Gestão de Pessoas - Revisão Filosófica acerca de Homem, Vida e Viver. (People Management -...

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GILBERTO ALVES [email protected] Gilberto Alves, MsC. GESTÃO DE PESSOAS REVISÃO FILOSÓFICA Referência Bibliográfica: NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia : Das origens à idade moderna. São Paulo: Editora Globo, 2005

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Gilberto Alves, MsC.

GESTÃO DE PESSOASREVISÃO FILOSÓFICA

Referência Bibliográfica: NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia : Das origens à idade moderna. São Paulo: Editora Globo, 2005

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O que é um

homem?

O que é vida?

Como se deve viver?

O que é felicidade?

CONTEÚDO

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O QUE É UM HOMEM?

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O CORPO É O OBSTÁCULO AO CONHECIMENTO.O PROBLEMA: Sob que condição é possível alcançar a verdade? Qual é o valorda dimensão corporal do homem? Em que relação devem ser pensados corpo eespírito?TESE: Se na Idade Média Platão foi interpretado no sentido religioso e visto atémesmo como um precursor do Cristianismo, isso se deve a textos como o que estáabaixo, que emana uma espiritualidade ascética*. O corpo, e tudo o que elesignifica (percepção, paixão, instinto, emoção), deve ser anulado para que a razãoseja exercitada. Tudo aquilo que não é pura espiritualidade racional pode serdescrito em termos de patologia da alma. Importantes para a história da filosofiaocidental, essas teses rompem os limites da tradição platônica.

* O ascetismo ou asceticismo é uma filosofia de vida na qual são refreados os prazeres mundanos, onde sepropõem a austeridade.

PLATÃO(ATENAS, 428-347 a.C.)

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(Trechos extraídos de Fédon)

• É o vínculo com o corpo que impede o espírito de conquistar a verdade.• Instintos, emoções e doenças constituem obstáculos à racionalidade.• Agressividade social e guerra são consequências das paixões.• A dimensão corporal continua dominante mesmo quando em descanso e na imobilidade.• O abandono da corporeidade exige exercício e esforço.• Se o abandono do corpo é a condição de acesso à verdade, é preciso desejar a morte.• O corpo é impuro, irracional, contaminador.

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O HOMEM É A COPULA MUNDI, O CENTRO DO UNIVERSO.O PROBLEMA: O que é alma do homem? Qual é a posição do homem no universo?TESE: Se Ficino dedicou a sua breve existência à tradução dos textos clássicos, foi porqueentendia a filosofia e as suas tarefas de um modo muito específico. De fato, a filosofia, paraele, pode ser definida como a busca das origens da Revelação divina. Essa tarefa só érealizável por meio da reconstrução de um percurso que se incia com o persa Zaratustra ecom Hermes Trimegistro – mítico sábio egípcio -, continua com Órfeu e Pitágoras, atédesembocar em Platão e confluir finalmente na religião hebraico-cristã e no misticismoneoplatônico do pseudoDionísio. Portanto, não existe, em princípio, discordância entre oPlatonismo e o Cristianismo, entre magia e religião; ao contrário, pode-se encontrar nessastradições tão diversas um núcleo comum de verdade: a dignidade cósmica do homem, queFicino sintetiza na fórmula homo copula mundi. O homem é o termo médio (copula), ocentro, uma entidade intermediária na hierarquia da criança, o meio caminho entre o animale o anjo. Por isso, do ponto de vista da espécie, está destinado a ter um papel dominante nouniverso; e, do ponto de vista do individuo, encontra-se perenemente diante de umaencruzilhada existencial: pode degradar-se até o animal ou elevar-se a uma condiçãoangelical. O seu destino está totalmente nas suas mãos.

FICINO(FLORENÇA, ITÁLIA, 1443-1499)

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(Trechos extraídos de Teologia Platônica )

• A alma tem uma natureza intermediária.• A alma é como um espelho da divindade.• O lugar da alma é o terceiro degrau do ordenamento universo. Acima estão Deus e o mundo

angélico; embaixo , a matéria e as qualidades físicas.• Mesmo aderindo ao corpo, a alma é imortal.• Pela sua natureza intermediária, a alma pode conhecer tudo.

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O HOMEM É UM CAMALEÃO.O PROBLEMA: Em que consiste a superioridade do homem em relação àscriaturas?TESE: Todo o pensamento de Della Mirandola se resume na tentativa de distinguir onúcleo de verdade na base das três religiões monoteístas (Hebraísmo, Islamismo,Cristianismo). Na esperança de conciliar a Cabala hebraica com a teologia cristã, opensamento filosófico com a magia, a doutrina platônica com os escritos de HermesTrimegistro, Pico empenhou-se em um gigantesco trabalho de comparação de textos,ajudado por uma memória que o tornou célebre entre os seus contemporâneos e lhepermitiu dominar as línguas hebraica, árabe, caldéia, além, obviamente, de grego e latim. AOração sobre a Dignidade do Homem, da qual foi extraído o trecho seguinte, poderia terdado início àquele congresso universal de sábios de todas religiões que inutilmente Picotentou realizar: um público muito especial, portanto, que explica o tom inspirado e as sutisreferências à cultura hebraica e à sabedoria oriental. De fato, a doutrina do homemcamaleão, pela qual o homem não possui uma virtude específica, mas contém em si todas asqualidade de todos os outros seres viventes, é de alguma maneira compatível com a teoriaoriental da metempsicose, segundo a qual as almas dos mortos se reencarnam em outroscorpos, humanos ou animais.

PICCO DELLA MIRANDOLA(FLORENÇA, ITÁLIA, 1463-1494)

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(Trechos extraídos de Teologia Platônica )

• Criando os seres do mundo, Deus deu uma qualidade específica a cada um.• No momento de criar o homem, todas as qualidades já haviam sido atribuídas.• Deus conferiu ao homem uma pequena quantidade de todas as qualidades.• O homem não possui nenhuma qualidade específica.• O homem pode tornar-se qualquer coisa.

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PENSO, LOGO EXISTO.

O PROBLEMA: Existe algo de que não se possa duvidar?

TESE: Depois de ter duvidado de tudo, só uma coisa permanece não discutível: quemduvida pensa, é um ser pensante. Parece uma afirmação óbvia: cogito, ergo sum,penso(duvido), logo existo. Mas a sua importância é extraordinária: apesar deaparentemente banal, trata-se de fato de uma ideia certa, a ponto de poder serassumida como postulado inicial, para ulteriores e mais complexos raciocíniosdedutivos.

