EVOLUÇÃO E RELIGIÃO: PERSPECTIVAS E REFLEXÕES DE UMA PRÁTICA DOCENTE A PARTIR DE UMA DUALIDADE...

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EVOLUÇÃO E RELIGIÃO: PERSPECTIVAS E REFLEXÕES DE UMA PRÁTICA DOCENTE A PARTIR DE UMA DUALIDADE HISTÓRICA Alberto Lopo Montalvão Neto [email protected] Mestrando em Educação Científica e Tecnológica - Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis Santa Catarina Hylio Laganá Fernandes [email protected] Professor adjunto - Universidade Federal de São Carlos. Sorocaba São Paulo Resumo: O ensino de evolução por si só já é algo complexo, visto que é uma área da biologia de grande abrangência, em que se faz necessário uma grande quantidade de conhecimentos para sua compreensão. A própria realidade de ensino brasileira, com déficit tanto em estrutura, quanto na formação de professores, agrava ainda mais o quadro de dificuldades de seu ensino. Além das dificuldades mencionadas, ainda é necessário levar em consideração às visões e realidades de alunos e dos próprios professores, que muitas vezes se encontram mais próximos de valores religiosos ou científicos e acabam por separar ideologicamente nas salas de aula as duas visões. De forma a tentar superar essa segregação da religião e da ciência, esse trabalho tem por objetivo demonstrar uma experiência em sala de aula, onde através da perspectiva religiosa dos alunos tenta-se chegar à construção de conhecimentos de evolução. Palavras-chave: Evolução, Religião, Ensino de Biologia, Discussão Crítica. 1. INTRODUÇÃO O ensino da Teoria da Evolução nas escolas tem um longo histórico conflitante com as Teorias Criacionistas, que estão implícitas nos conhecimentos empíricos dos alunos. Grande parte dos discentes aprende, desde os anos iniciais de suas vidas, que a origem da vida ocorreu por ação divina, ao longo de um processo de criação elaborado por um criador superior, recebendo, por vezes, nomes variados em cada crença religiosa, mas sempre se remetendo sinteticamente a figura de um Deus. Os próprios professores encontram muitas dificuldades em ensinar a Teoria da Evolução, principalmente por ser difícil se desvincular de seus próprios conceitos religiosos e por tratarem separadamente as teorias científicas das religiosas.

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EVOLUÇÃO E RELIGIÃO: PERSPECTIVAS E REFLEXÕES DE

UMA PRÁTICA DOCENTE A PARTIR DE UMA DUALIDADE

HISTÓRICA

Alberto Lopo Montalvão Neto – [email protected]

Mestrando em Educação Científica e Tecnológica - Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis – Santa Catarina

Hylio Laganá Fernandes – [email protected]

Professor adjunto - Universidade Federal de São Carlos. Sorocaba – São Paulo

Resumo: O ensino de evolução por si só já é algo complexo, visto que é uma área

da biologia de grande abrangência, em que se faz necessário uma grande quantidade de

conhecimentos para sua compreensão. A própria realidade de ensino brasileira, com

déficit tanto em estrutura, quanto na formação de professores, agrava ainda mais o quadro

de dificuldades de seu ensino. Além das dificuldades mencionadas, ainda é necessário levar

em consideração às visões e realidades de alunos e dos próprios professores, que muitas

vezes se encontram mais próximos de valores religiosos ou científicos e acabam por

separar ideologicamente nas salas de aula as duas visões. De forma a tentar superar essa

segregação da religião e da ciência, esse trabalho tem por objetivo demonstrar uma

experiência em sala de aula, onde através da perspectiva religiosa dos alunos tenta-se

chegar à construção de conhecimentos de evolução. Palavras-chave: Evolução, Religião, Ensino de Biologia, Discussão Crítica.

1. INTRODUÇÃO

O ensino da Teoria da Evolução nas escolas tem um longo histórico conflitante

com as Teorias Criacionistas, que estão implícitas nos conhecimentos empíricos dos

alunos. Grande parte dos discentes aprende, desde os anos iniciais de suas vidas, que a

origem da vida ocorreu por ação divina, ao longo de um processo de criação

elaborado por um criador superior, recebendo, por vezes, nomes variados em cada

crença religiosa, mas sempre se remetendo sinteticamente a figura de um Deus. Os

próprios professores encontram muitas dificuldades em ensinar a Teoria da Evolução,

principalmente por ser difícil se desvincular de seus próprios conceitos religiosos e por

tratarem separadamente as teorias científicas das religiosas.

As dificuldades do ensino de evolução se devem a vários outros motivos, como por

exemplo, “a complexidade dos conhecimentos relacionados ao tema; falha na formação dos

professores; más condições de trabalho; defasagens no material didático e distorções das

informações veiculadas pela mídia” (Silva et al. 2012, p. 36), ou seja, vários outros fatores

corroboram para um ensino pouco eficaz de tal área do conhecimento. Tal visão é

corroborada pelo artigo de Goedert, Delizoicov e Rosa, onde as autoras ainda citam que a

evolução é considerada um “tema central e unificador dentro da Biologia, uma vez que

sua compreensão se faz necessária para o entendimento de uma série de outros conceitos e

processos biológicos" (GOEDERT et al., 2003, p. 1).

