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DISCIPLINA DE CIÊNCIA POLÍTICA Tema: “As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” Patrícia Silva 1 1.Introdução O presente trabalho se insere no âmbito do Módulo de Teorias Clássicas, disciplina de Ciência Política do Curso de Mestrado em Ciências Sociais. O mesmo tem como objetivo estabelecer um diálogo sobre o tipo de Politica Pública que o Governo de Cabo Verde tem reservado a área teatral. A escolha do mesmo teve como motivação a inserção desta problemática no âmbito do trabalho final de dissertação de mestrado. Torna-se importante focalizar o papel do Estado no quadro do sistema mundial inter-estatal, considerando os seus dilemas como instâncias, nem sempre incompatíveis, de regulação desregulamentação, ordem-caos, opressão-emancipação na disputa pela manutenção da unidade de um povo em um território delimitado. Analisar o processo de formulação e implementação de políticas públicas, governamentais e não-governamentais, discutindo as demandas sociais e as relações do Estado com as instituições privadas é também um importante desafio. Abranger as políticas públicas relacionadas às temáticas da cultura é fundamental para se perceber a logica do processo de modernização e transformação de Cabo Verde. 1 Licenciada em Sociologia e Planeamento pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Lisboa. Mestranda do Curso de Pós-graduação em Ciências Sociais na Universidade de Cabo Verde. Professora de Sociologia e Formação Pessoal e Social no Ensino Secundário. ([email protected] ) “As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva Página 1

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DISCIPLINA DE CIÊNCIA POLÍTICA

Tema: “As Políticas Públicas para a CulturaNacional- o contexto atual”

Patrícia Silva1

1.IntroduçãoO presente trabalho se insere no âmbito do Módulo deTeorias Clássicas, disciplina de Ciência Política doCurso de Mestrado em Ciências Sociais. O mesmo tem comoobjetivo estabelecer um diálogo sobre o tipo de PoliticaPública que o Governo de Cabo Verde tem reservado a áreateatral. A escolha do mesmo teve como motivação ainserção desta problemática no âmbito do trabalho finalde dissertação de mestrado. Torna-se importantefocalizar o papel do Estado no quadro do sistema mundialinter-estatal, considerando os seus dilemas comoinstâncias, nem sempre incompatíveis, de regulaçãodesregulamentação, ordem-caos, opressão-emancipação nadisputa pela manutenção da unidade de um povo em umterritório delimitado. Analisar o processo de formulaçãoe implementação de políticas públicas, governamentais enão-governamentais, discutindo as demandas sociais e asrelações do Estado com as instituições privadas é tambémum importante desafio. Abranger as políticas públicasrelacionadas às temáticas da cultura é fundamental parase perceber a logica do processo de modernização etransformação de Cabo Verde.

1 Licenciada em Sociologia e Planeamento pelo Instituto Superior deCiências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Lisboa. Mestranda do Cursode Pós-graduação em Ciências Sociais na Universidade de Cabo Verde.Professora de Sociologia e Formação Pessoal e Social no EnsinoSecundário. ([email protected])

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Palavras-Chaves: Poderes Central e Local, PolíticasPúblicas, Cultura, Agente Cultural, Sector Privado.

____________________________________________________________

2. Conceitos-chaves Políticas Públicas

São diretrizes, princípios norteadores de ação do

poder público; regras e procedimentos para as relações

entre poder público e sociedade, mediações entre atores da

sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas

explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos

(leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam

ações que normalmente envolvem aplicações de recursos

públicos. Nem sempre porém, há compatibilidade entre as

intervenções e declarações de vontade e as ações

desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-

ações”, as omissões, como formas de manifestação de

políticas, pois representam opções e orientações dos que

ocupam cargos.

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Poder Central

Pertencem ao poder central todas as entidades

dependentes diretamente do governo, sejam as Direções

Gerais e de Serviços, bem como os Institutos Públicos

afetos aos diferentes Ministérios.

Governo

É a organização, que é a autoridade governante de uma

unidade política. É o poder de regrar uma sociedade

política e o aparato pelo qual o corpo governante funciona

e exerce autoridade. O governo é usualmente utilizado para

designar a instância máxima de administração executiva,

geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma

nação. Os Estados que possuem tamanhos variados podem ter

vários níveis de Governo conforme a organização política

daquele país, como por exemplo o Governo local, regional e

nacional.

