O DIVRO DO Soldado Português pelo Padre J. LOURENÇO ...

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O DIVRO DO Soldado Português pelo Padre J. LOURENÇO DE MATOS LIVRARIA FIQUEI RINHAS de FIGUEIRINHAS & O Editores Rua dos Mártires da Liberdade, 178 PÔRTO—1915

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O DIVRO

DO

Soldado Português

pelo

Padre J. LOURENÇO DE MATOS

LIVRARIA FIQUEI RINHAS de FIGUEIRINHAS & O — Editores

Rua dos Mártires da Liberdade, 178

PÔRTO—1915

no

Valoroso Exercito Português

I.m testemunho de admiração

DEIMCn e COttSnGRft

O fiUTOR.

Soldado Cristão

CAPÍTULO PRIMEIRO

O nome de cristão. —D. Nuno Alvares Pereira. — A Cruz e a Espada. — Ca- pelães militares.

— Soldado! És bapti- zado?

— Nesse caso és um soldado cristão. Recebestes êsse título da maior nobre- za espiritual, no dia do teu baptismo. Teus padrinhos íicaram fiadores da tua fé; e êsse sacramento divino imprimiu na tua alma um tão forte sinal, que coisa alguma, a não ser a apos- tasia, o pode arrancar de lá. Por ele foste elevado a um estado sobrenatural, tão elevado, que nenhuma hon- raria do mundo, se lhe po- de comparar.

Tudo acaba e morre nesto mundo: honras, dignidades, riquezas, torça, poder. Os mais altos títulos nobiliárquicos, apagam-se e desaparecem ao aproximarem-se os seus portadores da entrada da sepultura. Ao entrar no túmulo, ou ao cair na cova, os reis e os mendigos são iguais. A mesma palavra, cadáveres, lhes designa os restos que a piedade cristã e a saúde pública mandam entre- gar e restituir, à terra donde vieram.

Mas o titulo de cristão, a dignidade de cris- tão, essa, não morre nem se aniquila; vai pela eternidade fora, acompanhando a alma que o usou, até receber a recompensa ou o castigo que a justiça divina lhe tiver preparado.

* * *

Há qúási vinte séculos, êste nome, atraía o ódio dos políticos e a ferocidade dos verdugos. Quem confessava ser ciistão, lavrava, 110 mesmo instante, a sentença do seu martírio. Quinze mi- lhares de cristãos nas prisões, nas masmorras, nos circos, ardendo untados de resina, ou devorados pelas feras, autenticavam com o seu sangue e com a sua morte, a verdade da sua fé.

*0 sangue dos mártires era semente de cristãos. Quantos mais morriam, mais apareciam... a desafiar a morte.»

Um soldado como tu, e mais do que tu ain- da, porque era oficial, S. Sebastião, capitão das guardas do próprio imperador romano, só porque um dia se apresentou em público, com uma me- dalha na qual se liam estas palavras: cu sou cris- tão— foi prêso, por ordem do imperador, o feito alvo das setas que um numeroso pelotão de sol- dados, lhe disparou.

Xa ocasião de ser prêso, perguntaram-lhe: Porque trazia, assiin à vista, aquela tão

perigosa medalha... O valente militar, quo tantas provas de he-

roísmo dera no campo da batalha, e que tão fiel fôra sempre às ordens do seu imperador, respon- deu simplesmente:

— E que, o saber-se que sou cristão, cstimu- la-me a ser virtuoso!

Os tormentos e a morte, raro produziam um apóstata. Encontravam sempre diante de si a he- roicidade de um mártir.

Mas as lisonjas, as riquezas, os bens tempo- rais, os prazeres, tudo isso enfim que alegra e encanta, embora ilusoriamente, a vida dôste mun- do, não colhiam melhores resultados. E a êste rospeito, deixa-me contar-te para que bem avalies a grandeza e importância que os verdadeiros cris- tãos atribuem a essa alta nobreza espiritual — um caso que há tempos li num livro e no qual é pro- tagonista uma débil e esfomeada criança de doze anos:

*

«Foi na tardo da batalha de Necopolis... o terrível Ilejazet, sultão dos Turcos, acabava de aniquilar o mais brilhante dos exércitos da França.

Caminhava èle, ao passo do seu magnifico cavalo do batalha, seguido de grande multidão de prisioneiros, aos quais poupara a vida na esperança de um rico resgate.

Ao aproximar-sc da sua tenda, viu, deitado no chão um rapazito magro, pálido, todo esfarrapado o o sultão que acabava de limpar a sua cemitarra, ainda tinta de san- gue às crinas do seu cavalo, sentiu, ao vê-lo, um extranho movimento de piedade.

— Trazei-me esse rapazito! E entrou na sua tenda. O rapaz, rudemente sacudido, despertou, soltando

gritos de horror.

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Levaramno à presença de Bejazet, que o encarou atentamente.

— Como te chamas? —perguntou. — Jorge, senhor. — Donde vens? — Do belo país da França. — Sósinho? Com meu pai, menestrel da côrte do senhor eonde

de Nevers. — K onde está teu pai? — Morto no campo de batalha, cobrindo coin o seu

corpo, o senhor que êle amava. — F. tu serias igualmçnte fiel, a quem te fizesse bem. — Até à morte ... como o foi meu pai. — Bem respondido! Que idade tens tu? —Doze anos... . E como é que tu, filho de um menestrel, estas tao

miseravelmente vestido? —Há muito tempo que saímos de França; a esear-

eela de um menestrel, nunca anda demasiadamente cheia, porque se tem de cantar as nobres acções, tem também de dar o exemplo delas ...

— Gosto de ti, Jorge; tomo-te ao meu serviço. F. vais começar por ter uma boa refeição.

— Oh! obrigado, senhor, porque eu tenho fome, muita fome... . .

— Vão dar-te também um vestuário conveniente, o nunca mais me deixarás. Tu é que hás-de transmitir as minhas ordens. De ora avante, a tua fortuna esta feita!... .. ..

Oh! como meu pai, seria feliz!... disse ele, tempe- rando a sua alegria, com uma recordação saiidosa.

— E tua mãe? Nem sequer a conheci... Morreu quando mo ueu

à luz. . , -Optimo! Não tens ninguém que te prenda. Es meu,

pertences-me. Serás um fiel servidor do sultão, e um bom filho do Profeta. _

— Que vem a ser. filho do Profeta? Um bom mussulmano. — Oh! não, meu senhor, não! Eu não posso ser isso... — E porquê, meu belo pagem? — Porque sou cristão. — Mas deixarás de o ser! Nada mais simples — Não, meu senhor. Isso não é simples. Tornando-me

cristão pelo baptismo, Deus, marcou-me com um sinal, que cousa alguma pode apagar. Eu sou seu filho, e vos sa >eis,

senhor, que ser filho de Deus, vale uni pouco mais, que ser vosso servo ...

— Xão sou muito da tua opinião, porque aos meus servos não lhes falta nada, teem boa meza. bons vestuá- rios, einquanto que a julgar pela tua miséria, os filhos de Deus, aiulam muito abandonados.

— Sim, eu tcnhomuita fome — retorquiu Jorge; mas nós outros, os cristãos, não nos demoramos muito sfibre a terra: passamos por ela. A nossa morada é no céu.

—Vais-mc impacientando com os teus raciocínios absurdos. Queres obedeeer-me?

—Xão posso, meu senhor, sou cristão! — Renuncia à tua fé, e já to disse — tens a tua for-

tuna feita. — E depois, meu senhor, quando eu estiver prestes a

morrer o que direi eu a Deus, na ocasião de me julgar? — Se resistes, deixo-te morrer de fome... Vamos a

ver se o teu Deus. te vem libertar. — Isso é na verdade, muito duro, senhor... Mas

quando eu tiver sofrido mais três dias. quatro, quando muito. Deus virá buscar a minha alma, e levá-la há para o Paraíso.

— Vai-te embora daqui, já, que eu nunca aturei tão longa resistência.

0 terrível sultão levantou o braço e emquanto a sua eemitarra girava em volta da sua cabeça, o rapazito, fechou os olhos, dizendo:

— Eu sou cristão! Meu Deus recebei a minha alma! Mas a arma terrível não se abateu sôbre êle. e quando

Jorge espantado, tornou a abrir os olhos, viu diante de si, imóvel, o sultão, que o contemplava, admirado.

Bejazet, chamou um dos captivos, o marechal de IJoucicaut, e disse-lhe:

— Toma essa criança, guarda-a e lt-va-a para o seu pais. Se todos os cristãos, se parecessem com cie, vós se- rieis invencíveis!

* * *

A fé, como vês, torna os homens valentes e corajosos. Até as crianças se fazem heróis! A ca- minho do campo de batalha, o soldado português, é quando mais precisa de ser um soldado cristão, porque nas ocasiões de perigo é que mais neces- sária é a prática das virtudes cristãs. E sabes por-

qui? Porque elas darão maior fortaleza ao teu ânimo, maior serenidade ao teu valor e mais des- temor e ousadia, nos lances incertos do comliato

Soldado que tem a sua alma cheia de crença, sabe que êste mundo, a terra em que habita é um simples lugar de passagem, o que a pátria, a sua verdadeira pátria, é o céu.

Esta, a que nós agora habitamos, como via- jantes em trânsito, merece — oh! se merece! — o nosso maior carinho, o nosso amor, o nosso san- gue, a nossa vida... Não há dúvida. Residem nela as nossas afeições mais puras; aqui nasce- mos, aqui vivem os nossos pais, aqui aprendemos a dar os primeiros passos, e a balbuciar as pri- meiras orações... Foi êste céu azul, tão lindo, que primeiro impressionou e atraiu o vago, inde- finido, do nosso olhar, foi o brilho deste sol, tão meigo como uma carícia de veludo, que aqueceu o nosso sangue, e foi esta leiva santificada pelo suor de nossos pais, que nos deu o primeiro pão...

Não há duvida. Devemos-lhe as melhores inspirações da nossa alma, e os melhores afectos do nosso coração. E a nossa terra, é a nossa mãe. São nossas as ofensas que lhe façam. São nossos os encargos que ela toma.

Lutar por ela é dever. Morrer por ela é glória.

Mas longe de nos absorvermos nessa adora- ção, um tanto panteísta, nós devemos, amando esta, não esquecer a outra pátria, a que é e per- tence à nossa alma, o para onde ela envia as suas mais belas e mais santas esperanças.

Dêmos à terra o que da terra é: o nosso san- gue, os nossos músculos, as arrogâncias do nosso temperamonto, as violências do nosso carácter, as energias robustas que lhe defendem a antiguida- de, a independência e a honra; mas dêmos ao

céu, o que ao céu pertence: — a nossa alma, com as suas qualidades morais e as suas virtudes ca- pitais, o amor espiritual e divino da nossa fé, as aspirações soberanas da nossa vida, e sôbre tudo a observância plena dos seus preceitos e a cons- tância firme e forte das nossas esperanças.

Amar, sim, a terra, no que ela tom de bom, e de bem, de grande, de heróico e sublime na virtude e no dever... Mas amar o Céu, como fim, como termo, como a pátria única da paz e da fe- licidade.

* * *

O soldado português, foi sempre, desde que Portugal, como nação existe, um soldado verda- deiramente cristão.

Di-lo a história do quási oito séculos, e a história não mente. As suas páginas heróicas, cheias de sacrifícios e de grandezas épicas, fez-se nos campos de batalha e nas gloriosas aventuras que não tem rivais em nação nenhuma do mundo.

Pois soldados e marinheiros antes de entra- rem nas caravelas o varineis que iam desflorar as ondas do oceano, e depois antes de entrarem nas fileiras de combate para servir o sustentar o bom nome da pátria;—iam levados pelo fervor da sua té, ajoelhar comovidamente diante dos altares e coufessavam-se e comungavam!

E quando saíam de lá, fortalecidos pelos dons sobrenaturais que a graça diviua lhes liberalisaya, pareciam outros, mais animosos, mais risonhos, mais cheios do esperanças 110 triunfo das suas armas e 110 êxito dos seus trabalhos!

E assim conseguiram escrever â ponta de lança e a golpes de espada, a epopeia maravilho-

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sa, que é todo o nosso orgulho, e toda a nossa razão, de ser...

É que o soldado cristão, ao receber os sacra- mentos divinos da Religião santa que professa, sabe que o olhar de Deus, desce sobre êle, que o acompanha, guarda e protege no meio dos peri- gos, das ciladas, dos mil revezes de que é feita a guerra. E se morre, sabe também que o Deus mi- sericordioso, que êle serviu e amou, abre à sua alma as portas da beni-aventurança celeste, na justa recompensa da sua fidelidade e constância na prática das virtudes cristãs.

Santo e consolador pensamento êste, para o soldado, no campo da batalha! Saber que a vida, uma vida, sem fim, começa para êle, se uma bala inimiga lhe varar o coração!

Admiram-se os que lêem a história da nossa querida pátria, das brilhantes vitórias alcançadas, nos tempos remotos e nos tempos moderuos, con- tra inimigos superiores em número e em fôrça, peritos na arte da guerra, fieis em disciplina mi- litar e na estratégia dos combates...

O segrêdo dessas maravilhas guerreiras que assombraram o mundo, está apenas na alma do soldado cristão. Fôrça, valentia, constância, obe- diência, coragem, abnegação, heroísmo vem-lhe da fé, que lhe ensina o cumprimento do seu de- ver, da crença, que lhe ensina a obediência e a sujeição aos chefes e superiores, depositários aci- dentais da suprema autoridade que vem de Deus.

É que o soldado português, o heróico solda- do cristão, quando ia para os campos da batalha, onde 6e mata e ee morre, ia sempre abroquelado com estas duas couraças: — Confissão e comunhão, à Missa campal, ou fora dela, antes de entrar na peleja.

No fogo e fora do fogo, fazia sempre as suas orações.

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* * *

E uão pensem que era só o bisonho soldado, vindo da rusticidade das nossas aldeias, na since- ridade das suas crenças puríssimas, que assim se preparava para a luta onde ia vencer ou morrer. Eram os generais, os capitães, os maiores homens e os maiores nomos da hierarquia militar, a com- parecer junto do altar de Deus, para regular cui- dadosamente as contas da sua vida espiritual e para de lá receber o sopro vivificador que na oca- sião do perigo devia encher a sua alma de cora- gem e ousadia.

Vinham ali. estender as suas espadas para que o ministro do céu, lhas abençoasse, porque iam desembainhar-se para defender a pátria, ou para lho acrescentar a fama e a glória.

Eram momentos de comovido entusiasmo, esses! A fé brilhava no olhar de todos e a con- fiança enchia plenamente o coração dêsses heróis.

Até as saudades de deixar a pátria, a família, os amigos, eram menos dolorosas, menos vivas, porque em seu peito latejava um amor mais alto, um objectivo mais sublime, qual é para todo o soldado cristão, o amor e a glória de Deus, o amor e a glória da Pátria.

Todos oravam... Não há, não deve haver, soldado algum por-

tuguês, que não conheça essa figura verdadeira- mente épica da nossa história, que nas fileiras do exército nacional e nas páginas luminosas da his- tória profana, teve o nome glorioso de D. Nuno Alvares Pereira...

Esse vulto guerreiro, que no meio de tantos que ilustram a terra portuguesa, não tem nenhum que se lhe avantaje, nem na fé, porque foi um santo, nem na coragem, porque foi um herói, — uunca entrava em acção de combate, sem pri-

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meiro invocar as graças do Céu. Quando foi da batalha de Aljubarrota, já os terços castelhanos, arremetiam um formidável embate contra os nos- sos; já as fileiras portuguesas estavam rotas, e um desastre se desenhava evidente, e ainda o ge- neralíssimo das tropas portuguesas, não aparecera no campo. Ninguém o via, ninguém o tinha vis- to!... Partem emissários em todas as direcções, pesquisam-se todos os recantos do vasto campo de batalha... e vão encontrá-lo a rezar, de joe- lhos no chão, e olhos no céu, numa clareira onde mal chegava o ruído da luta formidável.

— General! estamos perdidos! — disseram. Êle absorvido na sua oração, não deu mos-

tras de ter ouvido a exclamação aflitiva. Conti- nuou orando... Mas logo que a terminou, o seu parecer abatido transfigurou-se. O olhar lampejou vivo o confiante. Entra no combate... e os anais militares portugueses contam hoje, enternecida- mente, uma das mais formidáveis, uma das mais gloriosas vitórias de Portugal.

* ♦ *

Ora êste exemplo, extraído das páginas da história pátria deve andar na memória e na lem- brança de todos os que pegam numa espingarda, do todos os que empunham uma espada.

Rezem, como êle rezou, e batam-se como êle se bateu. A oração dá confiança e serenidade, e destas duas virtudes, depende as mais das vezes, o êxito das batalhas e a vida das nações.

O soldado português, deve ser como êle foi, um soldado verdadeiramente cristão.

Com tais ascendentes na sua genealogia he- róica, pode o oficial português, o soldado portu- guês, ser um livre-pensador, um descrente, um impio ?

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Pode ser que haja algum soldado sem fé. Pode ser. Mas êsse não é um soldado, é um aborto moral. Soldado sem crença! E que espécie de confiança pode merecer aos seus superiores e aos seus camaradas, um soldado assim? Como con- fiar na sua palavra, na sua fidelidade, se êle, além dos rigores do código militar, que êle sabe como iludir — não tem temor a mais ninguém?

Não. 0 soldado português foi sempre um sol- dado cristão, e para honra dêle e para glória da pátria, há-de continuar a sê-lo.

A Cruz e a Espada andam há uns poucos de séculos, unidas e abraçadas, em todos os comba-^ tes travados no mundo, em prol da civilização. Em Portugal, entre o padre e o soldado, houve sempre, a prendê-los 11111 ao outro, o elo do mais estreito afecto. Aniaram-se sempre com amor de irmãos, a farda e a batina.

Circunstâncias alheias ao pensar o ao sentir désses dois seculares pioneiros da civilização, se- paravam-os. Mas o afecto que os uniu e prendeu, êsse, não se extinguiu, nem jamais se extinguirá. Esse afecto não morre. Nasceu e cresceu 11a co- munhão dos mesmos perigos e alentou-o sempre o mesmo sagrado ideal...

E que os norteou sempre o amor da pátria c o amór de Deus, sentimentos que ficam fora e muito acima do facciosismo dos partidos, aonde uào chegam os ódios terríveis do sectarismo filo- sófico, nem o hábito pestífero das ambições de- senfreadas.

Por de sôbre tudo isso que divide e desmo- raliza, ergue-se arfando ao impulso da brisa, en- tão e agora a bandeira da pátria onde então e agora se vêem as Chagas de Jesus Cristo, que a gratidão dos velhos portugueses ali traçou e que ninguém ousou ainda, sacrilegamente apagar.

Ambos êles, o soldado e o padre, a saudaram » urso 1)0 80I.KADO rORTCOCK» »

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sempre com o carinho amoroso de filhos, porque a ambos êles ela, drapejando ao vento das bata- lhas, falava dos dois maiores amores que podem existir no coração do português: — o amor da pá- tria e o amor de Deus.

Semelhante separação, porém, tão arrogante- mente decretada, se conseguiu arrefecer e supri- mir as relações e homenagens oficiais, que entre ambos existiam e se trocavam, não logrou aniqui- lar o bom afecto que entre êles havia, porque êsse, fora da alçada das leis, continua residindo na alma de cada qual com o brilho, a viveza e a cordealidade, que é a sua principal característica.

Desenganem-se: — o padre e o soldado esti- mam-se sinceramente. Um e outro colaboram ainda hoje, cada um na esfera da sua acção pa- triótica, e consoante o fim especial para o qual, por Deus e pela pátria, foram instituídos na pros- peridade e na grandeza da nação.

Um dá-lhe o seu esforço físico, o seu sangue, a sua saúdo, a sua vida, na guarda e na vigilân- cia dos seus direitos, que ninguém pode ofender sem enérgica oposição sua. 0 outro dã-lhe o seu esforço intelectual, educando, e o seu esforço es- piritual, orando, e influindo assim na moralização indispensável dos costumes públicos, no respeito à lei. à ordem, ao bem e à auctoridade.

E ambos êles nos seus trabalhos, nas suas canseiras e disvelos outra cousa não querem nem ambicionam senão o engrandecimento da sua pá- tria, a felicidade da sua pátria.

* * *

Ides agora para a guerra, alguns milhares de vós, parte deles já partiram, e até já se bateram. Mas — triste é dizê-lo! — nem com os que foravn, nem com os que dentro em breve hão de ir, me

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consta que fôsse no exercício sagrado do seu mi- nistério algum capelão militar.

Muitos de vós por lá íicarào, mortos no hor- roroso cumprimento dum glorioso dever. Êsses — pobres deles! — não terão, na hora última da sua vida, junto de si a confortá-lo, com palavras de esperança, e a falar-lhes da outra pátria, do Céu, um ministro do Senhor! Ninguém que lhe fale da família distante, da terra que deixou, da irmã, da mãe, da noiva, para quem vão naquela hora os seus últimos pensamentos! Ninguém que lhe ouça o arrependimento do seu passado e que balsamise as torturas daquele momento com palavras de mi- sericórdia e de perdão! Ninguém que o confesse e que o absolva e lhe dê os santos confortos espirituais, que tanto suavisam as amarguras do derradeiro transe.

Morrem para ali desamparados de tudo, a gritarem, sem que alguém os ouça, num desespêro que é a última expressão do horror.

Ah! porque é que o sectarismo, não cede, em face duma agonia? Que maior crueldade do que essa, de furtar as últimas consolações a um mori- bundo, sacrificado pela honra no altar da pátria?

* * *

Meu valente camarada que me estás lendo, serás tu um dêsses mártires do dever e da disci- plina?

— Só Deus o sabe . .. Mas fica certo e convencido, de que se pouco

vale o teu corpo, vale, muito, muitíssimo a tua alma. Aquele, amanhã talvez — e o born Deus, queira não! — caído, varado dc balas no campo da batalha, desce á vala comum, aberta pelos 'eus próprios companheiros sobreviventes, ama- nha não será mais do que um pouco de matéria

putrefacta, desfeita pelas laborações químicas da sepultura...

Mas a tua alma? Já pensaste nela, ú destemido combatente da

minha pátria? A alma para ti é muito, porque é tudo. Se ela se perde, perdes o Céu, essa eterna felicidade que a todos os filhos de Adão, perdoa- dos e arrependidos, Deus misericordioso a todos prometeu.

Mas quem há-de ouvir a tua confissão, escu- tar o teu arrependimento, e dar-te em nome do Céu, a absolvição santificadora?

Eu fio ainda dos poderes constituídos, uma nova resolução que permita a muitos sacerdotes que patrióticamente se ofereceram ir aos campos de batalha, cuidar dos feridos e dos agonisantes, em nome de Deus e da pátria. E tremenda a responsabilidade que assumem perante Deus e a consciência católica, se persistirem numa negativa in justificável, e que fere os mais delicados senti- mentos da justiça e da humanidade.

Eu faço os mais ardentes e sinceros votos, para que quem nas coisas militares superintende em terra portuguesa, facilite, em nome da pró- pria liberdade de pensamento e de crença, aos soldados católicos a única consolação que eles podem ter nos últimos momentos da sua vida mortal.

Não se olhe somente para o corpo, barro vil que se despedaça fácilmente... Mas olhe-se para a alma imortal, que as balas não atingem, na sua trajectória homicida, e que ao desprendor-so da terra, vôa para as misteriosas paragens da eterni- dade, onde a espera a misericórdia e a justiça de Deus.

Aos que vão sacrificar a sua vida, a saúde, e a tranquilidade dos seus, tem de dar-se-lhe algu- ma compensação, em troca do seu amor pátrio-

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tico. E isso »'• alguma coisa mais do que dar-lhe cobertores para o trio o cigarros para fumar, ou carne e pão para comer, porque é dar-lhe a paz da alma.

I'm soldado gravemente ferido, ou moribun- do, só pensa, além da família que nunca mais torna a ver 110 mundo, 11a conciliação da sua alma com Deus.

Naquele momento doloroso o supremo, a alma só procura Deus. Ncgar-lho, rocusar-lho, chega a ser uma atrocidade.

Que os poderes públicos, que nesta terra tão experimentada de infortúnio governam, se lem- brem e retiitam que não teem o direito do re- cusar a um soldado cristão a satisfação última, a maior satisfação, que é ter um padre que recon- cilie a sua alma com Deus!

CAPÍTULO SEGUNDO

A pátria.

A pátria pela voz dos seus governantes, re- clama o recurso dos teus sacrifícios nos campos de batalha. A pátria exige, o soldade obedece.

Estará em perigo a sua autonomia, a sua vida, a sua independência? Não. Se é certo que uma nação, velha amiga o aliada, pediu o auxilio do exército português, o que está em perigo, de não prestarmos um auxílio, é a honra e a digni- dade da pátria.

A pátria é mãe. E que filho não responde ao apêlo de sua mãe?

Tu sabes o que é a pátria. 0 homem nasceu para viver em sociedade.

A necessidade de viver e de se servir dos seus semelhantes, corresponde em seu coração, a uma inclinação decidida para também os servir, e pro- curar a sua convivência. 0 homem sente-se atraí- do para o homem: a sociabilidade, é, incontestá- velmente, uma das leis da sua natureza. As afei- ções dos homens entre si teem nomes diversos, conforme as pessoas ou os pensamentos que des- sas afeições são alvo: — amor, amizade, eamara-

dagem, espírito de família, e finalmente, patrio- tismo. que é o amor pela pátria.

Limitado nas suas faculdades e nas suas re- lações, o homem nem pode receber de todo o mundo, nem dar a todo o mundo. Daí um limite forçado, para cada homem na prestação dos seus serviços, e por conseqúência, para o emprego das suas afeições... Só Deus, infinito como é, há-de amar igualmente todos os homens, todas as fa- mílias, todas as nações.

0 primeiro círculo determinado em volta de cada indivíduo, pelas suas relações com os outros homens, é o círculo da família; circulo tanto mais intenso e mais amorável quanto mais estreito é o laço que o circunscreve e aperta: compreende apenas as pessoas que contribuíram para a nossa vida, e aquelas a quem comunicamos a exis- tência.

Lm círculo mais vasto é o da aldeia ou fre- guesia na qual muitas famílias se agrupam, depois o do distrito ou província, que encerra muitas freguesias.

Um outro mais vasto ainda, e de um raio tão extenso quanto o permitem as contingências va- riáveis do equilíbrio político—é o circulo da na- ção: é a pátria.

A pátria é pois, um país, maior ou menor, que fornece ao homem as condições precisas para o seu desenvolvimento intelectual e moral; que protege contra as agressões dos grupos ou países visinhos a sua vida e tranquilidade, os seus bens e os seus negócios, e ao qual está prêso tanto pela gratidão como pelo interesse, visto que dela recebe os maiores e mais notáveis benefícios.

Como a vida em sociedade, como a proprie- dade e a família, a pátria é uma das exigências da nossa natureza. E daqui resulta que o patrio- tismo, que não é outra cousa senão o amor da

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sociedade particular em cujo seio vivemos, é de direito natural. E como que um instinto, mas

* instinto legítimo e louvável. E uma virtude que é conveniente desenvolver o aprimorar. E quão profundas são na pátria as raízes desta grande virtude!

