte:

Artigo primeiro É criada na Vila de Mafra uma Escola Prática que se denominará Escola Prática de Infantaria. Artigo segundo O ensino a ministrar na escola compreenderá: 1º - O tiro nas suas diversas aplicações e o estudo das armas de fogo portáteis usadas no nosso Exército e nos das principais Nações; 2° - A Fortificação no campo de Batalha; 3° - A táctica aplicada ao terreno e os serviços de segurança e exploração; 4° - A esgrima e ginástica nas suas diversas aplicações militares; 5° - A telegrafia óptica e a avaliação das distâncias à vista e por meio de instrumentos; 6° - A instrução sobre os trabalhos de campanha para os sapadores, da infantaria e cavalaria. […]

Artigo sexto A dotação anual da Escola Prática de Infantaria e Cavalaria será de 10.000$00 réis.

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O Ministro e Secretário do Estado dos Negócios da Guerra a faça imprimir publicar e correr. Dada no Paço da Ajuda, aos 22 de Agosto de 1887. -- EL-REI, com rubrica e guarda - Visconde de S. Januário.

Em 14 de Agosto de 1887, os mafrenses tiveram possibilidade

de manifestar, por forma directa, o seu agradecimento aos autores do benefício que acabavam de receber. O Rei D. Luís I e o Visconde de S. Januário chegaram à vila de Mafra pelas 10 horas do referido dia e assistiram a uma bonita recepção. Em perfeito afinamento, uma banda tocou o hino real. Centenas de foguetes subiram ao ar. O povo aplaudiu, com delírio, os recém-chegados. A vila, vistosamente embandeirada e decorada com lanternas e balões, foi, à noite, percorrida por uma. grande multidão. Imensas pessoas empunhavam archotes. Uma grande comitiva, da qual faziam parte as autoridades locais, a comissão dos melhoramentos, camaristas, comerciantes, artistas, agricultores, etc., seguia na vanguarda da marcha luminosa. A bandeira nacional, conduzida por Augusto Taveira Pinto, não abandonou o seu lugar de destaque. Durante o trajecto e à porta da Câmara, ecoaram inúmeros e entusiásticos vivas às autoridades, ao Ministro da Guerra e ao Rei. Perto da meia-noite, um vistoso fogo de artifício iluminou o espaço.

Antes de abandonarem a vila de Mafra, o Rei e o Ministro da Guerra receberam a Comissão dos Melhoramentos, presidida por José Maria Dias da Silva Saldanha, e o Presidente da Câmara, que lhes foram tributar a sua gratidão.

A 9 de Novembro de 1887, era publicado o primeiro Regulamento da Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, então em fase de instalação, prosseguindo as obras nos quartéis já existentes. A sessão solene de abertura da Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, presidida pelo Coronel César Augusto da Costa e que teve a assistência de todo o pessoal efectivo da Escola, dos militares tiro-cinantes, das autoridades civis, bem como de numerosos convidados, realizou-se no dia 6 de Janeiro de 1889. A 9 de Janeiro de 1888, sendo Comandante o Coronel César Augusto da Costa, seria publicada a primeira Ordem de Serviço.

A instrução normal da EPIC estava, de acordo com a Lei de 22 de Agosto de 1887, dividida em três períodos: Inverno, Primavera e

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Outono, de acordo com o seguinte horário de funcionamento: alvorada às 4h 30m; faxinas às 5 h; distribuição do pão às 6 h; café às 6h 30m; exercícios da manhã, das 7 às 10h; almoço às 11 h; exercícios da Tarde, das 14 às 17h; jantar às 18h; recolher às 20h 30m.

No mês de Fevereiro continuavam as obras com vista à instalação da Unidade, achando-se já reparados sobrados, tijoleiras, portas, janelas, paredes e tectos das dependências conventuais cedidas.

Delimitação da Carreira de Tiro de Mafra

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Entretanto, na Tapada eram concretizadas algumas adaptações, dirigidas pelo Capitão António Júlio de Sousa Machado e pelo Tenente Alberto José Vergueiro, responsáveis não só pelo projecto como pela escolha do local, que a transformaram num campo militar onde se destacam as seguintes importantes estruturas de apoio à instrução, a saber, a Carreira de Tiro e as fortificações do Juncal:

As fortificações do Juncal durante um exercício militar.

1. Na construção da Carreira de Tiro, compreendida numa área com cerca de 3 mil metros, entre o Alto da Vela e a encosta do Sonível, empenharam-se, de Janeiro a Agosto de 1888, muitos militares auxiliados por cerca de oito dezenas de jornaleiros locais, trabalhando na terraplanagem e na edificação das obras de arte indispensáveis: parapeitos, fossos, trincheiras, abatises, paliçadas, barricadas, etc. O ginásio, levantado no terreno denominado Horta dos soldados, na parte posterior do Convento, concluiu-se e organizou-se mercê das activas diligências do Major Celestino Soares e do Tenente João Carlos Rodrigues dos Reis, os quais mandaram transferir para a Escola, no mês de Novembro do ano de 1888, todo o material de ginástica que

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existia no quartel de Lanceiros n. 2. Em 25 daquele mesmo mês e ano, abriu a aula de esgrima, o que deu motivo à oferta, pelo professor Cide, de um lauto jantar, servido no hotel Moreira, ao pessoal superior da Escola. Em Julho do mesmo ano a Carreira de Tiro passaria a estar ligada por telégrafo à secretaria da Escola Prática de Infantaria e Cavalaria (achando-se em vias de conclusão o posto-óptico montado no cume do Sonível), tendo os exercícios com armas principiado em Setembro. No dia 29 desse mês foram realizadas as primeiras experiências com novas armas e, no ano de 1889, efectuados ensaios com pólvora sem fumo, invenção do Capitão de Artilharia Francisco Xavier Correia Barreto. Durante o mês de Agosto começaria a ser construído, num terreno contíguo e paralelo à Carreira de Tiro, um troço de caminho de ferro do sistema Decauville. A Carreira de Tiro foi inúmeras vezes visitada por D. Carlos, acompanhado por D. Amélia (seis vezes, só no período compreendido entre Junho e Agosto de 1890), participando o monarca nas sessões de tiro e a rainha na distribuição dos prémios.

2. As instalações do Juncal, em parte coincidentes com o forte homónimo que integrou a 2ª das Linhas de Torres, constituíam uma autêntica fortificação de campanha, tendo permitido treinar os corpos expedicionários ultramarinos em condições muito semelhantes àquelas que os militares haviam de encontrar em África. 3. Uma grande cavalariça, para cuja edificação o rei D, Luís I cedeu à Escola, a título provisório, o picadeiro circular da Tapada, onde, outrora, haviam sido ensinados os poldros da extinta Coudelaria de Mafra e onde costumavam ficar, por ocasião das jornadas da família real, os cavalos do Estado.

A 17 de Abril de 1890, três anos após a sua criação, as Escolas de Infantaria e de Cavalaria foram separadas, continuando a primeira a funcionar em Mafra, sob a designação de Escola Prática de Infantaria.

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Escola de Tiro

(1888-1890)

Concomitantemente com esta funcionaram a Escola Complementar de Sargentos e a Escola de Sargentos de Cavalaria.

Escola Complementar de Sargentos (1888)

Teve vida efémera. Suceder-lhe-ia a Escola Central de

Sargentos, fundada pelo General José Estêvão de Morais Sarmento.

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Escola de Sargentos de Cavalaria / Escola Central de Sargentos

(1888-1926)

Fundada pelo General José Estêvão de Morais Sarmento. Na Introdução ao Decreto que criou a Escola Central de

Sargentos podem ler-se como objectivos dela: “actuar sobre o soldado, quer directamente, quer como agente

de transmissão, como uma espécie de repetidor do ensino dado pelo oficial; iniciar os recrutas nos múltiplos pormenores da vida do quartel e da guarnição; dar-lhe os primeiros elementos de educação e instrução militares; ser-lhe, sobretudo, exemplo vivo de firmeza de ânimo, de moralidades nos costumes, de virilidade no trabalho e de espírito de obediência”.

Uma sessão solene, realizada no dia 3 de Novembro de 1888,

inaugurou a Escola de Sargentos de Cavalaria, cujo Regulamento foi publicado em 11 de Julho do mesmo ano. Os 42 alunos inscritos, trajando grande uniforme, assistiram ao acto solene de abertura das

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aulas. Durante a cerimónia, os oradores endereçaram encómios ao ministro da guerra, Visconde de S. Januário, criador da nova escola, então considerada de crucial importância para a Arma de Cavalaria. As casas da antiga livraria do Convento foram utilizadas, como salas de aula.

Os exames do primeiro e segundo ano do curso, realizados, respectivamente, nos dias 21 e 28 de Maio de 1889, terminaram, com diversas reprovações.

Para ascenderem ao oficialato, segundo o Regulamento de 25 de Outubro de 1893, os sargentos tinham de adquirir as necessárias habilitações nas Escolas Centrais de Sargentos, que funcionavam junto das Escolas Práticas de Infantaria, de Artilharia e Cavalaria. A experiência, todavia, demonstrou a vantagem de se reunir, num só, os três citados estabelecimentos. E, assim, uma única escola para todas as armas, dependente de uma Escola Prática de Infantaria, havia de ser instituída em Mafra para o efeito.

Curso de Sargentos de Cavalaria (Fevereiro de 1870)

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Diversas modificações foram introduzidas no regulamento da Escola ao longo da sua existência, em especial, após a proclamação da República: fornecer aos alunos conhecimentos tanto quanto possível semelhantes aos dos oficiais que concluíam a Escola Militar, tal era o objectivo das reformas.

O curso, iniciado no dia 1 de Novembro de 1920, e dirigido pelo Capitão de Infantaria Paulo Tomé Mendes, foi orientado segundo um novo regulamento e programa. Doravante, para que fosse dis-pensada uma mais sólida instrução, as aulas passaram a ocupar dois anos.

Por influência do Conde de Águeda, a Escola Central de Sargentos deixou a vila de Mafra, sendo transferida, por determinação do Ministro da Guerra, Coronel Abílio Valdês de Passos e Sousa, para a terra da denominação honorífica daquele titular, no dia 1 de Dezembro de 1926.

Regimento 2 de Caçadores da Rainha (Abr.-Nov. 1888)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

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Regimento de Caçadores 6

(Mai. 1888; 1889; 1991; Ago. – Out. 1896; Fev. 1897)

Destacamento aquartelado transitoriamente em Mafra, conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

Nos dias 26 e 27 de Junho de 1891, D. Carlos deslocou-se a Mafra para assistir à sessão dos trabalhos finais das classes de ginástica e esgrima. Aguardavam-no, em uniforme de gala, no claustro norte do Convento, os oficiais do Quadro Eventual e Permanente, o Delegado do Procurador Régio da comarca, Administrador do Concelho, o pároco, professores da Escola Real, Almoxarife das reais propriedades, a Fanfarra Mafrense e uma guarda de honra de Caçadores 6. Além das exibições de ginástica e esgrima, realizam-se também exercícios em bicicletas. Antes de se retirar, o Rei oferece a importância de 10 libras para melhoramento do rancho dos militares.

Regimento de Caçadores 1 (1889)

Um batalhão de Infantaria desta Unidade chegou a Mafra, em

28 e 29 de Abril de 1889, para o exercício da Primavera, na Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, o qual foi realizado em conjunto com outros contingentes dos Regimentos de Caçadores 2, 3, 4, 6 e 8. A maior parte desta força conjunta, ultrapassando os 900 soldados, desfilou pela vila de Mafra, tendo sido recebida com foguetes e ao som da Filarmónica Mafrense.

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Regimento de Caçadores 2

(1889)

Um batalhão de Infantaria desta Unidade chegou a Mafra, em 28 e 29 de Abril de 1889, para o exercício da Primavera, na Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, o qual foi realizado em conjunto com outros contingentes dos Regimentos de Caçadores 1, 3, 4, 6 e 8. A maior parte desta força conjunta, ultrapassando os 900 soldados, desfilou pela vila de Mafra, tendo sido recebida com foguetes e ao som da Filarmónica Mafrense.

Regimento de Caçadores 3 (1889)

Um batalhão de Infantaria desta Unidade chegou a Mafra, em

28 e 29 de Abril de 1889, para o exercício da Primavera, na Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, o qual foi realizado em conjunto com outros contingentes dos Regimentos de Caçadores 1, 2, 4, 6 e 8. A maior parte desta força conjunta, ultrapassando os 900 soldados, desfilou pela vila de Mafra, tendo sido recebida com foguetes e ao som da Filarmónica Mafrense.

Regimento de Caçadores 4 (1889)

Um batalhão de Infantaria desta Unidade chegou a Mafra, em 28 e 29 de Abril de 1889, para o exercício da Primavera, na Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, o qual foi realizado em conjunto com outros contingentes dos Regimentos de Caçadores 1, 2, 3, 6 e 8. A maior parte desta força conjunta, ultrapassando os 900 soldados, desfilou pela vila de Mafra, tendo sido recebida com foguetes e ao som da Filarmónica Mafrense.

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Regimento de Caçadores 8 (1889)

Um batalhão de Infantaria desta Unidade chegou a Mafra, em

28 e 29 de Abril de 1889, para o exercício da Primavera, na Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, o qual foi realizado em conjunto com outros contingentes dos Regimentos de Caçadores 1, 2, 3, 4 e 6. A maior parte desta força conjunta, ultrapassando os 900 soldados, desfilou pela vila de Mafra, tendo sido recebida com foguetes e ao som da Filarmónica Mafrense.

Regimento 1 de Infantaria da Rainha (1890)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

No dia 12 de Agosto de 1890, D. Carlos chegou a Mafra, pelas nove e meia da manhã, acompanhado pelos oficiais da sua casa militar, o Conde de Tarouca e o Major Serpa Pinto. Aguardavam-no os oficiais da Escola Prática e do Regimento 1 de Infantaria da Rainha, guarda de honra deste corpo, e respectiva banda musical. D. Carlos partiu de imediato para a Real Tapada, onde assistiu a uma sessão de tiro.

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Regimento 5 de Caçadores del-Rei

(Jul. 1890-1891)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra, conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

Quando da recepção de D. Carlos e D. Amélia, a Mafra, a 22 de Janeiro e 21 de Novembro de 1891, os monarcas foram aguardados à porta do Real Palácio por uma guarda de honra de Caçadores 5, com a respectiva banda e todos os oficiais da Escola Prática de Infantaria.

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Escola Prática de Infantaria (1890-1911)

Criada por Decreto de 17 de Abril e Ordem do Exército, n. 16

(26 de Abril de 1890, p. 199). A 24 do mesmo mês era publicado o Regulamento inicial da Escola Prática de Infantaria, o qual visava, em complemento ao estipulado pela Regulamentação de 1887, completar a instrução prática dos Oficiais saídos da Escola do Exército.

Decreto de 17 de Abril de 1890

[São objectivos da Escola Prática de Infantaria] a) Aperfeiçoar e desenvolver na arma de Infantaria, a instrução de tiro, ginástica e esgrima; b) Habilitar oficiais, oficiais inferiores e mais praças, na prática de todos os outros ramos de instrução e serviço de arma;

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c) Completar a instrução prática dos alunos do curso de Infantaria da escola do Exército; d) Conhecer e experimentar as principais armas de fogo portáteis, adoptadas ou propostas nos diferentes países; e) Ensaiar todos os melhoramentos relativos a qualquer especialidade de serviço ou instrução de infantaria cujo exame lhe for determinado; f) Propor superiormente quanto julgue conveniente para o desenvolvimento da arma. Artigo terceiro: A escola estará sob as ordens imediatas da inspecção-geral de infantaria, que elaborará e submeterá à aprovação do ministério da guerra os regulamentos definitivos necessários para o seu serviço. O Presidente do Conselho de Ministros, Ministros e Secretário de Estado dos Negócios do Reino, encarregado interinamente dos da guerra, assim o tenha entendido e faça executar. Paço em dezassete de Abril de mil oitocentos e noventa.

A primeira Ordem de Serviço da Escola Prática de Infantaria,

de que era Comandante o Coronel Joaquim Herculano Rodrigues Galhardo, foi emitida em 29 de Abril de 1890. A Sala Elíptica começou a ser utilizada como sala de reunião de oficiais no dia 1 de Janeiro de 1891. A instrução ministrada na Escola Prática de Infantaria ficou regulamentada por Portaria de 9 de Março do mesmo ano.

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Livro de Honra da Escola Prática de Infantaria

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Messe de oficiais instalada na Capela dos Sete Altares, actualmente Biblioteca da Escola das Armas

CAPELA DOS SETE ALTARES

Capela da Casa foi designação alternativa para a Capela dos Sete Altares. Assevera Frei Cláudio da Conceição (Gabinete Histórico, v. 8, 1820, p. 402-403) que “[…] havia nesta capela sete altares adornados com seus docéis com uma perfeita sacristia, bem provida de todos os paramentos necessários”. Acrescenta que possuía dois “nobres coretos com balaústres brancos que correspondem ao 2º e 3º *Dormitório, donde os religiosos vão a toda a hora fazer a sua acção e rezar as suas devoções para que o retiro do lugar os convida”. A tela Sagrada Família [6,92 x 3,17 m] de Vieira Lusitano [subsc.: Fr. V. Lusitanus academicus Rom inv or faciebat 1730], pintada para a capela homónima da Basílica e preterida pela de Masucci, ficaria exposta na Capela dos Sete Altares.

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1898

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Ofício da Escola Prática de Infantaria, remetido ao Administrador do Concelho, em 22 de Janeiro de 1906 prevenindo-o do início da Instrução de

Tiro na Carreira de Tiro da Tapada Militar, “sendo o sinal de prevenção adoptado uma bandeira encarnada no mastro do espaldão da mesma

Carreira”.

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Escreve Guilherme Assunção: “Com a duração de três meses -

de 1 de Agosto a 31 de Outubro -, haveria um único período de instrução para a secção de tiro, ao qual deviam concorrer: os aspirantes a oficial e os alferes que tivessem concluído o curso de infantaria no ano lectivo anterior; os capitães de infantaria mais antigos na escala de acesso nomeados pelo Ministério da Guerra E. os que, tendo sido promovidos a major até 1 de Outubro, não tivessem prestado as provas teóricas e práticas a que se referia o artigo 11.º do regulamento; a companhia de guerra, comandada pelo capitão adjunto, director da carreira de tiro, com o seguinte efectivo: 1 pri-meiro-sargento, 9 segundos-sargentos, 31 cabos, 124 soldados e 4 cor-neteiros, num total de 173 homens. Na secção de ginástica e esgrima, a instrução, também (reduzida a um só período (com a duração de seis meses e dividido em duas partes - uma em cada ano), ocuparia os oficiais e oficiais inferiores somente até ao fim do mês de Julho. Os trabalhos de topografia, fotografia e telegrafia continuariam a ser executados até aos fins de Outubro. António Domingues Pinto Martins foi o iniciador da instrução de, ginástica e esgrima na Escola Prática de Infantaria. Não lhe sendo possível, porém, continuar nesta tarefa, entregou a direcção do ensino ao seu ajudante Pedro de Oliveira, que foi, depois, um estimado professor”.

Em 1891, D. Carlos assiste a exercícios de ginástica e esgrima, bem como com bicicletas, tendo, antes de retirar de Mafra, entregue 10 libras destinadas ao melhoramento do rancho das praças. Em Outubro do mesmo ano seriam testados equipamentos e calçado para a tropa, manufacturados pelo Arsenal do Exército.

D. Carlos regressaria a Mafra a 18 de Dezembro para assistir às provas finais de aperfeiçoamento de esgrima, que se realizaram na Sala Elíptica.

No dia 4 de Agosto de 1892, teve lugar uma das primeiras marchas de resistência de que há memória em Mafra: um destacamento, comandado por um capitão e por um alferes e constituída por aspirantes, sargentos e cabos, entrando pela porta principal da Tapada, seguiu pelo caminho do Meio, Chafariz Novo, Barracão, saindo pela porta da Murgeira, de onde regressou ao quartel.

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Classe de Esgrima: António Domingues Pinto Martins foi o iniciador da instrução de ginástica e esgrima na EPI. Tal instrução teve como continuador o ajudante Pedro de Oliveira, professor muito estimado.

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Classe de Esgrima na Sala Elíptica

Subscrito pelo General Luís Augusto Pimentel Pinto, seria

publicado, a 25 de Outubro de 1893, novo regulamento da Escola Prática de Infantaria, por intermédio do qual ficou estabelecido o quadro orgânico e definida a missão no que respeitava à instrução da Arma.

Por regulamentação de 1902, seriam definidos os princípios estruturais expressos no antecedente, iniciando-se os cursos de Promoção a Oficial Superior, passando a funcionar na EPI a Escola Central de Sargentos. A Escola estava preparada para acolher um elevado número de soldados.

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Visita de D. Manuel II (Ilustração Portuguesa 6 Set. 1909)

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Mouzinho de Albuquerque, que prestou serviço na Escola Prática de Infantaria, realizou em Janeiro e Fevereiro de 1895, com o seu esquadrão de cerca de 120 homens, uma marcha desde o Alentejo até Mafra, onde chegou a 3 de Fevereiro. A população da vila acorreu a saudar a força militar, ficando o largo do Real Edifício apinhado de populares, ao som da Filarmónica de Mafra e da Fanfarra de Mafra. Mouzinho permaneceu aquartelado em Mafra durante cerca de 2 meses, fazendo o tirocínio na Tapada. Seria com essa força que combateria em Chaimite (Moçambique).

Neste período foram inúmeras as forças expedicionárias destinadas a África que previamente passaram por Mafra para instru-ção e treino. Em Janeiro de 1906 chegaram a Mafra 700 praças de infantaria destinadas a uma expedição ao Sul de Angola. A população de Mafra quis saudar estes militares, tendo uma comissão, constituída por Joaquim Moreira, Abílio Simões, Júlio César, Taveira Pinto e Batista Júnior, promovido calorosa recepção aos expedicionários.

Em Janeiro de 1911, realizou-se na Escola uma grande cerimónia militar, a primeira depois da queda da monarquia. Tinha-se concluído a instrução dos contingentes destinados à guarnição militar de Lisboa e nada melhor que efectuar uma grande demonstração pública da capacidade técnica de tais forças. Presentes, o Ministro da Guerra, o Governador Civil de Lisboa, Chefe de Estado-Maior do Exército e outras entidades. Nesse mesmo dia o Ministro das Finanças, José Relvas, havia de visitar a Basílica e o Convento manifestando a intenção de transformar o edifício em Museu Nacional prometendo também a construção de uma via-férrea de via reduzida para a estação de caminho de ferro de Mafra. Após as demonstrações desportivas que tiveram lugar na mata dos eucaliptos, os soldados cantaram a Maria da Fonte e entoaram a Portuguesa.

A partir deste ano, a Escola passaria a designar-se Escola de Tiro da Infantaria, dedicando-se especialmente à instrução de tiro, evidenciando desse modo a evolução verificada no Exército, em virtude da qual passou a ser atribuída menor importância à instrução táctica dos quadros.

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Comandantes da Escola Prática de Infantaria

Coronel Joaquim Herculano Galhardo (17.4.1890 a 10.3.1893) Coronel João Maria Magalhães (10.3.1893 a 1.9.1894) Coronel José Augusto da Costa Monteiro (8.9.1894 a 4.3.1895) Coronel José Estêvão de Morais Sarmento (4.3.1895 a 8.4.1896) Coronel Venceslau José de Sousa Teles (12.9.1896 a 3.7.1900) Coronel Emílio Henrique Xavier Nogueira (8.7.1900 a 15.7.1900) Coronel" Francisco Rodrigues da Silva (19.7.1900 a 21.9.1902) Coronel António Caetano Ribeiro Viana (17.1.1904 a 18.8.1904) Coronel Pedro Celestino da Costa (25.9.1904 a 9.8.1908) Coronel Francisco Maria Pinto da Rocha (14.8.1908 a 30.6.1914)

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Regimento de Cavalaria 2 – Lanceiros de El-Rei

(Jul. 1896)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra, conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

Regimento 4 de Cavalaria do Imperador da Alemanha Guilherme II

(Ago. Set. 1896)

Destacamento aquartelado transitoriamente em Mafra, conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

Regimento 8 de Cavalaria do Príncipe Real (Ago. 1900)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra.

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Depósito de Remonta do Exército (1908)

A administração da Tapada de Fora fica a cargo do Depósito da

Remonta. Todavia, nada se colhe, documentalmente, a seu respeito, salvo uma simples alusão no Decreto-Lei de 19 de Agosto de 1911 que criou o Depósito de Remonta e de Garanhões. Visava o aprovisionamento de solípedes para todo o Exército.

O Lagar da Tapada encontrava-se em pleno funcionamento em meados do ano de 1894

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O LAGAR DE AZEITE DA TAPADA

No ano de 1894, existiam dezasseis lagares de azeite no Concelho de

Mafra: três na freguesia de Mafra; um no Sobral da Abelheira; dois no Gradil; um na Enxara, cinco no Milharado, um na Igreja Nova; dois em Cheleiros. Com excepção do da então Real Tapada, com apenas duas mós, todos os restantes tinham um só moinho, com quatro mós cada um. Os da Igreja Nova e Cheleiros eram movidos a água, os outros a tracção animal (boi, macho ou cavalo).

Cada moedura compreendia 20 fangas ou 80 alqueires de cogulo ou 1200 litros, aproximadamente, sendo de 4,5 litros por fanga ou de 90 litros por cada moedura de 20 fangas a funda normal da azeitona. No lagar da Tapada (instalado no terceiro trimestre de 1894 e inaugurado em 1896) a azeitona era submetida a uma moendra e um escaldão, num dos do Gradil empregavam-se duas moendras.

Actualmente, apenas subsiste em óptimo estado de conservação o da Tapada de Mafra, no Depósito de Remonta do Exército, cuja descrição segue com base num inquérito de finais do século XIX, coevo da sua instalação:

"À direita da porta principal e ao lado direito, fica uma espaçosa área

betomilhada, com tulhas para receber a azeitona; à esquerda a fábrica, de pavimento também betomilhado, com quatro prensas de parafuso, uma hidráulica com a competente bomba, fogão e caldeira e moinho com duas mós de granito vulcânico. Contígua a esta casa, fica a do movimento, onde trabalha o animal e, mais ao fundo, já fora do edifício, o Inferno, isto é, um grande telheiro, cobrindo quatro tanques destinados a receber a água-russa ou vegetativa e portanto todo o azeite que com ela se escapar das oficinas. Numa outra casa ao lado da fábrica, é que se faz o depósito do azeite. Além das máquinas já descritas, há ainda ali uma bomba de trasfega e muitos utensílios como: um guincho, uma balança para pesar de meio quilograma a 1000 Kg, filtro, talhas, medidas, etc. Por cima da casa da fabricação do azeite há um espaçoso sotão para arrecadação de ceiras e a um canto dele o quarto para dois lagareiros. Calcula-se que este lagar produza 400 litros de azeite por dia".

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1912, 1918 e 1922

Escola de Tiro de Infantaria (1911-1925)

Herdeira da Escola Prática de Infantaria (1890-1911), criada

em 1911 (Decreto de 25 de Maio de 1911 e Ordem do Exército, n. 11, de 26 de Maio, p. 622).

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Dr. Carlos Galrão é chamado à Escola de Tiro de Infantaria “para servir de perito num exame de sanidade” (17 Nov. 1920)

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Programas das Celebrações da Festa de Mi-Carême (1932 e 1933)

A 20 de Junho 1924, por despacho ministerial, o Jardim do

Cerco ser-lhe-ia cedido. O respectivo auto de entrega, concretizado no dia 30 de Junho, foi assinado pelo Administrador do Palácio Nacional e pelo Comandante da Unidade, o qual ficava obrigado: 1. Permitir o acesso ao jardim durante o dia, a todos os visitantes; 2. Proceder à reparação de todos os arruamentos e limpezas indispensáveis; 3. Ajardinar de novo a parte que antigamente estava ajardinada; 4. Obstar ao corte de árvores, limitando-se à sua limpeza e às podas necessárias; 5. Impedir, por uma activa fiscalização e vigilância, a prática de latrocínios e vandalismos; 6. Realizar, no recinto do jardim, sempre que possível, festas desportivas ou quaisquer outras destinadas a instituições de beneficência (O Liberal, 6 e 13 Jul.).

