A repercussão do Curso Técnico Florestal na perspectiva de egressos da Turma 2009/2010 da Escola...
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A repercussão do Curso Técnico Florestal na
perspectiva de egressos da Turma 2009/2010 da Escola
da Floresta
Gilmar Ramom dos Santos Gomes1
Orientadora: Msc. Patrícia Nakayama Miranda2
ResumoO Centro de Educação Profissional Escola da Floresta Roberval
Cardoso, Rio Branco-AC, oferta a Formação Profissional em Técnico Florestalpara jovens e adultos de comunidades campesinas para que atuem na produçãoflorestal considerando os princípios da sustentabilidade. O presentetrabalho procurou identificar e analisar as repercussões dessa formação naperspectiva de egressos do curso ofertado no período de 2009-2010. Paraobtenção dos dados, foi realizada a abordagem qualitativa com os técnicosutilizando questionários e entrevistas. A repercussão mais citada pelosentrevistados foi a mudança de perspectiva da dimensão ambiental sobre suavivência pessoal e profissional, pois deve-se a transversalidade dacompetência de sustentabilidade no curso. Sobre a relação dos conhecimentospopulares prévios com os técnico-científicos da área florestal, foramcomentados que temas estudados como sustentabilidade e manejo florestal sãoassuntos aplicáveis a sua realidade. Quanto o diálogo desses conhecimentos,foi diagnosticado que são adaptáveis conforme a ocasião e que a escolapropiciou pela sua metodologia a valoração de saberes tradicionais. Emrelação as futuras repercussões, os entrevistados visualizam com otimismoas possíveis contribuições que o curso ainda pode oferecer como crescimentopessoal e profissional, ingresso e permanência em um curso superior e ajudaprofissional para as comunidades tradicionais da Amazônia. Diante doexposto, ressalta-se a importância de aprimorar a formação de técnicos
1 Biólogo e licenciado pela Universidade do Estado de Mato Grosso; atuou como assistentetécnico, mediador de aprendizagem e coordenador pedagógico em cursos profissionalizantes(inclusive o Técnico Florestal) ofertados pelo Centro de Educação Profissional Escola daFloresta Roberval Cardoso, Rio Branco/Acre; E-mail: [email protected]
? Bióloga e licenciada pela Universidade Estadual de Londrina, Esp. em Educação ProfissionalIntegrada ao Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e Adultos – PROEJA e M.Sc. emEcologia e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Federal do Acre; trabalhou comomediadora de aprendizagem do Curso Técnico Florestal da Escola da Floresta e atua comoprofessora de Educação Básica em Rio Branco pela Secretaria de Estado de Educação; E-mail:[email protected]
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conforme as necessidades e potencialidades das comunidades campesinas paraassim o egresso realizar o retorno profissional esperado a sua comunidade.
Palavras-chaves: técnico florestal, repercussão, egressos
AbstractThe Center of Professional Education Escola da Floresta Roberval
Cardoso, Rio Branco-AC, offer professional training for forest communitiesto act in forest production considering the principles of sustainability.The objective of the present study was identify and analyze theimplications of such training in the perspective of graduates of the courseoffered in the period 2009-2010. To obtain the data, was realized aqualitative research with technicians using questionnaires and interviews.The consequences most commonly cited by graduates was the change inperspective of environmental about their personal and professionalexperience, because the competence of sustainability is in the course. Onthe relationship of inicial popular knowledge and scientific knowledge inforest area, sustainability issues and forest management are part of thereality of graduates. Was also diagnosed the occurrence of adaptation ofknowledge based on the need of graduates and the school values thetraditional knowledge through of the methodology. About the futurerepercussions of the course, the graduates have optimism about thecontributions like personal and professional growth, entry and stay inuniversity and professional assistance to communities in the Amazonia.Therefore was conclused about the importance of improving the training oftechnicians according to the needs and potential of communities to ensuregraduates return to their community.
Keywords: forest technician, repercussion, graduates
1 INTRODUÇÃO
A educação é um direito garantido pela constituição
brasileira (BRASIL, 1988) a todas as pessoas, sendo a família
e o Estado as instituições responsáveis para sua efetividade.
Porém, a educação formal que é estabelecida pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação de 1996, cuja oferta deve ser
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realizada pelo Estado não está disponível na sua plenitude a
alguns segmentos sociais, como as comunidades
campesinas/rurais.
