A Rua Faz Notícia - Analisando a cobertura jornalística do Twitter do Correio24horas

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UNIÃO METROPOLITANA DE ENSINO BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO WÉVELA DE PAULA MENDES A RUA FAZ NOTÍCIA ANALISANDO A COBERTURA JORNALÍSITCA DO TWITTER DO CORREIO24HORAS Salvador, 2014

Transcript of A Rua Faz Notícia - Analisando a cobertura jornalística do Twitter do Correio24horas

UNIÃO METROPOLITANA DE ENSINO

BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO

WÉVELA DE PAULA MENDES

A RUA FAZ NOTÍCIA – ANALISANDO A COBERTURA JORNALÍSITCA

DO TWITTER DO CORREIO24HORAS

Salvador, 2014

WÉVELA DE PAULA MENDES

A RUA FAZ NOTÍCIA – ANALISANDO A COBERTURA JORNALÍSTICA

DO TWITTER DO CORREIO24HORAS

Artigo submetido ao curso de graduação em Comunicação Social/Jornalismo, da União Metropolitana de Ensino – UNIME, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo. Orientadora Prof.ª Arla Cristiane Coqueiro

Salvador, 2014

WÉVELA DE PAULA MENDES

A RUA FAZ NOTÍCIA – ANALISANDO A COBERTURA JORNALÍSTICA

DO TWITTER DO CORREIO24HORAS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado em sua forma final pelos seguintes professores, no dia 28 de maio de 2014.

BANCA AVALIADORA

______________________________ Prof.ª Arla Cristiane Coqueiro. Mestre em Letras e Lingüística pela Universidade Federal da Bahia.

______________________________ Prof. José Carlos Peixoto Junior. Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia

AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus Orixás e mentores espirituais,

À minha família pelo apoio,

à minha orientadora Arla Coqueiro, por todas as conversas,

aos professores do curso de Jornalismo que me incentivaram,

e a Taian e Yuri por serem meus amigos.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 4

JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................................... 5

OBJETIVO GERAL ..................................................................................................................................... 5

OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................................................... 6

METODOLOGIA .......................................................................................................................................... 6

DISCUSSÃO ................................................................................................................................................ 7

A Internet ................................................................................................................................ 7

O Twitter ............................................................................................................................... 11

O Ciberativismo ..................................................................................................................... 12

Primavera Árabe ................................................................................................................... 13

Occupy Wall Street................................................................................................................ 14

Black Bloc ............................................................................................................................. 14

Ciberativismo no Brasil - A Lei da Ficha Limpa ..................................................................... 15

Midia Ninja ............................................................................................................................ 15

A CIDADE NAS RUAS .............................................................................................................................16

Movimento Passe Livre ......................................................................................................... 16

Salvador na Voz do Povo – Junho de 2013 ........................................................................... 17

Quem Protesta? .................................................................................................................... 18

Como protestam? .................................................................................................................. 19

O que as ruas relatam? ......................................................................................................... 20

AS COBERTURAS DAS MANIFESTAÇÕES .......................................................................................21

O Correio* ............................................................................................................................. 21

O que o Correio24horas Twittou? .......................................................................................... 22

O que o Correio* publicou? ................................................................................................... 25

TEORIA ATOR-REDE E AS PAUTAS DO CORREIO* .......................................................................25

TEORIA DO AGENDAMENTO E AS PAUTAS DO CORREIO* ........................................................26

TEORIA DA ESPIRAL DO SILÊNCIO…………………………………………………………………26

CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................................................28

REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................29

A RUA FAZ NOTÍCIA – ANALISANDO A COBERTURA JORNALÍSTICA

DO TWITTER DO CORREIO24HORAS

MENDES, W. P1.; COQUEIRO, A. C

2.

RESUMO

Diante do rumo que a história política e social brasileira vem tomado nos mais recentes

anos, é observável por muitos estudiosos a presença das redes sociais como formas de

interação entre o leitor/telespectador e as redações. Esse fenômeno ficou mais evidente

durante as manifestações (em sua maioria organizadas através da internet) nas mais de

200 cidades brasileiras durante os meses de maio a outubro de 2013. Em Salvador,

aconteceram protestos no mês de junho, porém foram contidos pela Polícia Militar e

Força Nacional, e desde então a capital baiana não teve mobilizações tão fortes como

naquela Copa das Confederações. O presente trabalho se propõe a discutir os posts via

Twitter do Correio24horas através de perfil oficial do veículo, no período de 20 a 23 de

junho de 2013, época das manifestações mais relevantes.

1 Graduanda em Comunicação Social/Jornalismo – UNIME. e-mail: [email protected]

2 Mestre em Letras e Lingüística pela Universidade Federal da Bahia Chefe de Redação na TV Itapoan, Record

Bahia, e Professora das disciplinas Telejornalismo I e II, e Produção Audiovisual na Faculdade Unime/Salvador.

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INTRODUÇÃO

A análise de um veículo de comunicação é importante para que se desenvolvam

linhas de pensamento sobre as notícias que vão ao ar, e a partir disso, compreenda-se

o processo social ao qual a comunidade que consome esta notícia se encontra.

As manifestações ocorridas no Brasil durante o ano de 2013 tiveram - para além

do viés político – uma gana de justiça engasgada na voz de toda uma população há

décadas. Escândalos políticos e a desigualdade social e cultural há muito amargada

pela maior parcela da população brasileira alimentaram um gigante que foi às ruas

pedir - cada um a seu modo – por seus direitos. Direitos estes em sua maioria

assegurados pela Carta Magna – a Constituição Federal de 1988 e não cumpridos pelo

Poder Público.

A presença das mídias sociais – fenômeno conhecido como ciberativismo – é de

grande valia para a propagação do movimento que surgiu no sudeste do país e se

espalhou de forma estrondosa em pouco tempo. O ciberativismo, contudo, está

presente na história brasileira há mais tempo, de forma organizada propondo ideias e

adequações na legislação que atendam as necessidades das gerações atuais.

Em São Paulo, Goiânia e outras capitais brasileiras as manifestações tiveram

retornos, como a redução das tarifas de ônibus[1]. Em Salvador, porém, as

manifestações – ainda que organizadas de uma forma diversa – não lograram êxito real

para a população baiana. Cidadãos foram às ruas, e exerceram seus direitos de

manifestar pelo que achavam justo, porém diversos fatores contribuíram para que as

manifestações enfraquecessem, e acabassem por não mais ocorrer. A mídia

apresenta-se como um dos fatores de enfraquecimento dos movimentos.

O presente trabalho propõe-se a discutir a linguagem e técnica de cobertura

adotada pelo Correio24horas, para entender o papel de um dos maiores veículos

jornalísticos da Bahia para a descaracterização de um movimento legítimo, o povo.

