Relação do Direito Processual Penal com outras cadeiras do ramo 3.1. Direito Penal, Processo Penal...

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lação do Direito Processual Penal com outras cadeiras do ramo 3.1. Direito Penal, Processo Penal e Direito Processual Penal Tal como acontece noutros ordenamentos jurídicos, a conformação do D.P.P com a Constituição da República também acontece aqui, chegando nalguns casos a se considerar o D.P.P como um verdadeiro Direito Constitucional, isto porque os seus fundamentos representam em simultâneo os alicerces constitucionais do Estado. Ora, visando alcançar os objectivos do Estado na aplicação simultânea do D.P.P e do direito penal, há que seguir sempre princípios normativos buscados do Direito Constitucional, o que representa a legalidade de todo um processo de administração da justiça penal no país. Por exemplo, o nº 2 do art. 59º da constutuição da Repúblia, estabelece que «os arguidos gozam da presução de inocência até decisão judicial defitiva», o que quer dizer, para se aplicar o Direito Penal a um determinado caso concrecto através do Direito Processual Penal, é necessário uma série de investigações para se apurar a culpabilidade ou inocência do acusado. Com efeito, o sentido e a solução de problemas processuais concretos dependem da posição que tiver sido adoptada pelo Direito Substantivo, como acontece relativamente aos chamados poderes de cognição do juiz e ao caso julgado, quando se está perante matéria relativa ao crime continuado ou à punição do concurso de

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. Relação do Direito Processual Penal com outras cadeiras doramo

3.1. Direito Penal, Processo Penal e Direito ProcessualPenalTal como acontece noutros ordenamentos jurídicos, a conformação

do D.P.P com a Constituição da República também acontece aqui,

chegando nalguns casos a se considerar o D.P.P como um verdadeiro

Direito Constitucional, isto porque os seus fundamentos

representam em simultâneo os alicerces constitucionais do Estado.

Ora, visando alcançar os objectivos do Estado na aplicação

simultânea do D.P.P e do direito penal, há que seguir sempre

princípios normativos buscados do Direito Constitucional, o que

representa a legalidade de todo um processo de administração da

justiça penal no país.

Por exemplo, o nº 2 do art. 59º da constutuição da Repúblia,

estabelece que «os arguidos gozam da presução de inocência até decisão judicial

defitiva», o que quer dizer, para se aplicar o Direito Penal a um

determinado caso concrecto através do Direito Processual Penal, é

necessário uma série de investigações para se apurar a

culpabilidade ou inocência do acusado.

Com efeito, o sentido e a solução de problemas processuais

concretos dependem da posição que tiver sido adoptada pelo

Direito Substantivo, como acontece relativamente aos chamados

poderes de cognição do juiz e ao caso julgado, quando se está perante

matéria relativa ao crime continuado ou à punição do concurso de

infracções. Aqui, o poder de cognição do juiz significa o poder

que o juiz tem para tomar conhecimento do caso.

Vamos concluir esta parte da lição considerando que, o Direito

Substantivo tem a ver directamente com a ordenação da vida em

sociedade, qualificado de forma geral e abstracta, os

comportamentos humanos em função dos valores jurídicos que

considera fundamentais para a comunidade e presecreve sanções

para quem violar esses valores.

O Direito processual penal, por seu lado, visa assegurar que os

actos de investigação tendentes à decisão sobre a prática de um

crime e à aplicação da pena ao respectivo agente, se realizem com

absoluto respeito pelos princípios da justiça.

O DPP pode ainda ser definido como:

o conjunto de regras que asseguram a realização do direito penal substantivo, através da investigação e valoração do comportamento do acusado da prática de um facto criminoso.

1.2. Âmbito do Direito Processual Penal O processo penal no seu andamento procura cumprir a decisão

jurisdicional, isto é, saber se foi praticado um crime e se

sim, qual então a consequência jurídica que daí decorre.

Entretanto, vários autores entendem que, no seu âmbito de

aplicação, o DPP esgota com o trânsito em julgado da sentença,

isto é, o DPP termina quando a sentença for definitiva, não

abrangendo a fase de execução das penas, que tem carácter

puramente administrativo. Pelo contrário, outros autores defendem

que o direito de execução das penas se integra, todo ele, no

direito processual, embora a administração penitenciária tenha

uma esfera de acusação própria que não se encontra na mesma área

de jurisdição com o DPP., que pode dizer-se livre da jurisdição.

Caro estudante, perante esta dualidade de argumentos sobre o

âmbito do DPP, a segunda corrente mostra-se como aquela que se

deve tomar em linha de conta. O autor FIGUEIREDO DIAS defende

esta corrente, justificando que no primeiro caso trata-se de

matéria substantiva e no segundo, de matéria processual.

A consolidação deste pensamento pode-se encontrar no Código do

Processo Penal vigente (CPP), podendo para isso consultar o

título VIII do livro II-arts. 625º a 644º, sem todavia abranger

as penas privativas de liberdade, o que reforça o argumento de

ser esta, essencialmente, uma área de actuação do direito

processual.

2. Objecto e Fim do Processo Penal 2.1. ObjectoA determinação do objecto do processo penal, ou seja, a matéria

sobre a qual se desenvolvem as actividades processuais, é de

extrema importância prática e teórica.

Ora vejamos, o sistema processual vigente entre nós é o sistema

acusatório, intergrando o princípio da investigação. Isto quer

dizer que o tribunal só pode intervir quando solicitado por uma

acusação formulada por uma entidade distinta do próprio tribunal,

autónoma, com poderes próprios. No caso específico de Moçambique,

estas entidades são as procuradorias ou o Ministério Público. O

sistema acusatório detertermina também que o conteúdo da acusação

delimita a própria actividade do tribunal – o tribunal não julga

matérias que não estão definidas pela acusação do Ministério

Público (MP) .

Por exemplo, se o prrocesso instruido na Esquadra contra um

indivíduo B relata que este furtou uma bicicleta do senhor F na

ACIPOL durante o tempo em decorriam os exames de admissão, o B só

e somente só, deverá ser julgado pelos factos relatados naquele

processo, neste caso o furto de biciclecta do senhor B e, não

por outros factos que não constam do processo que é enviado ao

Tribunal.

Existe portanto, uma identidade essencial entre o conteúdo da

acusação, a pronúncia e a sentença final que constitui importante

garantia para o arguido, isto na medida em que, ele só terá de

defender-se do que é acusado e pronunciado.

Isto permite-nos concluir que o objecto do processo penal é o facto

ou comprtamento humano concreto, na sua existência real, que importa averiguar e

cuja verificação é o pressuposto da aplicação da pena.

Ora, embora isso seja assim, o objecto do processo penal não se

apresenta delimitado desde do início pois é suceptível de

alterações na sua estrutura consoante os graus do próprio

processo.

2.2. Fim do Processo PenalFicou dito atrás que o processo penal visa a aplicação do direito

penal substantivo aos casos concretos. Isto confere-lhe uma

função instrumental na administração da justiça penal.

Dando azo a esta função, duas máximas latinas sustentam a ideia:

impunitum non relinqui facinus, o quer dizer – nenhum criminoso deve

ficar sem punição e innocentum non condemnar, o quer dizer – nenhum

inocente deve ser condenado.

Assim, o processo penal visa obstar à insegurança do Direito que necessariamente

existe «antes» e «fora» daquele processo, declarando direito do caso concreto, isto é,

definindo o que para este caso é hoje e aqui justo.

O fim do processo penal deverá ser alcançado a partir de uma

adequada ponderação de valores em conflito permanente no sentido

de saber qual deles em concreto haverá que dar preferência.

3. Relação do Direito Processual Penal comoutras cadeiras do ramo

3.1. Direito Penal, Processo Penal e Direito ProcessualPenalTal como acontece noutros ordenamentos jurídicos, a conformação

do D.P.P com a Constituição da República também acontece aqui,

chegando nalguns casos a se considerar o D.P.P como um verdadeiro

Direito Constitucional, isto porque os seus fundamentos

representam em simultâneo os alicerces constitucionais do Estado.

Ora, visando alcançar os objectivos do Estado na aplicação

simultânea do D.P.P e do direito penal, há que seguir sempre

princípios normativos buscados do Direito Constitucional, o que

representa a legalidade de todo um processo de administração da

justiça penal no país.

Por exemplo, o nº 2 do art. 59º da constutuição da Repúblia,

estabelece que «os arguidos gozam da presução de inocência até decisão judicial

defitiva», o que quer dizer, para se aplicar o Direito Penal a um

determinado caso concrecto através do Direito Processual Penal, é

necessário uma série de investigações para se apurar a

culpabilidade ou inocência do acusado.

Com efeito, o sentido e a solução de problemas processuais

concretos dependem da posição que tiver sido adoptada pelo

Direito Substantivo, como acontece relativamente aos chamados

poderes de cognição do juiz e ao caso julgado, quando se está perante

matéria relativa ao crime continuado ou à punição do concurso de

infracções. Aqui, o poder de cognição do juiz significa o poder

que o juiz tem para tomar conhecimento do caso.

