REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA "PUBLICAÇÃO OFICIAL"

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REVISTA

DO SUPERIOR

TRIBUNAL DE

JUSTIÇA

"PUBLICAÇÃO OFICIAL"

REVISTA

DO SUPERIOR

TRIBUNAL DE

JUSTIÇA

ano 10 número 109 setembro 1998

© SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GABINETE DO MINISTRO DIRETOR DA REVISTA

Assessor de Ministro Assessor Judiciário

Assistentes Carlos Cardoso de Oliveira

Gerson Prado da Silva Maria Mônica Valério da Costa Leite Teresa Cristina Cesar Osório Ribeiro

Oficiais de Gabinete J éter Rodrigues

Maria Alves Satas Maria Aparecida Cyrillo Rodrigues

Nely van Boekel Maria do Socorro Medeiros Ramos

Renata Gonçalves Leão Sebastiana Alves de Oliveira Raimunda Pereira de Melo

Rossele Silveira Curado

Superior Tribunal de Justiça www.stj.gov.br

Gabinete do Ministro Diretor da Revista Setor de Administração Federal Sul Q. 6 - Lote 1 - Bl. D - 1 Q Andar

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Revista do Superior Tribunal de Justiça. - n. 1- . -Brasília: STJ, 1989- .

Mensal

ISSN 0103 - 4286

1. Direito - Periódico - Brasil. 2. Jurisprudência -Periódico - Brasil. 3. Brasil. Superior Tribunal de Justiça (STJ).

CDU 340.142(81)(05)

REVISTA

DO SUPERIOR

TRIBUNAL DE

JUSTIÇA

Ministro EDSON CARVALHO VIDIGAL

Diretor

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PLENÁRIO (*)

Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO - 23-6-80 - Presidente (**)

Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI - 7-5-81 - Vice-Presidente (***)

Ministro JOSÉ Fernandes DANTAS - 29-10-76 Ministro WILLIAM Andrade PATTERSON - 3-8-79 Ministro Romildo BUENO DE SOUZA - 8-4-80 Ministro Paulo Roberto Saraiva da COSTA LEITE - 25-9-84 Ministro NILSON Vital NAVES - 11-4-85 Ministro EDUARDO Andrade RIBEIRO de Oliveira - 12-6-85 Ministro EDSON Carvalho VIDIGAL - 9-12-87 - Diretor da Revista Ministro Jacy GARCIA VIEIRA - 8-9-88 Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO - 18-5-89 Ministro WALDEMAR ZVEITER - 18-5-89 Ministro Luiz Carlos FONTES DE ALENCAR - 18-5-89 - Coordenador-Geral da

Justiça Federal (***)

Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO Teixeira - 18-5-89 Ministro Raphael de BARROS MONTEIRO Filho - 18-5-89 Ministro HÉLIO de Melo MOSIMANN - 9-8-90 Ministro Francisco PEÇANHA MARTINS - 5-2-91 Ministro DEMÓCRITO Ramos REINALDO - 27-6-91 Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS - 27-6-91 Ministro MILTON LUIZ PEREIRA - 23-4-92 Ministro Francisco CESAR ASFOR ROCHA - 22-5-92 Ministro ADHEMAR Ferreira MACIEL - 11-11-92 Ministro José ANSELMO de Figueiredo SANTIAGO - 12-2-93 Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR Júnior - 29-4-94 Ministro VICENTE LEAL de Araújo - 24-11-94 Ministro ARI PARGENDLER - 19-6-95 Ministro JOSÉ Augusto DELGADO - 14-12-95 Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA - 27-6-96 Ministro FERNANDO GONÇALVES - 27-6-96 Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO - 27-6-96 Ministro FELIX FISCHER - 17-12-96 Ministro ALDIR Guimarães PASSARINHO JUNIOR - 28-5-98 Ministro GILSON Langaro DIPP - 29-6-98

(*) O Plenário, quando convocado, reunir-se-á no dia de sessão da Corte Especial (Resolu­ção n Q 19-5TJ, art. 3Q

).

(**) Não integra as Turmas, preside a Sessão Plenária e a Corte Especial, onde tem, apenas, voto de qualidade (Art. 21, itens IH e VI, do RI).

(***) Não integram as Turmas, integram o Plenário e a Corte Especial, com as funções de Relator e Revisor (Arts. 22, § 1Q, e 23, do RI).

CORTE ESPECIAL

(Sessões às 1 ª e 3ª quartas-feiras de cada mês)

Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO - Presidente Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI - Vice-Presidente Ministro JOSÉ DANTAS Ministro BUENO DE SOUZA Ministro COSTA LEITE Ministro NILSON NAVES Ministro EDUARDO RIBEIRO Ministro EDSON VIDIGAL - Diretor da Revista Ministro GARCIA VIEIRA Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO Ministro WALDEMAR ZVEITER Ministro FONTES DE ALENCAR - Coordenador-Geral da Justiça Federal Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro PEÇANHA MARTINS Ministro DEMÓCRITO REINALDO Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS Ministro MILTON LUIZ PEREIRA Ministro ANSELMO SANTIAGO Ministro VICENTE LEAL Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

PRIMEIRA SEÇÃO (Sessões às 2ª e 4ª quartas-feiras de cada mês)

Presidente: Ministro PEÇANHA MARTINS

1 ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)

Ministro MILTON LUIZ PEREIRA - Presidente Ministro GARCIA VIEIRA Ministro DEMÓCRITO REINALDO Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS Ministro JOSÉ DELGADO

2ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)

Ministro ARI PARGENDLER - Presidente Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro PEÇANHA MARTINS Ministro ADHEMAR MACIEL Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR

SEGUNDA SEÇÃO (Sessões às 2ª e 4ª quartas-feiras de cada mês)

Presidente: Ministro WALDEMAR ZVEITER

3ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)

Ministro COSTA LEITE - Presidente Ministro NILSON NAVES Ministro EDUARDO RIBEIRO Ministro WALDEMAR ZVEITER Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO

4ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)

Ministro BARROS MONTEIRO - Presidente Ministro BUENO DE SOUZA Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO Ministro CESAR ASFOR ROCHA Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR

TERCEIRA SEÇÃO (Sessões às 2ª e 4ª quartas-feiras de cada mês)

Presidente: Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO

5ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)

Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA - Presidente Ministro JOSÉ DANTAS Ministro EDSON VIDIGAL Ministro FELIX FISCHER Ministro GILSON DIPP

6ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)

Ministro VICENTE LEAL - Presidente Ministro WILLIAM PATTERSON Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO Ministro ANSELMO SANTIAGO Ministro FERNANDO GONÇALVES

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL (Sessão à 1 ~ sexta-feira de cada mês)

Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO - Presidente Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI - Vice-Presidente

Membros Efetivos

Ministro F9NTES DE ALENCAR - Coordenador-Geral da Justiça Federal Ministro SALVIO DE FIGUEIREDO Ministro BARROS MONTEIRO Juiz PLAUTO A. S. RIBEIRO Juíza TÂNIA DE M. BASTOS HEINE Juiz JORGE T. F. SCARTEZZINI Juíza ELLEN G. NORTHFLEET Juiz FRANCISCO C. DE M. FALCÃO

Membros Suplentes

Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro PEÇANHA MARTINS Ministro DEMÓCRITO REINALDO Juiz FERNANDO DA C. TOURINHO NETO Juiz ALBERTO NOGUEIRA Juiz JOSÉ KALLÁS Juiz TEORI ALBINO ZAVASCKI Juiz JOSÉ MARIA DE O. LUCENA

- TRF 1 ª Região - TRF 2ª Região - TRF 3ª Região - TRF 4ª Região - TRF 5ª Região

- TRF 1 ª Região - TRF 2ª Região - TRF 3ª Região - TRF 4ª Região - TRF 5ª Região

COMISSÔES PERMANENTES

COMISSÃO DE COORDENAÇÃO

Ministro NILSON NAVES - Presidente Ministro FONTES DE ALENCAR - Coordenador-Geral da Justiça Federal Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS Ministro VICENTE LEAL - Suplente

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO

Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO - Presidente Ministro MILTON LUIZ PEREIRA Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO - Suplente

COMISSÃO DE REGIMENTO INTERNO

Ministro COSTA LEITE - Presidente Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO Ministro WALDEMAR ZVEITER Ministro ARI PARGENDLER - Suplente

COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA

Ministro JOSÉ DANTAS - Presidente Ministro EDUARDO RIBEIRO Ministro EDSON VIDIGAL - Diretor da Revista Ministro BARROS MONTEIRO Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro DEMÓCRITO REINALDO

SUMÁRIO

I - JURISPRUDÊNCIA

Corte Especial..... .... .............. ... .... ... ........... ......... .... ........ .............. 13 Primeira Seção ..... ... ...... ........ ....... ... ........... ... ........... ........ ..... ....... 19

Primeira Turma........................................................................ 27 Segunda Turma ........................................................................ 75

Segunda Seção .............................................................................. 117 Terceira Turma ........ ... ....... ........ ......... ...... ...... ....................... ... 127 Quarta Turma........................................................................... 177 Quinta Turma. .......... ......... ... ... ... ............ ... ...... ....... ..... .... ..... .... 245 Sexta Turma ............................................................................. 313

II - DESPACHOS DA PRESIDÊNCIA ........................................... 371

Índice Analítico...... ..... ... ........... ...... ... ....... .............. ... ......... .......... 383 Índice Sistemático ........................................................................ 411 Abreviaturas e Siglas ................................................................... 417 Repositórios Autorizados e Credenciados pelo Superior Tribu-nal de Justiça ........ ....... ........ ..... ..... .... ... ... .......... ........ .... ..... .......... 425

JURISPRUDÊNCIA DA CORTE ESPECIAL

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL NQ 125.196 - SP

(Registro n Q 97.0062232-0)

Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zueiter

Embargante: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Embargado: Hind Curi Frascarelli

Advogados: Drs. Patricia Medeiros Viana e outros, e Francisco Antonio Zem Peralta e outro

EMENTA: Embargos de Divergência - Processo Civil - Autar­quia - Autenticação de Documentos - MP 1.542/97, art. 21.

I - Pela dicção do artigo 21, da Medida Provisória n Q 1.542/97, não mais se exige das pessoas jurídicas de direito público, inclu­indo aí as autarquias, a autenticação de cópias reprográficas de quaisquer documentos que apresentarem em juízo, permitindo seja uma peça processual autenticada por servidor da própria autarquia.

11 - Embargos recebidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Senhores Mi­nistros da Corte Especial do Supe­rior Tribunal de Justiça, na confor­midade dos votos e das notas taqui­gráficas a seguir, por unanimidade, conhecer dos embargos de divergên­cia e os receber, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Impedido o Sr. Ministro Cid Flaquer ScartezZÍ­ni. Os Senhores Ministros Fontes de

Alencar, Sálvio de Figueiredo, Hé­lio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Milton Luiz Pereira, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas, Bueno de Souza, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Edson Vidigal, Garcia Vieira e Luiz Vicente Cernic­chiaro votaram com o Sr. Ministro­Relator.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro William Patterson.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 13-17, setembro 1998. 15

Licenciado o Sr. Ministro Hum­berto Gomes de Barros, sendo subs­tituído pelo Sr. Ministro Adhemar Maciel.

Brasília, 01 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente. Ministro WALDEMAR ZVEITER, Relator.

Publicado no DJ de 01-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER: O Instituto Nacional do Seguro Social opõe Embargos de Di­vergência ao aresto proferido pela Egrégia Quinta Turma desta Cor­te, da relatoria do Sr. Ministro Fe­lix Fischer, e que restou assim ementado (fls. 116):

«Processual Civil. Representa­ção processual. Cópia da procu­ração autenticada por agente ad­ministrativo da própria entidade autárquica recorrente. Súmula 115ISTJ.

Tratando-se de recurso inter­posto por advogado e não procu­rador autárquico, faz-se necessá­ria a presença de procuração nos autos.

A cópia de procuração juntada aos autos sem a devida autenti­cação do notário, mas tão-somen­te de agente da própria autarquia recorrente, não tem utilidade, de­vendo ser desconsiderada.

Aplicação da Súmula 115/STJ.

Recurso não conhecido."

Indica como divergentes o REsp n Q 89.741/DF, e os EDcl no AgRgno Ag n Q 70.692-3/SP, relatados, res­pectivamente, pelos Srs. Ministros Gomes de Barros (Primeira Turma) e Fernando Gonçalves (Sexta Tur­ma), onde prevaleceu tese contrá­ria, no sentido da validade de cópia autenticada por servidor público.

Ressalta o disposto no art. 21, da Medida Provisória n Q 1.542/97, que estabelece que as pessoas jurídicas de direito público são dispensadas de autenticar cópias reprográficas de quaisquer documentos que apre­sentarem em juízo.

Admitidos às fls. 143, os Embar­gos foram impugnados às fls. 1471 148.

É o relatório.

VOTO

o SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER (Relator): Conheço do re­curso vez que suficientemente com­provada a divergência entre os arestos em confronto e, no mérito, dou-lhe provimento.

Com efeito, pela dicção do artigo 21, da Medida Provisória n Q 1.5421 97, não mais se exige das pessoas jurídicas de direito público, incluin­do aí as autarquias, a autenticação de cópias reprográficas de quais­quer documentos que apresentarem emjuízo, permitindo seja uma peça processual autenticada por servidor da própria autarquia.

Portanto, o Recurso Especial do INSS merece ser analisado por este Tribunal.

16 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 13-17, setembro 1998.

Nesse mesmo sentido já decidiu a Egrégia Corte Especial em algu­mas oportunidades, de que são exem­plos o EDcl no REsp nº 112.975/SP e o EDcl no REsp nº 126.429/SP, relatores Srs. Ministros Vicente Cernicchiaro e Sálvio de Figueire­do Teixeira, respectivamente, e as­sim ementados:

"EREsp - Processual Civil -Procuração - Autarquia - Au­tenticado - A procuração a ad­vogado autenticada por servidor de autarquia satisfaz a exigência legal. A MP nº 1.542-18, de 16 de janeiro de 1997 estatui no art. 21: "As pessoas jurídicas de direito público são dispensadas de au­tenticar cópias reprográficas de quaisquer documentos que apre­sentarem em juízo." CEREsp nº 112.975, Relator Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, DJ de 25/02/98)

"Direitos Previdenciário e Pro­cessual Civil. INSS. Autarquia

previdenciária federal. Autenti­cação de peças por servidor. Va­lidade. MP 1.542197. Apresenta­ção de procuração. Dispensa. Lei 9.469197. Embargos de divergên­cia providos.

I - Em demanda envolvendo autarquia federal, as cópias das peças processuais poderão ser au­tenticadas por servidor perten­cente ao seu quadro, não sendo indispensável a figura do notário.

II -As autarquias,juntamen­te com as fundações públicas, es­tão dispensadas de apresentar instrumento de mandato nas cau­sas em que litigam, sendo sufi­ciente a mera indicação do pro­fissional habilitado." CEREsp nº 126.429, Relator Sr. Ministro Sál­vio de Figueiredo Teixeira, DJ de 25/02/98)

Pelo exposto, conheço dos embar­gos e dou-lhes provimento.

É o meu voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 13-17, setembro 1998. 17

JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO

AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANÇA NQ 4.646 -DF

(Registro n Q 96.0044538-9)

Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel

Agravante: Cremer S/A - Produtos Têxteis e Cirúrgicos

Advogado: Dr. João Carlos de Araújo

Agravado: Ministro de Estado da Fazenda

EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança. DecisãO in­deferitória de liminar. Agravo para o órgão colegiado julgador: cabimento. Tribunal incompetente para processar ejulgar o writ. Concessão de liminar: impossibilidade, salvo casos excepcionalís­simos. Agravo improvido.

I - Contra a decisão singular indeferitória de liminar em ação de mandado de segurança, cabe agravo para o respectivo órgão co­legiado julgador. Ressalva do ponto de vista do Ministro Demó­crito Reinaldo.

H - Em princípio, não pode o órgão judicial incompetente para processar a ação conceder liminar.

IH - Agravo conhecido, mas improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira Seção do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, ressalvando o ponto de vista do Sr. Ministro Demócrito Rei­naldo, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do

Sr. Ministro-relator, na forma do re­latório e notas taquigráficas cons­tantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julga­do. Votaram de acordo os Srs. Mi­nistros Ari Pargendler, José Delga­do, Garcia Vieira, Demócrito Reinal­do e Milton Luiz Pereira. Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Hélio Mosimann e Humberto Gomes de Barros.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998. 21

Custas, como de lei.

Brasília, 10 de setembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.

Publicado no DJ de 01-12-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Cremer S/A Produtos Têx­teis e Cirúrgicos interpõe agravo "re­gimental" contra a seguinte decisão que proferi:

"Vistos etc.,

Cremer S/A Produtos Têxteis e Cirúrgicos impetra mandado de segurança contra ato do Ministro da Fazenda, objetivando não ter que recolher antecipadamente o ICMS (relativo às operações en­volvendo produtos cirúrgicos) pe­lo regime de substituição tribu­tária.

Aduz que "o ato lesivo é o dispos­to nos Convênios 66/88, 107/89 e 76/89 que contrariam as regras do Decreto-Lei 406/68 e da Cons­tituição Federal (art. 155, § 29 ,

alínea b)" (fl. 04).

Requer seja concedida a liminar e, ao final, a segurança para im­pedir a exigência do recolhimen­to antecipado do ICMS.

2. A liminar não merece ser con­cedida, visto que a sua denega­ção não resultará na ineficácia da segurança, caso seja ao final con-

cedida. Em outras palavras, o re­quisito do perigo da demora não está satisfeito.

3. Com essas considerações, de­nego a liminar."

A agravante alega que os requi­sitos da fumaça do bom direito e do periculum in mora estão satisfei­tos, pelo que a liminar não poderia ter sido denegada. Aduz que a pró­pria sistemática do instituto da substituição tributária caracteriza o dano, tendo em vista a antecipa­ção do recolhimento do ICMS. Re­quer seja provido o agravo, conce­dendo-se a liminar.

2. Por não ver razões para alte­rar a decisão agravada, mantenho-a, pelo que trago o agravo "regimen­tal" à apreciação desta Seção.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Sr. Presidente, conheço do recurso, já que à luz do art. 38 da Lei n. 8.038/90 cabe agra­vo contra qualquer decisão de mi­nistro-relator que cause prejuízo à parte. Portanto, contra a decisão singular indeferitória de liminar em ação de mandado de segurança, cabe agravo para o respectivo órgão colegiado julgador.

No mérito, no entanto, o agravo não merece prosperar, pois não com­pete a esta Corte processar a pre­sente ação de segurança, pois, a teor da Súmula n. 177, "o Superior Tri­bunal de Justiça é incompetente

22 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998.

para processar e julgar, originaria­mente, o mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presi­dido por Ministro de Estado".

Como, em princípio, não pode o órgão judicial incompetente para processar a ação conceder liminar, e o caso dos autos não está entre os

excepcionalíssimos que permitem a concessão da medida extrema, dei­xo de concedê-la.

Com essas considerações, conhe­ço do agravo, mas lhe nego provi­mento.

É como voto.

MANDADO DE SEGURANÇA NQ 5.604 - DF

(Registro n Q 98.0002218-0)

Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann

Impetrante: MR Radiodifusão Ltda.

Advogados: Marcos Jorge Caldas Pereira e outros

Impetrado: Ministro de Estado das Comunicações

EMENTA: Mandado de segurança. Administrativo. Licitação. Serviços de radiodifusão sonora. Inscrição no cadastro fiscal do município. Documento existente nos autos. Segurança concedida.

Não há como subsistir a inabilitação na questionada licitação, se comprovada a inscrição no Cadastro Fiscal do Município, com ajuntada do alvará de licença, onde consta o número exigido que, por decreto municipal, é o mesmo do CGC.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conceder a segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Go-

mes de Barros, Milton Luiz Perei­ra, Adhemar Maciel, Ari Pargendler, José Delgado e Garcia Vieira vota­ram com o Sr. Ministro-Relator.

Brasília, 13 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSI­MANN, Relator.

Publicado no DJ de 01-06-98.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998. 23

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN: MR Radiodifusão Ltda., impetra Mandado de Segurança, com pedido de liminar, contra ato do Ministro das Comunicações, con­substanciado na inabilitação da im­petrante para participar das Con­corrências ns. 008/97-SFO/MC e 038/97-SFOIMC, referentes a servi­ços de radiodifusão sonora em fre­qüência modulada que seriam exe­cutados nas Cidades de Codó, Via­na, Vitória do Mearim e Urbano San­tos, no Estado do Maranhão, sob o fundamento de que não teria apre­sentado documento comprobatório de sua inscrição no Cadastro Fiscal do Município onde localizada sua sede.

Aduz, em resumo, ter, em face daquela decisão e com base nos ar­tigos 109, da Lei n. 8.666/93, e 131, a, da regra editalícia, interposto os competentes recursos administrati­vos junto ao Ministro das Comuni­cações que, no entanto, não os aco­lheu, homologando sua inabilitação.

Alega que, em decorrência de de­terminação expressa contida no ar­tigo 1Q

, do Decreto n. 15.614/95, da Prefeitura Municipal de São Luiz, suas inscrições - tanto no CGC quanto no Cadastro Municipal são idênticas, estando este último apos­to no alvará apresentado à Comis­são, quando dos recursos e visando a confirmação da identidade dos re­gistros.

Afirma que sua inabilitação con­figura excesso de formalismo, afas­tado por esta Seção quando do jul-

gamento do MS n. 5.281/DF, que te­ve como Relator do Acórdão o Emi­nente Ministro Gomes de Barros, que entendeu estar aí traduzida ofensa ao princípio constitucional do artigo 37, XXI.

Colaciona decisão prolatada pelo Eminente Ministro Américo Luz, quando deferiu a liminar no MS n. 5.281, onde traduzida matéria que assevera similar à ora discutida.

Argúi, de outra parte, a nulida­de do ato atacado, por ausente a ne­cessária motivação e fundamenta­ção que autorizariam seu prossegui­mento, batendo-se, a final, pela de­claração de inconstitucionalidade e ilegalidade do ato ministerial, com a concessão do presente manda­mus.

A liminar foi concedida às fls. 181, por despacho do Exmo. Sr. Mi­nistro Presidente desta Corte, em 29 de janeiro do corrente ano.

Em 30.01.98 foram solicitadas in­formações à autoridade coatora (fls. 192) que, no entanto, não as apre­sentou, conforme anuncia certidão de fls. 194, datada de 27.02.98.

Parecer da Subprocuradoria Ge­ral da República, às fls. 196/199, opinando pela concessão da ordem.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN (Relator): Como vimos do relatório, pretende a impetrante -MR Radiodifusão Ltda. - partici­par de concorrências para realiza-

24 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998.

ção de serviços de radiodifusão sb­nora em freqüência modulada no Estado do Maranhão, batendo-se, em resumo, contra ato do Ministro das Comunicações, que entendeu-a inabilitada para os certames, tendo em vista a ausência de documento que comprovasse sua inscrição no Cadastro Fiscal do Município onde localizada sua sede.

Pronunciando-se às fls. 198/199, assim colocou a ilustrada Subpro­curadoria Geral da República, em seu Parecer, verbis:

"Razão assiste à impetrante.

Com efeito, a inabilitação no cer­tame decorreu da não-apresenta­ção da inscrição no Cadastro Fis­cal do Município. Entretanto, a apresentação de tal documento

foi suprida através da juntada do Alvará de Licença, outorgado pela Prefeitura de São Luiz -MA, onde consta o número da ins­crição que, por determinação através de Decreto Municipal, é igual ao número constante do C GCIMF.

Sendo assim, e tendo em vista os documentos de fls. 155, 159, 163, 168 e 169, não há como subsistir a inabilitação da Impetrante na licitação em tela, haja vista que apresentou todos os documentos reclamados pelos Editais."

Sem reparos ao pronunciamento supratranscrito, concedo a Segu­rança.

É como voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998. 25

JURISPRUDÊNCIA DA PRIMEIRA TURMA

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL Nº 79.450 - SP

(Registro nº 95.0059387-4)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Agravante: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Petroquímicas, Farmacêuticas, Tintas e Vernizes, Plásti­cos, Resinas sintéticas, Explosivos e Similares do ABCD, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra

Agravado: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Ribeirão Pires, Mauá e Rio Grande da Serra

Advogados: Drs. Roberto de Figueiredo Caldas e outros, e Maurides de Melo Ribeiro e outros

EMENTA: Processual Civil. Acordo entre sindicatos. Homologa­ção. Impossibilidade.

1 - Decisão judicial que aprova desmembramento de categoria de Sindicato. Impossibilidade dos referidos Sindicatos, o forma­do pela categoria desmembrado e o de onde a categoria disper­sou, de modo próprio, sem obedecer às exigências legais, descons­tituir, mediante acordo, a referida decisão.

2 - As relações jurídicas entre sindicatos são regidas por normas de ordem pública, embora a sua constituição seja de pessoa jurí­dica de direito privado. A atuação dos mesmos obedece ao princí­pio da legalidade, embora sem controle ostensivo do Estado. So­frem, contudo, o controle da lei. A autonomia sindical não impli­ca em transformar os Sindicatos em propriedade privada dos seus dirigentes. Não predomina, assim, a vontade dos mesmos no des­tino da representação das categorias e do seu patrimônio.

3 - A função de representação dos sindicatos tem caráter de in­disponibilidade.

4 - Sindicatos que foram desmembrados só podem ser reunidos pelas vias legais, nunca por acordo dos seus dirigentes.

5 - Agravo regimental improvido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 29

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar pro­vimento ao agravo regimental. Vo­taram com o Relator os Srs. Minis­tros Garcia Vieira, Demócrito Reinal­do, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília, 05 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro JOSÉ DEL­GADO, Relator.

Publicado no DJ de 04-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: A decisão agravada está assen­tada nos fundamentos seguintes (fls. 1.001):

"As partes, via manifestação de fls. 973 e segs., requerem que seja homologado o que afirmam ser acordo firmado para pôr fim ao processo.

Registro que, nos autos, está sendo discutido o desmembra­mento de uma categoria de tra­balhadores para a formação de um novo Sindicato. O acórdão, a esta altura, com trânsito em jul­gado, acolheu como legais os pro­cedimentos realizados e os Sin­dicatos estão, por autorização ju­dicial, exercendo as funções de

representação que lhes são outor­gadas pela Constituição e pela CLT.

Denuncia o acordo que os Sin­dicatos envolvidos resolveram pôr fim ao litígio, após a ouvida de suas Assembléias, de forma que o Sindicato-réu seria des­constituído e a categoria por ele representada passaria a ser fei­ta pelo Sindicato-Autor.

É de se salientar que a des­constituição de um Sindicato, es­pecialmente quando a sua vida social está amparada por decisão judicial com trânsito em julgado, só poderá ocorrer de acordo com os trâmites legais aplicados à es­pécie e destinando-se o seu patri­mônio como regulado pela norma específica. Nunca por acordos ami­gáveis entre partes como denun­ciado nos autos e com a observa­ção de que, no curso das negocia­ções, foi desconstituído o advoga­do que iniciou a ação e passada a representação para um outro.

O princípio da legalidade há, também, de ser cumprido, de for­ma rigorosa, pelos Sindicatos, em face da ação quase pública que exercem, representando catego­ria de trabalhadores.

Não me animo, por tais funda­mentos, a homologar o acordo aci­ma noticiado, pelo que indefiro a pretensão e, conseqüentemente, as súplicas para que façam comu­nicações aos órgãos públicos que exercem funções vinculadas às atividades dos Sindicatos.

Tenho a decisão posta no pre­sente recurso especial como tran-

30 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

sitada em julgado. Certifique-se essa ocorrência. Os autos tomem as vias regulamentares."

As partes apresentam agravo re­gimental com referência à decisão supra, insistindo que o acordo cele­brado entre os Sindicatos deve ser homologado nesta instância.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): A decisão agravada se impõe, ao meu pensar, pelos seus próprios fundamentos. Impossível, após decisão judicial com trânsito em julgado, onde ficou reconhecido o desmembramento de categorias sindicais, ser desconstituída tal de­cisão mediante acordo firmado pela direção dos Sindicatos envolvidos, sem que se obedeça aos ditames le­gais para a reunião das categorias.

As relações jurídicas entre sindi­catos são regidas por normas de or­dem pública. A atuação dos mesmos obedece ao princípio da legalidade. A autonomia sindical não implica em transformá-los em entidades de natureza privada pura onde predo­mina a vontade dos dirigentes so­bre o seu patrimônio.

A função de representação dos sindicatos tem caráter de indispo­nibilidade. O fato de, ao se consti­tuir, ser uma pessoa jurídica de di­reito privado, não concede aos seus dirigentes o direito de geri-lo sem atentar para os interesses da clas­se que representa. Não podem, as­sim, atuar fora dos parâmetros le-

gais. Se houve desmembramento de categoria profissional de determina­do sindicato, tudo aprovado por de­cisão judicial, não podem as direto­rias. de tais sindicatos, mediante acordo, modificar tal entendimento. Sindicatos que foram desmembra­dos só podem ser reunidos pelas vias legais, nunca por acordo dos seus dirigentes. Para tanto deverão cumprir todas as exigências formais disciplinadoras de tal fusão. Impos­sibilidade, portanto, em sede de re­curso especial de se homologar acor­do para a reunião das categorias em um só Sindicato.

Isto posto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

ESCLARECIMENTO E VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Sr. Ministro-Relator, preciso de um esclarecimento, em relação à questão processual: hou­ve o recurso especial, que foi julga­do pela Turma, e o acórdão transi­tou em julgado.

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): Quanto a este ponto, esclareço: o que alega a agravante é que não transitou em julgado, por­que o acórdão não foi publicado, mas ocorre que as partes tiraram o pro­cesso do cartório e tiveram ciência da decisão, e decorreu o prazo.

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Por isso, transitou em julgado e, depois, as partes ingres­sam com uma petição intercalada, pedindo para que V. Exa. homolo­gasse um acordo, que firmaram.

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Sr. Presidente, apenas divirjo do Sr. Ministro-Relator em relação à competência. O STJ não tem com­petência para homologar a transa­ção. Julgado o recurso especial, exauriu-se a sua função judicante. A atividade desta Corte só diz res­peito ao julgamento do recurso es­pecial e não poderá se desbordar para apreciação de outra matéria. Se, porventura, essa decisão preva­lecer, haverá supressão de instân­cia e impossibilidade de as partes interporem os recursos adequados para as instâncias superiores. A homologação do acórdão é da com­petência do Juiz de Primeiro Grau, porque, dessa forma, abrir-se-á, às partes, a possibilidade de apelar.

De qualquer maneira, como não é possível homologar o acordo, há de se negar provimento ao agravo, fazendo-se essa referência, pois as partes poderão dirigir-se ao Juiz de Primeiro Grau.

Com esses adminículos, acompa­nho o Sr. Ministro-Relator.

É como voto.

VOTO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA: Acompanho o Sr. Ministro-Re­lator, com as observações feitas pelo Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL NQ 141.248 - ES

(Registro nQ 97.0051165-0)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Agravante: Saveiros Camuyrano Serviços Marítimos S/A

Agravado: Município de Vitória

Advogados: Drs. Francisco Carlos de Morais Silva e outros, e Carlos Roberto de Faria e outros

EMENTA: Processual Civil. Recurso especial. Agravo regimen­tal. Matéria constitucional.

1 - É inviável emprestar-se seguimento a recurso especial quan­do a parte invoca, ao lado da matéria infraconstitucional, ter ha­vido infringência aos princípios constitucionais postos no art. 5º, LVI e XXXVI, e no art. 93, IV, da Carta Magna, sem que tenha apre­sentado recurso extraordinário.

32 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

2 - A força preponderante de tais princípios absorve as determi­nações regradas postas na escala infraconstitucional, pelo que a não interposição de recurso extraordinário para discuti-los for­ma a coisa julgada.

3 - Em face desse panorama processual, nega-se provimento a agravo regimental interposto para fazer subir recurso especial envolvido por tais circunstâncias jurídicas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar pro­vimento ao agravo regimental. Vo­taram com o Relator os Srs. Minis­tros Garcia Vieira, Humberto Go­mes de Barros e Milton Luiz Perei­ra.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.

Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro JOSÉ DEL­GADO, Relator.

Publicado no DJ de 27-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: O agravo regimental em discus­são insurge-se contra decisão que negou provimento a agravo de ins­trumento, confirmando entendi­mento que resultou em inadmissi­bilidade de recurso especial, por ter se firmado compreensão de que os fundamentos levantados tinham

prestígio constitucional de plena potencialidade, absorvendo, assim, os dispositivos infraconstitucionais alegados e subordinados àqueles.

A firma agravante insiste na de­fesa de que há questões infracons­titucionais autônomas a serem apre­ciadas, especialmente, as referentes aos arts. 165,458 e 459, do CPC.

No particular, afirma a empresa agravante (fls. 592):

"Concessa venia, o entendi­mento do STJ se dá no sentido de que, ... quando o Acórdão se as­senta em fundamentos constitu­cionais e infraconstitucionais, a não interposição de Recurso Ex­traordinário gera trânsito emjul­gado daquela matéria e, se a mes­ma for suficiente para manter o julgado constitui-se o não conhe­cimento do Recurso Especial.

No caso, o v. aresto não se as­senta em matéria constitucional, de forma que a decisão do STJ fa­vorável ao Recurso Especial em nada dependerá da decisão do STF. Isto é, mesmo se a ora agra­vante tivesse interposto o Extra­ordinário e se o STF lhe negasse provimento, o Especial poderia ser conhecido e decidido pelos

R. Sup. Trib. Just., BrasD.ia, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 33

tópicos eminentemente infra­constitucionais, eis que se deci­dir pela nulidade do julgado por não apreciação de questões fun­damentais, por violação ao art. 535, do CPC e, no mérito, pela inexistência do serviço de atra­cação pela recorrente, mas sim de rebocagem marítima e que o en­tendimento do Tribunal violaria dispositivos de lei federal, em nada dependeria de provimento em RE, pelo STF, para sua apre­ciação pelo STJ.

Em suma: Se o STF entendes­se, em sede de Extraordinário, que a decisão do Egr. Tribunal de Justiça não violaria os artigos 5º e 93, da Carta Magna, mesmo assim, o STJ poderia decidir se os efeitos modificativos nos em­bargos declaratórios teriam vio­lado os artigos 165,458 e 459, do CPC, por não apreciação de ques­tões fundamentais, pois o enten­dimento de que a fundamentação sintética não representa falta de fundamentação (art. 93, CF/88) não se confunde com a não apre­ciação de matérias (uma é falta de fundamentação sobre a maté­ria decidida, outra a omissão na apreciação dessa matéria)."

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): Alide, atualmente em discussão no âmbito do recurso ex­tremo, centra-se no fato de ter o Egrégio Tribunal de Justiça do Es-

tado do Espírito Santo reconhecido devido pela empresa recorrente, ao Município de Vitória, o ISSQN so­bre os serviços Portuários e Aero­portuários, enquadrados no item 87 da lista de serviços da Lei Comple­mentar n. 56/87, e reproduzida no item 86 da Lista de Serviços anexa à Lei Municipal n. 3.112/83.

A controvérsia maior está assen­tada no fato de que, primeiramen­te, o Tribunal a quo, ao se pronun­ciar na remessa de ofício relativa à sentença de primeiro grau, confir­mou o entendimento manifestado pelo Juiz singular, forte na compre­ensão de que a empresa só presta­va serviços de reboque, não fazen­do o de atracação.

Em sede de embargos de decla­ração, sob o argumento de que as notas fiscais da empresa eram ex­plícitas na afirmação de que servi­ços de atracação foram executados, efeitos modificativos foram empres­tados ao referido recurso e, conse­qüentemente, provida a remessa oficial para se reconhecer devido o imposto.

A recorrente interpôs, na origem, também, embargos de declaração onde defende que não presta servi­ços de atracação. Explica que há re­ferência a tais serviços na Nota Fis­cal porque há exigência da SUNA­MAM, para que possa identificar para qual fim o rebocamento está sendo feito.

Os mencionados embargos de de­claração foram conhecidos, porém, não acolhidos, sob o argumento de que as notas fiscais emitidas nela empresa descrevem a prestação de serviços de atracação.

34 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

N ovos embargos de declaração fo­ram interpostos pela empresa, os quais foram rejeitados sob a consi­deração de que eram reiteração dos anteriormente ajuizados.

O recurso especial em exame, em face dos fatos supramencionados, alega:

a) ser nulo o acórdão proferido nos primeiros embargos de decla­ração, em razão de ter empresta­do ao mesmo efeitos modificati­vos, sem que a parte contrária tenha sido ouvida;

b) ser, da mesma forma, nula a decisão proferida nos embargos declaratórios que a empresa in­terpôs, em razão de não ter apre­ciado questões fundamentais, a saber:

• a infringência do princípio da unicidade do lançamento que circunda o auto de infração;

• que o serviço de atracação -como modalidade de serviço público prestado por concessio­nária - é de exclusividade da Administração do Porto;

• que a empresa cumpria de­terminação da SUNAMAM quando fazia inserir no corpo da nota fiscal qual a manobra prestada ao navio, ou seja, qual o auxílio prestado ao na­vio para que alcançasse sua fi­nalidade;

• que ditos serviços se davam em mar territorial da União, e conseqüentemente, fora dos li­mites do território municipal;

• a aplicabilidade do art. 127 do CTN, eis que a empresa de­tém matriz/sede em outra ci­dade;

• pugnou pela apreciação de toda a matéria de ordem legal e constitucional, pena de mal­trato aos artigos 458, 459, CPC, artigo 5Q

, XXXVI, CF/88, arti­gos 3Q

, 5Q e 7Q, do Decreto 24.508/ 34, com o enfrentamento explí­cito dos dispositivos.

A recorrente entende, sustenta­da nas razões supras, que o aresto questionado infringiu os arts. 165 e 458, II, do CPC, bem assim ao art. 93, IV, da CF/88; bem, como, que ao emprestar efeitos modificativos ao julgado, pela via dos embargos de declaração, violou o art. 535, I e II, do CPC.

Quanto ao mérito, pugna a recor­rente pela manutenção da senten­ça de primeiro grau, por não lhe ser permitido efetuar o serviço de atra­cação, haja vista que o mesmo é rea­lizado pela Cia. Docas, nunca pela empresa armadora de rebocadores, conforme determinado no Decreto n. 24.508, de 1934.

Por tudo quanto foi exposto, a agravante requer a modificação da decisão que não permitiu a subida do recurso especial, para que este seja conhecido e provido.

O panorama dos autos revela que a embargante, não obstante apon­tar como violados princípios regra­dos constitucionais, como os postos nos arts. 5Q, LV, XXXVI e 93, IV, da Constituição Federal, não interpôs recurso extraordinário.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 35

Indiscutível o fato de que tal ma­tériajurídica transitou em julgado, produzindo os seus efeitos. Em con­seqüência, a pretendida anulação do acórdão que apreciou os embargos de declaração do Município de Vi­tória, por atentado ao princípio da ampla defesa e, igualmente, dos acórdãos dos dois outros embargos interpostos pela recorrente, por não haver entregue, por inteiro, a pres­tação jurisdicional e por deficiência de fundamentação, não pode ter curso pela via do recurso especial.

Resta-me, portanto, não obstan­te a excelência das razões apresen­tadas pela agravante, confirmar o teor da decisão agravada, o que transcrevo (fls. 582):

"O recurso especial em exame, entre partes acima identificadas, visa, essencialmente, modificar julgado de segundo grau que, em apreciando embargos de declara­ção, sem ouvir a parte contrária, deu-lhes caráter infringente, mo­dificando a decisão.

A recorrente aponta como ten­do sido violado o art. 5º, LV, da Constituição Federal.

Em passo seguinte, entende, também, a recorrente que foi vio­lado o art. 5º, XXXVI, da CF/88, por as questões postas para dis­cussão não terem sido aprecia­das, bem como o art. 93, IV, da Carta Magna.

Em conseqüência dos efeitos produzidos pelos dispositivos cons­titucionais apresentados como vio­lados, a recorrente afirma que os

arts. 105 e 458, lI, do CPC, estão na mesma situação.

Como posto, as questões de na­tureza constitucional foram su­blimadas na ocasião da interpo­sição do recurso especial, pelo que se torna impossível o seu conhe­cimento.

O sistema recursal especifica­do na Constituição Federal é de natureza rígida, pelo que as com­petências das Cortes Superiores devem ser rigorosamente acata­das.

A matéria constitucional am­plamente presente na fundamen­tação do recurso especial só pode ser apreciada e julgada pelo Co­lendo Supremo Tribunal Federal em sede de recurso extraordiná­rIO.

Não se afirma que, no caso em exame, remanescem as questões infraconstitucionais constantes no corpo do recurso especial.

Não é possível assim se conce­ber por que toda a matéria desse nível hierárquico está absorvida na elasticidade conceitual das normas positivas constitucionais abordadas na peça recursal.

Por tais fundamentos, reco­nheço ser manifesta a impossibi­lidade de se conhecer do presen­te recurso especial, o que declaro como decisão negando-lhe, em conseqüência, seguimento."

Isto posto, nego provimento ao presente agravo regimental.

É como voto.

36 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 8.920 - PA

(Registro nº 97.0064058-2)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Brascomp Compensados do Brasil S.A.

Recorrido: Estado do Pará

Impetrado: Secretário da Fazenda do Estado do Pará

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Pará

Advogados: Paulo Meira e outros, e Manoel Santino Nascimento Júnior e outros

EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança preventivo impetrado com o objetivo de que a autoridade impetrada se absti­vesse de praticar eventuais medidas administrativas. Não confi­gurado ato concreto ou preparatório, lesivo de direito liquido e certo, nem ameaça da prática de ato abusivo da autoridade coato­ra.lncabimento.

I - No mandado de segurança, mesmo quando impetrado pre­ventivamente, não basta a suposição da existência de risco de le­são a direito líquido e certo, com base apenas no julgamento sub­jetivo do impetrante. Impõe-se que a ameaça a esse direito se ca­racterize por atos concretos ou preparatórios de parte da autori­dade impetrada, ou ao menos indícios de que a ação ou omissão virá a atingir o patrimônio jurídico da parte.

II - Não existindo ato concreto, ou preparatório, que configu­re lesão a direito líquido e certo, nem ameaça evidente de ato abusivo praticado pela autoridade coatora, descabe, in casu, con­cessão da segurança, para que se abstenha a Autoridade Fazen­dária de adotar qualquer medida administrativa, relacionada com a exigência de recolhimento do ICMS na operação de transporte de madeira, a exemplo do auto de infração, multa, apreensão ou retenção de mercadoria.

III - Recurso a que se nega provimento. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados .os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani-

midade, negar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 37

Milton Luiz Pereira, José Delgado e Garcia Vieira. Ausente, justifica­damente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Custas, como de lei.

Brasília, 20 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro DEMÓ­CRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 16·02-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Brascomp Compensa­dos do Brasil S.A. impetrou manda­do de segurança preventivo contra o Secretário da Fazenda do Estado do Pará, com o objetivo de que a au­toridade coatora se abstivesse de praticar "medida administrativa preventiva (auto de infração, apre­ensão de mercadoria, retenção de mercadoria para averiguação, mul­ta, etc.) contra a Impetrante, no que pertine ao transporte de madeira de um estabelecimento a outro.

Nas razões deduzidas na Inicial, alegou, fundamentalmente, que está "na iminência de ser vitimada por ato abusivo e ilegal da autori­dade coatora acima indigitada e/ou agentes administrativos a ela hie­rarquicamente inferiores, haja vis­ta que, sistematicamente, intercep­tam os veículos da Impetrante com a finalidade de fiscalizar o recolhi­mento do ICMS que entendem de­vido nas simples operações de trans­porte de mercadoria de um estabe­lecimento para outro da mesma em-

presa, ou seja, nas singelas trans­ferências físicas de mercadorias que não consubstanciam qualquer ope­ração comercial" (fls. 2/8).

As Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, à unanimidade, decidirapljul­gar a impetrante carecedora da ação, declarando extinto o proces­so, sem julgamento do mérito, nos termos do acórdão sumariado na ementa a seguir:

"N o mandado de segurança preventivo há necessidade de es­pecificação dos atos concretos ou preparatórios contra os quais se impetra a ordem - carência da ação caracterizada - extinção do mandamus sem julgamento do mérito" (fl. 65).

Irresignada, a vencida interpôs recurso ordinário, reproduzindo ba­sicamente os fundamentos da impe­tração e aduzindo, em síntese, as seguintes razões:

a) - "no percurso regular das madeiras extraídas das várias glebas do interior para a filial de Ananindeua, é o Recorrente abor­dado por diversos postos de fis­calização estadual que teimam em dele exigir a apresentação de nota fiscal e, por conseguinte, o recolhimento do ICMS respecti­vo, como se tal operação fosse de comércio", vendo-se, assim, amea­çada, freqüentemente, de ter a madeira apreendida pela Fisca­lização (fl. 71).

b) - "exsurge da leitura das informações, com muito mais evi-

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dência e agora de uma forma ine­quívoca e incontroversa, que a Fazenda Estadual entende o des­locamento físico de bens de um estabelecimento para outro de um mesmo titular, fato gerador do ICMS" (fl. 71).

c) - em nenhum momento re­quereu a autoridade impetrada, nas suas informações, a extinção do processo, sem julgamento de seu mérito, e o aresto objurgado agasalhou, todavia, esta tese, pre­ferindo não enfrentar a realida­de (fl. 72).

d) - na mesma linha de pre­cedentes jurisprudenciais deste STJ, "é evidente que o simples deslocamento físico da madeira retirada pela Recorrente de sua propriedade (glebas rurais "ma­nejadas" pelo IBAMA), para a sua filial de Ananindeua, Pará, não configura fato gerador do ICMS, posto que inexistente qualquer ato de mercancia em tal opera­ção, mas sim apenas um elo da sua produção" (fl. 74).

Com o pronunciamento do Minis­tério Público local, favorável ao co­nhecimento do recurso, mas pela manutenção da decisão recorrida (fls. 85/92), subiram os autos a esta instância, por determinação do emi­nente Vice-Presidente do Tribunal a quo (fl. 93).

A douta Subprocuradoria Geral da República, instada a se manifes­tar, opinou no sentido do improvi­mento do recurso (fls. 96/101).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): O mandado de segurança, conforme relatado, foi ajuizado, originariamente, pela em­presa Brascomp - Compensados do Brasil S.A., visando a que a Autori­dade Fazendária se abstivesse da prática de qualquer medida admi­nistrativa, a exemplo de auto de infração, multa, apreensão ou re­tenção de mercadoria, relacionada com o transporte de madeira de um estabelecimento para outro da sua propriedade, por não estar sujeita, a impetrante, ao recolhimento do ICMS sobre essa espécie de opera­ção, em cada deslocamento que faça.

O Tribunal a quo julgou a impe­trante carecedora da ação e extin­guiu o processo, sem julgamento de mérito, ao fundamento basilar de que, no mandado de segurança pre­ventivo, há necessidade de especi­ficação dos atos concretos ou prepa­ratórios contra os quais se impetra a ordem.

Com efeito, ao exame detido dos elementos informativos do proces­so, afiguram-se-me irretocáveis as lúcidas ponderações expendidas no bem lançado parecer do Represen­tante do Ministério Público local, in expressis:

"É certo que a Constituição Fe­deral assegura a todos o acesso ao Judiciário, não permitindo seja subtraída à sua apreciação qualquer lesão ou ameaça a di­reito (artigo 5Q

, XXXV). Não obs­tante, para que o juiz possa pro-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 39

nunciar-se sobre a pretensão pos­ta em juízo, é mister que aquele que exercita o seu direito de ação o faça: 1) com relação à pessoa responsável pelo direito lesiona­do; 2) que o demandado tenha tido um comportamento que jus­tifique a propositura da deman­da (interesse processual) e; 3) que o direito positivo ampare a solu­ção pleiteada.

N o mandado de segurança pre­ventivo, ação cível especial, apli­ca-se a regra suso mencionada como requisito essencial à propo­situra da ação.

O mandado de segurança pre­ventivo, junto com as cautelares, é um dos mais eficazes instru­mentos de distribuição de justi­ça, posto que prevenir é melhor que reparar e proteger é melhor que re­compor.

A Lei nº 1.533/51, prevê no ar­tigo 1 Q o mandado de segurança preventivo sempre que alguém estiver sob ameaça ou com "justo receio" em sofrer violação de di­reito. O "justo receio" caracteri­za realmente no direito pátrio a iminência da violação de um di­reito, que justifica o ingresso do cidadão emjuízo. O "justo receio" não se reduz a simples temor sub­jetivo, mas a um receio ocasiona­do por sérias circunstâncias, por indícios veementes decorrentes de fatos concretos e atitudes vio­lentas, o que no caso sub examen não está provado ab initio, como é da natureza jurídica do Writ -vez que não restou caracterizado "de pronto" a efetiva ameaça de

lesão de direito por parte da au­toridade pública, nem há como presumir que os agentes fiscais tenham ou não excedido os limi­tes de sua atuação, nem como impedir o exercício de suas fun­ções, tornando temerária qual­quer decisão de mérito que possa alcançar todos os casos futuros da mesma espécie.

Daí resulta a carência da ação" (fls. 88/89).

Do mesmo modo, em parecer não menos brilhante, o ilustrado Par­quet Federal demonstra o acerto do v. acórdão recorrido, no mesmo com­passo da jurisprudência predomi­nante neste STJ, e confirma que a recorrente, de fato, "não demonstra a existência de lançamento ou pro­va de expediente administrativo fis­cal, capaz de configurar ato concre­to ou pelo menos ameaça da autori­dade coatora" (fl. 99).

Na verdade, nessa linha de en­tendimento, com a qual me ponho de acordo, o aresto hostilizado an­dou bem, ao fazer precisa análise da questão, ante as informações pres­tadas pela autoridade impetrada, concluindo, in verbis:

"Em confronto com essas infor­mações, que merecem credibili­dade, até prova em contrário, dada a presunção de legitimida­de dos atos da Administração e da palavra de suas autoridades, constata-se, dos autos, que a im­petrante não descreveu qualquer ato concreto ou preparatório ou indício razoável de atividade cen-

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surável das autoridades fiscais, e contra as quais caberia preven­ção pela iminência e risco de dano ao direito da empresa impetrante.

Logo, falta sucedâneo fático e jurídico à cautela preventiva, não se podendo considerar ameaça a não atividade da autoridade fa­zendária, na espécie, ou sua omis­são eventual fiscalizadora, ou au­sência de vigilância no cumpri­mento da lei, pela não ocorrên­cia ainda de autuação.

Vê-se, então, que a impetran­te não aponta, em concreto, exi­gência fiscal abusiva e violadora ao direito ameaçado parajustifi­car o mandado de segurança pre­ventivo, sabido que os Tribunais decidem em concreto e não res­pondem a questões em tese sobre eventual ilegalidade de normas, o que seria resposta a uma con­sulta, e os Tribunais não são ór­gãos consultivos" (fl. 67).

Estou, portanto, em que razão não assiste à recorrente, que não logra afastar esses sólidos funda­mentos, malgrado seja reconhecível o esmero e a dedicação com que se houve para defender tese em senti­do contrário, mas improsperável no âmbito deste sodalício, onde tem predominado entendimento no mes­mo sentido do acórdão recorrido, conforme precedentes trazidos à colação pelo douto Sub procurador­Geral da República (fls. 99/101).

N o mesmo diapasão, entre mui­tos outros, posso invocar preceden­tes da minha lavra, cujos acórdãos restaram assim ementados:

"Processual Civil e Tributário. Mandado de segurança preventi­vo. Cabimento.

Mesmo no mandado de segu­rança preventivo, não basta o sim­ples risco de lesão a direito líqui­do e certo, com base apenas no julgamento subjetivo do impe­trante. Impõe-se que a ameaça a esse direito se caracterize por atos concretos ou preparatórios de parte da autoridade impetra­da, ou ao menos indícios de que a ação ou omissão virá a atingir o patrimônio jurídico da parte. Em direito tributário, se o autor in­quina determinada exação, pre­vista em lei, de inconstitucional ou ilegal, mas não demonstra qualquer ameaça a seu direito de não pagá-la, descabe a ação man­damental, que não tem por esco­po interpretar a lei em tese.

Recurso improvido, por unani­midade" (REsp lS.40S/PE, D.J. 01.06.92).

"Constitucional. Mandado de segurança preventivo. Inexistên­cia de ato comissivo ou omissivo da autoridade coatora. Incabi­mento. Agravo regimental impro­vido.

Inexistindo ameaça evidente de prática de ato abusivo pela au­toridade coatora, descabe a con­cessão da segurança, apenas, para preservar, o impetrante, em relação às conseqüências da pos­sível aplicação de lei, que o autor entende inconstitucional, impin­gindo-se ao mandado de seguran­ça, a natureza de ação direito de inconstitucionalidade, para cuj a

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 41

proposição, a parte não possui le­gitimidade.

A ação de segurança, ainda que usada com caráter preventivo, deve fundamentar-se em prova pré-constituída, para que a amea­ça seja verificada, de plano, pelo juiz, ao exame de elementos in­formadores documentais.

Agravo regimental improvido. Decisão unânime" (Agr no REsp . n Q 25.373/PE, D.J. 08.03.93).

Com essas considerações, na mes­ma linha de orientação jurispruden­cial prevalecente nesta Corte, nego provimento ao recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 72.806 - SP

(Registro n Q 95.0042914-4)

Relator: O Sr. Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo -COHAB/SP

Recorridos: Amauri Luiz da Silva e cônjuge

Advogados: Drs. Luís Antônio Dantas e outros, e Paulo Ianaconi

EMENTA: Código de Defesa do Consumidor - Aplicação - Con­tratos firmados antes de 11/09/90.

As normas do Código de Defesa do Consumidor não retroagem para alcançar contratos firmados antes de sua vigência.

É devida a retenção da multa de 10% pelo descumprimento do contrato.

Recurso parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos a das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar par­cial provimento ao recurso, nos ter-

mos do voto do Sr. Ministro-Rela­tor. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira e José Delgado.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros.

Brasília, 12 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

42 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro GARCIA VIEIRA, Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA: Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo, com lastro na Constituição Federal, artigo 105, lII, a, interpõe recurso especial (fls. 163/169), aduzindo tratar-se de ação ordinária de rescisão contratual, cumulada com reintegração de pos­se, na qual alegou-se violação de cláu­sula contratual.

O MM. Juiz de 1 Q Grau julgou procedente, em parte, a ação, argu­mentando que, no tocante às perdas e danos, o pedido não pode ser aco­lhido, por não existir no contrato cláusula pertinente e que a preten­são encontra óbice no Código de Defesa do Consumidor, art. 53, que considera nula cláusula que estabe­lece a perda total das prestações pagas em benefício do credor.

Foi mantida a r. decisão monocrá­tica.

Aponta violação ao CPC, art. 1.056 e ao Código Civil, art. 1.092.

Requer reforma da v. decisão re­corrida.

Despacho (fls. 173/175).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA (Relator): Sr. Presidente: -

Aponta a recorrente, como violados, os arts. 1.056 do CPC e 1.092 do CC, versando sobre questões devida­mente prequestionadas.

Conheço do recurso pela letra a.

O Código do Consumidor, insti­tuído pela Lei 8.078, de 11.09.90, não se aplica ao caso vertente porque o contrato (fls. 06/12) foi assinado pelas partes no dia 30.12.83, antes de sua vigência. Suas normas não poderiam retroagir para alcançar contratos anteriores. Assim, não se pode, com base no seu art. 53, en­tender que o mutuário tenha de per­der as prestações já por ele pagas. Com razão, o v. acórdão recorrido (fls. 147) ao sustentar que:

"Com a devida vênia, a regra do art. 53 da Lei 8.078, de 11.09.90, não se aplica ao caso sob exame, pois, o contrato de com­promisso de compra e venda foi celebrado a 30.12.83 (fls. 6/12).

Como assentado na jurispru­dência desta Câmara, as normas do Código de Defesa do Consumi­dor não retro agem para alcançar contratos anteriores, sob pena de ofensa ao art. 5º, inc. XXXVI, da Constituição Federal.

Assim, não se sujeitando o con­trato em questão aos preceitos da referida Lei 8.078, afastada fica a perda das prestações pagas pe­los réus, sanção não prevista na avença." (fls. 147)

Não se pode decretar a perda to­tal de todas as prestações pagas pelo réu, mas pode ser retida a mul-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 43

ta de 10% prevista no contrato. N es­te sentido, os REsps 85.182-PE, DJ de 08.09.97, reI. Min. Cesar Rocha e 74.448-SP, DJ de 04.11.96, reI. Min. Sálvio de Figueiredo. Em am­bos, autorizou-se a retenção da mul­ta de 10%, em razão do descumpri­mento do contrato. Esta multa, na

espécie, representa as perdas e da­nos (art. 1.056 do CPC) pelo des­cumprimento do contrato.

Dou parcial provimento ao recur­so para reformar parcialmente o v. acórdão recorrido e determinar a re­tenção da multa de 10%, pelo des­cumprimento do contrato.

RECURSO ESPECIAL NQ 85.047 - DF

(Registro n Q 96.0000766-7)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Unimed Brasília Cooperativa de Trabalho Médico

Recorridos: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e Íris José Santiago

Advogados: Victorino Ribeiro Coelho e outro, Ayres Lourenço de Almei­da Filho e outros, e Antônio Carlos de Brito e outro

EMENTA: Ação indenizatória promovida por particular contra o INSS. Ausência do ato causador do dano praticado pela autar­quia-ré. Improvimento do recurso.

Firmou-se a jurisprudência, ainda emanada do TFR, no senti­do de que, o patrão é responsável indireto pela reparação do dano civil decorrente de preposto seu (C.C., art. 1.521, lU). Todavia, em face da lei vigente, não se caracteriza como preposto ou empre­gado, a Clínica Médica que realiza serviços para o INSS, como mera credenciada.

O credenciamento não constitui contrato de trabalho, porquan­to, o prestador dos serviços conserva a sua própria autonomia (e o faz sem subordinação alguma ou vínculo empregatício), tornan­do-se responsável pelos atos que praticar no exercício de suas atividades e, como tal deve ser chamada a integrar a relação pro­cessual, na condição de ré, para responder aos termos das ações de responsabilidade civil, na hipótese de imprudência ou negli­gência.

Recurso a que se nega provimento. Decisão unânime.

44 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, negar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Delgado e Gar­cia Vieira. Custas, como de lei.

Brasília, 15 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 02-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Cuida-se de Ação In­denizatória promovida por particu­lar contra INSS objetivando inde­nização.

Alegou, o autor, ter sido aposen­tado por invalidez resultante de im­perícia médica ocorrida em três ci­rurgias a que se submeteu na Casa de Saúde e Maternidade Dom Bos­co. Os médicos que praticaram a ci­rurgia agiram como servidores do réu.

O INSS ofereceu defesa e denun­ciou à lide a empresa Unimed.

O Juiz declarou extinto o proces­so em relação ao réu e se declarou

incompetente para julgar o feito em relação às partes remanescentes.

Inconformada, a Unimed inter­pôs recurso especial, sob o pálio das letras a e c. Alega ofensa aos arts. 70 e 75 do CPC e arts. 15 e 896 do C. Civil.

O TRF da 1 ª Região confirmou a decisão de primeiro grau.

Admitido na origem, nesta ins­tância, o M. Público Federal opinou pelo improvimento do especial.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Mi­nistros:

Íris José Santiago promoveu Ação Indenizatória contra o Instituto N a­cional do Seguro Social - INSS -objetivando o ressarcimento por perdas e danos.

Alega ter sido aposentado por invalidez resultante de imperícia médica ocorrida em três (3) cirurgias a que se submeteu na Casa de Saú­de e Maternidade Dom Bosco. Os médicos que praticaram as cirur­gias agiram como servidores do réu, sendo deste a responsabilidade.

O INSS, em sua resposta, afir­mou não ter qualquer responsabili­dade, eis que as cirurgias foram rea­lizadas em Hospital particular e denunciou à lide a empresa Unimed.

O Juiz declarou extinto o proces­so, em face da ilegitimidade do réu e incompetência para o julgamento

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 45

do feito em relação às partes rema­nescentes.

O TRF da 1 ª Região confirmou a decisão de primeiro grau.

Inconformada, a Unimed mani­festou recurso especial, ao amparo das alíneas a e c, do admissivo cons­titucional. Alega ofensa aos arts. 70 e 75 do CPC e arts. 15 e 896 do C. Civil, além de divergência com jul­gados de outros Tribunais.

O recurso, todavia, não há como prosperar.

Com efeito, a começar da decisão de 1 º Grau, chegou-se à conclusão, com base nas provas, de que, se dano houve, foi causado pela pes­soa jurídica de direito privado, sem a participação de servidor público, e o Estado não é responsável e não é parte legítima para figurar no pólo passivo da ação. É que, os médicos que realizaram as cirurgias supos­tamente causadoras da aposentado­ria do autor, não são servidores do réu. Ao contrário, enfatiza o Juiz, "esses profissionais prestaram ser­viços ou eram empregados da Or­ganização Hospitalar Brasileira S.A. - Casa de Saúde e Materni­dade Dom Bosco - entidade com a qual o réu mantinha convênio" (fo­lhas 106/107).

Por sua vez, consigna o acórdão recorrido, no voto condutor:

"In casu, os médicos que su­postamente causaram a invalidez do autor são servidores da Casa de Saúde Maternidade Dom Bosco, pessoa jurídica de direito privado, conveniada com o INSS.

N o entanto, o fato de haver um convênio entre os mesmos não acarreta, por si só, a responsabi­lidade civil solidária. Para tanto, é necessário a expressa menção a respeito, o que, no caso, inocor­reu, consoante prova coligida nos autos.

O extinto Tribunal Federal de Recursos já decidira na mesma li­nha de entendimento. Cite-se, a propósito, decisão proferida na AC nº 39.074-SP, de que foi Rela­tor o eminente Ministro Adhemar Raimundo, condensada na se­guinte ementa:

"Responsabilidade civil.

Nos termos do artigo 1.521, inciso lII, do Código Civil, o pa­trão é responsável indireto pela reparação do dano civil. Não se considera, todavia, pre­posto ou empregado, a clínica que realiza serviços para o INSS, como simples credencia­do (TRF, pub. no DJ 20.4.81)".

Merece, ainda, registro, excer­to do voto condutor do acórdão, que decanta o tema de forma con­clusiva, verbis:

"Discordo do entendimento do Juiz, que enfatiza, na sen­tença, essa relação de depen­dência, ao dizer, verbis: "O Hospital está para a autar­quia, como o preposto está pa­ra o preponente. A relação en­tre os dois é desse gênero." (fls. 74). Dissinto do entendimento do digno a quo, data venia.

46 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

Isso porque, pelo documento de fls. 15 dos autos, a relação entre o INSS e o Hospital não era de preposto e preponente, mas resultante de simples cre­denciamento. Está escrito: " ... autorizar a credenciação do Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Conceição S.A., em São Paulo, para atendimento ambulatorial de ortopedia e traumatologia."

Pelo exposto, inexistia, pelo documento citado, relação de empregador e empregado en­tre o mencionado estabeleci­mento hospitalar e o antigo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários. Se havia simples credenciamento, inexistia qualquer subordina­ção do nosocômio para com a Previdência Social, de modo a se poder falar de relação entre preposto e preponente.

É necessário que a preposi­ção cubra um contrato de lo­cação ou de mandato (Carva­lho Santos - Cód. Civil In­trodução - voI. XX - pág. 228).

o credenciamento não ca­racteriza contrato de trabalho, porque quem presta os servi­ços conserva a sua autonomia, responsável, portanto, pelos atos que praticar. Se emprega­do fosse, presente a responsa­bilidade do INSS, que, na hi­pótese, colocado estaria na si­tuação de patrão. Em suma, as clínicas credenciadas pelo INSS conservam a sua responsabi-

lidade direta pelos atos que praticarem, no exercício das suas funções, e, como tal de­vem ser chamadas como rés, para responder aos termos das ações de responsabilidade ci­vil, nos casos de imperícia ou imprudência" .

Irrepreensível a pOSlçao do grande magistrado ejuristaAdhe­mar Raymundo, uma das glórias do grandioso mundo jurídico da Bahia e do Brasil.

No agravo retido, a Unimed insurge-se contra a sua inclusão na relação processual por via de denunciação à lide. Verbera que o caso sub examen não se en­quadra nas hipóteses elencadas no art. 70, incisos I a IH, do CPC, ao fundamento de que o INSS, sendo parte ilegítima para figurar no feito, não tem legitimação, também, para denunciar à lide.

Entretanto, razão não lhe as­siste.

De fato, nada impede que o réu, alegando ser parte ilegítima, denuncie à lide a parte que en­tenda ser o verdadeiro responsá­vel. Portanto, é correta a senten­ça que, entendendo ser parte le­gítima o denunciado, dê pela ca­rência de ação em relação ao de­nunciante" (folhas 147/149).

Como acentuou o M. Público Fe­deral, "nada impede que aAdminis­tração Pública denuncie à lide, na

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 47

qualidade de terceiro aquele que, apesar de não ser servidor público, encontra-se encarregado da presta­ção de serviço público. Se o réu ale­ga ser parte ilegítima e, ao mesmo tempo denuncia à lide o verdadeiro responsável, e este, aceitando a li­tisdenunciação, contesta o pedido formulado pelo autor, passando à condição de litisconsorte passivo, não há prejuízo em que a sentença dê pela carência de ação, em rela­ção ao denunciante, e pela proce­dência ou improcedência da preten-

são quanto ao denunciado" (folha 203).

N o pertinente ao dissenso preto­riano, não vejo configurado, por de­satenção às regras regimentais. É que, o acórdão paradigma foi trans­crito através de ementa, sem a de­monstração analítica dos trechos em que se configuram a identidade ou semelhança das teses jurídicas.

Com estas considerações, conhe­ço do recurso pela letra a, mas lhe nego provimento.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 125.337 - MG

(Registro n Q 97.0021022-7)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Ministério Público do Estado de Minas Gerais

Recorrido: Município de Alfenas

Advogados: Wanderley Tiago Velano e outros

EMENTA: Processual Civil. Ação civil pública de iniciativa do Ministério Público objetivando a declaração de inconstituciona­lidade de lei municipal. Extinção do processo, por incompetência do juiz monocrático. Acórdão recorrido estribado em fundamento constitucional concentrado. Questões legais e constitucionais não prequestionadas. Especial não conhecido.

No âmbito do especial, não se apreciam questões jurídicas não discutidas e decididas, de forma expressa, nas instâncias ordiná­rias, nem se examina matéria de natureza essencialmente consti­tucional.

Ao juiz de primeiro grau descabe declarar a inconstitucionali­dade de lei municipal (em face da Constituição Federal) pela via do sistema de controle constitucional concentrado.

48 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

In casu, a declaração de incompetência do juiz decorreu de in­terpretação de texto da Lei Maior constituindo, por isso mesmo, fundamento, por si, suficiente para manter o julgado e erigindo­se em empeço ao conhecimento do especial (Súmulas 126/STJ e 283/STF):

Recurso Especial de que se não conhece. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigrá­ficas constantes dos autos, que fi­cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José Delgado e Gar­cia Vieira. Ausente,justificadamen­te, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Custas, corno de lei.

Brasília, 11 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro DEMÓ­CRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 02-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Cuida-se, na hipótese, de ação civil pública promovida pelo Ministério Público Estadual, obje­tivando a declaração de inconstitu­cionalidade da Lei Municipal de n Q

2.135/89, da Comunidade de Alfe­nas,em Minas Gerais e a suspen-

são do pagamento da taxa de ilumi­nação pública instituída pelo men­cionado diploma legal.

Julgado procedente, o pedido, em primeiro grau, o Tribunal de Justi­ça, ao manifestar-se sobre o reexa­me necessário, extinguiu o proces­so sem julgamento de mérito (art. 267, VI, do CPC), já pela incompe­tência do juiz para declarar a in­constitucionalidade da Lei em tese (pelo sistema concentrado, já pela ilegitimidade do Ministério Público).

Irresignado, interpôs, o Ministé­rio Público, recurso especial, sob o pálio da letra a. Alega ofensa aos arts. 1Q e 21 da Lei de n Q 7.347/85.

Admitido na origem, subiram os autos a esta instância.

O Ministério Público opinou pelo provimento da irresignação.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Mi­nistros:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais promoveu, peran­te juízo competente, ação civil pú­blica contra o Município de Alfenas, naquele Estado, objetivando:

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 49

a) a declaração - incidenter tantum - da inconstitucionali­dade da Lei Municipal de n 9

2.135/89, arts. 19,29 e 39, por afrontar os arts. 150, lII, letra b, e 156 e 59, lI, combinado com o 150, I, todos da Constituição Fe­deral;

b) que seja o réu, após a decla­ração de inconstitucionalidade da mencionada lei (2.135/89) conde­nado a não cobrar a taxa de ilu­minação (reconhecendo-se para tanto a inconstitucionalidade da taxa) - (folha 9).

Em primeiro grau, o juiz julgou procedente o pedido e reconheceu a inconstitucionalidade da Lei Muni­cipal de n9 2.135/89 (arts. 19,29,39

e 89), em face dos arts. 150, IlI, b, 150, I, 156 e 59, lI, da Constituição Federal (e, ainda, por ferir o princí­pio da anterioridade).

O Tribunal de Justiça, ao julgar recurso apelatório, deu provimento ao reexame necessário e decretou a extinção do processo, de acordo com o disposto no art. 267, VI, do Códi­go de Processo Civil, eis que:

a) falece, ao juiz, competência para decretar a inconstituciona­lidade da lei, em tese;

b) pela ilegitimidade o Minis­tério Público.

Irresignado, o Ministério Públi­co manifestou recurso especial, com arrimo na alínea a, do permissivo constitucional. Alega ofensa, pelo decisum, aos arts. 19, IV, e 21 da

Lei de n 9 7.347/85, na medida em que deixou de aplicá-los.

O recurso, todavia, não há como prosperar. Em primeiro lugar, é ma­nifesta a ausência de prequestiona­mento em relação aos preceitos ci­tados (Lei n9 7.347, arts. 19, IVe 21). Para que se justifique o conheci­mento do especial, não basta que o acórdão tenha feito referência, en passant, à lei que se pretende tenha sido desafeiçoada. É necessário que, acerca dos preceitos legais indica­dos como violados, o acórdão impug­nado tenha expendido juízo de va­lor explícito. In casu, o acórdão fez uma simples menção à Lei de n 9

7.347/85, "sobre afirmar que a ação civil pública destina-se ao amparo, quer de interesses sociais, quer de interesses privados, tutelando os chamados interesses difusos e inte­resses individuais que atingem a própria coletividade".

E acrescenta: "Determinado o al­cance da lei, mister se faz, no caso, se faça a distinção entre as expres­sões consumidor e contribuinte para que se possa delimitar a legitimida­de do apelante para a propositura da presente ação. Consumidor, como de conceito, em sentido amplo, de­signa a pessoa que consome um pro­duto. No sentido fiscal, possui o vo­cábulo significação própria, qual seja, toda pessoa que adquire mer­cadorias de um comerciante para seu uso e consumo, sem intenção de revendê-la. Por outro lado, contri­buinte é, genericamente, tida pes­soa que contribui com a parte que lhe é atribuída, ou sej a, toda pes­soa que faz uma contribuição. No

50 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

sentido, fiscal, com o mesmo senti­do de consumidor, designa pessoa a que é cadastrada ou lançada para pagar impostos. Conforme se depre­ende desses conceitos, contribuinte e consumidor não se confundem. O fato de a lei autorizar o Ministério Público a defender direitos dos con­sumidores não o autoriza a defen­der direitos do contribuinte" (fls. 100/101).

E, após, com base no art. 129, UI, da Constituição Federal, fazer a dis­tinção entre direitos difusos e direi­tos individuais homogêneos, conclui o voto condutor (com motivação di­ferente, suficiente, por si, para man­ter o julgado): "Fala-se, outrossim, em inconstitucionalidade inciden­ter tantum. Mas, não há caso con­creto algum, onde se pretende tal inconstitucionalidade. Como de sa­bença comum, o sistema de contro­le jurisdicional da constitucionali­dade conhece dois critérios: difuso e concentrado.

O difuso, como ponderado alhu­res pelo eminente Des. Lúcio Urba­no (Ap. Civ. nº 29.258-1), exerce-se por via de exceção, enquanto o con­centrado através de ação direta, de competência dos Tribunais. No caso, insurge-se contra a lei em tese e di­retamente, não como exceção em caso concreto. Tal como colocada a questão, a buscada inconstituciona­lidade jamais seria incidental -controle difuso - mas direta - con­trole concentrado. Falece, assim, competência ao juiz de primeiro grau e legitimidade ativa do Minis­tério Público" (folha 103).

Como se observa, o decisório mal­sinado se escuda em dupla motiva­ção: uma, indica, de forma genéri-

ca, as hipóteses em que o Ministé­rio Público poderá atuar na defesa dos interesses difusos ou coletivos e individuais homogêneos; na outra, com base na Constituição Federal, conclui tratar-se de insurgência con­tra a lei em tese e não de controle da constitucionalidade de lei inci­denter tantum, em face da inexis­tência de caso concreto. O que se postulou foi, efetivamente, o contro­le concentrado, não o difuso, razão por que declara a incompetência do juiz para proclamar a inconstitucio­nalidade de lei (pelo sistema concen­trado) e a ilegitimidade do Ministé­rio Público.

Ora, este último fundamento -incompetência do juiz - tanto se embasa em matéria constitucional (embora não cite, expressamente qualquer dispositivo), como por si, é suficiente para manter o julgado e não foi objeto de ataque no espe­cial. Ao caso se aplica a Súmula 283 do STF, com esta dicção:

"É inadmissível o recurso ex­traordinário quando a decisão re­corrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recur­so não abrange todos eles."

Demais disso, ao conhecimento do recurso se opõe a Súmula 1261 STJ, porquanto, tendo o aresto de­safiado se estribado, também, em fundamento constitucional, este não foi atacado, em tempo hábil, pela via extraordinária, gerando a pre­clusão da matéria.

Com estas considerações, em pre­liminar, não conheço do recurso.

É como voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 51

RECURSO ESPECIAL Nº 139.872 - CE

(Registro nº 97.0048120-4)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: Fazenda Nacional

Recorridos: Amarílio Proença de Macedo e outros

Procuradores: Drs. Maria da Graça Aragão e outros

Advogados: Drs. Paulo Camillo e outros

EMENTA: Tributário. Dívida ativa inscrita. Certidão negativa de débito. Pessoa física. Sócios. CTN, art. 135, lIl.

1. A pessoa jurídica, com personalidade própria, não se confun­de com a pessoa de seus sócios. Constitui, pois, delírio fiscal, à matroca de substituição tributária, atribuir-se a responsabilida­de substitutiva (art. 135 - caput - CTN) para sócios diretores ou gerentes antes de apurado o ato ilícito.

2. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indica­das:

Decide a egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e no­tas taquigráficas constantes dos au­tos, que ficam fazendo parte inte­grante do presente julgado. Vota­ram com o Relator os Senhores Mi­nistros José Delgado, Garcia Viei­ra, Demócrito Reinaldo e Humber­to Gomes de Barros. Presidiu o jul­gamento o Senhor Ministro Milton Luiz Pereira.

Custas, como de lei.

Brasília, 12 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 10-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Cuida-se de Recurso Es­pecial, através do qual pretende a Recorrente desconstituir o v. ares­to do egrégio Tribunal Regional Fe­deral da 5ª Região, cuja ementa está assim conformada:

"Tributário. Responsabilidade tributária não caracterizada no art. 135, CTN. Certidão negati­va de débito. Diretores de pessoa jurídica de direito privado.

1. Os diretores, gerentes ou re­presentantes de pessoas jurídicas

52 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

de direito privado não respondem pessoalmente pelos tributos de­vidos pelas empresas, desde que não comprovada a ocorrência de excesso de mandato, violação do contrato social ou da lei.

2. Certidões Negativas de Débi­tos requeridas pelos diretores das empresas, enquanto pessoas físi­cas devem ser fornecidas, se não há apuração da responsabilidade de qualquer impetrante.

3. Remessa oficial improvida." (fl. 77).

A Recorrente, apóia-se nas alíne­as a e c, do permissivo constitucio­nal. Entende que o não pagamento de tributo importa em responsabi­lidade pessoal e solidária do dire­tor, do gerente ou do representan­te, conforme determina o artigo 135, inciso IIl, do Código Tributário Na­cional.

Aduz:

"Não resta dúvida de que os re­corridos são diretores de pessoas jurídicas em débito para com a Fazenda Nacional.

Também é certo, segundo ori­entação recente dessa Excelsa Corte, que 'age com violação à Lei o sócio-gerente que não recolhe os tributos devidos.' (REsp nº 33.681-1-MG, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha - DJU de 02.05.94, pág. 9.968).

Por outro lado, o artigo 135, IIl, CTN, exige que haja infração à lei e não apenas à lei comercial co­mo quer a v. decisão vergastada.

Logo, o v. aresto guerreado ao excluir a responsabilidade dos impetrantes no caso presente, os­tensivamente negou aplicação ao artigo 135 do Estatuto Tributá­rio Nacional, ensejando, assim o presente apelo nobre pela letra a do permissivo constitucional".

Omissis

"O dissídio pretoriano resulta por demais evidente, pois, se de um lado o v. acórdão recorrido tem 'que o simples inadimple­mento de crédito tributário de Sociedade Comercial não configu­ra fato hábil a responsabilizar pessoalmente os diretores, geren­tes ou representantes das pes­soas jurídicas de direito privado', de outro, a v. decisão paradigma tem que 'o sócio gerente que não recolhe os tributos devidos age com violação à Lei, sendo, portan­to, responsável, na forma do dis­posto no art. 135, IlI, CTN'.

Daí, o cabimento do recurso também pela alínea a.

Omissis

"Data venia, não pode preva­lecer o v. aresto combatido por­que além de manifestamente ile­gal constitui porta aberta para a sonegação fiscal.

Afigura-se bastante desarra­zoado o entendimento que condi­ciona a responsabilidade tributá­ria objeto do art. 135, III, CTN, a instauração por parte da Fazen­da Pública de prévio processo para apurar essa responsabilida­de.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 53

Ora, se a obrigação tributária é ex legis, o seu descumprimen­to, como é curial, implica em vio­lação à lei que a estabelece.

O multicitado artigo 135 ao atribuir aos diretores, gerentes ou representantes de pessoas ju­rídicas de direito privado a res­ponsabilidade tributária por subs­tituição decorrente de atos prati­cados com infração de lei não ex­clui a lei tributária, naturalmen­te.

Assim, exigir-se procedimento prévio para apurar o óbvio cons­titui excrescência absurda".

Omissis

"O art. 135, do CTN, consagra, assim, a doutrina da desconside­ração da personalidade jurídica, no que andou muito certo o legis­lado):", pelo que descabe averiguar, antes, se a pessoa jurídica tem ou não condições de pagar o tributo devido.

E assim deve ser, pois agride o senso comum a constatação fre­qüente de que os donos de certas empresas só querem o bônus que elas rendem, fugindo na hora de arcar com o ônus como se não fos­sem os únicos beneficiários dos lucros. Tanto assim é, que en­quanto muitas delas encontram­se absolutamente falidas e deven­do ao Fisco, aqueles vivem como verdadeiros magnatas usufruin­do das rendas obtidas no passa­do.

Isto posto, a Fazenda Nacional confia que esta Colenda Corte dará provimento ao presente ape-

lo para o fim de ser cassado o v. acórdão recorrido, reconhecendo­se a responsabilidade dos impe­trantes pelos débitos de que tra­tam estes autos, como é de direi­to e justiça". (fls. 84 a 87)".

Transcorreu in albis o prazo para apresentação de contra-razões.

O nobre Presidente do colendo Tribunal a quo admitiu a via Espe­cial, porque "a matéria foi devida­mente prequestionada e a funda­mentação permite a exata compre­ensão da controvérsia, com indica­ção precisa do dispositivo legal por­ventura violado, bem como do per­missivo constitucional autorizador do apelo especial. De outro modo, o dissenso pretoriano restou devida­mente comprovado". (fl. 100).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): ESpiolhados os autos revela-se que, em Mandado de Segurança, impetrado com o fito de ser obtida Certidão de Dívida Ati­va, recusada administrativamente, a ordem foi concedida, cônsono o ferretado v. Acórdão, resumido na seguinte ementa:

"Tributário. Responsabilidade tributária não caracterizada no art. 135, CTN. Certidão negati­va de débito. Diretores de pessoa jurídica de direito privado.

1. Os diretores, gerentes ou re­presentantes de pessoas jurídicas

54 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

de direito privado não respondem pessoalmente pelos tributos de­vidos pelas empresas, desde que não comprovada a ocorrência de excesso de mandato, violação do contrato social ou da lei.

2. Certidões Negativas de Débi­tos requeridas pelos diretores das empresas, enquanto pessoas físi­cas devem ser fornecidas, se não há apuração da responsabilidade de qualquer impetrante.

3. Remessa oficial improvida." (fl. 77).

A manifestação de inconformismo alvoroçando, além de dissenso, con­trariedade ao art. 135, IlI, CTN, presentes os requisitos de admissi­bilidade, merece ser conhecida (art. 105, lII, a e c, C.F.).

Desimpedido o exame, de logo, com significância, registra-se que as Impetrantes, pessoas físicas, não têm dívida inscrita à sua conta e res­ponsabilidade, aparecendo como de­vedoras as empresas das quais são diretores: Cervejaria Astra S.A., Be­narrós Diesel Ltda. e Moinho Forta­leza - S.A. (fls. 4).

Eis aí o motivo pelo qual a auto­ridade fiscal, à sombra do art. 135, lII, CTN, indeferiu a expedição de certidão negativa pedida por pes­soas físicas não devedoras. Em ou­tras palavras: tão-só porque os seus sócios participam da composição societária da devedora como direto­res. Sem dúvida, o ato indeferitório é ilegal.

Com efeito, uma pessoa jurídica, com personalidade própria, não se

confunde com a pessoa física de seus sócios diretores. Demais, o art. 135, lII, CTN, colacionado pela autori­dade fiscal, trata da responsabilida­de pessoal dos "diretores, gerentes ou representantes" resultantes de atos praticados com excesso de po­deres ou infração de lei, contrato social ou estatutos.

Neste contexto, a solução está custodiada por precedente da lavra do ínclito Ministro Humberto Go­mes de Barros constituído quando do julgamento do REsp de nº 86.439-ES, nestes termos:

Omissis

"O CTN, no inciso III do art. 135, impõe responsabilidade, não ao sócio, mas ao gerente, diretor ou equivalente.

Assim, sócio-gerente é respon­sável, não por ser sócio, mas por haver exercido a gerência.

A gerência, contudo, não é cau­sa da responsabilidade solidária. A solidariedade resulta da práti­ca de ato ilícito.

Em tal circunstância, não bas­ta o fato de a pessoa jurídica ser devedora de tributo. É necessá­rio que a dívida não tenha sido paga, em razão de ato ilícito, pra­ticado pelo gerente.

Como se percebe, o art. 135 do Código Tributário não derrogou o vetusto preceito contido no art. 9º da 'Lei de Sociedades Limita­das'.

Quando o gerente abandona a sociedade, sem honrar-lhe o dé-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 55

bito fiscal, é responsável, não pe­lo simples atraso de pagamento. A ilicitude que o torna solidário é a dissolução irregular da socie­dade.

Na hipótese que agora exami­namos, não há qualquer alegação de que os recorridos tenham exer­cido a gerência da sociedade. Tampouco se afirma que a socie­dade foi extinta irregularmente.

Nesta situação, a recusa da certidão negativa traduz eviden­te ilegalidade, reparável através de Mandado de Segurança". (REsp n Q 86.439/ES - ReI. Min. Humberto Gomes de Barros).

Eis a ementa do julgado:

"Tributário - Sociedade limita­da - Responsabilidade do sócio pelas obrigações tributárias da pessoa jurídica (CTN, art. 173, IH).

I - O sócio e a pessoa jurídica formada por ele são pessoas dis­tintas (Código Civil, art. 20). Uma não responde pelas obriga­ções da outra.

H - Em se tratando de socieda­de limitada, a responsabilidade do cotista, por dívidas da pessoa jurídica, restringe-se ao valor do capital ainda não realizado. (Dec. 3.708/1919 - art. 9Q

). Ela desa-

parece, tão logo se integralize o capital.

IH - O CTN, no inciso IH do art. 135, impõe responsabilidade, não ao sócio, mas ao gerente, diretor ou equivalente. Assim, sócio-ge­rente é responsável, não por ser sócio mas por haver exercido a gerência.

IV Quando o gerente abando­na a sociedade, sem honrar-lhe o débito fiscal, é responsável, não pelo simples atraso de pagamen­to. A ilicitude que o torna solidá­rio, é a dissolução irregular da pessoa jurídica.

V - A circunstância de a socie­dade estar em débito com obriga­ções fiscais não autoriza o Esta­do a recusar certidão negativa aos sócios da pessoa jurídica." (REsp n Q 86.439/ES - Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, in DJU de l Q .7.96).

Desse modo, à matroca de subs­tituição tributária, é ilegal atribuir­se a responsabilidade substitutiva (art. 135 - caput - CTN) para as pessoas físicas de seus diretores antes de determinados os atos de­correntes de excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos.

N o estuário da exposição, voto improvendo o recurso.

É o voto.

56 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

RECURSO ESPECIAL NQ 151.221 - RN

(Registro n Q 97.0072580-4)

Relator: O Sr. Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Fazenda Nacional

Recorrido: Instituto de Radiologia de Natal Ltda.

Advogados: Drs. Francisco Tadeu Barbosa de Alencar e outros, e Môni­ca Alves Feitosa e outros

EMENTA: IPI - Aparelhos médicos - Isenção - Decreto - Au­torização legal.

Havendo lei autorizativa, pode o Poder Executivo baixar de­creto relacionando bens sujeitos à isenção.

Interpreta-se literalmente a legislação tributária sobre outor­ga de isenção.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos a das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Demócri­to Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Impedido o Sr. Ministro José Del­gado.

Brasília, 12 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro GARCIA VIEIRA, Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA: A Fazenda Nacional interpõe Recurso Especial (fls. 85/94), arri­mada na Constituição Federal, art. 105, III, a, aduzindo que a impor­tação de aparelhos médicos não goza da isenção do IPI, conforme previsto na Lei n Q 8.191/91. Aponta contrariedade ao § 1 Q do artigo 1 Q da Lei n Q 8.191/91, arts. 1Q do De­creto n Q 151/91 e 97, VI do CTN.

Pede a denegação da segurança impetrada.

Sem contrariedade (Certidão de fls. 98).

Despacho de fls. 99 admitiu o re­curso.

Cuida-se de Mandado de Segu­rança, impetrado contra ato do Sr.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 57

Delegado da Receita Federal- RN, objetivando a liberação de equipa­mentos médicos, sem o pagamento do IPI.

Sentença de fls. 57/68 concedeu a segurança, sendo confirmada pelo v. acórdão (fls. 75/82).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA (Relator): Sr. Presidente: -Aponta a recorrente, como violados, os artigos 1 Q, § 1 Q da Lei n Q 8.191/91 e artigo 1 Q, caput, do Decreto n Q

151/91, versando sobre questões de­vidamente prequestionadas.

Conheço do recurso pela letra a.

O artigo 1 Q, caput, da Lei nQ 8.191/ 91, instituiu a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados -IPI, para "equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos novos, in­clusive os de automação industrial e de processamento de dados, im­portados ou de fabricação nacional, bem como os respectivos acessórios, sobressalentes e ferramentas, até 31 de março de 1993".

Como se vê, referido dispositivo legal não especifica quais os bens que farão jus ao benefício da isen­ção do IPI. Por isso, o legislador, no parágrafo 1 Q do citado dispositivo legal, autorizou ao Poder Executi­vo relacionar, por Decreto, estes bens. Diz o aludido parágrafo que:

"O Poder Executivo, ouvida a Comissão Empresarial de Com-

petitividade, relacionará, por decreto, os bens que farão jus ao benefício de que trata este arti­go".

Ora, se a própria lei instituidora da isenção, autorizou o Poder Exe­cutivo a baixar decreto relacionan­do os bens que farão jus à isenção; agiu, corretamente, o Poder Execu­tivo ao baixar o Decreto n Q 151, de 25/06/91, relacionando os bens com direito à isenção. Com isso, não se pode dizer que a isenção foi criada por Decreto. Foi ela instituída pela Lei n Q 8.191191, artigo 1 Q, caput, que autorizou o Poder Executivo a relacionar quais os bens que fariam jus a ela. Se o aparelho importado pela impetrante (fls. 19/22) não foi incluído na relação do Decreto n Q

151/91, não foi ele beneficiado pela isenção. A isenção é sempre decor­rente de lei (artigo 176 do CTN) e, no caso, ela foi concedida pela Lei n Q

8.191/91, em caráter geral, a equi­pamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos novos, conferindo ao Poder Executivo o poder de baixar decreto especificando os bens por ela beneficiados. Baixado o Decreto n Q 151/91, não foi incluído o apare­lho importado pela impetrante, não tendo ela direito à isenção por ela pleiteada, mesmo porque, interpre­ta-se literalmente a legislação tri­butária, sobre outorga de isenção (art. 111 do CTN).

Sustenta, a meu ver, com razão, a digna autoridade apontada como coatora, em suas informações (fls. 51153) que:

58 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

"O artigo 176 do Código Tribu­tário Nacional estabelece que a isenção decorre de lei que espe­cifique as condições e circunstân­cias para sua concessão e o arti­go 179 do mesmo mandamento legal determina que a isenção, quando não concedida em cará­ter geral, é efetivada, em cada ca­so, por despacho da autoridade administrativa.

O Mestre Aliomar Baleeiro, "Direito Tributário Brasileiro", editora Forense, pág. 596, comen­tando o artigo 179 do Código Tri­butário Brasileiro, diz:

"a cautela é obviamente ne­cessária porque, como já nota­mos, a isenção na atualidade não é favor nem privilégio, mas medida de política no in­teresse geral. A lei, por meio de incentivos fiscais, como a isenção ou redução, visa fo­mentar certas atividades que comportam riscos e, às vezes exigem investimentos vultosos de dinheiro e técnica ... ".

A Lei n Q 8.191/91, ao conceder isenção sobre Produtos Indus­trializados - IPI, condicionou o benefício de tal isenção à indica­ção do Poder Executivo, ouvida a Comissão Empresarial de Com­petitividade. Assim a referida lei autorizava o Poder Executivo a relacionar alguns ou todos os bens mencionados em seu art. 1 Q.

Por sua vez, o Decreto n Q 151/ 91, regulamentando o parágrafo 1Q

, do artigo 1Q, da Lei n Q 8.191/

91, ao arrolar os produtos alcan­çados pelo benefício, não incluiu o bem da impetrante.

Posteriormente, o parágrafo único, do artigo 1 Q da Lei n Q 8.643/ 93, proibiu o Poder Executivo de relacionar os bens constantes na Tabela anexa da mesma lei, como isentos.

Por outro lado, o CTN estabe­lece um seu art. 111, lI, que:

"Interpreta-se literalmente a legislação tributária que dis­ponha sobre:

II - outorga de isenção".

Da exegese literal das normas em foco, depreende-se que: "com exceção dos produtos elencados no parágrafo primeiro da Lei n Q

8.643/93, os quais não poderão ser objeto de isenção por ato do Poder Executivo, os demais pode­rão, ou não, ser beneficiados por ato desse mesmo Poder". Note-se que se pretendesse o legislador isentar todos os demais produtos não excepcionados pela lei supra­citada, o teria assim explicitado.

Assim, o fato de o produto em questão não figurar entre aque­les que não poderão ser objeto da isenção, não significa dizer, por interpretação extensiva, que o mesmo é isento do IPI. Mas, só o seria, se incluído estivesse entre aqueles beneficiados no ato do Poder Executivo.

Logo, a argumentação do Im­petrante de que os bens que não estão relacionados pela Lei n Q

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 59

8.643/93 são isentos por exclusão legal, é desprovida de qualquer lógica jurídica, por fechar os olhos ao entendimento correto da lei, qual sej a: o de que o parágrafo único do artigo 1 Q, da Lei n Q 8.643/

93, constitui uma mera exceção ao artigo 1Q da Lei n Q 8.191191, proibindo o Poder Executivo de relacionar como isentos os produ­tos ali elencados." (fls. 51153)

Dou provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL NQ 156.839 - SP (Registro n Q 97.0085930-4)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado Recorrente: Fazenda Nacional Recorridos: Serv Med Serviços Médicos S/A Ltda. e outro Advogados: Drs. Elyadir Ferreira Borges e outros, e 10n Plens Junior e

outros

EMENTA: Tributário. Cofins. Isenção. Sociedades civis presta­doras de serviços médicos. 1. A Lei Complementar n. 70/91, de 30.12.1991, em seu art. 62, lI, isentou, expressamente, da contribuição do Cofins, as sociedades civis de que trata o artigo 12 do Decreto-Lei n. 2.397, de 22.12.1987, sem exigir qualquer outra condição senão as decorrentes da na­tureza jurídica das mencionadas entidades. 2. Em conseqüência da mensagem concessiva de isenção contida no art. 62 , n, da LC n. 70/91, fixa-se o entendimento de que a inter­pretação do referido comando posto em Lei Complementar, con­seqüentemente, com potencialidade hierárquica em patamar su­perior à legislação ordinária, revela que será abrangida pela isen­ção do Cofins as sociedades civis que, cumulativamente, apresen­tem os seguintes requisitos:

- seja sociedade constituída exclusivamente por pessoas fí­sicas domiciliadas no Brasil; - tenha por objetivo a prestação de serviços profissionais re­lativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada; e - esteja registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

3. Outra condição não foi considerada pela Lei Complementar, no seu art. 62, n, para o gozo da isenção, especialmente, o tipo de regime tributário adotado para fins de incidência ou não de Im­posto de Renda.

60 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

4. Posto tal panorama, não há suporte jurídico para se acolher 'a tese da Fazenda Nacional de que há, também, ao lado dos requisi­tos acima elencados, um último, o do tipo de regime tributário adotado pela sociedade. A Lei Complementar não faz tal exigên­cia, pelo que não cabe ao intérprete criá-la.

5. É irrelevante o fato das recorridas terem optado pela tributa­ção dos seus resultados com base no lucro presumido, conforme lhe permite o artigo 71 da Lei n. 8.383/91 e os artigos 12 e 22 da Lei n. 8.541/92. Essa opção terá reflexos para fins de pagamento do Imposto de Renda. Não afeta, porém, a isenção concedida pelo artigo 62, 11, da Lei Complementar n. 70/91, haja vista que esta, repita-se, não colocou como pressuposto para o gozo da isenção o tipo de regime tributário seguido pela sociedade civil.

6. Recurso especial improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira e De­mócrito Reinaldo.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília, 03 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro JOSÉ DELGADO, Pre­sidente e Relator.

Publicado no DJ de 27 -04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: A Fazenda Nacional, via pre-

sente recurso especial, pretende modificar acórdão assentado nos fundamentos postos, de maneira resumida, na ementa de fls. 142, cujo teor transcrevo (fls. 142):

"Processual Civil- Embargos de declaração - Omissão - Cons­titucional e Tributário - Socie­dades civis de prestação de servi.­ços profissionais - Isenção da Cofins (LC 70/91, art. 6~ lI).

1. Divorciando-se o acórdão do objeto do pedido, acolhem-se em­bargos de declaração para, su­prindo-se a omissão, examinar-se a apelação da impetrante.

2. As sociedades civis de presta­ção de serviços profissionais be­neficiam-se da isenção do recolhi­mento da Cofins (LC 70/91, art. 6º, lI) pouco importando o regi­me de tributação do imposto de renda a que se submetam.

3. Orientação administrativa vio­ladora dos arts. 111 do CTN, por-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 61

que não interpreta literalmente a regra do art. 6Q

, inciso n, da LC 70/91 e 150, n, da Constituição Federal, uma vez que nadajusti­fica que contribuintes que se en­contram em situação equivalen­te sejam tratados desigualmen­te, apenas e tão-somente à consi­deração da forma pela qual opta­ram pela tributação do imposto de renda.

4. Precedentes.

5. Embargos de declaração aco­lhidos. Apelação provida para conceder-se a segurança".

Alega a recorrente que a decisão supra contrariou os arts. 6 Q

, n, da Lei Complementar n. 70/91, 1Q do D. L. n. 2.397/87, e 176 do C.T.N., em face de desenvolver entendi­mento no sentido de que (fls. 152/ 155):

"A Lei Complementar 70/91, no artigo 6Q

, disciplina que:

São isentas da contribuição:

n -As sociedades civis de que trata o artigo 1 Q do Decreto-Lei n Q 2.397, de 21.12.1987".

Por seu turno, o artigo 1 Q do De­creto-Lei n Q 2.397, de 21.12.1987, dispõe que:

"A partir do exercício financei­ro de 1989, não incidirá o Im­posto de Renda das pessoas ju­rídicas sobre o lucro apurado, no encerramento de cada pe­ríodo-base, pelas Sociedades Civis de Prestações de Serviços

profissionais relativos ao exer­cício de profissão legalmente regulamentada, registradas no registro civil das pessoas jurí­dicas e constituídas exclusiva­mente por pessoas físicas do­miciliadas no país".

Portanto, o escopo visado pela Lei Complementar 70/91 não foi o de isentar todas as sociedades civis das exações, porém, isentar as so­ciedades cuja tributação recaís­se nas pessoas físicas de seus só­cios com base no lucro apurado, como se depreende da leitura do art. 1Q do Decreto-Lei 2.397/87.

Ocorre que esse não é o caso da Autora, que optou pelo regime do lucro presumido, em que a tribu­tação se dá na pessoa jurídica da empresa, situação essa totalmen­te diversa da preconizada no dis­positivo legal supramencionado condicionante da concessão do be­nefício isencional.

Estas razões de política econômi­ca que levaram a condicionar-se a isenção concedida refoge ao controle do Judiciário, em razão do princípio da reserva legal.

É regra expressa do CTN, outros­sim que:

"Art. 97. Somente a lei pode es­tabelecer:

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de crédi­tos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades". (g.n.).

62 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

"Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições e re­quisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração". (g.n.).

Portanto, a fonte normativa da isenção é em caráter fundamen­tal a lei, como insinuado acima, (na esteira da doutrina)".

A parte recorrida apresentou con­tra-r.azões assentadas, essencial­mente, no que passo a transcrever (fls. 173):

"Ocorre que, na verdade, o v. acórdão se ateve aos estritos li­mites do art. 6Q da Lei Comple­mentar n Q 70/91 e do art. 1 Q do Decreto-Lei n Q 2.397/87, aplican­do tais dispositivos segundo in­terpretação literal determinada no CTN - art. 111.

Ora, o que se verifica no conteú­do de tal decisão é a ocorrência de interpretação para uma clara aplicação da lei, visando a sub­sunção ao caso concreto, já que, sem outras considerações a Lei Complementar n Q 70/91, em seu art. 6Q

, determina a isenção da chamada Cofins para as socieda­des civis de que trata o mencio­nado Decreto-Lei, no seu art. 1 Q,

isenção esta reconhecida, desta forma, pelo v. acórdão.

Esta decisão, em que a lei foi efe­tivamente aplicada, guarda solu­ção absolutamente diferente da

violação ou negativa de vigência alegados pela recorrente, pois, na verdade, aplicou a lei em seus es­tritos termos.

Se, no entanto, a interpretação legal contida no v. acórdão, não é que a recorrente deseja, isto não é suficiente para ensej ar a via es­pecial, pois, para este caso, não fossem suficientes os motivos aci­ma, é impeditivo à admissibilida­de do recurso o conceito estabe­lecido na Súmula 400 do STF:

"Decisão que deu razoável in­terpretação à lei, ainda que não seja a melhor, não autori­za recurso extraordinário pela letra a do artigo 101, lII, da CF".

Ainda quanto à alegada violação ao artigo 176 do CTN, é de se con­cluir que o v. acórdão fustigado está fundamentado em dispositi­vos legais diversos deste, que não tendo sido citado expressamente, não foi sequer ventilado, nem ao menos foi discutida tese que pos­sa ser nele embasada, inocorren­do o prequestionamento no cor­po do v. acórdão".

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): O recurso especial merece ser conhecido. Os dispositi­vos legais apontados como violados foram amplamente prequestionados

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 63

no acórdão recorrido e, de forma au­tônoma, estão vinculados à decisão.

Passo ao exame do mérito.

De início, registre-se que a Lei Complementar n. 70/91, em seu ar­tigo 6Q

, dispõe expressamente:

"São isentas da contribuição:

L ................................................. .

II - As sociedades civis de que trata o artigo 1 Q do Decreto-Lei n. 2.397, de 21.12.1987."

o artigo 1 Q, do Decreto-Lei n. 2.397, de 21.12.1987, acima referi­do, tem a seguinte redação:

"A partir do exercício financeiro de 1989, não incidirá o Imposto de Renda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encer­ramento de cada período-base, pelas Sociedades Civis de Pres­tações de Serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada, regis­tradas no registro civil das pes­soas jurídicas e constituídas ex­clusivamente por pessoas físicas domiciliadas no país."

A recorrida, por ser uma socieda­de civil de prestação de serviços pro­fissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamenta­da (médicos), registrada no registro civil de pessoas jurídicas e consti­tuída exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País, enten­de que, independentemente, do seu regime tributário, goza do direito à referida isenção.

o contrário entende a recorren­te. Para esta, além dos requisitos acima anunciados, necessita, tam­bém, que a sociedade civil utilize o regime tributário previsto pelo pró­prio art. 1 Q, do Decreto-Lei n. 2.397/ 87, no caso, o do lucro apurado, para fins de Imposto de Renda.

Convém, para se realizar seguro confronto entre as teses divergentes das partes, que se volte .a reexami­nar os termos do art. 1 Q, do Decreto­Lei n. 2.397/87 e, conseqüentemen­te, a extensão dos seus efeitos.

Afirma o referido dispositivo le­gal que a partir do exercício finan­ceiro de 1989, não incidirá o impos­to de renda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encerra­mento de cada período-base, em se tratando de sociedades civis de pres­tações de serviços profissionais .....

O entendimento expelido pela mensagem contida no texto da lei é o de que não haverá incidência do imposto de renda sobre lucro apu­rado, isto é, mesmo que a sociedade civil apure, em sua escrita fiscal, lucro decorrente das suas ativida­des de prestação de serviço, não in­cide imposto de renda, isto é, está isenta do pagamento do referido tri­buto. Não tem, assim, qualquer re­lacionamento com a Cofins.

Volto-me, agora, para o conteúdo do art. 6Q

, lI, da Lei Complementar n. 70, de 30.12.1991, com a dicção seguinte:

"São isentas da contribuição:

L ................................................. .

64 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

II - As sociedades civis de que trata o artigo 1 Q do Decreto-Lei n. 2.397, de 21.12.1987."

A proposição da Lei é isentar, conforme está expressamente con­signado em seus termos, as socie­dades civis de que trata o dispositi­vo legal mencionado, ou seja, as so­ciedades civis que prestam ativida­des de prestação de serviços profis­sionais relativos ao exercício de pro­fissão legalmente regulamentada.

A Lei Complementar, em nenhum momento, condicionou a isenção ao regime de tributação adotado pela sociedade civil, para fins de Impos­to de Renda.

A interpretação do referido co­mando posto em Lei Complementar, conseqüentemente, com potenciali­dade hierárquica em patamar supe­rior à legislação ordinária, revela que serão abrangidas pela isenção da Cofins as sociedades civis que, cumulativamente, apresentem os seguintes requisitos:

- seja sociedade constituída ex­clusivamente por pessoas físicas domiciliadas no Brasil;

- tenha por objetivo a prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legal­mente regulamentada; e

- esteja registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

Outra condição não foi conside­rada pela Lei Complementar, no seu art. 6Q

, lI, para o gozo da isenção.

Posto tal panorama, não há su­porte jurídico para se acolher a tese

da recorrente de que há, também, ao lado dos requisitos acima elen­cados, um último, o do tipo de regi­me tributário adotado pela socieda­de. A Lei Complementar não faz tal exigência, pelo que não cabe ao in­térprete criá-la.

É irrelevante o fato das recorri­das terem optado pela tributação dos seus resultados com base no lu­cro presumido, conforme lhes per­mite o artigo 71 da Lei n. 8.383/91 e os artigos 1 Q e 2Q da Lei n. 8.541/ 92. Essa opção terá reflexos para fins de pagamento do Imposto de Renda. Não afeta, porém, a isenção concedida pelo artigo 6Q

, lI, da Lei Complementar n. 70/91, haja vista que esta, repita-se, não colocou co­mo pressuposto para o gozo da isen­ção o tipo de regime tributário se­guido pela sociedade civil.

Há, também, de se considerar que a isenção aqui tratada é a de natureza subjetiva ou pessoal. Ela toma como elemento essencial para produzir efeitos o aspecto pessoal do contribuinte, isto é, a sua natureza jurídica, sem qualquer vinculação, portanto, com o regime tributário a que se encontra subordinado.

Torna-se oportuno destacar, na oportunidade, os termos do voto condutor do acórdão proferido na Apelação em Mandado de Seguran­ça n. 53.519-PE, pelo eminente Juiz Geraldo Apoliano, anexado aos au­tos às fls. 125/126, onde enfrentou a questão com os fundamentos se­guintes:

':A impetrante pretende lhe seja reconhecido o direito de não re-

R. Sup. Trib. Just., Brasllia, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 65

colher a Cofins, com base no art. 69 , n, da Lei Complementar n 9

70, de 30/12/91. Porém, a Recei­ta Federal entende que, no mo­mento que a sociedade civil, por força da Lei n 9 8.541/92, optou pela tributação com base no lu­cro real ou presumido, descarac­terizada ficou a situação para a isenção da Cofins, vez que a tri­butação passou da pessoa física dos sócios para ser exercida so­bre o lucro real ou presumido, tornando-a também, obrigada ao recolhimento da Cofins.

