Post on 20-Apr-2023
COORDENAÇÃO CIENTÍFICA DA COLECÇÃO REPÚBLICA
Amadeu Carvalho Homem
COORDENAÇÃO EDITORIAL DA COLECÇÃO REPÚBLICA
Maria João Padez Ferreira de Castro
EDIÇÃO
Imprensa da Universidade de CoimbraEmail: imprensauc@ci.uc.pt
URL: http//www.uc.pt/imprensa_ucVendas online: http://www.livrariadaimprensa.com
CONCEPÇÃO GRÁFICA
António Barros
INFOGRAFIA
Carlos CostaImprensa da Universidade de Coimbra
ILUSTRAÇÃO DA CAPAIlustração Portuguesa, II Serie - N.º 680
Bonet encontrado no quarto de Paiva Couceira.
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Tipografia Lousanense
ISBN978-989-26-0076-5
DEPÓSITO LEGAL319446/10
OBRA PUBLICADA COM O APOIO DE:
© NOVEMBRO 2010, IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
ISBN Digital978-989-26-0172-4
DOIhttp://dx.doi.org/10.14195/978-989-26-0172-4
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
A C o n t r a - R e v o l u ç ã o n a I R e p ú b l i c a
1 9 1 0 - 1 9 1 9
Miguel Dias Santos
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
Sumário
introdução....................................................................................................................... 9
Parte.i:.GéneSe.da.Contra-revolução.(1910-1913)..........................................................17
CaPítulo.i:.a.reaCção.monárquiCo-CleriCal.......................................................................19
1.A«RepúblicadosSapateiros».............................................................................19
2.Paraumasociologiadacontra-revolução..........................................................55
2.1.Nobrezaecaciquismo......................................................................................60
2.2.Ocleroeomovimentorestaurador................................................................64
2.3.Oexércitoearestauração...............................................................................76
CaPítulo.ii:.«o.PeriGo.monárquiCo»..................................................................................87
1.Acontra-revolução«Petisqueira».........................................................................87
2.Do29deSetembroàIIncursão..........................................................................110
2.1.Omovimentointerno.....................................................................................118
2.2.Aprimeiraincursãomonárquica...................................................................126
3.DoPactodeDoveràSegundaIncursão..............................................................134
3.1.Asegundaincursão........................................................................................150
4.A«PrimeiraOutubrada».....................................................................................162
Parte.ii:.natureza.da.Contra-revolução.(1914-1917)...................................................177
CaPítulo.i:.a.direita.monárquiCa..................................................................................179
1.Conservadoreseantimodernos..............................................................................179
2.Conservadorismoliberal.........................................................................................192
3.Tradicionalismooua«GeraçãodoRegresso»........................................................207
4.A«questãodoutrinária»:liberalismooutradição?..................................................218
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
CaPítulo.ii:.oS.monárquiCoS.e.a.Grande.Guerra............................................................243
1.AGuerracomo«RevoluçãoConservadora»......................................................243
2.NaçãoeImperialismo............................................................................................256
CaPítulo.iii:.oS.monárquiCoS.Contra.a.Guerra...............................................................269
1.A«SegundaOutubrada».....................................................................................269
2.Da«ditadura»PimentadeCastroao14deMaio..............................................293
3.Contra-mobilizaçãoecontra-revolução............................................................320
Parte.iii:.a.Contra-revolução.entre.o.auGe.e.o.deClínio.(1918-1919)...........................367
CaPítulo.i:.do.SidoniSmo.àS.JuntaS.militareS..................................................................369
1.Osmonárquicoseosidonismo........................................................................369
2.AsJuntasMilitares.............................................................................................393
CaPítulo.ii:.a.monarquia.do.norte...............................................................................417
1.«Ouagora…oununcamais».............................................................................417
2.Deus,Pátria,Rei................................................................................................427
3.Monsanto...........................................................................................................447
4.A«guerradeboasvontades».................................................................................458
ConCluSão......................................................................................................................487
FonteS.e.BiBlioGraFia.....................................................................................................495
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
7
nota.Prévia
Olivroqueagorasepublicacorrespondeaotexto,revistoealterado,daminha
dissertaçãodedoutoramentoemLetras(HistóriaContemporânea),cujasprovas
públicasserealizarama27deJaneirode2010,comotítuloAntiliberalismo
e contra-revolução na I República (1910-1919).Fizerampartedojúri,presidi-
dopeloprofessordoutorFernandoCatroga,osprofessoresdoutoresAmadeu
CarvalhoHomem,MariadaConceiçãoMeireles,ErnestoCastroLealeSérgio
CamposMatos,aquemtestemunhoaminhagratidãopelaqualidadedascrí-
ticasesugestões.
Dotextooriginal,paraalémdarevisãoformal,suprimiram-seaslongastrans-
criçõesdocumentaiscolocadasemnotaderodapéequeserviramdefundamen-
toaleituraseinterpretações.Eliminaram-setambémosanexosdocumentais.
Oleitormaisinteressadonasprovasdocumentais,nasuamaioriainéditas,deve
consultarotextooriginal.
QueroaquiconsignaramaisvivagratidãoaoprofessordoutorAmadeu
CarvalhoHomem,queorientouestainvestigaçãocomelevadointeresseecom-
petência,porestesanosdeaprendizagemedeconvíviointelectualecívico.
DevotambémumapalavradesinceroagradecimentoaoprofessordoutorJoão
GouveiaMonteiro,directordaImprensadaUniversidadedeCoimbra,poraceder
apublicarestetextonacolecçãoRepública, integradanoprogramaeditorial
associadoàscomemoraçõesdocentenáriodaIRepública.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
8
aBreviaturaS
ADG–ArquivoDistritaldaGuarda
AHD-ArquivoHistórico-Diplomático
AHM–ArquivoHistórico-Militar
BNP–BibliotecaNacionaldePortugal
CEP–CorpoExpedicionárioPortuguês
CTGL–CorpodeTropasdaGuarniçãodeLisboa
DGAPC–DirecçãoGeraldaAdministraçãoPolíticaeCivil
EAO–EspóliodeAiresdeOrnelas
ELM–EspóliodeLuísdeMagalhães
GNR–GuardaNacionalRepublicana
IAN/TT–InstitutodosArquivosNacionais/TorredoTombo
MI–MinistériodoInterior
MNE–MinistériodosNegóciosEstrangeiros
TMEL–TribunalMilitarEspecialdeLisboa
TMTL–TribunalMilitarTerritorialdeLisboa
UON–UniãoOperáriaNacional
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
9
introdução
«A proclamação da República foi recebida, de braços abertos, por toda
a gente que em Portugal, directa ou indirectamente, intervinha na política.
Melhor do que isso: a proclamação da República foi recebida, de braços
abertos, por todos os indiferentes que, afinal, a essa data, constituíam a
grande maioria das classes conservadoras, verdadeiras forças vivas de uma
nação de iletrados. Por esse país fora o comércio, a lavoura ou a indústria
não eram monárquicos nem republicanos: em regra a única manifestação
da sua solidariedade com as instituições consistia em votar com os amigos.
Desobrigados desse compromisso voltavam ao seu negócio, às suas terras
ou aos seus algodões. Para eles a República era uma esperança, embora
imprecisa».
(CunhaeCosta,«BalançoPolítico»,inO Dia,n.º374,31-12-1912,p.1.)
Acontra-revoluçãoconstituiumapartesignificativadahistóriadaIrepú-
blicaportuguesa.Poderá,pensamosnós,trazeralgumasrespostasàquestão
centralcolocadapelahistoriografiadesteperíodo:porquefalhou(aceitandoque
falhou)aprimeirarepública?Nãosetrataaquideacusarosmonárquicosda
instabilidadeendémicadoregime,comofizeramalgumasleiturasideologica-
mentecomprometidas.Trata-sedecompreenderolugardacontra-revoluçãona
evoluçãohistóricadesteperíodoconturbado,quecomeçouefectivamenteem
1890eprosseguiu,pelomenos,até1926,apesardosprolongamentosideológicos
posteriores.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
10
Ahistóriadacontra-revoluçãonãopodeporissoreduzir-seaumsimples
conflitopelocontrolodoEstadoprotagonizadoporfacçõesantagónicas,defen-
dendoregimesdiferentes.Representaemprimeirolugararecusadamodernida-
depolíticapropostapelarepública,recusaveiculadapordiferentessegmentos
dasociedadequeaquienquadramossobadesignaçãodemundoconservador.
ComoacentuaCunhaeCosta,advogadorepublicano,natranscriçãoem
epígrafe,arepúblicafoirecebidaemgeralcomouma«esperança,emboraim-
precisa».Esteoptimismoinicial,estacrençanasvirtudesregeneradorasdonovo
regime,foiumlampejoquedepressaesmoreceu,dandoorigemaumfenóme-
nodereacçãoecontra-revolução.Aolongodestelivro,procuramosexplicar
aorigemenaturezadessacontra-revoluçãoeasuaevoluçãoatéaoclímax
darestauração,em1919.Maséimperiosoquesedigaqueacontra-revolução
nãoseresumeaumconflitopolíticoemilitar,pelocontrário.Veremosqueo
ressurgimentodoutrináriodependortradicionalistasefarátambémdentrode
algunspressupostosdaideologiacontra-revolucionária,visíveisnorenascimento
doPartidoLegitimistaedasualiteraturapró-miguelistaedasnovascorrentes
donacionalismomonárquico.
Asrazõesqueditaramacontra-revoluçãomonárquica,temáticanemsempre
devidamentevalorizadapelahistoriografia,correspondemàquiloqueasocio-
logiapolíticaidentificacomorupturaouinexistênciadeumconsenso,deque
resultouoconflitoideológicoearecusadalegitimidadepolítica1.AntónioCosta
Pintoidentificoutrêsclivagenssócio-políticasquecontribuíramparaofracasso
darepúblicaequepodemosassumircomorupturasouimpedimentosàformação
doconsenso:aquestãodoregime,aquestãoreligiosa,queesteautoridentificou
comasecularização,eaoposiçãoentreocampoeomundourbano2.Éforçoso
reconhecerqueemtodasestasdimensõesapresençadosmonárquicosécentral
erelevantecomoinstânciaexplicativa.Mas,comoprocuraremosdemonstrar,foi
sobretudoemtornodeclivagensideológicasqueseconcebeuarupturacomo
consensoinicial,foiapartirdelasqueseforjouacontra-revolução.
1Cf.SeymourMartinLipset,Consenso e Conflito,Lisboa,Gradiva,1992,p.15.Sobreaquestãodalegitimidade,leia-seMaxWeber,Três Tipos de Poder e outros Escritos,Lisboa,Tribuna,2005.
2AntónioCostaPinto«AQuedadaPrimeiraRepública»,inA Primeira República Portuguesa entre o Liberalismo e o Autoritarismo,Lisboa,EdiçõesColibri,2000,pp.33-34.Atesefoirepetidaem«Aquedada1.ªRepúblicaPortuguesa:umainterpretação»,inManuelBaiôa(ed.),ob. cit.,pp.165-183.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
11
EseaceitarmosahipótesedomesmoCostaPinto,segundoaqualoeixo
analíticoqueexplicaofracassodarepúblicaresidenaformaçãodeumsólido
eixocivil-militarquecontestouduramentealegitimidadedanovaautoridade3,
ocampomonárquicotempelomenosdireitoaumaposiçãodesignificativo
relevo.Duranteanos,aacçãosubversivadosmonárquicosmaisactivosminou
aautoridadeealegitimidadedarepública,conspirandoeaçodandoodescon-
tentamentodasociedadeciviledacaserna.Étodaessaactividadeconspirativa,
nemsemprefácildereconstruir,equeculminanarestauraçãodamonarquia
em1919,queseráobjectodeumapartedestelivro.Correspondeaoestudoda
contra-revoluçãonasuafacetadiacrónica,estabelecidaapartirdasconjunturas
maisconturbadasdonovoregime.Procurandoarticularumadimensãoanalíti-
ca,dependormaisnarrativo,comosnecessáriosenquadramentosexplicativos,
procurámostornarinteligíveisosfenómenospolíticos,estabelecendo,aomesmo
tempo,anaturezadosmeioseatipologiadasacçõessubversivasdesencadeadas
peloscontra-revolucionários.
Aanálisecronológicadacontra-revoluçãoperderiaemriquezaexplicativase
secundarizasseosdebatesdoutrinárioseasquestõesideológicas.Énaesferada
ideologia,naexistênciadeumamundividênciaalternativaaorepublicanismo,que
ahistóriadaoposiçãomonárquicapodeconquistarprotagonismonumaanálise
globaldaevoluçãodasociedadeportuguesaentre1890e1926.Emnossoenten-
der,arepúblicaprocurouharmonizar-se,afinal,comosecosprogressistasede-
mocratizantespropaladospordiferentescorrentesradicaisdesdeofinaldoséculo
XIX,paraquemoparlamentarismooligárquicodamonarquiaconstitucionalestava
longederesponderàsexigênciasdoliberalismopositivo.ParaquemoEstado
centraleburocrático,dominadopelaselitesburguesasdospartidosdinásticos,e
atoladonumestadovegetativodecorrupçãoendémica,estavalongederesponder
àscrescentesreclamaçõesdasclassesproletárias.Nãoéporacasoqueasreivindi-
caçõesdestessectoresmaisprogressistasseencontravamnascidades,associadas
aoparcodesenvolvimentoindustrialeaumacertaconsciênciadeclasse.
TalcomonaEuropa,opartidosocialistaeosgruposradicaisdoanarco-
-sindicalismopressionavamosgovernosnosentidodeumalargamentodemo-
crático,quepelomenostendesseaoestabelecimentodosufrágiouniversal.Em
3Ibidem,p.42.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
103
Asmovimentaçõesdareacçãoaumentaramdeintensidade,agravandooclima
detensãoeódio,atravésdacirculaçãodenovospanfletoscontra-revolucionários
queproclamavamoóbitopolíticodoregime:«Arepúblicaestámorta.Morreuno
diaemqueperseguiuamagistratura, a imprensa e a religião.Mortaarepública,
faltaapenasfazer-lheoenterro:éprecisoqueváemcaixãodechumbo,bem
calcadodoexorcismodacalpurificadora,eatirá-laparaacarretadosenterros
civis.Logoqueocaixãodechumboestejapronto,arepúblicadesceráaotúmu-
lo.AssimoqueroPovoPortuguês,assimoordenaaconsciênciacolectiva»375.O
panfletarismoreaccionárioexpeliaameaçasqueogovernoprovisórioeosre-
publicanosradicaislevaramasério,numaépocaemqueo«perigomonárquico»
eraalgomaisdoqueumaelaboradamaquinaçãodosradicais.Foiparaenfrentar
esse «perigomonárquico»quesedesencadeouumasériedemecanismosno
Verãode1911.
ApartirdeMaioerajávisívelorecrudescimentodediferentestramasconspi-
rativaseo«perigomonárquico»passouasermaisreal.Pareceexistirumarelação
directaentreestefenómenoeospreparativosparaaseleiçõesconstituintes,que
oministériodointeriorconvocoupara28deMaio.Éforçosoreconhecerquea
intensidadedacontra-revoluçãofoiproporcionalaosprogressospolítico-institu-
cionaisnosentidodeaprofundaralegalidadeealegitimidadedarepública.Se
atéentãooconflitoreligiosoestavanocentrodetodooprocessodecontestação,
oprocessoeleitoralcriouumnovofocodetensãoecontrovérsia,aprofundando
aclivagempolítico-socialjáentãoirreversível.Aretóricadareacçãoacusavao
governoprovisóriodeconfeccionarosdeputadosrepublicanoseatentarcontra
osprincípiosdademocracia.Comosesabe,aleide14deMarçodeterminara
aeleiçãode226deputadose,destes,91 foramefectivamentenomeados,na
medidaemquesedispensavaarealizaçãodeeleiçõesnoscírculosondenãose
apresentassemcandidaturasdaoposição.
DaGaliza,PaivaCouceiroexploravaascontradiçõesideológicasdocampo
republicano,afirmandoque«ospaladinosdoliberalismosãoessesquelegalizam
regimescomosvotosdafuzilaria,esujeitamosufrágiouniversalaosmanda-
375MI,DGAPC,1.ªRep.,caixa3,maço215,doc.n.º15,panfletointitulado«ODiadaRevolução».
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
104
tosimperativosdaditadura»376.Ospanfletáriosexprobraramoactoeleitoralem
textosinflamados,emqueacusavamosrepublicanosdeoperarsobosignoda
repressãoeda«autocraciadoDirectórioRepublicano»,acabandoporproclamar
enfaticamenteaeleiçãocomoacto«írritoenulo»377.Poressaaltura,Couceiro
dirigiu-seaoexércitoemcorrespondênciasecretaquefezentregaramuitos
oficiais,apelandoparaasua«consciência»eoseu«patriotismo»paraintervire
determinarofuturodanação378.
