a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira ...
A Matriz Elétrica Brasileira: Evolução Histórica e Perspectivas
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Departamento de Economia
A Matriz Elétrica Brasileira: Evolução Histórica e Perspectivas
Códigos JEL: L94, L50, H41
Camilla Rodrigues Dolle
Orientador: Heron Carlos Esvael do Carmo
São Paulo
2013
2
Agradecimentos
Agradeço, primeiramente, ao professor Heron Carlos Esvael do Carmo pela
dedicação à minha orientação ao longo da elaboração deste trabalho.
Meu grande agradecimento à minha família, em especial aos meus pais, que
nunca mediram esforços para que eu chegasse até aqui e são exemplo de vida
para suas filhas e também à minha irmã, meu maior amor.
Aos meus amigos que fiz na FEA USP, muito obrigada por tudo o que vivemos,
que fará com que eu lembre com muita saudade desses anos.
3
Sumário
O setor de energia elétrica brasileiro é de extrema importância para o país, na
medida em que está presente em todas as esferas, desde a social à
econômica, sendo utilizado por consumidores residenciais de todas as classes
sociais até as indústrias mais pesadas.
Por ser um país rico em termos hídricos, a matriz elétrica brasileira foi
desenhada para aproveitar esses recursos, formando uma matriz renovável
desde o princípio do fornecimento de eletricidade. Com o passar dos anos,
apesar de manter essa configuração majoritariamente baseada em usinas
hidrelétricas, a matriz elétrica sofreu modificações, incluindo novas e dando
mais espaço a outras novas fontes.
O objetivo do presente trabalho é analisar a matriz elétrica brasileira atual e as
perspectivas para os anos seguintes, usando como base o Plano Decenal de
Expansão de Energia 2021, da Empresa de Pesquisa Energética - EPE. Para
isso, é feita uma apresentação do setor elétrico brasileiro, com uma breve
história, descrição dos setores, passando pelo marco regulatório até chegar à
questão central da matriz elétrica.
4
Índice
Agradecimentos ................................................................................................. 2
Sumário .............................................................................................................. 3
1. Introdução .................................................................................................... 7
2. O Setor Elétrico Brasileiro ............................................................................ 9
2.1. Evolução Histórica................................................................................. 9
2.2.1. Geração .............................................................................................. 19
2.2.3. Distribuição ......................................................................................... 22
3. Marco Regulatório ..................................................................................... 28
3.1. Evolução do Marco Regulatório.............................................................. 28
4. A Matriz Elétrica ......................................................................................... 38
4.1. Conceitos Básicos ............................................................................... 38
4.3. Análise das fontes de geração de energia elétrica .............................. 40
4.3.1. Hidrelétrica .......................................................................................... 41
4.4. As Outras Fontes de Geração de Energia Elétrica no Brasil ............... 46
4.4.1. Térmica ............................................................................................... 47
4.4.2. Nuclear ................................................................................................ 50
4.4.3. Eólica .................................................................................................. 52
4.5. Perspectivas para a matriz elétrica brasileira ......................................... 53
5. Considerações Finais ................................................................................ 64
6. Bibliografia ................................................................................................. 66
Anexo I ............................................................................................................. 70
5
Lista de Gráficos, Figuras e Tabelas
Gráfico 1: Composição do consumo de Energia .............................................. 19
Gráfico 2: Produção de Eletricidade nos Países da OCDE por tipo de
combustível - Jan. - Fev. 2013 ......................................................................... 38
Gráfico 3: Participação na matriz elétrica por fonte de geração - Brasil ........... 39
Gráfico 4: Participação das Hidrelétricas na Capacidade Instalada - Brasil, 2011
......................................................................................................................... 42
Gráfico 5: Evolução da Capacidade de Regularização dos Reservatórios -
Brasil, 2000 - 2012 ........................................................................................... 45
Gráfico 6: Custo de produção de energia no Brasil, 2008 ................................ 47
Gráfico 7: Participação de Térmicas na Capacidade instalada - Brasil, 2011 . 48
Gráfico 8: Crescimento da Capacidade Instalada por Região do SIN .............. 55
Gráfico 9: Crescimento da capacidade instalada por fonte de geração (%) ..... 56
Gráfico 10: Expansão hidrelétrica contratada e em construção por região 2012 -
2016 ................................................................................................................. 57
Gráfico 11: Novos projetos hidrelétricos a serem viabilizados 2017 - 2021 ..... 57
Gráfico 12: Armazenamento máximo no SIN (GWmed) ................................... 58
Gráfico 13: Espansão termelétrica contratada e em construção por região 2012
- 2016 ............................................................................................................... 59
Gráfico 14: Matriz elétrica brasileira em 2015 .................................................. 64
Gráfico 15: Matriz elétrica brasileira em 2021 .................................................. 64
Figura 1: Evolução da regulaçao do setor elétrico brasileiro ............................ 15
Figura 2: Mapa das linhas de transmissão no território brasileiro .................... 17
Figura 3: Estrutura das tarifas de distribuição no Brasil ................................... 23
Figura 4: Diagrama dos órgãos reguladores do setor elétrico brasileiro .......... 30
Figura 5: Mapa dos empreendimentos eólicos no Brasil .................................. 60
Figura 6: Mapa das PCH no Brasil ................................................................... 61
Tabela 1: Composição da força motriz na indústria fabril brasileira segundo as
unidades da federação em 1907 - Brasil (kW) ................................................. 10
6
Tabela 2: Usinas de energia elétrica em 1920: distribuição regional segundo a
época de fundaçao e potência dos motores - Brasil (kW) ................................ 11
Tabela 3: Lista dos encargos setoriais cobrados nas tarifas de distribuição .... 24
Tabela 4: Capacidade total instalada no Brasil ................................................ 41
Tabela 5: Comparação entre formas de geração elétrica ................................ 42
Tabela 6: Comparação entre formas de geração elétrica ................................ 43
Tabela 7: Custo de construção de usinas hidrelétricas .................................... 44
Tabela 8: Capacidade instalada (GW) por fonte térmica .................................. 47
Tabela 9: Percentual de energia nuclear por país ............................................ 50
Tabela 10: Cresimento da capacidade instalada por subsistema do SIN ........ 54
7
1. Introdução
O setor elétrico brasileiro começou sua história ao final do século XIX e se
confunde com o início da indústria no país. Sua evolução a partir daí passa por
diversos momentos muito distintos a depender dos rumos políticos do país,
porém sempre foi base fundamental para o desenvolvimento econômico
brasileiro. Passando das mãos de empresas estrangeiras privadas para o
controle do governo brasileiro e posteriormente sendo privatizado novamente,
hoje o setor elétrico brasileiro é altamente regulado, contanto com diversos
órgãos que garantem seu bom funcionamento, bem como a eficiência da
prestação de serviços ao consumidor.
Uma parte fundamental do setor elétrico de um país é sua matriz elétrica, ou
seja, as fontes de geração de energia elétrica utilizadas. No caso do Brasil,
desde o começo a fonte mais utilizada foram as usinas hidrelétricas. Isso se
deu devido à grande disponibilidade de rios e bacias hidrográficas que
permitiram a instalação de usinas com reservatórios. No entanto, o perfil da
matriz elétrica brasileira sofreu alterações nas últimas décadas e, apesar de
manter as usinas hidrelétricas como fonte majoritária, outras fontes ganharam
espaço e novas passaram a fazer parte da matriz.
No presente trabalho, faremos um breve panorama da história do setor elétrico
no Brasil, passando pelos seus pontos mais relevantes, desde sua instalação
até os anos 1990. Falaremos dos segmentos que compõem o setor elétrico
brasileiro: geração, transmissão e distribuição e suas peculiaridades passando
em seguida para o novo marco regulatório, ou seja, as principais leis que
regem o setor atualmente, além das recentes mudanças regulatórias ao final de
2012 e começo de 2013. Por fim, chegaremos à matriz elétrica, primeiramente
abordando seu conceito, chegando às fontes que compõem a matriz elétrica
brasileira até as perspectivas para os próximos dez anos com base no Plano
Decenal de Expansão de Energia 2021, da Empresa de Pesquisa Energética -
EPE.
8
Buscou-se mostrar que a configuração da matriz elétrica nacional continua em
mutação e que continuará sendo uma matriz renovável, apesar de dar mais
espaço às fontes alternativas, que ganharão participação e competitividade no
futuro em detrimento da expansão de grandes obras de usinas hidrelétricas.
9
2. O Setor Elétrico Brasileiro
2.1. Evolução Histórica
A história da eletricidade no Brasil remonta ao final do século XIX e início do
século XX, quando se deu fim à manufatura e início das grandes indústrias, na
época da Segunda Revolução Industrial. No começo, esse serviço era prestado
essencialmente por pequenas empresas privadas nacionais e a partir do século
XX, concessionárias estrangeiras passaram a participar no cenário nacional.
Isso se deu devido aos elevados investimentos necessários para a construção
de usinas termo e hidrelétricas e ampliação de sistemas de transmissão para
atingir mais localidades. A vinda dessas empresas estrangeiras aumentou
portanto a produção e tornou possível o consumo urbano e industrial em locais
mais próximos àqueles onde se dava a produção de bens1. Em 1907, a The
Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Co. Ltd., empresa fundada no
Canadá em 1904 pelo Grupo Light, começou a distribuir energia elétrica no Rio
de Janeiro2. Quando foi fundada, é estimado que 73% da fonte de energia para
a indústria era vapor e 5% era elétrica. Esse quadro se altera drasticamente até
1920, quando 47,2% das indústrias utilizavam eletricidade e 36,2% faziam uso
do vapor3. A seguinte tabela apresenta as principais fontes de energia
utilizadas nas indústrias no começo do século XX:
1 O Setor Elétrico Brasileiro: Reavaliando o Passado e Discutindo o Futuro - De LORENZO,
Helena Carvalho 2 História da Light, site institucional da Light S.A.
3 Light vs. CBEE: Energia Elétrica na formação da indústria brasileira, 1900-1920 - SAES,
Alexandre Macchione, 2012, pág. 5
10
Tabela 1
A essa época, apenas o estado de São Paulo contava com uma usina
hidrelétrica de grande porte. Essa eletricidade gerada no estado era capaz de
atender 18,5% dos estabelecimentos fabris da época. Fica também
evidenciada na tabela a grande importância do vapor como fonte na indústria, o
que remete imediatamente à dependência de importações de carvão mineral
da Inglaterra. Tal dependência por sua vez foi um fator negativo durante a
Primeira Guerra Mundial, levando a grandes aumentos no seu preço. Com isso,
as indústrias tiveram de escolher entre arcar com os altos custos de importação
de carvão ou procurar por novas fontes e assim a eletricidade passou a ser
mais utilizada4.
No período de 1907 a 1914, além do fornecimento de eletricidade pela São
Paulo Light, foram construídas mais de 40 pequenas centrais hidrelétricas no
estado de São Paulo para atender à expansão industrial. Ao mesmo tempo,
4 Light vs. CBEE: Energia Elétrica na formação da indústria brasileira, 1900-1920 - SAES,
Alexandre Macchione, 2012, pág. 6
EstadosNo. de
estabelecimentosVapor Hidráulica Gás Eletricidade Querosene Total
Alagoas 21 2.340 45 - - - 2.406
Amazonas 5 182 - - - 12 199
Bahia 35 3.478 339 34 31 5 3.921
Ceará 11 495 - 8 - - 513
Distrito Federal 198 15.347 248 218 895 3 16.907
Espírito Santo 1 34 - - - - 35
Goiás - - - - - - -
Maranhão 14 2.299 - - - - 2.312
Mato Grosso 11 923 - - - - 934
Minas Gerais 114 3.557 - - - - 3.671
Pará 27 1.304 - - - 7 1.338
Paraíba 12 995 6 - - - 1.013
Paraná 143 2.074 110 - - - 2.327
Pernambuco 78 3.427 10.913 116 - 75 14.609
Piauí 2 150 - - - - 152
Rio Grande do Norte 7 203 - - - - 209
Rio Grande do Sul 157 4.331 - 4 8 5 4.504
Rio de Janeiro 89 7.942 3.632 - 45 2 11.710
São Paulo 158 8.885 2.294 10 2.537 - 13.883
Sergipe 60 1.339 225 - - - 1.624
Santa Catarina 65 719 118 - - 2 905
Total 1.207 60.021 17.929 388 3.515 110 83.170
Fonte: Centro Industrial do Brasil. O Brasil e suas riquezas (…), p. 148., adaptado de cavalo-vapor para kW
Composição da força motriz na indústria fabril segundo as unidades da federação em 1907 - Brasil (kW)
11
houve um processo de concentração no setor elétrico que levou ao surgimento
de grandes empresas elétricas nacionais, como a Companhia Paulista de
Força e Luz, que, assim como a Light, existe até os dias de hoje5.
