ulfl110795_tm.pdf - Repositório da Universidade de Lisboa
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1
ÍNDICE
RESUMO ..................................................................................................... 2
AGRADECIMENTOS .................................................................................. 4
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8
Capítulo I
1.Timor antes dos Portugueses ................................................................... 13
2. Estrutura social ..................................................................................... .. 18
3. Timor-Leste, construído na diferença geográfica ................................... 22
4. Interesse holandês é o risco da soberania lusa ...................................... 26
Capítulo II
1. Administração colonial e as linhas tomadas pelos governantes ............ 39
2. O Ensino e o papel da Igreja Católica ..................................................... 48
3. Autoridades tradicionais .......................................................................... 56
Capítulo III
1. A época de um olhar desdenhoso ......................................................... 65
2. Portugal e os dois vizinhos ...................................................................... 73
3. O 25 de Abril português dita mudança ................................................... 85
4. O ânimo pela democracia, aplaudido nas colónias ................................. 93
5. O futuro do País ......................................................................................103
6. O novo pensamento clama por um só rosto e uma só fé .......................116
7. Santa Cruz e os deuses da hiper civilização ..........................................125
CONCLUSÃO .............................................................................................140 FONTES E BIBLIOGRAFIA ...................................................................... 145 ANEXOS ................................................................................................... 152
2
Resumo
Trata-se de uma conquista dolorosa da história do Povo timorense no quadro de
autodeterminação e independência, sob os impulsos do 25 de Abril português.
Os timorenses organizaram-se debater sobre o processo a definir o seu próprio
estatuto, desvinculado do poder colonial. Episódio que se arrastava entre facções
partidárias em desentendimento, tendo o governo português manteve-se em honra da
sua política e na vontade de o discutir com todas as partes envolventes serem em
consenso a volta de um calendário acordado à celebração do acto de descolonização
nos prinbcípios de legalidade.
À época, sentia-se os efeitos da guerra fria transformaram alguns Estados da Indo-
China em regime de comunismo, sendo influências receadas pelos poderes
ocidentais, sentiriam-se prejudicados de interesses no Sudeste Asiático, em particular
na Indonésia. Nos bastidores internacionais receavam a colónia portuguesa tornar-se-
ia um Estado novo de regime maoista. Conhecido o novo governo português
constituído, era de esquerdismo, por alguns líderes da FRETILIN serem portadores das
ideologias desse regime a que Indonésia manifestaria, publicamente, o seu repúdio,
declarando esfrangalhar o partido independentista. Reacção apoiada por partidos
opostos a independência de Timor-Leste, reivindicando a integração do território à RI.
FRETILIN proclamou a independência da colónia a 28 de Novembro de 1975, com
vista a dificultar a anexação e mobilizar a comunidade internacional, responsbilizá-la
criar condições a reposição da legalidade internacional no território. Indonésia invadiu
o país em 7 de Dezembro de 1975, por força anexou Timor-Leste à RI. Os massacres
impressionaram o mundo. A Resistência Armada, o Povo em geral e a Igreja Católica
com o apoio de Portugal opunham a ocupação, sem vergarem-se as ameças durante
24 anos do cativeiro timorense. A globalização impõe novas decisões e morais aos
grandes mundiais a pronunciarem-se pela razão do 30 de Agosto de 1999, como
marco historicamente definitivo do reconhecimento do Timor-Leste, Estado
Independente e soberano, dos alvores do III milénio. O sucesso das Nações Unidas
convidou os indonésios a abandonarem o Território até 30 de Outubro do mesmo ano.
A 20/5/2002, o Estado novo de Assembleia Constituinte para Parlamento Nacional,
Presidência da República e Governo da República Democrática de Timor-Leste,
testemunhado pelas altas figuras internacionais. De seguida, seria inserido como
Estado membro das Nações Unidadas.
3
Summary
It is a question of a painful conquest of history of the timorese people in favour
of self-determination and independency, under the impulse of the portuguese 25 of
April.
The timoreses organized to debate upon the process and to define their own
statute, disentailed on the colonial power. The episode in which dragged among the
partisan factions in misunderstanding, having the portuguese government maintained
in honour of his political and the will to discuss with all the enveloping sides to find an
agreed consensus calendar for celebrating act of decolonization based on legality
principles.
At that time, felt the effects of the psychology war (cold war) had changed in the
some Indo-chine States under the communism regime, being influences feared by the
western powers and there felt also prejudiced interest in the south-east asiatic,
particularly in Indonesia. In the international embroidering frames feared the
portuguese colony to become a new Maoist Regime State. Known that new portuguese
government constituted, it was left-winger, and some FRETILIN’s Leaders being
ideology porters of that regime which Indonesia would publicly manifest its
repudiations, declaring to break the independency party. The reaction had been
supported by the opposed parties to Timor-Leste (East Timor) independency, and
claiming the integration to the territory of the Republic of Indonesia.
The FRETILIN, proclaimed the independency of the colony in 28 of November,
1975, by the purpose of making difficult the annexation and to mobilize the international
community to hold responsible for creating conditions to a replacement international
legality in the territory. The Republic of Indonesia invaded Timor-Leste (East Timor) in
7 of December, 1975, by the forces and annexed the country. The massacre moved
the world. The Armed Resistance, the people in general and the Catholic Church with
the Portugal support opposed the annexation, without bending the threats during 24
years of Timorese captivity. The globalization impose new decisions and morals of the
great worlds-wide to pronounce by the reason of the 30 of August, 1999, as the
historically definitive mark of Timor-Leste recognition Independent State and sovereign,
and the values of third millennium. The success of the United Nations invited the
Indonesians to abandon the territory until the 30 (thirty) of October that year (the same
year). In 20 of May, 2002, the new State constituted its Constituent Assembly
(precursory of National Parliament), Presidency of Republic and Government of the
Democratic Republic of Timor-Leste, witnessed by high international figures.
Afterwards, it would be inserted as the Member State of the United Nations.
4
Agradecimentos
O modesto estudo apresentado, não resulta do exclusivo trabalho individual.
Obteve contributos de pessoas e de instituições de diferentes formas, pelo que desejo
expressar-lhes a minha gratidão.
À própria Universidade de Lisboa, pretendo dar credibilidade de apoio através
do seu serviço adequado valer-me a bolsa de estudo destinada a dois anos, sem a
qual não me foi possível ao acesso material e a outras condições de trabalho.
Ao Prof. Doutor António Ventura agradeço ter aceite assumir a orientação
desta dissertação. Desde já, fico-lhe grato pela imediata aceitação à temática que o
propus desenvolver, pelo acesso incondicional aos arquivos e bibliotecas que dispõem
material a dar corpo ao trabalho.
Não quero deixar de exprimir as palavras de apreço a todos os professores que
tiveram a paciência e a capacidade de transmitir os temáticos das respectivas áreas
ao longo das aulas, as quais tornaram-me um impulso a chegar a esta escolha. É uma
certeza, sem eles este trabalho não teria sido possível. Durante o percurso académico
nenhum deles sabia qual seria o tema por mim escolhido para a tese, embora para
todos começassem a abordá-la. De início, não ponderava a hipótese de me reter a
estudar uma das parcelas de Soberania Ultramarina Lusa, ainda que dessa ser um
capítulo de estímulo da história, e ao longo das sessões de aulas tomei o firme
propósito decidir por esse rumo de opção própria.
Quanto ao ensino básico e secundário que a província timorense merecia,
situavam-se numa diminuta atenção, quando se referia as etapas da administração
portuguesa no quadro de afirmação secular, na Oceania. Sem formação adequada
que garantisse o bom funcionamento das novas organizações políticas,
administrativas, sociais, etc. se porventura elevassem a níveis mais acrescidos se
cruzariam com comunidades internacionais. Daqui influia-me dizer ainda que fosse
erradamente daquilo que deparei quando cresci e testemunhei aquilo ao longo do
percurso que o povo para si ansiava, continuava assim caracterizado, cultural e
economicamente no seu contínuo passado. Também não lhe foi este o horizonte
intransponível... Daqui, nasceu-me a ideia de o descrever as causas do entrave, mas
sentia-se seguro de si opor as políticas que opunham o seu princípio de pertença,
naturalmente, defendia. Para tal achei-o difícil cristalizar a alguém em expectativa,
mas sempre empenhei-me em busca de apoios dos colegas do mesmo curso como,
Ednilson e outros davam-me pistas, entusiasmavam a chegar ao escolhido. Os meus
compatriotas Dr. Luís Costa (ex-padre), Dr, Paulo Pires (prof. de filosofia do
Secundário), Dr. Roberto Jerónimo e outros, conhecem a falta visível no Território,
5
pretenderiam que fosse necessário alguém dedicar-se a este estudo como estímulo de
um caminho aberto, atenderam os meus pedidos. Emitiam as suas opiniões,
esclarecendo as dúvidas; sugerindo fontes relativas aos acontecimentos que
impunham a sociedade ser antagonista, alheia dos princípios por Timor-Leste, ser
senhor de si. Acabaram por me afirmarem a cobiça do outro, escondida atrás do ouro
negro, muito antiga e da posição geográfica do território, embaraçava seu benficiário. No silêncio, prepararando o seu raciocínio intelectual, aperfeiçoar o seu
pensamento com a experiência individual e do colectivo usufruido dos contactos
culturais com os agentes de latinidade durante o relacionamento com o domínio
português. Desta afirmação plena, do seu cenário imaginativo criou um estado do
diferente rosto no Oriente, criou a sua rivalidade e o ciclone arrasou as terras dos
sândalos do oeste a ponta leste, mesmo que comungasse a mesma civilização cultural
do Ocidente. Os grandes mundiais, inclinados à lógica de superioridade, ignoravam o
Timor-Leste nos grilhões de cativeiro por reivindicar o seu direito.
Como todos os povos, pela justiça, o Timorense aceitou o martírio, fez a
estratégica unificação dos líderes partidários da mesma resistência e do apoio do altar,
mobilizou a nova solidariedade na Indonésia e se internacionalizou. Portugal manteve
o seu princípio no contexto da descolonização do território, acompanhava muito de
perto o sofrimento, reclamava em frequência nas tribunas internacionais.
Pela óptica quanto a evolução em crescendo implicava a relevância da cultura
linguística portuguesa. Dela serviu de comunicação de resistência interna e externa,
decorria nas nações de língua oficial portuguesa. Com ela os timorenses morrem nos
braços indonésios perante as câmaras de comunicação social internacional.
Timor-Leste, hoje em dia, é o 191º Estado membro das NU. Na modesta
descrição, em honra dos quantos responsáveis que mantiveram os princípios pela
liberdade do seu país natal. Uns, fora da pátria, percorriam países, sensibilizar
solidariedades, promover opiniões públicas, representar a voz de quem sofria nas
mãos das ABRI, dos quais destaco uns: José Ramos Horta, Mari Alkatiri, José Luís,
Rogério Lobato, Guterres, Abílio de Araújo, Roque Rodrigues, Luís Cardoso, Pascoela
Barreto, Estanislau da Silva, Zacarias; João Carrascalão, Paulo Pires, Vicente
Guterres, Mário Carrascalão, Manuel Tílman; religiosos bispo Carlos Ximenes Belo,
actual bispo Ricardo, padres Domingos Alves, Filomeno Jacob, Leão, Domingos
Cunha, José António, Apolinário Guterres; no interior a cabeça, líder nacional Xanana
Gusmão, Francisco Guterres (Lu Olo), Matan Ruak, Mau Huno, Lere, Manuel
Carrascalão, Octávio de Aeaújo, Armandina, Merita Alves, Lenita de Araújo.
6
Eram vozes que se persistiam pela autodeterminação e independência e pela
importância da unidade nacional. Convenceram a comunidade internacional a
reconhecer Timor-Leste independente e soberano, como resposta de todo o esforço
do Povo, quase uma eternidade. Também, não é honesto ignorar os sem rosto,
predecessores da história de consciência, como Nicolau Lobato, Monsenhor Martinho
da Costa Lopes, padres Francisco Fernandes, Mário Belo; António Carvarino, Vicente
Reis, Hamis, José Mau Udo, Borja Costa, Saba Lae, Afonso Redentor, Moisés Amaral.
e outros barbaramente, assassinados, e mulheres como Rosa Bonaparte, tantas
outras...
7
À Família,
a minha esposa, Martinha Pinto, companheira e mãe, desde que a tragédia
começou, à semelhança das outras, viveu a mesma dureza da guerra, nas bases de
Resistência cerca de três anos, nas montanhas. Por força maior, fomos para Díli. De
seguida, fiquei cerca de três anos atrás das grades de prisão, em Díli. Ela, quem
cuidava dos filhos: Paulo/Guida, Rosalino/Mery, Gil/Odete, Natalino/Ima e
José/Manuel com tanta dificuldade. Tentou levá-los compreender aquilo que
encaravam na ausência do pai. Momentos em que os seus desejos do quotidiano
eram literalmente ignorados.
Foi, nesta travessia de dureza, muitas crianças sobreviveram em piores
condições que outras e outras, entregues a sua sorte.
Naturalmente, a esposa e filhos, a quem são dedicadas umas expressões de
amor e de carinho. Sei que nem todas as palavras lhes são desejadas seriam
suficientes exprimir os meus sentimentos e reconhecimento...
Aos meus pais e dois irmãos, não os vi como partiram, em momentos cruéis,
em memória.
8
Introdução
Falar da actualidade Leste timorense, é referi-lo distinto do passado. Surge,
frequentemente, nos meios comunicativos a despertar aqueles que, por ele interessam
sua história. Ao saber em como veio construir a sua história como um povo, não lhe foi
fácil de a abordar, por atravessar duros caminhos de lá chegar, e, agora, começaria
fazer-se. Interesso-me pela postura, atrevo-me apresentar o presente trabalho
intitulado Timor-Leste, Outro Rosto na História do Oriente. Terra que muitas vezes
é o quebra-cabeças dos que governam e dos que a vêem como seu berço natal. Título
este que optei para estampar o trabalho não significa que o território não pertença ao
enfiamento das ilhas do Leste Sunda do Arquipélago da Insulíndia. Desde os
primórdios, a sua mentalidade até nas modernidades, e, em épocas de crise
inconciliável prolongadas, nem sequer lembrava substitui-la. Permaneceu-se nas que
lhe são compatíveis de ser senhor de si para um futuro próximo. Sentia-se confiado
nos saberes de vida adquiridos, que os achava como padrões válidos na condução do
destino e na aproximação de solidariedade com todos da região.
A evolução da consciência humana impõe-se cada vez mais agir pelas
reivindicações modernas a que na Oceania, o Timor-Leste não se escapara deste
estímulo a ponto de o ser envolvido de altos e baixos, conforme o livro publicado por
Fernando Lima, recentemente. Obra de grande ânimo, que tem mérito de nos
descrever o que rodeava à volta deste timorense sobre o desconhecido dos timores,
assustava e tranquilizava os homens que o achavam seu direito e à sua fonte de vida
como doutros horizontes têm as mesmas afirmações inquestionáveis1. O autor, no seu
livro, reflecte as situações social, cultural e política internas e externas. Dá pistas em
como o poder colonial mantinha a sobrevivência da ilha, assaz duradoura, assegurar-
lhe relações externas de amizade com amigos de olhares extremamente dúbios.
Timor, situado ao norte da Austrália, cobre uma superfície de cerca de 19.000
km2, incluindo o enclave de Oe Cusse, ilha de Ataúro e o ilhéu de Jaco, conhecido por
terra do sol nascente.
1 O autor adquire um vasto conhecimento da politica portuguesa e das outras intenções que giravam à volta do território timorense relativas ao futuro. Um importante contributo a estimular o estudo sobrea construção do país: Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional de Macau, 2002;
9
O trabalho escolhido, quer ser um estudo acerca da contribuição da obra do
autor, permitir um espaço de pensamento a quem tenha interesse em desvendar os
desconhecidos que perpetuam Timor mergulhar no medo e a viver o seu futuro no
cenário enigmático. Apresento como contributo para um possível aprofundamento
teórico a ser desejado pela nova geração timorense, desconhecido de preconceitos e
longe dos factos, como a história os requer. Tornara-se, não só em direito histórico
português, igualmente era de suserania lusa do império ultramarino, cerca de cinco
séculos 2.
No caso real havia, em absoluto, uma predisposição para saber o fenómeno da
postura timorense, ciscunstância a que não foi estranha a mitificação que expressão
Timor foi votada. A título de história é despertado por simples razões lúdicas, que,
numa posteridade, são ultrapassadas pelo desejo de dilatar a linha de conhecimento
pessoal e de comunidade científica. A disposição material tem sido inexistente ao facto
de a anterioridade europeia, localmente desconhecia a produção literária. Mesmo
assim, no que toca ao panorama social, rumos têm sido abertos, com notáveis
resultados, por várias personagens, as quais podemos destacar Luís Filipe Thomaz e
Luna de Oliveira3 para além uma já citada atrás.
Já antes da fixação portuguesa, vivera socialmente dividido, por guerras entre
tribos e reinos4. Os primeiros períodos de presença, praticamente, no Timor-Leste,
fora difícil alterar o estado da situação aí existente.
Os missionários pela evangelização tiveram os sucessos iniciais, obtiveram
espaços de aceitação dos conversos, proporcionaram contactos directos, mas a
penetração dos metropolitanos no interior, sem expressão. À semelhança dos que
Portugal passava, organizava-o em redes administrativas, chamando os naturais,
conhecidos na mediação para se envolverem nas estruturas criadas. Desta partida, os
incluintes passarão atribuidos de patentes de quadros oficiais: capitão, tenente-
coronel, major, tenente-general. Um estrato socialmente nativo e de influência, iria
contribuir na política colonial nos diferentes reinos5. Cada um dispunha companhia de
moradores de segurança e para organizar as festas solenes, em tempos de visitas de
governadores ou de altos funcionários do ministério do Ultramar idos da Metrópole.
2 Marques, A.H. de Oliveira (direc.), História dos portugueses no Extremo Oriente, I Vol. Tomo II, de Macau à Periferia, Fundação Oriente, 2000, pp. 351-369; 3 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a Compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008; e Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, 4 Volumes, Fundação Oriente, 1949, 1950, 1952 e 2004; 4 Timor divide-se em duas partes: província dos Belos de 46 reinos pertence a Portugal e de Oeste, Servião, de 16 reinos, ocupado por Holanda, sob influência do imperador de Sonobai: Castro, Gonçalo Pimenta de (governador) Coronel, Timor (subsídios para a sua história), Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, p. 26; 5 Idem. Ibidem, p.27;
10
Em paralelo, tentando introduzir as primeiras escolas, igrejas. Centros de começo de
encontros à implementação de novos projectos em termos de divisão territorial
administrativa para a fácil convivência entre os nativos e os portugueses. Em sinal de
lealdade, pagava-se as fintas (uma espécie de imposto às autoridades administrativas
em nome da Coroa Lusitana) 6. Os séculos XIX e XX, o Território assiste uma
instabilidade que leva a desconhecer a paz anos a fio, revoltas que às vezes, eram
sinónimos do interesse holandês, também surgiam associadas a indiscplina dos
governantes7. E, mais tarde, fora fortemente castigado por consequências do II grande
conflito mundial. Sem comunicação com Lisboa 8. No último quartel do século XX,
pelas tensões civilizacionais a nível internacional em que os povos decidam agir em
favor de liberdade e de justiça, a que Portugal obteve a transição de Democracia do 25
de Abril de 1974, onde o Timor-Leste foi-lhe negado de forma brutal. Ocupado pelas
forças da TNI (Tentara Nasional Indonesia = Exército da Indonésia), fechado ao
mundo exterior parecia uma eternidade (07/12/1975-30/08/1999). Conseguiu o seu
objectivo a custo de tantos sacrifícios, afirmado por uma Constituição da RDTL, de
2002. No quadro deste processo, a Igreja Católica como elemento principal juntava-se
à população indígena, perseguida na sua terra. Sempre fiel ao seu papel. Em Timor-
Leste, a estrutura da Igreja, como instituição, foi a única que persistiu, nos momentos
mais críticos da história timorense, a sua voz manteve-se ouvir, em nome da justiça e
de paz. Serviu-se de ponte de comunicação política com as autoridades portuguesas e
com a liderança timorense no exterior em missão de diplomacia.
A chamada província Timor era de soberania lusa sem atenções no quadro de
um processo de melhoramento. Fora destinada aos desprezados metropolitanos e de
outras colónias, opostos a política do Estado Novo para aí cumprirem as obrigações
impostas (René Pélissier, p. 88). Não havia nenhum projecto animador que visava
mudar o rosto social. O analfabetismo imperava na sociedade, contribuía a lei de
injustiça, forçando-a manter-se numa situação de vida atrasada. Do ponto de vista
situacional da sociedade timorense, o conhecimento das percepções e das atitudes
dos datós reveste-se também de um inegável interesse pessoal, e não apenas pela
excepcional qualidade de informação vinda do alto aos seus semelhantes. Em nome
das autoridades coloniais, os chefes tradicionais sentindo-se poderosos no quadro das
relações internas a fabricar os seus benefícios no âmbito de cobrança tributária em
ilegitimidade. A destacar outra realidade que é, a ausência cognitiva e de literacia era
6 Thomaz, Luís Filipe F.R.., De Ceuta a Timor, 2.ª Rdição, Difel, 1998, p. 595; 7 Pélissie, René, a História de Portugal. As Campanhas coloniais de Portugal 1844 -1941, Editorial Estampa, 2006, p. 89; 8 Teixeira, Nuno Severiano (dir.) Portugal e a Guerra. Histórias das intervenções militares nos grandes conflitos mundiais (sécs. XIX-XX), Edições Colibri, 1998, p. 138;
11
uma felicidade dos estratos de competição decisora. Acontecendo em favor, ditava a
distância da grande maioria aos espaços imutáveis. Não havia formação adequada
que produzisse bons quadros dos seus agentes para promover projectos ambiciosos,
tanto como na condução de melhores relações com os vizinhos. Tudo estava
condicionado aos apetites dos terceiros sem que o próprio fosse consultado de opinião
ou em diálogos, na verdade, quando se tratava à propósito do futuro do seu território.
Timor é um mosaico dos coloridos, vê-se nos píncaros revestidos de neve. As
encostas, ornadas de flores; as matas manifestam-se de verde permanente. Noutras
zonas, as palmeiras estendem a sua abundância, em vastos espaços, e, matagais de
bambus que são um bom esconderijo dos animais silvestres. As montanhas mais
conhecidas são as de Matebian, Monte Perdido, a Tata-Mai-Lau é a mais alta de
todas. Até ao 25 de Abril era a mais conhecida do império português, com a altura de
3000 metros 9.
Os vales e montes com a paisagem, ordenados pela própria natureza,
oferecem condições que influam a sociedade em várias técnicas de caça, e de
movimentos de conflito humanos.
Em muitas regiões o crocodilo (lafaek), ainda, é animal sagrado, sendo
chamado de avô. Pela oralidade transmitida diz que, os timores são descendentes.
Um rapaz transportado no dorso, numa viagem dos Celebes ao Oriente em direcção
às terras onde o Sol nasce vê primeiro. Pelas águas do rio, dos mares e do longo
trajecto tornaram-o cansativo e sem forças, não encontrava cão ou cabrito para o
salvar de fome. Tudo lhe faltava e sem alternativas, resolveu comer o garoto. Antes de
o tomar como refeição, para tranquilizar a consciência, consultou os restantes amigos
se devia ou não comer o rapaz. Desde macaco a gigante baleia todos o ralharam e
acusando-o de ingrato.
Achava-se receoso de presença, no futuro, a ser mal visto, o animal dispôs-se
continuar pelo mar fora e a levar consigo o rapaz por quem, vencida a tentação, sentia
amizade quase paternal. Porém quando já totalmente fatigado de nadar, pensou em
dar meia volta a retornar-se ao ponto de partida, sentiu-se cansado, imobilizado,
tornara-se em pedra e terra, crescendo, crescendo, até formar-se em uma ilha.
A viagem com que o rapaz fez sobre o dorso da ilha, chamou-a Timor, em
língua malaia, Oriente.
Timor, a sua altitude é o elemento que influa as variações de clima, pelo que
apresenta-se homegéneo quanto à temperatura e, assaz, contrastante relativamente à
precipitação, podendo afirmar-se que a ilha constitui um “mosaico de microclimas”.
9 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos, as chegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008, pp. 53 ss;
12
Este panorama, comprovado pela vegetação, apresenta, todavia, tendências
minimamente definidas para que se possam determinar especificidades ao nível
meteorológico, principalmente devido à situação geográfica de Timor, a sua orientação
frente aos ventos dominantes e ao relevo insular.
A influência das monções regista-se, por seu lado, em duas estações: a
primeira, decorrente de Novembro a Março, corresponde à monção de noroeste,
marcada por chuvas cupiosas em toda a ilha; a segunda, corresponde à monção de
sueste, da direcção australiana faz-se sentir de Junho a Outubro, sendo a estação de
Verão dos ventos frescos, apenas entrecortada na costa Sul e, no princípio da
estação, por chuvas de origem local. Entre ambas estabelecem-se períodos de
transição com características comuns a cada uma delas 10
10 Cit. in Cinati, Ruy (1987), Arquitectura Timorense, Instituto de Investigação Científica Tropical, Museu Etnologia, Lisboa;
13
1.1. Timor antes dos portugueses
Geograficamente, encontra-se no prolongamento de cadeias das ilhas do Leste
Sunda - arquipélago da Insulíndia. Toda a região, no século XVI tornara-se lago dos
ocidentais da Europa 11 dado ao estado paradisíaco, em tempos anteriores, conhecido
já por muitos. Criara disputas entre concorrentes em torno do projecto de expansão
que residia, naturalmente, em posse das maiores quantidades de produtos
comerciáveis asiáticos. O éxito deste mundo mercantil ganhara outro patamar à
medida que os europeus sentiam-se acrescidos de apetites, perpetuavam a sua
fixação sob o jogo de domínio político e de militar.
Na sequência da conquista de Malaca, em 1511 por expedições comandadas
por Afonso de Albuquerque12, os portugueses prosseguiam as navegações,
construíam feitorias e possessões, em Ambon/Molucas, Flores, noutras ilhas e
culminaram-se em Timor. Encontraram uma sociedade, de vida socialmente diferente,
pois, estava dividida por duas partes de influência: Belos, a parte Leste que mais tarde
passaria fiel a suserania Lusitana, e a de Servião, ocidental, de domínio neerlandês.
Este, afirmado pela marinha mais poderosa da época, chegava colocar os
portugueses em cheque nas possessões ocupadas perante a nova autoridade
emergente, cada vez mais afirmada. A Malaca foi brutalmente ocupada13, os
portugueses foram imediatamente expulsos pelos holandeses.
Timor, terra de sândalos, produto aromático, muito atractivo, para a indústria
de perfumes, e como produto de consumo religioso, usados pelas famílias de
aristocracia e dos altos funcionários da corte do império celeste, China e Índia 14.
Uma sociedade, alheia dos hábitos ocidentais europeus, quer em vestimentas,
religião e sem cultura letrada. Vivia com aquilo que a terra produzia espontaneamente.
Ao nível organizacional adaptava-se o viver tradicional que se baseava em
regulados/reinos e tribos, cujos responsáveis conhecidos datós15. As relações
familiares, constituídas a partir de laços matrimoniais. Um elo de ligações, que muitas
vezes gerava novos projectos de poder de decisão sobre outros reinos. Os vínculos do
género perduram até hoje em dia, consolidados por dias festivos que, na prática,
reúnem todos os familiares após construções dos cemitérios ou cruzes dos parentes
11 Morineau, Michel, As Grandes Companhias das Índias Orientais (séculos XVI-XIX), Publicações Europa-América, 2004, pp. 7 ss; 12 Araújo, Carlos, (direc. da Edição portuguesa), Lisboa e os Descobrimentos 1415-1580: a invenção do mundo pelos nevegadores portugueses, Terramar, 1992, p. 41; 13 Idem. Ibidem, p. 205; 14 Boxer, C.R. , O Império Marítimo português 1415-1825, Edições 70, 2001, p. 58; 15 Comaparados a chefes/rei ou nobres, conhecidos régulos;
14
já falecidos. Ou algumas casas construídas a título sagrado para conservar objectos
de culto animista, no sentido de perservar a memória dos seus antepassados. Matam
animais em que todos os presentes consomem. També é o tempo adequado para
abordar as questões de barlaque/dote entre feto san umane (sogros e genros), que
se achava pendente, visam doar cabeças de gado, espada aos pais/familiares da
nora, e, estes, em retribuição entregam tecidos (tais timor), mutiçala (colar),
cabritos/bodes e alguma quantidade comestível aos pais e familiares do genro.
Nunca viviam tranquilos com reinos vizinhos - uma cultura mais votada a
guerra. Os membros vencidos seriam levados pelo lado vencedor, entregues ao
trabalho produtivo, e com o andar do tempo passarão a ser integrantes da família que
detinha o poder de decisões.
Também é uma zona florestal, várias espécies de árvores de qualidade, tais
como pau-rosa ou o palvão, eucalipto fornecem madeiras de resistência e de dureza.
Muito apreciadas na construção de casas. Dentre elas, o sândalo, planta muito
aromática, ocupva o lugar cimeiro do comércio – mais procurado por muitos
mercadores da época 16 e 17.
A cobiça europeia antes de ser concretizada no arquipélago da Insulíndia, já os
chineses, os árabes, guzerates da Índia circulavam na área em busca dos produtos
locais, em troca com os objectos trazidos. Chegavam nas costeiras litorais de Timor a
procura de sândalos, mel e cera, sem indícios da penetração no interior da zona. Por
outro lado, a maioria esmagadora dos timorenses não eram votados ao comércio.
Ainda que não nos dispusesse uma escrita descritiva daqueles distantes tempos, mas
percebemos da inexistência de amizade e de língua do vizinho, sentidas no lado dos
Belos, Timor-Leste. Uma cultura que nos remete a descobrir o pensamento timorense
em não dar confianças aos estrangeiros, ainda que permitisse algum espaço mercantil
e muito menos, acolhê-los, frequentemente, no interior do território...
Há fauna, como veados, macacos, javalis; existe espécies de cobras, jibóias,
jacarés. Não se fala do animal feroz à semelhança de África ou doutras partes da
região. Antes e durante a administração colonial portuguesa, o mar timorense nunca
foi pescado por barcos, sofisticamente equipados para capturar peixes enormes e
outras espécies. Muitos chegam a afirmar que os grandes animais perseguidos, em
permanente, para o fundo do mar timorense deve estar povoado por enormes peixes,
fugidos às armadas pescatórias.
16 Serrão, Joel e Marques, A. H. de Oliveira (direc.) e Coordenação de Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova História da Expansão – Império Africano (1825-1890), Editorial Estampa. 1998, p. 777; 17 Oliveira, Luna, Timor na História de Portugal, Vol i, Fundação Oriente, 1949, p. 22;
15
A alimentação principal da população é: batata, batata doce, mandioca,
inhame, sacarina e sagú; milho, arroz, café (introduzidos); frutas – banana, manga,
anona, ananás, papaia, toranja, tangerina, melancia, melão, jaca, fruta-pão, etc.
Além destes, segundo os especialistas, o solo dispõe minas de ouro, petróleo,
quer no espaço marítimo como terrestre 18. A sua exploração, praticamente, fora
inexistente, na ilha. Muitos tinham havido intencionado, davam-se voltas à cabeça
para construir a sua glória, em exclusivo .
Na verdade, nos primiros tempos da presença portuguesa, ao afirmar-se lança
a sua sede administrativa como prova de entendimento com os indígenas timorenses,
optou Lifau, em Oe-Cusse, como capital do Timor português, em 1695. Porém, esta
parte ocidental mais próxima da Servião, do lago neerlandês, não era pacífico. Difícil
conhecer uma vida normal, decidiu-se a mudança da capital para os Belos, mais a
Leste – Díli, em 1769, já na era do governador António José Teles de Meneses, sítio
que fornecia melhores condições portuárias 19. A nova capital proporcionava
perspectivas as autoridades para os propósitos de segurança. Pelo menos é do centro
do país, teoricamente de domínio português, vai-se aproximando dos régulos de
confiança com os moradores a coopoerarem-se na defesa do seu Leste timorense.
A população vive em casas construídas sobre estacas. Utilizam madeiras
resistentes, pau-ferro, palvão. Cobertura de capim, folhas de palmeira, planta onde se
extrai tuaka espumosa e fresca, como cerveja dos timorenses, também de tali metan
(gamuti), igualmente produz tuaka, após de ser destilada é tua sabu (aguardente).
Estas bebidas, frequentemente usadas nos dias festivais em memória dos
antepssados, etc. como atrás se referiu. À parede, o bambu é o elemento essencial,
aberto longitudinalmente e planificado para o efeito e para lanténs em que se dorme.
Neles se guardam as coisas e sacas de milho, néli, feijão; tubérculos secos como
mandioca, batata doce, já cortados em lâminas, reservados a épocas de chuva. Desde
os tempos remotos, durante a noite usam o camim moído, preparado a volta de
nervuras das folhas de coqueiro para acender e iluminar a casa.
O povoamento é disperso, os seus moradores são sempre agarrados a uma
actividade agrícola muito tradicional. Usando objectos arcaicos, de madeira para
revirar a terra arável. Desabam matas para o cultivo, durante duas a três épocas 20.
Seguida por gerações, que ultimamente se vê reduzida esta prática. A lavoura da
várzea é utilizada pela actividade dos búfalos, em movimentos torneantes no espaço
18 Thomaz, Luís Filipe F.R..De Ceuta a Timor, Difel, 1998, 1998, p. 595; 19 Oliveira, Luna, Timor na História de Portugal, Vol. II, Fundação Oriente, 1950, p. 11; 20 Serrão, Joel e Marques, A.H. de Oliveira (direc.), e coorde por Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova História da Expansão portuguesa, Vol. X, o Império Africano 1825-1890, Editorial Estampa, 1998, p. 778;
16
destinado ao lançamento de nêli, depois de ter sido tornado mais ou menos lodoçal
como preparativo final. Esta prática agrícola de arroz, seguida pela maioria da
população quando os gados já introduzidos na ilha pelos europeus portugueses. Criam
animais domésticos em redor das habitações, mais próximos das pessoas, provocam
doenças, mas os próprios desconhecem como surgem a situação malígna. Ignoravam
a noção de viver em higiene.
Numa povoação onde uma família constrói uma casa, todos os habitantes da
mesma, do sexo masculino, dirigem-se, ao local, em conjunto, põem a andar a
construção; transportando vigas, barrotes e colunas/postes de madeira, palmeira, em
geral, preparadas longe do sítio de habitação, portanto, na mata.
No grupo, há sempre alguém que tenha habilidade a dirigir os restantes de
como colocar esta ou aquela viga para resistir a corrente dos ventos. Construir discos
de madeira colocar no extremo superior da coluna onde suporta as armações de
lantém para impedir o acesso dos ratos ao interior. Uma vez concluir, arranja-se um
escadote de bambu de quatro degraus para poder entrar em casa e, durante a noite,
puxá-lo guardar dentro. Em concentração para cooperar, o dono de casa,
normalmente, dar de comer: pequeno almoço, almoço e jantar. Matar umas cabeças
de cabra, porco, galinhas conforme número pessoal. Para entusiasmar o trabalho, o
tuaka e tua sabu estarão sempre presentes acompanhar as refeições.
Esta cultura de cooperação tradicional está presente também nos tempos da
ceifa de nêli, após ter amontoado, é necessário números humanos para debulhar,
durante um a dois dias – desprender os grãos dos caules com os pés. De seguida, o
proprietário é agora, encher nos sacos feitos de palmeira, e transportá-los para casa.
Fins do mês de Outubro, a várzea, é literalmente vazia, sem actividade, por acabarem
de transportar o nêli, onde vai começar o trabalho das hortas, em preparativos à
sementeira de milho. E assim, o ciclo de vida agrícola tradicional se repete, em todas
as comunidades para garantir a sobrevivência do agregado.
As áreas que se servem para a exploração agrícola, são vedadas para evitar a
entrada dos animais silvestres, durante a noite. Tanto como os domésticos doutras
famílias, normalmente, os proprietários são conscientes a dirigi-los a lugares de
pastagem longe dos sítios cultivados. Algumas vezes, os descuidos improvizam-se de
modo que alguns animais rompem o pagar dos vizinhos, em que os estragos são
pagos conforme as quantidades identificadas. Existe também alguma noção de moral
que permita alertar o dono a evitar o futuro, porque reconstruir um cerco/pagar de
dezenas de metros de comprimento é um desgaste físico, e uma tarefa hérculea.
As famílias constituidas de poligamia, geralmente, possui mais várzeas e
hortas, pelo facto de ser o marido de tal estado, cada esposa terá o direito sobre as
17
que se julgam ser suas. Depois da colheita, cada uma comercia alguma parte de
sucesso em troca doutros objectos de uso pessoal, permutar com algumas cabeças de
animais para novas criações.
Bens conseguidos, o futuro dos filhos já é garantido, isto é, dentro de pouco
espaço de tempo aparecerá um novo rosto de uma rapariga na família – nora,
sinónimo de um novo lar, constituído.
18
1.2. Estrutura social
A sociedade timorense, como todas, assente-se na constituição familiar, base
celular de um país, sendo o pai representa a autoridade, em todos os momentos de
vida social. Na base deste universo se verifica uma afinidade mais coesa – algo
endelével, associado a um respeito assaz aderido. Um património tradicionalmente do
local, privilegia para além das relações de parentesco, até ser modificado por culturas
introduzidas pela administração portuguesa.
As relações estendem-se, por elos matrimoniais. A durabilidade prolongada
explica-se pela multiplicação de gerações, filhos, netos contudo, estes não se
afastarão de ideias de respeito e de reconhecimento pela linhagem genealógica.
Os constituintes de uma determinada família dependem-se, directamente das
condições económicas de quem como chefe de célula familiar. Organizador único e
modelo da colectividade, desempenha o sentido divino escondido, quer dizer, suas
influências são bem seguidas pelos descendentes.
O pai, sendo de papel importante, cabe-lhe conduzir o casamento dos filhos em
exclusividade. Um acto que se associa com interesses dos bens da escolha familiar.
Não só da necessidade de riqueza dos planos familiares, há a atenção pela beleza
das raparigas o permitirá. Por outro lado, os casamentos consentidos invocam a ideia
de estratos sociais do mesmo grau, independentemente dos desejos e do amor que os
jovens tendem deles a concretizarem.
Na maioria da sociedade obedece uma certa regra. Uma vez, dois jovens
tiverem o mesmo plano para se casarem, o pretendente deverá comunicar aos futuros
sogros e aos próprios pais para estarem-se em mútuo reconhecimento do caso. Desta
decisão, à parte do presumível genro decidirá doar algo de valor (dinheiro vivo, gado,
cavalo, etc.) como prenda, significa a moça ter já um pretendente confirmado do qual,
ela é impedida aceitar novos pedidos. Porventura surgisse algum incidente que levaria
a rapariga romper o prévio acordo, os bens serão literalmente restituidos. E se
ocorresse o contrário, em que o jovem decidisse desfazer o plano, não haveria
nenhuma devolução.
Ao acto final do casamento normal, ambas as partes familiares terão que
regularizar a questão de barlaque. De seguida, se os pretendentes forem todos
cristãos católicos, entrarão em contacto com o catequista a tratar o calendário do
casamento com o pároco. Terminado o acto, a rapariga leva consigo algo como dote
(1 a 2 cavalos, tais/tecido timor, mutiçala (colar) para o uso próprio em casa dos
sogros/da família do noivo (esposo), nos primeiros tempos.
19
As classes abastadas, que geralmente se afirmam na abundância de bens
agrícolas e de posse de uns números de animais, têm tendências para manter a
política de poliginia. A par da realidade, o barlaque, um dos elementos mais
conhecidos ao longo de laços matrimoniais21. Persiste-se durante gerações,
atravessando períodos portugueses, porém, indo assistir a descida porcentual à
medida que os conversos cristãos e o saber ler, escrever se abrem em leque.
O conjunto de esferas familiares, em ordem no espaço geográfico
organizacional, dirigido, em Timor-Leste, denominado regulado/reino, sob alçada de
um régulo/rei (liurai), escolhido por datós, praticamente, responsáveis de várias
povoações (correspondem mais ou menos os nobres, principais). Naturalmente, a
estrutura social timorense encontrava-se em conjuntos referidos, quando fora enfrentar
novas ordens de modificações por alta autoridade colonial, uma vez, achando-se
confiança na cristalização de amizades.
O aparente domínio português, nos primeiros períodos, articulava-se por
intermédio destas estruturas, sobretudo na ligação com os régulos para que as
intenções lusas pudessem ser sentidas nos indígenas, no interior dos respectivos
reinos dos Belos, Timor-Leste. A partir desta conquista, iam melhorar-se a rede
administrativa colonial a partir da base: Povoação com responsável chefe da
povoação; Suco com chefe do suco/liurai, Posto Administrativo, com o chefe
posto/administrador do posto. Assim estabelecidos, modelos adequados para
coordenar os projectos traçados pelo poder/governador da colónia.
Uma das soluções conseguidas para impor a administração de forma indirecta,
por via de delegados indígenas, uma sumidade de poder na contribuição de efectivar a
presença portuguesa, tornar a autoridade política em triunfo.
Os processos conseguidos, levá-los a estender cada vez mais o papel
assumido pelos sacerdotes. Criando capelas rudimentares junto dos povoados
indígenas para efeitos de catequese e de celebrações de eucaristias, acto que se
traduza em maiores atracções a conversões. Criando umas escolas, a mais
conhecida, era o colégio de Soibada, fundado por padre jesuíta Sabastião Aparício da
Silva, ajudado por alguns régulos locais como, D. André Doutel Sarmento. Estimulou o
inicio da formação da civilização, desenvolveu a educação. Produziu gradualmente, os
primeiros grupos letrados pertencentes a vários reinos do país. Normalmente eram
filhos dos aristocratas rurais 22. Os primeiros saídos, os melhores a colaborarem nos
21 Burguière, André, Klaplisch-Zuber, Christiane e Zuna bend, Françoise (direc.), História da Família, 3.º Vol. O choque das Modernidades: Ásia, África, América, Europa, Terramar, 1998, p. 288; 22 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Odiente, 2008, pp. 44 ss;
20
projectos defendidos a partir da sede capital e a estreitar a confiança de se
entenderem mutuamente.
Os régulos e datós, nas respectivas regiões, tomando uma atitude visa
transmitir a boa maneira de viver e de pensar conforme autoridades.
A par do referido colégio, nos finais do século XVIII, os dominicanos criavam
escolas em cinco sítios: Díli duas escolas, Oecusse, Batugadé, Manatuto,
Luca/Viqueque, uma em cada. Imprimia pequenos estímulos nos filhos indígenas a
conquistarem cada vez o fenómeno escrever e ler, ajudá-los a compreender pouco a
pouco a mudança de vida do quotidiano.
É-nos curioso recordar que a sociedade timorense, umas pequenas partes que
se entusiasmavam comerciar sândalo, sem terem a noção de perpetuar a sua
existência. Na primeira década do século XIX, já se assistia receitas, acentuadamente
nebulosas, sinónimo do esgotamento do arbusto, praticamente associado a ignorância
de ganância, facto que impressionava alguns governadores, como José Pinto
Alcoforado 23.
Esta parte do mundo, onde os portugueses querem cristalizar os seus
projectos, mas as ilhas circundantes de poder nerlandês não os deixa operar
tranquilamente. A conflitualidade é latente, ainda que as autoridades procurassem
encontrar entendimentos a tréguas entre as partes envolventes no âmbito de tratado
que decorria em 1641. Contudo, às possessões, a ambição territorial holandesa era
absorver a presença portuguesa, evento que levou os portugueses a reconhecer a
ocupação permanente de Kupang pela Holanda, metade ocidental da ilha de Timor.
Resolveu-se definir a soberania de Portugal e de daquela nas respectivas partes
afectas a cada um, concretizava-as por acordo bilateral, realizado em Lisboa, em
1661.
Pós alguns anos, a colónia entrou em novo cíclo de governação, visava a
representação do poder da coroa a iniciar por nomeação de um governador,
dependente do Estado da Índia, Goa. Nas primeiras décadas do século XIX, (1844) o
governo central reconhecia a capacidade de governação afirmada em Macau e Timor,
da qual decidiram desprender-se da tutela da Índia, mas Timor ficava sob as ordens
de Macau. Era preciso esperar mais de cinquenta anos de tempo (1896) para o Timor
tornar-se um distrito autónomo, desta vez, ficar independente de Macau 24.
Metade da ilha, imensamente pequena, dispunha-se várias etnias linguísticas:
23 Serrão, Joel e Maeques, A. H. de Oliveira (direc.), e coord. por Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova Hiistória da Expansão portuguesa, Vol. X, o Império Africano, 1825-1890, Editorial Estampa, 1998, p. 779; 24 Pires, Mário Lemos (último governador de Portugal), Descolonização de Timor. Missão impossível? 3,ª Edição, Publicações Dom Quixote, 1994, p. 20;
21
Tétum Díli, tétum terik, português, china, makassae, galole, dagadá, tokodede,
mambae, atoni. Como referimos, não tinha escrita. Soube ensinar aos filhos pela
oralidade para perpetuar aquilo que pertença a clã. Além de título familiar há outros
conhecidos contadores de histórias (Lia, Na’ain), significa memorizadores de palavras.
