ulfl110795_tm.pdf - Repositório da Universidade de Lisboa

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1 ÍNDICE RESUMO ..................................................................................................... 2 AGRADECIMENTOS .................................................................................. 4 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8 Capítulo I 1.Timor antes dos Portugueses ................................................................... 13 2. Estrutura social ..................................................................................... .. 18 3. Timor-Leste, construído na diferença geográfica ................................... 22 4. Interesse holandês é o risco da soberania lusa ...................................... 26 Capítulo II 1. Administração colonial e as linhas tomadas pelos governantes ............ 39 2. O Ensino e o papel da Igreja Católica ..................................................... 48 3. Autoridades tradicionais .......................................................................... 56 Capítulo III 1. A época de um olhar desdenhoso ......................................................... 65 2. Portugal e os dois vizinhos ...................................................................... 73 3. O 25 de Abril português dita mudança ................................................... 85 4. O ânimo pela democracia, aplaudido nas colónias ................................. 93 5. O futuro do País ......................................................................................103 6. O novo pensamento clama por um só rosto e uma só fé .......................116 7. Santa Cruz e os deuses da hiper civilização ..........................................125 CONCLUSÃO .............................................................................................140 FONTES E BIBLIOGRAFIA ...................................................................... 145 ANEXOS ................................................................................................... 152

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ÍNDICE

RESUMO ..................................................................................................... 2

AGRADECIMENTOS .................................................................................. 4

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8

Capítulo I

1.Timor antes dos Portugueses ................................................................... 13

2. Estrutura social ..................................................................................... .. 18

3. Timor-Leste, construído na diferença geográfica ................................... 22

4. Interesse holandês é o risco da soberania lusa ...................................... 26

Capítulo II

1. Administração colonial e as linhas tomadas pelos governantes ............ 39

2. O Ensino e o papel da Igreja Católica ..................................................... 48

3. Autoridades tradicionais .......................................................................... 56

Capítulo III

1. A época de um olhar desdenhoso ......................................................... 65

2. Portugal e os dois vizinhos ...................................................................... 73

3. O 25 de Abril português dita mudança ................................................... 85

4. O ânimo pela democracia, aplaudido nas colónias ................................. 93

5. O futuro do País ......................................................................................103

6. O novo pensamento clama por um só rosto e uma só fé .......................116

7. Santa Cruz e os deuses da hiper civilização ..........................................125

CONCLUSÃO .............................................................................................140 FONTES E BIBLIOGRAFIA ...................................................................... 145 ANEXOS ................................................................................................... 152

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Resumo

Trata-se de uma conquista dolorosa da história do Povo timorense no quadro de

autodeterminação e independência, sob os impulsos do 25 de Abril português.

Os timorenses organizaram-se debater sobre o processo a definir o seu próprio

estatuto, desvinculado do poder colonial. Episódio que se arrastava entre facções

partidárias em desentendimento, tendo o governo português manteve-se em honra da

sua política e na vontade de o discutir com todas as partes envolventes serem em

consenso a volta de um calendário acordado à celebração do acto de descolonização

nos prinbcípios de legalidade.

À época, sentia-se os efeitos da guerra fria transformaram alguns Estados da Indo-

China em regime de comunismo, sendo influências receadas pelos poderes

ocidentais, sentiriam-se prejudicados de interesses no Sudeste Asiático, em particular

na Indonésia. Nos bastidores internacionais receavam a colónia portuguesa tornar-se-

ia um Estado novo de regime maoista. Conhecido o novo governo português

constituído, era de esquerdismo, por alguns líderes da FRETILIN serem portadores das

ideologias desse regime a que Indonésia manifestaria, publicamente, o seu repúdio,

declarando esfrangalhar o partido independentista. Reacção apoiada por partidos

opostos a independência de Timor-Leste, reivindicando a integração do território à RI.

FRETILIN proclamou a independência da colónia a 28 de Novembro de 1975, com

vista a dificultar a anexação e mobilizar a comunidade internacional, responsbilizá-la

criar condições a reposição da legalidade internacional no território. Indonésia invadiu

o país em 7 de Dezembro de 1975, por força anexou Timor-Leste à RI. Os massacres

impressionaram o mundo. A Resistência Armada, o Povo em geral e a Igreja Católica

com o apoio de Portugal opunham a ocupação, sem vergarem-se as ameças durante

24 anos do cativeiro timorense. A globalização impõe novas decisões e morais aos

grandes mundiais a pronunciarem-se pela razão do 30 de Agosto de 1999, como

marco historicamente definitivo do reconhecimento do Timor-Leste, Estado

Independente e soberano, dos alvores do III milénio. O sucesso das Nações Unidas

convidou os indonésios a abandonarem o Território até 30 de Outubro do mesmo ano.

A 20/5/2002, o Estado novo de Assembleia Constituinte para Parlamento Nacional,

Presidência da República e Governo da República Democrática de Timor-Leste,

testemunhado pelas altas figuras internacionais. De seguida, seria inserido como

Estado membro das Nações Unidadas.

3

Summary

It is a question of a painful conquest of history of the timorese people in favour

of self-determination and independency, under the impulse of the portuguese 25 of

April.

The timoreses organized to debate upon the process and to define their own

statute, disentailed on the colonial power. The episode in which dragged among the

partisan factions in misunderstanding, having the portuguese government maintained

in honour of his political and the will to discuss with all the enveloping sides to find an

agreed consensus calendar for celebrating act of decolonization based on legality

principles.

At that time, felt the effects of the psychology war (cold war) had changed in the

some Indo-chine States under the communism regime, being influences feared by the

western powers and there felt also prejudiced interest in the south-east asiatic,

particularly in Indonesia. In the international embroidering frames feared the

portuguese colony to become a new Maoist Regime State. Known that new portuguese

government constituted, it was left-winger, and some FRETILIN’s Leaders being

ideology porters of that regime which Indonesia would publicly manifest its

repudiations, declaring to break the independency party. The reaction had been

supported by the opposed parties to Timor-Leste (East Timor) independency, and

claiming the integration to the territory of the Republic of Indonesia.

The FRETILIN, proclaimed the independency of the colony in 28 of November,

1975, by the purpose of making difficult the annexation and to mobilize the international

community to hold responsible for creating conditions to a replacement international

legality in the territory. The Republic of Indonesia invaded Timor-Leste (East Timor) in

7 of December, 1975, by the forces and annexed the country. The massacre moved

the world. The Armed Resistance, the people in general and the Catholic Church with

the Portugal support opposed the annexation, without bending the threats during 24

years of Timorese captivity. The globalization impose new decisions and morals of the

great worlds-wide to pronounce by the reason of the 30 of August, 1999, as the

historically definitive mark of Timor-Leste recognition Independent State and sovereign,

and the values of third millennium. The success of the United Nations invited the

Indonesians to abandon the territory until the 30 (thirty) of October that year (the same

year). In 20 of May, 2002, the new State constituted its Constituent Assembly

(precursory of National Parliament), Presidency of Republic and Government of the

Democratic Republic of Timor-Leste, witnessed by high international figures.

Afterwards, it would be inserted as the Member State of the United Nations.

4

Agradecimentos

O modesto estudo apresentado, não resulta do exclusivo trabalho individual.

Obteve contributos de pessoas e de instituições de diferentes formas, pelo que desejo

expressar-lhes a minha gratidão.

À própria Universidade de Lisboa, pretendo dar credibilidade de apoio através

do seu serviço adequado valer-me a bolsa de estudo destinada a dois anos, sem a

qual não me foi possível ao acesso material e a outras condições de trabalho.

Ao Prof. Doutor António Ventura agradeço ter aceite assumir a orientação

desta dissertação. Desde já, fico-lhe grato pela imediata aceitação à temática que o

propus desenvolver, pelo acesso incondicional aos arquivos e bibliotecas que dispõem

material a dar corpo ao trabalho.

Não quero deixar de exprimir as palavras de apreço a todos os professores que

tiveram a paciência e a capacidade de transmitir os temáticos das respectivas áreas

ao longo das aulas, as quais tornaram-me um impulso a chegar a esta escolha. É uma

certeza, sem eles este trabalho não teria sido possível. Durante o percurso académico

nenhum deles sabia qual seria o tema por mim escolhido para a tese, embora para

todos começassem a abordá-la. De início, não ponderava a hipótese de me reter a

estudar uma das parcelas de Soberania Ultramarina Lusa, ainda que dessa ser um

capítulo de estímulo da história, e ao longo das sessões de aulas tomei o firme

propósito decidir por esse rumo de opção própria.

Quanto ao ensino básico e secundário que a província timorense merecia,

situavam-se numa diminuta atenção, quando se referia as etapas da administração

portuguesa no quadro de afirmação secular, na Oceania. Sem formação adequada

que garantisse o bom funcionamento das novas organizações políticas,

administrativas, sociais, etc. se porventura elevassem a níveis mais acrescidos se

cruzariam com comunidades internacionais. Daqui influia-me dizer ainda que fosse

erradamente daquilo que deparei quando cresci e testemunhei aquilo ao longo do

percurso que o povo para si ansiava, continuava assim caracterizado, cultural e

economicamente no seu contínuo passado. Também não lhe foi este o horizonte

intransponível... Daqui, nasceu-me a ideia de o descrever as causas do entrave, mas

sentia-se seguro de si opor as políticas que opunham o seu princípio de pertença,

naturalmente, defendia. Para tal achei-o difícil cristalizar a alguém em expectativa,

mas sempre empenhei-me em busca de apoios dos colegas do mesmo curso como,

Ednilson e outros davam-me pistas, entusiasmavam a chegar ao escolhido. Os meus

compatriotas Dr. Luís Costa (ex-padre), Dr, Paulo Pires (prof. de filosofia do

Secundário), Dr. Roberto Jerónimo e outros, conhecem a falta visível no Território,

5

pretenderiam que fosse necessário alguém dedicar-se a este estudo como estímulo de

um caminho aberto, atenderam os meus pedidos. Emitiam as suas opiniões,

esclarecendo as dúvidas; sugerindo fontes relativas aos acontecimentos que

impunham a sociedade ser antagonista, alheia dos princípios por Timor-Leste, ser

senhor de si. Acabaram por me afirmarem a cobiça do outro, escondida atrás do ouro

negro, muito antiga e da posição geográfica do território, embaraçava seu benficiário. No silêncio, prepararando o seu raciocínio intelectual, aperfeiçoar o seu

pensamento com a experiência individual e do colectivo usufruido dos contactos

culturais com os agentes de latinidade durante o relacionamento com o domínio

português. Desta afirmação plena, do seu cenário imaginativo criou um estado do

diferente rosto no Oriente, criou a sua rivalidade e o ciclone arrasou as terras dos

sândalos do oeste a ponta leste, mesmo que comungasse a mesma civilização cultural

do Ocidente. Os grandes mundiais, inclinados à lógica de superioridade, ignoravam o

Timor-Leste nos grilhões de cativeiro por reivindicar o seu direito.

Como todos os povos, pela justiça, o Timorense aceitou o martírio, fez a

estratégica unificação dos líderes partidários da mesma resistência e do apoio do altar,

mobilizou a nova solidariedade na Indonésia e se internacionalizou. Portugal manteve

o seu princípio no contexto da descolonização do território, acompanhava muito de

perto o sofrimento, reclamava em frequência nas tribunas internacionais.

Pela óptica quanto a evolução em crescendo implicava a relevância da cultura

linguística portuguesa. Dela serviu de comunicação de resistência interna e externa,

decorria nas nações de língua oficial portuguesa. Com ela os timorenses morrem nos

braços indonésios perante as câmaras de comunicação social internacional.

Timor-Leste, hoje em dia, é o 191º Estado membro das NU. Na modesta

descrição, em honra dos quantos responsáveis que mantiveram os princípios pela

liberdade do seu país natal. Uns, fora da pátria, percorriam países, sensibilizar

solidariedades, promover opiniões públicas, representar a voz de quem sofria nas

mãos das ABRI, dos quais destaco uns: José Ramos Horta, Mari Alkatiri, José Luís,

Rogério Lobato, Guterres, Abílio de Araújo, Roque Rodrigues, Luís Cardoso, Pascoela

Barreto, Estanislau da Silva, Zacarias; João Carrascalão, Paulo Pires, Vicente

Guterres, Mário Carrascalão, Manuel Tílman; religiosos bispo Carlos Ximenes Belo,

actual bispo Ricardo, padres Domingos Alves, Filomeno Jacob, Leão, Domingos

Cunha, José António, Apolinário Guterres; no interior a cabeça, líder nacional Xanana

Gusmão, Francisco Guterres (Lu Olo), Matan Ruak, Mau Huno, Lere, Manuel

Carrascalão, Octávio de Aeaújo, Armandina, Merita Alves, Lenita de Araújo.

6

Eram vozes que se persistiam pela autodeterminação e independência e pela

importância da unidade nacional. Convenceram a comunidade internacional a

reconhecer Timor-Leste independente e soberano, como resposta de todo o esforço

do Povo, quase uma eternidade. Também, não é honesto ignorar os sem rosto,

predecessores da história de consciência, como Nicolau Lobato, Monsenhor Martinho

da Costa Lopes, padres Francisco Fernandes, Mário Belo; António Carvarino, Vicente

Reis, Hamis, José Mau Udo, Borja Costa, Saba Lae, Afonso Redentor, Moisés Amaral.

e outros barbaramente, assassinados, e mulheres como Rosa Bonaparte, tantas

outras...

7

À Família,

a minha esposa, Martinha Pinto, companheira e mãe, desde que a tragédia

começou, à semelhança das outras, viveu a mesma dureza da guerra, nas bases de

Resistência cerca de três anos, nas montanhas. Por força maior, fomos para Díli. De

seguida, fiquei cerca de três anos atrás das grades de prisão, em Díli. Ela, quem

cuidava dos filhos: Paulo/Guida, Rosalino/Mery, Gil/Odete, Natalino/Ima e

José/Manuel com tanta dificuldade. Tentou levá-los compreender aquilo que

encaravam na ausência do pai. Momentos em que os seus desejos do quotidiano

eram literalmente ignorados.

Foi, nesta travessia de dureza, muitas crianças sobreviveram em piores

condições que outras e outras, entregues a sua sorte.

Naturalmente, a esposa e filhos, a quem são dedicadas umas expressões de

amor e de carinho. Sei que nem todas as palavras lhes são desejadas seriam

suficientes exprimir os meus sentimentos e reconhecimento...

Aos meus pais e dois irmãos, não os vi como partiram, em momentos cruéis,

em memória.

8

Introdução

Falar da actualidade Leste timorense, é referi-lo distinto do passado. Surge,

frequentemente, nos meios comunicativos a despertar aqueles que, por ele interessam

sua história. Ao saber em como veio construir a sua história como um povo, não lhe foi

fácil de a abordar, por atravessar duros caminhos de lá chegar, e, agora, começaria

fazer-se. Interesso-me pela postura, atrevo-me apresentar o presente trabalho

intitulado Timor-Leste, Outro Rosto na História do Oriente. Terra que muitas vezes

é o quebra-cabeças dos que governam e dos que a vêem como seu berço natal. Título

este que optei para estampar o trabalho não significa que o território não pertença ao

enfiamento das ilhas do Leste Sunda do Arquipélago da Insulíndia. Desde os

primórdios, a sua mentalidade até nas modernidades, e, em épocas de crise

inconciliável prolongadas, nem sequer lembrava substitui-la. Permaneceu-se nas que

lhe são compatíveis de ser senhor de si para um futuro próximo. Sentia-se confiado

nos saberes de vida adquiridos, que os achava como padrões válidos na condução do

destino e na aproximação de solidariedade com todos da região.

A evolução da consciência humana impõe-se cada vez mais agir pelas

reivindicações modernas a que na Oceania, o Timor-Leste não se escapara deste

estímulo a ponto de o ser envolvido de altos e baixos, conforme o livro publicado por

Fernando Lima, recentemente. Obra de grande ânimo, que tem mérito de nos

descrever o que rodeava à volta deste timorense sobre o desconhecido dos timores,

assustava e tranquilizava os homens que o achavam seu direito e à sua fonte de vida

como doutros horizontes têm as mesmas afirmações inquestionáveis1. O autor, no seu

livro, reflecte as situações social, cultural e política internas e externas. Dá pistas em

como o poder colonial mantinha a sobrevivência da ilha, assaz duradoura, assegurar-

lhe relações externas de amizade com amigos de olhares extremamente dúbios.

Timor, situado ao norte da Austrália, cobre uma superfície de cerca de 19.000

km2, incluindo o enclave de Oe Cusse, ilha de Ataúro e o ilhéu de Jaco, conhecido por

terra do sol nascente.

1 O autor adquire um vasto conhecimento da politica portuguesa e das outras intenções que giravam à volta do território timorense relativas ao futuro. Um importante contributo a estimular o estudo sobrea construção do país: Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional de Macau, 2002;

9

O trabalho escolhido, quer ser um estudo acerca da contribuição da obra do

autor, permitir um espaço de pensamento a quem tenha interesse em desvendar os

desconhecidos que perpetuam Timor mergulhar no medo e a viver o seu futuro no

cenário enigmático. Apresento como contributo para um possível aprofundamento

teórico a ser desejado pela nova geração timorense, desconhecido de preconceitos e

longe dos factos, como a história os requer. Tornara-se, não só em direito histórico

português, igualmente era de suserania lusa do império ultramarino, cerca de cinco

séculos 2.

No caso real havia, em absoluto, uma predisposição para saber o fenómeno da

postura timorense, ciscunstância a que não foi estranha a mitificação que expressão

Timor foi votada. A título de história é despertado por simples razões lúdicas, que,

numa posteridade, são ultrapassadas pelo desejo de dilatar a linha de conhecimento

pessoal e de comunidade científica. A disposição material tem sido inexistente ao facto

de a anterioridade europeia, localmente desconhecia a produção literária. Mesmo

assim, no que toca ao panorama social, rumos têm sido abertos, com notáveis

resultados, por várias personagens, as quais podemos destacar Luís Filipe Thomaz e

Luna de Oliveira3 para além uma já citada atrás.

Já antes da fixação portuguesa, vivera socialmente dividido, por guerras entre

tribos e reinos4. Os primeiros períodos de presença, praticamente, no Timor-Leste,

fora difícil alterar o estado da situação aí existente.

Os missionários pela evangelização tiveram os sucessos iniciais, obtiveram

espaços de aceitação dos conversos, proporcionaram contactos directos, mas a

penetração dos metropolitanos no interior, sem expressão. À semelhança dos que

Portugal passava, organizava-o em redes administrativas, chamando os naturais,

conhecidos na mediação para se envolverem nas estruturas criadas. Desta partida, os

incluintes passarão atribuidos de patentes de quadros oficiais: capitão, tenente-

coronel, major, tenente-general. Um estrato socialmente nativo e de influência, iria

contribuir na política colonial nos diferentes reinos5. Cada um dispunha companhia de

moradores de segurança e para organizar as festas solenes, em tempos de visitas de

governadores ou de altos funcionários do ministério do Ultramar idos da Metrópole.

2 Marques, A.H. de Oliveira (direc.), História dos portugueses no Extremo Oriente, I Vol. Tomo II, de Macau à Periferia, Fundação Oriente, 2000, pp. 351-369; 3 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a Compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008; e Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, 4 Volumes, Fundação Oriente, 1949, 1950, 1952 e 2004; 4 Timor divide-se em duas partes: província dos Belos de 46 reinos pertence a Portugal e de Oeste, Servião, de 16 reinos, ocupado por Holanda, sob influência do imperador de Sonobai: Castro, Gonçalo Pimenta de (governador) Coronel, Timor (subsídios para a sua história), Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, p. 26; 5 Idem. Ibidem, p.27;

10

Em paralelo, tentando introduzir as primeiras escolas, igrejas. Centros de começo de

encontros à implementação de novos projectos em termos de divisão territorial

administrativa para a fácil convivência entre os nativos e os portugueses. Em sinal de

lealdade, pagava-se as fintas (uma espécie de imposto às autoridades administrativas

em nome da Coroa Lusitana) 6. Os séculos XIX e XX, o Território assiste uma

instabilidade que leva a desconhecer a paz anos a fio, revoltas que às vezes, eram

sinónimos do interesse holandês, também surgiam associadas a indiscplina dos

governantes7. E, mais tarde, fora fortemente castigado por consequências do II grande

conflito mundial. Sem comunicação com Lisboa 8. No último quartel do século XX,

pelas tensões civilizacionais a nível internacional em que os povos decidam agir em

favor de liberdade e de justiça, a que Portugal obteve a transição de Democracia do 25

de Abril de 1974, onde o Timor-Leste foi-lhe negado de forma brutal. Ocupado pelas

forças da TNI (Tentara Nasional Indonesia = Exército da Indonésia), fechado ao

mundo exterior parecia uma eternidade (07/12/1975-30/08/1999). Conseguiu o seu

objectivo a custo de tantos sacrifícios, afirmado por uma Constituição da RDTL, de

2002. No quadro deste processo, a Igreja Católica como elemento principal juntava-se

à população indígena, perseguida na sua terra. Sempre fiel ao seu papel. Em Timor-

Leste, a estrutura da Igreja, como instituição, foi a única que persistiu, nos momentos

mais críticos da história timorense, a sua voz manteve-se ouvir, em nome da justiça e

de paz. Serviu-se de ponte de comunicação política com as autoridades portuguesas e

com a liderança timorense no exterior em missão de diplomacia.

A chamada província Timor era de soberania lusa sem atenções no quadro de

um processo de melhoramento. Fora destinada aos desprezados metropolitanos e de

outras colónias, opostos a política do Estado Novo para aí cumprirem as obrigações

impostas (René Pélissier, p. 88). Não havia nenhum projecto animador que visava

mudar o rosto social. O analfabetismo imperava na sociedade, contribuía a lei de

injustiça, forçando-a manter-se numa situação de vida atrasada. Do ponto de vista

situacional da sociedade timorense, o conhecimento das percepções e das atitudes

dos datós reveste-se também de um inegável interesse pessoal, e não apenas pela

excepcional qualidade de informação vinda do alto aos seus semelhantes. Em nome

das autoridades coloniais, os chefes tradicionais sentindo-se poderosos no quadro das

relações internas a fabricar os seus benefícios no âmbito de cobrança tributária em

ilegitimidade. A destacar outra realidade que é, a ausência cognitiva e de literacia era

6 Thomaz, Luís Filipe F.R.., De Ceuta a Timor, 2.ª Rdição, Difel, 1998, p. 595; 7 Pélissie, René, a História de Portugal. As Campanhas coloniais de Portugal 1844 -1941, Editorial Estampa, 2006, p. 89; 8 Teixeira, Nuno Severiano (dir.) Portugal e a Guerra. Histórias das intervenções militares nos grandes conflitos mundiais (sécs. XIX-XX), Edições Colibri, 1998, p. 138;

11

uma felicidade dos estratos de competição decisora. Acontecendo em favor, ditava a

distância da grande maioria aos espaços imutáveis. Não havia formação adequada

que produzisse bons quadros dos seus agentes para promover projectos ambiciosos,

tanto como na condução de melhores relações com os vizinhos. Tudo estava

condicionado aos apetites dos terceiros sem que o próprio fosse consultado de opinião

ou em diálogos, na verdade, quando se tratava à propósito do futuro do seu território.

Timor é um mosaico dos coloridos, vê-se nos píncaros revestidos de neve. As

encostas, ornadas de flores; as matas manifestam-se de verde permanente. Noutras

zonas, as palmeiras estendem a sua abundância, em vastos espaços, e, matagais de

bambus que são um bom esconderijo dos animais silvestres. As montanhas mais

conhecidas são as de Matebian, Monte Perdido, a Tata-Mai-Lau é a mais alta de

todas. Até ao 25 de Abril era a mais conhecida do império português, com a altura de

3000 metros 9.

Os vales e montes com a paisagem, ordenados pela própria natureza,

oferecem condições que influam a sociedade em várias técnicas de caça, e de

movimentos de conflito humanos.

Em muitas regiões o crocodilo (lafaek), ainda, é animal sagrado, sendo

chamado de avô. Pela oralidade transmitida diz que, os timores são descendentes.

Um rapaz transportado no dorso, numa viagem dos Celebes ao Oriente em direcção

às terras onde o Sol nasce vê primeiro. Pelas águas do rio, dos mares e do longo

trajecto tornaram-o cansativo e sem forças, não encontrava cão ou cabrito para o

salvar de fome. Tudo lhe faltava e sem alternativas, resolveu comer o garoto. Antes de

o tomar como refeição, para tranquilizar a consciência, consultou os restantes amigos

se devia ou não comer o rapaz. Desde macaco a gigante baleia todos o ralharam e

acusando-o de ingrato.

Achava-se receoso de presença, no futuro, a ser mal visto, o animal dispôs-se

continuar pelo mar fora e a levar consigo o rapaz por quem, vencida a tentação, sentia

amizade quase paternal. Porém quando já totalmente fatigado de nadar, pensou em

dar meia volta a retornar-se ao ponto de partida, sentiu-se cansado, imobilizado,

tornara-se em pedra e terra, crescendo, crescendo, até formar-se em uma ilha.

A viagem com que o rapaz fez sobre o dorso da ilha, chamou-a Timor, em

língua malaia, Oriente.

Timor, a sua altitude é o elemento que influa as variações de clima, pelo que

apresenta-se homegéneo quanto à temperatura e, assaz, contrastante relativamente à

precipitação, podendo afirmar-se que a ilha constitui um “mosaico de microclimas”.

9 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos, as chegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008, pp. 53 ss;

12

Este panorama, comprovado pela vegetação, apresenta, todavia, tendências

minimamente definidas para que se possam determinar especificidades ao nível

meteorológico, principalmente devido à situação geográfica de Timor, a sua orientação

frente aos ventos dominantes e ao relevo insular.

A influência das monções regista-se, por seu lado, em duas estações: a

primeira, decorrente de Novembro a Março, corresponde à monção de noroeste,

marcada por chuvas cupiosas em toda a ilha; a segunda, corresponde à monção de

sueste, da direcção australiana faz-se sentir de Junho a Outubro, sendo a estação de

Verão dos ventos frescos, apenas entrecortada na costa Sul e, no princípio da

estação, por chuvas de origem local. Entre ambas estabelecem-se períodos de

transição com características comuns a cada uma delas 10

10 Cit. in Cinati, Ruy (1987), Arquitectura Timorense, Instituto de Investigação Científica Tropical, Museu Etnologia, Lisboa;

13

1.1. Timor antes dos portugueses

Geograficamente, encontra-se no prolongamento de cadeias das ilhas do Leste

Sunda - arquipélago da Insulíndia. Toda a região, no século XVI tornara-se lago dos

ocidentais da Europa 11 dado ao estado paradisíaco, em tempos anteriores, conhecido

já por muitos. Criara disputas entre concorrentes em torno do projecto de expansão

que residia, naturalmente, em posse das maiores quantidades de produtos

comerciáveis asiáticos. O éxito deste mundo mercantil ganhara outro patamar à

medida que os europeus sentiam-se acrescidos de apetites, perpetuavam a sua

fixação sob o jogo de domínio político e de militar.

Na sequência da conquista de Malaca, em 1511 por expedições comandadas

por Afonso de Albuquerque12, os portugueses prosseguiam as navegações,

construíam feitorias e possessões, em Ambon/Molucas, Flores, noutras ilhas e

culminaram-se em Timor. Encontraram uma sociedade, de vida socialmente diferente,

pois, estava dividida por duas partes de influência: Belos, a parte Leste que mais tarde

passaria fiel a suserania Lusitana, e a de Servião, ocidental, de domínio neerlandês.

Este, afirmado pela marinha mais poderosa da época, chegava colocar os

portugueses em cheque nas possessões ocupadas perante a nova autoridade

emergente, cada vez mais afirmada. A Malaca foi brutalmente ocupada13, os

portugueses foram imediatamente expulsos pelos holandeses.

Timor, terra de sândalos, produto aromático, muito atractivo, para a indústria

de perfumes, e como produto de consumo religioso, usados pelas famílias de

aristocracia e dos altos funcionários da corte do império celeste, China e Índia 14.

Uma sociedade, alheia dos hábitos ocidentais europeus, quer em vestimentas,

religião e sem cultura letrada. Vivia com aquilo que a terra produzia espontaneamente.

Ao nível organizacional adaptava-se o viver tradicional que se baseava em

regulados/reinos e tribos, cujos responsáveis conhecidos datós15. As relações

familiares, constituídas a partir de laços matrimoniais. Um elo de ligações, que muitas

vezes gerava novos projectos de poder de decisão sobre outros reinos. Os vínculos do

género perduram até hoje em dia, consolidados por dias festivos que, na prática,

reúnem todos os familiares após construções dos cemitérios ou cruzes dos parentes

11 Morineau, Michel, As Grandes Companhias das Índias Orientais (séculos XVI-XIX), Publicações Europa-América, 2004, pp. 7 ss; 12 Araújo, Carlos, (direc. da Edição portuguesa), Lisboa e os Descobrimentos 1415-1580: a invenção do mundo pelos nevegadores portugueses, Terramar, 1992, p. 41; 13 Idem. Ibidem, p. 205; 14 Boxer, C.R. , O Império Marítimo português 1415-1825, Edições 70, 2001, p. 58; 15 Comaparados a chefes/rei ou nobres, conhecidos régulos;

14

já falecidos. Ou algumas casas construídas a título sagrado para conservar objectos

de culto animista, no sentido de perservar a memória dos seus antepassados. Matam

animais em que todos os presentes consomem. També é o tempo adequado para

abordar as questões de barlaque/dote entre feto san umane (sogros e genros), que

se achava pendente, visam doar cabeças de gado, espada aos pais/familiares da

nora, e, estes, em retribuição entregam tecidos (tais timor), mutiçala (colar),

cabritos/bodes e alguma quantidade comestível aos pais e familiares do genro.

Nunca viviam tranquilos com reinos vizinhos - uma cultura mais votada a

guerra. Os membros vencidos seriam levados pelo lado vencedor, entregues ao

trabalho produtivo, e com o andar do tempo passarão a ser integrantes da família que

detinha o poder de decisões.

Também é uma zona florestal, várias espécies de árvores de qualidade, tais

como pau-rosa ou o palvão, eucalipto fornecem madeiras de resistência e de dureza.

Muito apreciadas na construção de casas. Dentre elas, o sândalo, planta muito

aromática, ocupva o lugar cimeiro do comércio – mais procurado por muitos

mercadores da época 16 e 17.

A cobiça europeia antes de ser concretizada no arquipélago da Insulíndia, já os

chineses, os árabes, guzerates da Índia circulavam na área em busca dos produtos

locais, em troca com os objectos trazidos. Chegavam nas costeiras litorais de Timor a

procura de sândalos, mel e cera, sem indícios da penetração no interior da zona. Por

outro lado, a maioria esmagadora dos timorenses não eram votados ao comércio.

Ainda que não nos dispusesse uma escrita descritiva daqueles distantes tempos, mas

percebemos da inexistência de amizade e de língua do vizinho, sentidas no lado dos

Belos, Timor-Leste. Uma cultura que nos remete a descobrir o pensamento timorense

em não dar confianças aos estrangeiros, ainda que permitisse algum espaço mercantil

e muito menos, acolhê-los, frequentemente, no interior do território...

Há fauna, como veados, macacos, javalis; existe espécies de cobras, jibóias,

jacarés. Não se fala do animal feroz à semelhança de África ou doutras partes da

região. Antes e durante a administração colonial portuguesa, o mar timorense nunca

foi pescado por barcos, sofisticamente equipados para capturar peixes enormes e

outras espécies. Muitos chegam a afirmar que os grandes animais perseguidos, em

permanente, para o fundo do mar timorense deve estar povoado por enormes peixes,

fugidos às armadas pescatórias.

16 Serrão, Joel e Marques, A. H. de Oliveira (direc.) e Coordenação de Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova História da Expansão – Império Africano (1825-1890), Editorial Estampa. 1998, p. 777; 17 Oliveira, Luna, Timor na História de Portugal, Vol i, Fundação Oriente, 1949, p. 22;

15

A alimentação principal da população é: batata, batata doce, mandioca,

inhame, sacarina e sagú; milho, arroz, café (introduzidos); frutas – banana, manga,

anona, ananás, papaia, toranja, tangerina, melancia, melão, jaca, fruta-pão, etc.

Além destes, segundo os especialistas, o solo dispõe minas de ouro, petróleo,

quer no espaço marítimo como terrestre 18. A sua exploração, praticamente, fora

inexistente, na ilha. Muitos tinham havido intencionado, davam-se voltas à cabeça

para construir a sua glória, em exclusivo .

Na verdade, nos primiros tempos da presença portuguesa, ao afirmar-se lança

a sua sede administrativa como prova de entendimento com os indígenas timorenses,

optou Lifau, em Oe-Cusse, como capital do Timor português, em 1695. Porém, esta

parte ocidental mais próxima da Servião, do lago neerlandês, não era pacífico. Difícil

conhecer uma vida normal, decidiu-se a mudança da capital para os Belos, mais a

Leste – Díli, em 1769, já na era do governador António José Teles de Meneses, sítio

que fornecia melhores condições portuárias 19. A nova capital proporcionava

perspectivas as autoridades para os propósitos de segurança. Pelo menos é do centro

do país, teoricamente de domínio português, vai-se aproximando dos régulos de

confiança com os moradores a coopoerarem-se na defesa do seu Leste timorense.

A população vive em casas construídas sobre estacas. Utilizam madeiras

resistentes, pau-ferro, palvão. Cobertura de capim, folhas de palmeira, planta onde se

extrai tuaka espumosa e fresca, como cerveja dos timorenses, também de tali metan

(gamuti), igualmente produz tuaka, após de ser destilada é tua sabu (aguardente).

Estas bebidas, frequentemente usadas nos dias festivais em memória dos

antepssados, etc. como atrás se referiu. À parede, o bambu é o elemento essencial,

aberto longitudinalmente e planificado para o efeito e para lanténs em que se dorme.

Neles se guardam as coisas e sacas de milho, néli, feijão; tubérculos secos como

mandioca, batata doce, já cortados em lâminas, reservados a épocas de chuva. Desde

os tempos remotos, durante a noite usam o camim moído, preparado a volta de

nervuras das folhas de coqueiro para acender e iluminar a casa.

O povoamento é disperso, os seus moradores são sempre agarrados a uma

actividade agrícola muito tradicional. Usando objectos arcaicos, de madeira para

revirar a terra arável. Desabam matas para o cultivo, durante duas a três épocas 20.

Seguida por gerações, que ultimamente se vê reduzida esta prática. A lavoura da

várzea é utilizada pela actividade dos búfalos, em movimentos torneantes no espaço

18 Thomaz, Luís Filipe F.R..De Ceuta a Timor, Difel, 1998, 1998, p. 595; 19 Oliveira, Luna, Timor na História de Portugal, Vol. II, Fundação Oriente, 1950, p. 11; 20 Serrão, Joel e Marques, A.H. de Oliveira (direc.), e coorde por Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova História da Expansão portuguesa, Vol. X, o Império Africano 1825-1890, Editorial Estampa, 1998, p. 778;

16

destinado ao lançamento de nêli, depois de ter sido tornado mais ou menos lodoçal

como preparativo final. Esta prática agrícola de arroz, seguida pela maioria da

população quando os gados já introduzidos na ilha pelos europeus portugueses. Criam

animais domésticos em redor das habitações, mais próximos das pessoas, provocam

doenças, mas os próprios desconhecem como surgem a situação malígna. Ignoravam

a noção de viver em higiene.

Numa povoação onde uma família constrói uma casa, todos os habitantes da

mesma, do sexo masculino, dirigem-se, ao local, em conjunto, põem a andar a

construção; transportando vigas, barrotes e colunas/postes de madeira, palmeira, em

geral, preparadas longe do sítio de habitação, portanto, na mata.

No grupo, há sempre alguém que tenha habilidade a dirigir os restantes de

como colocar esta ou aquela viga para resistir a corrente dos ventos. Construir discos

de madeira colocar no extremo superior da coluna onde suporta as armações de

lantém para impedir o acesso dos ratos ao interior. Uma vez concluir, arranja-se um

escadote de bambu de quatro degraus para poder entrar em casa e, durante a noite,

puxá-lo guardar dentro. Em concentração para cooperar, o dono de casa,

normalmente, dar de comer: pequeno almoço, almoço e jantar. Matar umas cabeças

de cabra, porco, galinhas conforme número pessoal. Para entusiasmar o trabalho, o

tuaka e tua sabu estarão sempre presentes acompanhar as refeições.

Esta cultura de cooperação tradicional está presente também nos tempos da

ceifa de nêli, após ter amontoado, é necessário números humanos para debulhar,

durante um a dois dias – desprender os grãos dos caules com os pés. De seguida, o

proprietário é agora, encher nos sacos feitos de palmeira, e transportá-los para casa.

Fins do mês de Outubro, a várzea, é literalmente vazia, sem actividade, por acabarem

de transportar o nêli, onde vai começar o trabalho das hortas, em preparativos à

sementeira de milho. E assim, o ciclo de vida agrícola tradicional se repete, em todas

as comunidades para garantir a sobrevivência do agregado.

As áreas que se servem para a exploração agrícola, são vedadas para evitar a

entrada dos animais silvestres, durante a noite. Tanto como os domésticos doutras

famílias, normalmente, os proprietários são conscientes a dirigi-los a lugares de

pastagem longe dos sítios cultivados. Algumas vezes, os descuidos improvizam-se de

modo que alguns animais rompem o pagar dos vizinhos, em que os estragos são

pagos conforme as quantidades identificadas. Existe também alguma noção de moral

que permita alertar o dono a evitar o futuro, porque reconstruir um cerco/pagar de

dezenas de metros de comprimento é um desgaste físico, e uma tarefa hérculea.

As famílias constituidas de poligamia, geralmente, possui mais várzeas e

hortas, pelo facto de ser o marido de tal estado, cada esposa terá o direito sobre as

17

que se julgam ser suas. Depois da colheita, cada uma comercia alguma parte de

sucesso em troca doutros objectos de uso pessoal, permutar com algumas cabeças de

animais para novas criações.

Bens conseguidos, o futuro dos filhos já é garantido, isto é, dentro de pouco

espaço de tempo aparecerá um novo rosto de uma rapariga na família – nora,

sinónimo de um novo lar, constituído.

18

1.2. Estrutura social

A sociedade timorense, como todas, assente-se na constituição familiar, base

celular de um país, sendo o pai representa a autoridade, em todos os momentos de

vida social. Na base deste universo se verifica uma afinidade mais coesa – algo

endelével, associado a um respeito assaz aderido. Um património tradicionalmente do

local, privilegia para além das relações de parentesco, até ser modificado por culturas

introduzidas pela administração portuguesa.

As relações estendem-se, por elos matrimoniais. A durabilidade prolongada

explica-se pela multiplicação de gerações, filhos, netos contudo, estes não se

afastarão de ideias de respeito e de reconhecimento pela linhagem genealógica.

Os constituintes de uma determinada família dependem-se, directamente das

condições económicas de quem como chefe de célula familiar. Organizador único e

modelo da colectividade, desempenha o sentido divino escondido, quer dizer, suas

influências são bem seguidas pelos descendentes.

O pai, sendo de papel importante, cabe-lhe conduzir o casamento dos filhos em

exclusividade. Um acto que se associa com interesses dos bens da escolha familiar.

Não só da necessidade de riqueza dos planos familiares, há a atenção pela beleza

das raparigas o permitirá. Por outro lado, os casamentos consentidos invocam a ideia

de estratos sociais do mesmo grau, independentemente dos desejos e do amor que os

jovens tendem deles a concretizarem.

Na maioria da sociedade obedece uma certa regra. Uma vez, dois jovens

tiverem o mesmo plano para se casarem, o pretendente deverá comunicar aos futuros

sogros e aos próprios pais para estarem-se em mútuo reconhecimento do caso. Desta

decisão, à parte do presumível genro decidirá doar algo de valor (dinheiro vivo, gado,

cavalo, etc.) como prenda, significa a moça ter já um pretendente confirmado do qual,

ela é impedida aceitar novos pedidos. Porventura surgisse algum incidente que levaria

a rapariga romper o prévio acordo, os bens serão literalmente restituidos. E se

ocorresse o contrário, em que o jovem decidisse desfazer o plano, não haveria

nenhuma devolução.

Ao acto final do casamento normal, ambas as partes familiares terão que

regularizar a questão de barlaque. De seguida, se os pretendentes forem todos

cristãos católicos, entrarão em contacto com o catequista a tratar o calendário do

casamento com o pároco. Terminado o acto, a rapariga leva consigo algo como dote

(1 a 2 cavalos, tais/tecido timor, mutiçala (colar) para o uso próprio em casa dos

sogros/da família do noivo (esposo), nos primeiros tempos.

19

As classes abastadas, que geralmente se afirmam na abundância de bens

agrícolas e de posse de uns números de animais, têm tendências para manter a

política de poliginia. A par da realidade, o barlaque, um dos elementos mais

conhecidos ao longo de laços matrimoniais21. Persiste-se durante gerações,

atravessando períodos portugueses, porém, indo assistir a descida porcentual à

medida que os conversos cristãos e o saber ler, escrever se abrem em leque.

O conjunto de esferas familiares, em ordem no espaço geográfico

organizacional, dirigido, em Timor-Leste, denominado regulado/reino, sob alçada de

um régulo/rei (liurai), escolhido por datós, praticamente, responsáveis de várias

povoações (correspondem mais ou menos os nobres, principais). Naturalmente, a

estrutura social timorense encontrava-se em conjuntos referidos, quando fora enfrentar

novas ordens de modificações por alta autoridade colonial, uma vez, achando-se

confiança na cristalização de amizades.

O aparente domínio português, nos primeiros períodos, articulava-se por

intermédio destas estruturas, sobretudo na ligação com os régulos para que as

intenções lusas pudessem ser sentidas nos indígenas, no interior dos respectivos

reinos dos Belos, Timor-Leste. A partir desta conquista, iam melhorar-se a rede

administrativa colonial a partir da base: Povoação com responsável chefe da

povoação; Suco com chefe do suco/liurai, Posto Administrativo, com o chefe

posto/administrador do posto. Assim estabelecidos, modelos adequados para

coordenar os projectos traçados pelo poder/governador da colónia.

Uma das soluções conseguidas para impor a administração de forma indirecta,

por via de delegados indígenas, uma sumidade de poder na contribuição de efectivar a

presença portuguesa, tornar a autoridade política em triunfo.

Os processos conseguidos, levá-los a estender cada vez mais o papel

assumido pelos sacerdotes. Criando capelas rudimentares junto dos povoados

indígenas para efeitos de catequese e de celebrações de eucaristias, acto que se

traduza em maiores atracções a conversões. Criando umas escolas, a mais

conhecida, era o colégio de Soibada, fundado por padre jesuíta Sabastião Aparício da

Silva, ajudado por alguns régulos locais como, D. André Doutel Sarmento. Estimulou o

inicio da formação da civilização, desenvolveu a educação. Produziu gradualmente, os

primeiros grupos letrados pertencentes a vários reinos do país. Normalmente eram

filhos dos aristocratas rurais 22. Os primeiros saídos, os melhores a colaborarem nos

21 Burguière, André, Klaplisch-Zuber, Christiane e Zuna bend, Françoise (direc.), História da Família, 3.º Vol. O choque das Modernidades: Ásia, África, América, Europa, Terramar, 1998, p. 288; 22 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Odiente, 2008, pp. 44 ss;

20

projectos defendidos a partir da sede capital e a estreitar a confiança de se

entenderem mutuamente.

Os régulos e datós, nas respectivas regiões, tomando uma atitude visa

transmitir a boa maneira de viver e de pensar conforme autoridades.

A par do referido colégio, nos finais do século XVIII, os dominicanos criavam

escolas em cinco sítios: Díli duas escolas, Oecusse, Batugadé, Manatuto,

Luca/Viqueque, uma em cada. Imprimia pequenos estímulos nos filhos indígenas a

conquistarem cada vez o fenómeno escrever e ler, ajudá-los a compreender pouco a

pouco a mudança de vida do quotidiano.

É-nos curioso recordar que a sociedade timorense, umas pequenas partes que

se entusiasmavam comerciar sândalo, sem terem a noção de perpetuar a sua

existência. Na primeira década do século XIX, já se assistia receitas, acentuadamente

nebulosas, sinónimo do esgotamento do arbusto, praticamente associado a ignorância

de ganância, facto que impressionava alguns governadores, como José Pinto

Alcoforado 23.

Esta parte do mundo, onde os portugueses querem cristalizar os seus

projectos, mas as ilhas circundantes de poder nerlandês não os deixa operar

tranquilamente. A conflitualidade é latente, ainda que as autoridades procurassem

encontrar entendimentos a tréguas entre as partes envolventes no âmbito de tratado

que decorria em 1641. Contudo, às possessões, a ambição territorial holandesa era

absorver a presença portuguesa, evento que levou os portugueses a reconhecer a

ocupação permanente de Kupang pela Holanda, metade ocidental da ilha de Timor.

Resolveu-se definir a soberania de Portugal e de daquela nas respectivas partes

afectas a cada um, concretizava-as por acordo bilateral, realizado em Lisboa, em

1661.

Pós alguns anos, a colónia entrou em novo cíclo de governação, visava a

representação do poder da coroa a iniciar por nomeação de um governador,

dependente do Estado da Índia, Goa. Nas primeiras décadas do século XIX, (1844) o

governo central reconhecia a capacidade de governação afirmada em Macau e Timor,

da qual decidiram desprender-se da tutela da Índia, mas Timor ficava sob as ordens

de Macau. Era preciso esperar mais de cinquenta anos de tempo (1896) para o Timor

tornar-se um distrito autónomo, desta vez, ficar independente de Macau 24.

