IBP2856_10 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL NO COMPLEXO DE SUAPE: COMPROMISSOS COM O...

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______________________________ 1 Economista, Co-Presidente EMPRESA DIAGONAL URBANA – São Paulo. 2 Engenheira Civil, Gerente – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife. 3 Advogada, Especialista Ambiental – Coordenadora – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife. 4 Mestre, Arquiteta e Urbanista – Consultora – EMPRESA DIAGONAL URBANA– Recife. 5 Arquiteta e Urbanista – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife. 6 Me. Esp. Arquiteto Urbanista, Consultor – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife. IBP2856_10 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL NO COMPLEXO DE SUAPE: COMPROMISSOS COM O DESENVOLVIMENTO E A INTEGRAÇÃO SOCIOCULTURAL. Álvaro Jucá 1 , Deise Coelho 2 , Catarina Leite Jucá 3 , Maria José Marques 4 , Maria Phyllis Mocock 5 . João Paulo Schwerz 6 Copyright 2010, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Oil & Gas Expo and Conference 2010, realizada no período de 13 a 16 de setembro de 2010, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, seus Associados e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da Rio Oil & Gas Expo and Conference 2010. Resumo Historicamente o Estado de Pernambuco desempenhou um papel de destaque no cenário nacional, sempre relacionado à cana-de-açúcar. Se mais recentemente o foco deste cultivo voltou-se prioritariamente à produção de combustíveis, por outro lado, durante praticamente cinco séculos, a cana esteve intrinsecamente ligada à produção do açúcar, decorrendo disto uma série de transformações não somente na paisagem, mas principalmente no modo de vida e na sociedade que persistem até os dias de hoje. A região sul do estado de Pernambuco tem uma significativa importância neste contexto, seja pelo peso histórico que o território carrega e o que representou para a colonização e o desenvolvimento do Brasil, como também pela conjuntura atual de investimento e desenvolvimento relacionada com a instalação do pólo portuário industrial de Suape. Esta situação privilegiada no tempo, longe de ser uma coincidência, está relacionada com a implantação estratégica e conformação geográfica do sistema natural da região de Suape com seu porto abrigado e extensos caminhos fluviais que interligavam os engenhos produtores de açúcar com os mercados consumidores europeus. As marcas que este sistema produtivo deixou no território nem sempre são facilmente visíveis, mas estão presentes e interligam uma cadeia complexa de edificações (os engenhos, casas-grandes, senzalas e capelas) nos grandes latifúndios coloniais, mas ao mesmo tempo o intrincado sistema de fortificações criadas para defender o “ouro branco português”. Mais além dos testemunhos materiais, a mescla cultural – decorrente do processo colonizador e da indissociável contribuição negra e mesmo índia vinculada ao processo produtivo escravista – permanece no território como característica identitária relacionada às festas, à comida, enfim, ao modo de vida de maneira marcante ainda nos dias de hoje. Esse imenso patrimônio que associa o sistema natural às transformações humanas neste ambiente conforma uma paisagem cultural (os rios, as matas, a cana nas encostas, os engenhos, as festas, etc.) que, mesmo em contínua transformação, representa uma relação sensível desta sociedade com seu meio. A partir da importância econômica que a área de Suape assume na atual conjuntura, com a instalação do Complexo Industrial Portuário e de todos os reflexos que já começa a causar, é imperioso buscar o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, ambiental e social. A enorme capacidade de atrair recursos e novas empresas aliado ao impressionante patrimônio cultural presente na região apresenta um potencial de retorno sócio-cultural e de desenvolvimento econômico local integrado baseado na valorização deste patrimônio e da oferta de serviços e produtos relacionados. Abstract Historically, the State of Pernambuco has played a key role in the national scenario usually related to sugar cane production. Recently, the focus of this activity turned to the production of biofuel, and on the other hand, for the

Transcript of IBP2856_10 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL NO COMPLEXO DE SUAPE: COMPROMISSOS COM O...

