Redações convergentes e o impacto dos tablets nas rotinas produtivas jornalísticas

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1 Redações convergentes e o impacto dos tablets nas rotinas produtivas jornalísticas 1 Alberto Marques 2 Resumo: Este ensaio objetiva discutir o processo de produção de notícias para tablets no cenário de redações convergentes. A partir da inserção de um novo suporte para a produção noticiosa, e o consequente desenvolvimento das edições jornalísticas autóctones, considera se fundamental refletir sobre as possíveis transformações nos processos de produção de notícias feitas para o suporte. Ao contrário de outros meios digitais, esses equipamentos apresentam diferentes características para produção, circulação e acesso a notícias. Buscamos debater a inserção de novos critérios de noticiabilidade, a possibilidade de surgimento de novos valoresnotícia, e a abertura de uma nova estética de produtos. Além disso, o novo suporte táctil abre a possibilidade de criação de narrativas diferenciadas. Palavraschave: Tablets. Jornalismo. Mobilidade. Newsmaking. O jornalismo praticado na sociedade contemporânea tem passado alterações sociais, econômicas e ideológicas. A digitalização da informação, aliada ao desenvolvimento de novas plataformas e de novas formas de apropriação e compartilhamento da informação jornalística, tem provocando alterações na profissão dos jornalistas. Algumas dessas mudanças são mais simples; outras, mais profundas, classificadas como mudanças estruturais (ADGHIRNI; PEREIRA, 2011). Um dos aspectos deflagradores desse processo é a multiplicação de canais de produção noticiosa e informativa (ADGHIRNI; JORGE, 2011). Um outro motivo que pode ser ventilado está relacionado à busca constante das empresas de mídia por novas técnicas, capazes de conferir menores custos de produção e mais celeridade, com foco em aumentar a rentabilidade e a competitividade dos grupos de comunicação. Esse fato pode ser constatado desde que a informação assumiu a posição de 1 Artigo enviado na modalidade Comunicação Oral 2 Professor e pesquisador da Universidade Católica de Brasília e doutorando em Comunicação na linha jornalismo e sociedade pela Universidade de Brasília. Email: [email protected]

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Redações  convergentes  e  o  impacto  dos  tablets  nas  rotinas  produtivas  jornalísticas1  

   

Alberto  Marques2      

Resumo:    Este  ensaio  objetiva  discutir  o  processo  de  produção  de  notícias  para   tablets  no  cenário  de  redações  convergentes.  A  partir  da  inserção  de  um  novo  suporte  para  a  produção  noticiosa,  e  o  consequente  desenvolvimento  das  edições  jornalísticas  autóctones,  considera-­‐se   fundamental   refletir   sobre   as   possíveis   transformações   nos   processos   de   produção   de  notícias   feitas   para   o   suporte.   Ao   contrário   de   outros  meios   digitais,   esses   equipamentos  apresentam   diferentes   características   para   produção,   circulação   e   acesso   a   notícias.  Buscamos   debater   a   inserção   de   novos   critérios   de   noticiabilidade,   a   possibilidade   de  surgimento  de  novos  valores-­‐notícia,  e  a  abertura  de  uma  nova  estética  de  produtos.  Além  disso,  o  novo  suporte  táctil  abre  a  possibilidade  de  criação  de  narrativas  diferenciadas.      Palavras-­‐chave:  Tablets.  Jornalismo.  Mobilidade.  Newsmaking.  

 

O   jornalismo   praticado   na   sociedade   contemporânea   tem   passado   alterações  

sociais,   econômicas   e   ideológicas.   A   digitalização   da   informação,   aliada   ao  

desenvolvimento   de   novas   plataformas   e   de   novas   formas   de   apropriação   e  

compartilhamento  da  informação  jornalística,  tem  provocando  alterações  na  profissão  dos  

jornalistas.    

Algumas  dessas  mudanças   são  mais   simples;   outras,  mais   profundas,   classificadas  

como  mudanças   estruturais   (ADGHIRNI;   PEREIRA,   2011).   Um   dos   aspectos   deflagradores  

desse   processo   é   a   multiplicação   de   canais   de   produção   noticiosa   e   informativa  

(ADGHIRNI;  JORGE,  2011).  

Um  outro  motivo   que   pode   ser   ventilado   está   relacionado   à   busca   constante   das  

empresas  de  mídia  por  novas  técnicas,  capazes  de  conferir  menores  custos  de  produção  e  

mais  celeridade,  com  foco  em  aumentar  a  rentabilidade  e  a  competitividade  dos  grupos  de  

comunicação.  Esse  fato  pode  ser  constatado  desde  que  a  informação  assumiu  a  posição  de  

1  Artigo  enviado  na  modalidade  Comunicação  Oral    2    Professor  e  pesquisador  da  Universidade  Católica  de  Brasília  e  doutorando  em  Comunicação  na  linha  jornalismo  e  sociedade  pela  Universidade  de  Brasília.  E-­‐mail:  [email protected]  

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um  novo  produto  comercializável  (a  notícia)  e  a  atividade  jornalística  foi  profissionalizada  

(AGNEZ,  2011).  

