Aspecto tempo aktionsart exegese

24
Mestrado STBNET Módulo Janeiro - 2012 Pr. José Ribeiro Neto Mestrando em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica, USP [email protected] www.emunaeditora.com.br “Importância das questões de Aspecto, Tempo e Aktionsart na exegese bíblica”

Transcript of Aspecto tempo aktionsart exegese

Mestrado STBNETMódulo Janeiro - 2012

Pr. José Ribeiro NetoMestrando em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica, USP

[email protected]

“Importância das questões de Aspecto, Tempo e Aktionsart na exegese bíblica”

Introdução: Abuso exegético

“É aproximadamente o ano 2790. A nação mais poderosa na terra ocupa um largo território da África Central, e o seus cidadãos falam Suali. Os Estados Unidos e outros países de fala inglesa há muito tempo deixaram de existir, a maioria da literatura anterior a 2012 (o ano da Grande Conflagração) não existe. Alguns arqueólogos escavando regiões ocidentais da América do Norte descobriram um curto mas bem preservado texto que pode ser datado com confiança como sendo do último quartel do século XX. O qual se lê:

Introdução: Abuso exegético

Marilyn, cansada de sua imagem glamurosa, embarcou em um novo projeto. Ela deveria agora cultivar sua mente, aperfeiçoar suas habilidades verbais, prestar atenção a padrões de etiqueta. Mais importante do que tudo, ela deveria se devotar a causas voltadas à caridade. Portanto, ela ofereceu seus serviços ao hospital local, os quais necessitavam de voluntários para animar pacientes terminais, muitos dos quais tem tido dores consideráveis por um longo período. As semanas voaram. Um dia ela estava sentada na cafeteria quando seu supervisor abordou-a e disse: “Eu não vi você ontem. O que você estava fazendo?” “Eu pintei meu apartamento, era meu dia de folga, “ela respondeu”. (SILVA, 1990, p. 11)

Introdução: Abuso exegético

...Os estudiosos decidiram dedicar-se à exegese do texto e publicaram as seguintes conclusões:“Nós não somos capazes de determinar se este texto é um trecho de um romance ou de uma biografia histórica. É quase certo, entretanto, que foi produzido em um contexto religioso, como é evidente pelo uso de palavras tais como devotar, oferecer, caridade. De qualquer forma, esta passagem ilustra o poder do inglês do século XX, uma linguagem cheia de maravilhosas metáforas.

Introdução: Abuso exegético

O verbo embarcar traz a nossa mente um transatlântico navegando por um cruzeiro de aventura, enquanto que cultivar possivelmente nos alerta para os interesses botânicos de Marilyn. Naqueles dias os norteamericanos comparavam o tempo a um pássaro – provavelmente à águia – que voa.

O autor desta peça, além disso, faz uso inteligente de associação de palavras. Por exemplo, o termo glamuroso é etimológicamente relacionado a gramática, um conceito... (SILVA, 1990, p. 12)”

Introdução: Abuso exegético

O problema dos exegetas, sobretudo os brasileiros, é a base elementar de conhecimento linguístico. Os manuais de língua hebraica, grega e aramaica nos dão somente um conhecimento elementar dos conceitos fundamentais dessas línguas e somente no aspecto morfológico (a palavra em si).

O aspecto sintático é pouco tratado e o literário é praticamente esquecido. Contudo, quando preparamos um sermão ou um estudo bíblico, estamos trabalhando no aspecto literário

Introdução: Abuso exegético

Sendo assim, quando estivermos falando a respeito da importância do aspecto, aktionsart e tempo, deve-se tomar o devido cuidado e abordar as conclusões a respeito dessas questões dentro do âmbito mais amplo, o âmbito literário e teológico.

O cuidado deve ser em não abusar das questões linguísticas para defender posições teológicas, tendo em vista que a abordagem desse temas devem se feitas como parte de outros elementos necessários à saudável exegese bíblica.

Definição de termos

Aktionsart [ʔakˈtsioːnsˌʔaɐt] (sing.) Aktionsarten [ʔakˈtsioːnsˌʔaɐtn] (pl.) = tipo de ação, tipos de ação – é uma categoria gramatical de tempo do verbo que se traduz como tipo de ação.

“a maneira na qual uma ação ou situação desenvolve ou procede em circunstâncias particulares” (Forsyth, 1970, p. 19 apud Bache, 1982, p. 64)

Definição de termos

Aspecto (Aktionsart) refere-se a uma categoria de fenômenos morfológicos que descrevem a espécie de situação a que o verbo se refere. (...)

Outro grupo de fenômenos de aspecto (Aktionsart) envolve “fientividade” e transitividade. O primeiro destes termos se refere ao tipo de movimento ou atividade inerente ao verbo. Um verbo pode ser estativo (descreve um estado) ou fientivo (descreve atividade). Essa diferenciação está relacionada a uma antiga questão de com que proximidade os adjetivos estão relacionados com os verbos. (Waltke; O’Connor, 2006, p. 348-349).