Poder Local

Corresponde a composição de forças, ações e expressões

organizativas no nível da comunidade, do município ou da

micro-região, que contribuem para satisfazer as

necessidades, interesses e aspirações da população local

para a melhoria de suas condições de vida: econômicas,

sociais, culturais, políticas etc. O poder local, baseado

na plena participação e no empoderamento, se constitui num

aspeto fundamental para a construção da democracia

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participativa e popular, de baixo para cima, inclusiva e

plural, gerando relações de poder mais simétricas e

igualitárias.

Estado

Estado (do latim status,us: modo de estar, situação,

condição), segundo o Dicionário Houaiss é datada do século

XIII e designa "conjunto das instituições (governo, forças

armadas, funcionalismo público etc.) que controlam e

administram uma nação"; "país soberano, com estrutura

própria e politicamente organizado.

Cidadania

A Cidadania (do latim, civitas, "cidade") é o conjunto

de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em

relação à sociedade em que vive. O conceito de cidadania

sempre esteve fortemente "ligado" à noção de direitos,

especialmente os direitos políticos, que permitem ao

indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do

Estado, participando de modo direto ou indireto na formação

do governo e na sua administração, seja ao votar (direto),

seja ao concorrer a um cargo público (indireto). No

entanto, dentro de uma democracia, a própria definição de

Direito, pressupõe a contrapartida de deveres, uma vez que

em uma coletividade os direitos de um indivíduo são

garantidos a partir do cumprimento dos deveres dos demais

componentes da sociedade.

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Cultura

Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é

um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a

definição genérica formulada por Edward B. Tylor, segundo a

qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o

conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os

costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos

pelo homem como membro da sociedade”.

3.A Cultura Nacional

Os sectores da cultura previstos no Plano Estratégico

Intersectorial estão ligados ao investimento que o Poder

Central propõe fazer em quadros com formação específica

para dirigir os seguintes sectores: da Música, do Teatro;

das Artes Performativas (Dança, Circo, Espetáculos); das

Artes Visuais; das Novas Mídias (Cinema, Publicações,

Vídeo); da Literatura; das Tradições orais e Artes

Populares; das Artes Funcionais (Design, Gráfica, Moda,

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Joalharia, Brinquedos, Arquitetura, Publicidade, Recreação,

Inovação, Digital).

Propõe-se ainda criar Conselhos para definir

políticas para os sectores acima mencionados e preparar a

instalação de escolas. Pretende-se ainda fazer com que os

próprios sectores produzam a sua produção e animação dos

seus espaços e também fazer com que os sectores se

relacionem diretamente com a sociedade para questões de

atendimento, atenção, acolhimento, patrocínios, etc.

3.1.A noção de Artista ou Agente Cultural

Atualmente o Ministério da Cultura de Cabo Verde prevê

no seu portal o conceito de artista ou agente cultural. E

tem vindo a promover este conceito para que os mesmos

possam primeiramente fazer a sua inscrição no portal do

Ministério para que se crie uma base de dados a nível

nacional.

A referida base de dados irá reunir todos os

intervenientes e profissionais da Cultura, incluindo os

artistas de todas a áreas, inclusive o teatro, os

criativos, os agentes, gestores e empresários culturais,

residentes ou não no território nacional.

O objetivo deste conceito – o de artista ou agente

cultural – tem em vista a criação de um Sistema de

Informação de Cultura (SIC) que irá contemplar três

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módulos: o registo do artista ou do agente; a gestão de

financiamentos; e a gestão de projetos. Desta forma, o

Governo prevê combater as lacunas que tem existido no

sentido de mapear os agentes e projetos culturais que

muitas vezes não se tinha conhecimento. Por outro lado,

ainda cria-se um sistema de financiamento aos mesmos.

Da análise deste sistema (o SIC) é possível concluir

que o Ministério criou assim um conceito que se revela

vantajoso para os artistas nacionais e agentes culturais.

Pois este permite conhecer melhor a realidade artística em

Cabo Verde; nomeadamente os empresários culturais, o

artista e o seu trabalho.

Permite ainda estabelecer uma rede entre os intervenientes

culturais o que facilita a comunicação não só entre o

Ministério da Cultura e os cabo-verdianos, mas também entre

o artista e a sociedade.

