A escultura nos cemitérios portugueses (1835-1910): artistas e artífices

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Coordenação NATÁLIA MARINHO FERREIRA-ALVES A Encomenda. O Artista. A Obra.

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Coordenação

NATÁLIA MARINHO FERREIRA-ALVES

A Encomenda.O Artista. A Obra.

Título A Encomenda. OArtista. A Obra.

Coordenação Natália Marinho FERREIRA-ALVES

Edição CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e SociedadeRua do Campo Alegre, 1055 – 4169-004 Porto Telef.: 22 609 53 47 Fax: 22 543 23 68 E-mail: [email protected] www.cepese.pt

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Depósitolegal 318054/10

ISBN 978-989-8434-03-6

A escultura nos cemitérios portugueses (1835-1910): artistas e artífices

José Francisco Ferreira QUEIROZ

Introdução

Apesar das apreciáveis variações regionais existentes, os cemitérios portugueses do Romantismo assumem maiores características arquitectónicas do que escultóricas. Nos casos de cemitérios mais modestos, o principal investimento era geralmente feito na portaria de cantaria e no seu respectivo portão em ferro, ao passo que, em termos de jazigos particulares, os mais aparatosos alicerçavam-se sobretudo na dimensão arquitectónica como elemento diferenciador. Contudo, a profusão de ornato – por vezes mesmo em excesso, o que foi habitual em alguns túmulos de novos-ricos mais ufanos – e a inclusão de elementos escultóricos de vulto também constituíram frequentes soluções para impor uma imagem mais grandiosa aos túmulos.

Em certa medida, os cemitérios portugueses da segunda metade do século XIX adoptaram um formulário artístico comum aos demais cemitérios do sul da Europa. Em termos de abundância proporcional da escultura face ao suporte arquitectónico, os cemitérios portugueses situam-se a meio termo entre os italianos e os espanhóis. Em geral, aqueles possuem grande pendor escultórico, mesmo que a arquitectura do cemitério, geralmente de pórticos e arcarias, seja preponderante face à arquitectura do jazigo individual. Ao invés, estes possuem grande pendor arquitectónico, de carácter colectivo, sendo pouco habituais as peças escultóricas, sobretudo em certas regiões espanholas, onde predominavam as necrópoles oitocentistas de “nicherías”.

Assim, os cemitérios portugueses, no seu carácter arquitectónico mais indivi-dualizado e na proporção do uso da escultura, aproximam-se sobretudo do modelo romântico francês.

Porém, se os cemitérios portugueses não podem competir com os cemitérios italianos em termos de quantidade e qualidade de obra escultórica, também não podem competir com os cemitérios franceses em termos de valia artística das peças de escultura. É sobretudo ao nível do trabalho do artífice executante, do canteiro ornatista, que os cemitérios portugueses podem equiparar-se aos melhores da Europa. Não por acaso, foi ténue em Portugal a fronteira entre escultor e canteiro, especial-

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mente no norte do país1. Portanto, foi ao nível da gama média e média-baixa da escultura tumular que os cemitérios portugueses mais se destacaram face aos demais existentes na Europa, sobretudo quando não estavam em causa as proporções e os detalhes anatómicos (Figura n.º 9).

Embora as peças escultóricas sejam relativamente habituais na arte tumular do Romantismo em Portugal – em cemitérios mais cosmopolitas ou, não sendo esse o caso, em túmulos mais faustosos de pequenos cemitérios – a sua qualidade podia variar bastante. Porém, esta variação de qualidade não dependia exclusivamente do quanto o encomendador estava disposto a despender, ou da capacidade artística do mestre executante. Na arte tumular da segunda metade do século XIX, a questão dos modelos e das reproduções é fundamental para se aferir o valor das peças.