No ano de 1925, passaria a designar-se Escola de Aplicação de Infantaria. Quatro meses depois do movimento militar de 28 de Maio,

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em 17 de Setembro de 1926, seria remodelada e reapareceria com a designação de Escola Prática de Infantaria.

Comandantes da Escola de Tiro de Infantaria Coronel Leopoldo Gomes da Silva (10.7.1914 a 27.6.1915) Coronel Luís Augusto Nunes (11.7.1915 a 1.3.1918) Coronel José Ernesto Sampaio (17.3.1918 a 3.4.1919) Coronel José de Oliveira Gomes (1.10.1919 a 4.12.1926)

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Ilustração Portuguesa (30 Jan. 1911)

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1915 Outubro – Exercícios da Escola de Tiro de Infantaria em Mafra (Ilustração Portuguesa, 8 Nov. 1915).

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Jogo de Futebol realizado na Carreira de Tiro, em 4 de Julho de 1915 Defrontaram-se o Mafra Foot-Ball Club e o Estefânia Foot-Ball Club de

Sintra, tendo o resultado sido favorável ao Mafra por 3-2.

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Depósito de Remonta e de Garanhões (1911-1931)

Criado após o advento da República, em consequência da

reestruturação do Serviço de Remonta do Exército, por Decretos-Lei de 25 de Maio de 1911 e de 19 de Agosto de 1911 e pelas Ordens do Exército, n. 11 (26 de Maio de 1911, p. 616), n. 12 (27 de Maio de 1911, p. 855), n. 18 (24 de Agosto de 1911, p. 1265).

No Decreto de 25 de Maio de 1911 pode ler-se: "Foi transferida do Ministério das Finanças para o da Guerra a

administração de todas as propriedades que constituem a Tapada ou tapadas do extinto convento de Mafra e respectivas dependências. Em 30 de Julho do corrente ano foi lavrado o auto de entrega ao Ministério da Guerra pelo Ministério das Finanças das referidas tapadas e respectivas dependências".

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Ofício do Comandante do Depósito de Remonta e Garanhões, solicitando o encerramento temporário das tabernas da vila de Mafra (26 Maio 1924)

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7 Set. 1924

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Mediante Ordem do Exército foi então nomeada a comissão administrativa, constituída pelo Capitão de Cavalaria Álvaro Poppe, como Presidente e tenentes de Cavalaria, Viriato Sertório dos Santos Lobo, e Henrique de Castro Constâncio, como vogais. Estes oficiais manter-se-iam em serviço no Depósito de Remonta pelo menos até protagonizarem um episódio, ocorrido em Outubro de 1914, que a história local crismou com a designação de Revolta da Água-Pé. Durante a sua vigência, o Depósito regeu-se pelo Regulamento Interno, em anexo.

Regulamento Interno do Depósito de Remonta e de Garanhões em Mafra

Artigo 1º O Depósito de Remonta e de Garanhões em Mafra tem por fim a recriação dos poldros e seu desbaste, a preparação e apuramento de garanhões e seu trabalho. Art. 2º É constituído por quatro secções: 1ª Garanhões; 2ª Potris; 3ª Exploração agrícola e industrial; 4ª Serviços gerais. Art. 3º A primeira secção é constituída pelos cavalos garanhões, nacionais ou estrangeiros, adquiridos pela Secretaria da Guerra, e pelos provenientes das coudelarias, e aprovados pela Comissão Técnica de Remonta, para aquele fim. Art. 4º A segunda secção é constituída, pelos poldros adquiridos pelas comissões permanentes de remonta e destinados a este Depósito para recriação e desbaste. Art. 5º A terceira secção é constituída por toda a exploração agrícola e industrial da Tapada de Mafra, tendo por fim especial tornar menos dispendioso para o Estado o custeio do Depósito, fornecer ao mesmo Depósito todos os produtos necessários para a, boa recriação e alimentação de poldros e garanhões, e ainda com o seu rendimento cuidar da manutenção da Tapada. Art. 6º A quarta secção é composta por todos os restantes serviços, como sejam oficinas, serviços de tracção e enfermarias.

CAPÍTULO I Pessoal superior

Art. 7° O pessoal superior do Depósito é composto: 1º O comandante, oficial superior ou capitão de cavalaria; 2° Segundo comandante, um capitão ou tenente de cavalaria; 3° Três tenentes de cavalaria;

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4° Um capitão ou tenente do corpo de veterinários; 5° Um subalterno do corpo de administração militar. § 1º Os oficiais de cavalaria terão o curso da arma. § 2º Poderão excepcionalmente ser chamados a prestar serviço mais tenentes de cavalaria.

Atribuições do pessoal superior Art. 8° Além de todas as atribuições expressas no Regulamento Geral do Serviço do Exército compete ao comandante : 1º Alterar; segundo julgar conveniente, o pessoal do Depósito; 2º Requisitar, com proposta fundamentada, à Comissão Técnica de Remonta, os subalternos que julgue necessários para a melhor execução dos trabalhos; 3º o Encarregar o segundo comandante e os subalternos dos vários trabalhos a executar; 4º Dirigir e orientar os trabalhos. § único. Quando por circunstâncias extraordinárias tenha de alterar temporariamente alguma das disposições vigentes, ou deliberar sobre hipótese não prevista, dará conhecimento pormenorizado à Comissão Técnica de Remonta. Art. 9º Ao segundo comandante compete, além de todas as atribuições que pelo Regulamento Geral do Serviço do Exército pertence, nos regimentos, ao tenente-coronel e major, mais o seguinte: 1º Dirigir directamente os trabalhos dos poldros ou dos garanhões; 2º Superintender nos trabalhos agrícolas, oficinas e mais serviços das 3ª e 4ª secções; 3º Vigiar todos os serviços e trabalhos do Depósito, e conservação do material de guerra, mobiliário e utensílios existentes no mesmo; 4º Vigiar o trato, alimentação e higiene dos solípedes. Art. 10º Ao oficial encarregado do trabalho dos garanhões compete, em especial, dar aos garanhões o trabalho regulamentar e: 1º Preparar os cavalos destinados a garanhões para prestarem as provas que o regulamento determina; 2º Apresentar ao segundo comandante qualquer queixa, alteração ou ocorrência que se dê na sua secção; 3º Zelar pela limpeza e tratamento dos garanhões, cavalariça e arrecadação e pelo material que tenha a seu cargo, pelo qual é directamente responsável; 4º Propor modificações no que diz respeito à alimentação e higiene dos solípedes; 5º Propor ao segundo comandante as horas de tratamento, ração e água aos garanhões; 6° Dirigir o lançamento dos garanhões no posto de cobrição existente no Depósito;

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7º Informar quais os cavalos que estão em condições de começar ou terminar as suas funções de garanhões; 8º Distribuir os cavalos pelos respectivos tratadores; 9º Propor ao segundo comandante a admissão de tratadores, recompensas e castigos do pessoal do quadro eventual; - 10º Assistir à revista veterinária; 11º Ter à sua responsabilidade a escrituração e registo dos garanhões, que consiste no preenchimento do Registo de Garanhões (modelo C) e na colecção das folhas de matrícula. Art. 11º Ao oficial encarregado dos potris compete: 1º Dirigir todo o serviço de potris, sendo imediatamente responsável para com o comandante por qualquer falta; 2º Propor ao segundo comandante a admissão, recompensas e castigos do pessoal sob as suas ordens; 3º Propor ao segundo comandante os regimes dos cavalos; 4º Assistir e dirigir todo o desbaste e instrução dos poldros; 5º Receber todos os poldros destinados aos potris e juntamente com o veterinário proceder à verificação do resenho; 6° Submeter estes poldros a rigoroso isolamento, que ficará ao cuidado do veterinário, durante o período mínimo de um mês a fim de evitar a propagação de doenças infecciosas; 7º Dirigir toda a escrituração dos poldros; 8º Seleccionar estes, dando maior atenção e cuidados a todos aqueles que possam ser aproveitados para praças ou montadas de oficiais. Estes poldros serão recolhidos e abonados de ração normal; 9º Providenciar para a boa utilização das pastagens; 10º Ter à sua responsabilidade a carga distribuída aos potris. § único. O encarregado dos potris usará da sua iniciativa para o melhor e mais cabal desempenho de todo o serviço e para a melhor resolução dos pequenos e inúmeros problemas que existam no cumprimento das suas atribuições. Art. 12º Ao subalterno que não esteja directamente encarregado dos potris ou do trabalho dos garanhões compete: 1º Ter a seu cargo todo o material do picadeiro, conservação do mesmo e do existente na arrecadação, para o que tem sob as suas ordens directas o quarteleiro do picadeiro; 2º Dirigir directamente ou auxiliar os trabalhos ou serviços de que for encarregado. Art. 13º O veterinário, além dos deveres que por este e outros regulamentos lhe competem, tem dentro do Depósito as seguintes atribuições: 1º Ter a seu cargo o serviço médico veterinário dos cavalos e mais gado do Depósito, assim como as enfermarias e oficina siderotécnica; 2º Instruir os ferradores e aprendizes;

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3º Inspeccionar diariamente no Depósito e suas dependências e extraordinariamente, quando for chamado pelos oficiais, todos os solípedes e verificar todos os serviços de ferração; 4º Comparecer às revistas às cavalariças e aos solípedes, propondo ao segundo comandante as modificações indispensáveis à boa higiene; 5º Examinar as forragens recebidas e formular por escrito a sua opinião, no caso do deverem ser rejeitadas; 6º Formular por escrito em harmonia com os recursos do estabelecimento qualquer alteração na composição das rações; 7º Comparecer a todas as reuniões de oficiais, quando lhe for determinado pelo comandante. Art. 14º Ao oficial da administração militar compete o que está determinado nos respectivos regulamentos para os oficiais da administração militar nos corpos.

CAPÍTULO II Pessoal menor

Art. 15° O pessoal menor do Depósito de Remonta e de Garanhões em Mafra é o que consta da tabela anexa a este regulamento. Atribuições do pessoal independente das secções Art. 16° Escriturário: Deveres dos escriturários: 1º Estar no escritório às horas marcadas pelo comandante; 2º Fazer a escrituração que lhe for determinada. Art. 17° Encarregado de vendas: 1º Estar no local das vendas às horas marcadas; 2º Fazer a escrituração dos vales de vendas; 3º Levar à assinatura do segundo comandante todos os talões de saída; 4º Auxiliar os escriturários no que lho for determinado. Art. 18 ° Fiscal : 1º Ter a seu cargo especialmente tudo quo diz respeito às rações dos solípedes; 2º Ser o responsável directo por todo o mobiliário e material existente no depósito; 3º Ter a seu cargo a escrituração das folhas de pagamento do pessoal, de quem será o chefe. Art. 19° Chefe das cavalariças: Compete ao chefe das cavalariças, alérn de vigiar todas as cavalariças do Depósito, mais: 1º Vigiar e dar conhecimento de todos os factos anormais ocorridos dentro das cavalariças do Depósito; 2º Ter a seu cargo especial a cavalariça dos garanhões; 3º Assistir a todos os serviços e trabalhos do Depósito;

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4º Encarregar-se do posto de cobrição. Art. 20º Quarteleiro: 1° Ser o responsável pela limpeza e conservação do todo o material que existe na arrecadação; 2ºTer em dia a relação do material distribuído e do existente na arrecadação. 21° Quarteleiro do picadeiro: Compete-lhe a limpeza e conservação do picadeiro, seu material, conservação do campo e pista de obstáculos e de galope. Art. 22º Os restantes empregados terão todos os deveres gerais e da sua especialidade, que serão indicados em instruções especiais.

CAPÍTULO III SECÇÃO I

Garanhões Art. 23º O pessoal dos garanhões é dividido em pessoal permanente e pessoal eventual. O pessoal permanente compõe-se de: 1º Um moço de cavalariça; 2º Quatro ajudantes do moço de cavalariça; 3º Trinta tratadores; 4º Um carroceiro. Art. 24º O pessoal eventual será o que pelo comandante for julgado necessário para os trabalhos do Depósito. § único. Os tratadores, tanto do quadro efectivo, como do eventual, serão escolhidos entre rapazes de 14 a 25 anos e que demonstrem habilidade especial para o serviço a que são destinados e, na falta destes, por reservistas ou soldados de armas montadas, preferindo-se de cavalaria.

Atribuições do pessoal Art. 25º Compete ao moço de cavalariça: 1º A limpeza de toda a cavalariça e tratar das camas dos solípedes; 2º Ter a seu cargo todo o serviço próprio do seu mester. Art. 26º Compete aos ajudantes do moço de cavalariça ajudar em todo o serviço o moço de cavalariça. Art. 27º Compete aos ferradores: 1º A ferração de todos os solípedes existentes e todos os trabalhos de forja para esse fim; 2º Passar, duas vezes por semana, revista a todos os solípedes. Art. 28º Compete ao aprendiz de ferrador auxiliar em todo o serviço o ferrador. Art. 29º Compete aos tratadores: 1º Limpeza e trato do, gado que lhe for distribuído; 2º Trabalho dos garanhões e poldros;

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3º Guardas de cavalariça; 4º Diligências; 5º Todos os trabalhos que lhe forem superiormente determinados e que se relacionem com o serviço; 6º Saída com os garanhões para as cobrições.

CAPÍTULO IV SECÇÃO II

Potris Pessoal permanente e suas atribuições

Art. 30º O pessoal permanente dos potris é o seguinte: a) Um encarregado, chefe do potril, em cada potril; b) Dez tratadores no potril nº 1; c) Quatro tratadores no potril nº 2. § único. Todo o serviço de potris estará a cargo dum dos oficiais do Depósito, nomeado pelo comandante. No começo do desbaste, e quando for necessário e por proposta do respectivo oficial, nomeará o comandante um outro oficial a fim de o coadjuvar naquele serviço. Art. 31° Cumpre ao chefe do potril: 1° Dirigir e tomar parte em todo o serviço de limpeza, tanto. de alojamentos, como de gado, sendo directamente responsável por qualquer falta para com o oficial; 2º Escalar todo o serviço do pessoal e vigiar o cumprimento dos deveres do mesmo; 3º Providenciar para que exista o máximo asseio em todas as dependências do potril; 4º Fazer a distribuição da ração, segundo as indicações do oficial e assistir à data de água; 5º Informar o oficial de todas as ocorrências; 6º Proceder todos os sábados ao corte de crinas e providenciar para que nos dias marcados o ferrador proceda à reabertura dos números dos cavalos; 7º Ser o responsável para com o oficial pelo extravio de qualquer artigo do potril e que não esteja distribuído a qualquer tratador. Art. 32º Cumpre aos tratadores do potril: 1º Todos os deveres gerais de qualquer tratador do Depósito; 2º Fazer a limpeza dos cavalos recolhidos (até 3 por cada tratador); 3º Ter a maior vigilância no serviço de condução dos cavalos às pastagens, sendo-lhes expressamente proibido, por qualquer motivo, abandonar as manadas; 4º Executar todo o serviço que lhe for determinado pelo chefe do potril; 5º São absolutamente responsáveis por todos os artigos que lhe forem distribuídos.

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Art. 33º O pessoal será recrutado atendendo às seguintes condições: § 1º Os chefes de potril são indivíduos com mais de vinte e cinco anos e obedecendo a todas as condições de robustez. São condições de preferência: 1ª Ter sido praça de cavalaria, de preferência graduada, com bom comportamento; 2ª Ter bom comportamento civil; 3ª Ter prática do serviço em coudelaria, com boas informações. § 2º Os tratadores serão recrutados entre a classe civil desde a idade de dez anos até a de dezanove e que possuam os seguintes predicados: 1º Bom comportamento civil; 2º Prática de serviço em coudelaria, com boas informações; 3º Prática de montar e de guardar gado. § 3º No potril nº 1 haverá dois tratadores de idade entre dezasseis e dezanove anos, destinados a serviços mais violentos; no potril nº 2 haverá um nestas condições.

Disposições gerais

Art. 34º Haverá dois potris destinados às duas categorias de poldros: o nº 1 é destinado a todos os poldros que cheguem ao Depósito com três anos completos e aos que tiverem atingido essa idade no potril nº 2; o nº 2 recebe todos os poldros de dois anos de idade que ali se conservam até perfazerem três anos. § único. Exceptuam-se os poldros vindos da Coudelaria Militar de Alter, que ficarão a cargo do oficial encarregado da 1ª secção. Art. 35º No potril nº 1 haverá um regime de meia estabulação, sempre que o tempo o permita e proceder-se á ao desbaste dos cavalos. Art. 36º No potril nº 2 observar-se-á, em regra, o regime de meia estabulação. § único. É expressamente proibido exigir qualquer trabalho destes cavalos, procedendo-se contudo desde a sua entrada no Depósito a um ligeiro desbaste que tem unicamente por fim facilitar o tratamento e futuro desbaste.

Serviço dos potris

Art. 37º O horário do serviço será formulado pelo segundo comandante do Depósito. Art. 38º Todo o serviço de escala considera-se rendido à hora do almoço. Art. 39º A limpeza de cavalariças e de cavalos deverá assistir e tomar parte o chefe do potril; na limpeza dos alojamentos tomam parte os empregados que ai pernoitem, sendo o mais antigo o responsável pelo cumprimento das ordens.

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Art. 40º É obrigatória a permanência no potril a todo o pessoal desde o começo do serviço até a distribuição da última ração. Art. 41º Todos os sábados se procederá ao corte de crinas e o ferrador avivará a marcação dos cavalos: no potril nº 1 nos princípios das quinzenas e no nº 2 no fim das mesmas. A marcação é aberta à tesoura no lado esquerdo da garupa. Art. 42º O serviço de escala compreende o serviço de guardas de cavalariça e o de manadas. A todos os outros serviços comparece todo o pessoal, à excepção do que ficou indicado no artigo 39º. O numero de tratadores a empregar nestes serviços diários será o indicado pelo oficial dos potris. Art. 43º As nomeações de serviço obedecerão aos preceitos indicados para todos os tratadores do Depósito. Art. 44º O tratador ou tratadores nomeados para guardas de cavalariça, são inseparáveis dela e compete-lhes: a) Cuidar da limpeza da cavalariça, varrendo-a as vezes que for preciso; b) Vigiar pela boa conservação das camas, limpando-as sempre que for necessário; c) Comunicar ao oficial ou chefe do potril, na ausência daquele, quaisquer sinais de doença que observe em algum cavalo ou de qualquer outro acontecimento sobre que deva providenciar-se imediatamente; d) Vigiar pela iluminação da cavalariça, conforme for determinado; e) Cumprir todas as determinações especiais que lhe forem dadas. Art. 45º O oficial dos potris deve passar amiudadas vezes revistas a fardamentos e arreios, a fim de se certificar da sua conservação e tratamento. Art. 46º Haverá diariamente revista veterinária, devendo a apresentação dos animais doentes ser feita pelo chefe do potril. Art. 47º Imediatamente à saída dos poldros que completarem quatro anos, proceder-se-á a uma limpeza geral e desinfecção das cavalariças e reparações necessárias.

Instrução dos poldros

Art. 48º Os poldros de três anos devem ser trabalhados diariamente sempre que as circunstâncias o permitam, de preferência ao ar livre, e sempre sob a direcção do oficial. § único. O desbaste deve ser sempre individual. Art. 49º A instrução tem por fim: a) Obter o maior grau de domesticidade de maneira a permitir toda e qualquer espécie de tratamento ; b) Que todos os poldros se deixem aparelhar e montar sem auxílio; c) A ginástica do poldro na prática dos três andament0s, tendo como base o equilíbrio horizontal;

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d) Marchas directas e ligeiras mudanças de direcção, tendentes a incutir no poldro a noção de obediência ao cavaleiro. § único. Os poldros destinados a serem futuras montadas ou praças de oficial terão uma instrução mais aperfeiçoada, sempre que possível individual, desenvolvendo-os em marcha por estrada ou campo, evitando sempre esforços e dando-se-Ihes uma instrução de saltos que nunca irão além de 80 cm x 1 m. Art. 50º Os poldros trabalharão sempre de bridão com gamarra. § único. O oficial tem a iniciativa de poder, dentro destas normas, alterar a instrução, procurando obter um grau mais perfeito, mas tendo sempre em vista que deve evitar esforços causadores de taras ou enfraquecimentos que inutilizem os poldros. Art. 51º A instrução começará quinze dias depois da saída dos que completaram quatro anos, tempo destinado à limpeza, desinfecção e beneficiamento das cavalariças e terminará com a saída para as diferentes unidades. Art. 52º Sendo os poldros, em regra, ferrados somente quando da sua saída do Depósito, deve-se procurar durante todo o outro tempo habituá-los às diferentes operações e preliminares, de maneira a facilitar o mais possível a ferração em qualquer altura.

Escrituração Art. 53º A cargo do oficial dos potris haverá a escrituração de livro do potril (modelo A), mencionando na folha de cada cavalo todas as ocorrências durante a sua estadia no Depósito e procurando obter dos lavradores, por intermédio da Comissão Técnica de Remonta, a genealogia de cada animal. Art. 54° Haverá um mapa mensal da instrução (modelo B), em que se indicarão sempre os dias em que, os cavalos não trabalharam por estarem em tratamento veterinário. Estes mapas serão elaborados pelo oficial encarregado dos potris e rubricados pelo comandante. Art. 55° A cargo do oficial a que se refere o artigo antecedente estará a colecção das folhas de matrícula de todos 0s poldros enviados pelas comissões permanentes de remonta.

CAPÍTULO V Uniformes

Art. 56° O uniforme para0 pessoal menor do Depósito será de cotim ou bombazina cinzenta e compõe-se: 1º Uniforme nº 1 : a) Boné de pano azul ferrete, com pala de coiro polido, francalete de coiro cru e tendo na frente as letras D R em metal e sobreposta a esfera armilar; b) Casaco com quatro algibeiras sobrepostas com oito botões de massa, na frente, dois nas costuras da retaguarda e um cinto do mesmo tecido abotoado

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na frente, gola com placa preta, tendo as letras D R, sendo o D de lado direito, e na folha de fora da manga esquerda a letra G em metal branco, para o pessoal dos garanhões e a letra P para o dos potris; c) Calções à Chantilly; d) Polainas e botas de coiro cru ou botas altas do mesmo cabedal. 2º Uniforme de serviço: calça e blusa de ganga e boné do mesmo tecido. Art. 57° A cada tratador será fornecido um uniforme de serviço todos os anos e à entrada para o Depósito dois uniformes de serviço e um nº 1. § único. O uniforme nº 1 deverá durar quatro anos e só será substituído pelo Depósito quando for superiormente determinado. Art. 58º O distintivo de categorias será: a) Para o regente agrícola quatro estrelas em metal branco, de um centímetro de diâmetro, colocadas em linha nas folhas de fora de ambas as mangas e um decímetro acima da parte inferior. da manga; b) Para os escriturários, três estrelas: c) Para o encarregado de vendas, duas estrelas ; d) Para o fiscal e apontador, uma estrela; e) Para o chefe de cavalariça, três botões; f) Para o moço de cavalariça, dois botões; g) Para o quarteleiro, dois botões; h) Para o chefe da enfermaria veterinária, dois botões e uma estrela de esmalte vermelho, colocada na folha de fora da manga esquerda; i) Para o quarteleiro do picadeiro, um botão. Os botões terão sempre a mesma disposição que as estrelas. § único. Será permitido ao regente agrícola e aos escriturários o uso de um uniforme de pano preto semelhante na forma ao usado pelos oficiais de marinha, com botões prateados, sendo-lhes permitido o uso de calção e bota ou polaina preta. Na gola usarão um D e um R. Art. 59º Os chefes de potril terão o uniforme dos chefes de serviços. § único. Nos primeiros dias de cada mês, na ocasião do pré, o pessoal apresentar-se-á fardado com o uniforme nº 1 e com o cabelo cortado. Art. 60º É expressamente proibido ao pessoal alterar o plano de uniformes, sendo responsável pela sua conservação, apresentando-os sempre que for determinado e entregando-os quando da sua saída do Depósito, assim como todos os artigos quo lho estejam distribuídos.

CAPÍTULO VI SECÇÃO III

Exploração agrícola e industrial

Art. 61º Faz parte do quadro permanente o seguinte pessoal : 1º Um regente agrícola; 2º Um apontador; 3º Um abegão;

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4º Um tanoeiro; 5º Um encarregado da adega; 6º Um encarregado do lagar ; 7º Sete porteiros; 8º Cinco guardas; § único. Quando as exigências de serviço assim o determinarem, poderão ser nomeados pelo comandante o número de auxiliares necessários.

Atribuições do pessoal

Art. 62º O regente agrícola fará parte do quadro permanente e é da sua atribuição: 1º A direcção da parte agrícola e industrial do Depósito, propondo todas as modificações que julgar convenientes para o seu manifesto desenvolvimento, fundamentando-as por escrito, atendendo sempre ao fim a que este estabelecimento é destinado; 2º Ter a seu cargo todas as alfaias agrícolas, cuidando do seu estado de conservação e propondo a venda ou compra de quaisquer utensílios e géneros; 3º Fiscalizar o integral cumprimento das ordens superiores na secção da sua especialidade; 4º Ter a seu cargo todo o pessoal empregado na parte agrícola e industrial, apresentando ao segundo comandante todas as pretensões dos seus subordinados; 5º Cuidar escrupulosamente de todo o gado que pertencer à sua secção, devendo dar imediato conhecimento de qualquer eventualidade; 6º Propor a admissão ou saída de qualquer seu subordinado; 7º Verificar se todas as autorizações de saída de géneros ou materiais de dentro da Tapada têm o visto do segundo comandante e se são integralmente satisfeitas; 8º Escriturar as folhas de todo o pessoal a seu cargo apresentando-as nos dias 15 e últimos de cada mês na secretaria; 9º Levar ao conhecimento do segundo comandante qualquer irregularidade de que tenha conhecimento. Art. 63° Compete ao apontador: 1º Auxiliar o regente agrícola; 2º Tirar o ponto a todo o pessoal empregado nas obras, agricultura e indústria. Art. 64º Todo o restante pessoal terá, além dos deveres gerais, os da sua especialidade, que serão indicados em instruções especiais.

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CAPÍTULO VII SECÇÃO IV

Enfermaria veterinária

Art. 65º Faz parte do quadro permanente o seguinte pessoal: 1º Chefe da enfermaria veterinária; 2º Moço da enfermaria veterinária.

Atribuições do pessoal Art. 66º O chefe da enfermaria veterinária tem a seu cargo a enfermaria e todo o gado nela internado, zelando pela sua higiene e conservação de todo o mate-rial, cumprindo e fazendo cumprir todas as prescrições do veterinário ou de quem o substitua, e executar os curativos de todo o gado do Depósito. Art. 67º O moço da enfermaria é um auxiliar do chefe da enfermaria.

Serviços de tracção Art. 68º Faz parte do quadro permanente: Um chefe de cavalariça. Dois moços de cavalariça. Quatro carroceiros. § único Os seus deveres são os mesmos que os indicados para os que desempenham iguais funções nas outras secções.

CAPÍTULO VIII Disposições diversas

Art. 69º A todo o pessoal permanente serão distribuídos anualmente uma blusa e um par de calças de ganga e respectivo boné, que será o seu uniforme. Art. 70º Todo o pessoal civil que se invalide em serviço do Depósito poderá ser reformado, mediante proposta do comandante para a Comissão Técnica de Remonta e confirmação da incapacidade por uma junta médica, sendo-lhe arbitrado um ordenado que será função do tempo de serviço sucessivo no mesmo Depósito. Assim, até os quatro anos de serviço, metade do ordenado da efectividade; dos quatro anos aos oito, dois terços; dos oito aos doze, o ordenado da efectividade. A partir dos doze anos de, serviço nas condições deste artigo, e por cada período de quatro anos, receberá mais 10 por cento do mesmo ordenado. Art. 71º Todo o pessoal civil em serviço no Depósito tem direito à reforma com o ordenado da efectividade desde que complete trinta anos de serviço sucessivo no mesmo Depósito, recebendo, além daquele ordenado, mais 10 por cento por cada período de quatro anos decorridos sobre os trinta.