Vamos concluir esta parte da lição considerando que, o Direito

Substantivo tem a ver directamente com a ordenação da vida em

sociedade, qualificando de forma geral e abstracta, os

comportamentos humanos em função dos valores jurídicos que

considera fundamentais para a comunidade e presecreve sanções

para quem violar esses valores.

O Direito processual penal, por seu lado, visa assegurar que os

actos de investigação tendentes à decisão sobre a prática de um

crime e à aplicação da pena ao respectivo agente, se realizem com

absoluto respeito pelos princípios da justiça.

Princípios relativos a promoção processual1.1. O principio da OficialidadeAo falarmos do princípio da oficialidade em Direito processual

penal, partimos desde logo a questionar a competência da

iniciativa ou promoção processual, isto é, a quem cabe a

iniciativa de desencadear a investigação pela prática de um

comportamento criminoso e, o poder de submeter ou não ao tribunal

para que tal comportamento seja julgado.

Já dissemos anteriormente que com o processo penal, o Estado

procura garantir a defesa dos valores fundamentais da sociedade

humana e a correcta administração da justiça penal através de um

órgão competente para promover a investigação nos crimes

públicos, isto é, aqueles para que haja procedimento criminal,

não dependem da queixa do ofendido, qualquer um pode o fazer. Por

exemplo o crime de homicidio voluntário simples previsto e punido

no art. 349º C.P.

Sendo o fim prosseguido pelo Estado de natureza pública, criou-se

uma entidade pública que persegue os seus interesses da na

investigação oficiosa das infracções. Esta entidade é o

Ministério Púlico e a ele compete a promoção da acção penal –

consult o art. 1º do DL 35007.

O princípio da oficialidade fundamenta-se no carácter público das

reacções criminais, isto é, o direito de julgar e aplicar uma

pena por qualquer infração criminal compete ao Estado que o faz

através dos tribunais.

Para que o tribunal julgue um comportamento criminoso, é

necessário que um órgão legalmente competente instrua o processo–

crime, arrole todas os indíciosacuse. Este ógão competente

chama-se Ministério Público.

O Ministério Público é o órgão estadual competente para instruir

oficiosamente os processos-crimes, através da polícia de

investigação criminal (P.I.C). Esta competência reservada ao

Ministério Público coloca-o como único órgão com poder para

iniciar uma perseguição criminosa e constitui pois, o Princípio

da oficiosidade.

Embora o Ministério Público (M.P) seja competente na instrução

preparatórtia do processo penal, essa competência encontra

algumas excepções de carácter legal. O princípio da oficialidade

exclusivo ao M.P., não é extensivo aos crimes particulares e

semi-públicos . Estes dependem da acusação e notificação do

ofendido e ou queixa do ofendido ou representante legal

respectivamente. Desta forma, os crimes públicos são o foco

central da oficiosidade do M.P. ( DL nº 35007 arts. 12º, 14º e

16º).

1.2. O princípio da LegalidadeO princípio da legalidade tem a sua consagração nos artigos 1º,

165º, 349º do Código do Processo Penal e ainda no art. 26º do DL

nº 35007. Estes dispositivos legais conferem ao M.P o dever de

proceder à acusação de um crime ao tribunal sempre que tiver

conhecimento da sua prática, desde que estejam criadas as

condições processuais, isto é, desde que se tenham reunido todas

os indícios.

O que dissemos no págrafo anterior significa que, em processo

Penal a promoção e prossecução processual apresentam-se como um

dever para o M.P, quando estiverem reunidos os seguintes

requisitos:

- Existência de pressupostos processuais, por exemplo aexistência do crime em cocrecto- Punibilidade do comportamento segundo o Direito Penal- Conhecimento da infracção(art.165º do CPP)- Existência de indícios suficientes ou prova bastante (art.349ºdo CP) que fundamentem a acusação (arts.345º do CPP e 26º DL35007).

Estes requisitos demonstram que a actividade do M.P. se

desenvolve sob estrita vinculação à lei, fundamentado assim o

princípio da legalidade.

Em síntese, como resultado do princípio da legalidade resulta o

princípio da imutabilidade ou indisponibilidade, o que significa

que os sujeitos processuais não podem dispor da relação

processual, isto é, o M.P não pode desistir da acusação e o

arguido não pode pôr fim ao processo, mesmo que confesse. ( art.

118º do CPP).

Paralelamente ao principio da imutabilidade, frequentemente o

M.P, por razões de consciência públia ou quando se trate de

infracções de menor gravidade, não pode desencadear a promoção

processual mesmo sendo da sua compêtencia fazê-lo. Este é o

chamado o princípio da oportunidade.

1.3. Princípio da AcusaçãoA imparcialidade e objectividade que, associadas à independência

do Juiz, são condições indispensáveis a uma autêntica decisão

judicial, só estão asseguradas quando a entidade julgadora não

tenha funções de investigação preliminar e acusação por

infracções, mas apenas possa “…investigar e julgar dentro dos limites que sâo

postos por uma acusação fundamentada e deduzida por um órgão diferenciado”(em

regra o M.P ou um juiz de instrução). É desta maneira que se

fundamenta o princípio da acusação. Tem de haver clara separação

entre o M.P. ( juiz de instrução, P.I.C) e os Tribunais.

A promoção processual, a independência, objectividade e

imparcialidade só estarão garantidas se a instrução processual

estiver num órgão que não tenha tarefas jurisdicionais. Isto é, a

decisão só pode ser justa se o Juíz estiver fora das tarefas de

investigação e instrução processual.

Da consagração do princípio da acusação resultam as seguintes

consequências:

- O tribunal a quem cabe o julgamento não pode investigar factos

da instrução prepartória por sua iniciativa. Isso é tarefa do

M.P.

- Para que haja uma actividade jurisdicional é necessário que

haja uma acusação bem fundamentada, afirmando publicamente que

sobre alguém recai uma suspeita forte de responsabilidade por uma

infracção. Disto resulta:

Uma vinculação temática do tribunal que vai dar lugaraos princípios da unidade, indivisibilidade, identidade econsunção, segundo os quais o objecto do processo penal devemanter-se o mesmo desde a acusação ao trânsito em julgado dasentença.

O objecto do processo penal deve ser conhecido e julgadona sua totalidade (unitária e indivisivelmente) e deveconsiderar-se irrepetivelmente decidido.

2. Princípios relativos a prossecução processual2.1.O princípio da investigação

Este princípio traduz-se no poder-dever que o tribunal tem de se esclarecer e

instruir autonomamente,(…) o “facto” sujeito de julgamento criando as bases

necessárias para a tomada de decisão.

O princípio da investigação, para além de servir de orientador à

prossecução ou desenvolvimento de todo o processo penal, incide

primeiramente na obtenção das bases da decisão e,

consequentemente na matéria das provas. Em função disto, é

designado também por princípio da verdade material.

2.2. O Princípio da Contraditoriedade e Audiência

O princípio anterior já indicava que competia ao Juiz penal

organizar as bases necessárias para tomara sua decisão. Contudo,

essa decisão não é tomada isoladamente. É necessário ouvir a

parte acusadora e a defesa.

Tal não significa que o juiz deve permanecer passivo a ouvir o

debate que se desenrola perante si, como se se seguisse o sistema

acusatório puro, e não um sistema como o que vigora no nosso

direito processual penal, com uma estrutura acusatória integrada

por um princípio de investigação.

O princípio da contrariedade, também chamado princípio do

contraditório encontra assento generalizado na legislação

processual penal vigente, veja o. 415º do C.P.P).

Entretanto, quanto nº 2 do art. 59º da constutuição da Repúblia,

segundo o qual «os arguidos gozam da presução de inocência até decisão judicial

defitiva».às chamadas fases de acusação e de defesa, a

contraditoriedade manifesta-se nos arts. 379º e seguintes, 390º,

398º, 423º do C.P.P, e o autêntico fundamento da fase da

instrução contraditória manifesta-se no art. 326º e seguintes do

C.P.P.

Ora, o princípio da audiência ou do contraditório traduz-se na

oportunidade conferida a todo o participante do processo de

influir através da sua audição pelo tribunal no desenrolar do

processo.

2.2. O Princípio da Suficiência – as questôes prejudiciaisO princípio da suficiência vem consagrado no art. 2º do C.P.P, e

segundo o mesmo, o Processo penal é o lugar adequado ao

conhecimento de todas as questões cuja solução se revele

necessária à decisão a tomar.

O que dissemos supra significa que, na tramitaçaõ processual

podem surgir questões de natureza diversa como seja (penal,

civil, administrativa, disciplinar, etc), cuja resolução

condiciona o ulterior desenvolvimento do processo. E, ao dar

competência ao juiz penal para delas conhecer, a lei considera

que o processo penal se basta a si mesmo, isto é, que é auto-

suficiente.