Metade da ilha, imensamente pequena, dispunha-se várias etnias linguísticas:

23 Serrão, Joel e Maeques, A. H. de Oliveira (direc.), e coord. por Alexandre, Valentim e Dias, Jill, Nova Hiistória da Expansão portuguesa, Vol. X, o Império Africano, 1825-1890, Editorial Estampa, 1998, p. 779; 24 Pires, Mário Lemos (último governador de Portugal), Descolonização de Timor. Missão impossível? 3,ª Edição, Publicações Dom Quixote, 1994, p. 20;

21

Tétum Díli, tétum terik, português, china, makassae, galole, dagadá, tokodede,

mambae, atoni. Como referimos, não tinha escrita. Soube ensinar aos filhos pela

oralidade para perpetuar aquilo que pertença a clã. Além de título familiar há outros

conhecidos contadores de histórias (Lia, Na’ain), significa memorizadores de palavras.

Estes homens, muitas vezes, nas cerimónias tradicionais, geralmente, em presença

dos chefes knuas/povoações, liurais, recitam as palavras, com uma tonalidade bem

produzida, suscita o silêncio e respeito. Há lendas (aik nanoik) 25.

25 Gunn, Geoffrey C., Timor Loso Sae 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 40;

22

1.3. Timor-Leste, construído na diferença geográfica No arquipélago, umas ilhas são geograficamente superiores que países

independentes e soberanos, todas inseridas na R.I. Terras de imensa fertilidade, de

uma heterogeneidade étnica, sob poderes dos respectivos sultões, em controles

comerciais com os estrangeiros. Todas são tocadas pela influência muçulmana,

resultara a queda do império existente e à emergência de um novo, imperava grande

parte em termos de expansão cultural da mesma religião 26.

A própria riqueza asiática fora território de constantes conflitos europeus e com

sociedades locais, em função de novas glórias individuais e às cortes ocidentais, por

uma política de controlo mercantil, em absoluto, criavam bases militares. O

arquipélago da Insulíndia viria tornar-se maior aliança dos mercadores holandeses. O

interesse pelo negócio crescia à medida que as intenções neerlandesas se

glorificavam, a aliança sofreu o estatuto inicial para uma política de poder e de domínio

territorial, designado Indias Orientais Holandesas. As populações locais mantiveram

a sua cultura, língua e religião. As ambições coloniais ultrapassavam os limites de

soberania e a antagonizarem-se com os portugueses com vista a desalojá-los das

possessões, em proveito exclusivo 27. O seu objectivo principal era desfazer os

obstáculos e poderes lusos para se proceder uma aliança com a grande China.

Cooperavam-se com os muçulmanos das ilhas, em redes comerciais para conquistar a

amizade timorense em absorver a presença portugusa de uma vez para sempre.

Do ponto de vista dos Liurais, que não são muçulmanos, a VOC (Companhia de

Comércio Holandesa) 28 é uma má opção porque aliada dos muçulamnos. É aqui que

os portugueses e o cristianismo entram em força em Timor, com missionários

dominicanos.

Na segunda metade do século XVII e na primeira do século seguinte, o que se

vê é os holandeses com poder mas sem ligação local, e uma força de portugueses

com dominicanos e topasses (mestiços, portugueses pretos). Isto associado à

geografia timorense, cria aos holandeses imensas dificuldades. Estas dificuldades vão

ditar a divisão de Timor, no século XIX, em Leste e Oeste.

Como todas as regiões de presença europeia, em Timor-Leste, viu-se introduzir

novas maneiras pelos missionários aos indígenas de estar na vida: espírito de

26 A nova religião introduzida pelos comerciantes árabes que frequentavam no centro mercantil de Malaca, cerca do século XII, através dos sumatrenses, conforme Moure, Michel, Dicionário de História Universal, Vol. II, Edições Asa, 1998, p. 686; 27 Mauro, Frédéric, a Expansão europeia, 2.ª Edição, 1995, p. 118; 28 Morineau, Michel, AS Grandes Companhias das Índias Orientais (séculos XVI-XIX), Publicações Europa-América, 2004, pp. 15 ss;

23

responsabilidade, inspira viver em organização, pela exactidão dos tempos de

trabalho, etc. 29.

À medida que a posição holandesa na fronteira se afirmara, tornara-se hostil

aos Belos, por estes comportarem-se aliados, supostamente fiéis dos Lusos, cada vez

se fechavam sobre si, nem sequer lembravam dos régulos e irmãos da

Servião/Kupang, como vizinhos fundamentais. Estes com os olhos sobre o ganho

comercial de sândalos com a VOC, que aplicara a força de trabalho de 30 mil

escravos, incluídos timores do Leste, na Batávia 30.

Os timores sentiam-se sob o olhar desdenhoso e a consequente inexistência

de contactos social e cultural determinava o total desconhecimento do mundo, além da

ilha. As capacidades de navegação marítima a distância a novas descobertas,

naturalmente, inexistiam na sociedade timorense.

Aliás, por ordem natural, Timor dos Belos, vinha construindo a própria

identidade ao sabor da sua singularidade, na região – uma identidade diferente na

área. Durante um grande período da História do Leste timorense tivera um contacto

directo com o Ocidente europeu. Recebeu a língua, cultura e doutrina cristã católica,

pela mão dos missionários lusos. Fenómeno civilizacional que a Grécia e a Antiga

Roma deixaram ao Ocidente da Europa e Península Ibérica 31 como património

inspirador do progresso da humanidade – cultura superior, mais seguida até a

actualidade pela sociedade humana.

A convivência tornava-se revolucionária à mentalidade timorense em aspectos

de relações e a inculcar valores de latinidade, permitia assim, gerar novos

pensamentos de como consolidar a sua identidade e a adquirir visões com outros

povos. O papel da evangelização dotou as populações de uma nova religião, sem que

estas apagassem da sua memória o seu pensamento religioso, tipicamente animista,

considerada original. Esta penetração originou a novos sincretismos, em que a

doutrina cristã convivia com elementos gentílicos tal como sempre sucedera na

Europa, quer na Antiguidade e na Idade Média, quer na Idade Moderna 32.

29 Mauro, Frédéric, a Expansão europeia, 2.ª Edição, 1995, p. 176; 30 Scammel, Geoffrey V., A primeira era imperial. A Expansão Ultramarina Europeia c. 1400-1715, Publicações Europa-América, 2000, p. 153; 31 Cerca do século III a. C. os Romanos introduziram a sua organização administrativa, cultura religiosa, etc., durante a ocupação no actual território português, conforme Marques, A.H. de Oliveira, História de Portugal, desde os tempos mais antigos até à presidência do senhor general Ramalho Eanes, 3.ª Edição, Palas Editores, 1986, p. 19 e Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 529; 32 O Cristianismo surgiu e engrandeceu com a conversão dos pagãos/gentios, segundo: Atlas da História do Mundo, Selecções do Readers Digest, 2001, pp. 92-93 e Collins, padre Michael e Price, Matthew, História do Cristianismo 2000 anos de Fé, Círculo de Leitores, 2000. pp. 7 ss;

24

Conscientes desta realidade, os clérigos com os governantes uma vez achavam a

maioria timorense sintonizar-se com o que está em mudança equivaleria um sucesso.

A conversão tornava-se socialmente aliciante para muitos dos nativos, que

assim podiam ter acesso aos serviços públicos ou a conquista da sua hierarquia, além

de passarem a ser súbditos do poder político. Ao longo da soberania portuguesa o

Povo leste timorense orgulhara-se profundamente da cultura europeia, considerando-a

elemento fundamental da existência identitária, na região. Indo influir-lhe capacidades

a adquirir os padrões internacionais, inspiradores de mútuo respeito e de solidariedade

com todos.

Timor tem o seu temperamento próprio face aos seus amigos. Às pessoas quer

do mesmo território ou doutros, conhecem-se em largos anos, é-lhe difícil o contrário à

amizade – muito hospitaleiro. Se porventura aparecesse um amigo de longos tempos

seria acolhido, mesmo não tiver condições recorra aos vizinhos para o efeito, mas

também é belicoso quando é ofendido por outra etnia ou grupo de diferente cultura. O

perfil timorense é obediente e subserviente, mas sobe ao poder tende a autoritário.

Este tipo do ser timor vinha ganhar a sua evolução por via do ensino,

desenvolvem-se relações de grande proximidade com os estratos sociais de

influência. Uma realidade remete-nos compreender as iniciativas dos missionários,

mais próximos das populações. A capacidade de inovar o que já existira era maior. Em

regra, as ordens religiosas tentam impor no ultramarino as mesmas regras religiosas

da Europa, os mesmos cânticos, a mesma orgânica desajustada dos conceitos e das

tradições locais.

A Igreja passa a ter um número muito significativo de conversos, para lá dos

limites onde os governantes ainda não têm o domínio de contactos.

Também não é afirmativo que a presença de um missionário num determinado

regulado é uma verdadeira magia transformar todo este espaço humano em

conversão. Os obstáculos eram vários: receio de serem desvinculados dos seus ritos

de culto ancestral, mas esta verdade tivera as suas consequências benéficas, pois

abriu caminho a gerações futuras a aderi-lo, tal como sucedera anteriormente aquando

da conversão dos vários povos europeus.

Todo o acontecimento ocorrido, no âmbito abstracto, constitui o próprio

património do Leste timorense, como já se referiu atrás, valorizar os seus ideais e

adquire de si a consciência como um povo desta parte do mundo da Oceania.

A língua portuguesa, aos poucos, vai ganhar espaços, circula-se em escrito no

seio dos letrados; da capital da colónia aos centros administrativos dos reinos, este

meio comunicativo põe as pessoas numa fase mais privilegiada e revolucionária. A

nova presença não põe em risco o estatuto do Tétum, língua falada pela maioria dos

25

timorenses. Os europeus que cedo aprenderam a língua nativa eram os missionários,

entabulavam questões de catequese com catequistas e cristãos, em tétum para criar a

mútua credibilidade de entendimento.

26

1.4. Interesse holandês é o risco da soberania lusa

Os portugueses sentiam-se firmes em funcionalidade nos objectivos em

cadeias de entendimento com os Liurais a decorrer até ao século XIX. Uma das

condições conseguidas para imprimir a sua cultura. Graças ao sucesso alcançado, nos

primeiros anos do período precedente (1701) pelo primeiro governador, António

Coelho Guerreiro, obtivera a simpatia da maioria dos régulos, ainda que o desgosto

de alguns fosse de maior visibilidade pela perda de prestígio e de poder33.

Percebe-se, portanto, pelas descrições históricas das loucas corridas

ocidentais ao Índico, o domínio marítimo português era de glória desde séculos XVI-

XVII. Tornara-se em difícil situação dado o vizinho holandês, de poder naval sob

alçada dos directores da VOC, inimigo fiel dos ibéricos. Reduziu a influência

portuguesa em muitas ilhas. Por outro lado, Timor encontrara-se na depedência

jurídica bastante prolongada de Goa, ou de Macau, não lhe permitia algo de mudança

em progresso, ainda que tivesse uma Junta de Justiça aos crimes militares e civis

ocorridos no reino. Constantes governadores para aí enviados enfrentaram

dificuldades várias para tranquilizar alguns reinos descontentes e da incúria da

metrópole, conduzindo os funcionários e soldados num castigo de sem salários, em

anos. O estado da situação afectava a sobrevivência e a leldade pelas funções

atribuidas, aos agentes da administração pública.

O moroso interesse à ilha pelo poder central deixara para a liderança do

governador e comissário real, José Joaquim Lopes de Lima sem condições financeiras

para dar eficácia ao conjunto das estruturas já criadas. Fora incumbido de directrizes

pela corte régia para negociar com os holandeses sobre a delimitação de fronteiras

entre as duas metades da ilha e de Flores em relação as de domínio holandês. Porém,

a presente debilidade contribuiu aos holandeses como novos beneficiários da ilha de

Flores e das pequenas em contiguidades. O poder neerlandês ficou em plenitude

nessas ilhas34. Em troca da maioria perdida aos portugueses, apenas restituiu a

Maubara, encaixada na soberania lusa. Mantêm-se o enclave de Oecusse, a ilha de

Ataúro, situada a frente de Díli e o ilhéu Jaco, ponto extremo de Lautém, mas este não

fazia parte da contenda política, desabitado. Em compensação, os holandeses

prometeram pagar 200 mil florins, em três prestações, à primeira, recebida por

33 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), República Portuguesa, Ministério das Colónias (Subsídios para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias,Lisboa, MCMXLIV (1944), PP. 24 SS; 34 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia portuguesa de História, 1992, p. 323

27

governador no valor de 80 mil florins em dinheiro 35. O sucedido foi mal considerado,

sem ter prévio consentimento de Lisboa. O Lopes de Lima foi severamente criticado

de grande felonia e dizia-se ter fugido com o dinheiro recebido aos EUA.

Entretanto, Lisboa decidiu-se a substituição por novo governador, D. Manuel

Saldanha da Gama, naturalmente chegara a Díli em 6 de Setembro de 1852, foi-lhe

recusado o cargo do governo por Joaquim Lopes de Lima. Este acabou por ceder-se

embarcar sob ordens de prisão pelo mesmo navio que desembarcara o governador,

substituto. Não chegou a Lisboa, ficando falecer em Batávia, capital das Índias

holandesas durante o trajecto do navio (Carlos Bessa, 1992, p. 323).

A morte do governador receava os políticos vir devolver os 80 mil florins

recebidos, sensações que forçavam adiar negociações para mais dois anos. Aberto as

negociações a 6 de Outubro de 1854, parecera idêntico ao que encarado por Lopes de

Lima, e em Haia o parlamento reivindicara à inactividade do culto católico na ilha das

Flores. No entanto, esta zona com outras pequenas não se desapareciam nas

memórias lusas, mais tarde, o governo liderado por Fontes Pereira de Melo tentara

novas negociações com Haia em 1858 com o intuito de trocar um território africano

para reaver Flores e outras ilhas, contudo os esforços saíram baldados. Chegaram a

um acordo pelo Tratado de Lisboa de 1859, momento que Lisboa assistiu a queda do

governo pelo que o restante das indemnizações pago pela Holanda decorreu em 1860 36

.

Os anos referidos, foram um período de campanha colonial portuguesa pela

pacificação, onde decorriam operações militares na África, porérm, em Timor o

governador era surpreendido por revoltas populares, a conhecida expressão

cortadores de cabeça eram assustadores.

Depois de ter resolvida a revolta de Camenassa que surgira designadamente

dos animistas terem sido humilhados de culto desrespeitado dada a maioria ser

convertida cristã, onde dois missionários foram mortos pelos rebeldes do reino, em

1719. Conseguida a pacificação, proveniente de um esforço concertado com os

régulos fiéis, de cerca de 50 anos de tempo para neutralizar os restantes líderes do

regulado, antiluso (1769). Todas elas, compreendidas neste período, eram

relacionadas as posições governativas na legislação tributária. Definia a obrigação do

indígena cumprir pagar ao Estado, que às vezes, ultrapassava a capacidade produtiva

das pessoas. O descontentamento cevou o ódio contra os portuguses que, estendia

até aos régulos da região de Viqueque, acabando por destruir os templos cristãos e 35 Thomaz, Luís Filipe F. R., De Ceuta a Timor, in Relance na História de Timor, Difel, 1998, p. 596; 36 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia portuguesa de História, 1992, p. 324;

28

perseguir os já convertidos. O governador teve que organizar as forças indígenas com

os poucos efectivos que dispunha, com o apoio vindo da Sica, Flores, em conjunto no

total de 4 mil nativos para desfazer a revolta, em 1731, ano de paz requerida pelos

rebeldes 37.

Aliás, as chamadas novas revoltas terão decorridas em Cotubaba e Cová junto

a fronteira, levarão o governador Francisco Teixeira da Silva a tomar decisões

bastante difíceis. As forças deste lado, em números comparativos para uma operação

de resposta não eram vantajosas, significava enfrentar cortadores de cabeças, em

posições confortáveis e activas, nos pontos altos, fortificados 38.

A autoridade de Díli, tinha que reunir o máximo das suas forças em Batugadé

para reprimir as aldeias revoltadas, contudo, o acontecer impressionava o lado do

governador por rebeldes. Resultava perdas de vida que chegavam mais de 126

homens. Os planos tomados à resposta eram inêxitos. Perante a dificuldade, resolveu-

se inverter a estratégia, em vez de manter as forças goesas, macaensas e

metropolitanas à operação, entregou-se as armas aos régulos fiéis para o efeito

segundo à maneira. Organizaram os seus moradores em conjunto das do governo

colonial, confrontavam-se com os rebeldes, o que levou estes a submeterem-se e pós

termo a resistência 39.

A tradição habitual de rebeldia timorense não desaparece nos reinos já

resolvidos e pacificados por batalhas sangrentas, atrás citados. O problema de fintas,

pagas por cabeças de animais é o elemento mais recusado por muitos dos regulados,

suscitava movimentos de desobediência; celebrava o corte de cabeças dos vencidos

reunidas perante centenas de pessoas a confirmar a heroicidade dos reinos triunfantes

- um acto repetitivo. O ambiente turbulento se repete noutra ponta de Timor, mais a

Leste, em Lautém. Uma revolta surgia associada ao rapto de centenas de gados aos

sucos fiéis dos portugueses. Punições de toda a ordem, estendiam actos

desobedientes para outras povoações, dos quais a força de segurança achava-se

difícil recompor o disciplinamento. Era preciso recorrer aos régulos de aliança de Díli,

Baucau, Vemasse, Laleia, etc. com o apoio dos planos de secretário e ajudante do

governador em concertação para repô-los em ordem normal40 .

Além da falta dos bons soldados de segurança do governo, conforme descreve

René Pélissier, verificava-se a inexistência de confraternização entre a chefia militar

portuguesa com os seus componentes goeses, moçambicanos. E noutro horizonte,

37 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, pp. 104 ss; 38 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844- - 1941, Editorial Estampa, 2006, pp. 130-132; 39 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. II, Agência Geral das Colónias, 1950, p. 138; 40 Idem. Ibidem. pp. 233 ss;

29

pinta-nos a simpatia e a confiança entre Governante lusa e de Batávia numa relação

de falta de amizade europeia na Insulíndia 41.

Os sucessivos governadores passaram ao serviço da portugalidade na ilha,

não havia nenhum que escapasse da insubmissão de alguns régulos. Muitos deles,

não conseguiam iniciar algum projecto, não por insucesso de entendimento com

autoridades indígenas em resistência, mas nem sequer lembravam de seus deveres

no tocante ao melhoramento das actividades da capital, Díli. Esperavam que chegasse

o tempo de missão para serem transferidos para outras colónias – pareciam uma ave

de arribação 42. Por outro lado, a distância da metrópole contribuiu os políticos a

esquecerem da ilha em matéria de apoio, elemento fundamental para os estimular em

novas iniciativas que permitissem envolver mais autoridades naturais.

É de recordar que, o reino de Maubara, em poder holandês desde 1761,

devolvido à Portugal, a 1861, na sequência de tratados assinados entre Lisboa e Haia,

na capital portuguesa. Achavam-se o regresso tornar-se um cordeiro manso perante

todas as exigências, duramente impostas, por acções militares sobre cobranças de

impostos. Porém, as ordens sob o consulado do governador António Francisco da

Costa (1887-1888) transformara-se em acto malogrado para o referido reino e tanto

para o próprio governante. Segundo a descrição do historiador militar português

Esparteiro, citada na obra do Geoffrey C. Gunn, toda a Maubara revoltara-se sob a

direcção do seu régulo. Os seus homens massacraram muitas forças de guarda, o

governador ficara espantado com a tamanha situação de rebeldia e o reino de novo

hastear a bandeira holandesa. A inversão do acontecer devia a intervenção da

canhoneira Diu, partiu de Macau a pedido da autoridade de Díli. Durante mais de uma

semana a percorrer pelo mar do Sul da China, estreitos de Solu e Molucas, finalmente

chegou a costa timorense, iniciava o bombardeamento sobre as aldeias de rebeldia,

Fatuboro, e apertadas pelos moradores organizados dos liurais de aliança lusa.

O recurso ao concertado apoio de forças de operação contra a rebeldia,

actuavam eficazmente, transtornaram o régulo em lealdade portuguesa. Este, e outras

autoridades locais prometiam cumprir as obrigações tributárias. E a Maubara,

castigada por macabrismo, atingiu a população de todas as idades, que o serviço de

saúde era difícl socorrê-la, e no entanto, permitiu a reposição da bandeira portuguesa

41 Péliddier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844 – 1941, Editorial Estampa, 2006, p. 195; 42 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua História) Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, MCMXLIV (1944), pp. 82-83;

30

a flutuar na área43. A população local de novo entra em reorganização, incentivando os

habitantes em tomar o seu quotidiano, imprimir-llhes o ambiente de confiança e de

amizade entre si e autoridades.

Ao longo de sucessivos acontecimentos de insubmissos de alguns régulos com

seus respectivos habitantes, implicavam o acto sangrento a imagem do Caim matar os

irmãos Abéis. ainda que fossem difíceis resultavam-se sempre a contento português.

Facto que expressava a lealdade da maioria nativa, mas os aspectos do Território não

contribuíam a fácil comunicação dos governadores com o interior por inexistirem vias

acessíveis, nem sequer os postos militares se montavam 44.

A cultura turbulenta minou a apetência e evocou a ignorância pelo cultivo de

terra, conduzia a população numa situação de extrema debilidade e a mudança de

mentalidade pelo bem estar era invisível. A prova desta realidade trouxe o resultado

de produção de café 2.480 kgs em 1880 e 800 kgs em 1895 45. Além disto tudo,

faltava o pessoal especializado para os orientar em conhecimentos de como explorar a

produção agrícola, em terrenos altamente férteis. À volta de tudo isto, o Timor dos

Belos, por força maior do decreto de 26 de Novembro de 1866 fora dividido em 11

distritos. Um comandante em cada, figura executiva das leis do governador, contudo a

sua autoridade não anula à intervenção dos liurais na administração interna de cada

reino. De seguida, é elevado ao distrito autónomo, em 1897, por decreto 30 de

Setembro (Gonçalo P. de Castro, p. 85).

A expressão de rebeldia e de anarquia em realidade activa em insubmissos

inquietam os governantes, chega-se a ordem do fim de missão do governador Cipriano

Forjaz. Chegará o seu substituto, Coronel José Celestino da Silva. Dizem homem de

confiança do rei D. Carlos (René Pélissier, p. 90), é experiente e de espírito

organizativo, capaz de tornar Timor dos desunidos em aliado luso, conforme as suas

preocupações após ter sido empossado nas funções de governador (1894-1908). Uma

época que, em Manufahi/Same, o rei D. Duarte manifesta a resistência pela

independência dos cerca de 20 a 40 mil súbditos, subsistem-se na recusa tributária,

detida por esses vassalos e o seu liurai, durante 88 anos 46. Enviara o seu filho D.

Boaventura aos reinos ocidentais, próximos da fronteira holandesa, no sentido de

obter forte aliança para minar as ordens do governador e a esmagar os planos de

43 A guerra de Maubara, cessou já no tempo de governador Ciptiano Fotjaz, em 14 de Julho de 1893, conforme Gunn, Geffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, pp. 186 ss; 44 Castro, Gonçalo Pomenta de (Coronel), Timor (Subsídio para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, p. 88; 45 Idem. Ibidem, p. 89; 46 Pélissier, René, As Campanhas coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, p. 223;

31

contra-ataque rebelde organizados pelos exércitos regulares, serem executados em

dias muito breves 47.

Os movimentos a decorrer em favor do reino manufahista, o governador

J.Celestino da Silva não os ignorava. Confiava na técnica organizativa do alferes

Duarte, reunia as forças regulares com o apoio das populações dos liurais aliados, em

armas e em equipamentos que fossem úteis às intenções do poder colonial. A

resposta fora posta em prática à semelhança dos anteriores noutros reinos. A base de

rebeldia de Manufahi, tinha sido enfrentada por operações de envergadura de três

frentes, constituidas de 12 mil nativas com metropolitanos. Ainda que os revoltosos

persistissem de intenções, no espaço controlado reinava-se já o desagregamento

moral, visto as posições de defesa desabavam-se em favor da autoridade colonial.

O primeiro governador, António Coelho Guerreiro (1701) nomeado oficialmente

pelo vice-rei do Estado da Índia, em Goa, assumiu funções em Timor. Tomou

iniciativas criar bases organizativas, envolvia as autoridades naturais. A estrutura

administrativa funcionava-se, e ao longo de sucessivos sucessores nenhum deles

aventurava-se às mudanças. Ficava assim o controlo em poder dos régulos. Já no

tempo do governador José Celestino da Silva, fez uns retoques quase não detectáveis 48. Mas este entrou com uma iniciativa de abertura à colónia, visava uma política em

acções militares triunfantes. Em todos os cantos do reino aglomerados

populacionalmente/reguladdos estabeleceu os postos de rede militar, como elemento

principal do fiscalizador em nome da presença colonial. Uma mudança ligeira, veio

surpreender alguns régulos terem perdas de influência, uma vez que esses postos

fossem entregues aos civis, de cariz colonial. Os agentes do funcionalismo começarão

a dilatar-se e o envolvimento timorense de cultura letrada é aqui mais reivindicada.

Assim, davam-se os primeiros passos da mescla burocrática e a novos sectores de

actividade imaginados determinarão a rápida criação de ensino mais dilatado, no

sentido de aprender a língua portuguesa e a sua história, como sendo também

património timorense 49.

O governador Celestino da Silva “rei de Timor”antes de abandonar o País dos

Belos, deixara muitas obras feitas e umas por concluir: grande plantação de café de

Talo-Ermera, Fatubessi, etc., o próprio investira os bens da esposa, a fazenda

designada Sociedade Agrícola, Pátria e Trabalho (SAPT). Incentivou muitos régulos

47 Gunn, Geoffrey C., Timor Loso Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 187, 48 Marques, A. H. de Oliveira (direc.), História dos Portugueses no Extremo Oriente, 2.º Vol., Macau e Timor. O declínio do Império, “in O Protectorado português”, Fundação Oriente, 2001, p. 502; 49 Thomaz, Luís Filipe F.R., De Ceuta a Timor, Difel, 1998, p. 647;

32

pela exploração agrícola e a de café, até hoje em dia, existe um pouco em todo o lado

e outras obras continuadas pelos imediatos sucessores 50.

Todo o cenário criado pelos governantes até aqui, revela-se ao evoluir de uma

situação de impossibilidade governativa para alterar o statu quo, típica da

administração nominal, para uma situação em que o poder colonial, encabeçado pela

figura singular do governador. Assume uma postura cada vez mais proeminente, em

que a capacidade dos actos administrativos se mede pela acção exequível dos

programas políticos.

A presença portuguesa, em termos comparativos com as colónias africanas,

em Timor-Leste, num tecido social onde os portugueses são claramente menoritáios.

Factos inegáveis a que os governantes que aí cumpriam as missões incumbidas têm

que recorrer à força de inteligência.

O rei de Timor, vinha-se embora à metrópole, a adminiastração ficará,

naturalmente, aos seus sucessores. Às revoltas que surgiam atormentar a cabeça de

muitos governadores nem sequer davam indícios do lado desleal para se entender

com as autoridades coloniais.

Mesmo que Celestino da Silva fosse embora, o filho de D. Duarte de Manufahi,

D. Boaventura, tornara-se duro com os novos, isto é, com Filomeno da Câmara. O

movimento de revolta sulista redobrava-se à volta do comando de Same para o

destruir. Segundo a versão das povoações locais da época, transmitida às gerações

até 1975, dizendo que a guerra desconhecia qualquer proposta de paz associada por

uma cobiça de um comandante de Same, pai de um filho. Levado pela cegueira de

paixão pela esposa do liurai Boaventura, bonita como europeia. Pretendendo desfazer

o casamento e torná-la como esposa do comandante 51.

Liurai esse, fora aluno dos antigos padres, ignorou totalmente as normas de

uma cultura cristã que aprendeu, fora-lhe difícil travar o ódio. Em 1911, já no mês de

Novembro em que a comunidade cristã preparava-se para celebrar a festa de Natal,

para breve, e o citado comandante/administrador residia em Same, residência

fortificada por muros. Ao fim ao cabo, atacado, por um tiro à queima roupa. A mulher e

o filho passaram momentos dolorosos, em circunstâncias de alta tensão, mas salvos 52

. Os portugueses ficavam desnorteados, quer em Same como em Díli, por

perceberem um novo ciclo de regime da república se instalou em Portugal em

50 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, pp. 90-91; 51 Cardoso, Luís, Crónicas de uma Travessia, a Época de Ai-Dik-Funan, Publicações D. Quixote, 1997, pp. 14-15; 52 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, pp. 318-319;

33

detrimento da queda definitiva monárquica. Episódio alimentava a ira dos holandeses

na fronteira, jogava nos peões da sua rede incitar os pró-monárquicos leste-

timorenses53 endurecer as suas posições face as autoridades portuguesas e régulos

de inclinação republicana 54.

No quadro do programa político do governo, criava-se o decreto de 13 de

Setembro de 1906 por governador Celestino da Silva, decidia pagar 500 réis anuais

por cada chefe familiar. O anunciado aumento do imposto de capitação, em Suai,

preocupava alguns régulos de o acolher. Caso que o próprio Boaventura o recusava.

Em sentido oposto, o governador republicano, 1.º Tenente Filomeno da Câmara Melo

Cabral, impunha a sua autoridade, mobilizando os seus auxiliares civis e militares a

encaminhar os projectos já programados 55. Da maneira como agia, após ter chegado

em Díli, as suas atenções mais incidiam no alargamento das iniciativas indígenas na

exploração agrícola, cujo efeito poderia mudar o cenário do futuro 56.

O reino de Manufahi, tinha um pouco de tudo: existia peças de ourivesaria

fabricadas de qualidade, localmente; pulseiras, argolas para tornezelos, cartuchos de

couro, produzia munições para potenciar as armas/mosquetes. Significava a partida,

capacidades de mobilização em resistência, assaz seguida pelos habitantes, etc.57.

No quadro da legalidade tributária que recaía a cada chefe familiar, e os liurais

tornar-se-ão agentes do funcionalismo público do Estado. Como sendo do aparelho

governativo, os mesmos mereciam a 50 % da capitação cobrada nos seus respectivos

reinos. Nem todos eram conferidos, pelo que foi criada uma medida à retirá-lo

daqueles que não dispusessem número de 600 chefes familiares. Tendo sido

impraticável por as autoridades pressentirem o ressurgimento de possíveis

desobediências 58.

Para melhorar as estruturas já existentes, o governo teve que recorrer as

reformas tributárias já citadas, quando muitos sucos como Manufahi e seus aliados

ainda se mobilizavam opô-las. As organizações de rebeldia decorriam-se,

principalmente, nas encostas mais perigosas do chamado monte Ablai de 2.368

metros de altura. Sítio que naturalmente, favorecia aos insubmissos organizar

armadilhas de pedras de tamanho impressionante. De um momento para outro, poder-

53 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 194 54 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, p. 323; 55 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 195; 56 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua História), Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1944, pp. 121 ss; 57 Gunn, Geoffrey C. Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 196; 58 Idem. Ibidem, p. 197;

34

se-ão soltar-se do alto e a descer, brutalmente, saltando de fosso em fosso,

apanhando os lugares clivosos e a causar danos humanos como monstros 59.

Era D. Boaventura quem liderava as organizações de revolta contra o poder

colonial. O governador Filomeno Câmara, mostrava-se inflexível na decisão.

Coordenava com todos os régulos de Baucau e outros do Leste e de central oeste,

com os regulares militares europeus, moçambicanos e macaenses a tomarem uma

resposta, em diferentes frentes conforme as tácticas traçadas, entre governador e os

respectivos comandantes de operações. Ainda que os homens fugitivos, escondidos

nas densas matas e nos picos dos montes usassem o processo utilizado pelo lusitano

Viriato 150 anos a. C. contra os romanos para desafiar o governador e a sua força. Os

dias do liurai Manufahi eram contados já na agenda da força-contra-ataque. À medida

que esta avançava apertando cercar as fortificações preparadas nos citados sítios

perigosos, os seus moradores ou rebeldes iam sendo sentir o sabor amargo, por sem

ter acesso às nascentes e a escassez de alimentação cada vez os puniam para a

debilidade física, dia pós dia.

O teatro de ambos os lados resultava perdas de vidas, quer dos rebeldes como

do governo: sargentos, tenentes, praças, moradores dos régulos de aliança lusa,

atingidos. Já no verão, mês de Agosto de 1912, D. Boaventura enviou uma emissária

negociar a rendição com o governador, sem que lhe corresse riscos de vida. Prometeu

prendas em dinheiro, peças de ouro e de prata, ao que o governador recusava. Os

movimentos manufahistas, sob a direcção do mesmo liurai, causaram a vida de

milhares de pessoas 60. Sem utilidade nenhuma para nada, nem sequer imaginava nas

perspectivas para o cenário do futuro dos timorenses. Continuava em fuga esconder-

se, acompanhando o passar dos dias se porventura alterassem a política de contra-

ataque desencadeada pela autoridade. Via que a hipótese do triunfo correria pelo lado

do governo, teve apresentar-se a um comandante amigo, em Same 61.

Filomeno da Câmara acompanhava a revolta timorense, percebera-a,

organizada por alguns régulos contra o poder colonial, descobrira derivada das fintas

impostas. Todo o acontecimento decorrido, desde do tempo governador Lopes de

Lima, atravessando a duradoura missão de José Celestino da Silva e a culminar-se

com o Câmara. O primeiro governador republicano, via a soberania portuguesa

ameaçada extinguir-se na Oceannia, ou a um presumível beneficiário novo.

59 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal Vol. III, Agência Geral do Ultramar, 1952, p. 140; 60 Idem. Ibidem, pp. 172 ss; 61 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editorial Estampa, 2006, p. 326;

35

A ideia de reduzir dissenções intestinas entre régulos, o Celestino desde logo

procurou criar comandos militares em todo o teritório, como tem já citado. O seu

substituto continuou os seus projectos à medida que as revoltas de Manufahi 62 de D.

Boaventura iam sendo desfeitas, onde os rebeldes tornarem-se amigos e fiéis

vassalos da coroa portuguesa, representada pelo governador63. As atenções da

autoridade governamental incidiam-se na agricultura, isto é, incutindo nos naturais a

multiplicação de várias culturas; criação de animais e estimular o frabrico de cestarias

e outros artesanatos tradicionais para evocar as novas mentalidades de trocas de

artigos comerciáveis, ao nível dos bazares, em centros aglomerados de populações.

A falta de tropas e de meios era a maior dificuldade ao cumprimento da

legislação. Os liurais independentes nos seus respectivos sucos assumiam um

disfarçado serviço de administração: mobilizando cobrar-lhes as fintas em proveito dos

régulos; por sua conta exerciam a justiça, rebelavam o governador quando os pedia

contas de serviços 64.

As atenções, todavia da metrópole incindiam-se no Estado da Índia, aonde se

procurava salvar os restos dum grandioso império e assim os escassos arcabuzeiros,

que uma por outra vez aportavam a Timor, para pouco mais serviam que para uma

guarda de honra, de uma afirmação simbólica de presença.

Manufahi de mais oito meses em guerra contra a autoridade portuguesa. O

Filomeno da Câmara foi surpreendido por morte do tenente encarregado do posto de

Same pelos homens de D. Boaventura, em 24/12/1912.

Nos inícios de 1911, desembarcou-se em Díli, encontrou uma capital povoada

de uma policromia humana – metropolitanos, macaenses, mestiços de várias origens,

moradores, sentindo um ambiente tão estranho. Funcionários e paramilitares

alegavam-se dizendo liberais, republicanos, prontos resistir por quem enviado de

Lisboa. Uma ilusão torna um clima neboluso ao governador pôr o seu programa

inalterável. Consigo trazia uma intenção que visa mudar o rumo dos acontecimentos

indesejáveis. Afastava-se dos métodos seguidos por Celestino na aliança com os

régulos para resolver dissensões internas de alguns reinos. O anterior, avançava

propostas de pactos por o seu período de missão era longo, admitia-lhe oportunidade

a conhecê-los como iniciou o jogo de amizade em partilharem o comum (René

Pélissier, 2006, p. 318).

62 A resistência, decorrida no período de 1894-1913, acarretará a ceifa de 90 mil almas conforme, Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 203; 63 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal III Volume, Agência Geral do Ultramar, 1952, pp. 211-227; 64 Idem., Volume II, 1950, pp. 7-8;

36

As obras do Celestino não foram esquecidas, mas a chamada rebeldia sulista

permanecia, praticamente associada ao perigosíssimo D. Duarte, pai de Boaventura

deixado vivo por José Celestino e a solução sem em vista. À medida que os anos se

sucedem, o 1900, chega, a situação tornara-se mais complicada aos portugueses

dada a adesão às propostas manufahistas se adensava com outros reinos aliados, no

total de 13 mil pessoas.

Díli, em 1912, um lar de forno, entusiasmava os rebeldes. Filomeno da Câmara

preocupava-se pensar nas astúcias holandesas da fronteira a picar nos régulos

monárquicos do Leste. Nos meados de 1911, os dois lados entraram em campo de

hostilidade devido aos pequenos territórios enclaves e as franjas fronteiriças de

estatuto por definir e suspenso.

O governo sabia que em paralelo aos movimentos inconciliáveis há outro

inimigo invisível e terrível (miséia fome, etc.), ordenava a todos os régulos leais para

produzirem mais e o fiscal posto em acção.

O governante chegava a dedução, D. Boaventura talvez fosse arrastado

conspirar-se com os homens contaminados de ideias, em Díli. Sendo Manufahi, um

reino de Timor português, de grande importância, cujo cabeça aquele rei, figura de

renome, fora humilhado publicamente. Aos portugueses entregues em difíceis

dicisões, restavam-lhes a pronunciar pela retirada de Díli, ficarão plantações de café

testemunhar a presença europeia nas periferias 65.

Os homens de D. Boaventura atacavam abater alguns europeus. A rede

telefónica da zona de conflito com Díli desligava-se. À volta do pânico, muitos datós

leais acreditavam na escassez de meios militares e munições para a contenção das

operações de contra-ataquede organizadas por governo. Em termos aparentes a

acção de rebeldia estendia-se em animosidade.

A vingança subiu aos píncaros, o governador não podia estar indiferente

perante a tamanha situação. A 5 de Janeiro de 1912, tomou a decisão reunir 274

homens (5 oficiais, 40 soldados, 9 voltários e 220 moradores) com 2 canhões,

avançando sobre às montanhas onde se refugiavam os revoltosos à espera dos

melhores dias. Era tempo da chuva, tiveram confrontação com os lanceiros, flechas,

azagaias, achava-se sacrificado e voltava para Díli por um canhão caido em poder dos

sulistas. Noutro avanço da mesma época o tenente Almeida Valente reuniu alguns

fiéis a infligir 150 baixas ao inimigo. Entretanto o régulo continuava rodeado por três

mil homens, com a bandeira monárquica, em movimento de disciplinamento nas

aldeias fortificadas.

65 Pélissier, René, As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, Editoroal Estampa, 2006, p. 320;

37

Não há outra alternativa para a soberania lusa manter a glória conseguida

pelos seus antepassados, missionários e comerciantes dos séculos XVI e XVII, sem

algum apoio visível doutras províncias, a certeza de um novo beneficiário poderia ser

uma humilhação do império. O apelo de Díli teve imediata resposta, em Julho de 1912,

traduzida na chegada da Canhoeira Pátria e 700 soldados (metropolitanos, indianos,

macaenses e moçambicanos). Um incremento de reforço onde vai ser importante nas

estratégias de operação militar que não deve estar ausente no raciocínio do

governante local.

Surgia à autoridade colonial outro incómodo, em Díli. Uma camada social pós

do seu primitismo, achava-se evoluída organizava uma rede mais forte, englobava os

reinos do interior. Contava-se com o Boaventura para correr com os colonialistas

portugueses. Não se sabia, se foi uma iniciativa de consciência colectiva ou como,

infelizmente, sem voz de liderança. O liurai sulista propós-se dirigir e distribuir

equipamentos e armas para potenciar operações sobre a capital. Os planos cairam

inoperativos por a incapacidade organizativa sem resultar adeptos ao envolvimento a

esta empresa, significava já uma derrota manufahista. Teve que retornar organizar e

proteger o próprio reino.

A retoma de operação pelo lado do governo, estará no avanço de duas

colunas, com os seus componentes atribuídos assumir as respectivas especialidades,

marcado para finais de Fevereiro de 1912. A lógica de punir lentamente as aldeias de

refúgio rebelde encontra-se nas batidas a desfazer pouco a pouco as fortificações, que

dizem ser difícil acesso e mortífero. De facto, os meses de Março a Maio do mesmo

ano, é o período duro e implacável requerido por ambos os lados, que lhes saíram

caro: milhares de baixas, por os timorenses cortar os mesmos timorenses. O

Boaventura, persistia-se dos seus cálculos, acreditava na fé de que o espírito do

sagrado Leo Laco protegia-o ser triunfante, pois contava com o apoio do régulo de Oe

Cusse e dos holandeses do lado ocidental. Confiava no seu esforço que tornará

baldado o sonho do governador, e sozinho voltará à Díli. Os combates se avançavam

e as esperanças de ajuda do lado ocidental era ignorada e sem notícias.

Muitos romperam a disciplina fugirem com seus animais e outros bens para o

lado da fronteira. Foram todos ceifados pelos moradores do ocidente de um liurai fiel

dos portugueses, facto que os fizesse sem abraçar a bandeira laranja.

Tudo vai acontecendo, dia pós dia, em desfavor do rebelde, mas o monte Riak,

de estruturas camufladas, um bastião. Por natureza, uma floresta mais densa o cobre,

oferece refúgio, difícil de saber o movimento humano. Pedras montadas umas das

outras para proteger dos bombardeamentos. Armadilhas de bambus aguçados,

organizadas por entre pedras, invisíveis, podem surpreender alguém passar por elas

38

sem exploração. E, finalmente, o governador Filomeno da Câmara conseguiu inverter

a dura situação, arrastada desde longos anos para cá com a capitulação de D.

Boaventura, régulo de Manufahi, Same.

Uma operação mais díficil, enfrentada pelos portugueses do que nas outras

colónias. Nas operações aplicava uma força conjunta no total de 18.308 homens para

revitalizar a soberania portuguesa na Oceania. 40 mortos, 90 feridos; 30.000

cartucheiros e 628 tiros. Capturados ou entregues: 4536 presos, 342 espingardas,

1100 azagaias, 1800 espadas 1 canhão japonês (capturado em 1911) e 4573 mortos 66

.

66 Idem. Ibidem. pp. 327 ss.

39

2. 1. Administração colonial e as linhas tomadas pelos governantes

Após ter resolvido a situação de resistência, marcada pelo reino de Manufahi, o

governo da Câmara entrava de imediato com o programa de intensificação de

agricultura. Os régulos eram sensibilizados por ideias de uma vida melhor, com as

respectivas populações em actividade das plantações: coqueiros, cacaueiros,

cafezeiros. As povoações vencidas, obrigatoriamente plantar café, 600 pés por cada

familia. As pessoas de idade entre 14 a 60 anos, não lhes havia nenhuma excepção

na participação obrigatória de trabalhos agrícolas.

Intensifcação de agricultura compulsiva levada a cabo por governadores,

Afonso da Costa (1859-1869), José Celestino da Silva (1894-1908) e Filomeno da

Câmara (1911-1917), até 1916, a província assistia uma plantação de 8 milhões de

pés de café. Sinal que daria algum sentido de competitividade na economia a

estimular a sociedade local à exploração de terra, inclusivamente à criação de animais 67.

Os chefes rebeldes destituídos de categoria, igualmente acontecido a

Boaventura antes de ser preso. Este, finalmente, veio falecer na prisão de Ataúro ou

Aipelo, em Julho de 1913, ignorava-se o motivo da morte.

As antigas companhias de moradores foram dissolvidas por governador

interino, Pimenta de Castro, regeneradas em tropas de 1.ª linha sob a alçada de

oficiais europeus. Nas regiões (Manatuto, Baucau) de confiança, convertidas em

organização de sipaios.

Desde que a estabilização da soberania lusa se afirmara, graças ao esforço da

inteligência dos governadores em tornarem o clima mais calmo, alegando não apenas

fora afectado pela permanente turbulência indígena por imposição de fintas ou

indisciplina de autoridades e de cobiça do lado ocidental neerlandês, a que votada a

presença portuguesa à negatividade, mas constatava-se alguma evolução. Na medida

que os programas de acção colonial se implantavam criar raizes no quadro de

recrutamento de mão de obra, surgem mudar o modo de exploração agrícola

tradicional em êxitos positivos. Espaços de comércio se abrem, reivindicam pela

circulção de moedas, na colónia. O governo resolveu fundar o BNU, em Díli, em 1912 68.

Aqui, importa-nos referir o papel de novos grupos letrados, elementos

principais que o sistema confiava, ao longo da história constituíndo-se como espaço

de ligação dos europeus com a sociedade local, além do papel da Igreja, esta, desde a

67 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, pp. 204 ss 68 Idem. Ibidem., 214;

40

primeira hora. É de acreditar, a acção missionária fora muito decisiva do que o Estado

em si, fora responsável pela existência da elite timorense, sucesso essencial do

colonialismo português na Oceania.

Pós a campanha de pacificação, alguns régulos sentiam-se enfraquecidos de

poder interventivo. A alta autoridade colonial, estendia a rede de comunicação com

todos os reinos do interior, dadas as estradas tinham sido incrementadas. Os

contactos mais rápidos com os centros administrativos dispersos se registam com

regular operacionalidade por a rede telefónica igualmente se dilatou de espaços.