Porque se o interesso é uma delas, é todavia a menos importante.

A pátria tem o carácter e os direitos de uma verdadeira associação de socorros mútuos, mas os laços a que a ela mais estreita e intimamente nos ligam são, não haja a mais pequena dúvida, os laços do coração.

Quem pode tornar a ver, depois de uma au- sência longa, sem se sentir profundamente como- vido, a sua aldeia, os lugares onde em criança brincou, e onde ficaram como que pedaços do si mesmo e que foram iluminados com os seus pri- meiros sorrisos e entristecidos com as suas pri- meiras lágiimas!?

Êsse pequeno canto de terra, onde se operou uma troca de impressões entre uma alma, que se abriu para a vida, e a terra que a sustenta, onde se amou, trabalhou e sôfreu, no recinto habitual das mesmas pessoas, dos mesmos objectos, êsse pequeno recanto de terra, é ... é a pátria.

A pátria ... fecha os olhos, soldado. Mergu- lha nas tuas recordações, nas tuas lembranças . .. e vê-la hás, airosa e sorridente, cheia de sol, som- breada de árvores, falando à tua alma a lingua- gem doce e misteriosa da saúdade.

A pátria é a velha árvore enorme no brace- jamento dos seus ramos, sol) cuja sombra, tu, criancinha ainda, brincavas perto de tua mãe; é o ruído do ribeiro, ou o murmúrio da fonte, junto de uma casa que não tem parecenças com ne- nhuma outra; é a vereda torcida pelo outeiro acima, que vai dar à capelinha branca que a pie-

dade dos nossos avós, construiu e enfeitou nos dias alegres da padroeira; são as montanhas azu- ladas, por detrás das quais vimos tantas vezes o sol poente esconder-se, num grandioso suicídio de luz... E a igreja onde fomos baptizados, o onde fizemos a nossa primeira comunhão e cujo campanário esguio, tão serenamente nos aponta o céu ... E o cemitério, para onde se volvem sau- dosos, rasos de lágrimas, os olhos do nosso corpo, emquanto a nossa alma ajoelha a rezar por alma dos nossos avós ...

A pátria é a casa humilde ou grandiosa onde nascemos; o quarto onde recebemos os adeuses dum doente querido; o canto da janela, donde nos dias longínquos da mocidade nos absorvíamos na contemplação das belezas dos campos, ou dos mistérios dos céus . . .

A pátria, são entusiasmos e os sobressaltos dos doze anos ao ler uma página heróica da nossa história; é o orgulho de viver e habitar num país livre e glorioso, e o altivo desejo de o servir na hora oportuna, para a elevar e honrar, quanto pu- der ser.

Mas a pátria a que eu me refiro e para a qual chamo a tua atenção, a pátria que vais ser- vir e honrar nos campos de batalha, é a que con- tem e protege todas as outras, é a grande pátria, é a nação.

for ela, para a honrar, para a defender, te arrancaram à rabiça do arado; ou ao cabo da en- '•hada; por ela deixaste a herdade ou o hortejo onde moirejavas do sol nado a sol pôsto; por ela, "um longo abraço de despedida, cheio de lágri- mas e de soluços, deixaste mãe, irmã, e noiva, de- soladas na amargura formidável da tua ausência!

Por ela vais matar, ou vais morrer, soldado! Entre todos, porém, de tantos que por ela se

sacrificam, nenhum põe tanta sinceridade e tanto

amor no seu sacrifício, como o soldado cristão. Êste ergueu 110 seu corado um altar, oude a co- locou ao lado de Deus, para melhor a honrar e venerar. Em tempo de paz, nas orações do seu lar, entre as comemorações piedosas da sua alma, a Pátria tom também a sua oração especial. E nos tempos de guerra, ninguém vai mais desprendido que éle para os campos da luta. As afeições que deixou, os prazeres que abandonou, a tranquili- dade e o sossego que disfrutava são para êle coi- sas de somenos importância comparados com o cumprimento do dever.

E sabes, soldado, porquê? Porque, tem a certeza, de que a sua fé não o

engana nem lhe mente; e que se o seu corpo lá ficar, a sua alma verá no céu e do céu as pessoas amadas que cá ficaram na terra.

Eis porque não há quem mais profunda e en- tusiásticamente ame a sua pátria; quem mais va- lorosamente combata pela sua honra, quem mais destemida o ousadamente se arroje ao perigo, e quem mais justamente se possa tornar um herói.

Deus, pátria, eis o seu lema! Deus e pátria eis o seu brazào!

CAPÍTULO TERCEIRO

A bandeira da pátria. A ban- deira de Deus.

I

Que é uma bandeira? — E um sinal, um pedaço de pano cujas co-

res conhecidas flutuam no ar, nas dispersões da marcha, ou no meio da fumaceira dos combates, indicando aos companhoiros de armas o lugar onde se encontram os amigos, os chefes, o centro da acção.

Mas não é só isso; é mais ainda: — é o em- blema da pátria. A bandeira abriga o regimento, o exército inteiro. O soldado vive à sua sombra, e à sua sombra morre.

Vergonha, para quem a abandonar, para quem a deixar cair nas mãos «lo inimigo!

Infâmia para quem a trair, para quem a en- tregar! Quem tal fizesse cometia um parricídio... Mereceria ser fuzilado pelas costas, depois de te- i'em cortado a mão que tivesse entregado... por- que entregara sua mãe!

A bandeira é um símbolo, símbolo indicado

pela natureza e adoptado por todas as nações do mundo; símbolo que personifica, todos os nossos bens, todas as nossas tradições, todas as nossas esperanças; símbolo a cuja simples visão, acor- dam em nós, comovendo-nos até ao intimo do coração, todos os sentimentos generosos. Mais de uma vez mudou de côres. no decurso da nossa históiia; mas a sua alta o generosa significação é sempre a mesma.

Branca, primeiro, azul e branca, depois, ver- de e encarnada agora: ela foi, é e será sempre a esperança dos oprimidos e o terror dos opressores.

Tempos antes dessa guerra que ai está ensan- guentando o mundo, um coronel francês, há muito doente em sua casa, quis pela última vez, ver a bandeira do seu regimento. Com o cerimonial cm uso, levaram-lha á sua residência, e apresentaram- -lha junto do leito da agonia. A música precedia-a, mas em silêncio, e em silêncio lhe foram pres- tadas todas as honras.

O coronel, num esforço supremo da sua von- tade, soergueu-se no leito, pegou na bandeira, apertou-a de encontro ao coração e no meio de indizível comoção dos circunstantes, exclamou:

—«Adeus querido emblema da minlia pátria, adeus, símbolo da honra! Eu te lego ao meu sucessor e a todos os meus companheiros de armas... Possam eles amar-tc, como eu te amei... Só tenho pena de não morrer por ti... »

O soldado tem uni verdadeiro amor pela sua bandeira. Mas êste amor não é exclusivo da classe militar. Todos nós temos por ela um afecto, tão vivo como sincero. Eu não esqueço, não esquece- rei nunca, a jubilosa comoção que um dia senti, na Basílica de Lourdes, vendo a bandeira azul e branca, a bandeira da minha pátria, a bandeira de todos os portugueses, junto do altar mór ao lado das bandeiras de todas as nações!

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Não despreguei os olhos dela, abraçava-a e beijava-a com o meu olhar, dela enamorado, por- que nunca tão bela, tão gloriosa me pareceu, como naquela ocasião em que ela representava, toda a nação portuguesa, ali de joelhos, diante da imagem da Virgem.

E quem se não comove, ao vê-la à -frente de um regimento! Quando ela passa, estabelece-se um silêncio religioso. Os soldados apresentam armas, os oficiais, saúdam com a espada; a mul- tidão recolhida, descobre-se com respeito.

E a bandeira que passa, é como se passasse um deus ...

— E um pedaço de algodão, ou do sêda! — dirão os raros que a não estimam ...

E; mas êsso pedaço de algodão ou de sêda — tenha as cores que tiver, representa a valentia, a liberdade, a segurança e a honra, o espirito de solidariedade, e o espírito de sacrifício. 1'or um dêsses fenómenos morais, cuja análise é impossível, a bandeira mostra- mos o teto da casa paterna, a torre da nossa aldeia, a mãe, o pai, a fa- mília; recorda-nos tudo, desde o berço da criança, até à se- pultura dos nossos avós.

E assim será sem- pre ! emquanto o homem tiver necessidade de se amparar a uma idea lortc e verdadeira, hão de ser-lhe preciso símbolos, cuja vista, "npressionando-o e comovendo-o, des- perta ua sua alma os '"ais santos e geue- 10808 sentimentos.

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- * * *

Sim, a bandeira é a pátria. E os soldados que cm volta dela se agrupam, para a honrar e para a defender, são os defensores, são os tutores da pátria.

Vêde, soldados, se há mais alta e gloriosa missão na terra! Quando a ambição, a violência ou o crime, invadem o torrão sagrado da pátria, ergue-se ao alto, para que todos a vejam bem, uma bandeira; e imediatamente à roda dela se formam e agrupam, decididos a vencer ou a morrer, milhares do homens, que com os olhos postos no símbolo patriótico, repelem o inimigo até às fronteiras do direito; até aos limites da integridade do território nacional..

E se para sossego público, ainda é preciso ir mais aiêm vão, até que a pátria fique livre e se- gura, na sua vida e na sua liberdade.

E a bandeira, então avança até onde deve avançar. Os soldados transformados em heróis, caminham adiante dela, e o seu sangue corre, e a sua vida foge, pelas feridas abertas pelas balas, mas a bandeira continua tremulando altiva, assi- nalando a existência de um povo e bordando de heroísmo o esforço de uma pátria.

II

Mas o soldado cristão, não tem só essa ban- deira que venerar. Outra há, que lhe dá ainda mais alentos para vencer, e mais suavidade para morrer. ,

— É a bandeira da ( ruz! Apareceu, pela primira vez, ao lado «laqueia,

nos combates, há pouco mais ou menos, dezassete séculos.

Foi no ano 313, da era cristã. O imperador

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Maxensio estava em Roma, numa orgia perma- nente, e não saia de lá porque os oráculos lhe haviam predito que infalivelmente morreria, se saísse da grande cidade.

Constantino aproximou-se dos muros de Roma e acampou em frente da Ponte Milvio, junto ao Tibre. Como o seu exército era inferior em número ao de Maxencio, julgou ser-lhe preciso, para ven- cer, um auxílio superior, e vacilou, sobre qual as divindades pagãs, escolheria, para dirigir-lhe as suas súplicas.

Lembrou-se que todos os imperadores roma- nos que 110 seu tempo se haviam mostrado afec- tos à idolatria, haviam morrido miseravelmente ; o que seu pai, Constâncio, que toda a sua vida honrara um só Deus soberano, dele recebera si- nais evidentes de protecção.

Pediu, pois, com muita humildade e confiança a êste Senhor e Deus, que se lhe desse a conhe- cer, e sôbre êle estendesse a sua mão protectora.

Estava êle nesta fervorosa oração, depois do meio dia, quando o sol começa já a inelinar-se para o ocidente, quando, ao marchar pelo campo á frente de uma divisão, viu no céu, por cima do sol, uma Cruz de fogo, com uma inscrição que dizia:

— In hoc signo vinces — «Por este sinal ven- cerás». Constantino ficou surpreendidíssimo com aquela aparição, e as suas tropas, que todas vi- ram o miraculoso sinal, verdadeiramente assom- bradas.

Durante todo o resto do dia, não pensou noutra cousa, senão que aquilo poderia significar. De noite, quando dormia, lhe apareceu Nosso Se- nhor .Jesus Cristo, corn a mesma insignia, que vira no céu, e lhe ordenou que a colocasse numa ban- deira para se servir dela nos combates contra os seus inimigos.

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Q imperador levantando-se de manhã, con- fiou o segredo aos seus generais; mandou ime- diatamente, chamar artifices de ourivesaria e joa- lharia, e sentando-se no meio deles, explicou a figura da bandeira que desejava.

E êste o famoso Lábaro, de Constantino. Consistia êle numa vara comprida, coberta

de ouro, atravessada por outra em forma de cruz, mas mais pequena e da qual pendia urn rico pano tecido de ouro e pedraria. Ern cima brilhava uma rica coroa de ouro e de pedras preciosas e no meio estava o monograma Cristo formado pelas iniciais gregas dêste nome, apresentando a pri- meira uma Cruz.

Constantino ordenou que se fizessem outras iguais para todas as legiões. Como ainda hoje se vê nas suas medalhas, Constantino trazia 110 alto do seu capacete a Cruz ou o monograma < risto e os seus soldados, traziam-o nos seus escu- dos. Cinquenta dos seus guardas mais valentes o mais piedosos, foram escolhidos para escoltarem êste estandarte, diante dele, em todas as batalhas.

Um dia, mandou vir à sua presença alguns bispos, e perguntou-lhos quem era aquele Deus, que lhe jiavia aparecido.

— E Deus — responderam—o Filho único de Deus verdadeiro. O sinal que viste nos céus é o troféu da vitória, que êsse Senhor alcançou sòbre a morte quando veio a terra ...

E em seguida explicaram-lhe a causa da sua vinda, o o mistério da Encarnação. O imperador ouvia esta explicação, o mais impressionado se sentia do (pie tinha visto. Começou a ler as Sa- gradas Escrituras, e a honrar quanto podia o Deus que lhe havia aparecido.

Deu-se a batalha. Maxeucio foi derrotado e morto quando atravessava o Tibre. Constantino fez então a sua entrada triunfal oiu Itonm.

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O senado mandou construir um arco famoso, que ainda hoje se vê em Roma e no qual se lê esta inscrição:

— *Ao imperador César Flávio Constantino, grande, feliz, augusto, o Senado e o povo romano dcdicou-lhc êstc arco triunfal, porque guiado pela divindade e pela sua grandeza de alma, acompa- nhado do seu exército vingou justamente com as suas armas, a república do tirano e seus sequazes.

Quando o majestoso e imponente cortejo im- perial atravessava as ruas da cidade, em direcção ao Capitólio, os velhos centuriões contavam o que acontecera ao povo, que os escutava com extrema atenção.

— Ontem ainda, perguntavam-lhes — os cris- tãos eram perseguidos e dados em pasto aos ani- mais ferozes e foi então Deus, quem deu ao im- perador a vitória?

— Sim, é verdade. Apenas o inimigo viu a truz sôbre a nossa bandeira, debandou, fugindo, e soltando gritos de horror. A sua derrota foi completa, e eis-nos senhores do mundo.

—Reparaste alguma vez no sinal que os cris- tãos faziam quando iam a caminho do suplício?

—Levavam a mão à fronte, — Sim, e traçavam sôbre si mesmos essa

mesma cruz, que o imperador mandou bordar no nosso estandarte.

— Isso deve ser um sinal muito poderoso porque depois de terem feito a Cruz, sôbre o seu peito, iam para a morte, como para uma festa e Pareciam não sentir os tormentos.

— Silencio! Aí voem os lictores ... E o cortejo desfilava, como vinte anos antes,

entrada triunfal de Maxencio. Com uma dife- rença apenas: o imperador Constantino não ia coroado de louros; seguia a pé o carro, onde cin- quenta dos seus melhores guerreiros, todos cris-

0 UVR0 DO SOLDADO FOBTUOUÊS 3

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ta os, rodeavam o Lavaram que lhe dera a vitória. A Cruz dominava toda aquela enorme multidão. Era ela que avançava para o Capitólio; o pela primeira vez, sem dúvida, os ares retumbaram com os gritos de:

«Viva a Cruz!» Na tarde dêsse dia memorável, o imperador

foi bater à porta do humilde padre, que sob o nome de Silvestre i, governava a Igreja, e pediu- -lhe o baptismo!

Tempos depois, no dia 13 de Junho do ano de 313, publicou o famoso édito, dado em Milão, no qual concedia a liberdade à Igreja, permitindo que os cristãos fizessem publicamente as suas reuniões e edificassem as suas igrejas.

Êste acontecimento histórico, confirma exu- berantemente o facto sobrenatural, de que foi a legitima consequência. Depois de três séculos da mais atroz perseguição, a Igreja, podia, emfirn, respirar, e começar à luz do sol e à vista do mundo, a obra civilizadora que empreendeu para bem da humanidade e proveito das almas.

* * *

Mais tarde, uns oito séculos depois, igual facto miraculoso se produziu, num outro campo de batalha. Foi nos campos de Ourique, numa formidável batalha ferida entre mouros e portu- gueses, e cuja vitória, que lançou os funda- mentos à nacionalidade portuguesa, foi ganha por D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Por- tugal, a quem Nosso Senhor Jesus Cristo também se dignou aparecer.

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III

Onde aparecer a bandeira, ali está a pátria. E verdade. Mas onde aparecer a Cruz, aí

está a religião, aí está a Igreja, aí está Deus. Deus e pátria, são os dois grandes, os dois

maiores amores, porque neles estão compreendi- dos todos os outros amores.

A bandeira e a Cruz simbolisam ótimamente esses dois formosíssimos sentimentos, que enchem de luz cariciosa e doce toda a alma humana.

Para um e outro desses gloriosos símbolos devem volver-se nas horas trágicas da refrega, os olhos e o coração do soldado. Ambos lhe falam dos mais altos, dos mais nobres, dos mais encan- tadores predicados de uma alma. Falam-lhe am- bos dos seus amores da terra e dos seus amores do Céu. A Cruz fala-lhe de Deus, que é Pai. A bandeira fala-lhe da pátria, que é Mãe. A ban- deira fala-lhe do presente; a Cruz fala-lhe do futuro.

Ambos êsses símbolos generosos, devem en- contrar o melhor agasalho e a melhor guarida, no coração do soldado.

As três varas de pano e os dois troncos cru- zados, falam à alma, na sua eloquente mudez, a linguagem misteriosa que só a alma entende. Mas os nervos vibram, o coração pula, os olhos choram de alegria, de entusiasmo, de esperança!...

♦ * ♦

Soldado! As vezes, à beira de uma estrada onde passas, em cima de um muro, na encosta de um cerro, no cruzamento de dois caminhos, °u no alto de um penhasco—encontras silenciosa

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e trágica, na imobilidade dos seus braços, uma Cruz de madeira, de pedra, ou de ferro...

Relembra aos que passam, algum drama san- guinário, algum desastre acontecido, ou simples- mente, a piedade de uma crença sincera, que de tal maneira se exteriorisou!

Descobre-te, soldado! Ela pede à tua alma e ao teu coração, o óbulo humilde de um Padre Nosso, ou pelo menos um olhar e um pensamento afectuoso.

Se a ordenança não te permitir saúdá-la com a continência oficial que fazes ao outro símbolo, saílda-a ao menos em espírito, com aquela respei- tosa devoção a que tem direito as coisas santas e sublimes.

Firmou-a ali a veneranda piedade dos teus antepassados para deixarem de si uma recordação espiritualmente doce. Ela implora à beira dos ca- minhos a esmola de uma oração ... E nada, os que morreram, agradecem melhor, do que as ora- ções dos que ficaram !...

Nunca os teus lábios, se abram, para Ela, em sorrisos de desdém; nunca sujes a tua língua na grosseria de um insulto e com o horror de uma blasfémia.

Serias capaz, por maior que fosse o teu des- vario, de cuspir a bandeira da tua pátria? Serias capaz, por maior que fôsse a tua loucura, de in- sultar tua mãe?

Pois êsse emblema divino tem direito, um di- reito santo, ao afecto e á dedicação e ao amor que tributas, no teu coração, a uma e à outra. Como cristão, é aquela a bandeira do teu Deus. Tresen- tos milhões de homens, espalhados pela face do mundo a amam e reverenciam .... Quex-es tu, en- tre todos ofendê-la?

— Descobre-te, soldado, i-eza: é a bandeira santa da tua fé 1

Os soldados dos outros povos, podem conhe- cer ou deixar de conhecer a bandeira da nossa pátria.

A esta, á bandeira de Cristo, toda a gente a conhece; uns, como, eu, como tu, como toda a le- gião dos soldados do nosso exército, para a reve- renciar e amar; outros, desnorteados, perdidos, pobres náufragos da crença, para a ofender...

A bandeira da nossa pátria, nem sempre a podemos ver.

A bandeira de .Jesus Cristo vemo-la em toda a parte. E quando a não vemos sobrepujando um campanário, ou coroando a capelinha dum cerro, ou fazendo sentinela à beira dum caminho: basta cruzarmos dois dedos ou duas varas, ou escrever dois traços, para que ali a tenhamos na nossa pre- sença, na humilde simplicidade das suas linhas, a falar-nos como qualquer outra, a linguagem mis- teriosa do amor e da esperança, da misericórdia o do perdão!

E tanto lhe queremos, nós, os filhos de Deus, que sôbre nós mesmos a fazemos, e devemos fa- zer muitas vezes ao dia, no lugar mais alto e mais nobre da nossa pessoa, que é a nossa fronte, no lugar mais precioso e mais eloquente, que é a nossa bôca, e no lugar mais recatado e mais puro, 'íue é o nosso peito !

Tanto lhe queremos, que nos sentimos inco- modados, quando, em nossa presença, alguém a faz apressadamente e sem devoção; ou ainda quando diante duma capelinha ou à beira duma estrada, alguém passa por Ela, sem ao menos lhe tirar o chapéu!

A bandeira da Cruz é de todas a mais velha

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e a mais gloriosa. Tem vinte séculos, e silo aos milhares os combates em que ela, durante êsse larguíssimo período de tempo, entrou e saiu triun- fante.

Tem morrido as gerações, muitas gerações tem caído no cemitério da liistória, a ossada de muitos reinos, de muitas repúblicas, de muitos impérios... E ela fica a marcar a sepultura dos tronos desfeitos e dos scetros partidos, assina- lando ao mesmo tempo, no caminho da humani- dade, os marcos miliários da civilização cristã.

A bandeira da pátria muda de forma e de côr. Ontem a nossa, era azul e branca, da côr do céu e da côr do mar. Hoje é encarnada e verde... e amanhã, pode muito bem ser de qual- quer outra côr.

Só a bandeira do cristão, não muda nunca. Tem sempre a mesma forma e a mesma côr. É inalterável, porque é imortal, porque é eterna...

Não a esqueças nunca, soldado! Lembra-te que o Sinal da Cruz, que a representa, to ensinou tua mãe, quando eras pequenino, e ao voltar do trabalho, á noitinha, te sentava sôbre os joelhos, para te acariciar e beijar!

Lembra-te que o recebestes na tua fronte e no teu peito, 110 dia do teu baptismo, quando te alistavam nas fileiras, de que ela é o estandarte, santo e glorioso!

Lembra-te, que em todos os domingos e dias de festa, o recebias no fim da Missa paroquial, com a benção ritual do sacerdote...

Lembra-te, que à sua sombra amiga e protec- tora, repousam os teus avós, os teus pais, os teus amigos, que primeiro que tu, foram chamados á presença de Deus; que com êsse sinal santo foram despedidos do mundo, para entrarem, fieis às doutrinas de Jesus, nos domínios da recompensa celeste...

A Cruz, é além de tudo isso, o resumo, a síntese da nossa fé, como a bandeira nacional é o resumo e a síntese da nossa pátria.

Esta fala-nos de nossos pais, de nossos irmãos, de nossos amigos, dos nossos parentes, dos nossos vizinhos, do conhecidos e desconhecidos, que nos- sos irmãos são também.

Recorda-nos a casa em que nascemos, o quin- tal onde brincamos, o pomar onde trabalhamos, o lar a que nos aquecemos, a terra, a aldeia linda onde vivemos. Fala-nos da ermida branca, onde jovens, contentes e felizes íamos, ás vezes, em romaria; do adro da nossa igreja, das famílias, do nosso pároco, dos passatempos e descantes alegres da nossa mocidade... E ainda nos recorda as aldeias, as vilas, as cidades, os campos, as mon- tanhas, os rios e os mares, por onde se estadeia viva e exuberante a vida da nação ...

A Cruz, o sinal da Cruz, recorda-nos todos os grandes mistérios da nossa religião santa. A criação do mundo, a Incarnação do Verbo, o martírio do Justo, a Redenção íiumana. Fala-nos do Padre, criador dos orbes, do Filho, Redentor dos homens, do Espírito Santo, Consolador das almas. Lembra-nos o Presépio e o Apostolado, o Pretório e o julgamento, o Calvário e o Perdão...

Manda dar a Deus, o que é de Deus e a César, o que é de César, obedecer e respeitar a legítima autoridade, embora, como diz S. Paulo, ela seja má e injusta; ensina a amarmo-nos uns aos outros, com lialdade e sinceridade; a querer bem aos nossos inimigos, a perdoar as injúrias e as ofensas, a socorrer os necessitados, a visitar os doentes e os encarcerados.

Prega emfim, a lei geral do amor entre todos os homens, simbolisada na mais bela e mais ful- gurante do todas as virtudes: — a Caridade. Cari- dade, sempre para todos e entre todos. Na paz e na guerra, na abundância e na miséria, 110 traba- lho e no descanso, na saúde e 11a doença, na ale- gria e na tristeza, paridade na vida, caridade 11a morte! Não parece que os seus braços, abertos, estendidos, estão ali, a querer abraçar o mundo?

A bandeira da pátria fala-nos da sua história, dos combates gloriosos, e que ela tremulou vito- riosa; dos seus reis, dos seus generais, dos seus estadistas, dos seus poetas, dos seus escritores, dos seus artistas, dos seus soldados e dos seus heróis.

Fala-nos das conquistas do direito, dos pro- gressos da indústria, dos bens materiais e huma- nos que ela vigia, protege e salvaguarda ...

A bandeira da Cruz, fala-nos da sua história através dos séculos, dos milhões de mártires que morreram por ela, das maravilhas da sua divina civilização, dos seus trabalhos apostólicos, no meio das sociedades o no meio das florestas; dos seus serviços à humanidade, no aperfeiçoamento dos costumes, na destruição do paganismo e da bar- baria ... Reeorda-nos, finalmente, essa formidável e assombrosa obra redentora, começada há vinte séculos e que aí se vai continuando, através de mil obstáculos, que ela vence o destrói, para bem da humanidade.

Uma e outra, soldado, unidas num estreito abraço, descobriram e conquistaram novos mun- dos, arrancando-os dos mistérios do desconhecido, para a luz deslumbradora do convívio social. A ambas deves todo. o carinho do teu afecto, toda a grandeza do teu esforço defensivo e todo o amor do teu coração igualmente religioso e pa- triótico.

Acompanhar-te hão ambas à última jazida. A bandeira nacional, despregada sobre o ten

atáude, dirá aos que passarem que vão ali os res- tos mortais de um soldado, de um patriota ...

A bandeira da Cruz, que irá contigo até á última morada, dirá aos que passam, que vão ali os restos mortais de um cristão.

Aquela volta a cobrir carinhosamente o eadá- ver de outro herói...

Mas a Cruz fica a ali contigo, silenciosa e . muda, como sentinela da piedade, a pedir aos vivos. .. que se lembrem de ti!...