Foinesteclimadetensãopolítico-eleitoralqueseagravouoconflitoentre
republicanoseossectoresmonárquico-clericais.Àmedidaqueaumentavamos
boatosdecontra-revoluçãomonárquica,intensificava-seavigilância,aviolência
earepressãoprotagonizadapeloscarbonárioseoutrosgruposdecivis.Oboato
tomoucontadasociedadeportuguesa,revelandogravesconsequênciassociais
eatéeconómicas379,queogovernofoiobrigadoareprimireapunircompena
deprisão.Muitoscidadãosincautosforamencarceradosporespalharemboatos
ouapenaspormotivosfúteis,vingançaseenganosabsurdos380,muitasvezespor
acçãodirectadegruposdecarbonários,quedenunciavameprendiamdeforma
arbitráriaeilegal381.
Duranteesteperíodoaumentoutambémaemigração,nãosónasclasses
abastadasmas tambémentreosmaispobresdomundorural.Amaioriada
emigraçãopopulartinhacomodestinoaAméricadoSul,paraondeembarcava
apartirdeportosespanhóis,devidoàscondiçõesdepobrezaemisériaque
seagravaramnesteperíodo.Aestasrazõespodeacrescentar-seareformado
exércitoqueobrigouaumalargamentodabasederecrutamento,provocando
umaumentoconsideráveldonúmerodedeserções,emespecialnasprovíncias
doNorte.Algunsdosqueemigraramoudesertaramacabaramporse juntar
376HenriquePaivaCouceiro,«AclaraçõesàpropostaapresentadaaoGovernoProvisório»,6-05-1911,inCarlosMalheiroDias,ob. cit.,pp.92-93.
377Ibidem,pp.94-95,manifestode31deMaiode1911.378Ibidem,pp.93-94,manifestodeJunhode1911.379Cf.Diário de Notícias,n.º16339,9-05-1911,p.1].380EmJulhode1911,sónoPortohavia48pessoaspresasporpropagarboatoscontraoregime.
Cf.IAN/TT,MI,DGAPC,maço34.381Cf.IAN/TT,MI,DGAPC,maço32,n.º228;Diário de Notícias,n.º16358,28-05-1911,p.1.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
105
aosconspiradoresmonárquicosdaGaliza382.AtéOutubrode1911,aemigração
paraEspanhanãocessoudecrescer,especialmentenosdistritosfronteiriçosdo
Norte,obrigandoasautoridadesamedidasespeciaisparaevitarestasangria
populacional.Entre1910e1913emigraramoficialmente265737portugueses.
Haviaumaatmosferadeperturbaçãoconstantenasociedadeportuguesa,fo-
mentandoactosderebeliãoqueaçulavamasperseguiçõeseaacçãorepressora
dosradicais.O«perigomonárquico»decorrentedastensõespolítico-ideológicas
esociaisdesteperíodotemsidoalgomenosprezado,vislumbrando-senascons-
piraçõesecomplotsanunciadospelaimprensameras«invenções»darepública
paralegitimaraviolênciarepressiva383.Estainterpretaçãoestálongedecorres-
ponderàrealidadedosfactos,porqueconsideraapenasafraquezaefectivada
Galizaeomiteoalcancerealdomovimentointerno,sobretudodepoisdapu-
blicaçãodaleideseparaçãoedaseleiçõesconstituintes.Comefeito,depoisdo
famosocomplotdeLamego384,eatéesseVerão,foramdetectadasconspirações
emViseu385,Aveiro386,Coimbra387,Guarda388,CasteloBranco,Porto389eLisboa.
Oespíritoanti-republicanodealgunsregimentosdaprovínciaerafavorável
aconjurasarmadas,comoacontecianoNorte,emBraga,ChaveseBragança,
ondeas«tradiçõesconservadorasereligiosas»explicamofermentododissí-
dio,deindisciplinamilitaredasmuitasdeserções390.EmChaves,osregimentos
decavalaria6einfantaria9«nãooferecemgarantiasdeabsolutaconfiança»às
autoridadesmilitares.Entre3e7deAgosto terãodesertadoparaaGaliza24
soldadose1cabo,instigadospelasmães,quelhesprometiammelhorsoldo,
382DouglasL.Wheeler,ob. cit.,p.83;IAN/TT,MI,DGAPC,maço33,RelatóriodaPolíciaEspecialdeRepressãodaEmigraçãoClandestina,fl.395.
383VascoPulidoValenteescreveumesmoqueogovernoprovisório«inventavaconstantementeconspirações».Cf.Um Herói Português. Henrique de Paiva Couceiro (1861-1944),Lisboa,Aletheia,2006,p.85.
384Cf.AHM,1.ªdivisão,33.ªsecção,caixa2,pastas5e6.385Cf.Ibidem,caixa2,pastas7e9.386Cf.IAN/TT,DGAPC,maço32,n.º310.387Cf.Diário de Notícias,n.º16349,19-05-1911,p.1.388Cf.AHM,1.ªdivisão,33.ªsecção,caixa2,pasta3.389Cf.IAN/TT,JuízodeInvestigaçãodeCrimesdeRebelião,maço215;AlbertoCardosoMartins
deMenesesMacedo(Margaride),[folhetosemtítulo],[s/l],[s/n],1928,pp.4-5.390HipólitodelaTorreGomezeA.H.deOliveiraMarques,ob. cit.,pp.84,443-446.Veja-sea
correspondênciamilitardos jovensturcosemFranciscoRibeirodaSilva [introd.enotas],ob. Cit.,pp.79-80.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
106
ranchomelhoradoequeexortavamosfilhosaqueas«ajudemasalvarareligião
queaRepública,segundodizem,querroubarepararestabeleceramonarquia»391.
Nafronteira,civisemilitares,ex-políciaseex-oficiais,aliciavamhomensparao
exércitodaGaliza,oferecendoquantiasemdinheiro392.EmBragançaregistou-se
aprisãodevárioscivisemilitares,numaregiãoemqueavultavamosoficiais
realistasAdrianoMadureiraBeçaeosobrinhoAugustoMadureiraBeça,eonde
opadreeocaciquecriavamumaatmosferaalarmantedeboatose intrigas.
Bragançaconstituíaoexemploparadigmáticodarealidadesociológicadepro-
víncia,permeávelaopoderdaseliteslocaisedasuacapacidadedemanobraros
espíritos.Eraoambientepropícioparadesenvolverqualquertramaconspirativa
eporissoasautoridadesmilitaresconsideravamaregião«umfocodeconspira-
doresmaisoumenoslatentes»393.
EmJunho,aimprensadavacontadadescobertadeumvastoplanocontra-
revolucionárionoAlgarve,comligaçõesàCapital,equeerachefiadopelote-
nenteAlbertoSoares,oficialquea«canalharepublicana»assassinouemJulho
de1912.AsreferênciasaoprocessodealiciamentodesoldadosparaaGalizae
osmeiosdepagamentoenvolvidos, identificadosporÁlvaroPinheiroChagas,
tesoureirodaemigração,mostramqueaconjuraeraverdadeiraeoperigopara
arepúblicaerabemreal394.
MasLisboaeraumacidadeondearepúblicaseencontravaconsolidava,supor-
tadapelossectoresmaisradicaisdorepublicanismoedacarbonária.Eraporisso
noPortoqueseconcentravamasmovimentaçõesconspiratórias,poisaguarni-
çãodacidadeerareconhecidapornãoter«umgrandecultopelaRepública»395.
OcondedePenela,antesdesairparaaGaliza,dirigiu-seaoPortocomuma
cartadePaivaCouceirodestinadaaAlbertoMargaride,futurogovernadorcivil
doPorto(1918),pedindo«auxílioparaummovimentomonárquicoiniciadono
391Ibidem,p.105.392NaregiãodasBeirasoaliciamentoerafeitoapartirdeCidadeRodrigo,ondeseoferecia10
milréisdiárioseseafirmavacontarjáoexércitorealistacom600homens.Cf.AHM,1.ªdivisão,33.ªsecção,caixa2,pasta3.
393Cf.AHM,1.ªdivisão,34.ªsecção,caixa5,pasta4.394Diário de Notícias,n.º16380,19-06-1911.395Cf.HipólitodeLaTorreGómez,ob. cit.,p.116,cartadotenenteManuelLuísdosSantosaSá
Cardoso.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
107
País»396.EstepôsoemissáriodeCouceiroemcontactocomogeneralPimenta
deCastro,queeranessaalturacomandanteda3.ªdivisãomilitar,ejáentão
vistocomo «perigosoparaa república»397.Ogeneral,queveioaseracusado
deconivênciacomosemigrados,quandoeraministrodaguerradoprimeiro
governoconstitucionalrepublicano,chefiadoporJoãoChagas,teriaconcordado
comumcerto«desnorteamento»darepública.SegundoMargaride,Pimentade
Castroteráafirmadoqueseoregimenãomodificasseocaminhotrilhado,que
elejustificavacomoprolongamentodoperíodorevolucionário,«entãoteriade
pensarnamelhorformadesalvaroPaís»398.
OdepoimentodeAlbertoMargarideéilustrativodadesconfiançaprecoce
dePimentadeCastrosobreamarchadarepública,atitudequereflectiatalveza
animosidadequeaospoucossefoiapoderandodamaioriadaoficialidade.Por
outrolado,oseutestemunhodenunciaaexistência,naregiãodoPorto,deum
acentuadodescontentamentomilitar,envolvendooficiaisquealiciavamsargen-
tosparaummovimentocontra-revolucionário399.Muitadestaactividadeconspi-
rativaeraconsequente,comoprovaoaumentodecontrabandodematerialde
guerra.EmPontedaBarca,ogovernadorcivildeVianadoCasteloapreendeu
55pistolasautomáticas,4carabinas,38cartuchosparacarabinase400cartu-
chosparapistola400.Nomarcantábricofoiporessaalturaapreendidoumbarco
alemãodenome«Gemma»,carregadodearmamentoparaosconspiradoresda
Galiza401.Todasestasmovimentaçõesdavamaimpressãodequeomovimento
contra-revolucionáriodeviaeclodirentreJunhoeJulho,factocorroboradopor
algunsaliciadosnafronteira402.
OambienteerapoisdeGuerraCivileasautoridadesreagiramaumaameaça
que,nãosendosufocada,poderiacolocaremperigooregime.Mandaram-sepor
396AlbertoCardosoMartinsdeMenesesMacedo(Margaride),[Folhetosemtítulo],1928,p.4.397Cf.HipólitodeLaTorreGómez,ob. cit.,p.120,cartadotenenteManuelLuísdosSantosaSá
Cardoso,datadadeAbrilde1911.398AlbertoCardosoMartinsdeMenesesMacedo(Margaride),[Folhetosemtítulo],1928,p.4.399Ibidem,pp.4-5.400Diário de Notícias,n.º16382,21-06-1911,p.1.401Obarcoalemãofoiapreendidodevidoàespionagemrepublicanaportuguesaeespanholae
continha144caixascom4milarmas,8peçasdeartilhariaKruppe1milhãodecartuchos.Cf.AbílioMaia,ob. cit.,110ess.
402Cf.AHM,1.ªdivisão,33.ªsecção,caixa2,pasta3;veja-se,ainda,HipólitodeLaTorreGomez,ob. cit.,p.97.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
108
issovigiarasfronteirasparaevitaraincursãode«bandosarmados»,orecruta-
mentodehomensparaaGalizaea«introduçãodearmasnopaís»403.O«perigo
monárquico»obrigavaasautoridadesaadoptarmedidasextraordinárias,comoa
mobilizaçãomilitardeJunhoeJulhode1911,decididaporCorreiaBarreto.Em
doismesesforamconvocadaspeloMinistériodaGuerradezmilreservistasdas
setedivisõesdoexército.Nãosetratavaapenasdeprepararasforçasarmadas
paraumperigoiminente,masigualmentedeverificarasuadedicaçãoaoregime
republicano404.Talobjectivoestavaporissoemcontradiçãocomasafirmaçõesdo
GovernoProvisório,segundoasquaisoexércitoseencontravainequivocamente
aoladodanovaordempolítica405.Asmedidasmilitaresincluíramoreforçodas
divisõesmilitaresdeBraga,VilaRealeLamego,acrescidasdamobilizaçãode
algumasforçasnavaisparavigiaracostaeevitarumqualquerataquemarítimo406.
AmobilizaçãodasforçasgovernamentaisteveecosimediatosnaGaliza.Sem
outrosmeiosparaalémdapropaganda,aemigraçãodistribuipelaspopulações
novaremessadepanfletos,comosquaisalmejavaindisporasfamíliascontra
estaoperaçãomilitarqueretirava«milharesdebraçosprodutores»aoscampos.
Opanfletoserviaigualmentepararefutarasacusaçõesqueentãoinundaram
aimprensa,comoaquelaqueafirmavaqueemEspanhasepreparavaumainva-
sãoestrangeira:«ArepúblicaFALTAÀVERDADEdizendoqueessesPortugueses
sefazemacompanhardeEspanhóisassalariados»407.
Entretanto,aassembleianacionalconstituinte,quereuniupelaprimeiravez
a19deJunho,dedicoupartedostrabalhosparlamentaresaanalisaro«perigomo-
nárquico».Aacçãocontra-revolucionáriaseriaabordadapelodeputadoAlfredode
Magalhães,emsessãode23deJunho.Otribunorepublicanoreferiuaexistência
deummovimentosubversivoqueseencontravamunidodearmasdeguerra
emuniçõesdevidoaacçõesdecontrabando.Relatouaindaaexistênciadeco-
mandosmonárquicosnazonadefronteiraparaterminaremtomdeverdadeira
indignação:«Nãopodeserassim.Énecessárioquetenhamosumaconfiança
403Cf.AHM,1.ªdivisão,33.ªsecção,caixa2,pasta3.404Cf.Diário da Assembleia Nacional Constituinte,14-07-1911.405Ibidem,03-07-1911,p.23.406HipólitodeLaTorreGomez,Conspiração contra Portugal 1910-1912,Lisboa,LivrosHorizon-
te,1978,p.63.407IAN/TT,MI,DGAPC,1.ªrepartição,caixa3,maço215,doc.n.º15.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
109
ceganastropasqueguarnecemafronteira,porqueoinimigotemasuficiente
forçaparadeterminar,nonortedopaís,umaagitaçãoque,explorandoaigno-
rânciadopovoedaregião,poderácriarosmaissériosembaraçosaogoverno
daRepública»408.
Naresposta,TeófiloBragareconheceuquea«reacçãonatural»vinhado«capi-
talismo»,do«militarismo»edo«clericalismo».Masdetodas,o«clericalismojesuí-
tico»eraaquelequemaiorpreocupaçãolevantavaearepúblicadeviapreparar-se
paraele409.JáCorreiaBarreto,titulardapastadaguerra,analisouasprovidências
tomadasparavigiarafronteira,comforçasdoexércitoedamarinha.Abordou
tambémaquestãodosoficiaismonárquicosparareferirqueera«muitoperigoso
dar-seumoficialcomosuspeitosemparaissoterprovasirrecusáveis».Emface
dadificuldade,CorreiaBarreto transferiaosoficiaisduvidososparaoEstado-
Maior410.
Naassembleiaconstituinte,oGovernoProvisório,pelavozdeAntónioJosé
deAlmeida,ministrodointerior,desvalorizouoperigodaGaliza,mostrando
queasinstituiçõesestavampreparadaspararecebero«traidor»PaivaCouceiro
eassuasforças,«querseapresentemparaumaguerraregular,querdeguerrilha
oudemontanhas».InformouaindaacâmaraqueemChavesseencontrava
LuzdeAlmeida,ochefedaCarbonária,àfrenteduma«comissãodevigilância
efiscalização»411.Eraumnomepomposoparaoscercadedoismilcarboná-
riosqueseguiramparaafronteiradoNorte,investidosdamissãodevigilância
erepressãodosagentescontra-revolucionários,dentroeforadePortugal412.
Ogoverno,atravésdacâmara,enviavaaopaíseaoestrangeirosinaisde
estabilidadeeconfiança,nomomentoemqueaconstituintesepreparavapara
elegeropresidentedarepúblicaeentrarnumanovaeradelegalidadeconstitu-
cional.Esteera,porém,umsossegoilusório,comoprovaadiscussão,naprópria
assembleiaconstituinte,deumprojectodeleiquepermitiajulgarecondenaros
conspiradores,sobpropostadeÁlvarodeCastro413.Aexistênciadeumtribunalde
408Diário da Assembleia Nacional Constituinte,28-06-1911,p.4.409Ibidem,p.5.410Ibidem,p.6.411Ibidem,30-06-1911,p.8.412Cf.HipólitodeLaTorreGomez,ob. cit.,p.63.413Diário da Assembleia Nacional Constituinte,sessãode21-06-1911,p.7.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
110
excepçãorepugnouaosespíritosmaisconservadores,comoAntónioGranjo,mas
eradefendidopelosmaisradicaiscomoindispensávelàdefesadarepública414.