Outra vantagem trazida pelo SIC é o facto de facilitar o

acesso a outros serviços disponibilizados pelo Ministério

da Cultura, sendo condição prévia para a emissão de

qualquer documento do mesmo Ministério a favor dos

interessados; para a concessão de patrocínios,

financiamentos e apoios; e ainda faculta dados aos

investigadores do sector cultural.

4- O Poder Central e a sua proposta de atuação

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4.1. O desafio do desenvolvimento e o papel do

sector cultural

Um dos grandes desafios de Cabo Verde atualmente é

acelerar o processo de transformação e de modernização. A

cultura é um dos elementos fundamentais para o alcance de

tal desafio pois este poderá dar um forte impulso a essa

aspiração.

O desenvolvimento do sector cultural revela-se de

extrema importância para o desenvolvimento de um país sendo

que este poderá assumir-se como um importante reforço aos

outros sectores: o económico, o turístico, o educacional, o

social, as infraestruturas, etc. Contudo, o senso comum tem

demonstrado que nem sempre esta importância tem sido

assumida seja por quem de direito, seja pelo próprio

cidadão comum.

4.2. Plano Estratégico Intersectorial (PLEI

CULTURA): objetivos, origem e proposta de atuação

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Atualmente o Ministério da Cultura tem criado uma

dinâmica no sentido de inverter esta ideia comum aceite.

Para tal, deu-se a criação do Plano Estratégico

Intersectorial (PLEI CULTURA) que tem o seguinte objetivo:

«(…) tirar proveito da rica cultura cabo-verdiana, promovendo um novo

tipo de turismo para um sector económico novo, apoiado na exploração de um

instrumento de referência a nível mundial que é a crioulização e estimular a

transformação de Cabo Verde num Centro Internacional de Prestação de

Serviços.»2

Desta forma pretende-se através deste Plano promover a

cultura cabo-verdiana como importante vetor do

desenvolvimento do país e que se assume enquanto um produto

turístico de excelência.

De acordo com fontes do Ministério da Cultura foi

realizado um levantamento dos problemas e desafios que

enfrenta a cultura cabo-verdiana de onde foi possível

destacar os seguintes constrangimentos:

A inexistência de uma economia criativa organizada,

apesar de existir muitas individualidades

criativas, que têm sido a força de toda cultura

cabo-verdiana;

A falta de associações de profissionais a nível

nacional, nas áreas da música, artesanato, etc.

2 In panfleto do Plano Estratégico Intersectorial (PLEI CULTURA)“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva

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A necessidade de linhas de financiamento e de uma

política de incentivos, de bolsas de criação, de

subsídios ou de apoios;

Uma classe empresarial débil na área de

intermediários como managers, produtores, técnicos,

agentes ou gestores;

Um artesanato sazonal e que não acompanha o

turismo;

A falta de instituições de promoção, de exportação

e de distribuição;

A carência de intersectorialidade da Cultura com as

demais áreas de desenvolvimento.

O já referido levantamento das necessidades a nível

do sector cultural teve assim na origem do Plano

Estratégico Intersectorial (PLEI CULTURA) cuja

implementação representa uma oportunidade para desenvolver

não apenas a área cultural mas também promover soluções em

vários outros sectores.

Um importante sector será na criação de emprego …

outro proteção do ambiente; na criação de riqueza; na

priorização do empresariado jovem; na participação clara e

significativamente no aumento do PIB e no crescimento

económico; no empoderamento dos agentes locais, associações

empresariais e unidades semi-industriais criativas; no

fomento de um maior envolvimento do sector privado e no

estímulo ao empreendedorismo.

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De acordo com fontes do Ministério da Cultura o

sucesso da implementação deste plano dependerá em larga

escala das novas regulamentações como isenções fiscais e

aduaneiras, linhas de crédito e outros financiamentos. Este

sucesso dependerá ainda da disponibilidade e participação

da Comunidade artística, dos Municípios, associações

comunitárias, voluntariado, sociedade civil e da diáspora.

Proposta de atuação do PLEI CULTURA

Da análise do PLEI CULTURA é possível observar a

abrangência da sua atuação. A proposta de atuação do

Ministério da Cultura é de facto ambiciosa. Da criação de

economias criativas, ao turismo, ao envolvimento dos

municípios, a criação de emprego, ao envolvimento dos

Mídias, a promoção das artes, da educação e formação, entre

outras vertentes, poucas são deixadas de lado.

