NATUREZA JURÍDICA DOS EFEITOS DA DECISÃO DO STF NO JULGAMENTO DO MÉRITO NO RECURSO...

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NATUREZA JURÍDICA DOS EFEITOS DA DECISÃO DO STF NO JULGAMENTO DO MÉRITO NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS COM REPERCUSSÃO GERAL (É possível falar em eficácia vinculante? É admissível a reclamação contra o desrespeito do precedente paradigma fixado?) Sandra Maria Mafra Especialista em Direito Constitucional Sumário: 1. Introdução; 2. Recurso Extraordinário e Repercussão Geral; 3. O Efeito Vinculante consolidado; 4. Limites objetivos e subjetivos do efeito vinculante; 5. Da Reclamação; 6. Conclusão; 7. Referencia Bibliográfica. Palavras chave: Efeito Vinculante, Instituto, Recurso Extraordinário, Repercussão Geral, Supremo Tribunal Federal, Súmula Vinculante. 1. Introdução Foram necessários mais de uma década de tramitação para a EC n.45/2004 fazer significativas e importantes mudanças em nosso sistema normativo processual, o que convencionou chamar de a Reforma do Judiciário, com característica de transformação do procedimento legislativo, responsável pela 1

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NATUREZA JURÍDICA DOS EFEITOS DA DECISÃO DO STF NO JULGAMENTO

DO MÉRITO NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS COM REPERCUSSÃO GERAL

(É possível falar em eficácia vinculante? É admissível a

reclamação contra o desrespeito do precedente paradigma

fixado?)

Sandra Maria Mafra

Especialista em Direito Constitucional

Sumário: 1. Introdução; 2. Recurso Extraordinário e

Repercussão Geral; 3. O Efeito Vinculante consolidado; 4.

Limites objetivos e subjetivos do efeito vinculante; 5. Da

Reclamação; 6. Conclusão; 7. Referencia Bibliográfica.

Palavras chave: Efeito Vinculante, Instituto, Recurso

Extraordinário, Repercussão Geral, Supremo Tribunal Federal,

Súmula Vinculante.

1. Introdução

Foram necessários mais de uma década de tramitação para a

EC n.45/2004 fazer significativas e importantes mudanças em

nosso sistema normativo processual, o que convencionou chamar

de a Reforma do Judiciário, com característica de

transformação do procedimento legislativo, responsável pela

1

modificação da redação de alguns dispositivos, inserindo

outros tantos, forçando a regulamentação de novas normas, com

isso aproximando uma interpretação diferenciada dos

ordenamentos já existentes, não somente na legislação

constitucional, mas naquelas de ordem infraconstitucional.

A inserção do §3° no art. 102 da CF/1988, uma dessas

modificações trazidas pela EC n.45, criou o requisito da

repercussão geral das questões constitucionais discutidas,

para a apreciação do recurso extraordinário, competência do

Supremo Tribunal Federal, este novo artifício criado com a

intenção de diminuir a intensa demanda que adentra a Corte

Suprema. O §2° do mesmo artigo acrescido, disciplina que, a

eficácia erga omnes e o efeito vinculante, responsabiliza

agente público da administração direta e indireta, na esfera

federal, estadual e municipal, que descumprir o determinado no

julgado.

Outra modificação foi delimitada pela Lei 11.418/2006 que

introduz o art. 543A, 543B e 543C ao Código de Processo Civil,

servindo para sobrestar recursos com idêntica controvérsia até

o julgamento do mérito.

A pesquisa, inicialmente, antes do tema propriamente dito

e no intuito de facilitar a compreensão, responderá vários

questionamentos, aclarando conceitos dos institutos

mencionados e delimitando o conhecimento da natureza jurídica

dos efeitos da decisão do STF no julgamento do mérito nos

recursos extraordinários, aqueles com repercussão geral e da

possibilidade de se falar em eficácia vinculante.

2

Posteriormente a pesquisa se deterá na indagação acerca da

admissibilidade da reclamação contra o desrespeito do

precedente paradigma fixado, trazendo para a investigação

legislações pertinentes, a produção jurisprudencial do Supremo

Tribunal Federal, a doutrina da mais alta qualidade, a opinião

de renomados juristas, visando demonstrar aspectos

interpretativos adotados pela Corte Suprema.

2. Recurso Extraordinário e Repercussão Geral

O recurso extraordinário entrou no ordenamento jurídico

pátrio através da Constituição de 1934, permanecendo em todas

as Constituições subseqüentes e tendo o Supremo Tribunal

Federal como Suprema Corte do Poder Judiciário, apenas

modificando a competência para o julgamento dos recursos em

geral. O que não foi diferente com a Carta Política de 1988,

que manteve o recurso extraordinário para julgamento de causas

que envolvessem violação ao direito federal e para violação de

atos normativos em confronto com a Constituição Federal, é

remédio constitucional de competência do STF, cabível em

decisão de juízo monocrático ou colegiado, em processos de

única e última instancia. Com a criação do Supremo Tribunal de

Justiça, que se deu com a Constituição Federal de 1988, a

competência das causas à violação da legislação federal

ordinária passou a ser revista pelo então criado recurso

especial por esse órgão1.

