Plantando Educação Ambiental, Colhendo Conhecimento e Ciência : Uma Proposta de Educação...
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Plantando Educação Ambiental, ColhendoConhecimento e Ciência : Uma Proposta de
Educação Ambiental Integrada
Guilherme Alves de Oliveira
Keli Cristina Farias
Ricardo Lopes Fonseca
INTRODUÇÃO
Com o escopo de uma proposta de educação ambiental
transdisciplinar, buscou-se meios e métodos para exaltar as
dinâmicas de propriedades e agentes de formação do solo e o
papel da cobertura vegetal através de conceitos oriundos
sobretudo da Geografia, Física e Biologia como Ciências, afim
de proporcionar aos alunos da instituição “Casa do Caminho,
Londrina – PR” a real compleição dos agentes presentes em seu
cotidiano, desenvolvendo discernimentos sobre conscientização e
sensibilização ambiental por meio de um diálogo integrado
destas ciências sobre a perspectiva de um mesmo objeto de
estudo.
Tendo como objetivo central a exposição das dinâmicas das
propriedades do solo através de agentes intempéricos e
biológicos, estas são instituídas através de uma oficina que
articule elementos de distintas ciências presente no currículo
escolar do ensino fundamental, a modo que a vivência e a
individualidade dos alunos estejam presentes no decorrer das
exposições construindo a conscientização ambiental através da
funcionalidade da teoria e práticas empregadas na oficina.
Paralelo à centralidade da oficina, busca-se discorrer
meios e métodos que auxiliem a interpretação dos diálogos entre
as ciências com um caráter unitário sob a perspectiva de
conhecimento do objeto de estudo. Além disto, recorre-se ao
relato das partes ministrantes da oficina como experiência da
prática educacional, frisando apontamentos pertinentes quanto à
eficácia e continuidade das práticas e conhecimentos
construídos com a realização da proposta.
TRANSDISCIPLINARIDADE UNIFICANDO O SABER
No mundo contemporâneo é observado em diferentes esferas
sociais a necessidade de fragmentação de ações, de divisão do
trabalho e do saber. Tal modelo atua como um reflexo do sistema
socioeconômico vigente estimulando a especialização de funções
e consequentemente a especificação do conhecimento.
Como consequência destas relações, é nítido que durante o
processo de formação do conhecimento, os alunos tendem a se
adequar nessa fragmentação metodológica do saber, fazendo com
que os mesmo passem a associar determinados conteúdos à
disciplinas e induzindo o pensamento à fragmentação como por
exemplo; tudo que se refere a plantas é da Biologia, tudo que
se refere a cálculos é da Matemática, tudo que envolva mapas é
Geografia e por assim adiante.
Tais associações passam a estar extremamente enviesadas
durante o processo de formação do conhecimento que acabam por
cravar raízes no senso comum, levando a uma crença de que os
conhecimentos são disciplinares e não se misturam. Este tipo de
pensamento associado à realidade dos fatos induz ao
reducionismo do conhecimento criando limites no desenvolvimento
individual do saber.
Ante o esfacelamento do saber oriundo da perspectiva de
uma disciplinaridade inexorável, Morin (2006) aponta que:
Os desenvolvimentos disciplinares das ciências nãosó trouxeram as vantagens da divisão do trabalho,mas também os inconvenientes da super-especialização, do confinamento e do despedaçamentodo saber. Não só produziram o conhecimento e aelucidação, mas também a ignorância e a cegueira.(MORIN, 2006, p.15)
E sob esta perspectiva a Transdisciplinaridade atua como
uma epistemologia de ruptura da super-especialização e do
confinamento dos conhecimentos. Uma vez que seja observada esta
fragmentação do conhecimento sob o aspecto da disciplinaridade
nas instituições de ensino, cabe ao educador como profissional
buscar meios teóricos de modo individual ou através de
colóquios com os colegas de distintas disciplinas para a
execução de propostas de construção do conhecimento integradas.
A integração e desfragmentação do conhecimento com base
nas metodologias de transdisciplinaridade parte de um princípio
onde busca-se através de um conjunto de práticas pedagógicas,
conhecer a realidade como um todo, unificando diferentes
perspectivas sob um objeto de estudo ou mesmo à realidade do
espaço.