A razão de ser do princípio da suficiência é de fácil

entendimento, na medidad em que, o processo penal não pode

conhecer limitações ou obstáculos no seu percurso normal,

litações estas motivadas por questões que não sejam da sua

natureza, isto punha em em causa a sua autonomia perante

situações diversas da sua natureza e também punha em causa ao

próprio princípio da concentração.

Pelo que foi expendido acima, vamos dizer que consideram-se

questões prejudiciais … aquelas que, posssuindo objecto – ou até natureza –

diferente do da questão principal do processo em que surgem, e sendo susceptíveis de

constituirem objecto de um processo autónomo, são de resolução prévia indispensável

para se conhecer em definitivo da questão principoal, dependendo o sentido deste

conhecimento da questão que lhes for dado”

Assim, uma questão prejudicial possui os seguintes requisitos:

- Um antecedente jurídico concreto da decisão do fundo da causa,

impondo por isso o seu conhecimento prévio à decisão final da

questão principal.

- Uma questão autónoma, quer no seu objecto, quer na sua

natureza, podendo o problema jurídico concreto ser susceptível de

constituir objecto próprio de um processo independente.

- Uma questão necessária à decisão da questão principal.

2.3. O Princípio da ConcentraçãoEste princípio exige uma prossecuçaõ tanto quanto possível

unitária e continuada de todos os termos e actos processuais,

devendo no seu conjunto e em todas as fases do processo

desenvolver-se concentradamente, quer no espaço, quer no tempo.

Do que dissemos atrás pode-se sintetizar que este princípio

enforma todo o processo penal e funda-se na necessidade de

conferir livre curso ao processo penal, sem obstáculos ou

impedimentos ao seu exercício.

Este principio embora presente em todas as fases do processo

penal, ganha mais relevo e autonomia na audiência de julgamento.

( arts. 414º, 337º, 334º, 76º, §1º e 403º do C.P.P).

3. Processo-Crime ou Processo Penal: Conceito e CaracterísticasO processo – crime ou mesmo processo penal é uma sequência de

actos juridicamente pré-ordenados e praticados por certas pessoas

legitimamente autorizadas, com vista a lograr a decisão sobre se

foi praticado algum crime e, caso afirmativo, sobre as

respectivas consequências jurídicas e a sua justa aplicação.

De uma forma mais simples, o processo penal constitui o conjunto

de actos que se desencadeiam perante um crime concreto.

Características

- O processo penal é o meio através do qual se executa a funçãojurisdicional- o Processo penal moçambicano é do sitema acusatório integrandoo princípio da investigação.- Os actos tendentes a apurar a verdade material obdecemestritamente a lei- O objecto da sua acusação permanece o mesmo até o trânsito emjulgado da sentença.

4. Formas de Processo-Crime ou Processo PenalSegundo o artigo 62º do C.P.P, as formas de processo penal sãoduas: Forma de Processo Comum e forma de processo especial.

O processo comum reflecte a forma de tramitação processual dosfactos sujeitos a essa forma de processo. A forma de processocomum compreende:

i- Processo Querela (art.63º do C.P.P) – este é o processo maissolene que é elaborado quando haja crimes cuja puniçãocorresponda a pena maior ou pena de demissão. Considera-se soleneporque exige tramitações especiais cuja inobservância, produznulidade processual.

Esta forma de processo tem a obrigação de passar pelo M.P paraefeitos de acusação, constituindo esta, uma das tramitaçõesespeciais que produzem nulidade quando sejam inobservadas.

ii- Processo de Polícia Correcional (art.65 do C.P.P) – sãojulgados neste tipo de processo todos os crimes a quecorrespondam separada ou cumulativamente:

Prisão até dois anos Suspensão dos direitosa Políticos até dois anos Suspensão de emprego até três meses Repreensão Sensura pointless

iii- Processo por Transgressões (art.66º do C.P.) – são julgadasnesse proceeso as trangressões.

iv- Processo Sumário (art,67º do C.P.P; art 1º do DL 28/75 de 1de Março) – este constitui o processo menos solene no qual umacto torna-se suficiente para que o juiz tome conhecimento eapure a matéria dos factos. NB: serão julgados em processosumário, todos os crimes cujo infractor é encontrado em flagrantedelito.

Por sua vez a forma de processo Especial compreende:

i- Processo de Ausentes (art. 562º e seguintes do C.P.P) –Neste tipo de processo temos o julgamento à revelia do réu pelasua ausência, ausência esta que pode ser justificada ouinjustificada. ii- Processo de Difamação, Calúnia ou Injúria (587º eseguintes do C.P.P) – serão julgados neste processo, todos oscrimes que atentem a honra, dignidade e bom nome da pessoahumana.iii- Processo por infracções cometidas por Juizes de Direitode 1ª Instância, magistrados do MP, junto deles no exercício dassuas funções e por causa deles. (art.595º e seguintes do C.P.P)iv- Processo por Infracções cometidas por Juizes da 1ªinstância e magistrados do MP, junto deles estando no exercíciodas mesmas funções.(609º e seguintes do C.P.P).v- Processo por infracções cometidas pelos Juizes dostribunais Provinciais e do Tribunal supremo, pelos

vi- magistrados do M.P junto deles ou outros de igualcategoria. (art.613 e seguintes do C.P.P).

Processo de reforma de autos perdidos, extraviados ou destruidos,(art. 617º do C.P.P).. Fontes do Direto Processual PenalFontes de Direito são instrumentos que contêm as normas oumatérias que interessam ao D.P.P pelo interesse que reportam emrelação ao crime e aos próprios criminosos. Na sua hierarquia, as leis em Moçambique obdecem a seguintesequência:- Assembleia da República (Constituição da República), Decretopresidencial ou ministerial; Regulamento (Conselho de Ministros),Diplomas, Posturas,EditaisNo que tange essencialmente ás fontes principais do DireitoProcessual Penal, urge referenciar:- A Constituição da República, O Código do Processo Penal –constitui um sistema de normasA constituição da República e o C.P.P constituem fontes formaisdo Direito Processual Penal.Para além das fontes que mencionamos anteriormente (principais),existem outras leis que usuárias do D.P.P. A essas leis chamamó-las de Legislação Extarvagante, donde podemos destacar:- Decreto Lei nº 35007 de 13 de Outubro de 1945- Decreto Lei nº 185/72 de 31 de Maio- Esta lei reformulou oprocesso no âmbito do M.P, questionando na essência, caminho paraentregar a uma investigação hierarquicamente organizada o garantedos direitos dos cidadãos e em face disso vincar claramente ascompetências da Procuradoria e dos tribunais.- Decreto Lei 28/75 de 16 de Março – esta lei vem alargar oâmbito da aplicação do processo sumário e simplificar oformalismo do processo de transgressão.- Decreto Lei 4/75 de 16 de Agosto- proibe o exercício deadvogacia a título de Profissão liberal, contendo disposições

relativas ao exercício da acçaõ penal pelo M.P e impossibilidadede constituição de assistente.- Lei 9/92 de 6 de Maio-esta imprime alterações ao formalismoprocessual penal e reintroduz a figura de assistente, derrogandoos arts. 17 e 19 do DL 4/75.- Lei 10/92 de 6 de Maio- é a lei orgânica dos tribunaisjudiciais- Lei 2/92 de 24 de Junho – esta institucionaliza os juizes deinstrução criminal. Fontes Legislativas Internacionais- Declaração Universal dos Direitos do Homem de 10 de Dezembro de1948- Pacto Internacional Sobre os Direitos Civís e e Políticos erespectivo protocolo facultativo.- Convenção contra a Tortura e outras formas de tratamento oupunição Cruel desumano ou degradante, de 26 de Junho de 1987.- Carta africana dos Direitos do Homem e dos povos.

2. Interpretação e Alcance da Lei processual penal e sua IntegraçãoO que seria então interpretar uma lei?Interpretar uma lei significa fixar exactamente o seu conteúdo ealcance, determinando qual é a vontade expressa pela norma emconexão com as demais normas e com as exigências sempre novas davida comunitária.Para interpretar uma lei há que ter sempre em conta os elementosa utilizar e os resultados a esperar dessa interpretação. Assimtemos a interpretação literal e a interpretação lógica, aprimeira baseia-se essencialmente naquilo que a letra da lei oulegislador diz na lei, isto é, aquilo que é a lei; a segunda temem vista aquilo que é a situação real e lógica das circunstânciasdo momento da interpretação da lei, isto é, o que deveria ser alei.

Para além dessas interpretações traduzidas supra, em função dosresultados que a lei processual penal pretende transmitir, há queestabelecer a existência das interpretações declarativa eextensiva ou restritiva, em que o intérprete da lei em relação aprimeira presta atenção simplesmente ao que a lei estabelece,enquanto que na extensiva, admite-se que o intérprete vâ paraalém do espírito da lei em função do resultado que almeja lograrem processo penal.