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§ único. Quando qualquer empregado civil seja chamado para prestar serviço militar, e regresse depois ao Depósito, ser-lhe-á contado, para os efeitos da reforma, todo o tempo em que se conservar naquele mesmo serviço. Art. 72º Quando por motivo de doença os empregados do quadro permanente não possam trabalhar, ser-lhes-á abonado o ordenado por inteiro até, 10 dias e depois deste período passam a receber 50 por cento do ordenado. Art. 73º Enquanto existir no Depósito de Remonta em Mafra pessoal civil habilitado, não será substituído por pessoal militar, salvo se pelo seu procedimento der lugar à sua substituição. Art. 74º As penas disciplinares são as que constam do Regulamento Disciplinar do Exército. Art. 75º É permitido aos empregados do Depósito, mediante autorização do comandante, terem junto das suas moradias uma horta, desde o momento que não sejam tiradas terras destinadas às sementeiras da Tapada. Art 76º Aos empregados é permitido comprarem, para seu consumo e pelos preços estabelecidos, os géneros que se cultivam na tapada. Art. 77º É fornecido aos empregados lenha e carvão para seu consumo. Art. 78º Todo o pessoal deverá estar presente no Depósito desde a primeira limpeza até à distribuição da última ração. Art. 79º À Comissão Técnica de Remonta compete toda a fiscalização do Depósito de Remonta e de Garanhões, que dela directamente depende. Art. 80º O número de solípedes que faz parte do quadro permanente do Depósito para serviços de tracção, guardas e condução de poldros é o que consta da tabela anexa a este Regulamento.

Quadro do pessoal menor do Depósito de Remonta e de Garanhões em Mafra

Pessoal independente das secções

Escriturários: 2 Encarregado de vendas: 1 Fiscal: 1 Chefe de cavalariças: 1 Quarteleiro: 1 Quarteleiro do picadeiro: 1 Cocheiro: 1 Ajudante do cocheiro: 1 Ferradores: 2 Ajudante do ferrador: 1 Encarregado de iluminação: 1 Carpinteiro: 1

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Seleiro: 1 Ajudante de seleiro: 1 Carpinteiro de carros: 1 Serralheiro: 1 Pedreiro: 1

1ª Secção Moço de cavalariça: 1 Ajudantes do moço de cavalariça: 4 Tratadores: 30 Carroceiro: 1

2ª Secção Chefes de potris: 2 Tratadores do potril nº 1: 10 Tratadores do potril nº 2: 4

3ª Secção Regente agrícola: 1 Apontador: 1 Abegão: 1 Tanoeiro: 1 Encarregado da adega: 1 Encarregado do lagar: 1 Porteiros: 7 Guardas: 5

4ª Secção

Enfermaria veterinária Chefe da enfermaria veterinária (enfermeiro hípico): 1 Moço da enfermaria veterinária: 1

Serviços de tracção Chefe de cavalariça: 1 Moços de cavalariça: 2 Carroceiros: 4

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Quadro do gado do Depósito de Remonta e de Garanhões em Mafra

1ª Secção Muar: 1

2ª Secção Muar: 1 Cavalos para condução de poldros: 4

3ª Secção Cavalos para guardas: 5

4ª Secção

Serviços de tracção Muares: 16 Cavalos: 8

Exercícios de Cavalaria

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CAÇA NA TAPADA DE MAFRA

Instruções emanadas do Comandante do Depósito de Garanhões

Inscrição Artigo 1º - A inscrição é feita todos os dias úteis, das 9 horas às 12 horas e das 14 horas às 17 horas, com a antecedência mínima de 24 horas. Artigo 2º - As caçadas cuja importância de inscrição for inferior a 50$00, só poderão efectuar a sua inscrição na véspera do dia em que desejam caçar na Tapada. Artigo 3º - Pagar-se-á no acto da inscrição a quantia mínima de 10$00, equivalente a uma licença para caçar com espingarda, quantia esta que sob pretexto algum, será reembolsável. Artigo 4º - À entrada na Tapada é obrigatória a apresentação das licenças de caça, porte de arma, etc.

Preços Artigo 5º - O preço da licença individual para caçar na Tapada com espingarda é de 10$00. Artigo 6º - Os caçadores profissionais poderão fazer a sua inscrição para caçar na Tapada, mediante o pagamento de 50$00 por espingarda, a qual poderá fazer-se acompanhar por dois batedores e dois cães. Artigo 7º - O preço da licença para caçar na Tapada como batedor é de 10$00. § único – São considerados batedores para os efeitos deste artigo todos os indivíduos que acompanhem ou façam parte de uma caçada. Artigo 8º - O preço da licença para caçar com cão é de 5$00, por animal. § único – São considerados como fazendo parte da caçada todos os cães que a acompanhem, sendo responsável pelo pagamento das respectivas licenças, o caçador que fez a inscrição da caçada.

Disposições gerais Artigo 9º - As licenças a que se referem os artigos 5º, 6º, 7º e 8º destas Instruções são válidas por um dia, do nascer ao pôr do Sol. Artigo 10º - É considerado como uma caçada, para os efeitos destas Instruções um grupo contendo pelo menos um caçador com espingarda. § único – Poderá um caçador, caçar isoladamente, sendo considerado como uma caçada, mas nunca poderão caçar isoladamente os caçadores componentes de um grupo. Artigo 11º - Nos dias úteis são permitidas duas caçadas por dia; aos domingos apenas uma. Artigo 12º - É permitido caçar toda a espécie de caça de pena e pelo, com excepção dos animais a que se refere o Código da Caça e os constantes do art. 14º destas Instruções.

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Artigo 13º É permitida a organização de batidas às raposas, sendo reguladas as respectivas licenças pelo determinado nos artigos 5º, 6º, 7º e 8º e seus §§. § único – Por cada raposa abatida o respectivo caçador pagará a importância de 40$00, além do que já tenha pago pelas respectivas licenças. Artigo 14º - É expressamente proibido matar gamos e veados, sob pena de multa de 300$00, perdendo o caçador o direito à peça abatida e podendo ao contraventor ser-lhe cassada a respectiva licença para caçar na Tapada. Artigo 15º - É expressamente proibido caçar com furão, redes, laços, armadilhas, etc. Artigo 16º - É expressamente proibido caçar em vinhas e terrenos cultivados. Artigo 17º - É expressamente proibido caçar à espera ou de emboscada. Artigo 18º - Todas as caçadas são acompanhadas por um guarda que vigiará pelo cumprimento destas Instruções, devendo os caçadores acatar as observações ou determinações que o mesmo Guarda entenda dever fazer-lhes. § único – O caçador que se julgar lesado nos seus direitos, poderá entregar na Secretaria, por escrito, a reclamação que entenda dever fazer sobre o assunto, narrando os factos ocorridos. Artigo 19º - Aos contraventores das presentes Instruções ser-lhes-á cassada a licença de caçar na Tapada, independentemente de qualquer outro procedimento que o Comando entenda dever adoptar. O Comandante Carlos Abrantes, Capitão (in O Concelho de Mafra, 25 Jun. 1933)

Comandantes do Depósito de Remonta e Garanhões Major EM de Cavalaria Álvaro Poppe (1911-1918) Capitão António de Passos Callado (1918) Major de Cavalaria Francisco Martins de Lusignan de Azevedo (1918-1919) Coronel de Cavalaria João Namorado de Aguiar (1919-1927) Major de Cavalaria Fernando Pereira Coutinho (1927-1930) Major de Cavalaria Carlos Alberto da Silva Abrantes (1930-1931)

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Regimento de Infantaria 1 – Secretaria dos Batalhões

(1916)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra, conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

Regimento de Infantaria 21 – 3º Batalhão (1917)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

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Escola de Instrutores de Infantaria (1920)

Destacamento aquartelado transitoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho [AHMM].

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Escola de Aplicação de Infantaria (1925-1926)

Herdeira da Escola de Tiro de Infantaria. Criada em 1925

(Decreto n. 11271, de 25 de Novembro de 1925 e Ordem do Exército, n. 14, de 30 de Novembro, p. 805). Na sua regulamentação é patente a preponderância do interesse pelas questões tácticas.

Seria extinta no ano seguinte ao da sua criação. Foi sua herdeira a Escola de Tiro de Infantaria, novamente instituída em 1926.

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Escola Prática de Infantaria

(1926-2013)

Casa-mãe da Infantaria, de novo instituída em Mafra, a 17 de Setembro de 1926.

Sucedeu à Escola de Tiro de Infantaria, de vida efémera, após ter sucedido à Escola de Aplicação de Infantaria, mediante o Decreto n. 12161 (21 de Agosto de 1926) e a Ordem do Exército, n. 10 (31 de Agosto de 1926, p. 527).

Pela Portaria n. 129986 (17 de Novembro de 1949) e pela Ordem do Exército n. 8 (31 de Dezembro de 1949, p. 260) foi criada a

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Secção de Educação Física da EPI, a qual viria a ser integrada no CMEFED, no ano de 1957.

Heráldica da Escola Prática de Infantaria Antigo ex-libris da EPI, encimado por “elmo antigo”. O escudo, tripartido em pala, era ocupado: no 1º terço pela efígie do patrono da Infantaria, D. Nuno Álvares Pereira, em campo azul, no 2º terço pelas cinco quinas, em campo branco, e no 3 terço por uma espada curta em campo vermelho. Sob o elmo a sigla da Unidade e, em baixo, sobre um listel branco, a sua divisa – AD UNUM (até ao último) – gravada a ouro. Escudo verde, uma Besta de oiro, dois livros abertos do mesmo. em contra-chefe. Elmo militar, de prata, forrado de vermelho, a três quartos para dextra. Correias de vermelho, perfiladas de oiro, paquife e virol de verde e oiro. Timbre, um vôo de ouro sustentando uma Cruz florenciada, vazia, de vermelho. Divisa num listel de branco "ad unum" em letras de estilo gótico, de negro. Ordens: o escudo sobreposto à Cruz de Cristo. A besta é o emblema da Infantaria e os livros constituem o tradicional emblema das escolas. A cor verde do campo é a da Infantaria. O oiro significa nobreza e fé. O verde significa esperança e liberdade.

Medalha da Escola Prática de Infantaria Subsc.: Vasco Berardo 79

1979; 88 mm; Bronze A - Brasão de armas da Escola Prática de Infantaria e a inscrição "Escola Prática de Infantaria", na orla. R - Soldado infante em manobras, com um carro blindado e a fachada poente do Palácio em segundo plano. Junto à orla inferior, a subscrição VASCO BERARDO 79. A bandeira da Escola Prática de Infantaria foi agraciada com: Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, a 13 de Setembro de 1961 Insígnia da Ordem do Mérito Militar do Brasil, a 14 de Março de 1966 Membro-Honorário da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a 2 de Setembro de 1980 Membro-Honorário da Ordem Militar de Avis, a 6 de Dezembro de 1985 Membro-Honorário da Ordem da Liberdade, a 25 de Abril de 1999

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Quadro da Revista Ao Som dos Carrilhões Os Cadetes de Mafra, designação dos soldados milicianos antes de passarem a aspirantes. foram protagonistas de diversos números e charlas teatrais representadas por grupos cénicos locais, como por exemplo o número intitulado Cadetes, da peça Ao Som dos Carrilhões, cuja primeira récita ocorreu no *Grémio Mafrense, em 1933. Os próprios cadetes organizavam regularmente, na Sala de Oficiais da *ETI, depois *EPI, festas e saraus, musicais e teatrais, encenando paródias a casos e a tipos do respectivo curso. Um dos mais destacados promotores desse tipo de eventos (no período entre 1920 e 1923), autor de alguns originais, foi *Henrique Galvão. Também designação de uns pastéis de feijão fabricados, em 1918, por Francisco Caetano Barbosa, estabelecido no Largo do Conde de Ferreira, 20-21 (Mafra), com armazém de mercearia, chá, café, papelaria, especiarias, cereais, ferragens, cordoaria, adubos, etc.

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Recordação de 1 Dez. 1931

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Defesa Nacional (Dez. 1940)

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Ondina, restaurante da Ericeira muito popular entre os Cadetes de Mafra (M. Coutinho, 1936) Comédia em um acto, da autoria de Henrique Santos. Contracenam três cadetes, tendo por cenário o restaurante. Na mesa posta para a ceia não falta nem a lagosta nem o vinho do Morgado dos Leitões.

Desconhece-se quando, onde e se, de facto, foi levada à cena.

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A Escola Prática de Infantaria em exercícios na Tapada. Fotografia publicada na capa do número de Outubro de 1940

da revista Defesa Nacional.

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Comandantes da Escola Prática de Infantaria

Coronel Augusto Farinha Beirão (4.12.1926 a 5.2.1927) Coronel Casimira Vítor de Sousa Teles (2.5.1927 a 27.10.1935) Coronel José Francisco Pires do Carmo (27.10.1935 a 6.12.1935) Coronel Agostinho Barreto Rodrigues de Oliveira (26.12.1935 a 26.11.1936) Coronel Ernesto Gonçalves Amaro (26.11.1936 a 15.8.1938) Coronel Raúl Verdades de Oliveira Miranda (15.8.1938 a 29.6.1940) Coronel Óscar da Silva Mata (30.6.1941 a 1.9.1944) Coronel Manuel Bernardes de Almeida Tapinha (6.12.1944 a 17.10.1946) Coronel Domingos José Santos de Lemos (18.10.1946 a 17.11.1949) Coronel Leonel Neto Lima Vieira (18.11.1949 a 8.3.1950) Coronel Carlos Alberto Barcelos do Nascimento e Silva (23.3.1950 a 15.8.1952) Coronel Guilherme Carlos Ferreira Pinto Basto Carreira (26.1.1953 a 10.10.1954) Coronel José Vítor Martins Cabral (12.10.1954 a 31.10.1955) Coronel Mário José Pereira da Silva (1.11.1955 a 31.8.1958) Tenente-Coronel Artur Ferrão Pimentel da Costa (8.10.1958 a 18.7.1959) Brigadeiro Amadeu Soares Pereira (1.10.1959 a 25.7.1960) Coronel Alberto Vilarinho Rosa Garoupa (26.7.1960 a 14.4.1961) Brigadeiro Álvaro Mário Couceiro Neto (15.4.1961 a 16.10.1961) Coronel José M. de S. e Faro Nobre de Carvalho (9.11.1961 a 26.12.1962) Coronel Manuel Ribeiro de Faria (8.1.1963 a 25.9.1969)

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Coronel Hilário Marques da Gama (1970 a 1973) Brigadeiro José Maria Henriques da Silva (1973 a 1974) Brigadeiro Fernando M. Jasmins de Freitas (1974 a 1976) Coronel Aurélio Manuel Trindade (1976 a 1977) Coronel Rogério Garrett S. Castro (1977 a 1978) Coronel Hugo Manuel Rodrigues dos Santos (1978 a 1979) Coronel Fernando dos S. Ribeiro da Cunha (1979 a 1981) Coronel António Guerreiro Caetano (1981 a 1983) Coronel António F. Rodrigues de Areia (1983 a 1984) Coronel Fernando F. Morgado Corte Real (1984 a 1986) Coronel João Manuel Carreiro Barbosa (15.5.1986 a 1.6.1988) Coronel Aníbal Rodrigues da Silva (2.6.1988 a 18.9.1990) Coronel Américo Simões Gaspar (19.9.1990 a 22.9.1992) Coronel Luís Fernando da Fonseca Sobral (28.9.1992 a 24.9.1993) Coronel Jorge Manuel Silvério (6.10.1993 a 15.9.1995) Coronel Américo Pinto da Cunha Lopes (27.9.1995 a 25.5.1998) Coronel Valdemar José Moura da Fonte (2.6.1998 a 14.5.2000) Coronel João Nuno Jorge Vaz Antunes (18.5.2000 a 14.8.2002) Coronel de Infantaria António Noé Pereira Agostinho (21.8.2002 a 13.8.2004) Coronel Infantaria Luis Filipe Tavares Nunes (19.8.2004 a 30.8.2006) Coronel Rui Davide Guerra Pereira (31.8.2006 a 28.8.2008)

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Coronel João Manuel Ormonde Mendes (28.8.2008 a 29.8.2010) Coronel Jorge Manuel Barreiro Saramago (30.8.2010 a 31.8.2011) Coronel João Rato Boga de Oliveira Ribeiro (5.9.2011 a 30.8.2013)

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Número inaugural da segunda série do Boletim da Biblioteca da Escola Prática de Infantaria (Jan. 1956). A primeira série desta publicação foi concebida e

editada pelo então capitão António de França Borges.

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O Hino Ad Unum foi composto, em Novembro de 1956, pelo então alferes Chefe de Banda e Música José Pinto Rodrigues, com letra do Tenente-

Coronel, Comandante da EPI, Mário José Pereira da Silva.

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Recolha de donativos destinados às Festas do 50º aniversário da EPI

Re

Recolha de donativos des tinados às Fes tas

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5º pelotão, 1ª Companhia de Oficiais Milicianos COM, 1º turno (1969)

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Estátuas ao Soldado Infante e comemorativa do Centenário da EPI, ambas da autoria de Mestre Soares Branco

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Regimento de Infantaria 1 –

Batalhão de Recrutas (1927)

Destacamento aquartelado provisoriamente em Mafra,

conforme correspondência remetida à Administração do Concelho de Mafra [AHMM].

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Depósito de Garanhões (1931-1937)

Criado pelo Decreto-Lei n. 19700, de 21 de Abril de 1931 e pela

Ordem do Exército, n. 6, de 25 de Maio. Sucedeu ao Depósito de Remonta do Exército e ao Depósito de Remonta e Garanhões. Estava subordinado à 4ª Repartição da 2ª DG/MG (Serviços de Remonta). Carlos Alberto da Silva Abrantes foi Comandante do Depósito de Garanhões durante toda a respectiva vigência.

Estabelecimentos Produtores do Estado –

Depósito de Garanhões Para que serve? Serve para fornecer aos produtores de cavalos para o Exército — segundo as indicações da Comissão Técnica de Remonta. — os reprodutores e respectivo pessoal, que lhes são necessários. Duas palavras sobre a maneira como estão montados os servidos de criação cavalar, no Ministério da Guerra, para melhor compreensão. Porque há a necessidade indiscutível, de, num dado momento, se poder contar dentro do País com um efectivo de solípedes, necessário a todos os serviços do Exército, momento que nunca se pode prever, e ainda porque a criação de cavalos é uma indústria custosa, resultou que o Estado sentiu a necessidade de promulgar a legislação necessária para animar e desenvolver essa criação, visto que dela tem absoluta carência, não só como medida de fomento originadora duma riqueza pública, como também e - muito especialmente — para poder fornecer à defesa nacional um dos seus elementos principais.

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E assim foram criados os produtores de cavalos para o Exército, e que são os proprietários de éguas fantis, que sujeitando-se voluntariamente às imposições da Lei e respectivos regulamentos, se obrigam a criar o tipo de cavalo que interessa ao Exército. Para criação disse tipo ou padrão, o Ministério da Guerra, por intermédio do seu Depósito de Garanhões, fornece àqueles produtores, os cavalos reprodutores que beneficiando as respectivas manadas, dão origem em futuros cavalos que hão-de servir nas unidades militares. Qual a origem dos efectivos do Depósito de Garanhões? Na sua maioria, são oriundos da Coudelaria Militar, em Alter, estabelecimento também do Ministério da Guerra, e destinado a produzir os garanhões considerados mais adequados para a melhoria das nossas raças cavalares. Os restantes pode-se dizer que são todos importados. No momento presente dispõe-se de 109 garanhões, assim descriminados: 6 p. s. i., 11 p. s. a., 12 berberes, 16 1/2 s. a., 51 nacionais, 9 garranos, 4 diversos. Destes, 60, são provenientes da Coudelaria Militar. Todos os cavalos recebidos, só são considerados como reprodutores, depois de terem satisfeito a provas, que são normalmente prestadas no mês de Outubro, provas estas que são precedidas de um período de preparação e treinagem durante o qual são colhidos todos os elementos, que possam contribuir para a decisão a tomar. Sendo o fim principal a atingir, a produção do cavalo para a fileira da nossa cavalaria, as provas são organizadas de maneira a poder-se indagar das deficiências que os animais possam ter, deficiências que poderiam transmitir aos seus filhos, tornando-os pouco próprios, para bem poderem suportar o árduo serviço de campanha, e ainda saber se são possuidores dos requisitos, indispensáveis ao cavalo militar, na época presente. Vários critérios têm presidido à organização dessas provas, sendo actualmente constituídas da seguinte maneira: 1º dia— 64 km de marcha por estrada, feitos em 9 horas. 2.° dia—24 km de marcha por estrada, caminho e através do campo, feitos em 2 horas e 15 m. 3.º dia— Corrida em pista, com obstáculos, na extensão de 3000 m., no tempo máximo de 5 minutos (nove obstáculos). Peso a transportar em todas as provas — 75 kg. Para os cavalos de p, s. i. adoptam-se provas especiais, que têm por base a velocidade e que são prestadas em pista. Todos os restantes garanhões, têm o seu trabalho especial e conforme as suas aptidões. Anexo ao Depósito de Garanhões, e constituindo uma das suas Secções, existem os Potris, que são de duas espécies: Potris de recria e de desbaste. Os primeiros são destinados a receber todos os poldros adquiridos aos 2 anos, para ali completarem a sua recriação; os segundos têm por fim receber os

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poldros de 3 anos (adquiridos nesta idade, ou que a atingiram nos potris de recria), e aí receberem a sua primeira instrução. Estes últimos ao completarem quatro anos, são classificados conforme a sua robustez, estatura e aptidões, por uma Delegação da Comissão de Remonta, para os diferentes serviços do Exército, e depois distribuídos, em virtude dessa classificação, pela Direcção da Arma de Cavalaria, pelas diferentes unidades. A compra de poldros aos dois anos tem apenas em vista, libertar mais cedo os lavradores produtores dessas manadas, e principalmente aqueles que não possuem os meios necessários para conservarem até mais tarde, um elevado efectivo de solípedes. Esta compra tem portanto em vista facilitar a produção. Para o desempenho de todos estes Serviços, o Depósito de Garanhões dispõe de 4 Secções e Serviços: 1.ª- Secção—Trata de tudo que diz respeito a garanhões; sua manutenção, trabalho, escrita, etc., etc. 2.ª Secção — Trata de toda a exploração — agrícola, comercial e industrial — da propriedade anexa ao Depósito, e que tem por fim especial, tornar menos dispendiosa ao Estado a manutenção deste Estabelecimento, fornecendo também, uma grande parte da alimentação especial, que exigem os poldros e garanhões. 3ª Secção—Tem a seu cargo, os serviços de Obras, transportes, Secretaria geral, armazéns, depósitos, etc., etc. 4ª Secção — Trata de tudo que diz respeito a poldros e consequentemente tem a seu cargo, todos os potris da recria, e o potril de desbaste, e toda a escrita, respeitante aos poldros adquiridos. Serviço Administrativo — Que tem a seu cargo toda a contabilidade do Estabelecimento, e a respectiva escrita, que é por partidas dobradas, sistema digráfico. Serviço Veterinário — Que dispõe, além de uma enfermaria para 20 solípedes, de uma oficina siderotécnica, dos depósitos de medicamentos e de ferragem, e também de uma enfermaria, de isolamento para 48 animais, onde são internados todos os solípedes que aqui são presentes e os que pertencendo ao Depósito, recolhem, depois de terem tido contacto com o meio exterior, e onde são sujeitos a rigorosa observação. Esta medida tem por objectivo evitar a propagação a dentro do Depósito de Garanhões, de qualquer epidemia de carácter infeccioso, o que representaria uma ocorrência grave, tendo em conta o grande valor material dos solípedes aqui em Depósito. Este Estabelecimento, fundado em 1911, acha-se instalado em Mafra, na Tapada Nacional. Porque todos os serviços deste Depósito exigem prática do pessoal especializada, a qual só pode ser adquirida com a permanência no serviço, o seu pessoal menor é civil, embora militarizado. Nestas condições consegue-se uma maior soma de resultados com menos efectivos.

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Enfermaria de isolamento (Defesa Nacional, Abr. 1937)

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Cavalariça

Picadeiro “Hebraico”

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Concurso Grande Prémio – Taça de Honra do Depósito de Garanhões (1932)

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Resultados do 1º dia do Concurso Taça de Honra do Depósito de Garanhões

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Comandante do Depósito de Garanhões

Major de Cavalaria Carlos Alberto da Silva Abrantes (1931-1937)

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Quadro musical da Revista Tristezas Leva-as o Vento (1934) original de Joaquim Duarte Resina e Joaquim Alves Gato, com música de Francisco Alves

Gato

Carreira de Tiro Sou um retiro. Sou a Carreira de Tiro Escondida na Tapada, Qual oásis no deserto. Filha do Mota, Eu ando sempre janota, Muito limpa e asseada, Governada com acerto.

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Depósito de Remonta (1937-1950)

Designação que substituiu a de Depósito de Garanhões, na

sequência da reorganização do Exército, em 1937 (Decreto-Lei n. 28401, de 31 de Dezembro de 1937 e Suplemento à Ordem do Exército, n. 12, de 31 de Dezembro de 1937). Passaria a desempenhar importante função no âmbito da instrução, sob a superintendência da Direcção da Arma de Cavalaria.

O Regulamento do Depósito de Remonta (Decreto-Lei n. 32592, de 28 de Dezembro de 1942 e Ordem do Exército, n. 9, de 31 de Dezembro) estipulava como sua missão específica: 1. Recolher e aclimatar os solípedes para o Exército pelos Serviços de Remonta; 2. Ministrar aos solípedes do Exército a instrução de que careçam para se tornarem utilizáveis; 3. Ministrar aos quadros da Arma de Cavalaria instrução equestre especial, necessária aos instrutores e monitores de equitação, ou outra qualquer julgada conveniente.

Pelo Decreto-Lei 32592 de 28 de Dezembro de 1942 seria aprovado e posto em execução o regulamento do Depósito de Remonta que atribui também funções de instrução e de formação de formadores na área equestre, conferindo a superintendência à Direcção da Arma de Cavalaria.

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Comandantes do Depósito de Remonta

Major de Cavalaria Carlos Alberto da Silva Abrantes (1937 a 1938) Manuel da Fonseca Salvação (1945 a 1950)

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O cavalo Málaga

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Lição de colocação em sela em pilões

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Deutsche Reiterhefte (Mar. 1945), cuja capa remete para o Depósito de Remonta (foto Leopold Fiedler)

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Escola Militar de Equitação

(1950-1957)

Herdeira do Depósito de Remonta, em virtude da Portaria n. 13272 (26 de Agosto) e da Ordem do Exército, n. 5 (10 de Novembro de 1950), na dependência do Estado-Maior do Exército (EME), por intermédio da Direcção da Arma de Cavalaria (DAC).

Visou a sua instituição garantir a unidade de doutrina em tudo o que respeitasse à instrução de Equitação do Exército, assegurando a uniformidade na preparação equestre dos quadros e das tropas de todas as armas e serviços. Havia de ser em virtude desta transformação que o ensino da Equitação se uniformizou e assumiu carácter de verdadeira Escola, a denominada Escola de Mafra, reconhecida tanto nacional como internacionalmente.

No ano de 1951 fez a apresentação pública da Reprise do Ensino no concurso Hípico de Lisboa. Suceder-lhe-ia, em Novembro de 1957, o Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos (CMEFED).

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A Reprise da Escola de Mafra

Visando consolidar e uniformizar a doutrina equestre militar em Portugal, foram tomadas, em 1948, algumas medidas de fundo, de que a mais relevante havia de ser a vinda para o Depósito de Remonta do Capitão Saint André, cavaleiro e militar do exército francês, oriundo da École Militaire d’Équitacion de Saummur.