No  jornalismo,  um  ponto  de  grande  impacto  que  provocou  mudanças  profundas  na  

profissão  foi  o  desenvolvimento  da  microinformática  e  das  telecomunicações.  Nos  anos  80,  

Gomes   (2009)   previa   que   a   rápida   expansão   do   uso   dos   computadores,   a   par   da  

proliferação   de   diversos   tipos   de   bases   de   dados   eletrônicos,   transformaria  

consideravelmente   a   forma   como   os   jornalistas   recolheriam   os   dados   e   formulariam   a  

notícia3.   “Todas   as   etapas,   incluindo   a   coleta,   o   processamento   e   a   transmissão   de  

conteúdos   informativos  passaram  por  uma  reformulação  [...]”.  Esse  processo  está  diluído  

em  diversos  instantes  na  história  da  comunicação.  (JORGE,  2007,  p.  61).  

Sabemos   que   toda   nova   tecnologia   introduzida   no   jornalismo   é   passível  de  alterações  do  ambiente  e  das   formas  de   lidar  com  a   rotina.  Foi  assim  desde  a  adoção  dos  tipos  móveis,  as  melhorias  das  estradas  e  distribuição  dos   impressos,   o   surgimento  das   linotipos  e  das   rotativas,   das  máquinas  de   escrever,   do   telégrafo,   do   próprio   telefone   e,   posteriormente,   a  criação  dos  meios  eletrônicos  de  comunicação,  como  o  rádio  e  a  televisão,  a  difusão  da   internet   comercial   e  a  adoção  de  microcomputadores  pelas  redações  e  dos  sistemas  digitais  de   fotografia,  edição  e   impressão,  entre  outros.  (AGNEZ,  2011,  p.4).  

 

É   no   contexto   de   novos   suportes   e   o   desenvolvimento   de   novos   aparatos  

tecnológicos   que   as   práticas   desses   profissionais   já   constituídas   são   metamorfoseadas  

(FIDLER,  1997).  As  rotinas  executadas  nos  novos  meios  não  surgem  de  forma  espontânea,  

elas  migram  dos  velhos  meios  e   são   remediadas.  Com   isso,  métodos  antigos  de   trabalho  

são  adaptados  e  muitas  vezes  transpostos  para  um  novo  meio.    

Nesse   processo   de   inserção   e   transformações,   as   rotinas   profissionais   nas   novas  

mídias   têm   remediado   (BOLTER,  GRUSIN,   2000)4   as   formas   e   as   práticas   profissionais   de  

uma  mídia  anterior.    

Apesar  dos  diversos  momentos  históricos  em  que  essas  transformações  ocorreram,  

para  este  trabalho,  interessam-­‐nos  as  transformações  provocadas  a  partir  da  convergência  

3  Neste  trabalho  quando  nos  referimos  à  notícia  não  estamos  falando  de  um  gênero,  estamos  nos  referindo  aos  produtos  jornalísticos.  Como  reportagem,  por  exemplo.    4  De  acordo  com  os  autores,  as  “velhas  mídias”  (old  media)  são  representadas  e,  em  alguns  momentos,  destacadas  pelas  novas  mídias,  recebendo  uma  nova  finalidade,  uma  nova  forma  e  um  novo  tipo  de  acesso.  Entendemos  que  as  práticas  desenvolvidas  pelos  diversos  atores  também  são  remediadas.    

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das   redações   e   pela   criação   das   versões   jornalísticas   vespertinas   para   os   dispositivos  

móveis.   De   forma   ensaística,   buscamos   debater   e   chamar   atenção   para   os   métodos  

produtivos  feitos  nesta  lógica  organizacional.  Lançamos  um  olhar,  considerando  o  cenário  

delineado,  sobre  os  aspectos  nas  etapas  de  coleta  da  informação  (WOLF,  2003).    

 

1.  Convergência  jornalística  

 

Embora   existam   diversos   estudos   sobre   convergência,   percebe-­‐se   que   não   há  

consenso  sobre  o  termo  (SALAVERRÍA;  GARCIA  AVILÉS;  MASIP,  2007,  CANAVILHAS,  2012).  

No   jornalismo,   apesar   de   os   estudos   nessa   área   já   datarem   de   quase   três   décadas  

(SALAVERRÍA;   GARCÍAVILÉS,   2008,   BARBOSA,   2009a),   também   existe   diversidade   de  

conceitos.    

A   convergência   é   entendida   neste   trabalho   como   um   processo  multidimensional,  

que   afeta   os   âmbitos   Tecnológico,   Profissional,   Empresarial   e   Editorial/Conteúdo   dos  

meios  de  comunicação,  levando-­‐os  a  passar  por  profundas  transformações,  e  desencadeia  

a   junção   de   ferramentas,   espaços,   rotinas   de   trabalho   e   linguagens.   Há,   neste   contexto,  

uma  produção  de  conteúdos  para  que  sejam  distribuídos  através  de  múltiplas  plataformas,  

por  meio  das  linguagens  próprias  a  cada  uma  delas.  (GARCÍA  AVILÉS  et  al,  2007).  

A  seara  Tecnológica  está  relacionada  à  infraestrutura  técnica,  como  computadores,  

câmeras,   gravadores,   servidores   e   sistemas   de   gestão   de   conteúdo   “[...]para   garantir   a  

produção   (redação   integrada),   a  difusão  cross-­‐media   e   a   recepção”   (BARBOSA,   2009a,  p.  