A LC nº 70/91 declara literalmen­te isentas da contribuição as so­ciedades civis de que trata o DL n 9 2.397, de 21/12/87 e, em ne­nhum momento, vinculou a isen­ção à forma de tributação daque­las sociedades pelo imposto de renda.

O que ocorre é que a contribui­ção para financiamento da segu­ridade social (Cofins), nada tem a ver com o imposto sobre a ren­da. É contribuição sobre o fatu­ramento, e não sobre o lucro. É devida por qualquer pessoa jurí­dica que não tenha faturamento, ainda que tenha lucro.

Conforme ensinamento do emi­nente tributarista Hugo de Brito Machado, na obra Curso de Di­reito Tributário, 8ª ed., Ed. Fo­rense,RJ, 1993,pág. 151:

"A isenção instituída pelo art. 69 , n, da LC n Q 70/91, não é de­corrente do regime de tributa­ção dos rendimentos das socie­dades de profissionais, embo-

ra tenha os mesmos funda­mentos pré-jurídicos da isen­ção do IR concedida àquelas sociedades".

Verifica-se, portanto, acolhendo entendimento do douto Parquet federal, que a opção deferida con­soante a Lei n Q 8.541/92 pela tri­butação do Imposto de Renda so­bre o lucro presumido, não des­caracteriza em nenhum momen­to a isenção concedida pelo art. 6Q

, lI, da LC n Q 70/91, por consti­tuírem dois impostos com regi­mes jurídicos próprios.

Teria fundamento o argumento da impetrada se a norma isentiva da Cofins tivesse dito que estão isentas da contribuição as pessoas jurídicas que adotarem o regime tributário instituído pelo DL n Q

2.397/87, o que efetivamente não ocorreu. In casu, conclui-se que o exercício do direito de optar por uma outra forma de tributação não retira da impetrada o direito à isenção da Cofins.

Isto posto, confirmo a sentença do MM. juiz singular, negando pro­vimento à apelação e à remessa oficial.

É como voto".

Ressalte-se, por último, que o Pri­meiro Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, ao examinar o processo de n. 10860.000.406/93-71, colheu, à unanimidade, a tese exposta nesta decisão, acompa­nhando voto do Conselheiro Nelson Mallmann, Relator, anexado aos au­tos às fls. 132/134, com as razões que transcrevo:

66 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

"Discute-se nos presentes autos a procedência da incidência da Contribuição para Financiamen­to da Seguridade Social- Cofins, para as sociedades civis de pres­tação de serviços profissionais relativo ao exercício de profissão legalmente regulamentada quan­do exercerem opção pela tributa­ção do imposto de renda com base no lucro presumido.

Diz o Decreto-Lei n 9 2.397, de 21 de dezembro de 1987:

"Art. 19 - A partir do exercí­cio financeiro de 1989, não in­cidirá o imposto de renda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encerramento de cada período-base, pelas socie­dades civis de prestação de ser­viços profissionais relativos ao exercício de profissão legal­mente regulamentada, regis­tradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e constituí­das exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País".

Diz a Lei Complementar n 9 70, de 30 de dezembro de 1991:

"Art. 69 - São isentas da con­tribuição:

I- ........................................ ..

II - as sociedades civis de que trata o art. 19 do Decreto-Lei n 9 2.397, de 21 de dezembro de 1987".

Diz a IN RF n 9 21, de 26 de feve­reiro de 1992:

"Art. 39 - Poderão optar pela tributação com base no lucro presumido, a partir de 19 deja­neiro de 1992, as pessoas jurí­dicas constituídas exclusiva­mente por pessoas físicas do­miciliadas no País, inclusive as sociedades civis de prestação de serviços profissionais rela­tivos ao exercício de profissão legalmente regulamentada e as empresas rurais, desde que:

Diz a Lei n 9 8.541, de 23 de de­zembro de 1992:

"Art. 19 - A partir do mês de janeiro de 1993, o imposto so­bre a renda e adicional das pessoas jurídicas, inclusive das equiparadas, das sociedades civis em geral, das sociedades cooperativas, em relação aos resultados obtidos em suas operações ou atividades estra­nhas a sua finalidade, nos ter­mos da legislação em vigor, e, por opção, o das sociedades ci­vis de prestação de serviços relativos às profissões regula­mentadas, será devido mensal­mente, à medida em que os lu­cros forem auferidos.

Art. 29 - A base de cálculo do imposto será o lucro real, pre­sumido ou arbitrado, apurado mensalmente, convertida em quantidade de Unidade Fiscal de Referência - UFIR (Lei n 9

8.383, de 30 de dezembro de 1991, art. 1 Q) diária pelo valor desta no último dia do perío­do-base".

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 67

Evidentemente se o contribuinte não estivesse enquadrado como sociedade civil de prestação de serviços relativos à profissão le­galmente regulamentada não ca­beria, sem margem de dúvida, a restituição do valor recolhido a título de Contribuição para o Fi­nanciamento da Seguridade So­cial - Cofins, porém, não é isto que se constata nos autos.

Entendo que a isenção da Contri­buição para o Financiamento da Seguridade Social- Cofins, pre­vista na Lei Complementar nº 70/ 91, art. 6º, inciso II, somente será aplicável às sociedades civis de prestação de serviços profissio­nais relativos ao exercício de pro­fissão legalmente regulamenta­da, registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e constitu­ídas exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País, sen­do que a natureza de suas ativi­dades e dos serviços prestados deve ser exclusivamente civil; e todos os sócios devem estar em condições legais de exercer a pro­fissão regulamentada para a qual

estiverem habilitados, ainda que diferentes entre si, desde que ca­da um desempenhe as atividades ou prestem os serviços privativos de suas profissões e esses objeti­vos estejam expressos no contra­to social e cujas receitas da socie­dade devem provir da retribuição ao trabalho profissional dos só­cios ou empregados igualmente qualificados. Sendo a forma de tributação do imposto de renda destas sociedades irrelevantes (lucro real, presumido ou arbitra­do), pois a isenção concedida pela lei, anteriormente citada, é para a sociedade civil, acima descrita, e não para o rendimento.

Diante do exposto, voto no senti­do de dar provimento ao recurso, para deferir o pedido de restitui­ção da Contribuição para Finan­ciamento da Seguridade Social­Cofins, nos termos do pedido".

Postas tais considerações, nego provimento ao recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL Nº 159.021 - MA

(Registro nº 97.0091086-5)

68

Relator: O Sr. Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Estado do Maranhão Recorrido: Ministério Público Federal Advogados: Drs. Ana Maria Dias Vieira e outros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

EMENTA: Ministério Público - Patrimônio público - Legitimi­dade - Ação civil pública - Sistema Único de Saúde.

O campo de atuação do Ministério Público foi ampliado pela Constituição de 1988, conferindo-lhe legitimidade para propor ação civil pública, visando a proteger o patrimônio público e so­cial, o meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos.

Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, vencido o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.

Brasília, 11 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro GARCIA VIEIRA, Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA: O Estado do Maranhão inter­põe recurso especial (fls. 74176), ar­rimado na Constituição Federal, artigo 105, inciso IH, alínea c, adu­zindo ser o Ministério Público Fe­deral parte ilegítima para propor ação civil pública, visando o ressar­cimento de danos ao erário público decorrentes de contratação de enti-

dade hospitalar privada sem a ob­servância de processo licitatório. Aponta divergência jurisprudencial.

Pede provimento para declarar extinto o processo sem julgamento do mérito.

Contra-razões (fls. 78/81).

Despacho (fls. 93) admitiu o re­curso.

Trata-se de agravo de instrumen­to interposto contra decisão que en­tendeu ter o Ministério Público Fe­derallegitimidade para propor ação que tem por objeto a anulação de contrato celebrado para prestação de serviços do Sistema Único de Saúde- SUS.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO GARCIA VIEI­RA (Relator): Sr. Presidente: - Com­provada a divergência, conheço do recurso pela letra c.

Compete ao Ministério Público promover a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (Cons­tituição Federal, artigo 129, inciso IH). O artigo 1 º, inciso IV da Lei nº

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 69

7.347/85 que foi recepcionada pela vigente Constituição Federal estabe­lece que se regem pela Lei da ação civil pública, sem prejuízo da ação po­pular, as ações de responsabilidade por danos patrimoniais causados a interesses difusos ou coletivos e, no caso concreto, estamos diante de interesses difusos ou coletivos. A questão já é conhecida desta Egré­gia Corte, bastando lembrar os Re­cursos Especiais n illi 98.648-MG, DJ de 28/04/97, relator Ministro José Arnaldo, 67.148-SP, DJ de 04/12/95, relator Ministro Adhemar Maciel e 31.547-9-SP, nos quais se firmou o entendimento no sentido de que o campo de atuação do Ministério Público foi ampliado pela Consti­tuição de 1988, conferindo-lhe le­gitimidade para propor ação civil pública visando a proteger o patri­mônio público e social, o meio am­biente e outros interesses difusos e coletivos.

N o caso concreto o Ministério PÚ­blico propõe a ação civil pública em defesa do patrimônio público e so­cial, visando apenas irregularida­des na administração e funciona­mento do Sistema Único de Saúde no Estado do Maranhão e verificar a situação do sistema de saúde e sua operacionalização, a contratação de diversos estabelecimentos hospita­lares para a prestação de serviços de saúde, sem licitação. Com isso está sendo defendido interesse co­letivo e difuso de todos os que se utilizam deste Sistema Único de Saúde, estando legitimado o Minis­tério Público.

N ego provimento ao recurso.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Sr. Presidente, data venia, fico vencido.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 159.036 - DF

(Registro nº 97.0091101-2)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB

Recorrida: Maria Avelina da Costa

Advogados: Drs. Arnaldo Lourenço Vilhena e outros, e Sebastião Sa­turnino de lVIoura e outros

EMENTA: Tributário - Imposto de renda - Demissão incenti­vada - Conceito jurídico do pagamento recebido pelo empregado despedido - Não incidêncifl do tributo.

70 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

- A "demissão incentivada" resulta de compra e venda, em que o operário aliena de seu patrimônio o bem da vida constituído pela relação de emprego, recebendo, como preço, valor corresponden­te ao desfalque sofrido. Tal preço não é fato gerador de imposto sobre renda ou provento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por maioria, vencido o Sr. Mi­nistro Milton Luiz Pereira, negar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros José Delgado, Garcia Viei­ra e Demócrito Reinaldo.

Brasília, 05 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente. Ministro HUM­BERTO GOMES DE BARROS, Re­lator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Discute-se a incidência de imposto sobre renda ou proventos no pagamento feito pelo patrão ao ex-empregado, por efeito de demissão incentivada.

O V. Acórdão recorrido proclama a não incidência do tributo. (fls. 162)

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Es­te recurso traz ao exame da Corte Superior do Brasil, um novo insti­tuto, gerado em meio à crise da era pós-industrial: a demissão incenti­vada.

A revolução capitalista desenvol­veu-se em torno do conflito entre os donos do dinheiro e o proletariado - aqueles que nada tinham, senão a prole.

Os atritos produziram, como sín­tese, uma nova disciplina: o direito do trabalho - conseqüência de aper­feiçoamentos e desdobramentos, ope­rados a partir da antiga locação de serviços.

O Direito do Trabalho, inspirado pelo imperativo de proteger o mais fraco, efetivou o vínculo contratual, incorporando-o, como bem da vida, ao patrimônio empregado.

O contrato de trabalho transfor­mou o antigo proletário em empre­gado - alguém que já possui algo mais que a miserável prole.

A cibernética, com a robótica (seu corolário), tornou desnecessária a manutenção de operários, em gran­de número. Em compensação, am­pliou as oportunidades de prestação autônoma de serviços.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 71

As empresas passaram a depen­der, cada vez menos, do trabalho hu­mano.

O pós-capitalismo tornou supér­fluo o homem, mas não derrogou o capitalismo. O lucro continua a ser o escopo fundamental da empresa.

Surgiu nova preocupação, funda­mental para a sobrevivência da em­presa: o enxugamento da folha de salários. Vale dizer: a diminuição do número de empregados.

Persiste, entretanto, uma dificul­dade: o sindicato, a proteger o tra­balhador, contra despedidas espolia­doras.

Para contorná-la, concebeu-se um artifício: a "despedida incentivada".

Este modo de romper o vínculo empregatício consiste em induzir, oferecendo compensações, o pedido de dispensa, pelo empregado.

O patrão se dirige ao operário e lhe propõe:

- Você aceita trocar o empre­go, por dinheiro, em quantidade suficiente para o estabelecimen­to de seu próprio negócio?

Feitas as contas e acertado o va­lor do pagamento, consuma-se o ne­gócio: o patrão recebe o pedido, dis­pensa o empregado, pagando-lhe a compensação.

Todos ficam satisfeitos. De um lado, o patrão consegue enxugar a folha de salários, sem enfrentar o sindicato; de sua parte, o ex-operá­rio perde o emprego, mas dispõe do capital necessário ao começo de uma vida nova.

A despedida incentivada foi rece­bida com grande simpatia. O Esta­do brasileiro a utiliza constante­mente.

Pergunta-se, agora: qual a natu­reza jurídica do instituto?

Sem dúvida, ele resulta de tran­sação, com o escopo de obviar litígios.

Substancialmente, nele se envol­ve uma permuta: troca-se seguran­ça por esperança.

Sob o enfoque jurídico, o negócio confunde-se com o velho contrato de compra e venda, no qual, um bem da vida é trocado por seu valor em dinheiro.

Um exame superficial pode con­duzir o observador a enxergar no pa­gamento feito pelo empregador, uma indenização.

Semelhante impressão é falsa. Indenização é o pagamento que se faz a alguém, cujo patrimônio, con­tra sua vontade, foi lesado.

N a despedida incentivada, o pa­gamento corresponde ao valor de um bem alienado mediante consen­timento. Ajusta-se, pois, ao concei­to de preço.

O preço acarreta metamorfose patrimonial: o emprego, bem da vi­da que integrava o patrimônio do trabalhador, transmuda-se em di­nheiro.

Em tese, a transformação não re­sulta em acréscimo ou diminuição patrimonial.

Se assim ocorre, indaga-se: a compensação pelo desemprego in­centivado é fato gerador de impos­to sobre a renda?

72 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.

A resposta há que ser negativa.

Com efeito, a teor do CTN (art. 43), o imposto é gerado pela aquisi­ção de:

1. renda (produto do capital ou do trabalho);

2. proventos (qualquer outro acrés­cimo patrimonial).

A compensação pelo desemprego não é produto do capital, nem do trabalho. Tampouco, pode ser enca­rada como provento, já que não acarreta acréscimo patrimonial.

Se assim ocorre, não há como con­siderá-la fato gerador de imposto sobre a renda.

O tema já é nosso conhecido.

No julgamento do REsp 57.319, o Ministro Garcia Vieira conduziu esta Turma - então formada pelos Ministros Demócrito Reinaldo, Cesar Rocha e por mim - ao Acór­dão unânime de que

"A importância paga ao servi­dor público como incentivo à de­missão voluntária não está sujei­ta à incidência do imposto de ren­da, porque não é renda e nem re­presenta acréscimo patrimonial."

Esta proposição, ao tempo em que mantém fidelidade aos institutos ju-

rídicos, obedece ao preceito contido no art. 5Q da Lei de Introdução ao Código Civil.

Com efeito, o pagamento corres­pondente à demissão tem como es­copo recompor a vida do ex-empre­gado. Ele se traduz em valor subs­tancial. Se o imposto incidisse so­bre ele, certamente haveria de atin­gir a mais elevada das alíquotas.

Imagine-se o trabalhador que re­nuncia à segurança do emprego, na esperança de adquirir um automó­vel que utilizará como táxi.

Imagine-se que a compensação acertada corresponda, justamente, ao preço de um carro popular.

Como ficaria este homem, ao sa­ber que não lhe será possível adqui­rir o novo instrumento de trabalho, porque o Estado lhe tomou a quar­ta parte de seu patrimônio?

A despedida incentivada foi con­cebida para manter o empregado no mesmo nível econômico em que se encontrava - não para levá-lo à rua da amargura.

N ego provimento ao recurso.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Senhores Ministros, da­ta venia, fico vencido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 73

JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA NQ 7.823 - RS

(Registro nQ 96.0068132-5)

Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Curtinaz e Sousa Ltda.

Advogados: Drs. Adriane Medianeira Toaldo e outros

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Impetrado: Secretário da Saúde e do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul

Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul

Advogados: Drs. Rodolfo Luiz Rodrigues Corrêa e outros

EMENTA: Processual Civil. Princípio da fungibilidade recur­sal. Mandado de segurança originário de Tribunal de Justiça. Pe­tição inicial indeferida pelo Relator. Interposição de apelação. Recurso cabível: Agravo regimental. Recebimento da apelação como recurso ordinário: impossibilidade. Precedentes do STJ. Re­curso não conhecido.

I - Embora não esteja inserto em nenhum dos dispositivos do Código de Processo Civil em vigor, o princípio da fungibilidade ainda rege o sistema recursal pátrio. É que o art. 579 do CPP pode ser aplicado por analogia (art. 126 do CPC). No entanto, o princí­pio da fungibilidade recursal não pode ser aplicado indistinta­mente, como se fosse panacéia, sob pena de subversão do sistema recursal pátrio. Por se tratar de um princípio técnico-jurídico, só pode ser invocado quando estiverem satisfeitos os requisitos fi­xados pela doutrina e pela jurisprudência à luz do revogado art. 810 do CPC de 1939 e do art. 579 do CPP. O princípio da fungibili­dade recursal só tem aplicação quando o recorrente não comete erro grosseiro. Para que o equívoco na interposição de recurso seja escusável, é necessário que haja dúvida objetiva, ou seja, di­vergência atual na doutrina ou na jurisprudência acerca de qual

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o recurso cabível. Se, ao contrário, não existe discrepância ou já está ultrapassado o dissenso entre os comentadores e também entre os tribunais sobre o recurso adequado, não há que se invo­car o princípio da fungibilidade recursal. Precedentes do STJ: REsp n. 117.429IMG, REsp n. 130.070/SP e Ag n. 126.734/SP - AgRg.

II - Cabe agravo regimental contra decisão singular proferida por magistrado de tribunal que indefere petição inicial de man­dado de segurança. Precedentes do STJ: RMS n. 6.740/RJ e RMS n. 5.743/RJ. Aplicação, por analogia, do art. 39 da Lei n. 8.038/90.

III - O recurso ordinário em mandado de segurança só serve para impugnar acórdão. Inteligência do art. 105, lI, b, da CF/88, e do art. 539, lI, a, do CPC. Precedentes do STJ: Ag n. 109.297/SP -AgRg e RMS n. 5.743/RJ.

IV - O princípio da fungibilidade não pode ser aplicado quando o recorrente interpõe apelação ao invés de recurso ordinário em mandado de segurança. Precedentes do STJ: RMS n. l.046/SP, RMS n. 5.600IRS, RMS n. 6.754/RS e RMS ll. 8.038/ES.

V - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Turma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro­relator, na forma do relatório e no­tas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte in­tegrante do presente julgado. Vota­ram de acordo os Srs. Ministros Ari Pargendler, Hélio Mosimann e Pe­çanha Martins.

Custas, como de lei. Brasília, 19 de fevereiro de 1998

(data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Curtinaz & Sousa Ltda. impetrou mandado de segurança contra ato do Secretário da Saúde e do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul, consubstanciado na determinação da publicação de de­claração de suspensão da participa­ção da empresa-impetrante em lici­tação pública pelo prazo de 2 anos. Requereu a concessão do writ para o fim de cancelar a referida decla­ração de suspensão.

A autoridade apontada como coa­tora apresentou suas informações.

Posteriormente, o eminente De­sembargador Horácio Vizzotto inde­feriu a petição inicial, extinguindo, por conseqüência, o processo, ao fundamento de que "a versão das

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partes é controvertida e, por isso, está a exigir dilação probatória, o que é inviável nos limites estreitos da ação mandamental" (fl. 61).

Inconformada, Curtinaz & Sousa Ltda. interpôs "recurso de apelação" (fl. 64), "com base no art. 515 do CPC" (fl. 66).

Posteriormente, o 1 º Grupo de Câmaras Cíveis do TJRS, por maio­ria de votos, recebeu a apelação como recurso ordinário. O acórdão restou assim ementado:

"Agravo Regimental.

Fungibilidade Recursal.

Incabível que é agravo regimen­tal em decisão proferida em man­dado de segurança por Relator, aplicável é o princípio da fungi­bilidade recursal, admitindo-se como recurso ordinário.

Votos vencidos" (fl. 12 do 2º volu­me dos autos).

O Estado do Rio Grande do Sul apresentou contra-razões.

O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul opinou pelo improvimento do recurso.

O recurso foi admitido na origem.

Apoiando-se em precedentes des­ta Corte, o ilustre Subprocurador­Geral da República Moacir Guima­rães Morais Filho opinou pelo não­conhecimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Senhor Presi-

dente, não conheço do recurso inter­posto pela empresa-impetrante pe­los motivos que se seguem.

Apoiando-se no art. 515 do CPC, a impetrante interpôs recurso de apelação (cf. fls. 64 e 66) contra a decisão singular indeferitória da petição inicial proferida pelo desem­bargador-relator.

O T JRS recebeu o recurso de ape­lação como recurso ordinário em mandado de segurança, tendo em vista o princípio da fungibilidade recursal.

Senhor Presidente, tenho defen­dido (cf. REsp n. 117.429/MG, 2ª Turma, unânime, publicado no DJU de 09/06/97) que, "embora não este­ja inserto em nenhum dos disposi­tivos do Código de Processo Civil em vigor, o princípio da fungibilidade ainda rege o sistema recursal pátrio". É que, como bem ensina o eminen­te Professor José Carlos Barbo­sa Moreira (Comentários ao Códi­go de Processo Civil, voI. V, 8ª ed., 1998, págs. 248/249), o art. 579 do CPP pode ser aplicado por analogia (cf. art. 126 do CPC).

No entanto, o princípio da fungi­bilidade recursal não pode ser apli­cado indistintamente, como se fos­se panacéia, sob pena de subversão do sistema recursal traçado pelo constituinte de 1987/88, e pelos par­lamentares que aprovaram o Códi­go de Processo Civil de 1973.

Além disso, por ser um princípio técnico-jurídico do sistema recursal brasileiro, só pode ser aplicado quando estiverem satisfeitas as exi­gências estabelecidas pela doutrina

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e pela jurisprudência à luz do revo­gado art. 810 do CPC de 1939 e do art. 579 do CPP. Os requisitos para a aplicação do princípio da fungibi­lidade recursal foram consubstan­ciados na conclusão n. 55 do VI En­contro Nacional de Tribunais de AI­çada, in verbis:

"Admite-se a fungibilidade dos recursos desde que inocorrente o erro grosseiro. Inexiste este quan­do há acentuada divergência dou­trinária-jurisprudencial sobre qual seria o recurso próprio".

Realmente, o princípio da fungi­bilidade recursal só tem aplicação quando o recorrente não comete erro grosseiro. Para que o equívoco na interposição de recurso seja es­cusável, é necessário que haja dú­vida objetiva, ou seja, divergência atual na doutrina ou na jurispru­dência acerca do recurso cabível. Se, ao contrário, não existe dissonância ou já está ultrapassado o dissenso entre os comentadores e também entre tribunais sobre o recurso ade­quado, não há que se invocar o prin­cípio da fungibilidade recursal (cf. REsp n. 117.429/MG, 2ª Turma do ST J, unânime, relator Ministro Adhe­mar Maciel, publicado no DJU de 09/06/97; e REsp n. 130.070/SP, 2ª Turma do STJ, unânime, relator Mi­nistro Adhemar Maciel, publicado no DJU de 08/09/97).

O eminente Ministro e Professor Sálvio de Figueiredo Teixeira tam­bém já firmou que "não se admite o princípio da fungibilidade recursal se inexiste dúvida objetiva na dou-

trina e na jurisprudência a respei­to do cabimento do recurso" (Ag n. 126.734/SP - AgRg, 4ª Turma do STJ, unânime, publicado no DJU de 18/08/97).

Feitas essas considerações sobre o princípio da fungibilidade recur­sal, vejamos se a apelação interpos­ta pela impetrante poderia ter sido recebida como recurso ordinário em mandado de segurança para o STJ.

Tenho para mim que não.

Em primeiro lugar, porque a im­petrante cometeu erro grosseiro ao interpor apelação contra decisão monocrática indeferitória de petição inicial de mandado de segurança por desembargador-relator. É que o recurso de apelação só cabe contra sentença, ou seja, ato jurisdicional de juiz de primeiro grau que põe termo ao processo (cf. arts. 162, § 1 º, e 515, ambos do CPC).

Contra decisão singular proferi­da por magistrado de segundo grau, cabe agravo regimental, por força do art. 39 da Lei n. 8.038/90, que pode ser aplicado por analogia. Re­almente, como bem observa o emi­nente professor Barbosa Moreira "a regra expressa do art. 39 da Lei nº 8.038, de 28.5.1990" é "suscetí­vel de extensão, por analogia, aos outros tribunais" (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, 8ª ed., 1998, págs. 248/249).

Além disso, o próprio Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul estabelece em seu art. 226 que cabe agravo regi­mental da decisão do relator que indeferir a petição inicial do man­dado de segurança.

80 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Com efeito, "o recurso cabível de decisão monocrática de relator que indefere, liminarmente, mandado de segurança, é o agravo regimen­tal para o órgão do próprio tribu­nal" (RMS n. 6.740/RJ, 5ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Cid Flaquer Scartezzini, publicado no DJU de 29/09/97).

Sem dúvida, "tem acolhida naju­risprudência desta Corte o cabimen­to do agravo regimental contra de­cisão monocrática do relator que, em mandado de segurança originá­rio nos Tribunais Regionais Fede­rais ou nos Tribunais de Justiça dos Estados, indefere a inicial ou extin­gue o processo sem julgamento do mérito" (RMS n. 5.743/RJ, 4ª Tur­ma do STJ, unânime, relator Minis­tro Sálvio de Figueiredo Teixeira, publicado no DJU de 23/10/95).

Por tais razões, Senhor Presiden­te, tenho que a interposição de re­curso de apelação, ao invés de agra­vo regimental, configura erro gros­seiro, o que impede a aplicação do princípio da fungibilidade recursal.

Por outro lado, não vejo como re­ceber o citado recurso de apelação como recurso ordinário em manda­do de segurança para o STJ. É que o art. 105, lI, b, da CF/88 e o art. 539, lI, a, do CPC estabelecem que o recurso ordinário em mandado de segurança cabe contra decisão pro­ferida por tribunal regional federal ou por tribunal dos Estados ou do Distrito Federal. Ora, à luz do art. 163 do CPC, o julgamento proferi­do por tribunais recebe a denomi­nação de acórdão, pelo que só con­tra essa espécie de ato jurisdicional

é que cabe o recurso ordinário para o STJ.

Realmente, como bem alertou o eminente Ministro Sálvio de Figuei­redo Teixeira, quando do julgamen­to do RMS n. 5.743/RJ, "cabe o re­curso ordinário constitucional para este Tribunal apenas quando se tra­ta de acórdão" (4ª Turma do STJ, unânime, publicado no DJU de 23/ 10/95).

Sem dúvida, como bem nota o eminente Ministro Hélio Mosimann (Ag n. 109.297 /SP - AgRg) , "contra decisão unipessoal do relator que in­defere, liminarmente, mandado de segurança, não cabe recurso ordiná­rio" (2ª Turma do STJ, unânime, pu­blicado no DJU de 10/03/97), mas, sim, como já dito anteriormente, agra­vo regimental.

Por fim, Senhor Presidente, lem­bro que o recurso de apelação não se confunde com o recurso ordiná­rio em mandado de segurança, pois o CPC delimitou com clareza o cam­po de incidência de cada uma des­sas espécies recursais (cf. arts. 496, I e V, 513, 539, lI, a, do CPC).

A apelação, como já dito, é o re­curso cabível contra decisão singu­lar de juiz de primeiro grau que põe termo ao processo, ou seja, senten­ça.

Já o recurso ordinário em man­dado de segurança é o recurso cabí­vel contra acórdão proferido por tri­bunal, que denega ação de seguran­ça de sua competência originária.

E as diferenças entre as duas es­pécies recursais não param por aí.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 81

Enquanto a apelação pode ser in­terposta pela via adesiva (cf. art. 500, II, do CPC), o recurso ordiná­rio só pode ser apresentado inde­pendentemente (cf. art. 500, II, do CPC, a contrario sensu).

O acórdão proferido em grau de apelação pode ser impugnado via embargos infringentes (cf. art. 530 do CPC), o que não ocorre com o aresto prolatado em recurso ordiná­rio (cf. art. 530 do CPC, a contra­rio sensu; RMS - EI - AgRg, 1 ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Demócrito Reinaldo, publi­cado no DJU de 15/12/97).

Tratando-se de apelação, os au­tos serão, de regra, conclusos ao re­visor (cf. art. 551 do CPC). Já no recurso ordinário não há revisor.

A apelação é julgada por 3 juízes (art. 555 do CPC). Já o recurso or­dinário é julgado por turma compos­ta de 5 magistrados.

Por tais razões, não vejo como misturar as aludidas espécies recur­sais, tão bem diferenciadas pelo CPC. Por isso, entendo que a inter­posição de um recurso no lugar do outro configura erro grosseiro, ex­cludente da aplicação do princípio da fungibilidade. Nesse sentido é a jurisprudência desta Corte:

"Mandado de segurança. Deca­dência. Art. 18 da Lei 1.533/51. Extinção do processo. Decisão proferida por Tribunal em Ins­tância única. Interposição de ape­lação para o STJ. Hipótese de recurso ordinário. Erro grossei­ro. Inaplicação do princípio da

fungibilidade recursal" (RMS n. 1.046/SP, 2ª Turma do STJ, unâ­nime, relator Ministro Américo Luz, publicado no DJU de 24/10/ 94).

"Administrativo e Processual Ci­vil - Recurso de apelação inter­posto contra decisão denegatória de mandado de segurança - Er­ro grosseiro.

- Ocorrendo erro grosseiro na interposição de recurso de apela­ção contra decisão de Tribunal em mandado de segurança, quan­do a Constituição Federal deter­mina a interposição de recurso ordinário (art. 105, Il, b), desca­be conhecê-lo.

- Inaplicabilidade do princípio da fungibilidade.

- Jurisprudência iterativa da Corte.

- Recurso não conhecido" (RMS n. 5.600/RS, 5ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Cid Flaquer Scartezzini, publicado no DJU de 07/04/97).

"Processo Civil. Mandado de se­gurança. Fungibilidade recur­sal. Erro grosseiro. Ausência de direito líquido e certo.

1. Se o recurso previsto na Cons­tituição é o ordinário e a parte in­terpõe apelação, o princípio da fungibilidade não favorece fla­grante erro grosseiro" (RMS n. 6.754/RS, 6ª Turma do STJ, unâ­nime, relator Ministro Fernando Gonçalves, publicado no DJU de 07/04/97).

82 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (09): 75-116, setembro 1998.

"Processual Civil. Recurso ordi­nário em mandado de segurança. Erro grosseiro na interposição do recurso. Princípio da fungibilida­de. lnaplicabilidade.

- A interposição de apelação contra decisão proferida pelo Tri­bunal a quo em mandado de se­gurança caracteriza erro grosseiro.

- lnaplicabilidade do princípio da fungibilidade.

- Recurso não conhecido" (RMS n. 8.038/ES, 5ª Turma do STJ,

unânime, relator Ministro Felix Fischer, publicado no DJU de 301 06/97).

N a verdade, Senhor Presidente, tanto a interposiçâo do recurso de apelação como o julgamento profe­rido pelo TJRS, data venia, não en­contram suporte na CF/88 e no CPC, bem como na jurisprudência desta Corte.

Com essas considerações, não co­nheço do recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 46.910 - SP

(Registro n Q 94.0011010-3)

Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Telefones Olitel SI C Ltda.

Advogado: Valdek Meneghim Silva

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Carla Pedroza de Andrade e outros

EMENTA: Processual Civil - Fraude à execução - Embargos de terceiro - Penhora - Boa-fé do adquirente do bem - Violação ao art. 185 do CTN não configurada - Ausência de intimação -Precedentes STJ.

- Não se configura fraude à execução se não houve a intimação do executado.

- A alienação de bens feita por quem não se encontra em débito com a Fazenda Pública e tenha adquirido o bem, objeto de penho­ra ainda não registrada, amparada pela boa-fé, não viola a regra do art. 185, CTN.

- Recurso conhecido e provido.

R. Sup. Trib. Just., Brasl1ia, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 83

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Vota­ram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Ari Pargendler e Hélio Mosimann.

Brasília, 05 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: Trata-se de recurso es­pecial manifestado por Telefones Olitel S.C. Ltda., com fundamento na letra c do permissivo constitu­cional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que, por unanimida­de, deu provimento à apelação e à remessa oficial e julgou prejudica­do o recurso adesivo, interpostos nos autos de embargos de terceiro opostos pela ora recorrente à ação de Execução Fiscal, que a Fazenda estadual move contra Plastelite In­dústria e Comércio de Plásticos Ltda., objetivando a liberação de seu prefixo telefônico da penhora que sobrecai nele, por não mais per­tencer ao executado.

O v. acórdão recorrido entenden­do que houve fraude à execução, vez

que a cessão da linha telefônica ocorreu quando já inscrita a dívida, julgou improcedentes os embargos, com apoio no art. 185, CTN.

Sustentando que a execução só se inicia com efetiva intimação da dí­vida ao executado, o que nestes au­tos não ocorreu, alega a ora recor­rente ter o aresto divergido de jul­gados do STF.

Contra-razões às fls. 130/135.

O recurso foi admitido no Tribu­nal a quo. Subiram os autos a esta Eg. Corte, onde vieram a mim con­clusos.

Dispensei o parecer da Subpro­curadoria Geral da República, nos termos regimentais.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (Relator): Cuidam os au­tos de embargos de terceiro opostos pela empresa Telefones Olitel S/C Ltda., nos autos da execução fiscal movida pela Fazenda estadual con­tra Plastelite Indústria e Comércio de Plásticos Ltda., alegando que ad­quiriu os direitos de uso de uma li­nha telefônica, em 25.03.91 da exe­cutada e que em 10.05.91 foi o bem penhorado e registrado junto à Telesp. Afirma que é adquirente de boa-fé, por isso que à época da aqui­sição não havia qualquer penhora sobre os direitos da mesma.

A embargada alegou carência de ação do embargante e, no mérito, disse haver fraude à execução, já

84 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

que o débito fiscal remonta a 1989, o que torna ineficaz a alienação dos direitos da linha telefônica.

A sentença de primeiro graujul­gou procedentes os embargos por entender que "a alienação do direi­to de uso da linha telefônica ocor­reu antes da penhora, portanto, a constrição veio atingir a titularida­de da Embargante, e não sendo o caso de fraude à execução, o le­vantamento da penhora deve pre­valecer". "A fraude à execução só se caracteriza quando a alienação dos bens origina a insolvência do Deve­dor", afirma o sentenciante.

Apelou a Fazenda do Estado ale­gando preliminarmente carência de ação por parte da embargante, a seu ver parte ilegítima, sem interesse processual para embargar. E ofen­sa aos arts. 593, CPC e 185, § único do CTN, por isso que fraudulenta a alienação.

O Tribunal a quo deu provimen­to à apelação e ao reexame neces­sário, entendendo que a cessão da linha telefônica deu-se quando já inscrita a dívida, incidindo o art. 185, CTN.

Daí o apelo especial manifestado pela empresa embargante, fundado no dissídio pretoriano, sustentando que incabível a alegação de fraude à execução, se não houve a efetiva intimação da dívida ao executado.

Cita acórdão do STF proferido no RE 105.846-3-SP, ReI. Min. Francis­co Rezek (DJU 06.09.85), transcre­vendo sua ementa e junta cópias xerocadas de dois outros julgados do mesmo STF, dizendo que a execu-

tada devedora somente foi intimada do débito posteriormente a 25.03.91, quando houve a cessão dos direitos de uso da linha telefônica.

A empresa recorrente é adquiren­te de boa-fé. A Fazenda só promo­veu a penhora da linha telefônica após a arrematação dos bens imó­veis que não foram vendidos.

A jurisprudência iterativa desta Eg. Corte ampara a pretensão da re­corrente, como demonstrado em re­centes julgados, dos quais transcre­vo as ementas:

"Recurso especial. Fraude à execução. Penhora. Terceiro de boa­fé. Ausência do registro da cons­trição.

1. Na linha de precedentes des­ta Corte, não havendo registro da penhora, não há falar em fraude à execução, salvo se aquele que alegar a fraude provar que o ter­ceiro adquiriu o imóvel sabendo que estava penhorado, o que não ocorre no presente caso.

2. Recurso especial conhecido e provido." (REsp 113.666-DF, D.J. 30.06.97, ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito).

"Processual Civil. Fraude à exe­cução. Embargos de terceiro. Boa­fé do adquirente do bem; Inexis­tência de violação ao art. 185 do CTN. Súm. 84/ STJ.

1-Ajurisprudência deste Tri­bunal tem assentado o escólio no sentido de prestigiar o terceiro possuidor e adquirente de boa-fé, na hipótese de a penhora recair sobre imóvel objeto de execução

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 85

e não mais pertencente de fato ao patrimônio do devedor, vez que transferido, muito embora não formalmente.

II - Consoante o enunciado da Súm. 84/STJ, "é admissível a opo­sição de embargos de terceiro fun­dados em alegação de posse ad­vinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que des­provido de registro."

III - Não viola o art. 185 do CTN a decisão que entendeu não constituir fraude à execução a alie­nação de bens feita por quem não é sujeito passivo em débito com a Fazenda Pública, e tenha adqui­rido o bem objeto de constrição ju­dicial, amparado pela boa-fé, de pessoa não devedora da Fazenda, não havendo sido a penhora le­vada a registro (grifo nosso).

IV - Recurso desprovido, sem discrepância." (REsp 120.756-MG, D.J. 15.12.97, ReI. Min. De­mócrito Reinaldo).

Demais disso, não havendo a in­timação do executado, não se confi­gura a fraude à execução, como vem decidindo este STJ, a exemplo dos julgados abaixo citados:

"Fraude de execução.

Não se pode caracterizar ine­xistindo lide pendente e, para

que isso ocorra, mister a citação." CREsp 153.458-MG, D.J. 09.03.98, ReI. Min. Eduardo Ribeiro).

"Tributário e Processual Civil. Fraude à execução fiscal. Aliena­ção de bens do sócio-gerente após citação da empresa executada. Caracterização.

I - No sistemajurídico-tribu­tário vigente o sócio-gerente é responsável - por substituição - pelas obrigações tributárias resultantes de atos praticados com infração à lei ou cláusulas do contrato social.

II - A presunção de fraude à execução, conforme prevista no art. 185 do CTN, e juris et de juris.

III - Considera-se fraude à execução a alienação dos bens de sócio-gerente a seus filhos, após a propositura da ação executiva e citação da empresa executada, pela qual é responsável tributá­rio. Precedentes (grifo nosso).

IV - Recurso provido, sem dis­crepância." (REsp 81.297-RS, D.J. 16.12.96, ReI. Min. Demócri­to Reinaldo).

Do exposto, conheço e dou provi­mento ao recurso.

86 R. Sup. T:tib. Just., Brasília, a. 10, (09): 75-116, setembro 1998.

RECURSO ESPECIAL NQ 53.463 - SP

(Registro nQ 94.0026920-0)

Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Município de Presidente Prudente

Advogados: Daniel Schwenck e outros

Recorrido: Transporte Coletivo Brasília S/A

Advogados: Luiz Antônio Alves de Souza e outros

EMENTA: Processual Civil- Indenização - Desapropriação in­direta - Impugnação ao valor da causa - Valor de alçada - Im­possibilidade - Estimativa do autor na inicial - Obrigatoriedade - Divergência jurisprudencial não comprovada - Violação à Lei Federal configurada - CPC, arts. 258 e 259 - Precedentes STJ.

- Não cabe ao Tribunal fixar o valor da causa em função da alça­da, por isso que o valor da causa deve ser expresso em dinheiro e será sempre aquele estimado pelo autor na petição iniciaL

- Descumpridas as determinações legais que regem a comprova­ção da divergência jurisprudencial.

- Violação a preceito de lei federal configurada.

- Recurso provido.

ACÓRDAo

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Vota­ram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Ari Pargendler e Hélio Mosimann.

Brasília, 12 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: A Municipalidade de Presidente Prudente manifestou re­curso especial fundado nas letras a e c do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribu­nal de Justiça do Estado de São Pau­lo que, por unanimidade, deu provi­mento ao agravo de instrumento in­terposto por Transporte Coletivo Brasília S/A, contra decisão que aco­lheu impugnação ao valor da causa, nos autos de ação de indenização por desapropriação indireta.

O v. acórdão recorrido, aplicando o art. 258 do CPC, entendeu que na

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 87

indenização, cujo valor do pedido é genérico, este pode ser apurado pos­teriormente, devendo prevalecer, como válido e adequado, o então atribuído na petição inicial.

Sustentando que o valor atribuí­do à causa é meramente simbólico e não reflete o montante indeniza­tório perseguido pela empresa, ale­ga a ora recorrente ter o aresto vio­lado os arts. 258 e 259 do CPC, bem como divergido de julgados do "ex­TFR" e do Primeiro Tribunal de Al­çada Civil de São Paulo.

Contra-razões às fls. 121/125.

O recurso foi admitido no Tribu­nal a quo. Subiram os autos a esta Eg. Corte, onde vieram a mim con­clusos.

Dispensei o parecer da Subpro­curadoria Geral da República, nos termos regimentais.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (Relator): Cuidam os au­tos de agravo de instrumento inter­posto pela empresa Transporte Co­letivo Brasília SI A, de decisão que acolheu impugnação ao valor da causa em ação de indenização por desapropriação indireta, decorren­te de ilícito administrativo, propos­ta pela ora recorrida contra a Mu­nicipalidade de Presidente Pruden­te, ora recorrente.

O v. acórdão recorrido rejeitou a impugnação ao valor da causa en­tendendo que para "exata estima-

ção do seu valor, importaria exami­nar qual o montante do benefício patrimonial pretendido".

"No caso, a autora não explicitou a totalidade desse montante, cuja apuração só deverá ser feita no cur­so da ação, ou da execução, se pro­cedente aquela.

A mera referência, na inicial, a prejuízos estimados da ordem de Cr$ 110.000.000.000,00 (cento e dez bilhões de cruzeiros), o que levou o MM. Juiz a aceitar a impugnação formulada pela agravada, de forma alguma estaria a representar o exa­to e real valor dos pedidos deduzi­dos.

Veja-se que além da indenização por danos emergentes, pelo desa­possamento da empresa, também foi pedida indenização por lucros cessantes e arrocho tarifário, tudo a ser apurado e devidamente quan­tificado no curso da instrução, até mesmo por prova pericial ampla, para esse fim expressamente reque­rida.

Bem evidenciado por isso a im­possibilidade da perfeita e adequa­da estimação do valor da causa. Vale dizer, do real benefício patrimonial buscado.

Conforme entendimento juris­prudencial, nas hipóteses de ação de indenização cujo valor do pedido seja genérico, apurável posterior­mente, deve sempre prevalecer, como válido e adequado, o então atribuído na petição inicial.

Confiram-se, nesse sentido, Acór­dão da Col. 7ª Câmara Civil desta Corte, ReI. Des. Godofredo Mauro

88 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, Cl09): 75-116, setembro 1998.

(Agravos de Instrumento 108.743-1 e 194.636-1), bem como aresto do Colendo Superior Tribunal de Jus­tiça, compilado por Theotonio Ne­grão, em seu Código de Processo Civil, 24ª edição, Malheiros Edito­res, pág. 223, nota 5 ao art. 258, estabelecendo que, em se tratando de ação de perdas e danos, quando inestimável o pedido, "há de se con­siderar como válido o valor da cau­sa atribuído na inicial, completan­do-se-o, posteriormente, em execu­ção, quando apurado, se for a maior" (REsp 8.323-SP, 3ª Turma, ReI. Min. Waldemar Zveiter, j. 29.04.91).

Diante disso, afigura-se proce­dente o inconformismo da agravan­te".

Daí o inconformismo da Munici­palidade recorrente que sustenta violação à lei federal, precisamente os arts. 282, V e 258 e 259, todos do CPC.

Quanto à alegada divergência jurisprudencial, o apelo não mere­ce ser conhecido. A decisão do ex­tinto TFR não se presta ao confron­to, já que o recorrente deixou de transcrever sua ementa e não fez a demonstração analítica do dissídio, bem como deixou de juntar a cópia autenticada do paradigma colacio­nado.

Demais disso, o segundo acórdão apontado como dissidente, além de não demonstrada a divergência pe­las mesmas razões, não apreciou a matéria sob o mesmo enfoque que o aresto recorrido.

Na comprovação da divergência é necessário que os acórdãos para-

digmas e o aresto recorrido tenham apreciado situações idênticas, dan­do-lhes soluções distintas, para que se configure o dissenso pretoriano (Lei 8.038/90 e RISTJ, art. 255 e pa­rágrafos).

Quanto à violação à lei proces­sual, indicando os arts. 258 e 259, CPC, impõe-se o conhecimento do especial, apenas no que se refere ao primeiro. O art. 258 foi ventilado pelo acórdão recorrido, ao mencio­nar julgado deste STJ compilado por Theotonio Negrão, em seu Código de Processo Civil, 24ª edição, Malheiros Editores, pág. 223, nota 5.

Vale referir, contudo, que o ares­to citado, que fundamentou a deci­são recorrida (fls. 105), foi tomado ao pé da letra pelo ilustre relator, quando justificou: "em se tratando de perdas e danos, quando inesti­mável o pedido, ... " (grifei)

In casu, houve estimativa do próprio autor, quando no item 4 (fls. 10) da inicial declarou:

"Tais perdas ocasionaram sen­síveis prejuízos à autora. Estão es­timadasem Cr$ 110.000.000.000,00 (grifei). Implicaram, no correr do tempo, em desmobilização de ati­vos para fazer frente a compro­missos, pois a tarifa não era su­ficiente para o giro do negócio. Além disso, também ocasionaram a impossibilidade de contínuo in­vestimento em renovação da fro­ta e equipamentos."

Assim, a meu ver, não prospera tal entendimento, principal funda­mento da decisão atacada.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 89

Sobre o tema, vale referir acór­dão da 3ª Turma e relatado pelo Min. Waldemar Zveiter, assim emen­tado:

"Processual Civil - Ação de rescisão de contrato cumulada com reintegração de posse mais perdas e danos - I mp ugnação ao valor da causa -Art. 259, II e V, do CPC.

I - Quando cumulados os pe­didos, o valor a se atribuir à cau­sa, deverá ser o da soma dos va­lores deles resultantes, consoan­te preconizado no art. 259, II, do CPC.

II - Havendo perdas e danos, sendo ele inestimável, há de se considerar como válido, o valor da causa atribuído na inicial, completando-se-o, posteriormen­te, em execução, quando apura­do, se for a maior.

IH - Recurso conhecido e pro­vido."

Explicitou o ilustre Ministro, em seu voto:

"

Para as hipóteses como a ver­sada nos autos, a lei adjetiva ci­vil não estabeleceu critério obje­tivo para a fixação do valor da causa, consoante se vê dos arti­gos 258 e 260, caso em que deve­rá estimá-lo o autor. (grifei)

Nessa estimativa, em que se vale de elementos subjetivos, to­davia, haverá de ter em conta, não causar qualquer prejuízo à

parte adversa, vedando-lhe o aces­so aos recursos que esgotem a con­trovérsia, em todos os graus, não se limitando pela alçada." (grifo nosso)

Na mesma linha de entendimen­to, tem se posicionado esta Eg. Cor­te, através de julgados das demais Turmas. Como corolário, transcre­vo ementa de acórdão unânime des­ta 2ª Turma, relator Min. Hélio Mo­simann, assim ementado:

"Processo Civil. Valor da cau­sa. Atribuição pelo autor, na ini­cial. Obrigatoriedade. Artigos 258 e 259 do Código de Processo.

A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato, de­vendo constar sempre da petição inicial."

Concluindo, vale reafirmar que o Tribunal não pode fixar o valor da causa em função da alçada, mas em obediência à legislação vigente so­bre a matéria, os arts. 258 e seguin­tes do CPC.

Neste sentido, decisão unânime, igualmente desta 2ª Turma, em re­curso especial relatado pelo Min. Adhemar Maciel, quando ficou as­sente:

"Processual Civil. Valor da cau­sa. Utilização da expressão "va­lor de alçada": Impossibilidade, já que à causa deve ser atribuído valor certo, em dinheiro, ou seja, moeda nacional corrente.

90 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

É vedado atribuir "à causa o valor de alçada", pois o valor da causa deve ser certo, ou seja, ex­presso em dinheiro, moeda nacio­nal vigente. Inteligência do art. 256 do CPC.

Recurso especial não conheci­do no ponto."

Diante do exposto, merece refor­ma a decisão do Tribunal a quo para que se restabeleça a sentença de primeiro grau, fixado o valor da causa aquele estimado pelo autor, na inicial.

Assim, conheço do recurso pela letra a, dando-lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL NQ 76.431- SP

(Registro n Q 95.0050971-7)

Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins

Recorrentes: Antônio Lopes Gasques e outro

Advogados: Alcides Lourenço Violin e outro

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Carla Pedroza de Andrade e outros

EMENTA: Execução fiscal. Citação válida dos sócios. Embargos de terceiro. Manifestação inoportuna.

1. Incontroverso que, através de citação válida, os sócios da deve­dora integram a lide como partes e, como tal, poderiam oferecer embargos de devedor e não embargos de terceiro inadmissíveis e extemporâneos.

2. Recurso especial conhecido e improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe negar provimen­to. Votaram com o Relator os Minis-

tros Adhemar Maciel e Ari Pargen­dler. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Hélio Mosimann.

Brasília, 24 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 22-06-98.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 91

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: Cuida-se de Recurso Es­pecial fundado nos permissivos a e c, interposto por Antônio Lopes Gasques e outro contra acórdão unânime da 5ª Câmara Cível de Férias do Tribunal de Justiça de São Paulo assim ementado:

"Embargos de terceiro. Ilegiti­midade de seu oferecimento por quem citado como parte. Rejeição liminar pela sentença." (fl. 58).

Os recorrentes ofereceram em­bargos de terceiro na execução fis­cal promovida pela Fazenda do Es­tado contra Arroz Cabrera - Indús­tria e Comércio Ltda. na qual foram penhorados imóveis de suas proprie­dades como sócios da empresa, de­pois de 13 anos de ter sido citada a devedora, portanto, quando a ação já estava prescrita contra eles, que não podem responder pelos débitos de sociedade por cotas de responsa­bilidade limitada. A sentença inde­feriu a inicial e rejeitou liminar­mente os embargos, ex vi dos arts. 295, II, e 267, I, do CPC, sendo man­tida no segundo grau pelos motivos seguintes:

Os embargantes, ora recorrentes, são os únicos sócios da executada e foram citados pessoalmente, tam­bém na qualidade de executados, em maio/93, após a penhora dos bens da sociedade considerados in­suficientes, ocasião em que, no pra­zo de lei, poderiam oferecer embar­gos à execução e isto não fizeram.

Em julho/94, havendo necessidade de outro reforço de penhora, foram novamente citados e tiveram outros bens penhorados opondo, então, em­bargos de terceiro. A primeira cita­ção foi validamente realizada e, a segunda, deve ser entendida como intimação porque incabível em caso de reforço de penhora. A citação dos recorrentes, nos termos do art. 135/ CTN, como responsáveis tributá­rios pela dívida da empresa da qual são sócios, tornou-os integrantes da relação processual cpmo partes, a teor do art. 1.046/CPC, por isso que não podiam oferecer embargos de terceiro. Não vinga a alegação da impossibilidade de embargos à exe­cução face ao trânsito em julgado da sentença, que julgou procedente a ação contra a empresa, inclusive porque só existe propriamente sen­tença no processo de embargos do devedor conexo ao da execução. Embora inadmissíveis os embargos de terceiro por quem é parte, os ofertados pelos recorrentes poderiam ser recebidos como sendo "de deve­dor", se dentro dos 30 dias subse­qüentes à intimação da penhora, em maio/93, e não quando esgotada a oportunidade processual para tan­to, em julho/94. Em reforço de tais fundamentos, citou precedentes do STF, do TFR e deste STJ, negou pro­vimento à apelação.

Acolhidos parcialmente os em­bargos declaratórios, apenas para prestar esclarecimentos sobre o tema da prescrição, os embargantes manifestaram o presente recurso alegando ofensa aos arts. 135 e 174 do CTN; 267, I, 295, II, 596, 1.046, caput e § 1 º, do CPC; 162 do Cód.

92 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Civil, bem como divergência com decisões de outros Tribunais indi­cadas para confronto. Sustentam sua legitimidade para oferecerem embargos de terceiro porque, quan­do da propositura da execução, fo­ram citados como representantes legais da sociedade e não como só­cios responsáveis por seus débitos; somente 13 anos após o ajuizamen­to daquela ação foram citados para integrar a lide já estando prescrita a dívida, não constando de tal cita­ção qualquer referência às condi­ções e serem sócios da executada e responsáveis por seus débitos tribu­tários; que os gerentes, diretores etc. de sociedade por cotas são pes­soalmente responsáveis por crédi­tos tributários quando resultante de atos praticados com excesso de po­der ou infração à lei, o que não ocor­reu em relação a eles e sequer foi devidamente apurado, circunstân­cias que confirmam suas condições de terceiros em relação ao executi­vo fiscal face à penhora sobre seus bens; que, como sócios, só podem responder pelos débitos da socieda­de nos casos previstos em lei; que prescrição pode ser alegada, em qualquer instância, pela parte a quem aproveita; que, se nos embar­gos de terceiro, além da constrição judicial, é impugnado o mérito da cobrança ao fundamento de estar paga, ou prescrita a dívida, impõe­se o exame da questão para afastar a extinção do processo sem julga­mento do mérito.

Oferecidas contra-razões, o re­curso foi admitido na origem e re­metido a esta Corte, cabendo-me relatá-lo.

Dispensado o pronunciamento da Subprocuradoria Geral da Repúbli­ca, na forma regimental.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (Relator): Não merece reforma o acórdão denegatório do provimento da apelação dos recor­rentes, mantendo, assim, a senten­ça que rejeitou os embargos de ter­ceiro por considerar os embargan­tes ilegitimados para oferecê-los afirmando, textualmente:

"É que não são terceiros no processo onde os bens foram pe­nhorados, mas sim parte, confor­me admitiram e alegaram na ini­cial. Inclusive foram regularmen­te citados, ato formalmente em ordem, portanto hábil para inte­grá-los no pólo passivo da execu­ção fiscal (fI. 19v.)." (f. 27).

Vale transcrever ainda alguns trechos do aresto impugnado para demonstrar o acerto do seu posicio­namento:

"Em andamento Execução Fis­cal contra Arroz Cabrera Comér­cio e Indústria de Cereais Ltda., empresa da qual os ora apelan­tes são os únicos sócios, fls. 12, após a penhora dos bens da socie­dade, insuficientes, como regis­trou a r. sentença, foram eles ci­tados pessoalmente, na qualida­de de executados - como afirma o recurso, nos termos do art. 135

R. Sup. Trib. Just., Braslua, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 93

do Código Tributário Nacional, matéria, inobstante, não enfren­tada na apelação ou nos próprios embargos - em maío/93, oportu­nidade em que penhorados bens particulares dos ora apelantes, fls. 19/21v., cumpridamente inti­mados para oferecer Embargos à Execução no prazo de 30 (trinta) dias, fls. 19 e 20v.

Deixam transcorrer tal prazo in albis, não ofertando embar­gos.

Posteriormente, em julho/94, necessário outro reforço de pe­nhora, os ora apelantes foram no­vamente citados e viram penho­rados outros bens de sua proprie­dade.

Então e somente nesta oportu­nidade, ofereceram embargos de terceiro.

A citação é uma SÓ, ...

Esta foi realizada de forma váli­da - o que é de todo inconteste, ...

A segunda é írrita, e como tal, não produz efeitos, iJ"""'E:údo ser entendida como uma intimação, tanto que não se discute nos au­tos tratar-se de segundo reforço de penhora, onde não cabe a rea­lização de citação.

..... , a citação dos ora apelan­tes, nos termos do art. 135 do Có­digo Tributário Nacional, na qua­lidade de responsáveis tributários pelo pagamento das dívidas da empresa de que são sócios, pas­saram eles a integrar a relação processual como partes ...

o que não se pode sancionar como postura válida, entretanto,

é esta seguida pelos ora apelan­tes, de deixar transcorrer por com­pleto o trintídio para a oferta de embargos do devedor, para pos­teriormente, em oportunidade de mero reforço de penhora, quan­do já caracterizada sua integra­ção ao processo na qualidade de partes, pretenderem ofertar em­bargos de terceiro." (fls. 59/62).

Incontroverso - porque confes­sado -, que os recorrentes foram ci­tados como executados junto com a firma da qual são sócios, em 18.05.93, e, bem ou mal, passaram a integrar a lide como partes, sendo, logo em seguida, intimados da penhora so­bre seus bens particulares, certa­mente por não terem nomeado bens da sociedade desembaraçados (CPC, art. 596, § 1 Q). A partir daquele mo­mento, dentro do prazo legal, pode­riam apresentar defesa, através de embargos de devedor porque, como tal, já integrados na execução, dis­cutindo tudo quanto alegado nos embargos de terceiro - somente oferecidos (lppois r;a ::H:~gul!da penho-1 a realizada em julho/94, transcor­rido mais de um ano -, como seja, invalidade da citação, prescrição da dívida, não serem responsáveis pe­los débitos da empresa sem prévia apuração de possíveis excesso de poder ou infração à lei, não pode­rem seus bens particulares respon­der pelos débitos da sociedade etc., sendo inadmissível dar-se guarida aos impróprios e extemporâneos em­bargos ofertados pelos recorrentes.

Pelos motivos acima expostos, mantenho o acórdão recorrido por seus próprios e jurídicos fundamen­tos, negando provimento ao recurso.

94 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

RECURSO ESPECIAL NQ 89.791- SP

(Registro nQ 96.0014352-8)

Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Antônio Maria Denofrio

Advogado: Dr. Antônio Maria Denofrio (em causa própria)

Recorrido: Município de Araras

Advogado: DI'. Wanderlei Penteado Rodini

EMENTA: Tributário. Contribuição de melhoria. Edital. O arti­go 82 da Lei nº 5.172, de 1966, foi revogado pelo artigo 5º do Decre­to-Lei nº 195, de 1967, porque à época, as normas gerais de direito tributário ainda não tinham o status ou a força de lei complemen­tar (Emenda Constitucional nº 1, de 1969, artigo 18, § 1 º); no novo regime, o edital que antecede a cobrança da contribuição de melhoria pode ser publicado depois da realização da obra públi­ca. Recurso especial conhecido e improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi­cas a seguir, por unanimidade, co­nhecer do recurso, mas lhe ilt'gd.l

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Hélio Mo­simann, Peçanha Martins e Adhe­mar Maciel.

Brasília, 02 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. MinistroARI PARGEN­DLER, Relator.

Publicado no DJ de 29-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER: Antônio Maria Denofrio im­petrou mandado de segurança con­tra ato do Prefeito Municipal de Araras e do respectivo Secretário da Fazenda, para se desonerar da <':0:;::­

tribuição de melhoria lançada em função do imv-vel de sua proprieda­de, localizado na rua Alberto Lotto nQ 296, naquele Município (fls. 02/ 05).

O MM. Juiz de Direito, Dr. Rene de Paula, concedeu a ordem, à base da seguinte motivação:

"O impetrante não nega que as obras foram executadas e que houve valorização imobiliária, mas sustenta, com razão, que o lan­çamento é ilegal exatamente por­que as obras não foram precedi-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 95

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das de prévia publicação do edi­tal.

A contribuição de melhoria é tributo cujo lançamento deve se ater aos requisitos estabelecidos em lei, mais precisamente àque­les fixados no artigo 82 do CTN, que exige a publicação prévia de edital, contendo, dentre outros elementos, o memorial descriti­vo do projeto e o orçamento do custo da obra (inciso I, letras a e b).

A exigência, reconhecidamen­te, foi reproduzida no Decreto-Lei n 9 195, de 24 de fevereiro de 1967.

As expressões "projeto" e "or­çamento", contidas nestes diplo­mas legais, indicam claramente que o edital deve preceder a exe­cução da obra e não o lançamen­to do tributo.

E a determinação não foi cum­prida pela Administração, pois o próprio edital constante dos au­tos, que é irregular, como será visto adiante, está a demonstrar, de forma clara e inequívoca, que quando de sua expedição as obras já estavam executadas, pois diz literalmente que a contribuição de melhoria está relacionada "à execução das obras ... efetuadas nesses logradouros" (fi. 27, g. n.), sendo na mesma direção o restan­te da prova documental juntada no processo, bastando ver que a concorrência foi aberta em 10 de dezembro de 1985 (fI. 40); a planilha de orçamento foi elabo­rada no mês de outubro de 1985

(fi. 41); as instruções para a exe­cução das obras datam de janei­ro de 1986 (fi. 93) e a dispensa realizada foi apurada no mês de maio de 1990 (fi. 99), datas estas anteriores à constante do edital, que é de 08 de novembro de 1990 (fi. 27).

Sem prévia publicação do edi­tal, o lançamento, por conseqüên­cia, é ilegal, já que a Administra­ção não observou no procedimen­to administrativo respectivo as regras legais exigidas para a vá­lida cobrança do tributo, pois não se deve perder de vista que o lan­çamento é um ato administrati­vo vinculado (CTN, art. 142, pa­rágrafo único) e, portanto, passí­vel de anulação quando desaten­dido qualquer requisito previsto em lei.

E a exigência, obviamente, não tem por escopo impedir a reali­zação da obra, mas sim permitir que os contribuintes possampre­viamente impugnar os elementos constantes do edital, mas preci­samente questionar o custo da obra e a possível valorização que ela acarretará aos imóveis lindei­ros, e isto já foi apontado pelo in­superável Aliomar Baleeiro: "N o sistema do Decreto-Lei n 9

195 estabeleceu-se a presunção juris tantum de que a obra pro­jetada trará incremento do valor aos imóveis situados na faixa marginal ou nas adjacências des­ta. Mas o legislador admite a pro­va em contrário, a cargo do con­tribuinte, assinando-lhe o prazo de 30 dias, pelo menos, para opor a sua impugnação. Esta alvejará

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

qualquer dos elementos do inci­so I do artigo 82 do Código Tri­butário Nacional, ou mesmo to­dos eles (Direito Tributário Bra­sileiro, Forense, 10ª ed., pág. 370).

Não pode ser acolhido o argu­mento dos impetrados, no senti­do de que basta que o edital seja publicado antes da cobrança do tributo, pois o artigo 82 do CTN e o artigo 5Q do DL 195/67, inter­pretados literalmente, exigem que a publicação preceda a exe­cução das obras.

O Colendo Supremo Tribunal Federal já decidiu que "quer o ar­tigo 82 do Código Tributário N a­cionaI, quer o artigo 5Q do Decre­to-Lei n Q 195, de 1967, ambos exi­gem que haja publicação prévia de memorial descritivo do proje­to da obra e do orçamento do seu custo, para efeito de impugnação pelos interessados. Ora, isso só pode ser feito antes do início da obra, e não a posteriori (RTJ, voI. 85/585, in JTACSP, Lex, voI. 102/156)" - fls. 249/251.

A Egrégia Terceira Câmara do Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, Relator o eminente Juiz Carvalho Viana, re­formou a sentença (fls. 292/299), destacando-se no julgado o seguin­te tópico:

" ... nele não se contém a exi­gência de a publicação do edital anteceder, necessariamente, a exe­cução das obras. "O edital pode ser publicado antes do início da

obra ou do lançamento tributá­rio" (Bernardo Ribeiro de Mo­raes, Compêndio de Direito Tri­butário, Forense, 1Q voI., 3ª ed., pág. 615), anotando-se que insis­te a doutrina na verificação a posteriori das conseqüências, para o contribuinte, da obra rea­lizada, só quando será possível verificar o efetivo benefício tra­zido pela obra pública ao imóvel do contribuinte e a respectiva va­lorização (Roque Antonio Car­raza, Curso de Direito Constitu­cional Tributário, RT, 3ª ed., pág. 288, Bernardo Ribeiro de Mo­raes, op. cit., pág. 611)" - fi. 297.

Daí o presente recurso especial, interposto por Antônio Maria Deno­frio, com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c, da Constituição Federal, por violação dos artigos 81 e 82 do Código Tributário Nacional (fls. 303/306).

VOTO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER (Relator): "A lei relativa à contribuição de melhoria" - dispôs o artigo 82 do Código Tributário Nacional- "observará os seguintes requisitos mínimos:

I - publicação prévia dos se­guintes elementos:

a) memorial descritivo do pro­jeto;

b) orçamento do custo da obra;

c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pe­la contribuição;

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 97

d) delimitação da zona benefi­ciada;

e) determinação do fator de ab­sorção do benefício da valoriza­ção para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, ne­la contidas;

II - fixação de prazo não in­ferior a 30 (trinta) dias, para im­pugnação, pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior;

IH - regulamentação do pro­cesso administrativo de instrução e julgamento da impugnação a que se refere o inciso anterior, sem prejuízo de sua apreciação judi­ciaL

§ 1 º - A contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra a que se refere a alínea c, do inciso I, pelos imóveis situa­dos na zona beneficiada em fun­ção dos respectivos valores indi­viduais de valorização.

§ 2º - Por ocasião do respecti­vo lançamento, cada contribuin­te deverá ser notificado do mon­tante da contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integraram o respectivo cálculo".

Nesse regime, induvidosamente, a lei relativa à contribuição de me­lhoria deveria conter a publicação prévia do memorial descritivo do projeto, do orçamento do custo da obra, etc.

Sobreveio, no entanto, o Decre­to-Lei nº 195, de 24 de fevereiro de

1967, que revogou o artigo 82 do Código Tributário Nacional. Expli­ca-se. À época, as normas gerais de direito tributário inscritas no Códi­go Tributário Nacional ainda não tinham força de lei complementar, o que só veio a acontecer por obra do artigo 18, § 1 º, da Emenda Cons­titucional nº 1, de 1969.

No novo regime, o artigo 5º dis­pôs:

"Para a cobrança da Contribui­ção de Melhoria, a Administração competente deverá publicar edi­tal, contendo, entre outros, os se­guintes elementos:

I - delimitação das áreas di­reta e indiretamente beneficia­das e a relação dos imóveis nelas compreendidos;

II - memorial descritivo do projeto;

IH - orçamento total ou par­cial do custo das obras;

IV - determinação da parcela do custo das obras a ser ressarci­da pela contribuição, com o cor­respondente plano de rateio en­tre os imóveis beneficiados.

Parágrafo único - O disposto neste artigo aplica-se, também, aos casos de cobrança da Contri­buição de Melhoria por obras pú­blicas em execução, constantes de projetos ainda não concluídos".

A explicitação contida no pará­grafo único é mais do que suficien­te para demonstrar que já não há necessidade de que o edital antece-

98 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

da à realização da obra, para que a contribuição de melhoria seja cobra­da.

Esse modelo é mais prático, por­que ao contribuinte pouco valor tem o memorial descritivo do projeto ou o orçamento do custo das obras, im­portando-lhe, sim, a valorização que essas obras trarão ao seu imóvel e o montante que terá de pagar por isso - elementos só mensuráveis depois de pronta a obra.

Nessa linha o entendimento de Roque Carraza, in verbis:

"Só depois de pronta a obra pú­blica e verificada a existência da valorização imobiliária que ela provocou, é que se torna admis­sível a tributação por via de con­tribuição de melhoria.

De fato, a contribuição de me­lhoria não pode ser exigida an­tes de realizada a obra pública. É imprescindível que, primeiro, exista a obra pública, valorizan­do o imóvel, para, só após, o pro­prietário deste vir a ser tributa­do. É que - tornamos a insistir - a contribuição de melhoria não tem por hipótese de incidência

apenas a realização de obra pú­blica, mas a efetiva valorização imobiliária causada por obra pú­blica. Assim, sem obra pública, não pode haver contribuição de melhoria, já que não se pode fa­lar, no caso, em valorização imo­biliária potencial. O princípio da segurança jurídica - que já es­tudamos - não se compadece com tal entendimento" (Curso de Direito Constitucional Tributá­rio, Editora Revista dos Tribu­nais, São Paulo, 2ª edição, pág. 257).

A Turma tem precedente nesse sentido, aquele de que trata o REsp 8.417-0, SP, Relator, o eminente Mi­nistro Américo Luz, assim ementa­do:

"Tributário. Contribuição de melhoria. A publicação prévia do edital é necessária para a cobran­ça da contribuição e não para a realização da obra. Precedentes do STF" (RSTJ nº 82, págs. 100/103).

Voto, por isso, no sentido de co­nhecer do recurso especial, negan­do-lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL Nº 95.870 - RS

(Registro nº 96.0031327-0)

Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Luiz Roberto Nunes Padilla

Advogado: Dr. Rudy Lauro Pacheco Garcia

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 99

Recorrida: Companhia Riograndense de Telecomunicações - CRT

Advogados: Drs. Evandro Luís Pippi Kruel e outro

EMENTA: Processo Civil. Ato do escrivão. Juntada de recurso de apelação. A juntada aos autos de recurso, incompleto, faltan­do notoriamente a folha final, é responsabilidade do escrivão, que não pode ser transferida para o advogado. A prática da advocacia se inviabilizaria, comprometendo inteiramente a atuação do Po­der Judiciário, se o advogado fosse obrigado a controlar a junta­da de petições entregues em cartório. Hipótese em que isso seria ainda mais injustificado, porque se trata de recurso de apelação, que é encaminhado à instância superior, sem a intimação das partes, tão logo oferecidas as contra-razões, impossibilitando a pretendida fiscalização. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhe­cer do recurso e lhe dar provimen­to, nos termos do voto do Sr. Mi­nistro-Relator. Participaram dojul­gamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Adhemar Maciel.

Brasília, 21 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. MinistroARI PARGEN­DLER, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER: Luiz R. Nunes Padilla pro­pôs ação ordinária contra a Compa-

nhia Riograndense de Telecomuni­cações (fls. 02/07).

A MM. Juíza de Direito Dra. Liselena Schifino Robles Ribeiro fez por julgá-la improcedente (fls. 451 46).

Seguiram-se embargos de decla­ração (fls. 48/53), rejeitados (fl. 54), bem assim apelação (fls. 56/60), não conhecida pela Egrégia Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justi­ça do Estado do Rio Grande do Sul, Relator o eminente Desembargador Araken de Assis, nos termos de acórdâo assim ementado:

"Processual Civil. Apelação. Regularidade formal. Ausência do pedido de nova decisão. 1. Não se conhece de apelação que omite o pedido de nova decisão (CPC, art. 514, IH), pois não se mostra pos­sível intuir o objeto da irresigna­ção, desde as razões, circunscre­vendo a prestação jurisdicional aos limites da iniciativa da parte. 2. Apelação não conhecida" (fi. 71).

100 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Opostos embargos de declaração (fls. 78/86), foram rejeitados, Rela­tor o eminente Desembargador José Vellinho de Lacerda (fls. 92/94).

Lê-se no julgado:

"Após considerações doutriná­rias e jurisprudenciais sobre a natureza recursal desses embar­gos, alega que "o requerimento (de anular a sentença a quo ou prover o apelo) foi entregue com­pleto, apresentando todos os re­quisitos do art. 514 do CPC. O pedido de nova decisão estava na fl. 6 do requerimento, que se des­prendeu na hora de a serventia fazer juntada aos autos ou foi maldosamente retirado, pois que o requerimento, como é de fácil constatação pelos Senhores De­sembargadores, estava grampea­do. O apelante não pode ser pre­judicado por este fato, uma vez que entregou, conforme protoco­lo, requerimento na sua íntegra" (fl. 82). Fez acompanhar o peti­tório de cópia xerográfica do re­curso, onde aparece a dita fl. 6" (fl.93).

"Rejeito os embargos, já que a hipótese não se ajusta a nenhum dos casos previstos no art. 535, incs. I e H, do CPC. Cumpria ao recorrente estar vigilante para que, ao apelar, não faltasse ne­nhuma folha de sua petição. No caso, não veio a última, como seja, a principal, que deveria con­ter o requerimento de reforma do decisum. A ora exibida pode ter sido feita a posteriori. Nada a declarar" (fls. 93/94).

Renovados os embargos de decla­ração (fls. 97/106), desta feita não foram conhecidos (fls. 109/110).

Daí o presente recurso especial, interposto por Luiz R. Nunez Padil­la, com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c, da Constituição Fe­deral, por violação dos artigos 158, 514 e 535 do Código de Processo Civil (fls. 114/123).

Originariamente não admitido (fls. 130/132), o recurso especial foi processado por força de agravo de instrumento (fl. 139).

VOTO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER (Relator): "A apelação" - diz o artigo 514 do Código de Processo Civil, "interposta por petição diri­gida ao juiz, conterá:

HI - o pedido de nova decisão".

Aplicando esse dispositivo legal, o Tribunal a quo não conheceu da apelação.

Examinadas as circunstâncias do caso, a decisão revela-se injustifica­da, porque no contexto dos autos não é possível afirmar que o recur­so tenha sido omisso quanto "ao pe­dido de nova decisão".

À evidência, a petição de fls. 56/ 60 está incompleta.

Na folha 60, in fine, está dito:

"Isto posto, Requer."

Já não havia mais espaço nessa folha e tudo indica que a petição te­ve seqüência.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 101

Não obstante, o MM. Juiz de Di­reito convalidou o entranhamento aos autos de petição assim deficitá­ria sem advertir o advogado dessa circunstância, e o Tribunal a quo atribuiu o defeito à falta de vigilân­cia do advogado.

"Cumpria ao recorrente" - está dito no julgado - "estar vigilante para que, ao apelar, não faltasse ne­nhuma folha de sua petição" (fi. 93).

Essa imputação de responsabili­dade destoa da praxe forense e, se adotada nos nossos pretórios, invia­bilizaria a prática da advocacia, sej a pela onerosidade daí resultante (o advogado estaria obrigado a aguar­dar no próprio cartório ajuntada da petição, e depois obter cópia auten­ticada das respectivas peças), seja pelos males daí resultantes (porque a atuação profissional poderia ser inteiramente comprometida pelos descuidos dos serventuários, e até mesmo pela sua malícia a serviço de terceiros).

Em casos desta espécie, raros na vida forense, em que, não obstante o grande número de papéis que nela transitam, são, surpreendentemen­te, infreqüentes as perdas e os ex­travios, o Juiz deve estar atento, pe­sando sobre ele a obrigação de con­trolar a regularidade das petições.

O transplante para o recurso de apelação dos princípios que regem o agravo de instrumento não tem o menor sentido. Neste se trata do traslado de peças, que a parte deve fiscalizar. Agora, ajuntada de peti­ção aos autos é ato do escrivão, que não pode ser imputada ao advoga­do. Ainda mais quando se trata de recurso de apelação, que é encami­nhado à instância superior tão logo oferecidas as contra-razões, sem a intimação das partes.

Voto, por isso, no sentido de co­nhecer do recurso especial e de dar­lhe provimento para que a apelação seja conhecida.

RECURSO ESPECIAL Nº 112.965 - MG (Registro nº 96.0070946-7)

Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann Recorrente: Construtora Tratex S/A Advogados: Carlos Mário da Silva Velloso Filho e outros Recorrido: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas

Gerais - DER / MG Advogados: Jackson Rocha Guimarães e outros Sustentação Oral: Drs. Carlos Mário da Silva Velloso Filho, pela re­

corrente, Segismundo Marques Gontijo, pelo recorri­do e Moacir Guimarães Morais Filho, Subprocura­dor-Geral da República

102 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

EMENTA: Recurso especial. Ação ordinária. Cobrança. Contra­to sob o regime de empreitada. Prescrição. Dissídio não demons­trado e reexame de provas. Falta de condições para conhecimento do recurso.

A divergência jurisprudencial deve estar evidenciada, fazen­do-se a demonstração analítica, como exige a norma regimental.

Pretendendo-se o simples reexame de provas, não se conhece do recurso especial (Súmula n Q 07, S.T.J).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participa­ram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Adhemar Maciel e Arí Pargendler.

Brasília, 27 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSI­MANN, Relator.

Publicado no DJ de 11-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN: Pela recorrente foi ajuiza­da ação ordinária para cobrança de importância de que se julgava cre­dora, decorrente de contrato, sob o regime de empreitada, tendo por ob­jeto a construção e montagem de re­des elétricas de contato e das obras civis de estações retificadoras e de dutos subterrâneos.

Contestada a ação, a sentença, acolhendo em parte a alegação de prescrição, concluiu por julgar im­procedentes os pedidos da autora, referentes a débitos de guarda e vi­gilância do material e aluguel de lotes que serviram de canteiro de obras. Também julgou improceden­te, em razão de prescrição, o pedido de condenação relativa à dívida lí­quida reclamada, à exceção das par­celas representadas pelos títulos de fls. 142 e 144, a serem pagos com correção monetária, juros e honorá­rios.

Ao recurso interposto pela reque­rente, o Egrégio Tribunal de Justi­ça, por votação unânime, negou pro­vimento, mantendo integralmente a decisão proferida em primeiro grau.

Irresignada, a Construtora Tra­tex S.A. deduziu recurso especial, apoiando-se nas alíneas a e c do permissivo constitucional, insurgin­do-se tão-somente contra a decreta­ção da prescrição, ao insistir em que houve interrupção do lapso prescri­cional, pela prática de ato inequí­voco de reconhecimento da obriga­ção. Aponta contrariedade ao arti­go 172, inciso V, do Código Civil, bem como ao artigo 4Q do Decreto n Q 20.910/32.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 103

o recurso recebeu contra-razões, teve parecer do Ministério Público Estadual pela sua inadmissão e não foi admitido por despacho do Vice­Presidente do Tribunal.

Para melhor exame, dei provi­mento a agravo, determinando a subida dos autos.

Recebi memorial elaborado pela recorrente.

É o relatório, em síntese.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN (Relator): A grande dificul­dade da recorrente, em primeiro lugar, reside em ultrapassar a bar­reira do conhecimento, como se ve­rifica desde a interposição do espe­cial, passando pelo despacho inde­feritório e pela decisão proferida no agravo de instrumento.

Pela letra c do autorizativo, não há a mínima dúvida quanto ao in­sucesso da recorrente. Para compro­var a alegada divergência, veio ape­nas parte de uma ementa de acór­dão do Supremo Tribunal Federal, em menos de cinco linhas, sem in­dicar sequer o número do recurso, afirmando que não há o curso da prescrição durante a apuração e estudo da dívida (art. 4Q do Decreto 20.910). Sem demonstração analíti­ca da divergência, até mesmo por­que a questão principal diz respei­to à aplicação do parágrafo único do dispositivo, afasta-se o fundamen­to do recurso pelo dissídio.

Sobre o segundo aspecto, a viola­ção a dispositivo de lei federal, cum-

pre examinar desde logo a incidên­cia da Súmula n Q 7, uma vez que se pretende, na verdade, o simples re­exame de provas, inadmitido em sede de recurso extremo. Se não tam­bém a análise de cláusulas contra­tuais.

Comecemos pela sentença que, afastando outras verbas pleiteadas, inclusive aluguel- o que não mais comporta discussão - deteve-se no exame da prescrição, à luz dos ele­mentos probatórios. Textualmente (fls. 320/322):

"Não havendo causa impediti­va, a prescrição começa a correr com a actio nata, isto é, a partir do momento em que a obrigação já pode ser exigida, inclusive ju­risdicionalmente. Com este prin­cípio não se transige.

A forma estabelecida pelo con­trato e respectivos aditivos era de o faturamento e o respectivo pa­gamento serem feitos, primeira­mente em vinte dias, depois trin­ta, após a medição do serviço, cumprindo-se assim o pagamen­to parcial e autônomo para cada prestação vencida. Sem muito es­forço, chega-se à conclusão, por­tanto, de que, após a respectiva medição e faturamento, o direito de receber, em determinado pra­zo já nascia e, em conseqüência, para cada prestação, distinta­mente, se iniciava um lapso pres­cricional autônomo.

Dentro de tal atendimento, tem-se a primeira idéia de que procede a exceção levantada pela Fazenda Pública, com apoio do

104 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Ministério Público, pois de todas as prestações reclamadas, fatura­das ou não, apenas as vencidas em 12 de setembro e 26 de outu­bro de 1988, respectivamente de valores de Cz$ 84.671,73 (corri­gidos em setembro de 1988 para Cz$1.431.028,44)edeCz$187.966,42 (corrigidos em novembro de 1988 para Cz$ 3.833.142,81) (fls. 142 e 144), não sofrem a incidência da prescrição qüinqüenal, se se levar em conta, como ato inter­ruptivo da prescrição, a manifes­tação da Autora, de fls. 60/61, em 10 de setembro de 1993.

Sustenta a Autora que a pres­crição somente teve início em 03 de agosto de 1993, quando ainda tentou receber e que, antes, o lap­so prescricional não fluía, em ra­zão dos estudos para o reconhe­cimento e apuração da dívida que teriam finalizado com um Rela­tório de Conferência, e por estar o contrato ainda em vigor, sem rescisão.

AAutora não tem razão, quan­do fala no contrato em vigor, pois a actio nata se refere a cada pres­tação especificamente e não à dí­vida global, dependente de cum­primento integral do contrato.

A única manifestação da Auto­ra após as datas dos faturamen­tos foi, realmente, a solicitação de fls. 60/61, mais de cinco anos de­pois, apenas com exceção aos tí­tulos acima referidos e, estranha­mente, a própria Autora informa que, nos períodos respectivos, ou­tras faturas, somando mais do

que o reclamado, foram pagas normalmente, o que deixa em dúvida - e isto, genericamente considerado, até mesmo pode ser uma justificativa da prescrição qüinqüenal - a existência da própria dívida, já que não se con­cebe pagamento parcial em deter­minadas épocas, para, só depois de cinco anos, apurar-se o restan­te.

Pretende a Autora que a Ré te­ria reconhecido a dívida, quando forneceu o Relatório de Conferên­cia, de fls. 68/83. Em primeiro lu­gar, "o documento particular, ad­mitido expressa ou tacitamente, é indivisível, sendo defeso à par­te, que pretende utilizar-se dele, aceitar os fatos que lhe são favo­ráveis e recusar os que são con­trários ao seu interesse, salvo se provar que estes se não verifica­ram" (art. 373, par único do CPC). Nada provado, o documen­to só teria definitividade proba­tória, se a Autora aceitasse o que contra ela se propõe nas conclu­sões de fls. 83.

Se formalmente eficaz fosse o documento de fls. 68/83, em subs­tância de nada valeria. Se a pres­crição, em setembro de 1993, já ocorrera, a manifestação dos re­presentantes da autarquia não seria termo interruptivo de pres­crição, mas renúncia tácita a ela (art. 161 do C. Civil) e, neste caso, por ser ato de disposição, não pode acontecer com a simples manifestação do administrador, como bem ensina Hely Lopes Meirelles."

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 105

Já o voto condutor do acórdão, ainda sob o mesmo enfoque, regis­tra (fls. 363):

"Examine-se, em primeiro lu­gar, a tese relativa à prescrição qüinqüenal das parcelas vencidas anteriormente a30.09.88 e 15.11.88.

Entende e sustenta a apelan­te que teria havido interrupção do lapso prescricional, no que lhe diz respeito, em virtude de estu­dos realizados pela apelada e a Secretaria de Obras Públicas.

Apóia-se a recorrente, para tanto, no documento de fls. 60/61, vol. 1/2, contendo manifestação formal da autora em favor do re­cebimento de seus reclamados créditos. Data ela de 10.09.93, deixando evidenciado que todas as demais faturas, anteriores a 10.09.88, estão atingidas pelos efeitos da prescrição qüinqüenal.

Assim se conclui em face do art. 4Q

, parágrafo único, do De­creto n Q 20.910/32:

"A suspensão da prescnçao, neste caso, verificar-se-á pela entrada do requerimento do ti­tular do direito ou do credor nos livros ou protocolos das re­partições públicas, com desig­nação de dia, mês e ano"."

Depois, com apoio na lição de Síl­vio Rodrigues, assevera que o re­conhecimento do direito pelo deve­dor deverá ser inequívoco, não po­dendo ser identificado em "estudos" que então estariam sendo realiza­dos entre a apelada e a Secretaria

de Obras Públicas ... (o tantas vezes referido Relatório de Conferência).

Mas, o que não deixa mesmo dú­vida alguma sobre a pretensão de reexaminar provas é a leitura das razões recursais de fls. 372 a 382. Confiram-se, particularmente, al­gumas passagens (fls. 373, 374, 376, 377,378 e 379).

Como se vê da exposição da pró­pria recorrente, a análise das pro­vas é inafastável.

Bem por isso é que o despacho de admissibilidade destacou, às fls. 395: "O acórdão recorrido, após aná­lise percuciente do conjunto proba­tório, entendeu não haver prova da prática de ato inequívoco que impor­te o reconhecimento do direito pelo devedor.

A recorrente, no apelo manejado, alega ofensa ao art. 172, V, do Códi­go Civil, por haver o acórdão deixa­do de considerar as provas produ­zidas nos autos às fls. 147/198" ... Depois, às fls. 396, ... "Em seu in­conformismo, insiste a recorrente em que somente a partir da data em que o citado "Relatório de Conferên­cia" reconhece o crédito, é que po­deria correr a prescrição, nos ter­mos do art. 4Q do Decreto 20.910/32.

Não ataca, contudo, o fundamen­to adotado pelo aresto, que, aplican­do à hipótese o parágrafo único do dispositivo invocado, entende deva verificar-se a suspensão da prescri­ção "pela entrada do requerimento do titular do direito ou do credor nos livros ou protocolos das repartições públicas, com designação de dia, mês e ano" (fls. 364).

106 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

o apelo, no pertinente, encontra óbice intransponível na Súmula do STF, Enunciado 283.

Por outro lado, a questão, tam­bém aqui, envolve a reapreciação da prova, o que faz incidir o Enuncia­do 07 da Súmula do STJ."

Ainda que se pudesse ingressar no exame da violação a preceitos legais, a conclusão estaria com a sentença.

Com essas considerações e pelo exposto, não conheço do recurso.

É como voto.

VOTO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Sr. Presidente, estou in­teiramente de acordo com o eminen­te relator, mas quero fazer algumas

observações: o eminente procurador do DNER fez uma observação quan­to à inaplicabilidade do art. 172 do Código Civil.

Não podemos, mesmo subsidia­riamente, trazer o art. 172 do Códi­go Civil. Teremos que aplicar, neste caso, o Decreto n. 20.910/32. O art. 29 da Lei de Introdução ao Código Civil diz que quando a lei regular inteiramente a matéria, ela revoga a lei anterior. Assim, como o Decre­to 20.910/32 é posterior ao Código Civil (1916), mas de igual hierar­quia (na época o Executivo era a única fonte legiferante), prevalece. Trata-se de lei específica, que regu­la a matéria. O decreto é de mesma hierarquia.

Acompanho o Ministro-relator.

É meu voto.

RECURSO ESPECIAL N9 118.780 - SP

(Registro n 9 97.0009185-6)

Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Carla Pedroza de Andrade e outros

Recorrida: Mofersul Indústria e Comércio de Metais Ltda.

Advogado: Sebastião Luiz Pereira Lima

EMENTA: Execução fiscal. Penhora. Substituição dos bens pe­nhorados. Faturamento diário da empresa. Observância das cau­telas legais.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 107

Na execução fiscal, não se admite que a penhora recaia, de for­ma simplista, sobre a renda diária da empresa executada, com o depósito em estabelecimento bancário. Impõe-se a nomeação de administrador, que exercerá as funções na forma determinada pela lei processual.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso mas lhe negar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro­Relator. Participaram do julgamen­to os Srs. Ministros Peçanha Mar­tins, Adhemar Maciel eAri Pargen­dler.

Brasília, 7 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSI­MANN, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN: Trata-se de recurso especial interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo, fundado no artigo 105, inciso IrI, alínea c, da Consti­tuição Federal, contra acórdão que negou provimento a agravo por ela manifestado, pleiteando a substitui­ção dos bens penhorados por per­centual sobre o faturamento da exe­cutada, ao argumento de que a exe­cução está garantida pela penhora

em bens sobre os quais foram de­signadas duas datas para leilões (que redundaram negativos).

Alega a recorrente, unicamente, dissídio jurisprudencial.

Sem contra-razões, posto que não oferecidas, vieram os autos a esta superior instância.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN (Relator): Pretende a recor­rente seja "provido o recurso espe­cial interposto, para o fim de, inver­tendo o julgado, determinar a subs­tituição da penhora em 30% sobre o faturamento diário da executada até o montante atualizado da exe­cução ... ".

A egrégia Primeira Seção, em precedente da lavra do eminente Ministro Humberto Gomes de Bar­ros, EREsp nº 24.030-SP, assentou o seguinte entendimento:

"Processual Civil - Execução fiscal - Penhora da renda da empresa - Art. 678 do CPC.

- N o processo executivo fiscal, a penhora da renda de empresa deve observar as cautelas reco­mendadas pelos arts. 677 e 678 do CPC." (DJ de 02.06.97).

108 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Conforme anotado pelo eminen­te Relator:

"Tenho para mim que a penho­ra de renda gerada pela pessoa jurídica assemelha-se à constri­ção de salários recebidos. Tanto como esta, atinge em profundida­de a própria vida do devedor.

Ora, o direcionamento do sa­lário, para a satisfação do deve­dor, somente pode ocorrer atra­vés da declaração de insolvência. Declarada a insolvência civil, o administrador nomeado pelo Es­tado dirigirá o patrimônio do de­vedor, no sentido de que, sem sa­crifício de sua sobrevivência e dig­nidade, atenda-se o interesse do credor.

Em se tratando de pessoa ju­rídica, a necessidade de penho­rar-se a renda de sua atividade pressupõe um estado econômico análogo à insolvência.

Por isto, é necessária a presen­ça de administrador que - ao sa­bor das circunstâncias - dose as entradas e saídas de numerário,

de modo a que - sem destruir o devedor - atenda-se o credor.

"A penhora de renda diária de empresa-executada, numa execução fiscal, exige a nomeação de admi­nistrador (CPC, art. 719, caput e seu parágrafo único), com as atri­buições inscritas nos arts. 728 e 678, parágrafo único, CPC, vale dizer, com apresentação de forma de ad­ministração e esquema de paga­mento e obedecendo, quanto ao mais, ao disposto nos artigos 716 e 720, CPC". (REsp 2.563-SP, ReI. Min. Carlos Mário Velloso, 2ª Turma).

De concluir-se, assim, ainda na dicção do eminente Ministro Carlos Mário Velloso, "pela impossibilida­de de a penhora realizar-se, de for­ma simplista, sobre a renda diária da empresa-executada com o seu de­pósito em estabelecimento bancá­rio".

Do exposto, nos termos acima as­sinalados, conheço do recurso mas lhe nego provimento.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 152.722 - PE

(Registro n Q 97.0075774-9)

Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Fazenda Nacional Procuradores: Drs. Maria da Graça Aragão e outros

Recorrida: Simarco Indústria, Comércio, Importação e Exportação Ltda.

Advogados: Drs. Irandi Santos da Silva e outros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 109

EMENTA: Processual Civil. Agravo de instrumento. Intempesti­vidade. Aplicação da regra inserta no "antigo" art. 529 do CPC. Recurso não conhecido.

I - À luz do "antigo" art. 529 do CPC, aquele que interpusesse agravo de instrumento fora do prazo legal arcava com o décuplo do valor das custas do recurso. Aquela sanção era aplicável de ofício. Além disso, a sua imposição não dependia de dolo ou má-fé do agravante. Sendo intempestivo o agravo de instrumento, o tri­bunal ad quem deveria aplicar a sanção.

11 - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Turma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro­relator, na forma do relatório e no­tas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte in­tegrante do presente julgado. Vota­ram de acordo os Srs. Ministros Hélio Mosimann e Peçanha Mar­tins. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Custas, como de lei.

Brasília, 05 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.

Publicado no DJ de 06-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: A Fazenda Nacional in-

terpõe recurso especial contra acór­dão proferido pelo TRF da 5ª Re­gião.

Simarco - Indústria, Comércio, Importação e Exportação Ltda. ajui­zou ação declaratória de inexistên­cia de obrigação tributária em rela­ção à Fazenda Nacional, com o fim de recolher a contribuição devida ao Programa de Integração Social -PIS nos moldes das Leis Comple­mentares ns. 07/70 e 17/73, e não conforme o estabelecido pelos De­cretos-leis ns. 2.445/88 e 2.449/88.

O juiz federal de primeiro grau julgou procedente a demanda.

O TRF da 5ª Região "confirmou" a sentença.

Em seguida, Sim arco requereu a expedição de alvará de levantamen­to do montante depositado.

O juiz federal de primeiro grau determinou a expedição de alvará.

Inconformada, a Fazenda N acio­naI interpôs agravo de instrumen­to.

Conduzida pelo voto proferido pelo eminente Juiz José Delgado, que ora abrilhanta esta Corte, a 2ª

110 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Turma do TRF da 5ª Região, não conheceu do agravo, e condenou a agravante no pagamento do décuplo do valor das custas respectivas. O acórdão, unânime, restou assim ementado:

"Processual Civil. Intempestivi­dade do agravo de instrumento. Não conhecimento. Aplicação do art. 529 do CPC.

1. Não se conhece de recurso in­terposto intempestivamente pela falta de um dos pressupostos de admissibilidade.

2. Condenação da agravante no pagamento do décuplo das custas judiciais, a favor da agravada, a teor do artigo 529 do CPC" (fl. 50).

Inconformada, a Fazenda N acio­naI recorre de especial pela alínea a do permissivo constitucional. Ale­ga que o acórdão recorrido violou o art. 529 do CPC. Invoca em seu fa­vor precedentes do STF e do STJ.

Sem contra-razões.

O recurso especial foi admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Senhor Presi­dente, o relator a quo proferiu o se­guinte voto-condutor:

"O recurso ora em exame foi ajui­zado intempestivamente.

A intimação da decisão agravada deu-se no dia 09/02/95 (fls. 67) e a interposição do presente agra­vo ocorreu no dia 21/02/95, posto que teve como termo final o dia 20/02/95 (dia 19 fora um domingo).

Dessa forma, precluso é o direito da agravante, visto a seridiosida­de da interposição do recurso, que possui prazo peremptório, fatal e improrrogável de dez dias, a teor do art. 523, do Código Processu­al Civil, não se admitindo sua prorrogação por acordo das par­tes ou dilação por meio de sus­pensão do processo.

Com efeito, a admissibilidade dos recursos está subordinada ao pre­enchimento de determinados pressupostos objetivos, sendo con­dição sine qua non a coexistên­cia de todos, quais sejam, a re­corribilidade do ato decisório, a tempestividade, a uni-recorribi­lidade ou singularidade do recur­so, a adequação e o preparo.

Assim, impõe-se o não conheci­mento do presente agravo de ins­trumento, em respeito ao que prevê o art. 523 do Código de Pro­cesso Civil.

Em decorrência, aplica-se a pe­nalidade, em favor do agravado, do pagamento do décuplo do va­lor das custas processuais, de acordo com o preconizado no ar­tigo 529 do CPC.

Pelo exposto, não conheço do agravo de instrumento e conde­no a recorrente na penalidade do artigo 529 do CPC.

É como voto" (fl. 47).

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 111

o "antigo" art. 529 do CPC esta­belecia:

"Se o agravo de instrumento não for conhecido, porque interposto fora do prazo legal, o tribunal im­porá ao agravante a condenação, em benefício do agravado, no pa­gamento do décuplo do valor das custas respectivas".

Ora, tal regra era imprescindível no sistema recursal anterior, pois o juiz de primeiro grau não podia dei­xar de receber o agravo e determi­nar a remessa do instrumento ao tribunal ad quem (cf. "antigo" art. 528 do CPC). Em contrapartida, o agravante era penalizado por sub­meter ao tribunal de segundo grau agravo intempestivo. Isso porque provocava inutilmente o funciona­mento da máquina judiciária, já quase emperrada, tendo em vista o excesso de recursos dirigidos aos tribunais. Além disso, causava trans­tornos injustificáveis ao agravado, que tinha - através de seu advo­gado - que apresentar resposta ao recurso, acompanhar seu processa­mento, elaborar memorial etc. Por fim, não há como negar o atraso que a interposição de um agravo intem­pestivo gera no caminhar do proces­so rumo à prestação jurisdicional de mérito, apesar de aquele recurso ser dotado por lei apenas de efeito sus­pensivo. A respeito do tema, trago à colação os pronunciamentos de alguns dos nossos doutrinadores de escol, começando pelo Professor José Carlos Barbosa Moreira:

"Sanção para a intempestivida­de do agravo - Excluindo a de-

negação do agravo pelo órgão a quo, inclusive no caso de intem­pestividade, naturalmente abre ensejo a lei à subida de agravos interpostos fora do prazo. Daí sem dúvida resulta um grave ris­co: o da multiplicação desmedida de agravos, a sobrecarregar, mui­tas vezes sem utilidade, o traba­lho dos tribunais. O risco é tanto maior quanto são amplas, amplís­simas, no sistema do Código, as oportunidades que se abrem de agravar. Estimula-se a chicana, colocando-se à disposição dos in­teressados um meio fácil de em­baraçar a cada instante a marcha do processo e relegar o julgamen­to da lide para as calendas gre­gas.

Com o propósito de atenuar esse inconveniente, comina o art. 529 uma sanção para aquele que in­terponha a destempo o agravo. Sobe o recurso, mas, se o órgão ad quem dele não conhecer, por intempestivo, imporá ao agra­vante, em benefício da outra par­te, a condenação no décuplo das custas respectivas. Assim se bus­ca atalhar manobras protelató­rias armadas sobre a interposi­ção de agravos fora do prazo.

Omissis.

Não se exige, porém, dolo ou má­fé do recorrente.

Omissis.

Quando cabível, deve a condena­ção ser imposta de ofícios pelo ór­gão ad quem" (Comentários ao Código de Processo Civil, voI. V, 6ª ed., Forense, 1993, págs. 469 a 471).

112 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Invoco, ainda, a lição do Profes­sor Sérgio Bermudes:

"A decisão que deixar de conhe­cer do agravo, por intempestivo, condenará o agravante a pagar ao agravado o décuplo do valor das custas do recurso.

Omissis.

O espírito do legislador, ao ela­borar a norma consubstanciada no texto, foi o de punir o litigan­te que não recorre tempestiva­mente, acarretando transtornos para seu adversário e provocan­do o inútil funcionamento da máquina jurisdicional. Aintenção foi louvável e certamente contri­buirá para diminuir a ocorrência de agravos intempestivos, o que, de certa forma, compensará o imenso volume de recursos que assoberbará nossos tribunais, em face da norma do art. 528" (Co­mentários ao Código de Processo Civil, vol. VII, 2ª ed., Revista dos Tribunais, 1977, págs. 189 e 190).

Por fim, transcrevo o ensinamen­to do Professor Humberto Theo­doro Júnior:

"Tendo em vista a amplitude do direito de agravar, o código pro­curou coibir as chicanas, insti­tuindo a multa do décuplo das custas, aplicável pelo tribunal, em favor do agravado, sempre que 'o agravo de instrumento não for conhecido, porque interposto fora do prazo legal' (art. 529)" (Curso de Direito Processual Civil, vol. I, 10ª ed., Forense, pág. 569).

Senhor Presidente, uma última palavra. Embora não exista mais em nosso sistema recursal a regra inserta no antigo art. 529 do CPC, sempre me pareceu salutar, já que penalizava aquele que provocava inutilmente o funcionamento da máquina judiciária, bem como atra­sava a definitiva solução do proces­so através de agravo intempestivo. Tenho para mim que em regime re­cursal como o nosso, no qual se ad­mite a ampla recorribilidade das decisões interlocutórias proferidas ao longo do processo, é conveniente que exista norma como a prevista no "antigo" art. 529 do CPC, a fim de desestimular a interposição de agravos fora do prazo legal, os quais só servem para aumentar o serviço dos tribunais, e para prejudicar o agravado, que, por vezes, se vê obriga­do a contratar advogado para atuar perante o tribunal de segundo grau.

Em suma, Senhor Presidente, à luz do "antigo" art. 529 do CPC, aquele que interpusesse agravo de instrumento fora do prazo legal arcava com o décuplo do valor das custas do recurso. Aquela sanção era aplicável de ofício. Além disso, a sua imposição não dependia de dolo ou má-fé do agravante. Sendo intempestivo o agravo de instru­mento, o tribunal ad quem deve­ria aplicar a sanção.

Com essas considerações, não co­nheço do recurso especial, presti­giando o acórdão relatado pelo emi­nente Juiz José Delgado, que ora abrilhanta esta Corte.

É como voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasl1ia, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 113

RECURSO ESPECIAL NQ 164.635 - SP

(Registro nQ 98.0011607-9)

Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler

Recorrente: União Federal

Recorrida: Eletricidade de São Paulo S/A - Eletropaulo

Advogados: Drs. Marly Ricciardi e outros

EMENTA: Processo Civil. Assistência da União. Desistência. Perpetuatio jurisdictionis. Sendo a assistência uma modalidade de intervenção voluntária, a incidência da Súmula n Q 218 do Supre­mo Tribunal Federal depende de a União reivindicar essa posi­ção no processo. Mas deferido o pedido de assistência, a União já não pode dela desistir, sob pena de tumulto, o mais radical, na medida em que acarretaria o deslocamento da causa para outra jurisdição, a da Justiça do Estado. Não se trata de transformar em obrigatória uma intervenção voluntária, mas sim de uma pro­vidência que visa a dar seriedade à manifestação do interesse da União na causa, impedindo-a de retratar-se ao sabor do que pen­sam os procuradores que eventualmente se sucedem na sua re­presentação. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não co­nhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Parti­ciparam do julgamento os Srs. Mi­nistros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Adhemar Maciel.

Brasília, 07 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. MinistroARI PARGEN­DLER, Relator.

Publicado no D,J de 25-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTROARIPARGEN­DLER: Nos autos de ação de consti­tuição de servidão administrativa movida pela Eletropaulo - Eletri­cidade de São Paulo S/A contra Car­los de Almeida Kasprzuykonski, a MM. Juíza Federal Dra. Marisa Ferreira dos Santos proferiu a se­guinte decisão:

"Trata-se de Ação de Desapro­priação movida por sociedade de economia mista, concessionária de serviços públicos federais.

O feito até o momento foi pro­cessado perante a Justiça Fede­ral em virtude da intervenção da União na qualidade de assisten­te da expropriante.

114 R. Sup. Trib. Just., Brasl1ia, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

Sobreveio requerimento da União Federal de exclusão da re­lação processual ao argumento de que não tem interesse no presen­te feito.

Isto posto, excluo a União Fe­deral da relação processual, dei­xando de ser esta Justiça Fede­ral competente para o processa­mento da desapropriação" (fl. 30).

Seguiu-se agravo de instrumen­to, interposto pela Eletropaulo -Eletricidade de São Paulo SIA (fls. 02/13), provido pela Egrégia Primei­ra Turma do Tribunal Regional Fe­deral da 3ª Região, Relator o emi­nente Juiz Sinval Antunes, em acór­dão assim ementado:

"Processo Civil. Constitucional. Agravo de instrumento. Desapro­priação. Exclusão da União por falta de interesse processual. Im­possibilidade. I -Agindo a agra­vante como concessionária de serviço público, podendo explo­rar, mediante concessão, os ser­viços e instalações de energia elé­trica de que é titular a União Fe­deral, evidencia-se o interesse jurídico deste ente político, des­cabendo, por conseqüência, sua exclusão da relação processual. II - Inteligência do artigo 21, inc. XII, letra b, da Carta Magna. III - Agravo provido" (fl. 101).

Opostos embargos de declaração (fls. 104/109), foram rejeitados (fls. 1121115), e daí o presente recurso especial, interposto pela União Fe­deral, com base no artigo 105, inci­so III, letras a e c, da Constituição

Federal, por violação do artigo 50 do Código de Processo Civil, bem assim do artigo 2Q da Medida Pro­visória n Q 1.561/97 (fls. 120/138).

VOTO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER (Relator): Há vinte anos, a propósito da assistência da União, escrevi:

"Ao tempo do Código de 1939, a Súmula n Q 218 firmou o princí­pio de que "é competente o juízo da Fazenda Nacional da Capital do Estado, e não o da situação da coisa, para a desapropriação pro­movida por empresa de energia elétrica, se a União Federal in­tervém como assistente". Quem quer que procure os antecedentes dessa súmula verá que seu fun­damento decorre de uma preocu­pação cujo caráter é eminente­mente econômico: a de que o custo do imóvel expropriado correspon­da exatamente ao seu valor real, para prevenir prejuízos à União no caso de uma futura encampação da empresa concessionária (ERE n Q 43.413, in Oliveira, Jardel & Martins, Odaléa, Referências da Súmula do STF, Brasília, 1971, 111 231). Não existe aí o interesseju­rídico preconizado pelo art. 50, do vigente C.P.C., que deve ser atual. Mas a Súmula n Q 218 ainda pre­valece, com a Justiça Federal pro­cessando e julgando as desapro­priações promovidas por empre­sas de energia elétrica, quando a

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 115

União nelas pleiteia a condição de assistente" (A Assistência da União Federal nas Causas Cíveis, ColeçãoAJURIS 14, Porto Alegre, 1979, págs. 51152).

Evidentemente, sendo a assistên­cia uma modalidade de intervenção voluntária, a incidência da Súmula n Q 218 do Supremo Tribunal Fede­ral depende de a União reivindicar essa posição no processo.

Deferido o pedido de assistência, com sua conseqüente admissão no processo, a União já não pode dela desistir, sob pena de tumulto, o mais radical na medida em que acarre­taria o deslocamento da causa para outra jurisdição, a da Justiça do Es­tado.

