REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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© SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DO MINISTRO DIRETOR DA REVISTA
Assessor de Ministro Assessor Judiciário
Assistentes Carlos Cardoso de Oliveira
Gerson Prado da Silva Maria Mônica Valério da Costa Leite Teresa Cristina Cesar Osório Ribeiro
Oficiais de Gabinete J éter Rodrigues
Maria Alves Satas Maria Aparecida Cyrillo Rodrigues
Nely van Boekel Maria do Socorro Medeiros Ramos
Renata Gonçalves Leão Sebastiana Alves de Oliveira Raimunda Pereira de Melo
Rossele Silveira Curado
Superior Tribunal de Justiça www.stj.gov.br
Gabinete do Ministro Diretor da Revista Setor de Administração Federal Sul Q. 6 - Lote 1 - Bl. D - 1 Q Andar
Brasília-DF - 70095-900 Telefone (061) 319-6469
Fax (061) 319-6467 - e-mail: [email protected]
Livraria e Editora Brasília Jurídica Ltda. SDS Bl. 0- Ed. Venâncio VI - Lj.27
Brasília-DF - 70393-900 Telefone (061) 224-4607 - Fax (061) 225-8494
Telemarketing (061) 800-2020
Tiragem 5.000 exemplares
Revista do Superior Tribunal de Justiça. - n. 1- . -Brasília: STJ, 1989- .
Mensal
ISSN 0103 - 4286
1. Direito - Periódico - Brasil. 2. Jurisprudência -Periódico - Brasil. 3. Brasil. Superior Tribunal de Justiça (STJ).
CDU 340.142(81)(05)
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PLENÁRIO (*)
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO - 23-6-80 - Presidente (**)
Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI - 7-5-81 - Vice-Presidente (***)
Ministro JOSÉ Fernandes DANTAS - 29-10-76 Ministro WILLIAM Andrade PATTERSON - 3-8-79 Ministro Romildo BUENO DE SOUZA - 8-4-80 Ministro Paulo Roberto Saraiva da COSTA LEITE - 25-9-84 Ministro NILSON Vital NAVES - 11-4-85 Ministro EDUARDO Andrade RIBEIRO de Oliveira - 12-6-85 Ministro EDSON Carvalho VIDIGAL - 9-12-87 - Diretor da Revista Ministro Jacy GARCIA VIEIRA - 8-9-88 Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO - 18-5-89 Ministro WALDEMAR ZVEITER - 18-5-89 Ministro Luiz Carlos FONTES DE ALENCAR - 18-5-89 - Coordenador-Geral da
Justiça Federal (***)
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO Teixeira - 18-5-89 Ministro Raphael de BARROS MONTEIRO Filho - 18-5-89 Ministro HÉLIO de Melo MOSIMANN - 9-8-90 Ministro Francisco PEÇANHA MARTINS - 5-2-91 Ministro DEMÓCRITO Ramos REINALDO - 27-6-91 Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS - 27-6-91 Ministro MILTON LUIZ PEREIRA - 23-4-92 Ministro Francisco CESAR ASFOR ROCHA - 22-5-92 Ministro ADHEMAR Ferreira MACIEL - 11-11-92 Ministro José ANSELMO de Figueiredo SANTIAGO - 12-2-93 Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR Júnior - 29-4-94 Ministro VICENTE LEAL de Araújo - 24-11-94 Ministro ARI PARGENDLER - 19-6-95 Ministro JOSÉ Augusto DELGADO - 14-12-95 Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA - 27-6-96 Ministro FERNANDO GONÇALVES - 27-6-96 Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO - 27-6-96 Ministro FELIX FISCHER - 17-12-96 Ministro ALDIR Guimarães PASSARINHO JUNIOR - 28-5-98 Ministro GILSON Langaro DIPP - 29-6-98
(*) O Plenário, quando convocado, reunir-se-á no dia de sessão da Corte Especial (Resolução n Q 19-5TJ, art. 3Q
).
(**) Não integra as Turmas, preside a Sessão Plenária e a Corte Especial, onde tem, apenas, voto de qualidade (Art. 21, itens IH e VI, do RI).
(***) Não integram as Turmas, integram o Plenário e a Corte Especial, com as funções de Relator e Revisor (Arts. 22, § 1Q, e 23, do RI).
CORTE ESPECIAL
(Sessões às 1 ª e 3ª quartas-feiras de cada mês)
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO - Presidente Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI - Vice-Presidente Ministro JOSÉ DANTAS Ministro BUENO DE SOUZA Ministro COSTA LEITE Ministro NILSON NAVES Ministro EDUARDO RIBEIRO Ministro EDSON VIDIGAL - Diretor da Revista Ministro GARCIA VIEIRA Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO Ministro WALDEMAR ZVEITER Ministro FONTES DE ALENCAR - Coordenador-Geral da Justiça Federal Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro PEÇANHA MARTINS Ministro DEMÓCRITO REINALDO Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS Ministro MILTON LUIZ PEREIRA Ministro ANSELMO SANTIAGO Ministro VICENTE LEAL Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA
PRIMEIRA SEÇÃO (Sessões às 2ª e 4ª quartas-feiras de cada mês)
Presidente: Ministro PEÇANHA MARTINS
1 ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA - Presidente Ministro GARCIA VIEIRA Ministro DEMÓCRITO REINALDO Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS Ministro JOSÉ DELGADO
2ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)
Ministro ARI PARGENDLER - Presidente Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro PEÇANHA MARTINS Ministro ADHEMAR MACIEL Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR
SEGUNDA SEÇÃO (Sessões às 2ª e 4ª quartas-feiras de cada mês)
Presidente: Ministro WALDEMAR ZVEITER
3ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)
Ministro COSTA LEITE - Presidente Ministro NILSON NAVES Ministro EDUARDO RIBEIRO Ministro WALDEMAR ZVEITER Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO
4ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)
Ministro BARROS MONTEIRO - Presidente Ministro BUENO DE SOUZA Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO Ministro CESAR ASFOR ROCHA Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR
TERCEIRA SEÇÃO (Sessões às 2ª e 4ª quartas-feiras de cada mês)
Presidente: Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO
5ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)
Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA - Presidente Ministro JOSÉ DANTAS Ministro EDSON VIDIGAL Ministro FELIX FISCHER Ministro GILSON DIPP
6ª TURMA (Sessões às terças-feiras e 1 ª e 3ª quintas-feiras de cada mês)
Ministro VICENTE LEAL - Presidente Ministro WILLIAM PATTERSON Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO Ministro ANSELMO SANTIAGO Ministro FERNANDO GONÇALVES
CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL (Sessão à 1 ~ sexta-feira de cada mês)
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO - Presidente Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI - Vice-Presidente
Membros Efetivos
Ministro F9NTES DE ALENCAR - Coordenador-Geral da Justiça Federal Ministro SALVIO DE FIGUEIREDO Ministro BARROS MONTEIRO Juiz PLAUTO A. S. RIBEIRO Juíza TÂNIA DE M. BASTOS HEINE Juiz JORGE T. F. SCARTEZZINI Juíza ELLEN G. NORTHFLEET Juiz FRANCISCO C. DE M. FALCÃO
Membros Suplentes
Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro PEÇANHA MARTINS Ministro DEMÓCRITO REINALDO Juiz FERNANDO DA C. TOURINHO NETO Juiz ALBERTO NOGUEIRA Juiz JOSÉ KALLÁS Juiz TEORI ALBINO ZAVASCKI Juiz JOSÉ MARIA DE O. LUCENA
- TRF 1 ª Região - TRF 2ª Região - TRF 3ª Região - TRF 4ª Região - TRF 5ª Região
- TRF 1 ª Região - TRF 2ª Região - TRF 3ª Região - TRF 4ª Região - TRF 5ª Região
COMISSÔES PERMANENTES
COMISSÃO DE COORDENAÇÃO
Ministro NILSON NAVES - Presidente Ministro FONTES DE ALENCAR - Coordenador-Geral da Justiça Federal Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS Ministro VICENTE LEAL - Suplente
COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO - Presidente Ministro MILTON LUIZ PEREIRA Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO - Suplente
COMISSÃO DE REGIMENTO INTERNO
Ministro COSTA LEITE - Presidente Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO Ministro WALDEMAR ZVEITER Ministro ARI PARGENDLER - Suplente
COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA
Ministro JOSÉ DANTAS - Presidente Ministro EDUARDO RIBEIRO Ministro EDSON VIDIGAL - Diretor da Revista Ministro BARROS MONTEIRO Ministro HÉLIO MOSIMANN Ministro DEMÓCRITO REINALDO
SUMÁRIO
I - JURISPRUDÊNCIA
Corte Especial..... .... .............. ... .... ... ........... ......... .... ........ .............. 13 Primeira Seção ..... ... ...... ........ ....... ... ........... ... ........... ........ ..... ....... 19
Primeira Turma........................................................................ 27 Segunda Turma ........................................................................ 75
Segunda Seção .............................................................................. 117 Terceira Turma ........ ... ....... ........ ......... ...... ...... ....................... ... 127 Quarta Turma........................................................................... 177 Quinta Turma. .......... ......... ... ... ... ............ ... ...... ....... ..... .... ..... .... 245 Sexta Turma ............................................................................. 313
II - DESPACHOS DA PRESIDÊNCIA ........................................... 371
Índice Analítico...... ..... ... ........... ...... ... ....... .............. ... ......... .......... 383 Índice Sistemático ........................................................................ 411 Abreviaturas e Siglas ................................................................... 417 Repositórios Autorizados e Credenciados pelo Superior Tribu-nal de Justiça ........ ....... ........ ..... ..... .... ... ... .......... ........ .... ..... .......... 425
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL NQ 125.196 - SP
(Registro n Q 97.0062232-0)
Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zueiter
Embargante: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Embargado: Hind Curi Frascarelli
Advogados: Drs. Patricia Medeiros Viana e outros, e Francisco Antonio Zem Peralta e outro
EMENTA: Embargos de Divergência - Processo Civil - Autarquia - Autenticação de Documentos - MP 1.542/97, art. 21.
I - Pela dicção do artigo 21, da Medida Provisória n Q 1.542/97, não mais se exige das pessoas jurídicas de direito público, incluindo aí as autarquias, a autenticação de cópias reprográficas de quaisquer documentos que apresentarem em juízo, permitindo seja uma peça processual autenticada por servidor da própria autarquia.
11 - Embargos recebidos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer dos embargos de divergência e os receber, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Impedido o Sr. Ministro Cid Flaquer ScartezZÍni. Os Senhores Ministros Fontes de
Alencar, Sálvio de Figueiredo, Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Milton Luiz Pereira, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas, Bueno de Souza, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Edson Vidigal, Garcia Vieira e Luiz Vicente Cernicchiaro votaram com o Sr. MinistroRelator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro William Patterson.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 13-17, setembro 1998. 15
Licenciado o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros, sendo substituído pelo Sr. Ministro Adhemar Maciel.
Brasília, 01 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente. Ministro WALDEMAR ZVEITER, Relator.
Publicado no DJ de 01-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER: O Instituto Nacional do Seguro Social opõe Embargos de Divergência ao aresto proferido pela Egrégia Quinta Turma desta Corte, da relatoria do Sr. Ministro Felix Fischer, e que restou assim ementado (fls. 116):
«Processual Civil. Representação processual. Cópia da procuração autenticada por agente administrativo da própria entidade autárquica recorrente. Súmula 115ISTJ.
Tratando-se de recurso interposto por advogado e não procurador autárquico, faz-se necessária a presença de procuração nos autos.
A cópia de procuração juntada aos autos sem a devida autenticação do notário, mas tão-somente de agente da própria autarquia recorrente, não tem utilidade, devendo ser desconsiderada.
Aplicação da Súmula 115/STJ.
Recurso não conhecido."
Indica como divergentes o REsp n Q 89.741/DF, e os EDcl no AgRgno Ag n Q 70.692-3/SP, relatados, respectivamente, pelos Srs. Ministros Gomes de Barros (Primeira Turma) e Fernando Gonçalves (Sexta Turma), onde prevaleceu tese contrária, no sentido da validade de cópia autenticada por servidor público.
Ressalta o disposto no art. 21, da Medida Provisória n Q 1.542/97, que estabelece que as pessoas jurídicas de direito público são dispensadas de autenticar cópias reprográficas de quaisquer documentos que apresentarem em juízo.
Admitidos às fls. 143, os Embargos foram impugnados às fls. 1471 148.
É o relatório.
VOTO
o SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER (Relator): Conheço do recurso vez que suficientemente comprovada a divergência entre os arestos em confronto e, no mérito, dou-lhe provimento.
Com efeito, pela dicção do artigo 21, da Medida Provisória n Q 1.5421 97, não mais se exige das pessoas jurídicas de direito público, incluindo aí as autarquias, a autenticação de cópias reprográficas de quaisquer documentos que apresentarem emjuízo, permitindo seja uma peça processual autenticada por servidor da própria autarquia.
Portanto, o Recurso Especial do INSS merece ser analisado por este Tribunal.
16 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 13-17, setembro 1998.
Nesse mesmo sentido já decidiu a Egrégia Corte Especial em algumas oportunidades, de que são exemplos o EDcl no REsp nº 112.975/SP e o EDcl no REsp nº 126.429/SP, relatores Srs. Ministros Vicente Cernicchiaro e Sálvio de Figueiredo Teixeira, respectivamente, e assim ementados:
"EREsp - Processual Civil -Procuração - Autarquia - Autenticado - A procuração a advogado autenticada por servidor de autarquia satisfaz a exigência legal. A MP nº 1.542-18, de 16 de janeiro de 1997 estatui no art. 21: "As pessoas jurídicas de direito público são dispensadas de autenticar cópias reprográficas de quaisquer documentos que apresentarem em juízo." CEREsp nº 112.975, Relator Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, DJ de 25/02/98)
"Direitos Previdenciário e Processual Civil. INSS. Autarquia
previdenciária federal. Autenticação de peças por servidor. Validade. MP 1.542197. Apresentação de procuração. Dispensa. Lei 9.469197. Embargos de divergência providos.
I - Em demanda envolvendo autarquia federal, as cópias das peças processuais poderão ser autenticadas por servidor pertencente ao seu quadro, não sendo indispensável a figura do notário.
II -As autarquias,juntamente com as fundações públicas, estão dispensadas de apresentar instrumento de mandato nas causas em que litigam, sendo suficiente a mera indicação do profissional habilitado." CEREsp nº 126.429, Relator Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 25/02/98)
Pelo exposto, conheço dos embargos e dou-lhes provimento.
É o meu voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 13-17, setembro 1998. 17
AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANÇA NQ 4.646 -DF
(Registro n Q 96.0044538-9)
Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel
Agravante: Cremer S/A - Produtos Têxteis e Cirúrgicos
Advogado: Dr. João Carlos de Araújo
Agravado: Ministro de Estado da Fazenda
EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança. DecisãO indeferitória de liminar. Agravo para o órgão colegiado julgador: cabimento. Tribunal incompetente para processar ejulgar o writ. Concessão de liminar: impossibilidade, salvo casos excepcionalíssimos. Agravo improvido.
I - Contra a decisão singular indeferitória de liminar em ação de mandado de segurança, cabe agravo para o respectivo órgão colegiado julgador. Ressalva do ponto de vista do Ministro Demócrito Reinaldo.
H - Em princípio, não pode o órgão judicial incompetente para processar a ação conceder liminar.
IH - Agravo conhecido, mas improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, ressalvando o ponto de vista do Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do
Sr. Ministro-relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Ari Pargendler, José Delgado, Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo e Milton Luiz Pereira. Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Hélio Mosimann e Humberto Gomes de Barros.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998. 21
Custas, como de lei.
Brasília, 10 de setembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.
Publicado no DJ de 01-12-97.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Cremer S/A Produtos Têxteis e Cirúrgicos interpõe agravo "regimental" contra a seguinte decisão que proferi:
"Vistos etc.,
Cremer S/A Produtos Têxteis e Cirúrgicos impetra mandado de segurança contra ato do Ministro da Fazenda, objetivando não ter que recolher antecipadamente o ICMS (relativo às operações envolvendo produtos cirúrgicos) pelo regime de substituição tributária.
Aduz que "o ato lesivo é o disposto nos Convênios 66/88, 107/89 e 76/89 que contrariam as regras do Decreto-Lei 406/68 e da Constituição Federal (art. 155, § 29 ,
alínea b)" (fl. 04).
Requer seja concedida a liminar e, ao final, a segurança para impedir a exigência do recolhimento antecipado do ICMS.
2. A liminar não merece ser concedida, visto que a sua denegação não resultará na ineficácia da segurança, caso seja ao final con-
cedida. Em outras palavras, o requisito do perigo da demora não está satisfeito.
3. Com essas considerações, denego a liminar."
A agravante alega que os requisitos da fumaça do bom direito e do periculum in mora estão satisfeitos, pelo que a liminar não poderia ter sido denegada. Aduz que a própria sistemática do instituto da substituição tributária caracteriza o dano, tendo em vista a antecipação do recolhimento do ICMS. Requer seja provido o agravo, concedendo-se a liminar.
2. Por não ver razões para alterar a decisão agravada, mantenho-a, pelo que trago o agravo "regimental" à apreciação desta Seção.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Sr. Presidente, conheço do recurso, já que à luz do art. 38 da Lei n. 8.038/90 cabe agravo contra qualquer decisão de ministro-relator que cause prejuízo à parte. Portanto, contra a decisão singular indeferitória de liminar em ação de mandado de segurança, cabe agravo para o respectivo órgão colegiado julgador.
No mérito, no entanto, o agravo não merece prosperar, pois não compete a esta Corte processar a presente ação de segurança, pois, a teor da Súmula n. 177, "o Superior Tribunal de Justiça é incompetente
22 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998.
para processar e julgar, originariamente, o mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado".
Como, em princípio, não pode o órgão judicial incompetente para processar a ação conceder liminar, e o caso dos autos não está entre os
excepcionalíssimos que permitem a concessão da medida extrema, deixo de concedê-la.
Com essas considerações, conheço do agravo, mas lhe nego provimento.
É como voto.
MANDADO DE SEGURANÇA NQ 5.604 - DF
(Registro n Q 98.0002218-0)
Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann
Impetrante: MR Radiodifusão Ltda.
Advogados: Marcos Jorge Caldas Pereira e outros
Impetrado: Ministro de Estado das Comunicações
EMENTA: Mandado de segurança. Administrativo. Licitação. Serviços de radiodifusão sonora. Inscrição no cadastro fiscal do município. Documento existente nos autos. Segurança concedida.
Não há como subsistir a inabilitação na questionada licitação, se comprovada a inscrição no Cadastro Fiscal do Município, com ajuntada do alvará de licença, onde consta o número exigido que, por decreto municipal, é o mesmo do CGC.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conceder a segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Go-
mes de Barros, Milton Luiz Pereira, Adhemar Maciel, Ari Pargendler, José Delgado e Garcia Vieira votaram com o Sr. Ministro-Relator.
Brasília, 13 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSIMANN, Relator.
Publicado no DJ de 01-06-98.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998. 23
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN: MR Radiodifusão Ltda., impetra Mandado de Segurança, com pedido de liminar, contra ato do Ministro das Comunicações, consubstanciado na inabilitação da impetrante para participar das Concorrências ns. 008/97-SFO/MC e 038/97-SFOIMC, referentes a serviços de radiodifusão sonora em freqüência modulada que seriam executados nas Cidades de Codó, Viana, Vitória do Mearim e Urbano Santos, no Estado do Maranhão, sob o fundamento de que não teria apresentado documento comprobatório de sua inscrição no Cadastro Fiscal do Município onde localizada sua sede.
Aduz, em resumo, ter, em face daquela decisão e com base nos artigos 109, da Lei n. 8.666/93, e 131, a, da regra editalícia, interposto os competentes recursos administrativos junto ao Ministro das Comunicações que, no entanto, não os acolheu, homologando sua inabilitação.
Alega que, em decorrência de determinação expressa contida no artigo 1Q
, do Decreto n. 15.614/95, da Prefeitura Municipal de São Luiz, suas inscrições - tanto no CGC quanto no Cadastro Municipal são idênticas, estando este último aposto no alvará apresentado à Comissão, quando dos recursos e visando a confirmação da identidade dos registros.
Afirma que sua inabilitação configura excesso de formalismo, afastado por esta Seção quando do jul-
gamento do MS n. 5.281/DF, que teve como Relator do Acórdão o Eminente Ministro Gomes de Barros, que entendeu estar aí traduzida ofensa ao princípio constitucional do artigo 37, XXI.
Colaciona decisão prolatada pelo Eminente Ministro Américo Luz, quando deferiu a liminar no MS n. 5.281, onde traduzida matéria que assevera similar à ora discutida.
Argúi, de outra parte, a nulidade do ato atacado, por ausente a necessária motivação e fundamentação que autorizariam seu prosseguimento, batendo-se, a final, pela declaração de inconstitucionalidade e ilegalidade do ato ministerial, com a concessão do presente mandamus.
A liminar foi concedida às fls. 181, por despacho do Exmo. Sr. Ministro Presidente desta Corte, em 29 de janeiro do corrente ano.
Em 30.01.98 foram solicitadas informações à autoridade coatora (fls. 192) que, no entanto, não as apresentou, conforme anuncia certidão de fls. 194, datada de 27.02.98.
Parecer da Subprocuradoria Geral da República, às fls. 196/199, opinando pela concessão da ordem.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN (Relator): Como vimos do relatório, pretende a impetrante -MR Radiodifusão Ltda. - participar de concorrências para realiza-
24 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998.
ção de serviços de radiodifusão sbnora em freqüência modulada no Estado do Maranhão, batendo-se, em resumo, contra ato do Ministro das Comunicações, que entendeu-a inabilitada para os certames, tendo em vista a ausência de documento que comprovasse sua inscrição no Cadastro Fiscal do Município onde localizada sua sede.
Pronunciando-se às fls. 198/199, assim colocou a ilustrada Subprocuradoria Geral da República, em seu Parecer, verbis:
"Razão assiste à impetrante.
Com efeito, a inabilitação no certame decorreu da não-apresentação da inscrição no Cadastro Fiscal do Município. Entretanto, a apresentação de tal documento
foi suprida através da juntada do Alvará de Licença, outorgado pela Prefeitura de São Luiz -MA, onde consta o número da inscrição que, por determinação através de Decreto Municipal, é igual ao número constante do C GCIMF.
Sendo assim, e tendo em vista os documentos de fls. 155, 159, 163, 168 e 169, não há como subsistir a inabilitação da Impetrante na licitação em tela, haja vista que apresentou todos os documentos reclamados pelos Editais."
Sem reparos ao pronunciamento supratranscrito, concedo a Segurança.
É como voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 19-25, setembro 1998. 25
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL Nº 79.450 - SP
(Registro nº 95.0059387-4)
Relator: O Sr. Ministro José Delgado
Agravante: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Petroquímicas, Farmacêuticas, Tintas e Vernizes, Plásticos, Resinas sintéticas, Explosivos e Similares do ABCD, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra
Agravado: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Ribeirão Pires, Mauá e Rio Grande da Serra
Advogados: Drs. Roberto de Figueiredo Caldas e outros, e Maurides de Melo Ribeiro e outros
EMENTA: Processual Civil. Acordo entre sindicatos. Homologação. Impossibilidade.
1 - Decisão judicial que aprova desmembramento de categoria de Sindicato. Impossibilidade dos referidos Sindicatos, o formado pela categoria desmembrado e o de onde a categoria dispersou, de modo próprio, sem obedecer às exigências legais, desconstituir, mediante acordo, a referida decisão.
2 - As relações jurídicas entre sindicatos são regidas por normas de ordem pública, embora a sua constituição seja de pessoa jurídica de direito privado. A atuação dos mesmos obedece ao princípio da legalidade, embora sem controle ostensivo do Estado. Sofrem, contudo, o controle da lei. A autonomia sindical não implica em transformar os Sindicatos em propriedade privada dos seus dirigentes. Não predomina, assim, a vontade dos mesmos no destino da representação das categorias e do seu patrimônio.
3 - A função de representação dos sindicatos tem caráter de indisponibilidade.
4 - Sindicatos que foram desmembrados só podem ser reunidos pelas vias legais, nunca por acordo dos seus dirigentes.
5 - Agravo regimental improvido.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 29
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.
Brasília, 05 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.
Publicado no DJ de 04-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO: A decisão agravada está assentada nos fundamentos seguintes (fls. 1.001):
"As partes, via manifestação de fls. 973 e segs., requerem que seja homologado o que afirmam ser acordo firmado para pôr fim ao processo.
Registro que, nos autos, está sendo discutido o desmembramento de uma categoria de trabalhadores para a formação de um novo Sindicato. O acórdão, a esta altura, com trânsito em julgado, acolheu como legais os procedimentos realizados e os Sindicatos estão, por autorização judicial, exercendo as funções de
representação que lhes são outorgadas pela Constituição e pela CLT.
Denuncia o acordo que os Sindicatos envolvidos resolveram pôr fim ao litígio, após a ouvida de suas Assembléias, de forma que o Sindicato-réu seria desconstituído e a categoria por ele representada passaria a ser feita pelo Sindicato-Autor.
É de se salientar que a desconstituição de um Sindicato, especialmente quando a sua vida social está amparada por decisão judicial com trânsito em julgado, só poderá ocorrer de acordo com os trâmites legais aplicados à espécie e destinando-se o seu patrimônio como regulado pela norma específica. Nunca por acordos amigáveis entre partes como denunciado nos autos e com a observação de que, no curso das negociações, foi desconstituído o advogado que iniciou a ação e passada a representação para um outro.
O princípio da legalidade há, também, de ser cumprido, de forma rigorosa, pelos Sindicatos, em face da ação quase pública que exercem, representando categoria de trabalhadores.
Não me animo, por tais fundamentos, a homologar o acordo acima noticiado, pelo que indefiro a pretensão e, conseqüentemente, as súplicas para que façam comunicações aos órgãos públicos que exercem funções vinculadas às atividades dos Sindicatos.
Tenho a decisão posta no presente recurso especial como tran-
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sitada em julgado. Certifique-se essa ocorrência. Os autos tomem as vias regulamentares."
As partes apresentam agravo regimental com referência à decisão supra, insistindo que o acordo celebrado entre os Sindicatos deve ser homologado nesta instância.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): A decisão agravada se impõe, ao meu pensar, pelos seus próprios fundamentos. Impossível, após decisão judicial com trânsito em julgado, onde ficou reconhecido o desmembramento de categorias sindicais, ser desconstituída tal decisão mediante acordo firmado pela direção dos Sindicatos envolvidos, sem que se obedeça aos ditames legais para a reunião das categorias.
As relações jurídicas entre sindicatos são regidas por normas de ordem pública. A atuação dos mesmos obedece ao princípio da legalidade. A autonomia sindical não implica em transformá-los em entidades de natureza privada pura onde predomina a vontade dos dirigentes sobre o seu patrimônio.
A função de representação dos sindicatos tem caráter de indisponibilidade. O fato de, ao se constituir, ser uma pessoa jurídica de direito privado, não concede aos seus dirigentes o direito de geri-lo sem atentar para os interesses da classe que representa. Não podem, assim, atuar fora dos parâmetros le-
gais. Se houve desmembramento de categoria profissional de determinado sindicato, tudo aprovado por decisão judicial, não podem as diretorias. de tais sindicatos, mediante acordo, modificar tal entendimento. Sindicatos que foram desmembrados só podem ser reunidos pelas vias legais, nunca por acordo dos seus dirigentes. Para tanto deverão cumprir todas as exigências formais disciplinadoras de tal fusão. Impossibilidade, portanto, em sede de recurso especial de se homologar acordo para a reunião das categorias em um só Sindicato.
Isto posto, nego provimento ao agravo regimental.
É como voto.
ESCLARECIMENTO E VOTO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Sr. Ministro-Relator, preciso de um esclarecimento, em relação à questão processual: houve o recurso especial, que foi julgado pela Turma, e o acórdão transitou em julgado.
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): Quanto a este ponto, esclareço: o que alega a agravante é que não transitou em julgado, porque o acórdão não foi publicado, mas ocorre que as partes tiraram o processo do cartório e tiveram ciência da decisão, e decorreu o prazo.
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Por isso, transitou em julgado e, depois, as partes ingressam com uma petição intercalada, pedindo para que V. Exa. homologasse um acordo, que firmaram.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 31
Sr. Presidente, apenas divirjo do Sr. Ministro-Relator em relação à competência. O STJ não tem competência para homologar a transação. Julgado o recurso especial, exauriu-se a sua função judicante. A atividade desta Corte só diz respeito ao julgamento do recurso especial e não poderá se desbordar para apreciação de outra matéria. Se, porventura, essa decisão prevalecer, haverá supressão de instância e impossibilidade de as partes interporem os recursos adequados para as instâncias superiores. A homologação do acórdão é da competência do Juiz de Primeiro Grau, porque, dessa forma, abrir-se-á, às partes, a possibilidade de apelar.
De qualquer maneira, como não é possível homologar o acordo, há de se negar provimento ao agravo, fazendo-se essa referência, pois as partes poderão dirigir-se ao Juiz de Primeiro Grau.
Com esses adminículos, acompanho o Sr. Ministro-Relator.
É como voto.
VOTO
O SR. MINISTRO GARCIA VIEIRA: Acompanho o Sr. Ministro-Relator, com as observações feitas pelo Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL NQ 141.248 - ES
(Registro nQ 97.0051165-0)
Relator: O Sr. Ministro José Delgado
Agravante: Saveiros Camuyrano Serviços Marítimos S/A
Agravado: Município de Vitória
Advogados: Drs. Francisco Carlos de Morais Silva e outros, e Carlos Roberto de Faria e outros
EMENTA: Processual Civil. Recurso especial. Agravo regimental. Matéria constitucional.
1 - É inviável emprestar-se seguimento a recurso especial quando a parte invoca, ao lado da matéria infraconstitucional, ter havido infringência aos princípios constitucionais postos no art. 5º, LVI e XXXVI, e no art. 93, IV, da Carta Magna, sem que tenha apresentado recurso extraordinário.
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2 - A força preponderante de tais princípios absorve as determinações regradas postas na escala infraconstitucional, pelo que a não interposição de recurso extraordinário para discuti-los forma a coisa julgada.
3 - Em face desse panorama processual, nega-se provimento a agravo regimental interposto para fazer subir recurso especial envolvido por tais circunstâncias jurídicas.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Garcia Vieira, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.
Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.
Publicado no DJ de 27-04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO: O agravo regimental em discussão insurge-se contra decisão que negou provimento a agravo de instrumento, confirmando entendimento que resultou em inadmissibilidade de recurso especial, por ter se firmado compreensão de que os fundamentos levantados tinham
prestígio constitucional de plena potencialidade, absorvendo, assim, os dispositivos infraconstitucionais alegados e subordinados àqueles.
A firma agravante insiste na defesa de que há questões infraconstitucionais autônomas a serem apreciadas, especialmente, as referentes aos arts. 165,458 e 459, do CPC.
No particular, afirma a empresa agravante (fls. 592):
"Concessa venia, o entendimento do STJ se dá no sentido de que, ... quando o Acórdão se assenta em fundamentos constitucionais e infraconstitucionais, a não interposição de Recurso Extraordinário gera trânsito emjulgado daquela matéria e, se a mesma for suficiente para manter o julgado constitui-se o não conhecimento do Recurso Especial.
No caso, o v. aresto não se assenta em matéria constitucional, de forma que a decisão do STJ favorável ao Recurso Especial em nada dependerá da decisão do STF. Isto é, mesmo se a ora agravante tivesse interposto o Extraordinário e se o STF lhe negasse provimento, o Especial poderia ser conhecido e decidido pelos
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tópicos eminentemente infraconstitucionais, eis que se decidir pela nulidade do julgado por não apreciação de questões fundamentais, por violação ao art. 535, do CPC e, no mérito, pela inexistência do serviço de atracação pela recorrente, mas sim de rebocagem marítima e que o entendimento do Tribunal violaria dispositivos de lei federal, em nada dependeria de provimento em RE, pelo STF, para sua apreciação pelo STJ.
Em suma: Se o STF entendesse, em sede de Extraordinário, que a decisão do Egr. Tribunal de Justiça não violaria os artigos 5º e 93, da Carta Magna, mesmo assim, o STJ poderia decidir se os efeitos modificativos nos embargos declaratórios teriam violado os artigos 165,458 e 459, do CPC, por não apreciação de questões fundamentais, pois o entendimento de que a fundamentação sintética não representa falta de fundamentação (art. 93, CF/88) não se confunde com a não apreciação de matérias (uma é falta de fundamentação sobre a matéria decidida, outra a omissão na apreciação dessa matéria)."
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): Alide, atualmente em discussão no âmbito do recurso extremo, centra-se no fato de ter o Egrégio Tribunal de Justiça do Es-
tado do Espírito Santo reconhecido devido pela empresa recorrente, ao Município de Vitória, o ISSQN sobre os serviços Portuários e Aeroportuários, enquadrados no item 87 da lista de serviços da Lei Complementar n. 56/87, e reproduzida no item 86 da Lista de Serviços anexa à Lei Municipal n. 3.112/83.
A controvérsia maior está assentada no fato de que, primeiramente, o Tribunal a quo, ao se pronunciar na remessa de ofício relativa à sentença de primeiro grau, confirmou o entendimento manifestado pelo Juiz singular, forte na compreensão de que a empresa só prestava serviços de reboque, não fazendo o de atracação.
Em sede de embargos de declaração, sob o argumento de que as notas fiscais da empresa eram explícitas na afirmação de que serviços de atracação foram executados, efeitos modificativos foram emprestados ao referido recurso e, conseqüentemente, provida a remessa oficial para se reconhecer devido o imposto.
A recorrente interpôs, na origem, também, embargos de declaração onde defende que não presta serviços de atracação. Explica que há referência a tais serviços na Nota Fiscal porque há exigência da SUNAMAM, para que possa identificar para qual fim o rebocamento está sendo feito.
Os mencionados embargos de declaração foram conhecidos, porém, não acolhidos, sob o argumento de que as notas fiscais emitidas nela empresa descrevem a prestação de serviços de atracação.
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N ovos embargos de declaração foram interpostos pela empresa, os quais foram rejeitados sob a consideração de que eram reiteração dos anteriormente ajuizados.
O recurso especial em exame, em face dos fatos supramencionados, alega:
a) ser nulo o acórdão proferido nos primeiros embargos de declaração, em razão de ter emprestado ao mesmo efeitos modificativos, sem que a parte contrária tenha sido ouvida;
b) ser, da mesma forma, nula a decisão proferida nos embargos declaratórios que a empresa interpôs, em razão de não ter apreciado questões fundamentais, a saber:
• a infringência do princípio da unicidade do lançamento que circunda o auto de infração;
• que o serviço de atracação -como modalidade de serviço público prestado por concessionária - é de exclusividade da Administração do Porto;
• que a empresa cumpria determinação da SUNAMAM quando fazia inserir no corpo da nota fiscal qual a manobra prestada ao navio, ou seja, qual o auxílio prestado ao navio para que alcançasse sua finalidade;
• que ditos serviços se davam em mar territorial da União, e conseqüentemente, fora dos limites do território municipal;
• a aplicabilidade do art. 127 do CTN, eis que a empresa detém matriz/sede em outra cidade;
• pugnou pela apreciação de toda a matéria de ordem legal e constitucional, pena de maltrato aos artigos 458, 459, CPC, artigo 5Q
, XXXVI, CF/88, artigos 3Q
, 5Q e 7Q, do Decreto 24.508/ 34, com o enfrentamento explícito dos dispositivos.
A recorrente entende, sustentada nas razões supras, que o aresto questionado infringiu os arts. 165 e 458, II, do CPC, bem assim ao art. 93, IV, da CF/88; bem, como, que ao emprestar efeitos modificativos ao julgado, pela via dos embargos de declaração, violou o art. 535, I e II, do CPC.
Quanto ao mérito, pugna a recorrente pela manutenção da sentença de primeiro grau, por não lhe ser permitido efetuar o serviço de atracação, haja vista que o mesmo é realizado pela Cia. Docas, nunca pela empresa armadora de rebocadores, conforme determinado no Decreto n. 24.508, de 1934.
Por tudo quanto foi exposto, a agravante requer a modificação da decisão que não permitiu a subida do recurso especial, para que este seja conhecido e provido.
O panorama dos autos revela que a embargante, não obstante apontar como violados princípios regrados constitucionais, como os postos nos arts. 5Q, LV, XXXVI e 93, IV, da Constituição Federal, não interpôs recurso extraordinário.
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Indiscutível o fato de que tal matériajurídica transitou em julgado, produzindo os seus efeitos. Em conseqüência, a pretendida anulação do acórdão que apreciou os embargos de declaração do Município de Vitória, por atentado ao princípio da ampla defesa e, igualmente, dos acórdãos dos dois outros embargos interpostos pela recorrente, por não haver entregue, por inteiro, a prestação jurisdicional e por deficiência de fundamentação, não pode ter curso pela via do recurso especial.
Resta-me, portanto, não obstante a excelência das razões apresentadas pela agravante, confirmar o teor da decisão agravada, o que transcrevo (fls. 582):
"O recurso especial em exame, entre partes acima identificadas, visa, essencialmente, modificar julgado de segundo grau que, em apreciando embargos de declaração, sem ouvir a parte contrária, deu-lhes caráter infringente, modificando a decisão.
A recorrente aponta como tendo sido violado o art. 5º, LV, da Constituição Federal.
Em passo seguinte, entende, também, a recorrente que foi violado o art. 5º, XXXVI, da CF/88, por as questões postas para discussão não terem sido apreciadas, bem como o art. 93, IV, da Carta Magna.
Em conseqüência dos efeitos produzidos pelos dispositivos constitucionais apresentados como violados, a recorrente afirma que os
arts. 105 e 458, lI, do CPC, estão na mesma situação.
Como posto, as questões de natureza constitucional foram sublimadas na ocasião da interposição do recurso especial, pelo que se torna impossível o seu conhecimento.
O sistema recursal especificado na Constituição Federal é de natureza rígida, pelo que as competências das Cortes Superiores devem ser rigorosamente acatadas.
A matéria constitucional amplamente presente na fundamentação do recurso especial só pode ser apreciada e julgada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal em sede de recurso extraordinárIO.
Não se afirma que, no caso em exame, remanescem as questões infraconstitucionais constantes no corpo do recurso especial.
Não é possível assim se conceber por que toda a matéria desse nível hierárquico está absorvida na elasticidade conceitual das normas positivas constitucionais abordadas na peça recursal.
Por tais fundamentos, reconheço ser manifesta a impossibilidade de se conhecer do presente recurso especial, o que declaro como decisão negando-lhe, em conseqüência, seguimento."
Isto posto, nego provimento ao presente agravo regimental.
É como voto.
36 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 8.920 - PA
(Registro nº 97.0064058-2)
Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo
Recorrente: Brascomp Compensados do Brasil S.A.
Recorrido: Estado do Pará
Impetrado: Secretário da Fazenda do Estado do Pará
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Pará
Advogados: Paulo Meira e outros, e Manoel Santino Nascimento Júnior e outros
EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança preventivo impetrado com o objetivo de que a autoridade impetrada se abstivesse de praticar eventuais medidas administrativas. Não configurado ato concreto ou preparatório, lesivo de direito liquido e certo, nem ameaça da prática de ato abusivo da autoridade coatora.lncabimento.
I - No mandado de segurança, mesmo quando impetrado preventivamente, não basta a suposição da existência de risco de lesão a direito líquido e certo, com base apenas no julgamento subjetivo do impetrante. Impõe-se que a ameaça a esse direito se caracterize por atos concretos ou preparatórios de parte da autoridade impetrada, ou ao menos indícios de que a ação ou omissão virá a atingir o patrimônio jurídico da parte.
II - Não existindo ato concreto, ou preparatório, que configure lesão a direito líquido e certo, nem ameaça evidente de ato abusivo praticado pela autoridade coatora, descabe, in casu, concessão da segurança, para que se abstenha a Autoridade Fazendária de adotar qualquer medida administrativa, relacionada com a exigência de recolhimento do ICMS na operação de transporte de madeira, a exemplo do auto de infração, multa, apreensão ou retenção de mercadoria.
III - Recurso a que se nega provimento. Decisão unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados .os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unani-
midade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 37
Milton Luiz Pereira, José Delgado e Garcia Vieira. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Custas, como de lei.
Brasília, 20 de novembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.
Publicado no DJ de 16·02-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Brascomp Compensados do Brasil S.A. impetrou mandado de segurança preventivo contra o Secretário da Fazenda do Estado do Pará, com o objetivo de que a autoridade coatora se abstivesse de praticar "medida administrativa preventiva (auto de infração, apreensão de mercadoria, retenção de mercadoria para averiguação, multa, etc.) contra a Impetrante, no que pertine ao transporte de madeira de um estabelecimento a outro.
Nas razões deduzidas na Inicial, alegou, fundamentalmente, que está "na iminência de ser vitimada por ato abusivo e ilegal da autoridade coatora acima indigitada e/ou agentes administrativos a ela hierarquicamente inferiores, haja vista que, sistematicamente, interceptam os veículos da Impetrante com a finalidade de fiscalizar o recolhimento do ICMS que entendem devido nas simples operações de transporte de mercadoria de um estabelecimento para outro da mesma em-
presa, ou seja, nas singelas transferências físicas de mercadorias que não consubstanciam qualquer operação comercial" (fls. 2/8).
As Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, à unanimidade, decidirapljulgar a impetrante carecedora da ação, declarando extinto o processo, sem julgamento do mérito, nos termos do acórdão sumariado na ementa a seguir:
"N o mandado de segurança preventivo há necessidade de especificação dos atos concretos ou preparatórios contra os quais se impetra a ordem - carência da ação caracterizada - extinção do mandamus sem julgamento do mérito" (fl. 65).
Irresignada, a vencida interpôs recurso ordinário, reproduzindo basicamente os fundamentos da impetração e aduzindo, em síntese, as seguintes razões:
a) - "no percurso regular das madeiras extraídas das várias glebas do interior para a filial de Ananindeua, é o Recorrente abordado por diversos postos de fiscalização estadual que teimam em dele exigir a apresentação de nota fiscal e, por conseguinte, o recolhimento do ICMS respectivo, como se tal operação fosse de comércio", vendo-se, assim, ameaçada, freqüentemente, de ter a madeira apreendida pela Fiscalização (fl. 71).
b) - "exsurge da leitura das informações, com muito mais evi-
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dência e agora de uma forma inequívoca e incontroversa, que a Fazenda Estadual entende o deslocamento físico de bens de um estabelecimento para outro de um mesmo titular, fato gerador do ICMS" (fl. 71).
c) - em nenhum momento requereu a autoridade impetrada, nas suas informações, a extinção do processo, sem julgamento de seu mérito, e o aresto objurgado agasalhou, todavia, esta tese, preferindo não enfrentar a realidade (fl. 72).
d) - na mesma linha de precedentes jurisprudenciais deste STJ, "é evidente que o simples deslocamento físico da madeira retirada pela Recorrente de sua propriedade (glebas rurais "manejadas" pelo IBAMA), para a sua filial de Ananindeua, Pará, não configura fato gerador do ICMS, posto que inexistente qualquer ato de mercancia em tal operação, mas sim apenas um elo da sua produção" (fl. 74).
Com o pronunciamento do Ministério Público local, favorável ao conhecimento do recurso, mas pela manutenção da decisão recorrida (fls. 85/92), subiram os autos a esta instância, por determinação do eminente Vice-Presidente do Tribunal a quo (fl. 93).
A douta Subprocuradoria Geral da República, instada a se manifestar, opinou no sentido do improvimento do recurso (fls. 96/101).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): O mandado de segurança, conforme relatado, foi ajuizado, originariamente, pela empresa Brascomp - Compensados do Brasil S.A., visando a que a Autoridade Fazendária se abstivesse da prática de qualquer medida administrativa, a exemplo de auto de infração, multa, apreensão ou retenção de mercadoria, relacionada com o transporte de madeira de um estabelecimento para outro da sua propriedade, por não estar sujeita, a impetrante, ao recolhimento do ICMS sobre essa espécie de operação, em cada deslocamento que faça.
O Tribunal a quo julgou a impetrante carecedora da ação e extinguiu o processo, sem julgamento de mérito, ao fundamento basilar de que, no mandado de segurança preventivo, há necessidade de especificação dos atos concretos ou preparatórios contra os quais se impetra a ordem.
Com efeito, ao exame detido dos elementos informativos do processo, afiguram-se-me irretocáveis as lúcidas ponderações expendidas no bem lançado parecer do Representante do Ministério Público local, in expressis:
"É certo que a Constituição Federal assegura a todos o acesso ao Judiciário, não permitindo seja subtraída à sua apreciação qualquer lesão ou ameaça a direito (artigo 5Q
, XXXV). Não obstante, para que o juiz possa pro-
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nunciar-se sobre a pretensão posta em juízo, é mister que aquele que exercita o seu direito de ação o faça: 1) com relação à pessoa responsável pelo direito lesionado; 2) que o demandado tenha tido um comportamento que justifique a propositura da demanda (interesse processual) e; 3) que o direito positivo ampare a solução pleiteada.
N o mandado de segurança preventivo, ação cível especial, aplica-se a regra suso mencionada como requisito essencial à propositura da ação.
O mandado de segurança preventivo, junto com as cautelares, é um dos mais eficazes instrumentos de distribuição de justiça, posto que prevenir é melhor que reparar e proteger é melhor que recompor.
A Lei nº 1.533/51, prevê no artigo 1 Q o mandado de segurança preventivo sempre que alguém estiver sob ameaça ou com "justo receio" em sofrer violação de direito. O "justo receio" caracteriza realmente no direito pátrio a iminência da violação de um direito, que justifica o ingresso do cidadão emjuízo. O "justo receio" não se reduz a simples temor subjetivo, mas a um receio ocasionado por sérias circunstâncias, por indícios veementes decorrentes de fatos concretos e atitudes violentas, o que no caso sub examen não está provado ab initio, como é da natureza jurídica do Writ -vez que não restou caracterizado "de pronto" a efetiva ameaça de
lesão de direito por parte da autoridade pública, nem há como presumir que os agentes fiscais tenham ou não excedido os limites de sua atuação, nem como impedir o exercício de suas funções, tornando temerária qualquer decisão de mérito que possa alcançar todos os casos futuros da mesma espécie.
Daí resulta a carência da ação" (fls. 88/89).
Do mesmo modo, em parecer não menos brilhante, o ilustrado Parquet Federal demonstra o acerto do v. acórdão recorrido, no mesmo compasso da jurisprudência predominante neste STJ, e confirma que a recorrente, de fato, "não demonstra a existência de lançamento ou prova de expediente administrativo fiscal, capaz de configurar ato concreto ou pelo menos ameaça da autoridade coatora" (fl. 99).
Na verdade, nessa linha de entendimento, com a qual me ponho de acordo, o aresto hostilizado andou bem, ao fazer precisa análise da questão, ante as informações prestadas pela autoridade impetrada, concluindo, in verbis:
"Em confronto com essas informações, que merecem credibilidade, até prova em contrário, dada a presunção de legitimidade dos atos da Administração e da palavra de suas autoridades, constata-se, dos autos, que a impetrante não descreveu qualquer ato concreto ou preparatório ou indício razoável de atividade cen-
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surável das autoridades fiscais, e contra as quais caberia prevenção pela iminência e risco de dano ao direito da empresa impetrante.
Logo, falta sucedâneo fático e jurídico à cautela preventiva, não se podendo considerar ameaça a não atividade da autoridade fazendária, na espécie, ou sua omissão eventual fiscalizadora, ou ausência de vigilância no cumprimento da lei, pela não ocorrência ainda de autuação.
Vê-se, então, que a impetrante não aponta, em concreto, exigência fiscal abusiva e violadora ao direito ameaçado parajustificar o mandado de segurança preventivo, sabido que os Tribunais decidem em concreto e não respondem a questões em tese sobre eventual ilegalidade de normas, o que seria resposta a uma consulta, e os Tribunais não são órgãos consultivos" (fl. 67).
Estou, portanto, em que razão não assiste à recorrente, que não logra afastar esses sólidos fundamentos, malgrado seja reconhecível o esmero e a dedicação com que se houve para defender tese em sentido contrário, mas improsperável no âmbito deste sodalício, onde tem predominado entendimento no mesmo sentido do acórdão recorrido, conforme precedentes trazidos à colação pelo douto Sub procuradorGeral da República (fls. 99/101).
N o mesmo diapasão, entre muitos outros, posso invocar precedentes da minha lavra, cujos acórdãos restaram assim ementados:
"Processual Civil e Tributário. Mandado de segurança preventivo. Cabimento.
Mesmo no mandado de segurança preventivo, não basta o simples risco de lesão a direito líquido e certo, com base apenas no julgamento subjetivo do impetrante. Impõe-se que a ameaça a esse direito se caracterize por atos concretos ou preparatórios de parte da autoridade impetrada, ou ao menos indícios de que a ação ou omissão virá a atingir o patrimônio jurídico da parte. Em direito tributário, se o autor inquina determinada exação, prevista em lei, de inconstitucional ou ilegal, mas não demonstra qualquer ameaça a seu direito de não pagá-la, descabe a ação mandamental, que não tem por escopo interpretar a lei em tese.
Recurso improvido, por unanimidade" (REsp lS.40S/PE, D.J. 01.06.92).
"Constitucional. Mandado de segurança preventivo. Inexistência de ato comissivo ou omissivo da autoridade coatora. Incabimento. Agravo regimental improvido.
Inexistindo ameaça evidente de prática de ato abusivo pela autoridade coatora, descabe a concessão da segurança, apenas, para preservar, o impetrante, em relação às conseqüências da possível aplicação de lei, que o autor entende inconstitucional, impingindo-se ao mandado de segurança, a natureza de ação direito de inconstitucionalidade, para cuj a
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 41
proposição, a parte não possui legitimidade.
A ação de segurança, ainda que usada com caráter preventivo, deve fundamentar-se em prova pré-constituída, para que a ameaça seja verificada, de plano, pelo juiz, ao exame de elementos informadores documentais.
Agravo regimental improvido. Decisão unânime" (Agr no REsp . n Q 25.373/PE, D.J. 08.03.93).
Com essas considerações, na mesma linha de orientação jurisprudencial prevalecente nesta Corte, nego provimento ao recurso.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL NQ 72.806 - SP
(Registro n Q 95.0042914-4)
Relator: O Sr. Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo -COHAB/SP
Recorridos: Amauri Luiz da Silva e cônjuge
Advogados: Drs. Luís Antônio Dantas e outros, e Paulo Ianaconi
EMENTA: Código de Defesa do Consumidor - Aplicação - Contratos firmados antes de 11/09/90.
As normas do Código de Defesa do Consumidor não retroagem para alcançar contratos firmados antes de sua vigência.
É devida a retenção da multa de 10% pelo descumprimento do contrato.
Recurso parcialmente provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos a das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso, nos ter-
mos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira e José Delgado.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros.
Brasília, 12 de maio de 1998 (data do julgamento).
42 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro GARCIA VIEIRA, Relator.
Publicado no DJ de 03-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO GARCIA VIEIRA: Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo, com lastro na Constituição Federal, artigo 105, lII, a, interpõe recurso especial (fls. 163/169), aduzindo tratar-se de ação ordinária de rescisão contratual, cumulada com reintegração de posse, na qual alegou-se violação de cláusula contratual.
O MM. Juiz de 1 Q Grau julgou procedente, em parte, a ação, argumentando que, no tocante às perdas e danos, o pedido não pode ser acolhido, por não existir no contrato cláusula pertinente e que a pretensão encontra óbice no Código de Defesa do Consumidor, art. 53, que considera nula cláusula que estabelece a perda total das prestações pagas em benefício do credor.
Foi mantida a r. decisão monocrática.
Aponta violação ao CPC, art. 1.056 e ao Código Civil, art. 1.092.
Requer reforma da v. decisão recorrida.
Despacho (fls. 173/175).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO GARCIA VIEIRA (Relator): Sr. Presidente: -
Aponta a recorrente, como violados, os arts. 1.056 do CPC e 1.092 do CC, versando sobre questões devidamente prequestionadas.
Conheço do recurso pela letra a.
O Código do Consumidor, instituído pela Lei 8.078, de 11.09.90, não se aplica ao caso vertente porque o contrato (fls. 06/12) foi assinado pelas partes no dia 30.12.83, antes de sua vigência. Suas normas não poderiam retroagir para alcançar contratos anteriores. Assim, não se pode, com base no seu art. 53, entender que o mutuário tenha de perder as prestações já por ele pagas. Com razão, o v. acórdão recorrido (fls. 147) ao sustentar que:
"Com a devida vênia, a regra do art. 53 da Lei 8.078, de 11.09.90, não se aplica ao caso sob exame, pois, o contrato de compromisso de compra e venda foi celebrado a 30.12.83 (fls. 6/12).
Como assentado na jurisprudência desta Câmara, as normas do Código de Defesa do Consumidor não retro agem para alcançar contratos anteriores, sob pena de ofensa ao art. 5º, inc. XXXVI, da Constituição Federal.
Assim, não se sujeitando o contrato em questão aos preceitos da referida Lei 8.078, afastada fica a perda das prestações pagas pelos réus, sanção não prevista na avença." (fls. 147)
Não se pode decretar a perda total de todas as prestações pagas pelo réu, mas pode ser retida a mul-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 43
ta de 10% prevista no contrato. N este sentido, os REsps 85.182-PE, DJ de 08.09.97, reI. Min. Cesar Rocha e 74.448-SP, DJ de 04.11.96, reI. Min. Sálvio de Figueiredo. Em ambos, autorizou-se a retenção da multa de 10%, em razão do descumprimento do contrato. Esta multa, na
espécie, representa as perdas e danos (art. 1.056 do CPC) pelo descumprimento do contrato.
Dou parcial provimento ao recurso para reformar parcialmente o v. acórdão recorrido e determinar a retenção da multa de 10%, pelo descumprimento do contrato.
RECURSO ESPECIAL NQ 85.047 - DF
(Registro n Q 96.0000766-7)
Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo
Recorrente: Unimed Brasília Cooperativa de Trabalho Médico
Recorridos: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e Íris José Santiago
Advogados: Victorino Ribeiro Coelho e outro, Ayres Lourenço de Almeida Filho e outros, e Antônio Carlos de Brito e outro
EMENTA: Ação indenizatória promovida por particular contra o INSS. Ausência do ato causador do dano praticado pela autarquia-ré. Improvimento do recurso.
Firmou-se a jurisprudência, ainda emanada do TFR, no sentido de que, o patrão é responsável indireto pela reparação do dano civil decorrente de preposto seu (C.C., art. 1.521, lU). Todavia, em face da lei vigente, não se caracteriza como preposto ou empregado, a Clínica Médica que realiza serviços para o INSS, como mera credenciada.
O credenciamento não constitui contrato de trabalho, porquanto, o prestador dos serviços conserva a sua própria autonomia (e o faz sem subordinação alguma ou vínculo empregatício), tornando-se responsável pelos atos que praticar no exercício de suas atividades e, como tal deve ser chamada a integrar a relação processual, na condição de ré, para responder aos termos das ações de responsabilidade civil, na hipótese de imprudência ou negligência.
Recurso a que se nega provimento. Decisão unânime.
44 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Delgado e Garcia Vieira. Custas, como de lei.
Brasília, 15 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.
Publicado no DJ de 02-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Cuida-se de Ação Indenizatória promovida por particular contra INSS objetivando indenização.
Alegou, o autor, ter sido aposentado por invalidez resultante de imperícia médica ocorrida em três cirurgias a que se submeteu na Casa de Saúde e Maternidade Dom Bosco. Os médicos que praticaram a cirurgia agiram como servidores do réu.
O INSS ofereceu defesa e denunciou à lide a empresa Unimed.
O Juiz declarou extinto o processo em relação ao réu e se declarou
incompetente para julgar o feito em relação às partes remanescentes.
Inconformada, a Unimed interpôs recurso especial, sob o pálio das letras a e c. Alega ofensa aos arts. 70 e 75 do CPC e arts. 15 e 896 do C. Civil.
O TRF da 1 ª Região confirmou a decisão de primeiro grau.
Admitido na origem, nesta instância, o M. Público Federal opinou pelo improvimento do especial.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Ministros:
Íris José Santiago promoveu Ação Indenizatória contra o Instituto N acional do Seguro Social - INSS -objetivando o ressarcimento por perdas e danos.
Alega ter sido aposentado por invalidez resultante de imperícia médica ocorrida em três (3) cirurgias a que se submeteu na Casa de Saúde e Maternidade Dom Bosco. Os médicos que praticaram as cirurgias agiram como servidores do réu, sendo deste a responsabilidade.
O INSS, em sua resposta, afirmou não ter qualquer responsabilidade, eis que as cirurgias foram realizadas em Hospital particular e denunciou à lide a empresa Unimed.
O Juiz declarou extinto o processo, em face da ilegitimidade do réu e incompetência para o julgamento
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 45
do feito em relação às partes remanescentes.
O TRF da 1 ª Região confirmou a decisão de primeiro grau.
Inconformada, a Unimed manifestou recurso especial, ao amparo das alíneas a e c, do admissivo constitucional. Alega ofensa aos arts. 70 e 75 do CPC e arts. 15 e 896 do C. Civil, além de divergência com julgados de outros Tribunais.
O recurso, todavia, não há como prosperar.
Com efeito, a começar da decisão de 1 º Grau, chegou-se à conclusão, com base nas provas, de que, se dano houve, foi causado pela pessoa jurídica de direito privado, sem a participação de servidor público, e o Estado não é responsável e não é parte legítima para figurar no pólo passivo da ação. É que, os médicos que realizaram as cirurgias supostamente causadoras da aposentadoria do autor, não são servidores do réu. Ao contrário, enfatiza o Juiz, "esses profissionais prestaram serviços ou eram empregados da Organização Hospitalar Brasileira S.A. - Casa de Saúde e Maternidade Dom Bosco - entidade com a qual o réu mantinha convênio" (folhas 106/107).
Por sua vez, consigna o acórdão recorrido, no voto condutor:
"In casu, os médicos que supostamente causaram a invalidez do autor são servidores da Casa de Saúde Maternidade Dom Bosco, pessoa jurídica de direito privado, conveniada com o INSS.
N o entanto, o fato de haver um convênio entre os mesmos não acarreta, por si só, a responsabilidade civil solidária. Para tanto, é necessário a expressa menção a respeito, o que, no caso, inocorreu, consoante prova coligida nos autos.
O extinto Tribunal Federal de Recursos já decidira na mesma linha de entendimento. Cite-se, a propósito, decisão proferida na AC nº 39.074-SP, de que foi Relator o eminente Ministro Adhemar Raimundo, condensada na seguinte ementa:
"Responsabilidade civil.
Nos termos do artigo 1.521, inciso lII, do Código Civil, o patrão é responsável indireto pela reparação do dano civil. Não se considera, todavia, preposto ou empregado, a clínica que realiza serviços para o INSS, como simples credenciado (TRF, pub. no DJ 20.4.81)".
Merece, ainda, registro, excerto do voto condutor do acórdão, que decanta o tema de forma conclusiva, verbis:
"Discordo do entendimento do Juiz, que enfatiza, na sentença, essa relação de dependência, ao dizer, verbis: "O Hospital está para a autarquia, como o preposto está para o preponente. A relação entre os dois é desse gênero." (fls. 74). Dissinto do entendimento do digno a quo, data venia.
46 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
Isso porque, pelo documento de fls. 15 dos autos, a relação entre o INSS e o Hospital não era de preposto e preponente, mas resultante de simples credenciamento. Está escrito: " ... autorizar a credenciação do Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Conceição S.A., em São Paulo, para atendimento ambulatorial de ortopedia e traumatologia."
Pelo exposto, inexistia, pelo documento citado, relação de empregador e empregado entre o mencionado estabelecimento hospitalar e o antigo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários. Se havia simples credenciamento, inexistia qualquer subordinação do nosocômio para com a Previdência Social, de modo a se poder falar de relação entre preposto e preponente.
É necessário que a preposição cubra um contrato de locação ou de mandato (Carvalho Santos - Cód. Civil Introdução - voI. XX - pág. 228).
o credenciamento não caracteriza contrato de trabalho, porque quem presta os serviços conserva a sua autonomia, responsável, portanto, pelos atos que praticar. Se empregado fosse, presente a responsabilidade do INSS, que, na hipótese, colocado estaria na situação de patrão. Em suma, as clínicas credenciadas pelo INSS conservam a sua responsabi-
lidade direta pelos atos que praticarem, no exercício das suas funções, e, como tal devem ser chamadas como rés, para responder aos termos das ações de responsabilidade civil, nos casos de imperícia ou imprudência" .
Irrepreensível a pOSlçao do grande magistrado ejuristaAdhemar Raymundo, uma das glórias do grandioso mundo jurídico da Bahia e do Brasil.
No agravo retido, a Unimed insurge-se contra a sua inclusão na relação processual por via de denunciação à lide. Verbera que o caso sub examen não se enquadra nas hipóteses elencadas no art. 70, incisos I a IH, do CPC, ao fundamento de que o INSS, sendo parte ilegítima para figurar no feito, não tem legitimação, também, para denunciar à lide.
Entretanto, razão não lhe assiste.
De fato, nada impede que o réu, alegando ser parte ilegítima, denuncie à lide a parte que entenda ser o verdadeiro responsável. Portanto, é correta a sentença que, entendendo ser parte legítima o denunciado, dê pela carência de ação em relação ao denunciante" (folhas 147/149).
Como acentuou o M. Público Federal, "nada impede que aAdministração Pública denuncie à lide, na
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 47
qualidade de terceiro aquele que, apesar de não ser servidor público, encontra-se encarregado da prestação de serviço público. Se o réu alega ser parte ilegítima e, ao mesmo tempo denuncia à lide o verdadeiro responsável, e este, aceitando a litisdenunciação, contesta o pedido formulado pelo autor, passando à condição de litisconsorte passivo, não há prejuízo em que a sentença dê pela carência de ação, em relação ao denunciante, e pela procedência ou improcedência da preten-
são quanto ao denunciado" (folha 203).
N o pertinente ao dissenso pretoriano, não vejo configurado, por desatenção às regras regimentais. É que, o acórdão paradigma foi transcrito através de ementa, sem a demonstração analítica dos trechos em que se configuram a identidade ou semelhança das teses jurídicas.
Com estas considerações, conheço do recurso pela letra a, mas lhe nego provimento.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL NQ 125.337 - MG
(Registro n Q 97.0021022-7)
Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo
Recorrente: Ministério Público do Estado de Minas Gerais
Recorrido: Município de Alfenas
Advogados: Wanderley Tiago Velano e outros
EMENTA: Processual Civil. Ação civil pública de iniciativa do Ministério Público objetivando a declaração de inconstitucionalidade de lei municipal. Extinção do processo, por incompetência do juiz monocrático. Acórdão recorrido estribado em fundamento constitucional concentrado. Questões legais e constitucionais não prequestionadas. Especial não conhecido.
No âmbito do especial, não se apreciam questões jurídicas não discutidas e decididas, de forma expressa, nas instâncias ordinárias, nem se examina matéria de natureza essencialmente constitucional.
Ao juiz de primeiro grau descabe declarar a inconstitucionalidade de lei municipal (em face da Constituição Federal) pela via do sistema de controle constitucional concentrado.
48 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
In casu, a declaração de incompetência do juiz decorreu de interpretação de texto da Lei Maior constituindo, por isso mesmo, fundamento, por si, suficiente para manter o julgado e erigindose em empeço ao conhecimento do especial (Súmulas 126/STJ e 283/STF):
Recurso Especial de que se não conhece. Decisão unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José Delgado e Garcia Vieira. Ausente,justificadamente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Custas, corno de lei.
Brasília, 11 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.
Publicado no DJ de 02-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Cuida-se, na hipótese, de ação civil pública promovida pelo Ministério Público Estadual, objetivando a declaração de inconstitucionalidade da Lei Municipal de n Q
2.135/89, da Comunidade de Alfenas,em Minas Gerais e a suspen-
são do pagamento da taxa de iluminação pública instituída pelo mencionado diploma legal.
Julgado procedente, o pedido, em primeiro grau, o Tribunal de Justiça, ao manifestar-se sobre o reexame necessário, extinguiu o processo sem julgamento de mérito (art. 267, VI, do CPC), já pela incompetência do juiz para declarar a inconstitucionalidade da Lei em tese (pelo sistema concentrado, já pela ilegitimidade do Ministério Público).
Irresignado, interpôs, o Ministério Público, recurso especial, sob o pálio da letra a. Alega ofensa aos arts. 1Q e 21 da Lei de n Q 7.347/85.
Admitido na origem, subiram os autos a esta instância.
O Ministério Público opinou pelo provimento da irresignação.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Ministros:
O Ministério Público do Estado de Minas Gerais promoveu, perante juízo competente, ação civil pública contra o Município de Alfenas, naquele Estado, objetivando:
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 49
a) a declaração - incidenter tantum - da inconstitucionalidade da Lei Municipal de n 9
2.135/89, arts. 19,29 e 39, por afrontar os arts. 150, lII, letra b, e 156 e 59, lI, combinado com o 150, I, todos da Constituição Federal;
b) que seja o réu, após a declaração de inconstitucionalidade da mencionada lei (2.135/89) condenado a não cobrar a taxa de iluminação (reconhecendo-se para tanto a inconstitucionalidade da taxa) - (folha 9).
Em primeiro grau, o juiz julgou procedente o pedido e reconheceu a inconstitucionalidade da Lei Municipal de n9 2.135/89 (arts. 19,29,39
e 89), em face dos arts. 150, IlI, b, 150, I, 156 e 59, lI, da Constituição Federal (e, ainda, por ferir o princípio da anterioridade).
O Tribunal de Justiça, ao julgar recurso apelatório, deu provimento ao reexame necessário e decretou a extinção do processo, de acordo com o disposto no art. 267, VI, do Código de Processo Civil, eis que:
a) falece, ao juiz, competência para decretar a inconstitucionalidade da lei, em tese;
b) pela ilegitimidade o Ministério Público.
Irresignado, o Ministério Público manifestou recurso especial, com arrimo na alínea a, do permissivo constitucional. Alega ofensa, pelo decisum, aos arts. 19, IV, e 21 da
Lei de n 9 7.347/85, na medida em que deixou de aplicá-los.
O recurso, todavia, não há como prosperar. Em primeiro lugar, é manifesta a ausência de prequestionamento em relação aos preceitos citados (Lei n9 7.347, arts. 19, IVe 21). Para que se justifique o conhecimento do especial, não basta que o acórdão tenha feito referência, en passant, à lei que se pretende tenha sido desafeiçoada. É necessário que, acerca dos preceitos legais indicados como violados, o acórdão impugnado tenha expendido juízo de valor explícito. In casu, o acórdão fez uma simples menção à Lei de n 9
7.347/85, "sobre afirmar que a ação civil pública destina-se ao amparo, quer de interesses sociais, quer de interesses privados, tutelando os chamados interesses difusos e interesses individuais que atingem a própria coletividade".
E acrescenta: "Determinado o alcance da lei, mister se faz, no caso, se faça a distinção entre as expressões consumidor e contribuinte para que se possa delimitar a legitimidade do apelante para a propositura da presente ação. Consumidor, como de conceito, em sentido amplo, designa a pessoa que consome um produto. No sentido fiscal, possui o vocábulo significação própria, qual seja, toda pessoa que adquire mercadorias de um comerciante para seu uso e consumo, sem intenção de revendê-la. Por outro lado, contribuinte é, genericamente, tida pessoa que contribui com a parte que lhe é atribuída, ou sej a, toda pessoa que faz uma contribuição. No
50 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
sentido, fiscal, com o mesmo sentido de consumidor, designa pessoa a que é cadastrada ou lançada para pagar impostos. Conforme se depreende desses conceitos, contribuinte e consumidor não se confundem. O fato de a lei autorizar o Ministério Público a defender direitos dos consumidores não o autoriza a defender direitos do contribuinte" (fls. 100/101).
E, após, com base no art. 129, UI, da Constituição Federal, fazer a distinção entre direitos difusos e direitos individuais homogêneos, conclui o voto condutor (com motivação diferente, suficiente, por si, para manter o julgado): "Fala-se, outrossim, em inconstitucionalidade incidenter tantum. Mas, não há caso concreto algum, onde se pretende tal inconstitucionalidade. Como de sabença comum, o sistema de controle jurisdicional da constitucionalidade conhece dois critérios: difuso e concentrado.
O difuso, como ponderado alhures pelo eminente Des. Lúcio Urbano (Ap. Civ. nº 29.258-1), exerce-se por via de exceção, enquanto o concentrado através de ação direta, de competência dos Tribunais. No caso, insurge-se contra a lei em tese e diretamente, não como exceção em caso concreto. Tal como colocada a questão, a buscada inconstitucionalidade jamais seria incidental -controle difuso - mas direta - controle concentrado. Falece, assim, competência ao juiz de primeiro grau e legitimidade ativa do Ministério Público" (folha 103).
Como se observa, o decisório malsinado se escuda em dupla motivação: uma, indica, de forma genéri-
ca, as hipóteses em que o Ministério Público poderá atuar na defesa dos interesses difusos ou coletivos e individuais homogêneos; na outra, com base na Constituição Federal, conclui tratar-se de insurgência contra a lei em tese e não de controle da constitucionalidade de lei incidenter tantum, em face da inexistência de caso concreto. O que se postulou foi, efetivamente, o controle concentrado, não o difuso, razão por que declara a incompetência do juiz para proclamar a inconstitucionalidade de lei (pelo sistema concentrado) e a ilegitimidade do Ministério Público.
Ora, este último fundamento -incompetência do juiz - tanto se embasa em matéria constitucional (embora não cite, expressamente qualquer dispositivo), como por si, é suficiente para manter o julgado e não foi objeto de ataque no especial. Ao caso se aplica a Súmula 283 do STF, com esta dicção:
"É inadmissível o recurso extraordinário quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles."
Demais disso, ao conhecimento do recurso se opõe a Súmula 1261 STJ, porquanto, tendo o aresto desafiado se estribado, também, em fundamento constitucional, este não foi atacado, em tempo hábil, pela via extraordinária, gerando a preclusão da matéria.
Com estas considerações, em preliminar, não conheço do recurso.
É como voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 51
RECURSO ESPECIAL Nº 139.872 - CE
(Registro nº 97.0048120-4)
Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira
Recorrente: Fazenda Nacional
Recorridos: Amarílio Proença de Macedo e outros
Procuradores: Drs. Maria da Graça Aragão e outros
Advogados: Drs. Paulo Camillo e outros
EMENTA: Tributário. Dívida ativa inscrita. Certidão negativa de débito. Pessoa física. Sócios. CTN, art. 135, lIl.
1. A pessoa jurídica, com personalidade própria, não se confunde com a pessoa de seus sócios. Constitui, pois, delírio fiscal, à matroca de substituição tributária, atribuir-se a responsabilidade substitutiva (art. 135 - caput - CTN) para sócios diretores ou gerentes antes de apurado o ato ilícito.
2. Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:
Decide a egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram com o Relator os Senhores Ministros José Delgado, Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Milton Luiz Pereira.
Custas, como de lei.
Brasília, 12 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 10-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Cuida-se de Recurso Especial, através do qual pretende a Recorrente desconstituir o v. aresto do egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região, cuja ementa está assim conformada:
"Tributário. Responsabilidade tributária não caracterizada no art. 135, CTN. Certidão negativa de débito. Diretores de pessoa jurídica de direito privado.
1. Os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas
52 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
de direito privado não respondem pessoalmente pelos tributos devidos pelas empresas, desde que não comprovada a ocorrência de excesso de mandato, violação do contrato social ou da lei.
2. Certidões Negativas de Débitos requeridas pelos diretores das empresas, enquanto pessoas físicas devem ser fornecidas, se não há apuração da responsabilidade de qualquer impetrante.
3. Remessa oficial improvida." (fl. 77).
A Recorrente, apóia-se nas alíneas a e c, do permissivo constitucional. Entende que o não pagamento de tributo importa em responsabilidade pessoal e solidária do diretor, do gerente ou do representante, conforme determina o artigo 135, inciso IIl, do Código Tributário Nacional.
Aduz:
"Não resta dúvida de que os recorridos são diretores de pessoas jurídicas em débito para com a Fazenda Nacional.
Também é certo, segundo orientação recente dessa Excelsa Corte, que 'age com violação à Lei o sócio-gerente que não recolhe os tributos devidos.' (REsp nº 33.681-1-MG, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha - DJU de 02.05.94, pág. 9.968).
Por outro lado, o artigo 135, IIl, CTN, exige que haja infração à lei e não apenas à lei comercial como quer a v. decisão vergastada.
Logo, o v. aresto guerreado ao excluir a responsabilidade dos impetrantes no caso presente, ostensivamente negou aplicação ao artigo 135 do Estatuto Tributário Nacional, ensejando, assim o presente apelo nobre pela letra a do permissivo constitucional".
Omissis
"O dissídio pretoriano resulta por demais evidente, pois, se de um lado o v. acórdão recorrido tem 'que o simples inadimplemento de crédito tributário de Sociedade Comercial não configura fato hábil a responsabilizar pessoalmente os diretores, gerentes ou representantes das pessoas jurídicas de direito privado', de outro, a v. decisão paradigma tem que 'o sócio gerente que não recolhe os tributos devidos age com violação à Lei, sendo, portanto, responsável, na forma do disposto no art. 135, IlI, CTN'.
Daí, o cabimento do recurso também pela alínea a.
Omissis
"Data venia, não pode prevalecer o v. aresto combatido porque além de manifestamente ilegal constitui porta aberta para a sonegação fiscal.
Afigura-se bastante desarrazoado o entendimento que condiciona a responsabilidade tributária objeto do art. 135, III, CTN, a instauração por parte da Fazenda Pública de prévio processo para apurar essa responsabilidade.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 53
Ora, se a obrigação tributária é ex legis, o seu descumprimento, como é curial, implica em violação à lei que a estabelece.
O multicitado artigo 135 ao atribuir aos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado a responsabilidade tributária por substituição decorrente de atos praticados com infração de lei não exclui a lei tributária, naturalmente.
Assim, exigir-se procedimento prévio para apurar o óbvio constitui excrescência absurda".
Omissis
"O art. 135, do CTN, consagra, assim, a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica, no que andou muito certo o legislado):", pelo que descabe averiguar, antes, se a pessoa jurídica tem ou não condições de pagar o tributo devido.
E assim deve ser, pois agride o senso comum a constatação freqüente de que os donos de certas empresas só querem o bônus que elas rendem, fugindo na hora de arcar com o ônus como se não fossem os únicos beneficiários dos lucros. Tanto assim é, que enquanto muitas delas encontramse absolutamente falidas e devendo ao Fisco, aqueles vivem como verdadeiros magnatas usufruindo das rendas obtidas no passado.
Isto posto, a Fazenda Nacional confia que esta Colenda Corte dará provimento ao presente ape-
lo para o fim de ser cassado o v. acórdão recorrido, reconhecendose a responsabilidade dos impetrantes pelos débitos de que tratam estes autos, como é de direito e justiça". (fls. 84 a 87)".
Transcorreu in albis o prazo para apresentação de contra-razões.
O nobre Presidente do colendo Tribunal a quo admitiu a via Especial, porque "a matéria foi devidamente prequestionada e a fundamentação permite a exata compreensão da controvérsia, com indicação precisa do dispositivo legal porventura violado, bem como do permissivo constitucional autorizador do apelo especial. De outro modo, o dissenso pretoriano restou devidamente comprovado". (fl. 100).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): ESpiolhados os autos revela-se que, em Mandado de Segurança, impetrado com o fito de ser obtida Certidão de Dívida Ativa, recusada administrativamente, a ordem foi concedida, cônsono o ferretado v. Acórdão, resumido na seguinte ementa:
"Tributário. Responsabilidade tributária não caracterizada no art. 135, CTN. Certidão negativa de débito. Diretores de pessoa jurídica de direito privado.
1. Os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas
54 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
de direito privado não respondem pessoalmente pelos tributos devidos pelas empresas, desde que não comprovada a ocorrência de excesso de mandato, violação do contrato social ou da lei.
2. Certidões Negativas de Débitos requeridas pelos diretores das empresas, enquanto pessoas físicas devem ser fornecidas, se não há apuração da responsabilidade de qualquer impetrante.
3. Remessa oficial improvida." (fl. 77).
A manifestação de inconformismo alvoroçando, além de dissenso, contrariedade ao art. 135, IlI, CTN, presentes os requisitos de admissibilidade, merece ser conhecida (art. 105, lII, a e c, C.F.).
Desimpedido o exame, de logo, com significância, registra-se que as Impetrantes, pessoas físicas, não têm dívida inscrita à sua conta e responsabilidade, aparecendo como devedoras as empresas das quais são diretores: Cervejaria Astra S.A., Benarrós Diesel Ltda. e Moinho Fortaleza - S.A. (fls. 4).
Eis aí o motivo pelo qual a autoridade fiscal, à sombra do art. 135, lII, CTN, indeferiu a expedição de certidão negativa pedida por pessoas físicas não devedoras. Em outras palavras: tão-só porque os seus sócios participam da composição societária da devedora como diretores. Sem dúvida, o ato indeferitório é ilegal.
Com efeito, uma pessoa jurídica, com personalidade própria, não se
confunde com a pessoa física de seus sócios diretores. Demais, o art. 135, lII, CTN, colacionado pela autoridade fiscal, trata da responsabilidade pessoal dos "diretores, gerentes ou representantes" resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos.
Neste contexto, a solução está custodiada por precedente da lavra do ínclito Ministro Humberto Gomes de Barros constituído quando do julgamento do REsp de nº 86.439-ES, nestes termos:
Omissis
"O CTN, no inciso III do art. 135, impõe responsabilidade, não ao sócio, mas ao gerente, diretor ou equivalente.
Assim, sócio-gerente é responsável, não por ser sócio, mas por haver exercido a gerência.
A gerência, contudo, não é causa da responsabilidade solidária. A solidariedade resulta da prática de ato ilícito.
Em tal circunstância, não basta o fato de a pessoa jurídica ser devedora de tributo. É necessário que a dívida não tenha sido paga, em razão de ato ilícito, praticado pelo gerente.
Como se percebe, o art. 135 do Código Tributário não derrogou o vetusto preceito contido no art. 9º da 'Lei de Sociedades Limitadas'.
Quando o gerente abandona a sociedade, sem honrar-lhe o dé-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 55
bito fiscal, é responsável, não pelo simples atraso de pagamento. A ilicitude que o torna solidário é a dissolução irregular da sociedade.
Na hipótese que agora examinamos, não há qualquer alegação de que os recorridos tenham exercido a gerência da sociedade. Tampouco se afirma que a sociedade foi extinta irregularmente.
Nesta situação, a recusa da certidão negativa traduz evidente ilegalidade, reparável através de Mandado de Segurança". (REsp n Q 86.439/ES - ReI. Min. Humberto Gomes de Barros).
Eis a ementa do julgado:
"Tributário - Sociedade limitada - Responsabilidade do sócio pelas obrigações tributárias da pessoa jurídica (CTN, art. 173, IH).
I - O sócio e a pessoa jurídica formada por ele são pessoas distintas (Código Civil, art. 20). Uma não responde pelas obrigações da outra.
H - Em se tratando de sociedade limitada, a responsabilidade do cotista, por dívidas da pessoa jurídica, restringe-se ao valor do capital ainda não realizado. (Dec. 3.708/1919 - art. 9Q
). Ela desa-
parece, tão logo se integralize o capital.
IH - O CTN, no inciso IH do art. 135, impõe responsabilidade, não ao sócio, mas ao gerente, diretor ou equivalente. Assim, sócio-gerente é responsável, não por ser sócio mas por haver exercido a gerência.
IV Quando o gerente abandona a sociedade, sem honrar-lhe o débito fiscal, é responsável, não pelo simples atraso de pagamento. A ilicitude que o torna solidário, é a dissolução irregular da pessoa jurídica.
V - A circunstância de a sociedade estar em débito com obrigações fiscais não autoriza o Estado a recusar certidão negativa aos sócios da pessoa jurídica." (REsp n Q 86.439/ES - Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, in DJU de l Q .7.96).
Desse modo, à matroca de substituição tributária, é ilegal atribuirse a responsabilidade substitutiva (art. 135 - caput - CTN) para as pessoas físicas de seus diretores antes de determinados os atos decorrentes de excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos.
N o estuário da exposição, voto improvendo o recurso.
É o voto.
56 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
RECURSO ESPECIAL NQ 151.221 - RN
(Registro n Q 97.0072580-4)
Relator: O Sr. Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Fazenda Nacional
Recorrido: Instituto de Radiologia de Natal Ltda.
Advogados: Drs. Francisco Tadeu Barbosa de Alencar e outros, e Mônica Alves Feitosa e outros
EMENTA: IPI - Aparelhos médicos - Isenção - Decreto - Autorização legal.
Havendo lei autorizativa, pode o Poder Executivo baixar decreto relacionando bens sujeitos à isenção.
Interpreta-se literalmente a legislação tributária sobre outorga de isenção.
Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos a das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.
Impedido o Sr. Ministro José Delgado.
Brasília, 12 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro GARCIA VIEIRA, Relator.
Publicado no DJ de 03-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO GARCIA VIEIRA: A Fazenda Nacional interpõe Recurso Especial (fls. 85/94), arrimada na Constituição Federal, art. 105, III, a, aduzindo que a importação de aparelhos médicos não goza da isenção do IPI, conforme previsto na Lei n Q 8.191/91. Aponta contrariedade ao § 1 Q do artigo 1 Q da Lei n Q 8.191/91, arts. 1Q do Decreto n Q 151/91 e 97, VI do CTN.
Pede a denegação da segurança impetrada.
Sem contrariedade (Certidão de fls. 98).
Despacho de fls. 99 admitiu o recurso.
Cuida-se de Mandado de Segurança, impetrado contra ato do Sr.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 57
Delegado da Receita Federal- RN, objetivando a liberação de equipamentos médicos, sem o pagamento do IPI.
Sentença de fls. 57/68 concedeu a segurança, sendo confirmada pelo v. acórdão (fls. 75/82).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO GARCIA VIEIRA (Relator): Sr. Presidente: -Aponta a recorrente, como violados, os artigos 1 Q, § 1 Q da Lei n Q 8.191/91 e artigo 1 Q, caput, do Decreto n Q
151/91, versando sobre questões devidamente prequestionadas.
Conheço do recurso pela letra a.
O artigo 1 Q, caput, da Lei nQ 8.191/ 91, instituiu a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados -IPI, para "equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos novos, inclusive os de automação industrial e de processamento de dados, importados ou de fabricação nacional, bem como os respectivos acessórios, sobressalentes e ferramentas, até 31 de março de 1993".
Como se vê, referido dispositivo legal não especifica quais os bens que farão jus ao benefício da isenção do IPI. Por isso, o legislador, no parágrafo 1 Q do citado dispositivo legal, autorizou ao Poder Executivo relacionar, por Decreto, estes bens. Diz o aludido parágrafo que:
"O Poder Executivo, ouvida a Comissão Empresarial de Com-
petitividade, relacionará, por decreto, os bens que farão jus ao benefício de que trata este artigo".
Ora, se a própria lei instituidora da isenção, autorizou o Poder Executivo a baixar decreto relacionando os bens que farão jus à isenção; agiu, corretamente, o Poder Executivo ao baixar o Decreto n Q 151, de 25/06/91, relacionando os bens com direito à isenção. Com isso, não se pode dizer que a isenção foi criada por Decreto. Foi ela instituída pela Lei n Q 8.191191, artigo 1 Q, caput, que autorizou o Poder Executivo a relacionar quais os bens que fariam jus a ela. Se o aparelho importado pela impetrante (fls. 19/22) não foi incluído na relação do Decreto n Q
151/91, não foi ele beneficiado pela isenção. A isenção é sempre decorrente de lei (artigo 176 do CTN) e, no caso, ela foi concedida pela Lei n Q
8.191/91, em caráter geral, a equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos novos, conferindo ao Poder Executivo o poder de baixar decreto especificando os bens por ela beneficiados. Baixado o Decreto n Q 151/91, não foi incluído o aparelho importado pela impetrante, não tendo ela direito à isenção por ela pleiteada, mesmo porque, interpreta-se literalmente a legislação tributária, sobre outorga de isenção (art. 111 do CTN).
Sustenta, a meu ver, com razão, a digna autoridade apontada como coatora, em suas informações (fls. 51153) que:
58 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
"O artigo 176 do Código Tributário Nacional estabelece que a isenção decorre de lei que especifique as condições e circunstâncias para sua concessão e o artigo 179 do mesmo mandamento legal determina que a isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa.
O Mestre Aliomar Baleeiro, "Direito Tributário Brasileiro", editora Forense, pág. 596, comentando o artigo 179 do Código Tributário Brasileiro, diz:
"a cautela é obviamente necessária porque, como já notamos, a isenção na atualidade não é favor nem privilégio, mas medida de política no interesse geral. A lei, por meio de incentivos fiscais, como a isenção ou redução, visa fomentar certas atividades que comportam riscos e, às vezes exigem investimentos vultosos de dinheiro e técnica ... ".
A Lei n Q 8.191/91, ao conceder isenção sobre Produtos Industrializados - IPI, condicionou o benefício de tal isenção à indicação do Poder Executivo, ouvida a Comissão Empresarial de Competitividade. Assim a referida lei autorizava o Poder Executivo a relacionar alguns ou todos os bens mencionados em seu art. 1 Q.
Por sua vez, o Decreto n Q 151/ 91, regulamentando o parágrafo 1Q
, do artigo 1Q, da Lei n Q 8.191/
91, ao arrolar os produtos alcançados pelo benefício, não incluiu o bem da impetrante.
Posteriormente, o parágrafo único, do artigo 1 Q da Lei n Q 8.643/ 93, proibiu o Poder Executivo de relacionar os bens constantes na Tabela anexa da mesma lei, como isentos.
Por outro lado, o CTN estabelece um seu art. 111, lI, que:
"Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:
II - outorga de isenção".
Da exegese literal das normas em foco, depreende-se que: "com exceção dos produtos elencados no parágrafo primeiro da Lei n Q
8.643/93, os quais não poderão ser objeto de isenção por ato do Poder Executivo, os demais poderão, ou não, ser beneficiados por ato desse mesmo Poder". Note-se que se pretendesse o legislador isentar todos os demais produtos não excepcionados pela lei supracitada, o teria assim explicitado.
Assim, o fato de o produto em questão não figurar entre aqueles que não poderão ser objeto da isenção, não significa dizer, por interpretação extensiva, que o mesmo é isento do IPI. Mas, só o seria, se incluído estivesse entre aqueles beneficiados no ato do Poder Executivo.
Logo, a argumentação do Impetrante de que os bens que não estão relacionados pela Lei n Q
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 59
8.643/93 são isentos por exclusão legal, é desprovida de qualquer lógica jurídica, por fechar os olhos ao entendimento correto da lei, qual sej a: o de que o parágrafo único do artigo 1 Q, da Lei n Q 8.643/
93, constitui uma mera exceção ao artigo 1Q da Lei n Q 8.191191, proibindo o Poder Executivo de relacionar como isentos os produtos ali elencados." (fls. 51153)
Dou provimento ao recurso.
RECURSO ESPECIAL NQ 156.839 - SP (Registro n Q 97.0085930-4)
Relator: O Sr. Ministro José Delgado Recorrente: Fazenda Nacional Recorridos: Serv Med Serviços Médicos S/A Ltda. e outro Advogados: Drs. Elyadir Ferreira Borges e outros, e 10n Plens Junior e
outros
EMENTA: Tributário. Cofins. Isenção. Sociedades civis prestadoras de serviços médicos. 1. A Lei Complementar n. 70/91, de 30.12.1991, em seu art. 62, lI, isentou, expressamente, da contribuição do Cofins, as sociedades civis de que trata o artigo 12 do Decreto-Lei n. 2.397, de 22.12.1987, sem exigir qualquer outra condição senão as decorrentes da natureza jurídica das mencionadas entidades. 2. Em conseqüência da mensagem concessiva de isenção contida no art. 62 , n, da LC n. 70/91, fixa-se o entendimento de que a interpretação do referido comando posto em Lei Complementar, conseqüentemente, com potencialidade hierárquica em patamar superior à legislação ordinária, revela que será abrangida pela isenção do Cofins as sociedades civis que, cumulativamente, apresentem os seguintes requisitos:
- seja sociedade constituída exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no Brasil; - tenha por objetivo a prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada; e - esteja registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
3. Outra condição não foi considerada pela Lei Complementar, no seu art. 62, n, para o gozo da isenção, especialmente, o tipo de regime tributário adotado para fins de incidência ou não de Imposto de Renda.
60 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
4. Posto tal panorama, não há suporte jurídico para se acolher 'a tese da Fazenda Nacional de que há, também, ao lado dos requisitos acima elencados, um último, o do tipo de regime tributário adotado pela sociedade. A Lei Complementar não faz tal exigência, pelo que não cabe ao intérprete criá-la.
5. É irrelevante o fato das recorridas terem optado pela tributação dos seus resultados com base no lucro presumido, conforme lhe permite o artigo 71 da Lei n. 8.383/91 e os artigos 12 e 22 da Lei n. 8.541/92. Essa opção terá reflexos para fins de pagamento do Imposto de Renda. Não afeta, porém, a isenção concedida pelo artigo 62, 11, da Lei Complementar n. 70/91, haja vista que esta, repita-se, não colocou como pressuposto para o gozo da isenção o tipo de regime tributário seguido pela sociedade civil.
6. Recurso especial improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira e Demócrito Reinaldo.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.
Brasília, 03 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro JOSÉ DELGADO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 27 -04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO: A Fazenda Nacional, via pre-
sente recurso especial, pretende modificar acórdão assentado nos fundamentos postos, de maneira resumida, na ementa de fls. 142, cujo teor transcrevo (fls. 142):
"Processual Civil- Embargos de declaração - Omissão - Constitucional e Tributário - Sociedades civis de prestação de servi.ços profissionais - Isenção da Cofins (LC 70/91, art. 6~ lI).
1. Divorciando-se o acórdão do objeto do pedido, acolhem-se embargos de declaração para, suprindo-se a omissão, examinar-se a apelação da impetrante.
2. As sociedades civis de prestação de serviços profissionais beneficiam-se da isenção do recolhimento da Cofins (LC 70/91, art. 6º, lI) pouco importando o regime de tributação do imposto de renda a que se submetam.
3. Orientação administrativa violadora dos arts. 111 do CTN, por-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 61
que não interpreta literalmente a regra do art. 6Q
, inciso n, da LC 70/91 e 150, n, da Constituição Federal, uma vez que nadajustifica que contribuintes que se encontram em situação equivalente sejam tratados desigualmente, apenas e tão-somente à consideração da forma pela qual optaram pela tributação do imposto de renda.
4. Precedentes.
5. Embargos de declaração acolhidos. Apelação provida para conceder-se a segurança".
Alega a recorrente que a decisão supra contrariou os arts. 6 Q
, n, da Lei Complementar n. 70/91, 1Q do D. L. n. 2.397/87, e 176 do C.T.N., em face de desenvolver entendimento no sentido de que (fls. 152/ 155):
"A Lei Complementar 70/91, no artigo 6Q
, disciplina que:
São isentas da contribuição:
n -As sociedades civis de que trata o artigo 1 Q do Decreto-Lei n Q 2.397, de 21.12.1987".
Por seu turno, o artigo 1 Q do Decreto-Lei n Q 2.397, de 21.12.1987, dispõe que:
"A partir do exercício financeiro de 1989, não incidirá o Imposto de Renda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encerramento de cada período-base, pelas Sociedades Civis de Prestações de Serviços
profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada, registradas no registro civil das pessoas jurídicas e constituídas exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no país".
Portanto, o escopo visado pela Lei Complementar 70/91 não foi o de isentar todas as sociedades civis das exações, porém, isentar as sociedades cuja tributação recaísse nas pessoas físicas de seus sócios com base no lucro apurado, como se depreende da leitura do art. 1Q do Decreto-Lei 2.397/87.
Ocorre que esse não é o caso da Autora, que optou pelo regime do lucro presumido, em que a tributação se dá na pessoa jurídica da empresa, situação essa totalmente diversa da preconizada no dispositivo legal supramencionado condicionante da concessão do benefício isencional.
Estas razões de política econômica que levaram a condicionar-se a isenção concedida refoge ao controle do Judiciário, em razão do princípio da reserva legal.
É regra expressa do CTN, outrossim que:
"Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:
VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades". (g.n.).
62 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
"Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições e requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração". (g.n.).
Portanto, a fonte normativa da isenção é em caráter fundamental a lei, como insinuado acima, (na esteira da doutrina)".
A parte recorrida apresentou contra-r.azões assentadas, essencialmente, no que passo a transcrever (fls. 173):
"Ocorre que, na verdade, o v. acórdão se ateve aos estritos limites do art. 6Q da Lei Complementar n Q 70/91 e do art. 1 Q do Decreto-Lei n Q 2.397/87, aplicando tais dispositivos segundo interpretação literal determinada no CTN - art. 111.
Ora, o que se verifica no conteúdo de tal decisão é a ocorrência de interpretação para uma clara aplicação da lei, visando a subsunção ao caso concreto, já que, sem outras considerações a Lei Complementar n Q 70/91, em seu art. 6Q
, determina a isenção da chamada Cofins para as sociedades civis de que trata o mencionado Decreto-Lei, no seu art. 1 Q,
isenção esta reconhecida, desta forma, pelo v. acórdão.
Esta decisão, em que a lei foi efetivamente aplicada, guarda solução absolutamente diferente da
violação ou negativa de vigência alegados pela recorrente, pois, na verdade, aplicou a lei em seus estritos termos.
Se, no entanto, a interpretação legal contida no v. acórdão, não é que a recorrente deseja, isto não é suficiente para ensej ar a via especial, pois, para este caso, não fossem suficientes os motivos acima, é impeditivo à admissibilidade do recurso o conceito estabelecido na Súmula 400 do STF:
"Decisão que deu razoável interpretação à lei, ainda que não seja a melhor, não autoriza recurso extraordinário pela letra a do artigo 101, lII, da CF".
Ainda quanto à alegada violação ao artigo 176 do CTN, é de se concluir que o v. acórdão fustigado está fundamentado em dispositivos legais diversos deste, que não tendo sido citado expressamente, não foi sequer ventilado, nem ao menos foi discutida tese que possa ser nele embasada, inocorrendo o prequestionamento no corpo do v. acórdão".
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): O recurso especial merece ser conhecido. Os dispositivos legais apontados como violados foram amplamente prequestionados
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 63
no acórdão recorrido e, de forma autônoma, estão vinculados à decisão.
Passo ao exame do mérito.
De início, registre-se que a Lei Complementar n. 70/91, em seu artigo 6Q
, dispõe expressamente:
"São isentas da contribuição:
L ................................................. .
II - As sociedades civis de que trata o artigo 1 Q do Decreto-Lei n. 2.397, de 21.12.1987."
o artigo 1 Q, do Decreto-Lei n. 2.397, de 21.12.1987, acima referido, tem a seguinte redação:
"A partir do exercício financeiro de 1989, não incidirá o Imposto de Renda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encerramento de cada período-base, pelas Sociedades Civis de Prestações de Serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada, registradas no registro civil das pessoas jurídicas e constituídas exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no país."
A recorrida, por ser uma sociedade civil de prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada (médicos), registrada no registro civil de pessoas jurídicas e constituída exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País, entende que, independentemente, do seu regime tributário, goza do direito à referida isenção.
o contrário entende a recorrente. Para esta, além dos requisitos acima anunciados, necessita, também, que a sociedade civil utilize o regime tributário previsto pelo próprio art. 1 Q, do Decreto-Lei n. 2.397/ 87, no caso, o do lucro apurado, para fins de Imposto de Renda.
Convém, para se realizar seguro confronto entre as teses divergentes das partes, que se volte .a reexaminar os termos do art. 1 Q, do DecretoLei n. 2.397/87 e, conseqüentemente, a extensão dos seus efeitos.
Afirma o referido dispositivo legal que a partir do exercício financeiro de 1989, não incidirá o imposto de renda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encerramento de cada período-base, em se tratando de sociedades civis de prestações de serviços profissionais .....
O entendimento expelido pela mensagem contida no texto da lei é o de que não haverá incidência do imposto de renda sobre lucro apurado, isto é, mesmo que a sociedade civil apure, em sua escrita fiscal, lucro decorrente das suas atividades de prestação de serviço, não incide imposto de renda, isto é, está isenta do pagamento do referido tributo. Não tem, assim, qualquer relacionamento com a Cofins.
Volto-me, agora, para o conteúdo do art. 6Q
, lI, da Lei Complementar n. 70, de 30.12.1991, com a dicção seguinte:
"São isentas da contribuição:
L ................................................. .
64 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
II - As sociedades civis de que trata o artigo 1 Q do Decreto-Lei n. 2.397, de 21.12.1987."
A proposição da Lei é isentar, conforme está expressamente consignado em seus termos, as sociedades civis de que trata o dispositivo legal mencionado, ou seja, as sociedades civis que prestam atividades de prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada.
A Lei Complementar, em nenhum momento, condicionou a isenção ao regime de tributação adotado pela sociedade civil, para fins de Imposto de Renda.
A interpretação do referido comando posto em Lei Complementar, conseqüentemente, com potencialidade hierárquica em patamar superior à legislação ordinária, revela que serão abrangidas pela isenção da Cofins as sociedades civis que, cumulativamente, apresentem os seguintes requisitos:
- seja sociedade constituída exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no Brasil;
- tenha por objetivo a prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada; e
- esteja registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
Outra condição não foi considerada pela Lei Complementar, no seu art. 6Q
, lI, para o gozo da isenção.
Posto tal panorama, não há suporte jurídico para se acolher a tese
da recorrente de que há, também, ao lado dos requisitos acima elencados, um último, o do tipo de regime tributário adotado pela sociedade. A Lei Complementar não faz tal exigência, pelo que não cabe ao intérprete criá-la.
É irrelevante o fato das recorridas terem optado pela tributação dos seus resultados com base no lucro presumido, conforme lhes permite o artigo 71 da Lei n. 8.383/91 e os artigos 1 Q e 2Q da Lei n. 8.541/ 92. Essa opção terá reflexos para fins de pagamento do Imposto de Renda. Não afeta, porém, a isenção concedida pelo artigo 6Q
, lI, da Lei Complementar n. 70/91, haja vista que esta, repita-se, não colocou como pressuposto para o gozo da isenção o tipo de regime tributário seguido pela sociedade civil.
Há, também, de se considerar que a isenção aqui tratada é a de natureza subjetiva ou pessoal. Ela toma como elemento essencial para produzir efeitos o aspecto pessoal do contribuinte, isto é, a sua natureza jurídica, sem qualquer vinculação, portanto, com o regime tributário a que se encontra subordinado.
Torna-se oportuno destacar, na oportunidade, os termos do voto condutor do acórdão proferido na Apelação em Mandado de Segurança n. 53.519-PE, pelo eminente Juiz Geraldo Apoliano, anexado aos autos às fls. 125/126, onde enfrentou a questão com os fundamentos seguintes:
':A impetrante pretende lhe seja reconhecido o direito de não re-
R. Sup. Trib. Just., Brasllia, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 65
colher a Cofins, com base no art. 69 , n, da Lei Complementar n 9
70, de 30/12/91. Porém, a Receita Federal entende que, no momento que a sociedade civil, por força da Lei n 9 8.541/92, optou pela tributação com base no lucro real ou presumido, descaracterizada ficou a situação para a isenção da Cofins, vez que a tributação passou da pessoa física dos sócios para ser exercida sobre o lucro real ou presumido, tornando-a também, obrigada ao recolhimento da Cofins.
A LC nº 70/91 declara literalmente isentas da contribuição as sociedades civis de que trata o DL n 9 2.397, de 21/12/87 e, em nenhum momento, vinculou a isenção à forma de tributação daquelas sociedades pelo imposto de renda.
