Post on 29-Apr-2023
1. INTRODUÇÃO
O grupo escolheu para a realização desse trabalho, o
papel da mulher na sociedade medieval, especificamente
entre os séculos X e XV, movidos pelo desafio de mostrar a
construção do feminino e sua imagem por meio de diferentes
caminhos.
Dentre as diversas possibilidades escolhemos trabalhar
com as muitas faces femininas no medievo, entre elas, as
duas mulheres de Adão: Lilith e Eva, a representação no
amor idealizado, na prostituição, no casamento e os rituais
e simbologias que as afetavam. Esse é um material recheado
de informações como lutas de classes, a idealização da
mulher e como a mesma era vista pela sociedade e igreja.
Seja pelo tratamento que recebiam ou no modo que
deveriam agir, fosse no privado ou em sociedade; em tudo a
mulher era considerada naturalmente “inferior”. Para a
sociedade a primeira virtude a ser ensinada a uma dama
deveria ser a obediência, fazendo uso das mulheres bíblicas
demonstrava-se que a desobediência só causava mal as
pessoas, tudo isso tinha por finalidade impedir a
independência feminina. Sobre a prostituição, levamos em
conta como a igreja idealizava o sexo, nos perguntamos como
eram vistas as prostitutas perante a sociedade, como elas
deveriam ser tratadas e também analisamos o funcionamento
dos bordeis e descobrimos quem eram seus frequentadores.
Sendo assim, tentaremos nesse trabalho abordar de forma
clara como que se deu a criação da imagem da mulher de
diferentes níveis sociais na sociedade medieval.
2. PROBLEMATIZAÇÃO
No imaginário social a prostituição é vista como
profissão mais antiga, a partir disso é possível
estabelecer uma relação entre esse ofício e a idade média?
Prevalece a marginalização por causa do pensamento
religioso?
Entre amor e regras matrimoniais o que é possível
deduzir? O que prevalece? É o interesse familiar? De terra?
Ou é o amor?
Quais são as convenções e regras do amor? Como as
relações amorosas resistiriam a essas convenções?
É possível falar em submissão feminina?
Como que o imaginário atual trabalha o medieval? Como as
mulheres são representadas? Elas aparecem ou são somente
figurantes?
Com base nesses questionamentos, nosso grupo se propõe a
realizar uma análise da condição feminina durante este
período tão longo chamado de idade Média, falaremos sobre a
construção da imagem feminina tomando por base a figura das
duas mulheres de Adão e as mulheres dos contos de fada,
tentaremos levantar os motivos que levaram os cineastas da
atualidade a repensarem essas historias e como a
prostituição, a profissão mais antiga do mundo que se tem
noticia foi uma importante aliada da igreja na tarefa de
manter a sanidade dos homens.
3. CONTEXTUALIZAÇÃO
“A alma de uma mulher e a alma de uma porca são
quase o mesmo, ou seja, não valem grande coisa.” (Arnaud
Laufre)
“Toda mulher se regozija de pensar no pecado e de vivê-
lo.” (Bernard de Molas)
“Quem bate numa mulher com uma almofada, pensa aleijá-la e
não lhe faz nada”.(Provérbio da época)
Na Idade Média, a maior parte dos conceitos e ideias
eram elaborados pelos Escolásticos. Tudo que temos
referente às mulheres nessa época foram criados por eles,
homens da Igreja. A mulher para eles era um ser aproximado
da carne e dos sentidos, porque os religiosos se apoiavam
no Pecado Original de Eva, para ligá-la à corporeidade e
inferiorizá-la. Isso porque, conforme o texto bíblico, Eva
foi criada da costela de Adão, sendo, por isso, dominada
pelos sentidos e os desejos da carne. Devido a essa visão,
acreditava-se que ela foi criada coma única função de
procriar. A principal preocupação no início da Idade Média
era mantê-las virgens, e afastar o clero das mesmas, que
eram consideradas demoníacas e a figura da tentação.
Consequentemente a isso, as mulheres eram vistas como a
disseminadora do mal. Na heresia, ao contrário das normas
da Igreja, existia espaço para a pregação ao sexo feminino.
Em uma das doutrinas hereges, as mulheres poderiam se
tornar “perfeitas”, um grau superior nesta doutrina. Ao que
tudo indica, esta mulher “perfeita” poderia prestar os
mesmos serviços espirituais que um homem, tendo os mesmos
direitos e o mesmo apoio que eles gozavam. Outra questão
que levava a marginalidade feminina era a prostituição. A
prostituição resolvia o problema dos jovens. A difusão da
prostituição em meio urbano diminui a turbulência
característica desse grupo. O recurso aos “casarões
noturnos” diminuiu a possibilidade de estupros e violências
generalizadas cometidas jovens. Resolvia também o problema
da homossexualidade masculina. A prostituição servia ainda
de remédio às fraquezas dos clérigos diante dos prazeres da
carne pública, o meretrício, mais que tolerado, foi
estimulado. Entretanto as “marcadoras do prazer” jamais
foram bem vistas. Pelo contrário, era preciso afastá-las
das “pessoas de bem”. Essa questão é discutida mais adiante
no trabalho.
A sociedade medieval (machista e guerreira) nutriu o
desprezo pelas mulheres. As diferenças sociais foram sempre
muito fortes quanto às diferenças de sexo. Podemos pegar
como exemplo, um nobre do século XIII, chamado Filipe de
Nevara, que indica cuidados necessários na educação de suas
filhas. Para ele, a primeira virtude que deveriam aprender
era a obediência – acreditavam-se que as mulheres nasciam
para ser obedientes. Outras virtudes deveriam ser
ensinadas, como exemplo, impedir de serem faladeiras,
ousadas e ambiciosas. Para ele, não precisavam ler e
escrever, porque corresponderiam aos rodeios e galanteios
dos homens. Por esses e outros motivos, não é possível
alinhar em um mesmo plano as condessas e castelãs com
servas e camponesas, ricas e burguesas com artesãs,
domésticas ou escravas. A estrutura familiar e da casa
lembravam uma monarquia, cuja dama, esposa do senhor, se
comporta como o marido em relação a seus dependentes,
tiranizando doméstica, e em condição de sogra,
menosprezando sua nora. Todas as mulheres na época eram
donas de casa, embora, em muitas das vezes, foram forçadas
pelas dificuldades e o tempo a desempenhar o papel ao lado
do marido, ou sem ele, nas diversas atividades fora do lar,
participando assim, de atividades econômicas.
Os homens possuíam todos os direitos possíveis,
enquanto a mulher não possuía nenhum, sendo assim,
menosprezada. A mulher nobre devia fidelidade ao marido.
Descumprindo, estava à mercê da pena de morte, enquanto o
homem possuía uma liberdade sexual incontestável. Os homens
que possuíam condições de manter concubinas quase não se
preocupavam com sua esposa e as repressões da Igreja.
Consequentemente surgiam bastardos que não possuíam direito
a herança, mas possuíam o mesmo vinculo com os filhos
legítimos.