Definição de termos

Em línguas com um aspecto progressivo, os verbos fientivos podem ser progressivos (cf. “Ele estava aprendendo hebraico”), enquanto que os estativos não (cf. a inaceitabilidade de: “Ele estava sabendo hebraico”). Verbos fientivos às vezes são chamados de verbos dinâmicos, que é um termo aceitável, ou de verbos ativos, terminologia que não deveria ser utilizada por estar sujeita à confusão com o sentido de ativo no que se refere ao papel do sujeito. (Waltke; O’Connor, 2006, p. 349).

Definição de termos

Aspecto = categoria gramatical que define o fluxo temporal de uma ação verbal – perfectiva ou imperfectiva.“a ação ou situação descrita do ponto de vista do falante/escritor” (Porzig, 1927, p. 152 apud Bache, 1982, p. 64)

Definição de termos

“Aspecto (Aspekt) refere-se à categoria de fenômenos morfológicos que descrevem o perfil de uma situação de tempo. Em português há dois conjuntos de marcadores que pertencem ao aspecto, ambos fundidos em alguma medida aos marcadores de tempo. O aspecto progressivo indica que a situação é continuada, e há formas do presente progressivo (“estou correndo”), etc. O aspecto perfectivo indica que a situação está completa, quer no tempo presente (“eu amo”) quer no passado (“eu amei”). O aspecto perfectivo precisa ser diferenciado do tempo perfeito do português, o qual associa o aspecto perfectivo com uma referência a um tempo anterior, novamente, seja no tempo presente (presente perfeito, “eu tenho corrido”) ou no tempo passado (pretérito perfeito, “eu tinha corrido”). (Waltke; O’Connor, 2006, p. 347)

Definição de termos

“É importante distinguir aspecto de Aktionsart. Em geral, podemos dizer que aspecto é o signficado não-afetado enquanto Aktionsart é o aspecto combinado com os aspectos lexicais, gramaticais, ou contextuais. (Wallace, 1996, p. 499)

Definição de termos

Tempo = “Em geral, o tempo (...) grego envolve dois elementos: aspecto (tipo de ação, [às vezes, chamado de Aktionsart, mas precisamos distinguir os dois]) e tempo. Aspecto é o valor primário do tempo verbal no grego e tempo é secundário, se envolvido completamente. Em outras palavras, tempo é aquela característica do verbo que indica a apresentação da pessoa do discurso (em verbos de ação ou estado) com referência a seu aspecto e, debaixo de certas condições.” (Wallace, 1996, p. 496)

“Em geral, o tempo cronológico é absoluto no indicativo, relativo no particípio, e não existente em outros modos.” (Wallace, 1996, p. 498)

Definição de termos

Tempo refere-se à categoria dos fenômenos morfológicos que localizam uma situação no curso do tempo. Tempo sempre se refere tanto ao tempo da ação quanto ao tempo do enunciado: “Ele correu” usa um verbo no tempo passado para referir-se a uma ação antes do tempo da fala. Tempo também pode referir-se ao tempo de outra ação: “Tendo corrido, ele descansou” usa dois verbos no tempo passado para referir-se a situações anteriores ao enunciado, e uma delas (“tendo corrido”), é anterior em tempo à outra. Os tempos podem ser simples, usando uma forma (“corre, correu”), ou perifrásticos, ao utilizar dois verbos, sendo um auxiliar (“terá corrido”). (Waltke; O’Connor, 2006, p. 346-347)

Definição de termos“O hebraico bíblico não tem tempos no sentido estrito; utiliza-se de uma variedade de outros meios para expressar relações temporais. Muitas línguas não possuem tempos, isto é, não têm referência de tempo gramaticalizado, embora provavelmente todas as línguas possam criar uma referência de tempo, isto é, utilizarem-se advérbios temporais que localizam situações no tempo. O hebraico utiliza advérbios com alguma amplitude, mas muito mais importantes são os diferentes significados sintáticos. Em face destes significados serem tão bem conhecidos e por causa da premência em compreender a realidade cotidiana também ser grande, somos tentados a dizer que, por exemplo, wayyiqtol está no tempo passado (...)” (Waltke; O’Connor, p. 347)

Exemplos Hebraico Bíblico e grego LXX – Aktionsarten - vb malak , bassileuoOs exemplos e a identificação do aspecto são tirados de ULRICHSEN, Jarl H. JHWH malak : einige

sprachliche Beobachtungen [JHWH malak : algumas observações linguísticas]. Vetus Testamentum, vol. 27, fasc. 3 (Jul., 1977), p. 361-374. s/l: BRILL. As comparações e traduções dos textos hebraico e grego são minhas.