O que ocorre é que a contribuição para financiamento da seguridade social (Cofins), nada tem a ver com o imposto sobre a renda. É contribuição sobre o faturamento, e não sobre o lucro. É devida por qualquer pessoa jurídica que não tenha faturamento, ainda que tenha lucro.
Conforme ensinamento do eminente tributarista Hugo de Brito Machado, na obra Curso de Direito Tributário, 8ª ed., Ed. Forense,RJ, 1993,pág. 151:
"A isenção instituída pelo art. 69 , n, da LC n Q 70/91, não é decorrente do regime de tributação dos rendimentos das sociedades de profissionais, embo-
ra tenha os mesmos fundamentos pré-jurídicos da isenção do IR concedida àquelas sociedades".
Verifica-se, portanto, acolhendo entendimento do douto Parquet federal, que a opção deferida consoante a Lei n Q 8.541/92 pela tributação do Imposto de Renda sobre o lucro presumido, não descaracteriza em nenhum momento a isenção concedida pelo art. 6Q
, lI, da LC n Q 70/91, por constituírem dois impostos com regimes jurídicos próprios.
Teria fundamento o argumento da impetrada se a norma isentiva da Cofins tivesse dito que estão isentas da contribuição as pessoas jurídicas que adotarem o regime tributário instituído pelo DL n Q
2.397/87, o que efetivamente não ocorreu. In casu, conclui-se que o exercício do direito de optar por uma outra forma de tributação não retira da impetrada o direito à isenção da Cofins.
Isto posto, confirmo a sentença do MM. juiz singular, negando provimento à apelação e à remessa oficial.
É como voto".
Ressalte-se, por último, que o Primeiro Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, ao examinar o processo de n. 10860.000.406/93-71, colheu, à unanimidade, a tese exposta nesta decisão, acompanhando voto do Conselheiro Nelson Mallmann, Relator, anexado aos autos às fls. 132/134, com as razões que transcrevo:
66 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
"Discute-se nos presentes autos a procedência da incidência da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social- Cofins, para as sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativo ao exercício de profissão legalmente regulamentada quando exercerem opção pela tributação do imposto de renda com base no lucro presumido.
Diz o Decreto-Lei n 9 2.397, de 21 de dezembro de 1987:
"Art. 19 - A partir do exercício financeiro de 1989, não incidirá o imposto de renda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encerramento de cada período-base, pelas sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada, registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e constituídas exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País".
Diz a Lei Complementar n 9 70, de 30 de dezembro de 1991:
"Art. 69 - São isentas da contribuição:
I- ........................................ ..
II - as sociedades civis de que trata o art. 19 do Decreto-Lei n 9 2.397, de 21 de dezembro de 1987".
Diz a IN RF n 9 21, de 26 de fevereiro de 1992:
"Art. 39 - Poderão optar pela tributação com base no lucro presumido, a partir de 19 dejaneiro de 1992, as pessoas jurídicas constituídas exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País, inclusive as sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada e as empresas rurais, desde que:
Diz a Lei n 9 8.541, de 23 de dezembro de 1992:
"Art. 19 - A partir do mês de janeiro de 1993, o imposto sobre a renda e adicional das pessoas jurídicas, inclusive das equiparadas, das sociedades civis em geral, das sociedades cooperativas, em relação aos resultados obtidos em suas operações ou atividades estranhas a sua finalidade, nos termos da legislação em vigor, e, por opção, o das sociedades civis de prestação de serviços relativos às profissões regulamentadas, será devido mensalmente, à medida em que os lucros forem auferidos.
Art. 29 - A base de cálculo do imposto será o lucro real, presumido ou arbitrado, apurado mensalmente, convertida em quantidade de Unidade Fiscal de Referência - UFIR (Lei n 9
8.383, de 30 de dezembro de 1991, art. 1 Q) diária pelo valor desta no último dia do período-base".
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 67
Evidentemente se o contribuinte não estivesse enquadrado como sociedade civil de prestação de serviços relativos à profissão legalmente regulamentada não caberia, sem margem de dúvida, a restituição do valor recolhido a título de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins, porém, não é isto que se constata nos autos.
Entendo que a isenção da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social- Cofins, prevista na Lei Complementar nº 70/ 91, art. 6º, inciso II, somente será aplicável às sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada, registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e constituídas exclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País, sendo que a natureza de suas atividades e dos serviços prestados deve ser exclusivamente civil; e todos os sócios devem estar em condições legais de exercer a profissão regulamentada para a qual
estiverem habilitados, ainda que diferentes entre si, desde que cada um desempenhe as atividades ou prestem os serviços privativos de suas profissões e esses objetivos estejam expressos no contrato social e cujas receitas da sociedade devem provir da retribuição ao trabalho profissional dos sócios ou empregados igualmente qualificados. Sendo a forma de tributação do imposto de renda destas sociedades irrelevantes (lucro real, presumido ou arbitrado), pois a isenção concedida pela lei, anteriormente citada, é para a sociedade civil, acima descrita, e não para o rendimento.
Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para deferir o pedido de restituição da Contribuição para Financiamento da Seguridade SocialCofins, nos termos do pedido".
Postas tais considerações, nego provimento ao recurso.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL Nº 159.021 - MA
(Registro nº 97.0091086-5)
68
Relator: O Sr. Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Estado do Maranhão Recorrido: Ministério Público Federal Advogados: Drs. Ana Maria Dias Vieira e outros
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
EMENTA: Ministério Público - Patrimônio público - Legitimidade - Ação civil pública - Sistema Único de Saúde.
O campo de atuação do Ministério Público foi ampliado pela Constituição de 1988, conferindo-lhe legitimidade para propor ação civil pública, visando a proteger o patrimônio público e social, o meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos.
Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, vencido o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.
Brasília, 11 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro GARCIA VIEIRA, Relator.
Publicado no DJ de 03-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO GARCIA VIEIRA: O Estado do Maranhão interpõe recurso especial (fls. 74176), arrimado na Constituição Federal, artigo 105, inciso IH, alínea c, aduzindo ser o Ministério Público Federal parte ilegítima para propor ação civil pública, visando o ressarcimento de danos ao erário público decorrentes de contratação de enti-
dade hospitalar privada sem a observância de processo licitatório. Aponta divergência jurisprudencial.
Pede provimento para declarar extinto o processo sem julgamento do mérito.
Contra-razões (fls. 78/81).
Despacho (fls. 93) admitiu o recurso.
Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que entendeu ter o Ministério Público Federallegitimidade para propor ação que tem por objeto a anulação de contrato celebrado para prestação de serviços do Sistema Único de Saúde- SUS.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO GARCIA VIEIRA (Relator): Sr. Presidente: - Comprovada a divergência, conheço do recurso pela letra c.
Compete ao Ministério Público promover a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (Constituição Federal, artigo 129, inciso IH). O artigo 1 º, inciso IV da Lei nº
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 69
7.347/85 que foi recepcionada pela vigente Constituição Federal estabelece que se regem pela Lei da ação civil pública, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos patrimoniais causados a interesses difusos ou coletivos e, no caso concreto, estamos diante de interesses difusos ou coletivos. A questão já é conhecida desta Egrégia Corte, bastando lembrar os Recursos Especiais n illi 98.648-MG, DJ de 28/04/97, relator Ministro José Arnaldo, 67.148-SP, DJ de 04/12/95, relator Ministro Adhemar Maciel e 31.547-9-SP, nos quais se firmou o entendimento no sentido de que o campo de atuação do Ministério Público foi ampliado pela Constituição de 1988, conferindo-lhe legitimidade para propor ação civil pública visando a proteger o patrimônio público e social, o meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos.
N o caso concreto o Ministério PÚblico propõe a ação civil pública em defesa do patrimônio público e social, visando apenas irregularidades na administração e funcionamento do Sistema Único de Saúde no Estado do Maranhão e verificar a situação do sistema de saúde e sua operacionalização, a contratação de diversos estabelecimentos hospitalares para a prestação de serviços de saúde, sem licitação. Com isso está sendo defendido interesse coletivo e difuso de todos os que se utilizam deste Sistema Único de Saúde, estando legitimado o Ministério Público.
N ego provimento ao recurso.
VOTO - VENCIDO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Sr. Presidente, data venia, fico vencido.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL NQ 159.036 - DF
(Registro nº 97.0091101-2)
Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros
Recorrente: Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB
Recorrida: Maria Avelina da Costa
Advogados: Drs. Arnaldo Lourenço Vilhena e outros, e Sebastião Saturnino de lVIoura e outros
EMENTA: Tributário - Imposto de renda - Demissão incentivada - Conceito jurídico do pagamento recebido pelo empregado despedido - Não incidêncifl do tributo.
70 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
- A "demissão incentivada" resulta de compra e venda, em que o operário aliena de seu patrimônio o bem da vida constituído pela relação de emprego, recebendo, como preço, valor correspondente ao desfalque sofrido. Tal preço não é fato gerador de imposto sobre renda ou provento.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, vencido o Sr. Ministro Milton Luiz Pereira, negar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros José Delgado, Garcia Vieira e Demócrito Reinaldo.
Brasília, 05 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Presidente. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Relator.
Publicado no DJ de 03-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Discute-se a incidência de imposto sobre renda ou proventos no pagamento feito pelo patrão ao ex-empregado, por efeito de demissão incentivada.
O V. Acórdão recorrido proclama a não incidência do tributo. (fls. 162)
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Este recurso traz ao exame da Corte Superior do Brasil, um novo instituto, gerado em meio à crise da era pós-industrial: a demissão incentivada.
A revolução capitalista desenvolveu-se em torno do conflito entre os donos do dinheiro e o proletariado - aqueles que nada tinham, senão a prole.
Os atritos produziram, como síntese, uma nova disciplina: o direito do trabalho - conseqüência de aperfeiçoamentos e desdobramentos, operados a partir da antiga locação de serviços.
O Direito do Trabalho, inspirado pelo imperativo de proteger o mais fraco, efetivou o vínculo contratual, incorporando-o, como bem da vida, ao patrimônio empregado.
O contrato de trabalho transformou o antigo proletário em empregado - alguém que já possui algo mais que a miserável prole.
A cibernética, com a robótica (seu corolário), tornou desnecessária a manutenção de operários, em grande número. Em compensação, ampliou as oportunidades de prestação autônoma de serviços.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 71
As empresas passaram a depender, cada vez menos, do trabalho humano.
O pós-capitalismo tornou supérfluo o homem, mas não derrogou o capitalismo. O lucro continua a ser o escopo fundamental da empresa.
Surgiu nova preocupação, fundamental para a sobrevivência da empresa: o enxugamento da folha de salários. Vale dizer: a diminuição do número de empregados.
Persiste, entretanto, uma dificuldade: o sindicato, a proteger o trabalhador, contra despedidas espoliadoras.
Para contorná-la, concebeu-se um artifício: a "despedida incentivada".
Este modo de romper o vínculo empregatício consiste em induzir, oferecendo compensações, o pedido de dispensa, pelo empregado.
O patrão se dirige ao operário e lhe propõe:
- Você aceita trocar o emprego, por dinheiro, em quantidade suficiente para o estabelecimento de seu próprio negócio?
Feitas as contas e acertado o valor do pagamento, consuma-se o negócio: o patrão recebe o pedido, dispensa o empregado, pagando-lhe a compensação.
Todos ficam satisfeitos. De um lado, o patrão consegue enxugar a folha de salários, sem enfrentar o sindicato; de sua parte, o ex-operário perde o emprego, mas dispõe do capital necessário ao começo de uma vida nova.
A despedida incentivada foi recebida com grande simpatia. O Estado brasileiro a utiliza constantemente.
Pergunta-se, agora: qual a natureza jurídica do instituto?
Sem dúvida, ele resulta de transação, com o escopo de obviar litígios.
Substancialmente, nele se envolve uma permuta: troca-se segurança por esperança.
Sob o enfoque jurídico, o negócio confunde-se com o velho contrato de compra e venda, no qual, um bem da vida é trocado por seu valor em dinheiro.
Um exame superficial pode conduzir o observador a enxergar no pagamento feito pelo empregador, uma indenização.
Semelhante impressão é falsa. Indenização é o pagamento que se faz a alguém, cujo patrimônio, contra sua vontade, foi lesado.
N a despedida incentivada, o pagamento corresponde ao valor de um bem alienado mediante consentimento. Ajusta-se, pois, ao conceito de preço.
O preço acarreta metamorfose patrimonial: o emprego, bem da vida que integrava o patrimônio do trabalhador, transmuda-se em dinheiro.
Em tese, a transformação não resulta em acréscimo ou diminuição patrimonial.
Se assim ocorre, indaga-se: a compensação pelo desemprego incentivado é fato gerador de imposto sobre a renda?
72 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998.
A resposta há que ser negativa.
Com efeito, a teor do CTN (art. 43), o imposto é gerado pela aquisição de:
1. renda (produto do capital ou do trabalho);
2. proventos (qualquer outro acréscimo patrimonial).
A compensação pelo desemprego não é produto do capital, nem do trabalho. Tampouco, pode ser encarada como provento, já que não acarreta acréscimo patrimonial.
Se assim ocorre, não há como considerá-la fato gerador de imposto sobre a renda.
O tema já é nosso conhecido.
No julgamento do REsp 57.319, o Ministro Garcia Vieira conduziu esta Turma - então formada pelos Ministros Demócrito Reinaldo, Cesar Rocha e por mim - ao Acórdão unânime de que
"A importância paga ao servidor público como incentivo à demissão voluntária não está sujeita à incidência do imposto de renda, porque não é renda e nem representa acréscimo patrimonial."
Esta proposição, ao tempo em que mantém fidelidade aos institutos ju-
rídicos, obedece ao preceito contido no art. 5Q da Lei de Introdução ao Código Civil.
Com efeito, o pagamento correspondente à demissão tem como escopo recompor a vida do ex-empregado. Ele se traduz em valor substancial. Se o imposto incidisse sobre ele, certamente haveria de atingir a mais elevada das alíquotas.
Imagine-se o trabalhador que renuncia à segurança do emprego, na esperança de adquirir um automóvel que utilizará como táxi.
Imagine-se que a compensação acertada corresponda, justamente, ao preço de um carro popular.
Como ficaria este homem, ao saber que não lhe será possível adquirir o novo instrumento de trabalho, porque o Estado lhe tomou a quarta parte de seu patrimônio?
A despedida incentivada foi concebida para manter o empregado no mesmo nível econômico em que se encontrava - não para levá-lo à rua da amargura.
N ego provimento ao recurso.
VOTO - VENCIDO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Senhores Ministros, data venia, fico vencido.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 27-73, setembro 1998. 73
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA NQ 7.823 - RS
(Registro nQ 96.0068132-5)
Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel
Recorrente: Curtinaz e Sousa Ltda.
Advogados: Drs. Adriane Medianeira Toaldo e outros
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
Impetrado: Secretário da Saúde e do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul
Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul
Advogados: Drs. Rodolfo Luiz Rodrigues Corrêa e outros
EMENTA: Processual Civil. Princípio da fungibilidade recursal. Mandado de segurança originário de Tribunal de Justiça. Petição inicial indeferida pelo Relator. Interposição de apelação. Recurso cabível: Agravo regimental. Recebimento da apelação como recurso ordinário: impossibilidade. Precedentes do STJ. Recurso não conhecido.
I - Embora não esteja inserto em nenhum dos dispositivos do Código de Processo Civil em vigor, o princípio da fungibilidade ainda rege o sistema recursal pátrio. É que o art. 579 do CPP pode ser aplicado por analogia (art. 126 do CPC). No entanto, o princípio da fungibilidade recursal não pode ser aplicado indistintamente, como se fosse panacéia, sob pena de subversão do sistema recursal pátrio. Por se tratar de um princípio técnico-jurídico, só pode ser invocado quando estiverem satisfeitos os requisitos fixados pela doutrina e pela jurisprudência à luz do revogado art. 810 do CPC de 1939 e do art. 579 do CPP. O princípio da fungibilidade recursal só tem aplicação quando o recorrente não comete erro grosseiro. Para que o equívoco na interposição de recurso seja escusável, é necessário que haja dúvida objetiva, ou seja, divergência atual na doutrina ou na jurisprudência acerca de qual
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 77
o recurso cabível. Se, ao contrário, não existe discrepância ou já está ultrapassado o dissenso entre os comentadores e também entre os tribunais sobre o recurso adequado, não há que se invocar o princípio da fungibilidade recursal. Precedentes do STJ: REsp n. 117.429IMG, REsp n. 130.070/SP e Ag n. 126.734/SP - AgRg.
II - Cabe agravo regimental contra decisão singular proferida por magistrado de tribunal que indefere petição inicial de mandado de segurança. Precedentes do STJ: RMS n. 6.740/RJ e RMS n. 5.743/RJ. Aplicação, por analogia, do art. 39 da Lei n. 8.038/90.
III - O recurso ordinário em mandado de segurança só serve para impugnar acórdão. Inteligência do art. 105, lI, b, da CF/88, e do art. 539, lI, a, do CPC. Precedentes do STJ: Ag n. 109.297/SP -AgRg e RMS n. 5.743/RJ.
IV - O princípio da fungibilidade não pode ser aplicado quando o recorrente interpõe apelação ao invés de recurso ordinário em mandado de segurança. Precedentes do STJ: RMS n. l.046/SP, RMS n. 5.600IRS, RMS n. 6.754/RS e RMS ll. 8.038/ES.
V - Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministrorelator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Ari Pargendler, Hélio Mosimann e Peçanha Martins.
Custas, como de lei. Brasília, 19 de fevereiro de 1998
(data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Curtinaz & Sousa Ltda. impetrou mandado de segurança contra ato do Secretário da Saúde e do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul, consubstanciado na determinação da publicação de declaração de suspensão da participação da empresa-impetrante em licitação pública pelo prazo de 2 anos. Requereu a concessão do writ para o fim de cancelar a referida declaração de suspensão.
A autoridade apontada como coatora apresentou suas informações.
Posteriormente, o eminente Desembargador Horácio Vizzotto indeferiu a petição inicial, extinguindo, por conseqüência, o processo, ao fundamento de que "a versão das
78 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
partes é controvertida e, por isso, está a exigir dilação probatória, o que é inviável nos limites estreitos da ação mandamental" (fl. 61).
Inconformada, Curtinaz & Sousa Ltda. interpôs "recurso de apelação" (fl. 64), "com base no art. 515 do CPC" (fl. 66).
Posteriormente, o 1 º Grupo de Câmaras Cíveis do TJRS, por maioria de votos, recebeu a apelação como recurso ordinário. O acórdão restou assim ementado:
"Agravo Regimental.
Fungibilidade Recursal.
Incabível que é agravo regimental em decisão proferida em mandado de segurança por Relator, aplicável é o princípio da fungibilidade recursal, admitindo-se como recurso ordinário.
Votos vencidos" (fl. 12 do 2º volume dos autos).
O Estado do Rio Grande do Sul apresentou contra-razões.
O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul opinou pelo improvimento do recurso.
O recurso foi admitido na origem.
Apoiando-se em precedentes desta Corte, o ilustre SubprocuradorGeral da República Moacir Guimarães Morais Filho opinou pelo nãoconhecimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Senhor Presi-
dente, não conheço do recurso interposto pela empresa-impetrante pelos motivos que se seguem.
Apoiando-se no art. 515 do CPC, a impetrante interpôs recurso de apelação (cf. fls. 64 e 66) contra a decisão singular indeferitória da petição inicial proferida pelo desembargador-relator.
O T JRS recebeu o recurso de apelação como recurso ordinário em mandado de segurança, tendo em vista o princípio da fungibilidade recursal.
Senhor Presidente, tenho defendido (cf. REsp n. 117.429/MG, 2ª Turma, unânime, publicado no DJU de 09/06/97) que, "embora não esteja inserto em nenhum dos dispositivos do Código de Processo Civil em vigor, o princípio da fungibilidade ainda rege o sistema recursal pátrio". É que, como bem ensina o eminente Professor José Carlos Barbosa Moreira (Comentários ao Código de Processo Civil, voI. V, 8ª ed., 1998, págs. 248/249), o art. 579 do CPP pode ser aplicado por analogia (cf. art. 126 do CPC).
No entanto, o princípio da fungibilidade recursal não pode ser aplicado indistintamente, como se fosse panacéia, sob pena de subversão do sistema recursal traçado pelo constituinte de 1987/88, e pelos parlamentares que aprovaram o Código de Processo Civil de 1973.
Além disso, por ser um princípio técnico-jurídico do sistema recursal brasileiro, só pode ser aplicado quando estiverem satisfeitas as exigências estabelecidas pela doutrina
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 79
e pela jurisprudência à luz do revogado art. 810 do CPC de 1939 e do art. 579 do CPP. Os requisitos para a aplicação do princípio da fungibilidade recursal foram consubstanciados na conclusão n. 55 do VI Encontro Nacional de Tribunais de AIçada, in verbis:
"Admite-se a fungibilidade dos recursos desde que inocorrente o erro grosseiro. Inexiste este quando há acentuada divergência doutrinária-jurisprudencial sobre qual seria o recurso próprio".
Realmente, o princípio da fungibilidade recursal só tem aplicação quando o recorrente não comete erro grosseiro. Para que o equívoco na interposição de recurso seja escusável, é necessário que haja dúvida objetiva, ou seja, divergência atual na doutrina ou na jurisprudência acerca do recurso cabível. Se, ao contrário, não existe dissonância ou já está ultrapassado o dissenso entre os comentadores e também entre tribunais sobre o recurso adequado, não há que se invocar o princípio da fungibilidade recursal (cf. REsp n. 117.429/MG, 2ª Turma do ST J, unânime, relator Ministro Adhemar Maciel, publicado no DJU de 09/06/97; e REsp n. 130.070/SP, 2ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Adhemar Maciel, publicado no DJU de 08/09/97).
O eminente Ministro e Professor Sálvio de Figueiredo Teixeira também já firmou que "não se admite o princípio da fungibilidade recursal se inexiste dúvida objetiva na dou-
trina e na jurisprudência a respeito do cabimento do recurso" (Ag n. 126.734/SP - AgRg, 4ª Turma do STJ, unânime, publicado no DJU de 18/08/97).
Feitas essas considerações sobre o princípio da fungibilidade recursal, vejamos se a apelação interposta pela impetrante poderia ter sido recebida como recurso ordinário em mandado de segurança para o STJ.
Tenho para mim que não.
Em primeiro lugar, porque a impetrante cometeu erro grosseiro ao interpor apelação contra decisão monocrática indeferitória de petição inicial de mandado de segurança por desembargador-relator. É que o recurso de apelação só cabe contra sentença, ou seja, ato jurisdicional de juiz de primeiro grau que põe termo ao processo (cf. arts. 162, § 1 º, e 515, ambos do CPC).
Contra decisão singular proferida por magistrado de segundo grau, cabe agravo regimental, por força do art. 39 da Lei n. 8.038/90, que pode ser aplicado por analogia. Realmente, como bem observa o eminente professor Barbosa Moreira "a regra expressa do art. 39 da Lei nº 8.038, de 28.5.1990" é "suscetível de extensão, por analogia, aos outros tribunais" (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, 8ª ed., 1998, págs. 248/249).
Além disso, o próprio Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul estabelece em seu art. 226 que cabe agravo regimental da decisão do relator que indeferir a petição inicial do mandado de segurança.
80 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Com efeito, "o recurso cabível de decisão monocrática de relator que indefere, liminarmente, mandado de segurança, é o agravo regimental para o órgão do próprio tribunal" (RMS n. 6.740/RJ, 5ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Cid Flaquer Scartezzini, publicado no DJU de 29/09/97).
Sem dúvida, "tem acolhida najurisprudência desta Corte o cabimento do agravo regimental contra decisão monocrática do relator que, em mandado de segurança originário nos Tribunais Regionais Federais ou nos Tribunais de Justiça dos Estados, indefere a inicial ou extingue o processo sem julgamento do mérito" (RMS n. 5.743/RJ, 4ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, publicado no DJU de 23/10/95).
Por tais razões, Senhor Presidente, tenho que a interposição de recurso de apelação, ao invés de agravo regimental, configura erro grosseiro, o que impede a aplicação do princípio da fungibilidade recursal.
Por outro lado, não vejo como receber o citado recurso de apelação como recurso ordinário em mandado de segurança para o STJ. É que o art. 105, lI, b, da CF/88 e o art. 539, lI, a, do CPC estabelecem que o recurso ordinário em mandado de segurança cabe contra decisão proferida por tribunal regional federal ou por tribunal dos Estados ou do Distrito Federal. Ora, à luz do art. 163 do CPC, o julgamento proferido por tribunais recebe a denominação de acórdão, pelo que só contra essa espécie de ato jurisdicional
é que cabe o recurso ordinário para o STJ.
Realmente, como bem alertou o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, quando do julgamento do RMS n. 5.743/RJ, "cabe o recurso ordinário constitucional para este Tribunal apenas quando se trata de acórdão" (4ª Turma do STJ, unânime, publicado no DJU de 23/ 10/95).
Sem dúvida, como bem nota o eminente Ministro Hélio Mosimann (Ag n. 109.297 /SP - AgRg) , "contra decisão unipessoal do relator que indefere, liminarmente, mandado de segurança, não cabe recurso ordinário" (2ª Turma do STJ, unânime, publicado no DJU de 10/03/97), mas, sim, como já dito anteriormente, agravo regimental.
Por fim, Senhor Presidente, lembro que o recurso de apelação não se confunde com o recurso ordinário em mandado de segurança, pois o CPC delimitou com clareza o campo de incidência de cada uma dessas espécies recursais (cf. arts. 496, I e V, 513, 539, lI, a, do CPC).
A apelação, como já dito, é o recurso cabível contra decisão singular de juiz de primeiro grau que põe termo ao processo, ou seja, sentença.
Já o recurso ordinário em mandado de segurança é o recurso cabível contra acórdão proferido por tribunal, que denega ação de segurança de sua competência originária.
E as diferenças entre as duas espécies recursais não param por aí.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 81
Enquanto a apelação pode ser interposta pela via adesiva (cf. art. 500, II, do CPC), o recurso ordinário só pode ser apresentado independentemente (cf. art. 500, II, do CPC, a contrario sensu).
O acórdão proferido em grau de apelação pode ser impugnado via embargos infringentes (cf. art. 530 do CPC), o que não ocorre com o aresto prolatado em recurso ordinário (cf. art. 530 do CPC, a contrario sensu; RMS - EI - AgRg, 1 ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Demócrito Reinaldo, publicado no DJU de 15/12/97).
Tratando-se de apelação, os autos serão, de regra, conclusos ao revisor (cf. art. 551 do CPC). Já no recurso ordinário não há revisor.
A apelação é julgada por 3 juízes (art. 555 do CPC). Já o recurso ordinário é julgado por turma composta de 5 magistrados.
Por tais razões, não vejo como misturar as aludidas espécies recursais, tão bem diferenciadas pelo CPC. Por isso, entendo que a interposição de um recurso no lugar do outro configura erro grosseiro, excludente da aplicação do princípio da fungibilidade. Nesse sentido é a jurisprudência desta Corte:
"Mandado de segurança. Decadência. Art. 18 da Lei 1.533/51. Extinção do processo. Decisão proferida por Tribunal em Instância única. Interposição de apelação para o STJ. Hipótese de recurso ordinário. Erro grosseiro. Inaplicação do princípio da
fungibilidade recursal" (RMS n. 1.046/SP, 2ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Américo Luz, publicado no DJU de 24/10/ 94).
"Administrativo e Processual Civil - Recurso de apelação interposto contra decisão denegatória de mandado de segurança - Erro grosseiro.
- Ocorrendo erro grosseiro na interposição de recurso de apelação contra decisão de Tribunal em mandado de segurança, quando a Constituição Federal determina a interposição de recurso ordinário (art. 105, Il, b), descabe conhecê-lo.
- Inaplicabilidade do princípio da fungibilidade.
- Jurisprudência iterativa da Corte.
- Recurso não conhecido" (RMS n. 5.600/RS, 5ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Cid Flaquer Scartezzini, publicado no DJU de 07/04/97).
"Processo Civil. Mandado de segurança. Fungibilidade recursal. Erro grosseiro. Ausência de direito líquido e certo.
1. Se o recurso previsto na Constituição é o ordinário e a parte interpõe apelação, o princípio da fungibilidade não favorece flagrante erro grosseiro" (RMS n. 6.754/RS, 6ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro Fernando Gonçalves, publicado no DJU de 07/04/97).
82 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (09): 75-116, setembro 1998.
"Processual Civil. Recurso ordinário em mandado de segurança. Erro grosseiro na interposição do recurso. Princípio da fungibilidade. lnaplicabilidade.
- A interposição de apelação contra decisão proferida pelo Tribunal a quo em mandado de segurança caracteriza erro grosseiro.
- lnaplicabilidade do princípio da fungibilidade.
- Recurso não conhecido" (RMS n. 8.038/ES, 5ª Turma do STJ,
unânime, relator Ministro Felix Fischer, publicado no DJU de 301 06/97).
N a verdade, Senhor Presidente, tanto a interposiçâo do recurso de apelação como o julgamento proferido pelo TJRS, data venia, não encontram suporte na CF/88 e no CPC, bem como na jurisprudência desta Corte.
Com essas considerações, não conheço do recurso.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL NQ 46.910 - SP
(Registro n Q 94.0011010-3)
Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins
Recorrente: Telefones Olitel SI C Ltda.
Advogado: Valdek Meneghim Silva
Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo
Advogados: Carla Pedroza de Andrade e outros
EMENTA: Processual Civil - Fraude à execução - Embargos de terceiro - Penhora - Boa-fé do adquirente do bem - Violação ao art. 185 do CTN não configurada - Ausência de intimação -Precedentes STJ.
- Não se configura fraude à execução se não houve a intimação do executado.
- A alienação de bens feita por quem não se encontra em débito com a Fazenda Pública e tenha adquirido o bem, objeto de penhora ainda não registrada, amparada pela boa-fé, não viola a regra do art. 185, CTN.
- Recurso conhecido e provido.
R. Sup. Trib. Just., Brasl1ia, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 83
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Ari Pargendler e Hélio Mosimann.
Brasília, 05 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 03-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: Trata-se de recurso especial manifestado por Telefones Olitel S.C. Ltda., com fundamento na letra c do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que, por unanimidade, deu provimento à apelação e à remessa oficial e julgou prejudicado o recurso adesivo, interpostos nos autos de embargos de terceiro opostos pela ora recorrente à ação de Execução Fiscal, que a Fazenda estadual move contra Plastelite Indústria e Comércio de Plásticos Ltda., objetivando a liberação de seu prefixo telefônico da penhora que sobrecai nele, por não mais pertencer ao executado.
O v. acórdão recorrido entendendo que houve fraude à execução, vez
que a cessão da linha telefônica ocorreu quando já inscrita a dívida, julgou improcedentes os embargos, com apoio no art. 185, CTN.
Sustentando que a execução só se inicia com efetiva intimação da dívida ao executado, o que nestes autos não ocorreu, alega a ora recorrente ter o aresto divergido de julgados do STF.
Contra-razões às fls. 130/135.
O recurso foi admitido no Tribunal a quo. Subiram os autos a esta Eg. Corte, onde vieram a mim conclusos.
Dispensei o parecer da Subprocuradoria Geral da República, nos termos regimentais.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (Relator): Cuidam os autos de embargos de terceiro opostos pela empresa Telefones Olitel S/C Ltda., nos autos da execução fiscal movida pela Fazenda estadual contra Plastelite Indústria e Comércio de Plásticos Ltda., alegando que adquiriu os direitos de uso de uma linha telefônica, em 25.03.91 da executada e que em 10.05.91 foi o bem penhorado e registrado junto à Telesp. Afirma que é adquirente de boa-fé, por isso que à época da aquisição não havia qualquer penhora sobre os direitos da mesma.
A embargada alegou carência de ação do embargante e, no mérito, disse haver fraude à execução, já
84 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
que o débito fiscal remonta a 1989, o que torna ineficaz a alienação dos direitos da linha telefônica.
A sentença de primeiro graujulgou procedentes os embargos por entender que "a alienação do direito de uso da linha telefônica ocorreu antes da penhora, portanto, a constrição veio atingir a titularidade da Embargante, e não sendo o caso de fraude à execução, o levantamento da penhora deve prevalecer". "A fraude à execução só se caracteriza quando a alienação dos bens origina a insolvência do Devedor", afirma o sentenciante.
Apelou a Fazenda do Estado alegando preliminarmente carência de ação por parte da embargante, a seu ver parte ilegítima, sem interesse processual para embargar. E ofensa aos arts. 593, CPC e 185, § único do CTN, por isso que fraudulenta a alienação.
O Tribunal a quo deu provimento à apelação e ao reexame necessário, entendendo que a cessão da linha telefônica deu-se quando já inscrita a dívida, incidindo o art. 185, CTN.
Daí o apelo especial manifestado pela empresa embargante, fundado no dissídio pretoriano, sustentando que incabível a alegação de fraude à execução, se não houve a efetiva intimação da dívida ao executado.
Cita acórdão do STF proferido no RE 105.846-3-SP, ReI. Min. Francisco Rezek (DJU 06.09.85), transcrevendo sua ementa e junta cópias xerocadas de dois outros julgados do mesmo STF, dizendo que a execu-
tada devedora somente foi intimada do débito posteriormente a 25.03.91, quando houve a cessão dos direitos de uso da linha telefônica.
A empresa recorrente é adquirente de boa-fé. A Fazenda só promoveu a penhora da linha telefônica após a arrematação dos bens imóveis que não foram vendidos.
A jurisprudência iterativa desta Eg. Corte ampara a pretensão da recorrente, como demonstrado em recentes julgados, dos quais transcrevo as ementas:
"Recurso especial. Fraude à execução. Penhora. Terceiro de boafé. Ausência do registro da constrição.
1. Na linha de precedentes desta Corte, não havendo registro da penhora, não há falar em fraude à execução, salvo se aquele que alegar a fraude provar que o terceiro adquiriu o imóvel sabendo que estava penhorado, o que não ocorre no presente caso.
2. Recurso especial conhecido e provido." (REsp 113.666-DF, D.J. 30.06.97, ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito).
"Processual Civil. Fraude à execução. Embargos de terceiro. Boafé do adquirente do bem; Inexistência de violação ao art. 185 do CTN. Súm. 84/ STJ.
1-Ajurisprudência deste Tribunal tem assentado o escólio no sentido de prestigiar o terceiro possuidor e adquirente de boa-fé, na hipótese de a penhora recair sobre imóvel objeto de execução
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 85
e não mais pertencente de fato ao patrimônio do devedor, vez que transferido, muito embora não formalmente.
II - Consoante o enunciado da Súm. 84/STJ, "é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido de registro."
III - Não viola o art. 185 do CTN a decisão que entendeu não constituir fraude à execução a alienação de bens feita por quem não é sujeito passivo em débito com a Fazenda Pública, e tenha adquirido o bem objeto de constrição judicial, amparado pela boa-fé, de pessoa não devedora da Fazenda, não havendo sido a penhora levada a registro (grifo nosso).
IV - Recurso desprovido, sem discrepância." (REsp 120.756-MG, D.J. 15.12.97, ReI. Min. Demócrito Reinaldo).
Demais disso, não havendo a intimação do executado, não se configura a fraude à execução, como vem decidindo este STJ, a exemplo dos julgados abaixo citados:
"Fraude de execução.
Não se pode caracterizar inexistindo lide pendente e, para
que isso ocorra, mister a citação." CREsp 153.458-MG, D.J. 09.03.98, ReI. Min. Eduardo Ribeiro).
"Tributário e Processual Civil. Fraude à execução fiscal. Alienação de bens do sócio-gerente após citação da empresa executada. Caracterização.
I - No sistemajurídico-tributário vigente o sócio-gerente é responsável - por substituição - pelas obrigações tributárias resultantes de atos praticados com infração à lei ou cláusulas do contrato social.
II - A presunção de fraude à execução, conforme prevista no art. 185 do CTN, e juris et de juris.
III - Considera-se fraude à execução a alienação dos bens de sócio-gerente a seus filhos, após a propositura da ação executiva e citação da empresa executada, pela qual é responsável tributário. Precedentes (grifo nosso).
IV - Recurso provido, sem discrepância." (REsp 81.297-RS, D.J. 16.12.96, ReI. Min. Demócrito Reinaldo).
Do exposto, conheço e dou provimento ao recurso.
86 R. Sup. T:tib. Just., Brasília, a. 10, (09): 75-116, setembro 1998.
RECURSO ESPECIAL NQ 53.463 - SP
(Registro nQ 94.0026920-0)
Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins
Recorrente: Município de Presidente Prudente
Advogados: Daniel Schwenck e outros
Recorrido: Transporte Coletivo Brasília S/A
Advogados: Luiz Antônio Alves de Souza e outros
EMENTA: Processual Civil- Indenização - Desapropriação indireta - Impugnação ao valor da causa - Valor de alçada - Impossibilidade - Estimativa do autor na inicial - Obrigatoriedade - Divergência jurisprudencial não comprovada - Violação à Lei Federal configurada - CPC, arts. 258 e 259 - Precedentes STJ.
- Não cabe ao Tribunal fixar o valor da causa em função da alçada, por isso que o valor da causa deve ser expresso em dinheiro e será sempre aquele estimado pelo autor na petição iniciaL
- Descumpridas as determinações legais que regem a comprovação da divergência jurisprudencial.
- Violação a preceito de lei federal configurada.
- Recurso provido.
ACÓRDAo
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Ari Pargendler e Hélio Mosimann.
Brasília, 12 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 03-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: A Municipalidade de Presidente Prudente manifestou recurso especial fundado nas letras a e c do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que, por unanimidade, deu provimento ao agravo de instrumento interposto por Transporte Coletivo Brasília S/A, contra decisão que acolheu impugnação ao valor da causa, nos autos de ação de indenização por desapropriação indireta.
O v. acórdão recorrido, aplicando o art. 258 do CPC, entendeu que na
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 87
indenização, cujo valor do pedido é genérico, este pode ser apurado posteriormente, devendo prevalecer, como válido e adequado, o então atribuído na petição inicial.
Sustentando que o valor atribuído à causa é meramente simbólico e não reflete o montante indenizatório perseguido pela empresa, alega a ora recorrente ter o aresto violado os arts. 258 e 259 do CPC, bem como divergido de julgados do "exTFR" e do Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo.
Contra-razões às fls. 121/125.
O recurso foi admitido no Tribunal a quo. Subiram os autos a esta Eg. Corte, onde vieram a mim conclusos.
Dispensei o parecer da Subprocuradoria Geral da República, nos termos regimentais.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (Relator): Cuidam os autos de agravo de instrumento interposto pela empresa Transporte Coletivo Brasília SI A, de decisão que acolheu impugnação ao valor da causa em ação de indenização por desapropriação indireta, decorrente de ilícito administrativo, proposta pela ora recorrida contra a Municipalidade de Presidente Prudente, ora recorrente.
O v. acórdão recorrido rejeitou a impugnação ao valor da causa entendendo que para "exata estima-
ção do seu valor, importaria examinar qual o montante do benefício patrimonial pretendido".
"No caso, a autora não explicitou a totalidade desse montante, cuja apuração só deverá ser feita no curso da ação, ou da execução, se procedente aquela.
A mera referência, na inicial, a prejuízos estimados da ordem de Cr$ 110.000.000.000,00 (cento e dez bilhões de cruzeiros), o que levou o MM. Juiz a aceitar a impugnação formulada pela agravada, de forma alguma estaria a representar o exato e real valor dos pedidos deduzidos.
Veja-se que além da indenização por danos emergentes, pelo desapossamento da empresa, também foi pedida indenização por lucros cessantes e arrocho tarifário, tudo a ser apurado e devidamente quantificado no curso da instrução, até mesmo por prova pericial ampla, para esse fim expressamente requerida.
Bem evidenciado por isso a impossibilidade da perfeita e adequada estimação do valor da causa. Vale dizer, do real benefício patrimonial buscado.
Conforme entendimento jurisprudencial, nas hipóteses de ação de indenização cujo valor do pedido seja genérico, apurável posteriormente, deve sempre prevalecer, como válido e adequado, o então atribuído na petição inicial.
Confiram-se, nesse sentido, Acórdão da Col. 7ª Câmara Civil desta Corte, ReI. Des. Godofredo Mauro
88 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, Cl09): 75-116, setembro 1998.
(Agravos de Instrumento 108.743-1 e 194.636-1), bem como aresto do Colendo Superior Tribunal de Justiça, compilado por Theotonio Negrão, em seu Código de Processo Civil, 24ª edição, Malheiros Editores, pág. 223, nota 5 ao art. 258, estabelecendo que, em se tratando de ação de perdas e danos, quando inestimável o pedido, "há de se considerar como válido o valor da causa atribuído na inicial, completando-se-o, posteriormente, em execução, quando apurado, se for a maior" (REsp 8.323-SP, 3ª Turma, ReI. Min. Waldemar Zveiter, j. 29.04.91).
Diante disso, afigura-se procedente o inconformismo da agravante".
Daí o inconformismo da Municipalidade recorrente que sustenta violação à lei federal, precisamente os arts. 282, V e 258 e 259, todos do CPC.
Quanto à alegada divergência jurisprudencial, o apelo não merece ser conhecido. A decisão do extinto TFR não se presta ao confronto, já que o recorrente deixou de transcrever sua ementa e não fez a demonstração analítica do dissídio, bem como deixou de juntar a cópia autenticada do paradigma colacionado.
Demais disso, o segundo acórdão apontado como dissidente, além de não demonstrada a divergência pelas mesmas razões, não apreciou a matéria sob o mesmo enfoque que o aresto recorrido.
Na comprovação da divergência é necessário que os acórdãos para-
digmas e o aresto recorrido tenham apreciado situações idênticas, dando-lhes soluções distintas, para que se configure o dissenso pretoriano (Lei 8.038/90 e RISTJ, art. 255 e parágrafos).
Quanto à violação à lei processual, indicando os arts. 258 e 259, CPC, impõe-se o conhecimento do especial, apenas no que se refere ao primeiro. O art. 258 foi ventilado pelo acórdão recorrido, ao mencionar julgado deste STJ compilado por Theotonio Negrão, em seu Código de Processo Civil, 24ª edição, Malheiros Editores, pág. 223, nota 5.
Vale referir, contudo, que o aresto citado, que fundamentou a decisão recorrida (fls. 105), foi tomado ao pé da letra pelo ilustre relator, quando justificou: "em se tratando de perdas e danos, quando inestimável o pedido, ... " (grifei)
In casu, houve estimativa do próprio autor, quando no item 4 (fls. 10) da inicial declarou:
"Tais perdas ocasionaram sensíveis prejuízos à autora. Estão estimadasem Cr$ 110.000.000.000,00 (grifei). Implicaram, no correr do tempo, em desmobilização de ativos para fazer frente a compromissos, pois a tarifa não era suficiente para o giro do negócio. Além disso, também ocasionaram a impossibilidade de contínuo investimento em renovação da frota e equipamentos."
Assim, a meu ver, não prospera tal entendimento, principal fundamento da decisão atacada.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 89
Sobre o tema, vale referir acórdão da 3ª Turma e relatado pelo Min. Waldemar Zveiter, assim ementado:
"Processual Civil - Ação de rescisão de contrato cumulada com reintegração de posse mais perdas e danos - I mp ugnação ao valor da causa -Art. 259, II e V, do CPC.
I - Quando cumulados os pedidos, o valor a se atribuir à causa, deverá ser o da soma dos valores deles resultantes, consoante preconizado no art. 259, II, do CPC.
II - Havendo perdas e danos, sendo ele inestimável, há de se considerar como válido, o valor da causa atribuído na inicial, completando-se-o, posteriormente, em execução, quando apurado, se for a maior.
IH - Recurso conhecido e provido."
Explicitou o ilustre Ministro, em seu voto:
"
Para as hipóteses como a versada nos autos, a lei adjetiva civil não estabeleceu critério objetivo para a fixação do valor da causa, consoante se vê dos artigos 258 e 260, caso em que deverá estimá-lo o autor. (grifei)
Nessa estimativa, em que se vale de elementos subjetivos, todavia, haverá de ter em conta, não causar qualquer prejuízo à
parte adversa, vedando-lhe o acesso aos recursos que esgotem a controvérsia, em todos os graus, não se limitando pela alçada." (grifo nosso)
Na mesma linha de entendimento, tem se posicionado esta Eg. Corte, através de julgados das demais Turmas. Como corolário, transcrevo ementa de acórdão unânime desta 2ª Turma, relator Min. Hélio Mosimann, assim ementado:
"Processo Civil. Valor da causa. Atribuição pelo autor, na inicial. Obrigatoriedade. Artigos 258 e 259 do Código de Processo.
A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato, devendo constar sempre da petição inicial."
Concluindo, vale reafirmar que o Tribunal não pode fixar o valor da causa em função da alçada, mas em obediência à legislação vigente sobre a matéria, os arts. 258 e seguintes do CPC.
Neste sentido, decisão unânime, igualmente desta 2ª Turma, em recurso especial relatado pelo Min. Adhemar Maciel, quando ficou assente:
"Processual Civil. Valor da causa. Utilização da expressão "valor de alçada": Impossibilidade, já que à causa deve ser atribuído valor certo, em dinheiro, ou seja, moeda nacional corrente.
90 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
É vedado atribuir "à causa o valor de alçada", pois o valor da causa deve ser certo, ou seja, expresso em dinheiro, moeda nacional vigente. Inteligência do art. 256 do CPC.
Recurso especial não conhecido no ponto."
Diante do exposto, merece reforma a decisão do Tribunal a quo para que se restabeleça a sentença de primeiro grau, fixado o valor da causa aquele estimado pelo autor, na inicial.
Assim, conheço do recurso pela letra a, dando-lhe provimento.
RECURSO ESPECIAL NQ 76.431- SP
(Registro n Q 95.0050971-7)
Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins
Recorrentes: Antônio Lopes Gasques e outro
Advogados: Alcides Lourenço Violin e outro
Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo
Advogados: Carla Pedroza de Andrade e outros
EMENTA: Execução fiscal. Citação válida dos sócios. Embargos de terceiro. Manifestação inoportuna.
1. Incontroverso que, através de citação válida, os sócios da devedora integram a lide como partes e, como tal, poderiam oferecer embargos de devedor e não embargos de terceiro inadmissíveis e extemporâneos.
2. Recurso especial conhecido e improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Votaram com o Relator os Minis-
tros Adhemar Maciel e Ari Pargendler. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Hélio Mosimann.
Brasília, 24 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 22-06-98.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 91
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: Cuida-se de Recurso Especial fundado nos permissivos a e c, interposto por Antônio Lopes Gasques e outro contra acórdão unânime da 5ª Câmara Cível de Férias do Tribunal de Justiça de São Paulo assim ementado:
"Embargos de terceiro. Ilegitimidade de seu oferecimento por quem citado como parte. Rejeição liminar pela sentença." (fl. 58).
Os recorrentes ofereceram embargos de terceiro na execução fiscal promovida pela Fazenda do Estado contra Arroz Cabrera - Indústria e Comércio Ltda. na qual foram penhorados imóveis de suas propriedades como sócios da empresa, depois de 13 anos de ter sido citada a devedora, portanto, quando a ação já estava prescrita contra eles, que não podem responder pelos débitos de sociedade por cotas de responsabilidade limitada. A sentença indeferiu a inicial e rejeitou liminarmente os embargos, ex vi dos arts. 295, II, e 267, I, do CPC, sendo mantida no segundo grau pelos motivos seguintes:
Os embargantes, ora recorrentes, são os únicos sócios da executada e foram citados pessoalmente, também na qualidade de executados, em maio/93, após a penhora dos bens da sociedade considerados insuficientes, ocasião em que, no prazo de lei, poderiam oferecer embargos à execução e isto não fizeram.
Em julho/94, havendo necessidade de outro reforço de penhora, foram novamente citados e tiveram outros bens penhorados opondo, então, embargos de terceiro. A primeira citação foi validamente realizada e, a segunda, deve ser entendida como intimação porque incabível em caso de reforço de penhora. A citação dos recorrentes, nos termos do art. 135/ CTN, como responsáveis tributários pela dívida da empresa da qual são sócios, tornou-os integrantes da relação processual cpmo partes, a teor do art. 1.046/CPC, por isso que não podiam oferecer embargos de terceiro. Não vinga a alegação da impossibilidade de embargos à execução face ao trânsito em julgado da sentença, que julgou procedente a ação contra a empresa, inclusive porque só existe propriamente sentença no processo de embargos do devedor conexo ao da execução. Embora inadmissíveis os embargos de terceiro por quem é parte, os ofertados pelos recorrentes poderiam ser recebidos como sendo "de devedor", se dentro dos 30 dias subseqüentes à intimação da penhora, em maio/93, e não quando esgotada a oportunidade processual para tanto, em julho/94. Em reforço de tais fundamentos, citou precedentes do STF, do TFR e deste STJ, negou provimento à apelação.
Acolhidos parcialmente os embargos declaratórios, apenas para prestar esclarecimentos sobre o tema da prescrição, os embargantes manifestaram o presente recurso alegando ofensa aos arts. 135 e 174 do CTN; 267, I, 295, II, 596, 1.046, caput e § 1 º, do CPC; 162 do Cód.
92 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Civil, bem como divergência com decisões de outros Tribunais indicadas para confronto. Sustentam sua legitimidade para oferecerem embargos de terceiro porque, quando da propositura da execução, foram citados como representantes legais da sociedade e não como sócios responsáveis por seus débitos; somente 13 anos após o ajuizamento daquela ação foram citados para integrar a lide já estando prescrita a dívida, não constando de tal citação qualquer referência às condições e serem sócios da executada e responsáveis por seus débitos tributários; que os gerentes, diretores etc. de sociedade por cotas são pessoalmente responsáveis por créditos tributários quando resultante de atos praticados com excesso de poder ou infração à lei, o que não ocorreu em relação a eles e sequer foi devidamente apurado, circunstâncias que confirmam suas condições de terceiros em relação ao executivo fiscal face à penhora sobre seus bens; que, como sócios, só podem responder pelos débitos da sociedade nos casos previstos em lei; que prescrição pode ser alegada, em qualquer instância, pela parte a quem aproveita; que, se nos embargos de terceiro, além da constrição judicial, é impugnado o mérito da cobrança ao fundamento de estar paga, ou prescrita a dívida, impõese o exame da questão para afastar a extinção do processo sem julgamento do mérito.
Oferecidas contra-razões, o recurso foi admitido na origem e remetido a esta Corte, cabendo-me relatá-lo.
Dispensado o pronunciamento da Subprocuradoria Geral da República, na forma regimental.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (Relator): Não merece reforma o acórdão denegatório do provimento da apelação dos recorrentes, mantendo, assim, a sentença que rejeitou os embargos de terceiro por considerar os embargantes ilegitimados para oferecê-los afirmando, textualmente:
"É que não são terceiros no processo onde os bens foram penhorados, mas sim parte, conforme admitiram e alegaram na inicial. Inclusive foram regularmente citados, ato formalmente em ordem, portanto hábil para integrá-los no pólo passivo da execução fiscal (fI. 19v.)." (f. 27).
Vale transcrever ainda alguns trechos do aresto impugnado para demonstrar o acerto do seu posicionamento:
"Em andamento Execução Fiscal contra Arroz Cabrera Comércio e Indústria de Cereais Ltda., empresa da qual os ora apelantes são os únicos sócios, fls. 12, após a penhora dos bens da sociedade, insuficientes, como registrou a r. sentença, foram eles citados pessoalmente, na qualidade de executados - como afirma o recurso, nos termos do art. 135
R. Sup. Trib. Just., Braslua, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 93
do Código Tributário Nacional, matéria, inobstante, não enfrentada na apelação ou nos próprios embargos - em maío/93, oportunidade em que penhorados bens particulares dos ora apelantes, fls. 19/21v., cumpridamente intimados para oferecer Embargos à Execução no prazo de 30 (trinta) dias, fls. 19 e 20v.
Deixam transcorrer tal prazo in albis, não ofertando embargos.
Posteriormente, em julho/94, necessário outro reforço de penhora, os ora apelantes foram novamente citados e viram penhorados outros bens de sua propriedade.
Então e somente nesta oportunidade, ofereceram embargos de terceiro.
A citação é uma SÓ, ...
Esta foi realizada de forma válida - o que é de todo inconteste, ...
A segunda é írrita, e como tal, não produz efeitos, iJ"""'E:údo ser entendida como uma intimação, tanto que não se discute nos autos tratar-se de segundo reforço de penhora, onde não cabe a realização de citação.
..... , a citação dos ora apelantes, nos termos do art. 135 do Código Tributário Nacional, na qualidade de responsáveis tributários pelo pagamento das dívidas da empresa de que são sócios, passaram eles a integrar a relação processual como partes ...
o que não se pode sancionar como postura válida, entretanto,
é esta seguida pelos ora apelantes, de deixar transcorrer por completo o trintídio para a oferta de embargos do devedor, para posteriormente, em oportunidade de mero reforço de penhora, quando já caracterizada sua integração ao processo na qualidade de partes, pretenderem ofertar embargos de terceiro." (fls. 59/62).
Incontroverso - porque confessado -, que os recorrentes foram citados como executados junto com a firma da qual são sócios, em 18.05.93, e, bem ou mal, passaram a integrar a lide como partes, sendo, logo em seguida, intimados da penhora sobre seus bens particulares, certamente por não terem nomeado bens da sociedade desembaraçados (CPC, art. 596, § 1 Q). A partir daquele momento, dentro do prazo legal, poderiam apresentar defesa, através de embargos de devedor porque, como tal, já integrados na execução, discutindo tudo quanto alegado nos embargos de terceiro - somente oferecidos (lppois r;a ::H:~gul!da penho-1 a realizada em julho/94, transcorrido mais de um ano -, como seja, invalidade da citação, prescrição da dívida, não serem responsáveis pelos débitos da empresa sem prévia apuração de possíveis excesso de poder ou infração à lei, não poderem seus bens particulares responder pelos débitos da sociedade etc., sendo inadmissível dar-se guarida aos impróprios e extemporâneos embargos ofertados pelos recorrentes.
Pelos motivos acima expostos, mantenho o acórdão recorrido por seus próprios e jurídicos fundamentos, negando provimento ao recurso.
94 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
RECURSO ESPECIAL NQ 89.791- SP
(Registro nQ 96.0014352-8)
Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler
Recorrente: Antônio Maria Denofrio
Advogado: Dr. Antônio Maria Denofrio (em causa própria)
Recorrido: Município de Araras
Advogado: DI'. Wanderlei Penteado Rodini
EMENTA: Tributário. Contribuição de melhoria. Edital. O artigo 82 da Lei nº 5.172, de 1966, foi revogado pelo artigo 5º do Decreto-Lei nº 195, de 1967, porque à época, as normas gerais de direito tributário ainda não tinham o status ou a força de lei complementar (Emenda Constitucional nº 1, de 1969, artigo 18, § 1 º); no novo regime, o edital que antecede a cobrança da contribuição de melhoria pode ser publicado depois da realização da obra pública. Recurso especial conhecido e improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe ilt'gd.l
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Adhemar Maciel.
Brasília, 02 de junho de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. MinistroARI PARGENDLER, Relator.
Publicado no DJ de 29-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER: Antônio Maria Denofrio impetrou mandado de segurança contra ato do Prefeito Municipal de Araras e do respectivo Secretário da Fazenda, para se desonerar da <':0:;::
tribuição de melhoria lançada em função do imv-vel de sua propriedade, localizado na rua Alberto Lotto nQ 296, naquele Município (fls. 02/ 05).
O MM. Juiz de Direito, Dr. Rene de Paula, concedeu a ordem, à base da seguinte motivação:
"O impetrante não nega que as obras foram executadas e que houve valorização imobiliária, mas sustenta, com razão, que o lançamento é ilegal exatamente porque as obras não foram precedi-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 95
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das de prévia publicação do edital.
A contribuição de melhoria é tributo cujo lançamento deve se ater aos requisitos estabelecidos em lei, mais precisamente àqueles fixados no artigo 82 do CTN, que exige a publicação prévia de edital, contendo, dentre outros elementos, o memorial descritivo do projeto e o orçamento do custo da obra (inciso I, letras a e b).
A exigência, reconhecidamente, foi reproduzida no Decreto-Lei n 9 195, de 24 de fevereiro de 1967.
As expressões "projeto" e "orçamento", contidas nestes diplomas legais, indicam claramente que o edital deve preceder a execução da obra e não o lançamento do tributo.
E a determinação não foi cumprida pela Administração, pois o próprio edital constante dos autos, que é irregular, como será visto adiante, está a demonstrar, de forma clara e inequívoca, que quando de sua expedição as obras já estavam executadas, pois diz literalmente que a contribuição de melhoria está relacionada "à execução das obras ... efetuadas nesses logradouros" (fi. 27, g. n.), sendo na mesma direção o restante da prova documental juntada no processo, bastando ver que a concorrência foi aberta em 10 de dezembro de 1985 (fI. 40); a planilha de orçamento foi elaborada no mês de outubro de 1985
(fi. 41); as instruções para a execução das obras datam de janeiro de 1986 (fi. 93) e a dispensa realizada foi apurada no mês de maio de 1990 (fi. 99), datas estas anteriores à constante do edital, que é de 08 de novembro de 1990 (fi. 27).
Sem prévia publicação do edital, o lançamento, por conseqüência, é ilegal, já que a Administração não observou no procedimento administrativo respectivo as regras legais exigidas para a válida cobrança do tributo, pois não se deve perder de vista que o lançamento é um ato administrativo vinculado (CTN, art. 142, parágrafo único) e, portanto, passível de anulação quando desatendido qualquer requisito previsto em lei.
E a exigência, obviamente, não tem por escopo impedir a realização da obra, mas sim permitir que os contribuintes possampreviamente impugnar os elementos constantes do edital, mas precisamente questionar o custo da obra e a possível valorização que ela acarretará aos imóveis lindeiros, e isto já foi apontado pelo insuperável Aliomar Baleeiro: "N o sistema do Decreto-Lei n 9
195 estabeleceu-se a presunção juris tantum de que a obra projetada trará incremento do valor aos imóveis situados na faixa marginal ou nas adjacências desta. Mas o legislador admite a prova em contrário, a cargo do contribuinte, assinando-lhe o prazo de 30 dias, pelo menos, para opor a sua impugnação. Esta alvejará
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
qualquer dos elementos do inciso I do artigo 82 do Código Tributário Nacional, ou mesmo todos eles (Direito Tributário Brasileiro, Forense, 10ª ed., pág. 370).
Não pode ser acolhido o argumento dos impetrados, no sentido de que basta que o edital seja publicado antes da cobrança do tributo, pois o artigo 82 do CTN e o artigo 5Q do DL 195/67, interpretados literalmente, exigem que a publicação preceda a execução das obras.
O Colendo Supremo Tribunal Federal já decidiu que "quer o artigo 82 do Código Tributário N acionaI, quer o artigo 5Q do Decreto-Lei n Q 195, de 1967, ambos exigem que haja publicação prévia de memorial descritivo do projeto da obra e do orçamento do seu custo, para efeito de impugnação pelos interessados. Ora, isso só pode ser feito antes do início da obra, e não a posteriori (RTJ, voI. 85/585, in JTACSP, Lex, voI. 102/156)" - fls. 249/251.
A Egrégia Terceira Câmara do Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, Relator o eminente Juiz Carvalho Viana, reformou a sentença (fls. 292/299), destacando-se no julgado o seguinte tópico:
" ... nele não se contém a exigência de a publicação do edital anteceder, necessariamente, a execução das obras. "O edital pode ser publicado antes do início da
obra ou do lançamento tributário" (Bernardo Ribeiro de Moraes, Compêndio de Direito Tributário, Forense, 1Q voI., 3ª ed., pág. 615), anotando-se que insiste a doutrina na verificação a posteriori das conseqüências, para o contribuinte, da obra realizada, só quando será possível verificar o efetivo benefício trazido pela obra pública ao imóvel do contribuinte e a respectiva valorização (Roque Antonio Carraza, Curso de Direito Constitucional Tributário, RT, 3ª ed., pág. 288, Bernardo Ribeiro de Moraes, op. cit., pág. 611)" - fi. 297.
Daí o presente recurso especial, interposto por Antônio Maria Denofrio, com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c, da Constituição Federal, por violação dos artigos 81 e 82 do Código Tributário Nacional (fls. 303/306).
VOTO
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (Relator): "A lei relativa à contribuição de melhoria" - dispôs o artigo 82 do Código Tributário Nacional- "observará os seguintes requisitos mínimos:
I - publicação prévia dos seguintes elementos:
a) memorial descritivo do projeto;
b) orçamento do custo da obra;
c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição;
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d) delimitação da zona beneficiada;
e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas;
II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação, pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior;
IH - regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamento da impugnação a que se refere o inciso anterior, sem prejuízo de sua apreciação judiciaL
§ 1 º - A contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra a que se refere a alínea c, do inciso I, pelos imóveis situados na zona beneficiada em função dos respectivos valores individuais de valorização.
§ 2º - Por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deverá ser notificado do montante da contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integraram o respectivo cálculo".
Nesse regime, induvidosamente, a lei relativa à contribuição de melhoria deveria conter a publicação prévia do memorial descritivo do projeto, do orçamento do custo da obra, etc.
Sobreveio, no entanto, o Decreto-Lei nº 195, de 24 de fevereiro de
1967, que revogou o artigo 82 do Código Tributário Nacional. Explica-se. À época, as normas gerais de direito tributário inscritas no Código Tributário Nacional ainda não tinham força de lei complementar, o que só veio a acontecer por obra do artigo 18, § 1 º, da Emenda Constitucional nº 1, de 1969.
No novo regime, o artigo 5º dispôs:
"Para a cobrança da Contribuição de Melhoria, a Administração competente deverá publicar edital, contendo, entre outros, os seguintes elementos:
I - delimitação das áreas direta e indiretamente beneficiadas e a relação dos imóveis nelas compreendidos;
II - memorial descritivo do projeto;
IH - orçamento total ou parcial do custo das obras;
IV - determinação da parcela do custo das obras a ser ressarcida pela contribuição, com o correspondente plano de rateio entre os imóveis beneficiados.
Parágrafo único - O disposto neste artigo aplica-se, também, aos casos de cobrança da Contribuição de Melhoria por obras públicas em execução, constantes de projetos ainda não concluídos".
A explicitação contida no parágrafo único é mais do que suficiente para demonstrar que já não há necessidade de que o edital antece-
98 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
da à realização da obra, para que a contribuição de melhoria seja cobrada.
Esse modelo é mais prático, porque ao contribuinte pouco valor tem o memorial descritivo do projeto ou o orçamento do custo das obras, importando-lhe, sim, a valorização que essas obras trarão ao seu imóvel e o montante que terá de pagar por isso - elementos só mensuráveis depois de pronta a obra.
Nessa linha o entendimento de Roque Carraza, in verbis:
"Só depois de pronta a obra pública e verificada a existência da valorização imobiliária que ela provocou, é que se torna admissível a tributação por via de contribuição de melhoria.
De fato, a contribuição de melhoria não pode ser exigida antes de realizada a obra pública. É imprescindível que, primeiro, exista a obra pública, valorizando o imóvel, para, só após, o proprietário deste vir a ser tributado. É que - tornamos a insistir - a contribuição de melhoria não tem por hipótese de incidência
apenas a realização de obra pública, mas a efetiva valorização imobiliária causada por obra pública. Assim, sem obra pública, não pode haver contribuição de melhoria, já que não se pode falar, no caso, em valorização imobiliária potencial. O princípio da segurança jurídica - que já estudamos - não se compadece com tal entendimento" (Curso de Direito Constitucional Tributário, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª edição, pág. 257).
A Turma tem precedente nesse sentido, aquele de que trata o REsp 8.417-0, SP, Relator, o eminente Ministro Américo Luz, assim ementado:
"Tributário. Contribuição de melhoria. A publicação prévia do edital é necessária para a cobrança da contribuição e não para a realização da obra. Precedentes do STF" (RSTJ nº 82, págs. 100/103).
Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial, negando-lhe provimento.
RECURSO ESPECIAL Nº 95.870 - RS
(Registro nº 96.0031327-0)
Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler
Recorrente: Luiz Roberto Nunes Padilla
Advogado: Dr. Rudy Lauro Pacheco Garcia
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 99
Recorrida: Companhia Riograndense de Telecomunicações - CRT
Advogados: Drs. Evandro Luís Pippi Kruel e outro
EMENTA: Processo Civil. Ato do escrivão. Juntada de recurso de apelação. A juntada aos autos de recurso, incompleto, faltando notoriamente a folha final, é responsabilidade do escrivão, que não pode ser transferida para o advogado. A prática da advocacia se inviabilizaria, comprometendo inteiramente a atuação do Poder Judiciário, se o advogado fosse obrigado a controlar a juntada de petições entregues em cartório. Hipótese em que isso seria ainda mais injustificado, porque se trata de recurso de apelação, que é encaminhado à instância superior, sem a intimação das partes, tão logo oferecidas as contra-razões, impossibilitando a pretendida fiscalização. Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram dojulgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Adhemar Maciel.
Brasília, 21 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. MinistroARI PARGENDLER, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER: Luiz R. Nunes Padilla propôs ação ordinária contra a Compa-
nhia Riograndense de Telecomunicações (fls. 02/07).
A MM. Juíza de Direito Dra. Liselena Schifino Robles Ribeiro fez por julgá-la improcedente (fls. 451 46).
Seguiram-se embargos de declaração (fls. 48/53), rejeitados (fl. 54), bem assim apelação (fls. 56/60), não conhecida pela Egrégia Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Relator o eminente Desembargador Araken de Assis, nos termos de acórdâo assim ementado:
"Processual Civil. Apelação. Regularidade formal. Ausência do pedido de nova decisão. 1. Não se conhece de apelação que omite o pedido de nova decisão (CPC, art. 514, IH), pois não se mostra possível intuir o objeto da irresignação, desde as razões, circunscrevendo a prestação jurisdicional aos limites da iniciativa da parte. 2. Apelação não conhecida" (fi. 71).
100 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Opostos embargos de declaração (fls. 78/86), foram rejeitados, Relator o eminente Desembargador José Vellinho de Lacerda (fls. 92/94).
Lê-se no julgado:
"Após considerações doutrinárias e jurisprudenciais sobre a natureza recursal desses embargos, alega que "o requerimento (de anular a sentença a quo ou prover o apelo) foi entregue completo, apresentando todos os requisitos do art. 514 do CPC. O pedido de nova decisão estava na fl. 6 do requerimento, que se desprendeu na hora de a serventia fazer juntada aos autos ou foi maldosamente retirado, pois que o requerimento, como é de fácil constatação pelos Senhores Desembargadores, estava grampeado. O apelante não pode ser prejudicado por este fato, uma vez que entregou, conforme protocolo, requerimento na sua íntegra" (fl. 82). Fez acompanhar o petitório de cópia xerográfica do recurso, onde aparece a dita fl. 6" (fl.93).
"Rejeito os embargos, já que a hipótese não se ajusta a nenhum dos casos previstos no art. 535, incs. I e H, do CPC. Cumpria ao recorrente estar vigilante para que, ao apelar, não faltasse nenhuma folha de sua petição. No caso, não veio a última, como seja, a principal, que deveria conter o requerimento de reforma do decisum. A ora exibida pode ter sido feita a posteriori. Nada a declarar" (fls. 93/94).
Renovados os embargos de declaração (fls. 97/106), desta feita não foram conhecidos (fls. 109/110).
Daí o presente recurso especial, interposto por Luiz R. Nunez Padilla, com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c, da Constituição Federal, por violação dos artigos 158, 514 e 535 do Código de Processo Civil (fls. 114/123).
Originariamente não admitido (fls. 130/132), o recurso especial foi processado por força de agravo de instrumento (fl. 139).
VOTO
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (Relator): "A apelação" - diz o artigo 514 do Código de Processo Civil, "interposta por petição dirigida ao juiz, conterá:
HI - o pedido de nova decisão".
Aplicando esse dispositivo legal, o Tribunal a quo não conheceu da apelação.
Examinadas as circunstâncias do caso, a decisão revela-se injustificada, porque no contexto dos autos não é possível afirmar que o recurso tenha sido omisso quanto "ao pedido de nova decisão".
À evidência, a petição de fls. 56/ 60 está incompleta.
Na folha 60, in fine, está dito:
"Isto posto, Requer."
Já não havia mais espaço nessa folha e tudo indica que a petição teve seqüência.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 101
Não obstante, o MM. Juiz de Direito convalidou o entranhamento aos autos de petição assim deficitária sem advertir o advogado dessa circunstância, e o Tribunal a quo atribuiu o defeito à falta de vigilância do advogado.
"Cumpria ao recorrente" - está dito no julgado - "estar vigilante para que, ao apelar, não faltasse nenhuma folha de sua petição" (fi. 93).
Essa imputação de responsabilidade destoa da praxe forense e, se adotada nos nossos pretórios, inviabilizaria a prática da advocacia, sej a pela onerosidade daí resultante (o advogado estaria obrigado a aguardar no próprio cartório ajuntada da petição, e depois obter cópia autenticada das respectivas peças), seja pelos males daí resultantes (porque a atuação profissional poderia ser inteiramente comprometida pelos descuidos dos serventuários, e até mesmo pela sua malícia a serviço de terceiros).
Em casos desta espécie, raros na vida forense, em que, não obstante o grande número de papéis que nela transitam, são, surpreendentemente, infreqüentes as perdas e os extravios, o Juiz deve estar atento, pesando sobre ele a obrigação de controlar a regularidade das petições.
O transplante para o recurso de apelação dos princípios que regem o agravo de instrumento não tem o menor sentido. Neste se trata do traslado de peças, que a parte deve fiscalizar. Agora, ajuntada de petição aos autos é ato do escrivão, que não pode ser imputada ao advogado. Ainda mais quando se trata de recurso de apelação, que é encaminhado à instância superior tão logo oferecidas as contra-razões, sem a intimação das partes.
Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial e de darlhe provimento para que a apelação seja conhecida.
RECURSO ESPECIAL Nº 112.965 - MG (Registro nº 96.0070946-7)
Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann Recorrente: Construtora Tratex S/A Advogados: Carlos Mário da Silva Velloso Filho e outros Recorrido: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas
Gerais - DER / MG Advogados: Jackson Rocha Guimarães e outros Sustentação Oral: Drs. Carlos Mário da Silva Velloso Filho, pela re
corrente, Segismundo Marques Gontijo, pelo recorrido e Moacir Guimarães Morais Filho, Subprocurador-Geral da República
102 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
EMENTA: Recurso especial. Ação ordinária. Cobrança. Contrato sob o regime de empreitada. Prescrição. Dissídio não demonstrado e reexame de provas. Falta de condições para conhecimento do recurso.
A divergência jurisprudencial deve estar evidenciada, fazendo-se a demonstração analítica, como exige a norma regimental.
Pretendendo-se o simples reexame de provas, não se conhece do recurso especial (Súmula n Q 07, S.T.J).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Adhemar Maciel e Arí Pargendler.
Brasília, 27 de novembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSIMANN, Relator.
Publicado no DJ de 11-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN: Pela recorrente foi ajuizada ação ordinária para cobrança de importância de que se julgava credora, decorrente de contrato, sob o regime de empreitada, tendo por objeto a construção e montagem de redes elétricas de contato e das obras civis de estações retificadoras e de dutos subterrâneos.
Contestada a ação, a sentença, acolhendo em parte a alegação de prescrição, concluiu por julgar improcedentes os pedidos da autora, referentes a débitos de guarda e vigilância do material e aluguel de lotes que serviram de canteiro de obras. Também julgou improcedente, em razão de prescrição, o pedido de condenação relativa à dívida líquida reclamada, à exceção das parcelas representadas pelos títulos de fls. 142 e 144, a serem pagos com correção monetária, juros e honorários.
Ao recurso interposto pela requerente, o Egrégio Tribunal de Justiça, por votação unânime, negou provimento, mantendo integralmente a decisão proferida em primeiro grau.
Irresignada, a Construtora Tratex S.A. deduziu recurso especial, apoiando-se nas alíneas a e c do permissivo constitucional, insurgindo-se tão-somente contra a decretação da prescrição, ao insistir em que houve interrupção do lapso prescricional, pela prática de ato inequívoco de reconhecimento da obrigação. Aponta contrariedade ao artigo 172, inciso V, do Código Civil, bem como ao artigo 4Q do Decreto n Q 20.910/32.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 103
o recurso recebeu contra-razões, teve parecer do Ministério Público Estadual pela sua inadmissão e não foi admitido por despacho do VicePresidente do Tribunal.
Para melhor exame, dei provimento a agravo, determinando a subida dos autos.
Recebi memorial elaborado pela recorrente.
É o relatório, em síntese.
VOTO
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN (Relator): A grande dificuldade da recorrente, em primeiro lugar, reside em ultrapassar a barreira do conhecimento, como se verifica desde a interposição do especial, passando pelo despacho indeferitório e pela decisão proferida no agravo de instrumento.
Pela letra c do autorizativo, não há a mínima dúvida quanto ao insucesso da recorrente. Para comprovar a alegada divergência, veio apenas parte de uma ementa de acórdão do Supremo Tribunal Federal, em menos de cinco linhas, sem indicar sequer o número do recurso, afirmando que não há o curso da prescrição durante a apuração e estudo da dívida (art. 4Q do Decreto 20.910). Sem demonstração analítica da divergência, até mesmo porque a questão principal diz respeito à aplicação do parágrafo único do dispositivo, afasta-se o fundamento do recurso pelo dissídio.
Sobre o segundo aspecto, a violação a dispositivo de lei federal, cum-
pre examinar desde logo a incidência da Súmula n Q 7, uma vez que se pretende, na verdade, o simples reexame de provas, inadmitido em sede de recurso extremo. Se não também a análise de cláusulas contratuais.
Comecemos pela sentença que, afastando outras verbas pleiteadas, inclusive aluguel- o que não mais comporta discussão - deteve-se no exame da prescrição, à luz dos elementos probatórios. Textualmente (fls. 320/322):
"Não havendo causa impeditiva, a prescrição começa a correr com a actio nata, isto é, a partir do momento em que a obrigação já pode ser exigida, inclusive jurisdicionalmente. Com este princípio não se transige.
A forma estabelecida pelo contrato e respectivos aditivos era de o faturamento e o respectivo pagamento serem feitos, primeiramente em vinte dias, depois trinta, após a medição do serviço, cumprindo-se assim o pagamento parcial e autônomo para cada prestação vencida. Sem muito esforço, chega-se à conclusão, portanto, de que, após a respectiva medição e faturamento, o direito de receber, em determinado prazo já nascia e, em conseqüência, para cada prestação, distintamente, se iniciava um lapso prescricional autônomo.
Dentro de tal atendimento, tem-se a primeira idéia de que procede a exceção levantada pela Fazenda Pública, com apoio do
104 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Ministério Público, pois de todas as prestações reclamadas, faturadas ou não, apenas as vencidas em 12 de setembro e 26 de outubro de 1988, respectivamente de valores de Cz$ 84.671,73 (corrigidos em setembro de 1988 para Cz$1.431.028,44)edeCz$187.966,42 (corrigidos em novembro de 1988 para Cz$ 3.833.142,81) (fls. 142 e 144), não sofrem a incidência da prescrição qüinqüenal, se se levar em conta, como ato interruptivo da prescrição, a manifestação da Autora, de fls. 60/61, em 10 de setembro de 1993.
Sustenta a Autora que a prescrição somente teve início em 03 de agosto de 1993, quando ainda tentou receber e que, antes, o lapso prescricional não fluía, em razão dos estudos para o reconhecimento e apuração da dívida que teriam finalizado com um Relatório de Conferência, e por estar o contrato ainda em vigor, sem rescisão.
AAutora não tem razão, quando fala no contrato em vigor, pois a actio nata se refere a cada prestação especificamente e não à dívida global, dependente de cumprimento integral do contrato.
A única manifestação da Autora após as datas dos faturamentos foi, realmente, a solicitação de fls. 60/61, mais de cinco anos depois, apenas com exceção aos títulos acima referidos e, estranhamente, a própria Autora informa que, nos períodos respectivos, outras faturas, somando mais do
que o reclamado, foram pagas normalmente, o que deixa em dúvida - e isto, genericamente considerado, até mesmo pode ser uma justificativa da prescrição qüinqüenal - a existência da própria dívida, já que não se concebe pagamento parcial em determinadas épocas, para, só depois de cinco anos, apurar-se o restante.
Pretende a Autora que a Ré teria reconhecido a dívida, quando forneceu o Relatório de Conferência, de fls. 68/83. Em primeiro lugar, "o documento particular, admitido expressa ou tacitamente, é indivisível, sendo defeso à parte, que pretende utilizar-se dele, aceitar os fatos que lhe são favoráveis e recusar os que são contrários ao seu interesse, salvo se provar que estes se não verificaram" (art. 373, par único do CPC). Nada provado, o documento só teria definitividade probatória, se a Autora aceitasse o que contra ela se propõe nas conclusões de fls. 83.
Se formalmente eficaz fosse o documento de fls. 68/83, em substância de nada valeria. Se a prescrição, em setembro de 1993, já ocorrera, a manifestação dos representantes da autarquia não seria termo interruptivo de prescrição, mas renúncia tácita a ela (art. 161 do C. Civil) e, neste caso, por ser ato de disposição, não pode acontecer com a simples manifestação do administrador, como bem ensina Hely Lopes Meirelles."
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 105
Já o voto condutor do acórdão, ainda sob o mesmo enfoque, registra (fls. 363):
"Examine-se, em primeiro lugar, a tese relativa à prescrição qüinqüenal das parcelas vencidas anteriormente a30.09.88 e 15.11.88.
Entende e sustenta a apelante que teria havido interrupção do lapso prescricional, no que lhe diz respeito, em virtude de estudos realizados pela apelada e a Secretaria de Obras Públicas.
Apóia-se a recorrente, para tanto, no documento de fls. 60/61, vol. 1/2, contendo manifestação formal da autora em favor do recebimento de seus reclamados créditos. Data ela de 10.09.93, deixando evidenciado que todas as demais faturas, anteriores a 10.09.88, estão atingidas pelos efeitos da prescrição qüinqüenal.
Assim se conclui em face do art. 4Q
, parágrafo único, do Decreto n Q 20.910/32:
"A suspensão da prescnçao, neste caso, verificar-se-á pela entrada do requerimento do titular do direito ou do credor nos livros ou protocolos das repartições públicas, com designação de dia, mês e ano"."
Depois, com apoio na lição de Sílvio Rodrigues, assevera que o reconhecimento do direito pelo devedor deverá ser inequívoco, não podendo ser identificado em "estudos" que então estariam sendo realizados entre a apelada e a Secretaria
de Obras Públicas ... (o tantas vezes referido Relatório de Conferência).
Mas, o que não deixa mesmo dúvida alguma sobre a pretensão de reexaminar provas é a leitura das razões recursais de fls. 372 a 382. Confiram-se, particularmente, algumas passagens (fls. 373, 374, 376, 377,378 e 379).
Como se vê da exposição da própria recorrente, a análise das provas é inafastável.
Bem por isso é que o despacho de admissibilidade destacou, às fls. 395: "O acórdão recorrido, após análise percuciente do conjunto probatório, entendeu não haver prova da prática de ato inequívoco que importe o reconhecimento do direito pelo devedor.
A recorrente, no apelo manejado, alega ofensa ao art. 172, V, do Código Civil, por haver o acórdão deixado de considerar as provas produzidas nos autos às fls. 147/198" ... Depois, às fls. 396, ... "Em seu inconformismo, insiste a recorrente em que somente a partir da data em que o citado "Relatório de Conferência" reconhece o crédito, é que poderia correr a prescrição, nos termos do art. 4Q do Decreto 20.910/32.
Não ataca, contudo, o fundamento adotado pelo aresto, que, aplicando à hipótese o parágrafo único do dispositivo invocado, entende deva verificar-se a suspensão da prescrição "pela entrada do requerimento do titular do direito ou do credor nos livros ou protocolos das repartições públicas, com designação de dia, mês e ano" (fls. 364).
106 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
o apelo, no pertinente, encontra óbice intransponível na Súmula do STF, Enunciado 283.
Por outro lado, a questão, também aqui, envolve a reapreciação da prova, o que faz incidir o Enunciado 07 da Súmula do STJ."
Ainda que se pudesse ingressar no exame da violação a preceitos legais, a conclusão estaria com a sentença.
Com essas considerações e pelo exposto, não conheço do recurso.
É como voto.
VOTO
O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Sr. Presidente, estou inteiramente de acordo com o eminente relator, mas quero fazer algumas
observações: o eminente procurador do DNER fez uma observação quanto à inaplicabilidade do art. 172 do Código Civil.
Não podemos, mesmo subsidiariamente, trazer o art. 172 do Código Civil. Teremos que aplicar, neste caso, o Decreto n. 20.910/32. O art. 29 da Lei de Introdução ao Código Civil diz que quando a lei regular inteiramente a matéria, ela revoga a lei anterior. Assim, como o Decreto 20.910/32 é posterior ao Código Civil (1916), mas de igual hierarquia (na época o Executivo era a única fonte legiferante), prevalece. Trata-se de lei específica, que regula a matéria. O decreto é de mesma hierarquia.
Acompanho o Ministro-relator.
É meu voto.
RECURSO ESPECIAL N9 118.780 - SP
(Registro n 9 97.0009185-6)
Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann
Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo
Advogados: Carla Pedroza de Andrade e outros
Recorrida: Mofersul Indústria e Comércio de Metais Ltda.
Advogado: Sebastião Luiz Pereira Lima
EMENTA: Execução fiscal. Penhora. Substituição dos bens penhorados. Faturamento diário da empresa. Observância das cautelas legais.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 107
Na execução fiscal, não se admite que a penhora recaia, de forma simplista, sobre a renda diária da empresa executada, com o depósito em estabelecimento bancário. Impõe-se a nomeação de administrador, que exercerá as funções na forma determinada pela lei processual.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso mas lhe negar provimento, nos termos do voto do Sr. MinistroRelator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Adhemar Maciel eAri Pargendler.
Brasília, 7 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSIMANN, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN: Trata-se de recurso especial interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo, fundado no artigo 105, inciso IrI, alínea c, da Constituição Federal, contra acórdão que negou provimento a agravo por ela manifestado, pleiteando a substituição dos bens penhorados por percentual sobre o faturamento da executada, ao argumento de que a execução está garantida pela penhora
em bens sobre os quais foram designadas duas datas para leilões (que redundaram negativos).
Alega a recorrente, unicamente, dissídio jurisprudencial.
Sem contra-razões, posto que não oferecidas, vieram os autos a esta superior instância.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSIMANN (Relator): Pretende a recorrente seja "provido o recurso especial interposto, para o fim de, invertendo o julgado, determinar a substituição da penhora em 30% sobre o faturamento diário da executada até o montante atualizado da execução ... ".
A egrégia Primeira Seção, em precedente da lavra do eminente Ministro Humberto Gomes de Barros, EREsp nº 24.030-SP, assentou o seguinte entendimento:
"Processual Civil - Execução fiscal - Penhora da renda da empresa - Art. 678 do CPC.
- N o processo executivo fiscal, a penhora da renda de empresa deve observar as cautelas recomendadas pelos arts. 677 e 678 do CPC." (DJ de 02.06.97).
108 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Conforme anotado pelo eminente Relator:
"Tenho para mim que a penhora de renda gerada pela pessoa jurídica assemelha-se à constrição de salários recebidos. Tanto como esta, atinge em profundidade a própria vida do devedor.
Ora, o direcionamento do salário, para a satisfação do devedor, somente pode ocorrer através da declaração de insolvência. Declarada a insolvência civil, o administrador nomeado pelo Estado dirigirá o patrimônio do devedor, no sentido de que, sem sacrifício de sua sobrevivência e dignidade, atenda-se o interesse do credor.
Em se tratando de pessoa jurídica, a necessidade de penhorar-se a renda de sua atividade pressupõe um estado econômico análogo à insolvência.
Por isto, é necessária a presença de administrador que - ao sabor das circunstâncias - dose as entradas e saídas de numerário,
de modo a que - sem destruir o devedor - atenda-se o credor.
"A penhora de renda diária de empresa-executada, numa execução fiscal, exige a nomeação de administrador (CPC, art. 719, caput e seu parágrafo único), com as atribuições inscritas nos arts. 728 e 678, parágrafo único, CPC, vale dizer, com apresentação de forma de administração e esquema de pagamento e obedecendo, quanto ao mais, ao disposto nos artigos 716 e 720, CPC". (REsp 2.563-SP, ReI. Min. Carlos Mário Velloso, 2ª Turma).
De concluir-se, assim, ainda na dicção do eminente Ministro Carlos Mário Velloso, "pela impossibilidade de a penhora realizar-se, de forma simplista, sobre a renda diária da empresa-executada com o seu depósito em estabelecimento bancário".
Do exposto, nos termos acima assinalados, conheço do recurso mas lhe nego provimento.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL NQ 152.722 - PE
(Registro n Q 97.0075774-9)
Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel
Recorrente: Fazenda Nacional Procuradores: Drs. Maria da Graça Aragão e outros
Recorrida: Simarco Indústria, Comércio, Importação e Exportação Ltda.
Advogados: Drs. Irandi Santos da Silva e outros
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 109
EMENTA: Processual Civil. Agravo de instrumento. Intempestividade. Aplicação da regra inserta no "antigo" art. 529 do CPC. Recurso não conhecido.
I - À luz do "antigo" art. 529 do CPC, aquele que interpusesse agravo de instrumento fora do prazo legal arcava com o décuplo do valor das custas do recurso. Aquela sanção era aplicável de ofício. Além disso, a sua imposição não dependia de dolo ou má-fé do agravante. Sendo intempestivo o agravo de instrumento, o tribunal ad quem deveria aplicar a sanção.
11 - Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministrorelator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Hélio Mosimann e Peçanha Martins. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.
Custas, como de lei.
Brasília, 05 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.
Publicado no DJ de 06-04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: A Fazenda Nacional in-
terpõe recurso especial contra acórdão proferido pelo TRF da 5ª Região.
Simarco - Indústria, Comércio, Importação e Exportação Ltda. ajuizou ação declaratória de inexistência de obrigação tributária em relação à Fazenda Nacional, com o fim de recolher a contribuição devida ao Programa de Integração Social -PIS nos moldes das Leis Complementares ns. 07/70 e 17/73, e não conforme o estabelecido pelos Decretos-leis ns. 2.445/88 e 2.449/88.
O juiz federal de primeiro grau julgou procedente a demanda.
O TRF da 5ª Região "confirmou" a sentença.
Em seguida, Sim arco requereu a expedição de alvará de levantamento do montante depositado.
O juiz federal de primeiro grau determinou a expedição de alvará.
Inconformada, a Fazenda N acionaI interpôs agravo de instrumento.
Conduzida pelo voto proferido pelo eminente Juiz José Delgado, que ora abrilhanta esta Corte, a 2ª
110 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Turma do TRF da 5ª Região, não conheceu do agravo, e condenou a agravante no pagamento do décuplo do valor das custas respectivas. O acórdão, unânime, restou assim ementado:
"Processual Civil. Intempestividade do agravo de instrumento. Não conhecimento. Aplicação do art. 529 do CPC.
1. Não se conhece de recurso interposto intempestivamente pela falta de um dos pressupostos de admissibilidade.
2. Condenação da agravante no pagamento do décuplo das custas judiciais, a favor da agravada, a teor do artigo 529 do CPC" (fl. 50).
Inconformada, a Fazenda N acionaI recorre de especial pela alínea a do permissivo constitucional. Alega que o acórdão recorrido violou o art. 529 do CPC. Invoca em seu favor precedentes do STF e do STJ.
Sem contra-razões.
O recurso especial foi admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Senhor Presidente, o relator a quo proferiu o seguinte voto-condutor:
"O recurso ora em exame foi ajuizado intempestivamente.
A intimação da decisão agravada deu-se no dia 09/02/95 (fls. 67) e a interposição do presente agravo ocorreu no dia 21/02/95, posto que teve como termo final o dia 20/02/95 (dia 19 fora um domingo).
Dessa forma, precluso é o direito da agravante, visto a seridiosidade da interposição do recurso, que possui prazo peremptório, fatal e improrrogável de dez dias, a teor do art. 523, do Código Processual Civil, não se admitindo sua prorrogação por acordo das partes ou dilação por meio de suspensão do processo.
Com efeito, a admissibilidade dos recursos está subordinada ao preenchimento de determinados pressupostos objetivos, sendo condição sine qua non a coexistência de todos, quais sejam, a recorribilidade do ato decisório, a tempestividade, a uni-recorribilidade ou singularidade do recurso, a adequação e o preparo.
Assim, impõe-se o não conhecimento do presente agravo de instrumento, em respeito ao que prevê o art. 523 do Código de Processo Civil.
Em decorrência, aplica-se a penalidade, em favor do agravado, do pagamento do décuplo do valor das custas processuais, de acordo com o preconizado no artigo 529 do CPC.
Pelo exposto, não conheço do agravo de instrumento e condeno a recorrente na penalidade do artigo 529 do CPC.
É como voto" (fl. 47).
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 111
o "antigo" art. 529 do CPC estabelecia:
"Se o agravo de instrumento não for conhecido, porque interposto fora do prazo legal, o tribunal imporá ao agravante a condenação, em benefício do agravado, no pagamento do décuplo do valor das custas respectivas".
Ora, tal regra era imprescindível no sistema recursal anterior, pois o juiz de primeiro grau não podia deixar de receber o agravo e determinar a remessa do instrumento ao tribunal ad quem (cf. "antigo" art. 528 do CPC). Em contrapartida, o agravante era penalizado por submeter ao tribunal de segundo grau agravo intempestivo. Isso porque provocava inutilmente o funcionamento da máquina judiciária, já quase emperrada, tendo em vista o excesso de recursos dirigidos aos tribunais. Além disso, causava transtornos injustificáveis ao agravado, que tinha - através de seu advogado - que apresentar resposta ao recurso, acompanhar seu processamento, elaborar memorial etc. Por fim, não há como negar o atraso que a interposição de um agravo intempestivo gera no caminhar do processo rumo à prestação jurisdicional de mérito, apesar de aquele recurso ser dotado por lei apenas de efeito suspensivo. A respeito do tema, trago à colação os pronunciamentos de alguns dos nossos doutrinadores de escol, começando pelo Professor José Carlos Barbosa Moreira:
"Sanção para a intempestividade do agravo - Excluindo a de-
negação do agravo pelo órgão a quo, inclusive no caso de intempestividade, naturalmente abre ensejo a lei à subida de agravos interpostos fora do prazo. Daí sem dúvida resulta um grave risco: o da multiplicação desmedida de agravos, a sobrecarregar, muitas vezes sem utilidade, o trabalho dos tribunais. O risco é tanto maior quanto são amplas, amplíssimas, no sistema do Código, as oportunidades que se abrem de agravar. Estimula-se a chicana, colocando-se à disposição dos interessados um meio fácil de embaraçar a cada instante a marcha do processo e relegar o julgamento da lide para as calendas gregas.
Com o propósito de atenuar esse inconveniente, comina o art. 529 uma sanção para aquele que interponha a destempo o agravo. Sobe o recurso, mas, se o órgão ad quem dele não conhecer, por intempestivo, imporá ao agravante, em benefício da outra parte, a condenação no décuplo das custas respectivas. Assim se busca atalhar manobras protelatórias armadas sobre a interposição de agravos fora do prazo.
Omissis.
Não se exige, porém, dolo ou máfé do recorrente.
Omissis.
Quando cabível, deve a condenação ser imposta de ofícios pelo órgão ad quem" (Comentários ao Código de Processo Civil, voI. V, 6ª ed., Forense, 1993, págs. 469 a 471).
112 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Invoco, ainda, a lição do Professor Sérgio Bermudes:
"A decisão que deixar de conhecer do agravo, por intempestivo, condenará o agravante a pagar ao agravado o décuplo do valor das custas do recurso.
Omissis.
O espírito do legislador, ao elaborar a norma consubstanciada no texto, foi o de punir o litigante que não recorre tempestivamente, acarretando transtornos para seu adversário e provocando o inútil funcionamento da máquina jurisdicional. Aintenção foi louvável e certamente contribuirá para diminuir a ocorrência de agravos intempestivos, o que, de certa forma, compensará o imenso volume de recursos que assoberbará nossos tribunais, em face da norma do art. 528" (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. VII, 2ª ed., Revista dos Tribunais, 1977, págs. 189 e 190).
Por fim, transcrevo o ensinamento do Professor Humberto Theodoro Júnior:
"Tendo em vista a amplitude do direito de agravar, o código procurou coibir as chicanas, instituindo a multa do décuplo das custas, aplicável pelo tribunal, em favor do agravado, sempre que 'o agravo de instrumento não for conhecido, porque interposto fora do prazo legal' (art. 529)" (Curso de Direito Processual Civil, vol. I, 10ª ed., Forense, pág. 569).
Senhor Presidente, uma última palavra. Embora não exista mais em nosso sistema recursal a regra inserta no antigo art. 529 do CPC, sempre me pareceu salutar, já que penalizava aquele que provocava inutilmente o funcionamento da máquina judiciária, bem como atrasava a definitiva solução do processo através de agravo intempestivo. Tenho para mim que em regime recursal como o nosso, no qual se admite a ampla recorribilidade das decisões interlocutórias proferidas ao longo do processo, é conveniente que exista norma como a prevista no "antigo" art. 529 do CPC, a fim de desestimular a interposição de agravos fora do prazo legal, os quais só servem para aumentar o serviço dos tribunais, e para prejudicar o agravado, que, por vezes, se vê obrigado a contratar advogado para atuar perante o tribunal de segundo grau.
Em suma, Senhor Presidente, à luz do "antigo" art. 529 do CPC, aquele que interpusesse agravo de instrumento fora do prazo legal arcava com o décuplo do valor das custas do recurso. Aquela sanção era aplicável de ofício. Além disso, a sua imposição não dependia de dolo ou má-fé do agravante. Sendo intempestivo o agravo de instrumento, o tribunal ad quem deveria aplicar a sanção.
Com essas considerações, não conheço do recurso especial, prestigiando o acórdão relatado pelo eminente Juiz José Delgado, que ora abrilhanta esta Corte.
É como voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasl1ia, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 113
RECURSO ESPECIAL NQ 164.635 - SP
(Registro nQ 98.0011607-9)
Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler
Recorrente: União Federal
Recorrida: Eletricidade de São Paulo S/A - Eletropaulo
Advogados: Drs. Marly Ricciardi e outros
EMENTA: Processo Civil. Assistência da União. Desistência. Perpetuatio jurisdictionis. Sendo a assistência uma modalidade de intervenção voluntária, a incidência da Súmula n Q 218 do Supremo Tribunal Federal depende de a União reivindicar essa posição no processo. Mas deferido o pedido de assistência, a União já não pode dela desistir, sob pena de tumulto, o mais radical, na medida em que acarretaria o deslocamento da causa para outra jurisdição, a da Justiça do Estado. Não se trata de transformar em obrigatória uma intervenção voluntária, mas sim de uma providência que visa a dar seriedade à manifestação do interesse da União na causa, impedindo-a de retratar-se ao sabor do que pensam os procuradores que eventualmente se sucedem na sua representação. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Adhemar Maciel.
Brasília, 07 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. MinistroARI PARGENDLER, Relator.
Publicado no D,J de 25-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTROARIPARGENDLER: Nos autos de ação de constituição de servidão administrativa movida pela Eletropaulo - Eletricidade de São Paulo S/A contra Carlos de Almeida Kasprzuykonski, a MM. Juíza Federal Dra. Marisa Ferreira dos Santos proferiu a seguinte decisão:
"Trata-se de Ação de Desapropriação movida por sociedade de economia mista, concessionária de serviços públicos federais.
O feito até o momento foi processado perante a Justiça Federal em virtude da intervenção da União na qualidade de assistente da expropriante.
114 R. Sup. Trib. Just., Brasl1ia, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
Sobreveio requerimento da União Federal de exclusão da relação processual ao argumento de que não tem interesse no presente feito.
Isto posto, excluo a União Federal da relação processual, deixando de ser esta Justiça Federal competente para o processamento da desapropriação" (fl. 30).
Seguiu-se agravo de instrumento, interposto pela Eletropaulo -Eletricidade de São Paulo SIA (fls. 02/13), provido pela Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Relator o eminente Juiz Sinval Antunes, em acórdão assim ementado:
"Processo Civil. Constitucional. Agravo de instrumento. Desapropriação. Exclusão da União por falta de interesse processual. Impossibilidade. I -Agindo a agravante como concessionária de serviço público, podendo explorar, mediante concessão, os serviços e instalações de energia elétrica de que é titular a União Federal, evidencia-se o interesse jurídico deste ente político, descabendo, por conseqüência, sua exclusão da relação processual. II - Inteligência do artigo 21, inc. XII, letra b, da Carta Magna. III - Agravo provido" (fl. 101).
Opostos embargos de declaração (fls. 104/109), foram rejeitados (fls. 1121115), e daí o presente recurso especial, interposto pela União Federal, com base no artigo 105, inciso III, letras a e c, da Constituição
Federal, por violação do artigo 50 do Código de Processo Civil, bem assim do artigo 2Q da Medida Provisória n Q 1.561/97 (fls. 120/138).
VOTO
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (Relator): Há vinte anos, a propósito da assistência da União, escrevi:
"Ao tempo do Código de 1939, a Súmula n Q 218 firmou o princípio de que "é competente o juízo da Fazenda Nacional da Capital do Estado, e não o da situação da coisa, para a desapropriação promovida por empresa de energia elétrica, se a União Federal intervém como assistente". Quem quer que procure os antecedentes dessa súmula verá que seu fundamento decorre de uma preocupação cujo caráter é eminentemente econômico: a de que o custo do imóvel expropriado corresponda exatamente ao seu valor real, para prevenir prejuízos à União no caso de uma futura encampação da empresa concessionária (ERE n Q 43.413, in Oliveira, Jardel & Martins, Odaléa, Referências da Súmula do STF, Brasília, 1971, 111 231). Não existe aí o interessejurídico preconizado pelo art. 50, do vigente C.P.C., que deve ser atual. Mas a Súmula n Q 218 ainda prevalece, com a Justiça Federal processando e julgando as desapropriações promovidas por empresas de energia elétrica, quando a
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998. 115
União nelas pleiteia a condição de assistente" (A Assistência da União Federal nas Causas Cíveis, ColeçãoAJURIS 14, Porto Alegre, 1979, págs. 51152).
Evidentemente, sendo a assistência uma modalidade de intervenção voluntária, a incidência da Súmula n Q 218 do Supremo Tribunal Federal depende de a União reivindicar essa posição no processo.
Deferido o pedido de assistência, com sua conseqüente admissão no processo, a União já não pode dela desistir, sob pena de tumulto, o mais radical na medida em que acarretaria o deslocamento da causa para outra jurisdição, a da Justiça do Estado.
Aqui, é disso que se trata, conforme se vê da peça de fls. 90/92, firmada pela MM. Juíza que dirige o processo:
"A União Federal interveio como assistente simples da expropriante, tendo acompanhado o andamento do feito até que, à fl. 87, formulou pedido que passo a transcrever:
"A União Federal não tem interesse no presente feito. Assim, requer sua exclusão".
Foi, então, proferida a decisão ora atacada, que acolheu o requerimento da União, excluindo-a do feito e determinando a remessa dos autos à Justiça Estadual" (fi. 90).
A se permitir a desistência do assistente, quando sua presença na causa define a competência para o respectivo processo e julgamento, atacado estaria o princípio da perpetuatio jurisdictionis, com a conseqüente desestabilização da relação processual.
Não se trata - como sustenta a MM. Juíza - de "dar à figurajurídica da assistência os contornos do litisconsórcio necessário" (fi. 91), ou mesmo de transformar em obrigatória uma intervenção voluntária, mas sim de uma providência que visa a dar seriedade à manifestação do interesse da União na causa, que não pode retratar-se ao sabor do que pensam os procuradores que eventualmente se sucedem na sua representação.
Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.
116 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 75-116, setembro 1998.
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL NQ 64.205 - GO
(Registro n Q 97.0033746-4)
Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza
Agravante: Marmoraria Santa Cruz Ltda.
Advogados: Drs. Chiang de Gomes e outros
Parte: Marco Antônio Borges Cunha
Advogados: Drs. Felicíssimo José de Se na e outros
Agravada: Decisão de fls. 285
EMENTA: Processual Civil. Agravo regimental. Petições e recursos no STJ. Fac simile.
A Corte Especial, de 18.06.97, ratificou Resolução 43, de 23.10.91, no entendimento de que não serão admitidos no Superior Tribunal de Justiça petições ou recursos via fac-símile.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do agravo.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Ruy Rosado de Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Costa Leite, Walde-
mar Zveiter, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.
Brasília, 25 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Presidente. Ministro BUENO DE SOUZA, Relator.
Publicado no DJ de 04-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA: Trata-se de Agravo Regi-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 119
mental oposto à r. decisão (fls. 285), da lavra do ilustre Ministro Fontes de Alencar, que indeferiu, liminarmente, os presentes embargos, nestes termos:
"Trata-se de embargos de divergência opostos contra decisão proferida pela 3ª Turma, em recurso especial de que foi Relator o Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, de acórdão assim ementado:
"Recurso especial. Contrato de fornecimento e prestação de serviços. Colocação de piso de granito em apartamento. Ação cominatória. Súmulas nm; 05 e 07 desta Corte.
1 - É possível o ajuizamento da ação cominatória quando pede o autor que a ré cumpra a sua obrigação na forma contratada, uma vez provado que o material empregado não tinha a qualidade prevista.
2 - O exame do mérito está vedado ao abrigo das Súmulas nm; 05 e 07 desta Corte.
3 - Recurso especial não conhecido" (fls. 264).
Preliminarmente, esclareço que tendo o aresto embargado suporte em regra técnica de conhecimento do recurso especial incabíveis são os embargos de divergência.
Ademais, mera transcrição de ementa não se presta ao fim colimado."
Marmoraria Santa Cruz Ltda., agravante, reitera as alegações aduzidas em seu recurso especial sobre o descabimento in casu de ação cominatória e, sim redibitória ou indenizatória.
Aponta dissídio pretoriano sob a alegação de que este restou devidamente demonstrado quando da proposição dos embargos de divergência.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA (Relator): Senhor Presidente, de início observo que a petição do agravo regimental foi remetida via fax, sendo, ao depois, juntada a petição original, a qual, por sua vez, foi apresentada no protocolo desta Corte a destempo.
O entendimento jurisprudencial deste Tribunal, em sessão de 18.06.97, da Corte Especial, por maioria, firmou seu entendimento ao julgar Embargos de Declaração no CC 14.324-SP, Relator o Ministro Nilson Naves, nos seguintes termos:
"Processo no STJ. Petições e recursos. Fac-símile. "Petições e recursos não serão admitidos no Superior Tribunal de Justiça quando realizados por meio de fac-símile" (Resolução n Q 043, de 23.10.91). Talo entendimento que a Corte Especial ratificou, por maioria de votos, em julga-
120 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998.
mento findo na sessão do dia 18.06. Embargos de declaração interpostos via fac-símile, de que a Corte não conheceu."
Fiel ao meu voto naquela assentada e ao meu convencimento íntimo, não conheço do recurso do agravo regimental.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA NQ 19.108 - RJ
(Registro n Q 97.0002830-5)
Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza
Autores: Marisete de Fátima Lima Silva e outros
Advogado: Dr. Jaime de Jesus Santos
Réus: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Lad. Hid. e Prod. de Cimo e de Marm. e Gran. e da Consto de Estradas Pav. e Obras de Terraplanagem em Geral e Montagens Ind. do Município do Rio de Janeiro
Advogados: Drs. Henrique Barros Teixeira e outros
Suscitante: Septuagésima Primeira Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro-RJ
Suscitado: Juízo de Direito da 36ª Vara Cível do Rio de Janeiro-RJ
EMENTA: Competência. Suspensão de contribuição sindical. Convenção coletiva de trabalho.
Sob a égide do art. 1 Q da Lei 8.984/95 cumpre à Justiça do Trabalho processar e julgar as causas em que se discute contribuições sindicais estatuídas em convenção coletiva de trabalho.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente a 71 ª Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro-RJ, a suscitante.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Ruy Rosado de Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Costa Leite, Waldemar Zveiter, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.
Brasília, 25 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 121
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Presidente. Ministro BUENO DE SOUZA, Relator.
Publicado no DJ de 23-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA: Trata-se de conflito negativo de competência suscitado pela MM. 71 ª Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro, com fulcro no art. 113 do CPC, por entender que o art. 1 Q, da Lei 8.984, de 07.02.95, contraria o art. 114 da Constituição Federal.
Em autos de ação declaratória proposta por Marisete de Fátima Lima Silva e outros contra o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Lad. Rid. e Prod. de Cimo e de Mar. e Gran. e da Construção de Estradas Pav. e Obras de Terraplanagem em Geral e Montagens Industriais do Município do Rio de Janeiro, visando o não pagamento de contribuições assistenciais e confederativas estipuladas em cláusula de Convenção Coletiva de Trabalho.
O parecer do Ministério Público Federal opina pela competência do Juízo suscitante, a justiça laboral.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO BUENO DE SOUZA (Relator): Senhor Presidente, tal como informa, pontualmente, o d. parecer ministerial, é reite-
rada a jurisprudência desta Corte, a entender, em casos semelhantes em face do estatuído na Lei 8.984, de 07.02.95, a competência é a da justiça especial.
Assim se decidiu no CC 16.099-RJ, Relator o Ministro Costa Leite, conforme a seguinte ementa:
"Competência. Ação de cumprimento. Acordo/Dissídio coletivo de trabalho.
Com o advento da Lei 8.984/95, dispondo que incumbe à Justiça do Trabalho, conciliar e julgar os dissídios que tenham origem no cumprimento de convenções coletivas ou acordos coletivos de trabalho, mesmo quando acorram entre sindicatos ou entre sindicatos de trabalhadores e empregadores, restou inteiramente superada a jurisprudência que se atinha à parte final do art. 114 da Constituição, para definir a competência da Justiça Comum. Constitucionalidade do dispositivo. Conflito conhecido, declarando-se a competência da Justiça do Trabalho."
Do mesmo modo se pronunciou também o Ministro Barros Monteiro, como Relator do REsp 122.880-SP, assim ementado:
"Sindicato. Contribuição confederativa estipulada em convenção coletiva do trabalho. Competência da justiça especializada.
- Incidência da Lei n Q 8.984, de 07.02.95, pelo fato de achar-se a contribuição confederativa inser-
122 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998.
ta em cláusula de acordo coletivo de trabalho.
- Compete à Justiça do Trabalho executar sentença, com trânsito em julgado, proferida pela Justiça Comum do Estado antes da Lei nº 8.984/95, por força do disposto no art. 87, parte final, do Código de Processo Civil.
- Recurso especial conhecido e provido."
Igualmente, no REsp 100.420-RJ, de que foi Relator o Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, resumido nestes termos:
"Recurso especial. Medida cautelar proposta por associação de funcionários contra sindicato. Suspensão de descontos de contribuições assistencial e confederativa prevista em convenção coletiva. Competência. Súmula nº 57 -STJ.
1. Em relação aos atos processuais e decisões anteriores à Lei 8.984, de 07.02.95, aplica-se o en-
tendimento jurisprudencial consolidado na Súmula nº 57-STJ, que dispõe: "Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de cumprimento fundada em acordo ou convenção coletiva não homologados pela Justiça do Trabalho".
2. Por força do disposto no art. 1 Q
da Lei n Q 8.984, de 07.02.95, devem os presentes autos ser remetidos à Justiça do Trabalho por cuidar de discussão relativa a cobrança de contribuições assistencial e confederativa prevista em convenção coletiva de trabalho, porém, anulando-se somente os atos praticados pela J ustica Comum após a edição do referido diploma.
3. Recurso especial conhecido e provido, parcialmente."
N a consonância dos precedentes a que me reporto, conheço do conflito e declaro competente 71ª Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro, suscitante.
É como voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA NQ 19.246 - SP
(Registro n Q 97.0004144-1)
Relator: O Sr. Ministro Costa Leite
Autor: Sindicato dos Empregados em Comércio Hoteleiro e Similares de Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande
Réu: B. S. Dimitrievich
Suscitante: Juízo de Direito da 6ª Vara Cível de Santos - SP
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 123
Suscitada: Segunda Junta de Conciliação e Julgamento de Santos -SP
Advogado: Delfino Miranda
EMENTA: Competência. Perpetuação de jurisdição. Execução.
Superveniência da Lei 8.984/95, que incluiu a causa - cobrança de contribuição sindical decorrente de Convenção Coletiva de Trabalho - na competência da Justiça do Trabalho. Aplicação da ressalva constante da parte final do art. 87 do CPC, não se aplicando o princípio da perpetuação de jurisdição.
Conflito conhecido, para declarar-se a competência da Justiça do Trabalho.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, em conformidade com os votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente a 2ª Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP, a suscitada. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Romildo Bueno de Souza e Waldemar Zveiter.
Brasília, 29 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Presidente. Ministro COSTA LEITE, Relator.
Publicado no DJ de 22-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO COSTA LEITE: Adoto, à guisa de relatório, a parte expositiva do parecer do Ministério Público Federal, nestes termos:
"Trata-se de conflito negativo de competência suscitado pelo Juízo de Direito da 6ª Vara Cível da Comarca de Santos, do Estado de São Paulo.
O Sindicato dos Empregados em Comércio Hoteleiro e Similares de Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande ajuizara, perante a 2ª Junta de Conciliação e Julgamento em Santos, no Estado de São Paulo, contra a B. S. Dimitrevich Ltda., ação de cobrança de contribuição assistencial, fixada em Convenção Coletiva de Trabalho, e de contribuição sindical, estipulada na Consolidação das Leis Trabalhistas.
124 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998.
A MM. 2ª Junta de Conciliação e Julgamento em Santos julgou procedente a ação. Interposto recurso ordinário ao Egrégio Tribunal Regional do Trabalho daquele Estado, este, a seu turno, não conheceu do recurso, declinando de sua competência em favor da Justiça Comum que, em virtude da supervenção da Lei 8.984, de 07.02.95, determinou a remessa dos autos à Justiça Laboral. Esta, por sua vez, devolveu-os para a Justiça Estadual que, finalmente, suscitou o presente conflito."
Opinando, o parecer é pelo conhecimento do conflito, para que se declare a competência da Justiça do Trabalho.
É o relatório, Senhor Presidente.
VOTO
O SR. MINISTRO COSTA LEITE (Relator): Impende, em primeiro lugar, corrigir a autuação. O órgão jurisdicional suscitado não é o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, mas a 2ª Junta de Conciliação e Julgamento de Santos/SP (fl. 30). Aquele Tribunal, em 1986, anulou decisão da Junta, reconhecendo a incompetência da Justiça do Trabalho e determinou a remessa dos
autos à Justiça Comum, que admitiu a sua competência.
Com a superveniência da Lei 8.984/95, já na execução, é que o Juízo de Direito suscitante declinou da competência para a suscitada, que não a admitiu com base no princípio da perpetuação da jurisdição, devolvendo os autos àquele e motivando este conflito.
Sucede que a hipótese se enquadra na ressalva da parte final do art. 87 do CPC e, a propósito, já decidiu esta Seção, ao julgar o CC n Q
948-GO, de que foi relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo, que "a alteração de competência ratione materiae tem aplicação imediata, se não ressalvada n,a lei que trouxe a modificação, e se aplica independentemente da fase em que se encontra o processo".
Por fim, cabe uma observação quanto ao parecer do Ministério PÚblico Federal, que opina pela aplicação analógica da Súmula n Q 170. Embora a inicial mencione também a contribuição sindical, o pedido refere-se exclusivamente à contribuição assistencial (fl. 05).
Do quanto exposto, conheço do conflito e declaro a competência do MM. Juízo Trabalhista suscitado. É o meu voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 117-125, setembro 1998. 125
RECURSO ESPECIAL Nº 66.370 - RS
(Registro nº 95.0024680-5)
Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zveiter
Recorrentes: Nilson Dione Spagnoli e cônjuge
Recorrido: Pneuac S/A Comercial e Importadora
Advogados: Drs. Afonso Viapiana e outro, e Ricardo Borges Chedid e outros
EMENTA: Embargos do devedor - Execução provisória de sentença - Honorários advocatícios - Cabimento - Prequestionamento.
I - Ausência de prequestionamento dos dispositivos invocados. Incidência das Súmulas 282 e 346, do STF.
U - São devidos honorários advocatícios na execução de título judicial, ainda que não embargada. .
lU - Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Menezes Direito, Costa Leite, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.
Brasília, 16 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro WALDEMAR ZVEITER, Relator.
Publicado no DJ de 29-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER: Cuida-se de embargos do devedor opostos por Nilson Dione
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 129
Spagnoli e sua esposa à execução provisória de sentença que lhes move Pneuac SIA Comercial e Importadora, julgados improcedentes pela r. sentença monocrática (fls. 30/32).
Interposta apelação, a Egrégia Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dela não conheceu, por inobservância de preparo das custas iniciais (fls. 66/68).
Inconformados, os Embargantes opuseram o Recurso Declaratório de fls. 73/76, que restou acolhido, com efeito modificativo, o que propiciou o exame do mérito do apelo. Não obstante, o Tribunal a quo negoulhe provimento, ao entendimento de que a carta de sentença atendia às exigências legais; o alegado excesso de execução seria apreciado, oportunamente, por Superior Instância; os honorários advocatícios seriam devidos no patamar de 12% sobre o montante do débito. (fls. 771 82)
Ainda irresignados, interpõem Recurso Especial, com fulcro nas alíneas a e c, do permissivo constitucional, sustentando ofensa aos arts. 586, 589, 590 e 618, I, do CPC (relativamente à carta de sentença); aos arts. 130,515,516,741, V e 743, I, também do CPC (quanto à questão do excesso de execução); aos arts. 2Q
, 128 e 460, todos do CPC (no referente à fixação dos honorários advocatícios), bem como dissídio jurisprudencial.
O Recurso não foi contra-arrazoado, tendo sido admitido pela letra c (fls. 98/99) e encaminhado a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER (Relator): Inviável é a análise deste Recurso pela alínea a, do permissivo constitucional, em virtude da ausência de prequestionamento dos dispositivos tidos por violados. E não tendo sido opostos Embargos Declaratórios para suprir eventual omissão, incidem ao caso as Súmulas 282 e 356, do STF.
Com efeito, a questão relativa à regularidade da carta de sentença foi assim decidida, verbis (fls. 81):
"Assim, como se vê dos autos da execução provisória, a carta de sentença atende às exigências legais. A ausência da petição relativa à impugnação do cálculo da fase de liquidação não tem maior relevância para o deslinde do feito. Ademais, ao contrário do que sustentam os embargantes, não pode a referida impugnação ser confundida com a contestação de que trata o artigo 590, IH, do CPC."
Os artigos 586, 589, 590 e 618, I, do CPC, que tratam da liquidez, certeza e exigibilidade dos títulos executivos e dos requisitos de uma carta de sentença não serviram de fundamento à conclusão adotada.
N o tocante à questão do excesso de execução, assim se manifestou o Tribunal a quo (fls. 81):
"Relativamente ao cálculo, o recurso de apelação interposto pe-
130 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
los ora embargantes da sentença homologatória será objeto de apreciação, no momento oportuno, pela Superior Instância.
No referido ato é que se decidirá a respeito do alegado excesso de execução."
Temas como cerceamento de defesa, devolução da matéria ao Tribunal ad quem e possibilidade de alegação de excesso de execução em sede de embargos não foram debatidas. E isto porque, como decidido na instância ordinária, na oportunidade do julgamento da ação principal (indenizatória), tal questão foi apreciada, inclusive ascendendo a esta Corte através do REsp nº 139.002/ RS, em apenso a estes autos e com julgamento simultâneo, nesta assentada.
Por fim, no que pertine à fixação dos honorários advocatícios, nada foi debatido, sequer decidido, quanto à ocorrência de julgamento ultra ou extra petita.
E quanto ao dissídio jurisprudencial, relativo à fixação dos honorários advocatícios em processo de execução de título judicial, correto é o entendimento espelhado na decisão recorrida, amoldando-se à orientação emanada desta Corte, de que são exemplos os seguintes julgados:
"Processual Civil. Honorários advocatícios - Execução judicial.
I - Os honorários advocatícios são devidos em ação de execução
fundada em título judicial, ainda que não embargada.
II - Inteligência do art. 20, par. 4, CPC.
III - Recurso conhecido e provido." (REsp nº 141. 367/RS, relator Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini, DJ de 09/03/98).
"Honorários de advogado. Execução judicial.
I - São devidos honorários advocatícios na execução de título judicial, ainda que não embargada. Art. 20, par. 4º do CPC.
II - Recurso conhecido o provido." (REsp nº 154.371/RS, relator Sr. Ministro Ruy Rosado deAguiar, DJ de 16/03/98).
"Processual Civil - Embargos à execução - Título judicial- Improcedência - Honorários de advogado.
I - No processo de execução fundada em título judicial, havendo embargos do devedor, cabível a condenação do embargante ao pagamento de honorários advocatícios, quando julgados improcederz-tes.
II - Precedentes do ST J.
III - Recurso não conhecido." (REsp nº 62.667/RS, de minha relatoria, DJ de 13/11/95).
Pelo exposto e com respaldo também na Súmula nº 83/STJ, não conheço do Recurso.
É o meu voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 131
RECURSO ESPECIAL NQ 76.705 - MG
(Registro n Q 95.0052384-1)
Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves
Recorrente: Cyba Geigy Química SI A
Recorridos: Usina Boa Vista Ltda. e outros
Advogados: Drs. Delmira Nunes de Oliveira e outros, e Mário Célio Ferreira Pinto e outro
EMENTA: Execução promovida por fiadora sub-rogada contra avalistas do título de crédito. Fiança e aval. Solidariedade. Cód. Civil, art. 1.495 (inaplicação). 1. A disposição segundo a qual o fiador "só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva cota" não se aplica quando se trata de demandar o avalista. A demanda pela respectiva cota diz respeito apenas ao fiador. A obrigação do avalista é direta, autônoma e solidária. Distinção entre fiança e aval. 2. Caso em que foi mal aplicado o disposto na segunda parte do art. 1.495. 3. Recurso especial pela alínea a, que foi conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.
Brasília 15 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro NILSON NAVES, Relator.
Publicado no DJ de 23-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO NILSON NAVES: Trata-se de execução promovida por fiadora sub-rogada contra também os avalistas do título de crédito, decidindo assim o Tribunal de Alçada de Minas Gerais, segundo o acórdão dos embargos de declaração:
"N o v. acórdão embargado esposou-se o entendimento de que, sendo a dívida paga pelo fiador ou avalista, fica este sub-rogado nos direitos do credor, podendo cobrar do principal devedor, no caso o emitente, o total que foi pago, mas, em relação aos demais garantidores, fiadores ou avalistas, a demanda deve se restrin-
132 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
gir à cota de cada um, não se fazendo distinção, assim, para efeito de aplicação da norma do art. 1.495, do Código Civil, entre a fiança e o aval, por se tratarem ambas de garantias em solidariedade, ainda mais se sabendo que a Execução se direcionou contra os demais garantidores da obrigação, que, como se verifica, figuram como avalistas."
o recurso especial foi interposto pela fiadora, alegando que o Tribunal mineiro não deu exata aplicação ao art. 1.495 do Cód. Civil, in verbis:
"17. Resta então verificar se o E. Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu adequada aplicação ao dispositivo legal em tela (artigo 1.495 do CC) no presente caso. A resposta é uma só, não.
18. O artigo em questão encontra-se inserido no Código Substantivo, em Capítulo XVI, que trata especificamente do instituto da fiança.
19. Se a intenção do legislador civil fosse que o referido dispositivo se aplicasse também ao aval, o mesmo trataria expressamente desta garantia, o que não ocorreu. Ao contrário, o aval é uma figura jurídica que não possui qualquer referência no Código Civil, mas apenas no Código Comercial e na Lei Uniforme de Genebra.
20. Claro está, então, a aplicação, data venia, inadequada do referido dispositivo legal, pois de
acordo com o exposto, trata-se especialmente da fiança, que no caso foi a Recorrente no presente feito.
21. Nessas condições, restando demonstrado os requisitos legais exigidos para o conhecimento do presente apelo, eis que próprio e tempestivo e diante da extrema relevância da questão posta sub judie e, roga a Recorrente a V. Exa. seja o mesmo conhecido e provido, reformando-se o v. acórdão."
Admissão do recurso nos termos do despacho de fls. 94/95 (lê).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO NILSON NAVES (Relator): Está a questão em saber se à espécie aplica-se o disposto no art. 1.495 do Cód. Civil, segundo o qual "O fiador que pagar integralmente a dívida, fica sub-rogado nos direitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva cota". A seu respeito, escreveu Bevilaqua, nesse tópico de seus comentários: "Este artigo consagra o chamado beneficio de sub-rogação em favor do fiador, e o de divisão. Pelo primeiro, passam ao fiador os direitos do credor contra o devedor, com todas as garantias, independentemente de cessão expressa. Veja-se o art. 985, IH. Pelo segundo, quando forem dois ou mais os fiadores conjuntos, sem parte determinada, cada um responde, somente, pela porção que lhe tocar, repartida a dívida entre
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 133
todos, excetuando-se o insolvente" (in Código Civil... , vol. V, 1954, págs. 198/9).
Como se vê, o benefício da divisão diz respeito aos fiadores conjuntos, tanto que o Tribunal mineiro, em um outro julgamento, entre as mesmas partes do presente processo, e que está noticiado nas fls. 86/ 92 destes autos, estatuiu que "Não incide, na espécie sub judice, a segunda parte do art. 1.495 do Código Civil, pois não se trata de fiador que esteja promovendo execução contra outros fiadores, mas de fiador, que pagou integralmente a dívida e quer recebê-la, como autoriza o mesmo dispositivo, da emitente e co-devedores solidários".
Mas, no presente caso, o acórdão deu aplicação à segunda parte do art. 1.495, uma vez que, consoante o voto do Sr. Relator, " ... deve ser feita, com efeito, uma correção no trabalho sentencial, para o fim de reduzir o pedido executivo, relativamente aos executados-avalistas, ao valor que, por rateio, couber a cada um, tendo em vista o comando do art. 1.495, do Código Civil". No que fora acompanhado pelo Sr. Revisor, verbis: "No que tange ao mérito, a meu sentir, merece reparo a douta sentença recorrida, apenas para reduzir o pedido posto na execução, em relação aos executados-avalistas, ao valor que vier a caber, a cada um, mediante rateio, a teor do que dispõe o art. 1.495 do Código Civil, ... ".
Ao que penso, em se tratando, porém, de avalista - e aqui se cuida exatamente de avalista, j á que, nos
termos da sentença, "Os embargantes pessoas físicas são, então, avalistas de fato e, como tal, respondem solidariamente pela dívida representada pela cédula de crédito rural exeqüenda, ... ", fl. 38 -, não há de vir à baila o disposto na segunda parte do aludido art. 1.495. Não há confundir fiança e aval. "Ambos" -escreveu Caio Mário da Silva Pereira, in "Instituições de Direito Civil", vol. IH, 1986, pág. 357 - "são tipos de garantia pessoal, mas, enquanto a fiança é uma garantia fidejussória ampla, e hábil a aceder a qualquer espécie de obrigação, convencional, legal ou judicial, o aval é restrito aos débitos submetidos aos princípios cambiários. Em razão da velocidade dos títulos desta espécie, não está sujeito às restrições de que padece a fiança, no tocante à outorga do outro cônjuge. E nos seus efeitos também difere, gerando o aval responsabilidade sempre solidária, ao contrário da fiança, que pode sê-lo, ou não". Bem anotou João Eunápio Borges, "como as demais obrigações cambiais, a do avalista é autônoma e independente de qualquer outra, a do avalizado, inclusive; responde ele, solidariamente com os demais signatários, pelo aceite e pelo pagamento do título" (in "Títulos de Crédito", 1977, pág. 93).
Ora, em tendo sido aplicado enquanto não o deveria ser, o art. 1.495 do Cód. Civil foi afrontado pelo acórdão mineiro, razão pela qual conheço do recurso especial e lhe dou provimento, restabelecendo em conseqüência a sentença.
134 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
VOTO- VISTA
o SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Trata-se de execução de cédula rural pignoratícia, emitida por Fazenda Boa Vista Ltda., de que é sucessora a primeira executada, avalizada pelos demais executados. A exeqüente obrigou-se, como fiadora, pelo pagamento do mesmo débito, o que efetivamente veio a fazer. Está a questão em saber se pode exigir dos co-avalistas a totalidade do valor do título ou apenas uma cotaparte.
O acórdão entendeu que aplicável o disposto no artigo 1.495 do Código Civil, limitando, em conseqüência, o valor a ser cobrado de cada um dos avalistas.
Considero, como o eminente Relator, que, data venia, não tem razão aquele julgado.
Por certo que não se põe dúvida que o fiador "só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva cota". O mesmo se diga do co-avalista em relação aos outros. A hipótese, entretanto, é diferente. A fiadora, efetuando o pagamento da dívida, sub-rogou-se integralmente nos direitos do credor. Adquiriu a propriedade do título. Pode exercer os direitos dele emergentes, em relação a qualquer dos devedores, como o poderia fazer o credor.
Acompanho o Relator.
RECURSO ESPECIAL Nº 79.476 - RJ
(Registro nº 95.0059440-4)
Relator: O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Recorrente: Eduardo Portella Netto
Recorrida: Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro
Advogados: Drs. Luiz Eduardo Sá Roriz e outros, e Caetano Ernesto da Fonseca Costa e outros
Sustentação Oral: Dr. Luiz Eduardo Sá Roriz, pelo recorrente
EMENTA: Sociedade anônima. Responsabilidade dos diretores. Condenação em valor correspondente ao dólar. Prova da responsabilidade pelos atos que causaram o prejuízo. Súmulas n Q 07 e n Q
83 da Corte. Precedente da Corte.
1. Com o mercado globalizado, avançando até mesmo para a criação de moeda única, como no caso da unidade européia, o anacro-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 135
nismo de pretender inviabilizar o padrão internacional, dado pelas moedas fortes como o dólar, o marco e a libra, não tem passagem, ademais de esbarrar em precedente da Corte.
2. Fica baldio o recurso com apoio na letra c sem a indicação do dissídio. De todos os modos, havendo referência a alguns dispositivos de lei federal, no presente caso, a alegação do recorrente sobre a demonstração exaustiva de não ter praticado atos danosos contra o patrimônio da companhia, escapando da responsabilidade apontada pelo Acórdão recorrido, que examinou a prova dos autos, não tem possibilidade de ser enfrentada na instância especial diante da Súmula n Q 07 da Corte.
3. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, após o voto-vista do Senhor Ministro Eduardo Ribeiro. por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter.
Brasília, 10 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Relator.
Publicado no DJ de 18-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: Eduardo Portella Netto interpõe re-
curso especial, com fundamento na alínea c do permissivo constitucional, contra Acórdão da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, assim ementado:
"Sociedade anônima. Ação de responsabilidade civil dos diretores.
Pressuposto da autorização assemblear, atendido. O dies a quo do prazo prescritivo só se conta da data da assembléia que examina as contas, de sorte que o prazo não corre se nem convocada aquela, nem prestadas estas. Responsabilidade exclusiva e/ou solidária dos diretores por atos omissivos ou comissivos. Ilícito civil e juros simples. Verba do sucumbimento." (fls. 601)
Sustenta o recorrente violação ao art. 1 Q do Decreto-Lei nº 857/69, na medida em que o Acórdão recorrido teria determinado o pagamento em dólar, admitindo, portanto, uma correção cambial não permitida. Alega, também, contrariedade ao § 2º,
136 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
do artigo 80 do Decreto-Lei n Q 200/ 67, por responsabilizar o recorrente por prejuízos que não causou, e ao § 1 Q do art. 158 da Lei n Q 6.404/ 76, "uma vez que os malsinados atos não foram e não são de sua autoria direta e pessoal." E argumenta:
"(. .. )
15 - Os aludidos atos se ocorreram não têm a participação do recorrente, que jamais poderia praticar atos de delegação, em face do que preceitua o Estatuto e a Organização Geral da Empresa (OGE), cuja existência legal ocorre desde muito antes da investidura do recorrente como Presidente do Lloyd Brasileiro." (fls. 619)
Não houve contra-razões e o recurso especial não foi admitido na origem (fls. 628 a 633), subindo os autos a esta Corte em razão do provimento do agravo de instrumento (fls. 671).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (Relator): Ação de responsabilidade civil ajuizada pelo Lloyd Brasileiro contra os ex-diretores Danton Lopes de Oliveira, Samuel Sztyglic e Eduardo Portella Netto, este último ex-presidente, julgada procedente para condenar os réus ao pagamento da importância correspondente a US$ 103,961.65, ao câmbio do dia da efetiva liquidação. A Quin-
ta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro proveu, em parte, todos os apelos, após examinar detalhadamente a prova dos autos, para identificar a responsabilidade de cada um pelos atos praticados.
Dos três especiais interpostos, subsistiu, tão-somente, o recurso de Eduardo Portella Netto, ex-presidente, que veio, apenas, pela letra c (fls. 616), apresentando divergência, no que se refere ao valor dólar, com precedentes do Colendo Supremo Tribunal Federal. De todos os modos, mesmo sem invocação da letra a, apontou o especial contrariedade ao art. 80, § 2Q
, do DecretoLei n Q 200/67 e art. 158, § 1Q
, da Lei n Q 6.404/76, argumentando que "os malsinados atos não foram e não são de sua autoria direta e pessoal", para concluir que tais atos "se ocorreram não têm a participação do recorrente, que jamais poderia praticar atos de delegação, em face do que preceitua o Estatuto e a Organização Geral da Empresa (OGE), cuja existência legal ocorre desde muito antes da investidura do recorrente como Presidente do Lloyd Brasileiro", com o que, finalmente, entende "plenamente configurada a hipótese da alínea c, do inciso III do art. 105 da Constituição Federal".
O primeiro ponto tratado no especial não tem a guarida da Corte. De fato, a matéria já não comporta discussão. Com o mercado globalizado, avançando até mesmo para a criação da moeda única, como no caso da unidade européia, o anacro-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 137
nismo de pretender inviabilizar o padrão internacional, dado pelas moedas fortes como o dólar, o marco e a libra, não tem passagem. Com o lúcido voto condutor do Senhor Ministro Waldemar Zveiter, esta Corte já derrubou o arcaísmo (cfr. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n Q 88.294-RS, no que interessa: "II - O título objeto da execução, reporta-se a quantia em dólar norte-americano. Considerando que esta moeda não sofre desvalorização, não há incidência de correção monetária, cumulativamente com a variação cambial".
No presente caso, a condenação foi no valor equivalente em moeda nacional, prescrevendo a sentença a conversão pelo câmbio do dia da efetiva liquidação.
Assim, os paradigmas cedem diante da Súmula nº 83 da Corte.
Não foram indicados paradigmas para o segundo ponto atacado pelo recurso, o que o torna baldio.
De qualquer maneira, a invocação do Decreto-Lei nº 200/67 e do art. 158, § 1 º, da Lei nº 6.404/76 não colheria proveito algum. O Acórdão recorrido, expressamente, fixou a responsabilidade do recorrente após examinar a prova dos autos, merecendo destacados os seguintes trechos, verbis:
"Diga-se o mesmo da contratação irregular de Luiz Fernando Vianna Lemello, a qual, segundo os autos, se ultimou, por inspiração ou induzimento de terceira pessoa (Benito Ribamar Machado),
com expressa aprovação e concordância de Eduardo Portella Netto, sem interferência ou participação dos dois outros réus. Destarte, pelos prejuízos assim verificados, no montante de US$ 17,072.00, a condenação a ser imposta nestes autos há de ficar limitada àquele réu, ex-presidente da companhia.
J á no que concerne aos pagamentos a título de comissões de ''brokeragem", no total de US$ 67,389.65, o princípio da solidariedade tem toda aplicação, pois, para a efetivação desses pagamentos concorreram e participaram ativamente os três réus: Danton Lopes de Oliveira (Superintendente de Transportes), Samuel Sztyglic (Diretor Administrativo e Financeiro) e Eduardo Portella Netto (Presidente). O primeiro foi quem formalizou a solicitação para que os pagamentos fossem feitos em forma de depósito em estabelecimento bancário na Suíça; o segundo (Samuel) foi quem autorizou o envio do dinheiro e determinou a emissão dos cheques e neles lançou a sua assinatura e o terceiro, como Presidente da companhia, validou os cheques, lançando também a sua assinatura. Induvidoso, pois, que, para ultimação das operações, concorreram, de modo ativo e positivo, os três réus, devendo a responsabilidade daí decorrente ser imputada a todos eles, afigurando-se, aqui, de todo aplicável o princípio da solidariedade, por força do disposto no § 1 º do art. 158 da Lei nº 6.404/76, e da parte final do
138 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
art. 1.518 do Código Civil, já que o pagamento das comissões só se consumou pela participação concorrente dos três réus." (fls. 607)
Verifica-se, além disso, que o artigo 158, § 1 Q, apontado como contrariado pelo especial, foi, exatamente, o aplicado pelo Acórdão recorrido, com lastro na prova dos autos, não se enfrentando as demais disposições do mesmo artigo que cuidam da responsabilidade dos administradores, que, de resto, também não foram invocadas no especial.
Destarte, atento aos termos das Súmulas n Q 07 e n Q 83 da Corte, eu não conheço do especial.
VOTO
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: O recurso afirma fundarse na letra c da previsão constitucional. Não cuidou, entretanto, de demonstrar a existência de dissídio jurisprudencial, tendo-se limitado a mencionar julgados, abstendo-se de transcrever-lhes qualquer trecho. Ocorre que, embora sem mencionar a letra a, indicou dispositivos legais que teriam sido violados, não sendo relevante o equívoco na indicação daquele que autorizaria o recurso.
Pretende-se tenha havido infração ao disposto no Decreto-Lei 857/ 69. Tal, entretanto, a toda evidência não se verificou. Ali se veda seja estipulado o pagamento em ouro ou moeda estrangeira. Isso não ocorreu. Determinou-se o pagamento em importância equivalente a determinado montante de dólares, o
que é coisa diversa. Acresce que não houve, quanto ao ponto, o prequestionamento. No acórdão nem mesmo se discutiu ou de qualquer forma se examinou o tema pertinente à possibilidade de utilizar-se, como parâmetro, moeda estrangeira.
Sustenta-se, mais, que contrariado o disposto no § 2Q do artigo 80 do Decreto-Lei 200, onde se estatui não ser responsável o ordenador de despesas por prejuízos decorrentes de atos de subordinado que tenha exorbitado das ordens recebidas. Desnecessário examinar se essa norma poderia, em tese, regular a hipótese em julgamento, pois se evidencia sua absoluta inaplicabilidade no caso concreto. O recorrente foi condenado a ressarcir os danos advindos de dois fatos: contratação irregular de Luiz Lemello e pagamento das chamadas comissões de "brokeragem". Para aquela contratação, assinalou o acórdão, houve "expressa aprovação e concordância de Eduardo Portella Netto". Quanto àquelas comissões, os pagamentos se fizeram por cheques por ele assinados. Não se trata, pois, de responsabilizá-lo por atos de subordinados, mas sim pelos que ele próprio praticou.
Também não aproveita ao recorrente a invocação do disposto no artigo 158, § l Q
, da Lei 6.404/76. Imputa-se-lhe responsabilidade por atos seus e não de outros administradores.
Pedi vista, sensibilizado pela excelente sustentação oral. Verifico, entretanto, que o recurso é inviável.
Acompanho o Relator.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 139
RECURSO ESPECIAL Nº 86.137 - SP
(Registro nº 96.0003432-0)
Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Armando de Oliveira
Recorrido: Andorinha Parque Clube
Advogados: Drs. Marco César de Arruda Guerreiro e outros, e Mariangela Tiengo Costa Gherardi
EMENTA: Clube social. Furto.
Validade da cláusula estatutária que estabelece não responder o clube pelo furto de bens do associado que ocorra em suas dependências. Respeito à autonomia da vontade, uma vez inexistente ofensa a norma jurídica, cuja observância seja inarredável, ou a algum princípio ético.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial, mas lhe negar provimento.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Nilson Naves.
Brasília, 24 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro EDUARDO RIBEIRO, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: A egrégia Segunda Câmara Civil de Férias do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,julgando apelação interposta por Andorinha Parque Clube, na ação de indenização ajuizada por Armando de Oliveira, proferiu decisão assim ementada:
"Não assumindo a associação esportiva o dever de guarda de veículos estacionados gratuitamente em suas dependências pelos sócios, não responde pelo furto (art. 1.057 do Código Civil).
Recurso provido."
Rejeitado o pedido de declaração, o autor manifestou recurso especial. Sustentou contrariedade aos artigos 159 e 1.057 do Código Civil,
140 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
bem como dissídio jurisprudencial. Insiste em que deva ser reconhecida a responsabilidade do recorrido. Alega caber-lhe o dever de guarda e vigilância dos veículos estacionados em áreas que para isto reservou. Salientou que o pagamento de mensalidades e de serviços, prestados no interior do clube, propicialhe retorno financeiro e que a existência de estacionamento privativo, controlado por um guarda, estimula o ingresso de novos sócios e ocasiona maior freqüência.
Recurso admitido e processado.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO (Relator): A questâo pertinente à validade de cláusula, inserida nos estatutos de clube social, que o isente de responsabilidade, em caso de dano ou furto a bens de sócios, já foi examinada por esta Terceira Turma ao apreciar o REsp 59.267, de que fui relator para o acórdão, relator originário o eminente Ministro Menezes Direito. N aquele caso ocorrera o furto do motor de um barco e teve-se como legítima a disposição do regulamento interno do clube, a estabelecer que só seria ele responsável se guardado o motor nos armários ou entregue ao encarregado da casa de motores.
N aquele julgamento, assim me pron unciei:
Não tenho dúvida alguma sobre a licitude da cláusula. Não se
cuida aqui de responsabilidade aquiliana, mas contratual, podendo os interessados livremente aumentá-la ou diminuí-la, consoante lhes pareça mais adequado. Nem há razão alguma de interesse público que imponha a intervenção estatal em questões como essa, que diz exclusivamente com a conveniência dos associados. As regras pertinentes às obrigações das partes, no depósito convencional, voluntário, não são de ordem pública. Isso, admitindo tenha havido depósito, o que o acórdão negou.
Creio que a hipótese guarda similitude com as convenções, relativas a edifícios de apartamentos, a cujo propósito a jurisprudência deste Tribunaljá assentou ser perfeitamente lícito estabelecer que o condomínio não se responsabiliza por furtos de automóveis deixados na garagem. Menciono alguns julgados, dos muitos existentes: REsp 10.285, de que fui relator, DJ 16.12.91, REsp 49.332, reI. Nilson Naves, DJ 05.09.94 e REsp 45.902, reI. Cláudio Santos, DJ 09.10.95.
Faço notar, embora desnecessariamente, pois a matéria se insere na autonomia da vontade, que tais restrições facilmente se explicam. Consoante já tive ocasião de assinalar, na trilha de voto do Ministro Athos Carneiro, fazer todos os condôminos responderem pela perda de um dos veículos corresponderia a uma espécie de seguro, em que os bens segurados seriam de diferentes
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 141
valores. Alguém que tivesse um 'veículo modesto poderia ser chamado a pagar pela perda de um automóvel de luxo.
A hipótese não é de ser assimilada a outras, em que este Tribunal tem reconhecido a responsabilidade de quem propicia estacionamento, consagrado esse entendimento na Súmula 130. Ali se cuida das relações de empresas com seus clientes. Teve-se em conta o proveito econômico que aquelas obtêm, na medida em que ensejam possam os veículos ser estacionados em lugares que ofereçam comodidade para a clientela, pois com isso visam exa-
tamente a aumentá-la. E não há um acordo de vontades entre a empresa e seus clientes de que resulte a exclusão da responsabilidade. Na hipótese em exame, os sócios acordaram em que mais convinha ao interesse de todos que a comunidade não se responsabilizasse pelo pagamento dos questionados danos. Não há nisso ofensa a qualquer norma jurídica, cuja observância seja inarredável, nem a algum princípio ético. Há de prevalecer a disposição interna, fruto da vontade da maioria dos associados.
Conheço, em virtude do dissídio, mas nego provimento.
RECURSO ESPECIAL NQ 95.309 - SP
(Registro nQ 96.0029811-4)
Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Fundação Santos Dumont
Recorridos: Celina Ribeiro de Barros Martins - Espólio e outros
Advogados: Drs. Tito Hesketh e outros, e Gilveth Gomes da Silva e ou-tros
EMENTA: Doação com encargo. Revogação.
A disposição do artigo 1.185 do Código Civil, estabelecendo que personalíssimo o direito de pedir a revogação da doação, só se aplica quando isso se pleitear em virtude de ingratidão do donatário e não quando o pedido se fundar em descumprimento de encargo.
142 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito e Costa Leite.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Nilson Naves e Waldemar Zveiter.
Brasília, 27 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro EDUARDO RIBEIRO, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Celina Ribeiro de Barros Martins e outros ajuizaram ação, objetivando revogar doação feita à Fundação Santos Dumont - Museu da Aeronáutica de São Paulo. Pleitearam, ainda, indenização por perdas e danos, em virtude do não cumprimento do encargo.
Julgado extinto o processo, apelaram os autores, tendo sido proferido acórdão assim ementado:
"Doação - Revogação - Inexecução de encargos - Legitimidade ativa - Verificação - Herdeiros do doador - Impossibili-
dade de aplicação das regras da revogação por ingratidão - Recurso parcialmente provido.
Doação - Revogação - Inexecução de encargos - Interesse de agir - Existência - Doação modaI ou onerosa - Encargos aceitos - Afastada a extinção - Recurso parcialmente provido."
A ré formulou pedido de declaração. Rejeitado, apresentou recurso especial.
Sustentou que desconsiderado o disposto nos artigos 178, § 6Q
, I, 1.165, 1.166, 1.168, parágrafo único, 1.181, parágrafo único, 1.183, 1.184 e 1.185, todos do Código Civil. Argüindo o caráter personalíssimo do ato, insiste na ilegitimidade dos sucessores dos doadores falecidos, conforme decidido no primeiro grau, e aduziu que, tratandose de doação onerosa, indispensável a aceitação expressa do donatário. Pediu fosse reconhecida a carência da ação, por falta de legítimo interesse dos autores.
Recurso admitido e processado.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO (Relator): Sustenta o especial que personalíssima a ação, tendente a revogar doação, ainda que por descumprimento de encargo. Decidindo de modo contrário, o acórdão teria violado o artigo 1.185 do Código Civil.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 143
Com a devida vênia das opiniões em contrário, apenas uma interpretação literal e equivocada do dispositivo invocado seria apta a conduzir à aceitação da tese por que propugna o recurso.
Não se justificaria, com efeito, que apenas o doador pudesse postular a revogação. Essa restrição se justifica quando se trata de ingratidão. Em tal caso, razoável se limite a titularidade da ação ao doador, pois, a quem praticou o ato de liberalidade e foi vítima da ofensa, em que se traduziu a ingratidão, se há de reservar a decisão sobre se é o caso de desfazê-lo. A mesma razão não se apresenta quando se cuida de inadimplemento de encargo.
Este Tribunal, decidindo a propósito do prazo de prescrição, afirmou ser induvidoso que o artigo 1.185 só se aplica à revogação por ingratidão. Assim, no Recurso Especial 27.019 de que fui relator (DJ 14.6.93). É firme, aliás, a jurisprudência no sentido de que o artigo 1.184 do Código Civil só se refere ao que lhe antecede imediatamente. Além do já
citado, assim também decidiu a egrégia Quarta Turma nos Recursos Especiais 32.496 (Sálvio de Figueiredo, DJ 26.8.96), 69.682 (Ruy Rosado, DJ 12.2.96) e 131.660 (Ruy Rosado, DJ 6.10.97).
Afirma-se, ainda, no recurso, que contrariados os artigos 1.166 e 1.168 e seu parágrafo único do Código Civil, dos quais resultaria que a aceitação da doação com encargo há de fazer-se por escrito.
A assertiva, se acolhida, envolveria a conclusão de que não se aceitou a doação e, nesse caso, os bens pertenceriam ao doador. De qualquer sorte, entretanto, não houve a pretensa violação da lei. O acórdão consignou que as condições foram expressamente aceitas pelo Conselho Administrativo da recorrente, consoante consta de ata. O tema diz com os fatos e não se sujeita a reexame nesta sede.
Considero, em vista do exposto, que não se verificou ofensa aos textos legais apontados, razão por que não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL NQ 96.427 - PR
(Registro nQ 96.0032673-8)
Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves
Recorrente: Waldemar Guiomar
Recorridos: Geraldo Neves da Luz e outros
Advogados: Drs. Helder Luís Henrique Taguchi e outros, e Adriano José Valente e outros
144 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
EMENTA: Ação de divisão. Honorários de advogado. Fase contenciosa/fase técnica. Não fere o art. 20 do Cód. de Pro Civil a sentença que (confirmada pelo acórdão), julgando procedente a ação, deixa a fixação dos honorários para a segunda fase ("Os encargos sucumbenciais serão apurados e determinados ao final da segunda fase"). Recurso especial pela alínea a, de que a Turma não conheceu.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.
Brasília, 24 de novembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro NILSON NAVES, Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO NILSON NAVES: Trata-se de ação de divisão em que houve citação e contestação dos réus, decidindo afinal o juiz pelo acolhimento do pedido,
" ... nesta primeira fase, e declarando extinto o condomínio, determino que se realizem a divisão do bem descrito na inicial. Para os trabalhos de divisão, nomeio para a função de arbitrado-
res os Srs. Engenheiros Civis Adolfo Cochia Junior, fone 223-0563 e 226-5336, com endereço na Rua Porto Velho, 71, Jardim Social, e Jaime Ramos, Rua Guarani, 260, fone 224-5975, e como agrimensor o Sr. José Maria Reis, fone 228-3793, com endereço na Rua Rio Grande do Norte, todos desta cidade. Intimem-se esses técnicos para oferecerem suas propostas de honorários, em 5 dias. Efetuado o depósito dos honorários, intimem-se para que dêem início à operação de divisão (art. 969, CPC), devendo as partes ser intimadas para formularem seus pedidos de constituição dos quinhões.
Os encargos sucumbenciais serão apurados e determinados ao final da segunda fase, tendo em vista que houve litígio nesta primeira fase."
Um dos réus entrou com embargos de declaração, pleiteando fosse declarado "o percentual devido pela parte sucumbente a título de honorários advocatícios".
Rejeitados os embargos, apelaram os réus, separadamente, mas sem êxito, conforme esta ementa:
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 145
"Apelação - Ação de divisão -Procedência - Inexistência de pedido e nulidade da sentençaInocorrência - Honorários -Improvimento.
Inepta não é a inicial por falta de pedido, se ele foi feito, ali, de modo claro e indiscutível. Procede a divisória com vistas à extinção do condomínio se comportam divisão cômoda os bens comuns.
A fixação dos honorários, com base no § 4Q do artigo 20 do CPC, pode ser relegada para o final da segunda fase do procedimento."
Daí o presente recurso especial, em que se alega ofensa ao art. 20 do Cód. de Pro Civil, e que foi admitido pelo Presidente Cláudio Nunes do Nascimento, nestes termos:
"Em suas razões sustenta o recorrente que 'ao acolher o argumento apresentado pelo juiz de primeiro grau para justificar a ausência da fixação dos honorários de advogado na sentença que encerrou a fase inicial do procedimento divisório, o respeitável acórdão negou vigência e infringiu o disposto no artigo 20 do Código de Processo Civil Brasileiro .. .'. Pondera ainda, que tal situação quebra o 'tratamento isonômico dado às partes quanto ao rateio das despesas na segunda fase, o que pode resultar em oneração maior ao sucumbente, ora recorrente, do que se tivessem sido fixados os honorários, corretamente, na primeira sentença' (fls. 502/503).
Não me parece desarrazoada a tese objeto do presente recurso, qual sej a, a regra a ser adotada na questão da fixação de honorários advocatícios em ação de divisão: o aresto combatido postergou a sua fixação para a segunda fase do procedimento, já o recorrente entende que essa conclusão é incompatível com o disposto no artigo 20, caput (1ª parte), do CPC.
A própria colenda Primeira Câmara Cível desta Casa ao julgar a Apelação Cível n Q 20.953-2, em acórdão sob n Q 9.598 da lavra do Desembargador Francisco Muniz de inesquecível memória, que versava questão análoga à sub judice, decidiu:
'Processo divisório. Primeira fase. Sucumbência. À primeira fase do processo divisório, aplica-se a regra geral sobre a sucumbência (art. 20 do Código de Processo Civil).'
Vale a pena transcrever, ainda, o seguinte trecho daquele julgado:
'A sentença que encerra a primeira fase do processo divisório deve obedecer às regras normais sobre o pagamento das despesas judiciais e honorários de advogado. Isto porque, a rigor, 'o resultado desse estágio processual não diz respeito ainda aos gastos da divisão, ou demarcação, propriamente ditas', estes, sim, devem
146 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
ser divididos proporcionalmente entre todos os condôminos (art. 624 do Código Civil -Humberto Theodoro Júnior, Terras Particulares, Demarcação, Divisão e Tapumes, Saraiva, 1992, pág. 155).'
Face ao exposto, e considerando a existência de posições distintas entre os processualistas sobre a natureza jurídica da ação de divisão, vejo como oportuna a subida do recurso, no que respeita à alínea a, para melhor exame da instância ad quem.
Admito, pois, o recurso especial intentado.
É o relatório.
VOTO
título não pode ser aplicada contra quem não teve suas razões acolhidas na primeira sentença.
Se tal ocorrer, quebrar-se-á o tratamento isonômico dado às partes quanto ao rateio das despesas na segunda fase, o que pode resultar em oneração maior do sucumbente, ora recorrente, do que se tivessem sido fixados os honorários, corretamente, na primeira sentença. Isto porque esses honorários dizem respeito apenas à primeira fase do procedimento divisório. Por essa razão, a decisão de remeter para a sentença homologatória dos trabalhos da divisão a fixação de honorários a título de sucumbência é incompatível com o disposto no artigo 20, caput, do Código de Processo Civil."
O SR. MINISTRO NILSON NA- Observe-se que o recurso foi inVES (Relator): Alega-se que o acór-. terposto por um dos réus (o varão), dão paranaense inconformado com o fato de não te-
" ... infringiu e negou vigência à disposição expressa do artigo 20 do CPC uma vez que, a sentença de primeiro grau ao se abster de fixar os honorários de advogado, remetendo-a para a sentença homologatória incidiu em erro. A norma legal impõe a fixação de honorários de advogado quando haja sucumbência. E a distinção entre vencido e vencedor só existe na primeira fase da Açâo de Divisão, quando a pretensão dos autores pode ser atacada em contestação pela outra parte. Após essa fase, não é mais possível falar-se em sucumbência e verba a esse
rem sido desde logo arbitrados os honorários advocatícios, que sobre si recairão, isto por ter sido ele, segundo suas próprias palavras, o vencido, na primeira fase do juízo divisório. Invoca lição de Theodoro Júnior, verbis:
"Se o pedido de divisão receber contestação, ter-se-á instaurado um dissídio comum, de processo de conhecimento, de sorte que a sentença ao dirimi-lo dará a razão a uma das partes, negando-a à outra. O fenômeno será típico de sucumbência processual, de sorte que a parte venci-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 147
da arcará com a responsabilidade por todas as custas, despesas e honorários advocatícios despendidos pela parte vencedora.
Superada, porém, a fase contenciosa, e instaurada a fase executiva ou técnica, já nenhuma influência terá o litígio encerrado com a sentença que acolheu o pedido divisório ... " (fl. 505).
o que me parece, contudo, é que não existe, no caso em exame, ofensa ao aludido art. 20. Tal dispositivo estabelece que cabe ao vencido pagar ao vencedor os honorários advocatícios, mas a tal dispositivo não se comete ofensa se se deixa para a fase seguinte o arbitramento dos honorários. Veja-se o acórdão:
"Por derradeiro, nada impede que o juiz relegue para a segunda fase a fixação da verba honorária. Para justificar sua decisão, argumentou ele, em embargos de declaração, que 'a fixação, oportunamente, obedecerá ao preceito do § 4Q
, do mesmo artigo, e, para
isso, será levado em conta especialmente o trabalho que o advogado desenvolverá até final sentença, e isto só é possível aquilatar após o encerramento da segunda fase, por isso, a sua fixação foi deixada para a final, momento em que se apurará a importância da atividade desenvolvida pelo profissional para o bom desempenho de seu serviço.' (fls. 433)."
Ora, condenado a pagar honorários o vencido a tanto já se encontra; portanto, não deparo aqui com maltrato ao art. 20. O que ainda não se fixou foi o valor dos honorários mas o valor, em sendo objeto de fu~ tura decisão, na oportunidade própria poderá ser impugnado o seu arbitramento. Até porque o Código dispõe sobre a inexistência de litígio, sem distinguir as duas fases: "N os juízos divisórios, não havendo litígio, os interessados pagarão as despesas proporcionalmente aos seus quinhões" (art. 25).
Não conheço do recurso especial.
RECURSO ESPECIAL Nº 102.188 - SP
(Registro nº 96.0046774-9)
Relator: O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF
Recorridos: Valdir Lopes Marcon e outros
Advogados: Drs. Sérgio Soares Barbosa e outros, e Paulo Laitano Távora e outros
148 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
EMENTA: Vantagens funcionais. Plano de Cargos e Salários. Aplicação do Decreto nf! 89.253/83.
1. A decisão que autoriza o gozo de benefícios e vantagens adicionais aos empregados admitidos após a vigência do Decreto n Q
89.253/83, não agasalhados em Plano de Cargos e Salários, merece reforma para que seja preservada a lei federal, assim o Decreto-Lei n Q n Q 1.971/82, alterado pelo Decreto-Lei n Q 2.100/83.
2. Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e darlhe provimento. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter.
Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Relator.
Publicado no DJ de 06-04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: Caixa Econômica Federal- CEF interpõe recurso especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra Acórdão da 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região assim ementado, verbis:
"Direito Administrativo e Trabalhista. Existência de quadro de carreira. Impossibilidade de se prover cargos inexistentes com base em ação de enquadramento. Inexistência de rebaixamento de cargo ou de remuneração inferior a que seria devida. Supressão de direitos e vantagens assegurados por norma da empresa. Inadmissibilidade.
1. Não ocorrendo -rebaixamento funcional, prejuízo salarial ou violação da isonomia no enquadramento dos antigos "auxiliares de escritório" como "escriturários básicos", não merece prosperar ação de enquadramento que venha a ser proposta.
2. Havendo supressão de direitos e vantagens albergados em norma da empresa, deve ocorrer o restabelecimento de tais direitos e vantagens, bem como o pagamento das diferenças que forem cabíveis.
3. Recursos a que se nega provimento." (fls. 629)
Houve embargos de declaração (fls. 632/633), rejeitados (fls. 636 a 644).
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 149
Sustenta a recorrente que o Acórdão recorrido violou o Decreto-Lei n Q 2.100/83, Decreto n Q 89.253/83 e o artigo 6Q da Lei de Introdução ao Código Civil, ao restabelecer direitos e vantagens suprimidos pela OC SUREH 056/84.
Para comprovar a divergência jurisprudencial indica precedente do Tribunal Regional Federal da 1 ª Região.
Foram oferecidas contra-razões (fls. 696 a 700) e o recurso especial foi admitido (fls. 730).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (Relator): Reclamação trabalhista ajuizada na Justiça Federal tendo em vista a classificação decorrente de plano de cargos e salários, julgada procedente, em parte, para que a Caixa Econômica Federal restabeleça direitos e pague prejuízos eventualmente existentes, mais juros e correção monetária. A decisão foi mantida pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Os declaratórios foram rejeitados.
Neste caso, a sentença, precisamente, condenou a Caixa Econômica Federal a restabelecer para determinados reclamantes direitos e vantagens que foram retirados pelo ato administrativo interno de 1984, a saber:
"Para os admitidos após 28/12/83, o novo Plano de Benefícios e Van-
tagens, não mantém, a partir de 01/01/85, as vantagens a seguir discriminadas, que serão deferidas àqueles admitidos até àquela data:
- Gratificação Semestral (Duodécimos);
- Gratificação de Incentivo à Produtividade;
- Qüinqüênios acima de 35%;
- Licença-prêmio;
- Licença-Maternidade acima de 84 dias;
- Ausências permitidas:
a) acima de 02 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua CTPS viva sob sua dependência econômica (aos admitidos até 28.12.83, fica assegurado 08 (oito) dias)
b) acima de 03 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento (aos admitidos até 28.12.83, fica assegurado até 08 dias)
c) acima de 01 dia, em caso de nascimento de filho, no decorrer da primeira semana (aos admitidos até 28.12.83, fica assegurado até 03 dias, consecutivos ou não, inclusive o de registro, dentro de 30 dias após o evento)
d) nenhum dia por interesse particular (aos admitidos até 28.12.83, fica assegurado 05 (cinco) dias)".
150 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
A meu juízo, tem toda razão a Caixa Econômica Federal. O Acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, pelo voto condutor do Juiz Souza Pires, destaca o parecer do Ministério Público sobre a natureza do ato administrativo interno alcançando as vantagens que foram suprimidas. O comando administrativo da Caixa foi, apenas, para dar conseqüência ao traçado do Governo Federal objetivando reduzir vantagens para o pessoal que ingressasse nas estatais a partir de 28.12.83, como é o caso concreto. Ainda que tenha sido expedido posteriormente, o fato é que os benefícios retirados não estavam incorporados ao patrimônio dos empregados admitidos depois do Decreto nº 89.253/ 83, como bem posto no paradigma indicado do Tribunal Regional Federal da 1 ª Região. Não é o tempo do ato administrativo que determi-
na o gozo dos privilégios. O Decreto nº 89.253, de 28.12.83, regulou claramente a matéria para as estatais dispondo o art. 11 que em "nenhuma hipótese, os direitos garantidos aos servidores ou empregados admitidos anteriormente à vigência deste Decreto, serão assegurados aos admitidos posteriormente, exceto quando previstos nos novos Planos de Cargos e Salários e de Benefícios e Vantagens". Manter os privilégios é violar a regra jurídica aplicável, assim a do Decreto-Lei nº 1.971182, alterado pelo Decreto-Lei nº 2.100/83, regulamentados pelo Decreto nº 89.253/83, e, ainda, impedir a Administração Pública de disciplinar os órgãos que a integram para evitar abusos de toda sorte.
Destarte, eu conheço do recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedente o pedido.
RECURSO ESPECIAL Nº 109.291- RS
(Registro nº 96.0061478-4)
Relator: O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Recorrentes: Ana Maria de Souza Baldo e outros
Recorrida: Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS
Sustentação Oral: Dra. Lilia Bastos (pelos recorrentes)
Advogados: Drs. José da Silva Caldas e outros, e Ana Luiza Frota Lisboa e outros
EMENTA: Vantagem pessoal. Decreto-Lei n f2 2.280/85. Situação provisória. Ausência de violação ao art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 151
1. A própria regra jurídica estabeleceu a vantagem pessoal como provisória, permanecendo, durante a existência da situação de fato prevista, mas, cessando tão pronto essa situação fosse alterada. Desse modo, não há falar em violação ao art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho. Não há espaço para considerar que a regra feriu o contrato de trabalho entre as partes. Não se trata, no caso, de alteração, mas sim, de um benefício criado provisoriamente por lei especial, que, nessas condições, pode impor critérios para o seu gozo.
2. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, nos termos do voto do Senhor Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Costa Leite.
Brasília, 17 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 13·04·98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: Cuida-se de recurso especial interposto por Ana Maria de Souza Baldo e outros com base no art. 105, inciso
IH, alíneas a e c, da Constituição Federal, contra o V. Acórdão prolatado pela 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim ementado:
"Trabalhista. Confissão ficta. Pessoas jurídicas de Direito Público. Inaplicabilidade. Ônus da prova. Relação de emprego. Decreto-Lei n Q 2.280/85. Reenquadramento. Vantagem pessoal. Honorários advocatícios. Custas. Descabimento.
1 - A pena de confissão ficta é inaplicável às pessoas jurídicas de direito público, face à indisponibilidade de seus bens, forte nos arts. 320, H, e 351 do CPC, aplicável ao processo trabalhista por força do art. 769 da CLT.
2 - O ônus da prova da relação de emprego compete ao empregado.
3 -Apretensão dos reclamantes de obter o reenquadramento na forma do parágrafo único do art. 3º do DL 2.280/85 esbarra na insuficiência de elementos probatórios acerca da
152 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
situação particular de cada um.
4 - A chamada "vantagem pessoal" instituída pelo Decreto-Lei nº 2.280/85 é uma vantagem provisória, instituída para ser mantida numa situação determinada, não havendo qualquer violação ao direito adquirido a sua supressão ou redução que se operem na forma da lei que a instituiu.
5 - Os honorários advocatícios são incabíveis no processo trabalhista.
6 - Inexistem custas em processos trabalhistas na Justiça Federal." (fls. 386)
Alegam os recorrentes, servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, violação ao art. 468 da CLT, eis que a incidência do art. 5º, § 2º, do Decreto-Lei nº 2.280/85 "estabeleceu a supressão gradual, através da redução da vantagem pessoal, das vantagens pecuniárias adquiridas pelos servidores em de~ corrência do tempo de serviço e do trabalho já executado, que eram justamente irretiráveis." (fls. 392). Sendo assim, haveria clara violação tanto no que diz respeito aos direitos adquiridos, quanto no tocante à imposição de redução salarial.
Não houve contra-razões e o recurso especial foi admitido (fls. 403).
O presente recurso foi distribuído ao Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, componente da 6ª Turma desta Corte, que solicitou a redistribuição do feito por cuidar-se de
dispositivo da Consolidação das Leis do Trabalho (fls. 408).
É o relatório.
VOTO
o SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (Relator): Os recorrentes, servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ajuizaram reclamatória julgada improcedente. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região proveu, em parte, o recurso para excluir as custas e os honorários advocatícios.
N o especial está escrito que os "autores buscam, com a presente ação, entre outro aspecto, a manutenção do pagamento de vantagem salarial que vem sendo reduzida pela reclamada. Tal vantagem salarial foi instituída, a título de vantagem pessoal, com base no artigo 5º, do Decreto-Lei nº 2.280, visando manter o padrão remuneratório dos servidores, após a reclassificação destes na tabela permanente da Universidade ré". Para os recorrentes há violação ao art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho.
Ocorre que a pretensão da cobertura do art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho não pode ser deferida diante da regra especial do Decreto-Lei nº 2.280/85. De fato, a lei assegurou o pagamento de diferenças individuais se percebessem os servidores remuneração superior à resultante da classificação, na condição de vantagem pessoal, nominalmente identificável. Todavia,
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 153
essas diferenças individuais, na forma do § 2º do art. 5º do mesmo Decreto-Lei, "serão reduzidas sempre que os servidores, por qualquer motivo, mudarem de referência ou de categoria profissional". Ou seja, a própria regra jurídica estabeleceu a vantagem pessoal como provisória, permanecendo durante a existência da situação de fato prevista, mas, cessando tão pronto essa situação fosse alterada. Não há falar em violação ao art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho quando a lei que criou o benefício previu a forma de seu gozo, impondo a sua cessação quando a situação de fato originária foi alterada.
Não há espaço para considerar que a regra feriu o contrato de trabalho entre as partes. Não se trata, no caso, de alteração, mas, sim, de um benefício criado provisoriamen-
te por lei especial, que, nessas condições, pode impor critérios para o seu gozo. Como assinalou o voto condutor da eminente Juíza Tânia Escobar, a regra jurídica questionada "está em consonância com a finalidade da chamada vantagem pessoal, que não foi instituída indistintamente a todos os servidores, mas tão-somente àqueles que estavam percebendo remuneração superior à resultante da classificação, caso em que, na forma do art. 5º, caput, serlhes-iam asseguradas diferenças individuais, como vantagem pessoal". Assim, mudada a referência ou a categoria funcional cessaria o motivo do pagamento da vantagem pessoal.
Destarte, não existente a violação ao art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho, eu não conheço do recurso especial.
RECURSO ESPECIAL Nº 112.974 - SP
(Registro nº 96.0070961-0)
Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves
Recorrentes: Geraldo Correa - Espólio e outro e Dário Correa e outros
Recorridos: Izabel Correa Leite e cônjuge
Advogados: Drs. Marly Voigt e outros, Marcelo Henrique da Costa e outros, e Carlos Alberto Rodrigues
EMENTA: Colação. Fraude à legítima. Ação declaratória (c.c. pedido de anulação de escritura). 1. Prescrição. Prescreve em vinte (20) anos, contados da data do ato. Súmula 106: "Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o aco-
154 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
lhimento da argüição de prescrição ou decadência". 2. Apreciação de prova e valoração de prova. Inexistência de ofensa a princípio probatório; caso de simples reexame de prova ("A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial" - Súmula 7). 3. Recursos especiais não conhecidos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer dos recursos. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.
Brasília, 21 de novembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro NILSON NAVES, Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO NILSON NAVES: Foram estes autos relatados desta forma perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, verbis:
"Izabel Corrêa Leite e seu marido ajuizaram contra o Espólio de Geraldo Corrêa e outros a presente ação declaratória de fraude à legítima, cumulada com pedido de anulação de escritura pública de compra e venda e colação de bem, aduzindo, em bre-
ve síntese, que o pai da requerente e requeridos sempre favoreceu estes últimos, na qualidade de filhos homens, adquirindo imóveis com recursos próprios e repassando-os aos requeridos, em evidente ato de doação. Sustentam os autores haver sido violada a regra que estabelece a igualdade das legítimas.
A r. sentença de fls. 200/208, cujo relatório fica adotado, julgou improcedente o pedido, por não haverem os autores se desincumbido satisfatoriamente do ônus probatório, em abono dos fatos constitutivos de seus direitos.
Inconformados os vencidos aparelham recurso de apelação, buscando a inversão do julgado, com regular processamento e contrariedade. Preparo anotado."
À apelação dos autores o Tribunal deu provimento "para condenar os réus a, na forma do art. 1.785 do Código Civil, colacionarem os valores referidos ou, então, a entregar aos autores, em dinheiro, esses valores, devidamente atualizados (1/7 do real valor à época da abertura da sucessão)". "Responderão os réus", disse o acórdão, "por dois terços das custas e verba advocatícia fixada em duzentos reais". Eis a ementa do acórdão: "Ação Declaratória cumu-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 155
lada com anulação de escritura -Não acolhimento de prejudicial de prescrição - Meritoriamente, procedente a ação, em razão da vistosa e irrecusável ocorrência de simulação - Provimento do recurso."
Dos embargos de declaração apresentados unicamente pelos autores o Tribunal não conheceu, fls. 371/3.
Recorreram o Espólio de Geraldo e Helena Matiusso Corrêa, alegando que o acórdão teria violado os "arts. 177,1.176,1.576,1.788 e 1. 789 do Código Civil e arts. 131, 219,335 e 405 do Código de Processo Civil". Igualmente recorreram Dario Corrêa e outros, alegando violação aos "arts. 177, 1.176, 1.576, 1. 788 e 1. 789 todos do Código Civil, Lei n Q 3.071, de 1Q de janeiro de 1916, bem como aos arts. 131,219, §§ 1Q ao 4Q
, 335 e 405, § 3Q, IVe § 4Q
,
todos do Código de Processo Civil, Lei n Q 5.869, de II de janeiro de 1973".
Mas os recursos não foram admitidos, verbis:
"2. Os recursos não reúnem condições de admissibilidade porque extemporâneos.
Publicado o acórdão recorrido em 10 de agosto de 1995 (fls. 357), sobrevieram embargos declaratórios em 16 de agosto (fl. 359), não conhecidos por intempestivos.
Firmou-se a jurisprudência, na vigência do artigo 538 do Código de Processo Civil com sua primitiva redação, no sentido de que embargos declaratórios extemporâneos não suspendem prazo re-
cursaI (cf. RTJ 121/1.252, Recursos Extraordinários n.í!.> 116.274-1-SP, 109.130-SP, Embargos de Divergência em Recurso Especial n Q 5.875-SP), entendimento esse ainda aplicável na vigência dessa norma com a alteração introduzida pela Lei FederaI8.950/94.
Os recursos foram interpostos em 16 de outubro, p.p., a destempo, portanto, ainda que se considerasse o cômputo em dobro do prazo recursal ex vi do art. 191 do Código de Processo Civil.
3. Ante o exposto, inadmito os recursos."
Provi ambos os agravos de instrumento.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO NILSON NAVES (Relator): Vimos do relatório que os especiais não foram admitidos, porque, consoante o despacho de fls. 445/7, tratar-se-ia de recursos intempestivos. Não, ao que penso não foram eles opostos ao acórdão fora de prazo. E de 22.9 a publicação do acórdão de fls. 371/3, que não conheceu dos embargos de declaração oferecidos pelos autores, conclusivamente:
"Conquanto intempestivo, observa-se que assistiria razão aos embargantes quanto à omissão do V. Acórdão, não a tendo, contudo, quanto ao pedido indeniza-
156 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
tório, de vez que nada provaram nesse sentido. Até as razões recursais pouco referem sobre o que poderiam entender a título indenizatório.
Daí, mesmo que afastada restasse a intempestividade, a rejeição aos embargos era de rigor."
E não foram opostos fora de prazo porque, a uma, em casos que tais, conta-se o prazo, para quem não interpõe os embargos, da data da publicação do acórdão dos declaratórios (aqui, considero, por exemplo, corretas as observações de Theotonio Negrão, invocando o disposto no art. 180; ver notas aos arts. 508 e 538 do Cód. de Pro Civil, de números 7a e 2, in 27ª edição, págs. 380 e 416, respectivamente), a duas, conquanto se disse que os embargos eram intempestivos, foram eles afinal apreciados, quando se disse que de fato o acórdão fora omisso mas que faltava razão aos embargantes ("a rejeição dos embargos era de rigor", fl. 373).
Portanto, trata-se de recursos interpostos tempestivamente.
A matéria impugnada em ambos os especiais é a mesma: diz respeito à prescrição, à faculdade de se dispor da metade da herança e diz respeito à prova. Cuida-se de recursos fundados unicamente na alíneas a, art. 105 - III da Constituição.
A decisão recorrida é acusada de ter ofendido os arts. 177 do Código Civil e 219, §§ 1 Q a 4Q do Cód. de Pro Civil. É que, segundo os recorrentes, as doações indicadas pelos re-
corridos se deram em 23.1 e 19.5.71, ao passo que o despacho que aqui ordenou a citação é de 18.6.91; portanto, "mantiveram-se inertes", enfatizam os recorrentes, "por prazo superior a 20 anos desde a realização do ato, não sendo válido o argumento de que se tratava de herança de pessoa viva, ... ".
No caso em exame, não se cuida de pretensão de anular venda de ascendente a descendente, caso em que, consoante a Súmula 494/STF, a ação prescreve em vinte anos, contados da data do ato. E não se cuida desde o momento em que, no saneamento, o juiz definiu o objeto do processo (pontos controvertidos), dele expurgando a pretensão de anular, in verbis:
"Para alcançarem o resultado almejado - colação do valor dos bens e recomposição da legítima - não é preciso anular o negócio. E evidente que a anulação não repara o prejuízo de que lamentam os autores, pois sua conseqüência seria o retorno dos bens ao patrimônio daqueles que figuraram como alienantes dos imóveis aos filhos do falecido João Corrêa. Desse modo, os autores são carecedores da ação quanto ao pedido de anulação dos negócios e, por conseguinte, os réus Guerino Padovani e sua mulher Terezinha de Paulo Padovani não têm legitimidade para figurar no pólo passivo da demanda, pois a inclusão deles como réus está relacionada com a validade da compra e venda de imóvel, questão esta que é excluída do pedido dos autores."
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A partir daí, disse o juiz que o pedido era juridicamente possível, lembrando-se daqueles brocardos da mihi factum e iura novit curia, e disse mais que a prescrição não se teria verificado, isto porque
" ... toda a argumentação em torno dessa preliminar de mérito foi feita com fundamento na aplicação do art. 1.132 do Código Civil, que trata da compra e venda entre ascendente e descendente. Contudo, conforme já foi dito, o caso diz respeito a suposto adiantamento da legítima feito pelo falecido João Corrêa aos réus. Logo, a prescrição da pretensão dos autores não é disciplinada pelo art. 178, § 9º, V, b, do Código Civil nem pela Súmula 494 do Supremo Tribunal Federal. Na falta de previsão específica, por se tratar de ação pessoal, incide na espécie o prazo prescricional de 20 anos previsto no art. 177 do Código Civil, contado da abertura da sucessão, pois só a partir dessa data é que surge para o herdeiro a pretensão à colação dos bens recebidos em doação pelos demais sucessores do de cujus."
Quando do saneamento, também se entendeu que a petição inicial era confusa, que fosse como o foi emendada, e que petição posteriormente vinda aos autos não alterara a causa de pedir ou o pedido, "pois a petição inicial já mencionava, embora sem ser dará, a existência de suposta doação feita aos réus em detrimento da legítima dos autores".
Foi por isso que o acórdão, reputando prejudicado o agravo retido, sublinhou, no entanto, que
" ... Em sobejando requerimento residual da pretensão dos autores quanto à recomposição patrimonial dos demandantes face à sonegação do inventário de João Corrêa de bens, que só veio a falecer em 1990, outro o prazo prescricional a ser computado. Antes do óbito deste, incabível discussão judicial sobre herança de pessoa viva. A rejeição dos agravos retidos era, pois, de rigor.
Aplica-se, a partir da abertura da sucessão, o prazo para os herdeiros exigirem dos demais colação, em Juízo, dos bens que lhes foram doados pelo de cujus. Não incidem, portanto, nem as regras do art. 1.132 c.c. 178, § 9º, V, do Código Civil e, sim, as do art. 1.576 c.c. art. 177 do Código Civil.
Ademais, perfeitamente adequado o pedido formulado pelos autores. A alternativa de postulações foi suficientemente dara. A. causa de pedir subsiste. E existentes interesse de agir e legitimidade de partes, impõe-se a mantença dos fundamentos constantes no saneador agravado."
É sabido, com apoio em boa parte da doutrina e da jurisprudência, que a ação para anular a doação que se faz em prejuízo de outrem pode ser intentada mesmo em vida do doador. Nesta Turma, há precedente em tal sentido, de que foi relator
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o Sr. Ministro Costa Leite (REsp 7.879, DJ de 20.6.94). Malgrado essa consideração, não creio tenha aqui ocorrido a prescrição, desde que se possa e se queira censurar a instância ordinária relativamente à posição por ela adotada no que diz respeito ao termo inicial: a partir de quando se conta a prescrição. De uma coisa estou certo, porquanto a ação, também a meu ver, prescreve em vinte anos, quem sabe contando-se o prazo, semelhantemente ao que reza a Súmula 494/STF, "da data do ato".
Em tal aspecto, obviamente o acórdão não pode ser acusado de ter ofendido o art. 177 do Cód. Civil. No que tange a sua combinação com o art. 219 e §§, do Cód. de Pro Civil, também falta razão aos recorrentes, conforme se depreende do princípio inscrito na Súmula 106/STJ, verbis: "Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência".
Além disso, a instância ordinária não cuidou das datas das escrituras de venda e compra. Não lhe foram opostos embargos de declaração. A matéria é de prova. Súmulas 282 e 356/STF, e Súmula 7/STJ.
As duas outras questões têm a ver com a apreciação da prova, única e puramente, donde me parecer que não escapam da Súmula 7: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial". Não se trata aqui de caso de valoração de prova, até porque não há
ofensa a princípio probatório. É certo que foram invocados os arts. 131, 335 e 405, mas o acórdão para tomar o rumo que tomou não malferiu o livre convencimento, as regras de experiência e o disposto a respeito de quem pode depor como testemunha.
A questão dos autos estava, desde que definido como vimos aquele objeto, em saber da existência da doação, e se ela teria excedido à parte disponível. Foi assim que a sentença tratou da espécie, tanto que se entendeu que era "De se perquirir, a partir de agora, a situação do caso vertente, examinada a prova trazida a Juízo pelos requerentes". Da análise da prova produzida, concluiu o juiz que
"N o caso vertente, não fizeram os requerentes comprovação segura que desse conta de que os requeridos não foram os verdadeiros adquirentes dos imóveis em questão. Limitaram-se a alegar, sem nada provarem de concreto, nesse sentido. Não infirmaram a prova testemunhal apresentada pelos requeridos e que bem caracterizou nos autos a ocupação profissional que desenvolviam.
De se concluir, pois, que com referência à prova da existência da doação não se desincumbiram os autores do ônus da prova.
VI. Vale registrar ainda que, mesmo que a doação restasse comprovada, ainda assim a procedência do pedido encontraria sério obstáculo. Com efeito, não
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comprovaram os requerentes que a eventual doação tivesse excedido a metade disponível do doador, por ocasião da liberalidade."
Doutro modo, porém, foi o convencimento do Tribunal de Justiça, que assim se convenceu também do exame da mesma prova:
"Esses fatos ficaram suficientemente caracterizados nos imóveis transacionados por Alfredo Luiz Portes (matrícula n Q 0662 do R.I. de Cândido l,\1ota, fls. 22/23) e por Sérgio Benedito Queiroz Assis e Alfredo Antônio Alves Assis (fls. 25/28).
E a prova de que teria havido simulação com preterição das herdeiras-filhas é irrecusável, seja através de farta prova testemunhal, de indícios robustos e de declarações.
Assim, tem-se certeza que as três compras e vendas de imóveis nas quais está constando como adquirentes os co-réus José, Geraldo e Dário, foram efetuadas com valores fornecidos pelo genitor, que só determinou que os bens fossem passados em nome dos filhos do sexo masculino, ora réus.
E o vendedor Alfredo quem por declaração da época, declararia que fizera a transação diretamente com João Corrêa e deste recebera o dinheiro (fls. 21). Essa declaração vem reforçada e, também, ratificada, pelo testemunho de sua viúva, Arlinda, em Juízo (fls. 120 da medida cautelar) e
pelo dito por Vanderlei Ferreira Portes (fls. 193), de que 'nenhum filho de João estava presente na transação'.
Da mesma forma, o alienante Sérgio Benedito declararia, à época (1972), que efetuara a venda de dois imóveis, diretamente a João Corrêa, que foi quem efetuou o pagamento do preço, sendo que as escrituras foram passadas em nome dos filhos do comprador, a pedido deste (fls. 24). Sérgio confirmaria fatos e circunstâncias anotadas naquela declaração (fls. 121/121 vQ da cautelar apensada).
E Alfredo, também, declararia que, quando da venda, o pagamento foi feito por João Corrêa (fls. 194).
Hermes Gonçalves, que era cartorário e serviu de testemunha nas três escrituras públicas (fls. 27, 25 e 22), é bastante incisivo ao confirmar que a compra desses três imóveis rurais foi feita pelo pai, João, que tratou diretamente com os adquirentes e efetuou os pagamentos (fls. 231).
Confirma o que disseram os demandantes no sentido de que os réus 'não tinham condições econômicas de comprar imóvel 'à época' (fls. 231) e que o amigo do de cujus, Sérgio Benedito, que foi seu procurador, tê-l o-ia advertido de 'problemas que poderiam ocorrer na transferência direta dos bens em nome de seus filhos do sexo masculino' (fls. 231).
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E os acionados não comprovaram quantum satis que, efetivamente, seriam credores do de cujus à época das aquisições ou, de que tivessem dinheiro com este armazenado em razão de seus labores (apesar do sustento integral por parte de seu pai ... ). Bastaria terem anexado declaração de imposto de renda da época. Se sua irmã Luiza, que eles arrolaram como testemunha, afirmaria 'que eles não tinham dinheiro próprio para comprar' (fls. 191), evidente que houve doação de dinheiro pelo pai para a compra dos imóveis rurais ...
O fato de trabalharem na lavoura, com indicação de que o pai lhes fornecia sustento, alimentação e vestuário, não significaria que tivessem amealhado os réus valores significativos para as compras efetuadas, todas a uma mes-
ma época. E essa prova inexiste nos autos como vaga e imprecisa, inclusive quanto a períodos, são as assertivas de parceria, etc ... Nem é crível que pudessem dispor, os três, de uma só vez, quantias para comprarem mais de sessenta alqueires paulistas de terras. Fosse assim, não haveria trabalhadores rurais 'sem terra'.
A doação do equivalente econômico dos valores das terras adquiridas pelo de cujus era, portanto, colacionável. Como o doador não determinou, expressamente, saíssem de sua metade disponível os valores doados, devem ser conferidos, integralmente, com os demais."
Isto posto, não conheço dos recursos especiais.
RECURSO ESPECIAL NQ 119.705 - RS
(Registro n Q 97.0010587-3)
Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zueiter
Recorrente: Organizações Lima, Administração e Assessoria Financeira Ltda.
Recorridos: Irmãos Thonnigs e Companhia Ltda. e outro
Advogados: Drs. Vitalino Cézar Pereira e outro, e Ademar Jorge Metz e outros
EMENTA: Comercial - Factoring - Atividade não abrangida pelo sistema financeiro nacional- Inaplicabilidade dos juros permitidos às instituições financeiras.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 161
I - O Factoring distancia-se de instituição financeira justamente porque seus negócios não se abrigam no direito de regresso e nem na garantia representada pelo aval ou endosso. Daí que nesse tipo de contrato não se aplicam os juros permitidos às instituições financeiras. É que as empresas que operam com o factoring não se incluem no âmbito do Sistema Financeiro Nacional.
II - O empréstimo e o desconto de títulos, a teor do art. 17, da Lei 4.595/1964, são operações típicas, privativas das instituições financeiras, dependendo sua prática de autorização governamental.
III - Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Menezes Direito, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Menezes Direito, Costa Leite, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.
Brasília, 7 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro WALDEMARZVEITER, Relator.
Publicado no DJ de 29-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER: Cuida-se de Embargos à Execução em que Embargante Irmãos Thonnigs & Cia. Ltda. e Em-
bargada Organizações Lima - Administração e Assessoria Financeira Ltda.
De há muito, ambas as empresas vinham, entre si, celebrando operações de factoring, sendo certo que Irmãos Thonnigs & Cia. Ltda. e outro (faturizada) cedia às Organizações Lima (factor) duplicatas originárias das vendas que faziam, mediante recebimento de valor nominal inferior ao título cedido.
Daí que as notas promissórias não seriam passíveis de execução, já que tais letras foram emitidas em substituição às duplicatas retiradas ou canceladas e tão-só até que, sobre estas, a faturizada prestasse contas.
A sentença (fls. 529) julgou improcedentes os Embargos, concluindo que as referências todas trazidas pela embargante não foram capazes de abalar a liquidez e certeza dos títulos de crédito em execução.
Inconformada a Empresa (Irmãos Thonnigs & Cia. Ltda.) interpõe Apelação e o acórdão recorrido, ao julgá-la, concluiu (fls. 563):
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"Embargos do devedor. Factoring. Emissão de NPs em substituição a títulos impagos ou pedidos de volta pela facturizada. Valor superior ao crédito adquirido.
É devido o valor relativo ao efetivo débito, com correção oficial e juros de 12% a.a. Submetida ajuízo questão, impõe-se seja a lei cumprida para limitar a incidência de juros ao teto legal.
Apelo provido .em parte."
Declaratórios são acolhidos para esclarecer sobre honorários a fls. 572.
No Especial (art. 105, lU, a e c) - fls. 579 - alega a recorrente que o aresto teria violado o art. 17 da Lei 4.595/64, ao não admitir cobrança dejuros a nível do permitido pelo Sistema Financeiro Nacional, como deferida aos estabelecimentos bancários. Alega ainda que, sobre o tema, divergiu de precedentes, inclusive do STJ, que anota.
Às fls. 602, deferiu-se o processamento do apelo, na eventualidade de o aresto ter violado dito artigo legal ou discrepado de jurisprudência apontada.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO WALDEMAR ZVEITER (Relator): É assim que o em. Relator enfrenta o tema (fls. 563/565):
"Inicialmente, relevante é esclarecer que a relação negociaI denominada Factoring é um contrato atípico, não regulamentado entre nós. Caracteriza-se pela aquisição de créditos faturados de uma empresa, mediante remuneração, assumindo o factor o risco de cobrá-los e, eventualmente de não recebê-los integralmente. Esse risco é o fundamento da cobrança de taxas superiores às do bancos.
Alguns julgadores têm caracterizado tal relação como verdadeira cessão de crédito.
No caso dos autos, comprovou a embargada exeqüente sua condição de empresa, afeita à atividade de factoring.
Também comprovado ficou que as Notas Promissórias executadas foram emitidas em substituição aos títulos devolvidos aos embargantes por não pagos ou pagos diretamente à endossante.
Entretanto, alguns aspectos não considerados na douta sentença apelada merecem alinhados:
Em primeiro lugar, quando endossaram à embargada os títulos que posteriormente resgataram e substituíram pelas Nps, os embargantes receberam valor reduzido, já que descontados os normais encargos monetários atinentes à atividade da empresa de factoring.
Em segundo lugar, não demonstrou o factor, a contento, como obteve o valor executado,
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que, segundo a perícia, supera o valor dos títulos substituídos.
Ainda, ressalte-se, não atentou o julgador original para a conclusão pericial. O expert do Juízo apurou o saldo devedor favorável ao embargado/apelado de 3.727,32 BTNF, fl. 339, abatidos os juros e correção monetária excessivos, além dos gastos processuais, ônus da exeqüente.
Acresce-se a isto o fato de, apesar de ter sido o relacionamento das partes de longa data, o que resultou na aceitação pelos embargantes das condições impostas pelo factor, posta a questão em Juízo, ou sua solução submetida ao Poder Judiciário, ao julgador incumbe o cumprimento da lei, ainda que reiterado o procedimento noutro sentido. Vale dizer, a limitação dos juros e a correção monetária sob índices oficiais é corolário óbvio e indisponível pelas partes. Ao julgador incumbe evitar a exacerbação da ganância financeira quando lhe é submetida questão da natureza da presente.
Assim, ainda que louvável o entendimento do julgador de primeiro grau, relegar a segundo plano a legislação pátria é chancelar a liberdade de extorsão e negar a jurisprudência dominante e antigos regramentos, como o Dec.-Lei 22.626/33, a chamada Lei de Usura.
Pelo exposto, o voto é no sentido de reformar parcialmente o decisum para prover em parte o
apelo e reduzir o valor a ser pago pelos embargantes ao embargado para 3.727,32 BTNFs, devendo o valor ser atualizado desde a citação, com correção monetária pelos índices oficiaÍs, acrescidos dos juros no limite legal de 12% ao ano, e convertido à moeda atual, invertendo-se os ônus da sucumbência. No mais, fica mantida a sentença hostilizada."
Com o Especial arrimado nas alíneas a e c, pretende, em síntese, o recorrente lhe seja deferida a aplicabilidade ou incidência de juros, na mesma medida em que o Sistema Financeiro concede aos estabelecimentos financeiros ou bancários.
Daí que a solução almejada só resulta clara, se definida a natureza jurídica ou econômica da requerente ou de sua atividade de faturização. Vale dizer, saber se ela está incluída ou não no âmbito da tutela do Sistema Financeiro N acionaI, com suas operações reguladas pela Lei 4.595/64.
Estudos realizados sobre o instituto afastam-no do grupo daqueles que operam à sombra do Sistema Financeiro, como se pode ver desse escólio, consignado às fls. 80 da Rev. de Direito Mercantil nº 54 (abril-junho/1984) sob o título o Factoring e a Legislação Bancária Brasileira -Wilson do Egito Coelho:
"Como se vê, a Circular (703, de 16/6/82, do BACEN) não impõe propriamente uma proibição à prática do fomento comercial; simplesmente adverte que as pessoas
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que praticarem aquelas operações de "aquisição, administração e garantia de liquidez dos direitos creditórios de pessoas jurídicas, decorrentes do faturamento da venda de seus bens e serviços", poderão ("serão passíveis de") incorrer na prática de crime de atividade, por estarem atuando como instituição financeira, sem a devida autorização.
Ora, não é preciso dizer mais nada para perceber-se que a advertência não conduz a qualquer ato eficaz. Em primeiro lugar, porque as hipóteses indicadas na Circular 703, nem de longe tipificam atividade privativa de instituição financeira. Não a tipificam, muito menos, as operações de factoring que as empresas de fomento comercial se propõem a praticar no Brasil. Pelo contrário. Os bancos, para manterem sempre pronta a posição de liquidez, são proibidos de imobilizar-se além dos limites razoáveis que o Poder Público lhes traça, estritamente necessários à realização de seus fins (v. art. 4Q
, XI, da Lei 4.595). Portanto, só em condições especialíssimas e excepcionais as instituições bancárias poderão ser autorizadas a adquirir ativos de outras instituições, tais como "direitos creditórios de pessoas jurídicas, decorrentes do faturamento da venda de seus bens e serviços".
Deste modo, nem por semelhança as operações de factoring, propostas pelas empresas brasileiras de fomento comercial, po-
derão ser identificadas com as privativas das instituições bancárias ou financeiras, descritas no art. 17, da Lei 4.595 (a esse propósito, ver, de nossa autoria, "Interpretação teleológica do art. 17 da Lei 4.595, de 1964", in RDM 41/69, jan.-mar., 1981)."
E no final da lição, arremata sua análise, ponderando, (fls. 82) verbis:
"Mas, essas observações são hipotéticas. O que nos parece certo é que o Banco Central, com a edição daquele normativo, quis, simplesmente, chamar a atenção das empresas de fomento comercial para que se resguardem da prática de atos privativos de instituições financeiras, segundo a definição do art. 17, da Lei 4.595, dentro dos limites fixados pelajurisprudência, amplamente amparada pela doutrina; isto é, coletar recursos do público para, como intermediadores de crédito, emprestar a outros."
O entendimento jurisprudencial é também no sentido de que o factoring distancia-se da instituição financeira ou bancária justamente porque seus negócios não se abrigam no direito de regresso (como no caso de duplicatas, sob caução bancária) e nem na garantia representada pelo aval ou endosso.
Essa definição, no que aproveita ao caso, está proclamada no RHC 6.394/RS, como abaixo:
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 165
"Recuso em habeas corpus. Exame aprofundado de provas. Crime. Operações privativas de instituições financeiras. Factoring. Recurso improvido.
1. O empréstimo e o desconto de títulos, a teor do art. 17, da Lei 4.595/1964, são operações típicas, privativas das instituições financeiras, dependendo sua prática de autorização governamental.
2. O factoring distancia-se da instituição financeira justamente porque seus negócios não se abrigam no direito de regresso e nem na garantia reapresentada pelo aval ou endosso.
3. Nestas circunstâncias, imprópria e inadequada a via do Habeas Corpus para o pretendido debate acerca da atipicidade do fato, de modo a extremar as operações de Factoring daquelas próprias das instituições financeiras, ou da ausência do elemento subjetivo." (DJ de 30.6.97)
Ora, se a operação de factoring é de natureza comercial e, como se vê, até sujeita à sanção se praticada por estabelecimentos bancários, sem autorização do Bacen, é porque se trata de contrato comercial, atípico, praticado entre empresas comerciais que, nessa cessão de crédito, não têm direito de regresso contra o cedente. Enfim, trata-se de contrato por meio do qual um comerciante cede a outrem os créditos correspondentes às suas atividades, total ou parcialmente, recebendo, em contrapartida, remuneração consistente
em desconto sobre os respectivos valores.
Daí que correto se houve o acórdão, ao denegar ao recorrente a incidência de juros, segundo a taxa concedida pelo Sistema Financeiro, às instituições bancárias.
Atento a essas considerações, temse como certo que inexistiram as pretendidas violações às normas da Lei 4.595/64. Nem, por outro lado, ocorreu a discrepância jurisprudencial pretendida e apontada, eis que não os precedentes não vestem a hipótese concreta deste caso.
Forte nessas considerações, não conheço do recurso.
VOTO- VISTA
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: Embargosà execução postos pelo recorrido julgados improcedentes pela sentença. Todavia, o Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul proveu o apelo, em parte, para "reduzir o valor a ser pago pelos embargantes ao embargado para 3.717,32 BTNFs, devendo o valor ser atualizado desde a citação, com correção monetária pelos índices oficiais, acrescido dos juros no limite legal de 12% ao ano, e convertido à moeda atual, invertendo-se os ônus da sucumbência". Os declaratórios alcançaram apenas, a verba da sucumbência, sendo acolhidos para repartir as custas e fixar os honorários de forma proporcional. O especial questiona osjuros, asseverando que as empresas de factoring estão equipara-
166 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
das às instituições financeiras e, portanto, não estão limitadas aos juros previstos na Lei de Usura.
Em cuidadoso voto, o eminente Ministro Waldemar Zveiter, Relator, não conheceu do especial ao argumento de não se enquadrar o factoring no conceito de instituição financeira ou bancária "justamente porque seus negócios não se abrigam no direito de regresso (como no caso de duplicatas, com caução bancária) e nem na garantia representada pelo aval ou endosso". Conclui o ilustre Relator, invocando precedente (RRC nº 6.394/RS, DJ de 30.06.97), que "se a operação de factoring é de natureza comercial e, como se vê, até sujeita à sanção se praticada por estabelecimentos bancários, sem autorização do Bacen, é porque se trata de contrato comercial, atípico, praticado entre empresas comerciais que, nessa cessão de crédito, não têm direito de regresso contra o cedente. Enfim, trata-se de contrato por meio do qual um comerciante cede a outrem os créditos correspondentes às suas atividades, total ou parcialmente, recebendo, em contrapartida, remuneração consistente em desconto sobre os respectivos valores".
É necessário salientar que a sentença não desafiou a questão dos juros, sob o aspecto da usura, seguindo outro caminho, no plano conceitual. De fato, o juiz sentenciante afastou "quaisquer perquirições sobre juros excessivos cobrados pelo factor na compra de ativos financeiros. Não há qualquer prova de que a em-
bargada praticava verdadeiro desconto bancário com taxas pós-fixadas; demonstrou-se, sim, que comprava títulos de crédito, pagando por eles valor sempre inferior ao nominal. Nesse tipo de negócio o risco é do factor, que por tal se remunera, não cabendo falar em juros, mas empreço. Dessa forma fica afastada a intenção esboçada pelo embargante no sentido de obter dedução de valores cobrados a maior em operações anteriores, a pretexto de terem sido usuários." (fls. 528/ 529)
Os embargantes, segundo a inicial, negociavam, desde janeiro de 1989, compra de duplicatas mercantis, primeiro no valor de Cz$ 40.133.826,00; em seguida, no valor de NCz$ 54.125,48. Na primeira operação, a cedente recebeu o total de Cz$ 24.150.000,00, em duas parcelas, de Cz$ 15.100.000,00 e Cz$ 90.050.000,00, respectivamente, na segunda, recebeu da embargante o total de NCz$ 30.300,00, também em duas parcelas, de NCz$ 10.150,00 e NCz$ 20.150.000,00. Afirma a inicial que, aparentemente, os valores eram fixos, mas, na realidade, as taxas negociadas nessas operações eram pós-fixadas. Fluindo bem, o negócio passou a ser efetuado por meio de conta corrente, "onde eram debitados os aportes de dinheiro, e creditadas as duplicatas, já com taxas "prefixadas", a compra e venda de ativos passou a ser feita com um simples demonstrativo de aquisição de duplicatas, onde constavam as características delas, as taxas de descontos, ou deságios, o valor líquido, e o valor
R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 167
que a financiadora entregava à cedente. Mas, frise-se, sem contrato, e simplesmente mediante um mero recibo de cedência, ou de aquisição definitiva das duplicatas. Assim, é que quando a cessionária recebia o valor das duplicatas que lhe haviam sido endossadas, sempre restava um valor a ser complementado pela embargante". Ainda segundo a inicial, os "negócios, em conta corrente, transcorreram normalmente até setembro de 1989, com a cessão de um número enorme de valores e duplicatas, sem que tivesse havido qualquer prestação de contas pela autora, até porque ela era a exclusiva proprietária dos títulos endossados, por força de contrato". Ocorre que em setembro de 1989, a exeqüente expediu telex relacionando diversas duplicatas, "exigindo o valor das duplicatas ali elencadas, porém, sem explicar se as mesmas tivessem sido pagas, ou se tivesse sido recusado seu pagamento, a que pretexto fosse". Esse fato básico é que amparou a emissão das notas promissórias, "como mera garantia dos valores pleiteados, vindo a ser completada para viabilizar a execução."
A operação de factoring, portanto, está diretamente relacionada com a compra de títulos para cobrança. Dá-se, na verdade, uma transferência do título emitido pela vendedora para a empresa de factoring, pagando esta o valor do título, descontada uma certa quantia, que é a remuneração pela transação. Na dicção de Carlos Alberto Bittar "faturização é, pois, o ajuste por meio do qual um comerciante cede
a outrem os créditos correspondentes às suas atividades, total ou parcialmente, recebendo, em contrapartida, remuneração consistente em desconto sobre os respectivos valores, com os juros respectivos. Representa, no fundo, uma verdadeira alienação ou venda do faturamento." (Contratos Comerciais, Forense Universitária, 1990, pág. 192)
Em estudo de 1986, Newton de Lucca, sob o império da Circular n Q
703, de 16.06.82, do Banco Central do Brasil, considerou que o factoring estaria enquadrado dentre as atividades próprias das instituições financeiras, reconhecendo embora que o denominado maturity factoring, "estaria inteiramente à margem das operações próprias do Sistema Financeiro Nacional". Nesta modalidade, o factoring exclui a atividade de financiamento "subsistindo, entretanto, tanto a gestão e a cobrança de faturas, como a garantia dos pagamentos nas datas de seus vencimentos", deixando a "empresa faturizadora, aqui, de antecipar os valores a seu cliente, mas deixa de assumir o risco do inadimplemento por parte dos terceiros devedores". Já na modalidade conventional factoring, que é, na verdade, "a forma mais tradicional das operações de faturização, sendo oferecida ao faturizado a mais variada gama de serviços e contratos, compreendendo, geralmente, os seguintes: aquisição à vista dos créditos com renúncia ao direito de regresso, gestão de tais créditos, notificação da cessão ao devedor etc.", ainda que se não confunda com operação de desconto estaria claramente
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configurada a natureza de instituição financeira (Faturização no Direito Brasileiro, RT, págs. 19 e segs.).
Essa compreensão inaugural do Banco Central do Brasil não teve maior êxito.
Arnold Wald, mostra que o Banco Central, com o correr do tempo, "admitiu que tais operações não eram necessariamente de natureza financeira, dentro dos limites em que a empresa de factoring não captava recurso de depositantes", para concluir configurando a empresa de factoring como entidade "para-financeira." (Curso de Direito Civil Brasileiro, Obrigações e Contratos, RT, 12ª ed., atualizada por Semy Glanz, pág. 467)
Já Fran Martins manteve posição contrária ao entendimento inicial do Banco Central, argumentando "que as empresas de faturização se distinguem das instituições financeiras porque estas não realizam operações de risco", assinalando que na França não são como tal caracterizadas, o mesmo acontecendo no direito italiano, onde não está legalmente regulamentado o contrato. Fran Martins indica o modo de operação no contrato de factoring como se segue, no que interessa:
"As contas são remetidas ao faturizador mediante um bordereau compreendendo a totalidade das mesmas, acompanhado de cópias das faturas emitidas pelo vendedor e mais documentos porventura existentes, versando sobre as mesmas, inclusive títulos
de crédito que, nesse caso, serão endossados ao faturizador. A partir da remessa das contas ao faturizador cessam os encargos do faturizado em relação à cobrança dos créditos. Essa será feita pelo faturizador, pelo que nas faturas consta sempre uma declaração de que a conta foi cedida. Dá o faturizado ciência ao devedor dessa cessão, para que esse pague a dívida ao faturizador e não mais ao faturizado ou vendedor.