4262).   De   forma   resumida,   e   indicando   a   parte   que   nos   interessa,   aqui   os   aparelhos  

técnicos  são  utilizados  para  produção  de  conteúdos  jornalísticos  para  todos  os  meios  que  

fazem  parte  desse  processo  convergente.  

Na  área  Profissional,  existe  uma  sinergia  na  elaboração  de  conteúdos  para  mais  de  

um   meio.   Ela   ocorre   quando   uma   redação   é   unificada,   ou   redações   independentes  

trabalham  em  sinergia  para  produção  de  conteúdo,  para  diferentes  plataformas.  “Abarca,  

portanto,   produção   integrada,   jornalistas   polivalentes   e   distribuição   multiplataforma”  

(BARBOSA,  2009a,  p.  4262).    

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Já   em   relação   à   Empresarial,   esta   está   totalmente   relacionada   aos   grupos  

midiáticos,  sejam  eles  multinacionais,  nacionais,  regionais  ou  locais,  e  às  alianças,  fusões,  

absorções  ou  novas  empresas  que  resultam  dessas  composições.  

A   última,   a   de   Conteúdos,   está   voltada   à   criação   de   peças   informativas   mais  

inovadoras   e   ao   uso   de   linguagem   multimídia.   Nesse   ponto,   há   uma   hibridização   de  

gêneros  jornalísticos.    

Compreendemos   que   esses   quatro   âmbitos   impulsionam   transformações   no  

processo  de  produção  das  notícias.   “La   tecnología  digital  ha  propiciado   la   integración  de  

funciones  en  el  proceso  de  producción   informativa  en   los  distintos  medios.   [...]  A  su  vez,  

los  equipos  se  han  vuelto  cada  vez  más  portátiles  y  manejables,  lo  que  facilita  la  obtención  

y  difusión  de  documentos.”  (GARCÍA  AVILÉS,  2006).    

Barbosa   (2009a)   elenca   diversos   fatores   que   caracterizam   a   convergência  

jornalística.  O  primeiro  deles   é   a   integração  entre  meios  distintos;   o   ciclo   contínuo  24/7  

para  a  produção  de  conteúdos;  a  reorganização  das  redações;  jornalistas  capazes  de  tratar  

a   informação   –   a   notícia   –   para   diversas   plataformas   (platform-­‐agnostic);   inserção   de  

novas   funções,   além   de   habilidades   multitarefas   para   os   jornalistas;   profissionais  

trabalhando  em  parceria  com  a  comunidade/audiência,  segundo  o  modelo  Pro-­‐Am;  criação  

de  narrativas  originais,  com  utilização  de  hipertexto  e  da  hipermídia  e  o  emprego  efetivo  

da  interatividade.  

No  Brasil,  empresas  de  comunicação  de  diferentes  regiões  já  estão  com  projetos  de  

convergência   jornalística   em   curso.   Barbosa   (2009b)   acredita   que   talvez   o   caso   mais  

conhecido  internacionalmente,  justamente  pela  visibilidade  que  o  World  Editors  Forum  lhe  

deu,  é  o  Grupo  Rede  Brasil  Sul  (RBS/Rio  Grande  do  Sul),  único  do  país  a  integrar  o  relatório  

da  entidade  publicado  em  2008.  Outros  exemplos  de  empresas  brasileiras  que  passaram  

por  esse  processo  foram:  A  Tarde,  O  Globo,  Zero  Hora,  Rede  Gazeta  de  Vitória  e  Folha  de  S.  

Paulo5.  

Ao  falar  sobre  as  apropriações  dos  tablets,  o  marco  da  inserção  desses  aparelhos  no  

mercado   é   o   mês   de   abril   de   2010   quando   a   Apple     lançou   o   iPad   (CANAVILHAS;   DE  

SANTANA,   2011).   Os   suportes   não   eram   novidade   no   mercado   da   tecnologia,   mas   o  

5  A  Folha  anunciou  uma  reestruturação  em  2010,  pretensiosamente  intitulada  como  o  “jornal  do  futuro”.  

5

lançamento   de   Steve   Jobs   representou   o   boom   de   vendas   e   aceitação   do   aparelho   no  

mercado  mundial.    

Já   a   utilização   do   suporte   para   a   prática   jornalística   é   anterior   ao   lançamento   da  

Apple,  com  o  ‘tablet  newspaper’  há  17  anos,  em  1997.  O  professor  e  diretor  do  Programa  

Digital   Publishing   Donald   W.   Reynolds   Journalism,   da   Universidade   do   Missouri   (EUA),  

Roger  Fidler,  é  o  idealizador  do  dispositivo  (BARBOSA;  SEIXAS,  2013).  

Apesar   de   ainda   serem   tímidas   as   apropriações   e   o   desenvolvimento   de   versões  

jornalísticas  nativas  (MARQUES,  2014),  dados  apontam  que  o  número  de  acesso  por  esses  

dispositivos   tem  aumentado  a  cada  ano.  “O  aumento  da  presença  de   tecnologias  móveis  

nos   domicílios   brasileiros   apresentou   crescimento   em   2012   e   reforça   a   tendência   à  

mobilidade.”  A  quantidade  de  pessoas  que  utilizam  celular  para  acessar  a  internet  cresceu  

em  2012,  chegando  a  24%.  “Em  2011,  esse  tipo  de  uso  era  menos  comum  (18%)6”.    