3. Integração de Lacunas em processo penalO problema das lacunas da lei e da sua integração merece emdireito processual penal uma consideração especial. O art. 1º, §único do C.P.P dispõe que “nos casos omissos, quando as suas disposições nãopossam aplicar-se por analogia, observar-se-ão as regras do processo civil que seharmonizem com o processo penal e, na falta delas aplicar-se-ão os princípiosgerais do processo penal” Os termos boldados no trecho acima correspondem aos trêscaminhos que se podem seguir na integração de lacunas em processopenal. No entanto, quanto a analogia, ela é aqui permitida aocontrário ao que sucede no direito penal substantivo, no querespeita à fundamentação da pena (incriminação) ou ao seuagravamento (arts.5º e 18º do C.P). . Aplicação da lei processual no tempo e no espaço1.1.Âmbito de aplicação materialDissemos na primeira lição que, o âmbito da aplicação do processopenal vai para além do trânsito da sentença em julgado,abrangendo por isso, a execução das penas privativas deliberdade.Ora, o mesmo não acontece com o âmbito da aplicação material dalei processual penal (direito processual penal), esta versa sobreo espaço real no território moçambicano, onde se faz sentir a leiprocessual penal.

Assim, vamos dizer que, o âmbito da aplicação material do direitoprocessual penal coincide com os limites da jurisdiçãomoçambicana em matéria penal, demarcado pelo objecto do processopenal abrangendo o crime acusado, as contravenções e as reacçõescriminais que em abstracto lhe caibam. Isto significa que a lei processual penal aplica-se em tudo queseja crime, ou seja, em tudo o que o direito substantivo fixarque é punível por lei.Entretanto, a lei estabelece que em relação ao pedido civil deindemnização por perdas e danos derivado de um crime, deve serdeduzido em processo penal (art.29º do C.P.P), embora sereconheça a autonomia que caracteriza cada um desses ramos dedeireito,sto é, direito Civil e direito penal.1.2 Ãmbito de aplicação espacialO âmbito de aplicação do direito processual penal no espaçoassenta na ideia de que a jurisdição penal se confina aos limitesterritoriais do Estado, aqui vigora o princípio da territorialidade.Todavia, nada impede que a jurisdição penal moçambicana seaplique a crimes cometidos no estrangeiro (arts. 46º, 48º, 49º e50º do C.P.P), o que acontece naqueles casos em que é aplicável alei substantiva. Isto significa que é inadmissível, salvo tratado internacional emcontrário, executar em território estrangeiro actos processuaiscabidos na jurisdição nacional e vice-versa. Em cosequência do que acima ficou dito em relação à sentençapenal estrangeira, não são reconhecidos efeitos positivos ouexecutórios, embora possam ser admitidos efeitos negativos, istoquer dizer que no caso de infracções cometidas no estrangeiro, asetença alí proferida impede que a questão seja de novo julgadaem Moçambique (art.53º, nºs 3º e 5º, do C.Penal) e, em caso denovo processo, ter-se-à em conta a pena já cumprida pelo réu noestrangeiro (nº 3º do art. 53º e § 4º do art. 35º do C.P.P).

1.3. Âmbito de aplicação pessoalO âmbito de aplicação pessoal do direito processual penalsignifica que, à jurisdição penal moçambicana, estão sujeitastodas as pessoas e somente elas, a quem seja aplicável o direitopenal moçambicano. Daqui conclui-se claramente que o direito processual penal nãoatinge apenas os arguidos ou suspeitos, mas também uma ampla gamade terceiros se encontra sujeita a determinações processuais emmatéria de prazos, de deveres de comparaecer, prestardeclarações, suportar exames, buscas e apreensões, etc.Assim, cabe ao proprio direito processual determinar os direitosprocessuais de todas as pessoas, nacionais ou estrangeiras,participantes de um processo penal que devem submeter-se ao nossodireito.Apesar de existir esta rigorosidade no que tange a aplicaçãopessoal da lei processual penal, há que considerar algumaslimitacoes, a comecar por aquela atinrnte ao direitoInternacional público, como expressão do princípio daextraterritorialidade, respeitante as chamadas imunidades diplomáticasque atingem chefes de Estado estrangeiros, diplomatas e agentesequiparados, suas famílias e, em parte, também o pessoaladministrativo e técnico das representações diplomáticas, pessoalde serviço e cônsules.O outro grupo de limitações deriva da Direito Constitucional eatinge o Presidente da República e os deputados da Assembleia daRepública, estendendo-se também às entidades nomeadas pelopresidente da República e aos magistrados judiciais e doMinistério público.1.4. Âmbito de aplicacao TemporalO direito processual penal tal como outros ramos de direito, emconsonância com o artigo 12º do Código Civil … so dispõe para ofuturo, o que significa que não se deve aplicar a nova leiprocessual penal à uma situação processual que ocorra em processopendente ou derive de um crime cometido na vigência da lei

antiga, sempre que da lei nova resulte num agravamento da posiçãoprocessual do arguido ou limitação do seu direito de defesa.

. Funções e papel dos intervenientes Processuaise sua chamada ou intervenção no processo-crimeEstabelecemos claramente acima que, de uma forma genérica, àspessoas que participam em diversos momentos desempenhandodiversas funções no processo penal recebem o nome de intervenientesou participantes processuais. Ora, infere-se desde logo que pela diversidade de actividades quetodos os participantes estão sujeitos, existem aqueles cujasfunções não são determinantes para a tomada de decisões.O exemplo disto passa-se com os funcionários judiciais quecolaboram no processo, sem no entanto, que a sua actuação sejadecisiva, o mesmo acontecendo com as testemunhas, os declarantese os peritos, que intervêm como meios de prova, mas sem poder deiniciativa nem de decisão relativamente às questões processuais –esses é que constituem verdadeiramente os intervenientesprocessuais. Entretanto, os sujeitos processuais constituem uma estruturaorgânica com funções autónomas e que se relacionam noesclarecimento da verdade material. Assim, consideram-se sujeitos processuais: O Tribunal Juiz penal), o Ministério Público, o arguido e o seu defensor, o ofendido e o assistente.Na próxima lição abordaremos com detalhes as funções específicasda cada sujeito processual.3. Características do processo penal moçambicanoNa segunda lição da primeira unidade deste módulo estabelecemosque, o processo penal vigente em Moçambique é caracterizado poruma estrutura acusatória integradada por um princípio dainvestigação, podendo-se concluir desde logo que, não é umprocesso de partes pelas seguintes razões:

- O Ministério Público benefecia de uma posição jurídicasupraordenada em relação ao arguido, isto é, dispõe de umaparelho investigatório e coactivo (formado pelos chamados órgãosauxiliares do M.P-a Policia de Investigação Criminal e as outrasforças policiais, os estabelecimentos especializados deinvestigação e todos outros do poder do Estado que podem impor aoarguido a prisão (art,293º do C.P.P).- O M.P não tem domínio do objecto do processo, não lhe cabendoqualquer margem de discricionaridade acusar ou não acusar, nem aacusação pode ser retirada a partir do momento em que o tribunalfor chamado a decidir sobre ela.- A confissão do arguido não produz qualquer efeito processualquando desacompanhada de outros elementos de prova (art.174º doC.P.P), nem sobre aquele recai responsabilização alguma pela nãoprodução de uma prova.Do que ficou dito acima, podemos facilmente concluir que oprocesso penal em Moçambique é tipicamente um processo sem partes. Naverdade, é um processo basicamente acusatório, mas integrado por um princípio deinvestigação (art.14º do DL nº 35007).

A Jurisdição penalO que é jurisdição?Jurisdição corresponde a actividade dos tribunais, enquantoórgãos de administração da justiça, isto é, a actividade doEstado exclusivamente exercida pelos Tribunais. Este princípioestá consagrado no art. 212º da Constituição da República deMoçcambique.Agora, a jurisdição penal integra assim, um conjunto de poderes edeveres cuja finalidade é a declaração (ou não) do facto como crime e do arguido comoseu responsável (ou não), a aplicação da pena e sua execução, quando for caso disso, ebem assim a verificação dos presupostos das medidas de segurança criminais, suaaplicação e execução.

2. Organização dos Tribunais JudiciaisDissemos anteriormente que a jurisdição penal cabe aos tribunaisque desempenham a função soberana do Estado na administração dajustiça penal. Assim, a jurisdição penal pertence aos tribunais Judiciaishierarquicamente organizados de acordo com o estabelecido narespectiva Lei orgânica (Lei nº 10/92, de 6 de Maio), e aostribunais militares, estes com a competência organizada e a organizaçãodefinidas na lei nº 17/87, de 21 de Dezembro.Neste contexto, o nº 1 do art. 19º da lei 10/92, estabelece acategoria dos tribunais judiciais em Moçambique a saber:

O Tribunal supremo; Os Tribunais judiciais de província; Os Tribunais Judiciais de Distrito (que poderão ser de 1ª ede 2ª classes)

O tribunal supremo funciona em plenário e funciona também comoinstância única e por ouro lado, funciona em secções, 1ª e 2ªsecções.