Implicava o surgimento dos agentes operacionais deste ramo, e, à media que se

evoluia, indo promover novas actividades que requeiram os nativos letrados e formá-

los em áreas especializadas e a maneira em como gerir administrativamente o

encadeamento de serviços a ela concernentes.

Em face do olhar fronteiriço, tipicamente desdenhoso, pelos vistos, os

governantes não queriam ser um único elemento pela aglotinação dos reinos. É certo

que o seu papel mais decisivo, visa optar uma política pela identidade única - um

factor que requererá a constante intervenção da cultura luso-timorense e da

comunidade católica. Uma ponte credível e de influência em oposição ao lago islâmico

e ao calvanista no lado ocidental da ilha e no resto da Indonésia.

Um processo adequado, no decurso de implementação, vendo-se abrir sinais

de progressão, sem traves. Os centros de aglomeração de conversos cristãos

católicos são também de acesso aos parentes da nobreza nativa. O contacto

frequente dos responsáveis religiosos (missionários) com essas populações,

igualmente trazem novas formas de pensar, a cimentar os laços de amizade e a

trabalhar pelo interesse comum.

A política seguida, marcou novos êxitos que se vêem pela atitude em como a

sociedade timorense olhar a bandeira portuguesa como algo sagrado (lulik) 69.

Recorda-se, Timor dos Belos na esfera colonial portuguesa, aquele que tem

uma história de raridade, à forma como se constituiu em pedaço ultramarino do

império português, nos fins do mundo. Foi tão útil a impressão que lá se fixou

definitivamente a Igreja Católica, ensinando, evangelizando e difundindo com fé o

nome de Portugal, a pátria que a 15.000 quilómetros de distância lhes aparecia

aureolada pelos feitos dos seus capitães e com um fulgor que nunca mais possuiu.

Nem sequer dispunham aqueles humildes roupetas um armado para se protegerem,

não tinham apoio das grossas bombardas que semeavam o terror entre os inimigos de

Portugal, não cuidavam mais que da conversão daquele povo entregue a permanente

69 Bessa, Carlos Gomes, a Libertação de Timor na II Guerra Mundial, Academia Portuguesa de História, Lisboa, 1992, p. 333;

41

ignorância e primitismo tornaram-se mansidão, simplicidade e virtudes deram-lhes tal

que, em breve a metade ilha os respeitava e chegava, jurando nas suas mãos

vassalagem ao rei de Portugal 70.

O Filomeno da Câmara, foi escolhido como governador dirigir a colónia, por

Decreto de 1910 do mês de Dezembro. No quadro da administração local, encontrava

a deficiente burocracia achando ser difícil reformá-la 71.

Como é sabido que o atributo principal de Timor mais conhecido em todos os

relatos históricos, é dado atrasado. Muitos têm vindo afirmar que a sua longividade da

metrópole era um factor para que o fenómeno existisse, mantivesse a sua tradição

ancestral. A própria característica da sociedade nativa não se manifestava pela

desminagem da cultura fragmentária.

Na medida que a colónia continuasse na mesma situação económica resultava

receitas extremamente magras mesmo que associassem a uma verba orçamental

insignificante à província, sem dar novas decisões ao aparelho organizativo dos

serviços públicos para mudar de feição imperfeita existente.

É certo, as colónias que enfrentam muitos problemas, a sua solução

permanece na preocupação das autoridades locais em mitigá-los através de uma

organização económica, bem conduzida, uma razão que não é fácil de se afirmar um

dia para outro. O caso de Timor, o governador republicano inspirado por uma ordem

da nova política instalada, imprimia-a segundo as suas decisões, às instituições que já

funcionavam tiveram que sofrer alterações, nomeadamente a administração

eclesiástica, reduzida de orçamento. Aos demais serviços públicos viam-se acrescido

e à Marinha ficara com aquilo já atribuido 72.

No universo pessoal superior do funcionalismo público não havia reforma

alguma, talvez fosse associada a permanente revolta e da falta orçamental. Jovens

inexperientes incumbidos de funções à verificação e despacho das mercadorias de

exportação e de importação, enfrentavam maiores dificuldades.

Há uma ausência recatar quanto a natureza económica da ilha, é em parte, por

ora, mantém-se na mesma situação crónica. Afectava a maioria da sociedade

timorense no quadro de uma relação producente agrícola. Vive uma tradição

deserdada de bens sem que uma norma de imparcialidade fê-los sentir os resultados

dolorosos na grande massa.

70 Duarte, Teófilo, Timor Ante Câmara do Inferno!?, Tip. “Minerva”, Famalicão, 1930, pp. 25-26 71 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, III Vol., Agência Geral do Ultramar, 1952, p. 197; 72 Idem, Ibidem. p. 198;

42

Percebe-se da natureza do subdesenvolvimento económico reveste um

aspecto mais repetitivo, é uma afirmação da sociedade nativa mais marcada na sua

vivência de igualdade e em equlíbrio tradicional.

A mortalidade, devido as guerras internas em continuidade, era muito elevada

e o crescimento demográfico mais baixo (0,9 %) anualmente do que outras regiões da

Ásia, por exemplo Indonésia. Mediante o panorama económico desenhado, a vida

indígena acha-se o recurso tradicional compensa o pequeno crescimento demográfico

em locais de exploração de terra73. A presença económica equilibrada, assim

designada, dada a sua produção é local para as necessidades das populações que aí

se agrupam nas respectivas regiões. A necessidade de circulação comercial em

moedas não é frequente na população, sem expressão. Sociologicamente é

equilibrada, sabendo que em Timor as estruturas tradicionais se erguem em redes

familiares. Elas mesmas desempenham a função de defesa, manter a solidariedade

para evitar a mendicidade acentuada na capital.

É aqui, convida-nos a notar de que a psicologia social é equilibrada, por

descobrirmos dentro da imutabilidade tradicional o indivíduo contenta-se com aquilo

que produz e sem pensar no que fora da sociedade não dispõe. A escala de pobreza é

igualmente equilibrada, pois a fonte de meios producentes se mantém na tecnologia

rudimentar. A população possui o mínimo de quantidade a estabilizar o número

populacional e a taxa de natalidade alta, mas as doenças tropicais e a falta de

cuidados higiénicos não perdoam a mortalidade infantil.

Não quer dizer, não existe tendências a mudar estes equilíbrios por outros,

mas a evolução social surge substituir estes estados de situação em tendências de

desequilíbrios. Também não está votado a negatividade dos novos meios de

produção, só que a tecnologia rudimentar não se aperfeiçoava. O que mais acentuava

na agenda dos governantes é a de alcançar a pacificação do território, em plenitude,

de seguida tratará do desenvolvimento social e económico, etc.

Os funcionários nativos não tinham formação literária de primária e de

secundára que pudesse elevar o seu grau cognitivo para obter algum sucesso sobre a

técnica administrativa. Havia, mas eram reduzíssimos, saídos das missões.

Dar sentido à segurança pública, resolviam reabilitar as casas dos comandos

do interior leste e oeste; edifícios públicos e da residência do governador eram

prioritários. Díli, abre-se mais novas estradas a permitir comunicação entre os serviços

públicos como hospital e outras instituições. Criada a repartição do fomento segundo a

73 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008, pp. 139 ss;

43

portaria provincial número 46 de 2 de Março de 1911, para o governador é uma opção

a título experimental.

Este serviço passa a singrar-se, faltava-lhe os técnicos, infelizmente. Pela sua

autonomia geria a distribuição de milhares de quilos de sementes à população.

Contudo, as reivindicações do governador tiveram eco na metrópole a ponto de enviar

um engenheiro agrónomo a chefiar a Repartição do Fomento74.

À medida que via aparecer sinais positivos no quadro do comportamento social

local, desenhava-se o interesse pela paz e pelo melhoramento de vida, o governo

tratou a separação dos servoços militares dos civis. Existido o quartel general a tomar

as tarefas militares, em exclusividade.

É uma das colónias sem entusiasmo na atracção do pessoal metropolitano do

curso superior a prestar serviços. A existência de baixíssimos salários é a razão

fundamental para a falta das atenções da suprema autoridade colonial e ao

alargamento do ensino.

O governo modificou o aspecto da capital Díli que era pantanoso, fabuloso

refúgio dos mosquitos, inimigos da cidade. À drenagem abriram-se as valetas até ao

mar; feitos aterros nos sítios de águas estagnadas, em lugar construíram edifícios,

estradas e jardins. Surgem habitantes chineses ocuparem os pontos mais salubres da

faixa marítima, junto da baía. Os serviços de alfândega povoam o cais; outras funções

de utilidade pública estendem as suas repartições como Correios, Obras Públicas, o

grande templo, resultado das Missões 75 (anexo 1); o antigo recolhimento das Irmãs

Canossianas torna-se em Colégio de Artes e Ofícios, em funcionamento; os antigos

bairros chamdos Bidau, Banamauc, Cai Coli que eram partes físicas da fundação da

capital, em 1769, uns vêem-se em actividade mercantil chinês e árabe; surgiu o

hospital, em Lahane, numa altitude de 300 metros.

Uma cidade mísera, graças ao governador José Celestino da Silva, lançou-se

na iniciativa a tomar rumos de estilo moderno europeu. O denso arvoredo, refúgio dos

ladrões e criminosos junto da cidade era desfeito e tornando-o em espaço construído

de alvenarias para os funcionários de catogoria com suas famílias. Os serviços

sanitários percorrem e fazem o serviço junto dos indígenas.

Uma mudança difícil, mas não faltava entusiasmo a melhorar as estruturas

físicas da cidade; ao longo das estradas eram arborizadas para se protegerem do

calor das épocas secas. A residência do comando da companhia, construída por entre

arvoredo de gondoeiros e outras, no pequeno morro, em Taibesse. 74 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal Volume III, Fundação Oriente, 1952, pp. 200 ss; 75 Martinho, José Simões (capitão), Timor quatro séculos de colonização portuguesa, Porto, 1943, pp. 28 ss;

44

Em sentidos opostos de Díli abrem-se estradas a Manatuto, Bacau, Viqueque e

Lospalos a leste e a oeste, Ermera, Bobonaro, Maliana e Batugadé, etc.; a sul, para

Aileu, Maibisse, Ainaro, Same/Manufahi e Suai 76. Obras que tiveram como

concluídas, permitindo a população em circulação manter-se em contacto permanente

com as sedes admnistrativas, ao mesmo tempo facilitarem pequenos actos mercantis

interlocais.

A esfera aduana via-se sem expressão de funcionamento, quando podia ser

ela a principal fonte de receitas da província. Os chefes nativos quem responsabilizava

pela cobrança dos impostos de indígenas. Por outro lado, quanto ao domínio de terra

ainda não havia uma legislação que regulamentasse, ou seja, que posicionasse em

igualdade a respeito da posse de terra, todos os timorenses sob a vassalagem

portuguesa. A finta, mais tarde aparece (anos de 1900) em géneros, após de uma

nova legislação e pela primeira vez se faz a cobrança do imposto de capitação.

Pela finta, paga colectivamente por cada reino, o liurai é responsável perante a

autoridade colonial77.

O governo inspirado pelos exemplos doutras colónias da Ásia, tomou medidas

a organizar os serviços financeiros numa base mais racional. Iniciou pela introdução

de modernos serviços bancários, como exigência moderna da colónia. Serviços

desempenhados pelo Banco Nacional Ultramarino, assume este papel nas colónias.

Fundado com capitais privados, em Lisboa, em 1864, abriu dependências nas

províncias portuguesas. A 1901, abriu-se em Macau, Timor, em 1912, como cofre

governamental.

A existência bancária na província ocorreria apenas depois de longos anos de

debate à volta da escolha da moeda. Na medida que a colónia portuguesa foi

monetarizada, o florim holandês entrou em troca da rupia, passando dominar as

transacções financeiras nos finais do século XIX e inícios do seguinte. A primeira

referência à circulação da pataca em Timor, ou pataca mexicana – designação dada

em português aos 8 reais mexicanos, ou moedas de dólar em prata – date de 1880, só

em 1894 é que a pataca entrou livremente em Timor, tornando-se moeda-padrão para

solucionar salários civis e militares. Em todo o caso, as duas moedas coexistiam com

uma taxa de câmbio flutuante (1:2,40 florins em 1880, 1:2 florins em 1891). Foram

tomadas, entre 1893 e 1894, outras medidas para reduzir o valor da pataca em

circulação na colónia e para fixar a taxa de câmbio em relação ao florim. Mas também

em 1900 (portaria 49, de 8 de Junho) a importação de moedas de prata mexicanas,

76 Idem, Ibidem, pp. 33-35; 77 Martinho, José Simões (capitão), Problemas administrativos e Colonização da Província de Timor, Editora – Livraria Progredior, Porto, 1944, pp. 102-103;

45

bem como de patacas, foi especialmente licenciada e sujeita a regulamentação contra

falsificação78. Contudo, a circulação de patacas nunca foi sinónimo de uma economia

favorável à colónia por Portugal abandonar o padrão ouro por moeda-prata (dólar-

mexicano) circulava em função das vicissitudes internas do valor da prata.

Quem dominava o sector comercial em Timor, era a SAPT (Sociedade

Agrícola, Pátria e Trabalho), criada por governador José Celestino da Silva, em 1897.

Um poderoso empreendimento como um Estado dentro do Estado, engrandece-se

pelas vastas plantações de café, borracha, etc., de gestão bem orientada por

homens de diversas especialidades, idos da Metrópole79. A seguir, estão os

chineses, habilidosos no comércio, têm ligações com Singapura, Macau,

Formosa, Hong Kong e China Pequim. Mesmo que obtivessem imensos lucros,

não os investiam em Timor, pareciam canalizados para os países de origem. É

raro ver os timorenses nos seus balcões e os ganhos sem sentido em Timor,

chamdos por oportunistas dado ao desconhecimento dos nativos a

mercantilizar 80.

Os governadores Celestino da Silva e Filomeno da Câmara, foram

figuras de dignidade representavam os antigos portugueses manter viva a

soberania lusa no Oriente. Desde tempos dos capitães-mores e ao primeiro

governador (António Coelho Guerreiro, 1701) aceite até ao penúltimo

governador da monarquia, a colónia encontrava-se numa onda de violência

interna, dfícil de a travar. Durante o percurso truculento entre reinos e

portugueses, a presença lusa estava seriamente nas definições de um novo

capítulo da história do império ultramarino, quer dizer, as Índias Orientais da

Holanda estavam em expectativas de ser novo beneficiário81.

O Teófilo Duarte ao começar as funções do governo verificou algo a correr mal,

facto que determinava a rebeldia e a indisciplina de funcionários públicos chegar a

colocar alguns governadores em desrespeito. Muitos destes terminavam as suas

missões sem resolver os ordenados dos funcionários. Deixando-os passar mal com as

famílias, e por último os governadores foram de vítima.

O presente governador, pelas suas reacções demonstravam uma atitude que

visasse a inversão da situação, desejando optar um plano que o fosse útil. Tal

78 Vaz, J. Ferraro, Moeda de Timor, Banco Nacional Ultramarino, Lisboa, 1964, p. 53; 79 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 217; 80 Thomaz, Luís Filipe, País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste, Fundação Oriente, 2008, p. 185; 81 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídio para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca - Agência Geral das Colónias, Lisboa, MCMXLIV (1944), p. 162;

46

intenção o leva organizar em constantes comunicações com os funcionários da

administração pública para obter uma certa rentabilidade. Para evitar um suposto

regresso de teatros indesejáveis, ocorridos em Cai Laco, Lautém, Lacló, Manufahi,

etc., o Teófilo Duarte decidiu formar os timorenses em verdadeiras tropas, inspirando-

os como principais detentores da estabilidade da colónia e a criarem em si a alma pelo

interesse militar. Nos comandos criados, chefiados por oficiais portugueses, cujos

vencimentos destes aumentados pela Metrópole a título de despesas de soberania. É

inteligente e com entusiasmo de melhorar o aparelho de defesa militar e a evitar mais

gastos pelos vindos da metrópole e doutras colónias.

A par do projecto, abre-se novas estradas a garantir rápidas comunicações

com os postos administrativos dos concelhos existentes em toda a colónia. De certo

modo esta visão em obras vai ao encontro dos interesses timorenses sobre produtor/

consumidor e assegurará os fundamentos da colonização 82.

Consigo leva um interesse pelo bem de Timor à semelhança das políticas

defendidas pelos Celestino da Silva e Filomeno da Câmara que esforçavam pela

pacificação do país enquanto os predecessores iniciavam, mas sem êxitos.

Aliás, não lhe faltava a ideia com que conduzia a população a amar o cultivo da

terra de várias espécies úteis a vida com sucesso, compensava. Determinou a isenção

de contribuições e impostos durante sete anos, tanto como outros produtos

conseguidos, com base do diploma legislativo de 1927 83.

A partir das pequenas visibilidades, também aqui a adaptação de algumas

práticas tornavam-se um estímulo à sociedade, achando-se útil o trabalho da terra. A

actividade clarificaria os segredos escondidos no solo, quando o homem é consciente

de si de o tratar bem, de certeza, teria respostas úteis. É também verdade, que alguns

governadores aparecem com dificuldades prosseguirem os projectos já começados

por anteriores, nas suas missões, sem pessoas de capacidade técnica e de

inteligência para dirigir as obras em começo ou por executar.

Por outro lado, como foi referido, a colonização em Timor não ocorreu como os

portugueses desejavam dada a falta dos europeus em números suficientes à contribuir

na substituição da situação existente por outra.

Mas também os pequenos passos conseguidos nos desenham de que não

assistimos à uma destruição lenta de confiança lusa na Oceania, contudo, é um

processo de lenta recuperação que vai ditar a contento português. É de sublinar o

papel fundamental dos missionários junto da elite nativa, construindo um edifício de

82 Idem, Ibidem., p. 169; 83 Idem. Ibidem., p. 173;

47

novas perspectivas possíveis, surgem como um momento de acentuada afirmação da

sua soberania.

Teófilo Duarte, procurou reduzir a complexidade de agrupamentos

populacionais muito dispersos, onde muitos deles, localizados nas montanhas – longe

de uma mobilização pública, mantinha um padrão ancestral em nada contribuía em

interesses de matriz públicos. Em oposição a indesejável dispersão, o governador

planeou dar estímulos a população em cada local conformar-se às ideias do

governante construir aldeias em sítios acessíveis. Soluções que vão envolver pouco a

pouco as massas em organizações colectivas e à necessidade de abrir escolas e o

hábito de cuidar saúde pública torna-se plano das prioridades.

O reordenamento de aldeias contribui a eficácia da fiscalização de fintas, a

mobilização populacional ao cultivo de terra e recrutamento de militares – factor

essencial ao encontro das aspirações portuguesas 84.

84 Gunn, Geiffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 220;

48

2. 2. O ensino e o papel da Igreja Católica

No quadro colonial, assiste-se a algumas reformas de índole administrativa sob

os êxitos fornecidos pelas missões, desde a acção missionária tivera a sua afirmação

em vários reinos da ilha. É a partir deste contexto que se acentua a relação colonial,

com uma intervenção mais próxima e eficaz, traduzida pelas escolas existentes em

todas as zonas de estações messionárias e de centros de catequese.

Os serviços dos sacerdotes espalhados no País dos Belos, floresciam e muitos

dos clérigos contribuiam nos assuntos pertencentes ao poder político, principalmente

na mediação entre os reinos suspeitos e o representante da Coroa. Neles, inculcando

novas ideias que os tornam perspectíveis, dialogando com eles sobre problema da

economia. Um factor essencial na tentativa de substituir o estado da situação social

degradante por algo conseguido do cultivo da terra, indústria, artesanato.

Desde as autoridades civis, militares e religiosas achavam-se entusiasmadas

por esses indícios, fazendo com que envolviam mais nativos a fazerem-se parte das

organizações públicas; participando nas tarefas de utilidade colectiva para melhorar os

centros administrativos, etc. Uma política escolhida em programas para executar os

planos que favoreçam a educação dos filhos das elites nativas, e estende-se aos

doutras famílias.

Importa-nos recodar, que no contexto colonial, até meados do século XVIII, não

há exppressão de movimentos independentistas. Há focos de revolta que

correspondem a problemas locais, não à expressão de uma posição teorizada de

confrontação política; não há espaço, por isso numa sociedade que assenta na

dependência e na diferença. Também os Estados não exercem até esta época uma

política de pressão administrativa e militar. A coroa é uma entidade distante e o poder

é exercido pelas elites coloniais, em autogoverno.

É também, nos finais desse século, que a monarquia dos Bragança assistiu a

nova política em Portugal, emergiu com a invasão francesa. Determinou a fuga da

corte real ao Brasil 85 e a crise política e económica assolou a sociedade portuguesa.

Seguida por guerras civis, culminavam com o triunfo da Revolução de 1820. A

monarquia absoluta substituida por monarquia constitucional de coloração liberal, por

o miguelismo derrotado abandonar o governo. Os homens de D. Pedro IV, sentiam-se

afirmados de seus ideais revolucionários, visavam tornar Portugal numa nova

sociologia. Um olhar severo a Igreja Católica, considerada instituição do Antigo

Regime. Os políticos do poder instalado, de cérebros a ferver pela extinção da

85 Wolcken, Petrick, O Império à deriva, a Corte portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821, Civilização Editora, 2007, p. 18;

49

influência eclesiática. No âmbito deste processo, moviam uma perseguição a clerezia

e a sua hierarquia; bens apoderados, os conventos convertidos para outros fins, de

carácter arreligioso.

Os serviços sociais a cargo da Igreja Católica são retirados, entregues a novas

instituições criadas pelo poder liberal86. A sociedade portuguesa dividia-se dada a

ruptura da Instituição secular, mais enraizada em termos da informação cristã como

património cultural. Contudo, a nova política seguida não se limitou apenas na

metrópole: abrangiu as colónias africanas e da Ásia 87.

Timor passava a assistir a expulsão de muitos cleros e religiosas,

naturalmente, eram responsáveis de conversões dos indígenas pelas quais

transmitiam os padrões civilizacionais. Da nova atitude política, aos progressos

conseguidos, terão consequências de maior retrocesso durante 40 anos 88.

As religiosas e missionários abandonram o País, os colégios que acolhiam os

filhos indígenas de ambos os sexos para aprender a ler e escrever, etc., tiveram que

obedecer as férias impostas. As casas rudimentares que os pertenciam entregues às

portas fechadas até ao estado de ruínas.

E Timor, ficou apenas com dois padres. À volta do desfalque fez sentir no

Estado da Índia, promover diálogos entre autoridades políticas e eclesiásticas de

forma criar portarias régias ao reenvio de padres à colónia 89.

A ordem Liberal de 1834 desanimou a conquista política dos governadores ora

nomeados dirigir a administração da província 90. Época embaraçosa às autoridades

lusas promoverem planos de interesse público, verificando que o clima insubmisso de

certos regulados, em processo de difícil sucesso. Os governantes políticos viam-se

enfraquecidos, localmente sem apoio idóneo, por tudo isso, e ainda, numa longividade

para obter uma imediata indicação das hierarquias de carácter vertical. Tudo indicava

que o futuro dirá por Timor, o que quer para o bem-estar e por quem esperava para o

valer à inversão das coisas.

86 Neto, Vitor, o Estado, a Igreja e a Sociedade em Portugal (1832-1911), INCM, 1998, pp. 46-50; 87 Rêgo, António Silva, O Padroado Português do Oriente, Esboço histórico, Lisboa, Agência das Colónias, 1940, p. 108; 88 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Notícias Editorial, p. 56; 89 Por determinação do governador –geral da Índia, os dirigentes eclesiáticos enviaram 4 padres, sendo o sacerdote timorense Gregório Maria Barreto, nomeado superior das missões, conforme Teixeira, Manuel (padre), Notícia Histórica das Missões de Timor, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau”, N.º 419, 1939, p. 190; 90 Fernandes, Francisco (padre), Das Missões de Timor, in “Revista de Estudos Luso-Asiáticos (Macau) N.º 1, Setembro 1992, pp. 16-17;

50

As políticas internas da Metrópole, em favor dos programas das respectivas

facções do mesmo movimento revolucionário, contribuíram o arrastamento da

reorganização das missões da colónia. Os que ficavam, cada vez às idades os

ameaçavam do fim das missões com eles naquela paragem do fim do mundo.

Porém, o governo liberal via-se dificultado nas suas realidades perante a

resistência popular no tocante a reorganização do aparelho eclesiástico no poder

instaurado. Facto que o movia aproximações com o Vaticano, no sentido de reaver

entendimentos entre Portugal e o Estado Pontífice, resultaram a Concordata de 1857,

assinada por D. Maria II, Rainha de Portugal e o Papa Pio IX 91. Sucesso que

reconquistará a tranquilidade e a compreensão entre os extremos do mesmo Portugal.

Ao nível das mudanças do regime monárquico com vista a regenerar a

sociedade portuguesa, entretanto o século XIX ainda representa o retrato negativo das

colónias, dado o analfabetismo mantém-se em topo. Havia escolas, em números

reduzíssimos, por obedecerem apenas aos locais onde funcionava a acção

missionária. Nos anos de 1850, viu-se surgir a fundação das escolas primárias nas

províncias, onde Timor mereceu uma 92.

O vazio missionário na colónia foi um dos temas mais preocupara alguns

quadrantes do poder régio, tanto que, a Diocese de Macau tomara decisões. Em

Março de 1877, o reitor do seminário, nomeado superior e vigário geral do distrito de

Timor, padre António Joaquim de Medeiros (futuro bispo de Macau) a visitar o

território. As suas informações tiveram eco imediato. Sete missionários, todos

europeus chegaram em Díli, a 2 de Junho do mesmo ano, e mais um sacerdote

chinês, padre Francisco Leang, natural de Cantão. Foram de uma barca de vela Trio

holandesa, fretada por governo.

A chegada, ficou organizado o quadro missionário por 10 padres, em Timor.

Um dos primeiros passos era a reorganização das missões, concretizado. Tendo os

mesmos, imediatamente colocados nas zonas, já traçadas por visitador, padre

Medeiros. Instruídos a cumprir os seus deveres conforme normas aprendidas no

Seminário de Sernache do Bom Jardim. Uma das prioridades do contacto directo com

a sociedade nativa, são impostos a aprenderem a língua local, para se entenderem

com os cristãos, catecúmenos, confissões e autoridades tradicionais, à vontade 93.

91 Azevedo, Carlos Moreira (direc.) Dicionário de História Religiosa de Portugal, CEH.UCP, Círculo Leitores, 2000, p. 404; 92 Por força do Decreto de 14 de Agosto de 1845: Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III. Das Revoluções Liberais aos nossos dias, Palas Editores, Lisboa, 1986, p. 197; 93 Goulart, Jaime (Bispo de Timor de 1945-1967), Reorganização das Missões de Timor: 1874-1878, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau“, n.º 423, 1939, pp. 854 -857;

51

Como foi dito, havia uma escola única de instrução primária, em Díli, sob a

responsabilidade do governo e, uma particular, dirigida por um antigo cabo das

companhias. Faltavam de tudo, sem livros, papéis e tinta para os professores.

Os problemas, constituíam-se um fenómeno lamentável na formação dos filhos

nativos e o superior das missões, padre António Joaquim Medeiros com os quais

tomou as medidas: logo posto, os missionários referidos, nos locais mencionados, o

mesmo superior ordenou-os abrirem as escolas a servirem os indígenas 94.

Entretanto, o vigário-geral do distrito de Timor, foi substituído por padre João

Gomes Ferreira, por esse fora nomeado bispo de Macau, em Março de 1885 95.

Contudo, este religioso, com nova postura, a sua preocupação se redobrava através

dos missionários, em serviço activo, na ilha, fizeram evoluir a missão e prestar apoios

de serviços da esfera governamental. Não lhes faltava a vontade de se aproximarem

dos régulos, em frequência, no sentido de criarem uma geografia humana de amizade

e de paz com estes e a autoridade colonial 96.

O bispo António Joaquim Medeiros, manteve as suas atenções de unidade com

o governo local, durante 24 anos de tempo, e foi ele o principal obreiro da

reconstrução das igrejas de Timor. Veio falecer a 7 de Janeiro de 1897, em Lahane,

Díli 97.

A começar reorganizar as missões, Timor passa a depender do bispo de

Macau, a partir de 1874. Cerca de cinco anos mais tarde, chegam em Díli, as

primeiras religiosas de Caridade Canossianas que fundam uma escola e um internato

para as meninas. Ano a seguir, aparecerá o primeiro colégio-internato para rapazes

em Lahane, Díli. Em 1903, é criado o Colégio masculino de Soibada por jesuítas,

chegados em Díli a 1900.

Precisamente, neste ano, as missões foram autorizadas superiormente a

obedecerem dois vicariatos, criados por decreto de 15 de Novembro do mesmo ano :

um, na parte Norte, com sede em Lahane. Ficará em poder dos missionários seculares

e outro, no lado Sul, cuja sede Soibada sob a administração dos jesuítas.

Administrativamente, ambos obedecem a Diocese de Macau 98.

94 Idem, Ibidem, p. 858; 95 Teixeira, Manuel (padre), Notícia Histórica das Missões de Timor, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau”, n.º 419, 1939, p. 208; 96 Idem, Ibidem, p. 211; 97 Idem, Ibidem, p. 215; 98 Idem, Ibidem, p. 215;

52

Perfeitamente, as missões têm já as suas organizações hierarquizadas, de

forma permitirem o funcionamento a abrir-se em leque, penetrando nos agrupamentos

populacionais a reavivar actos de fé, que perderam a assistência numa longa

temporada.

Porém, ultrapassada a crise dos efeitos liberais de 1834, em Timor, uma certa

estabilidade permite o desenvolvimento das missões, com a afirmação da crescente

criação de escolas 99. Díli, que seria o centro administrativo colonial, onde se

encontram as elites cultas do funcionalismo do governo. Crescem planos pela

reivindicação para aperfeiçoar o cultivo da terra para melhorar a economia ainda que

mantivesse instrumentos rudimentares, segurança das populações e outras obras.

As escolas se multiplicam à medida que se cresce o número missionário, elas,

a partida, serviram-se como bases embrionárias bem sucedidas. O que muda, o que é

novo, é o interesse em estudar ler, escrever e descobrir novas formas de vestir, viver e

conviver com o próximo. São sinais evidentes, em oposição a uma constante

manutenção das coisas ancestrais e do analfabetismo.

É um esforço para vencer preconceitos, é o caminhar para a adopção da

compreensão da sociedade local, que tem um carácter revolucionário uma vez que

valoriza o ser humano e a sua capacidade organizadora. São valores que difundem

rapidamente na sociedade timorense.

O ambiente político que reclamava pela extinção da arquitectura régia

constitucional não parava as suas lutas, no continente. Conquistava, mobilizava

adesões populares às ambições para substituir o regime monárquico, cada vez se

prenunciava, extremamente potencial.

O questionamento em curso, na sociedade portuguesa, se concretizou em

destronamento da Monarquia Constitucional100 em estado permanente por República,

a 5 de Outubro de 1910. Uma era que entra em luta pela mutação política para

desfazer os negócios dos poderes temporal e espiritual. Retira o reconhecimento do

estatuto da religião católica da Carta Constitucional. O novo rumo seguido pelos

actores da democracia e do republicanismo decidem substituir as acções religiosas

99 Costa, Luís (ex-padre timorense), O Relatório “A Igreja Católica e Timor-Leste”, 1988, p.2; 100 Os partidos em extremos – esquerda e direita não se entendiam tanto como o primeiro ministro era incapaz à solução política, e infelizmente o rei D. Carlos foi assassinado quando viajava de carruagem, no Terreiro do Paço, a 1 de Fevereiro de 1908: Ramos, Rui, João Franco e o fracasso do Reformismo (1884-1908, de ICS, de 2001, p. 169;

53

nos campos de assistência, sobretudo no ensino e educação. Em lugar, estarão as

instituições de novos instrumentos de inculcação que assumirão essas actividades101.

O tufão do novo regime, tornara-se, sentido em Timor português, pós os

missionários em alvo de perseguição – saídos da colónia, migraram para outras

regiões. Abandonaram as escolas, as missões sem continuidade.

A nova ordem ditou os 22 padres para 10, na colónia. As religiosas foram

obrigadas fechar as escolas ministradas e abandonar o país, onde se tornaram em

1923 (Luís Costa, Relatório, 1988, p. 2).

Em 1920, Macau e Timor terão o novo bispo nomeado, D. José da Costa

Nunes. Criou várias missões, construir Igrejas, fez existir a escola de professores

catequistas, e a escola de Artes e Ofícios. Os colégios missionários indo resultar

cursos de sacerdote para nativos, em Macau e na Metrópole.

O novo prelado visitara o país, concordava-se com os missionários lá em

serviço abosorver o Vicariato Geral da Costa Sul ou Contra-Costa com sede em

Soibada por Provisão de 15 de Setembro de 1924. Esta passará à categoria de

simples Missão Central. Uma solução obtida com vista a ter um único Vigário Geral

com sede em Lahane, Díli. Todas as missões da colónia são da sua dependência e

administrativamente, aquele submete-se ao bispo de Macau 102.

O relatório do mesmo prelado ao ministro das colónias conforme obra do padre

Manuel Teixeira, pinta-nos dizer até 1937, os missionários fundaram 46 escolas com

2970 alunos de ambos os sexos 103. Relatório que, aos nossos olhos, com o desvelar

do sucesso luso pela mão dos padres, ilustra de que forma um plano de actuação na

Oceania, se transformou numa irreversível presença cultural reconfiguradora das

categorias mentais do Ocidente europeu, em representações então conhecidas e

disseminadas.

Em termos vizinhos, geograficamente, deduzo eu, o acentuar cultural processa-

se pois em sentido diametralmente adverso ao que se acontecia noutro lado do

colosso, cujas Java, Sumatra, Kalimanta, Sulawessi, nestes o islamismo se abria de

leque cada vez mais forte, e a outras ilhas por aí fora. Pelo raciocínio de que nenhuma

abordagem do processo colonial seria completa sem tomar em consideração as

relações entre o poder político e a sociedade civil, particularmente, no caso de Timor

dos Belos o estatuto das missões católicas e a sua acção educadora e pastoral. Não

só na Oceania, noutras partes de soberania portuguesa, nos primeiros tempos de

101 Catroga, Fernando, O Republicanismo em Portugal da formação ao 5 de Outubro de 1910 «Estado Laico», Notícias Editorial, 2000, p. 204; 102 Teixera, Manuel, Notícia Histórica das Missões de Timor, in “Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau”, n.º 419, 1939, p.217; 103 Idem, Ibidem, p. 219;

54

colonização, a falta de pessoal régio a organização cabia aos missionários criar os

núcleos organizativos com vista a conduzir os indígenas em acções colectivas.

A entrada da política do Estado Novo do Império português, onde emerge a

figura do Dr. António Oliveira Salazar, como presidente do conselho de ministros.

Através do Acto Colonial de 1930, considera todas as colónias de África e de Ásia de

Soberania lusa Ultramar são do mesmo pé de igualdade perante a única autoridade

política. É neste espírito que o poder central entra em promoções pela prosperidade

económica das colónias como única forma de melhorar a vida das populações.

No quadro da gestão política, os governadores se sucedem em Timor, como

ocorriam em anteriores da I República. Cada um deles manifestava o seu interesse

pelo bem do país, usando as suas inteligências para o tornar em nível de qualidade, à

medida que indo melhorar as estruturas físicas administrativas. Logo em 1937,

depara-se com uma igreja construída, pela imponência da sua estrutura, em termos

formatos de uma catedral (anexo 2).

Impressionava as autoridades tanto nativas da época, inaugurada pelo

governador Álvaro Fontoura e por bispo de Macau e de Timor, D. José da Costa

Nunes. Evento que reunia grande massa popular de todos os estratos da contiguidade

Díli.

O mesmo governante, junto do ministro conseguiu especialista geodésico

deslocar-se à ilha colocar um marco, no pico do monte de Ramelau de cerca de 3000

metros, onde se inscreve a seguinte legenda:

Portugal

Alto Império que o Sol logo em nascente vê primeiro.

No mesmo píncaro, o governador contemplava as paisagens verdejantes, lá, a

colónia foi benzida e a todo o Império por um sacerdote, que se integrava nessa

jornada 104.

Anos a seguir surge melhorar a política sanitária, questão ocupada pelos

governadores a partir por major Álvaro Fontoura, à qual decidiu dividir o país em três

zonas com a repartição de Serviços de Saúde e o Hospital Principal com sede em Díli.

Funcionavam de tal forma a que o enclave de Oecusse não ficava excluída desta rede.

As descrições deixadas por governantes que cumpriram religiosamente a sua

missão na colónia, alegam imensas dificuldades de criar mais unidades de tratamento

sanitárias. Vendo as pessoas punidas por doenças de rapidez contagiosas, difícil

largá-las, invadiam famílias inteiras, dificultá-las a actividades producentes.

104 Castro, Gonçalo Pimenta de (coronel), Timor (Subsídios para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca. Agência Geral das Colónias., Lisboa, MCMXLIV, pp. 194 e 195;

55

Sob o peso insuportável em termos financeiros, o governo arriscava-se criar

um pavilhão de isolamento para mitigar a intensa tuberculose. Os serviços de

enfermaria se estendem para leste, oeste e central sul. Necessidades estas, geram o

curso para formação de enfermeiros, no futuro, assumirão as mesmas funções noutras

localidades que também merecerão 105.

O governo da República instaurado, aparecia com uma atitude reconhecível

para com as missões católicas, solicitando manter as suas missões no ensino e na

evangelização. O Estado as protege, paga os missionários professores, permiti-los

continuar em rumos de especialidade profissional e de sacerdócio junto da sociedade.

O ministro da colónia chegou criar o Estatuto Orgânico das Missões Católicas,

regulamentava os subsídios destinados as missões, apoiar os missionários na

contínua evangelização e civilização dos nativos, de acordo com o contexto do

estatuto estabelecido.

Na sequência, as escolas que eram orientadas por indígenas sob a nova

ordem da república, sem nenhuma rentabilidade resultava, associada a incapacidade

directiva de quem fiscalizava. Voltarão de novo confiar aos missionários com a

excepção da escola primária, em Díli, permanecendo na responsabidade do governo 106.

Muitos, terminados o curso de habilitação primária, sem postos onde os

colocar. São expeditos, contribuem nos serviços das missões. Como sendo uns,

formados na escola de catequistas, com aptidões inegáveis, e para obter uma vida

decente, o Estado não ignorava este sentimento, permitiu-os ensinar nas escolas do

interior, como monitores onde terão o ordenado - patacas e escudos.

As escolas vão sendo adaptar-se novas bases de função que se associa à

prática agrícola. Incentivar nos estudantes os valores de trabalho de terra, uma fonte

que garante a felicidade das pessoas.

Ainda o major Álvaro Fontoura, conseguiu fundar uma escola do nível pós-

primário. Aos que, porventura tivessem capacidade continuar pós o término de

instrução primária. Sob o propósito do Diploma Legislativo n.º 159, feito o Liceu. Em

honra do ministro das colónias a escola ficou designada: Colégio-Liceu Dr. Francisco

Machado 107. Os primeiros resultados desta escola iam sendo ocupar os postos altos

do funcionalismo público, entre os quais aspirante, adjunto administrativos, chefes do

postos, etc..

105 Idem, Ibidem, p. 201; 106 Idem, Ibidem, p. 203; 107 Idem, Ibidem, pp. 205-206;

56

2. 3. Autoridades tradicionais

O Timor dos Belos, na sua sociedade ancestral, assentava-se numa

organização de matriz feudal. No alto da hierarquia se encontravam posicionados os

responsáveis nativos, designadamente, datós/liurai/régulo (nobreza), de seguida, o

povo, a última base social, os escravos, prisioneiros de guerra dos vencidos.

O sistema social vinculava-se em regulados, que ao longo dos tempos,

assegurado por redes de parentesco, definido por laços matrimoniais. Na maioria dos

componentes, sendo um dos membros idóneos é considerado responsável, designado

por dató. Atribuído de autoridade em agir pela justiça e tomar o domínio de terra.

De uma cultura mais votada a guerra, um contra outro, não os permitira que

fossem adoptar outro padrão que os influesse melhorar-se de vida.

Desde que aceitavam a colonização portuguesa, os régulos tornavam-se um

forte aliado europeu. Com este, advogavam pelo interesse comum. As suas relações

se perpetuavam em sucessivas gerações, num longo período de cerca de cinco

séculos. Em resultado da boa vontade em viver a mesma história do lusitano europeu,

foram atribuídos por postos de oficialato e, tornando-se súbditos da Coroa portuguesa

com todos os reinos que os dependiam.

Os régulos sucedem-se por hereditariedade a governar o seu povo: de pais

para filhos primogénitos ou parentes mais próximos para que a morte de um pai, mãe,

tio não deixasse o lugar vago ou ocupado por alguém que não pertencesse deste

estrato. Tiveram o lugar cimeiro na sociedade, quando o poder colonial fora aceite

reconhecidamente de uma vez para sempre. Constituíam-se uma classe social mais

próxima da alta autoridade colonial. Em nome desta, transmitiam junto do seu povo os

propósitos portugueses, a ponto de os aceitar como norma de conduzir o seu destino;

modificar, realmente, o hábito de trabalhar, em horas determinadas e noutras, para se

descansarem recompor as energias esgotadas, nos tempos laborais, etc.

Rumo aberto, começaram o contacto directo com os europeus pelo interesse

de mercadorias de sândalo, mel e pimenta. O interesse inicial do Ocidente à essa

parte, tornara-se em interesse de poder político e de domínio, à medida que a sua

presença é admirada por nativos ser responsável pela inovação do que existira .

Os regulados têm a sua própria organização de segurança, consiste nos

moradores, em companhias. Dentre eles, um dos mais evoluídos, escolhidos como

comandante a dirigir as tarefas que são ligadas as orientações dos conselheiros e dos

próprios datós. É ele quem avalia as situações de ameaça vizinha e a tomar decisões

sobre os momentos de risco iminente.

57

Uma estrutura que tem os seus componentes: povoações ou agrupamentos

populacionais. Desde sempre, cada uma fornecia um certo número de pessoas ao

liurai/dató prestar serviços producentes e de correio, em sistema alternativo.

O modo de relações entre os liurais e os seus súbditos resistem longos

períodos seculares da administração colonial lusa até a nova ordem inspirada por 25

de Abril português, donde se desfizeram com seus privilégios de aristocracia em

esboroamento.

Tinham extensos terrenos e baldios, explorados pelas pessoas em favor dos

régulos. Anualmente, resultavam grandes quantidades de rendimentos à mesa e a

outras necessidades. Os seus bens crescem, o número de gados se multiplica de ano

para ano. Uma vida de aristocracia rural que torna o grupo, socialmente, diferente no

reino. O seu contacto manteve-se em frequência com as elites de poder colonial e de

cultura ocidental. O panorama social familiar, depressa se manifestara de forma

acentuadamente decente; os seus filhos são os primeiros conduzidos à descoberta da

cultura letrada, sucesso preconizado pelos primeiros governantes, pela mão dos

missionários.

O Timor, foi uma sociedade longamente fragmentária, desconhecia a noção de

uma unidade construída com o resto do seu mundo regional. Numa época, realmente,

faltava-lhe elites de consciência directiva para promover e organizar em torno de uma

perspectiva criadora em benefício da unicidade regional. Uma vaga de sem barreiras

que permitira aos ocidentais construir as suas empresas e a imprimirem imagens,

representações mentais do Homem europeu. Fizeram calar os senhores sultões e

datos.

Ao longo das guerras internas, a intervenção lusa era mal conduzida, às

confrontações prolongadas, anos a fio 108. Causavam massacres entre os extremos e

o pânico pesava nos europeus e em desespero.

Aliás, o povo é a fonte do sustento da nobreza, cultiva a terra, pagando imposto

e cumprindo várias obrigações, entre as quais cuidar das casas de residência do liurai,

guardar os animais. Nestas relações, ao povo é admitido cultivar a terra, no âmbito de

pagamento de imposto, o rai-ten (uma pequena parte do rendimento).

Para lá das relações sociais, Timor admite-se a poligamia, considerada sinal de

nobreza e distinção, pois o homem casado com várias esposas é considerado rico,

uma vez que teve posses pagar mais do que um dote, fazendo da poligamia dos

privilégios, os datós e os liurais. Nas regiões onde o saber ler, escrever e o catolicismo

influenciam, esta prática se vê desaparecendo.

108 Idem, Ibidem, p. 214;

58

Casos da organização da elite nativa, terminada a questão de insubmissão dos

reinos de Manufahi, a administração tomou uma política de ruptura na organização

tradicional. A potentados por resistência foram depostos de categorias, perdendo o

sistema hereditário de continuar na governação dos respectivos povos.

Em face das modificações ocorridas, emergem-se novas figuras que nas

situações críticas aliavam-se aos projectos de contra-ataque, promovidos pelos

governantes. Um dos reinos que se afastava das intenções manufahistas era o suco

de Suro, de D. Aleixo Corte-Real. Às forças sulistas não perdoavam os propósitos do

régulo de Ainaro a estar pelo lado das autoridades portuguesas. Avançava com toda a

força em direcção a este reino, assassinaram o comandante da região, destruindo

tudo o que encontrava no caminho, aprisionava civis, no intuíto de o subordinar à

autoridade de Manufahi.

