Dos Restauradores ao Marquês - Evolução urbanistica e morfológica de uma Avenida

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1 III CONGRESSO ANUAL DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - COMUNICAÇÃO Pedro Fidalgo Instituto de História Contemporânea - Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade Nova de Lisboa A - Introdução A Avenida da Liberdade apresenta-se, desde a sua inauguração em 1886, como a mais importante e prestigiante artéria da cidade de Lisboa, traduzindo-se esse estatuto no uso corrente do termo Avenida para abreviar a sua nomeação. Assim, falar-se em Avenida da Liberdade ou apenas em Avenida são alocuções com o mesmo significado, mas em que o recurso apenas ao termo que expressa a função, utilizado no segundo caso, traduz na sua essência a primazia e relevância deste espaço no imaginário nacional. Fig. 1: Estado das obras na Avenida da Liberdade em 1883 (desenho de J. Christino). B - Objectivos “Dos Restauradores ao Marquês” é um projecto de investigação que pretende contribuir para o conhecimento da evolução urbanística e morfológica da Avenida da Liberdade, ao longo da sua existência, num estudo transversal que considera diferentes vertentes temáticas de análise, de modo a determinar as alterações porque têm passado esta referência urbanística da cidade de Lisboa, desde a sua concepção até à actualidade.

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III CONGRESSO ANUAL DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - COMUNICAÇÃO

Pedro Fidalgo

Instituto de História Contemporânea - Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

A - Introdução

A Avenida da Liberdade apresenta-se, desde a sua inauguração em 1886, como a mais

importante e prestigiante artéria da cidade de Lisboa, traduzindo-se esse estatuto no uso

corrente do termo Avenida para abreviar a sua nomeação. Assim, falar-se em Avenida da

Liberdade ou apenas em Avenida são alocuções com o mesmo significado, mas em que o

recurso apenas ao termo que expressa a função, utilizado no segundo caso, traduz na sua

essência a primazia e relevância deste espaço no imaginário nacional.

Fig. 1: Estado das obras na Avenida da Liberdade em 1883 (desenho de J. Christino).

B - Objectivos

“Dos Restauradores ao Marquês” é um projecto de investigação que pretende contribuir para o

conhecimento da evolução urbanística e morfológica da Avenida da Liberdade, ao longo da sua

existência, num estudo transversal que considera diferentes vertentes temáticas de análise, de

modo a determinar as alterações porque têm passado esta referência urbanística da cidade de

Lisboa, desde a sua concepção até à actualidade.

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Este estudo, que recorre às fontes correntes de investigação - leituras bibliográficas, recolha

iconográfica, fotográfica, cartográfica, elementos estatísticos, processos de obra ou trabalho de

campo, por exemplo - terá, no entanto, como suporte fundamental uma base de dados,

construída a partir de um conjunto de Fichas de Caracterização de Imóveis, onde serão

registados todo um conjunto de aspectos caracterizadores da natureza e do estado em que se

encontram actualmente cada um dos edifícios que delimitam a Avenida, assim como daqueles

que entretanto desapareceram, o que permitirá estabelecer, por exemplo, análises

comparativas, evolutivas, ou tipológicas, expressas em cartografia temática.

Um outro objectivo deste trabalho é a ordenação e agregação do vasto conjunto de fontes

documentais consultadas e dispersas.

Por último, considera-se a concepção de um modelo digital virtual tridimensional, que

disponibilize os dados recolhidos e apresente uma síntese do estudo realizado.

C - Áreas de investigação

Para este estudo foram consideradas um conjunto de áreas temáticas de investigação,

organizadas dentro dos seguintes agrupamentos:

1. A Avenida

1.1 Simbologia e Função

1.2 Antecedentes teóricos e urbanísticos

1.3 Exemplos comparados: Castelhana, Champs-Élysées, The Mall,

Via dellaConciliazione, Unter der Linden, e 5ª Avenida

2. Antecedentes e contexto históricó-urbanístico

2.1 Aspectos geomorfológicos

2.2 Das hortas da Mancebia aos Restauradores

2.3 Do vale Verde ao Passeio Público

2.4 Do Passeio à Avenida

2.5 Do vale do Pereiro ao Marquês

3. Evolução urbanística, arquitectónica e funcional

3.1 Regulamentação jurídica

3.2 A Avenida em 1886

3.3 A Avenida em 1910

3.4 A Avenida em 1940

3.5 A Avenida em 1974

3.6 A Avenida em 2000

3.7 A Avenida em 2014

4. Evolução dos valores imobiliários

5. Os espaços da Avenida

5.1 Espaço Social e de Representação

5.2 Espaço Politico e de Manifestação

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5.3 Espaço Económico e Financeiro