A mulher nobre, voltada a interesses servindo de laço
entre famílias, era garantia de amizade entre beligerantes
reconciliados. O cavaleiro oferecia sua filha ou irmã a um
senhor para concluir aliança entre as famílias. Quando o
nobre morria, a viúva era entregue a um homem capaz de
proteger a sua terra. O sentimentalismo na época quase não
existia, a filha poderia se casar com o assassino de seu
pai, que a relação não mudaria. Por pouca personalidade que
a mulher nobre possuía, só exercia autoridade sobre outras
mulheres, se fossem do povo ou a pequena nobreza.
Constantemente, enquanto o homem não estava a governar o
castelo, ela tomava posse do lugar do mesmo. As camponesas
trabalhavam muito, cuidavam das crianças, fiavam a lã,
teciam e ajudavam a cultivar as terras. As mulheres com um
nível social mais alto tinham uma rotina igualmente
atribuída, pois administravam a família quando seus maridos
estavam fora em luta contra os vizinhos ou em cruzadas à
Terra Santa. Atendimento aos doentes, educação das crianças
também eram tarefas femininas, assim como atribuída a
Igreja.
A mulher guerreira inspirava simpatia à sociedade,
onde a moral militar era o símbolo do maior de todos os
valores morais. Nesse período o lugar da mulher na Igreja
apresentou algumas diferenças daquele ocupado pelo homem,
mas este foi um lugar iminente, que simboliza, por outro
lado, (techo que tirei. Devida a pobreza relativa a vida
senhorial, a mulher não se sobressaia nas artes de agradar,
e nem mesmo em atividades femininas, a não ser a de dona de
casa. Elas bebiam e comiam com os homens. Quando chegava
visita em casa, a filha servia bebida e até mesmo ajudava a
dar banho no hóspede. Tratada como subalterna na Idade
Média por causa de sua fraqueza física, ela tinha de ser um
pouco viril, pois agia e pensava como o homem. Essa
virilidade, voltada com desejos femininos, faz com que
surgisse o amor cortês, a partir do surgimento do amor da
guerra. Relacionada ao duelo, ao sacrifício, toda a
glorificação guerreira. Muitas mulheres queriam seguir esse
ramo na época, mas poucas foram boas em se mostrarem
capazes. Mesmo tendo um posto de guerreira, elas eram
humilhadas e menosprezadas porque a sociedade acreditava
que somente os homens estavam destinados a tais condições.
A fecundidade era considerada como um mal necessário.
Ela é considerada o responsável pelo pecado original, e
também pelas formas da tentação diabólica. O papel da
mulher nessa época nos movimentos heréticos ou para-
heréticos, é sinal de sua insatisfação. Primeiro por não
ser útil como o homem no que diz respeito ao trabalho. Na
classe superior, as mulheres possuíam posições mais nobres
não deixando de desenvolver atividades econômicas; são elas
as operárias têxteis dos senhores e acompanhantes. As
grandes damas tiveram uma vida luxuosa. A virgem é uma
mulher bela e feminina, modelo de beleza divina, seguindo
os modelos de cristo e sua mãe. O casamento combatia a
homossexualidade, que era considerado o pior pecado sexual,
que era visado apenas ao prazer e não a procriação.
Qualquer que fosse a classe social da pessoa no século XI,
o casamento era um ritual eclesiástico. Obrigado apenas a
partir do século XVI.
As filhas eram excluídas de sucessão, quando
contraiam matrimônio recebiam um dote, constituído de bens
que seriam administrados pelo marido. As mulheres não
tinham muitas opções: ou se casavam ou iam para o convento.
Contudo, o convento era para uma minoria de alta classe que
pagavam taxas bastante caras para se tornarem freiras.
Deveriam saber bordar e fiar. Se a jovem fosse pobre,
precisaria para saber sobreviver, e se nobre, para conhecer
tais atividades para administrar o serviço de seus
empregados domésticos. Em outras palavras, eram ensinadas e
deveriam ser preparadas para serem as rainhas do lar. A
linhagem beneficiava apenas componentes do sexo masculino,
e a herança só era passada para o primogênito, isso como
forma de evitar a divisão dos bens da família. Quando a
mulher se casava passava a fazer parte da família do
esposo. Nessa nova família, quando viúva, não tinha direito
à herança.
Seguramente, na concepção dos religiosos, o marido que
amasse excessivamente sua esposa era visto como
adúltero. Não deveria usá-la como se fosse uma prostituta.
A mulher não podia tratar o marido como se ele fosse seu
amante. Por intermédio do casamento, o corpo da mulher
passava a pertencer ao seu esposo. Mas a alma dela deveria
sempre permanecer na posse de Deus. Aos homens, pais ou
maridos cabia o direito de castigá-las como uma criança, um
doméstico, um escravo. Este desdém revela ao mesmo tempo
desconfiança e temor. Os homens receavam o adultério por
parte da esposa. Temiam que lhes oferecessem certos filtros
mágicos que os levassem a impotência, esterilidade, esta,
que assustava os homens. Como os homens temiam as mulheres,
as mesmas tinha um quarto separado na casa. Depois do
jantar os mesmos iam aos seus aposentos e ali tinham as
suas relações sexuais. Esses quartos não eram considerados
um local de divertimento, era mais uma solitária, porque
ali, ficavam sozinhas. Essas mulheres tinham uma divisão
equilibrada entre o trabalho e a oração. Era no quarto que
faziam o artesanato, que eram de suas mãos que saíam todos
os enfeites do corpo e os tecidos ornamentados que
decoravam o quarto, a sala, a capela.
Podemos notar a participação das mulheres em
diferentes situações e condições dependendo da sua condição
e grupo social a que pertenciam. Contudo, havia pontos em
comum que as identificam, principalmente nos traços
familiares, sendo mães, esposas, filhas e/ou viúvas. Essa
parte feminina da família constitui um Estado no Estado,
escapando as ordens e o poder de qualquer outro, salvo do
chefe da casa. Submetidas e espancadas, elas não deixam de
conservar o poder que tem na família, que as reflexões
humanas consolidam em parte.
4. ANALISE DOCUMENTAL: A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM FEMININA EM
LILITH E EVA
O Homem foi criado no sexto dia da criação, o que nós
denominamos de sexta feira, considerado a joia da coroa da
criação, a imagem e semelhança de Deus, mas ele não foi o
único ser criado naquela tarde. Em Gênesis 1:27 lemos: “E
criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou. ACF”1 esse é um dos versículos1 Trecho retirado da Biblia Sagrada tradução de João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada Fiel
mais contraditórios da bíblia judaico-cristã, ele nos leva
a pensar: por que há uma menção a mulher nesse versículo se
Eva só foi formada no capitulo 2?