Neste contexto Nicolescu (2000) define a
Transdisciplinaridade partindo da etimologia da palavra e sua
real significância para Ciência conceituando que:
A transdisciplinaridade, como o prefixo "trans"indica, diz repeito àquilo que está ao mesmotempo entre disciplinas, através das diferentesdisciplinas e além de qualquer outradisciplina. Seu objetivo é a compreensão domundo presente, para qual um dos imperativos éa unidade do conhecimento.(NICOLESCU, 2000, p.11)
E por meio deste aspecto de buscar a unidade do
conhecimento a modo que se conceba a análise do ambiente e do
objeto de estudo unificando distintas ciências, e a educação
ambiental advém como um espaço de diálogos para a construção de
um saber que não exalte somente a desfragmentação da ciência,
mas sim, defenda um aprendizado que se articule a compleição do
conhecimento vivido, construindo o saber de forma horizontal e
democrática.
DO SABER AO FAZER
Imbuído nos princípios da Transdisciplinaridade, elenca-se
a Educação Ambiental um espaço prático para propostas que
tratem o conhecimento como algo unitário. Assim como Dias
(2000) delibera que a análise do contexto do ambiente natural e
antrópico é um dos princípios abalizadores da educação
ambiental, torna-se possível também afirmar o seu caráter
transdisciplinar a modo que por bases conceituais, tende-se
unificar as relações naturais e antrópicas sob uma mesma ótica
de ação e respostas. Esta característica unificante da educação
ambiental faz com que o dilema da disciplinaridade e
especialização, contrariem a perda dos potenciais científicos e
de construção do conhecimento integrado da educação ambiental.
As dinâmicas ambientais quando compreendidas pela
interação entre o meio natural e antrópico, possuem tamanha
complexidade que tornou-se necessário ampliar a percepção
integradora das causas, dos fatos mas especialmente das ações a
serem desenvolvidas ante as desventuras enfrentadas. E assim
como a teoria da complexidade abordada por Edgar Morin, a
transdisciplinaridade vem como um meio de unificar,
desfragmentar e atrelar os conhecimentos para a catarse de
novos saberes e perspectivas da realidade.
E a arremetida do conhecimento transversalmente à
complexidade, elenca a educação ambiental como cenário para a
congruência dos saberes e das ações. Assim como os baseamentos
epistemológicos da transdisciplinaridade, a educação ambiental
estabelece uma gama de técnicas buscando conhecer a realidade
em sua totalidade, tal como afirma Dias (2000) ao definir a
real natureza da educação ambiental:
Um objetivo fundamental da Educação Ambiental élograr que os indivíduos e a coletividade
compreendam a natureza complexa do meio ambientenatural e do meio criado pelo homem, resultante daintegração de seus aspectos biológicos, físicos,sociais, econômicos e culturais, e adquiram osconhecimentos, os valores, os comportamentos e ashabilidades práticas para participarem responsávele eficazmente da prevenção e solução dos problemasambientais, e da gestão da questão da qualidade domeio ambiente. (DIAS, 2000, p. 107).
Logo, a consistência entre os aspectos abalizados tanto no
meio natural e antrópico, recorre-se aos conceitos de
transdisciplinaridade como caminho para a desfragmentação das
análises. Morin (2006) propôs que dentro do pensamento
transdisciplinar é imprescindível a análise da totalidade, a
análise fragmentada do mesmo objeto de estudo e após a análise
desfragmentada do estudo, considerando assim indispensável a
fragmentação para a associação do conhecimento, firmando os
conceitos epistemológicos da dialética no processo de
construção transdisciplinar do conhecimento.
Sob a estrutura do pensamento transdisciplinar
apresentado, foram levantadas problemáticas para a elaboração
de uma oficina que abarque critérios transdisciplinares e
funcionais tanto para a construção do conhecimento quanto para
com o vinculo funcional e pedagógico com a instituição “Casa do
Caminho” e a oficina proposta.
Após longos debates entre os grupos ministrantes das
oficinas, fora sugerido a elaboração de uma horta comum e
vertical como uma proposta funcional e interativa de ensino sob
as perspectivas unificantes da transdisciplinaridade, embasando
conceitos e critérios oriundos das ciências do solo, cobertura
vegetal, dinâmicas pluviométricas e de incidência de energias
externas.
Logo, foram centralizados os objetivos abalizadores da
oficina que se instituíram sobretudo em três pontos:
1) Proporcionar aos alunos a unificação do conhecimento
por meio de diálogos interativos ante a um objeto de
estudo.
2) Expor as dinâmicas de relação do solo, cobertura
vegetal e antropismo. Correlacionando-os com base em
um sistema integrado de ações e respostas.
3) Criar uma atividade institucional, científica e
técnica para a manutenção e uso das hortas com base
nos diálogos e exposições acerca desta.
Com os três principais objetivos norteadores definidos,
partiu-se para as execuções de meios e técnicas aplicadas à
horta e às demais práticas para a exposição na oficina.