DESCARTES(LA HAYE, FRANÇA, 1596-1650)

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(Trechos extraídos de Meditações Metafísicas)

• O exercício metódico da dúvida. Deve-se duvidar até dos princípios científicos.• É possível duvidar de estar sonhando.• Mas posto que a dúvida é um pensamento, não se pode duvidar de sermos pensantes.• Cogito, ergo sum, penso, logo existo: esta afirmação é absolutamente certa.• O fato de pensar permite afirmar-nos somente como seres pensantes, mas não ainda como

indivíduos dotados de corpo.• A realidade da dúvida legitima somente a existência de um pensante, uma res cogitans

(substância pensante), não de um corpo.• Antes de iniciar a prática da dúvida, a sensação de existir como corpo parecia uma certeza.• Outras certezas eram os fatos de perceber, de pensar e de possuir uma alma.• Parece evidente a existência dos corpos, da matéria e do espaço em que se movem.• Todas essas crenças, todavia, não passaram pela prova da dúvida metódica e hiperbólica.• A existência do corpo foi colocada em dúvida.• Assim como a percepção.• Somente o pensamento não pode deixar de existir, porque não se pode duvidar sem pensar.• A dúvida demonstra a existência de uma res cogitans, uma coisa pensante.• A certeza de existir como ser pensante tem caráter fundamental; pode ser assumida como

postulado para cadeias dedutíveis.

INATISMO: Qualquer teoria que postule a presença no homem de deteminadas idéias, aptidoes, habilidades ou atitudescomportamentais já no momento do seu nascimento e, portanto, antes de qualquer experiência. No mundo antigo, era inatista a teoriaplatônica de anamnese; no mundo moderno, a posição de Descartes, segundo o qual as idéias dotadas de evidência não são aprendidaspela experiência, mas parte constitutiva da mente humana. Em sentido contrário, a demonstração da inexistência de idéias inatas foium dos eixos do empirismo.

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NADA SOMOS PARA O INFINITO.

O PROBLEMA: O que define a natureza do ser humano?

TESE: O destino do homem consiste na mediania. As proporções do seu corpotornam-no incapaz de compreender a imensidão do universo e de ver os inúmerosmundos que existem em cada minúscula partícula da matéria. Da mesma forma, a suapsique não consegue conceber a noção de tudo e a noção de nada; não é anjo nembesta. Pascal condena tanto a visão otimista da realidade quando qualquersubestimação pessimista, defendendo a tese do realismo trágico: o homem é umaestranha mescla de louvável grandeza e reprovável miséria, um paradoxo lógico, ummonstro incompreensível até para si mesmo.

BLAISE PASCAL(CLERMONT-FERRAND, FRANÇA, 1623-1662)

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(Trechos extraídos de Meditações Metafísicas)

• A imensidão do universo ressalta a pequenez do homem.• A infinita complexidade do universo ultrapassa as possibilidades da imaginação humana.• O fato da mente humana não conceber o universo sugere a existência de Deus.• O homem é ontologicamente* miserável: o seu ser é nada em confronto com o cosmo.• A imensidão do mundo não é somente espacial. Existem mundos inteiros em cada partícula

de matéria.• Existem dimensões do real fora de escala, em relação ao homem, incapaz de compreender o

imensamente grande e o mais diminuto dos pequenos.• O que denominamos grande e pequeno não é isso em absoluto, mas somente se for

considerado em relação à dimensão humana.• A ciência é incapaz de descrever o lugar ocupado pelo homem e o papel por ele exercido na

ordem da criação.• Não só a infinitude do tudo, mas também a do nada, a partir do qual tudo foi criado, escapa à

nossa compreensão.• O destino do homem está na mediania na oscilação entre opostos e insolúveis mistérios.• A tentativa da ciência de sondar o infinitamente pequeno e o infinitamente grande é apenas

presunção.

* Ontologia significa “estudo do ser”. A palavra é formada através dos termos gregos “ontos”(ser) e “logos” (estudo, discurso). Consiste em uma parte da filosofia que estuda a natureza doser, a existência e a realidade, procurando determinar as categorias fundamentais e as relaçõesdo “ser enquanto ser”.

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SOMENTE ANJOS E ANIMAIS NÃO CONHECEM A ANGÚSTIA.

O PROBLEMA: O que define a existência humana? Que caminhos levam afé?

TESE: Do ponto de vista do indivíduo, a existência significa liberdade, a possibilidadede realizar-se em um dentre os infinitos modos possíveis. Pode-se fazer uma escolha eassim se perder na miséria de uma vida particular, qualquer que seja ela; pode-serenunciar a escolher, optando pela paralisia, pela recusa. De qualquer forma, nãoexiste solução positiva: a angústia é inevitável muito mais terrível do que a realidade.Somente os animais não sofrem com isso, e entre os homens ela cresce com ainteligência e a espiritualidade: somente quem conhece todas as possibilidades daexistência pode sofrer pelas infinitudes renúncias implícitas em cada escolha, a pontode decidir não fazer escolha alguma. Um dos possíveis efeitos da angústia é o nada, anulificação paralisante do indivíduo.

SÖREN KIERKEGAARD(COPENHAGUE, ALEMANHA, 1813-1855)

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(Trechos extraídos de O Conceito de Angústia)

• A angústia* é a condição que define a essência da natureza humana.• É preciso aprender a conviver com a angústia.• A angústia depende da qualidade individual do homem.• A angústia não é medo, mas um sentimento voltado para o interior.• As diversas modalidades de angústia estão presentes na experiência terrena de Cristo.• Fonte de angústia é liberdade.• A angústia possui um grande poder de penetração psicológica.• A forma primária de angústia é a possibilidade.• Na vida ordinária assume-se como valor positivo a existência de muitas possibilidades.• A experiência da total liberdade de escolha produz uma paralisia e um sofrimento psicológico

superiores a qualquer experiência real.• A experiência da angústia não é somente dolorosa, possui também um valor formativo. É a

via mestra em direção à fé* religiosa.

“´Por fé eu entendo aquilo que uma vez Hegel, à sua maneira, determinou muitoapropriadamente: a certeza interior que antecipa o infinito.

*ANGÚSTIA: Enquanto o medo nasce de um perigo determinado, a angústia não tem causasespecíficas, mas é a vertigem da liberdade, a ânsia paralisante, a náusea psíquica que colhe oindivíduo quando examina as infinitas possibilidades, positivas e negativas, de sua existência.

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O SUPER-HOMEM É O SENTIDO DA TERRA.

O PROBLEMA: É possível o nascimento de um homem novo, qualitativamentesuperior?

TESE: Matar Deus significa libertar-se das cadeias do mundo sobrenatural, ser capaz de viversem falsas esperanças (a imortalidade da alma, o Paraíso), aceitando com alegria a vida na suatotalidade, incluindo a morte. Isso significa ficar preso à terra: o homem novo é aquele que,longe de querer entender o significado do mundo, consegue impor ao mundo os seus significados.Como Protágoras, Nietzsche também afirma que o homem (o Super-Homem) é a medida detodas as coisas, porque dele, da sua vontade de potência, cada coisa adquire o seu sentido. Daíderivam todas as características do Super-Homem que Nietzsche enumera neste trecho, cujaagudeza de pensamento é acompanhada por uma forte ambiguidade. O Super-Homem está alémda racionalidade, despreza todo valor ético, vive num mundo dionisíaco, reconhece o enganoinerente a todas as filosofias, percebe o passar do tempo como eterno retorno. O homem atual ésomente uma fase de passagem, é uma corda estendida sobre um abismo, entre o feio de que seorigina e o Super-Homem para o qual tende.

