Villa Romana da Abicada - Uma proposta

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Villa da Abicada - Uma Proposta José de Sousa Jorge Vidal /

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Villa da Abicada - Uma Proposta

José de Sousa Jorge Vidal/

A villa da Abicada

Villa da Abicada - Uma Proposta

A villa da Abicada, um notável testemunho humano da presença romana em Portugal,situa-se num local privilegiado pela sua envolvência natural, implantada numa suavecolina que na Antiguidade seria sobranceira a uma laguna.Localizada na confluência das ribeiras do Farelo e da Senhora do Verde, entre ospovoados da Figueira e de Alvor, foi posta a descoberto por trabalhadores rurais no início do século XX.Originalmente estudada por Leite de Vasconcelos, só a partir de 1938, foi alvo deescavações e de um estudo aprofundado por José Formosinho, sendo classificadacomo Monumento Nacional em 1940.Nos anos de 1999 e 2000, foi efectuado o levantamento topográfico pormenorizadodas ruínas existentes, a elaboração da planta corrigida do monumento, e duascampanhas de prospecção geofísica. Este estudo foi realizado pelo Departamento deArqueologia Provincial Romana da Universidade de Frankfurt, em colaboração com aDirecção Regional de Faro do IPPAR, sendo os resultados publicados na Série StudiaLusitana.Actualmente, e sob a direcção de Rui Parreira, efectuam-se trabalhos de consolidaçãodas estruturas e restauro dos pavimentos em mosaico ainda existentes.Com uma ocupação que se estende dos séculos I ao IV da nossa era, este conjuntoarquitectónico que se presume ter sido edificado nos séculos III – IV, enquadra-se natipologia das villae maritimae, importantes construções rurais da época imperialromana.Muito foi já foi publicado sobre este monumento, e como admiradores deste legadolimitamo-nos a apresentar a nossa proposta do que poderá ter sido o hipotéticoaspecto da pars urbana desta villa. Os restantes componentes dedicados à agriculturae à produção, a pars rustica, estariam dispersos por uma vasta área localizada na plataforma adjacente às ruínas, e terão sido destruídos; José Formosinho escavou umcomplexo de cetárias contíguo à habitação, que foram quase de imediato destruídaspelos proprietários do terreno. Como tal, não se dispõe de elementos que permitamuma proposta de reconstituição realista da mesma.Desconhecem-se igualmente quais as transformações que terão ocorrido desde aconstrução original até ao seu abandono, pois sabe-se que sustentou uma ocupaçãocontínua durante pelo menos quatro séculos.Apresentamos igualmente a reprodução dos pavimentos revestidos a mosaico, tendopara o efeito, utilizado os desenhos do levantamento em película, efectuado na épocade 1980, fotos desse período e anteriores, e os apontamentos de campo do Dr. JoséFormosinho.

José de Sousa / Jorge Vidal

Enquadramento da Villa da Abicada na Antiguidade e na Actualidade (imagem aérea, de Google Earth)

A villa da Abicada

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José de Sousa / Jorge Vidal

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Villa da Abicada

os mosaicos

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O conjunto arquitectónico é formado por três módulos distintos unidos por uma galeria em pórtico com colunas, virada a sul, para a laguna e para o mar. A norte dos compartimentos existe um tanque que corre longitudinalmente por toda a fachada, e que servia para o abastecimento de água à habitação. O estilo arquitectónico do edifício e os motivos figurativos dos mosaicos, indiciam uma influência da arquitectura das províncias do Norte de Africa.

Planta geral do conjunto

Planta geral dos pavimentos

ARQUITECTURA E MOSAICOS

Módulo poente Módulo central Módulo nascente

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Módulo poente

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Este corpo funcionava como espaço de representação, onde eram recebidos os convidados importantes. Os compartimentos dispunham-se simetricamente, em torno de uma sala quase quadrangular, o Triclinium, rodeado por um corredor que comunica com os restantes compartimentos, rectangulares, e agrupados simetricamente. Os dois espaços rectangulares a nascente e a poente do Triclinium eram pequenos jardins, visíveis por entre as quatro pequenas colunas assentes nos muros exteriores do corredor envolvente, criando um ambiente acolhedor. Todos os compartimentos e corredor envolvente eram revestidos por mosaicos geométricos policromáticos, não se dispondo de elementos que permitam a reconstituição dos pavimentos dos aposentos 3 e 4.

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Módulo poente - Sala, o Triclinium

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O Triclinium, o aposento mais luxuoso da casa, decorado de uma forma faustosa, por vezes exagerada, era a sala reservada às refeições, dispondo de três leitos colocados à volta de uma mesa, onde se recebiam os convivas. O pavimento deste aposento com vinte e cinco metros quadrados, era decorado com um mosaico de grande qualidade. Enquadrado por uma moldura com motivos florais sobre um fundo branco, podemos apreciar um conjunto formado por variadas composições geométricas, entre as quais, peltas, rodas de panejamento, entrelaçados de três pontos, tranças, rosetas, nós de Salomão, tabuleiros de semi-escamas e denticulados. Em todo este conjunto policromático, infelizmente, desconhece-se o motivo do medalhão central.