No Brasil, no ano 2000, foi estabelecido o ensino religioso no estado do Rio de Janeiro

pelo governador da época. Houve várias críticas quanto a essas abordagens de ensino.

Apesar disso, atualmente ainda há o ensino religioso em várias escolas, inclusive no estado de

São Paulo, local onde realizamos nossa pesquisa. As críticas se remetem principalmente a

infligir às diretrizes de leis do Brasil que o definem como um Estado Laico, pois como diz

Vogt (2004), tais abordagens esbarram em questões como respeito ao sincretismo ou

pluralismo religioso, separação entre instituições como o Estado e Igreja e no processo

chamado de secularização da sociedade.

O processo de secularização significa uma mudança de concepções de visão de

mundo, comportamentos e ética, que antes eram ditadas pela religião, mas que atualmente

possuem outros fatores envolventes. Conforme Guerreiro (2000) aponta, com a secularização,

houve o avanço do pluralismo e do trânsito religioso, por meio do qual o indivíduo pode

manipular os bens simbólicos, construindo seus arranjos religiosos sem medo de quebrar o

eixo central (instituições religiosas) onde está apoiado. Em sua pesquisa, o autor também

observa que, apesar dessa emancipação histórica das religiões, as pessoas ainda se utilizam

muito das explicações religiosas para diversos fatores, inclusive os que envolvem

conhecimentos científicos. Dessa forma, muitas vezes, tenta-se comprovar teorias religiosas

através da utilização de argumentos pertencentes à ciência ou relacionando teorias ligadas a

ela, como a evolução, a intervenções divinas.

São várias as perspectivas que se tem sobre a ligação, ou a ausência dela, entre religião

e ciência. Conforme abordamos, muitas visões diferenciadas, em várias esferas das relações

sociais humanas, existem na atualidade. Para tal, Sanches & Danilas (2012) observam que,

atualmente, essas relações podem ser de: 1) Conflito, onde cientistas céticos e religiosos

extremos tratam-se como inimigos e a mídia se utiliza dessa problemática como forma de

vender notícias; 2) Independência, onde ambas, por terem abordagens muito diferentes, são

consideradas, por alguns, como teorias incomensuráveis; 3) Diálogo, no qual existe uma

aproximação entre as duas áreas, buscando-se as semelhanças entre elas; e por fim, 4)

Integração, existindo, na visão de alguns, a possibilidade de real parceria entre as duas áreas.

Houve vários casos em que se tentou anular a ciência em pró das teorias religiosas,

como, por exemplo, no julgamento ocorrido nos Estados Unidos de John Thomas Scopes. De

acordo com Fiori & Nenevê (2011), o professor foi julgado, porque em suas aulas ensinava

idéias evolucionistas de Charles Darwin, proscritas naquele estado por irem contra a teoria

criacionista bíblica. Ainda de acordo com o autor, tal caso atraiu muita atenção, justamente

por colocar a prova às explicações religiosas que dominavam este cenário de ensino a mais de

um milênio, havendo nesse sentido uma grande resistência acerca das novas teorias

evolucionistas propostas.

Após tal episódio de tentar barrar o ensino de evolução, nos anos 80, percebendo que

as teorias evolutivas cada vez mais se tornavam aceitas, surge nos Estados Unidos uma nova

proposta de criacionismo, tentando se estabelecer como teoria científica. Tal teoria foi

denominada Design Inteligente, e surgiu com o argumento de que “as realidades biológicas

são muito complexas para serem criadas por tentativa e erro, alguns bioquímicos e

geneticistas passaram a defender um planejamento inteligente” (SILVA et al., 2012, p. 36),

reconhecendo que há processos evolutivos, mas todos guiados por intervenção divina.

Cada vez mais é reconhecida à importância da evolução, sendo apontada por vários

pesquisadores como uma disciplina fundamental para guiar o ensino de Biologia. Dentre os

autores mais célebres, podemos citar a tão famosa frase de Theodosius Dobzhansky, onde diz

que “Nada em Biologia Faz Sentido Exceto à Luz da Evolução” (FUTUYMA, 1992 apud

GOERDET et al., 2003, p. 3). Apesar do caráter extremamente determinista da frase

expressada, isso demonstra que essa teoria científica, ao longo do tempo, tem se tornado

cada vez mais importante, principalmente nos aspecto de disciplina unificadora da biologia,

ou seja, de suas diversas outras áreas de conhecimento (botânica, zoologia, genética,

histologia, biologia celular, entre outras). Porém, sua aceitação, segundo Oliveira & Bizzo

(2009), ainda é menor quando comparada a outros conceitos científicos. O autor aponta que

um dos fatores que parece impulsionar essa resistente rejeição da teoria evolutiva é a

motivação religiosa, defendida por muitos movimentos religiosos fundamentalistas.