Dados   da   comScore     mostram   que   a   proporção   de   acessos   realizados   por  

dispositivos  móveis,   como   celulares   e   tablets,   teve   crescimento   de   300%   entre  maio   de  

2011  (quando  era  de  0,6%  do  tráfego  total)  e  maio  de  2012  (2,4%)  no  Brasil.  Nos  Estados  

Unidos,   os   números   daquele   ano   também   chamam   atenção.   Das   pessoas   que   possuem  

tablets  no  país,  64%  usam  o  dispositivo  para   ler  notícias,   revela  a  Pew  Research  Center's  

Project  for  Excellence  in  Journalism  (PEJ)  .    

Ao   contrário   de   outros   meios   digitais,   esses   equipamentos   diferenciam   suas  

características   de   acesso   a   notícias,   como   computadores   de   mesa.   Apesar   de   existirem  

diversas   apropriações,   interessam-­‐nos   as   apropriação   nativas   para   o   suporte.   Mais  

especificamente,  lançamos  um  olhar  sob  os  vespertinos  brasileiros:  Globo  A  Mais,  Estadão  

Noite   e   Diário   do   Nordeste   Plus.   Principalmente   por   supormos   que   as   características  

dessas   versões   impactam   de   alguma   forma   as   etapas   da   produção   da   informação  

jornalística.  

As  pesquisas  sobre  jornalismo  e  os  dispositivos  móveis  florescem  a  partir  do  século  

XXI,   com   a   propagação   de   conexões   sem   fio   e   tecnologias   móveis   mais   avançadas  

(celulares,  tablets,  notebooks,  entre  outros)  (SILVA,  2008).  

6  Informações  disponíveis  em:  <http://agencia.fapesp.br/17463#.UcoZvc_g-­‐04>  Acesso  em  22  de  junho  de  2014.  

6

Todo  esse  processo  complexo  desencadeou  uma  série  de  impactos  no  jornalismo  e  

tem   sido   alvo   de   estudos.   Por   meio   da   revisão   bibliográfica   feita   neste   trabalho   e  

desenvolvida  no  projeto  de  doutoramento  deste  autor,  constatamos  que  a  área  carece  de  

estudos  voltados  às  rotinas  produtivas.  

Como  a  convergência  jornalística  é  um  processo  em  evolução  contínua,  de  cariz   complexo,   o   desenvolvimento   de   pesquisas   que   estudem   casos  distintos,  de  regiões  diferentes  para  conhecer  as  rotinas  de  produção  em  redações   integradas,   permitirá   esclarecer   a(s)   forma(s)   configuradora(s)  da   convergência   jornalística   no   Brasil,   seus   modelos,   como   é   o  desenvolvimento   e   implantação  das   ações   relativas   às   distintas   áreas   da  convergência   jornalística   e   o   grau   de   convergência   existente   (BARBOSA,  2009b,  p.  51).  

 

É   nesse   contexto   que   buscamos,   com   esse   artigo,   refletir   sobre   as   rotinas  

produtivas   em   redações   convergentes   a   partir   da   inserção   de   um   novo   suporte   para  

circulação   da   informação:   o   tablet.   Acreditamos   que   a   inserção   de   um   novo   suporte   no  

contexto   de   uma   redação   convergente   altera   o   processo   de   noticiabilidade   das  

informações.  

Pela   própria   caraterística   do   produto-­‐notícia,   ele   segue   o   contexto   social,  

econômico  e  político  e  se  submete  ao  entorno  local.    Percebemos  os  processos  produtivos  

das   notícias   como   uma   construção,   em   que   fatores   variados   influenciam   na   elaboração  

noticiosa:   “valores-­‐notícia,   tecnologias   do   meio,   logística   de   produção   da   notícia,  

orçamento,   problemas   legais,   disponibilidade   de   fontes,   e   formas   de   apresentação   do  

acontecimento”  (JORGE,  2007,  p.15).  

Destacamos  que  este   trabalho  está   inserido  na   corrente   teórica  da   sociologia  dos  

emissores,   mais   especialmente,   do   newsmaking7.   Nessa   corrente   de   pesquisa,   existem  

duas  vertentes  de  estudo:  as  organizações   formais  e  a  estrutura  administrativa  da  mídia,  

principalmente  no  que  tange  à  introdução  de  aparatos  tecnológicos  no  processo  produtivo  

7  O  estudos  dos  emissores  se  desenvolveram  sob  duas  perspectivas:  uma  mais  ligada  à  questões  culturais,  do  padrão  de  carreira  e  dos  processos  de  sociabilização,  entre  outros.  E  do  outro  sobre  a  lógica  dos  processos  produtivos.  A  segunda  corrente  busca  compreender  como  o  trabalho  jornalístico  é  organizado.  (WOLF,  2003).  

7

da  notícia8;  e,  por  outro,  o   jornalista  como  construtor  da  notícia   inserido  no  contexto  de  

construção  da  realidade  social  (ALSINA,  2009;  WOLF,  2003).    