Tabela 2
Pode-se, a partir desta tabela, perceber que São Paulo dominou a produção de
energia elétrica no Brasil a partir de 1901, chegando a 44% do potencial
instalado em 1920. Outros estados também tiveram saltos de produção no
período, como Rio de Janeiro e Minas Gerais6. Esse aumento na capacidade
instalada se deve ao aumento na oferta de energia hidrelétrica no período,
elevando a disponibilidade da força motriz para ser usada na produção
industrial7.
Em 1924, foi dado um novo passo na ampliação dos serviços de eletricidade no
Brasil, com a chegada da American Foreign Power Company (Amforp), que
5 Idem.
6 Light vs. CBEE: Energia Elétrica na formação da indústria brasileira, 1900-1920 - SAES,
Alexandre Macchione, 2012, pág. 9 7 O Setor Elétrico - GOMES, Antônio Claret, et. al, pág. 3
Estados Qtd. kW Qtd. kW Qtd. kW Qtd. kW
Alagoas - - - - 1 968 2 136
Amazonas - - - - 2 1.509 1 278
Bahia - - - - 2 5.487 5 12.563
Ceará - - - - - - 2 86
Distrito Federal - - - - - - 1 22.500
Espírito Santo - - - - 2 4.829 6 822
Goiás - - - - - - 1 75
Maranhão - - - - - - 2 251
Mato Grosso - - - - - - 6 987
Minas Gerais 1 4.613 1 525 12 8.988 55 29.685
Pará - - - - 1 4.943 2 158
Paraíba - - - - - - 5 1.349
Paraná 1 3.150 - - 5 1.249 9 638
Pernambuco - - - - - - 12 11.397
Piauí - - - - - - 2 570
Rio de Janeiro - - - - 3 58.613 11 3.623
Rio Grande do Norte - - - - 1 1.283 2 37
Rio Grande do Sul - - 3 3.432 5 1.703 23 5.551
Santa Catarina - - - - 3 5.460 5 293
São Paulo - - 2 1.361 22 44.809 35 112.206
Sergipe - - - - - - 5 472
Território do Acre - - - - - - 2 139
Total 2 7.763 6 5.318 57 139.838 192 203.813
Fonte: Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Recenseamento do Brasil de 1920, adaptado de cavalo-vapor para kW
até 1890 1891 - 1900 1901 - 1910 1911 - 1920
Usinas de energia elétrica em 1920: distribuição regional segundo a época de fundação e potência dos motores - Brasil (kw)
12
comprou pequenas concessionárias localizadas no interior do estado de São
Paulo. Essa empresa expandiu suas atividades a outros estados e em 1930 era
uma das maiores prestadoras de serviços de eletricidade no país, ao lado da
Light. A essa época, a geração já era em sua maioria hidrelétrica8.
A crise de 1929 trouxe à tona reflexões acerca do papel do Estado na
economia, que antes era conduzida pelos interesses do setor agroexportador e
sem foco no desenvolvimento industrial. Portanto observou-se a partir dos anos
1930 uma reformulação do papel do Estado, o que se deu através do
intervencionismo econômico. No caso do setor elétrico, esse intervencionismo
tomou forma com o Código de Águas de 1934. Segundo Antônio Claret Gomes
et. al,
“A partir daí, a União passa a deter a competência de legislar e outorgar
concessões de serviços públicos de energia elétrica, antes regidos apenas por
contratos assinados com os estados, os municípios e o Distrito Federal. A nova
política setorial revê os critérios para estabelecimento de preços dos serviços e
determina que a tarifa seja fixada na forma de “serviço pelo custo”, a fim de
garantir ao prestador do serviço a cobertura das despesas de operação e das
cotas de depreciação e de reversão e a justa remuneração do capital investido;
a remuneração deste recairia sobre o custo histórico das instalações”9.
Com essa nova regulamentação, fica definido que os serviços públicos seriam
somente concedidos a empresas brasileiras, o que refreou a exploração por
empresas estrangeiras, que diminuíram ou interromperam seus investimentos
no país. Isso foi prejudicial ao país na medida em que o crescimento da
capacidade instalada foi reduzido ao passo em que a demanda crescia
constantemente. É devido a esse descompasso que o Estado passa de apenas
regulador e fiscalizador a também agente de geração, quando cria em 1945 a
8 O Setor Elétrico - GOMES, Antônio Claret, et. al, pág. 4
9 Idem.
13
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), com o intuito de explorar
os recursos do Rio São Francisco10.
Com o desenvolvimento industrial visto com novos olhos pelo país, é visto que
o desenvolvimento do setor elétrico era crucial para o crescimento econômico.
Devido a isso, os diversos planos econômicos que foram criados incluíam em
seus objetivos a ampliação e melhoras no setor, fazendo parte inclusive das
campanhas políticas.
No período de 1956 a 1961, a capacidade instalada pulou de 3.148 MW para
5.204 MW. Essa expansão era parte do Plano de Metas do Presidente
Juscelino Kubitschek e representou um alcance de 84% da meta para o setor
elétrico. O financiamento para o governo alcançar essa meta veio
principalmente do BNDES, o que caracteriza ainda mais a atuação do Estado
na economia11.
Durante todo esse período, as hidrelétricas foram sempre a principal fonte de
geração e de investimentos no setor elétrico, contando com recursos tanto
internos como externos. Nos anos 1960, esses investimentos foram ainda mais
importantes.
Em 1962, é criada a Centrais Elétricas Brasileiras - Eletrobras, que liderou o
projeto de desenvolvimento do setor elétrico, criando diversas companhias
estaduais de energia elétrica e a Central Elétrica de Furnas, em 1963. Além
disso, a Eletrobras passaria a administrar os fundos setoriais, antes
controlados pelo BNDES12.
A hidrelétrica de Furnas, controlada pelo governo federal, marcou o início da
interligação do sistema elétrico nacional ao interconectar os sistemas de Minas
Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A partir disso, diversos outros sistemas
10 O Setor Elétrico - GOMES, Antônio Claret, et. al, pág. 5
11 Idem.
12 Eletrobrás - História, site institucional
14
começaram a ser interligados, tornando o setor elétrico mais complexo e dando
origem a uma necessidade de maior regulação, que viria mais tarde13.
A década de 1970 foi marcada por discussões acerca da política tarifária a ser
aplicada, de modo a possibilitar o setor a se autofinanciar através dos recursos
gerados nas operações, o que de fato aconteceu, permitindo uma expansão
em condições econômico-financeiras adequadas durante todo o período
seguinte14. No entanto, ao final dessa década, essa auto-sustentação do setor
passa a ser comprometida devido aos rumos da política econômica que se
voltava à captação externa de recursos e utilizava a contenção tarifária como
forma de conter a inflação15.
Na década de 1980, o BNDES financiou diversas obras de geração hidrelétrica,
o que adicionou 20 mil MW de capacidade à matriz do país. Nesse momento, a
participação da hidroeletricidade na matriz elétrica brasileira chega a 92,5%.
Dentre essas obras estão Tucuruí e Itaipu, ambas de 1984 e as duas maiores
em capacidade instalada do país (ver seção 4.3.1, Tabela 7)16.
Nos anos de 1990, a crise de financiamento no setor elétrico se torna um
grande entrave à expansão da oferta de energia, o que teria gerado um grande
descompasso entre oferta e demanda, não fosse o regime hidrológico favorável
que ocorreu na época, o que permitiu que os reservatórios permanecessem
acima do nível ótimo operacional17.
Em 2001, o Brasil passou pelo chamado “apagão”, causado pelo baixo nível
dos reservatórios das hidrelétricas, combinado ao aumento da demanda de
eletricidade pelos consumidores. Surge então a necessidade de um redesenho
do setor e do marco regulatório para que se pudesse fazer um planejamento
melhor a longo prazo e assim aumentar a segurança energética18.
13 O Setor Elétrico - GOMES, Antônio Claret, et. al, pág. 5
14 O Setor Elétrico - GOMES, Antônio Claret, et. al, pág. 10
15 Idem.
16 Idem.
17 Idem, página 12
18 Estratégias para leilões e energia - JUSTO, Diógenes Adriano Rizzotto, 2011, pág. 40
15
Pode-se, portanto, resumir a trajetória do setor elétrico brasileiro até então da
seguinte forma:
Figura 1
Fonte: JUSTO, Diógenes Adriano Rizzotto19
A partir do período entre 2003 e 2004, começa a se desenhar o novo modelo
do setor elétrico, baseado principalmente na criação de um mercado
competitivo de energia elétrica (ver seção 3).
2.2. Os Segmentos do Setor Elétrico
Como mencionado anteriormente, o setor elétrico é composto por geração,
transmissão, distribuição e comercialização de energia. Cada uma dessas
etapas tem peculiaridades e consequentemente formas de tratamento distintas,
como por exemplo, a aplicação de tarifas, contratos, concessões e operação. O
Brasil conta com o Sistema Interligado Nacional (SIN), de produção e
transmissão de energia que supre cerca de 98% do total de energia do país,
sendo que o restante, formado por sistemas isolados, se encontra
principalmente na região Amazônica20. O SIN brasileiro pode ser considerado
único em âmbito mundial, devido a seu tamanho e características, sendo um
19 Estratégias para leilões e energia - JUSTO, Diógenes Adriano Rizzotto, 2011, pág. 40
20 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes – Standard & Poor’s, Abril
2013, pág. 5
16
sistema hidrotérmico de grande porte com diversos proprietários e
predominância de hidrelétricas21. Ele é formado pelos seguintes subsistemas:
Sudeste e Centro-Oeste: representam 61% do consumo do sistema (de
2.800 kWh a 2.900 kWh per capita por ano) e possuem uma população
correspondente a 50% do total do país, contando com uma atividade
industrial acima da média brasileira22;
Sul: consome 17% do total da energia produzida no SIN23;
Nordeste, com 14% do consumo e Norte, com 8%. Essas duas regiões,
apesar de representarem a menor participação no consumo total (juntas,
consomem de 1.400 kWh a 1.800 kWh per capita anualmente), são as
que apresentam maior crescimento. Possuem 35% da população total24.
21 ANEEL: Atlas do Setor Elétrico, 2ª Ediçao, “Aspectos Institucionais”
22 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes – Standard&Poor’s, Abril
2013, pág. 6 23
Idem. 24
Idem.
17
Figura 2
Fonte: ONS, 2008
O mapa acima mostra a integração entre as usinas e as unidades
consumidoras, interligadas através do sistema de transmissão. Uma vez que as
usinas hidrelétricas são construídas em locais onde possam melhor aproveitar
os desníveis e correntes dos rios, geralmente distantes dos centros
consumidores, o extenso sistema de transmissão hoje encontrado no país foi
necessário para que se pudesse alcançar as diversas regiões. A essa distância
se soma a grande extensão territorial do Brasil e as variações climáticas que
afetam o regime hidrológico. Esses fatores tendem a ocasionar escassez de
produção hidrelétrica em algumas regiões dependendo do período do ano. O
SIN permite que haja troca de energia entre as regiões, beneficiando diferentes
18
áreas pela diversidade dos regimes dos rios e das bacias hidrográficas
brasileiras25.
Além do SIN, há também os sistemas isolados, compostos por usinas a óleo
diesel e óleo combustível, além de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH),
Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) e termelétricas movidas a biomassa.
