CONJUNTOS LÍTICOS DE HORTICULTORES CERAMISTAS ASSOCIADOS À TRADIÇÃO ARATU-SAPUCAÍ: ESTUDO DE...

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REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI Vol.1 - Número 09 Fevereiro de 2015 7 CONJUNTOS LÍTICOS DE HORTICULTORES CERAMISTAS ASSOCIADOS À TRADIÇÃO ARATU-SAPUCAÍ: ESTUDO DE CASO DOS SÍTIOS MATO SECO E CANOAS, MÉDIO VALE DO SÃO FRANCISCO, MINAS GERAIS. Marcelo FAGUNDES 1 Lidiane Aparecida da SILVA 2 Isadora Maria dos Santos CORDEIRO 3 Arkley Marques BANDEIRA 4 1 Docente da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades (UFVJM), Coordenador do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected] 2 Pesquisadora do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected] 3 Pesquisadora do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected] 4 Pesquisador do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected]

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CONJUNTOS LÍTICOS DE HORTICULTORES CERAMISTAS ASSOCIADOS À TRADIÇÃO ARATU-SAPUCAÍ: ESTUDO DE CASO DOS SÍTIOS MATO SECO E CANOAS, MÉDIO

VALE DO SÃO FRANCISCO, MINAS GERAIS.

Marcelo FAGUNDES1 Lidiane Aparecida da SILVA2

Isadora Maria dos Santos CORDEIRO3 Arkley Marques BANDEIRA4

1 Docente da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades (UFVJM), Coordenador do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected] 2 Pesquisadora do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected] 3 Pesquisadora do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected] 4 Pesquisador do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/UFVJM), Contato: [email protected]

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CONJUNTOS LÍTICOS DE HORTICULTORES CERAMISTAS ASSOCIADOS À TRADIÇÃO ARATU-SAPUCAÍ: ESTUDO DE CASO DOS SÍTIOS MATO SECO E CANOAS, MÉDIO VALE DO SÃO FRANCISCO, MINAS GERAIS.

RESUMO

A pesquisa centrada no estudo da cultura material é de grande importância uma vez que evidencia e preserva conhecimentos pretéritos dos grupos indígenas antes da chegada dos colonizadores, permitindo a compreensão das relações entre Homens e seus ambientes, natural e cultural. Este artigo buscou apresentar não apenas a descrição dos objetos, mas sim, por meio do estudo da tecnologia lítica de grupos horticultores pré-coloniais, estabelecer seus usos e funções dentro da sociedade. Logo, a pesquisa teve como objetivo principal o entendimento dos modos de vida e cultura de grupos indígenas por meio de inferências acerca do contexto sistêmico das ferramentas líticas, assim inferindo-se sobre uma posição mais assertiva dos empregos sociais; das concepções e do domínio das técnicas de produção material, uma vez que se entendem os conjuntos líticos (ferramentas produzidas pelo lascamento de rochas e minerais aptos à produção artefatual), como parte integrante da cultura expressa materialmente de um dado grupo.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Material, Tecnologia Lítica, Cadeias Operatórias, Horticultores

Ceramistas, Tradição Aratu-Sapucaí, Minas Gerais.

RESUMEN

La investigación se centró en la cultura material qué es de gran importancia, ya que revela el conocimiento de los tiempos pasados y preserva las técnicas y las ideas de los grupos precoloniais, lo que permite la comprensión de las relaciones entre el hombre y su medio ambiente, naturales y culturales. En este artículo se centró en la presentación no sólo de las descripciones de objetos, mas también, a través del estudio de la tecnología lítica de los grupos indígenas, establecer sus usos y funciones dentro de los estudios de la sociedad, para la comprensión de los estilos de vida y la cultura de las poblaciones indígenas, analizando el contexto sistémico de herramientas líticas, por tanto, buscase inferir acerca de sus funciones sociales; los conceptos y el campo técnico de la producción material, ya que se entiende las herramientas líticas como parte de la expresión material de una cultura de un dado grupo..

PALABRAS CLAVE: Cultura Material, Tecnología Lítica, Cadenas Operatorias, horticultores

ceramistas, Tradición Aratu-Sapucaí, Minas Gerais.

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Este artigo apresenta os resultados obtidos da análise de conjuntos líticos resgatados no

âmbito do licenciamento ambiental (SIGMA, 2012), em vários sítios implantados na micro-bacia

do rio Abaeté, bacia do São Francisco, região centro-norte do estado de Minas Gerais, sendo

que todos estão associados à tradição cerâmica Aratu-Sapucaí (IZUMI, 2012; ROSA, 2012;

TAMEIRÃO, 2014). Atualmente estes vestígios fazem parte da reserva técnica do Laboratório

de Arqueologia e Estudo da Paisagem da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e

Mucuri.

Neste trabalho buscou-se por meio: (a) da coligação e sistematização dos dados

estatístico-comparativos dos conjuntos líticos em foco, (b) da análise bibliográfica regional sobre

a Tradição Aratu-Sapucaí e conjuntos artefatuais associados, (c) da análise contextual dos

demais remanescentes evidenciados nos solos de ocupações dos sítios em estudo: “(...) a

compreensão das escolhas/estratégias envolvidas na concepção, manufatura, uso e descarte

dos conjuntos artefatuais, de modo a indicar se havia ou não similaridades na organização

tecnológica em termos sincrônicos e diacrônicos – no tempo e no espaço” (FAGUNDES, 2010,

p.4).

Além disso, procurou-se compreender os sítios arqueológicos em estudo, e seus

conteúdos, por meio da visão conceitual de tempo x espaço x cultura, tendo em vista a

reconstrução, mesmo que dedutivamente, dos modos de vida e cultura de grupos pretéritos,

inclusive permitindo inferências acerca de possíveis mudanças nos processos culturais,

buscando a compreensão do por que ocorrem e, por fim, a compreensão dos próprios processos

formativos, que inclui os sítios e seus conteúdos: artefatos, restos de alimentos, assinaturas

físico-químicas no solo, entre outros remanescentes que, cabe lembrar, fazem parte do nosso

mundo contemporâneo.

Ao estudar os conjuntos líticos houve sempre uma preocupação primordial em entender

como se relacionam com demais vestígios que compõem o repertório cultural, além da paisagem

regional e suas relações com a economia, subsistência, universo simbólico, enfim, como se deu

o modo de vida dos grupos que os produziram, mesmo que, para tanto, se fizesse necessário o

uso da dedução (FAGUNDES, 2014).

Metodologicamente, houve o cuidado de estabelecer as relações entre os conjuntos

líticos em estudo (partindo da hipótese da contemporaneidade dos conjuntos em foco),

buscando-se compreender os processos produtivos, envolvendo: (a) questões de similaridades e

mudanças nos processos técnicos, (b) apropriação da matéria-prima e consequente técnica (ou

conjunção de técnicas) para redução da matriz e obtenção de suportes para a produção das

ferramentas, (c) as sequências operacionais e suas relações com os demais vestígios e

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estruturas preservadas na matriz arqueológica, (d) tipo, densidade, diversidade e flexibilidade

dos vestígios líticos, etc. (FAGUNDES, 2007, 2010).

Este artigo tem como objetivo a análise dos conjuntos artefatuais com vistas à

reconstrução, mesmo que dedutiva, das etapas operatórias envolvidas para produção das

ferramentas líticas de grupos horticultores ceramistas associados à Tradição Aratu-Sapucaí que

se estabeleceram na micro-bacia do rio Abaeté, Bacia do São Francisco, aproximadamente

entre os séculos XI e XV da nossa Era. A intenção a obtenção de dados assertivos de itens

importantes na análise lítica, a saber: (a) Tipo e densidade dos vestígios; (b) Procura, acesso e

uso de matérias-primas e relação com os conjuntos artefatuais; (c) Diversidade e flexibilidade

dos conjuntos artefatuais; (d) Tecnologias empregadas.

Portanto, buscou-se compreender o sistema tecnológico por meio da reconstrução das

sequências operacionais envolvidas a partir: (a) da concepção do artefato, (b) da procura,

obtenção e transporte da matéria-prima; (c) manufatura e técnicas utilizadas para a redução e

obtenção dos suportes, (d) uso social (e) perda e/ou descarte.

METODOLOGIA APLICADA

O estudo dos conjuntos artefatuais líticos, sob o viés tecnológico, visa compreender e

indicar traços importantes à compreensão do modo de vida, cultura e, sobretudo,

comportamento e dinâmica cultural na história antes do contato. Assim, as análises dos atributos

tecnológicos cooperam para a compreensão das etapas da cadeia operatória, bem como elucida

as principais características de um conjunto artefatual lítico.

Segundo Lemonnier (1992) tecnologia é uma expressão material das atividades

culturais de uma sociedade, o meio que permite que os grupos sociais ajam sobre a matéria,

com vistas a suprir suas necessidades – estas de qualquer ordem. Além disso, destaca a

necessidade de análise aprimorada das representações sociais a fim de se compreender

integralmente o sistema técnico de um dado grupo, na medida em que o processo produtivo é

carregado de significados e não pode ser estudado isolado (como algo independente) de suas

matrizes sociais. Assim, nesta busca por uma compreensão mais efetiva da tecnologia,

Lemonnier (1992) apresenta uma visão contrária a tradicional, observando-a como uma

construção social, vista como um signo e, portanto, apresentando uma razão simbólica que a

sustenta dentro das teias de significados culturais de uma sociedade.