Aqui, é disso que se trata, con­forme se vê da peça de fls. 90/92, firmada pela MM. Juíza que dirige o processo:

"A União Federal interveio co­mo assistente simples da expro­priante, tendo acompanhado o andamento do feito até que, à fl. 87, formulou pedido que passo a transcrever:

"A União Federal não tem interesse no presente feito. As­sim, requer sua exclusão".

Foi, então, proferida a decisão ora atacada, que acolheu o reque­rimento da União, excluindo-a do feito e determinando a remessa dos autos à Justiça Estadual" (fi. 90).

A se permitir a desistência do as­sistente, quando sua presença na causa define a competência para o respectivo processo e julgamento, atacado estaria o princípio da per­petuatio jurisdictionis, com a conseqüente desestabilização da re­lação processual.

Não se trata - como sustenta a MM. Juíza - de "dar à figurajurí­dica da assistência os contornos do litisconsórcio necessário" (fi. 91), ou mesmo de transformar em obriga­tória uma intervenção voluntária, mas sim de uma providência que visa a dar seriedade à manifestação do interesse da União na causa, que não pode retratar-se ao sabor do que pensam os procuradores que even­tualmente se sucedem na sua repre­sentação.

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

116 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.

JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA SEÇÃO

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL NQ 64.205 - GO

(Registro n Q 97.0033746-4)

Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza

Agravante: Marmoraria Santa Cruz Ltda.

Advogados: Drs. Chiang de Gomes e outros

Parte: Marco Antônio Borges Cunha

Advogados: Drs. Felicíssimo José de Se na e outros

Agravada: Decisão de fls. 285

EMENTA: Processual Civil. Agravo regimental. Petições e recur­sos no STJ. Fac simile.

A Corte Especial, de 18.06.97, ratificou Resolução 43, de 23.10.91, no entendimento de que não serão admitidos no Superior Tribu­nal de Justiça petições ou recursos via fac-símile.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do agravo.

Votaram com o Relator os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Ruy Rosado de Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Costa Leite, Walde-

mar Zveiter, Barros Monteiro e Ce­sar Asfor Rocha.

Brasília, 25 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro SÁLVIO DE FIGUEI­REDO TEIXEIRA, Presidente. Mi­nistro BUENO DE SOUZA, Relator.

Publicado no DJ de 04-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA: Trata-se de Agravo Regi-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 119

mental oposto à r. decisão (fls. 285), da lavra do ilustre Ministro Fontes de Alencar, que indeferiu, liminar­mente, os presentes embargos, nes­tes termos:

"Trata-se de embargos de diver­gência opostos contra decisão proferida pela 3ª Turma, em re­curso especial de que foi Relator o Ministro Carlos Alberto Mene­zes Direito, de acórdão assim ementado:

"Recurso especial. Contrato de fornecimento e prestação de serviços. Colocação de piso de granito em apartamento. Ação cominatória. Súmulas nm; 05 e 07 desta Corte.

1 - É possível o ajuizamento da ação cominatória quando pede o autor que a ré cumpra a sua obrigação na forma con­tratada, uma vez provado que o material empregado não ti­nha a qualidade prevista.

2 - O exame do mérito está vedado ao abrigo das Súmulas nm; 05 e 07 desta Corte.

3 - Recurso especial não co­nhecido" (fls. 264).

Preliminarmente, esclareço que tendo o aresto embargado supor­te em regra técnica de conheci­mento do recurso especial inca­bíveis são os embargos de diver­gência.

Ademais, mera transcrição de ementa não se presta ao fim coli­mado."

Marmoraria Santa Cruz Ltda., agravante, reitera as alegações adu­zidas em seu recurso especial sobre o descabimento in casu de ação co­minatória e, sim redibitória ou in­denizatória.

Aponta dissídio pretoriano sob a alegação de que este restou devida­mente demonstrado quando da pro­posição dos embargos de divergên­cia.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA (Relator): Senhor Presiden­te, de início observo que a petição do agravo regimental foi remetida via fax, sendo, ao depois, juntada a petição original, a qual, por sua vez, foi apresentada no protocolo desta Corte a destempo.

O entendimento jurisprudencial deste Tribunal, em sessão de 18.06.97, da Corte Especial, por maioria, fir­mou seu entendimento ao julgar Embargos de Declaração no CC 14.324-SP, Relator o Ministro Nil­son Naves, nos seguintes termos:

"Processo no STJ. Petições e re­cursos. Fac-símile. "Petições e re­cursos não serão admitidos no Superior Tribunal de Justiça quando realizados por meio de fac-símile" (Resolução n Q 043, de 23.10.91). Talo entendimento que a Corte Especial ratificou, por maioria de votos, em julga-

120 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998.

mento findo na sessão do dia 18.06. Embargos de declaração interpostos via fac-símile, de que a Corte não conheceu."

Fiel ao meu voto naquela assen­tada e ao meu convencimento ínti­mo, não conheço do recurso do agra­vo regimental.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA NQ 19.108 - RJ

(Registro n Q 97.0002830-5)

Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza

Autores: Marisete de Fátima Lima Silva e outros

Advogado: Dr. Jaime de Jesus Santos

Réus: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Ci­vil de Lad. Hid. e Prod. de Cimo e de Marm. e Gran. e da Consto de Estradas Pav. e Obras de Terraplanagem em Geral e Monta­gens Ind. do Município do Rio de Janeiro

Advogados: Drs. Henrique Barros Teixeira e outros

Suscitante: Septuagésima Primeira Junta de Conciliação e Julgamen­to do Rio de Janeiro-RJ

Suscitado: Juízo de Direito da 36ª Vara Cível do Rio de Janeiro-RJ

EMENTA: Competência. Suspensão de contribuição sindical. Convenção coletiva de trabalho.

Sob a égide do art. 1 Q da Lei 8.984/95 cumpre à Justiça do Tra­balho processar e julgar as causas em que se discute contribui­ções sindicais estatuídas em convenção coletiva de trabalho.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente a 71 ª Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro-RJ, a suscitante.

Votaram com o Relator os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Ruy Rosado de Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Costa Leite, Walde­mar Zveiter, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.

Brasília, 25 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 121

Ministro SÁLVIO DE FIGUEI­REDO TEIXEIRA, Presidente. Mi­nistro BUENO DE SOUZA, Relator.

Publicado no DJ de 23-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA: Trata-se de conflito nega­tivo de competência suscitado pela MM. 71 ª Junta de Conciliação e Jul­gamento do Rio de Janeiro, com ful­cro no art. 113 do CPC, por enten­der que o art. 1 Q, da Lei 8.984, de 07.02.95, contraria o art. 114 da Constituição Federal.

Em autos de ação declaratória proposta por Marisete de Fátima Lima Silva e outros contra o Sindi­cato dos Trabalhadores nas Indús­trias da Construção Civil de Lad. Rid. e Prod. de Cimo e de Mar. e Gran. e da Construção de Estradas Pav. e Obras de Terraplanagem em Geral e Montagens Industriais do Município do Rio de Janeiro, visan­do o não pagamento de contribui­ções assistenciais e confederativas estipuladas em cláusula de Conven­ção Coletiva de Trabalho.

O parecer do Ministério Público Federal opina pela competência do Juízo suscitante, a justiça laboral.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA (Relator): Senhor Presiden­te, tal como informa, pontualmen­te, o d. parecer ministerial, é reite-

rada a jurisprudência desta Corte, a entender, em casos semelhantes em face do estatuído na Lei 8.984, de 07.02.95, a competência é a da justiça especial.

Assim se decidiu no CC 16.099-RJ, Relator o Ministro Costa Leite, conforme a seguinte ementa:

"Competência. Ação de cum­primento. Acordo/Dissídio coleti­vo de trabalho.

Com o advento da Lei 8.984/95, dispondo que incumbe à Justiça do Trabalho, conciliar e julgar os dissídios que tenham origem no cumprimento de convenções co­letivas ou acordos coletivos de trabalho, mesmo quando acorram entre sindicatos ou entre sindi­catos de trabalhadores e empre­gadores, restou inteiramente su­perada a jurisprudência que se atinha à parte final do art. 114 da Constituição, para definir a competência da Justiça Comum. Constitucionalidade do dispositi­vo. Conflito conhecido, declaran­do-se a competência da Justiça do Trabalho."

Do mesmo modo se pronunciou também o Ministro Barros Montei­ro, como Relator do REsp 122.880-SP, assim ementado:

"Sindicato. Contribuição confede­rativa estipulada em convenção coletiva do trabalho. Competên­cia da justiça especializada.

- Incidência da Lei n Q 8.984, de 07.02.95, pelo fato de achar-se a contribuição confederativa inser-

122 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998.

ta em cláusula de acordo coleti­vo de trabalho.

- Compete à Justiça do Traba­lho executar sentença, com trân­sito em julgado, proferida pela Justiça Comum do Estado antes da Lei nº 8.984/95, por força do disposto no art. 87, parte final, do Código de Processo Civil.

- Recurso especial conhecido e provido."

Igualmente, no REsp 100.420-RJ, de que foi Relator o Ministro Car­los Alberto Menezes Direito, resu­mido nestes termos:

"Recurso especial. Medida caute­lar proposta por associação de funcionários contra sindicato. Sus­pensão de descontos de contribui­ções assistencial e confederativa prevista em convenção coletiva. Competência. Súmula nº 57 -STJ.

1. Em relação aos atos processu­ais e decisões anteriores à Lei 8.984, de 07.02.95, aplica-se o en-

tendimento jurisprudencial con­solidado na Súmula nº 57-STJ, que dispõe: "Compete à Justiça Comum Estadual processar e jul­gar ação de cumprimento funda­da em acordo ou convenção cole­tiva não homologados pela Justi­ça do Trabalho".

2. Por força do disposto no art. 1 Q

da Lei n Q 8.984, de 07.02.95, de­vem os presentes autos ser reme­tidos à Justiça do Trabalho por cuidar de discussão relativa a co­brança de contribuições assisten­cial e confederativa prevista em convenção coletiva de trabalho, porém, anulando-se somente os atos praticados pela J ustica Co­mum após a edição do referido diploma.

3. Recurso especial conhecido e provido, parcialmente."

N a consonância dos precedentes a que me reporto, conheço do con­flito e declaro competente 71ª Jun­ta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro, suscitante.

É como voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA NQ 19.246 - SP

(Registro n Q 97.0004144-1)

Relator: O Sr. Ministro Costa Leite

Autor: Sindicato dos Empregados em Comércio Hoteleiro e Similares de Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande

Réu: B. S. Dimitrievich

Suscitante: Juízo de Direito da 6ª Vara Cível de Santos - SP

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 123

Suscitada: Segunda Junta de Conciliação e Julgamento de Santos -SP

Advogado: Delfino Miranda

EMENTA: Competência. Perpetuação de jurisdição. Execução.

Superveniência da Lei 8.984/95, que incluiu a causa - cobran­ça de contribuição sindical decorrente de Convenção Coletiva de Trabalho - na competência da Justiça do Trabalho. Aplicação da ressalva constante da parte final do art. 87 do CPC, não se apli­cando o princípio da perpetuação de jurisdição.

Conflito conhecido, para declarar-se a competência da Justiça do Trabalho.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribu­nal de Justiça, em conformidade com os votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhe­cer do conflito e declarar competen­te a 2ª Junta de Conciliação e Jul­gamento de Santos-SP, a suscita­da. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduar­do Ribeiro, Barros Monteiro, Ce­sar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Romildo Bueno de Souza e Waldemar Zveiter.

Brasília, 29 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro SÁLVIO DE FIGUEI­REDO TEIXEIRA, Presidente. Mi­nistro COSTA LEITE, Relator.

Publicado no DJ de 22-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO COSTA LEI­TE: Adoto, à guisa de relatório, a parte expositiva do parecer do Mi­nistério Público Federal, nestes ter­mos:

"Trata-se de conflito negativo de competência suscitado pelo Juízo de Direito da 6ª Vara Cível da Comarca de Santos, do Esta­do de São Paulo.

O Sindicato dos Empregados em Comércio Hoteleiro e Simila­res de Santos, São Vicente, Gua­rujá, Cubatão e Praia Grande ajuizara, perante a 2ª Junta de Conciliação e Julgamento em Santos, no Estado de São Paulo, contra a B. S. Dimitrevich Ltda., ação de cobrança de contribuição assistencial, fixada em Conven­ção Coletiva de Trabalho, e de contribuição sindical, estipulada na Consolidação das Leis Traba­lhistas.

124 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998.

A MM. 2ª Junta de Conciliação e Julgamento em Santos julgou procedente a ação. Interposto re­curso ordinário ao Egrégio Tribu­nal Regional do Trabalho daque­le Estado, este, a seu turno, não conheceu do recurso, declinando de sua competência em favor da Justiça Comum que, em virtude da supervenção da Lei 8.984, de 07.02.95, determinou a remessa dos autos à Justiça Laboral. Esta, por sua vez, devolveu-os para a Justiça Estadual que, finalmen­te, suscitou o presente conflito."

Opinando, o parecer é pelo conhe­cimento do conflito, para que se de­clare a competência da Justiça do Trabalho.

É o relatório, Senhor Presidente.

VOTO

O SR. MINISTRO COSTA LEITE (Relator): Impende, em primeiro lu­gar, corrigir a autuação. O órgão jurisdicional suscitado não é o Tri­bunal Regional do Trabalho da 2ª Região, mas a 2ª Junta de Concilia­ção e Julgamento de Santos/SP (fl. 30). Aquele Tribunal, em 1986, anu­lou decisão da Junta, reconhecendo a incompetência da Justiça do Tra­balho e determinou a remessa dos

autos à Justiça Comum, que admi­tiu a sua competência.

Com a superveniência da Lei 8.984/95, já na execução, é que o Juízo de Direito suscitante declinou da competência para a suscitada, que não a admitiu com base no prin­cípio da perpetuação da jurisdição, devolvendo os autos àquele e moti­vando este conflito.

Sucede que a hipótese se enqua­dra na ressalva da parte final do art. 87 do CPC e, a propósito, já de­cidiu esta Seção, ao julgar o CC n Q

948-GO, de que foi relator o eminen­te Ministro Sálvio de Figueiredo, que "a alteração de competência ratione materiae tem aplicação imediata, se não ressalvada n,a lei que trouxe a modificação, e se apli­ca independentemente da fase em que se encontra o processo".

Por fim, cabe uma observação quanto ao parecer do Ministério PÚ­blico Federal, que opina pela apli­cação analógica da Súmula n Q 170. Embora a inicial mencione também a contribuição sindical, o pedido re­fere-se exclusivamente à contribui­ção assistencial (fl. 05).

Do quanto exposto, conheço do conflito e declaro a competência do MM. Juízo Trabalhista suscitado. É o meu voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 125

JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA

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RECURSO ESPECIAL Nº 66.370 - RS

(Registro nº 95.0024680-5)

Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zveiter

Recorrentes: Nilson Dione Spagnoli e cônjuge

Recorrido: Pneuac S/A Comercial e Importadora

Advogados: Drs. Afonso Viapiana e outro, e Ricardo Borges Chedid e outros

EMENTA: Embargos do devedor - Execução provisória de sen­tença - Honorários advocatícios - Cabimento - Prequestiona­mento.

I - Ausência de prequestionamento dos dispositivos invocados. Incidência das Súmulas 282 e 346, do STF.

U - São devidos honorários advocatícios na execução de título judicial, ainda que não embargada. .

lU - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Senhores Mi­nistros da Terceira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, na confor­midade dos votos e das notas taqui­gráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Se­nhores Ministros Menezes Direito, Costa Leite, Nilson Naves e Eduar­do Ribeiro.

Brasília, 16 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro WALDEMAR ZVEI­TER, Relator.

Publicado no DJ de 29-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER: Cuida-se de embargos do devedor opostos por Nilson Dione

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 129

Spagnoli e sua esposa à execução provisória de sentença que lhes mo­ve Pneuac SIA Comercial e Impor­tadora, julgados improcedentes pela r. sentença monocrática (fls. 30/32).

Interposta apelação, a Egrégia Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dela não conheceu, por inobservân­cia de preparo das custas iniciais (fls. 66/68).

Inconformados, os Embargantes opuseram o Recurso Declaratório de fls. 73/76, que restou acolhido, com efeito modificativo, o que propiciou o exame do mérito do apelo. Não obstante, o Tribunal a quo negou­lhe provimento, ao entendimento de que a carta de sentença atendia às exigências legais; o alegado exces­so de execução seria apreciado, oportunamente, por Superior Ins­tância; os honorários advocatícios seriam devidos no patamar de 12% sobre o montante do débito. (fls. 771 82)

Ainda irresignados, interpõem Recurso Especial, com fulcro nas alíneas a e c, do permissivo consti­tucional, sustentando ofensa aos arts. 586, 589, 590 e 618, I, do CPC (relativamente à carta de sentença); aos arts. 130,515,516,741, V e 743, I, também do CPC (quanto à ques­tão do excesso de execução); aos arts. 2Q

, 128 e 460, todos do CPC (no referente à fixação dos honorários advocatícios), bem como dissídio jurisprudencial.

O Recurso não foi contra-arrazoa­do, tendo sido admitido pela letra c (fls. 98/99) e encaminhado a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER (Relator): Inviável é a aná­lise deste Recurso pela alínea a, do permissivo constitucional, em virtu­de da ausência de prequestiona­mento dos dispositivos tidos por vio­lados. E não tendo sido opostos Embargos Declaratórios para suprir eventual omissão, incidem ao caso as Súmulas 282 e 356, do STF.

Com efeito, a questão relativa à regularidade da carta de sentença foi assim decidida, verbis (fls. 81):

"Assim, como se vê dos autos da execução provisória, a carta de sentença atende às exigências le­gais. A ausência da petição rela­tiva à impugnação do cálculo da fase de liquidação não tem maior relevância para o deslinde do fei­to. Ademais, ao contrário do que sustentam os embargantes, não pode a referida impugnação ser confundida com a contestação de que trata o artigo 590, IH, do CPC."

Os artigos 586, 589, 590 e 618, I, do CPC, que tratam da liquidez, cer­teza e exigibilidade dos títulos exe­cutivos e dos requisitos de uma car­ta de sentença não serviram de fun­damento à conclusão adotada.

N o tocante à questão do excesso de execução, assim se manifestou o Tribunal a quo (fls. 81):

"Relativamente ao cálculo, o re­curso de apelação interposto pe-

130 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

los ora embargantes da sentença homologatória será objeto de apre­ciação, no momento oportuno, pe­la Superior Instância.

No referido ato é que se deci­dirá a respeito do alegado exces­so de execução."

Temas como cerceamento de de­fesa, devolução da matéria ao Tri­bunal ad quem e possibilidade de alegação de excesso de execução em sede de embargos não foram deba­tidas. E isto porque, como decidido na instância ordinária, na oportu­nidade do julgamento da ação prin­cipal (indenizatória), tal questão foi apreciada, inclusive ascendendo a esta Corte através do REsp nº 139.002/ RS, em apenso a estes autos e com julgamento simultâneo, nesta as­sentada.

Por fim, no que pertine à fixação dos honorários advocatícios, nada foi debatido, sequer decidido, quan­to à ocorrência de julgamento ultra ou extra petita.

E quanto ao dissídio jurispruden­cial, relativo à fixação dos honorá­rios advocatícios em processo de execução de título judicial, correto é o entendimento espelhado na de­cisão recorrida, amoldando-se à orien­tação emanada desta Corte, de que são exemplos os seguintes julgados:

"Processual Civil. Honorários ad­vocatícios - Execução judicial.

I - Os honorários advocatícios são devidos em ação de execução

fundada em título judicial, ain­da que não embargada.

II - Inteligência do art. 20, par. 4, CPC.

III - Recurso conhecido e provi­do." (REsp nº 141. 367/RS, relator Sr. Ministro Cid Flaquer Scartez­zini, DJ de 09/03/98).

"Honorários de advogado. Execu­ção judicial.

I - São devidos honorários ad­vocatícios na execução de título judicial, ainda que não embarga­da. Art. 20, par. 4º do CPC.

II - Recurso conhecido o provi­do." (REsp nº 154.371/RS, relator Sr. Ministro Ruy Rosado deAguiar, DJ de 16/03/98).

"Processual Civil - Embargos à execução - Título judicial- Im­procedência - Honorários de ad­vogado.

I - No processo de execução fun­dada em título judicial, havendo embargos do devedor, cabível a condenação do embargante ao pa­gamento de honorários advocatí­cios, quando julgados improce­derz-tes.

II - Precedentes do ST J.

III - Recurso não conhecido." (REsp nº 62.667/RS, de minha re­latoria, DJ de 13/11/95).

Pelo exposto e com respaldo tam­bém na Súmula nº 83/STJ, não co­nheço do Recurso.

É o meu voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 131

RECURSO ESPECIAL NQ 76.705 - MG

(Registro n Q 95.0052384-1)

Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves

Recorrente: Cyba Geigy Química SI A

Recorridos: Usina Boa Vista Ltda. e outros

Advogados: Drs. Delmira Nunes de Oliveira e outros, e Mário Célio Ferreira Pinto e outro

EMENTA: Execução promovida por fiadora sub-rogada contra avalistas do título de crédito. Fiança e aval. Solidariedade. Cód. Civil, art. 1.495 (inaplicação). 1. A disposição segundo a qual o fiador "só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva cota" não se aplica quando se trata de demandar o avalista. A demanda pela respectiva cota diz respeito apenas ao fiador. A obrigação do avalista é direta, autônoma e solidária. Dis­tinção entre fiança e aval. 2. Caso em que foi mal aplicado o dis­posto na segunda parte do art. 1.495. 3. Recurso especial pela alí­nea a, que foi conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimen­to. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Menezes Direi­to e Costa Leite.

Brasília 15 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro NILSON NAVES, Relator.

Publicado no DJ de 23-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO NILSON NA­VES: Trata-se de execução promo­vida por fiadora sub-rogada contra também os avalistas do título de crédito, decidindo assim o Tribunal de Alçada de Minas Gerais, segun­do o acórdão dos embargos de de­claração:

"N o v. acórdão embargado es­posou-se o entendimento de que, sendo a dívida paga pelo fiador ou avalista, fica este sub-rogado nos direitos do credor, podendo cobrar do principal devedor, no caso o emitente, o total que foi pago, mas, em relação aos demais garantidores, fiadores ou avalis­tas, a demanda deve se restrin-

132 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

gir à cota de cada um, não se fa­zendo distinção, assim, para efei­to de aplicação da norma do art. 1.495, do Código Civil, entre a fi­ança e o aval, por se tratarem ambas de garantias em solidarie­dade, ainda mais se sabendo que a Execução se direcionou contra os demais garantidores da obri­gação, que, como se verifica, fi­guram como avalistas."

o recurso especial foi interposto pela fiadora, alegando que o Tribu­nal mineiro não deu exata aplica­ção ao art. 1.495 do Cód. Civil, in verbis:

"17. Resta então verificar se o E. Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu adequada aplicação ao dispositivo legal em tela (arti­go 1.495 do CC) no presente caso. A resposta é uma só, não.

18. O artigo em questão encon­tra-se inserido no Código Subs­tantivo, em Capítulo XVI, que trata especificamente do institu­to da fiança.

19. Se a intenção do legislador civil fosse que o referido disposi­tivo se aplicasse também ao aval, o mesmo trataria expressamen­te desta garantia, o que não ocor­reu. Ao contrário, o aval é uma figura jurídica que não possui qualquer referência no Código Civil, mas apenas no Código Co­mercial e na Lei Uniforme de Genebra.

20. Claro está, então, a aplica­ção, data venia, inadequada do referido dispositivo legal, pois de

acordo com o exposto, trata-se es­pecialmente da fiança, que no ca­so foi a Recorrente no presente feito.

21. Nessas condições, restan­do demonstrado os requisitos le­gais exigidos para o conhecimen­to do presente apelo, eis que pró­prio e tempestivo e diante da ex­trema relevância da questão pos­ta sub judie e, roga a Recorren­te a V. Exa. seja o mesmo conhe­cido e provido, reformando-se o v. acórdão."

Admissão do recurso nos termos do despacho de fls. 94/95 (lê).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO NILSON NA­VES (Relator): Está a questão em saber se à espécie aplica-se o dis­posto no art. 1.495 do Cód. Civil, se­gundo o qual "O fiador que pagar integralmente a dívida, fica sub-ro­gado nos direitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva co­ta". A seu respeito, escreveu Bevila­qua, nesse tópico de seus comentá­rios: "Este artigo consagra o chama­do beneficio de sub-rogação em favor do fiador, e o de divisão. Pelo primei­ro, passam ao fiador os direitos do credor contra o devedor, com todas as garantias, independentemente de cessão expressa. Veja-se o art. 985, IH. Pelo segundo, quando forem dois ou mais os fiadores conjuntos, sem parte determinada, cada um responde, somente, pela porção que lhe tocar, repartida a dívida entre

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 133

todos, excetuando-se o insolvente" (in Código Civil... , vol. V, 1954, págs. 198/9).

Como se vê, o benefício da divi­são diz respeito aos fiadores conjun­tos, tanto que o Tribunal mineiro, em um outro julgamento, entre as mesmas partes do presente proces­so, e que está noticiado nas fls. 86/ 92 destes autos, estatuiu que "Não incide, na espécie sub judice, a segunda parte do art. 1.495 do Có­digo Civil, pois não se trata de fia­dor que esteja promovendo execu­ção contra outros fiadores, mas de fiador, que pagou integralmente a dívida e quer recebê-la, como auto­riza o mesmo dispositivo, da emiten­te e co-devedores solidários".

Mas, no presente caso, o acórdão deu aplicação à segunda parte do art. 1.495, uma vez que, consoante o voto do Sr. Relator, " ... deve ser feita, com efeito, uma correção no trabalho sentencial, para o fim de reduzir o pedido executivo, relati­vamente aos executados-avalistas, ao valor que, por rateio, couber a cada um, tendo em vista o comando do art. 1.495, do Código Civil". No que fora acompanhado pelo Sr. Re­visor, verbis: "No que tange ao mérito, a meu sentir, merece repa­ro a douta sentença recorrida, ape­nas para reduzir o pedido posto na execução, em relação aos executa­dos-avalistas, ao valor que vier a caber, a cada um, mediante rateio, a teor do que dispõe o art. 1.495 do Código Civil, ... ".

Ao que penso, em se tratando, po­rém, de avalista - e aqui se cuida exatamente de avalista, j á que, nos

termos da sentença, "Os embargan­tes pessoas físicas são, então, ava­listas de fato e, como tal, respondem solidariamente pela dívida repre­sentada pela cédula de crédito ru­ral exeqüenda, ... ", fl. 38 -, não há de vir à baila o disposto na segunda parte do aludido art. 1.495. Não há confundir fiança e aval. "Ambos" -escreveu Caio Mário da Silva Pe­reira, in "Instituições de Direito Ci­vil", vol. IH, 1986, pág. 357 - "são tipos de garantia pessoal, mas, en­quanto a fiança é uma garantia fidejussória ampla, e hábil a aceder a qualquer espécie de obrigação, convencional, legal ou judicial, o aval é restrito aos débitos submeti­dos aos princípios cambiários. Em razão da velocidade dos títulos des­ta espécie, não está sujeito às res­trições de que padece a fiança, no tocante à outorga do outro cônjuge. E nos seus efeitos também difere, gerando o aval responsabilidade sempre solidária, ao contrário da fiança, que pode sê-lo, ou não". Bem anotou João Eunápio Borges, "como as demais obrigações cam­biais, a do avalista é autônoma e in­dependente de qualquer outra, a do avalizado, inclusive; responde ele, solidariamente com os demais sig­natários, pelo aceite e pelo paga­mento do título" (in "Títulos de Cré­dito", 1977, pág. 93).

Ora, em tendo sido aplicado en­quanto não o deveria ser, o art. 1.495 do Cód. Civil foi afrontado pelo acórdão mineiro, razão pela qual conheço do recurso especial e lhe dou provimento, restabelecen­do em conseqüência a sentença.

134 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

VOTO- VISTA

o SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Trata-se de execução de cédula rural pignoratícia, emitida por Fazenda Boa Vista Ltda., de que é sucessora a primeira executada, avalizada pelos demais executados. A exeqüente obrigou-se, como fiado­ra, pelo pagamento do mesmo débi­to, o que efetivamente veio a fazer. Está a questão em saber se pode exi­gir dos co-avalistas a totalidade do valor do título ou apenas uma cota­parte.

O acórdão entendeu que aplicá­vel o disposto no artigo 1.495 do Código Civil, limitando, em conse­qüência, o valor a ser cobrado de cada um dos avalistas.

Considero, como o eminente Re­lator, que, data venia, não tem ra­zão aquele julgado.

Por certo que não se põe dúvida que o fiador "só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva cota". O mesmo se diga do co-avalista em relação aos ou­tros. A hipótese, entretanto, é dife­rente. A fiadora, efetuando o paga­mento da dívida, sub-rogou-se inte­gralmente nos direitos do credor. Adquiriu a propriedade do título. Pode exercer os direitos dele emer­gentes, em relação a qualquer dos devedores, como o poderia fazer o credor.

Acompanho o Relator.

RECURSO ESPECIAL Nº 79.476 - RJ

(Registro nº 95.0059440-4)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Eduardo Portella Netto

Recorrida: Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro

Advogados: Drs. Luiz Eduardo Sá Roriz e outros, e Caetano Ernesto da Fonseca Costa e outros

Sustentação Oral: Dr. Luiz Eduardo Sá Roriz, pelo recorrente

EMENTA: Sociedade anônima. Responsabilidade dos diretores. Condenação em valor correspondente ao dólar. Prova da respon­sabilidade pelos atos que causaram o prejuízo. Súmulas n Q 07 e n Q

83 da Corte. Precedente da Corte.

1. Com o mercado globalizado, avançando até mesmo para a cria­ção de moeda única, como no caso da unidade européia, o anacro-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 135

nismo de pretender inviabilizar o padrão internacional, dado pelas moedas fortes como o dólar, o marco e a libra, não tem passagem, ademais de esbarrar em precedente da Corte.

2. Fica baldio o recurso com apoio na letra c sem a indicação do dissídio. De todos os modos, havendo referência a alguns disposi­tivos de lei federal, no presente caso, a alegação do recorrente sobre a demonstração exaustiva de não ter praticado atos dano­sos contra o patrimônio da companhia, escapando da responsabi­lidade apontada pelo Acórdão recorrido, que examinou a prova dos autos, não tem possibilidade de ser enfrentada na instância especial diante da Súmula n Q 07 da Corte.

3. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Senhores Mi­nistros da Terceira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, na confor­midade dos votos e das notas taqui­gráficas a seguir, após o voto-vista do Senhor Ministro Eduardo Ribei­ro. por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Senhores Minis­tros Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zvei­ter.

Brasília, 10 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro CARLOS ALBER­TO MENEZES DIREITO, Relator.

Publicado no DJ de 18-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CARLOS AL­BERTO MENEZES DIREITO: Eduardo Portella Netto interpõe re-

curso especial, com fundamento na alínea c do permissivo constitucio­nal, contra Acórdão da Quinta Câ­mara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, assim ementado:

"Sociedade anônima. Ação de res­ponsabilidade civil dos diretores.

Pressuposto da autorização as­semblear, atendido. O dies a quo do prazo prescritivo só se conta da data da assembléia que exa­mina as contas, de sorte que o prazo não corre se nem convoca­da aquela, nem prestadas estas. Responsabilidade exclusiva e/ou solidária dos diretores por atos omissivos ou comissivos. Ilícito civil e juros simples. Verba do su­cumbimento." (fls. 601)

Sustenta o recorrente violação ao art. 1 Q do Decreto-Lei nº 857/69, na medida em que o Acórdão recorrido teria determinado o pagamento em dólar, admitindo, portanto, uma cor­reção cambial não permitida. Ale­ga, também, contrariedade ao § 2º,

136 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

do artigo 80 do Decreto-Lei n Q 200/ 67, por responsabilizar o recorren­te por prejuízos que não causou, e ao § 1 Q do art. 158 da Lei n Q 6.404/ 76, "uma vez que os malsinados atos não foram e não são de sua autoria direta e pessoal." E argumenta:

"(. .. )

15 - Os aludidos atos se ocorre­ram não têm a participação do re­corrente, que jamais poderia pra­ticar atos de delegação, em face do que preceitua o Estatuto e a Organização Geral da Empresa (OGE), cuja existência legal ocor­re desde muito antes da investi­dura do recorrente como Presi­dente do Lloyd Brasileiro." (fls. 619)

Não houve contra-razões e o re­curso especial não foi admitido na origem (fls. 628 a 633), subindo os autos a esta Corte em razão do pro­vimento do agravo de instrumento (fls. 671).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CARLOS AL­BERTO MENEZES DIREITO (Re­lator): Ação de responsabilidade ci­vil ajuizada pelo Lloyd Brasileiro contra os ex-diretores Danton Lopes de Oliveira, Samuel Sztyglic e Eduardo Portella Netto, este últi­mo ex-presidente, julgada proce­dente para condenar os réus ao pa­gamento da importância correspon­dente a US$ 103,961.65, ao câmbio do dia da efetiva liquidação. A Quin-

ta Câmara Cível do Tribunal de Jus­tiça do Rio de Janeiro proveu, em parte, todos os apelos, após exami­nar detalhadamente a prova dos autos, para identificar a responsa­bilidade de cada um pelos atos pra­ticados.

Dos três especiais interpostos, subsistiu, tão-somente, o recurso de Eduardo Portella Netto, ex-presi­dente, que veio, apenas, pela letra c (fls. 616), apresentando divergên­cia, no que se refere ao valor dólar, com precedentes do Colendo Supre­mo Tribunal Federal. De todos os modos, mesmo sem invocação da letra a, apontou o especial contra­riedade ao art. 80, § 2Q

, do Decreto­Lei n Q 200/67 e art. 158, § 1Q

, da Lei n Q 6.404/76, argumentando que "os malsinados atos não foram e não são de sua autoria direta e pessoal", para concluir que tais atos "se ocor­reram não têm a participação do recorrente, que jamais poderia pra­ticar atos de delegação, em face do que preceitua o Estatuto e a Orga­nização Geral da Empresa (OGE), cuja existência legal ocorre desde muito antes da investidura do re­corrente como Presidente do Lloyd Brasileiro", com o que, finalmente, entende "plenamente configurada a hipótese da alínea c, do inciso III do art. 105 da Constituição Fede­ral".

O primeiro ponto tratado no es­pecial não tem a guarida da Corte. De fato, a matéria já não comporta discussão. Com o mercado globali­zado, avançando até mesmo para a criação da moeda única, como no caso da unidade européia, o anacro-

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nismo de pretender inviabilizar o padrão internacional, dado pelas moedas fortes como o dólar, o mar­co e a libra, não tem passagem. Com o lúcido voto condutor do Senhor Ministro Waldemar Zveiter, esta Corte já derrubou o arcaísmo (cfr. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n Q 88.294-RS, no que interessa: "II - O título objeto da execução, reporta-se a quantia em dólar norte-americano. Consideran­do que esta moeda não sofre desva­lorização, não há incidência de cor­reção monetária, cumulativamente com a variação cambial".

No presente caso, a condenação foi no valor equivalente em moeda nacional, prescrevendo a sentença a conversão pelo câmbio do dia da efetiva liquidação.

Assim, os paradigmas cedem di­ante da Súmula nº 83 da Corte.

Não foram indicados paradigmas para o segundo ponto atacado pelo recurso, o que o torna baldio.

De qualquer maneira, a invoca­ção do Decreto-Lei nº 200/67 e do art. 158, § 1 º, da Lei nº 6.404/76 não colheria proveito algum. O Acórdão recorrido, expressamente, fixou a responsabilidade do recorrente após examinar a prova dos autos, mere­cendo destacados os seguintes tre­chos, verbis:

"Diga-se o mesmo da contratação irregular de Luiz Fernando Vian­na Lemello, a qual, segundo os autos, se ultimou, por inspiração ou induzimento de terceira pes­soa (Benito Ribamar Machado),

com expressa aprovação e concor­dância de Eduardo Portella Net­to, sem interferência ou partici­pação dos dois outros réus. Des­tarte, pelos prejuízos assim veri­ficados, no montante de US$ 17,072.00, a condenação a ser imposta nestes autos há de ficar limitada àquele réu, ex-presiden­te da companhia.

J á no que concerne aos pagamen­tos a título de comissões de ''broke­ragem", no total de US$ 67,389.65, o princípio da solidariedade tem toda aplicação, pois, para a efeti­vação desses pagamentos concor­reram e participaram ativamen­te os três réus: Danton Lopes de Oliveira (Superintendente de Transportes), Samuel Sztyglic (Diretor Administrativo e Finan­ceiro) e Eduardo Portella Netto (Presidente). O primeiro foi quem formalizou a solicitação para que os pagamentos fossem feitos em forma de depósito em estabeleci­mento bancário na Suíça; o se­gundo (Samuel) foi quem autori­zou o envio do dinheiro e deter­minou a emissão dos cheques e neles lançou a sua assinatura e o terceiro, como Presidente da com­panhia, validou os cheques, lan­çando também a sua assinatura. Induvidoso, pois, que, para ulti­mação das operações, concorre­ram, de modo ativo e positivo, os três réus, devendo a responsabi­lidade daí decorrente ser impu­tada a todos eles, afigurando-se, aqui, de todo aplicável o princí­pio da solidariedade, por força do disposto no § 1 º do art. 158 da Lei nº 6.404/76, e da parte final do

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art. 1.518 do Código Civil, já que o pagamento das comissões só se consumou pela participação con­corrente dos três réus." (fls. 607)

Verifica-se, além disso, que o ar­tigo 158, § 1 Q, apontado como con­trariado pelo especial, foi, exata­mente, o aplicado pelo Acórdão re­corrido, com lastro na prova dos autos, não se enfrentando as demais disposições do mesmo artigo que cui­dam da responsabilidade dos admi­nistradores, que, de resto, também não foram invocadas no especial.

Destarte, atento aos termos das Súmulas n Q 07 e n Q 83 da Corte, eu não conheço do especial.

VOTO

O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: O recurso afirma fundar­se na letra c da previsão constitucio­nal. Não cuidou, entretanto, de de­monstrar a existência de dissídio jurisprudencial, tendo-se limitado a mencionar julgados, abstendo-se de transcrever-lhes qualquer trecho. Ocorre que, embora sem mencionar a letra a, indicou dispositivos legais que teriam sido violados, não sen­do relevante o equívoco na indicação daquele que autorizaria o recurso.

Pretende-se tenha havido infra­ção ao disposto no Decreto-Lei 857/ 69. Tal, entretanto, a toda evidên­cia não se verificou. Ali se veda seja estipulado o pagamento em ouro ou moeda estrangeira. Isso não ocor­reu. Determinou-se o pagamento em importância equivalente a de­terminado montante de dólares, o

que é coisa diversa. Acresce que não houve, quanto ao ponto, o preques­tionamento. No acórdão nem mes­mo se discutiu ou de qualquer for­ma se examinou o tema pertinente à possibilidade de utilizar-se, como parâmetro, moeda estrangeira.

Sustenta-se, mais, que contraria­do o disposto no § 2Q do artigo 80 do Decreto-Lei 200, onde se estatui não ser responsável o ordenador de des­pesas por prejuízos decorrentes de atos de subordinado que tenha exorbitado das ordens recebidas. Desnecessário examinar se essa norma poderia, em tese, regular a hipótese em julgamento, pois se evi­dencia sua absoluta inaplicabilida­de no caso concreto. O recorrente foi condenado a ressarcir os danos advindos de dois fatos: contratação irregular de Luiz Lemello e paga­mento das chamadas comissões de "brokeragem". Para aquela contra­tação, assinalou o acórdão, houve "expressa aprovação e concordância de Eduardo Portella Netto". Quan­to àquelas comissões, os pagamen­tos se fizeram por cheques por ele assinados. Não se trata, pois, de res­ponsabilizá-lo por atos de subordi­nados, mas sim pelos que ele pró­prio praticou.

Também não aproveita ao recor­rente a invocação do disposto no ar­tigo 158, § l Q

, da Lei 6.404/76. Im­puta-se-lhe responsabilidade por atos seus e não de outros adminis­tradores.

Pedi vista, sensibilizado pela ex­celente sustentação oral. Verifico, entretanto, que o recurso é inviável.

Acompanho o Relator.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 139

RECURSO ESPECIAL Nº 86.137 - SP

(Registro nº 96.0003432-0)

Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Armando de Oliveira

Recorrido: Andorinha Parque Clube

Advogados: Drs. Marco César de Arruda Guerreiro e outros, e Marian­gela Tiengo Costa Gherardi

EMENTA: Clube social. Furto.

Validade da cláusula estatutária que estabelece não responder o clube pelo furto de bens do associado que ocorra em suas de­pendências. Respeito à autonomia da vontade, uma vez inexis­tente ofensa a norma jurídica, cuja observância seja inarredável, ou a algum princípio ético.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhe­cer do recurso especial, mas lhe ne­gar provimento.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Nilson Naves.

Brasília, 24 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro EDUARDO RIBEI­RO, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: A egrégia Segunda Câ­mara Civil de Férias do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,jul­gando apelação interposta por An­dorinha Parque Clube, na ação de indenização ajuizada por Armando de Oliveira, proferiu decisão assim ementada:

"Não assumindo a associação esportiva o dever de guarda de veículos estacionados gratuita­mente em suas dependências pe­los sócios, não responde pelo fur­to (art. 1.057 do Código Civil).

Recurso provido."

Rejeitado o pedido de declaração, o autor manifestou recurso espe­cial. Sustentou contrariedade aos artigos 159 e 1.057 do Código Civil,

140 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

bem como dissídio jurisprudencial. Insiste em que deva ser reconheci­da a responsabilidade do recorrido. Alega caber-lhe o dever de guarda e vigilância dos veículos estaciona­dos em áreas que para isto reser­vou. Salientou que o pagamento de mensalidades e de serviços, presta­dos no interior do clube, propicia­lhe retorno financeiro e que a exis­tência de estacionamento privativo, controlado por um guarda, estimu­la o ingresso de novos sócios e oca­siona maior freqüência.

Recurso admitido e processado.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO (Relator): A questâo per­tinente à validade de cláusula, in­serida nos estatutos de clube so­cial, que o isente de responsabilida­de, em caso de dano ou furto a bens de sócios, já foi examinada por esta Terceira Turma ao apreciar o REsp 59.267, de que fui relator para o acórdão, relator originário o emi­nente Ministro Menezes Direito. N aquele caso ocorrera o furto do motor de um barco e teve-se como legítima a disposição do regulamen­to interno do clube, a estabelecer que só seria ele responsável se guar­dado o motor nos armários ou en­tregue ao encarregado da casa de motores.

N aquele julgamento, assim me pron unciei:

Não tenho dúvida alguma so­bre a licitude da cláusula. Não se

cuida aqui de responsabilidade aquiliana, mas contratual, po­dendo os interessados livremen­te aumentá-la ou diminuí-la, con­soante lhes pareça mais adequa­do. Nem há razão alguma de in­teresse público que imponha a in­tervenção estatal em questões como essa, que diz exclusivamen­te com a conveniência dos asso­ciados. As regras pertinentes às obrigações das partes, no depósi­to convencional, voluntário, não são de ordem pública. Isso, admi­tindo tenha havido depósito, o que o acórdão negou.

Creio que a hipótese guarda si­militude com as convenções, re­lativas a edifícios de apartamen­tos, a cujo propósito a jurispru­dência deste Tribunaljá assentou ser perfeitamente lícito estabele­cer que o condomínio não se res­ponsabiliza por furtos de automó­veis deixados na garagem. Men­ciono alguns julgados, dos mui­tos existentes: REsp 10.285, de que fui relator, DJ 16.12.91, REsp 49.332, reI. Nilson Naves, DJ 05.09.94 e REsp 45.902, reI. Cláu­dio Santos, DJ 09.10.95.

Faço notar, embora desneces­sariamente, pois a matéria se in­sere na autonomia da vontade, que tais restrições facilmente se explicam. Consoante já tive oca­sião de assinalar, na trilha de voto do Ministro Athos Carneiro, fazer todos os condôminos res­ponderem pela perda de um dos veículos corresponderia a uma espécie de seguro, em que os bens segurados seriam de diferentes

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 141

valores. Alguém que tivesse um 'veículo modesto poderia ser cha­mado a pagar pela perda de um automóvel de luxo.

A hipótese não é de ser assimila­da a outras, em que este Tribunal tem reconhecido a responsabilida­de de quem propicia estacionamen­to, consagrado esse entendimento na Súmula 130. Ali se cuida das re­lações de empresas com seus clien­tes. Teve-se em conta o proveito eco­nômico que aquelas obtêm, na me­dida em que ensejam possam os veí­culos ser estacionados em lugares que ofereçam comodidade para a clientela, pois com isso visam exa-

tamente a aumentá-la. E não há um acordo de vontades entre a empre­sa e seus clientes de que resulte a exclusão da responsabilidade. Na hipótese em exame, os sócios acor­daram em que mais convinha ao interesse de todos que a comunida­de não se responsabilizasse pelo pagamento dos questionados danos. Não há nisso ofensa a qualquer nor­ma jurídica, cuja observância seja inarredável, nem a algum princípio ético. Há de prevalecer a disposição interna, fruto da vontade da maio­ria dos associados.

Conheço, em virtude do dissídio, mas nego provimento.

RECURSO ESPECIAL NQ 95.309 - SP

(Registro nQ 96.0029811-4)

Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Fundação Santos Dumont

Recorridos: Celina Ribeiro de Barros Martins - Espólio e outros

Advogados: Drs. Tito Hesketh e outros, e Gilveth Gomes da Silva e ou-tros

EMENTA: Doação com encargo. Revogação.

A disposição do artigo 1.185 do Código Civil, estabelecendo que personalíssimo o direito de pedir a revogação da doação, só se aplica quando isso se pleitear em virtude de ingratidão do dona­tário e não quando o pedido se fundar em descumprimento de encargo.

142 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não co­nhecer do recurso especial.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito e Costa Leite.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Nilson Naves e Wal­demar Zveiter.

Brasília, 27 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro EDUARDO RIBEI­RO, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Celina Ribeiro de Barros Martins e outros ajuizaram ação, objetivando revogar doação feita à Fundação Santos Dumont - Museu da Aeronáutica de São Paulo. Plei­tearam, ainda, indenização por per­das e danos, em virtude do não cum­primento do encargo.

Julgado extinto o processo, ape­laram os autores, tendo sido profe­rido acórdão assim ementado:

"Doação - Revogação - Ine­xecução de encargos - Legitimi­dade ativa - Verificação - Her­deiros do doador - Impossibili-

dade de aplicação das regras da revogação por ingratidão - Re­curso parcialmente provido.

Doação - Revogação - Inexe­cução de encargos - Interesse de agir - Existência - Doação mo­daI ou onerosa - Encargos acei­tos - Afastada a extinção - Re­curso parcialmente provido."

A ré formulou pedido de declara­ção. Rejeitado, apresentou recurso especial.

Sustentou que desconsiderado o disposto nos artigos 178, § 6Q

, I, 1.165, 1.166, 1.168, parágrafo úni­co, 1.181, parágrafo único, 1.183, 1.184 e 1.185, todos do Código Ci­vil. Argüindo o caráter personalís­simo do ato, insiste na ilegitimida­de dos sucessores dos doadores fa­lecidos, conforme decidido no pri­meiro grau, e aduziu que, tratando­se de doação onerosa, indispensável a aceitação expressa do donatário. Pediu fosse reconhecida a carência da ação, por falta de legítimo inte­resse dos autores.

Recurso admitido e processado.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO (Relator): Sustenta o es­pecial que personalíssima a ação, tendente a revogar doação, ainda que por descumprimento de encar­go. Decidindo de modo contrário, o acórdão teria violado o artigo 1.185 do Código Civil.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 143

Com a devida vênia das opiniões em contrário, apenas uma interpre­tação literal e equivocada do dispo­sitivo invocado seria apta a condu­zir à aceitação da tese por que pro­pugna o recurso.

Não se justificaria, com efeito, que apenas o doador pudesse pos­tular a revogação. Essa restrição se justifica quando se trata de ingra­tidão. Em tal caso, razoável se li­mite a titularidade da ação ao doa­dor, pois, a quem praticou o ato de liberalidade e foi vítima da ofensa, em que se traduziu a ingratidão, se há de reservar a decisão sobre se é o caso de desfazê-lo. A mesma ra­zão não se apresenta quando se cui­da de inadimplemento de encargo.

Este Tribunal, decidindo a propó­sito do prazo de prescrição, afirmou ser induvidoso que o artigo 1.185 só se aplica à revogação por ingrati­dão. Assim, no Recurso Especial 27.019 de que fui relator (DJ 14.6.93). É firme, aliás, a jurisprudência no sentido de que o artigo 1.184 do Código Civil só se refere ao que lhe antecede imediatamente. Além do já

citado, assim também decidiu a egrégia Quarta Turma nos Recur­sos Especiais 32.496 (Sálvio de Fi­gueiredo, DJ 26.8.96), 69.682 (Ruy Rosado, DJ 12.2.96) e 131.660 (Ruy Ro­sado, DJ 6.10.97).

Afirma-se, ainda, no recurso, que contrariados os artigos 1.166 e 1.168 e seu parágrafo único do Có­digo Civil, dos quais resultaria que a aceitação da doação com encargo há de fazer-se por escrito.

A assertiva, se acolhida, envolve­ria a conclusão de que não se acei­tou a doação e, nesse caso, os bens pertenceriam ao doador. De qual­quer sorte, entretanto, não houve a pretensa violação da lei. O acórdão consignou que as condições foram expressamente aceitas pelo Conse­lho Administrativo da recorrente, consoante consta de ata. O tema diz com os fatos e não se sujeita a ree­xame nesta sede.

Considero, em vista do exposto, que não se verificou ofensa aos tex­tos legais apontados, razão por que não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL NQ 96.427 - PR

(Registro nQ 96.0032673-8)

Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves

Recorrente: Waldemar Guiomar

Recorridos: Geraldo Neves da Luz e outros

Advogados: Drs. Helder Luís Henrique Taguchi e outros, e Adriano José Valente e outros

144 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

EMENTA: Ação de divisão. Honorários de advogado. Fase con­tenciosa/fase técnica. Não fere o art. 20 do Cód. de Pro Civil a sen­tença que (confirmada pelo acórdão), julgando procedente a ação, deixa a fixação dos honorários para a segunda fase ("Os encargos sucumbenciais serão apurados e determinados ao final da segun­da fase"). Recurso especial pela alínea a, de que a Turma não co­nheceu.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso especial. Participa­ram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.

Brasília, 24 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro NILSON NAVES, Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO NILSON NA­VES: Trata-se de ação de divisão em que houve citação e contestação dos réus, decidindo afinal o juiz pelo acolhimento do pedido,

" ... nesta primeira fase, e de­clarando extinto o condomínio, determino que se realizem a di­visão do bem descrito na inicial. Para os trabalhos de divisão, no­meio para a função de arbitrado-

res os Srs. Engenheiros Civis Adolfo Cochia Junior, fone 223-0563 e 226-5336, com endereço na Rua Porto Velho, 71, Jardim Social, e Jaime Ramos, Rua Gua­rani, 260, fone 224-5975, e como agrimensor o Sr. José Maria Reis, fone 228-3793, com endereço na Rua Rio Grande do Norte, todos desta cidade. Intimem-se esses técnicos para oferecerem suas propostas de honorários, em 5 dias. Efetuado o depósito dos ho­norários, intimem-se para que dêem início à operação de divisão (art. 969, CPC), devendo as par­tes ser intimadas para formula­rem seus pedidos de constituição dos quinhões.

Os encargos sucumbenciais se­rão apurados e determinados ao final da segunda fase, tendo em vista que houve litígio nesta pri­meira fase."

Um dos réus entrou com embar­gos de declaração, pleiteando fosse declarado "o percentual devido pela parte sucumbente a título de hono­rários advocatícios".

Rejeitados os embargos, apela­ram os réus, separadamente, mas sem êxito, conforme esta ementa:

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 145

"Apelação - Ação de divisão -Procedência - Inexistência de pedido e nulidade da sentença­Inocorrência - Honorários -Improvimento.

Inepta não é a inicial por falta de pedido, se ele foi feito, ali, de modo claro e indiscutível. Proce­de a divisória com vistas à extin­ção do condomínio se comportam divisão cômoda os bens comuns.

A fixação dos honorários, com base no § 4Q do artigo 20 do CPC, pode ser relegada para o final da segunda fase do procedimento."

Daí o presente recurso especial, em que se alega ofensa ao art. 20 do Cód. de Pro Civil, e que foi admi­tido pelo Presidente Cláudio Nunes do Nascimento, nestes termos:

"Em suas razões sustenta o re­corrente que 'ao acolher o argu­mento apresentado pelo juiz de primeiro grau para justificar a ausência da fixação dos honorá­rios de advogado na sentença que encerrou a fase inicial do proce­dimento divisório, o respeitável acórdão negou vigência e infrin­giu o disposto no artigo 20 do Có­digo de Processo Civil Brasilei­ro .. .'. Pondera ainda, que tal si­tuação quebra o 'tratamento iso­nômico dado às partes quanto ao rateio das despesas na segunda fase, o que pode resultar em one­ração maior ao sucumbente, ora recorrente, do que se tivessem sido fixados os honorários, corre­tamente, na primeira sentença' (fls. 502/503).

Não me parece desarrazoada a tese objeto do presente recurso, qual sej a, a regra a ser adotada na questão da fixação de honorá­rios advocatícios em ação de di­visão: o aresto combatido poster­gou a sua fixação para a segunda fase do procedimento, já o recor­rente entende que essa conclusão é incompatível com o disposto no artigo 20, caput (1ª parte), do CPC.

A própria colenda Primeira Câmara Cível desta Casa ao jul­gar a Apelação Cível n Q 20.953-2, em acórdão sob n Q 9.598 da lavra do Desembargador Francisco Muniz de inesquecível memória, que versava questão análoga à sub judice, decidiu:

'Processo divisório. Primei­ra fase. Sucumbência. À pri­meira fase do processo divisó­rio, aplica-se a regra geral so­bre a sucumbência (art. 20 do Código de Processo Civil).'

Vale a pena transcrever, ain­da, o seguinte trecho daquele jul­gado:

'A sentença que encerra a primeira fase do processo di­visório deve obedecer às regras normais sobre o pagamento das despesas judiciais e honorá­rios de advogado. Isto porque, a rigor, 'o resultado desse es­tágio processual não diz res­peito ainda aos gastos da divi­são, ou demarcação, propria­mente ditas', estes, sim, devem

146 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

ser divididos proporcionalmen­te entre todos os condôminos (art. 624 do Código Civil -Humberto Theodoro Jú­nior, Terras Particulares, De­marcação, Divisão e Tapumes, Saraiva, 1992, pág. 155).'

Face ao exposto, e consideran­do a existência de posições dis­tintas entre os processualistas sobre a natureza jurídica da ação de divisão, vejo como oportuna a subida do recurso, no que respei­ta à alínea a, para melhor exame da instância ad quem.

Admito, pois, o recurso especial intentado.

É o relatório.

VOTO

título não pode ser aplicada con­tra quem não teve suas razões acolhidas na primeira sentença.

Se tal ocorrer, quebrar-se-á o tratamento isonômico dado às partes quanto ao rateio das des­pesas na segunda fase, o que pode resultar em oneração maior do sucumbente, ora recorrente, do que se tivessem sido fixados os honorários, corretamente, na pri­meira sentença. Isto porque es­ses honorários dizem respeito apenas à primeira fase do proce­dimento divisório. Por essa razão, a decisão de remeter para a sen­tença homologatória dos traba­lhos da divisão a fixação de ho­norários a título de sucumbência é incompatível com o disposto no artigo 20, caput, do Código de Processo Civil."

O SR. MINISTRO NILSON NA- Observe-se que o recurso foi in­VES (Relator): Alega-se que o acór-. terposto por um dos réus (o varão), dão paranaense inconformado com o fato de não te-

" ... infringiu e negou vigência à disposição expressa do artigo 20 do CPC uma vez que, a sentença de primeiro grau ao se abster de fixar os honorários de advogado, remetendo-a para a sentença ho­mologatória incidiu em erro. A norma legal impõe a fixação de honorários de advogado quando haja sucumbência. E a distinção entre vencido e vencedor só exis­te na primeira fase da Açâo de Di­visão, quando a pretensão dos au­tores pode ser atacada em contes­tação pela outra parte. Após essa fase, não é mais possível falar-se em sucumbência e verba a esse

rem sido desde logo arbitrados os honorários advocatícios, que sobre si recairão, isto por ter sido ele, se­gundo suas próprias palavras, o vencido, na primeira fase do juízo divisório. Invoca lição de Theodo­ro Júnior, verbis:

"Se o pedido de divisão rece­ber contestação, ter-se-á instau­rado um dissídio comum, de pro­cesso de conhecimento, de sorte que a sentença ao dirimi-lo dará a razão a uma das partes, negan­do-a à outra. O fenômeno será típico de sucumbência proces­sual, de sorte que a parte venci-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 147

da arcará com a responsabilida­de por todas as custas, despesas e honorários advocatícios despen­didos pela parte vencedora.

Superada, porém, a fase con­tenciosa, e instaurada a fase exe­cutiva ou técnica, já nenhuma influência terá o litígio encerra­do com a sentença que acolheu o pedido divisório ... " (fl. 505).

o que me parece, contudo, é que não existe, no caso em exame, ofen­sa ao aludido art. 20. Tal dispositi­vo estabelece que cabe ao vencido pagar ao vencedor os honorários advocatícios, mas a tal dispositivo não se comete ofensa se se deixa para a fase seguinte o arbitramen­to dos honorários. Veja-se o acórdão:

"Por derradeiro, nada impede que o juiz relegue para a segun­da fase a fixação da verba hono­rária. Para justificar sua decisão, argumentou ele, em embargos de declaração, que 'a fixação, opor­tunamente, obedecerá ao preceito do § 4Q

, do mesmo artigo, e, para

isso, será levado em conta espe­cialmente o trabalho que o advo­gado desenvolverá até final sen­tença, e isto só é possível aquila­tar após o encerramento da se­gunda fase, por isso, a sua fixa­ção foi deixada para a final, mo­mento em que se apurará a im­portância da atividade desenvol­vida pelo profissional para o bom desempenho de seu serviço.' (fls. 433)."

Ora, condenado a pagar honorá­rios o vencido a tanto já se encon­tra; portanto, não deparo aqui com maltrato ao art. 20. O que ainda não se fixou foi o valor dos honorários mas o valor, em sendo objeto de fu~ tura decisão, na oportunidade pró­pria poderá ser impugnado o seu ar­bitramento. Até porque o Código dispõe sobre a inexistência de lití­gio, sem distinguir as duas fases: "N os juízos divisórios, não havendo litígio, os interessados pagarão as despesas proporcionalmente aos seus quinhões" (art. 25).

Não conheço do recurso especial.

RECURSO ESPECIAL Nº 102.188 - SP

(Registro nº 96.0046774-9)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF

Recorridos: Valdir Lopes Marcon e outros

Advogados: Drs. Sérgio Soares Barbosa e outros, e Paulo Laitano Tá­vora e outros

148 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

EMENTA: Vantagens funcionais. Plano de Cargos e Salários. Aplicação do Decreto nf! 89.253/83.

1. A decisão que autoriza o gozo de benefícios e vantagens adicio­nais aos empregados admitidos após a vigência do Decreto n Q

89.253/83, não agasalhados em Plano de Cargos e Salários, mere­ce reforma para que seja preservada a lei federal, assim o Decre­to-Lei n Q n Q 1.971/82, alterado pelo Decreto-Lei n Q 2.100/83.

2. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Senhores Mi­nistros da Terceira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, na confor­midade dos votos e das notas taqui­gráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar­lhe provimento. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Costa Leite, Nilson Naves, Eduar­do Ribeiro e Waldemar Zveiter.

Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro CARLOS ALBER­TO MENEZES DIREITO, Relator.

Publicado no DJ de 06-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CARLOS AL­BERTO MENEZES DIREITO: Cai­xa Econômica Federal- CEF inter­põe recurso especial, com funda­mento nas alíneas a e c do permis­sivo constitucional, contra Acórdão da 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região assim emen­tado, verbis:

"Direito Administrativo e Traba­lhista. Existência de quadro de carreira. Impossibilidade de se prover cargos inexistentes com base em ação de enquadramen­to. Inexistência de rebaixamen­to de cargo ou de remuneração inferior a que seria devida. Su­pressão de direitos e vantagens assegurados por norma da em­presa. Inadmissibilidade.

1. Não ocorrendo -rebaixamento funcional, prejuízo salarial ou vio­lação da isonomia no enquadra­mento dos antigos "auxiliares de escritório" como "escriturários básicos", não merece prosperar ação de enquadramento que ve­nha a ser proposta.

2. Havendo supressão de direitos e vantagens albergados em nor­ma da empresa, deve ocorrer o restabelecimento de tais direitos e vantagens, bem como o paga­mento das diferenças que forem cabíveis.

3. Recursos a que se nega provi­mento." (fls. 629)

Houve embargos de declaração (fls. 632/633), rejeitados (fls. 636 a 644).

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 149

Sustenta a recorrente que o Acór­dão recorrido violou o Decreto-Lei n Q 2.100/83, Decreto n Q 89.253/83 e o artigo 6Q da Lei de Introdução ao Código Civil, ao restabelecer direi­tos e vantagens suprimidos pela OC SUREH 056/84.

Para comprovar a divergência jurisprudencial indica precedente do Tribunal Regional Federal da 1 ª Região.

Foram oferecidas contra-razões (fls. 696 a 700) e o recurso especial foi admitido (fls. 730).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CARLOS AL­BERTO MENEZES DIREITO (Re­lator): Reclamação trabalhista ajui­zada na Justiça Federal tendo em vista a classificação decorrente de plano de cargos e salários, julgada procedente, em parte, para que a Caixa Econômica Federal restabe­leça direitos e pague prejuízos even­tualmente existentes, mais juros e correção monetária. A decisão foi mantida pelo Tribunal Regional Fe­deral da 3ª Região. Os declaratórios foram rejeitados.

Neste caso, a sentença, precisa­mente, condenou a Caixa Econômi­ca Federal a restabelecer para de­terminados reclamantes direitos e vantagens que foram retirados pelo ato administrativo interno de 1984, a saber:

"Para os admitidos após 28/12/83, o novo Plano de Benefícios e Van-

tagens, não mantém, a partir de 01/01/85, as vantagens a seguir discriminadas, que serão deferi­das àqueles admitidos até àque­la data:

- Gratificação Semestral (Duo­décimos);

- Gratificação de Incentivo à Produtividade;

- Qüinqüênios acima de 35%;

- Licença-prêmio;

- Licença-Maternidade acima de 84 dias;

- Ausências permitidas:

a) acima de 02 (dois) dias consecutivos, em caso de fa­lecimento do cônjuge, ascen­dente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua CTPS viva sob sua de­pendência econômica (aos admitidos até 28.12.83, fica assegurado 08 (oito) dias)

b) acima de 03 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento (aos admitidos até 28.12.83, fica assegura­do até 08 dias)

c) acima de 01 dia, em caso de nascimento de filho, no decorrer da primeira sema­na (aos admitidos até 28.12.83, fica assegurado até 03 dias, consecutivos ou não, inclu­sive o de registro, dentro de 30 dias após o evento)

d) nenhum dia por interes­se particular (aos admitidos até 28.12.83, fica assegura­do 05 (cinco) dias)".

150 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

A meu juízo, tem toda razão a Caixa Econômica Federal. O Acór­dão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, pelo voto condutor do Juiz Souza Pires, destaca o parecer do Ministério Público sobre a natu­reza do ato administrativo interno alcançando as vantagens que foram suprimidas. O comando administra­tivo da Caixa foi, apenas, para dar conseqüência ao traçado do Gover­no Federal objetivando reduzir van­tagens para o pessoal que ingressas­se nas estatais a partir de 28.12.83, como é o caso concreto. Ainda que tenha sido expedido posteriormen­te, o fato é que os benefícios retira­dos não estavam incorporados ao patrimônio dos empregados admi­tidos depois do Decreto nº 89.253/ 83, como bem posto no paradigma indicado do Tribunal Regional Fe­deral da 1 ª Região. Não é o tempo do ato administrativo que determi-

na o gozo dos privilégios. O Decreto nº 89.253, de 28.12.83, regulou cla­ramente a matéria para as estatais dispondo o art. 11 que em "nenhu­ma hipótese, os direitos garantidos aos servidores ou empregados ad­mitidos anteriormente à vigência deste Decreto, serão assegurados aos admitidos posteriormente, exce­to quando previstos nos novos Pla­nos de Cargos e Salários e de Bene­fícios e Vantagens". Manter os pri­vilégios é violar a regra jurídica aplicável, assim a do Decreto-Lei nº 1.971182, alterado pelo Decreto-Lei nº 2.100/83, regulamentados pelo Decreto nº 89.253/83, e, ainda, im­pedir a Administração Pública de disciplinar os órgãos que a integram para evitar abusos de toda sorte.

Destarte, eu conheço do recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedente o pedido.

RECURSO ESPECIAL Nº 109.291- RS

(Registro nº 96.0061478-4)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrentes: Ana Maria de Souza Baldo e outros

Recorrida: Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS

Sustentação Oral: Dra. Lilia Bastos (pelos recorrentes)

Advogados: Drs. José da Silva Caldas e outros, e Ana Luiza Frota Lis­boa e outros

EMENTA: Vantagem pessoal. Decreto-Lei n f2 2.280/85. Situação provisória. Ausência de violação ao art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 151

1. A própria regra jurídica estabeleceu a vantagem pessoal como provisória, permanecendo, durante a existência da situação de fato prevista, mas, cessando tão pronto essa situação fosse alte­rada. Desse modo, não há falar em violação ao art. 468 da Conso­lidação das Leis do Trabalho. Não há espaço para considerar que a regra feriu o contrato de trabalho entre as partes. Não se trata, no caso, de alteração, mas sim, de um benefício criado provisoria­mente por lei especial, que, nessas condições, pode impor critérios para o seu gozo.

2. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Senhores Mi­nistros da Terceira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, na confor­midade dos votos e das notas taqui­gráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, nos termos do voto do Senhor Mi­nistro-Relator. Participaram do jul­gamento os Senhores Ministros Nil­son Naves, Eduardo Ribeiro e Wal­demar Zveiter. Ausente, justifica­damente, o Senhor Ministro Costa Leite.

Brasília, 17 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 13·04·98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CARLOS AL­BERTO MENEZES DIREITO: Cui­da-se de recurso especial interpos­to por Ana Maria de Souza Baldo e outros com base no art. 105, inciso

IH, alíneas a e c, da Constituição Federal, contra o V. Acórdão prola­tado pela 2ª Turma do Tribunal Re­gional Federal da 4ª Região, assim ementado:

"Trabalhista. Confissão ficta. Pessoas jurídicas de Direito Público. Inaplicabilidade. Ônus da prova. Relação de emprego. Decreto-Lei n Q 2.280/85. Reen­quadramento. Vantagem pes­soal. Honorários advocatícios. Custas. Descabimento.

1 - A pena de confissão ficta é inaplicável às pessoas jurídi­cas de direito público, face à indisponibilidade de seus bens, forte nos arts. 320, H, e 351 do CPC, aplicável ao processo tra­balhista por força do art. 769 da CLT.

2 - O ônus da prova da rela­ção de emprego compete ao empregado.

3 -Apretensão dos reclaman­tes de obter o reenquadramen­to na forma do parágrafo úni­co do art. 3º do DL 2.280/85 es­barra na insuficiência de ele­mentos probatórios acerca da

152 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

situação particular de cada um.

4 - A chamada "vantagem pessoal" instituída pelo Decre­to-Lei nº 2.280/85 é uma van­tagem provisória, instituída para ser mantida numa situa­ção determinada, não havendo qualquer violação ao direito adquirido a sua supressão ou redução que se operem na for­ma da lei que a instituiu.

5 - Os honorários advocatí­cios são incabíveis no proces­so trabalhista.

6 - Inexistem custas em pro­cessos trabalhistas na Justiça Federal." (fls. 386)

Alegam os recorrentes, servido­res da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, violação ao art. 468 da CLT, eis que a incidência do art. 5º, § 2º, do Decreto-Lei nº 2.280/85 "estabeleceu a supressão gradual, através da redução da vantagem pessoal, das vantagens pecuniárias adquiridas pelos servidores em de~ corrência do tempo de serviço e do trabalho já executado, que eram justamente irretiráveis." (fls. 392). Sendo assim, haveria clara violação tanto no que diz respeito aos direi­tos adquiridos, quanto no tocante à imposição de redução salarial.

Não houve contra-razões e o re­curso especial foi admitido (fls. 403).

O presente recurso foi distribuí­do ao Ministro Luiz Vicente Cernic­chiaro, componente da 6ª Turma desta Corte, que solicitou a redis­tribuição do feito por cuidar-se de

dispositivo da Consolidação das Leis do Trabalho (fls. 408).

É o relatório.

VOTO

o SR. MINISTRO CARLOS AL­BERTO MENEZES DIREITO (Re­lator): Os recorrentes, servidores da Universidade Federal do Rio Gran­de do Sul, ajuizaram reclamatória julgada improcedente. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região pro­veu, em parte, o recurso para ex­cluir as custas e os honorários ad­vocatícios.

N o especial está escrito que os "autores buscam, com a presente ação, entre outro aspecto, a manu­tenção do pagamento de vantagem salarial que vem sendo reduzida pela reclamada. Tal vantagem sa­larial foi instituída, a título de van­tagem pessoal, com base no artigo 5º, do Decreto-Lei nº 2.280, visan­do manter o padrão remuneratório dos servidores, após a reclassifica­ção destes na tabela permanente da Universidade ré". Para os recorren­tes há violação ao art. 468 da Con­solidação das Leis do Trabalho.

Ocorre que a pretensão da cober­tura do art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho não pode ser defe­rida diante da regra especial do Decreto-Lei nº 2.280/85. De fato, a lei assegurou o pagamento de dife­renças individuais se percebessem os servidores remuneração superior à resultante da classificação, na condição de vantagem pessoal, no­minalmente identificável. Todavia,

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 153

essas diferenças individuais, na for­ma do § 2º do art. 5º do mesmo De­creto-Lei, "serão reduzidas sempre que os servidores, por qualquer mo­tivo, mudarem de referência ou de categoria profissional". Ou seja, a própria regra jurídica estabeleceu a vantagem pessoal como provisó­ria, permanecendo durante a exis­tência da situação de fato prevista, mas, cessando tão pronto essa situa­ção fosse alterada. Não há falar em violação ao art. 468 da Consolida­ção das Leis do Trabalho quando a lei que criou o benefício previu a forma de seu gozo, impondo a sua cessação quando a situação de fato originária foi alterada.

Não há espaço para considerar que a regra feriu o contrato de tra­balho entre as partes. Não se trata, no caso, de alteração, mas, sim, de um benefício criado provisoriamen-

te por lei especial, que, nessas con­dições, pode impor critérios para o seu gozo. Como assinalou o voto con­dutor da eminente Juíza Tânia Es­cobar, a regra jurídica questionada "está em consonância com a finali­dade da chamada vantagem pes­soal, que não foi instituída indistin­tamente a todos os servidores, mas tão-somente àqueles que estavam percebendo remuneração superior à resultante da classificação, caso em que, na forma do art. 5º, caput, ser­lhes-iam asseguradas diferenças individuais, como vantagem pes­soal". Assim, mudada a referência ou a categoria funcional cessaria o motivo do pagamento da vantagem pessoal.

Destarte, não existente a viola­ção ao art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho, eu não conheço do recurso especial.

RECURSO ESPECIAL Nº 112.974 - SP

(Registro nº 96.0070961-0)

Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves

Recorrentes: Geraldo Correa - Espólio e outro e Dário Correa e outros

Recorridos: Izabel Correa Leite e cônjuge

Advogados: Drs. Marly Voigt e outros, Marcelo Henrique da Costa e outros, e Carlos Alberto Rodrigues

EMENTA: Colação. Fraude à legítima. Ação declaratória (c.c. pedido de anulação de escritura). 1. Prescrição. Prescreve em vinte (20) anos, contados da data do ato. Súmula 106: "Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o aco-

154 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

lhimento da argüição de prescrição ou decadência". 2. Aprecia­ção de prova e valoração de prova. Inexistência de ofensa a prin­cípio probatório; caso de simples reexame de prova ("A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial" - Sú­mula 7). 3. Recursos especiais não conhecidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer dos recursos. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduar­do Ribeiro, Waldemar Zveiter, Me­nezes Direito e Costa Leite.

Brasília, 21 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro NILSON NAVES, Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO NILSON NA­VES: Foram estes autos relatados desta forma perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, verbis:

"Izabel Corrêa Leite e seu ma­rido ajuizaram contra o Espólio de Geraldo Corrêa e outros a pre­sente ação declaratória de frau­de à legítima, cumulada com pe­dido de anulação de escritura pública de compra e venda e co­lação de bem, aduzindo, em bre-

ve síntese, que o pai da requeren­te e requeridos sempre favoreceu estes últimos, na qualidade de filhos homens, adquirindo imó­veis com recursos próprios e re­passando-os aos requeridos, em evidente ato de doação. Susten­tam os autores haver sido viola­da a regra que estabelece a igual­dade das legítimas.

A r. sentença de fls. 200/208, cujo relatório fica adotado, julgou improcedente o pedido, por não haverem os autores se desincum­bido satisfatoriamente do ônus probatório, em abono dos fatos constitutivos de seus direitos.

Inconformados os vencidos aparelham recurso de apelação, buscando a inversão do julgado, com regular processamento e con­trariedade. Preparo anotado."

À apelação dos autores o Tribu­nal deu provimento "para condenar os réus a, na forma do art. 1.785 do Código Civil, colacionarem os valo­res referidos ou, então, a entregar aos autores, em dinheiro, esses va­lores, devidamente atualizados (1/7 do real valor à época da abertura da sucessão)". "Responderão os réus", disse o acórdão, "por dois terços das custas e verba advocatícia fixada em duzentos reais". Eis a ementa do acórdão: "Ação Declaratória cumu-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 155

lada com anulação de escritura -Não acolhimento de prejudicial de prescrição - Meritoriamente, pro­cedente a ação, em razão da vistosa e irrecusável ocorrência de simula­ção - Provimento do recurso."

Dos embargos de declaração apre­sentados unicamente pelos autores o Tribunal não conheceu, fls. 371/3.

Recorreram o Espólio de Geral­do e Helena Matiusso Corrêa, ale­gando que o acórdão teria violado os "arts. 177,1.176,1.576,1.788 e 1. 789 do Código Civil e arts. 131, 219,335 e 405 do Código de Proces­so Civil". Igualmente recorreram Dario Corrêa e outros, alegando vio­lação aos "arts. 177, 1.176, 1.576, 1. 788 e 1. 789 todos do Código Civil, Lei n Q 3.071, de 1Q de janeiro de 1916, bem como aos arts. 131,219, §§ 1Q ao 4Q

, 335 e 405, § 3Q, IVe § 4Q

,

todos do Código de Processo Civil, Lei n Q 5.869, de II de janeiro de 1973".

Mas os recursos não foram admi­tidos, verbis:

"2. Os recursos não reúnem condições de admissibilidade por­que extemporâneos.

Publicado o acórdão recorrido em 10 de agosto de 1995 (fls. 357), sobrevieram embargos declarató­rios em 16 de agosto (fl. 359), não conhecidos por intempestivos.

Firmou-se a jurisprudência, na vigência do artigo 538 do Código de Processo Civil com sua primi­tiva redação, no sentido de que embargos declaratórios extempo­râneos não suspendem prazo re-

cursaI (cf. RTJ 121/1.252, Recur­sos Extraordinários n.í!.> 116.274-1-SP, 109.130-SP, Embargos de Divergência em Recurso Espe­cial n Q 5.875-SP), entendimen­to esse ainda aplicável na vigên­cia dessa norma com a altera­ção introduzida pela Lei Fede­raI8.950/94.

Os recursos foram interpostos em 16 de outubro, p.p., a destem­po, portanto, ainda que se consi­derasse o cômputo em dobro do prazo recursal ex vi do art. 191 do Código de Processo Civil.

3. Ante o exposto, inadmito os recursos."

Provi ambos os agravos de instru­mento.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO NILSON NA­VES (Relator): Vimos do relatório que os especiais não foram admiti­dos, porque, consoante o despacho de fls. 445/7, tratar-se-ia de recur­sos intempestivos. Não, ao que pen­so não foram eles opostos ao acór­dão fora de prazo. E de 22.9 a pu­blicação do acórdão de fls. 371/3, que não conheceu dos embargos de declaração oferecidos pelos autores, conclusivamente:

"Conquanto intempestivo, ob­serva-se que assistiria razão aos embargantes quanto à omissão do V. Acórdão, não a tendo, con­tudo, quanto ao pedido indeniza-

156 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

tório, de vez que nada provaram nesse sentido. Até as razões re­cursais pouco referem sobre o que poderiam entender a título inde­nizatório.

Daí, mesmo que afastada res­tasse a intempestividade, a rejei­ção aos embargos era de rigor."

E não foram opostos fora de pra­zo porque, a uma, em casos que tais, conta-se o prazo, para quem não in­terpõe os embargos, da data da pu­blicação do acórdão dos declarató­rios (aqui, considero, por exemplo, corretas as observações de Theoto­nio Negrão, invocando o disposto no art. 180; ver notas aos arts. 508 e 538 do Cód. de Pro Civil, de núme­ros 7a e 2, in 27ª edição, págs. 380 e 416, respectivamente), a duas, conquanto se disse que os embargos eram intempestivos, foram eles afi­nal apreciados, quando se disse que de fato o acórdão fora omisso mas que faltava razão aos embargantes ("a rejeição dos embargos era de ri­gor", fl. 373).

Portanto, trata-se de recursos in­terpostos tempestivamente.

A matéria impugnada em ambos os especiais é a mesma: diz respei­to à prescrição, à faculdade de se dispor da metade da herança e diz respeito à prova. Cuida-se de recur­sos fundados unicamente na alíneas a, art. 105 - III da Constituição.

A decisão recorrida é acusada de ter ofendido os arts. 177 do Código Civil e 219, §§ 1 Q a 4Q do Cód. de Pro Civil. É que, segundo os recorren­tes, as doações indicadas pelos re-

corridos se deram em 23.1 e 19.5.71, ao passo que o despacho que aqui ordenou a citação é de 18.6.91; por­tanto, "mantiveram-se inertes", en­fatizam os recorrentes, "por prazo superior a 20 anos desde a realiza­ção do ato, não sendo válido o argu­mento de que se tratava de heran­ça de pessoa viva, ... ".

No caso em exame, não se cuida de pretensão de anular venda de as­cendente a descendente, caso em que, consoante a Súmula 494/STF, a ação prescreve em vinte anos, con­tados da data do ato. E não se cuida desde o momento em que, no sanea­mento, o juiz definiu o objeto do pro­cesso (pontos controvertidos), dele expurgando a pretensão de anular, in verbis:

"Para alcançarem o resultado almejado - colação do valor dos bens e recomposição da legítima - não é preciso anular o negó­cio. E evidente que a anulação não repara o prejuízo de que la­mentam os autores, pois sua con­seqüência seria o retorno dos bens ao patrimônio daqueles que figuraram como alienantes dos imóveis aos filhos do falecido João Corrêa. Desse modo, os au­tores são carecedores da ação quanto ao pedido de anulação dos negócios e, por conseguinte, os réus Guerino Padovani e sua mu­lher Terezinha de Paulo Padova­ni não têm legitimidade para fi­gurar no pólo passivo da deman­da, pois a inclusão deles como réus está relacionada com a vali­dade da compra e venda de imó­vel, questão esta que é excluída do pedido dos autores."

R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 157

A partir daí, disse o juiz que o pe­dido era juridicamente possível, lembrando-se daqueles brocardos da mihi factum e iura novit curia, e disse mais que a prescrição não se teria verificado, isto porque

" ... toda a argumentação em torno dessa preliminar de méri­to foi feita com fundamento na aplicação do art. 1.132 do Código Civil, que trata da compra e ven­da entre ascendente e descenden­te. Contudo, conforme já foi dito, o caso diz respeito a suposto adi­antamento da legítima feito pelo falecido João Corrêa aos réus. Logo, a prescrição da pretensão dos autores não é disciplinada pelo art. 178, § 9º, V, b, do Códi­go Civil nem pela Súmula 494 do Supremo Tribunal Federal. Na falta de previsão específica, por se tratar de ação pessoal, incide na espécie o prazo prescricional de 20 anos previsto no art. 177 do Código Civil, contado da aber­tura da sucessão, pois só a partir dessa data é que surge para o herdeiro a pretensão à colação dos bens recebidos em doação pelos demais sucessores do de cujus."

Quando do saneamento, também se entendeu que a petição inicial era confusa, que fosse como o foi emen­dada, e que petição posteriormente vinda aos autos não alterara a cau­sa de pedir ou o pedido, "pois a pe­tição inicial já mencionava, embora sem ser dará, a existência de supos­ta doação feita aos réus em detri­mento da legítima dos autores".

Foi por isso que o acórdão, repu­tando prejudicado o agravo retido, sublinhou, no entanto, que

" ... Em sobejando requerimen­to residual da pretensão dos au­tores quanto à recomposição pa­trimonial dos demandantes face à sonegação do inventário de João Corrêa de bens, que só veio a falecer em 1990, outro o prazo prescricional a ser computado. Antes do óbito deste, incabível discussão judicial sobre herança de pessoa viva. A rejeição dos agravos retidos era, pois, de ri­gor.

Aplica-se, a partir da abertu­ra da sucessão, o prazo para os herdeiros exigirem dos demais colação, em Juízo, dos bens que lhes foram doados pelo de cujus. Não incidem, portanto, nem as regras do art. 1.132 c.c. 178, § 9º, V, do Código Civil e, sim, as do art. 1.576 c.c. art. 177 do Código Civil.

Ademais, perfeitamente ade­quado o pedido formulado pelos autores. A alternativa de postu­lações foi suficientemente dara. A. causa de pedir subsiste. E exis­tentes interesse de agir e legiti­midade de partes, impõe-se a man­tença dos fundamentos constan­tes no saneador agravado."

É sabido, com apoio em boa par­te da doutrina e da jurisprudência, que a ação para anular a doação que se faz em prejuízo de outrem pode ser intentada mesmo em vida do doador. Nesta Turma, há preceden­te em tal sentido, de que foi relator

158 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

o Sr. Ministro Costa Leite (REsp 7.879, DJ de 20.6.94). Malgrado essa consideração, não creio tenha aqui ocorrido a prescrição, desde que se possa e se queira censurar a instância ordinária relativamente à posição por ela adotada no que diz respeito ao termo inicial: a partir de quando se conta a prescrição. De uma coisa estou certo, porquanto a ação, também a meu ver, prescreve em vinte anos, quem sabe contan­do-se o prazo, semelhantemente ao que reza a Súmula 494/STF, "da data do ato".

Em tal aspecto, obviamente o acórdão não pode ser acusado de ter ofendido o art. 177 do Cód. Civil. No que tange a sua combinação com o art. 219 e §§, do Cód. de Pro Civil, também falta razão aos recorrentes, conforme se depreende do princípio inscrito na Súmula 106/STJ, ver­bis: "Proposta a ação no prazo fixa­do para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifi­ca o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência".

Além disso, a instância ordinária não cuidou das datas das escrituras de venda e compra. Não lhe foram opostos embargos de declaração. A matéria é de prova. Súmulas 282 e 356/STF, e Súmula 7/STJ.

As duas outras questões têm a ver com a apreciação da prova, úni­ca e puramente, donde me parecer que não escapam da Súmula 7: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial". Não se trata aqui de caso de valo­ração de prova, até porque não há

ofensa a princípio probatório. É cer­to que foram invocados os arts. 131, 335 e 405, mas o acórdão para to­mar o rumo que tomou não malferiu o livre convencimento, as regras de experiência e o disposto a respeito de quem pode depor como testemu­nha.

A questão dos autos estava, des­de que definido como vimos aquele objeto, em saber da existência da doação, e se ela teria excedido à parte disponível. Foi assim que a sentença tratou da espécie, tanto que se entendeu que era "De se per­quirir, a partir de agora, a situação do caso vertente, examinada a pro­va trazida a Juízo pelos requeren­tes". Da análise da prova produzi­da, concluiu o juiz que

"N o caso vertente, não fizeram os requerentes comprovação se­gura que desse conta de que os requeridos não foram os verda­deiros adquirentes dos imóveis em questão. Limitaram-se a ale­gar, sem nada provarem de con­creto, nesse sentido. Não infirma­ram a prova testemunhal apre­sentada pelos requeridos e que bem caracterizou nos autos a ocu­pação profissional que desenvol­viam.

De se concluir, pois, que com referência à prova da existência da doação não se desincumbiram os autores do ônus da prova.

VI. Vale registrar ainda que, mesmo que a doação restasse comprovada, ainda assim a pro­cedência do pedido encontraria sério obstáculo. Com efeito, não

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comprovaram os requerentes que a eventual doação tivesse excedi­do a metade disponível do doador, por ocasião da liberalidade."

Doutro modo, porém, foi o con­vencimento do Tribunal de Justiça, que assim se convenceu também do exame da mesma prova:

"Esses fatos ficaram suficien­temente caracterizados nos imó­veis transacionados por Alfredo Luiz Portes (matrícula n Q 0662 do R.I. de Cândido l,\1ota, fls. 22/23) e por Sérgio Benedito Queiroz Assis e Alfredo Antônio Alves As­sis (fls. 25/28).

E a prova de que teria havido simulação com preterição das herdeiras-filhas é irrecusável, se­ja através de farta prova teste­munhal, de indícios robustos e de declarações.

Assim, tem-se certeza que as três compras e vendas de imóveis nas quais está constando como adquirentes os co-réus José, Ge­raldo e Dário, foram efetuadas com valores fornecidos pelo geni­tor, que só determinou que os bens fossem passados em nome dos filhos do sexo masculino, ora réus.

E o vendedor Alfredo quem por declaração da época, declararia que fizera a transação direta­mente com João Corrêa e deste recebera o dinheiro (fls. 21). Essa declaração vem reforçada e, tam­bém, ratificada, pelo testemunho de sua viúva, Arlinda, em Juízo (fls. 120 da medida cautelar) e

pelo dito por Vanderlei Ferreira Portes (fls. 193), de que 'nenhum filho de João estava presente na transação'.

Da mesma forma, o alienante Sérgio Benedito declararia, à épo­ca (1972), que efetuara a venda de dois imóveis, diretamente a João Corrêa, que foi quem efe­tuou o pagamento do preço, sen­do que as escrituras foram pas­sadas em nome dos filhos do com­prador, a pedido deste (fls. 24). Sérgio confirmaria fatos e cir­cunstâncias anotadas naquela de­claração (fls. 121/121 vQ da cau­telar apensada).

E Alfredo, também, declararia que, quando da venda, o paga­mento foi feito por João Corrêa (fls. 194).

Hermes Gonçalves, que era car­torário e serviu de testemunha nas três escrituras públicas (fls. 27, 25 e 22), é bastante incisivo ao confirmar que a compra des­ses três imóveis rurais foi feita pelo pai, João, que tratou direta­mente com os adquirentes e efe­tuou os pagamentos (fls. 231).

Confirma o que disseram os demandantes no sentido de que os réus 'não tinham condições econômicas de comprar imóvel 'à época' (fls. 231) e que o amigo do de cujus, Sérgio Benedito, que foi seu procurador, tê-l o-ia adver­tido de 'problemas que poderiam ocorrer na transferência direta dos bens em nome de seus filhos do sexo masculino' (fls. 231).

160 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

E os acionados não comprova­ram quantum satis que, efeti­vamente, seriam credores do de cujus à época das aquisições ou, de que tivessem dinheiro com es­te armazenado em razão de seus labores (apesar do sustento inte­gral por parte de seu pai ... ). Bas­taria terem anexado declaração de imposto de renda da época. Se sua irmã Luiza, que eles arrola­ram como testemunha, afirmaria 'que eles não tinham dinheiro pró­prio para comprar' (fls. 191), evi­dente que houve doação de di­nheiro pelo pai para a compra dos imóveis rurais ...

O fato de trabalharem na la­voura, com indicação de que o pai lhes fornecia sustento, alimenta­ção e vestuário, não significaria que tivessem amealhado os réus valores significativos para as com­pras efetuadas, todas a uma mes-

ma época. E essa prova inexiste nos autos como vaga e impreci­sa, inclusive quanto a períodos, são as assertivas de parceria, etc ... Nem é crível que pudessem dispor, os três, de uma só vez, quantias para comprarem mais de sessenta alqueires paulistas de terras. Fosse assim, não ha­veria trabalhadores rurais 'sem terra'.

A doação do equivalente econô­mico dos valores das terras ad­quiridas pelo de cujus era, por­tanto, colacionável. Como o doa­dor não determinou, expressa­mente, saíssem de sua metade disponível os valores doados, de­vem ser conferidos, integralmen­te, com os demais."

Isto posto, não conheço dos recur­sos especiais.

RECURSO ESPECIAL NQ 119.705 - RS

(Registro n Q 97.0010587-3)

Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zueiter

Recorrente: Organizações Lima, Administração e Assessoria Financei­ra Ltda.

Recorridos: Irmãos Thonnigs e Companhia Ltda. e outro

Advogados: Drs. Vitalino Cézar Pereira e outro, e Ademar Jorge Metz e outros

EMENTA: Comercial - Factoring - Atividade não abrangida pelo sistema financeiro nacional- Inaplicabilidade dos juros per­mitidos às instituições financeiras.

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I - O Factoring distancia-se de instituição financeira justamen­te porque seus negócios não se abrigam no direito de regresso e nem na garantia representada pelo aval ou endosso. Daí que nes­se tipo de contrato não se aplicam os juros permitidos às institui­ções financeiras. É que as empresas que operam com o factoring não se incluem no âmbito do Sistema Financeiro Nacional.

II - O empréstimo e o desconto de títulos, a teor do art. 17, da Lei 4.595/1964, são operações típicas, privativas das instituições fi­nanceiras, dependendo sua prática de autorização governamen­tal.

III - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Senhores Mi­nistros da Terceira Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, na confor­midade dos votos e das notas taqui­gráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Menezes Direito, por una­nimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamen­to os Senhores Ministros Menezes Direito, Costa Leite, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.

Brasília, 7 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro WALDEMARZVEI­TER, Relator.

Publicado no DJ de 29-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER: Cuida-se de Embargos à Execução em que Embargante Ir­mãos Thonnigs & Cia. Ltda. e Em-

bargada Organizações Lima - Ad­ministração e Assessoria Financei­ra Ltda.

De há muito, ambas as empresas vinham, entre si, celebrando opera­ções de factoring, sendo certo que Irmãos Thonnigs & Cia. Ltda. e ou­tro (faturizada) cedia às Organiza­ções Lima (factor) duplicatas origi­nárias das vendas que faziam, me­diante recebimento de valor nomi­nal inferior ao título cedido.

Daí que as notas promissórias não seriam passíveis de execução, já que tais letras foram emitidas em substituição às duplicatas retiradas ou canceladas e tão-só até que, so­bre estas, a faturizada prestasse contas.

A sentença (fls. 529) julgou im­procedentes os Embargos, concluin­do que as referências todas trazidas pela embargante não foram capazes de abalar a liquidez e certeza dos títulos de crédito em execução.

Inconformada a Empresa (Ir­mãos Thonnigs & Cia. Ltda.) inter­põe Apelação e o acórdão recorrido, ao julgá-la, concluiu (fls. 563):

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"Embargos do devedor. Facto­ring. Emissão de NPs em substi­tuição a títulos impagos ou pedi­dos de volta pela facturizada. Valor superior ao crédito adqui­rido.

É devido o valor relativo ao efetivo débito, com correção ofi­cial e juros de 12% a.a. Submeti­da ajuízo questão, impõe-se seja a lei cumprida para limitar a in­cidência de juros ao teto legal.

Apelo provido .em parte."

Declaratórios são acolhidos para esclarecer sobre honorários a fls. 572.

No Especial (art. 105, lU, a e c) - fls. 579 - alega a recorrente que o aresto teria violado o art. 17 da Lei 4.595/64, ao não admitir cobran­ça dejuros a nível do permitido pelo Sistema Financeiro Nacional, como deferida aos estabelecimentos ban­cários. Alega ainda que, sobre o tema, divergiu de precedentes, in­clusive do STJ, que anota.

Às fls. 602, deferiu-se o proces­samento do apelo, na eventualida­de de o aresto ter violado dito arti­go legal ou discrepado de jurispru­dência apontada.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER (Relator): É assim que o em. Relator enfrenta o tema (fls. 563/565):

"Inicialmente, relevante é es­clarecer que a relação negociaI denominada Factoring é um con­trato atípico, não regulamentado entre nós. Caracteriza-se pela aquisição de créditos faturados de uma empresa, mediante remu­neração, assumindo o factor o ris­co de cobrá-los e, eventualmente de não recebê-los integralmente. Esse risco é o fundamento da co­brança de taxas superiores às do bancos.

Alguns julgadores têm carac­terizado tal relação como verda­deira cessão de crédito.

No caso dos autos, comprovou a embargada exeqüente sua con­dição de empresa, afeita à ativi­dade de factoring.

Também comprovado ficou que as Notas Promissórias executa­das foram emitidas em substitui­ção aos títulos devolvidos aos embargantes por não pagos ou pagos diretamente à endossante.

Entretanto, alguns aspectos não considerados na douta sen­tença apelada merecem alinha­dos:

Em primeiro lugar, quando en­dossaram à embargada os títulos que posteriormente resgataram e substituíram pelas Nps, os em­bargantes receberam valor redu­zido, já que descontados os nor­mais encargos monetários ati­nentes à atividade da empresa de factoring.

Em segundo lugar, não de­monstrou o factor, a contento, como obteve o valor executado,

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que, segundo a perícia, supera o valor dos títulos substituídos.

Ainda, ressalte-se, não atentou o julgador original para a conclu­são pericial. O expert do Juízo apurou o saldo devedor favorável ao embargado/apelado de 3.727,32 BTNF, fl. 339, abatidos os juros e correção monetária excessivos, além dos gastos processuais, ônus da exeqüente.

Acresce-se a isto o fato de, ape­sar de ter sido o relacionamento das partes de longa data, o que resultou na aceitação pelos em­bargantes das condições impos­tas pelo factor, posta a questão em Juízo, ou sua solução subme­tida ao Poder Judiciário, ao jul­gador incumbe o cumprimento da lei, ainda que reiterado o proce­dimento noutro sentido. Vale di­zer, a limitação dos juros e a cor­reção monetária sob índices ofi­ciais é corolário óbvio e indispo­nível pelas partes. Ao julgador incumbe evitar a exacerbação da ganância financeira quando lhe é submetida questão da nature­za da presente.

Assim, ainda que louvável o entendimento do julgador de pri­meiro grau, relegar a segundo plano a legislação pátria é chan­celar a liberdade de extorsão e negar a jurisprudência dominan­te e antigos regramentos, como o Dec.-Lei 22.626/33, a chamada Lei de Usura.

Pelo exposto, o voto é no senti­do de reformar parcialmente o decisum para prover em parte o

apelo e reduzir o valor a ser pago pelos embargantes ao embarga­do para 3.727,32 BTNFs, deven­do o valor ser atualizado desde a citação, com correção monetária pelos índices oficiaÍs, acrescidos dos juros no limite legal de 12% ao ano, e convertido à moeda atual, invertendo-se os ônus da sucum­bência. No mais, fica mantida a sentença hostilizada."

Com o Especial arrimado nas alí­neas a e c, pretende, em síntese, o recorrente lhe seja deferida a apli­cabilidade ou incidência de juros, na mesma medida em que o Sistema Financeiro concede aos estabeleci­mentos financeiros ou bancários.

Daí que a solução almejada só re­sulta clara, se definida a natureza jurídica ou econômica da requeren­te ou de sua atividade de faturiza­ção. Vale dizer, saber se ela está in­cluída ou não no âmbito da tutela do Sistema Financeiro N acionaI, com suas operações reguladas pela Lei 4.595/64.

Estudos realizados sobre o insti­tuto afastam-no do grupo daqueles que operam à sombra do Sistema Fi­nanceiro, como se pode ver desse escólio, consignado às fls. 80 da Rev. de Direito Mercantil nº 54 (abril-ju­nho/1984) sob o título o Factoring e a Legislação Bancária Brasileira -Wilson do Egito Coelho:

"Como se vê, a Circular (703, de 16/6/82, do BACEN) não impõe propriamente uma proibição à prática do fomento comercial; sim­plesmente adverte que as pessoas

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que praticarem aquelas opera­ções de "aquisição, administração e garantia de liquidez dos direi­tos creditórios de pessoas jurídi­cas, decorrentes do faturamento da venda de seus bens e serviços", poderão ("serão passíveis de") in­correr na prática de crime de ati­vidade, por estarem atuando como instituição financeira, sem a devida autorização.

Ora, não é preciso dizer mais nada para perceber-se que a ad­vertência não conduz a qualquer ato eficaz. Em primeiro lugar, porque as hipóteses indicadas na Circular 703, nem de longe tipi­ficam atividade privativa de ins­tituição financeira. Não a tipifi­cam, muito menos, as operações de factoring que as empresas de fomento comercial se propõem a praticar no Brasil. Pelo contrário. Os bancos, para manterem sem­pre pronta a posição de liquidez, são proibidos de imobilizar-se além dos limites razoáveis que o Poder Público lhes traça, estrita­mente necessários à realização de seus fins (v. art. 4Q

, XI, da Lei 4.595). Portanto, só em condições especialíssimas e excepcionais as instituições bancárias poderão ser autorizadas a adquirir ativos de outras instituições, tais como "direitos creditórios de pessoas jurídicas, decorrentes do fatura­mento da venda de seus bens e serviços".

Deste modo, nem por seme­lhança as operações de factoring, propostas pelas empresas brasi­leiras de fomento comercial, po-

derão ser identificadas com as privativas das instituições bancá­rias ou financeiras, descritas no art. 17, da Lei 4.595 (a esse pro­pósito, ver, de nossa autoria, "In­terpretação teleológica do art. 17 da Lei 4.595, de 1964", in RDM 41/69, jan.-mar., 1981)."

E no final da lição, arremata sua análise, ponderando, (fls. 82) ver­bis:

"Mas, essas observações são hi­potéticas. O que nos parece certo é que o Banco Central, com a edi­ção daquele normativo, quis, sim­plesmente, chamar a atenção das empresas de fomento comercial para que se resguardem da prá­tica de atos privativos de insti­tuições financeiras, segundo a de­finição do art. 17, da Lei 4.595, dentro dos limites fixados pelaju­risprudência, amplamente ampa­rada pela doutrina; isto é, cole­tar recursos do público para, como intermediadores de crédito, emprestar a outros."

O entendimento jurisprudencial é também no sentido de que o fac­toring distancia-se da instituição fi­nanceira ou bancária justamente porque seus negócios não se abri­gam no direito de regresso (como no caso de duplicatas, sob caução ban­cária) e nem na garantia represen­tada pelo aval ou endosso.

Essa definição, no que aproveita ao caso, está proclamada no RHC 6.394/RS, como abaixo:

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"Recuso em habeas corpus. Exame aprofundado de provas. Crime. Operações privativas de instituições financeiras. Facto­ring. Recurso improvido.

1. O empréstimo e o desconto de títulos, a teor do art. 17, da Lei 4.595/1964, são operações tí­picas, privativas das instituições financeiras, dependendo sua prá­tica de autorização governamen­tal.

2. O factoring distancia-se da instituição financeira justamen­te porque seus negócios não se abrigam no direito de regresso e nem na garantia reapresentada pelo aval ou endosso.

3. Nestas circunstâncias, im­própria e inadequada a via do Habeas Corpus para o preten­dido debate acerca da atipicida­de do fato, de modo a extremar as operações de Factoring daque­las próprias das instituições fi­nanceiras, ou da ausência do ele­mento subjetivo." (DJ de 30.6.97)

Ora, se a operação de factoring é de natureza comercial e, como se vê, até sujeita à sanção se praticada por estabelecimentos bancários, sem autorização do Bacen, é porque se trata de contrato comercial, atípico, praticado entre empresas comerci­ais que, nessa cessão de crédito, não têm direito de regresso contra o ce­dente. Enfim, trata-se de contrato por meio do qual um comerciante cede a outrem os créditos correspon­dentes às suas atividades, total ou parcialmente, recebendo, em contra­partida, remuneração consistente

em desconto sobre os respectivos valores.

Daí que correto se houve o acór­dão, ao denegar ao recorrente a in­cidência de juros, segundo a taxa concedida pelo Sistema Financeiro, às instituições bancárias.

Atento a essas considerações, tem­se como certo que inexistiram as pre­tendidas violações às normas da Lei 4.595/64. Nem, por outro lado, ocor­reu a discrepância jurisprudencial pretendida e apontada, eis que não os precedentes não vestem a hipó­tese concreta deste caso.

Forte nessas considerações, não conheço do recurso.

VOTO- VISTA

O SR. MINISTRO CARLOS AL­BERTO MENEZES DIREITO: Em­bargosà execução postos pelo recor­rido julgados improcedentes pela sentença. Todavia, o Tribunal de Al­çada do Rio Grande do Sul proveu o apelo, em parte, para "reduzir o va­lor a ser pago pelos embargantes ao embargado para 3.717,32 BTNFs, devendo o valor ser atualizado des­de a citação, com correção monetá­ria pelos índices oficiais, acrescido dos juros no limite legal de 12% ao ano, e convertido à moeda atual, in­vertendo-se os ônus da sucumbên­cia". Os declaratórios alcançaram apenas, a verba da sucumbência, sendo acolhidos para repartir as custas e fixar os honorários de for­ma proporcional. O especial questio­na osjuros, asseverando que as em­presas de factoring estão equipara-

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das às instituições financeiras e, portanto, não estão limitadas aos juros previstos na Lei de Usura.

Em cuidadoso voto, o eminente Ministro Waldemar Zveiter, Relator, não conheceu do especial ao argu­mento de não se enquadrar o facto­ring no conceito de instituição fi­nanceira ou bancária "justamente porque seus negócios não se abri­gam no direito de regresso (como no caso de duplicatas, com caução ban­cária) e nem na garantia represen­tada pelo aval ou endosso". Conclui o ilustre Relator, invocando prece­dente (RRC nº 6.394/RS, DJ de 30.06.97), que "se a operação de fac­toring é de natureza comercial e, como se vê, até sujeita à sanção se praticada por estabelecimentos ban­cários, sem autorização do Bacen, é porque se trata de contrato comer­cial, atípico, praticado entre empre­sas comerciais que, nessa cessão de crédito, não têm direito de regresso contra o cedente. Enfim, trata-se de contrato por meio do qual um co­merciante cede a outrem os crédi­tos correspondentes às suas ativi­dades, total ou parcialmente, rece­bendo, em contrapartida, remune­ração consistente em desconto so­bre os respectivos valores".

É necessário salientar que a sen­tença não desafiou a questão dos ju­ros, sob o aspecto da usura, seguin­do outro caminho, no plano concei­tual. De fato, o juiz sentenciante afas­tou "quaisquer perquirições sobre juros excessivos cobrados pelo fac­tor na compra de ativos financeiros. Não há qualquer prova de que a em-

bargada praticava verdadeiro des­conto bancário com taxas pós-fixa­das; demonstrou-se, sim, que com­prava títulos de crédito, pagando por eles valor sempre inferior ao nominal. Nesse tipo de negócio o risco é do factor, que por tal se re­munera, não cabendo falar em ju­ros, mas empreço. Dessa forma fica afastada a intenção esboçada pelo embargante no sentido de obter de­dução de valores cobrados a maior em operações anteriores, a pretex­to de terem sido usuários." (fls. 528/ 529)

Os embargantes, segundo a ini­cial, negociavam, desde janeiro de 1989, compra de duplicatas mer­cantis, primeiro no valor de Cz$ 40.133.826,00; em seguida, no va­lor de NCz$ 54.125,48. Na primei­ra operação, a cedente recebeu o total de Cz$ 24.150.000,00, em duas parcelas, de Cz$ 15.100.000,00 e Cz$ 90.050.000,00, respectivamen­te, na segunda, recebeu da embar­gante o total de NCz$ 30.300,00, também em duas parcelas, de NCz$ 10.150,00 e NCz$ 20.150.000,00. Afirma a inicial que, aparentemen­te, os valores eram fixos, mas, na realidade, as taxas negociadas nes­sas operações eram pós-fixadas. Fluindo bem, o negócio passou a ser efetuado por meio de conta corren­te, "onde eram debitados os aportes de dinheiro, e creditadas as dupli­catas, já com taxas "prefixadas", a compra e venda de ativos passou a ser feita com um simples demons­trativo de aquisição de duplicatas, onde constavam as características delas, as taxas de descontos, ou deságios, o valor líquido, e o valor

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que a financiadora entregava à ce­dente. Mas, frise-se, sem contrato, e simplesmente mediante um mero recibo de cedência, ou de aquisição definitiva das duplicatas. Assim, é que quando a cessionária recebia o valor das duplicatas que lhe haviam sido endossadas, sempre restava um valor a ser complementado pela embargante". Ainda segundo a ini­cial, os "negócios, em conta corren­te, transcorreram normalmente até setembro de 1989, com a cessão de um número enorme de valores e duplicatas, sem que tivesse havido qualquer prestação de contas pela autora, até porque ela era a exclu­siva proprietária dos títulos endos­sados, por força de contrato". Ocor­re que em setembro de 1989, a exe­qüente expediu telex relacionando diversas duplicatas, "exigindo o va­lor das duplicatas ali elencadas, po­rém, sem explicar se as mesmas ti­vessem sido pagas, ou se tivesse sido recusado seu pagamento, a que pretexto fosse". Esse fato básico é que amparou a emissão das notas promissórias, "como mera garantia dos valores pleiteados, vindo a ser completada para viabilizar a execu­ção."