São pequenas usinas localizadas principalmente no Norte do país e, por não
estarem interligadas ao SIN, não fazem parte do intercâmbio de energia
praticado neste sistema. A produção nos sistemas isolados é
predominantemente térmica, o que representa custos mais elevados do que os
praticados no SIN, além de terem que arcar com fretes mais elevados no
transporte de combustíveis, por se tratarem de regiões de acesso mais difícil.
Foi devido a esses problemas que o Governo Federal criou em 1973 um
encargo setorial, a Conta de Consumo de Combustíveis, para subsidiar a
compra de óleo diesel e óleo combustível, usados nas usinas desse sistema
isolado26. Esse encargo era cobrado dos consumidores na tarifa de energia e
repassado à Eletrobrás, no entanto, com a Lei 12.783, de 2013, este encargo
foi extinto (ver seção 3).
O consumo de energia se divide entre os clientes residenciais, industriais,
comerciais, serviços públicos, clientes rurais, setor público e autogeração da
seguinte maneira:
25 ANEEL: Atlas do Setor Elétrico, 3ª Edição, pág. 30
26 ANEEL: Atlas do Setor Elétrico, 3ª Edição, pág. 32
19
Gráfico 1
Fonte: Standard & Poor’s
O fato de a maioria do consumo (42%) ser do setor industrial representa uma
maior relação entre o consumo total e a variação do PIB, dado que a indústria e
seu crescimento são intimamente ligados à evolução econômica do país. Os
segmentos residencial e comercial, por sua vez, são mais relacionados ao
crescimento populacional e, portanto, são mais previsíveis em termos de
demanda futura.
2.2.1. Geração
O segmento de geração no Brasil é o único entre os três (com transmissão e
distribuição) que conta com competição entre os agentes. Isso se deve ao fato
de que as empresas geradoras atuam por meio de concessões do governo
através de leilões. Segundo o MME, uma concessão é
“o ato pelo qual a União autoriza uma empresa a exercer uma determinada
atividade econômica do setor de energia elétrica de relevante interesse público,
por meio de decreto condicionado à celebração de um contrato entre as partes.
No caso das concessões de energia elétrica, ao final dos prazos para sua
exploração, os bens vinculados à prestação do serviço revertem para a União.
Esta característica é que permite a captura dos benefícios dos ativos
42%
26%
17%
6%
5%
3% 1%
Composição do Consumo de Energia
Industrial
Residencial
Comercial
Serviços Públicos
Rural
Setor Público
Autogeração
20
amortizados ou depreciados, propiciando uma redução significativa na tarifa do
consumidor final de energia elétrica”27.
Portanto, cabe às empresas geradoras operarem os ativos que pertencem ao
governo, sem de fato possuírem as usinas. As concessões de usinas são
fornecidas pelo governo através de leilões, por ser considerado uso de bem
público. Esses leilões são organizados pela ANEEL e têm um prazo de 30
anos, sendo que após esse período devem voltar para a União. No entanto, em
setembro de 2012, a Medida Provisória (MP) no 579 (Lei 12.783/2013)
modificou as regras de concessões. (mais detalhes na seção 3.1).
Os leilões garantem concorrência entre os agentes do setor e induzem a
entrada de novos agentes, inclusive estrangeiros. A concorrência, por sua vez,
gera queda de custos e de prazos para construção de plantas, beneficiando o
consumidor através das tarifas mais baixas devido aos custos de produção
também mais baixos. É através deste mecanismo que o governo controla a
expansão do parque gerador28.
A venda de energia por parte das geradoras ocorre também através de leilões,
chamados Leilões de Energia, que podem ser de energia nova, existente ou
especiais. Vence o leilão a usina que se propuser a vender a energia pelo
menor preço entre as que participam29 (ver mais detalhes na seção 3.1).
Esse é o segmento que será objeto de estudo do presente trabalho, uma vez
que a matriz elétrica se refere às fontes de geração de eletricidade.
2.2.2. Transmissão
O segmento de transmissão é considerado o menos arriscado do setor elétrico
em termos de negócios, porque a receita das empresas não é determinada
pelo volume de energia que passa pelas linhas de transmissão e sim pela sua
27 Concessões de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica: Perguntas e
Respostas - Ministério de Minas e Energia, Setembro de 2012, pág. 5 28
White Paper Instituto Acende Brasil Vol. 7 - Leilões no Setor Elétrico Brasileiro: Análises e Recomendações, pág. 2 29
Atlas de Energia Elétrica vol. 3 - ANEEL, parte 1, Características Gerais, Box 1
21
disponibilidade. Tal receita é definida no momento do leilão das linhas de
transmissão e é chamada Receita Anual Permitida (RAP). Portanto, assim
como na geração, as transmissoras também adquirem a concessão para
operar e expandir seus ativos operacionais (no caso das transmissoras, as
linhas de transmissão) através de leilões.
O segmento de transmissão é um monopólio natural, uma vez que seus custos
de construção e operação são extremamente altos, não permitindo que seja
vantajoso haver competição.
No Brasil, as linhas de transmissão apresentam extrema importância para o
setor elétrico, uma vez que os locais de geração, na maioria hidrelétricas do
Norte e Nordeste, se situam a longas distâncias dos principais mercados
consumidores, no Centro-Oeste, Sul e em especial Sudeste, tendo essa
energia que percorrer quilômetros pelo SIN até chegar ao destino final (ver
seção 2.2., Figura 2).
No caso dos consumidores no Norte e Nordeste, muitos não estão interligados
ao SIN, correspondendo aos chamados Sistemas Isolados. Um dos motivos
para que eles ainda estejam fora do SIN é a questão da dificuldade de alcançar
essas áreas com linhas de transmissão, o que aumenta os custos com usinas
termelétricas, que são as utilizadas por esses sistemas isolados. No entanto,
projetos nesse segmento visam interligar esses sistemas ao SIN, como a Linha
de Transmissão Tucuruí - Macapá - Manaus, que irá interligar os estados do
Amazonas, Amapá e o oeste do Pará ao SIN. Possuirá 1.800 km de extensão e
tem previsão de entrega para 201330. Dessa forma, esses estados passarão a
usufruir da matriz elétrica do país, contanto com energia advinda de usinas
hidrelétricas e não irão mais depender exclusivamente das termelétricas.
Sendo assim, a rede de transmissão está sempre em expansão para garantir o
aumento contínuo da demanda por energia. O problema atual é que se
observam crescentes pressões de grupos ambientalistas e obstáculos
administrativos para a obtenção de licenças para construir e operar essas
30 Linhão Tucuruí - Macapá - Manaus - Brasil.gov.br, site institucional
22
linhas de transmissão31, o que remete a questionamentos sobre a atual
concentração da matriz elétrica brasileira em grandes usinas hidrelétricas,
concentradas no Norte e Nordeste.
2.2.3. Distribuição
O segmento de distribuição, assim como o de transmissão, é um monopólio
natural, ou seja, não há competição para as empresas que atuam em cada
área de concessão, por se tratar de um serviço extremamente custoso,
limitando a entrada de agentes no mercado. Este é o segmento mais presente
no cotidiano, pois os consumidores lidam diretamente com as empresas
distribuidoras e é a elas que pagam as contas de luz. Pode-se dizer que é o
segmento do setor elétrico mais regulado e o órgão responsável por essa
regulamentação é a ANEEL. A receita das empresas distribuidoras é composta
pelo volume de energia vendido aos consumidores e o preço dessa energia,
chamado de tarifa. As tarifas de distribuição passam anualmente e
periodicamente (a cada três, quatro ou cinco anos) por recálculos da ANEEL,
sendo chamados reajustes e revisões tarifárias, respectivamente. Com isso, a
tarifa final ao consumidor sofre aumentos ou diminuições anualmente, sendo
diferentes para os grupos de alta e baixa tensão32.
31 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes - Standard & Poor’s; Abril
2013, pág. 10 32
Por tratar-se de um segmento altamente regulado, o capítulo trata basicamente de regulação, que não será repetida no Capítulo 2 - Marco Regulatório do presente trabalho.
23
Figura 3
Fonte: Standard & Poor’s33
Os componentes da tarifa são a Parcela A e a Parcela B. A Parcela A
corresponde aos custos não gerenciáveis pela distribuidora, o que compreende
gastos com compra de energia, tarifas de transmissão e tarifas setoriais. No
caso do ano de 2013, as tarifas serão reajustadas para cima, refletindo o
aumento no preço da energia comprada em 2012 (mais detalhes na seção 3.1).
As tarifas de transmissão, chamadas de Tarifas de Uso do Sistema de
Transmissão (TUST), são pagas pelas distribuidoras pelo uso da chamada
Rede Básica, rede de linhas de transmissão e subestações em tensão igual ou
superior a 230 kV34, não sendo variável por volume transitado nas linhas.
Portanto, as distribuidoras pagam essa tarifa pela disponibilidade da rede, não
pela quantidade de uso. Essa tarifa é reajustada anualmente na mesma data
em que a RAP das transmissoras é reajustada35 (ver mais sobre transmissão
na seção 2.2.2) e tal reajuste, por fazer parte da Parcela A, é integralmente
repassado aos consumidores através da tarifa.
33 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes - Standard & Poor’s, Abril de
2013, pág. 15 34
ANEEL: Tarifas de Uso do Sistema de Transmissão 35
Idem.
24
As tarifas setoriais, por sua vez, são os impostos cobrados das empresas
distribuidoras de energia elétrica:
Tabela 3
Sigla Encargo Finalidade
CCC Conta de Consumo de
Combustíveis
Subsidiar a geração térmica dos
sistemas isolados (principalmente
na região norte).
RGR Reserva Global de Reversão
Indenizar ativos vinculados à
concessão e fomentar a
expansão do Setor Elétrico.
TFSEE Taxa de fiscalização de
Serviços de E. Elétrica
Prover recursos para o
funcionamento da ANEEL.
CDE Conta de Desenvolvimento
Energético
Propiciar o desenvolvimento
energético a partir das fontes
alternativas; prover a
universalização do serviço de
energia; e subsidiar a tarifa dos
consumidores residenciais de
baixa renda.
ESS Encargos de Serviço do
Sistema
Subsidiar a manutenção da
confiabilidade e estabilidade do
SIN
PROINFA Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas
Subsidiar as fontes alternativas
de energia, em geral mais caras
que as fontes convencionais
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
e Eficiência Energética
Promover pesquisas científicas e
tecnológicas relacionadas à
eletricidade e ao uso sustentável
dos recursos naturais.
ONS Operador Nacional do
Sistema
Prover recursos para o
funcionamento do ONS
25
Sigla Encargo Finalidade
CFURH
Compensação Financeira
pelo Uso de Recursos
Hídricos
Compensar financeiramente o
uso da água e terras produtivas
para fins de geração de energia
elétrica
-- Royalties de Itaipú
Pagar a energia gerada de
acordo com o Tratado Brasil-
Paraguai
Fonte: Abradee
Com a Lei 12.783, foi estabelecido que a partir de 2013 os encargos de CCC e
RGR seriam extintos e a CDE seria reduzida a 25% do valor cobrado
anteriormente, como medidas para reduzir a tarifa em cerca de 20%36 (ver
seção 3.1). Com isso, o montante de encargos setoriais sobre a receita das
distribuidoras passou de 9,5% para 4,9%, de acordo com a ANEEL. Essa
medida foi tomada para que a redução na tarifa final aos consumidores não
tivessem um impacto muito negativo sobre a receita líquida das distribuidoras
ao diminuir também o percentual de deduções da receita bruta.
A Parcela B, que corresponde aos gastos gerenciáveis, são os gastos
operacionais, administrativos e comerciais. Para a ANEEL calcular essa
parcela, utiliza o conceito de Empresa de Referência, que é uma empresa do
setor com custos operacionais eficientes, e também são definidos os
investimentos prudentes. É necessário delimitar o Fator X, que é um índice
determinado pela ANEEL na época da revisão tarifária representando os
ganhos de produtividade, para ser possível repassar ao consumidor esses
ganhos estimados decorrentes do crescimento do mercado e do aumento do
consumo dos clientes existentes. Esse fator geralmente atua como um
diminuidor da tarifa, uma vez que se espera que as empresas sejam cada vez
36 ABRADEE: A Tarifa de energia, site institucional
26
mais eficientes37. Ao final, a Parcela B da tarifa corresponderá aos gastos
gerenciáveis reajustados pelo IGP-M subtraído o Fator X.