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O universo tecnológico de um grupo cultural deve ser compreendido e interpretado por

meio de uma noção sistêmica, alicerçada em três premissas: (a) das técnicas em si; (b) do

conjunto de técnicas; (c) do sistema técnico em comparação com os demais sistemas culturais;

conjugadas em cinco elementos: matéria, energia, objetos, gestos e conhecimento

(LEMONNIER, 1986). Portanto, a tecnologia também é considerada uma construção social que,

mesmo sendo responsável pela supressão de necessidades imediatas, regula com a dinâmica e

comportamento cultural na qual está inserida (FAGUNDES, 2010).

Dobres & Hoffman (1994), ao discutirem o objetivo da pesquisa da tecnologia, afirmam

que o arqueólogo não deve ficar restrito em descrições das atividades em microescala, mas

deve focar o processo social, na medida em que o sistema técnico não está à parte dos demais

sistemas. Todo o processo envolvido na modificação da matéria-prima em um produto cultural,

ou seja, nas cadeias operatórias dos artefatos evidenciados nos diversos sítios arqueológicos,

está estruturado em um contexto social e dinâmico. Isto é, a tecnologia é considerada como um

fenômeno cultural dinâmico vinculado à ação social, às representações de um grupo, além de

estar fundamentada pela reprodução social (DOBRES & HOFFMAN, 1994).

Em resumo, a tecnologia não pode ser desprendida de suas matrizes sociais e,

portanto, seu estudo deve estar integrado à compreensão destes contextos, inclusive enquanto

instrumento simbólico e de poder. Logo, a pretensão ao utilizar o conceito de cadeias

operatórias fundamenta-se na possibilidade de compreender parte do sistema tecnológico das

populações pretéritas, buscando inferir sobre os projetos executados pelos artesãos desde a

busca, aquisição e transporte das matérias-primas até os processos de perda e/ou descarte,

inclusive levando em conta os processos formativos (FAGUNDES, 2007).

A aplicação desta metodologia revela o processo de um sistema técnico específico, bem

como o papel que esse sistema ocupa dentro dos demais sistemas técnicos e dentro da própria

tecnologia, sendo essa sua peculiaridade principal, a análise dos conceitos e conhecimentos

envolvidos na manufatura de uma dada cultura material. Além disso, fornece a mais completa

visão das diferenças e similaridades entre os diversos grupos humanos, ao invés de concentrar

em exemplos isolados, provindos de análises tipológicas que privilegiam artefatos acabados ou

mais bem finamente manufaturados (FAGUNDES, 2004, p.62; VIANA, 2005; FAGUNDES &

TAMEIRÃO, 2013).

Os estudos sobre os conjuntos artefatuais líticos dos sítios provenientes de ocupações

horticultoras do médio vale do São Francisco mineiro tiveram como fulcro a compreensão das

cadeias operatórias a partir da concepção do que se produzir até o descarte e/ou perda da

ferramenta. A escolha por essa metodologia se deu no intuito de se poder construir um

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panorama mais assertivo sobre estes conjuntos (vistos como contemporâneos), além de

possibilitar a discussão acerca: (a) Das tecnologias empregadas; (b) Das áreas de atividades; (c)

Dos usos e relações socioculturais. Por meio dos estudos de cadeia operatória, parte-se do

princípio que se obtenha interpretações mais coerentes sobre o sistema tecnológico de grupos

pré-coloniais, como por exemplo: recursos disponíveis, uso social e transporte da matéria-prima.

Buscou-se, assim, a possibilidade: (a) De compreender os conjuntos artefatuais líticos

evidenciados nos sítios em estudo e suas relações com os demais componentes do repertório

cultural, bem como outras características do registro arqueológico; (b) De buscar subsídios na

literatura especializada para integrá-los aos demais sítios com vestígios líticos associados à

Tradição Aratu-Sapucaí. A intenção é esboçar, dar início, a uma futura análise intersítios que

busca o entendimento das recorrências e mudanças nestes conjuntos artefatuais.

Para tanto, os vestígios evidenciados foram submetidos à minuciosa observação de

seus atributos tecnológicos e formais de modo que se pudesse compará-los com a finalidade de

obter o maior número possível de dados para a possível reconstrução das cadeias operatórias.

O material é passado por uma série de triagens, de forma que todos os itens possam ser

analisados em seus atributos individuais da mesma forma em que comparados entre si,

compreendendo as relações que apresentaram entre eles, ao mesmo tempo em que os

resultados entre os diversos conjuntos líticos também possam ser relacionados. Sendo assim,

os trabalhos laboratoriais tiveram como intenção analisar todos os produtos e subprodutos de

lascamento principalmente em sua dimensão tecnológica (detalhes expostos em FAGUNDES,

2004).

OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS CANOAS E MATO SECO

Os sítios arqueológicos Canoas 01 ao 12 e Mato Seco I e II (totalizando 14 sítios

arqueológicos) estão localizados na região fisiográfica do Médio São Francisco, mais

precisamente na micro-bacia do rio Abaeté, no município de São Gonçalo do Abaeté,

mesorregião noroeste de Minas Gerais. São assentamentos que apresentam características

muito semelhantes de implantação, o mesmo ocorrendo com seus repertórios culturais e

cronologias, fatos que permitiram a hipótese de que são sítios contemporâneos em um mesmo

ambiente fisiográfico. Todos abarcam as mesmas características, isto é, eles são assentamentos

a céu-aberto, ambos implantados na média vertente em locais com declividade suave, sempre

às margens do rio Abaeté e em meio ao cerrado stricto sensu, em áreas com presença de

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neossolo litólico, portanto com baixa sedimentação. É válido ressaltar que na mesma região há

ainda 33 sítios identificados, todos a céu aberto com vestígios cerâmicos e líticos em superfície,

com atributos muito semelhantes aos que são apresentados neste artigo.

Figura 1 – Vista geral do sítio Mato Seco I. Fonte: Sigma/2002.

QUADRO 01 Cronologia dos Sítios Regionais

SÍTIO Amostra n° Tipo Método Idade (Anos AP)

CANOAS 08 Cerâmica 3248 Cerâmica TL 550 ±75

MATO SECO I UGAMS#10585 Carvão 14

C 940 ± 25

MATO SECO II 3255 Cerâmica TL 550 ± 50

TAPEIRÃO 3245 Cerâmica TL 300 ± 45

TAPEIRÃO 3246 Cerâmica TL 590 ± 45

ZÉ CAÇAMBA 3247 Cerâmica TL 400 ± 55

NOGUEIRA 3249 Cerâmica TL 360 ± 45

RIBEIRÃO CANOAS II 3250 Cerâmica TL 490 ± 65

ESPIGÃO 3251 Cerâmica TL 480 ± 50

RIBEIRÃO CANOAS III (presença de cerâmica Tupiguarani

associada) 3252 Cerâmica TL 380 ± 50

UICURI 3254 Cerâmica TL 575 ± 80

Em todos eles foi identificada uma quantidade significativa de vestígios culturais em

superfície, inclusive cinco urnas foram evidenciadas nos sítios Mato Seco , todas parcialmente

enterradas, com suas bordas bem visíveis em superfície (cinco no total). Deve-se destacar que

os pacotes sedimentares destes sítios não são profundos, não ultrapassando 50 cm de

profundidade. Atualmente os sítios arqueológicos localizam-se em áreas de antigas pastagens

altamente impactadas pela falta de vegetação e pela ação de fatores naturais (lixiviações e

erosões), características que atingem diretamente o registro arqueológico.

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Figura 2 - Escavação da urna, sítio Mato Seco I. Datação 940±25 anos A.P. Fonte: Sigma/2012.

No caso dos sítios arqueológicos Mato Seco, ambos foram escavados para retirada das

cinco urnas evidenciadas e, por meio da análise de carvão interno a uma delas (Figura 2),

obteve-se a datação que indicou uma cronologia de 940 ± 25 anos A.P. e outra data, obtida por

TL, obteve um resultado de 550 ± 50 anos A.P. Já nos sítios Canoas, apenas o Canoas 08 foi

escavado fato que possibilitou a datação de fragmento cerâmico pelo método de TL, resultando

na data de 550 ± 50 anos A.P.

Figura 3 - Mapa Geral da região onde estão inseridos os sítios. Fonte: IBGE, elaboração LAEP/2013.

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Neste sentido, partiu-se da hipótese de que se está tratando com conjuntos

contemporâneos, com ocupações entre os séculos XI e XV da nossa Era. Contudo, há ciência

de todos os problemas desta especulação, sobretudo no que tange os processos formativos. De

qualquer forma, os processos tecnológicos observados nas cadeias operatórias (lítica e

cerâmica) também puderam cooperar com esta hipótese.

A PAISAGEM E O PROCESSO DE INSERÇÃO DOS SÍTIOS NA REGIÃO

A distribuição espacial dos sítios arqueológicos Mato Seco e Canoas estão diretamente

associada à paisagem regional, dentro dos aportes estabelecidos por Fagundes (2010, 2011,

2014), havendo inter-relações entre o meio versus cultura que podem ser mapeadas via registro

arqueológico. Todos os sítios apresentam semelhanças na implantação e uso do espaço, fatores

que permitem a afirmação que ocorreram escolhas que puderam ser mapeadas e descritas

arqueologicamente. Logo, com base em Fagundes (2014) e nos dados empíricos de campo e

laboratório, especulou-se que os locais no vale do São Francisco, em meio ao cerrado, não

foram ocupados aleatoriamente por pelo menos cinco séculos.

Segundo Fagundes (2014), a paisagem em que estão inseridos os sítios arqueológicos é

vista como um ambiente que excede os preceitos de uma entidade física intacta, mas que há

uma relação intrínseca com a dinâmica cultural, em que toda paisagem é, assim, arquitetada

material e imaterialmente. Deste modo, ela é entendida como uma construção cultural, onde

espaços são apropriados e representados por além de demandas de ordem econômica, uma vez

que envolve questões simbólicas, religiosas, ideológicas, políticas, etc.