O Estado do Acre possui a zona rural de seus municípios
caracterizada por comunidades que desenvolvem a produção
rural/florestal com práticas e conhecimentos nas áreas do
extrativismo, agrofloresta, agricultura e pecuária. Diante do
contexto amazônico, estas comunidades possuem conhecimentos e
práticas de grande valoração que permitem a articulação de
diversos saberes. Verifica-se, assim, a importância de
realizar educação formal contextualizada com a cultura das
populações rurais/campesinas.
A formação profissional na área florestal tem sido
oferecida no Acre na forma de cursos técnicos para jovens e
adultos que atuam como extrativistas e/ou agricultores
familiares. Dessa forma, Acre (2004) informa que a Escola da
Floresta, como unidade estadual desse tipo de ensino, objetiva
realizar a formação de profissionais com perfil de trabalhar
com a valorização dos recursos naturais e conhecimentos locais
para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Para o desenvolvimento de tal objetivo é necessário que a
Escola analise a atuação dos técnicos florestais através do
acompanhamento dos egressos. Com esses resultados, os
profissionais da escola poderão avaliar sua proposta
pedagógica, suas atividades de ensino-aprendizagem, currículo
e missão institucional.
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O presente estudo tem como objetivo identificar e
analisar as repercussões da Formação Profissional em Técnico
Florestal na perspectiva de jovens e adultos egressos do curso
ofertado no período de 2009-2010 pela Escola da Floresta,
Acre. Neste contexto, este trabalho visa: descrever os
aspectos em que a formação profissional repercutiu na
realidade dos egressos; analisar as convergências e
divergências dos saberes trabalhados no curso com os
considerados tradicionais (os que são presentes na cultura do
egresso) e identificar as possíveis mudanças que a formação
ainda poderá provocar.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A EDUCAÇÃO FLORESTAL NO ACRE
O Estado do Acre está situado no extremo sudoeste da
Amazônia brasileira possuindo cerca de 650 mil habitantes,
cuja maioria está na capital Rio Branco. Politicamente está
dividido em quatro regionais de desenvolvimento: Alto Acre,
Baixo Acre, Purus, Tarauacá / Envira e Juruá.
Existe no Estado a oferta da educação profissional
através de instituições como o Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Acre (IFAC) e o Instituto de
Desenvolvimento da Educação Profissional Dom Moacyr (IDM) que
são governamentais, além de outras como o Sistema “S”: Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Serviço Nacional de
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Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) etc.
O IDM é uma autarquia do Governo Estadual que possui uma
política de expansão da Educação Profissional e Tecnológica
através de cursos de formação básica e de habilitação técnica
em diversas áreas profissionais (ACRE, 2009). Gerencia Centros
de Educação Profissional em diversas áreas (saúde, serviços e
meio ambiente), sendo a Escola da Floresta responsável pela
oferta de cursos na área rural.
Conforme seu Projeto Político Pedagógico (ACRE, 2008), o
Centro de Educação Profissional Escola da Floresta, antigo
Colégio Agrícola, atua no desenvolvimento da formação
profissional de jovens e adultos trabalhadores oriundos de
comunidades rurais/florestais. A formação baseia-se em cursos
referente às áreas profissionais de agropecuária, turismo,
indústria e meio ambiente.
Dentro da área de agropecuária está incluso o curso
Técnico Florestal, cuja oferta se fundamenta, segundo Acre
(2010), no fato do Estado possuir uma extensa área de
cobertura vegetal (88%) com potencial para atividades
econômicas na área florestal, especialmente a madeireira.
De acordo com o Plano de Curso (ACRE, 2004), a
habilitação profissional do Técnico Florestal está a nível
pós-médio, sendo sua carga horária de 1.500 horas. Em seu
perfil profissional, o Técnico Florestal pode atuar no manejo
florestal, implantação de unidades florestais, produção de
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mudas em viveiros, recuperação de áreas degradadas,
beneficiamento de produtos florestais, gestão de empresa
florestal e orientação comunitária. As competências
profissionais a serem desenvolvidas no itinerário do curso
compreendem os eixos temáticos em sustentabilidade, manejo
florestal e neoextrativismo, beneficiamento e comercialização,
projetos e documentos técnicos, organização comunitária e
gestão, e por fim a educação florestal. De acordo com
Oliveira, Gomes & Roth (2011), já foram formados 136 técnicos
florestais no período de 2005 a 2010 pela Escola da Floresta.
2.2 EDUCAÇÃO - CAMPO, SUSTENTABILIDADE E TRABALHO
Será utilizado o termo “campo” no presente artigo para
retratar a localidade de origem dos técnicos formados, pois o
Parecer CEB 36/2001 indica que a educação do campo abrange a
floresta, pecuária, agricultura, ribeirinhos, extrativistas
entre outros.