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Módulo poente - Aposento 1

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O aposento 1, provavelmente seria um quarto para descansar, utilizado pelos hóspedes, após os excessos das sumptuosas refeições. O pavimento deste quarto com vinte metros quadrados, apresenta uma decoração geométrica onde são incorporados variados temas; encontramos motivos florais como as folhas de hera, e marinhos, como o polvo e a lula; ao centro incorporaram entrelaçados de três pontos, e nas laterais, peltas e tranças. A parte posterior dos quartos apresenta uma decoração mais simples, com quadrados e suásticas, enquadrados por hexágonos. Esta menor preocupação na decoração destas áreas, deve-se ao facto de serem o local onde se situava a cama, cobrindo o pavimento.

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Módulo poente - Aposento 2

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O aposento 2, teria as mesmas funções do anterior. O pavimento deste quarto com vinte metros quadrados, apresenta uma decoração geométrica simples; consta de motivos desenhados em preto sobre fundo branco, sendo a composição constituída por quadrados decorados com outros menores, concêntricos, e suásticas com retorno, em sequência contínua, sendo a composição inscrita por listas de bordadura.

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Módulo central

Este corpo funcionava como o espaço de descanso, com um átrio e cinco divisões rectangulares que funcionavam como quartos de dormir - Cubiculae. Desenvolve-se em torno de um tanque hexagonal central, o Impluvium, com colunas colocadas em cada vértice do hexágono, que suportavam a cobertura de um corredor envolvente ao tanque e que dava acesso aos cinco aposentos. Os espaços entre as paredes laterais e posteriores dos quartos, e os muros delimitantes dos corpos nascente e poente funcionavam como jardins, com acesso pelo Atrium central. Neste módulo, não encontrámos elementos suficientes para a correcta reprodução dos aposentos 5 e 9.

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Módulo central - Aposento 5

O aposento 5, corresponde a um quarto de dormir, com dezasseis metros quadrados de área. Estepavimento bastante danificado à data da sua descoberta, impossibilita-nos a sua reconstituição.Existiria uma composição central delimitada por uma banda de diferentes tipos de quadrados e losangose por um encordoado. A um canto da composição central, um cantharus, que se devia repetir nos restantescantos. A soleira estava decorada com um tapete rectangular, de peltas horizontais e verticais.

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Módulo central - Proposta para o Aposento 6

O aposento 6, corresponde a um quarto de dormir com dezasseis metros quadrados de área, e que teria uma decoração geométrica extremamente elaborada. A composição central é delimitada por uma banda decorada por peltas alternadas com quadrados, e limitada por um fio denticulado. Ao centro, uma combinação de florões, nós de Salomão, entrelaçados de três pontos, tranças, peltas e tabuleiros de triângulos. A parte posterior, apresenta uma composição de círculos que se interceptam.

Esta reconstituição deverá ser considerada uma proposta, pois este pavimento foi retirado na década de 1940. Um fragmento deste pavimento está exposto num painel, no Museu de Lagos, e não reproduz com exactidão o desenho original. Os motivos são reproduzidos de forma aleatória, e nalguns casos, incorrecta. Na nossa reconstituição, utilizámos a foto, que representa ¼ da área da composição central, e reproduzimo-la simetricamente, para os restantes ¾, regra que se aplica nos restantes aposentos do módulo central. Para o terço posterior do pavimento, constituído por círculos, seguimos os apontamentosdo caderno de campo do Dr. José Formosinho. O esquema de cores utilizado, foi o que predomina no painel do Museu de Lagos. Por estes motivos, a restituição que apresentamos deste mosaico deverá ser considerada como uma proposta pessoal, que poderá conter elementos menos correctos.

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Módulo central - Aposento 7

O aposento 7 corresponde a um quarto de dormir, com uma área de vinte e cinco metros quadrados, correspondendo ao quarto principal do complexo. Apresenta uma decoração geométrica elaborada, em que os motivos dominantes são as composições de losangos formando estrelas de oito pontas, enquadrando quatro quadrados centrais, dois preenchidos por florões, os outros dois por nós de Salomão. Os vazios a norte e a sul, entre as estrelas, são preenchidos por composições de triângulos, e os vazios nascente e ponte, por losangos nos quais se inscrevem círculos concêntricos de várias cores. A cabeceira é formada por um encadeado de hexágonos, formando losangos nas intersecções. Todo o tapete está contido por um denteado preto.