A operação de factoring, portan­to, está diretamente relacionada com a compra de títulos para co­brança. Dá-se, na verdade, uma trans­ferência do título emitido pela ven­dedora para a empresa de factoring, pagando esta o valor do título, des­contada uma certa quantia, que é a remuneração pela transação. Na dicção de Carlos Alberto Bittar "faturização é, pois, o ajuste por meio do qual um comerciante cede

a outrem os créditos corresponden­tes às suas atividades, total ou par­cialmente, recebendo, em contra­partida, remuneração consistente em desconto sobre os respectivos valores, com os juros respectivos. Representa, no fundo, uma verda­deira alienação ou venda do fatura­mento." (Contratos Comerciais, Fo­rense Universitária, 1990, pág. 192)

Em estudo de 1986, Newton de Lucca, sob o império da Circular n Q

703, de 16.06.82, do Banco Central do Brasil, considerou que o facto­ring estaria enquadrado dentre as atividades próprias das instituições financeiras, reconhecendo embora que o denominado maturity facto­ring, "estaria inteiramente à mar­gem das operações próprias do Sis­tema Financeiro Nacional". Nesta modalidade, o factoring exclui a ati­vidade de financiamento "subsistin­do, entretanto, tanto a gestão e a cobrança de faturas, como a garan­tia dos pagamentos nas datas de seus vencimentos", deixando a "em­presa faturizadora, aqui, de anteci­par os valores a seu cliente, mas deixa de assumir o risco do inadim­plemento por parte dos terceiros devedores". Já na modalidade con­ventional factoring, que é, na ver­dade, "a forma mais tradicional das operações de faturização, sendo ofe­recida ao faturizado a mais variada gama de serviços e contratos, com­preendendo, geralmente, os seguin­tes: aquisição à vista dos créditos com renúncia ao direito de regres­so, gestão de tais créditos, notifica­ção da cessão ao devedor etc.", ain­da que se não confunda com opera­ção de desconto estaria claramente

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configurada a natureza de insti­tuição financeira (Faturização no Direito Brasileiro, RT, págs. 19 e segs.).

Essa compreensão inaugural do Banco Central do Brasil não teve maior êxito.

Arnold Wald, mostra que o Ban­co Central, com o correr do tempo, "admitiu que tais operações não eram necessariamente de natureza financeira, dentro dos limites em que a empresa de factoring não cap­tava recurso de depositantes", para concluir configurando a empresa de factoring como entidade "para-fi­nanceira." (Curso de Direito Civil Brasileiro, Obrigações e Contratos, RT, 12ª ed., atualizada por Semy Glanz, pág. 467)

Já Fran Martins manteve posi­ção contrária ao entendimento ini­cial do Banco Central, argumentan­do "que as empresas de faturização se distinguem das instituições fi­nanceiras porque estas não reali­zam operações de risco", assinalan­do que na França não são como tal caracterizadas, o mesmo acontecen­do no direito italiano, onde não está legalmente regulamentado o con­trato. Fran Martins indica o modo de operação no contrato de factoring como se segue, no que interessa:

"As contas são remetidas ao fa­turizador mediante um borde­reau compreendendo a totalida­de das mesmas, acompanhado de cópias das faturas emitidas pelo vendedor e mais documentos por­ventura existentes, versando so­bre as mesmas, inclusive títulos

de crédito que, nesse caso, serão endossados ao faturizador. A par­tir da remessa das contas ao fa­turizador cessam os encargos do faturizado em relação à cobran­ça dos créditos. Essa será feita pelo faturizador, pelo que nas fa­turas consta sempre uma decla­ração de que a conta foi cedida. Dá o faturizado ciência ao deve­dor dessa cessão, para que esse pague a dívida ao faturizador e não mais ao faturizado ou vende­dor.

O pagamento do faturizador ao faturizado é feito quando recebe as contas aprovadas ou na forma convencionada no contrato. Em geral, é aberta uma conta corren­te entre faturizador e faturizado, sendo as remessas anotadas nes­sa conta para uma verificação posterior do saldo exigível. As fa­turas apresentadas antes do ven­cimento serão pagas pelo faturi­zador mediante lançamentos de crédito na conta corrente; as de­duções das comissões serão escri­turadas como débito. N atural­mente, as contas-clientes que o faturizado certamente teria em relação aos seus compradores passarão a cargo do faturizador." (Contratos e Obrigações Comer­ciais, Forense, 9ª ed., págs. 559 e segs.)

N o mesmo compasso está Arnal­do Rizzardo lembrando Acórdão do antigo Tribunal Federal de Re­cursos ordenando o arquivamento na Junta Comercial dos atos cons­titutivos de uma sociedade de fac­toring, independentemente de au-

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torização do Banco Central, que, em conseqüência, sedimentado tal en­tendimento, viu-se obrigado a revo­gar a Circular n Q 703 pela Circular n Q 1.359, de 03.10.88 (Factoring, RT, 1997, págs. 26 segs.).

Está, pois, bem claro que a em­presa de factoring não é uma insti­tuição financeira e que para o seu funcionamento não se exige a auto­rização do Banco Central do Brasil. Não há falar em atividade bancária no factoring. Vale anotar que a Lei n Q 8.981/95, que alterou a legisla­ção tributária federal, conceituou o factoring como a "prestação cumu­lativa e contínua de serviços de as­sessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos cre­ditórios resultantes de vendas mer­cantis a prazo ou de prestação de serviços" (art. 28, § 1 Q, alínea c, item 4). Fica claro, a meu juízo, que, de fato, não há vinculação entre o con­trato de factoring e as atividades de­senvolvidas pelas instituições finan­ceiras, ainda que estas possam de­sempenhar algumas das atividades relacionadas na lei. Essa conclusão leva a uma discussão sobre a remu­neração do factor, ou seja, a contra­prestação pelos riscos assumidos e pela gestão do crédito, que inclui os juros, dentre outros elementos.

Gonçalo Ivens Ferraz da Cunha e Sá, cuidando do tabelamento dos juros no contrato de factoring, ad­verte com a limitação "estaria total­mente inviabilizada, entre nós, a prática dessa modalidade contra­tual. Isso porque o factoring não te-

ria condições de competir com o des­conto. O factoring oferece ao seu consumidor todas as vantagens do desconto e mais a da assunção do ris­co, portanto, o factoring é um pro­duto tradicionalmente mais caro que o desconto". E, por fim, sugere o au­tor "que o prêmio - que o faturiza­dor recebe por chamar a si o risco de não pagamento, no vencimento, dos créditos cedidos - fique fora do tabelamento." (in Revista de Direi­to Mercantil, n Q 73, págs. 114 e segs.)

Arnaldo Rizzardo pondera cor­retamente que não é possível apli­car sistema de juros fora do quadro legal infraconstitucional. E anota que o art. 1.062 do Código Civil prescreve osjuros legais de 6% a.a., e que o art. 1.262 do mesmo Código autoriza, por cláusula expressa, a fixação de juros ao empréstimo de dinheiro e de outras coisas fungí­veis, abaixo ou acima da taxa legal, com ou sem capitalização. Ocorre que o Decreto n Q 22.626/33 veda a estipulação de juros superiores ao dobro da taxa legal, vedada a capi­talização dos juros, com o que, "na remuneração pela compra dos cré­ditos, o componente juros - calcu­lado entre a data da venda e a do vencimento - ficará no limite má­ximo de 12% ao ano. Possível, por­tanto, revisar a remuneração quan­to aos juros embutidos, que jamais poderão atingir a taxa praticada pelos bancos." (cit., pág. 93).

Neste feito, a sentença afastou "quaisquer perquirições sobre juros excessivos cobrados pelo factor na compra dos ativos financeiros. Não

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há prova de que a embargada pra­ticava verdadeiro desconto bancá­rio com taxas pós-fixadas; demons­trou-se, sim, que comprava títulos de crédito, pagando por eles valor sempre inferior ao nominal. Neste tipo de negócio o risco é do factar, que por tal se remunera, não caben­do falar em juros, mas em preço. Dessa forma, fica afastada a inten­ção esboçada pela embargante no sentido de obter dedução de valores cobrados a maior em operações an­teriores, a pretexto de terem sido usuários." (fls. 528/529)

Todavia, o Acórdão ora recorrido impôs os juros a 12% a.a., com cor­reção oficial, ou seja, limitou a inci­dência dejuros ao teto legal (fls. 563 a 666). Mas, o Acórdão recorrido considerou, ainda, estes aspectos:

"Em primeiro lugar, quando en­dossaram à embargada os títulos que posteriormente resgataram e substituíram pelas NPs, os em­bargantes receberam valor redu­zido, já que descontados os nor­mais encargos monetários ati­nentes à atividade da empresa de factoring.

Em segundo lugar, não demons­trou o factor, a contento, como obteve o valor executado, que, se­gundo a pericial, supera o valor dos títulos substituídos.

Ainda, ressalte-se, não atentou o julgador original para a conclu­são pericial. O expert do Juízo apurou o saldo devedor favorável ao embargado/apelado de 3.727,32 BTNF, fl. 339, abatidos os juros e correção monetária excessivos,

além dos gastos processuais, ônus da exeqüente."

O especial vem com força na con­figuração de instituição financeira para a empresa de factoring, apre­sentando precedente sobre a ausên­cia de limitação de juros cobrados pela primeira. E isso, como já vimos, não é o caso. Ao revés, se não é ins­tituição financeira, não servem para a empresa de factoring os preceden­tes que põem os juros cobrados pe­los bancos fora do limite legal, dei­xando de aplicar a chamada Lei de Usura.

Por outro lado, a remuneração do factor não sofrerá qualquer abalo com essa correta interpretação da disciplina do direito positivo, no atual estágio, sobre a atividade de facto­ring. Na verdade, como assinalou Arnaldo Rizzardo, os contratos de factoring não discriminam adequa­damente os componentes da comis­são (pág. 93), sendo certo, ademais, que a remuneração propriamente dita da atividade pode ser livremen­te avençada pelas partes. E, ade­mais, há o risco próprio do negócio que há de ser considerado pelo fac­tor para fixar o preço do negócio.

Em conclusão, tenho como fora do âmbito das instituições financeiras as empresas de factoring, que, por isso mesmo, não podem aplicar a taxa de juros do mercado financei­ro, estando sob o rigor do teto legal de 12% a.a., nos termos do Decreto n Q 22.626/33.

Destarte, eu não conheço do es­pecial.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 171

VOTO

O SR. MINISTRO COSTA LEITE (Presidente): Acompanho o eminen­te Ministro-Relator. O meu conven­cimento formou-se no sentido de

que, realmente, as empresas de fac­toring não são instituições financei­ras a fim de se beneficiarem da dis­ciplina da lei da reforma bancária. Prevalece, em relação a tais empre­sas, a disciplina da Lei de Usura.

RECURSO ESPECIAL NQ 161.909 - RS

(Registro nQ 98.0000694-0)

Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Sanremo S/A

Recorrida: Indústria de Plásticos Engel Ltda.

Advogados: Drs. João Bittencourt de Medeiros e outro, e Milton Leão Barcellos e outro

Sustentação Oral: Sustentou oralmente, o Dr. João Bittencourt de Me­deiros, pela recorrente

EMENTA: Propriedade Industrial.

Informação falsa, veiculada em mensagem publicitária, consig­nando-se a existência de patente quando, em verdade, apenas se havia feito o depósito do pedido de privilégio.

Havendo sido deferida a patente, não se vislumbra prejuízo para o concorrente, em virtude daquela informação, tendo em vista o disposto no artigo 23 e seu parágrafo único da Lei 5.772/71.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhe­cer do recurso especial e lhe dar pro-

vimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Nilson Naves.

Brasília, 24 de março de 1998 (da­ta do julgamento).

172 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente. Ministro EDUARDO RIBEI­RO, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Indústria de Plásticos Engel Ltda. ajuizou ação de indeni­zação contra Sanremo S/A, alegan­do prática de concorrência desleal. A autora, fabricante de fichas plás­ticas destinadas a vale-transporte, tomou conhecimento de que a ré, sua concorrente direta, havia reque­rido o depósito da patente de dispo­sitivo que seria reprodução de pro­duto seu. A ré, de posse do pedido de depósito, notificou a autora por seu uso abusivo e ilegal, pleiteando que se comprometesse a interrom­pê-lo. Comunicou, ainda, à comis­são de licitação, responsável por certame onde concorria a autora, o pedido de depósito, antes de seu deferimento, e fez publicar em re­vista especializada propaganda onde afirmava deter a patente do produto. O pedido de depósito so­freu oposição de terceiros que sus­tentaram não estar presente o re­quisito da novidade.

Julgada improcedente em pri­meiro grau de jurisdição, apelaram ambas as partes: a autora pleitean­do a procedência do pedido e a ré buscando a majoração da verba ho­norária. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu provimento ao apelo da autora, condenando a ré a indenizar, e julgou prejudicado

seu recurso. Interpôs essa recurso especial, apontando negativa de vi­gência ao art. 59 da Constituição da República, 458, II e IIl, do Código de Processo Civil e 59 e 23 da Lei 5.772/71 (Código de Propriedade In­dustrial), bem como divergênciaju­risprudencial. Negado seguimento ao recurso, apresentou a ré agravo de instrumento, que converti no pre­sente recurso especial.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO (Relator): O acórdão con­siderou que não houve ilicitude no procedimento da ora recorrente, ao efetuar notificações, consignando que havia feito o depósito do pedido de patente. Entendeu, entretanto, que o mesmo não se verificara com a propaganda inserida na revista "Via Urbana". Nessa constaram di­zeres de que resultava ser a recor­rente detentora de patente, cujo nú­mero era indicado, e que a indus­trialização, comercialização ou uso não autorizado sujeitaria o infrator às penas da Lei 5.772/71, sem pre­juízo das perdas e danos. Ocorre que a informação não era verdadeira. Quando feita a publicação, havia ela apenas efetuado o depósito, ainda não tendo a patente, que só lhe foi outorgada anos após. Entendeu a de­cisão recorrida que se configurava aí a concorrência desleal e, tendo por dispensável a prova do prejuízo, ar­bitrou em cinqüenta mil reais o va­lor da indenização.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 173

Como assinalou o julgado em exa­me, houve regular exercício do di­reito, por parte da recorrente, ao proceder a notificações de que ha­via sido efetuado o depósito do pe­dido de privilégio. É que, se houver exploração do invento, mesmo an­tes da concessão do privilégio, mas após o depósito, uma vez obtida a patente terá seu titular direito de indenização, inclusive em relação a esse período.

No caso, veio a requerente a al­cançar o deferimento do pedido. Tor­nou-se titular do privilégio de in­venção. Daí se conclui que, se hou­vesse a ora recorrida explorado o invento, após o depósito, ficaria ex­posta à exigência de pagar indeni­zação, como estabelecido no artigo 23 e seu parágrafo único da Lei 5.772/71. Se assim é, não se vislum­bra qual o prejuízo que possa ter tido.

Impressionou-se o acórdão com a circunstância de a recorrente ter di­vulgado informação que não corres­pondia à verdade. Certo que o fez, o que se há de ter como censurável. Ocorre que a recorrida não poderia, de qualquer sorte, explorar a inven­ção e, se assim é, não há como reco­nhecer lhe haja advindo prejuízo. Não se trata da dificuldade de fixá­los - o que o acórdão admitiu -, mas da impossibilidade de que ha­jam ocorrido.

Tenho como certo, em vista do ex­posto, que o julgado não deu aplica­ção ao citado dispositivo legal, na extensão em que o haveria de fazer, terminando por violá-lo.

Conheço e dou provimento ao re­curso para julgar improcedente a ação. A autora pagará as custas e honorários, fixados esses em dez mil reais.

RECURSO ESPECIAL Nº 164.125 - RJ

(Registro nº 98.0009992-1)

Relator: O Sr. Ministro Costa Leite

Recorrentes: Berenice de Souza Ferreira e outro

Recorridos: Carvalho de Sousa Ferragens S/A e outros

Advogados: Sérgio Murilo Santos Campinho e outros, e Wanderley Lobianco e outros

EMENTA: Processo Civil e Comercial. Recurso especial. Admis­sibilidade. Sociedade Anônima. Dissolução.

Ruptura da affectio societatis constitui questão que apresenta contornos fáticos, atraindo, assim, a incidência da Súmula nº 07.

174 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

A falta de lucratividade ajusta-se à hipótese de dissolução do art. 206, lI, b, da Lei das Sociedades Anônimas, desde que reponte o malogro no intento de lucro, o que não foi reconhecido pelo acór­dão, deixando o fundamento em que se estabeleceu entrever cau­sa conjuntural. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso especial. Participa­ram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter e Menezes Direi­to.

Brasília, 26 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro COSTA LEITE, Presi­dente e Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO COSTA LEI­TE: Trata-se de recurso especial manifestado por Berenice de Souza Ferreira e outro, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão da e. Terceira Câmara do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janei­ro, cujos fundamentos foram assim sintetizados na ementa:

"Ação de Dissolução de Socie­dade Anônima. Impropriedade de averiguação da affectio societa-

tis por não se tratar de socieda­de de pessoas. Inocorrência de qualquer das hipóteses elencadas no art. 206, II, da Lei 6.404/76. Não provimento do recurso."

Sustentam os recorrentes que o v. acórdão recorrido, ao assim deci­dir, contrariou o art. 206, II, b, da Lei 6.404/76 e dissentiu dejulgados de outros tribunais.

Processado e admitido o recurso, subiram os autos.

É o relatório, Senhores Ministros.

VOTO

O SR. MINISTRO COSTA LEITE (Relator): Interpretando cláusula contratual e apreciando soberana­mente a prova - a propósito reali­zou-se perícia, firmou-se o v. acór­dão recorrido em que a empresa cuja dissolução é perseguida vem cumprindo uma das atividades constantes do seu objeto social, daí o rechaço à pretensão deduzida com base no que se contém no art. 206, II, b, da Lei nº 6.404/76.

Alegam os recorrentes, em pri­meiro lugar, a ruptura da affectio societatis. Por aí, entretanto, o re­curso não reúne condições de admis­sibilidade. Com efeito, ainda que se entenda possa o alegado constituir

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 175

motivo a ensejar a dissolução, à luz do mencionado dispositivo legal, o que foi negado pelo acórdão, certo é que se trata de questão que não se esgota no plano jurídico. Apresenta contornos fáticos que atraem a in­cidência da Súmula nº 07/STJ e, contrariamente ao que se afirma no recurso, com o intuito de arredar o óbice sumular, o acórdão não reco­nheceu a ocorrência de ruptura da affectio societatis.

A outra questão diz com a apon­tada falta de lucratividade. É incon­testável que isso ajusta-se à hipó­tese legal de dissolução que se acha em causa, desde que reponte o ma-

logro no intento de lucro, que move as sociedades comerciais. O funda­mento em que se estabeleceu o acór­dão, no particular, não evidencia isso, apontando antes causa conjun­tural, tanto assim que afirmou en­contrarem-se outras empresas na mesma situação. O recurso insiste com a impossibilidade de a empre­sa gerar lucro. Sucede que a respei­to disso não se posicionou o acórdão, ao qual não foram opostos embar­gos de declaração.

Assim sendo, não conheço do re­curso. É como voto, Senhores Minis­tros.

176 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.

JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA

RECURS'O ESPECIAL Nº 5.452 - MS

(Registro nº 90.0010143-3)

Relator: O Sr. Ministro Fontes de Alencar

Recorrentes: Afrânio de Oliveira Barbosa e outro

Advogados: Drs. Paulo Tadeu Haendchen e outros

Recorridos: Modesto Brock e outros

Advogados: Drs. Joaquim Jair Ximenes Aguiar e outros

Sustentação Oral: Dr. Joaquim Jair Ximenes Aguiar, pelos recorridos

EMENTA: Recurso especial.

- Súmula 07 do STJ.

- Insubsistência da alegada negativa de vigência de lei federal.

- Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso. Votaram com o Re­lator os Srs. Ministros Barros Mon­teiro e Cesar Asfor Rocha. Ausen­tes,justificadamente, os Srs. Minis­tros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Ruy Rosado de Aguiar.

Brasília, 03 de junho de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro FONTES DE ALENCAR, Relator.

Publicado no DJ de 29-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR: Afrânio de Oliveira Bar­bosa e Eurídice Garcia Barbosa pro­moveram, contra Modesto Brock e outros, Ação de Rescisão de Contra­to de Compra e Venda, cumulada com Anulação de Escritura Pública, e Perdas e Danos.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 179

o Juiz de Direito (sentença de fls. 625/639) julgou

"procedente em parte a ação para condenar os réus a paga­rem aos autores o valor de Cr$ 1.600.000.000,00 (hum bilhão e seiscentos milhões de cruzeiros), convertidos em cruzados na data do efetivo pagamento, acrescidos de juros legais e correção mone­tária a contar do vencimento (28.02.86) e ainda 20% (vinte por cento) a título de honorários que serão calculados sobre o valor da condenação."

Embargos declaratórios opostos à decisão de primeiro grau, rejeitados (fl. 647).

Os julgadores da Corte sul-mato­grossense ao apreciar as apelações pelas partes interpostas delibera­ram dar

"provimento ao agravo retido para, cassando a decisão agrava­da, determinar que os documen­tos impugnados permaneçam en­tranhados nos autos. Também à unanimidade, rejeitaram a pre­liminar de nulidade da sentença argüida pelos réus-apelantes, e, quanto ao mérito, ainda à unani­midade, negaram provimento ao recurso dos autores e proveram o dos réus para julgar improce­dente o pedido, invertendo-se o ônus da sucumbência" (fl. 791).

Os autores manifestaram recur­so especial dizendo-o fundado no art. 105, lII, a, da Constituição Fe-

deral, e alegando negativa de vigên­cia do art. 1.092, parágrafo único, do CCB, e do art. 333, II, do CPC (fls. 795/802).

A decisão admitidora do recurso está às fls. 815/817, e dela extraio:

" ... ante a complexidade da questão, em especial no que per­tine à valoração jurídica das pro­vas, tendo como referencial a nor­ma do art. 333, II, do Código de Processo Civil, sob alegação de negativa de vigência, admito o segmento do recurso especial."

O Ministério Público Federal emitiu parecer (fls. 844/848) desta forma sumariado:

"Recurso especial. Compra e venda. Inadimplência. Perdas e danos. Quitação. Ônus da prova.

- Incumbe ao réu o ônus da prova se alega fato impeditivo, modificativo ou extintivo do di­reito do autor (art. 333, II, CPC).

- Parecer pelo parcial provi­mento do recurso."

VOTO

O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR (Relator): O recurso é fundado tão-somente na alínea a do permissor constitucional, e sob ale­gação de negamento de vigência dos arts. 333, II, do CPC, e 1.092, pará­grafo único do CCB.

Quanto ao primeiro deles, ainda que se o tenha por prequestionado malgrado não lhe faça referência o

180 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

acórdão, dizê-lo de vigência negada é impossível. Eis o que registra a de­cisão recorrida no que interessa ao ponto:

"A quitação existe válida e re­gular, como reconheceu a própria sentença recorrida.

Se os autores alegam que não receberam, apesar de terem dado quitação, a eles cumpria provar que não houve pagamento.

O digno e culto magistrado in­verteu assim o ônus da prova, pois que os réus não invocaram qualquer fato extintivo, modifica­tivo ou impeditivo do direito dos autores.

Estes é que se propuseram a provar que apesar da quitação que prova o pagamento, este não se deu. E não se desincumbiram desse ônus, como, exaustivamen­te demonstraram os réus nas suas razões de recurso" (fl. 790 - vol. 4).

Sob outro ângulo, poder-se-á di­zer, a propósito, que apenas o revol­ver da matéria de fato possibilita­ria conclusão diversa. A Súmula 07 do STJ, todavia, como sabido, é óbi­ce a reexame da prova em sede de recurso especial.

No tocante ao art. 1.092, parágra­fo único do CCB, o fundamento da ar­güição dos recorrentes é o seguinte:

"Ora, está expresso na lei que o caminho em caso de inadim­plemento é o pedido de rescisão cumulado com perdas e danos.

Mas o acórdão, imperativamen­te, diz ser inaplicável a regra su­pra, "porque a falta de pagamen­to não anula o contrato e não dá causa para sua rescisão, daí se concluir que o aresto negou vi­gência ao art. 1.092, parágrafo único do Código Civil" (fls. 799/ 800).

Enfatizam os que recorrem o tre­cho que sublinham e o dão como autorizador da conclusão que tra­zem como alegado.

Por primeiro, observo que o tópi­co aludido é de uma decisão de ou­tro Tribunal que o aresto tempestea­do reproduz depois de observar que

"houve pagamento da maior parte da obrigação, não podendo a esta altura, sob o fundamento do inadimplemento, da menor parte, anular o ato jurídico" (fl. 786).

Sem dúvida o sistema de direito positivo brasileiro adota nos contra­tos bilaterais a cláusula resolutiva tácita (art. 119 do CCB), e nesse tema o diploma bevilaquiano, como observa Orlando Gomes,

"adotou o sistema francês, ain­da que não tenha admitido todas as suas conseqüências" (Contra­to, pág. 207 - Rio: Forense, 1 ª ed., 1959).

Por certo não se constitui dema­sia a menção, nesse passo, do escólio de R. J. Pothier ao tratar da dife­rença existente entre o Direito ro-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 181

mano e o francês acerca do pacto comissório. Escreveu o notável pro­fessor de Orleans, cuja obra influ­enciou na realização do Código de Napoleão:

"Segun nuestra jurisprudên­cia, el pacto comissório no anula de pleno derecho el contrato por falta de pago dentro el tiempo seiialado; solo da aI vendedor una accion para pedir la nulidad deI contrato, nulidad que sólo es producida por la sentencia que intervelue en virtud de esta acción, y por falta de pago deI precio. Aunque haya expirado el plazo seiialado, puede, pues, el comprador, hasta que haya me­diado sentencia, impedir la anu­lación com oferecer pagar e1 precio" (Tratado de los Contratos, tomo I, pág. 230 - Buenos Aires, Editorial Atalaya, 1948).

De retorno ao caso concreto, digo mais que o acórdão recorrido não maltratou o art. 1.092, parágrafo único, do CCB. Eis o que dele cons­ta:

"Sobre esse aspecto há que se salientar que os títulos correspon-

dentes à importância de Cr$ 838.000.000,00 foram transferi­dos a terceiros, tendo dessa for­ma os autores deles desvincula­dos, bem como de qualquer obri­gação deles decorrente, até por­que os endossatários, como res­tou comprovado, não tomaram as providências legais contra os en­dossantes.

Conseqüentemente, não tem interesse legítimo para vir em juízo invocar direito alheio .. .

............... (omissis) ................ .

... não podem os autores apro­veitar tais títulos como causa de rescisão do contrato.

J á na parte que se refere à des­vinculação das promissórias da escritura pública, cujos títulos de crédito somavam a importância de Cr$ 1.600.000.000 (um bilhão e seiscentos milhões de cruzei­ros), igualmente não consegui­ram os autores provar que teri­am sido induzidos a erro quando compareceram a cartório com tal objetivo." (fls. 785/786 - voI. 4).

Posto isso, insubsistente a alega­ção de recusa de vigência de lei fe­deral, não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL Nº 90.980 - DF

(Registro nº 96.0018122-5)

Relator: O Sr. Ministro Barros Monteiro

Recorrente: Delphos Engenharia S.A.

182 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

Recorrida: Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte

Advogados: Drs. Carlos Mario da Silva Velloso Filho e outros, e Sebas­tião Alves dos Reis Júnior e outros

Sustentação Oral: Dr. Carlos Mario da Silva Velloso Filho, pela recor­rente

EMENTA: Contrato. Quitação. Assertiva de que obtida median­te coação. Estado de necessidade. Ausência de prequestionamen­to. Reexame de matéria probatória. Recurso especial inadmissível.

- Constitui pressuposto específico do recurso especial o pre­questionamento (Súmulas n~ 282 e 356-STF).

- É ampla a liberdade do Juiz ao apreciar a assertiva concer­nente à existência da coação. Descabido, por conseguinte, fixar­lhe normas de caráter geral e assinalar-lhe, de antemão, diretri­zes nesse mister. Solução do litígio a depender das circunstâncias peculiares a cada caso concreto.

- Não se reexamina matéria probatória em sede de recurso especial (Súmula n!! 07-STJ).

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Quarta Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigrá­ficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar As­for Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília, 14 de outubro de 1997 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: A Delphos Engenha­ria S/A ajuizou ação anulatória de cláusula contratual, cumulada com ressarcimento de danos, contra a Centrais Elétricas do Norte do Bra­sil S/A - Eletronorte.

Alegou a autora que, como ven­cedora da "Concorrência DT-TUC-010/75" e adjudicatária das obras e dos serviços licitados (primeira eta­pa da "Vila Residencial da Usina Hi­drelétrica de Tucuruí"), firmou con­trato com a ré em 09/09/76, preven­do-se a execução de seu objeto num prazo de treze meses. Disse que, tão logo assinado o contrato, deu início à mobilização dos recursos organi­zacionais, inclusive da implantação

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do canteiro de obras. Todavia, por culpa única e exclusiva da ré - a qual, além de ter descumprido obri­gações e prazos contratuais, atra­sando o início e a conclusão dos ser­viços (que só se deu em agosto de 1981), alterou por várias vezes os serviços contratados e os projetos da construção e, em alguns períodos, deixou de pagar as obras executa­das ou as pagou com atraso - o equilíbrio econômico financeiro do contrato foi rompido. Asseverou a autora que, em face de tais atos, sofreu graves prejuízos, pois foi obrigada a manter permanente­mente mobilizados em favor da obra recursos materiais, humanos e fi­nanceiros, a arcar com os ônus da inadimplência de investimentos fi­nanceiros que realizou à vista dos faturamentos normalmente previsí­veis - os quais, em decorrência da inexecução da obra por culpa da ré, não ocorreram -, bem como a re­correr ao mercado financeiro para honrar as obrigações assumidas, pa­gando juros bastante superiores aos cobrados à época da elaboração da proposta. Ademais, foi obrigada a disputar com outra empreiteira con­tratada pela ré para executar obras no mesmo local o recrutamento de pessoal- o que a forçou a conceder benefícios não previstos no contra­to - e a arcar com a diferença de­corrente do fato da fórmula de rea­juste contratual não acompanhar o real aumento dos custos.

De outro lado, afirmou que a "Empresa Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A" - que tam­bém firmou contrato com a ré e exe­cutou obras semelhantes no mesmo

período, no mesmo local e nas mes­mas condições econômicas, financei­ras e técnicas, com prazos iguais para faturamento e pagamento -, por ter sofrido problemas iguais aos seus, pleiteou e conseguiu altera­ções contratuais que reequilibraram seu contrato.

Contudo, ao analisar o pleito da autora de alteração contratual, a ré, aproveitando-se da precária situa­ção econômico-financeira em que se encontrava a requerente, elaborou o Termo Aditivo DT-TUC-10H/82, no qual impôs, como condição para o recebimento de ínfima parcela dos prejuízos sofridos, que esta desse, por si e seus sucessores, quitação abrangente de todos os seus direi­tos (cláusula 7ª). À autora, que se encontrava em seríssimas dificulda­des econômico-financeiras causadas pela própria ré, mesmo discordan­do total e integralmente do dispos­to no referido termo aditivo, somen­te restou assiná-lo, sem qualquer possibilidade de resistência.

Como a assinatura do Termo Adi­tivo se deu mediante coação irresis­tível, pleiteou a decretação da nuli­dade da quitação plena (cláusula 7ª do DT-TUC 10/82) e a condenação da ré ao pagamento de Cz$ 184.921.881,40 (valor obtido com base nos mesmos parâmetros utilizados pela ré quan­do firmou as alterações contratuais com a "Camargo Corrêa") e de per­das e danos e lucros cessantes.

A MM. Juíza de Direito julgou improcedente a ação.

A Primeira Turma Cível do Tri­bunal de Justiça do Distrito Fede-

184 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

ral e dos Territórios, por maioria de votos, negou provimento à apelação da autora.

Os embargos infringentes opos­tos pela autora foram rejeitados. Eis a ementa do acórdão:

"Direito Civil - Contrato -Vício de manifestação de vonta­de - Coação irresistível contra pessoa jurídica - Possibilidade - Anulação do ato jurídico.

Para o reconhecimento da coa­ção, há necessidade de prova ri­gorosa, a que não se desincumbiu a embargante. Quem alega cisão entre a vontade e a declaração de­ve prová-la. Embargos Infringen­tes improvidos." (fls. 1.047)

Inconformada, a autora manifes­tou o presente recurso especial com arrimo nas alíneas a e c do permis­sivo constitucional, alegando afron­ta aos arts. 98, 101 e 136, V, do CC e 55, lI, d e 86 do DL 2.300/86, além de dissenso pretoriano com julgado desta Corte. Sustentou a recorren­te que a coação moral se caracteri­za pela existência de um estado de espírito em que o agente do ato ju­rídico se encontre no momento da declaração de vontade, de tal ma­neira que, em face de uma pressão qualquer (não importa de onde pro­venha) se veja possuído de fundado temor de dano; que o estado de ne­cessidade se põe entre as circuns­tâncias que a ensejam e que pouco importa que dela tenha ou não ciên­cia aquele que contrata com a víti­ma da pressão moral, bastando que o negócio tenha gerado prejuízo pa-

ra a vítima e lucro injusto para o outro contratante. Concluiu, então, que a quitação fornecida à ré é anu­lável, pois foi dada de forma vicia­da face à coação moral por ela ex­perimentada em razão do estado pré-falimentar em que se encontra­va, com inúmeros títulos protesta­dos e pedidos de falência. Disse que o ato praticado não foi livre e puro, visto que não tinha liberdade de es­colha: ou recebia a importância que lhe era ofertada ou sucumbiria na falência. Aduziu, ainda, que a coa­ção moral se demonstra através de prova indiciária e por meio de pre­sunções e que, no presente caso, os fatos provados indicam que a ré se aproveitou de sua condição eviden­ciada de estado de necessidade e a induziu a receber um pagamento menor que o realmente devido. De outro lado, alegou que o ato prati­cado pela ré, ao tratá-la de modo distinto em relação à empresa "Ca­margo Corrêa" - que executou os mesmos projetos, no mesmo local e sob as mesmas condições - e ofere­cer complemento de preço inferior à equação financeira do contrato, não atendeu aos termos do art. 55, II, d, e 86 do DL 2.300/86, que lhe impunham a obediência aos princí­pios da licitação e dos contratos ad­ministrativos, bem como o dever de proceder à revisão de seus contra­tos de obras e serviços sempre que, durante a execução, ocorresse a quebra da equação econômico-fi­nanceira inicialmente estabelecida entre as partes.

Contra-arrazoado, o apelo extre­mo foi admitido pela letra a.

É o relatório.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 185

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): A autora -ora recorrente - postulou na inau­gural a anulação da quitação plena constante da cláusula 7ª do Termo Aditivo DT-TUC 010/82, além da condenação da ré ao pagamento de reajustes dos preços unitários cor­respondentes à avença, nas mesmas proporções concedidas à empresa "Camargo Corrêa". Segundo a de­mandante, fora a ré quem provoca­ra o seu desequilíbrio financeiro e, após deixá-la em estado pré-fali­mentar, obteve a quitação integral dos débitos, limitando-se, porém, a antecipar parte dos prejuízos por ela sofridos. A assinatura do referi­do Termo Aditivo ter-se-ia dado sob coação moral irresistível.

Os fundamentos expostos pelo voto condutor do Acórdão recorrido, da lavra do Exmo. Sr. Desembarga­dor Paulo Evandro, podem assim ser resumidos:

a) a coação, para viciar o ato, há de ser identificada e provada; simples indícios e presunções não se mostram suficientes para ca­racterizá -la;

b) a autora não ministrou a prova da existência da coação (que houvesse pressão psicoló­gica dos agentes da ré sobre a cúpula diretiva da autora);

c) suposto aproveitamento da situação financeira da suplican­te não restou demonstrado, nem tampouco houve indícios de pre­tenso ato psicológico coativo;

d) não se evidencia qualquer presunção de coação, consubstan­ciada em aproveitamento da si­tuação de penúria da acionante;

e) a alegação de que a empre­sa "Camargo Corrêa" mereceu tratamento mais benigno em na­da altera a questão;

f) não há referência de que, em algum momento, a ré tenha for­çado a assinatura da quitação;

g) não há também provas de que a quitação tenha implicado em prejuízos à ora recorrente, nem mesmo de que estivesse ela em má situação financeira;

h) não cuidou a autora de de­monstrar o desequilíbrio do con­trato;

i) os motivos expendidos pelo Desembargador Otávio Augusto em seu voto majoritário proferi­do quando do julgamento da ape­lação, dentre os quais se alinham: I) a demandante não se desin­cumbiu de comprovar ter sido afetada em sua livre manifesta­ção de vontade; lI) os fatos por ela articulados não estão a suge­rir intento coativo pela sua pou­quíssima plausibilidade; IlI) a aceitação do Termo Aditivo se dera mais em função aflitiva por que passava do que propriamen­te pela pressão exercida por par­te da ré; IV) não é sugestivo de prática coativa o fato de alguém propor-se a proceder a um adian­tamento em dinheiro para suprir dificuldades financeiras da con­tratada, como o fez a ré.

186 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

o Revisor, Desembargador Este­vam Maia, houve por bem rejeitar os embargos infringentes, acompa­nhando o entendimento do Sr. Re­lator no sentido de que não há pro­va da existência da alegada coação, que deveria ter sido cumpridamente evidenciada.

De sua vez, o voto do Desembar­gador J oazil M. Gardés acompa­nhou os pronunciamentos oriundos dos Srs. Relator e Revisor, sob a ra­zão substancial de que a autora ade­rira livremente à proposta da ré, não sendo possível presumir a ocor­rência de coação, quando dela se exige prova concreta. Acrescentou S. Exa. que o estado de insolvência e o pagamento de reajustes superio­res a uma outra entidade não quali­ficam como coativa a atividade da ré.

A votação foi desempatada (hou­vera três votos pelo recebimento dos embargos) pelo voto-vista do De­sembargador Edson Alfredo Sma­niotto que, após salientar a tenta­tiva da autora de no curso da lide alterar a causa petendi, anotou não haver por que imaginar-se o próprio teor do contrato aditivo co­mo prova da coação. Subscreveu a assertiva do Sr. Desembargador Relator no entendimento de que não lograra a autora demonstrar o efe­tivo desequilíbrio financeiro que teria tido o condão de macular o con­trato, ou até mesmo comprovar as causas que o produziram. Acentuou, por derradeiro, que as circunstân­cias ensejadoras da coação não se mostraram estremes de dúvidas.

De tal exposição sumária, acerca dos motivos que levaram a Eg. Se-

gunda Câmara Cível a repelir os embargos infringentes, ressai des­de logo a ausência do requisito do prequestionamento, reconhecida­mente um dos pressupostos especí­ficos do apelo especial. Assim é que a decisão recorrida não versou so­bre alguns dos temas primordiais ventilados pela recorrente em seu recurso extremo. É o que se dá com a alegação de que a coação moral prescinde da ameaça direta, bastan­do a existência de um estado de es­pírito em face de uma pressão qual­quer, venha de onde ela vier. Igual­mente em relação à afirmativa de que o estado de necessidade se equi­para a uma ameaça e, ainda, de que o abuso do estado de necessidade se enquadra nos princípios da coação.

O V. Acórdão não tratou da ma­téria aí invocada, pelo que incidem no ponto os Verbetes Sumulares n llil

282 e 356 do Excelso Pretório.

Idêntica orientação prevalece quanto à argüição de ofensa aos pre­ceitos do Dec.-Lei n Q 2.300, de 21.11.86. O Tribunal de origem em nenhum momento cogitou da sub­missão a que deveria ater-se a socie­dade de economia mista aos princí­pios da licitação e dos contratos ad­ministrativos, nem tampouco do de­ver de proceder à revisão de seus contratos concernentes a obras e serviços. Bem por isso, não se afi­gura suscetível de aperfeiçoar-se o dissídio de julgados alusivo a este tópico do recurso especial.

A inadmissibilidade do presente apelo extremo não exsurge apenas pelo motivo acima referido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 187

A recorrente, ao sustentar que ocorreu no caso a coação moral, evi­denciada pela prova de ordem cir­cunstancial (fls. 1.091/1.092), está a pretender, nada mais nada menos, do que o reexame de matéria pro­batória em sede de apelo especial, o que é defeso a teor do enunciado da Súmula nl! 07 desta Casa.

A tônica, que desponta do Acór­dão combatido, é a de que a preten­dida coação não restou comprovada como de rigor. Entendimento opos­to é defendido pela ora recorrente: a coação acha-se demonstrada atra­vés de indícios e presunções.

Certo é que, em princípio, a deci­são hostilizada afastou a possibili­dade de tê-la como provada com base em simples indícios e presun­ções.

Acontece, porém, que o critério mais rigoroso, ou menos rigoroso, na apreciação da prova, se insere na esfera de atribuições da instância ordinária. O art. 131 do Código de Processo Civil acolhe, com efeito, o princípio do livre convencimento do Juiz: "o juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e cir­cunstâncias constantes dos autos

" É o que se infere, aliás, do ma­

gistério do Prof. Sílvio Rodrigues, reproduzido de modo apenas par­cial pela recorrente, que assim se desenvolve:

"A prova de coação nem sempre é fácil, pois quem recorre à vio­lência toma, em geral, precauções para não ser surpreendido. Por

isso, a lei dispõe que os atos de má-fé poderão ser provados por indícios e circunstâncias (CPC, art. 252). Nesse sentido, encon­tram-se numerosos julgados, al­guns dos quais foram examina­dos.

Verdade, entretanto, que decisões em contrário também abundam. Mas elas não infirmam a regra e decorrem do fato de ser ampla a liberdade do juiz no considerar o caso concreto. O julgador certa­mente não se satisfará com indí­cios, quando estes não forem bas­tante veementes para convencê­lo" ("Dos Vícios do Consentimen­to", n. 123, pág. 242, 3ª ed. atua­lizada - 1989).

Assim, enquanto o V. Acórdão re­puta não provada a coação e a ora recursante diz o contrário, o que vem esta postular, em última aná­lise, é a perquirição dos fatos e cir­cunstâncias da causa no bojo do re­curso especial, tanto mais que ela própria argúi em suas razões recur­sais aspectos fáticos da lide que es­tão - segundo ela - a indicar um estado psicológico que a conduziram concluir o negócio jurídico (quitação plena) extremamente prejudicial: a) aproveitamento da ré do seu esta­do de necessidade, fragilizada que restou em face da situação econô­mica precária; b) tratamento desi­gual dispensado à recorrente, de um lado, e à "Camargo Corrêa", de ou­tro (fls. 1.091/1.092).

Não foi outra a posição adotada pela Suprema Corte numa hipóte­se de coação aventada em ação de

188 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

anulação de casamento. No voto do Sr. Relator, Ministro Lafayette de Andrada, anota-se:

"Cuidaram as decisões de provas, apreciação dos fatos e por isso o acórdão afirmou de modo categó­rico: 'O casamento estava vicia­do por uma manifesta coação moral, exercida sobre o cônjuge. O dr. Juiz o demonstrou de ma­neira cabal e completa, revelan­do, como é de justiça proclamar, completo conhecimento da espé­cie, exata compreensão da prova e perfeito entendimento da dou­trina e da lei. A nulidade do ca­samento decorreu assim de um imperativo moral que o dr. Juiz soube bem interpretar e ajustar à norma legal que a disciplina' (fls. 233).

Não encontro nessas afirmativas, elementos que me permitam di­zer ter ocorrido ofensa ao Cód. Civil. Se a coação foi admitida em face das provas, não há como se alterar a decisão.

E o Juiz notou com propriedade:

'É inútil fixar normas de cará­ter geral e assinalar diretrizes para os Juízes, no apreciar a coação. Porque o problema de­ve ser resolvido subjetivamen­te, como diz Martinho Garcez Neto e pode suceder que um mesmo fato constitua força em um caso e não em outro, dadas as circunstâncias em que a ví­tima se encontrava colocada. O que atemoriza um ancião pode ser ridículo para um homem forte; o que é insignificante pa-

ra um homem culto, pode re­vestir-se de enorme gravidade para outro inexperiente'" (RE n Q 25.438-ES, julgamento em 19.10.54).

Não cabe, pois, a esta instância excepcional invadir a área de com­petência dos órgãos judicantes lo­cais para ter como provada a coa­ção em contraposição ao que fora lá proclamado, e isso mesmo com base em eventuais indícios e presunções. Impede-a o referido Verbete Sumu­lar n Q 07 desta Corte.

Mesmo que assim não fosse, há de verificar-se, através da leitura atenta do voto condutor do V. Acór­dão, que a Eg. Corte Estadual che­gou a apreciar a espécie à luz dos indícios e presunções. S. Exa., o Sr. Desembargador-Relator, de fato, as­sinalou não ter havido sequer indí­cios da prática de pretenso ato psi­cológico coativo (fls. 1.052). Mais adiante, a fls. 1.053, teve ocasião de advertir: "a embargante tenta de­monstrar um liame entre os vários atos praticados pela embargada, mas sequer demonstra qualquer presunção de coação, consubstan­ciada em aproveitamento de situa­ção de penúria daquela".

Como se vê, de uma forma ou de outra, para o julgamento do REsp não se prescinde do reexame do quadro fático em que posta a con­trovérsia (Súmula n Q 07-STJ).

Do quanto foi exposto, não conhe­ço do recurso.

É como voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 189

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA: Sr. Presidente, fiquei vivamente impressionado com o me­morial da lavra do eminente profes­sor Humberto Theodoro Júnior, que me foi conduzido pelo eminente advogado Rubens de Barros Brizola, pelas considerações ali tecidas, que foram robustecidas pela brilhante sustentação oral do eminente advo­gado Carlos Mário da Silva Velloso Filho, a começar pela alegada vio­lação aos arts. 55, inciso lI, letra d, e 86 do Decreto-Lei n. 2.300/86, na perspectiva da recorrente, à consi­deração de que a decisão hostiliza­da teria negado a obrigação de re­fazer a equação econômico-financei­ra do contrato, tema que começou a ser aceito por trabalhos doutriná­rios, depois pelo desenvolvimento da jurisprudência e, desde algum tempo, por dispositivos legais e ago­ra até constitucionais.

Todavia, bem destacou V. Exa., no seu judicioso voto, que desse tema não cuidou o Tribunal local, a nada se reportando no que diz respeito a isso, razão pela qual V. Exa. enten­deu, como agora também entendo, que esses dispositivos não podem ser apreciados por falta de preques­tionamento.

Também dediquei a mesma aten­ção à sustentação oral quanto à ale­gada violação aos arts. 88, 101,136, V, do Código Civil e confesso, quan­to a esses pontos, inobstante o peso dos ilustres defensores da recorren­te, não fiquei muito impressionado

no que diz respeito ao tema de fun­do que esses dispositivos abordam, mas verifico, como foi bem destaca­do por V. Exa., que, na verdade, in­firmar as colocações postas pelo acórdão recorrido importaria, ine­vitavelmente, no revolvimento de prova, porque, se na visão da recor­rente teria ela assinado aquele adi­tivo por se encontrar coagida ante a força dos fatos ·que lhe eram con­trários naquele instante, na visão do acórdão embargado o que se ve­rifica é que não há a demonstração da existência dessa coação, o que importa, bem destacado por V. Exa., a aceitação do quanto exposto pela recorrente em reexaminar o acervo probatório, tarefa a que não se afei­çoa o recurso especial, a teor do Enunciado nº 7, Súmula desta Cor­te. Ademais, até diria, apenas como reforço de argumento, que não é só porque haveria estado de necessi­dade, a fragilizar a vontade de um contratante a ponto de forçá-lo a fir­mar um negócio, sabedor, desde já, que lhe traria prejuízo e que pode­ria decorrer lucro até injusto para outra parte, não seria só por isso que se poderia dizer da existência de coação a ponto de viciar o ato.

Por essas considerações e pelo voto erudito e circunstanciado pro­ferido por V. Exa., Sr. Ministro-Re­lator, é que o acompanho.

VOTO- VOGAL

O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: Sr. Presidente, ao con­trário do que aconteceu com o Emi­nente Ministro Cesar Asfor Rocha,

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impressionou-me a argumentação da recorrente quanto à questão de mérito porque, realmente, se reco­nhecida a situação de carência ab­soluta de recursos por parte da em­presa, por isso submetida à neces­sidade de aceitar um termo de rea­juste que lhe seria substancialmen­te desvantajoso, estaria em exami­nar a sentença que afastou essa ar­gumentação, pois poderia violar o disposto no Código Civil, sobre a validade do negócio e os vícios de vontade.

Daí por que, com a argumenta­ção expendida no memorial do emi­nente Professor Humberto Theo­doro Júnior e, depois, com a bri­lhante sustentação do eminente Advogado Carlos Mário Velloso Fi­lho, estava por admitir a tese não fora o fato, realçado no voto de VExa., de que essas circunstâncias de fato que justificariam o reconhecimento do estado necessário ficaram rejei­tadas na instância ordinária. Ouvi que durante o julgamento recorri­do foi negada a existência do dese­quilíbrio contratual, do estado de penúria e, até, de prova do prejuízo real sofrido pela empresa recorren­te. No voto do Revisor ficou afasta­da a existência da coação; no voto­vogal afirmou-se que houve, por par­te da empresa, concordância livre para a assinatura do termo que lhe foi apresentado. Finalmente, no voto-desempate negou-se a existên­cia do desequilíbrio financeiro. Sen­do assim, esses pressupostos de fato que justificariam o reconhecimento

da violação ao disposto na lei não estão presentes, como demonstrou V Exa. no seu minucioso e cuidado voto, pelo que o acompanho.

VOTO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: Dois as­pectos me chamaram a atenção des­de o início: o primeiro, o quadro apresentado pela parte recorrente, não só através da sustentação hoje desenvolvida pelo seu ilustre Advo­gado, mas também no parecer do Prof. Humberto Theodoro Júnior, a caracterizar a coaçâo, desde que re­sultasse devidamente demonstrada.

O aspecto que me despertou maior atenção, no entanto, reside na ques­tão probatória, uma vez que, a meu juízo, toda matéria, na realidade, está envolta na interpretação da pro­va.

O em. Relator, em voto minucio­so, como é da sua característica, analisou esses aspectos. Com efei­to, além da falta de prequestiona­mento, apreciou também a inviabi­lidade do reexame probatório na instância especial e, avançando mais, chegou até a apreciar mani­festações dos votos vencedores no que diz respeito à definição da pro­va. Assim, por mais que me impres­sione o quadro exposto pela parte recorrente, vejo como intransponí­vel obstáculo para o conhecimento do recurso, razão pela qual também não conheço do recurso.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 191

RECURSO ESPECIAL Nº 92.313 - SP

(Registro nº 96.0021091-8)

Relator: O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Recorrente: Matesa S/A Indústria, Agricultura e Comércio

Recorridos: Sinval Roberto Dorigon e outro

Advogados: Drs. Luiz Fábio Coppi, e Oswaldo Nunes Gerin e outro

EMENTA: Processual Civil. Exame pericial. Realização. Junta­da aos autos do laudo. Vista às partes. Necessidade. Impossibili­dade de proferir sentença sem dar oportunidade às partes de im­pugnação. Princípio do contraditório. Doutrina. Violação. Art. 398, CPC aplicado à prova pericial. Precedente. Recurso provido.

I - O princípio do contraditório, garantia constitucional, serve como pilar do processo civil contemporâneo, permitindo às par­tes a participação na realização do provimento.

II - Apresentado o laudo pericial, é defeso ao juiz proferir desde logo a sentença, devendo abrir vista às partes para que se mani­festem sobre o mesmo, pena de violação do princípio do contradi­tório.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Vota­ram com o Relator os Ministros Bar­ros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Bueno de Souza.

Brasília, 14 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Relator.

Publicado no DJ de 08-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: Pondo fim a uma demanda de resolução de contrato. celebraram as partes acor­do pelo qual a recorrente deveria pagar pelas benfeitorias realizadas pelos recorridos no imóvel objeto do pacto. Ficou constando no acordo que, em caso de discordância com relação aos valores, cada parte apresentaria um laudo pericial, que seria avaliado pelo julgador.

Diante da acentuada divergência no que concerne ao quantum a ser pago, o Juiz nomeou perito de sua confiança para apresentar laudo conclusivo. Após seu término, os autos foram ao contador para con-

192 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 17'7-243, setembro 1998.

verter em reais o valor que estava em dólares norte-americanos.

Ciente do parecer do expert, a recorrente apresentou impugnação, que não mereceu exame por parte do Juiz. Manifestou ela, então, em­bargos declaratórios, que foram re­jeitados ao argumento de que não havia no acordo previsão de discus­são a respeito do valor que seria fi­xado pelo julgador, pelo que seria cabível impugnação da parte, que, por isso, não foi examinada.

Interposta apelação, na qual se discutia nulidade da sentença ho­mologatória da conta pelo fato de a apelante não ter podido manifestar­se, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou-lhe provimento. Disse a Turma, abonando o entendimen­to da primeira instância, que não tinha sido prevista a hipótese de rea­bertura da discussão sobre o valor que viesse a ser encontrado pelo perito do Juízo.

Opostos declaratórios pela ape­lante, foram eles rejeitados.

Irresignada, interpôs ela recur­so especial alegando violação dos arts. 5º, LV, da Constituição, por ofensa ao princípio do contraditório e da ampla defesa, já que não teve oportunidade de falar sobre o lau­do pericial, e 398 do Código de Pro­cesso Civil, porque não foi aberta vista às partes sobre a perícia leva­da a efeito.

Contra-arrazoado, foi o recurso inadmitido na origem, subindo os autos por força de agravo.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (Rela­tor): Conforme se viu do relatório, concluída a perícia por profissional nomeado pelo juízo, foi a sentença proferida em seguida, embora te­nha a ora recorrente se manifestado sobre a conclusão do laudo. O Juiz deixou claro, ao decidir os embar­gos declaratórios opostos contra a sentença de liquidação, que não iria discutir a impugnação feita em ra­zão de não ter sido previsto no acor­do celebrado pelas partes a possibi­lidade de debate sobre eventuallau­do de perito nomeado para se che­gar a um valor definitivo das ben­feitorias. E isso foi mantido no acór­dão recorrido.

Patente a violação do princípio do contraditório, garantia de ordem constitucional e que tem por objeti­vo a busca de um processo justo e imparcial, com as partes participan­do na formação do provimento, con­forme assinala Aroldo Plínio Gon­çalves:

"O contraditório foi definitiva­mente conquistado como um di­reito das partes, foi consagrado, no Brasil, como garantia consti­tucional, e se transformou em uma exigência da instrumentali­dade técnica do processo. A idéia que está em sua base é a da evo­lução da prática da democracia e da liberdade, em que os interes­ses divergentes ou em oposição encontram espaço garantido para sua manifestação, na busca da decisão participada" (Técnica Pro-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 193

cessual e Teoria Geral do Proces­so, Aide, 1992, pág. 194).

Assim, o juiz, ao permitir a jun­tada de documentos, a requerimen­to de uma das partes ou de um au­xiliar do Juízo, como o perito, deve dar oportunidade à parte contrária ou a ambas as partes de tomar co­nhecimento dos mesmos e de discu­ti-los. Abolir essa fase procedimen­tal e impossibilitar a discussão pe­las partes de um ato do processo po­deria acarretar abuso na decisão judicial, que, desta forma, não te­ria limites.

A ausência dessa oportunidade leva à nulidade do ato subseqüen­te, haja vista a falta de participa­ção das partes na formação do pro­vimento. Mutatis mutandis, assim proclamou a Terceira Turma, no REsp 6.102-AM (DJ 22.4.91), sob esta ementa:

"Apresentado o laudo, não pode o juiz proferir sentença, sem an­tes propiciar às partes que se pro­nunciem sobre o mesmo. Não atendida essa exigência do con­traditório, anula-se aquele ato decisório" .

Ao proferir o voto-condutor, assi­nalou o Ministro Eduardo Ribeiro:

"Considero, entretanto, que tem razão o recorrente quando alega que sua defesa foi cercea­da, por não se lhe ter ensejado pronunciar-se sobre o laudo pe­ricial. O acórdão afirmou que, no incidente de falsidade, não havia lugar para vista sobre o laudo.

Entendo que não tem razão. O artigo 392 do Código de Processo Civil estabelece que o juiz deter­minará exame pericial, nada dis­pondo quanto ao procedimento deste. Haverá de ser o previsto para os exames periciais em ge­ral. E dos dispositivos que o re­gem resulta claro que a sentença não será desde logo proferida, sem propiciar às partes dizer quanto ao laudo, o que constitui­ria evidente ofensa, e ofensa gra­ve, ao princípio do contraditório. O artigo 433 prevê seja entregue até dez dias antes da audiência. As partes, naquele prazo, terão acesso à peça técnica, até para que possam requerer esclareci­mentos (artigo 435). Admita-se que não seja a audiência de rigor. N este caso, não se poderá deixar de permitir às partes o exame do laudo para que requeiram o que entenderem de direito e sobre o mesmo trazerem as observações que tiverem.

Assimjá decidiu o Egrégio Su­premo Tribunal Federal, RTJ 101/176, reI. Aldir Passarinho, e o Tribunal Federal de Recursos na AC 114.266 de que fui relator.

Dou provimento para anular a sentença, devendo abrir-se opor­tunidade às partes para que se pronunciem sobre o laudo peri­cial".

Também na mesma linha, embo­ra em circunstâncias fáticas dife­rentes, afirmou ° Tribunal de Alça­da de Minas Gerais, na Apel. 16.419, sob a relatoria do seu então Juiz

194 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

Humberto Theodoro Jr. (Revista de Julgados 11/176):

"Cerceamento de defesa. Realiza­da a prova pericial, não é dado ao juiz dispensar a audiência de instrução e julgamento, proferin­do de plano a sentença, constitu­indo tal procedimento evidente cerceamento de defesa, já que nenhum trabalho técnico é indis­cutível e de caráter obrigatório para as partes e o juiz, sem que antes se tenha cumprido todo o procedimento legal de sua críti­ca e contraprova pelas partes".

Outra, aliás, não é a posição da doutrina, inclusive a nacional, hoje extremamente fecunda nos estudos constitucionais do processo, dentre os quais, entre tantos, poderiam ser citados Dinamarco, in Fundamen­tos do processo civil moderno, RT, 2ª ed., ns. 43 e segs.; Ada P. Grino­ver, Os princípios constitucionais e o CPC, J. Bushatsky ed., n. 9; N. Nery Jr., Princípios do processo

civil na Constituição Federal, ns. 20 e segs.

Ademais, a entender-se como o fez o r. acórdão, seria, data venia, deixar ao perito a solução da con­trovérsia, subtraindo do julgador, como diretor do feito e sujeito da relação processual, na condição de representante do Estado-Juiz, sua função jurisdicional, de dizer o di­reito no caso concreto. O perito, na realidade, como já observava o ad­mirável Lopes da Costa (Direito Processual Civil Brasileiro, Foren­se, 2ª ed., n. 142), sem embargo do seu valor, é mero "auxiliar tempo­rário da Justiça".

Tenho, destarte, por violado o art. 398 do Código de Processo Civil, que se aplica à prova pericial, prejudi­cada a análise das demais impug­nações.

Em face do exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para cassar a sentença de liquidação e ensejar que outra seja proferida após a análise da impugnação feita pela ora recorrente.

RECURSO ESPECIAL NQ 97.991 - MG

(Registro n Q 96.0036648-9)

Relator: O Sr. Ministro Sáluio de Figueiredo Teixeira

Recorrentes: Portal Arquitetura e Construção Ltda. e outros

Recorrido: Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A - Credireal

Advogados: Drs. Edelberto Augusto. Gomes Lima e outros, e Sérgio Gran-dinetti de Barros e outros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 195

EMENTA: Processual Civil. Embargos à execução. Co-devedor que não sofreu dano patrimonial. Intimação da penhora que re­caiu sobre o bem de outro executado. Necessidade. Prazo para embargos. Autonomia. Contagem. Início. Precedentes. CPC, art. 738-1. Sistema anterior à Lei n. 8.953/94. Recurso provido.

1 - Sendo vários os executados, todos devem ser intimados da penhora, ainda que ela tenha recaído em bem pertencente a so­mente um deles, uma vez que a todos assiste o direito de embargar.

H - O prazo para oferecimento dos embargos é singular, inician­do-se, para cada executado, no sistema anterior à Lei n. 8.953/94, da data da respectiva intimação da penhora.

IH - Tivesse ocorrido a intimação já na vigência da redação dada ao art. 738-1, CPC, pela Lei n. 8.953/94, a contagem seria, para cada um, a partir da juntada aos autos do mandado das respectivas intimações.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Vota­ram com o Relator os Ministros Bar­ros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar. Ausente, jus­tificadamente, o Ministro Bueno de Souza.

Brasília, 29 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Relator.

Publicado no DJ de 01-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: O recor-

rido ajuizou ação de execução con­tra Portal Arquitetura, André Luiz Saggioro, Elvimar Saggioro, Raphael Sansão Filho e Suraia Sansão. Ci­tados, e não havendo pagamento do débito, foi penhorado bem imóvel de propriedade de André e Elvimar, sendo que eles, juntamente com a empresa Portal, foram intimados do ato constritivo em 23 de junho de 1994. Os outros executados, Ra­phael e Suraia, receberam a inti­mação da penhora no dia seguinte, ou seja, 24 de junho.

Em 5 de agosto daquele ano, os cinco executados opuseram embar­gos à execução, que não foram rece­bidos em razão de sua extempora­neidade.

Apelaram os embargantes, tendo o Tribunal de Alçada de Minas Ge­rais, por maioria, negado provimen­to ao recurso. Entendeu o Colegia­do que seria desnecessária a intima­ção daqueles que não tiveram bens de sua propriedade penhorados, adu-

196 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

zindo que, se eles desejassem em­bargar a execução, deveriam fazê­lo no mesmo prazo dos executados que sofreram constrição.

Foi rejeitada, ainda, a aplicação da teoria do fato superveniente, pela qual os embargantes pugna­vam pela adoção da nova redação do art. 738, I do Código de Processo Civil, fluindo o prazo para embar­gos da juntada do mandado e, não, da efetiva intimação da penhora. Argumentou a Turma com a teoria do isolamento dos atos processuais, não podendo voltar no tempo para dispor sobre atos processuais findos.

Manifestados dois embargos de­claratórios, foram eles rejeitados, com aplicação, no segundo, da mul­ta por procrastinação.

Aviados infringentes, não houve modificação da decisão, tendo o Grupo de Câmaras "mantido" o des­provimento da apelação.

Os embargantes interpuseram contra os acórdãos da apelação e dos declaratórios recurso especial, no qual alegaram, além de dissídio, violação dos arts. 738, I do Código de Processo Civil, com a redação da Lei 8.953/94, porque o prazo para os embargos se inicia da juntada aos autos do mandado de intimacão, de­vendo ser aplicada a lei no~a, por se tratar de lei processual, 538, pa­rágrafo único, do mesmo diploma legal, porque os embargos declara­tórios eram necessários, descaben­do assim a multa, e 535 da lei ins­trumental, porque não teria o Tri­bunal esclarecido contradição exis­tente entre os votos da Relatora e do Vogal.

Contra o acórdão dos embargos infringentes, os embargantes tam­bém interpuseram recurso especial. Suscitaram divergência e aponta­ram como malferido o art. 738, I do Código de Processo Civil, tendo em vista que todos os executados, inclu­sive os que não tiveram bens penho­rados, devem ser intimados da pe­nhora, correndo o prazo para os embargos à execução de cada inti­mação.

Contra-arrazoados, foram os re­cursos admitidos na origem.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (Rela­tor): A discussão central diz respei­to ao termo inicial de fluência do prazo para oferecimento de embar­gos do devedor, notadamente nos casos em que há litisconsórcio pas­sivo na execução.

Não se tem dúvida, após a modi­ficação do art. 738, I do Código de Processo Civil, que o prazo de dez dias se inicia da juntada aos autos do mandado de penhora e não mais da efetiva intimação da penhora, como ocorria na sistemática ante­rIor.

Na espécie, entretanto, não se pode aplicar a nova regra, uma vez que ao tempo da intimação da pe­nhora e do oferecimento dos embar­gos vigia a lei antiga. A lei proces­sual, de incidência imediata, alcan­ça os processos em curso, mas não atinge as situações processuais já

R. Sup. Trib. 'Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 197

consolidadas. Assim, corretamente decidiu o Tribunal recorrido ao so­correr-se da teoria do isolamento dos atos processuais, que bem resol­ve o conflito, sempre aparente, de normas processuais no tempo.

Não obstante isso, constata-se que assiste razão aos recorrentes quanto à tempestividade dos em­bargos daqueles que foram intima­dos da penhora em 24 de junho de 1994.

Com efeito, necessária é a inti­mação de todos os executados sobre eventual penhora realizada nos au­tos da execução, independentemen­te de quem seja o proprietário do bem constrito. Isso porque, se todos podem embargar, com o objetivo de atacar o título executivo, deve ser noticiado aos litisconsortes o mo­mento de assim proceder. E essa comunicação se faz com a intima­ção da penhora.

Mário Aguiar Moura, ao tratar do assunto, abona tal tese, verbis:

"Da penhora, segundo nosso entendimento, serão intimados todos os devedores, mesmo o que não tenha sofrido penhora em bens de sua propriedade, coisa que pode acontecer na solidarie­dade ou indivisibilidade. Isso por­que, mesmo sem padecer a cons­trição de bens, há de ter o deve­dor interesse e legitimidade para embargar, tendo em conta que, nas relações internas, responde perante o solvente pela respecti­va quota-parte, a teor dos arts. 891, parágrafo único, e 913 do Código Civil" (Embargos do De-

vedor, 4ª ed., 1987, Aide, n. 25, pág.142).

Sendo portanto necessária a in­timação de todos os executados, o prazo para embargar, que é autôno­mo, conta-se a partir da respectiva intimação. Nesse sentido, decidiu esta Turma, no AgRg 27.981-RN (RSTJ 50/513), com a seguinte ementa: .

"Processo civil. Embargos à exe­cução. Legitimidade ativa. Prazo. Co-devedor que não sofreu a constrição patrimonial e não foi intimado da penhora. Arts. 736/ 738, CPC. Precedentes da Corte e do Supremo Tribunal Federal. Agravo desprovido.

I - Nos termos da jurisprudên­cia desta Corte e da orientação firmada no Supremo Tribunal Federal na vigência do sistema constitucional anterior, o co-de­vedor ostenta legitimidade para opor embargos à execução, mes­mo que não tenha sofrido cons­trição em qualquer de seus bens, desde que seguro o juízo por al­gum dos coobrigados.

n - Havendo no título exeqüen­do vários devedores, mesmo que ajuizada a execução contra ape­nas um deles, salvo se exercita­da a faculdade prevista no art. 569, CPC, devem ser todos inti­mados da penhora, uma vez que a todos assiste o direito de em­bargar.

In - o prazo para oferecimento dos embargos é singular, inician­do-se, para cada devedor, na data em que intimado da penhora".

198 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

Ao proferir o voto-condutor, assi­nalei:

"Duas são as questões postas a exame. A primeira, a legitimi­dade dos devedores, que não so­freram constrição patrimonial, para embargar a execução. A se­gunda, a possibilidade de cumu­lar a cobrança das prestações em atraso e do saldo devedor, nega­da pela sentença.

No que tange ao primeiro pon­to, argumenta a recorrente que a decisão de segundo grau afron­ta os termos do art. 737, CPC. A uma, porque somente teria qua­lidade para opor embargos quem ofereceu bens à penhora. A duas, porque, mesmo que se reconhe­cesse essa legitimidade, na opor­tunidade em que oferecidos os embargos já se escoara o decên­dio que sucedera à intimação da penhora ao executado, consuma­da a preclusão.

O acórdão recorrido decidiu que, na esteira de decisões regio­nais colacionadas, a modernaju­risprudência tem admitido os embargos opostos pelo devedor que não garantiu o juízo median­te penhora. Relativamente ao tema do prazo, afirmou que os embargantes não foram intima­dos da penhora, razão pela qual não teria ocorrido a preclusão como pretende a recorrente.

O tema é dos mais interessan­tes e há dissonância doutrinária­jurisprudencial.

Esta Corte, ao enfrentar a ques­tão da legitimidade, em aresto da

ego Terceira Turma, proferido no julgamento do REsp 7.300-MG (DJ 28.10.91), de que foi Relator o Ministro Cláudio Santos, emen­tou:

"Embargos à execução. Deve­dores solidários. Ação apresen­tada por quem não teve bens penhorados.

Da interposição conjunta dos arts. 736 e 737, I, do CPC, e da ausência no Código de qual­quer restrição, compreende-se que, na execução contra deve­dores solidários, garantido o juízo, qualquer um deles, iso­lado ou em conjunto, pode ofe­recer embargos à execução".

Ainda daquela Turma, no REsp 2.407-RS (DJU de 20.8.90), relatado pelo Ministro Eduardo Ribeiro, é de trazer-se a ilustra­ção:

"Embargos à execução - Em­bargante cujos bens não foram penhorados.

Existindo vários executados, sendo penhorados bens de um deles, fica seguro o juizo, o que enseja apresentação de embar­gos também por aqueles cujos bens não foram objeto da cons­trição".

No mesmo sentido, a decisão desta Quarta Turma, referente ao REsp 3.663-PB (DJ 29.10.90), Relator o Ministro Athos Carnei­ro, de cuja ementa se colhe:

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 199

"Seguro o juízo por um dos exe­cutados, podem os demais, em princípio, oferecer embargos, máxime se assim procedeu o executado que ofereceu bens à penhora".

Também o Supremo Tribunal Federal, na vigência do sistema constitucional anterior, vinha ten­do esse entendimento, como se vê do RE 103.640-1-SC (DJU de 16.11.84), relatado pelo Ministro Soares Mu:õ.oz, e citado às fls. 28 dos autos.

Em nota de n Q 24 ao art. 738, CPC, assinala o Prof. Theotonio Negrão:

"A quem deve ser feita a in­timação da penhora? A todos os co-devedores, embora apenas de propriedade de um deles o bem penhorado? Sim, porque todos podem embargar a exe­cução" ("Código de Processo Civil e legislação processual em vigor", Malheiros, 1992, 22ª edição).

Do voto condutor do acórdão recorrido, da lavra do eminente Juiz José Augusto Delgado, res­sai a circunstância da solidarie­dade dos embargantes, consoan­te se depreende do seguinte ex­certo:

"Conforme se depara do con­trato assinado entre as partes litigantes, à cláusula décima (fls. 44), os fiadores, devedores solidários e principais pagado-

res, renunciaram expressa­mente ao benefício de ordem previsto nos arts. 1.491 e 1.503, do Código Civil, e nos arts. 261 e 262, do Código Co­mercial. Logo, como sendo os embargantes co-devedores (fls. 47), inadmissível expurgar dos mesmos a condição de poderem opor embargos à execução, pois, no decorrer da ação exe­cutiva, ocorrendo a inadim­plência do devedor original, de certo que iria recair sobre seus patrimônios a dívida em ques­tão".

Pertinentes, às inteiras, no ca­so vertente, as precisas conside­rações expendidas pelo Desem­bargador Nélson Altemani, quan­do integrante do Primeiro Tribu­nal de Alçada Civil de São Paulo, no julgamento da AC 299.520, estampadas em RT 574/119 a 120, verbis:

"O essencial é que os embar­gos não se dirigem contra a pe­nhora, mas, na precisa lição de Liebman, "destinam-se a uma sentença constitutiva, com o fim de operar uma alteração de conteúdo processual-executó­rio, quer dizer: de despojar de sua eficácia de título executó­rio o ato impugnado" (Embar­gos do Executado, n Q 99, pág. 163). Ainda que os embargos só possam ser opostos, na execu­ção por quantia certa, depois de seguro o juízo pela penhora (CPC, art. 737,1), a verdade é que a penhora figura nesse con-

200 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

texto unicamente como condi­ção de admissibilidade, em ra­zão da prevalência que a lei atribui aos interesses do cre­dor dotado de título executivo. Condição - esclareça-se -não de natureza subjetiva, li­gada somente àquele dos múl­tiplos sujeitos passivos que te­nha sofrido constrição de seus bens, mas disposta em relação a todos os devedores executa­dos. A lei não diz que não se­riam admissíveis embargos do devedor antes de penhorados seus próprios bens; estabelece, ao contrário, uma condição ge­nérica, fixando o termo inicial do prazo (preclusivo, sem dú­vida) de oferecimento de em­bargos a partir do momento em que cada qual dos devedores tenha sido intimado da penho­ra (CPC, art. 738, I). Obvia­mente, co-devedor que não te­nha sofrido penhora em seus bens há de ser intimado tam­bém da penhora, porque só as­sim toma conhecimento do iní­cio de fluência do prazo para embargar".

Na mesma linha, já o "Simpó­sio de Curitiba", em 1975, em sua conclusão LV, proclamava:

"Seguro o juízo por um dos coobrigados, qualquer deles poderá oferecer embargos à execução de título extrajudi­cial" (RF 252/18; RT 482/272).

Por outro lado, no que diz res­peito ao termo a quo do prazo

para embargar, para o devedor que não teve seus bens penhora­dos, já se decidiu no Pretório Ex­celso sobre a autonomia de cada devedor para a oposição dos em­bargos e a fluência do prazo, para cada um, após a intimação da penhora. A propósito, registrou o Ministro Francisco Rezek, ao fi­nalizar o voto condutor do RE 100.487-PR (RTJ 107/903):

"São diversos os preceden­tes (RREE n2li 96.361, 97.138, 94.153,97.255), no sentido de que o prazo para embargar é de dez dias, pouco importando a existência de outros devedo­res. Cada um deles tem quali­dade autônoma para oferecer embargos. Assim, após a inti­mação da penhora, começa a contagem singular de cada pra­zo".

Adotando idêntica conclusão, a ego Terceira Turma desta Corte, na oportunidade do julgamento do REsp 3.414-RS (DJ 10.09.90), sob a relatoria do Ministro Wal­demar Zveiter, ementou:

"II - Firmou-se na jurispru­dência do Pretório Excelso o entendimento segundo o qual os embargos devem ser opos­tos a partir da intimação da penhora e quando houver di­versos executados, cada deve­dor tem qualidade singular, para oferecê-los. Assim, após intimado da penhora, começa a contagem do prazo, de dez (10) dias para embargar a exe­cução (art. 669 do CPC)".

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 201

Também no REsp 13.384-RS (DJ 07.10.91), de que foi Relator o Ministro Dias Trindade, a mes­ma tese foi sufragada em acórdão encimado por essa ementa:

"2. O prazo para a oposição de embargos do devedor, sendo vários os executados, é conta­do da data da intimação da penhora, para cada um deles, inaplicável o art. 241, II, mas o art. 738, I, do Código de Pro­cesso Civil".

Esta Quarta Turma, ao julgar o REsp 4.496-MG (DJ 5.11.90), relatado pelo Ministro Fontes de Alencar, firmou orientação cris­talizada na ementa que se segue, colacionada, aliás, na decisão agra­vada:

"I - O prazo para os embar­gos, sendo vários os executa­dos, principia, para cada um deles, do momento da respec­tiva intimação da penhora".

Do exposto se infere que deve­riam os executados, como deve­dores solidários, e não tendo a credora se utilizado da faculda­de prevista no art. 569, CPC, ter sido intimados da penhora. Não o foram.

A intimação da penhora é ato que, no processo executivo, não deixa de fazer às vezes da cita­ção. Tal, aliás, foi o entendimen­to externado pela ego Segunda Turma deste Tribunal, em deci­sório da relatoria do Ministro Il­mar Galvão:

"Processo civil. Execução de tí­tulo extrajudicial. Embargos oferecidos após a designação do leilão. Pretendida tempes­tividade, ao argumento de não se ter verificado a intimação da penhora, prevista no art. 669 do CPC.

Alegação improcedente, j á que, no caso, houve pronunciamen­to anterior do devedor, com impugnação à avaliação, no qual se manteve ele silente acerca da pretendida nulidade processual.

Suprimento da ausência da intimação, na forma prevista no art. 214 do CPC, subsidia­riamente aplicável às execu­ções (art. 598 do mesmo Códi­go)".

Daí resulta que somente da data em que intimados os embar­gantes é que começa a fluir o pra­zo preclusivo para os embargos, sabido que a preclusão, como ins­tituto do direito processual, "é a perda da faculdade da prática de um ato no processo, que não foi exercido no tempo ou no modo próprios" ("Prazos e Nulidades em Processo Civil", Forense, 1990, 2ª edição, n Q 21, pág. 30)".

Desta forma, presente o dissídio invocado, merece subsistir o pleito recursal, para que os embargos dos executados Raphael Sansão Filho e Suraia Hallack Sansão sejam exa­minados, prejudicada a análise das demais impugnações feitas.

202 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

Em face do exposto, conheço do recurso pelo dissídio e dou-lhe pro­vimento para, cassando os referidos acórdãos, ensejar o exame dos em-

bargos dos dois executados como se anotou acima.

Ônus da sucumbência a final.

RECURSO ESPECIAL NQ 99.484 - GO

(Registro nQ 96.0040893-9)

Relator: O Sr. Ministro Fontes de Alencar

Recorrente: Rozemaria Alves de Oliveira

Advogado: Dr. Paulo Cesar de Menezes Povoa

Recorrido: José Pedro Vilela

Advogados: Drs. Wagner Baptista da Costa Júnior e outro

Sustentação Oral: Dr. Wagner Baptista da Costa Júnior, pelo recorrido

EMENTA: Ação declaratória.

- Súmula 07 do STJ.

- Falta de prequestionamento.

- Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso. Votaram com o Re­lator os Srs. Ministros Sálvio de Fi­gueiredo Teixeira, Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.

Brasília, 16 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro FONTES DE ALENCAR, Relator.

Publicado no DJ de 06-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR: Trata-se de ação decla­ratória de inexistência de socieda­de de fato promovida por José Pe­dro Vilela em face de Rozemaria Alves de Oliveira.

Recolho da sentença:

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 203

"c .. ) a ação intentada pelo au­tor procede, uma vez que as pro­vas coligidas dão suporte ao seu pedido. Ao contrário, a autora­reconvinte não provou que man­tinha com o reconvindo uma união estável capaz de caracteri­zar o concubinato, como também não comprovou que efetivamen­te contribuiu para o aumento do patrimônio do suplicante.

Diante do exposto e tendo em vista a tudo que dos autos consta e com pleno apoio nas provas dos autos e no ensinamento dos dou­tos sobre a matéria, hei por bem acolher o pedido do autor, para o fim de declarar a inexistência de concubinato ou sociedade de fato entre o autor e a requerida. Em conseqüência, julgo improceden­te a reconvenção intentada pela ré-reconvinte, uma vez que suas alegações não se comprovaram judicialmente" (fl. 370).

A Primeira Câmara Cível do Tri­bunal de Justiça do Estado de Goiás, por sua Quarta Turma, negou pro­vimento à apelação, à unanimida­de de votos. O acórdão correspon­dente expõe o seguinte sumário:

"Concubinato. Sociedade de fato. Declaratória de inexistência.

1. A Sociedade de fato é com­provável pela prova de vida em comum e permanente sob o mes­mo teto.

2. Convivência periódica re­presentada por encontros de fim de semana não caracteriza con-

cubinato nem gera direito sobre bens patrimoniais.

3. Recurso improvido." (fl. 403)

Embargos declaratórios foram providos para

"que conste da decisão haver o representante da recorrente par­ticipado da sessão na forma re­gistrada na ata respectiva." (fl. 416)

RozemariaAlves de Oliveira ma­nifesta recurso especial com fulcro no art. 105, III, a e c, da Constitui­ção Federal, alegando negativa de vigência do art. 1.363, do Código Ci­vil e discrepância com a Súmula 382, do Supremo Tribunal Federal. (fls. 418 a 429)

Pelo despacho de fls. 446 a 447, foi o recurso indeferido, porém, veio a ser processado em face do provi­mento do agravo (fl. 449).

VOTO

O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR (Relator): Colho do voto norteador do acórdão recorrido:

"C .. ) a sentença recorrida dá razoável interpretação ao conjun­to probatório produzido na ins­trução processual, convergente no sentido de que o relaciona­mento que existiu entre os liti­gantes não configura sociedade de fato.

À falta de outros elementos que ensejassem a convicção do

204 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

condutor do processo, a solução adveio através de detalhada aná­lise das provas testemunhais, a fim de que fosse possível estabe­lecer as razões de decidir median­te o confronto do pronunciamen­to dos depoentes indicados pelos litigantes.

Desse exame ressalta que o re­lacionamento entre a recorrente e o recorrido não significava união estável, porquanto não convive­ram sob o mesmo teto, residindo em Goiânia, cada qual na sua casa, embora se encontrassem em fins de semana em propriedade rural do apelado" (fls. 405/406).

As instâncias ordinárias à luz dos elementos fáticos concluíram, pois, que a ré-reconvinte não provou ti­vesse mantido com o reconvindo

vou sua alegada contribuição para o aumento do patrimônio do autor.

Dessarte, somente o revolver da prova poderia eventualmente con­duzir a entendimento diverso sobre os fatos da causa. Impede-o, porém, a Súmula 07 do STJ.

Quanto ao art. 1.363 do CCB, dele não cogitou a Corte goiana. De conseguinte, ausente a propósito o imprescindível questionamento pré­vio.

Por outro lado, não vislumbro a alegada discrepância com a Súmu­la 382 do Supremo Tribunal Fede­ral.

As decisões das instâncias ordi­nárias firmam-se no conjunto pro­batório, consoante o tópico transcri­to do voto que traçou o norte do acórdão recorrido.

uma união estável capaz de carac- Posto isso, não conheço do recur-terizar o concubinato, nem compro- so.

RECURSO ESPECIAL Nº 100.086 - MS

(Registro nº 96.0041855-1)

Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Estado de Mato Grosso do Sul

Recorridos: Divino da Cruz e outro

Interessado: ldail Fereirra de Vasconcelos

Advogados: Drs. Sarah Filgueiras Monte Alegre de Andrade Silva e outros, e Abadia Queiroz Baird e outro

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 205

EMENTA: Processual Civil. Exame pericial. DNA. Justiça gra­tuita. Antecipação das despesas pelo Estado. Precedente da seção.

"I - A isenção legal dos honorários há de compreender a das despesas, pessoais ou materiais, com a realização da perícia. Caso contrário, a assistência não será integral. Assiste aos necessita­dos, a proteção do Estado que deve diligenciar meios para provê­los ou criar dotação orçamentária para tal fim.

II - Antes de determinar prova pericial do DNA, deve o Dr. Juiz produzir outras que objetivem a formação de seu convenci­mento sobre a pretensão deduzida. Ainda assim, julgada indis­pensável, poderá determiná-la às expensas do Estado, que pro­verá os meios necessários." (REsp n. 83.030-MS, j. em 24.9.97, Se­gunda Seção, unânime, relator eminente Ministro Waldemar Zvei­ter).

Ressalva do ponto de vista do relator.

Recurso conhecido e provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Minis­tros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformi­dade dos votos e das notas taqui­gráficas a seguir, por unanimida­de, conhecer do recurso e lhe dar parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Vota­ram com o Relator os Srs. Minis­tros Ruy Rosado de Aguiar, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro. Ausente, justificada­mente, o Sr. Ministro Bueno de Sou­za.

Brasília, 29 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro CESAR AS­FOR ROCHA, Relator.

Publicado no DJ de 22-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA: Cuida-se de recurso especial interposto contra acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul su­mariado na seguinte ementa:

"Ação de investigação de pater­nidade - Exame finger print DNA imprescindível para a solu­ção da lide - Requisição pela parte beneficiária da assistência judiciária - Honorários do pe­rito - Obrigação do Estado de suportar as despesas.

A assistência judiciária é inte­gral e gratuita aos necessitados e compreende a isenção dos ho­norários do perito (art. 5º, LXXIV, da CF e art. 3º, V, da Lei 1.060/ 50). Em sendo o exame de DNA requerido pela parte beneficiária

206 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

da justiça gratuita, o Estado deve arcar com as despesas dele decor­rentes, inclusive antecipando­lhes o pagamento." (fls. 311/312)

O recorrente postula admissibi-lidade pelas alíneas a e c do per­missivo constitucional, sustentando que: a) nos termos do art. 19 do CPC, o beneficiário da justiça gra­tuita não está obrigado ao recolhi­mento antecipado de despesas; b) as despesas efetuadas a requerimento da Fazenda Pública serão pagas a final, pelo vencido (art. 27, CPC); c) a assistência judiciária compreen­de isenção de honorários de advo­gado e peritos (art. 3Q

, inc. V da Lei 1.060/50); d) sendo vencedor o be­neficiário da assistência, os honorá­rios e as despesas serão pagas pelo vencido, a final (art. 11); e) sendo vencido o beneficiário, ficará obri­gado a pagar custas se puder fazê­lo, nos termos do art. 12 da lei es­pecial; f) os profissionais liberais são obrigados ao desempenho do encargo de perito (art. 14); g) o v. acórdão dissentiu de precedentes, que liberaram o beneficiário do de­pósito dos honorários do perito, que serão suportados pelo vencido ou pelo Estado.

Sem resposta no prazo legal (cer­tidão de fl. 525), o especial foi ad­mitido na origem pela alínea a, ten­do ingressado no meu gabinete, após o parecer do douto Ministério Públi­co Federal pelo improvimento do re­curso, no dia 29 de outubro de 1996 e foi indicado para pauta aos 15 dias do mês de abril do ano de 1998.

Recurso extraordinário também admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA (Relator): A questão é conhecida das Terceira e Quarta Turmas, desta Corte.

Contra a determinação que lhe é imposta para antecipar numerário para a realização do exame "Finger Print DNA", requerida pelo Minis­tério Público, o Estado de Mato Gros­so do Sul tem sempre alegado que: a) nos termos do art. 19 do CPC, o beneficiário da justiça gratuita não está obrigado ao recolhimento an­tecipado de despesas; b) as despe­sas efetuadas a requerimento da Fazenda Pública serão pagas a fi­nal, pelo vencido (art. 27, CPC); c) a assistência judiciária compreen­de isenção de honorários de advo­gado e peritos (art. 3Q

, inc. V da Lei 1.060/50); d) sendo vencedor o be­neficiário da assistência, os honorá­rios e as despesas serão pagas pelo vencido, a final (art. 11); e) sendo vencido o beneficiário, ficará obri­gado a pagar custas se puder fazê­lo, nos termos do art. 12 da lei es­pecial; f) os profissionais liberais são obrigados ao desempenho do en­cargo de perito (art. 14); g) o v. acór­dão dissentiu de precedentes, que liberaram o beneficiário do depósi­to dos honorários do perito, que se­rão suportados pelo vencido ou pelo Estado; h) há ofensa ao disposto nos arts. 100 e 157 da CR.

A egrégia Segunda Seção deste Tribunal, por unanimidade (ausen­te este Relator por motivo justifica-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 207

do), ao julgar, em 24.9.97, o Recur­so Especial n. 83.030-MS, sob a re­latoria do eminente Ministro Wal­demar Zveiter, assentou o entendi­mento sumariado na seguinte emen­ta:

"Justiça gratuita. Perícia. Des­pesas. Cód. de Pro Civil, art. 19 e Lei n. 1.060/50, arts. 3 9-V, 9 9 e 14. É dever do Estado prestar ao necessitado assistência jurídica integral e gratuita (Constituição, art. 5 9 - LXXIV).

I - A isenção legal dos hono­rários há de compreender a das despesas, pessoais ou materiais, com a realização da perícia. Caso contrário, a assistência não será integral. Assiste aos necessita­dos, a proteção do Estado que deve diligenciar meios para provê­los ou criar dotação orçamentá­ria para tal fim.

II - Antes de determinar pro­va pericial do DN A, deve o Dr. Juiz produzir outras que objeti­vem a formação de seu convenci­mento sobre a pretensão deduzi­da. Ainda assim, julgada indis­pensável, poderá determiná-la às expensas do Estado, que proverá os meios necessários.

III - Recurso especial conhe­cido parcialmente e nesta parte provido."

Anoto que, ao proferir, na sessão do dia 7.10.97, voto-vista no REsp n. 103.281-MS, da relatoria do emi­nente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, acolhi a pretensão asseme­lhada à da aqui recorrida, porquan-

to pela regra contida no inciso V do art. 3º da Lei nº 1.060/50, os hono­rários do perito são compreendidos pela assistência judiciária que é dever do Estado prestar, integral e gratuitamente, àqueles que compro­varem insuficiência de recursos, tal como se dá no caso.

A finalidade da regra - percebe­se sem o recurso de maiores refle­xões - é a de dar efetividade aos princípios constitucionais de aces­so à justiça e da ampla defesa.

Ora, no caso, a recorrida, menor impúbere, insistiu na realização do DNA para estabelecer a demonstra­ção da paternidade.

E nenhum meio de prova, ao que se sabe, é hoje técnica e cientifica­mente mais importante e eficaz para definir a paternidade que o exame cogitado, na hipótese de ser confirmado o que a promovida ale­ga. Caso não o seja, todas as dúvi­das serão espancadas.

Ademais, a militância nesse cam­po do Direito de Família traz a con­vicção da enorme dificuldade que tem o investigante, sobretudo o que dispõe de escassas rendas, como na hipótese, de obter meios probató­rios seguros para alcançar o objeti­vo colimado.

É certo que "a eventual improce­dência da ação não impedirá a sua renovação". No entanto, se e quan­do a ação for eventualmente reno­vada, o investigante, por certo, en­frentará as mesmas dificuldades que ora busca superar.

Por outro lado, igualmente não posso acolher, data venia, a argu-

208 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

mentação de que o Estado não pode suportar o ônus de que se cuida por eventual falta de previsão orçamen­tária, que também é utilizada em favor da pretensão do recorrente.

A uma, porque, li ser assim, se­ria o Estado beneficiário de sua pró­pria desídia.

A duas, porque estar-se-ia a es­tabelecer um sério precedente para que o Poder Público, que é, natural e infelizmente, tão desatento no cumprimento de suas obrigações, para usar o eufemismo como refe­rência, disso se valha para desone­rar-se de outros encargos que lhe são impostos.

A três, porque esta Turma já de­finiu que "a Fazenda Pública, quan­do parte na causa, deve depositar previamente os honorários do peri­to judicial" (REsp n. 10.945/SP, re­latado pelo eminente Ministro Fon­tes de Alencar). No mesmo sentido o EREsp n. 10.945, de minha rela­toria (Corte Especial, DJ 26.2.96).

É certo que a questão se angus­tia quando a perícia requerida pelo beneficiário ou a seu favor exige despesas de vulto.

Mas dessa observação me valho apenas para que sirva como um avi­so para não se conferir ao Poder PÚ­blico encargos desnecessários, im­pertinentes ou despiciendos.

No caso, contudo, o exame recla­mado é absolutamente pertinente e sumamente necessário, pois que ele, quase que por si mesmo, servirá para destrame da controvérsia.

Sendo assim, não me surpreen­deria se a despesa com o cogitado exame, pela simplificação que tra-

ria à solução do conflito, terminas­se por ser inferior ao custo, supor­tado pelo Estado, decorrente da de­mora com que são desenvolvidos os casos desse jaez, embora esse argu­mento, de natureza econômica, não me comova, embora exista quem lhe dê mais importância que a necessi­dade de se precisar, sem dúvida ra­zoável, a paternidade.

De mais a mais, não se pode per­der de vista que o Estado tem inte­resse na correta definição de qual­quer conflito, que aumenta de im­portância quando se cuida de fixar a paternidade praticamente sem risco de erro.

No entanto, como disse, a ques­tão já se encontra pacificada no âmbito da Seção de Direito Privado desta Corte.

Diante de tais pressupostos, com ressalva do meu entendimento, dou parcial provimento ao recurso espe­cial para, nos termos do decidido pela Segunda Seção no precedente reportado, "cassando o r. Acórdão, a fim de prover, também, parcial­mente, o Agravo de Instrumento, reformando a decisão de 1 Q grau, que determinou o depósito do valor provisório de que cuidam os autos, devendo o Dr. Juiz promover a co­leta de outras provas capazes de possibilitar a pretensão deduzida. Após, entendendo ainda necessário e indispensável a realização da pe­rícia 'DNA' que a promova, procu­rando obtê-lo junto a entidades que dele disponham e possam oferecê­lo em colaboração ao Judiciário. Não o conseguindo de tal forma, que a tanto condene então o Estado, que proverá os meios necessários a sua realização".

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 209

RECURSO ESPECIAL NQ 105.617 - MG

(Registro nQ 96.0054179-5)

Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrentes: CMS Construtora S/A e outro

Recorrido: Banco Europeu para América Latina S/A Beal

Advogados: Drs. Geraldo Luiz de Moura Tavares e outros, e Domingos Fleury da Rocha e outros

Sustentação Oral: Dr. Domingos Fleury da Rocha (p / recorrido)

EMENTA: Processual Civil. Execução. Penhora. Bem hipoteca­do em terceiro grau. Recusa. CPC, art. 655, § 2~

A regra contida no § 2Q do art. 655 do Código de Processo Civil tem que ser interpretada com temperamento, por isso mesmo que, em caráter excepcional, pode o exeqüente, credor hipotecário em terceiro grau, recusar a nomeação do imóvel hipotecado e indi­car outros do devedor, sobretudo quando, como no caso, o bem é insuficiente para garantia do juízo.

A finalidade da regra contida naquele dispositivo é a de evitar que sobre outros bens do devedor recaia a constrição se há um que já fora prévia e bastantemente dado para responder pelo dé­bito, o que não se dá na espécie.

Inteligência do § 22 do art. 655 do Código de Processo CiviL

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não co­nhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Ro­sado de Aguiar, Bueno de Souza, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Bar­ros Monteiro.

Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro CESAR AS­FOR ROCHA, Relator.

Publicado no DJ de 01-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA: Para garantir a exe­cução, os recorrentes nomearam um bem situado em Belo Horizonte e outros em local distinto.

O exeqüente impugnou a nomea­ção, com base no disposto nos inci-

210 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

sos In, v e VI, do art. 656 do Códi­go de Processo Civil, e requereu que a penhora recaísse sobre o imóvel sito na Av. Cristiano Machado, em Belo Horizonte.

Contra a decisão que acolheu esse pedido, os executados agravaram de instrumento argumentando que os bens nomeados foram aceitos para garantia da ação cautelar de susta­ção de protesto e que o contrato exe­cutado estava garantido por imóvel hipotecado em terceiro grau.

O agravo foi improvido pelos se­guintes motivos: a) a nomeação é ineficaz porque teve por objeto bens situados em local distinto do foro da execução, embora havendo bens na­quele local; b) os bens localizados em Belo Horizonte não são sufi­cientes para a garantia do juízo; c) o fato de o credor ter aceito o imó­vel hipotecado em terceiro grau não lhe retira o direito de exigir outro bem que não esteja onerado como garantia da execução; d) o fato de o juiz ter aceito aqueles mesmos bens nomeados à penhora para garantia do juízo quando concedeu a liminar de sustação de protesto, não lhe obrigaria a aceitá-los para garantia da execução, por serem situaçõesju­rídicas distintas.

Com a rejeição dos aclaratórios adveio o recurso especial em exame com base na letra a do permissor constitucional por alegada violação aos seguintes dispositivos do Códi­go de Processo Civil: a) ao art. 655, § 2Q

, uma vez que a penhora deve­ria recair sobre a garantia ante­riormente ofertada; e, b) ao art. 620, porque a execução deve ser proces-

sada do modo menos gravoso para o devedor.

Devidamente respondido, o re­curso foi admitido na origem, tendo o processo chegado ao meu Gabine­te em 30 de outubro de 1996, sendo indicado para pauta no dia 1 Q de abril de 1998.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA (Relator): 01. O recur­so não pode ser conhecido pela ale­gada ofensa ao art. 620 do Código de Processo Civil pois a norma nele inserta não mereceu qualquer inter­pretação por parte do v. acórdão re­corrido.

Para que a matéria objeto do ape­lo nobre reste prequestionada há necessidade de que seja efetivamen­te debatida pela Corte de origem ao decidir a apelação.

Ausente o debate, inexistente o prequestionamento, por isso que obstaculizada a via de acesso ao apelo excepcional.

N em valeria o argumento de que os declaratórios opostos teriam su­prido os necessários debates e deci­são prévios, por ser imprescindível o acolhimento dos embargos para se ter por preenchida a possível omis­são constante de acórdão embargado.

Se o Órgão julgador nela persis­tir, ao rejeitar os embargos, deve a parte veicular no recurso a ofensa às regras processuais pertinentes e não insistir na violação aos precei-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 211

tos legais relativos ao mérito da causa, sem que sobre eles haja o órgão julgador emitido juízo explí­cito.

Nesse sentido, o decidido no Ag 136.378-9 (AgRg)-SP da ego Segun­da Turma do colendo Supremo Tri­bunal Federal, de que foi Relator o eminente Ministro Marco Aurélio, e o REsp n Q 95.454/GO, desta ego Quarta Turma, de minha relatoria, este tendo sido assim sumariado, naquilo que para a hipótese há de útil:

Processual Civil. Recurso espe­cial. Ausência de prequestiona­mento. Embargos declaratórios rejeitados. Não conhecimento.

Impossível o acesso ao recurso especial, por falta de prequestio­namento, quando os temas nele insertos não foram, como na hi­pótese, objeto de debate na Cor­te de origem.

° requisito do prequestiona­mento só se acha suprido, em havendo omissão no aresto da apelação, se o Órgão julgador, ao decidir os aclaratórios, tiver efe­tivamente enfrentado as ques­tões nele veiculadas, suprindo a omissão apontada, sob pena de, se ofensa à lei federal houver, ser aos arts. 458, II, e 535 do Código

de Processo Civil, o que não se veiculou na espécie.

Recurso especial não conheci­do.

02. Melhor sorte não recolhem os recorrentes quanto à alegada ofen­sa ao § 2Q do art. 655 do Código de Processo Civil.

É que essa regra tem que ser in­terpretada com temperamento.

N a hipótese, como dito na expo­sição, o bem cogitado sofreu, em fa­vor do exeqüente/recorrido, uma hi­poteca em terceiro grau, sendo as­sim razoável conferir ao credor, pa­ra responder pela execução, o direi­to de indicar outro bem do executa­do que não esteja preferencialmen­te garantindo outros débitos, sobre­tudo quando, como no caso, o imó­vel hipotecado em terceiro grau é insuficiente para garantia do juízo (fls. 135).

A finalidade da rega contida na­quele dispositivo é a de evitar que sobre outros bens do devedor recaia a constrição se há um que já fora prévia e bastantemente dado para responder pela dívida.

No caso, como visto, referido imó­vel não responde, sozinho, pelo dé­bito.

03. Diante de tais pressupostos, não conheço do recurso.

212 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

RECURSO ESPECIAL Nº 115.093 - SP

(Registro nº 96.0075868-9)

Relator: O Sr. Ministro Fontes de Alencar

Recorrente: Banco Sudameris Brasil S/A

Advogados: Drs. Mário Augusto Couto Rocha e outros

Recorrida: Momentum Empreendimentos Imobiliários Ltda.

Advogado: Dr. José de Oliveira Costa

EMENTA: Direito Econômico. CDB. Deflação.

- O fator de deflação estabelecido pela Lei 8.177/91 (art. 27) incide no caso de título com rendimentos prefixados.

- Recurso especial atendido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Re­lator os Srs. Ministros Sálvio de Fi­gueiredo Teixeira e Cesar Asfor Ro­cha, vencido o Sr. Ministro Barros Monteiro. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.

Brasília, 20 de maio de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro SÁLVIO DE FIGUEIRE­DO TEIXEIRA, Presidente. Ministro FONTES DE ALENCAR, Relator.

Publicado no DJ de 06-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR: Trata-se de ação ordi-

nária proposta por Momentum -Empreendimentos Imobiliários Ltda. objetivando diferença de rendimen­tos pactuados, porque firmara um CDB em 18.01.91 com valores pre­fixados, porém na data do venci­mento do referido título a institui­ção financeira fez incidir o fator de deflação previsto na MP nº 294, de 31.01.94 (Plano Collor II).

A Oitava Cãmara do Primeiro Tribunal de Alçada Civil manteve a sentença de fls. 109/113, que julga­ra procedente a ação. Do v. acórdão de fls. 206/210 transcrevo o seguin­te:

"Com efeito, inconstitucional ou não o art. 26 da Medida Pro­visória nº 294, convertida em art. 27 da Lei nº 8.177/91, e que re­sultou na chamada "Tablita" do Plano Collor II, incabível a ofen­sa ao ato jurídico perfeito.

............... (omissis) ............... .

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 213

Ora, tanto a Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro (art. 69 ,

parágrafo 19 ) como a Constitui­ção Federal (art. 59, inciso XXXVI), consagram o princípio da irretroa­tividade da lei nova, protegendo o direito adquirido e o ato jurídíco perfeito. .

c. .. ) ao contratar a operação, as duas partes se submeteram aos riscos do negócio, que têm de ser por elas suportados; se, no decur­so do prazo de aplicação, a infla­ção atinge níveis inimagináveis, certamente perde o investidor -e, em caso contrário, perde o ban­queiro. Assim, fixadas as taxas antecipadamente, tornam-se elas imutáveis e os contratantes as­sumem a responsabilidade por eventuais variações diferentes das previstas."

Banco Sudameris Brasil S/A ma­nifestou, com fundamento no art. 105, UI, a e c, da Constituição da República, recurso especial, com alegação de negativa de vigência dos arts. 3 9 e 6 9 do Decreto-Lei 4.657/42 (LICCB) e do art. 27 da Lei 8.177/91; e argüição de divergência jurisprudencial.

VOTO

O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR (Relator): Cuidam os au­tos de controvérsia a respeito da in­cidência do fator de deflação (tabli­ta), de que trata a Lei n 9 8.177/91, sobre os rendimentos decorrentes de aplicação em CDB. O caso se prende à incidência de norma de direito econômico.

A matéria já se acha pacificada nesta Corte, consoante se infere dos REsps n ilE 19.713 e 29.907, ambos relatados pelo Ministro Athos Car­neiro, tendo o primeiro a seguinte ementa:

"Plano Collor lI. Medida pro­visória n 9 294, convertida na Lei n 9 8.177/91. Aplicação em RDBs. Fator de deflação, previsto no artigo 27 desta lei.

Norma de ordem pública, edi­tada no conjunto de um plano econômico, aplicável assim aos contratos em curso. Legitimida­de da tablita, destinada a defla­cionar a correção monetária pre­fixada.

Incidência plena do fator de deflação, tal como previsto em lei, não obstante os índices inflacio­nários reais hajam sido superio­res aos previstos. Importa inclu­sive ponderar que o Banco pas­sou a receber seus créditos, nas operações de empréstimos aos clientes, com o mesmo fator de deflação.

Recurso especial conhecido e provido."

Por igual, é o REsp. 43.792, rela­tado pelo Ministro Antônio Torreão Braz e o REsp n 9 76.940, relatado pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar, este último julgado em 12.12.95.

Diverso, também, não é o enten­dimento da Terceira Turma deste Tribunal, citando-se o REsp n 9

84.800, relatado pelo Ministro Wal­demar Zveiter, julgado em 21.05.96.

214 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

Acrescento, aillda, o REsp nQ 48.381 por mim relatado.

Como visto, na matéria há pre­cedentes a flux desta Corte.

Em face do exposto, conheço do recurso por ambos os fundamentos e lhe dou provimento para julgar improcedente a ação, fixados os ho­norários advocatícios, a cargo do vencido, em 10% do valor da causa corrigido.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Sr. Presidente, peço vênia ao Eminente Ministro-Rela­tor para não conhecer do recurso, uma vez que, da leitura que S. Exa.

fez do acórdão recorrido, percebi que há um fundamento, por si só, suficiente para manter a decisão recorrida, a de que o fenômeno in­flacionário persistiu mesmo naque­le período, motivo pelo qual não se­ria ° caso, então, de aplicar-se aqui a "tablita" prevista no art. 27 da Lei n Q 8.177/9l.

Não conheço do recurso.

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA: Sr. Presidente, com a vênia do Sr. Ministro Barros Mon­teiro, acompanho ° Sr. Ministro­Relator.

RECURSO ESPECIAL NQ 124.147 - GO

(Registro nQ 97.0019026-9)

Relator: O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Recorrente: Odílio Marques Palmeira

Recorridos: Roberto Egídio Balestra e cônjuge, e Aleimar Rodrigues de Queiroz e cônjuge

Advogados: Drs. Getúlio Targino Lima e outros, Amaury Jácomo e Nair Dias dos Santos Vieira

EMENTA: Civil. Ação pauliana. Prazo para exercício do direi­to. Art. 178, § 9~ V, B, CC. Natureza. Prazo decadencial. Inexistên­cia de causa suspensiva e interruptiva. Situação extraordiná­ria. Fato que impedia o manejo anterior da ação. Ato suposta­mente fraudulento cancelado por decisão judicial. Novo prazo. Início. Restauração do registro. Superação da decadência. Re­curso provido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 215

I - O prazo para ajuizamento da ação pauliana é decadencial, afastando, por conseqüência, a ocorrência de causa suspensiva ou interruptiva de sua fluência.

II - Se o titular do direito não o exerceu por absoluta impossibi­lidade legal - falta de interesse de agir, porque o ato jurídico objeto da revocatória foi cancelado por determinado tempo, por força de decisão judicial- não pode ele ser impedido de discutir a prevalência do direito subjetivo que em tese o socorreria.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Vota­ram com o Relator os Ministros Bar­ros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Bueno de Souza.

Brasília, 5 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: Ajuizou O recorrente ação pauliana visando à anulação de escritura pública de constituição de hipoteca de bem imóvel lavrada em maio/87, de pro­priedade do primeiro casal recorri­do em favor do segundo, ao funda­mento de que teria ocorrido fraude. Disse ser credor dos primeiros re-

corridos pela quantia de quatrocen­tos e sessenta e seis mil e novecen­tos e setenta e dois cruzados, repre­sentados por um cheque vencido em março/87 e duas notas promissórias vencidas em maio do mesmo ano.

