A IMPORTÂNCIA DOS TESTES ABC DE LOURENÇO FILHO PARA OS AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DO BRASIL

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Presidente da República

Dilma Vanna Rousseff

Ministro da Educação

Aloizio Mercadante

Universidade Federal do Ceará

REITOR

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Prof. Henry Campos

Conselho Editorial

PRESIDENTE

Prof. Antônio Cláudio Lima GuimarãesCONSELHEIROS

Profa Adelaide Maria Gonçalves PereiraProfa Ângela Maria Mota Rossas de Gutiérrez

Prof. Gil de Aquino FariasProf. Italo Gurgel

Prof. José Edmar da Silva Ribeiro

Diretor da Faculdade de Educação

Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira

Enéas Arrais Neto

Chefe do Departamento de Fundamentos da Educação

Adriana Eufrásio Braga Sobral

Série Diálogos Intempestivos

COORDENAÇÃO EDITORIAL

José Gerardo VasconceloS (EDITOR-CHEFE)Kelma Socorro Alves Lopes de Matos

Wagner Bandeira Andriola

DRa ANA MARIA IÓRIO DIAS (UFC)DRa ÂNGELA ARRUDA (UFRJ)DRa ÂNGELA T. SOUSA (UFC)DR. ANTONIO GERMANO M. JUNIOR (UECE)DRa ANTÔNIA DILAMAR ARAÚJO (UECE)DR. ANTONIO PAULINO DE SOUSA (UFMA)DRa CARLA VIANA COSCARELLI (UFMG)DRa CELLINA RODRIGUES MUNIZ (UFRN)DRa DORA LEAL ROSA (UFBA)DRa ELIANE DOS S. CAVALLEIRO (UNB)DR. ELIZEU CLEMENTINO DE SOUZA (UNEB)DR. EMANUEL LUÍS ROQUE SOARES (UFRB)DR. ENÉAS ARRAIS NETO (UFC)DRa FRANCIMAR DUARTE ARRUDA (UFF)DR. HERMÍNIO BORGES NETO (UFC)DRa ILMA VIEIRA DO NASCIMENTO (UFMA)DRa JAILEILA MENEZES (UFPE)DR. JORGE CARVALHO (UFS)DR. JOSÉ AIRES DE CASTRO FILHO (UFC)DR. JOSÉ GERARDO VASCONCELOS (UFC)DR. JOSÉ LEVI FURTADO SAMPAIO (UFC)DR. JUAREZ DAYRELL (UFMG)DR. JÚLIO CESAR R. DE ARAÚJO (UFC)

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CONSELHO EDITORIAL

Fortaleza2013

FRANCISCO ARI DE ANDRADE

DIJANE MARIA ROCHA VÍCTOR

REGINA CLÁUDIA OLIVEIRA DA SILVAO R G A N I Z A D O R E S

EDUCAÇÃO BRASILEIRA:RUMOS E PRUMOS

ADRIANA LEITE LIMAVERDE GOMES

ALANNA OLIVEIRA PEREIRA CARVALHO

ALLES LOPES DE AQUINO

ANA PAULA DE MEDEIROS RIBEIRO

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AURICLÉA BARROS PEREIRA

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CIRO NOGUEIRA FILHO

DIJANE MARIA ROCHA VÍCTOR

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FRANCISCO ARI DE ANDRADE

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Educação Brasileira: Rumos e Prumos

© 2013 Francisco Ari de Andrade, Dijane Maria Rocha Víctor e Regina Cláudia Oliveira da

Silva (Orgs.)

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

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Editora Universidade Federal do Ceará – UFC

Faculdade de Educação

Rua Waldery Uchoa, No

Revisão

Leonora Vale de Albuquerque

Dados Internacionais de Catalogação na PublicaçãoUniversidade Federal do Ceará – Edições UFC

SOBRE OS AUTORES

Alanna Oliveira Pereira Carvalho – Mestranda do Programa de

do Ceará na Linha de Pesquisa em Avaliação Educacional. Graduada em Pedagogia (2011) pela Universidade Federal do Ceará.

Alles Lopes de Aquino

ação da Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Estadual

al do Ceará (UECE).