FRIEDRICH NIETZSCHE(RÖCKEN, ALEMANHA, 1844-1900)

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(Trechos extraídos de Assim falou Zaratustra)

• A distância que separa o Super-Homem do homem é semelhante àquela que divide o homem do macaco.• A passagem à condição de Super-Homem implica um salto evolutivo, uma mudança profunda da natureza

humana.• A terra e os seus valores devem substituir Deus e a religião.• A terra é antes de tudo o corpo, que a tradição filosófica opõe a alma.• Invertendo a tradição, é preciso escutar a voz do corpo, da natureza e dos instintos.• O Super-Homem concebe tudo de uma forma grandiosa; é grande também no pecado e no desprezo.• O Super-Homem despreza a busca da felicidade.• O Super-Homem supera a dimensão racional.• O Super-Homem vive além do sentido moral.• O Super-Homem rejeita a justiça, a compaixão, a piedade.• O Super-Homem ama o excesso, mesmo no pecado, aceita a loucura do ato criativo.• O homem atualmente está e uma situação de passagem incerta.• Se existe um abismo a ser percorrido, então o homem é a ponte entre duas passagens.• Atravessar esse abismo envolve risco pessoal.• A destruição do passado é necessária para a construção do futuro. O Super-Homem não acredita no Outro

mundo.• O Super-Homem vive, conhece e trabalha em vista do próprio aperfeiçoamento, logo, nega-se como atualmente

é.• O Super-Homem extrai de si mesmo os valores morais.• O Super-Homem supera e critica o próprio conceito do valor moral.• O Super-Homem inverte o modo de pesar normal. Para alcançar tal condição é preciso destruir o que se é

atualmente.• O Super-Homem vive no presente, na realidade, rejeita Deus e faz-se instrumento de transição em direção a uma

humanidade superior.• A renovação do Super-Homem envolve a negação voluntária do homem atual.

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• GENEALOGIA DA MORAL: As doutrinas éticas do passado sempre viram nos valores morais umsistema absoluto e universal independente do período histórico e da localização geográfica. A hipótesegenealógica de Nietzsche sugere, ao contrário, a possibilidade de desenvolver uma história dos valoresmorais identificando o seu nascimento em condições histórico-sociais específicas. O efeito é obviamenteuma relativização dos próprios valores, capaz de revelar o conteúdo humano (demasiado humano, nodizer de Nietzsche) que está na sua base.

• MORTE DE DEUS: O anúncio da morte de Deus, o núcleo de Nietzsche, indica o progressivodesaparecimento na cultura do homem moderno de todas as filosofias, religiões ou ideologias que nopassado exerciam a tarefa de iludi-lo e consolá-lo. O Super-Homem, aquele que é capaz de suportarpsicologicamente esse evento, não necessita mais de ilusões tranquilizadoras porque com o espíritodionisíaco aceita a vida com o seu caos intrínseco e ausência de sentido.

• NIILISMO: Nietzsche distingue diversas acepções desse termo. O niilismo passivo indica a nulificaçãodo humano produzida pela filosofia e pelo Cristianismo, das duas máximas perversões, verdadeiraspatologias do espírito, produzidas pela história do Ocidente. O niilismo ativo e positivo indica, aocontrário, a capacidade do Super-Homem de aceitar como essência da vida a dimensão do nada, da faltade escopo e de sentido.

• SUPER-HOMEM: Sintetizando a ambígua exposição de Nietzsche, o Super-Homem é aquele que:1. Aceita a morte de Deus;2. Conduz a sua existência com espírito dionisíaco;3. Supera a angústia do passar do tempo vivendo uma vida sob a insígnia do eterno retorno;4. Coloca-se, em relação ao mundo, numa postura de vontade de potência – ou seja, não se deixa

determinar por qualquer objetividade, mas atribui aos objetos o significado que mais lhe agradar;• ETERNO RETORNO: partindo da ideia de uma estrutura cíclica do tempo, com base na tese da total

racionalidade do mundo, os Estóicos concluiram que cada ciclo temporal deveria nascer e se desenvolverde modo igual aos procedentes. Nietzsche retoma essa tese: se num processo que se faz recorrente nadaacontece por acaso, tudo deve se repetir.

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O QUE É VIDA?

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O AR É CHEIO DE ALMAS.

O PROBLEMA: O que é alma? É imortal? O que confere vida ao animal,separando-se dele no momento da morte?

TESE: Pitágoras foi o primeiro filósofo ocidental a sustentar a teoria dametempsicose, a transmigração da alma de um corpo para outro no momentoda morte. Devido a uma culpa original, a alma é obrigada a reencarnar emsucessivas substâncias corpóreas (nem sempre humanas, mas tambémanimais), em ciclo que só é interrompido após a purificação. As regras nasquais se inspiram as normas éticas e os ritos de purificação são aquelas,exclusivamente matemáticas, da harmonia e da proporção.

PITÁGORAS(ATENAS, 570-500 a.C.)

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(Trechos extraídos do Historiador Diógnes Laércio)

• A alma (imortal e presente em cada ser vivo) é constituída de éter, o quinto elemento, umasustância material, mas muito sutil e invisível.

• A alma humana tem três componentes: intelecto, mente e ânimo. Intelecto e ânimo comum atodos os animais e mente exclusiva do homem.

• O coração é a sede da emoção; o cérebro, a do intelecto e da mente.• Também o pensamento é constituído de éter.• Não necessariamente a alma é controlada pela mente racional.• A alma sobrevive ao corpo.• Os sonhos são mensagens enviadas pelas almas dos mortos. Também os animais sonham.• O rito religioso estabelece um contato com as almas.• A alma tende ao bem, mas o homem é em si um ser inquieto.• A produção espermática reside no cérebro. O sêmen é uma gota de cérebro, contendo vapor

quente. A gota de cérebro é umidade e sangue...• A gestação fetal acompanha as ordens decimais da numeração matemática.• Existe vida enquanto os componentes do indivíduo permanecem em relação harmônica.• Dado que conseguimos ver também através da água, a visão deve receber um fluido muito

sutil, como um vapor quente.

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COMO A VIDA NASCEU DO VÓRTICE ATÔMICO.

O PROBLEMA: A hipótese atomista explica a estrutura dos corpos, mas podeexplicar também a sua origem? O que leva os átomos a se agregarem paraformar compostos estáveis?

TESE: Para responder a essas perguntas, Demócrito formulou a teoria dosvórtices, que obteria um grande sucesso no meio científico: a agregação dosátomos em corpos sólidos e compactos deve a fenômenos puramentemecânicos, particularmente à força centrípeta agregadora desenvolvida pelomovimento em vórtice. Antes de tudo, Demócrito tinha interesse em trazer àluz a afirmação de que o nascimento da vida depende de processosautomáticos (putrefação, fermentação), os quais não requerem a intervençãode qualquer inteligência divida.

DEMÓCRITO(ATENAS, 460-360 a.C.)

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• No caos inicial não existiam corpos diferenciados.• O diferente peso dos átomos produziu uma primeira separação.• Os corpos celestes formaram-se em consequência de um movimento em vórtice.• O nascimento da vida explica-se com processos de putrefação e fermentação.• A ação do calor e do frio explica a evolução dos processos vitais.• As diferenças entre os animais dependem da estrutura atômica.