5.4 Espaço Histórico e Cultural

5.5 Espaço Antrópico e Biótico

5.6 Espaço Publico e Privado

5.7 Espaço Viário e Infra-estruturado

5.8 Espaço de Habitação

5.9 Espaço de Comercio

5.10 Espaço de Serviços

5.11 Espaço de Laser

5.12 Espaço Cénico

D. Análises

De modo a testar e a aperfeiçoar a metodologia definida inicialmente, e ter uma melhor

apreensão da envergadura do trabalho e dos aspectos técnicos associados, foram feitas

aferições pontuais às principais escalas de estudo da análise.

Nesse sentido foi feita uma aproximação genérica à área de estudo, limitando seguidamente a

investigação a um quarteirão e particularizando um imóvel. Estas análises serviram também

para melhorar certos aspectos relacionados com a apresentação gráfica do trabalho.

D.1 - Análise geral

Fig. 2. Litografia com uma vista da Avenida anterior a 1910 (por Ribeiro Cristino).

Num primeiro momento, de modo a aprofundar o conhecimento sobre a evolução da estrutura

espacial da área em estudo, e a estabelecer bases de trabalho, que sirvam de suporte ao

desenvolvimento e à apresentação do trabalho, foi feita uma sobreposição evolutiva entre

diferentes tipos de registos planimétricos (fig. 3).

4

 

18121

   18582

19113

20144

20145

Fig. 3: Análise evolutiva e comparativa de diferentes registos relativos à área de implantação da Avenida.

Os dados preliminares desta análise permitem destacar, desde já, os seguintes aspectos:

Em 1910 existiam 80 imóveis. Em 2014 contabilizam-se 84. Este acréscimo

resulta da ocupação de lotes que se encontravam disponíveis. De modo oposto

verifica-se que alguns dos edifícios mais recentes preenchem o espaço ocupado

anteriormente por dois imóveis.

Dos 84 imóveis existentes em 2014, metade apresenta elementos construtivos

anteriores a 19406, 14 (16,7%) apresentam-se devolutos ou com uma ocupação

espacial inferior a 20%7, sendo que um se encontra mesmo em ruina8, e 5 em

obras de renovação ou recuperação geral9.

                                                            1 Extracto da Planta Topográfica de Lisboa em 1812. 2 Extracto da Carta Topográfica de Lisboa: 1856-1858. 3 Extracto do Levantamento da Planta de Lisboa: 1904-1911. 4 Extracto digital da Planta de Lisboa, cedido pela Divisão de Cadastro da Câmara Municipal de Lisboa. 5 Fotografia Google Earth, [cópia efectuada em 2014.04.20]. 6 Incluem-se neste grupo edifícios novos que mantêm elementos dos alçados dos imóveis pré-existentes. 7 Os nos 14, 22, 73, 85, 108, 159, 159A, 159B, 191, 225, 226-228, 232, 240 e 252. Levantamento efectuado pelo autor

em 15 de Maio de 2014. 8 O no 238. Levantamento efectuado pelo autor em 15 de Maio de 2014. 9 Os nos 25, 35, 158, 194, 236. Levantamento efectuado pelo autor em 15 de Maio de 2014.

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Dos 84 imóveis existentes em 2014, 8 (9,5%) são hotéis, e 3 (3,6%) tem um uso

dominantemente cultural10.

A oferta hoteleira, apresentava cerca de 539 camas em 1974, mantendo-se

estável até ao início dos anos 90, para a partir dessa data começar a crescer,

atingindo actualmente um total de 1522 camas11, num aumento percentual de

183% em 22 anos (fig. 4).

Fig. 4: Evolução da oferta de camas entre 1974 e 2014.

No seu conjunto, a Avenida apresenta cinco Imóveis de Interesse Público: o

palacete localizado no nº 191, o edifício do antigo Hotel Vitória (nº170), o teatro

Tivoli, o palacete de estilo Neo-Árabe localizado no nº226-228, e a sede do

Diário de Noticias (nº 264-266), não existindo outras classificações patrimoniais,

mas estando em estudo a criação de uma área envolvente de protecção à

Avenida.