Estes homens, muitas vezes, nas cerimónias tradicionais, geralmente, em presença
dos chefes knuas/povoações, liurais, recitam as palavras, com uma tonalidade bem
produzida, suscita o silêncio e respeito. Há lendas (aik nanoik) 25.
25 Gunn, Geoffrey C., Timor Loso Sae 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 40;
22
1.3. Timor-Leste, construído na diferença geográfica No arquipélago, umas ilhas são geograficamente superiores que países
independentes e soberanos, todas inseridas na R.I. Terras de imensa fertilidade, de
uma heterogeneidade étnica, sob poderes dos respectivos sultões, em controles
comerciais com os estrangeiros. Todas são tocadas pela influência muçulmana,
resultara a queda do império existente e à emergência de um novo, imperava grande
parte em termos de expansão cultural da mesma religião 26.
A própria riqueza asiática fora território de constantes conflitos europeus e com
sociedades locais, em função de novas glórias individuais e às cortes ocidentais, por
uma política de controlo mercantil, em absoluto, criavam bases militares. O
arquipélago da Insulíndia viria tornar-se maior aliança dos mercadores holandeses. O
interesse pelo negócio crescia à medida que as intenções neerlandesas se
glorificavam, a aliança sofreu o estatuto inicial para uma política de poder e de domínio
territorial, designado Indias Orientais Holandesas. As populações locais mantiveram
a sua cultura, língua e religião. As ambições coloniais ultrapassavam os limites de
soberania e a antagonizarem-se com os portugueses com vista a desalojá-los das
possessões, em proveito exclusivo 27. O seu objectivo principal era desfazer os
obstáculos e poderes lusos para se proceder uma aliança com a grande China.
Cooperavam-se com os muçulmanos das ilhas, em redes comerciais para conquistar a
amizade timorense em absorver a presença portugusa de uma vez para sempre.
Do ponto de vista dos Liurais, que não são muçulmanos, a VOC (Companhia de
Comércio Holandesa) 28 é uma má opção porque aliada dos muçulamnos. É aqui que
os portugueses e o cristianismo entram em força em Timor, com missionários
dominicanos.
Na segunda metade do século XVII e na primeira do século seguinte, o que se
vê é os holandeses com poder mas sem ligação local, e uma força de portugueses
com dominicanos e topasses (mestiços, portugueses pretos). Isto associado à
geografia timorense, cria aos holandeses imensas dificuldades. Estas dificuldades vão
ditar a divisão de Timor, no século XIX, em Leste e Oeste.
Como todas as regiões de presença europeia, em Timor-Leste, viu-se introduzir
novas maneiras pelos missionários aos indígenas de estar na vida: espírito de
26 A nova religião introduzida pelos comerciantes árabes que frequentavam no centro mercantil de Malaca, cerca do século XII, através dos sumatrenses, conforme Moure, Michel, Dicionário de História Universal, Vol. II, Edições Asa, 1998, p. 686; 27 Mauro, Frédéric, a Expansão europeia, 2.ª Edição, 1995, p. 118; 28 Morineau, Michel, AS Grandes Companhias das Índias Orientais (séculos XVI-XIX), Publicações Europa-América, 2004, pp. 15 ss;
23
responsabilidade, inspira viver em organização, pela exactidão dos tempos de
trabalho, etc. 29.
À medida que a posição holandesa na fronteira se afirmara, tornara-se hostil
aos Belos, por estes comportarem-se aliados, supostamente fiéis dos Lusos, cada vez
se fechavam sobre si, nem sequer lembravam dos régulos e irmãos da
Servião/Kupang, como vizinhos fundamentais. Estes com os olhos sobre o ganho
comercial de sândalos com a VOC, que aplicara a força de trabalho de 30 mil
escravos, incluídos timores do Leste, na Batávia 30.
Os timores sentiam-se sob o olhar desdenhoso e a consequente inexistência
de contactos social e cultural determinava o total desconhecimento do mundo, além da
ilha. As capacidades de navegação marítima a distância a novas descobertas,
naturalmente, inexistiam na sociedade timorense.
Aliás, por ordem natural, Timor dos Belos, vinha construindo a própria
identidade ao sabor da sua singularidade, na região – uma identidade diferente na
área. Durante um grande período da História do Leste timorense tivera um contacto
directo com o Ocidente europeu. Recebeu a língua, cultura e doutrina cristã católica,
pela mão dos missionários lusos. Fenómeno civilizacional que a Grécia e a Antiga
Roma deixaram ao Ocidente da Europa e Península Ibérica 31 como património
inspirador do progresso da humanidade – cultura superior, mais seguida até a
actualidade pela sociedade humana.
A convivência tornava-se revolucionária à mentalidade timorense em aspectos
de relações e a inculcar valores de latinidade, permitia assim, gerar novos
pensamentos de como consolidar a sua identidade e a adquirir visões com outros
povos. O papel da evangelização dotou as populações de uma nova religião, sem que
estas apagassem da sua memória o seu pensamento religioso, tipicamente animista,
considerada original. Esta penetração originou a novos sincretismos, em que a
doutrina cristã convivia com elementos gentílicos tal como sempre sucedera na
Europa, quer na Antiguidade e na Idade Média, quer na Idade Moderna 32.
29 Mauro, Frédéric, a Expansão europeia, 2.ª Edição, 1995, p. 176; 30 Scammel, Geoffrey V., A primeira era imperial. A Expansão Ultramarina Europeia c. 1400-1715, Publicações Europa-América, 2000, p. 153; 31 Cerca do século III a. C. os Romanos introduziram a sua organização administrativa, cultura religiosa, etc., durante a ocupação no actual território português, conforme Marques, A.H. de Oliveira, História de Portugal, desde os tempos mais antigos até à presidência do senhor general Ramalho Eanes, 3.ª Edição, Palas Editores, 1986, p. 19 e Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 529; 32 O Cristianismo surgiu e engrandeceu com a conversão dos pagãos/gentios, segundo: Atlas da História do Mundo, Selecções do Readers Digest, 2001, pp. 92-93 e Collins, padre Michael e Price, Matthew, História do Cristianismo 2000 anos de Fé, Círculo de Leitores, 2000. pp. 7 ss;
24
Conscientes desta realidade, os clérigos com os governantes uma vez achavam a
maioria timorense sintonizar-se com o que está em mudança equivaleria um sucesso.
A conversão tornava-se socialmente aliciante para muitos dos nativos, que
assim podiam ter acesso aos serviços públicos ou a conquista da sua hierarquia, além
de passarem a ser súbditos do poder político. Ao longo da soberania portuguesa o
Povo leste timorense orgulhara-se profundamente da cultura europeia, considerando-a
elemento fundamental da existência identitária, na região. Indo influir-lhe capacidades
a adquirir os padrões internacionais, inspiradores de mútuo respeito e de solidariedade
com todos.
Timor tem o seu temperamento próprio face aos seus amigos. Às pessoas quer
do mesmo território ou doutros, conhecem-se em largos anos, é-lhe difícil o contrário à
amizade – muito hospitaleiro. Se porventura aparecesse um amigo de longos tempos
seria acolhido, mesmo não tiver condições recorra aos vizinhos para o efeito, mas
também é belicoso quando é ofendido por outra etnia ou grupo de diferente cultura. O
perfil timorense é obediente e subserviente, mas sobe ao poder tende a autoritário.
Este tipo do ser timor vinha ganhar a sua evolução por via do ensino,
desenvolvem-se relações de grande proximidade com os estratos sociais de
influência. Uma realidade remete-nos compreender as iniciativas dos missionários,
mais próximos das populações. A capacidade de inovar o que já existira era maior. Em
regra, as ordens religiosas tentam impor no ultramarino as mesmas regras religiosas
da Europa, os mesmos cânticos, a mesma orgânica desajustada dos conceitos e das
tradições locais.
A Igreja passa a ter um número muito significativo de conversos, para lá dos
limites onde os governantes ainda não têm o domínio de contactos.
Também não é afirmativo que a presença de um missionário num determinado
regulado é uma verdadeira magia transformar todo este espaço humano em
conversão. Os obstáculos eram vários: receio de serem desvinculados dos seus ritos
de culto ancestral, mas esta verdade tivera as suas consequências benéficas, pois
abriu caminho a gerações futuras a aderi-lo, tal como sucedera anteriormente aquando
da conversão dos vários povos europeus.
Todo o acontecimento ocorrido, no âmbito abstracto, constitui o próprio
património do Leste timorense, como já se referiu atrás, valorizar os seus ideais e
adquire de si a consciência como um povo desta parte do mundo da Oceania.
A língua portuguesa, aos poucos, vai ganhar espaços, circula-se em escrito no
seio dos letrados; da capital da colónia aos centros administrativos dos reinos, este
meio comunicativo põe as pessoas numa fase mais privilegiada e revolucionária. A
nova presença não põe em risco o estatuto do Tétum, língua falada pela maioria dos
25
timorenses. Os europeus que cedo aprenderam a língua nativa eram os missionários,
entabulavam questões de catequese com catequistas e cristãos, em tétum para criar a
mútua credibilidade de entendimento.
26
1.4. Interesse holandês é o risco da soberania lusa
Os portugueses sentiam-se firmes em funcionalidade nos objectivos em
cadeias de entendimento com os Liurais a decorrer até ao século XIX. Uma das
condições conseguidas para imprimir a sua cultura. Graças ao sucesso alcançado, nos
primeiros anos do período precedente (1701) pelo primeiro governador, António
Coelho Guerreiro, obtivera a simpatia da maioria dos régulos, ainda que o desgosto
de alguns fosse de maior visibilidade pela perda de prestígio e de poder33.
Percebe-se, portanto, pelas descrições históricas das loucas corridas
ocidentais ao Índico, o domínio marítimo português era de glória desde séculos XVI-
XVII. Tornara-se em difícil situação dado o vizinho holandês, de poder naval sob
alçada dos directores da VOC, inimigo fiel dos ibéricos. Reduziu a influência
portuguesa em muitas ilhas. Por outro lado, Timor encontrara-se na depedência
jurídica bastante prolongada de Goa, ou de Macau, não lhe permitia algo de mudança
em progresso, ainda que tivesse uma Junta de Justiça aos crimes militares e civis
ocorridos no reino. Constantes governadores para aí enviados enfrentaram
dificuldades várias para tranquilizar alguns reinos descontentes e da incúria da
metrópole, conduzindo os funcionários e soldados num castigo de sem salários, em
anos. O estado da situação afectava a sobrevivência e a leldade pelas funções
atribuidas, aos agentes da administração pública.
O moroso interesse à ilha pelo poder central deixara para a liderança do
governador e comissário real, José Joaquim Lopes de Lima sem condições financeiras
para dar eficácia ao conjunto das estruturas já criadas. Fora incumbido de directrizes
pela corte régia para negociar com os holandeses sobre a delimitação de fronteiras
entre as duas metades da ilha e de Flores em relação as de domínio holandês. Porém,
a presente debilidade contribuiu aos holandeses como novos beneficiários da ilha de
Flores e das pequenas em contiguidades. O poder neerlandês ficou em plenitude
nessas ilhas34. Em troca da maioria perdida aos portugueses, apenas restituiu a
Maubara, encaixada na soberania lusa. Mantêm-se o enclave de Oecusse, a ilha de
Ataúro, situada a frente de Díli e o ilhéu Jaco, ponto extremo de Lautém, mas este não
fazia parte da contenda política, desabitado. Em compensação, os holandeses
prometeram pagar 200 mil florins, em três prestações, à primeira, recebida por
33 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), República Portuguesa, Ministério das Colónias (Subsídios para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias,Lisboa, MCMXLIV (1944), PP. 24 SS; 34 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia portuguesa de História, 1992, p. 323
27
governador no valor de 80 mil florins em dinheiro 35. O sucedido foi mal considerado,
sem ter prévio consentimento de Lisboa. O Lopes de Lima foi severamente criticado
de grande felonia e dizia-se ter fugido com o dinheiro recebido aos EUA.
Entretanto, Lisboa decidiu-se a substituição por novo governador, D. Manuel
Saldanha da Gama, naturalmente chegara a Díli em 6 de Setembro de 1852, foi-lhe
recusado o cargo do governo por Joaquim Lopes de Lima. Este acabou por ceder-se
embarcar sob ordens de prisão pelo mesmo navio que desembarcara o governador,
substituto. Não chegou a Lisboa, ficando falecer em Batávia, capital das Índias
holandesas durante o trajecto do navio (Carlos Bessa, 1992, p. 323).
A morte do governador receava os políticos vir devolver os 80 mil florins
recebidos, sensações que forçavam adiar negociações para mais dois anos. Aberto as
negociações a 6 de Outubro de 1854, parecera idêntico ao que encarado por Lopes de
Lima, e em Haia o parlamento reivindicara à inactividade do culto católico na ilha das
Flores. No entanto, esta zona com outras pequenas não se desapareciam nas
memórias lusas, mais tarde, o governo liderado por Fontes Pereira de Melo tentara
novas negociações com Haia em 1858 com o intuito de trocar um território africano
para reaver Flores e outras ilhas, contudo os esforços saíram baldados. Chegaram a
um acordo pelo Tratado de Lisboa de 1859, momento que Lisboa assistiu a queda do
governo pelo que o restante das indemnizações pago pela Holanda decorreu em 1860 36
.
Os anos referidos, foram um período de campanha colonial portuguesa pela
pacificação, onde decorriam operações militares na África, porérm, em Timor o
governador era surpreendido por revoltas populares, a conhecida expressão
cortadores de cabeça eram assustadores.
Depois de ter resolvida a revolta de Camenassa que surgira designadamente
dos animistas terem sido humilhados de culto desrespeitado dada a maioria ser
convertida cristã, onde dois missionários foram mortos pelos rebeldes do reino, em
1719. Conseguida a pacificação, proveniente de um esforço concertado com os
régulos fiéis, de cerca de 50 anos de tempo para neutralizar os restantes líderes do
regulado, antiluso (1769). Todas elas, compreendidas neste período, eram
relacionadas as posições governativas na legislação tributária. Definia a obrigação do
indígena cumprir pagar ao Estado, que às vezes, ultrapassava a capacidade produtiva
das pessoas. O descontentamento cevou o ódio contra os portuguses que, estendia
até aos régulos da região de Viqueque, acabando por destruir os templos cristãos e 35 Thomaz, Luís Filipe F. R., De Ceuta a Timor, in Relance na História de Timor, Difel, 1998, p. 596; 36 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia portuguesa de História, 1992, p. 324;
28
perseguir os já convertidos. O governador teve que organizar as forças indígenas com
os poucos efectivos que dispunha, com o apoio vindo da Sica, Flores, em conjunto no
total de 4 mil nativos para desfazer a revolta, em 1731, ano de paz requerida pelos
rebeldes 37.
Aliás, as chamadas novas revoltas terão decorridas em Cotubaba e Cová junto
a fronteira, levarão o governador Francisco Teixeira da Silva a tomar decisões
bastante difíceis. As forças deste lado, em números comparativos para uma operação
de resposta não eram vantajosas, significava enfrentar cortadores de cabeças, em
posições confortáveis e activas, nos pontos altos, fortificados 38.
A autoridade de Díli, tinha que reunir o máximo das suas forças em Batugadé
para reprimir as aldeias revoltadas, contudo, o acontecer impressionava o lado do
governador por rebeldes. Resultava perdas de vida que chegavam mais de 126
homens. Os planos tomados à resposta eram inêxitos. Perante a dificuldade, resolveu-
se inverter a estratégia, em vez de manter as forças goesas, macaensas e
metropolitanas à operação, entregou-se as armas aos régulos fiéis para o efeito
segundo à maneira. Organizaram os seus moradores em conjunto das do governo
colonial, confrontavam-se com os rebeldes, o que levou estes a submeterem-se e pós
termo a resistência 39.
A tradição habitual de rebeldia timorense não desaparece nos reinos já
resolvidos e pacificados por batalhas sangrentas, atrás citados. O problema de fintas,
pagas por cabeças de animais é o elemento mais recusado por muitos dos regulados,
suscitava movimentos de desobediência; celebrava o corte de cabeças dos vencidos
reunidas perante centenas de pessoas a confirmar a heroicidade dos reinos triunfantes
- um acto repetitivo. O ambiente turbulento se repete noutra ponta de Timor, mais a
Leste, em Lautém. Uma revolta surgia associada ao rapto de centenas de gados aos
sucos fiéis dos portugueses. Punições de toda a ordem, estendiam actos
desobedientes para outras povoações, dos quais a força de segurança achava-se
difícil recompor o disciplinamento. Era preciso recorrer aos régulos de aliança de Díli,
Baucau, Vemasse, Laleia, etc. com o apoio dos planos de secretário e ajudante do
governador em concertação para repô-los em ordem normal40 .
Além da falta dos bons soldados de segurança do governo, conforme descreve
René Pélissier, verificava-se a inexistência de confraternização entre a chefia militar
portuguesa com os seus componentes goeses, moçambicanos. E noutro horizonte,
37 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, pp. 104 ss; 38 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844- - 1941, Editorial Estampa, 2006, pp. 130-132; 39 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. II, Agência Geral das Colónias, 1950, p. 138; 40 Idem. Ibidem. pp. 233 ss;
29
pinta-nos a simpatia e a confiança entre Governante lusa e de Batávia numa relação
de falta de amizade europeia na Insulíndia 41.
Os sucessivos governadores passaram ao serviço da portugalidade na ilha,
não havia nenhum que escapasse da insubmissão de alguns régulos. Muitos deles,
não conseguiam iniciar algum projecto, não por insucesso de entendimento com
autoridades indígenas em resistência, mas nem sequer lembravam de seus deveres
no tocante ao melhoramento das actividades da capital, Díli. Esperavam que chegasse
o tempo de missão para serem transferidos para outras colónias – pareciam uma ave
de arribação 42. Por outro lado, a distância da metrópole contribuiu os políticos a
esquecerem da ilha em matéria de apoio, elemento fundamental para os estimular em
novas iniciativas que permitissem envolver mais autoridades naturais.
É de recordar que, o reino de Maubara, em poder holandês desde 1761,
devolvido à Portugal, a 1861, na sequência de tratados assinados entre Lisboa e Haia,
na capital portuguesa. Achavam-se o regresso tornar-se um cordeiro manso perante
todas as exigências, duramente impostas, por acções militares sobre cobranças de
impostos. Porém, as ordens sob o consulado do governador António Francisco da
Costa (1887-1888) transformara-se em acto malogrado para o referido reino e tanto
para o próprio governante. Segundo a descrição do historiador militar português
Esparteiro, citada na obra do Geoffrey C. Gunn, toda a Maubara revoltara-se sob a
direcção do seu régulo. Os seus homens massacraram muitas forças de guarda, o
governador ficara espantado com a tamanha situação de rebeldia e o reino de novo
hastear a bandeira holandesa. A inversão do acontecer devia a intervenção da
canhoneira Diu, partiu de Macau a pedido da autoridade de Díli. Durante mais de uma
semana a percorrer pelo mar do Sul da China, estreitos de Solu e Molucas, finalmente
chegou a costa timorense, iniciava o bombardeamento sobre as aldeias de rebeldia,
Fatuboro, e apertadas pelos moradores organizados dos liurais de aliança lusa.
O recurso ao concertado apoio de forças de operação contra a rebeldia,
actuavam eficazmente, transtornaram o régulo em lealdade portuguesa. Este, e outras
autoridades locais prometiam cumprir as obrigações tributárias. E a Maubara,
castigada por macabrismo, atingiu a população de todas as idades, que o serviço de
saúde era difícl socorrê-la, e no entanto, permitiu a reposição da bandeira portuguesa
41 Péliddier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844 – 1941, Editorial Estampa, 2006, p. 195; 42 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua História) Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, MCMXLIV (1944), pp. 82-83;
30
a flutuar na área43. A população local de novo entra em reorganização, incentivando os
habitantes em tomar o seu quotidiano, imprimir-llhes o ambiente de confiança e de
amizade entre si e autoridades.
Ao longo de sucessivos acontecimentos de insubmissos de alguns régulos com
seus respectivos habitantes, implicavam o acto sangrento a imagem do Caim matar os
irmãos Abéis. ainda que fossem difíceis resultavam-se sempre a contento português.
Facto que expressava a lealdade da maioria nativa, mas os aspectos do Território não
contribuíam a fácil comunicação dos governadores com o interior por inexistirem vias
acessíveis, nem sequer os postos militares se montavam 44.
A cultura turbulenta minou a apetência e evocou a ignorância pelo cultivo de
terra, conduzia a população numa situação de extrema debilidade e a mudança de
mentalidade pelo bem estar era invisível. A prova desta realidade trouxe o resultado
de produção de café 2.480 kgs em 1880 e 800 kgs em 1895 45. Além disto tudo,
faltava o pessoal especializado para os orientar em conhecimentos de como explorar a
produção agrícola, em terrenos altamente férteis. À volta de tudo isto, o Timor dos
Belos, por força maior do decreto de 26 de Novembro de 1866 fora dividido em 11
distritos. Um comandante em cada, figura executiva das leis do governador, contudo a
sua autoridade não anula à intervenção dos liurais na administração interna de cada
reino. De seguida, é elevado ao distrito autónomo, em 1897, por decreto 30 de
Setembro (Gonçalo P. de Castro, p. 85).
A expressão de rebeldia e de anarquia em realidade activa em insubmissos
inquietam os governantes, chega-se a ordem do fim de missão do governador Cipriano
Forjaz. Chegará o seu substituto, Coronel José Celestino da Silva. Dizem homem de
confiança do rei D. Carlos (René Pélissier, p. 90), é experiente e de espírito
organizativo, capaz de tornar Timor dos desunidos em aliado luso, conforme as suas
preocupações após ter sido empossado nas funções de governador (1894-1908). Uma
época que, em Manufahi/Same, o rei D. Duarte manifesta a resistência pela
independência dos cerca de 20 a 40 mil súbditos, subsistem-se na recusa tributária,
detida por esses vassalos e o seu liurai, durante 88 anos 46. Enviara o seu filho D.
Boaventura aos reinos ocidentais, próximos da fronteira holandesa, no sentido de
obter forte aliança para minar as ordens do governador e a esmagar os planos de
43 A guerra de Maubara, cessou já no tempo de governador Ciptiano Fotjaz, em 14 de Julho de 1893, conforme Gunn, Geffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, pp. 186 ss; 44 Castro, Gonçalo Pomenta de (Coronel), Timor (Subsídio para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, p. 88; 45 Idem. Ibidem, p. 89; 46 Pélissier, René, As Campanhas coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, p. 223;
31
contra-ataque rebelde organizados pelos exércitos regulares, serem executados em
dias muito breves 47.
Os movimentos a decorrer em favor do reino manufahista, o governador
J.Celestino da Silva não os ignorava. Confiava na técnica organizativa do alferes
Duarte, reunia as forças regulares com o apoio das populações dos liurais aliados, em
armas e em equipamentos que fossem úteis às intenções do poder colonial. A
resposta fora posta em prática à semelhança dos anteriores noutros reinos. A base de
rebeldia de Manufahi, tinha sido enfrentada por operações de envergadura de três
frentes, constituidas de 12 mil nativas com metropolitanos. Ainda que os revoltosos
persistissem de intenções, no espaço controlado reinava-se já o desagregamento
moral, visto as posições de defesa desabavam-se em favor da autoridade colonial.
O primeiro governador, António Coelho Guerreiro (1701) nomeado oficialmente
pelo vice-rei do Estado da Índia, em Goa, assumiu funções em Timor. Tomou
iniciativas criar bases organizativas, envolvia as autoridades naturais. A estrutura
administrativa funcionava-se, e ao longo de sucessivos sucessores nenhum deles
aventurava-se às mudanças. Ficava assim o controlo em poder dos régulos. Já no
tempo do governador José Celestino da Silva, fez uns retoques quase não detectáveis 48. Mas este entrou com uma iniciativa de abertura à colónia, visava uma política em
acções militares triunfantes. Em todos os cantos do reino aglomerados
populacionalmente/reguladdos estabeleceu os postos de rede militar, como elemento
principal do fiscalizador em nome da presença colonial. Uma mudança ligeira, veio
surpreender alguns régulos terem perdas de influência, uma vez que esses postos
fossem entregues aos civis, de cariz colonial. Os agentes do funcionalismo começarão
a dilatar-se e o envolvimento timorense de cultura letrada é aqui mais reivindicada.
Assim, davam-se os primeiros passos da mescla burocrática e a novos sectores de
actividade imaginados determinarão a rápida criação de ensino mais dilatado, no
sentido de aprender a língua portuguesa e a sua história, como sendo também
património timorense 49.
O governador Celestino da Silva “rei de Timor”antes de abandonar o País dos
Belos, deixara muitas obras feitas e umas por concluir: grande plantação de café de
Talo-Ermera, Fatubessi, etc., o próprio investira os bens da esposa, a fazenda
designada Sociedade Agrícola, Pátria e Trabalho (SAPT). Incentivou muitos régulos
47 Gunn, Geoffrey C., Timor Loso Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 187, 48 Marques, A. H. de Oliveira (direc.), História dos Portugueses no Extremo Oriente, 2.º Vol., Macau e Timor. O declínio do Império, “in O Protectorado português”, Fundação Oriente, 2001, p. 502; 49 Thomaz, Luís Filipe F.R., De Ceuta a Timor, Difel, 1998, p. 647;
32
pela exploração agrícola e a de café, até hoje em dia, existe um pouco em todo o lado
e outras obras continuadas pelos imediatos sucessores 50.
Todo o cenário criado pelos governantes até aqui, revela-se ao evoluir de uma
situação de impossibilidade governativa para alterar o statu quo, típica da
administração nominal, para uma situação em que o poder colonial, encabeçado pela
figura singular do governador. Assume uma postura cada vez mais proeminente, em
que a capacidade dos actos administrativos se mede pela acção exequível dos
programas políticos.
A presença portuguesa, em termos comparativos com as colónias africanas,
em Timor-Leste, num tecido social onde os portugueses são claramente menoritáios.
Factos inegáveis a que os governantes que aí cumpriam as missões incumbidas têm
que recorrer à força de inteligência.
O rei de Timor, vinha-se embora à metrópole, a adminiastração ficará,
naturalmente, aos seus sucessores. Às revoltas que surgiam atormentar a cabeça de
muitos governadores nem sequer davam indícios do lado desleal para se entender
com as autoridades coloniais.
Mesmo que Celestino da Silva fosse embora, o filho de D. Duarte de Manufahi,
D. Boaventura, tornara-se duro com os novos, isto é, com Filomeno da Câmara. O
movimento de revolta sulista redobrava-se à volta do comando de Same para o
destruir. Segundo a versão das povoações locais da época, transmitida às gerações
até 1975, dizendo que a guerra desconhecia qualquer proposta de paz associada por
uma cobiça de um comandante de Same, pai de um filho. Levado pela cegueira de
paixão pela esposa do liurai Boaventura, bonita como europeia. Pretendendo desfazer
o casamento e torná-la como esposa do comandante 51.
Liurai esse, fora aluno dos antigos padres, ignorou totalmente as normas de
uma cultura cristã que aprendeu, fora-lhe difícil travar o ódio. Em 1911, já no mês de
Novembro em que a comunidade cristã preparava-se para celebrar a festa de Natal,
para breve, e o citado comandante/administrador residia em Same, residência
fortificada por muros. Ao fim ao cabo, atacado, por um tiro à queima roupa. A mulher e
o filho passaram momentos dolorosos, em circunstâncias de alta tensão, mas salvos 52
. Os portugueses ficavam desnorteados, quer em Same como em Díli, por
perceberem um novo ciclo de regime da república se instalou em Portugal em
50 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, pp. 90-91; 51 Cardoso, Luís, Crónicas de uma Travessia, a Época de Ai-Dik-Funan, Publicações D. Quixote, 1997, pp. 14-15; 52 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, pp. 318-319;
33
detrimento da queda definitiva monárquica. Episódio alimentava a ira dos holandeses
na fronteira, jogava nos peões da sua rede incitar os pró-monárquicos leste-
timorenses53 endurecer as suas posições face as autoridades portuguesas e régulos
de inclinação republicana 54.
No quadro do programa político do governo, criava-se o decreto de 13 de
Setembro de 1906 por governador Celestino da Silva, decidia pagar 500 réis anuais
por cada chefe familiar. O anunciado aumento do imposto de capitação, em Suai,
preocupava alguns régulos de o acolher. Caso que o próprio Boaventura o recusava.
Em sentido oposto, o governador republicano, 1.º Tenente Filomeno da Câmara Melo
Cabral, impunha a sua autoridade, mobilizando os seus auxiliares civis e militares a
encaminhar os projectos já programados 55. Da maneira como agia, após ter chegado
em Díli, as suas atenções mais incidiam no alargamento das iniciativas indígenas na
exploração agrícola, cujo efeito poderia mudar o cenário do futuro 56.
O reino de Manufahi, tinha um pouco de tudo: existia peças de ourivesaria
fabricadas de qualidade, localmente; pulseiras, argolas para tornezelos, cartuchos de
couro, produzia munições para potenciar as armas/mosquetes. Significava a partida,
capacidades de mobilização em resistência, assaz seguida pelos habitantes, etc.57.
No quadro da legalidade tributária que recaía a cada chefe familiar, e os liurais
tornar-se-ão agentes do funcionalismo público do Estado. Como sendo do aparelho
governativo, os mesmos mereciam a 50 % da capitação cobrada nos seus respectivos
reinos. Nem todos eram conferidos, pelo que foi criada uma medida à retirá-lo
daqueles que não dispusessem número de 600 chefes familiares. Tendo sido
impraticável por as autoridades pressentirem o ressurgimento de possíveis
desobediências 58.
Para melhorar as estruturas já existentes, o governo teve que recorrer as
reformas tributárias já citadas, quando muitos sucos como Manufahi e seus aliados
ainda se mobilizavam opô-las. As organizações de rebeldia decorriam-se,
principalmente, nas encostas mais perigosas do chamado monte Ablai de 2.368
metros de altura. Sítio que naturalmente, favorecia aos insubmissos organizar
armadilhas de pedras de tamanho impressionante. De um momento para outro, poder-
53 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 194 54 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, p. 323; 55 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 195; 56 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, pp. 121 ss; 57 Gunn, Geoffrey C. Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 196; 58 Idem. Ibidem, p. 197;
34
se-ão soltar-se do alto e a descer, brutalmente, saltando de fosso em fosso,
apanhando os lugares clivosos e a causar danos humanos como monstros 59.
Era D. Boaventura quem liderava as organizações de revolta contra o poder
colonial. O governador Filomeno Câmara, mostrava-se inflexível na decisão.
Coordenava com todos os régulos de Baucau e outros do Leste e de central oeste,
com os regulares militares europeus, moçambicanos e macaenses a tomarem uma
resposta, em diferentes frentes conforme as tácticas traçadas, entre governador e os
respectivos comandantes de operações. Ainda que os homens fugitivos, escondidos
nas densas matas e nos picos dos montes usassem o processo utilizado pelo lusitano
Viriato 150 anos a. C. contra os romanos para desafiar o governador e a sua força. Os
dias do liurai Manufahi eram contados já na agenda da força-contra-ataque. À medida
que esta avançava apertando cercar as fortificações preparadas nos citados sítios
perigosos, os seus moradores ou rebeldes iam sendo sentir o sabor amargo, por sem
ter acesso às nascentes e a escassez de alimentação cada vez os puniam para a
debilidade física, dia pós dia.
O teatro de ambos os lados resultava perdas de vidas, quer dos rebeldes como
do governo: sargentos, tenentes, praças, moradores dos régulos de aliança lusa,
atingidos. Já no verão, mês de Agosto de 1912, D. Boaventura enviou uma emissária
negociar a rendição com o governador, sem que lhe corresse riscos de vida. Prometeu
prendas em dinheiro, peças de ouro e de prata, ao que o governador recusava. Os
movimentos manufahistas, sob a direcção do mesmo liurai, causaram a vida de
milhares de pessoas 60. Sem utilidade nenhuma para nada, nem sequer imaginava nas
perspectivas para o cenário do futuro dos timorenses. Continuava em fuga esconder-
se, acompanhando o passar dos dias se porventura alterassem a política de contra-
ataque desencadeada pela autoridade. Via que a hipótese do triunfo correria pelo lado
do governo, teve apresentar-se a um comandante amigo, em Same 61.
Filomeno da Câmara acompanhava a revolta timorense, percebera-a,
organizada por alguns régulos contra o poder colonial, descobrira derivada das fintas
impostas. Todo o acontecimento decorrido, desde do tempo governador Lopes de
Lima, atravessando a duradoura missão de José Celestino da Silva e a culminar-se
com o Câmara. O primeiro governador republicano, via a soberania portuguesa
ameaçada extinguir-se na Oceannia, ou a um presumível beneficiário novo.
59 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal Vol. III, Agência Geral do Ultramar, 1952, p. 140; 60 Idem. Ibidem, pp. 172 ss; 61 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, p. 326;
35
A ideia de reduzir dissenções intestinas entre régulos, o Celestino desde logo
procurou criar comandos militares em todo o teritório, como tem já citado. O seu
substituto continuou os seus projectos à medida que as revoltas de Manufahi 62 de D.
Boaventura iam sendo desfeitas, onde os rebeldes tornarem-se amigos e fiéis
vassalos da coroa portuguesa, representada pelo governador63. As atenções da
autoridade governamental incidiam-se na agricultura, isto é, incutindo nos naturais a
multiplicação de várias culturas; criação de animais e estimular o frabrico de cestarias
e outros artesanatos tradicionais para evocar as novas mentalidades de trocas de
artigos comerciáveis, ao nível dos bazares, em centros aglomerados de populações.
A falta de tropas e de meios era a maior dificuldade ao cumprimento da
legislação. Os liurais independentes nos seus respectivos sucos assumiam um
disfarçado serviço de administração: mobilizando cobrar-lhes as fintas em proveito dos
régulos; por sua conta exerciam a justiça, rebelavam o governador quando os pedia
contas de serviços 64.
As atenções, todavia da metrópole incindiam-se no Estado da Índia, aonde se
procurava salvar os restos dum grandioso império e assim os escassos arcabuzeiros,
que uma por outra vez aportavam a Timor, para pouco mais serviam que para uma
guarda de honra, de uma afirmação simbólica de presença.
Manufahi de mais oito meses em guerra contra a autoridade portuguesa. O
Filomeno da Câmara foi surpreendido por morte do tenente encarregado do posto de
Same pelos homens de D. Boaventura, em 24/12/1912.
Nos inícios de 1911, desembarcou-se em Díli, encontrou uma capital povoada
de uma policromia humana – metropolitanos, macaenses, mestiços de várias origens,
moradores, sentindo um ambiente tão estranho. Funcionários e paramilitares
alegavam-se dizendo liberais, republicanos, prontos resistir por quem enviado de
Lisboa. Uma ilusão torna um clima neboluso ao governador pôr o seu programa
inalterável. Consigo trazia uma intenção que visa mudar o rumo dos acontecimentos
indesejáveis. Afastava-se dos métodos seguidos por Celestino na aliança com os
régulos para resolver dissensões internas de alguns reinos. O anterior, avançava
propostas de pactos por o seu período de missão era longo, admitia-lhe oportunidade
a conhecê-los como iniciou o jogo de amizade em partilharem o comum (René
Pélissier, 2006, p. 318).
62 A resistência, decorrida no período de 1894-1913, acarretará a ceifa de 90 mil almas conforme, Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 203; 63 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal III Volume, Agência Geral do Ultramar, 1952, pp. 211-227; 64 Idem., Volume II, 1950, pp. 7-8;
36
As obras do Celestino não foram esquecidas, mas a chamada rebeldia sulista
permanecia, praticamente associada ao perigosíssimo D. Duarte, pai de Boaventura
deixado vivo por José Celestino e a solução sem em vista. À medida que os anos se
sucedem, o 1900, chega, a situação tornara-se mais complicada aos portugueses
dada a adesão às propostas manufahistas se adensava com outros reinos aliados, no
total de 13 mil pessoas.
Díli, em 1912, um lar de forno, entusiasmava os rebeldes. Filomeno da Câmara
preocupava-se pensar nas astúcias holandesas da fronteira a picar nos régulos
monárquicos do Leste. Nos meados de 1911, os dois lados entraram em campo de
hostilidade devido aos pequenos territórios enclaves e as franjas fronteiriças de
estatuto por definir e suspenso.
O governo sabia que em paralelo aos movimentos inconciliáveis há outro
inimigo invisível e terrível (miséia fome, etc.), ordenava a todos os régulos leais para
produzirem mais e o fiscal posto em acção.
O governante chegava a dedução, D. Boaventura talvez fosse arrastado
conspirar-se com os homens contaminados de ideias, em Díli. Sendo Manufahi, um
reino de Timor português, de grande importância, cujo cabeça aquele rei, figura de
renome, fora humilhado publicamente. Aos portugueses entregues em difíceis
dicisões, restavam-lhes a pronunciar pela retirada de Díli, ficarão plantações de café
testemunhar a presença europeia nas periferias 65.
Os homens de D. Boaventura atacavam abater alguns europeus. A rede
telefónica da zona de conflito com Díli desligava-se. À volta do pânico, muitos datós
leais acreditavam na escassez de meios militares e munições para a contenção das
operações de contra-ataquede organizadas por governo. Em termos aparentes a
acção de rebeldia estendia-se em animosidade.
A vingança subiu aos píncaros, o governador não podia estar indiferente
perante a tamanha situação. A 5 de Janeiro de 1912, tomou a decisão reunir 274
homens (5 oficiais, 40 soldados, 9 voltários e 220 moradores) com 2 canhões,
avançando sobre às montanhas onde se refugiavam os revoltosos à espera dos
melhores dias. Era tempo da chuva, tiveram confrontação com os lanceiros, flechas,
azagaias, achava-se sacrificado e voltava para Díli por um canhão caido em poder dos
sulistas. Noutro avanço da mesma época o tenente Almeida Valente reuniu alguns
fiéis a infligir 150 baixas ao inimigo. Entretanto o régulo continuava rodeado por três
mil homens, com a bandeira monárquica, em movimento de disciplinamento nas
aldeias fortificadas.
65 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editoroal Estampa, 2006, p. 320;
37
Não há outra alternativa para a soberania lusa manter a glória conseguida
pelos seus antepassados, missionários e comerciantes dos séculos XVI e XVII, sem
algum apoio visível doutras províncias, a certeza de um novo beneficiário poderia ser
uma humilhação do império. O apelo de Díli teve imediata resposta, em Julho de 1912,
traduzida na chegada da Canhoeira Pátria e 700 soldados (metropolitanos, indianos,
macaenses e moçambicanos). Um incremento de reforço onde vai ser importante nas
estratégias de operação militar que não deve estar ausente no raciocínio do
governante local.
Surgia à autoridade colonial outro incómodo, em Díli. Uma camada social pós
do seu primitismo, achava-se evoluída organizava uma rede mais forte, englobava os
reinos do interior. Contava-se com o Boaventura para correr com os colonialistas
portugueses. Não se sabia, se foi uma iniciativa de consciência colectiva ou como,
infelizmente, sem voz de liderança. O liurai sulista propós-se dirigir e distribuir
equipamentos e armas para potenciar operações sobre a capital. Os planos cairam
inoperativos por a incapacidade organizativa sem resultar adeptos ao envolvimento a
esta empresa, significava já uma derrota manufahista. Teve que retornar organizar e
proteger o próprio reino.
A retoma de operação pelo lado do governo, estará no avanço de duas
colunas, com os seus componentes atribuídos assumir as respectivas especialidades,
marcado para finais de Fevereiro de 1912. A lógica de punir lentamente as aldeias de
refúgio rebelde encontra-se nas batidas a desfazer pouco a pouco as fortificações, que
dizem ser difícil acesso e mortífero. De facto, os meses de Março a Maio do mesmo
ano, é o período duro e implacável requerido por ambos os lados, que lhes saíram
caro: milhares de baixas, por os timorenses cortar os mesmos timorenses. O
Boaventura, persistia-se dos seus cálculos, acreditava na fé de que o espírito do
sagrado Leo Laco protegia-o ser triunfante, pois contava com o apoio do régulo de Oe
Cusse e dos holandeses do lado ocidental. Confiava no seu esforço que tornará
baldado o sonho do governador, e sozinho voltará à Díli. Os combates se avançavam
e as esperanças de ajuda do lado ocidental era ignorada e sem notícias.
Muitos romperam a disciplina fugirem com seus animais e outros bens para o
lado da fronteira. Foram todos ceifados pelos moradores do ocidente de um liurai fiel
dos portugueses, facto que os fizesse sem abraçar a bandeira laranja.
Tudo vai acontecendo, dia pós dia, em desfavor do rebelde, mas o monte Riak,
de estruturas camufladas, um bastião. Por natureza, uma floresta mais densa o cobre,
oferece refúgio, difícil de saber o movimento humano. Pedras montadas umas das
outras para proteger dos bombardeamentos. Armadilhas de bambus aguçados,
organizadas por entre pedras, invisíveis, podem surpreender alguém passar por elas
38
sem exploração. E, finalmente, o governador Filomeno da Câmara conseguiu inverter
a dura situação, arrastada desde longos anos para cá com a capitulação de D.
Boaventura, régulo de Manufahi, Same.
Uma operação mais díficil, enfrentada pelos portugueses do que nas outras
colónias. Nas operações aplicava uma força conjunta no total de 18.308 homens para
revitalizar a soberania portuguesa na Oceania. 40 mortos, 90 feridos; 30.000
cartucheiros e 628 tiros. Capturados ou entregues: 4536 presos, 342 espingardas,
1100 azagaias, 1800 espadas 1 canhão japonês (capturado em 1911) e 4573 mortos 66
.
66 Idem. Ibidem. pp. 327 ss.
39
2. 1. Administração colonial e as linhas tomadas pelos governantes
Após ter resolvido a situação de resistência, marcada pelo reino de Manufahi, o
governo da Câmara entrava de imediato com o programa de intensificação de
agricultura. Os régulos eram sensibilizados por ideias de uma vida melhor, com as
respectivas populações em actividade das plantações: coqueiros, cacaueiros,
cafezeiros. As povoações vencidas, obrigatoriamente plantar café, 600 pés por cada
familia. As pessoas de idade entre 14 a 60 anos, não lhes havia nenhuma excepção
na participação obrigatória de trabalhos agrícolas.
Intensifcação de agricultura compulsiva levada a cabo por governadores,
Afonso da Costa (1859-1869), José Celestino da Silva (1894-1908) e Filomeno da
Câmara (1911-1917), até 1916, a província assistia uma plantação de 8 milhões de
pés de café. Sinal que daria algum sentido de competitividade na economia a
estimular a sociedade local à exploração de terra, inclusivamente à criação de animais 67.
Os chefes rebeldes destituídos de categoria, igualmente acontecido a
Boaventura antes de ser preso. Este, finalmente, veio falecer na prisão de Ataúro ou
Aipelo, em Julho de 1913, ignorava-se o motivo da morte.
As antigas companhias de moradores foram dissolvidas por governador
interino, Pimenta de Castro, regeneradas em tropas de 1.ª linha sob a alçada de
oficiais europeus. Nas regiões (Manatuto, Baucau) de confiança, convertidas em
organização de sipaios.
Desde que a estabilização da soberania lusa se afirmara, graças ao esforço da
inteligência dos governadores em tornarem o clima mais calmo, alegando não apenas
fora afectado pela permanente turbulência indígena por imposição de fintas ou
indisciplina de autoridades e de cobiça do lado ocidental neerlandês, a que votada a
presença portuguesa à negatividade, mas constatava-se alguma evolução. Na medida
que os programas de acção colonial se implantavam criar raizes no quadro de
recrutamento de mão de obra, surgem mudar o modo de exploração agrícola
tradicional em êxitos positivos. Espaços de comércio se abrem, reivindicam pela
circulção de moedas, na colónia. O governo resolveu fundar o BNU, em Díli, em 1912 68.
Aqui, importa-nos referir o papel de novos grupos letrados, elementos
principais que o sistema confiava, ao longo da história constituíndo-se como espaço
de ligação dos europeus com a sociedade local, além do papel da Igreja, esta, desde a
67 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, pp. 204 ss 68 Idem. Ibidem., 214;
40
primeira hora. É de acreditar, a acção missionária fora muito decisiva do que o Estado
em si, fora responsável pela existência da elite timorense, sucesso essencial do
colonialismo português na Oceania.
Pós a campanha de pacificação, alguns régulos sentiam-se enfraquecidos de
poder interventivo. A alta autoridade colonial, estendia a rede de comunicação com
todos os reinos do interior, dadas as estradas tinham sido incrementadas. Os
contactos mais rápidos com os centros administrativos dispersos se registam com
regular operacionalidade por a rede telefónica igualmente se dilatou de espaços.
Implicava o surgimento dos agentes operacionais deste ramo, e, à media que se
evoluia, indo promover novas actividades que requeiram os nativos letrados e formá-
los em áreas especializadas e a maneira em como gerir administrativamente o
encadeamento de serviços a ela concernentes.
