Redentor, Armando; Reis, Mário & Bacelar, Lara Bacelar (2013) - I expedição arqueológica à...

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ARQUEOLOGIA

II SÉRIE (18) JULHO 2013

I expedição arqueológica à Serra do Gerês no século XXI

As GravurasRupestres de Obsedo

notícia da descoberta

Armando Redentor I, II, Mário Reis II, III e Lara Bacelar Alves II, IV

INTRODUÇÃO

Osítio de arte rupestre de Obsedo foi descoberto ocasionalmente, em meados de2012, por Rui Barbosa, residente em Braga e frequentador habitual das altasser ranias do Gerês. Tendo comunicado aos serviços do Parque Nacional da Pe -

neda-Gerês (PNPG), em 19 de Julho desse ano, a existência de uma gravura rupestre numaremota localização daquela serra, deslocaram-se ao local, em 21 de Agosto, técnicos doDepartamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte (DGAC-N) do Instituto daConservação da Natureza e das Florestas (ICNF), nomeadamente um dos signatários [AR]e o engenheiro florestal Jorge Dias, acompanhados pelo informante. O objectivo dessavisita foi no sentido de se proceder ao reconhecimento do sítio arqueológico, bem comoà sua rigorosa localização e caracterização preliminar. Tendo-se constatado estar peranteum motivo circular comum na designada Arte Atlântica, dessa primeira incursão resul-tou ainda a descoberta de outros motivos gravados em superfícies adjacentes (infra, pai-néis 4 e 5).Em face do reconhecimento de um sítio de arte rupestre inédito, inclusive pela sua loca-lização geográfica, e tendo-se a convicção de que a sua compleição seria mais vasta, no -meadamente quanto ao número de superfícies gravadas, tornou-se evidente a necessida-de de uma avaliação mais detalhada, uma vez que os vestígios identificados apontavam,desde logo, para um sem-número de questões, concretamente nos planos interpretativoe cronológico, e configuravam um substancial interesse científico e cultural, comple-mentares ao já elevado valor atribuído ao património natural daquela área (Fig. 1).A pertinência de um estudo mais circunstanciado do sítio e das manifestações artísticasassociadas evidenciou a vantagem de colaboração com especialistas no estudo deste tipode arqueossítios, ampliando-se a capacidade técnico-científica para se proceder a um estu-do mais aturado, daí resultando o enquadramento dos restantes signatários [LBA e MR].

RESUMO

Notícia da descoberta, em 2012, do primeiro sítio com arte rupestre da Serra do Gerês, na proximidade de Obsedo(Terras do Bouro, Braga).A identificação de uma combinação de círculos concêntricosgravada numa plataforma rochosa permitiu reconhecer umconjunto mais amplo, constituído por sete superfíciesdecoradas. A descoberta vem colmatar uma importante lacuna no conhecimento da arte pré-histórica do Noroesteportuguês e levanta novas questões sobre a variabilidadetemática da chamada Arte Atlântica peninsular.

PALAVRAS CHAVE: Arte rupestre; Arte atlântica do Noroeste peninsular; Pré-História antiga.

ABSTRACT

News of the discovery in 2012 of the first Rupestral art site inthe Gerês mountains, near Obsedo (Terras do Bouro, Braga).A combination of concentric circles engraved on a rockyplatform was identified and led to the recognition of a widerset of seven decorated surfaces. This discovery fills a big gap in the knowledge of pre-historic art of the Portuguesenorthwest and raises new questions about the themevariability of the so-called Atlantic Art from the northwest of the Iberian Peninsula.

KEY WORDS: Rupestral art; Atlantic Art from the northwest of the Iberian Peninsula; Early Prehistory.

RÉSUMÉ

Annonce de la découverte, en 2012, du premier site avec de l’art rupestre dans la Serra do Gerês, à proximité de Obsedo (Terras do Bouro, Braga).L’identification d’une combinaison de cercles concentriquesgravée sur une plateforme rocheuse a permis de reconnaître un ensemble plus vaste, constitué de sept surfaces décorées. La découverte vient combler une importante lacune dans la connaissance de l’art préhistorique du Nord-Ouestportugais et soulève de nouvelles questions sur la variabilitéthématique dudit Art Atlantique péninsulaire.