Em meio a um emaranhado de significações conceituais, a paisagem pode ser

considerada (ou vista como por alguns paradigmas), sob um caráter de fenômeno social, em que

contextos históricos e culturais específicos definem características simbólicas ímpares. Sob esse

viés, a paisagem nada mais é do que um produto humano, da construção humana, podendo ser

definida como um espaço social humanizado: no tempo e no espaço.

Essa paisagem passa a ser lida e interpretada como símbolo e adquirindo seu papel

cultural dentro das representações sociais de um dado grupo enquanto bem cultural, logo, pode

ser compreendida como um dos focos da Arqueologia, uma vez que seu estudo sistemático

possibilita o entendimento de pontos-chave da pesquisa, entre eles: os processos formativos,

ocupações em longa duração (no tempo, espaço e cultura), mobilidade, obtenção de recursos,

simbolismo, sistema de assentamento, etc.

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No que tange as características fisiográficas onde os sítios arqueológicos estão

implantados, a região estudada se encontra na Formação Abaeté do Grupo Areado,

apresentando uma sedimentação de seixos transportados que se depositaram nos leitos dos

rios. Cabe ressaltar que, segundo Baggio (2008):

A Formação Abaeté – Cretáceo Inferior representa a unidade litoestratigráfica basal da Bacia Sanfranciscana e, inicia-se com os conglomerados fluviais contendo ventifactos, cascalhos e um grande volume de sedimentos rudíticos, depositados em regime torrencial sob clima árido e semiárido (SGARBI, 2001 apud BAGGIO, 2008, p.21).

Esses processos de deposição deram-se fluxos aquosos esporádicos e pelo

escoamento de leques aluviais, formando assim o substrato da bacia. Para os grupos pré-

coloniais a constituição geológica regional permitiu a formação de várias cascalheiras ao longo

dos rios, principalmente de seixos em quartzito e arenito silicificado (juntos equivalem a 63,60%

dos 885 vestígios estudados), portanto fontes preciosas para a constituição da indústria lítica

regional, característica que permitiu a inferência que são estas cascalheiras os locais de

captação de matéria-prima.

A geomorfologia regional é caracterizada por formas mistas de aplainamento e de

dissecação fluvial. Esse processo de dissecação fluvial e de acumulação promove a degradação

da superfície de aplainamento original, possibilitando o arrasamento desta superfície, formada

em ambientes semiáridos. De acordo com Fragoso (2011), o relevo regional é, portanto, suave, a

variação altimétrica ocorre pela associação ao aumento de espessura dos depósitos

fanerozóicos e pela ocorrência de ruditos da formação Abaeté.

Regionalmente, o solo característico é o neossolo litólico que, por ser recente, quase

não apresenta profundidade. Esta característica é fundamental para a compreensão do registro

arqueológico, uma vez que a maioria dos sítios apresentou vestígios culturais em superfície ou,

quando em profundidade, geralmente não ultrapassam 50 cm. Além disso, são solos erosivos

pelo seu declive acentuado ou pela dificuldade de infiltração de água no perfil.

O principal abastecimento aquífero da região na qual os sítios estão localizados é o rio

Abaeté que tem sua nascente no município de São Gotardo, Minas Gerais, tendo 306,6 km de

extensão e desaguando no rio São Francisco. O rio Abaeté é um dos principais afluentes da

margem esquerda do referido rio.

A vegetação regional é representada pelo Cerrado Stricto Sensu caracterizado por

árvores de pequeno e médio porte.

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Os cerrados outrora designados “campos cerrados”, por oposição visual dos que provinham de altas e densas florestas costeiras, são formados por vegetação com árvores baixas e troncos retorcidos, de imediato reconhecimento: plantas de tronco lenhoso com galhos retortos e bizarros, que perdem as folhas durante a estação mais seca do ano (AB’SÁBER, 2006, p.132).

Ainda segundo Ab’Sáber (2006), no cerrado ocorrem precipitações três a quatro vezes

maiores que a média anual se comparando ao domínio da caatinga, e que a característica de

savana dos cerrados típicos é distinta pela luminosidade e calor que atingem o solo por entre as

pequenas árvores.

AS OCUPAÇÕES HUMANAS: A TRADIÇÃO ARATU-SAPUCAÍ EM MINAS

GERAIS

A Tradição Aratu-Sapucaí é associada aos grupos horticultores ceramistas

(provavelmente falantes do tronco linguístico Macro-Jê), que ocuparam uma grande faixa do

Planalto Central Brasileiro (PROUS, 1992; HENRIQUES Jr., 2006; FIGUEIREDO, 2008;

RODRIGUES, 2011). De acordo com Rodrigues (2011, pp. 21-22):

Através do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), criado com a colaboração da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, CNPq e a Smithsonian Institution (...), durante o decênio de 60, foi estabelecida a Tradição

Aratu‐Sapucaí. A proposta do referido programa foi obter amostras de vários sítios para compreender a localização e a história das diversas culturas que habitaram o vasto território brasileiro (...) O objetivo deste programa girou em torno da descrição e classificação de materiais coletados em levantamentos arqueológicos, localizados nos vales dos grandes rios das bacias regionais. Inspirada na proposta histórico-cultural de Willey e Phillips, junto à utilização do método Ford, a finalidade destes procedimentos foi formular um panorama de difusão da cerâmica do Brasil,

centrando‐se basicamente, mas não exclusivamente, em sítios Tupiguarani.

A Tradição foi estabelecida a partir da união entre a Aratu, descrita por Calderón para

sítios e seus repertórios identificados no estado da Bahia, em 1969/1970; e da Sapucaí,

anteriormente identificado por Ondemar Dias Jr. para sítios e seus repertórios culturais

implantados na bacia mineira do Paraná, nos vales do rio Grande e Verde, em 1971 (PROUS,

1992, p. 345; RODRIGUES, 2011, pp. 21-33).

Foi com o PRONAPA que pesquisadores que trabalhavam na Bahia (Calderón) e Minas Gerais (O. Dias) começaram a definir as características da cultura das urnas simples, que não apresenta relações com as antigas ocupações ceramistas de grutas e abrigos tipo Una. Trabalhando separadamente, criaram tradições separadas para fenômenos parecidos, enquanto os arqueólogos goianos e o Pe. Schmitz faziam

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o mesmo em Goiás. A reunião realizada em Goiânia, em 1980, fez com que se chegasse a um consenso sobre a necessidade de uma unificação, depois de se conhecer melhor esta nova realidade (PROUS, 1992, p. 345).

No que diz respeito às características das aldeias filiadas à Tradição, estas foram

implantadas em grandes superfícies, com diâmetro superior até 500 m, a céu aberto, em

terrenos de ondulações suaves, geralmente em médias vertentes, e sempre próximas aos

pequenos cursos d’água (PROUS, 1992; FERNANDES, 2001; FAGUNDES, 2004, 2011b, 2015;

HENRIQUES Jr., 2006; FIGUEIREDO, 2008; ALVES, 2009, 2013; RODRIGUES, 2011).

Assim, o mais comum é a localização dos sítios em terrenos ondulados, a céu aberto, na maioria dos casos são aldeias circulares, com vestígios de sepultamento, fogueiras, artefatos líticos e cerâmicos. Dentre os líticos, com grande frequência

encontrou‐se: lâminas polidas de machado; blocos com depressões centrais

entendidos como quebra‐cocos ou bigorna para lascamento bipolar; material lascado, com grande recorrência do quartzo. Em menor grau aparecem polidores fixos, núcleos, mão de pilão, seixos (seja como alisadores ou como percutores) e grandes blocos. Cabe destacar que os artefatos líticos nem sempre são apresentados em estudos ligados à mencionada Tradição (ROGRIGUES, 2011, p.62).

Henriques Jr. (2006, p.11), ao descrever a Tradição, caracteriza seu repertório cultural

pela presença de vasilhames piriformes e globulares com dimensões diversificadas (gerando

diferentes cacos no que tange a espessura), com destaque para os grandes vasilhames que,

segundo o autor, teriam como função o armazenamento de líquidos e grãos, bem como seu uso

em ritos funerários. Vasilhames pequenos, alguns geminados, rodelas de fuso (que atestam a

fiação de algodão), cachimbos, além de pratos e tigelas também fazem parte do repertório

cultural. O material lítico estaria representado por vestígios lascados e polidos, sendo que estes

últimos, sobretudo mãos-de-pilão, atestariam o cultivo do milho e batata-doce.

Um dos sítios estudado por Henriques Jr. (2006) foi o sítio Mané do Juquinha, localizado

na Província Cárstica do Alto São Francisco, tendo sido ocupado sucessivamente entre os

séculos XIV e XV. Diferente dos sítios associados à Tradição Aratu-Sapucaí, está implantado em

duas cavernas cársticas que, após várias intervenções de campo resultou na coleta muitos

vestígios cerâmicos tanto superfície, como em subsuperfície (HENRIQUES Jr., 2006, pp.25-39).

Estes fragmentos apresentaram espessura variando entre 03 e 25 mm, sendo que a maioria

entre 06 e 10 mm (52,61% dos vestígios analisados), com diferentes tipos de antiplástico

(HENRIQUES Jr, 2006, p.56). Sobre as técnicas de manufatura, foi observada a acordelada e a

modelada, com fragmentos apresentando, na maioria, a queima redutora, 68% do material que,

de acordo com o autor, é uma característica dos vestígios associados à Tradição (HENRIQUES

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Jr., 2006, p.54-55). Acerca do tratamento de superfície, foi observada a presença do alisamento

bom (uma marca da Tradição), sendo que alguns fragmentos foram polidos e outros poucos

receberam algum tipo de resina ou tratamento de branidura. O banho, vermelho e preto, foi

observado apenas em peças pequenas. Conclui seu trabalho afirmando que a diversidade de

formas e volumes dos vasilhames cerâmicos observados regionalmente tem caráter funcional e

não tecno-estilístico, e que muito do que fora classificado como Una teria sido produzido por

grupos Aratu-Sapucaí (HENRIQUES Jr., 2006, p.72).