MATERIALISMO: é a convicção de que todos os fenômenos, inclusive aqueles espirituais epsíquicos, são resultado final de processos materiais e mecânicos. Os materialistas negam aexistência da alma e das substâncias espirituais, reconhecendo somente a existência dassubstâncias corpóreas. Apesar de o termo ter sido cunhado no século XVII, adapta-se bem àdoutrina de Demócrito, segundo a qual também a alma, o pensamento e até mesmo os Deusessão compostos de átomos materiais.

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O MUNDO É UM GRANDE ANIMAL.O PROBLEMA: Existe diferença entre o mundo animado e o inanimado? O que é alma?Como forma e matéria se compõem na natureza?TESE: levando ás últimas consequências as teorias do Neoplatonismo, Bruno chega a umaconcepção panteísta e imanente: tudo é vivo, porque em cada parte da realidade, mesmo nomundo mineral, está presente um princípio formal e vital, ou seja, aquela estrutura interna,aquela necessidade que faz cada coisa ser o que é. O que chamamos mente não existesomente no homem mas também, obviamente de modo inconsciente, nos animais, nasplantas, nas gemas e nos minerais. E assim como existe uma mente nas coisas, existetambém uma mente do todo, um intelecto universal ou alma do mundo (Deus, em suma). Aruptura com a ortodoxia cristã não poderia ser mais drástica: a teoria sustentada por Bruno,de fato, recuperava o espírito do antigo paganismo, considerando Deus um princípio vital eimanente da natureza. No texto que apresentamos a seguir – um dos diálogos metafísicos,extraído da obra Da Causa, do Princípio e do Uno -, o personagem Teófilo representa o próprioBruno, ao passo que Dicsono, cujo papel, na verdade, se limita ao de simples coadjuvante, éuma referência a Alexander Dicson, autor de um texto sobre a memória artificial inspiradonas teorias de Bruno.

GIORDANO BRUNO(ROMA, 1548-1600)

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(Trechos extraídos da obra Da Causa, do Princípio e do Uno )

• A alma é intrínseca aos entes naturais, como o timoneiro é ao navio.• A alma é a forma e a causa dos entes.• O mundo é, no seu conjunto, um ser dotado de alma, é verdadeiramente um grande animal.• Quem nega a alma do mundo diminui a obra do Criador.• O problema está no modo com que a alma se une á materia.• A alma une-se à matéria como a beleza se une aos corpos.• Posto que são dotados de uma forma, todos os objetos da natureza possuem uma alma.• Não é a matéria em si que é animada, mas qualquer objeto dotado de uma forma.• Cada ente possui uma estrutura interna, um princípio espiritual que guia o seu

desenvolvimento.• Anaxágoras* tinha razão ao afirmar que tudo está em tudo.• Tudo no mundo ou é animal ou é inanimado.• Isso é demonstrável pela propriedade de certos fármacos influírem sobre o espírito.• Os magos acreditam, com razão, que os ossos retêm alguma coisa do indivíduo.• Existe uma alma de cada coisa e do mundo, no seu conjunto.• A alma, como forma de todas as coisas, plasma a matéria.• A matéria é única, constitui os objetos, assumindo cada vez uma forma diferente.• A matéria também, como a alma, é uma substância imutável em si.• Somente o aspecto aparente dos objetos muda.• Erram os aristotélicos (os sofistas) ao distinguir o ser do indivíduo...• ... e ao considerar o indivíduo um composto de matéria e forma.• Isso leva a temer a morte, a separação entre matéria e a alma.

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A INTELIGÊNCIA NÃO EXPLICA A VIDA.

O PROBLEMA: Pode a inteligência humana explicar o fenômeno da vida? Pode-se explicar a inteligênciahumana partido do fenômeno da vida?

TESE: A milenar tentativa de compreender a natureza dos fenômenos vitais por meio das capacidades deinteligência está destinada ao fracasso. A vida, com efeito, seja a do indivíduo, seja a da humanidade inteira, épor definição livre, não previsível e não inserível em algum desígnio preordenado. Ela procede sobre umduplo trilho: de um lado está a pura criação do novo, do outro a conservação integral do passado. A evoluçãobiológica não persegue qualquer fim nem se desenvolve segundo critérios econômicos e racionais; ou, antes, édominada pelo desperdício, pela dispersão de energia vital em todas as direções, mesmo aquelas destinadas aum seguro insucesso e destinadas a sucumbir à dura lei da seleção natural darwiniana. A vida é um impulsoconstrutivo que, a cada momento, explora todas as variações possíveis, sem seguir um projeto preciso; é umaonda que arrasta e ultrapassa qualquer obstáculo, sem nunca, todavia, abandoná-la definitivamente. O primeiroobstáculo foi a capacidade de movimento, e do mundo vegetal, depois de milhões de fracassos evolutivos,acabou por desenvolver-se aquele animal. Nem mesmo isso, porém, se desenvolveu numa única direção:algumas espécies seguiram a via do instinto, outras a via da inteligência. Entre estas obviamente está a espéciehumana, mas não somente, porque instinto e inteligência são diferentes, mas não opostos: o instinto animalestá cercado por um halo de inteligência e a inteligência humana não funcionaria se não se baseasse tambémna contribuição do instinto. Conclusão: a inteligência não consegue explicar a vida, mas a vida explica ainteligência.

HENRI BERGSON(PARIS, 1859-1941)

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• A filosofia pode analisar a vida do espírito somente por meio do processo evolutivo.• A vida, ou seja, o impulso evolutivo, é semelhante a uma onda que arrasta o obstáculo da

matéria.• O impulso vital conhece muitos pontos de estagnação, mas conduz somente à humanidade

sem interrupções.• O impulso vital, na sua ponta mais avançada, ultrapassa a dimensão material, produzindo a

consciência.• O curso evolutivo que alcançou o nível da consciência se ramifica em múltiplas direções.• A consciência humana depende da estrutura cerebral, como o curso de um rio depende do

leito que ele mesmo escavou.• A consciência modela a estrutura cerebral.• A inteligência (a discursividade racional) reduz o impulso vital da consciência a esquemas

compatíveis com a matéria.• A filosofia deve integrar esquemas racionais numa compreensão intuitiva mais profunda.• Somente a intuição se coloca em sintonia com o ritmo evolutivo da natureza.• Intuitivamente reconhecemos a unidade profunda de todos os fenômenos naturais.

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• INTUIÇÃO:O processo mental pelo qual se chega a compreender de modo imediato e direto umaverdade qualquer. A filosofia do conhecimento sempre distinguiu e opôs a intuição aoraciocínio discursivo que se desenvolve no tempo segundo etapas escondidas pela lógica dadedução. Enquanto repentina iluminação do espírito, a intuição mantém ainda intacta umaforte conotação misteriosa, podendo identificar-se nela uma das fontes da criatividade.

• EVOLUCIONISMO:Refere-se às doutrinas que estenderam à cultura e à sociedade as leis do desenvolvimentobiológico das espécies animais descobertas por Darwin, acabando por fazer da evolução umprincípio metafísico finalista capaz de explicar a realidade inteira. Bergson ataca o otimismoimplícito nessas doutrinas, demonstrando que uma correta interpretação dos dadoscientíficos não justifica a convicção de que na natureza estejam em ato processosmecanicistas, racionais, finalistas, providenciais ou mais simplesmente orientados pra umameta qualquer.