______________________________ 1 Economista, Co-Presidente EMPRESA DIAGONAL URBANA – São Paulo. 2 Engenheira Civil, Gerente – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife. 3 Advogada, Especialista Ambiental – Coordenadora – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife. 4 Mestre, Arquiteta e Urbanista – Consultora – EMPRESA DIAGONAL URBANA– Recife. 5 Arquiteta e Urbanista – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife. 6 Me. Esp. Arquiteto Urbanista, Consultor – EMPRESA DIAGONAL URBANA – Recife.

IBP2856_10 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL NO COMPLEXO DE SUAPE: COMPROMISSOS COM O DESENVOLVIMENTO E A INTEGRAÇÃO SOCIOCULTURAL.

Álvaro Jucá1, Deise Coelho2, Catarina Leite Jucá3, Maria José Marques4, Maria Phyllis Mocock5. João Paulo Schwerz6

Copyright 2010, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Oil & Gas Expo and Conference 2010, realizada no período de 13 a 16 de setembro de 2010, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, seus Associados e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da Rio Oil & Gas Expo and Conference 2010. Resumo

Historicamente o Estado de Pernambuco desempenhou um papel de destaque no cenário nacional, sempre relacionado à cana-de-açúcar. Se mais recentemente o foco deste cultivo voltou-se prioritariamente à produção de combustíveis, por outro lado, durante praticamente cinco séculos, a cana esteve intrinsecamente ligada à produção do açúcar, decorrendo disto uma série de transformações não somente na paisagem, mas principalmente no modo de vida e na sociedade que persistem até os dias de hoje.

A região sul do estado de Pernambuco tem uma significativa importância neste contexto, seja pelo peso histórico que o território carrega e o que representou para a colonização e o desenvolvimento do Brasil, como também pela conjuntura atual de investimento e desenvolvimento relacionada com a instalação do pólo portuário industrial de Suape.

Esta situação privilegiada no tempo, longe de ser uma coincidência, está relacionada com a implantação estratégica e conformação geográfica do sistema natural da região de Suape com seu porto abrigado e extensos caminhos fluviais que interligavam os engenhos produtores de açúcar com os mercados consumidores europeus.

As marcas que este sistema produtivo deixou no território nem sempre são facilmente visíveis, mas estão presentes e interligam uma cadeia complexa de edificações (os engenhos, casas-grandes, senzalas e capelas) nos grandes latifúndios coloniais, mas ao mesmo tempo o intrincado sistema de fortificações criadas para defender o “ouro branco português”.

Mais além dos testemunhos materiais, a mescla cultural – decorrente do processo colonizador e da indissociável contribuição negra e mesmo índia vinculada ao processo produtivo escravista – permanece no território como característica identitária relacionada às festas, à comida, enfim, ao modo de vida de maneira marcante ainda nos dias de hoje.

Esse imenso patrimônio que associa o sistema natural às transformações humanas neste ambiente conforma uma paisagem cultural (os rios, as matas, a cana nas encostas, os engenhos, as festas, etc.) que, mesmo em contínua transformação, representa uma relação sensível desta sociedade com seu meio.

A partir da importância econômica que a área de Suape assume na atual conjuntura, com a instalação do Complexo Industrial Portuário e de todos os reflexos que já começa a causar, é imperioso buscar o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, ambiental e social.

A enorme capacidade de atrair recursos e novas empresas aliado ao impressionante patrimônio cultural presente na região apresenta um potencial de retorno sócio-cultural e de desenvolvimento econômico local integrado baseado na valorização deste patrimônio e da oferta de serviços e produtos relacionados. Abstract

Historically, the State of Pernambuco has played a key role in the national scenario usually related to sugar cane production. Recently, the focus of this activity turned to the production of biofuel, and on the other hand, for the

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last five centuries, sugar cane production has been associated to just sugar. In consequence of that, some transformation turned the landscape in the area and also the way of life and society that still remains

The South of the State of Pernambuco has a significant importance because of the historical heritage that the area has and it was in colonization process and development of Brazil, as the actual scenario of investments and development related to the installation of Suape Port and Industrial Complex. The geographical natural design in Suape area, with its natural port and river ways, used to connect the sugar mills with European Market since the colonization.