2.Do29deSetembroàIIncursão
Aevoluçãopolíticaeinstitucionaldarepública,acaminhodasualegitimi-
dadeconstitucional,acabariaporaçodaromovimentocontra-revolucionário.
Aaprovaçãodaconstituiçãorepublicana,em21deAgosto,eaeleiçãodopresi-
dentedarepública,ManueldeArriaga,a24,contribuíramparaaconsolidação
darepúblicaeexasperavamosmonárquicos.Ofimdoperíododitatorial,nãosó
conferialegitimidadeàrepúblicacomoabriaasportasaoseureconhecimento
internacional.Arepúblicatinhasidooficialmentereconhecidaporrepúblicasda
AméricadoSul,comoaArgentinaeoBrasil,em22deOutubrode1910.Jáos
EUAedepoisaInglaterrafaziamdependeroreconhecimentooficialdepoisde
eleitaumaassembleiaconstituinte.MasseosEUAreconheceramoregimeem11
deMaiode1911,aspotênciaseuropeias,lideradaspelaInglaterra,sóoficializa-
ramessereconhecimentodepoisdeaprovadaaconstituição:aFrançaem25de
Agosto,aEspanha,aGrã-Bretanha,aAlemanhaeÁustriaem11deSetembro415.
ApresençadeD.ManuelemInglaterra,ondeeramuitoconsideradojunto
dacorteinglesaedealgunspolíticos,comoopróprioChurchill,teráinfluído
naresistênciadestepaísparaumreconhecimentodoregimerepublicano416.Em
LondreshaviaquempensassequeaentradadeCouceiropoderiaatrasaro
reconhecimentodoregime417.Exasperado,D.Manuel lamentavaqueoreco-
nhecimentooficialda InglaterraedaEspanhacoincidissemcomosavanços
contra-revolucionários.Paraoreiexilado,adiplomaciaera«maisumacomplica-
414Ibidem,14-07-1911;21-07-1911.415Cf.DouglasL.Wheeler,História Política de Portugal 1910-1926,Lisboa,PublicaçõesEuropa-
América,p.80.416Cf.JohnVicent-Smith,As Relações Políticas Luso-Britânicas 1910-1916,Lisboa,LivrosHorizon-
te,1975,p.47;D.JoséLuísdeAlmeida(Lavradio),ob. cit.,p.203.417ManuelTeixeiraGomes,Correspondência I - Cartas para Políticos e Diplomatas(colectânea,
introduçãoenotasdeCasteloBrancoChaves),Lisboa,PortugáliaEditora,1960,cartaaJoãoChagas,de07-09-1911,p.61.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
111
ção,sobretudoporcausadaEspanha.Reconhecerumarepúblicaanárquicano
momentoemqueestátalvezarebentarumarevolução!!»418.
Apesardoreconhecimentointernacional,emalgunspaíseshaviaquemcoad-
juvasseosesforçosrealistasparareporotronoemPortugal.JoãoChagas,então
emParis,soubepeloministrodointeriorfrancêsquese«projectavaumgrande
empréstimo,garantidopor‘trêstestascoroadas’,paraderrubaraRepúblicapor-
tuguesa».Chagasprocurouaprofundara informação,massoubeapenasque
asreuniõestinhamdecorridoemMunique,nopaláciodoprínciperegenteda
Baviera.As«trêstestascoroadas»seriamaAlemanha,aÁustriaeaEspanha419.Em
Londres,ManuelTeixeiraGomesdavacontadegrandesmovimentaçõesedas
relaçõesdeproximidadeentreSoveraleafamíliareal420.
ArelaçãodiplomáticaentreEspanhaearepúblicaportuguesaficarámarca-
dapelasdesconfiançasdeambasaspartes.Aparentemente,Espanhaviacom
mausolhosaexistência,juntodasuafronteira,deumregimeradicalquedava
alentoaosrepublicanosinternos.Issoexplicaaprotecçãoqueogovernode
MadridconcedeuaosemigradosdaGaliza421.OseuministroemLisboa,marquês
deVillalobar,desempenhouumpapelcrucialnacontra-revoluçãomonárquica.
Sabemosjá,deacordocomotestemunhodeGonçaloPimentadeCastro,que
foinasuaembaixadaqueseforjoua«primeiraconspirata»monárquica.Asin-
formaçõesqueenviavaparaMadridfaziamacreditaraogovernodeCanalejas
queodescontentamentonacionaleragrande,tantonosmeiosmilitarescomo
entreapopulaçãodonortedopaís.EmAbrilde1911,oficiavaparaMadrid
quea«restauraçãoestavaparabreve»eporissoconvirianão«comprometer
amonarquiaespanhola».Advogouporissoumapolíticaquefossedistraindo
oGovernoProvisório422.
418D.JoséLuísdeAlmeida(Lavradio),ob. cit.,p.203.419Cf.NoémiaMalvaNovais,João Chagas. A Diplomacia e a Guerra (1914-1918),Coimbra,
EdiçõesMinerva,2006,p.38.420Cf.ManuelTeixeiraGomes,ob. cit.,p.62.421SobrearelaçãodePortugalcomaEspanhaduranteesteperíodo,veja-se,HipólitodeLaTorre
Gómez,Conspiração contra Portugal (1910-1912),Lisboa,LivrosHorizonte,1912;SílviaEnrichMar-cet,Las Tentativas de Restauración Monárquica Portuguesa en Relación com España (1911-1912),Salamanca,CajaDuero,2004;SoaresMartínez,A República Portuguesa e as Relações Internacionais [1910-1926],Lisboa,Verbo,2001.
422HipólitodeLaTorreGómez,ob. cit.,pp.53-54.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
112
Naverdade,haviaemEspanhaduasposiçõesdistintasfaceaoregimerecém
instaladoemPortugal.AfonsoXIIImantinhacontactosestreitoscomafamília
realportuguesa,tantoqueD.Manuelintercedeujuntodomonarcaespanholpara
queinterviessenarecuperaçãodaspropriedadesfamiliaresdosBraganças423.Na
cortehaviaquemsesolidarizassecomacausarealdeD.Manuel,enoVerãode
1911corriaemMadridqueGarciaPrieto,ministrodeEstado,tinhafavorecido
aintroduçãodearmasemPortugalpor«expressodesejodomonarca»424.Jáoche-
fedegoverno,JoséCanalejas,eracontrárioaumaintervençãorestauracionista
deEspanhaeatéaosimplesapoioaosemigrados.
Écertoque,emJaneiro,Canalejas informouoembaixadoringlêsquea
anarquiareinanteemPortugalpoderiadarazoaumaintervençãoespanhola,
masnuncasemoconhecimentodosbritânicos.Estes,comoseriadeesperar,
desaconselharamogesto425.IstoapesardehaveremLondresumadesconfiança
muitograndeparacomarepúblicaportuguesa,especialmentesensívelaora-
dicalismoanticlericaldeLisboa426.MasaGalizaconservadorapareciasensívelà
causadamonarquialusa,paraalémdoslucrosobtidoscomaalimentaçãoealo-
jamentodosconspiradores427.Asautoridadesprovinciais,apesardasorientações
deMadrid,tudofizeramparaauxiliarosemigradosportugueses428.
Asautoridadesrepublicanasprotestaramdesdeoiníciocontraaconcentra-
çãodeemigradosnaGaliza,porintervençãodeBernardinoMachado,ministro
dosnegóciosestrangeiros,eatravésdoseuministroemMadrid,Augustode
Vasconcelos.Pretendiamointernamentodosprincipaisdirigentesdaemigra-
ção,comoPaivaCouceiroeoseuséquitodirecto,emprovínciasdistantesda
fronteira429.MassóemJunho,depoisdaagressãodochefemiguelistaD.João
deAlmeidaaocônsuldePortugalemVerin,ArnaldoFonseca,asautoridades
espanholasderamordemdeexpulsãodospovoadosfronteiriços.EmAgosto,
423JavierTuselleGenovevaG.QueipodeLliano,Alfonso XIII El rey polémico,2.ªed.,Madrid,Taurus,2002,p.217.
424Ibidem,p.221.425Ibidem,p.219.426Cf.JonhVicent-Smith,ob. cit.,pp.46-47;HipólitodeLaTorreGómez,ob. cit.,p.58.427Cf.IAN/TT,MI,DGAPC,maço35,doc.n.º806.428Cf.ManuelValente,ob. cit,p.128;MariaTerezadeSouzaBotelhoeMello,ob. cit.,p.43;IAN/
TT,MI,DGAPC,maço33,fl.366.429Cf.HipólitodeLaTorreGómez,ob. cit.,pp.50-51.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
205
outro,manifestavamumirreprimívelconservadorismosocialeatéfilosófico.
Nalgunscasos,porém,esteeclectismorevela-seaindamaiscontraditórioetalvez
original,conciliandopartedo liberalismocomo tradicionalismo.Foiocaso
deAiresdeOrnelas,futurolugar-tenentedeD.Manuel.Formadonaescolada
contra-revolução,profundamentecatólico,recusavaosdogmasdaRevolução,o
liberalismopolíticoeademocracia852.Mas,paradoxalmente,defendiaamonar-
quiacomaCartaConstitucional,aceitandoasoberanianacionaleaseparação
depoderes853.Oseusistemapolíticoconsubstanciavaumamodalidadepolítica
queoaproximavadoaristocratismo,masondeasociedadesurgiamodeladapor
valoresirrefragavelmentecristãos.
Esseeclectismoevidenciava-seigualmentenacoabitaçãodemodulações
ideológicasantagónicas.Seamaioriaaprovavaumconservadorismoideolo-
gicamentemaisextremado,irromperamtambémfórmulasmaisprogressistas,
quecoadunavamainstituiçãomonárquicacomoreformismodebasesociale
operária,comoaconteciacomMoreiradeAlmeidaeRochaMartins.Écertoque
MoreiradeMoreiraabjuraraosvaloresabertamenteprogressistasqueadvogou
nofinaldamonarquiaparaseaproximardeumapolíticamaisconservadora.
Masovelhojornalistarecusavaquesobomantoconservadorseentrevisse
qualquer «reacção»,qualquer «retrocesso»histórico.Oseuconservadorismofoi
talvezoresultadodosexcessosdavagarevolucionária.Talcomooexaltadopro-
gressistaAntónioCabral,queviriaasingrarnocampotradicionalistadaAcção
Realista,MoreiradeAlmeidapassouavalorizarahistóriaeatradição,nofundo,
adaptava-seaumanovaera,marcadapelacrisedosistemaliberalepelaemer-
gênciadaautoridade.Nassuaspalavras,oconservadorismoerauma«fórmula
deprogressodentrodaordem,umdesenvolvimentoevolutivodasociedadeem
queofuturoseligaaopassadoemvezdeonegar,emqueasraízesdatradição
nãosãoinconscientementecortadas»854.
Nestereformismoevolucionista,querespeitavaas«instituiçõesseculares»,
porqueerama«espontâneacriaçãohistóricadogéniodaraça»,nãocabiamos
velhospreceitosdoliberalismoclássico.Naverdade,amonarquiadeMoreira
852Veja-seAs Doutrinas Políticas de Charles Maurras,Lisboa,LivrariaPortugalEditora,1914;Um Ano de Guerra (Agosto de 1914 a Agosto de 1915),Porto,Magalhães&Moniz,1916.
853JoaquimLeitão,A Entrevista. Sem Santo nem Senha,n.º17,12-03-1914,p.269.854O Dia,ano17,n.º842,02-01-1916,p.1.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
206
deAlmeidaeratendencialmenteantiliberalporquerepudiavaoseuexcessivo
individualismoepreconizavaumasoluçãonacionalparaograndeproblemamo-
derno:aquestãosocial.Nãosereportavaaumamonarquiasocialista,tratava-se
antesdemaisdecriarinstrumentosdejustiçasocial,deredistribuiçãoequitativa
dariquezadentrodecritériosconservadores,istoé,queevitassemoconflito
social,alutadeclasses,eatendessememprimeirolugaraointeressenacional:
«Oqueéprecisoéqueapolíticasocialnãorepresenteumenfraquecimentoda
políticanacional.Oqueéprecisoéqueodesenvolvimentoeasaúdedecertos
órgãosnãosefaçamàcustadarobustezdocorpodequeelesnãosãoparte.
Oqueéprecisoéqueclasseepátrianãorepresentemumaantinomia,uma
insaciáveleirredutíveloposição».
RuiUlrichéoutroexemplodeumconservadorismotravestido855.Esteantigo
lentedaUniversidadedeCoimbra,mestreesimpatizantedoideáriointegralista,
equepertenciaaumgrémioelitistaquepoderíamosapelidarde«monárquicos
decompetências»856,defendiaumarestauraçãocujareformadeviaobedecera
«umsentidoabertamenteconservador,dando-sedepreferênciaarepresentação
àsclassesorganizadaseàscorporaçõestécnicasparaassimsecorrigiremos
errosdoparlamentarismoexcessivo»857.
Estepressupostoconfirmatodaviaaconcatenaçãodeprincípiosconservado-
rescompressupostosliberais,poisRuiUlrichafirmavaentãoqueestesistema
«nãoexcluiamanutençãodoregimeconstitucional,queapesardosseusdefeitos
aindaéosistemadegovernomenosimperfeito»858.Numacélebrepolémicaentre
liberaisetradicionalistas,ocorridaemMarçode1915,quandoooptimismoexa-
855RuiEnnesUlrich(1883-1966)foipolítico,professorediplomata.DoutoradonaUniversidadedeCoimbra,ondefoiprofessoraté1910,afastou-sealegandorazõespolíticas.Entre1914e1927es-teveàfrentedoBancodePortugal.Em1933dirigiuaembaixadadePortugalemLondreseem1937regressouàuniversidade,emLisboa,dirigindoaFaculdadedeDireitoaté1950.NesteanovoltouachefiaraembaixadadePortugalemLondres.
856Aexpressãoreflecteumatendênciaconservadora,duranteaRepúblicaeoEstadoNovo,queestavaligadaaosgrandesquadrostécnicosdocapitalismoindustrial,comercialefinanceiroequemuitasvezeseracolocadacomoreservapolíticadanação.TalcomoRuiUlrich,seuirmãoJoãoHenriqueUlrich(n.1880)integravaestegrupo.DeputadodoPartidoRegenerador(1907-1910),foiadvogadoeexerceuvárioscargosfinanceiros:vice-governadoregovernadordoBancoNacionalUltramarino;presidentedoconselhodeadministraçãodaCompanhiadaZambésia;administradorepresidentedoconselhodeadministraçãodaCompanhiaNacionaldeNavegação;administradordoCompanhiadasÁguasdeLisboa(1914-1928).
857O Nacional,ano1,n.º50,21-04-1915,p.1.858Ibidem.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
207
cerbadofaziacrerarestauraçãoparabreve,amaioriadospolíticosdenomeada
defendeuarestauraçãoimediatadamonarquiaconstitucional.Masquasetodos
proclamavamemuníssonoanecessidadedeumareformadasuabaseideológica
epolítica859.OpróprioRuiUlrich,apesardoapoioaD.Manuel,afirmava«haver
nessestrabalhos[dosintegralistas]muitodeaproveitávelparaasalteraçõesa
fazernamonarquianova,sempoder,porém,partilharemabsolutotodoorigor
dassuasconclusões.EstoucertoderestoqueoespíritoilustradodeS.M.El-Rei
seráoprimeiroaapreciareaaprovargostosamenteasreformasprojectadas»860.
Estaera,afinal,aesperançadosintelectuaisdoIntegralismoLusitano.
3.Tradicionalismooua«GeraçãodoRegresso»
Osegundocampodadireitamonárquicaeraconstituídopelosectorantilibe-
ral,tradicionalistaecontra-revolucionário.Areferênciaà«tradição»comodeno-
minadorcomumdeumvastosectorpolíticoheterogéneotememvistaalcançar
umaunidadeideológicaquesóestevocábulopodiaemprestar.Comefeito,tanto
ointegralismocomoolegitimismoeoneo-tradicionalismomonárquicoecatólico
partemdumaconcepçãosegundoaqualatradiçãoéum«depósito»constituído
pelasgeraçõespassadasquedeveimpor-seaossistemasdegovernoeàopinião
pública.Aocontráriodamodernidade,quegarantiaaoindivíduoaliberdadede
escolha,otradicionalismoaceitavaquealiberdadeindividualseesgotavano
pesodastradições,daherançahistórica861.Oressurgimentomonárquicoassumiu
comovectorestruturantedoespíritocolectivoarevalorizaçãodas«dependências
ancestrais»edeumasolidariedadeentregeraçõesqueestavacontidanahistória.
859Apolémicadirimiu-seentreosjornaisO Nacional,dirigidoporAníbalSoares,eaNação,órgãodomiguelismo,entreMarçoeAbrilde1915.Aesteassuntovoltaremosmaisàfrente.