• IMPULSO VITAL:Consiste na força cega e irracional que determina o fluir da vida e a evolução biológica.Avança sem qualquer planejamento em todas as possíveis direções de desenvolvimento,sem seguir qualquer desígnio predeterminado, qualquer escopo ou fim. É pura criação, livree imprevisível.

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COMO SE DEVE VIVER?

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A VIRTUDE ESTÁ NO JUSTO MEIO.

O PROBLEMA: Em que consiste a virtude? Existe uma regra geral decomportamento?

TESE: Assim como a saúde do corpo é determinada pelo equilíbrio fisiológicodos seus componentes, a virtude consiste na disposição em escolher o justomeio. Essa capacidade, que se adquire e se desenvolve pelo exercício, excluisistematicamente os contrapostos vícios do excesso e da escassez, realizandouma mediação sob o controle da razão. A coragem, por exemplo, é a virtudemédia entre a temeridade e a covardia.

ARISTÓTELES(ATENAS, 384-324 a.C.)

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(Trechos extraídos de Ética e Nicômano)

• A saúde depende do equilíbrio dos hábitos de vida.• A virtude também consiste em um equilíbrio entre tendências e opostos.• Tanto o excesso quanto a escassez são negativos.• No campo ético, o valor mais elevado é a mediação.

• SUBSTÂNCIA: Literalmente, o que está por baixo. Indica o conceito-base da metafísicaaristotélica, sendo também o mais ambíguo e complexo. Substância é todo ente, todoindivíduo, toda coisa que existe para si, ou seja, não tem natureza acidental ou eventual, masnecessária. Portanto, substância é tudo aquilo que tem uma vida própria, goza dedeterminadas propriedades, pode fazer o papel do sujeito na prática linguística e possui uma (e uma só) essência, ao lado de uma quantidade variável de acidentes.

• ESSÊNCIA: Falamos de essência todas as vezes em que respondemos à pergunta: “o que é?”Por exemplo: “O que é um estudante?”, “O que é um professor?”, “O que é um reitor?”Descrevemos as essências produzindo definições. A essência necessária de uma coisa, ouseja, a descrição da sua íntima natureza, sem a qual ela deixa de ser o que é, coincide com asubstância. Pode-se descrever a essência como aquilo que permanece e se conserva imutável,apesar da mutação. Especificar a essência é tarefa fácil em certos campos (por exemplo,matemática, geometria), mais difícil em outros: definir o que sejam o amor e a vida émuitíssimo mais complexo do que definir a noção de triângulo.

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• ACIDENTE: O que pode existir ou não existir em uma substância, as qualidades que dependemdo acaso, da sorte, das variações individuais. A idade, a beleza, o humor de um indivíduo sãoacidentais, bem como a medida dos ângulos de triângulo (ao passo que é essencial que estesângulos sejam três e que formem no conjunto 180º). Toda substância consiste em uma essêncianecessária mais um certo número de qualidades essenciais.

• CATEGORIAS: São as regras fundamentais, os modos generalíssimos, as noções de base que, paraAristóteles, estruturam a linguagem, o pensamento, a própria realidade. Uma adequada grade decategorias deveria ser capaz de especificar tudo o que se pode dizer de um objeto. Aristótelessugere a seguinte tabela categorial: substância, qualidade, quantidade, lugar, tempo, relação com oambiente, ação em ato, ação sofrida.

• CAUSA: Causa é tudo aquilo que responde à pergunta por quê? Segundo Aristóteles, todo oconhecimento pode ser definido como entender por que ocorrem os fenômenos, mesmo quandoestes não têm uma única causa. É preciso distinguir entre causas materiais (a matéria da qual as coisassão compostas), causas eficientes (aquilo que produziu a coisa), causas formais (a estrutura, aorganização interna) e causas finais (o escopo, o fim para o qual uma coisa existe). As duas primeirastêm caráter acessório, ao passo que as últimas são fundamentais. Aristóteles, de fato, une a noçãode substância à de causa: compreender a verdadeira causa de um evento é intuir a sua essência, a suaespecificidade e a sua necessidade.

• MATÉRIA/FORMA: Cada objeto do mundo é constituído por uma matéria e uma forma. Estánão indica o aspecto exterior e visível, mas a estrutura, a organização interna que faz com que osujeito seja o que é. A matéria é passiva, ao passo que a forma coincide com a essência necessária.A forma de um animal, por exemplo, indica a espécie à qual pertence.

• POTÊNCIA/ATO: A potência indica a possibilidade por parte da matéria de assumir umadeterminada forma. O ato indica a realização dessa possibilidade. A potência está para a matériacomo o ato está para a forma.

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COMO VIVIA DIÓGENES, DENOMINADO O CÃO.

O PROBLEMA: Como se deve viver? A cultura é importante? Em que consiste a virtude?

TESE: Foram contadas mais anedotas e lendas sobre a vida de Diógenes do que sobrequalquer outro filósofo. Diante do seu estilo de vida não se pode deixar de fazer uma sériede perguntas: por que vivia em um tonel? Por que rejeitava qualquer comodidade, vestindoapenas uma túnica e lambendo a água das poças, como os cães? E o que significa a suareposta, procuro o homem, a quem lhe perguntava por que andava pelas ruas de Atenas, empleno dia, levando uma lanterna na mão? (motivo pelo qual foi apelidado de Sócrates Louco,pelos seus contemporâneos.) Diógenes foi o primeiro de uma numerosa fileira de filósofosque entendiam a sabedoria como a recusa da vida comum: munidos de um manto e de umatigela, orgulhosos de sua pobreza, perambulavam como mendigos pelas cidades da Gréciapregando o ascetismo, o retorno à vida natural, o abandono de qualquer atividadeintelectual, o desprezo pelas comodidades. Os atenienses compreenderam que essaexcentricidade um pouco insensata estava plena de advertências e acabaram por estimar essefilósofo que comia, dormia e satisfazia as suas funções corporais em qualquer lugar e diantede todos. .

DIÓGENES(ATENAS, 413-323 a.C.)

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(Trechos extraídos do Historiador Diógnes Laércio)

• A determinação da vontade ultrapassa qualquer obstáculo.• A anulação de qualquer desejo.• A independência das necessidades.• A autarquia: cada indivíduo cuida de si mesmo.• A riqueza de nada possuir.• A religião como evento interior.• A renúncia à vida social.• A resistência física como valor ético.• A escolha da absoluta pobreza.• A prioridade da ação sobre o pensamento.

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O OBJETIVO DA VIDA FELIZ É O PRAZER.

O PROBLEMA: Qual é o melhor modo para ordenar a própria vida? Em queconsiste a felicidade? É bom ter muitos desejos?

TESE: O prazer e a felicidade são certamente os critérios condutores do serhumano. O problema está em definir qual é o verdadeiro prazer e comootimizar o bem-estar pessoal, lembrando que a um prazer imediatocorresponde muitas vezes uma dor futura. Segundo Epicuro, a solução maissábia está em submeter a busca da felicidade ao juízo da razão. É preciso,portanto, eliminar os medos inúteis (da morte, dos deuses, da dor), moderar asnecessidades de modo que o seu gozo não se transforme no contrário e,principalmente, ter como meta a tranquilidade de espírito, a serenidade. .