Apenas  para  reforçar,  o  newsmaking  está  articulado  entre  a  cultura  profissional  e  a  

organização   do   trabalho   e   dos   processos   produtivos   (WOLF,   2003).   Com   isso,   estamos  

filiados   aos   trabalhos   que   buscam   compreender   os   processos   organizacionais   cotidianos  

que  alicerçam  a  construção  das  mensagens  jornalísticas  por  períodos  extensos.  

Apesar  dessa   filiação,  deixamos   claro  que   compreendemos  que  as  duas   correntes  

de   investigação   do   newsmaking   não   estão   separadas   e   que   são   complementares.  

Impactam,  dessa  forma,  na  construção  dos  produtos  noticiosos.  

Como  frisamos,  a  inserção  dos  produtos  noticiosos  vespertinos  –  como  é  o  caso  dos  

já  mencionados  Globo  A  Mais,  Estadão  Noite  e  Diário  do  Nordeste  Plus  -­‐  no  contexto  das  

redações   convergentes   demanda,   para   a   produção   jornalística,   novos   requisitos   dos  

profissionais  envolvidos  na  criação  da  notícia,  acrescentando  novas  rotinas  ao  processo  de  

produção  da  notícia.  

 Do   ponto   de   vista   da   estrutura   do   trabalho   nos   aparatos   informativos,   e   sob   o  

enfoque   do   profissionalismo   dos   jornalistas,   há   uma   diversidade   de   requisitos   que   se  

exigem  para  os  eventos  adquirirem  a  existência  pública  da  notícia.  (WOLF,  2003).  Para  se  

tornar  notícia,   ela   precisa   ter  noticiabilidade,   que  é  o   conjunto  de   características  que  os  

eventos  devem  reunir  para  se  tornar  notícia.  

As   rotinas   são   importantes   porque   “diante   da   variedade   e   imprevisibilidade   dos  

acontecimentos,   as   empresas   jornalísticas   precisaram   se   organizar   no   tempo   e   espaço,  

unificando  as  práticas  e  estabelecendo  rotinas  para  a  produção  da  notícia”  (AGNEZ,  2009,  

p.  65).    

Sousa   (2002)   entende   os   processos/rotinas   como   técnicas   convencionais   e   algo  

mecanicista   de   produção   de   alguma   coisa   que,   sem   excluir   que   determinadas   pessoas  

tenham   rotinas   próprias   ou  que   a   cultura   e   o  meio   social   afetem  essa   produção,   pareça  

obedecer  essencialmente  a  fatores  sócio-­‐organizacionais.  

8  A  notícia  é  o  nosso  objeto  de  estudo  neste  trabalho.  Aqui,  o  termo  aparece  como  sinônimo  de  comunicação  e  informação,  podendo  abranger  outros  gêneros  informativos.  

8

Neste  contexto,  a  construção  da  notícia  aparece  como  um  processo  de  três   fases:  

produção,   circulação   e   consumo   (ALSINA,   2009)9.   Wolf   defende   três   fases   também:   i)  

coleta,   ii)   seleção,   e   iii)   edição/apresentação  no   jornalismo10   (2003).  Devido  ao  proposto  

neste  trabalho,  iremos  refletir  somente  sobre  o  primeiro  item  –  a  produção  ou  coleta.    

Apesar   de   aqui   defendermos   que   essas   rotinas   são   divididas   em   três   fases,  

deixamos   claro   que   o   processo   informativo   se   compõe   de   fases   que   variam   segundo   a  

organização   do   trabalho   de   cada   redação   e   de   cada   meio   de   comunicação   (ADGHIRNI,  

2012).  

Para  que  a  notícia  seja  construída,  o  jornalista  precisa  seguir  alguns  procedimentos,  

entre   eles   tomar   cuidado   com   a   apuração   dos   dados,   escolher   fontes   e   selecionar   as  

informações.  Para   isso,  ele  segue  um  processo.  É  este  processo  que  vai  definir  sua  rotina  

de  trabalho.  

Além   desses   pontos   elencados,   as   notícias   também   são   resultado   de   uma   ação  

histórica  que  se  reflete  hoje  sobre  os  modos  de  produção  (SOUZA,  2002).  Nesse  contexto  

evolutivo,  os   “avanços  nos  processos  de   transmissão  e  difusão  da   informação   trouxeram  

novas   formas  de  noticiar”   (JORGE,  2007,  p.47).  Um  bom  exemplo  é  o   telégrafo  que   teria  

dado,   entre   outros   impactos,   a   dimensão   do   valor-­‐notícia   atualidade11.   Antes   dele,   as  

notícias  demoravam  semanas  ou  dias  para  chegar  de  um  local  para  outro.    