Uma das explicações seria a que Adão era andrógeno,
mas ela não vem ao caso, à outra explicação, a que nós
utilizaremos é que Eva não foi a primeira mulher criada por
Deus. Depois de estender a mão provavelmente sobre as
terras do Monte Moriá, e misturar essa poeira fina contendo
terra, das quatro partes do mundo e borrifar com a água de
todos os rios existentes, Jeová pega essa massa de “epher,
dam, marah (pó, sangue e bile)”2 e forma o primeiro homem,
Deus começa a formar de uma mistura menos pura contendo
fezes e outras imundices a primeira mulher: Lilith, ela
começa a nascer quase no por do sol da sexta feira e é o
ultimo ser formado completamente, contendo um corpo e uma
alma, depois dela são criados os demônios que ficaram
inacabados, sendo composto apenas por uma alma porque o sol
entrou e teve inicio o Sabah, o dia sagrado dos judeus, por
isso eles ficam sem um corpo.
Lilith era tida como insubordinada e rebelde por Adão,
a primeira mulher era descrita como “cheia de sangue”, ou
seja, ela adorava o ato sexual sem pudor, mas não gostava
de ficar por baixo e sempre questionava ao homem o porque
dela ter que ser submissa a eles se os dois eram formados
do mesmo elemento, o barro. Lendo o livro “Eva e os Padres”
encontramos a seguinte passagem: “[...] Alegria é o que faz
2 SICUTERI, Roberto. Lilith: a Lua Negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985. Pp 13
o esposo na esposa. Apenas ele, ativo, senhor do jogo.”3
Por ser considerado o mandante na hora da relação sexual,
Adão não aceitava ficar por baixo e em uma das brigas com
Lilith ela espera ele cair no sono e foge do paraíso indo
em direção à morada dos demônios no mar Vermelho.
Adão reclama para Deus que sua mulher fugiu e o
Criador envia anjos para buscarem a rebelde. Ela se recusa
a voltar e é castigada por Jeová que a transforma
definitivamente em um demônio e lhe dá a promessa: todos os
seus filhos morrerão. Por causa disso, Lilith coloca sua
vingança contra Deus em pratica e passa a vagar pelo mundo
matando crianças, atormentando mulheres gravidas e
seduzindo homens sozinhos, seu corpo é descrito como:
“Em certos textos Lilith vem descrita como o
principal demônio feminino, com um corpo
prorompente de sensualidade, olhos fulgurantes,
braços brancos cobiçantes; a boca e a vagina vibram
como ventosas macias emanando vertiginosos perfumes
do prazer.”4
Inúmeras são as descrições de Lilith, além da
transcrita a cima, era conhecida também como o “vento do
sudoeste”, um vento que soprava quente e perturbador, vindo
do fundo do deserto da Arábia.
Seus ataques noturnos aos homens eram terríveis e
malévolos, algumas vitimas descreveram que ficaram3 DUBY, Georges. Eva e os Padres. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Pp 404 SICUTERI, Roberto. Lilith: a Lua Negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985. Pp 47
sufocados com o peso dela e que foram obrigados a olhar
diretamente em seus olhos, ninguém conseguia escapar por
forças próprias dos ataques de Lilith, a única forma de se
proteger das garras do demônio era pronunciando
encantamentos. Quando a vitima acordava, seu despertar era
sempre penoso, uma tristeza profunda e um enorme cansaço se
instalava nos pobres homens que caiam em suas garras. Ela
era “Lil” o incubo e suas vitimas se tornavam “Lilit” o
súcubo. O Incubo era um demônio masculino que mantinha
relações sexuais com uma mulher enquanto ela estava
dormindo, enquanto ela estava sendo seduzida, ele sugava
sua energia vital, mas normalmente as vitimas não morriam,
apenas acordavam sentindo muito cansaço, sua versão
feminina é o Súcubo. Segundo pesquisas, o Incubo era
considerado alguém que está a cima de outra pessoa, por
isso na frase a cima citada Lilith se transforma em “Lil”
porque ela é mais que suas vitimas, o termo Sucubo que
também deriva do latim significa prostituta e também pode
adotar o sentido de sub (prefixo) “por baixo” + cubo, um
sentido de “eu me deito”.
Á primeira mulher de Adão também é atribuída à
qualidade de vampiro, na Babilônia ela era conhecida assim
porque seus íncubos eram responsáveis por sugar os fluidos
vitais dos homens, a forma de ataque desses demônios era
por meio de sonho, onde ela aparecia de forma atraente,
seduzindo o homem com seu magnetismo e se alimentando do
prazer gerado na pessoa enquanto eles faziam sexo no sonho.
Um fato interessante é que muitas mulheres na terra de
Canaã no Oriente Médio eram fiéis ao meretrício porque
prestavam serviços a Lilith e outros demônios femininos,
mas essas mulheres não ficavam com o dinheiro não, elas iam
até o templo e entregavam tudo para os sacerdotes/
sacerdotisas, pouco tempo depois, provavelmente quando os
judeus se estabeleceram na região a pratica foi abolida. Em
uma sociedade fortemente influenciada pela religião, todas
as prostitutas eram consideradas servas de Lilith ou Lilu.
Os ataques de Lilith eram tidos como os responsáveis
por provocar fenômenos nervosos de origem histérica ou
outras doenças, mas não apenas isso, se um homem tivesse
uma amante também era considerada obra desse demônio
feminino.
O Mito de “Lilith se estrutura como arquétipo e
símbolo das proibições colocadas ao desejo sobre as
quais vão se agregar influencias religiosas de
culto e psicológicas, transformando-a em verdadeiro
tabu.”5
Esse mito não aparece apenas na mitologia bíblica,
podemos encontra-la entre as tradições Sumério-Acadiana,
Egípcia e Greco-Romana, além de estar presente no
imaginário da Idade Média como a figura da bruxa.
A mulher é considerada um ser perigoso, seus
componentes eróticos sexuais são tidos como satânicos por
isso os homens tinham o direito e o dever de serem
superiores as mulheres. Se utilizando da bíblia como
5 SICUTERI, Roberto. Lilith: a Lua Negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985. Pp 58
justificativa, os eclesiásticos argumentavam que o sexo
feminino era biblicamente condenado por causa do pecado,
para eles as mulheres não poderiam pensar nada de bom, seus
pensamentos eram sempre malvados e ao ver uma mulher chorar
era necessário ter cautela, pois as lagrimas poderia
enganar os homens. “Nunca, como nesta época a mulher teve
que pagar um preço tão trágico pelo ódio masculino à força
instintiva.” 6
Uma das justificativas usada por esses religiosos era
a que se não existissem as iniquidades das mulheres, mesmo
que ainda existisse a bruxaria, o mundo estaria a salvo de
inumeráveis perigos, no período da inquisição temos um
retorno a imagem de Eva na hora de preparar os processos
inquisitórios contra a sensualidade feminina, pois ela foi
a responsável por liberar o pecado original, a ideia que o
pecado de uma mulher começou a matar as almas, foi
amplamente divulgada na idade média por meio dos sermões,
além do fato de que durante os cortejos fúnebres, eram as
pessoas do sexo feminino que iam na frente do corpo, por
serem consideradas as culpadas pela entrada da morte no
mundo.