CAPÍTULO QUARTO

A guerra.

I

A guerra ó a maior das calamidades que pode assolar um povo. E quási nunca anda só: acompanham outras duas calamidades, cada qual maior: a fome e a peste.

Esta horrível trindade descaroável, não faz senão cadáveres. São inimigos implacáveis da vida, da saúde, da alegria. Alimentam-se apenas de lágrimas e de sangue.

Há por ventura, no mundo alguma coisa mais estúpida? Homens que nunca se viram, que não se conhecem, que não se odeiam... vão perse- guir-se, vão matar-se uns aos outros!

Há por ventura no mundo coisa mais bár- bara?

Oh! toda a gente detesta êsse monstro, toda a gente ama a paz; mas desgraçada, mas infeliz- mente, apesar dos esforços de todos os pacíficos, apesar do talento de todos os escritores, apezar dos desejos de todos os coraçòes, a guerra existirá

sempre, porque para a abolir, seria preciso abolir as paixões dos homens, suprimir a sua liberdade moral, mudar, emfim, a natureza humana.

<iO mundo começou com guerra — diz um pensador ilustre — com guerra se acabará, e guer- ra é a vida que passamos nele.

Muito se tem feito a favor da paz: — tratados de direito, actas de conferências, congressos, li- vros e livros de pedagogia e propaganda paci- fista ...

Pois nunca houve maiores guerras do que depois de tantos trabalhos e estudos para a paz!

A muita gente parecia impossível uma guer- ra, no estado actual da civilização, por um lado, pelo progresso guerreiro e homicida, pelo outro...

E todavia ela aí está, e para ela vais, heróico soldado cristão. Já caíram por terra, milhares e milhares de vítimas e milhares e milhares de ver- dugos! A Europa central está toda ensopada em sangue... Milhões de combatentes contra milhões de combatentes, repercussões da horrível luta no Extremo Oriente, no centro e no sul da Africa; exércitos de milhões de homens, de todas as ra- ças e de todas as castas, vindos de todos os pon- tos cardiais, precipitam-se como torrentes para o abismo, sôbre o centro da Europa...

Os elemontos de destruição levados ao último apuro; bôcas de fogo que através de muitos qui- lómetros semeiam a morte e o extermínio; aero- planos e dirigíveis, pelos ares; horríveis obuzes pelas estradas; descomunais, gigantescos castelos fie aço, navegando pela superfície das águas... tudo, tudo apresenta o aspecto de uma daquelas visões apocalíticas, que nos fazem estremecer de horror!

Aonde estamos nós meus amigos? Estamos no começo ou no fim de uma civilização? Entra- mos na barbaria, ou saímos dela? Temos de colo-

car o homem no degrau mais alto, ou no degrau mais baixo da escala zoológica?

Há amor na terra, ou é a terra morada exclu- siva do ódio, da vingança?

Oh! neste momento, parece que de tudo pode falar-se 110 mundo, menos de amor!...

Odio, aborrecimento, ira, vingança, extermí- nio, destruição, ruínas, catástrofes, mortes... são as únicas palavras que se leem e que tem alguma significação.

Amor, carinho, fraternidade, união, socorro, favor, solidariedade, concórdia, protecção... são palavras velhas que o estado actual do mundo fez cair em desuso!

E tanto que se falou e tanto que se escreveu para a paz, para no fim de tantos, esforços louvá- veis, para afinal chegarmos a esta desgraça:—neu- tralidade» violadas, povoações queimadas, monu- mentos seculares formosíssimos, destruídos, e a Bélgica arrazada, a França nadando em sangue. Portugal, o nosso querido e bom Portugal, ver- tendo já na Africa o seu sangue generoso, e pre- parando-se também para o derramar na Europa!

Há quadro mais horroroso do que êste? Há algum coração mais frio que o gêlo, que não estremeça? Há olhos por mais secos, que não chorem?

Conferências da Paz! Onde estão os resulta- dos dos vossos trabalhos, para onde foram os sor- risos das vpssas esperanças!!

A Igreja amou e preconisou sempre a paz. Quando se reuniu a primeira conferência na

Haia, o representante de Cristo na terra, quis tomar parte nela. Não o quiseram lá!

Lembro-me ter visto nessa ocasião uma cari- catura referente a essa conferência num jornal es- trangeiro. No Palácio da Paz, entravam entre baionetas os representantes pacifistas de todas

as nações, o precisamente, então a Italia, China, Turquia, e até Marrocos e a Abissínia.

Apareceu também para entrar, Nosso Senhor Jesus Cristo. O lacaio ou porteiro, encarregado de introduzir os pacifistas de todo o mundo, recusa- -Ihe o acesso:

— Não pode entrar, diz-lhe. — Lembro-lhe, meu amigo — lhe tornou Nosso

Senhor — que eu sou o verdadeiro representante da paz.

Volve o lacaio desdenhoso: — Não duvido. Mas como não representa no-

nhum exército não podeis entrar. E Jesus voltou costas ao palácio e foi-se em-

bora ... Assim procederam com o seu Vigário, na

Haia. Ah! Fiquem certos, de que emquanto no

mundo não houver glória a Deus, não haverá na terra paz aos homens!

II

A alma — A despedida do soldado — A oração na caserna.

V ais para a guerra, soldado português e cris- tão.

Dizem que uma nação, velha amiga e aliada, invocando antigos tratados e compromissos anti- gos, pediu o teu auxilio, o auxilio da tua coragem e da tua bravura.

Vai. Lá serás o que sempre foste: um va- ente e um cristão. Deves a vida à honra e ao bom nome da tua pátria.

4tí

Não se diga nunca que um português, faltou ao cumprimento do seu dever.

A ordem é marchar ? Marcha! O poder encarrega-se das possíveis comodi-

dades do teu corpo: cobertores de agasalho, ten- das de campanha, mantimentos, munições e até há comissões para angariar a sustentação do teu vício, o cigarro.

Mas a tua alma? Quem cuida da tua alma? Quem se importa da tua alma?

Então, a parte mais nobre do teu ser, aquela que dá força ao teu braço, luz aos teus olhos, vi- gor ao teu cérebro, impulsos valorosos ao teu co- ração. não merece que ninguém cuide dela?

É coisa de tão vil importância, que um ci- garro lhe fica superior? Ninguém cuida dela, é verdade, e por isso tu como principal e único in- teressado. é que tens de atentamente dela cuidar.

A vida, bem o sabes, é de todos os bens o mais contingente. Uma corrente de ar, uma rés- tea de sol, bastam, às vezes para dar cabo dela. Nos campos da batalha, tens outros inimigos, mais fulminantes ainda: a bala e a metralha. Com a vida vai-se embora num instante a alma. O corpo fica para ali, insepulto às vezes, pela precipitação da retirada e os abutres veem abater-se, esfomea- dos sobre êle para o devorar; outras, sepultado na própria trincheira que a metralha derruiu.

— Mas a alma? Já pensaste nela, no seu fu- turo, visto que nem as balas nem a metralha a podem matar?

* * *

E por isso que eu venho dizer-te, cuida da tua alma, prepara a tua alma. Voltas? Como eu desejo que.voltes, triunfante, vitorioso! Em que te prejudicou essa preparação?

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E quem sabe se o teu regresso à pátria, aos braços amorosos de tua mãe, à vida tranquila do teu lar, não foi devida a amizade da tua alma com Deus?

Quantas vezes não dirás depois, ao contar as façanhas com que ilustraste o teu nome:

— De tal embuscada, escapei por milagre... Em tal assalto, as balas choviam, mil companhei- ros cairam mortos à roda de mim, e eu milagro- samente escapei...

E não terá havido intervenção miraculosa para preservar-te dos perigos e das balas? Não sabes que Deus protege com a sua graça os que nele tem fé, os que cumprem os seus divinos man- damentos, os que tem a consciência e o coração limpos de mancha e isentos de pecado?

\ amos, soldado português e cristão! Prepara a tua alma. Já soou o toque de reunir. O grito do clarim, pareceu um grito da pátria aflita. Chamou-te, vai!

Mas ao deixar a tua terra, antes de soluçante, te despedires de tua mãe e de pedires a benção amorável de teu pai, de abraçares os teus irmãos, a tua noiva, os teus parentes e amigos, porque não hás-de, como os valentes e cristãos soldados de outrora, confessar-to e comungar, que o mesmo ó que ir buscar ao Sacrário do Deus vivo, a fòrça, a coragem, o valor, de que tanto virás a carecer?

E porque não liás-de, em seguida às tristes despedidas dos teus que ficam chorando a tua ausência, na incerteza do teu regresso, entrar no velho templo da tua aldeia onde ficam presas tantas o tão doces recordações da tua vida? Fos- los ali baptizado, ali recebestes a tua primeira comunhão, ali, nos dias da tua fé simples e sin- cera, orastes pelos teus avós, tomaste parte na alegria espiritual das suas festas, e aprendestes a 8er homem, a ser cristão. Conheces, os seus altares

•te

doirados, as suas imagens venerandas... porque não hás-de deixar a cada uma, com a súplica da sua proteção, o suspiro comovido da tua saudade? E porque não hás-de ir abraçar o velho pároco da tua aldeia, o amigo dedicado da tua infância, que te ensinou a amar a Deus e a amar o pró- ximo, que nas suas orações e nas suas missas, pedirá a Deus por ti?

E já reparaste na consolação que semelhante proceder levará ao coração de tua mãe, religiosa e cristã como é, e à tua família inteira, que de Deus confia as alegrias do teu regresso? Já pen- saste na grande fòrça de resignação que a fé espa- lha na alma dos crentes, tornando-os quási insen- síveis às maiores e mais pungentes amarguras?

— Por lá ficará o corpo de meu filho — diria tua mãe, serena e resignada — mas a alma dele, essa hei de encontrá-la no céu.

Sabes as oraçõezinhas que aprendestes em criança?

Esqueceste-as, nos teus afazeres da vida? Aprende-as novamente. A oração é o bálsamo da alma aflita. Orar é conversar com Deus.

Um desgraçado que não soubesse rezar, na última agonia, morreria do desespero. A oração é a válvula, por onde se desafoga a dor e o infor- túnio. Ura soldado que não saiba rezar, em cam- panha, está inais perto de ser um covarde, que um herói.

Chegado ao quartel, à caserna, ou à tenda de campanha, o soldado cristão nunca esquece os seus deveres para com Deus. Nunca o auxilio di- vino lho foi tão preciso, tão indispensável, como nessa vida de luta e de perigos, para onde o seu dever o mandou.

Nosso Senhor disse um dia: — Pedi e recebereis... E Deus nunca falta com os seus auxílios e

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com as suas misericórdias, a quem humildemente, hem do fundo da alma, lhas implora e solicita. 0 soldado cristão, deve fiar menos da sua valen- tia ou da sua sorte, que da sua fé. Bem fraco, bem pequeno, bem humilde, era David, pastor, que depois foi rei e venceu o gigante do Golias. E porque? Porque tinha Deus do seu lado.

-Reza, soldado português e cristão! porque se a todos a amizade de Deus é indispensável, muito e muito mais o é, àquele que vai para os campos de batalha pronto a vencer ou a morrer. Reza, porque orar é vencer, orar é triunfar...

Nas convivências da caserna, ou nos acampa- mentos e nas tendas, encontrarás, às vezes um ou outro camarada em cuja alma o tufào da des- crença tenha feito murchar a flor delicadíssima «la fé, e que se ria e mofe dos teus sentimentos de piedade e devoção. Não aborreças o desgra- çado! Lamenta-o, tem dó dele, porque a sua alma é mais pobre que a tua. E se poderes, comunica- Ine um pouco da tua fé, da tua esperança em Deus, faz porque lhe revivam no peito os senti- mentos cristãos que são o teu orgulho e a tua honra.

Não te envergonhes de rezar na sua presen- ça; porque lá disse Nosso Senhor:

— «Aquele que se envergonhar de mim, tam- bém eu me envergonharei dele!»

Para o homem verdadeiramente cristão, o respeito humano, na exteriorização da sua fé, não deve existir.

Ofender a Deus, de mistura com os ímpios, « in público e às escondidas, rezar e ter temor de 1 eus, é impróprio de um homem, quanto mais do um soldado que expôs os seus sentimentos,

H mesnia franqueza, com que expõe a sua Não te importem, ó soldado português, as

" '-IVHO DO KOI. PA DO PORTCIilUfc» 4

risadas do que não crê! Se bem reparares no seu gargalhar, hás-de ver não um riso alegre e fran- co, mas o rictus doloroso que os sentimentos pre- versos põem na alma... Parece a risada de um condenado: tem todo o travor do ódio e da des- graça.

O riso que alegra, que faz bem, que desanu- via e encanta, é o que nasce de uma consciência tranquila e boa, de uma alma amiga de Deus, e que a Deus tributa o amor que lhe deve.

0 sorriso do ímpio não é sorriso, é careta. Uma risada, é quâsi sempre um insulto. A des- crença, ao entrar no coração do homem, tudo muda, até o riso...

Não te envergonhes do rezar. À noite, ao deitar-te na tarimba de caserna,

ou sobre o chão frio de acampamento, seja onde fôr, esteja quem estiver, faze o teu Sinal da Cruz, encomenda a tua alma ao Deus bom o misericor- dioso, pede-lhe o que precisares, para a tua alma e para a tua vida ...

Jesus, disse: ' — Pedi e recebereis ... Quer dizer: — Orai e sereis ouvidos. Pedi e dar-se-vos há. De manhã quando o clangor das cornetas ou

o grito dos clarins to chamar às fileiras da parada, ou às avançadas do combate ergue o teu espirito, murmura baixinho as tuas orações e as tuas sú- plicas, que irás para a revista ou para o combate, mais tranquilo, mais resignado, mais sereno.

E pelo dia adiante, nas sentinelas, nas trin- cheiras, nos assaltos, busca o apoio e o auxílio do Céu, que não há valentia, nem denodo, nem audácia, que o possa dispensar ou substituir...

CAPÍTULO QUINTO

Matar em combate-A oração pe- los mortos— Velhos e doentes — Mulheres e crianças.

Grandes, meu amigo, terrivelmente grandes, são as contingências da guen-a. Por mais amorá- vel, por mais delicado, por mais sensível, que seja o animo do soldado, êle é obrigado, em nome da defesa da pátria, por causa da sua honra e do seu bom nome, a essa coisa ao mesmo tempo horrível e repugnante: — matar.

Uroibe-o a lei de Deus, nos seus mandamen- tos; proibe-o a lei natural, nas suas instruções; proibe-o a lei escrita nos seus códigos.

E todavia o que luta no campo da batalha não é um assassino, nem um réprobo, nem um criminoso, porque obedece á autoridade legítima, que em nome de interesses colectivos superiores, •e põe nas mãos uma espingarda ou uma espada, paia guardares e defenderes a pátria do inimigo que tenta escravizá-la.

Tens infelizmente o dever, tens infelizmente a obrigação de matar, porque, teus o dever de obedecer. A guerra é justa? E injusta? Não te

compete a ti, soldado e cristão, averiguá-lo ou discuti-lo.

A ti, escravo da disciplina e instrumento defensivo da pátria, só te cumpre ser fiel aos teus juramentos, liai aos teus patrióticos compromissos, e vencer ou morrer na defesa heróica da tua ban- deira.

Tens de esquecer quo o adversário, é teu ir- mão, filho de Deus como tu, para ver nele ape- nas o inimigo da tua pátria, pronto a matar-te, e como tu decidido a vencer ou a morrer.

Matar em legítima defesa, na defesa dos seus, não é crime porque a defesa própria (• de direito natural, divino e humano.

Nos campos de batalha, nas emboscadas, nas refregas, nos assaltos, o soldado só tem uma preocupação e uma esperança :

— Vencer. Tudo o mais lhe é indiferente. Ruínas, orfandades, gritos de feridos, gemi-

dos de moribundos, ais, lágrimas . .. nada o co- move, nada o entristece, nada o distrai.

Toda a orquestra dolorosa do sentimento, não existe para êle.

E uma máquina de matar. Só ouve os toques de comando para avançar ou morrer. A febre, o delírio, a loucura do heroísmo, apoderou-se dele, empolgou-o nas suas garras, transformou-lhe o cerebro, o coração, a alma. O cerebro obsediou-se, os nervos retezaram-se, o coração endureceu, a alma insensibilou-se.

Nesse estado extraordinário, o homem não é responsável! Mas fora dessas ocasiões e dêsse es- tado, qualquer acto de violência atinge um grau enorme de responsabilidade perante Deus.

Os mandamentos divinos e as leis de huma- nidade retomam toda a sua energia proibitiva. A população civil, está sob as garantias da lei di- vina e da lei humana. E as próprias leis da guerra

— infelizmente tantas vezes infringidas na pre- sente luta — determinam penalidades rigorosas, contra o soldado que prevarica, desprezando-as.

Um militar que em campo raso, mata cem soldados, mil soldados, é um herói. A fama toma toma conta do seu nome, e as recompensas nAo tardam em aparecer.

O militar que mata um paisano, é um assas- sino, o que mata dez, é um facínora, o que mata cem, um monstro!

Mesmo um soldado vencido, depois danefrega é um homem sagrado. Ninguém lhe toca, senão para o amparar: ninguém lhe fala senão para o consolar. Um pinsioneiro é intangível. Protege-o a desgraça, a humanidade e Deus.

* * *

A oração pelos mortos.

Sé amorável, clemente, generoso, ó soldado português o cristão.

Se a teu lado cair um camarada e poderes secorrê-lo socorre-o. Se adiante de ti cair um ini- migo, e poderes levantá-lo levanta-o. São duas vi- das de consideração igual. E não é menos heróico, salvar uma vida do que tirá-la.

Um derrotado, ou um vencido, são ou doente, deve encontrar sempre para o amparar e socor- rer o braço do vencedor.

Vergonha! a quem abusar da vitória! En- tregue a espingarda ou a espada, já não há inimi- gos, há irmãos.

Terminada a refrega, embora para recomeçar horas depois, êsse pequeno armistício, natural, de- ve-o aproveitar o soldado português e cristão, no socorro dos camaradas caidos no combate.

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Cuidar dos feridos e enterrar os mortos, dar àqueles os cuidados compatíveis com as circuns- tâncias da ocasião, e a estes a jazida eterna, com a piedade duma oração afectuosa; eis a tarefa ge- nerosa e cristianíssima, que aos sobreviventes in- cumbe.

Que belo! do que enorme grandeza moral seria o comoventíssimo espectáculo, de, no fim de uma batalha, todos os soldados resarem em co- mum, de joelhos em terra, uma pequena oração por alma dos mortos no campo da honra! Seria a solidariedade efémera da vida, a prolongar-se carinhosa pela eternidade dentro! Seria a amizade, o carinho, a fraternidade militar, a acompanhar, nas azas bemditas da oração, a do seu camarada, até aos pés de Deus!

A Igreja impõe a todos os seus filhos a obri- gação de orarem, até pelos próprios inimigos. Deus não destrinça entro os que o amam como Pai. A todos acolhe, a todos atende, na medida das intenções de cada um. Em direito, como em teologia, a intenção é tudo. Quando, pois, rosamos pela alma dos nossos amigos e dos nossos inimi- gos, devemos ter a intenção de que queremos c desejamos que a sua alma aproveite dos nossos sufrágios, e a convicção de que êles hão de contri- buir para a satisfação devida à Magestade divina ofendida.

Resar pelos próprios inimigos é uma das mais piedosas manifestações da caridade cristã. Além disso a oração pelos mortos, é um empréstimo, com juro desconhecido, mas enorme, que faremos aos vivos. Hoje resamos pelos que ontem mor- reram. Amanhã resarâo, talvez, por nós os que ficarem.

Deus que é o fiador supremo de todas estas dívidas, fará que elas não fiquem por pagar...

Lembremo-nos, pois, da alma dos amigos e

dos inimigos: para aquelas com a saudade do nosso coração; para estas, com os sentimentos da nossa caridade; e para todas com as orações santas da nossa fé.

♦ * *

Velhos e doentes.

A crónica já larga de vandalismos, extorsões, e crueldades, praticadas pelos soldados dos exér- citos em luta e relatada nos jornais de todo o mundo, é assombrosa. Aldeias, vilas e cidades, arrazadas pela metralha inclemente; homens e mulheres e até crianças! fusilados por motivos fúteis, ou sem motivos nenhuns; velhos e doentes, arrancados brutalmente do leito da dor, para os abandonar ou matar, no meio das ruas; a hones- tidade das virgens, o pudor das donzelas, tudo emfim o que pode envergonhar um homem 9 fazê-lo descer 11a escala da dignidade humana, todos esses crimes repugnantes e monstruosos, tem sido "perpretados nos países invadidos, cau- sando o mais profúndo sentimento de indignação, a notícia de tamanhas atrocidades...

0 soldado cristão e português, que ama ver- dadeiramente a sua fé e a sua pátria, não ofende uma nem outra, com a prática de semelhantes atentados.

A população civil das herdades, das aldeias, das vilas e das cidades, deve merecer ao soldado cristão e português, o mais correcto procedimento. Nunca o soldado, qualquer que seja o seu posto, ou oficial seja qual fôr a sua patente, deve man- char a sua farda com a prática de uma indigni- dade.

Ordináriamente, a população civil, válida, diante do conquistador, abandona tudo e vai-se

embora. Em muitas aldeias da França, à aproxi- mação dos alemães tudo fugia até as próprias autoridades. Só o pároco ficava tio seu pósto, e acumulava com as suas, funções das autoridades fugitivas.

Os serviços que o clero tem prestado em toda a França, dentro e fora do campo da bata- lha, se eu fôsse a contar-tos aqui encheria muitas o muitas páginas, mas ficarias tendo pelo clero a elevadíssima consideração que êle merece, e sen- tirias verdadeiro orgulho de pertenceres a uma religião, que em cada um dos seus ministros conta um herói e um benemérito.

Hei-de ver se um dia te conto isto tudo. Ordinariamente—dizia eu—a população civil,

aterrada, abandona as herdades, as quintas e as aldeias, à aproximação do inimigo.

Só ficam os que não podem andar: — os velhos e os doentes, as mulheres e as crianças...

Ficam confiados à humanidade, à generosi- dade do vencedor. Pois quem será o covarde, capaz de ofender a velhice ou de não respeitar a doença ?

E todavia tem-so dito que pobres velhos, incapazes de uma resistência ou de uma agressão, tem sido assassinados, uns ao canto do lar, onde chorando, se acolheram, outros à soleira da porta onde uma entristecida réstea de sol, dava um pouco de calor aos seus membros enfraquecidos e enregelados!

E todavia doentes, que o pavor e o susto o a doença, tornam moribundos, tom sido mortos a tiro, no próprio leito, e no meio das gargalhadas da soldadesca, ébria de vinho e de vitória.

Ó soldado cristão e português! Olha que estes dois títulos, ambos tão altos c tão nobres, impõem-te uma conduta cheia do mansidão e de dignidade!

Quando ao entrares, numa povoação, con- quistada ou rendida, encontrares um velho, tré- mulo pela idade, pelo terror, pela dolorosa como- ção da sua desgraça, loml>ra-te do velhinho teu avô, que tranqiiilo, embora saíidoso, deixaste na tua aldeia, na sua modesta casita, que nenhum ruído inquietador, perturba! Leiqbra-te quo êsse velhinho vencido é uma vítima inocente das barbaridades da guerra, que lhe levou filhos e netos e que ficou ali esperançado na generosidade do teu proceder! Lembra-te que a tua espingarda ou a tua espada, se nào deve poupar, em luta aberta, o inimigo, se desonram ao empregar os seus tiros ou os seus golpes em homens fracos e indefesos!

Leinbra-te que as bênçãos ou as maldições dos velhos são muitas vezes confirmadas e auten- ticadas pelas bênçãos ou maldições de Deus.

Um velho, para o soldado cristão e português, deve ter o seu tanto ou quanto de sagrado. In- sultá-lo, bater-lhe, ou matá-lo tem qualquer cousa de parecido com um sacrilégio...

Se na revista das casas, encontrares um en- fermo, prostrado no leito da dor, tremendo de pavor e de mal, faz o possível e até o impossível para que a tua presença ali e a dos teus camara- das, não agrave, pela grosseria das maneiras e das palavras, o estado melindroso da sua saúde. Os agravos morais duplicam e triplicam os sofri- mentos físicos.

Pelo contrário, tenta, se o poderes fazer, mi- norar o seu duplo infortúnio: o de doente e o de vencido. Êsse homem é um desgraçado, porque até a ingratidão do abandono não faltou, para encher a amargura da sua miséria.

O timbro do soldado cristão e português é a generosidade, é a humanidade. Nenhum deve dei- xar de honrar êsse timbre, mais glorioso que os

loiros cia vitória, porque se não tem os hinos mar- ciais a saudá-lo, tem os aplausos da consciência a enaltecê-lo.

* * *

Mulheres.

E as mulheres? A fidalguia e a gentileza do porte, casam-se admirávelmentc com a farda mi- litar; mas não se harmonizam menos com as vir- tudes que devem adornar-lhe o carácter.

Para o soldado cristão e português, a mulher, a irmã, ou a noiva de um inimigo deve ser tra- tada pelo soldado vitorioso como se fôra a mulher, a irmã e a noiva de um seu irmão.

Se alguma encontrares, chorosa e desgraçada, no teu caminho, lembra-te de tua mãe, de tua irmã ou da tua noiva, cujo ultrage, a ninguém, no mundo, perdorias. Essa, deve merecer o teu respeito, principalmente, se, sentinela lacrimosa do seu lar abandonado e pobre, ficou sosinha a cuidar da velha mãe do doente, ou das crianci- nhas suas irmãs, órfãs, talvez, àquela hora.

Onde a abjecção e a repugnância da covar- dia se manifestam em toda a sua hediondez, é sem a menor dúvida, nos desacatos infames, co- metidos contra mulheres, cujo coração a desgraça despodaçou e cuja vida a guerra encheu do dor e de luto.

Dizem que já teem havido feras que param e recuam diante das lágrimas de uma mulher. Quero crer; porque nada há no mundo, mais co- movente e impressionante, que uma mulher des- graçada a chorar. Se é casada, a guerra levou-lhe o marido... Se é solteira, levou-lhe o pai ou os irmãos... Se é noiva, a guerra transformou-lhe em goivos as flores de larangeira ...

E em qualquer dêstes casos, não me admiro que as suas lágrimas, trazidas pela dor, do cora- ção aos olhos, tenham a fôrça, a eloquência de comover as feras.. . Quererá sor ainda pior do que as feras, o soldado português, fazendo-se in- sensível às lágrimas de uma mulher ? Quererá êle em troca de um grosseiro pensamento satisfeito, ser mais irracional que os próprios irracionais, porque êsses entendem quanta dor há numa lá- grima e quanto temor há num soluço?

0 soldado cristão e português, sabe quanto à sua fé e à sua lei repugna a selvageria desses aten- tados vergonhosos; sabe o que deve à sua digni- dade de homem, à sua consciência de cristão, à sua espada e à sua farda.