Sobral (2005) coloca que com a implantação da Revolução
Verde a partir de 1960 no Brasil, as escolas que trabalhavam
com o ensino agrícola proporam fundamentação téorico-prática
que possibilitasse os alunos aplicar na realidade da área de
agropecuária. Os programas educacionais objetivavam superar o
“atraso” dos pequenos produtores rurais para inserí-los na
modernização da agricultura.
É questionada por Soares (2001) a formação do técnico
agrícola diante dos problemas socioambientais ocasionados pela
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Revolução Verde. Ela propõe que seja realizada uma reflexão
sobre as consequências da agricultura moderna e sobre os
conceitos de caráter mais ambiental e humanístico como
agricultura familiar, agroecologia, desenvolvimento
sustentável etc. Primack & Rodrigues (2001) informa que o
conceito de desenvolvimento sustentável tem sido proposto como
essencial nas ações humanas.
Apesar de não existir ainda bibliografias suficientes que
discutam e indiquem especificamente a Educação Florestal,
Barros-Ahrens, Ahrens & Ahrens (2009) situa a Educação
agroecológica como alternativa possível de proporcionar a
construção da dignidade de vida ao agricultor familiar, já que
ela deve promover o conhecimento e desenvolver a criticidade.
Este público necessita de uma educação mais adequada ao seu
contexto rural para assim exercer a sua cidadania.
O trabalho no campo no Brasil, de acordo com Vendramini
(2007), corresponde um conjunto diversificado de atividades
(agricultura, pecuária, extrativismo etc) em diferentes
ocupações de espaço o que evidencia desigualdade social.
Assim:
Constitui espaço de trabalho, de vida, de relações
sociais e de cultura de pequenos agricultores; espaço de
grande exploração de trabalhadores, especialmente o
trabalho temporário, sem relações contratuais, de
pessoas que vagueiam pelo país para acompanhar os
períodos de colheitas [...]; espaço de terras para
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reserva de valor; espaço de produção para o agronegócio;
espaço de difusão de tecnologias e de modificação
genética [...]; e espaço para o descanso, [...], o lazer
e o contato com a natureza. (p. 124-125)
Quando se comenta sobre as relações de trabalho da
agricultura familiar, é importante destacar sobre o processo
de sucessão. É importante identificar quais perspectivas e
condições os jovens possuem para fazer permanecer o exercício
profissional como trabalhadores rurais de seus pais. Segundo
Weidg, Wizniewsky & Rambo (2007), a juventude rural é
imprescindível para manter a agricultura familiar, porém o
“ficar” e o ”sair” depende de vários fatores. Os autores
destacam que há uma leitura urbana sobre tal jovem, o que
influencia no desejo deste em estabelecer-se na cidade, assim
como no direcionamento de políticas públicas.
3 METODOLOGIA
A pesquisa proposta é de caráter básico, pois segundo
Castilho, Borges & Pereira (2011) esse tipo de pesquisa
procura obter conhecimentos com possibilidade de serem
aplicados a um determinado contexto, mas sem finalidade
imediata e limitação temporal. Assim, os resultados obtidos
poderão ser utilizados tanto no monitoramento sobre a atuação
dos técnicos no mundo do trabalho quanto na reflexão da
proposta educacional da Escola da Floresta. Quanto a
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abordagem, esta foi de forma qualitativa, pois considerou-se
as perspectivas (subjetividades) dos sujeitos. Esta abordagem
possibilita que os entrevistados exponham suas diversas idéias
sem a influência demasiada do pesquisador.
Realizou-se um estudo de caso com egressos do Curso
Técnico Florestal. As perguntas realizadas abordaram aspectos
como: (1) experiência como estudante; (2) mudanças durante a
formação; (3) expectativas ao finalizar o curso; (4)
repercussão; (5) relação dos conhecimentos prévios com o
conhecimento técnico; (6) mudanças que a formação
proporcionará futuramente e (7) atuação profissional atual.