Para uma melhor compreensão do trabalho proposto, faz-se necessário uma

contextualização da internet e do papel dela para a cobertura jornalística, além dos

significados de ciberativismo e de como o ativismo na internet está inserindo-se nos

contextos sociais e jornalísticos no nordeste e principalmente em Salvador. As redes

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sociais, neste cenário, apresentam-se como principal meio utilizado para divulgar,

informar e aglutinar pessoas.

Em um segundo momento é interessante que se fale sobre o veículo e sua

posição no mercado atual, para que se faça entender a postura que o mesmo adota em

suas postagens e coberturas.

Importante também que se faça a contextualização das manifestações no Brasil

no ano de 2013, observando-se o papel das manifestações do povo baiano no contexto

nacional.

JUSTIFICATIVA

Para a comunicação e, principalmente, tratando-se da comunicação baiana, é

importante que se discuta a forma e os meios que se utiliza para enviar uma

mensagem. A forma, pelo seu conteúdo, pela linguagem adotada e, sobretudo, pelo

que se quer noticiar, conscientizando-se de que uma notícia pode ser responsável por

glórias ou tragédias. E o meio, pois se tratando de informação, faz-se míster que a

notícia chegue até o cidadão – que deve ser o mais interessado na informação. Estes

dois fatores – forma e meio – são fundamentais para compreender a posição de um

veículo de comunicação na sociedade.

OBJETIVO GERAL

Através deste trabalho propõe-se uma análise da cobertura das manifestações

de Junho de 2013 em Salvador, utilizando como parâmetros: a data em que os

protestos aconteceram (entre 20 e 23 de junho), o veículo determinado

(Correio24horas, através de sua página no Twitter) e o alcance da informação (medido

através dos retweets – réplicas de cada informação, e da linguagem escolhida pelo

veículo para comunicar-se.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Pretende-se, com o presente trabalho, discutire a forma e o meio utilizado pelo

veículo online Correio24horas através de perfil na rede social Twitter, para cobertura

das manifestações ocorridas entre 19 e 23 de Junho na capital baiana.

A análise propõe-se a fazer uma convergência entre a cobertura do veículo e os

rumos que as mobilizações online tomaram, chegando à descaracterização legítima do

movimento e consequentemente a sua desintegração.

Vale ressaltar que no mesmo período a cidade de Salvador era uma das sedes

da Copa das Confederações, e este pode ser um dos fatores que influenciou o

agendamento das notícias pelo veículo analisado.

METODOLOGIA

Analisando as postagens de uma rede social, faz-se necessário a coleta de

todos os materiais relacionados. Utilizamos a ferramenta online Topsy[2] que

brevemente nos retornou as postagens do perfil @Correio24horas que obtiveram mais

retweets no período. As postagens foram selecionadas por data e por quantidade de

réplicas.

Escolhido o material, faremos a análise da linguagem utilizada pelo perfil da rede

para noticiar os acontecimentos das manifestações e relacionados. A análise da

linguagem partirá de premissas do jornalismo – com breve estudo do lead e da

abordagem geral dos tweets.

Posteriormente pretende-se fazer a convergência com as teorias do

Agendamento, Teoria da Espiral do Silêncio e Teoria Ator-Rede, para a partir disso

concluir qual o papel do Twitter do Correio* na cobertura das manifestações.

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DISCUSSÃO

A Internet

Faz 45 anos. Era abril de 1969 quando aconteceu a primeira transmissão de

dados online que se tornaria a internet que temos hoje. Idealizada para fins militares -

em tempos de Guerra Fria, muitos dados precisavam ser enviados em curto espaço de

tempo e a longas distâncias - a ARPANET (Advanced Research Projects Agency

Network) era uma rede de dados da ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa

Avançada dos Estados Unidos). O processo de envio das mensagens era rudimentar, e

consistia em um sistema de chaveamento de pacotes (também chamado de

comutação). As informações eram divididas em pequenos pacotes e estes eram

enviados utilizando diferentes caminhos. Ao chegar em seu destino, os receptores

reuniam os pacotes e decodificavam a informação.

Em 1973 aconteceu a primeira transmissão dos protocolos TCP (Transmission

Control Protocol). No ano seguinte utilizou-se pela primeira vez o termo “internet” para

conexões de dados à distância, mas foi só nove anos depois, em 1984, que a primeira

grande rede baseada em protocolos TCP/IP foi ao ar. Dois anos depois, nasceu a

National Science Foundation Network, nos EUA, um conjunto de redes universitárias

interconectadas em 56 kilobits por segundo (kbps).

Foi em 1988, no entanto, que a rede de computadores foi aberta pela primeira

vez para interesses comerciais. Serviços de correio eletrônico e provedores que faziam

a conexão à rede pelo antigo método dial-up começaram a surgir no final dos anos 80.

Na década de 90 aconteceu o boom: a criação do WWW (World Wide Web), um

sistema de documentos em hipermídia, em 1992, o servidor de busca Google e outros

grandes portais, como AOL e Yahoo, as salas de bate-papo e os programas de

mensagens instantâneas, como mIRC e ICQ, e os servidores de e-mail gratuitos como

o Hotmail, contribuíram para a evolução dos protocolos de internet e também para sua

disseminação em todo o planeta.

A partir dos anos 2000, porém, o desafio da internet não era apenas consolidar-

se como transmissora de dados, mas estabelecer-se no cotidiano das pessoas. E a

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partir das redes sociais e dos blogs isso acontece. A criação do Orkut e do Facebook

(redes sociais de grande alcance no Brasil) foi determinante para a disseminação da

internet entre usuários de todo o mundo. Os mensageiros instantâneos se tornam cada

vez mais eficientes, e a tecnologia dos smartphones e dispositivos móveis, como

tablets e notebooks, são de grande valia neste processo.

A Web 2.0 é a segunda geração da World Wide Web, que despontou através da

proposta de interação entre seus usuários. As redes sociais promovem conexão entre

as pessoas com transferência de dados, como vídeos e fotos, de uma forma mais

rápida do que os outros meios de comunicação até então tradicionais - como cartas,

telegramas e telefonemas. Os diários escritos são aos poucos deixados de lado e cada

vez mais adota-se a ferramenta “blog”. Videologs e fotologs, as versões com vídeos e

fotos, respectivamente, fazem sucesso entre os mais jovens.

A internet torna-se cada vez mais rápida, e os dispositivos de acesso à rede

caminham na mesma direção. Rapidez, design e praticidade acompanham a evolução

dos gadgets, equipamentos eletrônicos com funções específicas. Os computadores

ficam cada vez menores, os notebooks evoluem em redução de peso e aumento de

memória e capacidade de conexão. Surgem os netbooks, computadores portáteis

ainda menores, e posteriormente os tablets. Acompanhando essa evolução, os

telefones celulares acumulam funções: é o domínio dos smartphones e da

funcionalidade de conectar-se de qualquer lugar. As redes sociais ocupam grande

espaço no número de acesso, mas não estão sozinhas: o e-mail é a ferramenta com

maior número de usuários da internet.