Em face do olhar fronteiriço, tipicamente desdenhoso, pelos vistos, os
governantes não queriam ser um único elemento pela aglotinação dos reinos. É certo
que o seu papel mais decisivo, visa optar uma política pela identidade única - um
factor que requererá a constante intervenção da cultura luso-timorense e da
comunidade católica. Uma ponte credível e de influência em oposição ao lago islâmico
e ao calvanista no lado ocidental da ilha e no resto da Indonésia.
Um processo adequado, no decurso de implementação, vendo-se abrir sinais
de progressão, sem traves. Os centros de aglomeração de conversos cristãos
católicos são também de acesso aos parentes da nobreza nativa. O contacto
frequente dos responsáveis religiosos (missionários) com essas populações,
igualmente trazem novas formas de pensar, a cimentar os laços de amizade e a
trabalhar pelo interesse comum.
A política seguida, marcou novos êxitos que se vêem pela atitude em como a
sociedade timorense olhar a bandeira portuguesa como algo sagrado (lulik) 69.
Recorda-se, Timor dos Belos na esfera colonial portuguesa, aquele que tem
uma história de raridade, à forma como se constituiu em pedaço ultramarino do
império português, nos fins do mundo. Foi tão útil a impressão que lá se fixou
definitivamente a Igreja Católica, ensinando, evangelizando e difundindo com fé o
nome de Portugal, a pátria que a 15.000 quilómetros de distância lhes aparecia
aureolada pelos feitos dos seus capitães e com um fulgor que nunca mais possuiu.
Nem sequer dispunham aqueles humildes roupetas um armado para se protegerem,
não tinham apoio das grossas bombardas que semeavam o terror entre os inimigos de
Portugal, não cuidavam mais que da conversão daquele povo entregue a permanente
69 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia Portuguesa de História, Lisboa, 1992, p. 333;
41
ignorância e primitismo tornaram-se mansidão, simplicidade e virtudes deram-lhes tal
que, em breve a metade ilha os respeitava e chegava, jurando nas suas mãos
vassalagem ao rei de Portugal 70.
O Filomeno da Câmara, foi escolhido como governador dirigir a colónia, por
Decreto de 1910 do mês de Dezembro. No quadro da administração local, encontrava
a deficiente burocracia achando ser difícil reformá-la 71.
Como é sabido que o atributo principal de Timor mais conhecido em todos os
relatos históricos, é dado atrasado. Muitos têm vindo afirmar que a sua longividade da
metrópole era um factor para que o fenómeno existisse, mantivesse a sua tradição
ancestral. A própria característica da sociedade nativa não se manifestava pela
desminagem da cultura fragmentária.
Na medida que a colónia continuasse na mesma situação económica resultava
receitas extremamente magras mesmo que associassem a uma verba orçamental
insignificante à província, sem dar novas decisões ao aparelho organizativo dos
serviços públicos para mudar de feição imperfeita existente.
É certo, as colónias que enfrentam muitos problemas, a sua solução
permanece na preocupação das autoridades locais em mitigá-los através de uma
organização económica, bem conduzida, uma razão que não é fácil de se afirmar um
dia para outro. O caso de Timor, o governador republicano inspirado por uma ordem
da nova política instalada, imprimia-a segundo as suas decisões, às instituições que já
funcionavam tiveram que sofrer alterações, nomeadamente a administração
eclesiástica, reduzida de orçamento. Aos demais serviços públicos viam-se acrescido
e à Marinha ficara com aquilo já atribuido 72.
No universo pessoal superior do funcionalismo público não havia reforma
alguma, talvez fosse associada a permanente revolta e da falta orçamental. Jovens
inexperientes incumbidos de funções à verificação e despacho das mercadorias de
exportação e de importação, enfrentavam maiores dificuldades.
Há uma ausência recatar quanto a natureza económica da ilha, é em parte, por
ora, mantém-se na mesma situação crónica. Afectava a maioria da sociedade
timorense no quadro de uma relação producente agrícola. Vive uma tradição
deserdada de bens sem que uma norma de imparcialidade fê-los sentir os resultados
dolorosos na grande massa.
70 Duarte, Teófilo, Timor Ante Câmara do Inferno!?, Tip. “Minerva”, Famalicão, 1930, pp. 25-26 71 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, III Vol., Agência Geral do Ultramar, 1952, p. 197; 72 Idem, Ibidem. p. 198;
42
Percebe-se da natureza do subdesenvolvimento económico reveste um
aspecto mais repetitivo, é uma afirmação da sociedade nativa mais marcada na sua
vivência de igualdade e em equlíbrio tradicional.
A mortalidade, devido as guerras internas em continuidade, era muito elevada
e o crescimento demográfico mais baixo (0,9 %) anualmente do que outras regiões da
Ásia, por exemplo Indonésia. Mediante o panorama económico desenhado, a vida
indígena acha-se o recurso tradicional compensa o pequeno crescimento demográfico
em locais de exploração de terra73. A presença económica equilibrada, assim
designada, dada a sua produção é local para as necessidades das populações que aí
se agrupam nas respectivas regiões. A necessidade de circulação comercial em
moedas não é frequente na população, sem expressão. Sociologicamente é
equilibrada, sabendo que em Timor as estruturas tradicionais se erguem em redes
familiares. Elas mesmas desempenham a função de defesa, manter a solidariedade
para evitar a mendicidade acentuada na capital.
É aqui, convida-nos a notar de que a psicologia social é equilibrada, por
descobrirmos dentro da imutabilidade tradicional o indivíduo contenta-se com aquilo
que produz e sem pensar no que fora da sociedade não dispõe. A escala de pobreza é
igualmente equilibrada, pois a fonte de meios producentes se mantém na tecnologia
rudimentar. A população possui o mínimo de quantidade a estabilizar o número
populacional e a taxa de natalidade alta, mas as doenças tropicais e a falta de
cuidados higiénicos não perdoam a mortalidade infantil.
Não quer dizer, não existe tendências a mudar estes equilíbrios por outros,
mas a evolução social surge substituir estes estados de situação em tendências de
desequilíbrios. Também não está votado a negatividade dos novos meios de
produção, só que a tecnologia rudimentar não se aperfeiçoava. O que mais acentuava
na agenda dos governantes é a de alcançar a pacificação do território, em plenitude,
de seguida tratará do desenvolvimento social e económico, etc.
Os funcionários nativos não tinham formação literária de primária e de
secundára que pudesse elevar o seu grau cognitivo para obter algum sucesso sobre a
técnica administrativa. Havia, mas eram reduzíssimos, saídos das missões.
Dar sentido à segurança pública, resolviam reabilitar as casas dos comandos
do interior leste e oeste; edifícios públicos e da residência do governador eram
prioritários. Díli, abre-se mais novas estradas a permitir comunicação entre os serviços
públicos como hospital e outras instituições. Criada a repartição do fomento segundo a
73 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008, pp. 139 ss;
43
portaria provincial número 46 de 2 de Março de 1911, para o governador é uma opção
a título experimental.
Este serviço passa a singrar-se, faltava-lhe os técnicos, infelizmente. Pela sua
autonomia geria a distribuição de milhares de quilos de sementes à população.
Contudo, as reivindicações do governador tiveram eco na metrópole a ponto de enviar
um engenheiro agrónomo a chefiar a Repartição do Fomento74.
À medida que via aparecer sinais positivos no quadro do comportamento social
local, desenhava-se o interesse pela paz e pelo melhoramento de vida, o governo
tratou a separação dos servoços militares dos civis. Existido o quartel general a tomar
as tarefas militares, em exclusividade.
É uma das colónias sem entusiasmo na atracção do pessoal metropolitano do
curso superior a prestar serviços. A existência de baixíssimos salários é a razão
fundamental para a falta das atenções da suprema autoridade colonial e ao
alargamento do ensino.
O governo modificou o aspecto da capital Díli que era pantanoso, fabuloso
refúgio dos mosquitos, inimigos da cidade. À drenagem abriram-se as valetas até ao
mar; feitos aterros nos sítios de águas estagnadas, em lugar construíram edifícios,
estradas e jardins. Surgem habitantes chineses ocuparem os pontos mais salubres da
faixa marítima, junto da baía. Os serviços de alfândega povoam o cais; outras funções
de utilidade pública estendem as suas repartições como Correios, Obras Públicas, o
grande templo, resultado das Missões 75 (anexo 1); o antigo recolhimento das Irmãs
Canossianas torna-se em Colégio de Artes e Ofícios, em funcionamento; os antigos
bairros chamdos Bidau, Banamauc, Cai Coli que eram partes físicas da fundação da
capital, em 1769, uns vêem-se em actividade mercantil chinês e árabe; surgiu o
hospital, em Lahane, numa altitude de 300 metros.
Uma cidade mísera, graças ao governador José Celestino da Silva, lançou-se
na iniciativa a tomar rumos de estilo moderno europeu. O denso arvoredo, refúgio dos
ladrões e criminosos junto da cidade era desfeito e tornando-o em espaço construído
de alvenarias para os funcionários de catogoria com suas famílias. Os serviços
sanitários percorrem e fazem o serviço junto dos indígenas.
Uma mudança difícil, mas não faltava entusiasmo a melhorar as estruturas
físicas da cidade; ao longo das estradas eram arborizadas para se protegerem do
calor das épocas secas. A residência do comando da companhia, construída por entre
arvoredo de gondoeiros e outras, no pequeno morro, em Taibesse. 74 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal Volume III, Fundação Oriente, 1952, pp. 200 ss; 75 Martinho, José Simões (capitão), Timor quatro séculos de colonização portuguesa, Porto, 1943, pp. 28 ss;
44
Em sentidos opostos de Díli abrem-se estradas a Manatuto, Bacau, Viqueque e
Lospalos a leste e a oeste, Ermera, Bobonaro, Maliana e Batugadé, etc.; a sul, para
Aileu, Maibisse, Ainaro, Same/Manufahi e Suai 76. Obras que tiveram como
concluídas, permitindo a população em circulação manter-se em contacto permanente
com as sedes admnistrativas, ao mesmo tempo facilitarem pequenos actos mercantis
interlocais.
A esfera aduana via-se sem expressão de funcionamento, quando podia ser
ela a principal fonte de receitas da província. Os chefes nativos quem responsabilizava
pela cobrança dos impostos de indígenas. Por outro lado, quanto ao domínio de terra
ainda não havia uma legislação que regulamentasse, ou seja, que posicionasse em
igualdade a respeito da posse de terra, todos os timorenses sob a vassalagem
portuguesa. A finta, mais tarde aparece (anos de 1900) em géneros, após de uma
nova legislação e pela primeira vez se faz a cobrança do imposto de capitação.
Pela finta, paga colectivamente por cada reino, o liurai é responsável perante a
autoridade colonial77.
O governo inspirado pelos exemplos doutras colónias da Ásia, tomou medidas
a organizar os serviços financeiros numa base mais racional. Iniciou pela introdução
de modernos serviços bancários, como exigência moderna da colónia. Serviços
desempenhados pelo Banco Nacional Ultramarino, assume este papel nas colónias.
Fundado com capitais privados, em Lisboa, em 1864, abriu dependências nas
províncias portuguesas. A 1901, abriu-se em Macau, Timor, em 1912, como cofre
governamental.
A existência bancária na província ocorreria apenas depois de longos anos de
debate à volta da escolha da moeda. Na medida que a colónia portuguesa foi
monetarizada, o florim holandês entrou em troca da rupia, passando dominar as
transacções financeiras nos finais do século XIX e inícios do seguinte. A primeira
referência à circulação da pataca em Timor, ou pataca mexicana – designação dada
em português aos 8 reais mexicanos, ou moedas de dólar em prata – date de 1880, só
em 1894 é que a pataca entrou livremente em Timor, tornando-se moeda-padrão para
solucionar salários civis e militares. Em todo o caso, as duas moedas coexistiam com
uma taxa de câmbio flutuante (1:2,40 florins em 1880, 1:2 florins em 1891). Foram
tomadas, entre 1893 e 1894, outras medidas para reduzir o valor da pataca em
circulação na colónia e para fixar a taxa de câmbio em relação ao florim. Mas também
em 1900 (portaria 49, de 8 de Junho) a importação de moedas de prata mexicanas,
76 Idem, Ibidem, pp. 33-35; 77 Martinho, José Simões (capitão), Problemas administrativos e Colonização da Província de Timor, Editora – Livraria Progredior, Porto, 1944, pp. 102-103;
45
bem como de patacas, foi especialmente licenciada e sujeita a regulamentação contra
falsificação78. Contudo, a circulação de patacas nunca foi sinónimo de uma economia
favorável à colónia por Portugal abandonar o padrão ouro por moeda-prata (dólar-
mexicano) circulava em função das vicissitudes internas do valor da prata.
Quem dominava o sector comercial em Timor, era a SAPT (Sociedade
Agrícola, Pátria e Trabalho), criada por governador José Celestino da Silva, em 1897.
Um poderoso empreendimento como um Estado dentro do Estado, engrandece-se
pelas vastas plantações de café, borracha, etc., de gestão bem orientada por
homens de diversas especialidades, idos da Metrópole79. A seguir, estão os
chineses, habilidosos no comércio, têm ligações com Singapura, Macau,
Formosa, Hong Kong e China Pequim. Mesmo que obtivessem imensos lucros,
não os investiam em Timor, pareciam canalizados para os países de origem. É
raro ver os timorenses nos seus balcões e os ganhos sem sentido em Timor,
chamdos por oportunistas dado ao desconhecimento dos nativos a
mercantilizar 80.
Os governadores Celestino da Silva e Filomeno da Câmara, foram
figuras de dignidade representavam os antigos portugueses manter viva a
soberania lusa no Oriente. Desde tempos dos capitães-mores e ao primeiro
governador (António Coelho Guerreiro, 1701) aceite até ao penúltimo
governador da monarquia, a colónia encontrava-se numa onda de violência
interna, dfícil de a travar. Durante o percurso truculento entre reinos e
portugueses, a presença lusa estava seriamente nas definições de um novo
capítulo da história do império ultramarino, quer dizer, as Índias Orientais da
Holanda estavam em expectativas de ser novo beneficiário81.
O Teófilo Duarte ao começar as funções do governo verificou algo a correr mal,
facto que determinava a rebeldia e a indisciplina de funcionários públicos chegar a
colocar alguns governadores em desrespeito. Muitos destes terminavam as suas
missões sem resolver os ordenados dos funcionários. Deixando-os passar mal com as
famílias, e por último os governadores foram de vítima.
O presente governador, pelas suas reacções demonstravam uma atitude que
visasse a inversão da situação, desejando optar um plano que o fosse útil. Tal
78 Vaz, J. Ferraro, Moeda de Timor, Banco Nacional Ultramarino, Lisboa, 1964, p. 53; 79 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 217; 80 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008, p. 185; 81 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídio para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca - Agência Geral das Colónias, Lisboa, MCMXLIV (1944), p. 162;
46
intenção o leva organizar em constantes comunicações com os funcionários da
administração pública para obter uma certa rentabilidade. Para evitar um suposto
regresso de teatros indesejáveis, ocorridos em Cai Laco, Lautém, Lacló, Manufahi,
etc., o Teófilo Duarte decidiu formar os timorenses em verdadeiras tropas, inspirando-
os como principais detentores da estabilidade da colónia e a criarem em si a alma pelo
interesse militar. Nos comandos criados, chefiados por oficiais portugueses, cujos
vencimentos destes aumentados pela Metrópole a título de despesas de soberania. É
inteligente e com entusiasmo de melhorar o aparelho de defesa militar e a evitar mais
gastos pelos vindos da metrópole e doutras colónias.
A par do projecto, abre-se novas estradas a garantir rápidas comunicações
com os postos administrativos dos concelhos existentes em toda a colónia. De certo
modo esta visão em obras vai ao encontro dos interesses timorenses sobre produtor/
consumidor e assegurará os fundamentos da colonização 82.
Consigo leva um interesse pelo bem de Timor à semelhança das políticas
defendidas pelos Celestino da Silva e Filomeno da Câmara que esforçavam pela
pacificação do país enquanto os predecessores iniciavam, mas sem êxitos.
Aliás, não lhe faltava a ideia com que conduzia a população a amar o cultivo da
terra de várias espécies úteis a vida com sucesso, compensava. Determinou a isenção
de contribuições e impostos durante sete anos, tanto como outros produtos
conseguidos, com base do diploma legislativo de 1927 83.
A partir das pequenas visibilidades, também aqui a adaptação de algumas
práticas tornavam-se um estímulo à sociedade, achando-se útil o trabalho da terra. A
actividade clarificaria os segredos escondidos no solo, quando o homem é consciente
de si de o tratar bem, de certeza, teria respostas úteis. É também verdade, que alguns
governadores aparecem com dificuldades prosseguirem os projectos já começados
por anteriores, nas suas missões, sem pessoas de capacidade técnica e de
inteligência para dirigir as obras em começo ou por executar.
Por outro lado, como foi referido, a colonização em Timor não ocorreu como os
portugueses desejavam dada a falta dos europeus em números suficientes à contribuir
na substituição da situação existente por outra.
Mas também os pequenos passos conseguidos nos desenham de que não
assistimos à uma destruição lenta de confiança lusa na Oceania, contudo, é um
processo de lenta recuperação que vai ditar a contento português. É de sublinar o
papel fundamental dos missionários junto da elite nativa, construindo um edifício de
82 Idem, Ibidem., p. 169; 83 Idem. Ibidem., p. 173;
47
novas perspectivas possíveis, surgem como um momento de acentuada afirmação da
sua soberania.
Teófilo Duarte, procurou reduzir a complexidade de agrupamentos
populacionais muito dispersos, onde muitos deles, localizados nas montanhas – longe
de uma mobilização pública, mantinha um padrão ancestral em nada contribuía em
interesses de matriz públicos. Em oposição a indesejável dispersão, o governador
planeou dar estímulos a população em cada local conformar-se às ideias do
governante construir aldeias em sítios acessíveis. Soluções que vão envolver pouco a
pouco as massas em organizações colectivas e à necessidade de abrir escolas e o
hábito de cuidar saúde pública torna-se plano das prioridades.
O reordenamento de aldeias contribui a eficácia da fiscalização de fintas, a
mobilização populacional ao cultivo de terra e recrutamento de militares – factor
essencial ao encontro das aspirações portuguesas 84.
84 Gunn, Geiffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 220;
48
2. 2. O ensino e o papel da Igreja Católica
No quadro colonial, assiste-se a algumas reformas de índole administrativa sob
os êxitos fornecidos pelas missões, desde a acção missionária tivera a sua afirmação
em vários reinos da ilha. É a partir deste contexto que se acentua a relação colonial,
com uma intervenção mais próxima e eficaz, traduzida pelas escolas existentes em
todas as zonas de estações messionárias e de centros de catequese.
Os serviços dos sacerdotes espalhados no País dos Belos, floresciam e muitos
dos clérigos contribuiam nos assuntos pertencentes ao poder político, principalmente
na mediação entre os reinos suspeitos e o representante da Coroa. Neles, inculcando
novas ideias que os tornam perspectíveis, dialogando com eles sobre problema da
economia. Um factor essencial na tentativa de substituir o estado da situação social
degradante por algo conseguido do cultivo da terra, indústria, artesanato.
Desde as autoridades civis, militares e religiosas achavam-se entusiasmadas
por esses indícios, fazendo com que envolviam mais nativos a fazerem-se parte das
organizações públicas; participando nas tarefas de utilidade colectiva para melhorar os
centros administrativos, etc. Uma política escolhida em programas para executar os
planos que favoreçam a educação dos filhos das elites nativas, e estende-se aos
doutras famílias.
Importa-nos recodar, que no contexto colonial, até meados do século XVIII, não
há exppressão de movimentos independentistas. Há focos de revolta que
correspondem a problemas locais, não à expressão de uma posição teorizada de
confrontação política; não há espaço, por isso numa sociedade que assenta na
dependência e na diferença. Também os Estados não exercem até esta época uma
política de pressão administrativa e militar. A coroa é uma entidade distante e o poder
é exercido pelas elites coloniais, em autogoverno.
É também, nos finais desse século, que a monarquia dos Bragança assistiu a
nova política em Portugal, emergiu com a invasão francesa. Determinou a fuga da
corte real ao Brasil 85 e a crise política e económica assolou a sociedade portuguesa.
Seguida por guerras civis, culminavam com o triunfo da Revolução de 1820. A
monarquia absoluta substituida por monarquia constitucional de coloração liberal, por
o miguelismo derrotado abandonar o governo. Os homens de D. Pedro IV, sentiam-se
afirmados de seus ideais revolucionários, visavam tornar Portugal numa nova
sociologia. Um olhar severo a Igreja Católica, considerada instituição do Antigo
Regime. Os políticos do poder instalado, de cérebros a ferver pela extinção da
85 Wolcken, Petrick, O Império à deriva, a Corte portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821, Civilização Editora, 2007, p. 18;
49
influência eclesiática. No âmbito deste processo, moviam uma perseguição a clerezia
e a sua hierarquia; bens apoderados, os conventos convertidos para outros fins, de
carácter arreligioso.
Os serviços sociais a cargo da Igreja Católica são retirados, entregues a novas
instituições criadas pelo poder liberal86. A sociedade portuguesa dividia-se dada a
ruptura da Instituição secular, mais enraizada em termos da informação cristã como
património cultural. Contudo, a nova política seguida não se limitou apenas na
metrópole: abrangiu as colónias africanas e da Ásia 87.
Timor passava a assistir a expulsão de muitos cleros e religiosas,
naturalmente, eram responsáveis de conversões dos indígenas pelas quais
transmitiam os padrões civilizacionais. Da nova atitude política, aos progressos
conseguidos, terão consequências de maior retrocesso durante 40 anos 88.
As religiosas e missionários abandonram o País, os colégios que acolhiam os
filhos indígenas de ambos os sexos para aprender a ler e escrever, etc., tiveram que
obedecer as férias impostas. As casas rudimentares que os pertenciam entregues às
portas fechadas até ao estado de ruínas.
E Timor, ficou apenas com dois padres. À volta do desfalque fez sentir no
Estado da Índia, promover diálogos entre autoridades políticas e eclesiásticas de
forma criar portarias régias ao reenvio de padres à colónia 89.
A ordem Liberal de 1834 desanimou a conquista política dos governadores ora
nomeados dirigir a administração da província 90. Época embaraçosa às autoridades
lusas promoverem planos de interesse público, verificando que o clima insubmisso de
certos regulados, em processo de difícil sucesso. Os governantes políticos viam-se
enfraquecidos, localmente sem apoio idóneo, por tudo isso, e ainda, numa longividade
para obter uma imediata indicação das hierarquias de carácter vertical. Tudo indicava
que o futuro dirá por Timor, o que quer para o bem-estar e por quem esperava para o
valer à inversão das coisas.
86 Neto, Vitor, o Estado, a Igreja e a Sociedade em Portugal (1832-1911), INCM, 1998, pp. 46-50; 87 Rêgo, António Silva, O Padroado Português do Oriente, Esboço histórico, Lisboa, Agência das Colónias, 1940, p. 108; 88 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Notícias Editorial, p. 56; 89 Por determinação do governador –geral da Índia, os dirigentes eclesiáticos enviaram 4 padres, sendo o sacerdote timorense Gregório Maria Barreto, nomeado superior das missões, conforme Teixeira, Manuel (padre), Notícia Histórica das Missões de Timor, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau”, N.º 419, 1939, p. 190; 90 Fernandes, Francisco (padre), Das Missões de Timor, in “Revista de Estudos Luso-Asiáticos (Macau) N.º 1, Setembro 1992, pp. 16-17;
50
As políticas internas da Metrópole, em favor dos programas das respectivas
facções do mesmo movimento revolucionário, contribuíram o arrastamento da
reorganização das missões da colónia. Os que ficavam, cada vez às idades os
ameaçavam do fim das missões com eles naquela paragem do fim do mundo.
Porém, o governo liberal via-se dificultado nas suas realidades perante a
resistência popular no tocante a reorganização do aparelho eclesiástico no poder
instaurado. Facto que o movia aproximações com o Vaticano, no sentido de reaver
entendimentos entre Portugal e o Estado Pontífice, resultaram a Concordata de 1857,
assinada por D. Maria II, Rainha de Portugal e o Papa Pio IX 91. Sucesso que
reconquistará a tranquilidade e a compreensão entre os extremos do mesmo Portugal.
Ao nível das mudanças do regime monárquico com vista a regenerar a
sociedade portuguesa, entretanto o século XIX ainda representa o retrato negativo das
colónias, dado o analfabetismo mantém-se em topo. Havia escolas, em números
reduzíssimos, por obedecerem apenas aos locais onde funcionava a acção
missionária. Nos anos de 1850, viu-se surgir a fundação das escolas primárias nas
províncias, onde Timor mereceu uma 92.
O vazio missionário na colónia foi um dos temas mais preocupara alguns
quadrantes do poder régio, tanto que, a Diocese de Macau tomara decisões. Em
Março de 1877, o reitor do seminário, nomeado superior e vigário geral do distrito de
Timor, padre António Joaquim de Medeiros (futuro bispo de Macau) a visitar o
território. As suas informações tiveram eco imediato. Sete missionários, todos
europeus chegaram em Díli, a 2 de Junho do mesmo ano, e mais um sacerdote
chinês, padre Francisco Leang, natural de Cantão. Foram de uma barca de vela Trio
holandesa, fretada por governo.
A chegada, ficou organizado o quadro missionário por 10 padres, em Timor.
Um dos primeiros passos era a reorganização das missões, concretizado. Tendo os
mesmos, imediatamente colocados nas zonas, já traçadas por visitador, padre
Medeiros. Instruídos a cumprir os seus deveres conforme normas aprendidas no
Seminário de Sernache do Bom Jardim. Uma das prioridades do contacto directo com
a sociedade nativa, são impostos a aprenderem a língua local, para se entenderem
com os cristãos, catecúmenos, confissões e autoridades tradicionais, à vontade 93.
91 Azevedo, Carlos Moreira (direc.) Dicionário de História Religiosa de Portugal, CEH.UCP, Círculo Leitores, 2000, p. 404; 92 Por força do Decreto de 14 de Agosto de 1845: Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III. Das Revoluções Liberais aos nossos dias, Palas Editores, Lisboa, 1986, p. 197; 93 Goulart, Jaime (Bispo de Timor de 1945-1967), Reorganização das Missões de Timor: 1874-1878, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau“, n.º 423, 1939, pp. 854 -857;
51
Como foi dito, havia uma escola única de instrução primária, em Díli, sob a
responsabilidade do governo e, uma particular, dirigida por um antigo cabo das
companhias. Faltavam de tudo, sem livros, papéis e tinta para os professores.
Os problemas, constituíam-se um fenómeno lamentável na formação dos filhos
nativos e o superior das missões, padre António Joaquim Medeiros com os quais
tomou as medidas: logo posto, os missionários referidos, nos locais mencionados, o
mesmo superior ordenou-os abrirem as escolas a servirem os indígenas 94.
Entretanto, o vigário-geral do distrito de Timor, foi substituído por padre João
Gomes Ferreira, por esse fora nomeado bispo de Macau, em Março de 1885 95.
Contudo, este religioso, com nova postura, a sua preocupação se redobrava através
dos missionários, em serviço activo, na ilha, fizeram evoluir a missão e prestar apoios
de serviços da esfera governamental. Não lhes faltava a vontade de se aproximarem
dos régulos, em frequência, no sentido de criarem uma geografia humana de amizade
e de paz com estes e a autoridade colonial 96.
O bispo António Joaquim Medeiros, manteve as suas atenções de unidade com
o governo local, durante 24 anos de tempo, e foi ele o principal obreiro da
reconstrução das igrejas de Timor. Veio falecer a 7 de Janeiro de 1897, em Lahane,
Díli 97.
A começar reorganizar as missões, Timor passa a depender do bispo de
Macau, a partir de 1874. Cerca de cinco anos mais tarde, chegam em Díli, as
primeiras religiosas de Caridade Canossianas que fundam uma escola e um internato
para as meninas. Ano a seguir, aparecerá o primeiro colégio-internato para rapazes
em Lahane, Díli. Em 1903, é criado o Colégio masculino de Soibada por jesuítas,
chegados em Díli a 1900.
Precisamente, neste ano, as missões foram autorizadas superiormente a
obedecerem dois vicariatos, criados por decreto de 15 de Novembro do mesmo ano :
um, na parte Norte, com sede em Lahane. Ficará em poder dos missionários seculares
e outro, no lado Sul, cuja sede Soibada sob a administração dos jesuítas.
Administrativamente, ambos obedecem a Diocese de Macau 98.
94 Idem, Ibidem, p. 858; 95 Teixeira, Manuel (padre), Notícia Histórica das Missões de Timor, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau”, n.º 419, 1939, p. 208; 96 Idem, Ibidem, p. 211; 97 Idem, Ibidem, p. 215; 98 Idem, Ibidem, p. 215;
52
Perfeitamente, as missões têm já as suas organizações hierarquizadas, de
forma permitirem o funcionamento a abrir-se em leque, penetrando nos agrupamentos
populacionais a reavivar actos de fé, que perderam a assistência numa longa
temporada.
Porém, ultrapassada a crise dos efeitos liberais de 1834, em Timor, uma certa
estabilidade permite o desenvolvimento das missões, com a afirmação da crescente
criação de escolas 99. Díli, que seria o centro administrativo colonial, onde se
encontram as elites cultas do funcionalismo do governo. Crescem planos pela
reivindicação para aperfeiçoar o cultivo da terra para melhorar a economia ainda que
mantivesse instrumentos rudimentares, segurança das populações e outras obras.
As escolas se multiplicam à medida que se cresce o número missionário, elas,
a partida, serviram-se como bases embrionárias bem sucedidas. O que muda, o que é
novo, é o interesse em estudar ler, escrever e descobrir novas formas de vestir, viver e
conviver com o próximo. São sinais evidentes, em oposição a uma constante
manutenção das coisas ancestrais e do analfabetismo.
É um esforço para vencer preconceitos, é o caminhar para a adopção da
compreensão da sociedade local, que tem um carácter revolucionário uma vez que
valoriza o ser humano e a sua capacidade organizadora. São valores que difundem
rapidamente na sociedade timorense.
O ambiente político que reclamava pela extinção da arquitectura régia
constitucional não parava as suas lutas, no continente. Conquistava, mobilizava
adesões populares às ambições para substituir o regime monárquico, cada vez se
prenunciava, extremamente potencial.
O questionamento em curso, na sociedade portuguesa, se concretizou em
destronamento da Monarquia Constitucional100 em estado permanente por República,
a 5 de Outubro de 1910. Uma era que entra em luta pela mutação política para
desfazer os negócios dos poderes temporal e espiritual. Retira o reconhecimento do
estatuto da religião católica da Carta Constitucional. O novo rumo seguido pelos
actores da democracia e do republicanismo decidem substituir as acções religiosas
99 Costa, Luís (ex-padre timorense), O Relatório “A Igreja Católica e Timor-Leste”, 1988, p.2; 100 Os partidos em extremos – esquerda e direita não se entendiam tanto como o primeiro ministro era incapaz à solução política, e infelizmente o rei D. Carlos foi assassinado quando viajava de carruagem, no Terreiro do Paço, a 1 de Fevereiro de 1908: Ramos, Rui, João Franco e o fracasso do Reformismo (1884-1908, de ICS, de 2001, p. 169;
53
nos campos de assistência, sobretudo no ensino e educação. Em lugar, estarão as
instituições de novos instrumentos de inculcação que assumirão essas actividades101.
O tufão do novo regime, tornara-se, sentido em Timor português, pós os
missionários em alvo de perseguição – saídos da colónia, migraram para outras
regiões. Abandonaram as escolas, as missões sem continuidade.
A nova ordem ditou os 22 padres para 10, na colónia. As religiosas foram
obrigadas fechar as escolas ministradas e abandonar o país, onde se tornaram em
1923 (Luís Costa, Relatório, 1988, p. 2).
Em 1920, Macau e Timor terão o novo bispo nomeado, D. José da Costa
Nunes. Criou várias missões, construir Igrejas, fez existir a escola de professores
catequistas, e a escola de Artes e Ofícios. Os colégios missionários indo resultar
cursos de sacerdote para nativos, em Macau e na Metrópole.
O novo prelado visitara o país, concordava-se com os missionários lá em
serviço abosorver o Vicariato Geral da Costa Sul ou Contra-Costa com sede em
Soibada por Provisão de 15 de Setembro de 1924. Esta passará à categoria de
simples Missão Central. Uma solução obtida com vista a ter um único Vigário Geral
com sede em Lahane, Díli. Todas as missões da colónia são da sua dependência e
administrativamente, aquele submete-se ao bispo de Macau 102.
O relatório do mesmo prelado ao ministro das colónias conforme obra do padre
Manuel Teixeira, pinta-nos dizer até 1937, os missionários fundaram 46 escolas com
2970 alunos de ambos os sexos 103. Relatório que, aos nossos olhos, com o desvelar
do sucesso luso pela mão dos padres, ilustra de que forma um plano de actuação na
Oceania, se transformou numa irreversível presença cultural reconfiguradora das
categorias mentais do Ocidente europeu, em representações então conhecidas e
disseminadas.
Em termos vizinhos, geograficamente, deduzo eu, o acentuar cultural processa-
se pois em sentido diametralmente adverso ao que se acontecia noutro lado do
colosso, cujas Java, Sumatra, Kalimanta, Sulawessi, nestes o islamismo se abria de
leque cada vez mais forte, e a outras ilhas por aí fora. Pelo raciocínio de que nenhuma
abordagem do processo colonial seria completa sem tomar em consideração as
relações entre o poder político e a sociedade civil, particularmente, no caso de Timor
dos Belos o estatuto das missões católicas e a sua acção educadora e pastoral. Não
só na Oceania, noutras partes de soberania portuguesa, nos primeiros tempos de
101 Catroga, Fernando, O Republicanismo em Portugal da formação ao 5 de Outubro de 1910 «Estado Laico», Notícias Editorial, 2000, p. 204; 102 Teixera, Manuel, Notícia Histórica das Missões de Timor, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau”, n.º 419, 1939, p.217; 103 Idem, Ibidem, p. 219;
54
colonização, a falta de pessoal régio a organização cabia aos missionários criar os
núcleos organizativos com vista a conduzir os indígenas em acções colectivas.
A entrada da política do Estado Novo do Império português, onde emerge a
figura do Dr. António Oliveira Salazar, como presidente do conselho de ministros.
Através do Acto Colonial de 1930, considera todas as colónias de África e de Ásia de
Soberania lusa Ultramar são do mesmo pé de igualdade perante a única autoridade
política. É neste espírito que o poder central entra em promoções pela prosperidade
económica das colónias como única forma de melhorar a vida das populações.
No quadro da gestão política, os governadores se sucedem em Timor, como
ocorriam em anteriores da I República. Cada um deles manifestava o seu interesse
pelo bem do país, usando as suas inteligências para o tornar em nível de qualidade, à
medida que indo melhorar as estruturas físicas administrativas. Logo em 1937,
depara-se com uma igreja construída, pela imponência da sua estrutura, em termos
formatos de uma catedral (anexo 2).
Impressionava as autoridades tanto nativas da época, inaugurada pelo
governador Álvaro Fontoura e por bispo de Macau e de Timor, D. José da Costa
Nunes. Evento que reunia grande massa popular de todos os estratos da contiguidade
Díli.
O mesmo governante, junto do ministro conseguiu especialista geodésico
deslocar-se à ilha colocar um marco, no pico do monte de Ramelau de cerca de 3000
metros, onde se inscreve a seguinte legenda:
Portugal
Alto Império que o Sol logo em nascente vê primeiro.
No mesmo píncaro, o governador contemplava as paisagens verdejantes, lá, a
colónia foi benzida e a todo o Império por um sacerdote, que se integrava nessa
jornada 104.
Anos a seguir surge melhorar a política sanitária, questão ocupada pelos
governadores a partir por major Álvaro Fontoura, à qual decidiu dividir o país em três
zonas com a repartição de Serviços de Saúde e o Hospital Principal com sede em Díli.
Funcionavam de tal forma a que o enclave de Oecusse não ficava excluída desta rede.
As descrições deixadas por governantes que cumpriram religiosamente a sua
missão na colónia, alegam imensas dificuldades de criar mais unidades de tratamento
sanitárias. Vendo as pessoas punidas por doenças de rapidez contagiosas, difícil
largá-las, invadiam famílias inteiras, dificultá-las a actividades producentes.
104 Castro, Gonçalo Pimenta de (coronel), Timor (Subsídios para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca. Agência Geral das Colónias., Lisboa, MCMXLIV, pp. 194 e 195;
55
Sob o peso insuportável em termos financeiros, o governo arriscava-se criar
um pavilhão de isolamento para mitigar a intensa tuberculose. Os serviços de
enfermaria se estendem para leste, oeste e central sul. Necessidades estas, geram o
curso para formação de enfermeiros, no futuro, assumirão as mesmas funções noutras
localidades que também merecerão 105.
O governo da República instaurado, aparecia com uma atitude reconhecível
para com as missões católicas, solicitando manter as suas missões no ensino e na
evangelização. O Estado as protege, paga os missionários professores, permiti-los
continuar em rumos de especialidade profissional e de sacerdócio junto da sociedade.
O ministro da colónia chegou criar o Estatuto Orgânico das Missões Católicas,
regulamentava os subsídios destinados as missões, apoiar os missionários na
contínua evangelização e civilização dos nativos, de acordo com o contexto do
estatuto estabelecido.
Na sequência, as escolas que eram orientadas por indígenas sob a nova
ordem da república, sem nenhuma rentabilidade resultava, associada a incapacidade
directiva de quem fiscalizava. Voltarão de novo confiar aos missionários com a
excepção da escola primária, em Díli, permanecendo na responsabidade do governo 106.
Muitos, terminados o curso de habilitação primária, sem postos onde os
colocar. São expeditos, contribuem nos serviços das missões. Como sendo uns,
formados na escola de catequistas, com aptidões inegáveis, e para obter uma vida
decente, o Estado não ignorava este sentimento, permitiu-os ensinar nas escolas do
interior, como monitores onde terão o ordenado - patacas e escudos.
As escolas vão sendo adaptar-se novas bases de função que se associa à
prática agrícola. Incentivar nos estudantes os valores de trabalho de terra, uma fonte
que garante a felicidade das pessoas.
Ainda o major Álvaro Fontoura, conseguiu fundar uma escola do nível pós-
primário. Aos que, porventura tivessem capacidade continuar pós o término de
instrução primária. Sob o propósito do Diploma Legislativo n.º 159, feito o Liceu. Em
honra do ministro das colónias a escola ficou designada: Colégio-Liceu Dr. Francisco
Machado 107. Os primeiros resultados desta escola iam sendo ocupar os postos altos
do funcionalismo público, entre os quais aspirante, adjunto administrativos, chefes do
postos, etc..
105 Idem, Ibidem, p. 201; 106 Idem, Ibidem, p. 203; 107 Idem, Ibidem, pp. 205-206;
56
2. 3. Autoridades tradicionais
O Timor dos Belos, na sua sociedade ancestral, assentava-se numa
organização de matriz feudal. No alto da hierarquia se encontravam posicionados os
responsáveis nativos, designadamente, datós/liurai/régulo (nobreza), de seguida, o
povo, a última base social, os escravos, prisioneiros de guerra dos vencidos.
O sistema social vinculava-se em regulados, que ao longo dos tempos,
assegurado por redes de parentesco, definido por laços matrimoniais. Na maioria dos
componentes, sendo um dos membros idóneos é considerado responsável, designado
por dató. Atribuído de autoridade em agir pela justiça e tomar o domínio de terra.
De uma cultura mais votada a guerra, um contra outro, não os permitira que
fossem adoptar outro padrão que os influesse melhorar-se de vida.
Desde que aceitavam a colonização portuguesa, os régulos tornavam-se um
forte aliado europeu. Com este, advogavam pelo interesse comum. As suas relações
se perpetuavam em sucessivas gerações, num longo período de cerca de cinco
séculos. Em resultado da boa vontade em viver a mesma história do lusitano europeu,
foram atribuídos por postos de oficialato e, tornando-se súbditos da Coroa portuguesa
com todos os reinos que os dependiam.
Os régulos sucedem-se por hereditariedade a governar o seu povo: de pais
para filhos primogénitos ou parentes mais próximos para que a morte de um pai, mãe,
tio não deixasse o lugar vago ou ocupado por alguém que não pertencesse deste
estrato. Tiveram o lugar cimeiro na sociedade, quando o poder colonial fora aceite
reconhecidamente de uma vez para sempre. Constituíam-se uma classe social mais
próxima da alta autoridade colonial. Em nome desta, transmitiam junto do seu povo os
propósitos portugueses, a ponto de os aceitar como norma de conduzir o seu destino;
modificar, realmente, o hábito de trabalhar, em horas determinadas e noutras, para se
descansarem recompor as energias esgotadas, nos tempos laborais, etc.
Rumo aberto, começaram o contacto directo com os europeus pelo interesse
de mercadorias de sândalo, mel e pimenta. O interesse inicial do Ocidente à essa
parte, tornara-se em interesse de poder político e de domínio, à medida que a sua
presença é admirada por nativos ser responsável pela inovação do que existira .
Os regulados têm a sua própria organização de segurança, consiste nos
moradores, em companhias. Dentre eles, um dos mais evoluídos, escolhidos como
comandante a dirigir as tarefas que são ligadas as orientações dos conselheiros e dos
próprios datós. É ele quem avalia as situações de ameaça vizinha e a tomar decisões
sobre os momentos de risco iminente.
57
Uma estrutura que tem os seus componentes: povoações ou agrupamentos
populacionais. Desde sempre, cada uma fornecia um certo número de pessoas ao
liurai/dató prestar serviços producentes e de correio, em sistema alternativo.
O modo de relações entre os liurais e os seus súbditos resistem longos
períodos seculares da administração colonial lusa até a nova ordem inspirada por 25
de Abril português, donde se desfizeram com seus privilégios de aristocracia em
esboroamento.
Tinham extensos terrenos e baldios, explorados pelas pessoas em favor dos
régulos. Anualmente, resultavam grandes quantidades de rendimentos à mesa e a
outras necessidades. Os seus bens crescem, o número de gados se multiplica de ano
para ano. Uma vida de aristocracia rural que torna o grupo, socialmente, diferente no
reino. O seu contacto manteve-se em frequência com as elites de poder colonial e de
cultura ocidental. O panorama social familiar, depressa se manifestara de forma
acentuadamente decente; os seus filhos são os primeiros conduzidos à descoberta da
cultura letrada, sucesso preconizado pelos primeiros governantes, pela mão dos
missionários.
O Timor, foi uma sociedade longamente fragmentária, desconhecia a noção de
uma unidade construída com o resto do seu mundo regional. Numa época, realmente,
faltava-lhe elites de consciência directiva para promover e organizar em torno de uma
perspectiva criadora em benefício da unicidade regional. Uma vaga de sem barreiras
que permitira aos ocidentais construir as suas empresas e a imprimirem imagens,
representações mentais do Homem europeu. Fizeram calar os senhores sultões e
datos.
Ao longo das guerras internas, a intervenção lusa era mal conduzida, às
confrontações prolongadas, anos a fio 108. Causavam massacres entre os extremos e
o pânico pesava nos europeus e em desespero.
Aliás, o povo é a fonte do sustento da nobreza, cultiva a terra, pagando imposto
e cumprindo várias obrigações, entre as quais cuidar das casas de residência do liurai,
guardar os animais. Nestas relações, ao povo é admitido cultivar a terra, no âmbito de
pagamento de imposto, o rai-ten (uma pequena parte do rendimento).
Para lá das relações sociais, Timor admite-se a poligamia, considerada sinal de
nobreza e distinção, pois o homem casado com várias esposas é considerado rico,
uma vez que teve posses pagar mais do que um dote, fazendo da poligamia dos
privilégios, os datós e os liurais. Nas regiões onde o saber ler, escrever e o catolicismo
influenciam, esta prática se vê desaparecendo.
108 Idem, Ibidem, p. 214;
58
Casos da organização da elite nativa, terminada a questão de insubmissão dos
reinos de Manufahi, a administração tomou uma política de ruptura na organização
tradicional. A potentados por resistência foram depostos de categorias, perdendo o
sistema hereditário de continuar na governação dos respectivos povos.
Em face das modificações ocorridas, emergem-se novas figuras que nas
situações críticas aliavam-se aos projectos de contra-ataque, promovidos pelos
governantes. Um dos reinos que se afastava das intenções manufahistas era o suco
de Suro, de D. Aleixo Corte-Real. Às forças sulistas não perdoavam os propósitos do
régulo de Ainaro a estar pelo lado das autoridades portuguesas. Avançava com toda a
força em direcção a este reino, assassinaram o comandante da região, destruindo
tudo o que encontrava no caminho, aprisionava civis, no intuíto de o subordinar à
autoridade de Manufahi.
Uma resposta imediata, mobilizada pelos comandantes de Suro sob a ordem
do Nai Cau, chefe principal de Suro, tio de D. Aleixo, que englobava os sucos mais
distantes em cooperação ao encontro dos referidos inimigos. Tiveram um combate
renhido, donde o D. Boaventura ficara vencido ordenara os seus homens regressarem
a Manufahi. As povoações de Ablai-Fu, Leo-Telu, Leo-Lima entraram em poder do
Suro.