 

2.  Pontencialidades  e  rotinas  produtivas  

 

Antes   de   começarmos   a   elencar   as   rotinas   no   contexto   dos   tablets,   listamos  

algumas  características  que  precisam/precisarão   ser   levadas  em  conta  para  a   construção  

da   informação   em   algumas   etapas   da   produção   jornalística.   A   primeira   diferença   dos  

outros  suportes  tradicionais  é  a  sua  mobilidade,  que  estende  ao  espaço  público  o  consumo  

9  Apesar  de  existirem  outras  classificações,  optamos  em  utilizar  a  classificação  de  Alsina  (2009).  Além  disso,  deixamos  claro  que  os  processos  informativos  variam  de  acordo  com  cada  redação,  por  isso,  pensamos  de  forma  ampla.    10  Apesar  de  termos  escolhido  o  processo  em  três  fases,  deixamos  claro  que  o  processo  informativo  compõe-­‐se  de  diversas  fases  que  variam  segundo  a  organização  do  trabalho  de  cada  redação  e  de  cada  meio  de  comunicação  (ADGHIRNI,  2012).  11  Os  valores-­‐notícia  ou  critérios  de  noticiabilidade  não  serão  discutidos  neste  referencial  teórico,  mas  fazem  parte,  aos  serem  utilizados  para  definir  o  que  é  ou  não  uma  notícia,  das  rotinas  produtivas.      

9

das  notícias  e  a   forma  de  produção  de  conteúdo,   criando  o  que  Lemos   (2009)   chama  de  

territórios  informacionais.    

Os  usuários  passam  a  consumir  informações  em  metrôs,  ônibus,  entre  outros  locais,  

em   estado   de   deslocamento.   Essa   característica   pode   influir   na   leitura   dos   textos   e   nos  

formatos   que   são   consumidos.   Com   isso,   certamente   o   usuário   produtor   de   informação  

terá  que  se  preocupar  na  hora  de  produzir  o  produto.    

Um   segundo   ponto,   que   está   imbricado   com   o   primeiro,   é   a   portabilidade,   que  

modifica   as   condições   de   leitura,   voltando   a   aproximar-­‐se   do   manuseio   do   impresso,   e  

alterando,  com  isso,  a  produção  e  formatação  do  conteúdo.    

Outra   característica   tem   relação   com   a   forma   de   manusear   com   os   dedos   a  

interface   do   dispositivo.   Essa   função   é   conhecida   como   touch.   Apesar   de   outros  

dispositivos  apresentarem  essa  características,  é  o  tablet  o  primeiro  a  consolidar  a  leitura  

de  notícia  com  tal  função.    

Outro   elemento   são   os   aplicativos.   Muitas   edições   e   serviços   jornalísticos   para  

tablets   são   desenvolvidas   em   aplicativos.   Esse   desenvolvimento   abre   novas   perspectivas  

de  modelo  de  negócio  para  os  meios  de  comunicação  e  gera  novas  demandas  no  processo  

produtivo  de  informações.    

Nos   aplicativos,   a   criação   de   hipertextos   passa   a   acontecer   em   uma   ambiente  

fechado  que,  ao  usar  links  externos,  faz  com  que  o  jornalista  leve  o  usuário  a  um  ambiente  

externo.  Certamente  essa  decisão  pesará  na  hora  da  escolha.    

As   empresas   midiáticas   também   têm   desenvolvido   produtos   jornalísticos   não  

somente  em  aplicativos.  A  web  também  tem  sido  utilizada,  com  apoio  de  uma  linguagem  

chamada  de  HTML5,  como  suporte  de  produção  desse  formato.    

Esse   desenvolvimento   herda   do   jornalismo   digital   caraterísticas   passíveis   de   uso,  

como   hipertextualidade,   multimidialidade,   personalização,   atualização  

contínua/instantaneidade   e   memória   (PALACIOS,   2003).   É   neste   ponto   que   florescem  

debates  teóricos  acerca  do  tema.  Neste  contexto,  observaremos  como  essas  apropriações  

estão  sendo  usadas.  Com  o  uso  dos  tablets  e  telefones  celulares,  Palacios  e  Cunha  (2013)  

propõem  o  surgimento  de  uma  nova  característica  desse  jornalismo:  a  tactilidade.  

Há  também  que  se  destacar  que  os  aplicativos  jornalísticos  têm  utilizados  imagens  

em  alta   definição   (high  definition).  Os   vídeos   também  possuem,   em   sua   grande  maioria,  

10

alta  qualidade  (MARQUES,  2014).  De  alguma  forma,  isso  acaba  impactando  na  geração  de  

conteúdo   para   o   suporte   e   inviabilizando   as   informações   que   não   possuem   material  

suficiente  na  sua  coleta.      

Apresentadas  algumas  características,  passamos  a  adentrar  nas  rotinas  produtivas.  

O  primeiro  passo,  e  a  etapa  que  nos  interessa,  das  três  partes  que  adotamos  como  modelo  

de   rotina,   é   a   coleta.   De   acordo   com  Wolf   (2003),   a   coleta   é   proporcional   aos   recursos  

disponíveis.   Disponibilidade   de   recursos   humanos   e   materiais   fazem   parte   do   rol   de  

necessidades  para  produção  da  informação  jornalística  nesta  etapa.  

O  primeiro  passo  da  coleta  se  dá  na  escolha  dos  temas  que  serão  abordados.  Neste  

momento,   tem   início   uma   pesquisa   ampla   sobre   diversas   temáticas   e   acontecimentos  

possíveis  que  acontecerão  durante  o  dia  para  depois  o   jornalista  avaliar   a   viabilidade  do  

tema.  É  nesse  emaranhado  de  fatos  que  os  editores  dos  vespertinos  buscam  as  temáticas  

que  serão  manchetadas  no  dia.    