The marks that this sugar chain left in the area are not visible and compose a group of buildings (mills, houses, slaves houses and churches) that are a system of fortification created to defend the so-called “Portuguese white gold”.

Further than the material heritage, the cultural miscegenation remains there on the area as identity and it can be identified in its parties, foods and on the way of life.

The economic important role that Suape takes these days, with the installation of the Port and Industrial Complex and all the consequences that it takes, will make needed to look for the balance between economic, social and environmental development.

The capacity to attract investments and new businesses and the cultural heritage in the area is a potential sociocultural opportunity of local integrated development, based on the valorisation of this cultural heritage and in the offer services and products related. 1. Introdução

Este trabalho parte da importância econômica que o litoral sul de Pernambuco assume no contexto de instalação do Complexo Industrial-Portuário de Suape, tendo como foco o patrimônio cultural presente na região. Este grandioso acervo é entendido aqui como uma intrincada associação entre sistema natural e ocupação histórica da área com seu meio produtivo típico, que conformam uma paisagem cultural facilmente identificável apesar da sua contínua transformação, mas ainda característica e com grande potencial de gerar desenvolvimento local a partir do contexto de inversão financeira que a área apresenta atualmente.

A análise em questão foi demandada como parte de integrante dos Estudos Técnicos Relativos aos Impactos Socioeconômicos da Implantação e Operação da Refinaria Abreu e Lima S.A. - RNEST e Plano de Ação Integrada, desenvolvido pela Empresa CEPPLA – Consultoria de Engenharia, com apoio da equipe técnica de especialistas locais da Empresa Diagonal Urbana e da Empresa CEPLAN para a PETROBRAS, no período compreendido entre 2009 e 2010.

Deste modo, foram utilizados, além das respectivas legislações e regulamentações em vigor, estudos e planos já desenvolvidos para a região a priori delimitada, para posteriormente contrapor à uma atualização através de levantamentos de campo. Assim, além de voltar a atenção sobre a cidade de Recife pela influência política que exerce sobre a área e pela sua relevância histórico-cultural, o estudo foi direcionado para os municípios mais diretamente afetados que são: Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Escada e Jaboatão dos Guararapes, sendo que os dois primeiros dividem fisicamente o território no qual está implantado o Complexo.

O objetivo foi conhecer o mais profundamente possível as potencialidades, o meio social e a dinâmica econômica que a área vem sofrendo, levando em consideração os impactos futuros para, finalmente, embasar propostas que fossem capazes de aliar desenvolvimento econômico e retorno social por meio da preservação do patrimônio cultural local.

O texto estrutura-se a partir de apenas duas partes: na primeira, de maneira breve por questão de espaço, apresenta referências anteriores relacionadas ao patrimônio da região e uma análise histórica conjunta da região, ressaltando as características que conferem à Suape suas peculiaridades culturais; a segunda apresenta de maneira muito direta as propostas e ações imaginadas globalmente para a área tendo em vista as possibilidades de interação entre poder público e privado, sejam elas decorrência de medidas compensatórias, sejam como alternativas paralelas que promovam desenvolvimento local, sempre tendo como ponto de convergência a preservação deste patrimônio.