Um inimigo brando e oculto com concupiscência carnal
insaciável, se morássemos na idade média provavelmente
escutaríamos essa definição em algum momento de nossa vida,
a ordem era ser cuidadoso, por conta desse excesso no
6SICUTERI, Roberto. Lilith: a Lua Negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985. Pp 111
desejo sexual, muitas mulheres se entregaram ao diabo como
sinal de adoração.
Segundo as tradições medievais as bruxas tinham o
costume de cavalgar a noite a mando da deusa latina Diana,
que segundo Burckhardt, “a Diana latina era chamada também
Erodiade, a mortal adversaria de João Batista”7. A bruxa
nesse período era representada de duas maneiras: ou ela era
velha ou era jovem, e as duas versões derivam de deusas
Gregas.
Segundo pesquisas a bruxa velha, feia, sozinha que
soltava gargalhadas horrendas e de estremecer pode derivar
de Hécate, que com o fim do matriarcado grego se torna a
senhora dos ritos e da magia negra. Já a bruxa jovem,
bonita, sensual, a “víbora” da fantasia moderna que faz uso
de feitiços para seduzir pode derivar de Circe, filha de
Hécate. Além de voar na tradicional vassoura, elas podiam
voar em porcos, cabras e cavalos.
É preciso chamar atenção para o fato de que a bruxa só
se tornará uma criatura do sexo feminino, possuidora de um
corpo e de uma alma no período da inquisição, durante os
séculos XIII e XIV, a bruxa vivia escondida, ninguém podia
vê-la embora muitas pessoas afirmassem conhecer seus
trabalhos. As mulheres condenadas pelo tribunal do santo
oficio sob acusação de praticar a bruxaria e se entregar
para ser consagrada ao demônio normalmente era proveniente
das classes mais humildes da sociedade.7 SICUTERI, Roberto. Lilith: a Lua Negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985. Pp 115.
Durante os interrogatórios do processo inquisitorial,
os padres perguntavam se Deus havia permitido que elas
praticassem a bruxaria, pode parecer meio contraditório o
todo poderoso liberar algo desse tipo, mas existia a crença
que a bruxa era necessária para provar que o mal, o pecado
e a queda são reais. A pergunta era feita porque elas de
alguma maneira tinham um “não impedimento” da parte do
criador para atuar, ele “liberava” as praticas para
demonstrar a presença do diabo em nosso mundo e a obrigação
de combatê-lo a qualquer custo, mesmo que para obter a
confissão de suas seguidoras fosse necessário fazer uso da
tortura. O diabo era e ainda é considerada a sombra de
Deus, sinônimo de tentação, luxuria e do mal.
Assim como Lilith foi considerada a culpada por muitos
males que afligiam a sociedade Sumério-acadiana, egípcia e
greco-romana, as bruxas foram as grandes responsáveis pelos
males na era medieval entre eles as mortes acidentais, a
impotência sexual masculina e a frigidez feminina, o terror
coletivo das bruxas se espalhou segundo E. Jones por causa
do medo dos homens de não conseguirem consumar o ato
sexual. Eles não conseguiam entender porque as mulheres
podiam manter varias relações sexuais consecutivas sem
brochar, para eles isso só poderia ser obra do diabo, o
apetite sexual das mulheres era considerado algo terrível,
segundo DAVIS em seu livro “Culturas do Povo” quando o
ventre de uma mulher não era muito bem alimentado pelas
relações sexuais ele podia sair a vagar pelo corpo dessa
mulher e dominar sua fala e até mesmo a razão. As bruxas
com intuito de se sentirem satisfeitas mantinham relações
sexuais com o demônio e posteriormente davam a luz a
diabos. Como já foi dito anteriormente, os homens tinham
muito medo das bruxas porque elas tinham poder de controlar
o sexo, Sicuteri nos apresenta um relato encontrado no
Malleus Maleficarium que diz o seguinte:
“os homens, neste ato, sofrem mais bruxarias que as
mulheres... as vezes o membro ereto pode esvaziar
(...) Quando a vara não se move de nenhum modo, e
nunca ouve uma relação é sinal de frigidez. Ao
contrario, quando se move e tem ereção mas não se
pode concluir o ato, é sinal de bruxaria.”
(SICUTERI, Roberto. Lilith: a Lua Negra. Rio de
Janeiro: Paz e Terra,1985. Pp 118.)
O remédio encontrado pela igreja para livrar os fiéis
desses males foi dizer que a sexualidade só poderia ser
usada para fins de reprodução e nunca como fonte de prazer,
caso contrario, as bruxas poderiam obrigar os homens a
fazerem sexo com elas. Tidas como as responsáveis pela
esterilidade do sexo masculino se quisessem também poderia
ser a fonte de cura desse problema, elas podiam curar isso
enquanto o homem dormia, mas que fique bem claro se ele
fosse vitima da ira de uma bruxa e se tornasse estéril por
conta disso, a infecundidade seria para sempre.
Quando uma mulher se tornava bruxa, ela precisava selar
um pacto com Satã e muitos autores defendem que o ponto
principal da ligação da feiticeira com o diabo era a
relação sexual, por isso elas eram chamadas de prostitutas
do diabo. Normalmente o acordo era selado com sangue
menstrual, mas se isso não fosse possível, poderia utilizar
o sangue de uma incisão feito no braço. Mas até agora só
falei de bruxas, pactos e a onde entra Lilith nessa
historia? O diabo, dono e senhor das bruxas, o principal
parceiro dessas mulheres seria o animus de Lilith, ou seja,
ele era a personificação dela.
As seguidoras de Satã se encontravam em um ritual que
evocava o dia sabático hebraico, esses rituais recebiam o
nome de Sabá, uma noite em que as bruxas podiam libertar
todo o seu furor sexual, nesse ritual noturno todo o ódio a
Adão e ao deus punitivo era liberado. Alguns estudiosos
levantaram a hipótese de que esses encontros podiam ser
algum tipo de reunião dos heréticos perseguidos pela
igreja. Os locais do Sabá eram variados, podiam acontecer
tanto em igrejas sacrossantas, ruinas de casas abandonadas,
currais quanto em campos abertos.
Um dos motivos do ódio às bruxas é que a sua figura
monta um símbolo claramente “sexual e lascivo. Os unguentos
utilizados nos sabas, o cavalo em que elas cavalgavam, o
voo, o bastão levam-nos a pensar no frenesi sexual: a
ereção, o esfregar os genitais, as posições animais do
coito, o voar como símbolo do êxtase, do orgasmo...” 8
Nos anexos será possível encontrar o relato de um sabá
em Valpurga na Alemanha, retirado das paginas 125 a 128 do
livro “Lilith a Lua negra” de Roberto Sicurdi.