Uma resposta imediata, mobilizada pelos comandantes de Suro sob a ordem

do Nai Cau, chefe principal de Suro, tio de D. Aleixo, que englobava os sucos mais

distantes em cooperação ao encontro dos referidos inimigos. Tiveram um combate

renhido, donde o D. Boaventura ficara vencido ordenara os seus homens regressarem

a Manufahi. As povoações de Ablai-Fu, Leo-Telu, Leo-Lima entraram em poder do

Suro.

Conhecida a fuga dos atacantes, o governo voltou a reorganizar as guarnições

de Ainaro e reforçar a defesa de seus sucos dos restantes rebeldes. As autoridades

lusas propuseram o suco de Suro fosse um regulado, à época pertencia a jurisdição

de Atsabe 109. Em recompensa da heroicidade, o comando militar ficará a funcionar em

Ainaro 110.

Era em épocas de 1911-12, campanhas de pacificação, que se descobrira

saber o Nai Sessu, pai do D. Aleixo Corte-Real, chefe principal suco de Suro-Craic,

por morte dele mais cedo o seu tio Nai-Cau quem assumiu a gestão administrativa

desse reino.

Na grande família de aristocracia do Suro, emerge um jovem, criado pela

época, mais tarde, o seu nome surge nas páginas da história colonial da II Guerra

Mundial. Desde jovem andava a colaborar com os militares, aprendia experiência em

como lidar com o destino do povo nas complexas circunstâncias.

As pressões preocupavam os tios abandonar a administração dos reinos, e que

fosse ele a assumir o poder. Colocando-se à frente, à medida que ia exercendo as

funções de régulo, ao mesmo tempo os seus inimigos jogavam uma política de

desprestígio a minar-lhe dos poderes psicológicos. Nele, o ódio se fez cevar,

109 Martinho, José Simões (capitão) Vida e Morte do Régulo Timorense D. Aleixo, Lisboa, 1947, pp. 5-7; 110 Idem, Ibidem, p. 8;

59

determinou a sua prisão, acusando-o ser mandato de assassinar uma família inteira,

possuidora de ouro e de prata.

Cumpriu meses de reclusão, em Díli, causou acesas discussões entre

testemunhas e juízes. Muitos reivindicaram pela sua inocência, até os missionários

pediram que o fosse posto em liberdade. O seu processo foi revisto a cargo de um

novo juíz.

Saído da prisão, renuncia o seu cargo de régulo junto das autoridades e

desejava no exílio o esquecimento das amarguras. Pedido rejeitado pelas autoridades,

de modo que continuava a exercer as funções de liurai. O mesmo concordava-se com

os governantes, mas queria governar de cabeça erguida, não aceitava que fosse

humilhado, acusado sem fundamentos 111.

Teve duas mulheres. Era gentio, pai de dois filhos da primeira esposa

chamados, Benajamin e Adriano, alunos dos padres. Converteu-se ao catolicismo em

1931. De seguida, casou-se catolicamente com a primeira esposa, Maria. A segunda,

após ter sido baptizada recolheu-se numa residência particular, na mesma vila de

Ainaro, pós estabelecido um acordo familiar.

A sua fidelidade com Portugal foi algo invulgar aos olhos das autoridades lusas.

Quando o governo do Estado Novo, realizara as festas coloniais no Porto, D. Aleixo

com sua esposa e filho Adriano no evento, ocorrido em 1937, representava os régulos

de Timor. Uma oportunidade que o permitiu confirmar a solidariedade de quantos que

passaram em missões na colónia, visitaram-o durante a estadia 112.

A população recebeu calorosamente o seu liurai de regresso. A sua

permanência no Portugal continental fez-lhe mitigar as amarguras que vivia. Admirava-

se muito pelas atenções de quantos quadrantes políticos e o mesmo manifestava-se

entusiasmado voltar um dia à Metrópole (anexo 3).

O próprio D. Aleixo, interessou-se muito pelo seu povo no desenvolvimento da

agricultura. Intensivou a cultura do café no reino. Constantemente, acompanhava os

trabalhadores na abertura de mais estradas. No seu regulado construíu enfermaria e

igreja (uma das segundas de Timor pela sua grandeza) (J. S. Martinho, 1947, p. 18).

A cooperação da nobreza nativa com a autoridade colonial no quadro da

reorganização do pós-guerra de Manufahi de 1911-12, o país voltou a registar algum

equilíbrio social. Confere novas prostas de projectos às populações na vida quotidiana,

em busca de uma possível prosperidade no futuro, como laboratório de regeneração

mental. E, ao nível do mútuo entendimento progressivo, havia outra tendência de

alguns europeus a ficarem por lá, a construir as próprias famílias com mulheres

111 Idem, Ibidem, pp. 15-16; 112 Idem, Ibidem, pp. 17-19;

60

indígenas. O novo espaço, permitia-lhes casar com as filhas dos régulos, datós e das

famílias letradas.

Uma rede social que consolidava as relações das duas comunidades, na

Oceania. Ao longo da história portuguesa, se confirmava na apetência do cultivo da

terra por alguns portugueses, em diferentes regiões do Timor-Leste. Opção seguida

por mais de dez, após terem sido desvinculados do funcionalismo. Tiveram

descendentes brancos e mestiços, ajudavam entusiasmar à adaptação do Ocidente,

além dos agentes oficiais113.

O Timor dos Belos, é uma paragem mais distante de todas as colónias de

Portugal. Nos primeiros períodos de fixação ao século inicial contemporâneo, os

poderes lusos encontravam-se numa posição seriamente titanizada. Ao esforço da

activa intervenção dos missionários em sentido comum no quadro de escolarização

dos filhos de chefes nativos, se ia dilatando, inverteu o estado das coisas em paz.

Produziu novos estratos sociais, desigandamente letrados, e às inspirações de

desagregação da sociedade tornar-se-á inexistente.

O crescimento de letrados na aristocracia tradicional, aos pais datós, é uma

nova preocupação. Sentido-se ameaçados de postura de poder, por os filhos terem a

escolha de corrida ao funcionalismo e ao serviço militar. Cada vez abandonam as

povoações rumo a pequena capital Díli ou aos centros administrativos dos concelhos

já evoluídos.

O descontentamento da classe nobre rural acentua-se, à medida que se sente

pela falta de sucessão, e sem ninguém credível familiar a prosseguir os cuidados dos

seus gados e terrenos. São únicas fontes para sustentar o agregado, porque um

pouco de terra agricultada e de posse de alguns animais, considerados riqueza desse

estrato social. Desconhecia a indústria e a fábrica que transformam as matérias-

primas em produtos de consumo.

Vive-se um tempo que apela à participação, no modelo de organização,

socialmente colectiva, que desenvolve a educação e a sensibilização de saber ler e

escrever, não só como forma de comunicação, mas como veículo para ensinar o que é

ser boa gente e bom súbdito. Procura-se construir a sociedade pacífica e exemplar.

É a tentativa de inculcar a noção de um destino comum, em torno de uma

identidade única com língua nacional unificadora para além dos dialectos.

Salazar chega ao poder em 1932, Portugal logo de um chefe, a surgir acima

das facções, dos partidos, dos movimentos. Aceite este princípio, está aberto o

caminho para o culto da personagem, para o mito da infalibilidade do líder, mesmo

113 Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca – Agência Geral das Colónias, Lisboa, MCMXLIV (1944), pp. 181-183;

61

para uma teocratização do regime, suportada pela propaganda. A vaga política

emergiu nas situações a seguir da queda da I República, falhada da sua política114, o

que se coloca é, perante a ruptura, reformular o contrato político com uma das suas

componentes.

O Estado português a quem o dirige, aprofunda a sua proximidade com a

Igreja, através de entendimentos, procurando legitimar-se também pela via religiosa.

Pelas relações assentes, enquanto vontade reguladora das relações entre o Estado e

Igreja.

Para o caso de Timor, o sonho imperial se afirmava dada a existência dos

missionários e religiosos, reforçados pelo acordo bilateral (Estado/Igreja) reconhecidos

na cooperação, desde os primeiros capitães-mores ,do século XVI.

A postura social afirmava-se, transmitida a ideia de uma cultura escrita, ser

ciente a este apelo revolucionário, no sentido de o reino não permanecer demasiado

alheio.

A mulher que pertencia a uma tradição reservatória da cultura oral na

sociedade indígena, agora, decide organizar as suas filhas povoar nas escolas abertas

pelas missões católicas e pelo Estado. Pouco a pouco o poder tradicional vê-se aceite

às opiniões e às propostas dos saídos das instruções primárias. A eficácia não é

imediata, mas é um passo.

Importa-se salientar que, a organização missionária foi fundamental para

assegurar os interesses portugueses, com uma igreja muitas vezes mais bem

organizada, via vicariato ou diocese, do que a Coroa. Naturalmente, é o paradigma

político a sobrepor-se ao paradigma tradicional. Privilegia-se a confiança política e o

controlo acrescido, no sentido de querer mudar o que é visto permanente.

É uma colónia cansada de lutas internas que tenta, desde o primeiro

governador nomeado, António Guerreiro Coelho, leva à paz os diferentes régulos em

conflito. Aos governadores em sucessivas missões, tentam negociações com todas as

nobrezas nativas à procura de entendimento. Foi como sabemos pelas descrições,

relativamente bem sucedidas, ainda que deixando algumas questões em aberto. Com

a entrada do Filomeno da Câmara, vemos que a paz e o entendimento tocam todos os

reinos, procurando-se construir um quadro normativo leste timorense. É um momento

importante, até porque acompanha o declínio das inspirações em euforia para marcar

fronteiras políticas, ou por simples descontentamento face a imposta cobrança de

fintas.

114 Rosas, Fernando, Pensamento e acção Política, Portugal Século XX (1890-1976), Ensaio Histórico, Notícias Editorial, 2004, p. 33;

62

63

A colónia, no seu panorama religioso, assiste-se o crescer dos convertidos, na

sequência da fundação da escola de professores-catequistas e do seminário à

formação dos sacerdotes nativos.

A própria evolução da acção missionária, em Timor, não poder ser ignorada a

sua capacidade de gerir administrativamente, independente da Diocese de Macau. O

que se torna evidente, pelo qual o bispo D. José Costa Nunes solicitou junto do

Vaticano para que o Vicariato de Díli elevasse à Diocese. À recém-criada foi nomeado

o primeiro Administrador Apostólico, padre Jaime Garcia Goutart, já ensinava na

colónia desde 1924 115.

Importa-nos recordar à época, que no quadro político contemporâneo, a

sociedade portuguesa ganhou uma nova sociologia. Uma vez assistira o ultimato

inglês, em 1890, as dissenções internas ignoravam como haviam de reconduzir o país

em estabilidade política 116. Movimentos republicano e socialista em oposição ao

estado monárquico lançavam os seus programas, visavam convencer as massas

populares para instaurar a república. Cada um deles era aplaudido pelas potências

internacionais conforme as ideologias mantidas no âmbito das cortes europeias face a

existência das forças mobilizadoras, evidentemente opostas. A crise financeira

contribuíu o desentendimento, a que os partidos vencedores no geverno se decorriam

em sucessivos desabamentos de funções 117. Por outro lado, as relações com antigos

aliados se mostravam em confianças dúbias. Percebiam a crise financeira que pesava

sobre Portugal desde da Campanha de Rossilhão (1793-1794) pelo lado espanhol 118,

Invasão francesa 119, durante a Revolução liberal e até a I República. Odiando a

dimensão geográfica em termos europeus, é um país minúsculo, detentor de muitas

colónias na África e na Ásia, mas é incapaz de manter a segurança dessas das

ameaças estrangeiras. O sonho dos mesmos ao desmembramento do império colonial

luso era agendado pelas potências. Restavam-lhes os momentos adequados para

concretizarem o acordo celebrado, secretamente por Inglaterra e Alemanha, em 1898.

Cada um tinha a certeza de se apoderar das colónias preconizadas em função de

115 Fernandes, Francisco (padre), Das Missões de Timor, in “Revista de Estudos Luso-Asiáticos (Macau) N.º 1, Setembro 1992, p. 18; 116 Teixeira, Nuno Severiano, O Ultimatum Inglês, Política externa e política interna no Portugal de 1890, Alfa, 1990, pp. 17ss; 117 Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III, desde os tempos mais antogos até à presidência do Sr. General Eanes, Palas Editores, Lisboa, 1986, p. 40; 118 Portugal combateu contra os franceses pelo lado espanhol, um apoio inútil: Silbert, Albert, Do Portugal de Antigo Regime ao Portugal Oitocentista, Livro Horizonte, 1981, p. 49; 119 Fuga da Corte Real ao Brasil levou consigo 200 milhões de cruzados e remessas de numerários durante a estadia, conforme Proença, Maria Cândida, A Independência do Brasil, Edições Colibri, 1999, p. 15;

64

empréstimo financeiro a Portugal, se vier precisá-lo para mitigar-se do peso de crise

económica, onde a colónia de Timor não estava alheio desse título de planos 120.

À amarga novidade foi reforçada a diplomacia externa no sentido de neutralizar

a questão sentida pelos quadrantes políticos como um acto de desrespeito ao direito

de soberania portuguesa, mas parecia sem ter eco em vista. O próprio rei D. Carlos

teve que manter contactos com as cortes europeias de confiança através de visitas.

Do qual esforço Lisboa receberá iguais visitas dos reis e chefes de estados da Europa,

em frequência.

Porém, para a época, todas as potências europeias se preocupavam consolidar

a segurança interna e a efectuar acordos aliados para enfrentar o breve eclodir da I

Guerra Mundial. Ao cruzamento de diplomacias intensificado ao nível de nações face a

crise do grande conflito, fez com que o acordo britânico/alemão ficara inoperante121.

Pós-I Grande Conflito, as autoridades coloniais na Oceania suspeitavam-se

dos aliados. De um momento para outro a colónia, na sua longividade, poderia ser

surpreendida por esses em invasão, sobretudo dos dois colossos ou doutros. Num

cenário imaginativo de ataque, Portugal não dispunha defesa militar de equipamentos

modernos para manter os seus interesses. Não ser minimizado do espírito difusor da

civilização do Ocidente em novos mundos descobertos, o poder central acreditou na

inteligência de conduzir a diplomacia e conseguir dos de desconfiança o entendimento

em organizações de cooperação multilaterais.

120 Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III, desde os tempos mais antogos até à presidência do Sr. General Eanes, Palas Editores, Lisboa, 1986, p. 41; 121 Idem, Ibidem. p. 41;

65

3. 1. A época de um olhar desdenhoso

A era dos europeus à corrida pelo interesse mercantil na Ásia, os portugueses

descobriram o Timor, mantinha o seu hábito ou a herança do passado em termos da

economia da sociedade. Praticamente vivia da agricultura, da criação de animais, e

com apoio dos produtos florestais. Além destes, os timores ainda criavam hortas para

perpetuar o cultivo de tubérculos, tanto como cereais de sequeiro: arroz e milho, nos

processos de várzea irrigada e hortas queimadas; praticava a domesticação de

animais como: o cão, o gato, o porco, a galinha, a cabra, o cavalo e o búfalo. No que

se refere ao grupo animal, o búfalo é considerado no lugar cimeiro, pela função que

desempenha na economia indígena – constitui-se o símbolo de riqueza e prestígio,

sendo utilizado em ocasiões importantes da vida do povo; o cavalo é outro animal

considerado do autóctone, ajuda o homem em viagens distantes e no transporte de

artigos comerciáveis aos centros de permuta (bazares), e, depois da colheita de nêli, é

ele responsável pela mudança deste produto da várzea para a aldeia. Já os gados

caprino, ovino e suino são fundamentais na economia de subsistência, constituindo a

base da alimentação em dias vulgares, tal como aves de capoeira, estando o gado

bovino a incrementar-se.

A pesca, por seu lado, uma actividade, que poderia fornecer grande parte da

alimentação de que o timorense mais precisa, é apenas praticada por reduzidas

populações da beira-mar e utiliza processos elementares: a arpoação do peixe nos

baixios e praias do litoral, a caça submarina praticada pelos naturais da ilha de Ataúro

e a pesca à rede e de armadilha.

Nas praias de pequena profundidade, pratica-se a pescaria em grandes cercos

e, quando a maré vaza, o peixe, detido nos corais pelo abaixamento das águas, é

facilmente arpoado ou apanhado à rede. A pesca de armadilha é realizada com

grandes cestos cilíndricos, tecidos de rota e de bambu, que têm no fundo uma

abertura circular, e são lançados ao longo do litoral. Os cestos ficam presos ao fundo

do mar por pesadas pedras e são referenciados a um ponto conhecido.

Há outro tipo de pesca, pratica-se nas ribeiras é de carácter colectivo, aí

intervindo quase toda a população válida do aldeiamento, homens, mulheres e

crianças. No enclave de Oecusse utilizam-se dois métodos, um na época das chuvas

e outro durante a estação seca. No primeiro caso, quando a ribeira é cheia de água,

alguns pescadores vão à foz desobstruir a saída das águas, e estas baixam-se de

nível, iniciando-se a pesca imediatamente. O outro método consiste em colocar

estacaria, atravessando a ribeira em dois pontos, não muito afastados. Dificulta-se a

fuga do peixe, que é facilmente arpoado ou apanhado à rede. As mulheres utilizam a

66

nere, uma rede cónica presa, na base, a uma cana dobrada em forma circular que, por

sua vez, se liga a uma vara de bambu flexível. Os homens empregam uma rede maior

e chumbada, de forma circular. Estas redes são lançadas em locais onde os homens

têm pé e, depois de aprisionarem o peixe, são puxadas para terra.

Em todo o caso, a pesca é uma das fontes da economia de qualquer país,

desenvolvido ou subdesenvolvido, e quando referindo-se a Timor, a sua importância é

praticamente sem expressão, nula. Três anos antes do 25 de Abril registava-se cerca

de 23 embarcações, a sua actividade apresentava resultados de 70 toneladas em

1968, mas vinha perdendo a quantidade de captura, anualmente, até resultar-se

apenas 21, 5, em 1972. Esta última captura em consumo médio para cada habitante

estimava-se 40 gramas anuais (L.F. Thomaz, País dos Belos, p. 174).

Únicos produtos no comércio, exportados para o exterior são o café e a copra,

mais conhecidos na colónia, após ter assistido a decadência do sândalo.

Para o uso doméstico utilizam esteiras, feitas de folhas de palmeiras para se

dormirem, e servirem-se de cortinas para a divisão de quartos; fábrica de cestarias –

cestos para guardar roupas, chapéus de folhas de akadiru (planta onde se extrai o

tuaka, depois de ser destilado sai tua-sabu = aguardente) para se protegerem do sol,

açafates para usar na cozinha e joirar arroz, etc.; inventam o fabrico rudimentar de

metais como ouro, prata, para adorno das mulheres e homens nativas; olarias –

panelas, pratos, canecas de barro.

Internamente, os transportes terrestres, são de rede viária. O estado de

construção física das estradas não dispõe condições favoráveis a circulação regular.

Nenhuma é asfaltada, e durante a chuva, os cortes são facilmentes se aconteçam. As

ribeiras mais conhecidas em Timor-Leste, são Loes e Lacló, sem pontes e não são

navegáveis. As inturrupções de circulações de transportes ocorrem frequentemente

em tempos de chuva. Provoca constantes desgastes nas viaturas, impõe-se a lenta

comunicação no território... Havia o navio “Arbiru” assegurava a navegação de

cabotagem, à volta da ilha, permitia algum contacto comercial com províncias

indonésias mais próximas, Singapura, e em Abril de 1973 deu-se o naufrágio. Deste

episódio, ficaram duas barcaças “Loes e Comoro” a prestarem algum serviço de

navegação até à ocupação das forças militares da R.I.

Há cataratas de água, que podem produzir energias eléctricas a sustentar toda

a ilha leste timorense. Esta hipótese até agora ainda não houve um estudo adequado

para empreender a construção de uma barragem/energia hidráulica.

É uma região do Sueste da Ásia, de uma característica geograficamente

curiosa ao turismo. Uma hipótese que entra no processo da economia do país,

infelizmente falta-lhe as infraestruturas físicas: hoteleiras em condições, alojamentos,

67

assistência médica, transportes; vias de rápido acesso aos locais, procurados pelos

turistas.

Como tendo já citado, a sociedade timorense, desde século XVI, os primeiros

portugueses descobriram saber e a descreviam, tinha a sua religião animista, ignorava

a escrita. Desconhecia a existência doutras sociedades além de Timor. Vivia com a

inexistência de navegação para adquirir comunicações com as grandes rotas

marítimas, percorridas pelas diferentes sociedades de tendências mercantis,

originárias de várias continentalidades (Ásia, África, Europa, América).

No seu espaço fechado sobre si própria, embora não tivesse a noção de uma

mudança no futuro, mas acreditaria na experiência do outro trazida, através de

fundações de escolas e de inculcações de novos ideais, o indígena como ser humano

acharia possível estar noutro nível de vida.

Após a chamada Guerra de Manufahi de 1912-1913, o retrato social da colónia

tornara-se aquilo que os portugueses esperavam, isto é, o clima de consolidação de

amizades entre as duas comunidades apontava para o único rumo de se prosperarem.

Esperando que o poder da Metrópole cumpra a sua parte de honra de soberania a

pronunciar uma política que tenda a desenvolver no quadro da economia do país. Já

que a ilha mantinha a sua natureza de produção agrícola de instrumentos

rudimentares, sem características transformadoras. O solo é útil a agricultura. Há

matérias-primas sem transformação em produtos de bens; aos poços minerais, a

inexistência de formação adequada dos seus agentes para gerir a sua exploração, ou

podia começá-la pelo Estado português para melhorar a agricultura por meios de

tecnologia moderna. Não quer dizer, que uma vez iniciasse tudo se resultasse de

imediato a eficácia, mas é um passo a começar.

Os anos passam com novas gerações a encontrarem-se com novos

conhecimentos científicos. A vida da sociedade se manifestava a mesma imagem do

seu quotidiano. Outros olhavam a ilha com desprezo e considerando-a modorra. Os

seus cérebros jogavam em secretismo político para aí um suposto funcionamento das

suas empresas. Estas novidades apareciam desqualificar o prestígio e o direito à

identidade e soberania portuguesas. As chancelarias estavam obcecadas de moral,

sobretudo dos tradicionais aliados. Umas províncias na sua agenda, onde os E.U.A.

preferia os Açores, como base militar do seu comando de estratégia 122.

Naturalmente, o Timorense, em pessoa, faltava-lhe qualidade cientificamente

conhecida à época, desconhecia os rumores decorridos à volta do seu destino. O seu

futuro era das propostas formuladdas por locutores desconhecidos, em políticas de

122 Cidade, Hernâni, História de Portugal IV – De D. João VI aos nossos dias, Lello & Irmão, 1946,,p. 90;

68

silêncio, ignoravam os nativos em envolvimento ao diálogo e opiniões ou solicitarem

seus pareceres.

Importa-nos afirmar, o próprio desconhecimento timorense das novas regras

científicas é sinónimo de se permanecer na actividade económica rural e tradicional.

Há famílias que têm criação de animais, produtores de leite, mas ignoravam a fábrica

de queijo e de manteiga. A inexistência de regras é impraticável o armazenamento de

produtos agrícolas. O que consegue anualmente do trabalho da terra, julga-se

suficiente para assegurar a mesa de um agregado familiar durante o ano em curso.

Vende o que sobrar; muitas vezes faz esta escolha sem ter um plano racionalizado,

vende-se tudo e ficar sem nada, e assim, surge o apertar do cinto. Recorre-se as

folhas, os frutos silvestres, desde os antepassados souberam aproveitar-se da sua

utilidade na alimentação humana.

A par deste fenómeno marcadamente na vida económica no seu modo

repetitivo, o outro lado indonésio se cresce rapidamente a população letrada por

desenvolvimento da educação. Todavia, de ano para ano, nos sucos se vêem os

jovens timorenses, terminados a instrução primária, primeiro ciclo preparatório, do

comércio e industrial, liceu e do seminário, provenientes da aristocracia rural. A

inexistência de escritórios de empresas, notariados, particulares que os possam valer

algo de actividade prática remunerada, à tentativa de sortes da pós-formação tenda

forçosamente optar concorrências aos serviços da administração pública e militar, se o

Estado porventura, criasse novos lugares.

No funcionalismo público, alguns chegam a ascender ao quadro médio e

inferior, os quadros superiores são detidos pelos europeus, goeses e cabo-verdianos.

Aqui está a formação da “elite timorense”, mostra praticamente um aspecto

prejudicial dada a tendência para a formação literária, e mais vocacionada a

burocracia. Não enquadra no campo técnico, um estímulo que a leva inculcar-se do

que se diz da Europa. Um ensino retira a realidade contextual do Timor e que nada

contribui para o bem da sociedade no quadro da prosperidade material e mental. Um

novo estrato social, se distancia da grande massa, tornando-se de uma postura

culturalmente inútil 123.

No que concerne ao panorama sócio-político, na colónia não se vê um estrato

social, manifestamente predominante. Na maioria das regiões o predomínio continua a

pertencer a nobreza tradicional, as suas comunicações são limitadas. A afirmação

desta personalidade é apenas marcada conforme a posse de subsistência económica

nos pequenos agregados familiares, exclusivamente em quadros locais. O seu

123 Thomaz, Luís Ferreira Reis, « O Problema económico de Timor », in Revista Militar, ano 26.º do II século, n.º 8/9, Agosto-Serembro de 1974, p. 403;

69

contacto com altas figuras da administração central do país, revela-se sem expressão

e nem ifluência de peso. É desligada da vida pública, fechada sobre si mesma.

Ao nível da imagem social, registam-se, naturalmente dois estratos,

significativamente letrados em polarização na capital Díli: os chineses e os letrados.

Os primeiros detêm o poder de comércio, homens monetarizados em toda a Província,

lutando exclusivamente pela evolução económica em proveito seu; os letrados ou

segundos, praticamente são agentes da administração pública. É neste quadro, a

administração portuguesa testemunha a fronteira do poder económico do político sob

a autoridade tutelar da Província ao governo da Metrópole.

Mas aqui, a referida separação explica simplesmente as funções de domínio

sectorial, em parte, o desconhecimento dos escolarizados face a vida económica, ao

impulso criativo de iniciativa é lhes inexistente. Numa tendência a funções públicas,

em ambientes totalmente fechados 124.

Na Metrópole, o acontecer do 28 de Maio de 1926, permitiu a mudança de

política com todas as figuras do governo central, esperava-se o novo indicador ao

nível da soberania ultramarina se desse em visibilidade. E, em Julho de 1932, o

professor da Universidade de Coimbra, Dr. António de Oliveira Salazar que já ocupava

umas pastas ministeriais, é coroado presidente do conselho de ministros. Toma novas

decisões políticas face a remodelação das instituições públicas seguiddas pela I

República 125.

Salazar percebia a sociedade portuguesa ainda se encontrava em divisões

internas, sobre relações com o Vaticano, desfeitas pela lei da separação de 1911126,

questões que os seus antecessores deixavam em aberto. Teve que começar em

negociações com figuras da Cúria Romana para restaurar as relações bilaterais, a

principiar de Lisboa com a hierarquia eclesiástica interna. As conversações se

decorriam em anos, causavam irritações, mas o Estado Novo conseguiu finalmente o

mútuo acordo para regular a vontade de ambas as entidades (Portuguesa e Vaticana),

a celebrar a chamada Concordata de 1940, ocorrido em Maio do mesmo ano127.

Além do pacto, os dois Estados assinaram o Acordo Missionário que terá por

objectivo na regulação das relações entre Estado e Igreja, na vida religiosa no domínio

português ultramarino 128.

124 Idem, Ibidem, p. 405; 125 Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, Vol. III, desde os tempos mais antogos até à presidência do Sr. General Eanes, Palas Editores, Lisboa, 1986, pp. 372 ss; 126 Ferreira, Manuel de Pinho, A Igreja e o Estado Novo na obra de D. António Ferreira Gomes, Gomes Fundação SPES, 2004, p. 119; 127 Idem, Ibidem, pp. 169 ss; 128 Carvalho, José António Ribeiro, A Concordata e o acordo missionário de Salazar, Occidentalis, 2008, p. 132;

70

No além-mar desenvolvem-se projectos escolares de baixo investimento estatal

nas áreas urbanas com forte presença de colonos, deixando – ao abrigo do Estatuto

Missionário, ao cuidado das missões católicas o ensino especialmente destinado aos

indígenas. Neste panorama, Timor-Leste situa-se nos extremos: só muito tardiamente

mereceu alguma atenção. Intensamente registado por analfabetismo incomparável.

Escolas existiam apenas nas vilas e na capital, longe dos sítios povoados.

Funcionavam com pouco material didáctico. Muitos professores eram de má qualidade

estarem a frente dos alunos. Uns nem sequer acabavam a instrução primária

completa. Usavam os mesmos livros, enviados da Metrópole129. Para além do

programa de ensino habitual, incluía o ensino moral e religião católica; aulas de

música e ginástica. Partilhava a mesma organização da Mocidade Portuguesa.

Pelo menos uns anos antes da transição do Estado Novo a Democracia, os

professores de domínio público e de missões, nalgumas escolas eram

impressionantes: alunos premiados por chicotes, rotas, palmatórias pelos docentes. O

método, fez com que, muitos nativos não concluíam o ensino primário (4.ª classe),

sobretudo das escolas do interior. Já nesta situação que era, as relações entre pais de

alunos e professores pintavam-se escassas, quase inexistentes à diálogos.

Analfabetos da sua maioria para além do ambiente rude, eram alheios do problema de

ensino; outros suportavam acabá-lo, as qualidades eram nulas. Voltavam aos seus

aldeamentos, no seio familiar, exibiam o seu português em verbos infinitos. De entre

estas que se notavam de boa qualidade na colónia, eram aquelas ministradas por

missionários e pelas congregações femininas, em regime internato - colégios. Nestes

geralmente, se encontravam filhos de elites rurais, dos funcionários

públicos/comerciantes, militares, europeus em missão de serviço. Tinham o seu

programa muito diferente do público e de elevada propina, paga mensamente.

Entretanto, a grande massa descobrira a utilidade de que os seus filhos deviam

ter esta oportunidade, mas sem escolas a funcionarem nos seus sucos e povoações.

O sentimento de direito é visto como algo de todos, suscita reivindicações junto das

autoridades administrativas, no sentido de ser merecida. Era difícil uma resposta

imediata dos governantes locais, dada a falta de pessoas qualificadas. Entretanto, o

Estado fundou uma escola com vista a formar os professores de duração de dois

anos, designados professores do Posto Escolar a ensinarem a 4.ª classe. O curso não

tinha equiparação para efeitos do emprego público, habilitados para o ensino embora

fossem as mesmas qualidades para outras funções públicas; para pré-primária a 2.ª

129 Augusto C. Pires de Lima, Américo P. de Lima, “Leitura para o E.P. IV classe”, Porto Editora dos Autores, 1961 de 140 p; Manuel Sultil, Cruz Filipe, Faria Artur, Gil Mendonça, “Livro de IV classe Ensino P. Elementar” Livraria Sá da Costa, Editora, Lisboa, 1942-43;

71

classe, eram aqueles que concluíram a instrução primária. Eram todos submetidos a

um concurso prévio, em regra, organizado pelos serviços de educação provincial.

O ensino, pelos vistos, fora defendido no quadro do Estado Novo para

abranger a todos os filhos nativos, mas era difícil encontrar alguns que saibam ler,

escrever nos povoados mais recônditos, mesmo que fosse já nos finais dos anos 50...

As escolas mais conhecidas de topo, na colónia, eram o Liceu “Dr. Francisco

Machado” de 6.º a 7.º Ano antigo, em Díli 130, e o Seminário dos jesuitas com sede em

Dare, 10 km a sul de Díli. Este último, não oferecia grande acesso, por serem as

propinas elevadas e as regras eram muito diferentes e rígidas, mesmo para uns que lá

andassem para concluir o curso, às vezes, ficavam a meio caminho; a seguir, eram o

de preparatório do secundário (2 anos) e uma de técnica e industrial (3.º a 5.º Ano);

uma de profissional para 3 anos, sob a orientação directa dos padres salesianos, em

Fatumaka/Baucau.

Não eram apenas estas dificuldades. Havia outras como, transportes entre

regiões/concelhos eram poucos, estradas não favoreciam ligações entre zonas

habitadas a esses sectores vitais. Nos aldeamentos mais distantes, os alunos tinham

que sair as 03 horas de manhã, percorrendo 5 a 7 km pelos atalhos fora para

chegarem a hora habitual de aulas; mal vestidos, descalços; à assistência médica era

rara. Alguém ficar doente estaria ao cuidado dos pais em tratamentos tradicionais, e

nem todos estes cuidados eram felizes. Como admitia a regra de chicotes, também

existia em todas as escolas alunos fugitivos mais alarmantes e tímidos, nem sequer

voltavam as aulas à vontade.

A maioria das escolas, mais afastadas das vilas eram de condições péssimas:

carteiras e bancos não chegavam para todos; quadro preto, por vezes faltava giz; aos

alunos pré-primários um caixote um pouco rectangular, enchido de areia fina, posto à

disposição para aprender a escrever com o dedo indicador o “a b c e 1 2 3 ou

vogais”.

As condições sociais eram péssimas, praticamente agarrada a actividade

agrícola, tipicamente tradicional, longe de uma prática tecnicamente moderna. Não

havia formação profissional que dispusesse pessoal adequado a responsabilizar pelos

sectores vitais, nomeadamente na produção económica. As instalações públicas eram

chefiadas por goeses, cabo-verdianos para além dos portugueses.

Nos postos administrativos, assistiam-se os administradores de postos do

interior, eram alguns militares idos da metrópole, de instrução de 1.ª e 2.ª classes,

130 O nome do Colégio-Liceu designa a justa homenagem ao Senhor Ministro das Colónias: Castro, Gonçalo Pimenta de (Coronel), Timor (Subsídios para a sua história), Divisão de Publicações e Biblioteca. Agência Geral das Colónias, Lisboa – MCMXLIV (1944), p. 206;

72

findo o serviço militar na colónia. Às vezes chegavam de ler com dificuldade o que

escreveram ontem, como se decifrassem letras de paleografia, auxiliados por nativos

de escolarização primária, 4.ª classe.

A colónia nunca teve bons números de formação adequada para

responsabilizar os momentos decisivos, afirmarmando-se na liderança directiva ao

serviço da consciência colectiva; ou propostos na arena internacional a promover

entendimentos de solidariedade como ensaio para que a imagem do país pudesse ser

conhecida.

No aspecto de ensino, muitos se singravam nos estudos, para isso, alguém

que os autorizava a sair do país, deslumbrados com os do exterior, e existiam uns,

inexistia o regresso. Se voltassem nada dispunha para os empregá-los, uma vez,

vagas dos serviços de administração provincial já ocupadas pelos idos do exterior. O

Estado vê-lo pela longividade, pela falta de apoio material e a escassa presença dos

europeus e para a colónia ficara imolada perante as sucessivas missões de

governadores, enviados pela Metrópole. Ainda para mais, encolhia-se na sua natural

singularidade perante a própria geografia, dadas as histórias ocidentais, o Timor dos

Belos muda de continentalidade ao sabor de um rumo políticamente cultural 131.

A tamanha situação, aos olhos de alguns à soberania portuguesa era

incompensável, fazia subir a ansiedade nas capitais dos vizinhos, ansiedade que era

aproveitada pelos políticos, nomeadamente através da opinião pública por via de

imprensa e de estratégia132. E sabemos, a Indonésia do pós uns anos da sua

Independência da Holanda, realizara uma conferência em Bandung, em Maio de 1955.

Logo na sessão de abertura, no discurso do presidente Sukarno indonésio realçava

que os países do Sudeste da Ásia deveriam estar livres dos poderes europeus 133.

Afirmava que o “Movimento Não Alinhado” era a própria força que visava lutar pelo

desafogamento dos países afro-asiáticos dos poderes coloniais 134.

131 Barata, Filipe Themudo (Governador de Timor de 1959/1963), Timor contemporâneo. Da primeira ameaça indonésia ao nascer de uma nação, Equilíbrio Editorial, Lda. Edições de Qualidade, 1998, p. 14; 132 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 31ss; 133 Barata, Filipe Themudo (Governador de Timor de 1959/1963), Timor contemporâneo. Da primeira ameaça indonésia ao nascer de uma nação, Equilíbrio Editorial, Lda. Edições de Qualidade, 1998, pp. 15-16; 134 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 76-78;

73

3. 2. Portugal e os dois vizinhos

Dentre as potências coloniais na Ásia Sueste, Portugal era uma daquelas que

manteve a sua soberania em Timor-Leste mais de quatro séculos. Foi a permanência

feita pela persuasão e não pelo poder das armas 135.

Relativamente a política lusa na Oceania, o governo de Lisboa manteve boas

relações com a Austrália e Indonésia. Os mesmos agiam pelo entendimento, no

sentido de se afirmarem mutuamente em amizades de entre Estados. Dele decorriam

diálogos, trocavam missões consulares e diplomáticas a representar cada um a sua

honra de nação soberana junto das capitais amigas.

Quer Austrália como Indonésia foram todas de domínio ocidental europeu, a

partir das épocas em que a Europa moderna se lançava em busca de uma nova vida,

nas regiões da Ásia: a primeira, na sequência da descoberta dos portugueses antes

da chegada de alguns holandeses, de seguida, fora ocupada pelos britânicos sob

chefia do capitão James Cook, a parte leste continental - ocupando Nova Gales do

Sul, em 1770. A ocupação inglesa multiplicara colónias, mas esta opção abriu portas

aos migrantes doutros países, onde o caldeirão de várias origens humanas

contribuiram as colónias em desenvolvimento económico. A Nova Gales do Sul, foi o

primeiro centro de milhares prisioneiros, enviados pelo governo londrino. A presença

não era inútil à economia. Progrediu-se pouco a pouco até que a Austrália tornara-se

de população, maioritariamente branca, governada por autoridades locais em nome da

coroa britânica. A sua evolução determinou as colónias serem unidas em federação a

adquirir um governo próprio e a coroa, representada por um governador-geral 136. Ao

longo dos tempos, os seus cidadãos nunca tiveram convivência com os timorenses.

Naturalmente, dada a estrada marítima fez com que inexistissem as proximidades.

Havia ligações bilaterais, mas existia a nível dos políticos de poder colonial

metropolitano; a Indonésia, igualmente vivia sob o domínio holandês desde 1602. Não

foi o Estado neerlandês quem estendeu as suas influências. Foi dita ocupá-la por

interesses comerciais – Companhia Holandesa das Índias Orientais/VOC 137. A partir

desta posição afirmada, expulsou os portugueses e espanhóis das suas posições. Os

indonésios sentiam-se privados de direito, quando a VOC. tornara-se de poder polítco

colonial. O descontentamento mobilizou, captou o colectivo, e a ideia de consciência

135 Estudos em homenagem ao Professor Adriano Moreira, Vol. I, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 1995, p. 205. 136 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 55; 137 Idem, Ibidem, p. 321;

74

nacional gerou a elite liderança. A sociedade indonésia passara em organizações

associativas em oposição ao regime holandês, a partir da existência do Partido

Comunista Indonésio (PKI), em 1920138. Também a história não nos descreve as

relações entre Timor dos Belos com a gigantesca Indonésia.

A diferença entre três povos pode-nos explicar a realidade existente: Timor

recebe educação, cultura cristã romana e língua portuguesa; Indonésia, por sua vez,

colonizada por Holanda, mas de língua jawa (bahasa indonésia) e de religião

muçulmana de percentagem estrondosa, e a Austrália, de uma postura sob a

influência religiosamente protestante, na maioria da população e de língua inglesa.

Ligada directamente a uma nação mais evoluída no quadro de disposições técnicas e

indústriais, responsáveis de uma economia em ascensão progressiva 139.

As diversas inspirações culturais e materiais faziam-se de uns poderosos que

outros, chegando a ignorar a existência dos pequenos, para o caso de Timor-Leste.

Nesta ordem de presença, somos forçados a perceber o andar da história, influiu

repercutir no factor humano tendente a singularidade geográfica do pedaço leste da

Insulíndia. Também já em séculos, que a metade ilha se construíra a pedrinha no

sapato de muitos, por riquezas escondidas, a colónia, naturalmente, dispõe 140.

Internamente, as autoridades tradicionais e a nova classe letrada, não se

representavam algo ameaçador que pressupusesse desmoronar o poder colonial.

Timor via-se livre das políticas perturbadoras do passado, por outras palavras, a

sociedade local era cada vez sensível aos projectos que o governo entendesse

implementar. Também se lembrava o Timor dos Belos era o espaço de duas

comunidades, exemplar de um oásis de paz no Extremo Oriente, afirmava o

Presidente da Academia, Joaquim Veríssimo Serrão 141.

Todo o cenário desejado, dada a falta da vontade do poder de soberania, o

país arrastava-se, assim, em pobreza. O governo local continuava a exercer o seu

papel executivo segundo as possibilidades da província e mantendo o sonho de uma

mudança no futuro.

Um governador que lá chegasse iniciar a sua missão, a política principal da sua

agenda era tentar minimizar o atraso. Alguns começavam a cultura do café, mais

intensiva, dos quais, o governador José Celestino da Silva criou uma companhia

138 Silva, Lurdes Marques, Descolonização, Nacionalismo e Separatismo no Sudeste Asiático “os casos da Indonésia e Timor-Leste”, Lusotopie, 2000, p. 362; 139 Beauchamp, Chantal, Revolução Industrial e Crescimento Económico no séc. XIX, Edições 70, 1998, pp. 45 ss; 140 Carvalho, Manuel de Abreu Ferreira de (governador), Relatório dos acontecimentos de Timor, Lisboa – Imprensa Nacional, 1947, p. 25; 141 Bessa, Carlos, A Libertação de Timor na II Guerra Mundial (Importância dos Açores para os nteresses dos EUA), Lisboa, MCMXCII (1992), P. 7;

75

S.A.P.T. a promover o crescimento económico timorense. Desde 1910, a entidade

empregadora empregava a força humana no total 6 mil pessoas a pôr em

funcionamento as várias actividades da composição empresarial 142. A companhia teve

sócios internacionais, além de admitir naturais e portugueses, havia cinco nipões: três

trabalhvam no escritório da SAPT e dois eram técnicos algodoeiros. Tiveram o

insucesso do projecto algodoeiro na Nova Guiné 143. Os dois percorriam vários pontos

do Timor-Leste para tratar do cultivo do algodão e da produção de fibra com os

indígenas, mas as suas exigências pela concessão petrolífera e mineira

impressionavam as autoridades. Os seus percursos minavam muitos nativos incautos

em proveito do futuro interesse japonês144.

Enquanto os governantes coloniais debatiam-se nos seus gabinetes em horas

laborais, como minimizariam a longínqua colónia do analfabetismo e da vida nativa

sem economia, onde os seus planos como árvore vinha sendo infrutífera, para a

Lisboa, pairavam as novidades de conflito. O Salazar e seus quadrantes políticos

estudavam, planeavam como dariam respostas a uma guerra que entraria pela porta

da Europa, envolveria os potenciais aliados portugueses145. Por outro lado, as eleições

espanholas ganhas pela Frente Popular/República, poderia abortar Guerra Civil

espanhola, seria outra aposta a capacidade do governo do Estado Novo, por os

opositores internos do Salazar se organizavam na fronteira à hipótese de recorrer aos

apoios do vencedor republicano contra o regime salazarista146. O cenário pressionava

a elite política prever como garantiria a sobrevivência e estabilidade do Estado Novo e

da soberania ultramarina num contexto do pós-guerra147. A dupla crise internacional

perturbava o Dr. Salazar da arena internacional. Viria assumir as pastas dos Negócios

Estrangeiros e da Guerra além de ser Presidente do Conselho de Ministros 148.

O cenário ladeava as potências antagonistas, entusiasmadas na guerra

mundial, militaramente modernizadas, comparativamente Portugal era difícil integrar-

se no campo de contenda. O problema levará o governo do Estado Novo estudar

cautelosamente de como optar política de preservar a continuidade do regime e do

142 Gunn, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 217; 143 Carvalho, Manuel de Abreu Ferreira de (governador), Relatório dos acontecimentos de Timor, Lisboa – Imprensa Nacional, 1947, p. 25; 144 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, pp. 30-32; 145 Telo, António José, A Neutralidade portuguesa e o ouro nazi, Quetzal Editores, Lisboa, 2000, pp. 19 ss; 146 Idem, Ibidem, p. 24; 147 Paço, António Simões de, os anos de Salazar de 1943-1945 «O Governo inglês pediu e o Governo português concedeu», Centro Editor PDA, 2007, p. 17; 148 Teixeira, Nuno Severiano (Coord.), Portugal e a Guerra, História das Intervenções militares portuguesas nos grandes conflitos mundiais (sécs. XIX-XX), Edições Colibri, 1998, p. 111;

76

império. Analisando as políticas interna e externa pareciam mais complicadas nas

consequências do pós-II Guerra Mundial.

Noutro lado do fim do mundo, o pedaço português na Oceania, entalado entre

as grandes ilhas de domínio neerlandês e o continente da Austrália, estava

sossegada, em paz. Esquecido o conflito de Manufahi de 1911-1912, assistia um

espaço de tempo de vida florescente, o mais interessante, talvez, da sua história.