No dia 05/05/2014 os ministrantes da oficina realizaram a
preparação dos canteiros onde as hortaliças e vegetais seriam
cultivados, procedeu-se com o revolvimento do solo na área
delimitada pela instituição e posteriormente fora realizada a
adubação com matéria orgânica e substrato vegetal.
Também na data em questão deu-se início a um complemento
da oficina que detém como escopo uma interatividade visual
sobre as propriedades do solo e desenvolvimento vegetal. Para
tal, foram utilizados caixas de Tetra Pak com diferentes meios
como; areia, argila, regolito com substrato vegetal, regolito,
matéria orgânica e água. Nestes foram inseridas sementes de
alpiste Phalaris Canariensis com a finalidade de observar e
analisar o desenvolvimento do vegetal sob as distintas
propriedades do meio na semana conseguinte.
No decorrer entre os preliminares da oficina e sua
exposição, o preparo esteve concentrado em revisões
bibliográficas dos temas a serem abordados durante a execução,
paralelo à busca de materiais empregáveis como sacas substrato
orgânico, húmus natural, garrafas Pet e minhocas. Todos estes
materiais coletados estiveram sujeitos a uma análise minuciosa
em sua significância e representatividade na parte estrutural e
teórica desenvolvidas na oficina, dando a devida amplitude aos
diálogos sobre a presença e o cunho teórico no emprego de cada
material e a composição destes na perspectiva de um todo.
Práxis e Práticas: Resultados e Discussões
Neste espaço serão abordadas as principais discussões
acerca do ponto de vista teórico e prático das execuções das
etapas no decorrer da oficina, abarcando as praticas
unificantes do conhecimento por meio da análise da cobertura
vegetal, propriedades do solo e energias externas presentes no
processo de elaboração da horta.
Como primeira etapa das exposições de cunho
transdisciplinar, recorreu-se a uma análise do conceito de
solo, observando a diversidade de fatores como a plasticidade,
textura e cor de diferentes meios como; regolito, substrato
orgânico, húmus, argila e areia. Tal dinâmica foi essencial
para compreender a dinâmica da composição do solo e suas
propriedades físicas como sugerido pelo diagrama abaixo (Figura
1):
Figura 1- Diagrama Triangular da variação Física dos Solos
Fonte: LEPSCH, I. Formação e conservação dos solos. 2000. p.29
Esta primeira explanação tornou-se imprescindível para os
demais apontamentos da oficina uma vez que a compreensão das
propriedades físicas e químicas do solo correlacionadas às
amostras e variedades, auxiliam no desenvolvimento de novas
discussões acerca do crescimento do vegetal sob diferentes
propriedades físicas e químicas, podendo também estabelecer a
representatividade da macrofauna voltado para a observação dos
anelídeos e pequenos insetos com o intuito de compreender a
interação destes com o solo e os vegetais.
E um exemplo desta correlação expressa através da práxis e
integrada à centralidade da oficina no que se refere também à
funcionalidade da horta é a exposição da macrofauna com base na
dinâmica biológica que envolve a interação destes seres com o
solo,cobertura vegetal e o ser humano. Apontando que todos
estes agentes estão integrados de maneira indissociável no
processo de alteração do solo, crescimento vegetal e colheita
das hortaliças e leguminosas.
Um dos pontos de destaque durante a execução da oficina
foi a exposição das dinâmicas da macrofauna no crescimento
vegetal e sua significância para com o solo. A modo de elucidar
a conjectura dos anelídeos como objeto de estudo cabe ressaltar
os apontamentos de Russel(1973) que afirma a potencialidade
destes seres em misturar o húmus produzido em sua digestão com
as camadas subsuperficiais do solo além de mantê-lo areado por
meio das galerias de locomoção criadas pelas minhocas
Deve-se avisar também os critérios de desenvolvimento
vegetal oriundos destas relações com a propriedade física dos
solos uma vez que coma presença destes animais á uma mudança
potencial na biomassa presente no solo, acarretando também
alterações em suas propriedades químicas oriundas da percolação
de água pelas galerias, o desenvolvimento de bactérias
fixadoras de nitrogênio e a redução da acidez pela regulação
do Ph proveniente do húmus da digestão(AINA,1984 p.56).
Baseando na transposição do diálogo acadêmico-científico
para uma abordagem pedagógica transdisciplinar, optou-se por
utilizar-se de explanações mais simplificadas das mesmas
abordagens científicas integrando-as as análises dos meios de
crescimento vegetal e expondo aos alunos características
físicas por meio da apresentação dos anelídeos (Figura 2).