A convergência entre evolução da internet e dos dispositivos provoca uma

mudança comportamental que afeta inclusive a forma de se fazer jornalismo.

A migração de conteúdos, dos materiais impressos para os disquetes, CD-ROM e

posteriormente pendrives e armazenamento online na nuvem é o primeiro passo para

entender a necessidade de adequação dos conteúdos dos jornais impressos para a

internet.

A mudança comportamental da sociedade com relação aos meios de

comunicação diz respeito principalmente à necessidade do homem de manter-se

informado. Através da história dos meios de comunicação podemos compreender

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como os veículos de comunicação mais rápidos sobressaem-se em detrimento de seus

antecessores, que se tornam obsoletos. Nenhum deles deixou de existir, porém a

queda no número de assinaturas de impressos registra uma queda proporcional ao

número crescente de assinantes de versões dos mesmos veículos para a web. O rádio,

porém continua sendo um dos princpais meios de disseminação de infomação,

prncipalmente em regiões onde ainda não há acesso à internet.

No Brasil os portais de notícias ganharam espaço a partir da década de 90, e

para além disso, os veículos de comunicação impressos - como a Folha de São Paulo

e O Globo - tem suas versões online no mesmo período. A Folha de São Paulo entrou

para a história da comunicação no Brasil como o primeiro portal de notícias atualizado

em tempo real em língua portuguesa. Depois surgem a versão brasileira do UOL, e as

versões online de outros periódicos, como a Veja, do Grupo Abril, e a Globo.com, das

Organizações Globo.

O jornalismo online - webjornalismo - é mais leve, e tem o dever de ser mais ágil

do que o impresso. Enquanto nos jornais e revistas há um tempo para escrever, um

deadline periódico para entregar as pautas e matérias, na internet sai ganhando o

veículo que posta a notícia primeiro.

Como observado, a internet e suas ferramentas - redes sociais, principalmente -

alteram o cotidiano da chamada geração Y, que cresce mais próxima dessa tecnologia.

E o jornalismo encaixa-se neste conceito de estar mais próximo da tecnologia, seja no

uso de modernas ferramentas de apuração - as câmeras fotográficas, filmadoras,

gravadores e recursos tecnológicos para entrevistas - ou na funcionalidade em

postagem de notícias online - webjornalismo - e compartilhamento através das redes

sociais. É o advento da Web 3.0.

Segundo Castells (2004, p.284),

O que a Internet está fazendo é converter-se no coração articulador dos distintos

meios, da multimídia. Em outras palavras, transforma-se no sistema operativo que

permite interconectar e canalizar a informação sobre o que acontece, onde acontece, o

que podemos ver, o que não podemos ver, e torna-se o sistema conector interativo do

conjunto do sistema multimídia

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Os blogs, como redes sociais, desenvolvem um conceito de webjornalismo

participativo, caracterizado pela postagem de notícias de forma livre em seus perfis,

com réplica de um fato em páginas individuais na rede, e a possibilidade de

intervenção direta e rápida dos interlocutores. No jornalismo impresso, até meados dos

anos 90, qualquer comentário do leitor era feito por carta, que demorava dias para

chegar ou talvez não chegasse. Na internet, este processo é encurtado, acaba sendo

feito em tempo real, e a interação se torna um dos pontos fortes do jornalismo online

em detrimento dos impressos.

Essa adequação à Web 3.0 também atinge o jornalismo de TV e rádio. Estações

de rádio ganham transmissões web que ultrapassam os limites das frequências AM e

FM, e os telejornais passam a ser arquivados online - normalmente para assinantes

dos portais - de forma a estarem disponíveis para consulta depois que o mesmo vai ao

ar. Não nos aprofundaremos sobre este tema no presente estudo.

Os blogs, como forma descentralizada de divulgação da informação vem

fazendo frente ao chamado jornalismo tradicional - da televisão, do rádio e dos jornais

impressos. Em uma tentativa de adequação ao novo mercado, os jornais ganham um

novo formato: os portais de notícias, com espaço direto para a opinião e intervenção

dos leitores. A internet discada foi abandonada, principalmente por sua lentidão e

indisponibilidade, e os novos formatos de convergência de internet: banda larga - para

residências, e 3G e 4G para dispositivos móveis, contribuem para a atualização de

dados e geração de conteúdos na internet.

A promessa da Web 3.0 se torna cada vez mais factível à medida que a internet

deixa se tornar apenas meio de opinião e réplica, para ser a nova sala de pautas do

jornalismo moderno. A presença de internet em dispositivos móveis que podem enviar

dados de qualquer lugar é um aliado do jornalismo. Inicialmente observado nas

editorias de entretenimento - onde as redes sociais de figuras ditas famosas ajudam a

gerar notícias - a partir de 2008 nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da

América observa-se outro aspecto: figuras políticas buscam divulgação através das

redes sociais, muitas delas obtendo êxito em suas eleições, a exemplo da campanha

presidencial de Barack Obama. A partir deste período e principalmente diante dos

acontecimentos posteriores, as redes sociais se tornam mais um lugar em qe os

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jornalistas buscam suas matérias. Uma postagem em blogs ou redes sociais pode se

tornar uma notícia.

Nesse meio tempo os veículos de comunicação ganham perfis nas redes sociais

- sobretudo Facebook e Twitter - onde começam a propagar as notícias veiculadas nos

sites, propondo chamadas e links diretos – normalmente para as notícias completas em

seus portais. Esses perfis tornam-se também canais por onde o usuário das redes

sociais enviam suas notícias - um acidente, um engarrafamento, o buraco no asfalto da

rua - para que os seus acontecimentos cotidianos ganhem a devida dimensão que o

veículo permite. O Orkut, pelo seu formato, torna-se obsoleto diante das

funcionalidades que seus concorrentes - Twitter, Instagram e Facebook - dispõem.

Concentraremo-nos, porém, na rede de microblog Twitter.

O Twitter

A rede social Twitter surgiu como uma proposta de formato reduzido dos blogs -

microblog - que permite ao usuário postagens de até 140 caracteres e/ou fotos. Surgida

em 2006, segundo fundadores a proposta inicial é de que o Twitter fosse “a SMS da

internet”.

Através de perfis, individuais e corporativos, é possível postar status (tweets)

com texto, links para outros sites, fotos, links para vídeos e as chamadas hashtags.

Para compartilhar o conteúdo de algum perfil, existe o recurso do retweet, que

automaticamente posta o tweet, citando a fonte original.

Os links são importantes no Twitter, pois, em uma rede que limita suas

postagens a 140 caracteres, na maioria das vezes é necessário um redirecionamento

para que haja uma comunicação efetiva, completa.

As hashtags são basicamente tags de buscas acompanhadas do símbolo jogo

da velha (#). Em 2007 Chris Messina foi o primeiro a utilizá-la, para caracterizar um

assunto específico de forma a agrupar tweets com conteúdos semelhantes.