1 CORTÊS, Oscar Mendes Paixão. Recurso Extraordinário: Origem eDesenvolvimento no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: Forence, 2005 pp 187- 198.

3

A criação do STJ pelo legislador constituinte de 1988,

a transferência de algumas das competências e na tentativa

de reduzir o enorme volume de trabalho no Supremo Tribunal

Federal não foi suficiente, houve nos últimos anos um

aumento significativo de processos destinados a Corte

Suprema, uma manobra frustrada de diminuir o número de

recurso extraordinário que por “óbvio, trata-se de providência

idealizada com o propósito de descongestionar o STF,

coadunando-se com a pretensão de fortalecimento da excelência

das funções jurídicas e políticas do órgão de cúpula do

judiciário nacional”.2

Neste sentido Miguel Reale Jr. Apresenta a seguinte

síntese:

“A intensa litigiosidade surgida após a promulgação daConstituição de 1988, que se revelou ultrapassada paraatender à demanda decorrente da constitucionalização dediversos novos direitos, aliada ao maior acesso aoJudiciário. Essas circunstâncias e o próprio crescimentoeconômico do país aumentaram a já existente crise demoralidade do Judiciário, fazendo nascer junto aosjurisdicionados a importância ainda maior da celeridadeda prestação jurisdicional3.

2 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. A repercussão Geral das QuestõesConstitucionais e o Juízo de admissibilidade do Recurso Extraordinário. InWambier, Tereza Arruda Alvim et al Reforma do Judiciario: PrimeirasReflexões sobre a Emenda Constitucional n. 45/2004, São Paulo: Revista dosTribunais, 2005 pp 744.3 REALE JR., Miquel. Valores Fundamentais da Reforma do Judiciário. Revistado Advogado. São Paulo. 2004. Apud KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. A repercussãoGeral das Questões Constitucionais e o Juízo de admissibilidade do RecursoExtraordinário. In Wambier, Tereza Arruda Alvim et al Reforma doJudiciario: Primeiras Reflexões sobre a Emenda Constitucional n. 45/2004,São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005 pp 744.

4

São muitas as observações de estudiosos e doutrinadores,

mas cabe destacar o entendimento de CRISTIANE OLIVEIRA PETER

DA SILVA, assevera:

“É mais do que chegada a hora de o Supremo Tribunaldesvencilhar-se do recurso extraordinário, que teve suainegável importância histórica e vinculação estreita arelevantíssima para o desenvolvimento e crescimento dopróprio tribunal, e porque não dizer do ordenamentojurídico constitucional brasileiro, mas que hoje serveapenas para a chicana processual e retardamento daprestação jurisdicional, tendo em vista que se limita aservir de quarta instância e tomar o tempo dos ministroscomo questões repetidas, e assim afastá-los cada vezmais da missão que lhe foi constitucionalmentedestinadas: interpretar as normas constitucionais e daro tom da hermenêutica constitucional para a atividadedos demais tribunais”.4

Ao longo da historia muitos foram os dispositivos

jurídicos criados para dirimir ou pelo menos minimizar a já

instalada excessiva demanda jurisdicional do STF, passando

pelo aumento de seus Ministros5, a argüição de relevância6 que

4 SILVA, Christine Oliveira Peter da. Hermenêutica de Direitos Fundamentais:uma proposta constitucionalmente adequada. Brasília: Brasília Jurídica,20055 “Considerando-se que a chamada ‘crise do Supremo’ data do início doséculo, quando, naturalmente, o número de recursos extraordinários eraínfimo, se comparado o que ocorre hoje, não é difícil concluir que a causadessa crise deve ser outra que não o número – efetivamente reduzido – deMinistros. Não cremos que o encilhamento de processos no STF se resolveriase o número de Ministros voltasse a ser de dezessete, como no Império: seisMinistros a mais , por cento, não resolveriam a sobrecarga. MANCUSO,Rodolfo de Camargo. Recurso Extraordinário e Recurso Especial. 4. Ed. SãoPaulo: RT, 1996. Recursos no Processo Civil, v.3.p.52.6 “No Brasil, antes da instituição da repercussão geral como requisito deadmissibilidade do recurso extraordinário (Emenda Constitucional 45 de2004; art. 102, § 3º, da CF), experimentamos o requisito da argüição derelevância da questão afirmada para o seu conhecimento em sedeextraordinária (art. 119, III, a e d c/c § 1º, da CF 1967, alterada pelaEmenda Constitucional 01 de 1969 c/c arts. 325, I a XI, e 327, § 1º, doRISTF, com a redação dada pela Emenda Regimental 2 de 1985). Nada obstantetenham a mesma função de “filtragem recursal”, a argüição de relevância de

5

no passado recebia a apreciação do STF e nos dias de hoje é

competência do STJ, que não cabe agora priorizar cada um

desses institutos, preferimos nos ater a mencionar, não sendo,

portanto, objeto desta pesquisa.