Discutindo as intervenções no sítio Fazenda São Geraldo, no município de Ibiá, Prous

(1992, p. 351), apresenta como resultado das escavações a evidenciação de 15 fundos de

cabanas ovalados, formando círculos aproximados de 200 m de diâmetro, que ocuparam a face

superior da encosta de um morro, cuja base é drenada por um córrego e pelo rio Santa Teresa.

Ainda de acordo com Prous (1992, pp. 351-352):

A cerâmica inclui grandes urnas globulares de superfície áspera (pelo tempero feito de quartzo local moído em fragmentos bastante grossos) e cuja boca é circundada por uma incisão profunda. Este antiplástico não aparece nos vasilhames menores, de acabamento melhor entre os quais se destacam pequenos recipientes em forma de cuias, ostentando até os apêndices destas plantas, formando, por vezes, recipientes germinados, semelhantes ao da fase Mossâmedes. Apresentam cor cinza escuro e são particularmente encontrados associados aos sepultamentos. Urnas de dimensões intermediárias e forma cônica parecem ter sido reservadas às crianças.

Alves (2009, pp. 71-74) ao descrever os sítios identificados e estudos no âmbito do

Projeto Quebra-Anzol, no vale do Paranaíba mineiro, os caracteriza como assentamentos a céu

aberto, do tipo colinares, sempre implantados em locais de média vertente. Nos cinco sítios

escavados sempre houve a detecção de manchas escuras “(...) resultantes da decomposição de

antigas cabanas, que representam espaços habitacionais de ocupações ceramistas do nível lito-

cerâmico, correspondentes às ocas indígenas” (ALVES, 2009, p. 71).

Fagundes (2015), acerca das oito aldeias ceramistas sítios identificadas no município de

Ituiutaba, indica que todas estão implantadas em regiões de declive suave, próximos a fontes

d’água, tanto no rio Tijuco, afluente da margem esquerda do Paranaíba, quanto pequenos rios e

córregos. Para estes sítios, em especial, não há uma distinção muito clara sobre a escolha do

local da aldeia ser próxima aos grandes cursos d’água ou não, além disso, é bem provável que

às margens do Tijuco várias aldeias ceramistas possam ser evidenciadas, além dos vários sítios

associados aos grupos de caçadores coletores já identificados (FAGUNDES, 2015).

O maior destes assentamentos identificados (e com maior variabilidade artefatual), o

São Lourenço, está implantando próximo a uma vereda, na margem direita do rio São Loureço,

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afluente do Tijuco, sendo cortado por pequenos córregos nas proximidades (FAGUNDES, 2015;

WINTER et al, 2010). Apesar de não ter sido escavado (houve apenas a execução de uma

sondagem exploratória que detectou a presença de vestígios cerâmicos até aproximadamente

70 cm de profundidade), a dispersão superficial do repertório cultural indica uma área do sítio

superior a 18000 m2, portanto uma grande aldeia, com presença de cacos cerâmicos

diversificados e vestígios líticos, lascados e polidos.

Já em Cachoeira Dourada (FAGUNDES, 2011b, 2015; GOMES, 2012) foram

identificadas 10 grandes aldeias ceramistas, todas com dimensões acima de 2500 m2 (tendo

como base a dispersão dos vestígios), implantadas tantos às margens do Paranaíba, quanto em

cursos menores, sempre em vertentes de chapadão com declives moderados. No sítio São João

Batista, distante 40 m do lago da UHE Cachoeira Dourada, foi possível identificar uma grande

mancha escura, circular, graças à ação do arado, muito semelhante ao que é apresentado para

demais sítios do Vale do Paranaíba por Alves (2009). Os sítios Córgão5 (I, II, III e IV), com

datações entre 410 ± 60 anos AP (Córgão I) e 500 ± 85 anos A.P (Córgão III), estão implantados

em áreas de vertente de chapadão em locais bem irrigados por pequenos córregos.

Apresentaram uma grande diversidade de cultura material, representada principalmente por

cacos bem espessos, apenas alisados e com antiplástico mineral bem evidente. Os vestígios

líticos também são diversificados, representados por lascados e polidos (lascas de arenito de

silicificado de diferentes dimensões e tipologias, furados em quartzo, núcleos, batedores,

lâminas, etc.).

Delforge (2013), em seu projeto de doutoramento, apresenta o sítio Cerâmica Preta, um

assentamento lito-cerâmico inserido na Serra de Camanducaia, na divisa dos municípios de

Itapeva e Camanducaia, sul de Minas Gerais. O assentamento está implantado em uma colina,

esta cortada pelo rio Camanducaia. Em suas palavras:

Seu comprimento é de cerca de 500m. O lado esquerdo visto a partir do rio forma um promontório suave e o direito liga-se a um morro maior com alguns afloramentos rochosos e matas. A colina separa dois vales, um por onde corre o Rio Camanducaia e outro por onde corre um riacho que desce da vertente da Serra de Camanducaia. O morro, por sua vez, se liga ao desenvolvimento geral da serra. O rio atravessa a serra formando um vale por onde passa atualmente a rodovia Fernão Dias. Morfologicamente, o local se constitui em um ponto de passagem pelas serras. O Rio Camanducaia é afluente do Rio Jaguari que, conforme o registro arqueológico, banha territórios habitados principalmente por populações Aratu-Sapucaí. Historicamente é relatada a presença de tribos ligadas ao tronco linguístico Macro Gê em especial aqueles conhecidos como Puri e Coroado. Os rios pertencem à bacia maior do Rio Tietê (DELFORGE, 2013).

5 O sítio Córgão III passará por escavações sistemáticas em junho de 2014. O conjunto artefatual já resgatado está sendo estudado por estagiários do LAEP/UFVJM.

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De forma geral, no que se refere às características gerais da tecnologia cerâmica, a

literatura a descreve como havendo baixo investimento decorativo, com presença de cacos bem

alisados que às vezes é confundido com polimento e, em alguns casos, de peças com engobo

vermelho. Os fragmentos são geralmente bem espessos (sempre produzidos pela técnica de

acordelamento, com alguns poucos modelados), oriundos de vasilhames grandes (urnas

globulares e piriformes), além da presença de vasos duplos (geminados), cuscuzeiros, rodelas

de fuso e cachimbos tubulares (ALVES, 2009, 2013; FAGUNDES, 2011b, 2015). Segundo Prous

(1992, p. 350), também são evidenciados vasos pequenos, de paredes geralmente finas, alguns

com bases perfuradas, “vestígios prováveis de cuscuzeiros”.

A maioria dos vestígios representados por cacos de cerâmica está espalhada aos milhares. Os Sapucaí utilizavam grandes vasilhas globulares (igaçabas) para guardar líquidos e sepultar os mortos; em certas regiões (perto de Ibiá), cobriam-nas com chapisco de quartzo moído, enquanto no resto do estado alisavam as paredes de barro. Nota-se também uma diferença da parte ocidental do estado (subtração Sapucaí), quase esféricas, e as do centro-sul (subtração Aratu), oblongas. Nas urnas funerárias Sapucaí aparecem pequenos vasos simples ou duplos em firma de cascas de vegetais cobertos por uma camada preta de fuligem fixada por polimento na parece quente (brunhidura): quatro desses recipientes duplos encontram-se numa única urna de São Gotardo. Os recipientes culinares são de tamanho médio, parecendo-se com tigelas ou apresentando forma cônica. São por vezes cobertos por tinta vermelha (engobo); quase nunca receberam decoração, a não ser eventuais impressões de pontos ou de unhas formando uma linha ao redor da boca. Também de cerâmica são as rodelas perfuradas cônicas ou bicônicas (destinadas a assegurar o movimento dos fusos com os quais se faziam os fios de fibras vegetais) e os cachimbos, tubulares ou com fornilha angular (...); em raros sítios apareceram também adornos (...), suporte de panelas cônicas e colheres de barro queimado (PROUS, 2000, pp. 349-350).

De acordo com Alves (2013), a cerâmica evidenciada e resgatada dos sítios escavados

no Vale do Paranaíba é majoritariamente lisa, com ausência de pintura, banho, brunidura e de

decoração plástica. Mais recentemente, foi identificado no sítio Inhazinha um perfil com três

fornos de barranco, sendo que em um deles foi evidenciado um vasilhame de cerâmica

fraturado, com inúmeras incisões na superfície externa, depositado na parte superior do forno.

Na face inferior foi identificada uma fogueira também com cerâmica repleta de incisões. Ainda

segundo a autora, O engobo só ocorreu em dois sítios: (a) no Prado, nas cores branca e

vermelha. (b) no sítio Silva Serrote, na branca.

Sobre as técnicas relacionadas à manufatura, Alves (2013, p.106), destaca emprego da

técnica acordelada na montagem do artefato cerâmico; tratamento de superfície representado

pela técnica do alisamento; ausência de polimento da pasta; ausência de brunidura; ausência de

pintura e banho; possível ocorrência de engobo vermelho e branco somente para a cerâmica do

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sítio Prado e de engobo branco para a do sítio Silva Serrote, mas sem comprovação científica;

queima redutora da cerâmica em fogueira rasa.