8 SICUTERI, Roberto. Lilith: a Lua Negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985. Pp 123 - 124.
Mas passemos a falar de Eva, a segunda mulher do
primeiro homem, aquela que foi enganada por um cobra que
falava. Segundo relato do Gênesis, Deus fez com que Adão
caísse em um profundo sono, e retirou um pedaço de sua
costela, com esse pedaço Deus forma a primeira mulher a
aparecer na bíblia, a segunda na vida de Adão. Esperava-se
que dessa vez ele fosse obediente.
Falamos um pouco mais a cima que o sabá era o momento
de maior prazer sexual das bruxas, e para a maioria dos
comentadores da idade média, um fato em relação à queda era
quase unanimidade, ela foi provocada pelo apetite do
prazer, nos monastérios do século IX o pecado era associado
à figura da mulher e o famoso fruto proibido, que é
comumente associado a uma maçã era apresentado como sendo o
Sexo.
Agostinho diz que o pecado cometido por Eva, não foi
inconsciente, ela o fez sabendo que era pecado, que não
poderia provar daquele fruto, ela era a única que não
poderia escapar da punição dizendo que tinha se esquecido
da ordem de Deus, porque falou para a cobra antes de comer
que ela não deveria fazer isso. Nessa historia o pecado irá
operar em 3 tempos: “a serpente aconselha o prazer, a
sensualidade do corpo animal [o feminino que existe em nós]
obedece, e a razão consente”. Analisando essa frase podemos
concluir que a cobra apenas desempenha o papel de sugestão,
se quisesse a mulher poderia recusar a tentação e ir embora
sem pecar, mas como ela era formada por uma parte animal
desejosa que tinha o dom de dominar sobre a razão, aliada a
uma enorme curiosidade a queda acontece, quem sabe se Eva
não tivesse tido a curiosidade de olhar a arvore, se ela
tivesse se mantido afastada do proibido nós não
estivéssemos morando ainda hoje no Éden.
Para os intelectuais da idade média, a mulher era
considerada mais simples, menos astuta por isso a cobra
falou com Eva e não com Adão, segundo eles o homem seria
muito esperto para acreditar que uma cobra fosse capaz de
falar e não teria cometido o pecado. Podemos fazer a
seguinte pergunta: se ele era tão esperto então porque
pegou o fruto oferecido por Eva e provou?
Para Pedro Abelardo (sim, o Abelardo de Heloisa) Adão
aceita o fruto por amar a mulher, com medo de magoa-la ao
recusar o que lhe era oferecido ele acaba pecando, amar de
mais esse seria o grande erro do homem. Sem falar que Eva,
assim como a grande maioria das mulheres era enganosa, sem
dizer uma só palavra, apenas com o ato de estender a mão
foi capaz de obrigar Adão a obedecer a sua voz.
Deixemos o relato da queda um pouco de lado, e
retomemos um assunto que já foi abordado a cima, mas que
necessita ser retomado: a imagem da mulher na sociedade
medieval. Por ser considerada a portadora do mal, ela
necessita de uma ala especial no livro “Decretum” de
Burchard, essa era uma obra indispensável ferramenta de
purificação espiritual, fazendo uso das perguntas contidas
nele o padre era capaz de descobrir os pecados de suas
ovelhas, conseguia descobrir se alguma mulher estava
praticando a bruxaria, se estava cometendo adultério ou até
mesmo se cometeu algum tipo de assassinato (aborto,
infanticídio, usar erva para fazer seu marido perder o
apetite sexual). Com as respostas em mão o padre utilizava
outro livro chamado “Penitencial” para prescrever a pena
para punir as faltas cometidas.
A mulher era descrita pelos eclesiásticos como:
feiticeiras, enganosas, dissimuladas, vingativas,
inclinadas ao adultério, ao homicídio, ao assassínio, entre
outras características más. Para eles nada de bom poderia
sair de uma mulher. Por conta de sua natureza carnal elas
eram levadas a pecar de outra maneira, muitas vezes seus
pecados estavam ligados a relações sexuais, quando o
assunto era sexual ou envolvia a magia, as mulheres
reinavam absolutas no campo da culpabilidade. Um dos
culpados do desregramento feminino era sua fisiologia “como
qualquer médico do século XVI sabia, o sexo feminino era
formado por humores frios e úmidos (o masculino era quente
e seco) e frialdade e umidade indicavam um temperamento
instável, enganoso e falso.”9
Ao longo dos séculos, este refrão: elas pactuam com
o demônio, são todas rabugentas, impossíveis, seu
corpo, como o da quimera, é um braseiro
inextinguível. A maldição vem de longe, da criação
do mundo. (DUBY, Georges. Eva e os Padres. São
Paulo: Companhia das Letras, 2001. Pp 41)9 DAVIS, Natalie Zemon. “A mulher por cima”. IN: Culturas do Povo. Sociedade e cultura no inicio da França Moderna. Trad. Port. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1990. Pp 107
Quando Adão sai do torpor em que estava envolvido,
descobre que a mulher é oriunda dele e por isso lhe é
semelhante, possuindo razão e espirito, mas por ter sido
retirada de sua costela, por ser apenas uma pequena parte
dele, ela deve –lhe ser submissa. Essa submissão da mulher
ao homem era explicada por Agostinho com base no relato
bíblico da criação, segundo ele a mulher foi criada para
ser uma auxiliar do homem, e não superior a ele, sua
natureza carnaval incontrolável a colocava em uma condição
de inferioridade em relação aos homens, segundo a crença,
embora fossem formados de uma parte carnaval e outra
espiritual, eles ao contrario das mulheres conseguiam
domina-la, ou seja, a natureza carnaval era subordinada a
espiritual. Alguns filósofos defendia a ideia de que o
homem amava mais a Deus que a mulher.
Religiosos utilizavam o texto de Gênesis para
reforçar a convicção de que a mulher auxiliar foi colocada
junto ao homem apenas para ser “conhecida”, ou seja, na
concepção da época ela não tinha nenhuma outra função além
de ser fecundada, chegando até a ser comparada com um
pedaço de terra em que se planta uma semente. Esse
pensamento justificava a pergunta: Por que Adão precisava
de uma mulher? A resposta era: porque Jeová Deus queria que
a humanidade crescesse e se multiplicasse.
Mas outras perguntas também são levantadas tipo: “Por
que pergunta-se Robert, Deus não formou a mulher do limo da
terra[...]”10 com base no estudo da vida de Lilith,
poderíamos dizer que o motivo era simples, a primeira
tentativa com esse material não se saiu muito bem, ela era
insolente, rebelde e muito “fogosa”. Mas para Robert essa
não era a resposta, ele continua o texto da seguinte
maneira: “pra que se serviu de uma porção do corpo do homem
senão para mostrar que a caritas, o laço da união monogâmica,
deve ser indissolúvel?”11
Para manter um homem e uma mulher unidos era necessário
que tivesse amor, não aquele amor carnal (esse deveria ser
contido), mas sim aquele amor espiritual. Essa ideia de que
o amor normalmente tinha lugar no seio do matrimonio foi
muito propagada nas ultimas décadas do século XII.