Para a coleta de dados, foram entrevistados 05 jovens e
adultos que obtiveram a formação profissional em técnico
florestal pela Escola da Floresta da turma 2009-2010. Os
sujeitos de pesquisa foram selecionados por adesão voluntária,
conforme sua disponibilidade para a pesquisa. Como ferramentas
de coleta de dados foram utilizados questionários e
entrevistas semi-estruturadas sendo aplicadas com a presença
do pesquisador ou de comunicação com trocas de mensagens por
internet (via e-mail). Além disso, foi realizada a leitura de
documentos oficiais como relatório de execução e plano de
curso.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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O período de atividades de ensino-aprendizagem dos
técnicos entrevistados foi de outubro de 2009 a dezembro de
2010 (Oliveira, Gomes & Roth, 2011). Os estudantes da turma
eram provenientes de comunidades rurais/florestais com
potencial para manejo florestal comunitário de todas as
regionais do Estado. Ficavam na escola em condição de
residência mantida pelo governo estadual. Entre os requisitos
de acesso, deveriam ter idade igual ou superior a 18 anos e
Ensino Médio completo.
Nesse contexto, o curso sugere que os técnicos retornem a
sua própria comunidade para realizar sua atuação profissional.
Supõem-se que ocorra a oferta de educação profissional para
comunidades do campo voltada as potencialidades produtivas do
local aliada com o desenvolvimento socioambiental.
Quando foi perguntado aos técnicos florestais sobre a
oportunidade de ter feito o curso, foram citados comentários
como: contribuições na formação humana e profissional;
processo desafiante por estar distante da família; ótima
experiência por ter atividades de ensino-aprendizagem como
visitas e atividades teóricas; vontade inicial de apenas um
emprego no futuro transformada em interesse por contribuir com
a sustentabilidade de sua comunidade.
É verificável que no decorrer do curso os estudantes
tendem a se socializar mais, devido as estratégias de ensino-
aprendizagem incluírem muitos trabalhos em equipe e a
convivência propiciada pelo regime de residência na escola. De
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forma mais geral, identifica-se a contribuição do estudo no
desenvolvimento interpessoal e na sociabilidade. Assim, é
importante que a unidade de ensino trabalhe além dos
conhecimentos sistematizados inerentes a natureza do curso
(florestas), a formação geral da pessoa (o que inclui a
cidadania), pois para Freire (1983) o homem é um ser relações,
pois está no mundo e com o mundo.
No que se refere a natureza da formação, foi
diagnosticado na fala dos entrevistados a satisfação pessoal
de estudar o curso e o entendimento da proposta ideológica da
habilitação técnica. Conforme o Manual do Técnico Florestal da
Escola da Floresta (ROTH et al, 2009), o projeto do curso visa
trabalhar com manejo florestal e vivências comunitárias na
perspectiva dos técnicos atuarem nas comunidades e
instituições difundindo conhecimentos do manejo.
Foi perguntado aos técnicos que mudanças ocorreram
enquanto estavam na condição de estudante. Houve respostas
como: obtinha continuamente um desempenho maior no
aprendizado; aprendia a ter mais respeito pelas pessoas;
percebia que poderia trabalhar em equipe; exercitava a
tolerância em sua prática social; desenvolvia a capacidade de
compartilhar conhecimento; permitia conhecer as diferentes
realidades dos colegas.
O fato de terem estudado em regime de internato na Escola
propiciou o aprimoramento de sua sociabilidade. Os jovens e
adultos tinham que exercitar sua prática social de alcance a
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um convívio mais harmonioso para assim conseguir se
estabelecer no local e por fim ter capacidade psicológica de
finalizar o curso. Em seu estudo sobre a experiência de vida
em internato de estudantes de ensino técnico, Morais et al
(2004) destaca o aspecto positivo do internato considerando
como um espaço:
No qual o convívio com pessoas diferentes e com
situações que exigem a resolução de problemas
(administração de horários, tarefas, conflitos
interpessoais, a separação da família) pode levar ao
desenvolvimento dos sentimentos de cooperação,
solidariedade e identidade grupal, além da intimidade e
da autonomia em administrar a própria vida.” (p. 9)
Outra mudança citada foi a valorização maior dos recursos
naturais. A sustentabilidade na dimensão ambiental está muito
presente na mudança de perspectiva dos entrevistados enquanto
eram estudantes. Um dos fatores para essa particularidade se
deve a natureza do curso, pois durante a formação os educandos
puderam comparar técnicas de manejo consideradas menos
impactantes com práticas convencionais. Além disso, foi
contextualizado sobre princípios gerais da educação ambiental
como atitudes cotidianas “mais sustentáveis” (preservação da
biodiversidade, uso do lixo, respeito as diferenças pessoais
etc.). Miranda (2010) indica que tal formação, apesar da
necessidade de ajustes, propicia que os técnicos apliquem
métodos e técnicas que consideram a dimensão ambiental da
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sustentabilidade confrontando com a formação embasada na
exploração florestal convencional.