A cerâmica arqueológica pré-colonial do vale do Paranaíba, estado de Minas Gerais, é utilitária, de uso e funções do cotidiano; seus vasilhames foram utilizadas para diversas atividades como cozinhar os alimentos, depositar grãos e sementes, conter líquidos: água, óleo, etc. Porém, os grandes vasilhames cerâmicos, as igaçabas, representadas pelas urnas periformes, com tampas, foram utilizadas de maneira dupla, ou seja, como artefatos utilitários: (a) Urnas silo, para depositar grãos e sementes; (b) Urnas funerárias, artefatos do universo simbólico – ritualístico, para enterrar em posição fetal, alguns membros do grupo (...). Um vasilhame globular com pescoço ligeiramente acentuado, base convexa, dimensão mediana, foi coletado próximo ao sepultamento primário de indivíduo adulto depositado em urna periforme, no sítio Silva Serrote, e classificado como tigela funerária por indicar possível oferenda de alimentos e/ou de algum bem social (vulnerável à decomposição do solo tropical do Brasil) ao morto (ALVES, 2013, p. 105).

Entre as várias formas e tipologias cerâmicas no vale do Paranaíba, Alves (2013,

pp.105-106) apresenta urnas globulares e periformes, vasilhames semiesféricos, carenados,

cônicos, tigelas em meia-calota e elipsoides, fusos, vasos geminados, cuscuzeiros e cachimbos.

Fagundes (2015), ao apresentar a cerâmica evidenciada em vários sítios no Triângulo

Mineiro (no Vale do Tijuco e médio curso do Paranaíba), afirmou que o conjunto artefatual

apresentou cacos de grande espessura, havendo alguns poucos finos, geralmente decorrentes

da produção de vasilhames pequenos. As bordas são na maioria retas e algumas poucas

introvertidas ou extrovertidas, ambas com lábios arredondados. Uma quantidade significativa

destas bordas apresentou decoração plástica junto aos lábios, representadas por incisões,

principalmente latitudinais, em toda a circunferência do vasilhame. Em uma quantidade mínima

de peças (03 bordas) foram evidenciadas incisões do tipo ‘ungulada’, também nas bordas, junto

aos lábios. Tal realidade destoa completamente do conjunto artefatual cerâmico do sítio

Rezende, em Centralina - MG, também por ele estudado no âmbito do Projeto Quebra-Anzol

(coordenado por Márcia Angelina Alves. FAGUNDES, 2004), em que apenas uma pequena

borda com incisão foi identificada. Em São Gonçalo do Abaeté (IZUMI, 2012; TAMEIRÃO, 2014),

mesmo que muito raros, os vestígios com presença de engobo vermelho e preto, além de

algumas bordas com decoração incisa e ungulada, também ocorreram nos conjuntos artefatuais.

As bases evidenciadas são todas côncavas e uma quantidade significativa de arestas de vasos

geminados foi identificada. Rodelas de fuso, cachimbos e cuscuzeiros não foram observados

nestes conjuntos artefatuais cerâmicos.

Entre todos os sítios associados à Tradição Aratu-Sapucaí no Triângulo Mineiro, o sítio

São Lourenço 01, em Ituiutaba, foi o que apresentou maior variabilidade na tecnologia cerâmica.

Os fragmentos analisados eram bem resistentes, espessos, com alisamento entre bom e

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excelente. Exceção diz respeito a grande quantidade de fragmentos com decoração plástica,

geralmente representada por incisões latitudinais junto aos lábios. Algumas bordas com

perfurações foram também identificadas (WINTER et al, 2010).

Em Cachoeira Dourada, o sítio Lago 01 foi o que apresentou maior variabilidade nas

bordas, apresentando algumas com incisões latitudinais junto ao lábio e outra tantas reforçadas

internamente. Neste sítio, os lábios arredondados são mais comuns, mas há fragmentos com

lábios ponteados. Foram identificadas arestas de vasos duplos, ou geminados, em todos os dez

sítios lito-cerâmicos identificados no município (FAGUNDES, 2011b, 2015).

Com base nestes dados, apesar de todas as controvérsias (RODRIGUES, 2011, p. 62),

percebe-se que as diferenças na tecnologia cerâmica são pontuais, onde as similaridades são

majoritárias. Pode-se, assim, indicar que entre os conjuntos cerâmicos associados à tradição

Aratu-Sapucaí, o alisamento de qualidade, algumas vezes lembrando o polimento, é uma

característica comum, somado ao próprio polimento e o engobo, geralmente em vermelho. Do

mesmo modo, a técnica de acordelamento e a queima redutora estão presentes na maioria dos

conjuntos alisados.

Contudo, a decoração plástica nas bordas de alguns vasilhames parece ser uma

característica com grande expressão (e ainda pouco explorada), ocorrendo em poucos

fragmentos, principalmente nos pequenos e de espessura fina a média, sendo realizada nas

bordas, abrangendo toda a circunferência dos vasilhames, muito próxima ao lábio. A decoração

ungulada (também nas bordas), apesar de rara, ocorre em vários sítios do Triângulo Mineiro e

Vale do São Francisco.

ALGUNS EXEXMPLOS DAS INDÚSTRIAS LÍTICAS DA TRADIÇÃO ARATU-

SAPUCAÍ

De acordo com Rodrigues (2011, p. 62), os artefatos líticos nem sempre são

apresentados em estudos relacionados à Tradição Aratu-Sapucaí. Sob a perspectiva aqui

adaptada trata-se de um equívoco. O entendimento de similaridades e diferenças ou

recorrências e mudanças nas maneiras de conceber, produzir e utilizar as ferramentas líticas

coopera sensivelmente para a compreensão dos conjuntos cerâmicos (e vice-versa), ampliando

o conhecimento acerca das ocupações pré-coloniais, sobretudo no Brasil Central, como, por

exemplo, tem ocorrido com os estudos sobre tecnologia lítica de horticultores realizados por

Isnardis e equipe para o Planalto Diamantinense (ISNARDIS, 2013).

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Os conjuntos artefatuais líticos associados à Tradição Aratu-Sapucaí estão

representados por vestígios sobre lasca, geralmente mais simples, que receberam poucas ações

transformativas pós-debitagem e, quando ocorrem, são comuns os retoques curtos e em

escamas para ativação de pelo menos um gume (FAGUNDES, 2004).

Prous (2000, pp. 350-351) afirma que não eram bons lascadores, limitando-se ao

lascamento de cristais e nódulos de quartzo. Esse tipo de vestígios foi identificado por Rodrigues

(2011) no sítio Veredas III, no centro mineiro, onde o uso do quartzo hialino é majoritário, sendo

debitado tanto pela técnica unipolar quanto bipolar. Por outro lado, os sítios do Centro-Norte e

Triângulo Mineiro há uma maior diversidade de matéria-prima e da complexidade de sua

apropriação para produção e emprego social do conjuntos artefatuais, com exploração

majoritária do arenito silicificado (e quartzitos), geralmente havendo fatiamento de seixos para

obtenção de suportes posteriormente retocados, ou mesmo a produção de ferramentas (uni ou

bifaciais) sobre seixos (FAGUNDES, 2004, 2006, 2011b, 2015; GOMES; 2012; CORDEIRO,

2012; SILVA, 2012; ALVES, 2013).

No sítio Rezende (FAGUNDES, 2006, p.118), localizado no médio vale do Paranaíba

mineiro, a indústria lítica associada aos horticultores (datada entre os séculos XII e XV de nossa

Era para a Zona 01 e séculos XI e XIV para a Zona 2 [ALVES, 2009]) está representada pela

exploração de seixos de arenito silicificado (71,78% do conjunto artefatual dos horticultores),

alguns fatiados por percussão unipolar direta, para a obtenção de suportes que, posteriormente,

eram modificados por meio de retoques, geralmente curtos e em escama, para a evidenciação

de um bordo ativo. Havia uma seleção prévia deste arenito silicificado, provavelmente nos locais

de captação (cascalheiras dos rios Piedade e Paranaíba), sendo que devem ter sido levados

para as aldeias previamente lascados. Além disso, alguns seixos foram talhados, uni e

bifacialmente, onde receberam golpes para criação de um bordo ativo, sendo que grande parte

da ferramenta foi mantida com sua superfície cortical como área de preensão.

De modo geral, o conjunto pode ser caracterizado como uma indústria sobre seixo de

arenito silicificado (matéria-prima endógena e de muito fácil acesso), para a produção de lascas

com baixo investimento técnico, sobretudo em ações transformativas pós-debitagem, e artefatos

sobre seixos. Reafirma-se que a classificação de baixo investimento nos processos após a

obtenção de suportes não diminui a complexidade da indústria, principalmente relacionada à

escolha da matéria-prima processos produtivos emprego social, relações, aliás, que

precisam ser mais bem investigadas (FAGUNDES, 2006).

No sítio Rezende, o quartzo também ocupou um lugar de destaque, sendo que dos dez

núcleos evidenciados no conjunto artefatual, todos estavam esgotados, sendo apropriado,

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principalmente, para a produção de furadores, mas há também lascas retocadas (FAGUNDES,

2006, p.122).

Ainda de acordo com Fagundes (2015), o conjunto artefatual lítico de outros sítios

associados aos horticultores ceramistas do Triângulo Mineiro (em Ituiutaba e Cachoeira

Dourada), também está constituído por artefatos simples, com maior diversidade no uso da

matéria-prima e da próxima produção artefatual, com presença de raspadores de diferentes

tipologias e lascas retocadas, sobretudo em arenito silicificado. O quartzo também é amplamente

utilizado, sendo os suportes obtidos tanto pelo lascamento unipolar como o bipolar. E, como no

Rezende, os furadores sobre quartzo são uma ferramenta constante nos conjuntos artefatuais

(FAGUNDES, 2004, 2015; GOMES, 2012).