Depois de todo percalço, necessário se fazia criar um

instrumento que diminuísse a enxurrada de RE no STF, com a

Emenda Constitucional 45 de 08.12.2004, que depois de mais de

uma década tramitando no Congresso Nacional veio fazendo

grandes modificações e acabou sendo chamado de Reforma do

Judiciário, inseriu o §3° no art. 102 da Constituição Federal

de 1988, in verbis: Art. 102 “Compete ao Supremo Tribunal

Federal, precipuamente, a guarda da constituição, cabendo-lhe:

[...] §3° No recurso extraordinário o recorrente deverá

demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais

discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal

examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela

manifestação de dois terços de seus membros”, este dispositivo

criou a repercussão geral, requisito indispensável para

admissibilidade do RE perante o STF, devendo conter real

relevância e importância,

outrora e a repercussão geral não se confundem. A começar pelo desiderato:enquanto a argüição de relevância funcionava como um instituto que visava apossibilitar o conhecimento deste ou daquele recurso extraordinário a prioriincabível, funcionando como um instituto com característica centralinclusiva, a repercussão geral visa a excluir do conhecimento do SupremoTribunal Federal controvérsias que assim não se caracterizam. Os própriosconceitos de repercussão geral e argüição de relevância não se confundem.Enquanto este está focado fundamentalmente no conceito de “relevância”,aquele exige, para além da relevância da controvérsia constitucional, atranscendência da questão debatida”. MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO,Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. São Paulo: Editora Revista dosTribunais, 2007, p. 30-31.

6

Oportuno dizer que a repercussão geral foi capaz de fazer

a separação entre o “joio e do trigo”7, o joio é uma planta que

se parece em tudo com o trigo, somente na colheita se percebe

a diferença, o joio não tem fruto, simbolizando com perfeição

o RE sem o instituto da repercussão recusado pela manifestação

de dois terços dos membros do STF. Após a criação da

repercussão geral pela EC n. 45/2004 a Lei n° 11.418 de 2006

regulamentou o dispositivo constitucional supracitado e

acrescentou ao Código de Processo Civil no capítulo que

corresponde ao RE e ao REsp para o STF e STJ, o art. 543-A, in

verbis:

Art. 543-A O Supremo Tribunal Federal, em decisão

irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário, quando

a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão

geral, nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.418,

de 2006). § 1° Para efeito da repercussão geral, será

considerada a existência, ou não, de questões relevantes do

ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que

ultrapassem os interesses subjetivos da causa. § 2° O

recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para

apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência

da repercussão geral. § 3° Haverá repercussão geral sempre que

o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou

jurisprudência dominante do Tribunal. § 4° Se a Turma decidir

pela existência da repercussão geral por, no mínimo, 4

(quatro) votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao

7 Expressão de domínio público usado na Bíblia Sagrada por Jesus Cristo nolivro de São Mateus Bíblia Sagrada. Ed. Almeida Revisada e Corrigida. CPAD.Cap. 13 Versículo. 24-30.

7

Plenário. § 5° Negada a existência da repercussão geral, a

decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica,

que serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese,

tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal. § 6º O Relator poderá admitir, na análise da

repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por

procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do

Supremo Tribunal Federal. § 7° A Súmula da decisão sobre a

repercussão geral constará de ata, que será publicada no

Diário Oficial e valerá como acórdão.

E o art. 543-B in verbis: Art. 543-B. Quando houver

multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica

controvérsia, a análise da repercussão geral será processada

nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal,

observado o disposto neste artigo. §1° Caberá ao Tribunal de

origem selecionar um ou mais recursos representativos da

controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal,

sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da

Corte.

§ 2 ° Negada a existência de repercussão geral, os recursos

sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos.§

3° Julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos

sobrestados serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de

Uniformização ou Turmas Recursais, que poderão declará-los

prejudicados ou retratar-se. § 4° Mantida a decisão e admitido

o recurso, poderá o Supremo Tribunal Federal, nos termos do

Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão

contrário à orientação firmada. § 5° O Regimento Interno do

8

Supremo Tribunal Federal disporá sobre as atribuições dos

Ministros, das Turmas e de outros órgãos, na análise da

repercussão geral.