Esse, cujos sentimentos foram educados pela religião, e cujos sentidos são valentemente subju- gados pelas virtudes cristãs; êsse não manchará com a brutalidade de uma acção degradante e criminosa, a tradição fidalga dos bons soldados cristãos, que em defesa da mulher, erguiam a sua espada gloriosa num gesto de respeito e protecção.

A história de todos os tempos e de todos os povos, nas guerras e nas conquistas, assinala dolorosamente milhares desses feitos vergonhosos, cuja selvageria podia talvez alternar-se na conde- nação, pela bruteza dos homens ...

Mas hoje que a civilização é lampadário bri- lhante a iluminar as sociedades, tais vergonhas não devem só merecer a repulsa e o protesto de todas as consciências: deve merecer todas as mal- dições da sociedade, como merecem e tem, as maldições formidáveis de Deus.

Xão são cristãos de facto, nem portugueses de lei, muito embora com tão nobres títulos se condecorem—os soldados que esquecerem o que devam à inocência, à pureza, às lágrimas da mu- lher, que desamparada de todo o auxílio, e batida

de todos os infortúnios sofro as consequências de uma desgraça para que nada contribuiu.

E se a minha voz, desprovida do autoridade e tifo humildo como sincera, pudesse chegar lá cima, ao ouvido e ao coração dos generais do exército expedicionário, dos coronéis, dos capitães, de todos os oficiais:—eu pediria, o maior castigo, o maior rigor, para esses soldados, que não são cristãos, nem portugueses, e que não recuam, como as feras recuam diante das lágrimas supli- cantes de uma mulher!

.Mas o soldado português e cristão, não tem simplesmente o dever de obedecer e praticar, sôbre êste melindrosíssimo ponto os conselhos e ensinamentos da doutrina ao seu credo. Tem também a obrigação de obstar, com o seu conse- lho, primeiro, com a sua autoridade, em seguida, e, com a sua fôrça depois, à prática desses aten- tados, que sujam e enlameiam uma consciência e uma farda.

Nem só rezando o batalhando, o soldado mostra que é cristão o português: mostra-o ainda mais e melhor na prática das virtudes cívicas e cristãs.

Que alegria para a sua alma, quando mais tarde, depois de regressar vitorioso das campa- nhas guerreiras, ao contar aos seus vizinhos as peripécias trágicas de que foi actor ou expectador, poder dizer-lhes, no alvorôço da sua consciência jubilosa:

— Fui à guerra; andei por lá meses e meses. .Sofri muito, padeci muito. Cumpri o meu dever de soldado. Mas nunca envergonhei a minha farda, nem escandalizei a minha fé. Fui sempre um bom cristão e fui sempre um bom português!

As crianças.

Não sào, pão podem, não devem ser conside- radas, nunca, como inimigas. São anjos de ino- cência que a maldade humana, pelas tatalissimas consequências da guerra, atirou para o inferno da maior desgraça.

Não sei onde li, mas certamente o li algures, que os alemães matavam as crianças que encon- travam ; o que perguntando-lhe, não sei quem o motivo do tamanha crueldade, êles responderam:

— Suprimimos os inimigos de amanhã!... Que horrorosa justificação esta, a ser verda-

deira? Era a negação de toda a humanidade, de toda a justiça, de toda a clemência. Sabe-se lá, por ventura, o que uma criança é amanhã?

Xão podem, os povos que hoje brigam, serem de aqui a pouco amigos e aliados? Xão vemos nós hoje, compartilhando as contingências dessa guerra formidável, ingleses e franceses, cujo ódio, em tantos acontecimentos históricos se ma- nifestou ?

Xão vemos russos e franceses defendendo a mesma causa e partilhando os mesmos enormís- simos sacrifícios?

E não obstante há um século ainda, os fran- ceses invadiram a Rússia ...

Sabe-se lá quais serão amanhã, os povos amigos ou inimigos?

Matar unia criança, porque pode ser amanhã um inimigo! E não pode ser um amigo, um aliado, o colaborador precioso de uma obra de progresso, °u o melhor elemento de uma acção civilisadora?

Matar uma criança, que não faz mal a nin-

tfz

guêm, que é absolutamente incapaz de o fazer, é crime de tal maneira execrando, que não há, em língua nenhuma, palavras, que suficientemente o amaldiçoem, nem nos códigos, militares ou civis, penas que suficientemente o castiguem ...

Oh! cuidado com o derramar sangue de ino- centes, que êle costuma, decerto por castigo de Deus, salpicar a cabeça do culpado. O sangue dos inocentes clama justiça contra quem o derramou e o seu clamor enche o mundo, e vai até ao céu pedir a Deus o flagelo da vingança.

Caim matou Abel, e a descendência do mons- tro, sentiu, sente e sentirá as consequências legi- timas do seu acto abominável. Os judeus, na sua cegueira e no seu desvario, derramaram o sangue do Justo; a Inocência imaculada, pagou num pa- tíbulo infamante o crime de ser bom e santo...

Mas os judeus, há vinte séculos espalhados pelo mundo, nunca mais poderam constituir nacio- nalidade.

A guerra actual nasceu de um crime, tam- bém ... As consequências, o castigo, ai está bem evidente no horror trágico dos seus efeitos.

Quem derrama uma gota de sangue inocente, paga-o, pelo menos, com um dilúvio de lágrimas...

E como estou falando de crianças, quero dei- xar aqui, para exemplo da fidelidade e de patrio- tismo, consignado o procedimento de duas crian- ças, uma pequenita de 12 anos e um seu irmão- sito de sete anos. Contaram-o há pouco tempo os jornais franceses e repetiram o caso os jornais de todo o mundo, com as maiores demonstraçôos de entusiasmo e carinhoso aplauso.

Foi àssim:

Numa pobre cabana situada distante do povoado, <• nos territórios invadidos pelos aleinSes, viviam duas crian- ças sósinlias. O pai fóra para a guerra, e a mSe, morrera cansada de trabalhos, pouco tempo depois, e com saudades

do marido. Valiam aos dois órfãos as esmolas que a mais velha pedia, aqui ou além.

Uma tarde, acampou nas proximidades do humilde casebre um regimento francês. Os oficiais entraram ali para descansar um pouco Ao retirarem-se chamaram as crianças e o mais velho dos oficiais, disse-lhes:

— Se os soldados inimigos aqui vierem, vocês, tomem sentido, não lhes digam o caminho por onde tivermos seguido. Depende disso a salvação do nosso regimento, e o nosso regimento é uma parte da França ...

As duas crianças, tremendo, prometeram guardar se- gredo. E mal os oficiais haviam saído, a irmã mais velha, pegou 110 pequenito pela mão, c levou-o diante do Cruci- fixo, que, suspenso de uma parede, ali estava ladeado pelos retratos dos pais.

— Paulo, meu menino, — disse ela ao irmão — se tu disseres o caminho que os nossos soldados levaram, tu, serás um traidor, cometerás um grande crime, parecer-te hás com Judas que entregou Nosso Senhor. Não serás di- gno de usar o nome de Nosso Pai, nem o teu nome de francês.

— Mas se os alemães vierem . .. — Diremos que não sabomos. — E se nos ameaçarem? — Teimaremos . .. — E se nos baterem? — Sofreremos .. . — E se nos quiserem matar? — Sc chegarem a êsse extremo, antes nos deixaremos

matar do que atraiçoar a França . . . Horas depois, passos pesados e numerosos, soaram

cm volta da choupana. As duas crianças, aterradas, fechada cautelosamente a porta, olhavam se em silêncio. O coração batia-lhes desordenadamente.

De repente, um violento encontrão na porta, fê-la tremer.. .

— Abri! — ordenaram. As duas crianças, muito caladas, abraçaram-se uma á

outra. — Abril — repetiram. E como ninguém respondesse, a frágil porta voou em

estilhaços, e uma multidão de soldados entrou estrepito- samente.

Um oficial, aproximouse dos dois irmãos, e ameigan- do a voz, perguntou:

— Pequenos! Um regimento francês, passou perto de aqui há pouco... Que caminho tomou êle?

Rapidamente, a irmã, inclinou-se para o irmãosito e disse-lhe baixinho .. .

— Não te esqueças . . . Depois, erguendo a cabeça, implorou silenciosamontc

o céu e fixando os olhos límpidos, nos olhos duros do ale- mão, ficou silenciosa.

— Fala! — disse imperiosamente o alemão. — Não! — respondeu com voz doce, mas resoluta. Então o oficial tirou da algibeira, algumas moedas de

ouro e fê-las tilintar, aos ouvidos do rapazito, dizendo-lhe: — São para ti... se nos disseres o caminho que se-

guiram os soldados franceses. O rapazito, porém, depois de ter olhado para as moe-

das, fitou os olhos 11a imagem de Cristo e no retrato do pai, e com um sinal de cabeça, recusou o oferecimento ... l'ma violenta cólera invadiu o soldado alemão. Com as suas mãos nervosas, sacudiu, rudemente as duas crianças, gri- tando :

— Falai! O nosso tempo é precioso, e estamos aqui a perdê-lo convosco... Se recusam, nós os obrigaremos a fa- lar. Vêem isto? E indicou o revólver que trazia à cinta. As duas crianças tremiam desoladamente: mas a rapariga lem- brando-se que tinha em suas mãos um pedaço da França, como dissera o oficial, lembrando que substituía seu pai, junto de seu irmão, e por isso lhe devia um exemplo de coragem — juntou as mãos num gesto de súplica, como que a implorar perdão para a sua juventude.

— Queres falar—tornou desabrido o oficial. Reunindo todas as suas forças, e apertando contra o

seu peito, o irmãosito. que chorava, respondeu: — Não! Então o oficial, num movimento rápido, puxa do re-

vólver. fez fogo, e as duas crianças caíram no chão. — Yamo-nos embora daqui! — ordenou. Aqui só há

miséria, não há nada que levar ... — E as crianças morreram? — perguntará o leitor. Felizmente, não. No dia seguinte, passou por ali o ve-

lho pároco da aldeia próxima, e vendo a porta arrombada c partida, entrou. Lá estavam, deitados no chão, abraçados um ao outro os dois corpos, vivos ainda. Horas depois, eram conduzidos para a aldeia, ondo lhe ministraram todos os cuidados necessários.

Êste facto a ser verdadeiro, como eu creio- constitui a mais tremenda acusação que pode for- mular-se contra ésses inqualificáveis abusos da

força. Quem assim derrama sangue inocente, não pode ter de Deus outra recompensa, senão a de um cat-tigo formidável.

Soldado cristão e português! Nunca manei es a tua alma em sangue de inocentes. Guarda-os, defende-os, protege-os, porque lá diz Nosso Senhor:

tTitdo o que fizerdes a um destes pequeninos, a mim o fareis.»

o LIVRO DO SOLDADO PORTUGUÊS

CAPÍTULO SEXTO

Os templos —As imagens dos Santos —As cruzes e as Almas dos caminhos.

As igrejas, as capelas, as ermidas, são casas de oração, são as casas de Deus.

Quando através dos campos, nas marchas forçadas do teu regimento vires aparecer pelo meio da verdura dos arvoredos a face branca de uma ermida, ou a agulha de um campanário, lembra-te que és cristão, e vai, pelo menos em espirito, visitar essa capela e ajoelhar diante dos seus altares. E a casa de Deus, e tanto basta para merecer o teu mais profundo respeito.

A invasão das aldeias e das vilas, fica sempre assinalada por actos do vandalismo, que atingem, ás vezes, de preferência a Casa do Senhor. Quando não as destroem, profanamas.

O soldado,'em pais conquistado, carece, em absoluto, de escrúpulos. Parece que da memória se lhe varreu, tudo quanto era delicadeza, aten- ção, respeito, veneração, amor.

As igrejas, tem na vida de todos nós um grande lugar, e deve ter no coração de nós todos um grande quinhão de afecto.

Foi à sua sombra amiga e protectora, que se formou o nosso carácter, e que se desenvolveu a nossa mocidade. 0 aspecto de qualquer igreja, pelas longas terras, onde nos encontremos, traz- -nos sempre à lembrança, a nossa igreja. E parece, que aquele recinto sagrado, pertencendo a outros povos, e até a outras nações, nos pertence, a nós, também.

E de facto, uma igreja, uma capela, uma ermida, não pertence apenas ao povo que a edi- ficou: todos nós, seja qual fôr a nossa raça ou a nossa língua, ali podemos entrar e rezar também. O Deus que ali se honra, venera e adox-a, é o mesmo Deus que adoramos nas ermidas, capelas e igrejas da nossa pátria.

O soldado cristão e português tem o dever imperioso e sagrado de respeitar e fazer respeitar os templos da sua fé.

Infelizmente na nossa terra, há alguns anos a esta parte o por motivos, conhecidos de toda a gente, o respeito pelos templos católicos tem diminuído muito. Os desacatos são freqiientes e de gravidade estupenda. Nalguns, camaradas teus, tem tomado parte assinalada. Que vergonha para a farda, que vergonha para o exército! O que não farão esses soldados nas povoações que houverem de atravessar antes ou depois de vito- riosos no campo de batalha?

A esses, que não entram nos templos senão para os profanar, que não olham para as imagens dos santos, senão para as ridicularizar e escaime- cer, vou eu contar um facto histórico que ir.e é garantida pela Semaine Réligieuse de Grenoble, acontecido em França nos tempos da grande revolução.

São autores do grosseiro e horrível atentado conti-a uma imagem da Virgem Nossa Senhora...

Xas deixemos que um deles, conte o estra-

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nho episódio da sua vida militar, em tempo de guerra.

Ouve:

«Vivia nos Pirinéus, um sábio e digno médico, cha- mado o doutor Fabás, que exercia a sua clínica, 110 Bal- neário de Aguas Boas.

Um dia viu entrar no seu consultório, um homem que tinha numa das pernas uma grande ferida, causada por arma de fogo, e que além de ser antiga, apresentava ura carácter especial, pois era um verdadeiro alfobre de mi- cróbios.

O módico, com verdadeiro empenho, propós-se a tarefa de a fazer cicatrizar, ou pelo menos fazer desapa- recer os micróbios que ela produzia, e a enchiam com- pletamente.

Nenhum remédio, porém, de tantissimos que se lem- brou de empregar, deu o mais ligeiro resultado!

Desanimadíssimo, um dia, o doente abriu-se com éle o disse-lhe assim:

— Deixemo-nos de mais remédios, doutor. Não se canse mais. Eu tenho de morrer desta horrível enfermi- clade. , .

— Efectivamente — tornou-lhe o médico — aqui ha qualquer coisa de extraordinário. Nunca vi coisa seme- lhante, e não obstante, sou já bastante velho, e já pelas minhas mãos tem passado um bom número de casos sur- preendentes ...

E pela centésima vez, perguntou ao doente : — Onde recebeu o senhor esta ferida? — Já umas poucas de vezes lhe disse, doutor, que foi

em Espanha. Sempre porém lhe tenho ocultado as circuns- tâncias que se deram. Mas agora vou dizer-lhas porque é tempo que o senhor as saiba.

E continuou, com voz trémula c mal segura : — Estávamos no ano de 1793, tinha eu vinte anos

de idade e fui obrigado a alistar-me num corpo do exér- cito que a Convenção enviava a Espanha. Comigo fo- ram, da mesma povoação, mais dois mancebos: Tomás e Francisco. Todos três estávamos imbuidos das ideas da- quela época. Não só éramos incrédulos, mas, mais ainda, ímpios, como era moda corrente então. Alegremente havía- mos percorrido o caminho e já próximo do termo da nossa viagem, quando ao passar em frente de um templo católico, de uma povoação da serra, vimos no seu frontispício uma estátua de Nossa Senhora, tão venerada pelos fieis que,

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apesar da revolução e dos revolucionários, permanecera incólume no sou pedestal.

«Um dos meus camaradas, o Tomás, teve o infame pensamento de mofar da superstição daquelas gentes, fazendo da veneranda imagem alvo dos seus tiros, como quem queria exercitar-se no manejo da espingarda. Fran- cisco. o outro camarada, acolheu com risos c graçolas, a sacrilega proposta de Tomás... Eu. mais vacilante e re- ceando parecer menos audaz e menos ímpio que os meus dois companheiros, procurei, ainda assim, dissuadi-los de uma acção que ine causava um certo horror. Xesse momento lcmbrava-me de minha mãe, e do que ela, quando eu era pequenino, me dizia... Mas as minhas razões foram inú- teis, e o que com elas consegui, foi que se rissem de mim.

Tomás carregou a espingarda, apontou e a bala foi cravar-se na fronte da sagrada imagem ... Francisco, apon- tou em seguida e o projéctil deu no peito da estátua ...

— Agora, tu! - disseram-me. Apontei, tremendo, fechei involuntariamente os olhos

e a bala foi achatar ... — Na perna? — perguntou o médico. — Sim, na perna, um pouco acima do joelho, precisa-

mente no sítio em que tenho a minha ferida . .. E tristemente, acrescentou: — Já vê. senhor doutor, que jámais me curarei. Depois desta criminosa façanha, deliberamos conti-

nuar a viagem. Nesse instante, uma velhita que prcsenceara a nossa infâmia, como que inspirada por luz profética, dirigiu-sc-nos, dizendo:

— Ides para a guerra ? Pois ficai sabondo que a ne- fanda acção que acabais de praticar, lá ao diante há-de ser- vos fatal.

Tomas ameaçou-a. Eu sentia-me verdadeiramente des- gostoso pelo nosso procedimento. Francisco, menos como- vido do que eu, também não estava muito disposto a glo- riar-ge de semelhante acção.

Ele e eu empregámos os meios para que o nosso ca- marada se não deixasse levar dos seus arrebatamentos, e concluímos penosamente a jornada, não sem termos vários desaguisados pelo caminho.

Naquela mesma tarde nos alistámos no regimento, e poucos dias depois, estávamos em frente do inimigo. Devo confessar que ia para a batalha sem entusiasmo nenhum e pensava, mais do que desejava, na estátua da Virgem. ^So obstante, tudo foi andando bem.

Conseguimos vantagens importantes sobre o inimigo, distinguindo-se Tomás pelo seu arrôjo o valentia.

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Tinha já a batalha concluída; os Jinimigos, derrota- dos, tugiam em todas as direcções, e já o coronel havia mandado cessar toda a perseguição, quando, do alto dumn rocha. veio. um tiro que parecia disparado do céu. Tomás, girou sôbre si mesmo, e caiu, rígido, de bruços sôbre a terra. Francisco e eu corremos, para o levantar mas era já cadáver: —a Ítala cravara-se-lhe 11a fronte, entre os dois olhos, exactamente no mesmo lugar em que êle poucos dias antes, ferira a sagrada Imagem.

Francisco e eu, mais pálidos que um cadáver, enca- ramo-nos sem articular palavra. Parecia que aos nossos ouvidos soavam as fatídicas palavras da velha .. .

No acampamento, Francisco ficava junto de mira: mas durante toda a noite, nem êle nem eu, pudemos dormir. Esperava que êle mo dirigisse a palavra para o aconselhar a resar alguma oração, mas êle guardou rigoroso silêncio e eu não me atrevia a encetar conversação, sôbre um assunto que tanto nos preocupava.

Na manhã do dia seguinte, o inimigo voltou com no- vos brios a dar-nos batalha. Apenas o vimos, Francisco, apertando-me muito a mão, disse-me:

— Hoje é a minha vez! Feliz de ti que tiveste má pon- taria.

O meu desgraçado companheiro não so enganou. Desta vez fomos nós vencidos; e quando o exército francês ia já batendo em retirada, ouviu-se um tiro, saído de um fogo, onde estava um espanhol mortalmente ferido, e Fran- cisco cai, com o peito atravessado por uma bala! Ah! dou- tor, que morte horrível aquela! Revolvondo-se num charco de sangue, pedia a grandes gritos um sacerdote; mas os que o rodeavam, encolhiam os ombros, o deixaram-o mor- rer, abandonando-o no meio do caminho!

Descansou o narrador, comovido, alguns momentos e depois prosseguiu :

— Eu fiquei aterrado. E 11a convicção de que não tar- daria a ter sorte igual à dos meus dois companheiros, resolvi confessar o meu sacrilégio ao primeiro sacerdote que encontrasse. Vendo, porém, que em vários recontros, a fortuna me não era adversa, dissiparam-se pouco a pouco os meus meios, e com êles os meus bons propósitos.

Quando nos deram ordem para regressar a França, era eu já sargento, e não pensava nem no crime, nem no castigo. Mas de tudo me recordei, ao passar a fronteira.

Estávamos à distância de um dia de jornada, do povo da Imagem espingardeada, quando por um acidente inexplicável, se dispara a espingarda a um dos meus sol- dados, e a bala veio cravar-se-me aqui, onde o doutor vê...

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Assim se cumprira a profecia da velhita que depois do sacrilégio, nos tinha dito <

—Ides para a guerra? Mas sabei que a nefanda acção que acabais de praticar, ser-vos há fatal.

Os meus dois cnmaradas, haviam morrido; e eu re- gressava feridp. 0 ferimento, que não oferecia gravidade, e até o próprio cirurgião do regimento me afirmou, que em breves dias estaria curado. Assim pensava eu também. -Mas a sua surpreza foi igual à minha quando vi aparecer na ferida uma porção inexgotável de bichitos, que tanto intrigaram a sciência dêle, e a sua também doutor.

Há vinte anos que sofro desta chaga. Tenho experi- mentado todos os medicamentos, mas todos tem resultado ineficazes. Mas ainda que peço a Deus todos os dias que me sare, e assim o espero da sua infinita misericórdia, não devo nem quero queixar-me ...

Esta ferida foi remedio salutar, para muitas almas, e especialmente para a minha. Não ignoro que se chegar ao fim da minha vida, como devo, isto é, cristão e penitente, a esta ferida o devo. Então me alegrarei de ter andado coxo, porque não desconfio da misericórdia divina, e espero morrer, na amizade de Deus. por intercessão de Aquela, que tão sacrílegamente ultrajei.»

* * *

Soldado cristão! Comoveu-te êste caso, não é verdade? Se tens na companhia a que perten- ces, alguns dêsses mancebos que a propaganda irreligiosa desvairou, e que mofa das imagens e dos templos, dá-lho a ler para que êle veja como são castigados os ultrages que se lhe fazem.

Sirva-lhe também para que o respeito pelas coisas sagradas mais se radique no teu coração, e te dê forças, não só para fazeres respeitar as coisas santas, mas para impedir as ofensas e ultrages que a mocidade desvairada lhes queira fazer.

Todo o cristão, tem o direito e o dever de intimar o respeito pelos objectos de um culto e de fazer que os símbolos da sua fé e os sentimen-

tos da sua alma sejam por todos tomados em consideração».

A mocidade é por leviandade própria, incoe- rente. quando a palavra criminosa dos que não tem fé, uma vez lhes destruiu a crença. A êsses só a graça divina os pode reconduzir ao caminho de que se afastaram. Mas quem sabe se serás tu, ó soldado cristão, o instrumento da graça de Deus, para que a venda caia dos olhos do teu camarada iludido e imensamente prejudicado nos seus bens espirituais?

Deves, pois, ser entre os teus camaradas e companheiros de luta, um apóstolo das ideas que amas e trazes no teu coração. Incute-lhes no espi- rito sentimentos de respeito pelas coisas sagradas, sempre que vejas que êles são capazes, de contra elas cometerem qualquer desacato. Quando possas e para isso tenhas ensejo, faz-lhe reparar na co- movida alegria, com que vemos depois de uma marcha penosa, por serras e vales, aparecer ao longe o campanário de uma igreja ou a ermidinha branca, que a piedade dos nossos antepassados, cheios de fé, alcandoraram nos penhascos de uma serrania.

Faz-lhe notar, quando ouvires no silêncio dos acampamentos ou no intervalo da fusilaría assassina as badaladas de um sino distante, que a irmãos nossos convida à oração e a nós todos faz lembrar o céu.

Os olhos da gente regosijam-se com êsses panoramas reconfortantes, o som do sino acaricia suavemente o ouvido ... É preciso que o homem se haja completamente prevertido, para em pre- sença destas coisas, ao mesmo tempo tão simples e tão sublimes, não sinta agitar-se-lhe, comovido o coração!

As cruzes plantadas à beira das estradas, ou na encru8Ílhada dos caminhos; os rústicos e às

vezes tão pitorescos receptáculos onde a piedade dos nossos avós, enquadrou, um pequeno painel de almas, são dignos de toda a veneração. São coisas santas, falam á nossa alma a linguagem divina da religião, e quem sabe a quantas amarguras soluçadas ali. junto delas, não terão dado con- solação.

A nossa alma entende-os o ama-os. Falam-nos do passado, que os nossos olhos não viram e do futuro, que a nossa alma sem dúvida apreciará. Insultá-los, ofendê-los, é insultar a fé e a crença de umas poucas de gerações, nobilitadas pela sua piedade, e consolada pela sua presença.

Soldado cristão e português! Seja onde fôr, em território nosso ou em terra alheia, onde quer que a sorte das armas te leve, ou os caprichos da aventura te conduzam, onde encontrares um dês- .ses símbolos, que fazem a alegria e a felicidade da alma cristã, não permitas que ninguém o injurie e desrespeite.

Nunca foram felizes na vida nem o serão na morte, os que quebram e destroem as cruzes do ermo e as imagens dos templos. São malditos dos homens, e são malditos de Deus!

CAPÍTULO SÉTIMO

Deveres morais do soldado.

I

A OBEDIÊNCIA — A FIDELIDADE

a obediência — O soldado português e cristão deve ter aos seus chefes e às suas ordens, uma, sujeição perfeitamente cristã. Ides exercem a au- toridade em nome de Deus — porque a autoridade humana outra origem não tem. Desobedecer-lhe o mesmo é que desobedecer à suprema autoridade qtie rege e governa os mundos, a Deus.

A disciplina, é, pela sua parte, o maior e mais precioso elemento de força. Uma agremiação, seja de que natureza fôr, para viver e prosperar precisa de ordem, de método, ou disciplina emfim. Mas mais precisa é ainda, porque é absolutamente indispensável, nas agremiações militares, porque na disciplina reside o segredo das vitórias, e só por ela e com ela, se podem alcançar os louros do triunfo.

Um exército disciplinado, é quasi sempre um exército invencível.

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I'm soldado desobediente, é sempre um mau soldado. Não está longe de ser um cobarde, e está muito próximo de ser um traidor. Os males causados num regimento por um militar indisci- plinado, são incalculáveis. O mau exemplo fruti- fica mais abundantemente que o bom,

0 soldado cristão e português, obedece sem- pre, com os olhos em Deus, às imposições legíti- mas da autoridade. Obedece e cumpre, sem olhar a dificuldades, nem a perigos, tenha embora de arriscar a própria vida.

Ao alistar-se nas fileiras, o soldado abdicou do seu alvedrio, do seu saber, do seu modo do pensar, do sou critério, de tudo.

E a cabeça do seu general que pensa. Ele fita apenas o instrumento obediente dêsse pensa- monto.