No   Globo,   que   edita   O   Globo   a  Mais,   por   exemplo,   a   primeira   reunião   de   pauta  

acontece  às  8h  da  manhã  e  certamente  dessa  reunião  o  conteúdo  publicado  no  vespertino  

nasce   ou   é   inicialmente   pautado.   “Da   descoberta   de   um   fato   à   publicação   na   edição  

impressa,  a  notícia  deve  ser  adaptada  a  novas  mídias,  ganhar  personagens,  análises  e  ser  

enriquecida  por  especialistas12”.    

Este  é  um  trabalho  circular,  que  está  integrado  aos  valores-­‐notícia  e  aos  canais  de  

coleta  da   informação.   “Os  dois  processos  procedem  quase   simultaneamente,   visto  que  a  

coleta   ocorre   sobretudo   por   meio   de   fontes   estáveis,   que   tendem   a   fornecer   material  

informativo   já   facilmente   inserível   nos   procedimentos   produtivos   normais   da   redação”  

(WOLF,   2003,   p.230).   Acreditamos   serem   esses   fatores   os   primeiros   passos   que  

estabelecem  a  viabilidade  da  informação,  que  assim  se  torna  um  produto  jornalístico.    

No   cenário   de   uma   redação   convergente,   essa   apuração   começa   nos   primeiros  

meios   do   grupo   a   divulgar   a   informação:   rádio,   televisão,   portais   e   os   perfis   nos   sites  

formadores  de  redes  sociais  online.  

12  Informação  retirada  da  matéria  “É  tempo  de  uma  nova  forma  de  fazer  notícia”.    Disponível  em:  <  http://oglobo.globo.com/brasil/e-­‐tempo-­‐de-­‐uma-­‐nova-­‐forma-­‐de-­‐fazer-­‐noticia-­‐12100886  >  Acesso  em  21  de  junho  de  2014.  

11

A  decisão  de  quais  assuntos  entrarão  no  dia  perpassa  certamente  pelas  métricas  e  

repercussão  gerada  pelas   informações.  Certamente  essa  escolha  deve  ser  tomada  não  só  

pelos   critérios   tradicionais,   como   valor-­‐notícia.   Compartilhamento   em   redes   sociais   na  

web,   sistemas  de  mensuração  de  palavras-­‐chave  e  número  de  acessos  dos  meios  digitais  

devem   ser   alguns   dos   fatores   que   passam   a   influenciar   nessa   escolha.   A   escolha   das  

notícias   ganha   um   novo   critério   sócio-­‐métrico,   que   é   essencial   para   publicação   do  

conteúdo  no  vespertino.    

Neste  momento,  também  começa  uma  pré-­‐apuração  dos  fatos,  o  levantamento  de  

fontes   e   a   validação   dos   valores-­‐notícia.   As   fontes   especializadas   ganham   relevo   nestas  

edições.  Supomos  que  os  especialistas  ganham  destaque  nas  análises.  Desde  a  criação  da  

web  e  da  possível  quebra  do  polo  de  emissão   (LEMOS,  2005),  houve  um  alargamento  do  

uso  de  fontes  e  certamente  esse  aspecto  deve  ser  refletido  nas  páginas  dos  vespertinos.      

As  informações  que  têm  circulado  nos  vespertinos,  pela  proposta  do  novo  meio  de  

comunicação,  são   fatos  que  ganharam  destaque  durante  o  dia.  Por   isso,   supomos  que    a  

apuração  ocupe  boa  parte  do  dia  para   trazer  novas  angulações  e   informações  ainda  não  

abordadas.   Como   a   proposta   é   divulgar   desdobramentos   e   análises   dos   fatos,   esse  

primeiro  ponto  deve  ocupar  uma  boa  parte  do  dia.    

Selecionado   o   tema   que   será   destaque   na   edição   do   dia,   a   construção   da   pauta  

passa   a   ser   um   elemento   central   na   primeira   etapa.   Pauta   pode   ser   descrita   como   uma  

agenda   ou   o   roteiro   dos   assuntos   abordados   em   um  meio   de   comunicação   jornalístico.  

Para  Rabaça  e  Barbosa  (2001,  p.  556),  pode  ser  também  uma  “súmula  de  matérias  a  serem  

feitas   em   determinadas   edições”   ou   um   planejamento   esquematizado   de   angulações   a  

serem  usadas  em  um  texto  jornalístico.    

No  caso  do   jornalismo  digital,  quando  a  produção  é  multimidiática,  a  pauta,  além  

de  ser  um  roteiro  e  um  recurso  interpretativo  mental,    é  uma  ferramenta  para  composição  

da  narrativa  (SCHWINGEL,  2012).  Certamente  essa  dinâmica  também  funciona  nos  tablets.    

Além  das  informações  tradicionais,  como  nome  do  repórter,  editor,  data,  prazo  de  

entrega,   assunto,   histórico,   enfoque   do   texto,   desdobramento   e   fontes,   abre-­‐se   a  

necessidade   de   se   pensar   nos   formatos   utilizados   e   no   fluxograma  do   texto.   Schwinngel  

(2012)  acredita  que  é  possível  também  inserir  elementos  interativos  no  texto.    