Também alterou o Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal através da primeira emenda ligada a repercussão geral,

Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007, modificando a

redação dos art. 13, inciso V, letra c, e art. 21 parágrafo

1°, e arts 322 a 329, revogando o parágrafo 5° do art. 321,

mediante a qual a Repercussão Geral deve estar adequada à

letra da lei, assim todo RE que adentrar ao STF deverá passar

pelo crivo de dois terços de seus membros, (oito votos de

onze), recebendo a negativa, o não reconhecimento de

repercussão geral no RE.8

A verificação preliminar formal da repercussão geral é de

competência concorrente do Tribunal Regional Federal, Tribunal

de Justiça, da Turma Recursal e do Supremo Tribunal Federal,

já pacificado pela jurisprudência do STF, mas o reconhecimento

e a presunção legal da repercussão geral, isto é a análise

final compete exclusivamente ao STF9.

Nos termos do acórdão:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DEINSTRUMENTO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE.DECISÃO CONFIRMADA EM SEDE DE AGRAVO DE INSTRUMENTO QUEHOMOLOGOU OS CÁLCULOS APRESENTADOS PELOS EXPROPRIADOSDETERMINANDO A EXPEDIÇÃO DE NOVO OFÍCIO REQUISITÓRIO.AUSÊNCIA DE PRELIMINAR FORMAL E FUNDAMENTADA DEREPERCUSSÃO GERAL. ARTIGO 543-A, § 2º, DO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL C.C. ART. 327, § 1º, DO RISTF. DECISÃO

8MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recursoextraordinário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 30-31.9 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recursoextraordinário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

9

QUE SE MANTÉM POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. Arepercussão geral é requisito de admissibilidade doapelo extremo, por isso que o recurso extraordinário éinadmissível quando não apresentar preliminar formal detranscendência geral ou quando esta não forsuficientemente fundamentada. (Questão de Ordem no AI n.664.567, Relator o Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ de6.9.07). 2. A jurisprudência do Supremo fixouentendimento no sentido de ser necessário que orecorrente demonstre a existência de repercussão geralnos termos previstos em lei, conforme assentado nojulgamento da Questão de Ordem no AI n. 664.567, Relatoro Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 6.9.07, II. Recursoextraordinário: repercussão geral: juízo deadmissibilidade: competência. 1 . Inclui-se no âmbito dojuízo de admissibilidade – seja na origem, seja noSupremo Tribunal – verificar se o recorrente, empreliminar do recurso extraordinário, desenvolveufundamentação especificamente voltada para ademonstração, no caso concreto, da existência derepercussão geral (C.Pr.Civil, art. 543-A, § 2º; RISTF,art. 327). 2. Cuida-se de requisito formal, ônus dorecorrente, que, se dele não se desincumbir, impede aanálise da efetiva existência da repercussão geral, estasim sujeita à apreciação exclusiva do Supremo TribunalFederal (Art. 543-A, § 2º). 3. Agravo Regimentaldesprovido. (AI 767825 AgR, Relator(a):  Min. LUIZ FUX,Primeira Turma, julgado em 10/04/201210.

O texto constitucional exclui todas as questões que não

esteja imbuída de repercussão geral, devendo trazer em seu

bojo questão econômica social e política, que atinja um número

expressivo de pessoas, sobre assunto impactante ou muito

controvertido, não deixa de ser uma forma de admissibilidade,

diante disso entende-se que todas as outras questões que não

estiverem dotadas desses atributos, estarão excluídas da

possibilidade de reconhecimento de RE.11

10 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/pesquisarProcesso.asp

11 ARRUDA, Alvim. A EC n. 45 e o Instituto da Repercussão Geral. in Wambier,Tereza Arruda Alvim (coor) et al Reforma do Judiciário: Primeiras Reflexõessobre a Emenda Constitucional n. 45/2004, São Paulo: Revista dos Tribunais,

10

Importante destacar que ao buscar-se o significado da

repercussão geral nota-se tratar de conceito vago e

indeterminado significando que são idéias indefiníveis, não

deve mesmo ser propriamente conceituado, mas apenas referidos,

não há como deixá-lo estático de forma plena da lei posta.

Essa é a opinião de parte da doutrina pesquisada.12

3. O Efeito Vinculante consolidado

Em meio às divergências das decisões tomadas no controle

difuso e no controle concentrado de constitucionalidade, pela

necessidade da inserção de mecanismos jurídicos que visasse

contornar o problema, a EC n. 3, de 17/03/1993 acrescentou o §

2° ao art.102 da CF/88, criou ação para declarar a

constitucionalidade das leis, essa manobra jurídica trouxe

resultados com o intuito de harmonizar a jurisprudência

constitucional, mas o instituto não foi somente a ADC criada,

foi também o efeito vinculante, “utilizado para lograr essa

uniformização preservando a hierarquia entre as instâncias do

Poder Judiciário” 13.