Relatou que anteriormente havia aforado outra ação pauliana, na qual, após citados os credores hipo­tecários, ora segundos recorridos, requereu desistência, tendo em vis­ta que, nos autos de uma execução movida pelo Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A, existia deci­são, que veio a ser revista após o pagamento da respectiva dívida exeqüenda (maio/90), declarando ineficaz a mencionada hipoteca por fraude, tornou sem objeto, em con­seqüência, a referida revocatória.

O Juiz rejeitou a alegada "pres­crição" e julgou procedente o pedi­do, por estar presente o dano em relação ao credor e o intuito de frau­dar o pagamento da dívida.

À apelação, o Tribunal de Justi­ça de Goiás deu provimento para acolher a "prescrição". Entendeu o Colegiado que não teria sido inter­rompido o prazo "prescricional" quanto à primeira ação pauliana, no que diz respeito ao primeiro casal recorrido, porque não-citado. Afir-

216 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

mou mais a ego Turma que, se o re­ferido prazo se consumou com rela­ção a ele, uma vez não interrompi­da a fluência do curso pela citação válida, isso se refletiria na relação do credor com os segundos recorri­dos, em razão de ser defesa a cisão da responsabilidade dos devedores, haja vista se tratar de litisconsór­cio unitário.

Irresignado, o credor interpôs re­curso especial alegando violação dos arts. 172, V e 178, § 9º, V, b, do Có­digo Civil. Sustentou que, durante a validade da decisão do juiz que de­clarara a ineficácia da constituição da hipoteca, estava ele, credor, im­possibilitado de ajuizar qualquer ação, porque não detinha interesse de agir, uma vez que sua pretensão - anulação da escritura - já era fato.

Contra-arrazoado, foi o recurso inadmitido na origem, subindo os autos por força de provimento de agravo.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (Rela­tor): No pertinente à regra prescri­ta pelo art. 178, § 9º, V, b, da lei material civil, o entendimento ma­joritário está no sentido de que se cuida de prazo decadencial (REsp 32.800-SP, RSTJ 63/352, Terceira Turma, relator o Ministro Eduardo Ribeiro; Humberto Theodoro Jú­nior, Fraude contra Credores, Del Rey, 1996, capo VIII, n. 6, pág. 141;

Yussef Said Cahali, Aspectos Pro­cessuais da Prescrição e da Deca­dência, RT, 1979, n. 11, pág. 29 e Fraude contra Credores, 1989, capo XII, n. 1, pág. 376; Maria Helena Diniz, Código Civil Anotado, Sarai­va, 1995, art. 178, n. IV, pág. 175; Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil, v. III, 3ª ed., Forense, n. 177, pág. 283).

Outra discussão também presen­te no meio forense diz respeito ao termo inicial do prazo para anular o ato jurídico realizado em fraude - tema não objeto desta demanda - tendo tido esta Turma, inclusi-ve, oportunidade de salientar que, independentemente de se tratar de prazo de prescrição ou decadência, a fluência do prazo se inicia a par­tir do registro do título aquisitivo do álbum imobiliário (REsp 36.065-SP, DJ 10.10.94, por mim relatado).

Partindo da posição dominante, que considera o prazo discutido como de decadência, não há como negar-se a inexistência de causas interruptivas ou suspensivas, haja vista ser essa uma das característi­cas do prazo extintivo do direito.

Assim, em princípio, iniciado o curso do prazo para buscar a anu­lação da escritura pública de cons­tituição de hipoteca, não haveria de cogitar-se de fato obstativo de sua fluência, a não ser a citação de to­dos os envolvidos no ato suposta­mente fraudulento.

Todavia, no caso, uma situação peculiar toma corpo. Nem se quises­se, o autor, ora recorrente, poderia ajuizar ação pauliana (ou continuar com aquelajá instaurada) para anu-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 217

lar a hipoteca durante o prazo em que, por decisão judicial, foi cance­lado seu registro. Com efeito, fale­ceria ao autor interesse de agir, uma vez que sua pretensão já estaria ga­rantida e ele não teria qualquer ne­cessidade de buscar solução na via jurisdicional.

A decadência, conforme assinala Marco Aurélio Viana (Curso de Direito Civil, v. 1, Del Rey, 1993, pág. 277), "encontra seu fundamen­to no fato de o titular do direito não se ter utilizado do poder de ação dentro do prazo fixado por lei". Ora, se o titular não exerceu seu direito por absoluta impossibilidade legal - falta de interesse de agir - em­bora tenha tentado por meio da pri­meira ação pauliana que ajuizou, não pode ele ser impedido de discu­tir a prevalência do direito subjeti­vo que em tese o socorreria.

Restaria, conseqüentemente, tão­só averiguar se após o desapareci­mento da causa que impossibilita­va ao credor manejar a competente demanda - revalidação do registro da hipoteca - já teria transcorrido o prazo de quatro anos. Negativa a

resposta, conquanto a decisão judi­cial que determinou a prevalência do registro datou de maio de 1990 e a presente ação deu entrada em abril de 1993, com os réus citados em maio e junho do mesmo ano.

Tenho, destarte, por violado o art. 178, § 9Q, V, b, do Código Civil, por­que a norma que ele encerra foi apli­cada em hipótese em que não admi­tia, prejudicada a análise da outra questão.

Em face do exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para que, superada a "prescrição", exa­mine o ego Tribunal de origem as de­mais insurgências postas na apela­ção.

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Estou de acordo com o Sr. Ministro-Relator em face das pe­culiaridades salientadas por S. Exa., uma vez que, no interregno mencio­nado, a parte não tinha interesse em ingressar com a segunda ação pau­liana.

RECURSO ESPECIAL NQ 130.351 - MT (Registro nQ 97.0030689-5)

Relator: O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrentes: José Jacinto Costa e cônjuge Recorrido: Banco Bradesco S/A Advogados: Ivaldir Paulo Muhl e outro, e Rodolfo de Oliveira Martins

e outros

218 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

EMENTA: Arrematação. Preço vil.

É insuficiente o lanço oferecido pelo credor, na segunda praça sem licitantes, inferior a 60% do valor do bem e, na mesma pro­porção, insuficiente para quitação da dívida principal e seus aces­sórios.

Recurso conhecido em parte e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar­lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sál­vio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Au­sente, justificadamente, o Sr. Minis­tro Bueno de Souza.

Brasília, 13 de outubro de 1997 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: José Jacinto Costa e sua esposa Maria Izabel Marangoni Costa ofereceram embargos à arre­matação contra o Banco Bradesco, aduzindo que a execução é nula por falta de título executivo, ausência de intimação da praça, falsidade das certidões do Oficial de Justiça, ví-

cios do edital de praça e arremata­ção do bem pelo credor por preço vil.

A sentença julgou improcedentes os embargos, daí apelação.

A ego 3ª Câmara Cível do Tribu­nal de Justiça do Estado de Mato Grosso negou provimento ao recur­so, em acórdão assim ementado:

"Apelação cível- Cédulas ru­rais pignoratícias e hipotecárias - Conta gráfica-Apresentação - Requisito não essencial -Execução cabível - Praça dos bens - Intimação válida - Vícios do edital- Inocorrentes - Alie­nação - Preço vil - Não carac­terização - Recurso improvido.

Cabível é a execução proposta com base em cédulas rurais pig­noratícias e hipotecárias formal­mente perfeitas, não sendo requi­sito essencial a apresentação da conta gráfica.

Não configura alienação por preço vil a venda judicial de bem em segunda praça, cujo valor de arrematação corresponde a mais de 58% (cinqüenta e oito por cen­to) do valor atualizado da avalia­ção, sendo satisfeito aproximada­mente 75% (setenta e cinco por cento) do débito." (FI. 116)

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 219

José Jacinto e sua esposa inter­puseram, tempestivamente, recur­so especial, com base em ambas as alíneas do artigo 105, IIl, da CF/88 e art. 541 do CPC, alegando afron­ta aos artigos 4º, do Decreto-Lei nº 167/67; 586, 615, IV, 618, I, 400 e 686, estes do Código de Processo Civil. Pretendem seja declarada a nulidade da arrematação, em decor­rência da inexistência de certeza e liquidez das cédulas rurais; contra­tadas para liberação parcelada, o credor não apresentou os compro­vantes de liberação e de utilização do financiamento, tornando impos­sível a verificação da existência da dívida, bem como de sua liquidez. Sustentam, ainda: 1) nulidade do processo, por cerceamento de defe­sa, impedidos que foram de fazer a prova sobre a nulidade da intima­ção; 2) a ausência de intimação da praça; 3) os vícios do edital, que não individualizaram suficientemente o imóvel; 4) o preço vil da arremata­ção, pois os bens foram avaliados em R$ 231.392,00 (duzentos e trinta e um mil, trezentos e noventa e dois reais), porém arrematados por ape­nas R$ 138.000,00 (cento e trinta e oito mil reais), locupletando-se o apelado às custas dos apelantes.

O Banco Bradesco apresentou suas contra-razões, vindo o recurso a ser admitido pela alínea a, quan­to ao tema do preço vil.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR (Relator): 1. Os recor-

rentes não têm razão quanto ao cer­ceamento de defesa (matéria que não foi objeto de prévio questiona­mento), à alegada falta de título executivo (tema precluso), à falta da intimação (ato certificado nos autos, "além de o próprio apelante aduzir na inicial que tomou ciência da pra­ça através do Oficial de Justiça" (acórdão, fl. 114», e quanto aos de­feitos na publicação do edital, que inexistiram, pois houve suficiente descrição do imóvel.

2. Porém, sua irresignação pro­cede quando alegam ofensa ao art. 692 do CPC, por ter sido o imóvel arrematado por preço vil.

O valor atualizado do débito dos recorrentes era de R$ 185.973,00, a ser acrescido da multa de 10% e dos honorários advocatícios. Os bens pe­nhorados foram avaliados em R$ 237.047,00, suficientes para o pa­gamento do principal e dos acessó­rios. O credor, porém, que preferiu não exercer o seu direito de adjudi­car, - quando então deveria ofere­cer preço não inferior ao que cons­tou do edital (art. 714 do CPC), -compareceu à segunda praça e, sem outros licitantes, ofereceu o lance de R$ 138.000,00. Esse preço significou menos de 60% do valor do imóvel e insuficiente, na mesma proporção, para o pagamento da dívida.

O conceito de preço vil tem rece­bido contéudo diverso da doutrina e da jurisprudência. A própria lei da execução fiscal já o definiu como sendo o inferior a 60% do valor real (art. 37 do DL 960/38): "Art. 37-A Fazenda poderá requerer a adjudi­cação dos bens levados à praça, após

220 R Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

o último pregão, caso não encon­trem licitantes. A adjudicação será feita pelo preço do maior lance, ou pelo da avaliação, com o abatimen­to de 40%, quando, na segunda pra­ça, não tiver havido licitantes."

O art. 692 do CPC, com a antiga redação, referia-se ao lanço insufi­ciente para satisfazer parte razoá­vel do crédito, mas a jurispudência reconhecia que, embora satisfazen­do o crédito, continuava sendo vil o lance que representava despropor­ção entre o valor de mercado do bem e o da arrematação:

"Ação de anulação de praça e arrematação. Preço vil. Artigo 692, in fine, do Código de Pro­cesso Civil.

Alegação de irregularidades formais e de alienação do imóvel a preço vil, embora bastante para o pagamento da totalidade da dí­vida, restando sobra. Bem avalia­do por CR$ 300.000,00 e arrema­tado em segunda praça por CR$ 120.000,00, sendo a dívida de CR$ 31.928,28.

Nos casos de praça não exitosa, sem que tenham comparecido lançadores, deve ser lavrado o respectivo termo, na mesma da­ta; e assim também se houver arrematante, pois o auto somen­te será lavrado decorridas 24 ho­ras, e cumpre de logo documen­tar a oferta.

Alienação a 'preço vil'. Artigo 692, in fine, do CPC.

O conceito de 'preço vil' não de­corre apenas da comparação en-

tre o preço ofertado e o valor da dívida a ser satisfeita, mas igual­mente cumpre confrontar a ofer­ta com o valor real do bem, as­sim evitando sofra o executado prejuízo vultoso e desproporcio­nal. A prestação jurisdicional é instrumento de justiça, mas não de justiça cega, propiciadora de iniqüidade.

Recurso especial conhecido pela alínea c, mas provido." (REsp 11:535-RS, 4ª Turma, reI. em. Min. Athos Carneiro, DJ 03/02/ 92)

"Processual. Execução fiscal (Lei 6.830/80 - art. 22). Arrema­tação. Leilão. Preço mínimo. Du­pla licitação. CPC (arts. 686 e 692). Aplicação supletiva. Preço vil. Conceito. .

I - O art. 22 da Lei n Q 6.830/ 80, por não regular completa­mente a arrematação, reclama aplicação supletiva dos preceitos que disciplinam a espécie, no Código de Processo Civil.

II - Na execução fiscal apli­ca-se o preceito contido no art. 686, VI do Código de Processo Civil, a exigir duas licitações, quando não atingido no primeiro leilão, o lanço mínimo fixado no edital.

III - O conceito de preço vil resulta da comparação entre o va­lor de mercado do bem penhora­do e aquele da arrematação.

IV - É incorreto afirmar que determinada arrematação deixou de ser vil, apenas porque o lance vitorioso cobriu noventa por cen-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 221

to do crédito em execução." (REsp 57.095-SP, 1 ª Turma, reI. em. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 15/05/95)

A doutrina refere-se a diferença aproximada de 50% entre o valor e o preço:

"A questão do preço vil, que a jurisprudência considera se não alcança metade da avaliação ... " (Nelson Nery Jr. e Rosa Maria Nery, CPC Comentado, 2ª ed., pág. 1.076)

Também considero a lição do Prof. Humberto Theodoro Júnior:

"Por preço vil simplesmente deve ter-se aquele que se situa muito aquém do valor de merca­do do bem praceado. Muitos ares­tos classificam, por exemplo, co­mo vil o lance que não vai além de 50% ou 60% da avaliação. Tra­ta-se de um dado fático, que ha­verá de ser analisado, caso a caso, pelo juiz da execução, segundo seu prudente arbítrio." (Proces­so de Execução, 18ª edição, pág. 380)

Neste Superior Tribunal de Jus­tiça já ficou decidido:

"Processual Civil. Arremata­ção por preço vil. Embargos à ar­rematação.

I - Preço vil, segundo enten­dimentó acolhido pela jurispru­dência do STJ, é aquele muito

abaixo do valor real do bem, sen­do certo ainda que a discussão em torno do tema não cabe em em­bargos à arrematação por extra­vasar os lindes do artigo 746 do estatuto processual.

II - Recurso não conhecido" (REsp 38.905-MG, 3ª Turma, reI. em. Min. Waldemar Zveiter, DJ 07/02/94) .

"Arrematação. Preço vil.

A circunstância de o preço ser vil há de aferir-se tendo em vista o valor do bem e não o montante da dívida. Não revela, assim, que a importância que se obteria com a alienação pudesse bastar para o pagamento do débito, a cuja co­brança se dirige a execução.

A recusa do preço vil indepen­de de manifestação daquele, cujo bem foi levado a praça ou leilão." (REsp 109.753-SP, 3ª Turma, reI. em. Min. Eduardo Ribeiro, DJ 22/ 04/97)

3. No caso dos autos, o credor se utilizou dá oportunidade da segun­da praça sem licitação para ofere­cer lanço equivalente, aproximada­mente a 50% do valor do imóvel, cor­respondente na mesma proporção ao valor da dívida. Com isso, usou da execução para se beneficiar em detrimento do devedor, pois adqui­re a propriedade de imóvel cujo va­lor aceito nos autos é praticamente igual ao dobro daquele oferecido, quando sabidamente o bem era su­ficiente para quitar a dívida princi­pal e seus acessórios.

222 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

A autorização contida no art. 690, CPC, também referida ao credor, que poderá comparecer e oferecer lanço, não pode ser usada para pre­judicar o devedor e torná-la mais gravosa (art. 620). Se a lei permite ao exeqüente adjudicar o bem, por preço não inferior ao que consta do edital (art. 714), não parece adequa­do possa ele, antes de finda a segun­da praça, oferecer lance por preço muito inferior. Se no lance do cre­dor (art. 690) não há o mesmo piso do art. 714, não pode ser dispensa­da criteriosa aplicação do art. 692, que proíbe o preço vil.

4. Posto isso, conheço do recurso, pela alínea a, por ofensa ao art. 692 do CPC, e lhe dou provimento, para anular a arrematação onde foi ofe­recido preço vil.

É o voto.

VOTO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: A legis­lação em vigor permite, nos termos

do art. 690, § 2Q, que o credor não seja obrigado a utilizar-se do insti­tuto da adjudicação e concorra na segunda hasta pública como se lançador fosse, situação na qual não tem que observar o limite estabele­cido pela avaliaçi'ío.

Fixado esse entendimento, nos termos da legislação vigente, acom­panho o Sr. Ministro-Relator, por­que S. Exa., sem fugir a essa orien­tação da lei, no caso concreto conhe­ce do recurso e lhe dá provimento sob outro fundamento, não com su­porte no art. 690, mas, sim, com arrimo no art. 692, que trata do pre­ço vil, trazendo em sua fundamen­tação considerações doutrinárias e jurisprudenciais.

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Srs. Ministros, tam­bém acompanho o voto do eminen­te Ministro-Relator, considerando vil o preço ofertado, até porque ele poderia ter oferecido uma quantia compatível com o crédito e não o fez.

RECURSO ESPECIAL NQ 137.285 - PB

(Registro n Q 97.0042970-9)

Relator: O Sr. Ministro Barros Monteiro

Recorrente: Civeste Indústria de Roupas do Nordeste Ltda.

Recorrido: Banco do Brasil S/A

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 223

Advogados: Drs. Roberto Fernando Vasconcelos Alves, e Pedro A. B. de Oliveira e outros

Sustentação Oral: Dr. Pedro Afonso Bezerra de Oliveira, pelo recorrido

EMENTA: Honorários de advogado. Embargos à adjudicação. Ausência de culpa por parte do embargado. Teoria da causalida­de.

- Os honorários de advogado são devidos quando a atuação do litigante exigir, para a parte adversa, providência em defesa de seus interesses.

- A ausência de culpa do sucumbente causador da instauração do processo não interfere na sua responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios.

Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Quarta Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, conhecer do recurso e dar­lhe provimento, na forma do rela­tório e notas taquigráficas prece­dentes que integram o presentejul­gado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figuei­redo Teixeira.

Brasília, 09 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Civeste - Indústria

de Roupas do Nordeste Ltda. e ou­tros opuseram embargos à adjudi­cação na execução fundada em cé­dula de crédito industrial que lhes move o Banco do Brasil SI A.

O MM. Juiz de Direito julgou pro­cedentes os embargos, para "anular os atos processuais praticados no procedimento originário supracita­do, a partir da arrematação de bens, inclusive, para que, assim decidido, seja designada nova data para rea­lização de praça ou leilão, com ob­servância das formalidade legais, condenando o embargado-exeqüen­te, ao pagamento de honorários de advogado, fixados em 10% sobre o valor da avaliação dos bens quando levados a hasta pública".

A Segunda Câmara Cível do Tri­bunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, deu provimento par­cial ao apelo do banco-embargado, em acórdão cujos fundamentos se resumem na seguinte ementa:

224 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

"Execução. Embargos à adju­dicação. Nulidade. Não realiza­ção da praça por falta de publi­cação do edital. Acolhimento dos embargos. Apelação. Provimento em parte, para excluir a verba honorária.

Nula é a praça realizada com postergação às disposições do art. 687 do CPC, mantendo-se a sen­tença que assim a considerou, ex­cluindo-se, porém, a condenação em honorários, por não ter a par­te exeqüente culpa no evento."

Acolhidos parcialmente os decla­ratórios, os embargantes manifes­taram o presente recurso especial com fulcro nas alíneas a e c do per­missor constitucional, apontando violação do art. 20 do CPC e dissen­so interpretativo com julgado desta Corte. Sustentaram, -em síntese, que cabe ao vencido responder pe­los ônus da sucumbência indepen­dentemente de ter agido ou não com culpa.

Contra-arrazoado, o apelo extre­mo foi admitido pela alínea a subin­do os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): 1. Acha-se presente o requisito do prequestio­namento, pois a matéria concernen­te aos honorários de advogado foi objeto de expressa decisão pelo Tri­bunal de origem.

2. A sentença impôs ao banco embargado os ônus da sucumbência diante da circunstância objetiva da derrota experimentada na solução da lide. Na motivação do decisório, o dr. Juiz de Direito <aludiu à certi­dão lavrada pela Escrivã no senti­do de que a primeira praça deixara de realizar-se pelo fato de o exe­qüente não haver diligenciado a publicação dos respectivos editais. Acentuou o Magistrado, em segui­da, que no dia seguinte à data de­signada para a referida primeira praça, o banco credor pediu a jun­tada das cópias dos editais, de modo a evidenciar terem sido cumpridas as exigências legais. Todavia, o mes­mo sentenciante considerou ter sido irregular a realização do ato, ao re­verso do que admitido pelo Juiz que então presidia a execução, à falta da necessária publicidade.

J á o Tribunal de Justiça, embora mantendo a anulação dos atos pro­cessuais praticados por ausência da publicação do edital, houve por bem, de outra parte, exonerar o banco­embargade do pagamento da verba honorária, sob o fundamento de que não se houvera ele com culpa no evento.

Assim firmada a base empírica da presente controvérsia, tem-se que, ao eximir o credor-exeqüente do pagamento dos honorários advo­catícios, o Acórdão recorrido real­mente vulnerou o disposto no art. 20 do CPC.

Conforme demonstra Yussef Said Cahali, em sua conhecida e admirada obra "Honorários Advoca­tícios", o princípio da sucumbência

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 225

não exaure por si só a problemática da responsabilidade pelos encargos do processo; daí a inserção no siste­ma, como fundamental, do princí­pio da causalidade, "do qual a su­cumbência apresenta-se apenas como um elemento revelador, talvez o seu mais expressivo indício" (pág. 51, 3ª ed., revista e atualizada).

Na espécie em apreciação, so­mente o fato objetivo da derrota não justificaria a atribuição dos ônus sucumbenciais ao embargado, uma vez que o V. Acórdão foi explícito ao asseverar que a não-realização da praça não se dera por culpa do ban­co, mas sim do Cartório, que negli­genciou quanto aos atos preparató­rios para a sua efetivação (fls. 64).

Entretanto, pelo princípio da cau­salidade, mais abrangente, claro está que no caso em tela o exeqüen­te deve sim solver a honorária em favor dos embargantes - ora recor­rentes. É que, em última análise, fora o banco credor quem dera cau­sa, dera origem, à apresentação dos embargos à adjudicação pelos deve­dores. Basta que se atente para o seu procedimento havido nos autos da execução. A primeira praça não se efetivara em face da não publi­cação dos editais. A despeito disso, o banco exeqüente, exibindo o exem­plar da publicação pela imprensa, conseguiu obter do Juiz de Direito o prosseguimento do feito, com a realização da segunda praça. Não tendo havido licitantes nesta últi­ma, terminou ele por requerer a adjudicação dos bens penhorados.

Quer dizer, tendo ocorrido irre­gularidade na efetivação da primei-

ra praça, que acabou sendo procla­mada pela sentença dos embargos à adjudicação, quem lha deu causa foi o banco ora recorrido, de início porque não exibiu a tempo os res­pectivos editais e depois porque deu andamento ao processo de execução, requerendo e obtendo afinal a ad­judicação dos bens.

Segundo ajurisprudência, os ho­norários de advogado são devidos sempre que a atuação do litigante exigir, para a parte adversa, provi­dência em defesa de seus interes­ses (Acórdão da 8ª Câmara do 2º TAC, in obra citada, pág. 53). In casu, conforme acima assinalado, foi o comportamento da instituição financeira quem provocou ensejo à propositura pelos devedores dos presentes embargos à adjudicação.

Por derradeiro, consoante ainda observa o Desembargador Yussef Said Cahali, seja em face do prin­cípio da causalidade, seja em razão da regra da sucumbência, "a preten­sa ausência de culpa do sucumben­te causador da instauração do pro­cesso não interfere, de qualquer modo, na sua responsabilidade pelo pagamento dos honorários advoca­tícios devidos à parte contrária" (ob. citada, pág. 60).

Respaldada acha-se, outrossim, a teoria da causalidade pelajurispru­dência desta Corte (cfr. REsp's n!!ll 7.570-PR, 39.462-7/SP, ambos rela­tados pelo Sr. Ministro Eduardo Ri­beiro).

3. Apenas não logra aperfeiço­ar-se aqui o conflito de julgados, eis que os recorrentes não cuida-

226 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

ram de proceder à demonstração analítica da divergência, mencio­nando as circunstâncias que iden­tifiquem ou assemelhem as hipó­teses confrontadas (art. 541, pará­grafo único, do CPC; art. 255, § 2º, do RISTJ).

4. Do quanto foi exposto, conhe­ço do recurso pela alínea a do per­missor constitucional e dou-lhe pro­vimento, a fim de restabelecer a sentença no alusivo à condenação da verba advocatícia.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL Nº 143.553 - RJ

(Registro nº 97.0056130-5)

Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrentes: Jornal do Brasil S/A e outros

Recorrido: José Maria de Mello Porto

Advogados: Drs. Francisco de Almeida e Silva e outros, e Eduardo An­tônio de Albuquerque Coelho e outros

EMENTA: Processual Civil. Impugnação ao valor da causa. Re­paração de danos moral e material. Valor econômico previamente estabelecido pelo autor na inicial. Artigo 259 do Código de Proces­so Civil.

O valor da causa, em ação de reparação de danos morais, é o da condenação postulada se esta já foi de antemão economicamente mensurada pelo autor na inicial.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer do recurso, e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Re­lator, vencido o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Votaram com o

Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Mon­teiro. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Bueno de Souza.

Brasília, 25 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro CESAR AS­FOR ROCHA, Relator.

Publicado no DJ de 20-04-98.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 227

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA: Os recorrentes ofere­ceram, nos autos de ação de repa­ração por danos morais, impugna­ção ao valor da causa que teria sido estipulado pelo autor, ora recorri­do, em R$ 1.000,00 (hum mil reais), a despeito do seu pedido indeniza­tório ser equivalente a 200 vezes a sua remuneração bruta, por cada um dos 13 réus.

Acolhida em primeiro grau, o au­tor agravou, com sucesso, conforme dá conta o r. aresto hostilizado, que se segue:

"Trata-se de agravo contra a decisão (fls. 16/17), que em ação ordinária de indenização de dano moral acolheu a impugnação ao valor da causa, por ser o pedido determinável, fixando o valor da demanda de acordo com ele, ou seja, de duzentas vezes a remu­neração bruta do autor, que sus­tenta ser o valor da causa mera­mente estimativo, devendo ser aplicado à hipótese o art. 258 do C.P.C.

Contraminutado o recurso, a decisão foi mantida. É o relató­rio.

Trata-se de ação, pleiteando a reparação por dano moral, cons­tante do pedido, através de uma avaliação meramente subjetiva, que será examinada pelo Juiz que, na espécie, tem um vasto campo de prudente arbítrio.

O valor, se for o caso, poderá, sem dúvida, ser completado em execução.

À hipótese não se aplicam, em decorrência, os artigos 259 e 260 do CPC, mas o art. 258, como, aliás, decidiu a Egrégia 5ª Câma­ra no Agravo de Instrumento n Q

4/95." (fls. 117).

Daí o recurso especial em exame com base nas letras a e c do per­missor constitucional por sugerida divergência com os julgados que in­dica e por alegada violação ao art. 259 do Código de Processo Civil.

Devidamente respondido, o re­curso foi inadmitido na origem, ten­do o seu andamento desembaraça­do pelo provimento que dei ao agra­vo de instrumento.

Recebi o processo no dia 28 de agosto do corrente ano de 1997, sen­do indicado para pauta no dia 17 de novembro.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR AS­FOR ROCHA (Relator): Os recor­rente's ofereceram, nos autos de ação de reparação por danos morais, im­pugnação ao valor da causa que te­ria sido estipulado pelo autor, ora recorrido, em R$ 1.000,00 (hum mil reais), a despeito do seu pedido in­denizatório ser equivalente a 200 vezes a sua remuneração bruta, por cada um dos 13 réus.

Acolhida em primeiro grau, o au­tor agravou, com sucesso, conforme dá conta o r. aresto hostilizado, que se segue:

228 R: Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

"Trata-se de agravo contra a decisão (fls. 16/17), que em ação ordinária de indenização de dano moral acolheu a impugnação ao valor da causa, por ser o pedido determinável, fixando o valor da demanda de acordo com ele, ou seja, de duzentas vezes a remu­neração bruta do autor, que sus­tenta ser o valor da causa mera­mente estimativo, devendo ser aplicado à hipótese o art. 258 do C.P.C.

Contraminutado o recurso, a decisão foi mantida. É o Relató­rio.

Trata-se de ação, pleiteando a reparação por dano moral, cons­tante do pedido, através de uma avaliação meramente subjetiva, que será examinada pelo Juiz que, na espécie, tem um vasto campo de prudente arbítrio.

O valor, se for o caso, poderá, sem dúvida, ser completado em execução.

À hipótese não se aplicam, em decorrência, os artigos 259 e 260 do CPC, mas o art. 258, como, aliás, decidiu a Egrégia 52 Câma­ra no Agravo de Instrumento n Q

4/95." (fls. 117).

Sustentam os recorrentes contra­riedade ao artigo 259, inciso lI, do Código de Processo Civil, que dis­põe:

"Art. 259. O valor da causa constará sempre da inicial e será:

II - havendo cumulaçâo de pedidos, a quantia corresponden-

te à soma dos valores de todos eles;"

O pedido inicial do recorrido está assim vazado, no que interessa:

" ... devendo, a final, ser julga­da procedente com a condenação dos mesmos, ao pagamento da in­denização, por réu, a ser arbitra­da por V. Exa., em valor propor­cional a 200' (duzentas) remune­rações brutas do autor, como Pre­sidente do Egrégio Tribunal Re­gional do Trabalho da 12 Região, vigente à época da satisfação do débito ... ". (fls. 57).

Não há dúvida de que o valor atri­buído à causa, nesses casos, é me­ramente estimativo porquanto, se - na visão do autor - a reparação dos danos só será completa se for no quantum indicado na inicial, na percepção do Juiz, ao apreciar os fa­tos da causa, um outro tanto pode­rá ser alcançado.

Ademais, o art. 286 do Código de Processo Civil possibilita a quem in­gressa com ação, a formular tam­bém pedido genérico em que o gê­nero do pedido é determinado, mas a quantidade é indeterminada no momento da propositura da ação.

No entanto, no caso, o autor pre­feriu fazer um pedido certo e deter­minado, entendendo-se por certo o pedido expresso e por determinado o pedido definido, delimitado, de­marcado em sua qualidade e quan­tidade, na lição de Amaral Santos.

Ora, o inciso lI, do art. 259 do Có­digo de Processo Civil, estabelece

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro\1998. 229

que o valor da causa constará sem­pre da inicial e que será, havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles.

Abro um parêntese para observar que, no caso, ao acolher a impugna­ção, o juiz estipulou o valor da cau­sa no valor correspondente à pos­tulada condenação apenas de um réu, por isso que a mais não se pode cogitar neste recurso.

Retomando, afirmo que na hipó­tese, o autor, que poderia fazer pe­dido genérico, preferiu já quantifi­car os valores dos danos morais, conforme acima assinalado.

Sendo assim, não poderia atri­buir à causa o valor simbólico de R$ 1.000,00.

Se o valor dos danos não tivesse sido indicado, aí sim, o valor da cau­sa poderia ser meramente estima­tivo, e seja qual fosse o indicado, es­se seria provisório, podendo ser al­terado posteriormente, se a impor­tância apurada fosse maior.

Mas não é esse o caso dos autos.

Por oportuno, colho as seguintes passagens do judicioso voto venci­do do eminente Desembargador Wilson Marques:

"Não colhe o argumento, fre­qüentemente utilizado na susten­tação de entendimento diverso, de que, não se sabendo, ao certo, qual será o valor da indenização que o juiz fixará na sentença, deve prevalecer a estimativa fei­ta pelo autor na inicial.

o valor da causa não se con­funde com o valor da condenação.

Por amor à coerência, os par­tidários do entendimento oposto deveriam sustentar a tese de que, no caso de improcedência do pe­dido, o juiz deve reduzir o valor da causa a zero." (fls. 119).

Destarte, o valor da causa, na hi­pótese, deve ser mesmo a importân­cia perseguida e express.amente in­dicada pelo recorrido.

Nesse sentido cito o seguinte pre­cedente:

"Valor da causa. Pedidos de condenação de quantias certas e determinadas.

O valor da causa deve corres­ponder à importância persegui­da, devidamente atualizada à data do ajuizamento da ação.

Recurso especial não conheci­do." (REsp n. 37.844-SP, relator o eminente Ministro Barros Mon­teiro, DJ de 29.11.93).

E este outro (REsp nº 142.304/ PB), recentemente julgado, também desta Quarta Turma, de minha re­latoria:

"Processual Civil. Impugnação ao valor da causa. Pedidos cumu­lados. Reparação de danos moral e material. Soma dos valores pos­tulados na inicial. Artigo 259 do Código de Processo Civil.

Cumulando a ação dois pedi­dos, ambos de antemão mensura-

230 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

dos economicamente pelo autor na inicial, a soma dos dois deve ser o valor da causa.

Recurso provido".

Pelo exposto, conheço do recurso por ambas as alíneas e lhe dou pro­vimento, restabelecendo a r. decisão monocrática de fls. 16/17.

RECURSO ESPECIAL NQ 145.345 - SP

(Registro n Q 97.0059730-0)

Relator: O Sr. Ministro Barros Monteiro

Recorrente: Hélio Trevisan Júnior

Recorrido: Attilio Guilherme Faoro

Interessado: Bamerindus Companhia de Seguros

Advogados: Drs. Paulo Sérgio Basílio e outro, Gerson Shiguemori e outro, e José Walter de Sousa Filho

EMENTA: Seguro. Responsabilidade civil. Denunciação da lide à seguradora. Correção monetária. Termo inicial.

Tendo a correção monetária a finalidade de garantir ao segu­rado o recebimento de indenização pelo seu valor monetário real, cabe à seguradora-denunciada reembolsar o segurado-denun­ciante sob o mesmo critério de atualização com que este fo'i res­ponsabilizado (correção monetária a contar da data de elabora­ção do orçamento).

Recurso especial conhecido e provido parcialmente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indi­cadas:

Decide a Quarta Turma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, conhecer do recurso e dar­lhe provimento parcial, na forma do relatório e notas taquigráficas pre­cedentes que integram o presente

julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília, 25 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 09-03-98.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 231

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: O MM. Juiz de Direi­to da lO!! Vara Cível de São Paulo julgou procedente a ação de repa­ração de danos ajuizada por Atílio Guilherme Faoro contra Hélio Tre­visan Júnior, condenando o réu ao pagamento de Cr$ 20.480.000,00, com correção monetária a partir da data da lavratura do orçamento. Outrossim, julgou procedente a de­nunciação da lide, condenando a denunciada, "Bamerindus Compa­nhia de Seguros", a reembolsar as despesas pagas pelo réu-denuncian­te ao autor, respeitando o limite de CR$ 109.942,74, com correção mo­netária a partir da denunciação.

O Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo negou provimen­to aos apelos do réu e da denuncia­da.

Recebidos os embargos declara­tórios apenas para negar o pedido de majoração da verba honorária na denunciação da lide, o réu-denun­ciante manifestou o presente recur­so especial com arrimo nas alíneas a e c do permissor constitucional, alegando violação do art. 1 º da Lei 5.488/68, além de dissenso pretoria­no com julgados desta Corte e do Tribunal de Justiça de Santa Cata­rina. Sustentou que, sob pena de enriquecimento ilícito da denuncia­da - com a qual firmou contrato de seguro que prevê o reembolso do pa­gamento feito a terceiros em virtu­de de condenação judicial -, deve­rá haver a atualização do valor da apólice desde a data do aviso do si-

nistro ou, pelo menos, reembolso em valor igual ao que for pago ao au­tor.

Contra-arrazoado, o apelo extre­mo foi admitido pela letra c.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): Há realmen­te um descompasso entre o que o ora recorrente está condenado a solver (correção monetária a partir da data de elaboração do orçamento) e o que a seguradora-denunciada deverá re­embolsar-lhe (correção monetária a contar da denunciação da lide).

O critério adotado pelas instân­cias ordinárias (atualização mone­tária a partir da denunciação) não se compadece, porém, com o esta­tuído no art. 1 º e §§ da Lei nº 5.488, de 27.08.68. A referida preceituação reza que, não paga a indenização nos prazos fixados pelo Conselho Nacional de Seguros, a partir de então será devida a correção mone­tária pela seguradora. O escopo do legislador aí é o de garantir ao se­gurado o recebimento de uma inde­nização real, conforme, aliás, deixou proclamado esta Eg. Turma quan­do do julgamento do REsp nº 3.705-MG, relator o Sr. Ministro Athos Carneiro. Eis a ementa do referido aresto:

"Seguro de responsabilidade civil. Correção monetária. Apli­cação da Lei n Q 5.488/68.

A companhia seguradora, em seguro facultativo de responsabi-

232 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

lidade civil de proprietário de veí­culo automotor, citada por seu se­gurado mediante denunciação da lide, e judicialmente condenada ao reembolso, é obrigada a satis­fazer tal reembolso tendo em vis­ta valores monetários reais. As­sim, o valor-limite da apólice de seguro, fixada ao tempo da emis­são, deve ser considerado com a atualização decorrente da desva­lorização da moeda, e feito o pa­gamento nos exatos termos da Lei n. 5.488/68.

Quem recebeu prêmio, em 1985, relativo a uma indenização limite de Cr$ 6.200.000,00 de en­tão, não pode pretender que, hoje, ao tempo do pagamento, o valor do seguro tenha o limite de Cr$ 6,20 agora.

Imperativos econômicos, jurí­dicos e éticos a preservar.

Recurso especial conhecido e provido".

Nessas condições, o decisório ora hostilizado não somente negou apli­cação ao indigitado art. 1 º e §§ da Lei nº 5.488/68, como ainda discre­pou dos julgados paradigmas trazi­dos à colação pelo recorrente, um oriundo do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, outro desta Casa (o REsp nº 3. 705-MG, acima aludido).

Só que o critério a prevalecer não pode ser o primeiro propugnado pelo recorrente (a data de aviso do sinistro) e, sim, o segundo (igual modo pelo qual fora condenado a compor a indenização em favor do autor). Primeiro, porque é claro o art. 70, inc. IIl, do CPC, ao estabe­lecer a denunciação da lide "àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação re­gres'siva, o prejuízo do que perder a demanda". Responsável que é o réu­denunciante pela atualização do importe condenatório a partir da data de feitura do orçamento, igual critério aplica-se à seguradora-de­nunciada, sistemática esta por sinal acolhida pelo precedente provindo do Tribunal de Justiça catarinense e que foi invocado pelo recorrente para demonstrar o dissenso juris­prudencial.

Ante o exposto, conheço do recur­so por ambas as alíneas do admissor constitucional e dou-lhe provimen­to parcial, a fim de determinár que o reembolso a ser procedido pela se­guradora-denunciada se faça pelo mesmo critério de correção imposto ao réu denunciante, ou seja, a par­tir da data de lavratura do orçamen­to.

É como voto.

R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 233

RECURSO ESPECIAL Nº 148.288 - RS

(Registro nº 97.0065114-2)

Relator: O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Recorridos: Comercial de Sementes Helimar Ltda. e outros

Advogados: Leonidas Cabral de Albuquerque e outros, e Euclecio Nicolau Seibel e outros

EMENTA: Crédito rural. Juros. Limite. Autorização do CMN.

Para a cobrança de juros acima da taxa prevista na Lei de U su­ra, a instituição financeira deve estar autorizada pelo CMN. Pre­cedentes.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso. Votaram com o Re­lator os Srs. Ministros Sálvio de Fi­gueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, jus­tificadamente, o Sr. Ministro Bue­no de Souza.

Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Relator.

Publicado no DJ de 30-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: A sentença julgou par-

cialmente procedentes os embargos opostos por Comercial de Sementes Helimar Ltda. e outros à execução que lhes move o Banco do Brasil S/A, com base em dívida decorren­te de financiamento agrícola.

As partes apelaram e a ego 2ª Câ­mara Cível do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, por votação unânime, negou provimen­to ao recurso dos embargantes e, por maioria, deu provimento ao recur­so do banco, em acórdão assim ementado:

"Crédito Rural. Quando pactua­dos juros remuneratórios inferio­res a 12% ao ano, desnecessário enfrentamento da questão rela­tiva à limitação dita insculpida no art. 192, § 3º, da CF. Não po­dem elevar-se por inadimplência. Devida correção monetária. Índi­ce incidente no caso. Apelo par­cialmente provido." (FI. 224)

234 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

Contra a parte unânime do jul­gado, o credor ingressou com recur­so especial, por ofensa ao disposto na Lei 4.595/64 e no art. 5Q

, par. úni­co do DL 167/67, além de divergên­cia com a Súmula 596. Entende ca­bível a elevação da taxa de juros moratórios além de 1% a.a., e bem assim a capitalização mensal.

O banco ainda opôs embargos in­fringentes, acolhidos em parte pelo ego 1 Q Grupo Cível do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul:

"Crédito agrícola. Juros. Limi­tação constitucional (art. 192, § 3 Q da Constituição Federal). Capitalização mensal.

A disposição constitucional li­mitativa dos juros não é auto­aplicável, carecendo de regula­mentação legislativa. Todavia, a prática de taxas de juros superio­res às legais, sej a pelo período normal do contrato, seja pela inadim plência, condicionando-se à autorização do Conselho Mone­tário Nacional.

O Decreto-Lei n Q 167/67, em seu art. 5Q

, admite forma diversa da capitalização semestral de ju­ros, desde que pactuada entre as partes.

Embargos providos parcial­mente." (FI. 263)

Rejeitados os embargos de decla­ração, o banco ingressou com o se­gundo recurso especial, por ambas as alíneas, por afronta aos artigos 128, 264, 130, 131, 333, 336, 330, inciso I, do CPC; 4Q

, incisos VI, VII,

VIII e IX, da Lei n Q 4.595/64; 1.262 do CC; à Circular 1.311/88 e às Re­soluções 1.064/85 e 1.131 do Bacen, em razão da exigência de prova da autorização do CMN para a cobran­ça da taxa de juros remúneratórios superior a 12% ao ano. Sustenta dissídio jurisprudencial (fls. 302/ 312).

Sem contra-razões, o Tribunal de origem negou seguimento ao pri­meiro recurso especial e admitiu o segundo por ambas as alíneas, su­bindo os autos a este ego STJ.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR (Relator): 1. A alega­ção de nulidade do acórdão, por exi­gir prova de autorização do CMN para a cobrança de juros além do limite permitido na lei, não tem sido acolhida nesta 4ª Turma, como se pode ver dos precedentes:

"A exigência de prévia autori­zação do Conselho Monetário N a­cionaI para que a instituição fi­nanceira venha a operar com ta­xas de juros livremente pactua­das não importa em ofensa ao art. 128 do CPC." (REsp 84.815/RS, reI. em. Min. Barros Monteiro)

"A simples circunstância de o Tribunal ter exigido prova de de­terminado fato ao examinar a apelação, o que não havia sido co­gitado anteriormente no proces­so, não leva a uma afronta ao devido processo legal consubstan-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 235

dada na violação dos vários dis­positivos legais suscitados. Não houve inovação na apelação, mas tão-só expressão do princípio do livre convencimento do juiz ins­culpido no art. 130 do CPC." (REsp 97.423/RS, reI. em. Min. Sálvio de Figueiredo).

Embora tenha votado diferente­mente, estou aderindo à corrente majoritária, pelos fundamentos aduzidos em outro recurso:

"O juiz do recurso, ao apreciar a pretensão do apelante, pode concordar com ela, em princípio, se atendidos pressupostos, condi­ções ou limitações. Presentes tais requisitos, o pleito poderá ser acolhido. Se o tribunal entender que a tese sustentada pelo recor­rente somente pode ser aceita na presença de certo fator, e este inexistindo, o resultado será o im­provimento do apelo pelos funda­mentos que decorrem necessaria­mente do exame do recurso, ain­da que implique a aceitação de argumento novo, pois o juízo da apelação não está limitado a so­mente examinar os argumentos apresentados pelas partes. Além disso, o Tribunal que entende in­dispensável certo requisito não está constrangido a deferir o pe­dido na ausência desse pressu­posto, apenas porque não mencio­nado antes. A limitação do segun­do grau é às questões suscitadas e discutidas nos autos, não aos argumentos apresentados pelas partes. Assim, se o tribunal acei­tar que a parte tem, em tese, o di-

reito alegado, poderá improver o recurso por um argumento ain­da não formulado, considerado indispensável para o seu reco­nhecimento, como, por exemplo, a falta de prova.

No caso dos autos, o Tribunal a quo anuiu com a possibilidade de os estabelecimentos bancá­rios cobrarem juros acima do per­mitido no Dec. 22.626/33, artigo 1 Q, por força do estatuído na Lei 4.595/64, que autoriza o CMN a fixar as taxas de juros a serem praticadas pelas instituições fi­nanceiras, mas considerou, inter­pretando a lei e nela buscando fundamento para a sua decisão, que essa estipulação somente poderá ser feita quando houver tal autorização. Inexistindo o pressuposto, não há como aplicar a norma que permite outras ta­xas de juros que não aquelas do decreto. A questão é a mesma, já suscitada e discutida nos autos, mas o deferimento da pretensão do recorrente, nos termos da lei, estava vedado por falta do que se entendeu ser um requisito. Ine­xiste aí ofensa às regras sobre o âmbito dos recursos e atuação do julgador, nem às normas sobre prova, pois à parte cabia trazer a documentação onde fundava o seu direito."

2. A cobrança de juros acima do limite legal, que predominantemen­te se entende possível depois da edi­ção da Lei 4.595/64, da qual é fruto a Súmula 596/STF, ainda em vigor, está evidentemente condicionada à

236 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

existência da autorização do Conse­lho Monetário Nacional pois é com base no art. 42, inciso IX daquele di­ploma que o CMN pode "limitar as taxas de juros, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover investimen­tos indispensáveis às atividades agro­pecuárias."

O Eg. Supremo Tribunal Federal, no RE 83.466/SP, assim decidiu:

"A cobrança de taxas que ex­cedam o previsto no Dec. 26.626/ 33, desde que autorizada pelo Banco Central, não é ilegal, su­jeitando-se os seus percentuais unicamente aos limites fixados pelo Conselho Monetário N acio­naI e não os estipulados na Lei de Usura" (RTJ 79/620).

Impende, portanto, que haja au­torização da autoridade financeira, não propriamente do Banco Cen­tral, mas do Conselho Monetário N acionaI, como definido na Lei 4.595/64, para que possa a institui­ção financeira estipular cláusula de juros acima do previsto na legisla­ção ordinária. Tal exigência está repetida no Dec.-Lei 167/67, - apli­cável ao caso, pois se trata de cré­dito rural, - cujo art. 52 reza:

"As importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros às taxas que o Conselho Monetá­rio fixar".

Essa a orientação que foi segui­da nesta 4ª Turma, no REsp 84.815/ RS, da relatoria do em. Min. Bar-

ros Monteiro, na sessão de 6 de agosto do corrente ano:

"Há dificuldades para compreen­der-se a fundamentação expendi­da no recurso especial interpos­to, de forma a ter-se até mesmo como invocável aqui o teor da Sumula n2 284 do Pretória Excel­so. É que sustenta o banco cre­dor ser prescindível a autoriza­ção referida do Conselho Mone­tário Nacional para operar com taxas acima do teto legal, mas, contraditoriamente, invoca ele o preceituado no art. 42, inc. IX, da Lei n2 4.595/64, que às expressas outorga poderes ao supramencio­nado órgão federal para limitar, sempre que necessário, as taxas de juros. Saliente-se, ademais, que um dos arestos paradigmas invocados pelo estabelecimento bancário (RTJ 79/620-621) repor­ta-se de maneira explícita à su­jeição da cobrança da taxa de ju­ros aos percentuais fixados pelo mesmo Conselho Monetário N a­cionaI. Mais que isso, o art. 52, caput, do Dec.-Lei n 2 167/67, re­za que as importâncias forneci­das pelo financiador vencerão juros às taxas que o Conselho Mo­netário Nacional fixar.

De sorte que, além de impre­ciso o apelo excepcional insurge­se contra algo que a lei e a juris­prudência estão a exigir para a cobrança da taxa dejuros: a pré­via estipulação pelo Conselho Mo­netário Nacional."

O mesmo ficou decidido no REsp 95.540/RS, da minha relatoria:

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 237

"Crédito rural. Juros. Limites. Autorização do CMN. Elevação dos juros moratórios.

1. A exigência de autorização do CMN para a cobrança de ju­ros acima da tabela legal não cau­sa ofensa à lei e está de acordo com os precedentes. Art. 4Q

, inc. IX, da Lei 4.595/64, e art. 5Q ca­put do DL 167/67.

2. Os juros podem ser elevados de apenas mais 1%, em decorrên­cia do inadimplemento. Art. 5Q

,

parágrafo único do DL 167/67.

Recurso não conhecido."

3. Na sessão de 5.5.97, esta 4ª Turma, em acórdão da relatoria do em. Min. Sálvio de Figueiredo, no REsp 111. 160/RS, afirmou que "é defesa a cobrança de juros além de 12% a.a. se não demonstrada, pelo credor, a prévia estipulação pelo CMN das taxas de juros vencíveis para o crédito rural, corresponden­tes à data da emissão da cédula".

Mais recentemente, a ego 2ª Se­ção reafirmou esse entendimento. No julgamento do REsp 111.881-SP, da relatoria do em. Min. Menezes Direito, ficou decidido:

"Crédito rural. Limitação da taxa de juros. Correção monetá­ria no mês de março/90. Prece­dentes da Corte.

1. O Decreto-Lei n Q 167/67, art. 5Q, posterior à Lei n Q 4.595/64 é

específico para as cédulas de cré­dito rural, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fi­xar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a li­mitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n Q

22.626/33), não alcançando a cé­dula de crédito rural o entendi­mento juriSprudencial consolida­do na Súmula n Q 596-STF.

2. Os precedentes deste Tribu­nal afirmam que "em relação ao mês de março de 1990, a dívida resultante de financiamento ru­ral com recursos captados de de­pósitos em poupança deve ser atualizada segundo o índice de variação do BTNF. Ante o atrela­mento contratual, é injustificável aplicar-se o IPC, para a atuali­zação da dívida, se os depósitos em poupança, fonte do financia­mento, foram corrigidos por aque­le índice", sendo certo que o percen­tual a ser aplicado é o de 41,28% (RSTJ 79/155).

3. Recurso especial não conhe­cido."

4. Posto isso, não encontrando vio­lação a dispositivo legal e estando a divergência superada, estou em não conhecer do recurso.

É o voto.

238 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

RECURSO ESPECIAL NQ 153.155 - SP

(Registro nQ 97.0076694-2)

Relator: O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrentes: Elza Peloso Castelo e outros

Recorrida: Empresas Reunidas Paulista de Transportes Ltda.

Advogados: José Carlos de Cerqueira, e Antonio Carlos Colo e outros

EMENTA: Responsabilidade civil. Dano moral. Juros. Data ini­cial. Preponente (juros simples).

1. O deferimento da indenização pelo dano moral sofrido com a morte do marido e pai dos autores independe de prova do efetivo sofrimento, que decorre da natureza das coisas. O decurso de mais de 17 anos entre o fato e o ajuizamento do pedido é fator a ponde­rar na fixação do quantum indenizatório.

2. Os juros pela mora, em se tratando de ato ilícito absoluto, fluem desde o fato. Pedido fundado no art. 159 do CCivil e não na responsabilidade contratual.

3. A empresa preponente não responde por juros compostos. Res­salva da posição do relator.

Recurso conhecido em parte e parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa par­te, dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Re­lator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueire­do Teixeira e Barros Monteiro. Au­sentes, justificadamente, o Sr. Mi­nistro Bueno de Souza e, ocasional­mente, o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.

Brasília, 10 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: Elza Peloso Castelo, Débora Aparecida Castelo, Antônio Augusto Castelo e Pedro José Cas­telo promoveram ação de indeniza­ção por ato ilícito contra as Empre­sas Reunidas Paulista de Transpor­te Ltda., alegando que são, respec-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 239

tivamente, esposa e filhos de José Castelo, morto em acidente entre dois ônibus de propriedade da ré, causado por culpa do motorista de um deles, como ficou admitido em sentença penal condenatória.

A sentença julgou "procedente a ação para condenar a ré no paga­mento de 120 salários do morto, 30 para cada autor (dano moral), mais uma pensão mensal equivalente a 60% do soldo de um 19 Sargento PM pelo valor que tinha na data do óbi­to, limitada ao dia em que o morto completasse 65 anos de idade, cor­rigindo-se o valor da pensão men­salmente pelo mesmo índice de cor­reção· das cadernetas de poupança, com o direito de acrescer inclusive na falta da viúva-autora. Sobre os valores das parcelas vencidas e o da compensação por danos morais incidirão juros de mora a 6% ao ano, desde a citação, cumulados com os juros remuneratórios a 12% ao ano, da data do ajuizamento da ação." Os valores apurados em liquidação constituirão a base do cálculo, acrescido de 12 vezes a pensão men­sal, dos honorários dos patronos dos autores, fixados em 15%, que a ré pagará juntamente com as custas e despesas do processo, pela sucum­bência. Outrossim, condenou a ré a constituir capital suficiente para produzir rendimento de juros equi­valentes ao valor da pensão mensal, bem como facultou a substituição da garantia por fiança bancária.

Opostos embargos de declaração, estes foram acolhidos "para ficar constando que cada um daqueles 120 salários, é o soldo de 19 Sargen-

to PM, na data do óbito, corrigido o valor do soldo pelo mesmo índice de correção das cadernetas de poupan­ça até a data do efetivo pagamento aos autores."

Ré e autores apelaram e a ego 10ª Câmara do 19 Tribunal de Alçada Civil de Estado de São Paulo deu parcial provimento aos recursos, em acórdão assim ementado:

"Responsabilidade Civil-Aci­dente de Trânsito - Colisão de ônibus em rodovia - Dever de in­denizar independentemente da existência de danos materiais -Fixação da pensão de acordo com o salário real da vítima não po­dendo ser considerado o soldo decorrente de uma graduação póstuma - Direito de acres.cer reconhecido entre os beneficiá­rios - Indevida indenização por dano moral porque na época do evento ainda não havia previsão constitucional- Dano moral não provado ou justificado - Deman­da proposta cerca de 17 anos após o evento - Juros de mora a par­tir da citação face o tempo decor­rido para propositura da deman­do - Atualização monetária re­solvida com aplicação da Súmu­la 490 do STF - Devida pensão correspondente ao 139 Salário -Recursos das partes providos parcialmente.

Honorários Advocatícios - Fi­xação nos termos do artigo 20, pa­rágrafo 39 - Incidência sobre o total das parcelas vencidas e so­bre 12 das vincendas - Recurso provido parcialmente." (FI. 383).

240 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

Os autores ingressaram com re­curso especial por ambas as alí­neas, sustentando afronta aos arti­gos 962, 1.518, 1.521, inciso IIl, 1.544 do CC; 5Q

, incisos V e X da CF, além de dissídio jurisprudencial com as Súmulas nM 37 e 54 deste STJ e 341 do STF e julgados de ou­tros tribunais. Sustentam: a) - o dano moral decorre do fato, sendo dispensável prova ou demonstração da dor; b) - o dano moral pode ser deferido para fato acontecido antes da Constituição de 1988; c) - o exercício do direito da ação, decor­rente de ato ilícito, por ser direito pessoal, só prescreve em 20 anos, sendo absolutamente irrelevante o fato de os recorrentes terem ajui­zados ação 17 anos após o fato, mas dentro do lapso prescricional, pelo que a ré deve arcar com os juros de mora desde o evento danoso; d) -osjuros compostos se aplicam à pre­ponente, por força de sua solidarie­dade; e) - são cumuláveis os danos material e moral. Requereram a reforma do v. acórdão recorrido para, no caso do dano moral, resta­belecer a sentença de primeiro grau, fixando a indenização em 120 salá­rios do morto, na base de 30 para cada autor, devidamente converti­dos em tantos quantos eram os sa­lários mínimos da época do faleci­mento da vítima e atualizados pelo valor do salário mínimo vigente na época da efetiva liquidação do jul­gado, determinando que os juros de mora sejam contados a partir do evento danoso e estabelecendo que os juros tidos como remuneratórios pela sentença sejam reconhecidos como compostos e concedidos nos termos do art. 1.544 do CC.

Nas contra-razões, a recorrida alega: 1) - deserção do recurso es­pecial em razão da falta de prepa­ro; 2) - indevida a indenização por dano moral; 3) - exclusão da verba relativa a juros compostos; 4) - os juros moratórios, se devidos, devem incidir a partir da citação.

O d. MP/SP opinou pelo provi­mento do recurso especial.

Admitido na origem apenas pela alínea c, subiram os autos a este ego STJ.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR (Relator): 1. A deser­ção inexistiu porque os autores e ora recorrentes litigam com o benefício da gratuidade (fl. 56).

2. O fato da morte é causa certa de padecimento e dor por parte da mulher e dos filhos da vítima, sen­do dispensável a prova do sofrimen­to e da amargura decorrente da per­da. Isso advém da experiência co­mum e independe de prova; o con­trário, por ser inusitado (mas pode acontecer), é que dependeria de de­monstração nos autos. Por isso, em se tratando de dano moral estrito senso, não se exige a produção de prova do dano para o deferimento da indenização, cabendo ao pruden­te arbítrio do juiz verificar os pres­supostos de sua ocorrência e arbi­tramento do valor compatível.

A reparação do dano extrapatri­monial está presente no nosso or­denamento jurídico desde antes da

R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 241

Constituição de 1988, tanto que o art. 76 do CCivil, de 1916, prescre­ve: "Para propor, ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo inte­resse econômico, ou moral". Na ju­risprudência, a evolução caminhou nesse sentido; como se recolhe do excelente apanhado feito pelo em. Min. Barros Monteiro ("Indenização por dano moral - evolução da ju­risprudência", Informativo Jurídico da Biblioteca Oscar Saraiva, v. 71 n. 2/pág. 90). A concessão dessa ver­ba, portanto, não constitui aplica­ção retroativa de preceito superve­niente ao fato, mas aplicação do or­denamento já vigente ao tempo e que tinha o dano moral como inde­nizável, apesar da matéria estar sujeita a controvérsias dissipadas pela nova Constituição.

O longo tempo decorrido entre o fato gerador do dano e o pedido ju­dicial não é causa para a sua rejei­ção, pois para isso existem os pra­zos prescricionais, a limitar o perío­do útil para sua manifestação. Exercida oportunamente a ação, é o quanto basta para ser examinada a existência do alegado direito. A demora pode, isto sim, influir na estimativa do quantum, pois é bem possível que a dor a ser considera­da no momento do pedido é bem di­versa daquela existente nas proxi­midades da morte, pois o tempo seda a dor moral.

Por tais razões, quanto ao tema da indenização do dano moral, es­tou em conhecer do recurso espe­cial, pela divergência, que ficou bem demonstrada (RT 641/230; REsp 1l.177/SP), e lhe dar provimento,

em parte, a fim de restabelecer a condenação por essa parcela cons­tante da sentença. Considerando que o dano pôde esperar mais de dezessete anos para se manifestar em juízo, proponho a redução do valor da indenização de 120 para 80 salários do morto, tocando 20 a cada beneficiário, equivalentes à remu­neração mensal de um 1 Q Sargento PM no dia do efetivo pagamento, aí considerado o total dos estipêndios, excluídos os descontos obrigatórios.

3. Trata-se de ação fundada em ilícito absoluto, como se depreende dos termos da inicial, na qual os autores invocaram o disposto no art. 159 do CCivil e se propuseram a fazer a prova da culpa do motoris­ta, o que realmente aconteceu no transcorrer do processado. Em ne­nhuma passagem, seja da sentença ou do acórdão, ficou afirmado que o pedido era deferido pela responsa­bilidade da empresa decorrente do contrato de transporte, que é uma obrigação de resultado, para cuja procedência bastaria comprovar o descumprimento da obrigação de efetuar o transporte sem dano. In­cide, portanto, a regra de que os juros, por ilícito extracontratual, fluem desde o fato (Súmula 54).

4. Os juros compostos não são de­vidos pela empresa preponente, nos termos da orientação que voltou a predominar nesta ego 4ª Turma, onde o acórdão citado como paradig­ma, de minha relatoria, se consti­tuiu em decisão isolada. Com res­salva da posição então manifesta­da, que me parece a mais adequa­da, há de prevalecer o entendimen-

242 R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.

to da douta maioria, razão pela qual por esse fundamento o especial não pode ser conhecido (Súmula 83).

5. Em resumo, conheço do recur­so, em parte, pela divergência, e nessa parte lhe dou parcial provi-

mento para conceder indenização pelo dano moral, nos termos acima explicitados, e mais juros legais (simples, não compostos) desde a data do fato.

É o voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 243

JURISPRUDÊNCIA DA QUINTA TURMA

HABEAS CORPUS NQ 6.090 - TO

(Registro n Q 97.0054618-7)

Relator: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Impetrante: Diógenes de Oliveira Frazão

Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins

Pacientes: Graciomar Viana Santana e Cleomar Viana Gomes

EMENTA: HC - Reaforamento - Júri - Irregularidades - Pre­clusão - Reformatio in pejus - Soberania dos veredictos.

- Com a criação do Estado do Tocantins, o Poder Judiciário do Estado de Goiás tornou-se incompetente para julgar processos feitos à nova unidade federativa.

- Se os defensores dos réus tomaram ciência do reaforamento, através do Termo de Aditamento de Julgamento, improcedem as alegações de nulidade processual por cerceamento de defesa.

- A parte que se sentir prejudicada por nulidade em plenário, porventura existente deve manifestar seu inconformismo logo após a ocorrência, sob pena de preclusão. Entendimento do arti­go 571, VIII, do CPP.

- O Júri é soberano, de modo que pode responder aos quesitos diferentemente da série anterior, e se isto obriga o presidente do júri a cominar pena mais grave do que a contida na sentença anu­lada, não implica na vedação da chamada reformatio in pejus.

- Ordem de habeas corpus que se indefere.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal

de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, indeferir o pe­dido. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Arnaldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José Dantas.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 247

Brasília, 24 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI: Trata-se de ha­beas corpus substitutivo de recur­so constitucional em favor de Gra­ciomar Viana Santana e Cleomar Viana Gomes, contra acórdão da e. Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, que denegou a ordem originária.

Os pacientes foram condenados a 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos de prisão, respectivamente, por have­rem, no interior do Bar Mocambo, na cidade de Palmeirópolis/TO, cau­sado à vítima Antônio de Araújo Caldas lesões que lhe resultaram a morte, restando incursos no artigo 121, § 2Q

, lU, c/c artigo 61, h, do Código Penal.

Inconformados com a sentença, apelaram alegando, em síntese: a) nulidade do termo de compromisso dos peritos e, conseqüentemente, nulidade do laudo de exame cada­vérico; b) nulidade do processo à míngua de citação dos réus; c) nuli­dade do julgamento por erro na for­mulação dos quesitos.

O apelo foi provido, sendo deter­minada a submissão dos acusados a outro julgamento, em acórdão as­sim ementado:

"Ementa - Apelação, Júri. Pri­meiro Quesito. Agravantes. As circunstâncias agravantes não podem figurar no primeiro que­sito, que deve se referir, exclusi­vamente, ao tipo fundamental, sob pena de nulidade do julga­mento. Recurso provido."

Submetidos a novo julgamento, restaram condenados por crime de rixa e julgada extinta a punibilida­de, em razão da ocorrência da pres­crição, motivando apelação do órgão ministerial que foi provida ao fun­damento de que a desclassificação afrontou, manifestamente à prova dos autos (fls. 102).

Inconformados recorreram extra­ordinariamente à Suprema Corte, sem êxito (fls. 88) o que acarretou a interposição de agravo de instru­mento, não conhecido por ser ex­temporâneo (fls. 95).

Posteriormente, o Ministério PÚ­blico requereu a remessa do feito ao Estado do Tocantins, eis que o deli­to ocorreu em Palmeirópolis, que, antes, integrava a unidade federa­tiva do Estado de Goiás, só que com o novo contorno geopolítico brasilei­ro, ajurisdição de Goiás não tem le­gitimidade para alcançar tais fatos, tendo em vista a criação do Tocan­tins.

Julgados pelo Tribunal do Júri de Palmeirópolis, Graciomar e Cleo­mar foram condenados, respectiva­mente, a 15 e 18 anos de reclusão, como incursos, o primeiro, nas san­ções do art. 121, § 2Q

, lU, c/c art. 61, U, h, e art. 29, todos do Código Pe­nal, e o segundo, nas penas do artigo

248 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

121, § 2º, III, c/c artigos 61, II, c e h e 29, também do Estatuto Repres­sivo, vedado o direito de apelar em liberdade.

Impetraram, sem êxito, habeas corpus, ao mesmo tempo em que apelaram do r. decisum condena­tório, .que restou não sendo conhe­cido, sobrevindo recurso especial, inadmitido na origem (fls. 106) e agravo de instrumento, negado por esta E. Corte (fls. 112).

Transitada em julgado a senten­ça condenatória, foi expedida carta precatória de prisão e remoção dos pacientes para cumprimento da pena imposta pelo Tribunal do Júri, motivando a impetração de novo habeas corpus, permitindo-se que aguardassem o julgamento do ape­lo em liberdade.

A apelação não foi conhecida (fls. 157), sobrevindo, mais uma vez, re­curso especial, inadmitido na ori­gem (fls. 159), e, conseqüentemen­te, agravo de instrumento, ao qual foi negado provimento (fls. 166).

Finalmente, impetraram habeas corpus, denegado, por unanimida­de, cuja ementa assim está redigi­da:

"Habeas corpus - Júri - Rea­foramento da comarca de Goiâ­nia para a de Palmeirópolis -Incompetência daquela, tendo em vista a criação do Estado de To­cantins - Ciência dos defensores dos réus.

- Com a criação do Estado do Tocantins, a comarca de Goiânia, capital do Estado de Goiás, tor-

na-se incompetente para julgar processos afeitos à nova unidade federativa. Tendo os defensores dos réus tomado ciência do rea­foramento, através do Termo de Aditamento de Julgamento, im­procedem as alegações de que não foram notificados do mesmo.

Habeas corpus - Júri - Ale­gações de irregularidades ocorri­das em Plenário - Momento de argüi-las - Preclusão - Aplica­ção do artigo 571 do CPP.

- Havendo nulidades em plená­rio, a parte prejudicada deve ma­nifestar seu inconformismo logo após a ocorrência, ao teor do que dispõe o inciso VIII do artigo 571 do Código de Processo Penal, sob pena de preclusão.

Habeas corpus - Júri - Sobe­rania dos veredictos - Reforma­tio in pejus - Hipótese não con­figurada - Não impedimento do conselho popular de responder aos quesitos diferentemente da série anterior - Aplicação, pelo presidente do júri, de sanção mais grave do que a contida na sentença anulada, em recurso ex­clusivo do réu - Denegação.

- A vedação da chamada refor­matio in pejus, por decorrer de norma processual ordinária, não tem a forma e o alcance para li­mitar a soberania do Júri, de pre­ceito constitucional de modo a impedir o Tribunal Popular de responder aos quesitos diferente­mente da série anterior obrigan­do o presidente do júri a impor sanção mais grave do que a con-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 249

tida na sentença anulada, em re­curso exclusivo do réu.

Habeas corpus denegado."

Tal decisão motivou a interposi­ção de recurso ordinário, onde se alega cerceamento de defesa eis que: a) foi autorizado o reaforamen­to do julgamento sem que a defesa fosse ouvida; b) os quesitos foram formulados de modo que era difícil a sua compreensão pelos jurados; c) as respostas eram induzidas, preju­dicando a defesa; d) houve refor­matio in pejus, posto que na apli­cação da pena foi fixado prazo su­perior à apenação anterior; e) as agravantes afastad'as na sentença de pronúncia foram recolocadas no libelo e serviram para exacerbar as penas aplicadas, ferindo a coisajul­gada e o contraditório; e f) composi­ção do júri popular por pessoas im­pedidas.

Após, foram os autos à vista da douta Subprocuradoria Geral da República que opinou pela denega­ção do writ.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI (Relator): Sr. Presi­dente, adoto como razões de decidir o parecer do Dr. Jair Brandão de Souza Meira, digno Sub procurador Geral da República, que por sua percuciência e juridicidade, merece ser transcrito.

Ei-Io:

"In casu, verifica-se um verda­deiro tumulto processual ocasio­nado pela interposição de diver­sas peças recursais principal­mente pela defesa, onde muitas delas sequer foram conhecidas, além de terem sido necessários três julgamentos para que então ocorresse a prestação jurisdicio­nal estatal.

O fato é que o Juízo do Estado de Goiás não mais era competente para processar e julgar o feito, tendo em vista o novo contorno geopolítico brasileiro, eis que fora criado o Estado do Tocantins, ra­zão pela qual ocorreu o reafora­mento, tendo os defensores toma­do ciência através do Termo de Aditamento do Julgamento (fls. 40).

Com relação às nulidades ocorri­das no plenário do Tribunal do Júri, o artigo 571, VIII, do Códi­go de Processo Penal, determina a argüição, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de verificadas a sua ocorrência, de­vendo a suspeição de jurado ser alegada em plenário, sendo con­sideradas sanadas se não forem argüidas no momento oportuno.

E mais. Após a sentença conde­natória, os pacientes interpuse­ram apelação pretendendo a anu­lação do julgamento, que não foi conhecida ao fundamento de que o artigo 593, § 3º, do CPP veda a segunda apelação fundada no mesmo motivo da anterior, ain­da que a primeira tenha sido in­terposta pela parte contrária.

250 R Sup, Trib, Just., Brasília, a, 10, (109): 245-311, setembro 1998,

Como se vê, desde o início a in­tenção do impetrante era recor­rer de todas as decisões, ainda que não tivesse amparo legal. Tanto que passados 17 anos do fato delituoso continua o impe­trante argüindo nulidade da sen­tença proferida pelo Tribunal do Júri, quando a mesma já transi­tou em julgado, tendo sido todos os meios recursais esgotados, fato este que se comprova diante das várias peças interpostas, até mes­mo agravos de instrumento onde se pretendia a subida do extra­ordinário e especial, obstados na origem. Ressalte-se que o primei­ro julgamento foi por diversas vezes adiado face a ausência de um dos acusados, ou até mesmo do advogado.

Embora o primeiro julgamento tenha condenado os pacientes a 12 anos de reclusão, o segundo tenha desclassificado o crime para rixa e o terceiro fixado a pena em 15 e 18 anos de reclusão não há que se falar em reforma­tio in pejus. A uma, porque este

princípio não se aplica aos julga­mentos proferidos pelo Tribunal do Júri face à soberania de suas decisões, decorrentes de preceito constitucional. A duas, porque não se pode levar em considera­ção a pena fixada nos julgamen­tos anteriores, eis que foram anu­lados, não mais existindo no mun­do jurídico.

Conclui-se, então, que não há que se falar em anulação do julga­mento realizado pelo Júri Popu­lar, em razão da reformatio in pejus, nem tampouco em cercea­mento de defesa face ao impedi­mento de jurado e má formula­ção de quesitos, eis que as supos­tas nulidades não foram argüidas no momento oportuno, restando, assim, sanadas."

Com razão a douta Subprocura­doria Geral da República, merecen­do integral acolhimento o parecer exarado pelo ilustre Subprocurador­Geral, razão por que, me reportan­do a seus termos, indefiro a ordem.

É como voto.

HABEAS CORPUS NQ 6.566 - SP

(Registro n Q 97.0084123-5)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas

Impetrantes: Areobaldo Espinola de Oliveira Lima Filho e outros

Impetrada: Décima Pimeira Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo

Paciente: Benedito Quintino

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 251

EMENTA: Processual Penal. Transação penal. Lei 9.099/95, art. 76.

- Habeas corpus. Seu deferimento, em face da proposta de transa­ção formulada oportunamente pelo Ministério Público, inclusive com requerimento de nova audiência preliminar, antecipada ao recebimento da denúncia.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, deferir o pedido, de forma que se proceda à audiência de transação, oportuna­mente proposta pelo Ministério PÚ­blico, nos autos da ação penal. Vo­taram com o Relator os Ministros Cid Flaquer Scartezzini, José Arnal­do, Felix Fischer e Edson Vidigal.

Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.

Publicado no DJ de 16-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: Trata-se de pedido originário, substitutivo do recurso ordinário, in­terposto de acórdão denegatório as­sim esclarecedoramente ementado:

"Habeas Corpus. Pleito de nu­lidade de recepção de denúncia, por falta de anterior audiência vi-

sando a eventual aceitação de proposta de pena antecipada. Ca­so em que, lançada aos autos a proposta, várias vezes interveio nos autos o ora paciente e seu defensor, sem placitar a sugestão ministerial. Denegação do writ." - fls. 167.

N esta instância, o parecer do Sub­procurador-Geral José Flaubert é pela concessão da ordem, conforme ementa:

"Processual Penal. Habeas Cor­pus substitutivo de recurso ordi­nário. Infração de menor poten­ciallesivo. Lei 9.099/95. Juiz que não consultou o MP e o autor do fato sobre a possibilidade de tran­sação. Ordem que deve ser con­cedida." - fls. 166.

Deferi a liminar, para suspender a tramitação da ação.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS (Relator): Senhor Presidente, denunciado pela contravenção de di­reção perigosa, insiste o paciente em obter a chamada transação penal cuidada no art. 76 da Lei 9.099/95.

252 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

N esse mister, sem desmereci­mento da motivação denegatória do writ, tem razão o denunciado, con­forme as particularidades do caso, bem assinaladas neste trecho do parecer:

"Verifica-se que, em 24/2/97, foi realizada a segunda audiên­cia preliminar, na qual o ora Pa­ciente recusou-se a fazer o acor­do, por não ter sido juntado o lau­do pericial. Assim sendo, o Juiz de 1 Q grau deu vista ao Ministé­rio Público, fl. 110.

Em 6/5/97, foi juntado o lau­do, fls. 113/118.

O Ministério Público, fl. 120, requereu a designação de nova audiência preliminar.

Em 817/97, assim que a audiên­cia foi aberta, o Juiz se pronun­ciou no seguinte sentido:

"Tendo em vista o espírito da Lei 9.099/95, que trouxe medi­das visando a simplificação da apuração dos fatos, com o que até agora não houve a concor­dância do acusado, posto que requereu e aguardou a produ­ção da prova pericial, entendo

que o momento da audiência preliminar está superado. Ao MP, para eventual oferecimen­to de denúncia."

A vítima não compareceu à au­diência, inviabilizando a compo­sição dos danos.

No entanto, o Ministério Públi­co já havia proposto a aplicação de multa, fl. 99, e, posteriormen­te, requereu a designação de nova audiência preliminar, fl. 120. Dessa forma, entendo que o Juiz deveria ter consultado o MP so­bre a renovação da proposta de transação, ou mesmo ter consul­tado o ora Paciente sobre tal pos­sibilidade, visto que a infração cometida pelo Paciente é consi­derada pela Lei 9.099/95 de me­nor potencial lesivo e o Paciente não se enquadra, em princípio, nas exceções contidas no artigo 76 desse diploma legal." - fls. 167/69.

Pelo exposto, defiro o pedido, de forma que se proceda à audiência de transação oportunamente pro­posta pelo Ministério Público nos autos da ação penal.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 6.824 - PR

(Registro n Q 97.0065904-6)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas

Recorrente: Rogério Costa

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 253

Advogado: Dr. Carlos Henrique Kaminski

Recorrido: Tribunal de Alçada do Estado do Paraná

Paciente: Rogério Costa

EMENTA: Penal. Denúncia. Crime de usura. Alegação de falta de justa causa.

- Habeas corpus. Incensurabilidade da denegação da ordem, a teor de assertivas assim ementadas: "A Lei de Usura está em vigor, incidindo nas sanções do art. 451, a, primeira figura, da Lei 1.521, de 1951, aquele que cobra juros em taxa superior à estabelecida pelo Decreto 22.626, de 7.4.1933, ressalvadas as situações previs­tas na Súmula 596 do STF. 2 - Se o fato narrado na denúncia em tese configura infração penal, não há como agasalhar a assertiva de falta de justa causa para a ação penal".

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Cid Flaquer Scartezzini, José Arnaldo, Felix Fis­cher e Edson VidigaL

Brasília, 16 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.

Publicado no DJ de 02-03·98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: Eis como foi relatada a espé­cie, na origem, pelo juiz Wilde Pu­gliese:

"I - Carlos Henrique Ka­minski, advogado inscrito na Or­dem dos Advogados do Brasil -Secção do Paraná, impetra ordem de Habeas Corpus em favor de Rogério Costa, com a finalidade de trancar a ação penal que res­ponde perante o Juízo de Direito da 59 Vara Criminal da Comarca de Curitiba, como incurso nas sanções do art. 49 , letra a, da Lei n 9 1.521/51, c.c. o art. 29 do Có­digo Penal.

Fundamenta seu pedido afir­mando que a conduta imputada ao paciente não caracteriza a prá­tica de qualquer crime, mesmo em tese, até porque não existem indícios suficientemente idôneos que viessem a amparar a denún­cia, faltando-lhe, pois,justa cau­sa.

Sustenta, também, que o cri­me de usura inclui-se dentre as normas penais em branco, cuja eficácia depende de outra norma

254 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

complementadora limitando o máximo permitido na cobrança de juros, de modo a estabelecer o "percentual superior à taxa per­mitida por lei", nos termos do tipo apontado como violado.

Por fim, sustenta que não se aplicam à hipótese sub judice os termos do art. 192, § 3Q

, da Cons­tituição Federal, dada a ausên­cia de lei complementar, não se tratando de norma auto-aplicá­vel.

Com essa argumentação, acom­panhada dos ducumentos de fls. 15 usque 76, finaliza com os re­querimentos de estilo.

A douta Procuradoria Geral de Justiça exarou o judicioso pare­cer de fls. 82/90, da lavra do emi­nente Procurador de Justiça Dr. Danilo de Lima, onde opina pela denegação da ordem." - fls. 95.

Denegou-se a ordem, segundo fundamentos assim ementados:

"Habeas corpus - Paciente de­nunciado por crime de usura -Lei n Q 1.521151 - Art. 42, a -Decreto n Q 22.6261 1933 -Legis­lação em vigor - Falta de justa causa inocorrente - Ordem de­negada.

1. A Lei de Usura está em vigor, incidindo nas sanções do art. 4Q

,

a, primeira figura, da Lei n Q

1.521, de 1951, aquele que cobra juros em taxa superior à estabe­lecida pelo Decreto 22.626, de 7.4.1933, ressalvadas as situa­ções previstas na Súmula n Q 596, do STF.

2. Se o fato narrado na denúncia em tese configura infração penal, não há como agasalhar a asserti­va de falta de justa causa para a ação penal." - fls. 94.

Daí o presente recurso ordinário, posto na reiteração das razões ini­ciais - fls. 104/110.

N esta instância, o parecer da Subprocuradora-Geral Laurita Vaz é contrário ao recurso, na forma desta ementa:

"1. Habeas Corpus. Recurso Ordinário. Delito do artigo 4Q

, a, da Lei n Q 1.521/51, c.c. o artigo 29, caput, do Código Penal. Tran­camento da ação penal. Argüições de falta de justa causa, dada a atipicidad.e dO'! conduta do pacien­te, e também de inexistêücí~ tie crime de usura, ao argumento de que o artigo 192, § 3Q

, da Carta Magna teria revogado o artigo 4Q

da Lei n Q 1.521/51 e o Decreto 22.626/33. Improcedência. Súmu­la n Q 596 do STF. Apontada in a­plicabilidade do dispositivo cons­titucional à hipótese, ante a fal­ta de necessária legislação com­plementar, e também por não se tratar de norma auto-aplicável. Questão não examinada pela Corte a quo, por ter sido consi­derada irrelevante. Denúncia bem formulada, nos termos do artigo 41 do CPP. Dilação probatória veda­da na via do writ. Constrangimen­to ilegal não configurado.

2. Parecer pelo conhecimento e improvimento do recurso." -fls. 120/121.

Relatei.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 255

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS (Relator): Senhor Presidente, no tema que se discute, a atipicida­de ou não -da operação pessoal de empréstimos a juros altos e inexis­tência do crime de usura, convenha­Be que, conforme o acórdão recorri­do, procede a resposta negativa a tal pretensão do paciente contra a acu­sação que lhe foi feita.

Por isso que me reporto aos ex­celentes adminículos pesquisados pelo Ministério Público oficiante, no campo da jurisprudência e na dou­trina, aduzidos deste modo:

"6: De acordo com o que reco­nheceu o judicioso parecer minis­terial -de tIs . .82/90, a questão a ser analisada nos autos não se atém em saber se o artigo 192, § 3º da Constituição Federal deve ser conceituado como norma de eficácia plena ou norma de eficá­cia contida ou parcial, matéria essa controvertida na doutrina, mas sim em "definir se a referi­da norma constitucional revogou ou não o artigo 4º da Lei de Eco­nomia Popular, no que se refere ao delito de usura pecuniária, na ausência de lei complementar sobre as taxas de juros." (fls. 86/ 87)

7. Assim, tendo-se em vista que a taxa referida no artigo 4º, alí­nea a da Lei nº 1.521/51 não pode ser superior ao limite de 01 % (um por cento) ao mês, conforme dis­põe o artigo 5º do Decreto nº 22.626, de 07/04/33, e que as dis-

posições deste Decreto, por sua vez, nos termos da Sumula nº 596 do Excelso Pretório "não se apli­cam às taxas de juros e aos ou­tros encargos cobrados nas ope­rações realizadas por instituições públicas ou privadas, que inte­gram o sistema financeiro nacio­nal", sendo que, por outro lado, prevalece na doutrina e na juris­prudência o entendimento de que o preceito constitucional do arti­go 192, § 3º da Constituição Fe­deral, ao dispor sobre o sistema financeiro nacional, tem por ob­jeto a política de instituições ban­cárias e creditícias, não abran­gendo, portanto, as relàções e os negócios celebrados entre parti­culares; pode-se -concluir que os objetos são diferentes e que por­tanto, não houve a revogação do artigo 4º da Lei de Economia Po­pular pelo referido dispositivo constitucional.

8. O v. acórdão guerreado me­lhor elucida a questão, in verbis:

"Por conseguinte, a conclu­são é uma só: as operações ce­lebradas fora do âmbito do sis­tema financeiro nacional estão subordinadas à taxa de juros moratórios fixada pelo Decre­to 22.626, em pleno vigor, com a ressalva da SÚillúla anterior­mente·transcrita.

A jurisprudência colaciona­da pela douta Procuradoria de Justiça em seu judicioso pare­cer, diz de perto do acerto da ilação:

256 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

"Os juros moratórios, de que cogita o Código Civil e a li­mitação da cobrança dos mesmos a que se refere o Decreto n Q 22.626, de 1933, continuam em pleno vigor, não tendo sido esse diploma revogado pela Lei n Q 4.595, de 1964, que diz respeito ao sistema financeiro nacional e foi sancionado com o fim específico de dispor sobre a política das instituições ban­cárias e creditícias, nada tendo a ver, portanto, com os empréstimos particulares" (Ac. do TJMG, in RT 415/ 372).

Ainda:

"A Lei n Q 4.595, de 1964, não revogou o art. 4Q da Lei n Q

1.521, de 1951, porque a pri­meira diz respeito específi­co sobre a política de insti­tuições bancárias e credití­cias, no âmbito do sistema financeiro nacional, enquan­to a segunda cogita da limi­tação de juros moratórios cuidados no Decreto nQ 22.626, de 1933, para alcançar os empréstimos particulares" (Ac. do TJPR, in RT 469/ 381).

Conseqüentemente:

"A Lei de Usura está em vi­gor, incidindo nas sanções do art. 4Q

, a, primeira figu­ra, da Lei n Q 1.521, de 1951, aquele que cobra juros em

taxa superior à estabeleci­da pelo Decreto 22.626, de 7.4.1933" (Ac. do TJPR, in 489/356).

Por derradeiro, mais uma vez comungando com a opinião esposada no parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça, que mesmo após o advento da Constituição de 1988, incide em crime contra a economia popular aquele que cobra juros moratórios superiores à taxa legal, trago à colação ensina­mento doutrinário da lavra do Prof. José Afonso da Silva, em sua obra "Curso de Direito Constitucional Positivo", 8ª edição, pág. 704, onde afirma:

"As cláusulas contratuais que estipularem juros supe­riores são nulas. A cobrança acima dos limites estabele­cidos, diz o texto, será con­ceituada como crime de usu­ra, punindo, em todas as suas modalidades, nos ter­mos que a lei dispuser. N es­te particular, parece-nos que a velha lei de usura (Dec. 22.626/33) ainda está em vigor.

Da mesma opinião, comun­ga o douto J. Cretella Junior, em seus "Comentários à Cons­tituição de 1988", pág. 4.292:

"O Decreto n Q 22.626/1933, a chamada lei de usura, está ainda em vigor e, pois, com plena aplicação".

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109); 245-311, setembro 1998. 257

Por tais razões, e diante da constatação de que a denún­cia descreve um crime em tese e contém todos os requisitos elencados no art. 41 do Códi­go de Processo Penal, como, aliás, afirmando por ocasião do seu recebimento pela autorida­de apontada como coatara, é de ser denegado o writ impe­trado." (fls. 98/100)

9. Quanto à argüição de falta dejusta causa para a ação crimi­nal, melhor sorte não socorre o recorrente.

10. Conforme já exposto nos autos, a exordial acusatória de fls. 16/18, além de preencher os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, encontra-se suficientemente amparada na prova colhida durante o inquéri­to policial (fls. 19/49), que apon­ta a suposta prática delitiva de crime contra a economia popular pelo paciente, que teria cobrado juros de 50% (cinqüenta por cen­to) sobre um empréstimo de R$ 300 ,00 (trezentos reais), sendo que, a posteriori, recusou-se a receber o pagamento da dívida, retendo indevidamente um reló­gio que a vítima deu em garan­tia, no valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais).

11. Impossível, assim, o pre­tendido trancamento da ação pe-

nal, eis que no âmbito dessa será feita a análise de todas as pro­vas colhidas ao longo da instru­ção, o que é vedado na via estrita do presente remédio heróico, con­forme entendimento pacífico do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, explicitado na ementa do julgado adiante transcrita, in verbis:

"Ementa

Ação penal. Trancamento.

Descrevendo a denúncia cri-me de usura e de extorsão in­direta, de modo a ensejar am­pla defesa, deve a ação penal prosseguir até sentença final, não sendo viável o seu tranca­mento na via do habeas cor­pus.

Prescrição. Dúvidas a res­peito da data em que se prati­caram as cobranças de juros extorsivos. Alegação de pres­crição, dependente de aprofun­dado exame de prova, a ser fei­to igualmente com a sentença de mérito.

Recurso de habeas corpus a que se nega provimento." (RRC n Q 1.538-CE, Relator Exmo. Sr. Ministro Assis Tole­do, in DJ de 09/12/91, pág. 18.045)" - fls. 123/129.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

258 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 6.968 - RJ

(Registro nº 97.0080232-9)

Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo

Recorrentes: Jair Leite Pereira e outro

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Paciente: Maria Helena Gomes (presa)

Advogados: Drs. Jair Leite Pereira e outro

EMENTA: Recurso em habeas corpus. Lei de Tóxicos. Concurso de agentes. Paciente denunciada pelo art. 14 e condenada pelo art. 12, ambos da Lei 6.368/76; pelo art. 8~ da Lei 8.072/90 cominado com o art. 288, do CP. Emendatio libelli (CPP, art. 383).

- A acusada se defende dos fatos narrados na peça acusatória e não da definição jurídica dada na denúncia.

- O quantum da pena deverá ser examinado na apelação, porquan­to o habeas corpus não comporta exame aprofundado de provas.

- Encontra-se em vigor o art. 14, da Lei de Tóxicos, com a comi­nação da pena prevista no art. 851, da Lei dos Crimes Hediondos (Precedentes do STF e do STJ).

- Recurso conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Felix Fischer, Edson Vidigal, José Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília, 24 de novembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.

Publicado no DJ de 09-03-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉARNAL­DO: Condenada com outros três acusados à pena de 28 anos de re­clusão pelos crimes previstos no art. 12, da Lei 6.368/76 e no art. 8º, da Lei 8.072/90 c/c o art. 288 e art. 62, I, da lei substantiva penal, Maria Helena Gomes, por seu il. patrono, impetrou habeas corpus perante a 3ª Câmara Criminal do TJIRJ, sus­tentando, em resumo, cerceamento de defesa, posto sendo a sua condu­ta tipificada no art. 14, da Lei 6.368/ 76, resultou apenada com a sanção do art. 12, com inobservância do dis­posto no parágrafo único, do art. 384, do CPP.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 259

Acrescentou, ainda, que, ao des­classificar-se o crime do art. 14 da Lei de Tóxicos para o do art. 288, do CP, à alegação de que o previsto no art. 14 fora revogado pelo art. 8º, da Lei 8.072/90, malferiu a senten­ça a lei, a doutrina e a orientação pretoriana.

A Corte estadual denegou a or­dem, daí o presente recurso, repisan­do a argumentação ali desenvolvida.

N esta instância, oficiou o Dr. Jair Brandão de Souza Meira, pelo Mi­nistério Público Federal, pugnando pela manutenção do aresto recorri­do.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO (Relator): Consta dos autos que a paciente, apelidada de "Vovó do pó", e seus dois filhos "são os maio­res, mais temidos e mais perigosos traficantes de entorpecentes de toda a cidade de São Gonçalo, cuja orga­nização criminosa por eles liderada, praticamente detém o monopólio da distribuição e venda de substân­cias causadoras de dependência fí­sica e química (maconha e cocaína)" (fls. 27).

A irresignação, com vistas a anu­lar o decreto condenatório, resume­se a imputar cerceamento de defe­sa que consistiria na proferição da sentença, em mudar a tipificação da denúncia do art. 14, da Lei 6.368/ 76, para condená-la pelo art. 12, com desprezo às recomendações do parágrafo único, do art. 384, do CPP.

Lê-se da peça acusatória às fls. 12/13:

"No dia 13/08/92, em hora não precisamente definida, a Polícia Militar, em operação comandada pelo então capitão Paulo Fernan­des de Lima Pacheco, realizou operação de "asfixia" no Morro Menino de Deus, em São Gonça­lo, objetivando investigar e repri­mir possível tráfico ilícito de en­torpecentes noticiado naquele lo­cal.

Após a operação, foram apreen­didas 1.870 "trouxinhas" da subs­tância vulgarmente conhecida co­mo "maconha", conforme fls. 17.

Em sede de inquérito policial/re­ferente à apreensão, logrou-se evidenciar a real existência de tráfico organizado no local, apu­rando-se ser a substância em tela produto da associação permanen­te da denunciada Maria Helena Gomes e de seu filho Luiz Carlos Go­mes Jardim, que, apesar de re­colhido no Sistema Penitenciá­rio Estadual, continuava a "co­mandar", junto à sua genitora, o "negócio" da família, "negócio" este estendido a outros familia­res e diversas pessoas, igualmen­te denunciados, componentes da referida associação criminosa, além de outros elementos parci­almente identificados, dentre os quais vários ainda sob investiga­ção climinal nos Inquéritos 627/94 e 331/95, ambos da 72 DP, fazendo parte do grupo, e.g., "Bolão", "Dão" e "De Flash", j á falecidos, "Kiko" e "Abuse e Use", supostamente

260 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

falecidos, além de "Carlinhos", "Beto", "Alexandre Bom Bom", "Denilsinho", "Jorge Tadeu Bura­quito", "Nalvinho da Covança", "Beto Russo", "Paulo Cesar P. C." e "Beto da Chumbada", associa­ção que tem o fim de prática rei­terada de crimes previstos no ar­tigo 12 da Lei 6.368/76, dentre eles a guarda, o depósito, a aquisição, o transporte e a venda de substân­cia entorpecente ou que determi­ne dependência física sem a de­vida autorização legal para tal.

Estão Maria Helena Gomes e Luiz Carlos Gomes Jardim, in­cursos nas penas do artigo 14 da Lei 6.368/76, agravado pelo dis­posto no artigo 62, I, do CP.

Estão, assim, os demais denun­ciados, incursos nas penas do ar­tigo 14 da Lei 6.368/76."

A exordial descreve a prática do ilícito, incumbindo ao juiz dar clas­sificação jurídica diversa na linha do permitido pelo art. 383, do CPP. O que a lei processual codificada e a Constituição asseguram, em ga­rantia ao direito de defesa, é a ob­servância do princípio da correlação entre a imputação e o decreto con­denatório. Assim é que a sentença pode levar em conta na classifica­ção do crime preceitos penais dis­tintos dos arrolados na exordial acu­satória, ainda que imponha pena maior. O réu, é sabido, defende-se do fato ilícito deduzido na denún­cia, não da capitulação jurídico-pe­nal nela contida (Código de Proces­so Penal Interpretado, 3ª ed., pág. 441, Júlio F. Mirabete - STF: RSTF 112/966; 113/153; STJ: RSTJ 42/348).

A propósito, em decisão que ver­sa hipótese idêntica à presente, lê­se a ementa:

"Habeas corpus. Tráfico de en­torpecentes: concurso de agentes. Emendatio libelli: paciente de­nunciado pelos arts. 12 e 14 da Lei de Tóxicos (n Q 6.368/76) e condenado pelos seus arts. 12 e 18. Flagrante preparado. Nulida­des.

1. Ocorre emendatio libelli (CPP, art. 383) e não mutatio libelli (CPP, art. 384) quando o réu é denunciado pelo crime de formação de quadrilha e conde­nado apenas com a agravante do concurso eventual de delinqüen­tes. O art. 14 da Lei de Tóxicos prevê o crime autônomo de qua­drilha ou bando, cujo tipo exige associação estável e permanente (societas delinquendi) e cor­responde ao art. 288 do CP; o art. 18, IH, da mesma Lei prevê a agravante no caso de concurso eventual de pessoas (societas criminis) e corresponde ao art. 62 do C.P. Ambas as hipóteses contêm explicitamente a circuns­tância elementar do crime prati­cado com associação de delin­qüentes, estável ou eventual. Des­crevendo a denúncia pluralidade de agentes, improcede a alegação de surpresa para a defesa, por­que o réu deve se defender dos fatos narrados da denúncia e não da capitulação legal que a denún­cia deu ao delito.

2. O flagrante preparado, em ope­ração de "venda" de droga, não

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 261

anula o processo-crime se a con­denação está fundada também na "posse", preexistente à simulação policial; em face das diversas hi­póteses previstas no art. 12 da Lei de Tóxicos, não se aplica a Súmula 145. Precedente.

3. Habeas corpus conhecido, mas indeferido. (STF, 2ª Turma, ReI. Min. Maurício Corrêa, DJU 03.5.96, pág. 13.901)."

Afinal, assevera o órgão ministe­rial às fls. 87:

"N o tocante à fixação da pena, o Excelso Pretório j á se manifestou no sentido de ser possível a cau­sa de aumento de pena superar o máximo abstrato (HC 63.050). Na hipótese, verifica-se que o deci­sum condenatório obedeceu ao sistema trifásico, justificando a fixação das penas-base, em am­bos os delitos, no máximo permi­tido e, posteriormente, agravan­do-as, face à incidência do art. 62, I, do Código Penal, resultando um total de 28 anos de reclusão e 460 dias-multa."

N o tocante à parte da sentença que afastou aplicação do art. 14, da Lei 6.368/76, por entender revoga­do pelo art. 8º, da Lei 8.072/90, me­receria reparo por dissentir do po­sicionamento do Supremo Tribunal Federal e desta Corte, consoante de­monstrado no voto-vista vencedor que proferi no REsp 112.182-SP (5ª Turma), na parte que interessa:

"Relativamente a esta matéria, permitimo-nos transcrever tre-

cho do despacho proferido pelo Ministro Celso de Mello ao apre­ciar pedido de liminar no HC 74.029-4 (DJ de 4/6/96), verbis:

"Observo, quanto à primeira alegação, que a tese exposta pelo impetrante não se ajusta à orientação jurisprudencial firmada por esta Corte Supre­ma.

Com efeito, a jurisprudência de ambas as Turmas do Supre­mo Tribunal Federal tem acen­tuado que se encontra em vi­gor o art. 14 da Lei de Tóxicos, com a cominação da pena pre­vista no art. 8º da Lei dos Cri­mes Hediondos (HC nº 68.793-RJ, ReI. pl o acórdão Min. Mo­reira Alves, 1 ª Turma; HC nº 72.862-SP, ReI. Min. Néri da Silveira, 2ª Turma, v.g.).

Em recente decisão, a Egrégia Segunda Turma do Supremo Tri­bunal Federal - apreciando, uma vez mais, essa quaestio ju­ris - pronunciou-se no sentido da subsistência da norma inscri­ta no art. 14 da Lei nº 6.368/76:

"Penal. Processual Penal. Ha­beas corpus. Associação para o tráfico de entorpecentes. Lei 6.368/76, art. 14. Lei 8.0721 90, art. 89.

I - Tratando-se de associação para o tráfico de drogas, pre­valece a tipificação do art. 14 da Lei 6.368/76, vale dizer, a associação de duas ou mais pessoas, para praticar, reite-

262 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

radamente ou não, o tráfico de drogas, tipifica o delito do art. 14 da Lei 6.368/76. A pena a ser aplicada será a prevista no art. 8Q da Lei 8.072/90, isto é, re­clusão de três a seis anos. Pre­cedentes do STF (HC nQ 73.119-SP, ReI. Min. Carlos Velloso).

A 6ª Turma deste Tribunal vem comungando do mesmo entendi­mento:

"RHC -Penal-Lei n 9 6.368/ 1976 (art. 14) e CP (art. 288, redação do art. 8 ~ da Lei n 9

8.072/1990) - O crime defini­do no art. 14, da Lei n Q 6.368/ 1976 não foi revogado pela re­dação do art. 288, dada pelo art. 8Q

, da Lei n Q 8.072/1990. Ambos os ilícitos levam em conta a participação plural de pessoas, o que facilita o agen­te consumar a infração penal. Tais leis consideram duas si­tuações jurídicas que não se confundem. Urge, porém, pro­mover a crítica da cominação das penas. O tipo mais grave não pode contemplar sanção menos rigorosa. A individua­lização (como princípio), mes­mo na primeira etapa (defini­ção legal), precisa ser coeren­te. Impõe-se, então, corrigir a anomalia e considerar o má­ximo da pena cominada igual ao art. 288, ou seja - reclu­são de 6 anos. Precedente do STF (RHC 4.395/95, ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, DJ 29/10/96, pág. 41.692).

"Penal. Condenação em pri­meiro grau, por infração aos arts. 12 (tráfico) e 14 (associa­ção para tráfico de entorpecen­tes) da Lei n 9 6.368/76. Absol­vição, em segundo grau, quan­to ao crime de associação, ao fundamento de que o art. 14 da Lei n 9 6.368/76 foi ab-rogado pelo art. 8 9 da Lei n 9 8. 072 /90. Absolvição: errônea, pois o art. 8 9 da Lei de Crimes Hediondos não ab-rogou o art. 14 da Lei n 9 6.368/76. Houve tão-somen­te derrogação do dispositivo da Lei de Tóxicos no que tange à pena. Precedentes do STJ e do STF. Recurso especial provido para ((restabelecer" a condena­ção imposta em primeiro grau" (REsp 29.528/92, ReI. Min. Adhemar Maciel, DJ 2/9/96, pág.31.121)".

A esses extratos jurisprudenciais, acresce-se o publicado no Infor­mativo STF de 14 a 18 de abril, em que ficou consignado:

"Quadrilha para tráfico: Dis­ciplina aplicável.

- Tratando-se de quadrilha destinada à prática de tráfico de entorpecentes, aplica-se o tipo penal previsto no art. 14 da Lei 6.368/76 ("Associarem­se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiterada­mente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 12 e 13 desta Lei.") e a pena comi­nada no art. 8 9 da Lei 8.072/ 90 ("Será de três a seis anos

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 263

de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código de Processo Penal, quando se tratar de cri­mes hediondos, prática da tor­tura, tráfico ilícito de entorpe­centes e drogas afins ou terro­rismo."). Com base em prece­dentes de ambas as Turmas do STF aplicando interpretação corretiva dos referidos dispo­sitivos, a Turma indeferiu ha­beas corpus em que se preten­dia ver reconhecida a revoga­ção do referido art. 14 da Lei de Tóxicos pelo art. 8 Q da Lei

8.072/90. Precedente citado: HC 73. 119-SP (DJU de 19.4.96). HC 75.046-SP, rel. Min. Mo­reira Alves, 15.4.97."

Mantenho a condenação contida no art. 14, da Lei 6.368/76."

Como, porém, o recurso é do réu, e a aplicar-se a sanção do citado ar­tigo 14, da Lei 6.368/76, importaria em aumento da pena e subseqüen­te reforma tio in pejus, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.

É como voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.083 - MG

(Registro nº 97.0091376-7)

Relator: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Recorrente: Geraldo Pereira

Advogado: Geraldo Pereira

Recorrido: Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais

Paciente: Geraldo Pereira

EMENTA: RHC - Apropriação indébita - Trancamento de ação penal - Exame aprofundado de provas - Impossibilidade pela via eleita.

- O crime de apropriação indébita, in casu, retenção de verbas trabalhistas pelo advogado, de seu cliente, exigem exame apro­fundado de provas, posto que de pronto não se pode chegar a uma conclusão sobre a ocorrência, o que impede o trancamento da ação penal através do uso deste remédio heróico, cuja via é angusta.

- Recurso a que se nega provimento.

264 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Ar­naldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José Dantas.

Brasília, 17 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI: Trata-se de recur­so em habeas corpus interposto em favor de Geraldo Pereira contra decisão da E. Segunda Câmara Cri­minal do Tribunal de Alcada de Mi­nas Gerais, que denegou> a ordem na qual se pretendia o trancamento da ação penal intentada contra o pa­ciente como incurso nas sanções do artigo 168 do Código Penal (Apro­priação Indébita).

Entendeu o E. Tribunal que se tratava de matéria de fato, reque­rendo exame aprofundado de pro­vas, razão por que denegou a ordem, sobrevindo o presente recurso onde o recorrente alega que o cliente dera ao paciente recibo de quitação ge­ral, de maneira que não se poderia falar em apropriação indébita. Ale­ga que não houve coação para assi-

natura do referido recibo, nem qual­quer alteração ou simulação no mes­mo.

Em contra-razões (fls. 66/67), ale­ga-se preliminar de intempestivida­de e, no mérito, pugna-se pelo im­provimento do recurso.

Foram os autos à douta Subpro­curadoria Geral da República que entende não haver ocorrido a intem­pestividade e, no mérito, pelo im­provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI (Relator): Sr. Presi­dente, com efeito, pela certidão de fls. 52, o acórdão foi publicado no dia 11.10.97, que caiu num sábado, logo, considerando-se que a intima­ção se deu no primeiro dia útil (se­gunda-feira, dia 13), o prazo para a interposição do recurso iniciou-se dia 14. Protocolado o recurso dia 20.10.97 (fls. 54) não há falar em intempestividade.

No mérito, porém, o recurso não merece prosperar.

Historiando os fatos, diz o v. acór­dão de fls. 49 que: "alega o paciente haver prestado serviços advocatícios à Sra. Vagna Vidal de Lima, duran­te oito anos, pugnando por seus di­reitos trabalhistas contra o ex-em­pregador e, falecido este, contra seus herdeiros. Ressalta ter conse­guido levar as partes a um acordo (fls. 18) repassando à sua constituin­te a quantia de R$ 300,00, fruto des-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 265

se acordo, oportunidade em que lhe fora passado recibo de plena quita­ção (fls. 09)."

N o entanto, nas informações de fls. 30/31, ressalta o MM. Juiz que: " ... realmente, juntou o impetrante o recibo de fls. 171, entretanto nele não se fala em valor, não se fala na data da celebração do acordo firma­do entre partes, nem datado está o recibo. Ocorre que o recibo está pul­verizado pelas declarações da víti­ma em fls. 173. Por outro lado, con­fessa o réu que realmente recebeu 500.000,00, tendo repassado somen-

te 80 mil cruzeiros para a vítima, como confessa na fase indiciária ... ".

Assim, conforme iterativa juris­prudência deste E. Superior Tribu­nal, em face da necessidade de exa­me aprofundado de provas, posto que de pronto não se pode chegar a uma conclusão sobre a ocorrência ou não do crime de apropriação indé­bita, não se pode, por meio deste remédio, cuja via é angusta, tran­car-se a ação penal.

Portanto, conheço do recurso e lhe nego provimento.

É como voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.137 - MG

(Registro n Q 98.0000518-8)

Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Felicio Alves de Lima e Silva

Advogado: Felicio Alves de Lima e Silva

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Paciente: Felicio Alves de Lima e Silva

EMENTA: Penal. Processual. Denunciação caluniosa. Tranca­mento da ação penal. Falta dejusta causa. Habeas corpus. Recur­so.

1. Somente com o arquivamento do inquérito policial ou absol­vição irrecorrível em favor do denunciado, é possível qualquer iniciativa no sentido do processo por denunciação caluniosa.

2. Ausência de justa causa para a persecução penal.

3. Recurso conhecido e provido.

266 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, dar provi­mento ao recurso para trancar a ação penal instaurada contra o ora paciente. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros José Dantas, José Arnaldo e Felix Fischer.

Brasília, 07 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente e Relator.