À partida, modelos de escultores mais capacitados, como António Soares dos Reis, seriam de maior qualidade e, portanto, mais escolhidos para reprodução. Porém, não foi bem esse o caso, havendo mesmo modelação documentada de António Soares dos Reis cuja replicação não foi ainda comprovada, apesar da tipologia ser admissível no âmbito cemiterial2. É mesmo de supor que os melhores modelos não eram necessariamente os mais seleccionados pelos encomendadores, dado que certos tipos de esculturas foram mesmo pouco reproduzidas (e o facto de o terem sido, sugere que não houve destruição propositada do modelo, para que o primeiro encomendador evitasse ter de encarar cópias) e outras quase deixaram de o ser a partir de certa altura, reflectindo a própria evolução do gosto tumular – isto, num intervalo de apenas três quartos de século.

Adiversidadetemática

As obras de escultura que predominam em cemitérios românticos portugueses são figuras alegóricas, colocadas como coroamento de jazigos-capela ou como remate de outro género de mausoléus de média e grande dimensão. As alegorias mais comuns são a Fé, a Esperança e a Caridade, sendo a Fé talvez a mais utilizada destas três virtudes, dado que surge por vezes apenas em forma de cruz, sem uma componente escultórica evidente. Em cemitérios maiores e em monumentos tumulares mais faustosos, ainda que posicionados em cemitérios mais pequenos, também é comum encontrar outras estátuas alegóricas, como o Comércio e a Indústria, ou até a Agricultura. Em alguns dos túmulos mais ricos de negociantes de grosso trato, surgem alegorias às partes do mundo nas quais detinham interesses, correspondendo geralmente à Europa e à América ou áfrica. Estátuas alegóricas como as Artes, a Navegação e outras menos comuns também podem ser encontradas em túmulos românticos portugueses, dependendo da biografia do falecido cuja decoração tumular entronize.

Em cemitérios portugueses de maior realce, podemos igualmente encontrar outras figuras de vulto, alegóricas e mitológicas, como a Religião, a Gratidão, a Bondade, o Tempo, ou as parcas (Figura n.º 4). Dado que, no cemitério romântico, o recurso

1 QuEIRoz, 2002: 658 (II).2 QuEIRoz, 2002: 658 (II).

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à metáfora era habitual para expressar a morte de modo menos cruel, encontramos ainda algumas figuras da Noite ou do Inverno.

Embora tenhamos encontrado vários casos de estátuas dos santos patronos, são menos comuns as representações religiosas mais genéricas (Figura n.º 5), salvo a Imaculada Conceição, que surge sobretudo em alguns cemitérios maiores do Baixo Mondego, não tanto em vulto, mas sobretudo em alto relevo. A figura de Cristo, na tumulária do Romantismo em Portugal, surge em raros casos de calvários, geralmente de finais do século XIX ou inícios do século XX. outras figurações de Cristo (em majestade ou com o Sagrado Coração) geralmente inserem-se já num período posterior ao Romantismo. o mesmo sucede com representações da Sagrada Família.

Algumas das primeiras estátuas dos cemitérios portugueses representam as clássicas carpideiras, embora tenham sido mais utilizadas as Saudades, não só em vulto, como através de uma flor em relevo, que passava a mesma mensagem de forma menos dispendiosa. A Fábrica de Cerâmica das Devesas, por exemplo, chegou a produzir mais do que um tipo de Saudade em vulto, reflectindo bem a aceitação desta solução tumular (Figura n.º 6). o próprio António Soares dos Reis modelou a figura da Saudade para posterior replicação em cemitérios (Figura n.º 3, segundo plano).

Por vezes, estas Saudades, personificadas em imagens femininas de atitude melan-cólica, facilmente se confundem com as próprias carpideiras, ou com a alegoria da Dor (Figura n.º 14), embora as Saudades mais conseguidas em termos escultóricos sejam sobretudo jovens de olhar distante ou pesaroso, mas serenas. É claro que algumas das estátuas mais precoces em cemitérios românticos portugueses (c. 1835-1855) são muito frias na sua expressão facial e postura, sem que, com isso, correspondam propriamente a uma figuração melancólica, dado que os modelos mais puramente neoclássicos ainda vigoravam nessa altura.