Este mestre permaneceu em Mafra durante quatro anos lectivos (1948-1952), orientando toda a instrução equestre nos Cursos de Mestres, Instrutores e Monitores de equitação.

No ano imediato, os então capitães Fernando Pais e Reymão Nogueira frequentaram um estágio de nove meses em Fontainebleu e Saummur, período durante o qual integraram o Cadre Noir, em várias apresentações públicas, tendo conquistado o bastão e as esporas de ouro daquele agrupamento de élite.

Uma vez regressado a Portugal, o Capitão Fernando Paes logrou, com a orientação do Capitão Saint André, criar, à imagem do Cadre Noir, a Reprise da Escola de Mafra, cuja primeira apresentação pública, ocorreu em Outubro de 1949, durante uma visita do Generalíssimo Franco.

A Reprise da Escola de Mafra tornou-se a “expressão máxima de uma doutrina impar” em Portugal, o que as inúmeras apresentações públicas realizadas desde 1951 testemunham.

Na Reprise da Escola de Mafra, concebem-se novos exercícios, realizando-se alguns de ensino, até ao nível de equitação superior. Nas coreografias adoptadas, todo o trabalho de passo, trote ou galope é acompanhado com música de fundo, como se de um bailado se tratasse.

Regra geral, as exibições da Reprise, finalizavam com a passage passo de difícil execução, o qual, com o piaffer deixaram de ser realizados nos últimos anos, em virtude da dificuldade de treinar todos os cavalos nesses exercícios.

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1ª série - Provas de Fundo – percurso D

Comandantes da Escola Militar de Equitação Coronel de Cavalaria Manuel da Fonseca Salvação (1950 a 1955) Major de Cavalaria João Eduardo Gamarro Correia Barrento (1955 a 1956) Tenente-Coronel de Cavalaria Fernando A. Cerqueira da Silva Pais (1956 a 1957)

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Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos /

CMEFED (1957-1993)

A sua origem reporta à Real Coudelaria, fundada no século

XVIII. Em 1911, sucedeu-lhe o Depósito de Remonta e Garanhões (DR), cuja designação mudou, em 1931, para Depósito de Garanhões – Remonta (DG). Em 1937, em virtude da reorganização do Exército passou a designar-se apenas Depósito de Remonta (DR) e, a partir de

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1950, Escola Militar de Equitação (EME). No ano de 1957, uma vez que as actividades físicas ministradas na Escola Militar de Equitação (Mafra) e na Secção de Educação Física da Escola Prática de Infantaria (Mafra) ficaram associadas a uma só metodologia e didáctica, foi criado o Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos (Decreto-Lei n. 41368, de 16 de Novembro de 1957 e Ordem do Exército, n. 10, de 31 de Dezembro de 1957), ao qual competia:

Formar Mestres, Instrutores e Monitores e outros especialistas militares necessários ao ensino da Educação Física, Esgrima e Equitação;

Difundir e aperfeiçoar os conhecimentos respeitantes a estas especialidades;

Ministrar instrução de formação de Oficiais, Sargentos e Praças do serviço efectivo normal;

Apoiar o Comando de Instrução de acordo com directivas específicas;

Preparar as representações militares nas provas desportivas internacionais em que o País tomar parte;

Organizar os campeonatos desportivos do Exército, das Forças Armadas e do Campeonato Internacional de Desporto Militar;

Estudar e ensinar tudo quanto se refere à Educação Física do Exército;

Recolher, aclimatar e ensinar os solípedes de sela que anualmente receber, com destino: à instrução Equestre do Centro; a montadas de desporto e a praças de Oficial; a instrução equestre dos tirocinantes nas Escolas Práticas e, eventualmente, à fileira das Unidades;

Participar na defesa terrestre do território nacional; e colaborar com os Organismos Estatais no âmbito da sua competência.

Para o desenvolvimento de sua acção o Centro poderia recorrer, sempre que necessário, à colaboração do Instituto Nacional de Educação Física, nos termos acordados entre os Ministérios interessados.

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Potril, ou Cavalariça, contemporânea da edificação do Monumento de Mafra, destruída por um incêndio, em 2001

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Comandantes do Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos

Tenente- Coronel de Cavalaria Fernando A. Cerqueira da Silva Pais (1957 a 1958) Coronel de Infantaria Emílio Mendes Moura dos Santos (1958 a 1959) Coronel de Infantaria Manuel Ribeiro de Faria (1959 a 1963) Coronel de Infantaria José Maria Henrique da Silva (1963 a 1969) Coronel de Infantaria Carlos Barroso Hipólito (1969 a 1971) Coronel de Cavalaria Clemente P. Pimenta de Castro (1971 a 1974) Tenente-Coronel de Cavalaria Rui Coelho Abrantes (1974 a 1974) Coronel de Cavalaria Jorge Eduardo Rodrigues y Tenório Correia Mathias (1974 a 1977) Coronel de Cavalaria Ricardo Fernando Ferreira Durão (1977) Coronel de Cavalaria Fernando J. Barbosa dos Santos Leite (1977 a 1978) Coronel de Cavalaria Rui Ernesto Lobo da Costa (1978 a 1979) Coronel de Cavalaria Luís Manuel Lemos Alves (1979 a 1981) Coronel de Artilharia Rudolfo A. C. Bacelar Begonha (1981 a 1983) Coronel de Cavalaria José Taveira de Oliveira Martins (1983 a 1985) Coronel de Cavalaria João Manuel D. Moniz Barreto (1985 a 1987) Coronel de Cavalaria José Manuel Lameiras Machado Faria (1987 a1989) Coronel de Cavalaria Francisco Xavier da Silveira M. Carvalhais (1989 a 1991) Coronel de Cavalaria Alexandre Beato Correia (1991 a 1993)

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Centro Militar de Educação Física e Desportos / CMEFD

(1993-2013)

A sua origem reporta à Real Coudelaria, fundada no século XVIII. Em 1911, a Real Coudelaria passou a Depósito de Remonta e Garanhões (DR), tendo a sua designação mudado, em 1931, para Depósito de Garanhões – Remonta (DG). Em 1937, em virtude da reorganização do Exército passou a designar-se apenas Depósito de Remonta (DR) e, a partir de 1950, Escola Militar de Equitação (EME). No ano de 1957, uma vez que as actividades físicas ministradas na Escola Militar de Equitação (Mafra) e na Secção de Educação Física da Escola Prática de Infantaria (Mafra) ficaram associadas a uma só metodologia e didáctica, foi criado o Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos - CMEFED (Decreto-Lei n. 41368, de 16 de Novembro de 1957 e Ordem do Exército, n. 10, de 31

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de Dezembro de 1957). Finalmente, pelo Despacho n. 72 / MDN / 93, de 30 de Junho (Diário da República, s. 2, n. 163, de 14 de Julho de 1993), esta Unidade passaria a designar-se Centro Militar de Educação Física e Desportos (CMEFD).

No ano de 1994, havia de ser considerado Centro de Instrução Militar de âmbito nacional, tornando-se sede do único Hospital de Solípedes existente em Portugal, criado por Despacho n. 190 / 94, de 12 de Setembro, do CEME, o qual dependia tecnicamente do Centro Militar de Veterinária da Escola do Serviço de Saúde Militar.

O CMEFD ministrava Cursos e Estágios de Qualificação em Educação Física, Equitação e Tiro Desportivo a militares do Quadro Permanente, de acordo com o Plano de Tirocínios, Estágios e Cursos (PTEC); Ministrava a Preparação Militar Geral (PMG) e Complementar (PCOMP) aos soldados recrutas e aos soldados do Curso de Formação de Praças (CFP); Ministrava a preparação complementar aos soldados cadetes e aos soldados instruendos dos Cursos de Formação de Oficiais e Sargentos (CFO/CFS) do Serviço Efectivo Normal (SEN), nas especialidades que lhe fossem determinadas; Apoiava o Comando de Instrução de acordo com directivas específicas; Recolhia, aclimatava e ensinava os solípedes adquiridos pelas Comissões de Remonta, e reensinava aqueles que fossem mandados recolher ao Centro para o efeito; Preparava as equipas desportivas representativas do Exército ou das Forças Armadas, conforme lhe fosse determinado superiormente; Organizava os campeonatos desportivos do Exército, das Forças Armadas ou do CISM, de acordo com determinações superiores, Participava na defesa terrestre do Território Nacional, de acordo com as missões que lhe fossem cometidas em planos operacionais; Cumpria outras missões, ou realizava outras tarefas que lhe fossem cometidas superiormente de acordo com a legislação em vigor; Colaborava, sem prejuízo das tarefas fundamentais, com os organismos estatais adequados, na preparação e/ou formação de elementos civis, no âmbito da sua competência e em conformidade com protocolos e acordos estabelecidos superiormente; Administrava a Tapada Militar com a preocupação permanente do zelo pelo equilíbrio dos seus diversos ecossistemas.

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O Centro Militar de Educação Física e Desportos compreende aproximadamente 355 hectares, dos quais cerca de 15 estão ocupados pelo núcleo urbano onde se situam as estruturas de comando, administrativas, de instrução e de ensino, alojamentos (humanos e de solípedes) e as diversas infra-estruturas de preparação física militar e desportiva. Os restantes 340 hectares integrantes da Tapada Militar (antiga 1ª Tapada) prolongam-se maioritariamente para nordeste até ao muro conventual que a separa da Tapada Nacional, na parte correspondente à 2ª Tapada ou Tapada do Meio.

O Centro Militar e a área da Tapada por si administrada foi, frequentemente, cenário da instrução e treino de tropas, sejam próprias, da Unidade vizinha ou de Unidades militares exteriores que ali se preparavam mediante a realização de exercícios e fogos reais, algumas vezes já em aprontamento para missões no estrangeiro. Esta utilização intensiva, revelou-se sustentável mercê do permanente esforço de minimização dos impactos ambientais e graças à constante procura da manutenção do ecossistema. Para tal, foram incrementadas regras e normas de conduta de ‘treino verde’. No mesmo sentido foi dada prioridade a disciplinas tendentes à preparação física e desportiva, incluindo modalidades tão diversas como o corta-mato, a corrida e orientação, o duatlo, triatlo, pentatlo e actividades equestres. O respeito pela natureza, salvaguardando os equilíbrios existentes, pautou, igualmente, as actividades lúdicas como a caça e o lazer, com passeios a pé e de charrete, etc.

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Em 2002, graças ao seguinte projecto ambiental, que se

transcreve no essencial, esta Unidade foi agraciada com o Prémio Defesa Nacional e Ambiente: “[...] III- O CMEFD E AS SUAS INICIATIVAS AMBIENTAIS EM 2002

As questões ambientais neste amanhecer do novo século e milénio, em consequência da degradação das condições de vida no planeta que habitamos e para os quais há, cada vez mais, uma percepção de que a qualidade de vida das populações, estejam elas concentradas em aglomerados urbanos ou no espaço rural, estáestreitamente dependente não só do meio ambiente onde se inserem, mas também das condições ambientais do planeta em geral, planeta este único e por isso a nossa casa comum. Assim global também deve ser as preocupações ambientais e ninguém pode ficar indiferente ao que o rodeia. Pela sua expressão, composição e implantação geográfica, urbanística e populacional, pela sua missão como estabelecimento de ensino, em que se privilegia a acção de formação de formadores em áreas que concorrem directamente para o bem-estar físico e mental de militares e não militares, nacionais e estrangeiros, o CENTRO MILITAR através dos seus diversos Comandos tem tido sempre presente a preocupação com toda a sua envolvente ambiental. Neste sentido, o CMEFD vem acompanhando atentamente também as novas preocupações ecológicas da sociedade civil, em geral, e da comunidade local em particular e, neste propósito tem vindo a desenvolver no seu seio, ao longo dos últimos anos, uma filosofia de âmbito ambiental que atingiu o seu ponto mais elevado e abrangente durante o ano 2002, com apoio em três vertentes principais: a consciencialização e sensibilização internas para a prevenção, por um lado, a conservação e protecção, por outro e uma terceira, que traduziu o querer do actual Comando, recebendo deste um claro impulso, ou seja, o chamar a comunidade civil local, com particular ênfase para a escolar, a partilhar todas estas preocupações ambientais e participar activamente neste esforço de conservação e protecção em estreita cooperação com os militares. Todas elas consubstanciam ensinamentos teórico-práticos que definem e afirmam a Unidade para além de uma grande área de servidão militar,

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também como escola ambientalista com vivências e ensinamentos que contribuem de forma peculiar e significativa para o êxito da formação do militar, enquanto militar e cidadão.

De facto, ainda que naturalmente a instrução militar específica ganhe preponderância na formação do militar, também não se olvida a importância da sua passagem, mais ou menos alargada no tempo, pelas fileiras, para se procurar incutir-lhe uma consciencialização ambiental, como cidadão oriundo da comunidade civil, que mais cedo ou mais tarde a ela regressa. Esta é uma mais valia no plano da cidadania em que o CMEFD se tem envolvido de forma activa, entusiástica e responsável. 1. DESCRIÇÃO DA ACÇÃO E SUA FINALIDADE

O Comando do Centro Militar no entendimento de que as preocupações e respectivas acções ambientais não se restringem a uma determinada área ou problema, mas sim a um grupo diversificado de questões que, tratadas de forma articulada permitem um resultado global mais consistente e sustentável, durante o ano 2002, desenvolveu, especialmente através do seu Núcleo de Protecção Ambiental, as seguintes iniciativas: a) PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO E CONSCENCIALIZAÇÃO AMBIENTAL

Foram ministradas as seguintes acções de sensibilização ambiental:

⇒ De acordo com os programas superiormente definidos para a instrução, a componente formativa da protecção ambiental a todos os militares do SEN em Instrução da PMG;

⇒ Igualmente receberam acções de sensibilização ambiental os militares nas suas Preparações Complementares;

⇒ Cursos e Estágios, exclusivamente com graduados militares ou mistos, militares e civis, através da introdução equilibrada de tempos de promoção ambiental nas suas cargas horárias, pelo que receberam acções de sensibilização teórica complementados com palestras;

⇒ Pessoal graduado e civil do CMEFD: • Acções de carácter permanente – Foi (e continuará a ser) feitaininterruptamente por via da afixação em locais estratégicos, nomeadamente nos espaços dedicados nos bares/salas de convívio e

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no próprio Núcleo, bem como através da divulgação de informações actuais e relevantes sobre a temática da defesa do ambiente; • Acções com carácter periódico – Dando cumprimento ao Programa de Actividades em devido tempo proposto e sancionado para ser desenvolvido durante 2002, o Centro Militar através do seu Gabinete de Apoio à Protecção Ambiental promoveu as seguintes acções: - 24 de Janeiro, foi inaugurada a COMPOSTAR, estação de compostagem de resíduos orgânicos domésticos e de zonas verdes do Centro Militar, oriundos do rancho geral e messes, inauguração esta, complementada com uma acção formativa concedida pelo técnico José Silveiro, da Clima Verde. - 07 de Fevereiro, decorreu no auditório do CMEFD uma conferência, subordinada ao tema Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) aplicados ao Sector Militar, conferida pelo Major da Força Aérea, Ribeiro da Silva, na qualidade de assessor da Divisão de Estudos Ambientais, da Direcção Geral de Infra- Estruturas, tendo sido simultaneamente convidado a inaugurar o novo Gabinete de Apoio à Protecção Ambiental do Centro Militar, agora um espaço mais amplo e central, traduzindo a aposta clara do novo Comandante ao considerar publicamente a Protecção Ambiental como a prioridade das prioridades no seu exercício. - 20 e 21 de Março o CMEFD foi palco de um profuso conjunto de actividades não só ligados à árvore e à floresta, mas também ao tratamento dos resíduos domésticos através da recolha selectiva em ecopontos,compostagemdos orgânicos, resíduos sanitários e sua elementar catalogação, encaminhamento e tratamento, o que é e como funciona o circuito do medicamento usado através do Sistema Valormed, etc.

Cerca de meio milhar de alunos do ensino básico devidamente enquadrados por mais de vinte professores, divididos em oito grupos e acompanhados por todo um conjunto de militares e civis do Centro Militar na qualidade de Guias e de orientadores das diversas actividades, algumas das quais da mais pura génese na missão do CMEFD, como actividades desportivas, equestres e conservação da Tapada na vertente florestal, onde os jovens alunos plantaram mais de duzentas pequenas árvores. Também não faltou um almoço de confraternização onde participaram mais de seiscentos petizes e

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adultos. Foi uma inequívoca demonstração das potencialidades, quiçá mesmo, apetência do Centro Militar de Educação Física e Desportos para desenvolver com regular naturalidade, actividades no apoio à sociedade civil no âmbito da Educação Ambiental,especialmente no que concerne à comunidade escolar - 24 de Abril na prossecução do objectivo de optimizar a administração e gestão da Tapada Militar à responsabilidade do CMEFD e a convite da DRARO (Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste), onde o município de Mafra se insere, o Núcleo de Protecção Ambiental do Centro Militar foi recebido no Centro de Ensaios Florestais da Direcção Geral das Florestas, à Mata do Escaroupim (Salvaterra de Magos). Ali, os militares tomaram contacto com novas experiências de exploração e gestão de recursos silvícolas, as quais, apesar de visarem o aprimoramento de espécies, afim de uma maior rentabilidade económica, não ignoram contudo, o respeito espacial pelo seu equilíbrio biofísico e ambiental. Ressalta que, para além da visita guiada, os engenheiros de imediato se predispuseram a visitar a Tapada militar eapoiar os militares nas vertentes que venham aser consideradas pertinentes. - 19 de Junho a propósito da comemoração do Dia Mundial consagrado ao Ambiente e, aproveitando a recta final de alguns cursos a decorrerem no Centro, realizou-se uma conferência subordinada ao tema “A economia Energética e seu interface com o Ambiente” com o orador convidado, Eng.º Carlos Pimenta que, por motivo de uma tão inesperada quanto imperativa necessidade de deslocação ao estrangeiro, não pode comparecer, fazendo-se substituir pelo proeminente ProfessorCatedrático, Álvaro Martins, da Universidade Técnica de Lisboa, o qual explanou, de uma forma que cativou a audiência, a importânciadaenergiacomo motor indispensável para a economia nacional e mundial, assim como as melhores apostas emtermos de energias alternativas e os seus maiores e menores impactos sobre o ambiente e a qualidade de vida. - 20 de Setembro procedeu-se à inauguração de vários cicloparques e de um conjunto de bicicletas com características peculiares, ou sejam, produzidas em materiais reciclados e recicláveis (denominadas recycling bike`),para uso exclusivo no espaço do Centro Militar, institucionalizando-se assim definitivamente o uso deste veículo salutar e ecológico na Unidade e ganhando-se uma maior mobilidade e, paradoxalmente, uma menor circulação de viaturas poluentes no

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vasto espaço do Centro Militar.Estas inaugurações constavam de um alargado programa de actividades no contexto de o Centro Militar se associar às comemorações do Dia Europeu Sem Carros de uma forma original mas enquadrando-se perfeitamente na realidade do CMEFD e na sua Missão. Por motivos climatéricos, grande parte do programa foi cancelado, terminando o evento com uma palestra no auditório, pela oradora Maria Alexandra Henriques, Engenheira do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa, a qual, fez uma abordagem global ao tema ACTIVIDADES HUMANAS E SEUS IMPACTES SOBRE O AMBIENTE, sem excessiva profundidade técnica, interessando sobremaneira a audiência atenta. - 12 de Dezembro o CMEFD, através do seu Núcleo de Protecção Ambiental, procedeu ao encerramento do ciclo anual de conferências de âmbito ambiental com uma figura carismática, o Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, considerado “[…] pioneiro, no nosso país, na defesa dos valores ambientais e na necessidade urgente de promover o ordenamento do território e da humanização da vida nas cidades […]”. Pleno de saber e de experiências intensamente vividas ao longo da sua, já provecta idade, o conferencista Ribeiro Telles entusiasmou a audiência da casa bemassim como a convidada, proveniente de escolas de Mafra. Com o seu saber e mestria aliados a uma grande eloquência e poder de comunicação, prendeu a assistência do princípio ao fim.

⇒ Familiares (agregados de militares e civis do Centro) - O Núcleo do CMEFD apoiou todo este universo de elementos, através da disponibilização (e até mesmo cedência a título definitivo) de diverso material para consulta afim de contribuirpara a realização

dos seus trabalhos escolares que tiveram por tema o Ambiente; ⇒ Sociedade civil – O Núcleo tem recebido em crescendo solicitações,para visitas e desenvolvimento interno de actividades de âmbito ambiental e de apoio para efectuar exposições e realização de palestras em escolas e jardins-de-infância a que o Centro tem correspondido com a disponibilidade possível.

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b) RESÍDUOS Após ter sido efectuada a identificação, classificação e

quantificação dos diversos tipos de resíduos produzidos na Unidade e, atendendo ao seu volume, características de risco e potencial perigosidade, estabeleceu-se prioridades para o seu tratamento e/ou encaminhamento. Assim:

⇒ Resíduos Hospitalares (RH) – Existindo no seio do Centro Militar além de uma Secção de Medicina humana (tipo Posto de Socorros), também uma unidade prestadora de serviços de saúde animal, o Hospital de Solípedes, único do género em Portugal, mais se sentiu a acuidade do problema desta espécie de resíduos, particularmente os equiparados aos grupos III e IV, catalogados como Resíduos Hospitalares (potencialmente) perigosos. No sentido do seu correcto e legal encaminhamento para tratamento, estabeleceu-se contrato com uma empresa licenciada para a prestação deste tipo de serviço, a AMBIMED, a qual desde Outubro de 1999 vem dando solução a estes resíduos, aos quais se juntam também ao nível do grupo IV, as lâminas usadas de barbear diariamente ‘produzidas’ pela barbearia da Un. No início de 2002 criou-se no Hospital de solípedes o ECOMED, um pequeno ecocentro, onde diversos resíduos, especialmente os ligados à saúde, se concentram para o seu devido tratamento ou encaminhamento para o exterior;

⇒ Baterias-auto – Deu-se continuidade à recolha de baterias-auto de veículos particulares, junto dos militares e funcionários civis do CMEFD, concedendo a oportunidade de efectuarem a sua entrega em local determinado da Un afim de lhes ser dado o devido encaminhamento. A adesão continua a ser interessante, pois permitiu reunir em conjunto com as baterias inoperacionais dos veículos militares, algumas dezenas de unidades que foram entregues no Entroncamento em estabelecimento e local militar, superiormente definidos para o efeito;

⇒ Pilhas, baterias de telemóvel e outros pequenos acumuladores - A aquisição de um PILHÃO, (Janeiro de 2002, à Clima Verde) de elevada capacidade (50 litros) e sua colocação no ecoponto principal da Un permitiu o reforço das campanhas de recolha deste tipo de pequenos artigos (e aqui foi importante a coordenação e profícua colaboração entre os Núcleos de Protecção Ambiental do CMEFD e da EPI).

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Resultado, foram recolhidos ao longo de 2002, 68 kg destes consumíveis extremamente nocivos para o ambiente;

⇒ Películas radiográficas – Manteve-se uma campanha de recolha de películas radiográficas extensiva aos militares e civis que, já não se encontrando ao serviço, recebem assistência ou cuidados de saúde pela Unidade. Mais uma vez a receptividade foi aceitável perspectivando a continuidade no futuro de novas campanhas. Recolheram-se mais de 12 kg que foram entregues nas farmácias locais com destino à AMI (Assistência Médica Internacional);

⇒ Medicamentos fora de uso – Intensificou-se a campanha de recolha de medicamentos fora de validade ou sem uso, junto dos militares e funcionários civis ao serviço, a qual também se estendeu aos militares e funcionários civis que se encontrando fora da actividade, recebem cuidados de saúde pelo Centro militar. Após a entrega dos medicamentos nos dois órgãos de saúde da Un, os seus técnicos verificaram as respectivas validades e o estado em que se apresentavam afim de ser dada utilização aos que ainda demonstravam condições para tal, especialmente os de uso tópico, que na sua maioria podem ter aplicação em animais. Os restantes por não preencherem os indispensáveis requisitos para consumo, foram entregues nas farmácias locais por via do sistema de recolha e tratamento VALORMED. Sendo uma campanha iniciada já há alguns anos, tem-se revelado extremamente positiva e como tal, deu-se-lhe umcarácter permanente e definitivo;

⇒ Óleos usados – Óleos-auto e de máquinas agrícolas (minerais) – efectua-se a recolha com o devido acondicionamento e identificação. Durante o ano em apreço foram entregues cerca de 700 litros à empresa Auto-Vila, autorizada para o levantamento deste tipo de resíduos. A partir deste ano o CMEFD detém um OLEÃO de 300 litros, contentor fabricado expressamente para este fim; Óleos-alimentares (vegetais) – manteve-se a recolha dos chamados ‘óleos de fritura’ usados, tendo destino similar aos anteriores, a regeneração e/ou valorização energética, através da mesma empresa. Reuniu-se desde a sua implementação até ao final do ano cerca de120 litros num OLEÃO, à imagem do existente para os óleos-auto, adquiridos à mesma empresa de equipamentos ambientais;

⇒ Consumíveis de informática – Privilegiou-se a reutilização decartuchos de tinta para impressora. A empresa de Leiria que nos abastece, processa o levantamento dos tinteiros vazios repondo-nos

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outros plenos. Representa uma economia de recursos significativa com os inerentes benefícios ambientais indirectos. Espera-se no futuro estender a reutilização a outros consumíveis. Enquanto isso não sucede, efectua-se a recolha também com o sistema interno da troca por troca de outros artigos como o toner para as fotocopiadoras, fitas para impressoras etc., em que as embalagens são destinadas à reciclagem;

⇒ Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) – (triados e indiferenciados).

Também a este nível 2002 foi um ano profícuo, particularmente em termos de reforço de equipamentos e melhoria dos já existentes. O Centro Militar em 2002, ficou dotado comum segundo ecoponto, estecomcontentores menos volumétricos do tipo ECOBOX (três Boxline 10 de 1000 l cada), quatro contentores tipo MGB de 120 litros cada para apoio à área de confecção de alimentos, doze tipo Minimax, metade de 50 litros e os restantes de 25 l, cinco papeleiras modelo Dino, de 50 l, quatro do tipo areal, diversos para secretaria, do modelo Ecomod, etc. Por outro lado, o antigo ecoponto, além do arranjo da sua plataforma com uma teia em ferro-aço, revestida a betão para suportar sem problemas os veículos colectores dos resíduos e permitir uma maior limpeza do seu espaço e envolvente, recebeu dois novos equipamentos, um EMBALÃO, contentor personalizado de superfície (a expensas da Câmara municipal de Mafra) e o referido PILHÃO suportado pelo CMEFD. Actualmente o principal ecoponto da Un é constituído por um contentor de 5 000 litros embutido no solo (molok), um contentor de superfície para o vidro (vidrão), outro similar para o papel/cartão (papelão) e agora um quarto paraas outras embalagens, complementadas com um quinto para as pilhas. Durante o ano 2002, recolheu-se, acondicionou-se e encaminhou-se para a reciclagem os seguintes materiais: Cartão e papel – com a implementação do novo ecoponto, melhorou significativamente a eficácia de todo o processo e permitiu-nos estimar volumétricamente o seu montante em 270 m3. Em simultâneo tem-se desenvolvido acções de sensibilização com vista à redução do consumo de papel, concertadamente através de um melhor aproveitamento não só por uma optimização do pano` da folha utilizada, assim como e, sempre que possível das suas duas faces, a parde diversos outros aproveitamentos e reforço da utilização de meios informáticos.

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Vidro – há vários anos que a recolha do casco de garrafas e boiões de vidro com vista à reciclagem, se verifica na Un. O reforço em 2002 com novo ecoponto, aliado à pontual recolha pela empresa prestadora de serviços (ECOambiente), permitiu sensível subida de material recolhido, que se estima em 30,5 m3.

Embalagens de metal e de plástico – em 2002 com a introdução dos Embalões, as embalagens, nomeadamente de plástico, de metal e mistas, sofreram positivamente um crescendo que se estima em 500%, comparativamente aos anos anteriores, ou seja, acima dos 150 m3.