Conhecida a fuga dos atacantes, o governo voltou a reorganizar as guarnições
de Ainaro e reforçar a defesa de seus sucos dos restantes rebeldes. As autoridades
lusas propuseram o suco de Suro fosse um regulado, à época pertencia a jurisdição
de Atsabe 109. Em recompensa da heroicidade, o comando militar ficará a funcionar em
Ainaro 110.
Era em épocas de 1911-12, campanhas de pacificação, que se descobrira
saber o Nai Sessu, pai do D. Aleixo Corte-Real, chefe principal suco de Suro-Craic,
por morte dele mais cedo o seu tio Nai-Cau quem assumiu a gestão administrativa
desse reino.
Na grande família de aristocracia do Suro, emerge um jovem, criado pela
época, mais tarde, o seu nome surge nas páginas da história colonial da II Guerra
Mundial. Desde jovem andava a colaborar com os militares, aprendia experiência em
como lidar com o destino do povo nas complexas circunstâncias.
As pressões preocupavam os tios abandonar a administração dos reinos, e que
fosse ele a assumir o poder. Colocando-se à frente, à medida que ia exercendo as
funções de régulo, ao mesmo tempo os seus inimigos jogavam uma política de
desprestígio a minar-lhe dos poderes psicológicos. Nele, o ódio se fez cevar,
109 Martinho, José Simões (capitão) Vida e Morte do Régulo Timorense D. Aleixo, Lisboa, 1947, pp. 5-7; 110 Idem, Ibidem, p. 8;
59
determinou a sua prisão, acusando-o ser mandato de assassinar uma família inteira,
possuidora de ouro e de prata.
Cumpriu meses de reclusão, em Díli, causou acesas discussões entre
testemunhas e juízes. Muitos reivindicaram pela sua inocência, até os missionários
pediram que o fosse posto em liberdade. O seu processo foi revisto a cargo de um
novo juíz.
Saído da prisão, renuncia o seu cargo de régulo junto das autoridades e
desejava no exílio o esquecimento das amarguras. Pedido rejeitado pelas autoridades,
de modo que continuava a exercer as funções de liurai. O mesmo concordava-se com
os governantes, mas queria governar de cabeça erguida, não aceitava que fosse
humilhado, acusado sem fundamentos 111.
Teve duas mulheres. Era gentio, pai de dois filhos da primeira esposa
chamados, Benajamin e Adriano, alunos dos padres. Converteu-se ao catolicismo em
1931. De seguida, casou-se catolicamente com a primeira esposa, Maria. A segunda,
após ter sido baptizada recolheu-se numa residência particular, na mesma vila de
Ainaro, pós estabelecido um acordo familiar.
A sua fidelidade com Portugal foi algo invulgar aos olhos das autoridades lusas.
Quando o governo do Estado Novo, realizara as festas coloniais no Porto, D. Aleixo
com sua esposa e filho Adriano no evento, ocorrido em 1937, representava os régulos
de Timor. Uma oportunidade que o permitiu confirmar a solidariedade de quantos que
passaram em missões na colónia, visitaram-o durante a estadia 112.
A população recebeu calorosamente o seu liurai de regresso. A sua
permanência no Portugal continental fez-lhe mitigar as amarguras que vivia. Admirava-
se muito pelas atenções de quantos quadrantes políticos e o mesmo manifestava-se
entusiasmado voltar um dia à Metrópole (anexo 3).
O próprio D. Aleixo, interessou-se muito pelo seu povo no desenvolvimento da
agricultura. Intensivou a cultura do café no reino. Constantemente, acompanhava os
trabalhadores na abertura de mais estradas. No seu regulado construíu enfermaria e
igreja (uma das segundas de Timor pela sua grandeza) (J. S. Martinho, 1947, p. 18).
A cooperação da nobreza nativa com a autoridade colonial no quadro da
reorganização do pós-guerra de Manufahi de 1911-12, o país voltou a registar algum
equilíbrio social. Confere novas prostas de projectos às populações na vida quotidiana,
em busca de uma possível prosperidade no futuro, como laboratório de regeneração
mental. E, ao nível do mútuo entendimento progressivo, havia outra tendência de
alguns europeus a ficarem por lá, a construir as próprias famílias com mulheres
111 Idem, Ibidem, pp. 15-16; 112 Idem, Ibidem, pp. 17-19;
60
indígenas. O novo espaço, permitia-lhes casar com as filhas dos régulos, datós e das
famílias letradas.
Uma rede social que consolidava as relações das duas comunidades, na
Oceania. Ao longo da história portuguesa, se confirmava na apetência do cultivo da
terra por alguns portugueses, em diferentes regiões do Timor-Leste. Opção seguida
por mais de dez, após terem sido desvinculados do funcionalismo. Tiveram
descendentes brancos e mestiços, ajudavam entusiasmar à adaptação do Ocidente,
além dos agentes oficiais113.
O Timor dos Belos, é uma paragem mais distante de todas as colónias de
Portugal. Nos primeiros períodos de fixação ao século inicial contemporâneo, os
poderes lusos encontravam-se numa posição seriamente titanizada. Ao esforço da
activa intervenção dos missionários em sentido comum no quadro de escolarização
dos filhos de chefes nativos, se ia dilatando, inverteu o estado das coisas em paz.
Produziu novos estratos sociais, desigandamente letrados, e às inspirações de
desagregação da sociedade tornar-se-á inexistente.
O crescimento de letrados na aristocracia tradicional, aos pais datós, é uma
nova preocupação. Sentido-se ameaçados de postura de poder, por os filhos terem a
escolha de corrida ao funcionalismo e ao serviço militar. Cada vez abandonam as
povoações rumo a pequena capital Díli ou aos centros administrativos dos concelhos
já evoluídos.
O descontentamento da classe nobre rural acentua-se, à medida que se sente
pela falta de sucessão, e sem ninguém credível familiar a prosseguir os cuidados dos
seus gados e terrenos. São únicas fontes para sustentar o agregado, porque um
pouco de terra agricultada e de posse de alguns animais, considerados riqueza desse
estrato social. Desconhecia a indústria e a fábrica que transformam as matérias-
primas em produtos de consumo.
Vive-se um tempo que apela à participação, no modelo de organização,
socialmente colectiva, que desenvolve a educação e a sensibilização de saber ler e
escrever, não só como forma de comunicação, mas como veículo para ensinar o que é
ser boa gente e bom súbdito. Procura-se construir a sociedade pacífica e exemplar.
É a tentativa de inculcar a noção de um destino comum, em torno de uma
identidade única com língua nacional unificadora para além dos dialectos.
Salazar chega ao poder em 1932, Portugal logo de um chefe, a surgir acima
das facções, dos partidos, dos movimentos. Aceite este princípio, está aberto o
caminho para o culto da personagem, para o mito da infalibilidade do líder, mesmo
113 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca – Agência Geral das Colónias, Lisboa, MCMXLIV (1944), pp. 181-183;
61
para uma teocratização do regime, suportada pela propaganda. A vaga política
emergiu nas situações a seguir da queda da I República, falhada da sua política114, o
que se coloca é, perante a ruptura, reformular o contrato político com uma das suas
componentes.
O Estado português a quem o dirige, aprofunda a sua proximidade com a
Igreja, através de entendimentos, procurando legitimar-se também pela via religiosa.
Pelas relações assentes, enquanto vontade reguladora das relações entre o Estado e
Igreja.
Para o caso de Timor, o sonho imperial se afirmava dada a existência dos
missionários e religiosos, reforçados pelo acordo bilateral (Estado/Igreja) reconhecidos
na cooperação, desde os primeiros capitães-mores ,do século XVI.
A postura social afirmava-se, transmitida a ideia de uma cultura escrita, ser
ciente a este apelo revolucionário, no sentido de o reino não permanecer demasiado
alheio.
A mulher que pertencia a uma tradição reservatória da cultura oral na
sociedade indígena, agora, decide organizar as suas filhas povoar nas escolas abertas
pelas missões católicas e pelo Estado. Pouco a pouco o poder tradicional vê-se aceite
às opiniões e às propostas dos saídos das instruções primárias. A eficácia não é
imediata, mas é um passo.
Importa-se salientar que, a organização missionária foi fundamental para
assegurar os interesses portugueses, com uma igreja muitas vezes mais bem
organizada, via vicariato ou diocese, do que a Coroa. Naturalmente, é o paradigma
político a sobrepor-se ao paradigma tradicional. Privilegia-se a confiança política e o
controlo acrescido, no sentido de querer mudar o que é visto permanente.
É uma colónia cansada de lutas internas que tenta, desde o primeiro
governador nomeado, António Guerreiro Coelho, leva à paz os diferentes régulos em
conflito. Aos governadores em sucessivas missões, tentam negociações com todas as
nobrezas nativas à procura de entendimento. Foi como sabemos pelas descrições,
relativamente bem sucedidas, ainda que deixando algumas questões em aberto. Com
a entrada do Filomeno da Câmara, vemos que a paz e o entendimento tocam todos os
reinos, procurando-se construir um quadro normativo leste timorense. É um momento
importante, até porque acompanha o declínio das inspirações em euforia para marcar
fronteiras políticas, ou por simples descontentamento face a imposta cobrança de
fintas.
114 Rosas, Fernando, Pensamento e acção Política, Portugal Século XX (1890-1976), Ensaio Histórico, Notícias Editorial, 2004, p. 33;
63
A colónia, no seu panorama religioso, assiste-se o crescer dos convertidos, na
sequência da fundação da escola de professores-catequistas e do seminário à
formação dos sacerdotes nativos.
A própria evolução da acção missionária, em Timor, não poder ser ignorada a
sua capacidade de gerir administrativamente, independente da Diocese de Macau. O
que se torna evidente, pelo qual o bispo D. José Costa Nunes solicitou junto do
Vaticano para que o Vicariato de Díli elevasse à Diocese. À recém-criada foi nomeado
o primeiro Administrador Apostólico, padre Jaime Garcia Goutart, já ensinava na
colónia desde 1924 115.
Importa-nos recordar à época, que no quadro político contemporâneo, a
sociedade portuguesa ganhou uma nova sociologia. Uma vez assistira o ultimato
inglês, em 1890, as dissenções internas ignoravam como haviam de reconduzir o país
em estabilidade política 116. Movimentos republicano e socialista em oposição ao
estado monárquico lançavam os seus programas, visavam convencer as massas
populares para instaurar a república. Cada um deles era aplaudido pelas potências
internacionais conforme as ideologias mantidas no âmbito das cortes europeias face a
existência das forças mobilizadoras, evidentemente opostas. A crise financeira
contribuíu o desentendimento, a que os partidos vencedores no geverno se decorriam
em sucessivos desabamentos de funções 117. Por outro lado, as relações com antigos
aliados se mostravam em confianças dúbias. Percebiam a crise financeira que pesava
sobre Portugal desde da Campanha de Rossilhão (1793-1794) pelo lado espanhol 118,
Invasão francesa 119, durante a Revolução liberal e até a I República. Odiando a
dimensão geográfica em termos europeus, é um país minúsculo, detentor de muitas
colónias na África e na Ásia, mas é incapaz de manter a segurança dessas das
ameaças estrangeiras. O sonho dos mesmos ao desmembramento do império colonial
luso era agendado pelas potências. Restavam-lhes os momentos adequados para
concretizarem o acordo celebrado, secretamente por Inglaterra e Alemanha, em 1898.
Cada um tinha a certeza de se apoderar das colónias preconizadas em função de
115 Fernandes, Francisco (padre), Das Missões de Timor, in “Revista de Estudos Luso-Asiáticos (Macau) N.º 1, Setembro 1992, p. 18; 116 Teixeira, Nuno Severiano, O Ultimatum Inglês, Política externa e política interna no Portugal de 1890, Alfa, 1990, pp. 17ss; 117 Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III, desde os tempos mais antogos até à presidência do Sr. General Eanes, Palas Editores, Lisboa, 1986, p. 40; 118 Portugal combateu contra os franceses pelo lado espanhol, um apoio inútil: Silbert, Albert, Do Portugal de Antigo Regime ao Portugal Oitocentista, Livro Horizonte, 1981, p. 49; 119 Fuga da Corte Real ao Brasil levou consigo 200 milhões de cruzados e remessas de numerários durante a estadia, conforme Proença, Maria Cândida, A Independência do Brasil, Edições Colibri, 1999, p. 15;
64
empréstimo financeiro a Portugal, se vier precisá-lo para mitigar-se do peso de crise
económica, onde a colónia de Timor não estava alheio desse título de planos 120.
À amarga novidade foi reforçada a diplomacia externa no sentido de neutralizar
a questão sentida pelos quadrantes políticos como um acto de desrespeito ao direito
de soberania portuguesa, mas parecia sem ter eco em vista. O próprio rei D. Carlos
teve que manter contactos com as cortes europeias de confiança através de visitas.
Do qual esforço Lisboa receberá iguais visitas dos reis e chefes de estados da Europa,
em frequência.
Porém, para a época, todas as potências europeias se preocupavam consolidar
a segurança interna e a efectuar acordos aliados para enfrentar o breve eclodir da I
Guerra Mundial. Ao cruzamento de diplomacias intensificado ao nível de nações face a
crise do grande conflito, fez com que o acordo britânico/alemão ficara inoperante121.
Pós-I Grande Conflito, as autoridades coloniais na Oceania suspeitavam-se
dos aliados. De um momento para outro a colónia, na sua longividade, poderia ser
surpreendida por esses em invasão, sobretudo dos dois colossos ou doutros. Num
cenário imaginativo de ataque, Portugal não dispunha defesa militar de equipamentos
modernos para manter os seus interesses. Não ser minimizado do espírito difusor da
civilização do Ocidente em novos mundos descobertos, o poder central acreditou na
inteligência de conduzir a diplomacia e conseguir dos de desconfiança o entendimento
em organizações de cooperação multilaterais.
120 Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III, desde os tempos mais antogos até à presidência do Sr. General Eanes, Palas Editores, Lisboa, 1986, p. 41; 121 Idem, Ibidem. p. 41;
65
3. 1. A época de um olhar desdenhoso
A era dos europeus à corrida pelo interesse mercantil na Ásia, os portugueses
descobriram o Timor, mantinha o seu hábito ou a herança do passado em termos da
economia da sociedade. Praticamente vivia da agricultura, da criação de animais, e
com apoio dos produtos florestais. Além destes, os timores ainda criavam hortas para
perpetuar o cultivo de tubérculos, tanto como cereais de sequeiro: arroz e milho, nos
processos de várzea irrigada e hortas queimadas; praticava a domesticação de
animais como: o cão, o gato, o porco, a galinha, a cabra, o cavalo e o búfalo. No que
se refere ao grupo animal, o búfalo é considerado no lugar cimeiro, pela função que
desempenha na economia indígena – constitui-se o símbolo de riqueza e prestígio,
sendo utilizado em ocasiões importantes da vida do povo; o cavalo é outro animal
considerado do autóctone, ajuda o homem em viagens distantes e no transporte de
artigos comerciáveis aos centros de permuta (bazares), e, depois da colheita de nêli, é
ele responsável pela mudança deste produto da várzea para a aldeia. Já os gados
caprino, ovino e suino são fundamentais na economia de subsistência, constituindo a
base da alimentação em dias vulgares, tal como aves de capoeira, estando o gado
bovino a incrementar-se.
A pesca, por seu lado, uma actividade, que poderia fornecer grande parte da
alimentação de que o timorense mais precisa, é apenas praticada por reduzidas
populações da beira-mar e utiliza processos elementares: a arpoação do peixe nos
baixios e praias do litoral, a caça submarina praticada pelos naturais da ilha de Ataúro
e a pesca à rede e de armadilha.
Nas praias de pequena profundidade, pratica-se a pescaria em grandes cercos
e, quando a maré vaza, o peixe, detido nos corais pelo abaixamento das águas, é
facilmente arpoado ou apanhado à rede. A pesca de armadilha é realizada com
grandes cestos cilíndricos, tecidos de rota e de bambu, que têm no fundo uma
abertura circular, e são lançados ao longo do litoral. Os cestos ficam presos ao fundo
do mar por pesadas pedras e são referenciados a um ponto conhecido.
Há outro tipo de pesca, pratica-se nas ribeiras é de carácter colectivo, aí
intervindo quase toda a população válida do aldeiamento, homens, mulheres e
crianças. No enclave de Oecusse utilizam-se dois métodos, um na época das chuvas
e outro durante a estação seca. No primeiro caso, quando a ribeira é cheia de água,
alguns pescadores vão à foz desobstruir a saída das águas, e estas baixam-se de
nível, iniciando-se a pesca imediatamente. O outro método consiste em colocar
estacaria, atravessando a ribeira em dois pontos, não muito afastados. Dificulta-se a
fuga do peixe, que é facilmente arpoado ou apanhado à rede. As mulheres utilizam a
66
nere, uma rede cónica presa, na base, a uma cana dobrada em forma circular que, por
sua vez, se liga a uma vara de bambu flexível. Os homens empregam uma rede maior
e chumbada, de forma circular. Estas redes são lançadas em locais onde os homens
têm pé e, depois de aprisionarem o peixe, são puxadas para terra.
Em todo o caso, a pesca é uma das fontes da economia de qualquer país,
desenvolvido ou subdesenvolvido, e quando referindo-se a Timor, a sua importância é
praticamente sem expressão, nula. Três anos antes do 25 de Abril registava-se cerca
de 23 embarcações, a sua actividade apresentava resultados de 70 toneladas em
1968, mas vinha perdendo a quantidade de captura, anualmente, até resultar-se
apenas 21, 5, em 1972. Esta última captura em consumo médio para cada habitante
estimava-se 40 gramas anuais (L.F. Thomaz, País dos Belos, p. 174).
Únicos produtos no comércio, exportados para o exterior são o café e a copra,
mais conhecidos na colónia, após ter assistido a decadência do sândalo.
Para o uso doméstico utilizam esteiras, feitas de folhas de palmeiras para se
dormirem, e servirem-se de cortinas para a divisão de quartos; fábrica de cestarias –
cestos para guardar roupas, chapéus de folhas de akadiru (planta onde se extrai o
tuaka, depois de ser destilado sai tua-sabu = aguardente) para se protegerem do sol,
açafates para usar na cozinha e joirar arroz, etc.; inventam o fabrico rudimentar de
metais como ouro, prata, para adorno das mulheres e homens nativas; olarias –
panelas, pratos, canecas de barro.
Internamente, os transportes terrestres, são de rede viária. O estado de
construção física das estradas não dispõe condições favoráveis a circulação regular.
Nenhuma é asfaltada, e durante a chuva, os cortes são facilmentes se aconteçam. As
ribeiras mais conhecidas em Timor-Leste, são Loes e Lacló, sem pontes e não são
navegáveis. As inturrupções de circulações de transportes ocorrem frequentemente
em tempos de chuva. Provoca constantes desgastes nas viaturas, impõe-se a lenta
comunicação no território... Havia o navio “Arbiru” assegurava a navegação de
cabotagem, à volta da ilha, permitia algum contacto comercial com províncias
indonésias mais próximas, Singapura, e em Abril de 1973 deu-se o naufrágio. Deste
episódio, ficaram duas barcaças “Loes e Comoro” a prestarem algum serviço de
navegação até à ocupação das forças militares da R.I.
Há cataratas de água, que podem produzir energias eléctricas a sustentar toda
a ilha leste timorense. Esta hipótese até agora ainda não houve um estudo adequado
para empreender a construção de uma barragem/energia hidráulica.
É uma região do Sueste da Ásia, de uma característica geograficamente
curiosa ao turismo. Uma hipótese que entra no processo da economia do país,
infelizmente falta-lhe as infraestruturas físicas: hoteleiras em condições, alojamentos,
67
assistência médica, transportes; vias de rápido acesso aos locais, procurados pelos
turistas.
Como tendo já citado, a sociedade timorense, desde século XVI, os primeiros
portugueses descobriram saber e a descreviam, tinha a sua religião animista, ignorava
a escrita. Desconhecia a existência doutras sociedades além de Timor. Vivia com a
inexistência de navegação para adquirir comunicações com as grandes rotas
marítimas, percorridas pelas diferentes sociedades de tendências mercantis,
originárias de várias continentalidades (Ásia, África, Europa, América).
No seu espaço fechado sobre si própria, embora não tivesse a noção de uma
mudança no futuro, mas acreditaria na experiência do outro trazida, através de
fundações de escolas e de inculcações de novos ideais, o indígena como ser humano
acharia possível estar noutro nível de vida.
Após a chamada Guerra de Manufahi de 1912-1913, o retrato social da colónia
tornara-se aquilo que os portugueses esperavam, isto é, o clima de consolidação de
amizades entre as duas comunidades apontava para o único rumo de se prosperarem.
Esperando que o poder da Metrópole cumpra a sua parte de honra de soberania a
pronunciar uma política que tenda a desenvolver no quadro da economia do país. Já
que a ilha mantinha a sua natureza de produção agrícola de instrumentos
rudimentares, sem características transformadoras. O solo é útil a agricultura. Há
matérias-primas sem transformação em produtos de bens; aos poços minerais, a
inexistência de formação adequada dos seus agentes para gerir a sua exploração, ou
podia começá-la pelo Estado português para melhorar a agricultura por meios de
tecnologia moderna. Não quer dizer, que uma vez iniciasse tudo se resultasse de
imediato a eficácia, mas é um passo a começar.
Os anos passam com novas gerações a encontrarem-se com novos
conhecimentos científicos. A vida da sociedade se manifestava a mesma imagem do
seu quotidiano. Outros olhavam a ilha com desprezo e considerando-a modorra. Os
seus cérebros jogavam em secretismo político para aí um suposto funcionamento das
suas empresas. Estas novidades apareciam desqualificar o prestígio e o direito à
identidade e soberania portuguesas. As chancelarias estavam obcecadas de moral,
sobretudo dos tradicionais aliados. Umas províncias na sua agenda, onde os E.U.A.
preferia os Açores, como base militar do seu comando de estratégia 122.
Naturalmente, o Timorense, em pessoa, faltava-lhe qualidade cientificamente
conhecida à época, desconhecia os rumores decorridos à volta do seu destino. O seu
futuro era das propostas formuladdas por locutores desconhecidos, em políticas de
122 Cidade, Hernâni, História de Portugal IV – De D. João VI aos nossos dias, Lello & Irmão, 1946,,p. 90;
68
silêncio, ignoravam os nativos em envolvimento ao diálogo e opiniões ou solicitarem
seus pareceres.
Importa-nos afirmar, o próprio desconhecimento timorense das novas regras
científicas é sinónimo de se permanecer na actividade económica rural e tradicional.
Há famílias que têm criação de animais, produtores de leite, mas ignoravam a fábrica
de queijo e de manteiga. A inexistência de regras é impraticável o armazenamento de
produtos agrícolas. O que consegue anualmente do trabalho da terra, julga-se
suficiente para assegurar a mesa de um agregado familiar durante o ano em curso.
Vende o que sobrar; muitas vezes faz esta escolha sem ter um plano racionalizado,
vende-se tudo e ficar sem nada, e assim, surge o apertar do cinto. Recorre-se as
folhas, os frutos silvestres, desde os antepassados souberam aproveitar-se da sua
utilidade na alimentação humana.
A par deste fenómeno marcadamente na vida económica no seu modo
repetitivo, o outro lado indonésio se cresce rapidamente a população letrada por
desenvolvimento da educação. Todavia, de ano para ano, nos sucos se vêem os
jovens timorenses, terminados a instrução primária, primeiro ciclo preparatório, do
comércio e industrial, liceu e do seminário, provenientes da aristocracia rural. A
inexistência de escritórios de empresas, notariados, particulares que os possam valer
algo de actividade prática remunerada, à tentativa de sortes da pós-formação tenda
forçosamente optar concorrências aos serviços da administração pública e militar, se o
Estado porventura, criasse novos lugares.
No funcionalismo público, alguns chegam a ascender ao quadro médio e
inferior, os quadros superiores são detidos pelos europeus, goeses e cabo-verdianos.
Aqui está a formação da “elite timorense”, mostra praticamente um aspecto
prejudicial dada a tendência para a formação literária, e mais vocacionada a
burocracia. Não enquadra no campo técnico, um estímulo que a leva inculcar-se do
que se diz da Europa. Um ensino retira a realidade contextual do Timor e que nada
contribui para o bem da sociedade no quadro da prosperidade material e mental. Um
novo estrato social, se distancia da grande massa, tornando-se de uma postura
culturalmente inútil 123.
No que concerne ao panorama sócio-político, na colónia não se vê um estrato
social, manifestamente predominante. Na maioria das regiões o predomínio continua a
pertencer a nobreza tradicional, as suas comunicações são limitadas. A afirmação
desta personalidade é apenas marcada conforme a posse de subsistência económica
nos pequenos agregados familiares, exclusivamente em quadros locais. O seu
123 Thomaz, Luís Ferreira Reis, « O Problema económico de Timor », in Revista Militar, ano 26.º do II século, n.º 8/9, Agosto-Serembro de 1974, p. 403;
69
contacto com altas figuras da administração central do país, revela-se sem expressão
e nem ifluência de peso. É desligada da vida pública, fechada sobre si mesma.
Ao nível da imagem social, registam-se, naturalmente dois estratos,
significativamente letrados em polarização na capital Díli: os chineses e os letrados.
Os primeiros detêm o poder de comércio, homens monetarizados em toda a Província,
lutando exclusivamente pela evolução económica em proveito seu; os letrados ou
segundos, praticamente são agentes da administração pública. É neste quadro, a
administração portuguesa testemunha a fronteira do poder económico do político sob
a autoridade tutelar da Província ao governo da Metrópole.
Mas aqui, a referida separação explica simplesmente as funções de domínio
sectorial, em parte, o desconhecimento dos escolarizados face a vida económica, ao
impulso criativo de iniciativa é lhes inexistente. Numa tendência a funções públicas,
em ambientes totalmente fechados 124.
Na Metrópole, o acontecer do 28 de Maio de 1926, permitiu a mudança de
política com todas as figuras do governo central, esperava-se o novo indicador ao
nível da soberania ultramarina se desse em visibilidade. E, em Julho de 1932, o
professor da Universidade de Coimbra, Dr. António de Oliveira Salazar que já ocupava
umas pastas ministeriais, é coroado presidente do conselho de ministros. Toma novas
decisões políticas face a remodelação das instituições públicas seguiddas pela I
República 125.
Salazar percebia a sociedade portuguesa ainda se encontrava em divisões
internas, sobre relações com o Vaticano, desfeitas pela lei da separação de 1911126,
questões que os seus antecessores deixavam em aberto. Teve que começar em
negociações com figuras da Cúria Romana para restaurar as relações bilaterais, a
principiar de Lisboa com a hierarquia eclesiástica interna. As conversações se
decorriam em anos, causavam irritações, mas o Estado Novo conseguiu finalmente o
mútuo acordo para regular a vontade de ambas as entidades (Portuguesa e Vaticana),
a celebrar a chamada Concordata de 1940, ocorrido em Maio do mesmo ano127.
Além do pacto, os dois Estados assinaram o Acordo Missionário que terá por
objectivo na regulação das relações entre Estado e Igreja, na vida religiosa no domínio
português ultramarino 128.
124 Idem, Ibidem, p. 405; 125 Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III, desde os tempos mais antogos até à presidência do Sr. General Eanes, Palas Editores, Lisboa, 1986, pp. 372 ss; 126 Ferreira, Manuel de Pinho, A Igreja e o Estado Novo na obra de D. António Ferreira Gomes, Gomes Fundação SPES, 2004, p. 119; 127 Idem, Ibidem, pp. 169 ss; 128 Carvalho, José António Ribeiro, A Concordata e o acordo missionário de Salazar, Occidentalis, 2008, p. 132;
70
No além-mar desenvolvem-se projectos escolares de baixo investimento estatal
nas áreas urbanas com forte presença de colonos, deixando – ao abrigo do Estatuto
Missionário, ao cuidado das missões católicas o ensino especialmente destinado aos
indígenas. Neste panorama, Timor-Leste situa-se nos extremos: só muito tardiamente
mereceu alguma atenção. Intensamente registado por analfabetismo incomparável.
Escolas existiam apenas nas vilas e na capital, longe dos sítios povoados.
Funcionavam com pouco material didáctico. Muitos professores eram de má qualidade
estarem a frente dos alunos. Uns nem sequer acabavam a instrução primária
completa. Usavam os mesmos livros, enviados da Metrópole129. Para além do
programa de ensino habitual, incluía o ensino moral e religião católica; aulas de
música e ginástica. Partilhava a mesma organização da Mocidade Portuguesa.
Pelo menos uns anos antes da transição do Estado Novo a Democracia, os
professores de domínio público e de missões, nalgumas escolas eram
impressionantes: alunos premiados por chicotes, rotas, palmatórias pelos docentes. O
método, fez com que, muitos nativos não concluíam o ensino primário (4.ª classe),
sobretudo das escolas do interior. Já nesta situação que era, as relações entre pais de
alunos e professores pintavam-se escassas, quase inexistentes à diálogos.
Analfabetos da sua maioria para além do ambiente rude, eram alheios do problema de
ensino; outros suportavam acabá-lo, as qualidades eram nulas. Voltavam aos seus
aldeamentos, no seio familiar, exibiam o seu português em verbos infinitos. De entre
estas que se notavam de boa qualidade na colónia, eram aquelas ministradas por
missionários e pelas congregações femininas, em regime internato - colégios. Nestes
geralmente, se encontravam filhos de elites rurais, dos funcionários
públicos/comerciantes, militares, europeus em missão de serviço. Tinham o seu
programa muito diferente do público e de elevada propina, paga mensamente.
Entretanto, a grande massa descobrira a utilidade de que os seus filhos deviam
ter esta oportunidade, mas sem escolas a funcionarem nos seus sucos e povoações.
O sentimento de direito é visto como algo de todos, suscita reivindicações junto das
autoridades administrativas, no sentido de ser merecida. Era difícil uma resposta
imediata dos governantes locais, dada a falta de pessoas qualificadas. Entretanto, o
Estado fundou uma escola com vista a formar os professores de duração de dois
anos, designados professores do Posto Escolar a ensinarem a 4.ª classe. O curso não
tinha equiparação para efeitos do emprego público, habilitados para o ensino embora
fossem as mesmas qualidades para outras funções públicas; para pré-primária a 2.ª
129 Augusto C. Pires de Lima, Américo P. de Lima, “Leitura para o E.P. IV classe”, Porto Editora dos Autores, 1961 de 140 p; Manuel Sultil, Cruz Filipe, Faria Artur, Gil Mendonça, “Livro de IV classe Ensino P. Elementar” Livraria Sá da Costa, Editora, Lisboa, 1942-43;
71
classe, eram aqueles que concluíram a instrução primária. Eram todos submetidos a
um concurso prévio, em regra, organizado pelos serviços de educação provincial.
O ensino, pelos vistos, fora defendido no quadro do Estado Novo para
abranger a todos os filhos nativos, mas era difícil encontrar alguns que saibam ler,
escrever nos povoados mais recônditos, mesmo que fosse já nos finais dos anos 50...
As escolas mais conhecidas de topo, na colónia, eram o Liceu “Dr. Francisco
Machado” de 6.º a 7.º Ano antigo, em Díli 130, e o Seminário dos jesuitas com sede em
Dare, 10 km a sul de Díli. Este último, não oferecia grande acesso, por serem as
propinas elevadas e as regras eram muito diferentes e rígidas, mesmo para uns que lá
andassem para concluir o curso, às vezes, ficavam a meio caminho; a seguir, eram o
de preparatório do secundário (2 anos) e uma de técnica e industrial (3.º a 5.º Ano);
uma de profissional para 3 anos, sob a orientação directa dos padres salesianos, em
Fatumaka/Baucau.
Não eram apenas estas dificuldades. Havia outras como, transportes entre
regiões/concelhos eram poucos, estradas não favoreciam ligações entre zonas
habitadas a esses sectores vitais. Nos aldeamentos mais distantes, os alunos tinham
que sair as 03 horas de manhã, percorrendo 5 a 7 km pelos atalhos fora para
chegarem a hora habitual de aulas; mal vestidos, descalços; à assistência médica era
rara. Alguém ficar doente estaria ao cuidado dos pais em tratamentos tradicionais, e
nem todos estes cuidados eram felizes. Como admitia a regra de chicotes, também
existia em todas as escolas alunos fugitivos mais alarmantes e tímidos, nem sequer
voltavam as aulas à vontade.
A maioria das escolas, mais afastadas das vilas eram de condições péssimas:
carteiras e bancos não chegavam para todos; quadro preto, por vezes faltava giz; aos
alunos pré-primários um caixote um pouco rectangular, enchido de areia fina, posto à
disposição para aprender a escrever com o dedo indicador o “a b c e 1 2 3 ou
vogais”.
As condições sociais eram péssimas, praticamente agarrada a actividade
agrícola, tipicamente tradicional, longe de uma prática tecnicamente moderna. Não
havia formação profissional que dispusesse pessoal adequado a responsabilizar pelos
sectores vitais, nomeadamente na produção económica. As instalações públicas eram
chefiadas por goeses, cabo-verdianos para além dos portugueses.
Nos postos administrativos, assistiam-se os administradores de postos do
interior, eram alguns militares idos da metrópole, de instrução de 1.ª e 2.ª classes,
130 O nome do Colégio-Liceu designa a justa homenagem ao Senhor Ministro das Colónias: Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca. Agência Geral das Colónias, Lisboa – MCMXLIV (1944), p. 206;
72
findo o serviço militar na colónia. Às vezes chegavam de ler com dificuldade o que
escreveram ontem, como se decifrassem letras de paleografia, auxiliados por nativos
de escolarização primária, 4.ª classe.
A colónia nunca teve bons números de formação adequada para
responsabilizar os momentos decisivos, afirmarmando-se na liderança directiva ao
serviço da consciência colectiva; ou propostos na arena internacional a promover
entendimentos de solidariedade como ensaio para que a imagem do país pudesse ser
conhecida.
No aspecto de ensino, muitos se singravam nos estudos, para isso, alguém
que os autorizava a sair do país, deslumbrados com os do exterior, e existiam uns,
inexistia o regresso. Se voltassem nada dispunha para os empregá-los, uma vez,
vagas dos serviços de administração provincial já ocupadas pelos idos do exterior. O
Estado vê-lo pela longividade, pela falta de apoio material e a escassa presença dos
europeus e para a colónia ficara imolada perante as sucessivas missões de
governadores, enviados pela Metrópole. Ainda para mais, encolhia-se na sua natural
singularidade perante a própria geografia, dadas as histórias ocidentais, o Timor dos
Belos muda de continentalidade ao sabor de um rumo políticamente cultural 131.
A tamanha situação, aos olhos de alguns à soberania portuguesa era
incompensável, fazia subir a ansiedade nas capitais dos vizinhos, ansiedade que era
aproveitada pelos políticos, nomeadamente através da opinião pública por via de
imprensa e de estratégia132. E sabemos, a Indonésia do pós uns anos da sua
Independência da Holanda, realizara uma conferência em Bandung, em Maio de 1955.
Logo na sessão de abertura, no discurso do presidente Sukarno indonésio realçava
que os países do Sudeste da Ásia deveriam estar livres dos poderes europeus 133.
Afirmava que o “Movimento Não Alinhado” era a própria força que visava lutar pelo
desafogamento dos países afro-asiáticos dos poderes coloniais 134.
131 Barata, Filipe Themudo (Governador de Timor de 1959/1963), Timor contemporâneo. Da primeira ameaça indonésia ao nascer de uma nação, Equilíbrio Editorial, Lda. Edições de Qualidade, 1998, p. 14; 132 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 31ss; 133 Barata, Filipe Themudo (Governador de Timor de 1959/1963), Timor contemporâneo. Da primeira ameaça indonésia ao nascer de uma nação, Equilíbrio Editorial, Lda. Edições de Qualidade, 1998, pp. 15-16; 134 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 76-78;
73
3. 2. Portugal e os dois vizinhos
Dentre as potências coloniais na Ásia Sueste, Portugal era uma daquelas que
manteve a sua soberania em Timor-Leste mais de quatro séculos. Foi a permanência
feita pela persuasão e não pelo poder das armas 135.
Relativamente a política lusa na Oceania, o governo de Lisboa manteve boas
relações com a Austrália e Indonésia. Os mesmos agiam pelo entendimento, no
sentido de se afirmarem mutuamente em amizades de entre Estados. Dele decorriam
diálogos, trocavam missões consulares e diplomáticas a representar cada um a sua
honra de nação soberana junto das capitais amigas.
Quer Austrália como Indonésia foram todas de domínio ocidental europeu, a
partir das épocas em que a Europa moderna se lançava em busca de uma nova vida,
nas regiões da Ásia: a primeira, na sequência da descoberta dos portugueses antes
da chegada de alguns holandeses, de seguida, fora ocupada pelos britânicos sob
chefia do capitão James Cook, a parte leste continental - ocupando Nova Gales do
Sul, em 1770. A ocupação inglesa multiplicara colónias, mas esta opção abriu portas
aos migrantes doutros países, onde o caldeirão de várias origens humanas
contribuiram as colónias em desenvolvimento económico. A Nova Gales do Sul, foi o
primeiro centro de milhares prisioneiros, enviados pelo governo londrino. A presença
não era inútil à economia. Progrediu-se pouco a pouco até que a Austrália tornara-se
de população, maioritariamente branca, governada por autoridades locais em nome da
coroa britânica. A sua evolução determinou as colónias serem unidas em federação a
adquirir um governo próprio e a coroa, representada por um governador-geral 136. Ao
longo dos tempos, os seus cidadãos nunca tiveram convivência com os timorenses.
Naturalmente, dada a estrada marítima fez com que inexistissem as proximidades.
Havia ligações bilaterais, mas existia a nível dos políticos de poder colonial
metropolitano; a Indonésia, igualmente vivia sob o domínio holandês desde 1602. Não
foi o Estado neerlandês quem estendeu as suas influências. Foi dita ocupá-la por
interesses comerciais – Companhia Holandesa das Índias Orientais/VOC 137. A partir
desta posição afirmada, expulsou os portugueses e espanhóis das suas posições. Os
indonésios sentiam-se privados de direito, quando a VOC. tornara-se de poder polítco
colonial. O descontentamento mobilizou, captou o colectivo, e a ideia de consciência
135 Estudos em homenagem ao Professor Adriano Moreira, Vol. I, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 1995, p. 205. 136 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 55; 137 Idem, Ibidem, p. 321;
74
nacional gerou a elite liderança. A sociedade indonésia passara em organizações
associativas em oposição ao regime holandês, a partir da existência do Partido
Comunista Indonésio (PKI), em 1920138. Também a história não nos descreve as
relações entre Timor dos Belos com a gigantesca Indonésia.
A diferença entre três povos pode-nos explicar a realidade existente: Timor
recebe educação, cultura cristã romana e língua portuguesa; Indonésia, por sua vez,
colonizada por Holanda, mas de língua jawa (bahasa indonésia) e de religião
muçulmana de percentagem estrondosa, e a Austrália, de uma postura sob a
influência religiosamente protestante, na maioria da população e de língua inglesa.
Ligada directamente a uma nação mais evoluída no quadro de disposições técnicas e
indústriais, responsáveis de uma economia em ascensão progressiva 139.
As diversas inspirações culturais e materiais faziam-se de uns poderosos que
outros, chegando a ignorar a existência dos pequenos, para o caso de Timor-Leste.
Nesta ordem de presença, somos forçados a perceber o andar da história, influiu
repercutir no factor humano tendente a singularidade geográfica do pedaço leste da
Insulíndia. Também já em séculos, que a metade ilha se construíra a pedrinha no
sapato de muitos, por riquezas escondidas, a colónia, naturalmente, dispõe 140.
Internamente, as autoridades tradicionais e a nova classe letrada, não se
representavam algo ameaçador que pressupusesse desmoronar o poder colonial.
Timor via-se livre das políticas perturbadoras do passado, por outras palavras, a
sociedade local era cada vez sensível aos projectos que o governo entendesse
implementar. Também se lembrava o Timor dos Belos era o espaço de duas
comunidades, exemplar de um oásis de paz no Extremo Oriente, afirmava o
Presidente da Academia, Joaquim Veríssimo Serrão 141.
Todo o cenário desejado, dada a falta da vontade do poder de soberania, o
país arrastava-se, assim, em pobreza. O governo local continuava a exercer o seu
papel executivo segundo as possibilidades da província e mantendo o sonho de uma
mudança no futuro.
Um governador que lá chegasse iniciar a sua missão, a política principal da sua
agenda era tentar minimizar o atraso. Alguns começavam a cultura do café, mais
intensiva, dos quais, o governador José Celestino da Silva criou uma companhia
138 Silva, Lurdes Marques, Descolonização, Nacionalismo e Separatismo no Sudeste Asiático “os casos da Indonésia e Timor-Leste”, Lusotopie, 2000, p. 362; 139 Beauchamp, Chantal, Revolução Industrial e Crescimento Económico no séc. XIX, Edições 70, 1998, pp. 45 ss; 140 Carvalho, Manuel de Abreu Ferreira de (governador), Relatório dos acontecimentos de Timor, Lisboa – Imprensa Nacional, 1947, p. 25; 141 Bessa, Carlos, A Libertação de Timor na II Guerra Mundial (Importância dos Açores para os nteresses dos EUA), Lisboa, MCMXCII (1992), P. 7;
75
S.A.P.T. a promover o crescimento económico timorense. Desde 1910, a entidade
empregadora empregava a força humana no total 6 mil pessoas a pôr em
funcionamento as várias actividades da composição empresarial 142. A companhia teve
sócios internacionais, além de admitir naturais e portugueses, havia cinco nipões: três
trabalhvam no escritório da SAPT e dois eram técnicos algodoeiros. Tiveram o
insucesso do projecto algodoeiro na Nova Guiné 143. Os dois percorriam vários pontos
do Timor-Leste para tratar do cultivo do algodão e da produção de fibra com os
indígenas, mas as suas exigências pela concessão petrolífera e mineira
impressionavam as autoridades. Os seus percursos minavam muitos nativos incautos
em proveito do futuro interesse japonês144.
Enquanto os governantes coloniais debatiam-se nos seus gabinetes em horas
laborais, como minimizariam a longínqua colónia do analfabetismo e da vida nativa
sem economia, onde os seus planos como árvore vinha sendo infrutífera, para a
Lisboa, pairavam as novidades de conflito. O Salazar e seus quadrantes políticos
estudavam, planeavam como dariam respostas a uma guerra que entraria pela porta
da Europa, envolveria os potenciais aliados portugueses145. Por outro lado, as eleições
espanholas ganhas pela Frente Popular/República, poderia abortar Guerra Civil
espanhola, seria outra aposta a capacidade do governo do Estado Novo, por os
opositores internos do Salazar se organizavam na fronteira à hipótese de recorrer aos
apoios do vencedor republicano contra o regime salazarista146. O cenário pressionava
a elite política prever como garantiria a sobrevivência e estabilidade do Estado Novo e
da soberania ultramarina num contexto do pós-guerra147. A dupla crise internacional
perturbava o Dr. Salazar da arena internacional. Viria assumir as pastas dos Negócios
Estrangeiros e da Guerra além de ser Presidente do Conselho de Ministros 148.
O cenário ladeava as potências antagonistas, entusiasmadas na guerra
mundial, militaramente modernizadas, comparativamente Portugal era difícil integrar-
se no campo de contenda. O problema levará o governo do Estado Novo estudar
cautelosamente de como optar política de preservar a continuidade do regime e do
142 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 217; 143 Carvalho, Manuel de Abreu Ferreira de (governador), Relatório dos acontecimentos de Timor, Lisboa – Imprensa Nacional, 1947, p. 25; 144 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, pp. 30-32; 145 Telo, António José, A Neutralidade portuguesa e o ouro nazi, Quetzal Editores, Lisboa, 2000, pp. 19 ss; 146 Idem, Ibidem, p. 24; 147 Paço, António Simões de, os anos de Salazar de 1943-1945 «O Governo inglês pediu e o Governo português concedeu», Centro Editor PDA, 2007, p. 17; 148 Teixeira, Nuno Severiano (Coord.), Portugal e a Guerra, História das Intervenções militares portuguesas nos grandes conflitos mundiais (sécs. XIX-XX), Edições Colibri, 1998, p. 111;
76
império. Analisando as políticas interna e externa pareciam mais complicadas nas
consequências do pós-II Guerra Mundial.
Noutro lado do fim do mundo, o pedaço português na Oceania, entalado entre
as grandes ilhas de domínio neerlandês e o continente da Austrália, estava
sossegada, em paz. Esquecido o conflito de Manufahi de 1911-1912, assistia um
espaço de tempo de vida florescente, o mais interessante, talvez, da sua história.
Multiplicaram o cultivo de café, em milhões de pés, pertenciam aos nativos; o interesse
de produzir milho, arroz, feijão e de criar animais, cujos resultados ultrapassavam as
necessidades da colónia; as estradas penetravam quase em todos os reinos permitiam
a fácil circulação de indígenas tanto como à rede telefónica. O progresso feito pelas
escolas e missões transformou os costumes bárbaros em novo rosto; novas culturas
introduzidas. As povoações desertas pela guerra interna, tornaram-se povoadas 149
As tensões políticas e territórios europeias não foram resolvidas na I Guerra
Mundial depois do Tratado de Versalhes agravaram-se150, praticamente sentida pela
Alemanha, após a ascensão do Adolfo Hitler ao poder pela mão do Partido Nacional-
Socialista. Achava-se injustiçada, humilhada e derrotada pelos aliados. Uma estratégia
seguida para readquirir a sua reputação encontra-se agora garantida na recuperação
da economia germânica. Rearma o exército e recruta mais jovens alemães em
organizações militares sob a condução dos chefes de comando, fiéis do Hitler. O
desenlace de campnaha era difícil invertê-lo. O rumo escolhido à guerra começou em
campo de operacionalidade militar com todos os equipamentos modernizados da
potência industrial alemã. O ataque a Polónia marcou o início da II Guerra Mundial
donde à inferioridade militar do País invadido, subjugado em Setembro de 1939.