Os assuntos mais comentados em tempo real alimentam uma listagem, a

Trending Topics. Essa listagem de “assuntos do momento” é contabilizada tanto pelas

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hashtags quanto por nomes próprios, e pode ser filtrada por abrangência total

(mundial), por país (disponível na Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Estados Unidos,

Itália, Alemanha, Espanha, Reino Unido, ou por cidades (restrito a grandes metrópoles,

como São Paulo, Londres ou Paris).

Grande parte do serviço de réplica e comentários de notícias trabalhados no

presente artigo provém do Twitter, uma vez que a mídia digital possui ferramentas de

uso interessantes, como o “retweet” e os “trending topics”.

Encaixando-se bem no conceito de Web Colaborativa, o Twitter é hoje um dos

principais meios pelo qual são realizadas denúncias à imprensa, e será também objeto

de estudo do presente trabalho, na forma da conta oficial de Twitter do Jornal Correio*.

O Ciberativismo

Através de meios eletrônicos - sobretudo as redes sociais e os blogs, surgiu o

ciberativismo. O ciberativismo é uma forma de organização social através da internet

feita por pessoas com interesses comuns que, não raro, denunciam problemas

cotidianos, fazendo frente aos meios de comunicação tradicionais – rádios, TV e

impressos. O Ciberativismo apresenta-se também como forma de discussão, formação

e troca de experiências on-line.

Essa forma de mobilização chama a atenção por ser organizada totalmente

através de meios eletrônicos. Reuniões via mensageiro eletrônicos –Hangouts, Chats

no facebook e Skype – e fóruns de discussão apontam os rumos que cada causa

devem tomar. Listas de e-mails e abaixo-assinados virtuais também são

constantemente utilizados pelos ciberativistas.

As causas normalmente são ambientais, políticos e sociais, utilizando a

visibilidade da internet e também seu baixo custo para divulgação de conteúdos.

Ainda falando de mobilização social na internet, podemos citar a atuação de

grupos hackers, como Anonymous e Lulzsec. Eles utilizam ataques cibernéticos para

tirar sites do ar (principalmente sites governamentais ou de empresas específicas -

bancos principalmente). Não nos aprofundaremos neste tema.

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Nos últimos cinco anos o ciberativismo ganhou novos rumos, com mobilizações

como a Primavera Árabe (2010) e o Ocupy Wall Street (2011), este último ganhando

dimensões mundiais com versões como Occupy London e Ocupa Rio. No Braisl o

ciberativimso também representou momentos inportantes, como a sugestão popular da

Lei da Ficha Limpa.

Primavera Árabe

A utilização de midias sociais - principalmente facebook e twitter - como forma

de mobilização, formação e divulgação de informações de forma significativa - a ponto

de derrubar governos ditatoriais no poder há décadas - começou no Oriente Médio em

2010.

O termo Primavera Árabe faz referência à Primavera de Praga (1969), e todo o

processo inciou-se na Tunísia, com Mohamed Buoazizi, que ateou fogo ao próprio

corpo em protesto pelas condições de vida que o país oferecia, incluindo tortura policial

e maus-tratos. Protestos pela morte do rapaz e, consequentemente, conta o governo

de Zine El Abdine Ben Ali fizeram com que o chefe de estado da Tunísia fugisse, pouco

mais de um mês depois do martírio de Buoazizi.

Os protestos na Tunísia, apoiados inclusive pelo exército tunísio, inspiraram

também outros países do Oriente Médio, derrubando três chefes de Estado: Zine El

Abdine Ben Ali fugiu da Tunísia em 18 de janeiro de 2011, o presidente do Egito Hosni

Mubarak renunciou em 08 de Fevereiro, e o presidente da Líbia Muammar al Gaddafi

foi capturado por populares, torturado e morto em 20 de outubro. Outros chefes de

Estado de países vizinhos manifestaram desejo de abandonar a vida pública,

renunciando a reeleição, como os presidentes do Iêmen, Sudão, Jordânia e Iraque. Em

outros países os protestos tiveram como resultado algumas garantias por parte do

governo, como reformas nos governos.

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Occupy Wall Street

O movimento Occupy Wall Street surgiu em Nova Iorque em 2011, como uma

forma de mobilização e protesto contra desigualdades sociais e principalmente

econômicas, a corrupção política e a influência de empresas privadas nas decisões

tomadas pelo governo dos Estados Unidos.

Assim como na Primavera Árabe, o principal agente de aglutinação de pessoas,

formação e informação são as redes sociais. Após a primeira manifestação, em agosto

de 2011 com aproximadamente dez mil pessoas no centro de Nova Iorque, o

movimento espalhou-se por outras cidades dos Estados Unidos e do mundo. O

movimento Occupy tomou uma dimensão mundial, com protestos na Europa e na

América do Sul. No Brasil, o Occupy se tornou Ocupa Rio, conhecido também como

“Os Indignados”.

Enquanto fora do país as ações do Occupy se resumem à ocupação de espaços

públicos, promovendo assembléias e discussões, no Brasil o Ocupa Rio teve uma

dimensão menor, espalhando-se a outros grupos, como os black blocs.

Black Bloc

Surgida na década de 80 na Alemanha, a tática dos Black Bloc é de ação direta,

com seus componentes sempre vestidos de preto e com os rostos cobertos. Essas

ações diretas sempre são direcionadas a propriedades privadas, em forma de protesto

pela concentração de renda e desigualdade econômica e social. As roupas pretas dos

membros do Black bloc servem tanto para proteção (em possíveis confrontos com

policiais) como para evitar a identificação de seus agentes. Embora seja um movimento

de grande presença nos protestos, sua evidência foi caracterizada pela mídia apenas

no segundo semestre de 2013, não sendo citados, por exemplo, nas matérias em que

se baseiam este estudo.

A forma de organização dos Black Bloc também utiliza das redes sociais para

organização, formação e mobilização.

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Ciberativismo no Brasil - A Lei da Ficha Limpa

A proposta do ciberativismo no Brasil veio por inspiração de modelos bem

sucedidos em outros países. Os coletivos de comunicação independente, como o Midia

Ninja, e as plataformas de mobilização como Avaaz.org, Greenpeace e Fundação SOS

Mata Atlântica são bons exemplos de como o ciberativismo vem ganhando espaço no

país.

A Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135 de 2010 é uma legislação

complementar emendada à Lei das Condições de Inegibilidade. Ea foi originada de um

projeto de iniciativa popular através de assinaturas online (abaixo-assinado) que reuniu

cerca de 1,3 milhão de assinaturas. A lei torna inelegível por oito anos o candidato a

cargo público que tiver mandato cassado, renunciar para fugir da cassação ou for

condenado por decisão de órgão colegiado (mais de um juiz). O projeto de lei foi

idealizado pelo Juiz Márlon Reis, um ds fundadores do Movimento de Combate a

Corrução Eleitoral (MCCE) e ganhou força com abaixo-assinado através da ferramenta

Avaaz.org, rede de ativistas de mobilização global. A Lei da Ficha Limpa é um dos mais

importantes casos de ciberativismo no Brasil com grande mobilização popular.