Questionou-se aos entrevistados qual era sua visão de
futuro diante da formação técnica recém finalizada. A maioria
das respostas indicou que tinham como principal perspectiva a
oportunidade de ter um emprego formal. Um entrevistado disse
que após a formatura achou que seria um diferencial na sua
comunidade, pois poderia ajudar as pessoas a se
conscientizarem. Um técnico disse que geralmente após terminar
o curso espera-se retornar para a comunidade para desenvolver
algum trabalho, porém nem sempre se realiza os desejos
pessoais devido a dominância do capitalismo.
A proposta dos técnicos retornarem à comunidade de origem
é compreensível e fundamentada, pois além de ser uma política
do curso, esse retorno possibilita que a comunidade campesina
busque a melhoria de suas condições com a ajuda profissional
definindo estratégias que permitam o desenvolvimento local
conforme a potencialidade ecológica-econômica. Roth et al
(2009) justifica que o técnico florestal deve trabalhar
práticas de manejo florestal e vivência comunitária pautada na
sustentabilidade, assim espera-se que tal profissional atue
tanto nas comunidades como em instituições como agentes de
transformação.
É importante salientar que alguns técnicos não têm
vontade de voltar ao campo, pois consideram que este
geralmente não propicia uma melhoria na qualidade de sua vida.
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Caldart (2009) alerta que as escolas agrotécnicas não atendem
as necessidades do campo, pois foram fundamentadas para
expandir o capital, o que explica o porquê um camponês que
estuda em uma escola considerada agrícola, geralmente deixa de
ser trabalhador rural e abandona a vida do campo.
Um fator que explica, em partes, sobre a “dominância do
capitalismo” citado por um dos entrevistados, é o fato que a
educação profissional de forma generalizada é muito vinculada
aos sistemas de produção definidos pela tendência
mercadológica mundial. Oliveira (2003) ressalta que a
racionalidade neoliberal propõe que a escola se sujeita como
formadora de mão-de-obra qualificada ao mundo do trabalho.
Pensar a escola sob a ótica da empresarial pode provocar
implementações negativas para a realidade escolar.
Outro aspecto perguntado foi sobre a repercussão do curso
em sua vida depois de finalizada a formação. De acordo com os
técnicos o fator de maior impacto foi a mudança de perspectiva
sobre o aspecto ambiental do meio. Um dos entrevistados
afirmou que realizava atividades bastante impactantes e que
discordava das ações dos órgãos fiscalizadores sobre o uso da
terra. Agora possui uma sensibilidade maior em relação ao meio
ambiente e pôde em sua comunidade orientar sobre o manejo das
áreas de terra de forma menos impactante. Outro técnico
colocou que mesmo não trabalhando na área, o curso repercutiu
para si na forma de fortalecer a consciência da importância da
preservação do meio ambiente.
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Neste contexto, a sensibilização ambiental deve-se a
aplicabilidade da missão didático-pedagógica da Escola em
Floresta que consiste em desenvolver cursos de educação
profissional com a transversalidade da competência
profissional em sustentabilidade. A concepção desta
competência se aproxima do paradigma definido por Carvalho
(2007) em que alia desenvolvimento rural com preservação da
biodiversidade propondo a valoração do saber popular, cultivo
e criações combinadas que respeitem a biodiversidade,
autonomia no seu manejo pelos camponeses entre outras
sugestões.
Ainda sobre a repercussão do curso, foi comentado por
outros entrevistados que o mesmo possibilitou seu ingresso no
mercado de trabalho e que pela profissão pode ajudar as
pessoas em suas propriedades rurais. Alguns dos entrevistados
possuem trabalho relacionado a área florestal, mas não atuam
diretamente nas propriedades de seus familiares. Assim, o
curso proporcionou a empregabilidade para alguns técnicos
visto que a oferta de tal formação busca atender a demanda
produtiva, porém geralmente essa atuação profissional não
ocorre na comunidade do técnico. Nisso, Weidg, Wizniewsky &
Rambo (2007) ajudam a justificar tal processo pelo estudo que
realizaram sobre sucessão hereditária da agricultura familiar
em um assentamento gaúcho. Na pesquisa, eles concluem que os
jovens não permanecem no campo pela ausência de recursos
financeiros e do “dinheiro garantido” mensal, além da falta de
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políticas promotoras de permanência no campo com qualidade de
vida.