Valores RSU triados 2002 cartão – papel 60% / vidro 7% / embalagens 33%:

⇒ Resíduos orgânicos de solípedes e bovinos – No Centro Militar foram produzidos durante o ano 2002 uma média diária de 7 m3 de resíduos orgânicos correspondentes a um efectivo médio/dia de 150 solípedes. Estes resíduos são utilizados para fertilização das terras de semeadura na tapada, sendo o excedente comercializado. A produção de resíduos orgânicos das cerca de 100 cabeças de bovinos de carne no CMEFD não tem grande expressão em virtude de ser uma exploração extensiva em que a maioria dos dejectos ficam depositados directamente nos pastos dos prados onde diariamente são apascentados;

⇒ Compostagem e Vermicompostagem – ou Compostagem (doméstica) – 2002 representa, sobretudo em termos formativos, o ano do início na grande aposta da COMPOSTAGEM por meios naturais e ecológicos. Para isso, foram adquiridos cinco compostores de 290 litros cada (Milko), a uma empresa especializada que, no acto da inauguração da Estação de Compostagem do Centro Militar (Compostar), apoiou a Un com uma acção formativa. Naturalmente que esta pequena estação, somente per si, não aspira a dar solução a todos os resíduos orgânicos domésticos e de jardim, sendo por isso complementada a montante com uma triagem de resíduos (verduras) em melhor estado, passíveis de reforçarem a alimentação dos solípedes do Centro. A compostagem representaactualmente, em termos pedagógicos, um dos pontos de maior interesse para as escolas que nos visitam. o Vermicompostagem – existe no seio do Centro Militar também uma pequena mas interessante estrutura de compostagem por, vermes vermicompostagem. Esta exploração é municiada com os resíduos orgânicos dos solípedes, enriquecidos com

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alguns, de bovinos, absorvendo cerca de 10% do seu total. Os “frutos” da vermicompostagem, o húmus e um líquido rico em nutrientes, estão sendo utilizados para adubar jardins, relvados e culturas diversas; TAPADA MLITAR (TM)

A Tapada Militar representa um dos maiores, senão o maior, ex-libris do Centro Militar, pela sua dimensão, riqueza, pelos imensos habitats que contem ecomplementaridade que exerce com a área envolvente, especialmente com a Tapada Nacional. Daí, a sua susceptibilidade e a delicadeza que requer na manutenção do seu equilíbrio. O Comando do Centro Militar está ciente desta realidade e da sua responsabilidade, mas também está consciente das dificuldades que tudo isso acarreta. Neste propósito, através do seu Núcleo de Protecção Ambiental fez a visita em Abril de 2002, referida anteriormente, ao Centro de Ensaios, à Mata do Escaroupim.

Posteriormente (em Setembro) a TM recebeu a visita de uma equipe de engenheiros silvícolas do dito Centro de Ensaios e da ACHAR (Associação dos Agricultoresde Charneca), para ainda no decorrer do ano em apreço, apresentarem um estudo prévio sobre a gestão espacial da florestana tapada sob administração do Centro Militar. Este estudo entretanto apresentado, ainda superficial, não invalida, obviamente, que se mantenha, ou mesmo se intensifique o excelente diálogo e cooperação com a Régie Cooperativa que administra a TNM, com o intento de que projectos futuros possam trazer benefícios mútuos para as duas tapadas, nomeadamente projectos silvícolas de rearborização, de substituição de espécies arbóreas descaracterizantes, como o eucalipto, por espécies autóctones ou naturalizadas, como os pinheiros bravo e manso e o freixo, entre outras. Há a sensibilidade mútua de que as duas tapadas são complementares, como de uma se trate, não só do ponto de vista histórico, mas também nas suas realidades naturais e na manutenção das suas biodiversidades. É exemplo dessa complementaridade o facto de a TNM carecer de zonas abertas como sejam os prados ou as terras de semeadura. Espécies da avifauna, como as aves de rapina, entre as quais as águias-reais e as de asa redonda, procuram alimentar-se de espécies que por sua vez também encontram nas ditas zonas abertas o alimento de que carecem. Muitas espécies animais diariamente

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cruzam as duas tapadas, num equilíbrio que é de vital importância preservar;

⇒ Manutenção da tapada - Durante o ano 2002 num permanente propósito de promover a manutenção e protecção da tapada, o CMEFD através do seu pelotão de Conservação e Aproveitamento de Recursos Florestais e Agrícolas (CARFA) melhorou aceiros em vários quilómetros, drenou águas, preveniu incêndios através da reposição de corta-fogos pela desmatação, recolheu árvores derrubadas por acção climatérica e cuidou do abate sanitário de outras. Também o CARFA, por forma a diminuir a acção erosiva dos solos, procedeu à gradagem e escarificação de espaços, em detrimento da lavoura, para culturas arvenses e forrageiras num total de 80 hectares. Cultivos estes, destinados aos bovinos, solípedes e apoio directo e indirecto à biodiversidade animal selvagem da tapada. As árvores recolhidas por se encontrarem derrubadas ou por abate sanitário, em grande parte, as melhores para a feitura ou renovação de obstáculos equestres e de restauro de cercas e as outras para aquecimento nas lareiras e salamandras da Un.

⇒ A caça apesar de ser uma actividade lúdica e ancestral, tem tido lugar a sua prática na tapada com um propósito não menos importante, ou seja, contribuir para o equilíbrio das diversas espécies nos seus habitats naturais. Os períodos venatórios têm tempos limitados, grande controlo e acção restrita no espaço e nas espécies cinegéticas, funcionando como um mecanismo regulador e de equilíbrio dos ecossistemas; d) OUTRAS ACÇÕES MAIS RELEVANTES:

⇒ A Piscina e a Ionização das águas A piscina do CMEFD tem uma capacidade de 400 m3 de água e

é utilizada diariamente por cerca de 150 pessoas. A recente introdução do sistema de tratamento da água

denominado “IDRION”, melhorado durante 2002, que consiste em eliminar as bactérias por electrocussão com eléctrodos de cobre, tem permitido reduzir o consumo em cloro, algicidas, etc., em 90%. A água da piscina é filtrada e os filtros são regularmente limpos, tudo isto, em conjugação com o tratamento efectuado, permite manter a mesma água da cuba durante vários anos, o que se traduz numa grande economia de água, em benefícios para a saúde, visto reduzir as

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probabilidades deaparecimento de alergias nos seus utilizadores e de corrosão dos materiais envolventes, ao contrário do cloro. Resultam, naturalmente, também benefícios ambientais da aplicação deste sistema;

⇒ Tanque dos Frades De construção conventual, é constituído por uma massa de água

de aproximadamente 2 200 m3, toda ela fruto de aproveitamento de pequenas linhas de água que são canalizadas para o tanque. A sua água é utilizada essencialmente para regadio de sementeiras circundantes, para enchimento de obstáculos dos percursos equestres, cuja constituiçãopreveja a presença do elemento‘água’ e para exercícios militares que envolvam o contacto com a mesma. Serve ainda como ‘reserva natural’ de algumas espécies de pequenos peixes que de há muito ali têm o seu habitat.

Durante de 2002, procedeu-se à sua manutenção, apesar de, pelas suas características, carecer de uma intervenção mais profunda que tenha também em conta a sua antiguidade e fim para que foi criado, tratando-se de uma estrutura monumental a merecer uma especial classificação como património histórico construído com os inerentes apoios para a sua recuperação;

⇒ Iluminação exterior Sistematicamente, tem-se vindo em continuidade a substituir as

tradicionais lâmpadas incandescentes e de vapor de mercúrio por lâmpadas economizadoras (tipo ‘Ecoton’) na iluminação exterior da malha urbana do CMEFD. Durante o ano 2002 intensificou-se essa alteração complementando-a com a adopção do sistema de células fotoeléctricas que objectivamente visam a economia de energia e os inerentes ganhos financeiros e ambientais;

⇒ Núcleo de Protecção Ambiental Num traduzir da importância que o actual Comando do Centro

Militar dispensou e dispensa à componente Protecção Ambiental, promoveu a ida de um oficial (médico-veterinário, atendendo à importância da protecção ambiental em termos de saúde pública) e mais um sargento, à Escola Prática de Engenharia afim da obtenção da respectiva habilitação de âmbito ambiental para, posteriormente serem reforço no NPAmb da Un. Também a informação é como

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sabemos essencial, sem a qual não pode haver consciencialização nem uma atitude esclarecida. Isto é ainda mais importante quando, como acontece com muitos de nós, se tem a responsabilidade de formar outros cidadãos. Os principais responsáveis pelas acções de consciencialização e de protecção ambiental na Un, sentindo a necessidade de actualizar e solidificar conhecimentos já adquiridos e obter outros, efectuaram durante o decorrer do ano 2002 algumas visitas. O Núcleo tem também vindo sistematicamente a adquirir graciosamente ou não, diversa documentação junto de OG (Organismos Governamentais) como o IA, ICN, INAG, IR, DGF entre outros, assim como, junto de ONGAS (Organismos Não Governamentais de Ambiente) e diversas outras entidades privadas, o que lhe permitehoje, deter um acervo documental e pedagógico bastante interessante;

O Comando do CMEFD sensível à temática ambiental e em reconhecimento das acções desenvolvidas pelo seu Núcleo Ambiental, proporcionou-lhe, com inauguração em 07 FEV 02, um novo espaço, maior e de localização mais central para utilização exclusiva. É neste espaço, o GAPAmb (Gabinete de Apoio à Protecção Ambiental), que o Núcleo do Centro Militar tem a sua sede, seu principal local de trabalho e todo o acervo de documentação de que a Un é detentora neste âmbito. RECURSOS ENVOLVIDOS

Os quadros a seguir apresentados representam alguns dos recursos empenhados ou envolvidos durante o ano 2002 directamente ligados a iniciativas de âmbito ambiental ou de grande interesse e impacto neste âmbito no CMEFD.

Quadro I - INSTRUÇÃO/EDUCAÇÃO/SENSIBILIZAÇÃO CFP – Grupo A 6 turnos 185 elementos (recrutas– tratadores-hipo) Empenho de 18 horas CFP – Grupo B6 26 elementos (recrutas- siderotécnicos) Empenho de 14 horas P COMP CEFM 2/4 elementos (oficiais Exército) Empenho de 8 horas CIEFM Esgrima 1/2 elementos (1 oficial + 1 sargento) 1 hora - conferência

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Curso de Monitores de Equitação 1/4 elementos (1 sarg. Exército + 1 sarg. GNR + 2 civis) 6 horas (inc. + conferências) Curso de Instrutores Equitação 2/7 elementos (1 oficial do Exé. + 6 oficiais da GNR) 6 horas (inc. uma conferência) Curso de Instrutores de Educação Física Militar 1/19 elementos (7 ofic. Exército + 1 oficial. GNR + 11 sarg. Exército) 4 horas (inc. conferências) Conclusão: → em 2002 foram utilizadas 57 horas para um universo de 247 indivíduos.

Quadro II - RESÍDUOS HOSPITALARES Perigosos (RHp’s) Empresa prestadora do serviço: AMBIMED Categoria e quantidades dos resíduos recolhidos: Grupos III - 300 litros Grupo IV – 33 litros Pólos internos produtores contemplados: Hospital de Solípedes, Secção de Medicina Humana, Barbearia (só grupo IV) Recursos financeiros envolvidos: pagamento trimestral = 62,37 € / total ano = 249,48 €

Quadro III - EQUIPAMENTOS AMBIENTAIS ADQUIRIDOS Para RSU`s (ecopontos e contentores diversos) 26 = 976,33 € Sem custo para a Un 13 (preço total estimado = 1.100,00 € ) Para compostagem 7 = 381,09 € Bicicletas e cicloparques 10 + 7 = 1.635,20 € Plataforma para ecoponto 1 = 550,00 € Diversos … Valor estimado = 250,00 € Total de custos = 3.542,92 € Totais de custos (incluindo os graciosos) = 4.642,92 € Equipamentos ambientais fornecidos pela empresa Climaverde, sem custos para a Un, como contrapartida pelo acordo de exposição dos seus produtos na Semana Equestre no CMEFD em Abril de 2002. Manutenção e conservação florestal (desmatação + limpeza geral) 230 horas/máquina/ano 252 dias de trabalho/ano = 852,15 € Renovação/manutenção de prados 345 horas/máquina/ano 297 dias de trabalho/ano = 1.001,93 €

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Semeaduras e renovação de culturas arvenses e forrageiras 710 horas/máquina/ano 457 dias de trabalho/ano = 2.530,64 € Prevenção e combate a incêndios (inc. as acções de vigilância e manutenção de aceiros) 112 horas/máquina/ano 2 viaturas (1 pesada + 1 ligeira) 58 dias de trabalho/ano 3 homens/ano = 681,72 € TOTAIS: 1397 horas/máquina/ano 2 viaturas (1 pesada + 1 ligeira) 1 065 dias de trabalho/ano3 homens/ano = 5.066,44 € IMPACTE NA COMUNIDADE

Está presente na generalidade dos militares e funcionários civis do CMEFD queesta Unidade, a ‘sua casa’, tem características próprias e diversificadas, tem riquezas e susceptibilidades que exigem uma permanente aposta na sua protecção ambiental.

Todos beneficiam com a qualidade ambiental e esta depende de todos. A adesão às diversas iniciativas desencadeadas pelo Comando, Sub-Unidades ou Órgãos e particularmente pelo NPAmb, com carácter de consciencialização para as boas práticas ambientais, tem sido motivadora. Como tal, a aposta reforçada em 2002, em medidas de protecção ambiental pode-se considerar como uma aposta ganha. Em 2002 o CMEFD foi alvo de uma Inspecção-Geral Ordinária (nível Exército), tendo o empenho e as actividades desenvolvidas no âmbito da Protecção Ambiental merecido a classificação MBom. Também da comunidade civil se sente o reflexo desses resultados, pelo impacto dado pela comunicação social local e regional (anexos-imprensa) e, pela solicitação cada vez maior de escolas para visitas e utilização dos meios pedagógicos de que dispomos, bem como dos próprios instrutores de protecção ambiental afim de colaborarem em palestras ou outras realizações. Estimulante também, é a solícita disponibilização de recursos patenteada pelas empresas privadas de molde a apoiarem actividades no âmbito, funcionando a troika Militares-Ambiente-Escolas com um efeito absolutamente persuasor. Na verdade o bom clima de relacionamento e cooperação com a sociedade civil, poderes autárquico e público, locais, está-se reforçando, o que se torna bastante promissor em termos de resultados futuros neste domínio do ambiente.

É gratificante para o CMEFD e para o seu Comando verificar que, para além de todas as valências tradicionalmente solicitadas a esta Un, também na componente mais acentuadamente ambiental se manifesta esse interesse. Ilustração do mencionado, foi o alto

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patrocínio efectuado por uma das mais importantes empresas de comercialização de equipamentos ambientais no nosso país, que elegeu o maior evento equestre militar nacional, a Semana Equestre Militar, anualmente organizada pelo CMEFD, como espaço ambiental privilegiado para a divulgação em grande escala dos seus produtos. É por isso, inequivocamente um valor que se reforça dia a dia, complementando todas as outras áreas e contribuindo para conferir ainda maior dinamismo e capacidade à Unidade.

O Centro Militar e o espaço da Tapada por si administrada é frequentemente palco da instrução e treino de tropas, sejam suas, da Unidade vizinha ou de Unidades militares exteriores que aqui se preparam através da realização de exercícios e fogos reais, algumas das vezes já em aprontamento para missões no estrangeiro. Toda esta utilização só é possível com o permanente esforço de redução dos impactos ambientais, na procura constante da manutenção do equilíbrio ecológico, graças às diligências para minimização dos efeitos da presença do homem militar, na fauna e flora. Para que isto suceda, existem regras e normas de conduta e ‘treino verde’ que de uma forma geral têm sido cumpridas. O mesmo acontece na utilização do espaço em termos de preparação física e desportiva, com modalidades tão diversas como o corta-mato, a corrida e orientação, o duatlo, triatlo, pentatlo e actividades equestres. Igualmente no âmbito de actividades lúdicas como a caça e de lazer como passeios a pé e de charrete, etc., onde o respeito pela natureza tem prevalecido sem fazer perigar excessivamente o equilíbrio dos ecossistemas existentes.

Também ao nível dos resíduos, a nossa acção tem-se pautado pela procura da melhor solução, a mais adequada para o seu tratamento ou encaminhamento, especialmente dos de maior risco, como os hospitalares, pilhas, baterias e óleos, preenchendo-se e remetendo-se às entidades legais respectivas, os mapas em vigor (anexos). Considera ainda o Comando do Centro Militar de Educação Física e Desportos ter cumprido a legislação vigente no domínio do ambiente, pese embora, ter a consciência que a qualidade e melhoria ambiental trabalha-se no dia a dia e como tal, muito há ainda a fazer. GRAU DE INOVAÇÃO E DIFICULDADE

Devido à falta de entidades recicladoras de pilhas, têm surgido algumas dificuldades no desembaraço das mesmas, o que também a médio prazo pode provocar alguma desmotivação na entrega pelos

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seus utilizadores. Actualmente, o desembaraço é feito através dos pilhões existentes nos ecopontos de municípios como Lisboa e limítrofes, em virtude de não existirem na área do município de Mafra. A recolha selectiva de cascos de lâmpadas iniciada, enferma das mesmas ou ainda, maiores dificuldades, já que actualmente é desconhecida a existência de empresas qualificadas para a reciclagem das mesmas. Apesar da sua beleza e de algum interesse, como habitat de algumas espécies de passariformes que no seu interior nidificam, as heras: - facilitam a propagação do fogo aos troncos e ramos das árvores onde se suportam, pois que, sob a folhagem verdejante existem miríades de filamentos ramificados efolhagens secas;- atrofiamo normal desenvolvimento arbóreo dos seus ‘tutores’; - provocam maior resistência das árvores ‘tutoras’ aos ventos, susceptibilizando-as; - revestem actualmente 25 a 35% de todas as árvores existentes na tapada.

Outra planta trepadeira infestante que, pela sua disseminação e vertiginoso desenvolvimento, exige combate permanente, é a silva.

Ela está presente em praticamente todos os espaços da tapada, encontrando nesta um habitat ideal, só deparando com algum reverso nas zonas abertas, nomeadamente onde a acção mecânica e os bovinos se lhe apresentam como adversários persistentes. Sendo uma espécie vegetal infestante que expulsa ou impede o normal desenvolvimento de muitas outras espécies vegetais e animais, é também e sobretudo um meio ideal de propagação de incêndios. Pela pujança que evidenciam, áreas que ocupam e capacidade de renovação, as heras e as silvas são infestantes que se afiguram como as maiores pragas vegetais na tapada militar e com os meios mecânicos limitados que o Centro Militar dispõe para lhes fazer frente, nomeadamente a falta de uma máquina roçadoura de elevada ou média capacidade, está-se revelando extremamente difícil manter o controlo no desenvolvimento destas plantas, ameaçadoras do equilíbrio dos ecossistemas existentes na tapada.

Outro desafio que ainda se impunha até há bem pouco tempo, era o de recuperar o espaço outrora ocupado pela lixeira militar. Através de uma estreita e frutuosa colaboração, coordenada entre os Núcleos de Protecção Ambiental das duas Unidades militares que coabitam o espaço comum da Tapada, foi isso possível, dando lugar agora a um espaço diferente, em solução de continuidade da Tapada pelo processo da reflorestação. A aposta na qualidade ambiental no

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Centro Militar de Educação Física e Desportos e sua área de influência deve, no entender dos seus responsáveis, passar por um trabalho diversificado abrangendo articuladamente as mais diversas vertentes como a informação, sensibilização e consciencialização de militares e civis, para que destas resulte o conhecimento, a partir do qual frutifique um conjunto de boas práticas ambientais, as quais, acompanhadas de alguns novos equipamentos (os possíveis) possam permitir a curto/médio prazo que se saboreiem resultados e que a inerentesubida da qualidade de vida seja algo sustentável e perdurável. Tem sido esta a filosofia na Un nos últimos tempos. Poder-se-á referir que a compostagem ou a institucionalização do uso e disponibilização de bicicletas com características especiais, a título de exemplos, sejam uma inovação no seio das Forças Armadas … mas também poderão não ser. Garantidamente que todo o conjunto de realidades do CMEFD e de meios e medidas ambientais nele implementados, isso sim, não se nos oferece qualquer dúvida, obedecem a um determinado grau de inovação e, cientes de que ainda muito haverá por fazer, também existe a consciência das dificuldades que tiveramnecessariamente que ser ultrapassadas e das muitas que no futuro irão certamente surgir! [...]”.

Infra-estruturas do CMEFD

Área de Equitação (única congénere existente em Portugal): dois Picadeiros cobertos (Hebraico e Raso); Campo de obstáculos relvado (Campo Brigadeiro Henrique Callado, ou Campo dos Plátanos); Campo de obstáculos com piso de areia (Campo Coronel Helder e Sousa Martins); dois Campos de Dressage (Coronel Francisco Valadas e Coronel António Pereira de Almeida); zona ervada com obstáculos naturais (Cerrado Coronel Jorge Mathias); Pista de galope com 1000 metros; Picadeiro descoberto; duas guias mecânicas; quatro Cavalariças da Parada dos Argentinos (Avrô, Feitiço, Satari e Matamás); duas Cavalariças contemporâneas do Real Monumento de Mafra (Potril, destruído por incêndio, em 2001 e Cavalariça AB, na Parada dos Garanhões); Hospital de Equinos. Área da Educação Física: Pavilhão Gimnodesportivo; Sala de musculação; uma piscina coberta; Estádio, constituído por campo de jogos relvado, pista de Pentatlo Internacional, com 500 metros, edifício com bancadas e salas de aula (Estádio Tenente Coronel Leal de Oliveira); Pista de atletismo e pista de

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aplicação militar; Sala de Armas para prática de Esgrima (Sala Coronel Rui Fernandes) Outras infra-estruturas: Lagar de azeite (séc. XIX).

Comandantes do Centro Militar de Educação Física e Desportos

Coronel de Infantaria António José Fernandes Praça (13.10.1993 a 13.9.1995) Coronel de Cavalaria Rogério da Silva Guilherme (13.9.1995 a 3.9.1997) Coronel de Infantaria João Henrique Domingues Gil (3.9.1997 a 27.9.1999) Coronel de Infantaria José António Saturnino Balula Cid (28.9.1999 a 3.10.2000) Coronel de Infantaria Joaquim José Pinto Carvalho de Oliveira (4.10.2000 a 13.12.2001) Coronel de Infantaria Manuel Eugénio Moreira de Carvalho Teles Grilo (13.12.2001 a 30.6.2003) Coronel de Infantaria José Eugénio Pascoal Barradas (30.6.2003 a 7.1.2005) Coronel de Infantaria José Manuel Cardoso Lourenço (10.2.2005 a 1.6.2007) Coronel de Cavalaria José Maria Rebocho Pais de Paula Santos (6.6.2007 a 2.9.2009) Coronel de Infantaria João Vasco Sousa de Castro e Quadros (4.9.2009 a 3.10.2011) Coronel de Cavalaria Carlos Nuno Gomes e Simões de Melo (21.10.2011 a 27.8.2013)

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Centro de Tropas Comandos / CTC (1 Jul. 2007 - Fev. 2008)

Criado em 2006 pelo Despacho 12555/2996 (2ª Serie

MDN, de 26 de Maio) e Despacho do CEME de 1 de Julho, na dependência da também então constituída Brigada de Reacção Rápida, no âmbito das alterações organizacionais introduzidas pelo programa Transformação, no Exército.

O CTC destinava-se a actuar em articulação com 0 Centro de Tropas de Operações Especiais, os Regimentos de Infantaria 3, 10 e 15, a Escola de Tropas Paraquedistas, a Unidade de Aviação Ligeira do Exército e uma unidade de apoio à Brigada de Reacção Rápida.

Quatorze anos volvidos sobre a extinção do Regimento de Comandos (1975-1993), estas tropas de élite do exército português voltaram a ter um quartel e um comando único, temporariamente instalados no Regimento de Infantaria 1, na Carregueira, posteriormente transferidos para 0 quartel do Alto da Vela, em Mafra.

Em Outubro de 2006, 0 CTC passou a ser comandado por um coronel, equiparando-se, assim, às outras subunidades de escalão regimento de brigada. A 18 do mesmo mês assumiria 0 posto de primeiro comandante do CTC, 0 coronel de Infantaria CMD, Marco Paulino Serronha.

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A exiguidade das instalações e a "proximidade excessiva entre as duas companhias operacionais e a de instrução, quando a realidade da instrução aconselhava, precisamente, 0 inverso", ditou 0 seu regresso à Carregueira.

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Escola das Armas / EA (2013-)

Instituída em Mafra por Despacho, de 3 de Julho de 2013, do

Ministro da Defesa Nacional, o qual desativava, integrando-as na EA, as Escolas Práticas de Infantaria (EPI), de Artilharia (EPA), de Cavalaria (EPC), de Engenharia (EPE), de Transmissões (EPT) e do Centro Militar de Educação Física e Desportos (CMEFD), com efeitos a partir de 1 de Outubro do mesmo ano.

Previamente, por Despacho de 30 de Maio de 2013, o General CEME, criara uma Comissão Instaladora da Escola das Armas com a missão de planear e propor a adopção das medidas e acções necessárias à efectiva entrada em funcionamento da EA, em 1 de Outubro de 2013, incluindo os relativos a recursos humanos e materiais, nos termos da Diretiva nº55/CEME/13, de 24 de Maio.

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Heráldica da Escola das Armas

Escudo de vermelho, uma lucerna de prata acesa de vermelho perfilada do segundo, um chefe de prata carregado de cinco escudetes de vermelho; Elmo militar de prata, forrado de vermelho, a três quartos para a dextra; Correia de vermelho perfilada de ouro; Paquife e virol de vermelho e prata; Timbre: um leão rampante de prata, sustendo à sinistra um livro antigo aberto de prata com correias fiveladas de ouro, sobre o mesmo na vertical a espada com lâmina antiga de prata, guarnecida, empunhada e macenetada de ouro, sustida pela mão dextra; Divisa inspirada em Os Lusíadas, III, 24: num listel de prata, ondulado, sotoposto ao escudo, em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzevir “Se mostrarão nas Armas singulares”.

É propósito da Escola das Armas conceber e ministrar cursos

de formação inicial, progressão na carreira e formação contínua; participa, de acordo com as orientações superiores, na elaboração de doutrina, estudos técnicos e em projetos de investigação e desenvolvimento.

Comandantes da Escola das Armas

Coronel Tir de Infantaria Domingos Luis Dias Pascoal (2013-2014)

BANDAS MILITARES DE MAFRA

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Banda do Asilo dos Filhos dos Soldados

A sua existência ocorre consignada num ofício de 1864.

Banda do Batalhão de Caçadores 6

Nos dias 6 e 21 de Maio de 1890, D. Carlos foi recebido em Mafra por um esquadrão de Cavalaria e Batalhão de Caçadores 6, com a respectiva banda marcial.

Banda do Regimento 1 de Infantaria da Rainha

No dia 12 de Agosto de 1890, D. Carlos chegou a Mafra, pelas nove e meia da manhã, acompanhado pelos oficiais da sua casa militar, o Conde de Tarouca e o major Serpa Pinto. Aguardavam-no os oficiais da Escola Prática e do Regimento 1 de Infantaria da Rainha, guarda de honra deste corpo, e respectiva banda musical.

Banda do Regimento 5 de Caçadores del-Rei

Nas recepções a D. Carlos e a D. Amélia em Mafra, a 22 de Janeiro e a 21 de Novembro de 1891, os monarcas foram aguardados na portaria do real Palácio por uma guarda de honra de Caçadores 5, com a respectiva banda.

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Banda da Sala

Constituída, durante a década de 1930, na então Escola Prática de Infantaria e Cavalaria, por praças do Serviço Militar Obrigatório com conhecimentos musicais.

O seu orçamento era suportado pela Escola, mas, acima de tudo, pela Sala de Convívio, donde a sua denominação.