A interpretação errônea elaborada acerca da evolução, não ocorre apenas atualmente

no seu ensino, como também já propiciou sérias implicações no passado. No século XIX, o

conceito de evolução foi distorcido, remetendo-se a uma concepção preconceituosa, onde o

homem branco era colocado como superior as demais raças e “deste doentio sentimento

brotou a eugenia, a eugenia positiva, as idéias de pureza de raça, o nacionalismo assassino e

o Holocausto” (FIORI & NENEVÊ, 2011, p. 55). Diante disso, uma alternativa viável para

melhorar o ensino de evolução é a utilização da história da ciência, pois “esta inserção

minimizaria inconsistências (...), ao proporcionar questionamentos que permitiriam a

compreensão da natureza dos conhecimentos científicos” (CORRÊA, 2010 apud SILVA et

al., 2012, p. 35). É conhecendo esses quadros históricos do desenvolvimento científico que

podemos refletir criticamente, analisando sobre como se deu a construção da ciência, tanto em

seu caráter histórico, quanto em questões políticas, sociais e econômicas que permearam sua

construção.

A evolução deve ser encarada de forma mais coerente e realista, como o próprio

Darwin colocou-a, ou seja, apenas como um processo de descendência, que, por diversos

fatores, levou uma espécie à modificação. Não necessariamente evoluir, no sentido de

Darwin, significa superioridade. Evolução é muito mais do que adquirir uma característica

“mais evoluída”. Esse conceito remete-se a uma melhor adaptação de um organismo frente a

um ambiente e suas mudanças de condições de vida. Assim, ao ensinar evolução não se deve

colocar como um “progresso”, como ocorre na maioria das vezes, mas como uma modificação

adaptativa, ou simplesmente, adaptação.

O que é essencial que se compreenda, é que tanto a religião quanto à ciência são

construções humanas, ou seja, passíveis de alterações e de quebra de paradigmas. Como o

próprio nome diz, a teoria da evolução é uma teoria, ou seja, não é uma verdade absoluta e,

tanto quanto a religião, busca encontrar explicações plausíveis para a origem da vida e do

homem no universo que habita. Nesse sentido, neste trabalho serão discutidas as relações da

ciência e da religião no contexto escolar a partir de uma experiência em sala de aula, durante a

realização de Estágio Supervisionado em um Curso de Ciências Biológicas.

2. REALIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada na Escola Estadual “Professor Afonso Vergueiro”, localizada

no centro da cidade de Salto de Pirapora - SP, durante uma intervenção decorrida no segundo

semestre letivo, na disciplina Estágio Supervisionada em Biologia 2, ofertada pela

Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba, no curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas - noturno. As principais intervenções ocorreram no terceiro ano do ensino médio,

durante o mês de setembro, onde o assunto abordado pela professora de biologia desta turma

era a Evolução biológica. Através de falas significativas de alunos, obtidas de questionários em uma avaliação

diagnóstica, observou-se grande dificuldade de compreensão dos temas relacionados à evolução, principalmente devido a conflitos religiosos dos alunos, não sendo aceito por eles tais teorias científicas. Sendo assim, compreendemos que era necessário a realizar um trabalho que pudesse contextualizar as Teorias da Evolução, partindo dos conhecimentos prévios religiosos dos alunos para buscar novas perspectivas de ensino.

Foi realizado, portanto, um trabalho que tentava a desmistificação de teorias e concepções, tentando partir do conhecimento prévio, ou seja, a religiosidade de cada aluno, para chegar à compreensão das teorias científicas evolutivas. Ao final do trabalho, foi elaborado um questionário, pelo qual se obteve alguns resultados acerca das concepções dos alunos após a intervenção.

Cabe observar que, a partir de agora, algumas passagens estarão em primeira pessoa. Estas falas são referentes às reflexões do primeiro autor, um graduando que teve suas primeiras experiências docentes durante suas intervenções de Estágio Supervisionado em sala de aula. As falas em terceira pessoa se remetem ao trabalho de organização e planejamento das intervenções, realizado em conjunto entre o orientador de estágio e seu orientando.

3. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Inicialmente, foi preparada uma aula tradicional, onde foram abordados alguns

aspectos históricos sobre as teorias evolutivas, perpassando desde os princípios básicos da

intenção humana em classificar biologicamente e compreender a evolução da vida na

Terra, até as teorias mais aceitas na atualidade. Para tanto, foi realizada uma introdução sobre

os pensadores mais tradicionais, que teorizaram sobre a existência vida e sua evolução na

Terra, iniciando-se uma breve discussão das concepções sobre as teorias de Platão e

Aristóteles, seguindo com discussões sobre as concepções de Buffon e Lamarck, até chegar às

teorias Darwinistas.

Após esta breve introdução, discutimos resumidamente as cinco teorias principais que

embasam as idéias de Darwin sobre Evolução: Seleção Natural, Ancestralidade Comum,

Evolução propriamente dita, Multiplicação das Espécies e Gradualismo. Foi explicado

também sobre as teorias relativas à origem do homem na Terra, ressaltando que não surgimos

a partir do macaco, como alguns interpretam erroneamente sobre algumas teorias científicas,

mas de uma linhagem ancestral comum que originou a nós e aos outros primatas.