Perguntou-se aos técnicos sobre como é a relação dos
conhecimentos técnico-científicos obtidos no curso com os
saberes populares provenientes de sua realidade
rural/florestal. Foi citado como mais importante neste
processo o estudo da sustentabilidade que se tornou aplicável
em sua realidade. Além disso, temáticas comuns a realidade
campesina dos entrevistados como manejo florestal, floresta e
seus produtos, biodiversidade e cooperativismo foram
trabalhadas no curso.
A contextualização dos temas citados acima referentes à
produção agroextrativista foi promovida devido ao
desenvolvendo de atividades de ensino-aprendizagem que
envolvia assuntos relacionados à sustentabilidade
socioambiental e manejo florestal madeireiro e não-madeireiro.
Miranda (2010) analisou o Plano de curso do Técnico Florestal
e considera sua organização curricular adequada visto que as
competências descritas estão pautadas em princípios ecológicos
que habilitam para o manejo florestal sustentável de uso
múltiplo.
Sobre a forma como tais saberes se dialogam, um dos
técnicos comenta que procura fazer a junção dos dois tipos de
conhecimentos e que adapta sua utilização conforme a
necessidade ou ocasião. Já outro entrevistado coloca que
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adquiriu e compartilhou conhecimentos que antes possuía sobre
a realidade agroextrativista, mas que não valorizava.
Destacam-se nestes relatos as estratégias de ensino-
aprendizagem do Plano de Curso (ACRE, 2004) que incluem o
diálogo e a valoração de conhecimentos que para alguns eram
considerados irrelevantes. Assim, a educação relacionada ao
campo, principalmente para o público de jovens e adultos,
deve-se priorizar nas suas estratégias pedagógicas o diálogo
dos saberes, com a valorização do conhecimento popular dos
educandos sem o desmerecimento do saber sistematizado
(conhecimento técnico-científico). Freire (1987b) coloca que
sem o diálogo não há comunicação e sem esta não há a
verdadeira educação.
Quanto às possíveis repercussões futuras com a formação
técnica foi citado pelos entrevistados: ter avanços tanto
profissional como pessoal; obter contribuições na sua formação
acadêmica; conseguir cursar uma faculdade na área que está
atuando; ajudar profissionalmente as populações tradicionais
da Amazônia.
De forma geral, os entrevistados possuem uma visão
otimista sobre as futuras repercussões de sua formação. É
considerado que seu aprimoramento técnico será conduzido com a
mudança pessoal, pois Freire (1987) indica que seres humanos
são inconclusos e históricos, sempre em permanência de “ser
mais”.
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Os saberes apreendidos são relevantes, mesmo que não leve
para uma prática profissional imediata, como por exemplo, os
conhecimentos ajudarem no ingresso e desenvolvimento de uma
faculdade. Identifica-se também o anseio de contribuir
tecnicamente para comunidades do campo, o que Freire (1983)
enfatiza sobre o compromisso do profissional com a sociedade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aspecto da formação técnica florestal que mais
repercutiu para os egressos refere-se à compreensão dos
princípios da sustentabilidade, visto que os entrevistados se
apresentam sensibilizados ao tema, havendo relatos de técnicos
que trabalham com tal proposta em sua prática cotidiana e/ou
sua vivência profissional. Outras repercussões foram a
oportunidade de emprego e a contribuição que realiza para sua
comunidade de origem.
Sobre a relação dos saberes tradicionais com os técnicos-
científicos, destaca-se a correlação dos temas estudados no
curso (exemplos: sustentabilidade ambiental e manejo
florestal) com a realidade das comunidades de origem dos
egressos e a estratégia pedagógica que possibilitava o diálogo
dos conhecimentos.
Sobre as repercussões que a formação ainda poderá
propiciar, os técnicos relatam que esperam obter crescimento
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profissional e pessoal, desempenhar ações de melhoria em suas
comunidades e utilizar os saberes na universidade.
Os técnicos reconhecem a proposta pedagógica da Escola da
Floresta por argumentar que exercitaram sua sociabilidade na
condição de educando e por se apresentar mais sensíveis sobre
a sustentabilidade.
Diante da pesquisa, propõe-se que a Escola da Floresta
implante um mecanismo padrão de acompanhamento que analise a
atuação profissional dos técnicos formados. Além disso, é
importante o aprimoramento contínuo dos currículos com a
finalidade de desenvolver uma educação do campo que ajude no
desenvolvimento socioambiental das comunidades campesinas da
Amazônia (agricultura familiar e extrativismo) e que os
técnicos, jovens e adultos do campo, atuem em tais
comunidades.
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