Extinguiu-se cerca de 1939-40, constando de algumas Ordens de Serviço a indicação de ter proporcionado diversos concertos internos.

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Banda de Amanuenses

Em consequência da reforma do Exército, em 1937 (Decreto-Lei 28401, de 31 de Dezembro), seriam extintas 24 Bandas militares. Os músicos excedentários que não passaram à reserva haviam de tornar-se amanuenses.

Aos Sargentos oriundos das formações musicais extintas a prestar serviço como amanuenses, a então Escola Prática de Infantaria e Cavalaria endereçou, no ano de 1943, o convite para formarem uma Banda, a qual seria dirigida pelo, ao tempo, 1º Sargento Amanuense Apolinário.

Teve vida efémera, porquanto, em 1945, volvido apenas cerca de ano e meio sobre a sua constituição, desfez-se, tendo o respectivo instrumental sido vendido ao desbarato.

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Banda de Música da EPI

Em 1945, coube ao Tenente Chefe de Banda de Música Domingos Ferreira e ao Sargento-Ajudante Músico José Pinto Rodrigues dar os passos essenciais com vista à oficialização da Banda da Escola Prática de Infantaria (EPI), o que ocorreria no ano seguinte, com a categoria de 3ª classe (45 elementos).

Banda da EPI (década de 1960)

Constituía sua missão específica: 1. Participar em actos militares (Juramentos de bandeira, Guarda de Honra, Desfiles, etc.), dando brilho e entusiasmo aos mesmos; 2. Contribuir para a valorização cultural e recreativa do pessoal militar e civil, realizando concertos ou outras intervenções musicais; 3. Formar pessoal destinado às Bandas Militares, preparando-o teórica e tecnicamente a nível profissional, proporcionando-lhe conhecimentos para o bom desempenho da função, que se transmitem ao meio civil através dos elementos espalhados pelas Bandas Civis, escolas de Música, Conjuntos Musicais, Teatros, etc.

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Muito embora, o Quadro Orgânico da então Banda da EPI não comportasse um Oficial Chefe de Banda de Música, o Tenente Domingos Ferreira seria designado para desempenhar o cargo, o que havia de suceder até 1947. Nesse interim, foram realizados vários concertos, quer na Unidade, quer em público. Doravante, em virtude de o Quadro Orgânico em vigor não dispor da patente de Oficial Chefe de Banda de Música, seria chefiada interinamente pelo Sargento mais graduado e mais antigo, na circunstância o Sargento-Ajudante Músico António Costa, o qual a dirigiu no período compreendido entre 1948 e 1955.

Só na sequência da revisão do respectivo Quadro Orgânico, concretizada neste ano de 1955, havia de ser criada a vaga de Oficial Chefe de Banda de Música, cuja primeira nomeação ocorreu em 1956, na pessoa do Alferes Chefe de Banda de Música José Pinto Rodrigues. A Banda de Música da EPI passara a ser constituída por 46 elementos: 1 oficial, 20 sargentos e 25 praças.

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Ulteriormente, seria promovida a Banda de tipo B ao abrigo do Decreto-Lei 133 /79 de 17 de Maio.

Finalmente, por proposta do Inspector de Bandas e Fanfarras do Exército, favoravelmente despachada pelo General CEMRE, em 25 de Março de 1988, ser-lhe-iam retirados 13 sargentos, para incorporarem a Banda de Música do RI1.

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Programa (parcial) do espectáculo promovido pela Corporação de Sargentos

da EPI (22 Mai. 1946), cuja orquestra e coros estiveram a cargo da Banda da Unidade.

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Currículo e Memorabilia 1946 Maio 22 – Baile organizado pela Corporação de Sargentos da EPI 1963 Julho 4 – Início dos concertos gratuitos das quintas-feiras, no Jardim do Cerco. Setembro 7 a 15 – Concertos no âmbito da Feira Agro-Pecuária e Industrial de Mafra 1966-1967 Concertos semanais destinados ao pessoal da EPI (cf. Anuário 1966-67)

1967-1968 Concertos públicos semanais, à quinta-feira (cf. Anuário 14 Agosto 1967 - 14 Agosto 1968) 1968-1969 Concertos semanais (cf. Anuário 1968-1969)

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1971 Junho 10 - A Banda da EPI acompanha a Solene Procissão do Santíssimo Sacramento pelas ruas de Mafra 1973 Junho 21 - A Banda da EPI acompanha a Solene Procissão do Santíssimo Sacramento pelas ruas de Mafra 1974 Agosto 14 – Concerto na Praça da República (Mafra)

Ao longo da sua existência, a banda de Música da EPI recebeu

dois louvores: do Governador Militar de Lisboa e do Comandante da EPI, este durante a cerimónia de homenagem promovida pela EPI, em 26 de Novembro de 1993, presidida pelo general GML António Ferreira Rodrigues de Areia.

Além da sua participação em actos militares, a Banda da EPI deu inúmeros concertos, tanto na unidade, como em público, tendo actuado em cerimónias religiosas e festivais nos concelhos de Mafra.

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Sintra, Loures, Torres Vedras, Lourinhã, Sobral de Monte Agraço, Alenquer, etc.

Foi extinta no ano de 1993.

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Oficiais Chefes que dirigiram a Banda de Música (BM) da EPI

*Alferes Chefe BM José Pinto Rodrigues (1956) *Alferes Chefe BM Carlos Oliveira (1958) *Alferes Chefe BM Domingos Fernandes Canhão (Outubro de 1959 a 26 de Dezembro de 1965) *Alferes Chefe BM Sílvio Lindo Pleno (1966) *Tenente Chefe BM António Domingos da Silva (1966 a 1 de Junho de 1969) *Alferes Chefe BM Joaquim Alves de Amorim (15 de Janeiro de 1971 a 15 de Setembro de 1972) *Alferes Chefe BM José de Oliveira Rebelo (16 de Setembro de 1972 a 14 de Maio de 1973) *Alferes Chefe BM António Moreira Teixeira (15 de Maio de 1973 a 7 de Janeiro de 1975) *Tenente Chefe BM José de Matos Simões (20 de Janeiro a 30 de Julho de 1975) *Capitão Chefe BM José Joaquim de Oliveira Santos (14 de Maio de 1975 a 2 de Novembro de 1977) *Tenente Chefe BM António Moreira Teixeira (20 de Outubro de 1977 a 4 de Junho de 1978) *Capitão Chefe BM Idílio Martins Fernandes (1 de Fevereiro de 1979 a Agosto de 1981) *Sargento Chefe BM Luís Rego (Abril de 1984 a Fevereiro de 1986) *Capitão Chefe BM José Duarte Gaspar (3 de Fevereiro de 1986 a Setembro de 1988) *Sargento Chefe BM Luís Moreira (Setembro de 1988 a Dezembro de 1992) *Sargento Chefe BM Eduardo F. Freire (Janeiro a Dezembro de 1993)

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Orquestra Ligeira da EPI

Instituída no seio da Banda de Música da EPI. A sua primeira actuação teve lugar a 9 de Abril de 1980,

destinando-se a participar nos convívios de Natal realizados na EPI, bem como na segunda parte de alguns dos concertos proporcionados às populações pela Banda da Escola.

MEMÓRIAS

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CARLOS GALRÃO

Crónica [IV] (O Mafrense, 13 Nov. 1889)

Vou hoje dar-te notícia, amável leitora, que me vais aturando

estas massadas, de uma verdadeira festa da ciência, a que tive a honra de assistir no último domingo. É da inauguração da escola pratica de Infantaria e Cavalaria que vou falar.

Se bem que nos assuntos militares sejam aqueles que, em matéria de ciência, menos preocupem a mulher portuguesa, embora na sua história militar possa aqui e além transparecer um vulto valoroso, sem falarmos na clássica padeira de Aljubarrota, eu julgo-me obrigado, no meu dever de cronista, a relatar em traços ligeiros o que se passou na sessão de abertura.

Mas primeiramente, e sem que com isto queira infligir a alguém uma censura, devo dizer, que ao transpor a porta da sala de armas, onde teve lugar a sessão, esperava encontrar também aquelas para quem mais particularmente se dirigem estas crónicas. Aos oradores cabe a grande responsabilidade de não terem instado pela assistência das damas a esta solenidade. E, se pensarem bem, verão que a energia nervosa que despenderam durante os seus discursos foi muito maior do que seria se um olhar de mulher estivesse ali a incitá-los ao fogo dos grandes arrojos oratórios. Os espectadores, rompendo com as pragmáticas, talvez explodissem em aplausos frenéticos, se um conjunto de rostos femininos lhes aguilhoasse o espírito com a embriaguez delirante das enormes dedicações.

Não pensem que estas palavras sejam ditadas por um sentimentalismo piegas, bebido no convívio dos poetas de grande gaforina. Vossas Excelências conhecem a poderosa influência do meio…

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- E então não ia eu meter-me nas altas questões da psicologia, sem respeito algum pelas minhas leitoras!

Vamos à crónica. Abriu a sessão o ilustre coronel comandante que, depois de

enumerar em poucas palavras os progressos da escola no primeiro ano da sua instalação, e de elogiar os oficiais que mais têm contribuído para o seu engrandecimento, deu a palavra ao ilustrado tenente coronel Celestino de Sousa.

Começou Sua Excelência por ler o decreto em virtude do qual foi criada em Mafra uma escola pratica de Infantaria e Cavalaria. Quem prestou atenção à leitura dos diferentes artigos fácil lhe foi concluir como a lei foi cumprida de uma maneira superior a todo o elogio.

Em seguida, recordando em frase colorida a inauguração da Escola Normal de Paris, com a assistência do grande Laplace, fez ver como o entusiasmo pelas escolas militares de aplicação merece ao país inteiro a consagração que se deve às grandes instituições nacionais. Enquanto a França combatia em Argel e descurava os estudos militares, a Alemanha estudava nas escolas: o que vale a pratica sem o estudo está a dizê-lo a campanha de 1870. Lembrando estes factos, o ilustre militar quis mais uma vez mostrar quanto se torna urgente para o país o aperfeiçoamento da instrução militar, até há poucos anos bastante descurado.

Por último fez apelo aos seus camaradas para que se auxiliem na campanha científica que vai iniciar-se.

No final da sessão teve a palavra o sr. major Sarmento. S. Ex.ª leu um bem elaborado discurso, onde principalmente fez sobressair a importância da Cavalaria nos exércitos modernos, justificando assim a necessidade que há em difundir o fluxo indispensável à instrução prática.

Depois de levantada a secção os oradores foram muito felicitados.

Onofre de Lys, o mais obscuro dos ouvintes, daqui envia um bravo aos distintos oficiais, que, com uma energia extraordinária, lutam para que o exército português continue a merecer a admiração a que tem jus pelas suas brilhantes tradições.

Onofre de Lys

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CARLOS GALRÃO

Crónica [V]

(O Mafrense, 3 Fev. 1889)

Eu quisera ter a pena de Brillat Savarin, o poderoso

investigador da fisiologia do gosto, quisera ter o espírito de Rivarol, as extraordinárias qualidades de análise que possuía Chamfort, para dar um escorço sequer da última festa da Escola Pratica de Infantaria e Cavalaria. Poderá parecer estranho que seja necessário invocar o talento dos homens célebres para descrever um jantar. Dou razão ao leitor meticuloso, cronista fácil e pouco impressionável de jantares banais, descritos pomposamente na segunda página dos noticiários. Mas, quando um banquete quer afirmar uma ideia de dedicação e desinteresse na grande luta pela existência da pátria, eu estou longe de concordar com o meu impertinente leitor. O banquete oferecido pelos oficiais que acidentalmente se acham nesta vila, aos seus camaradas da Escola Prática, além de significar que um elo mais se apertou na grande cadeia que une a família militar portuguesa, teve demais, a enaltecer-lhe os brilhos, a consagração afectuosa do principio da instrução militar que a Escola vai difundindo silenciosamente, e sem trombetas que lhe apregoem os méritos, pelo país inteiro. Para esta deliciosa festa foram também convidadas as famílias dos oficiais. Ainda bem. Nos sonhos de vitória, que povoam a imaginação do soldado, aparece sempre aliada à imagem da pátria o ideal da família. Dê-se pois nas alegrias da paz um lugar a quem pode ser incentivo poderoso nas grandes tristezas da guerra. “Só um homem de espírito sabe comer”, disse um dos pensadores a quem nos referimos no principio desta fugitiva crónica. Registe-se com esta citação o melhor elogio que Onofre de Lys pode fazer ao delicado menu do magnífico jantar. Com o maior prazer o

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transcrevo, para que o leitor possa apreciar o espírito esfusiante do seu autor. Jantar

Sopa à Kropatschek Massa cobrida Peixe-espada Lombo embalado Filetes com molho de pólvora Língua à Rollo Espinafres à infanteria Perus à cavalaria Salada à período de Inverno Conservas à Carqueija Frutas do Cochinchina Doces ginásticos (facultativos para oficiais) Vinhos explosivos Café de bivaque Conhaque de repetição (só até seis tragos)

Ser-me-á impossível dar uma notícia, embora resumidíssima, dos inúmeros brindes que se sucederam no fim do jantar. Por vezes a eloquência faiscou de envolta com manifestações de subido talento. Depois de um brinde do ilustre coronel comandante da Escola aos oficiais promotoras do banquete, seguiram-se outros, sendo principalmente notável o do Sr. Tenente-coronel Celestino de Sousa aos oficiais presentes e suas famílias. S. Ex.ª, com a sua palavra fremente, fez despertar o entusiasmo de todos, que de um ímpeto se levantaram aplaudindo-o calorosamente. Ao exército, à infantaria e cavalaria ao futuro da Escola Prática, foram levantados brindes, pelos Srs. Capitão Correia capitão Machado, capitão Amorim, tenente Vergueiro, etc., que todos os convivas secundaram com manifesto prazer. Aos habitantes da vila de Mafra foi dirigido um brinde pelo Sr. Tenente-coronel Celestino. Sr. Ex.ª congratulando-se pela presença dos Srs. Augusto Taveira Pinto e Carlos Galrão, que um convite gentil fez comparecer a esta festa, agradeceu à vila de Mafra as grandes

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provas de simpatia que sempre tem mostrado pela Escola prática de infantaria e cavalaria. A este brinde respondeu o Sr. Carlos Galrão, saudando os oficiais presentes e o exército português. Onofre de Lys 19, o simples cronista do rez-de-chaussée deste semanário, teve da parte do Sr. Tenente-coronel Celestino a distinção de ser brindado com delicadas manifestações de benevolência. Agradeceu este brinde o meu amigo Galrão, que aproveitou o ensejo para brindar por Júlio Negro o inteligente e misterioso folhetinista que há dias visitou este jornal. Do íntimo da minha alma aqui agradeço a S. Ex.ª as palavras de louvor que a sua amabilidade ditou para um desconhecido, que sob o cetim do dominó que o protege somente procura distrair-se no grande baile de máscaras da vida, dizendo petulantemente aos que passam: “Conheces-me?” Depois da festa, onde em brindes sinceros transpareceram as ideias mais levantadas pelo futuro do país que resta na memória dos convivas? que pode imaginar o leitor do croquis que esbocei a traços ligeiros?

Para os convivas um estímulo mais na sua vida, para os leitores um reflexo pálido da grande luz das abnegações humanas.

Por isso eu quisera ter o espírito de Rivarol e as qualidades de Chamfort…

19 Pseudónimo do Doutor Carlos Galrão.

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CARLOS GALRÃO

In diebus illis… [I] (O Concelho de Mafra, 28 Mai. 1937)

No tempo em que havia mais arte e menos esthetica, Mafra

tinha um teatro, instalado no salão, que ora serve de refeitório dos soldados. Fora mandado construir pelos oficiais de um regimento que, à volta de 1840, esteve aquartelado no convento. Teatro de modesta construção, ainda assim muito superior ao actual Grémio Mafrense. Tinha plateia, balcão guarnecido de uma balaustrada, pintada a azul e ouro e camarote real.

Quando o Colégio Militar, esteve aquartelado no edifício, bem como o Asilo dos Filhos dos Soldados, alguns oficiais destas unidades tomaram a direcção do Teatro, muito principalmente o alferes Silva Monteiro, que pintou cenários e um pano de boca, com a vista do convento.

Extinto o asilo e retirado o Colégio Militar, o Teatro ficou entregue ao almoxarifado do Palácio, que conseguiu reunir quase todos os meses. Em 1896, em virtude de distúrbios provocados por alguns militares, o almoxarifado obteve ordem da Administração da Casa Real, para demolir o teatro.

Seguidamente organizou-se uma comissão com o intuito de construir um teatro fora do convento. Essa comissão teve da Casa Real a concessão de um barracão existente ao poente das actuais habitações de empregados no Depósito de Remonta, e conseguiu realizar os fundos preciosos para levar a efeito a construção.

Desistiu porém do seu intento, fazendo entrega dos donativos recebidos ao Hospital de Nossa Senhora das Dores de Mafra, em virtude da oposição que na vila se levantou, por parte dos interessados na demolição do antigo teatro. Não desejando avivar recordações desagradáveis de há quarenta anos, não explicaremos as razões que

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motivaram atitudes pouco consentâneas com o bom senso e ideia de progresso, que deve animar uma vila civilizada.

Como dissemos, o teatro antigo tinha camarote real e Suas Majestades promoviam recitas anualmente, por ocasião da distribuição dos prémios aos alunos da Escola Real D. Pedro V.

Recortamos, abreviadamente, da Gazeta do Campo, a noticia dessas receitas em 1866, por ocasião da vinda de El-Rei D. Luís a Mafra distribuir os prémios aos alunos da Escola Real, no ano lectivo de 1865 e 1866. Com grande prazer vemos que um dos alunos mais premiados foi o nosso conterrâneo Sr. Coronel Francisco de Carvalho de Brito Gorjão.

As receitas tiveram lugar nos dias 27 e 28 de Agosto de 1866. Respresentaram-se as seguintes comédias: Confidências de uma pessoa sincera, Um discípulo de Mr. Leotard, Um sujeito e senhora. Não se casem assim, As obras de Horácio, O grumete de Bartolomeu Dias, As duas bengalas.

Tomaram parte nessas receitas, os mais notáveis actores do teatro português no século XIX. As citações dos seus nomes são suficientes para compreensão dos menos conhecedores da história do teatro nacional: Delfina, Isidoro, José Carlos dos Santos, Tasso, Emília Letroublon, Emília Adelaide.

Ás duas receitas assistiram, além de El-Rei D. Luís, Rainha D. Maria Pia e Infante D. Augusto, as seguintes personagens do seu séquito: Duquesa de Palmela, Condessa de Ficalho, Ministros Casal Ribeiro, Barjona de Freitas e Martins Ferrão, Duque de Palmela, Conde da Ponte, Marquês de Sabugosa, Francisco de Melo Breyner, etc.

Passaram à história as grandezas do teatro de Mafra: qualquer dia vai ser demolido o actual em nome da estética…

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CARLOS GALRÃO

In diebus illis… [II] (O Concelho de Mafra, 19 Set. 1943)

Em 1872 era professor de latim, no Colégio Militar, em Mafra,

António Francisco Coelho. Fora nomeado depois de um concurso por provas públicas, como então se faziam as nomeações de professores naquele Colégio, Francisco Coelho habitava a chamada Casa da Abadessa, na Vila Velha.

Tinha no Colégio a alcunha de Pirata, devida ao seu aspecto arrogante, sobrolhos carregados e farta bigodeira. Era porém imensamente bondoso e de um carinho infantil para a sua família.

Hospedei-me naquele ano em casa do Professor Coelho, tendo-me matriculado no 3.º ano do Colégio.

Na convivência com o Prof. Coelho averiguei que, além desta profissão oficial, trabalhava habilmente de carpinteiro e de sapateiro, tocava sofrivelmente cornetim e cantava música sacra, pelo que foi contratado para cantar uma Semana Santa no Turcifal.

Ai por Fevereiro de 1873 o Prof. Coelho foi licenciado do Colégio Militar, por fazer parte, com outros professores, de uma conspirata de verdadeira crítica aos actos do Director do Colégio, General Sá Carneiro. Os conspiradores, chamemos-lhes assim, tinham um jornal manuscrito em que fazia caricaturas o alferes do Asilo dos Filhos dos Soldados, Silva Monteiro, que por alguns meses, quando coronel, foi comandante da E. P. I..

Francisco Coelho foi o primeiro dos conspiradores alijado do Colégio.

Os outros professores implicados na conspirata foram dispensados depois dos exames e o Colégio foi transferido para a Luz, sendo nomeados novos professores.

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O Prof. Coelho foi para Lisboa e estabeleceu-se com uma Loja de Tabacos e Cautelas na Rua do Arco do Marquez de Alegrete. Ali o visitei algumas vezes, até que um dia fui dar com outro dono no modesto estabelecimento.

Passou-se mais de um ano sem novas do Prof. Coelho. Uma noite no Café Montanha encontrámo-nos. Soube então que estava em Azeitão, regente de uma Filarmónica e vinha a Lisboa todas as semanas, porque era redactor do jornal maçónico “O Malhete”. Nunca mais vi o Prof. Coelho. Vim a saber que morrera em Cabo Verde Prof. De uma escola secundária.

Lembro-me com amizade desse professor, de múltiplas aptidões, com quem dei vários passeios em andas até ao Longo da Vila.

As suas excentricidades faziam-nos rir, mas a sua grande bondade ainda hoje deve ferir como um acútelo de saudade os poucos discípulos existentes.

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CARLOS GALRÃO

O combate de S. Pedro da Cadeira (O Concelho de Mafra, 7 Nov. 1943)

Completaram-se no dia 20 do mês passado 29 anos que teve lugar em S. Pedro da Cadeira o pequeno combate entre uma coluna de revolucionários monárquicos e forças da Escola de Tiro de Infantaria. Na noite de 20 de Outubro de 1914 um reduzido grupo de civis e militares toma o aquartelamento da Carreira de Tiro, daí dirige-se para a porta das armas da Escola de Tiro de Infantaria. Com um golpe de audácia obriga a sentinela a franquear-lhes a entrada. Dirige-se às casernas. Os soldados, com excepção da 2.ª companhia, aderem ao movimento. Alguns revolucionários contêm em respeito aquela companhia. Em seguida é tomado o paiol. Por fim militares e civis fraternizam aos gritos de “Viva a Monarquia”! Em seguida organiza-se a coluna destinada a seguir para o norte do País. O comandante, Tenente de cavalaria Henrique Constâncio, procura convencer o comandante da Escola, major Aurélio Ferreira Machado, a tomar o comando dos revoltosos. O major Aurélio Ferreira recusou-se a tomar parte no movimento. A maior parte dos soldados, sabedores da resolução do seu comandante, desiste de acompanhar os civis. Cerca das 10 horas da manhã parte a coluna para Torres Vedras atravessando a vila aos vivas à Monarquia e El-Rei D. Manuel. Era composta de 100 civis, 7 sargentos, 2 soldados, 3 carros de armas e munições, convenientemente guardados por civis. Marchou a coluna com o respectivo serviço de segurança até ao lugar da Encarnação onde fez alto. Continuou depois a marcha até próximo de S. Pedro da Cadeira, quando foi vista à retaguarda grande quantidade de soldados em galeras e outros carros.

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A Oeste da estrada na orla de um pinhal tomou posição. Era uma hora e um quarto da tarde quando se travou o combate com as tropas da Escola. O tiroteio durou quase 3 horas, retirando as tropas da Escola, por falta de munições, deixando mortos no campo dois cabos de Infantaria. Da coluna monárquica caiu, varado por duas balas, o trabalhador do campo, natural de Mafra, José Cintrão, no momento em que, cheio de entusiasmo, subira à trincheira a dar vivas à Monarquia. Foi então resolvido dispersar, com a notícia de que a revolução não se repercutiu no País. No modesto cemitério de S. Pedro da Cadeira jaz em simples coval o heróico José Cintrão – o lapuz, como se chamou aos revolucionários de Mafra – o lapuz, em cujo peito pulsava um coração de português.

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RUBEN A.

O Mundo à minha procura: autobiografia

(v. 2, Lisboa, 1966, p. 131–138)

Quando cheguei a Mafra, máfrica, a luz era diferente, o bucólico

agreste, os corredores de meter medo, e o militarismo sem espinhas; ali tinha eu que descobrir a pólvora. Mas uma coisa sempre acordou comigo – e essa a da imponência, alheia ao meu gosto, mas de uma estatura que me recordava da parte que me pertencia em D. João V. Eu sentia-me rato cinzento que entrava por aquelas intermináveis luras, passagens subterrâneas, pátios donde uma lua parece papel de crédito do Estado, escadarias, mais escadarias, nomes dos corredores com distintivos de batalhas passadas. La Lys, La Couture, e tantos outros de ler e reler mais vezes até os pés ficarem cansados. O sol não tinha sombras , as árvores cresciam só na tapada, e para a tapada nós não íamos, reserva de caça onde os veados nunca apareciam. Logo a seguir ao rancho, a companhia saía do quartel-convento e marcha, um, dois, um, dois, esquerdo, direito, para pouco tempo depois irmos à vontade, de conversa alarachada, lambendo a coronha e passando a metralhadora ao parceiro do lado. As solas chiavam, o hábito estilizava-se, e eu aos soluços ia descalçando aquele par de botas que o destino me obrigara a calçar. Como trazia uma camada de infelicidade muito grande, não podia ser mais infeliz, de forma que desenferrujava as pernas pensando no gasogénio do Manuel Vinhas que no sábado de manhã nos levaria à praia. A providência colocara a meu lado um naipe de amigos que na água justificavam um desejo profundo de evasão.

Dormíamos todos lá nos altos, na ala norte do mosteiro, numa camarata que armazena oitenta e que tinha um bidão de água para lavarmos os olhos pela manhã. Mas o espectáculo era à noite depois

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do toque a recolher. Ali, sim, eu aguentava como um catita. Chamavam-me o Fraldiqueiro, pois eu o único que em oitenta futuros oficiais usava camisa de noite! Ainda não adoptara o pijama, estava no século XVIII, com D. João V. Renitente, preferia o ar sadio que a camisa de noite insuflava no meu corpo. Parecia um fantasma no meio daquela malta sincera, irreverente, amiga. Cada assobiadela logo ao lusco-fusco, “Eia seu Fraldiqueiro”, e eu voava de cama para cama, todo de branco, como o velho de capuchinho nas fitas do cinema alemão. Só me faltava o gorro vermelho e a vassoura para planar naquela caserna. Eu aguentava firme, não largava a casca. Durante meses fui assobiado, “Eia Fraldiqueiro” era a alegria daquela massa anónima que de pijamas bocejava de um para o outro sem qualquer graça. Eu parecia um balão. Os meus saltos, em pé, tropeçando na cama do Zé Maria, com o baú debaixo da enxerga, sustinham como um pimpão as assobiadelas monumentais que a chusma me atirava. Pelo menos não havia, na minha vida de tropa, quem me desconhecesse. “Eh, pá!, prega-lhes a partida e vai para a forma de camisa de noite!”. ”Não digas muitas vezes que um dia sou capaz!”, respondia. Fraldiqueiro – Fraldiqueiro - FRAL-DI-QUEI-RO e eu aguentava firme. Ali era a escola da vida, os músculos ficavam mais fortes, os nervos tesos, a cabeça no lugar.