Quando o Tribunal supremo funciona em plenário tem em vistauniformizar a jurisprudência, decidir sobre os conflitos dejurisdição não definida por outros tribunais ou outras entidades,julgar recursos de decisões proferidas em 1ª instância pelassecções do tribunal supremo quando funciona em plenária.

Antes de nos debruçarmos sobre as competências material eterritorial, fiquemos com a noção da própria competência. Assim,a determinação por lei de qual o tribunal, dentre os existentes deve apreciar e julgarum caso de natureza penal – em matéria penal, isto é que se designapor competência.

Vamos em breve falarmos de espécies de competência.

3. Competência material e territorial3.1. Competência materialA determinação de qual o tribunal penal vai apreciar umdeterminado caso segundo a sua natureza, conduz-nos a detrminara sua competência material e, por via da sua espécie,estabelecermos a seguinte relação sumária:

- Tribunais de polícia ( competentes para apreciar astransgressões ao código de Estrada).

- Tribunais militares (competentes para apreciar crimesmilitares, a disserção por exemplo).

- Tribunais marítimos (competentes para apreciar crimes deviolação das leis de peseca nas águas jurisdicionais).

- Tribunais criminais ou penais (competentes para apreciar porexemplo crimes de homicídio, roubo, burla, etc.).

3.2. Competência territotrialEstando presentes dois ou mais tribunais da mesma espécie numdeterminado país, por exemplo, os tribunais judiciaisprovinciais, há que agora saber qual dentre todos existentessegundo a sua localiação, tem a competência para julgar umdetrminado caso. Estamos perante a determianação da competênciaterritorial.

Assim, a competência territorial obtem-se estabelecendo a conexãoentre o tribunal e o facto criminoso objecto do processo, deacordo com o critério de localização geográfica, e tendo em vistaa afirmação do princípio da imediação que se manifesta pelarelação de proximidade comunicante entre o tribunal e os participantes do processo,de modo tal que aquele possa obter uma percepcção própria do material que haveráde ter com base da sua decisão, por exemplo a exibição de documentos(art.426º do C.P.P).

Para detrminar a competência territorial de um tribunal, a regra geral é do local da prática da infracção, o locus delicti.

Assim, para apurar o local da prática de um facto criminoso para efeitos de competência, usam-se três critérios:

1- o critério da actividade – segundo o qual o local da prática do crime é o espaço geográfico em que se iniciou o facto independentemente do local da produção dos resultados.

2- O critério do resultado - segundo o qual o locus delicti é o local daocorrên cia do resultado, sendo por isso competente o tribunal com jurisdição nessa área.

3- O critério da antecipação – segundo o qual é local do crime aqueleem que o resultado começou a produzir, mesmo que a produção do resultado criminoso se deia noutro lugar.

Disto podemos resumir que:

- A competência material consiste em saber qual é a espécie deTribunal é competente em função do caso a apreciar.

- A competência territorial consiste na determinação do Tribunalcompetente para o conhecimento da infracção, dada a localizaçãoda mesma.

4. Funções e características do Juiz PenalA Lei 10/92, de 6 de Maio, define no seu art. 1 que, os tribuais são

órgãos de soberania que administram a justiça em nome do povo.

No âmbito do processo penal isto significa que, os tribunais são

os únicos õrgãos competentes para decidirem os casos jurídico-

criminais que processualmente sejam levados à sua apreciação

aplicando o direito penal substantivo, como representantes da

comunidade jurídica e do poder do Estado.

4.1. Funções do Juiz penalDo que ficou dito atrás, conduz-nos a estabelecer que o juiz

penal exerce a função judicial, cujo exercício consubstancia a

actividade designada por jurisprudência.

4.2. Características do Juiz penalA característica fundamental dos tribunais é a sua independência, e

esta desdobra-se em material (objectiva) Tribunais e pessoal

(subjectiva) dos juizes que os formam. Também constituem

características do Juiz penal a irresponsabilidade e a inamovibilidade dos

juizes.

Procuradoria-Geral da República e Ministério PúblicoLei 6/89, de 19 de Stembro – Cria a Procuradoria-Geral daRepública

Nos termos da presente Lei, o caminho percorrido no processo deorganização do aparelho de Estado, na edificação do sistema judiciárioe na construção de uma ordem jurídica moçambicana, permitiu a criaçãoe institucionalização do órgão superior do Ministério Público, que é aProcuradoria-Geral da República.

A Procuradoria-Geral da República, como órgão superior do MinistérioPúblico, tem uma estrutura autónoma em relação aos outros órgãos doEstado e vincula-se a puros critérios de legalidade e de subordinaçãohierárquica.

Por sua vez, o Ministério Público constitui uma magistraturahierarquicamente organizada subordinada ao Procurador Geral daRepública na concretização da função estadual de administração dajustiça penal no país.

2. Actuação do Ministério Público no processo Penal

Nos termos do nº 1 do DL 35007, o exercício da acçaõ penal compete aoMinistério Público. Este exercício consiste no poder que a si cabepara levar à juizo um infractor para responder pelo crime que cometeu.

Como órgão autónomo, o Ministério Público é independente dostribunais, desempenhando a função da administração de justiça.

Importa ainda dizer que, em função disto, manifesta-se aqui oprincipio da separação de poderes em relação aos Tribunais penais queexercem a função judicial. No processo penal, o M.P é o titular dasfunções de investigação da suspeita da prática de um tipo legal decrime através de uma dedução da acusação no processo penal.

Do que ficou dito acima vamos reter as seguintaes ideias principais:

- O M.P nos desperta a descoberta da verdade material , devendo-sesubordinar a objectividade jurídica.

- O M.P ajuda no esclarecimento da verdade material trazendo para oprocesso os elementos essenciais de responsabilidade criminal e tambémde irresponsabilidade criminal – inocência.

- O M.P pode-se recusar a acusar quando achar que não há bastantesprovas para a acusação declarando assim a irresponasabilidade criminaldo indiciado que vai aguardar por melhor prova. ( Veja os arts. 105º,113º do C.P.P).

3. Relação entre o Ministério Público/Policia e Tribunal Penal

O exercício da acção penal compete ao Ministério público, estaactividade tem o seu início após uma denúncia, queixa ou acusaçãoparticular, através de um conjunto de procedimentos primários(instrução preparatória) com a finalidade de formar o corpo dedelito, isto é, a matéria que pesa sobre um indivíduo suspeito deter cometido um crime.

Esse conjunto de acitividades que dão início a actividadeprocessual, é realizado pela Polícia de Investigação criminal(P.I.C), delegada pelo M.P (DL 35007 arts. 12º, 14º e 16º).

Chegado aqui, fica claro que o Ministério Público ao delegarpoderes de instrução preparatória à P.I.C com o objectivo deobter a verdade material para o processo penal, surge desde logoe aqui, uma relação entre aquele e o Tribunal penal, órgãoindependente ao MP, mas competente para julgar o caso e tomardecisão final sem consultar àquele.

Assim, segundo o nº 1 do art.37, da 6/89, a magistratura do MinistérioPúblico é paralela à magistratura judicial e dela independente. É o manifesto dacoordenação e colaboração entre esse dois órgãos.

Por conseguinte, as relações entre essas duas magistraturascaracterizam-se por uma igualdade e independência e, comoconsequência:

- Os Tribunais (os juizes) não podem dar quaisquer ordens aoMinistério Público;

- O Ministério Público não pode dar quaisquer ordens ouinstruções aos tribunais;

- Ninguém pode, simultaneamente, actuar como M.P e como juiz nomesmo processo penal.

4. Principal função do Ministério Público: O exercício da acção penal

No exercício da acção penal o Ministério Público desempenhe asseguintes funções:

- Direcção da instrução preparatória. Aqui o M.P pode delegaresta competência a outras entidades, no caso específico a P.I.Cque funciona como seu auxuliar, em matéria da instruçãopreparatória.

- Dedução da acusação e representação da acusação em julgamento(§ único do art.3º do DL 35007).

- Abstenção da acusação na ausência de provas bastantes ou seestiver extinta a acção penal ou ainda se não houver elementossuficientes de culpabilidade do indivíduo suspeito.

NB. Provas bastantes significa todos os elementos probatóriosque indiciam o cometimento de um tipo legal de crime por umdeterminado indivíduo ou grupo de indivíduos.

5.Outros órgãos que podem exercer a acção penal

- As autoridades judiciais, nos tribunais onde não haja representante doM.P;

- As autorodades policiais, em relação as infracções que devam ser julgadas em processo sumário e todas as contravenções;

- As autoridades administrativas, em relação às transgressões de posturas, regulamentos e editais;

- Os organismos do Estado, com competências de fiscalização de certas actividades ou de execução de regulamentos essenciais quanto às contravenções verificadas no exercício das respectivas actividades.