Multiplicaram o cultivo de café, em milhões de pés, pertenciam aos nativos; o interesse

de produzir milho, arroz, feijão e de criar animais, cujos resultados ultrapassavam as

necessidades da colónia; as estradas penetravam quase em todos os reinos permitiam

a fácil circulação de indígenas tanto como à rede telefónica. O progresso feito pelas

escolas e missões transformou os costumes bárbaros em novo rosto; novas culturas

introduzidas. As povoações desertas pela guerra interna, tornaram-se povoadas 149

As tensões políticas e territórios europeias não foram resolvidas na I Guerra

Mundial depois do Tratado de Versalhes agravaram-se150, praticamente sentida pela

Alemanha, após a ascensão do Adolfo Hitler ao poder pela mão do Partido Nacional-

Socialista. Achava-se injustiçada, humilhada e derrotada pelos aliados. Uma estratégia

seguida para readquirir a sua reputação encontra-se agora garantida na recuperação

da economia germânica. Rearma o exército e recruta mais jovens alemães em

organizações militares sob a condução dos chefes de comando, fiéis do Hitler. O

desenlace de campnaha era difícil invertê-lo. O rumo escolhido à guerra começou em

campo de operacionalidade militar com todos os equipamentos modernizados da

potência industrial alemã. O ataque a Polónia marcou o início da II Guerra Mundial

donde à inferioridade militar do País invadido, subjugado em Setembro de 1939.

Mediante o êxito, os alemães viam-se afirmados de capacidade e, no ano a seguir,

triunfaram sobre a França 151.

Os primeiros episódios criaram o mito a que o Adolfo Hitler era visto a figura

dominante da Europa e do mundo. Influía ultrapassar a fronteira europeia ao Extremo

Oriente, conduzida pelos aliados nipónicos. A China é atacada em 1937, no contexto

duma estratégia, concertada em favor do grande conflito, II Guerra Mundial

(Enciclopédia H. Universal, 1999, p. 344).

Ao caso timorense, em 1941, corriam notícias pelos jornais, revelando o

governo nipónico a interessar uma linha aérea a partir da ilha japonesa com a colónia

portuguesa, no âmbito de interesse comercial. Formulado, engenhosamente, o pedido

ao governo português com o intuito de garantir a integridade de Macau e de Timor. Os 149 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, pp. 18-19; 150 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 665; 151 Zaloga, Steven J., A Invasão da Polónia: Guerra-Relâmpago, Osprey Publishing, 2009, pp. 6 a 10 e 13 ss;

77

autstralinos percebiam da astúcia de que os nipónicos serviriam do Timor português

como porta de entrada à Austrália (F.Lima, pp. 31-33). Ao neutralizar as intensões

expansionistas, ocorria-se, na Singapura, um encontro entre Austrália, Inglaterra e

Portugal, e, ausentava-se o representante holandês, em tratarem um possível tampão

em Timor-Leste.

Importa-nos afirmar, no decurso das épocas referidas, à bacia do Pacífico, é aí,

que a Inglaterra e os Estados Unidos da América jogam a política pela ascensão

económica. Nesta tangência de propósitos, o mar timorense era praticamente

entregue à navegação estrangeira, e à falta de meios de comunicações, seria-lhe um

perigo inevitável quando detonarem-se hostilidades152. As notícias anunciavam o

avanço nipónico a desmoronar as resitências dos impérios do Sudeste Asiático. O

Timor português assistira a sua primeira invasão dos aliados, australianos e

holandeses, a 17 de Dezembro de 1941, no sentido de neutralizar os propósitos em

eminência153. A situação do lado nipónico evoluíu, na sua operação de esfrangalhar as

resistências do Pacífico, tendo seus aviões afundaram a esquadra britânica de

Singapura, permitiu-lhe livremente ao controlo marítimo (L. de Oliveira, Vol. IV, p. 52).

Ao saber da entrada das forças invasoras do Extremo Oriente à Timor, em eminência,

os indícios apontavam os aliados para um suposto recuo ao Timor ocidental/holandês 154. O governador, Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho (anexo 4) teve que organizar

segundo as capacidades que dispunha, mantendo a ideia de um país de neutralidade

em beligerância, onde transmitiria aos administrdores das circunscrições da província

conforme as directrizes emitidas pelo governo da Metrópole.

Não havendo resistência naval ou aérea a impedir o rumo decidido pelos

nipões, em 20 Fevereiro de 1942, a invasão preconizada é confirmada em Timor-Leste 155. Toda a costa do Território, é ocupada pelas forças invasoras, pequenos números

australianos que ficaram, evacuados às montanhas a optarem pela guerra de

guerrilha, com os nativos e portugueses. A partir do fim de Maio do mesmo ano, o

governador perde o contacto com o poder central de Lisboa. Torna-se prisioneiro da

sua residência 156.

Como já citado, na véspera de domínio japonês, o cônsul inglês David Ross, no

dia 17/12/1941, logo de manhã, muito cedo, informou ao governador receber o oficial

152 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, p.37; 153 Idem, Ibidem, p. 57; 154 Bessa, Carlos, A Libertação de Timor na II Guerra Mundial. Importância dos Açores para os interesses dos Estados Unidos, Liboa, MCMXCII (1992), p. 79; 155 Cf. o último e ex-governador do então Timor português: Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor, Missão impossível? Lisboa, Publicações D. Quixote, 1994, pp. 21 ss; 156 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 37-39;

78

holandês tenente-coronel Van Strattenn, comandante das forças aliadas. Única

oportunidade de transmitir o desembarque das forças em Díli, segundo as ordens

superiormente, recebidas.

A capital timorense testemunha a entrada de 380 oficiais e soldados

australianos, imediatamente conduzidos instalar-se, na montanha Na Suta, 15 km para

o interior; 1200 soldados holandeses quase todos javaneses, enquadrados por oficiais

europeus. Lançavam-se, imediatamente, na construção de abrigos e trincheiras ao

longo da praia para metralhadora anti-aéreas. As ruas, estradas eram vedadas por

arames farapados. Em poucos dias, o mesmo comandante aliado impôs ao

governador que a Companhia de Caçadores de Timor fosse transferida para longe da

cidade, suspeitá-la preparar-se atacar a força aliada. Perante a situação em evolução

crítica, o governador não conseguiu dissuadir o tal oficial, resolveu a mudança da

Companhia para Maubisse, comandada por capitão Freire da Costa e tenente Liberato 157.

Ainda que assistisse a presença numerosa dos aliados, a capital via-se

insegura e o pânico de ver a segunda invasão, estava a ser ponderada qual seria o

efeito. A seguir da entrada da força aliada, a população civil retirou-se viver no interior,

distante da capital. Ficaram os funcionários em pequenos grupos, dada a ausência

dos familiares. Uns eram acolhidos na Missão de Lahane por padre Jaime, futuro

bispo da província 158.

Enquanto Díli, corria notícias da força portuguesa concentrada em

Moçambique, recebera já ordens, a caminho por João Belo, comboiado pelo aviso

Gonçalo Velho com destino à Timor para substituir os aliados. A chegada prevista para

21 ou 22 de Fevereiro de 1942, em Baucau para evitar possíveis complicações com os

aliados na capital. A ânsia de ver o desembarque português era eminente para os dias

já informados. Porém, a notícia tornou-se em acontecimento infeliz, por concretizar a

chegada dos invsores japoneses. De facto, um dia antes, três dezenas de aviões

nipónicos sobrevoaram Baucau com destino para Port Darwin, afundavam navios na

baia militar e tornar os edifícios em escombros. Uma actuação que visava assegurar o

tranquilo desembarque das forças nipónicas na colónia portuguesa159.

Assim, começou a guerra no Oriente. No dia dois de Janeiro de 1942, Filipinas

fora tomada. Dias seguintes, os Estados Malaios federados, Birmânia, ilhas Bisrmarck,

Salomão, Bornéu e Indias Orientais holandesas, foram totalmente silenciados. O

general americano, Mac Artur nos mares de Manila, com seu chefe Estado-Maior teve 157 Carvalho, José dos Santos, Vida e morte em Timor durante a II Guerra Mundial, Composto e Impresso na Gráfica de Lamego, 1972, pp. 31-32; 158 Idem, Ibidem, p. 33; 159 Idem, Ibidem, p. 34;

79

uma operação de manobra com destino a Austrália, visava reunir uma nova resistência

com forças australianas.

Os holandeses, na praia de Díli foram surpreendidos por bombardeamentos de

dois aviões nipónicos. Em poucas semanas, até 20 de Fevereiro do mesmo ano,

Kupang e Díli pertenceriam aos novos senhores de Japão 160. Os seus submarinos

apareceram perto da baía de Díli e os navios movimentavam-se esconder atrás das

montanhas de Comoro. A capital tornara-se o seu mundo de movimento de tom

dominante.

Às quatro horas de manhã do referido dia até as nove, os aliados, em Díli,

respondiam em tiros aos bombardeamentos nipónicos em direcção a residência onde

estavam as forças luso-australianas. Dos primeiros cruzamentos de fogo e ferro de

ambos os lados, em hostilidade, os javaneses desapareciam, ficando o material

abandonado ao longo das estradas. Os últimos soldados foram vistos sair de

automóvel pela estrada de Dare, rumo ao centro sul, donde desviarão o caminho a

fronteira oeste, destino a Kupang, lado ocidental holandês.

Pela obra descritiva do governador Ferreira, Relatório dos Acontecimentos

de Timor, 1942-45, revela-nos a vontade deste solicitar conferência com o

comandante aliado. Enviou os seus oficiais a procura do chefe das forças, na capital,

das seis horas de manhã, e regressaram à residência oficial do governador às oito e

tal a informá-lo sem ter visto a autoridade pretendida e nem soldados de ambos os

países, por eles serem vistos 161.

A verdade dos aliados na questão da situação timorense no quadro de uma

coordenação dos respectivos governos a respeito da neutralidade portuguesa em

beligerância, à qual Timor era abrangido. Mas, as primeiras entradas no território eram

uma violência; igualmente do Japão teria o mesmo comportamento cruel. Os

diplomatas declaravam respeitar a província, o que se notava no terreno se acontecia

tudo por ignorar os compromissos assumidos. Desrespeitaram a pessoa do

governador de uma nação de neutralidade, ainda para mais aliada britânica.

Puniam os suspeitos de fornecer alimentos e informações aos aliados e os

fiéis dos portugueses. Os australianos foram desalojados do seu acampamento da

montanha de Na Suta. Aos amarelos, muitos deles tiveram que comer o pó da terra

ultrajada, antes de continuar a perseguição aos grupos de guerrilha em resistência,

dispersa.

160 Idem, Ibidem, pp. 34-36; 161 Carvalho, Manuel de Abreu Ferreira de (governador), Relatório dos acontecimentos de Timor, Lisboa, Imprensa Nacional, 1947, pp 173 ss;

80

Durante a ocupação estrangeira, a nobreza tradicional não causara nenhum

embaraço a autoridade colonial. Tivera os pensamentos no mesmo objectivo

defendido pelos governantes da província. Em defesa da soberania lusa, os régulos

organizavam os seus homens em resistência contra o avanço japonês ao interior.

Protegiam os portugueses nas montanhas de perseguição ocupacionista. Apoiavam-

os em alimentos, conduzidos aos sítios de refúgio que podiam.

Na comparticipação contra a presença estrangeira, emerge-se a figura do

régulo de Ainaro D. Aleixo Corte Real. No seu refúgio na alta montanha, através das

suas forças de guerrilha, fornecia ao comando australiano sedeado no Suro/Ainaro,

géneros alimentícios as suas tropas. Na região controlada pelo régulo e seu filho

Alexandre, aí se encontravam dois missionários Norberto de Barros e Manuel Pires.

Estes, assistiam a população civil sofrera impiedosamente pelos actos das colunas

negras, sem descanso, resolveram ir ao encontro dos comandantes invasores, numa

tentativa de demovê-los face as represálias. A desumanidade nipónica tornou-os em

resposta fatal com o deportado Luís Ferreira da Costa e outros mais, em companhia 162.

O régulo de Ainaro manteve os seus homens de companhia em

disciplinamento, tanto que de Aileu lhe solicitou a ajuda desmantelar a revolta de

Maubisse, dirigida por um dos timorenses. Surgiu por influência nipónica, prometendo-

lhes um vasto regulado quando acabar a guerra e exterminar os resistentes e

portugueses. De imediato, D. Aleixo enviou 350 homens ao seu amigo 1.º sargento

que o telefonou de Aileu. Antes de os enviar o régulo disse ao amigo:

- «Aleixo Corte Real cumpre sempre quanto os Portugueses lhe ordenam. Com os

Mátan-búbu (olhos inchados, nome que o Timorense dá aos Nipões), não queremos».

Ele percebia que a fidelidade a autoridade lusa lhe sairia cara, pagaria com a

própria vida e dos muitos por ele dirigidos163. Afirmava-se aos seus homens em não

esquecer-se de dar contas aos portugueses do esforço demosntrado em honra da

bandeira lusa164. Antes do massacre de dois missionários e deportado, o régulo

preocupou-se deles, mandou um emissário de confiança a avisá-los na missão de

Ainaro a saírem depressa quanto antes da chegada de colunas negras.

Existia a guerrilha, mobilizada um pouco por toda a colónia. Às forças nipónicas

que avançavam sobre redutos dos liurais em resistência, regressavam sempre com

lista negra dos numeros soldados. E, na região de Ermera, fronteira norte, D. Aleixo

162 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, p. 21; 163 Idem, Ibidem, pp. 22 e 23; 164 Idem, Ibidem, p. 29;

81

fortificou as forças em resposta a ofensiva da força aérea japonesa, donde um avião

ocupante fora, felizmente, abatido quando bombardeava zonas em oposição165.

Os edifícios e instituições públicas, igrejas e a catedral de Díli, foram

barbaramente arrasadas. A fúria inimiga era aos píncaros, atacava as montanhas de

refúgio, em dias consecutivos. Apertavam as populações. O pouco dos artigos

alimentícios que dispunham, indiciava-se o fim 166.

O régulo de Ainaro via a situação pelo lado inimigo, se evoluía em desfavor dos

guerriheiros, reunia os chefes para saírem das montanhas a evitar o mal maior.

Decidiam dividir-se em grupos, no sentido de ver qual seria as últimas estratégias a

tomar pelos inimigos. Entretanto, os nipões não cansavam de optar por outra astúcia,

consistia-se de se fazerem amigos com alguns chefes de Same/Manufahi, em

promessas para o fim de guerra. Por outro lado, perseguiam os missionários,

conforme a obra do José dos Santos Carvalho (p. 51) descreve interrogá-los do

paradeiro dos australianos. Era precisamente, na missão de Ossu, o acto severo

pesava directamente no chefe do posto, aspirante Eugénio de Oliveira, padre Jaime

Goulart, futuro bispo da colónia e outros padres aí missionavam. Durante a estadia

japonesa, estes religiosos sofriam humilhações, maus tratos de toda a ordem. Uma

atitude que, de início, tornara a capital de Díli em cemitério, a que nenhum nativo

como a autoridade colonial simpatizava-se com esta invasão.

Muitos portugueses que ficavam, passavam de mal a pior, todos concentrados

na vila de Liquiçá, no total de 150 pessoas, sob a ordem japonesa desde Janeiro de

1943 a Setembro de 1945. Faltava-lhes alimentação. Sobreviviam com a ajuda dos

seus compatriotas das quintas, de plantações e de ajuda dos nativos da área. A

assistência espiritual era presente, nas concentrações populacionais. Mas também, a

Austrália não estava alheia das transmissões de rádio, pelo que as concentrações

nipónicas, em Timor eram de alvo constante de bombardeamentos 167.

Toda a temporada que os ocupantes calaram o governador, prisioneiro da sua

residência oficial, aos régulos que se envolviam na resistência contra a presente

ocupação, mantinham as suas posições. Assistiam massacres, impiedosamente,

perpetradas pelos nipões. A pilhagem imperava, contribuía o crescimento de miséria a

tomar conta das populações. Enfrentavam diferentes dificuldades, a ponto de D. Aleixo

Corte Real caía na armadilha montada pelos manufahistas emissários. Estes

comunicavam que os japoneses não o fizessem mal se viesse trabalhar com os seus

homens, em conjunto. A persuasão proposta pelos vizinhos reinos chegava a ser 165 Carvalho, José dos Santos, Vida e Morte em Timor durante a II Guerra Mundial, Composto e Impresso na Gráfica de Lamego, 1972, p. 77; 166 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, p. 28; 167 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, pp. 219 ss;

82

cristalizada. Saiba-se pela obra do capitão José Simões Martinho, os emissários lhe

garantiriam a protecção, para toda a família e aos seus guerreiros e súbditos. Uma

vez, chegados a Hatu Udo, onde se acampam os nipões, foram desarmados de

imediato 168. Eram presos na secretaria, organizado o tribunal que começava a inquirir

os emissários, donde reivindicavam a morte de D. Aleixo por ser amigo dos

portugueses. Ao mesmo tempo dois homens violentos: Siri Buti, chefe de Betano e

Cabo Bere de Hatudo, gritavam dizendo: - «o régulo e Nai Chico são perigosos, já

estiveram em Portugal com os familiares »169.

O próprio capitão Simões Martinho pinta-nos em como um dos filhos de D.

Aleixo, Alexandre reagia na prisão: decidiu simular uma necessidade urgente, com o

intuito de estudar cá fora a situação e disposição das forças e dos oficiais nipónicos.

Foi-lhe apenas abrir a porta pela sentinela, mas recusou-o do pedido feito. Pela

segunda vez, o Alexandre repetiu seu pedido e lhe abrira a porta e atirava-se em luta

desesperada com a sentinela. A prisão arrombada, todos se envolviam em luta de

morte, corpo a corpo com os oficiais: - «A nós só os Portugueses podem prender».

Tiros, cutiladas, golpes de baionetas, imprecações, desespero, loucura, raiva

multiplicam timorenses, japoneses numa luta desigual, no posto de Hatudo.

Nesta última decisão anti-japonesa tomada, que o régulo D. Aleixo se tombou e

com todos os filhos, Alexandre, Adriano, Benjamim com mais trezentos timorenses

mortos 170.

Em defesa da soberania lusa, em Timor-Leste, além da morte do liurai de

Ainaro e filhos, contavam também D. Jeremias de Luca, em Lacluta; D. José Nunes,

em Maubara. Há muitos chefes tradicionais dos sucos que também arriscaram ou

imolaram as suas vidas contra a presença japonesa 171.

Porém, sabe-se, que o grande conflito se declinaria em desfavor dos

protagonistas. O cenário, é agora, uma das complicações para a política externa do

Estado Novo concernente a Timor, no quadro do pós-guerra. O presidente do

conselho de ministros, Dr. Salazar já sabia das intenções australianas a dificultar o

retorno da soberania portuguesa, significaria o fim da soberania lusa na Oceania, sem

espaço a manobra172. E, como tem já referido, o governo de Lisboa, acreditava no seu

princípio de neutralidade, entendido com os aliados EUA e Grã-Bretanha. Entretanto,

168 Martinho, José Smões (capitão), Vida e morte do régulo timorense D. Aleixo, 1947, p. 30; 169 Idem, Ibidem, p. 31; 170 Idem, Ibidem, p. 32; 171 Barata, Filipe Themudo (governador de Timor 1959/63), Timor Contemporâneo. Da primeira ameaça da Indonésia ao nascer de uma nação, Equilíbrio Editorial, Lda. Edições de Qualidade, 1998, pp. 102 e 103; 172 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 46ss;

83

este em defesa dos seus interesses no Pacífico e no Extremo Oriente, assumidos

pelas acções das forças aéreas e navais britânicas, solicitou o governo português pelo

governo inglês a cedência de uma base nos Açores. Aceite o pedido por Salazar,

oficializado através de uma troca de notas diplomáticas portuguesa e britânica a 17 de

Agosto de 1943, para estabelecimento das forças inglesas. O primeiro ministro

Winston Churchill disrcursava na Câmara dos Comuns alegando no carácter

“temporário” do estacionamento das forças nos Açores, imediatamente se fará a

retirada assim que cessarem as hostilidades 173.

Da mesma estratégia militar, os EUA face a guerra no Pacífico e no Extremo

Oriente, quereriam uma das bases nos Açores, preconizavam ocupar pela força, mas

fora oposta pelo primeiro ministro britânico Churchill. A administração de Franklin

Roosevelt influenciado pelos argumentos, decidiu negociar directamente com o

governo do Estado Novo, em que os dois Estados obtiveram acordo de facilidades às

forças norte-americanas. A 28 de Novembro de 1944 conseguiram o acordo assinado

por Portugal e os EUA 174.

Toda a política externa portuguesa face aos interesses aliados assegurados,

na II Guerra Mundial, afastariam o envolvimento luso no grande conflito e manter-se-á

no seu princípio de neutralidade. No quadro deste processo, o Dr. António Oliveira

Salazar acreditava no seu plano na conservação do império colonial e a reocupação

de Timor após a retirada dos nipónicos é já possível e de um sentimento de

desafogamento. E tudo indicava, meses depois ter concluído o acordo trilateral dos

aliados, permitir-se-á a participação das forças portuguesas na libertação de Timor. O

Comandante Militar de Moçambique, teria sido instruído a organizar o destacamento

expedicionário para implementar os acordos pela reactivação da soberania lusa na

colónia 175.

O princípio da neutralidade reconhecido a Portugal, no decurso de teatro de

beligerância, na Oceania, Timor português era de grande tormento: os timorenses e

portugueses foram privados de voz e de liberdade; presos, mortos quando as

companhias nipónicas apanhavam baixas (L. de Oliveira, Vol. IV, pp. 101-104). Muitas

mulheres eram vítimas de torcionários animalescos, contribuíam elevar o sentimento

anti-nipões, em todos os reinos do País 176.

173 Paço, António Simões do, Os anos de Salazar 1943-1945 «O Governo inglês pediu e o Governo português concedeu», Centro Editor PDA, 2007, pp. 7 a 15; 174 Idem, Ibidem, pp. 16 a 25; 175 Bessa, Carlos, A Libertação de Timor na II Guerra Mundial. Importância dos Açores para os interesses dos Estados Unidos, Lisboa, 1992, p. 87. 176 Oliveira, Luna de, Timor na História de Portugal, Vol. IV, Fundação Oriente, 2004, pp. 220-221;

84

A colónia encontrava-se numa solidão de sofrimento. Ignorava o fim do grande

conflito que se imperava no Pacífiico, sob a voz dos poderes nipónicos. Já de si nestas

condições, piorava-se da inexistência das comunicações com o poder central de

Lisboa. A miséria mltiplicava-se, ao japonês era rei, em Timor. No ambiente de terror e

de enigmático destino timorense, de repente se ouvia correr notícias da destruição de

Nagasaqui e de Hiroshima por bombas atómicas da autoria americana a 6 de Agosto

de 1945. Facto que inverteu drasticamente o poderio japonês, reconheceu a sua

derrota oficial, e, através da assinatura de rendição incondicional a decorrer em Manila

sob a presença do general Mac Arthur, em 2 de Setembro de 1945 177. A nova

novidade, foi sabida, de imediato, pelos indígenas por governador da província 178.

Nos meses de Setembro a Dezembro de 1945, o Comando Militar Português

de Moçambique, ordenava as forças expedicionárias tomar rumo a Timor-Leste.

Compostas de várias especialidades com os respectivos comandantes, tão ansiosos

de reanimar a administração portuguesa; reconstruir as instituições públicas,

barbaramente destruídas pela ocupação japonesa e reorganizá-las; levavam consigo

milhares de peças de vestuário de Lourenço Marques e de Sofala, na chegada,

destribuíram aos timorenses.

A obra de Luna de Oliveira, descreve-nos da composição do destacamento

expedicionário, chegava um número significativo, no total de 2233 militares (1 tenente-

coronel; 3 majores; 19 capitães; 33 tenentes; 35 alferes; 2 aspirantes a oficial; 2

sargentos-ajudantes; 17 primeiros-sargentos, 31 segundos-sargentos; 127 furriéis;

praças europeus 273 primeiros-cabos; 18 segundos-cabos e 1229 soldados). Dentre

capitães, um deles era de Serviço Religioso, capelão Padre Aníbal Rebelo Bastos, e o

ajudante, alferes de Infantaria José Moreno Gonçalves 179.

A chegada da força expedicionária, em Díli, liderada por brigadeiro Serqueira

Varejão e com a missão administrativa, chefiada pelo inspector Óscar Ruas, o futuro

governador a substituir Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho. No comunicado dirigido

ao Ministro de Guerra, o comandante Varejão alegava ser bem recebida a sua

chegada, na colónia. Encontrava centenas de indígenas presentes e seus chefes, com

comoventes e tradicionais homenagens. E ficou impressionado com a tamanha

situação de um Timor praticamente destruído 180 (anexo 5).

177 Carvalho, José dos Santos (médico 2 .ª classe), Vida e Morte em Timor durnte a II Guerra Mundial, Composto e Impresso na Gráfica de Lamego, 1972, p. 91; 178 Idem, Ibidem, p. 91; 179 Idem, Ibidem, pp. 295-301; 180 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 62;

85

3. 3. O 25 de Abril português dita mudança

Ao recordar um acto singular feito por um anónimo ou começado por uma

organização social, deve-se também sublinhar de antes, o pioneirismo da expansão

portuguesa para regiões desconhecidas. Torná-las conhecidas e inseridas na sua

história, ao longo das épocas modernas a contemporaneidade, com todas as gentes,

conhecidas na África, Ásia 181 e na América 182. Com as quais, influía o modo de viver

nos padrões modernos, e conduzidas a revolucionar o seu património tradicional. Pela

aventura eficaz ou fracassada, mas é um facto, donde as chamadas regiões remotas

conhecerão a cultura civilizacional do Ocidente, e, serem laços de amizade com o

mundo português. Partindo da sua pequenez geográfica, na Europa ibérica, nem

sequer uma potência foi, conseguiu uma margem de manobra que o resultou como

foram as grandes monarquias dos Valois, em França, e dos Habsburgo183, dos

territórios por toda a Europa 184.

Os acontecimentos inventados pelos navegadores portugueses pelo mundo

fora, como novos rumos abertos, de grande importância. Em períodos mais tarde,

tornaram-se-lhes espinhosos, por os sucessos obtidos, nos territórios tidos como seus,

cobiçados apoderar por outras potências ou parceiros ocidentais 185. Mas havia outros

que persistiam, consolidavam-se, assegurados por uma estabilidade política seguida

pelas cortes reais a república à evitar o afogamento de honra dos capitães-mores do

passado.

De regimes absolutistas a monarquias constitucionais; destes a I república, e

da qual torná-lo a uma república de regime ditatorial do chamado Estado Novo, por

autoria do Dr. Anrónio Oliveira Salazar. Optou por estilo reunir em torno do seu

governo, os monárquicos e moderados de esquerda em reconquistar a unidade

nacional; considerava a Igreja Católica, como suporte principal a contribuir pela

consolidação do regime salazarista. Assistia assim, uma paz aparente, acreditando o

decurso do regime numa duração perpétua. Mas os tempos trazem outra realidade, e

181 Araújo, Carlos, Lisboa e os descobrimentos. 1415-1580: a invenção do mundo pelos navegadores portugueses, Terramar, 1992, pp. 21 ss; 182 Serrão, Joel e Maeques, A.H. de Oliveira (direc.), Nova História da Expansão portuguesa. O Império Luso-Brasileiro (1500-1620), Vol. VI, Editorial Estampa, 1992, pp. 57 ss; 183 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. I, Edições ASA, 1998, p. 200; 184 Ramos, Rui (Coordenador), Sousa, Bernardo Vasconcelos e, e Monteiro, Nuno Gonçalo, História de Portugal, 3.ª Edição, A Esfera dos Livros, 2009, pp. 199 e 200; 185 A Malaca tornara-se possessão portuguesa por autoria de Afonso de Albuqurque, a 15 de Agosto de 1511 e apoderada pelos holandeses, em 1641, conforme Araújo, Carlos, Lisboa e os descobrimentos. 1415-1580: a invenção do mundo pelos navegadores portugueses, Terramar, 1992, pp. 251;

86

a crença na persistência face as oposições cria-lhe desfavor na política internacional,

mais acentuada pelo lado dos aliados, inglês e americano 186.

Em épocas do pós II Guerra Mundial são embaraçosas aos impérios coloniais

na Ásia, puseram os políticos da coroa britânica numa situação incapaz para sossegar

o movimento independentista indiano. As populações locais cada vez agitavam a volta

dos seus novos líderes a reivindicarem pela imediata proclamação da independência

da Índia. Ao evitar as chacinas continuadas entre hindus e muçulmanos, o governo

britânico decidiu dar independência a Índia, em 1947; a gigante Índia britânica devido

ao desentendimento hindu/muçulmano resultara em duas nações: Índia e Paquistão 187. Filipinas contestava o domínio dos EUA após ter sido expulso os espanhóis do

poder (1898), alcançara, finalmente, a sua independência, a 1946188. Mais para lá, o

Arquipélago da Insulíndia, à ocupação japonesa contaminou a ordem colonial

holandesa para repor o seu sistema, o que ajudou o movimento separatista forçar a

sua posição pela independência da Indonésia, numa forma irreversível189.

E, no entanto o governo do Estado Novo estava ao corrente do novo cíclo

político. Aqui, a ideia de manter as posições nos territórios de soberania lusa são outro

fenómeno “negativo” neste período turbulento no quadro da administração colonial

europeia que é o relativo fracasso com a política internacional.

Neste contexto a oposição à guerra era difícil sustentar, o que justifica os

impérios coloniais estariam fora da época. O júbilo das massas face à proclamação da

guerra, depois do grande conflito não é um delírio colectivo momentâneo, mas o

corolário de uma educação levada a cabo ao longo de décadas e séculos, com

inculcação de valores patríoticos e da aceitação da autoridade. Cada nação, o seu

destino e a sua função cívica, justificavam todos os sacrifícios.

A própria realidade vivida da época fez-se perceber aos poderes coloniais,

nunca um indiano poderia chegar aos mais altos cargos da velha Inglaterra, da mesma

forma que nunca um timorense estaria na cadeira do sub-secretário de um ministério

português, nem javanês integraria o ministério holandês. E, em certo sentido, foi o

próprio colonialismo a fornecer aos povos colonizados a fundamentação dos

movimentos autonómicos.

Fernando Lima foi muito claro na sua obra, desenhando-nos a conferência dos

países não-alinhados, realizada em Bandung, Indonésia a 18 de Abril 1955, esta como

anfitriã. No discurso de sessão de abertua proferido por presidente da R.I., foi

186 Raimundo, Orlando, a Última dama do Estado Novo e outras histórias do Marcelismo, Temas e Debates, 2004, p. 99; 187 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. II, Edições ASA, 1998, pp. 679-684; 188 Idem, Ibidem, Vol. I, pp. 471 e 472; 189 Idem, Ibidem, Vol. II, pp. 686-688;

87

directamente ao assunto da descolonização da África e Ásia. Pretendendo que os

países das duas regiões sejam livres de domínio estrangeiro. Apelava aos presentes a

promover uma política junto da ONU para não esquecer dos países em situações do

género. O discurso de tom, pesava imenso sobre presença portuguesa na África e na

Ásia 190.

Nesta ponta do mundo de conferência dos países não-alinhados, Portugal vê

nela como uma ameaça comunista, uma arma escondida da União Soviética, apenas

ouvi-la de nome pronunciado pelos países do terceiro mundo, um verdadeiro indício de

uma nova ordem mundial em progressão.

Desde 1947, do pós independência da Índia, esta cortara de vez o laço tutelar

com a Grã-Bretanha, as coisas passaram embaraçosas aos ingleses em relação aos

tratados com Portugal. No fim da II Guerra Mundial, as eleições do Reino Unido deram

vitória ao Partido Trabalhista a frente do governo. O sistema de relações com Portugal

alterava-se, na forma como o governo londrino conduziu a sua descolonização 191.

Em alguns países colonizados, achavam-se pela guerra que os cidadãos

percebem, pela primeira vez na História e através do serviço no exército, que

partilham um destino e um espaço comuns; envergam uma roupa igual e partilham o

mesmo destino, percebe-se, em fim, que existe um sentimento de identidade. A

partilha organizacional se transforme na construção ideológica, entusiasmada por

corpos directivos de consciência colectiva emergentes, em constante oposição aos

poderes coloniais inflexíveis a propostas nacionalistas, como acontecera nas Índias

Orientais Holandesas 192. Pelo lado português não ignorava os episódios de clima

insustentável, decorridos já na Ásia, descurava os planos que podiam ajudá-lo

conduzir a descolonização de forma organizada, dos territórios de soberania

portuguesa. E quanto Timor-Leste, sofrera a perda na ordem dos 60 a 70 mil

timorenses, em defesa dos aliados ocidentais e da neutralidade no grande conflito

portuguesa não havia nenhum obstáculo do regresso da administração portuguesa. O

relacionamento dos liurais e da classe letrada com os portugueses menteve-se como

decorrera, anteriormente 193.

A ineficácia dos serviços da PIDE, em Timor português, assistiu uma prova de

excesso de liberdade de entrada de alguns indonésios, provenientes do movimento da

190 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 77; 191 Oliveira, Pedro Aires, Os Despojos da Aliança. A Grã-Bretanha e a questão colonial portuguesa 1945-1975, Lisboa: Tinta-da-China, MMVII (2007), pp. 45 e 46; 192 Conforme Silva, Lurdes Marques, Descolonização, Nacionalismo e Separatismo no Sudeste Asiático “os casos da Indonésia e Timor-Leste”, Lusotopie, 2000, p. 362; 193 Magalhães, António Barbedo de, Timor Leste na Encruzilhada da Transição Indonésia, Fundação Mário Soares, Gradiva Publicações, Lda. 1999, pp. 36 a 38;

88

revolta que se ocorrera em Ambon e das ilhas Molucas do Sul, em 1959. O governo de

Jakarta deu caça aos actores, onde fugiram pedir asílio político em Timor-Leste.

Donde muitos timorenses, influenciados, com eles decidiram um golpe contra a

administração portuguesa. Pretendiam que Timor Português fosse apêndice indonésio.

Ainda que o considerasse na sua modorra, o serviço secreto descobriu actuá-los,

reprimi-los barbaramente, 500 a 1000 pessoas presas na ilha de Ataúro. Trinta e cinco

pessoas tinham sido desterradas para a Angola 194.

A chamada sublevação de 1959, segundo as averiguações das autoridades

policiais da época, dão-nos algumas indicações da ocorrência, era o cônsul indonésio

Nazwar Jacub Sutan Indra, em Díli, quem começava discretamente uma campanha

antiportuguesa, utilizando o seu pessoal do consulado e de elementos árabes.

Procuravam captar alguns timorenses evoluídos. Influía uns fugirem apoiados

financeiramente; outros tiravam as fotografias dos quartéis, residência do governador

e dos timorenses mal vestidos para efeitos de propaganda contra a negatividade da

soberania portuguesa.

Já atrás referidos, nove indonésios do asílio político, o governo da província

decidira fixá-los numa residência, em Baucau, diariamente cada um era subsidiado de

7 patacas (43$75 em escudos da época), tempo em que nenhum servente da

construção civil merecia semanalmente tal quantia. Ocorrera divisão dentre eles, a

qual uns influenciaram alguns nativos incautos roubar armas dos postos

administrativos de Uato Lari e de Uato Carbau do concelho de Viqueque. Queimavam

casas, desligavam ligações telefónicas a gerar perda de contactos com sedes

administrativas e com a repartição do governo, que tiveram lugar em Junho do mesmo

ano (F. Tehmudo Barata, pp. 49 -74).

Um acontecimento que surpreendeu a elite política portuguesa, verificando

Timor manter-se numa terra de ruralidade e de analfabetismo mais acentuado.

Realmente, descobria o fenómeno inquietante à autoridade colonial. A fragilidade de

segurança fronteiriça era sinónimo de livre infiltração dos indonésios a colher

informações atrás do ardil mercantil.

Quanto ao ano lectivo de 1959/60, dá-se o retrato da província em ensino: 60

escolas, 132 professores e 4627 alunos, além das secundárias de missões, escola de

professores catequistas e de seminária. A sua multiplicação era difícil implementar por

problemas financeiros. Os militares tiveram que abrir escolas nas unidades a elevar o

grau de escolarização dos soldados e admitir a frequência dos filhos nativos,

ministrados por alferes, furriéis. Anos a seguir, vêem-se surgir novas escolas

194 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 288;

89

municipais nos postos administrativos (T. Barata, pp. 79 e 80). Sem material didáctico

a disposição, e, num país de difíceis condições económicas, à falta de quadros

adequados das suas gentes sempre apontava para o cenário de incerteza do futuro.

A maioria da sociedade portuguesa esclarecida, vê o regime como obstáculo a

prosperidade e sem liberdade de expressão de opiniões públicas relativas ao país. As

oposições se emergem, captam adesões de massas exigirem mudanças 195.

Pós II Guerra Mundial, as figuras políticas da diplomacia portuguesa defronta-

se novos ventos incutir sentimentos de oposições nas colónias portuguesas. E, em

1961, o ódio interno do regime se tornou em acção provar a capacidade do Salazar,

levado a cabo por Capitão Henrique Galvão a culminar-se no assalto ao paquete

Santa Maria, no Coraçao, a 21 de Janeiro, a chamada “Operação Dulcineia”. As

notícias correram mundo, dominaram os espaços de línguas inglesa, francesa e

alemã. O mundo politico saía, assim, acordado pelos aspectos negativos do regime 196.

O governo do Estado Novo, ficara embaraçoso desde 1960 em diante, dadas

as situações face a política ultramarina fosse informada a ONU, sendo outros países

pretendam ser concedidos aos territórios colonizados de estatuto de autodeterminação

e independência nacional. Salazar contestava a versão com o apoio de muitos países,

excepto Grã-Bretanha e EUA, mantinham-se em silêncio. Movimentavam-se à volta do

contraponto sombrio, a guerra de Angola detonava-se em Março de 1961. O regime

reforçava a força militar no sentido de conter o movimento pró independência africana,

entretanto, via-se internacionalmente de política afunilada. Salazar enfrentava um

período menos feliz, por a política ultramarina apontada por presidente Kennedy ser

necessária invertê-la 197. Na Oceania, Timor português sentira-se disputado nos

interesses de entre Austrália e Indonésia, onde multiplicara a diplomacia para evitar

surpresas 198.

Na medida que reforçava forças militares a Angola e Moçambique para

restaurar a ordem pública, nem sequer sinais anunciavam vitórias, e de repente, a

Índia Portuguesa (Goa, Damão Diu) era apoderada pelas forças da União Indiana. Em

nome da honra e da dignidade, o comando português reagia o ataque, pela

superioridade demonstrada pela força indiana, o governador de Goa, general Vassalo

195 Pinto, Jaime Nogueira, António de Oliveira Salazar o outro retrato, 2.ª edição a esfera dos livros, 2007, pp. 170 e 171; 196 Jesus, José Manuel Duarte de, Casablanca o início do isolamento. Memórias diplomáticas: Marrocos 1961-1963, Gradiva, 2006, pp. 50 e 51; 197 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 88-91; 198 Idem, Ibidem, pp. 100-116;

90

e Silva assina a rendição, a 19 de Dezembro de 1961 199. Encarcerando no campo de

concentração cerca de três mil militares 200. Portugal ainda tentava recursos nas

Nações Unidas e junto dos aliados, mas a história é já nova e irreversível. Daí se

desfez a presença portuguesa, inventada pelos capitães do passado luso, no quadro

histórico de descobrimento e de conquistas, em séculos, no Oriente.

São momentos que a ONU domina os movimentos políticos portugueses

concentrados a volta da guerra negocial, nem isso se favorecia ao regime. Em

contextos de adesão à OTAN se viu margem de manobra como sendo o único cordão

umbilical que o facilitou ao encadeamento e ao diálogo com europeus ocidentais e os

EUA, gerindo assim, esta linha de ordem para evitar o total isolamento 201.

No Portugal metropolitano, o clima de tensão política antiregime crescia,

pressionava a demissão do Salazar, exigido substituído por um novo, de sangue

demorático e de visão pró liberdade. O desânimo ao alinhamento militar contribuía a

fuga dos jovens ao estrangeiro. O clima conquistava vastos espaços sociais, cada vez,

se estendia a todos, reclamavam por um novo regime que advogasse a justiça,

liberdade e prosperidade económica 202.

Aqui, as realidades são bem pintadas, qualquer político do Estado Novo podia

testemunhar o peso seguido pelas reclamações da ONU a desafiar o Salazar mais

para lá do termo de poder. Quando deparara os diferentes olhares nas Nações

Unidas à posição portuguesa, o homólogo da Austrália, a 15 de Outubro de 1963

escrevera pela segunda vez outra missiva a Salazar solicitar demover a regidez

quanto a mudança da política ultramarina 203. Doutro lado do Atlântico, os EUA

aconselhavam o governo tomar novas atitudes aos territórios ainda administrados.

Salazar acreditava muito no seu mito de perpetuar as civilizações do Ocidente

nessas paragens, quando muitos, já tinham sido desprendidos das políticas coloniais.

No quadro de uma cultura de insensatez, depois da incapacidade de Salazar, falecido,

o seu substituto Marcelo Caetano tentava prosseguir o estilo seguido do desaparecido.

Foi por aí, o jogo de continuidade, sem apoio de ninguém, cada vez pressentira o fim

do regime 204.

199 Paço, António Simões do, 1961 o ano de todos os perigos, Centro Editor PDA, 2007, pp.48 ss; 200 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade História, 2.ª Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 21; 201 Jesus, José Manuel Duarte de, Casablanca o início do isolamento. Memórias diplomáticas: Marrocos 1961-1963, Gradiva, 2006, p. 28; 202 Paço, António Simões do, 1968 Salazar cai da cadeira, Marcelo senta-se, Centro Editor PDA, 2007, pp. 48-58; 203 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 101; 204 Os Partidos políticos de esquerda viam no chefe de governo a esgotar-se de energias e o afirmavam incapaz de democratizar o país e acabar com a guerra colonial, cf. Paço, António Simões do, 1973 nasce MFA, Centro Editor PDA, 2007, pp.58ss;

91

A Indonésia vê Portugal nas nuvens da política colonial, associada com o poder

desfeito na Índia Portuguesa, e as intenções de Jakarta pela posse de Timor Loro Sae

calcularia, dentro de médio ou longo prazo 205.

Houve planos indesejáveis doutras potências à alterar a política de domínio

timorense, no contexto do pós II Guerra Mundial, ainda que não fossem públicos mas

os sinais eram fortes. A Austrália na prioridade, pretenderia organização de segurança

para evitar dos futuros ataques relativa as ilhas da sua proximidade incluindo Timor. A

qual, os diplomatas de Portugal e de Austrália a título particular adiantavam já trocas

de impressões e que incluiriam os projectos de comércio bilateral e do investimento

australiano a Timor-Leste. As propostas chegadas a Lisboa eram acolhidas mas com

tanta reserva, ainda que tornassem irrealizáveis dada a base militar americana no

Pacífico, sgnificaria o afastamento do receio australiano. A propósito da aceitação

duvidosa portuguesa, estaria associada a recusa australiana da presença lusa

aquando se tratara da recepção da rendição nipónica, solicitada pelo governo

português através dos aliados, Grã-Bretanha e EUA. Um facto que fatigou a

diplomacia lusa perante a atitude do geverno de Camberra, só que veio a permti-la no

acto da rendição japonesa e restaurar a administração portuguesa na ilha, consentida

pelas autoridades américana e inglesa. Ainda outra tentativa formulada por um

diplomata australiano com base da longividade de Timor-Leste do Portugal, este

pudesse autorizar Austrália garantir a segurança durante 100 anos, suportada pelo

poder colonial. Proposta fora rejeitada de imediato por representante Palmela sem

consultar Lisboa. Vendo o cenário desenhado, seria uma tentativa de absorver a

soberania portuguesa na Oceania, mas na confiança colaborante com os fortes

aliados, ainda há margem de manobra em manter-se contínuo beneficiário da política

administrativa do território (Fernando Lima, pp. 31-72).

As atitudes abordadas, voltariam a ser deparadas, agora, no lado indonésio

mais sensíveis na não cooperação de acordo bilateral quanto a licença relativa à

carreira aérea (TAP à Díli passar por Indonésia) a que as autoridades de Jakarta não

estão dispostas de renovar a contínua licença semanal. O acordo em questão pode

ser retirado em qualquer altura. Se se renovar, permitindo-a ser quinzenal e em

reciprocidade, querem os aviões militares autorizados aterrar-se na capital timorense

fazer a entrega da mala diplomática ao cônsul indonésio. As propostas conhecidas em

Lisboa, consideradas um acto de hostilidade, uma vez que Portugal apresenta-se

empenhado para cooperar com um bom amigo vizinho (F. Lima p. 74).

205 Oliveira, Pedro Aires, Os Despojos da Aliança. A Grã-Bretanha e a questão colonial portuguesa 1945-1975, Lisboa: Tinta-da-China, MMVII (2007), p. 461;

92

O percurso do regime dito Salazarismo autoritário, cerca de meio século do

século XX, mergulhava no desgostoso olhar da maioria popular, enfrentara crises

políticas até ao último presidente do conselho de ministros ser agonizado por golpe

militar de 25 de Abril de 1974. Marcou o ponto culminate da revolução pela mudança

do Estado Novo à Democracia na sociedade portuguesa sob o signo dos três Ds:

Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. Portugal entrou em liberdade com o

surgimento de novos partidos democráticos, além dos já conhecidos PS e PCP,

transformar as instituições públicas em marcas democráticas 206.

Apesar de ser um acontecimento politicamente importante, imprimiu uma

relação com as colónias a sofrer as consequências. Apesar destas circunstâncias e

das que a seguir verificaremos, já relacionadas com o período posterior, Portugal não

deixou nunca de se afirmar como potência administrante do território de Timor-Leste.