Além da Lei da Ficha Limpa, podemos citar também o Marco Civil da Internet

(Lei nº 12.965 de 2014) como proposta de iniciativa popular através das redes que

ganhou espaço nas mídias tradicionais e repercutiu de forma positiva até a sua

aprovação pelo Senado e sanção da Presidente Dilma Roussef em abril de 2014. O

Marco Civil da Internet é a Lei que regulamenta o uso da Internet no Brasil, e conta

com vinte e cinco artigos que garantem direitos dos usuários, provisão de conexão e

uso da Internet e atuação do poder público em assuntos que tangem conteúdos da

Internet, versando que o “Acesso à Internet é essencial ao exercício da cidadania”.

Midia Ninja

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O coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) se

destacou no período disponibilizando pequenas equipes e gadgets para as

transmissões em todo o país, inclusive em Salvador. Com uma estrutura

descentralizada e baseada na divulgação via Facebook, o Mídia Ninja foi responsável

por grande parte dos arquivos sobre os protestos de junho/2013.

Vale ressaltar, porém, que mesmo havendo uma cobertura imparcial dos fatos

ocorridos nas manifestações, ainda assim uma grande parcela da população que não

tinha acesso à internet ficou alheia aos acontecimentos. Outra grande parcela

provavelmente deixou de participar das passeatas por todo o Brasil por não estarem

conectadas às redes sociais.

Enquanto a grande imprensa omitiu as transmissões, fazendo recortes nas

notícias que na maioria das vezes não condiziam com o que as transmissões online (e

consequentemente sem edição) disponibilizavam, as transmissões livestream

alcançaram picos de 80 mil acessos, equivalente a um ponto do IBOPE[3].

A CIDADE NAS RUAS

Movimento Passe Livre

Na contramão das evoluções tecnológicas, o Movimento Passe Livre surgiu, em

2005 durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, com a proposta de passe livre

estudantil. Antes disso, em 2003 acontecia em Salvador - BA Revolta do Buzú. Na

época a movimentação política, que partiu de lideranças estudantis, surgiu dos boatos

de aumento da tarifa do transporte público - de R$1,30 para R$1,50. Porém a

movimentação da Revolta do Buzú ganharia dimensões maiores, como observa

MANOLO:

A Revolta do Buzu muda de aspecto quando vista por uma perspectiva de classe:

transforma-se de uma manifestação estudantil num ensaio de revolta popular,

abortada antes que todo seu potencial pudesse ser desenvolvido.

17

Nove anos depois da Revolta do Buzú, em Natal, Rio Grande do Norte,

aconteceram as primeiras manifestações contra aumento de passagem. Os protestos

contra aumentos abusivos nas taxas do transporte público desencadearam uma onda

de passeatas e movimentações que, em 2013 chegam a Porto Alegre (Março/2013) e

Goiânia (Maio/2013). Em Junho, dessa vez em São Paulo, o Movimento Passe Livre se

manifesta contra o aumento anunciado das passagens de ônibus. Atuante desde 2006,

o MPL/SP propõe transporte público acessível para toda a população - expressado

pelo slogan “Por Uma Vida Sem Catracas”. O aumento de R$ 0,20 proposto pela

Prefeitura de São Paulo foi o estopim para manifestações que provocaram confronto

policial.

A legenda do grupo, porém, seria “Não é só por vinte centavos”, agregando aos

protestos as insatisfações de várias camadas da população, que iriam às ruas

demonstrar sua insatisfação. Essa primeira parte das manifestações, acontecida

durante a primeira quinzena do mês de junho, possui pouca cobertura da mídia

tradicional, mas ganha corpo nas redes sociais através das coberturas via Twitter e

outros aplicativos de fotos e vídeos.

Salvador na Voz do Povo – Junho de 2013

As mobilizações ganham espaço também em outras cidades, e chegam a

Salvador no dia 17 de junho de 2013, com uma caminhada pacífica pelo Passe Livre

entre o Iguatemi e a Avenida Tancredo Neves, e a presença de aproximadamente

cinco mil pessoas, em contagem oficial da Policia Militar[4]. Segundo o próprio

movimento Passe Livre, o número chegaria ao dobro da contagem oficial.

Com a esperança de uma segunda manifestação pacífica, a população baiana

foi às ruas novamente no dia 20 de junho de 2013. As reivindicações, porém, tinham

vários focos: a rejeição à PEC 37, o gastos abusivos do governo para a Copa das

Confederações, o atraso na entrega do Metrô da cidade de Salvador, e o passe-livre

estudantil. Reuniram-se dessa vez no Campo Grande, região central da cidade, e

rumaram ao Estádio da Fonte Nova, onde aconteceria o jogo Nigéria x Uruguai, pela

18

Copa das Confederações. Antes de chegar ao estádio, porém, houve repressão policial

em todos os acessos à Fonte Nova, com uso de bombas de efeito moral e balas de

borracha. As principais vias de informação que alimentaram os sites e blogs naquela

tarde foram fotos e vídeos enviados pelos leitores a sites como o Portal Terra e o UOL

através das redes sociais. O Twitter se tornou a ferramenta mais viável para enviar

informações de onde aconteciam as manifestações.

De acordo com o relatório do site http://www.causabrasil.com.br, as maiores

reivindicações da internet neste dia (quando aconteceram manifestações em mais

outras 69 cidades brasileiras, destas, 11 baianas), as maiores menções na internet

eram por Qualidade no Transporte Público, Educação, Preço das Passagens,

Segurança, Combate à corrupção, Saúde, Moradia e Governo Dilma Rousseff. Vale

ressaltar que essas menções são totalmente qualitativas, excluindo-se a possibilidade

de mensurar se eram positivas, negativas ou neutras. Nesse cenário de manifestações

e transmissões livestream dos confrontos policiais, aconteceram também às coberturas

jornalísticas.

O fenômeno dos protestos nas ruas de centenas de cidades brasileiras chama a

atenção de estudiosos para a insatisfação popular em forma de revolta. Semelhante a

outras formas de protesto espalhadas pelo mundo, como Occupy Wall Street e a

Primavera Árabe, os protestos brasileiros de 2013 possuem aspectos observáveis do

ponto de vista de quem trabalha com cibercultura. São eles:

Quem Protesta?

Ao transmitir uma notícia é necessário seguir um lead pré-estabelecido para

entender o que se passa. No caso das manifestações, saber quem protesta é a

primeira questão, que podemos adaptar: Quem convoca o protesto? Inegável perceber

que a juventude classe média foi a responsável pelas primeiras aglutinações contra o

aumento das passagens do transporte público em Natal, Porto Alegre e São Paulo.

Mas as movimentações cresceram, e o que se observa nos registros em fotos e vídeos

19

é que a dita periferia esteve presente lado a lado com a classe média, protestando

pelas suas realidades.