Muito comuns em cemitérios românticos portugueses foram os anjos e, em versão mais profana, os génios da morte inspirados na tumulária da Antiguidade Clássica. Anjos da Redenção ou da Ressurreição (em postura exaltante, ostentando a cruz ou apontando para o céu), anjos orantes e anjos do Silêncio ou da Paz (com pose serena ou pedindo silêncio a quem passa) são os tipos mais comuns dessas figuras celestiais, muitas vezes executadas com pouco virtuosismo, dada a grande procura desse género de figuras, tanto de vulto, como de relevo.

um dos aspectos mais complexos da análise à escultura tumular do Romantismo prende-se com a fronteira entre o retrato realista e a representação escultórica “à época”, embora de carácter metafórico, particularmente no caso de crianças. Por vezes, crianças trajadas dentro da moda em vigor eram retratos dos próprios finados, embora também pudessem representá-los sem que as peças escultóricas constituíssem propriamente um retrato. Sem o confronto com o espólio fotográfico familiar, é geralmente difícil tirar conclusões seguras. De qualquer modo, este tipo de esculturas é geralmente de qualidade apreciável ao nível do ornato e mesmo do rigor do traje, mas sofrível ao nível anatómico e de proporções (Fig. 8). Ao nível do retrato, em geral, nos casos em que é óbvio que estamos perante retratos dos finados, a qualidade das peças escultóricas também varia muito. A produção de modelos para replicação

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não era aplicável nestes casos, pelo que as oficinas de cantaria cujos mestres fossem menos aptos em termos de estatuária contratariam a modelação, geralmente por fotografia, do busto ou mesmo da estátua do finado. Escultores de segunda linha, que quase sempre ficaram anónimos, fizeram a modelação de muitos destes bustos. outros porém, são obra de autores de nomeada. Alguns retratos feitos para cemitérios portugueses mereceram até o exílio forçado para os museus, como sucedeu com a estátua do Conde de Ferreira, hoje no Museu Nacional Soares dos Reis, tendo ficado uma réplica em bronze no Cemitério de Agramonte (Secção da ordem da Trindade).

Refira-se que a escultura em bronze aplicada à tumulária romântica em Portugal cingiu-se quase sempre ao retrato, embora sendo raros os casos, quase todos datando do fim do século XIX e dos primeiros anos do século XX e situando-se em cemitérios mais cosmopolitas. Nos cemitérios do norte de Portugal, surgem também esculturas em terracota ou faiança, na sua maioria executadas pela Fábrica de Cerâmica das Devesas, com modelos de José Joaquim Teixeira Lopes. Em geral, estas estátuas têm boa qualidade, estando entre as mais interessantes de seu tipo na Europa.

os retratos aplicados aos túmulos românticos em Portugal eram em medalhão relevado, em busto, ou de corpo inteiro. os primeiros foram sempre os mais comuns, por se prestarem a uma colocação mais versátil e por implicarem menor custo. os bustos e as estátuas de corpo inteiro, presentes em túmulos erigidos por subscrição pública, em túmulos de novos-ricos ou em outros túmulos mais faustosos, eram quase sempre de figuras masculinas. Foram raros em Portugal, durante o Romantismo, os casos de retrato feminino de vulto, especialmente de corpo inteiro, embora tenham sido feito vários em relevo. As excepções de retratos femininos de vulto surgem quase sempre em contexto de casal, ficando marido e mulher lado a lado, em busto (Figura n.º 11), por vezes sobre ou junto do seu sarcófago (caso exista).

Não podemos ainda apresentar aqui uma classificação tipológica exaustiva sobre a escultura tumular do Romantismo em Portugal, dada a vastidão do tema e o facto de ser necessária maior sistematização, face aos numerosos exemplos já inventariados, num trabalho de campo de vários anos que ainda não abrangeu todas regiões portuguesas de modo suficientemente representativo. De qualquer modo, não podemos negligenciar as representações do leito de morte; as alegorias à elevação da alma ao Céu, por anjos (sobretudo no caso de crianças e jovens mulheres), em ambos os casos quase sempre em relevo. Não podemos também esquecer as esculturas de animais, umas vezes como atlantes, mas também frequentemente com significado simbólico - como o cão, para representar a Fidelidade do casal, embora também tenhamos encontrado animais como metáforas dos falecidos – caso de um túmulo em Portalegre encimado por três cordeiros de tamanho diferenciado, correspondendo às três crianças para quem foi erguido o monumento.