MOTS CLÉS: Art rupestre; Art atlantique du Nord-ouestpéninsulaire; Préhistoire ancienne.

I Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) ([email protected]).II Centro de Estudos Arqueológicos das

Universidades de Coimbra e Porto (CEAUCP).III Parque Arqueológico do Vale do Côa /

/ Fundação Côa-Parque ([email protected]).IV Bolseira de Pós-doutoramento da Fundação para a

Ciência e Tecnologia (FSE-POPH) ([email protected]).

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Serra do Gerês. O sítio encontra-se dentro dos limites da Mata Na -cional do Gerês, área de ambiente natural, com o regime de Área dePro tecção Total conferido pelo Plano de Ordenamento do ParqueNa cional da Peneda-Gerês (Resolução do Conselho de Ministros 11-A/2011, de 4 de Fevereiro). Administrativamente, pertence à freguesiade Campo do Gerês, concelho de Terras de Bouro, distrito de Bra ga.

ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO

A área de implantação das gravuras rupestres de Obsedo inscreve-seno troço inicial da bacia hidrográfica do rio Homem, a cerca de trêsquilómetros em linha recta da sua nascente, que se localiza no sectormais elevado da serra do Gerês, na zona de Carris, à cota de 1450 m(Fig. 2).

Realizou-se uma nova incursão ao local no dia 17 de Setembro de2012, incluindo agora a totalidade dos signatários, acompanhadospelo engenheiro florestal Jorge Dias e pelo sr. António Rebelo, igual-mente afecto ao DGAC-N.O presente artigo dá conta dos resultados das observações feitas nes-ta segunda visita, no intuito de fazer um ponto da situação prelimi-nar ao desenvolvimento de um projecto de investigação sobre o sítio.Trata-se, efectivamente, do primeiro complexo de arte pré-históricaidentificado, até ao momento, em todo o contexto montanhoso da

FIG. 1 − Perspectiva geral da área de estudo a partir de Nascente sobre a bancada rochosa que agrega o conjunto de gravuras rupestres (ao centro). A presença de dois elementos da equipa que se deslocou ao local, no lado direito da imagem, é elucidativa do carácter monumental desta paisagem serrana.

FIG. 2 − Localização do núcleo degravuras rupestres de Obsedo emextracto da Carta Militar de Portugal,à escala 1/25 000, folha 31.

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FIG. 3 − Vista aérea do maciço granítico com indicação da localização dos painéisdecorados sobre imagem de satélite (disponível em http://maps.google.pt/, consultado em Fevereiro 2013).

As gravuras ocupam diferentes zonas individualizáveis ao longo davasta superfície central do maciço e no seu rebordo sud-ocidental,que, mais à frente, se designam por “painéis”.O suporte geológico, um granito porfiróide ou de tendência porfirói-de de grão médio a grosseiro, biotítico, conhecido por “granito do Ge -rês” (MOREIRA e RIBEIRO, 1991), impõe alguma variabilidade ao as -pecto e textura superficiais das rochas, que se apresentam bastanteuni formes nalgumas zonas e noutras mostram irregularidades decor-rentes de degradação granular superficial. São relativamente frequen-tes os longos e estreitos veios de quartzo e feldspato. Em certas zonas,aparecem apenas os seus negativos, indiciando que se destacaram darocha devido a fenómenos erosivos, sendo que se apresentam nas su -perfícies como depressões estreitas e alongadas, muito semelhantesaos sulcos gravados. Impõe-se, invariavelmente, a observação cuidadada morfologia interna de ambos para destrinçar as irregularidadesnaturais das que têm origem antrópica.

DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

DO NÚCLEO DE ARTE RUPESTRE DE OBSEDO

A expedição realizada no dia 17 de Setembro de 2012 teve comoobjectivo principal o reconhecimento do terreno e das gravuras rupes-tres previamente detectadas e, simultaneamente, pretendia também arecolha de um conjunto de dados que permitisse consubstanciar a ela-boração de um futuro projecto de investigação arqueológica. No to -tal, foram inventariados sete painéis que se distribuem por dois gru-pos distintos. Os painéis 1, 2 e 3 encontram-se próximo da extremi-dade Noroeste do maciço rochoso, os restantes, a uma cota mais ele-

vada, junto da extremidade Sudeste (Fig. 3).As observações realizadas permitem apresen-tar um inventário descritivo preliminar decada um deles.O painel 1 ostenta a que podemos chamarde “gravura da descoberta”. Trata-se de ummotivo de grandes dimensões e é vi su al men -te bem perceptível. Encontra-se isolado nocentro de uma ampla plataforma horizontale rebaixada que constitui o rebordo ociden-tal do maciço e que é delimitada, pe lo ladooposto, por uma elevada parede vertical.

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Assumindo rapidamente uma direcção quase rectilínea de Leste paraOeste, o rio Homem rasga caminho numa profundíssima gargantaaberta nos duros granitos da serra. Apenas oito quilómetros a jusanteda nascente, na Portela do Homem, encontra-se já a uma cota infe-rior aos 750 m, configurando, assim, uma acentuada e impressionan-te queda de quase 100 m por quilómetro. Após a Portela do Homem,uma importantíssima via natural de acesso pelo meio das serraniasque preenchem todo este território entre o Alto Minho e a Galiza, orio dirige-se para Sudoeste, tornando-se gradualmente mais plácido. Sobranceiro à depressão natural eleita para a construção da estruturacircular do Curral de Obsedo, o conjunto de superfícies decoradasen contra-se numa zona de declive suave, relativamente abrigada, flan-queada por uma linha de água, a poucas centenas de metros da suanascente e, na direcção oposta, a distância similar do início do decli-ve abrupto ditado pelo vale do rio Homem, com desnível na ordemdos 400 m. Esta linha de água corre imediatamente a Leste da ribei-ra do Cagarouço, entre esta e a ribeira de Madorno, integrando assima densa rede de afluentes da margem esquerda do Homem.As gravuras rupestres distribuem-se por um enorme afloramento gra-nítico com perfil em forma de cunha e planta aproximadamente rec-tangular, com cerca de 200 m de comprimento e poucas dezenas deme tros de largura. Esta vasta superfície apresenta um eixo longitudi-nal orientado de Sudeste (no ponto mais elevado) para Noroeste (noponto mais baixo), acompanhando a linha de água. A sua cota médiarondará os 1340 m.O afloramento assemelha-se a uma imensa língua rochosa, compostapor um contínuo de superfícies lisas e planas, dispostas em patama-res, apresentando algumas irregularidades e saliências nos rebordos la -terais.

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Com a visibilidade assim fechada a Nascente, esta plataforma confi-gura uma espécie de varanda sobre a paisagem a Ocidente, com umamplo domínio sobre o vale do Homem, vislumbrando-se a aberturada Portela do Homem (Fig. 4).O único motivo gravado neste painel é uma imponente combinação decírculos concêntricos, sem covinha central e delimitada externamen-te por arco(s) de círculo, com cerca de 1,80 m de diâmetro (Fig. 5).Se a percepção visual desta grande figura circular é aparentemente fá -cil e imediata, os líquenes que a recobrem e o extremo desgaste de al -guns dos seus traços, aliados a uma certa irregularidade técnica ine-rente à própria composição, dificultam a enumeração dos anéis con-cêntricos que a compõem, que serão no mínimo de cinco. O acesso aesta superfície faz-se pelo lado setentrional do maciço, passando-sepe lo painel 2, do qual dista c. 25-30 m para Sul. O painel 2 situa-se na zona setentrional do maciço e a partir desta su -perfície pode seguir-se para a direita, na direcção do painel 1, ou paraa plataforma superior, a Sul, para alcançar o painel 3 e, a partir daí,os restantes. Este é, na verdade, o primeiro que se detecta no conjun-to para quem acede ao maciço rochoso desde o pequeno vale que li -mita o afloramento a Norte (Fig. 6).