Nunca tive tanto sono como em Mafra. As aulas seguidas de teoria, tudo teoria, tudo para decorar, não havia qualquer relação entre a teoria e a prática, como não havia na vida pública entre os discursos e o dia a dia de qualquer ser humano, fosse camponês, professor primário, moço de fretes, artista sem reforma ou ministro de Estado. Nós, portugueses, somos honestos no papel que representamos, mas somos inúteis naquilo que fazemos. Aos poucos o fantasma de branco que ao escurecer mostrava as fraldas deixava de pairar na imaginação dos meus companheiros. Aceitaram a minha camisa de noite. E daí até à debandada nunca mais impediram o meu sono. Tipos porreiros, sobretudo a amizade que por circunstâncias geográficas vim fazer com o Zé Maria, que poucos meses antes eu lançara como vedeta no baile de despedida do F. R. Jones, oferecido com todas as honras de marechal ao saudoso Willy Black dos quinhentos paus. E, realmente, se pensar bem a minha camisa de noite estava de acordo com a época e ambiente de Mafra, eu era ali o único e digno reencarnado do espírito barroco português. Mostrava as pregas da minha talha. Inconscientes, os amigos todos no fim de

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contas perceberam o que representava o meu fantasma noctívago. Levantar-me de noite, pé ante pé, para ir à privada, olhar para mim, mirar aquela turma toda a ressonar, se algum abrisse o olho, estremunhado com certeza que gritaria perante a visão de um fantasma vestido de genuíno fantasma – o espectáculo apaixonava-me. Os dias voltavam, o gasogénio na rampa de Cheleiros ia-se abaixo, saíamos para aliviar o peso, e na ambição desmedida de liberdade que a tropa nos ensina – o mar recebia os nossos mergulhos com uma avidez de quem se esquecera que há oito dias estava virgem. Abria os olhos debaixo de água , deixava-me à tona, ir à rola, boiava horas e horas com o sol escancarado sobre o meu verdadeiro corpo. O vento abrandava às vezes, outras, no barco do Pedro Mendonça lá ia até aos pilotos ver a linha de um horizonte carregado de imaginação. Recuava às naus dos séculos passados e enquanto o 12 pés recebia bem a nortada, eu saltava para dentro de água numa ânsia de me deixar cair molengão num dos elementos da natureza que mais gostava de mim.

Ao correr dos meses tinha criado dentro de mim silos para armazenar a tristeza e a infelicidade. Um não-eu em carne e osso pegava na espingarda, marchava, dava vozes ouvindo um eco histórico que se estendia pela Idade Média, pelas Gálias, pelos Hititas, dobrava de intensidade ao recordar os vencedores das horrendas batalhas trazidas nas falas de heróis em trânsito. Época da vida em que se é amanuense de si próprio, carrega-se um fardo que se despeja ao fim de quatro, oito, doze quilómetros, em que se anda completamente alheio às camadas de infeliz que estão nos pés esperando ocasião para se fugirem a quatro passos. Congelava sentimentos. O romântico que eu fora em Penafiel evoluíra para um ser neutro, amachucado, magricela, parte da minha natureza que eu raro compreendia. Falava-se em ersatz, e eu apresentava ao mundo um ersatz da minha personalidade. Por baixo do bivaque as ideias mantinham-se em alerta, qualquer exteriorização podia ser fatal; se deixasse escapar algum pensamento ou visse fêmea que me entusiasmasse, lá se ia minha viola que vais para Angola. Apenas estava consciente de que pedaços de mim significavam infantaria. Dias exclusivamente iguais, sem meditação, dias que no horizonte lembram o mórbido guerreiro do homem, horas que não são horas, apenas tempos para a gente se ver livre de mais uma hora. Quando vieram os ensaios diante do pelotão, sim, eu enfrentei aquela meia centena de mancebos com a consciência de que comandava um exército. Essa a felicidade à flor da

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pele que se arreiga, de quem encontra o eldorado nas ordens que impinge a uma matulagem apenas reunida pelo toque do clarim. Apodera-se do espírito, da pessoa, da carcaça, uma súbita grandiosidade, ganha à força, uma paixão louca de comando. Vai-se a humildade por água abaixo, perde-se o controle de um eu simplório e manda-se, ali, com energia, num poder soberano, marcial, cheio de movimento. A primeira vez que mandei o pelotão fazer cortesias, evoluir na parada leste do Convento de Mafra, eu senti que os homens também se namoravam uns dos outros. Que os homens gostam de ser comandados por outros homens, que há qualquer coisa que os atrai irresistivelmente. E não percebia então que, de facto, a anomalia do homossexualismo é uma anomalia aceitável, existente, humana. Há homens que se deslumbram com o mando sobre outros homens, que se excitam ao saber que outros lhes obedecem cegamente, que no fundo há uma cegueira de um sexo milenário que se apodera do amor pelo outro homem que os comanda. Os fracos são vencidos pela história de séculos os fracos foram sendo absorvidos no espírito viril dos mais fortes, mas uma vontade primitiva, sensual, de comer, vontade masturbante que nunca pode menosprezar esses fracos. Um sadismo perante os que não podem, um genuíno amor ao contrário, de pernas para o ar, mas um verdadeiro comer de homens que leva às batalhas e às guerras. Uma pessoa deslumbra-se. Eu deslumbrava-me. Caramba, ali diante de mim aquele grupo de indivíduos, olhando para mim como quem contempla uma parteira a fazer dar à luz, fascinados pela voz que eu podia dar, sem saberem se eu mandava para a esquerda ou para a direita, se ordenava em frente, para os lados, ou à retaguarda – aqueles homens deslumbravam-se, gostavam de mim, naquele instante eram atraídos pelo fascínio do momento em que os meus olhos e a minha voz, a minha presença, exerciam sobre eles. Um mando com amor, ódio, qualquer forma de expressão, mas um mando de homem para homem, tragicamente de carne a carne. A natureza andrógina surgia logo, uns menos aptos, de gestos escassos, representavam mal o papel, não que fossem femininos na aparência, sim numa ancestralidade de que ninguém se apercebia na altura precisa. A ordem era respondida por um silêncio de confessionário. Mas não bastava só assistir ao xadrez de evoluções que se fazia na parada do quartel, sim comandar aqueles homens para fora, para o campo, através da vila. Por um instante, na forma de horizonte que cada um transporta, surgia em nós, cá dentro, o general, o verdadeiro

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chefe, e daqueles seres nós erguíamos exércitos. O comando tem só os limites das divisas e dos galões; na ambição é tudo ilimitado. Pensar por segundos que ordenando eu podia sair dali para mais longe, arrastar mais companhias, mais formações, tomar cidades, saquear aldeias, levar de vencida, apoderar-me de tudo que eu quisesse, era motivo de uma auto-suficiência que dominava de boca aberta aquela imensa paisagem escancarada entre o mar, a serra e as peladas de um terreno sem mistificação. O meu contacto com a natureza amolecia os desejos de vencer, sobretudo vencer a chusma que acidentalmente eu comandava. Momentos em que não se discute, nem connosco próprios, vivências de um amor sobrenatural que desconhece o lirismo de um passarito ainda a cantar e uma nuvem mais bem aconchegada ao céu. O meu eu definia-se, partia-se em dois. Um que dominava o outro, que sugava desprezando, com a dramática consciência de que por uns tempos – quanto, sabe-se lá? – nem para o Céu nem para o Inferno eu podia estar verdadeiro de alma, afundava-se o meu eu genuíno, o que duvidava.

Cada marcha! Poça! Arrastava a carcaça por montes e vales, até à Ericeira, até sítios onde nunca mais irei, sítios que ficaram a abarrotar do meu outro. Meses marcando passo, pisando saudades escanzeladas, falando barato à noitinha, sem êxtases, grasnindo, dias e dias de uma visão que se engolia cá para dentro, como remédio. De galucho o meu trânsito para quase oficial afectava apenas as gavetas bem arrumadas dos sentimentos. Não era uma escola de vida onde eu estava, era uma escola de morte. E exactamente por ser de instrução, eu aprendia. Raro fui rebelde, ou de falinhas mansas para dar graxa. O meu enfrentar a situação levava-me a procurar nos petiscos um consolo para a tristeza, como mulher malcasada que no crochet vai enfiando malhas para se distrair. Voltava à lagosta comida junto à praia, ali na Pensão Morais, que assistira, com a Charlotte a comandar o nosso exército festivo, às libações comemorativas da minha entrada para a Universidade. Eram escapadas amorosas com o meu eu mais íntimo, quando as licenças para recolher me deixavam vaguear pelas redondezas até à meia-noite. Passava então pelos campos de batalha que durante o dia assistiam impávidos aos golpes decisivos do meu espírito bélico. A calma de uma paz nocturna pousava como exemplo, o estrelar lá por cima animava à procura da Via Láctea, as caudas de muitos cometas levavam de rastos a imaginação amputada por aquelas horas de liberdade. Desforrava o estômago com os mimos de quem

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fuma tabaco estrangeiro, metia dois flans pelas goelas abaixo, e nas horas de maior tristeza as batatas fritas com bife que o Frederico preparava, esqueciam-me no mastigar as obrigações sem vontade que eu cumpria. A numeração dos dias vivia-se numa mesma ânsia que as datas do vencimento de letras bancária. Uma crueldade contra a qual eu estupidamente resistia criando paliativos de fim de semana, de voltar de novo, de ódios pela vida fora a todas as segundas-feiras, em todos os sítios do mundo, a qualquer hora do dia, em todas as circunstâncias, Segundas-feiras aliadas a exames, a marcha, a vozes, a levantar para o nada. O medo da segunda-feira ainda de noite se apodera de mim, sonho com a segunda-feira cheia de ângulos quebrados, cores de roxo, formas de que as baionetas são caixilho nítido. A minha alma começa à terça-feira, então redobro a actividade. E para defesa, anos mais tarde na vida, excluí o domingo à noite de parte da semana. Quis ajudar-me, pelo menos isso. Deixei para sempre de jantar aos domingos, um chá e cama às onze horas, para não sentir, em flagrante, erguer-se à minha frente uma segunda-feira para a qual durante anos vivi desprevenido…

As grandes marchas redundavam sempre finais. Ficava-se no campo uns dias, tendas de campanha, marmita, cantil, capacete ao ombro, bornal à anca, espingarda e metralhadora a postos e a Pátria alimentada pelo melhor que havia na ementa da nossa terra. Eu sem saber avançava dentro de mim. A viagem prosseguia, as noites de ronda ao bivaque faziam-me na paz temer um inimigo. Falava sem conversar. Umas vezes estava em S. Pedro da Cadeira, outras perto das arribas, raro se marchava para as bandas da Tapada. Os minutos até que me viessem render decorriam a ouvir os que no recordar de histórias desafiavam o toque a silêncio que fora clarinado por além de montes e ravinas. Uns faziam planos, outros escreviam às famílias, e sussurravam um gemido que se ouvia nas entranhas de Adão e Eva, um gemido de medo que realmente tudo aquilo fosse para matar, para ensinar a matar. Outros não conseguiam dormir, fumavam, e nos círculos de fumo, que de imediato se perdiam, ia o sonho que momentos antes fora tragado pela fumaça. Um efémero que me fazia tremer, de que tinha medo, não fosse apanhar-me distraído por uma bala que eu não chamara.

De sorrateiro em sorrateiro, o hábito não me conseguia fazer monge. Os longos túneis de Mafra, avenidas sem apeadeiros, cruzamentos de ficar apatetado na direcção, os meses marcavam um

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calendário que pela sua monótona sequência me ia destruindo a prestações. Paisano de alma eu olhava para aquele couraçado à prova de fogo, ancorado para a eternidade, memória de um louco que eu compreendia nos momentos eufóricos em que à janela da minha camarata, lá no portaló da nave, discursava às massas. Dizia adeus. Quem me visse do alto, mirasse os meus gestos, compreenderia nitidamente que o meu mundo – globo escolar de fácil manejo para andar à roda – completara mais um giro. O Fraldiqueiro ia ser oficial! Era altura para mudar. Daí por diante havia que usar pijamas. Eu dava baixa. Dos meus conhecimentos de fraldas, só duas pessoas resistiram – meu Pai e o Inho Serpa. Por quanto tempo, não sei. Havia agora que aplicar a minha voz alta, de barítono do século XIX, voz de pateada. Só o Saraiva era capaz de me bater em ênfase. A primeira vez que me coloquei diante do pelotão, a ostentação do meu grito – Pe-lo-tão –Senti-ii-oup! – resultara balbuciar de criança comparado com o tom melodramático do Saraiva. Parecia um grito de alarme dado a meia-nau.

Os carrilhões tocavam, o clima de incertezas apoderava-se ainda mais da inconsciência. Ninguém sabia nada de nada, poucos, além dos relatos estampados na imprensa e das notícias dadas pela telefonia, raros se apercebiam de que o mundo estava em eclipse total, mergulhado nas trevas, e que de uma penada morriam, assim, uns cem mil esterilizados enquanto o Diabo esfregava um dos olhos. Estávamos alheios a tudo, ignorava-se o horrendo que nesses mesmos momentos se passava nas câmaras de gás, onde se trituravam famílias, gerações, vidas sufocadas, extorquidas da alma, incineradas para montanha de calcinamentos, lava de irreconhecível carne humana.

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ANÓNIMO

A vida de um soldado adido em Mafra (Lisboa, Março de 1984) 20

1. Adeus terra de Mafra terra de raras belezas que não me deixas saudades e nem tão pouco tristezas. 2. Adeus terra desgraçada que me fizeste chorar não só por a delucação que tanto me custou a passar 3. Adeus caserna sem fim que me parecias uma prisão nem o luar me lumiava mas ficas-me de recordação 4. Digo adeus a estas camas adeus grande camaradas onde as noites se passaram com risos e gargalhadas

20 Transcrito e publicado por José António Falcão e Jorge M. Rodrigues Ferreira, Duas composições populares poéticas alusivas à vida militar contemporânea, in Boletim Cultural da Assembleia da Junta Distrital de Lisboa, s. 3, n. 90 (1984-1988).

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5. Adeus grande refeitoiro que foste a minha pessão onde todos os dias comia coves massa e feijão 6. Digo adeus aos oficias as cabos e saregentos que não se lembrem de nem por edeias ou penssamentos 7.° Já acabaram as fermaturas o recolher e as alvoradas começou a grande vida acabaram-se as écadas 8. Até o faxina do cinema ao despedir-se chorou que pedia para ir embora e o EP cá ficou. 9. [falta] 10. Entre os faxinas da limpeza à um que é aldrabão já mandou dizer para casa que tinha um camião 11. Passamos ao refeitório onde os grandes comilões faxinas e cozinheiros são os maiores ladrões

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12. Até o telefonista como ele / não a igual também apanhou a mania que era dono da central 13. Até os cabos de dia quando poeem o braçal julgam-se valentes penssando em ser oficial 14. Depois de o café tomar agarrei num bocado de pão tornou logo a tocar já era para a instrução. 15. Logo no primeiro dia perdi a minha inocencia e defecto comecei logo a fazer a continência 16. Às 4 horas da tarde toca / alta a instrução fiquei / à minha vontade fui comer um bocado de pão 17. No fim do dia fui comer massa muito arragada vim para a caserna escrever para a minha namorada 18. Escrevi para meus pais e disse-lhes com estava

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de saúde fico bem e que passo já marcava 19. Ao outro dia seguinte outra vez nova instrução ora digo e não minto que era uma reinação 20. Assim passei a semana sem do quartel sair esta vida só enganou a quem tiver de cá vir 21. No fim da semana sai com despensa assinada a minha farda vesti pelos meus a amostrava 22. Eu regressei novamente à minha casa antiguinha a onde eu heroicamente beijei a minha maizinha 23. Deram-me uma espigarda para fazer instrução mas eu tambem manobrei com morteiros e canhão 24. Lá vou então a correr com muito desembaraço e eu sem saber mandaram-me marcar paço

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25. Fui a carreira de tiro fiquei logo em primeiro metralhadoras admiro que para isso era ligeiro 26. Terminou a instrução e a bandeira fui jurar e dei todo o meu coração e por ela a vida tenho de dar 27. Depois quando a pronto passei e recebi novas fardas então é que comecei com reforços e com guardas 28. Fiz faxinas a cozinha só para lavar pratos triste sorte foi a minha que até dava os meus trapos 29. Pegava na bassourinha corria toda a caserna parecia uma soperinha sem meias na perna 30. Rapazes de 59 eu vos quero lembrar para tudo se quer sorte mas principalmente na vida militar 31. Amigos vos vou contar aquele triste passado

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não fazem ideia o que é esta vida de Soldado 32. Camas de dois andáres até causam admiração eu logo por meu azar dormia no réz do chão 33. Apenas conto a verdade e não digo por caprixo a minha cama é pior do que o caixote do lixo 34. Numa noite me sucedeu um caso muito interesante fiz luta com um percebeijo que parecia um elefante 35. Estando eu a dormir com o barulho acordei e quando vi o fadista eu logo lhe perguntei 36. Que andas tu a fazer nesta cama figurão salta daqui para fora senão chamo o plantão 37. E ele me foi dizendo tu és um grande camelo ainda a pouco chegastes já queres levantar cabelo

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38. Tu aqui na infantaria teráz muito que passar tu ainda ádes aprender os superiores repeitar 39. Tu não sabes com quem falas nem com quem estás metido olha que eu sou general desde já poite em sentido 40. Tu para falares para mim tens que me pedires licença e depois de tudo isso tens que me fazer continência 41. Não conheço disciplina ainda ontem assentei praça nunca penssei encontrar generais assim desta raça 42. A sua voz levantar e disse-me com franquesa abriu o peito e mostrou-me a bandeira portuguesa 43. Não lhe faço continencias já lhe disse seu sacana não tem nada que fazer cá dentro da minha cama 44. Salta da cama para fora se não queres sair a mal

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dou-lhe cabo do focinho não me emporta que seja general 45. Começa-se a fazer a mim eu quis-lhe apertar o cachasso pois ele com pouco físico posme logo a marcar passo 46. Lutamos por algum tempo eu já o tinha apertado ele gritou pelo socorro ai que estou quase esmagado 47. Com o barulho que fizemos veio logo a pulga afamada e quamdo tal coisa vi gritei logo ó da guarda 48. Acudio logo o piolho e / fiquei atrapalhado quamdo vi esse fadista de pistola bem armado 49. Meteu-se no meio de nós começando a desapartar voltou-se para mim dizendo agora vamos começar 50. Tu ainda és recruta à pouco que te bate a lata por alterares o silencio vais para a casa da rata

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51. O bixhino percebejo não quis mais discussão foi ao 1.º da companhia para trazer o plantão 52. Dai a pouco senti grande barulho no colchão era o maroto do percebejo a comandar um pultão 53. Rapazes que medo tivemos ficamos logo atrapalhados eram 2.000 percebejos e vinham todos armados 54. Vinha um poletão de percebejos que pertencia à infantaria vinha atrás outro de piolhos que eram de cavalaria 55. Tinham todos espingardas prontos para a revolução e vinham mais de 100 pulgas que eram da aviação 56. Quando tal coisa vi tive que me render no meio de tantos bixos nada avia que fazer 57. Vinham todos a marcar passo e depois fizeram alto traziam tanques de guerra

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e muitos carros de asalto 58. Tudo quanto lhe chamei não e uma fantasia a / bixo muito esperto na / arma de infantaria 59. Só queria que vocês viessem quele grande especto fizeram da minha cama um completo coreto 60. Mas foi uma linda paroda que eram mesmo devertidos tocaram o Hino Nacional puseram-se logo em sentido 61. Subiram para o coreto a bixarada oficial com granadas de morteiros deram início ao arraial 62. Pulgas piolhos e tudo para aquela festa corriam fizeram da minha cama uma autentica romaria 63. E assim passei a noite sem nada eu ter dormido ao levantar-me reparei que estava todo mordido

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64. Tanto barulho fizeram ja me doiam os ouvidos de tanto me morderam quase perdi os sentidos.

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ANEDOTAS DE CASERNA

Carta de um soldado à sua noiva: Minha querida Rosa Muito hei-de estimar que estas duas regras te vão achar no gozo

de uma saborosa saúde. Eu ao fazer d'esta melhor m'acho das maleitas que d'ahi truve.

Rosa. Aí te mando incluso o meu camarada nº 24 da 2ª, o qual, tendo recebido baixa, volta para a nossa térrinha, e te entregará sobrescritos e papel tarjados de preto, afim de que, se eu morrer no combate que breve vai travar-se, me possas escrever com todos os sinais de luto, como manda a incivilidade e a indecência.

(In O Mafrense, 16 Set. 1888)

*

O tenente R. foi um dos oficiais que o Ministério da Guerra, em

1888, mandou para Mafra, conjuntamente com o tenente Vergueiro, para darem começo à construção da carreira de tiro da Escola Prática de Infantaria.

O tenente R. tinha um soldado impedido, o Leonardo, muito deligente, bem comportado e razoável cozinheiro. Por estas qualidades o tenente R. era-lhe afeiçoado.

Terminado o tempo de serviço, o Leonardo recebeu guia para retirar para a sua terra mas, antes de partir, fez as suas despedidas, com os olhos arrasados de lágrimas, ao tenente R. que, vendo-o muito impressionado, lhe diz:

- Adeus Leonardo, desejo-te felicidades. Quando quiseres vem cá a Mafra fazer-me uma visita.

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- Sim, meu tenente, eu quero qualquer dia vir a Mafra visitar o cavalo.

(In O Concelho de Mafra, 21 Mar. 1943)

*

Parecer o cavalo do Tenório Há muitos anos vivia em Mafra o senhor Tenório, pessoa

bastante conhecida e estimada devido ao seu feitio. Trabalhava na antiga Remonta por onde passaram muitos dos mais conhecidos cavaleiros militares portugueses. O senhor Tenório estava encarregado de tratar um cavalo que pertencia a um oficial. Como nem sempre o cavaleiro podia sair com ele, era o tratador que diariamente o passeava. Ora, por essa época havia na vila de Mafra mais de 40 estabelecimentos que vendiam vinho a copo, dos quais o senhor Tenório era um frequentador assíduo. Não dispensava essa prática nem quando dava a sua voltinha a cavalo, normalmente até à Achada ou Ericeira. No caminho o senhor Tenório lá ia parando de vez em quando, na Paz, nos Salgados, no Sobreiro, etc., etc., para beber o seu copinho, deixando cá fora o cavalo. Um dia o oficial disse-lhe que lhe apetecia dar uma volta com o cavalo. E foi. Quis o destino que ele seguisse pela estrada nacional em direcção à Ericeira. Quando chegou à Remonta mandou chamar o senhor Tenório e disse-lhe que não sabia o que se passava com o animal, pois de Mafra à Ericeira este parava frequentemente, sendo difícil retomar a marcha. De então para cá, quando se anda a passear e se pára com frequência para ver montras ou qualquer outra coisa, há sempre alguém que se lembra de dizer: Pareces o cavalo do Tenório.

1ª GRANDE GUERRA COMBATENTES

DO CONCELHO DE MAFRA

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O contingente de combatentes da 1ª Grande Guerra oriundo do Concelho de Mafra que se segue está inédito, resultando da compilação da correspondência remetida pelos Regedores das Freguesias [AHMM], em resposta à Circular 428, de 14 de Abril de 1930, enviada pela Administração do Concelho de Mafra e cujo objectivo era apurar os nomes dos munícipes mobilizados para integrar a força expedicionária que participou na “guerra destinada a acabar com todas as guerras”.

Terá omissões, como constatei no caso específico da Ericeira, motivo porque o considero apenas um contributo preliminar.

Bronze comemorativo dos Mortos da Infantaria na Grande Guerra, obra do escultor Anjos Teixeira, colocada na portaria da EPI por iniciativa da

Comissão Técnica da Arma de Infantaria. Foi descerrada no dia 22 de Março de 1922, na presença do Presidente da

República e de outras individualidades nacionais e locais.

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Azueira

José Gomes (Casal das Pedreiras) Casimiro da Silva Bica (Azueira)

Francisco Pedroso (Bandalhoeira) Zeferino Carvalho (idem)

Joaquim Martins (Vermoeira) Henriques Gregório (Barras)

Joaquim Simões Caracol (Quinta do Carrascal) António Lourenço (Livramento)

José Baptista (Bandalhoeira) António Antunes (Marco)

António Martins (Aboboreira) José Silva (idem)

Carvoeira

Francisco da Costa (Carvoeira)

Apolinário Sousa (idem) Manuel da Silva (Barril)

Eugénio Batalha (Fonte Boa da Brincosa)

Cheleiros

António Belas (Cheleiros) José Felix Moeiro (idem)

Joaquim Pereira Miranda (Mafra) Cipriano Machado (Cheleiros)

Manuel Rois (Carvalhal) Manuel Duarte Acúrcio (?) (Carvalhal)

Encarnação

Inocêncio Francisco (Casais da Serra)

Joaquim Rodrigues (Encarnação)

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António Alves Malheiro (Azenhas dos Tanoeiros) 21 Joaquim Augusto Filipe (Encarnação)

Francisco Maria Damião (Barril) Agostinho Rodrigues (Casal da Charneca)

João Jorge (idem) José Calisto (Casal da Breguia)

Isidoro dos Reis (Casal de São Lourenço) Germano Crisóstomo (Casal de São Domingos)

Agostinho da Silva Pereira (Encarnação)

Enxara do Bispo

José Isidoro Rodrigues (Enxara do Bispo) José do Nascimento Mendonça (idem)

João Estino (idem) Avelino Romão da Costa (idem)

Anselmo Miranda (idem) Artur dos Santos Crispim (Enxara dos Cavaleiros)

Jorge Paulino (idem) Artur Fernandes (Casal das Cardosas)

Augusto Ferreira (Terroal) José Basílio (Casal do Vitoreiro)

Manuel Simões de Carvalho (Vila Franca do Rosário) António Ventura Mota (idem)

Ericeira 22

João Gomes (Casa Nova)

José Lopes Fino (Fonte Boa dos Nabos) João da Luz Marques (Ericeira)

21 Cf. António Malheiro, Diário de um prisioneiro de guerra (1917-1918), in Boletim Cultural, 2001, Mafra, 2002, p. 468-484. 22 Não consta do ofício do regedor da Ericeira o nome do Dr. António Bento Franco. incorporado no início de 1917 com outros treze ericeirenses. O Dr. A. Bento Franco juntou-se ao CEP, em Tancos, onde recebeu a primeira instrução militar, sendo mobilizado em Abril do mesmo ano. Deixou registadas num minúsculo diário de campanha, conservado no arquivo da família, as impressões do seu trajecto pelo norte de França durante a 1ª Guerra Mundial.