No que diz respeito as economias criativas propõem

regulamentar a atuação da própria administração

pública através da proibição de realização autónoma

de atividades, da obrigação de contratação de

terceiros certificados e do financiamento público,

que consiste em apoiar o artista e o evento através

da compra de ingressos e sua distribuição gratuita

às escolas, associações e às camadas sociais mais

carenciadas, e na aquisição de bens culturais.

Na vertente do turismo propõe a Recuperação do

Centro Nacional de Artesanato como Centro de Design

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e de Políticas, para o sector; criar a marca Created

in Cabo Verde; criar um turismo de eventos; criar um

roteiro de sítios, museus e eventos em vários

níveis: nacional, regional, municipal e local;

propor a marca do país - «Cabo Verde a Casa do

Mundo»; entre outros campos de atuação.

No que diz respeito a criação de emprego pretende-

se estudar com técnicos a fórmula de Pacto do

Emprego com as empresas, recrutando agentes

culturais, mediante partilha dos custos com os

encargos sociais e incentivos fiscais; criar um

Programa de autoemprego; criar clusters de produção

e inseri-los no mercado;

Quanto ao envolvimento do midias propõe-se

Legislar os Direitos Morais; estabelecer Quotas de

Difusão; estabelecer protocolos de difusão de

publicidade e bens culturais; implementar a

cobrança dos Direitos de Autor; promover a produção

nacional, nomeadamente a produção de documentários

e ficção, em parceria com as companhias de Teatro;

promover a política de estética; aprofundar o

conceito de Serviço Público, na área da Cultura e

introduzir financiamento a programas culturais;

forma técnicos nesse sector; premiar programas de

rádio e televisão; legislar sobre as infrações e

punições em parceria com a Agência Nacional de

Comunicações (ANAC) e Alta Autoridade para a

Comunicação Social (AACS); desenvolver parceria com

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ANAC para vender cultura online; e criar um

observatório para estudo, fiscalização e

cumprimento da lei

No domínio das artes propõe-se a criação da Direção

Geral das Artes; criar uma Galeria Nacional de

Artes; elaborar o Estatuto do Artista; estudar o

direito à Dispensa Automática para os profissionais

de outros sectores que também são artistas;

difundir na web a criação/produção nacional;

estimular a arte nos bairros, como meio de inclusão

social; criar Bolsas de Criação; Criar Sistema

alternativo de Segurança Social para os artistas;

capacitar os intermediários dos artistas (managers,

agentes, produtores) e torna-los interlocutores;

legislar as Normas de Contratação dos

Intermediários dos Artistas; criar fundo público,

para criar acervo de valor;

A intervenção do PLEI CULTURA abrange inclusive a

Língua e por tal prevê-se a criação de uma Comissão

Nacional para as Línguas; criar um Gabinete de

Língua inserido no Gabinete do Ministério da

Cultura; pretende-se ainda preparar a oficialização

do Crioulo com a socialização e a consensualização

política; introduzir a língua no ensino; criar a

academia de Letras, entres outros;

No domínio da educação e formação prevê-se a

instalação de Casas de Cultura; criar uma Comissão

instaladora da Escola Nacional de Artes; criar

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incentivos ao Plano Nacional de Leitura; formação

de professores bibliotecários; promover o ensino

formal e informal das artes através das redes de

professores; formar na Arte e na Cultura

competências para o mercado de trabalho, em

parcerias com as universidades; participar na

reforma curricular;

Em suma, o PLEI CULTURA prevê campos de atuação

bastante abrangentes e inovadores e que se cumpridos irão

introduzir uma nova dinâmica na Cultura Nacional. Esta

previsão abarca desde a exportação de eventos nacionais com

caracter internacional (festivais de teatro, musica, etc.),

ao desenvolvimento de uma conexões com a própria diáspora

cabo-verdiana com a instalação de Casas de Cultura em

comunidades e bairros de emigrantes.

Inclui ainda o processo de crioulização que tem em

vista trabalhar a Diplomacia Cultural com base na

crioulização do mundo; a criação de infraestruturas como a

rede nacional de salas, a galeria nacional e o museu de

arte; a dinamização do associativismo implementando o

programa do Bairro Criativo ou indo de encontro com

iniciativas culturais e criativas; a criação de um mercado

interno e de uma empresa de distribuição de produtos

culturais, entre outras áreas de atuação.