                                                            10 Teatro Tivoli, cinema s. Jorge e edifício de galerias e atelieres artísticos localizado no nº 211. 11 Dados recolhidos pelo autor junto das respectivas instituições, em Maio de 2014. Os valores indicados para 1974,

são os contabilizados actualmente, não tendo sido possível averiguar com rigor qual era, para essa data, o número exacto de camas disponível, pois esses estabelecimentos passaram, desde então, por obras que alteram ligeiramente a sua capacidade. De referir ainda que a “D. Sancho I” é uma pensão que se encontra localizada numa fracção de imóvel, sendo o único estabelecimento hoteleiro que não se encontra instalado em edifício desenhado de raiz para o efeito.

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D.2 - Análise de um quarteirão

Para esta análise foi seleccionado, pela diversidade de aspectos que se pretendiam

avaliar numa primeira abordagem, o quarteirão correspondente aos números 222-240 da

Av. da Liberdade, nomeado como “quarteirão E”12 (figuras 5 e 6).

Fig. 5: “Quarteirão E” (extracto litografia Ribeiro Cristino).

Fig. 6: Planta do “quarteirão E” (Av. da Liberdade 222-240).13

A partir da análise dos Processos de Obra, e de um conjunto de fotografias, foi possível

reconstituir a evolução da ocupação deste quarteirão para os peridos previamente

referenciados: 1910-1940-1974-2000-2014 (fig. 8).

                                                            12 Para esta nomeação considerou-se que à sequência de quarteirões com números pares (lado direito de quem sobe a

Avenida) seria atribuída a letra correspondente à mesma sequência do alfabeto. 13 Apresenta a tracejado curto as delimitações dos imóveis pré-existentes, e a tracejado longo o perímetro acima do

solo.

7

 

Fig. 8: Evolução do conjunto de alçados do “quarteirão E” (Av. da Liberdade 222-240).

8

 

Fig. 9: Comparação entre os alçados do “quarteirão E” existentes em 1910 e 2014.

A análise preliminar a este quarteirão permite, desde já, destacar que dos 9 imóveis existentes

em 1910:

4 foram demolidos14, subsistindo no entanto os alçados de dois deles15;

Um está em ruina16;

Outro encontra-se em obras de renovação total17;

Existe um devoluto que se encontra classificado como Imóvel de

Interesse Público18;

Dois encontram-se habitados, vivendo neles cerca de 15 pessoas19.

Este estudo comparou também a evolução das áreas brutas de construção de cada imóvel

deste quarteirão, entre 1910 e 2014, mostrando que estas passaram de 25.010m2 em 1910,

para 44.721m2 em 2014, correspondendo a um aumento de 78,8% (fig. 10).

                                                            14 Nos 222, 224, 230 e 240. 15 Nos 224 e 240. 16 No 238. 17 No 236. 18 Nos 226-228. 19 Contagem efectuada pelo autor em 25 de Maio de 2014. No no 222 - Cave Direita: 1 residente; no 2º andar direito: 2

residentes. No nº 234 - Cave: 1 residente; no 1º Piso: 2 residentes; no 2º Piso: 1 residente; no 3º Piso: 3 residentes; no 4º Piso: 2 residentes; no 5º Piso: 1 residente; e no 6º Piso: dois residentes.

9

 

Fig. 10: Distribuiçãpo comparativa das áreas de construção dos diferentes

imóveis do “quarteirão E”, entre 1910 e 2014.

Em continuidade foi feito um levantamento à distribuição dos principais utilizações, para este

quarteirão (fig. 11).

Fig. 11: Ocupação funcional dos diferentes imóveis do “quarteirão E”.

A confrontação dos valores dados pelos gráficos das figuras 10 e 11, relativamente a 2014,

permite estimar as áreas brutas de ocupação para as principais utilizações, sintetisadas na

seguinte tabela:

10

 

Da análise a esta tabela cabe referenciar que:

Quase 35% da área de contrução existente não tem uso definido,

encontrando-se em ruína, em obras totais de reconstrução ou

simplesmente devoluta.

A área de estacionamento ocupa quase 19% do espaço total construido,

localizando praticamente toda ao nivel do sub-solo20.

A área utilizada com habitação, limita-se atualmente a menos de 5% da

área construida.

O sector terciário - comercio, escritórios e banca - ocupam, no seu

conjunto, quase 40% da área de construção existente.

D.3 - Análise de um imóvel

Para esta análise foi seleccionado o nº 240 da Av. da Liberdade (fig. 11).