Através da EC n. 45 o § 2° ao art.102 da CF/88 recebeu

nova redação, in verbis: “As decisões definitivas de mérito

proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de

2005 pp 72-75.12 Op Cite ALVIM, J. E. Carreira. Alguns Aspectos dos Recursos Extraordinário eEspecial na Reforma do Judiciário (EC n. 45/2004). Op.Cite.MEDINA, José Miguel Garcia. WAMBIER, Luiz Rodrigues. WAMBIER, Teresa ArrudaAlvim. Repercussão Geral e Súmula Vinculante: Relevantes Novidades Trazidaspela EC. N. 45/2004. Op.Cite.13 SCAFF, Fernando Facury. MAUÉS, Antonio G. Moreira. A TrajetóriaBrasileira em Busca do Efeito Vinculante. Reforma do Juciciário. Op.Cite.

11

inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de

constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito

vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder

judiciário e à administração pública direta e indireta, nas

esferas federal, estadual e municipal”.

Antes esse parágrafo tratava apenas dos efeitos das

decisões da ADC, com a nova redação dada pela EC n. 45/2004,

inclui a análise a ADI que terão o mesmo efeito da ADC, que

estavam expressos apenas em normas infraconstitucionais. A ADC

tem como objetivo declarar lei ou ato normativo federal,

retirando a controvérsia de constitucionalidade, “não obstante

partir de então a jurisprudência do STF passou a conferi-lo

também às Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI), em

razão do caráter dúplice (ambivalente) destas ações, com a

edição da Lei 9. 868 em 10/11/1999, o efeito vinculante foi

estendido expressamente à ADI”. 14

“Trata-se de uma ação diretamente oposta a ADIn, que,por sua vez, pretende ver uma lei ou um ato normativafederal ou estadual declarados inconstitucionais, Adecisão de mérito prolatada nessas ações terá efeitoerga omnes, ou seja, poderá ser oponível, contra todos,indo além das partes envolvidas no processo o quedecorre, logicamente, da forma de controle da qual fazparte: concentrado e abstrato. Por meio desse tipo defiscalização, busca-se a proteção de um interessepúblico de defesa do texto constitucional, que,portanto, pertence a todos”.15

14 NOVELINO, Marcelo. Efeito Vinculante nas decisões do Supremo TribunaFederal. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/8769/o-efeito-vinculante-nas-decisoes-do-supremo-tribunal-federal#ixzz35zWegBJK> Acesso em29/06/201415 CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Interpretada. MACHADO, Costa. Organizador. FERRAZ,Anna Cândida da Cunha. Coordenadora. Manole. CROSARA, Daniela de Melo. ettal. Ed. 4. 2013. P.

12

A ADI e a ADC são reguladas pela Lei 9.868/1999 e a ADPF,

pela Lei 9.882/1999, ambas regem o controle concentrado,

objetivo ou abstrato, inserto no controle de

constitucionalidade através da EC n. 16/1965, busca obter a

constitucionalidade ou inconstitucionalidade das leis ou ato

normativo por via de ação direta em um único tribunal, isto é

no STF. Essas Ações têm eficácia vinculante, nesse sentido o

parágrafo único do art. 28 da lei 9.868/1999 indica que “a

declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade, à

interpretação conforme a constituição e à declaração parcial

de inconstitucionalidade sem redução de texto tem eficácia

contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do

Poder Judiciário e à Administração Pública, federal, estadual

e municipal”.

O surgimento do efeito vinculante se dá com a edição do

Acórdão que profere a constitucionalidade ou

inconstitucionalidade e, após o transito em julgado no prazo

de 10 dias é publicado em seção especial no Diário Oficial a

parte dispositiva do Acórdão pelo STF, a partir de então dar-

se ao feito vinculante caráter obrigatório e força de lei16.

A ADPF, prevista no original parágrafo único do art. 102

da CF/88, não existia nenhum outro dispositivo no ordenamento

com semelhança, sendo objeto de interpretação por parte de

alguns autores como uma autorização constitucional onde

qualquer pessoa poderia criar uma ação em defesa de seus

direitos constitucionais e recorrer a Corte Suprema, com a

regulamentação do instituto viu-se que os legitimados para a16 Op. Cite. p. 744.

13

propositura da ADPF são os mesmo da ADIn e essa interpretação

perdeu sentido, já que o seu objeto é (art.1°da Lei 9.

882/1999) “evitar ou reparar lesão a preceito fundamental

resultante de ato do Poder Público” e no seu parágrafo único,

I “quando for relevante o fundamento da controvérsia

constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou

municipal, incluídos os anteriores à Constituição17.

Entretanto o efeito vinculante se estende às decisões do

Supremo, através das leis supracitadas levou a OAB ajuizar

ação direta de inconstitucionalidade contra ambas. Na

reclamação n. 1.880 em 07/11/2002, o STF decidiu por oito

votos a três em questão de ordem proposta pelo relator, à

constitucionalidade do art. 28, parágrafo único da Lei

9.868/1999, reconhecendo o efeito vinculante de suas decisões

em ADIn.