860O Nacional,ano1,n.º50,21-04-1915,p.1Ibidem.861Cf.LucFerry,«Acríticanietzscheanadademocracia»,inAlainRenault(dir.),História da Filoso-
fia Política 4. As Críticas da Modernidade Política,Lisboa,InstitutoPiaget,2002,p.301;CristiánGa-rayVera,«Nacionalismo,Tradicionalismo,ConservadurismoyLiberalismoCensitario.Aproximacionesparaeldebate»,Revista de Historia,año9-10,vol.9-10,InstitutodeEstudiosAvanzados,UniversidaddeSantiagodeChile,1999-2000.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
208
Otradicionalismo,talcomoonacionalismodeBarrès,deSardinhaouCouceiro,
enraizava-sena«fénaterraenosmortos»862.
Podeargumentar-sequeonacionalismo,enquantoideologia,corporizao
essencialdopensamentomonárquicodesteperíodo.Masonacionalismoera
umacomponenteideológicacomplexaqueosideólogosdoconservadorismo
liberal,comoalgunssectoresrepublicanos,cultivavamcomamesmaexaltação863.
Nãoerraremosmuitoafirmandoqueaessênciadonacionalismomonárquico
residenoaproveitamentoideológicodatradição,repensandoanaçãoàluzda
históriaedeumavastamitografiaproduzidapelasinterpretaçõeshistoriográfi-
casquebuscavam,in illo tempore,ogéniodaraçaeofermentoespiritualda
existênciacolectiva864.Aimportânciadotempoedahistórianãosignificaqueo
nacionalismomonárquicodefendesseosimplesregressoaopassado,poisocon-
ceitodetradiçãoeradinâmico: «Somostradicionalistas.Masser tradicionalista
nãoéencerrar-nosnacontemplaçãosaudosadoPassado.Éantesreconhecera
contínuasucessãodinâmicaemqueahistóriasecoordenaentresi,efectuando
asolidariedadedosMortoscomosVivos»865.
Paraalémdatradição,estegrémionacionalistapregavaoódioao«fatalsé-
culoXIX», séculoemquese «esqueceraoprimadodoEspírito»,asoberania
divina,e «proclamara-se,comsolenidadealucinada,osDireitosdoHomem».
Paraanova«Ordem»intelectual,empenhadanarecristianizaçãodoocidentesob
aégideespiritualdeRoma,os«verdadeirosdireitosdohomemnascemdeque
eletemdeveresparacomDeus»866.Colocandodeparteasdissensõesdinásticas
eadimensãodoutrináriadosgrupos,parecehaverunidadeideológicaneste
blocoantimodernonaaceitaçãodestapremissa:naçãoreorganizadaemtornoda
862MiguelDiasSantos,«OMitodaAtlântidanasleiturashistoriográficasdonacionalismomonár-quico»,inEstudos do Século XX,n.º8,Coimbra,CentrodeEstudosInterdisciplinaresdoSéculoXX,2008,p.280.
863Sobreonacionalismo,leia-seErnestoCastroLeal,Nação e Nacionalismos. A Cruzada Nacio-nal D. Nuno Álvares Pereira e as Origens do Estado Novo (1918-1938),Lisboa,EdiçõesCosmos,1999.
864MiguelDiasSantos,art.cit.;PauloArcherdeCarvalho,«Aoprincípioeraoverbo:oeternoretornoeosmitosdahistoriografiaintegralista»,inRevista de História das Ideias,vol.18,Coimbra,InstitutodeHistóriadasIdeias,1996.
865AntónioSardinha,O Valor da Raça. Introdução a uma Campanha Nacional,Lisboa,AlmeidaMirandaSousa,1915,p.152.
866LeãoXIII,naencíclicaSollicitudo,citadoporJoãoAmeal,ob. cit.,pp.7-8.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
209
realeza,tendoocatolicismocomohorizontemoraleespiritualeatradiçãocomo
referênciahistóricaepolítica.
Ostítulosestampadosemobrasdedoutrinaçãoedivulgaçãopelosprinci-
paisideólogosmonárquicosavocavamatradiçãocomoreferencial.Obrascomo
O Valor da Raça,deAntónioSardinha(1915),O Culto da Tradição(1916),de
LuísdeAlmeidaBraga,Uma Campanha Tradicionalista(1919)eA Lição da
Democracia(1922),deCaetanoBeirão,entretantasoutras,epublicaçõesperió-
dicascomoA Nação,aNação PortuguesaeaMonarquia,inscrevem-senaacção
destevastoaparelhoideológicoquesalpicatodooespectropolíticodedireita,
visandoatestarasuperioridadedatradiçãonacionalsobreademocraciaeo
liberalismo.PaivaCouceiroresumiuaforçadatradiçãoaessa«herança»de«um
grandepatrimóniodesacrifícios,experiênciaseconhecimentos»,queconstituía,
afinal,o«governodosmortos»867.
Compunhamestesectorideológicoa nova geração,naexpressãoquedeutí-
tuloaolivrodeDiogoPachecodeAmorim868,católicotradicionalista,aoladodas
geraçõesmaisvetustasdomiguelismoedatradiçãomilitarmonárquica.Anova
geraçãoou«geraçãodoregresso»eraconstituídapelagrémiodeuniversitários
queacompanhouaquedadamonarquiaeainstauraçãodarepúblicaequeinte-
grouacorrentenacionalistaqueemPortugalprocuroureataratradiçãoquefora
supostamentequebradapeloliberalismoepelaherançadaRevoluçãode1789869.
Ointegralismolusitanoétalvezomaissonantedosagrupamentosmonárquicos
da«novageração»,eporissoalvodoolharatentodahistoriografiaedosestu-
diosos.Movimentopolíticoeintelectual,ointegralismoteveasuaorigemremota
nodecadentismodageraçãode70enomovimentoderegeneraçãonacionalista
ereligiosaqueseseguiuapósoultimatoinglês870.Jádentrodarepública,foi
geradonoseiodaacademiacoimbrã,ondeoespíritoconservadordoCentro
Académico de Democracia CristãoedoCentro Monárquico Académicoseopu-
nhaaoradicalismorepublicanodoCentro Académico republicano.Foinuma
867A Democracia Nacional,Coimbra,Ediçãodeautor,1917,p.115. «Os laçosquemaissegu-ramentepodemapertaraUnidadeNacional,vãocolher-senoterrenohistóricodosMortos.Essadependênciaeligaçãoindissociávelcomos“VivosdoPassado”éleinaturaldos“VivosdoPresente”».
868Veja-seDiogoPachecoAmorim,A Nova Geração,Coimbra,FrançaeArménioLivreiros,1918.869JoãoAmeal,Panorâmica do Nacionalismo Português,Lisboa,1932,p.79.870Sobreestafiliaçãonosmovimentosdeideiasdamonarquiafinissecular,veja-seJoséManuel
Quintas,ob. cit.,pp.51ess.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
210
viagemdoOrfeãoAcadémicodeCoimbra,aParis,emAbrilde1911,queAlberto
deMonsarazcontactoupessoalmentecomos«mestresdaActionfrançaise»871.
Maistarde,oexílionaBélgica,queseseguiuàsincursõesmonárquicas,trouxe
umaproximidademaisprofundacomasideiasdeCharlesMaurras.
Nãoéaquiolugarparaumahistóriadomovimentodesteagrupamentodou-
trinário,campofértilemestudos.Importatalvezreafirmarqueointegralismo
sepropunha,comoCharlesMaurrasemFrança,empreenderemPortugaluma
«reformaintelectual»quelhepermitisse«restauraraconsciênciaportuguesa»872
ou,naexpressãodeSardinha,«restaurarPortugalpelamonarquia»873.Assumindo
asuanaturezademovimentodeideias,ogrupotinhatambémambiçõeslegí-
timasnocampopolítico,poisaspiravachegaraoPoderatravésdamonarquia
restaurada.MasaconquistadoPoderpolíticosóseriarealidadesefossepre-
cedidadaconquistadoPoderintelectual,ganhandoa«batalhapelasideiasea
lutapelarazãohistórica»874.NaperspectivadosintelectuaisdoPelicano,muito
marcadospelopositivismofrancês,amonarquianãoseriarestauradaporum
actodefé,masresultavadeumademonstraçãodasleisdafísicasocial,«comme
untheorème»875,queaduziamarealezacomooregimecomprovadopelaexpe-
riênciahistórica.
Quantoaoseuprojectopolítico,ogruposustentavaamonarquiaorgânica,
tradicionalista,antiparlamentar,articulandoumatendênciacentralizadora–o
poderpessoaldorei–comumatendênciadescentralizadora,queincidiasobre
aeconomia,afamíliaeajustiça,concebidascomoumtodoorgânicoenquanto
«naçãoorganizada»876.Profundomovimentodeideias,ointegralismoopunha
tambémahistória,enquanto«métodopositivo»,aoracionalismodoséculoXIX,
naconcretizaçãodeumvastomovimentodereacçãonacionalistaeuniversalista,
namedidaemqueavitalidadedos«agrupamentosnacionais»exigiaaobediên-
ciaaos«mandamentos»cristãoseadefiniçãodeumacristandadeocidental.Para
871Ibidem,p.79.872Cf.JoséManuelQuintas,ob. cit.,p.93.873AntónioSardinha,Processo dum Rei,Porto,LivrariaCivilização,1937,p.144.874PauloArcher,«Trêstesessobreaucroniaeaflorestautópica.ApropósitodoIntegralismo
Lusitano»,inRevista de História das Ideias,vol.24,Coimbra,2003,p.284.875Nação Portuguesa,Isérie,n.º1,08-04-1914.876Ibidem.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
211
Sardinha, «tomarpartidodosnossosMaioreséreconciliar-noscomaessência
eternadaPátria–éintegrar-nosnasequênciatradicionaldonossopassadode
ocidentaisedeportugueses»877.
Aosnovosdointegralismoimportaagregarovelhopartidolegitimistare-
nascido,quejuntavaàlegitimidadedeD.Migueladefesadamonarquiacristã,
tradicionalehereditária878.Aproximidadeideológicacomointegralismocomeça
comapartilhadosteóricosdacontra-revoluçãoportuguesa,comooMarquês
dePenalva,JoséAgostinhodeMacedo,JoséAcúrsiodasNeves,FortunatodeS.
Boaventura,ViscondedeSantarém,JosédaGamaeCastroeAntónioRibeiro
Saraiva,entreoutros,cujos textoseramobjectoderevisitaçãoà luzdenovos
pressupostos879.AntónioSardinha,escrevendosobreomarquêsdePenalva,
nãotinhadúvidasemconsiderá-locomo«umdosmestresveneradosdanossa
Contra-Revolução»880.Divididos,até1919,pelaquestãodinástica,integralismoe
miguelismoparticipavamdamesmacorrenteantimodernaeantidemocrática,
achavam-se ligadosporumcerto «vínculohereditário»881epela «mesmaideia»:
«EmPortugal,presentemente,essesprincípiossobreosquaiséprecisoqueas-
senteanacionalidadeportuguesasãorepresentadosporduasfacçõesque,seà
primeiravistapodemparecerdivorciados,nãosãoafinalsenãoosdoisaspectos
sobqueessesprincípiossepodemapresentar.Éovelhopartidolegitimistaeo
novopartidointegralista.Osprimeirosrepresentamaideiaintuitiva,hereditária,
contínua;ossegundosrepresentamaideiahistórica,científica,dedutiva.Masa
ideiaéamesma»882.
Aexistênciadeumaestruturaideológicaantimodernanomiguelismo,ao
longodoséculoXIX,foijáobjectodeanálisehistoriográfica,queevidenciou
igualmenteapresençadeumafortecomponentemíticaemessiânica,emque
D.Miguel«surgiucontraofuturo,contraaimagemdeumnovohomemede
877AntónioSardinha,Ao Princípio era o Verbo,Lisboa,EditorialRestauração,2ªed.,1959,pp.10-11.
878Cf.A Nação,n.º16239,16-04-1915,p.1].Sobreoseuprograma,leia-sePartido Legitimista. Programma elaborado pelo Conselho Superior do mesmo Partido(1884?).
879FernandoCampospublicouumaantologiaemO Pensamento contra-revolucionário em Por-tugal (século XIX),2vol.,Lisboa,EdiçãodeJoséFernandesJúnior,1931-1932.
880António Sardinha, Ao Princípio era o Verbo,cit.,1959,p.273.881JordiCanal,ob cit.,p.13.882CaetanoBeirão,Uma Campanha Tradicionalista (Com um estudo de António Sardinha),Lis-
boa,LivrariaLisbonense,1919,p.70.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
212
umnovomundo,contraaidealizaçãodeumafelicidadesocialepolíticaliberta
davontadedeDeusegeradaapenaspelarazãohumana»883.Orecrudescimento
domiguelismo,nodecorrerdasprimeirasdécadasdoséculoXX,nãopode
dissociar-sedaemergênciaemPortugalenaEuropadestevastocomplexoide-
áriodedireita,dacríticaantimodernaeanti-racionalelaboradapelatradição.
DespojadodoscomplexosmecanismosdepropagandadoséculoXIX,im-
postospeloexílioepelamortedeD.Miguel,em1866,omiguelismopassou
aidentificar-secomointegralismoecomaescoladaActionFrançaise,apesar
dereivindicarumacertaindependência:«Somos,comodele[programa]sevê
monárquicosintegristas,daescoladeMaurras.Inscrevemo-nos,pois,contrao
parlamentarismodaCarta.Repelindooabsolutismo […]somospelarepresen-
taçãonacionalorganizadaenãopulverizadanumsufrágiouniversal.Comeste
nossoantigoprograma,tãonítidoefranco,temosaimensasatisfaçãodever
queconcordaessaadmirávelplêiadedemonárquicosdeCoimbra,esperançada
monarquiadeamanhã»884.
Outrogrupoimportante,dentrodoideáriotradicionalista,erarepresentado
pelacorrenteneomonárquica,constituídoporantigosrepublicanosdescontentes.
AntónioSardinha,AlfredoPimenta,HomemCristoFilhoeCunhaeCosta,entre
outros,representavamossectoresquesedesencantaramcomoregimedobarre-
tefrígio.Quasetodosmilitaramnaextrema-esquerda,antesdetransitarempara
arepública,queagorarepudiavam.Naverdade,adefiniçãoqueChateaubriand
atribuíraàRevolução,de«destruição»,eraaplicadoàrevoluçãorepublicanapor-
tuguesa.Porumlado,arepúblicasignificavaadestruiçãodas«basesfundamen-
taisdasociedadeportuguesa:afamília,areligiãoeapropriedade»885;poroutro,
ocolapsodamonarquiaamplificavaacrisedaautoridadedoEstado886.
Acontinuidadedessacrisedeautoridade,aqueassociavamarepública,que,
comoarepúblicadeWeimar,transformaraCarlSchmittnumneófitoentusiasta
883ArmandoMalheirodaSilva,Miguelismo Ideologia e Mito,Coimbra,MinervaHistória,1993,p.218.884A Nação,n.º16215,18-03-1915,p.1.Eainda: «[…]tudoquantohánaescoladeMaurras,
limitaçãodaomnipotênciaparlamentar,poderRealforteeefectivo(alémdehereditário,claroestá),representaçãodeclassesenãodeindivíduos,descentralizaçãoadministrativa, tudoissoestánonossoprograma»[A Nação,n.º16220,24-03-1915,p.1].
885MiguelCastelo-Branco,ob. cit.,p.74.886Vejam-seosartigosdeAlfredoPimentanarevistaA Ideia Nacional (1915),onde,sobopseudó-
nimodeLordHenry,eaindarepublicano,desenvolveoseupensamentodebaseautoritaristaeracista.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
213
doantiliberalismo887,estavaintegradanumacrisemaisvastadosistemaliberal.
Adoutrinaçãosegundoosprincípiosconservadores,dastradiçõesedasinstitui-
çõesintermédias,comoaIgrejaCatólica,haviamjuntadoafinalosneomonárqui-
coscomosintegralistas,católicosealgunsliberaisnumacolaboraçãopolíticae
doutrinária,sobadirecçãodeHomemCristoFilho,narevistaA Ideia Nacional.
Apesardealgumasnuances,quesetornamclarascomaevoluçãodopensa-
mentopolíticodestesintelectuaisreaccionários,assuasideiasestendiam-sedo
nacionalismointegral,deAntónioSardinha888,atéàssoluçõesultraconservadoras
eautoritaristasdeCunhaeCostaeAlfredoPimentaeàsconcepçõesprotofascis-
tasexplanadasporHomemCristoFilho889.