Durante esta aula deparei com uma situação inusitada, na qual, em meio à

explicação das cinco teorias, com embasamento estritamente científico, houve uma intrigante

pergunta de uma aluna: “Professor, eu não acredito no que você tá falando, porque na

bíblia diz que Deus criou o homem e tudo o que existe no mundo. Como você prova que as

espécies evoluem?” – Aluna do 3º ano do ensino médio.

Naquele momento apenas argumentei que não discutiria religião, pois meu papel na sala de

aula era discutir a ciência. Dessa forma, demonstrei uma clara idéia de independência entre

ambas às teorias (Sanches & Danilas, 2012), ficando claro naquele momento que, na minha

concepção, as idéias da ciência deveriam ser discutidas de forma totalmente segregada das

idéias religiosas. Tal dualidade, após refletir minimamente, me pareceu estranha, pois não

condiziam com minhas ideologias pessoais. Sendo influenciado por uma religião desde os

anos iniciais de minha vida, simplesmente bani meus preceitos pessoais diante dessa

realidade, pois não achei cabível agregar meus valores sociais e religiosos aos meus

conhecimentos científicos e muitos menos discutir tais valores de outra pessoa. Isso é o que

ocorre, muitas vezes, em vários âmbitos sociais. Porém, se ambas são relações humanas, e

são construídas ao longo do tempo, sofrendo mudanças, adaptando-se as realidades, porque

não podem ser consideradas para discussão, podendo partir de uma para se chegar à outra?

Nem a ciência e nem mesmo a religião são verdades absolutas. Apesar de sempre querer impor-se de forma comprovativa e absoluta, os paradigmas científicos quebram-se ao longo da história e a ciência reformula-se a cada nova hipótese considerada como mais plausível diante da comunidade científica. Aqui é cabível definir dois conceitos importantes: O que é paradigma? Que comunidade é essa? Para responder tal questão, acerca do que constitui essa ciência pronunciada abordaremos tais conceitos, mesmo que superficialmente, baseando-os a partir dois epistemólogos, que apesar de terem concepções epistemológicas diferenciadas, tratam cada um desses temas com profundidade e coerência em suas obras.

Para responder ao conceito de paradigma, usaremos as concepções de Thomas Kuhn. Em sua obra, Kuhn reflete que o desenvolvimento da ciência ocorre em uma sequência de períodos de Ciência Normal, onde a comunidade científica (de determinada área do conhecimento) adere a um paradigma, ou seja, adere a um conhecimento que se estabelece e se consolida cientificamente, tornando-se aceito pela maioria dos cientistas. Porém, esses períodos são interrompidos por Revoluções Científicas, onde ocorrem crises do paradigma dominante e acaba levando à sua ruptura, surgindo posteriormente outra teoria candidata a ser um novo paradigma (OSTERMANN, 1996).

Quanto a essa comunidade científica de que falamos, usaremos a teoria de Ludwik Fleck para explicá-la, a saber: Coletivo de Pensamento. Para Fleck, o conhecer está ligado a condições sociais e culturais do sujeito, que pertence a um Coletivo de Pensamento, ou seja, uma comunidade que compartilha das mesmas crenças, valores, práticas e tradições (LEITE, et al., 2001). Dessa forma, a ciência se desenvolve historicamente em meio a valores e compartilhamento de idéias, onde em um dado momento, uma teoria é colocada como certa, mas nunca se estagna. Essa teoria muda conforme os paradigmas são quebrados (em uma visão Kuhniana) ou conforme os Coletivos de Pensamento compartilham, em um dado momento histórico, uma nova maneira de pensar (na visão Fleckiana). Esse compartilhamento de idéias mencionado denomina-se Estilos de Pensamento.

A religião também mudou ao longo dos séculos. Desde as crenças gregas politeístas ao

monoteísmo cristão, por vezes, convergindo, em algumas sociedades, com outras religiões de

origens diversas (africanas, asiáticas, árabes, dentre outras), até, mais tarde, o surgindo na

reforma protestante de outras vertentes religiosas a partir da igreja católica, muita mudanças

históricas ocorreram. Essa história Confunde-se, muitas vezes, com a própria história da

humanidade. Além desses desdobramentos relativos as várias sociedades existentes na

história da humanidade, as religiões participaram amplamente de cenários políticos,

econômicos e estatais. Apesar de na atualidade os padrões de influência religiosa terem

mudado consideravelmente, diminuindo suas influências principalmente no meio científico,

econômico e político, a religião, durante muito tempo, teve uma influência ímpar e ainda

exerce considerável influência social.