Neste sentido os termos da ementa18: “Na assentada de 7.11.2002, no julgamento do AgravoRegimental na Reclamação n. 1.880/SP, Relator o MinistroMaurício Corrêa, o Plenário do Supremo Tribunal Federaldecidiu: “EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. AÇÃO DIRETA DEINCONSTITUCIONALIDADE. JULGAMENTO DE MÉRITO. PARÁGRAFOÚNICO DO ARTIGO 28 DA LEI 9868/99: CONSTITUCIONALIDADE.EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO. REFLEXOS. RECLAMAÇÃO.LEGITIMIDADE ATIVA. “Para efeito de controle abstrato deconstitucionalidade da lei ou ato normativo, hásimilitude substancial de objetos nas açõesdeclaratórias de constitucionalidade e direta deinconstitucionalidade. Enquanto a primeira destina-se aaferição positiva de constitucionalidade, a segunda trazpretensão negativa. Espécie de fiscalização objetivaque, em ambas, traduzem manifestação definitiva dotribunal quanto à conformação da norma com aConstituição Federal. A eficácia vinculante da ação

17 Op. Cite. p. 237.18Disponível em<www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoTexto.asp?

id=2628416>14

declaratória de constitucionalidade, fixada pelo § 2º doartigo 102 da Carta da República, não se distingue, emessência, dos efeitos das decisões de mérito proferidasnas ações diretas de inconstitucionalidade”

Portanto o efeito vinculante tem o condão de proteger a

segurança jurídica, proporciona igualdade e estabilidade às

decisões judiciais, produzindo maior equilíbrio e eficácia as

decisões da Corte Suprema.

4. Elementos objetivos e subjetivos do efeito vinculante

O art. 102, § 2° da Constituição Federal e o art. 28,

parágrafo único, da Lei 9.868/99, os dois institutos

estabelecem que as ações declaratórias de constitucionalidade

e as ações diretas de inconstitucionalidade têm eficácia erga

omnes (força de lei), produz efeitos indiscutivelmente

processuais, perde, portanto, a possibilidade de rediscussão

pelo STF em nova demanda e o efeito vinculante abrange uma

espécie de obrigação por parte dos demais órgãos do Poder

Judiciário e da Administração Pública direta e indireta, nas

esferas federal, estadual e municipal, diz respeito não só a

parte dispositiva no controle de constitucionalidade, mas

entra no ponto que justifica a decisão, na fundamentação do

julgado, sendo, portanto adaptado por analogia, para os

fundamentos ou motivos determinantes, como disciplina GILMAR15

FERREIRA MENDES, são institutos afins, diferentes entre si, mas

que se complementam:

Além de conferir eficácia erga omnes às decisõesproferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede decontrole de constitucionalidade, a presente proposta deemenda constitucional introduz no direito brasileiro oconceito de efeito vinculante em relação aos órgãos eagentes públicos. Trata-se de instituto jurídicodesenvolvido no Direito processual alemão, que tem porobjetivo outorgar maior eficácia às decisões proferidaspor aquela Corte Constitucional, assegurando forçavinculante não apenas à parte dispositiva da decisão,mas também aos chamados fundamentos ou motivosdeterminantes (tragende Gründe) 19.

Os fundamentos ou motivos determinantes, conteúdo

essencial ou eficácia transcendente são expressões usadas pelo

STF que identificam a parte dispositiva da decisão, significa

dizer que os fundamentos que determinam ratio decidendi são

essenciais a conclusão proferida na decisão judicial. O

professor LUIZ GUILHERME MARINONI nos explica a diferença

entre os institutos aplicados pelo STF.

O Supremo Tribunal Federal fala em motivos oufundamentos determinantes, em conteúdo em eficáciatranscendente. As expressões “motivos ou fundamentosdeterminantes e “conteúdo essencial” se referem àdecisão. Querem expressar os fundamentos que determinamou são essenciais à conclusão judicial. A eficáciatranscendente é aquela que transcende ao caso,interferindo sobre os demais casos, embora não tratandoda mesma norma, configuram igual questão constitucional,

19MENDES, Gilmar Ferreira. O efeito vinculante das decisões do SupremoTribunal Federal nos processos de controle abstrato de normas. Disponívelem<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_04/efeito_vinculante.htm.> acesso em 09/07/2014.

16

a ser solucionada mediante a aplicação dos mesmosfundamentos ou motivos que determinaram a decisão20.