O pagamento do faturizador ao faturizado é feito quando recebe as contas aprovadas ou na forma convencionada no contrato. Em geral, é aberta uma conta corrente entre faturizador e faturizado, sendo as remessas anotadas nessa conta para uma verificação posterior do saldo exigível. As faturas apresentadas antes do vencimento serão pagas pelo faturizador mediante lançamentos de crédito na conta corrente; as deduções das comissões serão escrituradas como débito. N aturalmente, as contas-clientes que o faturizado certamente teria em relação aos seus compradores passarão a cargo do faturizador." (Contratos e Obrigações Comerciais, Forense, 9ª ed., págs. 559 e segs.)
N o mesmo compasso está Arnaldo Rizzardo lembrando Acórdão do antigo Tribunal Federal de Recursos ordenando o arquivamento na Junta Comercial dos atos constitutivos de uma sociedade de factoring, independentemente de au-
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torização do Banco Central, que, em conseqüência, sedimentado tal entendimento, viu-se obrigado a revogar a Circular n Q 703 pela Circular n Q 1.359, de 03.10.88 (Factoring, RT, 1997, págs. 26 segs.).
Está, pois, bem claro que a empresa de factoring não é uma instituição financeira e que para o seu funcionamento não se exige a autorização do Banco Central do Brasil. Não há falar em atividade bancária no factoring. Vale anotar que a Lei n Q 8.981/95, que alterou a legislação tributária federal, conceituou o factoring como a "prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços" (art. 28, § 1 Q, alínea c, item 4). Fica claro, a meu juízo, que, de fato, não há vinculação entre o contrato de factoring e as atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras, ainda que estas possam desempenhar algumas das atividades relacionadas na lei. Essa conclusão leva a uma discussão sobre a remuneração do factor, ou seja, a contraprestação pelos riscos assumidos e pela gestão do crédito, que inclui os juros, dentre outros elementos.
Gonçalo Ivens Ferraz da Cunha e Sá, cuidando do tabelamento dos juros no contrato de factoring, adverte com a limitação "estaria totalmente inviabilizada, entre nós, a prática dessa modalidade contratual. Isso porque o factoring não te-
ria condições de competir com o desconto. O factoring oferece ao seu consumidor todas as vantagens do desconto e mais a da assunção do risco, portanto, o factoring é um produto tradicionalmente mais caro que o desconto". E, por fim, sugere o autor "que o prêmio - que o faturizador recebe por chamar a si o risco de não pagamento, no vencimento, dos créditos cedidos - fique fora do tabelamento." (in Revista de Direito Mercantil, n Q 73, págs. 114 e segs.)
Arnaldo Rizzardo pondera corretamente que não é possível aplicar sistema de juros fora do quadro legal infraconstitucional. E anota que o art. 1.062 do Código Civil prescreve osjuros legais de 6% a.a., e que o art. 1.262 do mesmo Código autoriza, por cláusula expressa, a fixação de juros ao empréstimo de dinheiro e de outras coisas fungíveis, abaixo ou acima da taxa legal, com ou sem capitalização. Ocorre que o Decreto n Q 22.626/33 veda a estipulação de juros superiores ao dobro da taxa legal, vedada a capitalização dos juros, com o que, "na remuneração pela compra dos créditos, o componente juros - calculado entre a data da venda e a do vencimento - ficará no limite máximo de 12% ao ano. Possível, portanto, revisar a remuneração quanto aos juros embutidos, que jamais poderão atingir a taxa praticada pelos bancos." (cit., pág. 93).
Neste feito, a sentença afastou "quaisquer perquirições sobre juros excessivos cobrados pelo factor na compra dos ativos financeiros. Não
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há prova de que a embargada praticava verdadeiro desconto bancário com taxas pós-fixadas; demonstrou-se, sim, que comprava títulos de crédito, pagando por eles valor sempre inferior ao nominal. Neste tipo de negócio o risco é do factar, que por tal se remunera, não cabendo falar em juros, mas em preço. Dessa forma, fica afastada a intenção esboçada pela embargante no sentido de obter dedução de valores cobrados a maior em operações anteriores, a pretexto de terem sido usuários." (fls. 528/529)
Todavia, o Acórdão ora recorrido impôs os juros a 12% a.a., com correção oficial, ou seja, limitou a incidência dejuros ao teto legal (fls. 563 a 666). Mas, o Acórdão recorrido considerou, ainda, estes aspectos:
"Em primeiro lugar, quando endossaram à embargada os títulos que posteriormente resgataram e substituíram pelas NPs, os embargantes receberam valor reduzido, já que descontados os normais encargos monetários atinentes à atividade da empresa de factoring.
Em segundo lugar, não demonstrou o factor, a contento, como obteve o valor executado, que, segundo a pericial, supera o valor dos títulos substituídos.
Ainda, ressalte-se, não atentou o julgador original para a conclusão pericial. O expert do Juízo apurou o saldo devedor favorável ao embargado/apelado de 3.727,32 BTNF, fl. 339, abatidos os juros e correção monetária excessivos,
além dos gastos processuais, ônus da exeqüente."
O especial vem com força na configuração de instituição financeira para a empresa de factoring, apresentando precedente sobre a ausência de limitação de juros cobrados pela primeira. E isso, como já vimos, não é o caso. Ao revés, se não é instituição financeira, não servem para a empresa de factoring os precedentes que põem os juros cobrados pelos bancos fora do limite legal, deixando de aplicar a chamada Lei de Usura.
Por outro lado, a remuneração do factor não sofrerá qualquer abalo com essa correta interpretação da disciplina do direito positivo, no atual estágio, sobre a atividade de factoring. Na verdade, como assinalou Arnaldo Rizzardo, os contratos de factoring não discriminam adequadamente os componentes da comissão (pág. 93), sendo certo, ademais, que a remuneração propriamente dita da atividade pode ser livremente avençada pelas partes. E, ademais, há o risco próprio do negócio que há de ser considerado pelo factor para fixar o preço do negócio.
Em conclusão, tenho como fora do âmbito das instituições financeiras as empresas de factoring, que, por isso mesmo, não podem aplicar a taxa de juros do mercado financeiro, estando sob o rigor do teto legal de 12% a.a., nos termos do Decreto n Q 22.626/33.
Destarte, eu não conheço do especial.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 171
VOTO
O SR. MINISTRO COSTA LEITE (Presidente): Acompanho o eminente Ministro-Relator. O meu convencimento formou-se no sentido de
que, realmente, as empresas de factoring não são instituições financeiras a fim de se beneficiarem da disciplina da lei da reforma bancária. Prevalece, em relação a tais empresas, a disciplina da Lei de Usura.
RECURSO ESPECIAL NQ 161.909 - RS
(Registro nQ 98.0000694-0)
Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Sanremo S/A
Recorrida: Indústria de Plásticos Engel Ltda.
Advogados: Drs. João Bittencourt de Medeiros e outro, e Milton Leão Barcellos e outro
Sustentação Oral: Sustentou oralmente, o Dr. João Bittencourt de Medeiros, pela recorrente
EMENTA: Propriedade Industrial.
Informação falsa, veiculada em mensagem publicitária, consignando-se a existência de patente quando, em verdade, apenas se havia feito o depósito do pedido de privilégio.
Havendo sido deferida a patente, não se vislumbra prejuízo para o concorrente, em virtude daquela informação, tendo em vista o disposto no artigo 23 e seu parágrafo único da Lei 5.772/71.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar pro-
vimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Nilson Naves.
Brasília, 24 de março de 1998 (data do julgamento).
172 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
Ministro COSTA LEITE, Presidente. Ministro EDUARDO RIBEIRO, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Indústria de Plásticos Engel Ltda. ajuizou ação de indenização contra Sanremo S/A, alegando prática de concorrência desleal. A autora, fabricante de fichas plásticas destinadas a vale-transporte, tomou conhecimento de que a ré, sua concorrente direta, havia requerido o depósito da patente de dispositivo que seria reprodução de produto seu. A ré, de posse do pedido de depósito, notificou a autora por seu uso abusivo e ilegal, pleiteando que se comprometesse a interrompê-lo. Comunicou, ainda, à comissão de licitação, responsável por certame onde concorria a autora, o pedido de depósito, antes de seu deferimento, e fez publicar em revista especializada propaganda onde afirmava deter a patente do produto. O pedido de depósito sofreu oposição de terceiros que sustentaram não estar presente o requisito da novidade.
Julgada improcedente em primeiro grau de jurisdição, apelaram ambas as partes: a autora pleiteando a procedência do pedido e a ré buscando a majoração da verba honorária. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu provimento ao apelo da autora, condenando a ré a indenizar, e julgou prejudicado
seu recurso. Interpôs essa recurso especial, apontando negativa de vigência ao art. 59 da Constituição da República, 458, II e IIl, do Código de Processo Civil e 59 e 23 da Lei 5.772/71 (Código de Propriedade Industrial), bem como divergênciajurisprudencial. Negado seguimento ao recurso, apresentou a ré agravo de instrumento, que converti no presente recurso especial.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO (Relator): O acórdão considerou que não houve ilicitude no procedimento da ora recorrente, ao efetuar notificações, consignando que havia feito o depósito do pedido de patente. Entendeu, entretanto, que o mesmo não se verificara com a propaganda inserida na revista "Via Urbana". Nessa constaram dizeres de que resultava ser a recorrente detentora de patente, cujo número era indicado, e que a industrialização, comercialização ou uso não autorizado sujeitaria o infrator às penas da Lei 5.772/71, sem prejuízo das perdas e danos. Ocorre que a informação não era verdadeira. Quando feita a publicação, havia ela apenas efetuado o depósito, ainda não tendo a patente, que só lhe foi outorgada anos após. Entendeu a decisão recorrida que se configurava aí a concorrência desleal e, tendo por dispensável a prova do prejuízo, arbitrou em cinqüenta mil reais o valor da indenização.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 173
Como assinalou o julgado em exame, houve regular exercício do direito, por parte da recorrente, ao proceder a notificações de que havia sido efetuado o depósito do pedido de privilégio. É que, se houver exploração do invento, mesmo antes da concessão do privilégio, mas após o depósito, uma vez obtida a patente terá seu titular direito de indenização, inclusive em relação a esse período.
No caso, veio a requerente a alcançar o deferimento do pedido. Tornou-se titular do privilégio de invenção. Daí se conclui que, se houvesse a ora recorrida explorado o invento, após o depósito, ficaria exposta à exigência de pagar indenização, como estabelecido no artigo 23 e seu parágrafo único da Lei 5.772/71. Se assim é, não se vislumbra qual o prejuízo que possa ter tido.
Impressionou-se o acórdão com a circunstância de a recorrente ter divulgado informação que não correspondia à verdade. Certo que o fez, o que se há de ter como censurável. Ocorre que a recorrida não poderia, de qualquer sorte, explorar a invenção e, se assim é, não há como reconhecer lhe haja advindo prejuízo. Não se trata da dificuldade de fixálos - o que o acórdão admitiu -, mas da impossibilidade de que hajam ocorrido.
Tenho como certo, em vista do exposto, que o julgado não deu aplicação ao citado dispositivo legal, na extensão em que o haveria de fazer, terminando por violá-lo.
Conheço e dou provimento ao recurso para julgar improcedente a ação. A autora pagará as custas e honorários, fixados esses em dez mil reais.
RECURSO ESPECIAL Nº 164.125 - RJ
(Registro nº 98.0009992-1)
Relator: O Sr. Ministro Costa Leite
Recorrentes: Berenice de Souza Ferreira e outro
Recorridos: Carvalho de Sousa Ferragens S/A e outros
Advogados: Sérgio Murilo Santos Campinho e outros, e Wanderley Lobianco e outros
EMENTA: Processo Civil e Comercial. Recurso especial. Admissibilidade. Sociedade Anônima. Dissolução.
Ruptura da affectio societatis constitui questão que apresenta contornos fáticos, atraindo, assim, a incidência da Súmula nº 07.
174 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
A falta de lucratividade ajusta-se à hipótese de dissolução do art. 206, lI, b, da Lei das Sociedades Anônimas, desde que reponte o malogro no intento de lucro, o que não foi reconhecido pelo acórdão, deixando o fundamento em que se estabeleceu entrever causa conjuntural. Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter e Menezes Direito.
Brasília, 26 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro COSTA LEITE, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 03-08-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO COSTA LEITE: Trata-se de recurso especial manifestado por Berenice de Souza Ferreira e outro, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão da e. Terceira Câmara do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, cujos fundamentos foram assim sintetizados na ementa:
"Ação de Dissolução de Sociedade Anônima. Impropriedade de averiguação da affectio societa-
tis por não se tratar de sociedade de pessoas. Inocorrência de qualquer das hipóteses elencadas no art. 206, II, da Lei 6.404/76. Não provimento do recurso."
Sustentam os recorrentes que o v. acórdão recorrido, ao assim decidir, contrariou o art. 206, II, b, da Lei 6.404/76 e dissentiu dejulgados de outros tribunais.
Processado e admitido o recurso, subiram os autos.
É o relatório, Senhores Ministros.
VOTO
O SR. MINISTRO COSTA LEITE (Relator): Interpretando cláusula contratual e apreciando soberanamente a prova - a propósito realizou-se perícia, firmou-se o v. acórdão recorrido em que a empresa cuja dissolução é perseguida vem cumprindo uma das atividades constantes do seu objeto social, daí o rechaço à pretensão deduzida com base no que se contém no art. 206, II, b, da Lei nº 6.404/76.
Alegam os recorrentes, em primeiro lugar, a ruptura da affectio societatis. Por aí, entretanto, o recurso não reúne condições de admissibilidade. Com efeito, ainda que se entenda possa o alegado constituir
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998. 175
motivo a ensejar a dissolução, à luz do mencionado dispositivo legal, o que foi negado pelo acórdão, certo é que se trata de questão que não se esgota no plano jurídico. Apresenta contornos fáticos que atraem a incidência da Súmula nº 07/STJ e, contrariamente ao que se afirma no recurso, com o intuito de arredar o óbice sumular, o acórdão não reconheceu a ocorrência de ruptura da affectio societatis.
A outra questão diz com a apontada falta de lucratividade. É incontestável que isso ajusta-se à hipótese legal de dissolução que se acha em causa, desde que reponte o ma-
logro no intento de lucro, que move as sociedades comerciais. O fundamento em que se estabeleceu o acórdão, no particular, não evidencia isso, apontando antes causa conjuntural, tanto assim que afirmou encontrarem-se outras empresas na mesma situação. O recurso insiste com a impossibilidade de a empresa gerar lucro. Sucede que a respeito disso não se posicionou o acórdão, ao qual não foram opostos embargos de declaração.
Assim sendo, não conheço do recurso. É como voto, Senhores Ministros.
176 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 127-176, setembro 1998.
RECURS'O ESPECIAL Nº 5.452 - MS
(Registro nº 90.0010143-3)
Relator: O Sr. Ministro Fontes de Alencar
Recorrentes: Afrânio de Oliveira Barbosa e outro
Advogados: Drs. Paulo Tadeu Haendchen e outros
Recorridos: Modesto Brock e outros
Advogados: Drs. Joaquim Jair Ximenes Aguiar e outros
Sustentação Oral: Dr. Joaquim Jair Ximenes Aguiar, pelos recorridos
EMENTA: Recurso especial.
- Súmula 07 do STJ.
- Insubsistência da alegada negativa de vigência de lei federal.
- Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausentes,justificadamente, os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília, 03 de junho de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro FONTES DE ALENCAR, Relator.
Publicado no DJ de 29-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR: Afrânio de Oliveira Barbosa e Eurídice Garcia Barbosa promoveram, contra Modesto Brock e outros, Ação de Rescisão de Contrato de Compra e Venda, cumulada com Anulação de Escritura Pública, e Perdas e Danos.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 179
o Juiz de Direito (sentença de fls. 625/639) julgou
"procedente em parte a ação para condenar os réus a pagarem aos autores o valor de Cr$ 1.600.000.000,00 (hum bilhão e seiscentos milhões de cruzeiros), convertidos em cruzados na data do efetivo pagamento, acrescidos de juros legais e correção monetária a contar do vencimento (28.02.86) e ainda 20% (vinte por cento) a título de honorários que serão calculados sobre o valor da condenação."
Embargos declaratórios opostos à decisão de primeiro grau, rejeitados (fl. 647).
Os julgadores da Corte sul-matogrossense ao apreciar as apelações pelas partes interpostas deliberaram dar
"provimento ao agravo retido para, cassando a decisão agravada, determinar que os documentos impugnados permaneçam entranhados nos autos. Também à unanimidade, rejeitaram a preliminar de nulidade da sentença argüida pelos réus-apelantes, e, quanto ao mérito, ainda à unanimidade, negaram provimento ao recurso dos autores e proveram o dos réus para julgar improcedente o pedido, invertendo-se o ônus da sucumbência" (fl. 791).
Os autores manifestaram recurso especial dizendo-o fundado no art. 105, lII, a, da Constituição Fe-
deral, e alegando negativa de vigência do art. 1.092, parágrafo único, do CCB, e do art. 333, II, do CPC (fls. 795/802).
A decisão admitidora do recurso está às fls. 815/817, e dela extraio:
" ... ante a complexidade da questão, em especial no que pertine à valoração jurídica das provas, tendo como referencial a norma do art. 333, II, do Código de Processo Civil, sob alegação de negativa de vigência, admito o segmento do recurso especial."
O Ministério Público Federal emitiu parecer (fls. 844/848) desta forma sumariado:
"Recurso especial. Compra e venda. Inadimplência. Perdas e danos. Quitação. Ônus da prova.
- Incumbe ao réu o ônus da prova se alega fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 333, II, CPC).
- Parecer pelo parcial provimento do recurso."
VOTO
O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR (Relator): O recurso é fundado tão-somente na alínea a do permissor constitucional, e sob alegação de negamento de vigência dos arts. 333, II, do CPC, e 1.092, parágrafo único do CCB.
Quanto ao primeiro deles, ainda que se o tenha por prequestionado malgrado não lhe faça referência o
180 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
acórdão, dizê-lo de vigência negada é impossível. Eis o que registra a decisão recorrida no que interessa ao ponto:
"A quitação existe válida e regular, como reconheceu a própria sentença recorrida.
Se os autores alegam que não receberam, apesar de terem dado quitação, a eles cumpria provar que não houve pagamento.
O digno e culto magistrado inverteu assim o ônus da prova, pois que os réus não invocaram qualquer fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito dos autores.
Estes é que se propuseram a provar que apesar da quitação que prova o pagamento, este não se deu. E não se desincumbiram desse ônus, como, exaustivamente demonstraram os réus nas suas razões de recurso" (fl. 790 - vol. 4).
Sob outro ângulo, poder-se-á dizer, a propósito, que apenas o revolver da matéria de fato possibilitaria conclusão diversa. A Súmula 07 do STJ, todavia, como sabido, é óbice a reexame da prova em sede de recurso especial.
No tocante ao art. 1.092, parágrafo único do CCB, o fundamento da argüição dos recorrentes é o seguinte:
"Ora, está expresso na lei que o caminho em caso de inadimplemento é o pedido de rescisão cumulado com perdas e danos.
Mas o acórdão, imperativamente, diz ser inaplicável a regra supra, "porque a falta de pagamento não anula o contrato e não dá causa para sua rescisão, daí se concluir que o aresto negou vigência ao art. 1.092, parágrafo único do Código Civil" (fls. 799/ 800).
Enfatizam os que recorrem o trecho que sublinham e o dão como autorizador da conclusão que trazem como alegado.
Por primeiro, observo que o tópico aludido é de uma decisão de outro Tribunal que o aresto tempesteado reproduz depois de observar que
"houve pagamento da maior parte da obrigação, não podendo a esta altura, sob o fundamento do inadimplemento, da menor parte, anular o ato jurídico" (fl. 786).
Sem dúvida o sistema de direito positivo brasileiro adota nos contratos bilaterais a cláusula resolutiva tácita (art. 119 do CCB), e nesse tema o diploma bevilaquiano, como observa Orlando Gomes,
"adotou o sistema francês, ainda que não tenha admitido todas as suas conseqüências" (Contrato, pág. 207 - Rio: Forense, 1 ª ed., 1959).
Por certo não se constitui demasia a menção, nesse passo, do escólio de R. J. Pothier ao tratar da diferença existente entre o Direito ro-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 181
mano e o francês acerca do pacto comissório. Escreveu o notável professor de Orleans, cuja obra influenciou na realização do Código de Napoleão:
"Segun nuestra jurisprudência, el pacto comissório no anula de pleno derecho el contrato por falta de pago dentro el tiempo seiialado; solo da aI vendedor una accion para pedir la nulidad deI contrato, nulidad que sólo es producida por la sentencia que intervelue en virtud de esta acción, y por falta de pago deI precio. Aunque haya expirado el plazo seiialado, puede, pues, el comprador, hasta que haya mediado sentencia, impedir la anulación com oferecer pagar e1 precio" (Tratado de los Contratos, tomo I, pág. 230 - Buenos Aires, Editorial Atalaya, 1948).
De retorno ao caso concreto, digo mais que o acórdão recorrido não maltratou o art. 1.092, parágrafo único, do CCB. Eis o que dele consta:
"Sobre esse aspecto há que se salientar que os títulos correspon-
dentes à importância de Cr$ 838.000.000,00 foram transferidos a terceiros, tendo dessa forma os autores deles desvinculados, bem como de qualquer obrigação deles decorrente, até porque os endossatários, como restou comprovado, não tomaram as providências legais contra os endossantes.
Conseqüentemente, não tem interesse legítimo para vir em juízo invocar direito alheio .. .
............... (omissis) ................ .
... não podem os autores aproveitar tais títulos como causa de rescisão do contrato.
J á na parte que se refere à desvinculação das promissórias da escritura pública, cujos títulos de crédito somavam a importância de Cr$ 1.600.000.000 (um bilhão e seiscentos milhões de cruzeiros), igualmente não conseguiram os autores provar que teriam sido induzidos a erro quando compareceram a cartório com tal objetivo." (fls. 785/786 - voI. 4).
Posto isso, insubsistente a alegação de recusa de vigência de lei federal, não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL Nº 90.980 - DF
(Registro nº 96.0018122-5)
Relator: O Sr. Ministro Barros Monteiro
Recorrente: Delphos Engenharia S.A.
182 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
Recorrida: Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte
Advogados: Drs. Carlos Mario da Silva Velloso Filho e outros, e Sebastião Alves dos Reis Júnior e outros
Sustentação Oral: Dr. Carlos Mario da Silva Velloso Filho, pela recorrente
EMENTA: Contrato. Quitação. Assertiva de que obtida mediante coação. Estado de necessidade. Ausência de prequestionamento. Reexame de matéria probatória. Recurso especial inadmissível.
- Constitui pressuposto específico do recurso especial o prequestionamento (Súmulas n~ 282 e 356-STF).
- É ampla a liberdade do Juiz ao apreciar a assertiva concernente à existência da coação. Descabido, por conseguinte, fixarlhe normas de caráter geral e assinalar-lhe, de antemão, diretrizes nesse mister. Solução do litígio a depender das circunstâncias peculiares a cada caso concreto.
- Não se reexamina matéria probatória em sede de recurso especial (Súmula n!! 07-STJ).
Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília, 14 de outubro de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: A Delphos Engenharia S/A ajuizou ação anulatória de cláusula contratual, cumulada com ressarcimento de danos, contra a Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A - Eletronorte.
Alegou a autora que, como vencedora da "Concorrência DT-TUC-010/75" e adjudicatária das obras e dos serviços licitados (primeira etapa da "Vila Residencial da Usina Hidrelétrica de Tucuruí"), firmou contrato com a ré em 09/09/76, prevendo-se a execução de seu objeto num prazo de treze meses. Disse que, tão logo assinado o contrato, deu início à mobilização dos recursos organizacionais, inclusive da implantação
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do canteiro de obras. Todavia, por culpa única e exclusiva da ré - a qual, além de ter descumprido obrigações e prazos contratuais, atrasando o início e a conclusão dos serviços (que só se deu em agosto de 1981), alterou por várias vezes os serviços contratados e os projetos da construção e, em alguns períodos, deixou de pagar as obras executadas ou as pagou com atraso - o equilíbrio econômico financeiro do contrato foi rompido. Asseverou a autora que, em face de tais atos, sofreu graves prejuízos, pois foi obrigada a manter permanentemente mobilizados em favor da obra recursos materiais, humanos e financeiros, a arcar com os ônus da inadimplência de investimentos financeiros que realizou à vista dos faturamentos normalmente previsíveis - os quais, em decorrência da inexecução da obra por culpa da ré, não ocorreram -, bem como a recorrer ao mercado financeiro para honrar as obrigações assumidas, pagando juros bastante superiores aos cobrados à época da elaboração da proposta. Ademais, foi obrigada a disputar com outra empreiteira contratada pela ré para executar obras no mesmo local o recrutamento de pessoal- o que a forçou a conceder benefícios não previstos no contrato - e a arcar com a diferença decorrente do fato da fórmula de reajuste contratual não acompanhar o real aumento dos custos.
De outro lado, afirmou que a "Empresa Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A" - que também firmou contrato com a ré e executou obras semelhantes no mesmo
período, no mesmo local e nas mesmas condições econômicas, financeiras e técnicas, com prazos iguais para faturamento e pagamento -, por ter sofrido problemas iguais aos seus, pleiteou e conseguiu alterações contratuais que reequilibraram seu contrato.
Contudo, ao analisar o pleito da autora de alteração contratual, a ré, aproveitando-se da precária situação econômico-financeira em que se encontrava a requerente, elaborou o Termo Aditivo DT-TUC-10H/82, no qual impôs, como condição para o recebimento de ínfima parcela dos prejuízos sofridos, que esta desse, por si e seus sucessores, quitação abrangente de todos os seus direitos (cláusula 7ª). À autora, que se encontrava em seríssimas dificuldades econômico-financeiras causadas pela própria ré, mesmo discordando total e integralmente do disposto no referido termo aditivo, somente restou assiná-lo, sem qualquer possibilidade de resistência.
Como a assinatura do Termo Aditivo se deu mediante coação irresistível, pleiteou a decretação da nulidade da quitação plena (cláusula 7ª do DT-TUC 10/82) e a condenação da ré ao pagamento de Cz$ 184.921.881,40 (valor obtido com base nos mesmos parâmetros utilizados pela ré quando firmou as alterações contratuais com a "Camargo Corrêa") e de perdas e danos e lucros cessantes.
A MM. Juíza de Direito julgou improcedente a ação.
A Primeira Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Fede-
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ral e dos Territórios, por maioria de votos, negou provimento à apelação da autora.
Os embargos infringentes opostos pela autora foram rejeitados. Eis a ementa do acórdão:
"Direito Civil - Contrato -Vício de manifestação de vontade - Coação irresistível contra pessoa jurídica - Possibilidade - Anulação do ato jurídico.
Para o reconhecimento da coação, há necessidade de prova rigorosa, a que não se desincumbiu a embargante. Quem alega cisão entre a vontade e a declaração deve prová-la. Embargos Infringentes improvidos." (fls. 1.047)
Inconformada, a autora manifestou o presente recurso especial com arrimo nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando afronta aos arts. 98, 101 e 136, V, do CC e 55, lI, d e 86 do DL 2.300/86, além de dissenso pretoriano com julgado desta Corte. Sustentou a recorrente que a coação moral se caracteriza pela existência de um estado de espírito em que o agente do ato jurídico se encontre no momento da declaração de vontade, de tal maneira que, em face de uma pressão qualquer (não importa de onde provenha) se veja possuído de fundado temor de dano; que o estado de necessidade se põe entre as circunstâncias que a ensejam e que pouco importa que dela tenha ou não ciência aquele que contrata com a vítima da pressão moral, bastando que o negócio tenha gerado prejuízo pa-
ra a vítima e lucro injusto para o outro contratante. Concluiu, então, que a quitação fornecida à ré é anulável, pois foi dada de forma viciada face à coação moral por ela experimentada em razão do estado pré-falimentar em que se encontrava, com inúmeros títulos protestados e pedidos de falência. Disse que o ato praticado não foi livre e puro, visto que não tinha liberdade de escolha: ou recebia a importância que lhe era ofertada ou sucumbiria na falência. Aduziu, ainda, que a coação moral se demonstra através de prova indiciária e por meio de presunções e que, no presente caso, os fatos provados indicam que a ré se aproveitou de sua condição evidenciada de estado de necessidade e a induziu a receber um pagamento menor que o realmente devido. De outro lado, alegou que o ato praticado pela ré, ao tratá-la de modo distinto em relação à empresa "Camargo Corrêa" - que executou os mesmos projetos, no mesmo local e sob as mesmas condições - e oferecer complemento de preço inferior à equação financeira do contrato, não atendeu aos termos do art. 55, II, d, e 86 do DL 2.300/86, que lhe impunham a obediência aos princípios da licitação e dos contratos administrativos, bem como o dever de proceder à revisão de seus contratos de obras e serviços sempre que, durante a execução, ocorresse a quebra da equação econômico-financeira inicialmente estabelecida entre as partes.
Contra-arrazoado, o apelo extremo foi admitido pela letra a.
É o relatório.
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VOTO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): A autora -ora recorrente - postulou na inaugural a anulação da quitação plena constante da cláusula 7ª do Termo Aditivo DT-TUC 010/82, além da condenação da ré ao pagamento de reajustes dos preços unitários correspondentes à avença, nas mesmas proporções concedidas à empresa "Camargo Corrêa". Segundo a demandante, fora a ré quem provocara o seu desequilíbrio financeiro e, após deixá-la em estado pré-falimentar, obteve a quitação integral dos débitos, limitando-se, porém, a antecipar parte dos prejuízos por ela sofridos. A assinatura do referido Termo Aditivo ter-se-ia dado sob coação moral irresistível.
Os fundamentos expostos pelo voto condutor do Acórdão recorrido, da lavra do Exmo. Sr. Desembargador Paulo Evandro, podem assim ser resumidos:
a) a coação, para viciar o ato, há de ser identificada e provada; simples indícios e presunções não se mostram suficientes para caracterizá -la;
b) a autora não ministrou a prova da existência da coação (que houvesse pressão psicológica dos agentes da ré sobre a cúpula diretiva da autora);
c) suposto aproveitamento da situação financeira da suplicante não restou demonstrado, nem tampouco houve indícios de pretenso ato psicológico coativo;
d) não se evidencia qualquer presunção de coação, consubstanciada em aproveitamento da situação de penúria da acionante;
e) a alegação de que a empresa "Camargo Corrêa" mereceu tratamento mais benigno em nada altera a questão;
f) não há referência de que, em algum momento, a ré tenha forçado a assinatura da quitação;
g) não há também provas de que a quitação tenha implicado em prejuízos à ora recorrente, nem mesmo de que estivesse ela em má situação financeira;
h) não cuidou a autora de demonstrar o desequilíbrio do contrato;
i) os motivos expendidos pelo Desembargador Otávio Augusto em seu voto majoritário proferido quando do julgamento da apelação, dentre os quais se alinham: I) a demandante não se desincumbiu de comprovar ter sido afetada em sua livre manifestação de vontade; lI) os fatos por ela articulados não estão a sugerir intento coativo pela sua pouquíssima plausibilidade; IlI) a aceitação do Termo Aditivo se dera mais em função aflitiva por que passava do que propriamente pela pressão exercida por parte da ré; IV) não é sugestivo de prática coativa o fato de alguém propor-se a proceder a um adiantamento em dinheiro para suprir dificuldades financeiras da contratada, como o fez a ré.
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o Revisor, Desembargador Estevam Maia, houve por bem rejeitar os embargos infringentes, acompanhando o entendimento do Sr. Relator no sentido de que não há prova da existência da alegada coação, que deveria ter sido cumpridamente evidenciada.
De sua vez, o voto do Desembargador J oazil M. Gardés acompanhou os pronunciamentos oriundos dos Srs. Relator e Revisor, sob a razão substancial de que a autora aderira livremente à proposta da ré, não sendo possível presumir a ocorrência de coação, quando dela se exige prova concreta. Acrescentou S. Exa. que o estado de insolvência e o pagamento de reajustes superiores a uma outra entidade não qualificam como coativa a atividade da ré.
A votação foi desempatada (houvera três votos pelo recebimento dos embargos) pelo voto-vista do Desembargador Edson Alfredo Smaniotto que, após salientar a tentativa da autora de no curso da lide alterar a causa petendi, anotou não haver por que imaginar-se o próprio teor do contrato aditivo como prova da coação. Subscreveu a assertiva do Sr. Desembargador Relator no entendimento de que não lograra a autora demonstrar o efetivo desequilíbrio financeiro que teria tido o condão de macular o contrato, ou até mesmo comprovar as causas que o produziram. Acentuou, por derradeiro, que as circunstâncias ensejadoras da coação não se mostraram estremes de dúvidas.
De tal exposição sumária, acerca dos motivos que levaram a Eg. Se-
gunda Câmara Cível a repelir os embargos infringentes, ressai desde logo a ausência do requisito do prequestionamento, reconhecidamente um dos pressupostos específicos do apelo especial. Assim é que a decisão recorrida não versou sobre alguns dos temas primordiais ventilados pela recorrente em seu recurso extremo. É o que se dá com a alegação de que a coação moral prescinde da ameaça direta, bastando a existência de um estado de espírito em face de uma pressão qualquer, venha de onde ela vier. Igualmente em relação à afirmativa de que o estado de necessidade se equipara a uma ameaça e, ainda, de que o abuso do estado de necessidade se enquadra nos princípios da coação.
O V. Acórdão não tratou da matéria aí invocada, pelo que incidem no ponto os Verbetes Sumulares n llil
282 e 356 do Excelso Pretório.
Idêntica orientação prevalece quanto à argüição de ofensa aos preceitos do Dec.-Lei n Q 2.300, de 21.11.86. O Tribunal de origem em nenhum momento cogitou da submissão a que deveria ater-se a sociedade de economia mista aos princípios da licitação e dos contratos administrativos, nem tampouco do dever de proceder à revisão de seus contratos concernentes a obras e serviços. Bem por isso, não se afigura suscetível de aperfeiçoar-se o dissídio de julgados alusivo a este tópico do recurso especial.
A inadmissibilidade do presente apelo extremo não exsurge apenas pelo motivo acima referido.
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A recorrente, ao sustentar que ocorreu no caso a coação moral, evidenciada pela prova de ordem circunstancial (fls. 1.091/1.092), está a pretender, nada mais nada menos, do que o reexame de matéria probatória em sede de apelo especial, o que é defeso a teor do enunciado da Súmula nl! 07 desta Casa.
A tônica, que desponta do Acórdão combatido, é a de que a pretendida coação não restou comprovada como de rigor. Entendimento oposto é defendido pela ora recorrente: a coação acha-se demonstrada através de indícios e presunções.
Certo é que, em princípio, a decisão hostilizada afastou a possibilidade de tê-la como provada com base em simples indícios e presunções.
Acontece, porém, que o critério mais rigoroso, ou menos rigoroso, na apreciação da prova, se insere na esfera de atribuições da instância ordinária. O art. 131 do Código de Processo Civil acolhe, com efeito, o princípio do livre convencimento do Juiz: "o juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos
" É o que se infere, aliás, do ma
gistério do Prof. Sílvio Rodrigues, reproduzido de modo apenas parcial pela recorrente, que assim se desenvolve:
"A prova de coação nem sempre é fácil, pois quem recorre à violência toma, em geral, precauções para não ser surpreendido. Por
isso, a lei dispõe que os atos de má-fé poderão ser provados por indícios e circunstâncias (CPC, art. 252). Nesse sentido, encontram-se numerosos julgados, alguns dos quais foram examinados.
Verdade, entretanto, que decisões em contrário também abundam. Mas elas não infirmam a regra e decorrem do fato de ser ampla a liberdade do juiz no considerar o caso concreto. O julgador certamente não se satisfará com indícios, quando estes não forem bastante veementes para convencêlo" ("Dos Vícios do Consentimento", n. 123, pág. 242, 3ª ed. atualizada - 1989).
Assim, enquanto o V. Acórdão reputa não provada a coação e a ora recursante diz o contrário, o que vem esta postular, em última análise, é a perquirição dos fatos e circunstâncias da causa no bojo do recurso especial, tanto mais que ela própria argúi em suas razões recursais aspectos fáticos da lide que estão - segundo ela - a indicar um estado psicológico que a conduziram concluir o negócio jurídico (quitação plena) extremamente prejudicial: a) aproveitamento da ré do seu estado de necessidade, fragilizada que restou em face da situação econômica precária; b) tratamento desigual dispensado à recorrente, de um lado, e à "Camargo Corrêa", de outro (fls. 1.091/1.092).
Não foi outra a posição adotada pela Suprema Corte numa hipótese de coação aventada em ação de
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anulação de casamento. No voto do Sr. Relator, Ministro Lafayette de Andrada, anota-se:
"Cuidaram as decisões de provas, apreciação dos fatos e por isso o acórdão afirmou de modo categórico: 'O casamento estava viciado por uma manifesta coação moral, exercida sobre o cônjuge. O dr. Juiz o demonstrou de maneira cabal e completa, revelando, como é de justiça proclamar, completo conhecimento da espécie, exata compreensão da prova e perfeito entendimento da doutrina e da lei. A nulidade do casamento decorreu assim de um imperativo moral que o dr. Juiz soube bem interpretar e ajustar à norma legal que a disciplina' (fls. 233).
Não encontro nessas afirmativas, elementos que me permitam dizer ter ocorrido ofensa ao Cód. Civil. Se a coação foi admitida em face das provas, não há como se alterar a decisão.
E o Juiz notou com propriedade:
'É inútil fixar normas de caráter geral e assinalar diretrizes para os Juízes, no apreciar a coação. Porque o problema deve ser resolvido subjetivamente, como diz Martinho Garcez Neto e pode suceder que um mesmo fato constitua força em um caso e não em outro, dadas as circunstâncias em que a vítima se encontrava colocada. O que atemoriza um ancião pode ser ridículo para um homem forte; o que é insignificante pa-
ra um homem culto, pode revestir-se de enorme gravidade para outro inexperiente'" (RE n Q 25.438-ES, julgamento em 19.10.54).
Não cabe, pois, a esta instância excepcional invadir a área de competência dos órgãos judicantes locais para ter como provada a coação em contraposição ao que fora lá proclamado, e isso mesmo com base em eventuais indícios e presunções. Impede-a o referido Verbete Sumular n Q 07 desta Corte.
Mesmo que assim não fosse, há de verificar-se, através da leitura atenta do voto condutor do V. Acórdão, que a Eg. Corte Estadual chegou a apreciar a espécie à luz dos indícios e presunções. S. Exa., o Sr. Desembargador-Relator, de fato, assinalou não ter havido sequer indícios da prática de pretenso ato psicológico coativo (fls. 1.052). Mais adiante, a fls. 1.053, teve ocasião de advertir: "a embargante tenta demonstrar um liame entre os vários atos praticados pela embargada, mas sequer demonstra qualquer presunção de coação, consubstanciada em aproveitamento de situação de penúria daquela".
Como se vê, de uma forma ou de outra, para o julgamento do REsp não se prescinde do reexame do quadro fático em que posta a controvérsia (Súmula n Q 07-STJ).
Do quanto foi exposto, não conheço do recurso.
É como voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 189
VOTO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Sr. Presidente, fiquei vivamente impressionado com o memorial da lavra do eminente professor Humberto Theodoro Júnior, que me foi conduzido pelo eminente advogado Rubens de Barros Brizola, pelas considerações ali tecidas, que foram robustecidas pela brilhante sustentação oral do eminente advogado Carlos Mário da Silva Velloso Filho, a começar pela alegada violação aos arts. 55, inciso lI, letra d, e 86 do Decreto-Lei n. 2.300/86, na perspectiva da recorrente, à consideração de que a decisão hostilizada teria negado a obrigação de refazer a equação econômico-financeira do contrato, tema que começou a ser aceito por trabalhos doutrinários, depois pelo desenvolvimento da jurisprudência e, desde algum tempo, por dispositivos legais e agora até constitucionais.
Todavia, bem destacou V. Exa., no seu judicioso voto, que desse tema não cuidou o Tribunal local, a nada se reportando no que diz respeito a isso, razão pela qual V. Exa. entendeu, como agora também entendo, que esses dispositivos não podem ser apreciados por falta de prequestionamento.
Também dediquei a mesma atenção à sustentação oral quanto à alegada violação aos arts. 88, 101,136, V, do Código Civil e confesso, quanto a esses pontos, inobstante o peso dos ilustres defensores da recorrente, não fiquei muito impressionado
no que diz respeito ao tema de fundo que esses dispositivos abordam, mas verifico, como foi bem destacado por V. Exa., que, na verdade, infirmar as colocações postas pelo acórdão recorrido importaria, inevitavelmente, no revolvimento de prova, porque, se na visão da recorrente teria ela assinado aquele aditivo por se encontrar coagida ante a força dos fatos ·que lhe eram contrários naquele instante, na visão do acórdão embargado o que se verifica é que não há a demonstração da existência dessa coação, o que importa, bem destacado por V. Exa., a aceitação do quanto exposto pela recorrente em reexaminar o acervo probatório, tarefa a que não se afeiçoa o recurso especial, a teor do Enunciado nº 7, Súmula desta Corte. Ademais, até diria, apenas como reforço de argumento, que não é só porque haveria estado de necessidade, a fragilizar a vontade de um contratante a ponto de forçá-lo a firmar um negócio, sabedor, desde já, que lhe traria prejuízo e que poderia decorrer lucro até injusto para outra parte, não seria só por isso que se poderia dizer da existência de coação a ponto de viciar o ato.
Por essas considerações e pelo voto erudito e circunstanciado proferido por V. Exa., Sr. Ministro-Relator, é que o acompanho.
VOTO- VOGAL
O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: Sr. Presidente, ao contrário do que aconteceu com o Eminente Ministro Cesar Asfor Rocha,
190 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
impressionou-me a argumentação da recorrente quanto à questão de mérito porque, realmente, se reconhecida a situação de carência absoluta de recursos por parte da empresa, por isso submetida à necessidade de aceitar um termo de reajuste que lhe seria substancialmente desvantajoso, estaria em examinar a sentença que afastou essa argumentação, pois poderia violar o disposto no Código Civil, sobre a validade do negócio e os vícios de vontade.
Daí por que, com a argumentação expendida no memorial do eminente Professor Humberto Theodoro Júnior e, depois, com a brilhante sustentação do eminente Advogado Carlos Mário Velloso Filho, estava por admitir a tese não fora o fato, realçado no voto de VExa., de que essas circunstâncias de fato que justificariam o reconhecimento do estado necessário ficaram rejeitadas na instância ordinária. Ouvi que durante o julgamento recorrido foi negada a existência do desequilíbrio contratual, do estado de penúria e, até, de prova do prejuízo real sofrido pela empresa recorrente. No voto do Revisor ficou afastada a existência da coação; no votovogal afirmou-se que houve, por parte da empresa, concordância livre para a assinatura do termo que lhe foi apresentado. Finalmente, no voto-desempate negou-se a existência do desequilíbrio financeiro. Sendo assim, esses pressupostos de fato que justificariam o reconhecimento
da violação ao disposto na lei não estão presentes, como demonstrou V Exa. no seu minucioso e cuidado voto, pelo que o acompanho.
VOTO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: Dois aspectos me chamaram a atenção desde o início: o primeiro, o quadro apresentado pela parte recorrente, não só através da sustentação hoje desenvolvida pelo seu ilustre Advogado, mas também no parecer do Prof. Humberto Theodoro Júnior, a caracterizar a coaçâo, desde que resultasse devidamente demonstrada.
O aspecto que me despertou maior atenção, no entanto, reside na questão probatória, uma vez que, a meu juízo, toda matéria, na realidade, está envolta na interpretação da prova.
O em. Relator, em voto minucioso, como é da sua característica, analisou esses aspectos. Com efeito, além da falta de prequestionamento, apreciou também a inviabilidade do reexame probatório na instância especial e, avançando mais, chegou até a apreciar manifestações dos votos vencedores no que diz respeito à definição da prova. Assim, por mais que me impressione o quadro exposto pela parte recorrente, vejo como intransponível obstáculo para o conhecimento do recurso, razão pela qual também não conheço do recurso.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 191
RECURSO ESPECIAL Nº 92.313 - SP
(Registro nº 96.0021091-8)
Relator: O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Recorrente: Matesa S/A Indústria, Agricultura e Comércio
Recorridos: Sinval Roberto Dorigon e outro
Advogados: Drs. Luiz Fábio Coppi, e Oswaldo Nunes Gerin e outro
EMENTA: Processual Civil. Exame pericial. Realização. Juntada aos autos do laudo. Vista às partes. Necessidade. Impossibilidade de proferir sentença sem dar oportunidade às partes de impugnação. Princípio do contraditório. Doutrina. Violação. Art. 398, CPC aplicado à prova pericial. Precedente. Recurso provido.
I - O princípio do contraditório, garantia constitucional, serve como pilar do processo civil contemporâneo, permitindo às partes a participação na realização do provimento.
II - Apresentado o laudo pericial, é defeso ao juiz proferir desde logo a sentença, devendo abrir vista às partes para que se manifestem sobre o mesmo, pena de violação do princípio do contraditório.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Bueno de Souza.
Brasília, 14 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Relator.
Publicado no DJ de 08-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: Pondo fim a uma demanda de resolução de contrato. celebraram as partes acordo pelo qual a recorrente deveria pagar pelas benfeitorias realizadas pelos recorridos no imóvel objeto do pacto. Ficou constando no acordo que, em caso de discordância com relação aos valores, cada parte apresentaria um laudo pericial, que seria avaliado pelo julgador.
Diante da acentuada divergência no que concerne ao quantum a ser pago, o Juiz nomeou perito de sua confiança para apresentar laudo conclusivo. Após seu término, os autos foram ao contador para con-
192 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 17'7-243, setembro 1998.
verter em reais o valor que estava em dólares norte-americanos.
Ciente do parecer do expert, a recorrente apresentou impugnação, que não mereceu exame por parte do Juiz. Manifestou ela, então, embargos declaratórios, que foram rejeitados ao argumento de que não havia no acordo previsão de discussão a respeito do valor que seria fixado pelo julgador, pelo que seria cabível impugnação da parte, que, por isso, não foi examinada.
Interposta apelação, na qual se discutia nulidade da sentença homologatória da conta pelo fato de a apelante não ter podido manifestarse, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou-lhe provimento. Disse a Turma, abonando o entendimento da primeira instância, que não tinha sido prevista a hipótese de reabertura da discussão sobre o valor que viesse a ser encontrado pelo perito do Juízo.
Opostos declaratórios pela apelante, foram eles rejeitados.
Irresignada, interpôs ela recurso especial alegando violação dos arts. 5º, LV, da Constituição, por ofensa ao princípio do contraditório e da ampla defesa, já que não teve oportunidade de falar sobre o laudo pericial, e 398 do Código de Processo Civil, porque não foi aberta vista às partes sobre a perícia levada a efeito.
Contra-arrazoado, foi o recurso inadmitido na origem, subindo os autos por força de agravo.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (Relator): Conforme se viu do relatório, concluída a perícia por profissional nomeado pelo juízo, foi a sentença proferida em seguida, embora tenha a ora recorrente se manifestado sobre a conclusão do laudo. O Juiz deixou claro, ao decidir os embargos declaratórios opostos contra a sentença de liquidação, que não iria discutir a impugnação feita em razão de não ter sido previsto no acordo celebrado pelas partes a possibilidade de debate sobre eventuallaudo de perito nomeado para se chegar a um valor definitivo das benfeitorias. E isso foi mantido no acórdão recorrido.
Patente a violação do princípio do contraditório, garantia de ordem constitucional e que tem por objetivo a busca de um processo justo e imparcial, com as partes participando na formação do provimento, conforme assinala Aroldo Plínio Gonçalves:
"O contraditório foi definitivamente conquistado como um direito das partes, foi consagrado, no Brasil, como garantia constitucional, e se transformou em uma exigência da instrumentalidade técnica do processo. A idéia que está em sua base é a da evolução da prática da democracia e da liberdade, em que os interesses divergentes ou em oposição encontram espaço garantido para sua manifestação, na busca da decisão participada" (Técnica Pro-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 193
cessual e Teoria Geral do Processo, Aide, 1992, pág. 194).
Assim, o juiz, ao permitir a juntada de documentos, a requerimento de uma das partes ou de um auxiliar do Juízo, como o perito, deve dar oportunidade à parte contrária ou a ambas as partes de tomar conhecimento dos mesmos e de discuti-los. Abolir essa fase procedimental e impossibilitar a discussão pelas partes de um ato do processo poderia acarretar abuso na decisão judicial, que, desta forma, não teria limites.
A ausência dessa oportunidade leva à nulidade do ato subseqüente, haja vista a falta de participação das partes na formação do provimento. Mutatis mutandis, assim proclamou a Terceira Turma, no REsp 6.102-AM (DJ 22.4.91), sob esta ementa:
"Apresentado o laudo, não pode o juiz proferir sentença, sem antes propiciar às partes que se pronunciem sobre o mesmo. Não atendida essa exigência do contraditório, anula-se aquele ato decisório" .
Ao proferir o voto-condutor, assinalou o Ministro Eduardo Ribeiro:
"Considero, entretanto, que tem razão o recorrente quando alega que sua defesa foi cerceada, por não se lhe ter ensejado pronunciar-se sobre o laudo pericial. O acórdão afirmou que, no incidente de falsidade, não havia lugar para vista sobre o laudo.
Entendo que não tem razão. O artigo 392 do Código de Processo Civil estabelece que o juiz determinará exame pericial, nada dispondo quanto ao procedimento deste. Haverá de ser o previsto para os exames periciais em geral. E dos dispositivos que o regem resulta claro que a sentença não será desde logo proferida, sem propiciar às partes dizer quanto ao laudo, o que constituiria evidente ofensa, e ofensa grave, ao princípio do contraditório. O artigo 433 prevê seja entregue até dez dias antes da audiência. As partes, naquele prazo, terão acesso à peça técnica, até para que possam requerer esclarecimentos (artigo 435). Admita-se que não seja a audiência de rigor. N este caso, não se poderá deixar de permitir às partes o exame do laudo para que requeiram o que entenderem de direito e sobre o mesmo trazerem as observações que tiverem.
Assimjá decidiu o Egrégio Supremo Tribunal Federal, RTJ 101/176, reI. Aldir Passarinho, e o Tribunal Federal de Recursos na AC 114.266 de que fui relator.
Dou provimento para anular a sentença, devendo abrir-se oportunidade às partes para que se pronunciem sobre o laudo pericial".
Também na mesma linha, embora em circunstâncias fáticas diferentes, afirmou ° Tribunal de Alçada de Minas Gerais, na Apel. 16.419, sob a relatoria do seu então Juiz
194 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
Humberto Theodoro Jr. (Revista de Julgados 11/176):
"Cerceamento de defesa. Realizada a prova pericial, não é dado ao juiz dispensar a audiência de instrução e julgamento, proferindo de plano a sentença, constituindo tal procedimento evidente cerceamento de defesa, já que nenhum trabalho técnico é indiscutível e de caráter obrigatório para as partes e o juiz, sem que antes se tenha cumprido todo o procedimento legal de sua crítica e contraprova pelas partes".
Outra, aliás, não é a posição da doutrina, inclusive a nacional, hoje extremamente fecunda nos estudos constitucionais do processo, dentre os quais, entre tantos, poderiam ser citados Dinamarco, in Fundamentos do processo civil moderno, RT, 2ª ed., ns. 43 e segs.; Ada P. Grinover, Os princípios constitucionais e o CPC, J. Bushatsky ed., n. 9; N. Nery Jr., Princípios do processo
civil na Constituição Federal, ns. 20 e segs.
Ademais, a entender-se como o fez o r. acórdão, seria, data venia, deixar ao perito a solução da controvérsia, subtraindo do julgador, como diretor do feito e sujeito da relação processual, na condição de representante do Estado-Juiz, sua função jurisdicional, de dizer o direito no caso concreto. O perito, na realidade, como já observava o admirável Lopes da Costa (Direito Processual Civil Brasileiro, Forense, 2ª ed., n. 142), sem embargo do seu valor, é mero "auxiliar temporário da Justiça".
Tenho, destarte, por violado o art. 398 do Código de Processo Civil, que se aplica à prova pericial, prejudicada a análise das demais impugnações.
Em face do exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para cassar a sentença de liquidação e ensejar que outra seja proferida após a análise da impugnação feita pela ora recorrente.
RECURSO ESPECIAL NQ 97.991 - MG
(Registro n Q 96.0036648-9)
Relator: O Sr. Ministro Sáluio de Figueiredo Teixeira
Recorrentes: Portal Arquitetura e Construção Ltda. e outros
Recorrido: Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A - Credireal
Advogados: Drs. Edelberto Augusto. Gomes Lima e outros, e Sérgio Gran-dinetti de Barros e outros
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 195
EMENTA: Processual Civil. Embargos à execução. Co-devedor que não sofreu dano patrimonial. Intimação da penhora que recaiu sobre o bem de outro executado. Necessidade. Prazo para embargos. Autonomia. Contagem. Início. Precedentes. CPC, art. 738-1. Sistema anterior à Lei n. 8.953/94. Recurso provido.
1 - Sendo vários os executados, todos devem ser intimados da penhora, ainda que ela tenha recaído em bem pertencente a somente um deles, uma vez que a todos assiste o direito de embargar.
H - O prazo para oferecimento dos embargos é singular, iniciando-se, para cada executado, no sistema anterior à Lei n. 8.953/94, da data da respectiva intimação da penhora.
IH - Tivesse ocorrido a intimação já na vigência da redação dada ao art. 738-1, CPC, pela Lei n. 8.953/94, a contagem seria, para cada um, a partir da juntada aos autos do mandado das respectivas intimações.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar. Ausente, justificadamente, o Ministro Bueno de Souza.
Brasília, 29 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Relator.
Publicado no DJ de 01-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: O recor-
rido ajuizou ação de execução contra Portal Arquitetura, André Luiz Saggioro, Elvimar Saggioro, Raphael Sansão Filho e Suraia Sansão. Citados, e não havendo pagamento do débito, foi penhorado bem imóvel de propriedade de André e Elvimar, sendo que eles, juntamente com a empresa Portal, foram intimados do ato constritivo em 23 de junho de 1994. Os outros executados, Raphael e Suraia, receberam a intimação da penhora no dia seguinte, ou seja, 24 de junho.
Em 5 de agosto daquele ano, os cinco executados opuseram embargos à execução, que não foram recebidos em razão de sua extemporaneidade.
Apelaram os embargantes, tendo o Tribunal de Alçada de Minas Gerais, por maioria, negado provimento ao recurso. Entendeu o Colegiado que seria desnecessária a intimação daqueles que não tiveram bens de sua propriedade penhorados, adu-
196 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
zindo que, se eles desejassem embargar a execução, deveriam fazêlo no mesmo prazo dos executados que sofreram constrição.
Foi rejeitada, ainda, a aplicação da teoria do fato superveniente, pela qual os embargantes pugnavam pela adoção da nova redação do art. 738, I do Código de Processo Civil, fluindo o prazo para embargos da juntada do mandado e, não, da efetiva intimação da penhora. Argumentou a Turma com a teoria do isolamento dos atos processuais, não podendo voltar no tempo para dispor sobre atos processuais findos.
Manifestados dois embargos declaratórios, foram eles rejeitados, com aplicação, no segundo, da multa por procrastinação.
Aviados infringentes, não houve modificação da decisão, tendo o Grupo de Câmaras "mantido" o desprovimento da apelação.
Os embargantes interpuseram contra os acórdãos da apelação e dos declaratórios recurso especial, no qual alegaram, além de dissídio, violação dos arts. 738, I do Código de Processo Civil, com a redação da Lei 8.953/94, porque o prazo para os embargos se inicia da juntada aos autos do mandado de intimacão, devendo ser aplicada a lei no~a, por se tratar de lei processual, 538, parágrafo único, do mesmo diploma legal, porque os embargos declaratórios eram necessários, descabendo assim a multa, e 535 da lei instrumental, porque não teria o Tribunal esclarecido contradição existente entre os votos da Relatora e do Vogal.
Contra o acórdão dos embargos infringentes, os embargantes também interpuseram recurso especial. Suscitaram divergência e apontaram como malferido o art. 738, I do Código de Processo Civil, tendo em vista que todos os executados, inclusive os que não tiveram bens penhorados, devem ser intimados da penhora, correndo o prazo para os embargos à execução de cada intimação.
Contra-arrazoados, foram os recursos admitidos na origem.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (Relator): A discussão central diz respeito ao termo inicial de fluência do prazo para oferecimento de embargos do devedor, notadamente nos casos em que há litisconsórcio passivo na execução.
Não se tem dúvida, após a modificação do art. 738, I do Código de Processo Civil, que o prazo de dez dias se inicia da juntada aos autos do mandado de penhora e não mais da efetiva intimação da penhora, como ocorria na sistemática anterIor.
Na espécie, entretanto, não se pode aplicar a nova regra, uma vez que ao tempo da intimação da penhora e do oferecimento dos embargos vigia a lei antiga. A lei processual, de incidência imediata, alcança os processos em curso, mas não atinge as situações processuais já
R. Sup. Trib. 'Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 197
consolidadas. Assim, corretamente decidiu o Tribunal recorrido ao socorrer-se da teoria do isolamento dos atos processuais, que bem resolve o conflito, sempre aparente, de normas processuais no tempo.
Não obstante isso, constata-se que assiste razão aos recorrentes quanto à tempestividade dos embargos daqueles que foram intimados da penhora em 24 de junho de 1994.
Com efeito, necessária é a intimação de todos os executados sobre eventual penhora realizada nos autos da execução, independentemente de quem seja o proprietário do bem constrito. Isso porque, se todos podem embargar, com o objetivo de atacar o título executivo, deve ser noticiado aos litisconsortes o momento de assim proceder. E essa comunicação se faz com a intimação da penhora.
Mário Aguiar Moura, ao tratar do assunto, abona tal tese, verbis:
"Da penhora, segundo nosso entendimento, serão intimados todos os devedores, mesmo o que não tenha sofrido penhora em bens de sua propriedade, coisa que pode acontecer na solidariedade ou indivisibilidade. Isso porque, mesmo sem padecer a constrição de bens, há de ter o devedor interesse e legitimidade para embargar, tendo em conta que, nas relações internas, responde perante o solvente pela respectiva quota-parte, a teor dos arts. 891, parágrafo único, e 913 do Código Civil" (Embargos do De-
vedor, 4ª ed., 1987, Aide, n. 25, pág.142).
Sendo portanto necessária a intimação de todos os executados, o prazo para embargar, que é autônomo, conta-se a partir da respectiva intimação. Nesse sentido, decidiu esta Turma, no AgRg 27.981-RN (RSTJ 50/513), com a seguinte ementa: .
"Processo civil. Embargos à execução. Legitimidade ativa. Prazo. Co-devedor que não sofreu a constrição patrimonial e não foi intimado da penhora. Arts. 736/ 738, CPC. Precedentes da Corte e do Supremo Tribunal Federal. Agravo desprovido.
I - Nos termos da jurisprudência desta Corte e da orientação firmada no Supremo Tribunal Federal na vigência do sistema constitucional anterior, o co-devedor ostenta legitimidade para opor embargos à execução, mesmo que não tenha sofrido constrição em qualquer de seus bens, desde que seguro o juízo por algum dos coobrigados.
n - Havendo no título exeqüendo vários devedores, mesmo que ajuizada a execução contra apenas um deles, salvo se exercitada a faculdade prevista no art. 569, CPC, devem ser todos intimados da penhora, uma vez que a todos assiste o direito de embargar.
In - o prazo para oferecimento dos embargos é singular, iniciando-se, para cada devedor, na data em que intimado da penhora".
198 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
Ao proferir o voto-condutor, assinalei:
"Duas são as questões postas a exame. A primeira, a legitimidade dos devedores, que não sofreram constrição patrimonial, para embargar a execução. A segunda, a possibilidade de cumular a cobrança das prestações em atraso e do saldo devedor, negada pela sentença.
No que tange ao primeiro ponto, argumenta a recorrente que a decisão de segundo grau afronta os termos do art. 737, CPC. A uma, porque somente teria qualidade para opor embargos quem ofereceu bens à penhora. A duas, porque, mesmo que se reconhecesse essa legitimidade, na oportunidade em que oferecidos os embargos já se escoara o decêndio que sucedera à intimação da penhora ao executado, consumada a preclusão.
O acórdão recorrido decidiu que, na esteira de decisões regionais colacionadas, a modernajurisprudência tem admitido os embargos opostos pelo devedor que não garantiu o juízo mediante penhora. Relativamente ao tema do prazo, afirmou que os embargantes não foram intimados da penhora, razão pela qual não teria ocorrido a preclusão como pretende a recorrente.
O tema é dos mais interessantes e há dissonância doutrináriajurisprudencial.
Esta Corte, ao enfrentar a questão da legitimidade, em aresto da
ego Terceira Turma, proferido no julgamento do REsp 7.300-MG (DJ 28.10.91), de que foi Relator o Ministro Cláudio Santos, ementou:
"Embargos à execução. Devedores solidários. Ação apresentada por quem não teve bens penhorados.
Da interposição conjunta dos arts. 736 e 737, I, do CPC, e da ausência no Código de qualquer restrição, compreende-se que, na execução contra devedores solidários, garantido o juízo, qualquer um deles, isolado ou em conjunto, pode oferecer embargos à execução".
Ainda daquela Turma, no REsp 2.407-RS (DJU de 20.8.90), relatado pelo Ministro Eduardo Ribeiro, é de trazer-se a ilustração:
"Embargos à execução - Embargante cujos bens não foram penhorados.
Existindo vários executados, sendo penhorados bens de um deles, fica seguro o juizo, o que enseja apresentação de embargos também por aqueles cujos bens não foram objeto da constrição".
No mesmo sentido, a decisão desta Quarta Turma, referente ao REsp 3.663-PB (DJ 29.10.90), Relator o Ministro Athos Carneiro, de cuja ementa se colhe:
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 199
"Seguro o juízo por um dos executados, podem os demais, em princípio, oferecer embargos, máxime se assim procedeu o executado que ofereceu bens à penhora".
Também o Supremo Tribunal Federal, na vigência do sistema constitucional anterior, vinha tendo esse entendimento, como se vê do RE 103.640-1-SC (DJU de 16.11.84), relatado pelo Ministro Soares Mu:õ.oz, e citado às fls. 28 dos autos.
Em nota de n Q 24 ao art. 738, CPC, assinala o Prof. Theotonio Negrão:
"A quem deve ser feita a intimação da penhora? A todos os co-devedores, embora apenas de propriedade de um deles o bem penhorado? Sim, porque todos podem embargar a execução" ("Código de Processo Civil e legislação processual em vigor", Malheiros, 1992, 22ª edição).
Do voto condutor do acórdão recorrido, da lavra do eminente Juiz José Augusto Delgado, ressai a circunstância da solidariedade dos embargantes, consoante se depreende do seguinte excerto:
"Conforme se depara do contrato assinado entre as partes litigantes, à cláusula décima (fls. 44), os fiadores, devedores solidários e principais pagado-
res, renunciaram expressamente ao benefício de ordem previsto nos arts. 1.491 e 1.503, do Código Civil, e nos arts. 261 e 262, do Código Comercial. Logo, como sendo os embargantes co-devedores (fls. 47), inadmissível expurgar dos mesmos a condição de poderem opor embargos à execução, pois, no decorrer da ação executiva, ocorrendo a inadimplência do devedor original, de certo que iria recair sobre seus patrimônios a dívida em questão".
Pertinentes, às inteiras, no caso vertente, as precisas considerações expendidas pelo Desembargador Nélson Altemani, quando integrante do Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, no julgamento da AC 299.520, estampadas em RT 574/119 a 120, verbis:
"O essencial é que os embargos não se dirigem contra a penhora, mas, na precisa lição de Liebman, "destinam-se a uma sentença constitutiva, com o fim de operar uma alteração de conteúdo processual-executório, quer dizer: de despojar de sua eficácia de título executório o ato impugnado" (Embargos do Executado, n Q 99, pág. 163). Ainda que os embargos só possam ser opostos, na execução por quantia certa, depois de seguro o juízo pela penhora (CPC, art. 737,1), a verdade é que a penhora figura nesse con-
200 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
texto unicamente como condição de admissibilidade, em razão da prevalência que a lei atribui aos interesses do credor dotado de título executivo. Condição - esclareça-se -não de natureza subjetiva, ligada somente àquele dos múltiplos sujeitos passivos que tenha sofrido constrição de seus bens, mas disposta em relação a todos os devedores executados. A lei não diz que não seriam admissíveis embargos do devedor antes de penhorados seus próprios bens; estabelece, ao contrário, uma condição genérica, fixando o termo inicial do prazo (preclusivo, sem dúvida) de oferecimento de embargos a partir do momento em que cada qual dos devedores tenha sido intimado da penhora (CPC, art. 738, I). Obviamente, co-devedor que não tenha sofrido penhora em seus bens há de ser intimado também da penhora, porque só assim toma conhecimento do início de fluência do prazo para embargar".
Na mesma linha, já o "Simpósio de Curitiba", em 1975, em sua conclusão LV, proclamava:
"Seguro o juízo por um dos coobrigados, qualquer deles poderá oferecer embargos à execução de título extrajudicial" (RF 252/18; RT 482/272).
Por outro lado, no que diz respeito ao termo a quo do prazo
para embargar, para o devedor que não teve seus bens penhorados, já se decidiu no Pretório Excelso sobre a autonomia de cada devedor para a oposição dos embargos e a fluência do prazo, para cada um, após a intimação da penhora. A propósito, registrou o Ministro Francisco Rezek, ao finalizar o voto condutor do RE 100.487-PR (RTJ 107/903):
"São diversos os precedentes (RREE n2li 96.361, 97.138, 94.153,97.255), no sentido de que o prazo para embargar é de dez dias, pouco importando a existência de outros devedores. Cada um deles tem qualidade autônoma para oferecer embargos. Assim, após a intimação da penhora, começa a contagem singular de cada prazo".
Adotando idêntica conclusão, a ego Terceira Turma desta Corte, na oportunidade do julgamento do REsp 3.414-RS (DJ 10.09.90), sob a relatoria do Ministro Waldemar Zveiter, ementou:
"II - Firmou-se na jurisprudência do Pretório Excelso o entendimento segundo o qual os embargos devem ser opostos a partir da intimação da penhora e quando houver diversos executados, cada devedor tem qualidade singular, para oferecê-los. Assim, após intimado da penhora, começa a contagem do prazo, de dez (10) dias para embargar a execução (art. 669 do CPC)".
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 201
Também no REsp 13.384-RS (DJ 07.10.91), de que foi Relator o Ministro Dias Trindade, a mesma tese foi sufragada em acórdão encimado por essa ementa:
"2. O prazo para a oposição de embargos do devedor, sendo vários os executados, é contado da data da intimação da penhora, para cada um deles, inaplicável o art. 241, II, mas o art. 738, I, do Código de Processo Civil".
Esta Quarta Turma, ao julgar o REsp 4.496-MG (DJ 5.11.90), relatado pelo Ministro Fontes de Alencar, firmou orientação cristalizada na ementa que se segue, colacionada, aliás, na decisão agravada:
"I - O prazo para os embargos, sendo vários os executados, principia, para cada um deles, do momento da respectiva intimação da penhora".
Do exposto se infere que deveriam os executados, como devedores solidários, e não tendo a credora se utilizado da faculdade prevista no art. 569, CPC, ter sido intimados da penhora. Não o foram.
A intimação da penhora é ato que, no processo executivo, não deixa de fazer às vezes da citação. Tal, aliás, foi o entendimento externado pela ego Segunda Turma deste Tribunal, em decisório da relatoria do Ministro Ilmar Galvão:
"Processo civil. Execução de título extrajudicial. Embargos oferecidos após a designação do leilão. Pretendida tempestividade, ao argumento de não se ter verificado a intimação da penhora, prevista no art. 669 do CPC.
Alegação improcedente, j á que, no caso, houve pronunciamento anterior do devedor, com impugnação à avaliação, no qual se manteve ele silente acerca da pretendida nulidade processual.
Suprimento da ausência da intimação, na forma prevista no art. 214 do CPC, subsidiariamente aplicável às execuções (art. 598 do mesmo Código)".
Daí resulta que somente da data em que intimados os embargantes é que começa a fluir o prazo preclusivo para os embargos, sabido que a preclusão, como instituto do direito processual, "é a perda da faculdade da prática de um ato no processo, que não foi exercido no tempo ou no modo próprios" ("Prazos e Nulidades em Processo Civil", Forense, 1990, 2ª edição, n Q 21, pág. 30)".
Desta forma, presente o dissídio invocado, merece subsistir o pleito recursal, para que os embargos dos executados Raphael Sansão Filho e Suraia Hallack Sansão sejam examinados, prejudicada a análise das demais impugnações feitas.
202 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
Em face do exposto, conheço do recurso pelo dissídio e dou-lhe provimento para, cassando os referidos acórdãos, ensejar o exame dos em-
bargos dos dois executados como se anotou acima.
Ônus da sucumbência a final.
RECURSO ESPECIAL NQ 99.484 - GO
(Registro nQ 96.0040893-9)
Relator: O Sr. Ministro Fontes de Alencar
Recorrente: Rozemaria Alves de Oliveira
Advogado: Dr. Paulo Cesar de Menezes Povoa
Recorrido: José Pedro Vilela
Advogados: Drs. Wagner Baptista da Costa Júnior e outro
Sustentação Oral: Dr. Wagner Baptista da Costa Júnior, pelo recorrido
EMENTA: Ação declaratória.
- Súmula 07 do STJ.
- Falta de prequestionamento.
- Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília, 16 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro FONTES DE ALENCAR, Relator.
Publicado no DJ de 06-04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR: Trata-se de ação declaratória de inexistência de sociedade de fato promovida por José Pedro Vilela em face de Rozemaria Alves de Oliveira.
Recolho da sentença:
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 203
"c .. ) a ação intentada pelo autor procede, uma vez que as provas coligidas dão suporte ao seu pedido. Ao contrário, a autorareconvinte não provou que mantinha com o reconvindo uma união estável capaz de caracterizar o concubinato, como também não comprovou que efetivamente contribuiu para o aumento do patrimônio do suplicante.
Diante do exposto e tendo em vista a tudo que dos autos consta e com pleno apoio nas provas dos autos e no ensinamento dos doutos sobre a matéria, hei por bem acolher o pedido do autor, para o fim de declarar a inexistência de concubinato ou sociedade de fato entre o autor e a requerida. Em conseqüência, julgo improcedente a reconvenção intentada pela ré-reconvinte, uma vez que suas alegações não se comprovaram judicialmente" (fl. 370).
A Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por sua Quarta Turma, negou provimento à apelação, à unanimidade de votos. O acórdão correspondente expõe o seguinte sumário:
"Concubinato. Sociedade de fato. Declaratória de inexistência.
1. A Sociedade de fato é comprovável pela prova de vida em comum e permanente sob o mesmo teto.
2. Convivência periódica representada por encontros de fim de semana não caracteriza con-
cubinato nem gera direito sobre bens patrimoniais.
3. Recurso improvido." (fl. 403)
Embargos declaratórios foram providos para
"que conste da decisão haver o representante da recorrente participado da sessão na forma registrada na ata respectiva." (fl. 416)
RozemariaAlves de Oliveira manifesta recurso especial com fulcro no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal, alegando negativa de vigência do art. 1.363, do Código Civil e discrepância com a Súmula 382, do Supremo Tribunal Federal. (fls. 418 a 429)
Pelo despacho de fls. 446 a 447, foi o recurso indeferido, porém, veio a ser processado em face do provimento do agravo (fl. 449).
VOTO
O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR (Relator): Colho do voto norteador do acórdão recorrido:
"C .. ) a sentença recorrida dá razoável interpretação ao conjunto probatório produzido na instrução processual, convergente no sentido de que o relacionamento que existiu entre os litigantes não configura sociedade de fato.
À falta de outros elementos que ensejassem a convicção do
204 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
condutor do processo, a solução adveio através de detalhada análise das provas testemunhais, a fim de que fosse possível estabelecer as razões de decidir mediante o confronto do pronunciamento dos depoentes indicados pelos litigantes.
Desse exame ressalta que o relacionamento entre a recorrente e o recorrido não significava união estável, porquanto não conviveram sob o mesmo teto, residindo em Goiânia, cada qual na sua casa, embora se encontrassem em fins de semana em propriedade rural do apelado" (fls. 405/406).
As instâncias ordinárias à luz dos elementos fáticos concluíram, pois, que a ré-reconvinte não provou tivesse mantido com o reconvindo
vou sua alegada contribuição para o aumento do patrimônio do autor.
Dessarte, somente o revolver da prova poderia eventualmente conduzir a entendimento diverso sobre os fatos da causa. Impede-o, porém, a Súmula 07 do STJ.
Quanto ao art. 1.363 do CCB, dele não cogitou a Corte goiana. De conseguinte, ausente a propósito o imprescindível questionamento prévio.
Por outro lado, não vislumbro a alegada discrepância com a Súmula 382 do Supremo Tribunal Federal.
As decisões das instâncias ordinárias firmam-se no conjunto probatório, consoante o tópico transcrito do voto que traçou o norte do acórdão recorrido.
uma união estável capaz de carac- Posto isso, não conheço do recur-terizar o concubinato, nem compro- so.
RECURSO ESPECIAL Nº 100.086 - MS
(Registro nº 96.0041855-1)
Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha
Recorrente: Estado de Mato Grosso do Sul
Recorridos: Divino da Cruz e outro
Interessado: ldail Fereirra de Vasconcelos
Advogados: Drs. Sarah Filgueiras Monte Alegre de Andrade Silva e outros, e Abadia Queiroz Baird e outro
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 205
EMENTA: Processual Civil. Exame pericial. DNA. Justiça gratuita. Antecipação das despesas pelo Estado. Precedente da seção.
"I - A isenção legal dos honorários há de compreender a das despesas, pessoais ou materiais, com a realização da perícia. Caso contrário, a assistência não será integral. Assiste aos necessitados, a proteção do Estado que deve diligenciar meios para provêlos ou criar dotação orçamentária para tal fim.
II - Antes de determinar prova pericial do DNA, deve o Dr. Juiz produzir outras que objetivem a formação de seu convencimento sobre a pretensão deduzida. Ainda assim, julgada indispensável, poderá determiná-la às expensas do Estado, que proverá os meios necessários." (REsp n. 83.030-MS, j. em 24.9.97, Segunda Seção, unânime, relator eminente Ministro Waldemar Zveiter).
Ressalva do ponto de vista do relator.
Recurso conhecido e provido em parte.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Bueno de Souza.
Brasília, 29 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Relator.
Publicado no DJ de 22-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Cuida-se de recurso especial interposto contra acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul sumariado na seguinte ementa:
"Ação de investigação de paternidade - Exame finger print DNA imprescindível para a solução da lide - Requisição pela parte beneficiária da assistência judiciária - Honorários do perito - Obrigação do Estado de suportar as despesas.
A assistência judiciária é integral e gratuita aos necessitados e compreende a isenção dos honorários do perito (art. 5º, LXXIV, da CF e art. 3º, V, da Lei 1.060/ 50). Em sendo o exame de DNA requerido pela parte beneficiária
206 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
da justiça gratuita, o Estado deve arcar com as despesas dele decorrentes, inclusive antecipandolhes o pagamento." (fls. 311/312)
O recorrente postula admissibi-lidade pelas alíneas a e c do permissivo constitucional, sustentando que: a) nos termos do art. 19 do CPC, o beneficiário da justiça gratuita não está obrigado ao recolhimento antecipado de despesas; b) as despesas efetuadas a requerimento da Fazenda Pública serão pagas a final, pelo vencido (art. 27, CPC); c) a assistência judiciária compreende isenção de honorários de advogado e peritos (art. 3Q
, inc. V da Lei 1.060/50); d) sendo vencedor o beneficiário da assistência, os honorários e as despesas serão pagas pelo vencido, a final (art. 11); e) sendo vencido o beneficiário, ficará obrigado a pagar custas se puder fazêlo, nos termos do art. 12 da lei especial; f) os profissionais liberais são obrigados ao desempenho do encargo de perito (art. 14); g) o v. acórdão dissentiu de precedentes, que liberaram o beneficiário do depósito dos honorários do perito, que serão suportados pelo vencido ou pelo Estado.
Sem resposta no prazo legal (certidão de fl. 525), o especial foi admitido na origem pela alínea a, tendo ingressado no meu gabinete, após o parecer do douto Ministério Público Federal pelo improvimento do recurso, no dia 29 de outubro de 1996 e foi indicado para pauta aos 15 dias do mês de abril do ano de 1998.
Recurso extraordinário também admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): A questão é conhecida das Terceira e Quarta Turmas, desta Corte.
Contra a determinação que lhe é imposta para antecipar numerário para a realização do exame "Finger Print DNA", requerida pelo Ministério Público, o Estado de Mato Grosso do Sul tem sempre alegado que: a) nos termos do art. 19 do CPC, o beneficiário da justiça gratuita não está obrigado ao recolhimento antecipado de despesas; b) as despesas efetuadas a requerimento da Fazenda Pública serão pagas a final, pelo vencido (art. 27, CPC); c) a assistência judiciária compreende isenção de honorários de advogado e peritos (art. 3Q
, inc. V da Lei 1.060/50); d) sendo vencedor o beneficiário da assistência, os honorários e as despesas serão pagas pelo vencido, a final (art. 11); e) sendo vencido o beneficiário, ficará obrigado a pagar custas se puder fazêlo, nos termos do art. 12 da lei especial; f) os profissionais liberais são obrigados ao desempenho do encargo de perito (art. 14); g) o v. acórdão dissentiu de precedentes, que liberaram o beneficiário do depósito dos honorários do perito, que serão suportados pelo vencido ou pelo Estado; h) há ofensa ao disposto nos arts. 100 e 157 da CR.
A egrégia Segunda Seção deste Tribunal, por unanimidade (ausente este Relator por motivo justifica-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 207
do), ao julgar, em 24.9.97, o Recurso Especial n. 83.030-MS, sob a relatoria do eminente Ministro Waldemar Zveiter, assentou o entendimento sumariado na seguinte ementa:
"Justiça gratuita. Perícia. Despesas. Cód. de Pro Civil, art. 19 e Lei n. 1.060/50, arts. 3 9-V, 9 9 e 14. É dever do Estado prestar ao necessitado assistência jurídica integral e gratuita (Constituição, art. 5 9 - LXXIV).
I - A isenção legal dos honorários há de compreender a das despesas, pessoais ou materiais, com a realização da perícia. Caso contrário, a assistência não será integral. Assiste aos necessitados, a proteção do Estado que deve diligenciar meios para provêlos ou criar dotação orçamentária para tal fim.
II - Antes de determinar prova pericial do DN A, deve o Dr. Juiz produzir outras que objetivem a formação de seu convencimento sobre a pretensão deduzida. Ainda assim, julgada indispensável, poderá determiná-la às expensas do Estado, que proverá os meios necessários.
III - Recurso especial conhecido parcialmente e nesta parte provido."
Anoto que, ao proferir, na sessão do dia 7.10.97, voto-vista no REsp n. 103.281-MS, da relatoria do eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, acolhi a pretensão assemelhada à da aqui recorrida, porquan-
to pela regra contida no inciso V do art. 3º da Lei nº 1.060/50, os honorários do perito são compreendidos pela assistência judiciária que é dever do Estado prestar, integral e gratuitamente, àqueles que comprovarem insuficiência de recursos, tal como se dá no caso.
A finalidade da regra - percebese sem o recurso de maiores reflexões - é a de dar efetividade aos princípios constitucionais de acesso à justiça e da ampla defesa.
Ora, no caso, a recorrida, menor impúbere, insistiu na realização do DNA para estabelecer a demonstração da paternidade.
E nenhum meio de prova, ao que se sabe, é hoje técnica e cientificamente mais importante e eficaz para definir a paternidade que o exame cogitado, na hipótese de ser confirmado o que a promovida alega. Caso não o seja, todas as dúvidas serão espancadas.
Ademais, a militância nesse campo do Direito de Família traz a convicção da enorme dificuldade que tem o investigante, sobretudo o que dispõe de escassas rendas, como na hipótese, de obter meios probatórios seguros para alcançar o objetivo colimado.
É certo que "a eventual improcedência da ação não impedirá a sua renovação". No entanto, se e quando a ação for eventualmente renovada, o investigante, por certo, enfrentará as mesmas dificuldades que ora busca superar.
Por outro lado, igualmente não posso acolher, data venia, a argu-
208 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
mentação de que o Estado não pode suportar o ônus de que se cuida por eventual falta de previsão orçamentária, que também é utilizada em favor da pretensão do recorrente.
A uma, porque, li ser assim, seria o Estado beneficiário de sua própria desídia.
A duas, porque estar-se-ia a estabelecer um sério precedente para que o Poder Público, que é, natural e infelizmente, tão desatento no cumprimento de suas obrigações, para usar o eufemismo como referência, disso se valha para desonerar-se de outros encargos que lhe são impostos.
A três, porque esta Turma já definiu que "a Fazenda Pública, quando parte na causa, deve depositar previamente os honorários do perito judicial" (REsp n. 10.945/SP, relatado pelo eminente Ministro Fontes de Alencar). No mesmo sentido o EREsp n. 10.945, de minha relatoria (Corte Especial, DJ 26.2.96).
É certo que a questão se angustia quando a perícia requerida pelo beneficiário ou a seu favor exige despesas de vulto.
Mas dessa observação me valho apenas para que sirva como um aviso para não se conferir ao Poder PÚblico encargos desnecessários, impertinentes ou despiciendos.
No caso, contudo, o exame reclamado é absolutamente pertinente e sumamente necessário, pois que ele, quase que por si mesmo, servirá para destrame da controvérsia.
Sendo assim, não me surpreenderia se a despesa com o cogitado exame, pela simplificação que tra-
ria à solução do conflito, terminasse por ser inferior ao custo, suportado pelo Estado, decorrente da demora com que são desenvolvidos os casos desse jaez, embora esse argumento, de natureza econômica, não me comova, embora exista quem lhe dê mais importância que a necessidade de se precisar, sem dúvida razoável, a paternidade.
De mais a mais, não se pode perder de vista que o Estado tem interesse na correta definição de qualquer conflito, que aumenta de importância quando se cuida de fixar a paternidade praticamente sem risco de erro.
No entanto, como disse, a questão já se encontra pacificada no âmbito da Seção de Direito Privado desta Corte.
Diante de tais pressupostos, com ressalva do meu entendimento, dou parcial provimento ao recurso especial para, nos termos do decidido pela Segunda Seção no precedente reportado, "cassando o r. Acórdão, a fim de prover, também, parcialmente, o Agravo de Instrumento, reformando a decisão de 1 Q grau, que determinou o depósito do valor provisório de que cuidam os autos, devendo o Dr. Juiz promover a coleta de outras provas capazes de possibilitar a pretensão deduzida. Após, entendendo ainda necessário e indispensável a realização da perícia 'DNA' que a promova, procurando obtê-lo junto a entidades que dele disponham e possam oferecêlo em colaboração ao Judiciário. Não o conseguindo de tal forma, que a tanto condene então o Estado, que proverá os meios necessários a sua realização".
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 209
RECURSO ESPECIAL NQ 105.617 - MG
(Registro nQ 96.0054179-5)
Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha
Recorrentes: CMS Construtora S/A e outro
Recorrido: Banco Europeu para América Latina S/A Beal
Advogados: Drs. Geraldo Luiz de Moura Tavares e outros, e Domingos Fleury da Rocha e outros
Sustentação Oral: Dr. Domingos Fleury da Rocha (p / recorrido)
EMENTA: Processual Civil. Execução. Penhora. Bem hipotecado em terceiro grau. Recusa. CPC, art. 655, § 2~
A regra contida no § 2Q do art. 655 do Código de Processo Civil tem que ser interpretada com temperamento, por isso mesmo que, em caráter excepcional, pode o exeqüente, credor hipotecário em terceiro grau, recusar a nomeação do imóvel hipotecado e indicar outros do devedor, sobretudo quando, como no caso, o bem é insuficiente para garantia do juízo.
A finalidade da regra contida naquele dispositivo é a de evitar que sobre outros bens do devedor recaia a constrição se há um que já fora prévia e bastantemente dado para responder pelo débito, o que não se dá na espécie.
Inteligência do § 22 do art. 655 do Código de Processo CiviL
Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Bueno de Souza, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.
Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Relator.
Publicado no DJ de 01-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Para garantir a execução, os recorrentes nomearam um bem situado em Belo Horizonte e outros em local distinto.
O exeqüente impugnou a nomeação, com base no disposto nos inci-
210 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
sos In, v e VI, do art. 656 do Código de Processo Civil, e requereu que a penhora recaísse sobre o imóvel sito na Av. Cristiano Machado, em Belo Horizonte.
Contra a decisão que acolheu esse pedido, os executados agravaram de instrumento argumentando que os bens nomeados foram aceitos para garantia da ação cautelar de sustação de protesto e que o contrato executado estava garantido por imóvel hipotecado em terceiro grau.
O agravo foi improvido pelos seguintes motivos: a) a nomeação é ineficaz porque teve por objeto bens situados em local distinto do foro da execução, embora havendo bens naquele local; b) os bens localizados em Belo Horizonte não são suficientes para a garantia do juízo; c) o fato de o credor ter aceito o imóvel hipotecado em terceiro grau não lhe retira o direito de exigir outro bem que não esteja onerado como garantia da execução; d) o fato de o juiz ter aceito aqueles mesmos bens nomeados à penhora para garantia do juízo quando concedeu a liminar de sustação de protesto, não lhe obrigaria a aceitá-los para garantia da execução, por serem situaçõesjurídicas distintas.
Com a rejeição dos aclaratórios adveio o recurso especial em exame com base na letra a do permissor constitucional por alegada violação aos seguintes dispositivos do Código de Processo Civil: a) ao art. 655, § 2Q
, uma vez que a penhora deveria recair sobre a garantia anteriormente ofertada; e, b) ao art. 620, porque a execução deve ser proces-
sada do modo menos gravoso para o devedor.
Devidamente respondido, o recurso foi admitido na origem, tendo o processo chegado ao meu Gabinete em 30 de outubro de 1996, sendo indicado para pauta no dia 1 Q de abril de 1998.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): 01. O recurso não pode ser conhecido pela alegada ofensa ao art. 620 do Código de Processo Civil pois a norma nele inserta não mereceu qualquer interpretação por parte do v. acórdão recorrido.
Para que a matéria objeto do apelo nobre reste prequestionada há necessidade de que seja efetivamente debatida pela Corte de origem ao decidir a apelação.
Ausente o debate, inexistente o prequestionamento, por isso que obstaculizada a via de acesso ao apelo excepcional.
N em valeria o argumento de que os declaratórios opostos teriam suprido os necessários debates e decisão prévios, por ser imprescindível o acolhimento dos embargos para se ter por preenchida a possível omissão constante de acórdão embargado.
Se o Órgão julgador nela persistir, ao rejeitar os embargos, deve a parte veicular no recurso a ofensa às regras processuais pertinentes e não insistir na violação aos precei-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 211
tos legais relativos ao mérito da causa, sem que sobre eles haja o órgão julgador emitido juízo explícito.
Nesse sentido, o decidido no Ag 136.378-9 (AgRg)-SP da ego Segunda Turma do colendo Supremo Tribunal Federal, de que foi Relator o eminente Ministro Marco Aurélio, e o REsp n Q 95.454/GO, desta ego Quarta Turma, de minha relatoria, este tendo sido assim sumariado, naquilo que para a hipótese há de útil:
Processual Civil. Recurso especial. Ausência de prequestionamento. Embargos declaratórios rejeitados. Não conhecimento.
Impossível o acesso ao recurso especial, por falta de prequestionamento, quando os temas nele insertos não foram, como na hipótese, objeto de debate na Corte de origem.
° requisito do prequestionamento só se acha suprido, em havendo omissão no aresto da apelação, se o Órgão julgador, ao decidir os aclaratórios, tiver efetivamente enfrentado as questões nele veiculadas, suprindo a omissão apontada, sob pena de, se ofensa à lei federal houver, ser aos arts. 458, II, e 535 do Código
de Processo Civil, o que não se veiculou na espécie.
Recurso especial não conhecido.
02. Melhor sorte não recolhem os recorrentes quanto à alegada ofensa ao § 2Q do art. 655 do Código de Processo Civil.
É que essa regra tem que ser interpretada com temperamento.
N a hipótese, como dito na exposição, o bem cogitado sofreu, em favor do exeqüente/recorrido, uma hipoteca em terceiro grau, sendo assim razoável conferir ao credor, para responder pela execução, o direito de indicar outro bem do executado que não esteja preferencialmente garantindo outros débitos, sobretudo quando, como no caso, o imóvel hipotecado em terceiro grau é insuficiente para garantia do juízo (fls. 135).
A finalidade da rega contida naquele dispositivo é a de evitar que sobre outros bens do devedor recaia a constrição se há um que já fora prévia e bastantemente dado para responder pela dívida.
No caso, como visto, referido imóvel não responde, sozinho, pelo débito.
03. Diante de tais pressupostos, não conheço do recurso.
212 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
RECURSO ESPECIAL Nº 115.093 - SP
(Registro nº 96.0075868-9)
Relator: O Sr. Ministro Fontes de Alencar
Recorrente: Banco Sudameris Brasil S/A
Advogados: Drs. Mário Augusto Couto Rocha e outros
Recorrida: Momentum Empreendimentos Imobiliários Ltda.
Advogado: Dr. José de Oliveira Costa
EMENTA: Direito Econômico. CDB. Deflação.
- O fator de deflação estabelecido pela Lei 8.177/91 (art. 27) incide no caso de título com rendimentos prefixados.
- Recurso especial atendido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Cesar Asfor Rocha, vencido o Sr. Ministro Barros Monteiro. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília, 20 de maio de 1997 (data do julgamento).
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Presidente. Ministro FONTES DE ALENCAR, Relator.
Publicado no DJ de 06-04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR: Trata-se de ação ordi-
nária proposta por Momentum -Empreendimentos Imobiliários Ltda. objetivando diferença de rendimentos pactuados, porque firmara um CDB em 18.01.91 com valores prefixados, porém na data do vencimento do referido título a instituição financeira fez incidir o fator de deflação previsto na MP nº 294, de 31.01.94 (Plano Collor II).
A Oitava Cãmara do Primeiro Tribunal de Alçada Civil manteve a sentença de fls. 109/113, que julgara procedente a ação. Do v. acórdão de fls. 206/210 transcrevo o seguinte:
"Com efeito, inconstitucional ou não o art. 26 da Medida Provisória nº 294, convertida em art. 27 da Lei nº 8.177/91, e que resultou na chamada "Tablita" do Plano Collor II, incabível a ofensa ao ato jurídico perfeito.
............... (omissis) ............... .
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 213
Ora, tanto a Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro (art. 69 ,
parágrafo 19 ) como a Constituição Federal (art. 59, inciso XXXVI), consagram o princípio da irretroatividade da lei nova, protegendo o direito adquirido e o ato jurídíco perfeito. .
c. .. ) ao contratar a operação, as duas partes se submeteram aos riscos do negócio, que têm de ser por elas suportados; se, no decurso do prazo de aplicação, a inflação atinge níveis inimagináveis, certamente perde o investidor -e, em caso contrário, perde o banqueiro. Assim, fixadas as taxas antecipadamente, tornam-se elas imutáveis e os contratantes assumem a responsabilidade por eventuais variações diferentes das previstas."
Banco Sudameris Brasil S/A manifestou, com fundamento no art. 105, UI, a e c, da Constituição da República, recurso especial, com alegação de negativa de vigência dos arts. 3 9 e 6 9 do Decreto-Lei 4.657/42 (LICCB) e do art. 27 da Lei 8.177/91; e argüição de divergência jurisprudencial.
VOTO
O SR. MINISTRO FONTES DE ALENCAR (Relator): Cuidam os autos de controvérsia a respeito da incidência do fator de deflação (tablita), de que trata a Lei n 9 8.177/91, sobre os rendimentos decorrentes de aplicação em CDB. O caso se prende à incidência de norma de direito econômico.
A matéria já se acha pacificada nesta Corte, consoante se infere dos REsps n ilE 19.713 e 29.907, ambos relatados pelo Ministro Athos Carneiro, tendo o primeiro a seguinte ementa:
"Plano Collor lI. Medida provisória n 9 294, convertida na Lei n 9 8.177/91. Aplicação em RDBs. Fator de deflação, previsto no artigo 27 desta lei.
Norma de ordem pública, editada no conjunto de um plano econômico, aplicável assim aos contratos em curso. Legitimidade da tablita, destinada a deflacionar a correção monetária prefixada.
Incidência plena do fator de deflação, tal como previsto em lei, não obstante os índices inflacionários reais hajam sido superiores aos previstos. Importa inclusive ponderar que o Banco passou a receber seus créditos, nas operações de empréstimos aos clientes, com o mesmo fator de deflação.
Recurso especial conhecido e provido."
Por igual, é o REsp. 43.792, relatado pelo Ministro Antônio Torreão Braz e o REsp n 9 76.940, relatado pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar, este último julgado em 12.12.95.
Diverso, também, não é o entendimento da Terceira Turma deste Tribunal, citando-se o REsp n 9
84.800, relatado pelo Ministro Waldemar Zveiter, julgado em 21.05.96.
214 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
Acrescento, aillda, o REsp nQ 48.381 por mim relatado.
Como visto, na matéria há precedentes a flux desta Corte.
Em face do exposto, conheço do recurso por ambos os fundamentos e lhe dou provimento para julgar improcedente a ação, fixados os honorários advocatícios, a cargo do vencido, em 10% do valor da causa corrigido.
VOTO - VENCIDO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Sr. Presidente, peço vênia ao Eminente Ministro-Relator para não conhecer do recurso, uma vez que, da leitura que S. Exa.
fez do acórdão recorrido, percebi que há um fundamento, por si só, suficiente para manter a decisão recorrida, a de que o fenômeno inflacionário persistiu mesmo naquele período, motivo pelo qual não seria ° caso, então, de aplicar-se aqui a "tablita" prevista no art. 27 da Lei n Q 8.177/9l.
Não conheço do recurso.
VOTO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Sr. Presidente, com a vênia do Sr. Ministro Barros Monteiro, acompanho ° Sr. MinistroRelator.
RECURSO ESPECIAL NQ 124.147 - GO
(Registro nQ 97.0019026-9)
Relator: O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Recorrente: Odílio Marques Palmeira
Recorridos: Roberto Egídio Balestra e cônjuge, e Aleimar Rodrigues de Queiroz e cônjuge
Advogados: Drs. Getúlio Targino Lima e outros, Amaury Jácomo e Nair Dias dos Santos Vieira
EMENTA: Civil. Ação pauliana. Prazo para exercício do direito. Art. 178, § 9~ V, B, CC. Natureza. Prazo decadencial. Inexistência de causa suspensiva e interruptiva. Situação extraordinária. Fato que impedia o manejo anterior da ação. Ato supostamente fraudulento cancelado por decisão judicial. Novo prazo. Início. Restauração do registro. Superação da decadência. Recurso provido.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 215
I - O prazo para ajuizamento da ação pauliana é decadencial, afastando, por conseqüência, a ocorrência de causa suspensiva ou interruptiva de sua fluência.
II - Se o titular do direito não o exerceu por absoluta impossibilidade legal - falta de interesse de agir, porque o ato jurídico objeto da revocatória foi cancelado por determinado tempo, por força de decisão judicial- não pode ele ser impedido de discutir a prevalência do direito subjetivo que em tese o socorreria.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Bueno de Souza.
Brasília, 5 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: Ajuizou O recorrente ação pauliana visando à anulação de escritura pública de constituição de hipoteca de bem imóvel lavrada em maio/87, de propriedade do primeiro casal recorrido em favor do segundo, ao fundamento de que teria ocorrido fraude. Disse ser credor dos primeiros re-
corridos pela quantia de quatrocentos e sessenta e seis mil e novecentos e setenta e dois cruzados, representados por um cheque vencido em março/87 e duas notas promissórias vencidas em maio do mesmo ano.
Relatou que anteriormente havia aforado outra ação pauliana, na qual, após citados os credores hipotecários, ora segundos recorridos, requereu desistência, tendo em vista que, nos autos de uma execução movida pelo Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A, existia decisão, que veio a ser revista após o pagamento da respectiva dívida exeqüenda (maio/90), declarando ineficaz a mencionada hipoteca por fraude, tornou sem objeto, em conseqüência, a referida revocatória.
O Juiz rejeitou a alegada "prescrição" e julgou procedente o pedido, por estar presente o dano em relação ao credor e o intuito de fraudar o pagamento da dívida.
À apelação, o Tribunal de Justiça de Goiás deu provimento para acolher a "prescrição". Entendeu o Colegiado que não teria sido interrompido o prazo "prescricional" quanto à primeira ação pauliana, no que diz respeito ao primeiro casal recorrido, porque não-citado. Afir-
216 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
mou mais a ego Turma que, se o referido prazo se consumou com relação a ele, uma vez não interrompida a fluência do curso pela citação válida, isso se refletiria na relação do credor com os segundos recorridos, em razão de ser defesa a cisão da responsabilidade dos devedores, haja vista se tratar de litisconsórcio unitário.
Irresignado, o credor interpôs recurso especial alegando violação dos arts. 172, V e 178, § 9º, V, b, do Código Civil. Sustentou que, durante a validade da decisão do juiz que declarara a ineficácia da constituição da hipoteca, estava ele, credor, impossibilitado de ajuizar qualquer ação, porque não detinha interesse de agir, uma vez que sua pretensão - anulação da escritura - já era fato.
Contra-arrazoado, foi o recurso inadmitido na origem, subindo os autos por força de provimento de agravo.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (Relator): No pertinente à regra prescrita pelo art. 178, § 9º, V, b, da lei material civil, o entendimento majoritário está no sentido de que se cuida de prazo decadencial (REsp 32.800-SP, RSTJ 63/352, Terceira Turma, relator o Ministro Eduardo Ribeiro; Humberto Theodoro Júnior, Fraude contra Credores, Del Rey, 1996, capo VIII, n. 6, pág. 141;
Yussef Said Cahali, Aspectos Processuais da Prescrição e da Decadência, RT, 1979, n. 11, pág. 29 e Fraude contra Credores, 1989, capo XII, n. 1, pág. 376; Maria Helena Diniz, Código Civil Anotado, Saraiva, 1995, art. 178, n. IV, pág. 175; Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil, v. III, 3ª ed., Forense, n. 177, pág. 283).
Outra discussão também presente no meio forense diz respeito ao termo inicial do prazo para anular o ato jurídico realizado em fraude - tema não objeto desta demanda - tendo tido esta Turma, inclusi-ve, oportunidade de salientar que, independentemente de se tratar de prazo de prescrição ou decadência, a fluência do prazo se inicia a partir do registro do título aquisitivo do álbum imobiliário (REsp 36.065-SP, DJ 10.10.94, por mim relatado).
Partindo da posição dominante, que considera o prazo discutido como de decadência, não há como negar-se a inexistência de causas interruptivas ou suspensivas, haja vista ser essa uma das características do prazo extintivo do direito.
Assim, em princípio, iniciado o curso do prazo para buscar a anulação da escritura pública de constituição de hipoteca, não haveria de cogitar-se de fato obstativo de sua fluência, a não ser a citação de todos os envolvidos no ato supostamente fraudulento.