Fig. 11: Ilustração do imóvel que ocupou originalmente o nº 240 da

Av. da Liberdade (pormenor litografia Ribeiro Cristino).

                                                            20 As excepções referem-se às áreas de acessibilidade, necessárias à transição do nível da rua para os níveis

inferiores.

Utilização Área % (sobre 44.721m2)

Sem ocupação 15.536 34.74

Estacionamento 8.404 18.79

Habitação 2.126 4.75

Comercio 885 1.98

Escritórios 9.787 21.88

Banca 7.983 17.85

11

 

A partir dos elementos disponíveis e de um modo muito resumido, é de referir que o imóvel que

originalmente ocupou o lote (fig. 12), de que era proprietário António Gomes Teixeira, foi

destruído por um projéctil lançado pelos militares entrincheirados na Rotunda, a 5 de Outubro

de 1910 (fig. 13).

Fig. 12: Extracto do Projecto de Licenciamento do imóvel que ocupou originalmente o nº 240 da

Av. da Liberdade (Arquivo Municipal de Lisboa, Obra 18896 – Proc. 4132-DAG-1888-Folha 4).

Fig. 13: Estado do imóvel que ocupava originalmente o nº 240 da Av. da Liberdade, após o lançamento de

uma projéctil lançado em 5 de Outubro de 1910 (Arquivo Fotográfico CML).

Este malogrado edifício foi substituído em 1913-14 por outro, em Arte Nova (fig. 14 e 15), da

autoria do arquiteto António Rodrigues da Silva Júnior, tendo então como proprietários Nestor

Sampaio e sua mulher Francisca Sampaio.

12

 

Fig. 14: Extracto do projecto do novo imóvel construído no nº 240 da Av. da Liberdade

(Arquivo Municipal de Lisboa, Obra 18896 – Proc. 5116-1-REP-PG-1913-Folha 6).

Fig. 14. Fotografia do nº 240 da Av. da Liberdade (anos 60?).21

No início dos anos 80 este imóvel encontrava devoluto, entrando em degradação acentuada,

numa situação que se manteve assim até ao início da segunda década do século XXI (fig. 15).

Fig. 15: Fotografias do nº 240 da Av. da Liberdade em 2006, 2010 e 2012.22

                                                            21 Autor não identificado. 22 Fotografias do autor.

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Em 2012, e com base num projecto do arquiteto. Alexandre Burmestre, este imóvel entrou em

profundas obras de reconstrução, que demoliram todo o seu interior, mantendo parte dos

elementos da fachada pré-existente (figuras 16 e 17).

Fig. 16: Fotografias do nº 240 da Av. da Liberdade durante as obras de

reconstrução, que decorreram entre 2012 e 2013.23

Esta intervenção substituiu a estrutura de alvenaria que sustentava o imóvel, por outra em

betão armado, permitindo a construção de mais 3 caves para estacionamento, um nível térreo

e outro em cave destinados a comércio, e cinco pisos superiores reservados para escritórios.

A inauguração deste novo imóvel ocorreu a 19 de Setembro de 2013, com a abertura do

primeiro espaço próprio, de venda ao público, da marca Cartier, em Lisboa (fig. 17).

Fig. 17: Fotografia do nº 240 da Av. da Liberdade,

na noite de inauguração, em Setembro de 2013.24

Os valores comerciais mensais, mais baixos, pedidos neste imóvel, pelo aluguer de espaço de

escritórios é de 19Eur por m2, e o de um lugar de estacionamento 180Eur.25

Uma análise mais profunda às características deste edifício, passa pelo preenchimento da

correspondente Ficha de Caracterização de Imóvel, que servirá de capa a uma pasta que

deverá organizar os elementos associados à sua história, e que, no seu conjunto, permitam

caracterizar e reconstruir as vicissitudes por que tem passado este edifício e este lote.

                                                            23 Fotografias do autor. 24 Autor não identificado. 25 Valores indicados no site da empresa Cushman & Wakefield, responsável pela colocação no mercado dos espaços

deste imóvel, que se encontram disponíveis para arrendamento: http://etoile240.com/ [consulta: 22.05.2014].