Conceito e constituição do arguido

Nos termos do art.251º do C.P.P, «é arguido aquele sobre quem recaia fortesuspeita de ter perpetrado uma infracção cuja existência esteja suficientementecomprovada»

Neste sentido, um indivíduo constitui-se em arguido:

- Quando a existência da infracção criminal estejasuficientemente comprovada e;

- Quando haja forte suspeita

Entretanto, da constituição de um indivíduo em arguido, assistem-lhe os seguintes direitos:

- Direito de audiência, esse direito manifesta-se no chamadointerrogatório do arguido.

- Direito de presença ou de comparência

- Direito à assistência do defensor

- Direito à interposição de recursos

2. Audiência do arguido A audiência do arguido em processo penal constitui um direitocuja inobservância, dá lugar a uma figura que se designa pornulidade processual. Este direito está consagrado nos arts. 250º,290º, 311º e 425º do C.P.P manifesta-se no âmbito dointerrogatório do mesmo.

Assim, nos termos do art. 255º do C.P.P no decurso dointrerrogatório, o arguido não pode ser obrigado a responderprecipitadamente, e também nos termos do art. 261º do mesmodispositivo legal, as perguntas não serão sugestivas nemcavilosas, nem acompanahdas de dolosas persuasões, falsaspromeças ou ameças.

Desta feita, fique bem claro que, o primeiro interogatório, érealizado pelo juiz de instrução preparatória processual e, sendoos subsequemtes realizados pelo juiz da causa, quer na instruçãocontraditória como no julgamento.

Ora, é proibido no interrogatório o empregue de meios para aobtenção de declarações que transportem ofensa à dignidade dapessoa humana, à integridade pessoal (física ou moral) doarguido.

3. A presunção da inocência como garantia constitucional e outras

A inocência do arguido como garantia costitucional significa que,a constituição da república estabelece que o arguido é inocente

até a decisão final do tribunal, isto é o que se consideragarantia constitucional.

A presunção da inocência do arguido é um princípio emanado do nº2 do art. 59º da constutuição da Repúblia, segundo o qual «osarguidos gozam da presução de inocência até decisão judicial defitiva». O mesmoprincípio vem também consagrado na carta africana dos DireitosHumanos e dos Povos e no Pacto Internacional dos Direitos Civis ePolíticos.

O princípio da presunção da inocência do arguido manifesta-se noprocesso penal como princípio da prova, que significa que toda acondenação deve ser precedida de uma actividade probatória a serlevada a cabo pelo Ministério Público como representante daacusação, assim como pelo Tribunal, em cumprimento do principioda investogação ou da verdade material.

4. O defensor do arguido: suas funções e admissão no processo crimeO defensor ou advogado é um sujeito procesual que é nomeado porvontade do arguido ou por nomeação oficiosa (do juiz da causaquando o arguido não tiver nomeado alguém para o defender).

Nos casos em que o juiz tiver nomeado oficiosamente um assistentedo arguido, este pode por livre escolha constituir um da suapreferência, em respeito ao princípio da liberdade de escolha doadvogado ou assitente de defesa (§ único do art. 22º do C.P.P).

4.1. Funções do defensor do arguidoO advogado ou defensor do arguido tem como funções:

- Prestar ao arguido o conselho jurídico esclarecedor necessáriopara a sua defesa em tudo quanto for permitido por lei, isto é,representação judiciária do arguido.

- Assistência e representação do arguido nas suas diversasintervenções processuais.

- Ajudar ao escalarecimento na busca da verdade material, fazendoavultar no processo tudo que seja favorável ao arguido.

- Requerer ao juiz a realização de diligências, pedindo areconstituição dos factos.

4.2 Admissão do defensor do arguido no processo-crime

A lei estabele que, o arguido pode constituir advogado em qualquer altura doprocesso. Isto deixa claro que a função de defesa é admissível emqualquer processo e em qualquer fase em que este se encontre(art. 49º -1ª parte do DL 35007).

É por isso que é obrigatória a nomeação do defensor oficioso, seainda não houver advogado constituido, no despacho de denúnciaprovisória no processo de querela.

Além destes casos, o defensor é obrigado a intervir nosinterrogatórios de quaisqueres arguidos presos, durante a fase deinstrução preparatória, nos trermos dos arts. 253º e 264º doC.P.P.

Portanto, a falta de nomeação do defensor ao réu, quandonecessária, constitui uma nulidadae principal do processo penal(nº 4 do art, 98º do C.P.P) e, daqui chega-se a conclusão de que«é nulo … qualquer interrogatório sem a assistência de defensor, quando obigatória,ou se o advogado foi indevidamente impedido de assistir, quando facultativa» (art.268º do C.P.P).

. O ofendido e o lesado

Conceito

Estes dois termos têm vindo a ser considerados sinónimos no dia-a-dia nas unidades policiais, onde os indivíduos lesados àprocura de socooro, não raras vezes, são chamados por ofendidos.

Ora, esse tratamento desigual pode trazer problemas de maior nocurso normal do processo penal, noemadamente no que diz respeitoàs indemnizações por perdas e danos.

No entanto, no sentido menos amplo do ponto de vista do direitoprenal, ofendido é a pessoa que, de acordo com o tipo legal de infracçãopreenchido pela conduta crminosa, detém a titularidade do interesse jurídico-penal poraqyuela conduta violada ou posta em perigo.

No sentido mais amplo, o termo ofendido pode ser usado como o dolesado, isto acontece quando estão em causa normas de direitocivil, para salvaguarda de interesses juridicamente protegidos.

Neste caso, o ofendido segundo as normas do direito civil será a pessoa quetenha sido prejudicada em interesses juridicamente protegidos.

2. Assitência e sua constituição no processo Dissemos na lição anterior que, a falta de nomeação do defensorao réu, quando necessária, constitui uma nulidadae principal doprocesso penal e que, é nulo qualquer interrogatório sem aassistência de defensor, quando obigatória, ou se o advogado foiindevidamente impedido de assistir, quando facultativa.

Isto não é assim em todos os casos, ora vejamos:

-Relativamente a certos crimes públicos, ninguém poderáconstitur-se assistente, uma vez que o interesse protegido pelaincriminação é excclusivamente público, o que acontece porexemplo nos crimes contra a segurança do Estado, contra a boaadminstração da justuiça, contra a ordem e tranquilidadepúblicas, etc.

Contudo, a pesar da limitação legal referenciada acima, emrelação a certos crimes públicos supra enumerados, o direito deconstituição de assistente é irrenunciável, conforme o previstono art. 18º do C.P.P, segundo o qual «ninguém poderá renunciar àfaculdade de promover a acção penal.

Quanto a sua constituição, os assistentes podem intervir emqualquer altura do processo, devendo-o aceitar no estado em quese encontrar, desde que o requeiram até cinco dias antes daaudiência de julgamento.

3. Poderes e funções do assistenteCaro estudante, para melhor compreender os poderes processuais doassistente, importa distinguirmos as diversas fases da suaevolução, nomeadamente, a instrução preparatória, a instrução contraditória, aacusação, o julgamento e a fase de recursos. Assim, temos que:

- Na instrução preparatória, o assistente realiza uma função decolaborador com o Ministério Público na recolha dos elementos deprova, necessários para fundamentar a acusação.

- Na instrução contraditória, o assistente tem o carácterautónomo relativamentte ao Ministério Público que se manifestapela competência que tem para intervir directamente na instruçãocontarditária oferecendo provas e, requerendo ao juiz asdiligências convenientes.

- Na acusação compete aos assistentes, formular a acusaçãoindependentemente do Ministério Público e ainda que este setenha abstido de acusar em relação aos crimes públicos.

- No julgamento, o assistente tem o direito de formularindependentemente a acusação.

- Na fase de recursos, os assistentes têm competência pararecorrer do despacho de pronúncia e da setença ou despacho queponha termo o processo, mesmo que o Ministério Público o nãotenha feito.

Diligências para o processo-crime: voluntárias einvoluntárias

No processo-crime, diligências constituem o conjunto de passosiniciais a serem executados por um funcionário , após terrecebido uma queixa ou denúncia da prática de um facto criminal.Esses passos costumam alargar-se até a fase da formação do corpodo delito sobre aquele mesmo caso reportado ao funcionário.

O exemplo típico de uma diligência a ser efectuada numa esquadraapós queixa ou deníuncia de um crime, é o seu registo no livrodas ocorrên- cias com o respectivo número de identificação,seguido de abertura do auto de denúncia que devrá ser assuinadopelo oficial de permanência e pelo queixoso ou denuciante. Tambémprocede-se a apreensão dos objectos que se confiram importantespara o caso reportado.

2. Finalidades das diligências As diligências tem por finalidade criar uma maior transparênciana tramitação do processo-crime, mormente na fase da formação doobjecto do mesmo.

Portanto, através das diligências pode-se obter um conjunto deelementos necessários para responsabilizar um indivíduo pelaprática de um crime do qual é indiciado.

3. Meios da polícia no processo-crimePara a realização de certas diligências processuais, a policiarecorre a certos meios para lograr os objectivos prossseguidospelo Estado no âmbito da administração da justiça penal.