Figura 2 – Ministrante Elucidando a Dinâmica dos Anelídeos noCrescimento Vegetal
Foto: Eloiza Cristiane Torres, Londrina-PR, 2014
Esta etapa apresentou grande dinamismo e interesse por
parte dos alunos uma vez que tornou-se palpável o contato
direto destes seres, levando a questionamentos e apontamentos
fisiológicos e taxionômicos dos alunos ante aos anelídeos e
suas funções, garantindo assim a unificação de conceitos da
ecologia, pedologia, zoologia e botânica por meio de uma
amostra de atividade em educação ambiental.
Como abordagem paralela á anterior, esta aplicação visou
demonstrar de maneira visual, como a variabilidade física e
química dos mais diferentes meios nutricionais do solo atua
ante ao crescimento dos vegetais (Figura 3). Assim como frisado
anteriormente para o desenvolvimento deste meio de análise
foram plantadas sementes de alpiste nos mais distintos meios
nutricionais na semana anterior à aplicação da oficina.
Figura 3 – Amostra do Crescimento Vegetal em Diferentes MeiosNutricionais
Foto: Ricardo Lopes Fonseca, Londrina-PR, 2014
A exposição da experiência conduziu os diálogos da oficina
para um aprofundamento sobretudo nas análises das propriedades
físicas dos solo, pois estas se expressaram com um caráter
visual mais perceptivo aos alunos onde os mesmos observaram que
o desenvolvimento vegetal em cada amostra estava diretamente
relacionado com a associação em abundância de regolito e
matéria orgânica.
Tais apontamentos ofereceram margem para uma análise das
propriedades químicas do solo utilizando como critério as
propriedades físicas como coloração e textura dos meios
presentes nas amostras. Expondo aos alunos que as cores e
texturas podem servir como objetos de análise correlacionando-
os com o crescimento do vegetal foi passível o entendimento de
que a associação entre a “terra preta” e a “terra vermelha”
trazem benefícios ao crescimento do vegetal por apresentarem
como propriedades químicas a matéria orgânica e ferro,
garantindo assim os nutrientes necessários para o crescimentos
dos vegetais e a constituição de um ecossistema na devida
escala.
As abordagens até o presente instante buscaram sempre a
unificação das disciplinaridades a modo que tornou-se abstruso
a separação dos temas. Este modelo fez com que em todas as
abordagens a água e seus ciclos estivessem presentes de maneira
direta ou indireta. Entretanto buscando a correlação desta e a
cobertura vegetal optou-se por abordar os fenômenos erosivos
tendo como viés de análise a Splash erosão.
Baseado em Guerra (2001, p.175) a Splash erosão ocorre
quando “Uma gota de chuva, bate em um solo molhado, remove
partículas que estão envolvidas por uma película de água.” Com
tal definição pode-se assinalar que dado processo erosivo se
vincula aos índices de pluviosidade estipulados pela dinâmica
temporal da atmosfera, levando em conta a exemplificação dos
conceitos oriundos da Física como ciência, fora desenvolvido
uma exposição (Figura 2) com o intuito de elucidar que a
energia aplicada ao processo da Splash Erosão está diretamente
envolvida com o emprego da própria cinética relacionada à massa
da gota d’água.
Figura 2- Ministrante Exemplificando Conceitos de Energia Cinética eSplash Erosão
Foto: Keli Cristina Farias, Londrina-PR, 2014
A experiência em questão consiste-se em evidenciar o
fenômeno da Splash Erosão com base no gotejamento d’água em
solo nu, paralelo a esta experiência cabe a explicação da
energia cinética como principal dinâmica do fenômeno. Para tal,
fez-se uso de uma garrafa Pet preenchida com água e orifícios
de vazão demonstrada numa área com e sem cobertura vegetal
evidenciando o desempenho e relevância da cobertura vegetal na
contenção de tal fenômeno erosivo associado à energia cinética
das gotas d’água.
Como consideração final das abordagens oriunda da oficina,
pode-se afirmar então que ante o posicionamento e diálogo entre
as ciências, o Educador enquanto profissional atém meios para a
quebra deste paradigma estabelecido pela disciplinaridade
quando recorre-se para a interatividade e a abertura de
propostas aos outros profissionais de distintas áreas,
atividades em conjunto, onde além da interação entre os
profissionais da instituição, os ganhos se estabelecem na
permuta de informações e conhecimentos buscando recompensas
pedagógicas para ambos agentes de formação do conhecimento,
alunos e professores.
Buscar a transdisciplinaridade como epistemologia
pedagógica em educação ambiental é um avanço tanto para Ciência
quanto para a Educação, o reflexo do uso deste meio é contíguo
e efetivo para a sociedade, pois detém como principal
potencialidade criar e desenvolver profissionais completos,
desde aqueles que se assentam às carteiras a aqueles que
manipulam o giz no quadro.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
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