História & Religião

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Neste livro, destinado não ape- nas a historiadores, mas também àqueles que se interessam por his- tória em geral, Sérgio da Mata faz um estudo arguto sobre as rela- ções entre a história e a religião e, desta forma, também sobre a historiografia das religiões. Em sua análise, o autor tam- bém considera a tradição dos estudos religiosos, seja a histó- ria eclesiástica, seja a teologia, já que vê nessas disciplinas contri- buições importantes para quem estuda ou quer compreender os fenômenos religiosos. O que o historiador propõe a seus colegas é um olhar pondera- do, e insiste, como pesquisador, que se tenha distanciamento crí- tico. Sérgio da Mata nos diz que o “estudo histórico das religiões não se pode pautar pelos termos do discurso que elabora sobre si mesmo”, no entanto o rigor a que aspira é conjugado com uma es- crita fluida e uma clareza capaz de inquirir os seus colegas, ao mesmo tempo que pode também instigar o seu leitor mais leigo. Em sua busca por rigor e por uma fun- damentação teórica e filosófica, porém, o autor não é levado a em- pregar um discurso impenetrável para todo aquele que pretende se iniciar no tema. HISTóRIA &... REFLEXÕES Sérgio da Mata SéRGIO DA MATA é professor-adjunto do Departamento de História da Univer- sidade Federal de Ouro Preto. Doutor em História pela Universidade de Colônia, realizou pós-doutorado na Universida- de Viadrina, em Frankfurt an der Oder. Atuou também como pesquisador convi- dado no Instituto Max Weber da Univer- sidade de Erfurt. Além de diversos artigos no campo da história das religiões e da história da historiografia, é autor de Chão de Deus: catolicismo popular, espaço e pro- to-urbanização em Minas Gerais (WVB, Berlim, 2002) e coorganizador de A dinâ- mica do historicismo (Argvmentvm, Belo Horizonte, 2008). OUTROS TíTULOS DA COLEçãO: • História & documento e METODOLOGIA DE PESQUISA Eni de Mesquita Samara e Ismênia S. Silveira T. Tupy • História & ensino de História Thais Nivia de Lima e Fonseca • História & Gênero Andréa Lisly Gonçalves • História & música Marcos Napolitano • História & socioloGia Flávio Saliba Cunha • História & turismo cultural José Newton Coelho Meneses • História, reGião & Globalização Afonso de Alencastro Graça Filho 9 788575 264805 ISBN 978-85-7526-480-5 www.autenticaeditora.com.br 0800 2831322 História & Religião Sérgio da Mata S érgio da Mata mostra a complexidade dos fenômenos religiosos e a dificuldade que enfrenta o historiador das religiões: de um lado se tem a atitude que o autor chama de “certeza incondicional afirmadora”, e, de outro, a “cer- teza incondicional negadora” – atitudes de que ele procura se esquivar neste livro. Para tanto, o autor opta pela mesma cautela do sábio grego Simônides, quando se referiu ao problema da religião: “Quanto mais penso sobre esta ques- tão, mais obscura ela se torna”. Uma atitude interpretativa que se quer simultaneamente crítica e desapaixonada ante a religião. História & Religião traz ao final uma “Pe- quena morfologia histórica da religião” que, afastando-se de conceitos tão problemáticos como “superstição” e “fanatismo”, busca situar os historiadores no já secular debate sobre as crenças, práticas e instituições religiosas. & História Religião

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Neste livro, destinado não ape-nas a historiadores, mas também àqueles que se interessam por his-tória em geral, Sérgio da Mata faz um estudo arguto sobre as rela-ções entre a história e a religião e, desta forma, também sobre a historiografia das religiões.

Em sua análise, o autor tam-bém considera a tradição dos estudos religiosos, seja a histó-ria eclesiástica, seja a teologia, já que vê nessas disciplinas contri-buições importantes para quem estuda ou quer compreender os fenômenos religiosos.

O que o historiador propõe a seus colegas é um olhar pondera-do, e insiste, como pesquisador, que se tenha distanciamento crí-tico. Sérgio da Mata nos diz que o “estudo histórico das religiões não se pode pautar pelos termos do discurso que elabora sobre si mesmo”, no entanto o rigor a que aspira é conjugado com uma es-crita fluida e uma clareza capaz de inquirir os seus colegas, ao mesmo tempo que pode também instigar o seu leitor mais leigo. Em sua busca por rigor e por uma fun-damentação teórica e filosófica, porém, o autor não é levado a em-pregar um discurso impenetrável para todo aquele que pretende se iniciar no tema.

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Sérgio da Mata é professor-adjunto do departamento de História da Univer-sidade Federal de ouro Preto. doutor em História pela Universidade de Colônia, realizou pós-doutorado na Universida-de Viadrina, em Frankfurt an der oder. atuou também como pesquisador convi-dado no instituto Max Weber da Univer-sidade de Erfurt. além de diversos artigos no campo da história das religiões e da história da historiografia, é autor de Chão de Deus: catolicismo popular, espaço e pro-to-urbanização em Minas Gerais (WVB, Berlim, 2002) e coorganizador de A dinâ-mica do historicismo (argvmentvm, Belo Horizonte, 2008).

oUtroS títUloS da ColEção:

• História & documento e MEtodologia dE PESqUiSa Eni de Mesquita Samara e Ismênia S. Silveira T. Tupy

• História & ensino de HistóriaThais Nivia de Lima e Fonseca

• História & GêneroAndréa Lisly Gonçalves

• História & músicaMarcos Napolitano

• História & socioloGiaFlávio Saliba Cunha

• História & turismo culturalJosé Newton Coelho Meneses

• História, reGião & GlobalizaçãoAfonso de Alencastro Graça Filho

9 7 8 8 5 7 5 2 6 4 8 0 5

ISBN 978-85-7526-480-5

www.autenticaeditora.com.br0800 2831322

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Sérgio da Mata

Sérgio da Mata mostra a complexidade dos fenômenos religiosos e a dificuldade que

enfrenta o historiador das religiões: de um lado se tem a atitude que o autor chama de “certeza incondicional afirmadora”, e, de outro, a “cer-teza incondicional negadora” – atitudes de que ele procura se esquivar neste livro. Para tanto, o autor opta pela mesma cautela do sábio grego Simônides, quando se referiu ao problema da religião: “Quanto mais penso sobre esta ques-tão, mais obscura ela se torna”. Uma atitude interpretativa que se quer simultaneamente crítica e desapaixonada ante a religião.

História & Religião traz ao final uma “Pe-quena morfologia histórica da religião” que, afastando-se de conceitos tão problemáticos como “superstição” e “fanatismo”, busca situar os historiadores no já secular debate sobre as crenças, práticas e instituições religiosas.

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Religião

HISTÓRIA &... REFLEXÕES

Sérgio da Mata

História & Religião

Copyright © 2010 Sérgio da Mata

CoordenadoreS da Coleção HiStória &... reflexõeS

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revisado conforme o novo acordo ortográfico.

Mata, Sérgio daHistória & religião / Sérgio da Mata. – Belo Horizonte :

autêntica editora, 2010. – (História &... reflexões, 13).

iSBn 978-85-7526-480-5

1. experiência religiosa 2. fenomenologia 3. religião - filosofia 4. religião - História 5. religiões 6. religiosidade i. título. ii. Série.

10-05869 Cdd-200.7Índices para catálogo sistemático:

1. estudo das religiões 200.72. religiões : estudo 200.7

Igualdade significa: poder ser diferente dos demais sem medo. Por isso sempre importa mais, aos seres

humanos, a sua capacidade de ser peculiar que a sua capacidade de generalizar: sua competência para a diversidade. E toda universalização há de promover a diversidade ou não serve para nada.

Odo Marquard

Para o mestre Pierre Sanchis

Sumário

Introdução ..................................................................... 11Pequena crônica da religião, hoje ................................ 12Compreender a religião: mas como? ............................ 18

Capítulo I Tempo, consciência histórica e religião ........................... 21

Historiadores da crença e crenças dos historiadores ... 21Do eterno retorno à consciência histórica ................... 23A era axial ..................................................................... 29

Capítulo II A religião como objeto: da história eclesiástica à história das religiões ........................................................ 35

Eusébio e a História eclesiástica ................................... 35A revolução filológica e os limites da históriaeclesiástica moderna ..................................................... 37A metodização da historiografia eclesiástica noséculo XVIII .................................................................. 45Uma peculiaridade alemã: as raízes teológicasda historiografia acadêmica ............................................48Historicização e pluralismo moderno: o nascimento da história das religiões ............................53A historiografia contemporânea e ahistória das religiões .........................................................65

Capítulo III Métodos, perspectivas, problemas .....................................71

Considerações sobre o método ........................................72“Secularização”: rumo à laicidade futura? ....................77As variedades da experiência político-religiosa ..............80“Retorno” do sagrado? ..................................................87

Capítulo IVPequena morfologia histórica da religião ...........................91

Ascetismo.........................................................................92Átheos/ateísmo ................................................................95Carisma ...........................................................................99Conversão .....................................................................102Dominação/contestação ................................................104“Exteriorismo”/“crença” .............................................107Intolerância/violência ....................................................108Imagem/representação ..................................................112Masculino/feminino .......................................................115Mística ...........................................................................118Oráculo/utopia ...............................................................119Paganismo/politeísmo ...................................................122Religio ............................................................................126Rito .................................................................................129Sagrado/profano ............................................................132Teodiceia .........................................................................134

ConClusão .......................................................................141

referênCIas .....................................................................145

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Introdução

Ante o tema “religião” há três atitudes possíveis. A primeira é a da certeza incondicional afirmadora. Podemos ilustrá-la com o exemplo do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que respondeu a alguém que havia lhe perguntado se acreditava em Deus: “Eu não creio, eu sei”.

A segunda atitude é a da certeza incondicional nega-dora. Nós a encontramos em Karl Marx, quando evoca os dizeres de Prometeu no prefácio de sua tese de doutorado: “Numa palavra, eu odeio todos os deuses”. Para o jovem jurista, tal deveria ser o principal mandamento da filosofia, a sua “sentença contra os deuses celestiais e terrestres que não reconhecem a autoconsciência do homem como a maior das divindades”.

A terceira atitude é a do lírico grego Simônides, cuja pitoresca história é relatada por Cícero em seu De natura deorum. Instado pelo tirano Hierion a dizer-lhe o que seria “Deus”, Simônides pediu um dia para refletir a respeito. Quando Hierion o procurou no dia seguinte, o sábio disse-lhe que precisaria de mais dois dias. A cada nova investida, um edido de prorrogação maior era feito. Até que o tirano, evidentemente irritado, exigiu uma explicação. Simônides disse-lhe: “Quanto mais eu penso sobre esta questão, mais obscura ela se torna”.