Mediante o êxito, os alemães viam-se afirmados de capacidade e, no ano a seguir,
triunfaram sobre a França 151.
Os primeiros episódios criaram o mito a que o Adolfo Hitler era visto a figura
dominante da Europa e do mundo. Influía ultrapassar a fronteira europeia ao Extremo
Oriente, conduzida pelos aliados nipónicos. A China é atacada em 1937, no contexto
duma estratégia, concertada em favor do grande conflito, II Guerra Mundial
(Enciclopédia H. Universal, 1999, p. 344).
Ao caso timorense, em 1941, corriam notícias pelos jornais, revelando o
governo nipónico a interessar uma linha aérea a partir da ilha japonesa com a colónia
portuguesa, no âmbito de interesse comercial. Formulado, engenhosamente, o pedido
ao governo português com o intuito de garantir a integridade de Macau e de Timor. Os 149 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, pp. 18-19; 150 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 665; 151 Zaloga, Steven J., A Invasão da Polónia: Guerra-Relâmpago, Osprey Publishing, 2009, pp. 6 a 10 e 13 ss;
77
autstralinos percebiam da astúcia de que os nipónicos serviriam do Timor português
como porta de entrada à Austrália (F.Lima, pp. 31-33). Ao neutralizar as intensões
expansionistas, ocorria-se, na Singapura, um encontro entre Austrália, Inglaterra e
Portugal, e, ausentava-se o representante holandês, em tratarem um possível tampão
em Timor-Leste.
Importa-nos afirmar, no decurso das épocas referidas, à bacia do Pacífico, é aí,
que a Inglaterra e os Estados Unidos da América jogam a política pela ascensão
económica. Nesta tangência de propósitos, o mar timorense era praticamente
entregue à navegação estrangeira, e à falta de meios de comunicações, seria-lhe um
perigo inevitável quando detonarem-se hostilidades152. As notícias anunciavam o
avanço nipónico a desmoronar as resitências dos impérios do Sudeste Asiático. O
Timor português assistira a sua primeira invasão dos aliados, australianos e
holandeses, a 17 de Dezembro de 1941, no sentido de neutralizar os propósitos em
eminência153. A situação do lado nipónico evoluíu, na sua operação de esfrangalhar as
resistências do Pacífico, tendo seus aviões afundaram a esquadra britânica de
Singapura, permitiu-lhe livremente ao controlo marítimo (L. de Oliveira, Vol. IV, p. 52).
Ao saber da entrada das forças invasoras do Extremo Oriente à Timor, em eminência,
os indícios apontavam os aliados para um suposto recuo ao Timor ocidental/holandês 154. O governador, Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho (anexo 4) teve que organizar
segundo as capacidades que dispunha, mantendo a ideia de um país de neutralidade
em beligerância, onde transmitiria aos administrdores das circunscrições da província
conforme as directrizes emitidas pelo governo da Metrópole.
Não havendo resistência naval ou aérea a impedir o rumo decidido pelos
nipões, em 20 Fevereiro de 1942, a invasão preconizada é confirmada em Timor-Leste 155. Toda a costa do Território, é ocupada pelas forças invasoras, pequenos números
australianos que ficaram, evacuados às montanhas a optarem pela guerra de
guerrilha, com os nativos e portugueses. A partir do fim de Maio do mesmo ano, o
governador perde o contacto com o poder central de Lisboa. Torna-se prisioneiro da
sua residência 156.
Como já citado, na véspera de domínio japonês, o cônsul inglês David Ross, no
dia 17/12/1941, logo de manhã, muito cedo, informou ao governador receber o oficial
152 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, p.37; 153 Idem, Ibidem, p. 57; 154 Bessa, Carlos, A Libertação de Timor na II Guerra Mundial. Importância dos Açores para os interesses dos Estados Unidos, Liboa, MCMXCII (1992), p. 79; 155 Cf. o último e ex-governador do então Timor português: Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor, Missão impossível? Lisboa, Publicações D. Quixote, 1994, pp. 21 ss; 156 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 37-39;
78
holandês tenente-coronel Van Strattenn, comandante das forças aliadas. Única
oportunidade de transmitir o desembarque das forças em Díli, segundo as ordens
superiormente, recebidas.
A capital timorense testemunha a entrada de 380 oficiais e soldados
australianos, imediatamente conduzidos instalar-se, na montanha Na Suta, 15 km para
o interior; 1200 soldados holandeses quase todos javaneses, enquadrados por oficiais
europeus. Lançavam-se, imediatamente, na construção de abrigos e trincheiras ao
longo da praia para metralhadora anti-aéreas. As ruas, estradas eram vedadas por
arames farapados. Em poucos dias, o mesmo comandante aliado impôs ao
governador que a Companhia de Caçadores de Timor fosse transferida para longe da
cidade, suspeitá-la preparar-se atacar a força aliada. Perante a situação em evolução
crítica, o governador não conseguiu dissuadir o tal oficial, resolveu a mudança da
Companhia para Maubisse, comandada por capitão Freire da Costa e tenente Liberato 157.
Ainda que assistisse a presença numerosa dos aliados, a capital via-se
insegura e o pânico de ver a segunda invasão, estava a ser ponderada qual seria o
efeito. A seguir da entrada da força aliada, a população civil retirou-se viver no interior,
distante da capital. Ficaram os funcionários em pequenos grupos, dada a ausência
dos familiares. Uns eram acolhidos na Missão de Lahane por padre Jaime, futuro
bispo da província 158.
Enquanto Díli, corria notícias da força portuguesa concentrada em
Moçambique, recebera já ordens, a caminho por João Belo, comboiado pelo aviso
Gonçalo Velho com destino à Timor para substituir os aliados. A chegada prevista para
21 ou 22 de Fevereiro de 1942, em Baucau para evitar possíveis complicações com os
aliados na capital. A ânsia de ver o desembarque português era eminente para os dias
já informados. Porém, a notícia tornou-se em acontecimento infeliz, por concretizar a
chegada dos invsores japoneses. De facto, um dia antes, três dezenas de aviões
nipónicos sobrevoaram Baucau com destino para Port Darwin, afundavam navios na
baia militar e tornar os edifícios em escombros. Uma actuação que visava assegurar o
tranquilo desembarque das forças nipónicas na colónia portuguesa159.
Assim, começou a guerra no Oriente. No dia dois de Janeiro de 1942, Filipinas
fora tomada. Dias seguintes, os Estados Malaios federados, Birmânia, ilhas Bisrmarck,
Salomão, Bornéu e Indias Orientais holandesas, foram totalmente silenciados. O
general americano, Mac Artur nos mares de Manila, com seu chefe Estado-Maior teve 157 Carvalho, José dos Santos, Vida e morte em Timor durante a II Guerra Mundial, Composto e Impresso na Gráfica de Lamego, 1972, pp. 31-32; 158 Idem, Ibidem, p. 33; 159 Idem, Ibidem, p. 34;
79
uma operação de manobra com destino a Austrália, visava reunir uma nova resistência
com forças australianas.
Os holandeses, na praia de Díli foram surpreendidos por bombardeamentos de
dois aviões nipónicos. Em poucas semanas, até 20 de Fevereiro do mesmo ano,
Kupang e Díli pertenceriam aos novos senhores de Japão 160. Os seus submarinos
apareceram perto da baía de Díli e os navios movimentavam-se esconder atrás das
montanhas de Comoro. A capital tornara-se o seu mundo de movimento de tom
dominante.
Às quatro horas de manhã do referido dia até as nove, os aliados, em Díli,
respondiam em tiros aos bombardeamentos nipónicos em direcção a residência onde
estavam as forças luso-australianas. Dos primeiros cruzamentos de fogo e ferro de
ambos os lados, em hostilidade, os javaneses desapareciam, ficando o material
abandonado ao longo das estradas. Os últimos soldados foram vistos sair de
automóvel pela estrada de Dare, rumo ao centro sul, donde desviarão o caminho a
fronteira oeste, destino a Kupang, lado ocidental holandês.
Pela obra descritiva do governador Ferreira, Relatório dos Acontecimentos
de Timor, 1942-45, revela-nos a vontade deste solicitar conferência com o
comandante aliado. Enviou os seus oficiais a procura do chefe das forças, na capital,
das seis horas de manhã, e regressaram à residência oficial do governador às oito e
tal a informá-lo sem ter visto a autoridade pretendida e nem soldados de ambos os
países, por eles serem vistos 161.
A verdade dos aliados na questão da situação timorense no quadro de uma
coordenação dos respectivos governos a respeito da neutralidade portuguesa em
beligerância, à qual Timor era abrangido. Mas, as primeiras entradas no território eram
uma violência; igualmente do Japão teria o mesmo comportamento cruel. Os
diplomatas declaravam respeitar a província, o que se notava no terreno se acontecia
tudo por ignorar os compromissos assumidos. Desrespeitaram a pessoa do
governador de uma nação de neutralidade, ainda para mais aliada britânica.
Puniam os suspeitos de fornecer alimentos e informações aos aliados e os
fiéis dos portugueses. Os australianos foram desalojados do seu acampamento da
montanha de Na Suta. Aos amarelos, muitos deles tiveram que comer o pó da terra
ultrajada, antes de continuar a perseguição aos grupos de guerrilha em resistência,
dispersa.
160 Idem, Ibidem, pp. 34-36; 161 Carvalho, Manuel de Abreu Ferreira de (governador), Relatório dos acontecimentos de Timor, Lisboa, Imprensa Nacional, 1947, pp 173 ss;
80
Durante a ocupação estrangeira, a nobreza tradicional não causara nenhum
embaraço a autoridade colonial. Tivera os pensamentos no mesmo objectivo
defendido pelos governantes da província. Em defesa da soberania lusa, os régulos
organizavam os seus homens em resistência contra o avanço japonês ao interior.
Protegiam os portugueses nas montanhas de perseguição ocupacionista. Apoiavam-
os em alimentos, conduzidos aos sítios de refúgio que podiam.
Na comparticipação contra a presença estrangeira, emerge-se a figura do
régulo de Ainaro D. Aleixo Corte Real. No seu refúgio na alta montanha, através das
suas forças de guerrilha, fornecia ao comando australiano sedeado no Suro/Ainaro,
géneros alimentícios as suas tropas. Na região controlada pelo régulo e seu filho
Alexandre, aí se encontravam dois missionários Norberto de Barros e Manuel Pires.
Estes, assistiam a população civil sofrera impiedosamente pelos actos das colunas
negras, sem descanso, resolveram ir ao encontro dos comandantes invasores, numa
tentativa de demovê-los face as represálias. A desumanidade nipónica tornou-os em
resposta fatal com o deportado Luís Ferreira da Costa e outros mais, em companhia 162.
O régulo de Ainaro manteve os seus homens de companhia em
disciplinamento, tanto que de Aileu lhe solicitou a ajuda desmantelar a revolta de
Maubisse, dirigida por um dos timorenses. Surgiu por influência nipónica, prometendo-
lhes um vasto regulado quando acabar a guerra e exterminar os resistentes e
portugueses. De imediato, D. Aleixo enviou 350 homens ao seu amigo 1.º sargento
que o telefonou de Aileu. Antes de os enviar o régulo disse ao amigo:
- «Aleixo Corte Real cumpre sempre quanto os Portugueses lhe ordenam. Com os
Mátan-búbu (olhos inchados, nome que o Timorense dá aos Nipões), não queremos».
Ele percebia que a fidelidade a autoridade lusa lhe sairia cara, pagaria com a
própria vida e dos muitos por ele dirigidos163. Afirmava-se aos seus homens em não
esquecer-se de dar contas aos portugueses do esforço demosntrado em honra da
bandeira lusa164. Antes do massacre de dois missionários e deportado, o régulo
preocupou-se deles, mandou um emissário de confiança a avisá-los na missão de
Ainaro a saírem depressa quanto antes da chegada de colunas negras.
Existia a guerrilha, mobilizada um pouco por toda a colónia. Às forças nipónicas
que avançavam sobre redutos dos liurais em resistência, regressavam sempre com
lista negra dos numeros soldados. E, na região de Ermera, fronteira norte, D. Aleixo
162 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, p. 21; 163 Idem, Ibidem, pp. 22 e 23; 164 Idem, Ibidem, p. 29;
81
fortificou as forças em resposta a ofensiva da força aérea japonesa, donde um avião
ocupante fora, felizmente, abatido quando bombardeava zonas em oposição165.
Os edifícios e instituições públicas, igrejas e a catedral de Díli, foram
barbaramente arrasadas. A fúria inimiga era aos píncaros, atacava as montanhas de
refúgio, em dias consecutivos. Apertavam as populações. O pouco dos artigos
alimentícios que dispunham, indiciava-se o fim 166.
O régulo de Ainaro via a situação pelo lado inimigo, se evoluía em desfavor dos
guerriheiros, reunia os chefes para saírem das montanhas a evitar o mal maior.
Decidiam dividir-se em grupos, no sentido de ver qual seria as últimas estratégias a
tomar pelos inimigos. Entretanto, os nipões não cansavam de optar por outra astúcia,
consistia-se de se fazerem amigos com alguns chefes de Same/Manufahi, em
promessas para o fim de guerra. Por outro lado, perseguiam os missionários,
conforme a obra do José dos Santos Carvalho (p. 51) descreve interrogá-los do
paradeiro dos australianos. Era precisamente, na missão de Ossu, o acto severo
pesava directamente no chefe do posto, aspirante Eugénio de Oliveira, padre Jaime
Goulart, futuro bispo da colónia e outros padres aí missionavam. Durante a estadia
japonesa, estes religiosos sofriam humilhações, maus tratos de toda a ordem. Uma
atitude que, de início, tornara a capital de Díli em cemitério, a que nenhum nativo
como a autoridade colonial simpatizava-se com esta invasão.
Muitos portugueses que ficavam, passavam de mal a pior, todos concentrados
na vila de Liquiçá, no total de 150 pessoas, sob a ordem japonesa desde Janeiro de
1943 a Setembro de 1945. Faltava-lhes alimentação. Sobreviviam com a ajuda dos
seus compatriotas das quintas, de plantações e de ajuda dos nativos da área. A
assistência espiritual era presente, nas concentrações populacionais. Mas também, a
Austrália não estava alheia das transmissões de rádio, pelo que as concentrações
nipónicas, em Timor eram de alvo constante de bombardeamentos 167.
Toda a temporada que os ocupantes calaram o governador, prisioneiro da sua
residência oficial, aos régulos que se envolviam na resistência contra a presente
ocupação, mantinham as suas posições. Assistiam massacres, impiedosamente,
perpetradas pelos nipões. A pilhagem imperava, contribuía o crescimento de miséria a
tomar conta das populações. Enfrentavam diferentes dificuldades, a ponto de D. Aleixo
Corte Real caía na armadilha montada pelos manufahistas emissários. Estes
comunicavam que os japoneses não o fizessem mal se viesse trabalhar com os seus
homens, em conjunto. A persuasão proposta pelos vizinhos reinos chegava a ser 165 Carvalho, José dos Santos, Vida e Morte em Timor durante a II Guerra Mundial, Composto e Impresso na Gráfica de Lamego, 1972, p. 77; 166 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, p. 28; 167 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, pp. 219 ss;
82
cristalizada. Saiba-se pela obra do capitão José Simões Martinho, os emissários lhe
garantiriam a protecção, para toda a família e aos seus guerreiros e súbditos. Uma
vez, chegados a Hatu Udo, onde se acampam os nipões, foram desarmados de
imediato 168. Eram presos na secretaria, organizado o tribunal que começava a inquirir
os emissários, donde reivindicavam a morte de D. Aleixo por ser amigo dos
portugueses. Ao mesmo tempo dois homens violentos: Siri Buti, chefe de Betano e
Cabo Bere de Hatudo, gritavam dizendo: - «o régulo e Nai Chico são perigosos, já
estiveram em Portugal com os familiares »169.
O próprio capitão Simões Martinho pinta-nos em como um dos filhos de D.
Aleixo, Alexandre reagia na prisão: decidiu simular uma necessidade urgente, com o
intuito de estudar cá fora a situação e disposição das forças e dos oficiais nipónicos.
Foi-lhe apenas abrir a porta pela sentinela, mas recusou-o do pedido feito. Pela
segunda vez, o Alexandre repetiu seu pedido e lhe abrira a porta e atirava-se em luta
desesperada com a sentinela. A prisão arrombada, todos se envolviam em luta de
morte, corpo a corpo com os oficiais: - «A nós só os Portugueses podem prender».
Tiros, cutiladas, golpes de baionetas, imprecações, desespero, loucura, raiva
multiplicam timorenses, japoneses numa luta desigual, no posto de Hatudo.
Nesta última decisão anti-japonesa tomada, que o régulo D. Aleixo se tombou e
com todos os filhos, Alexandre, Adriano, Benjamim com mais trezentos timorenses
mortos 170.
Em defesa da soberania lusa, em Timor-Leste, além da morte do liurai de
Ainaro e filhos, contavam também D. Jeremias de Luca, em Lacluta; D. José Nunes,
em Maubara. Há muitos chefes tradicionais dos sucos que também arriscaram ou
imolaram as suas vidas contra a presença japonesa 171.
Porém, sabe-se, que o grande conflito se declinaria em desfavor dos
protagonistas. O cenário, é agora, uma das complicações para a política externa do
Estado Novo concernente a Timor, no quadro do pós-guerra. O presidente do
conselho de ministros, Dr. Salazar já sabia das intenções australianas a dificultar o
retorno da soberania portuguesa, significaria o fim da soberania lusa na Oceania, sem
espaço a manobra172. E, como tem já referido, o governo de Lisboa, acreditava no seu
princípio de neutralidade, entendido com os aliados EUA e Grã-Bretanha. Entretanto,
168 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, p. 30; 169 Idem, Ibidem, p. 31; 170 Idem, Ibidem, p. 32; 171 Barata, Filipe Themudo (governador de Timor 1959/63), Timor Contemporâneo. Da primeira ameaça da Indonésia ao nascer de uma nação, Equilíbrio Editorial, Lda. Edições de Qualidade, 1998, pp. 102 e 103; 172 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 46ss;
83
este em defesa dos seus interesses no Pacífico e no Extremo Oriente, assumidos
pelas acções das forças aéreas e navais britânicas, solicitou o governo português pelo
governo inglês a cedência de uma base nos Açores. Aceite o pedido por Salazar,
oficializado através de uma troca de notas diplomáticas portuguesa e britânica a 17 de
Agosto de 1943, para estabelecimento das forças inglesas. O primeiro ministro
Winston Churchill disrcursava na Câmara dos Comuns alegando no carácter
“temporário” do estacionamento das forças nos Açores, imediatamente se fará a
retirada assim que cessarem as hostilidades 173.
Da mesma estratégia militar, os EUA face a guerra no Pacífico e no Extremo
Oriente, quereriam uma das bases nos Açores, preconizavam ocupar pela força, mas
fora oposta pelo primeiro ministro britânico Churchill. A administração de Franklin
Roosevelt influenciado pelos argumentos, decidiu negociar directamente com o
governo do Estado Novo, em que os dois Estados obtiveram acordo de facilidades às
forças norte-americanas. A 28 de Novembro de 1944 conseguiram o acordo assinado
por Portugal e os EUA 174.
Toda a política externa portuguesa face aos interesses aliados assegurados,
na II Guerra Mundial, afastariam o envolvimento luso no grande conflito e manter-se-á
no seu princípio de neutralidade. No quadro deste processo, o Dr. António Oliveira
Salazar acreditava no seu plano na conservação do império colonial e a reocupação
de Timor após a retirada dos nipónicos é já possível e de um sentimento de
desafogamento. E tudo indicava, meses depois ter concluído o acordo trilateral dos
aliados, permitir-se-á a participação das forças portuguesas na libertação de Timor. O
Comandante Militar de Moçambique, teria sido instruído a organizar o destacamento
expedicionário para implementar os acordos pela reactivação da soberania lusa na
colónia 175.
O princípio da neutralidade reconhecido a Portugal, no decurso de teatro de
beligerância, na Oceania, Timor português era de grande tormento: os timorenses e
portugueses foram privados de voz e de liberdade; presos, mortos quando as
companhias nipónicas apanhavam baixas (L. de Oliveira, Vol. IV, pp. 101-104). Muitas
mulheres eram vítimas de torcionários animalescos, contribuíam elevar o sentimento
anti-nipões, em todos os reinos do País 176.
173 Paço, António Simões do, Os anos de Salazar 1943-1945 «O Governo inglês pediu e o Governo português concedeu», Centro Editor PDA, 2007, pp. 7 a 15; 174 Idem, Ibidem, pp. 16 a 25; 175 Bessa, Carlos, A Libertação de Timor na II Guerra Mundial. Importância dos Açores para os interesses dos Estados Unidos, Lisboa, 1992, p. 87. 176 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, pp. 220-221;
84
A colónia encontrava-se numa solidão de sofrimento. Ignorava o fim do grande
conflito que se imperava no Pacífiico, sob a voz dos poderes nipónicos. Já de si nestas
condições, piorava-se da inexistência das comunicações com o poder central de
Lisboa. A miséria mltiplicava-se, ao japonês era rei, em Timor. No ambiente de terror e
de enigmático destino timorense, de repente se ouvia correr notícias da destruição de
Nagasaqui e de Hiroshima por bombas atómicas da autoria americana a 6 de Agosto
de 1945. Facto que inverteu drasticamente o poderio japonês, reconheceu a sua
derrota oficial, e, através da assinatura de rendição incondicional a decorrer em Manila
sob a presença do general Mac Arthur, em 2 de Setembro de 1945 177. A nova
novidade, foi sabida, de imediato, pelos indígenas por governador da província 178.
Nos meses de Setembro a Dezembro de 1945, o Comando Militar Português
de Moçambique, ordenava as forças expedicionárias tomar rumo a Timor-Leste.
Compostas de várias especialidades com os respectivos comandantes, tão ansiosos
de reanimar a administração portuguesa; reconstruir as instituições públicas,
barbaramente destruídas pela ocupação japonesa e reorganizá-las; levavam consigo
milhares de peças de vestuário de Lourenço Marques e de Sofala, na chegada,
destribuíram aos timorenses.
A obra de Luna de Oliveira, descreve-nos da composição do destacamento
expedicionário, chegava um número significativo, no total de 2233 militares (1 tenente-
coronel; 3 majores; 19 capitães; 33 tenentes; 35 alferes; 2 aspirantes a oficial; 2
sargentos-ajudantes; 17 primeiros-sargentos, 31 segundos-sargentos; 127 furriéis;
praças europeus 273 primeiros-cabos; 18 segundos-cabos e 1229 soldados). Dentre
capitães, um deles era de Serviço Religioso, capelão Padre Aníbal Rebelo Bastos, e o
ajudante, alferes de Infantaria José Moreno Gonçalves 179.
A chegada da força expedicionária, em Díli, liderada por brigadeiro Serqueira
Varejão e com a missão administrativa, chefiada pelo inspector Óscar Ruas, o futuro
governador a substituir Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho. No comunicado dirigido
ao Ministro de Guerra, o comandante Varejão alegava ser bem recebida a sua
chegada, na colónia. Encontrava centenas de indígenas presentes e seus chefes, com
comoventes e tradicionais homenagens. E ficou impressionado com a tamanha
situação de um Timor praticamente destruído 180 (anexo 5).
177 Carvalho, José dos Santos (médico 2 .ª classe), Vida e Morte em Timor durnte a II Guerra Mundial, Composto e Impresso na Gráfica de Lamego, 1972, p. 91; 178 Idem, Ibidem, p. 91; 179 Idem, Ibidem, pp. 295-301; 180 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 62;
85
3. 3. O 25 de Abril português dita mudança
Ao recordar um acto singular feito por um anónimo ou começado por uma
organização social, deve-se também sublinhar de antes, o pioneirismo da expansão
portuguesa para regiões desconhecidas. Torná-las conhecidas e inseridas na sua
história, ao longo das épocas modernas a contemporaneidade, com todas as gentes,
conhecidas na África, Ásia 181 e na América 182. Com as quais, influía o modo de viver
nos padrões modernos, e conduzidas a revolucionar o seu património tradicional. Pela
aventura eficaz ou fracassada, mas é um facto, donde as chamadas regiões remotas
conhecerão a cultura civilizacional do Ocidente, e, serem laços de amizade com o
mundo português. Partindo da sua pequenez geográfica, na Europa ibérica, nem
sequer uma potência foi, conseguiu uma margem de manobra que o resultou como
foram as grandes monarquias dos Valois, em França, e dos Habsburgo183, dos
territórios por toda a Europa 184.
Os acontecimentos inventados pelos navegadores portugueses pelo mundo
fora, como novos rumos abertos, de grande importância. Em períodos mais tarde,
tornaram-se-lhes espinhosos, por os sucessos obtidos, nos territórios tidos como seus,
cobiçados apoderar por outras potências ou parceiros ocidentais 185. Mas havia outros
que persistiam, consolidavam-se, assegurados por uma estabilidade política seguida
pelas cortes reais a república à evitar o afogamento de honra dos capitães-mores do
passado.
De regimes absolutistas a monarquias constitucionais; destes a I república, e
da qual torná-lo a uma república de regime ditatorial do chamado Estado Novo, por
autoria do Dr. Anrónio Oliveira Salazar. Optou por estilo reunir em torno do seu
governo, os monárquicos e moderados de esquerda em reconquistar a unidade
nacional; considerava a Igreja Católica, como suporte principal a contribuir pela
consolidação do regime salazarista. Assistia assim, uma paz aparente, acreditando o
decurso do regime numa duração perpétua. Mas os tempos trazem outra realidade, e
181 Araújo, Carlos, Lisboa e os descobrimentos. 1415-1580: a invenção do mundo pelos navegadores portugueses, Terramar, 1992, pp. 21 ss; 182 Serrão, Joel e Maeques, A.H. de Oliveira (direc.), Nova História da Expansão portuguesa. O Império Luso-Brasileiro (1500-1620), Vol. VI, Editorial Estampa, 1992, pp. 57 ss; 183 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. I, Edições ASA, 1998, p. 200; 184 Ramos, Rui (Coordenador), Sousa, Bernardo Vasconcelos e, e Monteiro, Nuno Gonçalo, História de Portugal, 3.ª Edição, A Esfera dos Livros, 2009, pp. 199 e 200; 185 A Malaca tornara-se possessão portuguesa por autoria de Afonso de Albuqurque, a 15 de Agosto de 1511 e apoderada pelos holandeses, em 1641, conforme Araújo, Carlos, Lisboa e os descobrimentos. 1415-1580: a invenção do mundo pelos navegadores portugueses, Terramar, 1992, pp. 251;
86
a crença na persistência face as oposições cria-lhe desfavor na política internacional,
mais acentuada pelo lado dos aliados, inglês e americano 186.
Em épocas do pós II Guerra Mundial são embaraçosas aos impérios coloniais
na Ásia, puseram os políticos da coroa britânica numa situação incapaz para sossegar
o movimento independentista indiano. As populações locais cada vez agitavam a volta
dos seus novos líderes a reivindicarem pela imediata proclamação da independência
da Índia. Ao evitar as chacinas continuadas entre hindus e muçulmanos, o governo
britânico decidiu dar independência a Índia, em 1947; a gigante Índia britânica devido
ao desentendimento hindu/muçulmano resultara em duas nações: Índia e Paquistão 187. Filipinas contestava o domínio dos EUA após ter sido expulso os espanhóis do
poder (1898), alcançara, finalmente, a sua independência, a 1946188. Mais para lá, o
Arquipélago da Insulíndia, à ocupação japonesa contaminou a ordem colonial
holandesa para repor o seu sistema, o que ajudou o movimento separatista forçar a
sua posição pela independência da Indonésia, numa forma irreversível189.
E, no entanto o governo do Estado Novo estava ao corrente do novo cíclo
político. Aqui, a ideia de manter as posições nos territórios de soberania lusa são outro
fenómeno “negativo” neste período turbulento no quadro da administração colonial
europeia que é o relativo fracasso com a política internacional.
Neste contexto a oposição à guerra era difícil sustentar, o que justifica os
impérios coloniais estariam fora da época. O júbilo das massas face à proclamação da
guerra, depois do grande conflito não é um delírio colectivo momentâneo, mas o
corolário de uma educação levada a cabo ao longo de décadas e séculos, com
inculcação de valores patríoticos e da aceitação da autoridade. Cada nação, o seu
destino e a sua função cívica, justificavam todos os sacrifícios.
A própria realidade vivida da época fez-se perceber aos poderes coloniais,
nunca um indiano poderia chegar aos mais altos cargos da velha Inglaterra, da mesma
forma que nunca um timorense estaria na cadeira do sub-secretário de um ministério
português, nem javanês integraria o ministério holandês. E, em certo sentido, foi o
próprio colonialismo a fornecer aos povos colonizados a fundamentação dos
movimentos autonómicos.
Fernando Lima foi muito claro na sua obra, desenhando-nos a conferência dos
países não-alinhados, realizada em Bandung, Indonésia a 18 de Abril 1955, esta como
anfitriã. No discurso de sessão de abertua proferido por presidente da R.I., foi
186 Raimundo, Orlando, a Última dama do Estado Novo e outras histórias do Marcelismo, Temas e Debates, 2004, p. 99; 187 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. II, Edições ASA, 1998, pp. 679-684; 188 Idem, Ibidem, Vol. I, pp. 471 e 472; 189 Idem, Ibidem, Vol. II, pp. 686-688;
87
directamente ao assunto da descolonização da África e Ásia. Pretendendo que os
países das duas regiões sejam livres de domínio estrangeiro. Apelava aos presentes a
promover uma política junto da ONU para não esquecer dos países em situações do
género. O discurso de tom, pesava imenso sobre presença portuguesa na África e na
Ásia 190.
Nesta ponta do mundo de conferência dos países não-alinhados, Portugal vê
nela como uma ameaça comunista, uma arma escondida da União Soviética, apenas
ouvi-la de nome pronunciado pelos países do terceiro mundo, um verdadeiro indício de
uma nova ordem mundial em progressão.
Desde 1947, do pós independência da Índia, esta cortara de vez o laço tutelar
com a Grã-Bretanha, as coisas passaram embaraçosas aos ingleses em relação aos
tratados com Portugal. No fim da II Guerra Mundial, as eleições do Reino Unido deram
vitória ao Partido Trabalhista a frente do governo. O sistema de relações com Portugal
alterava-se, na forma como o governo londrino conduziu a sua descolonização 191.
Em alguns países colonizados, achavam-se pela guerra que os cidadãos
percebem, pela primeira vez na História e através do serviço no exército, que
partilham um destino e um espaço comuns; envergam uma roupa igual e partilham o
mesmo destino, percebe-se, em fim, que existe um sentimento de identidade. A
partilha organizacional se transforme na construção ideológica, entusiasmada por
corpos directivos de consciência colectiva emergentes, em constante oposição aos
poderes coloniais inflexíveis a propostas nacionalistas, como acontecera nas Índias
Orientais Holandesas 192. Pelo lado português não ignorava os episódios de clima
insustentável, decorridos já na Ásia, descurava os planos que podiam ajudá-lo
conduzir a descolonização de forma organizada, dos territórios de soberania
portuguesa. E quanto Timor-Leste, sofrera a perda na ordem dos 60 a 70 mil
timorenses, em defesa dos aliados ocidentais e da neutralidade no grande conflito
portuguesa não havia nenhum obstáculo do regresso da administração portuguesa. O
relacionamento dos liurais e da classe letrada com os portugueses menteve-se como
decorrera, anteriormente 193.
A ineficácia dos serviços da PIDE, em Timor português, assistiu uma prova de
excesso de liberdade de entrada de alguns indonésios, provenientes do movimento da
190 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 77; 191 Oliveira, Pedro Aires, Os Despojos da Aliança. A Grã-Bretanha e a questão colonial portuguesa 1945-1975, Lisboa: Tinta-da-China, MMVII (2007), pp. 45 e 46; 192 Conforme Silva, Lurdes Marques, Descolonização, Nacionalismo e Separatismo no Sudeste Asiático “os casos da Indonésia e Timor-Leste”, Lusotopie, 2000, p. 362; 193 Magalhães, António Barbedo de, Timor Leste na Encruzilhada da Transição Indonésia, Fundação Mário Soares, Gradiva Publicações, Lda. 1999, pp. 36 a 38;
88
revolta que se ocorrera em Ambon e das ilhas Molucas do Sul, em 1959. O governo de
Jakarta deu caça aos actores, onde fugiram pedir asílio político em Timor-Leste.
Donde muitos timorenses, influenciados, com eles decidiram um golpe contra a
administração portuguesa. Pretendiam que Timor Português fosse apêndice indonésio.
Ainda que o considerasse na sua modorra, o serviço secreto descobriu actuá-los,
reprimi-los barbaramente, 500 a 1000 pessoas presas na ilha de Ataúro. Trinta e cinco
pessoas tinham sido desterradas para a Angola 194.
A chamada sublevação de 1959, segundo as averiguações das autoridades
policiais da época, dão-nos algumas indicações da ocorrência, era o cônsul indonésio
Nazwar Jacub Sutan Indra, em Díli, quem começava discretamente uma campanha
antiportuguesa, utilizando o seu pessoal do consulado e de elementos árabes.
Procuravam captar alguns timorenses evoluídos. Influía uns fugirem apoiados
financeiramente; outros tiravam as fotografias dos quartéis, residência do governador
e dos timorenses mal vestidos para efeitos de propaganda contra a negatividade da
soberania portuguesa.
Já atrás referidos, nove indonésios do asílio político, o governo da província
decidira fixá-los numa residência, em Baucau, diariamente cada um era subsidiado de
7 patacas (43$75 em escudos da época), tempo em que nenhum servente da
construção civil merecia semanalmente tal quantia. Ocorrera divisão dentre eles, a
qual uns influenciaram alguns nativos incautos roubar armas dos postos
administrativos de Uato Lari e de Uato Carbau do concelho de Viqueque. Queimavam
casas, desligavam ligações telefónicas a gerar perda de contactos com sedes
administrativas e com a repartição do governo, que tiveram lugar em Junho do mesmo
ano (F. Tehmudo Barata, pp. 49 -74).
Um acontecimento que surpreendeu a elite política portuguesa, verificando
Timor manter-se numa terra de ruralidade e de analfabetismo mais acentuado.
Realmente, descobria o fenómeno inquietante à autoridade colonial. A fragilidade de
segurança fronteiriça era sinónimo de livre infiltração dos indonésios a colher
informações atrás do ardil mercantil.
Quanto ao ano lectivo de 1959/60, dá-se o retrato da província em ensino: 60
escolas, 132 professores e 4627 alunos, além das secundárias de missões, escola de
professores catequistas e de seminária. A sua multiplicação era difícil implementar por
problemas financeiros. Os militares tiveram que abrir escolas nas unidades a elevar o
grau de escolarização dos soldados e admitir a frequência dos filhos nativos,
ministrados por alferes, furriéis. Anos a seguir, vêem-se surgir novas escolas
194 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 288;
89
municipais nos postos administrativos (T. Barata, pp. 79 e 80). Sem material didáctico
a disposição, e, num país de difíceis condições económicas, à falta de quadros
adequados das suas gentes sempre apontava para o cenário de incerteza do futuro.
A maioria da sociedade portuguesa esclarecida, vê o regime como obstáculo a
prosperidade e sem liberdade de expressão de opiniões públicas relativas ao país. As
oposições se emergem, captam adesões de massas exigirem mudanças 195.
Pós II Guerra Mundial, as figuras políticas da diplomacia portuguesa defronta-
se novos ventos incutir sentimentos de oposições nas colónias portuguesas. E, em
1961, o ódio interno do regime se tornou em acção provar a capacidade do Salazar,
levado a cabo por Capitão Henrique Galvão a culminar-se no assalto ao paquete
Santa Maria, no Coraçao, a 21 de Janeiro, a chamada “Operação Dulcineia”. As
notícias correram mundo, dominaram os espaços de línguas inglesa, francesa e
alemã. O mundo politico saía, assim, acordado pelos aspectos negativos do regime 196.
O governo do Estado Novo, ficara embaraçoso desde 1960 em diante, dadas
as situações face a política ultramarina fosse informada a ONU, sendo outros países
pretendam ser concedidos aos territórios colonizados de estatuto de autodeterminação
e independência nacional. Salazar contestava a versão com o apoio de muitos países,
excepto Grã-Bretanha e EUA, mantinham-se em silêncio. Movimentavam-se à volta do
contraponto sombrio, a guerra de Angola detonava-se em Março de 1961. O regime
reforçava a força militar no sentido de conter o movimento pró independência africana,
entretanto, via-se internacionalmente de política afunilada. Salazar enfrentava um
período menos feliz, por a política ultramarina apontada por presidente Kennedy ser
necessária invertê-la 197. Na Oceania, Timor português sentira-se disputado nos
interesses de entre Austrália e Indonésia, onde multiplicara a diplomacia para evitar
surpresas 198.
Na medida que reforçava forças militares a Angola e Moçambique para
restaurar a ordem pública, nem sequer sinais anunciavam vitórias, e de repente, a
Índia Portuguesa (Goa, Damão Diu) era apoderada pelas forças da União Indiana. Em
nome da honra e da dignidade, o comando português reagia o ataque, pela
superioridade demonstrada pela força indiana, o governador de Goa, general Vassalo
195 Pinto, Jaime Nogueira, António de Oliveira Salazar o outro retrato, 2.ª edição a esfera dos livros, 2007, pp. 170 e 171; 196 Jesus, José Manuel Duarte de, Casablanca o início do isolamento. Memórias diplomáticas: Marrocos 1961-1963, Gradiva, 2006, pp. 50 e 51; 197 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 88-91; 198 Idem, Ibidem, pp. 100-116;
90
e Silva assina a rendição, a 19 de Dezembro de 1961 199. Encarcerando no campo de
concentração cerca de três mil militares 200. Portugal ainda tentava recursos nas
Nações Unidas e junto dos aliados, mas a história é já nova e irreversível. Daí se
desfez a presença portuguesa, inventada pelos capitães do passado luso, no quadro
histórico de descobrimento e de conquistas, em séculos, no Oriente.
São momentos que a ONU domina os movimentos políticos portugueses
concentrados a volta da guerra negocial, nem isso se favorecia ao regime. Em
contextos de adesão à OTAN se viu margem de manobra como sendo o único cordão
umbilical que o facilitou ao encadeamento e ao diálogo com europeus ocidentais e os
EUA, gerindo assim, esta linha de ordem para evitar o total isolamento 201.
No Portugal metropolitano, o clima de tensão política antiregime crescia,
pressionava a demissão do Salazar, exigido substituído por um novo, de sangue
demorático e de visão pró liberdade. O desânimo ao alinhamento militar contribuía a
fuga dos jovens ao estrangeiro. O clima conquistava vastos espaços sociais, cada vez,
se estendia a todos, reclamavam por um novo regime que advogasse a justiça,
liberdade e prosperidade económica 202.
Aqui, as realidades são bem pintadas, qualquer político do Estado Novo podia
testemunhar o peso seguido pelas reclamações da ONU a desafiar o Salazar mais
para lá do termo de poder. Quando deparara os diferentes olhares nas Nações
Unidas à posição portuguesa, o homólogo da Austrália, a 15 de Outubro de 1963
escrevera pela segunda vez outra missiva a Salazar solicitar demover a regidez
quanto a mudança da política ultramarina 203. Doutro lado do Atlântico, os EUA
aconselhavam o governo tomar novas atitudes aos territórios ainda administrados.
Salazar acreditava muito no seu mito de perpetuar as civilizações do Ocidente
nessas paragens, quando muitos, já tinham sido desprendidos das políticas coloniais.
No quadro de uma cultura de insensatez, depois da incapacidade de Salazar, falecido,
o seu substituto Marcelo Caetano tentava prosseguir o estilo seguido do desaparecido.
Foi por aí, o jogo de continuidade, sem apoio de ninguém, cada vez pressentira o fim
do regime 204.
199 Paço, António Simões do, 1961 o ano de todos os perigos, Centro Editor PDA, 2007, pp.48 ss; 200 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade História, 2.ª Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 21; 201 Jesus, José Manuel Duarte de, Casablanca o início do isolamento. Memórias diplomáticas: Marrocos 1961-1963, Gradiva, 2006, p. 28; 202 Paço, António Simões do, 1968 Salazar cai da cadeira, Marcelo senta-se, Centro Editor PDA, 2007, pp. 48-58; 203 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 101; 204 Os Partidos políticos de esquerda viam no chefe de governo a esgotar-se de energias e o afirmavam incapaz de democratizar o país e acabar com a guerra colonial, cf. Paço, António Simões do, 1973 nasce MFA, Centro Editor PDA, 2007, pp.58ss;
91
A Indonésia vê Portugal nas nuvens da política colonial, associada com o poder
desfeito na Índia Portuguesa, e as intenções de Jakarta pela posse de Timor Loro Sae
calcularia, dentro de médio ou longo prazo 205.
Houve planos indesejáveis doutras potências à alterar a política de domínio
timorense, no contexto do pós II Guerra Mundial, ainda que não fossem públicos mas
os sinais eram fortes. A Austrália na prioridade, pretenderia organização de segurança
para evitar dos futuros ataques relativa as ilhas da sua proximidade incluindo Timor. A
qual, os diplomatas de Portugal e de Austrália a título particular adiantavam já trocas
de impressões e que incluiriam os projectos de comércio bilateral e do investimento
australiano a Timor-Leste. As propostas chegadas a Lisboa eram acolhidas mas com
tanta reserva, ainda que tornassem irrealizáveis dada a base militar americana no
Pacífico, sgnificaria o afastamento do receio australiano. A propósito da aceitação
duvidosa portuguesa, estaria associada a recusa australiana da presença lusa
aquando se tratara da recepção da rendição nipónica, solicitada pelo governo
português através dos aliados, Grã-Bretanha e EUA. Um facto que fatigou a
diplomacia lusa perante a atitude do geverno de Camberra, só que veio a permti-la no
acto da rendição japonesa e restaurar a administração portuguesa na ilha, consentida
pelas autoridades américana e inglesa. Ainda outra tentativa formulada por um
diplomata australiano com base da longividade de Timor-Leste do Portugal, este
pudesse autorizar Austrália garantir a segurança durante 100 anos, suportada pelo
poder colonial. Proposta fora rejeitada de imediato por representante Palmela sem
consultar Lisboa. Vendo o cenário desenhado, seria uma tentativa de absorver a
soberania portuguesa na Oceania, mas na confiança colaborante com os fortes
aliados, ainda há margem de manobra em manter-se contínuo beneficiário da política
administrativa do território (Fernando Lima, pp. 31-72).
As atitudes abordadas, voltariam a ser deparadas, agora, no lado indonésio
mais sensíveis na não cooperação de acordo bilateral quanto a licença relativa à
carreira aérea (TAP à Díli passar por Indonésia) a que as autoridades de Jakarta não
estão dispostas de renovar a contínua licença semanal. O acordo em questão pode
ser retirado em qualquer altura. Se se renovar, permitindo-a ser quinzenal e em
reciprocidade, querem os aviões militares autorizados aterrar-se na capital timorense
fazer a entrega da mala diplomática ao cônsul indonésio. As propostas conhecidas em
Lisboa, consideradas um acto de hostilidade, uma vez que Portugal apresenta-se
empenhado para cooperar com um bom amigo vizinho (F. Lima p. 74).
205 Oliveira, Pedro Aires, Os Despojos da Aliança. A Grã-Bretanha e a questão colonial portuguesa 1945-1975, Lisboa: Tinta-da-China, MMVII (2007), p. 461;
92
O percurso do regime dito Salazarismo autoritário, cerca de meio século do
século XX, mergulhava no desgostoso olhar da maioria popular, enfrentara crises
políticas até ao último presidente do conselho de ministros ser agonizado por golpe
militar de 25 de Abril de 1974. Marcou o ponto culminate da revolução pela mudança
do Estado Novo à Democracia na sociedade portuguesa sob o signo dos três Ds:
Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. Portugal entrou em liberdade com o
surgimento de novos partidos democráticos, além dos já conhecidos PS e PCP,
transformar as instituições públicas em marcas democráticas 206.
Apesar de ser um acontecimento politicamente importante, imprimiu uma
relação com as colónias a sofrer as consequências. Apesar destas circunstâncias e
das que a seguir verificaremos, já relacionadas com o período posterior, Portugal não
deixou nunca de se afirmar como potência administrante do território de Timor-Leste.
Em relação a colónia, embora fosse numa escala mais modesta se surgiram os
partidos políticos, um a favor da completa descolonização de Timor português, que em
geral as políticas seguidas pela ASDT/FRETILIN, e outro contra a descolonização, que
seguia as propostas da UDT, de manutenção da ligação a Portugal, ainda que seja
transitoriamente e a APODETI (Associação Popular Democrática de Timor 207.