12

É   na   arquitetura   que   o   jornalista   vai   explicitar   a   navegação   no   produto   e   a  

hierarquização   da   informação.   Sugerimos,   com   a   inserção   da   tactilidade,   que   as   pautas  

devem/deverão   incluir   um   novo   campo   que   envolve   navegação   nos   arquivos.   Tanto  

horizontais  como  verticais.  Essas  informações  podem  também  ficar  no  fluxograma.  O  que  

não  está  claro  é  se  esse  processo  é  pensado  no  momento  da  pauta  ou  na  hora  da  edição  

dos   conteúdos.   Nos   aplicativos   autóctones,   como   Globo   A   Mais,   já   há   uma   navegação  

horizontalizada  e  verticalizada  e  em  camadas  hipertextuais.  

A  navegação  nas  notícias  produzidas  para  esses   suportes  é   realizada  por  meio  de  

gestos  tácteis.   (PALACIOS  e  CUNHA,  2013).  Os   jornalistas  precisam  pensar  e  arquitetar  as  

informações  a  partir  dessa  nova  função.    

Passado  o  momento  de  pauta,  o  jornalista  passará  a  coletar  os  arquivos  que  serão  

usados  na  edição.  As  entrevistas  certamente  são  feitas  em  equipamentos  digitais  para  que,  

na  hora  da  edição,  o  repórter  escolha  o  formato  que  usará.  Com  isso,  quando  a  presença  

física  é  permitida,  imaginamos  que  os  vídeos  são  privilegiados.    

As  imagens  são  capturadas  com  máquinas  profissionais.  Há  nessas  versões  espaços  

para   galerias   de   imagens,   como   também   elas   são   usadas   em   todas   as   matérias.   Num  

trabalho  anterior  (MARQUES,  2014),  observamos  que  a  maioria  dos  arquivos  utilizados  são  

de  agências  noticiosas  e  de  assessorias  de  imprensa.    

Apesar   de   não   fazer   parte   da   lógica   dos   vespertinos   ainda,   acreditamos   que   os  

dispositivos   móveis   acrescentam   novos   critérios   de   noticiabilidade,   como   localismo   e  

instantaneidade  intensiva  (SILVA,  2007).    

Silva  (2008,  p.2)  explica  que  a  ideia  de  geolocalização  via  GPS  nas  notícias  reforça  a  

ideia  de  localismo,  do  hiperlocal,  ou  visualização  espacial  da  notícia.  “Este  é  um  elemento  

novo  no  jornalismo  que  acrescenta  novas  informações  à  matéria  numa  construção  que  une  

instantaneidade  e  localização  geográfica  [...]”.  

  Apesar   de   existir   essa   potencialidade,   nas   versões   vespertinas   não   há   uma  

utilização   sistemática   da   geolocalização   para   customização   da   informação.   Notícias   são  

produzidas,   como   já   frisamos,   na   “lógica   do   a   mais”,   na   qual   as   informações   mais  

importantes   são   aprofundadas.  O  que  os   espaços   fazem   são   análises   de   acontecimentos  

diários    

13

Há  de   se   ressaltar  que  esses  plataformas   feitas  para   tablets  aportam   ferramentas  

oriundas  de  outros  meios  de  comunicação  e  que  demandam  um  conhecimento  amplo  de  

diversos   suportes.  Há  uma   tendência  no  mundo,  por  exemplo,  de   coberturas  ao   vivo   via  

streaming  de  muitos  jornais.  

Até  o  momento,   as   experiências   jornalísticas   no  mundo   são   tímidas.  A   explicação  

está  principalmente  no  fato  de  ser  uma  nova  plataforma.  Barbosa  e  Seixas  (2013)  afirmam  

que  vivenciamos  uma  fase  transpositiva  dessas  versões,  seguindo  a  mesma  tendência  das  

primeiras  edições  de  sites  jornalísticos  para  a  web.    

 

Considerações  finais  

 

As   transformações   no   fazer   jornalístico   têm   sido   intensificadas   pelo  

desenvolvimento   das   tecnologias   digitais.   Ao   mesmo   tempo,   a   busca   por   soluções  

econômicas  tem  energizado  mudanças  e  novos  rearranjos  institucionais.    

No  que  tange  ao  tema  tratado  neste  trabalho,  novas  pesquisas  empíricas  devem  se  

debruçar  sobre  os  pontos  que  envolvem  a  noticiabilidade,  com  o  intuito  de  compreender  

como  esses  critérios  são  alterados  em  um  cenário  convergente.    

No   mundo,   inclusive   no   Brasil,   existem   níveis   e   estratégias   variadas   de  

convergência.  Nos  meios  que  possuem  os  quatro  âmbitos  de  convergência  elencados  neste  

trabalho,  essas  alterações  devem  ser  claras.    

A   necessidade   de   contenção   de   custos   e   de   competências   do   profissional   que  

produz  essa  informação  deve  impactar  fortemente  na  escolha  das  pautas  e  no  processo  de  

seleção   dos   profissionais   que   executarão   os   trabalhos.   Devido   às   suas   características,  

novas   demandas   surgem   e   esses   temas   só   são   viabilizados   quando   atendem   as  

características  do  suporte.  

Como   futuros   trabalhos,   sugerimos   que   pesquisas   etnográficas   mergulhem   nesse  

processo  e  busquem  compreender  de  que  formas  um  novo  suporte  provoca  alterações  no  

fazer  jornalístico.      

 

 

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