A articulação via internet que resultou em uma aglutinação de pessoas lutando

por objetivos comuns é um fenômeno tratado por Manoel Castells e Jordi Borja[5].

De acordo com Castells & Borja (1996, p 152):

“Esta articulação se realiza através da ação coletiva e conjunta, que pode responder a formas e objetivos diversos: — a resistência ou o confronto com um agente externo (por exemplo, uma administração superior, uma multinacional etc.); (...) — mobilização sócio-política que encontra sua base principal na afirmação da identidade coletiva ou na vontade de autonomia política (que se concretiza também em objetivos especialmente urbanos).”

Ou seja, a mobilização depende de uma identidade, de uma sensação de

pertencimento a determinado grupo, pois o cidadão deve lutar apenas pelas causas em

que acredita. No caso dos protestos no Brasil, todos eles foram inicialmente motivados

por aumentos abusivos no transporte público, que afeta diretamente a maioria das

camadas da população.

Como protestam?

Os protestos acontecidos no Brasil em 2013 tiveram uma causa e um agente em

comum: o aumento das tarifas de transporte público foi a causa das movimentações, e

o agente aglutinador foi a internet, através de redes sociais digitais. O Facebook se

apresenta como forma de discussão e de movimentação política, enquanto o Twitter

surge como meio de disponibilizar online os acontecimentos dos protestos.

Quando, no Rio Grande do Norte em agosto de 2012, grupos de estudantes se

reuniram para protestar conta o aumento na tarifa de ônibus na capital, eles queriam

que o aumento fosse revogado, o que aconteceria dias depois. No ano de 2013 em

Porto Alegre o aumento chegou a entrar em vigor, mas foi julgado abusivo pela 5ª Vara

da Fazenda Pública, e reajustado por ordem judicial posteriormente. Na terceira onda

de manifestos, dessa vez em Goiânia. Após um mês de maio conturbado, com

20

confrontos policiais, no dia 13 de junho, as tarifas voltaram a custar R$ 2,70, após

liminar expedida pelo juiz Fernando de Mello Xavier, da 1ª Vara da Fazenda Pública

Estadual[5]. Na decisão, o juiz argumentou que desde o dia 1º de junho as empresas

de transporte coletivo deixaram de pagar os impostos PIS e COFINS, porém essa

isenção não foi repassada ao usuário. As manifestações, assim, se tornaram a voz do

usuário de transporte público que busca a manifestação como forma de exprimir sua

insatisfação com o serviço e a taxa cobrados.

Em Salvador o primeiro protesto no dia 17 de Junho foi totalmente pacífico, sem

confronto policial. A partir do segundo protesto a repressão policial se fez presente,

para impedir que os manifestantes chegassem ao Estádio da Fonte Nova, onde

acontecia o jogo Nigéria x Uruguai, pela Copa das Confederações. O mesmo

aconteceria em outras capitais que sediaram jogos, a exemplo de Fortaleza - CE e Belo

Horizonte - MG.

O que as ruas relatam?

Durante as manifestações pelo Brasil e principalmente em Salvador, os

protestos inicialmente não receberam atenção da mídia tradicional. Telejornais

negligenciaram ou deram pouca importância á marcha do Iguatemi no dia 17 de Junho,

enquanto que nos manifestos e confrontos com policiais no dia 20, a pouca atenção

que foi dada ao assunto nas TV’s ressaltava os manifestantes como agentes

causadores de desordem pública.

Utilizando os mecanismos tecnológicos disponíveis – smartphones, câmeras,

tablets - os manifestantes alimentaram as redes sociais com fotos e vídeos dos

confrontos. Algumas imagens chegavam ao Youtube quase instantaneamente,

enquanto outros links direcionavam para transmissões ao vivo dos protestos via

livestream[6].

Foi através de links disponibilizados e replicados no Twitter que os primeiro

confrontos entre a Polícia Militar e os manifestantes chegaram a conhecimento público.

Entre 16 e 19 de junho, a participação no Twitter atinge seu ápice ─ quase 170 mil

21

perfis participam das discussões. "O acesso à internet 3G era fundamental para

registrar e dar visibilidade ao protesto", diz o pesquisador Fabio Malini, professor

adjunto do Departamento de Comunicação, da Universidade Federal do Espírito Santo,

onde coordena o Laboratório de estudos sobre Internet e Cultura (LABIC/UFES). "Os

movimentos sociais aprenderam que a internet é estratégica para dar força de

comoção às suas lutas. Em compensação, todo um conjunto de protestos foi eclipsado

pela falta de acesso a banda larga e rede 3G de qualidade”, de acordo com Malini.

AS COBERTURAS DAS MANIFESTAÇÕES

O Correio*

O Jornal Correio* pertence à Rede Bahia, conglomerado de empresas da área

de comunicação com sede no Estado da Bahia, na cidade de Salvador. O Jornal

Correio* impresso possui veiculação diária e foi fundado em dezembro de 1978. No

ano de 2008, em comemoração aos 40 anos de circulação, o até então Correio da

Bahia passou por reformulações em seu formato e conteúdo, passando a denominar-se

apenas Correio*. Atualmente ocupa a liderança em circulação na região nordeste e a

16ª posição entre os veículos impressos circulando no Brasil[7].

A Rede Bahia é composta por 14 empresas dos segmentos de Mídia, Conteúdo

e Entretenimento, atuando na Bahia e região nordeste. O atual presidente do Conselho

de Administração e Conselho Editorial da Rede Bahia é Antonio Carlos Peixoto de

Magalhães Junior, filho do ex-senador e ex-governador da Bahia (in memoriam)

Antonio Carlos Magalhães[8].

O Correio* possui uma plataforma online, o Correio24Horas, que é alimentado

com notícias ao longo do dia, em tempo real com acesso grátis para todos os

assinantes. As notícias do Correio24 horas também são replicadas pelos perfis no

Twitter (@Correio24horas) e Facebook (www.facebook.com/correio24horas).

22

O que o Correio24horas Twittou?

