Síntese - A Cidade Antiga (Fustel de Coulanges)

23
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA 1º PERÍODO- NOTURNO LUCAS AUGUSTO TAVARES DA SILVA SÍNTESE TERCEIRA PARTE DO LIVRO “A CIDADE ANTIGA” DE FUSTEL DE COULANGES

Transcript of Síntese - A Cidade Antiga (Fustel de Coulanges)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

1º PERÍODO- NOTURNO

LUCAS AUGUSTO TAVARES DA SILVA

SÍNTESE TERCEIRA PARTE DO LIVRO “A CIDADE ANTIGA” DE FUSTEL DE

COULANGES

CURITIBA

2013

LUCAS AUGUSTO TAVARES DA SILVA

SÍNTESE TERCEIRA PARTE DO LIVRO “A CIDADE ANTIGA” DE FUSTEL DE

COULANGES

CURITIBA

2013

SUMÁRIO

1. CAPÍTULO I: A FRÁTRIA E A CÚRIA; A

TRIBO...................................................3

2. CAPÍTULO II:NOVAS CRENÇAS

RELIGIOSAS....................................................4

2.1.OS DEUSES DE NATUREZA

FÍSICA........................................................

............4

2.2.RELAÇÃO DESSA RELIGIÃO COM O DESENVOLVIMENTO DA

SOCIEDADE.5

3. CAPÍTULO III: FORMA-SE A

CIDADE........................................................

...........7

4. CAPÍTULO IV: A

URBE .........................................................

.................................9

5. CAPÍTULO V: CULTO AO FUNDANDOR; A LENDA DE

ENEIAS......................10

6.

REFERÊNCIOAS..................................................

.................................................12

3

CAPÍTULO I: A FRÁTRIA E A CÚRIA; A TRIBO.

Na história de sociedades antigas, como Grécia e Roma, as

épocas ou períodos são mais fáceis de serem marcados pela

sucessão de ideias e acontecimentos do que pelos anos.

Muito além dos tempos chamados históricos, existiu um

período de séculos durante os quais a família foi a única

forma de sociedade. Como essa sociedade primitiva era de certa

forma pequena, a ideia que se fazia de divindade era

igualmente reduzida. Cada família possuía os seus deuses e

somente adoravam divindades domésticas. Seriam necessários

muitos séculos para que essas sociedades primitivas

concebessem Deus como um ser único, incomparável e infinito, e

para isso deviam ampliar de época em época a sua concepção e

se distanciar ao poucos daquele horizonte, cuja linha separa o

ser divino das coisas terrenas. Mais diretamente falando, a

ideia religiosa e a sociedade humana iriam crescer juntas.

Esse tipo de religião doméstica proibia que duas famílias

se misturassem, porém, era possível que diversas famílias se

unissem para celebrar um culto que lhes fossem comuns, mas sem

sacrificar a religião particular de cada uma. E foi exatamente

assim que ocorreram, três famílias se uniram formando um grupo

chamado de frátria na língua grega e cúria na língua latina.

Com essa nova associação, ocorreu também uma ampliação da

ideia religiosa. No momento em que essas famílias se uniram,

elas conceberam uma divindade superior às suas divindades

domésticas, que zelava pelo grupo todo. Ergueram para esta

divindade superior um altar, acenderam um fogo sagrado e

instituíram um culto.

3

O ato religioso consistia numa refeição feita em comum,

sendo que a comida era preparada sobre o próprio altar

caracterizando-a, portanto, como sagrada. Os membros da

frátria se alimentavam desta comida sagrada recitando preces,

momentos estes em que a divindade estava presente e recebia a

sua parte de alimento bebida.

Para fazer parte de uma frátria, era necessário que o

indivíduo tivesse nascido de um casamento legítimo numa das

famílias que compunham a frátria, pois a religião na mesma, só

se transmitia através do sangue. A admissão de um indivíduo na

frátria ocorria de forma religiosa. O pai apresentava seu

filho aos membros da frátria, jurando que este era seu filho

legítimo. Neste momento de apresentação, a carne estava sendo

assada sobre o altar. Se os membros da frátria

4

duvidassem da legitimidade do nascimento do indivíduo, deviam

tirar a carne de cima do altar, se pelo contrário eles

aceitassem o mesmo na frátria, eles compartilhavam a carne

assada com o recém-chegado e este era admitido e se tornava

membro da associação. Existe uma explicação para essa

cerimônia, pois os antigos acreditavam que todo alimento

preparado sobre um altar e divido entre várias pessoas,

estabelecia entre elas um laço indissolúvel e uma união santa,

que só cessaria com a morte do indivíduo.

Cada frátria ou cúria tinha um chefe chamado de curião ou

fratriarca, que detinha como principal função presidir os

sacrifícios. A frátria possuía também assembleias, o seu

tribunal e podia promulgar decretos e, assim como na família,

possuía um deus, um culto, um sacerdócio, uma justiça e um

governo, ou seja, era uma pequena sociedade moldada na

família.

A associação continuou a crescer naturalmente fazendo com

que várias cúrias ou frátrias se agrupassem formando uma

tribo. Essa nova associação possuía também a sua religião, um

altar e uma divindade protetora.

O deus da tribo tinha a mesma natureza que o da frátria ou

da família, era um homem divinizado, um herói que possuía seu

dia de festa anual e a refeição comum continuava como a parte

principal da cerimônia religiosa.

Assim como a frátria, a tribo também tinha assembleias,

promulgava decretos, possuía tribunais e um direito de justiça

aos quais todos os seus membros deviam se submeter. A tribo

também possuía um chefe chamado de tribunus. A princípio, a

4

tribo fora constituída para se uma sociedade independente,

como se não houvesse nenhum poder social acima dela.

CAPÍTULO II: NOVAS CRENÇAS RELIGIOSAS

1º) OS DEUSES DE NATUREZA FÍSICA

Quando pesquisamos as crenças religiosas desses povos

antigos nos deparamos com duas religiões: uma que tinha por

objeto de adoração e culto os antepassados e por principal

símbolo o lar, na qual se constituiu a família e foram

estabelecidas as primeiras leis; e a outra religião que tinha

como fonte de adoração aquelas figuras do Olimpo helênico e do

Capitólio romano.

Dessas duas religiões, a primeira tirava seus deuses da

alma humana e a segunda, da natureza física.

O homem primitivo estava em constante contato com na a

natureza, deslumbrando a beleza e a grandeza da mesma.

Apreciava a luz do dia que

5

afastava a escuridão da noite, esperava a nuvem benfazeja de

que dependia a colheita e temia a tempestade que podia

destruir o trabalho e a esperança de todo um ano.

Experimentava continuamente um misto de veneração, adoração e

amor e também de terror por essa poderosa natureza. O homem

então atribuiu a cada parte da criação, no solo, na árvore, na

nuvem, na água do rio, no sol e em tantos outros, um tipo de

adoração e viu que estava sujeito à vontade delas, confessou

sua dependência e transformo-as em deuses.

Assim, a ideia religiosa se apresentou sob duas formas

diferentes. De um lado, o homem vinculou o divino ao que

entrevia a alma, ao que sentia de sagrado dentro de si. Por

outro lado, aplicou a ideia do divino aos agentes físicos

exteriores que contemplava, amava ou temia.

Esses dois tipos de crenças que vemos durar nas sociedades

gregas e romanas, não tiveram guerra entre si, até mesmo

viveram em um bom entendimento, contudo sem jamais se

confundirem, pois possuíam dogmas completamente distintos,

cerimônias e práticas totalmente diferentes.

Não podemos precisar qual dessas duas religiões foi a

primeira em data, mas o que é certo é que uma delas, a do

culto aos antepassados, foi instituída numa época muito remota

e permaneceu sempre imutável em suas práticas, enquanto seus

dogmas aos poucos iam se apagando. A outra, de natureza

física, foi muito mais progressiva, sendo que suas crenças e

doutrinas foram de modificando aos poucos, e aumentando sem

cessar sua autoridade sobre o homem.

5

2º) RELAÇÃO DESSA RELIGIÃO COM O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE

HUMANA

É certo que esta religião da natureza não nasceu no mundo

em um dia e não saiu perfeita na mente humana. Não vemos na

origem dessa religião nem um profeta e nem sacerdotes. Entre

todos esses deuses de natureza física, houve semelhanças entre

eles porque as ideias se formavam no homem segundo um modo

quase uniforme; mas houve também uma variedade muito grande,

pois cada mente era autora de seus deuses, isso fez com que

essa religião fosse durante muito tempo confusa e fossem

muitos os seus deuses.

Os elementos que eram divinizados não eram muitos. O sol

que fertiliza a nuvem alternadamente benfazeja ou tempestuosa,

a terra que nutre. Isso fez com que cada de cada um desses

elementos fizesse nascerem diversos deuses, pois cada agente

físico observado sob diferentes aspectos, recebeu dos homens

nomes

6

diferentes. O sol, por exemplo, já foi chamado de Héracles (o

glorioso), Febo (o brilhante), Apollo (aquele que expulsa a

noite ou o mal), entre outros. E isso fez com que por muito

tempo, os homens não reconhecessem que tinham o mesmo deus.

Na verdade, os homens só adoravam um número muito restrito

de divindades, mas os deuses de um não eram os do outro. Isso

fez com que por muito tempo, esses deuses se tornassem

independentes uns dos outros, e cada um deles teve a sua lenda

particular e o seu culto.

Como o surgimento dessas crenças remontam à épocas em que

os homens ainda viviam no estado de família, esses deuses

tiveram, inicialmente, o caráter de divindades domésticas,

pois cada família formava seus deuses, e cada uma os guardava

para si como protetores, cuja graça não queriam compartilhar

com estranhos. Quando uma família personificava um agente

físico, criando um deus, ela o associava à sua lareira, ou

seja, à proteção de seu lar, à criação de um altar doméstico

para adorá-lo.

É daí que vem aqueles milhares de cultos locais e daquela

multidão inumerável de deuses e deusas que levaram muito tempo

para saírem do seio das famílias que os haviam concebido,

sabemos até que muitos deles jamais se livraram desse tipo e

vínculo doméstico. A Deméter de Elêusis continuou sendo a

divindade particular da família dos Eumólpidas; a Atena da

acrópole de Atenas pertencia à família dos Butadas; o culto de

Vênus durante muito tempo se restringiu à família dos Júlios.

Houve um tempo em que a divindade de uma família adquiria

grande prestígio na imaginação dos homens, e parecia tão

6

poderosa quanto a família fosse próspera, toda uma cidade

queria adotá-la e prestar-lhe um culto público para obter as

suas graças. Porém, quando uma família permitia compartilhar

seu deus, reservou para si mesma pelo menos o sacerdócio, cuja

dignidade foi por muito tempo hereditária e não podia sair de

certa família.

Os antepassados só podiam ser adorados por um número muito

pequeno de homens que estabeleciam barreiras intransponíveis

de demarcação entre as famílias. Já a religião dos deuses da

natureza era um quadro mais amplo, pois nenhuma lei se opunha

à propagação de nenhum desses cultos porque não fazia parte da

natureza desses deuses serem adorados por uma só família. Os

homens deviam, enfim, chega aos poucos a perceber que o deus

de sua família era o mesmo ser ou a mesma concepção que o deus

de outra.

7

À medida que esta segunda religião foi se desenvolvendo, a

sociedade cresceu. No início, ela ficava em segundo plano em

relação ao culto dos antepassados, porém aos poucos essa

religião foi ganhando maior autoridade sobre a alma, renunciou

à esta espécie de tutela, abandonou o lar doméstico e teve uma

morada para si e sacrifícios que lhes foram próprios. Esta

nova morada ganhou a condição de templo, que quando foram

elevados e abriram as suas portas diante da multidão de

adoradores, podemos ter certeza de que a associação humana

cresceu.

CAPÍTULO III: FORMA-SE A CIDADE

A tribo era constituída para ser um corpo independente, já

que tinha um culto especial do qual estava excluído o

estrangeiro e, uma vez formada nenhuma família nova podia ser

admitida. Porém, assim como na frátria, várias tribos puderam

associar-se entre si, com a condição de que fosse respeitado o

culto individual de cada uma delas, dessa maneira surgiu a

cidade.

As tribos que ser associaram para formar uma cidade jamais

deixaram de de acender o fogo sagrado e de ter uma religião

comum. Desse modo, a sociedade humana foi se constituindo aos

poucos por pequenos grupos que se agregaram uns aos outros.

Embora várias famílias tivessem se unido numa frátria,

cada uma delas permanecia com seu culto, seu direito à

propriedade e a sua justiça interna individuais; com as cúrias

ocorreu do mesmo modo. Quando a tribo se passou à cidade, cada

uma delas continuou formando um corpo independente. Se

7

tratando de religião, subsistiu uma multidão de pequenos

cultos acima dos quais se estabeleceu um culto comum.

Como a cidade era uma confederação, ela foi obrigada a

respeitar a independência religiosa e civil das tribos, das

cúrias e das famílias, e não teve, a princípio, o direito de

intervir nos negócios particulares de cada um desses pequenos

grupos.

Assim, a cidade não é uma reunião de vários indivíduos: é

uma confederação de diversos grupos que já estavam formados

antes dela. Vemos nos oradores áticos que cada ateniense faz

parte, ao mesmo tempo, de quatro sociedades diferentes: é

membro de uma família, de uma frátria, de uma tribo e de uma

cidade, porém não entra ao mesmo tempo e no mesmo dia nas

quatro. A criança é primeiro admitida na família, pela

cerimônia religiosa que acontece dez dias depois do

nascimento. Alguns anos depois, entra na frátria, por uma nova

cerimônia que já descrevemos

8

anteriormente. Por fim, com a idade de dezesseis anos,

apresenta-se para ser admitido na cidade. Do mesmo modo que

este jovem ateniense sobe, de degrau em degrau, de culto em

culto, a sociedade humana seguiu este mesmo caminho. Para

tornar isso mais claro, tomaremos como exemplo o processo de

formação da cidade de Atenas.

Segundo diz Plutarco, na origem a Ática estava dividida em

famílias. Algumas dessas famílias da época primitiva, como os

Eumópidas, os Cecrópidas, os Gefirianos, os Fitálidas, os

Laquíadas, conseguiram se perpetuar até as épocas seguintes. A

cidade de Atenas ainda não existia, sendo que cada família

ocupava um pedaço de terra e vivia ali em uma independência

absoluta. Cada uma tinha a sua religião própria, assim como

seu deus e também o seu chefe. Essas famílias viam isoladas na

região, não conhecendo entre si nem o laço religioso nem o

político, cada uma com seu território, guerreando muitas vezes

entre si.

Aos poucos essas famílias se uniram em grupos de quatro,

cinco, seis. Assim, são encontradas nas tridções que os quatro

burgos da planície de Maratona se associaram para juntos

adorarem Apolo Délfico; os homens o Pireu, de Falera e de dois

territórios vizinhos se uniram e, construíram um templo à

Hércules. Com o tempo, essas centezas de pequenos Estados se

reduziram a doze confederações. Essa mudança na Àtica de um

estado de família patriarcal a uma sociedade mais extensa foi

atribuída aos esforços de Cécropo. Eele reinava sobre somente

uma das doze confederações, aquela que mais tarde se tornaria

Atenas; as outras onze eram completamente independentes, cada

8

uma tinha o seu deus protetor e o seu chefe. O grupo dos

Cecrópidas adquiriu cada vez mais importância. O penedo dos

Cecrópidas, onde aos poucos foi se desenvolvendo o culto de

Atena e que acabou por adotar o nome de sua divindade

principal, adquiriu supremacia sobre os onze outros Estados.

Surgiu, então, Teseu que era herdeiro dos Cecrópidas. As

tradições dizem que ele reuniu os doze grupos numa cidade,

conseguiu fazer com que toda a Ática adotasse o culto da deusa

Atena. A partir daí, foi fundada a cidade de Atenas; quanto à

religião cada família conservou o seu antigo culto, mas todos

adotaram um culto comum; politicamente, cada qual conservou os

chefes, os juízes, o direito de reunir-se, mas acima desses

governos locais instalou-se o governo central a cidade.

A partir do que foi apresentado sobre a formação da cidade

de Atenas, podemos deduzir duas verdades: uma é que a

sociedade só se desenvolveu à medida que a religião sem

ampliava. Não podemos dizer que o progresso religioso

9

trouxe o progresso social, o que é certo é que ambos

aconteceram ao mesmo tempo e com notável desenvolvimento.

Não é fácil estabelecer um laço social entre seres humanos

tão diversos, tão livres e tão inconstantes, a não ser que se

estabeleça algo que fique igualmente no fundo de todos os

corações e que ali se estabeleça imperiosamente. Esse algo é

uma crença, que é obra de nosso espírito, porém que não somos

livres para modifica-la como queremos. Se ela nos pede que

obedeçamos, obedecemos; se nos traça deveres, nos submetemos à

eles.

O culto aos antepassados reuniu a família ao redor de um

altar. Daí a primeira religião. Depois a crença cresceu, pois

à medida que os homens sentem que há para eles divindades

comuns, unem-se em grupos mais amplos. As mesmas regras

estabelecidas na família se aplicam sucessivamente à frátria,

à tribo e à cidade.

A princípio, a família vive isolada e o homem só conhece

os deuses domésticos; acima da família se forma a frátria com

o seu deus. Vem em seguida a tribo e o deus da tribo. Chegamos

enfim à cidade, onde se concebe um deus cuja providência

abrange essa cidade inteira. A ideia religiosa foi, entre os

antigos, o sopro que inspirou e organizou a sociedade.

Mesmo que as primeiras cidades se formaram pela

confederação de pequenas sociedades constituídas

anteriormente, isso não significa que todas as cidades que

conhecemos tenham sido formadas da mesma maneira. Uma vez que

esta organização municipal foi encontrada, não tinha mais a

necessidade que para cada nova cidade se recomeçasse o mesmo

9

caminho. Quando um chefe saía de uma cidade já constituída e

ia fundar outra, costumava levar com sigo certo número de

cidadãos, e se associava com muitos outros homens que vinham

de diferentes lugares e que podiam pertencer até mesmo a raças

diferentes. Mas esse chefe jamais deixava de constituir esse

novo Estado à imagem daquele que acabava de deixar. Esse chefe

também dividia seu povo em tribos e frátrias. Cada uma dessas

associações tinha um altar, sacrifícios, festas e etc.

Muitas vezes acontecia de os homens de determinada região

viverem sem lei e sem ordem, portanto se um legislador

tentasse estabelecer a ordem entre esses homens, jamais

deixaria de começar dividindo-os em tribos e em frátrias, como

se não houvesse outro tipo de sociedade além daquele. Era

sempre por aí que se começava, quando se queria fundar uma

sociedade regular.

CAPÍTULO IV: A URBE

10

Entre os antigos, civitas e urbs não eram sinônimos. Civitas era

a associação religiosa e política das famílias e das tribos e

a urbs era o local de reunião, a casa e, sobretudo o santuário

desta associação.

A urbe não formava pelo lento aumento do número de homens

e construções e nem por um longo período de tempo. Ela se

formava de uma vez só, inteira em um só dia.

Quando as famílias, as frátrias e as tribos se uniram e

começaram a ter um culto comum, logo se fundava a urbe para

ser o santuário desse culto comum. Assim, a fundação de uma

urbe era sempre um ato religioso.

Para tornar isso mais claro vamos tomar como exemplo a

formação da urbe de Roma. A primeira preocupação do fundador,

Rômulo, é escolher o local da urbe, porém essa escolha era

sempre entregue à decisão dos deuses. Os deuses revelam a

região do Palatino. No dia da fundação, ele oferece um

sacrifício. Os homens ficam enfileirados ao seu redor, acendem

uma fogueira e cada um salta através das chamas, para que

sejam purificados de toda macha física ou moral. Depois desta

cerimônia, Rômulo cavou um pequeno fosso circular e nele jogou

um torrão de terra que trouxe de Alba. Em seguida, seus

companheiros, um de cada vez, jogaram também um pouco de terra

que trouxeram do lugar de onde vieram no fosso. Isso ocorria

porque a religião proibia abandonar a terra onde fora

estabelecida a lareira e onde repousavam os antepassados. Por

isso eles trouxeram um consigo um pouco de terra como um

símbolo do soo sagrado em que seus antepassados estavam

enterrados. Ao jogarem no fosso um pouco de terá de sua antiga

10

pátria, acreditavam ali encerram também a alma de seus

antepassados, assim, essas almas reunidas no fosso deviam

receber um culto e zelar pelos seus descendentes. Rômulo

colocou um altar e acendeu um fogo, e ali foi a lareira da

cidade.

Sabemos que as tradições de romanas prometiam a Roma à

eternidade. Cada cidade tinha tradições semelhantes e todas as

urbes eram construídas para serem eternas

CAPÍTULO V: O CULTO DO FUNDADOR; A LENDA DE ENEIAS

Cabia ao fundador a função de executar o ato religioso sem

o qual a cidade não podia existir. Por isso vemos o respeito

que estava ligado a esse homem sagrado. Em vida, ele era visto

como autor do culto e o pai da cidade; morto ele se tornava um

antepassado comum para todas as gerações que se sucedia, ele

era para a cidade o que o primeiro antepassado era para a

família. A sua lembrança

11

perpetuava-se como fogo da lareira que ele acendia. Para ele

era dedicado um culto e a cidade o adorava como a sua

providência. Sobre a sua tumba, a cada ano, eram realizados

sacrifícios e festas.

Um dos poemas mais conhecidos sobre a fundação de cidades

é a ENEIDA, que narra a chegada de Eneias, ou melhor, o

transporte dos deuses de Tróia para a Itália. O poeta canta

àquele homem que atravessou os mares para ir fundar uma cidade

e levar os seus descendentes para o Lácio.

11

12

6. REFERÊNCIAS

COULANGES, Fustel. A cidade antiga. São Paulo: Martim

Claret, 2009