Gomes (2012) estudando o conjunto artefatual lítico do sítio Lago 01, o descreve como

proveniente de grupos ceramistas associados à tradição Aratu-Sapucaí localizado às margens

do lago formado pela UHE Cachoeira Dourada, em uma área de APP, sendo o conjunto

representado por núcleos (13,95% do conjunto), lascas de debitagem (37,20%), refugos de

lascamento (20,93%), estilhas (18,60%), percutores (2,32%) e furadores de quartzo (6,97%). A

matéria-prima dominante são os arenitos (34,387% do conjunto), seguidos pelo basalto

(18,60%), calcedônia (13,95%), quartzo (13,90%), silexito (11,62%) e sílex (6,97%). A técnica

unipolar está presente em os produtos de debitagem, apesar de o autor descrever o talhe de

seixos para a produção de ferramentas maiores e mais pesadas. Entre os produtos de

debitagem as lascas com marcas de utilização são a maioria (25,58% do conjunto), já os

artefatos perfazem 10,98% do conjunto.

Uma característica importante (e que necessita ser mais bem explorada em futuro

próximo) é a relação entre matéria-prima e conjuntos artefatuais dos horticultores ceramistas,

fato já esboçado na análise da relação entre o arenito silicificado e os conjuntos líticos do sítio

Rezende (FAGUNDES, 2006). O que se pode observar no estudo dos sítios Lago 01 (associado

aos horticultores ceramistas) e Lago 02 (associado aos grupos de caçadores coletores) é que,

mesmo tendo o sílex e o silexito disponíveis, o uso de seixos de arenito silicificado teve um papel

preponderante na produção artefatual. Logo, o que se está definindo como conjuntos artefatuais

pouco complexos podem ser processos vinculados à funcionalidade das ferramentas e a

tradição tecnológica (FAGUNDES, 2006, p. 131).

Medeiros (2007) estudando conjuntos artefatuais em dois sítios lito-cerâmicos

associados à tradição Aratu-Sapucaí, ambos integrantes do Projeto Quebra-Anzol (ALVES,

2009), indica os seguintes resultados: (a) Sítio Inhazinha – foi possível observar a presença de

vestígios lascados (191 peças) e polidos (39 peças), sendo que a maioria destes produzidos em

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quartzo (59,74%), basalto (27,39%), arenito silicificado (9,53%) e quartzito (3,46%). Neste

conjunto, segundo o autor, apenas o lascamento unipolar foi identificado, onde foi possível

constatar que pelo menos parte do processo foi realizado na aldeia (MEDEIROS, 2007, p. 218).

(b) Sítio Rodrigues Furtado – com a presença de 466 vestígios líticos, deste total 428 são

lascados (produzidos tanto pela técnica unipolar quanto bipolar) e 38 polidos. A matéria-prima

predominante foi o quartzo (76,81%), arenito silicificado (18,88%), basalto (2,36%) e quartzito

(1,71%) (MEDEIROS, 2007, p. 219).

Nery e Faccio (2010) apresentaram uma síntese sobre vários sítios associados à

tradição Aratu na micro-bacia do rio Turvo, no norte do estado de São Paulo, bacia do Rio

Grande. Segundos os autores (NERY & FACCIO, 2010, p. 80), o arenito silicificado perfaz 41%

dos conjuntos artefatuais estudados, seguido pela calcedônia (28%), quartzo (18%) e sílex

(13%). Na letra dos autores:

Analisando os líticos lascados das áreas dos Sítios Turvos, percebesse uma maior ocorrência de peças confeccionadas em arenito silicificado, calcedônia e quartzo, respectivamente. Os núcleos e lascas apresentaram a matéria-prima arenito silicificado. Os resíduos apresentam a matéria-prima calcedônia. De modo geral, verifica-se que essas duas matérias-primas têm um nível maior de utilização. O arenito silicificado apresenta-se como matéria-prima de maior ocorrência. Na área do Sítio Turvo I, verificou-se a ocorrência dos dois núcleos em arenito. Pode-se perceber que o trabalho de lascamento foi efetuado na área do sítio (NERY & FACCIO, 2010, p. 80).

Concluem que os conjuntos líticos estão caracterizados por peças não muito grandes,

tendo o arenito silicificado como matéria-prima predominante, a exemplo dos sítios estudados no

Triângulo Mineiro (FAGUNDES, 2004, 2015; GOMES, 2012), contudo, ainda segundo os

autores, tal realidade não impediu a utilização de outras rochas e minerais. A indústria, assim,

está constituída de instrumentos simples, com poucas modificações, mas, segundo Nery e

Faccio (2010, p. 87), estes supriam as necessidades cotidianas do grupo (ou grupos) que as

produziram.

Ao se tratar da tecnologia lítica nos sítios associados à Tradição Aratu-Sapucaí,

Fernandes (2001) aborda que “normalmente o material lítico associado à Tradição Aratu-Sapucaí

está intimamente relacionado ao tamanho das aldeias, geralmente descritas como extensas e

estáveis”. Diante disto, a autora diz que:

Portanto, para que um sítio fosse filiado à tradição, além de sua localidade, eram confirmadas algumas das questões que caracterizaram a Tradição Aratu-Sapucaí, como as urnas periformes e a documentação cerâmica bem característica, com fusos perfurados, vasos geminados (duplos), vasilhames de bordas onduladas e fragmentos cerâmicos lisos. Quanto à indústria lítica, os grandes representantes

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desta tradição são os quebra-cocos, lascas iniciais e lâminas de machado polidas. (FERNANDES, 2001).

Analisando 78 vestígios (74 são lascados, 03 materiais brutos e 01 polido), provenientes

do sítio Veredas III (no centro mineiro), Rodrigues (2011) apresenta particularidades acerca dos

conjuntos líticos por ele estudados, associados à cerâmica Aratu-Sapucaí da região central de

Minas Gerais.

O autor inicialmente afirma que, apesar de parecer numericamente superior aos

vestígios líticos, os fragmentos cerâmicos analisados não equivalem a mais do que 24 potes.

Contudo, os vestígios lascados, diferente dos sítios analisados e de outros conjuntos do

Triângulo Mineiro, são em quartzo majoritariamente, obtidos por meio do lascamento de

monocristais de quartzo hialino (RODRIGUES, 2011, p.106)6.

As técnicas observadas no material lascado foram unipolar por meio de percussão direta

dura e a bipolar, com percussão sobre bigorna (RODRIGUES, 2011, p. 179). As peças obtidas

pelo lascamento bipolar, segundo o autor:

As peças identificadas como extraídas por PSB longitudinal apresentam em média 2,7cm de comprimento, 1,6cm de largura e 1,3cm de espessura. As retiradas por PSB transversal possuem em média 2,5cm de comprimento, 1,9cm de largura e 0,8cm de espessura. As de PSB com direção não identificada têm 2,5cm de comprimento, 1,9cm de largura e 0,9cm de espessura. Já as que tiveram mudança no plano de percussão, com direção indefinida, apresentam 2,7cm de comprimento, 2,5cm de largura e 1,9cm de espessura (RODRIGUES, 2011, p. 180).

Já os vestígios onde a percussão unipolar direta com uso de percutor duro foi

empregada (a minoria do conjunto artefatual), sendo que: “(...) Em média, as lascas possuem

2,3cm de comprimento, 2,1cm de largura e 0,9cm de espessura. Todas apresentam talão com a

faceta do cristal de quartzo. Encontramos duas lascas” (RODRIGUES, 2011, p. 183).

Por conseguinte, pelas informações e características apresentadas para conjuntos líticos

de horticultores associados à tradição Aratu-Sapucaí, principalmente de São Paulo e Triângulo

Mineiro (FERNANDES, 2001; FAGUNDES, 2004, 2015; GOMES, 2012; ALVES, 2009; NERY &

FACCIO, 2010), foi possível inferir que se tratam das mesmas observadas para os conjuntos

artefatuais em estudo, permitindo a especulação, mesmo que preliminar, que há similaridades

técnicas entre a produção artefatual lítica dos grupos ceramistas associados à Tradição Aratu-

Sapucaí. O quartzo, apesar de ocorrer nos conjuntos artefatuais, tiveram apropriação e uso

secundário no médio São Francisco, contudo acredita-se que tal fato esteja diretamente

6 Tal realidade deve estar relacionada à constituição geológica regional e, consequentemente, o tipo de matéria-prima disponível ao lascamento.

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relacionado aos tipos e disponibilidade de matéria-prima disponível ao processo de lascamento.

Deve-se levar em conta que o quartzito e arenito silicificado são rochas de fácil obtenção

regionalmente, com propriedades aptas ao lascamento e, principalmente, produzindo conjuntos

materiais diversos e flexíveis para uma variada gama de atividades sociais.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INDÚSTRIA LÍTICA DOS SÍTIOS CANOAS

E MATO SECO I e II

Acerca dos conjuntos líticos dos sítios (ao todo foram estudados 885 vestígios, 603

provenientes do sítio Canoas e 282 dos sítios Mato Seco), pode-se inferir que se trata de uma

indústria sobre seixos relacionada a grupos de horticultores ceramistas e representada por

ferramentas com baixo investimento transformativo, sobretudo em ações pós-debitagem. O

Quadro 2 demostra a tipologia e a quantidade dos vestígios evidenciados nos assentamentos.

QUADRO 02

TIPOLOGIA DOS CONJUNTOS LÍTICOS DOS SÍTIOS MATO SECO I E II E CANOAS.