Correio, Jornal (correio24horas). “Mais de 55 mil confirmam participação em

manifestação nesta quinta em Salvador http://t.co/pqbFy6UTbc”. 19 de Junho,

19:31.[9]

Correio, Jornal (correio24horas). “Movimento prevê manifestação perto da Arena

Fonte Nova http://t.co/xes6jkYmeN”. 19 de junho, 06:40[10]

Correio, Jornal (correio24horas). “Cerca de 400 pessoas fazem protesto e

fecham via parafuso em Camaçari http://t.co/1HHO23xbKW”. 19 de Junho,

14:22.[11]

Correio, Jornal (correio24horas). “Sem participar de manifestação, estudante de

24 anos é baleado no Garcia http://t.co/Hqqk08IMJq”. 20 de Junho, 19:12.[12]

Correio, Jornal (correio24horas). “Há registro de ônibus incendiados na avenida

Centenário e no Garcia.”. 20 de Junho, 13:47.[13]

Correio, Jornal (correio24horas). “20 mil manifestantes foram às ruas em

Salvador nesta quinta, estima SSP http://t.co/jzF6G1Jycr”. 20 de Junho,

14:32.[14]

Correio, Jornal (correio24horas). “Manifestação continua em Salvador; saiba

como foi o dia de confrontos e veja galeria de fotos http://t.co/SCrAZDIiWr”. 20

de Junho, 17:24.[15]

Correio, Jornal (correio24horas). “Centenas de manifestantes se reúnem no

Campo Grande para protestos http://t.co/jGMnoILeN1”. 20 de Junho, 10:10.[16]

23

Correio, Jornal (correio24horas). “Salvador terá protesto hoje e SSP garante: PM

estará preparada para qualquer situação http://t.co/zGbj6Fl9vO”. 20 de junho,

04:58.[17]

Correio, Jornal (correio24horas). “Governador Jaques Wagner dá coletiva nesta

sexta para falar de manifestação http://t.co/RTtKsk3p8G”. 20 de Junho, 18:52.[18]

Correio, Jornal (correio24horas). “Ônibus é incendiado por manifestantes na

região do Dique http://t.co/XdCaeCu4sR”. 20 de Junho, 13:34.[19]

Correio, Jornal (correio24horas). “Manifestantes se reúnem no Campo Grande

para protestos http://t.co/jGMnoILeN1”. 20 de Junho, 09:58.[20]

Correio, Jornal (correio24horas). “Loja de óculos na avenida Sete é arrombada e

saqueada durante manifestação http://t.co/wwcjHiCgfp”. 20 de Junho, 14:59.[21]

Correio, Jornal (correio24horas). “Em entrevista, professor da UFBA fala sobre

manifestações em Salvador http://migre.me/f72kn”. 20 de Junho, 07:41.[22]

Correio, Jornal (correio24horas). “SSP identifica viatura que assustou

manifestantes; agente deu tiros para o alto http://t.co/lZkZKRPjCl”. 21 de junho,

06:56.[23]

Correio, Jornal (correio24horas). “Policial pede reforço para "descer a madeira"

em manifestantes; confira o vídeo http://glo.bo/10DBk3S”. 21 de Junho, 07:34.[24]

Correio, Jornal (correio24horas). “Protestos: Copa das Confederações pode ser

suspensa; Itália quer ir embora http://t.co/sOZYYYnuQ9”. 21 de Junho, 06:24.[25]

Correio, Jornal (correio24horas). “Polícia apreende coquetel molotov com

manifestantes nos Barris http://t.co/rW99uNHrTm”. 22 de Junho, 14:39.[26]

24

Correio, Jornal (correio24horas). “Movimento Passe Livre marca novo ato para o

dia 27, saindo do Campo Grande http://t.co/SMY2W5R6Kq”. 23 de Junho,

17:18.[27]

Correio, Jornal (correio24horas). “Polícia dispersa manifestantes como bomba

de efeito moral na região do Dique do Tororó http://t.co/fxCOQtpaIr”. 22 de

Junho, 13:01.[28]

Correio, Jornal (correio24horas). “Repórter do iBahia é cercado por policiais e

obrigado a apagar fotos da máquina durante manifestação

http://t.co/cq6cP3LEWf”. 22 de junho, 13:38.[29]

Correio, Jornal (correio24horas). “Advogado da OAB acompanha detidos durante

manifestação http://t.co/ny6eV1qszY”. 22 de Junho, 17:45.[30]

Correio, Jornal (correio24horas). “Polícia Militar realiza blitze em ônibus e

confisca máscara de manifestante http://t.co/3ii4TFz3Hu”. 22 de junho, 09:47.[31]

Correio, Jornal (correio24horas). “Conflito na região do Iguatemi. Manifestantes

dizem que polícia reagiu com violência a protesto pacífico

http://t.co/FeGsipUmPa”. 22 de Junho, 15:10.[32]

Correio, Jornal (correio24horas). “Repórter do CORREIO recebe tiro de bala de

borracha durante manifestação http://t.co/IstZc6oJPd”. 23 de Junho, 06:56.[33]

25

O que o Correio* publicou?

Nas edições do Correio* entre os dias 18 e 23 de junho (fase em que os

protestos em Salvador estiveram mais fortes) o Correio* limitou-se a manter a postura

de não comentar sobre os acontecimentos em Salvador.

Na capa do dia 18 de Junho, depois da passeata pacífica na Avenida Tancredo

Neces, a capa do Correio* mostrava a imagem emblemática da incursão de

protestantes no Congresso Nacional em Brasília, mas não fez nenhuma referência à

passeata pacífica que havia acontecido no dia anterior.

Na capa e edição do dia 19 de Junho, o Correio* contribui para a formação da

imagem do manifestante vândalo. Tanto a capa com cores e discurso provocativo

quanto as matérias tentam tornar evidente que os protestos buscam destruição e

violência. Mais uma vez na edição do dia 19 o Correio* não faz menções à protestos ou

mobilizações na capital soteropolitana, concentrando-se nas notícias do eixo Rio-São

Paulo.

No dia 21 de Junho pela primeira vez a capa do jornal Correio* traz uma

manchete de Salvador, desde o início dos protestos. Nela, um ônibus em chamas e a

chamada que evidencia a presença de vândalos nos protestos.

No dia 22 o destaque da capa é para a seleção brasileira de futebol e o pacto

pelo Transporte público assinado proposto pelo Governo Federal.

No dia 23 de Junho o jornal Correio* volta a falar sobre os protestos em

Salvador na sua capa, com uma foto de um manifestante imobilizado por um policial,

com chamada que deixa claro que os manifestantes se tornaram ameaças para a

população.

TEORIA ATOR-REDE E AS PAUTAS DO CORREIO*

A Teoria Ator-Rede foi desenvolvida por Bruno Latour, Jhon Law e outros

pesquisadores, e propõe uma visão construtivista de que o ser humano não é o único

responsável pelos processos sociais. Pela Teoria Ator-Rede, todos os atores sociais

26

estão interligados pelas suas necessidades, e o conhecimento é, por esse fato, um

produto social do meio, e não o resultado de um método científico.

Para Law e Latour, não há diferença entre atores humanos e não-humanos. O

ator-rede é humano e não humano, e estes permanecem ligados por uma rede de

ideias que não necessariamente explica os interesses que geram fatos. O não-humano

é representado pela tecnologia, mas pode ser também uma situação econômica-

política-social que provoca reações, tem a mesma força de um ator humano. O poder

das ideias e das máquinas equipara-se á voz humana.

É com os atores não-humanos que as necessidades dos humanos tomam corpo

e criam voz. A partir dessa teoria ator-rede podemos pensar as necessidades de

transmissão dos protestos - muitas vezes em tempo real. A ausência de cobertura dos

fatos pela mídia tradicional provocou a necessidade de uma mídia alternativa (Midia

Ninja) e também dos manifestantes (mesmo não fazendo parte de nenhum veículo de

comunicação) comunicarem ao mundo o que acontecia nos protestos em Salvador.