Por último, há que mencionar toda a panóplia de ornatos em relevo da tumulária romântica em Portugal. Embora não se trate propriamente de escultura, por vezes assumem estes símbolos um carácter fundamental no monumento. A iconografia da morte romântica e os símbolos profissionais em relevo são os casos mais comuns. Nos cemitérios portugueses, existem exemplos destas tipologias que nada devem aos melhores exemplos europeus da mesma época, não só na habilidade para a execução de ornato

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realista e naturalista (no caso de flores, por exemplo), mas no valor documental e expressividade. Ainda assim, na época, a pouca capacidade e qualificação dos artífices da pedra portugueses para a anatomia e proporções nota-se bastante na representação de animais, que tendem a surgir com o mesmo carácter tosco de muitas esculturas.

Apesar da qualidade geralmente muito mediana da escultura aplicada à tumulária romântica em Portugal, existe ainda um substancial número de peças bastante interessantes e quase desconhecidas, mesmo dos estudiosos da escultura em geral. Apesar disso, esculturas verdadeiramente notáveis são raras nos cemitérios portugueses. Devemos ter em conta que Portugal é um país relativamente pequeno e que, no final do século XIX, apenas duas cidades ultrapassavam os 100.000 habitantes (Lisboa e Porto). Por outro lado, o cenário artístico português ressentiu-se do facto de não ter havido muitos bons escultores nesse tempo, como a própria crítica de arte da altura também o reconhecia. Na verdade, durante o Romantismo, escasseavam os verdadeiros escultores em Portugal e alguns deles eram estrangeiros (principalmente italianos e franceses). No entanto, houve vários excelentes canteiros e mestres pedreiros portugueses, ao nível da decoração em relevo para monumentos tumulares.

Em finais do século XIX, o crescente carácter estereotipado da tumulária e a reacção refractária dos intelectuais e das classes mais elevadas face à banalização do fenómeno, acabaram por precipitar o declínio da qualidade da escultura tumular portuguesa, embora tenham existido excepções, como o caso de Coimbra e dos artistas ligados à Escola Livre das Artes do Desenho. Por outro lado, ainda que sendo quase casos isolados, alguns dos mais notáveis e mais famosos exemplos de escultura em cemitérios portugueses podem ser considerados como de transição entre a tradição romântica e a estética Arte Nova (Figura n.º 14).

Conclusão

A grande variedade da escultura tumular portuguesa do Romantismo, seja em termos de qualidade artística ou ao nível das tipologias, permite constatar a sua importância no fenómeno do cemitério romântico em Portugal e no seu carácter distintivo face a outros países. Porém, enquanto alguns exemplos de escultura tumular portuguesa do Romantismo podem ser encontrados em várias versões, de uma qualidade que raia o profundamente vernacular, outros são casos únicos, merecedores de estudo mais aturado e consequente valorização patrimonial.

Ainda que esta conclusão seja provisória, dado o muito que ainda se deve pesquisar, a fim de alcançar uma boa compreensão deste fenómeno, duas coisas são certas: por um lado, não é possível compreender verdadeiramente a escultura portuguesa do período romântico sem uma abordagem intensiva aos cemitérios; por outro lado, considerando a relativa pequenez de Portugal e o facto do fenómeno urbano na época romântica ter sido aqui menos marcante do que em outros países europeus, a escultura tumular romântica existente em Portugal acaba por ser proporcionalmente mais interessante, no seu todo, do que a escultura tumular coeva existente em muitas outras partes do globo.