Destaspersonalidades, sóAntónioSardinhaeAlfredoPimentapermane-
ceramfiéisàcoroa,evidenciando-secomodoutrináriosdereferênciadoseu
campoideológico.CunhaeCostadefendiaentãoo«fortalecimentodoprestígio
real».Assuasideiassobreamonarquiarestauradapressupunhamoregresso
da«tradiçãonacional,simultaneamenteapoiadanaCruz,naEspadaenaToga».
Convictodasvirtudesda«obediência»naorganizaçãodassociedadespolíticas,
CunhaeCostaafirmavaque«aobediênciaterádeseracondiçãodamonarquia
nova»,organizandoasociedadeenfermanumaestruturafortementehierarquiza-
da890.Estepensamentoautoritarista,quepartilhoucomAlfredoPimenta891,expli-
caaevoluçãoideológicadeCunhaeCosta,querompeuem1918comaCausa
Monárquicaparaabraçarosidonismoeoseuchefe,queelevislumbravacomo
«criaturaprovidencial»parainiciarumprocessoderegeneraçãonacionalsobo
signodaOrdem892.
AmesmaseduçãopelosidonismorevelouHomemCristoFilho,intelectual
muitomarcadopelasteoriasdomovimentoedarevoluçãodeSorel.Oseu
apoioentusiastaaopoderpessoaldeSidónioeaoseuautoritarismodecariz
887Cf.StephenHolmes,The Anatomy of Antiliberalism,London,HarvardUniversityPress,1996,p.37.
888SobreAntónioSardinha,veja-seAnaIsabelSardinhaDesvignes,António Sardinha (1887--1925) Um Intelectual do Século,Lisboa,InstitutodeCiênciasSociais,2006.
889Veja-seCecíliaBarreira,Nacionalismo e Modernismo. De Homem Cristo Filho a Almada Negrei-ros,Lisboa,AssírioeAlvim,1981.
890O Dia,15º.ano,n.º464,19-05-1914,p.1.891Cf.A Ideia Nacional,27-03-1915.892Sobreasuarupturacomamonarquiaeasuaadesãoaosidonismo,veja-seMiguelDiasSantos,
Os Monárquicos e a República Nova,Coimbra,Quarteto,2003,pp.66ess.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
214
bonapartista,juntamentecomopapelassumidopelasteoriasdomovimentode
Sorel,anteciparamaevoluçãodopensamentodeCristoFilhoparaumadireita
moderna,concretizadanaapologiadoideáriofascista893.
QuantoaAlfredoPimenta,evoluiudosocialismoanarquistaparaorepu-
blicanismoedaquiparaomonarquismoorgânicoetradicionalista894,criando
em1915,comAlbertoReis,CaetanoBeirão,LuísChaveseOliveiraMonteiro
o «GrupodosCinco».Arupturaestava já iminentequandoemprestouasua
colaboraçãoaHomemCristoFilho,narevistaA Ideia Nacional.Sobopseudó-
nimodeLordHenry,desenvolveuaíalgumasdaspremissasdoseupensamento
ultraconservador,emmatizesfascizantes,autoritárias,pró-belicistaseracistas,
epregandoaordemeatradiçãocomoelementosbasedacolectividade:«As
naçõesdevemcaminharparaofuturo,cadavezmaisseservindodopassado»895.
Estesector,degrandeimportâncianoquadrodadireitamonárquica,tinha
muitasafinidadesideológicascomointegralismo,masmantevesemprealgu-
maautonomiainstitucional,colaborandocomosdiferentesórgãosdaimprensa
monárquica,comoaNação,aNação Portuguesa,A Ideia Nacional,oDiário
NacionaleoDia.Divergindodointegralismonaquestãodinástica,depoisde
1919,oneo-tradicionalismodeAlfredoPimentafundouaAcção Tradicionalista
Portuguesaem1921e,em1923,aAcção Realista Portuguesa.Estegrupoincluiu
algunsdosmonárquicosdenovageração,comoCaetanoBeirão,AlbertoReis,
ErnestoGonçalves,LaertesdeFigueiredo,LuísChaveseJoãoAmeal,queem
1926haveriadedirigirodiáriodogrupo,Acção Realista.Paraalémdesteperió-
dico,asuaacçãodoutrinária,degranderelevâncianadécadadevinte,contava
aindacomasrevistasAcção RealistaeosemanárioA Voz Nacional.
Oseupensamentopolítico,vincadamentetradicionalista,católicoenaciona-
lista,teveainfluênciadopositivismodeComteedeTaine,fazendoaapologia
daautoridadeedaacçãodaselites896numamonarquiaantiparlamentarfundada
em«princípiosformuladoscientificamente»897.Taisprincípioscientíficosexigiam
893Cf.MiguelCastelo-Branco,ob. cit.,p.116-118.894Cf.ManuelBragadaCruz,PrefácioaSalazar e Pimenta. Correspondência 1931-1950,Lisboa,
Verbo,2008,pp.5-6.895A Ideia Nacional,27-03-1915,p.16.896Cf.JoãoAmeal,ob. cit.,p.22;AlfredoPimenta,Politica Monarchica,Lisboa,EmpresaLusitana
Editora,s/d,[1917],pp.8-9.897Cf.AlfredoPimenta,ob. cit.,p.8;CaetanoBeirão,inAcção Realista,n.º1,1924,pp.10-11.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
307
«falênciadarepública»1337,oscrimesda«carbonária»1338efulminandoosprincipais
vultosrepublicanos,queatacouemlinguagemdesbragadaeverrinosa1339.Desse
optimismoexacerbadoresultouacélebrepolémicasobreoreiacolocarno
trono:aNaçãoafirmavaqueoreilegítimoeraD.Migueleosconstitucionalistas,
acompanhadospelogrémioneo-tradicionalista,advogavamamonarquiadeD.
Manuel.
AsrecomendaçõeseashesitaçõesdeRichmondnãoforamsuficientemente
pujantesparaimpedirasmanobrasorganizativasdasuagrei.Mesmosemco-
missãopolíticaoficial,arquitectaramestruturasefundaramcentrospolíticosnas
cidadesevilasquerepresentavammaiorafinidade,estabelecendoumadinâmica
quelançouopâniconoscovisdorepublicanismoradical.Presume-sequeentre
MarçoeMaiotenhaminauguradocinquentaecincocentrospolíticosemLisboa
enasprovíncias1340.
Paraaconsolidaçãodessadinâmicacontribuiutodaafamíliapolítica,incluin-
domanuelistas,integralistasecatólicos,quenosjornaisA Palavra,Liberdade,
A OrdemeRestauração(Lamego)faziamaapologiadotradicionalismomonár-
quico.Masfoiporacçãodoscaciques,os«ominososcaciques»damonarquia
defunta,incluindo-senestacategoriaosdeputados,governadorescivis,admi-
nistradoreseregedores,quetamanhamáquinapolíticaacabouempreendida.
Ooptimismotransbordavanaimprensarealista,convencidadasuaforçapolítica
edoseucontributoparareacendera«fémonárquica»1341.
Oscentrosmonárquicospodemserumindicadorsociológicoimportante
paracompreenderaorigemsocialdosadeptosdotrono.Comefeito,nassuas
direcçõespredominavaaantigafidalguia,aoladodevelhosconselheirosecaci-
quesdoliberalismo:osgrandesproprietários,empresários,agricultoreseprofis-
sionaisliberais.OCentroMonárquicoD.Carlos,deLisboa,inauguradoa17de
Abril,emprestaumaimagemfidedignadestarealidadesociológica.Concebido
1337O Nacional,n.º6,06-03-1915,p.1.1338Cf.Jornal da Noite,n.º73,02-04-1915,pp.1e2;n.º74,03-04-1915,p.1.1339Cf.JornaisO Nacional,O Dia,Jornal da Noite,Restauração(Lamego)eaRevistaIdeia
Nacional.1340Cf.DavidFerreira,ob. cit.,p.96.Agrandemaioriasituava-senoCentroeNortedopaís.Os
maisimportantes,depoisdeLisboa,eramPorto,Braga,Coimbra,GuimarãeseFelgueiras.1341O Nacional,n.º39,10-04-1915,p.2.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
308
paraorientartodaaactividadepolíticadaCausaemPortugal1342,ofereciaoexem-
plodoempenhoredobradodafidalguiaportuguesanacausadoseurei,mas
constituíatambémosímboloimutáveldeumPortugalarcaicoquesepretendia
restaurar,comoseufausto,assuashierarquiaseotradicionalrespeitopela
ordemepelaautoridade.PresididopelocondedeBertiandos,tinhacomosecre-
táriososcondesdeArrochelaedoSisal.OConselhoAdministrativoeradirigido
pelocondedeVerrideeaComissãoPolíticaporAiresdeOrnelas,tambémele
descendentedecepanobilitada1343.
Anarrativajornalísticaquecobriuoeventoanunciouapresença,noseioda
CausaMonárquicaalirepresentada,deumacastasuperiorcom«direitoagover-
nar»:«Era,porumladoquasetudooque[…]pelasuacapacidade,pelasuafor-
tuna,pelasuaeducação,pelosseustítulosliteráriosecientíficos–tudoquantoé
alguémetemnestepaís,queéoseu,odireitodegovernar,enãoaobrigaçãode
sesubmeter,comobandodeincapazesoulevadeescravos,àtiraniarancorosa
epelintradumrelativamenteinsignificantenúmerodeineptosedeperversos,
semimputaçãosocialdeespéciealguma»1344.Paraalémdaaristocracia,oevento
políticocontavacomaplebe,comopovo.
Masaimprensarealistaestabeleciabemadiferençaentreopovomonár-
quico,o«verdadeiropovo,queéaquelequelabuta,produz,pagaeconstituio
manancialinexorávelondeaPátriavaibuscarasuaseiva»,ea«canalharepu-
blicana»,constituídapor«aquelaturba-multadegentalhaquasetodasemofício,
vivendodoódio,envenenadapelasmaisperniciosaslições,queformaonúcleo
centraldasimponentes manifestaçõesjacobinas!».Estadicotomiapolítico-social
ofereciaaoespectadorcoevoaimagemdomundoconservador,supostamente
trabalhador,amigodaordem,daautoridadeedaestabilidade.Essamarcade
conservadorismoseriabemvincadapelasessãopolítica,realizadacomapresen-
çade«milharesdepessoas»queprimarampelacorrecçãodecomportamento,
pela«unidade,adisciplinavoluntária,aharmonia,aconcordânciadevistas».
Muitodistante,afinal,dapropagandadoscomicieirosrepublicanos:«nãohouve
1342Cf.O Nacional,n.º50,21-04-1915,p.2.1343Cf.O Nacional,n.º47,18-04-1915,p.2.1344Ibidem,p.1.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
309
discursos,nãohouveoespalhafatodomingueiroquesevianapropagandados
adversários»1345.
ACausaMonárquicaprocuravamostraraopaísqueexistiaumaelitede
Poderquenãoseconformavacomaausênciadomando,assumindoprincípios
hauridosdaideologiaconservadorasegundoosquaiscompetiaàselitesgover-
nareaopovoobedeceretrabalharordeiramente.Equeexistiaunidadepolítica
emtornodarestauraçãodamonarquiadeD.Manuel.Mesmosabendoqueessa
unidadeeramaisidealquereal.
Aparticipaçãoinusitadadafidalguianumaassembleiapolíticanãopassou
despercebidaaoolharargutodeAntónioJosédeAlmeida,queironizoucomo
factodeumarealezasupostamenteliberalestaraserdefendidapelanobreza.
RochaMartins,patronodeumamonarquiasocial,veiologoaterreirolembrara
costelaliberaldosrespectivostitulares,portadoresdosangueedaespadacom
queseinaugurouoliberalismoeosistemaconstitucionalemPortugal,equeele
entreviacomoosverdadeirosarautosdaliberdade1346.
Aproliferaçãodecentrospolíticos,ascampanhasna imprensaeadiscus-
sãopúblicadoreiarestaurar já traziamashostesrepublicanasnumfrenesim
revolucionário,quandoPimentadeCastroaprovouanovaleideamnistia.Esta
leiabriaasfronteirasaosmaiscategorizadosdirigentesmonárquicosaindano
exílio,comoPaivaCouceiro,JoãodeAlmeida,JoãodeAzevedoCoutinho,Jorge
Camacho,VítorSepúlvedaeopadreDomingos.Publicadaa20deAbril,foi
logoreprovadacomoleiofensivaeprovocadora,porcoincidircomoquarto
aniversáriodaleideseparação1347.Enquantoaimprensamonárquicaexultavade
regozijoesatisfação,aruarepublicana,oscélebres«carbonários»e«voluntários
darepública»,ressumbravaemgestosdeameaça,comofitoclarodedefender
oregimepelaforça.
Aconflitualidadepolíticaesocialaumentaradeintensidade.Ainauguração
decentrospolíticosmonárquicosmobilizoua«canalharepublicana»paraasime-
diaçõesdassedes,provocandoosadversáriospolíticoseasautoridadespoliciais
destacadasparaasegurançadasmanifestações.Asimplesimagemdapolícia
1345Ibidem.1346Jornal da Noite,n.º89,21-04-1915,p.1.1347Cf.DavidFerreira,ob. cit.,p.83.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
310
republicanaaprotegeros«inimigos»doregimeeraumaironiaqueosradicais
nãoaceitavam.Poroutrolado,paraalémdeanulartodasasmedidasdosgover-
nosanteriorescontraoficiaismonárquicosouantidemocráticos,opimentismo
entregouachefiadaspolíciasedoexércitoaoficiaisconservadores,comofará
maistardeosidonismo;muitosdospolíciasdemitidosdesdeaimplantaçãoda
repúblicaregressaramaosseuspostos,aumentandoacrispaçãodosrepublica-
nosradicais.
AinauguraçãodoCentroMonárquicoAcadémico,emCoimbra,éoexemplo
paradigmáticodacrescenteconflitualidadeentremonárquicoserepublicanos.
AcidadejuntouaíumaplêiadedenotáveisdirigentesdaCausaMonárquica,
comoocondedeBertiandos,AiresdeOrnelas,AntónioCabral,JosédeAzevedo
CasteloBranco,HomemCristoFilhoeoséquitointegralista,comAntónio
Sardinha,LuísdeAlmeidaBraga,AlbertoMonsaraze JoãodoAmaral1348.
Ospolíticosmonárquicosforamatacadoscompedrasquandosedirigiampara
oteatroSousaBastos,ondeserealizavaoactopolítico.NabaixadeCoimbra,os
agitadoresrepublicanosdeixaramacidadeemestadodesítio,investiramruido-
samentecontraosautomóveisegritaramimpropériosepalavrasdeguerracomo
«mata,mata».Aacçãodapolíciafoientãoconsideradainsuficientepelaimprensa
realistaparajugularostumultos1349.Receosatalvezdaforçapopular,limitava-se
aevitarquea«canalha»,vindadetodosospartidosdarepública,seaproximasse
demasiadodosrealistas,masnãoevitouasagressõesenãoprocedeuamuitas
prisões.Paraosmonárquicos,estaeraaprovairrefutáveldaforçadaruarepu-
blicana,emLisboacomoemCoimbraenoutrascidades,edaincapacidadedo
governodePimentadeCastroparautilizaraforçacontraoradicalismo1350.
Aproximava-se jáarevoluçãode14deMaio,paraaqualmuitocontribuiu
a«rua»,acendradapelosexcessosoptimistasdosrealistas,queafirmavamsem
rebuçosqueaditadurasópodiadesaguarnamonarquia.PaivaCouceiro,que
regressaraaPortugala5deMaio,eraameaçadoporunseadmiradoporoutros,
enquantoaimprensarealistaexultavadeentusiasmo.Asuapresençanasruas
deLisboaera,contudo,umaprovocaçãoqueosradicaisnãotoleravam.Achega-
1348Cf.Jornal da Noite,n.º105,10-05-1915,p.1.1349Ibidem.1350BNP,ELM,doc.n.º3830,cartadocondedeBertiandosaLuísdeMagalhães,de12-05-1915.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
311
daaPortugaldo«Paladino»foiacompanhadadesdeafronteirapelapolíciaepor
informadoresrepublicanos,quelheconheciamtodosospassos1351.Nopanfleto
EH Real,publicadojádepoisdarevolução,tripudiava-secomaimagemtraçada
pelaimprensa,deum«Nun’Álvares,osantoeheróicocondestável»comqueera
apresentadaaoPovoa «figuradesmanchadaerelesdePaivaCouceiro»1352.Na
verdade,o textodeSérgioSílviocontestava,emtomcoléricoeatrabiliário,a
amnistiadadapeladitaduraaomais«odientoeceleradodoscriminosos»,culmi-
nandoasuacatilináriacomumgritosubversivo:«Evistoquetalsetornaneces-
sário[...]peguemosemarmasevamosparaalutarevolucionária,implantando,
definitivamente,aRepúblicaemPortugal»1353.Couceirofoiobrigadoaesconder-se
atéconseguirsairnovamentedopaís,enquantoumgrupoderevolucionários
atacavaesaqueavaacasadairmã,emSantaCatarina1354.