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E - Ficha de Caracterização de Imóveis

Para aprofundar o conhecimento particular de cada imóvel, concebeu-se uma Ficha de

Caracterização de Imóveis (FCI), cuja matriz se apresenta em formato reduzido na fig. 18, e

que permitirá, numa primeira fase, identificar e caracterizar individualmente cada um dos

edifícios que delimitam, ou delimitaram, a Avenida da Liberdade, ao longo da sua existência,

servindo ainda de capa a uma pasta que deverá organizar os diferentes elementos associados

ao conhecimento do respectivo imóvel, como, por exemplo, cópias de escrituras ou projectos.

Fig.18: Matriz da Ficha de Caracterização de Imóveis (FCI).

Dentro dos campos de análise que se organizam e distribuem por esta FCI, é referenciada, por

exemplo, a localização do imóvel relativamente à planta da Avenida, elementos respeitantes ao

processo de obra (nº, data, ou nome do proprietário e autor do projecto), elementos relativos à

construção (como nº de pisos, fracções, tipo de utilização, capacidades, estado e grau de

conservação, ou materiais de revestimentos de fachadas e tipos de cobertura), ou ainda o

desenho do alçado do imóvel, a fotografia mais antiga referenciada e a actual.

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Esta ficha permitirá, também, registar o tipo de ocupação e distribuição funcional de cada

imóvel.

O preenchimento do conjunto das FCI, no que se refere ao estado e à distribuição das

diferentes características de cada imóvel, deverá ser feito dentro de um período de tempo

limitado, tendo-se estimado, para o efeito, uma semana, de modo a obter um modelo estável

da área em estudo, num determinado momento.

A análise deste conjunto de fichas permitirá, ainda, conhecer em pormenor um conjunto de

aspectos arquitectónicos relacionados (como evolução de plantas e alçados), estabelecer

índices urbanísticos (relativos, por exemplo à ocupação do solo ou uso funcional), e tipologias

construtivas (como estilos arquitectónicos ou elementos construtivos), que associados, ora por

quarteirão ora no seu conjunto, deverão contribuir para um conhecimento aprofundado da área

em estudo.

F - Considerações finais

Da análise preliminar à área de estudo, no seu conjunto, cabe destacar que dos 84 imóveis

actualmente existentes na Avenida:

16,7% apresentam-se devolutos ou com uma ocupação inferior a 20%,

sendo que existe mesmo um em ruina.

6% dos edifícios encontram-se em obras gerais de renovação ou

recuperação.

Dos imóveis existentes, 9,5% são hotéis, e 3,6% tem um uso cultural.

A oferta hoteleira tem tido um incremento acentuado, crescendo 182%

nos últimos 22 anos, e oferecendo actualmente 1522 camas.

A análise a um quarteirão, neste caso, relativo aos nos 222 a 240, permitiu determinar a

evolução da sua ocupação e dos seus alçados, para os períodos pré-definidos. Do mesmo

modo, foi possível determinar a evolução da área bruta de construção deste quarteirão, entre

1910 e 2014, mostrando que esta teve um incremento de 78,8%.

Este estudo permitiu ainda chegar às seguintes conclusões:

Quase 35% da área de contrução existente não tem uso definido,

encontrando-se em ruína, em obras totais de reconstrução ou

simplesmente devoluta.

A área de estacionamento ocupa quase 19% do espaço total.

A área utilizada com habitação, limita-se atualmente a menos de 5% da

área construida, residindo nela 15 pessoas.

O sector terciário ocupa quase 40% da área de construção existente.

A análise particular a um imóvel - o nº 240 da Avenida - fez uma breve abordagem à história da

sua existencia, onde é de salientar que, após um perido de abondono de mais de três decadas,

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este foi totalmente reconstruido, mantendo, no entanto, elementos do alçado pré-existente. A

inauguração deste novo imóvel ocorreu há menos de um ano, tendo-se aqui instalado, na área

comercial existente ao nivel da rua, uma marca de referencia mundial do comercio de luxo.

Um conhecimento mais pormenorizado sobre as particularidades deste edificio, deverá ocorrer

com o preenchimento da Ficha de Caracterização de Imóveis. A base de dados construida a

partir do preenchimento desta ficha, para cada um dos imóveis que delimitam a Avenida,

permitirá obter um modelo estável da área em estudo, num determinado momento, e a

cartografia das suas diferentes singularidades.

Por último, é de referir que as diferentes abordagens feitas na análise preliminar, à área em

estudo, confirmam as potencialidades de investigação deste projecto e o contributo que o

mesmo pode dar, para um melhor conhecimento da história e do estado actual da mais

importante das artérias da capital.

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