Portanto no limite objetivo o efeito vinculante abrange os

órgãos do poder judiciário e a administração pública direta e

indireta, na esfera, federal, estadual e municipal, que não

fazem parte do processo de controle, sendo que a decisão sai

desse limite objetivo e transpassa o dispositivo com a mesma

fundamentação de normas de igual teor, esta é a teoria da

fundamentação transcendente. Já no limite subjetivo a coisa

julgada ultrapassa as próprias partes, e é essa ampliação que

enseja o uso da reclamação conforme consta no art. 102, I da

Carta Magna, Conforme disciplina GILMAR FERREIRA MENDES:

Esse efeito vinculante em relação a órgãos ouautoridades que não integram de alguma forma o processosomente parece fazer sentido se se admitir que eleatinja não apenas a questão submetida ao Tribunal e porele decidida, mas também outras questões de idênticoconteúdo (gleiche Rechtsfrage). Por isso mediante avinculação de órgãos, pessoas ou autoridades estranhasao processo, evita-se que, surgindo a mesma questãojurídica, sejam instaurados novos processos desse tipo(outras partes, outro pedido, mas idêntica questãojurídica). Opera-se, pois, uma ampliação do efeitovinculante, no plano subjetivo, para além dos limites dacoisa julgada21.

O desrespeito à decisão transitado em julgado com eficácia

vinculante autoriza o uso da reclamação constitucional contra

decisão divergente, que poderá ser proposta por todos aqueles20 MARINONE, Luiz Guilherme. Efeitos das decisões de constitucionalidade ede inconstitucionalidade no Direito Brasileiro. Disponível em<http://icjp.pt/sites/default/files/media/1140-2472.pdf.> Acesso em09/07/2014.21Op. Cite.

17

que forem atingidos, ao entendimento firmado pelo STF, em

julgamento de RE.22

5. Da Reclamação

A reclamação constitucional é um instrumento jurídico

processual, prevista na Carta Constitucional de 1988, é uma

proteção contra decisões arbitrárias dos órgãos do judiciário

e da administração pública, preserva a competência dos

tribunais superiores, garante a observância da competência e

supremacia das decisões. Inserida no art. 102, inciso I,

“processar e julgar, originariamente: e na alínea L, “a

reclamação para preservação de sua competência e garantia da

autoridade de suas decisões”, no art. 105 “Compete ao Supremo

Tribunal de Justiça: inciso I processar e julgar,

originariamente: alínea f a reclamação para a preservação de

sua competência e garantia da autoridade de suas decisões,

também tem previsão na Lei n. 8.038/1990 e na Lei n.

11.417/2006 e no Regimento interno do STF e do STJ.

Com a EC n.45/2004, foi inserido o art. 103 A §3° que

dispõe “do ato administrativo ou decisão judicial que

22 NOVELINO, Marcelo. Efeito Vinculante nas decisões do Supremo TribunaFederal. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/8769/o-efeito-vinculante-nas-decisoes-do-supremo-tribunal-federal#ixzz35zWegBJK> Acesso em07/07/2014

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contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar,

caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a

procedente, anulará ato administrativo ou cassará a decisão

judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com

ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso”. Desde então,

destaca-se a importância da reclamação, com funções vitais

para o funcionamento e existência do sistema, com a nova

finalidade dada pela EC n. 45/2004, impôs respeito à

operacionalidade e eficácia da súmula vinculante, que depende

da operacionalidade e eficácia da reclamação, para assegurar a

atuação dos órgãos de cúpula do Poder Judiciário23.

A reclamação é medida judicial cabível oriunda de

construção jurisprudencial do STF, disciplinada inicialmente

pelo regime interno do Supremo, nas palavras de LEONARDO LINS

MORATO: “A reclamação não tem cabimento para impor o

cumprimento de jurisprudência, ainda que se trate de

jurisprudência dominante, ou de súmula sem efeito vinculante,

mesmo emitida pelo STF”. Para o ajuizamento da ação, o

reclamante deve fazer parte do processo, com decisão

desrespeitada pela autoridade reclamada e tenha sido atingido

juridicamente pelos efeitos.24

Neste sentido conforme a Rcl 14.367:

Segundo a orientação firmada pelo Supremo TribunalFederal, são legitimados à propositura de reclamação

23MORATO, Leonardo Lins. Reclamação e a sua Finalidade para Impor Respeito àSúmula Vinculante. . in Wambier, Tereza Arruda Alvim (coor) et al Reformado Judiciário: Primeiras Reflexões sobre a Emenda Constitucional n.45/2004, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005 pp 397 ss.24 Op. Cite.