Nodia6deMaio,AfonsoCostadeuumaconferêncianoTeatroNacional,
noPorto,ondeapelouàviolênciacontraa«ditadura»dePimentadeCastro,que
apodoude«reaccionária»edesera«contra-revoluçãodo5deOutubro».Quanto
àrestauraçãodamonarquia,considerava-aumaimpossibilidadeequetalten-
tativahaviadedegenerarnumalutasemtréguascontraosadeptosdacoroa1355.
Osentimentoderevoltaaumentava.DuranteesteperíodoPortugalfervilhoude
conspiradoreserevolucionários.Osmonárquicosconspiravampararestaurar
amonarquia.AdinâmicaorganizativaqueaditaduradePimentadeCastro
facilitou,marcadaporinúmerasreuniõesemLisboa,Portoenasrestantescida-
desdoNorte,serviaigualmenteospropósitoscontra-revolucionários1356.Muitos
acreditavamqueamáquinapolíticadeviaestarpreparadaparaummovimento
revoltoso,eofuturoprovariaaverdadedestaafirmação1357.
Continuaram,pois,ospreparativoseasmaquinações,recorrendo-senova-
menteaumacomplexamáquinaorganizativa,queexigiafocosdeconspiração
1351AHM,1.ªdivisão,36.ªsecção,caixa13,pasta2.1352Eh Real, Panfleto Semanal de Crítica e Doutrinação Política,n.º1,13-05-1915,p.4.1353Ibidem,pp.11-12.1354Cf.MariaTeresadeSousaBotelhoeMello,ob. cit.,p.130.1355AconferênciadeAfonsoCostafoimaisumaanálisedaconjunturapolítica.Podeler-seuma
sínteseemDavidFerreira,ob. cit.,pp.131-149.1356AHM,1.ªdivisão,36.ªsecção,caixa13,pasta2.1357AtentativarevolucionáriadeAgostode1915foiliderada,emGuimarães,porAntónioMa-
chado,queerasecretáriodoCentroMonárquicodeGuimarães.Cf.IAN/TT,MI,DGAPC,maço61.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
312
internamuitobemarticuladosentresiecomaemigração1358.Comesseobjec-
tivoemmira,acentuaram-seoscontactoseasmovimentaçõesemEspanhae
nasregiõesdefronteira.Otrânsitodearmamento,trazidoporcontrabandistas,
continuouafazer-secomdestinoaPortugal1359.OscomitésdeLisboaedoPorto
estavamempermanentecontactocomEspanhaecomoscomitésmilitarespara
prepararumarevoltaoupronunciamentoquedeviaacontecerantesdaseleições,
marcadasparaJunho1360.
Nocampoadversário,oscarbonáriosvoltavamàsuaactividaderevolucioná-
ria,enquantonoexércitosepreparavaaquedadaditadura1361.Ocomitérevo-
lucionárioeraconstituídoporSáCardoso,ÁlvarodeCastro,AntónioMariada
Silva,NortondeMatoseLeotedoRego,todospróximosdoPartidoDemocrático.
Arevoluçãorepetiuomodelodo5deOutubro,comaacçãocombinadado
exército,damarinhaedosgruposcarbonários,contandotambémcomapassivi-
dadedamaioriadasunidadesdoexército.Portudoisso,seriaconsideradapela
retóricarepublicanacomoumasegundaproclamaçãodarepública.
Arevoluçãosaldou-seemcercade150mortosemaisdemilferidos,nos
confrontosquetiveramlugaremLisboa,PortoeSantarém,vítimasemnúmero
superioràsquesehaviamregistadono5deOutubro1362.Nossectoresmilitares,
asdiferentesguarnições,comandadasporoficiaispassivos,foramabdicandoda
luta,excepçãofeitaainfantaria16,chefiadaporGomesdaCostaeporGonçalo
PimentadeCastro.Oauxílioesperadodasforçasda7.ªdivisão,chefiadaspor
JaimeLeitãodeCastro,nãochegoueoexércitorendeu-seaosrevoltosos1363.
Arevoluçãoficouinexoravelmenteassociadaaorecrudescimentodaviolência
revolucionária,marcadaporconfrontosterrivelmentesangrentos.Houveataques
aigrejas,centrosmonárquicos,sabotagensdeposteseléctricosetelegráficose
váriosassassinatos,incluindo,noPorto,aeliminaçãodeHomerodeLencastre
1358BNP,ELM,caixa58,cartacifradade24deAbril[1915?].1359Cf.dezenasderelatóriosemAHM,1.ªdivisão,36.ªsecção,caixa13,maço2.1360Ibidem.Entreosmaisdinâmicosencontravam-seLuísdeMagalhães,considerado«tesoureiro
docomitédoNorte»,JosédeAzevedoCasteloBranco,PinheiroTorres,JaimeDuarteSilva,GaspardeAbreu,condedeAzevedo,JúliodeAraújo,AbelFerreira,abadedeCaminha,coronelAdrianoBeçaemuitosoutros,civis,clérigosemilitares.
1361IAN/TT,MI,DGAPC,maço60,cartadoGovernadorCivildeBragançaaoMinistrodoInterior,de24-04-1915.
1362Cf.DouglasL.Wheeler,ob. cit.,p.139.Outroshistoriadoresreferemapenas102mortos.1363Cf.GonçaloPereiraPimentadeCastro,ob. cit.,pp.410-420.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
313
porradicais1364.OódioparacomapolíciadePimentadeCastro,acicatadopela
imprensarepublicana, levouaqueossectores radicaisassaltassemasreparti-
çõespoliciaisnogovernocivildeLisboa,destruindoomobiliárioeassaltando
oscofres,deondelevaramosfundosdepensõesetodoodinheiroexistente,
paraalémdearmamento.Váriospolíciasforamentretantoassassinados,muitos
seriamrepublicanosdedicados,enquantooutrosfugiamouseescondiamdas
turbasenfurecidas1365.
Portugaldavaentãoumaimagemdeguerracivilqueasautoridadespro-
curaramconteratravésdeumacirculardistribuídaaosgovernadorescivis1366.
Aviolênciadarevolução,osbombardeamentosdeLisboa,osataquesaca-
sasdeapoiantesdePimentadeCastro,emuitoespecialmentemonárquicos
conhecidos,marcariaoimaginárioconservadorduranteanos,aprofundandoa
imagemde«balbúrdiasanguinolenta»quesecolaraàrepública.Acondessade
Mangualde,quedescreveuosacontecimentosrevolucionárioscompormenor,
escreveuaessepropósito:«PareceimpossívelqueestePortugalsejaomesmo
queaindahádezanoseraaterramaispacataemaissossegadadomundo.Que
responsabilidademedonhatêmosquetransformaramobompovoportuguês
nasferasqueagoraandamporaí»1367.
Osmonárquicosexploravamestaviolênciapolítica,dequetambémpar-
ticipavamcomoconspiradoresimpenitentes,apresentando-secomovítimasda
ferocidaderepublicana.D.Manuel,emLondres,vituperavaarevoluçãonumato-
adamuitopessimista,afirmandoquePortugalteriaestadoàbeiradeuma«inter-
vençãoestrangeira»,istoé,intervençãodeEspanha,queaInglaterra«evitou»1368.
Paraomonarcaexilado,opaís,indiferente,nadapodiacontraoscriminosos
republicanoseasuaviolência ferina: «Temosemfrentedenós,deum lado
1364IAN/TT,DGAPC,maço60.1365Ibidem,RelatóriodoComandantedaPolícia,TristãodaCâmaraPestana,de19-05-1915.1366Ibidem,circularde18-05-1915.1367Ob. cit.,p.128.1368IAN/TT,FundodeJoãoAzevedoCoutinho,caixa8,cartadeD.ManuelaJoãodeAzevedo
Coutinho,de02-06-1915.CartadeteormuitosemelhantefoidirigidaaomarquêsdoLavradio,em10-06-1915,aíexpressandooreceiodeumentendimentoentreaInglaterraeaEspanha.Cf.D.JoséLuísdeAlmeida(Lavradio),ob. cit.,pp.249-250.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
314
assassinos,bandidos,araléquematam,assassinam[...];dooutro,infelizmente,
umpaísinteiroapáticoeindiferente»1369.
OfimdaditaduradePimentadeCastrotrouxeosdemocráticosnovamente
aoPoder,comumgovernolideradoporJosédeCastro,aqueseseguiuademis-
sãodeManueldeArriaga,substituídoporTeófiloBraga1370.Oambientepolítico,
jámuitodegradado,agravar-se-ianosanosseguintes,comaformaçãodeum
fortesentimentoantidemocráticoemalgunssectoresrepublicanos,enquantono
exércitosurgiaumanovafamíliapolítica,aindavaga,conhecidapor«pimentis-
mo».O«pimentismo»,comodepoiso «sidonismo»,eraconstituídoporoficiais,
unssemcorpolítica,outrosrepublicanosconservadoresemonárquicos,que
nutriamumódiovisceralaosdemocráticosequedefendiamosvaloresdaordem
edaautoridadecomoamaisimperiosafunçãopolíticadoEstado1371.Começava
entãoaformar-seumapoderosaaliançacontraoPartidoDemocráticoqueviria
aserresponsávelpelarecusadasuapolíticaintervencionista.
Algunsmonárquicoscaíramentãonumprofundopessimismodepoisdo14
deMaio,queviriaaderruirpartedoesforçoorganizativo,políticoecontra-revo-
lucionárioquehaviamarquitectadoduranteaditaduradePimentadeCastro1372.
Asuacapacidadedepropagandaficouseriamentedebilitadacomodesapare-
cimentodealgunsdosseusmaisrelevantesórgãosdeimprensa,comooDia,
oNacional,o Jornal da Noite(esteemAgosto).Deixaradehavercondições
políticasparaconcorreraeleições,queserealizarama13deJunho,econdições
demobilizaçãoparalevaracaboummovimentorestauracionista.
Masnemtodosanalisavamnegativamenteo14deMaio.LuísdeMagalhães
descobriaalgodepositivonarevolução,queviacomoumaradicalizaçãoainda
maiordoregime,nosentidodeaumentarosconfrontosentreasfacçõesrepu-
blicanas,«oqueéumamaiorchancedetriunfofinal».O14deMaiomostravaao
exércitoqueaestabilidadeseriasempreumaempreitadairrealizávelcomare-
públicae,finalmente,porque«liquidavacompletamenteaideiadeumarepública
1369IAN/TT,FundodeJoãoAzevedoCoutinho,caixa8,cartadeD.ManuelaJoãodeAzevedoCoutinho,de02-06-1915.
1370ManueldeArriagaabdicoudafunçãoa29deMaio,enquantoTeófiloBragasemantevenocargoatéàeleiçãodeBernardinoMachado,a6deSetembro.
1371Cf.AHM,1.ªdivisão,36.ªsecção,caixa13,pasta3,relatóriodoGovernoCivildeVianadoCasteloaoMinistrodoInterior,de29-07-1915ecartasparticulares.
1372Cf.BNP,ELM,cartadeLuísdeMagalhãesaMoreiradeAlmeida,de06-06-1915.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
315
conservadora»1373.Aargumentaçãodoantigoconselheiromonárquicoradicava
numaobservaçãoracionaldosacontecimentos,segundoaqualnenhumasocie-
dadepodiaviverem«instabilidadepermanente»,comoviviaarepública.Como
políticohábilepensadorpenetrante,sabiaqueasquestõesda«ordem»pública
obrigariamoexército,quandoasituaçãosetornasseinsuportável,aintervirpara
reporessa«necessidadeorgânica»dassociedades1374.Porisso,defenderiasempre
aviadaorganizaçãopolíticadaCausaMonárquicaeocombatefirmeecerrado
aoregimerepublicano,mesmoqueissoimplicasseignorarasorientaçõesexpe-
didasdeLondres.Naverdade,arevoluçãotinhaaindaoutromérito:oderevelar
aovastocampodoconservadorismonacionalqueumarepúblicaconservadora
eraumaimpossibilidadepolítica,um«absurdo».Osmonárquicosconvenciam-
seagoradequeapenasarepúblicaradicale«jacobina»,istoé,a«demagogia»,
enquanto«degenerescênciaviciosadademocracia»,podiavingaremPortugal.
Amonarquiaeraassimapresentadacomooúnicoregimecompatívelcoma«or-
dem»ea«autoridade»,dentrodeumquadroevolucionistaqueacivilizaçãocoeva
exigiaparaextirparovírusrevolucionárioqueatacaraPortugaleolançarana
maisdeprimenteanarquia1375.
D.Manuel,nasuacartaaJoãodeAzevedoCoutinho,datadade2deJunho,
tinhavoltadoainsistirnaimobilidadepolíticadosseuscorreligionários,cujaac-
tividadecausticavacomo«crimedelesa-pátria»,enquantoprometiaarestauração
dotronono«fimdestaguerrapavorosa»1376.Masosmonárquicosnãoaceitaram
taisrecomendações,insistindosemprenanecessidadede«organização»política,
econtinuaramapropagandasubversiva,especialmentenoNortedopaís1377.
Paraalémdapropagandadaideiamonárquica,procuraramcapitalizarodes-
contentamentoeconómico-socialdosportugueses.Comefeito,aosproblemasde
umasociedadeemconflitoseguiram-seascomplicaçõeseconómicasesociais,
comoagravamentodoabastecimentopúblicodegénerosalimentares.Omêsde
1373BNP,ELM,cartadeLuísdeMagalhãesaMoreiradeAlmeida,de06-06-1915.1374Ibidem,cartade25-06-1915.1375Estaerapelomenosaposiçãodosmonárquicosconstitucionalistas.Cf.LuísdeMagalhães,
Portugal e a Guerra,Lisboa,1915,pp.48-53.1376IAN/TT,FundoParticulardeJoãoAzevedoCoutinho,caixa8,cartadeD.ManuelaJoãode
AzevedoCoutinho,de02-06-1915.1377Cf.BNP,ELM,doc.n.º8022,cartadeD.LuísdeCastro(condedeNovaGoa)aLuísde
Magalhães,de16-07-1915.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
316
JulhoficoumarcadoporumconflitoentreosagricultoresdoDouroeosagricul-
toresdoSul,porcausadaexportaçãodevinhosgenerososparaInglaterra.Otra-
tadodecomérciocomestepaís,assinadoa23deJaneirode1915,aceitavacomo
vinhodoPortotodososvinhosexportadosdePortugal1378.Osagricultoresdo
Douroreclamavamarevisãodotratadonosentidoderestringirasexportações
devinhosgenerososaosvinhosproduzidosnaregiãoduriense,eameaçavam
aexportaçãoenquantoInglaterranãoadoptasseadesignaçãoportuguesade
«VinhodoPorto»1379.
NaregiãodoDouro,a19deJulho,osprodutoresdevinhomostraramoseu
descontentamentonumamanifestaçãoquetevelugaremLamego,congregando
cercadequatromilmanifestantes.Essa«multidão»,queinvadiraacidadearmada
«compaus,varapaus,machados,baionetas,antigas,facasatadasnapontade
paus,choupas,espingardasdecaçaebombas»protestavacontraa«questãodu-
riense»,levantavaimpropérioscontraarepúblicaecontraoSulqueos«matavaà
fome».Quando,nodiaseguinte,opovoamotinadosepreparavaparainvadiro
edifíciodosPaçosdoConcelho,«aforçamilitarabriufogocontraospopulares,
eaomesmotempoalgumasbombasrebentaramemfrentedoedifício»1380.Mas
orelatóriooficialdasautoridadesdácontadeumaexplosãodeviolênciaentre
osmanifestanteseoscivisrepublicanosqueseencontravamnoedifíciopúblico,
aquemaqueles«chamavamcarbonários».Afúriadosconfrontosficoumarcada
peloarremessodebombaseousode «pistolasautomáticas»contraosditos
«carbonários»,eaqueestesresponderamlançando«paraaruatrêsouquatro
bombas»sobreopovoamotinado.Dosconfrontosresultaramdozemortose
dezanoveferidos1381.Aexistênciadeumabandeiraazulebranca,osvivasaD.
Manueleàmonarquia,easconhecidassimpatiasmonárquicasdosdirigentes
doprotestorevelamqueportrásdamanifestaçãopoderiamestarosinteresses
1378Cf.MiguelNunesRamalho,A Opressão Salazarista e a Força da Liberdade. Alfredo de Sousa, um resistente,p.80.
1379Cf.A Capital,ano6,n.º1783,20-07-1915,p.2.OsagricultoresdoNorteeosdoSulenviaramcomissõesaLisboa,parafazeremchegaraogovernoassuasreivindicações.OgovernoapresentouentãonoparlamentoumapropostaqueatendiaaosinteressesdosagricultoresdoDouroecompen-savaosagricultoresdoSulcomaumentossignificativosdospreçosdasaguardentes,indispensáveisparaaproduçãodosvinhosdoDouro.