Em relação a colónia, embora fosse numa escala mais modesta se surgiram os

partidos políticos, um a favor da completa descolonização de Timor português, que em

geral as políticas seguidas pela ASDT/FRETILIN, e outro contra a descolonização, que

seguia as propostas da UDT, de manutenção da ligação a Portugal, ainda que seja

transitoriamente e a APODETI (Associação Popular Democrática de Timor 207.

206 Rosas, Fernando, Pensamenro e Acção Política. Portugal Século XX (1890-1976), Notícias Editorial, 2004, pp. 129 ss; 207 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade Histórica, 2.ª edição, Luso Dinastia, 1997, p. 59;

93

3. 4. O ânimo pela democracia, aplaudido nas colónias

Pós ter concretizado a Revolução do 25 de Abril, sob decisão tomada pelas

forças armadas de forma pacífica, na sociedade portuguesa, o eco ventilou-se

entusiasmar a província timorense propor a criação da própria autoridade politica de

direcção colectiva do país. Quando os supostos líderes se trocavam opiniões à

necessidade de formalizar associações partidárias, já as colónias africanas entravam

em negociações com o poder colonial. Quer dizer, os seus ideais em decénio,

promoviam inspirar decisões à constante mobilização das massas alternativa ao

sistema político existente, chegavam a sua meta preconizada. O que se importa

recordar que, ao novo cíclo pressuposto, internamente, era concorrido quase por toda

a sociedade local, levara o poder colonial a esgotar-se das suas capacidades

humanas e políticas 208. Não só em termos de reivindicação interna, mas o eco exterior

conquistou posições que ajudavam pelo rápido êxito dos estatutos, localmente

reclamados 209.

O ano a seguir ao acontecimento, o acto aplaudido não se limitara abstracto,

tornara-se em real construção a alterar de imediato os estatutos das colónias da África

portuguesa em países independentes e soberanos. A euforia emocional, assumiu o

seu nível espectacular na Guiné-Bissau, em este, ser o primeiro a proclamar a sua

independência em Setembro do mesmo ano, 1974 210. Angola, veio a ser igualmente

proclamda a 11 de Novembro de 1975, ainda que a perturbasse por cruel guerra civil

sem fim previsto 211. Os restantes tiveram a sua oportunidade no mesmo ano.

O Timor-Leste está, na sua longividade geográfica da Europa, não estava

alheio do que acontecia aos povos irmãos da África Lusa. Fica-se a perceber, na

colónia, não havia, concretamente, nenhum movimento separatista que punha em

causa a autoridade colonial tanto como os europeus portugueses, residentes na

província. Ainda que o considerasse modorra, distante do mundo dos modernos, as

novidades do MFA, chegaram, mobilizaram a opinião pública da sociedade local sobre

objctivos, sem rodeios e nem hesitações, a grupos evoluídos.

O novo capítulo comunicativo tornou timorenses mais esclarecidos na

ansiedade de se comporem como cérebros teóricos na condução das associações

políticas para definir o destino timorense, que não podia ser ignorá-lo, oportunamente.

208 Cann, John P., contra insurreição em África (1961-1974), o modo português de fazer a guerra, Atena, 1998, p. 19; 209 Rodrigues, Francisco Martins (Entrevista), Revista História in“25 Anos do 25 de Abril quando a rua se fez rio, ano XXI (Nova Série) mensal n.º 13 – Abril 1999, p. 48; 210 Mourre, Michel, Dicionário de História Universal Vol. II, Edições ASA, 1998, p. 615; 211 Idem, Ibidem, Vol. I, P. 67;

94

Muitos funcionários públicos, abandonaram as suas funções, suicidaram-se

ideologicamente na prática a organizar as populações em torno do futuro estatuto do

Território.

Os anseios tornaram-se em construção ideológica a servir os programas

preconizados pelas futuras associações políticas, sob a luz da Lei n.º 7/75 de 17 de

Julho de 1975 sobre opções coloniais 212. A primeira associação foi, a UDT (União

Democrática Timorense), fundada a 11 de Maio de 1974. O Partido apresentava os

seguintes princípios:

«... - Defesa de uma autonomia progressiva, materializada através de uma participação cada vez maior dos timorenses... mas sempre à sombra da bandeira de Portugal; - Defesa do direito à autodeterminação; - Defesa da integração de Timor numa comunidade de língua portuguesa; - Defesa de princípios democráticos, das liberdades, da justa repartição dos rendimentos...» Pelos vistos revela um aspecto principal a uma autonomia gradual, no sentido

de fazer parte da comunidade portuguesa, mas sem uma ideologia definida. As

pessoas que lideravam este partido eram timorenses, alguns deles tiveram curso de

formação fora da província: Eng.º Mário Carrascalão, chefe do Serviço Florestal,

Domingos Oliveira, Francisco Lopes da Cruz, ambos ex-seminaristas de Macau, altos

funcionários da Alfândega, César Mouzinho, administrador da Câmara. Começavam a

transmitir os propósitos da associação, muitos letrados da capital entrariam em linha

de partilha. A conquista de adeptos é agora ser sentido no interior do Território, cada

vez, as populações vão expressando as suas opiniões face a presente novidade, ao

mesmo tempo questionando.

Na maioria das pessoas achavam que a liberdade criada na Metrópole fosse ao

Timor-Leste, bastava-se um movimento como locutor válido para alterar o sistema

político. Todas as atenções mais viradas em torno da UDT em como esta, iria negociar

com a autoridade colonial para o fim dos propósitos preconizados.

Entretanto, em escassos dias, a 20 de Maio do mesmo ano, nascerá a ASDT

(Asociação Social-Democrata Timorense), mais tarde se transformará em FRETILIN

(Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente). Um partido político de

inspiração do socialismo e da democracia e dos princípios:

« - Direito à independência (autonomia progressiva, com vista a uma independência); - Rejeição do colonislismo e prevenção activa contra o neocolonialismo; - Participação imediata dos elementos válidos timorenses na administração e governo local;

212 Magalhães, António Barbedo de, Timor Leste na encruzilhada da transição indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 116;

95

- Não discriminação racial, estabelecendo-se um clima de paz e de amizade entre as diferentes raças do território, salvaguardando-se intransigentemente a segurança e a ordem interna; - Luta activa contra a corrupção; - Política de boa vizinhança e de cooperação em todos os sectores e a todos os níveis com todos os países da área gepgráfica de Timor, mas preservando-se incondicionalmente os superiores interesses do Povo Timorense.». Os elementos deste novo, apareciam como dínamo, cujos nomes mais

conhecidos, em termos de grau literário da época, Francisco Xavier do Amaral, ex-

seminarista jesuíta/diácono de Macau, desistiu-se da ordenação sacerdotal, alto

funcionário da Alfândega e será o presidente da FRETILIN, Nicolau Lobato, ex-

seminarista de Dare/Díli, viria a ser número um do partido até ser morto por tropa

indonésia, José Ramos Horta, antigo aluno dos padres de Soibada e jornalista do “A

Voz de Timor”, perseguido pela PIDE e desterrado para Moçambique, Abílio de Araújo,

estudante da Casa de Timor em Lisboa, Mari Alkatiri, era aluno do Liceu “Dr. Francisco

Machado” Díli e topógrafo. Constituindo assim, uma autoridade política do novo

partido, entra promovendo as aspirações defendidas junto da sociedade timorense

com vista à uma nova sociologia do País 213.

O clima de apetência pela promoção ideária cresce em meio público, em

conformidade daquilo que cada um formulava, apoderava-se da juventude estudntil em

divisões. Os grupos jovens constituídos, cada um transportava os programas políticos

ao interior em busca de adesões populares aos respectivos partidos por eles seguidos.

Na medida que os dias passavam o chamado “futuro de Timor”, entrava em

discussões públicas e com autoridades portuguesas de como estas garantirem o

entendimento entre forças políticas, já reconhecidas oficialmente.

Na sequência do surgimento de dois grandes partidos, aparece o partido

menoritário, APODETI (Associação Popular Democrática Timorense). Sem expressão,

inicialmente fora aderido pelos timorenses que tinham sido implicados no acto rebelde

de 1959, ocorrido em Viqueque, Uato Lari, Uato Carbau e Baguia e os árabes, excepto

Mary Alkatiri e Hamis Bassarewa mantiveram-se firmes na FRETILIN 214. Os seus

líderes principais Arnaldo Reis de Araújo, professor primário, antiaustraliano e

antiportuguês na II G.M., José Osório Soares, ex-seminarista de Macau, funcionário

que por razões de fraude e outras fora suspenso de actividade do chefe do posto

administrativo e que alegava ser vítima das autoridades portuguesas face à sua

simpatia pró-indonésia e Guilherme Gonçalves, liurai/chefe tradicional de Atsabe.

Partido este de princípios que preconizam a integração de Timor-Leste na

213 Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor - Missão Impossível? 3.ª edição, Publicações Dom Quixote, 1994, pp. 38-44; 214 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 294;

96

República Indonésia. Contudo, a autoridade colonial vai-se inteirar das propostas das

três facções e acompanhá-las face as expectativas da sociedade timorense, e,

surgirão mais duas: Movimento Trabalhista e Associação Popular Monárquica

Timorense (KOTA = Klibur Oan Timor Aswain) 215.

Quanto a Igreja Católica no quadro da óptica da sociedade local, não havia

problemas da existência de partidos de que coloração que fosse. Logo a partida,

constatava-se os principais líderes, todos eram alunos de colégios missionários, e

muitos deles são colegas dos párocos, menos o Mary Alkatiri, muçulmano, mas era

aluno das escolas de domínio cristão, mais tarde, viria a casar com uma timorense

cristã católica, sobrinha do actual bispo de Díli, D. Ricardo.

Pelos movimentos partidários em função de seus programas, o Trabalhista e

KOTA não tinham ideologias claras/vagas, notava-se um distanciamento mais

acentuado da população e da juventude. Porém, todos, tiveram a oportunidade de se

expressarem junto das populações. A prioridade de cada uma era centrada na crença

de conseguir em torno de si, mais apoios de massas para melhor servir Timor-Leste

independente e livre, no futuro. Os dois, designadamente FRETILIN e UDT, desde

sempre optaram o português como língua oficial, além do Tétum até a actualidade 216.

Ao longo do governo do Estado Novo, a grande maioria dos nativos continuava

ser analfabeta até a queda do regime. Um dos pontos mais reivindicativos no

programa da FRETILIN para ser combatido, a partir do início das campanhas através

da metodologia de alfabetização aplicada nalgumas povoações. Começando a ser

aderido pelos jovens e adultos dos bairros que faziam parte da capital: Becora,

Comoro, Benamauk, Kameia, Karau Mate, Lakeru Laran, Lahane; Hera e Metinaro. A

partir de Agosto de 1974, entrou em funcionamento. Ao fim de cada semana, os

centros de alfabetização, aí se encontram em grande número para ensaiar as músicas

tradicionais e de revolucionárias, conhecido por convívio. Deste rumo, promove-se

inovar as culturas tradicionais, além de transmitir o programa que a FRETILIN traçou. O

pragmatismo cultural com que começou, foi uma arte mobilizadora que o partido

optou. Dentro de poucos tempos no campo de campanhas, a FRETILIN era já apontada

215 Associação Monárquica/KOTA, o líder era ex-seminarista e sargento militar português, Tomás Ximenes, falava bem português, escrevia-o com facilidade. Filho de um professor catequista/pianista dos padres. Após o serviço militar passara a trabalhar nos CTT. Em Agosto de 1974, gozava licença graciosa, em Lisboa. Durante a estadia, manteve-se contactos com algumas figuras de inspiração monárquica portuguesa, outros políticos e por último teve audiência com o Secretário-Geral do PCP, Álvaro Cunhal. Éramos colegas do mesmo Serviço, em Díli, 1972-1975, e com ainda outro responsável de topo da FRETILIN, Mau Hun, o primeiro substituto de Xanana Gusmão do pós captura. Na ausência do chefe, cada um entregava-me dactilografar os programas manuscritos dos respectivos partidos para serem lidos na estação de rádio difusão, pós hora laboral. 216 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 296;

97

de sucesso superior217. A expressão consciencialização penetrou nas montanhas pela

acção da juventude urbana despertar o espírito de consciência pelos valores de

justiça, direito que Timor-Leste merecerá. Os apoiantes da UDT, muitos deles são

retirados em muitos sítios; APODETI, é conotada por partido de traição e sem

expressão junto do povo; os pequenos KOTA e Trabalhista, nos seus gabinetes não se

entusiasmam com nada, por campanhas, em insucesso 218.

O esforço UDT, é um embaraço, determina distanciar-se dos sonhos que tanto

esperava. O estado das coisas assim correra, leva esta a acusar a FRETILIN admitir

ideologias marxista/leninista e comunistas, apontadas para: Abílio de Araújo,

Guilhermina de Araújo, António Carvarino, José Amâncio da Costa, Vicente Manuel

Reis, Hélio Pina, Júlio César, Venâncio Gomes da Silva, estudantes idos de Lisboa por

importar as doutrinas marxistas, seguidas por movimentos independentistas das

colónias de África portuguesa. Considerados portadores de inspiração antireligiosa e

descatolização da sociedade timorense e a possível desagregação da sociedade 219.

A propaganda opositora da FRETILIN começava espantar as camadas de

fidelidade cristã, a qual, interrogando entre si no que se refere a situação religiosa,

tendente a maioria timorense. Percebia-se que à época, a liderança política da

FRETILIN manteve-se contactos com a hierarquia da Igreja Católica local, alegando-se

respeitar a instituição representar os cerca 90 por cento dos timorenses católicos.

Alguns sacerdotes ficavam descontentes com a notícia ser conhecida pelos sectores

profissionais e evoluídos de matriz político. Mostravam o desgosto pela FRETILIN. A

turbulência gerava-se entre os grupos jovens da FRETILIN/UDT, dia pós dia, cada vez,

anunciava a incapacidade da autoridade legítima mantê-los a ordem. Por outro lado,

os partidos minoritários, em clandestinidade negociavam com o país vizinho na

hipótese de, um dia destes, afundaria o partido maioritário – Indonésia não quereria

ver o Timor português ser porta do comunismo.

A própria UDT, afirmando-se incapaz na corrida, agora, altera-se o jogo: envia

sua delegação a Jacarta com vista a comunicar as evoluções da situação em curso,

no território. Pretenderia que a Indonésia lhe garantisse apoio a neutralizar acções

indesejáveis admitidas, em Timor-Leste 220.

Vendo-se a preocupação da sociedade timorense por ver-se impressionada

com o princípio de um partido pro-integração do país na R.I.. Os líderes da

217 Idem, Ibidem, p. 296; 218 Idem, Ibidem, p. 296; 219 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade histórica, 2.ª Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 158; 220 Francisco Lopes da Ceuz e Costa Mouzinho, recebidos por general Moertopo, cf. Santos, António de Almeida, Quase memórias da descolonização de cada território em particular, 2.º Vol. Casa das Letras, 2006, pp. 331ss;

98

FRETILIN/UDT negociavam criar uma coligação, no sentido de se edificar uma frente

única de assumir esta responsabilidade, a 21 de Janeiro de 1975 221. Registou-se aqui

o primeiro esforço em busca de uma Unidade de todos os timorenses na luta pelo

direito a autodeterminação e independência. E como atrás referimos, depois da

delegação da UDT ter encontro com os políticos indonésios, em Jakarta, de regresso,

os membros de ambos os partidos se desentenderam e a coligação se dissolveu,

ainda no ano de 1975 do dia 26 de Maio 222.

No envolvimento do processo pela Comissão de Desolonização de Timor, em

propostas às três associações políticas, vendo-se a ausência de perspectivas de um

acordo, ainda que fossem conduzidas as conversações separadamente com uma

delas, as posições eram inconciliáveis quanto ao destino do Leste timorense.

Em clima de complexidade, à APODETE, embora se afirmasse internamente

sem expressão, conseguia o novo aliado vizinho que se prometia apoiar-lhe por meios

adequados de campanhas hostis de propaganda com vista a absorver as propostas

pró independência. Ora, em ambiente de séries ameaças evidentes, aos negociadores

viram-se embaraçosos no prosseguimento de conversações 223.

A obra de Fernando Lima, desenha-nos o desenrolar das posições partidárias,

extremamente inconciliáveis, constituíam uma boa oferta à Indonésia de ver

brevemente concrtetizar as suas intenções por Timor português. A última esperança

que seja possível reter o cenário indesejável, remeteria para a cimeira de Macau por

mediação directa dos membros da Comissão de Descolonização Nacional, prevista

para 15 de Junho de 1975 224. A reunião decorrera, em 26 e 27 do mesmo, por aquela

data fora ocupada pela sessão do Comité dos 24 das NU, em Lisboa, em que trataria

das questões de descolonização e do novo regime português. Igualmente falaria do

programa de Timor-Leste. Única hipótese a conciliar a sociedade timorense dividida,

torná-la em unidade por um objectivo comum. À FRETILIN, percebeu toda a ideia que

norteia o processo político à mudança de um país colonial em estatuto político

independente, viu-se atormentado por princípios advogados para um novo

colonizador. Neste sentido, que a assinatura de Acordo de Macau, a FRETILIN recusa-

se estar presente e a atitude de protesto contra posições que sempre ignoram da

construção de entidade singular do País dos Belos, era inflexível 225. Portanto, quando

se deu a Cimeira em Macau, estavam os participantes a delegação portuguesa,

221 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 220; 222 Idem, Ibidem, p. 234; 223 Idem, Ibidem, p. 235; 224 Idem, Ibidem, p. 236; 225 Santos, António de Almeida, Quase memórias do colonialismo e da descolonização, I Volume, Casa das Letras, 2006, p. 522;

99

chefiada por major Vítor Alves, membro do Conselho da Revolução, era formada por

Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial, Jorge Campinos, secretário

de Estado dos Negócios Estrangeiros, o então major Adelino Coelho, chefe de

gabinete do governador de Timor, e o major Francisco Mota, da Comissão

Coordenadora do Movimento das Forças Armadas do território. Os partidos UDT e

APODETI, representados, respectivamente, por José Osório Soares e Costa Mousinho,

diziam ser pela primeira vez os dois estarão sentados lado a lado 226.

Indicava-se a sensação de medo, no silêncio pesava na maioria dos

timorenses de que Portugal viria abandonar a colónia, uma vez verificava-se baldado o

esforço feito pela Comissão de Autodeterminação de Timor 227.

Deve-se recordar o pôs II Grande Conflito, nas décadas de 50, o domínio

francês é determinado desmoronar-se na Indochina, quando tentara o regresso ao

estatuto anterior, fora recusado pelo movimento vietnamita do Norte. Uma decisão

apoiada pelos comunistas chinês e da União Soviética. À parte do Sul de Vietname

era do regime ditatorial, mas complicara-se com a oposição interna comunista.

Os conselheiros americanos apoivam os sulistas, no sentido de neutralizar a

«teoria dos dominós», quer isto dizer, tratava-se dos países da região em evitarem cair

um a um em lago comunista.

A resistência do Norte vietnamita desenhava-se sindromático comunista ao

interesse americano. E os EUA intensificaram o bombardeamento no pequeno país

que se reivindicava pela liberdade, onde a opinião pública internacional dava-lhe justa

razão. Considerando o ataque como acto negativo e oposto ao prestígio da

intervenção pela liberdade e de vitória sobre o nazismo e associada com a contradição

interna americana, forçaram-os sair em Saigão 228. Aos vietnamitas do Norte e aliados

sulistas apoderaram-se do porto Saigão, no mês de Abril de 1975. O regime estendeu-

se aos países da Indochina. Contudo, a política rigorosamente imposta, tornara a

economia vietnamita dependente da União Soviética, mais tarde resolveria aproximar-

se da China e dos EUA 229. Por outro lado, os países do Sudeste Asiático, pró

Ocidente e Estados Unidos constitui-se barreira anti-comunista, e a Indonésia permitiu

aos submarinos americanos esconder-se nas profundidades do mar de Timor.

Relações estas afirmam o sinónimo de entendimento da região com Estados

ocidentais da Europa e EUA.

226 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 237; 227 Gunn, Geoffrey G., Timor Loro Sae: 500 anos, Livros do Oriente, 1999, p. 303; 228 Boniface, Pascal (direc.), Atlas das Relações Internacionais, Nova Edição, Plátano Edotora, 2009, p. 74; 229 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 670;

100

Perante o desenrolar da situação política timorense, de forma inconciliar

internamente, em Lisboa, o Anwar Sani, embaixador indonésio afirmava a posição do

seu país não ter ambições territoriais, a não ser por livre opção timorense, estaria

disposto recebê-lo (Fernando Lima, p. 236). E quanto a declaração vinda de Jakarta

doutro político, John Naro, membro do parlamento indonésio salientava que o seu

governo não quereria ver Timor-Leste copiar a história da Goa de 1961. Uma velada

alusão vista pelos observadores de que a política de Jakarta preparava-se ocupá-lo

pela força 230.

No quadro da evolução política promovida pela FRETILIN, esta recordando-se

das relações e das expectativas de vizinhança, representada por uma delegação,

liderada por Ramos Horta visitara Jakarta, recebida por MNE da Indonésia, Adam

Malik, no mês de Junho de 1974. Durante a troca de impressões, este garantiu a

delegação que o governo da Indonésia não tinha quaisquer intenções ao alargamento

de fronteiras terrestres, e respeitar a liberdade do povo Timor-Leste a escolher seu

destino 231. Mais tarde comentaria-se que os risos vizinhos são bons, e por detrás, as

apetências pela colónia se crescem.

A Indonésia, habilmente jogaria pela via diplomática para se concretizar em

como Portugal enfrentara as consequências de 25 de Abril. Uma delegação aproveitou

visitar Lisboa contactatar os líderes políticos do novo regime, donde comunicava ser

melhor Timor-Leste manter-se com Portugal ou à Indonésia e salientava-se à

independência não é boa opção 232.

Muitos descontentavam-se pelos nulos êxitos, começaram por acusações de

comunistas atribuídas a FRETILIN. A UDT recorreu pela força, o chamado “Golpe do 11

de Agosto de 1975”. O ambiente tornou-se em confrontação de entre irmãos,

envolvidos nos respectivos partidos políticos. Na lógica do 11 de Agosto era cercear

as bases e a destruir a organização política pela independência. O início conflituoso irá

causar danos humanos. O governador, Mário Lemos Pires fez intervenções pelo

diálogo entre facções em oposição, sem efeitos.

A UDT e a APODETI uniram-se opor-se a FRETILIN, no entanto, esta alterou o

estado da situação, quase controlava todo o território e as duas forças forçadas irem

para o lado da fronteira, Atambua/Kupang, Indonésia. Nos últimos dias do mês

230 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 237; 231 Magalhães, António Barbedo de, Timor Leste na encruzilhada da transição indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 121; 232 . Santos, António de Almeida, Quase memórias da descolonização de cada território em particular, 2.º Vol. Casa das Letras, 2006, p. 299;

101

Setembro de 1975, os elementos da TNI233 entraram na parte ocidental do Timor

português, Batugadé, Balibó em conjunto com as forças da UDT, APODETI. Iniciaram

largar morteiros, bajucas para reprimirem as forças independentistas.

Os primeiros momentos da cristalização dos anseios do vizinho a serem

conhecidos e a desagregação das populações locais, instalada. Daí em diante, o

espaço marítimo entre Díli e Ataúro, aos submarinos indonésios exibiam-se ao longo

da facha litoral mal chegava às 21 horas até as cinco horas de manhã do dia seguinte,

consecutivos. O pânico começava-se como uma nuvem negra pairava sobre nas

populações e à certeza da invasão das forças armadas da R.I. é a questão de dias.

Não se sabia como haveria de reagir a força indonésia; a saída da população

era difícil: a metade da ilha ocidental é inimiga e à metade oposta/leste é o mar. A

força portuguesa era incapaz de dominar as facções partidárias em campos de fogo e

ferro contra uma a outra 234. Díli já não era uma cidade capital, destruída, não se viam

militares, funcionários europeus, cabo-verdianos e goeses. A situação evoluía-se de

mal a pior, a autoridade portuguesa encontrava-se sem funcional já sem hipótese de a

retomar. A FRETILIN manteve içada a bandeira portuguesa no Palácio e nalguns

edifícios públicos. Todos os esforços feitos no sentido de conseguir que Portugal

reassumisse a administração, mediasse o conflito, sem êxitos.

Ao insucesso de tantos sacrifícios e a iminente invasão indonésia, a FRETILIN

para superar as indefinições legais de um quadro político de facto, proclamou a

Independência Nacional de Timor-Leste sob a designação da República Democrática

de Timor-Leste a 28 de Novembro de 1975. A data planeada seria 1 de Dezembro, dia

histórico da Restauração da independência de Portugal divorciara da monarquia dual

espanhola, por motivo da queda de Atabai em poder TNI antecipou a proclamação 235.

De certa forma, a RDTL nasceu para colmatar o vazio criado pela

Administração Portuguesa, como razão impeditiva do reconhecimento da anexação

pela Indonésia. Constituiu o governo, nomeou o presidente da república e ministros.

A tomada de decisão feita num clima de alta temperatura pareceu conseguida.

Teve o reconhecimento internacional por parte dos países de língua oficial portuguesa,

ainda que fosse de pequena dimensão do impacto, tornava-se necessário mobilizar a

comunidade internacional 236. Visava mover a responsabilidade desta no sentido de

ver as possíveis condições à reposição da legitimidade internacional em Timor-Leste.

233 Abreviatura de Tentara Nasional Indonesia. Em português: Exército Nacional indonésio; 234 O Governador e a equipa forçados evacuarem-se à ilha de Ataúro, a 27/08/1975: Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor. Missão Impossível? Lisboa, Publicações D.Quixote, 1994, p.267; 235 Idem, Ibidem, p. 318; 236 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na Encruzilhada da Transição Indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 129;

102

Muitos ainda acreditavam que Portugal fizesse algum recurso aos aliados tradicionais,

no sentido de travar os acontecimentos dramáticos, que em breve cairiam sobre

Timor, contudo os seus pensamentos sairam desfeitos em nada.

Daqui, importa-nos a compreender que, logo a primeira fase do pôs 25 Abril

português, o governo instalado era de esquerda mais radical, colocou Portugal no

desgosto dos aliados tradicionais e tanto como dos Estados Unidos da América. Viam

-se prejudicados de interesses. Ignoravam a preocupação do amigo português face a

complexidade política que a colónia lusa encarava perante o eminente ataque militar

indonésio; este não pretendia que fosse admitido na sua porta um regime comunista.

O Francisco Xavier do Amaral da FRETILIN e Presidente da República de Timor-Leste,

escreveu ao MNE da grande China, no sentido de interceder junto do presidente do

EUA, Gerard Ford para inverter a invasão planeada pela Jakarta, aquando visitara

China, em Dezembro de 1975, sem êxitos. Desta visita, passava por Jakarta reafirmar

as relações bilaterais, a 6 de Dezembro. Do ponto de vista de quem atentava-se

acompanhar a passagem apontava para um apoio americano à invasão indonésia ao

território português 237.

Face ao sorriso vizinho, depois de ser absorvido o poder luso em Goa no

Estado da Índia, a Indonésia começava reivindicar brutalmente antiportuguês,

disfarçava-se silenciosa sobre a colónia, argumentado ser do último poder ocidental

sentido no Sudeste Asiático. Criar pequenos incidentes na fronteira através dos

timorenses incautos para mobilizar pela desagregação social com a autoridade

colonial. Em paralelo os diplomatas averiguavam como eram a alma timorense pela

anexação proposta. Não parou por aqui. Planeava estabelecer uma escola junto a

fronteira para captar os filhos do leste timorense, sinal de negação portuguesa em

relação aos filhos nativos na educação. Sem dar seguimento por falta de apoio

material, conforme revelou o bispo de Díli, D. Jaime Garcia Goulart, conseguido por

canal católico do lado ocidental (F. Lima, p. 152).

237 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 257;

103

3. 5. O futuro do País

De acordo com o Direito Internacional, os senhores de Jakarta afirmaram por

várias vezes, nas Nações Unidas, não terem intenções de alargar as suas fronteiras

terrestres para englobar o Timor português na sua soberania, declaração que repetiria

noutras ocasiões238. O próprio Sukarno, presidente indonésio quando visitara Lisboa,

em Maio de 1960, garantiu que o seu governo não tem quaisquer ambições territoriais

sobre a província portuguesa (F. Lima, p. 153). Para lá disso, apercebeu-se da falta

de consciência face as aspirações do Leste timorense, achando as reivindicações

fossem um terramoto a afundar a merah putih 239 no mar das tempestades. Em honra

de grandeza e de cooperação de um país como a Indonésia, delas podia valer-se

aceitar diálogo com Portugal e Austrália, em conjunto resolver a situação com os

líderes timorenses. Medida que parecia conveniente em busca da verdade dos ideais

seguidos para nortear o Timor-Leste independente, e, dando-lhes a entender o

caminho dos sonhos democráticos que entusiasmarão com os vizinhos da região.

Os políticos do lado, satisfeitos com a postura do grande estadista americano,

mas parecia preconizá-la demasido “indigesta” aos olhos dos amigos portugueses e

de Portugal, contudo os preparativos ao assalto, foram concertados na noite do dia 6

de Dezembro de 1975.

Conhecidas as notícias do ataque indonésio a Timor-Leste, anterior a essa

data, na Austrália decorriam descussões parlamentares. Os trabalhistas apreensivos,

pressionaram o governo com o seu bom ofício junto das autoridades de Jakarta para

alterar o plano; saberiam que a operacionalidade militar indonésia na metade ilha seria

inútil aos milhares de civis, e nem sequer dava eco de humanidade (F. Lima, p. 225).

Foi precisamente, estas vozes, na tentativa de travar os anseios indesejáveis, mas os

momentos escolhidos da altura eram difíceis de se tornarem em outras atitudes.

De facto, a ingerência tornara-se uma medida severa em invasão a Timor-

Leste, logo de manhã dia 7 de Dezembro (Domingo) às cinco horas, hora local. Um

pouco antes da hora, os navios de guerra já bombardeavam as contiguidades da

capital Díli. Os aviões sobrevoavam esta e a ilha de Ataúro. Cerca das sete horas

largados os pára-quedistas no coração da cidade por aviões em sistema rotativo.

Sobre o Quartel-General português, em Taibesse, dois gigantes deles largaram

centenas em simulacro apoderar-se do Quartel para a sua base. Foram os primeiros

238 Uma vez mais pela voz de Adam Malik, no encontro de Roma, em 1 de Novembro de 1975 declarou respeitar a vontade expressa do Povo de Timor-Leste, conforme Pires, Mário Lemos, Descolonização de Timor. Missão Impossível?, Publicações Dom Quixote, 1994, p. 323; 239 Em português: bandeira vermelha branca da R.I.;

104

acolhidos pelas balas de mauser, G3 e FBB em posse das FALINTIL (Forças Armadas

da Libertação Nacional de Timor-Leste), comandadas pelos sargentos nativos (do ex-

exército português). Chegaram em terra sem vida para as primeiras do «bando de

andorinhas», baptizadas por gentes anti-independentistas.

Os pára-quedistas, da 1.ª a 3.ª leva, eram infelizes; os que chegaram a terra,

desnorteados, sujeitos a pauladas e flechas pela população civil; cerca das nove

horas, os navios de guerra enchiam-se no espaço marítimo entre Díli e a ilha de

Ataúro. Desembarcaram os carros de assalto, tanques; fuzileiros navais avançavam

dispersos pela cidade a tomarem operação de carnificina. Encontravam os guias a

conduzi-los aos locais de concentração de populações, onde muitos delas encaravam

capturas e de difíceis situações de vida.

Por medo, centenas de famílias refugiam-se nas igrejas de Balide, Becora e

Motael, em Díli. Os párocos enfrentavam-se com dificuldades para demover a fúria

militar em desmobilizar as populações concentradas. A vontade dos religiosos de

intervir não faltava, mas as capturas se sucediam, os líderes políticos assassinados.

Ao fim deste dia (7/12) ouvia-se pela rádio de Kupang criticar as FALINTIL sem

respeitar as regras dos pára-quedistas.

Díli, mergulhava-se em lençóis de fumo. Morteiros, bajucas e canhões vindos

do mar e metralhadoras do ar actuavam, repetidamente, nos sítios suspeitos refúgios

e bases das FALINTIL. Contudo estas não se envergavam perante a presente situação

avassaladora. Resistiam por mais de duas semanas, em Díli, apoderavam-se de

muitos armamentos de marca americana e ocidental. Vendo-se a evolução acentuava-

se em desfavor das forças independentistas, deu-se a voz do Nicolau Lobato,

Secretário da FRETILIN e I Ministro da então RDTL pela evacuação das populações às

montanhas para se organizarem na Resistência (28/12/1975).

As instituições públicas destruídas, casas e estabelecimentos comerciais que

se escapavam dos actos do 11 de Agosto do desgosto anti-independentista tornaram-

se em cinzas e de esqueletos. O desespero tomou conta das populações de Díli,

muitas famílias que não queriam ser fuziladas tentavam fugir as montanhas em

sintonia com os grupos ligados as FALINTIL.

Nos inícios de 1976, nas montanhas se viam as populações apoiar a

Resistência contra as forças invasoras. A liderança política decidiu o território,

estrategicamente dividido em sectores: Centro Norte; Centro Sul; Fronteira Norte;

Fronteira Sul; Centro Leste e Ponta Leste. Politicamente cada um é dirigido pelo

comissário do sector e comandante do mesmo. São membros de topo da Resistência

Nacional, que estudam, organizam e mobilizam as massas populares para cumprir os

105

deveres atribuídos a cada um, em coordenação com os secretários/assistentes

políticos das zonas e comandantes de companhias e de regiões.

Edificaram acampamentos para a população civil de todas as idades, em

aldeias com respectivos chefes de aldeias. Criavam zonas branca, vermelha e de

transição 240.

Dia a seguir da data de invasão, a notícia circulou até a igreja de Becora dizer

que os soldados indonésios ordenavam as pessoas concentradas na igreja dirigirem-

se ao cais cerca de 30 mulheres, timorenses e chinesas. Umas levavam consigo as

crianças, retiradas por indonésios. Foram todas mortas a tiro uma a uma, obrigando os

restantes vivos, presentes a contar em voz alta as que iam parar na água.

Continuavam disparar os corpos boiar na água achando nalgum sinal de vida. Cerca

das 3 horas da tarde, lá estavam 59 homens em fila, também timorenses e chineses,

exterminá-los, sem dó nem pena, segundo um delegado da FRETILIN (Paulo Pereira,

residente de Banamauk, Becora) informado por um APODETI parente, alertando-o

preparar a família fugir quanto antes. O drama dos primeiros dias, mais tarde veio a

ser confirmado por último cônsul australiano Jim Dunn, por via de testemunhos

oculares que conseguiram parar na Austrália a descreverem o assassinato de 500

timorenses 241.

Além dos sacerdotes católicos, não havia nenhuma representação

internacional no local que tentasse dissuadir os agressores a compreender a situação

da população civil, dos inocentes e das crianças e velhos. Começavam a pilhagem,

despojavam mulheres, maridos mortos; barbaramente, separavam os jovens casais

das esposas em diferentes prisões. Os padres dividiam-se, pelos vistos, reduzissem a

autoridade do bispo, de princípios de neutralidade.

O bispo D. José Joaquim Ribeiro (português) e padre Martinho da Costa Lopes

(futuro bispo), eram conservadores, viam a invasão fosse benéfica para Timor, em

termos de visão cristã. Percebendo-se que a Indonésia é um país muçulmano e

tolerante, é favorável aos diálogos religiosos. Pouco durou o fervor do anticomunismo

quando se apercebem que os “libertadores” de Jakarta eram piores que os comunistas

da FRETILIN, os seus protestos pelos massacres, violações perpetrados pelos lobos

homens da Indonésia não se transpuseram as muralhas erguidas em Timor-Leste.

240 Branca, espaço vital da organização civil a produzir, abrir escolas de alfabetização (pertencia desta organização, do Centro Norte: 30 escolas, mais 50 monitores/professores e cerca de 400 alunos), ensinar também catequese para baptismo e casamentos, dar formações aos evoluídos de como conviver com a massa civil a compreender o objectivo de sofrimentos; Vermelha é zona de confrontação com os militares da TNI e Transição, linha de ninguém onde se faz o encontro dos guerrilheiros estafetas com os clandestinos da zona inimiga. Esta é um espaço de alto risco para muitos durante a ocupação indonésia. 241 Revista, Timor-Leste 20 anos de ocupação e 20 anos de resistência, s.l. e s.d., p. 6;

106

Nas montanhas, a resistência organizada, em sectores militares e civis para o

mesmo fim, estavam seis padres a cumprir o seu dever de sacerdócio, dar assistência

espiritual a população nas áreas controladas pelas FALINTIL. Não lhes faltava o

respeito habitual.

No seio de todo o sofrimento, continua o povo Leste timorense sacrificado nos

braços de uma ocupação militar de cultura religiosamente muito brutal, D. José

Joaquim Ribeiro, em 1977 resignou, abandonou Díli, sendo nomeado administrador

apostólico de Díli, Monsenhor Martinho da Costa Lopes, natural de Laleia, Timor, fica

na dependência directa de Roma. Muitos colegas, compatrícios que ficaram por lá

lamentar pela saída à Lisboa, implicava entregar as ovelhas a um mundo de lobos

famintos 242.

Apesar da Igreja Católica indonésia apoiava integração, em Novembro de

1976, uma delegação de padres indonésios que visitou Timor nessa altura escreveu:

”80 % do território está controlado pela FRETILIN que comanda toda a resistência do

povo de Timor-Leste, a maior parte da população está nas montanhas, as

comunicações terrestres são difíceis paras os soldados indonésios. O desejo da

integração na RI começa a diminuir devido aos roubos, violações de raparigas,

massacres, etc....”

Em Novembro de 1977 escrevia um missionário que estava em Díli:

“Fazei algo de positivo pela liberdade do povo de Timor. O mundo ignora-nos e

é pena... estamos a caminho de um eminente genocídio... a guerra promete ser “

carnificina, extermínio...” 243.

O poder destrutivo da máquina militar indonésio só foi efectivamente

conhecido, em toda a sua extensão a partir do dia 7 de Dezembro. Entretanto, em

Setembro de 1975, com o recuo dos anti-independentitas para fronteira, período este

os militares RI já penetravam em Batugadé e Balibó, puseram a população em fuga.

A política de ingerência afirmada, aos peticionários fora uma glória. Vistos

como gente que fugira das disputas timorenses sem fundamentos politicamente

credíveis, tendo a sua génese uma amálgama de estratos que dificultam um sentir

nacional face ao próprio Timor-Leste. Uma questão de não interferência estava

mesmo institucionalizada na premissa das figuras de ápice nacional: Sukarno, Adam

Malik 244, por detrás os cérebros ferviam pela ambição saíra comprovada.

242 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Nacional, 1999, pp. 128 ss; 243 Extraído do Relatório de 1988, p. 4, do ex-padre Luís Costa (actual autor de dicionário tétum-português, em Lisboa); 244 Aquando da visita de Almeida Santos à Jakarta afirma que a RI não tem ambições territoriais sobre Timor português, conforme Abreu, Paradela de, Timor a verdade histórica, 2ª. Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 45;

107

Para a Igreja de Timor, o novo bispo, D. Martinho ficara como chefe, assistira o

drama dia pós dia. Os seus apelos às autoridades de Jakarta no sentido de respeitar

os direitos humanos, não tornarem a vida do povo em simples frangos retirados da

capoeira para resolver os caprichos do homem de dia para noite. Tiveram eco em

Jakarta, baldados e surdos no local. Tornara-se em fúria quando fora surpreendido

pela notícia de massacre impiedoso de mais de 500 timorenses, em Aitara de Santo

António de Lacluta, em Setembro de 1981, cerca de quatro dias 245. Um movimento

conhecido de “operação de limpeza” justificava guerra de acabar com a resistência,

em silêncio.

Importa-se recordar o início da guerra, encontrava-se o jornalista Adelino

Gomes da RTP 1 com sua equipa acompanhava os primeiros dias de inflitração dos

soldados indonésios na fronteira. Ficava a perceber da ansiedade com que a Jacarta

pretendera assaltar e esfrangalhar Timor-Leste, sem dificuldades. Ainda que fosse o

seu movimento muito limitado e em curto espaço de tempo, conseguia denunciar ao

mundo os propósitos ilegais praticados nos territórios fronteiriços. Infelizmente,

encarava-se com a falta de segurança à equipa regressara a Portugal, na companhia

do último governador português, quando não havia já hipótese do poder central de

Lisboa reassumir a administração portuguesa da colónia 246. À saída metaforicamente

significou o regresso do imperador à Roma.

A Indonésia, redobrou o número de batalhões para uma operação de razia por

terra, mar e ar, sem ordem de descanso a actuar sobre bases de resistência. Os

bombardeamentos massacraram milhares de populações civis de todas as idades nos

acampamentos organizados. Também muitos militares da RI tiveram baixas, embora

fossem maior das da Resistência Timorense, dado o desigual uso de material.

Precisamente, em Julho e Agosto de 1977, milhares da população e quadros políticos

refugiados na montanha de Mate Bian (2350 metros) do Centro Leste, entre vilas de

Quelicai e de Baguia fora brutalmente bombardeada por três frentes. Um acto de

aniquilamento que é visto fora da amplitude do ódio humano e de sem consciência. As

FALINTIL ficaram impressionadas com a perda na ordem de 80 % dos membros,

incluindo com as armas. Hortas, várzeas e plantas tornaram-se sem proveito e gados

aproveitados pelos invasores. Famílias inteiras morriam de fome e de doença; dias e

noites sujeitos aos constantes movimentos torneantes, crianças mortas pelo caminho

e outras abandonadas, entregues a sua sorte com osso e pele. Centenas ficaram

fechadas por entre montes rachados por bombardeamentos. No quadro desta

perseguição, puseram fim a vida do Presidente da República Nicolau Lobato, a 31 de

245 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Nacional, 1999, pp. 130 ; 246 Santos, José Rodrigues dos, A Ilha das Trevas, Temas e Debates, 2002, pp. 19-64;

108

Dezembro de 1978, em Alas/Same do Centro Sul, em combate. Jornais, rádios e

televisões anunciaram o sucedido por semanas no mundo indonésio. As autoridades

de Batávia em euforia afirmaram repetidamente junto do público e homenagearam os

seus oficiais militares obtiveram o sucesso, por a morte de Nicolau Lobato, ser

sinónimo do problema de integração consumado.

Por muito tempo, a maioria da população recolhia-se em silêncio ao ter notícia

da morte do Nicolau e preocupava-se em quem seria capaz eleito como futuro líder.

Os que ficavam nas montanhas eram instruídas entregar-se às unidades militares.

Integravam-se nas organizações civis das respectivas zonas de origem, mas custava-

lhes cara. Muitos válidos desviados, nunca mais vistos e outros presos sob controle

militar, em Timor-Leste e noutras ilhas da Indonésia. Os fuzilados sem sabiam dos

cemitérios. O primeiro P.R. da RDTL demissionário, Francisco Xavier do Amaral foi

desprotegido e rendeu-se aos indonésios, em Agosto do mesmo ano.

É o período de tropelias, ameaças e angústias: 15 a 300 mil pessoas

concentradas em acampamentos tiveram que arrastar a sua existência na ignomínia e

na amargura. Também decorriam contactos, multiplicavam-se em pleno território,

chegavam comentários de perda inútil dos melhores heróis e outros influiam coragem

e esperança. Em paralelo a situação, o Timor dizimado vê atónito com milhares

indonésios doutras províncias, transferidos para lá em função do progrma de

transmigração para ocupar zonas férteis para produzir e encobrir o número de

timorenses mortos. Nas cidades dos concelhos e de Díli, obrigavam os naturais a

transferirem-se para longe, e os sítios seriam dos novos moradores (comerciantes,

familiares dos altos funcionários, comandantes, médicos, técnicos de construção).

Converteram muitos cristãos em muçulmanos, estendidos ao interior que,

anteriormente não havia tal dimensão. O novo fenómeno religioso, aos olhos locais,

não é bem visto no território, considerado outra arma para perseguir o cristianismo,

porque os seus homens nunca vêem os sacerdotes e religiosas com bons olhos.

A volta dos sucessivos planos em funcionamento activo, a reorganização de

resistência passa a ser aderida, em secretismo, as mensagens penetram nos

adormecidos por medo. Os profissionais, estudantes, funcionários públicos,

empresários acordados pelos apelos em cassetes e em escritos a darem o seu apoio,

em clandestinidade. Esta, retoma as novas orientações em como irá trabalhar em

companhia de fera, dispersa em todo o lado. Os contactos das vilas com a Resistência

tornarão a funcionar. Algumas vilas ocupadas pelos militares da TNI, voltam ser

surpreendidas pelos guerrilheiros e repocupadas 247.