A compra de energia pelas distribuidoras é feita através dos chamados leilões
de energia no Ambiente de Contratação Regulada (ACR). Participam desses
leilões os agentes vendedores de energia elétrica (geradoras,
comercializadoras e autoprodutores) e os compradores (distribuidoras). Esses
agentes assinam os Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente
Regulado (CCEAR), que irão assegurar às distribuidoras a energia necessária
para cumprir o atendimento da demanda (ver mais na seção 3.1).
Uma questão importante em relação às distribuidoras é a qualidade do serviço
prestado. Cada empresa distribuidora no Brasil tem uma meta estipulada pela
ANEEL de seus indicadores de continuidade, sendo eles:
DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora):
relativo à média, em número de horas, em que as unidades ficam sem
fornecimento de luz no período.
FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora):
se refere à média, em número de vezes, que cada unidade consumidora
ficou sem fornecimento de energia elétrica no período.
Perdas: são divididas entre perdas técnicas e não técnicas (ou
comerciais)
o Técnicas: são aquelas incorridas no transporte de energia, seja
nas linhas de transmissão ou distribuição;
o Não Técnicas: são as que ocorrem devido a ligações ilegais ou
irregulares38.
O período analisado para efeito de cálculo do DEC e do FEC pode ser tanto
mensal quanto trimestral ou anual. Só são consideradas as interrupções de
fornecimento que fiquem acima da duração de um minuto.
37 ANEEL: Perguntas e respostas sobre as tarifas das distribuidoras de energia elétrica, 2007
38 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes - Standard & Poor’s, Abril de
2013, pág. 16
27
A ANEEL define essas metas visando garantir e melhorar a qualidade do
serviço prestado aos consumidores. Portanto quando os indicadores DEC e
FEC de determinada distribuidora estão acima do estipulado na meta (revista
em cada revisão tarifária), ela deve pagar uma multa, que vem em forma de
crédito na conta de eletricidade do consumidor. No caso das perdas, é definido
um teto para o período da tarifa e ao ficar acima desse teto, o custo adicional
com essas perdas que excederem o limite deverá ser arcado pela distribuidora,
não sendo repassado na tarifa39.
39 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes - Standard & Poor’s, 2013,
pág. 16
28
3. Marco Regulatório
3.1. Evolução do Marco Regulatório
Marco Regulatório, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA),
“é um conjunto de normas, leis e diretrizes que regulam o funcionamento dos
setores nos quais agentes privados prestam serviços de utilidade pública. (...) A
regulação é sempre feita por um organismo independente com condições de
defender os interesses dos cidadãos, do governo e das empresas
concessionárias que obtiveram o direito de explorar o setor. O marco
regulatório é responsável pela criação de um ambiente que concilie a saúde
econômico-financeira das empresas com as exigências e as expectativas do
mercado consumidor. (...) Além de estabelecer as regras para o funcionamento
do setor, o marco regulatório contempla a fiscalização do cumprimento das
normas, com auditorias técnicas, e o estabelecimento de indicadores de
qualidade. A criação de um marco regulatório claro e bem concebido é
fundamental para estimular a confiança de investidores e consumidores e para
o bom andamento do setor”.
No caso do setor elétrico brasileiro, o novo marco regulatório começou a ter
sua trajetória desenhada com as seguintes leis:
8.031, de 12 de abril de 1990: instituiu o Programa Nacional de
Desestatização (PND). Esse plano só teve efeito sobre o setor elétrico a
partir de 199540, quando se deu início às privatizações das companhias
do setor;
40 O Setor Elétrico - GOMES, Antônio Claret et al., pág. 13
29
8.987, de 13 de fevereiro de 1995: Lei de Concessões dos Serviços
Públicos e lei 9.074, de 19 de maio de 1995, que deram as bases para o
novo modelo do setor elétrico41.
Outro momento importante para essa atualização do modelo institucional foi a
criação, em 1996 pela lei 9.427, da Agência Nacional de Energia Elétrica -
ANEEL, órgão fundamental do setor elétrico, na medida em que regulamenta e
fiscaliza todas as atividades do setor, sendo elas a geração, transmissão,
distribuição e comercialização de energia42.
Esse modelo só foi possível de ser implementado porque houve a
desverticalização da cadeia produtiva, ou seja, foram separados os segmentos
de geração, transmissão e distribuição. Essa nova estrutura se deu a partir de
2003 com base na Lei 9.648 de 1998, a qual criou o Operador Nacional do
Sistema - ONS, o Mercado Atacadista de Energia Elétrica - MAE -,
posteriormente extinto, e deu a base para que se reestruturasse a Eletrobrás e
suas subsidiárias43.
Também em 1998 destaca-se a criação do Conselho Nacional de Política
Energética - CNPE - com objetivos diversos, dentre eles a proteção ao
consumidor em relação a preços praticados, utilização de fontes renováveis de
energia e a promoção da livre concorrência44.
O chamado Novo Modelo do Setor Elétrico, por sua vez, começa a ser formado
a partir de 2003, tendo como base as seguintes leis:
10.847 de 15 de março de 2004, que autoriza a criação da Empresa de
Pesquisa Energética - EPE - e substitui o MAE pela Câmara
Comercializadora de Energia Elétrica - CCEE;
10.848, de mesma data, que trata da comercialização de energia e retira
do PND as seguintes empresas: Eletrobras, Chesf, Eletronorte,
41 Evolução do Setor Elétrico - ONS, site institucional
42 Idem.
43 Idem.
44 Idem.
30
Eletrosul, e a CGTEE. Foi criado o Comitê de Monitoramento do Setor
Elétrico - CMSE - e fica definido que é proibido às distribuidoras do SIN
gerar energia elétrica, mesmo que para consumo próprio45.
Os objetivos principais desse novo modelo são a garantia da segurança
energética, a promoção da modicidade tarifária, e da inserção social no setor
através de programas de universalização do suprimento de energia46.
Posteriormente, novos órgãos foram criados e adicionados àqueles já
existentes, formando a seguinte estrutura reguladora do setor elétrico
brasileiro, em vigor atualmente47:
Figura 4
Fonte: Evolução dos marcos regulatórios do mercado de energia elétrica no Brasil, uma análise crítica, 200748
.
45 Fundamentos do Setor Elétrico - CASTRO, Alexandre Cézar
46 O Setor Elétrico - ONS, site institucional
47 As descrições dos órgãos foram retiradas do artigo publicado pela Standard & Poor’s, em
Abril de 2013 “Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes”.
31
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é um conselho inter-
ministerial de política energética que visa otimizar o uso dos recursos de
energia e assegurar o suprimento de eletricidade no país.
O Ministério de Minas e Energia (MME) é responsável por formular e
implementar políticas relacionadas à eletricidade, definidas pela CNPE. O MME
é o poder concedente das concessões de energia em nome do governo
federal. O órgão estabelece as principais políticas, diretrizes a serem tomadas,
e regulamentações. O MME delega a regulação e a inspeção do setor elétrico à
ANEEL.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) regula e supervisiona os
segmentos de geração, transmissão e distribuição através das seguintes
atividades:
- Promulgação da regulação do setor;
- Implementação de leilões para novas concessões;
- Supervisão e inspeção dos serviços das concessionárias e aplicação de
penalidades quando cabíveis;
- Definição de critérios para o cálculo das tarifas de distribuição e transmissão,
incluindo as usinas de geração que renovaram suas concessões sob a Lei
12.783;
- Resolução de litígios administrativos entre geradoras e compradores dessa
energia.
O Operador Nacional do Sistema (ONS) coordena e controla as atividades de
geração e transmissão. Ele também é responsável por criar os planos de
expansão do Sistema Integrado Nacional (SIN) para o MME.
48Evolução dos marcos regulatórios do mercado de energia elétrica no Brasil, uma análise
crítica – BASTOS, Adriano Silva, 2007; pág. 40
32
A Câmara de Comércio de Energia Elétrica (CCEE) comanda as transações no
atacado e da comercialização de energia no SIN tanto nos mercados regulados
quanto nos livres e spot.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) é detida pelo governo e desenvolve
estudos e pesquisas para auxiliar no planejamento da indústria brasileira de
energia, incluindo óleo e gás, eletricidade, gás natural, etc. A EPE publica
anualmente o Plano Decenal de Expansão de Energia, que consiste em um
estudo sobre os investimentos necessários para atender à demanda crescente
nos dez anos seguintes. O MME utiliza esse estudo para preparar um plano de
investimento de expansão para todo o setor. A EPE também é responsável por
prover as licenças ambientais preliminares para novas usinas termelétricas e
por coordenar essas licenças para projetos de linhas de transmissão. Essas
licenças aprovam a factibilidade ambiental do projeto e autoriza o local e a
tecnologia a serem utilizados, mas não tem o poder de autorizar a construção
de fato.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) é um conselho
consultivo que monitora e avalia a continuidade e segurança do suprimento de
eletricidade e também, desenvolve propostas para a implementação correta e
segura dos projetos, como a construção de novas usinas e linhas de
transmissão.
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) é a entidade que pode prover concessões para licenciamentos
ambientais, sejam elas preliminares, de instalação ou de operação49.
Todos esses órgãos trabalham em conjunto para garantir o funcionamento
eficiente do setor elétrico, bem como assegurar que as leis estejam sendo
aplicadas, dado que é um setor do qual dependem todos os tipos de
consumidores e, por isso, não pode correr riscos de irregularidades que
possam comprometer a sua eficiência.
49 Todas as descrições dos órgãos foram retirados do artigo da Standard & Poor’s, de Abril de
2013 “Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes”
33
É com o surgimento desse novo modelo do setor que a comercialização de
energia elétrica passa a ser feita no chamado Ambiente de Contratação
Regulada (ACR) ou Ambiente de Contratação Livre (ACL), a partir de 2005.
No ACR, os contratos de compra e venda de energia se dão através dos leilões
de energia nova ou existente. Participam desses leilões os agentes
vendedores, ou seja, geradoras, comercializadoras e autoprodutores e os
agentes compradores, que são as distribuidoras. As empresas distribuidoras
que vencem os leilões assinam contratos com o agente vendedor da referida
energia, chamados de Contratos de Comercialização de Energia Elétrica em
Ambiente Regulado (CCEAR). É neste contrato que fica definido o volume de
energia a ser fornecido à distribuidora para que ela possa posteriormente
honrar com a sua demanda futura dos consumidores cativos. Com esse
mecanismo, é possível haver competição entre as empresas geradoras, na
medida em que os agentes compradores irão preferir a opção que permita o
menor preço50.
Os leilões são denominados conforme data em que a energia será fornecida, o
que também determina qual a fonte de geração. São eles chamados:
Leilão A-5 (lê-se “A menos 5”): é um leilão de energia nova, ou seja, de
novos empreendimentos de geração e o número cinco reflete que a data
de suprimento da energia deverá iniciar em cinco anos a partir da data
em que o contrato é assinado. Por se tratar de um período longo, se
refere a empreendimentos hidrelétricos51.
Leilão A-3: Participam desse leilão os empreendimentos novos com data
prevista de maturação após três anos da data de assinatura do contrato
de fornecimento de energia. Trata-se de um período médio de
maturação, comum para plantas termelétricas52.
Leilão A-1: É realizado apenas um ano antes do início de suprimento de
energia pelo empreendimento em questão. Como se trata de um período
50 Ambientes de Contratação - MME, site institucional
51 Idem.
52 Idem.
34
curto, participam desse leilão empreendimentos já existentes, por isso é
comumente chamado de Leilão de Energia Existente53.
Leilão de Ajuste: É realizado para casos em que seja necessário
complementar a carga de energia para atender ao mercado consumidor
das distribuidoras. Só é possível a elas comprar o correspondente a até
1% de seu mercado.
Além destes, há também leilões especiais:
Leilão de projeto estruturante: São aqueles que tem como objeto de
venda energia proveniente de projetos de geração considerados
estratégicos e de interesse público. São classificados dessa maneira por
assegurar a otimização da combinação entre modicidade tarifária e
confiabilidade do sistema elétrico, além de garantirem o atendimento à
demanda de energia. Exemplos de projetos estruturantes: UHE Santo
Antônio, UHE Jirau e UHE Belo Monte54.
Leilão de Fontes Alternativas - LFA: Tem o objetivo de incentivar a
introdução, bem como a ampliação do uso de fontes alternativas de
geração de energia à matriz elétrica nacional55.
Leilão de Energia de Reserva - LER: Tem como objetivo elevar a
segurança energética do SIN com energia proveniente de usinas
construídas especialmente para este fim56.
O objetivo dos leilões de energia é atender à questão da modicidade tarifária,
na medida em que vence o leilão a empresa que conseguir os menores preços,
o que consequentemente irá permitir tarifas mais baixas ao consumidor, uma
vez que o preço da energia é repassado nas tarifas57.
Além do ACR, há o ACL, no qual os consumidores livres firmam contratos
diretamente com os agentes geradores, ou seja, dispensam o intermédio das
53 Ambientes de Contratação - MME, site institucional
54 Idem.
55 Idem.
56 Idem.
57 O Setor Elétrico - ONS, site institucional
35
distribuidoras para comprar energia. São também contratos bilaterais, porém os
preços, prazos e volumes de compra e venda de energia são negociados
livremente entre as partes e não por meio de leilões, o que permite que o
consumidor decida qual é a melhor opção para ele. Só podem ser
considerados clientes livres, segundo a lei 9.074 de 1995, aqueles com
demanda superior a 10MW e tensão A2 acima de 69 kV. Esses pré-requisitos
foram reformulados em 2000 e passou a ser permitido ser considerado cliente
livre aqueles que tivessem demanda de energia superior a 3 MW. A partir de
então, as empresas consumidoras ligadas em alta tensão que atendessem a
esses pré-requisitos já seriam consideradas clientes livres58.
Em ambos ambientes, regulado ou livre, é previsto por lei que as empresas
tenham 100% de sua demanda de energia contratada, com 3% de tolerância
para baixo e para cima. Ou seja, caso a empresa contrate abaixo de 97% da
sua demanda, ficando subcontratada, ela deverá arcar com os custos de
energia no mercado de curto prazo (spot), que normalmente é mais elevado, e
não poderá repassar para a tarifa esse excedente. No caso oposto, de
contratar acima de 103% da sua demanda total e ficar sobrecontratada, esse
excedente também não poderá ser repassado nas tarifas. Nos dois casos, a
empresa pode ser multada59. Por outro lado, o déficit ou excedente que ficar
dentro do intervalo de 3% para cima ou para baixo da demanda total poderá
ser incorporado na Parcela A da tarifa.
3.2. Recentes Mudanças na Regulação
Em setembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff lançou a Medida Provisória
no 579, em fevereiro de 2013 transformada na lei 12.783, que trata do
vencimento das concessões de geração, transmissão e distribuição. Segundo a
MP, todas as concessões vincendas no período entre 2015 e 2017 poderiam
ser renovadas por mais 30 anos em 2013, tendo seus ativos que ainda não
tivessem sido amortizados indenizados pelo governo. Pela regulação anterior,
58 Ambiente de Contratação Livre - EDP Bandeirante, site institucional
59 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes - Standard & Poor’s, Abril de
2013, pág. 15
36
uma empresa só poderia renovar sua concessão uma vez e essa mudança
permitiu a renovação sem participar de leilões. O objetivo dessa medida foi o
de reduzir as tarifas de energia elétrica para os consumidores, principalmente
os industriais, em cerca de 20%, buscando maior competitividade da indústria
nacional.
Essa medida provocou impactos principalmente no segmento de geração, uma
vez que a indenização garantida pelo governo se mostrou muito abaixo do
esperado pelas geradoras, sendo que algumas decidiram então por não
renovarem suas concessões, como a Companhia Energética de São Paulo
(CESP) e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
No caso das distribuidoras, o impacto não foi muito significativo uma vez em
que, ao mesmo tempo em que houve queda da receita devido à redução das
tarifas, houve também redução no percentual de deduções da receita bruta,
com a extinção dos encargos setoriais CCC e RGR e a diminuição para 25%
da CDE. Isso fez com que a receita líquida das companhias de distribuição não
fosse fortemente afetada.
Também no ano de 2012, no último trimestre, houve uma queda no nível dos
reservatórios das usinas hidrelétricas, causada pela falta de chuvas no país.
Para evitar uma crise de abastecimento e um eventual racionamento ou até um
“apagão”, o governo decidiu ligar todas as usinas termelétricas para cobrir a
demanda por energia enquanto os reservatórios não voltassem a níveis
adequados para geração de energia. O problema nesse caso é que as usinas
termelétricas tem custos de operação muito elevados, uma vez que usam
combustíveis fósseis para seu funcionamento, elevando assim o preço da
energia como um todo. Esse preço, chamado de PLD (Preço de Liquidação das
Diferenças), é calculado de acordo com o nível dos reservatórios no país.
Segundo a CCEE, “o cálculo do preço baseia-se no despacho “ex-ante”, ou
seja, é apurado com base em informações previstas, anteriores à operação real
do sistema, considerando-se os valores de disponibilidades declaradas de
37
geração e o consumo previsto de cada submercado”60. Como há uma
expectativa de que as termelétricas permaneçam ligadas durante todo o ano de
2013, visando a manutenção dos níveis dos reservatórios hídricos para garantir
o fornecimento de energia em 2014, ano de eleições presidenciais e da Copa
do Mundo, o PLD aumentou. Por isso, as empresas de distribuição foram
extremamente afetadas com esse acontecimento, uma vez que tiveram que
arcar com os preços mais elevados.
Em circunstâncias “normais”, a elevação do preço de energia seria repassada
para a tarifa no período seguinte para não prejudicar as distribuidoras. No
entanto, o governo lançou o decreto no 7.945/2013, o qual determinava que
R$2 bilhões da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) fossem
transferidos para as distribuidoras, referentes aos meses de janeiro, fevereiro e
março, em montantes não iguais, para mitigar os efeitos negativos do
despacho das térmicas. Ao fazer isso, evitou-se que a diminuição da tarifa
anunciada pelo governo com a Lei 12.783 fosse prejudicada, uma vez que, em
2013, o aumento dos custos com energia elétrica não será repassado para o
consumidor. Porém, no período entre 2014 e 2018, o consumidor deverá arcar
com o repasse de CDE, que será incluso no reajuste tarifário anual de forma
parcelada.
60 Visão Geral das Operações na CCEE - CCEE, pág. 27
38
4. A Matriz Elétrica
4.1. Conceitos Básicos
A matriz elétrica de um país corresponde ao conjunto de todas as fontes
utilizadas na geração de energia elétrica. Essas fontes podem ser renováveis,
caso de uso de recursos hídricos, eólicos, geotermia, solar, marítima ou não
renováveis como os derivados do petróleo, carvão, gás natural e nuclear.
No mundo atualmente, a fonte de geração de energia mais utilizada é a
derivada do petróleo, conforme gráfico abaixo usando como amostra os países
da OCDE:
Gráfico 2
Fonte: IEA, 2013
Essa composição de matriz elétrica difere completamente da matriz encontrada
no Brasil atualmente, que conta com 70% de sua capacidade instalada advinda
de recursos hídricos, o que a torna uma matriz sustentável.
39
Gráfico 3
Fonte: Balanço Energético Nacional, 2012
A partir do ano de 1985, começa a fazer parte da matriz a geração nuclear e, a
partir de 1998, as eólicas passam a figurar entre as fontes de geração de
energia elétrica no Brasil, ambas com participações abaixo de 2% do total. A
evolução dessa participação e a eventual introdução de novas fontes serão o
foco da análise deste trabalho.
4.2. Histórico da Matriz Elétrica Brasileira
Na virada do século XIX, a produção de eletricidade contava quase que
completamente com a geração das Usinas Hidrelétricas de Energia (UHE),
alcançando 97% da produção. No início do século XX, a principal fonte de
geração de energia elétrica continuou sendo a hidrelétrica, devido ao grande
potencial hídrico brasileiro e, de 1900 a 1930 foram construídas diversas
usinas, a maioria de pequeno porte. Nessa época, 80% da matriz elétrica
brasileira, de um total de 780 MW, era composta pelos recursos hídricos. Com
o passar dos anos e a industrialização do país, foi necessário aumentar a
oferta de energia e, consequentemente, os investimentos no setor. Em 1960, a
participação da hidroeletricidade na matriz havia caído para cerca de 70% de
40
um total de 3.642 MW de potência instalada61. Essa trajetória voltou a subir
nos anos seguintes, atingindo 87% nos anos de 1990, voltando a cair em 2000,
até chegar a 70% da participação na matriz em 201162.
Atualmente, além da geração hidrelétrica, o país conta com outras fontes que
ganham cada vez mais participação na matriz elétrica em detrimento dos
recursos hídricos, como as usinas termelétricas, eólicas e nucleares além de
outras fontes renováveis.
4.3. Análise das fontes de geração de energia elétrica
Atualmente, a matriz elétrica brasileira é composta majoritariamente pelas
hidrelétricas, mantendo a posição em que se encontra desde o princípio da
geração no Brasil, porém em menor proporção, com 69% do total medido em
capacidade instalada (MW). Em segundo lugar, estão as térmicas, com 28% de
participação seguido das nucleares e eólicas, ambas com cerca de 2% de
participação na matriz.
61 Eletrobras: História da Eletrobras
62 Dados do Ipeadata
41
Tabela 4
Capacidade Total Instalada no Brasil MW %
Hidrelétrica (incluindo Pequenas Centrais Hidrelétricas -
PCH's) 84,408 69
Térmica 34,004 28
Nuclear 2,007 2
Eólica 1,888 2
Fonte: Standard & Poor's
4.3.1. Hidrelétrica
A geração de energia pelas usinas hidrelétricas se dá através da transformação
da energia da correnteza dos rios em energia cinética, movimentando as
turbinas que, por sua vez, movimentam os geradores produzindo energia
elétrica. Para isso, é necessário que haja um desnível onde a usina é
construída e uma vazão mínima para movimentar as turbinas. As usinas podem
ser Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), com capacidade instalada de um a
30 MW e cuja área do reservatório seja inferior a 3 km2 ou Grandes Centrais
Hidrelétricas (GCH), com capacidade instalada acima de 30 MW63.
O Brasil conta atualmente com 70% de sua capacidade em usinas hidrelétricas,
o que corresponde a seu menor patamar desde 1963, como pode ser
observado no gráfico a seguir:
63 Portal PCH: O que é uma PCH?
42
Gráfico 4
Fonte: Ipeadata
Essa queda na participação das usinas hidrelétricas na matriz elétrica brasileira
pode ser explicada pelo aumento de outras fontes de geração de energia
elétrica, como será abordado mais adiante.
Benefícios e Malefícios de uma Matriz majoritariamente Hidroelétrica
A utilização dos recursos hidrológicos para gerar energia é positiva ao se
considerar os custos baixos no processo, a baixa poluição gerada e a longa
duração das usinas, com baixa taxa de depreciação.
Tabela 5
Comparação entre formas de geração elétrica
Hidro Térmica Nuclear
Custo combustível Nulo Muito Alto Baixo
Custo de O&M Baixo Alto Muito Alto
Custo da energia Baixo Alto Muito Alto
Tempo de vida Grande Pequeno Médio
Geração de emprego Grande Menor Médio
Efeito estufa Menor Grande Nenhum
Fonte: Geração hidrelétrica, térmica e nuclear - ROSA, Luiz Pinguelli
43
Além disso, pode-se considerar a alta taxa de geração de emprego, questão
extremamente importante para a economia do país e das regiões em que as
usinas são construídas.
Os baixos custos nas operações das usinas hidrelétricas são altamente
benéficos para a economia e sociedade do país, na medida em que permitem
que o preço de energia elétrica permaneça em patamares menos elevados,
principalmente se considerarmos a alta participação das hidrelétricas na matriz
elétrica. Com o preço da energia elétrica mais baixo, é possível impulsionar a
indústria, que gasta menos com insumos, a inflação fica mais controlada e os
consumidores pagam menos na conta de luz.
Em termos de meio ambiente, a energia gerada em usinas hidrelétricas não
emite gases poluentes e a água, após passar pelas turbinas que geram a
energia, volta para a natureza através do ciclo hidrológico, preservando sua
qualidade64. Essa preocupação com a natureza é crescente atualmente e o fato
de o Brasil possuir uma matriz renovável se deve principalmente às usinas
hidrelétricas.
Outro ponto positivo ao se considerar as usinas hidrelétricas como componente
de uma matriz elétrica é a longa duração destas. Por apresentarem baixas
taxas de depreciação dos ativos, as usinas hidrelétricas são as que duram mais
tempo, podendo passar por diferentes ciclos de concessão. Um exemplo é a
usina de Itaipu, em funcionamento desde 1984.
Por outro lado, há os pontos negativos como a distância entre as principais
bacias do país e os centros consumidores, o que torna necessário extensas
linhas de transmissão que necessitam de grandes investimentos pra operar de
maneira eficiente e evitar perdas significativas no percurso.
Tabela 6
Comparação entre formas de geração elétrica
Hidro Térmica Nuclear
64 Vantagens das hidrelétricas - Eletrobras, site institucional
44
Comparação entre formas de geração elétrica
Hidro Térmica Nuclear
Investimento por kW Alto Menor Muito alto
Linha de transmissão Longa Menor Menor
Tempo de construção Grande Menor Grande
Impacto ambiental Reservatório Atmosfera Radioatividade
Taxa de retorno Baixa Alta Baixa
Fonte: Geração hidrelétrica, térmica e nuclear - ROSA, Luiz Pinguelli
Os elevados investimentos necessários para a construção de usinas
hidrelétricas é outro fator importante a se considerar, principalmente por se
tratarem de empreendimentos com baixas taxas de retorno, o que faz com que
sejam somente viáveis com voluptuosos recursos do governo (BNDES) e
construídos por consórcios. Abaixo, exemplos de grandes obras de usinas
hidrelétricas e seus custos:
Tabela 7
Além disso, há a questão ambiental também sob uma ótica negativa,
principalmente nos últimos anos com a crescente preocupação com o meio
ambiente. Apesar de a fonte hídrica ser renovável, para construir usina é
necessário que haja diversas obras para tornar viável um projeto de geração.
Isso significa possivelmente inundar áreas de florestas, eventualmente deslocar
populações nativas e modificar a natureza local, o que pode provocar protestos
de grupos ambientalistas, greves dos funcionários e atrasos nas licitações dos
projetos. Todos esses fatores são prejudiciais para a construção de usinas
hidrelétricas e, inclusive, podem atrasar projetos já iniciados devido a
Usina Estado Início Operações1 Custo (bilhões)1Capacidade Instalada (MW)
Itaipu Paraná (50%) 1984 16USD 14.000
Tucuruí Pará 1984 8,8BRL 8.370
Jirau Rondônia 2012 10BRL 3.750
Belo Monte Pará 2015 26,0BRL 11.233
Santo Antonio do Jari Amapá/Pará 2015 1,3BRL 373
Teles Pires Mato Grosso/Pará 2015 4BRL 1.820
Fontes: PAC, Itaipu, Energia Sustentável do Brasil, EDP Energias do Brasil
1Previsto no contrato
Custo de construção de usinas hidrelétricas
45
interrupções e consequentemente aumentando os custos, como é o caso da
Usina de Belo Monte, no Rio Xingú, localizado no Pará.
Orçada em R$16 bilhões, os custos da usina ultrapassaram os R$30 bilhões
devido às dificuldades incorridas para o prosseguimento das obras65. Esse é
um caso bastante discutido no país por ser tratar de um exemplo destes novos
percalços que o governo pode vir a enfrentar na área de geração hidrelétrica.
Diversos ambientalistas e índios protestam contra sua construção por se tratar
de uma obra que irá alagar uma área de aproximadamente 515 km2 e sacrificar
diversas espécies da fauna e da flora local, além de desabrigar milhares de
índios. Com isso, ocorrem frequentes paralisações, prejudicando o andamento
e aumentando de forma significativa os custos, correndo o risco de tornar a
obra inviável66.
Gráfico 5
Fonte: Chipp, Hermes. Procedimentos Operativos para Assegurar o Suprimento Energético do SIN. Apresentação do
GESEL-IE-UFRJ, Rio de Janeiro, 9 de julho de 2008
65 O Estado de São Paulo: “Orçado em R$ 16 bilhões, custo da Usina de Belo Monte já supera
os R$ 30 bilhões”, de 11 de maio de 2013 66
Envolverde/SOS Mata Atlântica
46
Pode-se observar no gráfico acima que a capacidade de regularização dos
reservatórios vem caindo drasticamente nos últimos anos, corroborando os
fatos apresentados acima.
Outra questão negativa para manter a proporção de hidroeletricidade tão
elevada na matriz elétrica brasileira é o fator climático. Como visto em 2012 e,
de forma mais dramática, em 2001, quando houve o “apagão”, o Brasil pode
sofrer com o risco hidrológico, ou seja, com o risco de os reservatórios ficarem
abaixo do nível satisfatório para suprir a demanda de energia contratada para
ser gerada pelas hidrelétricas. No caso de 2012, foi possível cobrir a demanda
com o despacho de todas as usinas térmicas do país, o que aumentou os
custos com energia das empresas distribuidoras. No entanto, em 2001, o Brasil
passou por uma baixa nos reservatórios hídricos devido à falta de
investimentos em geração aliado ao aumento no consumo e à falta de chuvas,
que levou a uma crise de abastecimento de energia afetando principalmente as
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Ocorreram os chamados “apagões”,
interrupções de fornecimento de energia mais frequentes e duradouros do que
o normal. Foi necessário, portanto que a população passasse por um
racionamento de energia, para ser possível que os reservatórios voltassem a
níveis adequados, o que de fato ocorreu67.
Surge então a questão sobre se o Brasil deve expandir outras fontes de
geração em detrimento da hidrelétrica para aumentar sua segurança energética
em um cenário de crescimento econômico e populacional como o que está
passando atualmente.
4.4. As Outras Fontes de Geração de Energia Elétrica no Brasil
Além da energia hidrelétrica há, no Brasil, diversas outras fontes de geração de
energia elétrica que, com o passar dos anos, vem ganhando espaço na matriz
elétrica em detrimento da hidrelétrica.
67 Iguaçu Energia: A crise do apagão
47
4.4.1. Térmica
Logo após a hidrelétrica, vem a energia térmica em termos de participação na
matriz. Neste tipo de usina, chamada de Usina Termelétrica de Eletricidade
(UTE), é feito uso de queima de combustíveis para se obter a energia, o que a
torna pouco sustentável e criticada por ambientalistas. Esses combustíveis
podem ser gás natural, carvão, óleo combustível, derivados do petróleo, além
do bagaço de cana de açúcar (biomassa), por sua vez sustentável68. O fato de
depender de combustíveis para seu funcionamento é um ponto negativo neste
tipo de usina, uma vez que eleva muito os custos de produção e a torna muito
mais custosa nas operações em relação à hidrelétrica, elevando assim o preço
da energia vendida para as distribuidoras, que será repassado aos
consumidores nas tarifas69.
Tabela 8
Levando em consideração a participação de cada combustível no total da
produção de energia térmica e observando o preço (R$/MWh) de cada uma no
gráfico abaixo, pode-se obter uma noção do impacto nos custos de energia
elétrica que as usinas termelétricas representam.
Gráfico 6
68 Fontes Alternativas de Energia. Guerrini, Iria Müller; 24 de agosto de 2011
69 GV Casos: Concessões de Termoelétricas no Brasil: Investir ou não? - 1 de dezembro de
2012; pág. 3
Capacidade Instalada (GW) Participação do total
Gás natural 13.602 40%
Biomassa 10.201 30%
Óleo 7.481 22%
Carvão 2.380 7%
Outros 340 1%
Total 34.004 100%
Fonte: Standard&Poor's
48
Fonte: ANEEL
(*) Gás Natural Liquefeito
(**) Bagaço de cana
As usinas termoelétricas de concessão pública tendem a ser utilizadas quando
há preocupações acerca dos níveis dos reservatórios nas usinas hidrelétricas,
para evitar uma crise de abastecimento no país. Essa situação foi vista em
2012, quando todas as usinas térmicas brasileiras foram acionadas para cobrir
a demanda por energia, uma vez que o nível dos reservatórios chegou a seu
menor nível em dez anos, desde a crise que causou o racionamento em 2001.
A evolução da participação das usinas termelétricas na matriz energética
brasileira pode ser sintetizada no seguinte gráfico:
Gráfico 7
49
Fonte: Ipeadata
Pode-se observar que a participação das térmicas tem apresentado uma
tendência de crescimento no Brasil nos últimos anos, principalmente a partir de
2001, ano do “apagão”. Nesse ano, ficou evidenciado o problema de termos
uma matriz tão dependente de recursos hídricos, que por sua vez são
diretamente correlacionados a regimes pluviais e fluviais. Portanto, se há um
período de seca, o país pode ficar sem abastecimento de eletricidade, como o
ocorrido e mostra-se assim necessária a existência de uma rede de usinas
capaz de dar suporte em caso de baixa nos reservatórios hídricos.
Novas usinas termelétricas serão construídas nos próximos anos e os fatores
que são considerados ao ampliar o número de UTE são:
Crescimento econômico do país, tendo como consequência o aumento
no consumo70;
Potencial de chuvas na região das UHE, uma vez que estas dependem
do regime pluvial para manter os reservatórios em níveis adequados
para geração de energia71;
70 GV Casos: Concessões de Termoelétricas no Brasil: Investir ou não? - 1 de dezembro de
2012; pág. 3
50
Além destes dois fatores, há também um terceiro que seria a quantidade de
outras UTE já existentes que poderiam ser chamadas a operar antes desta
nova, uma vez que as chances de uma UTE operar depende da necessidade
de cobrir a falta de capacidade das UHE de gerar a energia contratada. O
critério utilizado para avaliar se as UTE devem ser chamadas a operar é o PLD,
o que significa que quando esse preço está acima do custo de operação da
usina, ela provavelmente será chamada a operar, pois será menos custoso do
que manter a compra no mercado de curto prazo (spot). Dessa forma, quanto
menor o nível médio dos reservatórios, maior a chance de despacho térmico72.
Uma vez que é determinado que as UTE entrarão em operação, o órgão
responsável por determinar quais usinas serão escolhidas é o ONS e esta
decisão, é feita com base no custo de operação individual delas, ou seja,
aquelas com custos mais baixos tem maiores de chances de ser chamadas a
operar73.
A energia térmica seria a mais passível de ganhar espaço na matriz energética
considerando sua tendência nos últimos anos, não fosse a preocupação com o
meio ambiente e a crescente competitividade das fontes renováveis nos leilões
de energia nova, como veremos mais adiante.
4.4.2. Nuclear
Além das térmicas e eólicas, são utilizadas como alternativas às usinas
hidrelétricas as usinas nucleares. Atualmente, essa fonte de energia representa
menos de 2% ou 2 mil MW do total de capacidade instalada no Brasil e provém
das usinas nucleares.
Tabela 9
71 GV Casos: Concessões de Termoelétricas no Brasil: Investir ou não? - 1 de dezembro de
2012; pág. 3 72
Idem. 73
Idem.
51
No mundo atualmente a energia nuclear é muito utilizada nos países
desenvolvidos, chegando a 78% da geração de energia na França e 57% na
Bélgica. Nos Estados Unidos, essa porcentagem chega a 20%, mas representa
mais do que toda a geração de energia brasileira. A Alemanha decidiu em
2010, reforçando em 2012 em função da catástrofe de Fukushima, deixar de
utilizar essa fonte de energia. Com isso, deve desligar todas as usinas até 2022
e hoje já importa energia nuclear da França74.
Assim como quase todos os empreendimentos de geração, as usinas
nucleares também enfrentam críticas ambientais. O combustível usado para a
geração de energia nessas usinas é o urânio enriquecido cerca de 3,5%, o que
significa que o urânio encontrado na natureza deve ser processado para
chegar de 0,7% do isótopo 235U a essa porcentagem. Para efeitos de
comparação, na fabricação de uma bomba atômica, o urânio deve ser
enriquecido 90%75.
Uma questão muito importante e que gera grandes preocupações em relação
às usinas nucleares são os resíduos que apesar de serem em baixa
quantidade, são radioativos e podem durar até milhares de anos, o que torna
necessário seu acondicionamento de forma isolada e protegida76. Estes
depósitos de resíduos nucleares são administrados pelo governo federal e
controlados pela agência reguladora das atividades nucleares. No caso do
74 Ciência Hoje, vol. 37, pág. 42
75 Idem.
76 Ciência Hoje, vol. 37, pág. 43
País % do total em nuclear
França 78%
Bélgica 57%
Suécia 46%
Suíça 40%
Japão 39%
Coréia do Sul 39%
Alemanha 30%
Estados Unidos 20%
Brasil 2%
Fonte: Ciência Hoje; vol. 37
52
Brasil, as questões de segurança nuclear são gerenciadas pela Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN)77.
Estima-se que com a entrada em operação comercial da usina Angra III em
2016 sejam adicionados 1.400 MW de capacidade instalada, atingindo cerca de
3.400 MW advindos somente das usinas nucleares. As usinas nucleares
requerem elevados volumes de investimento, porém sua manutenção é menos
custosa. É possível que no futuro novas usinas sejam instaladas no Brasil,
porém isso depende de diversos fatores que serão abordados na seção 4.5.
4.4.3. Eólica
Após a geração nuclear, vem a geração eólica em volume gerado na matriz
elétrica brasileira. Energia eólica é aquela que é gerada através de uma turbina
eólica, cujas pás captam a energia cinética do vento, ou seja, do movimento do
ar. Pode-se comparar a uma usina hidrelétrica, cujas turbinas funcionam com o
movimento das águas.
Hoje no Brasil, a energia eólica é vista como complementar à hidrelétrica,
assim como as térmicas e outras fontes. Desde a criação do Programa de
Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a participação da
energia eólica na matriz brasileira deu um salto, passando de 27 MW em 2005
para 2.700 MW em 201278. De acordo com a Abeeólica, há hoje no Brasil 117
usinas eólicas instaladas, e o país deverá chegar a 6.000 MW de potência
instalada até o final de 201379.
Essa fonte de energia possui diversas vantagens. Por não utilizar combustíveis
no processo, é uma fonte 100% limpa, não emitindo gases poluentes nem
gerando resíduos, é inesgotável por só depender do vento e pode ser integrada
a outras atividades como as rurais e pecuárias, uma vez que os aerogeradores
ocupam pouco espaço na superfície. Apesar de necessitar de elevados
77 Ciência Hoje, vol. 37, pág. 43
78 “Brasil será décimo país em capacidade eólica instalada” - site da Revista Exame, 27 de
maio de 2013 79
ABEEólica, site institucional
53
investimentos para sua implantação, esses parques tem baixos custos de
manutenção e operação. Em relação às vantagens para o Estado, os pontos
que podem ser ressaltados são a menor dependência externa, devido à não
utilização de combustíveis e seu uso diminui a necessidade de poupança para
a compra de cotas de emissão de CO2 (Protocolo de Kyoto).80
O problema enfrentado por este tipo de usina é a falta de demanda, uma vez
que apenas 1,6% da energia demandada atualmente vem dos parques
eólicos81. Além desse, há a questão da intermitência, ou seja, o vento nem
sempre sopra quando é necessário gerar eletricidade, o que torna difícil
integrar e aumentar a participação das eólicas na matriz elétrica. Outras
considerações são o impacto para as aves, que podem chocar-se contra as
pás, o impacto sonoro para as populações que vivem próximas aos parques,
uma vez que o vento batendo nas pás produz um ruído constante e alto82.
Apesar dos pontos negativos, é necessário levar em consideração sempre as
vantagens supracitadas desta fonte de energia e seu potencial a ser explorado
no Brasil. Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) da EPE, é
estimado que ainda haja mais de 100.000 MW de potencial eólico no país,
principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste, o que deve provocar um
aumento significativo do uso da geração eólica nos próximos anos no país. É
estimado que a energia eólica alcance 9% do total de capacidade instalada até
202183.
4.5. Perspectivas para a matriz elétrica brasileira84
Todos os anos, a EPE publica um relatório acerca das perspectivas do setor
elétrico para os próximos dez anos, chamado de Plano Decenal de Expansão
de Energia (PDE). Nele, são considerados o aumento esperado na demanda
80 Portal Energia: Vantagens e desvantagens da energia eólica, 28 de agosto de 2008
81 “Só 1% da energia consumida no país vem de fonte eólica” - Abeeólica
82 Portal Energia: Vantagens e desvantagens da energia eólica, 28 de agosto de 2008
83 Os fundamentos do setor elétrico brasileiro permanecem fortes - Standard &Poor’s; Abril
2013, pág. 8 84
Todos os dados deste capítulo foram retirados do Plano Decenal de Expansão de Energia 2021 - EPE e MME de 2012 tendo como base o ano de 2011.
54
de energia, premissas macroeconômicas e assim, chega-se à necessidade de
expansão da oferta de geração, transmissão e também da produção dos
combustíveis utilizados na produção de energia elétrica. Dessa forma, é
possível planejar os investimentos no setor para o horizonte analisado no
relatório. Somente é considerada a expansão do SIN e a eventual incorporação
de sistemas isolados.
No último PDE publicado, em setembro de 2012, referente ao período de 2012
a 2021, pode-se usar o capítulo III, “Geração de Energia Elétrica”, para dar
embasamento à análise pretendida no presente trabalho. Segundo o referido
capítulo,
“A expansão da geração de energia elétrica para o horizonte decenal deve se
dar de forma sustentável, atendendo aos critérios de segurança de suprimento
e de minimização dos custos de expansão e operação esperados para o
sistema eletroenergético”.
Ou seja, todo o planejamento deve ser feito visando à eficiência e a garantia de
suprimento de energia durante todo o ano, de forma a não prejudicar nenhuma
parte que esteja envolvida, desde clientes das geradoras (distribuidoras) a
clientes finais (cativos ou livres).
De acordo com o PDE-2021, será necessário adicionar, no período entre 2012
e 2021, 4.260 MW aos 117.000 MW de capacidade já instalada para suprir a
demanda de energia no país, divididos entre os subsistemas do SIN da
seguinte maneira:
Tabela 10
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do PDE 2021
% MWmed/ ano
Sul
Sudeste/Centro-Oeste
Acre/Rondônia
Norte
Nordeste
Manaus/Amapá/Boa Vista
72%
28%
2.202
871
Crescimento Subsistemas
55
Portanto, é esperado que se observe um crescimento de 72% na capacidade
total instalada nos subsistemas Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Acre/Rondônia e
de 28% nos subsistemas Norte, Nordeste, Manaus/Amapá/Boa Vista entre os
dez anos que são objetos do Plano. Isso corresponde a uma taxa média de
expansão de 4,8% ao ano. Em 2013, é esperado que haja um pico de 5,8% de
crescimento na carga de energia elétrica no SIN, devido à incorporação dos
sistemas isolados de Macapá e Manaus e no ano de 2015, Boa Vista será
interligado. Essas novas interligações farão com que todas as capitais
brasileiras façam parte do SIN:
Gráfico 8
Fonte: Elaboração própria com base no PDE 2021
Quando ocorrem novas interligações ao SIN, possibilita-se a construção de
novas usinas hidrelétricas usufruindo de rios presentes nos locais antes
isolados, no caso a margem esquerda do rio Amazonas. Esse fato é
extremamente positivo ao considerarmos que esse regime hidrológico é
complementar ao resto do país, o que remete ao já comentado funcionamento
do Sistema Interligado Nacional: as regiões que estiverem em momento de
regime hidrológico favorável fornecem energia para as que estiverem na
situação contrária e vice-versa, mantendo assim o suprimento de todo o país
ao longo do ano.
56
Em relação à evolução da matriz elétrica, o PDE projeta que ela continuará
com o perfil renovável que possui hoje, conforme pode ser observado no
gráfico abaixo:
Gráfico 9
Fonte: Elaboração própria com base no PDE 2021
De acordo com o estudo, o país continuará dando prioridade às fontes
renováveis na expansão de sua matriz elétrica, porém a hidroeletricidade (sem
considerar PCH) perderá participação, atingindo 64% em 2021. Já as outras
fontes renováveis (biomassa, PCH e eólica) ganharão espaço na matriz,
chegando a 20% do total em 2021. As usinas termelétricas, por sua vez,
apresentarão um aumento de participação entre 2013 e 2015, voltando a cair
em 2016 até chegar a 14% da matriz elétrica nacional, enquanto que as
nucleares permanecerão no patamar de 2% durante todo o período.
A expansão planejada da capacidade instalada em usinas hidrelétricas é
baseada nos projetos já contratados nos leilões A-5 e em construção entre
2012 e 2016 e os previstos para serem iniciados no período entre 2017 e 2021.
As usinas que já foram contratadas somam 22.415 MW de capacidade
instalada, sendo que o Norte responde por 93,1% desse total devido ao fato de
as UHE Santo Antonio, UHE Jirau e UHE Belo Monte se localizarem nessa
57
região, além de outras menores. Essas três UHE somam 18.133 MW de
capacidade instalada.
Gráfico 10
Fonte: Elaboração própria com base no PDE 2021
Já os projetos previstos para o período entre 2017 e 2021 somam 19.673,
demonstrando a queda esperada na participação de UHE na matriz elétrica
nacional para os próximos anos.
Gráfico 11
Fonte: Elaboração própria com base no PDE 2021
58
Uma questão importante a ser observada em relação às novas usinas que
entrarão em operação é a capacidade de armazenamento dos reservatórios.
Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, há uma capacidade de armazenamento
de cerca de 70% do SIN, mostrando sua importância para o sistema. Abaixo, a
evolução dessa capacidade entre 2012 e 2021:
Gráfico 12
Fonte: PDE 2021
É importante destacar que há um aumento de 5% na capacidade de
armazenamento nos reservatórios entre 2012 e 2021, enquanto que a
capacidade instalada das UHE irá crescer 40%. Dentre as usinas que estão
contempladas no PDE 2021, apenas duas delas contarão com reservatórios de
acumulação a montante, com reservatório, enquanto que a maioria deverá
operar a fio d’água, ou seja, sem armazenamento. O problema dessa
configuração é que não é possível controlar cheias, trará maior necessidade de
funcionamento de usinas que disponham de reservatórios, alterando assim os
níveis destes e impactando os ciclos hidrológicos. Além disso, maior despacho
de térmicas se mostra necessário para atender à sazonalidade da carga de
energia.
59
Por outro lado, ainda há grande potencial a ser explorado pelas usinas
hidrelétricas no Brasil para que essa fonte permaneça como a principal na
matriz elétrica nacional.
No caso das usinas termelétricas (sem contar as movidas a biomassa), pode
se observar que entre 2012 e 2016, haverá um acréscimo de capacidade
instalada de 8.792 MW aos 17 GW já instalados, dividido dessa maneira entre
os subsistemas do SIN:
Gráfico 13
Fonte: Elaboração própria com base no PDE 2021
Essa expansão de usinas termelétricas poderia ter sido menor se à época dos
leilões de energia renovável houvesse tido oferta suficiente desse tipo de
energia a preços competitivos que pudesse cobrir a demanda por energia.
A maior expansão de UTE se dará na região Nordeste, com 5.479 MW,
representando 62,3% do total da expansão. Não haverá nenhuma construção
de usina termelétrica na região Sul neste período, nem está prevista nenhuma
adição à capacidade instalada de UTE no ano de 2016. Para o horizonte entre
2017 e 2021, o Plano contou apenas com uma expansão em 2021 de 700 MW
em usinas movidas a gás natural, considerando o baixo preço que esse
combustível deverá alcançar. Esse aumento no uso de gás natural pode alterar
o perfil de geração das usinas ao se tornarem prioridade no despacho
60
enquanto que aquelas que utilizem combustíveis fósseis fiquem como reserva
do sistema.