1380IAN/TT,MI,DGAPC,maço61.1381Ibidem.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
502
Ornelas,Airesde,A nossa administração colonial. O que é, o que deve ser,Conferênciarealizadana
SociedadedeGeografiaemanoitede30deNovembrode1901,Lisboa,1903.
Ornelas,Airesde,Política Marítima Nacional,ConferênciarealizadanaSededaLiganavalPortu-
guesa,Lisboa,LiganavalPortuguesa(CentroTypographicoColonial)1910.
Ornelas,Airesde,As Doutrinas Políticas de Charles Maurras,LivrariaPortugalEditora,Lisboa,1914.
Ornelas,Airesde,Um Ano de Guerra (Agosto de 1914 a Agosto de 1915),Porto,Magalhães&Moniz,
1916.
Ornelas,Airesde,O Império Colonial Português perante a Guerra Actual,Lisboa,Tipografiado
AnuárioComercial,1917.
Ornelas,Airesde,SegundoAnodeGuerra(Agostode1915aAgostode1916),Porto,Magalhães&
Moniz,1918.
Ornelas,Airesde,OUltramarPortuguês.Oquefoieoqueéperanteoconflitoactual,Porto,Com-
panhiaPortuguesaEditora,1919.
Pabón,Jesús,La Revolución Portuguesa (De Don Carlos a Sidónio Pais),Madrid,Espasa-Calpe,S.A.,
1941.
Penela,Condede,Negocios, Torpezas e vicios danosos a la Salud del Pueblo de Portugal,Vigo,1919.
Pimenta,Alfredo,Politica Portuguesa. Elementos para a Solução da Crise Nacional,Coimbra,Moura
Marques,1913.
Pimenta,Alfredo,A Significação Philosophica da Guerra Europeia. O Imperialismo Contemporâ-
neo,Lisboa,ParceriaAntónioMariaPereira,1915.
Pimenta,Alfredo,Politica Monarchica,Lisboa,EmpresaLusitanaEditora,s/d,[1917].
Pimenta,Alfredo,A Situação Politica:conferenciarealisadanoSalãoNobredaLigaNavalPortugue-
za,nanoitede26deFevereirode1918,Lisboa,LivrariaFerreira,1918.
Pimenta,Alfredo,A Revolução Monarchica,Lisboa,EdiçãodoAutor,1919.
Pimenta,Alfredo(Org.),Cartas Políticas de D. Manuel II,Comumprefáciodeum«Monarchico»,
Lisboa,Portugália,1922.
Pimenta,Alfredo,Nas Vésperas do Estado Novo,Lisboa,NovaArrancada,1998.
Pimentel,JoãoSarmento,Memórias do Capitão,Porto,EditorialInova,1974.
Proença,Raul, Polémicas,Lisboa,PublicaçõesDomQuixote,1988.
Questão (A) Dinástica. Documentos para a Historiamandados coligir pela Junta Central do Integra-
lismo Lusitano,Lisboa,EmpresaNacionaldeIndustriasGráficas,1921.
Ramos,JúlioGonçalves,Um Anjo Visível Homenagem a D. Constança Telles da Gama (Cascaes),
Lisboa,TypographiaPortugueza,1913.
Rangel,Joaquim,Um Episódio da Monarquia do Norte,Porto,[s/ed.],1932.
Raposo,Hipólito,Folhas do meu Cadastro,vol.1(1911-1925),Lisboa,EdiçõesGama,1945
Relvas,José,Memórias Políticas,2vol.,prefáciodeJoãoMedinaeapresentaçãodenotasdeCarlos
Ferrão,Lisboa,TerraLivre,1977.
Salazar e Pimenta. Correspondência 1931-1950,PrefáciodeManuelBragadaCruz,Lisboa,Verbo,2008.
Santos,Machado,A Revolução Portugueza 1907-1910,prefáciodeAntónioReis,Lisboa,Sextante
Editora,2007.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
503
Santos,Machado,A Ordem Publica e o 14 de Maio,PapelariaeTipografiaLiberty,Lisboa,1916.
Sardinha,António,O Valor da Raça. Introdução a uma Campanha Nacional,Lisboa,AlmeidaMi-
randaSousa,1915.
Sardinha,António, Processo dum Rei,Lisboa,LivrariaCivilizaçãoEditora,1937.
Sardinha,António, Ao Princípio era o Verbo,2ªed.,Lisboa,EditorialRestauração,1959.
Separação (A). Decreto com força de lei de 20 de Abril de 1911. As Reclamações dos Catholicos (pu-
blicação feita por um grupo de catholicos de Lisboa),relatoreeditorDomingosPintoCoelho,
Lisboa,TypographiadaPapelariaProgresso,1913.
Silva,M.Abúndioda,Cartas a um Abade. Alguns aspectos da Questão Político-religiosa em Portu-
gal,Braga,CruzeC.ªLivreirosEditores,1913.
Soares,A.Ferreira,Viana Na Insurreição de 1919. Impressões e Notas,PontedeLima,Tipografia
Guimarães,1920.
Sotto-Mayor,D.Miguel,A Realeza de D. Miguel. Resposta a um livro do sr. Tomaz Ribeiro[1ªedição,
1882],PrefáciodeJoãoAmeal,Coimbra,LivrariaAtlântida,1929.
Sousa,AntónioPereirade,No Julgamento de Couceiro (Discurso de defesa proferido no tribunal do
2.º distrito criminal desta cidade em 17 de Junho de 1912,Porto,EdiçãodoAutor,[s/d].
Teixeira,Luís,Heróis da Ocupação,Lisboa,EditorialÁtica,1943.
Valente,Manuel,A contra-revolução monarchica,Porto,Ediçãodoautor,1912.
2.Bibliografia
2.1Histórias de Portugal, Histórias Gerais, Cronologias, etc.:
Ameal,João,História de Portugal,IVEdição,Porto,LivrariaTavaresMartins,1958.
Barata,ManuelThemudoeTeixeira,NunoSeveriano(Dir.),Nova História Militar de Portugal,vol.
4,RiodeMouro,CírculodeLeitores,2004.
Bethencourt,FranciscoeChaudhuri,Kirti,História da Expansão Portuguesa,vol.4,RiodeMouro,
CírculodeLeitores,1998.
Brandão,FernandodeCastro,A I República Portuguesa. Uma cronologia,Lisboa,LivrosHorizonte,
1991.
Broz,Bernard,Rowley,Anthony,História do Século XX,1.ºvol.,2.ªed.,Lisboa,PublicaçõesD.Qui-
xote,1999.
Maltez, JoséAdelino,Tradição e Revolução. Uma biografia de Portugal Político do século XIX ao
XXI,vol.II,Lisboa,Tribuna,2005.
Marques,A.H.Oliveira,História de Portugal,Vol.III,DasRevoluçõesliberaisaosnossosdias,13.ª
ed.,Lisboa,EditorialPresença,1998.
Medina,João(dir.),História de Portugal,Amadora,Ediclube,vols.XIIIeXIV,s/d.
Peres,Damião(Dir.),História de Portugal,SuplementoI,Lisboa,BarcelosPortucalense,1954.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
504
Ramos,Rui,«ASegundaFundação»,inMattoso,José(dir.)História de Portugal,vol.6,[s/l],Círculo
deLeitores,1995.
Roberts,J.M.,História do Século XX,vol.1,Lisboa,EditorialPresença,2007.
Serrão,JoeleMarques,A.H.Oliveira(Dir.),Nova História de Portugal,vol.IX«PortugaleaInstau-
raçãodoLiberalismo»,Lisboa,EditorialPresença,2002.
Serrão,JoeleMarques,A.H.Oliveira(Dir.),Nova História de Portugal,Vol.X«ARegeneração»,
Lisboa,EditorialPresença,2004.
Torgal,LuísReis,Catroga,Fernando,Mendes,JoséAmado,História da História em Portugal séculos
XIX-XX,2vol.,Lisboa,TemaseDebates,1998.
Artigoselivros
Afonso,Aniceto,História de uma Conspiração. Sinel de Cordes e o 28 de Maio, Lisboa,Notícias
Editorial,2000.
Alexandre,Valentim,«NaçãoeImpério»,inFranciscoBethencourteKirtiChaudhuri,História da
Expansão Portuguesa,vol.4,[s/l],CírculodeLeitores,1998.
Alexandre,Valentim,Velho Brasil Novas Áfricas. Portugal e o Império (1808-1975),Porto,Edições
Afrontamento,2000.
Allegro,JoséLucianoSollari,Para a História da Monarquia do Norte,Lisboa,Bertrand,1988.
Almeida,PedroTavaresde,Eleições e Caciquismo no Portugal Oitocentista,Lisboa,Difel,1991.
Almeida,PedroTavaresde,Fernandes,Paulo Jorge,Santos,MartaCarvalhodos, “Osdeputados
da1ªRepúblicaPortuguesa:inquéritoprosopográfico”,Revista de História das Ideias,vol.27,
Coimbra,InstitutodeHistóriaeTeoriadasIdeias,2006,pp.399-417.
Almeida,PedroTavaresde,Marques,TiagoPires(Org.),Lei e Ordem Justiça Penal, Criminalidade
e Polícia nos Séculos XIX-XX,Lisboa,LivrosHorizonte,2006.
Andrade,MariaIvonedeOrnellasde,A Contra-Revolução em Português José Agostinho de Macedo,
vol.II,Lisboa,EdiçõesColibri,2004.
Arendt,Hannah,Entre o Passado e o Futuro. Oito Exercícios sobre o Pensamento Político,Lisboa,
Relógiod’ÁguaEditores,2006.
Arostegui,Júlio(ed),“ViolenciayPolíticaenEspaña”,inAyer,13,Madrid,MarcialPons,1994.
Arrifes,MarcoFortunato,A Primeira Grande Guerra na África Portuguesa. Angola e Moçambique
(1914-1918),Lisboa,EdiçõesCosmos,2004.
Artola,Miguel,Partidos y Programas Politicos 1808-1936,2tomos,Madrid,Aguilar,1974.
Baiôa,Manuel(ed.),Elites e Poder. A crise do Sistema Liberal em Portugal e Espanha (1918-1931),
Lisboa,EdiçõesColibrieCentroInterdisciplinardeHistória,CulturaeSociedadedaUniversi-
dadedeÉvora,2004.
Barreira,Cecília,Nacionalismo e Modernismo. De Homem Cristo Filho a Almada Negreiros,Lisboa,
AssírioeAlvim,1981.
Brito,AntónioJoséde,Reflexões acerca do Integralismo Lusitano,Lisboa,EditorialVerbo,1965.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
505
Burgos,ManuelEspadas,Alfonso II y Los Orígenes de la Restauración,Madrid,C.S.I.C.,1975.
Caeiro,JoaquimManuelCroca,Os Militares no Poder. Uma análise histórico-política do liberalismo
à revisão constitucional de 1959,Lisboa,HuginEditores,1997.
Calzada,PabloCepeda,Las Ideas Políticas de Ortega e Gasset,Valladolid,UniversidaddeValladolid,
1968.
Canal,Jordi,«Acontra-revoluçãoemmovimento:carlismoeviolênciapolíticaemEspanha(1876-
1939)»,Ler História,n.º46,Lisboa,2004,pp.161-191.
Canal,Jordi,El Carlismo. Dos siglos de contrarrevolución en España,Madrid,AlianzaEditorial,2004.
Canfora,Luciano,A Democracia. História de uma Ideologia,Lisboa,Edições70.
Cannadine,David(Coordenação),Que é a História Hoje?,Lisboa,Gradiva,2006.
Carr,Raymond,España: de la Restauración a la democracia, 1875-1980,Barcelona,Ariel,1983.
CarrilhoMaria,Forças Armadas e Mudança Política em Portugal no Séc. XX. Para uma explicação
sociológica do papel dos militares,Lisboa,ImprensaNacional-CasadaMoeda,1985.
Carvalho,PauloArcherde,«Aoprincípioeraoverbo:oeternoretornoeosmitosdahistoriografia
integralista»,inRevista de História das Ideias,vol.18,Coimbra,InstitutodeHistóriadasIdeias,
1996,pp.231-243.
Carvalho,PauloArcherde, «Trêstesessobreaucroniaeaflorestautópica.ApropósitodoInte-
gralismoLusitano»,inRevista de História das Ideias,vol.24,InstitutodeHistóriadasIdeias,
Coimbra,2003,357-414.
Castelo-Branco,Miguel,Homem Cristo Filho. Do Anarquismo ao Fascismo,Lisboa,NovaArrancada,
2001.
Catroga,Fernando, «Os iníciosdoPositivismoemPortugal.Oseusignificadopolítico-social», in
Revista de História das Ideias,n.º1,Coimbra,InstitutodeHistóriaeTeoriadasIdeias,1977,
pp.287-394.
Catroga,Fernando,«OProblemaPolíticoemAnterodeQuental.UmconfrontocomOliveiraMar-
tins»,SeparatadaRevista de História das Ideias,vol.III,Coimbra,InstitutodeHistóriaeTeoria
dasIdeias,1981,pp.1-180.
Catroga,Fernando, «OLaicismoeaquestão religiosaemPortugal», inAnálise Social,vol.XXIV
(100),1988,(1º.).
Catroga,Fernando,O Republicanismo em Portugal. Da Origem ao 5 de Outubro,2vol.,Coimbra,
FaculdadedeLetras,1991.
Catroga,Fernando,«Olivre-pensamentocontraaIgreja.AevoluçãodoanticlericalismoemPortugal
(séculosXIXeXX)»,inRevista de História das Ideias,vol.22,Coimbra,InstitutodeHistóriae
TeoriadasIdeias,2001,pp.255-354.
Catroga,Fernando,Entre Deuses e Césares. Secularização, Laicidade e Religião Civil,Coimbra,Al-
medina,2006.
Catroga,Fernando,Carvalho,PauloArcherde,Sociedade e Cultura Portuguesas II,Lisboa,Univer-
sidadeAberta,1994.
Compagnon,Antoine,Los antimodernos,Barcelona,Acantilado,2007.
Cruz,ManuelBragada,As Origens da Democracia Cristã e o Salazarismo,Lisboa,EditorialPre-
sença,1980.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
506
Cuevas,PedroCarlosGonzález,El Pensamiento político de la derecha española en el siglo XX. De la
crisis de la Restauración al Estado de partidos (1898-2000),Madrid,Tecnos,2005.
Cunha,NorbertoFerreirada,«Aordemeapátrianaacçãodeumpresidentedarepúblicamonár-
quico:CantoeCastro»,inRevista de História das Ideias,vol.27,Coimbra,InstitutodeHistória
eTeoriadasIdeias,2006,pp.359-397.
Desvignes,AnaIsabelSardinha,António Sardinha (1887-1925) Um Intelectual no Século,Lisboa,
InstitutodeCiênciasSociais,2006.
Dias,JoséLopes,«OBatalhãoAcadémicodeCoimbrade1919»,inEstudos de Castelo Branco. Revis-
ta de História e Cultura,n.º48-49,Abril/Julho–1974,pp.20-47.
Eccleshall,Robertetalli,Ideologías Políticas,2ªed.,Madrid,Tecnos,2004.
Fava, Fernando Mendonça, «Houson Stewart Chamberlain. Apontamento breve», Cadernos do
CEIS20,nº.5,Coimbra,CentrodeEstudosInterdisciplinaresdoSéculoXX,2007.
Fava,FernandoMendonça,«CantoeCastro–UmmonárquiconaPresidênciadaRepública»,Cader-
nos do CEIS20,nº.8,Coimbra,CentrodeEstudosInterdisciplinaresdoSéculoXX,2008.
Fernandes,AntónioTeixeira,Os Fenómenos Políticos. Sociologia do Poder,2.ªed.,Porto,Edições
Afrontamento,1998.
Ferreira,David,História Política da I República Portuguesa (1910-1915),2vol.Lisboa,LivrosHo-
rizonte,1973.
Ferreira,JoséMedeiros,O Comportamento Político dos Militares. Forças Armadas e Regimes Políticos
em Portugal no Século XX,Lisboa,EditorialEstampa,1996.
Fraga,LuísAlvesde,“PortugalnaGrandeGuerra–Umamudançaestratégica?”,inRevista de His-
tória das Ideias,vol.27,Coimbra,InstitutodeHistóriaeTeoriadasIdeias,2006,pp.323-357.
Fraga,LuísAlvesde,General Tomás Garcia Rosado. O Outro Comandante do C.E.P. – França,Lisboa,
Prefácio,2006.
Garnel,MariaRitaLino,Vítimas e Violências na Lisboa da I República,Coimbra,ImprensadaUni-
versidadedeCoimbra,2007.
Gauchet,Marcel,L’Avènement de la Démocratie II La Crise du Libéralisme,Paris,Gallimard,2007.
Gengembre,Gerard,La Contre-Revolution ou L’histoire Désespérante,Paris,EditionsImago,1989.