Assim, a policia recorre às buscas e revistas para a apreeensão decertos objectos e captura de determinados indivíduos importantesao esclarecimento de um facto criminal cometido.

Neste sentido, entende-se por busca como meio de coação que cabeexclusivamente â autoridade judicial competente, que se destina a apreensão de coisascuja apreciação permite tirar ilações sobre factos juridicamente relevantes, ou acaptura de pessoas que devam ser presas e cuja realização pode colidir com direitosfundamentais.

Por sua vez, quando a busca for realizada em pessoas, ou quando acoisa procurada encontra-se escondida na pessoa que a transportaconsigo, designa-se por apreensão.

Resumindo:

A realização duma busca tem por objectivo à apreensão de provasreais ou à captura de pessoas que devam ser presas. Existembuscas com o fim de apreensão e com o fim de captura.

No entanto, a realização destas buscas deve obdecer a certosprincípios jurídicos, pois que afecta sempre certos direitosindividuais.

Vejamos a seguir, o que são buscas para a captura e para apreensão.

4. Buscas para a captura e para a apreensão 4.1. Buscas para a capturaAs buscas para a captura são a que se realizam com o objectivo deprender as pessoas procuradas.

A realização de uma busca respeita sempre algumas limitaçãoelegais pois que a sua efectivação afecta direitos dos indivíduos,como seja o seu domicílio como património privado.

Assim, há que ter em conta a necessidade do mandado de busca para acaptura que deverá ser passado em triplicado e assinado pelo juizcompetente, o mesmo acontecendo também com o mandado de buscapara a apreensão.

Ora, quando as buscas são realizadas em casa habitada e suasdependências fechadas, isto é, lugares de acesso não livre,observa-se o seguinte:

1 - A busca deve ser ordenada por um juiz competenteoficiosamente, a requerimento do Ministério Público, da parteacusadora ou do arguido admitido a intervir no processo;

2 – O despacho que ordena fundametará as razões de suspeita

NB. As buscas são proibidas durante a noite, salvo consentimentoda pessoa em posse do domicílio.

As buscas só podem ser realizadas desde o nascer do sol ao pôr dosol e só podem continuar de noite se tiverem sido iniciadas dedia.

Quando a entrada em qualquer casa ou suas dependências fechadasfor legamelmente permitida, a autoridade ou agente da autoridadedeverá mostrar, antes do inicio da diligência a ordem ou mandadode captura sempre que lha seja pedida.

Se a entrada for recusada sem fundamento legal, poderá usar daforça para a efectivar, passando, nesse caso relatório daocorrência. (art. 301º do C.P.P, § único).

4.2. Buscas para a apreensãoAs buscas que se destinam à recolha de objectos que interessem aoprocesso designam por buscas para a apreensão.

A realização de buscas para a apreensão resultam na inspecção delocal ou da simples entrada para quaisquer diligências, em casashabitadas ou suas dependências fechadas.

Contudo, as casas de habitação, as repartições públicas, o códigodetermina que, não se use de coacção, devendo-se antes solicitarautorização de entrada à autoridade competente para a conceder, afim de facultar a execuçaõ da busca devidamente ordenada (art.209º do C.P.P).

5. Buscas em pessoas e buscas em coisas

Dissemos acima que, quando a busca é feita em pessoas, ou quandoa coisa procurada se encontra oculta na própria pessoa que atransporta, designa-se por revista.

Isto acontece exactamente quando os objectos a apreenderencontram-se escondidos em pessoas e para que se apreendam taisobjectos, seja indispensável a revista à pessoa suspeita.

Assim, a revista só é legítima se houver uma suspeita fundada daocultação dos objectos em causa e que isso seja reconhecido pelaentidade competente. (art. 203º e 178º do C.P.P).

Do que que foi dito no parágrafo anterior podemos concluir oseguinte:

- Nos termos do art. 203º do C.P.P, é permitida a aprensão deobjectos em poder de qualquer pessoa que constituam provas reaisda sua infracção.

- E o art. 178º do C.P.P, determina a obrigação de concederquaisquer coisas que devam ser examinadas, podendo essa obrigaçãoser coativamente imposta quer ao arguido, quer a terceiros.

5. Pessoas competentes para ordenar as buscas e seus instrumentos legais

Dissemos anteriormente que, as buscas para a apreensão, quer empessoas (revista), quer em lugares cujo acesso não deja livre,terão sempre que observar alguns trâmites legais, ou seja, terãoque ser ordenadas por uma entidade de direito. Para isso, vejamosa seguir quem é competente para ordenar uma busca.

- Nos termos do art. 295º da lei 2/93, de 24 de Junho, as buscasdevem ser mandadas por um juiz competente, requerendo para isso,ao Ministério Público, entidade que as ordena.

- As buscas para a captura podem ser mandadas efectuar por quemtem autoridade para ordenar a prisão preventiva fora de flagrantedelito.

6. Execução das buscas e limites A realização das buscas observará sempre os limites legais. Asbuscas devem sempre ser mandadas efectuar por uma entidadecompetente observando rigorosamente os limites temporaisestabelecidos por leis, isto é, desde ao nascer do sol ao põr dosol, nunca se realizam a noite salvo quando se tiverem começadodurante o dia.(art. 204º do C.P.P).

As buscas devem ser presididas pelo juiz ou pelo MinisrérioPúblico na instrução preparatótia (§2º do art. 179º do C.P.P).

O Ministério Público deve assistir à realização das buscas eapreensões judiciais (art. 203º, § 2º). Também a parte acusador apoderá assistir.

. O que é a prisão preventiva

A prisão preventiva é a privação da liberdade de uma pessoa antes da sua condenaçãotransitada em julagado.

A prisão preventiva do arguido tem um fim de natureza processualque é a garantia de execução da decisão final do processo egarantia de uma eficiente elaboração do próprio processo.

A prisão preventiva pode ser efectuada com culpa formada ou semculpa formada.

A prisão preventiva com culpa formada é a que se realiza depoisdo despacho de pronúncia do arguido, enquanto que a prisãopreventiva sem culpa formada é que se realiza antes ao despachode pronúncia do arguido.

O despacho de pronúncia do arguido é um documento no qual o juizda causa considera a acusação efectuada pelo Ministério Públicosobre o envolvimento de uma pessoa num determinado crime,esperando simplesmente pelo dia de julgamento.

2. Quando e como é que tem lugar a prisão preventivaA prisão preventiva tem lugar sempre aque se observar o que alei estabelece, mormente os respectivos prazos. Assim, a prisãopreventiva pode ser efectuada:

- Em flagrante delito, nos termos do artigo 287º do C.P.P

- Por crime doloso a que caiba pena de prisão superior a um ano, nos termos do nº 1do art.291º do CP..P

- Pelo não cumprimento de obrigações a que ficar subordinada a liberdade provisória,nos termos do nº 2 e §4º do art. 291º do C.P.P

3. Procedimentos nos casos de prisão preventiva:Em flagrante delito e fora dela

3.1. Em flagrante delitoEm flagrante delito, a prisão preventiva é sempre autorizada,desde que ao crime corresponda pena de prisão (três a doisanos). Neste caso, todas as autoridades ou agentes das

autoridades e qualquer pessoa pode, prender os infractores,conforme determina o art. 287º do C.P.P.

3.2. Fora do flagrante delitoA prisão prevetiva fora do flagrante delito só é autorizada noscasos referidos no art. 291º do C.P.P:

‘’1º’’- Quando se verifiquem ao mesmo tempo os seguintesrequisitos:

- Cmetimento do crime doloso punível com pena superior a um ano;

- Forte suspeita da prática do crime pelo arguido;

- Inadmissibilidade da liberdade provisória ou insuficiênciadesta para a realização dos seus fins.

‘’2º’’ – Quando o arguido em liberdade provisória, não cumpra ascondições a que a ela ficar subordinada.

Nos termos do §1º do art. 291º do C.P.P, só há forte suspeita daprática de uma infracção criminal quando se encontre comprovada asua existência e se verifiquem indícios suficientes da suaimputação ao arguido, sendo sempre ilegal a captura destinada aobter esses indícios.

A prisão fora de flagrante delito é efectuada mediante ordem dojuiz do Ministério Público ou das demais autoridades do políciade investigação criminal, que a seguir se mencionam: (art. 293ºdo C.P.P)

- Os directores, inspectores da polícia de investigação criminal;

- Os oficiaiss da policia da República de Moçambique com funções de comando;

- Os Administradores de distrito, Chefes do posto administrativo ou presidente deconselho executivo de localidade onde não haja oficias de poícias com funções decomando.

4. Regularização da prisão preventiva: Apresentação do arguido ao Ministério Público e ao poder judicialDepois de ter sido feita a captura do indivíduo, quer emflagrante delito ou fora de flagrante delito, é obrigatória a suaapresentação em tribunal para a fiscalização da legalidade daprisão, para se proceder a sua validação e manutenção.