2. Breve Contexto Histórico-Cultural da Região de Suape

Cabe esclarecer que a análise aqui apresentada parte do Plano de Preservação dos Sítios Históricos da Região Metropolitana do Recife (PPSH/RMR) de 1978 e do Plano de Preservação dos Sítios Históricos da Região da Mata Pernambucana, de 1981. Tais estudos apontam a necessidade de proteger os bens individuados e seu entorno, introduzindo a concepção de ambiência do sítio histórico, para em seguida buscar o reconhecimento do acervo existente nos Planos Diretores Municipais, que colocam tais ambientes edificados como áreas a serem tratadas de forma particular (zonas de interesse especial), com recomendações específicas. De modo geral, o objetivo dos Planos citados foi de subsidiar conceitualmente os agentes envolvidos com a preservação de sítios históricos, através da criação de duas zonas de proteção – uma Zona de Preservação Rigorosa – ZPR, com controle do uso e ocupação do solo mais rígido para impedir a descaracterização do acervo, e uma Zona de Preservação Ambiental – ZPA com restrições mais

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amenas relativas principalmente à altura das edificações e máxima taxa de ocupação, funcionando como faixas de transição, partindo-se de uma categorização do patrimônio em sete grupos ou categorias, cada uma com regulamentação específica: Sítios tombados; Conjuntos antigos; Povoados antigos; Edifícios isolados; Sedes de Engenhos; Ruínas e Vilas Operárias. Também foram consideradas as recomendações e as diretrizes conduzidas mais modernamente a partir do Governo do Estado de Pernambuco para a proteção do patrimônio e da cultura, a cargo do órgão estadual do patrimônio histórico e cultural (FUNDARPE), e as propostas integrantes na área de patrimônio para o Território Estratégico de Suape, a fim de compilar o que se tem e o que se pretende para a área em questão.

Por outro lado, apesar de haver sido objeto de análises e planejamentos para sua proteção e preservação desde a década de 70, este enorme acervo histórico-cultural, ainda que parcialmente reconhecido, continua sendo dilapidado continuamente e ameaçado por uma conjuntura sócio-econômica que não favorece o cumprimento de seu papel social e desconsidera o patrimônio como fator de desenvolvimento local, aliada à falta de capacidade organizacional do Estado em direcionar ações conjuntamente com o a iniciativa privada para recuperação e valorização também econômica deste potencial cultural.

Historicamente o Estado de Pernambuco desempenhou um papel de destaque no cenário nacional, sempre

relacionado à cana-de-açúcar. Se mais recentemente o foco deste cultivo voltou-se prioritariamente à produção de combustíveis, por outro lado, durante praticamente cinco séculos, a cana esteve intrinsecamente ligada à produção do açúcar, decorrendo disto uma série de transformações não somente na paisagem, mas principalmente no modo de vida e na sociedade que persistem até os dias de hoje.

A região sul do estado de Pernambuco tem uma significativa importância neste contexto, seja pelo peso histórico que o território carrega e o que representou para a colonização e o desenvolvimento do Brasil, como também pela conjuntura atual de investimento e desenvolvimento relacionada com a instalação do pólo portuário-industrial de Suape.

Esta situação privilegiada no tempo, longe de ser uma coincidência, está relacionada com a implantação estratégica e conformação geográfica do sistema natural da região de Suape com seu porto abrigado e extensos caminhos fluviais que interligavam os engenhos produtores de açúcar, com os mercados consumidores europeus.

As marcas que este sistema produtivo deixou no território nem sempre são facilmente visíveis, mas estão presentes e interligam uma cadeia complexa de edificações, os engenhos, casas-grandes, senzalas e capelas dos grandes latifúndios coloniais, mas ao mesmo tempo o intrincado sistema de fortificações criadas para defender o “ouro branco português”, assim como também os navios vítimas destes embates com potencial arqueológico subaquático.

IMAGEM 01: Mapa de Pernambuco, inclusive Itamaracá, do conjunto cartográfico de George Macgrave (1643), com desenho de Frans Post. À direita, detalhe ampliado da região do Cabo de Santo Agostinho.

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Mais além dos testemunhos materiais, a mescla cultural – decorrente do processo colonizador e da

indissociável contribuição negra e mesmo índia vinculada ao processo produtivo escravista – permanece no território como característica identitária relacionada às festas, à comida, enfim, ao modo de vida de maneira marcante ainda nos dias de hoje.