Mas saindo dessa questão do amor e retomando a questão
da queda, descobrimos que o segundo pecado cometido pela
mulher foi querer sair da posição de inferioridade, mais
uma vez, primeiro com Lilith, agora com Eva encontramos
como erro a vontade de ser igual ao homem e comandar os
animais junto com ele. A mulher depois de um certo tempo
deixa de ser acusada de ter comido o fruto por orgulho,
para ser acusada de querer prevalecer sobre ele. Sua
punição foi dada por Deus no âmbito espiritual e não
carnal, o “dará a luz na dor”, nesse caso os filhos não são
apenas as crianças de carne e osso, mas também as boas
obras, a dor seria o esforço para se abster daquilo que a
vontade da carne inclinava.10 DUBY, Georges. Eva e os Padres. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Pp 50 - 5111 Idem ao 9.
Eva não é punida sozinha, o homem também foi punido,
porque masculino e feminino são igualmente culpados nessa
historia, a mulher por oferecer o fruto e o homem porque
aceitou. Se Eva não fosse curiosa e não tivesse se afastado
da disciplina, reinaria junto com Adão , como associada,
desfrutando da liberdade.
Por ter pecado, todas as mulheres foram punidas, sendo
obrigadas a viver debaixo do jugo de seus maridos, vendo a
sua condição piorar com o casamento já que a influencia do
esposo era mais abrangente que a do pai sobre a filha. E no
fim, a origem de toda a transgressão da lei divina está no
sexo.
4.1. O casamento e o amor na idade média
O amor
Eu te amo! Quer casar comigo? Você é um sonho...
Frases como estas é o que todas queremos ouvir algum dia,
este romance que nos faz sonhar acordadas, ter vontade de
comer doce e ver um filme romântico, isto é, este amor
idealizado foi um conceito europeu criado na idade média
para enaltecer o amor no fim do século XI.
Este amor cortês, na verdade, eram era um código de
comportamento amoroso em que os praticantes – cavaleiros –
podiam demonstrar para a corte que o valor pessoal não se
fundamentava apenas no sangue ou nas proezas militares, mas
podia ser identificado no comportamento social: a
cortesia. Esta cortesia fazia uma inversão de papéis, onde
o cavaleiro caí em uma submissão absoluta à dama.Ela se
torna a senhora, a suserana, ele o vassalo.
O amor cortês trata da relação entre um homem e uma
mulher: onde a mulher é uma dama, que também significa que
ela é casada e, o homem é um celibatário, que se interessa
por ela.
Em suma, o amor cortês, erotiza, mas idealiza,
submete, mas enobrece, aprimora, mas fragiliza; é um
turbilhão de emoções resultadas dos mais contraditórios
ideais que proclamam uma autonomia de sentimentos em
relação aos ditados pela igreja, família e, acima de tudo,
a sociedade a fim de se conservar o individuo como ser
pensante e que determina seus sentimentos, suas idéias
empreendendo uma velada crítica aos padrões repressores de
seu tempo. Uma revolução imaginária.
4.1.2. Tristão e Isolda
Tristão é um cavaleiro, órfão e entregue aos cuidados do seu
tio Marc, rei da Cornualha,uma província Britânica que o
transformou num cavaleiro da távola Redonda.Numa das suas
batalhas, após ter vencido o gigante Morholt, Tristão ficou
gravemente ferido e só a rainha da Irlanda, uma grande inimiga de
seu tio que tinha o dom da cura,o podia salvar. Antes de se
dirigir ao castelo da Rainha, Tristão disfarçou-se de músico,
tomou o nome de Tãotris e tornou-se professor de música da
princesa Isolda, a Loura. Tristão, já curado, matou um cruel
dragão, em Weisefort, na Irlanda, e voltou para o castelo de seu
tio Marc, a quem descreveu a beleza de Isolda com a qual o jovem
tinha ficado impressionado. Para acabar com a inimizade entre os
dois reinos Marc mandou Tristão ao Reino da Irlanda pedir a mão
de Isolda em casamento. A Rainha da Irlanda concordou, mandou
organizar um banquete e preparar uma poção do amor para Marc e
Isolda. Porém por engano o copo com a poção do amor que
estava destinado a Marc foi parar às mãos de Tristão, e logo que
os dois beberam a respectiva poção apaixonaram-se perdidamente um
pelo outro. Apesar do sucedido o casamento de Isolda e Marc
prosseguiu, mas Tristão e Isolda não conseguiam controlar o
desejo de estar juntos e começaram a encontrar-se
secretamente.Passado algum tempo foram descobertos e Tristão foi
expulso do Reino.Tristão foi para França, onde se casou com uma
outra jovem também chamada Isolda.A jovem, que era conhecida como
Isolda, a das Mãos Brancas, nunca conseguiu ver retribuído o amor
que sentia por Tristão e este nunca consumou o casamento, dado
que continuava fiel ao seu primeiro amor.Por conseguinte noutra
batalha ficou gravemente ferido e mandou chamar a sua
amada Isolda, a Loura, que também tinha o Dom da cura para lhe
curar. A mulher de Tristão, Isolda, a das mãos brancas, com
ciúmes enganou Tristão dizendo-lhe que a outra não viria, já que
estava morta. Tristão não suportou a perda e morreu de desgosto.
Quando Isolda, a Loura, chegou para curar Tristão encontrou-o sem
vida e abraçada ao corpo deste morreu também. Foram enterrados
lado a lado e diz a lenda que das sepulturas nasceram duas
árvores que cresceram entrelaçadas para que nunca fossem
separadas.
4.2.O casamento
O casamento na idade média, por mais que seja um ponto
de partida para costumes usados até hoje, é bem diferente
de como o conhecemos hoje, o casamento pelo amor, afim da
constituição de uma família não era o objetivo principal no
medievo, mas sim um contrato entre famílias para assegurar
uma estabilidade financeira. Em um tempo em que a igreja
dominava tudo que dizia respeito à sociedade o casamento
também era dominado pela classe eclesiástica.
Segundo a igreja o amor que deveria existir era o amor
ao próximo, o casamento era uma instituição que servia
apenas para a produção da espécie e uma união de riquezas.
A sociedade medieval foi marcada por uma superioridade
masculina e submissão feminina, no casamento não era
diferente, já que ao se casar a mulher só trocava de tutor,
passava a ser responsabilidade de seu marido sendo ele, o
responsável por ela ao invés de seu pai. Os casamentos eram
cuidadosamente escolhidos pelos pais dos noivos,
preferencialmente dentro da própria família se abastada,
para que os bens do clã não fossem dispersos. O principal
interesse dos casamentos aristocráticos era a manutenção da
linhagem. A mulher deveria ser fértil ou poderia ser
repudiada pelo marido e devolvida.
Contudo, o casamento também era diferenciado de acordo
com a camada social dos noivos, nas classes mais baixas, o
casamento era realizado mais tarde divido às condições
precárias de vida, tanto da noiva nos quanto do noivo.