FIGS. 4, 5 E 6 − Em cima, aspecto da plataforma rochosa onde, ao centro, figura uma composição circular (painel 1).

À direita, em cima, aspecto geral da combinação de círculos concêntricos e arcos de círculo com cerca de 1,80 m de diâmetro.

À direita, em baixo, localização dos painéis 1, 2 e 3, mostrando a relação espacial entre si e com as diferentes áreas topográficas do maciço rochoso.

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P2 P1

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FIGS. 7, 8 E 9 − Em cima, detalhe do motivo gravado no painel 2.

Ao centro, covinhas gravadas no painel 3,junto ao rebordo de uma das

plataformas do maciço.

Em baixo, aspecto geral da composição gravada no painel 4.

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A superfície gravada está levemente in -clinada para Noroeste, detendo umcam po de visibilidade similar ao dopai nel 1 para Oeste, mas dominandoainda o corredor natural de entrada pa -ra o amplo lameiro onde se situa oCur ral de Obsedo. Apresenta tambémum único motivo, compósito, de difí-cil percepção, muito degradado, comoatesta a escassa profundidade do sulcoconservado (2-3 mm). Corresponde auma figura oval que delimita uma su -perfície ligeiramente alteada no supor-te e se encontra rodeada, por baixo epelos lados, por um conjunto de pelomenos quatro linhas paralelas, forman-do cada uma um arco de círculo, pare-cendo arrancar, do lado Poente, deuma fissura natural do suporte (Fig. 7).A figura tem como dimensões máximas1,60 m no eixo Este-Oeste e 1,10 m noeixo Norte-Sul.O painel 3 pode ser localizado porquem sobe o maciço a partir do painel 2,encontrando-se numa plataforma su -perior, configurada por uma linha dequebra que o corta lateralmente e for-ma uma parede rochosa cuja transposi-ção não apresenta dificuldades. Estepai nel encontra-se no rebordo Norteda linha de quebra, imediatamente so -bre o ponto natural de acesso, e apre-senta unicamente três covinhas dispos-tas em triângulo, com 5, 8 e 9 cm dediâmetro e profundidades que oscilam entre 1,5 e 0,7 cm (Fig. 8). Apartir da qui, seguindo para a direita, alcança-se de imediato o limitesuperior da plataforma sobre o painel 1, tendo, desde este ponto, amelhor perspectiva sobre o círculo gravado.

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Caminhando-se em frente e para cima acede-se às res tantes superfí-cies decoradas.O painel 4 ocupa uma superfície quase horizontal, levemente descaí-da para Noroeste.

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A implantação espacial deste conjunto é também pouco usual. Os sí -tios de tão elevada altitude são raros ou inexistentes, embora esse des-conhecimento se possa simplesmente dever à escassez de investigaçãorealizada nestes ambientes.Talvez o isolamento do sítio no alto da serra do Gerês seja responsá-vel pelas suas peculiaridades: uma “originalidade serrana”, podería-mos dizer. A criação deste conjunto poderá eventualmente relacionar-se com oaproveitamento e exploração sazonal dos recursos naturais do alto daserra, talvez não muito distantes daqueles que, tradicionalmente, ascomunidades locais mantiveram até há algumas décadas atrás.Apenas nos é consentido especular sobre a origem e os territórios daspessoas que criaram estas gravuras e viveram neste espaço, mas a suaimplantação num maciço destacado, visualmente imponente, numlocal com uma tão forte relação paisagística com o vale superior doHo mem, e a percepção longínqua da Portela do Homem, sugeremque possa ter sido delineado, a partir desta, o trajecto principal deacesso ao sítio. E talvez aqui possa residir a chave para uma melhorcompreensão do sítio.Entre a Portela do Homem e Obsedo há um forte potencial para aidentificação de arqueossítios, incluindo novos núcleos de gravurasrupestres. Obsedo pode constituir, assim, um ponto de partida parauma investigação espacialmente mais alargada, o que permitirá escla-recer se o sítio é uma singularidade ou se está adscrito a conjuntolocal, e se as peculiares gravuras do painel 6 são ou não únicas, e deque forma se inserem no contexto da arte rupestre da região.