Esse imenso patrimônio que associa o sistema natural às transformações humanas neste ambiente conforma uma paisagem cultural (os rios, as matas, a cana nas encostas, os engenhos, as festas, etc.) que, mesmo em contínua evolução, representa uma relação sensível desta sociedade com seu meio.

A partir da imensa importância econômica que a área de Suape assume na atual conjuntura da instalação do

Complexo Industrial Portuário e de todos os reflexos que já começa a causar, é imperioso buscar o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, ambiental e social.

IMAGEM 03 – Sistema de engenhos na região de Suape, e a “Rota Turística doEngenhos do Norte”. Fonte: Suape Global/ Suape Local; O Caminho Sinuoso para oDesenvolvimento Sustentável. Máster Eco-Polis – Workshop Recife out/Nov 2009.

IMAGEM 02 - Sistema de Fortificações na região de Suape. Fonte: SuapeGlobal/ Suape Local; O Caminho Sinuoso para o Desenvolvimento Integrado.Máster Eco-Polis – Workshop Recife Set/Out 2009.

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A enorme capacidade de atrair recursos e novas empresas aliado ao rico patrimônio cultural presente na região apresenta um potencial de retorno sócio-cultural e de desenvolvimento econômico local integrado baseado na valorização deste patrimônio e da oferta de serviços e produtos relacionados.

IMAGEM 04 – Paisagem típica cana-de-açúcar, atividade produtiva histórica na região de Suape. Foto JPSchwerz.

IMAGEM 05 – Igreja e convento franciscano do século XVII – Monumento Nacional em Ipojuca. Foto JPSchwerz.

IMAGEM 07 – Ruínas do Forte Castelo do Mar – Monumento Nacional no Cabo de Santo Agostinho. Foto JPSchwerz.

IMAGEM 08 – Igreja Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes – Monumento Nacional em Jaboatão dos Guararapes. Foto JPSchwerz.

IMAGEM 09 – Igreja e Forte de Nazaré – Monumento Nacional em Cabo de Santo Agostinho. Foto JPSchwerz.

IMAGEM 10 – Meninos se divertem no Forte de Gaibu. Foto JPSchwerz.

3. Problemática e Propostas

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O território é caracterizado por uma concentração física do sistema turístico que tem uma baixa diferenciação da própria oferta turística. Se trata essencialmente de um turismo limitado à costa, ligado à poucas praias, com uma forte atração voltada à Porto de Galinhas: um posto turístico talvez excessivamente sobrecarregado pela presença de visitantes durante a maior parte do ano. Esse fenômeno cria dois problemas: de um lado, coloca em crise a capacidade de carga do lugar em termos de necessidade de água e de produção de resíduos; de outro, a não distribuição espacial do turismo por todo o litoral impede a difusão dos benefícios econômicos diretos e indiretos ligados à este crescente setor. Ao mesmo tempo, não se nota uma adequada diferenciação da oferta turística: o tipo de turismo demandado especialmente pelos municípios de Ipojuca e Cabo, é de lazer (sol e praia) e de eventos (negócios, encontros, seminários, etc., principalmente voltado aos resorts).

Deste sistema ficam excluídas outras grandes potencialidades do território: ocorre pensar, neste ponto, como uma somatória de atrativos diferenciados, que não se limita à praia, mas que considera, também, o interior como berço de potencial cultural, com seu patrimônio histórico, arquitetônico, gastronômico, e artesanal difuso no território.

O território sofre, portanto, uma falta de reconhecimento próprio que permita identificar-se e projetar-se de fato para fora do território. As suas praias mais famosas são um forte motor da economia local, mas poderiam ser ainda mais valorizadas se inseridas de maneira efetiva em relação à todo território. É necessário promover um processo de comunicação em que o território seja compreendido como um único potencial turístico, mas que ao mesmo tempo saiba valorizar suas diversas características.

O direcionamento das propostas vislumbra adequar os potenciais turístico-culturais locais de forma a enfatizar a dimensão territorial da oferta turística e a integração entre os diversos componentes do sistema, e em particular entre os atores públicos e privados, não somente na fase de gestão como também naquela de elaboração projetual.