EPICURO(ATENAS, 341-270 a.C.)

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(Trechos extraídos de Carta a Meneceu)

• Platão considerava arriscado aproximar os adolescentes da filosofia, mas para Epicuro todasas idades são apropriadas para filosofar.

• A felicidade é o problema fundamental dos indivíduos.• Se os deuses interviessem na vida humana, como pensa o vulgo, a consecução da felicidade

não dependeria de nós.• Os deuses existem, mas não se ocupam dos homens.• A morte não deve ser a fonte de temor: quando ela está presente, nós não estamos; quando

estamos presentes, ela não está.• Tampouco é justo desejar a morte. O sábio limita-se a viver a vida plenamente.• Tanto o temor quanto o desejo da morte limitam a nossa liberdade.• A felicidade consiste no prazer.• O prazer deve ser maximizado com base no cálculo.• A dependência diante dos desejos e a limitação das necessidades favorecem o verdadeiro

prazer.• O verdadeiro prazer consiste na tranquilidade de espírito.• A sabedoria vale mais do que o conhecimento das doutrinas.

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(Trechos extraídos de Carta a Meneceu)

CÁLCULO DO PRAZER: consiste na ideia de Epicuro de que é possível o bem-estar da vida pormeio do cuidadoso cálculo matemático dos sacrifícios e do prazer decorrentes de um comportamento.O cálculo não deve considerar somente as consequências imediatas, mas também as de longo prazo,posto que, frequentemente, satisfazer um desejo provoca uma imediata felicidade, mas também umdano futuro.

NECESSIDADES: Epicuro distingue três tipos de necessidades:1. Necessidades naturais e essenciais, a serem saciadas sempre(por exemplo, fome, sede, sono).

Dependem das necessidades biológicas do corpo e , se não forem satisfeitas, produzem a morte;2. Necessidades naturais e não essenciais, a serem buscadas com moderação ou nem mesmo assim

(por exemplo, comer bem ou demais, exceder-se nas práticas sexuais). Consistem em uma variaçãosupérflua das primeiras;

3. Necessidades não naturais e não essenciais, que nunca devem ser buscadas, pela sua naturezaartificial (glória, sucesso, riqueza, saúde, beleza).

HEDONISMO: Corresponde à doutrina do Epicurismo, pela qual o prazer é o fim e o princípio de umavida feliz, objetivo em direção ao qual todo o indivíduo orienta a própria ação. No entanto, segundoEpicuro, é preciso distinguir entre prazer efêmero (felicidade e alegria) e prazer estável, definido pelanegativa, como ausência de dor. Dado que somente o segundo tipo de prazer é perseguido pelo sábio,o Epicurismo condena a tentativa de satisfazer indiscriminadamente todo desejo, defendendo anecessidade do racionalismo ético, ou seja, um judicioso controle da razão sobre as emoções e as pulsõesdo espírito, um verdadeiro cálculo do prazer.

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VIVE CONFORME A NATUREZA, OU SEJA, CONFORME AVIRTUDE.

O PROBLEMA: Qual deve ser o critério condutor do comportamentohumano?

TESE: Assim como o animal é inevitavelmente guiado pelo instinto, o homemdeve fazer-se guiar pela razão, porque nesta reside a sua íntima natureza. Issosignifica que o homem sábio deve evitar qualquer forma de paixão. As intensasemoções sejam as negativas, como o pavor, sejam as positivas, como o amor –impedem sempre o fluir racional do pensamento e devem, portanto, serevitadas.

ZENÃO DE CÍTIO(CHIPRE, 333 a.C.)

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(Trechos extraídos de Vida dos filósofos, de Diógenes Laércio)

• Existe uma unidade fundamental no mundo natural.• A natureza do mundo animal é o instinto.• A natureza do homem é a racionalidade.• O ser humano é naturalmente racional.

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A VANTAGEM DE SER ESPONTÂNEO.O PROBLEMA: Como se pode conciliar a razão e o instinto, a dimensãoespiritual e a dimensão corporal? Até que ponto é sábio sermos racionais?Como deve ser vivida a vida cotidiana?TESE: Seguir a razão não significa se tornar escravo da racionalidade,colocando sob rígido controle lógico cada momento da existência, mas seguiro ideal de uma moderada razoabilidade. Da mesma forma, buscar o própriocrescimento espiritual não deve levar a desprezar o corpo ou atormentá-locom inúteis práticas ascéticas. Simplicidade, espontaneidade, presteza são asqualidades do sapiente, ou seja, daquele que se aceita pelo que é. Ao contrário,a ansiedade, a artificialidade dos comportamentos, o frenesi de viver semdescanso, o desejo de viajar sem destino são sintomas patológicos de umapersonalidade que não aceita a própria natureza.

SÊNECA(ESPANHA, 4 a.C.-65 d.C)

GILBERTO [email protected]• O autocontrole excessivo é prejudicial.

• A simplicidade não está entre as virtudes mais apreciadas.• O ponto de equilíbrio está sempre no justo meio.• Deve-se conciliar socialização e busca interior.• Lazer, dança e jogos são tão necessários quanto as obrigações.• A saúde do corpo e da mente requer alternância entre trabalho e descanso.• Podem ser várias as modalidades de alternância entre trabalho e descanso.• O contato com a natureza é tranquilizado.• Uma moderada embriaguez pode ajudar.• Até um toque de loucura pode resultar útil.• A inspiração artística é favorecida pela ruptura dos esquemas usuais.• A serenidade de espírito é um bem precioso, a ser constantemente cuidado.

• ATARAXIA: O termo significa, literalmente, impertubalidade, ausência de inquietação – ou seja, oideal da vida comum a todas as escolas helenistas. Indica um modo de resolver o problema dafelicidade pela via negativa: a única felicidade possível está na ausência do seu contrário, a dor. Aataraxia para os Epicureus coincide com o prazer estável; para os Estóicos, com a indiferençaacerca das paixões e o completo domínio das emoções; para os Cínicos, com a renúncia a qualquertipo de necessidade; para os Céticos, com a epoché: deve-se praticar a ataraxia porque não seconhece a natureza daquilo que se deseja ou se teme.

• DEVER: É a noção fundamental da ética estóica, que pode ser resumida na máxima vive segunda anatureza, entendendo por natureza tanto o mundo que nos circunda quanto a natureza do homem,que é parte da natureza universal. Dado que a natureza coincide de fato com a racionalidade, aregra estóica de vida equivale tam´bem a máxima vive segunda a razão. São obrigatórias, portanto,todas as ações aconselhadas pela razão e conformes à natureza.

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OLHA DENTRO DE TI: AÍ SE ENCONTRA A FONTE DO BEM.

O PROBLEMA: Em que consiste a filosofia? Como se deve viver?

TESE: olha dentro de ti: aí se encontra a fonte do bem, sempre capaz dejorrar, se souberes sempre cavar em ti mesmo. Essa máxima encerra o núcleofundamental do pensamento de Marco Aurélio: a filosofia consiste na reflexãosobre a existência, na indagação interior, na meditação sobre a vida. O lugaronde se vive e o papel social não têm a menor importância. O filósofo podeser tanto imperador quanto escravo (como Epíteto): o essencial é a capacidadede olhar dentro de si.