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Marcolino Leandro (idem) Jaime Joaquim Bispo (idem) Brálio Lopes Brioso (idem)

Francisco Franco (idem) António da Silva (idem)

Tiago Simões Pereira (idem) António Lucas Sobrinho (idem)

Manuel Crisóstomo Barreira (idem) João Dias (idem)

José Sarda (ou Sardo?) (idem)

Caderneta Militar do Dr. António Bento Franco

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Dr. Bento Franco (12.6.1917)

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Gradil

Quatro combatentes não especificados

Igreja Nova

Miguel da Costa Rolo (Igreja Nova) Domingos Duarte Carapinheira (idem)

Augusto Rodrigues (Boco) Manuel Silvestre Santos (Casal das Antas)

Manuel António Braz (Murtal) Manuel Gregório (Azenha do Paço)

José Correia (Igreja Nova) António Silva, o cauteleiro (Ericeira)

José Jacinto (Casa Velha)

Mafra

João Vicente Pesca (Cabeços) Luís Francisco Caracol Júnior (Mafra)

Gustavo de Oliveira (idem) António Luís (idem)

Álvaro Monteiro (Cabeços) António Rodrigues (Mafra) António Rodrigues (Vilãs) Joaquim Rodrigues (idem)

António Amaro (Mafra) José Maria Palme (idem)

Joaquim Moreira (Murgeira) Leandro Moreira (idem)

Augusto Filipe (idem) António Lopes Fino (idem) Laurentino Martins (idem) Júlio Duarte Cabula (idem)

José Jacinto (Saibreira) Francisco Gomes (Sobreiro)

António Leitão (idem) Francisco Domingos Guilhermino (idem)

Lourenço Firmino (idem)

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Manuel António Chanca (idem) António Domingos Batalha (idem) Manuel Batalha Guerra (Caeiros)

António Luís Patarata (idem) Augusto Filipe (Cruz da Lapa) Manuel Guerra (Montessoiros)

Miguel Duarte (Quintãs) António da Silva Iria (Mafra)

Pedro dos Santos Nobre (idem)

Malveira

Joaquim Franco (Malveira) Manuel Jorge (idem) António Angu (idem)

Manuel Duarte Franco (Casal da Abrunheira) Francisco Franco (Alcainça)

João Franco (idem) Alfredo Alexandre (idem)

Milharado

João Franco (Castelo Picão)

Serafim Francisco (idem) Gregório Lemães (?) (Milharado)

Eduardo Jorge (?) Agostinho Fernandes (Póvoa)

José Gilos (?) (Casais da Terra) António Cortiço (Prezinheira)

Joaquim Alexandre (Rólia) Manuel Henrique (Vila de Canas)

Francisco José Germano (Venda do Pinheiro) José Maria (idem)

José Carreira (idem) José dos Santos (Tituaria)

João Ferreira (idem) Joaquim da Mota (Jerumelo)

Manuel Júlio (idem) Francisco Mota (idem)

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Francisco Lopes (Roussada)

Santo Estêvão das Galés

Pedro Amaro (Montemuro) José da Costa (idem)

Manuel Francisco (idem) Manuel Severiano (Bocal)

Manuel Marecos (?) (Xoutaria) Manuel da Silva (Bocal de Baixo)

Joaquim Pinto (Azenha) Francisco Jorge Morgado (Galés)

José Carreira (Casal do Cuco) Elisiário Faustino (Rogel)

Manuel Jorge (Casais da Serra)

Santo Isidoro

João Roque (Ribamar) Pedro dos Santos Barros (idem)

Julião Rodrigues (idem) Benedito Domingues (Monte Bom)

Hermenegildo dos Santos (Pucariça) Osório Martins (Picanceira)

Francisco Martins (Figueiredo) José Marques (Bairro Alto)

José Bernardes (Lagoa) António da Silva (idem)

Domingos Martins (idem) Eliziário dos Santos (Marvão)

Sobral da Abelheira

António Pedro Jorge (Quinta da Abelheira)

Domingos Pedro (Sobral da Abelheira) Francisco Lopes (idem)

Francisco Antunes Mota (Casal do Mota) Filipe Duarte (Chanca)

José Francisco Faustino (Portela da Chanca)

293

Joaquim Francisco da Costa (Monte Gordo) Policarpo dos Reis Antunes (Sobral da Abelheira)

294

Azueira

295

Carvoeira

296

Cheleiros

297

Encarnação

298

Enxara do Bispo

299

Ericeira

300

301

302

Gradil

303

Igreja Nova

304

Mafra

305

306

307

Malveira

308

Milharado

309

310

Santo Estevão das Galés

311

Santo Isidoro

312

Sobral da Abelheira

313

Bibliografia Manuscritos

ARQUIVO HISTÓRICO MILITAR Relatório de um reconhecimento militar dos itinerários de Lisboa a Mafra, Torres Vedras, Ericeira e Peniche, com descrição da praça e vila de Peniche 1808, Janeiro, 27 6 fls. manuscritas. Documento em francês. [DIV/3/01/03/14] Oficio do conde de Sampaio, secretário da Regência do Reino, dirigido ao coronel do Corpo de Engenheiros, Carlos Frederico Bernardo de Caula, para fazer uma carta topográfica do terreno compreendido entre o cabo da Roca e Peniche, como serviço do Arquivo Militar. 1808, Janeiro, 27 3 fls. manuscritas. Inclui um documento em francês. [DIV/3/01/03/15] Memória da descrição do terreno da costa entre o cabo da Roca e a vila da Ericeira, com observações sobre a defesa contra um ataque marítimo, pelo coronel Carlos Frederico de Caula e major Neves do Real Corpo de Engenheiros 1808, Março, 6 2 fls. manuscritas. [DIV/3/01/03/16] Memória militar sobre as posições defensivas que se encontram no terreno vizinho a Lisboa, referida à carta militar do dito terreno, elaborada e escrita pelo major José Maria das Neves Costa, do Real Corpo de Engenheiros 1809, Maio, 24 39 fls. manuscritas; 2 livros com 45 fls. manuscritas; 1 caderno com 16 fls. manuscritas Nota do autor: “Carta da qual existe cópia no Arquivo Militar. Memória apresentada a Lord Wellington em Abril de 1809, 9 meses antes de se começar a construção das linhas”. [DIV/3/01/04/10] Memória com "Reflexão sobre a conservação das linhas de defesa que co-brem Lisboa" 1814, Janeiro, 27 - Junho, 14 9 fls. manuscritas e 1 mapa (s/esc.). Contém um "mapa do estado completo das 24 Companhias de Artilheiros Ordenanças destinadas à guarnição das linhas de defesa que cobrem a capital" assinado por Lourenço da Cunha d'Eça. [DIV/3/01/05/10]

314

Ofício do marquês de Campo Maior para Miguel Pereira Forjaz a enviar um relatório sobre as obras de fortificação das linhas de defesa ao norte do Tejo 1815, Fevereiro, 27 - Abril, 7 6 fls. manuscritas. Inclui relatório da inspecção às obras de fortificação das linhas de defesa ao norte do Tejo, da autoria de Matias José Dias Azedo. [DIV/3/01/05/12] Notas das ruínas existentes nos redutos das 1ª e 2ª linhas de defesa de Lisboa, localizadas respectivamente nos distritos de Sobral, Torres Vedras, Alhandra, Montachique, Mafra e Vialonga, da autoria do sargento-mor en-genheiro Joaquim Norberto Xavier e Brito 1815, Fevereiro, 27 6 fls. manuscritas. Contém notas de ruínas, com suas medidas e respectivas observações feitas pelo mesmo autor [DIV/3/01/05/13] Memória militar com uma descrição sucinta do terreno ao norte de Lisboa, compreendido entre o Oceano e o Tejo, com observações relativas às duas linhas de defesa que cobrem a capital, da autoria do sargento-mor Joaquim Norberto Xavier de Brito 1815, Abril, 9 1 caderno com 8 fls. manuscritas [DIV/3/01/05/15] Parecer da Comissão de Fortificações, assinado pela totalidade dos seus membros, sobre as fortificações das 1ª e 2ª linhas de Lisboa que deverão ser reedificadas e as que deverão ser reparadas e apetrechadas em primeiro lugar e restantes fortificações marítimas do Tejo. 1823, Maio, 5 2 fls. manuscritas. [DIV/3/01/06/09] "Instruções gerais para o fim de obstar ao progresso das ruínas praticadas nas fortificações das linhas de defesa ao norte de Lisboa pelos habitantes das povoações vizinhas", de autoria do marechal-de-campo Manuel de Sousa Ramos, do Real Corpo de Engenheiros 1825, Dezembro, 22 - 1826, Maio, 24 13 fls. manuscritas. Contém: oficio de remessa para o conde de Barbacena Francisco, de ofícios (cópias) recebidos do capitão José Inácio Dacier, do Real Corpo de Engenheiros; ofícios do coronel Lourenço Homem da Cunha d'Eça e marechal Manuel de Sousa Ramos para o conde de Barbacena Francisco; oficio de José Gorjão Nicolau Alberto, ajudante do Batalhão de Artilharia de Mafra, para o coronel Lourenço Homem da Cunha d'Eça. [DIV/3/01/06/13] Mapas dos fortes e baterias da 1ª e 2ª linhas de defesa ao norte de Lisboa, assinados pelo coronel engenheiro graduado Lourenço Homem da Cunha d'Eça 1826, Novembro, 14

315

4 fls. manuscritas. Contém observações feitas na revista de inspecção passada nos meses de Agosto e Setembro de 1826. [DIV/3/01/06/04] Reconhecimento militar da costa desde a vila da Ericeira até ao forte do Magoito (cópia), de autoria do tenente-coronel António Anacleto de Seara, do Real Corpo de Engenheiros 1831, Novembro, 21 2 fls. Manuscritas [DIV/3/01/06/29]

ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE MAFRA

Autos Cíveis de Justificação PT/AHMM/IP/JUD-JA/JFM/CV/05/ 94; 95; 96; 97; 98; 99; 100; 104; 105 Livro de Registos da Câmara Municipal de Mafra, n. 7 (1806-1820), fl. 112v-118v; 123-123v; 123v-124; 209v-210 Administração do Concelho de Mafra – correspondência recebida

BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

Banquete de 7 de Novembro de 1810, na Sala da Bênção – cx. 705

CMEFD

Caixa da Direcção da Real Tapada de Mafra (30 Nov. 1860 a 30 Jun. 1875), 199 fls. Caixa da Direcção da Real Tapada de Mafra (Mai. 1888 a Mai. 1894), 150 fls.

RICE UNIVERSITY

Carta do Marechal de Campo Richard Blunt (Mafra, 25 Agosto 1811)

316

Impressos

Generalidades ALEGRIA, Mário de Instrução de cadetes, in Defesa Nacional, n. 42 (Out. 1937), p. 14-15 ALVES, Maria do Céu / PINTO, Maria de Fátima Escolas Regimentais e Alfabetização: a Escola Prática de Infantaria de Mafra, in Boletim Cultural 2007, Mafra, 2008, p. 273-298 e Livro de Resumos do VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação (20 a 23 Junho 2008), 2008, p. 451-452 ANÓNIMO Picadeiro e Hippodromo, in O Mafrense (29 Abr. 1888) Lagar d’azeite, in O Mafrense (8 Out. 1893) Novo lagar d’azeite, in O Mafrense (26 Nov. 1893) Novo lagar d’azeite, in O Mafrense (7 Jun. 1894) Novo lagar d’azeite, in O Echo de Mafra (23 Dez. 1894) Lagar da Real Tapada, in O Clamor de Mafra (6 Dez. 1908) O Sport no Exército: uma partida de Foot-ball em Mafra, in Ilustração Portuguesa, n. 185 (6 Set. 1909), p. 297 Exercícios Finaes da Escola Pratica de Infantaria, em Mafra, in Ilustração Portuguesa, n. 185 (6 Set. 1909), p. 390-391 Os Exercícios dos Recrutas da Guarnição de Lisboa em Mafra, in Ilustração Portuguesa, n. 258 (30 Jan. 1911), p. 146-149 Em Mafra, in Ilustração Portuguesa, n. 507 (8 Nov. 1915), p. 604-605 Estabelecimentos Produtores do Estado – Depósito de Garanhões, in Defesa Nacional, n. 36 (Abr. 1937), p. 12-13 O Batalhão da E.P.I., in Infantaria, a. 8, n. 93 (1941), p. 472-473 Cavalaria, in Jornal do Exército, a. 6, n. 67 (Jul. 1965), capa e p. 26-27 Ippar suspende demolição de cavalariça secular, in Diário de Notícias (4 Dez. 2002) ASSUNÇÃO, Guilherme José Ferreira de Real Colégio Militar, in À Sombra do Convento, Mafra, 1957, p. 91-97 Asilo dos Filhos dos Soldados, in À Sombra do Convento, Mafra, 1957, p. 155-159 A Tropa no Convento, in À Sombra do Convento, Mafra, 1957, p. 313-341 e in Azimute, n. 142 (1987), p. 41-49 AZIMUTE Azimute: Jornal dos cursos de oficiais e sargentos milicianos da E.P.I., n. 1 (Mar. 1964) – n. [?] (Mai. 1975) Azimute: Revista militar da Escola Prática de Infantaria, [s. 2], n. 1 (Jul. 1979) – até à actualidade

317

BARBOSA, Eduardo História Militar: foi um português quem concebeu as Linhas de Torres, in A Voz (8 Nov. 1947) BATALHA, Rogério Militar ambientalista, in Em FrenteOeste (7 Ago. 2003) BEIRÃO, Inácio A Reprise da Escola de Mafra, in Boletim Cultural 2002, Mafra, 2003, p. 348-355 C., A. P. Pela E.P.I. – Homenagem à memória do General Casimiro Telles, in Infantaria, a. 18, s. 2, n. 53-54 (Mai.-Jun. 1951), p. 233-235 Pela E.P.I. – Homenagem ao Tenente-Coronel Francisco Curado, in Infantaria, a. 18, s. 2, n. 55-56 (Jul.-Ago. 1951) C., P. Estágio Preparatório para Monitores de Educação Física, in Infantaria, a. 10, n. p. 148-150 CADETE X Crónica dum Infante, in Infantaria, a. 10, n. 109 (Mar.-Abr. 1943), p. 151-153 CAMPEONATO NACIONAL DE HIPISMO Campeonato de Hipismo a realizar em 1 de Agosto de 1945 no Campo do Depósito de Remonta em Mafra – Mocidade Portuguesa, Lisboa, Casa Portuguesa, 1945 CARDOSO, Avelino Barbieri Escola Prática de Infantaria – Estágio do Curso para Oficial Superior das Armas, in Infantaria, s. 2, n. 11-12 (Nov.-Dez. 1947), p. 565-569 Escola Prática de Infantaria, in Infantaria, s. 2, n. 21-22 (Set.-Out. 1948), p. 565-566 CAPELA, Tito José Barroso Escolas regimentais, - Participação da EPI na campanha nacional contra o analfabetismo em 1957, in Boletim Mensal da Escola Prática de Infantaria, n. 24 (Dez. 1957), p. 145-150 CASTRO, Pereira de A Educação Física no Exército, in Defesa Nacional, n. 105 (Jan. 1943), p. 236-238 CENTRO MILITAR DE EDUCAÇÃO FÍSICA, EQUITAÇÃO E DESPORTOS Lagar de Azeite – Catálogo / Exposição, Mafra, 199? CONCEIÇÃO, Pereira da O Centro Militar de Mafra, in Defesa Nacional, a. 15, n. 180 (Abr. 1949), p. 300-302 A nossa E.P.I., in Infantaria, a. 9, n. 98 (Fev. 1942), p. 88-98; n. 98 (Fev. 1942), p. 88-98 Exercícios da E.P.I., in Infantaria, a. 12, n. 133 (Ago. 1945), p. 429-435

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DIAS, António de Miranda O Concurso Hípico Militar de Mafra, in Diana, n. 60 (Dez. 1953), p. 40-41 e 64 DINIZ, Sebastião Os cadetes de Mafra – Memória e Ficção: 1. Ruben A., in Boletim Cultural 2003, Mafra, 2004, p. 57-70 FALCÃO, José António / FERREIRA, Jorge M. Rodrigues Duas composições populares poéticas alusivas à vida militar contemporânea, in Bol. Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, s. 3, n. 90 (1984-1588) FIDLER, Leopold O Cavalo “Málaga”, in Sinal, n. 22 (Nov. 1943), p. 26-27 FRANCO, Helder Destapar a Tapada, in Região Saloia (27 Abr. 1995) GANDRA, Manuel J. O Monumento de Mafra sem Mestre 4. Jardim do Cerco, in Região Saloia (25 Mai.; 15 Jun. e 10 Jul. 1996). O Monumento de Mafra de A a Z, Mafra, 2002-2006, 2 vols. GORJÃO, Sérgio Carta do Juiz de Fora de Mafra ao Intendente Geral da Polícia, in Boletim Cultural ‘99, Mafra, 2000, p. 290-293 LOPES, Irina Alexandra A Guerra Peninsular no Concelho de Mafra: Catálogo de fontes do Arquivo Histórico Municipal de Mafra, in Boletim Cultural 2007, Mafra, 2008, p. 621-643 LOPES, Irina Alexandra / RODRIGUES, Maria de Lurdes Vexame aos povos de Mafra: um documento da Intendência Geral da Polícia da Corte e Reino (AN/TT), in Boletim Cultural 2007, Mafra, 2008, p. 853-856 MADEIRA JÚNIOR, Manuel Secção Técnica da E.P.I., in Infantaria, a. 8, n. 93 (1941), p. 517-519 P[áscoa], A[rmando] Escola Prática de Infantaria, in Defesa Nacional, n. 78 (Out. 1940), p. 176-179 PIRES, Nuno Lemos Roteiro Histórico da Escola Prática de Infantaria, Mafra, 1997 ROCH, François Achille Repercussão no Estrangeiro – II. Mafra ou o Realismo na Tradição, in Diana (Abr. 1963), p. 18-19 RODRIGUES, Chito O Monumento e os Militares, in Azimute (14 Ago. 1980), p. 6-15 SILVEIRA, Rodrigo da As Tradições começam um dia…: o I Campeonato Equestre Militar em Mafra, in Diana, n. 86 (Fev. 1956), p. 3-5 e 48-52

319

SOUSA, José Inácio de Mafra e a Presença Militar: um testemunho, in Azimute, n. 180 (Dez. 2005), p. 18-28 Técnica castrense e Unidades Militares ANSÚR, Alfredo O Asilo de Mafra: carta ao Illustrissimo Exmo. Senhor Ministro da Guerra, Lisboa, 1869 ASILO DOS FILHOS DOS SOLDADOS Instrucção geral do asylo dos filhos dos soldados: 1ª classe (correspondente ao posto de Anspeçada): primeira doutrina, Lisboa, Imprensa Nacional, 1863 ASILO DOS FILHOS DOS SOLDADOS Elementos de Geometria [texto policopiado]: 3º doutrina, Mafra, Tipografia do Asilo dos Filhos dos Soldados, s. d. [1873] ASSUNÇÃO, Joaquim Clemente / SOARES, Abel Augusto Nogueira Postos Avançados, Mafra, 1889 CARDOSO, Avelino Barbieri Escola Prática de Infantaria – Estágio do Curso para Oficial Superior das Armas, in Infantaria, s. 2, n. 11-12 (Nov.-Dez. 1947), p. 565-569 CENTRO MILITAR DE EDUCAÇÃO FÍSICA, EQUITAÇÃO E DESPORTOS Revista do Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos, n. 1 (Jan. 1983) – 2006 COSTA, José Pedro L. do Carmo (coord.) Do Depósito de Remonta e Garanhões ao Centro Militar de Educação Física e Despostos: 100 anos de Formação de Equitação e de Desporto Militar, Torres Vedras, 2012 DEPÓSITO DE GARANHÕES Regulamento Interno do Depósito de Remonta e Garanhões, em Mafra, in Regulamento para o serviço de Remonta Geral do Exército – Anexos, Lisboa, Imprensa Nacional, 1920, p. 51-67 DEPÓSITO DE GARANHÕES Regulamento para Poules Hípicas – Depósito de Garanhões, [s. l.], 1933 ESCOLA (A) PRÁTICA DE INFANTARIA [Anuário: 1963-1964], [Mafra, 1964] ESCOLA DE TIRO DE INFANTARIA Relatório dos trabalhos realizados na escola de Tiro de Infantaria durante o ano escolar de 1913-1914, [Mafra], 1914 ESCOLA DE TIRO DE INFANTARIA Festa da Infantaria na Escola de Tiro de Infantaria: comemoração do esforço da arma na Grande Guerra, em Angola, França e Moçambique e glorificação dos seus mortos, Mafra, Guarda Nacional Republicana, 1923

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ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Programas e Trabalhos executados nos exercícios finaes e concursos relativos ao período de instrucção de 1894-1895 – Escola Prática de Infantaria, Lisboa, Typ. Universal, 1895 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Regulamento da Escola Prática de Infantaria, aprovado por decreto de 25 de Outubro de 1893, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Regulamento da Escola Prática de Infantaria: decreto de 30 de Outubro de 1902, Lisboa, Imprensa Nacional, 1902 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Programas e trabalhos executados nos exercicios finaes e concursos relativos ao período de instrução de 1894-1895, Lisboa, Tip. Universal, 1895 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Espingarda Automática 7,62 mm / 61, G-3: instruções provisórias, Lisboa, 1930 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Morteiro 1,8mm – M/137: gráfico para a regulação de tiro, s. l., 1947 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Características e possibilidades de emprego de armamento distribuído à Infantaria, Mafra, Secção Técnica da EPI, 1949 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Instrução de contra-guerrilha [texto policopiado], Direcção da Arma de Infantaria, 1965 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Anuário: 14 de Agosto de 1967 – 14 de Agosto de 1968 [Mafra, EPI, 1968] ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Anuário: 14 de Agosto de 1970 – 14 de Agosto de 1971, [Mafra, EPI, 1971] ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Guia do Instruendo, C. O. M. [Curso Oficiais Milicianos], 1971 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA Manual de posições de combate para o soldado de infantaria (trad. EPI), Lisboa, SPEME, 1978 ESCOLA PRÁTICA DE INFANTERIA [sic] Manual de Esgrima, Lisboa, Imprensa nacional, 1895 FERREIRA, Evaristo José Ideas sobre a reorganização do Real Colegio Militar, Lisboa, Imprensa Nacional, 1853 GALRÃO, Carlos O Caso de Mafra: Escola Central de Sargentos, in Sintra Regional (13 Nov. 1926) GUILHERMA, Rogério da Silva Resenha Histórica do Centro Militar de Educação Física e Desportos, Mafra, 1997

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RIBEIRO, João Pinto (capitão) Emprego das coordenadas militares: apontamentos, s. l., 1936 (4ª ed.) SANTOS, Moura dos / PAÇO, Luís Alberto do História do Centro Militar de Educação Física , Equitação e Desportos, 1978 SERRÃO, Helder da Silva CIOE/CTOE – Operações Especiais – 50 anos, s. d. SILVA, João Barbeito da Acantonamentos e bivaques, Mafra, 1889 SOUSA, António Maria Celestino de Instruções para o batalhão de instrução, Mafra, 1889 Fortificação do campo de batalha, Mafra, 1889 Regras gerais para os exercícios de campanha ofensiva e defensiva, Mafra, 1889 Regras para os exercícios de dupla acção, Mafra, 1889 Plano de exercício de batalhão em Torres Vedras, Mafra, 1889 Curso de táctica aplicada relativo à infantaria, Mafra, 1889 SOUSA, Victorino J. Peixoto de Hymno dos Alunos do R. C. Militar composto por […] empregado do dito Collegio – Poesia d’um ex Alumno, Mafra, 1854 Bandas Militares BANDAS DE MÚSICA Entrevista com o senhor tenente Domingos Canhão, in Azimute, n. 14 (6 Abr. 1965), p. 10 GANDRA, Manuel J. Bandas militares de Mafra, in Boletim Cultural 2006, Mafra, 2007, p. 541-550 GASPAR, José Eduardo A Banda de Música da EPI, in Azimute, n. 140 (1987), p. 20-21 e idem, n. 155 (Dez. 1993), p. 9-10 (actualizado, com o título: A Banda da EPI: a História de uma Vida) Linhas de Torres COSTA, José Maria das Neves Exposição dos factos pelos quaes se mostra ter sido portugueza a iniciativa do projecto […], Lisboa, Imprensa Liberal, 1822 Memoria militar respectiva ao terreno ao norte de Lisboa, Lisboa, Typ. E Stereotypia, 1888

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CRAVO, Domingos José 3ª Invasão Francesa – Linhas de Torres, Instituto de Altos Estudos Militares, 1960 GERALDO, José José Maria das Neves Costa e as Linhas de Torres Vedras, in Azimute, n. 180 (Dez. 2005), p. 10-12 GUERRA, Célia Maria Ferreira O Forte do Zambujal, Escola do Magistério das Caldas da Rainha, Maio, 1987 NAPIER, W. F. P. History of the War in the Peninsula and in the South of France: from the year 1807 to the year 1814, Londres, John Murray, 1828 NEALE, Adam Letters from Portugal and Spain, compraising an account of the operations of the Armies under their excellencies Sir Arthur Wellesley and Sir John Moore, Londres, 1809 NORRIS, A. H. / BREMNER, R. W. The Lines of Torres Vedras: the first three Lines and Fortifications South of the Tagus, Lisboa, The British Historical Society of Portugal, 1986 PEREIRA, Nuno As Linhas de Torres Vedras no concelho de Mafra: o estado de conservação dos redutos, in Boletim Cultural 2001, Mafra, 2002, p. 339-351 SILVEIRA, Carlos / SILVA, Carlos Guardado da / SOUSA, Ana Catarina /NUNES, Graça Soares Rota Histórica das Linhas de Torres - Guia, Maia, 2012 SOUSA, Catarina de (coord.) Projecto de Valorização das Linhas de Torres, Mafra, 2002 [Relatório] Mafra na Guerra Peninsular: a Rota histórica das Linhas de Torres, Mafra, 2011 SOUSA, José Inácio de O Forte do Juncal no contexto da 2ª linha de defesa das Linhas de Torres, in Azimute, n. 186 (Dez. 2008), p. 63-66 VALDEZ, José Joaquim de Ascensão As fortificações das Linhas de Torres, in Boletim Cultural ’98, Mafra, 1999, p. 599-606

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Manuel J. Gandra

Licenciado em Filosofia (Faculdade de Letras – Universidade Clássica de Lisboa). Enquanto Investigador, tem-se consagrado à investigação da História e da Geografia Míticas de Portugal (nomeadamente no que concerne às Ordens do Templo e de Cristo, ao Culto do Império do Divino Espírito Santo, ao Sebastianismo e ao Hermetismo), da iconologia da Arte portuguesa e da Circunstância Mafrense, temas sobre os quais se tem debruçado em publicações, colóquios, seminários, encontros, conferências, palestras, visitas guiadas e programas televisivos. Foi professor dos ensinos preparatório e secundário, tendo lecionado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e no IADE. Entre 1990 e 31 de Agosto de 1999, foi Coordenador dos Serviços de Cultura da Câmara Municipal de Mafra. Actualmente, é Professor na Escola Superior de Design do IADE-U. Coordenador Científico da Biblioteca António Quadros (IADE-U). Investigador do CLEPUL (Faculdade de Letras de Lisboa), Colaborador da UNIDCOM (IADE-U) e das Revistas Nova-Águia e Identidades Oceânicas. Membro do Conselho Consultivo do MIL, da Associação Identidades Oceânicas (IDEO,

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Brasil) e da Associação do Idioma e Culturas em Português (AICEM) e Director do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica [www.cesdies.net] que fundou em 19 de Abril de 1997, com sede em Mafra e actuando no Rio de Janeiro-Brasil, mediante uma parceria institucional com o Instituto Mukharajj Brasilan. Autor de artigos, opúsculos e obras versando a História e a Geografia Míticas de Portugal, nomeadamente: Portugal: Terra lúcida, Porto do Graal (1986); Bibliografia crítica das fontes e estudos respeitantes ao Hermetismo em Portugal: Alquimia (1993); Carrilhões de Mafra (1993); Apocalipse de Esdras: ecos nas letras e na arte portuguesas (1994); Cheiros, Sabores e Comeres regionais de Mafra: tradição e modernidade (1998); Regra Primitiva da Ordem do Templo (1998); A Cerâmica Tradicional de Mafra (1999); Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica (1999); Os Templários na Literatura (2000); O Império do Espírito Santo na Região de Tomar e dos Templários (2000); Colecção Maçónica Pisani Burnay: catálogo (2000); O Monumento de Mafra de A a Z, v. 1 (2002); A Cristofania de Ourique: mito e profecia (2002); Dicionário do Milénio Lusíada (2003); A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (2004); O Projecto Templário e o Evangelho Português (2006); Portugal Sobrenatural (2007); Da Face Oculta do rosto da Europa (2009), 2ª ed.; Astrologia em Portugal – Dicionário Histórico-Filosófico (2010); Iconografia e Iconologia: estudos, notas e fontes de cultura visionária (2012); Livro das Profecias de Cristóbal Colón (2013); Amuletos da Tradição Luso-Afro-Brasileira (2013); Florilégio de Tradições do Concelho de Mafra (2013); O Anjo da Saudade: da Hierarquia Celeste e do Custódio de Portugal (2013); O Projecto Templário e o Evangelho Português (2013), 2ª ed. revista e ampliada; Fernando Pessoa: Hermetismo, Iniciação, Heteronímia (2013); Mafra, do ocaso da Monarquia, ao advento da República (2013); Itinerários da Monarquia Constitucional em Mafra (2013); Hagiografia de D. Sebastião: de desejado a encoberto (2014); Cátaros para um Languedoque Português (2014); António Augusto Carvalho Monteiro: imaginário e legado (2014); Palácio Quintela: Iconologia do Programa Pictórico (2014); As Ilhas Míticas do Imaginário Luso: fontes e iconografia (2014); Os Templários na Literatura de Língua Portuguesa (2014); A freguesia da Carvoeira (Mafra), de lés a lés (2014); Instituições militares no Monumento de Mafra (2014); etc. Contactos: Site: www.cesdies.net Email: [email protected]