247 Gusmão, Xanana, Timor Leste um povo, uma pátrao, Edições Colibri, 1994, pp. 97 ss;

109

Emergiu a figura de Kai Rala Xanana Gusmão, detentor de uma nova voz tornar a

política da Resistência Timorense em arte possível 248. Os sobreviventes quadros civis

e militares, dispersos, frequentemente com ele se reúnem para dar novos passos, em

conformidade das decisões tomadas em maior ponderação. A nova forma adoptada

não se limitaria apenas seguida em funcionaldade, nas bases de resistência mas, o

seu leque estende-se a todos os estratos sociais de todo o território. As semanas se

sucedem, os arquitectos se sentem insuflados de energia, e o Xanana Gusmão entra

em conversações com o comandante de alto patente indonésio, coronel Purwanto, em

Timor-Leste. A mútua cedência de partes em se sentarem na mesma mesa visa o

cessar fogo por ambos durante duas semanas. Permitindo assim aos guerrilheiros

visitar as famílias nas vilas ocupadas pelas forças da TNI, porém, sem ter sido

cumprido o período, fora interrompido pelo lado invasor 249 (anexo 6). Uma abertura

conseguida, ainda que acarretasse perigo de maior, foi possível percebendo o

secretismo político, clarificado numa luta prolongada que seria perigosíssima para a

Resistência Nacional Timorense. Conseguidos novos dados junto dos activistas

estrangeiros por Timor-Leste que visitavam o país de capa turista ou religiosa;

encorajados e informados pelos próprios timorenses que tinham canais especiais com

o estrangeiro sobre a evolução da solidariedade internacional a anunciar as suas

preocupações pelo sofrimento, imposto ao Povo Mau Bere, situado no infinito distante

dos centros actores de cultura civilizacional 250. Mais tarde, teve encontro com o

governador Timor Timur 251, Engenheiro Mário Viegas Carrascalão. Cada um tentava

apresentar os pontos de vista defendidos, onde da Resistência sempre advogava as

soluções da questão timorense no quadro da legalidade internacional.

Nas vilas, a fome e a doença puniam as famílias, além de encarar capturas e

prisões, torturas por boinas vermelhas e polícias, os válidos eram mobolizados ajudar

as forças da TNI a procura das FALINTIL, em geral, eram eles os primeiros atingidos

pelos guerrilheiros. Angústias que imperavam nas populações na ordem do dia devido

ao desaparecimento de pais, irmãos; esposas violadas, despojadas e maridos mortos;

os filhos assistiam os pais, parentes sujeitos a maus tratos em todos os lados. Não

havia nenhuma representação internacional que interviesse opor-se ao acto desumano

praticado.

248 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na Encruzilhada da Transição Indonésia, Edição Gradiva, 1999, p. 135; 249 Revista, Timor-Leste 20 anos de ocupação e 20 anos de resistência, s.l. e s.d., pp. 20 e 21; 250 Stark, Rodney, A Vitória da Razão “Como o Cristianismo gerou a liberdade, os Direitos do homem, o capitalismo e o milagre económico no Ocidente”Tribuna, 2007, pp. 274-276; 251 Expressão em língua indonésia: Timor Leste.

110

Uns anos a seguir do vergonhoso assalto, a Cruz Vermelha Internacional e o

Catholic Relief Service foram autorizadas entrar no território iniciar o programa de

ajuda humanitária a população civil. Os membros da CVI começavam intervir nas

questões de captura a pessoas sem culpa formada junto dos Intel (polícia política

militar). Em 1982 em diante, o ódio agressor redobrava-se, em todo o país, na captura

de milhares timorenses. Todas as unidades militares transformavam-se em prisões, a

ilha de Ataúro era famoso em miséria: milhares aprisionados, em anos a espera de

serem julgados; outros a título de detenção e com o prolongamento de tempo, a

maioria fora ceifada pela fome e doença, mesmo que os membros da CVI os

socorressem.

O constante apelo dos padres timorenses as autoridades militares era difícil de

ser satisfeito. O estado de situação de surdez sentido, contribuíu acelerar a Igreja

Católica posicionar-se abertamente pela identidade timorense. Foi daqui, da dureza de

comandantes operacionais que surgiu a mesma dureza do bispo D. Martinho da Costa

Lopes: percebia ele que, a Resistência Timorense não tinha capacidade de tamanho

poder indonésio para mudar o que está acontecendo. Em silêncio, acreditava na fé

pelo apelo moral aos que possuíssem altos valores de cultura civilizacional. Escrevia a

um colega católico, na Austrália, descrevendo que a Igreja Católica Timorense não

suportava os riscos; a sua residência, invadida dia e noite por famílias,

desesperadamente apresentar os pais, filhos, irmãos capturados, sem saberem do

paradeiro 252. Surpreendeu figuras de renome internacional, pressionava os senadores

norte americanos reverem a situação política com a Indonésia. Moveu a hierarquia da

Igreja Católica americana contribuir em silêncio nos bastidores e apelava apoiar o seu

sucessor, Carlos Filipe Ximenes Belo 253.

A Indonésia fez por tudo, impor a sua língua em todos os domínios, mesmo nos

litúrgicos. Em paralelo, oito sacerdotes timorenses, em 1980, reuniram dicidir a

tradução para Tétum (língua nacional de Timor-Leste) todas as partes do missal

romano (orações, leituras) ordinário da missa, os rituais de baptismo, casamento e

óbitos. Um ano depois, em Outubro de 1981, o Núncio Apostólico de Jacarta, anunciou

solenemente a aprovação de Roma (Sagrado Congregação dos Ritos) da utilização do

Tétum nas celebrações litúrgicas 254.

Por toda a parte se fala de cenas horrorosas de tortura, violações e brutalidade.

Mas a aventura crescia nas pessoas, em silêncio, passavam mensagens as famílias

incautas para desvalorizar a propaganda lançada pelas autoridades em favor do Povo 252 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 294; 253 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Rditorial Notícias, 2002,p. 130; 254 Costa, Luís (ex-padre), Relatório 1988, p. 5;

111

Timorense ser apêndice da RI, em definitivo. A maioria dos timorenses cada vez viam

a Igreja Católica como factor decisivo junto da Resistência Nacional Timorense; foi

único refúgio onde se puderam acolher e muitos foram salvos de serem massacrados.

A volta de posições assumidas pelos sacerdotes timorenses contra atitudes

criminosas decorrentes, em Díli como Jacarta manifestavam o desgosto pela

permanência do bispo D. Martinho da Costa Lopes. A Conferência Episcopal indonésia

promovia uma política de desgosto junto do Vaticano à rápida expulsão do bispo de

Díli. E, em Roma, cruzavam-se políticas pró Diocese timorense enquanto, outros

bispos dos fortes países pretendiam que o Vaticano mantivesse boas relações com a

RI, país de 10 por cento de cristãos católicos. O que entenderia sacrificar o povo

timorense nos braços de Jacarta, por ser detentor de uns milhões de católicos e

afundá-lo das reivindicações pela justa causa universal. À clerezia timorense sabia

isso, e respondia por rumos escolhidos. Pelo lado do próprio povo vê-se perfeitamente

consciente de que as suas opções não são infelizes a ninguém, fundamentam-se nos

princípios de cooperação e de ajuda mútua com todos os países, considerados

universalmente. Mas aqui, cada vez famílias inteiras são condenadas ao extermínio.

Os capturados, responsáveis ou pró Resistência e suspeitos nos fins de 1975 a 1985,

em Quelicai, muitos deles foram atirados ao precipício de olhos vendados para não

terem a honra de sepultura.

Em relação a outra metade ocidental da ilha, vive-se indiferentemente do que é

do pão nosso de cada dia, sentido no lado oposto. Uma sensação que para muitos

afirmava a postura obcecada por uma cultura oposta, até a contemporanidade, a

história do passado recente não a ignora. O Leste, pressionado por muitas formas

para abandonar a sua maneira de vida social e de divorciar-se dos hábitos,

religiosamente, cristãos. A Jacarta encara uma dificuldade dos objectivos traçados,

cada vez se sente insucesso. Por desespero, isola o Timor-Leste ao mundo exterior

por muito tempo. Os seus operacionais, actuavam mais a vontade no campo das

perseguições a pessoas civis como agiam sobre as bases da Resistência para

eliminar fisicamente as FALINTIL. À Igreja Católica acompanhava, conciliava, as

palavras de conforto não faltavam, como se prenunciassem o tormento em glória para

breve.

Os clérigos nativos sentiam-se apreensivos com o comportamento arrogante

dos soldados de Jacarta, no territórtio. O bispo Martinho Lopes começava intervir junto

dos comandantes das TNI, as promessas pareciam sensíveis e na prática agudizava-

se. Como atrás referido, a atitude do prelado entrava em constante contestação, o

ameaçavam de morte e influenciavam os anti-independentistas a ficarem descontentes

com o mesmo bispo Lopes.

112

Decorriam propostas na Cúria Romana sobre quem seria substituto. Vinha

apercebendo-se de que o possível nome escolhido pelo próprio Papa João Paulo II,

seria um sacerdote salesiano, Filipe Carlos Ximenes Belo, para o futuro bispo do País.

Já trabalhava antes, em Fatumaca/Baucau, Missão dos Salesianos. A nomeação

como administrador apostólico foi em Maio de 1983 (Arnold S. Kohen, 1999, p. 10),

dirigiria a Igreja timorense, como primeiro responsável hierárquico. Em 19 de Junho de

1988 é sagrado bispo em Díli, ficando na dependência directa de Roma. O bispo

Martinho é aconselhado abandonar Díli, no mesmo ano que fora nomeado o sucessor 255. Antes da saída, atacava frontalmente a política de Jacarta, muitos o seguiam

inconciliar-se da integração, às vozes surgiam pela rejeição mais acrescidas. A sua

voz mobilizou muitos integracionistas a entrarem em ruptura com os seus princípios,

por assitirem a prática desumana perpetrada. Sabendo que Timor-Leste decidiu

separar-se de Portugal e não para a entrada na Indonésia...

Feita a nomeação do novo chefe da Igreja local, os rumores decorriam nos

gabinetes indonésios dizendo favorável à política de Jakarta por ser o nomeado muito

jovem, sem grandes experiências ao contrário de D.Martinho.

Nos primeiros anos do novo prelado, os políticos naturais acreditavam que a

Igreja Timorense fosse já na agenda da CEI para ser integrante, oficialmente

reconhecida, dentro em breve. Uma razão que apontava essa hipótese por ver a

entrada de muitos sacerdotes e de outras congregações de origem indonésia, como

pressão e secundada por leigos pró integração. A nova presença, no imaginário

timorense que o novo chefe da Igreja completaria as aspirações da Indonésia, em

plenitude.

No mundo do incógnito em que os timorenses vivem ausentes dos seus

concretos líderes, lhes apareciam da cabeça estranhas atitudes de agir. D. Carlos

percebia o porquê das tantas críticas, mas aproximava-se dos oficiais indonésios nas

cerimónias estatais. Na medida que a crise de insegurança tornava-se insustentável,

reparava-se uma solidão, de repente, apareciam visitas de sacerdotes ocidentais e

religiosas, até bispos. Ficavam dias e semanas, uns ficaram por lá cumprir suas

missões. Eram visitas, puramente apolíticas, mas para os timorenses constituíam

sinais de solidariedade internacional pela libertação, discutirem-se entre si no tocante

ao contínuo sofrimento, se o povo está em verdade de inocência? Afirmando as

entradas estrangeiras em associação aos seus cálculos de que o Povo timorense,

brevemente seria resgatado das duras botas do Soeharto.

255 Despediu-se dos seus compatriotas depois de cinco dias de ter sido empossado o novo chefe eclesiástico, isto é, em 17 de Maio de 1983, conforme Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, p. 116;

113

Os amigos do lado indonésio da mesma fé católica, enviam mensagens de

apoio de solidariedade aquando da sagração como bispo, e posteriormente afirmadas

pelo seu biógrafo. Em novas funções de prelatura, sob dependência directa de Roma,

a situação mantinha-se como do anterior chefe eclesiástico. As tropas continuavam na

sua operacionalidade brutal sobre a população civil, até os padres eram maltratados e

o bispo Ximenes Belo de novo em ameaça de morte. O seu telefone, constantemente,

sofria ordem de desligamento. Doutro lado, capital indonésia se soube uma das figuras

da Igreja Católica garantiu ao público e ao governo tudo faria, brevemente a Igreja

Timorense se integraria na CEI 256.

Infelizmente, nos anos em que a voz de Portugal sem eco na arena

internacional, a população timorense conheceu a sua maior agonia. A Igreja elevara os

números cristãos com a elevação moral, se estendia em todos os lados, além de

transmitir as suas preocupações em canais adequados ao exterior; a militância da

juventude crescia, proporcionava redes de ligações das vilas a Resistência armada. A

nova energia reconquistada assumira outro papel que implicara o envolvimento dos

agentes não governamentais internacionais.

Uma fase em que a juventude timorense entrava em ruptura com os laços

feitos nas quatro paredes escolares da Indonésia, desde que começou a funcionar em

bahasa257 indonésia, em 1976, também desprezava a presença indonésia logo que

assistisse os pais, irmãos, tios e parentes, tratados como animais sem piedade.

À polícia política sem férias nem descanso na condução de milhares de civis

aos vários destacamentos militares de boinas vermelhas e de polícias. Submetia-os

aos duros inquéritos, remetidos aos julgamentos segundo instruções militares e sem

acesso aos advogados de defesa, mesmo que presenciassem eram estátuas vivas.

Durante a noite, muitos foram retirados das celas de prisões, de olhos vendados e

sem saber dos paradeiros. Muitos dos quais depois de terem sido julgados e

considerados mais inquietantes à Indonésia, foram transferidos para a prisão de

Cipinang, Jacarta, em 18 de Novembro de 1984 e Janeiro do ano seguinte, no total de

43 pessoas (42 homens e 1 mulher) (anexo 7). Introduzia o programa de esterlização

das mulheres timorenses sem serem eclarecidas por explicações fundamentais. Pela

ignorância da língua indonésia, eram facilmente exploradas, por medo, receberem

cartões do KB (Keluarga Besar=planeamento familiar) para fins de injecções. Muitos

filhos nascem com uma vida de incerteza e às mães morrem pela inexistência médica.

Controladas, quinzenalmente, nos postos de saúde, dirigidos por médicos javaneses.

256 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Rditorial Notícias, 2002,p. 152; 257 Em português: língua;

114

115

O programa passa a ser interpretado como extermínio e impedimento da nova

geração timorense, sinónimo do acto praticado pelos militares. O estrato social letrado

revoltava-se contra tal medida. O caso entrava em choque com a hierarquia da Igreja

Católica timorense. Ainda que nas décadas 1980, o governador Timor Timur Eng.º

Mário Viegas Carrascalão tentasse junto de Soeharto, permitia parcialmente a

abertura de Timor Leste aos estrangeiros (F. Lima, p. 283) mas não havia indícios de

mudança ao nível das atitudes de autoridades ocupacionistas. Alegando que o país já

se considera a 27.ª Província da RI, segundo a vontade do povo timorense,

representado a proclamar a integração, pelos 35 chefes tradicionais, em 30 de

Novembro de 1975, em Balibó, mais tarde reconheceria oficialmente pela Jacarta a 17

de Julho de 1976 258. Vezes afirmava, quanto aos incidentes, são questões resolvidas

segundo as leis do Estado Indonésio. Aos timorenses, uma ironia como cravo nos

corações a inconciliar-se cada vez mais das políticas pela integração do Povo Timor-

Leste na Indonésia.

A versão repetitiva em público nacional e exteriormente afirmada pelos

indonésios, relativa a integração forçada, não correspondia a vontade real do povo.

Durante o longo período de Resistência armada, o convívio dos líderes políticos com

as elites tradicionais/datós ou liurais, manteve-se firme e em sintonia pela rápida

libertação do Território. Os seus apoios eram valiosos, entendidos em vários aspectos,

no quadro organizativo em oposição a presença militar estrangeira.

Os timorenses, em toda a parte viam a ocupação indonésia como: famoso

construtor das valas comuns, sepultura dos civis inocentes; os seus hospitais de Díli

representavam um mundo moribundo; as suas escolas, portadoras de novas

informações culturais que visavam afundar a própria identidade local, como um Povo.

Inculcava falsas ideias nas famílias a provocar a própria desagregação, difícil de as

tornar em conciliação. Inventou um novo capítulo da sua história contemporânea de

submeter o Povo Timorense sob humilhação e culpas, em razão de reivindicar o seu

direito universal.

Os indonésios ficarão cientes que, o Timor dos Belos, desde sempre, nunca foi

portador de uma idiossincrasia institucionalizada nos responsáveis de consciência

para infligir um vizinho como o Adamastor indonésio. Nem sequer invocava a teoria de

sustentar actos socialmente inconvenientes em espaços fronteiriços. Comportou-se

segundo os seus pensamentos, temperados por culturas que o tornam cientes nos

padrões internacionais, dos quais age pela conquista da sua liberdade.

258 Abreu, Paradela de, Timor a Verdade Histórica, 2.ª Edição, Luso Dinastia, 1997, p. 104;

116

3. 6. O novo pensamento clama por um só rosto e uma só fé

Em consciência apercebe-se que, com a resistência timorense era impossível à

Indonésia reconhecer o direito reivindicado e retirar-se de Timor-Leste. Quer dizer isto,

não se tratar da questão de matar mais timorenses, diariamente, só que os países de

peso político internacionalmente fecharam os ouvidos e nem sequer levantavam a

questão de Timor-Leste nas Nações Unidas quando Portugal reivindicava

constantemente o direito a autodeterminação e independência junto daquela

instituição. E no local, pelos vistos, a voz do bispo ultrapassava de um político, mas

em circunstâncias como vivera, surgia também o receio de o prelado ser assassinado

à semelhança do Óscar Romero, arcebispo, de São Salvador 259.

Desde a Indonésia ocupou Timor-Leste repetiu vezes críticas:

«A população era muito atrasada. Era muito estúpida (...) Foi a Indonésia que

teve de ensinar tudo, de dirigir, de empurrar para o desenvolvimento, construir

estradas e casas com andares (...)

A Igreja católica não se rege pelos ensinamentos de Cristo, pelo contrário rege-

se segundo a ideologia marxista-leninista por causa da denominação da

FRETILIN, é precisamente isso que a Indonésia veio endireitar».

Face a estes oradores os estudantes viam-se na sua organização de juventude

em oposição mais acrescida, pintaram num muro da escola católica Paulo VI a

inscrição:

«Quando Timor-Leste for independente acabaremos com os lacaios de Suharto».

À escola foi alvo de revista severa militar a exigir a identificação dos alunos

responsáveis pela inscrição. Um dos alunos denunciado, descoberto ter caligrafia bem

cuidada. O jovem Cláudio Boavida de 26 anos, levado pelos militares nunca mais ter

sido visto por todos. Os comentários do “governador” segundo a Agência France-

Presse que esta inscrição só podia ter sido uma provocação 260.

Os novos actos decorrentes, desde a nomeação do novo chefe eclesiástico, as

autoridades indonésias o viam em silêncio. Não reagia de forma frontal junto dos

oficiais responsáveis pelas torturas, fuzilamento e desaparecimentos. Acompanhou,

analisou o passar de dramas, empenhado de diplomacia para chegar o que o povo

queria do que se passava dia pós dia. Não suportava mais, redigiu uma declaração a

ser lida em todas as igrejas do Território, em 5 de Dezembro de 1988, alegando

discordar o sistema usado e condena a falsa propaganda pelo respeito dos direitos

259 Santos, José Rodrigues dos, A Ilha das Trevas, Temas e Debates, 2002, p. 157; 260 Revista, Timor-Leste 20 anos de ocupação e 20 anos de resistência, s.l. e s.d., p. 35;

117

humanos em Timor-Leste. No ano seguinte, dirigiu uma carta ao secretário-geral das

Nações Unidas, o então Javier Perez de Cuellar. Solicitou o início do processo de

descolonização através de um acto referendário para que o povo de Timor-Leste se

pronuncie sobre o futuro destino. Os outros falam pelo povo, enquanto este rejeita a

integração forçada 261. E em apoio desta iniciativa, uma carta dirigida pelo bispo

japonês Aloisius Soma, assinada por cinco cardeais, 32 arcebispos, 77 bispos e vários

outros chefes religiosos da região Ásia-Pacífico 262. Por um lado, Ximenes, era

criticado por muitos políticos dizê-lo ser muito servil às autoridades indonésias.

Importa-nos perceber que o longo sofrimento imposto, em todas as suas

vertentes, ainda que fosse solicitado por entidades amantes da paz junto das

autoridades de Jacarta, para respeitar os direitos humanos em Timor-Leste, em

resposta, a repressão elevava-se. Daqui, se vê transformado em altos contributos para

que a causa timorense se convertesse numa paixão universal, e a sua vontade firme

de ser livre impressionasse o universo dos homens, negado à verdade dos

acontecimentos. Gerando assim um novo pensamento por um só rosto e uma só fé,

constatado a partir de dentro, passando por pessoas de diferentes cores de

sensibilidade política e uma visibilidade credível na quebra do silêncio internacional,

como atrás referido. Ao sentir-se as novas ventilações a favor do povo mais

perseguido, levam-nos a compreender o que se queria no Reajustamento Estrutural

da Resistência e Proposta de Paz, assumido após ter sido escolhido Xanana

Gusmão como novo líder da Resistência Nacional Timorense, em 1981. A sua

mensagem abalou os estudantes nas universidades da Indonésia e a conquistar os

apoios em secretismo na própria capital inimiga para furar o muro de granito com o

mundo exterior. Endireçou as novas propostas aos líderes lá fora em coordenarem

acções entre FRETILIN/UDT, em busca de uma concertação de ideias com a

diplomacia portuguesa; conquistar a confiança dos países irmãos de língua oficial

portuguesa para demover a dureza e o silêncio dos seus amigos a tomarem uma nova

postura pela questão timorense263.

No campo de operação militar, muitos ficaram apreensivos com a morte de

muitos soldados indonésios, embora não publicasse os números atingidos desde

1975, considerava uma guerra assaz prolongada, sem vitória política em vista no

exterior. Acusando os seus comandantes de quererem lutar pelos altos postos,

injustamente. Ao fim de 17 anos contra os independentistas apercebem-se que a

integração do Timor-Leste na RI, não é uma tarefa fácil. Muitos indonésios que tiveram

261 Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, p. 143; 262 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, pp. 156-158; 263 Gusmão, Xanana, Timor Leste um povo, uma pátira, Edições Colibri, 1994, pp 95-107;

118

corrida louca a Timor oriental por função militar, deixaram chorar filhos, viúvas e pais

junto das autoridades militares, facto que as dava muitas voltas à cabeça em torno do

regime indonésio.

As populações, literalmente, são silenciadas na sua própria pátria; povoações,

sucos, postos e concelhos administrativos encontram-se sob controle das autoridades

militares. As funções de administrador do concelho, ainda que fossem dirigidas por

timorenses, mas em cooperação com os javaneses. Onde há agrupamento

populacional, aí está uma secção de boinas vermelhas (nangala) ou polícias. Durante

a noite faz rusgas as famílias para conferir os membros do agregado familiar, segundo

o caderno de recenseamento fornecido pelo RT/RK (chefe da povoação/ajudante

deste).

O tipo de organização militar e policial em destacamento e em colocações, era

difícil a alguém transmitir as novidades conseguidas do exterior a outras localidades, e

as bases de Resistência, quer de recortes de jornais, como por rádios, etc. A maioria

por receio não acompanhava a rádio emissora em português: BBC Londres, Japão,

Austrália, Lisboa..., em alta noite e as quatro a seis horas de manhã, hora local. Para

desfazer a muralha de injustiça, surgiu a ideia de organizar programas de orações de

Sagrada Família de casa em casa familiar, para 10 a 20 pessoas presentes,

previamente comunicados aos comandantes das respectivas áreas com o apoio dos

chefes locais e agentes secretos nativos; outras possibilidades se fazem, nos

cemitérios quando se enterrar algum amigo falecido da mesma paróquia. O espaço

mais privilegiado de tudo, é a igreja, nos domingos ou dias santos... Alguns

empresários, muitas vezes convidavam uns oficiais perigosos a refeições a portuguesa

com vinho porto. Durante o jantar ou o almoço, trocavam impressões de amizade,

acabariam por desbobinar os planos a implementar, em breve serão conhecidos por

todos até as montanhas, em clandestinidade ou fora da pátria.

Com todo o desespero que se sentia anos a fio, anunciava-se a visita do

Santo Padre, em Abril de 1989, por arcebispo Darma Atmadja, responsável de CEI.

Na base desta novidade, muitos políticos sentiam-se de medo de que a visita pontífice

seria abençoar a integração de Timor-Leste na RI, e inverter o estatuto da Diocese

timorense em ser dependente da CEI 264. Todo o país saberá da data de visita

anunciada durante o mês de Setembro. As autoridades indónésias em Timor

preocupavam-se pela preparação à chegada papal. A segurança era reforçada por

novos batalhões enviados de Jacarta. A circulação e o acesso ao sítio escolhido para 264 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, pp. 301 ss;

119

a missa, transmitida a redução pelos agentes do intel (polícia política) a população

durante as noites, para não morrer de sede e de fome durante o dia de visita. Versão

por eles adoptada para os fiéis nativos não se aproximarem ocupar o espaço junto ao

altar, destinar-se-ia aos indonésios civis vindos da ilha de Flores/Laran Tuka, Atambua

e de Kupang, já instruídos para gritarem “viva Indonésia” após a missa. A astúcia fora

conhecida por serviços de catequistas, zeladores e escuteiros e provocava reacções

em muitos padres.

As notícias multiplicavam-se no seio da população e a curiosidade centrava-se

nas palavras que o papa iria pronunciar, na missa... As pessoas ainda interrogavam-se

umas as outras se Sua Santidade beijaria o chão quando pisar solo timorense. Por

outro lado, via-se a segurança em todo o lado das zonas que constituem a cidade Díli.

As conversas entre amigos em grupos são acompanhadas disfarçadamente por

pessoas mal vestidas, ligadas as ABRI. Duas gigantes fotografias do Papa João Paulo

II e do Presidente da RI, Soeharto, postas à beira da estrada principal, em Díli. Os

carros que aí circulavam, ao aproximarem-se das fotos, reduziam a velocidade,

fixavam os olhos nos retratos em segundos. Uns independentistas achavam boa

ocasião ao interesse político indonésio, para consolidar os seus objectivos, na medida

que indo informar os fins da visita às populações, e, mais tarde tudo lhe aconteceria ao

contrário. A volta dos rumores, o bispo percebia que o papa não se alinharia em

nenhuma política pró Timor-Leste ou Indonésia. Decidiu acalmar os ânimos por meio

de uma carta pastoral, na qual recordava que o papa não vem para tratar da política 265.

Finalmente, no dia 12 de Outubro de 1989, é concretizada a chegada pontífice

em Jarcarta. Manteve conversas com as autoridades indonésias sobre progresso do

país, apelava a unidade do povo, reivindicava a justiça e o direito das minorias. No

mesmo dia, cerca das quinze horas, chega no aeroporto de Comoro/Díli,

acompanhado por ministro de defesa indonésia, General Leonard Benyamin Moerdani

(conhecido por L.B. Moerdani), um católico convicto, incluindo altos funcionários de

Jacarta. O sítio escolhido para a missa é Taci Tolu, um pouco a oeste de Díli, lugar

onde os soldados massacraram centenas de timorenses durante os anos de 1980-

1983. O largo fora totalmente preenchido pelos cristãos e não fiéis; sacerdotes e

freiras vindos doutras províncias da Indonésia mais próximas a juntarem-se aos locais,

presentes na cerimónia presidida por Sua Santidade, João Paulo II. Em termos de

panorama religioso, essa tarde de 12 de Outubro parecia induzir algo luminoso e

inspirador despertavam o coração dos fiéis. Mal terminou as palavras do final, de

265 Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, p. 144.

120

repente, próximo ao altar, viram-se abrir as bandeiras e panos com escritas louvando

o papa e pedindo-lhe a ajuda pela independência e direitos humanos para Timor-

Leste. Manifestação esta, organizada por jovens de cerca de 30: Griataram “VIVA O

PAPA” e “VIVA INDEPENDÊNCIA”. Intervieram a polícia política a roupa civil e outras

atacar os manifestantes desarmados, batiam-nos com varas, bastões, paus,

arrastando-os aos carros. Enquanto a cena decorria, o papa olhou atentamente o

sucedido mesmo à frente, e em seguida dirigia-se a sacristia com um sorriso amargo

nos lábios. A comunicação social internacional e agências noticiosas que

acompanharam a visita tiveram a cobertura (anexo 8). O papa, pessoalmente, ouviu

muitos protestos contra a ocupação estrangeira, também não condenou abertamente a

Indonésia. Há condenações, decorreriam nos bastidores em silêncio, em favor de

quem é vítima pelas realidades de justiça 266.

Dias depois, os serviços secretos culparam o padre Locatelli (italiano)

missionário apolítico, no Colégio Salesiano de Fatumaca/Baucau que se encontrava

em Timor-Leste desde 1967. A revolta crescia nos manifestantes pelo facto de muitos

pais desses jovens do Colégio, foram desaparecidos, mortos e torturados pelos

soldados de Jacarta, sem culpa formada contra o Adamastor indonésio. Após o

regresso do pontífice, os polícias aprisionaram mais de mil jovens, mais tarde se

afirmaria no livro do professor Mattoso 267.

À tarde do dia 12 de Outubro, assim que o papa chega ao aeroposto de Díli,

com o bispo Ximenes Belo num carro dirigem-se a nova catedral construída pelos

indonésios. D. Carlos falou com o pontífice beijou o chão e rezou demoradamente. De

seguida ouviu atentamente os sacerdotes timorenses. Em resposta parecia dar-lhes a

coragem e depois desta vendo os padres mostravam-se desanuaviados.

Uma visita do género, fora negociada por enviado vaticanista, monsenhor

Roberto Tocci com o Presidente Soeharto, se decorria em secretismo. O resultado

residiria nos registos inacessíveis do papa, tanto que em meses antes, surgiam

declarações contraditórias que causavam as atenções de figuras de relevância política 268.

Uma guerra imposta a Timor-Leste, em teoria de arrastamento por longos

anos, levar-lhe-á ao esgotamento de energia e a morrer aos poucos; dificultar a

produção agrícola, os seus gados foram dizimados; forçar converter os cristãos em

muçulmanos – Maria por Miriam, Arnaldo por Abdul, Soeleman etc, etc. por aí fora.

266 Santos, António de Almeida, Quase memórias da descolonização de cada território em particular, 2.º Vol., Casa das Letras, 2006, p. 405; 267 Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005 p. 147; 268 Messias, Jorge, O Crepúsculo dos Deuses. Igreja e Fé?... Igreja e lucro?... Queda ou ascensão?, Campo das Letras, 2001, pp. 139-141;

121

Tratavam os sacerdotes por tu, bodoh (estúpido) em público. O Povo Maubere vê e

sabe, os seus irmãos mais evoluídos, desaparecidos. De novo assiste tratar um clero

timorense dessa forma, é algo perturbador. Ver o seu padre perseguido e a perda da

igreja paroquial era também perturbador. Poder-se-ia duvidar o segredo escondido na

presente atitude, marcadamente política é vista como novo tempo religioso substituído

por outro. O ambiente em curso, é seguido por todos, engenhosamente. Quer por

recusa aberta ou em silêncio à integração, encontra-se consolidada nacionalmente,

cujo o eco se faz sentir no exterior, em leque mais estendido.

A presente situação hostil, a Instituição Católica, entidade que representava

autoridade política timorense, uma vez conhecido o difícil retorno da soberania

portuguesa; a certeza do objectivo que se joga orgulhosamente por ABRI269 encontraria

entraves, sentidos em todas as frentes da Resistência Timorense. Por outro lado,

contribuiria os sentimentos indonésios pela mudança à rápida transição do regime a

democracia, cujos actuais actores, vistos, mairoes corruptores e de sede pelo sangue

dos milhares inocentes. A volta dessa surdez contemporanista de Jacarta, elevou o

espírito de liderança timorense na promoção cada vez mais a racionalidade intelectual

a descobrir novos meios a definir o total regresso dos ocupacionistas de Timor-Leste,

poderia ser conhecido em qualquer momento, não longínquo.

Os sacerdotes quem ajudava os estudantes, com base de liberdade de

circulação e manter contactos com grandes multidões para servir de correio aos

nacionalistas timorenses. A Resistência em funcionalidade encontrava-se assim, no

jogo de tríplice enquadramento: FALINTIL, clandestina e Igreja. Laços completamente

são desfeitos. A ABRI, no território ocupado, sabia este trabalho a pente fino. Só que

os sacerdotes com um comportamento que não desse para além dos princípios de

neutralidade, tanto que suscitasse forte hesitação dos indonésios deixá-los em

liberdade de circulação. Por outro lado, penso eu, na Indonésia, na época descoberta,

os portugueses converteram comunidades em catolicismo, particularmente, nas ilhas

Molucas/Ambon, Flores, Sumba, Surabaia/Madura, Malam; do Java leste, mesmo em

Java central, multiplicaram-se até agora. Razões, obviamente, reivindicam pelas boas

relações entre Jakarta e Vaticano.

Neste lado da presença do cristianismo, a reivindicação timorense em questão,

conta-se com o apoio invisível da Igreja, e nos bastidores do catolicismo em

solidariedade e de outros credos agiam pelo objectivo como bênção e respeito da

Indonésia pelo Vaticano como uma forte bofetada em benefício à reviravolta.

269 Abreviatura de Angkatan Bersinjata Republik Indonesia. Em indonésia significa Forças Armadas da República Indonésia;

122

Após a visita papal os caminhos da diplomacia que foram vedados pelos

políticos de Jacarta junto do Vaticano passarão a ser desminados para o prelado

timorense. Torna-se encorajdo, apoiado pelos restantes sacerdotes a denunciar os

actos atrozes. Chega a confrontar com os comandantes indonésios, em Díli.

A tragédia que imperava em Timor-Leste, ditava a ausência de relações

diplomáticas entre as capitais Lisboa/Jacarta. Era difícil Portugal permitir alguém voltar

visitar o seu antigo território, mergulhado em mar de brumas e de incógnito. Mas nem

era impossível aos portugueses de cristalizar este sonho, há uma luz vista ao fundo do

túnel. O General Morais da Silva que libertara os 23 soldados portugueses em poder

indonésio em 25 de Julho de 1976, incluindo a saída de 1200 portugueses, timorenses

e chineses, acantonados em Atambua para Lisboa, na sequência do encontro em

Bangkok dos dias 6 a 9 de Junho entre delegação portuguesa e da indonésia (F.

Lima, pp. 266 e 267) visitara o território, no mês de Outubro de 1980. O visitante fora

admitido visitar Metinaro, Hera e Maliana, diz-se ficara impressionado com a maior

velocidade de expansão de língua indónesia, à medida que se vê aumentar as escolas

e informado de a FRETILIN restar 400 guerrilheiros. Manteve encontro com o ministro

da defesa indonésia, General Beny Moerdani, responsável pelos programas de

integração. O seu relatório segundo se percebia, o governo indonésio desejaria reaver

entendimento com Portugal quanto a situação timorense. Um novo dado muito

contributivo aos portugueses optar medidas que garantam a sua posição na arena

internacional. Em 11 de Junho de 1986, o sucesso dos bastidores resultou a ida do

deputado CDS Miguel Anacoreta Correia ao país, da qual afirmara que todos os

serviços públicos usavam o “bahasa indonésio”. Obteve informações fidedignas da

resistência timorense a controlar grande parte do território, causava grandes danos as

ABRI, o povo não podia falar da situação à vontade, ou ao contrário. A língua

portuguesa é falada por famílias ligadas a administração e ao ensino portuguesas, dá-

se entender de voltar viver de novo com Portugal. O mesmo acrescentava se a

Indonésia fosse capaz conquistar o coração do povo timorense (F. Lima, pp. 278-285).

Nos anos de 1970 a 1975, não havia televisão que emitisse os acontecimentos

em imagens, decorridos noutras bandas do mundo para que propusesse a nova

mentalidade das pessoas em avaliar a presença televisiva. A Indonésia levou consigo

o comércio de televisão a Timor-Leste, convidava a população de a adquirir para estar

corrente da actualidade internacional e Penbangunan dalam negri (desenvolvimento

inerno). O muro de Berlim erguido em 1961 desfeito, ocorrido em Novembro de 1989 é

outro sentido 270. Acordou a consciência dos povos do manto nebuloso, de imediato o

270 Enciclopédia da História Universal, Selecções do Readers Digest, 1999, p. 75;

123

compreenderiam - fim da guerra fria entre blocos opostos, EUA/Rússia. E a Kuwait

fora invadida por Iraque de Sadam Hussain, libertado por uma coligação ocidental,

EUA e Grã-Bretanha onde as forças ocupacionistas foram expulsas com a cobertura

de agências noticiosas internacionais. Colocava as pessoas, demoradamente, diante

das televisões a contemplar o filme militar, em movimento de retorno à Iraque 271, e,

em Timor-Leste, para os jovens, não estavam alheios dos factos.

Como todos, a Indonésia sabe a importância da tecnologia moderna, impõe um

novo sentido do constante contacto das sociedades humanas distantes e colonizadas

entre si, em segundos. A nova era contribuiu a juventude timorense reivindicar a

Indonésia que respeitasse o direito do Povo Maubere. Mas a elite política de Jacarta

ignorava o sentido contemporanista transportado por comunicações da presente

tecnologia. As ABRI apontam agitações oposicionistas, organizadas por sacerdotes

timorenses e de mentores de inconciliação timorense, mais acentuada da RI, na

questão da integração.

Mantendo a sua ordem, em activa operacionalidade no território. A agonia do

povo é maior, não há outra expressão do dia. Às notícias de todos os dias que se

circulam dizer que ontem a noite as bóinas vermelhas a roupa civil de carro sem

matrícula, levaram mais os pais de filhos, colegas dos nossos filhos da mesma escola.

Indícios que desenham o quotidiano timorense na mira das violentas autoridades

ocupacionistas, em continuidade a pintar a incerteza do futuro do país. Uma euforia

militar exibida, caracterizava o desconhecimento da questão timorense no mundo

exterior cada vez mais conheccido, internamente, resta a retirada da agenda das NU

em questão de tempo, conforme muitos indonésios comentavam.

Em finais de 1989, noticiava-se a visita do embaixador dos EUA a Díli, também

com a intenção de procurar saber a situação dos jovens timorenses desaparecidos do

pós da visita papal, segundo as pretensões dos mais cem membros do congresso,

expressas numa carta. Quando chega em Díli, o embaixador John Monjo, avistava-se

com a presença de uma manifestação dos cerca de cem jovens timorenses, desejosos

de o transmitir a preocupação e a situação quotidiana. Percebiam que não teria efeito

positivo, mas dá-se de conhecer o que se passa, diariamente, em Timor-Leste a um

representante dos Estados Unidos da América. Sofreram represálias militares no Hotel

Turismo, muitos chegavam a ser conduzidos a duros interrogatórios 272.

Mais uma vez se afirma, esta a situação seguida ao 25 Abril português, até aos

fins da década 80, o Povo Maubere continua fiel aos seus princípios, culpado por

271 Idem, Ibidem, p. 370; 272 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, p. 171;

124

aquilo que é reconhecido pela universalidade. Morrem os filhos, torturados,

desaparecidos, injustiçados, presos distantes da sua terra; mortos de fome, doença,

por longos movimentos realizados, semanas inteiras devido as perseguições. Os que

resistem pela promessa, vêem a paciência como única virtude para os manter na

contínua acção de oposição à ocupação. São muitos de ambos os sexos, por amor

pelo que escolheram deixaram para trás aquela idade primaveril. Nem sequer uma

oportunidade os permitia lembrar os sonhos em subir os degraus do altar a serem pais

um dia.

Pensando nas sociedades das grandes civilizações ocidentais que fossem

sensíveis a este tormento, pareciam render-se aos interesses materiais do jogo

indonésio. Porém, os bastidores em silêncio, pela ribalta da questão se decorriam,

tanto que em Agosto a Novembro de 1990, ouvia-se no território o decorrer das

reuniões da Subcomissão da ONU, em Genebra, pela entrevista dada a Ramos Horta.

Ficou incomodado o Alatas por algumas intervenções face a crise dos direitos

humanos em Timor-Leste, zangado, preparando-se para romper as conversações com

Portugal. Acusando este não querer ceder-se.

Em função de entendimentos entre Portugal/Indonésia, ficara acordada a visita

parlamentar portugusa ao território, que terá sido anunciada a partida, para Novembro

de 1991, sob auspícios das NU. Na versão do prelado timorense, o evento seria o

derramento de sangue, por saber grande manifestação da juventude e da população

timorense e da presença dos grupos organizados das FALINTIL, que se decorrem em

preparação. As ABRI, de aldeia em aldeia andam a roer os dentes para os que são

mentores já conhecidos do que iria acontecer, pelo que a espionagem se crescia no

meio das populações. A rede clandestina movimentava-se das vilas as montanhas, em

vai-vem para saber as orientações de quem é responsável da Resistência. As

novidades são conhecidas em toda parte, reagindo como única oportunidade de forçar

a delegação parlamentar em pronunciar algo oficial pela reviravolta para que o Povo

fique livre deste inferno dos demónios de uma vez para sempre.

Os planos de partida concertados com a integração de jornalistas de alta

profissão pela delegação, os quais uns deles como Rui Araújo, RTP; Mário Robalo, do

Expresso eJill Jolliffe, australiana residira em Portugal longo tempo, são eles rejeitados

pela Indonésia. Depois de tantas trocas opiniões entre ambos, Portugal pediu

suspender a visita por achar-se condicionado 273.

273 Idem, Ibidem, pp. 176-178;

125

3. 7. Santa Cruz e os deuses da hiper civilização

Antes e pós da visita de João Paulo II a Timor-Leste, os apelos dirigidos aos

políticos de alta civilização cultural, inspiradores do padrão universal a quem os

admirava, acreditava, pareciam ignorados os pedidos, esboroados a que o ódio sobre

o Povo Maubere se repetia dia pós dia. Assistia momentos impiedosos, deparando a

consciência dos homens pela lógica dos poderes sobrepunha o princípio, sem

inversão prevista, mais sentida. Portugal manteve-se na postura pela libertação do seu

antigo território, cada vez fora estimulado ao diálogo em estreita sintonia com os

políticos timorenses, achando-o arte possível.

Os anos se sucedem, os dirigentes da nova geração portugueses assumem

poderes de governo, também mudam decisões de como mitigar a fera a volta da

questão timorense.

A acordada visita parlamentar portuguesa ao território 274, fora conhecida pela

juventude timorense, considerava-a ser um importante evento histórico. Transmitia a

todos se sentissem ânimo a cooperar-se nos prepartivos em grande escala para

manifestação à chegada. Em paralelo, os serviços de espionagem indonésios, se

movimentavam para acompanhar os passos da rede clandestina. Eram atentos a

qualquer infiltração dos guerrilheiros na capital a incentivar acções de protesto.

Suspeitavam uns comandantes a encaixarem-se na organização de juventude. Muitos

jovens já conhecidos pela polícia política, são constantemente seguidos onde que

fossem encontrados. Achavam-se inseguros dormir em casa, tinham que recorrer

algum sítio de refúgio.

Uns sentiam-se dos seus dias mais candentes face a busca dos mais visados

pelo Intel (polícia política), já ocorridos noutros bairros de Díli, tiveram que refugiar-se

na igreja de Santo António de Motael durante a noite. Os militares/polícias sabiam de

tudo o movimento, achavam que estivessem também alguns comandantes

guerrilheiros, na igreja. Não suportavam com a constante mudança dos mais

procurados, considerados mentores.

Logo de manhã as 3 horas, do dia 28 de Outubro de 1991, entraram romper a

porta da igreja de Santo António. Dentro, envolveram-se em combate entre irmãos

timorenses, doutro lado acompanhado por militares. Um dos perseguidos, Sebastião

Gomes fora morto com tiros seguidos, e outro civil, morreu esfaqueado. Hora seguinte,

o bispo foi reconhecer o atingido, tanto como governador Eng.º Mário Carrascalão. O

jovem estava estendido na rua, fora da igreja. Os militares mentiram Ximenes Belo e 274 Fora público por MNE da Indonésia a 13 de Janeiro de 1988, conforme. Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005 pp. 157 ss;

126

Carrascalão que fora esfaqueado. Estes pediram virar o corpo, viram buracos de balas

no corpo (os indonésios nunca foram e nem são homens de honra da sua palavra e da

acção). O dia foi triste, para toda a maioria da população jovenil.

Em memória dos dois mortos a tiro e esfaqueado, o bispo rezou-lhes uma

missa fúnebre. No seu sermão matinal, não esteve com rodeios: «Vocês, jovens,

precisam de reflectir! Os bispos e os padres dar-vos-ão protecção! Mas precisam de

pensar com a cabeça no lugar. Partir os vidros das janelas da igreja, tirar vida a

outros, difamar o bispo, quebrar os objectos sagrados, tudo isto acontece nos dias que

correm. Partiram a estátua de Nossa Senhora em Comoro. Em Lahane, em Bobonaro,

falam mal do bispo, dos padres e das freiras.» E acrescentou de modo incisivo: «Isto

só começou após a integração, a época da merdeka [«liberdade», em indonésio]. Na

época colonial, sob domínio dos Portugueses, nunca se assistiu a cenas destas.» 275.

Protestado por todo o território, em silêncio, nos serviços, escolas. Depois do

enterro do saudoso colega, decorrem os preparativos para cumprir o oitavo dia do

derramar das flores, tradicionalmente, organizado pelos familiares. O dia vai assistir a

grande presença da população de toda a idade, sobretudo da geração estudantil. A

revolta quer ser exteriorizada, conhecida fora do território, mas sabiam dos riscos.

Os próprios familiares e parentes do jovem em questão, as 07.00 horas de

manhã, hora local do dia 12 de Novembro, já estavam prontos com coroas de flores

para a missa, dirigida pelo mesmo pároco de Motael. Fora e dentro da igreja cheio de

multidão a assistir a cerimónia religiosa, em memória do Sebastião Gomes. Uns

estavam na rua a espera que terminasse a missa; apareciam mais grupos de 10 a

20/24, seguidos uns dos outros a juntarem-se aos que estavam. Ao terminar a

cerimónia, à saída, os pais e tios do Sebastião viram a presente solidariedade dos

colegas em massa a frente da igreja, em homenagem ao saudoso, abraçados uns aos

outros a chorar. Os organizadores davam sinais ao início da marcha ao cemitério de

Santa Cruz, à frente, uns jovens levavam flores.