4.3. O Poder Local - o nível municipal

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De acordo como já referido anteriormente PLEI CULTURA,

o Ministério da Cultura de Cabo Verde propõe um conjunto de

atividades no sentido de envolver os municípios no projeto

de desenvolvimento do sector cultural e do país. Este terá

as seguintes linhas de atuação:

A implementação de Protocolos de Gestão Administrativa

do Património e dos Centros Culturais, nas regiões

periféricas;

O desenvolvimento do conceito de Museu da Cidade e das

Casas de Memória;

A negociação das aquisições de bens que possam ser

classificados de Patrimónios;

Tombar património;

A instituição de Curadores Municipais;

A criação de títulos culturais para os Municípios, à

volta do qual desenvolverão as indústrias criativas e

seu Turismo Cultural temático;

A promoção de um Turismo Rural em rede, em cada

Município;

Instituir Mercados e Stands de Produtos locais e

artesanais, em todos os municípios;

Estabelecer parcerias na produção de eventos

permanentes, estabelecidas em Protocolo para longo

prazo;

Instituir os cincos Eventos Internacionais Municipais:

Teatro; Culinária e Artes Populares; Carnaval; Festas

tradicionais; Música Temática típico de cada região.

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Contudo, apesar da proposta de atuação do Poder

Central para o papel do Poder Local na dinâmica do

desenvolvimento da cultura nacional é ponto assente a forte

intervenção que os municípios têm tido no mesmo âmbito.

Grande parte das atividades culturais desenvolvidas a nível

local conta com o grande apoio das entidades locais de

quase todas a ilhas.

Como exemplo temos os grandes festivais de música

realizados atualmente em quase todas as ilhas; o já

reconhecido festival internacional de teatro – o Mindelact

– tem como grande parceiro a CMSV que também dá o seu

grande contributo na realização do Mês de Março dedicado ao

teatro; a realização do carnaval; as festas tradicionais,

entre outros eventos municipais.

4.4. Uma proposta de atuação “socialmente

enquadrada”

O Ministério da Cultura também tem uma proposta de

atuação que se encontra socialmente enquadrada. Desta forma

a nível social e ambiental propõe-se a criação de grupos e

associações culturais enquanto parceiros sociais

transversais; instalar Casas de Cultura de Bairros e

intervir junto dos Centros de Juventude, Centros de

Formação, Centros comunitários e instituições sociais e

religiosas.

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De forma a promover uma articulação entre aquilo que

se propõe e as comunidades onde se pretende atuar, propõe-

se a criação de colectivos artísticos por exemplo: coros e

bandas municipais, formações artísticas de locais de

trabalho, brincadeiras de romarias e carnavais

comunitários. Estes serão criados como forma de promover a

convivência social.

Outra política proposta é a de promover uma maior

proximidade social, incluindo a experiencia da polícia de

vizinhança e do núcleo contra a violência em parceria com

voluntários de associações culturais. A realização de

campanhas de beneficiação social através da Cultura é outra

vertente presente nesta proposta de atuação do Poder

Central.

Aproximar as famílias através do desenvolvimento de

programas que as envolvam tendo em vista visitas

curriculares aos museus e sítios, idas a concertos e

eventos. Pretende-se ainda comunicar uma cultura amiga do

ambiente; desenvolver as economias baseadas na reciclagem;

implementar no mercado, a campanha de substituição do

plástico pelo papel; criar prémios de redução de resíduos

urbanos através do artesanato.

4.5. A Necessidade de uma Regulamentação – A

Legislação

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O desenvolvimento de qualquer sector de um país passa

primeiramente pela sua regulamentação correta de forma

evitar constrangimentos no momento de atuação. A cultura

nacional até então tinha sido esquecida no que diz respeito

a sua legislação.