Honra ao soldado cristão e português, que revestido de uma obediência perfeita, de uma su- bordinação absoluta, nunca se afasta dos rigoro- sos preceitos da disciplina militar contribuindo assim para o êxito feliz das mais melindrosas ope- rações guerreiras.

fiel — O soldado cristão e português, deve ser absolutamente fiel ao compromisso de honra que tomou com a sua pátria. Consideração alguma, seja de que natureza fôr, nem honras, nem rique- zas, nem família devem afastar um ápice sequer, da fidelidade jurada. Sabe, pelos cargos que de- sempenha, segredos graves e importantes ? Deve guardá-los 110 mais fundo do seu coração, e mor- rer, antes que revelá-los. Há segredos que nem à própria camisa, e mais é insensível, se devem re- petir.

Divulgar um segrêdo é praticar uma traição. E não há epíteto, que mais desonre um carácter, que mais comprometa uma causa.

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Diz o poeta que

.. . entre poring uives traiilorts honre algumas rezes . ..

Assim será, que os portugueses, homens, são como todos, sujeitos a fraquezas. Mas que o não seja o'soldado cristão, porque êsse, pelo seu cre- do, não deve irmanar-se com essa sinistra figura, que entregou o Divino Mestre aos seus terríveis inimigos. O verdadeiro cristão, o que sabe e pra- tica a religião, nunca pode sor um traidor, Esses, cujos nomes a história, com nojo, escreveu nas suas páginas, nem eram portugueses, muito em- bora assim se dissessem, nem eram cristãos, em- bora por ventura o afirmassem. 0 homem que tem no seu intimo a capacidade de se tornar um traidor, não tem religião, não tem pátria, porque é um monstro.

E já que dêste negregado assunto falamos, esta guerra, que tantos o tamanhos ensinamentos está dando ao mundo, íornecer-nos há um caso, que bem eloquente é na sua significação. São duas crianças também. Parece que Deus se com- praz em ensinar os homens, pelos lábios frescos e puros da inocência.

Eis o caso:

Uma das valorosas cidades belgas, estava cercada pelo exército alemSo. Todas as noites, um rapaz de 13 anos e uma rapariga de 12. saiam através das guardas avança- das e iam a uma propriedade que a seus pais pertencia, e na qual pouco antes do eêrco, seu pai enterrara um pouco de dinheiro. Quando o ataque era menos vivo, ou quando cessava de todo, os dois irmãos saíam da praça e dirigiam- -se ao local já citado.

Alberto—assim se chamava o rapaz—deixava sempre a irmã no sítio onde era preciso cavar, e em seguida afas- tava-se para o lado das linhas inimigas, donde, daí a ins-

f /

tantes voltava com algumas moedas de prata na algibeira, dizendo-lhe:

— Olha! Eu cavei melhor do que tu ... encontrei. — Mas onde estavas tu? — Lá adiante ... na outra extremidade. Repetiu-se esta scena muitas vezes. Mas a Margarida

— assim se chamava a pequena—que não era tola, um dia começou a desconfiar.

Certa noite, muito escura, a rapariguita aventurou-se a seguir o irmão, e tão cautelosamente procedeu, que o irmão não a pressentiu.

Viu-o passar a linha das sentinelas, dizer-lhes uma palavra qualquer, e entrar no acampamento inimigo ...

A pequena ficou, como que pregada no chão, não compreendendo absolutamente nada do que se passava.

Uma patrulha nocturna, encontrou-a ali, hesitante, es- pantada!

O oficial que comandava a patrulha, falava perfeita- mente o francês, disse-lhe:

— Que fazes aí, pequena? — Espero meu irmão. — E onde está êle? — Passou acolá ... — Ali!—disse um dos soldados—é a irmã do pequeno

espião. — Triste ofício!—disse um outro, olhando-a com des-

prêso. — Nesta idade — tornou o oficial—êles não sabem <>

que fazem ... é uma dolorosa consequência da guerra. Oh! mas não se devia abusar da candura das crianças ...

— Oh! meu alferes! O rapaz já é crescido, e sabe muito bem o que faz.

Matilde ouviu aquele diálogo, com olhos de espanto. — Em que se ocupa teu pai?—tornou o oficial. — Foi morto... nas muralhas.. um obuz alemão... Os soluços e as lágrimas, não a deixaram continuar. — E agora? O que fazes tu lá? — Nós somos órfãos... Não temos que comer c Al-

fredo disse... Ela queria contar toda a história do dinheiro enter-

rado, mas os soluços não lho permitiram. O oficial, num gesto de piedade: — Vai! disso-lhe estendendo-lhe uma moeda de prata.

— Vai-te embora. E ela, afastou-se, com efeito. — Olha! —tornou o oficial — toma lá êste dinheiro,

desgraçada.

Ela voltando-se altivamente, respondeu: —Não... não! Não quero comprar pão com o dinheiro

daqueles que mataram meu pobre pai! E desapareceu, soluçando ...»

* # *

Minutos depois Alfredo reunia-se a sua irmã, no pedaço de terra que ela devia explorar.

— Pavece-me que não encontraste nada! — disse êle. — Olha eu encontrei quatro lindas moedas novas.

— E encontráste-las na terra? — Encontrei, sim. Porque me fazes essa pergunta ? — Por nada ... E continuaram a caminhar, em silêncio. Mas a alegria

do Alfredo, extinguira-se bruscamente. Um mal estar inde- finido lhe torturava o coração ...

Em vez de se dirigirem à pequena mansarda que lhes servia de habitação, seguiu por um caminho à sua esquerda.

— Aonde vais ? — perguntou o irmão. — Faz hoje um mês que nosso pai morreu, e queria

tornar a ver o lugar onde êle caiu ... — Mas para quê?... Tenho tanto medo ... — Não! Tu não podes ser menos corajoso que uma

rapariga. Olha. naquele, trouxe-me êle até ao pé desta árvore ...

Foi ali que êle chorando me abraçou, dizendo: — «Oh! a terrível guerra! E a grande desgraça é que entre nós, franceses, há traidores...» F, eu perguntei-lhe o que era um traidor... E «abes o quo êle me respondeu? Foi isto: «Traidor, é o que vende ao inimigo os segredos do seu país, que se enriquece à custa das nossas lágrimas e do nosso sangue... É um monstro 1» F, ao abraçar-me pela última vez, disse-mc: «Aconteça o que acontecer, vela por teu irmão ...»

E nunca mais voltou ...»

As duas crianças continuaram a caminhar em silêncio. A noite escuríssima, era de quando iluminada pela trajectória luminosa dos obuzes; mas o ataque só devia recomeçar à meia noite, e durante essa trégua relativa, os inimigos, aperfei-

çoavam as suas pontarias, colocavam e tornavam a colocar as suas peças, para firmarem bem o êxito das suas operações.

— Foi ali — disse Matilde, baixinho. — Foi ali que se encontrou o seu corpo ... Foi ali que nós viemos, com a velha Mónica, nossa vizinha, para o reconhecer ... Pobre pai! ^.

E a pobre criança caiu de joelhos — pediu ao valente soldado que havia sido seu pai, que lhe inspirasse o que precisava de dizer a Alfredo ... porque sem ter uma idea bastante nitida do que se passava, ela bem via que seu irmão tinha dinheiro, vindo dos inimigos da França, dos que tinham matado seu pai e sentia um tremor em todo o corpo, quando a si inesmo perguntava como êle o ganhava... E diante de si abria-se um abismo negro, profundo, que ela não se atrevia a encarar.

Regressaram a casa, sem trocar uma palavra. Quando chegaram à pequena cabana, cujo teto a ventania fazia oscilar. Matilde acendeu um ramo de pinheiro . e fitou seu irmão.

Èste, com a cabeça entre as mãos, tremia, como se estivesse com um grande ataque de febre.

Margarida sentiu que se tornava a mais velha, pelo desenvolvimento do seu pensamento c pela fôrça da sua vontade: e colocando-lhe a mão sôbre o ombro, sem saber ainda até onde a levariam as suas palavras, disse-lhe:

—Tu não sabias o que fazias? O oficial alomão, con- solou-ine dizendo isto.

E como êle continuasse calado, ela continuou: —Eu bem sabia que tu não achavas o dinheiro lá em

baixo . . Eu segui-te ... ' Alfredo sobressaitou-se... Ela acrescentou, mais

meigamente - Tu então sabias, visto que não querias que eu fôsse contigo.

— Queria dar-te pão ... — disse êle muito baixinho. — E que dizias tu para ganhar esse dinheiro? — Seguia as peças de artilharia, durante o dia, e...

à noite... ia dizer-lhe o lugar onde elas estavam colo- cadas ...

— Oh! ó isso . . . é isso—bradou ela na mais dolorosa angústia — é isso! Tu vendias ack inimigo os segredos do nosso país ... fizeste-nos viver com o preço das lágrimas e dos nossos concidadãos. O nosso pai tinha dito isso.. • Ele foi morto, talvez, pelas informações dalgum traidor: e em cada noite, franceses, pais, como o nosso morriam tal-

vez junto das metralhadoras, por causa do aviso que lhe levastes ... E fizeste-me comer dêste pão!...

Houve um demorado silêncio. Alfredo quebrou-o dizendo,muito baixinho:

—É verdade, Matilde,... eu não tinha pensado em nada disso. Sentia-me orgulhoso quando te trazia pão.

— E porque me contaste a história do dinheiro enter- rado? , . .

— Primeiro, porque eu acreditava nela... A vizinha Mónica, tinha-me dito um dia: «Sem dúvida teu pai escon- deu o dinheiro nas suas terras... E quando um dia eu andava a procurá-lo, um sargento alemão, prendeu-me o conduziu-me à presença do major, que prometeu dar-me cinco francos, cada vez que eu lhes desse as informações que me pediam.

E repetiu: — Eu sentia-me tão orgulhoso de eomprar-te pão ... — Pão! Pão!—murmurou ela—0 pão é tudo! E o

despreso do oficial alemão, o ar com que êle me despediu, não me fez mais mal do que ter fome? E tu, tens fome, esta noite ?

— Não! tenho um grande desgosto ... Mas que fazer? que fazer?

— Quanto dinheiro ... alemão, tens tu aí ? — Vinte e dois francos ... -- Amanhã, hás-de ir entregá-los ao major ... — E depois? — Depois, pediremos ao comandante do forte, que

era tão amigo de nosso pai, que nos diga como havemos de reparar.

— Oh! Nunca me atreverei... — Irei eu sósinha... Irei em quanto tu vais levar o

dinlufiro ao oficial alemão.

Durante essa longa noite, nenhum dos dois pôde dormir. Não sentiam nem fome, nem sêde, nem necessi- dade de repouso, alguma cousa mais imperiosa que a necessidade dos seus corpos, lhes despertava o sentimento de uma grande dor.

A alma do culpado tremia sob as tenazes do remorso. A alma de Matilde entrevia a possibilidade do uma repa- ração: tremia de dor e do esperança. _

No dia seguinte, ao clarear da manhã, Alfredo diri- giu-se ao «campo da mentira». Conforme das mais vezes, foi preso pelas guardas avançadas alemãs, e conduzido ao major.

— Que notícias trazes? — perguntou.

Sem responder, Alfredo, desabotuou o colete, e da al- gibeira interior tirou uma saquinha, e derramou o con- teúdo sôbre a mesa.

— Que quer isto dizer? — bradou o major. — Não quero mais ser espião! — Mas eu vou man lar-fe fuzilar ... O rapaz, empalidecendo, respondeu com a maior

calma: — Isso é talvez o melhor.. Mou pai e minha irmã.

perdoar-mo hão quando eu estiver morto O major ameaçara-o apenas para o assustar Sentiu-

-se até comovido, lá no seu íntimo, pela grande dor que se lia nos olhos de Alfredo, que murmurava:

Eu não compreendia, eu não sabia o que fazia . .. — De que vais viver agora? Vais morrer de fome. Alfredo encolheu os ombros O major mandou-o em-

bora. dizendo depois a uma das testemunhas desta scena; São extraordinárias, as crianças da França!

Alfredo, correu a juntar-so a sua irmã, e como êle se aproximasse das linhas francesas onde ela o esperava, viu cair um obuz. que ameaçava o paiol do forte. Um grito de alarmo retumbou.

O pequeno, electrisado pela coragem que mostrara diante do major, pegou no obuz cuja mecha ardia sempre e lançou-o para longe, no campo; ao cair explodiu e Al- fredo ferido em pleno peito foi socorrido e levado pelos soldado- do forte que êle acabava de salvar.

Matilde estava junto dele. sorrindo e chorando; ao mesmo tempo, dizia-lhe:

— Como tu te resgatas-te ! Sofres muito? — Um pouco ... mas não é nada, sinto-me feliz!... Nessa noite morreu. Matildo toroou-se a filha adoptiva do comandante. — Nunca —dizia ela ao terminar esta história, nunca

distingui tão nitidamente a minha alma do meu corpo como nessa noite em que conheci o crime de Alfredo, em 1"e todos os males que podessem atingir-me, me pareciam pouco ou nada, em comparação da minha dor ... E êle ... a pobre criança! A sua alma ordenou-lhe o sacrifício da sua vida, e êle obedeceu sem hesitar.

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II

A HONRADEZ — A VALENTIA — ABNEGAÇÃO — HUMANIDADE

a honradez — O soldado cristão e português, deve ser um homem de bem. As suas palavras e as suas acções devem de ser pautadas pela inva- riável norma da sua consciência e da lei.

Deve ser o que usualmente se costuma cha- mar um homem honrado. Não dessa honradez de que tanto blasonam os homens sem crença... Essa, Deus sabe de que casta ela será. Mas de uma honradez verdadeiramente cristã, filha dos seus sentimentos religiosos, da doutrina santa, em que foi criado e educado. Honradez cristã e por- tuguesa, que não há outra no mundo que se lhe possa igualar.

A história militar da nossa pátria, fornece, a quem os procura, exemplos da mais comovida eloquência e que põem os nossos heróis de ou- trora, quási ao nível dos santos.

valentia—Ao soldado cristão e português, não é preciso recomendar-lhe coragem e valentia. Deu as suas provas no passado, confirmá-las há agora e sempre. A história o diz e o mundo o sabe. Nunca, porém, deve arriscar a vida sem necessidade e sem utilidade. Deve encarar os pe- rigos de frente: sem arrogância, mas sem. temeri- dade. A valentia não está em correr para a morte; mas em a esperar firme, no seu posto, e em ir procurar serenamente, no lugar onde o manda- rem ir. As temeijdades audaciosas dos soldados, ;já tem, por milhares de vezes, ficado em extremo caras aos exércitos. Quando as cornetas e tambo-

res tocarem a avançar, é covarde o que fica para traz; mas o que se arremessa para diante, pode ser um herói, mas é quási sempre um louco.

abnegação —0 soldado cristão e português, é sempre um abnegado. Sofre silencioso as faltas; não se queixa do mau passadio, das más noites de vigia, das tendas do acampamento, do desaga- salho das trincheiras. Sofre tudo, padece tudo, com os olhos em Deus o na sua Pátria.

Dá o seu cobertor, o seu cigarro, o seu pão, o seu café, àquele dos seus camaradas que mais precise do que êle.

Eu já tenho chorado, mais de uma vez, ao ouvir os rasgos de dedicação, de verdadeira abne- gação, que os soldados portugueses fazem uns pelos outros nos campos de combate. Expor a vida, para retirai- da linha de fogo um camarada ferido. Dar a última golada do seu cantil pára molhar os lábios de um soldado morto de febre ... Carregar às costas, no meio de um chuveiro de balas, com o companheiro moribundo a caminho do hospital de sangue... são actos comesinhos do soldado cristão e português nos campos de batalha. E não pode haver maior abnegação do que esta, porque é a abnegação da própria vida...

humanidade—O soldado cristão e português, deve fugir sempre de praticar a mais leve cruel- dade. Matar, sem necessidade de matar, é crime. Fazer sofrer um inimigo, sem razão nem motivo, é acto tão criminoso e repreensível, que não há alma boa que se não revolte ao presenciá-lo. O soldado cristão e português, deve empregar e pra- ticar 6empre para com todos a lei divina da cari- dade.

I'm inimigo, mesmo, e mais aiuda talvez, porque é inimigo, deve merecer do vencedor a

melhor e mais disvelada solicitude. Quando a es- pingarda cai das mãos de um adversário, já ali não está um inimigo, está um irmão. Insultá-lo, ofendê-lo, maltratá-lo, não é próprio de um sol- dado; é proceder do um selvagem.

Dizem que o homem nos campos de batalha perde a sensibilidade moral. Que chega a familia- rizar-se com os maiores horrores, e com as mais repugnantes crueldades... Assim será. Mas o sol- dado cristão, quando é verdadeiramente cristão, resiste a êsse contágio de dureza, de desumani- dade, conservando sempre acêsa na sua alma a faúlha sagrada da caridade cristã. ..

Se durante um instante no calor da refrega, não ouve os gritos e os ais dos companheiros caí- dos a seu lado, passado êsse momento de loucura o de obsessão guerreira, o cristão reaparece, e aí vai êle levantar os feridos, cheio de carinho e ter- nura, como um amigo, cu como um pai.

♦ * *

Sê, pois. soldado cristão e português, obe- diente, fiel, honrado, valente e generoso, abne- gado o humano. Mas sôbre tudo e acima de tudo fiel ao teu Deus e à tua pátria, que nesta quali- dade primacial estão incluídas todas as outras. Ouve sempre a voz do teu dever que é a voz da tua consciência.

Preso, ou livre, nas fileiras combatendo, ou cativo no meio dos inimigos da tua pátria, nunca te deixes vencer por promessas, nem abras os ou- vidos e o coração às ilusóes da ambição.

Ao soldado cristão e português deve bastar- -Ihe esta glória:—a glória de representar nos cam- pos de batalha a linda terra da sua pátria, e de

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morrer por ela e pela 9ua honra. Pedi a Deus a coragem, para vencer tudo o que é deprimente e desonroso. As infidelidades contra a pátria come- tidas, por mais que a riquesa as doire, trazem sempre por baixo a desonra e o opróbrio. Sem la- lar, já se vê, no aguilhão da consciência, o re- morso, que só êsse basta para martirizar uma alma.

CAPÍTULO OITAVO

Os Santos Protectores.

Todo o homem, verdadeiramente cristão, de manhã na cama ao acordar, persigna-se, benze-so, elova o seu espírito a Deus, e recita as suas ora- ções do começo do dia.

Se esqueceste êste tão piedoso como salutar costume, relembra-o agora, soldado português, que mais do que nunca te é preciso hoje andar bem com a tua consciência o com Deus.

Se na vida sossegada e normal, a oração da manhã é de enorme eficácia espiritual; mais o é na vida agitada em que vais entrar.

Se é verdade que o perigo está onde está o homem, não é só um perigo mas muitos perigos, os que vão rodear-te, desde que sais do quartel para o campo de batalha, e daqui até regressares ao quartel.

O homem é um ente, em demazia, fraco de corpo e de espírito.

O braço cansa e o espírito vacila. Se a saúde é necessária para dar rijesa aos músculos; a paz da consciência é indispensável para dar fortaleza à alma.

Ora a paz e a tranquilidade da eonsciênoia humana está dependente do cumprimento de todos os deveres morais e espirituais.

Podes cumprir todos os regulamentos dos códigos, ter obediência respeitosa para com os teus superiores, cordealidade afectiva para os teus iguais e inferiores... mas se faltares aos teus deveres para com Deus, de pouco te servirá aquele teu procedimento. A nossa vida moral está tào intimamente ligada à nossa vida espiritual, que aquela sem esta, perde todo o seu merecimento e consideração. Os deveres- para com os nossos semelhantes, tem de ser pautados pelo cumpri- mento dos nossos deveres para com Deus.

Deus é o Generalíssimo do teu exército. E a primeira continência que tens de fazer-lhe pela manhã, é o Sinal da Cruz. E as homenagens que lhe deves, estão compreendidas nas orações que lhe deves dirigir.

Portanto, soldado cristão e português: Se pernoitares na tua tenda de campanha,

ao grito dos clarins tocando á alvorada, seja o teu primeiro pensamento para o Deus Eterno Senhor Deus dos Exércitos, de quem depende a vida do homem e a vitória das causas. E depois faz o que no leito da tua casa farias: —reza!

Se na trincheira, num posto de sentinela, numa emboscada, numa guarda avançada, o arrebol das madrugadas te surpreender vigilante, 110 cumprimento arriscadíssimo do teu dever, ergue os teus olhos para êsse clarão bemdito, tes- temunho esplendoroso do poder Criador, faze o teu acto de agradecimento a Deus, que ainda os teus olhos e o teu coração cheios de luz e de vida o podem ver e amar nas maravilhas da sua onipotência!

Se estiveres enfêrmo na ambulância, ou ferido e desamparado no campo da batalha, no fundo

de uma trincheira ou nas paredes de um reduto, reúne as forças que ainda te restarem, para o cumprimento dos teus deveres de cristão, implora a clemência divina e pede-lhe do mais íntimo da tua alma, que te conceda, na sua infinita miseri- córdia, a graça de viver, de ter saúde, para melhor cuidares depois dos assuntos da tua salvação, e para defender novamente os interesses sagrados da tua pátria.

Se aos teus ouvidos, nos derradeiros momen- tos da refrega, ecoarem os hinos triunfais da vitória, e por êsse motivo a alegria e o júbilo mais intenso invadirem o teu coração; não o esqueças, soldado cristão e português, agradece ao supremo Dador de todos êsses bens, a graça que às nossas armas concedeu.

Soldado! Na trincheira, na ambulância, na vida, na morte, na derrota, no triunfo, sempre Deus! Mas principalmente na hora da morte. Nesses instantes, tão tristes e tão dolorosos, é que se sabe e vê, quanto a oração é reconfortante! O soldado cristão, desenganado dos préstimos e socorros da sciencia, confiada e heroicamente espera o instante supremo. Não o aterra a sepul- tura, porque para êle é porta que se abro para a eternidade, sim, mas para a felicidade também. Dela jorram os clarões da alvorada celestial, que veem desfazer as negridôes da sepultura...

Hás-de ver muitas vezes, ao lado do teu gra- bato, no hospital de sangue para onde foste con- duzido, na hora primeira do teu sofrimento, algum dos teus camaradas, ferido como tu, e como tu, quem sabe? sem esperanças de regular a saúde. Se o observares, hás-de vê-lo revolver-se no leito, como se estivera num leito de fogo, gritar, blas- femar, insultar os homens e insultar a Deus, numa loucura que é um horror.

Êsse homem não tem fé, não sabe orar, não

conhece Deus nem acredita n'Ele. A idea do aniquilamento próximo, aterra-o. O nada em que êle crê, desvaira-o. A eternidade pavorosa que êle pressente cheia de mistério, nos sobressaltos da sua alma, desespera-o...

Diferente, muito diferente, é a agonia do sol- dado cristão. A sua fé duleifica-lhe os terríveis momentos. Invade-lhe a alma uma torrente de resignação. Suporta as dores físicas com paciência e coragem, e confiadamente espera a morte, que outra cousa não é para êle senão a grande liber- tadora ...

Quando presenceares aqueles horrores, lem- bra-te que êsse homem, mais que teu camarada o teu amigo, é teu irmão.

Ora por êle. Implora a misericórdia divina para a sua alma, que torturada pelos maiores horrores, bem comparecerá na presença de Deus...

Nós devemos a todos os grandes desgraçados, a caridade das nossas mais sinceras o mais senti- das orações.

Na sua infinita bondade ao criar o homem, Deus não o deixou abandonado e desamparado no mundo. Pelo contrário; deu-lhe um compa- nheiro inseparável, que dia e noite, a toda a hora, a todo o instante, vela por nós, com a amorável solicitude do mais desvelado amigo.

Esse companheiro, é o nosso Anjo da Guarda. Deus encarregou-o de vigiar os nossos passos,

de tomar nota das nossas acções, dos nossos pen- samentos e das nossas palavras.

Será êle no último juízo, a nossa testemunha de defesa, ou a nossa testemunha de acusação.

Durante a nossa vida inteira, do berço ao

ÍKI

túmulo, tein a seu cargo inspirar-nos, sugerir-nos o bem, a verdade, e desviar-nos da mentira, do mal.

As vezes, não se trava dentro de nós um grande combate? As hesitações do nosso proceder, não são uma prova dessa luta? Xão parece que dentro do nosso ser combatem dois poderes, am- bos fortes, ambos decididos?

Um a dizer-nos: faz isto; outro abradar-nos: não faças isso?

E nós sem sabermos porque optar, que cami- nho escolher!! *

Deus quer salvar-nos. 0 demónio quer per- der-nos. As tentações para a maldade, para a men- tira, para a injustiça, são sugestões dos maus an- jos, que como os bons, pelo poder do inferno, fo- ram encarregados de nos perder. A luta trava-so entre os dois, dentro da nossa alma, livre e sobe- rana, para dicidir como entender.

Quando o demónio vence e nós atraídos pe- las miragens do prazer, da riqueza, das honras e dignidades humanas, caimos na voragem, que essas coisas tão ricas e tão bolas encobrem, o Nosso Anjo da Guarda chora o nosso infurtunio e en- gano em que nos deixamos cair, a traição em que nos deixamos arrastar ...

Mas quando, despresamos todas as pérfidas sugestões, e resistimos a todos os desordenados impulsos; quando ouvimos os seus conselhos e seguirmos as suas indicações; o sacrifício em vez do prazer, a pobreza honesta, em vez do crime doirado, a humildade e a modéstia, em vez do or- gulho e da grandeza, a verdade e o bem, em vez da mentira e do mal... então o Nosso Anjo da Gnarda, sorri satisfeito, e o seu sorriso de anjo lança todo o júbilo espiritual possível dentro da nossa consciência.

Crê, soldado cristão e português! Deus não

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nos abandonou, sosinhos, no mundo. Nunca esta- mos sós, nunca andamos sós nunca dormimos sós: a nosso lado, velando-nos o sono, está o Anjo da Guarda. Num deserto, numa masmorra, num leito, estamos sempre acompanhados dêsse amigo invi- sível e santo, que sorri e se alegra com os praze- ros espirituais da nossa alma, e chora e se entris- tece com os desvios que faremos do caminho da probidade, da honra, da honestidade, da caridade, da verdade e do bem.

As ideas boas, generosas, caritativas, altruís- tas, são obras suas. É êle quem as inspira. E é ôle quem junto de Deus as valoriza. As más acções que estiveste a ponto de praticar, os maus dese- jos que eètiveste a ponto de conceber, as más pa- lavras, que estiveste a ponto de pronunciar, foi êle quem as impediu, variando o curso do teu en- tendimento e as inclinações do teu coração.

Deus quer a nossa salvação. Foi para isso «jue êle nasceu padeceu e morreu. Mas quere também a nossa liberdade. Somos nós quem es- colhemos e resolvemos entre os dois anjos, entre as duas sugestões, entre os dois impulsos, nessa luta formidável, que dentro do nosso espírito e do nosso coração a cada momento, se debate.

Não esqueças o teu Anjo da Guarda. Não o faças chorar, não o ofendas com o teu desprêso, ou com a tua indiferença, e segue as suas indica- ções, que êle te dá nos rebates da tua consciência, ou nos pressentimentos do teu coração.

Não sejas rápido no deliberar, nem precipi- pitado no proceder.