Todavia, no caso, uma situação peculiar toma corpo. Nem se quisesse, o autor, ora recorrente, poderia ajuizar ação pauliana (ou continuar com aquelajá instaurada) para anu-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 217
lar a hipoteca durante o prazo em que, por decisão judicial, foi cancelado seu registro. Com efeito, faleceria ao autor interesse de agir, uma vez que sua pretensão já estaria garantida e ele não teria qualquer necessidade de buscar solução na via jurisdicional.
A decadência, conforme assinala Marco Aurélio Viana (Curso de Direito Civil, v. 1, Del Rey, 1993, pág. 277), "encontra seu fundamento no fato de o titular do direito não se ter utilizado do poder de ação dentro do prazo fixado por lei". Ora, se o titular não exerceu seu direito por absoluta impossibilidade legal - falta de interesse de agir - embora tenha tentado por meio da primeira ação pauliana que ajuizou, não pode ele ser impedido de discutir a prevalência do direito subjetivo que em tese o socorreria.
Restaria, conseqüentemente, tãosó averiguar se após o desaparecimento da causa que impossibilitava ao credor manejar a competente demanda - revalidação do registro da hipoteca - já teria transcorrido o prazo de quatro anos. Negativa a
resposta, conquanto a decisão judicial que determinou a prevalência do registro datou de maio de 1990 e a presente ação deu entrada em abril de 1993, com os réus citados em maio e junho do mesmo ano.
Tenho, destarte, por violado o art. 178, § 9Q, V, b, do Código Civil, porque a norma que ele encerra foi aplicada em hipótese em que não admitia, prejudicada a análise da outra questão.
Em face do exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para que, superada a "prescrição", examine o ego Tribunal de origem as demais insurgências postas na apelação.
VOTO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Estou de acordo com o Sr. Ministro-Relator em face das peculiaridades salientadas por S. Exa., uma vez que, no interregno mencionado, a parte não tinha interesse em ingressar com a segunda ação pauliana.
RECURSO ESPECIAL NQ 130.351 - MT (Registro nQ 97.0030689-5)
Relator: O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrentes: José Jacinto Costa e cônjuge Recorrido: Banco Bradesco S/A Advogados: Ivaldir Paulo Muhl e outro, e Rodolfo de Oliveira Martins
e outros
218 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
EMENTA: Arrematação. Preço vil.
É insuficiente o lanço oferecido pelo credor, na segunda praça sem licitantes, inferior a 60% do valor do bem e, na mesma proporção, insuficiente para quitação da dívida principal e seus acessórios.
Recurso conhecido em parte e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, darlhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Bueno de Souza.
Brasília, 13 de outubro de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: José Jacinto Costa e sua esposa Maria Izabel Marangoni Costa ofereceram embargos à arrematação contra o Banco Bradesco, aduzindo que a execução é nula por falta de título executivo, ausência de intimação da praça, falsidade das certidões do Oficial de Justiça, ví-
cios do edital de praça e arrematação do bem pelo credor por preço vil.
A sentença julgou improcedentes os embargos, daí apelação.
A ego 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso negou provimento ao recurso, em acórdão assim ementado:
"Apelação cível- Cédulas rurais pignoratícias e hipotecárias - Conta gráfica-Apresentação - Requisito não essencial -Execução cabível - Praça dos bens - Intimação válida - Vícios do edital- Inocorrentes - Alienação - Preço vil - Não caracterização - Recurso improvido.
Cabível é a execução proposta com base em cédulas rurais pignoratícias e hipotecárias formalmente perfeitas, não sendo requisito essencial a apresentação da conta gráfica.
Não configura alienação por preço vil a venda judicial de bem em segunda praça, cujo valor de arrematação corresponde a mais de 58% (cinqüenta e oito por cento) do valor atualizado da avaliação, sendo satisfeito aproximadamente 75% (setenta e cinco por cento) do débito." (FI. 116)
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 219
José Jacinto e sua esposa interpuseram, tempestivamente, recurso especial, com base em ambas as alíneas do artigo 105, IIl, da CF/88 e art. 541 do CPC, alegando afronta aos artigos 4º, do Decreto-Lei nº 167/67; 586, 615, IV, 618, I, 400 e 686, estes do Código de Processo Civil. Pretendem seja declarada a nulidade da arrematação, em decorrência da inexistência de certeza e liquidez das cédulas rurais; contratadas para liberação parcelada, o credor não apresentou os comprovantes de liberação e de utilização do financiamento, tornando impossível a verificação da existência da dívida, bem como de sua liquidez. Sustentam, ainda: 1) nulidade do processo, por cerceamento de defesa, impedidos que foram de fazer a prova sobre a nulidade da intimação; 2) a ausência de intimação da praça; 3) os vícios do edital, que não individualizaram suficientemente o imóvel; 4) o preço vil da arrematação, pois os bens foram avaliados em R$ 231.392,00 (duzentos e trinta e um mil, trezentos e noventa e dois reais), porém arrematados por apenas R$ 138.000,00 (cento e trinta e oito mil reais), locupletando-se o apelado às custas dos apelantes.
O Banco Bradesco apresentou suas contra-razões, vindo o recurso a ser admitido pela alínea a, quanto ao tema do preço vil.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR (Relator): 1. Os recor-
rentes não têm razão quanto ao cerceamento de defesa (matéria que não foi objeto de prévio questionamento), à alegada falta de título executivo (tema precluso), à falta da intimação (ato certificado nos autos, "além de o próprio apelante aduzir na inicial que tomou ciência da praça através do Oficial de Justiça" (acórdão, fl. 114», e quanto aos defeitos na publicação do edital, que inexistiram, pois houve suficiente descrição do imóvel.
2. Porém, sua irresignação procede quando alegam ofensa ao art. 692 do CPC, por ter sido o imóvel arrematado por preço vil.
O valor atualizado do débito dos recorrentes era de R$ 185.973,00, a ser acrescido da multa de 10% e dos honorários advocatícios. Os bens penhorados foram avaliados em R$ 237.047,00, suficientes para o pagamento do principal e dos acessórios. O credor, porém, que preferiu não exercer o seu direito de adjudicar, - quando então deveria oferecer preço não inferior ao que constou do edital (art. 714 do CPC), -compareceu à segunda praça e, sem outros licitantes, ofereceu o lance de R$ 138.000,00. Esse preço significou menos de 60% do valor do imóvel e insuficiente, na mesma proporção, para o pagamento da dívida.
O conceito de preço vil tem recebido contéudo diverso da doutrina e da jurisprudência. A própria lei da execução fiscal já o definiu como sendo o inferior a 60% do valor real (art. 37 do DL 960/38): "Art. 37-A Fazenda poderá requerer a adjudicação dos bens levados à praça, após
220 R Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
o último pregão, caso não encontrem licitantes. A adjudicação será feita pelo preço do maior lance, ou pelo da avaliação, com o abatimento de 40%, quando, na segunda praça, não tiver havido licitantes."
O art. 692 do CPC, com a antiga redação, referia-se ao lanço insuficiente para satisfazer parte razoável do crédito, mas a jurispudência reconhecia que, embora satisfazendo o crédito, continuava sendo vil o lance que representava desproporção entre o valor de mercado do bem e o da arrematação:
"Ação de anulação de praça e arrematação. Preço vil. Artigo 692, in fine, do Código de Processo Civil.
Alegação de irregularidades formais e de alienação do imóvel a preço vil, embora bastante para o pagamento da totalidade da dívida, restando sobra. Bem avaliado por CR$ 300.000,00 e arrematado em segunda praça por CR$ 120.000,00, sendo a dívida de CR$ 31.928,28.
Nos casos de praça não exitosa, sem que tenham comparecido lançadores, deve ser lavrado o respectivo termo, na mesma data; e assim também se houver arrematante, pois o auto somente será lavrado decorridas 24 horas, e cumpre de logo documentar a oferta.
Alienação a 'preço vil'. Artigo 692, in fine, do CPC.
O conceito de 'preço vil' não decorre apenas da comparação en-
tre o preço ofertado e o valor da dívida a ser satisfeita, mas igualmente cumpre confrontar a oferta com o valor real do bem, assim evitando sofra o executado prejuízo vultoso e desproporcional. A prestação jurisdicional é instrumento de justiça, mas não de justiça cega, propiciadora de iniqüidade.
Recurso especial conhecido pela alínea c, mas provido." (REsp 11:535-RS, 4ª Turma, reI. em. Min. Athos Carneiro, DJ 03/02/ 92)
"Processual. Execução fiscal (Lei 6.830/80 - art. 22). Arrematação. Leilão. Preço mínimo. Dupla licitação. CPC (arts. 686 e 692). Aplicação supletiva. Preço vil. Conceito. .
I - O art. 22 da Lei n Q 6.830/ 80, por não regular completamente a arrematação, reclama aplicação supletiva dos preceitos que disciplinam a espécie, no Código de Processo Civil.
II - Na execução fiscal aplica-se o preceito contido no art. 686, VI do Código de Processo Civil, a exigir duas licitações, quando não atingido no primeiro leilão, o lanço mínimo fixado no edital.
III - O conceito de preço vil resulta da comparação entre o valor de mercado do bem penhorado e aquele da arrematação.
IV - É incorreto afirmar que determinada arrematação deixou de ser vil, apenas porque o lance vitorioso cobriu noventa por cen-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 221
to do crédito em execução." (REsp 57.095-SP, 1 ª Turma, reI. em. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 15/05/95)
A doutrina refere-se a diferença aproximada de 50% entre o valor e o preço:
"A questão do preço vil, que a jurisprudência considera se não alcança metade da avaliação ... " (Nelson Nery Jr. e Rosa Maria Nery, CPC Comentado, 2ª ed., pág. 1.076)
Também considero a lição do Prof. Humberto Theodoro Júnior:
"Por preço vil simplesmente deve ter-se aquele que se situa muito aquém do valor de mercado do bem praceado. Muitos arestos classificam, por exemplo, como vil o lance que não vai além de 50% ou 60% da avaliação. Trata-se de um dado fático, que haverá de ser analisado, caso a caso, pelo juiz da execução, segundo seu prudente arbítrio." (Processo de Execução, 18ª edição, pág. 380)
Neste Superior Tribunal de Justiça já ficou decidido:
"Processual Civil. Arrematação por preço vil. Embargos à arrematação.
I - Preço vil, segundo entendimentó acolhido pela jurisprudência do STJ, é aquele muito
abaixo do valor real do bem, sendo certo ainda que a discussão em torno do tema não cabe em embargos à arrematação por extravasar os lindes do artigo 746 do estatuto processual.
II - Recurso não conhecido" (REsp 38.905-MG, 3ª Turma, reI. em. Min. Waldemar Zveiter, DJ 07/02/94) .
"Arrematação. Preço vil.
A circunstância de o preço ser vil há de aferir-se tendo em vista o valor do bem e não o montante da dívida. Não revela, assim, que a importância que se obteria com a alienação pudesse bastar para o pagamento do débito, a cuja cobrança se dirige a execução.
A recusa do preço vil independe de manifestação daquele, cujo bem foi levado a praça ou leilão." (REsp 109.753-SP, 3ª Turma, reI. em. Min. Eduardo Ribeiro, DJ 22/ 04/97)
3. No caso dos autos, o credor se utilizou dá oportunidade da segunda praça sem licitação para oferecer lanço equivalente, aproximadamente a 50% do valor do imóvel, correspondente na mesma proporção ao valor da dívida. Com isso, usou da execução para se beneficiar em detrimento do devedor, pois adquire a propriedade de imóvel cujo valor aceito nos autos é praticamente igual ao dobro daquele oferecido, quando sabidamente o bem era suficiente para quitar a dívida principal e seus acessórios.
222 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
A autorização contida no art. 690, CPC, também referida ao credor, que poderá comparecer e oferecer lanço, não pode ser usada para prejudicar o devedor e torná-la mais gravosa (art. 620). Se a lei permite ao exeqüente adjudicar o bem, por preço não inferior ao que consta do edital (art. 714), não parece adequado possa ele, antes de finda a segunda praça, oferecer lance por preço muito inferior. Se no lance do credor (art. 690) não há o mesmo piso do art. 714, não pode ser dispensada criteriosa aplicação do art. 692, que proíbe o preço vil.
4. Posto isso, conheço do recurso, pela alínea a, por ofensa ao art. 692 do CPC, e lhe dou provimento, para anular a arrematação onde foi oferecido preço vil.
É o voto.
VOTO
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: A legislação em vigor permite, nos termos
do art. 690, § 2Q, que o credor não seja obrigado a utilizar-se do instituto da adjudicação e concorra na segunda hasta pública como se lançador fosse, situação na qual não tem que observar o limite estabelecido pela avaliaçi'ío.
Fixado esse entendimento, nos termos da legislação vigente, acompanho o Sr. Ministro-Relator, porque S. Exa., sem fugir a essa orientação da lei, no caso concreto conhece do recurso e lhe dá provimento sob outro fundamento, não com suporte no art. 690, mas, sim, com arrimo no art. 692, que trata do preço vil, trazendo em sua fundamentação considerações doutrinárias e jurisprudenciais.
VOTO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Srs. Ministros, também acompanho o voto do eminente Ministro-Relator, considerando vil o preço ofertado, até porque ele poderia ter oferecido uma quantia compatível com o crédito e não o fez.
RECURSO ESPECIAL NQ 137.285 - PB
(Registro n Q 97.0042970-9)
Relator: O Sr. Ministro Barros Monteiro
Recorrente: Civeste Indústria de Roupas do Nordeste Ltda.
Recorrido: Banco do Brasil S/A
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 223
Advogados: Drs. Roberto Fernando Vasconcelos Alves, e Pedro A. B. de Oliveira e outros
Sustentação Oral: Dr. Pedro Afonso Bezerra de Oliveira, pelo recorrido
EMENTA: Honorários de advogado. Embargos à adjudicação. Ausência de culpa por parte do embargado. Teoria da causalidade.
- Os honorários de advogado são devidos quando a atuação do litigante exigir, para a parte adversa, providência em defesa de seus interesses.
- A ausência de culpa do sucumbente causador da instauração do processo não interfere na sua responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios.
Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e darlhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presentejulgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília, 09 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: Civeste - Indústria
de Roupas do Nordeste Ltda. e outros opuseram embargos à adjudicação na execução fundada em cédula de crédito industrial que lhes move o Banco do Brasil SI A.
O MM. Juiz de Direito julgou procedentes os embargos, para "anular os atos processuais praticados no procedimento originário supracitado, a partir da arrematação de bens, inclusive, para que, assim decidido, seja designada nova data para realização de praça ou leilão, com observância das formalidade legais, condenando o embargado-exeqüente, ao pagamento de honorários de advogado, fixados em 10% sobre o valor da avaliação dos bens quando levados a hasta pública".
A Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, deu provimento parcial ao apelo do banco-embargado, em acórdão cujos fundamentos se resumem na seguinte ementa:
224 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
"Execução. Embargos à adjudicação. Nulidade. Não realização da praça por falta de publicação do edital. Acolhimento dos embargos. Apelação. Provimento em parte, para excluir a verba honorária.
Nula é a praça realizada com postergação às disposições do art. 687 do CPC, mantendo-se a sentença que assim a considerou, excluindo-se, porém, a condenação em honorários, por não ter a parte exeqüente culpa no evento."
Acolhidos parcialmente os declaratórios, os embargantes manifestaram o presente recurso especial com fulcro nas alíneas a e c do permissor constitucional, apontando violação do art. 20 do CPC e dissenso interpretativo com julgado desta Corte. Sustentaram, -em síntese, que cabe ao vencido responder pelos ônus da sucumbência independentemente de ter agido ou não com culpa.
Contra-arrazoado, o apelo extremo foi admitido pela alínea a subindo os autos a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): 1. Acha-se presente o requisito do prequestionamento, pois a matéria concernente aos honorários de advogado foi objeto de expressa decisão pelo Tribunal de origem.
2. A sentença impôs ao banco embargado os ônus da sucumbência diante da circunstância objetiva da derrota experimentada na solução da lide. Na motivação do decisório, o dr. Juiz de Direito <aludiu à certidão lavrada pela Escrivã no sentido de que a primeira praça deixara de realizar-se pelo fato de o exeqüente não haver diligenciado a publicação dos respectivos editais. Acentuou o Magistrado, em seguida, que no dia seguinte à data designada para a referida primeira praça, o banco credor pediu a juntada das cópias dos editais, de modo a evidenciar terem sido cumpridas as exigências legais. Todavia, o mesmo sentenciante considerou ter sido irregular a realização do ato, ao reverso do que admitido pelo Juiz que então presidia a execução, à falta da necessária publicidade.
J á o Tribunal de Justiça, embora mantendo a anulação dos atos processuais praticados por ausência da publicação do edital, houve por bem, de outra parte, exonerar o bancoembargade do pagamento da verba honorária, sob o fundamento de que não se houvera ele com culpa no evento.
Assim firmada a base empírica da presente controvérsia, tem-se que, ao eximir o credor-exeqüente do pagamento dos honorários advocatícios, o Acórdão recorrido realmente vulnerou o disposto no art. 20 do CPC.
Conforme demonstra Yussef Said Cahali, em sua conhecida e admirada obra "Honorários Advocatícios", o princípio da sucumbência
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 225
não exaure por si só a problemática da responsabilidade pelos encargos do processo; daí a inserção no sistema, como fundamental, do princípio da causalidade, "do qual a sucumbência apresenta-se apenas como um elemento revelador, talvez o seu mais expressivo indício" (pág. 51, 3ª ed., revista e atualizada).
Na espécie em apreciação, somente o fato objetivo da derrota não justificaria a atribuição dos ônus sucumbenciais ao embargado, uma vez que o V. Acórdão foi explícito ao asseverar que a não-realização da praça não se dera por culpa do banco, mas sim do Cartório, que negligenciou quanto aos atos preparatórios para a sua efetivação (fls. 64).
Entretanto, pelo princípio da causalidade, mais abrangente, claro está que no caso em tela o exeqüente deve sim solver a honorária em favor dos embargantes - ora recorrentes. É que, em última análise, fora o banco credor quem dera causa, dera origem, à apresentação dos embargos à adjudicação pelos devedores. Basta que se atente para o seu procedimento havido nos autos da execução. A primeira praça não se efetivara em face da não publicação dos editais. A despeito disso, o banco exeqüente, exibindo o exemplar da publicação pela imprensa, conseguiu obter do Juiz de Direito o prosseguimento do feito, com a realização da segunda praça. Não tendo havido licitantes nesta última, terminou ele por requerer a adjudicação dos bens penhorados.
Quer dizer, tendo ocorrido irregularidade na efetivação da primei-
ra praça, que acabou sendo proclamada pela sentença dos embargos à adjudicação, quem lha deu causa foi o banco ora recorrido, de início porque não exibiu a tempo os respectivos editais e depois porque deu andamento ao processo de execução, requerendo e obtendo afinal a adjudicação dos bens.
Segundo ajurisprudência, os honorários de advogado são devidos sempre que a atuação do litigante exigir, para a parte adversa, providência em defesa de seus interesses (Acórdão da 8ª Câmara do 2º TAC, in obra citada, pág. 53). In casu, conforme acima assinalado, foi o comportamento da instituição financeira quem provocou ensejo à propositura pelos devedores dos presentes embargos à adjudicação.
Por derradeiro, consoante ainda observa o Desembargador Yussef Said Cahali, seja em face do princípio da causalidade, seja em razão da regra da sucumbência, "a pretensa ausência de culpa do sucumbente causador da instauração do processo não interfere, de qualquer modo, na sua responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios devidos à parte contrária" (ob. citada, pág. 60).
Respaldada acha-se, outrossim, a teoria da causalidade pelajurisprudência desta Corte (cfr. REsp's n!!ll 7.570-PR, 39.462-7/SP, ambos relatados pelo Sr. Ministro Eduardo Ribeiro).
3. Apenas não logra aperfeiçoar-se aqui o conflito de julgados, eis que os recorrentes não cuida-
226 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
ram de proceder à demonstração analítica da divergência, mencionando as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem as hipóteses confrontadas (art. 541, parágrafo único, do CPC; art. 255, § 2º, do RISTJ).
4. Do quanto foi exposto, conheço do recurso pela alínea a do permissor constitucional e dou-lhe provimento, a fim de restabelecer a sentença no alusivo à condenação da verba advocatícia.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL Nº 143.553 - RJ
(Registro nº 97.0056130-5)
Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha
Recorrentes: Jornal do Brasil S/A e outros
Recorrido: José Maria de Mello Porto
Advogados: Drs. Francisco de Almeida e Silva e outros, e Eduardo Antônio de Albuquerque Coelho e outros
EMENTA: Processual Civil. Impugnação ao valor da causa. Reparação de danos moral e material. Valor econômico previamente estabelecido pelo autor na inicial. Artigo 259 do Código de Processo Civil.
O valor da causa, em ação de reparação de danos morais, é o da condenação postulada se esta já foi de antemão economicamente mensurada pelo autor na inicial.
Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer do recurso, e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, vencido o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Votaram com o
Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Bueno de Souza.
Brasília, 25 de novembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Relator.
Publicado no DJ de 20-04-98.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 227
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Os recorrentes ofereceram, nos autos de ação de reparação por danos morais, impugnação ao valor da causa que teria sido estipulado pelo autor, ora recorrido, em R$ 1.000,00 (hum mil reais), a despeito do seu pedido indenizatório ser equivalente a 200 vezes a sua remuneração bruta, por cada um dos 13 réus.
Acolhida em primeiro grau, o autor agravou, com sucesso, conforme dá conta o r. aresto hostilizado, que se segue:
"Trata-se de agravo contra a decisão (fls. 16/17), que em ação ordinária de indenização de dano moral acolheu a impugnação ao valor da causa, por ser o pedido determinável, fixando o valor da demanda de acordo com ele, ou seja, de duzentas vezes a remuneração bruta do autor, que sustenta ser o valor da causa meramente estimativo, devendo ser aplicado à hipótese o art. 258 do C.P.C.
Contraminutado o recurso, a decisão foi mantida. É o relatório.
Trata-se de ação, pleiteando a reparação por dano moral, constante do pedido, através de uma avaliação meramente subjetiva, que será examinada pelo Juiz que, na espécie, tem um vasto campo de prudente arbítrio.
O valor, se for o caso, poderá, sem dúvida, ser completado em execução.
À hipótese não se aplicam, em decorrência, os artigos 259 e 260 do CPC, mas o art. 258, como, aliás, decidiu a Egrégia 5ª Câmara no Agravo de Instrumento n Q
4/95." (fls. 117).
Daí o recurso especial em exame com base nas letras a e c do permissor constitucional por sugerida divergência com os julgados que indica e por alegada violação ao art. 259 do Código de Processo Civil.
Devidamente respondido, o recurso foi inadmitido na origem, tendo o seu andamento desembaraçado pelo provimento que dei ao agravo de instrumento.
Recebi o processo no dia 28 de agosto do corrente ano de 1997, sendo indicado para pauta no dia 17 de novembro.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): Os recorrente's ofereceram, nos autos de ação de reparação por danos morais, impugnação ao valor da causa que teria sido estipulado pelo autor, ora recorrido, em R$ 1.000,00 (hum mil reais), a despeito do seu pedido indenizatório ser equivalente a 200 vezes a sua remuneração bruta, por cada um dos 13 réus.
Acolhida em primeiro grau, o autor agravou, com sucesso, conforme dá conta o r. aresto hostilizado, que se segue:
228 R: Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
"Trata-se de agravo contra a decisão (fls. 16/17), que em ação ordinária de indenização de dano moral acolheu a impugnação ao valor da causa, por ser o pedido determinável, fixando o valor da demanda de acordo com ele, ou seja, de duzentas vezes a remuneração bruta do autor, que sustenta ser o valor da causa meramente estimativo, devendo ser aplicado à hipótese o art. 258 do C.P.C.
Contraminutado o recurso, a decisão foi mantida. É o Relatório.
Trata-se de ação, pleiteando a reparação por dano moral, constante do pedido, através de uma avaliação meramente subjetiva, que será examinada pelo Juiz que, na espécie, tem um vasto campo de prudente arbítrio.
O valor, se for o caso, poderá, sem dúvida, ser completado em execução.
À hipótese não se aplicam, em decorrência, os artigos 259 e 260 do CPC, mas o art. 258, como, aliás, decidiu a Egrégia 52 Câmara no Agravo de Instrumento n Q
4/95." (fls. 117).
Sustentam os recorrentes contrariedade ao artigo 259, inciso lI, do Código de Processo Civil, que dispõe:
"Art. 259. O valor da causa constará sempre da inicial e será:
II - havendo cumulaçâo de pedidos, a quantia corresponden-
te à soma dos valores de todos eles;"
O pedido inicial do recorrido está assim vazado, no que interessa:
" ... devendo, a final, ser julgada procedente com a condenação dos mesmos, ao pagamento da indenização, por réu, a ser arbitrada por V. Exa., em valor proporcional a 200' (duzentas) remunerações brutas do autor, como Presidente do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 12 Região, vigente à época da satisfação do débito ... ". (fls. 57).
Não há dúvida de que o valor atribuído à causa, nesses casos, é meramente estimativo porquanto, se - na visão do autor - a reparação dos danos só será completa se for no quantum indicado na inicial, na percepção do Juiz, ao apreciar os fatos da causa, um outro tanto poderá ser alcançado.
Ademais, o art. 286 do Código de Processo Civil possibilita a quem ingressa com ação, a formular também pedido genérico em que o gênero do pedido é determinado, mas a quantidade é indeterminada no momento da propositura da ação.
No entanto, no caso, o autor preferiu fazer um pedido certo e determinado, entendendo-se por certo o pedido expresso e por determinado o pedido definido, delimitado, demarcado em sua qualidade e quantidade, na lição de Amaral Santos.
Ora, o inciso lI, do art. 259 do Código de Processo Civil, estabelece
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro\1998. 229
que o valor da causa constará sempre da inicial e que será, havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles.
Abro um parêntese para observar que, no caso, ao acolher a impugnação, o juiz estipulou o valor da causa no valor correspondente à postulada condenação apenas de um réu, por isso que a mais não se pode cogitar neste recurso.
Retomando, afirmo que na hipótese, o autor, que poderia fazer pedido genérico, preferiu já quantificar os valores dos danos morais, conforme acima assinalado.
Sendo assim, não poderia atribuir à causa o valor simbólico de R$ 1.000,00.
Se o valor dos danos não tivesse sido indicado, aí sim, o valor da causa poderia ser meramente estimativo, e seja qual fosse o indicado, esse seria provisório, podendo ser alterado posteriormente, se a importância apurada fosse maior.
Mas não é esse o caso dos autos.
Por oportuno, colho as seguintes passagens do judicioso voto vencido do eminente Desembargador Wilson Marques:
"Não colhe o argumento, freqüentemente utilizado na sustentação de entendimento diverso, de que, não se sabendo, ao certo, qual será o valor da indenização que o juiz fixará na sentença, deve prevalecer a estimativa feita pelo autor na inicial.
o valor da causa não se confunde com o valor da condenação.
Por amor à coerência, os partidários do entendimento oposto deveriam sustentar a tese de que, no caso de improcedência do pedido, o juiz deve reduzir o valor da causa a zero." (fls. 119).
Destarte, o valor da causa, na hipótese, deve ser mesmo a importância perseguida e express.amente indicada pelo recorrido.
Nesse sentido cito o seguinte precedente:
"Valor da causa. Pedidos de condenação de quantias certas e determinadas.
O valor da causa deve corresponder à importância perseguida, devidamente atualizada à data do ajuizamento da ação.
Recurso especial não conhecido." (REsp n. 37.844-SP, relator o eminente Ministro Barros Monteiro, DJ de 29.11.93).
E este outro (REsp nº 142.304/ PB), recentemente julgado, também desta Quarta Turma, de minha relatoria:
"Processual Civil. Impugnação ao valor da causa. Pedidos cumulados. Reparação de danos moral e material. Soma dos valores postulados na inicial. Artigo 259 do Código de Processo Civil.
Cumulando a ação dois pedidos, ambos de antemão mensura-
230 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
dos economicamente pelo autor na inicial, a soma dos dois deve ser o valor da causa.
Recurso provido".
Pelo exposto, conheço do recurso por ambas as alíneas e lhe dou provimento, restabelecendo a r. decisão monocrática de fls. 16/17.
RECURSO ESPECIAL NQ 145.345 - SP
(Registro n Q 97.0059730-0)
Relator: O Sr. Ministro Barros Monteiro
Recorrente: Hélio Trevisan Júnior
Recorrido: Attilio Guilherme Faoro
Interessado: Bamerindus Companhia de Seguros
Advogados: Drs. Paulo Sérgio Basílio e outro, Gerson Shiguemori e outro, e José Walter de Sousa Filho
EMENTA: Seguro. Responsabilidade civil. Denunciação da lide à seguradora. Correção monetária. Termo inicial.
Tendo a correção monetária a finalidade de garantir ao segurado o recebimento de indenização pelo seu valor monetário real, cabe à seguradora-denunciada reembolsar o segurado-denunciante sob o mesmo critério de atualização com que este fo'i responsabilizado (correção monetária a contar da data de elaboração do orçamento).
Recurso especial conhecido e provido parcialmente.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e darlhe provimento parcial, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente
julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília, 25 de novembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 09-03-98.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 231
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: O MM. Juiz de Direito da lO!! Vara Cível de São Paulo julgou procedente a ação de reparação de danos ajuizada por Atílio Guilherme Faoro contra Hélio Trevisan Júnior, condenando o réu ao pagamento de Cr$ 20.480.000,00, com correção monetária a partir da data da lavratura do orçamento. Outrossim, julgou procedente a denunciação da lide, condenando a denunciada, "Bamerindus Companhia de Seguros", a reembolsar as despesas pagas pelo réu-denunciante ao autor, respeitando o limite de CR$ 109.942,74, com correção monetária a partir da denunciação.
O Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo negou provimento aos apelos do réu e da denunciada.
Recebidos os embargos declaratórios apenas para negar o pedido de majoração da verba honorária na denunciação da lide, o réu-denunciante manifestou o presente recurso especial com arrimo nas alíneas a e c do permissor constitucional, alegando violação do art. 1 º da Lei 5.488/68, além de dissenso pretoriano com julgados desta Corte e do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Sustentou que, sob pena de enriquecimento ilícito da denunciada - com a qual firmou contrato de seguro que prevê o reembolso do pagamento feito a terceiros em virtude de condenação judicial -, deverá haver a atualização do valor da apólice desde a data do aviso do si-
nistro ou, pelo menos, reembolso em valor igual ao que for pago ao autor.
Contra-arrazoado, o apelo extremo foi admitido pela letra c.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): Há realmente um descompasso entre o que o ora recorrente está condenado a solver (correção monetária a partir da data de elaboração do orçamento) e o que a seguradora-denunciada deverá reembolsar-lhe (correção monetária a contar da denunciação da lide).
O critério adotado pelas instâncias ordinárias (atualização monetária a partir da denunciação) não se compadece, porém, com o estatuído no art. 1 º e §§ da Lei nº 5.488, de 27.08.68. A referida preceituação reza que, não paga a indenização nos prazos fixados pelo Conselho Nacional de Seguros, a partir de então será devida a correção monetária pela seguradora. O escopo do legislador aí é o de garantir ao segurado o recebimento de uma indenização real, conforme, aliás, deixou proclamado esta Eg. Turma quando do julgamento do REsp nº 3.705-MG, relator o Sr. Ministro Athos Carneiro. Eis a ementa do referido aresto:
"Seguro de responsabilidade civil. Correção monetária. Aplicação da Lei n Q 5.488/68.
A companhia seguradora, em seguro facultativo de responsabi-
232 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
lidade civil de proprietário de veículo automotor, citada por seu segurado mediante denunciação da lide, e judicialmente condenada ao reembolso, é obrigada a satisfazer tal reembolso tendo em vista valores monetários reais. Assim, o valor-limite da apólice de seguro, fixada ao tempo da emissão, deve ser considerado com a atualização decorrente da desvalorização da moeda, e feito o pagamento nos exatos termos da Lei n. 5.488/68.
Quem recebeu prêmio, em 1985, relativo a uma indenização limite de Cr$ 6.200.000,00 de então, não pode pretender que, hoje, ao tempo do pagamento, o valor do seguro tenha o limite de Cr$ 6,20 agora.
Imperativos econômicos, jurídicos e éticos a preservar.
Recurso especial conhecido e provido".
Nessas condições, o decisório ora hostilizado não somente negou aplicação ao indigitado art. 1 º e §§ da Lei nº 5.488/68, como ainda discrepou dos julgados paradigmas trazidos à colação pelo recorrente, um oriundo do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, outro desta Casa (o REsp nº 3. 705-MG, acima aludido).
Só que o critério a prevalecer não pode ser o primeiro propugnado pelo recorrente (a data de aviso do sinistro) e, sim, o segundo (igual modo pelo qual fora condenado a compor a indenização em favor do autor). Primeiro, porque é claro o art. 70, inc. IIl, do CPC, ao estabelecer a denunciação da lide "àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regres'siva, o prejuízo do que perder a demanda". Responsável que é o réudenunciante pela atualização do importe condenatório a partir da data de feitura do orçamento, igual critério aplica-se à seguradora-denunciada, sistemática esta por sinal acolhida pelo precedente provindo do Tribunal de Justiça catarinense e que foi invocado pelo recorrente para demonstrar o dissenso jurisprudencial.
Ante o exposto, conheço do recurso por ambas as alíneas do admissor constitucional e dou-lhe provimento parcial, a fim de determinár que o reembolso a ser procedido pela seguradora-denunciada se faça pelo mesmo critério de correção imposto ao réu denunciante, ou seja, a partir da data de lavratura do orçamento.
É como voto.
R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 233
RECURSO ESPECIAL Nº 148.288 - RS
(Registro nº 97.0065114-2)
Relator: O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrente: Banco do Brasil S/A
Recorridos: Comercial de Sementes Helimar Ltda. e outros
Advogados: Leonidas Cabral de Albuquerque e outros, e Euclecio Nicolau Seibel e outros
EMENTA: Crédito rural. Juros. Limite. Autorização do CMN.
Para a cobrança de juros acima da taxa prevista na Lei de U sura, a instituição financeira deve estar autorizada pelo CMN. Precedentes.
Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Bueno de Souza.
Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Relator.
Publicado no DJ de 30-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: A sentença julgou par-
cialmente procedentes os embargos opostos por Comercial de Sementes Helimar Ltda. e outros à execução que lhes move o Banco do Brasil S/A, com base em dívida decorrente de financiamento agrícola.
As partes apelaram e a ego 2ª Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, por votação unânime, negou provimento ao recurso dos embargantes e, por maioria, deu provimento ao recurso do banco, em acórdão assim ementado:
"Crédito Rural. Quando pactuados juros remuneratórios inferiores a 12% ao ano, desnecessário enfrentamento da questão relativa à limitação dita insculpida no art. 192, § 3º, da CF. Não podem elevar-se por inadimplência. Devida correção monetária. Índice incidente no caso. Apelo parcialmente provido." (FI. 224)
234 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
Contra a parte unânime do julgado, o credor ingressou com recurso especial, por ofensa ao disposto na Lei 4.595/64 e no art. 5Q
, par. único do DL 167/67, além de divergência com a Súmula 596. Entende cabível a elevação da taxa de juros moratórios além de 1% a.a., e bem assim a capitalização mensal.
O banco ainda opôs embargos infringentes, acolhidos em parte pelo ego 1 Q Grupo Cível do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul:
"Crédito agrícola. Juros. Limitação constitucional (art. 192, § 3 Q da Constituição Federal). Capitalização mensal.
A disposição constitucional limitativa dos juros não é autoaplicável, carecendo de regulamentação legislativa. Todavia, a prática de taxas de juros superiores às legais, sej a pelo período normal do contrato, seja pela inadim plência, condicionando-se à autorização do Conselho Monetário Nacional.
O Decreto-Lei n Q 167/67, em seu art. 5Q
, admite forma diversa da capitalização semestral de juros, desde que pactuada entre as partes.
Embargos providos parcialmente." (FI. 263)
Rejeitados os embargos de declaração, o banco ingressou com o segundo recurso especial, por ambas as alíneas, por afronta aos artigos 128, 264, 130, 131, 333, 336, 330, inciso I, do CPC; 4Q
, incisos VI, VII,
VIII e IX, da Lei n Q 4.595/64; 1.262 do CC; à Circular 1.311/88 e às Resoluções 1.064/85 e 1.131 do Bacen, em razão da exigência de prova da autorização do CMN para a cobrança da taxa de juros remúneratórios superior a 12% ao ano. Sustenta dissídio jurisprudencial (fls. 302/ 312).
Sem contra-razões, o Tribunal de origem negou seguimento ao primeiro recurso especial e admitiu o segundo por ambas as alíneas, subindo os autos a este ego STJ.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR (Relator): 1. A alegação de nulidade do acórdão, por exigir prova de autorização do CMN para a cobrança de juros além do limite permitido na lei, não tem sido acolhida nesta 4ª Turma, como se pode ver dos precedentes:
"A exigência de prévia autorização do Conselho Monetário N acionaI para que a instituição financeira venha a operar com taxas de juros livremente pactuadas não importa em ofensa ao art. 128 do CPC." (REsp 84.815/RS, reI. em. Min. Barros Monteiro)
"A simples circunstância de o Tribunal ter exigido prova de determinado fato ao examinar a apelação, o que não havia sido cogitado anteriormente no processo, não leva a uma afronta ao devido processo legal consubstan-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 235
dada na violação dos vários dispositivos legais suscitados. Não houve inovação na apelação, mas tão-só expressão do princípio do livre convencimento do juiz insculpido no art. 130 do CPC." (REsp 97.423/RS, reI. em. Min. Sálvio de Figueiredo).
Embora tenha votado diferentemente, estou aderindo à corrente majoritária, pelos fundamentos aduzidos em outro recurso:
"O juiz do recurso, ao apreciar a pretensão do apelante, pode concordar com ela, em princípio, se atendidos pressupostos, condições ou limitações. Presentes tais requisitos, o pleito poderá ser acolhido. Se o tribunal entender que a tese sustentada pelo recorrente somente pode ser aceita na presença de certo fator, e este inexistindo, o resultado será o improvimento do apelo pelos fundamentos que decorrem necessariamente do exame do recurso, ainda que implique a aceitação de argumento novo, pois o juízo da apelação não está limitado a somente examinar os argumentos apresentados pelas partes. Além disso, o Tribunal que entende indispensável certo requisito não está constrangido a deferir o pedido na ausência desse pressuposto, apenas porque não mencionado antes. A limitação do segundo grau é às questões suscitadas e discutidas nos autos, não aos argumentos apresentados pelas partes. Assim, se o tribunal aceitar que a parte tem, em tese, o di-
reito alegado, poderá improver o recurso por um argumento ainda não formulado, considerado indispensável para o seu reconhecimento, como, por exemplo, a falta de prova.
No caso dos autos, o Tribunal a quo anuiu com a possibilidade de os estabelecimentos bancários cobrarem juros acima do permitido no Dec. 22.626/33, artigo 1 Q, por força do estatuído na Lei 4.595/64, que autoriza o CMN a fixar as taxas de juros a serem praticadas pelas instituições financeiras, mas considerou, interpretando a lei e nela buscando fundamento para a sua decisão, que essa estipulação somente poderá ser feita quando houver tal autorização. Inexistindo o pressuposto, não há como aplicar a norma que permite outras taxas de juros que não aquelas do decreto. A questão é a mesma, já suscitada e discutida nos autos, mas o deferimento da pretensão do recorrente, nos termos da lei, estava vedado por falta do que se entendeu ser um requisito. Inexiste aí ofensa às regras sobre o âmbito dos recursos e atuação do julgador, nem às normas sobre prova, pois à parte cabia trazer a documentação onde fundava o seu direito."
2. A cobrança de juros acima do limite legal, que predominantemente se entende possível depois da edição da Lei 4.595/64, da qual é fruto a Súmula 596/STF, ainda em vigor, está evidentemente condicionada à
236 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
existência da autorização do Conselho Monetário Nacional pois é com base no art. 42, inciso IX daquele diploma que o CMN pode "limitar as taxas de juros, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover investimentos indispensáveis às atividades agropecuárias."
O Eg. Supremo Tribunal Federal, no RE 83.466/SP, assim decidiu:
"A cobrança de taxas que excedam o previsto no Dec. 26.626/ 33, desde que autorizada pelo Banco Central, não é ilegal, sujeitando-se os seus percentuais unicamente aos limites fixados pelo Conselho Monetário N acionaI e não os estipulados na Lei de Usura" (RTJ 79/620).
Impende, portanto, que haja autorização da autoridade financeira, não propriamente do Banco Central, mas do Conselho Monetário N acionaI, como definido na Lei 4.595/64, para que possa a instituição financeira estipular cláusula de juros acima do previsto na legislação ordinária. Tal exigência está repetida no Dec.-Lei 167/67, - aplicável ao caso, pois se trata de crédito rural, - cujo art. 52 reza:
"As importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros às taxas que o Conselho Monetário fixar".
Essa a orientação que foi seguida nesta 4ª Turma, no REsp 84.815/ RS, da relatoria do em. Min. Bar-
ros Monteiro, na sessão de 6 de agosto do corrente ano:
"Há dificuldades para compreender-se a fundamentação expendida no recurso especial interposto, de forma a ter-se até mesmo como invocável aqui o teor da Sumula n2 284 do Pretória Excelso. É que sustenta o banco credor ser prescindível a autorização referida do Conselho Monetário Nacional para operar com taxas acima do teto legal, mas, contraditoriamente, invoca ele o preceituado no art. 42, inc. IX, da Lei n2 4.595/64, que às expressas outorga poderes ao supramencionado órgão federal para limitar, sempre que necessário, as taxas de juros. Saliente-se, ademais, que um dos arestos paradigmas invocados pelo estabelecimento bancário (RTJ 79/620-621) reporta-se de maneira explícita à sujeição da cobrança da taxa de juros aos percentuais fixados pelo mesmo Conselho Monetário N acionaI. Mais que isso, o art. 52, caput, do Dec.-Lei n 2 167/67, reza que as importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros às taxas que o Conselho Monetário Nacional fixar.
De sorte que, além de impreciso o apelo excepcional insurgese contra algo que a lei e a jurisprudência estão a exigir para a cobrança da taxa dejuros: a prévia estipulação pelo Conselho Monetário Nacional."
O mesmo ficou decidido no REsp 95.540/RS, da minha relatoria:
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 237
"Crédito rural. Juros. Limites. Autorização do CMN. Elevação dos juros moratórios.
1. A exigência de autorização do CMN para a cobrança de juros acima da tabela legal não causa ofensa à lei e está de acordo com os precedentes. Art. 4Q
, inc. IX, da Lei 4.595/64, e art. 5Q caput do DL 167/67.
2. Os juros podem ser elevados de apenas mais 1%, em decorrência do inadimplemento. Art. 5Q
,
parágrafo único do DL 167/67.
Recurso não conhecido."
3. Na sessão de 5.5.97, esta 4ª Turma, em acórdão da relatoria do em. Min. Sálvio de Figueiredo, no REsp 111. 160/RS, afirmou que "é defesa a cobrança de juros além de 12% a.a. se não demonstrada, pelo credor, a prévia estipulação pelo CMN das taxas de juros vencíveis para o crédito rural, correspondentes à data da emissão da cédula".
Mais recentemente, a ego 2ª Seção reafirmou esse entendimento. No julgamento do REsp 111.881-SP, da relatoria do em. Min. Menezes Direito, ficou decidido:
"Crédito rural. Limitação da taxa de juros. Correção monetária no mês de março/90. Precedentes da Corte.
1. O Decreto-Lei n Q 167/67, art. 5Q, posterior à Lei n Q 4.595/64 é
específico para as cédulas de crédito rural, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n Q
22.626/33), não alcançando a cédula de crédito rural o entendimento juriSprudencial consolidado na Súmula n Q 596-STF.
2. Os precedentes deste Tribunal afirmam que "em relação ao mês de março de 1990, a dívida resultante de financiamento rural com recursos captados de depósitos em poupança deve ser atualizada segundo o índice de variação do BTNF. Ante o atrelamento contratual, é injustificável aplicar-se o IPC, para a atualização da dívida, se os depósitos em poupança, fonte do financiamento, foram corrigidos por aquele índice", sendo certo que o percentual a ser aplicado é o de 41,28% (RSTJ 79/155).
3. Recurso especial não conhecido."
4. Posto isso, não encontrando violação a dispositivo legal e estando a divergência superada, estou em não conhecer do recurso.
É o voto.
238 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
RECURSO ESPECIAL NQ 153.155 - SP
(Registro nQ 97.0076694-2)
Relator: O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrentes: Elza Peloso Castelo e outros
Recorrida: Empresas Reunidas Paulista de Transportes Ltda.
Advogados: José Carlos de Cerqueira, e Antonio Carlos Colo e outros
EMENTA: Responsabilidade civil. Dano moral. Juros. Data inicial. Preponente (juros simples).
1. O deferimento da indenização pelo dano moral sofrido com a morte do marido e pai dos autores independe de prova do efetivo sofrimento, que decorre da natureza das coisas. O decurso de mais de 17 anos entre o fato e o ajuizamento do pedido é fator a ponderar na fixação do quantum indenizatório.
2. Os juros pela mora, em se tratando de ato ilícito absoluto, fluem desde o fato. Pedido fundado no art. 159 do CCivil e não na responsabilidade contratual.
3. A empresa preponente não responde por juros compostos. Ressalva da posição do relator.
Recurso conhecido em parte e parcialmente provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro. Ausentes, justificadamente, o Sr. Ministro Bueno de Souza e, ocasionalmente, o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.
Brasília, 10 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro BARROS MONTEIRO, Presidente. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: Elza Peloso Castelo, Débora Aparecida Castelo, Antônio Augusto Castelo e Pedro José Castelo promoveram ação de indenização por ato ilícito contra as Empresas Reunidas Paulista de Transporte Ltda., alegando que são, respec-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 239
tivamente, esposa e filhos de José Castelo, morto em acidente entre dois ônibus de propriedade da ré, causado por culpa do motorista de um deles, como ficou admitido em sentença penal condenatória.
A sentença julgou "procedente a ação para condenar a ré no pagamento de 120 salários do morto, 30 para cada autor (dano moral), mais uma pensão mensal equivalente a 60% do soldo de um 19 Sargento PM pelo valor que tinha na data do óbito, limitada ao dia em que o morto completasse 65 anos de idade, corrigindo-se o valor da pensão mensalmente pelo mesmo índice de correção· das cadernetas de poupança, com o direito de acrescer inclusive na falta da viúva-autora. Sobre os valores das parcelas vencidas e o da compensação por danos morais incidirão juros de mora a 6% ao ano, desde a citação, cumulados com os juros remuneratórios a 12% ao ano, da data do ajuizamento da ação." Os valores apurados em liquidação constituirão a base do cálculo, acrescido de 12 vezes a pensão mensal, dos honorários dos patronos dos autores, fixados em 15%, que a ré pagará juntamente com as custas e despesas do processo, pela sucumbência. Outrossim, condenou a ré a constituir capital suficiente para produzir rendimento de juros equivalentes ao valor da pensão mensal, bem como facultou a substituição da garantia por fiança bancária.
Opostos embargos de declaração, estes foram acolhidos "para ficar constando que cada um daqueles 120 salários, é o soldo de 19 Sargen-
to PM, na data do óbito, corrigido o valor do soldo pelo mesmo índice de correção das cadernetas de poupança até a data do efetivo pagamento aos autores."
Ré e autores apelaram e a ego 10ª Câmara do 19 Tribunal de Alçada Civil de Estado de São Paulo deu parcial provimento aos recursos, em acórdão assim ementado:
"Responsabilidade Civil-Acidente de Trânsito - Colisão de ônibus em rodovia - Dever de indenizar independentemente da existência de danos materiais -Fixação da pensão de acordo com o salário real da vítima não podendo ser considerado o soldo decorrente de uma graduação póstuma - Direito de acres.cer reconhecido entre os beneficiários - Indevida indenização por dano moral porque na época do evento ainda não havia previsão constitucional- Dano moral não provado ou justificado - Demanda proposta cerca de 17 anos após o evento - Juros de mora a partir da citação face o tempo decorrido para propositura da demando - Atualização monetária resolvida com aplicação da Súmula 490 do STF - Devida pensão correspondente ao 139 Salário -Recursos das partes providos parcialmente.
Honorários Advocatícios - Fixação nos termos do artigo 20, parágrafo 39 - Incidência sobre o total das parcelas vencidas e sobre 12 das vincendas - Recurso provido parcialmente." (FI. 383).
240 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
Os autores ingressaram com recurso especial por ambas as alíneas, sustentando afronta aos artigos 962, 1.518, 1.521, inciso IIl, 1.544 do CC; 5Q
, incisos V e X da CF, além de dissídio jurisprudencial com as Súmulas nM 37 e 54 deste STJ e 341 do STF e julgados de outros tribunais. Sustentam: a) - o dano moral decorre do fato, sendo dispensável prova ou demonstração da dor; b) - o dano moral pode ser deferido para fato acontecido antes da Constituição de 1988; c) - o exercício do direito da ação, decorrente de ato ilícito, por ser direito pessoal, só prescreve em 20 anos, sendo absolutamente irrelevante o fato de os recorrentes terem ajuizados ação 17 anos após o fato, mas dentro do lapso prescricional, pelo que a ré deve arcar com os juros de mora desde o evento danoso; d) -osjuros compostos se aplicam à preponente, por força de sua solidariedade; e) - são cumuláveis os danos material e moral. Requereram a reforma do v. acórdão recorrido para, no caso do dano moral, restabelecer a sentença de primeiro grau, fixando a indenização em 120 salários do morto, na base de 30 para cada autor, devidamente convertidos em tantos quantos eram os salários mínimos da época do falecimento da vítima e atualizados pelo valor do salário mínimo vigente na época da efetiva liquidação do julgado, determinando que os juros de mora sejam contados a partir do evento danoso e estabelecendo que os juros tidos como remuneratórios pela sentença sejam reconhecidos como compostos e concedidos nos termos do art. 1.544 do CC.
Nas contra-razões, a recorrida alega: 1) - deserção do recurso especial em razão da falta de preparo; 2) - indevida a indenização por dano moral; 3) - exclusão da verba relativa a juros compostos; 4) - os juros moratórios, se devidos, devem incidir a partir da citação.
O d. MP/SP opinou pelo provimento do recurso especial.
Admitido na origem apenas pela alínea c, subiram os autos a este ego STJ.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR (Relator): 1. A deserção inexistiu porque os autores e ora recorrentes litigam com o benefício da gratuidade (fl. 56).
2. O fato da morte é causa certa de padecimento e dor por parte da mulher e dos filhos da vítima, sendo dispensável a prova do sofrimento e da amargura decorrente da perda. Isso advém da experiência comum e independe de prova; o contrário, por ser inusitado (mas pode acontecer), é que dependeria de demonstração nos autos. Por isso, em se tratando de dano moral estrito senso, não se exige a produção de prova do dano para o deferimento da indenização, cabendo ao prudente arbítrio do juiz verificar os pressupostos de sua ocorrência e arbitramento do valor compatível.
A reparação do dano extrapatrimonial está presente no nosso ordenamento jurídico desde antes da
R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 241
Constituição de 1988, tanto que o art. 76 do CCivil, de 1916, prescreve: "Para propor, ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo interesse econômico, ou moral". Na jurisprudência, a evolução caminhou nesse sentido; como se recolhe do excelente apanhado feito pelo em. Min. Barros Monteiro ("Indenização por dano moral - evolução da jurisprudência", Informativo Jurídico da Biblioteca Oscar Saraiva, v. 71 n. 2/pág. 90). A concessão dessa verba, portanto, não constitui aplicação retroativa de preceito superveniente ao fato, mas aplicação do ordenamento já vigente ao tempo e que tinha o dano moral como indenizável, apesar da matéria estar sujeita a controvérsias dissipadas pela nova Constituição.
O longo tempo decorrido entre o fato gerador do dano e o pedido judicial não é causa para a sua rejeição, pois para isso existem os prazos prescricionais, a limitar o período útil para sua manifestação. Exercida oportunamente a ação, é o quanto basta para ser examinada a existência do alegado direito. A demora pode, isto sim, influir na estimativa do quantum, pois é bem possível que a dor a ser considerada no momento do pedido é bem diversa daquela existente nas proximidades da morte, pois o tempo seda a dor moral.
Por tais razões, quanto ao tema da indenização do dano moral, estou em conhecer do recurso especial, pela divergência, que ficou bem demonstrada (RT 641/230; REsp 1l.177/SP), e lhe dar provimento,
em parte, a fim de restabelecer a condenação por essa parcela constante da sentença. Considerando que o dano pôde esperar mais de dezessete anos para se manifestar em juízo, proponho a redução do valor da indenização de 120 para 80 salários do morto, tocando 20 a cada beneficiário, equivalentes à remuneração mensal de um 1 Q Sargento PM no dia do efetivo pagamento, aí considerado o total dos estipêndios, excluídos os descontos obrigatórios.
3. Trata-se de ação fundada em ilícito absoluto, como se depreende dos termos da inicial, na qual os autores invocaram o disposto no art. 159 do CCivil e se propuseram a fazer a prova da culpa do motorista, o que realmente aconteceu no transcorrer do processado. Em nenhuma passagem, seja da sentença ou do acórdão, ficou afirmado que o pedido era deferido pela responsabilidade da empresa decorrente do contrato de transporte, que é uma obrigação de resultado, para cuja procedência bastaria comprovar o descumprimento da obrigação de efetuar o transporte sem dano. Incide, portanto, a regra de que os juros, por ilícito extracontratual, fluem desde o fato (Súmula 54).
4. Os juros compostos não são devidos pela empresa preponente, nos termos da orientação que voltou a predominar nesta ego 4ª Turma, onde o acórdão citado como paradigma, de minha relatoria, se constituiu em decisão isolada. Com ressalva da posição então manifestada, que me parece a mais adequada, há de prevalecer o entendimen-
242 R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998.
to da douta maioria, razão pela qual por esse fundamento o especial não pode ser conhecido (Súmula 83).
5. Em resumo, conheço do recurso, em parte, pela divergência, e nessa parte lhe dou parcial provi-
mento para conceder indenização pelo dano moral, nos termos acima explicitados, e mais juros legais (simples, não compostos) desde a data do fato.
É o voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 177-243, setembro 1998. 243
HABEAS CORPUS NQ 6.090 - TO
(Registro n Q 97.0054618-7)
Relator: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini
Impetrante: Diógenes de Oliveira Frazão
Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins
Pacientes: Graciomar Viana Santana e Cleomar Viana Gomes
EMENTA: HC - Reaforamento - Júri - Irregularidades - Preclusão - Reformatio in pejus - Soberania dos veredictos.
- Com a criação do Estado do Tocantins, o Poder Judiciário do Estado de Goiás tornou-se incompetente para julgar processos feitos à nova unidade federativa.
- Se os defensores dos réus tomaram ciência do reaforamento, através do Termo de Aditamento de Julgamento, improcedem as alegações de nulidade processual por cerceamento de defesa.
- A parte que se sentir prejudicada por nulidade em plenário, porventura existente deve manifestar seu inconformismo logo após a ocorrência, sob pena de preclusão. Entendimento do artigo 571, VIII, do CPP.
- O Júri é soberano, de modo que pode responder aos quesitos diferentemente da série anterior, e se isto obriga o presidente do júri a cominar pena mais grave do que a contida na sentença anulada, não implica na vedação da chamada reformatio in pejus.
- Ordem de habeas corpus que se indefere.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, indeferir o pedido. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Arnaldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José Dantas.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 247
Brasília, 24 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI: Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso constitucional em favor de Graciomar Viana Santana e Cleomar Viana Gomes, contra acórdão da e. Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, que denegou a ordem originária.
Os pacientes foram condenados a 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos de prisão, respectivamente, por haverem, no interior do Bar Mocambo, na cidade de Palmeirópolis/TO, causado à vítima Antônio de Araújo Caldas lesões que lhe resultaram a morte, restando incursos no artigo 121, § 2Q
, lU, c/c artigo 61, h, do Código Penal.
Inconformados com a sentença, apelaram alegando, em síntese: a) nulidade do termo de compromisso dos peritos e, conseqüentemente, nulidade do laudo de exame cadavérico; b) nulidade do processo à míngua de citação dos réus; c) nulidade do julgamento por erro na formulação dos quesitos.
O apelo foi provido, sendo determinada a submissão dos acusados a outro julgamento, em acórdão assim ementado:
"Ementa - Apelação, Júri. Primeiro Quesito. Agravantes. As circunstâncias agravantes não podem figurar no primeiro quesito, que deve se referir, exclusivamente, ao tipo fundamental, sob pena de nulidade do julgamento. Recurso provido."
Submetidos a novo julgamento, restaram condenados por crime de rixa e julgada extinta a punibilidade, em razão da ocorrência da prescrição, motivando apelação do órgão ministerial que foi provida ao fundamento de que a desclassificação afrontou, manifestamente à prova dos autos (fls. 102).
Inconformados recorreram extraordinariamente à Suprema Corte, sem êxito (fls. 88) o que acarretou a interposição de agravo de instrumento, não conhecido por ser extemporâneo (fls. 95).
Posteriormente, o Ministério PÚblico requereu a remessa do feito ao Estado do Tocantins, eis que o delito ocorreu em Palmeirópolis, que, antes, integrava a unidade federativa do Estado de Goiás, só que com o novo contorno geopolítico brasileiro, ajurisdição de Goiás não tem legitimidade para alcançar tais fatos, tendo em vista a criação do Tocantins.
Julgados pelo Tribunal do Júri de Palmeirópolis, Graciomar e Cleomar foram condenados, respectivamente, a 15 e 18 anos de reclusão, como incursos, o primeiro, nas sanções do art. 121, § 2Q
, lU, c/c art. 61, U, h, e art. 29, todos do Código Penal, e o segundo, nas penas do artigo
248 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
121, § 2º, III, c/c artigos 61, II, c e h e 29, também do Estatuto Repressivo, vedado o direito de apelar em liberdade.
Impetraram, sem êxito, habeas corpus, ao mesmo tempo em que apelaram do r. decisum condenatório, .que restou não sendo conhecido, sobrevindo recurso especial, inadmitido na origem (fls. 106) e agravo de instrumento, negado por esta E. Corte (fls. 112).
Transitada em julgado a sentença condenatória, foi expedida carta precatória de prisão e remoção dos pacientes para cumprimento da pena imposta pelo Tribunal do Júri, motivando a impetração de novo habeas corpus, permitindo-se que aguardassem o julgamento do apelo em liberdade.
A apelação não foi conhecida (fls. 157), sobrevindo, mais uma vez, recurso especial, inadmitido na origem (fls. 159), e, conseqüentemente, agravo de instrumento, ao qual foi negado provimento (fls. 166).
Finalmente, impetraram habeas corpus, denegado, por unanimidade, cuja ementa assim está redigida:
"Habeas corpus - Júri - Reaforamento da comarca de Goiânia para a de Palmeirópolis -Incompetência daquela, tendo em vista a criação do Estado de Tocantins - Ciência dos defensores dos réus.
- Com a criação do Estado do Tocantins, a comarca de Goiânia, capital do Estado de Goiás, tor-
na-se incompetente para julgar processos afeitos à nova unidade federativa. Tendo os defensores dos réus tomado ciência do reaforamento, através do Termo de Aditamento de Julgamento, improcedem as alegações de que não foram notificados do mesmo.
Habeas corpus - Júri - Alegações de irregularidades ocorridas em Plenário - Momento de argüi-las - Preclusão - Aplicação do artigo 571 do CPP.
- Havendo nulidades em plenário, a parte prejudicada deve manifestar seu inconformismo logo após a ocorrência, ao teor do que dispõe o inciso VIII do artigo 571 do Código de Processo Penal, sob pena de preclusão.
Habeas corpus - Júri - Soberania dos veredictos - Reformatio in pejus - Hipótese não configurada - Não impedimento do conselho popular de responder aos quesitos diferentemente da série anterior - Aplicação, pelo presidente do júri, de sanção mais grave do que a contida na sentença anulada, em recurso exclusivo do réu - Denegação.
- A vedação da chamada reformatio in pejus, por decorrer de norma processual ordinária, não tem a forma e o alcance para limitar a soberania do Júri, de preceito constitucional de modo a impedir o Tribunal Popular de responder aos quesitos diferentemente da série anterior obrigando o presidente do júri a impor sanção mais grave do que a con-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 249
tida na sentença anulada, em recurso exclusivo do réu.
Habeas corpus denegado."
Tal decisão motivou a interposição de recurso ordinário, onde se alega cerceamento de defesa eis que: a) foi autorizado o reaforamento do julgamento sem que a defesa fosse ouvida; b) os quesitos foram formulados de modo que era difícil a sua compreensão pelos jurados; c) as respostas eram induzidas, prejudicando a defesa; d) houve reformatio in pejus, posto que na aplicação da pena foi fixado prazo superior à apenação anterior; e) as agravantes afastad'as na sentença de pronúncia foram recolocadas no libelo e serviram para exacerbar as penas aplicadas, ferindo a coisajulgada e o contraditório; e f) composição do júri popular por pessoas impedidas.
Após, foram os autos à vista da douta Subprocuradoria Geral da República que opinou pela denegação do writ.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI (Relator): Sr. Presidente, adoto como razões de decidir o parecer do Dr. Jair Brandão de Souza Meira, digno Sub procurador Geral da República, que por sua percuciência e juridicidade, merece ser transcrito.
Ei-Io:
"In casu, verifica-se um verdadeiro tumulto processual ocasionado pela interposição de diversas peças recursais principalmente pela defesa, onde muitas delas sequer foram conhecidas, além de terem sido necessários três julgamentos para que então ocorresse a prestação jurisdicional estatal.
O fato é que o Juízo do Estado de Goiás não mais era competente para processar e julgar o feito, tendo em vista o novo contorno geopolítico brasileiro, eis que fora criado o Estado do Tocantins, razão pela qual ocorreu o reaforamento, tendo os defensores tomado ciência através do Termo de Aditamento do Julgamento (fls. 40).
Com relação às nulidades ocorridas no plenário do Tribunal do Júri, o artigo 571, VIII, do Código de Processo Penal, determina a argüição, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de verificadas a sua ocorrência, devendo a suspeição de jurado ser alegada em plenário, sendo consideradas sanadas se não forem argüidas no momento oportuno.
E mais. Após a sentença condenatória, os pacientes interpuseram apelação pretendendo a anulação do julgamento, que não foi conhecida ao fundamento de que o artigo 593, § 3º, do CPP veda a segunda apelação fundada no mesmo motivo da anterior, ainda que a primeira tenha sido interposta pela parte contrária.
250 R Sup, Trib, Just., Brasília, a, 10, (109): 245-311, setembro 1998,
Como se vê, desde o início a intenção do impetrante era recorrer de todas as decisões, ainda que não tivesse amparo legal. Tanto que passados 17 anos do fato delituoso continua o impetrante argüindo nulidade da sentença proferida pelo Tribunal do Júri, quando a mesma já transitou em julgado, tendo sido todos os meios recursais esgotados, fato este que se comprova diante das várias peças interpostas, até mesmo agravos de instrumento onde se pretendia a subida do extraordinário e especial, obstados na origem. Ressalte-se que o primeiro julgamento foi por diversas vezes adiado face a ausência de um dos acusados, ou até mesmo do advogado.
Embora o primeiro julgamento tenha condenado os pacientes a 12 anos de reclusão, o segundo tenha desclassificado o crime para rixa e o terceiro fixado a pena em 15 e 18 anos de reclusão não há que se falar em reformatio in pejus. A uma, porque este
princípio não se aplica aos julgamentos proferidos pelo Tribunal do Júri face à soberania de suas decisões, decorrentes de preceito constitucional. A duas, porque não se pode levar em consideração a pena fixada nos julgamentos anteriores, eis que foram anulados, não mais existindo no mundo jurídico.
Conclui-se, então, que não há que se falar em anulação do julgamento realizado pelo Júri Popular, em razão da reformatio in pejus, nem tampouco em cerceamento de defesa face ao impedimento de jurado e má formulação de quesitos, eis que as supostas nulidades não foram argüidas no momento oportuno, restando, assim, sanadas."
Com razão a douta Subprocuradoria Geral da República, merecendo integral acolhimento o parecer exarado pelo ilustre SubprocuradorGeral, razão por que, me reportando a seus termos, indefiro a ordem.
É como voto.
HABEAS CORPUS NQ 6.566 - SP
(Registro n Q 97.0084123-5)
Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Impetrantes: Areobaldo Espinola de Oliveira Lima Filho e outros
Impetrada: Décima Pimeira Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo
Paciente: Benedito Quintino
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 251
EMENTA: Processual Penal. Transação penal. Lei 9.099/95, art. 76.
- Habeas corpus. Seu deferimento, em face da proposta de transação formulada oportunamente pelo Ministério Público, inclusive com requerimento de nova audiência preliminar, antecipada ao recebimento da denúncia.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, deferir o pedido, de forma que se proceda à audiência de transação, oportunamente proposta pelo Ministério PÚblico, nos autos da ação penal. Votaram com o Relator os Ministros Cid Flaquer Scartezzini, José Arnaldo, Felix Fischer e Edson Vidigal.
Brasília, 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.
Publicado no DJ de 16-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS: Trata-se de pedido originário, substitutivo do recurso ordinário, interposto de acórdão denegatório assim esclarecedoramente ementado:
"Habeas Corpus. Pleito de nulidade de recepção de denúncia, por falta de anterior audiência vi-
sando a eventual aceitação de proposta de pena antecipada. Caso em que, lançada aos autos a proposta, várias vezes interveio nos autos o ora paciente e seu defensor, sem placitar a sugestão ministerial. Denegação do writ." - fls. 167.
N esta instância, o parecer do Subprocurador-Geral José Flaubert é pela concessão da ordem, conforme ementa:
"Processual Penal. Habeas Corpus substitutivo de recurso ordinário. Infração de menor potenciallesivo. Lei 9.099/95. Juiz que não consultou o MP e o autor do fato sobre a possibilidade de transação. Ordem que deve ser concedida." - fls. 166.
Deferi a liminar, para suspender a tramitação da ação.
Relatei.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS (Relator): Senhor Presidente, denunciado pela contravenção de direção perigosa, insiste o paciente em obter a chamada transação penal cuidada no art. 76 da Lei 9.099/95.
252 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
N esse mister, sem desmerecimento da motivação denegatória do writ, tem razão o denunciado, conforme as particularidades do caso, bem assinaladas neste trecho do parecer:
"Verifica-se que, em 24/2/97, foi realizada a segunda audiência preliminar, na qual o ora Paciente recusou-se a fazer o acordo, por não ter sido juntado o laudo pericial. Assim sendo, o Juiz de 1 Q grau deu vista ao Ministério Público, fl. 110.
Em 6/5/97, foi juntado o laudo, fls. 113/118.
O Ministério Público, fl. 120, requereu a designação de nova audiência preliminar.
Em 817/97, assim que a audiência foi aberta, o Juiz se pronunciou no seguinte sentido:
"Tendo em vista o espírito da Lei 9.099/95, que trouxe medidas visando a simplificação da apuração dos fatos, com o que até agora não houve a concordância do acusado, posto que requereu e aguardou a produção da prova pericial, entendo
que o momento da audiência preliminar está superado. Ao MP, para eventual oferecimento de denúncia."
A vítima não compareceu à audiência, inviabilizando a composição dos danos.
No entanto, o Ministério Público já havia proposto a aplicação de multa, fl. 99, e, posteriormente, requereu a designação de nova audiência preliminar, fl. 120. Dessa forma, entendo que o Juiz deveria ter consultado o MP sobre a renovação da proposta de transação, ou mesmo ter consultado o ora Paciente sobre tal possibilidade, visto que a infração cometida pelo Paciente é considerada pela Lei 9.099/95 de menor potencial lesivo e o Paciente não se enquadra, em princípio, nas exceções contidas no artigo 76 desse diploma legal." - fls. 167/69.
Pelo exposto, defiro o pedido, de forma que se proceda à audiência de transação oportunamente proposta pelo Ministério Público nos autos da ação penal.
RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 6.824 - PR
(Registro n Q 97.0065904-6)
Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Recorrente: Rogério Costa
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 253
Advogado: Dr. Carlos Henrique Kaminski
Recorrido: Tribunal de Alçada do Estado do Paraná
Paciente: Rogério Costa
EMENTA: Penal. Denúncia. Crime de usura. Alegação de falta de justa causa.
- Habeas corpus. Incensurabilidade da denegação da ordem, a teor de assertivas assim ementadas: "A Lei de Usura está em vigor, incidindo nas sanções do art. 451, a, primeira figura, da Lei 1.521, de 1951, aquele que cobra juros em taxa superior à estabelecida pelo Decreto 22.626, de 7.4.1933, ressalvadas as situações previstas na Súmula 596 do STF. 2 - Se o fato narrado na denúncia em tese configura infração penal, não há como agasalhar a assertiva de falta de justa causa para a ação penal".
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Cid Flaquer Scartezzini, José Arnaldo, Felix Fischer e Edson VidigaL
Brasília, 16 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.
Publicado no DJ de 02-03·98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS: Eis como foi relatada a espécie, na origem, pelo juiz Wilde Pugliese:
"I - Carlos Henrique Kaminski, advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil -Secção do Paraná, impetra ordem de Habeas Corpus em favor de Rogério Costa, com a finalidade de trancar a ação penal que responde perante o Juízo de Direito da 59 Vara Criminal da Comarca de Curitiba, como incurso nas sanções do art. 49 , letra a, da Lei n 9 1.521/51, c.c. o art. 29 do Código Penal.
Fundamenta seu pedido afirmando que a conduta imputada ao paciente não caracteriza a prática de qualquer crime, mesmo em tese, até porque não existem indícios suficientemente idôneos que viessem a amparar a denúncia, faltando-lhe, pois,justa causa.
Sustenta, também, que o crime de usura inclui-se dentre as normas penais em branco, cuja eficácia depende de outra norma
254 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
complementadora limitando o máximo permitido na cobrança de juros, de modo a estabelecer o "percentual superior à taxa permitida por lei", nos termos do tipo apontado como violado.
Por fim, sustenta que não se aplicam à hipótese sub judice os termos do art. 192, § 3Q
, da Constituição Federal, dada a ausência de lei complementar, não se tratando de norma auto-aplicável.
Com essa argumentação, acompanhada dos ducumentos de fls. 15 usque 76, finaliza com os requerimentos de estilo.
A douta Procuradoria Geral de Justiça exarou o judicioso parecer de fls. 82/90, da lavra do eminente Procurador de Justiça Dr. Danilo de Lima, onde opina pela denegação da ordem." - fls. 95.
Denegou-se a ordem, segundo fundamentos assim ementados:
"Habeas corpus - Paciente denunciado por crime de usura -Lei n Q 1.521151 - Art. 42, a -Decreto n Q 22.6261 1933 -Legislação em vigor - Falta de justa causa inocorrente - Ordem denegada.
1. A Lei de Usura está em vigor, incidindo nas sanções do art. 4Q
,
a, primeira figura, da Lei n Q
1.521, de 1951, aquele que cobra juros em taxa superior à estabelecida pelo Decreto 22.626, de 7.4.1933, ressalvadas as situações previstas na Súmula n Q 596, do STF.
2. Se o fato narrado na denúncia em tese configura infração penal, não há como agasalhar a assertiva de falta de justa causa para a ação penal." - fls. 94.
Daí o presente recurso ordinário, posto na reiteração das razões iniciais - fls. 104/110.
N esta instância, o parecer da Subprocuradora-Geral Laurita Vaz é contrário ao recurso, na forma desta ementa:
"1. Habeas Corpus. Recurso Ordinário. Delito do artigo 4Q
, a, da Lei n Q 1.521/51, c.c. o artigo 29, caput, do Código Penal. Trancamento da ação penal. Argüições de falta de justa causa, dada a atipicidad.e dO'! conduta do paciente, e também de inexistêücí~ tie crime de usura, ao argumento de que o artigo 192, § 3Q
, da Carta Magna teria revogado o artigo 4Q
da Lei n Q 1.521/51 e o Decreto 22.626/33. Improcedência. Súmula n Q 596 do STF. Apontada in aplicabilidade do dispositivo constitucional à hipótese, ante a falta de necessária legislação complementar, e também por não se tratar de norma auto-aplicável. Questão não examinada pela Corte a quo, por ter sido considerada irrelevante. Denúncia bem formulada, nos termos do artigo 41 do CPP. Dilação probatória vedada na via do writ. Constrangimento ilegal não configurado.
2. Parecer pelo conhecimento e improvimento do recurso." -fls. 120/121.
Relatei.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 255
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS (Relator): Senhor Presidente, no tema que se discute, a atipicidade ou não -da operação pessoal de empréstimos a juros altos e inexistência do crime de usura, convenhaBe que, conforme o acórdão recorrido, procede a resposta negativa a tal pretensão do paciente contra a acusação que lhe foi feita.
Por isso que me reporto aos excelentes adminículos pesquisados pelo Ministério Público oficiante, no campo da jurisprudência e na doutrina, aduzidos deste modo:
"6: De acordo com o que reconheceu o judicioso parecer ministerial -de tIs . .82/90, a questão a ser analisada nos autos não se atém em saber se o artigo 192, § 3º da Constituição Federal deve ser conceituado como norma de eficácia plena ou norma de eficácia contida ou parcial, matéria essa controvertida na doutrina, mas sim em "definir se a referida norma constitucional revogou ou não o artigo 4º da Lei de Economia Popular, no que se refere ao delito de usura pecuniária, na ausência de lei complementar sobre as taxas de juros." (fls. 86/ 87)
7. Assim, tendo-se em vista que a taxa referida no artigo 4º, alínea a da Lei nº 1.521/51 não pode ser superior ao limite de 01 % (um por cento) ao mês, conforme dispõe o artigo 5º do Decreto nº 22.626, de 07/04/33, e que as dis-
posições deste Decreto, por sua vez, nos termos da Sumula nº 596 do Excelso Pretório "não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional", sendo que, por outro lado, prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que o preceito constitucional do artigo 192, § 3º da Constituição Federal, ao dispor sobre o sistema financeiro nacional, tem por objeto a política de instituições bancárias e creditícias, não abrangendo, portanto, as relàções e os negócios celebrados entre particulares; pode-se -concluir que os objetos são diferentes e que portanto, não houve a revogação do artigo 4º da Lei de Economia Popular pelo referido dispositivo constitucional.
8. O v. acórdão guerreado melhor elucida a questão, in verbis:
"Por conseguinte, a conclusão é uma só: as operações celebradas fora do âmbito do sistema financeiro nacional estão subordinadas à taxa de juros moratórios fixada pelo Decreto 22.626, em pleno vigor, com a ressalva da SÚillúla anteriormente·transcrita.
A jurisprudência colacionada pela douta Procuradoria de Justiça em seu judicioso parecer, diz de perto do acerto da ilação:
256 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
"Os juros moratórios, de que cogita o Código Civil e a limitação da cobrança dos mesmos a que se refere o Decreto n Q 22.626, de 1933, continuam em pleno vigor, não tendo sido esse diploma revogado pela Lei n Q 4.595, de 1964, que diz respeito ao sistema financeiro nacional e foi sancionado com o fim específico de dispor sobre a política das instituições bancárias e creditícias, nada tendo a ver, portanto, com os empréstimos particulares" (Ac. do TJMG, in RT 415/ 372).
Ainda:
"A Lei n Q 4.595, de 1964, não revogou o art. 4Q da Lei n Q
1.521, de 1951, porque a primeira diz respeito específico sobre a política de instituições bancárias e creditícias, no âmbito do sistema financeiro nacional, enquanto a segunda cogita da limitação de juros moratórios cuidados no Decreto nQ 22.626, de 1933, para alcançar os empréstimos particulares" (Ac. do TJPR, in RT 469/ 381).
Conseqüentemente:
"A Lei de Usura está em vigor, incidindo nas sanções do art. 4Q
, a, primeira figura, da Lei n Q 1.521, de 1951, aquele que cobra juros em
taxa superior à estabelecida pelo Decreto 22.626, de 7.4.1933" (Ac. do TJPR, in 489/356).
Por derradeiro, mais uma vez comungando com a opinião esposada no parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça, que mesmo após o advento da Constituição de 1988, incide em crime contra a economia popular aquele que cobra juros moratórios superiores à taxa legal, trago à colação ensinamento doutrinário da lavra do Prof. José Afonso da Silva, em sua obra "Curso de Direito Constitucional Positivo", 8ª edição, pág. 704, onde afirma:
"As cláusulas contratuais que estipularem juros superiores são nulas. A cobrança acima dos limites estabelecidos, diz o texto, será conceituada como crime de usura, punindo, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei dispuser. N este particular, parece-nos que a velha lei de usura (Dec. 22.626/33) ainda está em vigor.
Da mesma opinião, comunga o douto J. Cretella Junior, em seus "Comentários à Constituição de 1988", pág. 4.292:
"O Decreto n Q 22.626/1933, a chamada lei de usura, está ainda em vigor e, pois, com plena aplicação".
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109); 245-311, setembro 1998. 257
Por tais razões, e diante da constatação de que a denúncia descreve um crime em tese e contém todos os requisitos elencados no art. 41 do Código de Processo Penal, como, aliás, afirmando por ocasião do seu recebimento pela autoridade apontada como coatara, é de ser denegado o writ impetrado." (fls. 98/100)
9. Quanto à argüição de falta dejusta causa para a ação criminal, melhor sorte não socorre o recorrente.
10. Conforme já exposto nos autos, a exordial acusatória de fls. 16/18, além de preencher os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, encontra-se suficientemente amparada na prova colhida durante o inquérito policial (fls. 19/49), que aponta a suposta prática delitiva de crime contra a economia popular pelo paciente, que teria cobrado juros de 50% (cinqüenta por cento) sobre um empréstimo de R$ 300 ,00 (trezentos reais), sendo que, a posteriori, recusou-se a receber o pagamento da dívida, retendo indevidamente um relógio que a vítima deu em garantia, no valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais).
11. Impossível, assim, o pretendido trancamento da ação pe-
nal, eis que no âmbito dessa será feita a análise de todas as provas colhidas ao longo da instrução, o que é vedado na via estrita do presente remédio heróico, conforme entendimento pacífico do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, explicitado na ementa do julgado adiante transcrita, in verbis:
"Ementa
Ação penal. Trancamento.
Descrevendo a denúncia cri-me de usura e de extorsão indireta, de modo a ensejar ampla defesa, deve a ação penal prosseguir até sentença final, não sendo viável o seu trancamento na via do habeas corpus.
Prescrição. Dúvidas a respeito da data em que se praticaram as cobranças de juros extorsivos. Alegação de prescrição, dependente de aprofundado exame de prova, a ser feito igualmente com a sentença de mérito.
Recurso de habeas corpus a que se nega provimento." (RRC n Q 1.538-CE, Relator Exmo. Sr. Ministro Assis Toledo, in DJ de 09/12/91, pág. 18.045)" - fls. 123/129.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
258 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 6.968 - RJ
(Registro nº 97.0080232-9)
Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo
Recorrentes: Jair Leite Pereira e outro
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Paciente: Maria Helena Gomes (presa)
Advogados: Drs. Jair Leite Pereira e outro
EMENTA: Recurso em habeas corpus. Lei de Tóxicos. Concurso de agentes. Paciente denunciada pelo art. 14 e condenada pelo art. 12, ambos da Lei 6.368/76; pelo art. 8~ da Lei 8.072/90 cominado com o art. 288, do CP. Emendatio libelli (CPP, art. 383).
- A acusada se defende dos fatos narrados na peça acusatória e não da definição jurídica dada na denúncia.
- O quantum da pena deverá ser examinado na apelação, porquanto o habeas corpus não comporta exame aprofundado de provas.
- Encontra-se em vigor o art. 14, da Lei de Tóxicos, com a cominação da pena prevista no art. 851, da Lei dos Crimes Hediondos (Precedentes do STF e do STJ).
- Recurso conhecido, mas desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Felix Fischer, Edson Vidigal, José Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.
Brasília, 24 de novembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.
Publicado no DJ de 09-03-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉARNALDO: Condenada com outros três acusados à pena de 28 anos de reclusão pelos crimes previstos no art. 12, da Lei 6.368/76 e no art. 8º, da Lei 8.072/90 c/c o art. 288 e art. 62, I, da lei substantiva penal, Maria Helena Gomes, por seu il. patrono, impetrou habeas corpus perante a 3ª Câmara Criminal do TJIRJ, sustentando, em resumo, cerceamento de defesa, posto sendo a sua conduta tipificada no art. 14, da Lei 6.368/ 76, resultou apenada com a sanção do art. 12, com inobservância do disposto no parágrafo único, do art. 384, do CPP.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 259
Acrescentou, ainda, que, ao desclassificar-se o crime do art. 14 da Lei de Tóxicos para o do art. 288, do CP, à alegação de que o previsto no art. 14 fora revogado pelo art. 8º, da Lei 8.072/90, malferiu a sentença a lei, a doutrina e a orientação pretoriana.
A Corte estadual denegou a ordem, daí o presente recurso, repisando a argumentação ali desenvolvida.
N esta instância, oficiou o Dr. Jair Brandão de Souza Meira, pelo Ministério Público Federal, pugnando pela manutenção do aresto recorrido.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ ARNALDO (Relator): Consta dos autos que a paciente, apelidada de "Vovó do pó", e seus dois filhos "são os maiores, mais temidos e mais perigosos traficantes de entorpecentes de toda a cidade de São Gonçalo, cuja organização criminosa por eles liderada, praticamente detém o monopólio da distribuição e venda de substâncias causadoras de dependência física e química (maconha e cocaína)" (fls. 27).
A irresignação, com vistas a anular o decreto condenatório, resumese a imputar cerceamento de defesa que consistiria na proferição da sentença, em mudar a tipificação da denúncia do art. 14, da Lei 6.368/ 76, para condená-la pelo art. 12, com desprezo às recomendações do parágrafo único, do art. 384, do CPP.
Lê-se da peça acusatória às fls. 12/13:
"No dia 13/08/92, em hora não precisamente definida, a Polícia Militar, em operação comandada pelo então capitão Paulo Fernandes de Lima Pacheco, realizou operação de "asfixia" no Morro Menino de Deus, em São Gonçalo, objetivando investigar e reprimir possível tráfico ilícito de entorpecentes noticiado naquele local.
Após a operação, foram apreendidas 1.870 "trouxinhas" da substância vulgarmente conhecida como "maconha", conforme fls. 17.
Em sede de inquérito policial/referente à apreensão, logrou-se evidenciar a real existência de tráfico organizado no local, apurando-se ser a substância em tela produto da associação permanente da denunciada Maria Helena Gomes e de seu filho Luiz Carlos Gomes Jardim, que, apesar de recolhido no Sistema Penitenciário Estadual, continuava a "comandar", junto à sua genitora, o "negócio" da família, "negócio" este estendido a outros familiares e diversas pessoas, igualmente denunciados, componentes da referida associação criminosa, além de outros elementos parcialmente identificados, dentre os quais vários ainda sob investigação climinal nos Inquéritos 627/94 e 331/95, ambos da 72 DP, fazendo parte do grupo, e.g., "Bolão", "Dão" e "De Flash", j á falecidos, "Kiko" e "Abuse e Use", supostamente
260 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
falecidos, além de "Carlinhos", "Beto", "Alexandre Bom Bom", "Denilsinho", "Jorge Tadeu Buraquito", "Nalvinho da Covança", "Beto Russo", "Paulo Cesar P. C." e "Beto da Chumbada", associação que tem o fim de prática reiterada de crimes previstos no artigo 12 da Lei 6.368/76, dentre eles a guarda, o depósito, a aquisição, o transporte e a venda de substância entorpecente ou que determine dependência física sem a devida autorização legal para tal.
Estão Maria Helena Gomes e Luiz Carlos Gomes Jardim, incursos nas penas do artigo 14 da Lei 6.368/76, agravado pelo disposto no artigo 62, I, do CP.
Estão, assim, os demais denunciados, incursos nas penas do artigo 14 da Lei 6.368/76."
A exordial descreve a prática do ilícito, incumbindo ao juiz dar classificação jurídica diversa na linha do permitido pelo art. 383, do CPP. O que a lei processual codificada e a Constituição asseguram, em garantia ao direito de defesa, é a observância do princípio da correlação entre a imputação e o decreto condenatório. Assim é que a sentença pode levar em conta na classificação do crime preceitos penais distintos dos arrolados na exordial acusatória, ainda que imponha pena maior. O réu, é sabido, defende-se do fato ilícito deduzido na denúncia, não da capitulação jurídico-penal nela contida (Código de Processo Penal Interpretado, 3ª ed., pág. 441, Júlio F. Mirabete - STF: RSTF 112/966; 113/153; STJ: RSTJ 42/348).
A propósito, em decisão que versa hipótese idêntica à presente, lêse a ementa:
"Habeas corpus. Tráfico de entorpecentes: concurso de agentes. Emendatio libelli: paciente denunciado pelos arts. 12 e 14 da Lei de Tóxicos (n Q 6.368/76) e condenado pelos seus arts. 12 e 18. Flagrante preparado. Nulidades.
1. Ocorre emendatio libelli (CPP, art. 383) e não mutatio libelli (CPP, art. 384) quando o réu é denunciado pelo crime de formação de quadrilha e condenado apenas com a agravante do concurso eventual de delinqüentes. O art. 14 da Lei de Tóxicos prevê o crime autônomo de quadrilha ou bando, cujo tipo exige associação estável e permanente (societas delinquendi) e corresponde ao art. 288 do CP; o art. 18, IH, da mesma Lei prevê a agravante no caso de concurso eventual de pessoas (societas criminis) e corresponde ao art. 62 do C.P. Ambas as hipóteses contêm explicitamente a circunstância elementar do crime praticado com associação de delinqüentes, estável ou eventual. Descrevendo a denúncia pluralidade de agentes, improcede a alegação de surpresa para a defesa, porque o réu deve se defender dos fatos narrados da denúncia e não da capitulação legal que a denúncia deu ao delito.
2. O flagrante preparado, em operação de "venda" de droga, não
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 261
anula o processo-crime se a condenação está fundada também na "posse", preexistente à simulação policial; em face das diversas hipóteses previstas no art. 12 da Lei de Tóxicos, não se aplica a Súmula 145. Precedente.
3. Habeas corpus conhecido, mas indeferido. (STF, 2ª Turma, ReI. Min. Maurício Corrêa, DJU 03.5.96, pág. 13.901)."
Afinal, assevera o órgão ministerial às fls. 87:
"N o tocante à fixação da pena, o Excelso Pretório j á se manifestou no sentido de ser possível a causa de aumento de pena superar o máximo abstrato (HC 63.050). Na hipótese, verifica-se que o decisum condenatório obedeceu ao sistema trifásico, justificando a fixação das penas-base, em ambos os delitos, no máximo permitido e, posteriormente, agravando-as, face à incidência do art. 62, I, do Código Penal, resultando um total de 28 anos de reclusão e 460 dias-multa."
N o tocante à parte da sentença que afastou aplicação do art. 14, da Lei 6.368/76, por entender revogado pelo art. 8º, da Lei 8.072/90, mereceria reparo por dissentir do posicionamento do Supremo Tribunal Federal e desta Corte, consoante demonstrado no voto-vista vencedor que proferi no REsp 112.182-SP (5ª Turma), na parte que interessa:
"Relativamente a esta matéria, permitimo-nos transcrever tre-
cho do despacho proferido pelo Ministro Celso de Mello ao apreciar pedido de liminar no HC 74.029-4 (DJ de 4/6/96), verbis:
"Observo, quanto à primeira alegação, que a tese exposta pelo impetrante não se ajusta à orientação jurisprudencial firmada por esta Corte Suprema.
Com efeito, a jurisprudência de ambas as Turmas do Supremo Tribunal Federal tem acentuado que se encontra em vigor o art. 14 da Lei de Tóxicos, com a cominação da pena prevista no art. 8º da Lei dos Crimes Hediondos (HC nº 68.793-RJ, ReI. pl o acórdão Min. Moreira Alves, 1 ª Turma; HC nº 72.862-SP, ReI. Min. Néri da Silveira, 2ª Turma, v.g.).
Em recente decisão, a Egrégia Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal - apreciando, uma vez mais, essa quaestio juris - pronunciou-se no sentido da subsistência da norma inscrita no art. 14 da Lei nº 6.368/76:
"Penal. Processual Penal. Habeas corpus. Associação para o tráfico de entorpecentes. Lei 6.368/76, art. 14. Lei 8.0721 90, art. 89.
I - Tratando-se de associação para o tráfico de drogas, prevalece a tipificação do art. 14 da Lei 6.368/76, vale dizer, a associação de duas ou mais pessoas, para praticar, reite-
262 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
radamente ou não, o tráfico de drogas, tipifica o delito do art. 14 da Lei 6.368/76. A pena a ser aplicada será a prevista no art. 8Q da Lei 8.072/90, isto é, reclusão de três a seis anos. Precedentes do STF (HC nQ 73.119-SP, ReI. Min. Carlos Velloso).
A 6ª Turma deste Tribunal vem comungando do mesmo entendimento:
"RHC -Penal-Lei n 9 6.368/ 1976 (art. 14) e CP (art. 288, redação do art. 8 ~ da Lei n 9
8.072/1990) - O crime definido no art. 14, da Lei n Q 6.368/ 1976 não foi revogado pela redação do art. 288, dada pelo art. 8Q
, da Lei n Q 8.072/1990. Ambos os ilícitos levam em conta a participação plural de pessoas, o que facilita o agente consumar a infração penal. Tais leis consideram duas situações jurídicas que não se confundem. Urge, porém, promover a crítica da cominação das penas. O tipo mais grave não pode contemplar sanção menos rigorosa. A individualização (como princípio), mesmo na primeira etapa (definição legal), precisa ser coerente. Impõe-se, então, corrigir a anomalia e considerar o máximo da pena cominada igual ao art. 288, ou seja - reclusão de 6 anos. Precedente do STF (RHC 4.395/95, ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, DJ 29/10/96, pág. 41.692).
"Penal. Condenação em primeiro grau, por infração aos arts. 12 (tráfico) e 14 (associação para tráfico de entorpecentes) da Lei n 9 6.368/76. Absolvição, em segundo grau, quanto ao crime de associação, ao fundamento de que o art. 14 da Lei n 9 6.368/76 foi ab-rogado pelo art. 8 9 da Lei n 9 8. 072 /90. Absolvição: errônea, pois o art. 8 9 da Lei de Crimes Hediondos não ab-rogou o art. 14 da Lei n 9 6.368/76. Houve tão-somente derrogação do dispositivo da Lei de Tóxicos no que tange à pena. Precedentes do STJ e do STF. Recurso especial provido para ((restabelecer" a condenação imposta em primeiro grau" (REsp 29.528/92, ReI. Min. Adhemar Maciel, DJ 2/9/96, pág.31.121)".
A esses extratos jurisprudenciais, acresce-se o publicado no Informativo STF de 14 a 18 de abril, em que ficou consignado:
"Quadrilha para tráfico: Disciplina aplicável.
- Tratando-se de quadrilha destinada à prática de tráfico de entorpecentes, aplica-se o tipo penal previsto no art. 14 da Lei 6.368/76 ("Associaremse duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 12 e 13 desta Lei.") e a pena cominada no art. 8 9 da Lei 8.072/ 90 ("Será de três a seis anos
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 263
de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código de Processo Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo."). Com base em precedentes de ambas as Turmas do STF aplicando interpretação corretiva dos referidos dispositivos, a Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia ver reconhecida a revogação do referido art. 14 da Lei de Tóxicos pelo art. 8 Q da Lei
8.072/90. Precedente citado: HC 73. 119-SP (DJU de 19.4.96). HC 75.046-SP, rel. Min. Moreira Alves, 15.4.97."
Mantenho a condenação contida no art. 14, da Lei 6.368/76."
Como, porém, o recurso é do réu, e a aplicar-se a sanção do citado artigo 14, da Lei 6.368/76, importaria em aumento da pena e subseqüente reforma tio in pejus, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.
É como voto.
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.083 - MG
(Registro nº 97.0091376-7)
Relator: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini
Recorrente: Geraldo Pereira
Advogado: Geraldo Pereira
Recorrido: Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais
Paciente: Geraldo Pereira
EMENTA: RHC - Apropriação indébita - Trancamento de ação penal - Exame aprofundado de provas - Impossibilidade pela via eleita.
- O crime de apropriação indébita, in casu, retenção de verbas trabalhistas pelo advogado, de seu cliente, exigem exame aprofundado de provas, posto que de pronto não se pode chegar a uma conclusão sobre a ocorrência, o que impede o trancamento da ação penal através do uso deste remédio heróico, cuja via é angusta.
- Recurso a que se nega provimento.
264 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Arnaldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José Dantas.
Brasília, 17 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator.
Publicado no DJ de 15-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI: Trata-se de recurso em habeas corpus interposto em favor de Geraldo Pereira contra decisão da E. Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alcada de Minas Gerais, que denegou> a ordem na qual se pretendia o trancamento da ação penal intentada contra o paciente como incurso nas sanções do artigo 168 do Código Penal (Apropriação Indébita).
Entendeu o E. Tribunal que se tratava de matéria de fato, requerendo exame aprofundado de provas, razão por que denegou a ordem, sobrevindo o presente recurso onde o recorrente alega que o cliente dera ao paciente recibo de quitação geral, de maneira que não se poderia falar em apropriação indébita. Alega que não houve coação para assi-
natura do referido recibo, nem qualquer alteração ou simulação no mesmo.
Em contra-razões (fls. 66/67), alega-se preliminar de intempestividade e, no mérito, pugna-se pelo improvimento do recurso.
Foram os autos à douta Subprocuradoria Geral da República que entende não haver ocorrido a intempestividade e, no mérito, pelo improvimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI (Relator): Sr. Presidente, com efeito, pela certidão de fls. 52, o acórdão foi publicado no dia 11.10.97, que caiu num sábado, logo, considerando-se que a intimação se deu no primeiro dia útil (segunda-feira, dia 13), o prazo para a interposição do recurso iniciou-se dia 14. Protocolado o recurso dia 20.10.97 (fls. 54) não há falar em intempestividade.
No mérito, porém, o recurso não merece prosperar.
Historiando os fatos, diz o v. acórdão de fls. 49 que: "alega o paciente haver prestado serviços advocatícios à Sra. Vagna Vidal de Lima, durante oito anos, pugnando por seus direitos trabalhistas contra o ex-empregador e, falecido este, contra seus herdeiros. Ressalta ter conseguido levar as partes a um acordo (fls. 18) repassando à sua constituinte a quantia de R$ 300,00, fruto des-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 265
se acordo, oportunidade em que lhe fora passado recibo de plena quitação (fls. 09)."
N o entanto, nas informações de fls. 30/31, ressalta o MM. Juiz que: " ... realmente, juntou o impetrante o recibo de fls. 171, entretanto nele não se fala em valor, não se fala na data da celebração do acordo firmado entre partes, nem datado está o recibo. Ocorre que o recibo está pulverizado pelas declarações da vítima em fls. 173. Por outro lado, confessa o réu que realmente recebeu 500.000,00, tendo repassado somen-
te 80 mil cruzeiros para a vítima, como confessa na fase indiciária ... ".
Assim, conforme iterativa jurisprudência deste E. Superior Tribunal, em face da necessidade de exame aprofundado de provas, posto que de pronto não se pode chegar a uma conclusão sobre a ocorrência ou não do crime de apropriação indébita, não se pode, por meio deste remédio, cuja via é angusta, trancar-se a ação penal.
Portanto, conheço do recurso e lhe nego provimento.
É como voto.
RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.137 - MG
(Registro n Q 98.0000518-8)
Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal
Recorrente: Felicio Alves de Lima e Silva
Advogado: Felicio Alves de Lima e Silva
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Paciente: Felicio Alves de Lima e Silva
EMENTA: Penal. Processual. Denunciação caluniosa. Trancamento da ação penal. Falta dejusta causa. Habeas corpus. Recurso.
1. Somente com o arquivamento do inquérito policial ou absolvição irrecorrível em favor do denunciado, é possível qualquer iniciativa no sentido do processo por denunciação caluniosa.
2. Ausência de justa causa para a persecução penal.
3. Recurso conhecido e provido.
266 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso para trancar a ação penal instaurada contra o ora paciente. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros José Dantas, José Arnaldo e Felix Fischer.
Brasília, 07 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 04-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou Felício Alves de Lima e Silva, sob a acusação de denunciação caluniosa contra Gustavo Adélio Ferreira, Delegado de Polícia de Eugenópolis/ MG, e Lauro Sérgio Leal, advogado naquela Comarca.
A Ação Penal foi instaurada, e ele, Felício, quer trancá-la alegando inépcia da denúncia. Diz não ter praticado nenhum ato calunioso em desfavor das alegadas vítimas, e que, mesmo se assim não fosse entendido, as mesmas não se viram indiciadas ou responderam a qualquer inquérito policial ou ação penal, desconfigurando-se a tipicidade da conduta imputada.
O colegiado mineiro não conheceu da impetração. Daí, a interposição de Recurso Ordinário, por mim relatado, no qual ficou ementado:
"Penal. Processual. Denunciação caluniosa. Ação penal. Trancamento. Atipicidade. Habeas corpus. Recurso. 1. A alegação de atipicidade da conduta, na hipótese de denunciação caluniosa, pode ser apreciada mediante simples consulta a peças do processo. 2. Recurso parcialmente provido para determinar ao Tribunal estadual que aprecie a alegação de atipicidade da conduta." (RRC 5.312/MG, DJ 26/05/97)
Retornando os autos à instância a quo, o Tribunal mineiro agora denegou a ordem, refutando os argumentos de inépcia da denúncia.
Novo Recurso Ordinário, a mim distribuído por prevenção. Reitera as argumentações de que a ação penal pela prática de denunciação caluniosa exige dolo direto, antecedente e provado. A simples dúvida exclui o dolo, pois a figura típica requer que o sujeito tenha plena certeza da inocência da vítima; nem mesmo o dolo eventual autoriza a propositura da Ação Penal.
O Ministério Público Federal, nesta instância, opina pelo provimento do recurso.
Relatei.
VOTO
O SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL (Relator): Senhores Ministros,
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 267
a ação incriminada consiste em fazer movimentar a máquina policial ou judiciária, imputando-se a prática de conduta delituosa contra pessoa de que sabe ser inocente.
Segundo a mais corrente jurisprudência sobre a matéria, sua consumação só se dá com a instauração de investigação policial mesmo que ainda não seja aberto inquérito - ou com a propositura da ação penal contra a vítima. Evidentemente, se o inquérito foi instaurado, somente após o seu arquivamento será possível se imputar a alguém o crime de denunciação caluniosa. O mesmo entendimento há de ser usado com relação à ação penal, pois apenas se configura o delito em apreço após o término, com a absolvição irrecorrível do denunciado, que, por si só, não prejulga o denunciante.
Essa também é a orientação do eminente jurista Magalhães N oronha, em seu "Direito Penal", Saraiva, 20ª ed., 1995, voI. 4:
" ... se foi instaurado procedimento contra o denunciado, a de-
cisão proferida nesse processo (arquivamento do inquérito ou absolvição final do imputado) deve ficar subordinada à relativa ao denunciante. Há perigo de decisões antinômicas e, de qualquer modo, risco de prejuízo para a Justiça. Se assim não for, pode acontecer que, julgado primeiramente o denunciante e sendo absolvido, o denunciado, cujo processo ainda não tocou ao termo, fique prejulgado. Ao contrário, se absolvido o denunciado nem por isso haverá prejulgamento do denunciante, pois, além da inocência daquele, é mister demonstrar-se que o segundo tinha ciência dela."
Aqui, sequer foi instaurado inquérito policial, nem mesmo oferecida denúncia, não havendo de se cogitar do delito em apreço, justamente por lhe faltar esse elemento objetivo.
Assim, dou provimento ao recurso para trancar a ação penal instaurada contra o ora paciente.
É o voto.