Contudo, atualmente a proposta de atuação do Poder

Central não deixou de fora esta linha de atuação que diz

respeito a criação de Leis que sustentem esta mesma

atuação. Por tal, criou-se as seguintes leis tendo em vista

uma melhor regulamentação do sector cultural:

A Lei de Obrigatoriedade da Cultura em atos públicos;

A Lei de intermediação artística e cultural;

A Lei de Quotas nas Mídias;

A Lei de Proteção de Direitos de Autor;

A criação de Pacotes de Leis sobre a Economia da

Cultura;

A Lei de Cadastramento, licenciamento e exercício da

atividade cultural;

Legislar sobre a poluição áudio-visual;

Legislar os festivais de música municipais;

Legislar sobre a taxação e covers culturais;

A Lei de intermediação artística e cultural;

A regulamentação sobre inspeção da aplicação das leis;

criação dos Inspetores da Cultura (espetáculos,

Direitos do Autor, quotas de difusão, etc.)

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4.6. O Financiamento da Cultura

Um dos maiores desafios desse processo de

transformação e modernização de Cabo Verde tendo a cultura

como vetor fundamental do mesmo é o seu financiamento

A nível de gestão cultural o financiamento é um dos

maiores desafios e uma das suas formas assume o conceito de

isenção fiscal como incentivo de participação dos privados

no financiamento da Cultura.

O Plano Estratégico Intersectorial prevê uma linha de

financiamento bastante abrangente e que prevê várias linhas

de atuação, nomeadamente:

A implementação do Fundo Autónomo de Apoio à

Cultura;

A criação de uma linha de crédito autónomo para a

Cultura (o Banco da Cultura) para financiar

projetos empresariais, PMEs do sector;

A instituição de 3 tipos de financiamentos

direto: do lugar, do Público e do Artista;

A instituição de 3 modelos de subvenção: a Bolsa

de Criação, a Bolsa de Investigação e a Bolsa de

Formação;

Instituir o financiamento com Fundo Rotativo nas

instituições do Ministério;

A revisão e a dinamização da Lei do Mecenato e a

criação de um Pacto com os Mecenas e criação da

chancela de Mecenato;

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Preconizar uma Sociedade de Desenvolvimento

Cultural;

Instituir uma Fundação para a Cultura;

Instituir o sistema de editais e concursos

públicos para os subsídios e apoios à produção,

edição, exposições, etc.;

Centralizar os patrocínios e apoios;

Regulamentar o financiamento dos Festivais, com

leis sobre quotas de participação nacional,

rotatividade dos artistas, impostos, taxas sobre

os cachês e sobre os ingressos;

Criar uma equipa de captação de recursos no

exterior e de elaboração de projetos especiais;

Criar um Núcleo de gestão de Contrapartidas;

Trabalhar com os outros programas do Governo

estabelecendo parcerias com outros programas

institucionais nomeadamente o Programa de Coesão

Social Jovem, empreendedorismo, juventude,

formação, etc.

Destas linhas de atuação é importante destacar duas pela

sua inovação: a Lei do Mecenato e o Banco da Cultura.

4.6.1. Lei do Mecenato – O sector privado

Em 2004, o Decreto Regulamentar 8/2004 institui o

Mecenato Cultural que constitui um instrumento de incentivo

“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva Página 20

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ao sector privado de participação no financiamento da

cultura mediante a isenção de cargas fiscais.

A Lei do Mecenato tem assim, como objetivos:

O incentivo à formação artística e cultural para a

valorização dos recursos humanos mediante: a

concessão de bolsas de estudo, pesquisa e trabalho;

concessão de prémios a criadores, autores,

artistas, técnicos e suas obras; a instalação e

manutenção de cursos de carácter cultural ou

artísticos;

Fomento da produção cultural e artística;

Estímulo ao conhecimento e acesso aos bens e

valores culturais e o exercício dos direitos

culturais;

Apoio de atividades culturais e artísticas, entre

outros objetivos.

Apesar da importância deste instrumento a sua

implementação não tem sido eficiente e, em alguns casos,

tem sido mesmo prejudicial, segundo fontes do Ministério da

Cultura, tanto para as políticas públicas, como para os

agentes culturais. O mundo da comunicação mudou

radicalmente no século XXI, atribuindo um valor

privilegiado à publicidade e ao Marketing. Por outro lado,

a maturidade do tecido sócio cultural cabo-verdiano

constitui hoje em si um incentivo ao investimento.

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Ao promover a renúncia fiscal, o que o Estado faz é

transferir para o mercado a decisão sobre a aplicação dos

recursos públicos, que são os impostos. Entretanto, os

impostos, que de todos os modos seriam pagos, tornam-se,

perante a actual lei, verdadeiras ferramentas de promoção e

marketing privados, com o complemento da isenção.