Gilbert,Martin,A Primeira Guerra Mundial,Lisboa,AEsferadosLivros,2007.
Godinho,VitorinoMagalhães,Vitorino Henriques Godinho. Pátria e República,Lisboa,Assembleia
daRepúblicaeD.Quixote,2005.
Gómez,HipólitodeLaTorreeMarques,A.H.deOliveira,Contra-revolução. Documentos para a
História da Primeira República Portuguesa,Lisboa,Perspectivaserealidades,1985.
Gómez,HipólitodelaTorre,Conspiração contra Portugal 1910-1912,Lisboa,LivrosHorizonte,1978.
Gómez,Hipólitode laTorre,Na Encruzilhada da Grande Guerra. Portugal-Espanha 1913-1919,
Lisboa,EditorialEstampa,1998.
Gómez,HipólitodelaTorre,Do “Perigo Espanhol” à Amizade Peninsular 1919-1930,Lisboa,Edi-
torialEstampa,1998.
Gray,John,O Liberalismo,Lisboa,EditorialEstampa,1988.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
507
Guerreiro,Jerónimo,Monsenhor Aloisi Masella e o Arcebispo de Évora D. Augusto Eduardo Nunes
(1918-1920),Évora,[s/n],1968.
Habermas,Jurgen,O Discurso Filosófico da Modernidade,Lisboa,PublicaçõesD.Quixote,1990.
Hobsbawm,Eric,A Era dos Extremos. História Breve do Século XX 1914-1991,2ªed.,Lisboa,Editorial
Presença,1985.
Hobsbawm,Eric,A Questão do Nacionalismo. Nações e nacionalismo desde 1780,2ª.Ed.,Lisboa,
Terramar,2004.
Holmes,Stephen,The Anatomy of Antiliberalism,Cambridge,HarvardUniversityPress,1996.
Homem,AmadeuCarvalho,AIdeiaRepublicanaemPortugal.OContributodeTeófiloBraga,Coim-
bra,MinervaHistória,1989.
Homem,AmadeuCarvalho,O Primeiro Conde de Arnoso e o seu Tempo,V.N.deFamalicão,Câmara
MunicipaldeVilaNovadeFamalicão,1998.
Homem,AmadeuCarvalho,Da Monarquia à República,Viseu,Palimage,2001.
Homem,AmadeuCarvalho,“Constituiçãode1911:ProgramadeumaBurguesiaLivre-Pensadora”,
inHistória,n.º43,Marçode2002,pp.32-37.
Homem, Amadeu Carvalho (coordenação), Um Século de Lutas Académicas, Coimbra, Editorial
MouraPinto,2007.
Homem,AmadeuCarvalho,etal.,Progresso e Religião. A República no Brasil e em Portugal 1889-
1910,Coimbra,ImprensadaUniversidade,2007.
Homem,AmadeuCarvalho,«RisoePoder.Umaabordagemteóricadacaricaturapolítica»,inRevista
de História das Ideias, vol.28,Coimbra,FaculdadedeLetras,2007,pp.697-721.
Juliá,Santos(Direcção),Violencia política en la España del siglo XX,Madrid,Taurus,2000.
Leal,ErnestoCastro,«QuirinoAvelinodeJesus,umcatólico«pragmático»:notasparaoestudocrí-
ticodarelaçãoexistenteentrepublicismoepolítica(1894-1926)»,inLusitânia Sacra,2.ªsérie,
6,Lisboa,1994,pp.335-389.
Leal,ErnestoCastro,Nação e Nacionalismos. A Cruzada nacional Nuno Álvares Pereira e as Ori-
gens do Estado Novo (1918-1938),Lisboa,EdiçõesCosmos,1999.
ErnestoCastroLeal,Partidos e Programas. O campo partidário republicano português 1910-1926,
Coimbra,ImprensadaUniversidadedeCoimbra,2008.
L’Heuillet,Hélène,Alta Polícia Baixa Política. Uma visão sobre a Polícia e a relação com o Poder,
Lisboa,NotíciasEditorial,2004.
Lipset,SeymourMartin,Consenso e Conflito,Lisboa,Gradiva,1992.
Loia, Luís, Liberalismo Constitucional 1826-1926. O Pensamento Político de Luís de Magalhães,
Lisboa,Tribuna,2008.
Lopes,FernandoFarelo,Poder Político e Caciquismo na 1ª República Portuguesa,Lisboa,Editorial
Estampa,1994.
Macedo,JorgeBorgesde,«Paraumestudoestruturaldosmovimentosrevolucionáriosportugueses.
Ensaiodeformalizaçãoconcreta»,inEstudos Portugueses. Homenagem a António José Saraiva,
Lisboa,MinistériodaEducação,1990,pp.193-213.
Madureira,Arnaldo,A Questão Religiosa na I República. Contribuições para uma autópsia,Lisboa,
LivrosHorizonte,2003.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
508
Marcet,SílviaEnrich,Las Tentativas de Restauración Monárquica Portuguesa en Relación con Es-
paña (1911-1912),Salamanca,CajaDuero,2004.
Marques,A.H.Oliveira,A Primeira República Portuguesa,3.ªed.,Lisboa,LivrosHorizonte,1980.
Marques,FernandoPereira,Exército e Sociedade em Portugal,Lisboa,Alfa,1989.
Martínez,Soares,A República Portuguesa e as Relações Internacionais [1910-1926],Lisboa,Editorial
Verbo,2001.
Martinó,AntónioM.,João de Azevedo Coutinho Marinheiro e soldado de Portugal,Lisboa,Edições
Colibri,2002.
Matos,SérgioCampos,Historiografia e Memória Nacional,Lisboa,EdiçõesColibri,1998.
Matos,SérgioCampos, «HistóriaeFicçãoemOliveiraMartins. ImagensdeDegenerescência», in
Revista de História das Ideias,Coimbra,FaculdadedeLetras,2000.
Matos,SérgioCampos(Coord.),Crises em Portugal nos Séculos XIX e XX,Lisboa,CentrodeHistória
daUniversidadedeLisboa,2002.
Medina,João,Salazar, Hitler e Franco,Lisboa,LivrosHorizonte,2000.
Meneses,FilipeRibeirode,União Sagrada e Sidonismo. Portugal em Guerra (1916-1918),Lisboa,
EdiçõesCosmos,2000.
Morais,Jorge,Com permissão de Sua Majestade. Família Real Inglesa e Maçonaria na Instauração
da República em Portugal,s/l,ViaOccidentalis,2005.
Moura,MariaLúciadeBritoMoura,A Guerra Religiosa na Primeira República,Lisboa,Editorial
Notícias,2004.
Neto,Vítor,«AQuestãoReligiosana1ªRepública–Aposiçãodospadrespensionistas»,separatada
Revista de História das Ideias,vol.9,Coimbra,InstitutodeHistóriaeTeoriadasIdeias,1987.
Neto,Vítor,O Estado, A Igreja e a Sociedade (1832-1911),Lisboa,ImprensaNacional-CasadaMo-
eda,1998.
Neto,Vítor,«AbelBotelho.QuadrosdePatologiaSocial»,inRevista de História das Ideias,Coimbra,
FaculdadedeLetras,2000.
Neto,Vítor,«ONacionalismoCatólicoemJacintoCândido»,inRevista de História das Ideias,vol.22,
Coimbra,InstitutodeHistóriaeTeoriadasIdeias,2001,pp.395-417.
Nisbet,Robert,O Conservadorismo,Lisboa,EditorialPresença,1987.
Novais,NoémiaMalva,João Chagas. A Diplomacia e a Guerra (1914-1918),Coimbra,MinervaCoim-
bra,2006.
Parker,Noel,As Revoluções e a História. Ensaio Interpretativo,Lisboa,TemaseDebates,2001.
Pereira,AnaLeonor,«RaçaseHistória:imagensnasdécadasfinaisdeoitocentos»,separatadaRe-
vista de História das Ideias,vol.14,FaculdadedeLetras,Coimbra,1992.
Pinto,JoséAntónioFaria, «OImparcial(1912-1919).UmJornaldaResistênciaCatólicaàPrimeira
República»,inStudium Generale,nº.0,Porto,Editora,1979.
Pinto,PauloMendes,António Xavier Correia Barreto. Biografia de um Presidente do Senado,Lis-
boa,AssembleiadaRepública/EdiçõesAfrontamento,2002.
Pires,AntónioMachado,A Ideia de Decadência na Geração de 70,2.ªed.,Lisboa,Veja,1992.
Proença,MariaCândida,D. Manual II,RiodeMouro,CírculodeLeitores,2005.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
509
Quintas,JoséManuel,Filhos de Ramires. As origens do Integralismo Lusitano,Lisboa,EditorialNova
Ática,2004.
Ramalho,MiguelNunes,Sidónio Pais Diplomata e Conspirador (1912-1917),Lisboa,EdiçõesCos-
mos,2001.
Ramalho,MiguelNunes,A Opressão Salazarista e a Força da Liberdade. Alfredo de Sousa, um re-
sistente,Lisboa,Prefácio,2007.
Ramos,A.Jesus,«AIgrejaearepública»,separatadeDidaskalia,vol.XIII,1983.
Ramos, Rui, João Franco e o Fracasso do Reformismo Liberal (1884-1908), Lisboa, Imprensa de
CiênciasSociais,2001.
Ramos,Rui, «SobreocarácterrevolucionáriodaPrimeiraRepúblicaPortuguesa(1910-1926):uma
primeiraabordagem»,inPolis,n.os9/12,Lisboa,UniversidadeLusíadaEditora,2003,pp.5-60.
Ramos,Rui«FoiaPrimeiraRepúblicaumregimeliberal?Paraumacaracterizaçãopolíticadoregime
republicanoportuguêsentre1910e1926»,inManuelBaiôa(ed.),Elites e Poder. A crise do Siste-
ma Liberal em Portugal e Espanha (1918-1931),Lisboa,EdiçõesColibrieCentroInterdisciplinar
deHistória,CulturaeSociedadedaUniversidadedeÉvora,2004,pp.185-246.
Ramos,Rui,«ParaumahistóriapolíticadacidadaniaemPortugal»,Análise Social,vol.XXXIX(172),
Lisboa,InstitutodeCiênciasSociais,2004,pp.547-569.
Reis,António(Coord.Científica),As Grandes Correntes Políticas e Culturais do Século XX,Lisboa,
EdiçõesColibri,2003.
Rémond,René,Les Droits en France,Paris,EditionAubier,Montaigne,1982.
Rémond,René,Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias,Lisboa,
Gradiva,1994.
Renault,Alain(dir.),História da Filosofia Política 4. As Críticas da Modernidade Política,Lisboa,
InstitutoPiaget,2002.
Ruano-Borbalan, Jean-Claude(Coord.),L’Histoire aujourd’hui,Auxerre,ÉditionsSciencesHumai-
nes,1999.
Samara,MariaAlice,Verdes e Vermelhos: Portugal e a Guerra no ano de Sidónio Pais,Lisboa,Edi-
torialNotícias,2002.
Santos, Joaquim António Fernandes dos, Do Império da Raça à «Raça do Império» (Etnicidade
e Colonialismo, 1870-1914),DissertaçãodeMestradoemHistóriaContemporânea,Coimbra,
FaculdadedeLetras,2002.
Santos,MiguelDias,«Osmonárquicoseosidonismo»,inHistória,n.º32,Lisboa,Janeirode2001,
pp.10-16.
Santos,MiguelDias,Os Monárquicos e a República Nova,Coimbra,QuartetoEditora,2003.
Santos,MiguelDias,«Imperialismoeressurgimentonacional.Ocontributodosmonárquicosafrica-
nistas»,inEstudos do Século XX,nº3,Coimbra,CentrodeEstudosInterdisciplinaresdoSéculo
XX,2003,pp.83-112.
Santos,MiguelDias,«LuísdeMagalhães,OliveiraMartinsea‘VidaNova’»,inRevista de História das
Ideias,vol.24,Coimbra,FaculdadedeLetras,2003,pp.311-353.
Santos,MiguelDias,Arlindo Vicente e o Estado Novo. História, cultura e política,Coimbra,Imprensa
daUniversidade,2006.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
510
Santos,MiguelDias,«OMitodaAtlântidanasleiturashistoriográficasdonacionalismomonárqui-
co»,inEstudos do Século XX,n.º8,Coimbra,CentrodeEstudosInterdisciplinaresdoSéculoXX,
2008,pp.277-291.
Silva,ArmandoB.Malheiroda,Miguelismo Ideologia e Mito,Coimbra,LivrariaMinerva,1993.
Silva,ArmandoB.Malheiroda,Damásio,LuísPimenteldeCastro,António Cândido, Sidónio Pais e
a elite política amarantina, 1850-1922,Amarante,CâmaraMunicipaldeAmarante,2000.
Silva,ArmandoB.Malheiroda,«AescritadahistóriadaIRepúblicaPortuguesa»,inLer História,38
(2000),pp.197-254.
Silva,ArmandoMalheiroda, Os conspiradores do sul da Galiza: as incursões monárquicas (1911-
1912) na literatura portuguesa,Braga,RealAssociação,2001.
Silva,ArmandoB.MalheirodaSilva,Sidónio e o Sidonismo,2vol.,Coimbra,ImprensadaUniver-
sidadedeCoimbra,2006.
Silva, Francisco Ribeiro da (Introd. e notas), Coronel Hélder Ribeiro. Correspondência recebida
(1902-1931),Porto,UniversidadePortucalenseeLigadosAmigosdoMuseuMilitardoPorto,
1997.
Silva,HelenaMoreirada,«MonarquiadoNorte1919»,inBatalhas da História de Portugal,Porto,
Quidnovi,2006.
Sternhell,Zeev(org.),O Eterno Retorno. Contra a Democracia a Ideologia da Decadência,Lisboa,
Bizâncio,1999.
Sternhell,Zeev,Maurice Barres et le nationalisme français,Paris,Fayard,2000.
Tavares,José,«Aveirocontraa‘traulitânia’»,Arquivo do Distrito de Aveiro,n.º157,Janeiro,Fevereiro
eMarço1974,pp.27-37.
Teixeira,NunoSeveriano,O Poder e a Guerra 1914-1918. Objectivos na Entrada de Portugal na
Grande Guerra,Lisboa,EditorialEstampa,1996.
Teixeira,NunoSeveriano,Pinto,AntónioCosta(Coord.),A Primeira República entre o Liberalismo
e o Autoritarismo,Lisboa,EdiçõesColibri,2000.
Telo,António José,O Sidonismo e o Movimento Operário Português, Lisboa,BibliotecaUlmeiro,
1977.
Telo,AntónioJosé,Decadência e Queda da 1ª República,2vol.,Lisboa,ARegradoJogoEdições,
1980-1984.
Témime,É.,Broder,A.,Chastagnaret,G.,Historia de la España contemporánea. Desde 1808 hasta
nuestros días,Barcelona,EditorialAriel,1985.
Thiesse,Anne-marie,A Criação das Identidades Nacionais,Lisboa,TemaseDebates,2000.
Torgal,LuísReis,Tradicionalismo e Contra-Revolução. O Pensamento e a Acção de José da Gama e
Castro,Coimbra,ImprensadaUniversidade,1973.
Torgal,LuísReis,António José de Almeida e a República,selecçãodeimagensdeAlexandreRami-
res,RiodeMouro,CírculodeLeitores,2004.
Valente,VascoPulido,A «República Velha» (1910-1917),Lisboa,Gradiva,1997.
Valente,VascoPulido,O Poder e o Povo,[s/l],CírculodeLeitores,1999.
Valente,VascoPulido,Os militares e a Política (1820-1856), Lisboa, ImprensaNacionalCasada
Moeda,2005.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
511
Valente,VascoPulido,Um Herói Português. Henrique de Paiva Couceiro (1861-1944),Lisboa,Ale-
theiaEditores,2006.
Ventura,António,Anarquistas, Republicanos e Socialista em Portugal. As convergências possíveis
(1892-1910),Lisboa,EdiçõesCosmos,2000.
Vera, CristiánGaray, «Nacionalismo, Tradicionalismo,Conservadurismo y Liberalismo censitário.
Aproximacionesparaeldebate»,inRevista de Historia,año9-10,vol.9-10,1999-2000.
Vincent-Smith, Jonh, As Relações Políticas Luso-Britânicas 1910-1916, Lisboa, Livros Horizonte,
1975.
Volovitch,Marie-Christine,«AsorganizaçõescatólicasperanteomovimentooperárioemPortugal
(1900-1912),inAnálise Social,vol.XVIII(72-73-74),1982,3.º-4.º-5.º,pp.1197-1210.
Weber,Max,Três Tipos de Poder e outros Escritos,Lisboa,Tribuna,2005.
Wheeler,DouglasL.História de Portugal 1910-1926,Lisboa,PublicaçõesEuropa-América,1978.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt