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DISCIPLINA DE CIÊNCIA POLÍTICA
Tema: “As Políticas Públicas para a CulturaNacional- o contexto atual”
Patrícia Silva1
1.IntroduçãoO presente trabalho se insere no âmbito do Módulo deTeorias Clássicas, disciplina de Ciência Política doCurso de Mestrado em Ciências Sociais. O mesmo tem comoobjetivo estabelecer um diálogo sobre o tipo de PoliticaPública que o Governo de Cabo Verde tem reservado a áreateatral. A escolha do mesmo teve como motivação ainserção desta problemática no âmbito do trabalho finalde dissertação de mestrado. Torna-se importantefocalizar o papel do Estado no quadro do sistema mundialinter-estatal, considerando os seus dilemas comoinstâncias, nem sempre incompatíveis, de regulaçãodesregulamentação, ordem-caos, opressão-emancipação nadisputa pela manutenção da unidade de um povo em umterritório delimitado. Analisar o processo de formulaçãoe implementação de políticas públicas, governamentais enão-governamentais, discutindo as demandas sociais e asrelações do Estado com as instituições privadas é tambémum importante desafio. Abranger as políticas públicasrelacionadas às temáticas da cultura é fundamental parase perceber a logica do processo de modernização etransformação de Cabo Verde.
1 Licenciada em Sociologia e Planeamento pelo Instituto Superior deCiências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Lisboa. Mestranda do Cursode Pós-graduação em Ciências Sociais na Universidade de Cabo Verde.Professora de Sociologia e Formação Pessoal e Social no EnsinoSecundário. ([email protected])
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Palavras-Chaves: Poderes Central e Local, PolíticasPúblicas, Cultura, Agente Cultural, Sector Privado.
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2. Conceitos-chaves Políticas Públicas
São diretrizes, princípios norteadores de ação do
poder público; regras e procedimentos para as relações
entre poder público e sociedade, mediações entre atores da
sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas
explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos
(leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam
ações que normalmente envolvem aplicações de recursos
públicos. Nem sempre porém, há compatibilidade entre as
intervenções e declarações de vontade e as ações
desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-
ações”, as omissões, como formas de manifestação de
políticas, pois representam opções e orientações dos que
ocupam cargos.
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Poder Central
Pertencem ao poder central todas as entidades
dependentes diretamente do governo, sejam as Direções
Gerais e de Serviços, bem como os Institutos Públicos
afetos aos diferentes Ministérios.
Governo
É a organização, que é a autoridade governante de uma
unidade política. É o poder de regrar uma sociedade
política e o aparato pelo qual o corpo governante funciona
e exerce autoridade. O governo é usualmente utilizado para
designar a instância máxima de administração executiva,
geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma
nação. Os Estados que possuem tamanhos variados podem ter
vários níveis de Governo conforme a organização política
daquele país, como por exemplo o Governo local, regional e
nacional.
Poder Local
Corresponde a composição de forças, ações e expressões
organizativas no nível da comunidade, do município ou da
micro-região, que contribuem para satisfazer as
necessidades, interesses e aspirações da população local
para a melhoria de suas condições de vida: econômicas,
sociais, culturais, políticas etc. O poder local, baseado
na plena participação e no empoderamento, se constitui num
aspeto fundamental para a construção da democracia
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participativa e popular, de baixo para cima, inclusiva e
plural, gerando relações de poder mais simétricas e
igualitárias.
Estado
Estado (do latim status,us: modo de estar, situação,
condição), segundo o Dicionário Houaiss é datada do século
XIII e designa "conjunto das instituições (governo, forças
armadas, funcionalismo público etc.) que controlam e
administram uma nação"; "país soberano, com estrutura
própria e politicamente organizado.
Cidadania
A Cidadania (do latim, civitas, "cidade") é o conjunto
de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em
relação à sociedade em que vive. O conceito de cidadania
sempre esteve fortemente "ligado" à noção de direitos,
especialmente os direitos políticos, que permitem ao
indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do
Estado, participando de modo direto ou indireto na formação
do governo e na sua administração, seja ao votar (direto),
seja ao concorrer a um cargo público (indireto). No
entanto, dentro de uma democracia, a própria definição de
Direito, pressupõe a contrapartida de deveres, uma vez que
em uma coletividade os direitos de um indivíduo são
garantidos a partir do cumprimento dos deveres dos demais
componentes da sociedade.
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Cultura
Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é
um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a
definição genérica formulada por Edward B. Tylor, segundo a
qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o
conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os
costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos
pelo homem como membro da sociedade”.
3.A Cultura Nacional
Os sectores da cultura previstos no Plano Estratégico
Intersectorial estão ligados ao investimento que o Poder
Central propõe fazer em quadros com formação específica
para dirigir os seguintes sectores: da Música, do Teatro;
das Artes Performativas (Dança, Circo, Espetáculos); das
Artes Visuais; das Novas Mídias (Cinema, Publicações,
Vídeo); da Literatura; das Tradições orais e Artes
Populares; das Artes Funcionais (Design, Gráfica, Moda,
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Joalharia, Brinquedos, Arquitetura, Publicidade, Recreação,
Inovação, Digital).
Propõe-se ainda criar Conselhos para definir
políticas para os sectores acima mencionados e preparar a
instalação de escolas. Pretende-se ainda fazer com que os
próprios sectores produzam a sua produção e animação dos
seus espaços e também fazer com que os sectores se
relacionem diretamente com a sociedade para questões de
atendimento, atenção, acolhimento, patrocínios, etc.
3.1.A noção de Artista ou Agente Cultural
Atualmente o Ministério da Cultura de Cabo Verde prevê
no seu portal o conceito de artista ou agente cultural. E
tem vindo a promover este conceito para que os mesmos
possam primeiramente fazer a sua inscrição no portal do
Ministério para que se crie uma base de dados a nível
nacional.
A referida base de dados irá reunir todos os
intervenientes e profissionais da Cultura, incluindo os
artistas de todas a áreas, inclusive o teatro, os
criativos, os agentes, gestores e empresários culturais,
residentes ou não no território nacional.
O objetivo deste conceito – o de artista ou agente
cultural – tem em vista a criação de um Sistema de
Informação de Cultura (SIC) que irá contemplar três
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módulos: o registo do artista ou do agente; a gestão de
financiamentos; e a gestão de projetos. Desta forma, o
Governo prevê combater as lacunas que tem existido no
sentido de mapear os agentes e projetos culturais que
muitas vezes não se tinha conhecimento. Por outro lado,
ainda cria-se um sistema de financiamento aos mesmos.
Da análise deste sistema (o SIC) é possível concluir
que o Ministério criou assim um conceito que se revela
vantajoso para os artistas nacionais e agentes culturais.
Pois este permite conhecer melhor a realidade artística em
Cabo Verde; nomeadamente os empresários culturais, o
artista e o seu trabalho.
Permite ainda estabelecer uma rede entre os intervenientes
culturais o que facilita a comunicação não só entre o
Ministério da Cultura e os cabo-verdianos, mas também entre
o artista e a sociedade.
Outra vantagem trazida pelo SIC é o facto de facilitar o
acesso a outros serviços disponibilizados pelo Ministério
da Cultura, sendo condição prévia para a emissão de
qualquer documento do mesmo Ministério a favor dos
interessados; para a concessão de patrocínios,
financiamentos e apoios; e ainda faculta dados aos
investigadores do sector cultural.
4- O Poder Central e a sua proposta de atuação
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4.1. O desafio do desenvolvimento e o papel do
sector cultural
Um dos grandes desafios de Cabo Verde atualmente é
acelerar o processo de transformação e de modernização. A
cultura é um dos elementos fundamentais para o alcance de
tal desafio pois este poderá dar um forte impulso a essa
aspiração.
O desenvolvimento do sector cultural revela-se de
extrema importância para o desenvolvimento de um país sendo
que este poderá assumir-se como um importante reforço aos
outros sectores: o económico, o turístico, o educacional, o
social, as infraestruturas, etc. Contudo, o senso comum tem
demonstrado que nem sempre esta importância tem sido
assumida seja por quem de direito, seja pelo próprio
cidadão comum.