Contudo, apesar desse parâmetro geral, nossa intenção é apenas situar às questões

referentes à religião e sua importância histórica frente à ciência. Não adentraremos

teoricamente no âmbito de suas várias vertentes existentes, tampouco aprofundaremos na

história delas, pois não é nossa intenção e reconhecemos nossa limitação enquanto não

estudiosos da área. Nosso objetivo é refletir sobre suas correlações com a ciência, já que,

pensando no caráter de construções humanas, de forma geral, podemos acreditar que ambas

podem ser discutidas conjuntamente. Se tanto religião quanto a ciência são construções

humanas, com suas mudanças históricas, representações e compartilhamento de crenças,

teorias e valores, porque não questionar ambas com certa equidade? Ou seja: “Porque não

discutir a religião”?

Após uma conversa com meu orientador de estágio, surgiram algumas idéias sobre

como interligar a religião ao ensino de evolução. Comecei então a estudar sobre fatos ligados

a ambos. Nessa busca, conheci passagens na bíblia que eram estudadas por pesquisadores

da área d teologia que apontavam que alguns trechos bíblicos podiam indicar a existência de

Lilith (possível primeira mulher de Adão). Procurei então levantar questionamentos sobre a

submissão feminina na sociedade, como isso pode ser demonstrado pela própria religião e

como questões de preconceito podem estar intrinsecamente ligadas às interpretações

religiosas. Analogamente, isso também foi realizado com a ciência, procurando preconceitos

embutidos ao longo de sua história, como o Darwinismo Social e Eugênia que, como relatado

anteriormente, foram lamentáveis teorias criadas a partir da má interpretação das teorias

darwinianas, sendo utilizadas para justificar o domínio de uma etnia sobre as outras, no qual o

dominador foi à caucasiana.

Para que ocorresse uma maior abrangência das diversas religiões existentes, mesmo

por partir da premissa de que poderia haver diferentes crenças dentro de uma sala de aula com

35 alunos, resolvi abordar as teorias que diversas religiões ou mitologias tinham/tem acerca

da origem da vida e do ser humano. Baseado em tais teorias e nas reflexões sobre preconceito

na ciência e religião, foi preparada a aula, que tinha algum embasamento teórico sobre a

origem da vida, mas que procuravam abordar criticamente principalmente as seguintes

questões em sala de aula: “Porque Eva era submissa a Adão? Porque ela veio da costela

dele? A mulher tem que ser submissa?”.

Esse primeiro questionamento gerou polêmica, havendo divergência entre homens e

mulheres na sala de aula. Uma das falas mais intrigantes partiu de um aluno que disse que a

mulher deve sim ser submissa. Ao questioná-lo o porquê de tal afirmação, ele disse que a

mulher em sua opinião serviria apenas para sexo. Rebatendo tal afirmativa, questionei as

alunas presentes na sala sobre a veracidade de tal questão. Estas discordaram totalmente da

opinião. A partir daí explicitei o quanto esse conceito machista perdurou durante anos, e que

ainda está implícito, ou até mesmo explícito, em muitos casos na atualidade. Discutimos então

que tais abordagens machistas estavam ligadas a uma cultura histórica, onde a mulher

deveria obedecer ao homem, e que o colega de sala não era culpado por pensar assim, já que

este pensamento existe há muitos anos e precisa ser desconstruído, sendo necessária uma

grande jornada para a total emancipação ideológica da mulher.

Apesar de suas conquistas por direitos, igualdade e liberdade nos últimos anos, à

violência contra a mulher ainda é muito presente na realidade atual. Mulheres são mortas,

estupradas, estereotipadas (por exemplo, quando possuem mais de um parceiro sexual, coisa

que o homem vangloria-se com frequência), maltratas e obrigadas a se subverter às vontades

dos maridos (para proteger os filhos ou pelo próprio medo dele). Em casa, no trabalho ou na

escola, a mulher sofre vários tipos de violência, tendo principalmente que conviver com

violências simbólicas do seu cotidiano, através de piadas, gestos, assédios, salários inferiores,

etc. (FERRARI et al., 2010). Violência simbólica pode ser conceituada como “todo poder que impõe significações

como legítimas, dissimulando as relações de força que as subjazem” (BORDIEU & PASSAREON, 2009, p.4). Com a fala do aluno, fica evidenciada tal relação de forças e a legitimação de concepções machistas que são passadas por construções sociais. Nessa perspectiva, trabalhar essas questões se torna interessante. Nesse contexto foi possível envolver, não somente religião e ciência e as construções humanas inerentes a elas, mas as próprias relações humanas e sociais, trazendo uma abordagem de perspectivas amplas e interessantes, muito relevante diante das falas expostas e do contexto de sala de aula em questão. Por isso, adentramos nessas questões sociais em vários pontos no decorrer da aula, refletindo sobre as mesmas.