206 Rosas, Fernando, Pensamenro e Acção Política. Portugal Século XX (1890-1976), Notícias Editorial, 2004, pp. 129 ss; 207 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade Histórica, 2.ª edição, Luso Dinastia, 1997, p. 59;
93
3. 4. O ânimo pela democracia, aplaudido nas colónias
Pós ter concretizado a Revolução do 25 de Abril, sob decisão tomada pelas
forças armadas de forma pacífica, na sociedade portuguesa, o eco ventilou-se
entusiasmar a província timorense propor a criação da própria autoridade politica de
direcção colectiva do país. Quando os supostos líderes se trocavam opiniões à
necessidade de formalizar associações partidárias, já as colónias africanas entravam
em negociações com o poder colonial. Quer dizer, os seus ideais em decénio,
promoviam inspirar decisões à constante mobilização das massas alternativa ao
sistema político existente, chegavam a sua meta preconizada. O que se importa
recordar que, ao novo cíclo pressuposto, internamente, era concorrido quase por toda
a sociedade local, levara o poder colonial a esgotar-se das suas capacidades
humanas e políticas 208. Não só em termos de reivindicação interna, mas o eco exterior
conquistou posições que ajudavam pelo rápido êxito dos estatutos, localmente
reclamados 209.
O ano a seguir ao acontecimento, o acto aplaudido não se limitara abstracto,
tornara-se em real construção a alterar de imediato os estatutos das colónias da África
portuguesa em países independentes e soberanos. A euforia emocional, assumiu o
seu nível espectacular na Guiné-Bissau, em este, ser o primeiro a proclamar a sua
independência em Setembro do mesmo ano, 1974 210. Angola, veio a ser igualmente
proclamda a 11 de Novembro de 1975, ainda que a perturbasse por cruel guerra civil
sem fim previsto 211. Os restantes tiveram a sua oportunidade no mesmo ano.
O Timor-Leste está, na sua longividade geográfica da Europa, não estava
alheio do que acontecia aos povos irmãos da África Lusa. Fica-se a perceber, na
colónia, não havia, concretamente, nenhum movimento separatista que punha em
causa a autoridade colonial tanto como os europeus portugueses, residentes na
província. Ainda que o considerasse modorra, distante do mundo dos modernos, as
novidades do MFA, chegaram, mobilizaram a opinião pública da sociedade local sobre
objctivos, sem rodeios e nem hesitações, a grupos evoluídos.
O novo capítulo comunicativo tornou timorenses mais esclarecidos na
ansiedade de se comporem como cérebros teóricos na condução das associações
políticas para definir o destino timorense, que não podia ser ignorá-lo, oportunamente.
208 Cann, John P., contra insurreição em África (1961-1974), o modo português de fazer a guerra, Atena, 1998, p. 19; 209 Rodrigues, Francisco Martins (Entrevista), Revista História in“25 Anos do 25 de Abril quando a rua se fez rio, ano XXI (Nova Série) mensal n.º 13 – Abril 1999, p. 48; 210 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. II, Edições ASA, 1998, p. 615; 211 Idem, Ibidem, Vol. I, P. 67;
94
Muitos funcionários públicos, abandonaram as suas funções, suicidaram-se
ideologicamente na prática a organizar as populações em torno do futuro estatuto do
Território.
Os anseios tornaram-se em construção ideológica a servir os programas
preconizados pelas futuras associações políticas, sob a luz da Lei n.º 7/75 de 17 de
Julho de 1975 sobre opções coloniais 212. A primeira associação foi, a UDT (União
Democrática Timorense), fundada a 11 de Maio de 1974. O Partido apresentava os
seguintes princípios:
«... - Defesa de uma autonomia progressiva, materializada através de uma participação cada vez maior dos timorenses... mas sempre à sombra da bandeira de Portugal; - Defesa do direito à autodeterminação; - Defesa da integração de Timor numa comunidade de língua portuguesa; - Defesa de princípios democráticos, das liberdades, da justa repartição dos rendimentos...» Pelos vistos revela um aspecto principal a uma autonomia gradual, no sentido
de fazer parte da comunidade portuguesa, mas sem uma ideologia definida. As
pessoas que lideravam este partido eram timorenses, alguns deles tiveram curso de
formação fora da província: Eng.º Mário Carrascalão, chefe do Serviço Florestal,
Domingos Oliveira, Francisco Lopes da Cruz, ambos ex-seminaristas de Macau, altos
funcionários da Alfândega, César Mouzinho, administrador da Câmara. Começavam a
transmitir os propósitos da associação, muitos letrados da capital entrariam em linha
de partilha. A conquista de adeptos é agora ser sentido no interior do Território, cada
vez, as populações vão expressando as suas opiniões face a presente novidade, ao
mesmo tempo questionando.
Na maioria das pessoas achavam que a liberdade criada na Metrópole fosse ao
Timor-Leste, bastava-se um movimento como locutor válido para alterar o sistema
político. Todas as atenções mais viradas em torno da UDT em como esta, iria negociar
com a autoridade colonial para o fim dos propósitos preconizados.
Entretanto, em escassos dias, a 20 de Maio do mesmo ano, nascerá a ASDT
(Asociação Social-Democrata Timorense), mais tarde se transformará em FRETILIN
(Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente). Um partido político de
inspiração do socialismo e da democracia e dos princípios:
« - Direito à independência (autonomia progressiva, com vista a uma independência); - Rejeição do colonislismo e prevenção activa contra o neocolonialismo; - Participação imediata dos elementos válidos timorenses na administração e governo local;
212 Magalhães, António Barbedo de, Timor Leste na encruzilhada da transição indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 116;
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- Não discriminação racial, estabelecendo-se um clima de paz e de amizade entre as diferentes raças do território, salvaguardando-se intransigentemente a segurança e a ordem interna; - Luta activa contra a corrupção; - Política de boa vizinhança e de cooperação em todos os sectores e a todos os níveis com todos os países da área gepgráfica de Timor, mas preservando-se incondicionalmente os superiores interesses do Povo Timorense.». Os elementos deste novo, apareciam como dínamo, cujos nomes mais
conhecidos, em termos de grau literário da época, Francisco Xavier do Amaral, ex-
seminarista jesuíta/diácono de Macau, desistiu-se da ordenação sacerdotal, alto
funcionário da Alfândega e será o presidente da FRETILIN, Nicolau Lobato, ex-
seminarista de Dare/Díli, viria a ser número um do partido até ser morto por tropa
indonésia, José Ramos Horta, antigo aluno dos padres de Soibada e jornalista do “A
Voz de Timor”, perseguido pela PIDE e desterrado para Moçambique, Abílio de Araújo,
estudante da Casa de Timor em Lisboa, Mari Alkatiri, era aluno do Liceu “Dr. Francisco
Machado” Díli e topógrafo. Constituindo assim, uma autoridade política do novo
partido, entra promovendo as aspirações defendidas junto da sociedade timorense
com vista à uma nova sociologia do País 213.
O clima de apetência pela promoção ideária cresce em meio público, em
conformidade daquilo que cada um formulava, apoderava-se da juventude estudntil em
divisões. Os grupos jovens constituídos, cada um transportava os programas políticos
ao interior em busca de adesões populares aos respectivos partidos por eles seguidos.
Na medida que os dias passavam o chamado “futuro de Timor”, entrava em
discussões públicas e com autoridades portuguesas de como estas garantirem o
entendimento entre forças políticas, já reconhecidas oficialmente.
Na sequência do surgimento de dois grandes partidos, aparece o partido
menoritário, APODETI (Associação Popular Democrática Timorense). Sem expressão,
inicialmente fora aderido pelos timorenses que tinham sido implicados no acto rebelde
de 1959, ocorrido em Viqueque, Uato Lari, Uato Carbau e Baguia e os árabes, excepto
Mary Alkatiri e Hamis Bassarewa mantiveram-se firmes na FRETILIN 214. Os seus
líderes principais Arnaldo Reis de Araújo, professor primário, antiaustraliano e
antiportuguês na II G.M., José Osório Soares, ex-seminarista de Macau, funcionário
que por razões de fraude e outras fora suspenso de actividade do chefe do posto
administrativo e que alegava ser vítima das autoridades portuguesas face à sua
simpatia pró-indonésia e Guilherme Gonçalves, liurai/chefe tradicional de Atsabe.
Partido este de princípios que preconizam a integração de Timor-Leste na
213 Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor - Missão Impossível? 3.ª edição, Publicações Dom Quixote, 1994, pp. 38-44; 214 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 294;
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República Indonésia. Contudo, a autoridade colonial vai-se inteirar das propostas das
três facções e acompanhá-las face as expectativas da sociedade timorense, e,
surgirão mais duas: Movimento Trabalhista e Associação Popular Monárquica
Timorense (KOTA = Klibur Oan Timor Aswain) 215.
Quanto a Igreja Católica no quadro da óptica da sociedade local, não havia
problemas da existência de partidos de que coloração que fosse. Logo a partida,
constatava-se os principais líderes, todos eram alunos de colégios missionários, e
muitos deles são colegas dos párocos, menos o Mary Alkatiri, muçulmano, mas era
aluno das escolas de domínio cristão, mais tarde, viria a casar com uma timorense
cristã católica, sobrinha do actual bispo de Díli, D. Ricardo.
Pelos movimentos partidários em função de seus programas, o Trabalhista e
KOTA não tinham ideologias claras/vagas, notava-se um distanciamento mais
acentuado da população e da juventude. Porém, todos, tiveram a oportunidade de se
expressarem junto das populações. A prioridade de cada uma era centrada na crença
de conseguir em torno de si, mais apoios de massas para melhor servir Timor-Leste
independente e livre, no futuro. Os dois, designadamente FRETILIN e UDT, desde
sempre optaram o português como língua oficial, além do Tétum até a actualidade 216.
Ao longo do governo do Estado Novo, a grande maioria dos nativos continuava
ser analfabeta até a queda do regime. Um dos pontos mais reivindicativos no
programa da FRETILIN para ser combatido, a partir do início das campanhas através
da metodologia de alfabetização aplicada nalgumas povoações. Começando a ser
aderido pelos jovens e adultos dos bairros que faziam parte da capital: Becora,
Comoro, Benamauk, Kameia, Karau Mate, Lakeru Laran, Lahane; Hera e Metinaro. A
partir de Agosto de 1974, entrou em funcionamento. Ao fim de cada semana, os
centros de alfabetização, aí se encontram em grande número para ensaiar as músicas
tradicionais e de revolucionárias, conhecido por convívio. Deste rumo, promove-se
inovar as culturas tradicionais, além de transmitir o programa que a FRETILIN traçou. O
pragmatismo cultural com que começou, foi uma arte mobilizadora que o partido
optou. Dentro de poucos tempos no campo de campanhas, a FRETILIN era já apontada
215 Associação Monárquica/KOTA, o líder era ex-seminarista e sargento militar português, Tomás Ximenes, falava bem português, escrevia-o com facilidade. Filho de um professor catequista/pianista dos padres. Após o serviço militar passara a trabalhar nos CTT. Em Agosto de 1974, gozava licença graciosa, em Lisboa. Durante a estadia, manteve-se contactos com algumas figuras de inspiração monárquica portuguesa, outros políticos e por último teve audiência com o Secretário-Geral do PCP, Álvaro Cunhal. Éramos colegas do mesmo Serviço, em Díli, 1972-1975, e com ainda outro responsável de topo da FRETILIN, Mau Hun, o primeiro substituto de Xanana Gusmão do pós captura. Na ausência do chefe, cada um entregava-me dactilografar os programas manuscritos dos respectivos partidos para serem lidos na estação de rádio difusão, pós hora laboral. 216 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 296;
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de sucesso superior217. A expressão consciencialização penetrou nas montanhas pela
acção da juventude urbana despertar o espírito de consciência pelos valores de
justiça, direito que Timor-Leste merecerá. Os apoiantes da UDT, muitos deles são
retirados em muitos sítios; APODETI, é conotada por partido de traição e sem
expressão junto do povo; os pequenos KOTA e Trabalhista, nos seus gabinetes não se
entusiasmam com nada, por campanhas, em insucesso 218.
O esforço UDT, é um embaraço, determina distanciar-se dos sonhos que tanto
esperava. O estado das coisas assim correra, leva esta a acusar a FRETILIN admitir
ideologias marxista/leninista e comunistas, apontadas para: Abílio de Araújo,
Guilhermina de Araújo, António Carvarino, José Amâncio da Costa, Vicente Manuel
Reis, Hélio Pina, Júlio César, Venâncio Gomes da Silva, estudantes idos de Lisboa por
importar as doutrinas marxistas, seguidas por movimentos independentistas das
colónias de África portuguesa. Considerados portadores de inspiração antireligiosa e
descatolização da sociedade timorense e a possível desagregação da sociedade 219.
A propaganda opositora da FRETILIN começava espantar as camadas de
fidelidade cristã, a qual, interrogando entre si no que se refere a situação religiosa,
tendente a maioria timorense. Percebia-se que à época, a liderança política da
FRETILIN manteve-se contactos com a hierarquia da Igreja Católica local, alegando-se
respeitar a instituição representar os cerca 90 por cento dos timorenses católicos.
Alguns sacerdotes ficavam descontentes com a notícia ser conhecida pelos sectores
profissionais e evoluídos de matriz político. Mostravam o desgosto pela FRETILIN. A
turbulência gerava-se entre os grupos jovens da FRETILIN/UDT, dia pós dia, cada vez,
anunciava a incapacidade da autoridade legítima mantê-los a ordem. Por outro lado,
os partidos minoritários, em clandestinidade negociavam com o país vizinho na
hipótese de, um dia destes, afundaria o partido maioritário – Indonésia não quereria
ver o Timor português ser porta do comunismo.
A própria UDT, afirmando-se incapaz na corrida, agora, altera-se o jogo: envia
sua delegação a Jacarta com vista a comunicar as evoluções da situação em curso,
no território. Pretenderia que a Indonésia lhe garantisse apoio a neutralizar acções
indesejáveis admitidas, em Timor-Leste 220.
Vendo-se a preocupação da sociedade timorense por ver-se impressionada
com o princípio de um partido pro-integração do país na R.I.. Os líderes da
217 Idem, Ibidem, p. 296; 218 Idem, Ibidem, p. 296; 219 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade histórica, 2.ª Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 158; 220 Francisco Lopes da Ceuz e Costa Mouzinho, recebidos por general Moertopo, cf. Santos, António de Almeida, Quase memórias da descolonização de cada território em particular, 2.º Vol. Casa das Letras, 2006, pp. 331ss;
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FRETILIN/UDT negociavam criar uma coligação, no sentido de se edificar uma frente
única de assumir esta responsabilidade, a 21 de Janeiro de 1975 221. Registou-se aqui
o primeiro esforço em busca de uma Unidade de todos os timorenses na luta pelo
direito a autodeterminação e independência. E como atrás referimos, depois da
delegação da UDT ter encontro com os políticos indonésios, em Jakarta, de regresso,
os membros de ambos os partidos se desentenderam e a coligação se dissolveu,
ainda no ano de 1975 do dia 26 de Maio 222.
No envolvimento do processo pela Comissão de Desolonização de Timor, em
propostas às três associações políticas, vendo-se a ausência de perspectivas de um
acordo, ainda que fossem conduzidas as conversações separadamente com uma
delas, as posições eram inconciliáveis quanto ao destino do Leste timorense.
Em clima de complexidade, à APODETE, embora se afirmasse internamente
sem expressão, conseguia o novo aliado vizinho que se prometia apoiar-lhe por meios
adequados de campanhas hostis de propaganda com vista a absorver as propostas
pró independência. Ora, em ambiente de séries ameaças evidentes, aos negociadores
viram-se embaraçosos no prosseguimento de conversações 223.
A obra de Fernando Lima, desenha-nos o desenrolar das posições partidárias,
extremamente inconciliáveis, constituíam uma boa oferta à Indonésia de ver
brevemente concrtetizar as suas intenções por Timor português. A última esperança
que seja possível reter o cenário indesejável, remeteria para a cimeira de Macau por
mediação directa dos membros da Comissão de Descolonização Nacional, prevista
para 15 de Junho de 1975 224. A reunião decorrera, em 26 e 27 do mesmo, por aquela
data fora ocupada pela sessão do Comité dos 24 das NU, em Lisboa, em que trataria
das questões de descolonização e do novo regime português. Igualmente falaria do
programa de Timor-Leste. Única hipótese a conciliar a sociedade timorense dividida,
torná-la em unidade por um objectivo comum. À FRETILIN, percebeu toda a ideia que
norteia o processo político à mudança de um país colonial em estatuto político
independente, viu-se atormentado por princípios advogados para um novo
colonizador. Neste sentido, que a assinatura de Acordo de Macau, a FRETILIN recusa-
se estar presente e a atitude de protesto contra posições que sempre ignoram da
construção de entidade singular do País dos Belos, era inflexível 225. Portanto, quando
se deu a Cimeira em Macau, estavam os participantes a delegação portuguesa,
221 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 220; 222 Idem, Ibidem, p. 234; 223 Idem, Ibidem, p. 235; 224 Idem, Ibidem, p. 236; 225 Santos, António de Almeida, Quase memórias do colonialismo e da descolonização, I Volume, Casa das Letras, 2006, p. 522;
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chefiada por major Vítor Alves, membro do Conselho da Revolução, era formada por
Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial, Jorge Campinos, secretário
de Estado dos Negócios Estrangeiros, o então major Adelino Coelho, chefe de
gabinete do governador de Timor, e o major Francisco Mota, da Comissão
Coordenadora do Movimento das Forças Armadas do território. Os partidos UDT e
APODETI, representados, respectivamente, por José Osório Soares e Costa Mousinho,
diziam ser pela primeira vez os dois estarão sentados lado a lado 226.
Indicava-se a sensação de medo, no silêncio pesava na maioria dos
timorenses de que Portugal viria abandonar a colónia, uma vez verificava-se baldado o
esforço feito pela Comissão de Autodeterminação de Timor 227.
Deve-se recordar o pôs II Grande Conflito, nas décadas de 50, o domínio
francês é determinado desmoronar-se na Indochina, quando tentara o regresso ao
estatuto anterior, fora recusado pelo movimento vietnamita do Norte. Uma decisão
apoiada pelos comunistas chinês e da União Soviética. À parte do Sul de Vietname
era do regime ditatorial, mas complicara-se com a oposição interna comunista.
Os conselheiros americanos apoivam os sulistas, no sentido de neutralizar a
«teoria dos dominós», quer isto dizer, tratava-se dos países da região em evitarem cair
um a um em lago comunista.
A resistência do Norte vietnamita desenhava-se sindromático comunista ao
interesse americano. E os EUA intensificaram o bombardeamento no pequeno país
que se reivindicava pela liberdade, onde a opinião pública internacional dava-lhe justa
razão. Considerando o ataque como acto negativo e oposto ao prestígio da
intervenção pela liberdade e de vitória sobre o nazismo e associada com a contradição
interna americana, forçaram-os sair em Saigão 228. Aos vietnamitas do Norte e aliados
sulistas apoderaram-se do porto Saigão, no mês de Abril de 1975. O regime estendeu-
se aos países da Indochina. Contudo, a política rigorosamente imposta, tornara a
economia vietnamita dependente da União Soviética, mais tarde resolveria aproximar-
se da China e dos EUA 229. Por outro lado, os países do Sudeste Asiático, pró
Ocidente e Estados Unidos constitui-se barreira anti-comunista, e a Indonésia permitiu
aos submarinos americanos esconder-se nas profundidades do mar de Timor.
Relações estas afirmam o sinónimo de entendimento da região com Estados
ocidentais da Europa e EUA.
226 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 237; 227 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 303; 228 Boniface, Pascal (direc.), Atlas das Relações Internacionais, Nova Edição, Plátano Edotora, 2009, p. 74; 229 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 670;
100
Perante o desenrolar da situação política timorense, de forma inconciliar
internamente, em Lisboa, o Anwar Sani, embaixador indonésio afirmava a posição do
seu país não ter ambições territoriais, a não ser por livre opção timorense, estaria
disposto recebê-lo (Fernando Lima, p. 236). E quanto a declaração vinda de Jakarta
doutro político, John Naro, membro do parlamento indonésio salientava que o seu
governo não quereria ver Timor-Leste copiar a história da Goa de 1961. Uma velada
alusão vista pelos observadores de que a política de Jakarta preparava-se ocupá-lo
pela força 230.
No quadro da evolução política promovida pela FRETILIN, esta recordando-se
das relações e das expectativas de vizinhança, representada por uma delegação,
liderada por Ramos Horta visitara Jakarta, recebida por MNE da Indonésia, Adam
Malik, no mês de Junho de 1974. Durante a troca de impressões, este garantiu a
delegação que o governo da Indonésia não tinha quaisquer intenções ao alargamento
de fronteiras terrestres, e respeitar a liberdade do povo Timor-Leste a escolher seu
destino 231. Mais tarde comentaria-se que os risos vizinhos são bons, e por detrás, as
apetências pela colónia se crescem.
A Indonésia, habilmente jogaria pela via diplomática para se concretizar em
como Portugal enfrentara as consequências de 25 de Abril. Uma delegação aproveitou
visitar Lisboa contactatar os líderes políticos do novo regime, donde comunicava ser
melhor Timor-Leste manter-se com Portugal ou à Indonésia e salientava-se à
independência não é boa opção 232.
Muitos descontentavam-se pelos nulos êxitos, começaram por acusações de
comunistas atribuídas a FRETILIN. A UDT recorreu pela força, o chamado “Golpe do 11
de Agosto de 1975”. O ambiente tornou-se em confrontação de entre irmãos,
envolvidos nos respectivos partidos políticos. Na lógica do 11 de Agosto era cercear
as bases e a destruir a organização política pela independência. O início conflituoso irá
causar danos humanos. O governador, Mário Lemos Pires fez intervenções pelo
diálogo entre facções em oposição, sem efeitos.
A UDT e a APODETI uniram-se opor-se a FRETILIN, no entanto, esta alterou o
estado da situação, quase controlava todo o território e as duas forças forçadas irem
para o lado da fronteira, Atambua/Kupang, Indonésia. Nos últimos dias do mês
230 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 237; 231 Magalhães, António Barbedo de, Timor Leste na encruzilhada da transição indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 121; 232 . Santos, António de Almeida, Quase memórias da descolonização de cada território em particular, 2.º Vol. Casa das Letras, 2006, p. 299;
101
Setembro de 1975, os elementos da TNI233 entraram na parte ocidental do Timor
português, Batugadé, Balibó em conjunto com as forças da UDT, APODETI. Iniciaram
largar morteiros, bajucas para reprimirem as forças independentistas.
Os primeiros momentos da cristalização dos anseios do vizinho a serem
conhecidos e a desagregação das populações locais, instalada. Daí em diante, o
espaço marítimo entre Díli e Ataúro, aos submarinos indonésios exibiam-se ao longo
da facha litoral mal chegava às 21 horas até as cinco horas de manhã do dia seguinte,
consecutivos. O pânico começava-se como uma nuvem negra pairava sobre nas
populações e à certeza da invasão das forças armadas da R.I. é a questão de dias.
Não se sabia como haveria de reagir a força indonésia; a saída da população
era difícil: a metade da ilha ocidental é inimiga e à metade oposta/leste é o mar. A
força portuguesa era incapaz de dominar as facções partidárias em campos de fogo e
ferro contra uma a outra 234. Díli já não era uma cidade capital, destruída, não se viam
militares, funcionários europeus, cabo-verdianos e goeses. A situação evoluía-se de
mal a pior, a autoridade portuguesa encontrava-se sem funcional já sem hipótese de a
retomar. A FRETILIN manteve içada a bandeira portuguesa no Palácio e nalguns
edifícios públicos. Todos os esforços feitos no sentido de conseguir que Portugal
reassumisse a administração, mediasse o conflito, sem êxitos.
Ao insucesso de tantos sacrifícios e a iminente invasão indonésia, a FRETILIN
para superar as indefinições legais de um quadro político de facto, proclamou a
Independência Nacional de Timor-Leste sob a designação da República Democrática
de Timor-Leste a 28 de Novembro de 1975. A data planeada seria 1 de Dezembro, dia
histórico da Restauração da independência de Portugal divorciara da monarquia dual
espanhola, por motivo da queda de Atabai em poder TNI antecipou a proclamação 235.
De certa forma, a RDTL nasceu para colmatar o vazio criado pela
Administração Portuguesa, como razão impeditiva do reconhecimento da anexação
pela Indonésia. Constituiu o governo, nomeou o presidente da república e ministros.
A tomada de decisão feita num clima de alta temperatura pareceu conseguida.
Teve o reconhecimento internacional por parte dos países de língua oficial portuguesa,
ainda que fosse de pequena dimensão do impacto, tornava-se necessário mobilizar a
comunidade internacional 236. Visava mover a responsabilidade desta no sentido de
ver as possíveis condições à reposição da legitimidade internacional em Timor-Leste.
233 Abreviatura de Tentara Nasional Indonesia. Em português: Exército Nacional indonésio; 234 O Governador e a equipa forçados evacuarem-se à ilha de Ataúro, a 27/08/1975: Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor. Missão Impossível? Lisboa, Publicações D.Quixote, 1994, p.267; 235 Idem, Ibidem, p. 318; 236 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na Encruzilhada da Transição Indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 129;
102
Muitos ainda acreditavam que Portugal fizesse algum recurso aos aliados tradicionais,
no sentido de travar os acontecimentos dramáticos, que em breve cairiam sobre
Timor, contudo os seus pensamentos sairam desfeitos em nada.
Daqui, importa-nos a compreender que, logo a primeira fase do pôs 25 Abril
português, o governo instalado era de esquerda mais radical, colocou Portugal no
desgosto dos aliados tradicionais e tanto como dos Estados Unidos da América. Viam
-se prejudicados de interesses. Ignoravam a preocupação do amigo português face a
complexidade política que a colónia lusa encarava perante o eminente ataque militar
indonésio; este não pretendia que fosse admitido na sua porta um regime comunista.
O Francisco Xavier do Amaral da FRETILIN e Presidente da República de Timor-Leste,
escreveu ao MNE da grande China, no sentido de interceder junto do presidente do
EUA, Gerard Ford para inverter a invasão planeada pela Jakarta, aquando visitara
China, em Dezembro de 1975, sem êxitos. Desta visita, passava por Jakarta reafirmar
as relações bilaterais, a 6 de Dezembro. Do ponto de vista de quem atentava-se
acompanhar a passagem apontava para um apoio americano à invasão indonésia ao
território português 237.
Face ao sorriso vizinho, depois de ser absorvido o poder luso em Goa no
Estado da Índia, a Indonésia começava reivindicar brutalmente antiportuguês,
disfarçava-se silenciosa sobre a colónia, argumentado ser do último poder ocidental
sentido no Sudeste Asiático. Criar pequenos incidentes na fronteira através dos
timorenses incautos para mobilizar pela desagregação social com a autoridade
colonial. Em paralelo os diplomatas averiguavam como eram a alma timorense pela
anexação proposta. Não parou por aqui. Planeava estabelecer uma escola junto a
fronteira para captar os filhos do leste timorense, sinal de negação portuguesa em
relação aos filhos nativos na educação. Sem dar seguimento por falta de apoio
material, conforme revelou o bispo de Díli, D. Jaime Garcia Goulart, conseguido por
canal católico do lado ocidental (F. Lima, p. 152).
237 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 257;
103
3. 5. O futuro do País
De acordo com o Direito Internacional, os senhores de Jakarta afirmaram por
várias vezes, nas Nações Unidas, não terem intenções de alargar as suas fronteiras
terrestres para englobar o Timor português na sua soberania, declaração que repetiria
noutras ocasiões238. O próprio Sukarno, presidente indonésio quando visitara Lisboa,
em Maio de 1960, garantiu que o seu governo não tem quaisquer ambições territoriais
sobre a província portuguesa (F. Lima, p. 153). Para lá disso, apercebeu-se da falta
de consciência face as aspirações do Leste timorense, achando as reivindicações
fossem um terramoto a afundar a merah putih 239 no mar das tempestades. Em honra
de grandeza e de cooperação de um país como a Indonésia, delas podia valer-se
aceitar diálogo com Portugal e Austrália, em conjunto resolver a situação com os
líderes timorenses. Medida que parecia conveniente em busca da verdade dos ideais
seguidos para nortear o Timor-Leste independente, e, dando-lhes a entender o
caminho dos sonhos democráticos que entusiasmarão com os vizinhos da região.
Os políticos do lado, satisfeitos com a postura do grande estadista americano,
mas parecia preconizá-la demasido “indigesta” aos olhos dos amigos portugueses e
de Portugal, contudo os preparativos ao assalto, foram concertados na noite do dia 6
de Dezembro de 1975.
Conhecidas as notícias do ataque indonésio a Timor-Leste, anterior a essa
data, na Austrália decorriam descussões parlamentares. Os trabalhistas apreensivos,
pressionaram o governo com o seu bom ofício junto das autoridades de Jakarta para
alterar o plano; saberiam que a operacionalidade militar indonésia na metade ilha seria
inútil aos milhares de civis, e nem sequer dava eco de humanidade (F. Lima, p. 225).
Foi precisamente, estas vozes, na tentativa de travar os anseios indesejáveis, mas os
momentos escolhidos da altura eram difíceis de se tornarem em outras atitudes.
De facto, a ingerência tornara-se uma medida severa em invasão a Timor-
Leste, logo de manhã dia 7 de Dezembro (Domingo) às cinco horas, hora local. Um
pouco antes da hora, os navios de guerra já bombardeavam as contiguidades da
capital Díli. Os aviões sobrevoavam esta e a ilha de Ataúro. Cerca das sete horas
largados os pára-quedistas no coração da cidade por aviões em sistema rotativo.
Sobre o Quartel-General português, em Taibesse, dois gigantes deles largaram
centenas em simulacro apoderar-se do Quartel para a sua base. Foram os primeiros
238 Uma vez mais pela voz de Adam Malik, no encontro de Roma, em 1 de Novembro de 1975 declarou respeitar a vontade expressa do Povo de Timor-Leste, conforme Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor. Missão Impossível?, Publicações Dom Quixote, 1994, p. 323; 239 Em português: bandeira vermelha branca da R.I.;
104
acolhidos pelas balas de mauser, G3 e FBB em posse das FALINTIL (Forças Armadas
da Libertação Nacional de Timor-Leste), comandadas pelos sargentos nativos (do ex-
exército português). Chegaram em terra sem vida para as primeiras do «bando de
andorinhas», baptizadas por gentes anti-independentistas.
Os pára-quedistas, da 1.ª a 3.ª leva, eram infelizes; os que chegaram a terra,
desnorteados, sujeitos a pauladas e flechas pela população civil; cerca das nove
horas, os navios de guerra enchiam-se no espaço marítimo entre Díli e a ilha de
Ataúro. Desembarcaram os carros de assalto, tanques; fuzileiros navais avançavam
dispersos pela cidade a tomarem operação de carnificina. Encontravam os guias a
conduzi-los aos locais de concentração de populações, onde muitos delas encaravam
capturas e de difíceis situações de vida.
Por medo, centenas de famílias refugiam-se nas igrejas de Balide, Becora e
Motael, em Díli. Os párocos enfrentavam-se com dificuldades para demover a fúria
militar em desmobilizar as populações concentradas. A vontade dos religiosos de
intervir não faltava, mas as capturas se sucediam, os líderes políticos assassinados.
Ao fim deste dia (7/12) ouvia-se pela rádio de Kupang criticar as FALINTIL sem
respeitar as regras dos pára-quedistas.
Díli, mergulhava-se em lençóis de fumo. Morteiros, bajucas e canhões vindos
do mar e metralhadoras do ar actuavam, repetidamente, nos sítios suspeitos refúgios
e bases das FALINTIL. Contudo estas não se envergavam perante a presente situação
avassaladora. Resistiam por mais de duas semanas, em Díli, apoderavam-se de
muitos armamentos de marca americana e ocidental. Vendo-se a evolução acentuava-
se em desfavor das forças independentistas, deu-se a voz do Nicolau Lobato,
Secretário da FRETILIN e I Ministro da então RDTL pela evacuação das populações às
montanhas para se organizarem na Resistência (28/12/1975).
As instituições públicas destruídas, casas e estabelecimentos comerciais que
se escapavam dos actos do 11 de Agosto do desgosto anti-independentista tornaram-
se em cinzas e de esqueletos. O desespero tomou conta das populações de Díli,
muitas famílias que não queriam ser fuziladas tentavam fugir as montanhas em
sintonia com os grupos ligados as FALINTIL.
Nos inícios de 1976, nas montanhas se viam as populações apoiar a
Resistência contra as forças invasoras. A liderança política decidiu o território,
estrategicamente dividido em sectores: Centro Norte; Centro Sul; Fronteira Norte;
Fronteira Sul; Centro Leste e Ponta Leste. Politicamente cada um é dirigido pelo
comissário do sector e comandante do mesmo. São membros de topo da Resistência
Nacional, que estudam, organizam e mobilizam as massas populares para cumprir os
105
deveres atribuídos a cada um, em coordenação com os secretários/assistentes
políticos das zonas e comandantes de companhias e de regiões.
Edificaram acampamentos para a população civil de todas as idades, em
aldeias com respectivos chefes de aldeias. Criavam zonas branca, vermelha e de
transição 240.
Dia a seguir da data de invasão, a notícia circulou até a igreja de Becora dizer
que os soldados indonésios ordenavam as pessoas concentradas na igreja dirigirem-
se ao cais cerca de 30 mulheres, timorenses e chinesas. Umas levavam consigo as
crianças, retiradas por indonésios. Foram todas mortas a tiro uma a uma, obrigando os
restantes vivos, presentes a contar em voz alta as que iam parar na água.
Continuavam disparar os corpos boiar na água achando nalgum sinal de vida. Cerca
das 3 horas da tarde, lá estavam 59 homens em fila, também timorenses e chineses,
exterminá-los, sem dó nem pena, segundo um delegado da FRETILIN (Paulo Pereira,
residente de Banamauk, Becora) informado por um APODETI parente, alertando-o
preparar a família fugir quanto antes. O drama dos primeiros dias, mais tarde veio a
ser confirmado por último cônsul australiano Jim Dunn, por via de testemunhos
oculares que conseguiram parar na Austrália a descreverem o assassinato de 500
timorenses 241.
Além dos sacerdotes católicos, não havia nenhuma representação
internacional no local que tentasse dissuadir os agressores a compreender a situação
da população civil, dos inocentes e das crianças e velhos. Começavam a pilhagem,
despojavam mulheres, maridos mortos; barbaramente, separavam os jovens casais
das esposas em diferentes prisões. Os padres dividiam-se, pelos vistos, reduzissem a
autoridade do bispo, de princípios de neutralidade.
O bispo D. José Joaquim Ribeiro (português) e padre Martinho da Costa Lopes
(futuro bispo), eram conservadores, viam a invasão fosse benéfica para Timor, em
termos de visão cristã. Percebendo-se que a Indonésia é um país muçulmano e
tolerante, é favorável aos diálogos religiosos. Pouco durou o fervor do anticomunismo
quando se apercebem que os “libertadores” de Jakarta eram piores que os comunistas
da FRETILIN, os seus protestos pelos massacres, violações perpetrados pelos lobos
homens da Indonésia não se transpuseram as muralhas erguidas em Timor-Leste.
240 Branca, espaço vital da organização civil a produzir, abrir escolas de alfabetização (pertencia desta organização, do Centro Norte: 30 escolas, mais 50 monitores/professores e cerca de 400 alunos), ensinar também catequese para baptismo e casamentos, dar formações aos evoluídos de como conviver com a massa civil a compreender o objectivo de sofrimentos; Vermelha é zona de confrontação com os militares da TNI e Transição, linha de ninguém onde se faz o encontro dos guerrilheiros estafetas com os clandestinos da zona inimiga. Esta é um espaço de alto risco para muitos durante a ocupação indonésia. 241 Revista, Timor-Leste 20 anos de ocupação e 20 anos de resistência, s.l. e s.d., p. 6;
106
Nas montanhas, a resistência organizada, em sectores militares e civis para o
mesmo fim, estavam seis padres a cumprir o seu dever de sacerdócio, dar assistência
espiritual a população nas áreas controladas pelas FALINTIL. Não lhes faltava o
respeito habitual.
No seio de todo o sofrimento, continua o povo Leste timorense sacrificado nos
braços de uma ocupação militar de cultura religiosamente muito brutal, D. José
Joaquim Ribeiro, em 1977 resignou, abandonou Díli, sendo nomeado administrador
apostólico de Díli, Monsenhor Martinho da Costa Lopes, natural de Laleia, Timor, fica
na dependência directa de Roma. Muitos colegas, compatrícios que ficaram por lá
lamentar pela saída à Lisboa, implicava entregar as ovelhas a um mundo de lobos
famintos 242.
Apesar da Igreja Católica indonésia apoiava integração, em Novembro de
1976, uma delegação de padres indonésios que visitou Timor nessa altura escreveu:
”80 % do território está controlado pela FRETILIN que comanda toda a resistência do
povo de Timor-Leste, a maior parte da população está nas montanhas, as
comunicações terrestres são difíceis paras os soldados indonésios. O desejo da
integração na RI começa a diminuir devido aos roubos, violações de raparigas,
massacres, etc....”
Em Novembro de 1977 escrevia um missionário que estava em Díli:
“Fazei algo de positivo pela liberdade do povo de Timor. O mundo ignora-nos e
é pena... estamos a caminho de um eminente genocídio... a guerra promete ser “
carnificina, extermínio...” 243.
O poder destrutivo da máquina militar indonésio só foi efectivamente
conhecido, em toda a sua extensão a partir do dia 7 de Dezembro. Entretanto, em
Setembro de 1975, com o recuo dos anti-independentitas para fronteira, período este
os militares RI já penetravam em Batugadé e Balibó, puseram a população em fuga.
A política de ingerência afirmada, aos peticionários fora uma glória. Vistos
como gente que fugira das disputas timorenses sem fundamentos politicamente
credíveis, tendo a sua génese uma amálgama de estratos que dificultam um sentir
nacional face ao próprio Timor-Leste. Uma questão de não interferência estava
mesmo institucionalizada na premissa das figuras de ápice nacional: Sukarno, Adam
Malik 244, por detrás os cérebros ferviam pela ambição saíra comprovada.
242 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Nacional, 1999, pp. 128 ss; 243 Extraído do Relatório de 1988, p. 4, do ex-padre Luís Costa (actual autor de dicionário tétum-português, em Lisboa); 244 Aquando da visita de Almeida Santos à Jakarta afirma que a RI não tem ambições territoriais sobre Timor português, conforme Abreu, Paradela de, Timor a verdade histórica, 2ª. Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 45;
107
Para a Igreja de Timor, o novo bispo, D. Martinho ficara como chefe, assistira o
drama dia pós dia. Os seus apelos às autoridades de Jakarta no sentido de respeitar
os direitos humanos, não tornarem a vida do povo em simples frangos retirados da
capoeira para resolver os caprichos do homem de dia para noite. Tiveram eco em
Jakarta, baldados e surdos no local. Tornara-se em fúria quando fora surpreendido
pela notícia de massacre impiedoso de mais de 500 timorenses, em Aitara de Santo
António de Lacluta, em Setembro de 1981, cerca de quatro dias 245. Um movimento
conhecido de “operação de limpeza” justificava guerra de acabar com a resistência,
em silêncio.
Importa-se recordar o início da guerra, encontrava-se o jornalista Adelino
Gomes da RTP 1 com sua equipa acompanhava os primeiros dias de inflitração dos
soldados indonésios na fronteira. Ficava a perceber da ansiedade com que a Jacarta
pretendera assaltar e esfrangalhar Timor-Leste, sem dificuldades. Ainda que fosse o
seu movimento muito limitado e em curto espaço de tempo, conseguia denunciar ao
mundo os propósitos ilegais praticados nos territórios fronteiriços. Infelizmente,
encarava-se com a falta de segurança à equipa regressara a Portugal, na companhia
do último governador português, quando não havia já hipótese do poder central de
Lisboa reassumir a administração portuguesa da colónia 246. À saída metaforicamente
significou o regresso do imperador à Roma.
A Indonésia, redobrou o número de batalhões para uma operação de razia por
terra, mar e ar, sem ordem de descanso a actuar sobre bases de resistência. Os
bombardeamentos massacraram milhares de populações civis de todas as idades nos
acampamentos organizados. Também muitos militares da RI tiveram baixas, embora
fossem maior das da Resistência Timorense, dado o desigual uso de material.
Precisamente, em Julho e Agosto de 1977, milhares da população e quadros políticos
refugiados na montanha de Mate Bian (2350 metros) do Centro Leste, entre vilas de
Quelicai e de Baguia fora brutalmente bombardeada por três frentes. Um acto de
aniquilamento que é visto fora da amplitude do ódio humano e de sem consciência. As
FALINTIL ficaram impressionadas com a perda na ordem de 80 % dos membros,
incluindo com as armas. Hortas, várzeas e plantas tornaram-se sem proveito e gados
aproveitados pelos invasores. Famílias inteiras morriam de fome e de doença; dias e
noites sujeitos aos constantes movimentos torneantes, crianças mortas pelo caminho
e outras abandonadas, entregues a sua sorte com osso e pele. Centenas ficaram
fechadas por entre montes rachados por bombardeamentos. No quadro desta
perseguição, puseram fim a vida do Presidente da República Nicolau Lobato, a 31 de
245 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Nacional, 1999, pp. 130 ; 246 Santos, José Rodrigues dos, A Ilha das Trevas, Temas e Debates, 2002, pp. 19-64;
108
Dezembro de 1978, em Alas/Same do Centro Sul, em combate. Jornais, rádios e
televisões anunciaram o sucedido por semanas no mundo indonésio. As autoridades
de Batávia em euforia afirmaram repetidamente junto do público e homenagearam os
seus oficiais militares obtiveram o sucesso, por a morte de Nicolau Lobato, ser
sinónimo do problema de integração consumado.
Por muito tempo, a maioria da população recolhia-se em silêncio ao ter notícia
da morte do Nicolau e preocupava-se em quem seria capaz eleito como futuro líder.
Os que ficavam nas montanhas eram instruídas entregar-se às unidades militares.
Integravam-se nas organizações civis das respectivas zonas de origem, mas custava-
lhes cara. Muitos válidos desviados, nunca mais vistos e outros presos sob controle
militar, em Timor-Leste e noutras ilhas da Indonésia. Os fuzilados sem sabiam dos
cemitérios. O primeiro P.R. da RDTL demissionário, Francisco Xavier do Amaral foi
desprotegido e rendeu-se aos indonésios, em Agosto do mesmo ano.
É o período de tropelias, ameaças e angústias: 15 a 300 mil pessoas
concentradas em acampamentos tiveram que arrastar a sua existência na ignomínia e
na amargura. Também decorriam contactos, multiplicavam-se em pleno território,
chegavam comentários de perda inútil dos melhores heróis e outros influiam coragem
e esperança. Em paralelo a situação, o Timor dizimado vê atónito com milhares
indonésios doutras províncias, transferidos para lá em função do progrma de
transmigração para ocupar zonas férteis para produzir e encobrir o número de
timorenses mortos. Nas cidades dos concelhos e de Díli, obrigavam os naturais a
transferirem-se para longe, e os sítios seriam dos novos moradores (comerciantes,
familiares dos altos funcionários, comandantes, médicos, técnicos de construção).
Converteram muitos cristãos em muçulmanos, estendidos ao interior que,
anteriormente não havia tal dimensão. O novo fenómeno religioso, aos olhos locais,
não é bem visto no território, considerado outra arma para perseguir o cristianismo,
porque os seus homens nunca vêem os sacerdotes e religiosas com bons olhos.
A volta dos sucessivos planos em funcionamento activo, a reorganização de
resistência passa a ser aderida, em secretismo, as mensagens penetram nos
adormecidos por medo. Os profissionais, estudantes, funcionários públicos,
empresários acordados pelos apelos em cassetes e em escritos a darem o seu apoio,
em clandestinidade. Esta, retoma as novas orientações em como irá trabalhar em
companhia de fera, dispersa em todo o lado. Os contactos das vilas com a Resistência
tornarão a funcionar. Algumas vilas ocupadas pelos militares da TNI, voltam ser
surpreendidas pelos guerrilheiros e repocupadas 247.
247 Gusmão, Xanana, Timor Leste um povo, uma pátrao, Edições Colibri, 1994, pp. 97 ss;
109
Emergiu a figura de Kai Rala Xanana Gusmão, detentor de uma nova voz tornar a
política da Resistência Timorense em arte possível 248. Os sobreviventes quadros civis
e militares, dispersos, frequentemente com ele se reúnem para dar novos passos, em
conformidade das decisões tomadas em maior ponderação. A nova forma adoptada
não se limitaria apenas seguida em funcionaldade, nas bases de resistência mas, o
seu leque estende-se a todos os estratos sociais de todo o território. As semanas se
sucedem, os arquitectos se sentem insuflados de energia, e o Xanana Gusmão entra
em conversações com o comandante de alto patente indonésio, coronel Purwanto, em
Timor-Leste. A mútua cedência de partes em se sentarem na mesma mesa visa o
cessar fogo por ambos durante duas semanas. Permitindo assim aos guerrilheiros
visitar as famílias nas vilas ocupadas pelas forças da TNI, porém, sem ter sido
cumprido o período, fora interrompido pelo lado invasor 249 (anexo 6). Uma abertura
conseguida, ainda que acarretasse perigo de maior, foi possível percebendo o
secretismo político, clarificado numa luta prolongada que seria perigosíssima para a
Resistência Nacional Timorense. Conseguidos novos dados junto dos activistas
estrangeiros por Timor-Leste que visitavam o país de capa turista ou religiosa;
encorajados e informados pelos próprios timorenses que tinham canais especiais com
o estrangeiro sobre a evolução da solidariedade internacional a anunciar as suas
preocupações pelo sofrimento, imposto ao Povo Mau Bere, situado no infinito distante
dos centros actores de cultura civilizacional 250. Mais tarde, teve encontro com o
governador Timor Timur 251, Engenheiro Mário Viegas Carrascalão. Cada um tentava
apresentar os pontos de vista defendidos, onde da Resistência sempre advogava as
soluções da questão timorense no quadro da legalidade internacional.