Espera o seu conselho, segue sempre a sua amorável sugestão. Êle está sempre ali, junto de ti; como outrora nos teus brinquedos de criança, êle assiste hoje, aos teus trabalhos de homem, aos teus serviços de soldado. Esteve a teu lado nos exercícios do teu regimento, como hoje o está,

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nos perigos das trincheiras, na audácia dos assal- tos e no fragor das escaramuças, e amanhã na es- tância dolorosa dos hospitais, como no dia se- guinte nos festejos gloriosos o triunfais da vitória.

Fácil mente se amedronta e atemoriza um ho- mem só. Trabalha e sofre e 'resiste com mais fa- cilidade um homem acompanhado. E nenhuma outra companhia melhor do que essa companhia divina que a nossa alma adivinha e entende, que o nosso coração sente junto de si, a animá-lo, a fortalecê-lo, a dirigi-lo.

Não o esqueças nunca. De manhã, ao lançar as correias e ao pegar na espingarda; durante o dia, nos trabalhos do teu mister e nas arremetidas contra o inimigo; e à noite ao regressar à tenda e no repousar da luta, lembra-te sempre dele.

Pede-lhe que te ajude a cumprir o teu dever, na abnegação da tua vida, no heróico sacrifício da tua morte.

Com êle, podes entrar ao mesmo tempo, na História como um herói e no Céu como um justo...

Sem êle, fraco, hesitante, medroso, facilmente serás um traidor, ou polo menos, um cobarde!

E invisível ? Mas basta que o sinta o conheça o teu coração.

* * *

Além dêste companheiro dedicadíssimo da tua alma e que a teu lado anda, na peregrinação dêste mundo, tens lá em cima no Céu um outro protector;

— E o santo do teu nome. Qual o teu nome, soldado cristão e por-

tuguês? — José, João, Francisco, António?

Pois lá tens a rogar por ti, S. José, S. João, S. Francisco, Santo António ...

Na hora do teu baptismo, deram-te o nome de um santo. E êsse santo, o teu protector.

Não há ninguém, pois, que não tenha um advogado no Céu. Até as naçpes, até as cidades, as vilas, as aldeias, até os logarejos mais pobres é modestos.

O padroeiro de Lisboa é S. Vicente. A pa- droeira de Portugal é a Imaculada Conceição. Coimbra, Santa Isabel; Pôrto, Nosso Senhor.

O padroeiro de Roma e S. Petersburgo é S. Pedro, de Loures, é S. Paulo, de Paris é Santa Genoveva, da França é Joana de Arc, etc., etc.

As vilas, aldeias e demais povoados, teem nas igrejas paroquiais e nas capelinhas e ermidas, o padroeiro privativo das suas devoções.

E famílias? Qual a família que não tem o seu santo protector?

Para uma é o Sagrado Coração de Jesus, para outra é o Sagrado Coração de Maria. Outras de- votam-se ao Santíssimo Sacramento, etc., etc.

E as artes e os ofícios? Nenhum há que não tenha também o seu santo protector: S. José, para os carpinteiros, S. Pedro para os pescadores e barqueiros, Santa Cecília para os músicos, Santo Humberto para os caçadores, S. Jorge, dos mili- tares. S. Luís Gonzaga, dos estudantes...

Já vês, pois, que nada ha que não tenha 110 Céu o seu advogado e intercessor. Desde as na- ções até às famílias, todos reconheceram que era necessário ter junto de Deus alguém que a sua causa advogasse nas ocasiões tantas vozes críticas da sua vida.

Tu também lá tens o teu. É o santo do teu nome. • Quando o vires representado por uma está-

tua, gravura, quadro ou painel, ollia-o com a

mesma amizade, com o mesmo. carinho, com que olhas o retrato de alguém da tua familia. .

As orações que resas, as missas que ouves, as esmolas que dás, as boas palavras que profe- res, tudo, o santo do teu nome, alegre e jubilosa- mente, vai apresentar junto de Deus...

As súplicas doloridas que saem da tua alma nas horas angustiadas da tua vida, é o santo do teu nome quem as leva solícito aos pés da Majes- tade infinita para que dos seus lábios divinos, caia, sobre a tua alma ulcerada, o bálsamo con- solador da graça e da misericórdia.

Não esqueças nunca o santo do teu nome, que é como se esquecesses uma pessoa querida da tua família.

Seja o dia que o calendário lhe assinala como homenagem da Igreja, para ti, um dia de festa, alegre e jubilosa, como o melhor dia da tua vida. Em alguns países da Europa os homens não fes- tejam o dia do seu nascimento, festejam o dia do santo do seu nome, que é o dia do seu baptismo, porque neste acto lhe deram o nome do santo do dia.

* * *

Tem pois, um grande respeito, uma grande veneração pelo santo, cujo nome trazes, e que deve evocar no teu espirito o varão santo e justo que a Igreja glorificou, apresentando-o nos seus altares á veneração e ao respeito dos seus fieis. Consagra-lhe, quando não puder ser mais, ao me- nos, um pensamento afectuosamente grato em cada dia.

J'oma a sua vida como exemplo, que para exemplo e modelo do nosso proceder, é que a Igreja no-lo apresentou,

S. Miguel

É desde a batalha de Aljubarrota, o defensor de Portugal. Foi ao grito de: S. Miguel! Por Por- tugal, que D. João i desbaratou os castelhanos, nessa formidável batalha, que ó, em toda a histó- ria portuguesa tão cheia de maravilhas guerrei- ras, uma das mais assinaladas. Em testemunho de gratidão, el-rei D. João i, ao reedificar o Cas- telo de Lisboa, deu-lhe o nome de Castelo de S. Jorge.

O entusiasmo que o nome dêste santo des- pertava era tanto, que os soldados corriam ao combate, com tanto ímpeto, que as fileiras inimi- gas, não lhe podiam sentir o impulso e rotas, dis- persas, empreendiam em breve o caminho da fuga, e iam chorar longe as lágrimas tristes e ver- gonhosas da derrota.

S. Jorge é também o padroeiro da Inglater- ra. e aos soldados de cavalaria mereceu sempre uma veneração especial.

Eu não sei se êsses longos oitenta anos de paz, em que, mercê de Deus, tem vivido o nosso país, terão feito esquecer às gerações militares que se tem sucedido, a tradicional devoção que o ele- mento militar consagrava ao santo Defensor de Portugal.

É muito provável que ninguém hoje se lem- bre da devoção que os nossos soldados de outrora, lho consagravam. Aqui há meia dúzia de anos, ainda a sua imagem, montada num soberbo ca- valo branco, seguido do seu escudeiro e prece- dido do seu estado, comparecia na procissão do Corpo de Deus, que em tempos mais antigos foi a mais faustosa procissão religiosa do país.

Hoje tudo isso acabou. E tu, soldado, cristão

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e português, há pouco entrado nas fileiras, nunca ouviste, certamente falar das façanhas que os teus antepassados, no campo de batalha produ- ziam ao grito guerreiro: Por S. Jorge.

Talvez que os soldados católicos ingleses, se- jam mais lembrados do padroeiro do seu pais, agora que estão envolvidos nessa tragédia sangui- nolenta, em que tu, por mal teu, talvez, vais to- mar parte.

Pois não o esqueças tu também. Que êle, lá do Céu, comunique à tua alma, ao teu coração, ao teu corpo, o vigor e a fòrça, que êle encontra nos bravos soldados portugueses de outros tempos, e que tanto os familiarizou com a vitória.

Não pode, é certo, repetir-se êsse brilhante ciclo histórico em que o nome português se en- grinaldou dos mais formosos louros; mas o que podo repetir-se nos campos de batalha onde vais entrar, é a mesma protecção desvelada e sobre- natural, que tanto se evidenciou nos combates do passado. Eles, os teus antepassados, caíam e mor- riam e venciam, ao som dêsse grito guerreiro, quando cimentavam com o seu sangue os alicer- ces da pátria. Hoje que correis a salvaguardar a honra do seu nome e a fé antiga das alianças e tratados, seja êsse também o vosso grito:

— Por S. Jorge! Por Portugal! Tu não és um mercenário que vai à guerra

por lucros e interêsses materiais. Vais por um de- ver patriótico, vais porque a pátria te ordena que vás. Pois a essa idea santa e altruísta, que te pede o sacrifício do teu sangue e da tua vida, junta a idea de que vais para a vitória guiado por S. Jorge, Defensor do Portugal.

CAPÍTULO NONO

A Virgem Santíssima.

Dentre as intercessões, que em horas de amar- gura podemos invocar em nosso auxílio, nenhu- ma é tão poderosa como a da Virgem Nossa Se- nhora. E campreende-se, Maria é Mãe de Deus, e Deus é seu filho. Tem, por isso todo o poder so- bre o seu coração. Tudo pede e tudo consegue. Deus nada lhe recusa... Qual é o filho que não atende os rogos de sua mãe?

A Virgem Santíssima é também nossa Mãe. E qual é a mãe que despreza e não ouve as

súplicas lacrimosas o sinceras de seu filho? Além disso é próprio Deus. quem nos acon-

selha a pedir-lhe por intercessão de Sua Mãe san- tíssima :

— «Pcdi-lhe, pedi a minha Mãe, porque não é possível rccusar-vos nada.» (')

Maria é a onipotência suplicante. Mãe de Deus para tudo alcançar. Mãe dos homens, para tudo conceder. A sua grandeza é a mão que se enche; a sua bondade é a mão que distribui.

(1) in Reg. II, 20. O LIVRO DO SOLDADO PORTUGUÊS 1

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Do alto da Cruz, antes de expirar, Nosso Se- nhor proferiu estas palavras:

«Mulher, eis vosso filho! Filho, eis aí vossa Mãe.*

Estas palavras, como as da instituição euca- rística, são criadoras. Ao pronunciá-las, Jesus Cristo criou em sua Mãe um coração maternal para nós. Desde esse instante, Nossa Senhora con- sidera-nos como filhos seus, que ela ama como ama a seu filho Jesus.

Já vês, soldado cristão e português, que tens a certeza de nunca invocar debalde, quando a chamas em teu socorro, contra todo o mal, em qualquer grau que êle porventura se manifeste. 0 mal apresenta-se-nos sobre três aspectos: — quan- do nos ameaça, é perigo. Quando se aproxima de nó3, e nós resistimos é combate. Quando emfim nos vence e subjuga, é a queda, é a morte.

Nossa Senhora, tal como a conhecemos na sua história através da humanidade, corresponde ótimamente a esta tríplice missão: Contra o pe- rigo protege-no8. No combate, anima-nos e alen- ta-nos. Na derrota, na queda, na morte, levanta- mos, ressuscita-nos.

Maria guarda os seus filhos do perigo, ampa- ra-os no combate.

Qualquer luta, seja qual fôr a sua natureza, vem do externo inimigo. Por toda a parte onde o inimigo aparece, Maria tem a missão de lhe pôr o pé virginal sôbre a cabeça. Maria é terrível para o inferno, Maria vence sempre seja qual fôr o campo de batalha, quer nos ensanguentados e carnais, quer nos campos de batalha invisíveis e silenciosos da consciência, a vitória pertence sem- pre àqueles que chamam Maria em seu socorro.

É isto o que afirmam e testemunham deslum- brantemente os inumeráveis ex-votos que adornam os santuários mais célebres, erguidos em honra

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da Santíssima Virgem, espadas e cruzes de lionra, oferecidas pelos soldados por ela salvos ou feitos vitoriosos nas várias guerras que tem ensanguen- tado o mundo.

Êsses gritos de reconhecimento, gravados sô- bre o mármore, uns; bordados em sêda e ouro, outros; estes modelados em cera, aqueles gravados em prata, aí estão a atestar à humanidade in- teira, a eficácia generosa da sua intercessão e a grandeza imensa dos seus benefícios...

* * *

Soldado cristão e português! Tu não podes deixar de ser um devoto dedicado da Santíssima Virgem, porque és filho de Portugal. E Maria é a padroeira da tua pátria!

Recusem-lhe os poderes públicos, na sua in- sânia, as homenagens oficiais da sua obediência e sujeição; tirem-lhe da cabeça a corôa destes reinos, que a filial piedade dos seus monarcas, respeitosamente lá colocou; quebre o sectarismo grosseiro as suas imagens; ponham em almoeda as suas jóias; expulsem-a dos seus templos, des- truam os seus altares... que apesar de tudo ela reinará sempre no coração dos portugueses, e os filhos bons de Portugal tê-la hão sempre como Rainha e Senhora sua!

Oito séculos de amor e de devoção, não se riscam assim, de repente, da alma de um povo. Portugal é e continuará sendo a nação fidelíssima, ajoelhada sempre aos pés da sua imortal padroeira, a confiar-lhe as máguas das suas formidáveis des- ditas, a pedir as bênçãos da sua amorável pro- tecção.

Soldado português! Os teus antepassados na glória das conquistas e na aventura dos descobri- mentos, quando era preciso correr o mundo des-

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conhecido, para lá arvorar, junto com o pendão da Cruz, o pendão das Quinas, os soldados de então, corriam cheios de valor o de coragem, por- que nunca deixavam de implorar o poderosíssimo auxílio da Virgem Mãe de Deus.

E ou fôsse no meio da refrega das batalhas ou no meio das tempestades do oceano, os seus olhos rãsos de lágrimas, mas esperançados, mas confiantes, erguiam-se para o céu, num apêlo comovido e sincero. Depois atiravam-se à luta por Deus e pela pátria, e voltavam sempre triun- fantes e vitoriosos.

Nunca se desmentiu êsse amor do soldado cristão e português. Parece que em invocando Nossa Senhora, sentia duplicar-se-lhe a coragem e audácia, e que nem todo o poder do mundo teria fôrças que o fizessem recuar! Foi assim, com esta confiança absoluta, com esta devoção permanente, que se fez Portugal, que cresceu e se desenvolveu Portugal e tanto e tanto, que de- pois de subjugar os mares e abrir à civilização os continentes, para demonstrar a sua fé e o seu reconhecimento pelo incontestável patrocínio do Maria, ergueu em sua honra êsses padrões glorio- sos, êsses monumentos admiráveis e formosíssimos onde a Arte e a Fé se abraçam num amplexo imortal.

Quererás tu, soldado cristão e português, desmentir essa tradição secular, que tanto eno- brece a alma do soldado lusitano? Quererás ir para a guerra, andar na guerra e voltar da guerra, sem que dos teus lábios saia uma.prece, sem que do teu coração sáia uma siiplica Aquela que é e será sempre a mãe dos portugueses, a padroeira de Portugal?

Não vês como todas as classes, todas as con- dições, todos os indivíduos, se aproximam dos seus altares quando receiam algum perigo, quando

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teem alguma dôr moral ou sofreram alguma des- graça pungentíssima ?

Não criam relva os caminhos que conduzem aos templos de Maria . ..

Ora ouve:

* * *

—Pobre mendigo que passas, esmolando de porta em porta o pão da tua vida, para onde vais agora?

— Vou fazer a minha reza da manhã aos pés do-Nossa Senhora. Assim faço todos os dias, e desde que o faço encontro mais caridade, mais comisera- ção e piedade nos olhos e nas palavras daqueles a quem estendo a mão. Aleijei-me nos trabalhos do uma pedreira. Por ter gritado: Valha-me Nossa Se- nhora! no momento do desastre, fui eu o único que fiquei com vida, de cinco que comigo andavam. Tenho para com Ela uma dívida de agradecimento; vou-a pagando todos os dias. Mas são tantos os seus favores divinos que cada vez fico a dever mais ...

—Bemdito sejas, mendigo, ■porque confiaste cm Maria.

E tu, soldado, donde vens? —Venho do visitar a minha Mãe do Céu ...

Estava eu no meu pôsto, em frente do inimigo, no campo de batalha. Preparo a minha arma, e encomendo-mo a Nossa Senhora . ..

Começa o fogo, violento, atroador. Os meus camaradas vão caindo, um por um, ao redor de mim ... Fico eu sósinho no meu pôsto ... A bata- lha continua... há sangue por toda a parte; eu mesmo estou todo ensanguentado! Há cadáveres aos montões: é de cima deles que eu combato. Noite fora acaba a luta, e eu sinto-me ileso, nem uma ferida, nem o roçar de uma bala... E eis o motivo porque venho e de onde venho.

102

— Então mesmo combatendo te lembravas de Nossa Senhora?

— Tive-a sempre no meu pensamento e 110 meu coração.

— Bemdito sejas, bom soldado, porque con- fiaste em Maria.

* * *

— E donde vens tu, rapariguinha, tão pálida e descorada?

—Ah! Tenho estado muito doente. Há tem- pos para cá, sentia que pouco e pouco a vida se me ia extinguindo... Um dia os médicos rodea- ram o meu leito, minha mão ansiosa o enterne- cida íita-os inquieta:

—Ao cair da fôlha... disseram, quási em segredo.

Morrer, tão jovem, eu! E nesse momento fiz a promessa de visitar em peregrinação a Santís- sima Virgem, se eu visse vestirem-se de fòlhas novas, as árvores do campo... As folhas novas bro- taram já, já as vi. .. e vim cumprir a promessa.

— Bemdita sejas tu, jovem piedosa, porque tiveste fé cm Maria.

* * *

—Mãe alegre, mãe feliz, donde vens? —Eu tinha um filho único, que foi chamado

às fileiras do exército. O que eu chorei, o que eu sofri! A sua ausência foi um prolongado tormento para o meu coração. Só tinha alegria quando recebia carta sua. As vezes demoravam-se o então os meus olhos eram duas fontes de lágrimas.. . Quantas vezes supus que o não tornaria a ver, que teria morrido por lá... Uma coisa apenas me consolava: — eu tinha-o encomendado à ^ ir- gem Nossa Senhora, no instante em que dêle mo apartei... Voltou hoje o meu querido filho ...

Foi a Santa Virgem quem mo guardou... Venho ao seu templo, agradecer a sua protecção ...

— Beindita sejas, mãe crente e piedosa, que tiveste confiança em Maria.

# * *

— E tu, bom velho, donde vens? — Há setenta e um anos que passo por este

caminho. Minha mãe, que Deus tenha em sua santa glória, tinha grande devoção à Virgem Nos- sa Senhora; criança ainda, eu acompanhava-a sem- pre. Na hora da sua morte — tinha eu dezanove anos — chamou-me à beira do seu leito de agonia e disse-me:

— «Uma coisa quero recomendar-te, meu fi- lho: é quo nunca esqueças Nossa Senhora».— Agora ando com muita dificuldade, o caminho é já comprido de mais para mim... Talvez seja esta a minha última viagem ... E vim visitar, vim despedir-me de Nossa Senhora ...

— Bemdito sejas, bom velho. Maria é a Pa- droeira da boa morte... Ela te conduzirá à paz do Senhor.

* * *

Vês, soldado cristão e português ? Todas as ida- des, todas as condições procuram a Virgem Mãe de Deus, ora para lhe pedirem auxílio, protecção, am- paro, ora para lhe agradecer as graças recebidas.

Dirige tu também para a Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, os teus olhos e o teu coração. Confia na sua protecção misericordiosa, e seja onde fôr que estiveres, na caserna, na trincheira, no exílio ou no hospital, dirige-lhe as tuas súpli- cas, que se o fizeres de alma pura e coração sin- cero, nunca Ela te faltará com o seu patrocínio.

— Bemdito seja o que tiver fé e confiança em Maria.

CAPÍTULO DÉCIMO

As orações do soldado.

I

Quando os clarins anunciarem a alvorada na caserna, nas trincheiras, ou nas ambulâncias, seja o teu primeiro pensamento, soldado, e a tua pri- meira palavra para Deus. Faze o Sinal da Cruz, que o compêndio, o resumo de todas as verdades santas da religião é, ao mesmo tempo, arma pode- rosa contra todos os inimigos da tua alma.

—Pelo sinal da Santa f Cruz, livre-nos Deus Nosso + Senhor dos Nossos t inimigos. Em Nome do Padre e do Filho e do Espirito Santo.

* * *

Dize, em seguida, o Padre Nosso. Esta oração- zinlia é de todas a melhor c mais excelente. Foi Nosso Senhor quem a fez e ensinou, um dia em que os seus discípulos lhe pediram que os ensi- nasse a orar. É pequenina, leva, quando muito, trinta segundos a dizer.

PADRE NOSSO

Padre nosso. que estais nos Ceits. santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje. Pcrdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Xilo nos deixes cair em tentaçilo; mas li- vrai-nos de todo o mal. Amcn.

AVÈ MA1UA

Avè Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, hemdita sois vós entre as mulheres, bemdito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amen.

Esta oração é"muito do agrado de Nossa Se- nhora, pois que é a repetição da saudação que o mensageiro divino lhe fez, quando lho anunciou que ela daria ã luz o Redentor do mundo, o a saudação não menos jubilosa de sua prima Santa Isabel.

Todos os cristãos põem nestas orações o má- ximo da sua fé e confiança. 0 soldado português, cristão também, deve recitá-las, com a mais cari- nhosa devoção, porque elas dão à alma alentos divinos, fortalecem o coração, e mais intrepidez ao ânimo, na ocasião de perigosos cometimentos.

* * ♦

Se de manhã, ao meio dia ou á noitinha, por entre o crepitar da fuzilaria, ou no meio do es- trondear dos canhões, ouvires, vindas de algum campanário distante, as badaladas das Avè Marias, poético e delicioso costume de velhos tempos se- guido, em quási todo o mundo católico, se pude- res, descobre-te e diz:

«O Anjo do Senhor anunciou Maria e Ela concebeu por virtude do Espirito Santo. —Ar? Maria ...

— Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mini. segundo a vossa palavra. — Art* Maria .. .

— O Verbo divino encarnou e habitou entre nós. — .1 v? Maria .. .

— llogai por nós, Santa Mãe de I>eus. — Para que sejamos dignos das jiromtssas dc Cristo.

A meti.* OREMOS

Infundi. Senhor, nós vos suplicamos, a vossa graça, para que nós, que pela anunciação do Anjo, conhecemos c veneramos a Incarnação de vosso Filho, Jesus Cristo, pela sua Paixão e Morte na Cruz, sejamos conduzidos à gloria da Ressurreição. Pelo mesmo Jesus Cristo Senhor nosso. Amon.

* * * Recolhido à tua tenda de campanha, depois

da luta e dos trabalhos fatigantes do dia, para o escasso repouso que as circunstâncias te permi- tem, eleva o teu pensamento a Deus e diz-lhe esta

ORAÇÃO Meu Deus! Abençoai o repouso a que vou. durante

algumas horas, entregar-nie para reparar as minhas forças, afim de poder continuar a servir a vossa causa e a causa da minha pátria com dedicação e amor. Guardai a minha vida em todo o dia de hoje, Senhor. E a vós a quem devo esta graça. Guardai-a também durante esta noite e o dia de amanhã, para que eu possa desempenhar e cumprir como desejo os serviços que me forem incumbidos.

Virgem puríssima, doce esperança da minha alma, glorioso Patriarca S. José, ouvi a minha prece e dignai-vos proteger-me durante a noite, cm todos os dias da minha vida e na hora suprema da minha morte. Amen.

$ * *

Ao Anjo da Guarda.

ORAÇÃO Anjo do Senhor, piedoso e fiel guarda da minha alma

iluminai-me, defendei-me, guiai-me.

107

* * *

Ao sair da tua tenda, pronto e preparado para marchar, nunca te esqueças dêsse teu compa- nheiro divino, que solícito te acompanha, para a trin- cheira, para o assalto, para a morte, para a glória.

Mesmo no meio do fogo, no silêncio das em- boscadas, na atalaia das sentinelas, tem para êle, que ali está junto do ti, um pensamento afectuoso, uma palavra de confiança e de gratidão.

* * *

Ao Santo do teu nome.

A vós me entrego, como a protector desvelado, que sois dos que na terra usam um nome igual ao vosso. Fos- tes-me dado como padroeiro da minha pessoa e da minha vida, na hora santa do meu baptismo. Pedi a Deus a sua misericórdia c a sua graça para êste vosso servo, mísero e indigno pecador, que sem o vosso auxílio e protecção não saberá manter-se na linha do dever e do sacrifício. Alcan- çai-me de Deus a força para bem servir a sua causa e a minha pátria, com honra para ela e para mim. E se eu mor- rer na batalha ou nos combates deste dia, intercedei pela minha alma afim de que a misericórdia divina a encha das suas graças e benefícios.

* * *

A Nossa Senhora.

Lembrai-vos, ó puríssima Virgem, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que teem recorrido à vossa pro- tecção, implorado o vosso auxílio e reclamado o vosso so- corro, fôsse por Vós desamparado.

Animado, eu, pois, com igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mão recorro. Em Vós confio e gemendo sob o pêso dos meus pecados, me prostro aos vos- sos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãi do Filho de Deus humanado; mas dignai-vos ouvi-las propícia e de me alcançar o que vos rogo. Amen.

(100 dias de indulgências).

108

* * *

A S. José. ORAÇÃO

Oli! meu Deus, que com inefável providência Vos di- gnastes escolher a S. José para Esposo de vossa Santa Mãe: eu vos suplico que façais que assim como nós o ve- neramos como nosso protector na terra, assim êle seja nosso intercessor no Céu. Senhor, que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amen.

II

A Missa.

Oxalá seja ouvida pelos poderes do Estado a eloquentíssima reclamação que lhos foi feita pelo Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca, em nome da consciência católica do país, para que as tropas expedicionárias fossem acompanhadas de ca- pelães militares ou de quaisquer outros sacerdotes, aprovados, de tantos que para isso se tem gene- rosamente oferecido.

Oxalá. Que o padro por ninguém pode ser substituído naquelas horas tremendas em que a vida, suspensa por um débil fio, está mais que nunca prestes a perder-se.

Eu não sei se o sectarismo, que tantos e tão profundos males tem causado a êste pais, deixará morrer como cães, nos campos da'batalha, não lhes facultando os socorros espirituais que a ne- nhum moribundo se podem nem devem negar, os fi- lhos desta pátria querida, que por ela, pelo seu bom nome, pela sua honra, vão, em plagas dis- tantes, nossas e alheias, derramar o seu sangue o sacrificar a sua vida.

Não sei. A consciência do soldado cristão, os seus direitos, as suas necessidades, as suas espe- ranças, foram tão eloquentemente advogadas, que

109

será preciso uma grande audácia, ou uma grande inépcia, para passar por cima dela e responder às suas justíssimas considerações, com um Não! teimoso e arrogante, que ficaria como um estigma maldito sobro a consciência e o carácter de quem o presenciasse.

Fio em que o sectarismo recuará. Mas quer êle ouça quer não, eu quero dei-

xar-te aqui, soldado cristão e português, não a maneira de te desempenhares da obrigação domi- nical de ouvir missa, porque isso é impossível, mas de aos domingos, em que por ventura o possas fazer, alongando os olhos do teu espírito até à humilde igreja da tua paróquia, assistires espiritualmente ao Santo Sacrifício, guiando-te pelas orações da Missa do dia de Corpus Cristi, que em português te vou apresentar:

Sacerdote—Em nomo do Padre e do Filho e do Espí- rito Santo. Amen. Entrei até ao altar de Deus.

Ajudante—Até junto de Deus que alegra a minha ju- ventude.