MARCO AURÉLIO(ROMA, 121-180 d.C.)

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• O importante não é o lugar onde se vive, mas a disposição interior do espírito.• A filosofia é introspecção, meditação interior.• Que a norma de agir seja inspirada em valores éticos universais.• Na vida comum é conveniente seguir o critério da mediação.• O indivíduo não tem valor em si, mas como parte do incessante fluir racional do mundo.• A aceitação serena da morte.• A serenidade do homem estóico (Diz-se de um indivíduo firme, senhor de si mesmo; inabalável,

impassível, austero: ter um comportamento estóico na desgraça. Algo ou alguém quedemonstra resignação diante de alguma situação trágica ou à frente de um grande sofrimento).

(Trechos extraídos de Pensamentos para Mim Mesmo)

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TRABALHAR TODOS PARA TRABALHAR MENOS.

O PROBLEMA: É possível tornar mais justo o sistema produtivo? Sob quecondições o trabalho poderia tornar-se uma atividade gratificante? É preferívela formação integral do homem ou a especialização profissional?

TESE: Na ilha de Utopia não existem diferenças de patrimônio. Todos oscidadãos são iguais entre si, todos se revezam nos trabalhos de agricultura eartesanato, e o trabalho é dividido de tal forma que impede o surgimento dediferenças sociais. Além disso, trabalha-se pouco, porque em uma sociedadeem que todos trabalham resta um amplo espaço para o lazer, o entretenimentoe as atividades recreativas.

TOMAS MORUS(INGLATERRA, 1478-1535 d.C.)

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• Uma boa educação deve ser prática e teórica.• A especialização profissional é necessária.• O vestuário é produzido em família.• Existem profissões femininas e masculinas.• As vocações profissionais são estimuladas, até mesmo mudando o ambiente familiar.• É necessário um justo equilíbrio entre trabalho e desanso.• Em uma sociedade justa, seria possível trabalhar apenas seis horas ao dia.• O tempo livre deve ser ocupado com atividades formativas.• A escolha profissional deve seguir o critério da vocação pessoal.• Um horário de trabalho reduzido não empobrece a sociedade.• Em nossa sociedade, somente uma minoria da população trabalha.• Se o trabalho fosse distribuído de modo equânime, todos poderiam trabalhar menos.

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AS ESCOLHAS MORAIS FUNDAM-SE NO SENTIMENTO.O PROBLEMA: Em que se baseiam e como se determinam os juízos morais?TESE: posto que sempre é possível tentar aclarar por via teórica os conceitos debem e de mal, Hume não nega que o uso da razão possa dar uma contribuiçãopositiva á ética; afirma, porém, que se analisarmos os comportamentos reais doshomens, mesmo aqueles considerados virtuosos, a racionalidade conta menos doque parece. Na realidade, seguimos as regras de moralidade e de justiça não combase em deduções abstratas, mas segundo um sentimento específico da sua utilidadecoletiva. Com efeito, segundo Hume, justo é aquilo que se afirmou coletivamente econvencionalmente como tal, com base na consideração empírica de certoscomportamentos. Mas essas decisões de valor ético são sempre relativas à situaçãoespecífica e a um determinado momento histórico, não se fundando em nenhumprincípio eterno e universal. Não existem valores absolutos, somente soluçõesmais adequadas e melhores do que outras. Deste modo, a questão moral deixa deser teórica para tornar-se empírica, resolúvel pela concreta observação docomportamento real dos homens.

DAVID HUME(EDIMBURGO, 1711-1776 d.C.)

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• Discute-se se a moral tem fundamento na razão ou no sentimento, se é universal ou subjetivacomo o gosto estético.

• Tanto a primeira hipótese, sustentada pelos racionalistas, quanto a segunda, defendia pelosempiristas, parecem plausíveis.

• Mas no momento da escolha o sentimento prevalece sempre sobre a fia razão.• Compete à razão uma importante tarefa preparatória.• Em todo caso, a questão não pode ser resolvida com uma discussão teórica.• É necessário estudar o comportamento cotidiano do homem comum.• Na reflexão moral, o filósofo encontra-se em condições iguais às do homem comum.• Compete à razão a tarefa de formular uma teoria ética, universalizando os casos particulares.• As máximas éticas racionais generalizam casos particulares, determinados pelo sentimento.• Nunca se chega a uma escolha ética pela dedução de princípios abstratos.• Assim como a ciência moderna estuda a natureza por via experimental, a ética também deve

estudar os reais comportamentos humanos.

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O IMPERATIVO CATEGÓFICO EM QUATRO CASOS CONCRETOS.O PROBLEMA: Em que consiste a lei moral? Como determinar o valor ético doscomportamentos?TESE: a doutrina do imperativo categórico, o núcleo da doutrina kantiana, afirmaque um comportamento pode ser considerado moral quando é universalizável –isto é, quando se prende a uma norma que ultrapassa o caso concreto, a utilidadeou o interesse pessoal. Em outras palavras, existem segundo Kant,comportamentos que a consciência reconhece como certos ou errados em si,independentemente das consequências e da situação específica em que sedesenvolvem. A ação necessária encontra o próprio fim em sim mesma e em nadamais. É significativo que Kant também tenha sentido a necessidade de acrescentará enunciação teórica da doutrina a análise de alguns casos concretos: com efeito,no campo ético, a psique tende a relativizar e a justificar, com base emconsiderações particulares e específicas, ações que são negadas em teoria. Mas seum comportamento se insere no imperativo categórico, não negociável, deve serposto em ato, sem dúvida.

KANT(KÖNIGSBERG, 1724-1804 a.C.)

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(Trechos extraídos de Metafísica dos Costumes)

• Todo imperativo hipotético é determinado pelo fim que persegue.• O imperativo categórico não é condicionado por nenhum fim.• O imperativo categórico indica uma possível universalização do comportamento discutivo.• A dor pode justificar o suicídio?• O quesito ético resolve-se por meio da generalização: poderia o suicídio tornar-se norma?• A natureza é instinto de vida e não pode admitir o desejo da morte.• Suicídio e eutanásia estão, portanto, em contradição com o princípio categórico.• É lícito em uma situação totalmente excepcional (por exemplo, graves necessidades

econômicas) não cumprir a palavra dada?• O que aconteceria se todos os indivíduos nas mesmas condições se comportassem deste

modo?• Cumprir as promessas é um imperativo categórico que não admite nenhum tipo de exceção,

em nenhum caso.• Não desenvolver a fundo o próprio talento constitui um pecado de omissão?• Generalizando esse comportamento, a civilização sofreria um retrocesso.• O imperativo categórico impõe a todo indivíduo desenvolver da melhor forma as próprias

capacidades.• É eticamente lícita uma atitude de indiferença em relação aos outros ?• Uma sociedade baseada na indiferença e no egoísmo poderia existir, e talvez fosse menos

hipócrita do que muitas outras.• Mas a generalização do comportamento egoístico torna-se prejuízo para o egoísta.• Existe um método seguro para resolver os dilemas éticos: pergunta-se se o comportamento

em questão poderia tornar-se universal.