Isso implica criar um contexto turístico homogêneo que se caracteriza pela oferta integrada de bens culturais e ambientais relacionados às já presentes atrações turísticas.Além de garantir a aplicação eficiente dos recursos compensatórios e melhorar a imagem das empresas, garante-se também a apropriação social deste patrimônio e conseqüentemente sua efetiva preservação. Entendendo que ações de cunho cultural deste tipo não são prioridades num país com tantas carências, imagina-se a iniciativa, já em andamento, da Refinaria Abreu e Lima em construir um Centro Cultural e um Núcleo de Pesquisas Arqueológicas em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para abrigar e desenvolver programas e projetos de valorização do patrimônio cultural na região que impulsionem e integrem tanto o poder público quanto o privado, com o desafio de aliar preservação com retorno social e econômico.

Desta forma a ação compensatória da Refinaria Abreu e Lima que cria o Centro Cultural e Núcleo de Pesquisas Arqueológicas na região de Suape pode ser aproveitada pelos agentes das diversas esferas governamentais juntamente com atores privados para explorar o potencial histórico-cultural da região litoral sul de Pernambuco, aliando a preservação do patrimônio e seu papel social com desenvolvimento econômico.

Assim, compete ao poder público através de suas atribuições e à iniciativa privada através de sua agilidade em termos de investimento aproveitar o surto desenvolvimentista na área e outros projetos relacionados já em andamento na região para fazer emergir o potencial turístico-cultural na região de Suape, assim como recuperar e evidenciar o patrimônio histórico, artístico e cultural na região litoral sul de Pernambuco gerando desenvolvimento social e econômico local aliado à preservação e valorização do patrimônio cultural, além de oportunizar conhecimento histórico relacionado ao território e incentivar pesquisas direcionadas ao patrimônio cultural da região.

Os projetos apresentados a seguir foram pensados para serem implantados por etapas, entendendo as dificuldades inerentes à processos tão complexos. Da mesma maneira, os projetos podem funcionar paralelamente, no caso de qualquer um deles não se concretizar. Porém, o grande salto está justamente na possibilidade de inter-relação e complementação almejada e o poder de referência a partir do convívio dos projetos, ampliando territorialmente o alcance dos objetivos.

O objetivo comum entre eles é resgatar o papel social do patrimônio de um lugar historicamente decisivo para o desenvolvimento econômico e formação cultural do país, através da valorização de aspectos materiais e imateriais que possibilitem a leitura e a interpretação do território e da paisagem. 3.1. Itinerário Turístico-Cultural dos Engenhos:

A proposta é baseada na identificação e promoção de um itinerário que ressalte a importância histórica e

cultural dos Engenhos através da criação de Centros de Documentação e Interpretação em locais estratégicos, reutilizando antigos Engenhos da área. Estes centros deverão estar associados ao Centro Cultural Abreu e Lima por meio de iniciativas educativas e exposições artísticas que contem a história da colonização da região e sua importância para a ocupação e desenvolvimento do Brasil.

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IMAGEM 10 – Engenho Massangana – Jaboatão dos Guararapes

Objetivo Geral:

Promover um itinerário turístico-cultural com base (visita, permanência e apoio) nos Engenhos históricos remanescentes na região de Suape e municípios do entorno.

Objetivos Específicos:

• Identificar os Engenhos remanescentes de relevância histórica na região de Suape; • Preservar o patrimônio cultural da região; • Promover um itinerário turístico-cultural que tenha como base os Engenhos da região de Suape que

ressalte sua importância histórica; • Promover desenvolvimento local por meio do turismo e serviços associados; • Promover a apropriação e retorno social do patrimônio cultural.