Fora do flagrante delito, a apresentação do detido ao poderjudicial deverá ser feita dentro do prazo de 48 horas para a suadetenção. Se a detenção não tiver sido ordenada pelo juiz, oagente do M.P pode autorizar que a apresentação se faça no prazode cinco dias (esta é a maior dilação do tempo, isto é, a maiorextensão do tempo para a apresentação( art. 311º do C.P.P).

Assim, cabe ao juiz da instrução criminal ou na sua falta, o juizda causa, proferir a decisão judicial da captura (validando-a emandando recolher o arguido à cadeia, ou ordenando a restituiçãoda liberdade mediante pagamento de caução ou termo de identidade,ou ainda que seja solto, sem prejuizo da continuação dainstrução) art. 263º do C.P.P.

A apresentação do detido em flagrante delito ao poder judicialdeve ser feita no mais curto espaço de tempo possível depois dasua detenção, sob pena de procedimento, que será instaurado aosque infringirem o disposto no artigo 290º do C.P.P.

5. Duração e Cessação da prisão preventiva

Muito bem, estamos agora a terminar com a lição e este conteúdo éfácil de perceber e reporta-se de importâcia prática na suaunidade, ora vejamos.

Sempre ou quase sempre nas celas das esquadras ficam detidaspessoas suspeitas de práticas de vários crimes, não raras vezesessas pessoas permanecem muitro tempo sem que seja validada a suadetenção, o que é ilegal. Agora, veja a seguir como é que vai serfácil tratar destas questões após o estudo dessa lição.

Quando um indivíduo está ainda sob prisão prevetiva sem culpaformada, este regime de prisão pode cessar se estiveremverificadas duas situções:

1- Se a culpa tiver sido já formada – aqui a prisão passará aser válida e legítima pela culpa já formada;2- Se tiverem esgotados os prazos de prizão preventiva semainda qualquer pronúncia

Disto vamos dizer que, quando o indivíduo está sob prisãopreventiva com culpa formada, a cessação da respectiva prisãodepende da decisão final, ou pela libertação do arguido ou peloinicio da execução da condenação

Agora, chegados aqui vamos ver então quais os prazos a observarno âmbito da prisão preventiva. Estes prazos estão de harmoniacom a questão da culpa formada ou não formada e, assim teremos:

5.1. Sem culpa formada, a lei estabelece dois prazos:

5.1.1. Da captura à notificação do arguido da acusação ou do pedido da instrução contraditória:

- Vinte dias, por crimes dolosos a que caiba a pena de prisãosimples (pena correcional)

- Quarenta dias, por crimes a que caibam penas de prisão maior

- Noventa dias, por crimes cuja instrução seja da competência daP.I.C

5.1.2. Da notificação da acusação atá à pronúncia:

- 3 meses, se ao crime couber pena a que corresponda ao processode polícia correcional

- 4 meses, se ao crime couber pena a que corresponda o processode querela.

5.2. Com culpa formadaPara estes casos, a lei estabelece que havendo réus presos e aduração da prisão preventiva tenha ultrapassado um ano nosprocessos de querela, seis meses nos processos correcionais etrês meses nas demais formas de processo, o Ministério Públicoinformará o facto ao Procurador-Geral da República, que tomará ouproporá as providências convenientes (§ 2º do art. 337º doC.P.P).

. Aplicação e Justificação da liberdade provisóriaNo tema anterior falamos da prisão preventiva e vimos que temcomo fins processuais, a efectividade da execução da pena, aserenidade da instrução do processo, a prevenção de cometimentode novos crimes.

Agora vamos falar da liberdade provisória e, é fácil de perceberque ela aplica-se a alguem detido.Neste sentido, há que sabersempre em que condições a lei permite que aplique-se a liberdadeprovisória, vejamos a seguir:

- Sempre que se mostre viável a prossecussão dos fins acimamencionados pela aplicação de medidas menos dispendiosas, emsubstituição da prisão.

Essas medidas substutivas são a caução e o termo de identidade eresidência.

A caução procura assegurar os fins da prisão preventiva a partirdo interesse do próprio arguido, obrigando-o a cumprir os seu

deveres processuais, sob ameaça de perder o valor caucionado e aprópria liberdade.

2. Inadmissibilidade da liberdade provisória Em determinados momentos não é admissível a aplicação daliberdade provisória, devendo o arguido aguardar o decurso doprocesso sob prisão.

Assim, a liberdade provisória é inadmissível nas seguintessituações:

- Se o crime for punível com pena maior fixa, ou seja, com qualquer das penas referidasnos nºs 1, 2, 3 e 4 do art. 55º do C.P.

- Se o crime for doloso e punível com pena de prisão superior a um ano, sendo oarguido reincidente, vadio ou equiparado.

3. Caução e suas formas Vimos anteriormente que, a caução constitui uma das vias atravésdas quais se procuram assegurar os fins da prisão preventiva apartir do interesse do próprio arguido, mediante pagamrento deum valor monetário.

Nos termos do art. 274º do C.P.P, a caução visa «… assegurareficazmente a comparência dos arguidos a todos os termos do processo em que elaseja necessária e o cumprimento das obrigações impostas pela lei ou pelo juiz …»

A fixação da caução é da competência do juiz da instrução ou dojuiz da causa, ele ao fixar o valor terá sempre em conta agravidade da infracção, o dano causado e as circunstâncias doarguido ( 2º § do art. 274º do C.P.P ).

Ora, há momentos em que a prestação do valor da caução visagarantir o pagamento das multas e do imposto de justiça, assimcomo as indemnizações em que possa vir a ser condenado o arguido,esta é a chamada caução económica que se distingue da cauçãocarcerária, aquela em que arguido não tem multas e nem impostospor pagar.

Quantos as formas de pagamento da caução (art. 277º do C.P.P), esta pode serprestada nos moldes em que o arguido achar conveniente, comosejam:

- Depósito;

- Penhor;

-Hipoteca;

-Fiança bancária ou Fiança

4. Termo de residência e identidadeO termo de identidade é a forma através da qual se procede aidentificação do arguido para este poder ser encontrado e avisadodas suas obrigações processuais.

O termo de identidade acontece quando o arguido é capturado emflagrante delito e não é julgado de imediato em processo sumário.

Contudo, o termo de identidade não substitui nunca a captura doindivíduo porque seria ilegal, o mesmo acontece porque não sepode manter preso um indivíduo por crime a que correspondaprocesso sumário ou de transgrssões.

5. Garantias da Liberdade individual

A privação da liberdade da pessoa humana é um facto estabelecidopor lei, assim como acontece em relação a sua captura para adetenção, deve ser ordenada por autoridades legalmentecompetentes.

Disto resulta que, não poderá haver detenções arbitrárias,constituindo desde logo uma garantia para os indivíduos, a sualiberdade.

É por isso que nos termos da Lei 2/93 as autoridades legalmentecompetentes para ordenar captura, devem apresentar os detidos aojuiz da instrução criminal ou juiz da causa no prazo de 48 hora,

para efeitos de validação da captura, podendo em situaçõesexcepcionais, o M.P autorizar que a aspresentação se faça noprazo de cinco dias.

6. Habeas Corpus: Fundamentos e pressupostosOs fundamentos e pressupostos sobre a figura jurídica do habeascorpus é tratada nos artigos 312º e seguintes e, 315º do C.P.P.

E assim, temos:

1-A Providência inonimada do artigo 312;

2- A Providência do habeas corpus do arigo 315º.

Fundamentos constantes do artigo 312º do C.P.P

A providência prevista neste artigo surge quando:

- Estar excedido o prazo para a entrega ao poder Judicial;

- Manter-se a detenção fora dos locais para este efeitoautorizados por lei e pelo governo;

- Ter sido efectuado o internamento em estabelecimento dedetenção por ordem de autoridade não competente;

- Ser a detenção motivada por facto pelo qual a lei não apermite.

Fundamentos da providência do habeas corpus do artigo 315º do C.P.P.

Esta surge quando:

- A detenção ter sido efectuada ou ordenada por quem para tantonão tenha competência legal;

- Ser movida pelo facto pelo qual a lei não autoriza a prisão;

- Manter-se além dos prazos legais para a apresentação em juizo epara a formação da culpa;

- Prolongar-se para além do tempo fixado judicialmente para aduração da pena, ou medida de segurança ou da sua prorrogação.

7. Procedimento da autoridade policial nos casos de Habeas corpusA providência do habeas corpus é interposta perante o Tribunal,cabendo a si mesmo a tomada da decisão final sobre o pedidofeito. Ora, se a Polícia for avisada sobre o pedido, terá deesprerar pela decisão do Tribunal.

8. Habeas corpus como garantia constitucionalA figura do «habeas corpus» em termos de fundamento, vemconsagrada no artigo 66º da Constituição da República deMoçambique e, dispõe o seguinte:

- Em caso de prisão ilegal, o cidadão tem o direito a recorrer àprovidência do «habeas corpus».

- A providência do Habeas corpus é interposta perante o Tribunale, o seu processo é fixado na lei.