Nas vilas, a fome e a doença puniam as famílias, além de encarar capturas e
prisões, torturas por boinas vermelhas e polícias, os válidos eram mobolizados ajudar
as forças da TNI a procura das FALINTIL, em geral, eram eles os primeiros atingidos
pelos guerrilheiros. Angústias que imperavam nas populações na ordem do dia devido
ao desaparecimento de pais, irmãos; esposas violadas, despojadas e maridos mortos;
os filhos assistiam os pais, parentes sujeitos a maus tratos em todos os lados. Não
havia nenhuma representação internacional que interviesse opor-se ao acto desumano
praticado.
248 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na Encruzilhada da Transição Indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 135; 249 Revista, Timor-Leste 20 anos de ocupação e 20 anos de resistência, s.l. e s.d., pp. 20 e 21; 250 Stark, Rodney, A Vitória da Razão “Como o Cristianismo gerou a liberdade, os Direitos do homem, o capitalismo e o milagre económico no Ocidente”Tribuna, 2007, pp. 274-276; 251 Expressão em língua indonésia: Timor Leste.
110
Uns anos a seguir do vergonhoso assalto, a Cruz Vermelha Internacional e o
Catholic Relief Service foram autorizadas entrar no território iniciar o programa de
ajuda humanitária a população civil. Os membros da CVI começavam intervir nas
questões de captura a pessoas sem culpa formada junto dos Intel (polícia política
militar). Em 1982 em diante, o ódio agressor redobrava-se, em todo o país, na captura
de milhares timorenses. Todas as unidades militares transformavam-se em prisões, a
ilha de Ataúro era famoso em miséria: milhares aprisionados, em anos a espera de
serem julgados; outros a título de detenção e com o prolongamento de tempo, a
maioria fora ceifada pela fome e doença, mesmo que os membros da CVI os
socorressem.
O constante apelo dos padres timorenses as autoridades militares era difícil de
ser satisfeito. O estado de situação de surdez sentido, contribuíu acelerar a Igreja
Católica posicionar-se abertamente pela identidade timorense. Foi daqui, da dureza de
comandantes operacionais que surgiu a mesma dureza do bispo D. Martinho da Costa
Lopes: percebia ele que, a Resistência Timorense não tinha capacidade de tamanho
poder indonésio para mudar o que está acontecendo. Em silêncio, acreditava na fé
pelo apelo moral aos que possuíssem altos valores de cultura civilizacional. Escrevia a
um colega católico, na Austrália, descrevendo que a Igreja Católica Timorense não
suportava os riscos; a sua residência, invadida dia e noite por famílias,
desesperadamente apresentar os pais, filhos, irmãos capturados, sem saberem do
paradeiro 252. Surpreendeu figuras de renome internacional, pressionava os senadores
norte americanos reverem a situação política com a Indonésia. Moveu a hierarquia da
Igreja Católica americana contribuir em silêncio nos bastidores e apelava apoiar o seu
sucessor, Carlos Filipe Ximenes Belo 253.
A Indonésia fez por tudo, impor a sua língua em todos os domínios, mesmo nos
litúrgicos. Em paralelo, oito sacerdotes timorenses, em 1980, reuniram dicidir a
tradução para Tétum (língua nacional de Timor-Leste) todas as partes do missal
romano (orações, leituras) ordinário da missa, os rituais de baptismo, casamento e
óbitos. Um ano depois, em Outubro de 1981, o Núncio Apostólico de Jacarta, anunciou
solenemente a aprovação de Roma (Sagrado Congregação dos Ritos) da utilização do
Tétum nas celebrações litúrgicas 254.
Por toda a parte se fala de cenas horrorosas de tortura, violações e brutalidade.
Mas a aventura crescia nas pessoas, em silêncio, passavam mensagens as famílias
incautas para desvalorizar a propaganda lançada pelas autoridades em favor do Povo 252 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 294; 253 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Rditorial Notícias, 2002,p. 130; 254 Costa, Luís (ex-padre), Relatório 1988, p. 5;
111
Timorense ser apêndice da RI, em definitivo. A maioria dos timorenses cada vez viam
a Igreja Católica como factor decisivo junto da Resistência Nacional Timorense; foi
único refúgio onde se puderam acolher e muitos foram salvos de serem massacrados.
A volta de posições assumidas pelos sacerdotes timorenses contra atitudes
criminosas decorrentes, em Díli como Jacarta manifestavam o desgosto pela
permanência do bispo D. Martinho da Costa Lopes. A Conferência Episcopal indonésia
promovia uma política de desgosto junto do Vaticano à rápida expulsão do bispo de
Díli. E, em Roma, cruzavam-se políticas pró Diocese timorense enquanto, outros
bispos dos fortes países pretendiam que o Vaticano mantivesse boas relações com a
RI, país de 10 por cento de cristãos católicos. O que entenderia sacrificar o povo
timorense nos braços de Jacarta, por ser detentor de uns milhões de católicos e
afundá-lo das reivindicações pela justa causa universal. À clerezia timorense sabia
isso, e respondia por rumos escolhidos. Pelo lado do próprio povo vê-se perfeitamente
consciente de que as suas opções não são infelizes a ninguém, fundamentam-se nos
princípios de cooperação e de ajuda mútua com todos os países, considerados
universalmente. Mas aqui, cada vez famílias inteiras são condenadas ao extermínio.
Os capturados, responsáveis ou pró Resistência e suspeitos nos fins de 1975 a 1985,
em Quelicai, muitos deles foram atirados ao precipício de olhos vendados para não
terem a honra de sepultura.
Em relação a outra metade ocidental da ilha, vive-se indiferentemente do que é
do pão nosso de cada dia, sentido no lado oposto. Uma sensação que para muitos
afirmava a postura obcecada por uma cultura oposta, até a contemporanidade, a
história do passado recente não a ignora. O Leste, pressionado por muitas formas
para abandonar a sua maneira de vida social e de divorciar-se dos hábitos,
religiosamente, cristãos. A Jacarta encara uma dificuldade dos objectivos traçados,
cada vez se sente insucesso. Por desespero, isola o Timor-Leste ao mundo exterior
por muito tempo. Os seus operacionais, actuavam mais a vontade no campo das
perseguições a pessoas civis como agiam sobre as bases da Resistência para
eliminar fisicamente as FALINTIL. À Igreja Católica acompanhava, conciliava, as
palavras de conforto não faltavam, como se prenunciassem o tormento em glória para
breve.
Os clérigos nativos sentiam-se apreensivos com o comportamento arrogante
dos soldados de Jacarta, no territórtio. O bispo Martinho Lopes começava intervir junto
dos comandantes das TNI, as promessas pareciam sensíveis e na prática agudizava-
se. Como atrás referido, a atitude do prelado entrava em constante contestação, o
ameaçavam de morte e influenciavam os anti-independentistas a ficarem descontentes
com o mesmo bispo Lopes.
112
Decorriam propostas na Cúria Romana sobre quem seria substituto. Vinha
apercebendo-se de que o possível nome escolhido pelo próprio Papa João Paulo II,
seria um sacerdote salesiano, Filipe Carlos Ximenes Belo, para o futuro bispo do País.
Já trabalhava antes, em Fatumaca/Baucau, Missão dos Salesianos. A nomeação
como administrador apostólico foi em Maio de 1983 (Arnold S. Kohen, 1999, p. 10),
dirigiria a Igreja timorense, como primeiro responsável hierárquico. Em 19 de Junho de
1988 é sagrado bispo em Díli, ficando na dependência directa de Roma. O bispo
Martinho é aconselhado abandonar Díli, no mesmo ano que fora nomeado o sucessor 255. Antes da saída, atacava frontalmente a política de Jacarta, muitos o seguiam
inconciliar-se da integração, às vozes surgiam pela rejeição mais acrescidas. A sua
voz mobilizou muitos integracionistas a entrarem em ruptura com os seus princípios,
por assitirem a prática desumana perpetrada. Sabendo que Timor-Leste decidiu
separar-se de Portugal e não para a entrada na Indonésia...
Feita a nomeação do novo chefe da Igreja local, os rumores decorriam nos
gabinetes indonésios dizendo favorável à política de Jakarta por ser o nomeado muito
jovem, sem grandes experiências ao contrário de D.Martinho.
Nos primeiros anos do novo prelado, os políticos naturais acreditavam que a
Igreja Timorense fosse já na agenda da CEI para ser integrante, oficialmente
reconhecida, dentro em breve. Uma razão que apontava essa hipótese por ver a
entrada de muitos sacerdotes e de outras congregações de origem indonésia, como
pressão e secundada por leigos pró integração. A nova presença, no imaginário
timorense que o novo chefe da Igreja completaria as aspirações da Indonésia, em
plenitude.
No mundo do incógnito em que os timorenses vivem ausentes dos seus
concretos líderes, lhes apareciam da cabeça estranhas atitudes de agir. D. Carlos
percebia o porquê das tantas críticas, mas aproximava-se dos oficiais indonésios nas
cerimónias estatais. Na medida que a crise de insegurança tornava-se insustentável,
reparava-se uma solidão, de repente, apareciam visitas de sacerdotes ocidentais e
religiosas, até bispos. Ficavam dias e semanas, uns ficaram por lá cumprir suas
missões. Eram visitas, puramente apolíticas, mas para os timorenses constituíam
sinais de solidariedade internacional pela libertação, discutirem-se entre si no tocante
ao contínuo sofrimento, se o povo está em verdade de inocência? Afirmando as
entradas estrangeiras em associação aos seus cálculos de que o Povo timorense,
brevemente seria resgatado das duras botas do Soeharto.
255 Despediu-se dos seus compatriotas depois de cinco dias de ter sido empossado o novo chefe eclesiástico, isto é, em 17 de Maio de 1983, conforme Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, p. 116;
113
Os amigos do lado indonésio da mesma fé católica, enviam mensagens de
apoio de solidariedade aquando da sagração como bispo, e posteriormente afirmadas
pelo seu biógrafo. Em novas funções de prelatura, sob dependência directa de Roma,
a situação mantinha-se como do anterior chefe eclesiástico. As tropas continuavam na
sua operacionalidade brutal sobre a população civil, até os padres eram maltratados e
o bispo Ximenes Belo de novo em ameaça de morte. O seu telefone, constantemente,
sofria ordem de desligamento. Doutro lado, capital indonésia se soube uma das figuras
da Igreja Católica garantiu ao público e ao governo tudo faria, brevemente a Igreja
Timorense se integraria na CEI 256.
Infelizmente, nos anos em que a voz de Portugal sem eco na arena
internacional, a população timorense conheceu a sua maior agonia. A Igreja elevara os
números cristãos com a elevação moral, se estendia em todos os lados, além de
transmitir as suas preocupações em canais adequados ao exterior; a militância da
juventude crescia, proporcionava redes de ligações das vilas a Resistência armada. A
nova energia reconquistada assumira outro papel que implicara o envolvimento dos
agentes não governamentais internacionais.
Uma fase em que a juventude timorense entrava em ruptura com os laços
feitos nas quatro paredes escolares da Indonésia, desde que começou a funcionar em
bahasa257 indonésia, em 1976, também desprezava a presença indonésia logo que
assistisse os pais, irmãos, tios e parentes, tratados como animais sem piedade.
À polícia política sem férias nem descanso na condução de milhares de civis
aos vários destacamentos militares de boinas vermelhas e de polícias. Submetia-os
aos duros inquéritos, remetidos aos julgamentos segundo instruções militares e sem
acesso aos advogados de defesa, mesmo que presenciassem eram estátuas vivas.
Durante a noite, muitos foram retirados das celas de prisões, de olhos vendados e
sem saber dos paradeiros. Muitos dos quais depois de terem sido julgados e
considerados mais inquietantes à Indonésia, foram transferidos para a prisão de
Cipinang, Jacarta, em 18 de Novembro de 1984 e Janeiro do ano seguinte, no total de
43 pessoas (42 homens e 1 mulher) (anexo 7). Introduzia o programa de esterlização
das mulheres timorenses sem serem eclarecidas por explicações fundamentais. Pela
ignorância da língua indonésia, eram facilmente exploradas, por medo, receberem
cartões do KB (Keluarga Besar=planeamento familiar) para fins de injecções. Muitos
filhos nascem com uma vida de incerteza e às mães morrem pela inexistência médica.
Controladas, quinzenalmente, nos postos de saúde, dirigidos por médicos javaneses.
256 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Rditorial Notícias, 2002,p. 152; 257 Em português: língua;
115
O programa passa a ser interpretado como extermínio e impedimento da nova
geração timorense, sinónimo do acto praticado pelos militares. O estrato social letrado
revoltava-se contra tal medida. O caso entrava em choque com a hierarquia da Igreja
Católica timorense. Ainda que nas décadas 1980, o governador Timor Timur Eng.º
Mário Viegas Carrascalão tentasse junto de Soeharto, permitia parcialmente a
abertura de Timor Leste aos estrangeiros (F. Lima, p. 283) mas não havia indícios de
mudança ao nível das atitudes de autoridades ocupacionistas. Alegando que o país já
se considera a 27.ª Província da RI, segundo a vontade do povo timorense,
representado a proclamar a integração, pelos 35 chefes tradicionais, em 30 de
Novembro de 1975, em Balibó, mais tarde reconheceria oficialmente pela Jacarta a 17
de Julho de 1976 258. Vezes afirmava, quanto aos incidentes, são questões resolvidas
segundo as leis do Estado Indonésio. Aos timorenses, uma ironia como cravo nos
corações a inconciliar-se cada vez mais das políticas pela integração do Povo Timor-
Leste na Indonésia.
A versão repetitiva em público nacional e exteriormente afirmada pelos
indonésios, relativa a integração forçada, não correspondia a vontade real do povo.
Durante o longo período de Resistência armada, o convívio dos líderes políticos com
as elites tradicionais/datós ou liurais, manteve-se firme e em sintonia pela rápida
libertação do Território. Os seus apoios eram valiosos, entendidos em vários aspectos,
no quadro organizativo em oposição a presença militar estrangeira.
Os timorenses, em toda a parte viam a ocupação indonésia como: famoso
construtor das valas comuns, sepultura dos civis inocentes; os seus hospitais de Díli
representavam um mundo moribundo; as suas escolas, portadoras de novas
informações culturais que visavam afundar a própria identidade local, como um Povo.
Inculcava falsas ideias nas famílias a provocar a própria desagregação, difícil de as
tornar em conciliação. Inventou um novo capítulo da sua história contemporânea de
submeter o Povo Timorense sob humilhação e culpas, em razão de reivindicar o seu
direito universal.
Os indonésios ficarão cientes que, o Timor dos Belos, desde sempre, nunca foi
portador de uma idiossincrasia institucionalizada nos responsáveis de consciência
para infligir um vizinho como o Adamastor indonésio. Nem sequer invocava a teoria de
sustentar actos socialmente inconvenientes em espaços fronteiriços. Comportou-se
segundo os seus pensamentos, temperados por culturas que o tornam cientes nos
padrões internacionais, dos quais age pela conquista da sua liberdade.
258 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade Histórica, 2.ª Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 104;
116
3. 6. O novo pensamento clama por um só rosto e uma só fé
Em consciência apercebe-se que, com a resistência timorense era impossível à
Indonésia reconhecer o direito reivindicado e retirar-se de Timor-Leste. Quer dizer isto,
não se tratar da questão de matar mais timorenses, diariamente, só que os países de
peso político internacionalmente fecharam os ouvidos e nem sequer levantavam a
questão de Timor-Leste nas Nações Unidas quando Portugal reivindicava
constantemente o direito a autodeterminação e independência junto daquela
instituição. E no local, pelos vistos, a voz do bispo ultrapassava de um político, mas
em circunstâncias como vivera, surgia também o receio de o prelado ser assassinado
à semelhança do Óscar Romero, arcebispo, de São Salvador 259.
Desde a Indonésia ocupou Timor-Leste repetiu vezes críticas:
«A população era muito atrasada. Era muito estúpida (...) Foi a Indonésia que
teve de ensinar tudo, de dirigir, de empurrar para o desenvolvimento, construir
estradas e casas com andares (...)
A Igreja católica não se rege pelos ensinamentos de Cristo, pelo contrário rege-
se segundo a ideologia marxista-leninista por causa da denominação da
FRETILIN, é precisamente isso que a Indonésia veio endireitar».
Face a estes oradores os estudantes viam-se na sua organização de juventude
em oposição mais acrescida, pintaram num muro da escola católica Paulo VI a
inscrição:
«Quando Timor-Leste for independente acabaremos com os lacaios de Suharto».
À escola foi alvo de revista severa militar a exigir a identificação dos alunos
responsáveis pela inscrição. Um dos alunos denunciado, descoberto ter caligrafia bem
cuidada. O jovem Cláudio Boavida de 26 anos, levado pelos militares nunca mais ter
sido visto por todos. Os comentários do “governador” segundo a Agência France-
Presse que esta inscrição só podia ter sido uma provocação 260.
Os novos actos decorrentes, desde a nomeação do novo chefe eclesiástico, as
autoridades indonésias o viam em silêncio. Não reagia de forma frontal junto dos
oficiais responsáveis pelas torturas, fuzilamento e desaparecimentos. Acompanhou,
analisou o passar de dramas, empenhado de diplomacia para chegar o que o povo
queria do que se passava dia pós dia. Não suportava mais, redigiu uma declaração a
ser lida em todas as igrejas do Território, em 5 de Dezembro de 1988, alegando
discordar o sistema usado e condena a falsa propaganda pelo respeito dos direitos
259 Santos, José Rodrigues dos, A Ilha das Trevas, Temas e Debates, 2002, p. 157; 260 Revista, Timor-Leste 20 anos de ocupação e 20 anos de resistência, s.l. e s.d., p. 35;
117
humanos em Timor-Leste. No ano seguinte, dirigiu uma carta ao secretário-geral das
Nações Unidas, o então Javier Perez de Cuellar. Solicitou o início do processo de
descolonização através de um acto referendário para que o povo de Timor-Leste se
pronuncie sobre o futuro destino. Os outros falam pelo povo, enquanto este rejeita a
integração forçada 261. E em apoio desta iniciativa, uma carta dirigida pelo bispo
japonês Aloisius Soma, assinada por cinco cardeais, 32 arcebispos, 77 bispos e vários
outros chefes religiosos da região Ásia-Pacífico 262. Por um lado, Ximenes, era
criticado por muitos políticos dizê-lo ser muito servil às autoridades indonésias.
Importa-nos perceber que o longo sofrimento imposto, em todas as suas
vertentes, ainda que fosse solicitado por entidades amantes da paz junto das
autoridades de Jacarta, para respeitar os direitos humanos em Timor-Leste, em
resposta, a repressão elevava-se. Daqui, se vê transformado em altos contributos para
que a causa timorense se convertesse numa paixão universal, e a sua vontade firme
de ser livre impressionasse o universo dos homens, negado à verdade dos
acontecimentos. Gerando assim um novo pensamento por um só rosto e uma só fé,
constatado a partir de dentro, passando por pessoas de diferentes cores de
sensibilidade política e uma visibilidade credível na quebra do silêncio internacional,
como atrás referido. Ao sentir-se as novas ventilações a favor do povo mais
perseguido, levam-nos a compreender o que se queria no Reajustamento Estrutural
da Resistência e Proposta de Paz, assumido após ter sido escolhido Xanana
Gusmão como novo líder da Resistência Nacional Timorense, em 1981. A sua
mensagem abalou os estudantes nas universidades da Indonésia e a conquistar os
apoios em secretismo na própria capital inimiga para furar o muro de granito com o
mundo exterior. Endireçou as novas propostas aos líderes lá fora em coordenarem
acções entre FRETILIN/UDT, em busca de uma concertação de ideias com a
diplomacia portuguesa; conquistar a confiança dos países irmãos de língua oficial
portuguesa para demover a dureza e o silêncio dos seus amigos a tomarem uma nova
postura pela questão timorense263.
No campo de operação militar, muitos ficaram apreensivos com a morte de
muitos soldados indonésios, embora não publicasse os números atingidos desde
1975, considerava uma guerra assaz prolongada, sem vitória política em vista no
exterior. Acusando os seus comandantes de quererem lutar pelos altos postos,
injustamente. Ao fim de 17 anos contra os independentistas apercebem-se que a
integração do Timor-Leste na RI, não é uma tarefa fácil. Muitos indonésios que tiveram
261 Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, p. 143; 262 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, pp. 156-158; 263 Gusmão, Xanana, Timor Leste um povo, uma pátira, Edições Colibri, 1994, pp 95-107;
118
corrida louca a Timor oriental por função militar, deixaram chorar filhos, viúvas e pais
junto das autoridades militares, facto que as dava muitas voltas à cabeça em torno do
regime indonésio.
As populações, literalmente, são silenciadas na sua própria pátria; povoações,
sucos, postos e concelhos administrativos encontram-se sob controle das autoridades
militares. As funções de administrador do concelho, ainda que fossem dirigidas por
timorenses, mas em cooperação com os javaneses. Onde há agrupamento
populacional, aí está uma secção de boinas vermelhas (nangala) ou polícias. Durante
a noite faz rusgas as famílias para conferir os membros do agregado familiar, segundo
o caderno de recenseamento fornecido pelo RT/RK (chefe da povoação/ajudante
deste).
O tipo de organização militar e policial em destacamento e em colocações, era
difícil a alguém transmitir as novidades conseguidas do exterior a outras localidades, e
as bases de Resistência, quer de recortes de jornais, como por rádios, etc. A maioria
por receio não acompanhava a rádio emissora em português: BBC Londres, Japão,
Austrália, Lisboa..., em alta noite e as quatro a seis horas de manhã, hora local. Para
desfazer a muralha de injustiça, surgiu a ideia de organizar programas de orações de
Sagrada Família de casa em casa familiar, para 10 a 20 pessoas presentes,
previamente comunicados aos comandantes das respectivas áreas com o apoio dos
chefes locais e agentes secretos nativos; outras possibilidades se fazem, nos
cemitérios quando se enterrar algum amigo falecido da mesma paróquia. O espaço
mais privilegiado de tudo, é a igreja, nos domingos ou dias santos... Alguns
empresários, muitas vezes convidavam uns oficiais perigosos a refeições a portuguesa
com vinho porto. Durante o jantar ou o almoço, trocavam impressões de amizade,
acabariam por desbobinar os planos a implementar, em breve serão conhecidos por
todos até as montanhas, em clandestinidade ou fora da pátria.
Com todo o desespero que se sentia anos a fio, anunciava-se a visita do
Santo Padre, em Abril de 1989, por arcebispo Darma Atmadja, responsável de CEI.
Na base desta novidade, muitos políticos sentiam-se de medo de que a visita pontífice
seria abençoar a integração de Timor-Leste na RI, e inverter o estatuto da Diocese
timorense em ser dependente da CEI 264. Todo o país saberá da data de visita
anunciada durante o mês de Setembro. As autoridades indónésias em Timor
preocupavam-se pela preparação à chegada papal. A segurança era reforçada por
novos batalhões enviados de Jacarta. A circulação e o acesso ao sítio escolhido para 264 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 301 ss;
119
a missa, transmitida a redução pelos agentes do intel (polícia política) a população
durante as noites, para não morrer de sede e de fome durante o dia de visita. Versão
por eles adoptada para os fiéis nativos não se aproximarem ocupar o espaço junto ao
altar, destinar-se-ia aos indonésios civis vindos da ilha de Flores/Laran Tuka, Atambua
e de Kupang, já instruídos para gritarem “viva Indonésia” após a missa. A astúcia fora
conhecida por serviços de catequistas, zeladores e escuteiros e provocava reacções
em muitos padres.
As notícias multiplicavam-se no seio da população e a curiosidade centrava-se
nas palavras que o papa iria pronunciar, na missa... As pessoas ainda interrogavam-se
umas as outras se Sua Santidade beijaria o chão quando pisar solo timorense. Por
outro lado, via-se a segurança em todo o lado das zonas que constituem a cidade Díli.
As conversas entre amigos em grupos são acompanhadas disfarçadamente por
pessoas mal vestidas, ligadas as ABRI. Duas gigantes fotografias do Papa João Paulo
II e do Presidente da RI, Soeharto, postas à beira da estrada principal, em Díli. Os
carros que aí circulavam, ao aproximarem-se das fotos, reduziam a velocidade,
fixavam os olhos nos retratos em segundos. Uns independentistas achavam boa
ocasião ao interesse político indonésio, para consolidar os seus objectivos, na medida
que indo informar os fins da visita às populações, e, mais tarde tudo lhe aconteceria ao
contrário. A volta dos rumores, o bispo percebia que o papa não se alinharia em
nenhuma política pró Timor-Leste ou Indonésia. Decidiu acalmar os ânimos por meio
de uma carta pastoral, na qual recordava que o papa não vem para tratar da política 265.
Finalmente, no dia 12 de Outubro de 1989, é concretizada a chegada pontífice
em Jarcarta. Manteve conversas com as autoridades indonésias sobre progresso do
país, apelava a unidade do povo, reivindicava a justiça e o direito das minorias. No
mesmo dia, cerca das quinze horas, chega no aeroporto de Comoro/Díli,
acompanhado por ministro de defesa indonésia, General Leonard Benyamin Moerdani
(conhecido por L.B. Moerdani), um católico convicto, incluindo altos funcionários de
Jacarta. O sítio escolhido para a missa é Taci Tolu, um pouco a oeste de Díli, lugar
onde os soldados massacraram centenas de timorenses durante os anos de 1980-
1983. O largo fora totalmente preenchido pelos cristãos e não fiéis; sacerdotes e
freiras vindos doutras províncias da Indonésia mais próximas a juntarem-se aos locais,
presentes na cerimónia presidida por Sua Santidade, João Paulo II. Em termos de
panorama religioso, essa tarde de 12 de Outubro parecia induzir algo luminoso e
inspirador despertavam o coração dos fiéis. Mal terminou as palavras do final, de
265 Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, p. 144.
120
repente, próximo ao altar, viram-se abrir as bandeiras e panos com escritas louvando
o papa e pedindo-lhe a ajuda pela independência e direitos humanos para Timor-
Leste. Manifestação esta, organizada por jovens de cerca de 30: Griataram “VIVA O
PAPA” e “VIVA INDEPENDÊNCIA”. Intervieram a polícia política a roupa civil e outras
atacar os manifestantes desarmados, batiam-nos com varas, bastões, paus,
arrastando-os aos carros. Enquanto a cena decorria, o papa olhou atentamente o
sucedido mesmo à frente, e em seguida dirigia-se a sacristia com um sorriso amargo
nos lábios. A comunicação social internacional e agências noticiosas que
acompanharam a visita tiveram a cobertura (anexo 8). O papa, pessoalmente, ouviu
muitos protestos contra a ocupação estrangeira, também não condenou abertamente a
Indonésia. Há condenações, decorreriam nos bastidores em silêncio, em favor de
quem é vítima pelas realidades de justiça 266.
Dias depois, os serviços secretos culparam o padre Locatelli (italiano)
missionário apolítico, no Colégio Salesiano de Fatumaca/Baucau que se encontrava
em Timor-Leste desde 1967. A revolta crescia nos manifestantes pelo facto de muitos
pais desses jovens do Colégio, foram desaparecidos, mortos e torturados pelos
soldados de Jacarta, sem culpa formada contra o Adamastor indonésio. Após o
regresso do pontífice, os polícias aprisionaram mais de mil jovens, mais tarde se
afirmaria no livro do professor Mattoso 267.
À tarde do dia 12 de Outubro, assim que o papa chega ao aeroposto de Díli,
com o bispo Ximenes Belo num carro dirigem-se a nova catedral construída pelos
indonésios. D. Carlos falou com o pontífice beijou o chão e rezou demoradamente. De
seguida ouviu atentamente os sacerdotes timorenses. Em resposta parecia dar-lhes a
coragem e depois desta vendo os padres mostravam-se desanuaviados.
Uma visita do género, fora negociada por enviado vaticanista, monsenhor
Roberto Tocci com o Presidente Soeharto, se decorria em secretismo. O resultado
residiria nos registos inacessíveis do papa, tanto que em meses antes, surgiam
declarações contraditórias que causavam as atenções de figuras de relevância política 268.
Uma guerra imposta a Timor-Leste, em teoria de arrastamento por longos
anos, levar-lhe-á ao esgotamento de energia e a morrer aos poucos; dificultar a
produção agrícola, os seus gados foram dizimados; forçar converter os cristãos em
muçulmanos – Maria por Miriam, Arnaldo por Abdul, Soeleman etc, etc. por aí fora.
266 Santos, António de Almeida, Quase memórias da descolonização de cada território em particular, 2.º Vol., Casa das Letras, 2006, p. 405; 267 Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005 p. 147; 268 Messias, Jorge, O Crepúsculo dos Deuses. Igreja e Fé?... Igreja e lucro?... Queda ou ascensão?, Campo das Letras, 2001, pp. 139-141;
121
Tratavam os sacerdotes por tu, bodoh (estúpido) em público. O Povo Maubere vê e
sabe, os seus irmãos mais evoluídos, desaparecidos. De novo assiste tratar um clero
timorense dessa forma, é algo perturbador. Ver o seu padre perseguido e a perda da
igreja paroquial era também perturbador. Poder-se-ia duvidar o segredo escondido na
presente atitude, marcadamente política é vista como novo tempo religioso substituído
por outro. O ambiente em curso, é seguido por todos, engenhosamente. Quer por
recusa aberta ou em silêncio à integração, encontra-se consolidada nacionalmente,
cujo o eco se faz sentir no exterior, em leque mais estendido.
A presente situação hostil, a Instituição Católica, entidade que representava
autoridade política timorense, uma vez conhecido o difícil retorno da soberania
portuguesa; a certeza do objectivo que se joga orgulhosamente por ABRI269 encontraria
entraves, sentidos em todas as frentes da Resistência Timorense. Por outro lado,
contribuiria os sentimentos indonésios pela mudança à rápida transição do regime a
democracia, cujos actuais actores, vistos, mairoes corruptores e de sede pelo sangue
dos milhares inocentes. A volta dessa surdez contemporanista de Jacarta, elevou o
espírito de liderança timorense na promoção cada vez mais a racionalidade intelectual
a descobrir novos meios a definir o total regresso dos ocupacionistas de Timor-Leste,
poderia ser conhecido em qualquer momento, não longínquo.
Os sacerdotes quem ajudava os estudantes, com base de liberdade de
circulação e manter contactos com grandes multidões para servir de correio aos
nacionalistas timorenses. A Resistência em funcionalidade encontrava-se assim, no
jogo de tríplice enquadramento: FALINTIL, clandestina e Igreja. Laços completamente
são desfeitos. A ABRI, no território ocupado, sabia este trabalho a pente fino. Só que
os sacerdotes com um comportamento que não desse para além dos princípios de
neutralidade, tanto que suscitasse forte hesitação dos indonésios deixá-los em
liberdade de circulação. Por outro lado, penso eu, na Indonésia, na época descoberta,
os portugueses converteram comunidades em catolicismo, particularmente, nas ilhas
Molucas/Ambon, Flores, Sumba, Surabaia/Madura, Malam; do Java leste, mesmo em
Java central, multiplicaram-se até agora. Razões, obviamente, reivindicam pelas boas
relações entre Jakarta e Vaticano.
Neste lado da presença do cristianismo, a reivindicação timorense em questão,
conta-se com o apoio invisível da Igreja, e nos bastidores do catolicismo em
solidariedade e de outros credos agiam pelo objectivo como bênção e respeito da
Indonésia pelo Vaticano como uma forte bofetada em benefício à reviravolta.
269 Abreviatura de Angkatan Bersinjata Republik Indonesia. Em indonésia significa Forças Armadas da República Indonésia;
122
Após a visita papal os caminhos da diplomacia que foram vedados pelos
políticos de Jacarta junto do Vaticano passarão a ser desminados para o prelado
timorense. Torna-se encorajdo, apoiado pelos restantes sacerdotes a denunciar os
actos atrozes. Chega a confrontar com os comandantes indonésios, em Díli.
A tragédia que imperava em Timor-Leste, ditava a ausência de relações
diplomáticas entre as capitais Lisboa/Jacarta. Era difícil Portugal permitir alguém voltar
visitar o seu antigo território, mergulhado em mar de brumas e de incógnito. Mas nem
era impossível aos portugueses de cristalizar este sonho, há uma luz vista ao fundo do
túnel. O General Morais da Silva que libertara os 23 soldados portugueses em poder
indonésio em 25 de Julho de 1976, incluindo a saída de 1200 portugueses, timorenses
e chineses, acantonados em Atambua para Lisboa, na sequência do encontro em
Bangkok dos dias 6 a 9 de Junho entre delegação portuguesa e da indonésia (F.
Lima, pp. 266 e 267) visitara o território, no mês de Outubro de 1980. O visitante fora
admitido visitar Metinaro, Hera e Maliana, diz-se ficara impressionado com a maior
velocidade de expansão de língua indónesia, à medida que se vê aumentar as escolas
e informado de a FRETILIN restar 400 guerrilheiros. Manteve encontro com o ministro
da defesa indonésia, General Beny Moerdani, responsável pelos programas de
integração. O seu relatório segundo se percebia, o governo indonésio desejaria reaver
entendimento com Portugal quanto a situação timorense. Um novo dado muito
contributivo aos portugueses optar medidas que garantam a sua posição na arena
internacional. Em 11 de Junho de 1986, o sucesso dos bastidores resultou a ida do
deputado CDS Miguel Anacoreta Correia ao país, da qual afirmara que todos os
serviços públicos usavam o “bahasa indonésio”. Obteve informações fidedignas da
resistência timorense a controlar grande parte do território, causava grandes danos as
ABRI, o povo não podia falar da situação à vontade, ou ao contrário. A língua
portuguesa é falada por famílias ligadas a administração e ao ensino portuguesas, dá-
se entender de voltar viver de novo com Portugal. O mesmo acrescentava se a
Indonésia fosse capaz conquistar o coração do povo timorense (F. Lima, pp. 278-285).
Nos anos de 1970 a 1975, não havia televisão que emitisse os acontecimentos
em imagens, decorridos noutras bandas do mundo para que propusesse a nova
mentalidade das pessoas em avaliar a presença televisiva. A Indonésia levou consigo
o comércio de televisão a Timor-Leste, convidava a população de a adquirir para estar
corrente da actualidade internacional e Penbangunan dalam negri (desenvolvimento
inerno). O muro de Berlim erguido em 1961 desfeito, ocorrido em Novembro de 1989 é
outro sentido 270. Acordou a consciência dos povos do manto nebuloso, de imediato o
270 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 75;
123
compreenderiam - fim da guerra fria entre blocos opostos, EUA/Rússia. E a Kuwait
fora invadida por Iraque de Sadam Hussain, libertado por uma coligação ocidental,
EUA e Grã-Bretanha onde as forças ocupacionistas foram expulsas com a cobertura
de agências noticiosas internacionais. Colocava as pessoas, demoradamente, diante
das televisões a contemplar o filme militar, em movimento de retorno à Iraque 271, e,
em Timor-Leste, para os jovens, não estavam alheios dos factos.
Como todos, a Indonésia sabe a importância da tecnologia moderna, impõe um
novo sentido do constante contacto das sociedades humanas distantes e colonizadas
entre si, em segundos. A nova era contribuiu a juventude timorense reivindicar a
Indonésia que respeitasse o direito do Povo Maubere. Mas a elite política de Jacarta
ignorava o sentido contemporanista transportado por comunicações da presente
tecnologia. As ABRI apontam agitações oposicionistas, organizadas por sacerdotes
timorenses e de mentores de inconciliação timorense, mais acentuada da RI, na
questão da integração.
Mantendo a sua ordem, em activa operacionalidade no território. A agonia do
povo é maior, não há outra expressão do dia. Às notícias de todos os dias que se
circulam dizer que ontem a noite as bóinas vermelhas a roupa civil de carro sem
matrícula, levaram mais os pais de filhos, colegas dos nossos filhos da mesma escola.
Indícios que desenham o quotidiano timorense na mira das violentas autoridades
ocupacionistas, em continuidade a pintar a incerteza do futuro do país. Uma euforia
militar exibida, caracterizava o desconhecimento da questão timorense no mundo
exterior cada vez mais conheccido, internamente, resta a retirada da agenda das NU
em questão de tempo, conforme muitos indonésios comentavam.
Em finais de 1989, noticiava-se a visita do embaixador dos EUA a Díli, também
com a intenção de procurar saber a situação dos jovens timorenses desaparecidos do
pós da visita papal, segundo as pretensões dos mais cem membros do congresso,
expressas numa carta. Quando chega em Díli, o embaixador John Monjo, avistava-se
com a presença de uma manifestação dos cerca de cem jovens timorenses, desejosos
de o transmitir a preocupação e a situação quotidiana. Percebiam que não teria efeito
positivo, mas dá-se de conhecer o que se passa, diariamente, em Timor-Leste a um
representante dos Estados Unidos da América. Sofreram represálias militares no Hotel
Turismo, muitos chegavam a ser conduzidos a duros interrogatórios 272.
Mais uma vez se afirma, esta a situação seguida ao 25 Abril português, até aos
fins da década 80, o Povo Maubere continua fiel aos seus princípios, culpado por
271 Idem, Ibidem, p. 370; 272 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, p. 171;
124
aquilo que é reconhecido pela universalidade. Morrem os filhos, torturados,
desaparecidos, injustiçados, presos distantes da sua terra; mortos de fome, doença,
por longos movimentos realizados, semanas inteiras devido as perseguições. Os que
resistem pela promessa, vêem a paciência como única virtude para os manter na
contínua acção de oposição à ocupação. São muitos de ambos os sexos, por amor
pelo que escolheram deixaram para trás aquela idade primaveril. Nem sequer uma
oportunidade os permitia lembrar os sonhos em subir os degraus do altar a serem pais
um dia.
Pensando nas sociedades das grandes civilizações ocidentais que fossem
sensíveis a este tormento, pareciam render-se aos interesses materiais do jogo
indonésio. Porém, os bastidores em silêncio, pela ribalta da questão se decorriam,
tanto que em Agosto a Novembro de 1990, ouvia-se no território o decorrer das
reuniões da Subcomissão da ONU, em Genebra, pela entrevista dada a Ramos Horta.
Ficou incomodado o Alatas por algumas intervenções face a crise dos direitos
humanos em Timor-Leste, zangado, preparando-se para romper as conversações com
Portugal. Acusando este não querer ceder-se.
Em função de entendimentos entre Portugal/Indonésia, ficara acordada a visita
parlamentar portugusa ao território, que terá sido anunciada a partida, para Novembro
de 1991, sob auspícios das NU. Na versão do prelado timorense, o evento seria o
derramento de sangue, por saber grande manifestação da juventude e da população
timorense e da presença dos grupos organizados das FALINTIL, que se decorrem em
preparação. As ABRI, de aldeia em aldeia andam a roer os dentes para os que são
mentores já conhecidos do que iria acontecer, pelo que a espionagem se crescia no
meio das populações. A rede clandestina movimentava-se das vilas as montanhas, em
vai-vem para saber as orientações de quem é responsável da Resistência. As
novidades são conhecidas em toda parte, reagindo como única oportunidade de forçar
a delegação parlamentar em pronunciar algo oficial pela reviravolta para que o Povo
fique livre deste inferno dos demónios de uma vez para sempre.
Os planos de partida concertados com a integração de jornalistas de alta
profissão pela delegação, os quais uns deles como Rui Araújo, RTP; Mário Robalo, do
Expresso eJill Jolliffe, australiana residira em Portugal longo tempo, são eles rejeitados
pela Indonésia. Depois de tantas trocas opiniões entre ambos, Portugal pediu
suspender a visita por achar-se condicionado 273.
273 Idem, Ibidem, pp. 176-178;
125
3. 7. Santa Cruz e os deuses da hiper civilização
Antes e pós da visita de João Paulo II a Timor-Leste, os apelos dirigidos aos
políticos de alta civilização cultural, inspiradores do padrão universal a quem os
admirava, acreditava, pareciam ignorados os pedidos, esboroados a que o ódio sobre
o Povo Maubere se repetia dia pós dia. Assistia momentos impiedosos, deparando a
consciência dos homens pela lógica dos poderes sobrepunha o princípio, sem
inversão prevista, mais sentida. Portugal manteve-se na postura pela libertação do seu
antigo território, cada vez fora estimulado ao diálogo em estreita sintonia com os
políticos timorenses, achando-o arte possível.
Os anos se sucedem, os dirigentes da nova geração portugueses assumem
poderes de governo, também mudam decisões de como mitigar a fera a volta da
questão timorense.
A acordada visita parlamentar portuguesa ao território 274, fora conhecida pela
juventude timorense, considerava-a ser um importante evento histórico. Transmitia a
todos se sentissem ânimo a cooperar-se nos prepartivos em grande escala para
manifestação à chegada. Em paralelo, os serviços de espionagem indonésios, se
movimentavam para acompanhar os passos da rede clandestina. Eram atentos a
qualquer infiltração dos guerrilheiros na capital a incentivar acções de protesto.
Suspeitavam uns comandantes a encaixarem-se na organização de juventude. Muitos
jovens já conhecidos pela polícia política, são constantemente seguidos onde que
fossem encontrados. Achavam-se inseguros dormir em casa, tinham que recorrer
algum sítio de refúgio.
Uns sentiam-se dos seus dias mais candentes face a busca dos mais visados
pelo Intel (polícia política), já ocorridos noutros bairros de Díli, tiveram que refugiar-se
na igreja de Santo António de Motael durante a noite. Os militares/polícias sabiam de
tudo o movimento, achavam que estivessem também alguns comandantes
guerrilheiros, na igreja. Não suportavam com a constante mudança dos mais
procurados, considerados mentores.
Logo de manhã as 3 horas, do dia 28 de Outubro de 1991, entraram romper a
porta da igreja de Santo António. Dentro, envolveram-se em combate entre irmãos
timorenses, doutro lado acompanhado por militares. Um dos perseguidos, Sebastião
Gomes fora morto com tiros seguidos, e outro civil, morreu esfaqueado. Hora seguinte,
o bispo foi reconhecer o atingido, tanto como governador Eng.º Mário Carrascalão. O
jovem estava estendido na rua, fora da igreja. Os militares mentiram Ximenes Belo e 274 Fora público por MNE da Indonésia a 13 de Janeiro de 1988, conforme. Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005 pp. 157 ss;
126
Carrascalão que fora esfaqueado. Estes pediram virar o corpo, viram buracos de balas
no corpo (os indonésios nunca foram e nem são homens de honra da sua palavra e da
acção). O dia foi triste, para toda a maioria da população jovenil.
Em memória dos dois mortos a tiro e esfaqueado, o bispo rezou-lhes uma
missa fúnebre. No seu sermão matinal, não esteve com rodeios: «Vocês, jovens,
precisam de reflectir! Os bispos e os padres dar-vos-ão protecção! Mas precisam de
pensar com a cabeça no lugar. Partir os vidros das janelas da igreja, tirar vida a
outros, difamar o bispo, quebrar os objectos sagrados, tudo isto acontece nos dias que
correm. Partiram a estátua de Nossa Senhora em Comoro. Em Lahane, em Bobonaro,
falam mal do bispo, dos padres e das freiras.» E acrescentou de modo incisivo: «Isto
só começou após a integração, a época da merdeka [«liberdade», em indonésio]. Na
época colonial, sob domínio dos Portugueses, nunca se assistiu a cenas destas.» 275.
Protestado por todo o território, em silêncio, nos serviços, escolas. Depois do
enterro do saudoso colega, decorrem os preparativos para cumprir o oitavo dia do
derramar das flores, tradicionalmente, organizado pelos familiares. O dia vai assistir a
grande presença da população de toda a idade, sobretudo da geração estudantil. A
revolta quer ser exteriorizada, conhecida fora do território, mas sabiam dos riscos.
Os próprios familiares e parentes do jovem em questão, as 07.00 horas de
manhã, hora local do dia 12 de Novembro, já estavam prontos com coroas de flores
para a missa, dirigida pelo mesmo pároco de Motael. Fora e dentro da igreja cheio de
multidão a assistir a cerimónia religiosa, em memória do Sebastião Gomes. Uns
estavam na rua a espera que terminasse a missa; apareciam mais grupos de 10 a
20/24, seguidos uns dos outros a juntarem-se aos que estavam. Ao terminar a
cerimónia, à saída, os pais e tios do Sebastião viram a presente solidariedade dos
colegas em massa a frente da igreja, em homenagem ao saudoso, abraçados uns aos
outros a chorar. Os organizadores davam sinais ao início da marcha ao cemitério de
Santa Cruz, à frente, uns jovens levavam flores.