Publicado no DJ de 04-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL: O Ministério Público do Esta­do de Minas Gerais denunciou Fe­lício Alves de Lima e Silva, sob a acusação de denunciação caluniosa contra Gustavo Adélio Ferreira, De­legado de Polícia de Eugenópolis/ MG, e Lauro Sérgio Leal, advogado naquela Comarca.

A Ação Penal foi instaurada, e ele, Felício, quer trancá-la alegan­do inépcia da denúncia. Diz não ter praticado nenhum ato calunioso em desfavor das alegadas vítimas, e que, mesmo se assim não fosse en­tendido, as mesmas não se viram indiciadas ou responderam a qual­quer inquérito policial ou ação pe­nal, desconfigurando-se a tipicidade da conduta imputada.

O colegiado mineiro não conhe­ceu da impetração. Daí, a interpo­sição de Recurso Ordinário, por mim relatado, no qual ficou ementado:

"Penal. Processual. Denunciação caluniosa. Ação penal. Tranca­mento. Atipicidade. Habeas cor­pus. Recurso. 1. A alegação de atipicidade da conduta, na hipótese de denun­ciação caluniosa, pode ser apre­ciada mediante simples consulta a peças do processo. 2. Recurso parcialmente provido para determinar ao Tribunal es­tadual que aprecie a alegação de atipicidade da conduta." (RRC 5.312/MG, DJ 26/05/97)

Retornando os autos à instância a quo, o Tribunal mineiro agora de­negou a ordem, refutando os argu­mentos de inépcia da denúncia.

Novo Recurso Ordinário, a mim distribuído por prevenção. Reitera as argumentações de que a ação penal pela prática de denunciação caluniosa exige dolo direto, antece­dente e provado. A simples dúvida exclui o dolo, pois a figura típica requer que o sujeito tenha plena certeza da inocência da vítima; nem mesmo o dolo eventual autoriza a propositura da Ação Penal.

O Ministério Público Federal, nesta instância, opina pelo provi­mento do recurso.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL (Relator): Senhores Ministros,

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 267

a ação incriminada consiste em fa­zer movimentar a máquina policial ou judiciária, imputando-se a prá­tica de conduta delituosa contra pessoa de que sabe ser inocente.

Segundo a mais corrente juris­prudência sobre a matéria, sua con­sumação só se dá com a instaura­ção de investigação policial mesmo que ainda não seja aberto inquérito - ou com a propositura da ação penal contra a vítima. Evidente­mente, se o inquérito foi instaura­do, somente após o seu arquivamen­to será possível se imputar a alguém o crime de denunciação caluniosa. O mesmo entendimento há de ser usado com relação à ação penal, pois apenas se configura o delito em apreço após o término, com a absol­vição irrecorrível do denunciado, que, por si só, não prejulga o denun­ciante.

Essa também é a orientação do eminente jurista Magalhães N oro­nha, em seu "Direito Penal", Sarai­va, 20ª ed., 1995, voI. 4:

" ... se foi instaurado procedi­mento contra o denunciado, a de-

cisão proferida nesse processo (arquivamento do inquérito ou absolvição final do imputado) de­ve ficar subordinada à relativa ao denunciante. Há perigo de deci­sões antinômicas e, de qualquer modo, risco de prejuízo para a Justiça. Se assim não for, pode acontecer que, julgado primeira­mente o denunciante e sendo ab­solvido, o denunciado, cujo pro­cesso ainda não tocou ao termo, fique prejulgado. Ao contrário, se absolvido o denunciado nem por isso haverá prejulgamento do denunciante, pois, além da ino­cência daquele, é mister demons­trar-se que o segundo tinha ciên­cia dela."

Aqui, sequer foi instaurado inqué­rito policial, nem mesmo oferecida denúncia, não havendo de se cogi­tar do delito em apreço, justamen­te por lhe faltar esse elemento ob­jetivo.

Assim, dou provimento ao recur­so para trancar a ação penal instau­rada contra o ora paciente.

É o voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.216 - SP

(Registro nº 98.0004035-8)

Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Arlindo Joaquim de Souza Advogados: Marco Antonio Volpon Recorrido: Trib unal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo Paciente: Arlindo Joaquim de Souza

268 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

EMENTA: Penal. Processual. Gravação de conversa telefônica por um dos interlocutores. Prova lícita. Princípio da proporcio­nalidade. Habeas corpus. Recurso.

1. A gravação de conversa por um dos interlocutores não é inter­ceptação telefônica, sendo lícita como prova no processo penal.

2. Pelo Princípio da Proporcionalidade, as normas constitucio­nais se articulam num sistema, cuja harmonia impõe que, em cer­ta medida, tolere-se o detrimento a alguns direitos por ela confe­ridos, no caso, o direito à intimidade.

3. Precedentes do STF.

4. Recurso conhecido, mas não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros José Dan­tas, José Arnaldo e Felix Fischer.

Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente e Relator.

Publicado no DJ de 25-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL: Consta dos autos que Arlindo Joaquim de Souza, advogado de uma instituição financeira em São Pau­lo, teve sua conversa telefônica gra­vada pelo outro interlocutor, cujo teor revestia a prática de conduta delituosa.

Representado à autoridade poli­cial, este, de posse das fitas grava­das, determinou a realização de pe­rícia para a degravação das conver­sas. Esta é a inconformação do ora recorrente. Diz ser ilícita a prova produzida, ferindo direito constitu­cional de inviolabilidade da comu­nicação telefônica.

O Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, julgando Recurso em Sentido Estrito interposto contra decisão denegatória de habeas cor­pus, negou-lhe provimento, por en­tender que a produção da prova mostrou-se lícita, nos moldes da nova Lei 9.296/96.

Agora, vem com este Recurso Or­dinário, reiterando as argumenta­ções expendidas na impetração ori­ginária.

O MPF, nesta instância, opina pelo não provimento do recurso.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL (Relator): Senhores Ministros,

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 269

vou resumir-lhes o fato: o paciente, na condição de representante judi­cial de uma empresa privada, ajui­zou várias ações, relativas a débi­tos, contra Marcelo Francisco Calil de Oliveira e sua esposa. Ocorre que, no decorrer das lides, houve contato telefônico entre os réus e o advogado da autora, no caso, o pa­ciente, ocasião em que aqueles, sem o consentimento deste, e mais ain­da, sem qualquer autorização judi­cial, gravaram a conversa, cujo teor revestia a prática de ilícito penal.

Quer agora impedir a degravação da fita, ou se já transcrita, proibir sua juntada aos autos, ou ainda, se já juntada, desentranhar e inutili­zar a transcrição.

N a vigência do direito anterior a 1988, o art. 153, § 9º não previa ne­nhuma exceção ao sigilo das comu­nicações telefônicas. Não fazia, em suma, nenhuma exigência de reser­va de lei. Mas como existem os li­mites imanentes, entendia-se que a interceptação com autorização, nos termos do Código Brasileiro de Te­lecomunicações, era válida. Agora na CF de 1988, há expressa exigên­cia de reserva legal; mais precisa­mente, nela está contemplada uma reserva legal qualificada. Logo, sem lei, a interceptação telefônica cons­titui prova ilícita, inadmissível.

As reiteradas decisões judiciais, principalmente do STF, no sentido de garantir a fiel vontade do poder constituinte, levou o legislador in­fraconstitucional a dar prioridade ao assunto. Elaborou a Lei 9.296/96, com o propósito de regulamentar o inciso XII, do art. 5Q

, da CF.

Diz o art. 1 Q da referida lei:

"Art. 1 º - A interceptação de comunicações telefônicas, de qual­quer natureza, para prova em in­vestigação criminal e em instru­ção penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do Juiz competente da ação prin­cipal, sob segredo de justiça."

Cabe-nos, agora, definir o termo "interceptação telefônica" em senti­do amplo. Para Luiz Flávio Go­mes, "interceptar uma comunicação telefônica não quer dizer interrom­pê-la, impedi-la, detê-la ou cortá-la. Na lei, a expressão tem outro senti­do, qual seja, o de captar a comuni­cação telefônica, tomar conhecimen­to, ter contato com o conteúdo des­sa comunicação" (in "Interceptação Telefônica", pág. 95).

É da sua essência, no sentido le­gal, a participação de um terceiro, uma ingerência externa, no conteú­do da comunicação, captando-se o que está sendo comunicado. Essa in­gerência tanto pode ser feita sem o conhecimento dos interlocutores (interceptação telefônica no senti­do estrito) ou como com o consenti­mento de um dos interlocutores (es­cuta telefônica). Mas uma coisa é certa: ambas, se devidamente auto­rizadas, nos termos da Lei 9.296/96, constitui prova lícita e admissível; se não autorizada, além de não ser ad­mitida como prova, configura crime.

A problemática surge quando se diz respeito à gravação telefônica, que consiste na captação da comu-

270 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

nicação telefônica por um dos comu­nicadores sem o conhecimento do outro. É indubitável que as grava­ções telefônicas estão fora da disci­plina jurídica da Lei 9.296/96. Daí o fato de a doutrina falar em "gra­vações clandestinas".

Existem 02 (duas) correntes ju­risprudenciais a respeito da maté­ria.

A primeira, defendida pelo mes­mo Luiz Flávio Gomes, entende ilícita a gravação telefônica. Para ele, "a Constituição não apenas veda a interferência de um terceiro nas comunicações, senão que prote­ge de modo inequívoco o direito à intimidade. O que cabe realçar na gravação clandestina é a sua sur­presa, o que a torna moralmente reprovável. Uma coisa é expressar o pensamento sem saber da grava­ção, outra bem distinta quando se toma conhecimento dela." (pág. 107).

Essa era, aliás, a posição adota­da pelo STF. Na Ação Penal n Q 307/ DF, relator Ministro lImar Galvão, em decisão plenária, firmou-se o en­tendimento da inadmissibilidade, como prova, de laudos de degrava­ção de conversa telefônica, por ter sido feita com a inobservância do princípio do contraditório e utiliza­da com violação à privacidade alheia. Na ocasião, salientou o Mi­nistro Celso de Mello que "a grava­ção de conversa telefônica com ter­ceiros, feita através de fita magné­tica, sem o conhecimento de um dos sujeitos da relação dialógica, não pode ser contra este utilizada pelo Estado em juízo, uma vez que esse

procedimento, precisamente por realizar-se de modo sub-reptício, envolve quebra evidente de priva­cidade, sendo, em conseqüência, nula a eficácia jurídica da prova co­ligida por esse meio."

Uma outra corrente, mais recen­te, seguida, dentre outros, por Ro­gério Schietti Cruz, admite a li­ceidade da prova obtida por esse meio de gravação telefônica.

Neste STJ, já foi defendida pelo Ministro Eduardo Ribeiro, em voto­vista dado no REsp 9.012/RJ, cuja decisão foi publicada no DJ de 14/ 04/97:

"Importante frisar que não se trata da interceptação da conver­sação alheia, hipótese do RE 85.439 de que foi relator o Minis­tro Xavier de Albuquerque (RT J 84/609). No caso em exame a pro­va foi apresentada por um dos interlocutores.

Tenho para mim que inexiste a pretensa ilegitimidade. Ilícita é a gravação de conversa alheia, o que envolve mesmo a prática de crime. Nenhum impedimento existe, entretanto, a que um dos participantes da mesma queira resguardar-se, mediante o regis­tro fonográfico e, salvo justificá­veis exceções, dele se utilize como prova.

Dir-se-á que, de um modo ou outro, se estará violando o sigilo garantido às comunicações tele­fônicas. O argumento que vai lan­çado, prova, entretanto, demais. A acolhê-la, seria mister reconhe­cer que vedado aos próprios in-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 271

terlocutores revelar o conteúdo da conversa, o que parece absur­do. Entretanto, se se admite pos­sa um deles transmiti-lo a tercei­ro, não se vislumbra por que não lhe seja dado demonstrar, medi­ante o registro feito, que está a dizer a verdade.

(. .. )

Considero que, em regra, quan­do alguém mantém determinada conversação, seja pessoalmente, seja com o uso de meios eletrôni­cos, arrisca-se a ver a mesma di­vulgada, o que configurará, quan­do muito, uma inconfidência, cujo grau de censurabilidade não che­ga a tornar ilícita a prova.

(. .. ) Em suma, o que não se tolera

é a indevida escuta de conversa telefônica alheia, como não se ad­mite a violação de correspondên­cia. Não, a divulgação por quem participou de uma, ou foi desti­natário de outra. E se a divulga­ção, em regra, é tolerável, mais vale se faça de modo a garantir a fidelidade ao que efetivamente ocorre."

É essa a corrente à qual me filio, seguindo, inclusive, entendimento reformado da Suprema Corte no HC 75.338/RJ, julgado em 11 de março próximo.

Entenderam os ministros do STF que a utilização de fita cassete com gravação de conversa entre duas pessoas, sem o conhecimento de uma das partes, não é intercepta­ção telefônica (que envolveria uma

terceira pessoa e só pode ser reali­zada mediante autorização judi­cial), e assim, lícita tal gravação como prova para o processo penal.

O Ministro Nelson Jobim, relator do processo, evocou a questão de não se poder colocar de lado a pro­teção ao interesse do Estado. E afir­ma em seu voto, que "a Constitui­ção não trata da privacidade como direito absoluto. E há momentos em que o direito à privacidade se con­flita com outros direitos, quer de terceiros, quer do Estado". Trata-se da subsunção ao Princípio da Pro­porcionalidade: as normas jurídicas constitucionais se articulam num sistema, cujo equilíbrio impõe que em certa medida se tolere detrimen­to aos direitos por ela conferidos, ou seja, ponderados os direitos em con­flito, prevalece aquele mais valora­do. E continua, "é inconsistente e fere o senso comum - fonte última da proporcionalidade - falar-se em violação do direito à privacidade quando a própria vítima grava diá· logo com seqüestradores, esteliona­tários ou qualquer tipo de chanta­gista."

Apesar da perplexidade que pos­sa causar, esse entendimento não é recente. O STF há muito tempo ad­mite as gravações telefônicas como prova criminal. Posso citar o caso em que o Supremo recebeu a denún­cia contra o ex-ministro Antônio Rogério Magri, em condições seme­lhantes. Na ocasião, o relator, Mi­nistro Carlos Velloso, fez uma dis­tinção entre uma gravação efetua­da por terceiros, que intercepta uma conversa de duas outras pessoas, da

272 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

gravação que se faz para documen­tar uma conversa entre duas pes­soas. Concluiu seu voto, já na épo­ca, que poderia haver, em tal caso, violação a preceitos éticos.

Outro dado jurisprudencial que tive acesso foi aquele quando, já no início deste ano, o deputado Maurí­cio Requião divulgou o conteúdo de conversas telefônicas com funcioná­rios do Ministério da Saúde. Nos diá­logos, ficava evidente que o Minis­tério só liberaria recursos do orça­mento para emendas de parlamen­tares que votassem a favor do go­verno. Nesse caso, a gravação tam­bém foi aceita.

Não é diferente do que entende José Carlos Barbosa Moreira. Para o jurista, "os interesses e va­lores que as inspira não raro entram em conflito uns com os outros, de tal sorte que se torna impraticável dispensar a todos, ao mesmo tem­po, proteção irrestrita." (A Consti­tuição e as provas ilicitamente ad­quiridas, Revista da Fundação Es­cola Superior do MPDFT, Brasília, jul./dez. 1995).

Assim, diante dessas considera­ções, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.

É o voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.223 - SP

(Registro nQ 98.0004690-9)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas

Recorrente: Flávio América Frasseto

Advogado: Dr. Flávio América Frasseto

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Paciente: Joelson dos Santos

EMENTA: Menor infrator. Internação. Art. 122 do ECA.

- Habeas corpus. lncensurabilidade de sua denegação, à míngua da ilegalidade suscitada sobre aplicação da medida a caso outro que não os arrolados naquele dispositivo do Estatuto da Criança e do Adolescente, desde que aplicada como justificada forma de preservação do próprio menor.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 273

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Felix Fischer e Edson Vidigal. Ausente, ocasional­mente, o Ministro José Arnaldo.

Brasília, 16 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.

Publicado no DJ de 18-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: Cuida-se de recurso ordinário contra a denegação de habeas cor­pus assim relatada:

"Menor-Ato infracional simi­lar ao tráfico de entorpecentes. Inconformismo quanto à inter­nação em função da primarie­dade do infrator. Justificada a medida em face da gravidade da infração e circunstâncias pessoais do jovem, que não es­tuda e nem exerce qualquer atividade lícita. Ordem dene­gada.

Voto do Relator.

Habeas corpus impetrado pelo advogado Dr. Renato Isnard Khair em benefício do adolescen-

te Joelson dos Santos, internado por determinação do MM. Juiz de Direito da Infância e Juventude da Comarca de Guarulhos.

Alega o impetrante que a pri­mariedade do paciente e a ausên­cia de violência no cometimento do ilícito autorizam a concessão da liberdade.

Prestadas as informações pela autoridade coatora (f. 16), sobre­veio decisão denegatória da limi­nar (f. 13).

A Procuradoria Geral de Jus­tiça opinou pela denegação da or­dem (fls. 21/22)." - fls. 29.

O recorrente reitera as razões da inicial, pelo que, nesta instância, o Subprocurador-Geral Ribeiro de Bonis é de parecer contrário ao re­curso, conforme ementa:

"Ementa: Recurso em habeas corpus. Internação de menor. Art. 122 do ECA. O art. 122 do ECA elenca algumas das hipóte­ses em que a medida sócio-edu-

. cativa se mostra compulsória, mas não impede sua aplicação a outras situações como forma de preservação do próprio menor." - fls. 5l.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS (Relator): Senhor Presidente, da mesma forma como o parecer se houve em louvores aos fundamen-

274 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

tos do v. acórdão atacado, também eu aos mesmos me reporto:

"Conforme asseverou o V. Ares­to recorrido "a internação, previs­ta no art. 122 do ECA, elenca al­gumas hipóteses em que a medi­da se mostra compulsória, mas não im-pede que seja estendida a outras situações, como forma de preservação do próprio menor".

A atacada medida sócio-educa­tiva, adequadamente dosada, con­siderou a gravidade da infração e, ainda, o fato de que o menor não estuda e nem exerce qualquer ati­vidade laborativa.

Assim, tal como concluiu o V. Julgado da Corte inferior, inócua seria a aplicação de medida mais branda, o que concorreria para estimular a reiteração, já que as condições pessoais do menor e o tipo de infração - tráfico de en­torpecentes - estavam a exigir medidas extremas.

Inocorre, pois, a pretendida ofensa ao art. 59, inc. XXXIX, da Lei Magna. Ao contrário, o sóbrio e regular Decisum apoiou-se nos

artigos 99 e 100 do ECA, em prote­ção à sociedade e ao próprio menor.

Quanto à questão da primarie­dade do ora Paciente, uma vez mais pedimos venia para citar o Venerando Acórdão guerreado, adotando-o como razões de opi­nar, verbis:

"A despeito de sua primarieda­de concluo, como o magistrado atacado, que a medida de in­ternação é a mais adequada, visando a proteção do jovem, com vistas a assegurar-lhe de­senvolvimento sadio, em con­dições dignas, afastando-o do envolvimento infracional, pres­supondo a omissão dos pais e conduta desvirtuada (art. 98, II e lII, do ECA), exigindo a intervenção do Poder Público para restabelecer as condições em que possa desenvolver-se com dignidade, recebendo a educação necessária a viver em comunidade." -fls. 30."­fls. 52/53.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

RECURSO EM HABEAS CORPUS N9 7 A05 - SP

(Registro n 9 98.0019764-8)

Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal

Recorrentes: Marcelo Braz Fabiano e outro

Advogados: Marcelo Braz Fabiano e outro

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 275

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Paciente: Silvia Piantino de Oliveira

EMENTA: Penal. Processual. Prisão em flagrante. Habeas cor­pus. Recurso.

1. O habeas corpus é remédio constitucional que se presta a ampa­rar quem esteja sofrendo violência ou coação em sua liberdade de locomoção, ainda que indiretamente.

2. Não há interesse jurídico àquele que pretende anular o auto de prisão em flagrante, e já foi beneficiado com a liberdade provisó­ria, se existem outras provas veementes de sua autoria.

3. Recurso conhecido e não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros José Dan­tas, José Arnaldo e Felix Fischer.

Brasília, 07 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente e Relator.

Publicado no DJ de 01-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL: Presa em flagrante, após ob­ter vantagem indevida de uma cli­ente, a pretexto de livrá-la da ins­tauração de inquérito junto a um agente de polícia, Sílvia Piantino de Oliveira, advogada, diz, neste ha-

beas corpus, estar sofrendo cons­trangimento ilegal.

Sustenta que o auto de prisão em flagrante é ilegal, uma vez que não estava em situação de flagrância, pois o delito de concussão, que cons­ta na nota de culpa, é de natureza formal. Como a consumação ocorre­ra uma semana antes, ou seja, no momento em que exigiu a indevida vantagem, não poderia ser presa quando recebia o dinheiro de sua cliente. Quer que seja reconhecida a ilegalidade da prisão em flagran­te, bem como a anulação do respec­tivo auto e do ato que arbitrou o pa­gamento da fiança.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo denegou a ordem, sob o argumento de que, com base nas investigações posteriores, o MP Es­tadual denunciou a ora paciente, não pelo crime de concussão, mas pelo crime de tráfico de influência (CP, art. 332), já que afastado o en­volvimento do funcionário da Dele­gacia na exigência do dinheiro. Sen­do crime material, sua consumação

276 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

só se daria com o efetivo recebimen­to da vantagem indevida, admitin­do-se a prisão em flagrante naque­le momento.

Vem agora com este Recurso Or­dinário, reiterando as argumenta­ções expendidas na impetração ori­ginária.

O MPF, nesta instância, opina pelo não provimento do recurso.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL (Relator): Senhores Ministros, a paciente foi presa em flagrante por fatos que, ao que tudo parecia, configurava o crime de concussão (CP, art. 316). Após o pagamento de fiança, obteve o benefício da liber­dade provisória.

O habeas corpus é remédio cons­titucional que se presta a amparar quem esteja sofrendo violência ou coação em sua liberdade de locomo­ção, por ilegalidade ou abuso de po­der. Aqui, não me parece esteja a ora paciente sofrendo qualquer espécie de ilegalidade no seu direito de ir, vir e ficar.

Não vislumbro interesse jurídico, por esta via do habeas corpus, a anular o auto de prisão. Esse docu­mento, já na esfera da persecutio criminis in iudicio, serve, tão-so­mente, para estabelecer os indícios racionais de autoria, pelo menos em

tese. Ocorre que existem outras pro­vas nos autos que a incriminam, como a degravação de conversa te­lefônica, juntada às fls. 85/97, e até suas próprias declarações. Então qual seria o interesse da paciente em anular o referido auto de prisão em flagrante? Pelo menos nos au­tos não consta qualquer prova nes­se sentido.

Parece-me que o que se busca, na verdade, tem cunho puramente eco­nômico, pois a anulação do auto de prisão em flagrante, via de conse­qüência, faria anular o ato que ar­bitrou a fiança em valor considera­velmente elevado, R$ 3.000,00 (três mil reais); e essa pretensão não tem guarida em sede de habeas cor­pus.

Ademais, apenas para efeito de esclarecimentos, devo dizer que, ao contrário do que sustentam os re­correntes, a legalidade da prisão em flagrante tem apoio na adequação entre a efetiva conduta delituosa e a respectiva possibilidade legal. Por outras palavras, a sua ilegalidade somente se configura quando a real conduta delituosa (aqui, o tráfico de influências), e não aquela presumi­da pelos agentes que procederam à prisão (no caso, a concussão), não a admite, por qualquer motivo que seja.

Assim, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.

É o voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 277

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 7.977 - SE

(Registro n Q 96.0077248-7)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas

Relator para acórdão: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Recorrente: Mirena Dantas Fontes Góes

Advogado: Marcello Lavenere Machado

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

Recorrido: Estado de Sergipe

Advogados: José Alcides Vasconcelos Filho e outros

Sustentação Oral: Dr. Marcello Lavenere Machado (p / recte.)

EMENTA: Administrativo - Magistrado - Representação -Admissibilidade sem observância das formalidades legais - Nuli­dade.

- A representação visando a disponibilidade de magistrado está condicionada à autorização estabelecida no § 22, do art. 27, da Lei Complementar n 2 35/79, sem o que deve ser anulado o processo desde aquele momento, a fim de que seja cumprida tal formalida­de.

- Recurso provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e, por maioria, dar-lhe par­cial provimento para anular o pro­cesso. Os Srs. Ministros José Arnal­do, Felix Fischer e Edson Vidigal votaram com o Sr. Ministro Cid Fla­quer 8cartezzini, que lavrou o acór­dão. Votou vencido o Sr. Ministro­Relator.

Brasília, 03 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator para acór­dão.

Publicado no DJ de 13-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: A espécie assim foi relatada pelo Des. Gilson Gois:

278 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

"A doutora Mirena Dantas Fon­tes de Góes, Juíza de Direito em disponibilidade, alegando direito líquido e certo e mediante argu­mentações de existência de cer­ceamento defensivo, vício insaná­vel do v. Acórdão n. 1.026/94, ofensa ao devido processo legal por desrespeito ao princípio da proporcionalidade da pena e de­sobediência decisória aos termos dos artigos 46 e 27 da LOMAN (Lei Orgânica da Magistratura) - Lei Complementar n. 35/79, impetrou mandado de segurança contra ato do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, re­querendo liminarmente a outor­ga judicial imediata de seu retor­no ao exercício da Magistratura na 6ª Vara Criminal desta Capi­tal, e a ratificação desta decisão quando do julgamento final do mandamus.

Anexou instrumento de man­dato, visto às fls. 10, juntando também documentos de fls. 11 a 78 dos autos.

Às fls. 79, verso dos autos, há despacho desta relatoria não co­nhecendo do Mandado de Segu­rança, sob o fundamento de não ser o mesmo cabível contra deci­são do Tribunal Pleno, entenden­do a priori, não conter essa com­petência dentro da definição es­tabelecida no artigo 106, inciso I, letras d e e, da Constituição Es­tadual.

Desta decisão houve interposi­ção de Agravo Regimental pela impetrante, onde ao examinar amiudamente os termos do arti-

go epigrafado, pode-se constatar que, embora a Constituição Es­tadual não faça elencar no seu conteúdo a competência do Tribu­nal Pleno para julgar os Manda­dos de Segurança contra suas próprias decisões, também assim não o proíbe e nem exaure as hi­póteses de cabimento, passando portanto tal competência a ser re­gulada pelo que dispõe a lei ordi­nária correspondente, que é jus­tamente o Código de Organização Judiciária, onde o seu artigo 26, inciso XVI, alínea e, viabiliza o seu conhecimento, pelo que foi então proferida decisão, sob exer­cício do juízo de retratação, tor­nando insubsistente o despacho anteriormente emitido e passan­do então a conhecer da seguran­ça impetrada.

Às fls. 83 dos autos há despa­cho denegativo da liminar pleitea­da no presente Mandado de Se­gurança e determinação para que fosse notificada a autoridade coa­tora para prestar informações.

Em seguida, a Excelentíssima Senhora Presidenta deste Egré­gio Tribunal de Justiça, eminen­te Desembargadora Clara Leite de Rezende, na representação le­gal da legitimação passiva do mandamus, apresentou infor­mações pertinentes a esta rela­toria refutando todas as alega­ções da impetrante, colacionan­do documentos do mesmo jaez e requerendo afinal a denegação do writ. (conf. fls. 87 a 117).

A douta Procuradoria de J us­tiça, instada a se manifestar, apre-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 279

sentou parecer da lavra ilustre do doutor Darcilo Melo Costa, que após minuciosa análise, propug­nou pelo indeferimento da Segu­rança requerida." - fls. 134/35.

Denegou-se a segurança por acór­dão com a seguinte ementa:

"Mandado de segurança - Juíza de direito em disponibilidade -Acórdão atacado - Nulidades -Inocorrência - Ratificação deci­sória.

Denega-se a Segurança impetra­da contra Acórdão do E. Tribunal de Justiça que decidiu pela apli­cação da pena disciplinar de dis­ponibilidade por motivo de inte­resse público à Magistrada, quan­do ausentes quaisquer dos moti­vos alegados na impetração. Le­galidade decisória. Direito líqui­do e certo inexistente. Denegação do writ. Decisão unânime." fls. 133.

Em seu recurso de fls. 147/158, a impetrante reitera as alegações da inicial, tecendo críticas ao julgado, para afinal concluir:

"De tudo quanto se expôs, a con­clusão transparente que resta é a da procedência deste ROMS, por seus fundamentos, devendo ser cassado o acórdão recorrido para se anular o inquérito admi­nistrativo ab initio e por via de conseqüência a decisão nele pro­ferida, retornando de imediato a Recorrente ao exercício de suas funções de juíza.

Se V. Exas. decidirem apreciar o mérito, seja julgado procedente este ROMS para ser concedida a segurança impetrada contra a de­cisão que puniu a Magistrada, sendo a mesma absolvida das acusações que lhe foram imputa­das.

Em última hipótese, e, admitin­do-se apenas para argumentar, apreciando o mérito da punição aplicada, seja considerada des­proporcional a pena de disponi­bilidade a bem do serviço públi­co, e aplicada outra pena de me­nor gravidade guardando confor­midade com a natureza da falta eventualmente cometida." - fls. 157/58.

Contra-razões do Estado a fls. 182/84.

N esta instância, o parecer do Sub­procurador-Geral Wagner de Castro é pelo improvimento do recurso, com forro nas informações da auto­ridade impetrada - fls. 189/92.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS (Relator): Senhor Presidente, a fazer-se melhor resumo da irre­signação da recorrente, esse consis­tiria da colação dos dispositivos ar­rolados sob irrogação de infringidos por cerceamento de defesa, ofensa ao devido processo legal e ao prin­cípio da proporcionalidade da pena (arts. 27 e 46 da Lei Complementar 35/79 LOMAN).

280 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

Ao propósito dessa invocação le­gal, convenha-se que, no quanto foi possível extrair-se da inicial a indi­cação factual de que consistiriam tais irrogações, a todos os v. acór­dãos recorridos responderam pela negativa da ofensa. Confira-se o acer­to com que, em boa técnica, o voto condutor exaustivamente o fez:

"Delineados os parâmetros que igualmente acompanho na iden­tificação da certeza e liquidez do direito pleiteado na via manda­mental, passo a examinar detida­mente os argumentos lançados pela impetrante, sem precedên­cia compulsória de análise de qualquer deles, uma vez que to­dos giram em torno de um cerne único, ou seja, objetivam a nuli­dade do venerável Acórdão n. 1.026/94 da emissão deste Egré­gio Tribunal, que decidiu majori­tariamente pela aplicação da pena de disponibilidade à Magis­trada impetrante.

A impetração sustenta a exis­tência de cerceamento defensivo, vício insanável do referido Acór­dão, ofensa ao devido processo legal por desrespeito ao princí­pio da proporcionalidade da pena e desobediência decisória aos termos dos artigos 46 e 27 da LOMAN (Lei Orgânica da Magis­tratura) - Lei Complementar n. 35/79.

Em sumário histórico indis­pensável, retorno ao versado pa­ra lembrar aos senhores pares que a Corregedoria Geral da Jus­tiça do Estado de Sergipe promo­veu sindicância e posteriormen-

te a Representação n. 01/94 con­tra a Doutora Mirena Dantas Fontes de Góes, Juíza de Direito titular da 6ª Vara Criminal da Comarca de Aracaju (Auditoria Militar), por grave violação dos seus deveres de Magistrada, re­tendo indevidamente e por mui­tos anos inúmeros autos de pro­cessos, como também pelo des­cumprimento de determinações emanadas por superiores hierár­quicos, na forma do que dispõe o artigo 175, I e II da Lei 2.246/79, que instituiu o Código de Orga­nização Judiciária.

Assim, no julgamento do refe­rido processo de Representação, em sessão plenária restou profe­rido o venerável Acórdão, ora ata­cado, que, indeferindo a prelimi­nar de nulidade do processo e re­jeitando a prejudicial de prescri­ção, resolveu no mérito e sob fun­damento no que dispõe o artigo 93, inciso VIII, da vigente Cons­tituição da República, aplicar à representada a pena de disponi­bilidade.

Inicialmente, registre-se por oportuno notar que as alegações que fundamentam o presente man­damus são efetivamente genéri­cas e desprovidas da exigente com­provação de plano, porque a im­petrante limitou-se a atacar fa­tos e procedimentos do julgamen­to, sem contudo conseguir cor­relacioná-los com a lei correspon­dente na demonstração de supos­ta nulidade, senão vejamos:

No que tange à alegação de que o processo estaria viciado por de-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 281

sobediência aos termos dos arti­gos 27 e 46 da LOMAN; tal as­sertiva não tem certamente qual­quer amparo, estando a merecer transcrição os citados dispositi­vos, o que mesmo considerando um tanto quanto enfadonho por ser de literalidade conhecida e in­clusivejá registrado fielmente às fls. 92/3 destes autos pela insig­ne autoridade impetrada, enten­do de necessária repetição neste voto para constatar-se claramen­te que nenhum procedimento ali exigido foi olvidado ou negligen­ciado pelos condutores processan­tes ou julgadores que chancela­ram o v. Acórdão, conforme se vê:

"Art. 46 - O procedimento para decretação da remoção ou disponibilidade de magistrado obedecerá ao prescrito no ar­tigo 27 desta Lei."

"Art. 27 - O procedimento para decretação da perda do cargo terá início por determi­nação do tribunal, ou do seu órgão especial, a que pertença ou esteja subordinado o magis­trado, de ofício ou mediante representação fundamentada do Poder Executivo ou Legis­lativo, do Ministério Público ou do Conselho Federal ou Seccio­nal da Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 1 Q - Em qualquer hipótese, a instauração do processo pre­ceder-se-á da defesa prévia do magistrado, no prazo de 15

(quinze) dias, contados da en­trega da cópia da teor da acu­sação e das provas existentes, que lhe remeterá o presidente do tribunal, mediante ofício, nas 48 (quarenta e oito) horas imediatamente seguintes à re­presentação da acusação.

§ 2Q - Findo o prazo da defesa

prévia, haja ou não sido apre­sentada, o presidente, no dia útil imediato, convocará o tri­bunal ou o seu órgão especial para que, em sessão secreta, decida sobre a instauração do processo, e, caso determinada esta, no mesmo dia distribui­rá o feito e fará entregá-lo ao relator.

§ 3Q - O tribunal ou seu órgão

especial, na sessão que orde­nar a instauração do processo, como no curso dele, poderá afastar o magistrado do exer­cício de suas funções, sem pre­juízo dos vencimentos e vanta­gens até a decisão final.

§ 4Q - As provas requeridas e

deferidas, bem como as que o relator determinar de ofício, serão produzidas no prazo de 20 (vinte) dias, cientes o Minis­tério Público e o magistrado ou o procurador por ele constituí­do, a fim de que possam delas participar.

§ 5Q - Finda a instrução, o

Ministério Público e o magis­trado ou procurador terão, su­cessivamente, vista dos autos por 10 (dez) dias, para razões.

282 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

§ 6º - o julgamento será rea­lizado em sessão secreta do tri­bunal ou de seu órgão especi­al, depois de relatório oral, e a decisão no sentido da penali­zação do magistrado só será tomada pelo voto de dois ter­ços dos membros do colegiado, em escrutínio secreto.

§ 7º - Da decisão publicar-se-á somente a conclusão.

§ 8º - Se a decisão concluir pela perda do cargo, será comu­nicada imediatamente, ao Po­der Executivo, para a formali­zação do ato."

Diante dos textos epigrafados em cotejo com todo o processa­mento da representação, onde es­taria a "desobediência" indigita­da pela impetrante que tivesse o condão de inquinar de nulidade a decisão profligada?

Esta é uma pergunta que nem mesmo a impetrante sabe a res­posta, porque simplesmente não existe, tanto que embora lhe com­petisse, não logrou especificar, uma vez que toda a tramitação foi severa e criteriosamente obedeci­da no processo em relação ao que mandamenta a legislação, tendo a magistrada sido instada, inclu­sive por duas oportunidades, para manifestar-se sobre a devo­lução dos autos, onde ela sim de­sobedeceu às autoridades hierar­quicamente superiores em tal de­terminação, mesmo assim apre­sentou defesa prévia, arrolou tes­temunhas que foram devidamen­te inquiridas, juntou documentos

e apresentou razões derradeiras, exercendo plenamente o seu direi­to defensivo, restando entender tal argumento atacante como uma forma genérica de querer justificar, permissa venia, essa absurda impetração.

Já no que concerne à asserti­va de que foi alvo de cerceamento do direito de defesa, porque teria sido compelida a ajuizar Manda­do de Segurança para ter vista dos autos, mais uma vez que des­moronam as alegações da postu­lante mandamental, primeiro porque, como já dito, sua defesa foi ampla e o pedido de vista na­quele instante, como bemjustifi­cou o ilustre relator Desembar­gador Artur Oscar de Oliveira Déda, "implicaria em subversão da ordem processual", posto que o processo estava em fase proba­tória, sendo ouvidas testemu­nhas, não cabendo vista à impe­trante, mas o que foi feito logo após a referida fase. E segundo porque, o Mandado de Seguran­ça n. 22/94, a que se refere a Ma­gistrada,já foi julgado prejudica­do, através do v. Acórdão n. 249/ 94, cuja cópia ela mesma anexou aos autos às fls. 69 a 72, decisão esta que inclusive já transitou em julgado, restando pois em res ju­dicata, não podendo seu conteú­do ser reapreciado no Mandado de Segurança ora em julgamen­to.

Partindo agora ao exame de outra das alegações feitas no Man-

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dado de Segurança, ou seja, a de que há vício insanável do Acór­dão n. 1.026/94, por não conter em seu bojo a íntegra do respei­tável voto vencido do eminente Desembargador Epaminondas Silva de Andrade e Lima, tem-se mais uma vez a conclusão de que a Magistrada punida e irresigna­da procura a todo custo motivos para a impetração, chegando a associar procedimentos normais como irregulares e ilegais, na vã tentativa de nulificar o v. Acór­dão; porque efetivamente tal afir­mação não procede, posto que o eminente Desembargador, autor do único voto divergente na refe­rida decisão, mesmo com os au­tos remetidos pelo relator para manifestar-se, exerceu tão-so­mente a faculdade de não consig­nar no Acórdão a integralidade do seu voto, não havendo inclusive nenhum ordenamento regimen­tal que imponha tal procedimen­to, por isso apenas chancelou o instrumento e registrou, do pró­prio punho, o seguinte: "consoan­te o voto proferido na sessão ple­nária e devidamente gravado pe­lo sistema de áudio do pleno des­te Egrégio Tribunal de Justiça", conforme consta do Acórdão às fls. 151 dos autos de Representa­ção, apenso a estes autos de Man­dado de Segurança, que também o reproduz às fls. 23.

Outra alegação também sob a atribuição de "vício insanável" é de que o v. Acórdão consigna duas faltas para uma só penalidade, entendendo a impetrante que te­nha aí ocorrido bis in idem e que

na verdade tais faltas giram em torno de um único fato, ou seja, retenção de autos.

Com muita propriedade foi o que disse sobre o assunto o ilus­tre Procurador de Justiça em seu parecer às fls. 127 destes autos "a assertiva, Egrégio Tribunal, é estarrecedora! ... Considerando a reiteração pela impetrante das constantes retenções indevidas de autos de processo e desobe­diência a ordens de superiores hierárquicos, foi a mesma puni­da com disponibilidade. Que tem isso a ver com bis in idem."

Evidente que nada tem a ver, e quanto ao fato único equivoca­se profundamente a impetrante, porquanto a sua punição resulta não só da retenção de autos, que inclusive é ato gravíssimo, dife­rentemente do que tenta demons­trar a Magistrada, porque foram inúmeros processos estancados por vários anos, alguns inclusive por quase um decênio fora da es­fera cartorária a causar prejuízos às partes, enfim, a todos, sem fa­lar ao próprio Poder Judiciário que deve ter higidez na presta­ção jurisdicional e o julgamento está sob sua égide, e tudo isso ocorria por ato isolado, exclusivo e de responsabilidade da Magis­trada impetrante; mas também a sua desobediência contumaz e reiterada, quando instada por dois Corregedores-Gerais da Jus­tiça, nos exercícios dos seus man­datos, que tiveram ordens de de­volução dos autos visceralmente descumpridas pela relutante Ma­gistrada.

284 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

N o que pertine à ofensa ao de­vido processo legal por inobser­vância ao princípio da "propor­cionalidade da pena", argumen­to lançado sob o entendimento da impetrante de que a pena foi se­vera demais, e na verdade injus­ta, porque o que cometeu foi ato corriqueiro e trivial dos Magis­trados em todo o país, irresignan­do-se inclusive a impetrante por­que mesmo sem transitar emjul­gado a decisão já foi logo afasta­da de suas funções judicantes; são alegações que igualmente não podem prosperar.

Ressalte-se por oportuno que esta não é a única representação feita contra a Magistrada-Impe­trante, mas a terceira, onde a pri­meira n. 04/84 teve proferido Acórdão 31/95 onde a mesma foi julgada absolvida e a segunda Representação tombada sob n. 03/89, teve Acórdão sob o n. 271/ 95 onde restou a magistrada con­denada à pena de censura, sob respaldo na norma ínsita no ar­tigo 189, § 22 , do Código de Orga­nização Judiciária do Estado de Sergipe; tendo a terceira, ora em exame, aplicado a pena de dispo­nibilidade diante da gravidade dos fatos apurados e no interes­se da Justiça. (conf autos apen­sos).

Ora senhores Desembargado­res, a retenção indevida de pro­cessos e o descumprimento de de­terminações emanadas por supe­riores hierárquicos são faltas dis­ciplinares de enorme gravidade como ocorrida no caso dos autos,

porque, como já dito em linhas volvidas, não se trata de deixar a Magistrada de proferir alguns despachos, sentenças, ou reter al­guns autos por curto espaço tem­poral, como quer demonstrar, mas simplesmente são inúmeros processos (43), todos da Comar­ca de Aquidabã, de onde a mes­majá havia inclusive saído, e que estavam com quase dez anos de retenção indevida e injustificada, causando prejuízos às partes e maculando evidentemente a ima­gem e reputação do Poder Judi­ciário. E a desobediência às or­dens superiores existiu efetiva­mente, porque tanto o então Cor­regedor-Geral da Justiça, o sau­doso Desembargador Rinaldo Costa e Silva, como este relator, quando ocupou igual cargo, assi­nalaram prazo para que a repre­sentada-impetrante devolvesse os referidos autos de processo, tendo sido a mesma citada sob chancela pessoal e não cumpriu a determinação e nem sequer ofe­receu qualquer justificativa para assim não proceder, sendo por­tanto totalmente inobediente aos seus superiores hierárquicos, me­recendo sem dúvida a pena de disponibilidade que lhe foi apli­cada, não só porque a penalida­de de censura já lhe tinha sido ministrada anteriormente, como pelo fato da pena de remoção lhe ser impossível, vez que, como bem lembrou o relator do v. Acórdão censurado, o problema não esta­va na Vara ou na Comarca, mas em atos próprios da Magistrada a erigir em qualquer delas.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 285

E quanto ao fato de logo após a publicação do acórdão ter sido afastada de suas funçõesjudican­tes foi na verdade uma deferên­cia do Egrégio Tribunal em man­tê-la até tal data, porque na ver­dade, fulcrado no que prevê o ar­tigo 27, § 3º da LOMAN, inclusi­ve já transcrito neste voto, pode­ria a mesma ter sido apartada no curso do processo, assim não agin­do em seu benefício, pelo que não tem a menor procedência tal ar­gumentação.

Assim, a pena de disponibili­dade aplicada à impetrante está perfeitamente coerente com os atos por ela praticados, cuja do­sagem não escapou do que de­monstrou a prova inequívoca dos autos e o que prevê a legislação na espécie, inexistindo cometi­mento de qualquer ato injusto ou ilegal dos membros do Pretório aplicador.

Antes de finalizar, importa em registrar nesta oportunidade o que foi objeto recente de informa­ção trazida a estes autos pela Excelentíssima Senhora Presi­denta do Egrégio Tribunal de Justiça, sobre atitudes da impe­trante, onde, mesmo após sua condição de disponibilidade, ain­da vem a cometer novos atos re­prováveis e de extrema gravida­de contra partes processuais e ao próprio Poder Judiciário, ratifi­cando por demais a exigência le­gal e moral de sua penalidade.

Em resumo, a Vara da Audito­ria Militar é alvo de novas ações da impetrante, que inclusive já é

do conhecimento da Corregedoria Geral da Justiça, onde tramita nova Sindicância para apuração de fatos denunciados no ofício 404/95, subscrito pelo Juiz Audi­tor Substituto Dr. Gilson Félix dos Santos, apontando inúmeras irregularidades cometidas pela impetrante, a exemplo de reten­ção de processos da Auditoria Militar, lançamento no relatório de outros processos como julga­dos, quando sentenças dos mes­mos não existiam, entrada da impetrante nas dependências in­ternas da Vara, inclusive no Ga­binete judicial respectivo, me­diante uso das chaves ainda não devolvidas, entre outras irregu­laridades narradas às fls. 89/91 destes autos.

Diante de tudo isto, é mesmo constrangedora a situação de ver de forma clara e absoluta que a impetrante, uma Juíza de Direi­to, tenha cometido atos dessa na­tureza e se imponha renitente em reiterá-los, inclusive com maior gravidade, não havendo como esta Egrégia Corte, que prima pela moralidade, ética e impar­cialidade de seus ilustres mem­bros em nome do Poder Judiciá­rio e da Justiça, omitir ou negli­genciar o cumprimento da lei."­fls. 136/44.

A partir dessa conferência, cabe concordar-se com o parecer antes referenciado, no quanto se pôs em demonstrar a excelência das infor­mações da autoridade indigitada coatora, verbis:

286 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

"As informações rebatem deta­lhadamente a argumentação de­senvolvida na impetração, calca­da aquela peça em farta docu­mentação a ela acostada, além da que se contém nos apensos, des­tacando-se dela, apenas para não alongar desnecessariamente este parecer, transcrevendo-se, os ex­certos que seguem:

" Ora, todo procedimento foi

cumprido na forma prescrita nos artigos acima epigrafados, tendo a impetrante apresenta­do sua defesa prévia, arrolado testemunhas que foram inqui­ridas, juntando documentos, apresentando razões finais, exercendo a plenitude do seu direito de defesa, poupamo-nos de fazer uma apreciação mais minuciosa, uma vez que não indicou a impetrante como, ou onde, foi desobedecido o proce­dimento estabelecido, limitan­do-se a dizer que 'o procedi­mento rígido estabelecido, es­pecialmente na sua fase de ad­missibilidade, se constitui em garantia do magistrado, que o órgão disciplinar não pode des­considerar. O desatendimento de tais regras, constitui causa de nulidade absoluta do pro­cesso disciplinar ... ', o que, da­ta venia, já é do conhecimen­to deste Tribunal." (fls. 93)

É necessário, a esta altura, fazer alguns esclarecimentos, para que não se pense que este Egrégio Tribunal, aqui repre-

sentado por sua Presidenta, não tenha considerado a gra­vidade da pena de disponibili­dade aplicada à impetrante.

Trata-se da terceira repre­sentação feita contra a Dra. Mirena Dantas Fontes de Góes. N a primeira representação, de n Q 04/84, onde foi proferido o acórdão 31/95, a representada foi absolvida. Na segunda, Re­presentação n Q 03/89, onde foi proferido o acórdão 271/95, a representada foi condenada a pena de censura, com fulcro no art. 189, 2Q parágrafo, do Có­digo de Organização Judiciária do Estado. Na Representação n Q 01/94, cujo acórdão se pre­tende desconstituir por via des­te writ, foi aplicada a pena de disponibilidade, por interesse público, prevista no art. 179, IV, da Lei n Q 2.246, 26 de de­zembro de 1979 (Código de Organização Judiciária de Ser­gipe), diante da gravidade dos fatos apurados e no interesse da Justiça, foi aplicada a pena de disponibilidade, até porque não era possível a aplicação da pena de remoção, pois, como bem demonstrado pelo Relator, o problema não era da Vara ou da Comarca, conforme aduzido no acórdão n Q 1.026/94." (fls. 94)" - fls. 190/92.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

VOTO-VISTA

O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI: Sr. Presidente, cha-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 287

mou-me a atenção nos presentes au­tos a alegação de inobservância do devido processo legal, ao enfoque de que no feito que teve como conse­qüência a colocação em disponibili­dade do impetrante, foi desobede­cido o § 29 , do art. 37, da Lei Com­plementar 35/79 (LOMAN), que reza:

"Findo o prazo da defesa prévia, haja ou não sido apresentada, o presidente, no dia útil imediato, convocará o Tribunal ou seu ór­gão especial para que, em sessão secreta, decida sobre a instaura­ção do processo, e, caso determi­nada esta, no mesmo dia distri­buirá o feito e fará entregá-lo ao relator."

Ao exame da representação em anexo, verifico que esta formalida­de, indispensável a meu ver, para instauração do processo disciplinar não foi cumprida.

Tinha dúvida se essa questão ha­via sido levantada na inicial, que resta afastada no seguinte trecho da exordial, verbis:

"13 - De saída, se constata que foram frontalmente violados os arts. 46 e 27 da LOMAN, lei com­plementar que não poderia ter sido posta de lado. O procedimen­to rígido, ali estabelecido, espe­cialmente a sua fase de admissi­bilidade, se constitui em garan­tia ao magistrado, que o órgão disciplinar não pode desconside­rar. O desatendimento a tais re­gras, constitui causa de nulida­de absoluta do processo discipli-

nar, como reiteradamente tem decidido a instância superior."

No recurso ordinário (fl. 153), fo­ram repisados os argumentos de afronta ao § 29, do art. 27, da LOMAN, nestes termos:

"c} deixou de realizar o juízo pré­vio de admissibilidade da repre­sentação, previsto no art. 27, § 2 Q

,

suprimindo assim 'uma instância ao processo.

Esse Egrégio STJ tem uniforme entendimento jurisprudencial no sentido de considerar nulos os processos administrativos reali­zados contra magistrado em de­sobediência às garantias previs­tas na LOMAN. A título de exem­plo, podem ser mencionados dois acórdãos da lavra do E. Ministro Pedro Acioli, o primeiro prolata­do no ROMS 0166, 1989, publi­cado na RSTJ vol. 10, pág. 196 e o segundo, no MS 3.340-6, Piauí, proc.93.0021344-0.

Nos autos há prova suficiente pela qual garantias fundamen­tais da Recorrente lhe foram sub­traídas, desde a defesa prévia com prazo reduzido, à negativa permanente de acesso aos autos, culminando com a supressão do juízo de admissibilidade, previs­to na LOMAN, perderia a sua im­portância diante da decisão final do Tribunal em aplicar a pena. Não prospera o argumento. A LOMAN ao estabelecer tal sole­nidade impôs uma etapa no pro­cedimento que não pode ser con­siderada, em nenhuma hipótese,

288 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

despicienda. Equivale, mutatis mutandis, àquela estabelecida no art. 83 da CF, como garantia ao Presidente da República em casos de processo por crime de responsabilidade.

Ou se segue e se obedece à LOMAN, único diploma normativo legiti­mado a regular os processos ad­ministrativos contra magistrado, ou se dá prevalência ao direito local. Na primeira hipótese, a au­sência da sessão para se decidir quanto à admissibilidade da re­presentação é supressão de uma garantia, viciadora de nulidade. Representa uma oportunidade de defesa inafastável, ao magistra­do que está sendo acusado em processo."

Ora, a sessão para admissibilida­de da representação é uma formali­dade estabelecida em lei, que não pode ser ignorada, o que ocorrendo, como in casu, acarreta a nulidade do processo.

Não importam os motivos que le­varam o tribunal a aplicar a pena de disponibilidade à Magistrada, pois é questão de mérito, que so­mente, será analisada após a pre­faciaI.

Data venia, entendo deva ser anulado o processo, desde o momen­to da instauração da representação

sem a autorização determinada no § 29 do art. 27, da Lei Complemen­tar 35/79, a fim de que seja cumpri­da tal exigência, qual seja a sessão secreta para que seja decidido so­bre a instauração do processo.

Com estas considerações, dou provimento parcial ao recurso.

É como voto.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO: Com esses esclarecimentos, acompanho, com a devida vênia do Sr. Ministro José Dantas, o Sr. Mi­nistro Cid Flaquer Scartezzini.

VOTO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER: Sr. Presidente, com a devi­da vênia do Sr. Ministro José Dan­tas, acompanho o voto do Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

VOTO- VOGAL

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL: Senhores Ministros, com to­das as respeitosas vênias, acompa­nho o voto do Sr. Ministro Cid Fla­quer Scartezzini.

É o voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 289

RECURSO ESPECIAL N9 125.675 - SP

(Registro n9 97.0021660-8)

Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo

Recorrentes: Oswaldo Boschezzi e outro

Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo

Advogado: Dr. Michel David Asckar

EMENTA: Habeas corpus. Processo Penal. Sentença prolatada. Suspensão do processo. Art. 89, da Lei 9.099/95. Inviabilidade.

- Recurso conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por maioria, conhecer do re­curso, mas lhe negar provimento. Votou com o Relator o Sr. Ministro José Dantas. Votou vencido o Sr. Ministro Felix Fischer. Ausente, justificadamente, os Srs. Ministros Edson Vidigal e Cid Flaquer Scar­tezzini.

Brasília, 07 de outubro de 1997 (data do julgamento).

Ministro JOSÉ DANTAS, Presi­dente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.

Publicado no DJ de 18-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO: Oswaldo Boschezzi e Wanyr Edson Boschezzi, condenados a 8

meses e 5 dias e a 7 meses, de pri­são simples, respectivamente, por violação do art. 58, do Decreto-Lei 6.259/44, interpuseram apelação para o Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, tendo a 11 ª Câmara negado provimento ao recurso por maioria.

Apresentados embargos infrin­gentes, resultaram rejeitados, por maioria, advindo a presente irresig­nação por ofensa ao art. 89, da Lei 9.099/95 e inobservância do inciso XL, do art. 59 da Constituição e do art. 29, do Código Penal, que deter­minam a retroatividade da lei pe­nal benéfica.

É que, segundo os recorrentes, com o advento da Lei 9.099/95, art. 89, é inafastável a indispensabili­dade de remessa dos autos à comar­ca de origem para as providências de que trata referido dispositivo.

Contra-arrazoado pelo Parquet estadual, o apelo foi admitido pela letra a do permissivo constitucional, e, nesta instância, pronunciou-se o Ministério Público Federal pelo co­nhecimento e provimento do recurso.

290 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO (Relator): Os recorrentes foram condenados à pena inferior a 1 ano, nos termos da legislação codificada penal, com o beneficio do sursis.

Interpuseram, então, apelação para fazer incidir a Lei 9.099, de 26.9.95, não lograram, contudo, êxi­to, daí ter insuflado esta instância superior, limitada a irresignação a se conferirem os efeitos da retroa­tividade da suspensão condicional do processo (art. 89).

No REsp 130.775-PR, recorrente o Ministério Público estadual, esta Eg. 5ª Turma, à unanimidade, em sessão de 19.8.97, acolheu o voto que proferi deste teor:

Como se sabe, a Lei 9.099/95 con­sagra inúmeras medidas não só com o evidente intuito de mitigar a incidência de sanções penais a autores de delitos de menor po­der ofensivo, como também de oferecer instrumentos hábeis a fomentar uma política criminal tendente a integrar ou recondu­zir esses infratores ao meio so­cial desde que observadas certas condições.

Preceitua o art. 89, do retro dito diploma legal:

"Art 89 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igualou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei,

o Ministério Público, ao ofere­cer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos ... "

Esse texto é claro, o momento adequado para que seja proposta a suspensão do processo é o da oferta da denúncia.

O il. processualista Júlio F. Mi­rabete entende ainda, no silên­cio da lei, possível a formulação da proposta em outras duas hi­póteses: "quando, após a instru­ção, nos termos do art. 384 do Código de Processo Penal for a imputação desclassificada para crime que pode ser objeto de sus­pensão quando, com a denúncia, isso não era possível"; e "no caso de processo que deva ser subme­tido ao Tribunal do Júri quando a desclassificação ocorre nos ter­mos do art. 410 do citado Estatu­to" (in Juizados Especiais Crimi­nais, Ed. Atlas, 1997, pág. 156).

No sentido, pois, de que a propos­ta de suspensão do processo ocor­ra no momento da apresentação da denúncia, estes julgados do Supremo Tribunal Federal:

"Processo Penal- Suspensão. A incidência da regra prevista no artigo 89 da Lei 9.099/95 pressupõe não haver sido pro­latada, ainda, sentença conde­natória. Visa à suspensão do pro­cesso e, portanto, a evitar sen­tença que imponha ao acusado, considerada pena mínima pre­vista para o tipo igualou infe­rior a um ano, pena restritiva

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 291

da liberdade (RC 74.848-1, 2ª Turma, ReI. Min. Marco Auré­lio, DJ 27.6.97, pág. 30.230)."

"Incabível a suspensão do pro­cesso, reclamada pelo impe­trante com base nas Leis 9.271/96 e 9.099/95, por se tra­tar de fato apreciado por sen­tença anterior ao advento das mesmas (RC 75.200-4 - ReI. Min. Ilmar Galvão, Informati­vo do STF nº 75, de 18.6.97, pág.3)."

Acena-se, agora, com remissão ao disposto no art. 5Q

, inc. XL, in fine, da Carta Magna, a fim de se fazer incidir o art. 89, da Lei 9.099/95 ao processo em curso, com sentença condenatória mantida em 2Q grau, por se constituir em norma mais be­nigna de direito penal e via de con­seqüência, ter eficácia retroativa.

O art. 89, transcrito, estabelece o momento adequado para que seja proposta a suspensão do processo: o da oferta da peça acusatória.

N o art. 90 está dito: "As disposi­ções desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada."

Esses preceitos, frente ao estatuí­do no inc. XL, do art. 5Q

, da Consti­tuição, têm provocado acesas dis­cussões e divergências em doutrina e nos tribunais de todo o país. De­batem-se, então, as correntes: uma, dizendo que os citados dispositivos não se aplicam às normas proces­suais e procedimentais; outra, sem se deter exclusivamente no critério distintivo entre regras processuais e penais de direito material pende

para a aplicação de princípios mais benéficos com vistas a evitar con­trariedade à Constituição, pouco importando se as normas são mis­tas, nesse caso retro agem sempre, atenta ao citado inciso XL: a lei pe­nal não retroagirá, salvo para be­neficiar o réu.

A propósito, adverte o penalista Júlio Mirabete:

"Preferimos entender que o art. 89 somente se refere às normas exclusivamente processuais pois, em tese, o diploma legal refere­se a procedimentos, embora te­nha criado institutos de direito material. Quanto às demais, de caráter substantivo ou misto, de­vem vigorar as normas de apli­cação da lei penal no tempo, o que impõe a aplicação do princípio da lei mais benéfica mencionado, tal como disposto no art. 5Q

, XL, da Constituição Federal e art. 2Q e parágrafo único, do Código Pe­nal" (in Juizados Especiais Cri­minais, Editora Atlas, 1997, pág. 170). E aponta as disposições que não estão alcançadas pelo art. 90: os institutos da composição, tran­sação e suspensão condicional do processo porquanto "permitem, se efetivadas, a extinção da pu­nibilidade, ou seja, a perda do direito subjetivo do Estado de punir (ius puniendi), se consti­tuindo, inclusive, forma de "des­penalização", são regras mais benignas de direito penal, dota­das portanto de retroatividade" ... (ibidem, pág. 170).

292 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

° Colendo Supremo Tribunal Fe­deral, no Inquérito nº 1.055-3-AM, reI. Ministro Celso de Mello, DJ 24.05.96, pág. 17.412, Plenário, unânime, fixou a diretriz de que a composição civil (art. 74, parágrafo único), a transação penal (art. 76), a representação nos delitos de le­sões corporais culposas ou dolosas de natureza leve (arts. 88 e 91) e a suspensão condicional do processo (art. 89), integram as medidas des­penalizadoras e qualificam-se como normas penais benéficas sob o al­cance do princípio constitucional que faz observar a lex mitior, de aplicação retroativa e incidência imediata, arrematando: "Ao alcan­çarem, de forma imediata, ou não, a liberdade do réu, ganham contor­nos penais suficientes a atrair a observância imperativa do dispos­to no inciso XL do rol das garantias constitucionais. "

Em assentada do dia 11.06.96, a 2ª Turma, do STF, unânime, reI. Ministro Marco Aurélio, no tocante à suspensão condicional do proces­so previsto na Lei 9.099/95, enfati­zou o entendimento de ser regra penal substantiva, e sendo mais favorável é de eficácia imediata e re­troativa (HC 73.837-1/GO, DJ 6.9.96, pág. 31.854).

No processo comum, penal ou ci­vil, erigiu-se o princípio da aplica­ção imediata da lei processual. "En­tretanto, preconiza o iI. Prof. Júlio Mirabete, por disposição expressa da lei, pode-se regular a aplicação da lei processual de modo diverso, ou seja, impedir a aplicação da nova lei aos processos já em curso. Foi essa

opção do legislador quanto à Lei 9.099/95, ao determinar que seus dispositivos não fossem aplicados aos processos penais cuja instrução já estivesse iniciada" (ibidem, págs. 168/69).

Atento ao princípio da retroati­vidade benéfica, e ao preceito limi­tador da aplicação da suspensão condicional do processo (art. 90, Lei 9.099/95) parece-me, concessa ve­nia das autorizadas lições de dou­trina e pretorianas em contrário, que até antes de proferida a senten­ça, mesmo em curso a fase instru­tória, possa ser suspenso o processo.

Assim, como para muitos, dentre eles: "o limite natural da aplicação retroativa da suspensão do proces­so está no trânsito em julgado" (Luiz Flávio Gomes - in Suspen­são Condicional do Processo Penal - 2ª ed., 1997, pág. 270), para mim o limite é a lavratura da sentença, sem com isso malferir-se o cânon constitucional da retroatividade be­néfica.

Acentue-se que a decisão pionei­ra, do STF, qual anota o Prof. Júlio Mirabete, de que foi relator o Em. Min. Celso de Mello, "refere-se não a processo em andamento no início da vigência da Lei 9.099/95, mas a inquérito policial (de nº 1.055/AM), quando ainda não se instaurara a ação penal originária com o recebi­mento da denúncia" (mesma obra pág.174).

Com efeito, posteriormente, o STF, pelas suas duas Turmas, HC 74.848-1- 2ª Turma, reI. Min. Mar­co Aurélio e HC 75.204-4 - 1ª Tur­ma - reI. Min. Ilmar Galvão, em

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 293

julgamentos deste ano, condicionou a incidência do art. 89, da Lei 9.099/ 95 a não haver sido prolatada sen­tença condenatória, conforme emen­tas acima transcritas.

Desse modo, afinado com esse en­tendimento, desta 5ª Turma e com o do v. acórdão recorrido e outros do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo e Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, dentre os quais:

Do 1Q): RC 286.754, reI. Damião

Cogan,Ap 008.497, reI. Ricardo Dip; Ap 1.006.899, ReI. Pires Neto; Ap 009.355, reI. Ubiratan de Arruda; Ap. 002.771, ReI. Xavier de Aquino; Ap. 003.175, ReI. Luis Ganzerla;

Do Rio Grande do Sul: Ap 296.011.174 - ReI. Constantino Lis­boa de Azevedo; Ap 295.066.088, ReI. Luiz Armando Bertanha de Souza Leão;Ap 296.007.784, ReI. Luís Car­los Ávila de Carvalho Leite (todos ex­traídos do consagrado compêndio do il. penalista e magistrado Luiz Flá­vio Gomes, "Suspensão Condicional do Processo Penal" - 2ª ed., 1997, págs. 250/54) - conheço do recurso, mas lhe nego provimento.

VOTO- VISTA

o SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER: Exmo. Sr. Presidente, o caso em julgamento trata de matéria polêmica, especialmente após a pu­blicação de dois acórdãos do Supre­mo Tribunal Federal, no sentido de que a Lei 9.099/95 não poderia ser

aplicada após a sentença, ainda que não trânsita em julgado.

Neste Órgão Julgador, já se deci­diu, sob a relatoria do Exmo. Sr. Mi­nistro José Arnaldo da Fonseca, as­sim como sob a minha relatoria, em sentido contrário. Julgou-se, naque­las ocasiões, que a Constituição Fe­deral não permitiria essa limitação imposta pelo Supremo Tribunal Fe­deral. Então, por força do art. 5Q

,

inciso XL, da Constituição Federal e do art. 2Q

, do Código Penal, não havendo trânsito em julgado, dever­se-ia possibilitar a aplicação daque­las normas mistas, pertinentes a cada caso, da Lei dos Juizados Es­peciais Criminais, sobrestando-se, assim, os efeitos da decisão aqui atacada.

VOTO-VOGAL

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: Senhores Ministros, com a devida permissão do Sr. Ministro Felix Fischer, acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, pois tenho em mãos o último pronunciamento do Tribunal Pleno do Supremo Tribu­nal Federal, que diz o seguinte:

"Suspensão condicional da pena. Lei 9.099/95. Inaplicabili­dade se quando se iniciou a vi­gência da lei que a instituiu já havia sentença condenatória."

Não se fala em decisão transita­da em julgado. É a mais nova pu­blicação, de 10.09.97.

294 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

RECURSO ESPECIAL Nº 140.899 - PR

(Registro nº 97.0050589-8)

Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo

Recorrente: Ministério Público do Estado do Paraná

Recorrido: Romildo de Oliveira (preso)

Advogado: Argemiro Rocha de Oliveira Filho - defensor

EMENTA: Latrocínio praticado com o concurso de menor. Lei 2.252/54, art. 1 ~

- Delito de corrupção de menor configurado. Crime de perigo. Presunção decorrente do próprio texto legal. Tutela penal de moralidade dos menores contra a corrupção penal.

- Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento para condenar o réu, Romildo de Olivei­ra, também pelo crime de corrupção de menor, aplicando-lhe a pena de 1 (um) ano de reclusão no mínimo legal, por ser menor de 21 anos e não constarem maus antecedentes, confirmadas as demais cominações. Votaram com o Relator os Srs. Minis­tros Felix Fischer, Edson Vidigal, José Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília, 17 de março de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.

Publicado no DJ de 27-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO: O Ministério Público do Estado do Paraná, irresignado com a deci­são do Tribunal de Justiça que, con­firmando a sentença que condenou Romildo de Oliveira à pena de 20 anos de reclusão, em regime fecha­do, pela prática de latrocínio (art. 157, § 3º, do CP), absolveu-o da acu­sação de corrupção de menor - re­corre com base nas alíneas a e c, inc. lU, art. 105, da Constituição, sus­tentando, em resumo, violação ao art. 1 Q, da Lei 2.252/54 e divergên­cia jurisprudencial, porquanto a "simples associação do adulto a um menor para a prática do delito, é o bastante para caracterizar o fato típico previsto na Lei 2.252, de 1954, porque praticar infração pe­nal na companhia de menor ou in­duzi-lo a praticá-Iajá é corrompê-lo."

Admitido, vieram os autos e aqui, oficiando, o Ministério Público Fe-

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deral posicionou-se em favor do pro­vimento do apelo.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO (Relator): A sentença condena­tória, mantida pelo aresto recorri­do, está vazada, no tópico que im­porta, nestes termos (fls. 228/29):

"Quanto ao crime de corrupção de menores, por ter o Réu praticado o crime com o adolescente Eloir Vieira, de 16 anos de idade, en­tendo, que não se configura.

"O réu possui 18 anos de idade, nasceu em 03 de Dezembro de 1979 - certidão de nascimento de f. 23 ...

"cumpre reconhecer que o réu com pouco mais de 18 anos e o adolescente Eloir com mais de 16 anos, são praticamente da mes­ma idade, agiram com equivalên­cia comportamental, ressai dos autos que eram companheiros, andavam juntos, este freqüenta­va os mesmos lugares que aque­le, não dispensou o adolescente a ingestão de bebida etílica e o uso de substância entorpecente (ma­conha), de modo que, resulta de­monstrada sua independência volitiva, (ver depoimento de f. 40 e verso). Mais, o Réu disse que logo de início, ainda na frente do bar, onde encontraram a vítima caída, revistaram seus bolsos, o adolescente subtraiu da vítima um canivete e um pedaço de fumo em corda.

"Argumenta o douto Promotor de Justiça nas alegações finais, com a natureza formal do delito da lei especial. Registra-se, porém, que o Egrégio STJ, ao contrário do Egrégio STF, considera o delito de corrupção de menor essencial­mente material. Aqui, veja-se que declarou José Vieira (fl. 14) "na madrugada do dia 19/02/96 - 2ª feira, por volta das 3:30 horas, o depoente encontrava-se em sua casa, quando foi acordado por seu irmão e Romildo, sendo que os mesmos estavan1 chorando ... " Con­clui-se, pois, que a reação de am­bos à prática do crime foi seme­lhante. Considero ainda, que o adolescente não possuía passa­gens pelo Juizado da Infância e Juventude, mas o réu, por igual, é primário, não possui anteceden­tes desabonadores, consta que sempre trabalhou, incursiona­ram juntos pela primeira vez pelo mundo do crime. Inclino-me, pois, pela absolvição do réu quan­to ao crime do artigo 1 Q da Lei 2.252/54, por entender que não resultou comprovado à suficiên­cia." (fls. 108/109)."

Não há dúvida de que o recorrido perpetrou o crime de latrocínio com o adjutório do adolescente, caracte­rizada aí a conduta ilícita penal des­crita no art. 1 Q, da Lei 2.252/54.

Não se ignora a antiga e inafas­tada divergência acadêmica e pre­toriana acerta da inteligência do referido dispositivo legal. Para uns, trata-se de crime material, ou seja, não comprovado que o menor fora corrompido pelo réu, a conduta des­te é atípica sob o ponto de vista enun-

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ciado no predito preceito de lei es­pecial. Para outros, é desnecessária a prova de que o menor ainda não estava corrompido anteriormente.

Induvidosamente, a presunção, até prova em contrário, é de que todo menor tem bons costumes. Por outro lado, a Lei 2.252/54 objetiva, essencialmente, proteger os meno­res, ao estabelecer:

"Constitui crime, punido com a pena de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa de mil cru­zeiros a dez mil cruzeiros, cor­romper ou facilitar a corrupção de pessoa menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando infração penal ou induzindo-a a praticá­la."

Depreende-se do aí preconizado que o objetivo da tutela penal é a moralidade dos menores na área das condutas delitivas.

No caso em exame, ocorreu o con­curso de pessoas, do recorrido com o menor, para a prática da infração penal, o roubo qualificado.

Colhe-se parte do voto do Minis­tro Costa Lima, no REsp 2.173-PR, em que traz a cotejo a corrente de idéias que adota a orientação no sentido de que "a corrupção por ini­ciativa ou induzimento dispensa qualquer indagação post factum: presume juris et de jure a corrup­ção (fls. 4 a 7):

"Por outro lado, o art. 1 Q da Lei n Q 2.252, de 01/07/54 é norma es­pecial, que não revogou a geral (art. 218, do CP).

E. Magalhães Noronha (Direi­to Penal, vol. 3, pág. 178, da 18ª ed., 1986), enfatiza:

"É visível que o objeto dessa lei foi prover de maior tutela os interesses do menor, coibindo a prática de delito, em que existe exploração sua, ou me­lhor, de infrações (crime ou contravenção), em que há in­tervenção de menor de dezoito anos. Em face dessa lei, quem pratica infração em companhia de menor, além das penas do crime ou da contravenção, co­meterá também o delito do art. 1 º. Assim, por exemplo, quem furtar, juntamente com menor, não só incidirá nas penas do furto, mas também nas do re­ferido dispositivo, há duas ob­jetividades jurídicas violadas - a posse da coisa móvel e a preservação dos costumes do menor. A regra será a do con­curso formal."

A Lei nº 2.252/54, de forma clara diz que o delito se constitui em "corromper ou facilitar a corrup­ção de pessoa menor de 18 anos, com ela praticando infração pe­nal ou induzindo-a a praticá-la."

Nelson Hungria ("Comentários, VIII/192) lembra que a corrupção por iniciativa ou induzimento dispensa "qualquer indagação post factum: presume juris et de jure a corrupção".

A jurisprudência de vários Tribu­nais de Justiça se inclina tanto no sentido do acórdão quanto não.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 297

Porém, o Supremo Tribunal Fe­deral possui entendimento firme sobre o tema como passo a de­monstrar:

Corrupção de menores. Código Penal, artigo 218. Tratando-se de delito formal, prescinde-se, para sua configuração, da pro­va da efetiva corrupção. A con­junção carnal incluindo-se en­tre os atos de libidinagem com­preendidos no alcance da nor­ma; no caso, como um plus na corrupção.

Precedentes do STF.

Recurso Extraordinário conhe­cido e provido. (RECr n Q

98.767-PR, ReI. Min. Oscar Corrêa, pub. DJ de 01.07.83, pág. 10.000).

No RECr, do mesmo Estado do Paraná, o Relator Ministro Oscar Corrêa acolheu parecer do profes­sor Assis Toledo, hoje ilustrando esta Turma e este ST J, de onde destaca os seguintes lances:

"Enquanto o acórdão impugna­do exige a prova de que o me­nor não se achava anterior­mente corrompido, para ense­jar a condenação, os paradig­mas presumem a não corrup­ção do menor, embora admi­tam a prova de sua anterior corrupção. À primeira vista, parece que os paradigmas, ao condenarem o corruptor, se este não provar que o menor já era corrompido, estejam atentando contra a consagra-

da presunção de inocência que guarnece o imputado. Mas isto não se dá, sob pena de criar-se uma presunção de corrupção em detrimento de todo inimpu­tável. Nisto reside a maior crí­tica ao acórdão recorrido, cuja tese pressupõe esta insusten­tável presunção contra o me­nor.

A tese atacada, sem negar vi­gência à lei, inviabiliza sua aplicação na prática, na medi­da em que, se é difícil ao im­putado provar a prévia corrup­ção do menor, é quase sempre impossível provar a não cor­rupção, a inocência ou os bons antecedentes de alguém, por isto mesmo ordinariamente presumidos na falta de prova em contrário. O provimento do apelo raro pelo dissídio juris­prudencial, impondo a melhor jurisprudência ao caso, não cerceará o julgador na criterio­sa apreciação das circunstân­cias de cada hipótese que po­dem, efetivamente, excluir o crime, se restar provado que a prática ou o induzimento da prática de infração penal com e pelo menor nada acrescentou à sua previa corrupção." (fls. 133/134).

E concluiu o Relator:

"N a verdade, o acórdão recor­rido praticamente inverteu o sentido da presunção de ino­cência: ao invés de admitir que os menores são inocentes, sal-

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vo prova em contrário, prati­camente admitiu que são cor­rompidos, salvo prova da ino­cência.

o fato de terem freqüentado o baixo meretrício não prova a corrupção, e, menos ainda, o aprendizado no crime, que constituiu, por certo, a parti­cipação no estupro, a que os levaram os réus." (fl. 135).

o Ministro Carlos Madeira pro­ferindo voto no RECr n Q 109.099-PR (RTJ voI. 119/866) relembrou:

Todavia, como assinala Hele­no Fragoso, "toda corrupção é moral, já que a perversão fí­sica envolve sempre uma sub­versão de princípios morais". Como diz Manzini, a corrup­ção concretiza-se sempre numa modificação essencialmente moral.

E acrescenta:

"Contrariamente ao que dispu­nha nosso Código anterior (ins­pirado no Código Zanardelli), não se exige, para a consuma­ção do crime, que sobrevenha a efetiva corrupção da vítima, que é sempre presumidajuris et de jure da prática de qual­quer das ações típicas constan­tes da descrição legal do crime. Não aproveitará, assim, ao agente, a prova de que, in con­creto, não correu, absoluta­mente, a corrupção da vítima.

Por isso, afirma Manzini, que este é crime de perigo". (Lições de Direito Penal, volume lU, pág.25).

A Corte tem sufragado tal en­tendimento, como se vê dos acórdãos nos HC 46.272-PE (RTJ 49/534), Relator Ministro Luiz Gallotti, RE 73.651-SP, Relator Ministro Thompson Flores (RTJ 62/520), RE 77.794-SP, Relator Ministro Antônio Neder (RTJ 76/789) e RE 92.797-MG, Relator Minis­tro Néri da Silveira (RTJ 103/ 243).

Por tais razões, conheço do re­curso e lhe dou provimento, para restabelecer a sentença de primeiro grau.

Mais recentemente, o mesmo STF voltou a reiterar que a cor­rupção de menores é delito for­mal e para sua configuração pres­cinde-se da prova da efetiva cor­rupção (RECr nº 114.019-PR, in RTJ 126/1.097-1.099 - ReI. Min. Célio Borja)."

Por fim, transcreve-se trecho do parecer do então Procurador de J us­tiça, hoje compondo, com brilho, esta Corte, o Min. Felix Fischer, na AC 43.247-7, TJ/PR (fls. 155/156):

"Cumpre destacar, igualmente, que é praxe combater o recurso às presunções na área penal. Mas, mesmo neste tópico, a quaestio se apresenta fora dos parâmetros pertinentes. De um lado, fala-se, por exemplo, em odiosa presun-

R. Sup. Trib. Just., Brasília. a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 299

ção de violência nos delitos con­tra os costumes, todavia a expres­são, aí, é indevida (v. o moderno CP português), como destaca João Mestieri (in "O Estupro"). Tan­to que a denominada hipótese de presunção tem que ser coberta pelo dolo (o que existe é exten­são de norma de proibição e não presunção, apesar do nomem iu­ris, que não é elemento decisivo da interpretação teleológica). De outro, é a presunção de perigo que, limitada e minimizada se apresenta como incriminação, por vezes, indispensável (o uso exagerado, pelo legislador, é que pode mostrar-se odioso).

Ultrapassados estes itens, é de se acentuar que o tipo subjetivo, na corrupção de menores, se esgota no dolo. Tanto numa forma como noutra, tem-se o chamado tipo congruente (cfe. E. R. Zaffaroni). Não há que se falar de especial

fim, tendência peculiar, transcen­dência, etc. Basta que o agente tenha vontade e consciência de realizar uma das formas que in­dicam a corrupção ou a facilita­ção da corrupção. E, para tanto, a consciência atual, exigida no dolo, envolve a co-consciência (cfe. Teresa P. Beleza, Jacobs, Jes­check, entre outros) ou certo grau de atualização incorporada (E. R. Zaffaroni). É suficiente que o sujeito ativo saiba, de for­ma até difusa (Teresa P. Bele­za), que o sujeito passivo é menor."

Ante o exposto, conheço do recur­so e lhe dou provimento para con­denar o réu, Romildo de Oliveira, também pelo crime de corrupção de menor, aplicando-lhe a pena de um ano de reclusão no mínimo legal, por ser menor de 21 anos e não cons­tarem maus antecedentes, confir­madas as demais cominações.

RECURSO ESPECIAL Nº 155.426 - SP

(Registro nº 97.0082293-1)

Relator: O Sr. Ministro Felix Fischer

Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo

Recorrido: Altair Assunção Reis

Advogado: Humberto da Silva Monteiro

EMENTA: Penal e Processual Penal. Lei nº 9.099/95. Suspensão condicional do processo. Oferta. Iniciativa.

I - Incumbe ao Ministério Público a proposta de suspensão con­dicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95 c/c o art. 129, inci-

300 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

so I e § 2 9 da Carta Magna), não podendo em princípio, ser esta realizada pelo julgador.

11 - Na hipótese de divergência entre juiz e promotor acerca da oferta da suspensão, os autos devem ser, por aquele, encaminha­dos ao Procurador-Geral de Justiça.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram de acordo os Ministros Edson Vidigal, José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e José Arnaldo.

Brasília, 17 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro FELIX FISCRER, Relator.

Publicado no DJ de 18-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER: Trata-se de recurso inter­posto, com fulcro no art. 105, inciso III, alíneas a e c da Carta Magna, pelo Ministério Público contra v. acórdão do egrégio Tribunal de Al­çada Criminal do Estado de São Paulo. A par do dissídio, alega-se negativa de vigência do art. 89 da Lei n Q 9.099/95. O recurso objetiva a reforma do v. acórdão recorrido

para que o egrégio Tribunal a quo, examine o mérito da apelação (na qual se asseverou nulidade).

O retrospecto está delineado às fls. 524/525, in verbis: "Altair As­sunção Reis foi condenado por in­fringência aos arts. 121, C.c. o 70 (duas vezes), e 129, § 69 , C.C. 70 (três vezes), todos do CP, à pena de um ano e dois meses de detenção, con­vertida em restritiva de direito com a suspensão para direção de veícu­los automotores pelo mesmo prazo.

Tendo o mesmo recorrido, a Séti­ma Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo converteu o julgamento em diligên­cia para que se procedesse à aplica­ção do art. 89, da Lei 9.099/95.

Baixando os autos à origem, o Mi­nistério Público do Estado de São Paulo, com tais argumentos, deixou de propor a suspensão condicional do processo (fls. 407/409):

"No caso dos autos, o réu agiu com imprudência acentuada. In­vadiu a pista contrária realizan­do ultrapassagem perigosa. Como resultado, acabou por matar duas pessoas. E mais, uma das vítimas sobrevivente sofreu lesões gravís­simas que lhe ocasionaram defor­midade permanente (fls. 59/61).

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 301

Interrogado, o réu não demons­trou possuir qualquer arrependi­mento por sua conduta (fls. 181).

Assim, a personalidade do réu e as conseqüências de sua condu­ta não o fazem merecer a suspen­são condicional do processo."

De volta o feito ao Tribunal deAl­çada, a própria turma julgadora, por votação unânime, ofertou a pro­posta de suspensão do processo, por 4 (quatro) anos.

Embargos foram opostos pelo Mi­nistério Público, entretanto, rejei­tados. Assim aduziu o Juiz relator (fls. 433):

"Comissão Nacional, instituída pela Escola Superior da Magis­tratura para estudo interpretati­vo da Lei n Q 9.099/95 e presidida pelo erudito Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, concluiu que: "se o Ministério Público não ofe­recer proposta de transação pe­nal de suspensão do processo nos termos dos arts. 79 e 89, poderá o juiz fazê-lo".

o Ministério Público do Estado de São Paulo interpõe, então, recur­so especial com fundamento no art. 105, In, a e c, da CF sustentando negativa de vigência ao art. 89, da Lei 9.099/95. Apresenta julgado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que dissente do acórdão atacado e requer, ao final, o retor­no dos autos para que o Tribunal a quo examine o mérito da apelação."

A douta Subprocuradoria Geral da República se pronunciou pelo co­nhecimento e provimento do recur­so.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CHER (Relator): O caso, como se percebe, teve um desenrolar confu­so em matéria que não é das mais claras ou, então, não é daquelas pa­cíficas.

Em primeiro lugar, a própria con­versão em diligência, já existindo sentença condenatória anterior à Lei n Q 9.099/95, é uma solução que não merece aceitação na recente ori­entação do Pretória Excelso (v.g. HC 75.546-1,1 ª Turma, DJU de 26/9/97, pág. 47.4 78, relator Ministro Morei­raAlves; HC 75.575, 1 ª Turma, "In­formativo STF" 95, relator Ministro Sydney Sanches; HC 74.305-SP, Ple­nário, Informativo n Q 57) e na des­ta Corte (REsp 133.134-PR, 5ª Tur­ma, DJU de 15/12/97, pág. 66.500, relator Ministro Cid Flaquer Scar­tezzini; REsp 118.518-SP, DJU de 22/9/97, pág. 46.568, relator Minis­tro Fernando Gonçalves).

Em segundo lugar, o texto de lei é claro ao indicar que a suspensão condicional do processo é uma tran­sação. Pode haver, ou não (sem ar­bitrariedade), a oferta. E, esta pode não ser aceita ou, ainda, pode não ser homologada. Entretanto, não compete ao julgador realizar a ofer­ta quando houver divergência de avaliação entre ele e o agente do

302 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

Parquet. Por via de conseqüência, é incabível que tal iniciativa ocorra em segundo grau. Dessarte, como é atribuição do Ministério Público (art. 89 da Lei nº 9.099/95 c/c o art. 129, inciso I e § 2º da Lex Maxi­ma), a oferta da suspensão, a even­tual discrepância entre as aprecia­ções deve ser resolvida, em princí­pio, com aplicação analógica do art. 28 do Cpp (cf. HC 75.343-MG, Ple­nário-STF, relator p/ o acórdão Mi­nistro Sepúlveda Pertence, "Infor­mativo STF", nº 92 e RHC 5.664-SP,

5ª Turma-STJ, DJU de 18/11/96, pág. 44.904, relator Ministro José Arnaldo da Fonseca).

Assim, a oferta da transação, no caso, não pode subsistir. Ela, in casu, nega vigência, quase literal, ao art. 89 da Lei n Q 9. 099 / 95.

Voto, pois, pelo conhecimento e provimento do recurso para que o egrégio Tribunal a quo examine o mérito da apelação, sem exclusão da remessa dos autos a Sua Excelência, o Sr. Procurador-Geral de Justiça.

RECURSO ESPECIAL Nº 156.176 - SP

(Registro nº 97.0083892-7)

Relator: O Sr. Ministro Felix Fischer

Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo

Recorrido: Ademilson da Silva - menor impúbere

Representado por: Sebastiana Fátima da Silva

Advogado: Ronaldo Cardoso de Souza

EMENTA: Estatuto da Criança e do Adolescente. Recurso espe­cial. Remissão e medida sócio-educativa.

A remissão concedida pelo Parquet pode vir a ser acompanha­da de medida provisória sócio-educativa aplicada pelo juiz, ob­servado o disposto no art. 127 do ECA.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo-

tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Ministros Edson Vidigal, José Dantas, Cid Fla­quer Scartezzini e José Arnaldo.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 303

Brasília, 17 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro FELIX FISCHER, Relator.

Publicado no DJ de 18-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CHER: Versam os autos sobre re­curso especial interposto, com ful­cro no art. 105, inciso IH, alíneas a e c da Carta Magna, pelo Ministé­rio Público do Estado de São Paulo contra v. acórdão do egrégio Tribu­nal de Justiça local, em sede de re­missão do ECA.

O retrospecto está às fls. 97, in verbis:

"Ademilson da Silva, por ter, juntamente com Sidnei Hernan­des Medina, subtraído 65 latas de cerveja importada da residência da vítima José Martins Filho, teve concedida a remissão, sen­do, na oportunidade, aplicada medida sócio-educativa de liber­dade assistida, pelo prazo de seis meses, com fulcro nos artigos 112, inciso IV, c/c art. 118, do Estatu­to da Criança e do Adolescente.

Inconformado, apelou plei­teando a reforma da decisão ale­gando, em síntese, ser incabível a aplicação da remissão cumula­tivamente com medida sócio-edu­cativa. Aduziu, ainda, ter havido cerceamento de defesa.

Na apelação, o tribunal acor­dou, por unanimidade, dar pro-

vimento ao recurso para o fim de cancelar a medida sócio-educati­va de liberdade assistida, subsis­tindo a remissão pré-processual como forma de exclusão do pro­cesso.

Irresignado, o Ministério PÚ­blico opôs embargos declaratórios rejeitados, por votação unânime, em v. acórdão fundamentado às fls. 77/78.

Sobreveio, então, o presente recurso, no qual se alega ofensa ao art. 127, da Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990, além de dissídio jurisprudencial."

No v. julgado que apreciou a ape­lação consta:

"O Dr. Promotor de Justiça que oficiou nos autos concedeu remis­são com a medida de liberdade assistida por seis meses, o que foi homologado pelo MM. Juiz, que aplicou a medida apontada pelo Dr. Promotor de Justiça.

Realmente, a remissão pré­processual não se harmoniza com a aplicação de medidas sócio­educativas porque aquela, no caso, é perdão e forma de exclu­são do processo (v. art. 126, ECA).

A remissão como forma de sus­pensão ou extinção do processo é forma de mitigação das conse­qüências do ato infracional, e só poderá ser aplicada pelo Juiz com observância do devido processo legal, onde o menor tenha asse­gurados todos os seus direitos, in­clusive o da ampla defesa.

304 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

Assim, a remissão concedida pelo Dr. Promotor de Justiça se­ria perdão, sendo forma de exclu­são do processo e, ao mesmo tem­po, mitigação das conseqüências do ato infracional praticado pelo menor o que, sem dúvida alguma, é contraditório.

Ademais, a aplicação da medi­da sócio-educativa de liberdade assistida resulta nula por inob­servância do devido processo le­gal e desrespeito ao princípio do contraditório e ampla defesa (arts. 110 e segts. e 207, ECA).

No entanto, impossível a ofer­ta de representação contra o re­corrente - situação mais gravosa ao adolescente - para que não ocorra a reformatio in pejus.

A solução adequada e viável na hipótese dos autos, é o cancela­mento da medida sócio-educati­va aplicada." (Fls. 66/67).

Foram opostos embargos de de­claração que mereceram a seguinte apreciação, in verbis: "O magistra­do não está adstrito à fundamenta­ção adotada pela parte. Está vincu­lado, sim, aos fatos narrados. A ma­téria questionada nos autos foi de­cidida com base nos fundamentos que se entendeu pertinentes ao caso.

"O Juiz não está obrigado a res­ponder todas as alegações das par­tes, quando já tenha encontrado mo­tivo suficiente para fundar a deci­são, nem se obriga a ater-se aos fun­damentos indicados por elas e tam­pouco a responder um a um todos os seus argumentos." (RJTJESP 115/207).

De se notar, apenas, que o dispo­sitivo legal sobre o qual se assenta o decidido é mais amplo do que aqueles enfocados pelo ora Embar­gante. O art. 189, ECA, não restrin­ge a fase processual para concessão da remissão, não se admitindo in­terpretação restritiva de direitos onde a lei não restringe.

Ademais, se o ora embargante não concorda com a fundamentação adotada no V. Acórdão, a hipótese não é de embargos declaratórios, sendo nítido o caráter infringente dos embargos opostos.

Em síntese, não há no acórdão obscuridade, dúvida ou contradição e nem omissão, na medida em que a matéria foi conhecida e objeto de apreciação e julgamento. Tanto é verdade que o ora Embargante o compreendeu." (Fls. 77/78).

Daí o recurso. A douta Subprocu­radoria Geral da República se pro­nunciou pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER (Relator): Realmente, apesar da terminologia escolhida no termo de remissão (fls. 15), é inegável que, por ocasião do referido perdão pré­processual, o Parquet pode indicar ou sugerir a aplicação de medida sódio-educativa, observado, é claro, o disposto no art. 127 da Lei n Q

8.069/90.

In casu, a medida foi a da liber­dade assistida que, primo icter occuli dentro dos limites legais, por

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 305

si, não causa nenhum constrangi­mento às atividades do menor. Aliás, a medida sócio-educativa propria­mente dita, de mera observação e não como pensam alguns, uma pena.

E, no presente caso, como foi en­fatizado nos embargos de declara-

ção, a contestada medida só veio a se efetivar através de ato jurisdicio­nal (cf. fls. 16).

Voto, portanto, pelo conhecimen­to e provimento do recurso, resta­belecendo-se a decisão de primeiro grau.

RECURSO ESPECIAL Nº 160.264 - PR

(Registro nº 97.0092553-6)

Relator: O Sr. Ministro FeZix Fischer

Recorrente: Ministério Público do Estado do Paraná

Recorrido: Ezequiel Pereira de Jesus (preso)

Advogado: Cila Viana Pereira

EMENTA: Penal. Recurso especial. Tentativa de estupro. Crime hediondo. Sursis.

I - O estupro, tentado ou consumado, em qualquer de suas modalidades, é crime hediondo.

11 - A pena privativa de liberdade, quando de sua execução, deve obedecer ao disposto no art. 2º, § 1 º da Lei 8.072/90.

11 - Desde que preenchidos os seus requisitos, o sursis pode ser aplicado a ilícito penal qualificado de hediondo.

Recurso conhecido e parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimen­to, nos termos do voto do Ministro­Relator. Votaram de acordo os Mi-

nistros Edson Vidigal, José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e José Ar­naldo.

Brasília, 17 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro FELIX FISCHER, Relator.

Publicado no DJ de 11·05-98.

306 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CHER: Versam os autos sobre re­curso especial interposto, com ful­cro no art. 105, inciso.JII, alíneas a e c da Carta Magna, pelo Parquet paranaense contra v. acórdão do egrégio Tribunal local, em sede de configuração, ou não, da tentativa de estupro como crime hediondo.

O retrospecto está às fls. 168, in verbis:

"Alega o recorrente que a de­cisão impugnada não poderia conceder a suspensão condicional da pena ao condenado, posto que o estupro, em qualquer de suas formas, é crime hediondo, de sor­te que incidiria à espécie o artigo 2º, parágrafo 1 º, da Lei 8.072/90, a impor o cumprimento da pena em regime integralmente fecha­do.

Aponta contrariedade ao arti­go 213 do Código Penal e aos ar­tigos 1 º, inciso V, e 2º, parágrafo 1 º, da Lei dos Crimes Hediondos.

Aduz, ainda, divergência ju­risprudencial com julgado dessa C. Corte de Justiça."

Diz a ementa do v. acórdão repro­chado, a saber:

"Estupro - Tentativa - Crime não consumado por motivos alheios à vontade do réu - Arti­go 213, c / c o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal -Reprimenda fixada em quatro (4) anos de reclusão a ser cumprida

integralmente em regime fechado em vista do disposto no artigo 2~ § 1 ~ da Lei 8.072/90 - No per­curso do processo e no apelo o réu nega a autoria e hostiliza carac­terização de crime hediondo -Recurso conhecido e parcialmen­te provido.

Nos crimes sexuais a palavra da vítima, quando mulher honesta e recatada, tem relevante valor probante e, em especial, quando em sintonia com eventual prova testem unhal.

Por se tratar de delito de tenta­tiva de estupro, inaplicável o co­mando do artigo 2º, § 1 º, da Lei 8.072/90, pois este normativo le­gal somente deve ser aplicado quando verificado o crime consi­derado hediondo que, in casu, não ocorreu. O delito de estupro (artigo 213 do CP) para ser con­siderado crime de natureza hedi­onda, necessária sua combinação com o artigo 223 do Código Pe­nal, de acordo com o disposto no artigo 1Q

, inciso V, da Lei 8.072/ 90. No presente caso a vítima so­freu lesões corporais leves." (Fls. 125).

N o corpo do v. decisório tem-se:

"Caracterizado o delito de es­tupro tentado, passo a questionar se, in casu, está configurado cri­me hediondo.

O artigo 1 º, Inciso V, da Lei 8.072/90, estabelece que para ser considerado crime hediondo, mesmo o tentado, necessária a sua combinação com o ordena-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 307

mento do artigo 223 do Código Penal, ou seja, que da violência resulte lesão corporal de nature­za grave ou a morte da vítima que, no caso, inocorreu, pois o Exame de Lesões Corporais, a que se submeteu a vítima, regis­tra que as lesões corporais que ela sofreu são de natureza leve (fls. 12).

É portanto, de lei e de Justiça, que sej a afastada do delito per­petrado pelo apelante a qualifi­cadora de hediondez.

Posto isto, por não se tratar no presente procedimento de crime hediondo e considerando-se que o réu é primário, tem bons ante­cedentes, com conduta social re­gular e que exerce profissão fixa de pedreiro, dou provimento par­cial ao apelo interposto a fim de, com suporte do artigo 213 do Có­digo Penal, reduzir e fixar a pena no seu mínimo legal de seis (6) anos de reclusão e, obedecida a norma do artigo 14, inciso lI, e seu parágrafo único, do mesmo Código, por se tratar de crime tentado, diminuo-a no seu máxi­mo legal permitido de dois terços (2/3), tornando-a definitiva em dois (2) anos de reclusão.

Por presentes os requisitos do artigo 77 do Código Penal e con­siderado o valioso parecer da douta Procuradoria Geral de J us­tiça (fls. 115), concedo ao apelan­te o benefício de suspensão da pena pelo prazo de dois anos, mediante cumprimento das con­dições." (Fls. 129).

Daí o recurso. A douta Subprocu­radoria Geral da República se pro­nunciou pelo provimento.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CHER (Relator): O texto legal (Lei n Q 8.072/90 com a redação dada pela Lei n Q 8.930/94) é por demais claro, a saber:

"Art. lº. São considerados he­diondos os seguintes crimes, to­dos tipificados no Decreto-Lei n Q

2.848, de 07 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

V - estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único)."

A restrição abraçada no v. julga­do recorrido carece de suporte jurí­dico. Em primeiro lugar, se assim o fosse, a lei diria estupro qualifica­do e a indicação dos artigos teria construção diferente. Em segundo lugar, o e utilizado no inciso Vindi­ca, como conjunção coordenativa aditiva, que abrange a forma sim­ples e a qualificada. Aliás, compa­rativamente, é de se atentar para as limitações dos incisos II (quanto ao roubo), III (extorsão) e VII (epi­demia).

Confundiu-se, talvez, a qualifica­ção do delito com a questão da inci­dência do art. 99 da Lei dos Crimes Hediondos ao estupro, onde esta

308 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

Corte só tem admitido a majoração para a forma qualificada.

Na doutrina: J. F. Mirabete ("Manual de Direito Penal", voI. 2, pág. 436, 9ª ed., Ed. Atlas S.A.) e Damásio E. de Jesus in "Direito Penal", voI. 3, pág. 89, 10ª ed., Sa­raiva).

Como precedentes desta Corte: a) REsp n Q 0073.323-MG, 6ª Turma, relator Ministro Anselmo Santiago, DJU de 03/03/97, pág. 4.715; b) REsp 0092640-ES, 6ª Turma, rela­tor Ministro Vicente Leal, DJU de 03/03/97, pág. 4.719; c) RHC 0005986, 6ª Turma, DJU de 10/03/97, pág. 6.000, relator Ministro Vicente Leal; d) REsp 46.204-5-PR, 5ª Turma, re­lator Ministro Costa Lima, RSTJ 67/ 464; e) RHC 6.447, 5ª Turma, de nossa relatoria, DJU de 30/06/97, pág.31.046.

O estupro, em qualquer de suas modalidades, é crime hediondo, e a pena deve ser executada no regime fechado ex vi in art. 2º, § 1 Q, da Lei dos Crimes Hediondos.

Todavia, quanto à concessão, ou não, do sursis, para delitos hedion­dos, quero crer que inexiste restri­ção legal. Apesar do disposto no art. 2º, § 1 º da Lei n Q 8.072/90, se o réu preenche os requisitos do art. 77 do CP ele terá direito ao benefício.

Vale, aqui, a lição de Alberto Sil­va Franco, in verbis: "A Lei nº 8.072/90, apesar de ter, por ponto nuclear, a exacerbação punitiva de tipos já especificados no ordena­mento penal, nos quais a violência (real ou ficta) é apresentada como modo de execução, não impediu a

aplicação de nenhuma das causas redutoras de pena da Parte Geral, exceção feita ao arrependimento posterior, que pressupõe a prática de crimes cometidos sem violência. Destarte, não equiparou punitiva­mente o delito tentado ao delito con­sumado; não obstou a possibilidade do reconhecimento da semi-imputa­bilidade, em virtude de perturbação da saúde mental ou de desenvolvi­mento mental incompleto ou retar­dado, ou mesmo em razão de embria­guez, proveniente de caso fortuito ou de força maior; não impediu o erro evitável sobre a ilicitude do fato, nem desconsiderou a razoabi­lidade da exigência do sacrifício do direito ameaçado, no estado de ne­cessidade; não desprezou a partici­pação de menor importância, nem a possibilidade de que o agente te­nha querido participar de crime menos grave. Em suma a classifi­cação de crime hediondo não obstou, em momento algum, a incidência, nas proporções estabelecidas na lei penal, das causas de diminuição de pena já especificadas.

É exato que algumas dessas cau­sas de redução de pena se mostram, em relação aos delitos hediondos e assemelhados, concretamente inviá­veis. Mas a tentativa, a semi-impu­tabilidade, a participação de menor importância ou a participação em crime menos grave se revelam fac­tíveis, principalmente a primeira nos tipos de estupro e de atentado violento ao pudor e em algumas mo­dalidades de tráfico ilícito de entor­pecente, e as demais em qualquer das figuras criminosas assim rotu-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 309

ladas. É perfeitamente possível que o acusado, num desses delitos, seja semi-imputável ou tenha sido sur­preendido, no estupro, no atentado violento ao pudor ou em algumas formas de tráfico ilícito de entor­pecentes, no início do iter criminis e, em conseqüência, obtenha a maior diminuição punitiva. Nessas hipóte­ses, tomando-se por base a pena mínima cominada em relação aos tipos já referidos, ou seja, seis anos de reclusão (estupro e atentado vio­lento ao pudor) e três anos de reclu­são (tráfico ilícito de entorpecentes) e efetuando-se a redução máxima de dois terços, atinge-se as quantida­des punitivas de dois e de um ano de pena privativa de liberdade, res­pectivamente.

Em tais situações, a substituição da pena privativa de liberdade pela internação ou tratamento ambula­torial (art. 98 do CP), em relação ao semi-imputável necessitado de tra­tamento curativo, ou a aplicação do sursis (art. 77 do CP), em relação ao condenado imputável, seriam pertinentes? Ou bastaria a classifi­cação dos fatos debitados ao conde­nado como crime hediondo ou equi­parado, para que não ocorresse a conversão ou a substituação puni­tiva? Seriam um e outro desses con­denados obrigados a cumprir a pena reclusiva em regime fechado, nos termos do § 19 do art. 29 da Lei 8.072/90?

Uma resposta positiva represen­taria inquestionável injustiça. Se o ato criminoso objetivasse, sem su­cesso, tirar a vida de alguém, nada impediria, em face da semi-imputa-

bilidade do agente, que se procedes­se à conversão da pena privativa de liberdade em internação ou trata­mento ambulatorial, ou, em face da tentativa em seu curso inicial, à aplicação da medida penal alterna­tiva do sursis. É evidente que, na primeira hipótese, haveria necessi­dade de declaração pericial de que o condenado precisaria ser subme­tido a especial tratamento curativo e, na segunda, teria ele de reunir os requisitos do art. 77 do CP, mas não seria o agravo ou o sério perigo endereçados ao bem jurídico "vida" - o mais importante em toda a es­cala de valores penalmente tutela­dos, porque o fundamento, a base de todos os demais - que seria um obstáculo a qualquer das soluções anotadas. Por que ficaria, então o juiz impossibilitado de permitir o tratamento ambulatorial, ou de aplicar o sursis, só porque o legis­lador entendeu, na proteção de bens jurídicos de menor relevo, que o con­denado deveria cumprir integral­mente a pena imposta em regime fechado?" (in "Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurispruden­cial", voI. 2, 6ª ed., RJ, pág. 639).

Esta Corte tem precedente recen­te, desta 5ª Turma (relator Minis­tro Edson Vidigal), no REsp 91.851, publicado no DJU de 24/02/97, pág. 3.396.

"Penal. Lei 8.072/90. Tentativa de estupro. Crime hediondo. Sursis. Possibilidade de conces­são. Inexistência de incompatibi­lidade com a norma que determi­na o cumprimento integral da pena em regime fechado.

310 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.

1. Inexistindo na Lei 8.072/90 norma expressa a vedar a conces­são de sursis, não pode o intér­prete lançar mão de interpreta­ção extensiva ou dilatória para suprimir o benefício.

2. Não há, também, incompatibi­lidade lógica entre o sursis e a norma do art. 2Q

, § 1 Q, j á que ine­xiste qualquer relação entre re­gime de cumprimento de pena e este instituto.

3. O que importa para a suspen­são condicional da pena é o pre­enchimento dos seus requisitos

legais estabelecidos no Código Penal, independentemente do regime prisional imposto.

4. Recurso não conhecido."

Na mesma linha: RTJSP 134/417, RT 676/298 e RT 719/312.

E, a concessão do sursis não foi, em si, atacada.

Voto, pois, pelo conhecimento do recurso e pelo seu provimento par­cial, fixando-se o regime de execu­ção da pena como fechado, visto que o estupro tentado é hediondo e man­tida a concessão do sursis.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 311

JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL NQ 150.079 - SP

(Registro n Q 97.0069589-1)

Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves

Embargante: Atacadão S/A Distribuição, Comércio e Indústria

Advogados: Drs. Fernando Eduardo Prison e outros

Embargados: V. Acórdão de fls. 1.031 e Estrutécnica S/A Indústria, Comércio e Construções

Advogado: Dr. Ruy Celso Legaspe

EMENTA: Embargos declaratórios. Omissão. Pedido recursal alternativo.

1. Quando o pedido recursal é formulado alternativamente, ou seja, o direito nele perseguido pode ser efetuado, na dicção de Moacyr Amaral Santos, "por mais de uma forma, cada uma suficien­te para satisfação da pretensão", atendido o primeiro, o segundo, em conseqüência, estará prejudicado. Não há, portanto, omissão no acórdão que, atendendo ao primeiro pleito, reputou prejudi­cados os demais.

2. Embargos rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, rejeitar os embargos de declaração. Participa­ram do julgamento os Ministros Vi­cente Leal e Luiz Vicente Cernic-

chiaro. Ausentes, por motivo de li­cença, o Ministro William Patterson e, justificadamente, o Ministro An­selmo Santiago.

Brasília, 05 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presi­dente. Ministro FERNANDO GON­ÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 30-03-98.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 315

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Versa a espécie so­bre embargos de declaração opostos por Atacadão S.A. - Distribuição, Comércio e Indústria contra acór­dão que, em matéria de locação, aco­lhendo parcialmente recurso espe­cial, decidiu:

"Locação. Acordo firmado ante­riormente à propositura de reno­vatória. Fixação de novo aluguel nesta última. Conciliação dos numerários. Inteligência do art. 19, da Lei n Q 8.245/91.