TIPOLOGIA SÍTIOS

CANOAS

SÍTIOS MATO

SECO I E II TOTAL %

Total % Total %

Lascas 257 42,62 168 59,57 425 48,18

Estilhas 180 29,85 25 8,86 205 23,24

Resíduos 87 14,42 21 7,44 108 12,24

Artefatos 62 10,28 44 15,43 106 12,01

Núcleos 17 1,16 11 3,90 28 3,17

Fragmentos naturais - -- 06 2,12 06 0,68

Fragmentos polidos -- -- 05 1,77 05 0,56

Fragmentos artefatos - -- 01 0,35 01 0,11

Seixo Natural - -- 01 0,35 01 0,11

TOTAL 603 100,0 282 100,0 882 100,0

Como dito, esta indústria pode ser caracterizada como sobre seixo, onde as matérias-

primas mais utilizadas foram o quartzito (32,99%), sílex (30,61%) e arenito silicificado (14,39%).

As demais ocuparam papéis secundários nos conjuntos analisados (Quadro 03).

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QUADRO 03

MATÉRIAS-PRIMAS NOS CONJUNTOS LÍTICOS EM ESTUDO

SÍTIOS CANOAS Núcleo

Artefatos

Estilhas Refugos

Lascas

TOTAIS

%

SÍLEX 05 04 120 34 40 203

QUARTZITO 07 41 24 17 144 233

ARENITO

SILICIFICADO 02 15 12 08 47 84

QUARTZO -- 01 02 11 02 16

CALCEDÔNIA 03 -- 17 16 07 43

CALCÁRIO -- -- 02 -- 13 15

SÍLEX -- -- 02 01 03 06

ANFIBÓLITO -- 01 01 -- -- 02

SILEXITO 01 01

SÍTIO MATO SECO Núcleo

Artefatos

Fragmentos e

seixo

Estilhas

Refugos

Lascas

TOTAIS

%

SÍLEX (MARROM E

VERMELHO) 03 07 -- 04 08 45 67

QUARTZITO 04 09 01 08 02 34 58

ARENITO

SILICIFICADO 04 25 07 13 08 80 137

QUARTZO -- 03 -- -- 01 03 07

CALCEDÔNIA -- -- -- -- -- 01 01

CALCÁRIO -- -- -- -- -- 03 03

ANFIBÓLITO -- -- 05 -- -- 01 06

SILEXITO -- -- -- -- 02 01 03

Contudo, algumas considerações devem ser assumidas acerca da apropriação das

matérias-primas. Primeiramente os conjuntos líticos estão constituídos por rochas e minerais

endógenos, de fácil obtenção em cascalheiras no rio Abaeté e seus afluentes. Com posse desta

informação, pode-se inferir que não há qualquer necessidade de economia da matéria-prima.

Logo, as ações transformativas pós-debitagem, reparos e reciclagem podem ocupar papel

secundário nos conjuntos líticos regional, tanto em função da disponibilidade quanto da sua

aptidão para o lascamento, uma vez que, para as três matérias-primas principais, a debitagem já

estabelece gumes cortantes aptos ao uso direto.

Outro fator importante na discussão é o uso do sílex nos conjuntos apresentados.

Apesar de ocorrer quantitativamente de forma significativa nos conjuntos artefatuais, a maioria

dos vestígios em sílex é de estilhas e refugos de lascamento que perfazem 18,82% do conjunto

(166 peças). Tal realidade deve estar vinculada à exploração desta matéria-prima, obtida em

forma de nódulos para obtenção de pequenas lascas. Os artefatos em sílex totalizam apenas

1,24% do total do conjunto artefatual e são vestígios pequenos, com baixo investimento

transformativo, o que indica a possibilidade da utilização dos suportes sem qualquer modificação

após a debitagem.

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Os vestígios em quartzito e arenito silicificado, por sua vez, juntos somam 63,60% do

conjunto artefatual. Deste total, 5,66% são artefatos em quartzito e 4,53% artefatos em arenito

silicificado. O total de estilhas e refugos de lascamento destas matérias-primas é de 10,42%.

Assim, diferente de outros sítios associados à tradição Aratu-Sapucaí, além de se

observar uma maior variabilidade de matérias-primas (talvez vista nos sítios do Triângulo), o uso

de seixos de quartzito para obtenção dos artefatos e suportes a serem transformados é uma

marca deste conjunto. O arenito silicificado, sob a forma de seixo, também é extremamente

utilizado, tanto para confecção de artefatos stricto-sensu, como para a produção de ferramentas

sem ações transformativas, tais como quebra-cocos e calibradores.

Com base na metodologia estabelecida por Fagundes (2004), algumas categorias, tais

como presença de córtex, tipo de talão, tipo de lascas, foram comparadas à matéria-prima de

modo que se pudesse compreender como foi realizada sua apropriação e quais características

poderiam ser associadas às escolhas efetuadas para obtenção dos conjuntos artefatuais.

Figura 4. Artefatual unifacial em quartzito, sítio Canoas. Cordeiro/2013

Alguns resultados foram alcançados: (a) exploração dos seixos em quartzito para

produção de artefatos unifaciais e bifaciais (em menor número), onde foram executados golpes

perpendiculares para obtenção de um bordo cortante, permanecendo a maior parte da superfície

cortical, tal realidade ocorrendo em todos os sítios (Figura 4); (b) estes seixos também foram

explorados para a produção de suportes que sofreram ações transformativas pós-debitagem,

sobretudo retoques, para a produção de raspadores e lascas retocadas. Cabe aqui a ressalva

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que para este tipo de ação o arenito silicificado foi mais utilizado (Figura 5); (c) No conjunto

artefatual dos sítios Canoas 09 raspadores plano-convexos foram evidenciados, neste caso,

houve o uso de façonagem para reduzir e dar forma aos gumes (Figura 6); (d) A exploração do

sílex foi feita por meio de pequenos nódulos, muitos com incrustações, fato que resultou na

obtenção de pequenas lascas que receberam retoques curtos e em escamas; (e) Os seixos em

quartzito e arenito silicificado tiveram uma ampla variedade de usos, tanto por meio das ações

transformativas – debitagem, façonagem e retoques –, como no uso direto como percutores,

quebra-cocos (bigornas) e calibradores (SILVA, 2013; CORDEIRO, 2013).

Figura 5. Artefato sobre lasca, sítio Canoas 8. Fonte: LAEP/2013.

Figura 6. Exemplos de artefatos estudados. Fonte: LAEP/2013.

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Acerca das técnicas de lascamento, no caso dos produtos de debitagem foi observada

apenas a utilização da técnica unipolar com uso de percutor duro. Mesmo nos suportes e

artefatos de quartzo, não foi identificada a técnica bipolar, por exemplo.

Trata-se, portanto, de processos de exploração dos núcleos (seixos rolados) para a

produção dos suportes obtidos às suas custas ou dos próprios núcleos transformados em

instrumento. Muitas ferramentas são choppers, ou seja, seixo lascado unifacialmente, por meio

de retiradas paralelas ao eixo morfológico da peça, mantendo grande parte da sua superfície

cortical, utilizada como área de preensão da ferramenta. Há também raspadores bifaciais sobre

seixo.

Na maioria das peças a direção de debitagem foi inferida e o talão ausente, provável

resultado da exploração do seixo pela técnica unipolar, pelo qual foram desferidos golpes fortes

com uso de percutor duro, ação que esmagou o talão de grande parte dos vestígios. No entanto,

há peças que apresentam o talão, principalmente o cortical (15,95%), enquanto os do tipo liso-

plano ocorreram em 7,98%.

No que tange ao córtex, grande parte dos vestígios apresentou alguma superfície

cortical, sendo que em 52,94% dos vestígios dos dois sítios apresentam o córtex menor que 50%

e em 8,50% das peças apresentam o córtex acima de 50% ou total. As peças sem superfície

cortical, na maioria, foram os refugos de lascamento.

Em suma, entre as principais características dos conjuntos artefatuais pode-se citar:

Há diferentes artefatos, mas as lascas (com presença de retoques) perfazem a maioria.

Há também uma quantidade significativa de raspadores sobre seixos, uni e bifaciais.

A façonagem foi pouco utilizada, embora houvesse o conhecimento desta técnica

observada em alguns poucos artefatos. Pode-se também inferir que os artefatos com

menor investimento transformativos supriam as necessidades sociais e, portanto, não se

tratava de uma relação entre simples ou complexo, mas de escolhas, do que produzir e

para que, inclusive vinculado à eleição de determinada matéria-prima para a produção

de certa ferramenta.

A proximidade com o rio fez com que a matéria-prima fosse abundante, sendo utilizados

na maioria das vezes seixos depositados em seu leito, muito dos quais receberam

golpes perpendiculares em uma das extremidades para criação do gume ativo e, em

outros casos, houve fatiamento para obtenção de suportes.

A grande maioria dos vestígios dos conjuntos artefatuais em estudo está constituída por

refugos do processo de lascamento.

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Assim, as ferramentas evidenciadas nos sítios possuem marcas que permitem afirmar

que foram produzidas sobre seixos, por meio do fatiamento, utilizando a técnica unipolar com

uso de percutor duro, onde o quartzito e arenito silicificado foram utilizados para a produção de

uma ampla gama de ferramentas. Pode-se, assim, caracterizar os conjuntos artefatuais como

provenientes de uma indústria sobre seixo para a produção de artefatos diferenciados.

No conjunto artefatual também foram evidenciados ferramentas polidas como: lâminas,

mãos e um tembetá em quartzo hialino. Alguns vestígios naturais com marcas de uso também

foram evidenciados, representados por uma ferramenta multifuncional (com marcas de

maceramento, percussão e de calibração) no sítio Mato Seco I e quebras-coco no Mato Seco I

(associado a um sepultamento) e no Canoas.