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Lara Bacelar (2003) – The Movement of Signs. Post-glacial rock art in north-western Iberia. Reading: Reading University (Ph.D Thesis). 2 vols.

ALVES, Lara Bacelar (2012) – “The Circle, the Cross and the Limits of Abstractionand Figuration in North-western Iberian Rock Art”. In COCHRANE, A. e JONES,A. (eds.). Visualising the Neolithic: abstraction, figuration, performance,representation. Neolithic Studies Group Seminar Papers 13. Oxford: Oxbow Books.Chapter 13, pp. 198-214.

BAPTISTA, António Martinho (1981) – “O Complexo de Arte Rupestre da Bouçado Colado (Parada, Lindoso). Notícia preliminar”. Giesta. 1 (4): 6-16.

CUNHA, Ana Leite da e SILVA, Eduardo Jorge (1980) – “Gravuras Rupestres doConcelho de Valença. Montes dos Fortes (Taião), Tapada do Ozão, Monte daLaje”. In Actas do Seminário de Arqueologia do Noroeste Peninsular. Guimarães.Vol. II, pp. 121-131.

MOREIRA, Armando e RIBEIRO, M. Luísa (1991) – Carta Geológica do ParqueNacional da Peneda-Gerês. Braga: Serviços Geológicos de Portugal / ParqueNacional da Peneda-Gerês.

A composição de círculos concêntricos do painel 1 encontra paralelosem inúmeros motivos similares em toda aquela região, embora as suasgrandes dimensões sejam apenas comparáveis, no contexto dos sítiosportugueses, com os que ocorrem em Monte dos Fortes I, na regiãode Valença (CUNHA e SILVA, 1980), embora estes não ultrapassem1,20 m em diâmetro, ainda que contenham maior número de anéisdo que o exemplar em apreço.Podemos assim propor uma datação pré-histórica para o sítio deObsedo, não sendo possível maior detalhe cronológico, embora seadi ante que, em sentido lato, a tradição de Arte Atlântica, cujo en -qua dramento temporal é ainda tema de aceso debate, se poderá bali-zar entre o IV e o I milénios a.C., ou seja, abrangendo um vasto pe -ríodo da Pré-História Recente (ver, por exemplo, ALVES, 2012). Neste momento, não será possível, em face do seu ineditismo no con-texto do Noroeste peninsular, classificar com exactidão os motivos dopainel 6. Mas o modo como estão representados na rocha indubita-velmente lembra a representação da genitália externa feminina. É pro-vável que haja, de facto, um cariz sexual nestas representações, aindaque a sua intencionalidade seja enigmática.É também difícil aferir a relação do painel 6 com os restantes: faráculturalmente parte do conjunto, ou será algo individualizável, cul-tural e/ou cronologicamente apartado dos restantes motivos? Estesmotivos apresentam um grau de desgaste similar aos demais, mas atécnica de gravação, em baixo relevo, é distinta.Também a sua implantação muito junto ao limite do maciço, que alidefine uma quebra vertical de vários metros e condiciona o movi-mento do observador, é diferente, assim como a sua possível associa-ção aos entalhes no rebordo rochoso, inexistentes nos restantes pai-néis.

CONCLUSÃO

Em suma, o sítio de Obsedo pode incluir-se na tradição de ArteAtlântica do Noroeste Peninsular, com a incógnita relativa aos moti-vos do painel 6.Não é, no entanto, um sítio típico. Apresenta características muitopróprias, quer ao nível do reportório iconográfico, quer da distribui-ção das figuras no suporte e relação espacial que estabelecem entre si.Uma das suas originalidades prende-se com as grandes dimensões dosmotivos gravados que parecem acompanhar e moldar-se ao gigantis-mo da paisagem granítica da serra.