Em um segundo questionamento colocou-se as seguintes questões: “Vocês sabem quem foi Lilith? Porque uma mulher como ela, que se rebelou contra as vontades do homem dominador, foi julgada e expulsa do paraíso e considerada um demônio?". Nesses questionamentos os alunos demonstraram não conhecer tal personagem, ficando surpresos com minha explicação, onde coloquei a visão, de que, de acordo com alguns teóricos da teologia, esta teria sido a primeira mulher de Adão. Os alunos mais religiosos rebateram tais questões dizendo que não acreditavam nelas, sendo que alguns se expressaram com certa revoltada, principalmente os estudantes evangélicos. Tal revolta remete a classificação de Sanches & Danilas (2012), sendo a ciência e a religião colocadas como conflitantes, ou seja, religiosos extremos e cientistas céticos nunca concordarão sobre quaisquer visões contrárias as suas crenças.

De forma a manter o diálogo de aula, sem chocar veementemente com os conceitos

dos alunos, argumentei embasado em alguns estudiosos que apontavam existir algumas

passagens na bíblia que demonstravam sua existência e enfatizei que não estava expondo

minha opinião, mas apenas relatando alguns argumentos de pesquisadores. Quanto à questão

sobre da possível exclusão histórica de Lilith, que representava a imagem da mulher que não

se subverteu aos desejos de Adão e por isso foi expulsa do paraíso, ressaltei o fato histórico

da subversão da mulher as vontades do homem por muitos anos, tendo que lutar séculos por

sua independência, direito ao voto e deixar de ser tratada como objeto do homem. Discutimos

que isso ainda acontece, e a importância das lutas femininas.

Em um terceiro questionamento foram colocadas as seguintes questões: “Porque em

toda imagem representativa de Jesus, este é branco de olhos azuis e não negro ou moreno?

Pelo local que Jesus nasceu, qual seria sua cor?”. Os alunos questionaram que em nenhuma

passagem bíblica está escrito que Jesus era branco. Porém, contra argumentei com a

reflexão: “Porque toda representação elaborada pelo homem, sobre a figura de Jesus, é

dessa forma?”. Diante disso, os estudantes responderam que representações não são feitas por

Deus, mas por humanos. Aproveitando tal resposta, coloquei em pauta que muitas

representações têm interesses e valores humanos, chamando atenção principalmente para o

domínio dos povos nórdicos. Citei os Estados Unidos e principalmente a Europa, que por

séculos teve o domínio do mundo e, sendo majoritariamente de origem branca, historicamente

sempre buscaram colocar sua etnia como superior, podendo ter interesses de domínio por trás

de suas representações religiosas, principalmente quanto à religião cristã, que é uma das

religiões historicamente mais influentes, sendo amplamente difundida no velho continente. Após abordar e discutir questões acerca de preconceitos implícitos na religião, em um

quarto questionamento, foi colocado questões sobre ciência: “Porque nas imagens da evolução do homem, ele sai do macaco e se torna um homem branco?”. Como colocado na aula anterior sobre as cinco teorias de Darwin, os alunos disseram que não acreditam em evolução, afirmando não ser possível o homem ter surgido do macaco. Disseram que as teorias bíblicas estavam corretas, pouco comentando sobre o assunto. Como havia feito na aula anterior, expliquei que o homem não surgiu do macaco, mas que há evidências científicas que apontam que o homem e o macaco têm um ancestral comum. Ressaltei ainda que, assim como na religião, há muito preconceito na ciência, explicando e argumentando sobre eugenia e darwinismo social, onde as teorias evolutivas são transpostas erroneamente, de forma a justificar desigualdades e preconceitos.

O preconceito racial foi imposto pela imposição cultural européia há muitos séculos

atrás, principalmente pela escravização de negros, que mesmo após vários países aderirem à

abolição da escravatura, alguns relativamente há bastante tempo, os afro-descentes ainda

sofrem vestígios da marginalização à qual foram submetidos, em um contexto de pós-

escravidão que não buscou inseri-los socialmente de forma adequada. Essa etnia sofreu tantas

estigmatizações durante muito tempo, que como é apontado por Ferrari et al. (2010), foi difícil

até mesmo para eles admitirem, de uma hora para outra, a idéia de se considerar como seres

humanos iguais aos brancos. A escravidão deixou vestígios, que de acordo com o autor, ainda

hoje permanecem, explícita ou implicitamente. Infelizmente herdamos a tendência de associar

ao negro tudo o que é considerado errado (vemos frequentemente à imagem de negros

associados aos marginais em noticiários, ao crime, ou a espaços reduzidos dentro da

sociedade). Portanto, nossa reflexão sobre a imagem que é passada acerca dos negros, ainda

sob os valores seculares dos países nórdicos, é plausível, visto que, seja violência física ou

simbólica, direta ou indireta, os negros sofrem com os preconceitos que, lamentavelmente,

ainda são constantes implícita ou explicitamente.