Se por um lado, o casamento entre nobres era realizado
em castelos e recheados de comidas e mordomias, por outro o
casamento entre camponeses eram realizados na casa da noiva
e a festa era muito simples. Uma diferença positiva entre a
camponesa e a nobre (a partir de uma visão romântica pelo
modo que conhecemos o casamento) é que o casamento por amor
era permitido, já que ambos os noivos já viviam em
condições de extrema pobreza.
Com isto podemos constatar que a relação da mulher com
sua própria vontade é nula, o seu expressar proibido e sua
liberdade simplesmente não existe.
4.2.1.Hierarquização: a fonte de todos os
problemas
Ao analisarmos a trajetória feminina ao longo da idade
média podemos perceber sua submissão ao homem, devido,
principalmente, ao direito divino tanto “martelado” pela a
igreja, contudo, outro tipo de diferença social pode ser
percebido, uma diferença entre as próprias mulheres.
O casamento é diferente entre a camponesa e a nobre, o
amor também. Suas vidas são dirigidas por motivos
diferentes e este ponto é o que caracteriza todo o nosso
trabalho, se por um lado a nobre não tem que se preocupar
com nada além de satisfazer seu marido, a camponesa, além
disso, deve se preocupar em não morrer de fome.
Este constante medo faz com que toda a sua vida seja
regida pela motivação de viver e não deixar, junto com o
marido, que seus filhos/ filhas morram.
Esta questão pode ser percebida quando lemos os contos
de fadas, não os contados aos nossos filhos, os que são
escritos, produzidos pela Disney ou outro tipo de mascara.
4.3. CONTOS
Na tradição oral, as histórias compiladas não eram
destinadas ao público infantil e sim aos adultos.
O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitário.
Assim, a violência presente nos contos de Charles Perrault,
cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do
maravilhoso da vida. Perpassam pelas histórias, de forma
suave, duas temáticas em especial: a solidariedade e o amor
ao próximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam
presentes nessas histórias, o que predomina, sempre são a
esperança e a confiança na vida. É possível observar essa
diferença, confrontando-se os finais da história de
Chapeuzinho Vermelho em Perrault, que termina com o lobo
devorando a menina e a avó, e em Grimm, onde o caçador abre
a barriga do lobo, deixando que as duas fiquem vivas e
felizes enquanto o lobo morria com a barriga cheia de
pedras que o caçador ali colocou.
4.3.1. OS VERDADEIROS CONTOS
A GAROTA DA CAPA VERMELHA ( CHAPEUZINHO VERMELHO)
Quando falamos na visão que a sociedade tem sobre as
mulheres podemos associar este tema ao conto da garota da
capa vermelha. Até a parte que a chapeuzinho é enganada
pelo lobo e chega atrasada na casa da vovó é tudo igual.
Uma vez lá, ela descobre que o lobo fez ensopado da velha.
Pior: Ele exige que a chapeuzinho deguste com ele da
refeição. Chapeuzinho, no entanto sabe que é a próxima do
cardápio.
Para tentar fugir, faz um Streep tease para o lobo, a
fim de distraí-lo. A estratégia não dá certo e ela também
vai parar na barriga do lobo. Ah, nessa versão não aparece
caçador nenhum. Não há final feliz, a menos que você seja o
lobo, que encheu a barriga e ainda assistiu ao showzinho de
uma Chapeuzinho.
João e Maria
Se levarmos em consideração a questão da diferença
social e os meios precários em que os plebeus vivem na
idade média podem relacionar este tema ao João e Maria. Eis
aqui a história:
A dupla de crianças não se perdeu na floresta
acidentalmente. Eles foram abandonados lá pelo seu pai.
Também não encontraram uma casa feita de doces, e sim, uma
casa repleta de riquezas. Não era uma bruxa má a dona da
casa, e sim, um casal de demônios.
Daí pra frente a história fica mais ou menos parecida com o
popular: João e Maria são pegos, escravizados por um tempo
até estarem no ponto para serem comidos com cebolas.
No dia D, o demônio “macho”, sai para buscar uns temperos,
enquanto a fêmea começa a cozinha-los. João finge não
conseguir se ajeitar na panela, e Maria pede que a
“demônia” lhes mostre como fazer. Ela, muito tonta, entra
na panela e se deita, mostrando como esperava que o João
fizesse. Nessa hora, os irmãozinhos lhe dão um golpe na
garganta e a matam, acendendo o fogo e fugindo, levando o
máximo de riquezas que conseguem como souvenir.
4.4. A PROSTITUIÇÃO VISTA PELA IGREJA
A Idade Média foi um período marcado pelo domínio da
Igreja Católica em todos os aspectos sejam eles civis,
religiosos, culturais e morais. Em relação ao aspecto moral
até mesmo a sexualidade tinham suas normas eclesiásticas.
A Igreja Católica especificava que atos sexuais as
pessoas poderiam se permitir, e os locais que o sexo
poderia ser praticado. A sexualidade no âmbito religioso
era voltada a reprodução da espécie e não para satisfação
dos prazeres carnais, com isso na prática do sexo, onde seu
único objetivo era a procriação, a mulher não poderia
demonstrar prazer e homem deveria estar sempre sobre a
mulher, para demonstrar submissão por parte da mulher, era
o que a igreja impunha e o homem esperava.
Com vários dogmas e imposições a Igreja Católica
deixava claro que era proibido o marido demonstrar amor
excessivo a sua esposa, pois se o fizesse o homem seria
considerado adúltero, e além do mais não deveria usar sua
esposa como se fosse uma prostituta e caberia a mulher não
tratar seu marido como se fosse seu amante. Através do
casamento a igreja impunha que o corpo da mulher passava a
pertencer ao seu esposo, mas a alma dela deveria sempre
permanecer na posse de Deus.
Mesmo com todas as imposições eclesiásticas, havia
homens que praticavam ato sexual fora do matrimônio e eles
buscavam satisfazer os prazeres sexuais com mulheres que
ofereciam seu corpo em troca de alimentos e dinheiro, essas
mulheres recebiam o nome de prostitutas.
4.5. A prostituição na Idade Média
As prostitutas também eram chamadas de cortesã,
meretriz, mulher-dama e integravam o espaço urbano da idade
média, tendo seu ápice durante os séculos XII ao XV. Era
comum a presença de uma “boa casa”, “bordel”, como era
conhecido os prostíbulos em todas as cidades.