4.2. Plano Estratégico Intersectorial (PLEI
CULTURA): objetivos, origem e proposta de atuação
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Atualmente o Ministério da Cultura tem criado uma
dinâmica no sentido de inverter esta ideia comum aceite.
Para tal, deu-se a criação do Plano Estratégico
Intersectorial (PLEI CULTURA) que tem o seguinte objetivo:
«(…) tirar proveito da rica cultura cabo-verdiana, promovendo um novo
tipo de turismo para um sector económico novo, apoiado na exploração de um
instrumento de referência a nível mundial que é a crioulização e estimular a
transformação de Cabo Verde num Centro Internacional de Prestação de
Serviços.»2
Desta forma pretende-se através deste Plano promover a
cultura cabo-verdiana como importante vetor do
desenvolvimento do país e que se assume enquanto um produto
turístico de excelência.
De acordo com fontes do Ministério da Cultura foi
realizado um levantamento dos problemas e desafios que
enfrenta a cultura cabo-verdiana de onde foi possível
destacar os seguintes constrangimentos:
A inexistência de uma economia criativa organizada,
apesar de existir muitas individualidades
criativas, que têm sido a força de toda cultura
cabo-verdiana;
A falta de associações de profissionais a nível
nacional, nas áreas da música, artesanato, etc.
2 In panfleto do Plano Estratégico Intersectorial (PLEI CULTURA)“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva
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A necessidade de linhas de financiamento e de uma
política de incentivos, de bolsas de criação, de
subsídios ou de apoios;
Uma classe empresarial débil na área de
intermediários como managers, produtores, técnicos,
agentes ou gestores;
Um artesanato sazonal e que não acompanha o
turismo;
A falta de instituições de promoção, de exportação
e de distribuição;
A carência de intersectorialidade da Cultura com as
demais áreas de desenvolvimento.
O já referido levantamento das necessidades a nível
do sector cultural teve assim na origem do Plano
Estratégico Intersectorial (PLEI CULTURA) cuja
implementação representa uma oportunidade para desenvolver
não apenas a área cultural mas também promover soluções em
vários outros sectores.
Um importante sector será na criação de emprego …
outro proteção do ambiente; na criação de riqueza; na
priorização do empresariado jovem; na participação clara e
significativamente no aumento do PIB e no crescimento
económico; no empoderamento dos agentes locais, associações
empresariais e unidades semi-industriais criativas; no
fomento de um maior envolvimento do sector privado e no
estímulo ao empreendedorismo.
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De acordo com fontes do Ministério da Cultura o
sucesso da implementação deste plano dependerá em larga
escala das novas regulamentações como isenções fiscais e
aduaneiras, linhas de crédito e outros financiamentos. Este
sucesso dependerá ainda da disponibilidade e participação
da Comunidade artística, dos Municípios, associações
comunitárias, voluntariado, sociedade civil e da diáspora.
Proposta de atuação do PLEI CULTURA
Da análise do PLEI CULTURA é possível observar a
abrangência da sua atuação. A proposta de atuação do
Ministério da Cultura é de facto ambiciosa. Da criação de
economias criativas, ao turismo, ao envolvimento dos
municípios, a criação de emprego, ao envolvimento dos
Mídias, a promoção das artes, da educação e formação, entre
outras vertentes, poucas são deixadas de lado.
No que diz respeito as economias criativas propõem
regulamentar a atuação da própria administração
pública através da proibição de realização autónoma
de atividades, da obrigação de contratação de
terceiros certificados e do financiamento público,
que consiste em apoiar o artista e o evento através
da compra de ingressos e sua distribuição gratuita
às escolas, associações e às camadas sociais mais
carenciadas, e na aquisição de bens culturais.
Na vertente do turismo propõe a Recuperação do
Centro Nacional de Artesanato como Centro de Design
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e de Políticas, para o sector; criar a marca Created
in Cabo Verde; criar um turismo de eventos; criar um
roteiro de sítios, museus e eventos em vários
níveis: nacional, regional, municipal e local;
propor a marca do país - «Cabo Verde a Casa do
Mundo»; entre outros campos de atuação.
No que diz respeito a criação de emprego pretende-
se estudar com técnicos a fórmula de Pacto do
Emprego com as empresas, recrutando agentes
culturais, mediante partilha dos custos com os
encargos sociais e incentivos fiscais; criar um
Programa de autoemprego; criar clusters de produção
e inseri-los no mercado;
Quanto ao envolvimento do midias propõe-se
Legislar os Direitos Morais; estabelecer Quotas de
Difusão; estabelecer protocolos de difusão de
publicidade e bens culturais; implementar a
cobrança dos Direitos de Autor; promover a produção
nacional, nomeadamente a produção de documentários
e ficção, em parceria com as companhias de Teatro;
promover a política de estética; aprofundar o
conceito de Serviço Público, na área da Cultura e
introduzir financiamento a programas culturais;
forma técnicos nesse sector; premiar programas de
rádio e televisão; legislar sobre as infrações e
punições em parceria com a Agência Nacional de
Comunicações (ANAC) e Alta Autoridade para a
Comunicação Social (AACS); desenvolver parceria com
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ANAC para vender cultura online; e criar um
observatório para estudo, fiscalização e
cumprimento da lei
No domínio das artes propõe-se a criação da Direção
Geral das Artes; criar uma Galeria Nacional de
Artes; elaborar o Estatuto do Artista; estudar o
direito à Dispensa Automática para os profissionais
de outros sectores que também são artistas;
difundir na web a criação/produção nacional;
estimular a arte nos bairros, como meio de inclusão
social; criar Bolsas de Criação; Criar Sistema
alternativo de Segurança Social para os artistas;
capacitar os intermediários dos artistas (managers,
agentes, produtores) e torna-los interlocutores;
legislar as Normas de Contratação dos
Intermediários dos Artistas; criar fundo público,
para criar acervo de valor;
A intervenção do PLEI CULTURA abrange inclusive a
Língua e por tal prevê-se a criação de uma Comissão
Nacional para as Línguas; criar um Gabinete de
Língua inserido no Gabinete do Ministério da
Cultura; pretende-se ainda preparar a oficialização
do Crioulo com a socialização e a consensualização
política; introduzir a língua no ensino; criar a
academia de Letras, entres outros;
No domínio da educação e formação prevê-se a
instalação de Casas de Cultura; criar uma Comissão
instaladora da Escola Nacional de Artes; criar
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incentivos ao Plano Nacional de Leitura; formação
de professores bibliotecários; promover o ensino
formal e informal das artes através das redes de
professores; formar na Arte e na Cultura
competências para o mercado de trabalho, em
parcerias com as universidades; participar na
reforma curricular;
Em suma, o PLEI CULTURA prevê campos de atuação
bastante abrangentes e inovadores e que se cumpridos irão
introduzir uma nova dinâmica na Cultura Nacional. Esta
previsão abarca desde a exportação de eventos nacionais com
caracter internacional (festivais de teatro, musica, etc.),
ao desenvolvimento de uma conexões com a própria diáspora
cabo-verdiana com a instalação de Casas de Cultura em
comunidades e bairros de emigrantes.
Inclui ainda o processo de crioulização que tem em
vista trabalhar a Diplomacia Cultural com base na
crioulização do mundo; a criação de infraestruturas como a
rede nacional de salas, a galeria nacional e o museu de
arte; a dinamização do associativismo implementando o
programa do Bairro Criativo ou indo de encontro com
iniciativas culturais e criativas; a criação de um mercado
interno e de uma empresa de distribuição de produtos
culturais, entre outras áreas de atuação.
4.3. O Poder Local - o nível municipal
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De acordo como já referido anteriormente PLEI CULTURA,
o Ministério da Cultura de Cabo Verde propõe um conjunto de
atividades no sentido de envolver os municípios no projeto
de desenvolvimento do sector cultural e do país. Este terá
as seguintes linhas de atuação:
A implementação de Protocolos de Gestão Administrativa
do Património e dos Centros Culturais, nas regiões
periféricas;
O desenvolvimento do conceito de Museu da Cidade e das
Casas de Memória;
A negociação das aquisições de bens que possam ser
classificados de Patrimónios;
Tombar património;
A instituição de Curadores Municipais;
A criação de títulos culturais para os Municípios, à
volta do qual desenvolverão as indústrias criativas e
seu Turismo Cultural temático;
A promoção de um Turismo Rural em rede, em cada
Município;
Instituir Mercados e Stands de Produtos locais e
artesanais, em todos os municípios;
Estabelecer parcerias na produção de eventos
permanentes, estabelecidas em Protocolo para longo
prazo;
Instituir os cincos Eventos Internacionais Municipais:
Teatro; Culinária e Artes Populares; Carnaval; Festas
tradicionais; Música Temática típico de cada região.
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Contudo, apesar da proposta de atuação do Poder
Central para o papel do Poder Local na dinâmica do
desenvolvimento da cultura nacional é ponto assente a forte
intervenção que os municípios têm tido no mesmo âmbito.
Grande parte das atividades culturais desenvolvidas a nível
local conta com o grande apoio das entidades locais de
quase todas a ilhas.
Como exemplo temos os grandes festivais de música
realizados atualmente em quase todas as ilhas; o já
reconhecido festival internacional de teatro – o Mindelact
– tem como grande parceiro a CMSV que também dá o seu
grande contributo na realização do Mês de Março dedicado ao
teatro; a realização do carnaval; as festas tradicionais,
entre outros eventos municipais.
4.4. Uma proposta de atuação “socialmente
enquadrada”
O Ministério da Cultura também tem uma proposta de
atuação que se encontra socialmente enquadrada. Desta forma
a nível social e ambiental propõe-se a criação de grupos e
associações culturais enquanto parceiros sociais
transversais; instalar Casas de Cultura de Bairros e
intervir junto dos Centros de Juventude, Centros de
Formação, Centros comunitários e instituições sociais e
religiosas.
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De forma a promover uma articulação entre aquilo que
se propõe e as comunidades onde se pretende atuar, propõe-
se a criação de colectivos artísticos por exemplo: coros e
bandas municipais, formações artísticas de locais de
trabalho, brincadeiras de romarias e carnavais
comunitários. Estes serão criados como forma de promover a
convivência social.
Outra política proposta é a de promover uma maior
proximidade social, incluindo a experiencia da polícia de
vizinhança e do núcleo contra a violência em parceria com
voluntários de associações culturais. A realização de
campanhas de beneficiação social através da Cultura é outra
vertente presente nesta proposta de atuação do Poder
Central.
Aproximar as famílias através do desenvolvimento de
programas que as envolvam tendo em vista visitas
curriculares aos museus e sítios, idas a concertos e
eventos. Pretende-se ainda comunicar uma cultura amiga do
ambiente; desenvolver as economias baseadas na reciclagem;
implementar no mercado, a campanha de substituição do
plástico pelo papel; criar prémios de redução de resíduos
urbanos através do artesanato.
4.5. A Necessidade de uma Regulamentação – A
Legislação
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O desenvolvimento de qualquer sector de um país passa
primeiramente pela sua regulamentação correta de forma
evitar constrangimentos no momento de atuação. A cultura
nacional até então tinha sido esquecida no que diz respeito
a sua legislação.
Contudo, atualmente a proposta de atuação do Poder
Central não deixou de fora esta linha de atuação que diz
respeito a criação de Leis que sustentem esta mesma
atuação. Por tal, criou-se as seguintes leis tendo em vista
uma melhor regulamentação do sector cultural:
A Lei de Obrigatoriedade da Cultura em atos públicos;
A Lei de intermediação artística e cultural;
A Lei de Quotas nas Mídias;
A Lei de Proteção de Direitos de Autor;
A criação de Pacotes de Leis sobre a Economia da
Cultura;
A Lei de Cadastramento, licenciamento e exercício da
atividade cultural;
Legislar sobre a poluição áudio-visual;
Legislar os festivais de música municipais;
Legislar sobre a taxação e covers culturais;
A Lei de intermediação artística e cultural;
A regulamentação sobre inspeção da aplicação das leis;
criação dos Inspetores da Cultura (espetáculos,
Direitos do Autor, quotas de difusão, etc.)
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4.6. O Financiamento da Cultura
Um dos maiores desafios desse processo de
transformação e modernização de Cabo Verde tendo a cultura
como vetor fundamental do mesmo é o seu financiamento
A nível de gestão cultural o financiamento é um dos
maiores desafios e uma das suas formas assume o conceito de
isenção fiscal como incentivo de participação dos privados
no financiamento da Cultura.
O Plano Estratégico Intersectorial prevê uma linha de
financiamento bastante abrangente e que prevê várias linhas
de atuação, nomeadamente:
A implementação do Fundo Autónomo de Apoio à
Cultura;
A criação de uma linha de crédito autónomo para a
Cultura (o Banco da Cultura) para financiar
projetos empresariais, PMEs do sector;
A instituição de 3 tipos de financiamentos
direto: do lugar, do Público e do Artista;
A instituição de 3 modelos de subvenção: a Bolsa
de Criação, a Bolsa de Investigação e a Bolsa de
Formação;
Instituir o financiamento com Fundo Rotativo nas
instituições do Ministério;
A revisão e a dinamização da Lei do Mecenato e a
criação de um Pacto com os Mecenas e criação da
chancela de Mecenato;
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Preconizar uma Sociedade de Desenvolvimento
Cultural;
Instituir uma Fundação para a Cultura;
Instituir o sistema de editais e concursos
públicos para os subsídios e apoios à produção,
edição, exposições, etc.;
Centralizar os patrocínios e apoios;
Regulamentar o financiamento dos Festivais, com
leis sobre quotas de participação nacional,
rotatividade dos artistas, impostos, taxas sobre
os cachês e sobre os ingressos;
Criar uma equipa de captação de recursos no
exterior e de elaboração de projetos especiais;
Criar um Núcleo de gestão de Contrapartidas;
Trabalhar com os outros programas do Governo
estabelecendo parcerias com outros programas
institucionais nomeadamente o Programa de Coesão
Social Jovem, empreendedorismo, juventude,
formação, etc.
Destas linhas de atuação é importante destacar duas pela
sua inovação: a Lei do Mecenato e o Banco da Cultura.
4.6.1. Lei do Mecenato – O sector privado
Em 2004, o Decreto Regulamentar 8/2004 institui o
Mecenato Cultural que constitui um instrumento de incentivo
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ao sector privado de participação no financiamento da
cultura mediante a isenção de cargas fiscais.
A Lei do Mecenato tem assim, como objetivos:
O incentivo à formação artística e cultural para a
valorização dos recursos humanos mediante: a
concessão de bolsas de estudo, pesquisa e trabalho;
concessão de prémios a criadores, autores,
artistas, técnicos e suas obras; a instalação e
manutenção de cursos de carácter cultural ou
artísticos;
Fomento da produção cultural e artística;
Estímulo ao conhecimento e acesso aos bens e
valores culturais e o exercício dos direitos
culturais;
Apoio de atividades culturais e artísticas, entre
outros objetivos.
Apesar da importância deste instrumento a sua
implementação não tem sido eficiente e, em alguns casos,
tem sido mesmo prejudicial, segundo fontes do Ministério da
Cultura, tanto para as políticas públicas, como para os
agentes culturais. O mundo da comunicação mudou
radicalmente no século XXI, atribuindo um valor
privilegiado à publicidade e ao Marketing. Por outro lado,
a maturidade do tecido sócio cultural cabo-verdiano
constitui hoje em si um incentivo ao investimento.
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Ao promover a renúncia fiscal, o que o Estado faz é
transferir para o mercado a decisão sobre a aplicação dos
recursos públicos, que são os impostos. Entretanto, os
impostos, que de todos os modos seriam pagos, tornam-se,
perante a actual lei, verdadeiras ferramentas de promoção e
marketing privados, com o complemento da isenção.
Na nova ótica da participação do privado no
financiamento da Cultura, o mecenato deve servir muito mais
para agregar valor social à marca do patrocinador do que na
distribuição dos recursos mediante a renúncia fiscal. A
política de renúncia fiscal deve servir para aplicação de
políticas públicas a sectores em que o benefício não
resulta diretamente do mercado. Estes sectores já estão
definidos na lei, mas o mecanismo do mecenato concede
demasiada liberdade ao patrocinador, e confere muita
morosidade ao processo.
De modo que urge corrigir algumas normas que têm
desvirtuado o conceito e a finalidade do Mecenato.
Atualmente, sabendo que a lei não o obriga, o mecenas tem
livre campo para aplicação dos patrocínios. O grande
desafio é fazer como que Estado passe a definir o
financiamento da renúncia fiscal, mediante seleção e
avaliação dos pedidos e a consequente emissão da Declaração
de Interesse Cultural.
Outro desafio por parte do Poder Central tem sido
tornar mais atractivo o uso do Mecenato tanto para o
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mecenas como pelo agente cultural, mediante um processo
mais célere de renúncia fiscal.
4.6.2. O Banco da Cultura
O Banco da Cultura corresponde a um importante
instrumento criado pelo Poder Central no sentido de
promover o financiamento da cultura nacional. Inserido no
âmbito do Fundo Autónomo de Apoio à Cultura (FAC), o Banco
da Cultura tem os seguintes objetivos:
Propiciar o investimento privado;
Incentivar as economias criativas;
Facilitar o acesso ao financiamento;
Criar o espírito empreendedor no trabalhador
criativo;
Criar autonomia financeira do sistema de
incentivos;
Garantir a sustentabilidade do Fundo através do
reembolso;
Fomentar a inclusão social;
E simplificar o processo de incentivo.
Este instrumento tem vindo a receber os projetos ou
ideias submetidos a empréstimos reembolsáveis, analisando a
sua viabilidade, prestando auxílio na elaboração dos mesmos
e submetendo-os aos bancos comerciais para financiamento.
O juízo da viabilidade ou não de um projeto é
competência exclusiva dos órgãos do BC-FACC e os
empréstimos reembolsáveis são avalizados pelo Fundo de“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva
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Garantia (FAAC) que também bonificam os juros, como forma
de incentivo. O reembolso serve para que o fundo seja
rotativo e possa crescer de ano para ano.
O Banco com a sua forma simples de funcionamento e
eficácia tem propiciado o financiamento de novas ideias, a
realização de projetos de vida baseados no talento,o que
terá um forte impacto no crescimento económico, na melhoria
da qualidade de vida, sobretudo no meio rural, gerando
empregos e autoempregos, criando novas oportunidades e
novos mercados.
5.Conclusão
O Ministério da Cultura tem vindo assim, a praticar
uma política de incentivos através da criação de prémios
para os agentes culturais de forma a promover uma maior
dinâmica ao sector. Desta forma criou novos Prémios
Nacionais de Música, Literatura, Poesia, Artes Visuais,
Dança e outros.
Instituí ainda os Prémios da Música com Associações de
Classe, IPICV, SOCA; estabeleceu parcerias com o sector
privado a nível de prémios para a música; tem vindo a
premiar os Parceiros da Cultura e a instituir
inclusivamente Prémios Internacionais.
A proposta alarga ainda para a criação de uma Elite de
agentes culturais. Para tal, prevê a criação do Ballet
Nacional de Cabo Verde; criar uma Orquestra Nacional; criar
academias; e desenvolver Políticas de Educação para o Bom“As Políticas Públicas para a Cultura Nacional- o contexto atual” realizado por Patrícia Silva
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Gosto. Contudo, apesar da proposta da atuação do Poder
Central existe ainda um longo percurso no projeto de
desenvolvimento e valorização da Cultura Nacional.
6.Bibliografia A Lei do Mecenato, Ministério da Cultura. Decreto
Regulamentar nº 8/2004
O Banco da Cultura, Ministério da Cultura. Decreto
Regulamentar nº 4/2002
7.Web-grafia www.portondinosilha.cv
Ministério da Cultura
Centros Culturais
Casas de Cultura
Casa do Cidadão
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