Por fim, terminei a discussão com a seguinte questão: “É possível juntar as teorias de evolução e religiosas?”. Os alunos responderam que não, mas não encontravam argumentos

para justificar suas opiniões. Antes de dialogar com eles sobre a questão, resolvi abordar

diversas concepções sobre a origem da vida na percepção da mitologia grega e chinesa, do

Islamismo, do Judaísmo, do Catolicismo e em duas das vertentes do espiritismo, a Umbanda e o

Candomblé. Cada uma dessas vertentes possui uma explicação para a origem da vida, baseada

em seus Deuses, seus contos e crenças. Explorei a partir disso, como se dá as construções

humanas em várias concepções religiosas. Por fim, tentei explicar algumas tentativas por partes

de religiosos em unir a ciência e a religião, como as teorias do Design Inteligente e Ciência da

Criação. Apesar de tal explicação, deixei claro que tais teorias não faziam com sucesso tal

abordagem, sendo que, apesar de tentar justificar os acontecimentos científicos, usando como

argumentos a intervenção divina, não explicam de fato a ciência, renegando várias teorias

científicas amplamente aceitas na atualidade e tratando muitas questões com certo misticismo.

4. ANÁLISE DOS DADOS

Para avaliar as concepções e interpretações dos alunos após as discussões, foram

aplicados questionários referentes aos temas discutidos e expostos em sala de aula. As

questões colocadas foram referentes ao que foi discutido em sala de aula, sendo estas as

seguintes: 1)“O que é a Teoria do Design Inteligente? 2) Escreva um breve resumo sobre o

que você compreendeu das relações existentes entre ciência e evolução. 3 ) Porque em

qualquer teoria o homem branco é valorizado, e não o negro ou a mulher? 4 ) O que é

Darwinismo Social? 5) A que você atribui a atual aceitação da Igreja Católica as teorias

evolucionistas?”. As respostas foram analisadas em porcentagem os resultados. Responderam

ao questionário 35 alunos, porém alguns deles não responderam a todas as questões.

Verificou-se que apenas 37% dos alunos compreenderam o que é o Design Inteligente,

havendo muitas respostas que pareciam ter sido elaboradas sem conhecimento da teoria,

apesar de discutirmos o tema amplamente durante a aula. Diante dessas respostas e de outros

diálogos que ocorreram em aula, tal fato está ligado, provavelmente, à dificuldade dos

alunos em pensar na ciência e na religião como teorias que podem ser complementares, pois,

apesar do Design Inteligente ser uma teoria com muitas falhas, não deixa de ser uma tentativa

de juntar as duas concepções.

Verificou-se também, quanto ao entendimento global da aula, que 56,25% dos alunos

compreenderam que as discussões realizadas apresentaram que ciência e religião são opostas, 18,75% entenderam que as aulas se voltaram a demonstrar que a ciência e religião podem ser complementares e 25% acreditam que o foco da aula foi tratar o preconceito com mulheres e negros. Realmente na aula foi muito discutida a questão do preconceito tanto na ciência, quanto na religião, mas quanto à consideração dos alunos de entenderem que foi dito que ciência e religião são contraditórias foi surpreendente. Acredito que tal resultado se deve a demonstração e discussão das disparidades entre essas duas áreas, mas foi ressaltado a todo o momento que estas poderiam se complementar, o que talvez precise ser trabalhado em outros âmbitos mais efetivos com os alunos.

Quanto à questão dos preconceitos existentes na religião, foi apontado por 66,7% dos alunos o preconceito racial como a principal forma, remetendo-se principalmente ao exemplo de Jesus sempre ser retratado como branco, enquanto 33,3% acreditam que o maior caso de preconceito esteja nas relações históricas de submissão da mulher. Assim, os alunos demonstraram compreender melhor a questão de preconceito racial, mas talvez seja necessário trabalhar mais a questão de dominação feminina. Isso reflete no quadro atual de que, o negro teve sua libertação anteriormente, no século XIX, às possibilidades de emancipação da mulher no século XX, sendo historicamente, mais recentes tais idéias da importância das lutas feministas, e por isso essas ações subversivas à mulher ainda existem fortemente, mesmo que implicitamente.

Em relação à apropriação do conceito Darwinismo Social e a capacidade de reflexão

sobre o tema, 85,7% demonstraram ter boa compreensão. Tal valor, bastante expressivo,

mostrou que as explicações sobre o tema foram bem sucedidas e que os alunos se interessam

pelo assunto, pois ficou evidente como até mesmo a teoria científica mais reconhecida pode

ser aplicada de forma catastrófica à sociedade, sendo que ainda hoje ocorrem tais barbaridades

implicitamente. Talvez, o melhor entendimento dos alunos sobre o tema se remeta ao meu

maior domínio, por se tratar de uma área mais biológica do que sociológica ou religiosa, pois

confesso que alguns desses temas não são de minha área de conhecimento, ou seja, não são

biológicos, e por isso encontrei maiores dificuldades em explicá-los.

Cabe aqui uma ressalva: tanto para um professor de biologia, quanto para um professor

de ciências, o que é ensinado nas universidades é uma pequena leva de disciplinas

pedagógicas e uma grande diversidade de disciplinas específicas, mas poucas destas

disciplinas abordam a multiplicidade das concepções humanas, ou seja, procuram fazer

pontes com questões sociais. Não nos é ensinado a lidar com valores religiosos e são muito

pouco abordados valores sociais nas disciplinas que temos. Assim, nossa formação docente,

que deveria nos preparar para trabalhar com o aluno, ser com individualidades, incluído em

uma sociedade com valores distintos, nos ensina apenas embasamentos teóricos, nos tornando

mais biólogos e cientistas do que propriamente profissionais reflexivos sobre os contextos

sociais, culturais e políticos, bem como não somos críticos sobre nossa própria prática.