Um observador do século XV estimou uma média de cinco
a seis mil prostitutas em Paris em uma população de 200 mil
pessoas. O cronista Jacques de Vitry, do século XII pintou um
quadro vivido das prostitutas parisienses de sua época:
As prostitutas estavam em toda parte nas ruas ebairros da cidade tentando arrastar clérigos
passantes á forçam para dentro de seus bordéis. Se os clérigos se recusassem a entrar elas imediatamente lhes gritavam pelas costas: “sodomita”! Num mesmo único edifício, poderia haveruma escola no andar de cima e um bordel no andar debaixo. Enquanto os mestres ensinavam a seus pupilosna parte de cima, as prostitutas batiam boca uma com as outras e com seus cafetões; na outra parte os eruditos discutiam sobre assuntos eruditos. (pag.121 Sexo, Desvio e Danação: As minorias na Idade Mediam / Jeffrey Richards)
As mulheres buscaram a prostituição por vários motivos
como pobreza, inclinação natural, estrupo, passado familiar
perturbado violento ou incestuoso sendo que 15% dessas
mulheres buscavam essa profissão por vontade própria. Os
medievais consideravam a pureza da mulher como elemento
necessário para realização do casamento com isso as
mulheres eram tachadas de “puras” ou “públicas” as públicas
eram as prostitutas.
A prostituição era comum e é um dos ofícios ilícitos
mais antigos do mundo, a igreja repudiava esse oficio
colocando-o como um pecado, mas o admitia para evitar a
desordem. Assim a prostituição era vista como um “mal
necessário” uma necessidade social que manteria
principalmente os jovens afastados e desestimulados de
praticar o estrupo contra jovens honestas e longe da
homossexualidade que era comum na época.
A mulher prostituta era mal vista pela sociedade,
apontada e criticada na rua, mas os mesmos homens livres,
cavaleiros, artesões, servos que as censuravam eram os
mesmos que iam a procura delas para descarregarem seus
prazeres mundanos e logo após voltavam para suas casas e
mulheres levando seu “amor paternalista” além de várias
doenças veneras.
No livro do o historiador Jacques Rossiaud, A
Prostituição na Idade Média, existiam quatro níveis de
prostituição na França da Idade Média elas eram as casas
públicas, os banhos, os bordéis particulares e as
meretrizes autônomas.
4.5.1. Os Bordéis da Idade Média Regras e Imposições
Muitas foram às tentativas de se restringir a
prostituição, como não surtiu efeito nos meados do século
XIV e XV houve a institucionalização da prostituição e
criação dos bordéis. Esses bordéis eram uma espécie de
hotel, nele tinham o Abade que era uma espécie de gerente
que coordenava seu funcionamento, as moças que ali ficavam
tinham obrigação de pagar o quarto e a alimentação ao
Abade, cada moça pagava o valor de 6 dinheiros por dia pelo
quarto.
Em cada bordel a forma de tratar as prostitutas
variava, em alguns elas viviam enclausuradas, dormiam e se
alimentavam no interior das casas em outros tinham a
autorização para saírem aos domingos. Para aquelas moças
que apenas trabalhavam no bordel era imposto para que elas
não praticassem seu oficio em nenhum outro lugar que não
fosse os bordéis identificados e para que não criassem seu
próprio comércio em casa elas tinham que deixar os bordéis
até as onze da noite horário que eles eram obrigados a
fechar.
Era possível obter lucros com a manutenção desses
bordéis, seus proventos eram postos em uma arca e
recolhidos todo inicio de mês pelas autoridades, as mesma
efetuava o pagamento dos funcionários do bordel e davam as
prostitutas o que era respectivamente sua parte. Os homens
que eram responsáveis por recolher os proventos dos bordéis
também seguiam normas não podendo assim deitar-se com as
prostitutas para não perderem seus cargos chegando até
mesmo a ser presos. E mesmo com todas essas regras impostas
era inútil o esforço das instituições, pois a prostituição
seguia por toda parte.
4.5.2. Vestuário
Mesmo sendo um oficio institucionalizado com fim de
manter a ordem pública e lucro, as meretrizes nunca foram
bem vistas tudo era controlado para que elas se mantessem
afastadas das “pessoas de bem”.
A Igreja e a sociedade procurava lidar com o problema
da prostituição através de uma contenção muito cuidadosa.
As prostitutas em sua vez eram tratadas com os mesmos
princípios que se tratavam os leprosos, elas deveriam der
distinguidas na sociedade com uma marca distintiva, além do
mais tinham que ser segregadas.
Devido a esse fato as prostitutas tinham que usar uma
marca para se diferenciar das “damas boas e nobres”. Assim
era ordenado que elas não usassem roupa adornada com peles
e forrada de seda ou qualquer material rico. Elas deveriam
usar capuz de pano listrado e vestes simples, essas regras
foram reavaliadas em 1832 e em 1437 quando o capuz
prescrito passou a ter que ser vermelho.
4.5.3. Decadência
Com o tempo à vida das prostitutas tomavam rumos
diferentes, além disso, a idade dessas mulheres indicavam
as etapas da vida pelas quais elas haviam passado assim em
torno dos 17 aos 20 anos elas trabalhavam nas ruas e casas
de banhos vendendo-se nestes locais para seus
frequentadores. Por volta dos 28 anos algumas dessas
mulheres tornavam-se abadessas nos bordéis, a maioria delas
ia para os conventos ao qual dedicavam o seu arrependimento
jejuando e orando e a minoria conseguia ser desposada e
retornava a sociedade.
Esses casamentos em sua grande parte ocorriam por
intermédio da igreja, o papa Inocêncio III incentivou que
todos os verdadeiros cristãos deveriam ajudar a recuperar
as prostitutas e até mesmo oferecia remissão dos pecados
aos que se casasse com essas mulheres.
Com a revolução Puritana em meados do século XVI,
começou a exercer bastante influencia na sociedade tanto a
moral na politica e o bom senso, a também o decreto de
Orléans alegando que era proibido o funcionamento dos
bordéis, com isso muitas casas foram fechadas, e a razão
para o fechamento dessas casas eram à propagação de pestes
e doenças veneras, a politica regressiva dos reis da França
e os fatores demográficos sendo passando a ser considerado
como um ato de clandestinidade pela Igreja Católica.
5. Possibilidades de pesquisa
É claro que tudo muda com o passar do tempo e a evolução
das sociedades, mas por meio desta pesquisa, em nossas
confusões em meio à riqueza de temas a serem abordados
percebemos que apesar de tal riqueza poderíamos ter como
possibilidade de pesquisa os ecos que esta sociedade tão
especifica e sucinta nos permite pensar a nossa sociedade
atual e como no contemporâneo as mulheres se comportam com
a submissão ao masculino ( agora denominado machismo) e aos
costumes impostos por uma sociedade que apesar de ter uma
estrutura diferente, tem sua formação e raiz no passado.
6. Conclusão
Chegamos ao final desse trabalho, esperando ter conseguido
trazer à tona um início de análise sobre a relação da
mulher com a sociedade medieval. Sabemos que vários pontos
não foram citados, hipóteses não foram levantadas e
assuntos abordados de formas superficiais. Conclui-se que a
mulher sempre foi vista aos olhos da Igreja como uma
pecadora, sendo comparada a Eva, ou seja, uma pecadora que
devera sempre ser oprimida devido sua escolha, levando em
consideração essa crença a Igreja deixava a mulher em
condição submissa perante aos clérigos e também a sociedade