Na nova ótica da participação do privado no

financiamento da Cultura, o mecenato deve servir muito mais

para agregar valor social à marca do patrocinador do que na

distribuição dos recursos mediante a renúncia fiscal. A

política de renúncia fiscal deve servir para aplicação de

políticas públicas a sectores em que o benefício não

resulta diretamente do mercado. Estes sectores já estão

definidos na lei, mas o mecanismo do mecenato concede

demasiada liberdade ao patrocinador, e confere muita

morosidade ao processo.

De modo que urge corrigir algumas normas que têm

desvirtuado o conceito e a finalidade do Mecenato.

Atualmente, sabendo que a lei não o obriga, o mecenas tem

livre campo para aplicação dos patrocínios. O grande

desafio é fazer como que Estado passe a definir o

financiamento da renúncia fiscal, mediante seleção e

avaliação dos pedidos e a consequente emissão da Declaração

de Interesse Cultural.

Outro desafio por parte do Poder Central tem sido

tornar mais atractivo o uso do Mecenato tanto para o

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mecenas como pelo agente cultural, mediante um processo

mais célere de renúncia fiscal.

4.6.2. O Banco da Cultura

O Banco da Cultura corresponde a um importante

instrumento criado pelo Poder Central no sentido de

promover o financiamento da cultura nacional. Inserido no

âmbito do Fundo Autónomo de Apoio à Cultura (FAC), o Banco

da Cultura tem os seguintes objetivos:

Propiciar o investimento privado;

Incentivar as economias criativas;

Facilitar o acesso ao financiamento;

Criar o espírito empreendedor no trabalhador

criativo;

Criar autonomia financeira do sistema de

incentivos;

Garantir a sustentabilidade do Fundo através do

reembolso;

Fomentar a inclusão social;

E simplificar o processo de incentivo.

Este instrumento tem vindo a receber os projetos ou

ideias submetidos a empréstimos reembolsáveis, analisando a

sua viabilidade, prestando auxílio na elaboração dos mesmos

e submetendo-os aos bancos comerciais para financiamento.

O juízo da viabilidade ou não de um projeto é

competência exclusiva dos órgãos do BC-FACC e os

empréstimos reembolsáveis são avalizados pelo Fundo de“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva

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Garantia (FAAC) que também bonificam os juros, como forma

de incentivo. O reembolso serve para que o fundo seja

rotativo e possa crescer de ano para ano.

O Banco com a sua forma simples de funcionamento e

eficácia tem propiciado o financiamento de novas ideias, a

realização de projetos de vida baseados no talento,o que

terá um forte impacto no crescimento económico, na melhoria

da qualidade de vida, sobretudo no meio rural, gerando

empregos e autoempregos, criando novas oportunidades e

novos mercados.

5.Conclusão

O Ministério da Cultura tem vindo assim, a praticar

uma política de incentivos através da criação de prémios

para os agentes culturais de forma a promover uma maior

dinâmica ao sector. Desta forma criou novos Prémios

Nacionais de Música, Literatura, Poesia, Artes Visuais,

Dança e outros.

Instituí ainda os Prémios da Música com Associações de

Classe, IPICV, SOCA; estabeleceu parcerias com o sector

privado a nível de prémios para a música; tem vindo a

premiar os Parceiros da Cultura e a instituir

inclusivamente Prémios Internacionais.

A proposta alarga ainda para a criação de uma Elite de

agentes culturais. Para tal, prevê a criação do Ballet

Nacional de Cabo Verde; criar uma Orquestra Nacional; criar

academias; e desenvolver Políticas de Educação para o Bom“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva

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DISCIPLINA DE CIÊNCIA POLÍTICA

Gosto. Contudo, apesar da proposta da atuação do Poder

Central existe ainda um longo percurso no projeto de

desenvolvimento e valorização da Cultura Nacional.

6.Bibliografia A Lei do Mecenato, Ministério da Cultura. Decreto

Regulamentar nº 8/2004

O Banco da Cultura, Ministério da Cultura. Decreto

Regulamentar nº 4/2002

7.Web-grafia www.portondinosilha.cv

Ministério da Cultura

Centros Culturais

Casas de Cultura

Casa do Cidadão

[email protected]

“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva Página 25