Muitos queriam que este dia fosse bem aproveitado por alguns jornalistas

ocidentais presentes, os quais foram já contactados, em antecedência e assegurados

a este propósito. Todos na caminhada; outros, traziam consigo bandeiras da FRETILIN

e retrato do Xanana debaixo das camisas. O entusiasmo imperava, as bandeiras

abertas erguendo-se ao ar, flutuavam-se no seio da multidão; movimentos filmados.

A marcha tomava pela direcção da estrada marginal a frente do palácio do

governo, pelo lado do estabelecimento policial; uns polícias junto a instalação, de

275 O acto atroz e infortunado particado pelos homens ABRI, na igreja, tornou furioso o bispo deixar umas expressões de tom mordaz: Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, p. 179;

127

mãos cruzadas com cara de quem assassina, olhavam a grande massa de gentes

passando em sentido ao cemitério. Ao longo da marcha, viam polícias a roupa civil a

misturar-se nas fileiras. O ódio dos jovens era tudo, não se importavam do que lhes

aconteceria. Na medida que iam aproximar-se à porta principal para entrar, e o cortejo

fúnebre se multiplicava em pessoas.

Os jornalistas estavam já no cemitério, dispersos na multidão. Outros fiéis

posicionavam-se a volta da campa, rezando em português. Viram os militares armados

descendo das camionetas. Dispersaram-se disciplinadamente, comandados por altos

oficiais de roupa civil. De repente, viram fogo aberto sobre a multidão civil, orando.

Rapazes caídos ao chão ensopados de sangue, outros fugiam desesperadamente da

cena improvisada. Já mortos estendidos e os soldados saltaram para dentro do

cemitério esfaquear aos ainda de sinais de vida. Reinava uma confusão. Muitos

feridos chegavam escapar-se, tratados em casa. Uns chegaram em casa episcopal

ensanguentados. Os militares, sem pejo nenhum, inundaram instalações da CVI em

perseguição a uns manifestantes. Um jovem newzelandês, passava férias em Díli,

encontrava-se no meio dos fiéis, confiscado os equipamentos, esfaqueado,

posteriormente faleceu no hospital 276.

A famosa cena atroz infortunada, exibida, planeada pelas ABRI, fora filmada

conforme os seus movimentos bárbaros, ocorridos no dia 12 de Novembro de 1991,

no cemitério de Santa Cruz, no coração da capital 277. Os cadáveres, transportados

por camiões ABRI, pareciam lançar ao mar ou em vala comum. Os familiares

desconheciam os corpos jazigos e sepúlcros. Tragédia, fez morrer 271 pessoas 278.

Já o drama ter ocorrido meia hora de tempo, o bispo Belo fora informado e o

governador Eng.º Mário Carrascalão dirigiram-se ao local, gritavam aos militares

“matem-me a mim, matem-me a mim”, eles não têm culpa, sem armas.

Os que morriam nas camionetas, deixavam amontoados no hospital Lahane,

outros ainda de consciência pediam água e solicitavam ajuda se pudessem salvar-se

de morte. Lutavam pela sorte de vida no hospital, nas primeiras noites do

acontecimento, infelizmente, todos morreram devido aos comprimidos desinfectantes

muito forte para matar os insectos; esmagavam-os com objectos pesados à cabeça,

peito. À meia-noite, os cadáveres foram transportados fora do hospital para valas

comuns ou atirados ao mar, quando podiam ser entregues aos familiares enterrar com

dignidade (anexo 9).

276 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 304; 277 Kohen, Arnold S., Biografia de D. Ximenes Belo por Timor, Editorial Notícias, 2002, pp. 188 ss; 278 Biografia de Xanana Gusmão em indonésia, 1993, p. 7;

128

Dias a seguir, o mundo foi acordado, impressionado por imagens emitidas. Os

telespectadores viram os timorenses rezar em português à volta da campa a morrerem

esfaqueados, tiros, pontapeados, coronhadas com armas. A comunidade internacional

ficou em choque perante o drama, emitido pela TV, planeado pelas ABRI. O governo

de Jacarta não havia hipótese de mentir à semelhança dos massacres feitos desde

1975 seguintes, sem cobertura televisiva como foram denunciados por anterior chefe

eclesiástico Martinho Lopes, através da missiva dirigida ao colega australiano e

fotografias enviadas testemunham como as ABRI massacravam timorenses.

A Indonésia fora imediatamente cercada pela política externa. Alguns estados

ocidentais paralisaram as ajudas concedidas. Os EUA, não tomaram de imediato uma

posição, todavia, sentiram-se incomodadas, acusadas cúmplice no genocídio em

Timor-Leste, mais tarde suspenderiam alguns programas de assistência militar à

Indonésia 279. Portugal tomou de imediato uma política de condenação severa contra o

acto decorrido. Reivindicou junto da UE para criar uma comissão internacional a

investigar os incidentes, que obrigasse o governo de Jacarta a uma resposta justa 280.

A organização não governamental, de origem portuguesa como CDPM, multiplicava

publicações das informações sobre Timor-Leste, no sentido de serem conheciddas as

injustiças em meios públicos, escondidas pelos sanguinários de Jacarta ao exterior. A

organização manteve diálogos com todos os partidos políticos, quer do governo como

de oposição, dando conhecer a sociedade civil portuguesa, movida sensibilizar-se pela

causa timorense como problema nacional. A capacidade de transmissão era poderosa,

fizera sentir noutras bandas de sociedade civil na defesa dos direitos do Povo

timorense 281. A par deste esforço, as iniciativas individuais como professor Barbedo,

no âmbito das jornadas da Universidade do Porto, tornara muitas figuras

independentes internacionais preocuparem-se pela paz e justiça timorense.

Os próprios líderes timorenses, no exterior, multiplicavam os seus esforços

junto das figuras de relevo internacional, organizações pela defesa dos direitos

humanos, além da pessoa de José Ramos Horta, representante especial de Xanana

Gusmão 282. Os países de língua oficial portugueses africanos, os seus apoios eram

permanentes e decisivos, e Brasil, intensificou a acção de solidariedade 283.

279 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 310; 280 Idem, Ibidem, p. 305; 281 A cor das Solidariedades, CIDAC, Edições Afrontamentos, 2004, pp. 95 ss; 282 . Mattoso, José, A Dignidade, Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, pp. 157 ss; 283 Câmara dos Deputados, Solidariedade à luta pela independência do povo do Timor-Leste, Brasília, 1996;

129

Santa Cruz tornou-se um poderoso comunicador de crimes abafados, levar as

pessoas a reflectir sobre o que circulava nos ecrãs das TVs, suscitando mudanças de

tendências e de opiniões.

Ao longo dos anos argumentava-se a questão timorense para Jacarta como

uma pedrinha no sapato. O drama contribuíu a dor inundar o coração de Soeharto e

da cúpula política, não saberiam como libertarem-se do maldito espinho. A

solidariedade por Portugal e Timor-Leste crescia; sessões de debates envolviam

docentes universitários portugueses com importantes opiniões no âmbito das

capacidades dos políticos nos bastidores. Os variados profissionais não estavam

alheios do calvário timorense. Os timorenses, cada vez se alimentavam de esperança

ao saber dos contactos do presidente Mário Soares e Cavaco Silva com o Vaticano,

Bill Clinton e figuras de outros estados defensores das democracias nos bastidores da

ONU.

O amor pelo antigo território em sofrimento, mobilizou uma solidariedade de

estudantes de 23 países, participantes da Missão Paz em Timor, à cabeça estava o

ex-Presidente da República português, general Ramalho Eanes no barco”Lusitânia

Expresso” com destino a Timor-Leste. Pretendia lançar flores no Cemitério de Santa

Cruz. As ABRI preparavam o material bélico em oposição à entrada do “Lusitânia

Expresso” em todos os pontos observatórios de Lautém. Assim que se aproximava

dos limites territoriais de Timor-Leste, os navios de guerra indonésios e força aérea

bloquearam-no, forçá-lo ao regresso. Mais uma vez, a Indonésia é reafirmada

responsável por todos os crimes perpetrados no país, isolando o povo timorense do

resto do mundo 284. Antes do regresso do “Lusitânia Expresso” de Darwin, ouviu-se

uma declaração proferida pelo ex-presidente afirmando a Indonésia violar o direito

universal reconhecido aos timorenses. Desconhecia totalmente os apelos das

organizações internacionais. Pelas tonalidades que se percebiam delas afirmavam os

esforços portugueses não terminavam aqui com o impedimento naval e aéreo 285.

O mundo sabia de o povo estar em contínuo sofrimento, sem nenhuma

entidade internacional capaz de travar a euforia dos militares de Jacarta a assassinar

as populações, dia/noite como apeteciam. O apetite pelo mel dos lucros gordos é

maior, deixem-no ao esquecimento. A preocupação era muito visível em Portugal, não

havia hipótese de telefonar ao Soeharto a dar ordens aos seus soldados pararem de

matar mais timorenses, em sua própria casa. O que está em causa é a falta da voz

dos países de relevo internacional junto da NU exigir pelo direito da ex-colónia

portuguesa.

284 Gusmão, Xanana, Timor-Leste um povo, uma pátria, Edições Colibri, 1994, p. 284; 285 Marques, Rui, Esperança em Movimento, Porto Editora, 2009, pp. 210-213;

130

Os membros da CEP percebiam do caso, sendo as suas acções decorrem

sempre em rumos de alta hierarquia institucional, que muitas vezes se ouviam surgir

outras versões a seu respeito. Entretanto, as opiniões apontavam o silêncio português,

e em Timor-Leste o crime se repetia.

Era difícil suportar a dor. Em 1987, o bispo D. Manuel Martins de Setúbal

representava o Movimento Pax Christi e da Comissão de Acção Social da CEP

discursou perante a Comissão de Descolonização da ONU. No qual, referiu o direito

reconhecido ao povo timorense, negado brutalmente, nem a igreja e nem pessoas têm

sensibilidades pelo calvário imposto 286. O prazer pela morte de um povo e a sua

identidade singular persistia-se no papel dos operacionais de Jacarta. Acreditando na

fé, apoiada por interesses mercantis e ignora os apelos.

Mas aqui, há uma coisa que a Indonésia nunca chega a perceber da oposição

timorense. Baseia-se firme na diferença em relação a potência invasora: culturas os

dividem, a etnicidade individual associada aos hábitos tradicionais mais votados ao

culto da bandeira portuguesa que se manifestavam outrora aos poderes holandeses e

aos japoneses de querer afundar a soberania lusa. O crime escondido por detrás do

muro de silêncio, descortinado, humilhou os países pró valores contemporanistas,

seus amigos e a comunidade internacional em geral. Os descontentamentos aliados

emergem-se no sentido de inverter o que Jacarta para si advogava. Mas esta, nem

sequer sensibilizava-se dos actuais sinais, sensivelmente opostos. Os gritos de

desespero continuavam ser conhecidos no exterior.

As perseguições aos guerrilheiros e a rede clandestina são a ordem do dia. As

pessoas das vilas mais suspeitas tiveram que fugir, unirem-se as bases de guerrilha.

Abandonavam as famílias para trás em fome, sem produzir hortas e vázeas a

subsistência. O líder da resistência, comandante Xanana Gusmão refugiava-se em

Díli, capturado por bóinas vermelhas a 20 de Novembro de 1992 (a população

timorense metade é paga para destruir outra metade que defenda a identidade

nacional). Foi submetido ao julgamento, rejeitou advogados escolhidos. Perante aos

critérios judiciais a ele impostos Xanana foi sincero nas suas respostas dizer injusto

ser julgado por tribunal indonésio. Afirmando-se cidadão timorense português,

acrescentando que as actividades por ele promovidas em Timor-Leste não são

hostilizantes aos valores universais. À justiça indonésia ignorava, levado a prisão de

Cipinang/Jacarta a cumprir pena de 20 anos 287.

286 Messias, Jorge, o crepúsculo dos deuses. Igreja e fé?... Igreja e lucro?... Queda ou ascensão?, Campo das Letras, 2001, p. 138; 287 Gusmão, Xanana, Timor Leste, um Povo, uma Pátria, Edições Colibri, 1994, pp. 297 ss;

131

Em Junho de 1994, num domingo, em Remexio, celebrava-se missa por pároco

vindo de Díli. Na comunhão, dois soldados indonésios também comungavam, à saída

da missa a frente da multidão cuspiram as hóstias ao chão, pisadas. A população

reagiu, mesmo no local. O descontentamento alastrara-se, e as capturas são

expressões diárias, viam-se mães em casa do bispo em frequência a pedirem ajuda

pelos filhos levados, sem saber do porquê. A 5 de Outubro de 1995 houve um

problema na prisão de Maliana: um carcereiro indonésio escandalizou a estátua de

Nossa Senhora, suscitou ondas de revoltas nas juventudes. Milhares de jovens para

as ruas numa vaga de protestos que tornou inevitável a outros concelhos e postos

administrativos. A força militar/policial interveio, ameaçava partir estátuas nas grutas 288, capelas nas aldeias.

Notavam-se movimentos de total desgosto e desconcilição nas relações

opressor/oprimido. Díli, tornava-se mais uma vez, debaixo do fogo. A concentração

multiplicara-se, queixando-se da constante humilhação, escândalo à cultura local,

elemento identitário que se vê mais perturbado. Tiveram intervenção dos padres Mário

Belo, José António Costa e Manuel Carrascalão para acalmar os ânimos da juventude.

Toda a reacção generalizada, os padres perseguidos cujas vozes se associavam ao

protesto. O eco dinamizava a diplomacia portuguesa mais activa nos foro

internacionais, consolidada com o envolvimento da sociedade civil portuguesa, nos

diferentes meios a mobilizar a opinião pública.

Na medida que se sentia apoiado o esforço português, as coisas começarão

indiciar reivindicações pela mudança do regime soeharto, organizadas pelos próprios

estudantes universitários indonésios.

Voltando-se ao interior da pátria, encontrava-se a inexistência de uma voz que

representasse a autoridade política em audição com figuras internacionais por Xanana

impedido, umas vezes por outras visitarem o território ou a convites. Desde a invasão

os chefes eclesiásticos, em nome da Igreja Católica local, atendiam as necessidades

mais específicas do povo como podiam. Durante os momentos mais agonizantes, nos

últimos anos era o bispo D. Ximenes Belo quem se situava neste ponto nebuloso em

contactos com autoridades indonésias, a Resistência interna, líderes timorenses no

estrangeiro e políticos portugueses, etc.. Timor-Leste no jogo dos grandes que era,

288 Em Outubro deste ano, deu-se confrontação entre dois pelotões policiais e cerca de uma centena de jovens descontentes, em Saboraka Laran-Becora/Díli. Dois soldados correram em direcção a gruta desta povoação para arrancar a estátua, de repente ouviu-se gritarias das mulheres: jangan-jangan, itu tidak salah bapak (não pode, não pode, senhor, esta não tem culpa). Os colegas ameaçaram-os recuar. Eu morava nesta povoação, acompanhei toda a cena. Com esposa e filhos fechados em casa, os vidros da janelas desapareceram. Faltava pouco para arrombar portas para me levar ao comando por ser antigo assistente de uma zona de resistência e ex-prisioneiro de 25/01/1984-30/08/1985, graças a um parente polícia intel do mesmo grupo que impediu partir portas.

132

tanto que o prelado timorense no território como Ramos Horta representante especial

de Xanana no exterior tiveram vozes ouvidas ignoradas por outras. Os que

preocupavam-se pela liberdade e justiça rompiam a indiferença face as posições

tomadas em defesa da dignidade do povo pelos dois citados, representavam a

consciência colectiva, não podiam ser esquecidos pela comunidade internacional 289. A

solidariedade pela questão timorense não se residia apenas em palavras, tornou-se

um triunfo na proposta de dois candidatos timorenses serem atribuídos com o prémio

Nobel da Paz 290, segundo anúncio publicado em Outubro de 1996 291. O dia da

cerimónia de entrega do prémio estavam presentes Chefes de Estados e de

Governos, figuras de relevo internacional, incluindo o representante do Vaticano

cardeal Roger Etchegaray, presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz.

Centenas de agências noticiosas e CNN tiveram a sua oportunidade pela emissão

imediata do evento. A entrega precedida por discursos de ambos, impressionaram a

assembleia, moveram milhares corações a tornarem condensado aquilo que é

reconhecido ao povo timorense.

A história torna-se nova, a solução do problema passará ser decidida pelos

detentores de poder internacional. Os laureados passaram à ribalta em participarem

quaisquer sessões e conferências que tratariam assuntos de paz e de justiça. Por

outras palavras, líderes timorenses vêem-se livres do isolamento desfeito, os

caminhos dos deuses fechados, abertos à diplomacia externa. Por um lado, o poder

administrante, defensor de diálogo multiplicava-o com o invasor por intermédio das NU

e as propostas apoiadas por parceiros da UE e dos da língua oficial portuguesa.

Antes e depois da atribuição do nobel da paz aos dois, o prelado timorense

manteve presenças em alguns foros internacionais ligados as NU e ao nível das

organizações religiosas. Pelo lado interno, o regime indonésio é incomodaddo, quer

em Jacarta como em Tim.Tim. O desgosto pela ocupação é permanente, para deixar

claro na opinião pública é que a Resistência Timorense existe pela concretização do

seu pleno direito. Mesmo que a RI transformasse o território em mar de rosas, dividir

carros a cada nativo, desde sempre, não aceitava. Mantendo o princípio em ser livre e

senhor de si como a Indonésia ou idêntico a qualquer país da região. À cooperação

multilateral, com todos da região, um dos planos preconizados desde a primeira hora,

ser cristalizada quando ficar livre e independente.

289 Timor-Leste, Nobel da Paz. Discursos proferidos na Cerimónia de Entrega do Prémio Nobel da Paz 1996, Edições Colibri, Lisboa,Março de 1997, p. 19; 290 Sampaio, Jorge, quero dizer-vos, Notícias Editorial, 2000, p. 68; 291 Mattoso, José, A Dignidade Konis Santana e a Resistência Timorense, Temas e Debates, 2005, pp. 268 ss;

133

As manifestações de protesto contra a ocupação indonésia decorrem um pouco

em todas as cidades europeias, Ásia, África e América onde há representações. A

credibilidade internacioinal indonésia debilitou-se fez dividir os políticos de Jacarta.

Vendo a evolução decorre-se em favor da independência, a Resistência apela

a unidade de todos os partidários, os timorenses se enquadrem numa única estrutura

credível. Forçando os líderes da FRETILIN/UDT ultrapassarem os desentendimentos do

passado insanados. Os apelos do interior da pátria insistiam que a fizessem, ignorar é

manter-se no apoio ao adamastor acabar com os timorenses.

Nos últimos meses de 1997, Lisboa testemunha o movimento dos timorenses

na diáspora a mobilizar os que são residentes em Portugal, com o apoio do padre

Domingos Soares (Maubere), enviado por Xanana Gusmão para ajudar o projecto

proposto pela maioria dos responsáveis da Resistência. As iniciativas eram apoiadas

pela sociedade civil portuguesa, políticos e governo. Semanas, entravam em

discussões sobre os fundamentos que geram a nova estrutura, bloco reivindicativo

pelo estabelecimento do referendo em Timor-Leste patrocinado pela ONU.

As figuras mais conhecidas de ambos os partidos tiveram aceitação, sem sinais

de recuo, unidos no mesmo ideal pelo futuro timorense. Na ideia de Ramos Horta de

que a presente proposta aprovada para a nova estrutura seja conhecida no território,

planeou a que comandante Konis Santana pelo telefone falou com todos os

respondáveis da FRETILIN/UDT, em Lisboa. Ficaram motivados ao ouvir de distância

dizer–lhes coragem pela proposta, os afirmava e reconhrcê-los de capacidade pôr em

prática. Muitos achavam-na instrumento importante, capaz de estontear os políticos de

Jacarta 292.

Em 26 a 28 de Abril de 1998, em Peniche-Portugal, decorrem reuniões com

todas as delegações timorenses vindas da Ásia, Austrália, África, América e da

Europa, finalmente, aí decidiram formar o CNRT (Conselho Nacional da Resistência

Timorense) ditá-los declarar a assinatura de uma “Magna Carta”, que os une uma vez

por todas das tendências divisionistas do passado. Reafirmaram Xanana Gusmão,

único lider inquestionável da Resistência Nacional, ainda preso em Cipinang/Jacarta.

A nova estrutura aplaudida pela maioria da solidariedade internacional,

inspirava a crença de esperança, sentida no interior da pátria era maior. Ainda que

fosse terreno dos lobos em fome permanente, o desafio da juventude se manteve em

constante oposição.

A nova militância da juventude fortalece a resistência, em público a singrar-se;

em Jacarta, crescia a ideia de dinamizar a oposição no exterior com presença,

292 Idem, Ibidem, p. 283;

134

supostamente dos “testemunhos oculares” era preciso. Mobilizava grupos de jovens

assaltar cercos das embaixadas ocidentais sediadas em Jacarta para obter o asílio

político, principalmente para Portugal (J. Mattoso, p. 252).

Em termos internos, é uma oposição à ABRI difícil de gerir, com uma

sociedade humilhada, perseguida, reagida em silêncio. A consciência desenvolve-se

na nova geração, situação que envolve pessoas da Igreja. Olhando o funcionamento

administrativo gerido pelos homens, mais perto dos seus domínios e num terreno que

lhes eram favoráveis.

Esta ascensão meteórica conduzida pela Jacarta não agradou toda a gente,

letrados nativos, eram os primeiros cérebros, nas vilas a contribuir novas frentes de

inconciliação com a presença de merah-putih (bandeira vermelha branca).

Todo o processo a partir de 1990 em diante, quer FALINTIL, Clandestina e

Igreja, já não têm outro cenário. Jogam por tudo de forma a conduzir Indonésia escutar

os grandes deuses que ignoravam o calvário constituído pelas ABRI em Timor-Leste.

Qualquer acção promovida pela Jacarta no território, estaria sendo contestada,

denunciada em crescendo, pela população. Em Jacarta, Xanana Gusmão morava

atrás das grades da prisão Cipinang, autorizado encontrar-se com o Nelson Mandela,

presidente da África do Sul durante duas horas, em 15 de Julho de 1997, no Palácio

do Estado 293. Semelhantes preocupações que se vêem à volta da questão timorense,

no mesmo ano em diante, o Reino Unido do Governo Trabalhista, entrou em mudança

da política externa, conduzida por Robin Cook do MNE. Alertando a Jacarta que seja

flexível a situação do Timor-Leste, no sentido de a solucionar de uma vez para

sempre, por o mundo actual ficar-se atónito com o que está passando na ex-colónia

portuguesa. Pós as eleições da Indonésia em 1997, ano a seguir o Habibie fora

posicionado Vice-Presidente da RI. Numa das visitas que este teve a Londres, o

ministro britânico encontrou-se com ele, não escondeu as preocupações e

transmitindo-lhe a mensagem que a Jacarta tem que encontrar uma solução para o

caso timorense. Fez-lhe claro que a Indonésia não está em guerra com ninguém, mas

com a Eruropa 294.

As dificuldades económicas da gigante ditam a emegência de novos protestos

na rua pela reforma do regime e pela demissão do Soeharto, reivindicados pelos

universitários. Uma tendência que quer salvar a Indonésia dos corruptores e dos que

destrõem o povo 295.

293 Gusmão, Kirsty Sword, uma mulher da Independência, Quetzal Editores, 2005, pp.198-210; 294 Política Internacional, II Série, Fev. 2005 n.º 27 in “A Política externa do Reino Unido e a autodeterminação de Timor Leste, 1997-2002” 2005, pp. 97ss; 295 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na encruzilhada da transição indonésia, 1999, pp. 133 ss;

135

Soeharto substituído 296, mas era difícil garantir a vida da 27.ª província Timor

Timur (Timor-Leste) na RI pelos sucessores. Some-se a este quadro de crise

económica que se singra, já não havia hipótese de manter a política de integração. A 5

de Maio de 1999, a proposta do Secretário-Geral da ONU fora aceite, tornara-se

acordo, assinado por Indonésia, Portugal e patrocinado pelo secretário-geral daquela

instância. Visa marcar o calendário de realização do referendo, supervisionado

internacionalmente 297. A abertura ao exterior do território timorense, o representante

pessoal do Kifi Annan, antigo embaixador paquistanês Jamsheed Marker manteve

contactos com autoridades portuguesas, indonésias, da Resistência Timorense tanto

como líderes pela integração. Acompanhando a situação, apresentá-la ao secretário-

geral.

Nas negociações, culminadas no acordo, o governo indonésio prometia garantir

a segurança e paz no território, assegurados pelos seus polícias durante o acto de

consulta.

O que impressionava os estrangeiros é que enquanto os dois governos e

secretário-geral da ONU previam o dia 8 de Agosto do mesmo ano, data de consulta

popular aos timorenses face a aceitação/rejeição da proposta “autonomia especial

para Timor-Leste no quadro do Estado da República Indonésia”, ao novo governo

indonésio vê-se incapaz de manter a ordem e segurança em dia previsto a consulta

popular que decorresse livre e sem distúrbios. O novo cenário determinara as NU

alterar para 30 de Agosto de 1999, visto que as milícias armadas pelas forças

indonésias começavam o terror sobre populações. Actuavam como apeteciam, nem

ordem havia que as conter no rumo de bruta perseguição a população civil. Para

corroborar a veracidade dos factos, a 6 de Abril 1999, não estou em erro, a Igreja de

Liquiçá, dista-se 40 km a o este de Díli, fora assaltada por milícias recrutadas pelas

tropas de Jacarta. Os refugiados pró-independência sem armas foram mortas 57

pessoas de imediato e mais feridas. O episódio correu mundo, inquietou os órgãos

internacionais pela preparação dos programas para a consulta. À margem das

conversações triangulares, não se sabia o que aconteceu ao Habibie instruir o seu

ministro de informação, general Yunus Yosfiah anunciou em Jacarta: «a Assembleia

Consultiva Popular poderia vir a conceder a independência a Timor Leste» e,

instantes depois, Ali Alatas confirmou: «se a proposta de autonomia fosse rejeitada,

a Indonésia permitiria que Timor-Leste fosse um Estado independente». Depois

296 Idem, Ibidem, p. 144; 297 Publicação semestral, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Março 2001, pp. 5-39;

136

de ter sido compreendida a declaração de Ali Alatas, por outro lado do mundo atlântico

sabia-se do Robin Cook ficara satisfeito 298.

Das NU vindas pessoas de várias nacionalidades de elevados padrões de

profissionalismo, cada uma entrava em exercício segundo as especialidades técnicas,

e, em estreita sintonia com a autoridade hierárquica dependente do secretário-geral da

ONU, no local. Pós o acordo assinado, a população Leste timorense era instruída pelas

comissões com o apoio dos naturais, em como iria realizar o referendo com

respectivos códigos indicativos pró integração ou independência. As ameaças

mantêm-se em ordem do dia, para que o medo conduzisse a população votar pela

integração. Pelo lado oposto, os serviços organizados pela Resistência são sentidos

activamente em toda a parte onde é suceptível montar posto das urnas para o acto

eleitoral, quer no interior da pátria como fora do território será no mesmo dia.

Para todos os efeitos, os dias iam aproximando-se do acto esperado, onde o

povo quer afirmar-se na épica luta prolongada, em razão do direito, universalmente lhe

é reconhecido. E, em 30 de Agosto de 1999, logo de manhã, nos locais de voto

organizados, eram recheados de grande massa popular para, cada um cumpriria

aquilo que esperava. O acto correu bem em todo Timor-Leste e para os na diáspora,

ainda que militares e polícias tentassem afastar as populações dos recenseamentos

por acções de pressão. Finalmente, é anunciado o resultado na sede das NU e em

simultâneo comunicado feito pelo chefe UNAMET em Díli 299: 98,6 % dos 446.953

eleitores inscritos. A percentagem pró independência é de 78,5 % equivalem 344.500

votantes e aos que quer bandeira merah-putih representam 21,5 % (94.388 eleitores) 300.

A cólera tornou os milícias senhores de crise, organizados pelas ABRI, por

verem-se esboroados das suas convicções. O pessoal internacional vê desesperado

os civis mortos a catana, pauladas nas ruas e a TNI era indiferente perante o drama

humano a níveis assustadores. Os apelos da UNAMET caiam por terra. O panorama

desumano pintou ao mundo o ódio indonésio pelo desprezo da democracia, justiça e

liberdade em Timor-Leste. A solidariedade internacional apelava repetidamente a

Indonésia para parar com a atitude dos milícias e punir os autores, o presdidente

Habibie do novo regime indonésio perdera a cabeça com os seus generais, não

conseguia reconquistar a ordem e a segurança, no Leste timorense.

298 Política Internacional, II Série, Fev. 2005 n.º 27 in “A Política externa do Reino Unido e a autodeterminação de Timor Leste, 1997-2002” 2005, p.103; 299 Em 4 de Setembro, tornara-se público o resultado: Gomes, José Júlio Pereira, o referendo de 30 de Agosto de 1999 em Timor Leste, o preço da liberdade, Gradiva, 2001, p. 162; 300 Magalhães, António Barbedo de, Timor-Leste na encruzilhada da transição indonésia, 1999, p. 146;

137

Em Portugal, milhares de pessoas chocadas com o drama, transmitido pelas

televisões. Encheram as ruas, pediram ajuda para salvar o povo. Os massacres se

sucediam, dois sacerdotes esfaqueados, em Suai como quem cortasse os cabritos. A

CVI, que se funcionava em Timor-Leste desde anos 80, possuía respeito internacional,

atacada pelos milícias. Casa episcopal, do representante da Igreja Católica, por ódio

extremo fora alvo de fogo e ferro. O bispo de Baucau fora ferido, fugido ao mato. O de

de Díli, tomara rumo a Darwin, prosseguiu a Portugal. Declarava o que está passando

em Timor-Leste, afirmando-o desaparecer-se de habitantes sem ninguém para

contemplar a independência do país, uma vez que sem previstos os sinais de

alteração. Quer PR, IM, como líderes partidários de oposição e outras figuras de

relevo da sociedade portugfuesa presentes, ouviram espantados do que é descrito

pelo prelado timorense. De seguida, levará o retrato timorense ao Vaticano.

Em Lisboa, as revoltas de milhares nas ruas, em silêncio de minutos e

formando cordão humano de quantos quilómetros entre escritório das NU e das

embaixadas dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança,

demoradamente, filmados por helicóptero TVI. Todas as janelas das casas, estendidas

de panos brancos, exprimiam-se pela paz por Timor.

A diplomacia portuguesa desdobrava esforços na ONU, no sentido de

conseguir uma força internacional para restaurar a paz e segurança. O primeiro

ministro, António Guterres entrava em contactos com presidente dos EUA Bill Clinton e

primeiro minstro britânico, Tony Blair, solicitando-os desesperadamente para ajudar

libertar aquele povo da tragédia humana 301.

As actividades da UNAMET neutralizadas, muitos dos seus funcionários

abandonaram os locais organizados, sem protecção. A surdez de Jacarta pelos apelos

da comunidade internacional preocupou o presidente norte americano advertir a

Indonésia de que não poder conter a violência estaria a própria Indonésia convidar as

forças internacionais para repor a ordem e segurança, em Timor-Leste. De seguida, o

comandante supremo da base militar no pacífico teve encontros com autoridades de

topo indonésias. Fazendo-as compreender toda a reacção internacional pesava sobre

Jacarta 302.

As Nações Unidas aperceberam-se da incapacidade indonésia, adoptaram

uma resolução para o envio da força de paz internacional para restaurar a ordem

pública. A entrada da INTERFET teria sido liderada pela Austrália, o Major-General

Peter Cosgrove, conferido de poderes contactar com o alto comandante da TNI acerca 301 Santos, José Rodrigues dos, a ilha das trevas, Gradiva, 2007, pp. 309 ss; 302 Lima, Fernando, Timor da Guerra do Pacífico à Desanexação, Instituto Internacional Macau, 2002, p. 322;

138

das aterragens de aviões, no território. UNAMET, organização pela realização eleitoral

retomava as suas funções 303.

Timor-Leste tornava-se em clima de alívio de medo e de massacres, mas os

milícias levaram consigo milhares de famílias timorenses para o lado oeste da ilha 304.

Admitiddas as organizações não governamentais a prestar ajuda as populações

dispersas pela onda de terror. O passar dos dias agora, são de domínio das forças de

paz, em operação activa, visa readmitir a presença dos líderes independentistas em

busca de melhoramento da crise instalada com representantes da ONU, no local. A

presença de alto poder internacional, com seus ofícios, entendia-se com a Jacarta a

que as ABRI serão destronadas de poderes, sem demora, no Território. Chegando ao

ponto final de as tropas ocupacionistas abandonarem o território sob a cobertura dos

profissionais de comunicação social internacional.

As decisões determinantes a seguir a onda de violência do pós acto

referendário de 30 de Agosto de 1999, foram de facto, uma resposta de elevada

contribuição para que a reivindicação timorense pela liberdade não fosse ignorada em

realidade. Milhares leais por ela resistiram, desaparecidos. Este povo, era mal tratado

mais de duas décadas. O sofrimento comoveu o universo dos homens livres, como

exemplo de valores e político, ficou assim ser parte do capítulo da história do Povo

Leste timoremse.

Os tempos mudam com a mudança dos homens do poder, em que o

encadeamento de opiniões a volta dela ajudam inverter tendências não universais,

onde o caso de Timor-Leste enquadra-se neste capítulo do Homem do século XXI. É

também ao nível deste rumo decisivo que o dia 30 de Outubro testemunha a última

saída das tropas invasoras das terras do Povo Mau Bere e determina o fim do

doloroso isolamento deste mesmo Povo ao resto do mundo.

No quadro de uma complicada política para a autodeterminação de Timor-

Leste, sublinho a importância de Portugal manter uma decisão de firmeza, lutava pela

esperança dos timorenses, diversificava seus raios de acção. Outra entidade mais

inteligente e poderosa para informar a situação do povo Leste timorense ao mundo e

mobilizar opiniões públicas, influir tendências - configura-se transformadora de muitos

corações, é a comunicação social portuguesa. Ao nível dos músicos por Timor, uma

das frases da música de um dos famosos onde aqui destaco o Luís Represas:

«outros calam, nós cantamos».

303 Martin, Ian, Autodeterminação em Timor-Leste, Quetzal Rditores, 2001, p. 239; 304 Sampaio, Jorge (Presidente da República de Portugal), Quero dizer-vos, Notícias Editorial, 2000, p. 74;

139

Finalmente, está livre. As ABRI deixaram o território em ruínas, instituições do

povo destruídas. Não há condições para construir um Estado novo. As NU delegaram

a UNTAET (Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste), chefiado

por Sérgio Vieira de Mello, num período de preparação e condução ao executivo pelos

funcionários de várias nacionalidades. No decurso desta organização que os

timorenses, aos poucos iriam ser atribuídos de responsabilidade de funções públicas.

No quadro das NU os países doadores entravam com a ajuda financeira para

implementar os programas traçados para reconstruir infraestruturas danificadas e

pessoal administrativo.

No espaço de cerca de três anos, o Povo Mau Bere vê a existência de

Assembleia Constituinte para Parlamento Nacional de Timor-Leste, cujo presidente é

Francisco Guterres (Lu Olo), o Comandante Xanana Gusmão eleito Presidente da

República e Mari Alkatiri é Primeiro Ministro do primeiro Governo da República

Denocrática de Timor.Leste, nova nação.

Para a cerimónia da restauração da Independência escolheram o Taci Tolu,

lugar de fuzilamento dos timorenses desfavores à integração e posteriormente aqui

também o Papa João Paulo II celebrava a missa, em Outubro de 1989. A noite do dia

19 de Maio de 2002, o recinto é cheio de multidões de gentes em alegria a espera que

chegue a hora zero para dia 20. Naquele momento de emoção e de entusiasmo, o

presidente Francisco Guterres anuncia a restauração da Independência proclamada a

28 de Novembro de 1975. A bandeira da nova nação sobe o mastro, acompanhado

pelo hino nacional. Desde o Secretário-Geral da ONU Kofi Annan, ex-presidente Bill

Clinton, presidente português Jorge Sampaio, I Minstro António Guterres, Dr. Durão

Barroso, presidente moçambicano Joaquim Chissano, e outros chefes de estados e de

governos presentes, aplaudiram o importante acontecimento, acompanhada por uma

missa celebrada por representante do Vaticano. Muitas figuras de relevo internacional,

artistas, testemunharam a afirmação dos timorenses por aquilo que esperavam –

Timor-Leste é reconhecido internacionalmente como Estado independente e soberano.

140

Conclusão

Com a situação que decorre em qualquer sociedade, o estudo aqui é

apresentado em três etapas cruciais que norteiam o Timor-Leste a construir-se em

novo Estado nos alvores do III milénio: atendendo a primeira, a sua anterioridade da

expansão europeia na Ásia, em sentido sociológico era uma sociedade de tribos, a

cabeça era o dató/liurai, de uma cultura votada a permanente guerra interna.

Economicamente vivia daquilo que a natureza a dispunha. Não tinha nenhuma ligação

com o exterior que visava cruzar experiências com povos de culturas diferentes,

inclinados a circulação mercantil, naturalmente, dada a inexistência de navegação.

Raras vezes, as comunidades do litoral permutavam o mel, pimenta e sândalo com

objectos que não existiam, trazidos por mercadores doutras ilhas do arquipélago e

distantes como indianos, chineses. Se dizia que Timor-Leste era de suserania do

império Majapahit, fundado em 1292, em Jawa, talvez residisse em teoria, dada a

inexistência de culturas de vínculos afirmativos. Há indícios diminutos constatados na

fronteira sul do país, Suai, nem sequer percebia a língua indonésia para se afirmar a

que era do passado 305. A sociedade timorense depara-se com dois mundos: o

cosmos, o território que habita e o espaço desconhecido, povoado de demónios e

almas dos defuntos. É animista, o seu pensar religioso está ligado as memórias dos

seus antepassados, mantém-se consolidado por vínculos matrimoniais.

O projecto europeu da época moderna, para Portugal foi um dos primeiros que

teve os sucessos nos contactos firmados em laços comerciais com os povos da

região. A propósito do interesse comum europeu/asiático, Timor dos Belos ficara

englobado no mapa político das coroas portuguesas, mantendo-se assim unidos até

aos inícios do século XXI. Aceitou receber educação, doutrina e civilização ocidentais

em largos períodos seculares mais afirmada e evoluída. Para si, conseguiu os padrões

que os achava bases fundamentais para dignificar a sua identidade singular no futuro

próximo/longínquo. Em prova da realidade comprovada nos anos conturbados

conhecidos por revolta de Boaventura de Manufahi e de outros régulos, apoiados por

metade ocidental da ilha. O povo não se preocupava com outros cenários do seu

destino, e como prova de aliança com Portugal fora castigado pela Grande II Guerra,

em 1942-1945, achava-se firme neste vínculo. As autoridades tradicionais sentiam-se

mais inclinadas ao culto da bandeira portuguesa, que muitos não podiam ignorar este

facto; outra etapa, não é difícil de a compreender, quer dizer, os Estados coloniais do

Ocidente europeu constrõem os seus impérios ultramarinos sem ignorar a acção dos

305 Mourre, Michel, Dicionário Universal, Vol. II, Edições ASA, 1998, p. 686;

141

missionários. Para o caso Leste timorense quanto ao desenvolvimento do nível das

mudanças de hábitos em valores civilizacionais estará mais ligado a cargo dos

homens da igreja, que os poderes régios e da república os depositavam com maior

confiança, na expansão da civilização do Ocidente. A sociedade timorense, desde

começou com este novo ciclo de história cultural, progressivamente em formação de

instruções e morais de coloração cristã católica. Aprendeu respeitar o outro, incutido

na alma os fermentos que valorizam os objectivos da fraternidade e adquirir noções de

rápida solução quanto as cizâneas internas e moralizá-lo ser pacífico e odiar o ódio. A

história conhece o porque da corrida louca europeia as regiões do Oriente, se

transforme em política de domínio. A Portugal, depressa introduz a sua língua para se

afirmar na administração e no ensino com o apoio da nobreza tradicional e mais tarde

com a elite letrada, saída das escolas missionárias e respeita os seus dialectos, o

mais conhecido, Tétum. Pelo facto de a convivência de ambas as comunidades,

decorre em longos períodos de gerações, mais pacífica, também a sua

intercomunicação quotidiana se descreve mais harmoniosa, em português/tétum,

ainda que outros incutissem ódios antiportugueses.

Ao longo do percurso, quando muitos nativos enveredam-se em caminhos

literários que descrevam a mudança de rosto doutras regiões do globo, os mesmos

vêem a sua Terra, continuamente encolher-se na sua ancestralidade. A mãe-pátria,

por esquecimento ou por longividade, à sua honra de soberania faltou muito na

evolução material. Mas a colónia continuava a espera que essa falta um dia possa ser

preenchida. Foi nesse sentido que o poder colonial perdurou, atravessando espaços

tecnologicamente modernos, resultados de fundações universitárias, académicas,

técnicas de engenharia, desconhecidas na Oceania lusa. A última e terceira etapa,

residia na existência de religião católica, os seus homens de suficiente formação de

inspiração grego-bíblica. Não só preocupavam pela evangelização dos indígenas, em

covertê-los cristãos, também os transmitiam os interesses de melhorar a vida

económica, agricultura e a modernizar os seus aldeamentos em ligação com outros.

Os centros de catequese, ainda que fossem rudimentares, eram de frequente

afluência de nativos, em dias de celebrar o sagrado. Aí, se notava a elite tradicional

acompanhar os seus filhos, parentes, resulta contactos com missionários. Daqui,

saiam os primeiros exemplos pintarem o novo fenómeno, suscitarem novas ideias que

os possibilitarão viver/trabalhar em paz e compreender mais da vida. Uma religião que

tem sua sede, padres, e bispos. Interessa o bem da sociedade: instruir, educar ter

capacidades de agir pelo bem da família e do colectivo; instruir os filhos nativos dar

importância ao respeito e a higiene. A maioria da sociedade timorense vê o padre

como seu protector, e a igreja, seu refúgio.

142

A sociedade no seu mundo natural, como ser humano não se perpetua na

mesma condição social e política que era. Porém, na capital da mãe-pátria a nova

ordem pela mudança do regime surgiu com o 25 de Abril de 1974. Ditou a transição

do Estado Novo a Democracia, no intuíto de ver em imediata operacionalidade:

Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. À semelhança das colónias da África lusa,

Timor-Leste fora permetido reivindicar o seu destino através das associações

partidárias criadas que inexistiam. A volta das opções, as discussões terminaram-se

em golpe, tomado pela UDT, convidava a resposta da FRETILIN em peso controlar 80

% do território. O seu oposto levou consigo outros partidos fora da fronteira acusando-

a de comunista. Timor-Leste tornara-se de mal a pior em situação e sem autoridade,

por o governador português com sua equipa refugiaram-se na ilha de Ataúro, sem

nenhuma voz de Lisboa. Toda a situação decorria a volta da FRETILIN, alegando ser

desestabilizadora à região, em particular a Indonésia. A política antindependentista,

acelerou a sua radicalidade como fez assassinar os seus meio milhão concidadãos,

em 1965, em Jawa 306. Vendo o movimento das ABRI a violar o território timorense, em

intensidade, FRETILIN proclamou a independência de Timor-Leste, a 28 de Novembro

de 1975, designada República Democrática de Timor-Leste (anexo 10). Na tentativa

de impedir a anexação do território à RI. Com o apoio do Ocidente a Indonésia invadiu

o Timor-Leste, a 7 de Dezembro de 1975. Literalmente, a sua honra pelas declarações

feitas pelos presidentes Sukarno e Suharto noutras ocasiões, não ter ambições por

Timor, colónia de Portugal, caiu em lodo fundo 307.

Destruíu o país, assassinou 250 mil timorenses, sepultados em valas comuns e

sem cemitérios; destruiu edíficios públicos, lojas, em cinzas, no total de 65 mil,

instituições arruinadas 308; os líderes políticos, fisicamente eliminados, padres

assassinados. O pequeno, aninhado nas grandes ilhas do arquipélago, onde o bispo

D. Martinho Lopes afirmava sem ter dimensão de tamanho poder indonésio para

inverter a situação. Silenciosamente, acreditava na fé pelo apelo moral, e pareceu

corresponder a presente realidade. A Resistência Timorense desdobrou a sua política,

a Igreja Católica atrás dela aparecia como elemento inseparável da luta, e fonte de

moral das populações na consolidação de unidade em oposição a ocupação. A

liderança timorense e diplomacia portuguesa tornaram o silêncio internacional em

votos pela liberdade timorense. Criaram forças de paz e profissionais das NU entrarem

306 Santos, António de Almeida, Quase memórias do Colonialismo e da Descolonização, Vol. I, Casa das Letras, 2006, pp. 599 ss; 307 Idem, Quase Memórias da Descolonização de cada Território em Particular, 2.º Vol., Casa das Letras, 2006, pp- 305-316; 308 Alkatiri, Mari ( I Ministro do I Governo da RDTL), O Caminho do Desenvolvimento. Os primeiros anos de governação, LIDEL, Edições Técnicas, 2005, p. 22;

143

em Timor-Leste; figuras nacionais e internacionais reconheceram a Independência, a

20 de Maio de 2002, e as ABRI terminaram a sua ocupação no território, sem ter uma

despedida organizada. A ONU teve o sucesso pela primeira vez na sua história do

problema Leste timorense, inserido no Sudeste da Ásia (anexo 11).

144

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