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.216 - SP
(Registro nº 98.0004035-8)
Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal
Recorrente: Arlindo Joaquim de Souza Advogados: Marco Antonio Volpon Recorrido: Trib unal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo Paciente: Arlindo Joaquim de Souza
268 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
EMENTA: Penal. Processual. Gravação de conversa telefônica por um dos interlocutores. Prova lícita. Princípio da proporcionalidade. Habeas corpus. Recurso.
1. A gravação de conversa por um dos interlocutores não é interceptação telefônica, sendo lícita como prova no processo penal.
2. Pelo Princípio da Proporcionalidade, as normas constitucionais se articulam num sistema, cuja harmonia impõe que, em certa medida, tolere-se o detrimento a alguns direitos por ela conferidos, no caso, o direito à intimidade.
3. Precedentes do STF.
4. Recurso conhecido, mas não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros José Dantas, José Arnaldo e Felix Fischer.
Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 25-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL: Consta dos autos que Arlindo Joaquim de Souza, advogado de uma instituição financeira em São Paulo, teve sua conversa telefônica gravada pelo outro interlocutor, cujo teor revestia a prática de conduta delituosa.
Representado à autoridade policial, este, de posse das fitas gravadas, determinou a realização de perícia para a degravação das conversas. Esta é a inconformação do ora recorrente. Diz ser ilícita a prova produzida, ferindo direito constitucional de inviolabilidade da comunicação telefônica.
O Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, julgando Recurso em Sentido Estrito interposto contra decisão denegatória de habeas corpus, negou-lhe provimento, por entender que a produção da prova mostrou-se lícita, nos moldes da nova Lei 9.296/96.
Agora, vem com este Recurso Ordinário, reiterando as argumentações expendidas na impetração originária.
O MPF, nesta instância, opina pelo não provimento do recurso.
Relatei.
VOTO
O SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL (Relator): Senhores Ministros,
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 269
vou resumir-lhes o fato: o paciente, na condição de representante judicial de uma empresa privada, ajuizou várias ações, relativas a débitos, contra Marcelo Francisco Calil de Oliveira e sua esposa. Ocorre que, no decorrer das lides, houve contato telefônico entre os réus e o advogado da autora, no caso, o paciente, ocasião em que aqueles, sem o consentimento deste, e mais ainda, sem qualquer autorização judicial, gravaram a conversa, cujo teor revestia a prática de ilícito penal.
Quer agora impedir a degravação da fita, ou se já transcrita, proibir sua juntada aos autos, ou ainda, se já juntada, desentranhar e inutilizar a transcrição.
N a vigência do direito anterior a 1988, o art. 153, § 9º não previa nenhuma exceção ao sigilo das comunicações telefônicas. Não fazia, em suma, nenhuma exigência de reserva de lei. Mas como existem os limites imanentes, entendia-se que a interceptação com autorização, nos termos do Código Brasileiro de Telecomunicações, era válida. Agora na CF de 1988, há expressa exigência de reserva legal; mais precisamente, nela está contemplada uma reserva legal qualificada. Logo, sem lei, a interceptação telefônica constitui prova ilícita, inadmissível.
As reiteradas decisões judiciais, principalmente do STF, no sentido de garantir a fiel vontade do poder constituinte, levou o legislador infraconstitucional a dar prioridade ao assunto. Elaborou a Lei 9.296/96, com o propósito de regulamentar o inciso XII, do art. 5Q
, da CF.
Diz o art. 1 Q da referida lei:
"Art. 1 º - A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do Juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça."
Cabe-nos, agora, definir o termo "interceptação telefônica" em sentido amplo. Para Luiz Flávio Gomes, "interceptar uma comunicação telefônica não quer dizer interrompê-la, impedi-la, detê-la ou cortá-la. Na lei, a expressão tem outro sentido, qual seja, o de captar a comunicação telefônica, tomar conhecimento, ter contato com o conteúdo dessa comunicação" (in "Interceptação Telefônica", pág. 95).
É da sua essência, no sentido legal, a participação de um terceiro, uma ingerência externa, no conteúdo da comunicação, captando-se o que está sendo comunicado. Essa ingerência tanto pode ser feita sem o conhecimento dos interlocutores (interceptação telefônica no sentido estrito) ou como com o consentimento de um dos interlocutores (escuta telefônica). Mas uma coisa é certa: ambas, se devidamente autorizadas, nos termos da Lei 9.296/96, constitui prova lícita e admissível; se não autorizada, além de não ser admitida como prova, configura crime.
A problemática surge quando se diz respeito à gravação telefônica, que consiste na captação da comu-
270 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
nicação telefônica por um dos comunicadores sem o conhecimento do outro. É indubitável que as gravações telefônicas estão fora da disciplina jurídica da Lei 9.296/96. Daí o fato de a doutrina falar em "gravações clandestinas".
Existem 02 (duas) correntes jurisprudenciais a respeito da matéria.
A primeira, defendida pelo mesmo Luiz Flávio Gomes, entende ilícita a gravação telefônica. Para ele, "a Constituição não apenas veda a interferência de um terceiro nas comunicações, senão que protege de modo inequívoco o direito à intimidade. O que cabe realçar na gravação clandestina é a sua surpresa, o que a torna moralmente reprovável. Uma coisa é expressar o pensamento sem saber da gravação, outra bem distinta quando se toma conhecimento dela." (pág. 107).
Essa era, aliás, a posição adotada pelo STF. Na Ação Penal n Q 307/ DF, relator Ministro lImar Galvão, em decisão plenária, firmou-se o entendimento da inadmissibilidade, como prova, de laudos de degravação de conversa telefônica, por ter sido feita com a inobservância do princípio do contraditório e utilizada com violação à privacidade alheia. Na ocasião, salientou o Ministro Celso de Mello que "a gravação de conversa telefônica com terceiros, feita através de fita magnética, sem o conhecimento de um dos sujeitos da relação dialógica, não pode ser contra este utilizada pelo Estado em juízo, uma vez que esse
procedimento, precisamente por realizar-se de modo sub-reptício, envolve quebra evidente de privacidade, sendo, em conseqüência, nula a eficácia jurídica da prova coligida por esse meio."
Uma outra corrente, mais recente, seguida, dentre outros, por Rogério Schietti Cruz, admite a liceidade da prova obtida por esse meio de gravação telefônica.
Neste STJ, já foi defendida pelo Ministro Eduardo Ribeiro, em votovista dado no REsp 9.012/RJ, cuja decisão foi publicada no DJ de 14/ 04/97:
"Importante frisar que não se trata da interceptação da conversação alheia, hipótese do RE 85.439 de que foi relator o Ministro Xavier de Albuquerque (RT J 84/609). No caso em exame a prova foi apresentada por um dos interlocutores.
Tenho para mim que inexiste a pretensa ilegitimidade. Ilícita é a gravação de conversa alheia, o que envolve mesmo a prática de crime. Nenhum impedimento existe, entretanto, a que um dos participantes da mesma queira resguardar-se, mediante o registro fonográfico e, salvo justificáveis exceções, dele se utilize como prova.
Dir-se-á que, de um modo ou outro, se estará violando o sigilo garantido às comunicações telefônicas. O argumento que vai lançado, prova, entretanto, demais. A acolhê-la, seria mister reconhecer que vedado aos próprios in-
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terlocutores revelar o conteúdo da conversa, o que parece absurdo. Entretanto, se se admite possa um deles transmiti-lo a terceiro, não se vislumbra por que não lhe seja dado demonstrar, mediante o registro feito, que está a dizer a verdade.
(. .. )
Considero que, em regra, quando alguém mantém determinada conversação, seja pessoalmente, seja com o uso de meios eletrônicos, arrisca-se a ver a mesma divulgada, o que configurará, quando muito, uma inconfidência, cujo grau de censurabilidade não chega a tornar ilícita a prova.
(. .. ) Em suma, o que não se tolera
é a indevida escuta de conversa telefônica alheia, como não se admite a violação de correspondência. Não, a divulgação por quem participou de uma, ou foi destinatário de outra. E se a divulgação, em regra, é tolerável, mais vale se faça de modo a garantir a fidelidade ao que efetivamente ocorre."
É essa a corrente à qual me filio, seguindo, inclusive, entendimento reformado da Suprema Corte no HC 75.338/RJ, julgado em 11 de março próximo.
Entenderam os ministros do STF que a utilização de fita cassete com gravação de conversa entre duas pessoas, sem o conhecimento de uma das partes, não é interceptação telefônica (que envolveria uma
terceira pessoa e só pode ser realizada mediante autorização judicial), e assim, lícita tal gravação como prova para o processo penal.
O Ministro Nelson Jobim, relator do processo, evocou a questão de não se poder colocar de lado a proteção ao interesse do Estado. E afirma em seu voto, que "a Constituição não trata da privacidade como direito absoluto. E há momentos em que o direito à privacidade se conflita com outros direitos, quer de terceiros, quer do Estado". Trata-se da subsunção ao Princípio da Proporcionalidade: as normas jurídicas constitucionais se articulam num sistema, cujo equilíbrio impõe que em certa medida se tolere detrimento aos direitos por ela conferidos, ou seja, ponderados os direitos em conflito, prevalece aquele mais valorado. E continua, "é inconsistente e fere o senso comum - fonte última da proporcionalidade - falar-se em violação do direito à privacidade quando a própria vítima grava diá· logo com seqüestradores, estelionatários ou qualquer tipo de chantagista."
Apesar da perplexidade que possa causar, esse entendimento não é recente. O STF há muito tempo admite as gravações telefônicas como prova criminal. Posso citar o caso em que o Supremo recebeu a denúncia contra o ex-ministro Antônio Rogério Magri, em condições semelhantes. Na ocasião, o relator, Ministro Carlos Velloso, fez uma distinção entre uma gravação efetuada por terceiros, que intercepta uma conversa de duas outras pessoas, da
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gravação que se faz para documentar uma conversa entre duas pessoas. Concluiu seu voto, já na época, que poderia haver, em tal caso, violação a preceitos éticos.
Outro dado jurisprudencial que tive acesso foi aquele quando, já no início deste ano, o deputado Maurício Requião divulgou o conteúdo de conversas telefônicas com funcionários do Ministério da Saúde. Nos diálogos, ficava evidente que o Ministério só liberaria recursos do orçamento para emendas de parlamentares que votassem a favor do governo. Nesse caso, a gravação também foi aceita.
Não é diferente do que entende José Carlos Barbosa Moreira. Para o jurista, "os interesses e valores que as inspira não raro entram em conflito uns com os outros, de tal sorte que se torna impraticável dispensar a todos, ao mesmo tempo, proteção irrestrita." (A Constituição e as provas ilicitamente adquiridas, Revista da Fundação Escola Superior do MPDFT, Brasília, jul./dez. 1995).
Assim, diante dessas considerações, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.
É o voto.
RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.223 - SP
(Registro nQ 98.0004690-9)
Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Recorrente: Flávio América Frasseto
Advogado: Dr. Flávio América Frasseto
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Paciente: Joelson dos Santos
EMENTA: Menor infrator. Internação. Art. 122 do ECA.
- Habeas corpus. lncensurabilidade de sua denegação, à míngua da ilegalidade suscitada sobre aplicação da medida a caso outro que não os arrolados naquele dispositivo do Estatuto da Criança e do Adolescente, desde que aplicada como justificada forma de preservação do próprio menor.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 273
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Felix Fischer e Edson Vidigal. Ausente, ocasionalmente, o Ministro José Arnaldo.
Brasília, 16 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.
Publicado no DJ de 18-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS: Cuida-se de recurso ordinário contra a denegação de habeas corpus assim relatada:
"Menor-Ato infracional similar ao tráfico de entorpecentes. Inconformismo quanto à internação em função da primariedade do infrator. Justificada a medida em face da gravidade da infração e circunstâncias pessoais do jovem, que não estuda e nem exerce qualquer atividade lícita. Ordem denegada.
Voto do Relator.
Habeas corpus impetrado pelo advogado Dr. Renato Isnard Khair em benefício do adolescen-
te Joelson dos Santos, internado por determinação do MM. Juiz de Direito da Infância e Juventude da Comarca de Guarulhos.
Alega o impetrante que a primariedade do paciente e a ausência de violência no cometimento do ilícito autorizam a concessão da liberdade.
Prestadas as informações pela autoridade coatora (f. 16), sobreveio decisão denegatória da liminar (f. 13).
A Procuradoria Geral de Justiça opinou pela denegação da ordem (fls. 21/22)." - fls. 29.
O recorrente reitera as razões da inicial, pelo que, nesta instância, o Subprocurador-Geral Ribeiro de Bonis é de parecer contrário ao recurso, conforme ementa:
"Ementa: Recurso em habeas corpus. Internação de menor. Art. 122 do ECA. O art. 122 do ECA elenca algumas das hipóteses em que a medida sócio-edu-
. cativa se mostra compulsória, mas não impede sua aplicação a outras situações como forma de preservação do próprio menor." - fls. 5l.
Relatei.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS (Relator): Senhor Presidente, da mesma forma como o parecer se houve em louvores aos fundamen-
274 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
tos do v. acórdão atacado, também eu aos mesmos me reporto:
"Conforme asseverou o V. Aresto recorrido "a internação, prevista no art. 122 do ECA, elenca algumas hipóteses em que a medida se mostra compulsória, mas não im-pede que seja estendida a outras situações, como forma de preservação do próprio menor".
A atacada medida sócio-educativa, adequadamente dosada, considerou a gravidade da infração e, ainda, o fato de que o menor não estuda e nem exerce qualquer atividade laborativa.
Assim, tal como concluiu o V. Julgado da Corte inferior, inócua seria a aplicação de medida mais branda, o que concorreria para estimular a reiteração, já que as condições pessoais do menor e o tipo de infração - tráfico de entorpecentes - estavam a exigir medidas extremas.
Inocorre, pois, a pretendida ofensa ao art. 59, inc. XXXIX, da Lei Magna. Ao contrário, o sóbrio e regular Decisum apoiou-se nos
artigos 99 e 100 do ECA, em proteção à sociedade e ao próprio menor.
Quanto à questão da primariedade do ora Paciente, uma vez mais pedimos venia para citar o Venerando Acórdão guerreado, adotando-o como razões de opinar, verbis:
"A despeito de sua primariedade concluo, como o magistrado atacado, que a medida de internação é a mais adequada, visando a proteção do jovem, com vistas a assegurar-lhe desenvolvimento sadio, em condições dignas, afastando-o do envolvimento infracional, pressupondo a omissão dos pais e conduta desvirtuada (art. 98, II e lII, do ECA), exigindo a intervenção do Poder Público para restabelecer as condições em que possa desenvolver-se com dignidade, recebendo a educação necessária a viver em comunidade." -fls. 30."fls. 52/53.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
RECURSO EM HABEAS CORPUS N9 7 A05 - SP
(Registro n 9 98.0019764-8)
Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal
Recorrentes: Marcelo Braz Fabiano e outro
Advogados: Marcelo Braz Fabiano e outro
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 275
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Paciente: Silvia Piantino de Oliveira
EMENTA: Penal. Processual. Prisão em flagrante. Habeas corpus. Recurso.
1. O habeas corpus é remédio constitucional que se presta a amparar quem esteja sofrendo violência ou coação em sua liberdade de locomoção, ainda que indiretamente.
2. Não há interesse jurídico àquele que pretende anular o auto de prisão em flagrante, e já foi beneficiado com a liberdade provisória, se existem outras provas veementes de sua autoria.
3. Recurso conhecido e não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros José Dantas, José Arnaldo e Felix Fischer.
Brasília, 07 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 01-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL: Presa em flagrante, após obter vantagem indevida de uma cliente, a pretexto de livrá-la da instauração de inquérito junto a um agente de polícia, Sílvia Piantino de Oliveira, advogada, diz, neste ha-
beas corpus, estar sofrendo constrangimento ilegal.
Sustenta que o auto de prisão em flagrante é ilegal, uma vez que não estava em situação de flagrância, pois o delito de concussão, que consta na nota de culpa, é de natureza formal. Como a consumação ocorrera uma semana antes, ou seja, no momento em que exigiu a indevida vantagem, não poderia ser presa quando recebia o dinheiro de sua cliente. Quer que seja reconhecida a ilegalidade da prisão em flagrante, bem como a anulação do respectivo auto e do ato que arbitrou o pagamento da fiança.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo denegou a ordem, sob o argumento de que, com base nas investigações posteriores, o MP Estadual denunciou a ora paciente, não pelo crime de concussão, mas pelo crime de tráfico de influência (CP, art. 332), já que afastado o envolvimento do funcionário da Delegacia na exigência do dinheiro. Sendo crime material, sua consumação
276 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
só se daria com o efetivo recebimento da vantagem indevida, admitindo-se a prisão em flagrante naquele momento.
Vem agora com este Recurso Ordinário, reiterando as argumentações expendidas na impetração originária.
O MPF, nesta instância, opina pelo não provimento do recurso.
Relatei.
VOTO
O SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL (Relator): Senhores Ministros, a paciente foi presa em flagrante por fatos que, ao que tudo parecia, configurava o crime de concussão (CP, art. 316). Após o pagamento de fiança, obteve o benefício da liberdade provisória.
O habeas corpus é remédio constitucional que se presta a amparar quem esteja sofrendo violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Aqui, não me parece esteja a ora paciente sofrendo qualquer espécie de ilegalidade no seu direito de ir, vir e ficar.
Não vislumbro interesse jurídico, por esta via do habeas corpus, a anular o auto de prisão. Esse documento, já na esfera da persecutio criminis in iudicio, serve, tão-somente, para estabelecer os indícios racionais de autoria, pelo menos em
tese. Ocorre que existem outras provas nos autos que a incriminam, como a degravação de conversa telefônica, juntada às fls. 85/97, e até suas próprias declarações. Então qual seria o interesse da paciente em anular o referido auto de prisão em flagrante? Pelo menos nos autos não consta qualquer prova nesse sentido.
Parece-me que o que se busca, na verdade, tem cunho puramente econômico, pois a anulação do auto de prisão em flagrante, via de conseqüência, faria anular o ato que arbitrou a fiança em valor consideravelmente elevado, R$ 3.000,00 (três mil reais); e essa pretensão não tem guarida em sede de habeas corpus.
Ademais, apenas para efeito de esclarecimentos, devo dizer que, ao contrário do que sustentam os recorrentes, a legalidade da prisão em flagrante tem apoio na adequação entre a efetiva conduta delituosa e a respectiva possibilidade legal. Por outras palavras, a sua ilegalidade somente se configura quando a real conduta delituosa (aqui, o tráfico de influências), e não aquela presumida pelos agentes que procederam à prisão (no caso, a concussão), não a admite, por qualquer motivo que seja.
Assim, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.
É o voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 277
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 7.977 - SE
(Registro n Q 96.0077248-7)
Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Relator para acórdão: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini
Recorrente: Mirena Dantas Fontes Góes
Advogado: Marcello Lavenere Machado
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe
Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe
Recorrido: Estado de Sergipe
Advogados: José Alcides Vasconcelos Filho e outros
Sustentação Oral: Dr. Marcello Lavenere Machado (p / recte.)
EMENTA: Administrativo - Magistrado - Representação -Admissibilidade sem observância das formalidades legais - Nulidade.
- A representação visando a disponibilidade de magistrado está condicionada à autorização estabelecida no § 22, do art. 27, da Lei Complementar n 2 35/79, sem o que deve ser anulado o processo desde aquele momento, a fim de que seja cumprida tal formalidade.
- Recurso provido em parte.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e, por maioria, dar-lhe parcial provimento para anular o processo. Os Srs. Ministros José Arnaldo, Felix Fischer e Edson Vidigal votaram com o Sr. Ministro Cid Flaquer 8cartezzini, que lavrou o acórdão. Votou vencido o Sr. MinistroRelator.
Brasília, 03 de junho de 1997 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator para acórdão.
Publicado no DJ de 13-04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS: A espécie assim foi relatada pelo Des. Gilson Gois:
278 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
"A doutora Mirena Dantas Fontes de Góes, Juíza de Direito em disponibilidade, alegando direito líquido e certo e mediante argumentações de existência de cerceamento defensivo, vício insanável do v. Acórdão n. 1.026/94, ofensa ao devido processo legal por desrespeito ao princípio da proporcionalidade da pena e desobediência decisória aos termos dos artigos 46 e 27 da LOMAN (Lei Orgânica da Magistratura) - Lei Complementar n. 35/79, impetrou mandado de segurança contra ato do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, requerendo liminarmente a outorga judicial imediata de seu retorno ao exercício da Magistratura na 6ª Vara Criminal desta Capital, e a ratificação desta decisão quando do julgamento final do mandamus.
Anexou instrumento de mandato, visto às fls. 10, juntando também documentos de fls. 11 a 78 dos autos.
Às fls. 79, verso dos autos, há despacho desta relatoria não conhecendo do Mandado de Segurança, sob o fundamento de não ser o mesmo cabível contra decisão do Tribunal Pleno, entendendo a priori, não conter essa competência dentro da definição estabelecida no artigo 106, inciso I, letras d e e, da Constituição Estadual.
Desta decisão houve interposição de Agravo Regimental pela impetrante, onde ao examinar amiudamente os termos do arti-
go epigrafado, pode-se constatar que, embora a Constituição Estadual não faça elencar no seu conteúdo a competência do Tribunal Pleno para julgar os Mandados de Segurança contra suas próprias decisões, também assim não o proíbe e nem exaure as hipóteses de cabimento, passando portanto tal competência a ser regulada pelo que dispõe a lei ordinária correspondente, que é justamente o Código de Organização Judiciária, onde o seu artigo 26, inciso XVI, alínea e, viabiliza o seu conhecimento, pelo que foi então proferida decisão, sob exercício do juízo de retratação, tornando insubsistente o despacho anteriormente emitido e passando então a conhecer da segurança impetrada.
Às fls. 83 dos autos há despacho denegativo da liminar pleiteada no presente Mandado de Segurança e determinação para que fosse notificada a autoridade coatora para prestar informações.
Em seguida, a Excelentíssima Senhora Presidenta deste Egrégio Tribunal de Justiça, eminente Desembargadora Clara Leite de Rezende, na representação legal da legitimação passiva do mandamus, apresentou informações pertinentes a esta relatoria refutando todas as alegações da impetrante, colacionando documentos do mesmo jaez e requerendo afinal a denegação do writ. (conf. fls. 87 a 117).
A douta Procuradoria de J ustiça, instada a se manifestar, apre-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 279
sentou parecer da lavra ilustre do doutor Darcilo Melo Costa, que após minuciosa análise, propugnou pelo indeferimento da Segurança requerida." - fls. 134/35.
Denegou-se a segurança por acórdão com a seguinte ementa:
"Mandado de segurança - Juíza de direito em disponibilidade -Acórdão atacado - Nulidades -Inocorrência - Ratificação decisória.
Denega-se a Segurança impetrada contra Acórdão do E. Tribunal de Justiça que decidiu pela aplicação da pena disciplinar de disponibilidade por motivo de interesse público à Magistrada, quando ausentes quaisquer dos motivos alegados na impetração. Legalidade decisória. Direito líquido e certo inexistente. Denegação do writ. Decisão unânime." fls. 133.
Em seu recurso de fls. 147/158, a impetrante reitera as alegações da inicial, tecendo críticas ao julgado, para afinal concluir:
"De tudo quanto se expôs, a conclusão transparente que resta é a da procedência deste ROMS, por seus fundamentos, devendo ser cassado o acórdão recorrido para se anular o inquérito administrativo ab initio e por via de conseqüência a decisão nele proferida, retornando de imediato a Recorrente ao exercício de suas funções de juíza.
Se V. Exas. decidirem apreciar o mérito, seja julgado procedente este ROMS para ser concedida a segurança impetrada contra a decisão que puniu a Magistrada, sendo a mesma absolvida das acusações que lhe foram imputadas.
Em última hipótese, e, admitindo-se apenas para argumentar, apreciando o mérito da punição aplicada, seja considerada desproporcional a pena de disponibilidade a bem do serviço público, e aplicada outra pena de menor gravidade guardando conformidade com a natureza da falta eventualmente cometida." - fls. 157/58.
Contra-razões do Estado a fls. 182/84.
N esta instância, o parecer do Subprocurador-Geral Wagner de Castro é pelo improvimento do recurso, com forro nas informações da autoridade impetrada - fls. 189/92.
Relatei.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS (Relator): Senhor Presidente, a fazer-se melhor resumo da irresignação da recorrente, esse consistiria da colação dos dispositivos arrolados sob irrogação de infringidos por cerceamento de defesa, ofensa ao devido processo legal e ao princípio da proporcionalidade da pena (arts. 27 e 46 da Lei Complementar 35/79 LOMAN).
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Ao propósito dessa invocação legal, convenha-se que, no quanto foi possível extrair-se da inicial a indicação factual de que consistiriam tais irrogações, a todos os v. acórdãos recorridos responderam pela negativa da ofensa. Confira-se o acerto com que, em boa técnica, o voto condutor exaustivamente o fez:
"Delineados os parâmetros que igualmente acompanho na identificação da certeza e liquidez do direito pleiteado na via mandamental, passo a examinar detidamente os argumentos lançados pela impetrante, sem precedência compulsória de análise de qualquer deles, uma vez que todos giram em torno de um cerne único, ou seja, objetivam a nulidade do venerável Acórdão n. 1.026/94 da emissão deste Egrégio Tribunal, que decidiu majoritariamente pela aplicação da pena de disponibilidade à Magistrada impetrante.
A impetração sustenta a existência de cerceamento defensivo, vício insanável do referido Acórdão, ofensa ao devido processo legal por desrespeito ao princípio da proporcionalidade da pena e desobediência decisória aos termos dos artigos 46 e 27 da LOMAN (Lei Orgânica da Magistratura) - Lei Complementar n. 35/79.
Em sumário histórico indispensável, retorno ao versado para lembrar aos senhores pares que a Corregedoria Geral da Justiça do Estado de Sergipe promoveu sindicância e posteriormen-
te a Representação n. 01/94 contra a Doutora Mirena Dantas Fontes de Góes, Juíza de Direito titular da 6ª Vara Criminal da Comarca de Aracaju (Auditoria Militar), por grave violação dos seus deveres de Magistrada, retendo indevidamente e por muitos anos inúmeros autos de processos, como também pelo descumprimento de determinações emanadas por superiores hierárquicos, na forma do que dispõe o artigo 175, I e II da Lei 2.246/79, que instituiu o Código de Organização Judiciária.
Assim, no julgamento do referido processo de Representação, em sessão plenária restou proferido o venerável Acórdão, ora atacado, que, indeferindo a preliminar de nulidade do processo e rejeitando a prejudicial de prescrição, resolveu no mérito e sob fundamento no que dispõe o artigo 93, inciso VIII, da vigente Constituição da República, aplicar à representada a pena de disponibilidade.
Inicialmente, registre-se por oportuno notar que as alegações que fundamentam o presente mandamus são efetivamente genéricas e desprovidas da exigente comprovação de plano, porque a impetrante limitou-se a atacar fatos e procedimentos do julgamento, sem contudo conseguir correlacioná-los com a lei correspondente na demonstração de suposta nulidade, senão vejamos:
No que tange à alegação de que o processo estaria viciado por de-
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sobediência aos termos dos artigos 27 e 46 da LOMAN; tal assertiva não tem certamente qualquer amparo, estando a merecer transcrição os citados dispositivos, o que mesmo considerando um tanto quanto enfadonho por ser de literalidade conhecida e inclusivejá registrado fielmente às fls. 92/3 destes autos pela insigne autoridade impetrada, entendo de necessária repetição neste voto para constatar-se claramente que nenhum procedimento ali exigido foi olvidado ou negligenciado pelos condutores processantes ou julgadores que chancelaram o v. Acórdão, conforme se vê:
"Art. 46 - O procedimento para decretação da remoção ou disponibilidade de magistrado obedecerá ao prescrito no artigo 27 desta Lei."
"Art. 27 - O procedimento para decretação da perda do cargo terá início por determinação do tribunal, ou do seu órgão especial, a que pertença ou esteja subordinado o magistrado, de ofício ou mediante representação fundamentada do Poder Executivo ou Legislativo, do Ministério Público ou do Conselho Federal ou Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil.
§ 1 Q - Em qualquer hipótese, a instauração do processo preceder-se-á da defesa prévia do magistrado, no prazo de 15
(quinze) dias, contados da entrega da cópia da teor da acusação e das provas existentes, que lhe remeterá o presidente do tribunal, mediante ofício, nas 48 (quarenta e oito) horas imediatamente seguintes à representação da acusação.
§ 2Q - Findo o prazo da defesa
prévia, haja ou não sido apresentada, o presidente, no dia útil imediato, convocará o tribunal ou o seu órgão especial para que, em sessão secreta, decida sobre a instauração do processo, e, caso determinada esta, no mesmo dia distribuirá o feito e fará entregá-lo ao relator.
§ 3Q - O tribunal ou seu órgão
especial, na sessão que ordenar a instauração do processo, como no curso dele, poderá afastar o magistrado do exercício de suas funções, sem prejuízo dos vencimentos e vantagens até a decisão final.
§ 4Q - As provas requeridas e
deferidas, bem como as que o relator determinar de ofício, serão produzidas no prazo de 20 (vinte) dias, cientes o Ministério Público e o magistrado ou o procurador por ele constituído, a fim de que possam delas participar.
§ 5Q - Finda a instrução, o
Ministério Público e o magistrado ou procurador terão, sucessivamente, vista dos autos por 10 (dez) dias, para razões.
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§ 6º - o julgamento será realizado em sessão secreta do tribunal ou de seu órgão especial, depois de relatório oral, e a decisão no sentido da penalização do magistrado só será tomada pelo voto de dois terços dos membros do colegiado, em escrutínio secreto.
§ 7º - Da decisão publicar-se-á somente a conclusão.
§ 8º - Se a decisão concluir pela perda do cargo, será comunicada imediatamente, ao Poder Executivo, para a formalização do ato."
Diante dos textos epigrafados em cotejo com todo o processamento da representação, onde estaria a "desobediência" indigitada pela impetrante que tivesse o condão de inquinar de nulidade a decisão profligada?
Esta é uma pergunta que nem mesmo a impetrante sabe a resposta, porque simplesmente não existe, tanto que embora lhe competisse, não logrou especificar, uma vez que toda a tramitação foi severa e criteriosamente obedecida no processo em relação ao que mandamenta a legislação, tendo a magistrada sido instada, inclusive por duas oportunidades, para manifestar-se sobre a devolução dos autos, onde ela sim desobedeceu às autoridades hierarquicamente superiores em tal determinação, mesmo assim apresentou defesa prévia, arrolou testemunhas que foram devidamente inquiridas, juntou documentos
e apresentou razões derradeiras, exercendo plenamente o seu direito defensivo, restando entender tal argumento atacante como uma forma genérica de querer justificar, permissa venia, essa absurda impetração.
Já no que concerne à assertiva de que foi alvo de cerceamento do direito de defesa, porque teria sido compelida a ajuizar Mandado de Segurança para ter vista dos autos, mais uma vez que desmoronam as alegações da postulante mandamental, primeiro porque, como já dito, sua defesa foi ampla e o pedido de vista naquele instante, como bemjustificou o ilustre relator Desembargador Artur Oscar de Oliveira Déda, "implicaria em subversão da ordem processual", posto que o processo estava em fase probatória, sendo ouvidas testemunhas, não cabendo vista à impetrante, mas o que foi feito logo após a referida fase. E segundo porque, o Mandado de Segurança n. 22/94, a que se refere a Magistrada,já foi julgado prejudicado, através do v. Acórdão n. 249/ 94, cuja cópia ela mesma anexou aos autos às fls. 69 a 72, decisão esta que inclusive já transitou em julgado, restando pois em res judicata, não podendo seu conteúdo ser reapreciado no Mandado de Segurança ora em julgamento.
Partindo agora ao exame de outra das alegações feitas no Man-
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dado de Segurança, ou seja, a de que há vício insanável do Acórdão n. 1.026/94, por não conter em seu bojo a íntegra do respeitável voto vencido do eminente Desembargador Epaminondas Silva de Andrade e Lima, tem-se mais uma vez a conclusão de que a Magistrada punida e irresignada procura a todo custo motivos para a impetração, chegando a associar procedimentos normais como irregulares e ilegais, na vã tentativa de nulificar o v. Acórdão; porque efetivamente tal afirmação não procede, posto que o eminente Desembargador, autor do único voto divergente na referida decisão, mesmo com os autos remetidos pelo relator para manifestar-se, exerceu tão-somente a faculdade de não consignar no Acórdão a integralidade do seu voto, não havendo inclusive nenhum ordenamento regimental que imponha tal procedimento, por isso apenas chancelou o instrumento e registrou, do próprio punho, o seguinte: "consoante o voto proferido na sessão plenária e devidamente gravado pelo sistema de áudio do pleno deste Egrégio Tribunal de Justiça", conforme consta do Acórdão às fls. 151 dos autos de Representação, apenso a estes autos de Mandado de Segurança, que também o reproduz às fls. 23.
Outra alegação também sob a atribuição de "vício insanável" é de que o v. Acórdão consigna duas faltas para uma só penalidade, entendendo a impetrante que tenha aí ocorrido bis in idem e que
na verdade tais faltas giram em torno de um único fato, ou seja, retenção de autos.
Com muita propriedade foi o que disse sobre o assunto o ilustre Procurador de Justiça em seu parecer às fls. 127 destes autos "a assertiva, Egrégio Tribunal, é estarrecedora! ... Considerando a reiteração pela impetrante das constantes retenções indevidas de autos de processo e desobediência a ordens de superiores hierárquicos, foi a mesma punida com disponibilidade. Que tem isso a ver com bis in idem."
Evidente que nada tem a ver, e quanto ao fato único equivocase profundamente a impetrante, porquanto a sua punição resulta não só da retenção de autos, que inclusive é ato gravíssimo, diferentemente do que tenta demonstrar a Magistrada, porque foram inúmeros processos estancados por vários anos, alguns inclusive por quase um decênio fora da esfera cartorária a causar prejuízos às partes, enfim, a todos, sem falar ao próprio Poder Judiciário que deve ter higidez na prestação jurisdicional e o julgamento está sob sua égide, e tudo isso ocorria por ato isolado, exclusivo e de responsabilidade da Magistrada impetrante; mas também a sua desobediência contumaz e reiterada, quando instada por dois Corregedores-Gerais da Justiça, nos exercícios dos seus mandatos, que tiveram ordens de devolução dos autos visceralmente descumpridas pela relutante Magistrada.
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N o que pertine à ofensa ao devido processo legal por inobservância ao princípio da "proporcionalidade da pena", argumento lançado sob o entendimento da impetrante de que a pena foi severa demais, e na verdade injusta, porque o que cometeu foi ato corriqueiro e trivial dos Magistrados em todo o país, irresignando-se inclusive a impetrante porque mesmo sem transitar emjulgado a decisão já foi logo afastada de suas funções judicantes; são alegações que igualmente não podem prosperar.
Ressalte-se por oportuno que esta não é a única representação feita contra a Magistrada-Impetrante, mas a terceira, onde a primeira n. 04/84 teve proferido Acórdão 31/95 onde a mesma foi julgada absolvida e a segunda Representação tombada sob n. 03/89, teve Acórdão sob o n. 271/ 95 onde restou a magistrada condenada à pena de censura, sob respaldo na norma ínsita no artigo 189, § 22 , do Código de Organização Judiciária do Estado de Sergipe; tendo a terceira, ora em exame, aplicado a pena de disponibilidade diante da gravidade dos fatos apurados e no interesse da Justiça. (conf autos apensos).
Ora senhores Desembargadores, a retenção indevida de processos e o descumprimento de determinações emanadas por superiores hierárquicos são faltas disciplinares de enorme gravidade como ocorrida no caso dos autos,
porque, como já dito em linhas volvidas, não se trata de deixar a Magistrada de proferir alguns despachos, sentenças, ou reter alguns autos por curto espaço temporal, como quer demonstrar, mas simplesmente são inúmeros processos (43), todos da Comarca de Aquidabã, de onde a mesmajá havia inclusive saído, e que estavam com quase dez anos de retenção indevida e injustificada, causando prejuízos às partes e maculando evidentemente a imagem e reputação do Poder Judiciário. E a desobediência às ordens superiores existiu efetivamente, porque tanto o então Corregedor-Geral da Justiça, o saudoso Desembargador Rinaldo Costa e Silva, como este relator, quando ocupou igual cargo, assinalaram prazo para que a representada-impetrante devolvesse os referidos autos de processo, tendo sido a mesma citada sob chancela pessoal e não cumpriu a determinação e nem sequer ofereceu qualquer justificativa para assim não proceder, sendo portanto totalmente inobediente aos seus superiores hierárquicos, merecendo sem dúvida a pena de disponibilidade que lhe foi aplicada, não só porque a penalidade de censura já lhe tinha sido ministrada anteriormente, como pelo fato da pena de remoção lhe ser impossível, vez que, como bem lembrou o relator do v. Acórdão censurado, o problema não estava na Vara ou na Comarca, mas em atos próprios da Magistrada a erigir em qualquer delas.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 285
E quanto ao fato de logo após a publicação do acórdão ter sido afastada de suas funçõesjudicantes foi na verdade uma deferência do Egrégio Tribunal em mantê-la até tal data, porque na verdade, fulcrado no que prevê o artigo 27, § 3º da LOMAN, inclusive já transcrito neste voto, poderia a mesma ter sido apartada no curso do processo, assim não agindo em seu benefício, pelo que não tem a menor procedência tal argumentação.
Assim, a pena de disponibilidade aplicada à impetrante está perfeitamente coerente com os atos por ela praticados, cuja dosagem não escapou do que demonstrou a prova inequívoca dos autos e o que prevê a legislação na espécie, inexistindo cometimento de qualquer ato injusto ou ilegal dos membros do Pretório aplicador.
Antes de finalizar, importa em registrar nesta oportunidade o que foi objeto recente de informação trazida a estes autos pela Excelentíssima Senhora Presidenta do Egrégio Tribunal de Justiça, sobre atitudes da impetrante, onde, mesmo após sua condição de disponibilidade, ainda vem a cometer novos atos reprováveis e de extrema gravidade contra partes processuais e ao próprio Poder Judiciário, ratificando por demais a exigência legal e moral de sua penalidade.
Em resumo, a Vara da Auditoria Militar é alvo de novas ações da impetrante, que inclusive já é
do conhecimento da Corregedoria Geral da Justiça, onde tramita nova Sindicância para apuração de fatos denunciados no ofício 404/95, subscrito pelo Juiz Auditor Substituto Dr. Gilson Félix dos Santos, apontando inúmeras irregularidades cometidas pela impetrante, a exemplo de retenção de processos da Auditoria Militar, lançamento no relatório de outros processos como julgados, quando sentenças dos mesmos não existiam, entrada da impetrante nas dependências internas da Vara, inclusive no Gabinete judicial respectivo, mediante uso das chaves ainda não devolvidas, entre outras irregularidades narradas às fls. 89/91 destes autos.
Diante de tudo isto, é mesmo constrangedora a situação de ver de forma clara e absoluta que a impetrante, uma Juíza de Direito, tenha cometido atos dessa natureza e se imponha renitente em reiterá-los, inclusive com maior gravidade, não havendo como esta Egrégia Corte, que prima pela moralidade, ética e imparcialidade de seus ilustres membros em nome do Poder Judiciário e da Justiça, omitir ou negligenciar o cumprimento da lei."fls. 136/44.
A partir dessa conferência, cabe concordar-se com o parecer antes referenciado, no quanto se pôs em demonstrar a excelência das informações da autoridade indigitada coatora, verbis:
286 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
"As informações rebatem detalhadamente a argumentação desenvolvida na impetração, calcada aquela peça em farta documentação a ela acostada, além da que se contém nos apensos, destacando-se dela, apenas para não alongar desnecessariamente este parecer, transcrevendo-se, os excertos que seguem:
" Ora, todo procedimento foi
cumprido na forma prescrita nos artigos acima epigrafados, tendo a impetrante apresentado sua defesa prévia, arrolado testemunhas que foram inquiridas, juntando documentos, apresentando razões finais, exercendo a plenitude do seu direito de defesa, poupamo-nos de fazer uma apreciação mais minuciosa, uma vez que não indicou a impetrante como, ou onde, foi desobedecido o procedimento estabelecido, limitando-se a dizer que 'o procedimento rígido estabelecido, especialmente na sua fase de admissibilidade, se constitui em garantia do magistrado, que o órgão disciplinar não pode desconsiderar. O desatendimento de tais regras, constitui causa de nulidade absoluta do processo disciplinar ... ', o que, data venia, já é do conhecimento deste Tribunal." (fls. 93)
É necessário, a esta altura, fazer alguns esclarecimentos, para que não se pense que este Egrégio Tribunal, aqui repre-
sentado por sua Presidenta, não tenha considerado a gravidade da pena de disponibilidade aplicada à impetrante.
Trata-se da terceira representação feita contra a Dra. Mirena Dantas Fontes de Góes. N a primeira representação, de n Q 04/84, onde foi proferido o acórdão 31/95, a representada foi absolvida. Na segunda, Representação n Q 03/89, onde foi proferido o acórdão 271/95, a representada foi condenada a pena de censura, com fulcro no art. 189, 2Q parágrafo, do Código de Organização Judiciária do Estado. Na Representação n Q 01/94, cujo acórdão se pretende desconstituir por via deste writ, foi aplicada a pena de disponibilidade, por interesse público, prevista no art. 179, IV, da Lei n Q 2.246, 26 de dezembro de 1979 (Código de Organização Judiciária de Sergipe), diante da gravidade dos fatos apurados e no interesse da Justiça, foi aplicada a pena de disponibilidade, até porque não era possível a aplicação da pena de remoção, pois, como bem demonstrado pelo Relator, o problema não era da Vara ou da Comarca, conforme aduzido no acórdão n Q 1.026/94." (fls. 94)" - fls. 190/92.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
VOTO-VISTA
O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI: Sr. Presidente, cha-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 287
mou-me a atenção nos presentes autos a alegação de inobservância do devido processo legal, ao enfoque de que no feito que teve como conseqüência a colocação em disponibilidade do impetrante, foi desobedecido o § 29 , do art. 37, da Lei Complementar 35/79 (LOMAN), que reza:
"Findo o prazo da defesa prévia, haja ou não sido apresentada, o presidente, no dia útil imediato, convocará o Tribunal ou seu órgão especial para que, em sessão secreta, decida sobre a instauração do processo, e, caso determinada esta, no mesmo dia distribuirá o feito e fará entregá-lo ao relator."
Ao exame da representação em anexo, verifico que esta formalidade, indispensável a meu ver, para instauração do processo disciplinar não foi cumprida.
Tinha dúvida se essa questão havia sido levantada na inicial, que resta afastada no seguinte trecho da exordial, verbis:
"13 - De saída, se constata que foram frontalmente violados os arts. 46 e 27 da LOMAN, lei complementar que não poderia ter sido posta de lado. O procedimento rígido, ali estabelecido, especialmente a sua fase de admissibilidade, se constitui em garantia ao magistrado, que o órgão disciplinar não pode desconsiderar. O desatendimento a tais regras, constitui causa de nulidade absoluta do processo discipli-
nar, como reiteradamente tem decidido a instância superior."
No recurso ordinário (fl. 153), foram repisados os argumentos de afronta ao § 29, do art. 27, da LOMAN, nestes termos:
"c} deixou de realizar o juízo prévio de admissibilidade da representação, previsto no art. 27, § 2 Q
,
suprimindo assim 'uma instância ao processo.
Esse Egrégio STJ tem uniforme entendimento jurisprudencial no sentido de considerar nulos os processos administrativos realizados contra magistrado em desobediência às garantias previstas na LOMAN. A título de exemplo, podem ser mencionados dois acórdãos da lavra do E. Ministro Pedro Acioli, o primeiro prolatado no ROMS 0166, 1989, publicado na RSTJ vol. 10, pág. 196 e o segundo, no MS 3.340-6, Piauí, proc.93.0021344-0.
Nos autos há prova suficiente pela qual garantias fundamentais da Recorrente lhe foram subtraídas, desde a defesa prévia com prazo reduzido, à negativa permanente de acesso aos autos, culminando com a supressão do juízo de admissibilidade, previsto na LOMAN, perderia a sua importância diante da decisão final do Tribunal em aplicar a pena. Não prospera o argumento. A LOMAN ao estabelecer tal solenidade impôs uma etapa no procedimento que não pode ser considerada, em nenhuma hipótese,
288 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
despicienda. Equivale, mutatis mutandis, àquela estabelecida no art. 83 da CF, como garantia ao Presidente da República em casos de processo por crime de responsabilidade.
Ou se segue e se obedece à LOMAN, único diploma normativo legitimado a regular os processos administrativos contra magistrado, ou se dá prevalência ao direito local. Na primeira hipótese, a ausência da sessão para se decidir quanto à admissibilidade da representação é supressão de uma garantia, viciadora de nulidade. Representa uma oportunidade de defesa inafastável, ao magistrado que está sendo acusado em processo."
Ora, a sessão para admissibilidade da representação é uma formalidade estabelecida em lei, que não pode ser ignorada, o que ocorrendo, como in casu, acarreta a nulidade do processo.
Não importam os motivos que levaram o tribunal a aplicar a pena de disponibilidade à Magistrada, pois é questão de mérito, que somente, será analisada após a prefaciaI.
Data venia, entendo deva ser anulado o processo, desde o momento da instauração da representação
sem a autorização determinada no § 29 do art. 27, da Lei Complementar 35/79, a fim de que seja cumprida tal exigência, qual seja a sessão secreta para que seja decidido sobre a instauração do processo.
Com estas considerações, dou provimento parcial ao recurso.
É como voto.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ ARNALDO: Com esses esclarecimentos, acompanho, com a devida vênia do Sr. Ministro José Dantas, o Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini.
VOTO
O SR. MINISTRO FELIX FISCRER: Sr. Presidente, com a devida vênia do Sr. Ministro José Dantas, acompanho o voto do Ministro Cid Flaquer Scartezzini.
VOTO- VOGAL
O SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL: Senhores Ministros, com todas as respeitosas vênias, acompanho o voto do Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini.
É o voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 289
RECURSO ESPECIAL N9 125.675 - SP
(Registro n9 97.0021660-8)
Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo
Recorrentes: Oswaldo Boschezzi e outro
Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo
Advogado: Dr. Michel David Asckar
EMENTA: Habeas corpus. Processo Penal. Sentença prolatada. Suspensão do processo. Art. 89, da Lei 9.099/95. Inviabilidade.
- Recurso conhecido, mas desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Votou com o Relator o Sr. Ministro José Dantas. Votou vencido o Sr. Ministro Felix Fischer. Ausente, justificadamente, os Srs. Ministros Edson Vidigal e Cid Flaquer Scartezzini.
Brasília, 07 de outubro de 1997 (data do julgamento).
Ministro JOSÉ DANTAS, Presidente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.
Publicado no DJ de 18-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ ARNALDO: Oswaldo Boschezzi e Wanyr Edson Boschezzi, condenados a 8
meses e 5 dias e a 7 meses, de prisão simples, respectivamente, por violação do art. 58, do Decreto-Lei 6.259/44, interpuseram apelação para o Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, tendo a 11 ª Câmara negado provimento ao recurso por maioria.
Apresentados embargos infringentes, resultaram rejeitados, por maioria, advindo a presente irresignação por ofensa ao art. 89, da Lei 9.099/95 e inobservância do inciso XL, do art. 59 da Constituição e do art. 29, do Código Penal, que determinam a retroatividade da lei penal benéfica.
É que, segundo os recorrentes, com o advento da Lei 9.099/95, art. 89, é inafastável a indispensabilidade de remessa dos autos à comarca de origem para as providências de que trata referido dispositivo.
Contra-arrazoado pelo Parquet estadual, o apelo foi admitido pela letra a do permissivo constitucional, e, nesta instância, pronunciou-se o Ministério Público Federal pelo conhecimento e provimento do recurso.
290 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ ARNALDO (Relator): Os recorrentes foram condenados à pena inferior a 1 ano, nos termos da legislação codificada penal, com o beneficio do sursis.
Interpuseram, então, apelação para fazer incidir a Lei 9.099, de 26.9.95, não lograram, contudo, êxito, daí ter insuflado esta instância superior, limitada a irresignação a se conferirem os efeitos da retroatividade da suspensão condicional do processo (art. 89).
No REsp 130.775-PR, recorrente o Ministério Público estadual, esta Eg. 5ª Turma, à unanimidade, em sessão de 19.8.97, acolheu o voto que proferi deste teor:
Como se sabe, a Lei 9.099/95 consagra inúmeras medidas não só com o evidente intuito de mitigar a incidência de sanções penais a autores de delitos de menor poder ofensivo, como também de oferecer instrumentos hábeis a fomentar uma política criminal tendente a integrar ou reconduzir esses infratores ao meio social desde que observadas certas condições.
Preceitua o art. 89, do retro dito diploma legal:
"Art 89 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igualou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei,
o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos ... "
Esse texto é claro, o momento adequado para que seja proposta a suspensão do processo é o da oferta da denúncia.
O il. processualista Júlio F. Mirabete entende ainda, no silêncio da lei, possível a formulação da proposta em outras duas hipóteses: "quando, após a instrução, nos termos do art. 384 do Código de Processo Penal for a imputação desclassificada para crime que pode ser objeto de suspensão quando, com a denúncia, isso não era possível"; e "no caso de processo que deva ser submetido ao Tribunal do Júri quando a desclassificação ocorre nos termos do art. 410 do citado Estatuto" (in Juizados Especiais Criminais, Ed. Atlas, 1997, pág. 156).
No sentido, pois, de que a proposta de suspensão do processo ocorra no momento da apresentação da denúncia, estes julgados do Supremo Tribunal Federal:
"Processo Penal- Suspensão. A incidência da regra prevista no artigo 89 da Lei 9.099/95 pressupõe não haver sido prolatada, ainda, sentença condenatória. Visa à suspensão do processo e, portanto, a evitar sentença que imponha ao acusado, considerada pena mínima prevista para o tipo igualou inferior a um ano, pena restritiva
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da liberdade (RC 74.848-1, 2ª Turma, ReI. Min. Marco Aurélio, DJ 27.6.97, pág. 30.230)."
"Incabível a suspensão do processo, reclamada pelo impetrante com base nas Leis 9.271/96 e 9.099/95, por se tratar de fato apreciado por sentença anterior ao advento das mesmas (RC 75.200-4 - ReI. Min. Ilmar Galvão, Informativo do STF nº 75, de 18.6.97, pág.3)."
Acena-se, agora, com remissão ao disposto no art. 5Q
, inc. XL, in fine, da Carta Magna, a fim de se fazer incidir o art. 89, da Lei 9.099/95 ao processo em curso, com sentença condenatória mantida em 2Q grau, por se constituir em norma mais benigna de direito penal e via de conseqüência, ter eficácia retroativa.
O art. 89, transcrito, estabelece o momento adequado para que seja proposta a suspensão do processo: o da oferta da peça acusatória.
N o art. 90 está dito: "As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada."
Esses preceitos, frente ao estatuído no inc. XL, do art. 5Q
, da Constituição, têm provocado acesas discussões e divergências em doutrina e nos tribunais de todo o país. Debatem-se, então, as correntes: uma, dizendo que os citados dispositivos não se aplicam às normas processuais e procedimentais; outra, sem se deter exclusivamente no critério distintivo entre regras processuais e penais de direito material pende
para a aplicação de princípios mais benéficos com vistas a evitar contrariedade à Constituição, pouco importando se as normas são mistas, nesse caso retro agem sempre, atenta ao citado inciso XL: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
A propósito, adverte o penalista Júlio Mirabete:
"Preferimos entender que o art. 89 somente se refere às normas exclusivamente processuais pois, em tese, o diploma legal referese a procedimentos, embora tenha criado institutos de direito material. Quanto às demais, de caráter substantivo ou misto, devem vigorar as normas de aplicação da lei penal no tempo, o que impõe a aplicação do princípio da lei mais benéfica mencionado, tal como disposto no art. 5Q
, XL, da Constituição Federal e art. 2Q e parágrafo único, do Código Penal" (in Juizados Especiais Criminais, Editora Atlas, 1997, pág. 170). E aponta as disposições que não estão alcançadas pelo art. 90: os institutos da composição, transação e suspensão condicional do processo porquanto "permitem, se efetivadas, a extinção da punibilidade, ou seja, a perda do direito subjetivo do Estado de punir (ius puniendi), se constituindo, inclusive, forma de "despenalização", são regras mais benignas de direito penal, dotadas portanto de retroatividade" ... (ibidem, pág. 170).
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° Colendo Supremo Tribunal Federal, no Inquérito nº 1.055-3-AM, reI. Ministro Celso de Mello, DJ 24.05.96, pág. 17.412, Plenário, unânime, fixou a diretriz de que a composição civil (art. 74, parágrafo único), a transação penal (art. 76), a representação nos delitos de lesões corporais culposas ou dolosas de natureza leve (arts. 88 e 91) e a suspensão condicional do processo (art. 89), integram as medidas despenalizadoras e qualificam-se como normas penais benéficas sob o alcance do princípio constitucional que faz observar a lex mitior, de aplicação retroativa e incidência imediata, arrematando: "Ao alcançarem, de forma imediata, ou não, a liberdade do réu, ganham contornos penais suficientes a atrair a observância imperativa do disposto no inciso XL do rol das garantias constitucionais. "
Em assentada do dia 11.06.96, a 2ª Turma, do STF, unânime, reI. Ministro Marco Aurélio, no tocante à suspensão condicional do processo previsto na Lei 9.099/95, enfatizou o entendimento de ser regra penal substantiva, e sendo mais favorável é de eficácia imediata e retroativa (HC 73.837-1/GO, DJ 6.9.96, pág. 31.854).
No processo comum, penal ou civil, erigiu-se o princípio da aplicação imediata da lei processual. "Entretanto, preconiza o iI. Prof. Júlio Mirabete, por disposição expressa da lei, pode-se regular a aplicação da lei processual de modo diverso, ou seja, impedir a aplicação da nova lei aos processos já em curso. Foi essa
opção do legislador quanto à Lei 9.099/95, ao determinar que seus dispositivos não fossem aplicados aos processos penais cuja instrução já estivesse iniciada" (ibidem, págs. 168/69).
Atento ao princípio da retroatividade benéfica, e ao preceito limitador da aplicação da suspensão condicional do processo (art. 90, Lei 9.099/95) parece-me, concessa venia das autorizadas lições de doutrina e pretorianas em contrário, que até antes de proferida a sentença, mesmo em curso a fase instrutória, possa ser suspenso o processo.
Assim, como para muitos, dentre eles: "o limite natural da aplicação retroativa da suspensão do processo está no trânsito em julgado" (Luiz Flávio Gomes - in Suspensão Condicional do Processo Penal - 2ª ed., 1997, pág. 270), para mim o limite é a lavratura da sentença, sem com isso malferir-se o cânon constitucional da retroatividade benéfica.
Acentue-se que a decisão pioneira, do STF, qual anota o Prof. Júlio Mirabete, de que foi relator o Em. Min. Celso de Mello, "refere-se não a processo em andamento no início da vigência da Lei 9.099/95, mas a inquérito policial (de nº 1.055/AM), quando ainda não se instaurara a ação penal originária com o recebimento da denúncia" (mesma obra pág.174).
Com efeito, posteriormente, o STF, pelas suas duas Turmas, HC 74.848-1- 2ª Turma, reI. Min. Marco Aurélio e HC 75.204-4 - 1ª Turma - reI. Min. Ilmar Galvão, em
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julgamentos deste ano, condicionou a incidência do art. 89, da Lei 9.099/ 95 a não haver sido prolatada sentença condenatória, conforme ementas acima transcritas.
Desse modo, afinado com esse entendimento, desta 5ª Turma e com o do v. acórdão recorrido e outros do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo e Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, dentre os quais:
Do 1Q): RC 286.754, reI. Damião
Cogan,Ap 008.497, reI. Ricardo Dip; Ap 1.006.899, ReI. Pires Neto; Ap 009.355, reI. Ubiratan de Arruda; Ap. 002.771, ReI. Xavier de Aquino; Ap. 003.175, ReI. Luis Ganzerla;
Do Rio Grande do Sul: Ap 296.011.174 - ReI. Constantino Lisboa de Azevedo; Ap 295.066.088, ReI. Luiz Armando Bertanha de Souza Leão;Ap 296.007.784, ReI. Luís Carlos Ávila de Carvalho Leite (todos extraídos do consagrado compêndio do il. penalista e magistrado Luiz Flávio Gomes, "Suspensão Condicional do Processo Penal" - 2ª ed., 1997, págs. 250/54) - conheço do recurso, mas lhe nego provimento.
VOTO- VISTA
o SR. MINISTRO FELIX FISCRER: Exmo. Sr. Presidente, o caso em julgamento trata de matéria polêmica, especialmente após a publicação de dois acórdãos do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que a Lei 9.099/95 não poderia ser
aplicada após a sentença, ainda que não trânsita em julgado.
Neste Órgão Julgador, já se decidiu, sob a relatoria do Exmo. Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca, assim como sob a minha relatoria, em sentido contrário. Julgou-se, naquelas ocasiões, que a Constituição Federal não permitiria essa limitação imposta pelo Supremo Tribunal Federal. Então, por força do art. 5Q
,
inciso XL, da Constituição Federal e do art. 2Q
, do Código Penal, não havendo trânsito em julgado, deverse-ia possibilitar a aplicação daquelas normas mistas, pertinentes a cada caso, da Lei dos Juizados Especiais Criminais, sobrestando-se, assim, os efeitos da decisão aqui atacada.
VOTO-VOGAL
O SR. MINISTRO JOSÉ DANTAS: Senhores Ministros, com a devida permissão do Sr. Ministro Felix Fischer, acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, pois tenho em mãos o último pronunciamento do Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal, que diz o seguinte:
"Suspensão condicional da pena. Lei 9.099/95. Inaplicabilidade se quando se iniciou a vigência da lei que a instituiu já havia sentença condenatória."
Não se fala em decisão transitada em julgado. É a mais nova publicação, de 10.09.97.
294 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
RECURSO ESPECIAL Nº 140.899 - PR
(Registro nº 97.0050589-8)
Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo
Recorrente: Ministério Público do Estado do Paraná
Recorrido: Romildo de Oliveira (preso)
Advogado: Argemiro Rocha de Oliveira Filho - defensor
EMENTA: Latrocínio praticado com o concurso de menor. Lei 2.252/54, art. 1 ~
- Delito de corrupção de menor configurado. Crime de perigo. Presunção decorrente do próprio texto legal. Tutela penal de moralidade dos menores contra a corrupção penal.
- Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento para condenar o réu, Romildo de Oliveira, também pelo crime de corrupção de menor, aplicando-lhe a pena de 1 (um) ano de reclusão no mínimo legal, por ser menor de 21 anos e não constarem maus antecedentes, confirmadas as demais cominações. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Felix Fischer, Edson Vidigal, José Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.
Brasília, 17 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.
Publicado no DJ de 27-04-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ ARNALDO: O Ministério Público do Estado do Paraná, irresignado com a decisão do Tribunal de Justiça que, confirmando a sentença que condenou Romildo de Oliveira à pena de 20 anos de reclusão, em regime fechado, pela prática de latrocínio (art. 157, § 3º, do CP), absolveu-o da acusação de corrupção de menor - recorre com base nas alíneas a e c, inc. lU, art. 105, da Constituição, sustentando, em resumo, violação ao art. 1 Q, da Lei 2.252/54 e divergência jurisprudencial, porquanto a "simples associação do adulto a um menor para a prática do delito, é o bastante para caracterizar o fato típico previsto na Lei 2.252, de 1954, porque praticar infração penal na companhia de menor ou induzi-lo a praticá-Iajá é corrompê-lo."
Admitido, vieram os autos e aqui, oficiando, o Ministério Público Fe-
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deral posicionou-se em favor do provimento do apelo.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ ARNALDO (Relator): A sentença condenatória, mantida pelo aresto recorrido, está vazada, no tópico que importa, nestes termos (fls. 228/29):
"Quanto ao crime de corrupção de menores, por ter o Réu praticado o crime com o adolescente Eloir Vieira, de 16 anos de idade, entendo, que não se configura.
"O réu possui 18 anos de idade, nasceu em 03 de Dezembro de 1979 - certidão de nascimento de f. 23 ...
"cumpre reconhecer que o réu com pouco mais de 18 anos e o adolescente Eloir com mais de 16 anos, são praticamente da mesma idade, agiram com equivalência comportamental, ressai dos autos que eram companheiros, andavam juntos, este freqüentava os mesmos lugares que aquele, não dispensou o adolescente a ingestão de bebida etílica e o uso de substância entorpecente (maconha), de modo que, resulta demonstrada sua independência volitiva, (ver depoimento de f. 40 e verso). Mais, o Réu disse que logo de início, ainda na frente do bar, onde encontraram a vítima caída, revistaram seus bolsos, o adolescente subtraiu da vítima um canivete e um pedaço de fumo em corda.
"Argumenta o douto Promotor de Justiça nas alegações finais, com a natureza formal do delito da lei especial. Registra-se, porém, que o Egrégio STJ, ao contrário do Egrégio STF, considera o delito de corrupção de menor essencialmente material. Aqui, veja-se que declarou José Vieira (fl. 14) "na madrugada do dia 19/02/96 - 2ª feira, por volta das 3:30 horas, o depoente encontrava-se em sua casa, quando foi acordado por seu irmão e Romildo, sendo que os mesmos estavan1 chorando ... " Conclui-se, pois, que a reação de ambos à prática do crime foi semelhante. Considero ainda, que o adolescente não possuía passagens pelo Juizado da Infância e Juventude, mas o réu, por igual, é primário, não possui antecedentes desabonadores, consta que sempre trabalhou, incursionaram juntos pela primeira vez pelo mundo do crime. Inclino-me, pois, pela absolvição do réu quanto ao crime do artigo 1 Q da Lei 2.252/54, por entender que não resultou comprovado à suficiência." (fls. 108/109)."
Não há dúvida de que o recorrido perpetrou o crime de latrocínio com o adjutório do adolescente, caracterizada aí a conduta ilícita penal descrita no art. 1 Q, da Lei 2.252/54.
Não se ignora a antiga e inafastada divergência acadêmica e pretoriana acerta da inteligência do referido dispositivo legal. Para uns, trata-se de crime material, ou seja, não comprovado que o menor fora corrompido pelo réu, a conduta deste é atípica sob o ponto de vista enun-
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ciado no predito preceito de lei especial. Para outros, é desnecessária a prova de que o menor ainda não estava corrompido anteriormente.
Induvidosamente, a presunção, até prova em contrário, é de que todo menor tem bons costumes. Por outro lado, a Lei 2.252/54 objetiva, essencialmente, proteger os menores, ao estabelecer:
"Constitui crime, punido com a pena de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa de mil cruzeiros a dez mil cruzeiros, corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando infração penal ou induzindo-a a praticála."
Depreende-se do aí preconizado que o objetivo da tutela penal é a moralidade dos menores na área das condutas delitivas.
No caso em exame, ocorreu o concurso de pessoas, do recorrido com o menor, para a prática da infração penal, o roubo qualificado.
Colhe-se parte do voto do Ministro Costa Lima, no REsp 2.173-PR, em que traz a cotejo a corrente de idéias que adota a orientação no sentido de que "a corrupção por iniciativa ou induzimento dispensa qualquer indagação post factum: presume juris et de jure a corrupção (fls. 4 a 7):
"Por outro lado, o art. 1 Q da Lei n Q 2.252, de 01/07/54 é norma especial, que não revogou a geral (art. 218, do CP).
E. Magalhães Noronha (Direito Penal, vol. 3, pág. 178, da 18ª ed., 1986), enfatiza:
"É visível que o objeto dessa lei foi prover de maior tutela os interesses do menor, coibindo a prática de delito, em que existe exploração sua, ou melhor, de infrações (crime ou contravenção), em que há intervenção de menor de dezoito anos. Em face dessa lei, quem pratica infração em companhia de menor, além das penas do crime ou da contravenção, cometerá também o delito do art. 1 º. Assim, por exemplo, quem furtar, juntamente com menor, não só incidirá nas penas do furto, mas também nas do referido dispositivo, há duas objetividades jurídicas violadas - a posse da coisa móvel e a preservação dos costumes do menor. A regra será a do concurso formal."
A Lei nº 2.252/54, de forma clara diz que o delito se constitui em "corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor de 18 anos, com ela praticando infração penal ou induzindo-a a praticá-la."
Nelson Hungria ("Comentários, VIII/192) lembra que a corrupção por iniciativa ou induzimento dispensa "qualquer indagação post factum: presume juris et de jure a corrupção".
A jurisprudência de vários Tribunais de Justiça se inclina tanto no sentido do acórdão quanto não.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 297
Porém, o Supremo Tribunal Federal possui entendimento firme sobre o tema como passo a demonstrar:
Corrupção de menores. Código Penal, artigo 218. Tratando-se de delito formal, prescinde-se, para sua configuração, da prova da efetiva corrupção. A conjunção carnal incluindo-se entre os atos de libidinagem compreendidos no alcance da norma; no caso, como um plus na corrupção.
Precedentes do STF.
Recurso Extraordinário conhecido e provido. (RECr n Q
98.767-PR, ReI. Min. Oscar Corrêa, pub. DJ de 01.07.83, pág. 10.000).
No RECr, do mesmo Estado do Paraná, o Relator Ministro Oscar Corrêa acolheu parecer do professor Assis Toledo, hoje ilustrando esta Turma e este ST J, de onde destaca os seguintes lances:
"Enquanto o acórdão impugnado exige a prova de que o menor não se achava anteriormente corrompido, para ensejar a condenação, os paradigmas presumem a não corrupção do menor, embora admitam a prova de sua anterior corrupção. À primeira vista, parece que os paradigmas, ao condenarem o corruptor, se este não provar que o menor já era corrompido, estejam atentando contra a consagra-
da presunção de inocência que guarnece o imputado. Mas isto não se dá, sob pena de criar-se uma presunção de corrupção em detrimento de todo inimputável. Nisto reside a maior crítica ao acórdão recorrido, cuja tese pressupõe esta insustentável presunção contra o menor.
A tese atacada, sem negar vigência à lei, inviabiliza sua aplicação na prática, na medida em que, se é difícil ao imputado provar a prévia corrupção do menor, é quase sempre impossível provar a não corrupção, a inocência ou os bons antecedentes de alguém, por isto mesmo ordinariamente presumidos na falta de prova em contrário. O provimento do apelo raro pelo dissídio jurisprudencial, impondo a melhor jurisprudência ao caso, não cerceará o julgador na criteriosa apreciação das circunstâncias de cada hipótese que podem, efetivamente, excluir o crime, se restar provado que a prática ou o induzimento da prática de infração penal com e pelo menor nada acrescentou à sua previa corrupção." (fls. 133/134).
E concluiu o Relator:
"N a verdade, o acórdão recorrido praticamente inverteu o sentido da presunção de inocência: ao invés de admitir que os menores são inocentes, sal-
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vo prova em contrário, praticamente admitiu que são corrompidos, salvo prova da inocência.
o fato de terem freqüentado o baixo meretrício não prova a corrupção, e, menos ainda, o aprendizado no crime, que constituiu, por certo, a participação no estupro, a que os levaram os réus." (fl. 135).
o Ministro Carlos Madeira proferindo voto no RECr n Q 109.099-PR (RTJ voI. 119/866) relembrou:
Todavia, como assinala Heleno Fragoso, "toda corrupção é moral, já que a perversão física envolve sempre uma subversão de princípios morais". Como diz Manzini, a corrupção concretiza-se sempre numa modificação essencialmente moral.
E acrescenta:
"Contrariamente ao que dispunha nosso Código anterior (inspirado no Código Zanardelli), não se exige, para a consumação do crime, que sobrevenha a efetiva corrupção da vítima, que é sempre presumidajuris et de jure da prática de qualquer das ações típicas constantes da descrição legal do crime. Não aproveitará, assim, ao agente, a prova de que, in concreto, não correu, absolutamente, a corrupção da vítima.
Por isso, afirma Manzini, que este é crime de perigo". (Lições de Direito Penal, volume lU, pág.25).
A Corte tem sufragado tal entendimento, como se vê dos acórdãos nos HC 46.272-PE (RTJ 49/534), Relator Ministro Luiz Gallotti, RE 73.651-SP, Relator Ministro Thompson Flores (RTJ 62/520), RE 77.794-SP, Relator Ministro Antônio Neder (RTJ 76/789) e RE 92.797-MG, Relator Ministro Néri da Silveira (RTJ 103/ 243).
Por tais razões, conheço do recurso e lhe dou provimento, para restabelecer a sentença de primeiro grau.
Mais recentemente, o mesmo STF voltou a reiterar que a corrupção de menores é delito formal e para sua configuração prescinde-se da prova da efetiva corrupção (RECr nº 114.019-PR, in RTJ 126/1.097-1.099 - ReI. Min. Célio Borja)."
Por fim, transcreve-se trecho do parecer do então Procurador de J ustiça, hoje compondo, com brilho, esta Corte, o Min. Felix Fischer, na AC 43.247-7, TJ/PR (fls. 155/156):
"Cumpre destacar, igualmente, que é praxe combater o recurso às presunções na área penal. Mas, mesmo neste tópico, a quaestio se apresenta fora dos parâmetros pertinentes. De um lado, fala-se, por exemplo, em odiosa presun-
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ção de violência nos delitos contra os costumes, todavia a expressão, aí, é indevida (v. o moderno CP português), como destaca João Mestieri (in "O Estupro"). Tanto que a denominada hipótese de presunção tem que ser coberta pelo dolo (o que existe é extensão de norma de proibição e não presunção, apesar do nomem iuris, que não é elemento decisivo da interpretação teleológica). De outro, é a presunção de perigo que, limitada e minimizada se apresenta como incriminação, por vezes, indispensável (o uso exagerado, pelo legislador, é que pode mostrar-se odioso).
Ultrapassados estes itens, é de se acentuar que o tipo subjetivo, na corrupção de menores, se esgota no dolo. Tanto numa forma como noutra, tem-se o chamado tipo congruente (cfe. E. R. Zaffaroni). Não há que se falar de especial
fim, tendência peculiar, transcendência, etc. Basta que o agente tenha vontade e consciência de realizar uma das formas que indicam a corrupção ou a facilitação da corrupção. E, para tanto, a consciência atual, exigida no dolo, envolve a co-consciência (cfe. Teresa P. Beleza, Jacobs, Jescheck, entre outros) ou certo grau de atualização incorporada (E. R. Zaffaroni). É suficiente que o sujeito ativo saiba, de forma até difusa (Teresa P. Beleza), que o sujeito passivo é menor."
Ante o exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento para condenar o réu, Romildo de Oliveira, também pelo crime de corrupção de menor, aplicando-lhe a pena de um ano de reclusão no mínimo legal, por ser menor de 21 anos e não constarem maus antecedentes, confirmadas as demais cominações.
RECURSO ESPECIAL Nº 155.426 - SP
(Registro nº 97.0082293-1)
Relator: O Sr. Ministro Felix Fischer
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Altair Assunção Reis
Advogado: Humberto da Silva Monteiro
EMENTA: Penal e Processual Penal. Lei nº 9.099/95. Suspensão condicional do processo. Oferta. Iniciativa.
I - Incumbe ao Ministério Público a proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95 c/c o art. 129, inci-
300 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
so I e § 2 9 da Carta Magna), não podendo em princípio, ser esta realizada pelo julgador.
11 - Na hipótese de divergência entre juiz e promotor acerca da oferta da suspensão, os autos devem ser, por aquele, encaminhados ao Procurador-Geral de Justiça.
Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram de acordo os Ministros Edson Vidigal, José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e José Arnaldo.
Brasília, 17 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro FELIX FISCRER, Relator.
Publicado no DJ de 18-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FELIX FISCRER: Trata-se de recurso interposto, com fulcro no art. 105, inciso III, alíneas a e c da Carta Magna, pelo Ministério Público contra v. acórdão do egrégio Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo. A par do dissídio, alega-se negativa de vigência do art. 89 da Lei n Q 9.099/95. O recurso objetiva a reforma do v. acórdão recorrido
para que o egrégio Tribunal a quo, examine o mérito da apelação (na qual se asseverou nulidade).
O retrospecto está delineado às fls. 524/525, in verbis: "Altair Assunção Reis foi condenado por infringência aos arts. 121, C.c. o 70 (duas vezes), e 129, § 69 , C.C. 70 (três vezes), todos do CP, à pena de um ano e dois meses de detenção, convertida em restritiva de direito com a suspensão para direção de veículos automotores pelo mesmo prazo.
Tendo o mesmo recorrido, a Sétima Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo converteu o julgamento em diligência para que se procedesse à aplicação do art. 89, da Lei 9.099/95.
Baixando os autos à origem, o Ministério Público do Estado de São Paulo, com tais argumentos, deixou de propor a suspensão condicional do processo (fls. 407/409):
"No caso dos autos, o réu agiu com imprudência acentuada. Invadiu a pista contrária realizando ultrapassagem perigosa. Como resultado, acabou por matar duas pessoas. E mais, uma das vítimas sobrevivente sofreu lesões gravíssimas que lhe ocasionaram deformidade permanente (fls. 59/61).
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Interrogado, o réu não demonstrou possuir qualquer arrependimento por sua conduta (fls. 181).
Assim, a personalidade do réu e as conseqüências de sua conduta não o fazem merecer a suspensão condicional do processo."
De volta o feito ao Tribunal deAlçada, a própria turma julgadora, por votação unânime, ofertou a proposta de suspensão do processo, por 4 (quatro) anos.
Embargos foram opostos pelo Ministério Público, entretanto, rejeitados. Assim aduziu o Juiz relator (fls. 433):
"Comissão Nacional, instituída pela Escola Superior da Magistratura para estudo interpretativo da Lei n Q 9.099/95 e presidida pelo erudito Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, concluiu que: "se o Ministério Público não oferecer proposta de transação penal de suspensão do processo nos termos dos arts. 79 e 89, poderá o juiz fazê-lo".
o Ministério Público do Estado de São Paulo interpõe, então, recurso especial com fundamento no art. 105, In, a e c, da CF sustentando negativa de vigência ao art. 89, da Lei 9.099/95. Apresenta julgado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que dissente do acórdão atacado e requer, ao final, o retorno dos autos para que o Tribunal a quo examine o mérito da apelação."
A douta Subprocuradoria Geral da República se pronunciou pelo conhecimento e provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FELIX FISCHER (Relator): O caso, como se percebe, teve um desenrolar confuso em matéria que não é das mais claras ou, então, não é daquelas pacíficas.
Em primeiro lugar, a própria conversão em diligência, já existindo sentença condenatória anterior à Lei n Q 9.099/95, é uma solução que não merece aceitação na recente orientação do Pretória Excelso (v.g. HC 75.546-1,1 ª Turma, DJU de 26/9/97, pág. 47.4 78, relator Ministro MoreiraAlves; HC 75.575, 1 ª Turma, "Informativo STF" 95, relator Ministro Sydney Sanches; HC 74.305-SP, Plenário, Informativo n Q 57) e na desta Corte (REsp 133.134-PR, 5ª Turma, DJU de 15/12/97, pág. 66.500, relator Ministro Cid Flaquer Scartezzini; REsp 118.518-SP, DJU de 22/9/97, pág. 46.568, relator Ministro Fernando Gonçalves).
Em segundo lugar, o texto de lei é claro ao indicar que a suspensão condicional do processo é uma transação. Pode haver, ou não (sem arbitrariedade), a oferta. E, esta pode não ser aceita ou, ainda, pode não ser homologada. Entretanto, não compete ao julgador realizar a oferta quando houver divergência de avaliação entre ele e o agente do
302 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
Parquet. Por via de conseqüência, é incabível que tal iniciativa ocorra em segundo grau. Dessarte, como é atribuição do Ministério Público (art. 89 da Lei nº 9.099/95 c/c o art. 129, inciso I e § 2º da Lex Maxima), a oferta da suspensão, a eventual discrepância entre as apreciações deve ser resolvida, em princípio, com aplicação analógica do art. 28 do Cpp (cf. HC 75.343-MG, Plenário-STF, relator p/ o acórdão Ministro Sepúlveda Pertence, "Informativo STF", nº 92 e RHC 5.664-SP,
5ª Turma-STJ, DJU de 18/11/96, pág. 44.904, relator Ministro José Arnaldo da Fonseca).
Assim, a oferta da transação, no caso, não pode subsistir. Ela, in casu, nega vigência, quase literal, ao art. 89 da Lei n Q 9. 099 / 95.
Voto, pois, pelo conhecimento e provimento do recurso para que o egrégio Tribunal a quo examine o mérito da apelação, sem exclusão da remessa dos autos a Sua Excelência, o Sr. Procurador-Geral de Justiça.
RECURSO ESPECIAL Nº 156.176 - SP
(Registro nº 97.0083892-7)
Relator: O Sr. Ministro Felix Fischer
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Ademilson da Silva - menor impúbere
Representado por: Sebastiana Fátima da Silva
Advogado: Ronaldo Cardoso de Souza
EMENTA: Estatuto da Criança e do Adolescente. Recurso especial. Remissão e medida sócio-educativa.
A remissão concedida pelo Parquet pode vir a ser acompanhada de medida provisória sócio-educativa aplicada pelo juiz, observado o disposto no art. 127 do ECA.
Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo-
tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Ministros Edson Vidigal, José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e José Arnaldo.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 303
Brasília, 17 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro FELIX FISCHER, Relator.
Publicado no DJ de 18-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Versam os autos sobre recurso especial interposto, com fulcro no art. 105, inciso IH, alíneas a e c da Carta Magna, pelo Ministério Público do Estado de São Paulo contra v. acórdão do egrégio Tribunal de Justiça local, em sede de remissão do ECA.
O retrospecto está às fls. 97, in verbis:
"Ademilson da Silva, por ter, juntamente com Sidnei Hernandes Medina, subtraído 65 latas de cerveja importada da residência da vítima José Martins Filho, teve concedida a remissão, sendo, na oportunidade, aplicada medida sócio-educativa de liberdade assistida, pelo prazo de seis meses, com fulcro nos artigos 112, inciso IV, c/c art. 118, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Inconformado, apelou pleiteando a reforma da decisão alegando, em síntese, ser incabível a aplicação da remissão cumulativamente com medida sócio-educativa. Aduziu, ainda, ter havido cerceamento de defesa.
Na apelação, o tribunal acordou, por unanimidade, dar pro-
vimento ao recurso para o fim de cancelar a medida sócio-educativa de liberdade assistida, subsistindo a remissão pré-processual como forma de exclusão do processo.
Irresignado, o Ministério PÚblico opôs embargos declaratórios rejeitados, por votação unânime, em v. acórdão fundamentado às fls. 77/78.
Sobreveio, então, o presente recurso, no qual se alega ofensa ao art. 127, da Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990, além de dissídio jurisprudencial."
No v. julgado que apreciou a apelação consta:
"O Dr. Promotor de Justiça que oficiou nos autos concedeu remissão com a medida de liberdade assistida por seis meses, o que foi homologado pelo MM. Juiz, que aplicou a medida apontada pelo Dr. Promotor de Justiça.
Realmente, a remissão préprocessual não se harmoniza com a aplicação de medidas sócioeducativas porque aquela, no caso, é perdão e forma de exclusão do processo (v. art. 126, ECA).
A remissão como forma de suspensão ou extinção do processo é forma de mitigação das conseqüências do ato infracional, e só poderá ser aplicada pelo Juiz com observância do devido processo legal, onde o menor tenha assegurados todos os seus direitos, inclusive o da ampla defesa.
304 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
Assim, a remissão concedida pelo Dr. Promotor de Justiça seria perdão, sendo forma de exclusão do processo e, ao mesmo tempo, mitigação das conseqüências do ato infracional praticado pelo menor o que, sem dúvida alguma, é contraditório.
Ademais, a aplicação da medida sócio-educativa de liberdade assistida resulta nula por inobservância do devido processo legal e desrespeito ao princípio do contraditório e ampla defesa (arts. 110 e segts. e 207, ECA).
No entanto, impossível a oferta de representação contra o recorrente - situação mais gravosa ao adolescente - para que não ocorra a reformatio in pejus.
A solução adequada e viável na hipótese dos autos, é o cancelamento da medida sócio-educativa aplicada." (Fls. 66/67).
Foram opostos embargos de declaração que mereceram a seguinte apreciação, in verbis: "O magistrado não está adstrito à fundamentação adotada pela parte. Está vinculado, sim, aos fatos narrados. A matéria questionada nos autos foi decidida com base nos fundamentos que se entendeu pertinentes ao caso.
"O Juiz não está obrigado a responder todas as alegações das partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para fundar a decisão, nem se obriga a ater-se aos fundamentos indicados por elas e tampouco a responder um a um todos os seus argumentos." (RJTJESP 115/207).
De se notar, apenas, que o dispositivo legal sobre o qual se assenta o decidido é mais amplo do que aqueles enfocados pelo ora Embargante. O art. 189, ECA, não restringe a fase processual para concessão da remissão, não se admitindo interpretação restritiva de direitos onde a lei não restringe.
Ademais, se o ora embargante não concorda com a fundamentação adotada no V. Acórdão, a hipótese não é de embargos declaratórios, sendo nítido o caráter infringente dos embargos opostos.
Em síntese, não há no acórdão obscuridade, dúvida ou contradição e nem omissão, na medida em que a matéria foi conhecida e objeto de apreciação e julgamento. Tanto é verdade que o ora Embargante o compreendeu." (Fls. 77/78).
Daí o recurso. A douta Subprocuradoria Geral da República se pronunciou pelo provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FELIX FISCRER (Relator): Realmente, apesar da terminologia escolhida no termo de remissão (fls. 15), é inegável que, por ocasião do referido perdão préprocessual, o Parquet pode indicar ou sugerir a aplicação de medida sódio-educativa, observado, é claro, o disposto no art. 127 da Lei n Q
8.069/90.
In casu, a medida foi a da liberdade assistida que, primo icter occuli dentro dos limites legais, por
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 305
si, não causa nenhum constrangimento às atividades do menor. Aliás, a medida sócio-educativa propriamente dita, de mera observação e não como pensam alguns, uma pena.
E, no presente caso, como foi enfatizado nos embargos de declara-
ção, a contestada medida só veio a se efetivar através de ato jurisdicional (cf. fls. 16).
Voto, portanto, pelo conhecimento e provimento do recurso, restabelecendo-se a decisão de primeiro grau.
RECURSO ESPECIAL Nº 160.264 - PR
(Registro nº 97.0092553-6)
Relator: O Sr. Ministro FeZix Fischer
Recorrente: Ministério Público do Estado do Paraná
Recorrido: Ezequiel Pereira de Jesus (preso)
Advogado: Cila Viana Pereira
EMENTA: Penal. Recurso especial. Tentativa de estupro. Crime hediondo. Sursis.
I - O estupro, tentado ou consumado, em qualquer de suas modalidades, é crime hediondo.
11 - A pena privativa de liberdade, quando de sua execução, deve obedecer ao disposto no art. 2º, § 1 º da Lei 8.072/90.
11 - Desde que preenchidos os seus requisitos, o sursis pode ser aplicado a ilícito penal qualificado de hediondo.
Recurso conhecido e parcialmente provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do MinistroRelator. Votaram de acordo os Mi-
nistros Edson Vidigal, José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e José Arnaldo.
Brasília, 17 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro EDSON VIDIGAL, Presidente. Ministro FELIX FISCHER, Relator.
Publicado no DJ de 11·05-98.
306 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Versam os autos sobre recurso especial interposto, com fulcro no art. 105, inciso.JII, alíneas a e c da Carta Magna, pelo Parquet paranaense contra v. acórdão do egrégio Tribunal local, em sede de configuração, ou não, da tentativa de estupro como crime hediondo.
O retrospecto está às fls. 168, in verbis:
"Alega o recorrente que a decisão impugnada não poderia conceder a suspensão condicional da pena ao condenado, posto que o estupro, em qualquer de suas formas, é crime hediondo, de sorte que incidiria à espécie o artigo 2º, parágrafo 1 º, da Lei 8.072/90, a impor o cumprimento da pena em regime integralmente fechado.
Aponta contrariedade ao artigo 213 do Código Penal e aos artigos 1 º, inciso V, e 2º, parágrafo 1 º, da Lei dos Crimes Hediondos.
Aduz, ainda, divergência jurisprudencial com julgado dessa C. Corte de Justiça."
Diz a ementa do v. acórdão reprochado, a saber:
"Estupro - Tentativa - Crime não consumado por motivos alheios à vontade do réu - Artigo 213, c / c o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal -Reprimenda fixada em quatro (4) anos de reclusão a ser cumprida
integralmente em regime fechado em vista do disposto no artigo 2~ § 1 ~ da Lei 8.072/90 - No percurso do processo e no apelo o réu nega a autoria e hostiliza caracterização de crime hediondo -Recurso conhecido e parcialmente provido.
Nos crimes sexuais a palavra da vítima, quando mulher honesta e recatada, tem relevante valor probante e, em especial, quando em sintonia com eventual prova testem unhal.
Por se tratar de delito de tentativa de estupro, inaplicável o comando do artigo 2º, § 1 º, da Lei 8.072/90, pois este normativo legal somente deve ser aplicado quando verificado o crime considerado hediondo que, in casu, não ocorreu. O delito de estupro (artigo 213 do CP) para ser considerado crime de natureza hedionda, necessária sua combinação com o artigo 223 do Código Penal, de acordo com o disposto no artigo 1Q
, inciso V, da Lei 8.072/ 90. No presente caso a vítima sofreu lesões corporais leves." (Fls. 125).
N o corpo do v. decisório tem-se:
"Caracterizado o delito de estupro tentado, passo a questionar se, in casu, está configurado crime hediondo.
O artigo 1 º, Inciso V, da Lei 8.072/90, estabelece que para ser considerado crime hediondo, mesmo o tentado, necessária a sua combinação com o ordena-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 307
mento do artigo 223 do Código Penal, ou seja, que da violência resulte lesão corporal de natureza grave ou a morte da vítima que, no caso, inocorreu, pois o Exame de Lesões Corporais, a que se submeteu a vítima, registra que as lesões corporais que ela sofreu são de natureza leve (fls. 12).
É portanto, de lei e de Justiça, que sej a afastada do delito perpetrado pelo apelante a qualificadora de hediondez.
Posto isto, por não se tratar no presente procedimento de crime hediondo e considerando-se que o réu é primário, tem bons antecedentes, com conduta social regular e que exerce profissão fixa de pedreiro, dou provimento parcial ao apelo interposto a fim de, com suporte do artigo 213 do Código Penal, reduzir e fixar a pena no seu mínimo legal de seis (6) anos de reclusão e, obedecida a norma do artigo 14, inciso lI, e seu parágrafo único, do mesmo Código, por se tratar de crime tentado, diminuo-a no seu máximo legal permitido de dois terços (2/3), tornando-a definitiva em dois (2) anos de reclusão.
Por presentes os requisitos do artigo 77 do Código Penal e considerado o valioso parecer da douta Procuradoria Geral de J ustiça (fls. 115), concedo ao apelante o benefício de suspensão da pena pelo prazo de dois anos, mediante cumprimento das condições." (Fls. 129).
Daí o recurso. A douta Subprocuradoria Geral da República se pronunciou pelo provimento.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FELIX FISCHER (Relator): O texto legal (Lei n Q 8.072/90 com a redação dada pela Lei n Q 8.930/94) é por demais claro, a saber:
"Art. lº. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n Q
2.848, de 07 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
V - estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único)."
A restrição abraçada no v. julgado recorrido carece de suporte jurídico. Em primeiro lugar, se assim o fosse, a lei diria estupro qualificado e a indicação dos artigos teria construção diferente. Em segundo lugar, o e utilizado no inciso Vindica, como conjunção coordenativa aditiva, que abrange a forma simples e a qualificada. Aliás, comparativamente, é de se atentar para as limitações dos incisos II (quanto ao roubo), III (extorsão) e VII (epidemia).
Confundiu-se, talvez, a qualificação do delito com a questão da incidência do art. 99 da Lei dos Crimes Hediondos ao estupro, onde esta
308 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
Corte só tem admitido a majoração para a forma qualificada.
Na doutrina: J. F. Mirabete ("Manual de Direito Penal", voI. 2, pág. 436, 9ª ed., Ed. Atlas S.A.) e Damásio E. de Jesus in "Direito Penal", voI. 3, pág. 89, 10ª ed., Saraiva).
Como precedentes desta Corte: a) REsp n Q 0073.323-MG, 6ª Turma, relator Ministro Anselmo Santiago, DJU de 03/03/97, pág. 4.715; b) REsp 0092640-ES, 6ª Turma, relator Ministro Vicente Leal, DJU de 03/03/97, pág. 4.719; c) RHC 0005986, 6ª Turma, DJU de 10/03/97, pág. 6.000, relator Ministro Vicente Leal; d) REsp 46.204-5-PR, 5ª Turma, relator Ministro Costa Lima, RSTJ 67/ 464; e) RHC 6.447, 5ª Turma, de nossa relatoria, DJU de 30/06/97, pág.31.046.
O estupro, em qualquer de suas modalidades, é crime hediondo, e a pena deve ser executada no regime fechado ex vi in art. 2º, § 1 Q, da Lei dos Crimes Hediondos.
Todavia, quanto à concessão, ou não, do sursis, para delitos hediondos, quero crer que inexiste restrição legal. Apesar do disposto no art. 2º, § 1 º da Lei n Q 8.072/90, se o réu preenche os requisitos do art. 77 do CP ele terá direito ao benefício.
Vale, aqui, a lição de Alberto Silva Franco, in verbis: "A Lei nº 8.072/90, apesar de ter, por ponto nuclear, a exacerbação punitiva de tipos já especificados no ordenamento penal, nos quais a violência (real ou ficta) é apresentada como modo de execução, não impediu a
aplicação de nenhuma das causas redutoras de pena da Parte Geral, exceção feita ao arrependimento posterior, que pressupõe a prática de crimes cometidos sem violência. Destarte, não equiparou punitivamente o delito tentado ao delito consumado; não obstou a possibilidade do reconhecimento da semi-imputabilidade, em virtude de perturbação da saúde mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, ou mesmo em razão de embriaguez, proveniente de caso fortuito ou de força maior; não impediu o erro evitável sobre a ilicitude do fato, nem desconsiderou a razoabilidade da exigência do sacrifício do direito ameaçado, no estado de necessidade; não desprezou a participação de menor importância, nem a possibilidade de que o agente tenha querido participar de crime menos grave. Em suma a classificação de crime hediondo não obstou, em momento algum, a incidência, nas proporções estabelecidas na lei penal, das causas de diminuição de pena já especificadas.
É exato que algumas dessas causas de redução de pena se mostram, em relação aos delitos hediondos e assemelhados, concretamente inviáveis. Mas a tentativa, a semi-imputabilidade, a participação de menor importância ou a participação em crime menos grave se revelam factíveis, principalmente a primeira nos tipos de estupro e de atentado violento ao pudor e em algumas modalidades de tráfico ilícito de entorpecente, e as demais em qualquer das figuras criminosas assim rotu-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 309
ladas. É perfeitamente possível que o acusado, num desses delitos, seja semi-imputável ou tenha sido surpreendido, no estupro, no atentado violento ao pudor ou em algumas formas de tráfico ilícito de entorpecentes, no início do iter criminis e, em conseqüência, obtenha a maior diminuição punitiva. Nessas hipóteses, tomando-se por base a pena mínima cominada em relação aos tipos já referidos, ou seja, seis anos de reclusão (estupro e atentado violento ao pudor) e três anos de reclusão (tráfico ilícito de entorpecentes) e efetuando-se a redução máxima de dois terços, atinge-se as quantidades punitivas de dois e de um ano de pena privativa de liberdade, respectivamente.
Em tais situações, a substituição da pena privativa de liberdade pela internação ou tratamento ambulatorial (art. 98 do CP), em relação ao semi-imputável necessitado de tratamento curativo, ou a aplicação do sursis (art. 77 do CP), em relação ao condenado imputável, seriam pertinentes? Ou bastaria a classificação dos fatos debitados ao condenado como crime hediondo ou equiparado, para que não ocorresse a conversão ou a substituação punitiva? Seriam um e outro desses condenados obrigados a cumprir a pena reclusiva em regime fechado, nos termos do § 19 do art. 29 da Lei 8.072/90?
Uma resposta positiva representaria inquestionável injustiça. Se o ato criminoso objetivasse, sem sucesso, tirar a vida de alguém, nada impediria, em face da semi-imputa-
bilidade do agente, que se procedesse à conversão da pena privativa de liberdade em internação ou tratamento ambulatorial, ou, em face da tentativa em seu curso inicial, à aplicação da medida penal alternativa do sursis. É evidente que, na primeira hipótese, haveria necessidade de declaração pericial de que o condenado precisaria ser submetido a especial tratamento curativo e, na segunda, teria ele de reunir os requisitos do art. 77 do CP, mas não seria o agravo ou o sério perigo endereçados ao bem jurídico "vida" - o mais importante em toda a escala de valores penalmente tutelados, porque o fundamento, a base de todos os demais - que seria um obstáculo a qualquer das soluções anotadas. Por que ficaria, então o juiz impossibilitado de permitir o tratamento ambulatorial, ou de aplicar o sursis, só porque o legislador entendeu, na proteção de bens jurídicos de menor relevo, que o condenado deveria cumprir integralmente a pena imposta em regime fechado?" (in "Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial", voI. 2, 6ª ed., RJ, pág. 639).
Esta Corte tem precedente recente, desta 5ª Turma (relator Ministro Edson Vidigal), no REsp 91.851, publicado no DJU de 24/02/97, pág. 3.396.
"Penal. Lei 8.072/90. Tentativa de estupro. Crime hediondo. Sursis. Possibilidade de concessão. Inexistência de incompatibilidade com a norma que determina o cumprimento integral da pena em regime fechado.
310 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998.
1. Inexistindo na Lei 8.072/90 norma expressa a vedar a concessão de sursis, não pode o intérprete lançar mão de interpretação extensiva ou dilatória para suprimir o benefício.
2. Não há, também, incompatibilidade lógica entre o sursis e a norma do art. 2Q
, § 1 Q, j á que inexiste qualquer relação entre regime de cumprimento de pena e este instituto.
3. O que importa para a suspensão condicional da pena é o preenchimento dos seus requisitos
legais estabelecidos no Código Penal, independentemente do regime prisional imposto.
4. Recurso não conhecido."
Na mesma linha: RTJSP 134/417, RT 676/298 e RT 719/312.
E, a concessão do sursis não foi, em si, atacada.
Voto, pois, pelo conhecimento do recurso e pelo seu provimento parcial, fixando-se o regime de execução da pena como fechado, visto que o estupro tentado é hediondo e mantida a concessão do sursis.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 245-311, setembro 1998. 311
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL NQ 150.079 - SP
(Registro n Q 97.0069589-1)
Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves
Embargante: Atacadão S/A Distribuição, Comércio e Indústria
Advogados: Drs. Fernando Eduardo Prison e outros
Embargados: V. Acórdão de fls. 1.031 e Estrutécnica S/A Indústria, Comércio e Construções
Advogado: Dr. Ruy Celso Legaspe
EMENTA: Embargos declaratórios. Omissão. Pedido recursal alternativo.
1. Quando o pedido recursal é formulado alternativamente, ou seja, o direito nele perseguido pode ser efetuado, na dicção de Moacyr Amaral Santos, "por mais de uma forma, cada uma suficiente para satisfação da pretensão", atendido o primeiro, o segundo, em conseqüência, estará prejudicado. Não há, portanto, omissão no acórdão que, atendendo ao primeiro pleito, reputou prejudicados os demais.
2. Embargos rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos de declaração. Participaram do julgamento os Ministros Vicente Leal e Luiz Vicente Cernic-
chiaro. Ausentes, por motivo de licença, o Ministro William Patterson e, justificadamente, o Ministro Anselmo Santiago.
Brasília, 05 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro VICENTE LEAL, Presidente. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.
Publicado no DJ de 30-03-98.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 315
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Versa a espécie sobre embargos de declaração opostos por Atacadão S.A. - Distribuição, Comércio e Indústria contra acórdão que, em matéria de locação, acolhendo parcialmente recurso especial, decidiu:
"Locação. Acordo firmado anteriormente à propositura de renovatória. Fixação de novo aluguel nesta última. Conciliação dos numerários. Inteligência do art. 19, da Lei n Q 8.245/91.
1 - Nos termos da jurisprudência da Corte, o acordo firmado entre locador e locatário, elevando o aluguel, ainda que a valores abaixo daqueles praticados pelo mercado, interrompe o prazo para a propositura de revisional, ou seja, somente poderá ser fixado novo valor locatício após transcorrido o prazo de 3 (três) anos previsto no art. 19, da Lei nº 8.245/91. O fato de ter sido proposta ação renovatória pelo recorrente, e nela novo aluguel fixado, não elide o comando cogente do citado dispositivo legal, razões pelas quais, vigora, conforme preconizado no especial, dentro de um determinado período do contrato renovado, aquele valor estipulado no acordo firmado entre o locatário-recorrente e a locadora -recorrida.
2 - Recurso especial conhecido em parte." (fls. í.031)
Aduz a embargante, no essencial, que, em se tratando de pedidos "alternativos por subsidiariedade", o acolhimento parcial do primeiro, torna necessário o exame da segunda postulação, mostrando-se, neste ponto, omisso o julgado, em relação ao período restante da locação, subseqüente a 25 de agosto de 1995.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): A embargante firmou acordo com sua locadora e o especial teve por objetivo único a prevalência da norma do art. 19 da Lei nº 8.245/91, aduzindo, em síntese, o seguinte:
"a) ser reconhecida e decretada a impossibilidade de se fazer nova revisão judicial do aluguel antes do prazo de três anos, estabelecendo-se como locativo da renovação aquele acordado entre as partes na ação consignatória ou aquele fixado na ação revisional, com reajustes semestrais, ou
b) em sucessão alternativa, ser arbitrado como aluguel nesta re.1Ovatória aquele constante da contraproposta feita pela locadora na contestação desta ação renovatória ($ 28.869,09 - moeda da época, equivalente a Cr$ 329.890,41, em maio de 1993, segundo atualização do Sr. Perito), ou
c) ainda alternativamente e em sucessão, pede seja anulado o V.
316 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
Acórdão e determinada a volta dos autos ao Egrégio Tribunal a quo, para que seja proferida nova decisão como se entender de direito e examinada em toda sua amplitude a causa de pedir recursal posta pela recorrente na apelação." (fls. 762)
Dentro dos limites traçados, o acórdão acolheu o primeiro pedido, ficando ipso facto, dada a alternatividade, prejudicados os demais. O fato foi destacado às fls. 1.027, verbis:
"Como se vê, inicialmente, pretende0 recorrente seja reconhecida a vulneração ao art. 19, da lei de locações e, caso assim não se entenda, em pedidos sucessi-
vos e alternativos, sejam analisadas as demais fundamentações.
Assim é que, cinge-se o especial somente à fixação da correta exegese do referido art. 19, porquanto, acerca do assunto, merece conhecimento a irresignação."
O pedido formulado no especial, como visto, é alternativo, ou seja, o direito nele perseguido pode ser efetuado, na dicção de Moacyr Amaral Santos, "por mais de uma forma, cada uma suficiente para satisfação da pretensão". Atendido o primeiro, o segundo, em conseqüência, estará prejudicado.
Não cabia, na verdade, ao acórdão avançar além do tempo previsto no art. 19 da Lei n Q 8.245/91.
Assim sendo, rejeito os embargos.
HABEAS CORPUS NQ 3.299 - SP
(Registro n Q 95.0009742-7)
Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal
Relator Designado: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro
Impetrantes: Cyro Kusano e outro
Impetrado: Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo
Paciente: Osvaldo Ribeiro de Mendonça - pensionista
EMENTA: HC - Direito Penal - Culpa inconsciente - Romo medius - Negligência representa não observância dos parâmetros do dever de cautela, juridicamente impostos a qualquer pessoa, no momento em que realiza a conduta. A antevisão do fato deve traduzir-se de modo concreto e não de modo abstrato. O Direito Penal da culpa é incompatível com o antigo homo medius. A investigação da conduta deve ser individual.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 317
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por maioria, conceder a ordem de habeas corpus, vencido o Sr. Ministro-Relator. Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. Os Srs. Ministros Adhemar Maciel e Anselmo Santiago votaram com o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.