Sujeito-Predicado Durativo:

I Re 1.8

`T'[.d"(y" al{ï %l,M,Þh; ynIïdoa] hT'²[;w> %l"+m' hY"ßnIdoa] hNEïhi hT'§[;w>

E agora eis que Adonias reina, e agora meu senhor, oh rei, não sabes

kai. nu/n ivdou. Adwniaj evbasi,leusen kai. su, ku,rie, mou basileu/ ouvk e;gnwjE agora eis que Adonias reinou e tu ó senhor meu , óh rei, não conheces

Exemplos Hebraico Bíblico e grego LXX – Aktionsarten vb malak , bassileuo

I Cr 29.26

`lae(r"f.yI-lK'-l[; %l:ßm' yv'êyI-!B, ‘dywId"w>

E Davi filho de Jessé foi rei sobre todo Israel

kai. Dauid ui`o.j Iessai evbasi,leusen evpi. Israhl

E Davi filho de Jessé reinou sobre Israel

Exemplos Hebraico Bíblico e grego LXX – Aktionsarten - vb malak , bassileuo

DurativoPredicado-Sujeito

1 Re 2.11 ~y[iÞB'r>a; laeêr"f.yI-l[; ‘dwID" %l:Üm'

rv,’a] ~ymiªY"h;w> vl{ßv'w> ~yviîl{v. %l;êm' ~Øil;äv'WrybiW

~ynIëv' [b;v,ä ‘%l;m' !ArÜb.x,B. hn"+v'`~ynI)v’‘

kai. ai` h`me,rai a]j evbasi,leusen Dauid evpi. to.n Israhl tessara,konta e;th evn Cebrwn evbasi,leusen e;th e`pta. kai. evn Ierousalhm tria,konta tri,a e;th

Exemplos Hebraico Bíblico e grego LXX – Aktionsarten - vb malak , bassileuo

IngressivoSujeito-Predicado

hn"ëv' ‘hn<mov.W ~yviÛl{v. tn:“v.Bi laeêr"f.yI-l[; ‘%l;m' yrIªm.['-!B, ba'äx.a;w>

‘laer"f.yI-l[; yrIÜm.['-!B, ba'’x.a; %l{m.YIw:û hd"_Why> %l,m,ä as'Þa'l.

`hn")v' ~yIT:ßv.W ~yrIïf.[, !Arêm.voåB.evn e;tei deute,rw| tw/| Iwsafat basileu,ei Acaab ui`o.j Ambri evbasi,leusen evpi. Israhl evn Samarei,a| ei;kosi kai. du,o e;th

Exemplos Hebraico Bíblico e grego LXX – Aktionsarten - vb malak , bassileuoIngressivo

Predicado-Sujeito rmo=ale laeÞr"f.yI yjeîb.vi-lk'B. ~yliêG>r:m. ‘~Alv'b.a; xl;Ûv.YIw:

`!Ar)b.x,B. ~Alßv'b.a; %l:ïm' ~T,§r>m;a]w: rp'êVoh; lAqå-ta, ‘~k,[]m.v'K.

kai. avpe,steilen Abessalwm katasko,pouj evn pa,saij fulai/j Israhl le,gwn evn tw/| avkou/sai u`ma/j th.n fwnh.n th/j kerati,nhj kai. evrei/te bebasi,leuken basileu.j Abessalwm evn Cebrwn

BibliografiaCOMRIE, Bernard. Aspect. Cambridge: Cambridge Textbooks in Linguistics, 1998MCKAY, K. L. On the perfect and other aspects in New Testament Greek. Novum Testamentum, Vol 23, Fasc. 4 (Out., 1981), p. 289-329. s/l: BRILLHUGHES, James A. Look at the hebrew tenses. Journal of Near Easter Studies, vol 29, N. 01 (Jan., 1970), p. 12-24. Chicago: The University of Chicago PressTHORLEY, John. Subjunctive Aktionsart in New Testament Greek: A Ressessment. Novum Testamentum, vol. 30, fasc. 3 (Jul., 1988), p. 193-211. s/l: BRILL______________. Aktionsart in New Testament Greek: Infinitive and Imperative. Novum Testamentum vol. 31, Fasc. 4 (Out., 1989), p. 290-315. s/l: BRILLSTAGG, Frank. The Abused Aorist. Journal of Biblical Literature, vol. 91, N. 2 (Jun., 1972), p. 222-231BACHE, Carl. Aspect and Aktionsart: Towards a Semantic distinction. Journal of Linguistics, vol. 18, n. 1 (Mar., 1982), p. 57-72). Cambridge: Cambridge University PressSILVA, Moisés. God, Language and Scripture: Reading the Bible in the light of general linguistics. Leicester, England: Zondervan Publishing House, 1990____________. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002

Perguntas

??