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Figuran.º1Cemitério de Agramonte (Porto), detalhe do Comércio, no mausoléu de Francisco Antunes de Brito Carneiro. Este mausoléu foi projectado em 1880 pelo arquitecto Tomás Augusto Soller, com linhas simples, de modo a ressaltar a obra escultórica – opção que foi pouco comum na tumulária romântica em Portugal, salvo em exemplos tardios. A obra de escultura deste mausoléu é de António Soares dos Reis, embora tenha sido execu-tada pelo seu esboçador, Laurentino José da Silva, que viria a manter na sua posse alguns modelos do mestre, utilizando-os em outros túmulos da sua lavra. As outras duas estátuas deste mausoléu são a Saudade (no topo) e a Indústria (do lado oposto do Comércio).

Figuran.º2Cemitério de Agramonte (Porto), Secção da ordem de Carmo, detalhe da alegoria do Tempo em aparatoso mausoléu construído pela oficina de Bernardo Marques da Silva (pai do arquitecto José Marques da Silva). A figura alegórica foi modelada por António Soares dos Reis e crê-se que o modelo foi depois adquirido pela oficina de Bernardo Marques da Silva, que tê-lo-á replicado ocasionalmente.

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Figuran.º3Cemitério de Agramonte (Porto), Secção

da ordem de Carmo, perspectiva do busto de José António Lopes Sampaio, vendo-se

em segundo plano a mesma figura alegórica da Saudade que fora modelada por António

Soares dos Reis para o mausoléu de Francisco Antunes de Brito Carneiro (Figura n.º 1).

Figuran.º4Cemitério da Lapa (Porto), detalhe de uma

parca, cortando o fio da vida.

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Figuran.º5Cemitério da Abrigada (Alenquer), detalhe de um mausoléu encimado pela figura de S. Pedro, obra de uma oficina de Lisboa.

Figuran.º6Cemitério de Fafe, detalhe de uma Saudade em faiança, no topo de um mausoléu granítico, obra da Fábrica de Cerâmica das Devesas.

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Figuran.º7Cemitério de Moura, escultura de remate de

um mausoléu, obra de oficina lisboeta.

Figuran.º8Cemitério de Coruche, estátua jacente de Maria Luísa Raposo (26 de Setembro de 1850 – 19 de Maio de 1852), trabalho muito fruste de uma oficina lisboeta, encomendado por António Nunes Vieira Raposo, pai da criança.

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Figuran.º9Cemitério de Agramonte (Porto), detalhe do Anjo da Paz no topo de um mausoléu executado na oficina de José Carlos de Sousa Amatucci. A modelação é mediana e a anatomia e proporções deixam mais ainda a desejar, dado que José Carlos de Sousa Amatucci não tinha o mesmo talento do seu pai Emídio Carlos Amatucci.

Figuran.º10Cemitério de Agramonte (Porto), Secção da ordem do Carmo, busto do Dr. José Pereira da Costa Cardoso, sobre o portal da sua monumental capela tumular, obra de modelação de António Teixeira Lopes, feita na época em que estava a estudar em Paris.

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Figuran.º11 – Cemitério de Agramonte (Porto), Secção da ordem do Carmo, busto de um casal.

Figuran.º12 – Cemitério de Santarém, detalhe de um relevo em jazigo-capela executado na oficina lisboeta de José G. Correia & Ca. (Irmãos). o anjo assume-se como a figura dolente, pela sua posição debruçada sobre a urna, mas também por ostentar uma coroa de saudades e perpétuas.

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Figuran.º13Cemitério de Salvaterra de Magos, jazigo-capela de Porfírio Neves da Silva e sua família, obra da oficina lisboeta de Marcolino C. Santos. Trata-se de um exemplo típico do recurso à simbologia profissional, neste caso agrícola e também comercial, sendo mais comum, no Riba-tejo e Alentejo, a simbologia exclusivamente agrícola.

Figuran.º14 – Cemitério de Agramonte, detalhe da figura da Dor, no jazigo Santos Dumont, obra de António Teixeira Lopes e seus colaboradores da “escola” de Gaia. Trata-se de uma figura de clara filiação na Arte Nova, pela sensualidade, pela descompostura das vestes e pela sua postura dramática e afectada, apesar da alegoria ainda se enquadrar no espírito do cemitério romântico. Note-se que remata este jazigo um cruzeiro com calvário no topo, ao gosto dos cruzeiros galegos.

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