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DOGMATISMO OU IDEALISMO? DEPENDE DO CARÁTER.O PROBLEMA: Por que se escolhe um sistema filosófico? Qual sistema filosóficogarante a liberdade?TESE: Fichte sintetiza todas as possíveis filosofias em duas abordagensfundamentais: 1) o dogmatismo, que considera a liberdade do indivíduofundamentalmente determinada pela sua experiência de vida; 2) o idealismo, que,mesmo sem negar a importância do aprendizado, considera o indivíduofundamentalmente livre, um construtor de si mesmo capaz de impor ao mundo aprópria vontade. As duas teorias parecem se deslocar no mesmo plano, pois não seencontram argumentos decisivos a favor de uma ou de outra. Na realidade, aescolha, afirma Fichte, nunca é feita com base em um convencimento puramenteracional, mas segundo um caráter e as qualidades morais do sujeito. Em suma,quem é idealista, interiormente livre, professa o idealismo e vive em um mundoefetivamente livre; quem é dogmático, ao contrário, acredita viver em um mundodominado pela necessidade objetiva somente porque, dentro de si, já é desprovidode amor pela liberdade.

GOTTLIEB FICHTE(SAXÔNIA, 1762-1814 d.C.)

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(Trechos extraídos de Doutrina da Ciência)

• Idealista é aquele que acredita na própria liberdade; dogmático, aquele que se consideradeterminado pelo mudo em que vive.

• As duas filosofias são incompatíveis entre si.• É necessário analisar os critérios de preferência.• A escolha depende das qualidades humanas do sujeito.• A filosofia de um indivíduo depende do seu caráter.• O idealismo, a filosofia da liberdade, é típica da juventude.

IDEALISMO/DOGMATISMO: Tomemos um sujeito qualquer e examinemos os seuspensamentos. Segundo Fichte, somente duas alternativas são possíveis: 1) ou concluímos quetodas as atividades mentais do sujeito são causadas pela experiência precedente e atual, eacreditamos, portanto , em um homem determinado pelo exterior, condicionado pela percepçãoe pela realidade; 2) ou concluímos que, apesar do óbvio aporte de experiência, a espiritualidadehumana ultrapassa o horizonte da realidade concreta, e então se acredita em um homem livre,criador de si mesmo. No primeiro caso ( uma filosofia do dogmatismo), a inteligência molda-sesobre a realidade; no segundo, é a própria realidade a ser, em última análise, um produto dasatividades da inteligência.

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A ÚNICA SOLUÇÃO É ESQUECER QUE SE EXISTE.O PROBLEMA: É possível viver sem experimentar sofrimento? Existe algumapossibilidade de aniquilar a vontade de viver que domina angustiadamente aexistência?TESE: a vontade de viver condiciona todos os aspectos da existência, produzindoalternadamente sofrimento e tédio. E posto que o instinto de sobrevivência estádestinado ao fracasso (porque todo ser vivente deve morrer), não existe saída paraessa dor universal. A única possibilidade de aplacar de algum modo a infelicidadeconstitutiva da existência está em combater a vontade de viver com o exercício deuma oposta não-vontade ou nolontade. Schopenhauer aconselha o silêncio, ojejum, a castidade, a renúncia sistemática, a fuga temporária da realidade por meioda arte ou de práticas orientais de meditação. Mesmo as técnicas praticadas pelosascetas cristãos para atingir o êxtase, depois de desvinculadas dos pressupostosreligiosos e enquadradas em um rígido ateísmo, podem funcionar, porque sãocapazes de afastar a psique do sujeito da normalidade cotidiana, induzindo-o porum curto período a esquecer-se de que existe.

SCHOPENHAUER(BERLIM, 1788-1860 d.C.)

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• O êxtase místico é uma condição estranha à vontade de viver.• Não se trata, porém, de uma forma de conhecimento.• A experiência extática consiste em uma autonegação do sujeito, um aniquilamento.• O sentido psicológico de angústia que acompanha o nada demonstra o domínio da vontade

de viver.• A experiência mística vive a nulificação do indivíduo em modo positivo.• A superação da consciência leva à identificação com o todo.• Na experiência do nada se percebe a essência última da realidade.

NOLOTANTE: Do verbo latino nolo, “não querer”. Para Schopenhauer, a única maneira deopor-se à vontade de viver e de sair da dimensão da dor. Significa renunciar à vida, até extirparde si o insano, doloroso e irracional desejo de viver, alcançando uma condição de ausência, denulificação da pessoa por meio do jejum, do silêncio, da castidade, da humanidade, até umaforma de ascese laica, um êxtase sem Deus, ou nirvana.

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AOS MILHÕES SE AJOELHARÃO NO PÓ...O PROBLEMA: O que é o espírito dionisíaco? Como o homem deve colocar-sediante da vida?TESE: Dionísio é a imagem da vida, da saúde e da juventude. É instinto, paixão eembriaguez criativa: descreve a condição do homem ainda perfeitamente integradona natureza. Quem experimenta o êxtase dionisíaco ultrapassa o principio deindividuação (principium individuationis) – ou seja, aquele pressuposto da vidaordinária pelo qual somos, e nos sentimos, indivíduos colocados em um pontopreciso do espaço e do tempo, bem distintos dos outros indivíduos e dos objetosdo mundo exterior. Não existe nada de externo, porém, para quem anula osentido de si mesmo. O homem dionisíaco – seja ele o Super-Homem, ou o louco,ou o ébrio atordoado pelo vinho ou pelas drogas – participa da vida diretamente esem mediações; ultrapassa os limites entre si mesmo e o mundo, volta a ser umasimples parte da natureza, percebendo-se como tal e nada mais.

NIETZSCHE(ALEMANHA, 1844-1900 d.C.)

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• Existem momentos em que o caráter ilusório de todo conhecimento se torna manifesto.• Em outros momentos, pode-se perder a consciência da própria individualidade pessoal.• A embriaguez dionisíaca também pode ser alcançada pelo uso de drogas.• Certas manifestações patológicas escondem a emergência do impulso dionisíaco.• No êxtase dionisíaco ultrapassa-se a separação com os outros e com a natureza.• A dimensão dionisíaca entra em contato com as leis profundas e escondidas da natureza.• Dionísio subverte as regras sociais, a etiqueta, a boa educação: é o deus da loucura.• Dionísio é instinto, vitalidade, alegria de viver.• O artista dionisíaco ultrapassa a distância entre si mesmo e a obra, produz arte com a sua

própria vida.

ESPÍRITO DIONISÍACO: É, numa extrema síntese, o espírito da vida, que Nietzschecontrapõe à apolínea e mortífera razão. Enquanto esta nasce da fuga diante da imprevisibilidadedos eventos da existência real – que procura cristalizar com leis, regras e interpretações variadas–, o dionisíaco aceita a vida em todas as suas formas, compreendidos o caos, o acaso e a falta designificado. Logo, para Nietzsche, Dionísio e Apolo são respectivamente símbolos de vida e demorte, força vital e racionalidade, saúde e doença, instinto e intelecto, escuridão e luz, devir eimobilidade, embriaguez e sonho.