1 - Nos termos da jurisprudên­cia da Corte, o acordo firmado entre locador e locatário, elevan­do o aluguel, ainda que a valores abaixo daqueles praticados pelo mercado, interrompe o prazo para a propositura de revisional, ou seja, somente poderá ser fixa­do novo valor locatício após trans­corrido o prazo de 3 (três) anos previsto no art. 19, da Lei nº 8.245/91. O fato de ter sido pro­posta ação renovatória pelo re­corrente, e nela novo aluguel fi­xado, não elide o comando cogen­te do citado dispositivo legal, ra­zões pelas quais, vigora, confor­me preconizado no especial, den­tro de um determinado período do contrato renovado, aquele va­lor estipulado no acordo firmado entre o locatário-recorrente e a locadora -recorrida.

2 - Recurso especial conhecido em parte." (fls. í.031)

Aduz a embargante, no essen­cial, que, em se tratando de pedi­dos "alternativos por subsidiarieda­de", o acolhimento parcial do pri­meiro, torna necessário o exame da segunda postulação, mostrando-se, neste ponto, omisso o julgado, em relação ao período restante da loca­ção, subseqüente a 25 de agosto de 1995.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): A embar­gante firmou acordo com sua loca­dora e o especial teve por objetivo único a prevalência da norma do art. 19 da Lei nº 8.245/91, aduzin­do, em síntese, o seguinte:

"a) ser reconhecida e decretada a impossibilidade de se fazer nova revisão judicial do aluguel antes do prazo de três anos, es­tabelecendo-se como locativo da renovação aquele acordado entre as partes na ação consignatória ou aquele fixado na ação revisio­nal, com reajustes semestrais, ou

b) em sucessão alternativa, ser arbitrado como aluguel nesta re­.1Ovatória aquele constante da contraproposta feita pela locado­ra na contestação desta ação re­novatória ($ 28.869,09 - moeda da época, equivalente a Cr$ 329.890,41, em maio de 1993, se­gundo atualização do Sr. Perito), ou

c) ainda alternativamente e em sucessão, pede seja anulado o V.

316 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

Acórdão e determinada a volta dos autos ao Egrégio Tribunal a quo, para que seja proferida no­va decisão como se entender de direito e examinada em toda sua amplitude a causa de pedir recur­sal posta pela recorrente na ape­lação." (fls. 762)

Dentro dos limites traçados, o acórdão acolheu o primeiro pedido, ficando ipso facto, dada a alterna­tividade, prejudicados os demais. O fato foi destacado às fls. 1.027, ver­bis:

"Como se vê, inicialmente, pre­tende0 recorrente seja reconhe­cida a vulneração ao art. 19, da lei de locações e, caso assim não se entenda, em pedidos sucessi-

vos e alternativos, sejam analisa­das as demais fundamentações.

Assim é que, cinge-se o especial somente à fixação da correta exe­gese do referido art. 19, porquan­to, acerca do assunto, merece co­nhecimento a irresignação."

O pedido formulado no especial, como visto, é alternativo, ou seja, o direito nele perseguido pode ser efe­tuado, na dicção de Moacyr Ama­ral Santos, "por mais de uma for­ma, cada uma suficiente para satis­fação da pretensão". Atendido o pri­meiro, o segundo, em conseqüência, estará prejudicado.

Não cabia, na verdade, ao acór­dão avançar além do tempo previs­to no art. 19 da Lei n Q 8.245/91.

Assim sendo, rejeito os embargos.

HABEAS CORPUS NQ 3.299 - SP

(Registro n Q 95.0009742-7)

Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal

Relator Designado: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Impetrantes: Cyro Kusano e outro

Impetrado: Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo

Paciente: Osvaldo Ribeiro de Mendonça - pensionista

EMENTA: HC - Direito Penal - Culpa inconsciente - Romo medius - Negligência representa não observância dos parâme­tros do dever de cautela, juridicamente impostos a qualquer pes­soa, no momento em que realiza a conduta. A antevisão do fato deve traduzir-se de modo concreto e não de modo abstrato. O Di­reito Penal da culpa é incompatível com o antigo homo medius. A investigação da conduta deve ser individual.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 317

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas cons­tantes dos autos, por maioria, con­ceder a ordem de habeas corpus, vencido o Sr. Ministro-Relator. La­vrará o acórdão o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. Os Srs. Minis­tros Adhemar Maciel e Anselmo Santiago votaram com o Sr. Minis­tro Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília, 29 de maio de 1995 (da­ta do julgamento).

Ministro LUIZ VICENTE CER­NICCHIARO, Presidente e Relator (designado).

Publicado no DJ de 22-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário impetrado contra acórdão do Tribu­nal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, que denegou o writ requerido em favor de Osvaldo Ri­beiro de Mendonça, denunciado com outros co-réus como incursos nas penas do art. 121, § 3º (uma vez) e art. 129, § 6º c/c art. 70 (dez vezes), ambos do Código Penal, em razão de acidente envolvendo uma Pickup e um caminhão que transportava trabalhadores rurais.

Por via do presente habeas cor­pus pretende o denunciado o tran­camento da ação penal por ausên-

cia dejusta causa, alegando, em sín­tese, que a sua conduta é atípica, vez que não teria contribuído para a eclosão do resultado danoso, sen­do apenas o proprietário do cami­nhão que transportava os trabalha­dores. Sustenta que a sua respon­sabilidade deriva, tão-somente, da inobservância de norma regulamen­tar do Código. de Trânsito.

Ao prestar informações, o ilustre Juiz Hélio de Freitas, Presidente do TACRIM, esclareceu, in verbis:

"Por fatos ocorridos no dia 12 de setembro de 1992, foram o pa­ciente e outros co-réus denuncia­dos, perante o MM. Juízo da E. Vara Distrital de Colina, da Co­marca de Barretos, como incur­sos no art. 121, § 3º (uma vez) e art. 129, § 6º (por dez vezes), c.c. o art. 70, todos do Código Penal (doc. nº 1), com base nos elemen­tos colhidos na fase indiciária (doc. nº 2).

Recebida a denúncia (doc. nº 3), expediu-se carta precatória para citação pessoal do paciente, que, porém, restou infrutífera (doc. nº 4). Determinado o chama­mento por edital (doc. nº 5) e não comparecendo para o interroga­tório, decretou-se a revelia do pa­ciente, com a nomeação de defen­sor dativo, que ofereceu a defesa prévia (doc. nº 6).

Após a designação de audiên­cia para o início da instrução, fei­ta para o dia 22 de março transa­to, foram os autos remetidos a esta Corte em 9 de março último, atendendo à minha requisição, pa-

318 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

ra a elaboração destas informa­ções (doc. n Q 7).

Esclareço, ainda, que o pacien­te impetrou, neste Tribunal, os Habeas Corpus nM 266.048/9 que a E. Oitava Câmara desta Corte, por votação unânime, de­negou (doc. n Q 8) e 272.960/0, e que se encontram em fase de re­messa à douta Procuradoria Ge­ral de Justiça (doc. n Q 9)".

A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer de fls. 242/246, opina pela denegação do writ.

É o relatório.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): A pretensão con­densada no presente writ funda-se, essencialmente, na alegação de fal­ta dejusta causa para a ação penal, ao fundamento de que o paciente não participou do fato que deu en­sejo ao acidente de tráfego, sendo apenas proprietário do caminhão.

Todavia, é de se considerar que o paciente foi denunciado por homi­cídio culposo, merecendo destacar­se, a propósito de sua responsabili­dade em face do evento, as precisas informações do ilustre Juiz de Di­reito que preside o processo, verbis:

"N esse particular e ad argu­mentandum tantum, a argu­mentação trazida pelos impe­trantes, no sentido de que o pa­ciente não teve participação no evento, é matéria que demanda

prova e, portanto, foge às estrei­tas e específicas raias do remé­dio heróico. De fato, infere-se do conteúdo de sua peça inicial, que o paciente Oswaldo Ribeiro de Mendonça está sendo processado, pelo simples fato de ser o proprie­tário do veículo sinistrado. Entre­tanto, ao se proceder à leitura da peça inicial acusatória, nota-se que, na realidade, a situação não se afigura tão singela como ale­gada. Pelo ·que se depreende da­quela peça, a responsabilidade do paciente reside no fato de ser a pessoa de quem eram emanadas as ordens para que seus empre­gados fossem transportados em veículo que não oferecia a míni­ma condição de segurança, nem tampouco era destinado ao trans­porte de pessoas. Assim, nos ter­mos da denúncia, a responsabili­dade do paciente estaria situada na ausência do necessário dever de cautela, ao ordenar e consen­tir uma prática irregular, em to­tal desrespeito à condição huma­na dos empregados, cujos resul­tados lesivos, pelas próprias ca­racterísticas do caso em exame, eram plenamente previsíveis. Por­tanto, a denúncia não se fundou, apenas, na condição de proprie­tário, do paciente, mas, sim, na conduta de permitir (por ação ou omissão) a prática de um ato, cujo resultado danoso lhe era total­mente previsível, em face das condições e circunstâncias que o envolviam. Dessa forma, somen­te após a necessária e regular instrução do feito, é que se pode­rá valorar a conduta do paciente

R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 319

e concluir se foi ou não responsá­vel pelo evento." (fls. 238).

Constata-se, à vista dessas infor­mações, que a conduta imputada ao paciente adequa-se em princípio, à modalidade de culpa por negligên­cia, já que não teria examinado as condições do caminhão de sua pro­priedade que transportava seus empregados, trabalhadores rurais.

Como é sabido, a culpa caracte­riza-se pela inobservância do cuida­do objetivo necessário, este funda­do na previsibilidade aferida a par­tir da possibilidade de antevisão do resultado por um homem comum, prudente e de discernimento, colo­cado diante de situações concretas.

A culpa tem como modalidades a imperícia, imprudência e negligên­cia.

A propósito do conceito de negli­gência, merece registro o magisté­rio de Damásio de Jesus:

"A imprudência é a prática de um fato perigoso. Ex.: dirigir veí­culo em rua movimentada com excesso de velocidade.

A negligência é ausência de precaução ou indiferença em re­lação ao ato realizado. Ex.: dei­xar arma de fogo ao alcance de uma criança.

Enquanto na negligência o su­jeito deixa de fazer alguma coisa que a prudência impõe, na impru­dência ele realiza uma conduta que a cautela indica que não deve ser realizada. A doutrina ensina que a imprudência é positiva (o

sujeito realiza uma conduta) e a negligência, negativa (o sujeito deixa de fazer algo imposto pela ordem jurídica)". (in Direito Pe­nal- 1 Q volume - Parte Geral­ed. Saraiva - 16ª edição, 1992).

N o caso, não se trata de culpa in re ipsa ou presumida. De fato, quem emprega na sua atividade econômi­ca veículo sem segurança para trans­portar "bóiàs-frias" tem pelo menos a previsibilidade da ocorrência de evento danoso, não se podendo fa­lar em responsabilidade objetiva. Trata-se de infringência ao dever médio de cuidado na vida de rela­ção. É que o Direito exige que as pessoas direcionem com cuidado suas condutas no sentido de evitar danos aos outros, sob pena de res­ponder por negligência quem omite esses cuidados necessários que nas circunstâncias não era possível ig­norar.

Em tal contexto, a instauração de procedimento criminal para apura­ção de fatos que apresentam a fei­ção de crime culposo não pode ser, em seu nascedouro, trancado por habeas corpus, sem que se tenha uma precisa visão do tema.

Com efeito, o trancamento da ação penal em sede de habeas cor­pus só se viabiliza quando a ausên­cia de justa causa é evidenciada pela simples exposição dos fatos ou quando se constata que há imputa­ção de fato atípico ou ausência de qualquer elemento indiciário, con­figurador da autoria do delito.

N a hipótese, o trancamento da ação penal só seria possível se a ati-

320 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

picidade da conduta do paciente fos­se evidenciada pela simples exposi­ção dos fatos, sem a necessidade de exame de matéria probatória, o que inocorre no caso sub examen.

Isto posto, denego a ordem.

É o voto.

VOTO- VOGAL

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Srs. Minis­tros, a matéria posta a julgamento já foi apreciada por esta Egrégia Sexta Turma. Na ocasião, tive opor­tunidade de mencionar, negligência representa a não observância dos parâmetros do dever de cautela, ju­ridicamente imposto a qualquer pessoa no momento em que realiza a conduta.

Mencionei, também, a previsibi­lidade, elemento vinculado à moda­lidade de culpa inconsciente, há de se traduzir, hip.oteticamente, de modo concreto e não de modo abs­trato, a antevisão do fato. Necessá­rio que a pessoa, ao praticar a con­duta, sem guardar os limites do de­vido dever de cautela, mentalmen­te, antecipe que um caso "x", por­tanto, concreto, poderá acontecer. J amais, entretanto, extraia-se a conclusão de que, hipoteticamente naquele caso, seria possível alguém imaginar qualquer acontecimento.

Além disso, já é cediço no direito penal, não só brasileiro como de ou­tros países, ser imprescindível o agente, concretamente, dar causa

ao evento. Aliás, a expOSlçao de motivos de 1940, no item XIII, fo­caliza exatamente esta hipótese:

"No tocante à culpabilidade ou elemento subjetivo do tipo, o pro­jeto não conhece outras formas além do dolo e da culpa, stricto sensu, sem o pressuposto do dolo e da culpa stricto sensu, nenhu­ma pena será irrogada. Nulla pena sine culpa. Em nenhum caso haverá presunção de culpa. Assim, na definição da culpa strictu sensu é inteiramente abolido o dogmatismo da inobser­vância de alguma disposição re­gulamentar, pois nem sempre é culposo o evento subseqüente".

Efetivamente, assim ocorre. A ex­posição de motivos traduz aquilo que inicialmente eu dizia: é neces­sário projetar a possibilidade, haver a previsibilidade de fato concreto e não in abstracto.

Pedindo vênia, ainda, o eminen­te relator, de que se deve colocar a problemática no metro do dever médio, o homo medius, no direito penal da culpa, cedeu espaço à in­vestigação da conduta individual. Não posso ser responsabilizado, porque há ent~ndimento médio do dever de agir. E necessário, porque a pena é dirigida a uma pessoa, ao agente examinar as suas condições individuais.

Em razão dessas considerações, com o devido respeito, chego a uma conclusão diversa para conceder a ordem.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 321

HABEAS CORPUS Nº 5.329 - DF

(Registro nº 96.0077788-8)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Impetrante: José Cupertino da Luz Neto

Impetrado: Desembargador Relator do Habeas Corpus n Q 748696 da 1 ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Fe­deral

Paciente: Antônio João Correa Caldas

EMENTA: HC - Constitucional- Habeas corpus - Carta preca­tória - Competência - A Carta Precatória é modalidade de co­municação de atos processuais, como a Rogatória e a Carta de Ordem. Diferentes, revelam ponto comum: o juiz da causa é dis­tinto do juiz do cumprimento da decisão judicial. Na Carta Roga­tória, o juiz não tem jurisdição no local do cumprimento. Daí, a necessidade de exiqüibilidade do Estado em que será cumprida (no Brasil, expedida pelo Supremo Tribunal Federal). Na Carta Precatória, há derrogação da competência. Atua, pois, no exercí­cio de sua competência. Cumpre-lhe, ao acolher a solicitação, exa­minar tanto a forma como a matéria da comunicação lançada pelo deprecante. Exemplificativamente: prisão de menor de 18 anos de idade, incidente prescrição, abolitio criminis. O CÓdigo de Pro­cesso Civil de Portugal registra: "se a requisição for para ato que a lei proíba absolutamente (art. 184, nº 1, b). Se o deprecado man­dar cumprir solicitação do deprecante, caso ilícito, encampa a ilegalidade. Torna-se, por isso, também autoridade coatora.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas cons­tantes dos autos, por unanimidade, conceder a ordem de habeas cor­pus para que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal prossiga no jul­gamento, nos termos do voto do Sr. Minitro-Relator. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Ansel­mo Santiago e William Patterson. Ausentes,justificadamente, os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves.

Brasília, 25 de março de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro LUIZ VI­CENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DJ de 22·06·98.

322 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Habeas Corpus impetrado por José Cuper­tino da Luz Neto contra ato do Exmo. Sr. Des. Relator do Habeas Corpus n Q 748.696 da 1 ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

Consiste o ato impetrado na de­negação de liminar requerida em favor do paciente, o qual teve sua prisão civil decretada em 05 (cinco) diferentes ações de depósito.

Entendeu a decisão ora atacada que, não tendo sido as decisões apon­tadas como ilegais prolatadas por nenhuma autoridade judiciária do Distrito Federal, não poderia a Jus­tiça local, através do MM. Juiz da Vara de Registros Públicos e Preca­tórios, figurar como autoridade co­atora, uma vez que apenas orde­nou o cumprimento que lhe fora re­quisitado, dentro dos devidos limi­tes.

O impetrante infirma a referida fundamentação:

"Em verdade ao dar cumpri­mento ao mandado de prisão que lhe fora encaminhado o MM. Juiz de Direito da Vara de Registros e Precatórios do Distrito Federal, assumiu a responsabilidade pelo ato coator, até mesmo porque o ato de constrangimento à liber­dade de locomoção do paciente é de ser cumprido em área de sua jurisdição, em virtude dos limi­tes territoriais impostos pelo su­pratranscrito art. 200 do C. de Processo Civil.

Mesmo porque o paciente tem domicílio em Brasília, DF, fato esse que atrai a competência do MM,·Juiz monocrático desta Ca­pital Federal" (fls. 5).

Sustenta, ainda, sofrer constran­gimento ilegal ao argumento de que a prisão administrativa por dívida é manifestamente ilegal, uma vez que não autorizada pelo texto cons­titucional (art. 5Q

, LXVII).

Aduz, também, que os advogados não estariam munidos de poderes para formular pedidos de prisão ci­vil, em flagrante ofensa ao art. 38 do CPC.

Acrescenta o impetrante que as decisões atacadas seriam nulas por absoluta falta de fundamentação do tempo de restrição da liberdade in­dividual do paciente.

Parecer do M.P.F. pela denegação da ordem (1.406/1.408).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO (Relator): Neste habeas corpus, embora o impetrante faça incursão ao méri­to, restringe-se em saber se o Juiz de Brasília é ou não autoridade co­atora e, conseqüentemente, se o Tri­bunal de Justiça pode apreciar o habeas corpus.

Este habeas corpus, anota o re­latório, reclama a competência do Juízo deprecado que determina o cumprimento da decisão proferida pelo Juízo deprecante.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 323

o venerando acórdão está erudi­tamente fundamentado. O argu­mento fundamental consiste em que autoridade judiciária deprecada, porque apenas determina o cumpri­mento de mandado de prisão expe­dido por juiz de outra comarca, não pode ser acoimado de autoridade coatora, dado lhe ser vedado o exa­me substancial do ato. Impõe-se definir a natureza jurídica da Car­ta Precatória, especialmente o des­pacho de cumprimento lançado pelo juízo deprecado. A carta precatória é modalidade de comunicação de atos processuais, como a carta ro­gatória e a carta de ordem. Não obs­tante, cada qual evidencia caracte­rísticas próprias, por isso inconfun­díveis. Essas cartas revelam um ponto comum: o juiz da causa é dis­tinto do juiz do cumprimento da decisão judicial; na carta rogatória, ojuiz não tem jurisdição no local do cumprimento, evidenciam-se países soberanos, coloca-se então, insista­se, problema de jurisdição. Daí a ne­cessidade de exiqüibilidade do Es­tado em que será cumprida, no Bra­sil, expedida pelo Supremo Tribu­nal Federal. No caso da carta pre­catória, o deprecante por ser incom­petente, na extensão da competên­cia do juízo deprecado, solicita a este o cumprimento da decisão pro­ferida. Em razão disso, há derroga­ção da competência. O juízo depre­cado, por isso, atua no exercício de sua competência. Cumpre-lhe, ao acolher a solicitação, examinar não só a forma como, ainda, a matéria da comunicação lançada pelo depre­cante. Evidente, também aqui, há limites. Aliás, o venerando acórdão,

depois de ilustrar com o disposto no art. 184, nº 1, letra b, do Código de Processo Civil Português, ao dispor que a carta pode ser recusada "se a requisição for para ato que a lei pro­íba absolutamente", exemplifica com solicitação de prisão de menor de dezoito anos de idade. Acrescen­to dois outros casos, da mesma for­ma eloqüentes: a prisão, embora caracterizada a prescrição, ou abo­lir-se o crime. Evidente, o juízo de­precado não reexamina a decisão do juízo deprecante. Todavia, em sen­do teratológica ou de evidência so­lar, tem obrigação de recusar o cum­primento a casos que não tenham cobertura manifesta normativa. Também o juiz não é obrigado a fa­zer ou deixar de fazer alguma coi­sa, senão em virtude de lei.

Se o deprecado mandar cumprir a solicitação do deprecante, se ilíci­ta, como se diz em Direito Proces­sual Penal, encampa a ilegalidade. Haverá, então, duas autoridades coatoras: o deprecante, porque emi­tiu a ordem, e o deprecado, porque a adotou, mandando cumpri-la.

O habeas corpus é a ação cons­titucional que visa fazer cessar ou impedir que ocorra ilegal constran­gimento ao exercício do direito de locomoção. Busca, evidentemente, fazer cessar a ilegalidade, emana­da do autor intelectual ou do exe­cutor do ato ilegal.

A conclusão se evidencia exata uma vez comparada a carta preca­tória com a carta de ordem: na pri­meira, não há hierarquia de juris­dição entre os respectivos juízos; na segunda, entretanto, há esse desní-

324 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

vel. o juiz, por exemplo, não pode deixar de cumprir a determinação do Tribunal a que está submetido, modus in rebus. Ressalvem-se as hipóteses de decisão desarrazoa­da, como ilustração, o caso de de­terminação absurda, contrastante com todas as máximas das expe­riências.

o ato impugnado no habeas cor­pus foi emanado do juízo depreca­do, Vara de Registros Públicos e Precatórios da Circunscrição Judi­ciária de Brasília.

Em sendo assim, data venia, concedo a ordem para o Egrégio Tri­bunal de Justiça do Distrito Fede­ral prosseguir o julgamento.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 6.584 - PR

(Registro n Q 97.0045495-9)

Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves

Recorrentes: Saturnino Fernandes Netto e outro

Advogados: Dr. Saturnino Fernandes Netto e outro

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

Pacientes: Benício de Almeida Neto, Dario Teraci Fregato, João Quin­tiliano de Oliveira, Miroel Oliveira Junqueira Parreira e Sérgio Tomio Hara

EMENTA: Criminal. Lei n!2 9.430/96. Art. 83. Condição de proce­dibilidade.

1. Na pendência de apuração fiscal no âmbito administrativo não há impedimento do oferecimento da denúncia, se na documenta­ção remetida ao Parquet pelo órgão tributário competente exis­tem notícias de crime a ser apurado.

2. RHC improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se-

guir, por unanimidade, negar provi­mento ao recurso. Participaram do julgamento os Ministros Anselmo Santiago e William Patterson. Au­sentes, justificadamente, o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro e, ocasio­nalmente, o Ministro Vicente Leal.

R. Sup. Trib. Just., Brasliia, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 325

Brasília, 11 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro FERNAN­DO GONÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 02·02-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Cuida-se de recurso ordinário interposto contra acórdão da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná denegatório de habeas cor­pus impetrado em favor de Benício de Almeida Neto, Dario Teraci Fre­gato, João Quintiliano de Oliveira, Miroel Oliveira Junqueira Parreira e Sérgio Tomio Rara visando o tran­camento de ação penal em curso perante o Juízo de Direito da 3ª Va­ra Criminal de Londrina para apu­ração de ocorrência de crime contra a ordem tributária (arts. 1Q

, II e 11 da Lei n Q 8.137/90).

Segundo as razões de fls. 661/690, os recorrentes são sócios e gerentes da empresa "Transportadora Rota 90 Ltda.", dedicada ao transporte de mercadorias e fretes em geral. En­tendeu a receita estadual existir em sua escrita contábil irregularidades que deram ensejo, após encaminha­mento de notitia criminis, a atua­ção do Ministério Público, através de denúncia, da qual, essencialmen­te, consta:

" ... cientes do atuar ilícito e com o fim de exonerá-la - como de fato exoneraram-na - da carga

tributária do ICMS incidente e resultante de suas operações mercantis, propiciando, com isso, maiores e indevidos lucros em prejuízo do fisco estadual, fize­ram uso de manobras enganosas e fraudulentas, tudo como segue e conforme os autos de infração lavrados pelos Senhores Agentes Fiscais da Secretaria de Estado da Fazenda:

No período compreendido entre 1 Q e 8 de abril de 1991, os denun­ciados Benício de Almeida Neto, Dario Teraci Fregato, João Quin­tiliano de Oliveira, Miroel Olivei­ra Junqueira Parreira e Sérgio Tomio Rara, na forma e para o fim preambularmente expostos, quando de cinqüenta (50) opera­ções mercantis de vendas, deixa­ram de proceder, deliberada e sis­tematicamente, ao registro das notas fiscais correspondentes na escrita fisco-contábil- Livro de Registro de Saídas de Mercado­rias, ensejando, assim, inclusão mensal do débito fiscal em valor a menor na conta gráfica e nas guias de apuração de ICMS, pro­piciando, de conseqüência e me­diante fraude contra a fiscaliza­ção tributária, recolhimento re­duzido da carga tributária do ICMS relativa, etc., etc .... " (fls. 663/664)

Sustentam - então - os recor­rentes que não houve qualquer omis­são, mas apenas falta de registro no Livro de Saída de alguns conheci­mentos de transportes, geradores apenas de receitas de intermedia­ção, fora do campo de incidência do

326 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

ICMS e sujeitos apenas ao ISS. Des­te modo, patente a aplicabilidade da norma do art. 83, da Lei n Q 9.430, de 1996, porquanto os processos administrativos perante a Receita Estadual estão a carecer de decisão final, estabelecendo a exigibilidade, ou não, do crédito tributário. Acres­centam que o valor de pretenso dé­bito não é determinado e, portanto, nem mesmo pago poderá ser.

Sem contra-razões, ascenderam os autos a este Superior Tribunal de Justiça, opinando a il. Subprocura­dora-Geral da República Laurita Hilário Vaz pelo improvimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): A tese cen­tral do recurso está ancorada na premissa de que a empresa autua­da não se sujeita ao pagamento do ICMS, visto sua atuação restringir­se à agenciação ou intermediação de serviços de transportes para tercei­ros, ou simples despachante de fre­tes. Uma vez reconhecida adminis­trativamente esta relevante parti­cularidade, excluída estará a exi­gência tributária e, por via de con­seqüência, a pretensa infração pe­nal, assumindo a matéria, como anota o ven. acórdão, "contornos in­discutíveis com a Lei n Q 9.430, de 27 de dezembro de 1996, que, em seu art. 83, prevê a questão da pro­cedibilidade, subordinando literal­mente a deflagração do processo-

crime ao encerramento da ação ad­ministrativa fiscal" (fls. 650).

O acórdão recorrido, da lavra do eminente Des. Tadeu Costa, com in­tegral propriedade, afastou a ques­tão relativa à sujeição, ou não, da empresa ao pagamento do ICMS, à consideração exata de não ser o habeas corpus meio adequado a semelhante deslinde. De outro lado, a ocorrência de não se conhecer o valor do tributo eventualmente so­negado nenhuma dificuldade ou re­levãncia traz à marcha da ação pe­nal, pois, ad exemplum, como re­latado na peça de acusação, a infra­ção estaria - também - relaciona­da com a falta de registro de notas fiscais de operações mercantis no Livro de Registro de Saídas de Mer­cadorias (fls. 17).

Volta-se, então, ao ponto de par­tida da inviabilidade de, nos estrei­tos limites da impetração, se ques­tionar e se conhecer da efetividade, ou não, da prática de operações mercantis pela empresa e de sua sujeição, ou não, ao ICMS. Apenas a instrução, com a faculdade ampla de produção de provas, poderá tra­zer luz a tão intrincada controvér­sia.

No mais, é patente que na pen­dência de apuração fiscal no âmbi­to administrativo não há impedi­mento do oferecimento de denúncia, "se nas peças informativas encami­nhadas ao Ministério Público pelo órgão de fiscalização tributária exis­tem notícias de crime ... a ser apu­rado", conforme anotado às fls. 699.

Quanto ao art. 83 da Lei nQ 9.430/ 96, não há como erigir o término da

R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 327

apuração fiscal como condição de procedibilidade. Ajurisprudência do STJ é pacífica, como se vê do pare­cer ministerial, verbis:

"Recurso ordinário. Habeas cor­pus. Sonegação fiscaL Tranca­mento da ação penal no aguardo do desfecho do recurso adminis­trativo. Impossibilidade.

- Carreadas pela denúncia todas as condições para a apuração do crime em tese de sonegação fis­cal, não merece trancamento a ação penal por simples alegativa de aguardar-se o desfecho do re­curso administrativo interposto, até porque as esferas administra­tivas e judicial são independen­tes, como bem decidiu o acórdão impugnado.

- Recurso improvido." (RHC nº 6.051/SP, ReI. Exmo. Sr. Ministro

José Arnaldo, in DJ de 10103/97, pág. 5.981).

"RHC. Penal Tributário. Proces­sual Penal. Crime tributário. Ins­tância administrativa. Condição de procedibilidade. Lei nº 9.430196. O Ministério Público é titular de ação penal. A instân­cia administrativa não constitui condição de procedibilidade.

A Lei nº 9.430/96 tem outro sen­tido. Determina que, havendo in­dícios de crime, a autoridade ad· ministrativa deverá comunicar o fato ao Ministério Público." (RHC nº 6.162/SP, Relator Exmo. Sr. Ministro Luiz Vicente Cernic­chiaro, in DJ de 19/05/97, pág. 20.685).

N estas condições, nego provi­mento ao recurso.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 6.971 - RJ

(Registro nº 97.0080259-0)

Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves Recorrente: José Inácio Fortes de Moraes Paredes

Advogado: Dr. Ubiratan T. Guedes Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro Paciente: José Inácio Fortes de Moraes Paredes

EMENTA: RHC. Calúnia e difamação. Não-ocorrência.

1 - A intenção de se defender em inquérito policial, arrolando fatos, cuja ocorrência pelos detalhes fornecidos, o acusado tem certeza ou fundada suspeita, exclui o delito de calúnia porque ausente o dolo imprescindível à sua configuração.

328 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

2 - Da mesma forma, na difamação é exigida a presença do dolo consistente na atribuição de fato desonroso, circunstância que se exclui quando se atua com animus defendendi. Não havendo pro­pósito de ofender, não se caracteriza a figura da difamação.

3 - Precedentes.

4 - Recurso provido para trancar a ação penal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, dar provi­mento ao recurso. Participaram do julgamento os Ministros Anselmo Santiago e William Patterson. Au­sentes,justificadamente, o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro e, ocasio­nalmente, o Ministro Vicente Leal.

Brasília, 11 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro FERNAN­DO GONÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 02-02-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Trata-se de recurso ordinário interposto contra acórdão da Terceira Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro denegatório de habeas corpus impetrado em favor de José Inácio Fortes de Moraes Paredes vi­sando o trancamento de ação penal privada que lhe é movida por Crase

- Sigma Empreendimentos Imobi­liários S/C Ltda.

Assinala o recorrente que sua conduta não tipifica crime contra honra, pois jamais teve por objeti­vo alcançar a honorabilidade dos di­retores da empresa. Sustenta ser inquestionável que suas declarações prestadas perante a autoridade po­licial foram simples decorrência de procedimento dos querelantes e não teve animus de ofender, mas, ape­nas, articular elementos em prol de sua defesa.

Sem contra-razões, ascenderam os autos a este Superior Tribunal de Justiça, opinando a Subprocurado­ria Geral da República pelo provi­mento do recurso, com trancamen­to da ação penal.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): O recorren­te foi acusado de apropriação indé­bita de importâncias de proprieda­de de clientes da empresa "Crase­Sigma Empreendimentos Imobiliá­rios S/C Ltda.", de quem, por vários anos, foi empregado, na qualidade de corretor. Perante a autoridade policial, em razão da imputação es-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 329

clareceu "que os diretores da refe­rida empresa além de possuírem um "caixa dois", desviavam o dinheiro recebido de clientes, para compra de imóveis no Brasil e no exterior, ten­do inclusive fornecido o banco no exterior, no qual os referidos dire­tores são correntistas, além de apon­tar datas de viagens e imóveis que os mesmos adquiriram, inclusive, mencionando que os valores das es­crituras estavam abaixo do preço de mercado" - fls. 04.

Não houve, segundo relatam as razões, intento de caluniar ou ofen­der, mas apenas esclarecimento do destino dado às quantias entregues pelos clientes, "as quais eram repas­sadas aos diretores da empresa, sendo que, algumas vezes, deposi­tadas em suas contas correntes" (fls. 05).

Fixou, no entanto, a Terceira Câ­mara do Tribunal de Alçada Crimi­nal do Estado do Rio de Janeiro, conter a queixa os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, não havendo, pois, que se falar em falta de justa causa.

O órgão ministerial, por intermé­dio da Dra. Márcia Dometila Lima de Carvalho, por seu turno, opina no sentido do trancamento de ação penal, escudada nas seguintes pon­derações:

"O direito fundamental de defe­sa, circundado por seus caracte­res periféricos, encontra como li­mites os demais direitos, consti­tucionais ou não. Vale dizer, não pode haver conflituosidade entre os direitos dentro de um sistema

a fim de manter-se sua coerência e unidade. Logo, em nome do direi­to de defesa, ninguém pode extra­polar suas balizas e, com isso, particularmente na esfera penal, praticar ato típico, ilícito e cul­pável.

N o entanto, em sede dos direitos à honra, justamente para que não se configure o animus calunian­di ou injuriandi, ou seja, para que o exercício do direito de de­fesa não extravase seus limites e fique configurado crime contra honra, é que os supracitados ca­racteres periféricos produzem o chamado animus narrandi. Quer dizer, devem as declarações de defesa, sejam elas prestadas pe­rante a autoridade policial, sejam em juízo, ou em qualquer outro meio de comunicação, ser lança­das como narrativa, pena de en­sejar-se crime.

In casu, as alegações constantes do depoimento do Paciente (fls. 31134), não se subsumem, em tese, aos crimes previstos nos arts. 138 e 139 do Estatuto Re­pressivo. Cuidou o Recorrente, com veraz minúcia, acuidade e sem paixão, de demonstrar que não praticava crime algum; ape­nas narrou os procedimentos uti­lizados pela empresa da qual fora empregado, buscando defender­se das acusações que lhe eram imputadas. Tanto é que não ape­nas apresentou nomes ligados a operações da empresa, datas, números de telefone, mas tam­bém documentos que buscavam comprovar sua inocência e, via de

330 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

conseqüência, vieram envolver os nomes dos sócios da empresa.

Assim, não poderia estar a quei­xa-crime em conformidade com os requisitos do artigo 41 do CPP, segundo fez consignar o v. acór­dão atacado, ou seja, não havia fato criminoso, mas apenas defe­sa narrativa quanto aos fatos imputados ao Querelado.

Certo que os fatos narrados, constituindo tipos penais, devem ser apurados pela autoridade po­licial que deles tomou conheci­mento. E, se falsos, pode o denun­ciante incorrer no tipo do artigo 339 do Código Penal, eis que es­taria dando causa a investigação policial indevida. Por enquanto, cumpre seja dado provimento ao presente recurso para trancar-se ação penal de iniciativa privada contra o Recorrente intentada." (fls. 104/106)

Efetivamente, a intenção de se defender, arrolando fatos, cuja ocor­rência, pelos detalhes fornecidos, o recorrente possui certeza ou funda­da suspeita, exclui a de caluniar, porquanto ausente o dolo impres­cindível à configuração do delito. Esta Corte, pelo voto do Ministro

Bueno de Souza, em julgado cola­cionado por Alberto Silva Fran­co, in Código Penal e sua interpre­tação jurisprudencial- 6ª edição -VoI. I - Tomo II - pág. 2.246, deci­diu:

"O dolo específico, requerido pela calúnia, não pode ser deduzido, simplesmente, do citado depoi­mento, único elemento trazido à colação pelo querelante. Em tal contingência há de presumir, como bem anotou a Corte de Cas­sação italiana, em aresto colhido por Nelson Hungria, que as in­formações, ainda que más, foram fornecidas para atender ao pedi­do, e, não com a intenção de ofen­der a outrem." (RSTJ 34/237).

Da mesma forma, na difamação (art. 139) é exigida a presença do dolo, consistente na atribuição de fato desonroso, circunstância que se exclui quando o agente atua com animus defendendi. Não haven­do propósito de ofender, não se ca­racteriza a figura da difamação (RSTJ 29/250).

Ante o exposto, dou provimento ao recurso para determinar o tran­camento da ação penal.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.165 - RO

(Registro nº 98.0000882-9)

Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago

Recorrente: Alcilea Pinheiro de Medeiros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 331

Advogado: Dr. Alexandre Cardoso da Fonseca

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia

Pacente: Alcilea Pinheiro de Medeiros

EMENTA: RHC - Dispensa de licitação - Paciente que, na qua­lidade de Procuradora de Estado, responde consulta que, em tese, indagava da possibilidade de dispensa de licitação - Denúncia C0111- base no art. 89, da Lei n!28.666/93-Acusação abusiva-Mero exercício de suas funções que requer independência técnica e pro­fissional.

1. Não comete crime algum quem, no exercício de seu cargo, emi­te parecer técnico sobre determinada matéria, ainda que pessoas inescrupulosas possam se locupletar às custas do Estado, utili­zando-se desse trabalho. Estas devem ser processadas criminal­mente, não aquele.

2. Recurso provido, para trancar a ação penal contra a paciente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Vicente Leal, por maioria, em dar provimento ao recurso para conce­der a ordem. Vencido o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Pat­terson.

Brasília, 21 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 22-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de recurso or­dinário (fls. 154/165), formulado contra aresto da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (fls. 139/151), que consi­derou válida a denúncia ofertada pelo Ministério Público Estadual contra a paciente, pelo fato desta ter elaborado um parecer que, em tese, viabilizava a dispensa de licitação em determinado caso, enquadran­do-a nas disposições do art. 89 da Lei n Q 8.666/93.

• O Ministério Público Federal, em

parecer subscrito pelo ilustre Sub­procurador-Geral da República, Dr. José Flaubert Machado Araújo (fls. 191/195), opina pelo provimento do recurso.

É o relatório.

332 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

VOTO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): A paciente, Procuradora do Estado, responden­do a uma consulta formulada pelo Superintendente de Comunicação Governamental (fls. 44/51), opinou que, em tese, seria possível a dis­pensa de licitação, na hipótese for­mulada pelo consulente, recomen­dando, ainda, que se tomasse deter­minada cautela para evitar o super­faturamento, sendo o seu parecer referendado pelo ilustre Procurador­Geral do Estado Adjunto, Dr. Val­decir da Silva Maciel. Tal peça lhe valeu a denúncia por suposta infrin­gência ao art. 89, da Lei n Q 8.6661 93, que soa:

"Art. 89 - Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses pre­vistas em lei, ou deixar de obser­var as formalidades pertinentes à dispensa ou inexigibilidade;

Parágrafo único: Na mesma pena incorre aquele que, tendo com­provadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, bene­ficiou-se da dispensa ou in exigi­lidade ilegal, para celebrar con­trato com o Poder Público."

Fácil é de ver que a denúncia é despropositada, abusiva até. Não é plausível a persecutio criminis contra quem que simplesmente, no pleno exercício de suas funções, emite opinião sobre matéria teóri­ca, referendada por sua Chefia, pou­co importando que espertalhões ve­nham a usar seu trabalho para, em

etapa posterior, se locupletarem às custas do erário público.

N em por estar jungido ao Esta­do, o advogado perde a sua indepen­dência técnica, ficando amarrado à opinião oficial, como nos estados to­talitários. Processar um profissio­nal por externar, livremente, sua opinião, é uma condenável forma de censura a uma atividade que deve ser exercida com ampla liberdade, pois, como diz o art. 18 dos Estatu­tos dos Advogados, aplicável ao ca­so, a relação de emprego não retira do advogado (mesmo que do Esta­do, me permito acrescentar), a sua isenção técnica, nem reduz a sua in­dependência profissional.

Aqueles que usaram maio pare­cer que sejam, efetivamente, proces­sados e condenados. Jamais quem manifestou sua opinião, em tese, re­pita-se, sobre determinada matéria, no mero exercício de suas funções, parecer esse que, além do mais, não vinculava a Administração Pública, que dele poderia discordar, deixan­do de lhe dar efeitos concretos.

Assim, sem uma demonstração mais eloqüente de que a parecerista fizesse parte de um amplo esquema de corrupção no Estado, locupletan­do-se com essa atividade, não é pos­sível incluí-la na peça vestibular acusatória, cingindo-se sua ação tão-somente em opinar, livremente, sobre tema que lhe foi submetido, direito que lhe deve ser sempre as­segurado e que em hipótese alguma pode justificar uma vexaminosa ação penal.

Acolho, pois, o parecer ministe­rial e dou provimento ao recurso or-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 333

dinário, trancando a ação com refe­rência à paciente.

É o meu voto.

VOTO- VISTA

o SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Data venia, nego provimento ao recurso.

A denúncia de fls. 15/32 não se restringe a afirmar a elaboração de parecer. Ao contrário, menciona ser meio para obtenção de vantagem ilí­cita.

A imputação descreve:

A conduta de todos entrelaça­se, é um sucedâneo de vínculos visando a dilapidação do patrimô­nio público, não podemos dizer que há condutas estanques, com­partimentadas, todos agiam vi­sando o locupletamento ilícito.

Quanto à moralidade adminis­trativa, isto é, o princípio de éti­ca na condução da coisa pública, que implica em sujeição a ser honesto e probo na direção da coisa pública, verga constitucio­nal, é rompido de forma como foi, no caso presente, a ordem públi­ca está lesada, nada mais justo que a prisão cautelar destes in­divíduos seja decretada pelo Po­der Judiciário, pois desrespeitar o patrimônio público, que impli­cou no desvio de quase hum mi­lhão de dólares e poderia, nesta oportunidade, já ter ocorrido a subtração de aproximadamente R$ 3.000.000,00, em apenas 90 dias, se não fosse a pronta inter-

venção do cidadão Eduardo Valverde do Juízo da Vara da Fa­zenda Pública desta Comarca." (fls. 29)

N ego provimento.

VOTO- VISTA

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: No presente recurso ordiná­rio, a recorrente - Procuradora do Estado de Rondônia - pugna pelo trancamento de ação penal na qual é acusada da prática do delito pre­visto no art. 89, da Lei n Q 8.666/93, que acrimina quem dispensa ou inexige licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixa de obser­var formalidades pertinentes à dis­pensa ou à inexigibilidade, bem como aquele que, concorrendo para a consumação da ilegalidade, bene­ficiou-se do ato ilegal.

A sua conduta, conforme descre­ve a peça de acusação, consistiu em emitir parecer técnico em que, aten­dendo a consulta formulada por di-. rigente de órgão estatal, opina, em tese, pela dispensa de licitação, pa­recer este referendado pelo Procu­rador-Geral do Estado.

A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer da lavra do ilustre Dr. José Flaubert Macha­do Araújo, entende que não há jus­ta causa para a ação penal, pois a conduta é atípica, sendo certo que a paciente exarou manifestação so­bre hipótese em tese, pois sequer era conhecedora do processo de licita­ção, não sendo, de outra parte au­toridade administrativa responsá-

334 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

vel pela contratação e, por isso, sem poderes para dispensar ou inexigir a licitação.

O ilustre Relator Ministro Ansel­mo Santiago, em seu ilustrado voto adotou o mesmo entendimento, ver­berando ser a denúncia desproposi­tada e abusiva, não sendo plausível acusar-se alguém da prática de cri­me por haver, no exercício de suas funções, emitido parecer teórico, de­vendo a ação punitiva recair sobre aqueles que mal se utilizaram do parecer para praticar atos de cor­rupção.

Dessa posição discordou o emi­nente Ministro Luiz Vicente Cernic­chiaro, que entendeu dever prosse­guir a ação penal, pois a denúncia indicou ser o parecer meio para a obtenção da vantagem ilícita.

Peço vênia a Sua Excelência para acompanhar o Relator.

Efetivamente, a conduta da re­corrente é penalmente atípica, não se enquadrando, sequer em tese, na moldura do art. 89, da Lei nQ 8.666/ 93.

Assim, acompanho o Relator, dando provimento ao recurso.

É o voto.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator para trancar a ação penal com a devida vênia do voto divergente do Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.332 - RJ

(Registro nQ 98.0013180-9)

Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago Recorrente: Anderson Reis Pessoa Advogado: Dr. Antonio Jorge de Souza Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro Paciente: Anderson Reis da Silva Pessoa (preso)

EMENTA: RHC - Paciente denunciado por roubo qualificado - Alegação de que a polícia teria agido "à moda da casa", sem indicar o que, efetivamente, ocorrera - Motivo só apontado em grau de recurso - Análise inviável, pela supressão de instância -Morosidade do processo afastada - Súmula 52/STJ - Improvado tratamento desigual entre as partes - Prisão preventiva funda­mentada.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 335

1. Não declinado, em primeiro grau, o motivo da alegada nulida­de, não se poderá conhecê-lo em segundo, quando o mesmo é re­velado, sob pena de supressão de instância.

2. Se o feito já se acha em alegações finais, finda, pois, a instru­ção, não mais há de se falar em excesso de prazo, aplicando-se, à hipótese, o verbete da Súmula n Q 52/STJ.

3. Não se reconhece tratamento desigual entre as partes, se a acu­sação tem mais requerimentos deferidos, do que a defesa. O im­portante não é o seu número, mas a substância deles.

4. Fundamentada a prisão preventiva e entendendo o magistrado processante que tais razões subsistem, não há que se revogá-la, ainda mais se o feito já se encontra em vias de solução definitiva, quando se reapreciará, sem dúvida, tal situação.

5. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, em negar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Pat­terson e, justificadamente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 18-05-98.

RELATÓRIO

dinário em habeas corpus (fls. 42/ 44), contra aresto da 4ª Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Es­tado do Rio de Janeiro (fls. 38/39), que denegou a ordem ali impetra­da, onde se objetivava a nulidade do processo penal a que responde o paciente, por vício no inquérito po­licial e tratamento desigual entre a defesa e acusação, além da revoga­ção da prisão preventiva e da soltu­ra por excesso de prazo.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da ilustre Subpro­curadora-Geral da República, Dra. Maria Eliane Menezes de Farias (fls. 53/56), opina pelo improvimen­to do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ANSELMO O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): O paciente

SANTIAGO: Trata-se de recurso or- está sendo processado perante a 1 ª

336 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

Vara Criminal da Ilha do Governa­dor (RJ), por crime de roubo quali­ficado, sendo que, quando das infor­mações de fls. 21/23, de setembro do ano findo, os autos já se encontra­vam para alegações finais, acredi­tando-se que, a essa altura, já haja sentença.

N a peça vestibular alegou-se que o inquérito fora feito "à moda da casa", sem se declinar, no entanto, que moda seria essa, somente ago­ra revelada, de que, no interroga­tório policial, o paciente, menor, da primeira vez não teve um curador e da segunda, quando tal ato foi re­prisado, foi-lhe nomeado, para tais funções, um integrante da própria polícia.

Bem por isso tal alegação não foi examinada no juízo de origem, e fazê-lo agora, representaria a su­pressão de uma instância.

Quanto à morosidade do proces­so, tal alegação perdeu força com a informação judicial, de que o feito já se avizinhava de seu final, o que não foi desmentido pelo impetran­te, aplicando-se ao caso o verbete da Súmula nº 52/STJ.

Também ficou indemonstrado o tratamento desigual entre as par-

tes, só porque a acusação teve mais pleitos deferidos, do que a defesa, importando, de verdade, não a quantidade deles, mas a justeza do que pedido e isso não foi questiona­do.

Finalmente, não ficaram demons­trados os motivos para a revogação da prisão preventiva, que não se re­sumem à menoridade, primarieda­de, residência fixa e família consti­tuída, se outras, apontadas no de­creto confinante (fls. 32 e vº), ainda sobrevivem, sendo certo que a víti­ma, pelo depoimento juntado às fls. 34/35, não disse que o paciente não era a pessoa que a assaltara, como se pretende no recurso, mas sim que, por ser o local razoavelmente escuro, não tinha condições de re­conhecê-lo, o que é bem diferente, podendo a culpabilidade ser de­monstrada, seguramente, por ou­tras provas. Ademais, aproximando­se o feito de uma solução definiti­va, é certo aguardar que tal situa­ção seja devidamente reestudada.

Enfim, nada havendo que reme­diar, acolho o parecer do órgão mi­nisterial e nego provimento ao re­curso.

É o meu voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.366 - GO

(Registro nº 98.0016225-9)

Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago

Recorrente: Henrique Barbacena Neto

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 337

Advogado: Dr. Henrique Barbacena Neto

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Paciente: Rubens de Oliveira Machado Junior

EMENTA: Recurso em habeas corpus - Tenente da Polícia Mili­tar que, em serviço, abandona seu posto, embriaga-se e espanca um civil - Crimes previstos na legislação militar - Incompetên­cia da justiça castrense, alegação quanto aos dois últimos crimes - Situação que depende do reexame de fatos e provas, o que não se permite na via estreita do writ.

1. Havendo a indicação de que o réu estava em serviço, o abando­no do posto não o retira dessa condição, mormente se os crimes posteriores que lhe são atribuídos,. previstos no Código Penal Militar, foram cometidos quando em uso de viatura da sua corpo­ração e possivelmente fardado, o que firmaria a competência da justiça castrense.

2. Para se concluir quanto à incompetência desta e competência da Justiça Comum Estadual, haver-se-ia de reexaminar fatos e provas, o que não se concilia com os estreitos limites de um man­damus.

3. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, em negar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchia­ro e Vicente Leal. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justificada­mente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.

Brasília, 05 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 25-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANSELMO SAN­TIAGO: Trata-se de habeas corpus (fls. 34/41), contra acórdão da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (fls. 251 30), que denegou o writ ali impetra­do, sobre o fundamento de que o paciente está sendo processado, ao menos em parte, por juízo incompe­tente.

O Ministério Público Federal, em parecer subscrito pela ilustre Sub-

338 R Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

procuradora-Geral da República, Dra. Márcia Dometila Lima de Car­valho (fls. 54/57), opina pelo impro­vimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): O paciente, Tenente da Polícia Militar, quando de serviço, abandonou seu posto, embriagou-se e espancou um civil.

Todos esses delitos são previstos na legislação castrense, ao contrá­rio do exemplo fornecido pelo recor­rente, em que parte não o era, ra­zão pela qual não se poderia, a prio­ri afastar a competência da Justiça Militar para examiná-los, mormen­te na via estreita do mandamus, imune à apreciação de fatos e provas.

Ademais, não se observa, de for­ma clara e patente, essa acenada in­competência parcial, vez que, em-

bora tenha abandonado o seu pos­to, o militar estava devidamente escalado e em situação de serviço, devendo assim ser considerado para efeitos penais.

Além do mais, valeu-se de um veí­culo da PM para circular por diver­sos bares e uma casa de prostitui­ção, onde bebeu até à exaustão, sen­do que foi nessa mesma viatura que teria feito a abordagem do civil e, após revistá-lo, submeteu-o a um severo espancamento.

Tudo leva a crer que estivesse fardado, para que o particular se deixasse revistar, mais uma razão para firmar a competência dajusti­ça castrense e não da comum.

Enfim, é situação a depender da colheita de provas, o que não se per­mite na via eleita.

À vista do exposto, acolho o pa­recer ministerial e nego provimen­to ao recurso.

É o meu voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.514 - RJ

(Registro nQ 98.0026364-0)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Recorrente: Werneksandro Pereira Lopes

Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro

Paciente: Werneksandro Pereira Lopes (preso)

Advogado: Dr. Luiz Paulo Pereira Oviedo

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 339

EMENTA: RHC - Processual Penal - Sentença condenatória - Réu preso - Regime semi-aberto - Princípio da proporcionali­dade - Réu preso, no curso do processo, em sendo condenatória a sentença, deve ser mantido na mesma situação jurídica. Toda­via, se o regime aplicado for o semi-aberto, outra, a solução. De­corrência do princípio da proporcionalidade. Caso contrário, con­ferir-se-ia tratamento igual para situações diferentes, ou seja, re­comendada quando o regime inicial fosse fechado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas cons­tantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso e orde­nar a expedição de alvará de soltu­ra se por aI não estiver o paciente preso, nos termos do voto do Sr. Mi­nistro-Relator. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Ausentes, justificadamen­te, o Sr. Ministro Vicente Leal e, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília, 02 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro LUIZ VI­CENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DJ de 29-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Recurso Or­dinário interposto por Werneksan­dro Pereira Lopes, em seu favor, in-

conformado com v. acórdão do Tri­bunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, denegatório de habeas corpus impetrado objetivando ser concedido ao impetrante o direito de recorrer em liberdade.

O v. acórdão restou assim emen­tado:

"Habeas corpus. Primarieda­de e bons antecedentes.

Na esteira da Súmula n Q 9 do E. STJ e do vetusto ensinamento de nossa Corte Maior, "preso fica preso, solto fica solto", e de fato não teria sentido que o condena­do, após responder a todos os atos do processo preso preventiva­mente, malgrado primário e de bons antecedentes, agora que vi­esse a ser condenado, com um juízo de censura ainda que pro­visório, fosse solto para, caso con­firmada a sentença, novamente fosse recolhido.

Ordem denegada." (fls. 24)

Parecer do Ministério Público Fe­deral pelo não provimento do recur­so (fls. 40/44).

É o relatório.

340 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCRIARO (Relator): A jurisprudência deste Tribunal, coin­cidindo com o entendimento do E. Supremo Tribunal Federal, conso­lidou-se, em atenção às caracterís­ticas da prisão cautelar, no sentido de ser mantida a situação jurídica encontrada pela sentença condena­tória. Assim, estando preso o réu, continuará detido; em contraparti­da, se responde o processo em liber­dade, assim continuará.

"RHC - Processual Penal- Ape­lação - Liberdade - O réu, como regra, aguarda o julgamen­to em liberdade. Em havendo pri­são processual cautelar, antes da sentença, manter-se-á a constri­ção ao exercício do direito de li­berdade." (RRC nº 6.574/SP)

O caso dos autos apresenta uma particularidade.

O paciente se encontrava preso quando foi condenado (fls. 25). O re-

gime inicial estabelecido pela sen­tença - semi-aberto - é particu­lar de relevo.

Em sendo confirmada a decisão, o réu não será submetido ao regime fechado, terá, então, tratamento menos rigoroso.

Cumpre pensar o princípio da proporcionalidade. Não se pode co­locar, na mesma esteira, o condena­do a regime fechado e a regime semi-aberto. A presunção de inocên­cia, a par do proporcional, da per­sonalidade do réu e características do delito devem ser invocados. Caso contrário, a decisão será meramen­te formal. Cumpre adotar a solução mais favorável.

No balanço da personalidade e da conduta, cumpre conferir maior atenção à primeira. Aqui, está o homem; ali, um acontecimento pro­vocado pelo homem. Pode, quem sabe, ser isolado, excepcional.

Dou provimento ao recurso.

Expeça-se mandado de soltura, se por aI não estiver preso.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 8.399 - RS

(Registro n Q 97.0019120-6)

Relator: O Sr. Ministro William Patterson

Recorrente: Isolde da Silva Gressler

Advogados: Drs. Mário Bernardo Sesta e outros

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 341

Impetrado: Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Es­tado do Rio Grande do Sul

Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul

Advogados: Drs. Adriana Maria Neumann e outros

EMENTA: Administrativo. Atos. Ilegalidade. Desfazimento. Tem­po de serviço. Contagem. Serventia não oficial.

- Ao considerar o tempo de serviço de natureza particular (ser­ventia), para fins de gratificações e vantagens junto ao serviço público, sem autorização legislativa válida, à Administração era, como é, lícito desfazer o ato, sem lugar para em oposição, alegar­se amparo com base no princípio do direito adquirido.

- Recurso desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Vota­ram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernic­chiaro, Fernando Gonçalves e Ansel­mo Santiago. Ausente, justificada­mente, o Sr. Ministro Vicente Leal.

Brasília, 18 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.

Publicado no DJ de 23-03·98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: Adoto como relatório

a parte expositiva do parecer do Mi­nistério Público Federal (fls. 121/ 122):

"Isolde da Silva Gressler, aju­dante da serventia do registro ci­vil das pessoas naturais de Ca­choeira do Sul (RS), ajuizou man­dado de segurança contra o ato do Presidente do Tribunal de Jus­tiça do Estado do Rio Grande do Sul, publicado no Diário da Jus­tiça de 19/10/95, que tornou sem efeito atos anteriores, praticados respectivamente em 04/04/90 e 26/04/91, pelos quais se havia deferido à mesma a gratificação adicional de 25% e 09 (nove) Avanços Trienais, atos estes pra­ticados em 04/04/90 e 26/04/91, respectivamente, e qualificando­o como ilegal e ofensivo a direito líquido e certo, pede o restabele­cimento das vantagens suprimi­das.

A autoridade apontada como coatora, nas suas informações

342 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

(fls. 23/24) sustentou a legitimi­dade do ato impugnado na medi­da em que a administração pode invalidar os seus próprios atos quando ilegais e, no caso, os be­nefícios suprimidos haviam sido indevidamente concedidos por­que se computou como tempo de serviço público, que era requisi­to necessário para os benefícios, tempo que na realidade era de serviço particular, que a impe­trante exerceu como empregada do titular do cartório.

O Tribunal a quo, em decisão tomada por maioria de votos, ao fundamento de que o tempo de serviço particular é imprestável para fins de gratificação e avan­ços junto ao serviço público, de­negou a segurança e reconheceu a legitimidade do ato impugnado (fls. 56/72).

No recurso ordinário de fls. 74/ 84 a recorrente pondera que o ato atacado fere o seu direito líquido e certo, relativamente à irredu­tibilidade da remuneração e à garantia do devido processo le­gal, porque lhe foi imposta uni­lateral redução na remuneração, sem oportunidade para manifes­tar defesa, razão pela qual pos­tula o provimento do recurso.

O órgão ministerial opinou no sentido do desprovimento do recur­so (fls. 124).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): Sob o ale-

gado manto do direito adquirido, pretende-se neste mandado de se­gurança preservar vantagem conce­dida ao arrepio da lei. O pleito está desvestido de irrefutável razoabili­dade, por isso que não se pode, como é sabido, conferir validade a ato ad­ministrativo que nasce sob o estig­ma do desamparo legislativo.

Direito líquido e certo é aquele que se constitui e se aperfeiçoa ao abrigo de expressa autorização le­gislativa. Se isso não ocorre, como no caso destes autos, improspera qualquer tentativa de superar o vÍ­cio. Demais disso, a Administração não é escrava dos seus próprios atos, quando expedidos sem ampa­ro na lei. Daí o enunciado da Súmu­la n Q 473 do STF.

Vale acrescentar, ainda, que igual orientação há de prevalecer quan­do existindo legislação disciplinado­ra, seu comando viola postulado constitucional, Federal ou Estadual, conforme o caso.

Valiosas as observações contidas no pronunciamento do ilustre Su­procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, ao advertir (fls. 122/124):

"O princípio da legalidade (art. 37, CF/88) aplicado à Administra­ção Pública significa que a ela só é permitido fazer o que a lei au­toriza, conclusão que há de ser ainda mais enfática quando se trata do regime estatutário dos seus servidores. Se a legislação estadual, e esse é o caso dos au­tos, exige como requisito para que a Administração Pública conceda

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 343

a gratificação adicional e os avan­ços trienais que o tempo de ser­viço a ser considerado seja públi­co, é evidente que os atos que deferiram as vantagens à recor­rente, sem a observância do re­quisito em referência, visto que foi considerado tempo de serviço privado, são nulos e, portanto, não geraram qualquer efeito.

Por outro lado, tenho reitera­damente afirmado que a conces­são ilegal de vantagem funcional não gera direito em favor do be­neficiário, muito menos direito adquirido à manutenção do ato ilegal e dos seus efeitos. O Supre­mo Tribunal Federal, mais de uma vez, já proclamou em hipó­tese assemelhada sob o enfoque jurídico - em todas elas trata­va-se de deliberação do Tribunal de Contas da União que excluiu, em processo de registro de apo­sentadoria de magistrado fede­ral, a contagem de tempo de ser­viço privado considerado para efeito de percepção do adicional por tempo de serviço -, que não se configura o direito adquirido quando o alegado reconhecimen­to administrativo da vantagem funcional resulta de ato ilegal:

"Mandado de segurança. Ma­gistrado do Distrito Federal. Decisão do Tribunal de Contas da União que, no processo de sua aposentadoria, excluiu, do cálculo dos proventos, o tem­po de serviço prestado a enti­dade particular e a vantagem prevista no art. 184, inc. lI, da Lei nº 1. 711/52.

Legitimidade do referido ato.

Inexistindo lei autorizadora de contagem de tempo de serviço em atividade particular, para efeito do cálculo de adicional por tempo de serviço, não há falar-se em direito adquirido ao cômputo da aludida vanta­gem nos proventos de aposen­tadoria. O deferimento dos adi­cionais, na atividade, foi ato nulo, insuscetível de gerar di­reito. Precedentes do STF (Repr. nº 1.490 - RTJ 128/43 e MS nº 21.606-DF, DJ de 14-5-93).

De outra parte, o cargo de De­sembargador é da última clas­se da carreira da Magistratu­ra do Distrito Federal, para o efeito do art. 250 da Lei nº 8.112/90.

Segurança denegada."

"Constitucional. Administrati­vo. Magistrado. Adicional por tempo de serviçà. Serviço pres­tado a pessoas jurídicas de di­reito privado.

I - Não se computa, para o fim de concessão de adicional por tempo de serviço, o tempo de serviço prestado a empresas de direito privado não integran­tes da administração pública indireta.

II - Representação 1.490-DF - representação de interpre­tação de lei em tese. RTJ 128/ 43.

III - Inocorrência de direito adquirido em razão de a aver-

344 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

bação ter sido realizada ante­riormente à decisão proferida na Rp 1.490-DF.

V - Mandado de segurança in­deferido."

Porque beneficiária de atos ad­ministrativos ilegais, a recorren­te não está protegida pelo prin­cípio do direito adquirido, nem pelo da irredutibilidade de ven­cimentos, visto que nenhum dos dois protege o servidor público da anulação de ato ilegal. Nenhum dos mencionados princípios pode gerar à percepção de remunera­ção ilegalmente calculada.

Finalmente, tendo em vista que a invalidação do ato não de­correu de falta imputável à recor­rente, mas de ilegalidade, não procede o inconformismo quanto à ausência de processo adminis­trativo, onde lhe fossem assegu­rados o contraditório e a ampla defesa. Não procede, portanto, a alegada desconsideração à garan­tia do devido processo legal. O seu direito de questionar judicial­mente o ato praticado foi e está sendo legitimamente exercido."

Aliás, a jurisprudência pretoria­na, ao examinar casos semelhantes, já repeliu benefícios das espécies, consoante se infere desses acórdãos, respectivamente, do STF e do STJ.

"Servidor público. Tempo de serviço prestado como auxiliar de cartório sem vínculo com o Esta­do. Contagem para efeito de apo­sentadoria. Afronta aos arts. 108

e 200 da Constituição Federal precedente. Precedentes da Cor­te.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal está orientada no sentido de que não se concilia com a Constituição Federal de 1969 (arts. 108 e 200) a conta­gem, para todos os efeitos legais, do tempo de serviço prestado por auxiliar de cartório, sem qual­quer vínculo com o Estado.

Recurso extraordinário conhe­cido e provido." (RE n Q 140.897/ SP; Relator Ministro Ilmar Gal­vão).

"Ementa: Recurso especial. Administrativo. Serviço prestado junto a cartório não oficializado. Contagem de tempo de serviço. Serviço público. Impossibilidade. Precedentes.

A jurisprudência desta Corte, bem como do Excelso Pretório, é forte no sentido de que, desta for­ma, não tendo o servidor vínculo com o Estado, não sendo ele fun­cionário público, não faz jus a vantagens atribuídas para funcio­nários públicos" (REsp n Q 61.361/ SP; Relator Ministro José Arnal­do da Fonseca).

A mesma orientação prevalece no âmbito do Tribunal de Contas da União, conforme se vê da decisão per­tinente ao Processo n Q TC 700.219/ 85-4, ao acolher parecer do MP, nes­tes termos, no que interessa:

"O período prestado pelo ser­vidor, na condição de Datilógrafo

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 345

contratado pelo Titular do Car­tório do Registro Civil das Pes­soas Naturais e Anexo de Pirangi (fls. 40), não é computável para efeito de gratificação adicional por tempo de serviço (Sessão de 25.07.1990, TC - 000.413/86-1, Anexo XXVIII da Ata n Q 37/90-Plenário), ainda que autorizado por lei estadual, uma vez que guarda similitude com julgados

desta corte (Decisões de 13.04.1978, TC - 000.691/77, Ata n Q 22/78; 02.02.1982, TC - 033.132/81, Anexo XI da Ata n Q 05/82; e 07.04.1988, TC's - 576.155/87-0 e 576.568/87-2, Anexo IV da Ata n Q 07/88 - 2ª Câmara)."

Ante o exposto, nego provimen­to.

RECURSO ESPECIAL NQ 90.458 - PE

(Registro n Q 96.0016413-4)

Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal

Recorrente: Ministério Público Federal

Recorridos: Erotildes Salviano Alves e Ivanete de Andrade Souza

Advogados: Etiene Niete de Castro - defensor e Monica Maria Lins Maciel - defensora

EMENTA: Processual Penal. Apelação criminal. Ministério Pú­blico. Intervenção no processo. Omissão. Presença do Procurador da República na sessão de julgamento. Nulidade. Inexistência.

- Em tema de nulidade no processo penal, o princípio funda­mental que norteia o sistema preconiza que para o reconhecimen­to da nulidade do ato processual é necessário que se demonstre, de modo objetivo, os prejuízos conseqüentes, com influência na apuração da verdade substancial e reflexo na decisão da causa (CPP, art. 566).

- Embora haja disposição expressa no sentido de ser dado vis­ta ao Ministério Público com assento no Tribunal antes do julga­mento de apelação criminal (CPP, art. 610), tal omissão, que não consubstancia nulidade absoluta, foi sanada com a presença do Parquet na sessão de julgamento, momento em que não manifes­tou qualquer oposição.

- Recurso especial não conhecido.

346 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, na conformidade dos votos e notas ta­quigráficas a seguir. Votaram os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Anselmo Santiago e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília, 26 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.

Publicado no DJ de 22-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: O ilustre Juiz Federal Ma­noel de Oliveira Erhardt, titular da 3ª Vara da SJ/PE, sentenciando nos autos da ação penal proposta con­tra Erotildes Salviano Alves e ou­tro sob a acusação de prática do cri­me de prevaricação absolveu os réus por falta de provas (fls. 745/748).

A sentença monocrática foi con­firmada por decisão unânime da Se­gunda Turma do Tribunal Regional Federal da Quinta Região, consoan­te acórdão da lavra do então Juiz José Delgado, hoje compondo esta Corte (fls. 775/783).

O Ministério Público Federal opôs embargos de declaração, alegando

que houve omissão no tocante à intervenção do Ministério Público Federal como fiscal da lei, com vio­lação aos arts. 37, I, e 68, da LC 751 93, e aos arts. 610 e 613, do CPP (fls. 786/789).

Ao rejeitar os embargos, a Egré­gia Turma, após acentuar que o re­presentante do Ministério Público Federal esteve presente à sessão de julgamento e não ofereceu qualquer oposição, sustentou que a ausência de ato processual sem repercussão na causa consubstancia nulidade à míngua de prejuízo (fls. 796).

Irresignado, o Ministério Públi­co Federal interpõe o presente re­curso especial com invocação da alí­nea a do permissivo constitucional, insistindo que o acórdão em tela negou vigência aos arts. 564, lU, d, e 610, do Código de Processo Penal (fls. 799/802).

Não oferecidas as contra-razões e admitido o recurso (fl. 807), ascen­deram os autos a esta Corte, ensejo em que a douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer de fls. 812/816, opina pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): A questão posta em julgamento, embora não debatida no acórdão, foi objeto de prequestio­namento na via de embargos de de­claração, providência pertinente, de vez que a alegada violação de­correu do julgamento sem a prévia manifestação do Ministério Público.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 347

Tenho, assim, como presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso.

No mérito, não vejo por que pro­clamar a nulidade do acórdão pela única razão de não se ter dado vis­ta do processo à Procuradoria Re­gional da República antes do julga­mento da apelação.

É certo que o art. 610, do CPP, contém expressa disposição no sen­tido de ser dado vista ao Ministério Público com assento no Tribunal an­tes do julgamento da apelação.

Todavia, tal omissão não chega a configurar nulidade absoluta, pas­sível de contaminar irremediavel­mente o julgamento.

Ora, em tema de nulidade no pro­cesso penal, o princípio fundamen­tal que norteia o sistema preconiza que para o reconhecimento da nuli­dade do ato processual é necessário que se demonstre, de modo objeti­vo, os prejuízos conseqüentes com efetiva influência na apuração da verdade substancial e reflexo na decisão da causa. Tal princípio en­contra-se entronizado nos arts. 563 e 566, do Código de Processo Penal,

e foi objeto de especial destaque do mestre Francisco Campos, na Expo­sição de Motivos apresentadora do citado diploma legal, ensejo em que proclamou que 'nenhuma nulidade ocorre se não há prejuízo para a acusação ou para a defesa' (sic)."

No caso, consoante acentuado no acórdão proferido no julgamento dos embargos de declaração, o re­presentante do Ministério Público Federal esteve presente à sessão de julgamento da apelação e não ma­nifestou qualquer oposição. Ressal­te-se que a apelação fora interpos­ta pelo Ministério Público com atua­ção no primeiro grau, o que afasta qualquer idéia de que a falta de pré­via intervenção na segunda instân­cia poderia causar prejuízo para a acusação.

Assim, é de se reconhecer que a questionada omissão em nada re­percutiu no julgamento da apelação. E como já acentuado, sem prejuízo não há nulidade.

Isto posto, não conheço do recur­so especial.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL Nº 132.539 - SC

(Registro nº 97.0034758-3)

Relator: O Sr. Ministro William Patterson Recorrente: Ministério Público do Estado de Santa Catarina Recorrido: Gerhard Bozler Advogado: Dr. Miguel Teixeira Filho

348 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

EMENTA: Penal. Seqüestro de bens. Crime de sonegação fiscal. Decreto-Lei n 9 3.240, de 1941. Aplicação.

- A teor de orientação já firmada na Sexta Turma do STJ, não está revogado, pelo Código de Processo Penal, o Decreto-Lei nº 3.240, de 1941, no ponto em que disciplina o seqüestro de bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuízo para a fazen­da pública.

- Recurso Especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Anselmo Santiago, por maioria, co­nhecer do recurso e dar-lhe provi­mento .. Vencido o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. Participaram do julgamento os Srs. Ministros William Patterson e Luiz Vicente Cernicchiaro. Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Vicen­te Leal e Fernando Gonçalves.

Brasília, 01 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.

Publicado no DJ de 09·02·98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: A matéria versada nestes autos foi assim sumariada no Tribunal de origem (fls. 62/64):

"Perante o Juízo de Direito da 1 ª Vara Criminal da Comarca de Joinville, o representante do Mi­nistério Público requereu limi­narmente medida cautelar asse­curatória de seqüestro de bens (devidamente identificados às fls. 3 e 4) de Gehard Bozler, denun­ciado como incurso nas sanções do artigo 2Q

, n, da Lei 8.137/90, porque supostamente teria pra­ticado delito contra a ordem tri­butária, fundamentando, o Dr. Promotor, a sua pretensão nos artigos 1 Q c/c o 2Q

, caput, do De­creto-Lei n Q 3.240, de 8/5/1941, e, por último, a especialização da hipoteca legal dos referidos bens, na forma preconizada no art. 135 e parágrafos, do Código de Pro­cesso Penal.

Decidindo liminarmente, o Dr. Juiz a quo indeferiu o pedido ini­cial, por entender que restou re­vogado o Decreto-lei n Q 3.240/41, embasador da pretensão, com a entrada em vigor do Código de Processo Penal, e também porque todos os imóveis descritos e indi­vidualizados, cujo seqüestro está a ser pleiteado, foram incorpora­dos ao acervo patrimonial do acu­sado não por atos inter vivos,

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 349

mas sim em decorrência de suces­são causa mortis, através de auto de partilha datado de 21/05/ 91, não podendo presumir-se, as­sim, a proveniência ilícita de tais bens.

Inconformado com a decisão, o órgão do Ministério Público a quo interpôs recurso de apela­ção, forte no art. 593, inciso lI, do Código de Processo Penal, ob­jetivando a reforma da sentença, por entender não estar revogado o Diploma Legal supedaneador da pretensão, e, conseqüentemen­te, o acolhimento do pedido for­mulado.

O acusado, opportuno tem­pore, apresentou suas contra­razões de apelação, através de defensor constituído, versando sobre matéria constitucional, aduzindo que a bem lançada sen­tença não deve sofrer qualquer reparo, posto que o Decreto-lei 3.240/41 encontra-se revogado pela legislação processual vigen­te, pois, caso contrário, estaria em evidente confronto com os di­reitos e garantias do cidadão, ex­pressamente inscritos na Consti­tuição Federal de 1988, especifi­camente o art. 52, LIV e LV (de­vido processo legal e ampla defe­sa). Por fim, pleiteou que antes da apreciação do mérito, fossem os autos enviados ao Pleno desta Corte, para a apreciação da in­constitucionalidade argüida.

Prestadas as informações, nes­ta Jnstância a douta Procurado­ria Geral de Justiça manifestou­se, em parecer da lavra do Dr.

Agamenon Bento do Amaral, pelo desprovimento do recurso inter­posto."

O apelo foi desprovido, em acór­dão refletido na respectiva ementa, escrita nestes termos (fls. 62):

"Apelação criminal. Medida cautelar assecuratória de seqües­tro de bens, como garantia de dé­bito fiscal junto à fazenda públi­ca, motivada pelo disposto nos arts. 1 Q e 2Q

, do Dec.-Lei 3.240/ 41. Indeferimento do seqüestro cautelar no primeiro grau. Recur­so ministerial visando a reforma da decisão monocrática. Imóveis adquiridos em decorrência de su­cessão causa mortis (auto de partilha). Bens que não foram ob­tidos com o produto da sonega­ção fiscal denunciada. Impossibi­lidade do deferimento da medida cautelar. Revogação, ademais, do Decreto-Lei fundamentador do pedido, pela entrada em vigor do Código de Processo Penal. Sen­tença confirmada. Recurso des­provido."

Com fundamento nas alíneas a e c, do permissivo constitucional, o Ministério Público do Estado de Santa Catarina ofertou o presente recurso especial, alegando negativa de vigência do Decreto-Lei n 2 3.240, de 1941, além de divergênciajuris­prudencial.

Nesta Corte, o Ministério Públi­co Federal manifestou-se no senti­do do provimento do recurso (fls. 140).

É o relatório.

350 R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

VOTO

O SR. MINISTRO WILLIAM PAT­TERSON (Relator): A discussão pos­ta neste recurso especial gira em torno da revogação ou não do De­creto-Lei n Q 3.240, de 1941, visto como o v. acórdão impugnado endos­sou a tese do juízo monocrático no sentido de que o referido ordena­mento perdeu eficácia com a pro­mulgação do Código de Processo Penal, diante dos termos das regras contidas nos seus arts. 125 e 126.

A propósito, vale lembrar as con­siderações contidas no voto condu­tor (fls. 64/65):

"Ora, o Decreto-Lei n Q 3.240, de 8.5.41, teve como finalidade precípua colocar sob sujeição a seqüestro os bens de pessoas indiciadas por crimes de que re­sultaram prejuízo para a Fazen­da Pública, estabelecendo, em seu artigo 1 Q e artigo 3Q

, três re­quisitos para a sua decretação, conforme se constata de simples leitura de texto legal. Entretan­to, tal Decreto-Lei teve vigência até 1 Q de janeiro de 1942, quan­do entrou em vigor o novo Códi­go de Processo Penal, que em seus arts. 125 e 126, assim dis­pôs, respectivamente:

"Art. 125. Caberá o seqües­tro dos bens imóveis, adquiri­dos pelo indiciado com os pro­ventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro."

"Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a exis-

tência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens."

Assim, independente de ter o apelado sonegado ou não impos­tos devidos à Fazenda Pública, questão esta que não cabe ser analisada nestes autos, o seqües­tro de bens visando garantir o respectivo débito de Gerhard Boz­ler com este ente recaiu sobre os imóveis descritos e individualiza­dos às fls. 03/04 dos autos, imó­veis estes que foram incorpora­dos ao patrimônio do apelado não por ato inter vivos, e sim em decorrência de sucessão causa mortis, fato documentado pelo auto de partilha datado de 21/05/ 91. Salienta-se, ainda, que a data da partilha dos bens foi anterior à da suposta sonegação denun­ciada (fls. 7).

Deste modo, não podia o refe­rido diploma legal ser aplicado e ter servido de sustentáculo para o seqüestro de bens, que indubi­tavelmente não tiveram origem ilícita."

Consoante comprovado na peça recursal a espécie já foi objeto de apreciação por esta Colenda 6ª Tur­ma, em acórdão lavrado pelo emi­nente Ministro Adhemar Maciel que recebeu o aval do ilustre Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, o único remanescente da composição do Colegiado, naquela oportunidade.

Extraio do voto do culto Ministro Maciel os seguintes lances (fls. 117/ 120):

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369; setembro 1998. 351

"O Decreto-Lei n Q 3.240/41, ti­nha ou tem a seguinte rubrica: "Sujeita a seqüestro os bens de pessoas indiciadas por crimes de que resulta prejuízo para a fazen­da pública". Dizia ou diz:

"Art. 1 Q Ficam sujeitos a se­qüestro os bens de pessoa in­diciada por crime de que resul­ta prejuízo para a fazenda pú­blica, ou por crime definido no livro lI, Títulos V, VI e VII da Consolidação das Leis Penais desde que dele resulte locuple­tamento ilícito para o indicia­do.

"Art. 2Q O seqüestro é decre­tado pela autoridade judiciá­ria, sem audiência da parte, a requerimento do ministério público fundado em represen­tação da autoridade incumbi­da do processo administrativo ou do inquérito policial.

§ 1 Q A ação penal terá início dentro de noventa dias conta­dos da decretação do seqües­tro".

Senhor Presidente, os recor­rentes, que já encontraram res­sonância no voto do Ministro-Re­lator, afirmam que o Decreto-Lei n Q 3.240/41 já foi revogado há mais de meio século. O CPP re­gula a matéria.

Mandei fazer uma pesquisa em nosso serviço de jurisprudência. Em cerca de cinco acórdãos, to­dos do .antigo TFR, aparece o famigerado decreto-lei como uma das referências legislativas. São

eles: REO n Q 94.312/RJ (ReI. Min. Pádua Ribeiro), MS n Q 115.299/ SP (ReI. Min. Nilson Naves), AC n Q 60.844/RJ (ReI. Min. William Patterson), AG n Q 49.048/ES (ReI. Min. José Dantas) eAC n Q 58.634/ RJ)

Data venia dos recorrentes, tenho para mim que não se pode falar que o decreto-lei em ques­tão estej a revogado (melhor se­ria dizer ab-rogado). Pelo § 1 Q do art. 2Q da LICC, uma lei só revo­ga a anterior, quando expressa­mente o disser, quando com ela incompatível ou quando regular inteiramente a matéria de que tratava a lei velha. Ora, o CPP, quando cuida das "medidas asse­curatórias", normatiza coisa dife­rente: trata em seus arts. 125 e 132 de seqüestro de bens imóveis ou móveis .adquiridos com o pro­duto de crime. Já o Decreto-Lei n Q 3.240/41, como acabamos de ouvir, em seu art. 1 Q, primeira parte, cura de "seqüestro de bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuízo para Fazen­da Pública". Como se vê, as leis regulam ássuntos diversos. Logo, têm existência compatíveis.

ReIy Lopes Meirelles, como foi mencionado pelo intervenien­te (Estado da Paraíba), diz em seu festejado "Direito Adminis­trativo Brasileiro", Malheiros, 19ª ed., pág. 423:

"O seqüestro dos bens adqui­ridos pelo indiciado com o pro­duto da infração penal está ge­nericamente disciplinadp no

352 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

CPP, arts. 125 a 144. Todavia, quando a vítima é a Fazenda Pública, o procedimento é o previsto no Dec.-Lei 3.240, de 8.5.41, expressamente revigo­rado pelo Dec.-Lei 359/68 (art. 11). Nesse caso, é requerido pelo Ministério Público, por representação da autoridade policial ou da administrativa, dependendo sua subsistência da instauração da ação penal no prazo de noventa dias (arts. 6º, I, e 2º, § 1º)."

Por sua vez, o Decreto-Lei nº 359/68, que criou a "Comissão Geral de Investigações", reza:

"Art. 11 - Continuam em vi­gor o Decreto-Lei n Q 3.240, de 8 de maio de 1941, e as Leis n.!!.S. 3.164, de 1 º de junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezem­bro de 1958, no que não colidi­rem com o disposto neste De­creto-Lei."

Carlos Alberto Álvaro de Oliveira e Galeno Lacerda, no "Comentários ao Código de Pro­cesso Civil", Forense, 2ª ed., voI. VIII, tomo lI, comentando sobre o instituto do seqüestro civil, ob­servam à pág. 66:

"Em alguns casos, a lei provê, explicitamente, quanto à legi­timação do Ministério Público: a) Decreto-Lei nº 3.240, de 08.05.41, art. 2º, quanto aos bens das pessoas indiciadas por crime de que resulte pre­juízo à Fazenda Pública; b)

Decreto-Lei n Q 3.415, de 10.07.41, art. 2Q

, relativamen­te aos bens apreendidos aos acusados de crime contra a Fazenda Nacional; c) Decreto­Lei n Q 3.931, de 11.12.41 (Có­digo de Processo Penal), art. 127, referindo-se ao seqüestro (penal) dos bens imóveis ad­quiridos pelo indiciado com proventos da infração, mesmo que transferidos a terceiro."

Assim, Senhor Presidente, em que pesem ao entendimento dos recorrentes, ou por fás ou por nefas, o Decreto-Lei n Q 3.240/41 está vivo em nosso ordenamento legal e é instrumento legal para coibir abusos de sonegadores e fraudadores da Fazenda Pública.

Na realidade, o Decreto-Lei nº 3.240/41 instituiu em favor da Fazenda Pública uma medida cautelar em como tal, dotada de presteza e provisoriedade. Como medida cautelar, ela pode e às ve­zes deve ser decretada inaudita.

Em princípio, não vejo na me­dida, drástica, reconheço, mas às vezes necessária, afronta ao de­vido processo legal, pois os recor­rentes, após o seqüestro, terão, evidentemente, a oportunidade de ampla defesa. Aí, sim, terão ensejo de se defenderem e joga­rem por terra o ato judicial e, mais, responsabilizarePl o órgão e a pessoa jurídica pelo abuso por acaso cometido."

Como visto, precedente de minha relatoria (AC n Q 60.844-RJ), citado

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 353

no pronunciamento posto em desta­que, avaliza o mesmo entendimen­to ali expresso, ao conceber não re­vogado, pelo CPP, o Decreto-Lei n Q

3.240/41, no ponto em que discipli­na o seqüestro de bens de pessoa indiciada por crime que resulta pre­juízo para a Fazenda Pública.

Ante o exposto, conheço do recur­so especial, e, em conseqüência, dou-lhe provimento, para que o exa­me do pedido de seqüestro de bens seja feito como base no Decreto-Lei n Q 3.240/41.

VOTO-VISTA

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: O tema cen­tral deste Recurso Especial é a vi­gência do Decreto-Lei n. 3.240, de 8 de maio de 1941, anterior ao Códi­go de Processo Penal. Este diploma dedica o Título VI - Das Questões e Processos Incidentes, capítulo VI - Das Medidas Assecuratórias. Au­toriza o seqüestro de bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda quejá tenham sido transferidos a terceiro (art. 125). E acrescenta no art. 130:

"O seqüestro poderá ainda ser embargado:

I - pelo acusado, sob o funda­mento de não terem os bens sido adquiridos com os proventos da infração".

O Código de Processo Penal dis­ciplinou inteiramente a matéria do Decreto-Lei n. 3.240, de 8 de maio de 1941.

Em sendo assim, a lei posterior prefere à anterior. E, entre elas, há distinção importante. O Código en­seja o direito de defesa, mediante embargos. Coaduna-se, aliás, com a Constituição da República que pre­serva o direito adquirido. Entre es­te, sem dúvida, coloca-se a proprie­dade, também resguardada pela Carta Política.

O seqüestro, sabe-se, é instituto de interpretação restrita. Tanto as­sim, o Código de Processo Penal res­tringe-se aos "bens imóveis, adqui­ridos pelo indiciado com os provei­tos da infração".

O proprietário, assim, tem direi­to subjetivo de evidenciar que a impu­tação não se ajusta aos limites da lei.

Em decisão anterior, entendi:

"RMS - Constitucional- Pro­cessual Penal - Mandado de se­gurança - Infração penal- So­negação - Seqüestro de bens -O seqüestro de bens, ao funda­mento de prática de infração pe­nal, é admissível, em havendo indícios do delito e que a separa­ção judicial do casal se reveste de fraude, dado continuar a vida em comum. O fato reclama investi­gação probatória. Inadequação do mandado de segurança. Possibi­lidade jurídica dos Embargos de Terceiro". (RMS 6.645/RS)

O v. acórdão recorrido deixou ex­presso inexistir, nos autos, prova de os bens objeto do seqüestro haverem sido obtidos por meio ilícito (fls. 66).

354 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

o Recurso Especial é infenso à produção de provas (Súmula 7, STJ).

Não conheço do Recurso Espe­cial.

VOTO- VISTA

o SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de discussão sobre a vigência, ou não, do Decre­to-Lei nQ 3.240/41, que o Eg. Soda­lício catarinense entendeu que, com a edição do Código de Processo Pe­nal, em especial os artigos 125 e 126, já não mais está em vigor.

O ilustre Relator, com o reforço de decisão anterior, entende que ainda continua vivo o diploma em comento.

De fato, a leitura dos escassos ensinamentos doutrinários e daju­risprudência leva a essa conclusão, dando-se à Fazenda Pública o tra­tamento privilegiado de poder se­qüestrar os bens de qualquer indi-

ciado em crime contra o Erário, mesmo que não tenham sido adqui­ridos com o produto do crime.

Trata-se, na verdade, de institu­to de pouco uso, daí a pobreza, an­tes anunciada, de lições de nossos processualistas, ou mesmo dos tri­bunais. É que a Fazenda Pública, desamarrada do aspecto penal, não fica na espera de que tais medidas acauteladoras sejam tomadas, pre­ferindo diretamente a execução da dívida, onde pode penhorar quais­quer bens do devedor, sejam ou não provenientes de delito. Pelo que se sabe, dificilmente representa ao Mi­nistério Público, como disposto no art. 2Q, do DL nQ 3.240/41, para que este proceda ao seqüestro ali pre­visto.

De qualquer forma, também en­tendo que o diploma em exame ain­da continua vigorando, acompa­nhando, nesse particular, o ilustre Relator.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 147.850·- RJ

(Registro n Q 97.0064136-8)

Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal

Recorrente: Roberto José Maia Serpa - espólio

Recorrido: Alexandre Guilherme Miguel Mayworm.

Representado por: Sylvia Salles Couto - inventariante

Advogados: Maria da Gloria P. Ponte Gomes e Valdir Pietre

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (!09): 313-369, setembro 1998. 355

EMENTA: Processual Civil. Magistrado. Predicamentos. Impar­cialidade. Recebimento de dádiva para reforma do Fórum. Exce­ção de suspeição. Reconhecimento objetivo. CPC, art. 135, IV.

- As garantias constitucionais de vitaliciedade, inamovibili­dade e irredutibilidade de vencimentos têm por escopo colocar o magistrado em espaço superior aos interesses das partes em lití­gio, com efetivo resguardo do grande predicado da imparcialida­de.

- O nosso Código de Processo Civil no art. 135, qualifica de fundada a suspeição de parcialidade do Juiz com a simples cons­tatação de uma das situações de fatos arrolados nos seus incisos, independentemente de investigação subjetiva.

- Se o Juiz da causa, ao tempo em que exercia a função de Diretor do Foro, recebeu de uma das partes valores pecuniários para a realização de obras de manutenção do prédio onde funcio­na a Justiça local, fez nascer vínculo contratual a título gratuito, o que enseja, de modo objetivo, que sua imparcialidade seja pos­ta em questão, impondo-se o reconhecimento da suspeição.

- Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, prosseguindo-se no julga­mento, após voto-vista do Sr. Minis­tro Fernando Gonçalves, acordam os Ministros da Sexta Turma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Participaram do julgamen­to os Srs. Ministros Fernando Gon­çalves e Anselmo Santiago. Ausen­tes, por motivo de licença, o Sr. Mi­nistro William Patterson e, justifi­cadamente, o Sr. Ministro Luiz Vi­cente Cernicchiaro.

Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.

Publicado no DJ de 01·06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: O espólio de Roberto José Maia Serpa, contra o qual foi ajui­zada ação de reintegração de posse por Alexandre Miguel Mayworm, argüiu exceção de suspeição em face do MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Teresópolis -RJ, com fulcro no inciso IV, do arti­go 135, do Código de Processo Ci­vil, que disciplina o recebimento de dádivas antes ou depois de iniciado o processo.

356 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

Sustentou, em essência, que o magistrado, na qualidade de Dire­tor do Foro daquela Comarca, rece­beu de empresa da qual o autor é sócio quotista majoritário dádivas para a reforma parcial do Fórum e, além disso, atuara antes como ad­vogado em patrocínio de seus inte­resses, o que impõe óbice ao seu fun­cionamento no feito mencionado.

Aegrégia Segunda Câmara Cível do Tribunal de Alçada Cível do Es­tado do Rio de Janeiro, por unani­midade de votos, confirmando a de­cisão do R. Juiz que repeliu a ar­güição, julgou improcedente a exce­ção, ao entendimento de que as con­tribuições recebidas reverteram-se em benefício da comunidade, nas obras de reforma do prédio, e não em favor do magistrado responsá­vel pela direção do Fórum (fls. 481 51). O julgamento em tela foi con­solidado em ementa do seguinte teor:

"Exceção de suspeição. Magistra­do. Exercício anterior de advoca­cia. Patrocínio de interesses de empresa. Reintegração de posse. Autor que figura como sócio ma­joritário. Garantia constitucional de isenção e imparcialidade do Juiz. Teoria da desconsideração da pessoa jurídica. Suspeição ar­güida com base no inciso IV, do art. 135 do Código de Processo Civil. Prova não perfilada. Pre­sunçãojuris tantum em relação à retidão de caráter do Juiz que exerce cumulativamente a função de Diretor do Foro. Pretensão im­procedente". (fls. 48).

Opostos embargos de declaração, restaram os mesmos rejeitados.

Irresignado, o excipiente inter­põe o presente recurso especial (fls. 60/71), com fulcro na letra c do per­missivo constitucional, verberando ter o v. acórdão recorrido ensejado divergência com julgado da Segun­da Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso que considerou o recebimento de importâncias para manutenção do Fórum como causa suficiente à ca­racterização da imparcialidade do Juiz (fls. 60171).

Não apresentadas contra-razões e admitido o recurso na origem, as­cenderam os autos a esta Colenda Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Ataca-se no presen­te recurso especial acórdão que jul­gou improcedente exceção de sus­peição argüida contra o MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível para fun­cionar nos autos de ação de reinte­gração de posse ajuizada por sócio de empresa da qual recebeu, quan­do desempenhava funções de dire­ção no Fórum daquela comarca, con­tribuições pecuniárias à rea:Iização de obras de melhoramento no prédio.

Proclamou o eminente colegiado julgador, nessa oportunidade, que, tendo sido as importâncias reverti­das em favor da comunidade pela reforma das instalações do prédio do Poder Judiciário local, e não em

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 357

benefício dos interesses próprios e imediatos do magistrado, não há como se colocar em questão sua par­cialidade, cujo caráter e conduta de retidão estão ao abrigo da presun­ção iuris tantum.

A seguinte passagem da ementa reflete, com propriedade, os exatos termos da fundamentação contida no bojo do aresto impugnado, lit­teris:

"N o que toca propriamente ao pe­dido fundado nas disposições do inciso IV, do art. 135, do CPC, tem -se como não fundadas as ar­güições procedidas, visto que, de­monstrado, diante da prova e dos fatos, que as benesses referidas e ditas como recebidas pelo ma­gistrado não se reverteram em seu próprio favor, destinadas que foram para a reforma do fórum da comarca e em benefício de lar­ga parcela da comunidade, que se utilizam das dependências cente­nárias do prédio onde se acha ins­talado o poder judiciário local.

É de sabença geral que, não obs­tante consagra a lei maior quan­to à independência do poder ju­diciário dos demaiscerigidos, este se apresenta como o mais caren­te de recursos orçamentários, de­pendente do executivo para rea­lizações materiais mais urgentes e que, à míngua de interesses imediatos, porque sem retorno político, muitas vezes, vê-se obri­gado, para suas necessidades mais prementes, socorrer-se da própria sociedade, que, sempre alerta, aqui como alhures, tem,

pela sua melhor representação, contribuindo, em muito, para que prédios utilizados não desabem, instalações funcionem com o mí­nimo de conforto para as partes e os profissionais do direito, aí con­siderados corredores, escadas, sa­las, banheiros e etc ...

De norte a sul do estado, não é mais feliz a Comarca de Petrópo­lis. Sediado o Poder Judiciário local em prédio da época do im­pério, inclusive, tombado pelo patrimônio, seu desgaste no tem­po está sempre a exigir obras de vulto e que os cofres públicos tei­mam em não atendê-las segundo suas necessidades mais urgentes, capacitando, sem qualquer ilega­lidade, que seguimentos da socie­dade o substituam parcialmente para a realização de feitos e que, sem dúvida, revestem-se de be­nefícios coletivos". (fls. 50).

Pugna o excipiente, nas razões deduzidas no apelo nobre, pelo re­conhecimento da suspeição do juiz para funcionar no feito em que te­nha recebido da empresa, da qual a parte autora figura como sócio quo­tista majoritário, dádivas para rea­lização de obras, sob pena de viola­ção à garantia constitucional da im­parcialidade do juiz natural.

E para comprovar a alegada di­vergência jurisprudencial, trouxe­ram à colação julgado da egrégia Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Gros­so que, analisando questão idênti­ca à do autos, concluiu pela suspei­ção do juiz da causa.

358 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

E o referido julgamento foi con­solidado na seguinte ementa:

"Exceção de suspeição. Oferta de dádiva em dinheiro para manu­tenção do Fórum. Verificação ob­jetiva da inibição.

O recebimento da significativa importância, pelo juiz, ofertada por uma das partes, a título de donativo para a manutenção do forum, antes ou no curso da de­manda, retira a confiança em que se assenta o juízo de imparciali­dade, mesmo que se prove a apli­cação naquele fim". (fls. 68).

Tenho que o recurso especial ma­nifestado com esteio na alínea c do permissivo constitucional, reúne condições de admissibilidade, de modo a permitir a uniformidade dos julgados, missão constitucional do Superior Tribunal de Justiça.

Após demorada reflexão sobre o thema decidendum, tenho que o acórdão recorrido não conferiu ao assunto em debate a melhor exege­se.

Um dos predicados fundamentais que conferem grandeza, dignidade e autoridade à atuação do magistra­do é a absoluta imparcialidade em face dos interesses manifestados pelos litigantes do processo.

O Juiz, no exercício sagrado da função de distribuir justiça, é agen­te da soberania estatal e deve, por-. tanto, situar-se sempre em plano superior ao mundo dos interesses em conflito. Daí porque a nossa lei adjetiva enumera diversas hipóte­s'es de impedimento (art. 134) e sus-

peição (art. 135) do Juiz, definidoras de situações que possam conduzir à idéia de parcialidade em face da causa.

Dentre tais hipóteses merece des­taque aquela inscrita no art. 135, IV, do CPC, que reputa fundada a sus­peição de parcialidade do Juiz que houver recebido dádivas antes ou depois de iniciado o processo.

No caso, foi proclamado pelo Tri­bunal a quo que o ilustre Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da Comar­ca de Petrópolis, quando exercia a função de Diretor do Foro, recebeu da empresa da qual a parte autora figura como sócio quotista majori­tário importâncias pecuniárias para a realização de obras de manuten­ção e conservação do prédio do Po­der Judiciário.

Assim, a toda evidência, não se pode desprezar o fato de que entre o juiz da causa e a parte estabele­ceu-se vínculo contratual a título gratuito, colocando em questão sua imparcialidade da condução do pro­cesso e na aplicação do Direito, ain­da que as dádivas tenham sido efe­tivamente convertidas em benefício para a comunidade.

O preceito do art. 135, do CPC, não exige que fique demonstrada a postura parcial do Juiz. A norma em apreço, de feliz elaboração, qualifi­ca de fundada a suspeição de parcia­lidade do Juiz com a simples cons­tatação de uma das situações de fato arroladas nos seus incisos.

Assim, tenho que o acórdão diver­gente, oriundo do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Mato Gros­so, conferiu ao tema a melhor exe­gese.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 359

No mencionado precedente, cuja situação de fato é idêntica, o ilus­tre Desembargador Leão Neto do Carmo fez consignar no voto condu­tor do julgamento a seguinte pas­sagem:

"Parece-me, pois, apesar do significado dos propósitos, que é prejudicial à imagem do Poder Judiciário estar o Juiz, de qual­quer grau, a receber dádivas ou angariar recursos junto a seus jurisdicionados, para qualquer fi­nalidade; mais ainda quando sub­vencionar serviço da justiça, ônus que cabe ao Estado; sobremanei­ra prejudicial, quando o fato ocor­re em comarcas de primeiro grau, onde a autoridade judicial é úni­ca e o contato com os jurisdicio­nados é maior" (fls. 74).

E, em seguida, cita lição de Cel­so Agrícola Barbi, de adequada pertinência:

"Importância da Imparcialida­de do Juiz: primeira e mais im­portante qualidade de um juiz é a imparcialidade. Investido da alta missão de decidir acerca dos mais relevantes interesses das partes, munido de amplos pode­res para esse fim, é indispensá­vel que o Juiz realmente julgue sem ser influenciado por quais­quer fatores que não o direito dos litigantes.

O despreparo cultural ou mo­rosidade do juiz pode preocupar o litigante. Mas o fator que é re­almente capaz de intranqüilizá­lo, de fazê-lo descrer na justiça

humana, é a falta de confiança na isenção do juiz.

Por isso, pode-se afirmar, sem receio de erro, que as garantias de vitaliciedade, de inamovibili­dade e de irredutibilidade de ven­cimentos, elevadas à culminância constitucional e destinadas a as­segurar a independência do Juiz, têm por finalidade última res­guardar a sua imparcialidade.

Ainda que o Juiz tenha todas as condições para correta atua­ção nas causas que, em princípio, podem ir ao seu exame, há po­rém, algumas em que a sua situ­ação pessoal, em relação às pes­soas que participam do processo ou ao interesse em litígio, pode influir no seu espírito, de modo a impedir um correto julgamento da demanda.

Por esse motivo, para dar tran­qüilidade aos litigantes e confi­ança na retidão dos julgamentos, a lei manda que o Juiz se afaste de determinadas causas e permi­te que a parte impugne sua pre­sença, quando ele não se afastou espontaneamente." (in Com. ao C.P.C., I vol., T. lI, págs. 546 e 547, For., 1971) (fls. 75)".

Tenho como pertinentes os co­mentários acima transcritos, o que reforça a tese da relevância do pre­dicamento da imparcialidade do magistrado em face dos interesses das partes em conflito.

Daí a prevalência da tese que re­comenda, em hipóteses dessa espé­cie, o reconhecimento objetivo da suspeição.

360 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

Isto posto, conheço do recurso e dou provimento para julgar proce­dente o incidente de suspeição.

É o voto.

VOTO- VISTA

o SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: A matéria está rela­cionada com a suspeição do MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível de Teresópolis para funcionar na ação de reintegração de posse ajuiza­da contra o espólio de Roberto José

Maia Serpa por Alexandre Miguel Mayworm.

A exemplo do que restou deci­dido no julgamento do REsp nº 83.732-RJ, acompanho o eminente Relator, Min. Vicente Leal.

VOTO (VOGAL)

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Srs. Ministros, voto de acordo com o Sr. Ministro-Relator.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL Nº 153.957 - RN

(Registro nº 97.0079347-8)

Relator: O Sr. Ministro William Patterson

Recorrentes: Ministério Público Federal e União Federal

Recorrida: Associação dos Sub tenentes e Sargentos do Exército em Na­tal-ASSEN

Advogados: Drs. Jayme Renato Pinto de Vargas e outro

EMENTA: Previdenciário. Reajuste de beneficio. URP fevereiro de 1989 (26,05%).

- Consoante a jurisprudência do STF, recepcionada neste Tribu­nal, inexiste direito adquirido ao percentual de 26,05% relativo a fevereiro de 1989.

- Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal

de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Re-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 361

lator. Votaram com o Sr. Ministro­Relator os Srs. Ministros Luiz Vi­cente Cernicchiaro, Vicente Leal e Anselmo Santiago. Ausente, ocasio­nalmente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.

Brasília, 02 de dezembro de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.

Publicado no DJ de 02-02-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: Com amparo nas alí­neas a e c da regra constitucional, a União Federal impugna o acórdão do Egrégio TRF da 5ª Região que, julgando ação rescisória onde plei­teada a anulação de julgado que concedeu reajuste de vencimentos pelo índice de 26,05% (URP de fev./ 89), entendeu não caracterizada a ofensa ao art. 485, V, do Código de Processo Civil, em razão de dissídio pretoriano, daí que concluiu pela improcedência da ação nos seguin­tes termos (fls. 100/101):

"Ação rescisória. Sentença que reconheceu direito adquirido ao reajuste de vencimentos, proven­tos e pensões pelo índice de 26,05% (URP de (ev. /89). Impossibilida­de de rescisão de julgados em ra­zão de dissídio pretoriano. Inter­pretação restritiva do art. 485 do CPC. Improcedência da ação.

1. Constitui numerus clau­sus o rol de hipóteses de cabi-

mento da ação rescisória (art. 485, I a IX do CPC), não sendo possível, por via interpretativa, elastecer os casos legais de ad­missão do pedido, para incluir entre eles a divergência pretoria­na.

2. "A estabilidade dos julgados é imprescindível à ordem jurídi­ca, que não pode ficar comprome­tida ao sabor de mera interpre­tação dos textos legais." (STF, AR 1. 167-DF, ReI. Min. Djaci Falcão, RTJ 115/61).

3. A Suprema Corte reconhece a autonomia jurisprudencial das instâncias inferiores ao inadmi­tir a ação rescisória fundada em ofensa a dispositivo legal de in­terpretação controvertida nos Tribunais (Súmula 343), "ainda que ajurisprudência do Supremo Tribunal Federal venha poste­riormente a firmar-se em senti­do contrário" (RE 88.328-SP, ReI. Min. Cunha Peixoto, RTJ 91/ 970).

4. Ação rescisória improceden­te."

Para tanto, assevera a violação ao art. 5Q

, da Lei n Q 7.730, de 31 de janeiro de 1989, que instituiu novas regras de reajuste de salários, além de divergência de jurisprudência. Coleciona acórdãos favoráveis à sua tese, no sentido de que não há di­reito adquirido ao reajuste concedi­do pelo acórdão rescindendo.

Ultrapassado o juízo prévio de admissibilidade, vieram os autos a este Tribunal, onde dispensei a au­diência do Ministério Público.

362 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): Como vis­to, cuida-se de decisão em ação res­cisória visando desconstituir julga­do que reconheceu aos servidores públicos militares referidos na ini­cial, a diferença correspondente ao índice de 26,05%, que seria devido em razão de plano econômico.

De pronto, tenho que o acórdão rescindendo, ao reconhecer o direi­to adquirido ao reajuste dos benefí­cios na base de 26,05%, relativa­mente ao mês de fevereiro de 1989, destoa da orientação proclamada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADIN n Q 694/ DF, tal como invocada em inúmeros precedentes, dos quais destaco:

"Recurso extraordinário. Fun­cionário público. Vencimentos. URP - fevereiro de 1989. 2. No julgamento da ADIN n Q 694-DF, o Plenário do STF afirmou ser indevido, em fevereiro de 1989, o percentual de 26,05%, sobre ven­cimentos de servidores federais, com base na URP do período de setembro a novembro de 1988. Revogação do Decreto-Lei n Q

2.335/1987 pelo art. 38 da Lei n Q

7.730, de 31.01.1989, resultante da conversão da Medida Provisó­ria n Q 32, de 15 de janeiro de 1989. Precedentes. 3. Recurso extraor­dinário conhecido e provido." (RE n Q 157.395-3-DF, ReI. Min. Néri da Silveira, in DJ 27.10.94)

No tocante ao fundamento nucle­ar do acórdão recorrido, para repe­lir o cabimento da ação rescisória, por entender aplicável à espécie o enunciado da Súmula n Q 343 - STF, tenho por insubsistente a orienta­ção, inobstante as lúcidas conside­rações contidas no voto condutor. Assim afirmo com apoio em prece­dentes desta Colenda 6ª Turma.

O primeiro, da lavra do Ministro Fernando Gonçalves (REsp nQ 108.875-CE), onde assevera:

"Quanto à ausência de violação literal de lei que abonasse o aco­lhimento de rescisória e ainda di­vergência jurisprudencial refe­rente à interpretação controver­tida de outros tribunais, melhor sorte não está a amparar os re­correntes. Os julgados trazidos à colação não servem de paradig­mas e nem as Súmulas 343/STF, 134/TFR, 83/TST e 03/TASP (1 Q) já que, consoante assevera o Par­quet Federal, o STF e o STJ co­nhecem de recursos interpostos nas condições do presente.