Brasília, 29 de maio de 1995 (data do julgamento).
Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Presidente e Relator (designado).
Publicado no DJ de 22-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário impetrado contra acórdão do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, que denegou o writ requerido em favor de Osvaldo Ribeiro de Mendonça, denunciado com outros co-réus como incursos nas penas do art. 121, § 3º (uma vez) e art. 129, § 6º c/c art. 70 (dez vezes), ambos do Código Penal, em razão de acidente envolvendo uma Pickup e um caminhão que transportava trabalhadores rurais.
Por via do presente habeas corpus pretende o denunciado o trancamento da ação penal por ausên-
cia dejusta causa, alegando, em síntese, que a sua conduta é atípica, vez que não teria contribuído para a eclosão do resultado danoso, sendo apenas o proprietário do caminhão que transportava os trabalhadores. Sustenta que a sua responsabilidade deriva, tão-somente, da inobservância de norma regulamentar do Código. de Trânsito.
Ao prestar informações, o ilustre Juiz Hélio de Freitas, Presidente do TACRIM, esclareceu, in verbis:
"Por fatos ocorridos no dia 12 de setembro de 1992, foram o paciente e outros co-réus denunciados, perante o MM. Juízo da E. Vara Distrital de Colina, da Comarca de Barretos, como incursos no art. 121, § 3º (uma vez) e art. 129, § 6º (por dez vezes), c.c. o art. 70, todos do Código Penal (doc. nº 1), com base nos elementos colhidos na fase indiciária (doc. nº 2).
Recebida a denúncia (doc. nº 3), expediu-se carta precatória para citação pessoal do paciente, que, porém, restou infrutífera (doc. nº 4). Determinado o chamamento por edital (doc. nº 5) e não comparecendo para o interrogatório, decretou-se a revelia do paciente, com a nomeação de defensor dativo, que ofereceu a defesa prévia (doc. nº 6).
Após a designação de audiência para o início da instrução, feita para o dia 22 de março transato, foram os autos remetidos a esta Corte em 9 de março último, atendendo à minha requisição, pa-
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ra a elaboração destas informações (doc. n Q 7).
Esclareço, ainda, que o paciente impetrou, neste Tribunal, os Habeas Corpus nM 266.048/9 que a E. Oitava Câmara desta Corte, por votação unânime, denegou (doc. n Q 8) e 272.960/0, e que se encontram em fase de remessa à douta Procuradoria Geral de Justiça (doc. n Q 9)".
A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer de fls. 242/246, opina pela denegação do writ.
É o relatório.
VOTO - VENCIDO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): A pretensão condensada no presente writ funda-se, essencialmente, na alegação de falta dejusta causa para a ação penal, ao fundamento de que o paciente não participou do fato que deu ensejo ao acidente de tráfego, sendo apenas proprietário do caminhão.
Todavia, é de se considerar que o paciente foi denunciado por homicídio culposo, merecendo destacarse, a propósito de sua responsabilidade em face do evento, as precisas informações do ilustre Juiz de Direito que preside o processo, verbis:
"N esse particular e ad argumentandum tantum, a argumentação trazida pelos impetrantes, no sentido de que o paciente não teve participação no evento, é matéria que demanda
prova e, portanto, foge às estreitas e específicas raias do remédio heróico. De fato, infere-se do conteúdo de sua peça inicial, que o paciente Oswaldo Ribeiro de Mendonça está sendo processado, pelo simples fato de ser o proprietário do veículo sinistrado. Entretanto, ao se proceder à leitura da peça inicial acusatória, nota-se que, na realidade, a situação não se afigura tão singela como alegada. Pelo ·que se depreende daquela peça, a responsabilidade do paciente reside no fato de ser a pessoa de quem eram emanadas as ordens para que seus empregados fossem transportados em veículo que não oferecia a mínima condição de segurança, nem tampouco era destinado ao transporte de pessoas. Assim, nos termos da denúncia, a responsabilidade do paciente estaria situada na ausência do necessário dever de cautela, ao ordenar e consentir uma prática irregular, em total desrespeito à condição humana dos empregados, cujos resultados lesivos, pelas próprias características do caso em exame, eram plenamente previsíveis. Portanto, a denúncia não se fundou, apenas, na condição de proprietário, do paciente, mas, sim, na conduta de permitir (por ação ou omissão) a prática de um ato, cujo resultado danoso lhe era totalmente previsível, em face das condições e circunstâncias que o envolviam. Dessa forma, somente após a necessária e regular instrução do feito, é que se poderá valorar a conduta do paciente
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e concluir se foi ou não responsável pelo evento." (fls. 238).
Constata-se, à vista dessas informações, que a conduta imputada ao paciente adequa-se em princípio, à modalidade de culpa por negligência, já que não teria examinado as condições do caminhão de sua propriedade que transportava seus empregados, trabalhadores rurais.
Como é sabido, a culpa caracteriza-se pela inobservância do cuidado objetivo necessário, este fundado na previsibilidade aferida a partir da possibilidade de antevisão do resultado por um homem comum, prudente e de discernimento, colocado diante de situações concretas.
A culpa tem como modalidades a imperícia, imprudência e negligência.
A propósito do conceito de negligência, merece registro o magistério de Damásio de Jesus:
"A imprudência é a prática de um fato perigoso. Ex.: dirigir veículo em rua movimentada com excesso de velocidade.
A negligência é ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. Ex.: deixar arma de fogo ao alcance de uma criança.
Enquanto na negligência o sujeito deixa de fazer alguma coisa que a prudência impõe, na imprudência ele realiza uma conduta que a cautela indica que não deve ser realizada. A doutrina ensina que a imprudência é positiva (o
sujeito realiza uma conduta) e a negligência, negativa (o sujeito deixa de fazer algo imposto pela ordem jurídica)". (in Direito Penal- 1 Q volume - Parte Geraled. Saraiva - 16ª edição, 1992).
N o caso, não se trata de culpa in re ipsa ou presumida. De fato, quem emprega na sua atividade econômica veículo sem segurança para transportar "bóiàs-frias" tem pelo menos a previsibilidade da ocorrência de evento danoso, não se podendo falar em responsabilidade objetiva. Trata-se de infringência ao dever médio de cuidado na vida de relação. É que o Direito exige que as pessoas direcionem com cuidado suas condutas no sentido de evitar danos aos outros, sob pena de responder por negligência quem omite esses cuidados necessários que nas circunstâncias não era possível ignorar.
Em tal contexto, a instauração de procedimento criminal para apuração de fatos que apresentam a feição de crime culposo não pode ser, em seu nascedouro, trancado por habeas corpus, sem que se tenha uma precisa visão do tema.
Com efeito, o trancamento da ação penal em sede de habeas corpus só se viabiliza quando a ausência de justa causa é evidenciada pela simples exposição dos fatos ou quando se constata que há imputação de fato atípico ou ausência de qualquer elemento indiciário, configurador da autoria do delito.
N a hipótese, o trancamento da ação penal só seria possível se a ati-
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picidade da conduta do paciente fosse evidenciada pela simples exposição dos fatos, sem a necessidade de exame de matéria probatória, o que inocorre no caso sub examen.
Isto posto, denego a ordem.
É o voto.
VOTO- VOGAL
O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Srs. Ministros, a matéria posta a julgamento já foi apreciada por esta Egrégia Sexta Turma. Na ocasião, tive oportunidade de mencionar, negligência representa a não observância dos parâmetros do dever de cautela, juridicamente imposto a qualquer pessoa no momento em que realiza a conduta.
Mencionei, também, a previsibilidade, elemento vinculado à modalidade de culpa inconsciente, há de se traduzir, hip.oteticamente, de modo concreto e não de modo abstrato, a antevisão do fato. Necessário que a pessoa, ao praticar a conduta, sem guardar os limites do devido dever de cautela, mentalmente, antecipe que um caso "x", portanto, concreto, poderá acontecer. J amais, entretanto, extraia-se a conclusão de que, hipoteticamente naquele caso, seria possível alguém imaginar qualquer acontecimento.
Além disso, já é cediço no direito penal, não só brasileiro como de outros países, ser imprescindível o agente, concretamente, dar causa
ao evento. Aliás, a expOSlçao de motivos de 1940, no item XIII, focaliza exatamente esta hipótese:
"No tocante à culpabilidade ou elemento subjetivo do tipo, o projeto não conhece outras formas além do dolo e da culpa, stricto sensu, sem o pressuposto do dolo e da culpa stricto sensu, nenhuma pena será irrogada. Nulla pena sine culpa. Em nenhum caso haverá presunção de culpa. Assim, na definição da culpa strictu sensu é inteiramente abolido o dogmatismo da inobservância de alguma disposição regulamentar, pois nem sempre é culposo o evento subseqüente".
Efetivamente, assim ocorre. A exposição de motivos traduz aquilo que inicialmente eu dizia: é necessário projetar a possibilidade, haver a previsibilidade de fato concreto e não in abstracto.
Pedindo vênia, ainda, o eminente relator, de que se deve colocar a problemática no metro do dever médio, o homo medius, no direito penal da culpa, cedeu espaço à investigação da conduta individual. Não posso ser responsabilizado, porque há ent~ndimento médio do dever de agir. E necessário, porque a pena é dirigida a uma pessoa, ao agente examinar as suas condições individuais.
Em razão dessas considerações, com o devido respeito, chego a uma conclusão diversa para conceder a ordem.
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HABEAS CORPUS Nº 5.329 - DF
(Registro nº 96.0077788-8)
Relator: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro
Impetrante: José Cupertino da Luz Neto
Impetrado: Desembargador Relator do Habeas Corpus n Q 748696 da 1 ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
Paciente: Antônio João Correa Caldas
EMENTA: HC - Constitucional- Habeas corpus - Carta precatória - Competência - A Carta Precatória é modalidade de comunicação de atos processuais, como a Rogatória e a Carta de Ordem. Diferentes, revelam ponto comum: o juiz da causa é distinto do juiz do cumprimento da decisão judicial. Na Carta Rogatória, o juiz não tem jurisdição no local do cumprimento. Daí, a necessidade de exiqüibilidade do Estado em que será cumprida (no Brasil, expedida pelo Supremo Tribunal Federal). Na Carta Precatória, há derrogação da competência. Atua, pois, no exercício de sua competência. Cumpre-lhe, ao acolher a solicitação, examinar tanto a forma como a matéria da comunicação lançada pelo deprecante. Exemplificativamente: prisão de menor de 18 anos de idade, incidente prescrição, abolitio criminis. O CÓdigo de Processo Civil de Portugal registra: "se a requisição for para ato que a lei proíba absolutamente (art. 184, nº 1, b). Se o deprecado mandar cumprir solicitação do deprecante, caso ilícito, encampa a ilegalidade. Torna-se, por isso, também autoridade coatora.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conceder a ordem de habeas corpus para que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal prossiga no julgamento, nos termos do voto do Sr. Minitro-Relator. Participaram do
julgamento os Srs. Ministros Anselmo Santiago e William Patterson. Ausentes,justificadamente, os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves.
Brasília, 25 de março de 1997 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Relator.
Publicado no DJ de 22·06·98.
322 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Habeas Corpus impetrado por José Cupertino da Luz Neto contra ato do Exmo. Sr. Des. Relator do Habeas Corpus n Q 748.696 da 1 ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
Consiste o ato impetrado na denegação de liminar requerida em favor do paciente, o qual teve sua prisão civil decretada em 05 (cinco) diferentes ações de depósito.
Entendeu a decisão ora atacada que, não tendo sido as decisões apontadas como ilegais prolatadas por nenhuma autoridade judiciária do Distrito Federal, não poderia a Justiça local, através do MM. Juiz da Vara de Registros Públicos e Precatórios, figurar como autoridade coatora, uma vez que apenas ordenou o cumprimento que lhe fora requisitado, dentro dos devidos limites.
O impetrante infirma a referida fundamentação:
"Em verdade ao dar cumprimento ao mandado de prisão que lhe fora encaminhado o MM. Juiz de Direito da Vara de Registros e Precatórios do Distrito Federal, assumiu a responsabilidade pelo ato coator, até mesmo porque o ato de constrangimento à liberdade de locomoção do paciente é de ser cumprido em área de sua jurisdição, em virtude dos limites territoriais impostos pelo supratranscrito art. 200 do C. de Processo Civil.
Mesmo porque o paciente tem domicílio em Brasília, DF, fato esse que atrai a competência do MM,·Juiz monocrático desta Capital Federal" (fls. 5).
Sustenta, ainda, sofrer constrangimento ilegal ao argumento de que a prisão administrativa por dívida é manifestamente ilegal, uma vez que não autorizada pelo texto constitucional (art. 5Q
, LXVII).
Aduz, também, que os advogados não estariam munidos de poderes para formular pedidos de prisão civil, em flagrante ofensa ao art. 38 do CPC.
Acrescenta o impetrante que as decisões atacadas seriam nulas por absoluta falta de fundamentação do tempo de restrição da liberdade individual do paciente.
Parecer do M.P.F. pela denegação da ordem (1.406/1.408).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO (Relator): Neste habeas corpus, embora o impetrante faça incursão ao mérito, restringe-se em saber se o Juiz de Brasília é ou não autoridade coatora e, conseqüentemente, se o Tribunal de Justiça pode apreciar o habeas corpus.
Este habeas corpus, anota o relatório, reclama a competência do Juízo deprecado que determina o cumprimento da decisão proferida pelo Juízo deprecante.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 323
o venerando acórdão está eruditamente fundamentado. O argumento fundamental consiste em que autoridade judiciária deprecada, porque apenas determina o cumprimento de mandado de prisão expedido por juiz de outra comarca, não pode ser acoimado de autoridade coatora, dado lhe ser vedado o exame substancial do ato. Impõe-se definir a natureza jurídica da Carta Precatória, especialmente o despacho de cumprimento lançado pelo juízo deprecado. A carta precatória é modalidade de comunicação de atos processuais, como a carta rogatória e a carta de ordem. Não obstante, cada qual evidencia características próprias, por isso inconfundíveis. Essas cartas revelam um ponto comum: o juiz da causa é distinto do juiz do cumprimento da decisão judicial; na carta rogatória, ojuiz não tem jurisdição no local do cumprimento, evidenciam-se países soberanos, coloca-se então, insistase, problema de jurisdição. Daí a necessidade de exiqüibilidade do Estado em que será cumprida, no Brasil, expedida pelo Supremo Tribunal Federal. No caso da carta precatória, o deprecante por ser incompetente, na extensão da competência do juízo deprecado, solicita a este o cumprimento da decisão proferida. Em razão disso, há derrogação da competência. O juízo deprecado, por isso, atua no exercício de sua competência. Cumpre-lhe, ao acolher a solicitação, examinar não só a forma como, ainda, a matéria da comunicação lançada pelo deprecante. Evidente, também aqui, há limites. Aliás, o venerando acórdão,
depois de ilustrar com o disposto no art. 184, nº 1, letra b, do Código de Processo Civil Português, ao dispor que a carta pode ser recusada "se a requisição for para ato que a lei proíba absolutamente", exemplifica com solicitação de prisão de menor de dezoito anos de idade. Acrescento dois outros casos, da mesma forma eloqüentes: a prisão, embora caracterizada a prescrição, ou abolir-se o crime. Evidente, o juízo deprecado não reexamina a decisão do juízo deprecante. Todavia, em sendo teratológica ou de evidência solar, tem obrigação de recusar o cumprimento a casos que não tenham cobertura manifesta normativa. Também o juiz não é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei.
Se o deprecado mandar cumprir a solicitação do deprecante, se ilícita, como se diz em Direito Processual Penal, encampa a ilegalidade. Haverá, então, duas autoridades coatoras: o deprecante, porque emitiu a ordem, e o deprecado, porque a adotou, mandando cumpri-la.
O habeas corpus é a ação constitucional que visa fazer cessar ou impedir que ocorra ilegal constrangimento ao exercício do direito de locomoção. Busca, evidentemente, fazer cessar a ilegalidade, emanada do autor intelectual ou do executor do ato ilegal.
A conclusão se evidencia exata uma vez comparada a carta precatória com a carta de ordem: na primeira, não há hierarquia de jurisdição entre os respectivos juízos; na segunda, entretanto, há esse desní-
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vel. o juiz, por exemplo, não pode deixar de cumprir a determinação do Tribunal a que está submetido, modus in rebus. Ressalvem-se as hipóteses de decisão desarrazoada, como ilustração, o caso de determinação absurda, contrastante com todas as máximas das experiências.
o ato impugnado no habeas corpus foi emanado do juízo deprecado, Vara de Registros Públicos e Precatórios da Circunscrição Judiciária de Brasília.
Em sendo assim, data venia, concedo a ordem para o Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal prosseguir o julgamento.
RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 6.584 - PR
(Registro n Q 97.0045495-9)
Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves
Recorrentes: Saturnino Fernandes Netto e outro
Advogados: Dr. Saturnino Fernandes Netto e outro
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
Pacientes: Benício de Almeida Neto, Dario Teraci Fregato, João Quintiliano de Oliveira, Miroel Oliveira Junqueira Parreira e Sérgio Tomio Hara
EMENTA: Criminal. Lei n!2 9.430/96. Art. 83. Condição de procedibilidade.
1. Na pendência de apuração fiscal no âmbito administrativo não há impedimento do oferecimento da denúncia, se na documentação remetida ao Parquet pelo órgão tributário competente existem notícias de crime a ser apurado.
2. RHC improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se-
guir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Ministros Anselmo Santiago e William Patterson. Ausentes, justificadamente, o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro e, ocasionalmente, o Ministro Vicente Leal.
R. Sup. Trib. Just., Brasliia, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 325
Brasília, 11 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.
Publicado no DJ de 02·02-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Cuida-se de recurso ordinário interposto contra acórdão da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná denegatório de habeas corpus impetrado em favor de Benício de Almeida Neto, Dario Teraci Fregato, João Quintiliano de Oliveira, Miroel Oliveira Junqueira Parreira e Sérgio Tomio Rara visando o trancamento de ação penal em curso perante o Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Londrina para apuração de ocorrência de crime contra a ordem tributária (arts. 1Q
, II e 11 da Lei n Q 8.137/90).
Segundo as razões de fls. 661/690, os recorrentes são sócios e gerentes da empresa "Transportadora Rota 90 Ltda.", dedicada ao transporte de mercadorias e fretes em geral. Entendeu a receita estadual existir em sua escrita contábil irregularidades que deram ensejo, após encaminhamento de notitia criminis, a atuação do Ministério Público, através de denúncia, da qual, essencialmente, consta:
" ... cientes do atuar ilícito e com o fim de exonerá-la - como de fato exoneraram-na - da carga
tributária do ICMS incidente e resultante de suas operações mercantis, propiciando, com isso, maiores e indevidos lucros em prejuízo do fisco estadual, fizeram uso de manobras enganosas e fraudulentas, tudo como segue e conforme os autos de infração lavrados pelos Senhores Agentes Fiscais da Secretaria de Estado da Fazenda:
No período compreendido entre 1 Q e 8 de abril de 1991, os denunciados Benício de Almeida Neto, Dario Teraci Fregato, João Quintiliano de Oliveira, Miroel Oliveira Junqueira Parreira e Sérgio Tomio Rara, na forma e para o fim preambularmente expostos, quando de cinqüenta (50) operações mercantis de vendas, deixaram de proceder, deliberada e sistematicamente, ao registro das notas fiscais correspondentes na escrita fisco-contábil- Livro de Registro de Saídas de Mercadorias, ensejando, assim, inclusão mensal do débito fiscal em valor a menor na conta gráfica e nas guias de apuração de ICMS, propiciando, de conseqüência e mediante fraude contra a fiscalização tributária, recolhimento reduzido da carga tributária do ICMS relativa, etc., etc .... " (fls. 663/664)
Sustentam - então - os recorrentes que não houve qualquer omissão, mas apenas falta de registro no Livro de Saída de alguns conhecimentos de transportes, geradores apenas de receitas de intermediação, fora do campo de incidência do
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ICMS e sujeitos apenas ao ISS. Deste modo, patente a aplicabilidade da norma do art. 83, da Lei n Q 9.430, de 1996, porquanto os processos administrativos perante a Receita Estadual estão a carecer de decisão final, estabelecendo a exigibilidade, ou não, do crédito tributário. Acrescentam que o valor de pretenso débito não é determinado e, portanto, nem mesmo pago poderá ser.
Sem contra-razões, ascenderam os autos a este Superior Tribunal de Justiça, opinando a il. Subprocuradora-Geral da República Laurita Hilário Vaz pelo improvimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): A tese central do recurso está ancorada na premissa de que a empresa autuada não se sujeita ao pagamento do ICMS, visto sua atuação restringirse à agenciação ou intermediação de serviços de transportes para terceiros, ou simples despachante de fretes. Uma vez reconhecida administrativamente esta relevante particularidade, excluída estará a exigência tributária e, por via de conseqüência, a pretensa infração penal, assumindo a matéria, como anota o ven. acórdão, "contornos indiscutíveis com a Lei n Q 9.430, de 27 de dezembro de 1996, que, em seu art. 83, prevê a questão da procedibilidade, subordinando literalmente a deflagração do processo-
crime ao encerramento da ação administrativa fiscal" (fls. 650).
O acórdão recorrido, da lavra do eminente Des. Tadeu Costa, com integral propriedade, afastou a questão relativa à sujeição, ou não, da empresa ao pagamento do ICMS, à consideração exata de não ser o habeas corpus meio adequado a semelhante deslinde. De outro lado, a ocorrência de não se conhecer o valor do tributo eventualmente sonegado nenhuma dificuldade ou relevãncia traz à marcha da ação penal, pois, ad exemplum, como relatado na peça de acusação, a infração estaria - também - relacionada com a falta de registro de notas fiscais de operações mercantis no Livro de Registro de Saídas de Mercadorias (fls. 17).
Volta-se, então, ao ponto de partida da inviabilidade de, nos estreitos limites da impetração, se questionar e se conhecer da efetividade, ou não, da prática de operações mercantis pela empresa e de sua sujeição, ou não, ao ICMS. Apenas a instrução, com a faculdade ampla de produção de provas, poderá trazer luz a tão intrincada controvérsia.
No mais, é patente que na pendência de apuração fiscal no âmbito administrativo não há impedimento do oferecimento de denúncia, "se nas peças informativas encaminhadas ao Ministério Público pelo órgão de fiscalização tributária existem notícias de crime ... a ser apurado", conforme anotado às fls. 699.
Quanto ao art. 83 da Lei nQ 9.430/ 96, não há como erigir o término da
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apuração fiscal como condição de procedibilidade. Ajurisprudência do STJ é pacífica, como se vê do parecer ministerial, verbis:
"Recurso ordinário. Habeas corpus. Sonegação fiscaL Trancamento da ação penal no aguardo do desfecho do recurso administrativo. Impossibilidade.
- Carreadas pela denúncia todas as condições para a apuração do crime em tese de sonegação fiscal, não merece trancamento a ação penal por simples alegativa de aguardar-se o desfecho do recurso administrativo interposto, até porque as esferas administrativas e judicial são independentes, como bem decidiu o acórdão impugnado.
- Recurso improvido." (RHC nº 6.051/SP, ReI. Exmo. Sr. Ministro
José Arnaldo, in DJ de 10103/97, pág. 5.981).
"RHC. Penal Tributário. Processual Penal. Crime tributário. Instância administrativa. Condição de procedibilidade. Lei nº 9.430196. O Ministério Público é titular de ação penal. A instância administrativa não constitui condição de procedibilidade.
A Lei nº 9.430/96 tem outro sentido. Determina que, havendo indícios de crime, a autoridade ad· ministrativa deverá comunicar o fato ao Ministério Público." (RHC nº 6.162/SP, Relator Exmo. Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, in DJ de 19/05/97, pág. 20.685).
N estas condições, nego provimento ao recurso.
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 6.971 - RJ
(Registro nº 97.0080259-0)
Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves Recorrente: José Inácio Fortes de Moraes Paredes
Advogado: Dr. Ubiratan T. Guedes Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro Paciente: José Inácio Fortes de Moraes Paredes
EMENTA: RHC. Calúnia e difamação. Não-ocorrência.
1 - A intenção de se defender em inquérito policial, arrolando fatos, cuja ocorrência pelos detalhes fornecidos, o acusado tem certeza ou fundada suspeita, exclui o delito de calúnia porque ausente o dolo imprescindível à sua configuração.
328 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
2 - Da mesma forma, na difamação é exigida a presença do dolo consistente na atribuição de fato desonroso, circunstância que se exclui quando se atua com animus defendendi. Não havendo propósito de ofender, não se caracteriza a figura da difamação.
3 - Precedentes.
4 - Recurso provido para trancar a ação penal.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Ministros Anselmo Santiago e William Patterson. Ausentes,justificadamente, o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro e, ocasionalmente, o Ministro Vicente Leal.
Brasília, 11 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Relator.
Publicado no DJ de 02-02-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Trata-se de recurso ordinário interposto contra acórdão da Terceira Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro denegatório de habeas corpus impetrado em favor de José Inácio Fortes de Moraes Paredes visando o trancamento de ação penal privada que lhe é movida por Crase
- Sigma Empreendimentos Imobiliários S/C Ltda.
Assinala o recorrente que sua conduta não tipifica crime contra honra, pois jamais teve por objetivo alcançar a honorabilidade dos diretores da empresa. Sustenta ser inquestionável que suas declarações prestadas perante a autoridade policial foram simples decorrência de procedimento dos querelantes e não teve animus de ofender, mas, apenas, articular elementos em prol de sua defesa.
Sem contra-razões, ascenderam os autos a este Superior Tribunal de Justiça, opinando a Subprocuradoria Geral da República pelo provimento do recurso, com trancamento da ação penal.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): O recorrente foi acusado de apropriação indébita de importâncias de propriedade de clientes da empresa "CraseSigma Empreendimentos Imobiliários S/C Ltda.", de quem, por vários anos, foi empregado, na qualidade de corretor. Perante a autoridade policial, em razão da imputação es-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 329
clareceu "que os diretores da referida empresa além de possuírem um "caixa dois", desviavam o dinheiro recebido de clientes, para compra de imóveis no Brasil e no exterior, tendo inclusive fornecido o banco no exterior, no qual os referidos diretores são correntistas, além de apontar datas de viagens e imóveis que os mesmos adquiriram, inclusive, mencionando que os valores das escrituras estavam abaixo do preço de mercado" - fls. 04.
Não houve, segundo relatam as razões, intento de caluniar ou ofender, mas apenas esclarecimento do destino dado às quantias entregues pelos clientes, "as quais eram repassadas aos diretores da empresa, sendo que, algumas vezes, depositadas em suas contas correntes" (fls. 05).
Fixou, no entanto, a Terceira Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro, conter a queixa os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, não havendo, pois, que se falar em falta de justa causa.
O órgão ministerial, por intermédio da Dra. Márcia Dometila Lima de Carvalho, por seu turno, opina no sentido do trancamento de ação penal, escudada nas seguintes ponderações:
"O direito fundamental de defesa, circundado por seus caracteres periféricos, encontra como limites os demais direitos, constitucionais ou não. Vale dizer, não pode haver conflituosidade entre os direitos dentro de um sistema
a fim de manter-se sua coerência e unidade. Logo, em nome do direito de defesa, ninguém pode extrapolar suas balizas e, com isso, particularmente na esfera penal, praticar ato típico, ilícito e culpável.
N o entanto, em sede dos direitos à honra, justamente para que não se configure o animus caluniandi ou injuriandi, ou seja, para que o exercício do direito de defesa não extravase seus limites e fique configurado crime contra honra, é que os supracitados caracteres periféricos produzem o chamado animus narrandi. Quer dizer, devem as declarações de defesa, sejam elas prestadas perante a autoridade policial, sejam em juízo, ou em qualquer outro meio de comunicação, ser lançadas como narrativa, pena de ensejar-se crime.
In casu, as alegações constantes do depoimento do Paciente (fls. 31134), não se subsumem, em tese, aos crimes previstos nos arts. 138 e 139 do Estatuto Repressivo. Cuidou o Recorrente, com veraz minúcia, acuidade e sem paixão, de demonstrar que não praticava crime algum; apenas narrou os procedimentos utilizados pela empresa da qual fora empregado, buscando defenderse das acusações que lhe eram imputadas. Tanto é que não apenas apresentou nomes ligados a operações da empresa, datas, números de telefone, mas também documentos que buscavam comprovar sua inocência e, via de
330 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
conseqüência, vieram envolver os nomes dos sócios da empresa.
Assim, não poderia estar a queixa-crime em conformidade com os requisitos do artigo 41 do CPP, segundo fez consignar o v. acórdão atacado, ou seja, não havia fato criminoso, mas apenas defesa narrativa quanto aos fatos imputados ao Querelado.
Certo que os fatos narrados, constituindo tipos penais, devem ser apurados pela autoridade policial que deles tomou conhecimento. E, se falsos, pode o denunciante incorrer no tipo do artigo 339 do Código Penal, eis que estaria dando causa a investigação policial indevida. Por enquanto, cumpre seja dado provimento ao presente recurso para trancar-se ação penal de iniciativa privada contra o Recorrente intentada." (fls. 104/106)
Efetivamente, a intenção de se defender, arrolando fatos, cuja ocorrência, pelos detalhes fornecidos, o recorrente possui certeza ou fundada suspeita, exclui a de caluniar, porquanto ausente o dolo imprescindível à configuração do delito. Esta Corte, pelo voto do Ministro
Bueno de Souza, em julgado colacionado por Alberto Silva Franco, in Código Penal e sua interpretação jurisprudencial- 6ª edição -VoI. I - Tomo II - pág. 2.246, decidiu:
"O dolo específico, requerido pela calúnia, não pode ser deduzido, simplesmente, do citado depoimento, único elemento trazido à colação pelo querelante. Em tal contingência há de presumir, como bem anotou a Corte de Cassação italiana, em aresto colhido por Nelson Hungria, que as informações, ainda que más, foram fornecidas para atender ao pedido, e, não com a intenção de ofender a outrem." (RSTJ 34/237).
Da mesma forma, na difamação (art. 139) é exigida a presença do dolo, consistente na atribuição de fato desonroso, circunstância que se exclui quando o agente atua com animus defendendi. Não havendo propósito de ofender, não se caracteriza a figura da difamação (RSTJ 29/250).
Ante o exposto, dou provimento ao recurso para determinar o trancamento da ação penal.
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.165 - RO
(Registro nº 98.0000882-9)
Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago
Recorrente: Alcilea Pinheiro de Medeiros
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 331
Advogado: Dr. Alexandre Cardoso da Fonseca
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia
Pacente: Alcilea Pinheiro de Medeiros
EMENTA: RHC - Dispensa de licitação - Paciente que, na qualidade de Procuradora de Estado, responde consulta que, em tese, indagava da possibilidade de dispensa de licitação - Denúncia C0111- base no art. 89, da Lei n!28.666/93-Acusação abusiva-Mero exercício de suas funções que requer independência técnica e profissional.
1. Não comete crime algum quem, no exercício de seu cargo, emite parecer técnico sobre determinada matéria, ainda que pessoas inescrupulosas possam se locupletar às custas do Estado, utilizando-se desse trabalho. Estas devem ser processadas criminalmente, não aquele.
2. Recurso provido, para trancar a ação penal contra a paciente.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Vicente Leal, por maioria, em dar provimento ao recurso para conceder a ordem. Vencido o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.
Brasília, 21 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 22-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de recurso ordinário (fls. 154/165), formulado contra aresto da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (fls. 139/151), que considerou válida a denúncia ofertada pelo Ministério Público Estadual contra a paciente, pelo fato desta ter elaborado um parecer que, em tese, viabilizava a dispensa de licitação em determinado caso, enquadrando-a nas disposições do art. 89 da Lei n Q 8.666/93.
• O Ministério Público Federal, em
parecer subscrito pelo ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. José Flaubert Machado Araújo (fls. 191/195), opina pelo provimento do recurso.
É o relatório.
332 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
VOTO
O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): A paciente, Procuradora do Estado, respondendo a uma consulta formulada pelo Superintendente de Comunicação Governamental (fls. 44/51), opinou que, em tese, seria possível a dispensa de licitação, na hipótese formulada pelo consulente, recomendando, ainda, que se tomasse determinada cautela para evitar o superfaturamento, sendo o seu parecer referendado pelo ilustre ProcuradorGeral do Estado Adjunto, Dr. Valdecir da Silva Maciel. Tal peça lhe valeu a denúncia por suposta infringência ao art. 89, da Lei n Q 8.6661 93, que soa:
"Art. 89 - Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou inexigibilidade;
Parágrafo único: Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou in exigilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público."
Fácil é de ver que a denúncia é despropositada, abusiva até. Não é plausível a persecutio criminis contra quem que simplesmente, no pleno exercício de suas funções, emite opinião sobre matéria teórica, referendada por sua Chefia, pouco importando que espertalhões venham a usar seu trabalho para, em
etapa posterior, se locupletarem às custas do erário público.
N em por estar jungido ao Estado, o advogado perde a sua independência técnica, ficando amarrado à opinião oficial, como nos estados totalitários. Processar um profissional por externar, livremente, sua opinião, é uma condenável forma de censura a uma atividade que deve ser exercida com ampla liberdade, pois, como diz o art. 18 dos Estatutos dos Advogados, aplicável ao caso, a relação de emprego não retira do advogado (mesmo que do Estado, me permito acrescentar), a sua isenção técnica, nem reduz a sua independência profissional.
Aqueles que usaram maio parecer que sejam, efetivamente, processados e condenados. Jamais quem manifestou sua opinião, em tese, repita-se, sobre determinada matéria, no mero exercício de suas funções, parecer esse que, além do mais, não vinculava a Administração Pública, que dele poderia discordar, deixando de lhe dar efeitos concretos.
Assim, sem uma demonstração mais eloqüente de que a parecerista fizesse parte de um amplo esquema de corrupção no Estado, locupletando-se com essa atividade, não é possível incluí-la na peça vestibular acusatória, cingindo-se sua ação tão-somente em opinar, livremente, sobre tema que lhe foi submetido, direito que lhe deve ser sempre assegurado e que em hipótese alguma pode justificar uma vexaminosa ação penal.
Acolho, pois, o parecer ministerial e dou provimento ao recurso or-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 333
dinário, trancando a ação com referência à paciente.
É o meu voto.
VOTO- VISTA
o SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Data venia, nego provimento ao recurso.
A denúncia de fls. 15/32 não se restringe a afirmar a elaboração de parecer. Ao contrário, menciona ser meio para obtenção de vantagem ilícita.
A imputação descreve:
A conduta de todos entrelaçase, é um sucedâneo de vínculos visando a dilapidação do patrimônio público, não podemos dizer que há condutas estanques, compartimentadas, todos agiam visando o locupletamento ilícito.
Quanto à moralidade administrativa, isto é, o princípio de ética na condução da coisa pública, que implica em sujeição a ser honesto e probo na direção da coisa pública, verga constitucional, é rompido de forma como foi, no caso presente, a ordem pública está lesada, nada mais justo que a prisão cautelar destes indivíduos seja decretada pelo Poder Judiciário, pois desrespeitar o patrimônio público, que implicou no desvio de quase hum milhão de dólares e poderia, nesta oportunidade, já ter ocorrido a subtração de aproximadamente R$ 3.000.000,00, em apenas 90 dias, se não fosse a pronta inter-
venção do cidadão Eduardo Valverde do Juízo da Vara da Fazenda Pública desta Comarca." (fls. 29)
N ego provimento.
VOTO- VISTA
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: No presente recurso ordinário, a recorrente - Procuradora do Estado de Rondônia - pugna pelo trancamento de ação penal na qual é acusada da prática do delito previsto no art. 89, da Lei n Q 8.666/93, que acrimina quem dispensa ou inexige licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixa de observar formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade, bem como aquele que, concorrendo para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se do ato ilegal.
A sua conduta, conforme descreve a peça de acusação, consistiu em emitir parecer técnico em que, atendendo a consulta formulada por di-. rigente de órgão estatal, opina, em tese, pela dispensa de licitação, parecer este referendado pelo Procurador-Geral do Estado.
A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer da lavra do ilustre Dr. José Flaubert Machado Araújo, entende que não há justa causa para a ação penal, pois a conduta é atípica, sendo certo que a paciente exarou manifestação sobre hipótese em tese, pois sequer era conhecedora do processo de licitação, não sendo, de outra parte autoridade administrativa responsá-
334 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
vel pela contratação e, por isso, sem poderes para dispensar ou inexigir a licitação.
O ilustre Relator Ministro Anselmo Santiago, em seu ilustrado voto adotou o mesmo entendimento, verberando ser a denúncia despropositada e abusiva, não sendo plausível acusar-se alguém da prática de crime por haver, no exercício de suas funções, emitido parecer teórico, devendo a ação punitiva recair sobre aqueles que mal se utilizaram do parecer para praticar atos de corrupção.
Dessa posição discordou o eminente Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, que entendeu dever prosseguir a ação penal, pois a denúncia indicou ser o parecer meio para a obtenção da vantagem ilícita.
Peço vênia a Sua Excelência para acompanhar o Relator.
Efetivamente, a conduta da recorrente é penalmente atípica, não se enquadrando, sequer em tese, na moldura do art. 89, da Lei nQ 8.666/ 93.
Assim, acompanho o Relator, dando provimento ao recurso.
É o voto.
VOTO
O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator para trancar a ação penal com a devida vênia do voto divergente do Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.
RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.332 - RJ
(Registro nQ 98.0013180-9)
Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago Recorrente: Anderson Reis Pessoa Advogado: Dr. Antonio Jorge de Souza Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro Paciente: Anderson Reis da Silva Pessoa (preso)
EMENTA: RHC - Paciente denunciado por roubo qualificado - Alegação de que a polícia teria agido "à moda da casa", sem indicar o que, efetivamente, ocorrera - Motivo só apontado em grau de recurso - Análise inviável, pela supressão de instância -Morosidade do processo afastada - Súmula 52/STJ - Improvado tratamento desigual entre as partes - Prisão preventiva fundamentada.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 335
1. Não declinado, em primeiro grau, o motivo da alegada nulidade, não se poderá conhecê-lo em segundo, quando o mesmo é revelado, sob pena de supressão de instância.
2. Se o feito já se acha em alegações finais, finda, pois, a instrução, não mais há de se falar em excesso de prazo, aplicando-se, à hipótese, o verbete da Súmula n Q 52/STJ.
3. Não se reconhece tratamento desigual entre as partes, se a acusação tem mais requerimentos deferidos, do que a defesa. O importante não é o seu número, mas a substância deles.
4. Fundamentada a prisão preventiva e entendendo o magistrado processante que tais razões subsistem, não há que se revogá-la, ainda mais se o feito já se encontra em vias de solução definitiva, quando se reapreciará, sem dúvida, tal situação.
5. Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, em negar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justificadamente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.
Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 18-05-98.
RELATÓRIO
dinário em habeas corpus (fls. 42/ 44), contra aresto da 4ª Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro (fls. 38/39), que denegou a ordem ali impetrada, onde se objetivava a nulidade do processo penal a que responde o paciente, por vício no inquérito policial e tratamento desigual entre a defesa e acusação, além da revogação da prisão preventiva e da soltura por excesso de prazo.
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República, Dra. Maria Eliane Menezes de Farias (fls. 53/56), opina pelo improvimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO ANSELMO O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): O paciente
SANTIAGO: Trata-se de recurso or- está sendo processado perante a 1 ª
336 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
Vara Criminal da Ilha do Governador (RJ), por crime de roubo qualificado, sendo que, quando das informações de fls. 21/23, de setembro do ano findo, os autos já se encontravam para alegações finais, acreditando-se que, a essa altura, já haja sentença.
N a peça vestibular alegou-se que o inquérito fora feito "à moda da casa", sem se declinar, no entanto, que moda seria essa, somente agora revelada, de que, no interrogatório policial, o paciente, menor, da primeira vez não teve um curador e da segunda, quando tal ato foi reprisado, foi-lhe nomeado, para tais funções, um integrante da própria polícia.
Bem por isso tal alegação não foi examinada no juízo de origem, e fazê-lo agora, representaria a supressão de uma instância.
Quanto à morosidade do processo, tal alegação perdeu força com a informação judicial, de que o feito já se avizinhava de seu final, o que não foi desmentido pelo impetrante, aplicando-se ao caso o verbete da Súmula nº 52/STJ.
Também ficou indemonstrado o tratamento desigual entre as par-
tes, só porque a acusação teve mais pleitos deferidos, do que a defesa, importando, de verdade, não a quantidade deles, mas a justeza do que pedido e isso não foi questionado.
Finalmente, não ficaram demonstrados os motivos para a revogação da prisão preventiva, que não se resumem à menoridade, primariedade, residência fixa e família constituída, se outras, apontadas no decreto confinante (fls. 32 e vº), ainda sobrevivem, sendo certo que a vítima, pelo depoimento juntado às fls. 34/35, não disse que o paciente não era a pessoa que a assaltara, como se pretende no recurso, mas sim que, por ser o local razoavelmente escuro, não tinha condições de reconhecê-lo, o que é bem diferente, podendo a culpabilidade ser demonstrada, seguramente, por outras provas. Ademais, aproximandose o feito de uma solução definitiva, é certo aguardar que tal situação seja devidamente reestudada.
Enfim, nada havendo que remediar, acolho o parecer do órgão ministerial e nego provimento ao recurso.
É o meu voto.
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.366 - GO
(Registro nº 98.0016225-9)
Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago
Recorrente: Henrique Barbacena Neto
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 337
Advogado: Dr. Henrique Barbacena Neto
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
Paciente: Rubens de Oliveira Machado Junior
EMENTA: Recurso em habeas corpus - Tenente da Polícia Militar que, em serviço, abandona seu posto, embriaga-se e espanca um civil - Crimes previstos na legislação militar - Incompetência da justiça castrense, alegação quanto aos dois últimos crimes - Situação que depende do reexame de fatos e provas, o que não se permite na via estreita do writ.
1. Havendo a indicação de que o réu estava em serviço, o abandono do posto não o retira dessa condição, mormente se os crimes posteriores que lhe são atribuídos,. previstos no Código Penal Militar, foram cometidos quando em uso de viatura da sua corporação e possivelmente fardado, o que firmaria a competência da justiça castrense.
2. Para se concluir quanto à incompetência desta e competência da Justiça Comum Estadual, haver-se-ia de reexaminar fatos e provas, o que não se concilia com os estreitos limites de um mandamus.
3. Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, em negar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro e Vicente Leal. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justificadamente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.
Brasília, 05 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 25-05-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de habeas corpus (fls. 34/41), contra acórdão da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (fls. 251 30), que denegou o writ ali impetrado, sobre o fundamento de que o paciente está sendo processado, ao menos em parte, por juízo incompetente.
O Ministério Público Federal, em parecer subscrito pela ilustre Sub-
338 R Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
procuradora-Geral da República, Dra. Márcia Dometila Lima de Carvalho (fls. 54/57), opina pelo improvimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): O paciente, Tenente da Polícia Militar, quando de serviço, abandonou seu posto, embriagou-se e espancou um civil.
Todos esses delitos são previstos na legislação castrense, ao contrário do exemplo fornecido pelo recorrente, em que parte não o era, razão pela qual não se poderia, a priori afastar a competência da Justiça Militar para examiná-los, mormente na via estreita do mandamus, imune à apreciação de fatos e provas.
Ademais, não se observa, de forma clara e patente, essa acenada incompetência parcial, vez que, em-
bora tenha abandonado o seu posto, o militar estava devidamente escalado e em situação de serviço, devendo assim ser considerado para efeitos penais.
Além do mais, valeu-se de um veículo da PM para circular por diversos bares e uma casa de prostituição, onde bebeu até à exaustão, sendo que foi nessa mesma viatura que teria feito a abordagem do civil e, após revistá-lo, submeteu-o a um severo espancamento.
Tudo leva a crer que estivesse fardado, para que o particular se deixasse revistar, mais uma razão para firmar a competência dajustiça castrense e não da comum.
Enfim, é situação a depender da colheita de provas, o que não se permite na via eleita.
À vista do exposto, acolho o parecer ministerial e nego provimento ao recurso.
É o meu voto.
RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.514 - RJ
(Registro nQ 98.0026364-0)
Relator: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro
Recorrente: Werneksandro Pereira Lopes
Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro
Paciente: Werneksandro Pereira Lopes (preso)
Advogado: Dr. Luiz Paulo Pereira Oviedo
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 339
EMENTA: RHC - Processual Penal - Sentença condenatória - Réu preso - Regime semi-aberto - Princípio da proporcionalidade - Réu preso, no curso do processo, em sendo condenatória a sentença, deve ser mantido na mesma situação jurídica. Todavia, se o regime aplicado for o semi-aberto, outra, a solução. Decorrência do princípio da proporcionalidade. Caso contrário, conferir-se-ia tratamento igual para situações diferentes, ou seja, recomendada quando o regime inicial fosse fechado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso e ordenar a expedição de alvará de soltura se por aI não estiver o paciente preso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Ausentes, justificadamente, o Sr. Ministro Vicente Leal e, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.
Brasília, 02 de junho de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Relator.
Publicado no DJ de 29-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: Recurso Ordinário interposto por Werneksandro Pereira Lopes, em seu favor, in-
conformado com v. acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, denegatório de habeas corpus impetrado objetivando ser concedido ao impetrante o direito de recorrer em liberdade.
O v. acórdão restou assim ementado:
"Habeas corpus. Primariedade e bons antecedentes.
Na esteira da Súmula n Q 9 do E. STJ e do vetusto ensinamento de nossa Corte Maior, "preso fica preso, solto fica solto", e de fato não teria sentido que o condenado, após responder a todos os atos do processo preso preventivamente, malgrado primário e de bons antecedentes, agora que viesse a ser condenado, com um juízo de censura ainda que provisório, fosse solto para, caso confirmada a sentença, novamente fosse recolhido.
Ordem denegada." (fls. 24)
Parecer do Ministério Público Federal pelo não provimento do recurso (fls. 40/44).
É o relatório.
340 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
VOTO
O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCRIARO (Relator): A jurisprudência deste Tribunal, coincidindo com o entendimento do E. Supremo Tribunal Federal, consolidou-se, em atenção às características da prisão cautelar, no sentido de ser mantida a situação jurídica encontrada pela sentença condenatória. Assim, estando preso o réu, continuará detido; em contrapartida, se responde o processo em liberdade, assim continuará.
"RHC - Processual Penal- Apelação - Liberdade - O réu, como regra, aguarda o julgamento em liberdade. Em havendo prisão processual cautelar, antes da sentença, manter-se-á a constrição ao exercício do direito de liberdade." (RRC nº 6.574/SP)
O caso dos autos apresenta uma particularidade.
O paciente se encontrava preso quando foi condenado (fls. 25). O re-
gime inicial estabelecido pela sentença - semi-aberto - é particular de relevo.
Em sendo confirmada a decisão, o réu não será submetido ao regime fechado, terá, então, tratamento menos rigoroso.
Cumpre pensar o princípio da proporcionalidade. Não se pode colocar, na mesma esteira, o condenado a regime fechado e a regime semi-aberto. A presunção de inocência, a par do proporcional, da personalidade do réu e características do delito devem ser invocados. Caso contrário, a decisão será meramente formal. Cumpre adotar a solução mais favorável.
No balanço da personalidade e da conduta, cumpre conferir maior atenção à primeira. Aqui, está o homem; ali, um acontecimento provocado pelo homem. Pode, quem sabe, ser isolado, excepcional.
Dou provimento ao recurso.
Expeça-se mandado de soltura, se por aI não estiver preso.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 8.399 - RS
(Registro n Q 97.0019120-6)
Relator: O Sr. Ministro William Patterson
Recorrente: Isolde da Silva Gressler
Advogados: Drs. Mário Bernardo Sesta e outros
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 341
Impetrado: Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul
Advogados: Drs. Adriana Maria Neumann e outros
EMENTA: Administrativo. Atos. Ilegalidade. Desfazimento. Tempo de serviço. Contagem. Serventia não oficial.
- Ao considerar o tempo de serviço de natureza particular (serventia), para fins de gratificações e vantagens junto ao serviço público, sem autorização legislativa válida, à Administração era, como é, lícito desfazer o ato, sem lugar para em oposição, alegarse amparo com base no princípio do direito adquirido.
- Recurso desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro, Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Vicente Leal.
Brasília, 18 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.
Publicado no DJ de 23-03·98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: Adoto como relatório
a parte expositiva do parecer do Ministério Público Federal (fls. 121/ 122):
"Isolde da Silva Gressler, ajudante da serventia do registro civil das pessoas naturais de Cachoeira do Sul (RS), ajuizou mandado de segurança contra o ato do Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, publicado no Diário da Justiça de 19/10/95, que tornou sem efeito atos anteriores, praticados respectivamente em 04/04/90 e 26/04/91, pelos quais se havia deferido à mesma a gratificação adicional de 25% e 09 (nove) Avanços Trienais, atos estes praticados em 04/04/90 e 26/04/91, respectivamente, e qualificandoo como ilegal e ofensivo a direito líquido e certo, pede o restabelecimento das vantagens suprimidas.
A autoridade apontada como coatora, nas suas informações
342 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
(fls. 23/24) sustentou a legitimidade do ato impugnado na medida em que a administração pode invalidar os seus próprios atos quando ilegais e, no caso, os benefícios suprimidos haviam sido indevidamente concedidos porque se computou como tempo de serviço público, que era requisito necessário para os benefícios, tempo que na realidade era de serviço particular, que a impetrante exerceu como empregada do titular do cartório.
O Tribunal a quo, em decisão tomada por maioria de votos, ao fundamento de que o tempo de serviço particular é imprestável para fins de gratificação e avanços junto ao serviço público, denegou a segurança e reconheceu a legitimidade do ato impugnado (fls. 56/72).
No recurso ordinário de fls. 74/ 84 a recorrente pondera que o ato atacado fere o seu direito líquido e certo, relativamente à irredutibilidade da remuneração e à garantia do devido processo legal, porque lhe foi imposta unilateral redução na remuneração, sem oportunidade para manifestar defesa, razão pela qual postula o provimento do recurso.
O órgão ministerial opinou no sentido do desprovimento do recurso (fls. 124).
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): Sob o ale-
gado manto do direito adquirido, pretende-se neste mandado de segurança preservar vantagem concedida ao arrepio da lei. O pleito está desvestido de irrefutável razoabilidade, por isso que não se pode, como é sabido, conferir validade a ato administrativo que nasce sob o estigma do desamparo legislativo.
Direito líquido e certo é aquele que se constitui e se aperfeiçoa ao abrigo de expressa autorização legislativa. Se isso não ocorre, como no caso destes autos, improspera qualquer tentativa de superar o vÍcio. Demais disso, a Administração não é escrava dos seus próprios atos, quando expedidos sem amparo na lei. Daí o enunciado da Súmula n Q 473 do STF.
Vale acrescentar, ainda, que igual orientação há de prevalecer quando existindo legislação disciplinadora, seu comando viola postulado constitucional, Federal ou Estadual, conforme o caso.
Valiosas as observações contidas no pronunciamento do ilustre Suprocurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, ao advertir (fls. 122/124):
"O princípio da legalidade (art. 37, CF/88) aplicado à Administração Pública significa que a ela só é permitido fazer o que a lei autoriza, conclusão que há de ser ainda mais enfática quando se trata do regime estatutário dos seus servidores. Se a legislação estadual, e esse é o caso dos autos, exige como requisito para que a Administração Pública conceda
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 343
a gratificação adicional e os avanços trienais que o tempo de serviço a ser considerado seja público, é evidente que os atos que deferiram as vantagens à recorrente, sem a observância do requisito em referência, visto que foi considerado tempo de serviço privado, são nulos e, portanto, não geraram qualquer efeito.
Por outro lado, tenho reiteradamente afirmado que a concessão ilegal de vantagem funcional não gera direito em favor do beneficiário, muito menos direito adquirido à manutenção do ato ilegal e dos seus efeitos. O Supremo Tribunal Federal, mais de uma vez, já proclamou em hipótese assemelhada sob o enfoque jurídico - em todas elas tratava-se de deliberação do Tribunal de Contas da União que excluiu, em processo de registro de aposentadoria de magistrado federal, a contagem de tempo de serviço privado considerado para efeito de percepção do adicional por tempo de serviço -, que não se configura o direito adquirido quando o alegado reconhecimento administrativo da vantagem funcional resulta de ato ilegal:
"Mandado de segurança. Magistrado do Distrito Federal. Decisão do Tribunal de Contas da União que, no processo de sua aposentadoria, excluiu, do cálculo dos proventos, o tempo de serviço prestado a entidade particular e a vantagem prevista no art. 184, inc. lI, da Lei nº 1. 711/52.
Legitimidade do referido ato.
Inexistindo lei autorizadora de contagem de tempo de serviço em atividade particular, para efeito do cálculo de adicional por tempo de serviço, não há falar-se em direito adquirido ao cômputo da aludida vantagem nos proventos de aposentadoria. O deferimento dos adicionais, na atividade, foi ato nulo, insuscetível de gerar direito. Precedentes do STF (Repr. nº 1.490 - RTJ 128/43 e MS nº 21.606-DF, DJ de 14-5-93).
De outra parte, o cargo de Desembargador é da última classe da carreira da Magistratura do Distrito Federal, para o efeito do art. 250 da Lei nº 8.112/90.
Segurança denegada."
"Constitucional. Administrativo. Magistrado. Adicional por tempo de serviçà. Serviço prestado a pessoas jurídicas de direito privado.
I - Não se computa, para o fim de concessão de adicional por tempo de serviço, o tempo de serviço prestado a empresas de direito privado não integrantes da administração pública indireta.
II - Representação 1.490-DF - representação de interpretação de lei em tese. RTJ 128/ 43.
III - Inocorrência de direito adquirido em razão de a aver-
344 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
bação ter sido realizada anteriormente à decisão proferida na Rp 1.490-DF.
V - Mandado de segurança indeferido."
Porque beneficiária de atos administrativos ilegais, a recorrente não está protegida pelo princípio do direito adquirido, nem pelo da irredutibilidade de vencimentos, visto que nenhum dos dois protege o servidor público da anulação de ato ilegal. Nenhum dos mencionados princípios pode gerar à percepção de remuneração ilegalmente calculada.
Finalmente, tendo em vista que a invalidação do ato não decorreu de falta imputável à recorrente, mas de ilegalidade, não procede o inconformismo quanto à ausência de processo administrativo, onde lhe fossem assegurados o contraditório e a ampla defesa. Não procede, portanto, a alegada desconsideração à garantia do devido processo legal. O seu direito de questionar judicialmente o ato praticado foi e está sendo legitimamente exercido."
Aliás, a jurisprudência pretoriana, ao examinar casos semelhantes, já repeliu benefícios das espécies, consoante se infere desses acórdãos, respectivamente, do STF e do STJ.
"Servidor público. Tempo de serviço prestado como auxiliar de cartório sem vínculo com o Estado. Contagem para efeito de aposentadoria. Afronta aos arts. 108
e 200 da Constituição Federal precedente. Precedentes da Corte.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal está orientada no sentido de que não se concilia com a Constituição Federal de 1969 (arts. 108 e 200) a contagem, para todos os efeitos legais, do tempo de serviço prestado por auxiliar de cartório, sem qualquer vínculo com o Estado.
Recurso extraordinário conhecido e provido." (RE n Q 140.897/ SP; Relator Ministro Ilmar Galvão).
"Ementa: Recurso especial. Administrativo. Serviço prestado junto a cartório não oficializado. Contagem de tempo de serviço. Serviço público. Impossibilidade. Precedentes.
A jurisprudência desta Corte, bem como do Excelso Pretório, é forte no sentido de que, desta forma, não tendo o servidor vínculo com o Estado, não sendo ele funcionário público, não faz jus a vantagens atribuídas para funcionários públicos" (REsp n Q 61.361/ SP; Relator Ministro José Arnaldo da Fonseca).
A mesma orientação prevalece no âmbito do Tribunal de Contas da União, conforme se vê da decisão pertinente ao Processo n Q TC 700.219/ 85-4, ao acolher parecer do MP, nestes termos, no que interessa:
"O período prestado pelo servidor, na condição de Datilógrafo
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 345
contratado pelo Titular do Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais e Anexo de Pirangi (fls. 40), não é computável para efeito de gratificação adicional por tempo de serviço (Sessão de 25.07.1990, TC - 000.413/86-1, Anexo XXVIII da Ata n Q 37/90-Plenário), ainda que autorizado por lei estadual, uma vez que guarda similitude com julgados
desta corte (Decisões de 13.04.1978, TC - 000.691/77, Ata n Q 22/78; 02.02.1982, TC - 033.132/81, Anexo XI da Ata n Q 05/82; e 07.04.1988, TC's - 576.155/87-0 e 576.568/87-2, Anexo IV da Ata n Q 07/88 - 2ª Câmara)."
Ante o exposto, nego provimento.
RECURSO ESPECIAL NQ 90.458 - PE
(Registro n Q 96.0016413-4)
Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal
Recorrente: Ministério Público Federal
Recorridos: Erotildes Salviano Alves e Ivanete de Andrade Souza
Advogados: Etiene Niete de Castro - defensor e Monica Maria Lins Maciel - defensora
EMENTA: Processual Penal. Apelação criminal. Ministério Público. Intervenção no processo. Omissão. Presença do Procurador da República na sessão de julgamento. Nulidade. Inexistência.
- Em tema de nulidade no processo penal, o princípio fundamental que norteia o sistema preconiza que para o reconhecimento da nulidade do ato processual é necessário que se demonstre, de modo objetivo, os prejuízos conseqüentes, com influência na apuração da verdade substancial e reflexo na decisão da causa (CPP, art. 566).
- Embora haja disposição expressa no sentido de ser dado vista ao Ministério Público com assento no Tribunal antes do julgamento de apelação criminal (CPP, art. 610), tal omissão, que não consubstancia nulidade absoluta, foi sanada com a presença do Parquet na sessão de julgamento, momento em que não manifestou qualquer oposição.
- Recurso especial não conhecido.
346 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Votaram os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Anselmo Santiago e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.
Brasília, 26 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.
Publicado no DJ de 22-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: O ilustre Juiz Federal Manoel de Oliveira Erhardt, titular da 3ª Vara da SJ/PE, sentenciando nos autos da ação penal proposta contra Erotildes Salviano Alves e outro sob a acusação de prática do crime de prevaricação absolveu os réus por falta de provas (fls. 745/748).
A sentença monocrática foi confirmada por decisão unânime da Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da Quinta Região, consoante acórdão da lavra do então Juiz José Delgado, hoje compondo esta Corte (fls. 775/783).
O Ministério Público Federal opôs embargos de declaração, alegando
que houve omissão no tocante à intervenção do Ministério Público Federal como fiscal da lei, com violação aos arts. 37, I, e 68, da LC 751 93, e aos arts. 610 e 613, do CPP (fls. 786/789).
Ao rejeitar os embargos, a Egrégia Turma, após acentuar que o representante do Ministério Público Federal esteve presente à sessão de julgamento e não ofereceu qualquer oposição, sustentou que a ausência de ato processual sem repercussão na causa consubstancia nulidade à míngua de prejuízo (fls. 796).
Irresignado, o Ministério Público Federal interpõe o presente recurso especial com invocação da alínea a do permissivo constitucional, insistindo que o acórdão em tela negou vigência aos arts. 564, lU, d, e 610, do Código de Processo Penal (fls. 799/802).
Não oferecidas as contra-razões e admitido o recurso (fl. 807), ascenderam os autos a esta Corte, ensejo em que a douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer de fls. 812/816, opina pelo provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): A questão posta em julgamento, embora não debatida no acórdão, foi objeto de prequestionamento na via de embargos de declaração, providência pertinente, de vez que a alegada violação decorreu do julgamento sem a prévia manifestação do Ministério Público.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 347
Tenho, assim, como presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso.
No mérito, não vejo por que proclamar a nulidade do acórdão pela única razão de não se ter dado vista do processo à Procuradoria Regional da República antes do julgamento da apelação.
É certo que o art. 610, do CPP, contém expressa disposição no sentido de ser dado vista ao Ministério Público com assento no Tribunal antes do julgamento da apelação.
Todavia, tal omissão não chega a configurar nulidade absoluta, passível de contaminar irremediavelmente o julgamento.
Ora, em tema de nulidade no processo penal, o princípio fundamental que norteia o sistema preconiza que para o reconhecimento da nulidade do ato processual é necessário que se demonstre, de modo objetivo, os prejuízos conseqüentes com efetiva influência na apuração da verdade substancial e reflexo na decisão da causa. Tal princípio encontra-se entronizado nos arts. 563 e 566, do Código de Processo Penal,
e foi objeto de especial destaque do mestre Francisco Campos, na Exposição de Motivos apresentadora do citado diploma legal, ensejo em que proclamou que 'nenhuma nulidade ocorre se não há prejuízo para a acusação ou para a defesa' (sic)."
No caso, consoante acentuado no acórdão proferido no julgamento dos embargos de declaração, o representante do Ministério Público Federal esteve presente à sessão de julgamento da apelação e não manifestou qualquer oposição. Ressalte-se que a apelação fora interposta pelo Ministério Público com atuação no primeiro grau, o que afasta qualquer idéia de que a falta de prévia intervenção na segunda instância poderia causar prejuízo para a acusação.
Assim, é de se reconhecer que a questionada omissão em nada repercutiu no julgamento da apelação. E como já acentuado, sem prejuízo não há nulidade.
Isto posto, não conheço do recurso especial.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL Nº 132.539 - SC
(Registro nº 97.0034758-3)
Relator: O Sr. Ministro William Patterson Recorrente: Ministério Público do Estado de Santa Catarina Recorrido: Gerhard Bozler Advogado: Dr. Miguel Teixeira Filho
348 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
EMENTA: Penal. Seqüestro de bens. Crime de sonegação fiscal. Decreto-Lei n 9 3.240, de 1941. Aplicação.
- A teor de orientação já firmada na Sexta Turma do STJ, não está revogado, pelo Código de Processo Penal, o Decreto-Lei nº 3.240, de 1941, no ponto em que disciplina o seqüestro de bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuízo para a fazenda pública.
- Recurso Especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Anselmo Santiago, por maioria, conhecer do recurso e dar-lhe provimento .. Vencido o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. Participaram do julgamento os Srs. Ministros William Patterson e Luiz Vicente Cernicchiaro. Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves.
Brasília, 01 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.
Publicado no DJ de 09·02·98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: A matéria versada nestes autos foi assim sumariada no Tribunal de origem (fls. 62/64):
"Perante o Juízo de Direito da 1 ª Vara Criminal da Comarca de Joinville, o representante do Ministério Público requereu liminarmente medida cautelar assecuratória de seqüestro de bens (devidamente identificados às fls. 3 e 4) de Gehard Bozler, denunciado como incurso nas sanções do artigo 2Q
, n, da Lei 8.137/90, porque supostamente teria praticado delito contra a ordem tributária, fundamentando, o Dr. Promotor, a sua pretensão nos artigos 1 Q c/c o 2Q
, caput, do Decreto-Lei n Q 3.240, de 8/5/1941, e, por último, a especialização da hipoteca legal dos referidos bens, na forma preconizada no art. 135 e parágrafos, do Código de Processo Penal.
Decidindo liminarmente, o Dr. Juiz a quo indeferiu o pedido inicial, por entender que restou revogado o Decreto-lei n Q 3.240/41, embasador da pretensão, com a entrada em vigor do Código de Processo Penal, e também porque todos os imóveis descritos e individualizados, cujo seqüestro está a ser pleiteado, foram incorporados ao acervo patrimonial do acusado não por atos inter vivos,
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 349
mas sim em decorrência de sucessão causa mortis, através de auto de partilha datado de 21/05/ 91, não podendo presumir-se, assim, a proveniência ilícita de tais bens.
Inconformado com a decisão, o órgão do Ministério Público a quo interpôs recurso de apelação, forte no art. 593, inciso lI, do Código de Processo Penal, objetivando a reforma da sentença, por entender não estar revogado o Diploma Legal supedaneador da pretensão, e, conseqüentemente, o acolhimento do pedido formulado.
O acusado, opportuno tempore, apresentou suas contrarazões de apelação, através de defensor constituído, versando sobre matéria constitucional, aduzindo que a bem lançada sentença não deve sofrer qualquer reparo, posto que o Decreto-lei 3.240/41 encontra-se revogado pela legislação processual vigente, pois, caso contrário, estaria em evidente confronto com os direitos e garantias do cidadão, expressamente inscritos na Constituição Federal de 1988, especificamente o art. 52, LIV e LV (devido processo legal e ampla defesa). Por fim, pleiteou que antes da apreciação do mérito, fossem os autos enviados ao Pleno desta Corte, para a apreciação da inconstitucionalidade argüida.
Prestadas as informações, nesta Jnstância a douta Procuradoria Geral de Justiça manifestouse, em parecer da lavra do Dr.
Agamenon Bento do Amaral, pelo desprovimento do recurso interposto."
O apelo foi desprovido, em acórdão refletido na respectiva ementa, escrita nestes termos (fls. 62):
"Apelação criminal. Medida cautelar assecuratória de seqüestro de bens, como garantia de débito fiscal junto à fazenda pública, motivada pelo disposto nos arts. 1 Q e 2Q
, do Dec.-Lei 3.240/ 41. Indeferimento do seqüestro cautelar no primeiro grau. Recurso ministerial visando a reforma da decisão monocrática. Imóveis adquiridos em decorrência de sucessão causa mortis (auto de partilha). Bens que não foram obtidos com o produto da sonegação fiscal denunciada. Impossibilidade do deferimento da medida cautelar. Revogação, ademais, do Decreto-Lei fundamentador do pedido, pela entrada em vigor do Código de Processo Penal. Sentença confirmada. Recurso desprovido."
Com fundamento nas alíneas a e c, do permissivo constitucional, o Ministério Público do Estado de Santa Catarina ofertou o presente recurso especial, alegando negativa de vigência do Decreto-Lei n 2 3.240, de 1941, além de divergênciajurisprudencial.
Nesta Corte, o Ministério Público Federal manifestou-se no sentido do provimento do recurso (fls. 140).
É o relatório.
350 R. Sup. Trib. Just., Brasilia, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
VOTO
O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): A discussão posta neste recurso especial gira em torno da revogação ou não do Decreto-Lei n Q 3.240, de 1941, visto como o v. acórdão impugnado endossou a tese do juízo monocrático no sentido de que o referido ordenamento perdeu eficácia com a promulgação do Código de Processo Penal, diante dos termos das regras contidas nos seus arts. 125 e 126.
A propósito, vale lembrar as considerações contidas no voto condutor (fls. 64/65):
"Ora, o Decreto-Lei n Q 3.240, de 8.5.41, teve como finalidade precípua colocar sob sujeição a seqüestro os bens de pessoas indiciadas por crimes de que resultaram prejuízo para a Fazenda Pública, estabelecendo, em seu artigo 1 Q e artigo 3Q
, três requisitos para a sua decretação, conforme se constata de simples leitura de texto legal. Entretanto, tal Decreto-Lei teve vigência até 1 Q de janeiro de 1942, quando entrou em vigor o novo Código de Processo Penal, que em seus arts. 125 e 126, assim dispôs, respectivamente:
"Art. 125. Caberá o seqüestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro."
"Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a exis-
tência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens."
Assim, independente de ter o apelado sonegado ou não impostos devidos à Fazenda Pública, questão esta que não cabe ser analisada nestes autos, o seqüestro de bens visando garantir o respectivo débito de Gerhard Bozler com este ente recaiu sobre os imóveis descritos e individualizados às fls. 03/04 dos autos, imóveis estes que foram incorporados ao patrimônio do apelado não por ato inter vivos, e sim em decorrência de sucessão causa mortis, fato documentado pelo auto de partilha datado de 21/05/ 91. Salienta-se, ainda, que a data da partilha dos bens foi anterior à da suposta sonegação denunciada (fls. 7).
Deste modo, não podia o referido diploma legal ser aplicado e ter servido de sustentáculo para o seqüestro de bens, que indubitavelmente não tiveram origem ilícita."
Consoante comprovado na peça recursal a espécie já foi objeto de apreciação por esta Colenda 6ª Turma, em acórdão lavrado pelo eminente Ministro Adhemar Maciel que recebeu o aval do ilustre Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, o único remanescente da composição do Colegiado, naquela oportunidade.
Extraio do voto do culto Ministro Maciel os seguintes lances (fls. 117/ 120):
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369; setembro 1998. 351
"O Decreto-Lei n Q 3.240/41, tinha ou tem a seguinte rubrica: "Sujeita a seqüestro os bens de pessoas indiciadas por crimes de que resulta prejuízo para a fazenda pública". Dizia ou diz:
"Art. 1 Q Ficam sujeitos a seqüestro os bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuízo para a fazenda pública, ou por crime definido no livro lI, Títulos V, VI e VII da Consolidação das Leis Penais desde que dele resulte locupletamento ilícito para o indiciado.
"Art. 2Q O seqüestro é decretado pela autoridade judiciária, sem audiência da parte, a requerimento do ministério público fundado em representação da autoridade incumbida do processo administrativo ou do inquérito policial.
§ 1 Q A ação penal terá início dentro de noventa dias contados da decretação do seqüestro".
Senhor Presidente, os recorrentes, que já encontraram ressonância no voto do Ministro-Relator, afirmam que o Decreto-Lei n Q 3.240/41 já foi revogado há mais de meio século. O CPP regula a matéria.
Mandei fazer uma pesquisa em nosso serviço de jurisprudência. Em cerca de cinco acórdãos, todos do .antigo TFR, aparece o famigerado decreto-lei como uma das referências legislativas. São
eles: REO n Q 94.312/RJ (ReI. Min. Pádua Ribeiro), MS n Q 115.299/ SP (ReI. Min. Nilson Naves), AC n Q 60.844/RJ (ReI. Min. William Patterson), AG n Q 49.048/ES (ReI. Min. José Dantas) eAC n Q 58.634/ RJ)
Data venia dos recorrentes, tenho para mim que não se pode falar que o decreto-lei em questão estej a revogado (melhor seria dizer ab-rogado). Pelo § 1 Q do art. 2Q da LICC, uma lei só revoga a anterior, quando expressamente o disser, quando com ela incompatível ou quando regular inteiramente a matéria de que tratava a lei velha. Ora, o CPP, quando cuida das "medidas assecuratórias", normatiza coisa diferente: trata em seus arts. 125 e 132 de seqüestro de bens imóveis ou móveis .adquiridos com o produto de crime. Já o Decreto-Lei n Q 3.240/41, como acabamos de ouvir, em seu art. 1 Q, primeira parte, cura de "seqüestro de bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuízo para Fazenda Pública". Como se vê, as leis regulam ássuntos diversos. Logo, têm existência compatíveis.
ReIy Lopes Meirelles, como foi mencionado pelo interveniente (Estado da Paraíba), diz em seu festejado "Direito Administrativo Brasileiro", Malheiros, 19ª ed., pág. 423:
"O seqüestro dos bens adquiridos pelo indiciado com o produto da infração penal está genericamente disciplinadp no
352 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
CPP, arts. 125 a 144. Todavia, quando a vítima é a Fazenda Pública, o procedimento é o previsto no Dec.-Lei 3.240, de 8.5.41, expressamente revigorado pelo Dec.-Lei 359/68 (art. 11). Nesse caso, é requerido pelo Ministério Público, por representação da autoridade policial ou da administrativa, dependendo sua subsistência da instauração da ação penal no prazo de noventa dias (arts. 6º, I, e 2º, § 1º)."
Por sua vez, o Decreto-Lei nº 359/68, que criou a "Comissão Geral de Investigações", reza:
"Art. 11 - Continuam em vigor o Decreto-Lei n Q 3.240, de 8 de maio de 1941, e as Leis n.!!.S. 3.164, de 1 º de junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958, no que não colidirem com o disposto neste Decreto-Lei."
Carlos Alberto Álvaro de Oliveira e Galeno Lacerda, no "Comentários ao Código de Processo Civil", Forense, 2ª ed., voI. VIII, tomo lI, comentando sobre o instituto do seqüestro civil, observam à pág. 66:
"Em alguns casos, a lei provê, explicitamente, quanto à legitimação do Ministério Público: a) Decreto-Lei nº 3.240, de 08.05.41, art. 2º, quanto aos bens das pessoas indiciadas por crime de que resulte prejuízo à Fazenda Pública; b)
Decreto-Lei n Q 3.415, de 10.07.41, art. 2Q
, relativamente aos bens apreendidos aos acusados de crime contra a Fazenda Nacional; c) DecretoLei n Q 3.931, de 11.12.41 (Código de Processo Penal), art. 127, referindo-se ao seqüestro (penal) dos bens imóveis adquiridos pelo indiciado com proventos da infração, mesmo que transferidos a terceiro."
Assim, Senhor Presidente, em que pesem ao entendimento dos recorrentes, ou por fás ou por nefas, o Decreto-Lei n Q 3.240/41 está vivo em nosso ordenamento legal e é instrumento legal para coibir abusos de sonegadores e fraudadores da Fazenda Pública.
Na realidade, o Decreto-Lei nº 3.240/41 instituiu em favor da Fazenda Pública uma medida cautelar em como tal, dotada de presteza e provisoriedade. Como medida cautelar, ela pode e às vezes deve ser decretada inaudita.
Em princípio, não vejo na medida, drástica, reconheço, mas às vezes necessária, afronta ao devido processo legal, pois os recorrentes, após o seqüestro, terão, evidentemente, a oportunidade de ampla defesa. Aí, sim, terão ensejo de se defenderem e jogarem por terra o ato judicial e, mais, responsabilizarePl o órgão e a pessoa jurídica pelo abuso por acaso cometido."
Como visto, precedente de minha relatoria (AC n Q 60.844-RJ), citado
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 353
no pronunciamento posto em destaque, avaliza o mesmo entendimento ali expresso, ao conceber não revogado, pelo CPP, o Decreto-Lei n Q
3.240/41, no ponto em que disciplina o seqüestro de bens de pessoa indiciada por crime que resulta prejuízo para a Fazenda Pública.
Ante o exposto, conheço do recurso especial, e, em conseqüência, dou-lhe provimento, para que o exame do pedido de seqüestro de bens seja feito como base no Decreto-Lei n Q 3.240/41.
VOTO-VISTA
O SR. MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: O tema central deste Recurso Especial é a vigência do Decreto-Lei n. 3.240, de 8 de maio de 1941, anterior ao Código de Processo Penal. Este diploma dedica o Título VI - Das Questões e Processos Incidentes, capítulo VI - Das Medidas Assecuratórias. Autoriza o seqüestro de bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda quejá tenham sido transferidos a terceiro (art. 125). E acrescenta no art. 130:
"O seqüestro poderá ainda ser embargado:
I - pelo acusado, sob o fundamento de não terem os bens sido adquiridos com os proventos da infração".
O Código de Processo Penal disciplinou inteiramente a matéria do Decreto-Lei n. 3.240, de 8 de maio de 1941.
Em sendo assim, a lei posterior prefere à anterior. E, entre elas, há distinção importante. O Código enseja o direito de defesa, mediante embargos. Coaduna-se, aliás, com a Constituição da República que preserva o direito adquirido. Entre este, sem dúvida, coloca-se a propriedade, também resguardada pela Carta Política.
O seqüestro, sabe-se, é instituto de interpretação restrita. Tanto assim, o Código de Processo Penal restringe-se aos "bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proveitos da infração".
O proprietário, assim, tem direito subjetivo de evidenciar que a imputação não se ajusta aos limites da lei.
Em decisão anterior, entendi:
"RMS - Constitucional- Processual Penal - Mandado de segurança - Infração penal- Sonegação - Seqüestro de bens -O seqüestro de bens, ao fundamento de prática de infração penal, é admissível, em havendo indícios do delito e que a separação judicial do casal se reveste de fraude, dado continuar a vida em comum. O fato reclama investigação probatória. Inadequação do mandado de segurança. Possibilidade jurídica dos Embargos de Terceiro". (RMS 6.645/RS)
O v. acórdão recorrido deixou expresso inexistir, nos autos, prova de os bens objeto do seqüestro haverem sido obtidos por meio ilícito (fls. 66).
354 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
o Recurso Especial é infenso à produção de provas (Súmula 7, STJ).
Não conheço do Recurso Especial.
VOTO- VISTA
o SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de discussão sobre a vigência, ou não, do Decreto-Lei nQ 3.240/41, que o Eg. Sodalício catarinense entendeu que, com a edição do Código de Processo Penal, em especial os artigos 125 e 126, já não mais está em vigor.
O ilustre Relator, com o reforço de decisão anterior, entende que ainda continua vivo o diploma em comento.
De fato, a leitura dos escassos ensinamentos doutrinários e dajurisprudência leva a essa conclusão, dando-se à Fazenda Pública o tratamento privilegiado de poder seqüestrar os bens de qualquer indi-
ciado em crime contra o Erário, mesmo que não tenham sido adquiridos com o produto do crime.
Trata-se, na verdade, de instituto de pouco uso, daí a pobreza, antes anunciada, de lições de nossos processualistas, ou mesmo dos tribunais. É que a Fazenda Pública, desamarrada do aspecto penal, não fica na espera de que tais medidas acauteladoras sejam tomadas, preferindo diretamente a execução da dívida, onde pode penhorar quaisquer bens do devedor, sejam ou não provenientes de delito. Pelo que se sabe, dificilmente representa ao Ministério Público, como disposto no art. 2Q, do DL nQ 3.240/41, para que este proceda ao seqüestro ali previsto.
De qualquer forma, também entendo que o diploma em exame ainda continua vigorando, acompanhando, nesse particular, o ilustre Relator.
É o meu voto.
RECURSO ESPECIAL NQ 147.850·- RJ
(Registro n Q 97.0064136-8)
Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal
Recorrente: Roberto José Maia Serpa - espólio
Recorrido: Alexandre Guilherme Miguel Mayworm.
Representado por: Sylvia Salles Couto - inventariante
Advogados: Maria da Gloria P. Ponte Gomes e Valdir Pietre
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (!09): 313-369, setembro 1998. 355
EMENTA: Processual Civil. Magistrado. Predicamentos. Imparcialidade. Recebimento de dádiva para reforma do Fórum. Exceção de suspeição. Reconhecimento objetivo. CPC, art. 135, IV.
- As garantias constitucionais de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos têm por escopo colocar o magistrado em espaço superior aos interesses das partes em litígio, com efetivo resguardo do grande predicado da imparcialidade.
- O nosso Código de Processo Civil no art. 135, qualifica de fundada a suspeição de parcialidade do Juiz com a simples constatação de uma das situações de fatos arrolados nos seus incisos, independentemente de investigação subjetiva.
- Se o Juiz da causa, ao tempo em que exercia a função de Diretor do Foro, recebeu de uma das partes valores pecuniários para a realização de obras de manutenção do prédio onde funciona a Justiça local, fez nascer vínculo contratual a título gratuito, o que enseja, de modo objetivo, que sua imparcialidade seja posta em questão, impondo-se o reconhecimento da suspeição.
- Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, prosseguindo-se no julgamento, após voto-vista do Sr. Ministro Fernando Gonçalves, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, justificadamente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.
Brasília, 28 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.
Publicado no DJ de 01·06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: O espólio de Roberto José Maia Serpa, contra o qual foi ajuizada ação de reintegração de posse por Alexandre Miguel Mayworm, argüiu exceção de suspeição em face do MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Teresópolis -RJ, com fulcro no inciso IV, do artigo 135, do Código de Processo Civil, que disciplina o recebimento de dádivas antes ou depois de iniciado o processo.
356 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
Sustentou, em essência, que o magistrado, na qualidade de Diretor do Foro daquela Comarca, recebeu de empresa da qual o autor é sócio quotista majoritário dádivas para a reforma parcial do Fórum e, além disso, atuara antes como advogado em patrocínio de seus interesses, o que impõe óbice ao seu funcionamento no feito mencionado.
Aegrégia Segunda Câmara Cível do Tribunal de Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, confirmando a decisão do R. Juiz que repeliu a argüição, julgou improcedente a exceção, ao entendimento de que as contribuições recebidas reverteram-se em benefício da comunidade, nas obras de reforma do prédio, e não em favor do magistrado responsável pela direção do Fórum (fls. 481 51). O julgamento em tela foi consolidado em ementa do seguinte teor:
"Exceção de suspeição. Magistrado. Exercício anterior de advocacia. Patrocínio de interesses de empresa. Reintegração de posse. Autor que figura como sócio majoritário. Garantia constitucional de isenção e imparcialidade do Juiz. Teoria da desconsideração da pessoa jurídica. Suspeição argüida com base no inciso IV, do art. 135 do Código de Processo Civil. Prova não perfilada. Presunçãojuris tantum em relação à retidão de caráter do Juiz que exerce cumulativamente a função de Diretor do Foro. Pretensão improcedente". (fls. 48).
Opostos embargos de declaração, restaram os mesmos rejeitados.
Irresignado, o excipiente interpõe o presente recurso especial (fls. 60/71), com fulcro na letra c do permissivo constitucional, verberando ter o v. acórdão recorrido ensejado divergência com julgado da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso que considerou o recebimento de importâncias para manutenção do Fórum como causa suficiente à caracterização da imparcialidade do Juiz (fls. 60171).
Não apresentadas contra-razões e admitido o recurso na origem, ascenderam os autos a esta Colenda Corte.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Ataca-se no presente recurso especial acórdão que julgou improcedente exceção de suspeição argüida contra o MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível para funcionar nos autos de ação de reintegração de posse ajuizada por sócio de empresa da qual recebeu, quando desempenhava funções de direção no Fórum daquela comarca, contribuições pecuniárias à rea:Iização de obras de melhoramento no prédio.
Proclamou o eminente colegiado julgador, nessa oportunidade, que, tendo sido as importâncias revertidas em favor da comunidade pela reforma das instalações do prédio do Poder Judiciário local, e não em
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 357
benefício dos interesses próprios e imediatos do magistrado, não há como se colocar em questão sua parcialidade, cujo caráter e conduta de retidão estão ao abrigo da presunção iuris tantum.
A seguinte passagem da ementa reflete, com propriedade, os exatos termos da fundamentação contida no bojo do aresto impugnado, litteris:
"N o que toca propriamente ao pedido fundado nas disposições do inciso IV, do art. 135, do CPC, tem -se como não fundadas as argüições procedidas, visto que, demonstrado, diante da prova e dos fatos, que as benesses referidas e ditas como recebidas pelo magistrado não se reverteram em seu próprio favor, destinadas que foram para a reforma do fórum da comarca e em benefício de larga parcela da comunidade, que se utilizam das dependências centenárias do prédio onde se acha instalado o poder judiciário local.
É de sabença geral que, não obstante consagra a lei maior quanto à independência do poder judiciário dos demaiscerigidos, este se apresenta como o mais carente de recursos orçamentários, dependente do executivo para realizações materiais mais urgentes e que, à míngua de interesses imediatos, porque sem retorno político, muitas vezes, vê-se obrigado, para suas necessidades mais prementes, socorrer-se da própria sociedade, que, sempre alerta, aqui como alhures, tem,
pela sua melhor representação, contribuindo, em muito, para que prédios utilizados não desabem, instalações funcionem com o mínimo de conforto para as partes e os profissionais do direito, aí considerados corredores, escadas, salas, banheiros e etc ...
De norte a sul do estado, não é mais feliz a Comarca de Petrópolis. Sediado o Poder Judiciário local em prédio da época do império, inclusive, tombado pelo patrimônio, seu desgaste no tempo está sempre a exigir obras de vulto e que os cofres públicos teimam em não atendê-las segundo suas necessidades mais urgentes, capacitando, sem qualquer ilegalidade, que seguimentos da sociedade o substituam parcialmente para a realização de feitos e que, sem dúvida, revestem-se de benefícios coletivos". (fls. 50).
Pugna o excipiente, nas razões deduzidas no apelo nobre, pelo reconhecimento da suspeição do juiz para funcionar no feito em que tenha recebido da empresa, da qual a parte autora figura como sócio quotista majoritário, dádivas para realização de obras, sob pena de violação à garantia constitucional da imparcialidade do juiz natural.
E para comprovar a alegada divergência jurisprudencial, trouxeram à colação julgado da egrégia Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso que, analisando questão idêntica à do autos, concluiu pela suspeição do juiz da causa.
358 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
E o referido julgamento foi consolidado na seguinte ementa:
"Exceção de suspeição. Oferta de dádiva em dinheiro para manutenção do Fórum. Verificação objetiva da inibição.
O recebimento da significativa importância, pelo juiz, ofertada por uma das partes, a título de donativo para a manutenção do forum, antes ou no curso da demanda, retira a confiança em que se assenta o juízo de imparcialidade, mesmo que se prove a aplicação naquele fim". (fls. 68).
Tenho que o recurso especial manifestado com esteio na alínea c do permissivo constitucional, reúne condições de admissibilidade, de modo a permitir a uniformidade dos julgados, missão constitucional do Superior Tribunal de Justiça.
Após demorada reflexão sobre o thema decidendum, tenho que o acórdão recorrido não conferiu ao assunto em debate a melhor exegese.
Um dos predicados fundamentais que conferem grandeza, dignidade e autoridade à atuação do magistrado é a absoluta imparcialidade em face dos interesses manifestados pelos litigantes do processo.
O Juiz, no exercício sagrado da função de distribuir justiça, é agente da soberania estatal e deve, por-. tanto, situar-se sempre em plano superior ao mundo dos interesses em conflito. Daí porque a nossa lei adjetiva enumera diversas hipótes'es de impedimento (art. 134) e sus-
peição (art. 135) do Juiz, definidoras de situações que possam conduzir à idéia de parcialidade em face da causa.
Dentre tais hipóteses merece destaque aquela inscrita no art. 135, IV, do CPC, que reputa fundada a suspeição de parcialidade do Juiz que houver recebido dádivas antes ou depois de iniciado o processo.
No caso, foi proclamado pelo Tribunal a quo que o ilustre Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis, quando exercia a função de Diretor do Foro, recebeu da empresa da qual a parte autora figura como sócio quotista majoritário importâncias pecuniárias para a realização de obras de manutenção e conservação do prédio do Poder Judiciário.
Assim, a toda evidência, não se pode desprezar o fato de que entre o juiz da causa e a parte estabeleceu-se vínculo contratual a título gratuito, colocando em questão sua imparcialidade da condução do processo e na aplicação do Direito, ainda que as dádivas tenham sido efetivamente convertidas em benefício para a comunidade.
O preceito do art. 135, do CPC, não exige que fique demonstrada a postura parcial do Juiz. A norma em apreço, de feliz elaboração, qualifica de fundada a suspeição de parcialidade do Juiz com a simples constatação de uma das situações de fato arroladas nos seus incisos.
Assim, tenho que o acórdão divergente, oriundo do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso, conferiu ao tema a melhor exegese.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 359
No mencionado precedente, cuja situação de fato é idêntica, o ilustre Desembargador Leão Neto do Carmo fez consignar no voto condutor do julgamento a seguinte passagem:
"Parece-me, pois, apesar do significado dos propósitos, que é prejudicial à imagem do Poder Judiciário estar o Juiz, de qualquer grau, a receber dádivas ou angariar recursos junto a seus jurisdicionados, para qualquer finalidade; mais ainda quando subvencionar serviço da justiça, ônus que cabe ao Estado; sobremaneira prejudicial, quando o fato ocorre em comarcas de primeiro grau, onde a autoridade judicial é única e o contato com os jurisdicionados é maior" (fls. 74).
E, em seguida, cita lição de Celso Agrícola Barbi, de adequada pertinência:
"Importância da Imparcialidade do Juiz: primeira e mais importante qualidade de um juiz é a imparcialidade. Investido da alta missão de decidir acerca dos mais relevantes interesses das partes, munido de amplos poderes para esse fim, é indispensável que o Juiz realmente julgue sem ser influenciado por quaisquer fatores que não o direito dos litigantes.
O despreparo cultural ou morosidade do juiz pode preocupar o litigante. Mas o fator que é realmente capaz de intranqüilizálo, de fazê-lo descrer na justiça
humana, é a falta de confiança na isenção do juiz.
Por isso, pode-se afirmar, sem receio de erro, que as garantias de vitaliciedade, de inamovibilidade e de irredutibilidade de vencimentos, elevadas à culminância constitucional e destinadas a assegurar a independência do Juiz, têm por finalidade última resguardar a sua imparcialidade.
Ainda que o Juiz tenha todas as condições para correta atuação nas causas que, em princípio, podem ir ao seu exame, há porém, algumas em que a sua situação pessoal, em relação às pessoas que participam do processo ou ao interesse em litígio, pode influir no seu espírito, de modo a impedir um correto julgamento da demanda.
Por esse motivo, para dar tranqüilidade aos litigantes e confiança na retidão dos julgamentos, a lei manda que o Juiz se afaste de determinadas causas e permite que a parte impugne sua presença, quando ele não se afastou espontaneamente." (in Com. ao C.P.C., I vol., T. lI, págs. 546 e 547, For., 1971) (fls. 75)".
Tenho como pertinentes os comentários acima transcritos, o que reforça a tese da relevância do predicamento da imparcialidade do magistrado em face dos interesses das partes em conflito.
Daí a prevalência da tese que recomenda, em hipóteses dessa espécie, o reconhecimento objetivo da suspeição.
360 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
Isto posto, conheço do recurso e dou provimento para julgar procedente o incidente de suspeição.
É o voto.
VOTO- VISTA
o SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: A matéria está relacionada com a suspeição do MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível de Teresópolis para funcionar na ação de reintegração de posse ajuizada contra o espólio de Roberto José
Maia Serpa por Alexandre Miguel Mayworm.
A exemplo do que restou decidido no julgamento do REsp nº 83.732-RJ, acompanho o eminente Relator, Min. Vicente Leal.
VOTO (VOGAL)
O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Srs. Ministros, voto de acordo com o Sr. Ministro-Relator.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL Nº 153.957 - RN
(Registro nº 97.0079347-8)
Relator: O Sr. Ministro William Patterson
Recorrentes: Ministério Público Federal e União Federal
Recorrida: Associação dos Sub tenentes e Sargentos do Exército em Natal-ASSEN
Advogados: Drs. Jayme Renato Pinto de Vargas e outro
EMENTA: Previdenciário. Reajuste de beneficio. URP fevereiro de 1989 (26,05%).
- Consoante a jurisprudência do STF, recepcionada neste Tribunal, inexiste direito adquirido ao percentual de 26,05% relativo a fevereiro de 1989.
- Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Re-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 361
lator. Votaram com o Sr. MinistroRelator os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro, Vicente Leal e Anselmo Santiago. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.
Brasília, 02 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.
Publicado no DJ de 02-02-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: Com amparo nas alíneas a e c da regra constitucional, a União Federal impugna o acórdão do Egrégio TRF da 5ª Região que, julgando ação rescisória onde pleiteada a anulação de julgado que concedeu reajuste de vencimentos pelo índice de 26,05% (URP de fev./ 89), entendeu não caracterizada a ofensa ao art. 485, V, do Código de Processo Civil, em razão de dissídio pretoriano, daí que concluiu pela improcedência da ação nos seguintes termos (fls. 100/101):
"Ação rescisória. Sentença que reconheceu direito adquirido ao reajuste de vencimentos, proventos e pensões pelo índice de 26,05% (URP de (ev. /89). Impossibilidade de rescisão de julgados em razão de dissídio pretoriano. Interpretação restritiva do art. 485 do CPC. Improcedência da ação.
1. Constitui numerus clausus o rol de hipóteses de cabi-
mento da ação rescisória (art. 485, I a IX do CPC), não sendo possível, por via interpretativa, elastecer os casos legais de admissão do pedido, para incluir entre eles a divergência pretoriana.
2. "A estabilidade dos julgados é imprescindível à ordem jurídica, que não pode ficar comprometida ao sabor de mera interpretação dos textos legais." (STF, AR 1. 167-DF, ReI. Min. Djaci Falcão, RTJ 115/61).
3. A Suprema Corte reconhece a autonomia jurisprudencial das instâncias inferiores ao inadmitir a ação rescisória fundada em ofensa a dispositivo legal de interpretação controvertida nos Tribunais (Súmula 343), "ainda que ajurisprudência do Supremo Tribunal Federal venha posteriormente a firmar-se em sentido contrário" (RE 88.328-SP, ReI. Min. Cunha Peixoto, RTJ 91/ 970).
4. Ação rescisória improcedente."
Para tanto, assevera a violação ao art. 5Q
, da Lei n Q 7.730, de 31 de janeiro de 1989, que instituiu novas regras de reajuste de salários, além de divergência de jurisprudência. Coleciona acórdãos favoráveis à sua tese, no sentido de que não há direito adquirido ao reajuste concedido pelo acórdão rescindendo.
Ultrapassado o juízo prévio de admissibilidade, vieram os autos a este Tribunal, onde dispensei a audiência do Ministério Público.
362 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): Como visto, cuida-se de decisão em ação rescisória visando desconstituir julgado que reconheceu aos servidores públicos militares referidos na inicial, a diferença correspondente ao índice de 26,05%, que seria devido em razão de plano econômico.
De pronto, tenho que o acórdão rescindendo, ao reconhecer o direito adquirido ao reajuste dos benefícios na base de 26,05%, relativamente ao mês de fevereiro de 1989, destoa da orientação proclamada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADIN n Q 694/ DF, tal como invocada em inúmeros precedentes, dos quais destaco:
"Recurso extraordinário. Funcionário público. Vencimentos. URP - fevereiro de 1989. 2. No julgamento da ADIN n Q 694-DF, o Plenário do STF afirmou ser indevido, em fevereiro de 1989, o percentual de 26,05%, sobre vencimentos de servidores federais, com base na URP do período de setembro a novembro de 1988. Revogação do Decreto-Lei n Q
2.335/1987 pelo art. 38 da Lei n Q
7.730, de 31.01.1989, resultante da conversão da Medida Provisória n Q 32, de 15 de janeiro de 1989. Precedentes. 3. Recurso extraordinário conhecido e provido." (RE n Q 157.395-3-DF, ReI. Min. Néri da Silveira, in DJ 27.10.94)
No tocante ao fundamento nuclear do acórdão recorrido, para repelir o cabimento da ação rescisória, por entender aplicável à espécie o enunciado da Súmula n Q 343 - STF, tenho por insubsistente a orientação, inobstante as lúcidas considerações contidas no voto condutor. Assim afirmo com apoio em precedentes desta Colenda 6ª Turma.
O primeiro, da lavra do Ministro Fernando Gonçalves (REsp nQ 108.875-CE), onde assevera:
"Quanto à ausência de violação literal de lei que abonasse o acolhimento de rescisória e ainda divergência jurisprudencial referente à interpretação controvertida de outros tribunais, melhor sorte não está a amparar os recorrentes. Os julgados trazidos à colação não servem de paradigmas e nem as Súmulas 343/STF, 134/TFR, 83/TST e 03/TASP (1 Q) já que, consoante assevera o Parquet Federal, o STF e o STJ conhecem de recursos interpostos nas condições do presente.
Por fim, o próprio julgado do STF, ventilado na decisão recorrida mostra a violação a texto legislativo a concessão do índice expurgado do IPC de março de 1990, verbis:
"A revogação da Lei n Q
7.830/89 pela Medida Provisória n Q 154/90 que se converteu na Lei n Q 8.030/90 -verificouse em momento anterior ao da consumação de fatos idôneos necessários à aquisição do di-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 363
reito ao reajuste de vencimentos previsto para 1 º de abril de 1991. Tendo-se antecipado, validamente, à incorporação desse direito ao patrimônio jurídico dos servidores, o ato abrogatório não ofende a cláusula constitucional que tutela a intangibilidade de situações definitivamente consolidadas (CF, art. 5º, XXXV!)." (RE 148.607-4-STF) (fls. 250).
Cumpre assinalar - aindaque a errônea interpretação da lei, segundo o STF, in RTJ 101/ 50, "desde que capaz de anular os seus verdadeiros efeitos, pode propiciar o ajuizamento da ação rescisória fundada no inciso V do art. 485 do CPC. Ora, no caso, a MP 154, convertida na Lei nº 8.030/90, entrou em vigor no dia 16 de março e o reajuste apenas seria devido em 01 de abril. Houve, portanto, de acordo com o entendimento do STF, violação à Lei nº 8.030/90, hipótese, inclusive, já firmada pela 3ª Seção do STJ, na AR 504/CE - ReI. Ministro José Dantas."
Também ao apreciar hipótese semelhante, tive ensejo de fazer os s~guintes registros (REsp nº 95.129-RS):
fundada no artigo 485, V, do CPC, teria o acórdão recorrido negado vigência a esse dispositivo?
Com atenção à orientação predominante do Colendo STF, sobre não ser aplicável a máximajurisprudencial quando em discussão os preceitos constitucionais, tenho que a resposta deve ser positiva. Ao entendimento do acórdão recorrido se contrapõe a lição lapidar do eminente Ministro Moreira Alves nos autos do RE nº 89.108-GO:
"E não se há que invocar-se, no caso, o disposto na Súmula 343 ("Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais"), uma vez que ela deflui de julgados que dizem respeito, apenas, a leis ordinárias. E, por se tratar de Súmula, está ela vinculada ao âmbito dos julgados de que é síntese, não podendo -como poderia se se tratasse de preceito legal - extravasar dele por via de interpretação extensiva. Aliás, ainda quando fosse isso possível, não me animaria a essa extensão, pois entendo que a Súmula nº 343 nada mais é do que a repercus-
"Assim delimitada a controvér- são, na esfera da ação rescisó-sia ao ataque do pressuposto da ria, da Súmula nº 400 - que rescisória, resta saber da ofensa não se aplica ao texto consti-à lei processual. Ao aplicar o tucional- no âmbito do recur-enunciado da Súmula 343 do Co- so extraordinário. Como se in-lendo STF e assim declarar a im- fere do artigo 119, III, a da procedência da ação rescisória, Emenda Constitucional nº 1/69,
364 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
distinga a lei ordinária (para a qual é necessária a negativa de vigência) e a lei constitucional (para a qual basta a contrariedade)" (RTJ 101/207)."
o correspondente, no plano constitucional, à negativa de vigência de lei é a contrariedade à Constituição; e, em assim sendo, se a legislação ordinária (no caso, o Código de Processo Civil) se limita a aludir como pressuposto da rescisória a violação literal de disposição de lei, impõe-se que se
Ante o exposto, conheço do recurso especial e, em conseqüência, doulhe provimento.
RECURSO ESPECIAL NQ 169.226 - SC
(Registro n Q 98.0022647-8)
Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal
Recorrente: Estado de Santa Catarina
Recorrida: Thereza Grisolia Tang
Advogados: Osmar José Nora e outros, e Nilton José Machado
EMENTA: Processual Civil. Recurso especial. Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados. Deferimento administrativo. Mandado de segurança. Ação de cobrança. Inocorrência. Embargos de declaração. Omissão. Inexistência.
- Tendo a ação mandamental como causa de pedir a restauração de situação em razão da ilegalidade de ato administrativo, não tem pertinência a invocação de aplicação dos comandos das Súmulas n~ 269 e 271, do STF, que disciplinam as relações jurídicas oriundas de direito creditório, objetivando o pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias pretéritas.
- Os embargos de declaração, segundo a moldura do cânon inscrito no art. 535, do CPC, consubstanciam instrumento processual destinado a expungir do julgamento obscuridade ou contradição, ou ainda para suprir omissão sobre tema cujo pronunciamento se impunha pelo Tribunal, não se prestando para promover a reapreciação do julgado.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 365
- Não há omissão no acórdão que concede parcialmente o writ impetrado por desembargadora aposentada, determinando a conversão em pecúnia dos períodos de férias e licenças-prêmio não gozados por necessidade de serviço, anteriormente à vigência da LOMAN, já deferidos em processo administrativo interno e cassado por ato do Presidente do Tribunal.
- Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Anselmo Santiago e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.
Brasília, 09 de junho de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANSELMO SANTIAGO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.
Publicado no DJ de 29-06-98.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Thereza Grisólia Tang, Desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, impetrou mandado de segurança contra atos do Órgão Especial daquele Tribunal, representado por seu Presidente, postulando o pagamento em pecúnia dos períodos de licença-prêmio e férias não
gozados por necessidade de serviço, já deferidos através de regular processo administrativo.
O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, por maioria, concedeu parcialmente a segurança, determinando o pagamento dos meses de férias e licenças-prêmio não gozadas anteriormente à vigência da Lei Orgânica da Magistratura por necessidade de serviço. (fls. 97/103) O julgamento em tela foi condensado na seguinte ementa:
"Mandado de segurança. Interposição contra ato do órgão especial que sustentou o pagamento de licenças-prêmio e do Presidente do Tribunal de Justiça que, sponte sua, determinou a sustação do pagamento das férias, não gozadas, à magistrada, já deferido através de regular processo administrativo. Direito líquido e certo da impetrante violado. Concessão parcial da ordem.
Mandado de segurança. Magistrada. Férias e licenças-prêmio não gozadas, por necessidade do serviço público, conversão em pecúnia. Admissibilidade. Precedentes jurisprudenciais.
366 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
- "O direito às férias é preceito de ordem pública, como acontece com todos os preceitos da legislação social, tornando-se irrenunciáveis. O exercício de sua fruição, bem como de licença-prêmio, depende de ato da Administração Pública, que pode negá-lo em nome da conveniência do serviço, vale dizer, no interesse do serviço público" (in RT 606, págs. 89/90).
Férias é um direito do servidor, de acordo com a Constituição Federal (art. 39, § 2Q
, c/c art. 7Q, XVII).
Licença-prêmio. Magistrada. LOMAN. Período anterior à vigência da Lei Orgânica da Magistratura. Admissibilidade." (fls. 97).
Opostos embargos declaratórios, restaram os mesmos rejeitados.
Irresignado, o Estado de Santa Catarina interpõe o presente recurso especial (fls. 257/268), com fulcro na alínea a do permissivo constitucional, verberando ter o v. acórdão violado os artigos 15 e 19, da Lei n Q 1.533/51 e o artigo 1Q
, da Lei n Q 5.021/66, bem como os artigos 47 e 535, do Código de Processo Civil.
Verbera, em essência, que o mandado de segurança não é meio apto para a cobrança de vantagens pecuniárias pretéritas, não se constituindo, ademais, em ação de cobrança.
Não oferecidas as contra-razões, o recurso foi inadmitido na origem, advindo agravo que, provido, ensejou a subida dos autos a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relàtor): Como patenteado no relatório, ataca-se no presente apelo nobre acórdão que concedeu parcialmente a ordem de segurança impetrada por desemb,argadora aposentada contra ato do Orgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, determinando a conversão em pecúnia dos meses de férias e licenças-prêmio não gozadas por necessidade de serviço anteriormente à vigência da Lei Orgânica da Magistratura, já deferidos em processo administrativo interno.
Sustenta o Estado de Santa Catarina que o Órgão Colegiado do Tribunal a quo, ao conceder o pagamento de vantagens pecuniárias pretéritas, restou por violar o artigo 15, da Lei n:Q 1.533/51 e o artigo 1 Q, da Lei n Q 5.021, bem como os verbetes contidos das Súmulas n~ 272 e 269, do STF, que vedam a natureza de ação de cobrança ao mandamus.
Verbera, ainda, a ocorrência de omissão quanto a pontos de pronunciamento obrigatório, especificamente no que tange aos artigos 19, da Lei n Q 1.533/51 e 47, do CPC, no caso da obrigatoriedade da formação de litisconsórcio, ao artigo 102, I, da CF/88 e ao artigo 267, V, do CPC, em decorrência da litispendência.
O Órgão Especial do Tribunal a quo concedeu os meses de férias e
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 367
licenças-prêmio, não gozadas por necessidade de serviço, em período anterior a superveniência da LOMAN, tendo em vista o fato de ter sido concedido administrativamente o pagamento das vantagens postuladas.
É o que se extrai do excerto do voto a seguir transcrito:
"Conseqüentemente, as licençasprêmio a que a impetrante tinha direito, anteriores à vigência da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complementar n Q
35179), não podem ser suprimidas e a sua conversão em pecúnia é perfeitamente possível, conforme vasta jurisprudência e doutrina a respeito.
É de se realçar que o eminente Desembargador Ayres Gama Ferreira de Melo requereu e obteve administrativamente o pagamento da conversão da licença-prêmio em dinheiro em 31/8/95, por parte da Presidência deste Tribunal (fls. 46), o mesmo ocorrendo com a viúva do ex-magistrado Renato Antônio de Souza (fls. 58) e também consta que ao Des. Osny Caetano, em data de 4/9/91, foi concedido o direito de converter em pecúnia as licenças-prêmio não gozadas (fls. 38/39).
Ante todo o exposto, é de se conceder parcialmente a segurança, para assegurar à impetrante o direito de receber em pecúnia os 6 (seis) meses de férias não gozadas e as licenças-prêmio a que tinha direito, anteriores à vigência da Lei Complementar n Q 35/ 79". (fls. 103).
Daí depreende-se que o acórdão recorrido concedeu o pleito indenizatório, proclamando a tese de que o direito de conversão em pecúnia das férias e dos períodos de licenças-prêmio não gozados não podem ser indeferidos quando já concedidos no âmbito administrativo.
Como visto, o thema sub judice envolve unicamente discussão sobre temas de natureza constitucional e de direito local.
Alega-se violação ao art. 535, do Código de Processo Civil.
Ora, os embargos de declaração, segundo a moldura do canon inscrito no artigo 535, do CPC, consubstanciam instrumento processual destinado a expungir do julgamento obscuridade ou contradição, ou ainda para suprir omissão sobre tema cujo pronunciamento se impunha pelo Tribunal, não se prestando para promover a reapreciação do julgado, como pretende o ora recorrente.
Quanto à alegação de violação aos dispositivos da Lei 5.021/66, que dispõe sobre o pagamento de v-encimentos e vantagens asseguradas em sentença concessiva de mandado de segurança, bem como ao artigo 15, da Lei n Q 1.533/51, tenho que não se encasam à controvérsia debatida nos autos.
Ora, é pacífico o entendimento firmado no âmbito deste Tribunal no sentido de que em sede de mandado de segurança em que se postula o pagamento de vantagem devida a servidores públicos, a sentença concessiva somente produz efeitos a partir do ajuizamento do writ,
368 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998.
nos termos da Súmula n Q 271/STF e do art. 1 Q da Lei n Q 5.021/66.
Todavia, ainda que o mandado de segurança não se confunda com ação de cobrança, a hipótese sub judice não apl'esenta efeitos patrimoniais a título de cobrança, mas tem como causa de pedir a ilegalidade do ato administrativo que indeferiu a concessão da conversão em pecúnia de períodos de licenças-prêmio e férias já deferido por decisão administrativa à desembargadora impetrante.
E a jurisprudência assentada nesta Colenda Corte tem entendimento coincidente, no sentido de que, tendo o writ como causa de pedir a restauração da situação em razão da ilegalidade de ato administrativo, não tem pertinência a invocação de aplicação do comando da Súmula n Q 269, do STF, que disciplina as relações jurídicas oriundas de direito creditório, objetivando o pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias.
A propósito, registre-se o seguinte precedente, ip verbis:
"REsp - Constitucional- Processual Civil - Mandado de segurança - Ação de cobrança -Pagamento.
o mandado de segurança não se confunde com a ação de cobrança. Toda ação repousa na causa de pedir. Não se pode, em mandado de segurança, deduzir fato gerador de direito de crédito para reclamar pagamento. A Lei n Q 5.021/66 veda, no mandamus, pedir 'vencimentos e vantagens pecuniárias'. Diferente, entretanto, se a causa de pedir for ilegalidade da sanção administrativa aplicada. No caso, concedida a segurança, repõe-se a situação jurídica anterior, em conseqüência, o pagamento do que fora ilegalmente suspenso. A prestação jurisdicional cumpre ser exaustiva, no sentido de repor, às inteiras, quanto possível, o direito reconhecido" CREsp 29.950-4/SP, ReI. Min. Vicente Cernicchiaro, in D.J. de 01 de março de 1993).
Em face dessas considerações, tenho que o acórdão recorrido não violou os dispositivos legais destacados no apelo nobre.
Isto posto, não conheço do recurso especial.
É o voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 313-369, setembro 1998. 369
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA Nº 652 - SP
(Registro nº 98.0019663-3)
Requerente: Estado de São Paulo
Advogados: Márcio Sotelo Felippe e outros
Requerido: Desembargador Primeiro Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Impetrante: Ernesto dos Santos Filho
Advogado: Paulo José Nogueira da Cunha
DECISÃO
O Estado de São Paulo formula pedido de suspensão de segurança, concedida pelo eminente Desembargador Vice-Presidente do Tribunal de Justiça daquele Estado-Membro, que determinou a suspensão do leilão de alienação acionaria do capital social da Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A, da Empresa Bandeirante de Energias S/A e da Empresa de Transmissão de Energia Elétrica S/A.
Sustenta o Requerente que o Impetrante inundou o Poder Judiciário de pretensões da mesma natureza, tendentes a obstaculizar o processo desestatizante, sem lograr sucesso em nenhuma das ações. Como última estratégia, o interessado em evitar a alienação impetrou mandado de segurança peran-
te a Egrégia Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (MS 48.903.0/2) e, simultaneamente, alegando omissão na prestação jurisdicional, impetrou novo mandado de segurança (MS nº 48.922) contra o Presidente do Tribunal, oportunidade em que obteve a liminar ora hostilizada.
Descreve o Requerente a situação notoriamente caótica das finanças públicas, premidas por um passivo asfixiante do Estado e equacionadas mediante o refinanciamento da dívida mobiliária junto ao Banco do Estado e Nossa Caixa Nosso Banco, num total de mais de cinqüenta bilhões de reais (exatos R$ 50.388.788.542,92).
Como mecanismo ensejador do refinanciamento, o Estado afirma que "entregou à União duas opções não padronizadas de compra (war-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 373
rant), garantidas por ações ordinárias nominativas de suas empresas energéticas (Cesp e Eletropaulo) contra o crédito, na conta gráfica aberta no Tesouro Nacional, no valor de R$ 2.950.000.000,00 (dois bilhões e novecentos e cinqüenta milhões de reais), que deveria ser amortizado por ocasião da concretização dos leilões agora suspensos".
Como conseqüência nefasta da suspensão do leilão, alega o Requerente que a não-concretização da hasta pública impede a amortização do saldo existente naquela conta gráfica, impondo ao Estado encargos contratuais relativos à correção do seu passivo pelo IGP-DI, editado pela Fundação Getúlio Vargas, acrescidos de juros à razão de seis por cento ao ano. De outra parte, afirma que os recursos da alienação de ativos estaduais estão estimados como receita orçamentária do exercício e que a não-realização de tais receitas (ou mesmo seu postergamento) provoca imenso problema de administração e desequilíbrio às finanças públicas.
Ciente de que se afigura indevido, no patamar do presente feito, adiantar qualquer juízo de valor quanto ao mérito do mandado de segurança, não posso deixar de assinalar a minha perplexidade, nessa sumario cognitio, diante da aceitação de writ, aparentemente desprovido do fato autorizador de sua impetração, com o escopo inadequado de sua utilização como sucedâneo recursal.
De fato, o fundamento do mandamus impetrado em face do Pre-
sidente do Tribunal de Justiça aponta a falta de prestação jurisdicional como o ato omissivo lastreador da impetração. Ocorre que, ao despachar a liminar, o eminente Desembargador Vice-Presidente (magistrado competente, que sempre foi credor do meu respeito e admiração) expressamente assinala:
"O ilustre Presidente desta Corte, ao indeferir a liminar solicitada, terminou possibilitando a realização do leilão, in casu, justamente o que busca evitar o impetrante ... "
Resulta evidente que se conhecia, de antemão, a total ausência de ato omissivo ou negativa de entrega da prestação jurisdicional, porquanto a decisão ora hostilizada reconhece expressamente a inexistência da base fática asseverada na inicial e, mesmo assim, culmina por proferir decisão que repercute em outro processo. Isso significa que ab initio se admitiu o exame de omissão inexistente para deferir liminar, a pretexto de reformar decisão regular e oportunamente proferida. Vale dizer, tudo indica evidenciar-se, na espécie, a utilização indevida do mandado de segurança como sucedâneo recursal.
Ademais, impende registrar que, em se examinando a plausibilidade das alegações do impetrante, em idêntico contexto (e quase sempre patrocinado pelo mesmo procurador), vários órgãos do Poder Judiciário posicionaram-se em sentido contrário à pretensão. Confiram-se,
374 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998.
a propósito, as decisões proferidas pelos seguintes magistrados: Juiz Federal Valter Antoniassi Maccarone (Ação Popular 98.0014169-3, de fls. 70173); Juíza Federal Diana Brunstein (Ação Popular 98.0014150-2, de fls. 74177); Juíza de Direito Maria de Fátima dos Santos Gomes (Ação Cautelar n Q 538/98, de fls. 107/111); Juiz de Direito Carlos Bortletto Schmitt Corrêa (Ação Popular n Q 544/98, de fls. 155/156); Juiz de Direito Manoel Ricardo Rebello Pinho (Ação Popular n Q 527/ 98, de fls. 190/192); Juiz de Direito Odimir Fernandes (Ação Popular n Q
525/98, de fls. 223/224); Juiz de Direito Venicio A. de Paula Salles (Ação Popular 504/98, de fls. 251/ 254); Juiz de Direito José Vítor Teixeira de Freitas (Ação Popular n Q
5.694/98, de fls. 285).
Por último, anoto a decisão do eminente Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça de fls. 28/ 29, na qual Sua Excelência põe em dúvida a pertinência subjetiva do Governador do Estado para figurar no pólo passivo da relação processual, bem como a ausência de direito certo e líquido de mero acionista a se contrapor ao processo de privatização à guisa de alegado prejuízo.
Todavia tais considerações hão de ser dilucidadas adequada e convenientemente no exame do mérito da impetração. Por ora, convém cingir o exame do presente pleito aos requisitos autorizadores da drástica medida requerida. Nessa moldura, afiguram-se-me presentes os pressupostos legais.
De fato, considero relevantes os fundamentos econômicos esgrimidos pelo Estado requerente no que concerne à grave lesão à economia estadual provocada pela decisão, mercê do comprometimento do tesouro estadual com o cumprimento dos negócios jurídicos celebrados, objetivando a solução do passivo, e com a realização da receita estimada no orçamento.
De outra parte, ainda sob a perspectiva econômica da causa, não se pode desconsiderar a precisa observação lançada pelo eminente Desembargador Presidente, ao indeferir a liminar no anterior mandado de segurança, quando anotou a falta de interesse do acionista minoritário em se contrapor ao processo de privatização da empresa da qual detém parcela ínfima do capital.
Nessa vertente, reputo imprescindível o alerta de que o Poder Judiciário não pode afastar-se do seu papel de contribuir, em harmonia com os demais Poderes, para a consecução dos fins do Estado. No ponto, a deliberação no sentido da conveniência e oportunidade da alienação de ativos acionários públicos é privativa do Poder Executivo. Obtida a indispensável vênia legaljunto ao Poder Legislativo, não compete ao Poder Judiciário obstaculizar a desestatização (salvo, claro, nas hipóteses de manifesta ilegalidade ou abuso de direito - à primeira vista inocorrentes).
Se a opção desestatizante é boa ou danosa, conveniente ou oportuna, é ônus (ou bônus) atribuível ao Poder Executivo, a quem compete
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 375
a escolha política da providência. O acolhimento de pretensão liminar como a da espécie, tisnada pela falta de interesse econômico do postulante, parece traduzir uma discordância que está centrada no viés político do tema e que, a meu juízo, deve ser evitada.
Finalmente, preocupam-me sobremaneira os desdobramentos da
. presente causa sobre a ordem pública. Consta dos autos que, após indeferir a liminar no Mandado de Segurança n Q 48.903.0/2, o eminente Desembargador Presidente enviou ao Presidente da Bolsa de Valores de São Paulo o ofício que se vê por cópia à fl. 359, no qual Sua Excelência afirma que, até aquele momento (9h45min), não havia nenhuma decisão contrária à sustação do leilão e, mais, dá notícia de que o signatário havia indeferido pedido de liminar que visava à suspensão do leilão.
Realizado o pregão, o eminente Vice-Presidente solicita informações sobre o ocorrido e culmina por proferir a decisão que se vê à fl. 372, na qual afirma a nulidade dos atos praticados e a possível ocorrência de crime de desobediência com a realização do leilão.
Ora, afigura-se-me, nesse contexto, que o jurisdicionado tem fundadas razões para desconfiança e descrença na Justiça, porquanto a mais alta autoridade do Poder Judiciário é desautorizada pelo seu Vice-Presidente: aquela afirma que não há óbice, e este ameaça com a alegação de ocorrência de crime.
Sem dúvida, a ordem pública, em situações dessa natureza, vê-se seriamente comprometida e ameaçada, o que gera insegurança e descrédito na atuação do Poder encarregado de zelar justamente pela preservação da segurança e certeza que devem presidir o relacionamento jurídico intersubjetivo.
Ademais, no instante em que me debruço sobre o tema, encontro delineada a circunstância de haver sido realizado o leilão, mercê da contraditória forma pela qual as decisões do Judiciário chegaram ao conhecimento dos jurisdicionados. Em face do fato consumado, a sua anulação, com base na cognição sumária promovida nesta causa, pareceme ensejar outra interveniência tumultuária da Justiça no episódio, acendrando a insegurança e causando maior perplexidade.
Tudo isso aponta no sentido da conveniência de prestigiar-se a decisão do eminente Desembargador Presidente, que permitiu a realização do leilão (colimando a preservação do status quo), cassando-se a decisão ora hostilizada, da lavra do eminente Desembargador VicePresidente, até que aquela Egrégia Corte melhor examine o tema ao enfrentar o mérito da controvérsia.
Diante do exposto, considerando presentes os pressupostos autorizativos, defiro a medida pleiteada em ordem a suspender os efeitos da decisão proferida pelo eminente Desembargador Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo no Mandado de Segurança n Q 48.922, bem como casso a efi-
376 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998.
cácia de decisões posteriores tomadas com base naquele decisório, até o efetivo julgamento do mérito do writ na origem.
Intimem-se, com urgência.
Brasília, 17 de abril de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente.
Publicado no DJ de 18-06-98.
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA NQ 657 - PB
(Registro nQ 98.0025314-9)
Requerente: Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Advogados: Paulo Manuel Moreira Souto e outros
Requerido: Juiz Relator do Agravo de Instrumento n Q 17.109 do Tribu-nal Regional Federal da 5ª Região
Impetrante: Márcio Delano Fernandes de Albuquerque
Assistente: Reginaldo Tavares de Albuquerque
Advogado: Levi Borges Lima
DECISÃO
A Universidade Federal da Paraíba requer, com fulcro no que dispõe o art. 25 da Lei nQ 8.038/90, suspensão da eficácia de medida liminar concedida em agravo de instrumento tirado de decisão indeferitória de liminar em mandado de segurança.
Aduz a promovente que o promo" vido pretendeu sua transferência ex officio do Curso de Medicina da Universidade de Nova Iguaçu, em Nova Iguaçu, Estado do Rio de J aneiro, para a Universidade Federal da Paraíba, curso idêntico, ao fundamento de ter sido nomeado para exercer o cargo comissionado de
Secretário Parlamentar, em Gabinete de Deputado Estadual do Quadro de Pessoal da Câmara dos Deputados daquele Estado, no que teve indeferida a pretensão, por isso que, irresignado, impetrou mandado de segurança, com pedido de liminar, junto ao juízo federal da Seção Judiciária do Estado. Negada a liminar e oposto agravo de instrumento, o MM. Juiz do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, Dr. Araken Mariz, concedeu a liminar, que, a sentir do requerente, causa lesão à ordem e à segurança no âmbito da instituição, dada a cavilosa atitude do promovido de entrar
. naquela universidade sem ter se submetido a exame de vestibular.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 377
Verbera a requerente ser imoral a indigitada transferência, a par de carecer a decisão vergastada de amparo legal, visto afrontar o comando da Lei nQ 9.394/96, art. 49 (Lei de Diretrizes e Bases).
Considerando a singeleza da matéria, deixei de pedir o pronunciamento do douto Ministério Público Federal.
Impende, por primeiro, esclarecer que, nos lindes da suspensão de segurança, a apreciação jurisdicional há de limitar-se aos aspectos atinentes à potencialidade lesiva do ato decisório em face dos pressupostos erigidos pelo legislador, quais a afetação à ordem, à segurança e à economia públicas, por isso que incabível o exame da existência ou não dos pressupostos autorizadores
da postulação liminar, que tem, no juízo próprio, o seu deslinde.
Quanto à alegação de malferida a ordem e segurança públicas, não a vislumbro no caso, pois não vejo como possa questão a envolver estudante e universidade, no que tange à matrícula, vir a afetar a sociedade. É preciso ter-se em conta que, além de alegar-se, é indispensável demonstrar-se a ocorrência dos pressupostos ensejadores da medida drástica.
Em sendo assim, indefiro o pedido.
Intimem-se.
Brasília, 14 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente.
Publicado no DJ de 21-05-98.
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA NQ 661 - PB
(Registro n Q 98.0027316-6)
Requerente: Estado da Paraíba
Advogados: Geraldo Ferreira Leite e outros
Requerido: Desembargador-Relator do Mandado de Segurança n Q
98001691, do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba
Impetrante: Consórcio Deutsche Morgan Grenffel Jaakko Poyry
Advogados: Daniela Bessone e outros
DECISÃO
O Estado da Paraíba, por intermédio da Secretaria de Planejamento, publicou edital objetivan-
do selecionar empresa para prestar serviços de consultaria, com o fim de privatizar a Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba - Saelpa.
378 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998.
Acorreram ao certame quatro consórcios interessados, liderados por Deutsch Bank S/A, Paraíbas do Brasil Consultoria e Proj etos Ltda., Trevisan Consultores de Empresas Ltda. e Brascan Futuros Ltda. Acolhendo impugnação da documentação das demais empresas, feita pela Brascan, a Comissão de Licitação desqualificou as demais e habilitou apenas a impugnante.
Inconformado, o banco alemão impetrou mandado de segurança perante o Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba e obteve liminar do eminente Desembargador-Relator, em ordem a
" ... sustar a adjudicação dos serviços à Brascan Futuros Ltda. e readmitir o impetrante no certame, com exame dos documentos referentes à proposta de prestação de serviços apresentada" (fl. 60).
o Estado da Paraíba formula, agora, pleito no sentido de suspender aquela decisão, elencando, como argumentos para o atendimento do pedido, os seguintes pontos: ilegitimidade processual por defeito de representação; nulidade do mandamus por falta de citação de litisconsorte necessário; procedimento correto da Comissão de Licitação ao desclassificar o Impetrante; ausência de fundamentos da ação mandamental pela inexistência de quebra dos princípios do contraditório, legalidade e igualdade dos licitantes; inércia do Impetrante em não impugnar o edital no prazo; irre-
gularidade najuntada de documento estrangeiro sem autenticação consular e tradução oficial.
Ora, todos os argumentos que dão lastro ao pedido dizem com o mérito do mandado de segurança e, por isso mesmo, afiguram-se impertinentes no presente feito.
O Requerente olvidou-se de demonstrar o preenchimento dos requisitos autorizadores da drástica providência requerida (Lei n Q 4.348/ 64, art. 4Q e Lei n Q 8.437/92, art. 4Q
),
ou seja, em que medida a decisão hostilizada constituiria grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, ou evidenciasse manifesto interesse público ou flagrante ilegitimidade.
Ao que se infere da inicial, pretende o Requerente se valer da expedita via da suspensão de segurança para reformar decisão judicial adversa. Quanto ao ponto, registrese a pacífica orientação desta Presidência, anotada na SS n Q 643/AC, no sentido de
" ... ser a suspensão de segurança medida extrema de proteção a interesses públicos maiores, de natureza, por isso mesmo, excepcional e que não se compadece com a mera lesão de direito subjetivo (já que este tem assegurada sua proteção em outra sede). Também não pode ser utilizada como via alternativa para obter a reversão de decisão desfavorável à parte" (SS 605/BA).
Da mesma forma,
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 379
" ... o pedido de suspensão de segurança não é meio idôneo para assegurar proteção contra eventuais equívocos ou injustiças decorrentes de decisão judicial supostamente lesiva de direito subjetivo privado. Os valores resguardados pela norma de regência dizem com a preservação de superiores interesses públicos atinentes com a ordem, saúde, segurança e a economia" (SS n Q
626/PB).
Ademais, não vislumbro potencialidade lesiva em ato que, ao fundamento de prevenir violação de di-
reito subjetivo, determina inclusão de licitante em certame que busca o melhor contratante. Em princípio, a decisão amplia o universo dos participantes e, em tese, labora na linha dos fundamentos que inspiram e norteiam o procedimento licitatório.
Assim sendo, indefiro o pedido.
Intimem-se.
Brasília, 21 de maio de 1998 (data do julgamento).
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Presidente.
Publicado no DJ de 28-05-98.
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA NQ 664 - PB
(Registro nQ 98.0277774-9)
Requerente: Câmara Municipal de Sapé
Advogado: Irapuan Sobral Filho
Requerido: Desembargador-Relator do Mandado de Segurança n Q
980012238, do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba
Impetrante: Josinaldo Ricardo Coelho
Advogado: José Ricardo Porto
DECISÃO
A Câmara Municipal de Sapé postula suspender a concessão de liminar que cassou a eficácia de Decreto Legislativo daquela Edilidade, mediante o qual o Prefeito Municipal foi afastado de suas funções.
Em princípio, há, na espécie, manifesta litispendência com processo j á afeto à jurisdição desta Corte.
O eminente Ministro Humberto Gomes de Barros é o Relator da Reclamação n Q 544/PB, versando a mesma temática do presente feito. Sua Excelência já proferiu, naqueles autos, decisão publicada no DJU
380 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. lO, (109): 371-382, setembro 1998.
do dia 19 do corrente mês, assim vazada, verbis:
"J osinaldo Ricardo Coelho reclama contra decisão tomada por eminente Desembargador do Estado da Paraíba. Pediu a suspensão liminar do ato. Para tanto, diz
1 - o Reclamante, em processo de Mandado de Segurança, requerido perante o egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, obteve do relator, decisão liminar (fls. 44 e segts.);
2 - esta liminar veio a ser cassada por outro eminente integrante do Tribunal, em decisão, também vestibular, lançada em processo de reclamação. (fls. 58/ 60)
Esta última decisão - ao sentir do Reclamante - avança sobre a competência do Superior Tribunal de Justiça.
Antes de apreciar o pedido de liminar, solicitei o pronunciamento do Ministério Público Federal.
A eminente SubprocuradoraGeral da República, Yedda de Lourdes Pereira ofereceu Parecer, recomendando o provimento da reclamação.
A Câmara Municipal de Sapé ofereceu impugnação (fls. 79 e segts.).
Esta, em resumo, a controvérsia.
O ato impugnado suspendeu liminar, deferida em processo de Mandado de Segurança.
O art. 4º da Lei 8.437/92 outorga competência ao presidente do Tribunal, ao qual couber <> conhecimento do recurso cabível, suspender a eficácia de liminares deferidas contra atos de agentes públicos.
Ora, o Tribunal competente para conhecer de recursos em processos de Segurança originários de tribunais estaduais, é o Superior Tribunal de Justiça.
Se assim ocorre, apenas o Presidente do STJ seria competente para apreciar o pedido de suspensão da liminar malsinada.
Suspendo o ato impugnado, restaurando a eficácia da liminar por ele suspensa e o curso do processo em que esta foi adotada.
Solicito informações ao eminente Desembargador reclamado (RISTJ, art. 188, 1)".
Contra essa decisão a Câmara Municipal noticia que manifestou agravo regimental.
Assim sendo, o temajá se encontra alçado à jurisdição do Superior Tribunal de Justiça, razão pela qual o pedido sequer merece ser conhecido.
Ainda que assim não fosse, os requisitos ensejadores da drástica medida requerida não se afiguram preenchidos. A decisão do eminente Desembargador-Relator (já restaurada pelo Ministro Humberto Gomes de Barros) assegura a permanência do Prefeito Municipal em seu cargo, enquanto processa a cognição plena da pretensão de anular o De-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998. 381
creto Legislativo que o afastou da função.
Não se descortina de que modo tal decisum ofereça, em princípio, qualquer lesão à ordem pública. A alegação de que seu retorno ao cargo acarretaria "risco social" não é pertinente neste patamar, porquanto diz com o mérito da segurança, em trâmite perante o Egrégio Tri-
bunal de Justiça da Paraíba (sede adequada para seu desate).
Em face do exposto, nego seguimento ao feito.
Intimem-se. Brasília, 25 de maio de 1998 (da
ta do julgamento). Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA
RIBEIRO, Presidente.
Publicado no DJ de 02-06-98.
382 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 371-382, setembro 1998.
A
PrCv Ação civil pública - CPC, art. 267, VI - Declaração de inconstitucionalidade de lei municipal- Extinção do processoIncompetência do juiz monocrático. REsp n Q 125.337-0-MG. RST J 109/48.
PrCv Ação civil pública - Ministério Público - Legitimidade -Patrimônio público e social- Proteção. REsp n Q 159.021-0-MA. RSTJ 109/68.
PrCv Ação de cobrança - Contrato de empreitada - Prescrição -Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp n Q 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.
PrCv Ação de cobrança - Competência - Contribuição sindical -CPC, art. 87 - Execução - Lei n Q 8.984/95 - Princípio da perpetuação de jurisdição. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.
PrCv Ação de divisão - CPC, art. 20 - Ofensa - Inexistência -Honorários advocatícios - Fixação no final da segunda fase. REsp n Q 96.427-0-PR. RSTJ 109/144.
PrCv Ação de rescisão de contrato de compra e venda cumulada com anulação de escritura pública e perdas e danos -Recurso especial - Reexame de prova - Impossibilidade - Súmula n Q 7-STJ - Incidência. REsp n Q 5.452-0-MS. RSTJ 109/179.
Cv Ação declaratória cumulada com pedido de anulação de escritura - Colação - Fraude à legítima - Prescrição. REsp n Q
112.974-0-SP. RSTJ 109/154.
Cv Ação declaratória de inexistência - Concubinato - Súmula n Q 7-STJ - Incidência. REsp n Q 99.484-0-GO. RSTJ 109/203.
Cv Ação indenizatória Pl'omovida por particular contra o INSS -Ausência do ato causador do dano praticado pela autarquia-ré - Clínica médica credenciada - Responsabilidade direta pelos atos praticados no exercício de suas funções. REsp n Q
85.047-0-DF. RSTJ 109/44.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 385
Cv Ação pauliana - Ajuizamento - Causa suspensiva e interruptivi't - Inexistência - CC, art. 178, § 9Q
, V, b - Prazo decadencial. REsp nQ 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.
Pr Pn Ação penal- Trancamento - Acusação abusiva - Procuradora de Estado - Parecer técnico sobre dispensa de licitação. RHC n Q 7.165-0-RO. RSTJ 109/331.
PrPn Ação penal- Trancamento - Denunciação caluniosa - Falta de justa causa. RHC n Q 7.137 -O-MG. RST J 109/266.
Pn Ação penal - Trancamento - Falta de justa causa - Acidente de trânsito - Veículo de propriedade de terceiro - Culpa inconsciente - Enquadramento - Não ocorrência - Habeas corpus. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.
PrPn Ação penal- Trancamento - Impossibilidade - Crime de apropriação indébita - Habeas corpus - Via eleita inadequada. RHC n Q 7.083-0-MG. RSTJ 109/264.
Pn Acidente de trânsito - Veículo de propriedade de terceiro -Ação penal- Trancamento - Falta de justa causa - Culpa inconsciente - Enquadramento - Não ocorrência - Habeas corpus. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.
Pr Pn Acusação abusiva - Ação penal- Trancamento - Procuradora de Estado - Parecer técnico sobre dispensa de licitação. RHC n Q 7.165-0-RO. RSTJ 109/331.
PrCv Agravo - Cabimento - Liminar - Indeferimento - Tribunal incompetente - Concessão - Excepcionalidade. AgRg no MS n Q
4.646-0-DF. RSTJ 109/21.
PrCv Agravo de instrumento - Intempestividade - CPC, art. 529 - Aplicabilidade - Custas judiciais - Pagamento. REsp n Q
152.722-0-PE. RSTJ 109/109.
PrCv Agravo regimental- Petições e recursos no ST J - Fac-símile - Inadmissibilidade - Resolução n Q 43/91, do STJ. AgRg nos EREsp n Q 64.205-0-GO. RSTJ 1Ó9/119.
PrCv Agravo regimental- Recurso especial- Seguimento - Inviabilidade - Matéria constitucional. AgRg no REsp n Q 141.248-0-ES. RSTJ 109/32.
Adm Alvará de licença - Juntada - Licitaçs<o - Inabilitação -Inexistência - Serviços de radicd.ifuÕ:óá.o sonora - Inscrição no Cadastro Fiscal do Municinl~. MS n Q 5.604-0-DF. RSTJ 109/23.
Trbt Aparelhos médicos - Decreto - Autorização legal- Necessidade de previsão - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Isenção. REsp n Q 151.221-0-RN. RSTJ 109/57.
386 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
PrPn Apelação criminal- Ministério Público - Intervenção no processo - Omissão - Presença do Procurador da República na sessão de julgamento - Nulidade - Inexistência. REsp n Q
90.458-0-PE. RSTJ 109/346.
PrCv Assistência da União - Desistência - Desapropriação - Princípio do perpetuatio jurisdictionis. REsp n Q 164.635-0-SP. RSTJ 109/114.
PrCv Ato concreto ou preparatório lesivo de direito líquido e certo -Inexistência - Mandado de segurança preventivo - Não cabimento. RMS n Q 8.920-0-PA. RSTJ 109/37.
PrCv Ato do escrivão - Juntada de recurso de apelação. REsp n Q
95.870-0-RS. RSTJ 109/99. Cv Ausência de prequestionamento - Contrato - Quitação -
Assertiva de que obtida mediante coação - Estado de necessidade - Recurso especial - Inadmissibilidade - Reexame de matéria probatória. REsp n Q 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.
PrCv Autarquia - Autenticação de documentos - Embargos de divergência - Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21. EREsp n Q
125.196-0-SP. RSTJ 109/15.
PrCv Autenticação de documentos - Autarquia - Embargos de divergência - Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21. EREsp n Q
125.196-0-8P. RSTJ 109/15. PrPn Auto de prisão em flagrante - Anulação - Falta de interesse
jurídico - Habeas corpus - Liberdade provisória concedida. RHC n Q 7.405-0-SP. RSTJ 109/275.
Cv Autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN) - N ecessidade - Crédito rural - Juros - Limite. REsp n Q 148.288-0-RS. RSTJ 109/234.
Cv Avalista - Solidariedade - CC, art. 1.495 - Inaplicabilidade -Execução promovida por fiadora sub-rogada contra avalistas de título de crédito. REsp n Q 76.705-0-MG. RSTJ 109/132.
B
Pv Benefício - Reajuste - Direito adquirido - Inexistência -URP de fevereiro de 1989 (26,05%). REsp n Q 153.957-0-RN. RSTJ 109/361.
PrCv Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 - Violação -Não configuração - Embargos de terceiro - Fraude à execução - Intimação -Ausência - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 387
c Ct Carta precatória - Cumprimento - Competência - Derroga
ção - Habeas corpus. HC n Q 5.329-0-DF. RSTJ 109/322.
Cv Causa suspensiva e interruptiva - Inexistência - Ação pauliana - Ajuizamento - CC, art. 178, § 9Q
, V, b - Prazo decadencial. REsp n Q 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.
Cv CC, art. 178, § 9Q, V, b - Ação pauliana - Ajuizamento -
Causa suspensiva e interruptiva - Inexistência - Prazo decadencial. REsp n Q 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.
Cv CC, art. 1.185 - Doação com encargo - Revogação. REsp n Q
95.309-0-SP. RSTJ 109/142.
Cv CC, art. 1.495 - Inaplicabilidade - Avalista- Solidariedade - Execução promovida por fiadora sub-rogada contra avalistas de título de crédito. REsp n Q 76.705-0-MG. RSTJ 109/132.
Trbt Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, IH - Dívida ativa inscrita - Pessoa física - Sócios. REsp n Q 139.S72-0-CE. RSTJ 109/52.
Cv Certificado de Depósito Bancário (CDB) - Deflação -Lei n Q 8.177/91, art. 27 - Incidência. REsp n Q 115.093-0-SP. RSTJ 109/213.
PrCv Citação válida dos sócios - Embargos de terceiro - Inadmissibilidade - Embargos do devedor - Execução fiscal. REsp n Q
76.431-0-SP. RSTJ 109/91.
Cv Clínica médica credenciada - Responsabilidade direta pelos atos praticados no exercício de suas funções - Ação indenizatória promovida por particular contra o INSS -Ausência do ato causador do dano praticado pela autarquia-ré. REsp n Q 85.047-O-DF. RSTJ 109/44.
Tr CLT, art. 468 - Violação - Não ocorrência - Decreto-Lei nº 2.280/85 - Vantagem pessoal- Situação provisória. REsp nº 109.291-0-RS. RSTJ 109/151.
Cv Clube social - Estatuto - Cláusula que estabelece a exclusão de responsabilidade - Furto de bens. REsp n Q 86.137-0-SP. RSTJ 109/140.
Cv Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CPDC) -Inaplicabilidade - Contratos firmados antes de 11/09/90. REsp n Q 72.806-0-SP. RSTJ 109/42.
388 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
Trbt Cofins - Decreto-Lei n Q 2.397/87, art. 1Q - Isenção - Lei Com
plementar n Q 70/91, art. 6Q, II - Sociedade civil prestadora de
serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.
Cv Colação -Ação declaratória cumulada com pedido de anulação de escritura- Fraude à legítima - Prescrição. REsp n Q 112.974-O-SP. RSTJ 109/154.
PrCv Competência - Ação de cobrança - Contribuição sindical -CPC, art. 87 - Execução - Lei n Q 8.984/85 - Princípio da perpetuação de jurisdição. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.
PrCv Competência - Contribuição sindical- Suspensão - Convenção coletiva de trabalho - Justiça do Trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.
PrPn Competência - Crimes cometidos em serviço - Justiça Penal Militar - Policial militar. RHC n Q 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.
Ct Competência - Derrogação - Carta precatória - Cumprimento -Habeas corpus. HC n Q 5.329-0-DF. RSTJ 109/322.
Cv Concubinato - Ação declaratória de inexistência - Súmula n Q 7-STJ - Incidência. REsp n Q 99.484-0-GO. RSTJ 109/203.
PrPn Concurso de agentes - Emendatio libelli - Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade - Lei de Tóxicos. RHC n Q 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.
Cv Condenação em dólar - Possibilidade - Responsabilidade dos diretores - Sociedade anônima. REsp n Q 79.476-0-RJ. RSTJ 109/135.
Cv Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida mediante coação -Ausência de prequestionamento - Estado de necessidade - Recurso especial- Inadmissibilidade - Reexame de matéria probatória. REsp n Q 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.
PrCv Contrato de empreitada - Ação de cobrança - Prescrição -Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp n Q 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.
Cv Contratos firmados antes de 11/09/90 - Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CPDC) - Inaplicabilidade. REsp n Q
72.806-0-SP. RSTJ 109/42.
Trbt Contribuição de melhoria - Cobrança - Decreto-Lei n Q
195/67, art. 5Q - Edital- Publicação. REsp n Q 89.791-0-SP.
RSTJ 109/95.
PrCv Contribuição sindical - Ação de cobrança - Competência -CPC, art. 87 - Execução - Lei n Q 8.984/95 - Princípio da perpetuação de jurisdição. CC nº 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 389
PrCv Contribuição sindical- Suspensão - Competência - Convenção coletiva de trabalho - Justiça do Trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.
PrCv Convenção coletiva de trabalho - Competência - Contribuição sindical- Suspensão - Justiça do Trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.
PrCv Correção monetária - Termo inicial - Denunciação da lide à seguradora - Responsabilidade civil - Seguro. REsp n Q
145.345-0-SP. RSTJ 109/23l.
PrCv CPC, art. 20 - Ofensa - Inexistência - Ação de divisão -Honorários advocatícios - Fixação no final da segunda fase. REsp n Q 96.427-0-PR. RSTJ 109/144.
PrCv CPC, art. 87 - Ação de cobrança - Competência - Contribuição sindical- Execução - Lei n Q 8.984/95 - Princípio da perpetuação de jurisdição. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.
PrCv CPC, art. 135, IV - Exceção de suspeição - Reconhecimento objetivo - Magistrado - Recebimento de dádiva para reforma do forum. REsp n Q 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.
PrCv CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropriação indireta -Divergência jurisprudencial - Não comprovação - Indenização - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obrigatoriedade. REsp n Q 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.
PrCv CPC, art. 259 - Dano moral e material- Reparação - Valor da causa - Impugnação - Valor econômico previamente estabelecido pelo autor na inicial. REsp n Q 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.
PrCv CPC, art. 267, VI - Ação civil pública - Declaração de inconstitucionalidade de lei municipal- Extinção do processoIncompetência do juiz monocrático. REsp n Q 125.337-0-MG. RSTJ 109/48.
PrCv CPC, art. 398 - Exame pericial - Realização - Princípio do contraditório - Violação - Vista às partes - Necessidade. REsp n Q 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.
PrCv CPC, art. 529 - Aplicabilidade - Agravo de instrumento -Intempestividade - Custas judiciais - Pagamento. REsp n Q
152.722-0-PE. RSTJ 109/109.
PrCv CPC, art. 655, § 2Q - Execução - Exeqüente - Credor hipo
tecário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel - Excepcionalidade - Penhora. REsp nQ 105.617-0-MG. RSTJ 109/210.
PrCv CPC, art. 738, I - Embargos à execução - Prazo para o oferecimento - Intimação da penhora - Executados diversos -Lei n Q 8.953/94. REsp n Q 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.
390 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
PrPn CPP, art. 571, VIII - Júri - Soberania dos veredictos - Reaforamento - Reformatio in pejus - Não ocorrência. HC n Q
6.090:0-TO. RSTJ 109/247.
Cv Crédito rural - Autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN) - Necessidade - Juros - Limite. REsp n Q 148.288-0-RS. RSTJ 109/234.
PrPn Crime contra a ordem tributária - Condição de procedibilidade - Denúncia - Oferecimento - Lei n Q 9.430/86, art. 83. RHC n Q 6.584-0-PR. RSTJ 109/325.
Pr Pn Crime de apropriação indébita - Ação penal- Trancamento -Impossibilidade - Habeas corpus - Via eleita inadequada. RHC n Q 7.083-0-MG. RSTJ 109/264.
PrPn Crime de calúnia e difamação - Não ocorrência - Dolo -Ausência - Recurso em habeas corpus. RHC n Q 6.971-0-RJ. RSTJ 109/328.
Pn Crime de estupro - Crime hediondo - Modalidade tentada ou consumada - Lei n Q 8.072/90, art. 2Q
, § 1 Q - "Sursis" -Aplicabilidade. REsp n Q 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.
Pn Crime de usura - Decreto n Q 22.626/33 - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Lei n Q 1.251/51, art. 4Q
, a -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 596-STF - Ressalva. RHC n Q 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.
Pn Crime hediondo - Modalidade tentada ou consumada - Crime de estupro - Lei n Q 8.072/90, art. 2Q
, § 1Q - "Sursis" -Aplica
bilidade. REsp n Q 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.
PrPn Crimes cometidos em serviço - Competência - Justiça Penal Militar - Policial militar. RHC n Q 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.
Trbt CTN, art. 135, III - Certidão negativa de débito - Dívida ativa inscrita - Pessoa física - Sócios. REsp n Q 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.
PrCv CTN, art. 185 - Violação - Não configuração - Boa-fé do adquirente do bem - Embargos de terceiro - Fraude à execução - Intimação -Ausência - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.
Pn Culpa inconsciente - Enquadramento - Não ocorrência - Ação penal - Trancamento - Falta de justa causa - Acidente de trãnsito - Veículo de propriedade de terceiro - Habeas corpus. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.
PrCv Custas judiciais - Pagamento - Agravo de instrumento -Intempestividade - CPC, art. 529 - Aplicabilidade. REsp n Q
152.722-0-PE. RSTJ 109/109.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 391
D
Cv Dano moral- Indenização - Juros de mora - Data inicial -Responsabilidade civil. REsp n Q 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.
PrCv Dano moral e material- Reparação - CPC, art. 259 - Valor da causa - Impugnação - Valor econômico previamente estabelecido pelo autor na inicial. REsp nº 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.
PrCv Decisão judicial - Desmembramento - Sindicato - Reunião por acordo de dirigentes - Impossibilidade. AgRg no REsp n Q
79.450-0-SP. RSTJ 109/29.
PrCv Declaração de inconstitucionalidade de lei municipal - Ação civil pública - CPC, art. 267, VI - Extinção do processo -Incompetência do juiz monocrático. REsp n Q 125.337-0-MG. RSTJ 109/48.
Trbt Decreto - Autorização legal - Necessidade de previsão - Aparelhos médicos - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Isenção. REsp nº 151.221-0-RN. RSTJ 109/57.
Pn Decreto n Q 22.626/33 - Crime de usura - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Lei nº 1.251/51, art. 4Q
, a -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 596-STF - Ressalva. RHC n Q 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.
Adm Decreto nº 89.253/83 -Aplicação - Plano de Cargos e Salários - Vantagem funcional. REsp n Q 102.188-0-SP. RSTJ 109/148.
Trbt Decreto-Lei n Q 195/67, art. 5Q - Contribuição de melhoria
- Cobrança - Edital - Publicação. REsp n Q 89.791-0-SP. RSTJ 109/95.
Tr Decreto-Lei n Q 2.280/85 - CLT, art. 468 - Violação - Não ocorrência - Vantagem pessoal - Situação provisória. REsp nº 109.291-0-RS. RSTJ 109/151.
Trbt Decreto-Lei n Q 2.397/87, art. 1 Q - Cofins - Isenção - Lei Complementar n Q 70/91, art. 6Q
, II - Sociedade civil prestadora de serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.
PrPn Decreto-Lei n Q 3.240/41 - Aplicabilidade - Seqüestro de bens - Prejuízo à Fazenda Pública - Sonegação fiscal. REsp n Q
132.539-0-SC. RSTJ 109/348. PrCv Deferimento administrativo - Embargos declaratórios - Omis
são - Inexistência - Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados - Mandado de segurança -Restauração de situação jurídica anterior. REsp nº 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.
392 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
Trbt Demissão voluntária - Pagamento recebido - Conceito - Imposto de Renda (IR) - Não incidência. REsp nº 159.036-0-DF. RSTJ 109/70.
Pn Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Crime de usura - Decreto nº 22.626/33 - Lei nº 1.251/51, art. 4º, a -Recurso em habeas corpus - Súmula nº 596-STF - Ressalva. RHC n 2 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.
PrPn Denúncia - Oferecimento - Crime contra a ordem tributária - Condição de procedibilidade - Lei nº 9.430/86, art. 83. RHC nº 6.584-0-PR. RSTJ 109/325.
PrPn Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instãncia - Impossibilidade - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva - Manutenção - Recurso em habeas corpus - Súmula nº 52-STJ. RHC nº 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.
PrPn Denunciação caluniosa - Ação penal- Trancamento - Falta de justa causa. RHC nº 7.137-0-MG. RSTJ 109/266.
PrCv Denunciação da lide à seguradora - Correção monetária - Termo inicial- Responsabilidade civil- Seguro. REsp nº 145.345-O-SP. RSTJ 109/231.
PrCv Desapropriação -Assistência da União - Desistência - Princípio do perpetuatio jurisdictionis. REsp nº 164.635-0-SP. RSTJ 109/114.
PrCv Desapropriação indireta - CPC, arts. 258 e 259 - Violação -Divergência jurisprudencial - Não comprovação - Indenização - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obrigatoriedade. REsp nº 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.
PrCv Desmembramento - Decisão judicial - Sindicato - Reunião por acordo de dirigentes - Impossibilidade. AgRg no REsp nº 79.450-0-SP. RSTJ 109/29.
Pv Direito adquirido - Inexistência - Benefício - Reajuste -URP de fevereiro de 1989 (26,05%). REsp nº 153.957-0-RN. RSTJ 109/361.
Adm Disponibilidade - Lei Complementar nº 35/79, art. 27, § 22 -
Magistrado - Representação - Nulidade. RMS nº 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.
PrCv Divergência jurisprudencial - Não comprovação - CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropriação indireta - Indenização - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obrigatoriedade. REsp nº 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 393
Trbt Dívida ativa inscrita - Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, lU - Pessoa física - Sócios. REsp n Q 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.
PrCv DNA- Exame pericial- Justiça gratuita -Antecipação das despesas pelo Estado - Possibilidade. REsp n Q 100.086-0-MS. RSTJ 109/205.
Cv Doação com encargo - Revogação - CC, art. 1.185. REsp n Q
95.309-0-SP. RSTJ 109/142.
PrPn Dolo - Ausência - Crime de calúnia e difamação - Não ocorrência - Recurso em habeas corpus. RHC n Q 6.971-0-RJ. RSTJ 109/328.
E
PrPn ECA, art. 122 - Menor infrator - Internação. RHC n Q 7.223-O-SP. RSTJ 109/273.
PrPn ECA, art. 127 - Remissão e medida sócio-educativa - Aplicllção. REsp n Q 156.176-0-SP. RSTJ 109/303.
Trbt Edital - Publicação - Contribuição de melhoria - Cobrança - Decreto-Lei n Q 195/67, art. 5Q
• REsp n Q 89.791-0-SP. RSTJ 109/95.
PrCv Embargos à adjudicação - Ausência de culpa por parte do embargado - Honorários advocatícios - Teoria da causalidade. REsp n Q 137.285-0-PB. RSTJ 109/223.
PrCv Embargos à arrematação - Preço vil- Caracterização. REsp n Q 130.351-0-MT. RSTJ 109/218.
PrCv Embargos à execução - Prazo para o oferecimento - CPC, art. 738, I - Intimação da penhora - Executados diversos -Lei n Q 8.953/94. REsp n Q 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.
PrCv Embargos de divergência - Autarquia - Autenticação de documentos - Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21. EREsp n Q
125.196-0-SP. RSTJ 109/15. PrCv Embargos de terceiro - Boa-fé do adquirente do bem - CTN,
art. 185 - Violação - Não configuração - Fraude à execução - Intimação -Ausência - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.
PrCv Embargos de terceiro - Inadmissibilidade - Citação válida dos sócios - Embargos do devedor - Execução fiscal. REsp n Q
76.431-0-SP. RSTJ 109/91.
394 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
PrCv Embargos declaratórios - Omissão - Inexistência - Deferimento administrativo - Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados - Mandado de 'segurança -Restauração de situação jurídica anterior. REsp n Q 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.
PrCv Embargos declaratórios - Omissão - Inexistência - Pedido recursal alternativo. EDcl no REsp n9 150.079-0-SP. RSTJ 109/315.
PrCv Embargos do devedor - Citação válida dos sócios - Embargos de terceiro - Inadmissibilidade - Execução fiscal. REsp n Q
76.431-0-SP. RSTJ 109/9l.
PrCv Embargos do devedor - Execução provisória de sentença -Honorários advocatícios - Cabimento. REsp n Q 66.370-0-RS. RSTJ 109/129.
PrPn Emendatio libelli - Concurso de agentes - Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade - Lei de Tóxicos. RHC nº 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.
Cv Estado de necessidade - Ausência de prequestionamento -Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida mediante coação - Recurso especial - Inadmissibilidade - Reexame de matéria probatória. REsp n Q 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.
Cv Estatuto - Cláusula que estabelece a exclusão de responsabilidade - Clube social - Furto de bens. REsp nº 86.137-0-SP. RSTJ 109/140.
PrCv Exame pericial- DNA - Justiça gratuita - Antecipação das despesas pelo Estado - Possibilidade. REsp nº 100.086-0-MS. RSTJ 109/205.
PrCv Exame pericial- Realização - CPC, art. 398 - Princípio do contraditório - Violação - Vista às partes - Necessidade. REsp nº 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.
PrCv Exceção de suspeição - Reconhecimento objetivo - CPC, art. 135, IV - Magistrado - Recebimento de dádiva para reforma do forum. REsp nº 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.
PrPn Excesso de prazo desconfigurado - Denúncia por roubo qualificado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva - Manutenção - Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 52-STJ. RHC nº 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.
PrCv Execução - Ação de cobrança - Competência - Contribuição sindical- CPC, art. 87 - Lei nº 8.984/95 - Princípio da perpetuação de jurisdição. CC nº 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 395
PrCv Execução - CPC, art. 655, § 2º - Exeqüente - Credor hipotecário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel - Excepcionalidade - Penhora. REsp nº 105.617-0-MG. RST J 109/210.
PrCv Execução fiscal - Citação válida dos sócios - Embargos de terceiro - Inadmissibilidade - Embargos do devedor. REsp nº 76.431-0-SP. RSTJ 109/91.
PrCv Execução fiscal - Faturamento diário da empresa - N omeação de administrador - Penhora - Substituição dos bens penhorados. REsp nº 118.780-0-SP. RSTJ 109/107.
Cv Execução promovida por fiadora sub-rogada contra avalistas de título de crédito - Avalista - Solidariedade - CC, art. 1.495 - Inaplicabilidade. REsp nº 76.705-0-MG. RSTJ 109/132.
PrCv Execução provisória de sentença - Embargos do devedor -Honorários advocatícios - Cabimento. REsp nº 66.370-0-RS. RSTJ 109/129.
PrCv Exeqüente - Credor hipotecário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel- Excepcionalidade - CPC, art. 655, § 2º - Execução - Penhora. REsp nº 105.617-0-MG. RSTJ 109/210.
PrCv Extinção do processo - Incompetência do juiz monocrático -Ação civil pública - CPC, art. 267, VI - Declaração de inconstitucionalidade de lei municipal. REsp nº 125.337-0-MG. RSTJ 109/48.
F
Cm Factoring - Atividade não abrangida pelo sistema financeiro nacional- Juros permitidos às instituições financeiras - Inaplicabilidade. REsp nº 119.705-0-RS. RSTJ 109/161.
PrPn Falta de justa causa - Ação penal - Trancamento - Denunciação caluniosa. RHC nº 7.137-0-MG. RSTJ 109/266.
PrCv Faturamento diário da empresa - Nomeação de administrador - Execução fiscal_ Penhora - Substituição dos bens penhorados. REsp nº 118.780-0-SP. RSTJ 109/107.
PrCv Fraude à execução - Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 - Violação - Não configuração - Embargos de terceiro - Intimação - Ausência - Penhora. REsp nº 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.
396 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
Cv Fraude à legítima - Ação declaratória cumulada com pedido de anulação de escritura- Colação - Prescrição. REsp nº 112.974-O-SP. RSTJ 109/154.
Cv Furto de bens - Clube social - Estatuto - Cláusula que estabelece a exclusão de responsabilidade. REsp nº 86.137-0-SP. RSTJ 109/140.
G
PrPn Gravação de conversa telefônica - Interceptação telefônica descaracterizada - Prova - Licitude - Recurso em habeas corpus. RHC nº 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.
H
Pn Habeas corpus - Ação penal- Trancamento - Falta de justa causa - Acidente de trânsito - Veículo de propriedade de terceiro - Culpa inconsciente - Enquadramento - Não ocorrência. HC n Q 3.299-0-SP. RSTJ 109/317.
PrPn Habeas corpus - Auto de prisão em flagrante - Anulação -Falta de interesse jurídico - Liberdade provisória concedida. RHC n Q 7.405-0-SP. RSTJ 109/275.
Ct Habeas corpus - Carta precatória - Cumprimento - Competência - Derrogação. HC nº 5.329-0-DF. RSTJ 109/322.
PrPn Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade -Concurso de agentes - Emendatio libelli - Lei de Tóxicos. RHC nº 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.
Pr Pn Habeas corpus - Via eleita inadequada - Ação penal- Trancamento - Impossibilidade - Crime de apropriação indébita. RHC nº 7.083-0-MG. RSTJ 109/264.
PrCv Honorários advocatícios - Cabimento - Embargos do devedor - Execução provisória de sentença. REsp nº 66.370-0-RS. RSTJ 109/129.
PrCv Honorários advocatícios - Embargos à adjudicação - Ausência de culpa por parte do embargado - Teoria da causalidade. REsp nº 137.285-0-PB. RSTJ 109/223.
PrCv Honorários advocatícios - Fixação no final da segunda fase -Ação de divisão - CPC, art. 20 - Ofensa - Inexistência. REsp nº 96.427-0-PR. RSTJ 109/144.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 397
I
Trbt Imposto de Renda (IR) - Não incidência - Demissão voluntária - Pagamento recebido - Conceito. REsp n Q 159.036-0-DF. RSTJ 109/70.
Trbt Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Isenção - Aparelhos médicos - Decreto - Autorização legal - N ecessidade de previsão. REsp n Q 151.221-0-RN. RSTJ 109/57.
PrCv Indenização - CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropriação indireta - Divergência jurisprudencial - Não comprovação - Valor da causa - Estimativa do autor na inicial - Obrigatoriedade. REsp n Q 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.
Cv Indenização - Dano moral- Juros de mora - Data inicialResponsabilidade civil. REsp n Q 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.
PrCv Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados - Deferimento administrativo - Embargos declaratórios - Omissão - Inexistência - Mandado de segurança -Restauração de situação jurídica anterior. REsp n Q 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.
Cm Informação falsa veiculada em mensagem publicitária - Lei nº 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Patente - Deferimento posterior - Prejuízo - Ausência - Propriedade industrial. REsp n Q 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.
PrPn Interceptação telefônica descaracterizada - Gravação de conversa telefônica - Prova - Licitude - Recurso em habeas corpus. RHC n Q 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.
PrCv Intimação - Ausência - Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 - Violação - Não configuração - Embargos de terceiro - Fraude à execução - Penhora. REsp n Q 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.
PrCv Intimação da penhora - Executados diversos - CPC, art. 738, I - Embargos à execução - Prazo para o oferecimento - Lei n Q 8.953/94. REsp n Q 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.
Trbt Isenção - Cofins - Decreto-Lei n Q 2.397/87, art. 1º - Lei Complementar nº 70/91, art. 6Q
, II - Sociedade civil prestadora de serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.
398 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
J
PrPn Júri - Soberania dos veredictos - CPP, art. 571, VIII - Reaforamento - Reformatio in pejus - Não ocorrência. HC n Q
6.090-0-TO. RSTJ 109/247.
Cv Juros - Limite -Autorização do Conselho Monetário Nacional CCMN) - Necessidade - Crédito rural. REsp n Q 148.288-0-RS. RSTJ 109/234.
Cv Juros de mora - Data inicial- Dano moral- IndenizaçãoResponsabilidade civil. REsp n Q 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.
Cm Juros permitidos às instituições financeiras - Inaplicabilidade - Factoring -Atividade não abrangida pelo sistema financeiro nacional. REsp n Q 119.705-0-RS. RSTJ 109/16l.
PrCv Justiça do Trabalho - Competência - Contribuição sindical - Suspensão - Convenção coletiva de trabalho - Lei n Q 8.984/ 95, art. 1 Q. CC n Q 19.108-0-RJ. RSTJ 109/12l.
PrCv Justiça gratuita -Antecipação das despesas pelo Estado - Possibilidade - DNA - Exame pericial. REsp n Q 100.086-0-MS. RSTJ 109/205.
PrPn Justiça Penal Militar ~ Competência - Crimes cometidos em serviço - Policial militar. RHC n Q 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.
L
Pn Latrocínio praticado com o concurso de menor - Lei n Q
2.252/54, art. 1 Q. REsp n Q 140.899-0-PR. RSTJ 109/295.
Adm Lei Complementar n Q 35/79, art. 27, § 2Q - Disponibilidade -
Magistrado - Representação - Nulidade. RMS n Q 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.
Trbt Lei Complementar n Q 70/91, art. 6Q, II - Cofins - Decreto-Lei
nº 2.397/87, art. 12 - Isenção - Sociedade civil prestadora de serviço médico. REsp n Q 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.
Cm Lei das Sociedades Anônimas, art. 206, II, b - Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade - Sociedade anônima - Dissolução. REsp n Q 164.125-0-RJ. RSTJ 109/ 174.
PrPn Lei de Tóxicos - Concurso de agentes - Emendatio libelli - Habeas corpus - Reexame de provas - Impossibilidade. RHC n Q 6.968-0-RJ. RSTJ 109/259.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 399
Pn Lei nº 1.251/51, art. 4º, a - Crime d~ usura - Decreto nº 22.626/ 33 - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 596-STF - Ressalva. RHC n Q 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.
Pn Lei n Q 2.252/54, art. 1Q - Latrocínio praticado com o con
curso de menor. REsp n Q 140.899-0-PR. RSTJ 109/295.
Cm Lei nº 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Informação falsa veiculada em mensagem publicitária - Patente - Deferimento posterior - Prejuízo - Ausência - Propriedade industrial. REsp nº 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.
Pn Lei nº 8.072/90, art. 2º, § 1º - Crime de estupro - Crime hediondo - Modalidade tentada ou consumada - "Sursis" -Aplicabilidade. REsp nº 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.
Cv Lei nº 8.177/91, art. 27 - Incidência - Certificado de Depósito Bancário (CDB) - Deflação. REsp nº 115.093-0-SP. RSTJ 109/213.
PrCv Lei nº 8.953/94 - CPC, art. 738, I - Embargos à execução -Prazo para o oferecimento - Intimação da penhora - Executados diversos. REsp nº 97.991-0-MG. RSTJ 109/195.
PrCv Lei nº 8.984/95 -Ação de cobrança - Competência - Contribuição sindical - CPC, art. 87 - Execução - Princípio da perpetuação de jurisdição. CC nº 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.
PrCv Lei nº 8.984/95, art. 1 º - Competência - Contribuição sindical - Suspensão - Convenção coletiva de trabalho - Justiça do Trabalho. CC nº 19.108-0-RJ. RSTJ 109/121.
PrPn Lei nº 9.099/95, art. 76 - Transação penal. HC nº 6.566-0-SP. RSTJ 109/251.
PrPn Lei nº 9.099/95, art. 89 - Inaplicabilidade - Sentença prolatada - Suspensão do processo - Inviabilidade. REsp nº 125.675-0-SP. RSTJ 109/290.
PrPn Lei nº 9.099/95, art. 89, c/c o art. 129, I e § 2º da Constituição Federal- Ministério Público - Suspensão condicional do processo - Oferta - Iniciativa. REbiJ ti:; 155.42 R··O-SP. RSTJ 109/300.
PrPn Lei nº 9.430/86, art. 83 - Crime contra a ordem tributária - Condição de procedibilidade - Denúncia - Oferecimento. RHC nº 6.584-0-PR. RSTJ 109/325.
PrPn Liberdade provisória concedida - Auto de prisão em flagrante - Anulação - Falta de interesse jurídico - Habeas corpus. RHC nº 7.405-0-SP. RSTJ 109/275.
400 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
Adm
PrCv
Licitação - Inabilitação - Inexistência - Alvará de licençaJuntada - Serviços de radiodifusão sonora - Inscrição no Cadastro Fiscal do Município. MS n Q 5.604-0-DF. RSTJ 109/23.
Liminar - Indeferimento - Agravo - Cabimento - Tribunal incompetente - Concessão - Excepcionalidade. AgRg no MS n Q
4.646-0-DF. RSTJ 109/21.
M
PrCv Magistrado - CPC, art. 135, IV - Exceção de suspeição -Reconhecimento objetivo - Recebimento de dádiva para reforma do forum. REsp nQ 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.
Adm Magistrado - Disponibilidade - Lei Complementar n Q 35/79, art. 27, § 2Q
- Representação - Nulidade. RMS n Q 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.
PrCv Mandado de segurança - Petição inicial- Indeferimento -Princípio da fungibilidade recursal - Recurso cabível. RMS n Q
7.823-0-RS. RSTJ 109/77.
PrCv Mandado de segurança - Restauração de situação jurídica anterior - Deferimento administrativo - Embargos declaratórios - Omissão - Inexistência - Indenização de períodos de férias e licença-prêmio não gozados. REsp nQ 169.226-0-SC. RSTJ 109/365.
PrCv Mandado de segurança preventivo - Não cabimento - Ato concreto ou preparatório lesivo de direito líquido e certo - Inexistência. RMS n Q 8.920-0-PA. RSTJ 109/37.
PrCv Matéria constitucional- Agravo regimental- Recurso especial- Seguimento - Inviabilidade. AgRg no REsp n Q 141.248-O-ES. RSTJ 109/32.
PrCv Medida Provisória n Q 1.542/97, art. 21-Autarquia-Autentitação de documentos - Embargos de divergência. EREsp n Q
125.196-0-SP. RSTJ 109/15.
PrPn Menor infrator - Internação - ECA, art. 122. RHC n Q 7.223-O-SP. RSTJ 109/273.
PrPn Ministério Público - Intervenção no processo - Omissão -Presença do Procurador da República na sessão de julgamento - Apelação criminal - Nulidade - Inexistência. REsp n Q
90.458-0-PE. RSTJ 109/346.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 401
PrCv Ministério Público - Legitimidade - Ação civil pública -Patrimônio público e social- Proteção. REsp nQ 159.021-0-MA. RSTJ 109/68.
PrPn Ministério Público - Lei nQ 9.099/95, art. 89, c/c o art. 129, I e § 2Q
da Constituição Federal- Suspensão condicional do processo - Oferta - Iniciativa. REsp n Q 155.426-0-SP. RSTJ 109/300.
N
PrPn Nulidade - Inexistência - Apelação criminal - Ministério Público - Intervenção no processo - Omissão - Presença do Procurador da República na sessão de julgamento. REsp n Q
90.458-0-PE. RSTJ 109/346.
PrPn Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva - Manutenção - Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 52-STJ. RHC n Q 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.
p
PrPn Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado -Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade - Prisão preventiva - Manutenção -Recurso em habeas corpus - Súmula n Q 52-STJ. RHC n Q
7.332-0-RJ. RSTJ 109/335.
Cm Patente - Deferimento posterior -- Infürmação falsa veiculada em mensagem publicitária - Lei n Q 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Prejuízo - Ausência - Propriedade industrial. REsp n Q 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.
PrCv Patrimônio público e social- Proteção -·Ação civil pública - Ministério Público - Legitimidade. REsp n Q 159.021-0-MA. RSTJ 109/68.
PrCv Pedido recursal alternativo - Embargos declaratórios -Omissão - Inexistência. EDcl no REsp n Q 150.079-0-SP. RSTJ 109/315.
402 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
PrCv Penhora - Boa-fé do adquirente do bem - CTN, art. 185 -Violação - Não configuração - Embargos de terceiro - Fraude à execução - Intimação -Ausência. REsp nº 46.910-0-SP. RSTJ 109/83.
PrCv Penhora - CPC, art. 655, § 2º - Execução - Exeqüente -Credor hipotecário em terceiro grau - Recusa a nomeação de imóvel-Excepcionalidade. REsp nº 105.617-0-MG. RSTJ 109/210.
PrCv Penhora - Substituição dos bens penhorados - Execução fiscal- Faturamento diário da empresa - Nomeação de administrador. REsp nº 118.780-0-SP. RSTJ 109/107.
Trbt Pessoa física - Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, IH - Dívida ativa inscrita - Sócios. REsp nº 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.
PrCv Petições e recursos no STJ - Fac-símile - InadmissibilidadeAgravo regimental- Resolução nº 43/91, do STJ. AgRg nos EREsp nº 64.205-0-GO. RSTJ 109/119.
Adm Plano de Cargos e Salários - Decreto nº 89.253/83 -Aplicação - Vantagem funcional. REsp nº 102.188-0-SP. RSTJ 109/148.
PrPn Policial militar - Competência - Crimes cometidos em serviço - Justiça Penal Militar. RHC nº 7.366-0-GO. RSTJ 109/337.
Cv Prazo decadencial - Ação pauliana - Ajuizamento - Causa suspensiva e interruptiva - Inexistência - CC, art. 178, § 9º, V, b. REsp nº 124.147-0-GO. RSTJ 109/215.
PrCv Preço vil- Caracterização - Embargos à arrematação. REsp nº 130.351-0-MT. RSTJ 109/218.
Cm Prejuízo - Ausência - Informação falsa veiculada em mensagem publicitária - Lei nº 5.772/71, art. 23, parágrafo únicoPatente - Deferimento posterior - Propriedade industrial. REsp nº 161.909-0-RS. RSTJ 109/172.
PrCv Prescrição - Ação de cobrança - Contrato de empreitada -Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp nº 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.
Cv Prescrição - Ação declaratória cumulada com pedido de anulação de escritura - Colação - Fraude à legítima. REsp nº 112.974-0-SP. RSTJ 109/154.
PrCv Princípio da fungibilidade recursal- Mandado de segurança - Petição inicial- Indeferimento - Recurso cabível. RMS nº 7.823-0-RS. RSTJ 109/77.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 403
PrCv Princípio da perpetuação de jurisdição - Ação de cobrança -Competência - Contribuição sindical- CPC, art. 87 - Execução - Lei nº 8.984/95. CC n Q 19.246-0-SP. RSTJ 109/123.
PrPn Princípio da proporcionalidade - Regime semi-aberto - Réu preso - Sentença condenatória. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.
PrCv Princípio do contraditório - Violação - CPC, art. 398 - Exame pericial - Realização - Vista às partes - Necessidade. REsp nº 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.
PrCv Princípio do perpetuatio jurisdidionis - Assistência da União - Desistência - Desapropriação. REsp nº 164.635-0-SP. RSTJ 109/114.
PrPn Prisão preventiva - Manutenção - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade - Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Recurso em habeas corpus - Súmula nº 52-STJ. RHC nº 7.332-O-RJ. RSTJ 109/335.
PrPn Procuradora de Estado - Parecer técnico sobre dispensa de licitação - Ação penal- Trancamento - Acusação abusiva. RHC nº 7.165-0-RO. RSTJ 109/33l.
Cm Propriedade industrial - Informação falsa veiculada em mensagem publicitária-Lei nQ 5.772/71, art. 23, parágrafo único - Patente - Deferimento posterior - Prejuízo - Ausência. REsp nº 16l.909-0-RS. RSTJ 109/172.
PrPn Prova - Licitude - Gravação de conversa telefônica - Interceptação telefônica descaracterizada - Recurso em habeas corpus. RHC nº 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.
R
PrPn Reaforamento - CPP, art. 571, VIII - Júri - Soberania dos veredictos - Reformatio in pejus - Não ocorrência. HC nº 6.090-0-TO. RSTJ 109/247.
PrCv Recebimento de dádiva para reforma do forum - CPC, art. 135-, IV - Exceção de suspeicão - Reconhecimento objetivo - Ma:gistrado. REsp nº 147.850-0-RJ. RSTJ 109/355.
PrCv Recurso cabível - Mandado de segurança - Petição inicial - Indeferimento - Princípio da fungibilidade recursal. RMS nº 7.823-0-RS. RSTJ 109/77.
404 R Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
PrPn Recurso em habeas corpus - Crime de calúnia e difamação - Não ocorrência - Dolo - Ausência. RHC nº 6.971-0-RJ. RSTJ 109/328.
Pn Recurso em habeas corpus - Crime de usura - Decreto nº 22.626/33 - Denúncia - Falta de justa causa - Não ocorrência - Lei nº 1.251/51, art. 4º, a - Súmula nº 596-STF - Ressalva. RHC nº 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.
PrPn Recurso em habeas corpus - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade -Partes - Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva - Manutenção - Súmula nº 52-STJ. RHC nº 7.332-0-RJ. RSTJ 109/335.
PrPn Recurso em habeas corpus - Gravação de conversa telefônica - Interceptação telefônica descaracterizada - Prova - Licitude. RHC nº 7.216-0-SP. RSTJ 109/268.
Cv Recurso especial- Inadmissibilidade - Ausência de prequestionamento - Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida mediante coação - Estado de necessidade - Reexame de matéria probatória. REsp nº 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.
PrCv Recurso especial- Reexame de prova - Impossibilidade - Ação de rescisão de contrato de compra e venda cumulada com anulação de escritura pública e perdas e danos - Súmula nº 7-STJ - Incidência. REsp nº 5.452-0-MS. RSTJ 109/179.
PrCv Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade -Ação de cobrança - Contrato de empreitada - Prescrição. REsp nº 112.965-0-MG. RSTJ 109/102.
Cm Recurso especial - Reexame de provas - Inadmissibilidade -Lei das Sociedades Anônimas, art. 206, lI, b - Sociedade anônima - Dissolução. REsp nº 164.125-0-RJ. RSTJ 109/174.
Cv Reexame de matéria probatória - Ausência de prequestionamento - Contrato - Quitação - Assertiva de que obtida mediante coação - Estado de necessidade - Recurso especial -Inadmissibilidade. REsp nº 90.980-0-DF. RSTJ 109/182.
PrPn Reformatio in pejus - Não ocorrência - CPP, art. 571, VIII - Júri - Soberania dos veredictos - Reaforamento. HC nº 6.090-0-TO. RSTJ 109/247.
PrPn Regime semi-aberto - Princípio da proporcionalidade - Réu preso :.-. Sentença condenatória. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.
R. Sup. Trib .Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 405
Pr Pn Remissão e medida sócio-educativa - Aplicação - ECA, art. 127. REsp nº 156.176-0-SP. RSTJ 109/303.
Adm Representação - Nulidade - Disponibilidade - Lei Complementar nº 35/79, art. 27, § 2º - Magistrado. RMS nº 7.977-0-SE. RSTJ 109/278.
PrCv Resolução nº 43/91, do STJ -Agravo regimental- Petições e recursos no STJ - Fac-símile - Inadmissibilidade. AgRg nos EREsp nº 64.205-0-GO. RSTJ 109/119.
PrCv Responsabilidade civil - Correção monetária - Termo inicial - Denunciação da lide à seguradora - Seguro. REsp nº 145.345-O-SP. RSTJ 109/231.
Cv Responsabilidade civil- Dano moral- Indenização - Juros de mora - Data inicial. REsp nº 153.155-0-SP. RSTJ 109/239.
Cv Responsabilidade dos diretores - Condenação em dólar -Possibilidade - Sociedade anônima. REsp nº 79.476-0-RJ. RSTJ 109/135.
PrPn Réu preso - Princípio da proporcionalidade - Regime semiaberto - Sentença condenatória. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.
s PrCv Seguro - Correção monetária - Termo inicial- Denunciação
da lide à seguradora - Responsabilidade civil. REsp nº 145.345-O-SP. RSTJ 109/231.
PrPn Sentença condenatória - Princípio da proporcionalidade - Regime semi-aberto - Réu preso. RHC nº 7.514-0-RJ. RSTJ 109/339.
PrPn Sentença prolatada - Lei nº 9.099/95, art. 89 - Inaplicabilidade - Suspensão do processo - Inviabilidade. REsp nº 125.675-O-SP. RSTJ 109/290.
PrPn Seqüestro de bens - Prejuízo à Fazenda Pública - Decreto-Lei nº 3.240/41 - Aplicabilidade - Sonegação fiscal. REsp nº 132.539-0-SC. RSTJ 109/348.
Adm Serventia não oficial - Servidor público - Tempo de serviço - Contagem para fins de gratificação - Impossibilidade. RMS nº 8.399-0-RS. RSTJ 109/341.
406 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
Adm Serviços de radiodifusão sonora - Inscrição no Cadastro Fiscal do Município - Alvará de licença - Juntada - Licitação -Inabilitação - Inexistência. MS nº 5.604-0-DF. RSTJ 109/23.
Adm Servidor público - Serventia não oficial - Tempo de serviço - Contagem para fins de gratificação - Impossibilidade. RMS nº 8.399-0-RS. RSTJ 109/341.
PrCv Sindicato - Reunião por acordo de dirigentes - Impossibilidade - Decisão judicial - Desmembramento. AgRg no REsp nº 79.450-0-SP. RSTJ 109/29.
Cv Sociedade anônima - Condenação em dólar - Possibilidade - Responsabilidade dos diretores. REsp nº 79.476-0-RJ. RSTJ 109/135.
Cm Sociedade anônima - Dissolução - Lei das Sociedades Anônimas, art. 206, lI, b - Recurso especial- Reexame de provas - Inadmissibilidade. REsp nº 164.125-0-RJ. RSTJ 109/174.
Trbt Sociedade civil prestadora de serviço médico - Cofins - Decreto-.Lei nº 2.397/87, art. 1º - Isenção - Lei Complementar nº 70/91, art. 6º, lI. REsp nº 156.839-0-SP. RSTJ 109/60.
Trbt Sócios - Certidão negativa de débito - CTN, art. 135, III -Dívida ativa inscrita - Pessoa física. REsp nº 139.872-0-CE. RSTJ 109/52.
PrPn Sonegação fiscal- Decreto-Lei nº 3.240/41-Aplicabilidade - Seqüestro de bens - Prejuízo à Fazenda Pública. REsp nº 132.539-0-SC. RSTJ 109/348.
PrCv Súmula nº 7 -STJ - Incidência - Ação de rescisão de contrato de compra e venda cumulada com anulação de escritura pública e perdas e danos - Recurso especial - Reexame de prova - Impossibilidade. REsp nº 5.452-0-MS. RSTJ 109/179.
Cv Súmula nº 7-STJ - Incidência - Ação declaratória de inexistência - Concubinato. REsp nº 99.484-0-GO. RSTJ 109/203.
PrPn Súmula nº 52-STJ - Denúncia por roubo qualificado - Excesso de prazo desconfigurado - Nulidade declinada em grau de recurso - Supressão de instância - Impossibilidade - Partes -Tratamento desigual - Não ocorrência - Prisão preventiva -Manutenção - Recurso em habeas corpus. RHC nº .7.332-0-RJ. RSTJ 109/335.
Pn Súmula nº 596-STF - Ressalva .:...-Crime de usura - Decreto nº 22.626/33 - Denúncia - Falta dejusta causa - Não ocorrência - Lei nº 1.251/51, art. 4º, a - Recurso em habeas corpus. RHC nº 6.824-0-PR. RSTJ 109/253.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 407
Pn "Sursis" - Aplicabilidade - Crime de estupro - Crime hediondo - Modalidade tentada ou consumada - Lei n Q 8.072/90, art. 2Q
, § 1Q• REsp n Q 160.264-0-PR. RSTJ 109/306.
PrPn Suspensão condicional do processo - Oferta - Iniciativa - Lei n Q 9.099/95, art. 89, c/c o art. 129, I e § 2Q da Constituição Federal- Ministério Público. REsp nQ 155.426-0-SP. RSTJ 109/300.
PrPn Suspensão do processo - Inviabilidade - Lei nQ 9.099/95, art. 89 - Inaplicabilidade - Sentença prolatada. REsp n Q
125.675-0-SP. RSTJ 109/290.
T
Adm Tempo de serviço - Contagem para fins de gratificação - Impossibilidade - Serventia não oficial- Servidor público. RMS nº 8.399-0-RS. RSTJ 109/34l.
PrCv Teoria da causalidade - Embargos à adjudicação - Ausência de culpa por parte do embargado - Honorários advocatícios. REsp nº 137.285-0-PB. RSTJ 109/223.
PrPn Transação penal- Lei nº 9.099/95, art. 76. HC nº 6.566-0-SP. RSTJ 109/25l.
PrCv Tribunal incompetente - Concessão - Excepcionalidade -Agravo - Cabimento - Liminar - Indeferimento. AgRg no MS nº 4.646-0-DF. RSTJ 109/21.
u
Pv URP de fevereiro de 1989 (26,05%) - Benefício - Reajuste - Direito adquirido - Inexistência. REsp nº 153.957-0-RN. RSTJ 109/361.
v
PrCv Valor da causa - Estimativa do autor na inicial- Obrigatoriedade - CPC, arts. 258 e 259 - Violação - Desapropriação indireta - Divergência jurisprudencial - Não comprovação - Indenização. REsp nº 53.463-0-SP. RSTJ 109/87.
408 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998.
PrCv Valor da causa - Impugnação - CPC, art. 259 - Dano moral e material- Reparação - Valor econômico previamente estabelecido pelo autor na inicial. REsp nº 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.
PrCv Valor econômico previamente estabelecido pelo autor na inicial - CPC, art. 259 - Dano moral e material- Reparação - Valor da causa - Impugnação. REsp nº 143.553-0-RJ. RSTJ 109/227.
Adm Vantagem funcional - Decreto nº 89.253/83 - Aplicação -Plano de Cargos e Salários. REsp nº 102.188-0-SP. RSTJ 109/148.
Tr Vantagem pessoal - Situação provisória - CLT, art. 468 -Violação - Não ocorrência - Decreto-Lei nº 2.280/85. REsp nº 109.291-0-RS. RSTJ 109/15l.
PrCv Vista às partes - Necessidade - CPC, art. 398 -Exame pericial- Realização - Princípio do contraditório - Violação. REsp nº 92.313-0-SP. RSTJ 109/192.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 383-409, setembro 1998. 409
I - JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANÇA - AgRg no MS
4.646-0-DF ............ ReI. Min. Adhemar Maciel........................ RSTJ 109/21
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL -AgRg no REsp
79.450-0-SP ............. ReI. Min. José Delgado .............................. RSTJ 109/29 14l.248-0-ES ............ ReI. Min. José Delgado .............................. RSTJ 109/32
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL - AgRg nos EREsp
64.205-0-GO ............ ReI. Min. Bueno de Souza ......................... RSTJ 109/119
CONFLITO DE COMPETÊNCIA ~ CC
19.108-0-RJ ............. ReI. Min. Bueno de Souza ......................... RSTJ 109/121 19.246-0-SP ............. ReI. Min. Costa Leite ................................. RSTJ 109/123
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL - EDc1 no REsp
150.079-0-SP ............. ReI. Min. Fernando Gonçalves ................. RSTJ 109/315
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL - EREsp
125.196-0-SP ............. ReI. Min. Waldemar Zveiter ..................... RSTJ 109/15
HABEAS CORPUS - HC
3.299-0-SP ............. ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ....... RSTJ 109/317 5.329-0-DF ............ ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ....... RSTJ 109/322 6.090-0-TO ............ ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzini ........... RSTJ 109/247 6.566-0-SP ............. ReI. Min. José Dantas ............................... RSTJ 109/251
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 411-415, setembro 1998. 413
MANDADO DE SEGURANÇA - MS
5.604-0-DF ............ ReI. Min. Hélio Mosimann ........................ RSTJ 109/23
RECURSO EM HABEAS CORPUS - RHC
6.584-0-PR ............ ReI. Min. Fernando Gonçalves ................. RSTJ 109/325 6.824-0-PR ............ ReI. Min. José Dantas ............................... RSTJ 109/253 6.968-0-RJ ............. ReI. Min. José Arnaldo da Fonseca.......... RSTJ 109/259 6.971-0-RJ ............. ReI. Min. Fernando Gonçalves ................. RSTJ 109/328 7.083-0-MG ........... ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzini ........... RSTJ 109/264 7.137-0-MG ........... ReI. Min. Edson Vidigal ............................ RSTJ 109/266 7.165-0-RO ............ ReI. Min. Anselmo Santiago ..................... RSTJ 109/331 7.216-0-SP ............. ReI. Min. Edson Vidigal ............................ RSTJ 109/268 7.223-0-SP ............. ReI. Min. José Dantas ............................... RSTJ 109/273 7.332-0-RJ ............. ReI. Min. Anselmo Santiago ..................... RSTJ 109/335 7.366-0-GO ............ ReI. Min. Anselmo Santiago ..................... RSTJ 109/337 7.405-0-SP ............. ReI. Min. Edson Vidigal ............................ RSTJ 109/275 7.514-0-RJ ............. ReI. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ....... RSTJ 109/339
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA - RMS
7.823-0-RS ............. ReI. Min. Adhemar Maciel ........................ RSTJ 109/77 7.977-0-SE ............. ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzini ........... RSTJ 109/278 8.399-0-RS ............. ReI. Min. William Patterson ..................... RSTJ 109/341 8.920-0-PA ............. ReI. Min. Demócrito Reinaldo .................. RSTJ 109/37
RECURSO ESPECIAL - REsp
5.452-0-MS ............ ReI. Min. Fontes de Alencar ..................... RSTJ 109/179 46.910-0-SP ............. ReI. Min. Peçanha Martins ....................... RSTJ 109/83 53.463-0-SP ............. ReI. Min. Peçanha Martins ....................... RSTJ 109/87 66.370-0-RS ............. ReI. Min. Waldemar Zveiter ..................... RSTJ 109/129 72.806-0-SP ............. ReI. Min. Garcia Vieira ............................. RSTJ 109/42 76.431-0-SP ............. ReI. Min. Peçanha Martins ....................... RSTJ 109/91 76.705-0-MG ........... ReI. Min. Nilson Naves .............................. RSTJ 109/132 79.476-0-RJ ............. ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito RSTJ 109/135 85.047-0-DF ............ ReI. Min. Demócrito Reinaldo .................. RSTJ 109/44 86.137-0-SP ............. ReI. Min. Eduardo Ribeiro ........................ RSTJ 109/140 89. 791-0-SP ............. ReI. Min. Ari Pargendler ........................... RSTJ 109/95 90.458-0-PE ............ ReI. Min. Vicente Leal............................... RSTJ 109/346 90.980-0-DF ............ ReI. Min. Barros Monteiro ........................ RSTJ 109/182 92.313-0-SP ............. ReI. Min. Sálvio de Figueiredo ................. RSTJ 109/192 95.309-0-SP ............. ReI. Min. Eduardo Ribeiro ........................ RSTJ 109/142 95.870-0-RS ............. ReI. Min. Ari Pargendler ........................... RSTJ 109/99
414 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 411-415, setembro 1998.
96.427-0-PR ............ Rel. Min. Nilson Naves .............................. RSTJ 109/144 97.991-0-MG ........... Rei. Min. Sálvio de Figueiredo ................. RSTJ 109/195 99.484-0-GO ............ Rel. Min. Fontes de Alencar ..................... RSTJ 109/203
100.086-0-MS ............ Rei. Min. Cesar Asfor Rocha ..................... RSTJ 109/205 102.188-0-SP ............. Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito RSTJ 109/148 105.617-0-MG ........... Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ..................... RSTJ 109/210 109.291-0-RS ............ Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito RSTJ 109/151 112.965-0-MG ........... Rel. Min. Hélio Mosimann ........................ RSTJ 109/102 112.974-0-SP ............. Rel. Min. Nilson Naves .............................. RSTJ 109/154 115.093-0-SP ............. Rel. Min. Fontes de Alencar ..................... RSTJ 109/213 118.780-0-SP ............. ReI. Min. Hélio Mosimann ........................ RSTJ 109/107 119. 705-0-RS ............. Rel. Min. Waldemar Zveiter ..................... RSTJ 109/161 124.147-0-GO ............ Rel. Min. Sálvio de Figueiredo ................. RSTJ 109/215 125.337-0-MG ........... Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................. RSTJ 109/48 125.675-0-SP ............. Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca .......... RSTJ 109/290 130.351-0-MT ........... Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .............. RSTJ 109/218 132.539-0-SC ............ Rei. Min. William Patterson ..................... RSTJ 109/348 137.285-0-PB ............ Rel. Min. Barros Monteiro ........................ RSTJ 109/223 139.872-0-CE ............ Rel. Min. Milton Luiz Pereira .................. RSTJ 109/52 140.899-0-PR ............ Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca .......... RSTJ 109/295 143.553-0-RJ ............. Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ..................... RSTJ 109/227 145.345-0-SP ............. Rel. Min. Barros Monteiro ........................ RSTJ 109/231 14 7.850-0-RJ ............. Rei. Min. Vicente Leal............................... RSTJ 109/355 148.288-0-RS ............ Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .............. RSTJ 109/234 151.221-0-RN ............ Rel. Min. Garcia Vieira ............................. RSTJ 109/57 152.722-0-PE ............ Rei. Min. Adhemar Maciel........................ RSTJ 109/109 153.155-0-SP ............. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar ............... RSTJ 109/239 153.957-0-RN ............ Rel. Min. William Patterson ..................... RSTJ 109/361 155.426-0-SP ............. Rel. Min. Felix Fischer .............................. RSTJ 109/300 156.176-0-SP ............. Rei. Min. Felix Fischer .............................. RSTJ 109/303 156.839-0-SP ............. Rel. Min. José Delgado .............................. RSTJ 109/60 159.021-0-MA ........... Rel. Min. Garcia Vieira ............................. RSTJ 109/68 159.036-0-DF ............ Rel. Min. Humberto Gomes de Barros .... RSTJ 109/70 160.264-0-PR ............ Rel. Min. Felix Fischer .............................. RSTJ 109/306 161.909-0-RS ............ Rel. Min. Eduardo Ribeiro ........................ RSTJ 109/172 164.125-0-RJ ............. Rel. Min. Costa Leite ................................. RSTJ 109/174 164.635-0-SP ............. Rel. Min. Ari Pargendler ........................... RSTJ 109/114 169.226-0-SC ............ ReI. Min. Vicente Leal............................... RSTJ 109/365
II - DESPACHOS DA PRESIDÊNCIA
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA - SS
652-0-SP ............. Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/373 657-0-PB ............. Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/377 661-0-PB ............. Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/378 664-0-PB ............. ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........ RSTJ 109/380
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 411-415, setembro 1998. 415
ABREVIATURAS E SIGLAS
Sigla
AC
Adm
Ag
AgRgnaAPn
AgRgnaAR
AgRgnaMC
AgRgna Pet
AgRgna Rcl
AgRgnaRp
AgRgna RvCr
AgRgna SS
AgRgnoAg
AgRg no AgRg no Ag
AgRg no CAt
AgRgno CC
AgRgno HC
AgRgno Inq
AgRgno MI
AgRgno MS
AgRgno Prc
AgRg no REsp
AgRgno RHC
Nome
Apelação Cível
Administrativo
Agravo de Instrumento
Agravo Regimental na Ação Penal
Agravo Regimental na Ação Rescisória
Agravo Regimental na Medida Cautelar
Agravo Regimental na Petição
Agravo Regimental na Reclamação
Agravo Regimental na Representação
Agravo Regimental na Revisão Criminal
Agravo Regimental na Suspensão de Segurança
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
Agravo Regimental no Agravo Regimental no
Agravo
Agravo Regimental no Conflito de Atribuições
Agravo Regimental no Conflito de Competência
Agravo Regimental no Habeas Corpus
Agravo Regimental no Inquérito
Agravo Regimental no Mandado de Injunção
Agravo Regimental no Mandado de Segurança
Agravo Regimental no Precatório
Agravo Regimental no Recurso Especial
Agravo Regimental no Recurso em Habeas Corpus
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998. 419
AgRgno RMS
AgRg nos EDcl no HC
AgRg nos EDcl no RHC
AgRg nos EI no RMS
AgRg nos EREsp
AI no RMS
APn AR CAt CC
CC
CCm
Cm
Com
CP CPC
CPDC
CPP
Ct
CTN
Cv D DL E
EAC EAR EC ECA EDcl e AgRg no REsp
Agravo Regimental no Recurso em Mandado de Segurança
Agravo Regimental nos Embargos de Declaração no Habeas Corpus
Agravo Regimental nos Embargos de Declaração no Recurso em Habeas Corpus
Agravo Regimental nos Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de Segurança
Agravo Regimental nos Embargos de Divergência em Recurso Especial
Argüição de Inconstitucionalidade no Recurso em Mandado de Segurança
Ação Penal Ação Rescisória Conflito de Atribuições Código Civil
Conflito de Competência
Código Comercial
Comercial
Comunicação
Código Penal Código de Processo Civil
Código de Proteção e Defesa do Consumidor
Código de Processo Penal
Constitucional
Código Tributário Nacional
Civil Decreto Decreto-Lei Ementário da Jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça Embargos Infringentes em Apelação Cível Embargos Infringentes em Ação Rescisória Emenda Constitucional Estatuto da Criança e do Adolescente Embargos de Declaração e Agravo Regimental
no Recurso Especial
420 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998.
EDcl na AI no RMS
EDcl naApn EDcl na MC EDcl na Rp EDcl no AgRg no Ag
EDcl no CAt
EDcl no CC
EDcl no HC EDcl no MS
EDcl na Rcl EDcl no REsp EDcl no RHC
Embargos de Declaração na Argüição de Inconstitucionalidade no Recurso em Mandado de Segurança
Embargos de Declaração na Ação Penal Embargos de Declaração na Medida Cautelar Embargos de Declaração na Representação Embargos de Declaração no Agravo Regimental
no Agravo de Instrumento Embargos de Declaração no Conflito de Atribui
ções Embargos de Declaração no Conflito de Compe
tência Embargos de Declaração no Habeas Corpus Embargos de Declaração no Mandado de
Segurança Embargos de Declaração na Reclamação Embargos de Declaração no Recurso Especial Embargos de Declaração no Recurso em
Habeas Corpus EDcl no RMS Embargos de Declaração no Recurso em
Mandado de Segurança EDcl nos EDcl no Ag Embargos de Declaração nos Embargos de De-
claração no Agravo de Instrumento EDcl nos EDcl na IF Embargos de Declaraçã0 nos Embargos de De-
claração na Intervenção Federal EDcl nos EDcl no AgRg no Embargos de Declaração nos Embargos de Ag nos EDcl nos EDcl nos Declaração no Agravo Regimental no AgraEDcl no AgRg no Ag vo de Instrumento nos Embargos de Decla-
ração nos Embargos de Declaração nos Embargos de Declaração no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
EDclnosEDclnoAgRgnaPet Embargos de Declaração nos Embargos de Declaração no Agravo Regimental na Petição
EDclnosEDclnoAgRgnoAg Embargos de Declaração nos Embargos de Declaração no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
EDcl nos EDcl no REsp Embargos de Declaração nos Embargos de Declaração no Recurso Especial
EDcl nos EDcl nos EDcl Embargos de Declaração nos Embargos de De-nos EDcl no RMS claração nos Embargos de Declaração nos
Embargos de Declaração no Recurso em Mandado de Segurança
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998. 421
EDcl nos EREsp
EI EREsp ExImp ExSusp ExVerd HC HD IExec naAPn IF Inq IUJ no AgRg no Ag
IUJ no RMS
IUJ no REsp
LC MC
MI
MS PA Pet Pn Prc PrCv PrPn Pv R Rcl RE REsp RHC RHD
RMI
422
Embargos de Declaração nos Embargos de Divergência em Recurso Especial
Eleitoral Embargos de Divergência em Recurso Especial Exceção de Impedimento Exceção de Suspeição Exceção da Verdade Habeas Corpus Habeas Data Incidente de Execução na Ação Penal Intervenção Federal Inquérito Incidente de Uniformização de Jurisprudência
no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
Incidente de Uniformização de Jurisprudência no Recurso em Mandado de Segurança
Incidente de Uniformização de Jurisprudência no Recurso Especial
Lei Complementar Medida Cautelar
Mandado de Injunção
Mandado de Segurança Processo Administrativo Petição Penal Precatório Processual Civil Processual Penal Previdenciário Revista do Superior Tribunal de Justiça Reclamação Petição de Recurso Extraordinário Recurso Especial Recurso em Habeas Corpus Petição de Recurso Ordinário em Habeas Data Petição de Recurso Ordinário em Mandado de
Injunção
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998.
RMS Rp RSTJ RvCr S SS Tr Trbt
Recurso em Mandado de Segurança Representação Revista do Superior Tribunal de Justiça Revisão Criminal Súmula
Suspensão de Segurança Trabalho Tributário
R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 417-423, setembro 1998. 423
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
LEX - JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUS-TIÇA - editada pela Lex Editora S/A ............................................. . nQ 1 REVISTA DE DIREITO ADMINISTRATIVO - editada pela Edi-tora Renovar Ltda .............................................................................. . nQ 2 REVISTA LTr - editada pela LTr Editora Ltda ............................ . nQ 3 JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA - editada pela Juruá Editora Ltda ...................................................................................................... . nQ 4
JULGADOS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES - editada por Ju-rid Vellenich Ltda ............................................................................... . nQ 5
REVISTA DE DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DF E DOS TERRITÓRIOS ................................. . nQ 6 REVISTA DE JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL ............................................................... . nQ 7 REVISTA JURÍDICA MINEIRA - editada pela Interlivros de Mi-nas Gerais Ltda .................................................................................. . nQ 8 REVISTA JURÍDICA - editada pela Editora Síntese Ltda ........ . nQ 9
JULGADOS DO TRIBUNAL DE ALÇADA DO RIO GRANDE DO SUL ....................................................................................................... . nQ 10 REVISTA DE PROCESSO - editada pela Editora Revista dos Tri-bunais Ltda ......................................................................................... . nQ 11 REVISTA DE DIREITO CIVIL - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda .................................................................................... . nQ 12
REVISTADOS TRIBUNAIS - editada pela Editora Revista dos Tri-bunais Ltda ...... '" ................................................................................ . nQ 13 REVISTA DE DIREITO PÚBLICO - editada pela Editora Revis-ta dos Tribunais Ltda ......................................................................... . nQ 14 REVISTA CIÊNCIA JURÍDICA - editada pela Editora Ciência J u-rídica .................................................................................................... . nQ 15 REVISTA JURISPRUDÊNCIA MINEIRA - editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais ............................................. . nQ 16
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (109): 425-428, setembro 1998. 427
REVISTA DE JULGADOS DO TRIBUNAL DE ALÇADA DO ES-TADO DE MINAS GERAIS ................................................................ n Q 17
JURISPRUDÊNCIA CATARINENSE - editada pelo Tribunal de Jus-tiça de Santa Catarina ........................................................... ............. nQ 18
REVISTA SÍNTESE TRABALHISTA - editada pela Editora Sínte-se Ltda. ................................................................................................. n Q 19
LEX - JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE ALÇADA CI-VIL DE SÃO PAULO - editada pela Lex Editora S/A .................. n Q 20
REVISTA DE JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - editada pela Lex Editora S/A n Q 21
LEX -JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDE-RAL - editada pela Lex Editora S/A ............................................... n Q 22
REVISTA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - editada pela LTr Edito-ra Ltda. ..... ...................... ........ .... .... .......... ...... ................ ................. ..... n Q 23
REVISTA FORENSE - editada pela Editora Forense .................. n Q 24
REVISTA TRIMESTRAL DE JURISPRUDÊNCIA DOS ESTADOS - editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. ................................ n Q 25
SÉRIE - JURISPRUDÊNCIAADCOAS ......................................... n Q 26
REVISTA ATA - ARQUIVOS DOS TRIBUNAIS DE ALÇADA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - editada pela Editora Espaço Jurídico ................................................................................................. n Q 27
REVISTADO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA4ª REGIÃO - editada pela Livraria do Advogado Ltda. ..................................... n Q 28
REVISTA DE DIREITO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTA-DO DO RIO DE JANEIRO ................................................................. n Q 29
GENESIS - REVISTA DE DIREITO DO TRABALHO - editada pela Genesis Editora ........................................................................... n Q 30
DECISÓRIO TRABALHISTA - editada pela Editora Decisório Tra-balhista Ltda. ....................................................................................... nQ 31
REVISTA DE JULGADOS E DOUTRINA DO TRIBUNAL DE AL-ÇADA CRIMINAL DO ESTADO DE SÃO PAULO .......................... n Q 32
REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO n Q 33
LEX - JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS - editada pela Lex Editora S/A....................................... n Q 34 REVISTA DE DIREITO RENOVAR - editada pela Editora Reno-var Ltda ............... .'................................................................................ nQ 35 REVISTA DIALÉTICA DE DIREITO TRIBUTÁRIO - editada pe-la'Editora Oliveira Rocha - Comércio e Serviços Lida. ............... n Q 36
428 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a .. 10, (109): 425-428, setembro 1998.