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Módulo central - Aposento 8

O aposento 8, corresponde a um quarto de dormir, com dezasseis metros quadrados de área, e que apresenta uma decoração geométrica em que as cores predominantes são o branco, o preto, o cinza, o ocre e o grés. O tema é constituído por três quadrados concêntricos, sendo o quadrado exteriorpreenchido por círculos, o intermédio, pela alternância de círculos preenchidos por motivos florais, peltas e quadrados preenchidos com o nó de Salomão. O quadrado interior, apresenta um emblema, com um círculo entrançado inscrito no quadrado central, que circunscreve um quadrado preenchido por um entrelaçado de três pontos. Para a cabeceira, uma composição ortogonal de hexágonos e losangos.

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Módulo nascente

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Este corpo funcionava como espaço de serviços, dispondo de um corredor central que dava acesso às diversas divisões, com distribuição simétrica. Estas divisões são a cozinha, as despensas, e armazéns. Dispunha de um pé - direito bastante alto, e de grandes janelas que facilitavam a iluminação e a ventilação, dado que não eram utilizadas chaminés. Não era um espaço nobre como os anteriores, sendo o seu pavimento revestido por tijolos.

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Villa da Abicadaproposta para o hipotético aspecto da pars urbana da villa da Abicada

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A chegada por mar, deparando com um edifício imponente num plano ligeiramente elevado. Um cais de acostagem, comunicava com a escadaria, ao centro, que fazia a comunicação com a ampla galeria porticada, que dava acesso ao conjunto arquitectónico. À esquerda, um grupo de construções anexas, o balneário e os sanitários, acompanha o declive do terreno.

Vista numa perspectiva SE / NW

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Proposta para o hipotético aspecto da pars urbana

da villa da Abicada

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Estas duas perspectivas, respectivamente, NW / SE, e NE / SW, dão-nos uma ideia do panorama desfrutado a partir da galeria frontal da habitação. Observam-se as duas ribeiras que se interceptam na laguna adjacente à colina onde se situa a villa, e que desagua no mar. Daí podia-se observar o povoado de Ipses, no termo da margem esquerda, e as diversas villae, e os complexos agrícolase de transformação de pescado, na margem direita.

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Proposta para o hipotético aspecto da pars urbana

da villa da Abicada

José de Sousa / Jorge Vidal

Corte feito pelo Módulo Poente, no qual observamos a sala central, o Triclinium, com um pé-direito elevado e provido de grandes janelas que funcionavam como clarabóias, o que facultava a ventilação e a iluminação do interior do aposento. A sala era rodeada por um corredor coberto, que dava acesso às divisões dependentes e aos dois jardins. A cobertura do corredor nas laterais da sala, era suportada por quatro pequenas colunas que assentavam nos muros que limitavam os jardins.

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Proposta para o hipotético aspecto da pars urbana

da villa da Abicada

José de Sousa / Jorge Vidal

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Proposta para o hipotético aspecto da pars urbana

da villa da Abicada

Reconstituição hipotética de uma cena no Impluvium, com o proprietário, provavelmente um alto dignitário de Ipses, recebendo informações do comandante militar da guarnição.

Com a serra de Monchique ao fundo, a norte, apresentamos a reconstituição hipotética de uma cena no Triclinium, com o anfitrião recebendo os seus hóspedes, num banquete que seria acompanhado de entretenimento, que poderia consistir em canções ou danças. Finda a copiosa refeição, os convivas poderiam descansar nos Cubiculae adjacentes, os aposentos 1 a 4. Ou deslocar-se-iam para o pórtico frontal, onde podiam desfrutar da magnífica paisagem da laguna e do mar, visualizando o povoado de Ipses a sueste, à entrada da laguna, ou as villae da Quinta da Rocha, na margem oposta.

José de Sousa / Jorge Vidal

Bibliografia consultada:

Subsídios para a restituição virtual da Villa romana de Abicada (Mexilhoeira Grande, Algarve) - Félix Teichner

A Villa romana da Abicada, uma introdução ao estudo e mosaicos - Maria de Jesus Duran Kremer, XELB 8

Mosaicos Romanos da Villa da AbicadaTrabalho de História da Arte em Portugal - 85/86Maria Margarida S. do Carmo4º Ano de Pintura

Estação Romana da Quinta da Abicada em PortimãoBreves elementos sobre o passado, o presente e o futuro.Paulo Fernando Matinhos Coelho da SilvaUniversidade Aberta

Estudos sobre a Abicada. Centro de Documentação do Museu de PortimãoJaime Palhinha

Dr. José Formosinho - A vida e obra do Dr. José Formosinho, historiador, arqueólogo, e criador do "Museu Regional de Lagos"http://drjoseformosinho.blogspot.pt/2009/08/abicada-interessante-estacao-da-epoca.html

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Dezembro de 2012