Por fim, o próprio julgado do STF, ventilado na decisão recor­rida mostra a violação a texto le­gislativo a concessão do índice expurgado do IPC de março de 1990, verbis:

"A revogação da Lei n Q

7.830/89 pela Medida Provisó­ria n Q 154/90 que se converteu na Lei n Q 8.030/90 -verificou­se em momento anterior ao da consumação de fatos idôneos necessários à aquisição do di-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 363

reito ao reajuste de vencimen­tos previsto para 1 º de abril de 1991. Tendo-se antecipado, va­lidamente, à incorporação des­se direito ao patrimônio jurídi­co dos servidores, o ato ab­rogatório não ofende a cláusu­la constitucional que tutela a intangibilidade de situações definitivamente consolidadas (CF, art. 5º, XXXV!)." (RE 148.607-4-STF) (fls. 250).

Cumpre assinalar - ainda­que a errônea interpretação da lei, segundo o STF, in RTJ 101/ 50, "desde que capaz de anular os seus verdadeiros efeitos, pode propiciar o ajuizamento da ação rescisória fundada no inciso V do art. 485 do CPC. Ora, no caso, a MP 154, convertida na Lei nº 8.030/90, entrou em vigor no dia 16 de março e o reajuste apenas seria devido em 01 de abril. Hou­ve, portanto, de acordo com o en­tendimento do STF, violação à Lei nº 8.030/90, hipótese, inclusive, já firmada pela 3ª Seção do STJ, na AR 504/CE - ReI. Ministro José Dantas."

Também ao apreciar hipótese se­melhante, tive ensejo de fazer os s~­guintes registros (REsp nº 95.129-RS):

fundada no artigo 485, V, do CPC, teria o acórdão recorrido negado vigência a esse dispositivo?

Com atenção à orientação pre­dominante do Colendo STF, sobre não ser aplicável a máximajuris­prudencial quando em discussão os preceitos constitucionais, te­nho que a resposta deve ser posi­tiva. Ao entendimento do acórdão recorrido se contrapõe a lição la­pidar do eminente Ministro Mo­reira Alves nos autos do RE nº 89.108-GO:

"E não se há que invocar-se, no caso, o disposto na Súmula 343 ("Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescin­denda se tiver baseado em tex­to legal de interpretação con­trovertida nos tribunais"), uma vez que ela deflui de julgados que dizem respeito, apenas, a leis ordinárias. E, por se tra­tar de Súmula, está ela vincu­lada ao âmbito dos julgados de que é síntese, não podendo -como poderia se se tratasse de preceito legal - extravasar dele por via de interpretação extensiva. Aliás, ainda quan­do fosse isso possível, não me animaria a essa extensão, pois entendo que a Súmula nº 343 nada mais é do que a repercus-

"Assim delimitada a controvér- são, na esfera da ação rescisó-sia ao ataque do pressuposto da ria, da Súmula nº 400 - que rescisória, resta saber da ofensa não se aplica ao texto consti-à lei processual. Ao aplicar o tucional- no âmbito do recur-enunciado da Súmula 343 do Co- so extraordinário. Como se in-lendo STF e assim declarar a im- fere do artigo 119, III, a da procedência da ação rescisória, Emenda Constitucional nº 1/69,

364 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

distinga a lei ordinária (para a qual é necessária a negativa de vigência) e a lei constitucio­nal (para a qual basta a con­trariedade)" (RTJ 101/207)."

o correspondente, no plano constitucional, à negativa de vigência de lei é a contrarie­dade à Constituição; e, em as­sim sendo, se a legislação or­dinária (no caso, o Código de Processo Civil) se limita a alu­dir como pressuposto da resci­sória a violação literal de dis­posição de lei, impõe-se que se

Ante o exposto, conheço do recur­so especial e, em conseqüência, dou­lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL NQ 169.226 - SC

(Registro n Q 98.0022647-8)

Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal

Recorrente: Estado de Santa Catarina

Recorrida: Thereza Grisolia Tang

Advogados: Osmar José Nora e outros, e Nilton José Machado

EMENTA: Processual Civil. Recurso especial. Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados. Deferimento ad­ministrativo. Mandado de segurança. Ação de cobrança. Inocor­rência. Embargos de declaração. Omissão. Inexistência.

- Tendo a ação mandamental como causa de pedir a restaura­ção de situação em razão da ilegalidade de ato administrativo, não tem pertinência a invocação de aplicação dos comandos das Súmulas n~ 269 e 271, do STF, que disciplinam as relações jurídi­cas oriundas de direito creditório, objetivando o pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias pretéritas.

- Os embargos de declaração, segundo a moldura do cânon ins­crito no art. 535, do CPC, consubstanciam instrumento proces­sual destinado a expungir do julgamento obscuridade ou contra­dição, ou ainda para suprir omissão sobre tema cujo pronuncia­mento se impunha pelo Tribunal, não se prestando para promo­ver a reapreciação do julgado.

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- Não há omissão no acórdão que concede parcialmente o writ impetrado por desembargadora aposentada, determinando a con­versão em pecúnia dos períodos de férias e licenças-prêmio não gozados por necessidade de serviço, anteriormente à vigência da LOMAN, já deferidos em processo administrativo interno e cassa­do por ato do Presidente do Tribunal.

- Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, na conformidade dos votos e notas ta­quigráficas a seguir. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Anselmo San­tiago e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília, 09 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.

Publicado no DJ de 29-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Thereza Grisólia Tang, De­sembargadora aposentada do Tribu­nal de Justiça do Estado de Santa Catarina, impetrou mandado de se­gurança contra atos do Órgão Es­pecial daquele Tribunal, represen­tado por seu Presidente, postulan­do o pagamento em pecúnia dos pe­ríodos de licença-prêmio e férias não

gozados por necessidade de serviço, já deferidos através de regular pro­cesso administrativo.

O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catari­na, por maioria, concedeu parcial­mente a segurança, determinando o pagamento dos meses de férias e licenças-prêmio não gozadas ante­riormente à vigência da Lei Orgâ­nica da Magistratura por necessi­dade de serviço. (fls. 97/103) O jul­gamento em tela foi condensado na seguinte ementa:

"Mandado de segurança. Interpo­sição contra ato do órgão especial que sustentou o pagamento de li­cenças-prêmio e do Presidente do Tribunal de Justiça que, sponte sua, determinou a sustação do pagamento das férias, não goza­das, à magistrada, já deferido através de regular processo admi­nistrativo. Direito líquido e certo da impetrante violado. Concessão parcial da ordem.

Mandado de segurança. Magis­trada. Férias e licenças-prêmio não gozadas, por necessidade do serviço público, conversão em pe­cúnia. Admissibilidade. Prece­dentes jurisprudenciais.

366 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.

- "O direito às férias é preceito de ordem pública, como acontece com todos os preceitos da legis­lação social, tornando-se irre­nunciáveis. O exercício de sua fruição, bem como de licença-prê­mio, depende de ato da Adminis­tração Pública, que pode negá-lo em nome da conveniência do ser­viço, vale dizer, no interesse do serviço público" (in RT 606, págs. 89/90).

Férias é um direito do servidor, de acordo com a Constituição Fede­ral (art. 39, § 2Q

, c/c art. 7Q, XVII).

Licença-prêmio. Magistrada. LOMAN. Período anterior à vi­gência da Lei Orgânica da Ma­gistratura. Admissibilidade." (fls. 97).

Opostos embargos declaratórios, restaram os mesmos rejeitados.

Irresignado, o Estado de Santa Catarina interpõe o presente recur­so especial (fls. 257/268), com ful­cro na alínea a do permissivo cons­titucional, verberando ter o v. acór­dão violado os artigos 15 e 19, da Lei n Q 1.533/51 e o artigo 1Q

, da Lei n Q 5.021/66, bem como os artigos 47 e 535, do Código de Processo Civil.

Verbera, em essência, que o man­dado de segurança não é meio apto para a cobrança de vantagens pe­cuniárias pretéritas, não se consti­tuindo, ademais, em ação de cobrança.

Não oferecidas as contra-razões, o recurso foi inadmitido na origem, advindo agravo que, provido, ense­jou a subida dos autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relàtor): Como patenteado no relatório, ataca-se no presente apelo nobre acórdão que concedeu parcialmente a ordem de seguran­ça impetrada por desemb,argadora aposentada contra ato do Orgão Es­pecial do Tribunal de Justiça do Esta­do de Santa Catarina, determinan­do a conversão em pecúnia dos me­ses de férias e licenças-prêmio não gozadas por necessidade de serviço anteriormente à vigência da Lei Orgânica da Magistratura, já defe­ridos em processo administrativo interno.

Sustenta o Estado de Santa Ca­tarina que o Órgão Colegiado do Tri­bunal a quo, ao conceder o paga­mento de vantagens pecuniárias pretéritas, restou por violar o arti­go 15, da Lei n:Q 1.533/51 e o artigo 1 Q, da Lei n Q 5.021, bem como os verbetes contidos das Súmulas n~ 272 e 269, do STF, que vedam a na­tureza de ação de cobrança ao man­damus.

Verbera, ainda, a ocorrência de omissão quanto a pontos de pronun­ciamento obrigatório, especifica­mente no que tange aos artigos 19, da Lei n Q 1.533/51 e 47, do CPC, no caso da obrigatoriedade da forma­ção de litisconsórcio, ao artigo 102, I, da CF/88 e ao artigo 267, V, do CPC, em decorrência da litispen­dência.

O Órgão Especial do Tribunal a quo concedeu os meses de férias e

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licenças-prêmio, não gozadas por necessidade de serviço, em período an­terior a superveniência da LOMAN, tendo em vista o fato de ter sido con­cedido administrativamente o paga­mento das vantagens postuladas.

É o que se extrai do excerto do voto a seguir transcrito:

"Conseqüentemente, as licenças­prêmio a que a impetrante tinha direito, anteriores à vigência da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complementar n Q

35179), não podem ser suprimidas e a sua conversão em pecúnia é perfeitamente possível, conforme vasta jurisprudência e doutrina a respeito.

É de se realçar que o eminente Desembargador Ayres Gama Fer­reira de Melo requereu e obteve administrativamente o pagamen­to da conversão da licença-prêmio em dinheiro em 31/8/95, por par­te da Presidência deste Tribunal (fls. 46), o mesmo ocorrendo com a viúva do ex-magistrado Rena­to Antônio de Souza (fls. 58) e também consta que ao Des. Osny Caetano, em data de 4/9/91, foi concedido o direito de converter em pecúnia as licenças-prêmio não gozadas (fls. 38/39).

Ante todo o exposto, é de se con­ceder parcialmente a segurança, para assegurar à impetrante o di­reito de receber em pecúnia os 6 (seis) meses de férias não goza­das e as licenças-prêmio a que tinha direito, anteriores à vigên­cia da Lei Complementar n Q 35/ 79". (fls. 103).

Daí depreende-se que o acórdão recorrido concedeu o pleito indeni­zatório, proclamando a tese de que o direito de conversão em pecúnia das férias e dos períodos de licen­ças-prêmio não gozados não podem ser indeferidos quando já concedi­dos no âmbito administrativo.

Como visto, o thema sub judice envolve unicamente discussão sobre temas de natureza constitucional e de direito local.

Alega-se violação ao art. 535, do Código de Processo Civil.

Ora, os embargos de declaração, segundo a moldura do canon ins­crito no artigo 535, do CPC, con­substanciam instrumento proces­sual destinado a expungir do julga­mento obscuridade ou contradição, ou ainda para suprir omissão sobre tema cujo pronunciamento se impu­nha pelo Tribunal, não se prestan­do para promover a reapreciação do julgado, como pretende o ora recor­rente.

Quanto à alegação de violação aos dispositivos da Lei 5.021/66, que dispõe sobre o pagamento de v-enci­mentos e vantagens asseguradas em sentença concessiva de manda­do de segurança, bem como ao arti­go 15, da Lei n Q 1.533/51, tenho que não se encasam à controvérsia de­batida nos autos.

Ora, é pacífico o entendimento firmado no âmbito deste Tribunal no sentido de que em sede de man­dado de segurança em que se pos­tula o pagamento de vantagem de­vida a servidores públicos, a senten­ça concessiva somente produz efei­tos a partir do ajuizamento do writ,

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nos termos da Súmula n Q 271/STF e do art. 1 Q da Lei n Q 5.021/66.

Todavia, ainda que o mandado de segurança não se confunda com ação de cobrança, a hipótese sub judice não apl'esenta efeitos patrimoniais a título de cobrança, mas tem como causa de pedir a ilegalidade do ato administrativo que indeferiu a con­cessão da conversão em pecúnia de períodos de licenças-prêmio e férias já deferido por decisão administra­tiva à desembargadora impetrante.

E a jurisprudência assentada nesta Colenda Corte tem entendi­mento coincidente, no sentido de que, tendo o writ como causa de pe­dir a restauração da situação em razão da ilegalidade de ato adminis­trativo, não tem pertinência a invo­cação de aplicação do comando da Súmula n Q 269, do STF, que disci­plina as relações jurídicas oriundas de direito creditório, objetivando o pagamento de vencimentos e van­tagens pecuniárias.

A propósito, registre-se o seguin­te precedente, ip verbis:

"REsp - Constitucional- Pro­cessual Civil - Mandado de se­gurança - Ação de cobrança -Pagamento.

o mandado de segurança não se confunde com a ação de co­brança. Toda ação repousa na causa de pedir. Não se pode, em mandado de segurança, deduzir fato gerador de direito de crédito para reclamar pagamento. A Lei n Q 5.021/66 veda, no mandamus, pedir 'vencimentos e vantagens pecuniárias'. Diferente, entretan­to, se a causa de pedir for ilegali­dade da sanção administrativa aplicada. No caso, concedida a se­gurança, repõe-se a situação ju­rídica anterior, em conseqüência, o pagamento do que fora ilegal­mente suspenso. A prestação ju­risdicional cumpre ser exaustiva, no sentido de repor, às inteiras, quanto possível, o direito reco­nhecido" CREsp 29.950-4/SP, ReI. Min. Vicente Cernicchiaro, in D.J. de 01 de março de 1993).

Em face dessas considerações, te­nho que o acórdão recorrido não vio­lou os dispositivos legais destacados no apelo nobre.

Isto posto, não conheço do recur­so especial.

É o voto.

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DESPACHOS DA PRESIDÊNCIA

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA Nº 652 - SP

(Registro nº 98.0019663-3)

Requerente: Estado de São Paulo

Advogados: Márcio Sotelo Felippe e outros

Requerido: Desembargador Primeiro Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Impetrante: Ernesto dos Santos Filho

Advogado: Paulo José Nogueira da Cunha

DECISÃO

O Estado de São Paulo formula pedido de suspensão de segurança, concedida pelo eminente Desem­bargador Vice-Presidente do Tribu­nal de Justiça daquele Estado-Mem­bro, que determinou a suspensão do leilão de alienação acionaria do ca­pital social da Eletropaulo Metro­politana Eletricidade de São Paulo S/A, da Empresa Bandeirante de Energias S/A e da Empresa de Trans­missão de Energia Elétrica S/A.

Sustenta o Requerente que o Impetrante inundou o Poder Judi­ciário de pretensões da mesma na­tureza, tendentes a obstaculizar o processo desestatizante, sem lograr sucesso em nenhuma das ações. Como última estratégia, o interes­sado em evitar a alienação impe­trou mandado de segurança peran-

te a Egrégia Presidência do Tribu­nal de Justiça do Estado de São Pau­lo (MS 48.903.0/2) e, simultanea­mente, alegando omissão na pres­tação jurisdicional, impetrou no­vo mandado de segurança (MS nº 48.922) contra o Presidente do Tri­bunal, oportunidade em que obteve a liminar ora hostilizada.

Descreve o Requerente a situação notoriamente caótica das finanças públicas, premidas por um passivo asfixiante do Estado e equacionadas mediante o refinanciamento da dí­vida mobiliária junto ao Banco do Es­tado e Nossa Caixa Nosso Banco, num total de mais de cinqüenta bilhões de reais (exatos R$ 50.388.788.542,92).

Como mecanismo ensejador do refinanciamento, o Estado afirma que "entregou à União duas opções não padronizadas de compra (war-

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rant), garantidas por ações ordiná­rias nominativas de suas empresas energéticas (Cesp e Eletropaulo) contra o crédito, na conta gráfica aberta no Tesouro Nacional, no va­lor de R$ 2.950.000.000,00 (dois bi­lhões e novecentos e cinqüenta mi­lhões de reais), que deveria ser amortizado por ocasião da concre­tização dos leilões agora suspensos".

Como conseqüência nefasta da suspensão do leilão, alega o Reque­rente que a não-concretização da hasta pública impede a amortização do saldo existente naquela conta gráfica, impondo ao Estado encar­gos contratuais relativos à correção do seu passivo pelo IGP-DI, edita­do pela Fundação Getúlio Vargas, acrescidos de juros à razão de seis por cento ao ano. De outra parte, afirma que os recursos da alienação de ativos estaduais estão estimados como receita orçamentária do exer­cício e que a não-realização de tais receitas (ou mesmo seu posterga­mento) provoca imenso problema de administração e desequilíbrio às fi­nanças públicas.

Ciente de que se afigura indevi­do, no patamar do presente feito, adiantar qualquer juízo de valor quanto ao mérito do mandado de segurança, não posso deixar de as­sinalar a minha perplexidade, nes­sa sumario cognitio, diante da aceitação de writ, aparentemente desprovido do fato autorizador de sua impetração, com o escopo ina­dequado de sua utilização como su­cedâneo recursal.

De fato, o fundamento do man­damus impetrado em face do Pre-

sidente do Tribunal de Justiça apon­ta a falta de prestação jurisdicional como o ato omissivo lastreador da impetração. Ocorre que, ao despa­char a liminar, o eminente Desem­bargador Vice-Presidente (magis­trado competente, que sempre foi credor do meu respeito e admiração) expressamente assinala:

"O ilustre Presidente desta Corte, ao indeferir a liminar so­licitada, terminou possibilitando a realização do leilão, in casu, justamente o que busca evitar o impetrante ... "

Resulta evidente que se conhecia, de antemão, a total ausência de ato omissivo ou negativa de entrega da prestação jurisdicional, porquanto a decisão ora hostilizada reconhece expressamente a inexistência da base fática asseverada na inicial e, mesmo assim, culmina por proferir decisão que repercute em outro pro­cesso. Isso significa que ab initio se admitiu o exame de omissão ine­xistente para deferir liminar, a pre­texto de reformar decisão regular e oportunamente proferida. Vale di­zer, tudo indica evidenciar-se, na espécie, a utilização indevida do mandado de segurança como suce­dâneo recursal.

Ademais, impende registrar que, em se examinando a plausibilidade das alegações do impetrante, em idêntico contexto (e quase sempre patrocinado pelo mesmo procura­dor), vários órgãos do Poder Judi­ciário posicionaram-se em sentido contrário à pretensão. Confiram-se,

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a propósito, as decisões proferidas pelos seguintes magistrados: Juiz Federal Valter Antoniassi Maccaro­ne (Ação Popular 98.0014169-3, de fls. 70173); Juíza Federal Diana Brunstein (Ação Popular 98.0014150-2, de fls. 74177); Juíza de Direito Maria de Fátima dos Santos Gomes (Ação Cautelar n Q 538/98, de fls. 107/111); Juiz de Direito Carlos Bortletto Schmitt Corrêa (Ação Po­pular n Q 544/98, de fls. 155/156); Juiz de Direito Manoel Ricardo Rebello Pinho (Ação Popular n Q 527/ 98, de fls. 190/192); Juiz de Direito Odimir Fernandes (Ação Popular n Q

525/98, de fls. 223/224); Juiz de Di­reito Venicio A. de Paula Salles (Ação Popular 504/98, de fls. 251/ 254); Juiz de Direito José Vítor Tei­xeira de Freitas (Ação Popular n Q

5.694/98, de fls. 285).

Por último, anoto a decisão do eminente Desembargador Presiden­te do Tribunal de Justiça de fls. 28/ 29, na qual Sua Excelência põe em dúvida a pertinência subjetiva do Governador do Estado para figurar no pólo passivo da relação proces­sual, bem como a ausência de direi­to certo e líquido de mero acionista a se contrapor ao processo de pri­vatização à guisa de alegado prejuí­zo.

Todavia tais considerações hão de ser dilucidadas adequada e conve­nientemente no exame do mérito da impetração. Por ora, convém cingir o exame do presente pleito aos re­quisitos autorizadores da drástica medida requerida. Nessa moldura, afiguram-se-me presentes os pres­supostos legais.

De fato, considero relevantes os fundamentos econômicos esgrimi­dos pelo Estado requerente no que concerne à grave lesão à economia estadual provocada pela decisão, mercê do comprometimento do te­souro estadual com o cumprimento dos negócios jurídicos celebrados, objetivando a solução do passivo, e com a realização da receita estima­da no orçamento.

De outra parte, ainda sob a pers­pectiva econômica da causa, não se pode desconsiderar a precisa obser­vação lançada pelo eminente De­sembargador Presidente, ao indefe­rir a liminar no anterior mandado de segurança, quando anotou a fal­ta de interesse do acionista minori­tário em se contrapor ao processo de privatização da empresa da qual detém parcela ínfima do capital.

Nessa vertente, reputo impres­cindível o alerta de que o Poder Ju­diciário não pode afastar-se do seu papel de contribuir, em harmonia com os demais Poderes, para a con­secução dos fins do Estado. No pon­to, a deliberação no sentido da con­veniência e oportunidade da aliena­ção de ativos acionários públicos é privativa do Poder Executivo. Ob­tida a indispensável vênia legaljun­to ao Poder Legislativo, não com­pete ao Poder Judiciário obstaculi­zar a desestatização (salvo, claro, nas hipóteses de manifesta ilegali­dade ou abuso de direito - à pri­meira vista inocorrentes).

Se a opção desestatizante é boa ou danosa, conveniente ou oportu­na, é ônus (ou bônus) atribuível ao Poder Executivo, a quem compete

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 375

a escolha política da providência. O acolhimento de pretensão liminar como a da espécie, tisnada pela fal­ta de interesse econômico do postu­lante, parece traduzir uma discor­dância que está centrada no viés político do tema e que, a meu juízo, deve ser evitada.

Finalmente, preocupam-me so­bremaneira os desdobramentos da

. presente causa sobre a ordem pú­blica. Consta dos autos que, após indeferir a liminar no Mandado de Segurança n Q 48.903.0/2, o eminen­te Desembargador Presidente en­viou ao Presidente da Bolsa de Va­lores de São Paulo o ofício que se vê por cópia à fl. 359, no qual Sua Ex­celência afirma que, até aquele mo­mento (9h45min), não havia nenhu­ma decisão contrária à sustação do leilão e, mais, dá notícia de que o signatário havia indeferido pedido de liminar que visava à suspensão do leilão.

Realizado o pregão, o eminente Vice-Presidente solicita informa­ções sobre o ocorrido e culmina por proferir a decisão que se vê à fl. 372, na qual afirma a nulidade dos atos praticados e a possível ocorrência de crime de desobediência com a reali­zação do leilão.

Ora, afigura-se-me, nesse contex­to, que o jurisdicionado tem funda­das razões para desconfiança e des­crença na Justiça, porquanto a mais alta autoridade do Poder Judiciário é desautorizada pelo seu Vice-Pre­sidente: aquela afirma que não há óbice, e este ameaça com a alega­ção de ocorrência de crime.

Sem dúvida, a ordem pública, em situações dessa natureza, vê-se se­riamente comprometida e ameaça­da, o que gera insegurança e des­crédito na atuação do Poder encar­regado de zelar justamente pela preservação da segurança e certe­za que devem presidir o relaciona­mento jurídico intersubjetivo.

Ademais, no instante em que me debruço sobre o tema, encontro de­lineada a circunstância de haver sido realizado o leilão, mercê da con­traditória forma pela qual as deci­sões do Judiciário chegaram ao co­nhecimento dos jurisdicionados. Em face do fato consumado, a sua anu­lação, com base na cognição sumá­ria promovida nesta causa, parece­me ensejar outra interveniência tu­multuária da Justiça no episódio, acendrando a insegurança e causan­do maior perplexidade.

Tudo isso aponta no sentido da conveniência de prestigiar-se a de­cisão do eminente Desembargador Presidente, que permitiu a realiza­ção do leilão (colimando a preser­vação do status quo), cassando-se a decisão ora hostilizada, da lavra do eminente Desembargador Vice­Presidente, até que aquela Egrégia Corte melhor examine o tema ao enfrentar o mérito da controvérsia.

Diante do exposto, considerando presentes os pressupostos autoriza­tivos, defiro a medida pleiteada em ordem a suspender os efeitos da decisão proferida pelo eminente Desembargador Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo no Mandado de Seguran­ça n Q 48.922, bem como casso a efi-

376 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998.

cácia de decisões posteriores toma­das com base naquele decisório, até o efetivo julgamento do mérito do writ na origem.

Intimem-se, com urgência.

Brasília, 17 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente.

Publicado no DJ de 18-06-98.

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA NQ 657 - PB

(Registro nQ 98.0025314-9)

Requerente: Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Advogados: Paulo Manuel Moreira Souto e outros

Requerido: Juiz Relator do Agravo de Instrumento n Q 17.109 do Tribu-nal Regional Federal da 5ª Região

Impetrante: Márcio Delano Fernandes de Albuquerque

Assistente: Reginaldo Tavares de Albuquerque

Advogado: Levi Borges Lima

DECISÃO

A Universidade Federal da Pa­raíba requer, com fulcro no que dis­põe o art. 25 da Lei nQ 8.038/90, sus­pensão da eficácia de medida limi­nar concedida em agravo de instru­mento tirado de decisão indeferitó­ria de liminar em mandado de se­gurança.

Aduz a promovente que o promo" vido pretendeu sua transferência ex officio do Curso de Medicina da Universidade de Nova Iguaçu, em Nova Iguaçu, Estado do Rio de J a­neiro, para a Universidade Federal da Paraíba, curso idêntico, ao fun­damento de ter sido nomeado pa­ra exercer o cargo comissionado de

Secretário Parlamentar, em Gabi­nete de Deputado Estadual do Qua­dro de Pessoal da Câmara dos De­putados daquele Estado, no que teve indeferida a pretensão, por isso que, irresignado, impetrou manda­do de segurança, com pedido de li­minar, junto ao juízo federal da Se­ção Judiciária do Estado. Negada a liminar e oposto agravo de instru­mento, o MM. Juiz do Tribunal Re­gional Federal da 5ª Região, Dr. Araken Mariz, concedeu a liminar, que, a sentir do requerente, causa lesão à ordem e à segurança no âmbito da instituição, dada a cavi­losa atitude do promovido de entrar

. naquela universidade sem ter se submetido a exame de vestibular.

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Verbera a requerente ser imoral a indigitada transferência, a par de carecer a decisão vergastada de am­paro legal, visto afrontar o coman­do da Lei nQ 9.394/96, art. 49 (Lei de Diretrizes e Bases).

Considerando a singeleza da ma­téria, deixei de pedir o pronuncia­mento do douto Ministério Público Federal.

Impende, por primeiro, esclare­cer que, nos lindes da suspensão de segurança, a apreciação jurisdicio­nal há de limitar-se aos aspectos atinentes à potencialidade lesiva do ato decisório em face dos pressupos­tos erigidos pelo legislador, quais a afetação à ordem, à segurança e à economia públicas, por isso que in­cabível o exame da existência ou não dos pressupostos autorizadores

da postulação liminar, que tem, no juízo próprio, o seu deslinde.

Quanto à alegação de malferida a ordem e segurança públicas, não a vislumbro no caso, pois não vejo como possa questão a envolver es­tudante e universidade, no que tan­ge à matrícula, vir a afetar a socie­dade. É preciso ter-se em conta que, além de alegar-se, é indispensável demonstrar-se a ocorrência dos pres­supostos ensejadores da medida drástica.

Em sendo assim, indefiro o pedido.

Intimem-se.

Brasília, 14 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente.

Publicado no DJ de 21-05-98.

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA NQ 661 - PB

(Registro n Q 98.0027316-6)

Requerente: Estado da Paraíba

Advogados: Geraldo Ferreira Leite e outros

Requerido: Desembargador-Relator do Mandado de Segurança n Q

98001691, do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba

Impetrante: Consórcio Deutsche Morgan Grenffel Jaakko Poyry

Advogados: Daniela Bessone e outros

DECISÃO

O Estado da Paraíba, por inter­médio da Secretaria de Planeja­mento, publicou edital objetivan-

do selecionar empresa para pres­tar serviços de consultaria, com o fim de privatizar a Sociedade Anô­nima de Eletrificação da Paraíba - Saelpa.

378 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998.

Acorreram ao certame quatro consórcios interessados, liderados por Deutsch Bank S/A, Paraíbas do Brasil Consultoria e Proj etos Ltda., Trevisan Consultores de Empresas Ltda. e Brascan Futuros Ltda. Aco­lhendo impugnação da documenta­ção das demais empresas, feita pela Brascan, a Comissão de Licitação desqualificou as demais e habilitou apenas a impugnante.

Inconformado, o banco alemão impetrou mandado de segurança perante o Egrégio Tribunal de Jus­tiça da Paraíba e obteve liminar do eminente Desembargador-Relator, em ordem a

" ... sustar a adjudicação dos ser­viços à Brascan Futuros Ltda. e readmitir o impetrante no certa­me, com exame dos documentos referentes à proposta de presta­ção de serviços apresentada" (fl. 60).

o Estado da Paraíba formula, agora, pleito no sentido de suspen­der aquela decisão, elencando, como argumentos para o atendimento do pedido, os seguintes pontos: ilegiti­midade processual por defeito de re­presentação; nulidade do manda­mus por falta de citação de litiscon­sorte necessário; procedimento cor­reto da Comissão de Licitação ao desclassificar o Impetrante; ausên­cia de fundamentos da ação man­damental pela inexistência de que­bra dos princípios do contraditório, legalidade e igualdade dos licitan­tes; inércia do Impetrante em não impugnar o edital no prazo; irre-

gularidade najuntada de documen­to estrangeiro sem autenticação consular e tradução oficial.

Ora, todos os argumentos que dão lastro ao pedido dizem com o méri­to do mandado de segurança e, por isso mesmo, afiguram-se imperti­nentes no presente feito.

O Requerente olvidou-se de de­monstrar o preenchimento dos re­quisitos autorizadores da drástica providência requerida (Lei n Q 4.348/ 64, art. 4Q e Lei n Q 8.437/92, art. 4Q

),

ou seja, em que medida a decisão hostilizada constituiria grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, ou evidenciasse manifesto interesse público ou fla­grante ilegitimidade.

Ao que se infere da inicial, pre­tende o Requerente se valer da ex­pedita via da suspensão de seguran­ça para reformar decisão judicial adversa. Quanto ao ponto, registre­se a pacífica orientação desta Pre­sidência, anotada na SS n Q 643/AC, no sentido de

" ... ser a suspensão de segurança medida extrema de proteção a interesses públicos maiores, de natureza, por isso mesmo, excep­cional e que não se compadece com a mera lesão de direito sub­jetivo (já que este tem assegura­da sua proteção em outra sede). Também não pode ser utilizada como via alternativa para obter a reversão de decisão desfavorá­vel à parte" (SS 605/BA).

Da mesma forma,

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 379

" ... o pedido de suspensão de se­gurança não é meio idôneo para assegurar proteção contra even­tuais equívocos ou injustiças de­correntes de decisão judicial su­postamente lesiva de direito sub­jetivo privado. Os valores res­guardados pela norma de regên­cia dizem com a preservação de superiores interesses públicos atinentes com a ordem, saúde, segurança e a economia" (SS n Q

626/PB).

Ademais, não vislumbro potencia­lidade lesiva em ato que, ao funda­mento de prevenir violação de di-

reito subjetivo, determina inclusão de licitante em certame que busca o melhor contratante. Em princípio, a decisão amplia o universo dos par­ticipantes e, em tese, labora na li­nha dos fundamentos que inspiram e norteiam o procedimento licitató­rio.

Assim sendo, indefiro o pedido.

Intimem-se.

Brasília, 21 de maio de 1998 (da­ta do julgamento).

Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente.

Publicado no DJ de 28-05-98.

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA NQ 664 - PB

(Registro nQ 98.0277774-9)

Requerente: Câmara Municipal de Sapé

Advogado: Irapuan Sobral Filho

Requerido: Desembargador-Relator do Mandado de Segurança n Q

980012238, do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba

Impetrante: Josinaldo Ricardo Coelho

Advogado: José Ricardo Porto

DECISÃO

A Câmara Municipal de Sapé postula suspender a concessão de liminar que cassou a eficácia de De­creto Legislativo daquela Edilida­de, mediante o qual o Prefeito Mu­nicipal foi afastado de suas fun­ções.

Em princípio, há, na espécie, ma­nifesta litispendência com processo j á afeto à jurisdição desta Corte.

O eminente Ministro Humberto Gomes de Barros é o Relator da Re­clamação n Q 544/PB, versando a mesma temática do presente feito. Sua Excelência já proferiu, naque­les autos, decisão publicada no DJU

380 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. lO, (109): 371-382, setembro 1998.

do dia 19 do corrente mês, assim vazada, verbis:

"J osinaldo Ricardo Coelho re­clama contra decisão tomada por eminente Desembargador do Es­tado da Paraíba. Pediu a suspen­são liminar do ato. Para tanto, diz

1 - o Reclamante, em proces­so de Mandado de Segurança, re­querido perante o egrégio Tribu­nal de Justiça da Paraíba, obte­ve do relator, decisão liminar (fls. 44 e segts.);

2 - esta liminar veio a ser cas­sada por outro eminente inte­grante do Tribunal, em decisão, também vestibular, lançada em processo de reclamação. (fls. 58/ 60)

Esta última decisão - ao sen­tir do Reclamante - avança so­bre a competência do Superior Tribunal de Justiça.

Antes de apreciar o pedido de liminar, solicitei o pronuncia­mento do Ministério Público Fe­deral.

A eminente Subprocuradora­Geral da República, Yedda de Lourdes Pereira ofereceu Pare­cer, recomendando o provimento da reclamação.

A Câmara Municipal de Sapé ofereceu impugnação (fls. 79 e segts.).

Esta, em resumo, a controvér­sia.

O ato impugnado suspendeu liminar, deferida em processo de Mandado de Segurança.

O art. 4º da Lei 8.437/92 ou­torga competência ao presidente do Tribunal, ao qual couber <> co­nhecimento do recurso cabível, suspender a eficácia de liminares deferidas contra atos de agentes públicos.

Ora, o Tribunal competente para conhecer de recursos em processos de Segurança originá­rios de tribunais estaduais, é o Superior Tribunal de Justiça.

Se assim ocorre, apenas o Pre­sidente do STJ seria competente para apreciar o pedido de suspen­são da liminar malsinada.

Suspendo o ato impugnado, restaurando a eficácia da liminar por ele suspensa e o curso do pro­cesso em que esta foi adotada.

Solicito informações ao emi­nente Desembargador reclamado (RISTJ, art. 188, 1)".

Contra essa decisão a Câmara Municipal noticia que manifestou agravo regimental.

Assim sendo, o temajá se encon­tra alçado à jurisdição do Superior Tribunal de Justiça, razão pela qual o pedido sequer merece ser conhe­cido.

Ainda que assim não fosse, os re­quisitos ensejadores da drástica me­dida requerida não se afiguram pre­enchidos. A decisão do eminente Desembargador-Relator (já restau­rada pelo Ministro Humberto Go­mes de Barros) assegura a perma­nência do Prefeito Municipal em seu cargo, enquanto processa a cognição plena da pretensão de anular o De-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 381

creto Legislativo que o afastou da função.

Não se descortina de que modo tal decisum ofereça, em princípio, qualquer lesão à ordem pública. A alegação de que seu retorno ao car­go acarretaria "risco social" não é pertinente neste patamar, porquan­to diz com o mérito da segurança, em trâmite perante o Egrégio Tri-

bunal de Justiça da Paraíba (sede adequada para seu desate).

Em face do exposto, nego segui­mento ao feito.

Intimem-se. Brasília, 25 de maio de 1998 (da­

ta do julgamento). Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA

RIBEIRO, Presidente.

Publicado no DJ de 02-06-98.

382 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998.

ÍNDICE ANALÍTICO

A

PrCv Ação civil pública - CPC, art. 267, VI - Declaração de in­constitucionalidade de lei municipal- Extinção do processo­Incompetência do juiz monocrático. REsp n Q 125.337-0-MG. RST J 109/48.

PrCv Ação civil pública - Ministério Público - Legitimidade -Patrimônio público e social- Proteção. REsp n Q 159.021-0-MA. RSTJ 109/68.

PrCv Ação de cobrança - Contrato de empreitada - Prescrição -Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp n Q 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.

PrCv Ação de cobrança - Competência - Contribuição sindical -CPC, art. 87 - Execução - Lei n Q 8.984/95 - Princípio da per­petuação de jurisdição. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.

PrCv Ação de divisão - CPC, art. 20 - Ofensa - Inexistência -Honorários advocatícios - Fixação no final da segunda fase. REsp n Q 96.427-0-PR. RSTJ 109/144.

PrCv Ação de rescisão de contrato de compra e venda cumula­da com anulação de escritura pública e perdas e danos -Recurso especial - Reexame de prova - Impossibilidade - Sú­mula n Q 7-STJ - Incidência. REsp n Q 5.452-0-MS. RSTJ 109/179.

Cv Ação declaratória cumulada com pedido de anulação de escritu­ra - Colação - Fraude à legítima - Prescrição. REsp n Q

112.974-0-SP. RSTJ 109/154.

Cv Ação declaratória de inexistência - Concubinato - Súmula n Q 7-STJ - Incidência. REsp n Q 99.484-0-GO. RSTJ 109/203.

Cv Ação indenizatória Pl'omovida por particular contra o INSS -Ausência do ato causador do dano praticado pela autar­quia-ré - Clínica médica credenciada - Responsabilidade dire­ta pelos atos praticados no exercício de suas funções. REsp n Q

85.047-0-DF. RSTJ 109/44.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 385

Cv Ação pauliana - Ajuizamento - Causa suspensiva e inter­ruptivi't - Inexistência - CC, art. 178, § 9Q

, V, b - Prazo deca­dencial. REsp nQ 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.

Pr Pn Ação penal- Trancamento - Acusação abusiva - Procurado­ra de Estado - Parecer técnico sobre dispensa de licitação. RHC n Q 7.165-0-RO. RSTJ 109/331.

PrPn Ação penal- Trancamento - Denunciação caluniosa - Falta de justa causa. RHC n Q 7.137 -O-MG. RST J 109/266.

Pn Ação penal - Trancamento - Falta de justa causa - Acidente de trânsito - Veículo de propriedade de terceiro - Culpa in­consciente - Enquadramento - Não ocorrência - Habeas cor­pus. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.

PrPn Ação penal- Trancamento - Impossibilidade - Crime de apro­priação indébita - Habeas corpus - Via eleita inadequada. RHC n Q 7.083-0-MG. RSTJ 109/264.

Pn Acidente de trânsito - Veículo de propriedade de terceiro -Ação penal- Trancamento - Falta de justa causa - Culpa inconsci­ente - Enquadramento - Não ocorrência - Habeas corpus. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.

Pr Pn Acusação abusiva - Ação penal- Trancamento - Procurado­ra de Estado - Parecer técnico sobre dispensa de licitação. RHC n Q 7.165-0-RO. RSTJ 109/331.

PrCv Agravo - Cabimento - Liminar - Indeferimento - Tribunal incompetente - Concessão - Excepcionalidade. AgRg no MS n Q

4.646-0-DF. RSTJ 109/21.

PrCv Agravo de instrumento - Intempestividade - CPC, art. 529 - Aplicabilidade - Custas judiciais - Pagamento. REsp n Q

152.722-0-PE. RSTJ 109/109.

PrCv Agravo regimental- Petições e recursos no ST J - Fac-símile - Inadmissibilidade - Resolução n Q 43/91, do STJ. AgRg nos EREsp n Q 64.205-0-GO. RSTJ 1Ó9/119.

PrCv Agravo regimental- Recurso especial- Seguimento - Invia­bilidade - Matéria constitucional. AgRg no REsp n Q 141.248-0-ES. RSTJ 109/32.

Adm Alvará de licença - Juntada - Licitaçs<o - Inabilitação -Inexistência - Serviços de radicd.ifuÕ:óá.o sonora - Inscrição no Cadastro Fiscal do Municinl~. MS n Q 5.604-0-DF. RSTJ 109/23.

Trbt Aparelhos médicos - Decreto - Autorização legal- Necessi­dade de previsão - Imposto sobre Produtos Industrializa­dos (IPI) - Isenção. REsp n Q 151.221-0-RN. RSTJ 109/57.

386 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

PrPn Apelação criminal- Ministério Público - Intervenção no pro­cesso - Omissão - Presença do Procurador da República na sessão de julgamento - Nulidade - Inexistência. REsp n Q

90.458-0-PE. RSTJ 109/346.

PrCv Assistência da União - Desistência - Desapropriação - Prin­cípio do perpetuatio jurisdictionis. REsp n Q 164.635-0-SP. RSTJ 109/114.

PrCv Ato concreto ou preparatório lesivo de direito líquido e certo -Inexistência - Mandado de segurança preventivo - Não cabimento. RMS n Q 8.920-0-PA. RSTJ 109/37.

PrCv Ato do escrivão - Juntada de recurso de apelação. REsp n Q

95.870-0-RS. RSTJ 109/99. Cv Ausência de prequestionamento - Contrato - Quitação -

Assertiva de que obtida mediante coação - Estado de necessi­dade - Recurso especial - Inadmissibilidade - Reexame de matéria probatória. REsp n Q 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.

PrCv Autarquia - Autenticação de documentos - Embargos de di­vergência - Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21. EREsp n Q

125.196-0-SP. RSTJ 109/15.

PrCv Autenticação de documentos - Autarquia - Embargos de di­vergência - Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21. EREsp n Q

125.196-0-8P. RSTJ 109/15. PrPn Auto de prisão em flagrante - Anulação - Falta de interesse

jurídico - Habeas corpus - Liberdade provisória concedida. RHC n Q 7.405-0-SP. RSTJ 109/275.

Cv Autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN) - N ecessi­dade - Crédito rural - Juros - Limite. REsp n Q 148.288-0-RS. RSTJ 109/234.

Cv Avalista - Solidariedade - CC, art. 1.495 - Inaplicabilidade -Execução promovida por fiadora sub-rogada contra ava­listas de título de crédito. REsp n Q 76.705-0-MG. RSTJ 109/132.

B

Pv Benefício - Reajuste - Direito adquirido - Inexistência -URP de fevereiro de 1989 (26,05%). REsp n Q 153.957-0-RN. RSTJ 109/361.

PrCv Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 - Violação -Não configuração - Embargos de terceiro - Fraude à execu­ção - Intimação -Ausência - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 387

c Ct Carta precatória - Cumprimento - Competência - Derroga­

ção - Habeas corpus. HC n Q 5.329-0-DF. RSTJ 109/322.

Cv Causa suspensiva e interruptiva - Inexistência - Ação pauliana - Ajuizamento - CC, art. 178, § 9Q

, V, b - Prazo decadencial. REsp n Q 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.

Cv CC, art. 178, § 9Q, V, b - Ação pauliana - Ajuizamento -

Causa suspensiva e interruptiva - Inexistência - Prazo deca­dencial. REsp n Q 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.

Cv CC, art. 1.185 - Doação com encargo - Revogação. REsp n Q

95.309-0-SP. RSTJ 109/142.

Cv CC, art. 1.495 - Inaplicabilidade - Avalista- Solidarieda­de - Execução promovida por fiadora sub-rogada con­tra avalistas de título de crédito. REsp n Q 76.705-0-MG. RSTJ 109/132.

Trbt Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, IH - Dívida ati­va inscrita - Pessoa física - Sócios. REsp n Q 139.S72-0-CE. RSTJ 109/52.

Cv Certificado de Depósito Bancário (CDB) - Deflação -Lei n Q 8.177/91, art. 27 - Incidência. REsp n Q 115.093-0-SP. RSTJ 109/213.

PrCv Citação válida dos sócios - Embargos de terceiro - Inadmissi­bilidade - Embargos do devedor - Execução fiscal. REsp n Q

76.431-0-SP. RSTJ 109/91.

Cv Clínica médica credenciada - Responsabilidade direta pelos atos praticados no exercício de suas funções - Ação indenizatória promovida por particular contra o INSS -Ausência do ato causador do dano praticado pela autarquia-ré. REsp n Q 85.047-O-DF. RSTJ 109/44.

Tr CLT, art. 468 - Violação - Não ocorrência - Decreto-Lei nº 2.280/85 - Vantagem pessoal- Situação provisória. REsp nº 109.291-0-RS. RSTJ 109/151.

Cv Clube social - Estatuto - Cláusula que estabelece a exclu­são de responsabilidade - Furto de bens. REsp n Q 86.137-0-SP. RSTJ 109/140.

Cv Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CPDC) -Inaplicabilidade - Contratos firmados antes de 11/09/90. REsp n Q 72.806-0-SP. RSTJ 109/42.

388 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

Trbt Cofins - Decreto-Lei n Q 2.397/87, art. 1Q - Isenção - Lei Com­

plementar n Q 70/91, art. 6Q, II - Sociedade civil prestadora de

serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.

Cv Colação -Ação declaratória cumulada com pedido de anulação de escritura- Fraude à legítima - Prescrição. REsp n Q 112.974-O-SP. RSTJ 109/154.

PrCv Competência - Ação de cobrança - Contribuição sindical -CPC, art. 87 - Execução - Lei n Q 8.984/85 - Princípio da per­petuação de jurisdição. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.

PrCv Competência - Contribuição sindical- Suspensão - Conven­ção coletiva de trabalho - Justiça do Trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.

PrPn Competência - Crimes cometidos em serviço - Justiça Penal Militar - Policial militar. RHC n Q 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.

Ct Competência - Derrogação - Carta precatória - Cumprimen­to -Habeas corpus. HC n Q 5.329-0-DF. RSTJ 109/322.

Cv Concubinato - Ação declaratória de inexistência - Súmula n Q 7-STJ - Incidência. REsp n Q 99.484-0-GO. RSTJ 109/203.

PrPn Concurso de agentes - Emendatio libelli - Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade - Lei de Tóxicos. RHC n Q 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.

Cv Condenação em dólar - Possibilidade - Responsabilidade dos diretores - Sociedade anônima. REsp n Q 79.476-0-RJ. RSTJ 109/135.

Cv Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida mediante coa­ção -Ausência de prequestionamento - Estado de necessidade - Recurso especial- Inadmissibilidade - Reexame de matéria probatória. REsp n Q 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.

PrCv Contrato de empreitada - Ação de cobrança - Prescrição -Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp n Q 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.

Cv Contratos firmados antes de 11/09/90 - Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CPDC) - Inaplicabilidade. REsp n Q

72.806-0-SP. RSTJ 109/42.

Trbt Contribuição de melhoria - Cobrança - Decreto-Lei n Q

195/67, art. 5Q - Edital- Publicação. REsp n Q 89.791-0-SP.

RSTJ 109/95.

PrCv Contribuição sindical - Ação de cobrança - Competência -CPC, art. 87 - Execução - Lei n Q 8.984/95 - Princípio da per­petuação de jurisdição. CC nº 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 389

PrCv Contribuição sindical- Suspensão - Competência - Conven­ção coletiva de trabalho - Justiça do Trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.

PrCv Convenção coletiva de trabalho - Competência - Contribui­ção sindical- Suspensão - Justiça do Trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.

PrCv Correção monetária - Termo inicial - Denunciação da lide à seguradora - Responsabilidade civil - Seguro. REsp n Q

145.345-0-SP. RSTJ 109/23l.

PrCv CPC, art. 20 - Ofensa - Inexistência - Ação de divisão -Honorários advocatícios - Fixação no final da segunda fase. REsp n Q 96.427-0-PR. RSTJ 109/144.

PrCv CPC, art. 87 - Ação de cobrança - Competência - Contribui­ção sindical- Execução - Lei n Q 8.984/95 - Princípio da per­petuação de jurisdição. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.

PrCv CPC, art. 135, IV - Exceção de suspeição - Reconhecimento objetivo - Magistrado - Recebimento de dádiva para reforma do forum. REsp n Q 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.

PrCv CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropriação indireta -Divergência jurisprudencial - Não comprovação - Indeniza­ção - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obri­gatoriedade. REsp n Q 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.

PrCv CPC, art. 259 - Dano moral e material- Reparação - Valor da causa - Impugnação - Valor econômico previamente estabele­cido pelo autor na inicial. REsp n Q 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.

PrCv CPC, art. 267, VI - Ação civil pública - Declaração de in­constitucionalidade de lei municipal- Extinção do processo­Incompetência do juiz monocrático. REsp n Q 125.337-0-MG. RSTJ 109/48.

PrCv CPC, art. 398 - Exame pericial - Realização - Princípio do contraditório - Violação - Vista às partes - Necessidade. REsp n Q 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.

PrCv CPC, art. 529 - Aplicabilidade - Agravo de instrumento -Intempestividade - Custas judiciais - Pagamento. REsp n Q

152.722-0-PE. RSTJ 109/109.

PrCv CPC, art. 655, § 2Q - Execução - Exeqüente - Credor hipo­

tecário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel - Ex­cepcionalidade - Penhora. REsp nQ 105.617-0-MG. RSTJ 109/210.

PrCv CPC, art. 738, I - Embargos à execução - Prazo para o ofe­recimento - Intimação da penhora - Executados diversos -Lei n Q 8.953/94. REsp n Q 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.

390 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

PrPn CPP, art. 571, VIII - Júri - Soberania dos veredictos - Reafo­ramento - Reformatio in pejus - Não ocorrência. HC n Q

6.090:0-TO. RSTJ 109/247.

Cv Crédito rural - Autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN) - Necessidade - Juros - Limite. REsp n Q 148.288-0-RS. RSTJ 109/234.

PrPn Crime contra a ordem tributária - Condição de procedibili­dade - Denúncia - Oferecimento - Lei n Q 9.430/86, art. 83. RHC n Q 6.584-0-PR. RSTJ 109/325.

Pr Pn Crime de apropriação indébita - Ação penal- Trancamento -Impossibilidade - Habeas corpus - Via eleita inadequada. RHC n Q 7.083-0-MG. RSTJ 109/264.

PrPn Crime de calúnia e difamação - Não ocorrência - Dolo -Au­sência - Recurso em habeas corpus. RHC n Q 6.971-0-RJ. RSTJ 109/328.

Pn Crime de estupro - Crime hediondo - Modalidade tentada ou consumada - Lei n Q 8.072/90, art. 2Q

, § 1 Q - "Sursis" -Apli­cabilidade. REsp n Q 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.

Pn Crime de usura - Decreto n Q 22.626/33 - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Lei n Q 1.251/51, art. 4Q

, a -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 596-STF - Ressal­va. RHC n Q 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.

Pn Crime hediondo - Modalidade tentada ou consumada - Crime de estupro - Lei n Q 8.072/90, art. 2Q

, § 1Q - "Sursis" -Aplica­

bilidade. REsp n Q 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.

PrPn Crimes cometidos em serviço - Competência - Justiça Penal Militar - Policial militar. RHC n Q 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.

Trbt CTN, art. 135, III - Certidão negativa de débito - Dívida ati­va inscrita - Pessoa física - Sócios. REsp n Q 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.

PrCv CTN, art. 185 - Violação - Não configuração - Boa-fé do ad­quirente do bem - Embargos de terceiro - Fraude à execu­ção - Intimação -Ausência - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.

Pn Culpa inconsciente - Enquadramento - Não ocorrência - Ação penal - Trancamento - Falta de justa causa - Acidente de trãnsito - Veículo de propriedade de terceiro - Habeas cor­pus. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.

PrCv Custas judiciais - Pagamento - Agravo de instrumento -Intempestividade - CPC, art. 529 - Aplicabilidade. REsp n Q

152.722-0-PE. RSTJ 109/109.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 391

D

Cv Dano moral- Indenização - Juros de mora - Data inicial -Responsabilidade civil. REsp n Q 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.

PrCv Dano moral e material- Reparação - CPC, art. 259 - Valor da causa - Impugnação - Valor econômico previamente estabele­cido pelo autor na inicial. REsp nº 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.

PrCv Decisão judicial - Desmembramento - Sindicato - Reunião por acordo de dirigentes - Impossibilidade. AgRg no REsp n Q

79.450-0-SP. RSTJ 109/29.

PrCv Declaração de inconstitucionalidade de lei municipal - Ação civil pública - CPC, art. 267, VI - Extinção do processo -Incompetência do juiz monocrático. REsp n Q 125.337-0-MG. RSTJ 109/48.

Trbt Decreto - Autorização legal - Necessidade de previsão - Apa­relhos médicos - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Isenção. REsp nº 151.221-0-RN. RSTJ 109/57.

Pn Decreto n Q 22.626/33 - Crime de usura - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Lei nº 1.251/51, art. 4Q

, a -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 596-STF - Ressal­va. RHC n Q 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.

Adm Decreto nº 89.253/83 -Aplicação - Plano de Cargos e Salários - Vantagem funcional. REsp n Q 102.188-0-SP. RSTJ 109/148.

Trbt Decreto-Lei n Q 195/67, art. 5Q - Contribuição de melhoria

- Cobrança - Edital - Publicação. REsp n Q 89.791-0-SP. RSTJ 109/95.

Tr Decreto-Lei n Q 2.280/85 - CLT, art. 468 - Violação - Não ocor­rência - Vantagem pessoal - Situação provisória. REsp nº 109.291-0-RS. RSTJ 109/151.

Trbt Decreto-Lei n Q 2.397/87, art. 1 Q - Cofins - Isenção - Lei Com­plementar n Q 70/91, art. 6Q

, II - Sociedade civil prestadora de serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.

PrPn Decreto-Lei n Q 3.240/41 - Aplicabilidade - Seqüestro de bens - Prejuízo à Fazenda Pública - Sonegação fiscal. REsp n Q

132.539-0-SC. RSTJ 109/348. PrCv Deferimento administrativo - Embargos declaratórios - Omis­

são - Inexistência - Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados - Mandado de segurança -Restauração de situação jurídica anterior. REsp nº 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.

392 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

Trbt Demissão voluntária - Pagamento recebido - Conceito - Im­posto de Renda (IR) - Não incidência. REsp nº 159.036-0-DF. RSTJ 109/70.

Pn Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Crime de usura - Decreto nº 22.626/33 - Lei nº 1.251/51, art. 4º, a -Recurso em habeas corpus - Súmula nº 596-STF - Ressal­va. RHC n 2 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.

PrPn Denúncia - Oferecimento - Crime contra a ordem tributá­ria - Condição de procedibilidade - Lei nº 9.430/86, art. 83. RHC nº 6.584-0-PR. RSTJ 109/325.

PrPn Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigu­rado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instãncia - Impossibilidade - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva - Manutenção - Re­curso em habeas corpus - Súmula nº 52-STJ. RHC nº 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.

PrPn Denunciação caluniosa - Ação penal- Trancamento - Falta de justa causa. RHC nº 7.137-0-MG. RSTJ 109/266.

PrCv Denunciação da lide à seguradora - Correção monetária - Ter­mo inicial- Responsabilidade civil- Seguro. REsp nº 145.345-O-SP. RSTJ 109/231.

PrCv Desapropriação -Assistência da União - Desistência - Prin­cípio do perpetuatio jurisdictionis. REsp nº 164.635-0-SP. RSTJ 109/114.

PrCv Desapropriação indireta - CPC, arts. 258 e 259 - Violação -Divergência jurisprudencial - Não comprovação - Indeniza­ção - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obri­gatoriedade. REsp nº 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.

PrCv Desmembramento - Decisão judicial - Sindicato - Reunião por acordo de dirigentes - Impossibilidade. AgRg no REsp nº 79.450-0-SP. RSTJ 109/29.

Pv Direito adquirido - Inexistência - Benefício - Reajuste -URP de fevereiro de 1989 (26,05%). REsp nº 153.957-0-RN. RSTJ 109/361.

Adm Disponibilidade - Lei Complementar nº 35/79, art. 27, § 22 -

Magistrado - Representação - Nulidade. RMS nº 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.

PrCv Divergência jurisprudencial - Não comprovação - CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropriação indireta - Indeniza­ção - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obri­gatoriedade. REsp nº 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 393

Trbt Dívida ativa inscrita - Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, lU - Pessoa física - Sócios. REsp n Q 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.

PrCv DNA- Exame pericial- Justiça gratuita -Antecipação das despesas pelo Estado - Possibilidade. REsp n Q 100.086-0-MS. RSTJ 109/205.

Cv Doação com encargo - Revogação - CC, art. 1.185. REsp n Q

95.309-0-SP. RSTJ 109/142.

PrPn Dolo - Ausência - Crime de calúnia e difamação - Não ocor­rência - Recurso em habeas corpus. RHC n Q 6.971-0-RJ. RSTJ 109/328.

E

PrPn ECA, art. 122 - Menor infrator - Internação. RHC n Q 7.223-O-SP. RSTJ 109/273.

PrPn ECA, art. 127 - Remissão e medida sócio-educativa - Apli­cllção. REsp n Q 156.176-0-SP. RSTJ 109/303.

Trbt Edital - Publicação - Contribuição de melhoria - Co­brança - Decreto-Lei n Q 195/67, art. 5Q

• REsp n Q 89.791-0-SP. RSTJ 109/95.

PrCv Embargos à adjudicação - Ausência de culpa por parte do em­bargado - Honorários advocatícios - Teoria da causalida­de. REsp n Q 137.285-0-PB. RSTJ 109/223.

PrCv Embargos à arrematação - Preço vil- Caracterização. REsp n Q 130.351-0-MT. RSTJ 109/218.

PrCv Embargos à execução - Prazo para o oferecimento - CPC, art. 738, I - Intimação da penhora - Executados diversos -Lei n Q 8.953/94. REsp n Q 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.

PrCv Embargos de divergência - Autarquia - Autenticação de documentos - Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21. EREsp n Q

125.196-0-SP. RSTJ 109/15. PrCv Embargos de terceiro - Boa-fé do adquirente do bem - CTN,

art. 185 - Violação - Não configuração - Fraude à execu­ção - Intimação -Ausência - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.

PrCv Embargos de terceiro - Inadmissibilidade - Citação válida dos sócios - Embargos do devedor - Execução fiscal. REsp n Q

76.431-0-SP. RSTJ 109/91.

394 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

PrCv Embargos declaratórios - Omissão - Inexistência - Deferi­mento administrativo - Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados - Mandado de 'segurança -Restauração de situação jurídica anterior. REsp n Q 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.

PrCv Embargos declaratórios - Omissão - Inexistência - Pedido recursal alternativo. EDcl no REsp n9 150.079-0-SP. RSTJ 109/315.

PrCv Embargos do devedor - Citação válida dos sócios - Embargos de terceiro - Inadmissibilidade - Execução fiscal. REsp n Q

76.431-0-SP. RSTJ 109/9l.

PrCv Embargos do devedor - Execução provisória de sentença -Honorários advocatícios - Cabimento. REsp n Q 66.370-0-RS. RSTJ 109/129.

PrPn Emendatio libelli - Concurso de agentes - Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade - Lei de Tóxicos. RHC nº 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.

Cv Estado de necessidade - Ausência de prequestionamento -Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida mediante coa­ção - Recurso especial - Inadmissibilidade - Reexame de matéria probatória. REsp n Q 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.

Cv Estatuto - Cláusula que estabelece a exclusão de responsabili­dade - Clube social - Furto de bens. REsp nº 86.137-0-SP. RSTJ 109/140.

PrCv Exame pericial- DNA - Justiça gratuita - Antecipação das despesas pelo Estado - Possibilidade. REsp nº 100.086-0-MS. RSTJ 109/205.

PrCv Exame pericial- Realização - CPC, art. 398 - Princípio do contraditório - Violação - Vista às partes - Necessidade. REsp nº 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.

PrCv Exceção de suspeição - Reconhecimento objetivo - CPC, art. 135, IV - Magistrado - Recebimento de dádiva para reforma do forum. REsp nº 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.

PrPn Excesso de prazo desconfigurado - Denúncia por roubo qualifi­cado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva - Manutenção - Re­curso em habeas corpus - Súmula n Q 52-STJ. RHC nº 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.

PrCv Execução - Ação de cobrança - Competência - Contribuição sindical- CPC, art. 87 - Lei nº 8.984/95 - Princípio da perpe­tuação de jurisdição. CC nº 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 395

PrCv Execução - CPC, art. 655, § 2º - Exeqüente - Credor hipote­cário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel - Ex­cepcionalidade - Penhora. REsp nº 105.617-0-MG. RST J 109/210.

PrCv Execução fiscal - Citação válida dos sócios - Embargos de terceiro - Inadmissibilidade - Embargos do devedor. REsp nº 76.431-0-SP. RSTJ 109/91.

PrCv Execução fiscal - Faturamento diário da empresa - N omea­ção de administrador - Penhora - Substituição dos bens pe­nhorados. REsp nº 118.780-0-SP. RSTJ 109/107.

Cv Execução promovida por fiadora sub-rogada contra avalistas de título de crédito - Avalista - Solidariedade - CC, art. 1.495 - Inaplicabilidade. REsp nº 76.705-0-MG. RSTJ 109/132.

PrCv Execução provisória de sentença - Embargos do devedor -Honorários advocatícios - Cabimento. REsp nº 66.370-0-RS. RSTJ 109/129.

PrCv Exeqüente - Credor hipotecário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel- Excepcionalidade - CPC, art. 655, § 2º - Execução - Penhora. REsp nº 105.617-0-MG. RSTJ 109/210.

PrCv Extinção do processo - Incompetência do juiz monocrático -Ação civil pública - CPC, art. 267, VI - Declaração de in­constitucionalidade de lei municipal. REsp nº 125.337-0-MG. RSTJ 109/48.

F

Cm Factoring - Atividade não abrangida pelo sistema financeiro nacional- Juros permitidos às instituições financeiras - Ina­plicabilidade. REsp nº 119.705-0-RS. RSTJ 109/161.

PrPn Falta de justa causa - Ação penal - Trancamento - Denun­ciação caluniosa. RHC nº 7.137-0-MG. RSTJ 109/266.

PrCv Faturamento diário da empresa - Nomeação de administrador - Execução fiscal_ Penhora - Substituição dos bens penho­rados. REsp nº 118.780-0-SP. RSTJ 109/107.

PrCv Fraude à execução - Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 - Violação - Não configuração - Embargos de tercei­ro - Intimação - Ausência - Penhora. REsp nº 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.

396 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

Cv Fraude à legítima - Ação declaratória cumulada com pedido de anulação de escritura- Colação - Prescrição. REsp nº 112.974-O-SP. RSTJ 109/154.

Cv Furto de bens - Clube social - Estatuto - Cláusula que estabelece a exclusão de responsabilidade. REsp nº 86.137-0-SP. RSTJ 109/140.

G

PrPn Gravação de conversa telefônica - Interceptação telefônica des­caracterizada - Prova - Licitude - Recurso em habeas cor­pus. RHC nº 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.

H

Pn Habeas corpus - Ação penal- Trancamento - Falta de justa causa - Acidente de trânsito - Veículo de propriedade de ter­ceiro - Culpa inconsciente - Enquadramento - Não ocorrên­cia. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.

PrPn Habeas corpus - Auto de prisão em flagrante - Anulação -Falta de interesse jurídico - Liberdade provisória concedida. RHC n Q 7.405-0-SP. RSTJ 109/275.

Ct Habeas corpus - Carta precatória - Cumprimento - Compe­tência - Derrogação. HC nº 5.329-0-DF. RSTJ 109/322.

PrPn Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade -Concurso de agentes - Emendatio libelli - Lei de Tóxicos. RHC nº 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.

Pr Pn Habeas corpus - Via eleita inadequada - Ação penal- Tran­camento - Impossibilidade - Crime de apropriação indébita. RHC nº 7.083-0-MG. RSTJ 109/264.

PrCv Honorários advocatícios - Cabimento - Embargos do deve­dor - Execução provisória de sentença. REsp nº 66.370-0-RS. RSTJ 109/129.

PrCv Honorários advocatícios - Embargos à adjudicação - Au­sência de culpa por parte do embargado - Teoria da causalida­de. REsp nº 137.285-0-PB. RSTJ 109/223.

PrCv Honorários advocatícios - Fixação no final da segunda fase -Ação de divisão - CPC, art. 20 - Ofensa - Inexistência. REsp nº 96.427-0-PR. RSTJ 109/144.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 397

I

Trbt Imposto de Renda (IR) - Não incidência - Demissão volun­tária - Pagamento recebido - Conceito. REsp n Q 159.036-0-DF. RSTJ 109/70.

Trbt Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Isenção - Aparelhos médicos - Decreto - Autorização legal - N eces­sidade de previsão. REsp n Q 151.221-0-RN. RSTJ 109/57.

PrCv Indenização - CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropri­ação indireta - Divergência jurisprudencial - Não comprova­ção - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial - Obri­gatoriedade. REsp n Q 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.

Cv Indenização - Dano moral- Juros de mora - Data inicial­Responsabilidade civil. REsp n Q 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.

PrCv Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados - Deferimento administrativo - Embargos declara­tórios - Omissão - Inexistência - Mandado de segurança -Restauração de situação jurídica anterior. REsp n Q 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.

Cm Informação falsa veiculada em mensagem publicitária - Lei nº 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Patente - Deferimento pos­terior - Prejuízo - Ausência - Propriedade industrial. REsp n Q 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.

PrPn Interceptação telefônica descaracterizada - Gravação de con­versa telefônica - Prova - Licitude - Recurso em habeas corpus. RHC n Q 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.

PrCv Intimação - Ausência - Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 - Violação - Não configuração - Embargos de tercei­ro - Fraude à execução - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.

PrCv Intimação da penhora - Executados diversos - CPC, art. 738, I - Embargos à execução - Prazo para o oferecimento - Lei n Q 8.953/94. REsp n Q 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.

Trbt Isenção - Cofins - Decreto-Lei n Q 2.397/87, art. 1º - Lei Com­plementar nº 70/91, art. 6Q

, II - Sociedade civil prestadora de serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.

398 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

J

PrPn Júri - Soberania dos veredictos - CPP, art. 571, VIII - Reafo­ramento - Reformatio in pejus - Não ocorrência. HC n Q

6.090-0-TO. RSTJ 109/247.

Cv Juros - Limite -Autorização do Conselho Monetário Nacional CCMN) - Necessidade - Crédito rural. REsp n Q 148.288-0-RS. RSTJ 109/234.

Cv Juros de mora - Data inicial- Dano moral- Indenização­Responsabilidade civil. REsp n Q 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.

Cm Juros permitidos às instituições financeiras - Inaplicabilidade - Factoring -Atividade não abrangida pelo sistema financei­ro nacional. REsp n Q 119.705-0-RS. RSTJ 109/16l.

PrCv Justiça do Trabalho - Competência - Contribuição sindical - Suspensão - Convenção coletiva de trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.

PrCv Justiça gratuita -Antecipação das despesas pelo Estado - Pos­sibilidade - DNA - Exame pericial. REsp n Q 100.086-0-MS. RSTJ 109/205.

PrPn Justiça Penal Militar ~ Competência - Crimes cometidos em serviço - Policial militar. RHC n Q 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.

L

Pn Latrocínio praticado com o concurso de menor - Lei n Q

2.252/54, art. 1 Q. REsp n Q 140.899-0-PR. RSTJ 109/295.

Adm Lei Complementar n Q 35/79, art. 27, § 2Q - Disponibilidade -

Magistrado - Representação - Nulidade. RMS n Q 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.

Trbt Lei Complementar n Q 70/91, art. 6Q, II - Cofins - Decreto-Lei

nº 2.397/87, art. 12 - Isenção - Sociedade civil prestadora de serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.

Cm Lei das Sociedades Anônimas, art. 206, II, b - Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade - Sociedade anô­nima - Dissolução. REsp n Q 164.125-0-RJ. RSTJ 109/ 174.

PrPn Lei de Tóxicos - Concurso de agentes - Emendatio libelli - Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade. RHC n Q 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 399

Pn Lei nº 1.251/51, art. 4º, a - Crime d~ usura - Decreto nº 22.626/ 33 - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 596-STF - Ressal­va. RHC n Q 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.

Pn Lei n Q 2.252/54, art. 1Q - Latrocínio praticado com o con­

curso de menor. REsp n Q 140.899-0-PR. RSTJ 109/295.

Cm Lei nº 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Informação falsa veiculada em mensagem publicitária - Patente - Deferimento posterior - Prejuízo - Ausência - Propriedade industrial. REsp nº 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.

Pn Lei nº 8.072/90, art. 2º, § 1º - Crime de estupro - Crime he­diondo - Modalidade tentada ou consumada - "Sursis" -Apli­cabilidade. REsp nº 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.

Cv Lei nº 8.177/91, art. 27 - Incidência - Certificado de Depó­sito Bancário (CDB) - Deflação. REsp nº 115.093-0-SP. RSTJ 109/213.

PrCv Lei nº 8.953/94 - CPC, art. 738, I - Embargos à execução -Prazo para o oferecimento - Intimação da penhora - Executa­dos diversos. REsp nº 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.

PrCv Lei nº 8.984/95 -Ação de cobrança - Competência - Contri­buição sindical - CPC, art. 87 - Execução - Princípio da per­petuação de jurisdição. CC nº 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.

PrCv Lei nº 8.984/95, art. 1 º - Competência - Contribuição sindi­cal - Suspensão - Convenção coletiva de trabalho - Justiça do Trabalho. CC nº 19.108-0-RJ. RSTJ 109/121.

PrPn Lei nº 9.099/95, art. 76 - Transação penal. HC nº 6.566-0-SP. RSTJ 109/251.

PrPn Lei nº 9.099/95, art. 89 - Inaplicabilidade - Sentença prolata­da - Suspensão do processo - Inviabilidade. REsp nº 125.675-0-SP. RSTJ 109/290.

PrPn Lei nº 9.099/95, art. 89, c/c o art. 129, I e § 2º da Constituição Federal- Ministério Público - Suspensão condicional do processo - Oferta - Iniciativa. REbiJ ti:; 155.42 R··O-SP. RSTJ 109/300.

PrPn Lei nº 9.430/86, art. 83 - Crime contra a ordem tributária - Condição de procedibilidade - Denúncia - Oferecimento. RHC nº 6.584-0-PR. RSTJ 109/325.

PrPn Liberdade provisória concedida - Auto de prisão em flagrante - Anulação - Falta de interesse jurídico - Habeas corpus. RHC nº 7.405-0-SP. RSTJ 109/275.

400 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

Adm

PrCv

Licitação - Inabilitação - Inexistência - Alvará de licença­Juntada - Serviços de radiodifusão sonora - Inscrição no Ca­dastro Fiscal do Município. MS n Q 5.604-0-DF. RSTJ 109/23.

Liminar - Indeferimento - Agravo - Cabimento - Tribunal incompetente - Concessão - Excepcionalidade. AgRg no MS n Q

4.646-0-DF. RSTJ 109/21.

M

PrCv Magistrado - CPC, art. 135, IV - Exceção de suspeição -Reconhecimento objetivo - Recebimento de dádiva para refor­ma do forum. REsp nQ 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.

Adm Magistrado - Disponibilidade - Lei Complementar n Q 35/79, art. 27, § 2Q

- Representação - Nulidade. RMS n Q 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.

PrCv Mandado de segurança - Petição inicial- Indeferimento -Princípio da fungibilidade recursal - Recurso cabível. RMS n Q

7.823-0-RS. RSTJ 109/77.

PrCv Mandado de segurança - Restauração de situação jurídica an­terior - Deferimento administrativo - Embargos declaratórios - Omissão - Inexistência - Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados. REsp nQ 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.

PrCv Mandado de segurança preventivo - Não cabimento - Ato concreto ou preparatório lesivo de direito líquido e certo - Ine­xistência. RMS n Q 8.920-0-PA. RSTJ 109/37.

PrCv Matéria constitucional- Agravo regimental- Recurso espe­cial- Seguimento - Inviabilidade. AgRg no REsp n Q 141.248-O-ES. RSTJ 109/32.

PrCv Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21-Autarquia-Autenti­tação de documentos - Embargos de divergência. EREsp n Q

125.196-0-SP. RSTJ 109/15.

PrPn Menor infrator - Internação - ECA, art. 122. RHC n Q 7.223-O-SP. RSTJ 109/273.

PrPn Ministério Público - Intervenção no processo - Omissão -Presença do Procurador da República na sessão de julgamento - Apelação criminal - Nulidade - Inexistência. REsp n Q

90.458-0-PE. RSTJ 109/346.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 401

PrCv Ministério Público - Legitimidade - Ação civil pública -Patrimônio público e social- Proteção. REsp nQ 159.021-0-MA. RSTJ 109/68.

PrPn Ministério Público - Lei nQ 9.099/95, art. 89, c/c o art. 129, I e § 2Q

da Constituição Federal- Suspensão condicional do proces­so - Oferta - Iniciativa. REsp n Q 155.426-0-SP. RSTJ 109/300.

N

PrPn Nulidade - Inexistência - Apelação criminal - Ministério Público - Intervenção no processo - Omissão - Presença do Procurador da República na sessão de julgamento. REsp n Q

90.458-0-PE. RSTJ 109/346.

PrPn Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instân­cia - Impossibilidade - Denúncia por roubo qualificado - Ex­cesso de prazo desconfigurado - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva - Manutenção - Re­curso em habeas corpus - Súmula n Q 52-STJ. RHC n Q 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.

p

PrPn Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado -Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instân­cia - Impossibilidade - Prisão preventiva - Manutenção -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 52-STJ. RHC n Q

7.332-0-RJ. RSTJ 109/335.

Cm Patente - Deferimento posterior -- Infürmação falsa veiculada em mensagem publicitária - Lei n Q 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Prejuízo - Ausência - Propriedade industrial. REsp n Q 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.

PrCv Patrimônio público e social- Proteção -·Ação civil pública - Ministério Público - Legitimidade. REsp n Q 159.021-0-MA. RSTJ 109/68.

PrCv Pedido recursal alternativo - Embargos declaratórios -Omissão - Inexistência. EDcl no REsp n Q 150.079-0-SP. RSTJ 109/315.

402 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

PrCv Penhora - Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 -Violação - Não configuração - Embargos de terceiro - Frau­de à execução - Intimação -Ausência. REsp nº 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.

PrCv Penhora - CPC, art. 655, § 2º - Execução - Exeqüente -Credor hipotecário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel-Excepcionalidade. REsp nº 105.617-0-MG. RSTJ 109/210.

PrCv Penhora - Substituição dos bens penhorados - Execução fis­cal- Faturamento diário da empresa - Nomeação de adminis­trador. REsp nº 118.780-0-SP. RSTJ 109/107.

Trbt Pessoa física - Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, IH - Dívida ativa inscrita - Sócios. REsp nº 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.

PrCv Petições e recursos no STJ - Fac-símile - Inadmissibilidade­Agravo regimental- Resolução nº 43/91, do STJ. AgRg nos EREsp nº 64.205-0-GO. RSTJ 109/119.

Adm Plano de Cargos e Salários - Decreto nº 89.253/83 -Aplicação - Vantagem funcional. REsp nº 102.188-0-SP. RSTJ 109/148.

PrPn Policial militar - Competência - Crimes cometidos em servi­ço - Justiça Penal Militar. RHC nº 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.

Cv Prazo decadencial - Ação pauliana - Ajuizamento - Causa suspensiva e interruptiva - Inexistência - CC, art. 178, § 9º, V, b. REsp nº 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.

PrCv Preço vil- Caracterização - Embargos à arrematação. REsp nº 130.351-0-MT. RSTJ 109/218.

Cm Prejuízo - Ausência - Informação falsa veiculada em mensa­gem publicitária - Lei nº 5.772/71, art. 23, parágrafo único­Patente - Deferimento posterior - Propriedade industrial. REsp nº 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.

PrCv Prescrição - Ação de cobrança - Contrato de empreitada -Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp nº 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.

Cv Prescrição - Ação declaratória cumulada com pedido de anula­ção de escritura - Colação - Fraude à legítima. REsp nº 112.974-0-SP. RSTJ 109/154.

PrCv Princípio da fungibilidade recursal- Mandado de segurança - Petição inicial- Indeferimento - Recurso cabível. RMS nº 7.823-0-RS. RSTJ 109/77.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 403

PrCv Princípio da perpetuação de jurisdição - Ação de cobrança -Competência - Contribuição sindical- CPC, art. 87 - Exe­cução - Lei nº 8.984/95. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.

PrPn Princípio da proporcionalidade - Regime semi-aberto - Réu preso - Sentença condenatória. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.

PrCv Princípio do contraditório - Violação - CPC, art. 398 - Exa­me pericial - Realização - Vista às partes - Necessidade. REsp nº 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.

PrCv Princípio do perpetuatio jurisdidionis - Assistência da União - Desistência - Desapropriação. REsp nº 164.635-0-SP. RSTJ 109/114.

PrPn Prisão preventiva - Manutenção - Denúncia por roubo qualifi­cado - Excesso de prazo desconfigurado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilida­de - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Re­curso em habeas corpus - Súmula nº 52-STJ. RHC nº 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.

PrPn Procuradora de Estado - Parecer técnico sobre dispensa de lici­tação - Ação penal- Trancamento - Acusação abusiva. RHC nº 7.165-0-RO. RSTJ 109/33l.

Cm Propriedade industrial - Informação falsa veiculada em mensagem publicitária-Lei nQ 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Patente - Deferimento posterior - Prejuízo - Ausência. REsp nº 16l.909-0-RS. RSTJ 109/172.

PrPn Prova - Licitude - Gravação de conversa telefônica - Inter­ceptação telefônica descaracterizada - Recurso em habeas corpus. RHC nº 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.

R

PrPn Reaforamento - CPP, art. 571, VIII - Júri - Soberania dos veredictos - Reformatio in pejus - Não ocorrência. HC nº 6.090-0-TO. RSTJ 109/247.

PrCv Recebimento de dádiva para reforma do forum - CPC, art. 135-, IV - Exceção de suspeicão - Reconhecimento objetivo - Ma:­gistrado. REsp nº 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.

PrCv Recurso cabível - Mandado de segurança - Petição inicial - Indeferimento - Princípio da fungibilidade recursal. RMS nº 7.823-0-RS. RSTJ 109/77.

404 R Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

PrPn Recurso em habeas corpus - Crime de calúnia e difama­ção - Não ocorrência - Dolo - Ausência. RHC nº 6.971-0-RJ. RSTJ 109/328.

Pn Recurso em habeas corpus - Crime de usura - Decreto nº 22.626/33 - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Lei nº 1.251/51, art. 4º, a - Súmula nº 596-STF - Ressalva. RHC nº 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.

PrPn Recurso em habeas corpus - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade -Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão pre­ventiva - Manutenção - Súmula nº 52-STJ. RHC nº 7.332-0-RJ. RSTJ 109/335.

PrPn Recurso em habeas corpus - Gravação de conversa telefôni­ca - Interceptação telefônica descaracterizada - Prova - Lici­tude. RHC nº 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.

Cv Recurso especial- Inadmissibilidade - Ausência de prequesti­onamento - Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida mediante coação - Estado de necessidade - Reexame de maté­ria probatória. REsp nº 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.

PrCv Recurso especial- Reexame de prova - Impossibilidade - Ação de rescisão de contrato de compra e venda cumulada com anulação de escritura pública e perdas e danos - Súmula nº 7-STJ - Incidência. REsp nº 5.452-0-MS. RSTJ 109/179.

PrCv Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade -Ação de cobrança - Contrato de empreitada - Prescrição. REsp nº 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.

Cm Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade -Lei das Sociedades Anônimas, art. 206, lI, b - Sociedade anô­nima - Dissolução. REsp nº 164.125-0-RJ. RSTJ 109/174.

Cv Reexame de matéria probatória - Ausência de prequestiona­mento - Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida me­diante coação - Estado de necessidade - Recurso especial -Inadmissibilidade. REsp nº 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.

PrPn Reformatio in pejus - Não ocorrência - CPP, art. 571, VIII - Júri - Soberania dos veredictos - Reaforamento. HC nº 6.090-0-TO. RSTJ 109/247.

PrPn Regime semi-aberto - Princípio da proporcionalidade - Réu preso :.-. Sentença condenatória. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.

R. Sup. Trib .Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 405

Pr Pn Remissão e medida sócio-educativa - Aplicação - ECA, art. 127. REsp nº 156.176-0-SP. RSTJ 109/303.

Adm Representação - Nulidade - Disponibilidade - Lei Comple­mentar nº 35/79, art. 27, § 2º - Magistrado. RMS nº 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.

PrCv Resolução nº 43/91, do STJ -Agravo regimental- Petições e recursos no STJ - Fac-símile - Inadmissibilidade. AgRg nos EREsp nº 64.205-0-GO. RSTJ 109/119.

PrCv Responsabilidade civil - Correção monetária - Termo inicial - Denunciação da lide à seguradora - Seguro. REsp nº 145.345-O-SP. RSTJ 109/231.

Cv Responsabilidade civil- Dano moral- Indenização - Ju­ros de mora - Data inicial. REsp nº 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.

Cv Responsabilidade dos diretores - Condenação em dólar -Possibilidade - Sociedade anônima. REsp nº 79.476-0-RJ. RSTJ 109/135.

PrPn Réu preso - Princípio da proporcionalidade - Regime semi­aberto - Sentença condenatória. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.

s PrCv Seguro - Correção monetária - Termo inicial- Denunciação

da lide à seguradora - Responsabilidade civil. REsp nº 145.345-O-SP. RSTJ 109/231.

PrPn Sentença condenatória - Princípio da proporcionalidade - Regime semi-aberto - Réu preso. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.

PrPn Sentença prolatada - Lei nº 9.099/95, art. 89 - Inaplicabilida­de - Suspensão do processo - Inviabilidade. REsp nº 125.675-O-SP. RSTJ 109/290.

PrPn Seqüestro de bens - Prejuízo à Fazenda Pública - Decreto-Lei nº 3.240/41 - Aplicabilidade - Sonegação fiscal. REsp nº 132.539-0-SC. RSTJ 109/348.

Adm Serventia não oficial - Servidor público - Tempo de serviço - Contagem para fins de gratificação - Impossibilidade. RMS nº 8.399-0-RS. RSTJ 109/341.

406 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

Adm Serviços de radiodifusão sonora - Inscrição no Cadastro Fiscal do Município - Alvará de licença - Juntada - Licitação -Inabilitação - Inexistência. MS nº 5.604-0-DF. RSTJ 109/23.

Adm Servidor público - Serventia não oficial - Tempo de serviço - Contagem para fins de gratificação - Impossibilidade. RMS nº 8.399-0-RS. RSTJ 109/341.

PrCv Sindicato - Reunião por acordo de dirigentes - Impossibili­dade - Decisão judicial - Desmembramento. AgRg no REsp nº 79.450-0-SP. RSTJ 109/29.

Cv Sociedade anônima - Condenação em dólar - Possibilida­de - Responsabilidade dos diretores. REsp nº 79.476-0-RJ. RSTJ 109/135.

Cm Sociedade anônima - Dissolução - Lei das Sociedades Anô­nimas, art. 206, lI, b - Recurso especial- Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp nº 164.125-0-RJ. RSTJ 109/174.

Trbt Sociedade civil prestadora de serviço médico - Cofins - De­creto-.Lei nº 2.397/87, art. 1º - Isenção - Lei Complementar nº 70/91, art. 6º, lI. REsp nº 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.

Trbt Sócios - Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, III -Dívida ativa inscrita - Pessoa física. REsp nº 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.

PrPn Sonegação fiscal- Decreto-Lei nº 3.240/41-Aplicabilidade - Seqüestro de bens - Prejuízo à Fazenda Pública. REsp nº 132.539-0-SC. RSTJ 109/348.

PrCv Súmula nº 7 -STJ - Incidência - Ação de rescisão de contra­to de compra e venda cumulada com anulação de escritu­ra pública e perdas e danos - Recurso especial - Reexame de prova - Impossibilidade. REsp nº 5.452-0-MS. RSTJ 109/179.

Cv Súmula nº 7-STJ - Incidência - Ação declaratória de inexis­tência - Concubinato. REsp nº 99.484-0-GO. RSTJ 109/203.

PrPn Súmula nº 52-STJ - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado - Nulidade declinada em grau de re­curso - Supressão de instância - Impossibilidade - Partes -Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva -Manutenção - Recurso em habeas corpus. RHC nº .7.332-0-RJ. RSTJ 109/335.

Pn Súmula nº 596-STF - Ressalva .:...-Crime de usura - Decreto nº 22.626/33 - Denúncia - Falta dejusta causa - Não ocorrência - Lei nº 1.251/51, art. 4º, a - Recurso em habeas corpus. RHC nº 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 407

Pn "Sursis" - Aplicabilidade - Crime de estupro - Crime hedi­ondo - Modalidade tentada ou consumada - Lei n Q 8.072/90, art. 2Q

, § 1Q• REsp n Q 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.

PrPn Suspensão condicional do processo - Oferta - Iniciativa - Lei n Q 9.099/95, art. 89, c/c o art. 129, I e § 2Q da Constituição Federal- Ministério Público. REsp nQ 155.426-0-SP. RSTJ 109/300.

PrPn Suspensão do processo - Inviabilidade - Lei nQ 9.099/95, art. 89 - Inaplicabilidade - Sentença prolatada. REsp n Q

125.675-0-SP. RSTJ 109/290.

T

Adm Tempo de serviço - Contagem para fins de gratificação - Im­possibilidade - Serventia não oficial- Servidor público. RMS nº 8.399-0-RS. RSTJ 109/34l.

PrCv Teoria da causalidade - Embargos à adjudicação - Ausência de culpa por parte do embargado - Honorários advocatícios. REsp nº 137.285-0-PB. RSTJ 109/223.

PrPn Transação penal- Lei nº 9.099/95, art. 76. HC nº 6.566-0-SP. RSTJ 109/25l.

PrCv Tribunal incompetente - Concessão - Excepcionalidade -Agravo - Cabimento - Liminar - Indeferimento. AgRg no MS nº 4.646-0-DF. RSTJ 109/21.

u

Pv URP de fevereiro de 1989 (26,05%) - Benefício - Reajuste - Direito adquirido - Inexistência. REsp nº 153.957-0-RN. RSTJ 109/361.

v

PrCv Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obrigatorie­dade - CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropriação indi­reta - Divergência jurisprudencial - Não comprovação - In­denização. REsp nº 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.

408 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.

PrCv Valor da causa - Impugnação - CPC, art. 259 - Dano moral e material- Reparação - Valor econômico previamente estabe­lecido pelo autor na inicial. REsp nº 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.

PrCv Valor econômico previamente estabelecido pelo autor na inicial - CPC, art. 259 - Dano moral e material- Reparação - Valor da causa - Impugnação. REsp nº 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.

Adm Vantagem funcional - Decreto nº 89.253/83 - Aplicação -Plano de Cargos e Salários. REsp nº 102.188-0-SP. RSTJ 109/148.

Tr Vantagem pessoal - Situação provisória - CLT, art. 468 -Violação - Não ocorrência - Decreto-Lei nº 2.280/85. REsp nº 109.291-0-RS. RSTJ 109/15l.

PrCv Vista às partes - Necessidade - CPC, art. 398 -Exame peri­cial- Realização - Princípio do contraditório - Violação. REsp nº 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 409

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ÍNDICE SISTEMÁTICO

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I - JURISPRUDÊNCIA

AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANÇA - AgRg no MS

4.646-0-DF ............ ReI. Min. Adhemar Maciel........................ RSTJ 109/21

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL -AgRg no REsp

79.450-0-SP ............. ReI. Min. José Delgado .............................. RSTJ 109/29 14l.248-0-ES ............ ReI. Min. José Delgado .............................. RSTJ 109/32

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL - AgRg nos EREsp

64.205-0-GO ............ ReI. Min. Bueno de Souza ......................... RSTJ 109/119

CONFLITO DE COMPETÊNCIA ~ CC

19.108-0-RJ ............. ReI. Min. Bueno de Souza ......................... RSTJ 109/121 19.246-0-SP ............. ReI. Min. Costa Leite ................................. RSTJ 109/123

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL - EDc1 no REsp

150.079-0-SP ............. ReI. Min. Fernando Gonçalves ................. RSTJ 109/315

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL - EREsp

125.196-0-SP ............. ReI. Min. Waldemar Zveiter ..................... RSTJ 109/15

HABEAS CORPUS - HC

3.299-0-SP ............. ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ....... RSTJ 109/317 5.329-0-DF ............ ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ....... RSTJ 109/322 6.090-0-TO ............ ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzini ........... RSTJ 109/247 6.566-0-SP ............. ReI. Min. José Dantas ............................... RSTJ 109/251

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 411-415, setembro 1998. 413

MANDADO DE SEGURANÇA - MS

5.604-0-DF ............ ReI. Min. Hélio Mosimann ........................ RSTJ 109/23

RECURSO EM HABEAS CORPUS - RHC

6.584-0-PR ............ ReI. Min. Fernando Gonçalves ................. RSTJ 109/325 6.824-0-PR ............ ReI. Min. José Dantas ............................... RSTJ 109/253 6.968-0-RJ ............. ReI. Min. José Arnaldo da Fonseca.......... RSTJ 109/259 6.971-0-RJ ............. ReI. Min. Fernando Gonçalves ................. RSTJ 109/328 7.083-0-MG ........... ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzini ........... RSTJ 109/264 7.137-0-MG ........... ReI. Min. Edson Vidigal ............................ RSTJ 109/266 7.165-0-RO ............ ReI. Min. Anselmo Santiago ..................... RSTJ 109/331 7.216-0-SP ............. ReI. Min. Edson Vidigal ............................ RSTJ 109/268 7.223-0-SP ............. ReI. Min. José Dantas ............................... RSTJ 109/273 7.332-0-RJ ............. ReI. Min. Anselmo Santiago ..................... RSTJ 109/335 7.366-0-GO ............ ReI. Min. Anselmo Santiago ..................... RSTJ 109/337 7.405-0-SP ............. ReI. Min. Edson Vidigal ............................ RSTJ 109/275 7.514-0-RJ ............. ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ....... RSTJ 109/339

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA - RMS

7.823-0-RS ............. ReI. Min. Adhemar Maciel ........................ RSTJ 109/77 7.977-0-SE ............. ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzini ........... RSTJ 109/278 8.399-0-RS ............. ReI. Min. William Patterson ..................... RSTJ 109/341 8.920-0-PA ............. ReI. Min. Demócrito Reinaldo .................. RSTJ 109/37

RECURSO ESPECIAL - REsp

5.452-0-MS ............ ReI. Min. Fontes de Alencar ..................... RSTJ 109/179 46.910-0-SP ............. ReI. Min. Peçanha Martins ....................... RSTJ 109/83 53.463-0-SP ............. ReI. Min. Peçanha Martins ....................... RSTJ 109/87 66.370-0-RS ............. ReI. Min. Waldemar Zveiter ..................... RSTJ 109/129 72.806-0-SP ............. ReI. Min. Garcia Vieira ............................. RSTJ 109/42 76.431-0-SP ............. ReI. Min. Peçanha Martins ....................... RSTJ 109/91 76.705-0-MG ........... ReI. Min. Nilson Naves .............................. RSTJ 109/132 79.476-0-RJ ............. ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito RSTJ 109/135 85.047-0-DF ............ ReI. Min. Demócrito Reinaldo .................. RSTJ 109/44 86.137-0-SP ............. ReI. Min. Eduardo Ribeiro ........................ RSTJ 109/140 89. 791-0-SP ............. ReI. Min. Ari Pargendler ........................... RSTJ 109/95 90.458-0-PE ............ ReI. Min. Vicente Leal............................... RSTJ 109/346 90.980-0-DF ............ ReI. Min. Barros Monteiro ........................ RSTJ 109/182 92.313-0-SP ............. ReI. Min. Sálvio de Figueiredo ................. RSTJ 109/192 95.309-0-SP ............. ReI. Min. Eduardo Ribeiro ........................ RSTJ 109/142 95.870-0-RS ............. ReI. Min. Ari Pargendler ........................... RSTJ 109/99

414 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 411-415, setembro 1998.

96.427-0-PR ............ Rel. Min. Nilson Naves .............................. RSTJ 109/144 97.991-0-MG ........... Rei. Min. Sálvio de Figueiredo ................. RSTJ 109/195 99.484-0-GO ............ Rel. Min. Fontes de Alencar ..................... RSTJ 109/203

100.086-0-MS ............ Rei. Min. Cesar Asfor Rocha ..................... RSTJ 109/205 102.188-0-SP ............. Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito RSTJ 109/148 105.617-0-MG ........... Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ..................... RSTJ 109/210 109.291-0-RS ............ Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito RSTJ 109/151 112.965-0-MG ........... Rel. Min. Hélio Mosimann ........................ RSTJ 109/102 112.974-0-SP ............. Rel. Min. Nilson Naves .............................. RSTJ 109/154 115.093-0-SP ............. Rel. Min. Fontes de Alencar ..................... RSTJ 109/213 118.780-0-SP ............. ReI. Min. Hélio Mosimann ........................ RSTJ 109/107 119. 705-0-RS ............. Rel. Min. Waldemar Zveiter ..................... RSTJ 109/161 124.147-0-GO ............ Rel. Min. Sálvio de Figueiredo ................. RSTJ 109/215 125.337-0-MG ........... Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................. RSTJ 109/48 125.675-0-SP ............. Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca .......... RSTJ 109/290 130.351-0-MT ........... Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .............. RSTJ 109/218 132.539-0-SC ............ Rei. Min. William Patterson ..................... RSTJ 109/348 137.285-0-PB ............ Rel. Min. Barros Monteiro ........................ RSTJ 109/223 139.872-0-CE ............ Rel. Min. Milton Luiz Pereira .................. RSTJ 109/52 140.899-0-PR ............ Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca .......... RSTJ 109/295 143.553-0-RJ ............. Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ..................... RSTJ 109/227 145.345-0-SP ............. Rel. Min. Barros Monteiro ........................ RSTJ 109/231 14 7.850-0-RJ ............. Rei. Min. Vicente Leal............................... RSTJ 109/355 148.288-0-RS ............ Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .............. RSTJ 109/234 151.221-0-RN ............ Rel. Min. Garcia Vieira ............................. RSTJ 109/57 152.722-0-PE ............ Rei. Min. Adhemar Maciel........................ RSTJ 109/109 153.155-0-SP ............. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar ............... RSTJ 109/239 153.957-0-RN ............ Rel. Min. William Patterson ..................... RSTJ 109/361 155.426-0-SP ............. Rel. Min. Felix Fischer .............................. RSTJ 109/300 156.176-0-SP ............. Rei. Min. Felix Fischer .............................. RSTJ 109/303 156.839-0-SP ............. Rel. Min. José Delgado .............................. RSTJ 109/60 159.021-0-MA ........... Rel. Min. Garcia Vieira ............................. RSTJ 109/68 159.036-0-DF ............ Rel. Min. Humberto Gomes de Barros .... RSTJ 109/70 160.264-0-PR ............ Rel. Min. Felix Fischer .............................. RSTJ 109/306 161.909-0-RS ............ Rel. Min. Eduardo Ribeiro ........................ RSTJ 109/172 164.125-0-RJ ............. Rel. Min. Costa Leite ................................. RSTJ 109/174 164.635-0-SP ............. Rel. Min. Ari Pargendler ........................... RSTJ 109/114 169.226-0-SC ............ ReI. Min. Vicente Leal............................... RSTJ 109/365

II - DESPACHOS DA PRESIDÊNCIA

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA - SS

652-0-SP ............. Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/373 657-0-PB ............. Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/377 661-0-PB ............. Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/378 664-0-PB ............. ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/380

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ABREVIATURAS E SIGLAS

ABREVIATURAS E SIGLAS

Sigla

AC

Adm

Ag

AgRgnaAPn

AgRgnaAR

AgRgnaMC

AgRgna Pet

AgRgna Rcl

AgRgnaRp

AgRgna RvCr

AgRgna SS

AgRgnoAg

AgRg no AgRg no Ag

AgRg no CAt

AgRgno CC

AgRgno HC

AgRgno Inq

AgRgno MI

AgRgno MS

AgRgno Prc

AgRg no REsp

AgRgno RHC

Nome

Apelação Cível

Administrativo

Agravo de Instrumento

Agravo Regimental na Ação Penal

Agravo Regimental na Ação Rescisória

Agravo Regimental na Medida Cautelar

Agravo Regimental na Petição

Agravo Regimental na Reclamação

Agravo Regimental na Representação

Agravo Regimental na Revisão Criminal

Agravo Regimental na Suspensão de Segurança

Agravo Regimental no Agravo de Instrumento

Agravo Regimental no Agravo Regimental no

Agravo

Agravo Regimental no Conflito de Atribuições

Agravo Regimental no Conflito de Competência

Agravo Regimental no Habeas Corpus

Agravo Regimental no Inquérito

Agravo Regimental no Mandado de Injunção

Agravo Regimental no Mandado de Segurança

Agravo Regimental no Precatório

Agravo Regimental no Recurso Especial

Agravo Regimental no Recurso em Habeas Corpus

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998. 419

AgRgno RMS

AgRg nos EDcl no HC

AgRg nos EDcl no RHC

AgRg nos EI no RMS

AgRg nos EREsp

AI no RMS

APn AR CAt CC

CC

CCm

Cm

Com

CP CPC

CPDC

CPP

Ct

CTN

Cv D DL E

EAC EAR EC ECA EDcl e AgRg no REsp

Agravo Regimental no Recurso em Mandado de Segurança

Agravo Regimental nos Embargos de Declaração no Habeas Corpus

Agravo Regimental nos Embargos de Declaração no Recurso em Habeas Corpus

Agravo Regimental nos Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de Segurança

Agravo Regimental nos Embargos de Divergência em Recurso Especial

Argüição de Inconstitucionalidade no Recurso em Mandado de Segurança

Ação Penal Ação Rescisória Conflito de Atribuições Código Civil

Conflito de Competência

Código Comercial

Comercial

Comunicação

Código Penal Código de Processo Civil

Código de Proteção e Defesa do Consumidor

Código de Processo Penal

Constitucional

Código Tributário Nacional

Civil Decreto Decreto-Lei Ementário da Jurisprudência do Superior

Tribunal de Justiça Embargos Infringentes em Apelação Cível Embargos Infringentes em Ação Rescisória Emenda Constitucional Estatuto da Criança e do Adolescente Embargos de Declaração e Agravo Regimental

no Recurso Especial

420 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998.

EDcl na AI no RMS

EDcl naApn EDcl na MC EDcl na Rp EDcl no AgRg no Ag

EDcl no CAt

EDcl no CC

EDcl no HC EDcl no MS

EDcl na Rcl EDcl no REsp EDcl no RHC

Embargos de Declaração na Argüição de Incons­titucionalidade no Recurso em Mandado de Segurança

Embargos de Declaração na Ação Penal Embargos de Declaração na Medida Cautelar Embargos de Declaração na Representação Embargos de Declaração no Agravo Regimental

no Agravo de Instrumento Embargos de Declaração no Conflito de Atribui­

ções Embargos de Declaração no Conflito de Compe­

tência Embargos de Declaração no Habeas Corpus Embargos de Declaração no Mandado de

Segurança Embargos de Declaração na Reclamação Embargos de Declaração no Recurso Especial Embargos de Declaração no Recurso em

Habeas Corpus EDcl no RMS Embargos de Declaração no Recurso em

Mandado de Segurança EDcl nos EDcl no Ag Embargos de Declaração nos Embargos de De-

claração no Agravo de Instrumento EDcl nos EDcl na IF Embargos de Declaraçã0 nos Embargos de De-

claração na Intervenção Federal EDcl nos EDcl no AgRg no Embargos de Declaração nos Embargos de Ag nos EDcl nos EDcl nos Declaração no Agravo Regimental no Agra­EDcl no AgRg no Ag vo de Instrumento nos Embargos de Decla-

ração nos Embargos de Declaração nos Em­bargos de Declaração no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento

EDclnosEDclnoAgRgnaPet Embargos de Declaração nos Embargos de Declaração no Agravo Regimental na Petição

EDclnosEDclnoAgRgnoAg Embargos de Declaração nos Embargos de Declaração no Agravo Regimental no Agra­vo de Instrumento

EDcl nos EDcl no REsp Embargos de Declaração nos Embargos de Declaração no Recurso Especial

EDcl nos EDcl nos EDcl Embargos de Declaração nos Embargos de De-nos EDcl no RMS claração nos Embargos de Declaração nos

Embargos de Declaração no Recurso em Mandado de Segurança

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998. 421

EDcl nos EREsp

EI EREsp ExImp ExSusp ExVerd HC HD IExec naAPn IF Inq IUJ no AgRg no Ag

IUJ no RMS

IUJ no REsp

LC MC

MI

MS PA Pet Pn Prc PrCv PrPn Pv R Rcl RE REsp RHC RHD

RMI

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Embargos de Declaração nos Embargos de Divergência em Recurso Especial

Eleitoral Embargos de Divergência em Recurso Especial Exceção de Impedimento Exceção de Suspeição Exceção da Verdade Habeas Corpus Habeas Data Incidente de Execução na Ação Penal Intervenção Federal Inquérito Incidente de Uniformização de Jurisprudência

no Agravo Regimental no Agravo de Instru­mento

Incidente de Uniformização de Jurisprudência no Recurso em Mandado de Segurança

Incidente de Uniformização de Jurisprudência no Recurso Especial

Lei Complementar Medida Cautelar

Mandado de Injunção

Mandado de Segurança Processo Administrativo Petição Penal Precatório Processual Civil Processual Penal Previdenciário Revista do Superior Tribunal de Justiça Reclamação Petição de Recurso Extraordinário Recurso Especial Recurso em Habeas Corpus Petição de Recurso Ordinário em Habeas Data Petição de Recurso Ordinário em Mandado de

Injunção

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RMS Rp RSTJ RvCr S SS Tr Trbt

Recurso em Mandado de Segurança Representação Revista do Superior Tribunal de Justiça Revisão Criminal Súmula

Suspensão de Segurança Trabalho Tributário

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LEX - JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUS-TIÇA - editada pela Lex Editora S/A ............................................. . nQ 1 REVISTA DE DIREITO ADMINISTRATIVO - editada pela Edi-tora Renovar Ltda .............................................................................. . nQ 2 REVISTA LTr - editada pela LTr Editora Ltda ............................ . nQ 3 JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA - editada pela Juruá Editora Ltda ...................................................................................................... . nQ 4

JULGADOS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES - editada por Ju-rid Vellenich Ltda ............................................................................... . nQ 5

REVISTA DE DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DF E DOS TERRITÓRIOS ................................. . nQ 6 REVISTA DE JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL ............................................................... . nQ 7 REVISTA JURÍDICA MINEIRA - editada pela Interlivros de Mi-nas Gerais Ltda .................................................................................. . nQ 8 REVISTA JURÍDICA - editada pela Editora Síntese Ltda ........ . nQ 9

JULGADOS DO TRIBUNAL DE ALÇADA DO RIO GRANDE DO SUL ....................................................................................................... . nQ 10 REVISTA DE PROCESSO - editada pela Editora Revista dos Tri-bunais Ltda ......................................................................................... . nQ 11 REVISTA DE DIREITO CIVIL - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda .................................................................................... . nQ 12

REVISTADOS TRIBUNAIS - editada pela Editora Revista dos Tri-bunais Ltda ...... '" ................................................................................ . nQ 13 REVISTA DE DIREITO PÚBLICO - editada pela Editora Revis-ta dos Tribunais Ltda ......................................................................... . nQ 14 REVISTA CIÊNCIA JURÍDICA - editada pela Editora Ciência J u-rídica .................................................................................................... . nQ 15 REVISTA JURISPRUDÊNCIA MINEIRA - editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais ............................................. . nQ 16

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 425-428, setembro 1998. 427

REVISTA DE JULGADOS DO TRIBUNAL DE ALÇADA DO ES-TADO DE MINAS GERAIS ................................................................ n Q 17

JURISPRUDÊNCIA CATARINENSE - editada pelo Tribunal de Jus-tiça de Santa Catarina ........................................................... ............. nQ 18

REVISTA SÍNTESE TRABALHISTA - editada pela Editora Sínte-se Ltda. ................................................................................................. n Q 19

LEX - JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE ALÇADA CI-VIL DE SÃO PAULO - editada pela Lex Editora S/A .................. n Q 20

REVISTA DE JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - editada pela Lex Editora S/A n Q 21

LEX -JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDE-RAL - editada pela Lex Editora S/A ............................................... n Q 22

REVISTA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - editada pela LTr Edito-ra Ltda. ..... ...................... ........ .... .... .......... ...... ................ ................. ..... n Q 23

REVISTA FORENSE - editada pela Editora Forense .................. n Q 24

REVISTA TRIMESTRAL DE JURISPRUDÊNCIA DOS ESTADOS - editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. ................................ n Q 25

SÉRIE - JURISPRUDÊNCIAADCOAS ......................................... n Q 26

REVISTA ATA - ARQUIVOS DOS TRIBUNAIS DE ALÇADA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - editada pela Editora Espaço Jurídico ................................................................................................. n Q 27

REVISTADO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA4ª REGIÃO - editada pela Livraria do Advogado Ltda. ..................................... n Q 28

REVISTA DE DIREITO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTA-DO DO RIO DE JANEIRO ................................................................. n Q 29

GENESIS - REVISTA DE DIREITO DO TRABALHO - editada pela Genesis Editora ........................................................................... n Q 30

DECISÓRIO TRABALHISTA - editada pela Editora Decisório Tra-balhista Ltda. ....................................................................................... nQ 31

REVISTA DE JULGADOS E DOUTRINA DO TRIBUNAL DE AL-ÇADA CRIMINAL DO ESTADO DE SÃO PAULO .......................... n Q 32

REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO n Q 33

LEX - JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL FEDERAL DE RE­CURSOS - editada pela Lex Editora S/A....................................... n Q 34 REVISTA DE DIREITO RENOVAR - editada pela Editora Reno-var Ltda ............... .'................................................................................ nQ 35 REVISTA DIALÉTICA DE DIREITO TRIBUTÁRIO - editada pe-la'Editora Oliveira Rocha - Comércio e Serviços Lida. ............... n Q 36

428 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a .. 10, (109): 425-428, setembro 1998.

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292-9737

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