A energia nuclear terá um acréscimo na sua capacidade instalada de 1.405
MW em 2016, ano em que a usina Angra III entrará em operação, passando de
2.007 MW para 3.412 MW. Para além do horizonte que trata o PDE 2021, é
possível que haja novas usinas nucleares, uma vez que existem estudos de
viabilidade de implantação nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Nordeste.
Um dos problemas desse tipo de usina, além dos ambientais, é o tempo
necessário para sua construção, que pode ultrapassar uma década.
Como já explicitado, a maior expansão em termos de participação na matriz
elétrica nacional se dará nas outras fontes renováveis, ou seja, biomassa, PCH
e eólica. Deve-se a isso o fato de que as preocupações com o meio ambiente
são crescentes no cenário atual e existem programas de incentivo para a
utilização de fontes alternativas renováveis, como o Proinfa (Programa de
Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica). A região que terá maior
participação nessa expansão é a Sudeste/Centro-Oeste, com mais da metade
do total.
No caso das usinas eólicas, pode ser observado um aumento da
competitividade dessa fonte de energia, com preços mais baixos e maior
participação nos leilões. Isso incentiva que haja mais instalações de parques
eólicos e também desenvolvimento de equipamentos mais adequados aos
ventos brasileiros. Hoje em dia, a tecnologia desses equipamentos é importada
e, portanto, adaptada aos ventos dos países do hemisfério norte, diminuindo
sua eficiência no Brasil. O mapa a seguir mostra onde se concentram os
empreendimentos eólicos:
Figura 5
61
Fonte: PDE 2021
Há uma concentração de projetos que contam com maior capacidade instalada
no Sul, porém o número de usinas é maior na região Nordeste, com cerca de
450 empreendimentos.
As PCH, por sua vez, vem demonstrando uma queda na participação dos
leilões de energia renovável desde 2009, na contramão das eólicas. Os
motivos que explicam esse comportamento são a maior competitividade das
usinas eólicas e também os entraves ambientais para construção de novas
PCH.
Figura 6
62
Fonte: PDE 2021
De acordo com o PDE 2021, havia em 2012 563 MW de obras em andamento,
983 MW de projetos impedidos e 991 MW de projetos sem licença de
instalação, corroborando a ideia de que há entraves para um significativo
crescimento na expansão desse tipo de usina na matriz elétrica.
Outra fonte renovável abordada no estudo é a biomassa, utilizada em usinas
térmicas, que é menos prejudicial ao meio ambiente quando comparada com a
queima de combustíveis fósseis. No Brasil, os empreendimentos que utilizam a
biomassa utilizam principalmente resíduos do processamento da cana-de-
açúcar, como o bagaço, e seu potencial de geração de energia no SIN pode
chegar a 10 MW médios até 2021. Como advém da cana-de-açúcar, as usinas
estão localizadas principalmente nos estados de São Paulo, Goiás, Mato
Grosso do Sul e Paraná, sendo todos eles parte dos grandes centros
comerciais do país. Um ponto negativo dessa fonte de energia é que ela está
completamente sujeita à indústria sucroalcooleira, tanto em relação a
investimentos quando à disponibilidade de matéria prima. Isso leva a uma
queda na competitividade em relação a outras fontes renováveis, em especial a
eólica.
Uma fonte pouco citada no Brasil é a solar. No entanto, há grande potencial
para uso dessa fonte, dada a irradiação no território nacional que chega de
1.200 a 2.400 kWh/m2/ano, enquanto que na Europa, nos países que utilizam a
63
energia solar, essa irradiação fica entre 900 a 1.250 kWh/m2/ano (Alemanha) e
1.200 a 1.850 kWh/m2/ano (Espanha). O problema encontrado para a utilização
em larga escala dessa fonte de energia no Brasil são os elevados custos para
a produção dos equipamentos, tornando difícil sua competitividade em leilões
de energia. No entanto, como todas as tecnologias, a tendência é de queda
nos preços com o passar do tempo e o desenvolvimento de novas técnicas.
Dessa forma, a energia solar fotovoltaica poderia fazer parte da matriz elétrica
brasileira dentro de alguns anos.
64
5. Considerações Finais
Neste trabalho buscou-se fazer uma apresentação do setor elétrico brasileiro,
passando brevemente pela história desde sua implantação e também pelos
seus segmentos (geração, transmissão e distribuição). Foi feita uma
abordagem do marco regulatório do setor na medida em que é algo inevitável
de ser considerado, por se tratar de um setor altamente regulado da economia,
contando com diversos órgãos criados especialmente para garantir seu bom
funcionamento.
O panorama geral do setor elétrico foi apresentado para dar embasamento ao
tema central do trabalho, que é a matriz elétrica brasileira e perspectivas para
ela nos próximos anos. Foi feita uma apresentação de cada componente mais
importante da matriz brasileira, sendo eles as usinas hidrelétricas, térmicas,
nucleares e eólicas. Em seguida, usando como base o Plano Decenal de
Expansão de Energia 2021, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética -
EPE - foi possível mostrar como provavelmente estará desenhada a matriz
elétrica nos próximos anos.
Em suma, é esperado que a evolução da matriz elétrica entre 2015 e 2021 se
dê da seguinte maneira:
Gráfico 14
Gráfico 15
65
Fonte: PDE 2021
Portanto, o Brasil continuará com uma matriz prioritariamente renovável, com a
introdução e expansão do uso de outras fontes além das grandes usinas
hidrelétricas, que perderá participação apesar de permanecer como a principal
fonte de geração de energia elétrica do país.
Outro ponto favorável é a queda da participação de usinas termelétricas, que
utilizam combustíveis fósseis para operar, o que ocasionará queda na emissão
de gases nocivos à atmosfera na geração de energia.
Essa composição é extremamente favorável para o Brasil, na medida em que
utiliza de forma crescente energias limpas, fundamental no momento em que
passa o mundo hoje, buscando formas sustentáveis de produção, além de ser
possível implantar essas usinas em locais mais próximos aos centros
consumidores, por se tratarem de usinas geralmente menores e que não
dependem de grandes reservatórios hídricos. Com isso, as linhas de
transmissão não precisarão ser extremamente extensas para ligar essas fontes
de energia a seus destinos finais, elevando a qualidade do serviço ao diminuir
custos das distribuidoras com encargos de transmissão e perdas.
66
6. Bibliografia
Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL: “Atlas de Energia Elétrica do
Brasil - 2a Edição”, 2005. Publicação retirada do site institucional da ANEEL
Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL: “Atlas de Energia Elétrica do
Brasil - 3a Edição”, 2008. Publicação retirada do site institucional da ANEEL
Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL: “Perguntas e Respostas sobre
Tarifas das Distribuidoras de Energia Elétrica”, 2007, publicação retirada do site
institucional da ANEEL
Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL: “Tarifas de Uso do Sistema de
Transmissão”, site institucional da ANEEL
Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica - ABRADEE: “A Tarifa
de Energia”, site institucional da ABRADEE
Associação Brasileira de Energia Eólica - ABEEólica: “Só 1% da energia
consumida no país vem de fonte eólica”. Retirado do site institucional da
ABEEólica
BASTOS, Adriano Silva: “Evolução dos marcos regulatórios do mercado de
energia elétrica no Brasil, uma análise crítica”, 2007
Brasil.gov.br: “Linhão Tucuruí - Macapá - Manaus”. Retirado do site Brasil.gov.br
CASTRO, Alexandre Cézar: “Fundamentos do Setor Elétrico”. Apresentação de
slides retirada do site do IFBA
EDP Bandeirante: “Ambiente de Contratação Livre”. Retirado do site institucional
da EDP Bandeirante
67
Eletrobras: “Vantagens das Hidrelétricas”. Retirado do site institucional da
Eletrobras
Eletrobras: A História da Eletrobras, site institucional da Eletrobras
Empresa de Pesquisa Energética - EPE: “Plano Decenal de Expansão de Energia
2021”, 2011. Publicação retirada do site institucional da EPE
Envolverde/SOS Mata Atlântica - site da Envolverde
GUERRINI, Iria Müller - “Fontes Alternativas de Energia”, 24 de agosto de 2001,
retirado do site do CDCC - USP - São Carlos
Iguaçu Energia: “A crise do apagão”, retirado do site institucional da Iguaçu
Energia
Ipeadata: Dados estatísticos acerca da geração de energia elétrica por fonte no
Brasil retirados do site Ipeadata
International Energy Agency - IEA: “Monthly Electricity Statistics - February 2013”,
2013
JUSTO, Diogenes Adriano Rizzotto: “Estratégias para Leilões de Energia”, 2011.
Publicação retirada do site LUME, Repositório Digital da UFRGS
Light S.A.: “História da Light”. Retirado do site institucional
LORENZO, Helena Carvalho de: “O Setor Elétrico Brasileiro: Reavaliando o
Passado e Discutindo o Futuro”. Publicação retirada do site do Nuca - UFRJ
MARTITS, Luiz Augusto et al. - “Concessões de Termoelétricas no Brasil: Investir
ou Não?”, 1 de outubro de 2012. Publicação retirada do site da Biblioteca Digital
da Fundação Getulio Vargas
68
Ministério de Minas e Energia - MME: “Ambientes de Contratação”. Retirado do
site institucional do MME
Ministério de Minas e Energia - MME: “Concessões de Geração, Transmissão e
Distribuição de Energia Elétrica: Perguntas e Respostas”, Setembro de 2012.
Retirado do site institucional do MME
O Estado de São Paulo: “Orçado em R$ 16 bilhões, custo da Usina de Belo
Monte já supera os R$ 30 bilhões”, 11 de maio de 2013. Notícia retirada do site
do Estado de São Paulo
Operador Nacional do Sistema - ONS: “O Setor Elétrico”. Retirado do site
institucional da ONS
Portal Energia: “Vantagens e Desvantagens da Energia Eólica”, 24 de agosto de
2008. Retirado do site Portal Energia
Portal PCH: “O que é uma PCH?”. Retirado do site Portal PCH
Revista Ciência Hoje: “A Energia Nuclear”, Outubro de 2005. Publicação retirada
do site Focus Cosmus
Revista Exame: “Brasil será décimo país em capacidade eólica instalada”, 27 de
maio de 2013. Notícia retirada do site da Revista Exame
ROSA, Luiz Pinguelli: “Geração hidrelétrica, térmica e nuclear”, 2007. Retirado do
site Scielo - Estudos Avançados
SAES, Alexandre Macchione: “Light vs. CBEE: Energia Elétrica na Formação da
Indústria , Brasileira, 1900 - 1920”, 2012. Publicação retirada do site da
Universitat de Barcelona
69
Standard & Poor’s: “Os Fundamentos do Setor Elétrico Brasileiro Permanecem
Fortes”, Abril de 2013
White Paper Instituto Acende Brasil: “Leilões no Setor Elétrico Brasileiro: Análises
e Recomendações”, Maio de 2012. Retirado do site do Instituto Acende Brasil
70
Anexo I
Lista de siglas e abreviaturas
ABEEólica - Associação Brasileira de Energia Eólica
ABRADEE - Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica
ACL - Ambiente de Contratação Livre
ACR - Ambiente de Contratação Regulada
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CCC - Conta de Consumo de Combustível
CCEAR - Contrato de Comercialização de Energia Elétrica no Ambiente
Regulado
CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
CDE - Conta de Desenvolvimento Energético
CGH - Central Geradora Hidrelétrica
CGTEE - Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica
Chesf - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
CNPE - Conselho Nacional de Política Energética
DEC - Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora
EPE - Empresa de Pesquisa Energética
FEC - Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MAE - Mercado Atacadista de Energia Elétrica
71
MME - Ministério de Minas e Energia
MP - Medida Provisória
O&M - Operação e Manutenção
OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONS - Operador Nacional do Sistema
PCH - Pequena Central Hidrelétrica
PDE - Plano Decenal de Expansão de Energia
PLD - Preço de Liquidação das Diferenças
PND - Plano Nacional de Desestatização
RAP - Receita Anual Permitida
RGR - Reserva Global de Reversões
SIN - Sistema Interligado Nacional
TUST - Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão
UHE - Usina Hidroelétrica de Energia
UTE - Usina Termoelétrica de Energia