Sacerdote — Julgai-me, meu Deus. e reparai a minha eausa. detendei-me contra um povo ímpio, tirai-me das mãos do homem iníquo-c enganador.

'Ajudante—Porque vós sois a minha fôrça, ó meu Deus; porque me repeliste? — e porque ando triste, quando me aflige o meu inimigo ?

Sacerdote—Enviai sobre mim a vossa luz e a vossa verdade, elas me conduzirão e me levarão ao vosso santo monte e aos vossos tabernáculos.

Ajudante—Entrarei até ao altar de Deus, ao Deus que alegra a minha mocidade.

Sacerdote—Eu cantarei os vossos louvores, ó Deus, meu Deus, na citara; porque estás triste, alma minha e porque me perturbas?

Ajudante—Espera em Deus; porque cu ainda tenho de o louvar, é êle a minha salvação e o meu Deus.

Sacerdote— Glória ao padre c ao Filho e ao Espírito Santo.

Ajudante—Como era no princípio o agora o sempre, em todos os séculos dos séculos. Amen.

Sacerdote—Eu entrarei até ao altar do Senhor.

110

Ajudante—Até junto de Deus que alegra a minha ju- ventude.

Sacerdote—O vosso socorro está no nome do Senhor. Ajudante—Que fez o Céu e a terra.

(0 Sacerdote diz a confissão e o ajudante responde) Ajudante— Que o Deus onipotente tenha piedade de

vós e que depois de vos ter perdoado os vossos pecados, nos conduza à vida eterna.

Sacerdote—Eu pecador me confesso, a Deus, Padre todo Poderoso, à Bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado S. Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado S. João Baptista, aos Santos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, a todos os santos e a vós, Padre, que eu pequei muitas vezes, por pensamentos, palavras e obras, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Por tanto peço e rogo à Bem- -aventurada sempro Virgem Maria, ao bem-aventurado S. Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado S. João Baptista, aos Santos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, a todos os santos e a vós Padre, que rogueis por mim a Deus Nosso Senhor.

Sacerdote—Que o Deus Todo poderoso, tenha piedade de vós, e que depois de ter-vos perdoado os vossos peca- dos, vos conduza à vida eterna.

Ajudanle—Amon. .Sacerdote—Que o Deus onipotente e misericordioso

nos conceda o perdão, a absolvição e a remissão dos nos- sos pecados.

Ajudante—Amen. Sacerdote—Meu Deus, voltai-nos para nós e vivificar-

nos heis. Ajudante— E o vosso povo rejubilará convosco. .Sacerdote—Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia. Ajudante—Dai-nos a vossa salvação. Sacerdote—Senhor, ouvi a minha oração. Ajudante—E o meu clamor chegue até vós. Sacerdote—O Senhor seja convosco. Ajudante—E com o vosso espírito.

(0 sacerdote sobe ao altar) Sacerdote—Apagai em nós, Senhor, nós vo-lo rogamos,

as nossas iniquidades, afim de que mereçamos aproximar- -nos do Santo dos Santos, com um coração puro. Por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Assim seja.

(Beijando o altar) Nós vos rogamos. Senhor, pelos merecimentos dos

vossos Santos, cujas relíquias aqui estão (beija o altar) e

Ill

pelos méritos de todos os Santos, vos digneis perdoar-me todos os meus pecados. Assim seja.

INTRÓITO

Tu, Senhor, nos sustentas com riquíssimo trigo, e nos sacias com o mel que distilam tuas feridas. Regosijai-vos, louvando a Deus -nosso protector; celebrai com júbilo o Deus de Jacob.

Glória ao Padre, etc... Tu, Senhor, nos sustentas com riquíssimo trigo, e nos sacias com o mel das tuas feridas.

KYRIES

Senhor, tende misericórdia dc nós, (três vezes). Senhor, tende misericórdia de nós, (três vezes). Senhor, tende misericórdia de nós, (três vezes).

OLÓRlA

Glória a Deus nas alturas, e na terra paz aos homens de boa vontade. Nós vos louvamos. Nós vos bem dizemos. Nós vos adoramos. Nós vos glorificamos. Graças vos ren- demos por causa da vossa grande glória Senhor Deus. Rei do Céu. Deus Padre Onipotonte, Senhor Filho Unigénito. Jesus Cristo, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho do Pai. Vós que apagais os pecados do inundo, recebei a nossa ora- ção. Vós que estais assentado à direita do Pai, tende pie- dade de nós. Porque só vós sois santo, o único Senhor. Só vós sois o único Altíssimo, ó Jesus Cristo, com o Espírito Santo, na glória de Deus Padre. Assim seja.

Sacerdote—O Senhor seja convosco. Ajudante—E com o vosso espírito.

orações

Ao Santíssimo Sacramento.—Oremos. Deus, que debai- xo do admirável sacramento nos deixaste uma recordação da vossa Paixão; concedei-nos. nós vo-lo rogamos, que ve- neremos de tal modo os sagrados mistérios do vosso Cor- po e Sangue, que sintamos continuamente era nossas al- mas o fruto da vossa Redenção, Senhor que como Deus, viveis o reinais com Deus Padre, em unidade do Espírito Santo, .por todos os séculos dos séculos. Amen.

à Santíssima Virgem.—Oremos. Concedei-nos, por fa- vor, Senhor Deus, que nós, vossos servos, gozemos da con- tinua saúde da alma o do corpo; e pela gloriosa intercossão da Bem-aventurada Virgem Maria, sejamos livres das triste- zas da vida presente e disfrutamos as alegrias da vida eterna.

112

* * *

Para pedir a intercessão dos Santos.—Nós vos rogamos, Senhor que nos defendais de todos os perigos da alma e do corpo. E por intercessão da Bem-aventurada e gloriosa sem- pre Virgem Mãe de Deus, Maria, com o Bem-aventurado S. José, os vossos bem-aventurados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, e todos os Santos, dai-nos benignamente, saúde e paz, para que destruídas todas as adversidades e erros, a vossa Igreja vos sirva com segura liberdade. Pelo mesmo Senhor nosso, Jesus Cristo, vosso Filho, que como Deus vive e reina convosco, em unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

Ajudante— Amen.

epístola Leitura da Epístola de S. Paulo aos Coríntios

(I Cor. xi)

Irmãos: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei a vós que o Senhor Jesus na noite em que foi entregue, tomou o pão e dando graças o partiu o disse: Tomai e comei: êste é meu corpo que será entregue por amor de vós. Fazei isto em memória de mim. E da mesma maneira, depois de haver ceado, tomou também o cálix di- zendo : Este Cálix é o novo testamento no meu sangue. Fa-' zei isto em memória de mim todas as vezes que o beber- des. Porque todas as vezes que comerdes êste pão, e be- berdes êste Cálix, anunciareis a morte do Senhor, até que êle venha. Portanto, todo aquele que comer êste pão ou beber o Cálix do Senhor indignamente, será réu do Corpo c do Sangue do Senhor. Examine-se, pois, a si mesmo o homem; e então coma dÔ6te pão e beba dêste cálix. Por- que aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação:—não discernindo o corpo do Senhor.

Ajudante—Dêmos graças a Deus.

GRADUAL (Ps.' cxnv). Em vós, senhor, fixam os seus olhos,

todas as criaturas, esperando socorro. Vós dais-lhe a um tempo, o alimento próprio. Abri as vossas mãos, e enchei de benção a todos os viventes. Aleluia. Aleluia. (Joan, vi) A minha carne, verdadeiramente é comida e o meu sangue, verdadeiramente é bebido; o que come a minha carne e bebe o ineu sangue, vive em mim e eu nele. Aleluia.

EVANGELHO Ao meio do altar, emquanto se muda o Missal o sa-

cerdote diz a seguinte oração: Purificai o meu coração e os meus lábios, ó Deus Todo

Poderoso, que purificastes os lábios do profeta Isaías com um carvão ardente; dignaivos, por vossa misericórdia, pu- rifiear-me de tal modo que possa dignamente anunciar o o vosso Santo Evangelho.

Por Cristo, Nosso Senhor. Amen. Dai-me. Senhor, a vossa benção. O Senhor esteja no

meu coração e nos meus lábios, afim de que anuncie di- gnamente o seu Evangelho. Amen.

Sacerdote O Senhor seja convosco. Ajudante E com o teu espírito. Saceidote Continuação do Santo Evangelho segundo

S. João. Ajudante- Glória a ti, Senhor. Sacerdote—Naquele tempo: Disse Jesus à multidão dos

judeus: A minha carne verdadeiramente é comida, e o meu

sangue verdadeiramente é bebido. 0 que come a minha carne e bebe o meu sangue mora em mim e eu vivo nele. Assim como o Pai que me enviou, vive e eu vivo poro Pai: assim quem me come, também viverá nele por mim. Não lhe sucederá como a vossos pais que comeram o maná e não obstante morreram. O que como êste pão viverá eter- namente.

Ajudante—Louvores a vós, Jesus Cristo. Sacerdote— Pelas palavras dêste Evangelho, sejam apa-

gados os vossos pecados. CREDO

Creio em um só Deus Todo-Poderoso, que fez o Céu e a terra o todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus, nascido do Pai, antes de todos os séculos. Deus de Deus, luz de luz, verdadeiro Deus, de verdadeiro Deus; gerado e não feito; consubstancial a seu Pai e por quem tudo foi feito; que desceu do céu por amor de nós e por causa da nossa salva- ção ; que encarnou por operação do Espírito Santo no seio da Virgem Maria c se fez homem, foi por nós crucificado; sob Poncio Pilatos, sofreu a morte e foi sepultado; creio que ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras; subiu ao Céu e está sentado à mão direita de seu Pai, que há-de vir ainda uma vez, com grande glória, para julgar os vivos e os mortos e que o seu reino não terá fim. Também creio no Espírito Santo, Sonhor e vivificador, que procede do

o LIVnO 1)0 SOLDADO PORTUGUÊS 8

Pai e do Filho, que é adorado e glorificado com o Pai e com o Filho e que falou pelos Profetas. Creio que a Igreja é uma, santa, católica e apostólica. Eu confesso que há um baptismo para a remissão dos pecados; e espero a ressurrei- ção dos mortos e a vida do século que há-de vir. Assim seja.

Sacerdote— O Senhor seja convosco. Ajudante—E com o teu espírito.

OFERTÓRIO

Oremos: (Levit, xxi). Os sacerdotes do Senhor ofere- cem a Deus incenso e pães: e portanto conservar--se hão com santidade para com o seu Deus, e não profanarão o seu nome.

Tomando a patena com a Hóstia, diz:

— Recebei, ó padre Santo, Deus Todo Poderoso o eterno, esta Hóstia imaculada, que cu, indigno servo vosso, ofereço a Vós que sois o meu Deus vivo e verdadeiro, pelos meus inumeráveis pecados, ofensas e negligências, e por todos os que aqui estão presentes, e também por todos os fieis cristãos vivos e defuntos; para que a mim e a êles seja de proveito para a salvação da vida eterna. Amen.

Benzendo a água que há-de misturar com o vinho, diz:

— O' Deus que maravilhosamente formastes a digni- dade da humana natureza e mais maravilhosamente a re- formastes; concedei-nos pelo mistério de misturar esta água e vinho, que sejamos participantes da divindade de Aquele, que se dignou participar do nossa humanidade, Jesus Cristo, Filho vosso e Senhor nosso, que como Deus, vive e reina convosco, na unidade do Espirito Santo; por todos os séculos dos séculos. Amen.

Ao oferecer o Cálix, diz:

—Oferecemos-vos, Senhor o cálix da salvação, implo- rando a vossa clemência, para que suba com suave fra- grância' até a presença de Vossa Divina Majestade, pela nossa salvação e pela de todo o mundo.

Inclinado, continua:

— Recebei-nos Senhor, pois a Vós nos apresentamos de espírito humilhado e coração contrito; e o sacrifício que nós hoje vos oferecemos, ó Sonhor Deus, chegue à vossa presença de maneira que vos seja agradável.

A kençõa o pão e o vinho que oferece:

—Vinde, ó Deus santificador. Todo Poderoso e eterno; e abençoai êste sacrifício, para glória do vosso santo nome.

E passando para o lado da epístola, em quanto lava e enxuga as mãos, esta parte do Psahno XXF;

—Lavarei as minhas mãos entre os inocentes e ro- dearei, 6 Senhor, o vosso Altar.

Para ouvir as vozes dos vossos louvores e contar to- das as vossas maravilhas.

Senhor, eu tenho amado a formosura da vossa casa, e o lugar onde reside a vossa glória.

Não percas, ó Deus, com os ímpios, a minha alma nem com os homens sanguinários a minha vida.

Cujas mãos estão cheias de iniquidades e cuja dextra está cheia de subornos.

Porque eu andei na minha inocência; resgata-me e tem compaixão de mim.

O meu pé esteve firme no caminho direito. O' Senhor, eu cantarei os teus louvores nas reuniões dos fieis.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espirito Santo. Como era no principio é agora e sempre e em todos

os séculos dos séculos. Amen.

Inclinado ao meio do altar, continua:

Recebei, ó Trindade Santa, esta oblação que vos apre- sentamos, cm memória da Paixão, da Ressurreição e da Ascensão de Nosso Senhor .lesus Cristo c em honra da bem-aventurada Maria sempre Virgem, de S. João Baptista e dos Apóstolos Pedro e Paulo, dêste e de todos os outros santos, afim de que ela sirva para procurar a êlos a glória e a nós a salvação; o que aqueles cuja memória honramos sôbre a terra, se dignem interceder por nós no Céu. Pelo mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor Amen.

ORATE FRATRES

Voltando-se para o povo, diz:

Orai meus irmãos; a fim de que o meu sacrifício, que é também o vosso, seja agradável a Deus Todo Poderoso.

E o ajudante responde:

—Que o Senhor receba de vossas mãos êste sacrifício,

em honra e glória do seu nome e também para utilidade nossa e para a de toda a sua santa Igreja.

Sacerdote em voz baixa. Amen.

SECRETAS

Ao Santíssimo Sacramento: Nós vos suplicamos, Senhor que propício, concedais

à vossa Igreja os bens da unidade e da paz que sob os dons que oferecemos, estejam misticamente representados. Por Nosso Senhor .Tesus Cristo, Vosso Filho, que como Deus vive e reina convosco em unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amen.

A Santíssima Virgem: Pela vossa benignidade e pela intercessão da bem-

aventurada sempre Virgem Maria, de proveito nos seja esta oblação pela prosperidade e paz assim perpétua como pre- sente.

Pela intercessão dos Santos: Ouvi-nos, ó Deus Salvador, para que pela virtude

dêste sacramento nos defendais de todos os inimigos da alma e do corpo, dando-nos a vossa graça na presente vida. e a vossa glória na outra. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que como Deus vive e reina, convosco em unidade do Es- pírito Santo.

Sacerdote—Por todos os séculos dos séculos. Ajuda n te—Amen. Sacerdote—O Senhor seja convosco. Ajudante—E com o teu espírito. Sacerdote—Elevai os vossos corações. Ajudante—Já os elevamos para o Senhor. Sacerdote—Dêmos graças a Deus, nosso Senhor. Ajudante—Digno e justo é. Sacerdote.—Verdadeiramente é digno o justo, devido e

salutar, em todo o tempo e lugar, render-vos graças, ó Senhor Santo. Padre Todo Poderoso, Deus eterno, pelo Cristo Nosso Senhor. Pois pelo mistério da Encarnação do Verbo, brilhou aos olhos da nossa alma um novo resplen- dor da nossa glória; para que conhecendo a Deus em forma visível sejamos atraídos por Ele ao amor das cousas invisí- veis. E portanto com os Anjos e Arcanjos, com os Tronos e Dominações c com toda a milícia do exército Celestial cantamos um hino á vossa glória, dizendo sem cessar:—

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Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos Exércitos. Cheios es- tão os céus e a terra da tua glória. Hossana, nas alturas. Bemdito seja o que vein em nomo do Senhor. Hossana, nas alturas.

CANON DA. MISSA Rogamos-vos e pedimos-vos, humildemente, ó Pai cle-

mentíssimo, por Nosso Senhor Jesus Cristo," Vosso Filho, que vos digneis aceitar e abençoar estes dons, estes presentes, estes rp santos e puros sacrifícios, que nós vos oferecemos, em primeiro lugar pela vossa santa Igreja Ca- tólica, para que vos digneis dar-lhe pa/,, guardá-la, conser- vá-la em toda a redondeza da terra, juntamente com o vosso servo o nosso Santo Padre o Papa Bento, o nosso Prelado N. o por todos aqueles cuja crença é ortodoxa e que seguem com fidelidade a fé católica e apostólica.

COMEMORAÇÃO PELOS VIVOS Recordai-vos, Senhor dos vossos servos e das vossas

servas N. e N. (0 Sacerdote juntti as mãos e pede o que parti- cularmente deseja alcançar, depois prossegue:)—o de todos os que estão aqui presentes, cuja fé e devoção, vos são conhe- cidas, pelos quais vos oferecemos, ou êles mesmos vos ofe- recem êste sacrifício de louvor, por si e por todos os seus, pela redenção das suas almas, pela esperança da sua sal- vação. e rendem os seus votos, a Vós Deus Eterno vivo o verdadeiro.

1NFRA-A0ÇÃ0 Unidos na mesma comunhão, e venerando a memória

em primeiro lugar da gloriosa sempre Virgem liaria, Mão de Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor; e também dos nos- sos bem-aventurados Apóstolos e Mártires Pedro e Paulo, André o Tiago, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Simão e Tadeu, Lino, Cleto, Clemente Sexto, Cornélio, Cipriano, Lourenço, Crisógono, João e Paulo, Cosme e Damião e de todos os vossos Santos, pelos seus merecimentos e rogos, vos supli- camos nos concedais, que em todas as cousas o auxílio da vossa protecção nos defenda. Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amen.

Tendo as mãos estendidas sobre a Oblata, diz:—Nós vos rogamos, Senhor, que recebais propício esta oferenda da nossa servidão e de toda a nossa família e nos concedais a nossa paz durante os nossos dias e nos livreis da condena- ção eterna e nos conteis em o número dos vossos escolhi- dos. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amen.

A qual oblação vos rogamos, ó Dues I vos digneis fa-

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zê-la em tudo bem>5<dita, o dedi lacada e apro^vada, rasoável e agradável a fim de que se converta para nós no Cor►£< po e no San^tgue do teu dilectíssimo Filho,Nosso Senhor Jesus Cristo.

CONSAGRAÇÃO

O qual, na véspera da sua Paixão, tomou o pão em suas santas o veneráveis mãos, e levantando os olhos ao céu, a Vós Deus Padre Onipotente, dando-Vos graças o aben çoou, partiu e deu-o aos seus discípulos dizendo: Tomai e comei todos dêle. Porque êste é o meu corpo.

Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou tam- bém êste excelente Cálix, em suas santas e veneráveis mãos, dando-vos igualmente graças o aben ^ çoou e deu a seus discípulos, dizendo:

—Tomai e bebei dêle, todos. Porque êste é o Cálix do meu Sangue do Xovo e eterno Testamento: (Mistério de fé) que será derramado por nós e por muitos, para a remissão dos pecados. Todas as vezes que fizerdes estas coisas as fareis em minha memória.

Por tanto, Senhor, nós, teus servos e teu povo santo, recordando-nos da bem-aventurada Paixão do mesmo Jesus Cristo Filho Vosso Nosso Senhor e da sua Ressurreição de entre os mortos, como também da sua gloriosa Ascenção aos céus, oferecemos à Vossa suprema Majestade, dos vos- sos mesmos dons e dávidas esta >í< Hóstia pura, Hóstia »í< Santa, Hóstia >í< imaculada. Pão Santo de vida eterna e Cálix de perpétua salvação.

Cujos dons, dignai-vos olhá-los, propício e sereno, e aceitá-los como Vos dignastes aceitar os dons do justo Abel, vosso servo, e o sacrifício do vosso Patriarca Abraão c o que vos ofereceu o Vosso sumo sacerdote Melchizedoc, sacrifício santo, hóstia imaculada.

Humildemente vos rogamos, ó Deus onipotente, que ordeneis que por mão do vosso Santo Anjo sejam levados estes dons ao vosso sublime Altar diante de Vossa Divina Majestade; para todos quantos (Jbeij a o altar) comunguem nes- te altar, recebamos o sacrosanto Cor po e o San>í<gue de Vosso Filho, sejamos cheios de todas as bênçãos e graças celestiais. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Amen.

COMEMORAÇÃO PELOS DEFUNTOS Lembrai-vos também, Senhor, dos vossos servos e das

vossas servas N. e N. que nos precederam com o sinal da fé, o dormem o sono da paz. A estes, Senhor, e a todos os que descansam em Jesus Cristo, vos rogamos que concedais o lugar do refrigério da luz e da paz. Pelo mesmo Jesus

Cristo Nosso Senhor. Amen. Batendo uma vez no peito, diz: Também a nós, pecadores, vossos servos, que esperamos na multidão das vossas misericórdias, dignai-vos, Senhor, fazer que tenhamos parte e companhia com os vossos san- tos Apóstolos e Mártires, João, Estevam, Matias, Barnabé, Inácio, Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade Perpétua, Águeda, Lúcia, Inês, Cecília, Anastácia, e com todos os vos- sos Santos, em cuja companhia vos rogamos nos admitais, não por nossos méritos mas por efeito da vossa clemência. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Por quem Senhor sempre fa- reis todos êstes bens, os santi ►!« ficais, os abemjtçoais. os vivifi >$( cais, e no-los dais. Por Èle c com iji Êle, e n >i<Éle a Vós Deus Padre >J< Onipotente, em unidade do Espí- rito >í< Santo seja dada toda a honra e glória.

K em voz alta diz: Sacerdote—Por todos séculos dos séculos. Ajudante - Amen. Sacerdote—Oremos. Instruídos pelos salutares precei-

tos do Senhor e segundo a forma da instituição divina ou- samos dizer: Padre Nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos dei- xeis cair em tentação.

Ajudante—Mas livrai-nos de todo o mal. Sacerdote—Nós vos rogamos, Senhor, que nos livreis

de todos os males pretéritos, presentes e futuros, e pela intervenção da bem-aventurada e gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, e dos vossos bem-aventurados Apósto- los, Pedro, Paulo e André e de todos os santos, dai-nos propícia paz em nossos dias, para que, assistidos do auxílio da vossa misericórdia, permaneçamos sempre livres do pe- cado e seguros de toda a perturbação. (Faz genuflexão). Pelo mesmo Senhor nosso Jesus Cristo vosso filho, que sendo Deus, vive e reina convosco e em unidade do Espí- rito Santo. Por todos os séculos dos séculos.

Ajudante—Amen. Sacerdote — A paz do Senhor seja sempre

conij* vosco. Ajudante—E com o teu espírito. Deixando cair a partícula no Cálix, diz: Esta mistura e consagração do Corpo e Sangue de

Nosso Senhor Jesus Cristo, sirva para a vida eterna dos que vamos recebê-la. Amen.

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Ajoelha e batendo no peito por três vezes, diz: Sacerdote -Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do

mundo, tende misericórdia de nós. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,

tende misericórdia de nós. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,

dai-nos a nós a paz. COMUNHÃO

O meu Senhor Jesus Cristo, que dissesteis aos vossos Apóstolos : A paz vos deixo, a paz vos dou; não olheis aos maus pecados, mas à fé da vossa Igreja; e dignai-vos dar- -Ihe a paz, e uni-la, conforme a vossa vontade. Vós, que sendo Deus, viveis e reinais por todos os séculos dos sécu- los. Amen.

Oh! Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, que se- gundo a vontade de vosso Pai, com a cooperação do Espí- rito Santo, désteis por vossa morte a vida ao mundo: li- vrai-me por êste sacrosanto Corpo e Sangue de todas as iniquidades e de todos os outros males; e fazei quo eu es- teja sempre unido aos vossos mandamentos, e não permi- tais que jamais me afaste de vós; que sendo Deus, viveis e reinais, com o Espírito Santo, peloô séculos dos séculos. Amen.

Oh! Senhor Jesus Cristo, a participação do vosso Corpo que eu, indigno, me atrevo a receber, não seja para mim, motivo de juízo e condenação; antes, pela vossa piedade, me sirva do defesa para a alma e para o corpo, e de remédio salutar; que sendo Deus. viveis e reinais, com Deus Padre, em unidade com o Espírito Santo, pelos séculos dos sé- culos. amen.

Genuflete e diz: Vou receber o pão celestial e a invocar o nome do

Senhor. Inclina-se e batendo o peito, diz três vezes: —Senhor! Eu não sou digno de que entrais na minha

morada: mas dizei uma só palavra, e será sã a minha alma. O Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo guarde a minha alma, para a vida eterna. Amen.

Consome a sagrada Hóstia, descobre o Cálix, adora-o e diz:

—Como corresponderei eu ao Senhor, por todos os benefícios que d'Ele tenho recebido? Vou a tomar o Cálix da Salvação o invocarei o Nome do Senhor. Cantando os

seus louvores, invocarei ao Senhor e ficarei livre dos meus inimigos.

O Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo guardo a mi- nha alma para a vida eterna. (Consome o sagrado Cdlix).

Durante as ablações diz: Farei, Senhor, que recebamos com o coração puro o

que tomamos pela bôca; o que êste dom temporal se con- verta em remédio sempiterno.

Unam-se, Senhor, às minhas entranhas, o vosso Corpo que recebi e o Sangue que bebi e fazei que não fique cm mim mancha alguma de pecado, a quem alimentaram tão puros e santos sacramentos.

Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos sé- culos.

COMUNIO (i Cor. xi) Todas as vezes que comerdes êste pão e

beberdes êste Cálix, anunciareis a morte do Senhor, até que venha; de maneira que todo aquele que comer êste pão ou beber o Cálix do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor.

Sacerdote O senhor seja convosco. Ajudante—E com o teu espirito.

POST COMUNIO Oraçdo

Ao Santíssimo Sacramento: Oremos. Nós vos rogamos, Senhor, que nos concedais

o saciar-nos no gôso sempiterno da vossa divindade, o qual antecipadamente se nos representa na recepção tem- poral do vosso precioso Corpo o Sangue, Senhor, que como l)eus viveis e reinais, com Deus Padre em unidade do Es- pírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

4judante—Amen. Á Santíssima Virgem: Oremos. Recebidos já, Senhor, os auxílios da nossa

salvação, nós vos pedimos, vos digneis eonceder-nos, que em toda a parte sejamos protegidos pelo patrocínio da Bem-aventurada Virgem Maria, em cuja veneração oferece- mos estes dons a vossa Majestade.

Para pedir a intercessão dos Santos: Nós vos suplicamos, Senhor, que a oferenda do di-

vino Sacramento, que oferecemos nos purifique e fortaleça; o pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe

de Deus, do bem-aventurado S. José, dos vossos bem-aven- turados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo e de todos os San- tos. nos limpe de todo o pecado e nos livre de toda a adversidade. Pelo mesmo Senhor nosso Jesus Cristo, Vosso Filho, que como Deus vive e reina convosco em unidade do Espírito Santo por todos os séculos dos séculos.