Muitos queriam que este dia fosse bem aproveitado por alguns jornalistas
ocidentais presentes, os quais foram já contactados, em antecedência e assegurados
a este propósito. Todos na caminhada; outros, traziam consigo bandeiras da FRETILIN
e retrato do Xanana debaixo das camisas. O entusiasmo imperava, as bandeiras
abertas erguendo-se ao ar, flutuavam-se no seio da multidão; movimentos filmados.
A marcha tomava pela direcção da estrada marginal a frente do palácio do
governo, pelo lado do estabelecimento policial; uns polícias junto a instalação, de
275 O acto atroz e infortunado particado pelos homens ABRI, na igreja, tornou furioso o bispo deixar umas expressões de tom mordaz: Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, p. 179;
127
mãos cruzadas com cara de quem assassina, olhavam a grande massa de gentes
passando em sentido ao cemitério. Ao longo da marcha, viam polícias a roupa civil a
misturar-se nas fileiras. O ódio dos jovens era tudo, não se importavam do que lhes
aconteceria. Na medida que iam aproximar-se à porta principal para entrar, e o cortejo
fúnebre se multiplicava em pessoas.
Os jornalistas estavam já no cemitério, dispersos na multidão. Outros fiéis
posicionavam-se a volta da campa, rezando em português. Viram os militares armados
descendo das camionetas. Dispersaram-se disciplinadamente, comandados por altos
oficiais de roupa civil. De repente, viram fogo aberto sobre a multidão civil, orando.
Rapazes caídos ao chão ensopados de sangue, outros fugiam desesperadamente da
cena improvisada. Já mortos estendidos e os soldados saltaram para dentro do
cemitério esfaquear aos ainda de sinais de vida. Reinava uma confusão. Muitos
feridos chegavam escapar-se, tratados em casa. Uns chegaram em casa episcopal
ensanguentados. Os militares, sem pejo nenhum, inundaram instalações da CVI em
perseguição a uns manifestantes. Um jovem newzelandês, passava férias em Díli,
encontrava-se no meio dos fiéis, confiscado os equipamentos, esfaqueado,
posteriormente faleceu no hospital 276.
A famosa cena atroz infortunada, exibida, planeada pelas ABRI, fora filmada
conforme os seus movimentos bárbaros, ocorridos no dia 12 de Novembro de 1991,
no cemitério de Santa Cruz, no coração da capital 277. Os cadáveres, transportados
por camiões ABRI, pareciam lançar ao mar ou em vala comum. Os familiares
desconheciam os corpos jazigos e sepúlcros. Tragédia, fez morrer 271 pessoas 278.
Já o drama ter ocorrido meia hora de tempo, o bispo Belo fora informado e o
governador Eng.º Mário Carrascalão dirigiram-se ao local, gritavam aos militares
“matem-me a mim, matem-me a mim”, eles não têm culpa, sem armas.
Os que morriam nas camionetas, deixavam amontoados no hospital Lahane,
outros ainda de consciência pediam água e solicitavam ajuda se pudessem salvar-se
de morte. Lutavam pela sorte de vida no hospital, nas primeiras noites do
acontecimento, infelizmente, todos morreram devido aos comprimidos desinfectantes
muito forte para matar os insectos; esmagavam-os com objectos pesados à cabeça,
peito. À meia-noite, os cadáveres foram transportados fora do hospital para valas
comuns ou atirados ao mar, quando podiam ser entregues aos familiares enterrar com
dignidade (anexo 9).
276 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 304; 277 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, pp. 188 ss; 278 Biografia de Xanana Gusmão em indonésia, 1993, p. 7;
128
Dias a seguir, o mundo foi acordado, impressionado por imagens emitidas. Os
telespectadores viram os timorenses rezar em português à volta da campa a morrerem
esfaqueados, tiros, pontapeados, coronhadas com armas. A comunidade internacional
ficou em choque perante o drama, emitido pela TV, planeado pelas ABRI. O governo
de Jacarta não havia hipótese de mentir à semelhança dos massacres feitos desde
1975 seguintes, sem cobertura televisiva como foram denunciados por anterior chefe
eclesiástico Martinho Lopes, através da missiva dirigida ao colega australiano e
fotografias enviadas testemunham como as ABRI massacravam timorenses.
A Indonésia fora imediatamente cercada pela política externa. Alguns estados
ocidentais paralisaram as ajudas concedidas. Os EUA, não tomaram de imediato uma
posição, todavia, sentiram-se incomodadas, acusadas cúmplice no genocídio em
Timor-Leste, mais tarde suspenderiam alguns programas de assistência militar à
Indonésia 279. Portugal tomou de imediato uma política de condenação severa contra o
acto decorrido. Reivindicou junto da UE para criar uma comissão internacional a
investigar os incidentes, que obrigasse o governo de Jacarta a uma resposta justa 280.
A organização não governamental, de origem portuguesa como CDPM, multiplicava
publicações das informações sobre Timor-Leste, no sentido de serem conheciddas as
injustiças em meios públicos, escondidas pelos sanguinários de Jacarta ao exterior. A
organização manteve diálogos com todos os partidos políticos, quer do governo como
de oposição, dando conhecer a sociedade civil portuguesa, movida sensibilizar-se pela
causa timorense como problema nacional. A capacidade de transmissão era poderosa,
fizera sentir noutras bandas de sociedade civil na defesa dos direitos do Povo
timorense 281. A par deste esforço, as iniciativas individuais como professor Barbedo,
no âmbito das jornadas da Universidade do Porto, tornara muitas figuras
independentes internacionais preocuparem-se pela paz e justiça timorense.
Os próprios líderes timorenses, no exterior, multiplicavam os seus esforços
junto das figuras de relevo internacional, organizações pela defesa dos direitos
humanos, além da pessoa de José Ramos Horta, representante especial de Xanana
Gusmão 282. Os países de língua oficial portugueses africanos, os seus apoios eram
permanentes e decisivos, e Brasil, intensificou a acção de solidariedade 283.
279 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 310; 280 Idem, Ibidem, p. 305; 281 A cor das Solidariedades, CIDAC, Edições Afrontamentos, 2004, pp. 95 ss; 282 . Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, pp. 157 ss; 283 Câmara dos Deputados, Solidariedade à luta pela independência do povo do Timor-Leste, Brasília, 1996;
129
Santa Cruz tornou-se um poderoso comunicador de crimes abafados, levar as
pessoas a reflectir sobre o que circulava nos ecrãs das TVs, suscitando mudanças de
tendências e de opiniões.
Ao longo dos anos argumentava-se a questão timorense para Jacarta como
uma pedrinha no sapato. O drama contribuíu a dor inundar o coração de Soeharto e
da cúpula política, não saberiam como libertarem-se do maldito espinho. A
solidariedade por Portugal e Timor-Leste crescia; sessões de debates envolviam
docentes universitários portugueses com importantes opiniões no âmbito das
capacidades dos políticos nos bastidores. Os variados profissionais não estavam
alheios do calvário timorense. Os timorenses, cada vez se alimentavam de esperança
ao saber dos contactos do presidente Mário Soares e Cavaco Silva com o Vaticano,
Bill Clinton e figuras de outros estados defensores das democracias nos bastidores da
ONU.
O amor pelo antigo território em sofrimento, mobilizou uma solidariedade de
estudantes de 23 países, participantes da Missão Paz em Timor, à cabeça estava o
ex-Presidente da República português, general Ramalho Eanes no barco”Lusitânia
Expresso” com destino a Timor-Leste. Pretendia lançar flores no Cemitério de Santa
Cruz. As ABRI preparavam o material bélico em oposição à entrada do “Lusitânia
Expresso” em todos os pontos observatórios de Lautém. Assim que se aproximava
dos limites territoriais de Timor-Leste, os navios de guerra indonésios e força aérea
bloquearam-no, forçá-lo ao regresso. Mais uma vez, a Indonésia é reafirmada
responsável por todos os crimes perpetrados no país, isolando o povo timorense do
resto do mundo 284. Antes do regresso do “Lusitânia Expresso” de Darwin, ouviu-se
uma declaração proferida pelo ex-presidente afirmando a Indonésia violar o direito
universal reconhecido aos timorenses. Desconhecia totalmente os apelos das
organizações internacionais. Pelas tonalidades que se percebiam delas afirmavam os
esforços portugueses não terminavam aqui com o impedimento naval e aéreo 285.
O mundo sabia de o povo estar em contínuo sofrimento, sem nenhuma
entidade internacional capaz de travar a euforia dos militares de Jacarta a assassinar
as populações, dia/noite como apeteciam. O apetite pelo mel dos lucros gordos é
maior, deixem-no ao esquecimento. A preocupação era muito visível em Portugal, não
havia hipótese de telefonar ao Soeharto a dar ordens aos seus soldados pararem de
matar mais timorenses, em sua própria casa. O que está em causa é a falta da voz
dos países de relevo internacional junto da NU exigir pelo direito da ex-colónia
portuguesa.
284 Gusmão, Xanana, Timor-Leste um povo, uma pátria, Edições Colibri, 1994, p. 284; 285 Marques, Rui, Esperança em Movimento, Porto Editora, 2009, pp. 210-213;
130
Os membros da CEP percebiam do caso, sendo as suas acções decorrem
sempre em rumos de alta hierarquia institucional, que muitas vezes se ouviam surgir
outras versões a seu respeito. Entretanto, as opiniões apontavam o silêncio português,
e em Timor-Leste o crime se repetia.
Era difícil suportar a dor. Em 1987, o bispo D. Manuel Martins de Setúbal
representava o Movimento Pax Christi e da Comissão de Acção Social da CEP
discursou perante a Comissão de Descolonização da ONU. No qual, referiu o direito
reconhecido ao povo timorense, negado brutalmente, nem a igreja e nem pessoas têm
sensibilidades pelo calvário imposto 286. O prazer pela morte de um povo e a sua
identidade singular persistia-se no papel dos operacionais de Jacarta. Acreditando na
fé, apoiada por interesses mercantis e ignora os apelos.
Mas aqui, há uma coisa que a Indonésia nunca chega a perceber da oposição
timorense. Baseia-se firme na diferença em relação a potência invasora: culturas os
dividem, a etnicidade individual associada aos hábitos tradicionais mais votados ao
culto da bandeira portuguesa que se manifestavam outrora aos poderes holandeses e
aos japoneses de querer afundar a soberania lusa. O crime escondido por detrás do
muro de silêncio, descortinado, humilhou os países pró valores contemporanistas,
seus amigos e a comunidade internacional em geral. Os descontentamentos aliados
emergem-se no sentido de inverter o que Jacarta para si advogava. Mas esta, nem
sequer sensibilizava-se dos actuais sinais, sensivelmente opostos. Os gritos de
desespero continuavam ser conhecidos no exterior.
As perseguições aos guerrilheiros e a rede clandestina são a ordem do dia. As
pessoas das vilas mais suspeitas tiveram que fugir, unirem-se as bases de guerrilha.
Abandonavam as famílias para trás em fome, sem produzir hortas e vázeas a
subsistência. O líder da resistência, comandante Xanana Gusmão refugiava-se em
Díli, capturado por bóinas vermelhas a 20 de Novembro de 1992 (a população
timorense metade é paga para destruir outra metade que defenda a identidade
nacional). Foi submetido ao julgamento, rejeitou advogados escolhidos. Perante aos
critérios judiciais a ele impostos Xanana foi sincero nas suas respostas dizer injusto
ser julgado por tribunal indonésio. Afirmando-se cidadão timorense português,
acrescentando que as actividades por ele promovidas em Timor-Leste não são
hostilizantes aos valores universais. À justiça indonésia ignorava, levado a prisão de
Cipinang/Jacarta a cumprir pena de 20 anos 287.
286 Messias, Jorge, o crepúsculo dos deuses. Igreja e fé?... Igreja e lucro?... Queda ou ascensão?, Campo das Letras, 2001, p. 138; 287 Gusmão, Xanana, Timor Leste, um Povo, uma Pátria, Edições Colibri, 1994, pp. 297 ss;
131
Em Junho de 1994, num domingo, em Remexio, celebrava-se missa por pároco
vindo de Díli. Na comunhão, dois soldados indonésios também comungavam, à saída
da missa a frente da multidão cuspiram as hóstias ao chão, pisadas. A população
reagiu, mesmo no local. O descontentamento alastrara-se, e as capturas são
expressões diárias, viam-se mães em casa do bispo em frequência a pedirem ajuda
pelos filhos levados, sem saber do porquê. A 5 de Outubro de 1995 houve um
problema na prisão de Maliana: um carcereiro indonésio escandalizou a estátua de
Nossa Senhora, suscitou ondas de revoltas nas juventudes. Milhares de jovens para
as ruas numa vaga de protestos que tornou inevitável a outros concelhos e postos
administrativos. A força militar/policial interveio, ameaçava partir estátuas nas grutas 288, capelas nas aldeias.
Notavam-se movimentos de total desgosto e desconcilição nas relações
opressor/oprimido. Díli, tornava-se mais uma vez, debaixo do fogo. A concentração
multiplicara-se, queixando-se da constante humilhação, escândalo à cultura local,
elemento identitário que se vê mais perturbado. Tiveram intervenção dos padres Mário
Belo, José António Costa e Manuel Carrascalão para acalmar os ânimos da juventude.
Toda a reacção generalizada, os padres perseguidos cujas vozes se associavam ao
protesto. O eco dinamizava a diplomacia portuguesa mais activa nos foro
internacionais, consolidada com o envolvimento da sociedade civil portuguesa, nos
diferentes meios a mobilizar a opinião pública.
Na medida que se sentia apoiado o esforço português, as coisas começarão
indiciar reivindicações pela mudança do regime soeharto, organizadas pelos próprios
estudantes universitários indonésios.
Voltando-se ao interior da pátria, encontrava-se a inexistência de uma voz que
representasse a autoridade política em audição com figuras internacionais por Xanana
impedido, umas vezes por outras visitarem o território ou a convites. Desde a invasão
os chefes eclesiásticos, em nome da Igreja Católica local, atendiam as necessidades
mais específicas do povo como podiam. Durante os momentos mais agonizantes, nos
últimos anos era o bispo D. Ximenes Belo quem se situava neste ponto nebuloso em
contactos com autoridades indonésias, a Resistência interna, líderes timorenses no
estrangeiro e políticos portugueses, etc.. Timor-Leste no jogo dos grandes que era,
288 Em Outubro deste ano, deu-se confrontação entre dois pelotões policiais e cerca de uma centena de jovens descontentes, em Saboraka Laran-Becora/Díli. Dois soldados correram em direcção a gruta desta povoação para arrancar a estátua, de repente ouviu-se gritarias das mulheres: jangan-jangan, itu tidak salah bapak (não pode, não pode, senhor, esta não tem culpa). Os colegas ameaçaram-os recuar. Eu morava nesta povoação, acompanhei toda a cena. Com esposa e filhos fechados em casa, os vidros da janelas desapareceram. Faltava pouco para arrombar portas para me levar ao comando por ser antigo assistente de uma zona de resistência e ex-prisioneiro de 25/01/1984-30/08/1985, graças a um parente polícia intel do mesmo grupo que impediu partir portas.
132
tanto que o prelado timorense no território como Ramos Horta representante especial
de Xanana no exterior tiveram vozes ouvidas ignoradas por outras. Os que
preocupavam-se pela liberdade e justiça rompiam a indiferença face as posições
tomadas em defesa da dignidade do povo pelos dois citados, representavam a
consciência colectiva, não podiam ser esquecidos pela comunidade internacional 289. A
solidariedade pela questão timorense não se residia apenas em palavras, tornou-se
um triunfo na proposta de dois candidatos timorenses serem atribuídos com o prémio
Nobel da Paz 290, segundo anúncio publicado em Outubro de 1996 291. O dia da
cerimónia de entrega do prémio estavam presentes Chefes de Estados e de
Governos, figuras de relevo internacional, incluindo o representante do Vaticano
cardeal Roger Etchegaray, presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz.
Centenas de agências noticiosas e CNN tiveram a sua oportunidade pela emissão
imediata do evento. A entrega precedida por discursos de ambos, impressionaram a
assembleia, moveram milhares corações a tornarem condensado aquilo que é
reconhecido ao povo timorense.
A história torna-se nova, a solução do problema passará ser decidida pelos
detentores de poder internacional. Os laureados passaram à ribalta em participarem
quaisquer sessões e conferências que tratariam assuntos de paz e de justiça. Por
outras palavras, líderes timorenses vêem-se livres do isolamento desfeito, os
caminhos dos deuses fechados, abertos à diplomacia externa. Por um lado, o poder
administrante, defensor de diálogo multiplicava-o com o invasor por intermédio das NU
e as propostas apoiadas por parceiros da UE e dos da língua oficial portuguesa.
Antes e depois da atribuição do nobel da paz aos dois, o prelado timorense
manteve presenças em alguns foros internacionais ligados as NU e ao nível das
organizações religiosas. Pelo lado interno, o regime indonésio é incomodaddo, quer
em Jacarta como em Tim.Tim. O desgosto pela ocupação é permanente, para deixar
claro na opinião pública é que a Resistência Timorense existe pela concretização do
seu pleno direito. Mesmo que a RI transformasse o território em mar de rosas, dividir
carros a cada nativo, desde sempre, não aceitava. Mantendo o princípio em ser livre e
senhor de si como a Indonésia ou idêntico a qualquer país da região. À cooperação
multilateral, com todos da região, um dos planos preconizados desde a primeira hora,
ser cristalizada quando ficar livre e independente.
289 Timor-Leste, Nobel da Paz. Discursos proferidos na Cerimónia de Entrega do Prémio Nobel da Paz 1996, Edições Colibri, Lisboa,Março de 1997, p. 19; 290 Sampaio, Jorge, quero dizer-vos, Notícias Editorial, 2000, p. 68; 291 Mattoso, José, A Dignidade Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, pp. 268 ss;
133
As manifestações de protesto contra a ocupação indonésia decorrem um pouco
em todas as cidades europeias, Ásia, África e América onde há representações. A
credibilidade internacioinal indonésia debilitou-se fez dividir os políticos de Jacarta.
Vendo a evolução decorre-se em favor da independência, a Resistência apela
a unidade de todos os partidários, os timorenses se enquadrem numa única estrutura
credível. Forçando os líderes da FRETILIN/UDT ultrapassarem os desentendimentos do
passado insanados. Os apelos do interior da pátria insistiam que a fizessem, ignorar é
manter-se no apoio ao adamastor acabar com os timorenses.
Nos últimos meses de 1997, Lisboa testemunha o movimento dos timorenses
na diáspora a mobilizar os que são residentes em Portugal, com o apoio do padre
Domingos Soares (Maubere), enviado por Xanana Gusmão para ajudar o projecto
proposto pela maioria dos responsáveis da Resistência. As iniciativas eram apoiadas
pela sociedade civil portuguesa, políticos e governo. Semanas, entravam em
discussões sobre os fundamentos que geram a nova estrutura, bloco reivindicativo
pelo estabelecimento do referendo em Timor-Leste patrocinado pela ONU.
As figuras mais conhecidas de ambos os partidos tiveram aceitação, sem sinais
de recuo, unidos no mesmo ideal pelo futuro timorense. Na ideia de Ramos Horta de
que a presente proposta aprovada para a nova estrutura seja conhecida no território,
planeou a que comandante Konis Santana pelo telefone falou com todos os
respondáveis da FRETILIN/UDT, em Lisboa. Ficaram motivados ao ouvir de distância
dizer–lhes coragem pela proposta, os afirmava e reconhrcê-los de capacidade pôr em
prática. Muitos achavam-na instrumento importante, capaz de estontear os políticos de
Jacarta 292.
Em 26 a 28 de Abril de 1998, em Peniche-Portugal, decorrem reuniões com
todas as delegações timorenses vindas da Ásia, Austrália, África, América e da
Europa, finalmente, aí decidiram formar o CNRT (Conselho Nacional da Resistência
Timorense) ditá-los declarar a assinatura de uma “Magna Carta”, que os une uma vez
por todas das tendências divisionistas do passado. Reafirmaram Xanana Gusmão,
único lider inquestionável da Resistência Nacional, ainda preso em Cipinang/Jacarta.
A nova estrutura aplaudida pela maioria da solidariedade internacional,
inspirava a crença de esperança, sentida no interior da pátria era maior. Ainda que
fosse terreno dos lobos em fome permanente, o desafio da juventude se manteve em
constante oposição.
A nova militância da juventude fortalece a resistência, em público a singrar-se;
em Jacarta, crescia a ideia de dinamizar a oposição no exterior com presença,
292 Idem, Ibidem, p. 283;
134
supostamente dos “testemunhos oculares” era preciso. Mobilizava grupos de jovens
assaltar cercos das embaixadas ocidentais sediadas em Jacarta para obter o asílio
político, principalmente para Portugal (J. Mattoso, p. 252).
Em termos internos, é uma oposição à ABRI difícil de gerir, com uma
sociedade humilhada, perseguida, reagida em silêncio. A consciência desenvolve-se
na nova geração, situação que envolve pessoas da Igreja. Olhando o funcionamento
administrativo gerido pelos homens, mais perto dos seus domínios e num terreno que
lhes eram favoráveis.
Esta ascensão meteórica conduzida pela Jacarta não agradou toda a gente,
letrados nativos, eram os primeiros cérebros, nas vilas a contribuir novas frentes de
inconciliação com a presença de merah-putih (bandeira vermelha branca).
Todo o processo a partir de 1990 em diante, quer FALINTIL, Clandestina e
Igreja, já não têm outro cenário. Jogam por tudo de forma a conduzir Indonésia escutar
os grandes deuses que ignoravam o calvário constituído pelas ABRI em Timor-Leste.
Qualquer acção promovida pela Jacarta no território, estaria sendo contestada,
denunciada em crescendo, pela população. Em Jacarta, Xanana Gusmão morava
atrás das grades da prisão Cipinang, autorizado encontrar-se com o Nelson Mandela,
presidente da África do Sul durante duas horas, em 15 de Julho de 1997, no Palácio
do Estado 293. Semelhantes preocupações que se vêem à volta da questão timorense,
no mesmo ano em diante, o Reino Unido do Governo Trabalhista, entrou em mudança
da política externa, conduzida por Robin Cook do MNE. Alertando a Jacarta que seja
flexível a situação do Timor-Leste, no sentido de a solucionar de uma vez para
sempre, por o mundo actual ficar-se atónito com o que está passando na ex-colónia
portuguesa. Pós as eleições da Indonésia em 1997, ano a seguir o Habibie fora
posicionado Vice-Presidente da RI. Numa das visitas que este teve a Londres, o
ministro britânico encontrou-se com ele, não escondeu as preocupações e
transmitindo-lhe a mensagem que a Jacarta tem que encontrar uma solução para o
caso timorense. Fez-lhe claro que a Indonésia não está em guerra com ninguém, mas
com a Eruropa 294.
As dificuldades económicas da gigante ditam a emegência de novos protestos
na rua pela reforma do regime e pela demissão do Soeharto, reivindicados pelos
universitários. Uma tendência que quer salvar a Indonésia dos corruptores e dos que
destrõem o povo 295.
293 Gusmão, Kirsty Sword, uma mulher da Independência, Quetzal Editores, 2005, pp.198-210; 294 Política Internacional, II Série, Fev. 2005 n.º 27 in “A Política externa do Reino Unido e a autodeterminação de Timor Leste, 1997-2002” 2005, pp. 97ss; 295 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na encruzilhada da transição indonésia, 1999, pp. 133 ss;
135
Soeharto substituído 296, mas era difícil garantir a vida da 27.ª província Timor
Timur (Timor-Leste) na RI pelos sucessores. Some-se a este quadro de crise
económica que se singra, já não havia hipótese de manter a política de integração. A 5
de Maio de 1999, a proposta do Secretário-Geral da ONU fora aceite, tornara-se
acordo, assinado por Indonésia, Portugal e patrocinado pelo secretário-geral daquela
instância. Visa marcar o calendário de realização do referendo, supervisionado
internacionalmente 297. A abertura ao exterior do território timorense, o representante
pessoal do Kifi Annan, antigo embaixador paquistanês Jamsheed Marker manteve
contactos com autoridades portuguesas, indonésias, da Resistência Timorense tanto
como líderes pela integração. Acompanhando a situação, apresentá-la ao secretário-
geral.
Nas negociações, culminadas no acordo, o governo indonésio prometia garantir
a segurança e paz no território, assegurados pelos seus polícias durante o acto de
consulta.
O que impressionava os estrangeiros é que enquanto os dois governos e
secretário-geral da ONU previam o dia 8 de Agosto do mesmo ano, data de consulta
popular aos timorenses face a aceitação/rejeição da proposta “autonomia especial
para Timor-Leste no quadro do Estado da República Indonésia”, ao novo governo
indonésio vê-se incapaz de manter a ordem e segurança em dia previsto a consulta
popular que decorresse livre e sem distúrbios. O novo cenário determinara as NU
alterar para 30 de Agosto de 1999, visto que as milícias armadas pelas forças
indonésias começavam o terror sobre populações. Actuavam como apeteciam, nem
ordem havia que as conter no rumo de bruta perseguição a população civil. Para
corroborar a veracidade dos factos, a 6 de Abril 1999, não estou em erro, a Igreja de
Liquiçá, dista-se 40 km a o este de Díli, fora assaltada por milícias recrutadas pelas
tropas de Jacarta. Os refugiados pró-independência sem armas foram mortas 57
pessoas de imediato e mais feridas. O episódio correu mundo, inquietou os órgãos
internacionais pela preparação dos programas para a consulta. À margem das
conversações triangulares, não se sabia o que aconteceu ao Habibie instruir o seu
ministro de informação, general Yunus Yosfiah anunciou em Jacarta: «a Assembleia
Consultiva Popular poderia vir a conceder a independência a Timor Leste» e,
instantes depois, Ali Alatas confirmou: «se a proposta de autonomia fosse rejeitada,
a Indonésia permitiria que Timor-Leste fosse um Estado independente». Depois
296 Idem, Ibidem, p. 144; 297 Publicação semestral, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Março 2001, pp. 5-39;
136
de ter sido compreendida a declaração de Ali Alatas, por outro lado do mundo atlântico
sabia-se do Robin Cook ficara satisfeito 298.
Das NU vindas pessoas de várias nacionalidades de elevados padrões de
profissionalismo, cada uma entrava em exercício segundo as especialidades técnicas,
e, em estreita sintonia com a autoridade hierárquica dependente do secretário-geral da
ONU, no local. Pós o acordo assinado, a população Leste timorense era instruída pelas
comissões com o apoio dos naturais, em como iria realizar o referendo com
respectivos códigos indicativos pró integração ou independência. As ameaças
mantêm-se em ordem do dia, para que o medo conduzisse a população votar pela
integração. Pelo lado oposto, os serviços organizados pela Resistência são sentidos
activamente em toda a parte onde é suceptível montar posto das urnas para o acto
eleitoral, quer no interior da pátria como fora do território será no mesmo dia.
Para todos os efeitos, os dias iam aproximando-se do acto esperado, onde o
povo quer afirmar-se na épica luta prolongada, em razão do direito, universalmente lhe
é reconhecido. E, em 30 de Agosto de 1999, logo de manhã, nos locais de voto
organizados, eram recheados de grande massa popular para, cada um cumpriria
aquilo que esperava. O acto correu bem em todo Timor-Leste e para os na diáspora,
ainda que militares e polícias tentassem afastar as populações dos recenseamentos
por acções de pressão. Finalmente, é anunciado o resultado na sede das NU e em
simultâneo comunicado feito pelo chefe UNAMET em Díli 299: 98,6 % dos 446.953
eleitores inscritos. A percentagem pró independência é de 78,5 % equivalem 344.500
votantes e aos que quer bandeira merah-putih representam 21,5 % (94.388 eleitores) 300.
A cólera tornou os milícias senhores de crise, organizados pelas ABRI, por
verem-se esboroados das suas convicções. O pessoal internacional vê desesperado
os civis mortos a catana, pauladas nas ruas e a TNI era indiferente perante o drama
humano a níveis assustadores. Os apelos da UNAMET caiam por terra. O panorama
desumano pintou ao mundo o ódio indonésio pelo desprezo da democracia, justiça e
liberdade em Timor-Leste. A solidariedade internacional apelava repetidamente a
Indonésia para parar com a atitude dos milícias e punir os autores, o presdidente
Habibie do novo regime indonésio perdera a cabeça com os seus generais, não
conseguia reconquistar a ordem e a segurança, no Leste timorense.
298 Política Internacional, II Série, Fev. 2005 n.º 27 in “A Política externa do Reino Unido e a autodeterminação de Timor Leste, 1997-2002” 2005, p.103; 299 Em 4 de Setembro, tornara-se público o resultado: Gomes, José Júlio Pereira, o referendo de 30 de Agosto de 1999 em Timor Leste, o preço da liberdade, Gradiva, 2001, p. 162; 300 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na encruzilhada da transição indonésia, 1999, p. 146;
137
Em Portugal, milhares de pessoas chocadas com o drama, transmitido pelas
televisões. Encheram as ruas, pediram ajuda para salvar o povo. Os massacres se
sucediam, dois sacerdotes esfaqueados, em Suai como quem cortasse os cabritos. A
CVI, que se funcionava em Timor-Leste desde anos 80, possuía respeito internacional,
atacada pelos milícias. Casa episcopal, do representante da Igreja Católica, por ódio
extremo fora alvo de fogo e ferro. O bispo de Baucau fora ferido, fugido ao mato. O de
de Díli, tomara rumo a Darwin, prosseguiu a Portugal. Declarava o que está passando
em Timor-Leste, afirmando-o desaparecer-se de habitantes sem ninguém para
contemplar a independência do país, uma vez que sem previstos os sinais de
alteração. Quer PR, IM, como líderes partidários de oposição e outras figuras de
relevo da sociedade portugfuesa presentes, ouviram espantados do que é descrito
pelo prelado timorense. De seguida, levará o retrato timorense ao Vaticano.
Em Lisboa, as revoltas de milhares nas ruas, em silêncio de minutos e
formando cordão humano de quantos quilómetros entre escritório das NU e das
embaixadas dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança,
demoradamente, filmados por helicóptero TVI. Todas as janelas das casas, estendidas
de panos brancos, exprimiam-se pela paz por Timor.
A diplomacia portuguesa desdobrava esforços na ONU, no sentido de
conseguir uma força internacional para restaurar a paz e segurança. O primeiro
ministro, António Guterres entrava em contactos com presidente dos EUA Bill Clinton e
primeiro minstro britânico, Tony Blair, solicitando-os desesperadamente para ajudar
libertar aquele povo da tragédia humana 301.
As actividades da UNAMET neutralizadas, muitos dos seus funcionários
abandonaram os locais organizados, sem protecção. A surdez de Jacarta pelos apelos
da comunidade internacional preocupou o presidente norte americano advertir a
Indonésia de que não poder conter a violência estaria a própria Indonésia convidar as
forças internacionais para repor a ordem e segurança, em Timor-Leste. De seguida, o
comandante supremo da base militar no pacífico teve encontros com autoridades de
topo indonésias. Fazendo-as compreender toda a reacção internacional pesava sobre
Jacarta 302.
As Nações Unidas aperceberam-se da incapacidade indonésia, adoptaram
uma resolução para o envio da força de paz internacional para restaurar a ordem
pública. A entrada da INTERFET teria sido liderada pela Austrália, o Major-General
Peter Cosgrove, conferido de poderes contactar com o alto comandante da TNI acerca 301 Santos, José Rodrigues dos, a ilha das trevas, Gradiva, 2007, pp. 309 ss; 302 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 322;
138
das aterragens de aviões, no território. UNAMET, organização pela realização eleitoral
retomava as suas funções 303.
Timor-Leste tornava-se em clima de alívio de medo e de massacres, mas os
milícias levaram consigo milhares de famílias timorenses para o lado oeste da ilha 304.
Admitiddas as organizações não governamentais a prestar ajuda as populações
dispersas pela onda de terror. O passar dos dias agora, são de domínio das forças de
paz, em operação activa, visa readmitir a presença dos líderes independentistas em
busca de melhoramento da crise instalada com representantes da ONU, no local. A
presença de alto poder internacional, com seus ofícios, entendia-se com a Jacarta a
que as ABRI serão destronadas de poderes, sem demora, no Território. Chegando ao
ponto final de as tropas ocupacionistas abandonarem o território sob a cobertura dos
profissionais de comunicação social internacional.
As decisões determinantes a seguir a onda de violência do pós acto
referendário de 30 de Agosto de 1999, foram de facto, uma resposta de elevada
contribuição para que a reivindicação timorense pela liberdade não fosse ignorada em
realidade. Milhares leais por ela resistiram, desaparecidos. Este povo, era mal tratado
mais de duas décadas. O sofrimento comoveu o universo dos homens livres, como
exemplo de valores e político, ficou assim ser parte do capítulo da história do Povo
Leste timoremse.
Os tempos mudam com a mudança dos homens do poder, em que o
encadeamento de opiniões a volta dela ajudam inverter tendências não universais,
onde o caso de Timor-Leste enquadra-se neste capítulo do Homem do século XXI. É
também ao nível deste rumo decisivo que o dia 30 de Outubro testemunha a última
saída das tropas invasoras das terras do Povo Mau Bere e determina o fim do
doloroso isolamento deste mesmo Povo ao resto do mundo.
No quadro de uma complicada política para a autodeterminação de Timor-
Leste, sublinho a importância de Portugal manter uma decisão de firmeza, lutava pela
esperança dos timorenses, diversificava seus raios de acção. Outra entidade mais
inteligente e poderosa para informar a situação do povo Leste timorense ao mundo e
mobilizar opiniões públicas, influir tendências - configura-se transformadora de muitos
corações, é a comunicação social portuguesa. Ao nível dos músicos por Timor, uma
das frases da música de um dos famosos onde aqui destaco o Luís Represas:
«outros calam, nós cantamos».
303 Martin, Ian, Autodeterminação em Timor-Leste, Quetzal Rditores, 2001, p. 239; 304 Sampaio, Jorge (Presidente da República de Portugal), Quero dizer-vos, Notícias Editorial, 2000, p. 74;
139
Finalmente, está livre. As ABRI deixaram o território em ruínas, instituições do
povo destruídas. Não há condições para construir um Estado novo. As NU delegaram
a UNTAET (Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste), chefiado
por Sérgio Vieira de Mello, num período de preparação e condução ao executivo pelos
funcionários de várias nacionalidades. No decurso desta organização que os
timorenses, aos poucos iriam ser atribuídos de responsabilidade de funções públicas.
No quadro das NU os países doadores entravam com a ajuda financeira para
implementar os programas traçados para reconstruir infraestruturas danificadas e
pessoal administrativo.
No espaço de cerca de três anos, o Povo Mau Bere vê a existência de
Assembleia Constituinte para Parlamento Nacional de Timor-Leste, cujo presidente é
Francisco Guterres (Lu Olo), o Comandante Xanana Gusmão eleito Presidente da
República e Mari Alkatiri é Primeiro Ministro do primeiro Governo da República
Denocrática de Timor.Leste, nova nação.
Para a cerimónia da restauração da Independência escolheram o Taci Tolu,
lugar de fuzilamento dos timorenses desfavores à integração e posteriormente aqui
também o Papa João Paulo II celebrava a missa, em Outubro de 1989. A noite do dia
19 de Maio de 2002, o recinto é cheio de multidões de gentes em alegria a espera que
chegue a hora zero para dia 20. Naquele momento de emoção e de entusiasmo, o
presidente Francisco Guterres anuncia a restauração da Independência proclamada a
28 de Novembro de 1975. A bandeira da nova nação sobe o mastro, acompanhado
pelo hino nacional. Desde o Secretário-Geral da ONU Kofi Annan, ex-presidente Bill
Clinton, presidente português Jorge Sampaio, I Minstro António Guterres, Dr. Durão
Barroso, presidente moçambicano Joaquim Chissano, e outros chefes de estados e de
governos presentes, aplaudiram o importante acontecimento, acompanhada por uma
missa celebrada por representante do Vaticano. Muitas figuras de relevo internacional,
artistas, testemunharam a afirmação dos timorenses por aquilo que esperavam –
Timor-Leste é reconhecido internacionalmente como Estado independente e soberano.
140
Conclusão
Com a situação que decorre em qualquer sociedade, o estudo aqui é
apresentado em três etapas cruciais que norteiam o Timor-Leste a construir-se em
novo Estado nos alvores do III milénio: atendendo a primeira, a sua anterioridade da
expansão europeia na Ásia, em sentido sociológico era uma sociedade de tribos, a
cabeça era o dató/liurai, de uma cultura votada a permanente guerra interna.
Economicamente vivia daquilo que a natureza a dispunha. Não tinha nenhuma ligação
com o exterior que visava cruzar experiências com povos de culturas diferentes,
inclinados a circulação mercantil, naturalmente, dada a inexistência de navegação.
Raras vezes, as comunidades do litoral permutavam o mel, pimenta e sândalo com
objectos que não existiam, trazidos por mercadores doutras ilhas do arquipélago e
distantes como indianos, chineses. Se dizia que Timor-Leste era de suserania do
império Majapahit, fundado em 1292, em Jawa, talvez residisse em teoria, dada a
inexistência de culturas de vínculos afirmativos. Há indícios diminutos constatados na
fronteira sul do país, Suai, nem sequer percebia a língua indonésia para se afirmar a
que era do passado 305. A sociedade timorense depara-se com dois mundos: o
cosmos, o território que habita e o espaço desconhecido, povoado de demónios e
almas dos defuntos. É animista, o seu pensar religioso está ligado as memórias dos
seus antepassados, mantém-se consolidado por vínculos matrimoniais.
O projecto europeu da época moderna, para Portugal foi um dos primeiros que
teve os sucessos nos contactos firmados em laços comerciais com os povos da
região. A propósito do interesse comum europeu/asiático, Timor dos Belos ficara
englobado no mapa político das coroas portuguesas, mantendo-se assim unidos até
aos inícios do século XXI. Aceitou receber educação, doutrina e civilização ocidentais
em largos períodos seculares mais afirmada e evoluída. Para si, conseguiu os padrões
que os achava bases fundamentais para dignificar a sua identidade singular no futuro
próximo/longínquo. Em prova da realidade comprovada nos anos conturbados
conhecidos por revolta de Boaventura de Manufahi e de outros régulos, apoiados por
metade ocidental da ilha. O povo não se preocupava com outros cenários do seu
destino, e como prova de aliança com Portugal fora castigado pela Grande II Guerra,
em 1942-1945, achava-se firme neste vínculo. As autoridades tradicionais sentiam-se
mais inclinadas ao culto da bandeira portuguesa, que muitos não podiam ignorar este
facto; outra etapa, não é difícil de a compreender, quer dizer, os Estados coloniais do
Ocidente europeu constrõem os seus impérios ultramarinos sem ignorar a acção dos
305 Mourre, Michel, Dicionário Universal, Vol. II, Edições ASA, 1998, p. 686;
141
missionários. Para o caso Leste timorense quanto ao desenvolvimento do nível das
mudanças de hábitos em valores civilizacionais estará mais ligado a cargo dos
homens da igreja, que os poderes régios e da república os depositavam com maior
confiança, na expansão da civilização do Ocidente. A sociedade timorense, desde
começou com este novo ciclo de história cultural, progressivamente em formação de
instruções e morais de coloração cristã católica. Aprendeu respeitar o outro, incutido
na alma os fermentos que valorizam os objectivos da fraternidade e adquirir noções de
rápida solução quanto as cizâneas internas e moralizá-lo ser pacífico e odiar o ódio. A
história conhece o porque da corrida louca europeia as regiões do Oriente, se
transforme em política de domínio. A Portugal, depressa introduz a sua língua para se
afirmar na administração e no ensino com o apoio da nobreza tradicional e mais tarde
com a elite letrada, saída das escolas missionárias e respeita os seus dialectos, o
mais conhecido, Tétum. Pelo facto de a convivência de ambas as comunidades,
decorre em longos períodos de gerações, mais pacífica, também a sua
intercomunicação quotidiana se descreve mais harmoniosa, em português/tétum,
ainda que outros incutissem ódios antiportugueses.
Ao longo do percurso, quando muitos nativos enveredam-se em caminhos
literários que descrevam a mudança de rosto doutras regiões do globo, os mesmos
vêem a sua Terra, continuamente encolher-se na sua ancestralidade. A mãe-pátria,
por esquecimento ou por longividade, à sua honra de soberania faltou muito na
evolução material. Mas a colónia continuava a espera que essa falta um dia possa ser
preenchida. Foi nesse sentido que o poder colonial perdurou, atravessando espaços
tecnologicamente modernos, resultados de fundações universitárias, académicas,
técnicas de engenharia, desconhecidas na Oceania lusa. A última e terceira etapa,
residia na existência de religião católica, os seus homens de suficiente formação de
inspiração grego-bíblica. Não só preocupavam pela evangelização dos indígenas, em
covertê-los cristãos, também os transmitiam os interesses de melhorar a vida
económica, agricultura e a modernizar os seus aldeamentos em ligação com outros.
Os centros de catequese, ainda que fossem rudimentares, eram de frequente
afluência de nativos, em dias de celebrar o sagrado. Aí, se notava a elite tradicional
acompanhar os seus filhos, parentes, resulta contactos com missionários. Daqui,
saiam os primeiros exemplos pintarem o novo fenómeno, suscitarem novas ideias que
os possibilitarão viver/trabalhar em paz e compreender mais da vida. Uma religião que
tem sua sede, padres, e bispos. Interessa o bem da sociedade: instruir, educar ter
capacidades de agir pelo bem da família e do colectivo; instruir os filhos nativos dar
importância ao respeito e a higiene. A maioria da sociedade timorense vê o padre
como seu protector, e a igreja, seu refúgio.
142
A sociedade no seu mundo natural, como ser humano não se perpetua na
mesma condição social e política que era. Porém, na capital da mãe-pátria a nova
ordem pela mudança do regime surgiu com o 25 de Abril de 1974. Ditou a transição
do Estado Novo a Democracia, no intuíto de ver em imediata operacionalidade:
Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. À semelhança das colónias da África lusa,
Timor-Leste fora permetido reivindicar o seu destino através das associações
partidárias criadas que inexistiam. A volta das opções, as discussões terminaram-se
em golpe, tomado pela UDT, convidava a resposta da FRETILIN em peso controlar 80
% do território. O seu oposto levou consigo outros partidos fora da fronteira acusando-
a de comunista. Timor-Leste tornara-se de mal a pior em situação e sem autoridade,
por o governador português com sua equipa refugiaram-se na ilha de Ataúro, sem
nenhuma voz de Lisboa. Toda a situação decorria a volta da FRETILIN, alegando ser
desestabilizadora à região, em particular a Indonésia. A política antindependentista,
acelerou a sua radicalidade como fez assassinar os seus meio milhão concidadãos,
em 1965, em Jawa 306. Vendo o movimento das ABRI a violar o território timorense, em
intensidade, FRETILIN proclamou a independência de Timor-Leste, a 28 de Novembro
de 1975, designada República Democrática de Timor-Leste (anexo 10). Na tentativa
de impedir a anexação do território à RI. Com o apoio do Ocidente a Indonésia invadiu
o Timor-Leste, a 7 de Dezembro de 1975. Literalmente, a sua honra pelas declarações
feitas pelos presidentes Sukarno e Suharto noutras ocasiões, não ter ambições por
Timor, colónia de Portugal, caiu em lodo fundo 307.
Destruíu o país, assassinou 250 mil timorenses, sepultados em valas comuns e
sem cemitérios; destruiu edíficios públicos, lojas, em cinzas, no total de 65 mil,
instituições arruinadas 308; os líderes políticos, fisicamente eliminados, padres
assassinados. O pequeno, aninhado nas grandes ilhas do arquipélago, onde o bispo
D. Martinho Lopes afirmava sem ter dimensão de tamanho poder indonésio para
inverter a situação. Silenciosamente, acreditava na fé pelo apelo moral, e pareceu
corresponder a presente realidade. A Resistência Timorense desdobrou a sua política,
a Igreja Católica atrás dela aparecia como elemento inseparável da luta, e fonte de
moral das populações na consolidação de unidade em oposição a ocupação. A
liderança timorense e diplomacia portuguesa tornaram o silêncio internacional em
votos pela liberdade timorense. Criaram forças de paz e profissionais das NU entrarem
306 Santos, António de Almeida, Quase memórias do Colonialismo e da Descolonização, Vol. I, Casa das Letras, 2006, pp. 599 ss; 307 Idem, Quase Memórias da Descolonização de cada Território em Particular, 2.º Vol., Casa das Letras, 2006, pp- 305-316; 308 Alkatiri, Mari ( I Ministro do I Governo da RDTL), O Caminho do Desenvolvimento. Os primeiros anos de governação, LIDEL, Edições Técnicas, 2005, p. 22;
143
em Timor-Leste; figuras nacionais e internacionais reconheceram a Independência, a
20 de Maio de 2002, e as ABRI terminaram a sua ocupação no território, sem ter uma
despedida organizada. A ONU teve o sucesso pela primeira vez na sua história do
problema Leste timorense, inserido no Sudeste da Ásia (anexo 11).
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