Figura 7. Artefatos Polidos. Fonte: LAEP/2012

A PRESENÇA DE CERÂMICA NOS SÍTIOS EM ESTUDO

Nos sítios em pauta também foi evidenciado uma grande presença de vestígios

cerâmicos, fato que permitiu a afirmação de que os conjuntos artefatuais líticos em estudo são

realmente provenientes de grupos de horticultores ceramistas que ocuparam a área entre pelo

menos há 2000 mil anos A.P., conforme Dias Jr. (1974/1976).

No caso dos sítios analisados, com base nos resultados dos estudos cerâmicos em

andamento, pode-se inferir que se trata de grupos (ou grupo) filiados à Tradição Aratu-Sapucaí

(TAMEIRÃO, 2014). Entretanto, em outros sítios regionais, principalmente o Ribeirão Canoas I,

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os estudos preliminares apontaram a existência de fragmentos típicos da Tradição Tupiguarani,

apresentando pasta, técnicas e decoração diferentes (IZUMI, 2012).

De qualquer forma, a literatura aponta para o médio São Francisco mineiro a presença

da tradição Aratu-Sapucaí. Como discutido anteriormente, a cerâmica, marcador material da

tradição, é caracterizada por vasilhames grandes, e inclui urnas funerárias globulares e

piriformes. É produzida pela técnica de acordelamento, quase não ocorrendo decoração, sendo

representada por peças bem alisadas e, quando ocorre decoração, está representada por

poucas incisões (FAGUNDES, 2004; ALVES, 2013; TAMEIRÃO, 2014). Cachimbos tubulares,

vasos geminados, cuscuzeiros e rodelas de fuso também são artefatos cerâmicos comuns na

tradição Aratu-Sapucaí, ambos evidenciados nos sítios em São Gonçalo do Abaeté.

No que tange as técnicas, para os sítios estudados (Canoas 08 e 09, Espigão e Ribeirão

Canoas I, II e III), foram identificados: (a) peças com bom alisamentos em todos os conjuntos

artefatuais. No sítio Ribeirão Canoas I, dos 417 fragmentos, 399 apresentam como tratamento

de superfície o alisamento, dos quais 172 regular, 139 fragmentos bom, 82 excelentes e 06

ruins; (b) No que tange a decoração, por exemplo, no sítio Ribeirão Canoas I (417 fragmentos)

foram evidenciadas duas bordas com engobo vermelho, 14 fragmentos escovados (que parecem

ser Tupiguarani) e uma borda reforçada com decoração ungulada, com lábio plano e reforçado.

Fato importante deste conjunto artefatual é a evidenciação de duas bases planas. No sítio

Ribeirão Canoas II foi evidenciada outra particularidade deste conjunto: uma borda introvertida

com decoração plástica ungulada e com engobo preto (IZUMI, 2012).

De qualquer forma, cabe ressaltar que presença de engobo vermelho em todos os

conjuntos artefatuais. Decoração incisa das bordas ocorre no sítios Canoas 08 e 09 (Figura 10).

(c) em todos os sítios foi constatada a presença apenas da técnica de acordelamento; (d) o

antiplástico representado pelo quartzo (maioria dos fragmentos) e cacos cerâmicos moídos,

principalmente no sítio Espigão, onde 40% dos fragmentos apresentaram na pasta cacos

triturados; (e) apenas a queima redutora foi identificada; (f) Os cacos são na maioria bem

espessos, mas há exceções, por exemplo: no caso do sítio Canoas 08, 88,98% dos cacos

apresentam espessura superior a 20 mm e apenas 3% tem espessura menor que 06 mm; no

Canoas 09 14,31% são muito espessos, sendo que a maioria dos fragmentos é do tipo muito

fino, ou seja, 40,15%; nos sítios Ribeirão Canoas I, II e III a predominância é dos fragmentos de

espessura média (43%), seguidos pelos de espessura grossa (35%), os de espessura fina

(15%), muito fina (6%) e muito grossa (1%). (g) as formas são variadas, desde urnas globulares

de borda reta (provavelmente silos, já que não houve detecção de sepultamentos), vasos

elipsoides de base plana (utilizado com urna), vasos semiesféricos, vasos cônicos, tigelas em

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meia calota, tigelas semiglobulares, entre outras (Figura 10). (h) Das bordas analisadas nos

sítios Canoas 8 e 9 (70 no total, equivalente a 6,64% do conjunto artefatual), todas são retas

com lábios arredondados, sendo que apenas 05 apresentaram incisões latitudinais juntos aos

lábios, ao exemplo das evidenciadas no Triângulo Mineiro (Figura 10).

Figura 8. Rodela de fuso e cachimbo tubular. Fonte: LAEP/2012

Outro fato importante a ser destacado é que nos sítios em estudo, principalmente nas

áreas onde foram evidenciadas urnas ou concentrações significativas de fragmentos cerâmicos,

foram abertas quadrículas de escavação por níveis artificiais a cada 10 cm, finalizando na

camada estéril, aproximadamente 50 cm de profundidade. No total foram abertas cinco áreas

(quadriculamento) onde se evidenciou (SIGMA, 2012): (a) Quatro urnas silos, todas retiradas em

bloco para escavação em laboratório. No LAEP, duas foram escavadas, sendo que a urna 01

obteve datação de 940 ± 25 AP pelo método de 14C, as demais foram preservadas em

testemunho; (b) Um vasilhame elipsoide com base plana, com altura de 35 cm, com presença de

ossos humanos no interior, sepultamento secundário (sepultamento 01); (c) Um sepultamento

secundário depositado em grandes placas cerâmicas, com enxoval funerário associado

(tembetá, quebra-coquinhos, lascas e fragmentos cerâmicos). Assim, os conjuntos cerâmicos

são marcados pela presença de urnas globulares, provavelmente silos, uma vez que não foi

evidenciado sepultamentos associados.

Os polidos também ocorrem com grande frequência na Tradição Aratu-Sapucaí, fato que

ocorreu nos sítios estudados, estando representados por lâminas, mãos-de-pilão, batedores,

inclusive tembetás, podendo acompanhar os sepultamentos (ALVES, 2009, 2013). No sítio Mato

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Seco I, por exemplo, ocorreu a evidenciação de um sepultamento secundário envolto a placas

cerâmicas, sendo que associado a ele um tembetá em quartzo hialino (Figura 8).

Figura 9. Sepultamento 2 com tembetá em quartzo hialino associado. Fonte: SIGMA/2012.

Figura 10. Formas cerâmicas dos sítios Canoas. Fonte: Des. Santigo/2011 apud

TAMEIRÃO/2014.

Cabe ressaltar que as diferenças entre os sítios regionais e os bierconjuntos artefatuais

dos Ribeirão Canoas exige um estudo mais preciso e melhor compreensão dos sistemas

tecnológicos, lembrando que a datação do Ribeirão Canoas III é pós-contato, ou seja, 380±ir 80

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anos A.P., enquanto dos Mato Seco e Canoas estão entre os séculos XI e XV. Para o sítio

Ribeirão Canoas I, muitos componentes dos conjuntos cerâmicos são semelhantes ao que é

descrito para a tecnologia Tupiguarani.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa objetivou a análise dos conjuntos artefatuais com vistas à reconstrução,

mesmo que dedutiva, das cadeias operatórias envolvidas na análise dos conjuntos líticos,

inclusive buscando resultados acerca do emprego social e uso das ferramentas líticas

produzidas por esses grupos pré-coloniais, horticultores ceramistas associados à Tradição Aratu-

Sapucaí, que habitaram o vale do São Francisco mineiro, provavelmente entre os séculos XI ou

XV de nossa Era.

Trata-se de uma indústria sobre seixos, com uso majoritários do quartzito e arenito

silicificado para a produção de um conjunto artefatual diversificado, a saber: (a) lascados:

raspadores sobre seixos uni e bifaciais; lascas retocadas e outro tanto de lascas brutas sem

ações transformativas pós-debitagem, mas que devem ter servido para uma ampla gama de

utilizações; raspadores sobre lascas, inclusive plano-convexos, etc. (b) polidos: lâminas de

machado, mãos-de-pilão e tembetá. (c) instrumentos sem modificações: almofarizes,

calibradores, batedores e percutores.

O sílex tem um papel expressivo, onde foram explorados nódulos para obtenção de

pequenas lascas, sendo que algumas receberam retoques curtos e em escamas. O mesmo

ocorreu com o quartzo, sendo utilizado para a produção de pequenos suportes,

A disponibilidade de matéria-prima, por sua vez, levou ao estabelecimento de uma

indústria onde não houve preocupação com a economia característica que pode ter influenciado

todas as demais etapas da cadeia operatória e mesmo ‘camuflado’ alguns itens essenciais à

compreensão das escolhas no que tange a relação entre matéria-prima e morfologia dos

artefatos componentes dos conjuntos líticos.

No que se refere às técnicas de lascamento, apenas a unipolar com uso de percutor

duro foi averiguada, mesmo entre os vestígios em quartzo, matéria-prima onde o lascamento

bipolar é atestado na literatura (RODRIGUES, 2011).

De qualquer forma, os conjuntos líticos dos sítios em São Gonçalo do Abaeté (ainda em

estudo), cooperam para a compreensão das indústrias de horticultores ceramistas afiliados à

Tradição Sapucaí que, como destacado por Rodrigues (2011), são pouco estudados.

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Por meio das análises de campo e laboratório, bem como as comparações com estudos

disponíveis na literatura, pode-se perceber que há necessidade de um investimento maior

(esforços) para melhor compreensão de como estas ferramentas estavam relacionadas aos

processos sócio-produtivos e seus papéis nos repertório culturais indígenas. Apontá-las como

indústrias simples, ou expeditas, camuflam suas características tecnológicas (e culturais),

impedindo o entendimento que se tratam de expressão material da cultura.

REFERÊNCIAS

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