Fases do projeto: 1- Identificação e diagnóstico dos remanescentes físicos dos Engenhos na região; 2- Cadastro dos proprietários e possibilidades de re-utilização segundo a importância histórica, o estado fisco

e o interesse dos proprietários (Centro de Interpretação, pousada, restaurante, artesanato, etc. e interesse de investimento);

3- Identificação de linhas de financiamento e parceiros investidores; 4- Definição de itinerário segundo as características próprias de cada sítio e localização estratégica no

contexto turístico local; 5- Recuperação física dos bens selecionados; 6- Paralelamente treinamento de pessoal local para gestão e prestação de serviços complementares.

3.2. Itinerário Turístico-Cultural das Fortificações:

Identificação e promoção de itinerário que mostre a importância histórica e cultural das Fortificações na região

de Suape. Este itinerário funcionaria de maneira complementar ao dos Engenhos e poderia ser naval, integrando o Centro Cultural Abreu e Lima e os Centros de Interpretação também por meio de ações educativas e exposições artísticas. Poderia ainda contemplar uma iniciativa turística específica acompanhada de educação patrimonial de arqueologia subaquática.

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IMAGEM 11 – Fortaleza Castelo do Mar – Cabo de Santo Agostinho

Objetivo Geral: Promover um itinerário turístico-cultural de visitação às Fortificações presentes na área de Suape que integre e

complemente os outros testemunhos histórico-culturais da região. Objetivos Específicos:

• Identificar as Fortificações remanescentes e sua relevância histórica na região de Suape; • Preservar o patrimônio cultural da região; • Promover um itinerário turístico-cultural de visitação às Fortificações da área de Suape; • Promover desenvolvimento local por meio do turismo e serviços associados; • Promover a apropriação e retorno social do patrimônio cultural.

Fases do projeto: 1- Identificação e diagnóstico dos remanescentes das Fortificações na região; 2- Mesa de concertação com os órgãos responsáveis pela proteção das Fortificações e sobre possibilidades de

inclusão num roteiro turístico; 3- Identificação de linhas de financiamento e parceiros investidores; 4- Definição de itinerário segundo as características próprias de cada sítio e localização estratégica no

contexto turístico local; 5- Recuperação física dos bens selecionados; 6- Paralelamente treinamento de pessoal local para gestão e prestação de serviços complementares.

3.3. Programa de Preservação e Valorização do Patrimônio Singelo em Suape

Consiste em identificar e valorizar o patrimônio cultural (material e imaterial) das comunidades historicamente

consolidadas na região de Suape. É marcante a presença de casas que usam técnicas tradicionais de construção em terra, pequenas igrejas e principalmente as manifestações como ritos, festas, etc. associadas, como é o caso da Vila de Mercês, em Ipojuca.

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IMAGEM 12 – Vila das Mercês – Ipojuca Objetivo Geral: Identificar e valorizar os remanescentes culturais materiais e imateriais da comunidade de Vila das Mercês em

Ipojuca como projeto bandeira para sucessivas ações na região de Suape. Objetivos Específicos:

• Identificar as comunidades remanescentes e sua relevância histórica na região de Suape; • Preservar o patrimônio cultural da região e a qualidade de vida de tais populações; • Associar a imagem das empresas instaladas à preservação da cultura e qualidade de vida das

comunidades que sofreram impactos com a implantação do Complexo Industrial e Portuário de Suape; • Promover desenvolvimento local por meio do turismo e serviços associados;

Fases do Programa: 1- Identificação e inventariação das comunidades limítrofes à região do Complexo; 2- Contextualização histórica das comunidades e levantamento das características culturais (materiais e

imateriais associadas); 3- Proposta de proteção legal das comunidades contempladas em projeto; 4- Identificação de linhas de financiamento e parceiros investidores para continuação de estudos e

recuperação física ou valorização de bens; 5- Inclusão das comunidades segundo as características próprias de cada sítio no contexto turístico local; 6- Recuperação física dos bens selecionados; 7- Paralelamente treinamento de pessoal local para gestão e prestação de serviços complementares.