Ajudante—Amen. Sacerdote—O Senhor seja convosco. Ajudante—E com o teu espírito. Sacerdote—Ite Missa est. Ide-vos, acabou-se a Missa. Ajudante—Dêmos graças a Deus. Inclinado sobre o Altar, diz o Sacerdote: — Seja-te agra-

dável, ó Trindade Santa, o obséquio de vosso servo; e con- cedei que o sacrificio, que eu indigno ofereci aos olhos do Vossa Majestade seja digno de que vós o aceiteis e para mim e para todos aqueles por quem o ofereci, seja pela vossa misericórdia propiciatório. Por Cristo Senhor nosso. Amen.

BENÇÃO

Abençôo-vos Deus Onipotentc. Padre, Filho e Espírito Santo.

Ajadante—Amen. Sacerdote—O Senhor seja convosco. Ajudante—E com o teu espírito. Sacerdote—Princípio do Evangelho, segundo S. João. Ajudante—Glória a Vós, Senhor. Sacerdote—'Ao princípio era o Verbo, e o Verbo estava

em Deus e o Verbo era Deus. Èle estava no princípio em Deus. Por êle foram feitas todas as coisas e sem êle não se tinha feito cousa alguma de quantas hão sido feitas. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. E esta luz resplandece no meio das trevas e as trevas não a com- preenderam. Houve um homem enviado de Deus que se chamava João; êste veio como testemunha da luz afim de que por meio dele todos orassem. Não era a luz, mas enviado para dar testemunho dAquele que era a luz. O Verbo era a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem a êste mundo. No mundo estava e o mundo por Ele foi feito, e o mundo não o conheceu. Aos seus veio, e os seus não o conheceram. Mas a todos os que o receberam, aqueles que creem no seu nome, deu-lhe o poder de chegar a ser filhos de Deus, os quais não nascem do sangue, nem da carne, nem do querer do homem, mas que nascem de Deus. (Aqui ajoelha-se). E o Verbo se fez carne e habitou no meio de nós, e vimos a sua glória como do unigénito do Pai cheio de graça e de verdade.

Ajudante—Dêmos graças a Deus.

Soldado cristão o português! Eu tenho a cer- teza, qup nos campos de batalha, emquanto por lá andares, nas trincheiras, nas ambulâncias, nas marchas c contra-marchas e até mesmo no meio do tiroteio dos combates, o teu pensamento voará algumas vezes para- a tua terra natal, donde os segredos e os mistérios da política internacional te arrancar, para ires honrar o nome português... Deixaste lá a família querida, a chorar de sauda- des, talvez a eleita do teu coração a olhar ansio- sa para a quebrada da serra, donde lhe dirigiste, no adejar do lenço, a última despedida com um: Até a volta! afogado num soluço. Sei que te lem- bras de tudo, das terras, das cearas, dos vinhedos, dos casais, dos moinhos, de tudo... E diz-me: Não te lembrarás da velha igreja matriz, onde aos do- mingos ias cumprir o preceito de ouvir a Missa pa- roquial ? Não te lembras do velho pastor da tua aldeia, que te abraçou, chorando, quando ao des- pedir-te disse: Meu filho! Não te esqueças de que és cristão. Honra a Deus o honra a Pátria! Lembras-te? Pois faze por não esquecer êsse con- selho, e aos domingos, quando o poderes, pouco mais ou menos à hora em que no teu povo o campanário sôa gravemente, chamando os fieis ao templo de Deus, abre êste livrinho, lê com o pensamento na tua igreja e no seu pároco as ora- ções que aí ficam, e terás como que assistido com os teus à Missa da tua aldeia.

m A Confissão.

Soldado cristão e português: Se antes de par- tires para a expedição guerreira que se está orga- nizando, poderes confessar-te, confessa-te. Não sei se lá terás a quem, na véspera ou na manhã

das batalhas, o possas fçizer. Confessado, nada te falta. Vais bem com Deus e com os homens. Sem confissão, podes ir bem com os homens, mas vais com certeza mal com Deus. Cuida da tua alma, que da tua alma ninguém, pelo que vejo, se im- porta, a não ser tu, se o quiseres fazer.

A vida é sempre incerta. Mas mais o é ainda num campo de batalha, onde as balas fulminam, de repente, como os raios.

De um instante para outro, podes passar da vida pára a morte; do tempo para a eternidade.

Não irão padres portugueses, talvez. Mas se o julgares conveniente e necessário, encontrarás por lá sacerdotes franceses, belgas, ingleses, ale- mães, que em caso de necessidade te poderão ou- vir de confissão.

Não entendem as tuas palavras ? Há uma linguagem que é de significação universal:—são as lágrimas. Se os teus olhos revelarem a con- trição da tua alma e o arrependimento das tuas culpas, nenhum padre deixa de te absolver em nome de Deus, e a tua alma partirá jubilosa para o seio imenso de Deus.

O soldado em campanha está sempre em artigo de morte. O monstro de uma bala ou o estilhaço de um obus, transforma de repente um homem num cadáver. Tão depressa como se diz um ai! podes comparecer na presença de Deus.

Pensa nisso, soldado português e cristão. A confissão é um sacramento que foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, e que abre as portas do céu ao pecador verdadeiramente arrependido. Podes fazer todos os dias ou todas as noites o teu exame de consciência. Não custa muito. Basta pensar um pouco no que fizeste de bom ou de mal durante o dia.

Olha pela tua alma, soldado. O valor de uma alma é tão grande que Nosso Senhor veio ao

mundo, nasceu pobre, e pobre viveu, trabalhando e sofrendo durante toda a sua existência mortal. Foi preso, foi condenado, foi cuspido e ultrajado, e por fim, morreu, como um scelerado cravado numa cruz ignominiosa... E tudo isto porquê ? Por causa da tua alma! Deus quer salvar-te, sol- dado. Mas quer que tu da tua parte faças o que poderes para alcançar essa graça de Deus. Para que as tuas acções sejam meritórias e dignas de prémio ou castigo, deu-te a liberdade. Podes se- guir pelo caminho que quiseres: o do mal ou o do bem. Estão ambos abertos diante da tua alma.

Qual escolhes? O de Deus, ou o do iqferno? Soldado português e cristão, nas vésperas e

nas manhãs de combate, cuida da tua alma.

CAPÍTULO UNDÉCIMO

As devoções do soldado.

O SANTÍSSIMO ROSÁRIO

Entre as muitíssimas devoções de que a San- tíssima Virgem é objecto, nenhuma é mais agra- dável à Mãe de Deus do que a Devoção do Ro- sário.

A sua apresentação 110 mundo foi feita pol- eia mesma. Nasceu por assim dizer num campo de batalha. Eu te conto: A heresia dos albigen- ses erguera-se em pé de guerra contra o cristia- nismo. S. Domingos, prevendo dias trágicos para a Igreja de Deus, pediu ao céu um socorro extra- ordinário.

A sua prece, cheia de sinceridade e de fervor, foi atendida. Conta-se que uma noite, emquanto êle prostrado diante da imagem de Nossa Senhora lho contava, gemendo, as grandes desgraças que antevia, e lhe suplicava piedade... uma luz do céu encheu de repente a cela de S. Domingos, e que erguendo a cabeça, olhou e viu a Rainha dos Anjos, que tinha em suas mãos a Corôa do Rosário e meigamente lhe falou, dizendo:

«Domingos! Toma esta corôa, e ensina toda a gente a resá-la. Recomenda aos fieis esta oração,

e conseguirás a conversão dos mais obstinados pecadores».

S. Domingos, apresson-se a cumprir aquela or- dem soberana; e daí a pouco o número de conver- sões ora cada vez maior. A imitação do Rosário, fa- zia:se em toda a parte, nas casas, nos povoados, nas igrejas e nos campos de batalha. Os soldados antes de entrar em combate resavam, em grupos, o Rosário. E foi assim, com essa preparação espi- ritual, que os soldados de Simão de Monfort in- fligiram aos heréticos uma derrota que os aniquilou.

A eficácia e o poder do Santo Rosário con- firmou-se mais tarde numa outra batalha memo- rável, a batalha de Lepanto, em que os turcos que tentavam invadir os estados cristãos, foram der- rotados pelo exército católico, comandado por D. João de Austria.

«Emquanto os exércitos cristãos—diz numa das suas admiráveis Encíclicas o Santo Padre Leão xiii—derramavam o seu sangue e sacrifica- vam a sua vida para salvar a Religião e a Pátria, sem se importarem com o número, poder e arro- gância das forças inimigas, os que não eram aptos para empunhar as armas, qual piedoso exército suplicante, saúdavam a Maria, repetindo as fór- mulas do ltosário e pediam o triunfo das armas cristãs.» Isto no século xvi. Mas no século xviu, novas vitórias, sôbre o maometismo, confirmam o poder do Santo Rosário. Tais foram entre ou- tras as importantes batalhas de Temesvar, Hun- gria e Corfui, as quais se alcançaram om dias assinalados o consagrados à Santíssima Virgem o terminadas as preces públicas do Santíssimo ltosário.

Xa célebre batalha de Aljubarrota, ferida tão rudemente entre castelhanos e portugueses, o que fazia o destemido e heróico capitão D. Nuno Álvares Pereira, de joelhos, no recôncavo de uma rocha, já quando havia começado a batalha?

— Resava o Santíssimo Rosário... —E a vi- tória coroava em seguida a fé e a valentia dos guerreiros de Portugal.

* * *

Ainda não há muitos anos, que os pais de famílias cristãs, à noite, rodeados de seus filhos e domésticos, resavam em comum a Coroa da Virgem... E ainda hoje, graças a Deus, em mui- tas famílias dura esta piedosa prática, que enche a casa dum perfume santo, e sobre as famílias atrái as bênçãos do céu.

Mgr. Dupanloup, chamado um dia à cabe- ceira duma jovem, gravemente enferma, encontrou chorando todas as pessoas que a rodeavam. Só a doente sorria, e ao ver o bispo, perguntou-lhe:

— Acreditais, senhor bispo, que irei para o Paraízo ?

—Assim o espero—respondeu o prelado. —Pois eu estou seguríssima disso!—tornou

a moribunda: — há uns poucos de anos que rezo todos os dias inteiro o Santo Rozário. Cento e cin- qiienta vezes por dia tenho pedido à Virgem Nossa Senhora que rogue por mini à hora da morte. Não é, portanto, possível, que Mãe tão boa e carinhosa, como ó Nossa Senhora, me abandone agora que tenho necessidade da sua especial protecção.

Pouco depois morria a jovem com todos os sinais de predestinação.

Quando o príncipe Eugénio do Sabóia, to- mou o comando do sou exército na Hungria, os soldados ficavam assombrados, vondo que autos de qualquer acção militar, tomava o Santo Ro- sário, e conservava-o na mão durante a peleja. E êste piedosíssimo general tão devoto do Santís- simo Rosário, encheu o mundo do admiração li- bertando a Europa da invasão dos turcos.

Os principais colaboradores do generalíssimo Joffre, sob cujas ordens e planos quem sabe se não ireis dentro em breve combater, os generais Pau e Castelnau, são dois católicos praticantes, que se confessam e comungam com frequência e devo- tíssimos do Santíssimo Rosário.

A França, nos trágicos momentos que vai atravessando, divide as suas orações e as suas devoções entre a Virgem do Rosário e a sua pa- droeira nacional, Joana d'Arc.

O Rosário, é na hora actual a grande devo- ção do mundo católico.

* * *

—Mas que é o Santíssimo Rosário?—per- guntarás talvez.

— Olha, soldado português e cristão, o San- tíssimo Rosário é uma das maneiras de orar, mais poderosas por si mesmas, quer considere- mos a sua parte exterior formada pelas orações do Padre A osso, Ave Maria e Glória Pátria, admi- rávelmente combinadas entre si, quer conside- rando a sua parte interna constituída pelos mis- térios mais augustos do Cristianismo.

Considerada num e noutro aspecto, a oração do Rosário reflecte os desígnios misteriosos de Deus, na concessão das suas graças. Quando re- zamos, oramos como Jesus nos ensinava a orar, pedimos o que Jesus nos mandou pedir, e pedi- mos ao Pai em nome de Jesus. Na Avè Maria proclamamos a Santíssima Virgem bemdita, entre todas as mulheres e abençoamos o fruto do seu ventre, Jesus, e depois de reconhecer a sua digni- dade de Mãe de Deus, lho suplicamos que rogue por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte.

Por cada vez que dizemos Padre Nosso, repe- O LIVRO DO SOLDADO PORTCOUÊS 9

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timos dez vezes a Avè Maria, para que entenda- mos que o Rosário foi instituído para alcançar a intercessão de Maria e que ela, rogando por nós, apoie com a sua poderosíssima mediação as nos- sas humildes petições. O nosso coração ganha alento e esperança com a oração da Avè Maria e a Santíssima Virgem não pode deixar de olhar-nos benignamente ao ouvir as palavras que lhe recor- dam o princípio.das suas grandezas e com as quais o Anjo, Santa Isabel e a Igreja a teem abençoado.

Dizemos uma e dez vezes a Avè Maria e o coração encontra sempre sentimentos novos e no- vos motivos de espiritual prazer. Achas fastidiosa a, repetição, soldado?

— A «o. O amor não tem senão uma palavra c pronuncUtndo-a sempre não se repete nunca...

Finalmente pelo Gloria Patri, hino de louvor, com que todas as criaturas, cada qual a seu modo, rende homenagem de devoção à Santíssima Trin- dade, tributamos a Deus como nosso fim último, acção de graças por todos os benefícios, que de Ele como do primeiro princípio procedem; e no Ro- sário lhe tributamos graças pelo benefício da Re» denção e por nos ter dado Maria como nossa -Mãe. A Incarnação do Verbo Divino em Maria, em cujo seio santíssimo Êle se fez carne é a parte in- terna e essencial do Rosário, juntando-se-lhe de- pois a consideração dos grandes mistérios de Je- sus e sua divina Mãe, os seus gozos, as suas do- res, os seus triunfos.

Os fieis devem meditá-los e contemplá-los pela ordem em que estão dispostos, que é a mes- ma em que êles se verificaram.

* ♦ *

Soldado cristão e português! A imitação do Rosário andam adstritas muitas indulgências. E

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para as ganhar, como é conveniente, é preciso: — 1.° Ter um rosário benzido por um sacerdote; — 2.° Ter na mão, durante a reza, o rosário c ser- vir-se dele da maneira costumada;—B.° meditar durante a recitação, nos mistérios da Vida, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo; — 4.° Recitar as cinco ou as quinze dezenas sem in- terrupção notável.

Mistérios gozosos

(QUE SE jMEDITAM nas segundas, quintas-feiras E NOS DOMINGOS DESDE O ADVENTO Á QUARESMA|

I Anunciação da Santíssima Virgem. — Neste mistério se contempla como a Bem-aventurada Virgem Maria. Nossa Senhora, foi saudada pelo Anjo S. Gabriel e lhe foi então anunciado que havia de conceber e dar à luz a.Jesus Cristo nosso Redentor.

Fruto dêste mistério: — a Humildade. I Padre N ... e 10 Avè M ... II Visitação da Santíssima Virgem. — Neste mistério

se contempla como a Bem-aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora, visitou sua prima Santa Isabel, nas montanhas da Judeia, demorando-se três meses em sua casa.

Fruto dêste mistério: —a caridade para com o próximo. 1 Padre N ... e 10 Avè M... III Nascimento de Jesus. — Neste mistério se contem-

pla como a Bem-aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora, chegado o tempo do seu santíssimo parto, deu à luz a Jesus Cristo Nosso Salvador, em Belem, à hora da meia noite, e o reclinou em um presepe por não achar lugar na estalagem.

Fruto do mistério: — o desapego dos bens terrenos. 1 Padre N ... e 10 Avè M ... IV Apresentação de Jesus. — Neste mistério se con-

templa como a Bem-aventurada Virgem Maria, Nossa Se- nhora, no dia da sua Purificação, apresentou no Templo o Menino Jesus, entregando-o nos braços tio Santo velho Simeão.

Fruto do mistério:—a obediência. 1 Padre N... e 10 Avè M ... V—Encontro de Jesus no Templo. — Neste mistério se

contempla como a Bem-aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora, tendo perdido e buscado seu divino Filho, du-

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rante trcs dias, o encontrou no Templo, disputando entre os doutores, sendo da idade de 12 anos.

Fruto déstc mistério:—a coragem nas provações. 1 Padre N ... e 10 Avè M...

Mistérios dolorosos

(QUE SE MEDITAM NAS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E NOS DOMINGOS DE QUARESMA)

I Agonia tie Jesus.—Neste mistério se contempla como Nosso Senhor Jesus Cristo, fazendo oração no Horto, agonizou e suou sangue.

Fruto deste mistério: — o ódio ao pecado. I I'adre N ... c 10 Avè M ... II Flagelação de Jesus.—Neste mistério se contem-

pla como Nosso Senhor Jesus Cristo, foi cruelmente fla- gelado, no Pretório do Pilatos, recebendo inumeráveis açoites.

Fruto deste mistério: — a mortificação dos sentidos. 1 Padre N ... e 10 Avè >1... III Jesus, coroado de espinhos. — Neste mistério se

contempla como Nosso Senhor Jesus Cristo, foi coroado de agudos espinhos, pelos cruéis algozes.

Fruto do mistério: — a paciência. 1 Padre N ... e 10 Avè JI ... IV Jesus a caminho do Calvário. - Neste mistério se

contempla como Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo sido condenado à morte para maior afronta e maior tormento, foi obrigado a levar o pesado madeiro da Cruz.

Fruto do mistério:—a resignação. 1 Padre N ... e 10 Avè M ... V Crucificarão e morte de Jesus. — Neste mistério se

contempla como Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo chegado ao lugar do Calvário, foi despido e pregado na Cruz, onde morreu em presença de sua aflitíssima Mãe.

Fruto dêste mistério:—espirito de abnegação. 1 Padre N ... e 10 Avè M ...

Mistérios gloriosos

(QUE SE MEDITAM NAS QUARTAS-FEIRAS, NOS SÁBADOS E NOS DOMINGOS, DESDE A PÁSCOA ATÉ AO ADVENTo)

I Ressurreição de Jesus.—Neste mistério se contem- pla como Nosso Senhor Jesus Cristo, ao terceiro dia depois

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da sua Paixão e Morte, ressuscitou glorioso e triunfante, para não tornar a morrer.

Fruto dêste mistério:—a completa conversão do Deus. I Fadre N ... e ]0 Avè 51... II Ascenção de Jesus—Neste mistério se contempla

como Nosso Senhor Jesus Cristo, quarenta dias depois da sua Ressurreição subiu ao Céu com admirável gfória e triunfo, à vista do Sua S.ma Mãe e de todos os seus discí- pulos.

Fruto do mistério: — o desejo do ecu. 1 Padre N ... e 10 Avè M ... III Descida do Espírito .Santo — Neste mistério se

contempla como Nosso Senhor Jesus Cristo, assentado à direita de seu Eterno Pai, mandou o Espirito Santo ao Ce- náculo, onde estavam congregados os Apóstolos com Maria Santíssima.

Fruto dêste mistério:—a fidelidade i) graça. 1 Padre N ... e 10 Avè M ... IV Assunção da Santíssima Virgem.—Neste mistério

se contempla como a Bem-aventurada Virgem liaria, Nossa Senhora, alguns anos depois da Ressurreição de sen divino Filho, passou desta vida e foi levada ao céu pelos Anjos.

Fruto dêste mistério: — a graça de uma boa morte. 1 Padre N ... e 10 Avè M . .. V Coroação da Santíssima Virgem. — Neste mistério se

contempla como a Bem-aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora, foi coroada pelo seu divino Filho Rainha do Céu e da terra.

Fruto do mistério. — A confiança na Santíssima Virgem. 1 Padre N ... e 10 Avè M .. .

♦ * *

Soldado cristão e português! Ai tens a arma poderosíssima que a Igreja põe nas tuas mãos para venceres os inimigos da tua fé e os inimi- gos da tua pátria. É um pequeno Rosário de con- tas, que trarás sempre contigo, como quem traz uma arma defensiva, o à noite em comum com os teus camaradas, ou sósinho. no isolamento, ou no bulício, deves empregar sempre que possas.

Dos seus maravilhosos efeitos individuais e colectivos na habitação dos enfermos e ou nas pu- gnas do campo de batalha, já eu antecedentemente

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te dei uns ligeiros exemplos, que poderia multipli- car se o espaço aqui mo permitisse.

Volta-to para a religião, para Deus, por inter- cessão de Nossa Senhora. Presta-lhe quotidiana- mente a homenagem da tua veneração, recitando o Rosário, que ília mesma instituiu. Nada lhe pode ser mais grato. O seu coração amantíssimo rejubila quando um soldado da Pátria de D. Nuno Alvares Pereira, segue o piedoso exemplo dessa homérica figura da pátria, que foi no campo de batalha e tora dele um filho devotadíssimo da Rainha do Céu.

Não vês todas as nações que andam em guerra aproximarem-se dos altares de Deus, a pe- dir-lhe a sua misericórdia e a sua graça?

Não vês as nações protestantes a decretar dias de preces públicas para invocar o santo nome de Deus e o seu patrocínio sobrenatural ?

E ésses povos são ricos, são avançados no pensar, são livres em matéria religiosa...

E quererás tu, sósinho. fraco de forças, de entendimento e de saber, desprezar êsse auxílio soberano que aí está ao alcance dos teus lábios e do teu coração ?

Soldado! A \ irgem Mãe de Deus é a Padroei- ra santa de Portugal.

Vai para o combate confiado na sua pro- tecção e no seu amor por esta linda terra que será sempre, em quanto o mundo fôr mundo, a Terra de Santa Maria.

E avante, soldados! Por Deus e pela Pátria!

CAPÍTULO DUODÉCIMO

Orar pelos mortos.

A fusilaria dizima os pelotões. A metralha varre as fileiras. O campo de batalha é um campo de horrores, que nenhuma pena é capaz de des- crever. Por entre o sibilar de balas, ouvem-se ge- midos de moribundos, soluços do agonizantes, gritos, imprecações e até blasfémias dos feridos que não tem a quem pedir socorro ...

Que medonha, em seus efeitos desastrosos, é a guerra, monstro formidável, que com o caminhar da civilização, cresceu ainda de cruesa e selva- geria!

Passam maqueiros a conduzir feridos... Vêem-se Irmãs de Caridade, intrépidas e gloriosas, sem medo'das balas nem receio da morte, corre- rem em busca dos que ficaram ainda com vida para lhes prestar os socorros da sua generosa santa missão.

Passam padres conduzindo em relicários de oiro, apressados, o Pão (jos Anjos, e a levar o perdão de Deus aos que na agonia da morte so- licitam e querem entrar na eternidade com a serenidade dos justos!

Que sublimes feitos de altruísmo e de abne- gação cristã se não praticam em todos os dias e a todas as horas, nesses campos ensanguentados,

nessas trincheiras quási subterrâneas, onde o ho- mem espreita o homem, como se espreitara uni lobo para o matar!

Que milagres de dedicação, de heroísmo, se não praticam ali, em prol da vida até dos pró- prios inimigos?! A formosura majestosa e sobe- rana desses feitos humanitários, irradia esplen- dores celestiais, que ofuscam a grandeza épica das cargas da baioneta, dos assaltos desesperados, das dolorosas rendições comoventes!

* * *

.Mas tantos mortos, tantos!... E que será feito de suas almas? Quem resará por elas, quem se lembrará delas? As mães, as irmãs, as noivas? Essas, embaladas pela esperança, anseiam um re- gresso que a morte impediu. Sabe-la hão, a triste noticia, lá para o diante, sempre cedo, para o seu desgosto, sempre tarde para a sua oração! Mas então esses cadáveres, hão de ficar ali abando- nados numa cova aberta e coberta à pressa, sem que sôbre ela caía o rocio de uma prece, o orvalho santo de uma oração de amigo ?

Soldado cristão e português! Tu deves ao teu companheiro, ao teu amigo, ao teu camarada de há pouco e que a teu lado caiu para nunca mais se levantar, a caridade de um pensamento afec- tuoso, a sentida oração de um crente que sabe e conhece o valor espiritual de um sufrágio. Ao volver do campo onde ficou estendido sem vida, olhando o céu na imobilidade fria do seu olhar morto, o soldado intrépido que a teu lado com- bateu, tu dedica-lhe ao monos uma lágrima de saudade, que a sua alma agi-adecida verá lá do Céu. E aos outros, aos desconhecidos mas que pe- lejavam sob a mesma bandeira, aos inimigos que ficaram inanimados e imobilizados pela morte —

a todos êsses cujas almas voaram para Deus, en- via-lhes também o perfume santo de uma sauda- de, envolvida na comovida oração da tua alma.

Orar pelos mortos, é obrigação rigorosa dos vivos. Impõe-a a Caridade que é absoluta nas suas determinações. Recusar uma prece a uma alma que partiu, seria mais feio ainda do que recusar um pedaço de pão a um mendigo morto de fome.

Reza, soldado, pelos que ficaram mortos no campo de batalha. Quem sabe se amanhã, num pe- rigosa recontro, numa investida audaciosa, não será a tua alma que precise das orações dos que ficam?

E quando a sós 11a tua tenda de campanha relembrares os amigos mortos, os companheiros mortos, os inimigos mortos; quando nessa hora ensombrada de tristezas fúnebres, os teus olhos se molharem das lágrimas que a amizade, a con- vivência e o afecto humanitário fazem brotar, tu, soldado português e cristão, tira êste livrinho da algibeira da farda onde, junto ao coração o deves trazer, e reza por alma de todos, em sufrágio do todos, êsse Psalmo com que a Igi'eja de Deus co- memora o passamento dos seus fieis.

E assim: De profundi» clamavi ad te Domine. Domine exaudi oracionem meam. Fiant aures tuae intendentes, in vocem deprecatio-

nes meae. Si iniquitates observaveris Domine: Domine quis

sustenuit? Quia apud te propitiatio est: et propter legem tuain

sustenuit te Domine. Sustenuit anima mea in verbo ejus: speravit anima

mea in Domino. A custodia matutina usque ad noctem: speret Israel

in Domino. Quia apud Dominum misericórdia; et copiosa apud

eum redemptis. Et ipse redimet ex omnibis iniquitates ejus. Requiem aeternam dona eis Domine. Et lux perpetua luceat eis.

138

EM PORTUGUÊS

Desde o mais profundo, elamei a ti, Senhor: Senhor, ouve a minha voz. Estejam atentos os teus ouvidos, à voz da minha de-

precação. Se observares, Senhor, as nossas maldades, quem, Se-

nhor, poderá subsistir? Mas em ti se acha a propiciação e pela tua lei, pus

em ti, Senhor, a minha confiança. A minha alma está confiada na sua palavra: a minha

alma esperou no Senhor. Desde a vigília da manhã até à noite: espere Israel

no Senhor. Porque no Senhor está a misericórdia; e nele há co-

piosa redenção. E Êle mesmo redemirá Israel, de todas as suas ini-

quidades. Dá-lhe, Senhor, o descanso eterno. E a luz perpétua brilhe para êles.

FIM

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