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constitucional todos aqueles que sejam prejudicados poratos contrários às decisões que possuam eficáciavinculante e geral (erga omnes). [...]. a reclamação nãoé instrumento de uniformização ou garantia da aplicaçãode jurisprudência (cf. Rcl 1.665-AgR, rel. min. MarcoAurélio, Pleno, DJ 17.06.2005; Rcl 1.639-AgR, rel. min.Octavio Gallotti, Pleno, DJ 24.11.2000; Rcl 1.880-AgR,rel. min. Maurício Corrêa, Pleno, DJ 19.03.2004).[...],os reclamantes não foram partes nos processosmencionados, nos quais teriam sido firmados osprecedentes tidos por violados. Portanto, na linhajurisprudencial desta Corte, é evidente a ilegitimidadeativa dos reclamantes. Ademais, esta Corte já decidiu,reiteradamente, que não cabe reclamação quandoutilizada, como no caso, “para fazer prevalecer àjurisprudência desta Suprema Corte ou para impor-lhe aobservância, em situações nas quais os julgamentos doTribunal não se revistam de eficácia vinculante [...].Portanto, não basta para o cabimento da reclamaçãoargumentar que a questão controvertida seja contrária àjurisprudência do STF (cf. Rcl 726-AgR, rel. min. IlmarGalvão, Pleno, DJ 17.04.1998). sa linha, a ementatranscrita a seguir, proferida em precedente de minharelatoria (Rcl 6.135-AgR, rel. min. Joaquim Barbosa,Pleno, DJ 19.02.2009): CONSTITUCIONAL. RECLAMAÇÃO.ALEGADA VIOLAÇÃO DA AUTORIDADE DE ORIENTAÇÃOJURISPRUDENCIAL SUMULADA. SÚMULA DA JURISPRUDÊNCIADOMINANTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NÃO CABIMENTO.DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO À RECLAMAÇÃO (ART. 161, PAR.ÚN., DO RISTF). AGRAVO REGIMENTAL. A reclamaçãoconstitucional (art. 102, I, l da Constituição) não émeio de uniformização de jurisprudência. Tampouco servecomo sucedâneo de recurso ou medida judicialeventualmente cabível para reformar decisão judicial.Não cabe reclamação constitucional por alegada violaçãode entendimento jurisprudencial, independentemente deele estar consolidado na Súmula da JurisprudênciaDominante do Supremo Tribunal Federal ("SúmulaTradicional"). Hipótese na qual a orientação sumuladatida por ofendida não era vinculante, nos termos do art.103-A, § 3º da Constituição. Agravo regimentalconhecido, mas ao qual se nega provimento 25.

Se o julgamento da reclamação for procedente poderá ser

arbitrado uma tutela mandamental, a Suprema Corte determinará

25 <http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2623487>20

que a autoridade reclamada obriga-se no “cumprimento da

decisão desacatada, ou a respeito da norma de competência

desrespeitada, ou a aplicação adequada, ou a inaplicação da

súmula vinculante dependendo do caso submetido em questão”.

Todas as medidas para a completa obediência da decisão por

parte da autoridade reclamada serão tomadas para que se

alcance o fim almejado26.

O julgamento de procedência da reclamação terá como efeito

a cassação da decisão ou a anulação de um ato administrativo,

o Supremo “determinará que outra seja proferida com ou sem

aplicação da súmula, conforme o caso”. A decisão tem uma

“eficácia dobrada que além de ser eficaz para si mesma, torna

eficaz também um provimento jurisdicional anterior” (art.

103A, §3° CF). “Em todos os casos, os prejudicados poderão

reivindicar por meio das vias próprias, a reparação dos danos

que por ventura tenham sofrido, em decorrência do desrespeito

da súmula vinculante”. Após julgado o desrespeito a uma súmula

vinculante, o Supremo entender necessária a sua aplicação,

determinará e emissão de um ato ou de uma decisão por parte da

autoridade reclamada, conforme a súmula, mas se não for caso

de aplicação, “pode o supremo determinar que outro ato ou

outra súmula sejam emanados da autoridade reclamada, sem a

aplicação da súmula vinculante discutida na questão”27.

6. Conclusão

26Op.Cite. 27 Op. Cite.

21

Ao término desse estudo observa-se que foram criados

diversos mecanismos para minimizar a demanda dos trabalhos

na Suprema Corte, o que muitos autores convencionaram chamar

de “crise do judiciário”, alguns foram instintos enquanto

outros permanecem até os dias de hoje, todos com a precípua

finalidade de garantir a razoável duração do processo,

promovendo a necessária celeridade, dessa forma respondendo

aos anseios da sociedade.

Para responder aos questionamentos propostos foi

necessário se ater a alguns desses mecanismos com maior

afinco, como a repercussão geral, servindo como filtro de

admissibilidade do Recurso Extraordinário, trazendo a

apreciação do STF somente questões de relevo social.

A pergunta feita no titulo da possibilidade de se falar

em eficácia vinculante, a resposta é sim, o efeito

vinculante inserido no ordenamento jurídico brasileiro a

partir da EC n.45/2004, visa construir o precedente com o

foco também na celeridade processual, vinculando decisões

judiciais. Os questionamentos com relação aos fundamentos ou

motivos determinantes, na aceitação pelo STF, verificou-se

indefinição com relação às jurisprudências, existindo forte

divergência neste sentido entre os ministros.

Certamente este trabalho elaborado de maneira bastante

reduzida não expressou todo o alcance que tão rico e

fascinante assunto deveria expressar, mas na certeza que

todos os questionamentos foram respondidos.

22

7. Referencias Bibliográficas

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25