TEORIA DO AGENDAMENTO E AS PAUTAS DO CORREIO*

A agenda setting é a teoria da comunicação que pensa a forma como a mídia

escolhe o que deve e como será veiculado, descrita por Maxwell McCombs e Donald

Shaw. No caso das manifestações, é notório de que havia uma agenda pré-

determinada a evitar mostrar ao mundo os confrontos entre manifestantes e policiais

ocorridos durante a Copa das Confederações. O foco das emissoras de televisão e da

mídia corporativa em geral era “abafar” as insatisfações populares, ao passo que a

internet naturalmente transmitia ara todo o mundo as imagens do confronto.

Essa grande dimensão que a internet gerou com a transmissões livestream,

postagens de fotos e vídeos, e principalmente tweets e retweets alterou a agenda

prevista, colocando na capa dos principais jornais os embates entre a Policia Militar, a

Força Nacional e os manifestantes. A agenda pública foi alterada também, com

pronunciamentos dos governos estaduais, federal, e até mesmo da FIFA.

27

No Correio* não foi diferente. As capas dos dias 21 e 23 de Junho tiveram

imagens.

Nas palavras de Shaw, citado por Wolf, “as pessoas têm tendência para incluir

ou excluir de seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou

excluem do seu próprio conteúdo”.

"(...)em consequência da ação dos jornais, da televisão e dos outros

meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura,

realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas

têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo

que o mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o

público tende aquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de

perto a ênfase atribuída pelos mass media aos acontecimentos, aos problemas,

às pessoas."

Donald Shaw , 1979 (In: WOLG , 1994)

TEORIA DA ESPIRAL DO SILÊNCIO E AS PAUTAS DO CORREIO*

A Teoria da Espiral do Silêncio baseia-se em três mecanismos que norteiam as

notícias veiculadas dando a sensação de realidade. São elas:

-Acumulação: É basicamente o excesso da veiculação de determinada imagem,

de forma a influenciar o imaginário da população;.

-Consonância: É a maneira comum em que a mesma notícia é veiculada em

diversos veículos e/ou mídias;

-Ubiquidade:A presença da mídia em diversos lugares, atualmente provocada

pela convergência digital.

Noelle Newman foi a primeira pesquisadora a propor a Teoria da Espiral do

Silêncio para pensar o formato de comunicação que induz a população a abrir mão das

próprias opiniões em nome da opinião comum, o silêncio da opinião em detrimento da

liberdade da expressão individual.

28

O silêncio teorizado por Noelle Newman é propost de forma inconsciente, como

uma reação natural do ser humano para ser aceito em determinado grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A internet neste processo atua como estruturante do pensamento, pois através

dela se produz conteúdo, se comunica fatos (os protestos), desenvolve-se discussões

e principalmente inclui grupos, ao promover a aglutinação de pessoas em prol de uma

causa e, mais, possibilitando o acesso à informação.

Neste contexto, o jornal Correio* atuou como retransmissor de informações,

reproduzindo conteúdos feitos para a internet, imagens, e disponibilizando em seu

canal na internet os vídeos de manifestantes.

Através dos tweets coletados e de um estudo mais objetivo das Teorias de

Agendamento, Teoria da Espiral do Silêncio e Ator-Rede, pretende-se ter uma análise

aprofundada de como o Twitter do Correio* influenciou na opinião dos usuários da rede

social na Bahia.

Através das Teorias de Comunicação podemos estudar o formato da

comunicação na Bahia e concluir se obedece u não ao que nos é proposto na

academia. É fato que a realidade das redações é diferente das cadeiras das

universidades, porém nos dois lugares a proposta de formação, informação e clareza

deve ser respeitada.

29

REFERÊNCIAS

[1] http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/06/liminar-cancela-reajuste-da-tarifa-de-

onibus-em-goiania.html

[2] Disponível em www.topsy.com

[3] http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-82/esquina/guerra-dos-memes

[4] http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/passeata-do-passe-livre-ja-comecou-veja-

como-esta-o-transito/

[5] As cidades como atores politicos. Manuel Castells eJordi Borja. Disponível em:

http://www.acsmce.com.br/wp-content/uploads/2012/10/AS-CIDADES-COMO-

ATORES-POL%C3%8DTICOS.pdf Acessado em 22/04/2013.

[6] http://comunicaisalvador.wordpress.com/2013/06/29/smarthphones-sao-usados-

para-transmissao-de-protestos-em-salvador/

[7] http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/correio-fecha-o-ano-como-

jornal-lider-do-nordeste/

[8] www.correio24horas.com.br/institucional

[9] twitter.com/correio24horas/status/347542263922057216

[10] twitter.com/correio24horas/status/347348223830138880

[11] twitter.com/correio24horas/status/347464412401106944

[12] twitter.com/correio24horas/status/347899817948753920

[13] twitter.com/correio24horas/status/347818063971889152

[14] twitter.com/correio24horas/status/347829436462297089

[15] twitter.com/correio24horas/status/347872711260917760

[16] twitter.com/correio24horas/status/347763328522780672

[17] twitter.com/correio24horas/status/347684828235309057

[18] twitter.com/correio24horas/status/347894758296928257

[19] twitter.com/correio24horas/status/347814763025289216

[20] twitter.com/correio24horas/status/347760445421146114

[21] twitter.com/correio24horas/status/347836240244113409

30

[22] twitter.com/correio24horas/status/347876842109280256

[23] twitter.com/correio24horas/status/348077033307402240

[24] twitter.com/correio24horas/status/348086460093710336

[25] twitter.com/correio24horas/status/348068990993715200

[26] twitter.com/correio24horas/status/348555947767107584

[27] twitter.com/correio24horas/status/348958153410506752

[28] twitter.com/correio24horas/status/348531161255006208

[29] twitter.com/correio24horas/status/348540489886232576

[30] twitter.com/correio24horas/status/348602732120244225

[31] twitter.com/correio24horas/status/348482299358240768

[32] twitter.com/correio24horas/status/348563730453389312

[33] twitter.com/correio24horas/status/348801619384729601

Reflexões sobre possibilidades metodológicas da Teoria- Ator Rede. Julio Cesar Nore e

Rosa Pedro. Disponível em http://web.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/14/47.pdf.

Acessado em 05/05/2013.

A Mídia Ninja ataca outra vez. Sylvia Morethszon. Disponível em

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_midia_ninja_ataca_outra_vez

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Ciberativismo: Mapeando discussões. Lívia Moreira de Alcântara. Disponível em

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CASTELLS, MANUEL. Redes de Indignação e Esperança. Tradução de Carlos

Alberto Medeiros, Zahar. 2013.

MALINI, FÁBIO & ANTOUN, HENRIQUE. @Internet e # Rua: ciberativismo e

mobilização nas redes sociais. Editora Suilna, 2013.