Dessa forma, o estágio supervisionado necessita ser trabalhado em perspectivas

críticas, sendo encarado como uma prática que possibilite à formação e reflexão do futuro

professor, em seus amplos aspectos. Os cursos de licenciaturas não podem simplesmente nos

fornecer cargas de conteúdos específicos sem nenhuma contextualização, sendo fundamental

que possamos sair deles preparados minimamente para lidar com a sala de aula e seus aspectos

sociais, extremamente complexos. Conforme aponta Piconez et. al. (2008): “A formação de professores é influenciada por inúmeros fatores e, dada a sua

complexidade, muitas das variáveis que interagem nessa formação nem

sempre são suficientemente compreendidas. Que significado tem sido

atribuído à Prática de Ensino/Estágio Supervisionado na formação do

professor, se na Prática de Ensino pré-serviço assume posturas superficiais

em relação às reais condições da escola brasileira? Ela tem sido assumida em

serviço, mas nem sempre com a prática da reflexão, e o Estágio nem sempre

Supervisionado ou nem mesmo realizado.” (p.9).

Por fim, quanto à reflexão da perda de poder da igreja católica, 70% dos alunos

disseram que essa perda se deve as influências da ciência, que tem comprovado muitos fatos

ao longo da história. Os 30% restante acreditam que isso se deve a perda de poder, que seria a

resposta mais adequada, apesar de que essa perda de poder está relacionada a uma grande

participação de outras esferas sociais, pois a secularização foi gerada por uma série de fatos,

que podem, porque não, incluir as comprovações científicas eminentes nos últimos séculos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de não haver uma total compreensão das questões evolutivas abordadas em

aula, foi possível criar uma nova perspectiva de ensino e refletir sobre minha própria prática

docente, o que é intuito principal das práticas de estágio supervisionado. Dessa forma, a

partir de uma aula não crítica, foi possível criar uma aula contextualizada, baseada nas falas

significativas de alunos, pois foi identificado que uma abordagem que visa apenas à Evolução,

tratando de teorias meramente descritivas, pouco interessava aos alunos, que contestavam

baseados em suas crenças, enquanto seu professor seguia na contramão, se utilizando apenas da

ciência para explicações.

Mesmo os alunos não compreendendo todos os objetivos da aula, foi possível proporcionar minimamente reflexões acerca de preconceitos, valores sociais estabelecidos e principalmente refletir que ciência e religião não precisam ser totalmente distintas, podendo ser complementares, e estabelecidas como relações humanas que possuem falhas, podendo se alterar ao longo dos tempos.

Há evidencias de que alguns aspectos precisam ser trabalhados de forma mais efetiva com os alunos, mas também vemos que a própria formação de professores não nos dá todos os atributos para lidar com a diversidade de ideologias humanas presentes na sala de aula, pois cada um advém de uma realidade social particular. Cabe então ao professor, continuar a refletir sobre sua própria prática e se apropriar das concepções que não possui ao longo de sua jornada acadêmica, superando limites e dificuldades encontradas em seu percurso docente e tentando buscar melhorias da própria prática em sua formação continuada.

Além disso, concluímos que o ensino de evolução é complexo, pois esse tema é

extremamente abrangente em termos de conteúdos e envolve diversas áreas do conhecimento,

além de encabeçar o ensino de biologia como área integradora. Não só isso, mas o ensino de

evolução ainda perpassa por questões socioculturais e históricas de sua construção e

interpretação, e diante disso se torna necessário melhorar as práticas de ensino dessa

disciplina, de forma a tornar seu ensino contextualizado e crítico, tanto na análise de sua

própria história, como em suas influências na contemporaneidade.

Agradecimentos Agradeço a professora Gisele Pasqualin Araújo de Oliveira, professora de Biologia da

“E.E. Afonso Vergueiro” (Salto de Pirapora – SP), pela colaboração e abertura de espaço em

suas aulas para a realização desse trabalho. Agradeço também a Ed Yeremai Hernández

Cardona por suas contribuições para estruturação desse trabalho.

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EVOLUTION AND RELIGION: PERSPECTIVES AND TEACHER’S

PRACTICE REFLECTIONS FROM A HISTORICAL DUALITY Abstract: Teaching evolutional theories is already complex by itself, since a large amount

of knowledge is required to complete understanding. The reality of Brazilian education,

with structural and teacher’s formation deficit makes even more difficult the teaching of

evolution. Besides the difficulties mentioned, it is still necessary to consider the visions and

realities of students and teachers themselves, who have religious or scientific values and

end up in classroom’s both views. In order to overcome the science and religion

division, this work aims to demonstrate a classroom experience, where tries to get the

knowledge of evolution through the student religious perspective.

Key-words: evolution, religion, biology teaching, critical discussion