4. Agradecimentos Este trabalho foi possível porque contou com os Estudos Técnicos Relativos aos Impactos Socioeconômicos da

Implantação e Operação da Refinaria Abreu e Lima S.A. - RNEST e Plano de Ação Integrada, desenvolvido pela Empresa CEPPLA – Consultoria de Engenharia, com apoio da equipe técnica de especialistas locais da Empresa DIAGONAL URBANA e da Empresa CEPLAN para a PETROBRAS, no período compreendido entre 2009 e 2010.

Também é relevante destacar a disponibilidade das informações prestadas pelo Governo do Estado de Pernambuco, através principalmente das Secretarias de Desenvolvimento Econômico; do Planejamento e Gestão; e, da Empresa de Suape e Agência Condepe-Fidem. 5. Referências AGÊNCIA CONDEPE-FIDEM. Território Estratégico de Suape. Diretrizes para uma Ocupação Sustentável. Versão

Final. Recife, 2008. Suape Global/ Suape Local – O Caminho Sinuoso do Desenvolvimento Integrado. Eco-Polis Máster em Políticas

Ambientais e Territoriais Para a Sustentabilidade e o Desenvolvimento Local. Università di Ferrara/ It. Workshop Recife – Suape Set/Out 2009.

Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Recife: FUNDARPE, 2009.

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CAÑAS MARTINS, Marina. Paisagem em Circulação: O imaginário e o patrimônio paisagístico de São Francisco do Sul em cartões-postais (1900-1930). Dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS em novembro de 2008.

LUSTOSA BARRETO, Rosyonne R. O. Processo nº 875-T-73: Continuidade de estudos para instrução do processo de tombamento federal do “Conjunto das áreas da Baía de Suape e do Cabo de Santo Agostinho. Programa de especialização em patrimônio IPHAN/UNESCO – PEP. RECIFE: 5ª SR/IPHAN/MINC, 2007.

SCHWERZ, João Paulo. Valores e Conflitos na Preservação do Patrimônio Cultural: O olhar técnico e o olhar comum na identificação do patrimônio arquitetônico de Agudo/ RS. Dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC em abril de 2009.

UFPE/GOVERNO DE PERNAMBUCO. Suape Global: Pernambuco como pólo nacional provedor de bens e serviços para a Indústria de Petróleo, Gás, Offshore e Naval. Recife, UFPE/Governo do Estado, 2008.

Legislação Consultada: Leis Federais: de Parcelamento do Solo Urbano. Leis Estaduais: de Parcelamento do Solo Urbano; de Proteção dos Mananciais de Superfície da RMR; de Proteção das

Áreas Estuarinas; das Reservas Ecológicas da RMR, dos Recursos Hídricos de Superfície; da Conservação e Proteção das Águas Subterrâneas; Decreto Estadual do Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro do Litoral Sul de Pernambuco – GERCO- PE.

Leis Municipais dos Planos Diretores: Cabo de Santo Agostinho - Lei Municipal nº 2.360/06; Escada - Lei Municipal nº 2.155/06; Jaboatão dos Guararapes - Lei Municipal nº 002/08; Ipojuca - Lei Municipal nº 1.490/08; Recife - Lei Municipal nº17.511/08; Moreno - Lei Municipal nº 343/06; Sirinhaém - Lei Municipal nº 1005/01 e Ribeirão - Lei Municipal nº 1.412/06. Brasil. Governo Federal. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Brasil. Governo Federal. Código Civil Brasileiro de 1916. Lei Federal nº 3.071 de Janeiro de 1916. Brasil. Governo Federal. Código Civil Brasileiro. Lei Federal n.º 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Brasil. Governo Federal. Estatuto da Cidade, Lei Federal n.º 10.257 de 10 de julho de 2001 Sites Consultados: http://portal.unesco.org (acessado em 10.10.09) http://www.turismo.al.gov.br (acessado em 09.10.09) http://www.etur.com.br (acessado em 09.10.09) http://www2.setur.pe.gov.br/web/setur/sintese_projetos (acessado em 09.10.09) http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=252&date=currentDate (acessado em 09.10.09)