Ana Paula de Medeiros Ribeiro – Professora Adjunta do Departamento de Teoria e Prática do Ensino (DTPE), da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. É graduada em Admi

Andrea Moura da Costa Souza – Doutoranda em Educação Brasileira na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, Mestre em Administração pela Universidade de Nancy2 /França

Auricléa Barros Pereira – Possui graduação em Ciências Religiosas pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2003) e curso

Beatriz Helena Peixoto Brandão – Mestranda do Programa de

Ceará – UFC. Bacharel em Direito pela UFC.

Ciro Nogueira Filho – Possui mestrado em Matemática pela

Educação brasileira: rumos e prumos / Francisco Ari de Andrade, Dijane Maria Rocha Victor e Regina Cláudia Oliveira da Silva (Orgs). – Fortaleza: Edições UFC, 2013.

1. Educação brasileira I. Andrade, Francisco Ar de II. Victor, Dijane Maria Rocha III. Silva Regina Cláudia da IV. Título

d 25

A IMPORTÂNCIA DOS TESTES ABC DE LOURENÇO FILHO PARA OS

AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DO BRASIL

Alanna Oliveira Pereira Carvalho

Ana Paula de Medeiros Ribeiro

Introdução

As formas de avaliação no sistema educacional brasilei

ciaram nos anos 1920. Os primeiros pensadores que se debru

çaram sobre os estudos avaliativos consideravam a atividade

de avaliação como uma ferramenta de controle e de seleção, a

xão sobre a atuação da Psicologia Aplicada ao longo da história

da avaliação educacional, iniciando pelos estudos de Lourenço

Filho. As avaliações educacionais foram, de maneira geral, esta

entendia e estabelecia a educação no contexto dos anos 1920, o

A escola como instituição socializadora expressava em

seus objetivos e ações delimitações preestabelecidas pelo Es

tado. Lourenço Filho, juntamente a alguns visitantes norte

em Psicologia Aplicada. Nesse período, a Psicologia tentava se

vés dos testes e medidas.

A IMPORTÂNCIA DOS TESTES ABC DE LOURENÇO FILHO PARA OS AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DO BRASILALANNA OLIVEIRA PEREIRA CARVALHO • ANA PAULA DE MEDEIROS RIBEIRO26 d d 27

Lourenço Filho admitiu que a Psicologia Aplicada pos

ção dos futuros trabalhadores que a sociedade da época que

rápido e de qualidade para o crescimento da mão de obra que

a emergente sociedade industrial brasileira precisava, além

do que melhoraria o custeamento do dinheiro público ligado

A partir dos anos 1920, Lourenço Filho lançou nos esta

dos paulistas os Testes ABC que avaliavam a maturidade das

O contexto que Lourenço Filho se deparou com a ide

alização dos Testes foi o momento da decadência do ensino

tradicional, em que a escola pública estava perdendo seu valor

série às vezes mais que duas vezes. Isso além de ser um “gas

to” aos cofres públicos, retardava a idade que seria propícia

àquela seriação, confrontando com o tempo custeado pelo Es

tado na escola.

As concepções de escola, sociedade e cultura que Lou

renço Filho desenvolveu são imprescindíveis ao entendimen

to do que ele queria fazer com a aplicação e a efetivação desses

testes nas escolas em massa nas séries iniciais.

À época, o Brasil se preparava para a entrada das in

dústrias e um novo modelo de vida urbanizado e moderno.

Apesar de ter a sua formação e concepções espelhadas em es

dade brasileira ao se deparar com os problemas educacionais

que fora convidado a solucionar.

Contexto Histórico

A importância de se conhecer a história para que nela

se possa intervir é fundamental em qualquer área do conheci

mento, principalmente na educação.

O contexto histórico da educação brasileira nos anos

1920 requer um conhecimento mais aprofundado do que a

Histórica traz para que se entendam os objetivos da reno

vação educacional de que tanto se falava na época. Segundo

entender que o entusiasmo pedagógico fora vislumbrado pela

expansão da rede escolar para a redução do número de anal

se ressaltava a transição para a República. Segundo Aranha

(apud

para as elites e o descaso com a massa, que aparentemente

não exigiria muitas habilidades para lidar com a economia

satisfação daqueles que queriam a modernidade para o país.

as transições econômicas que o mundo preconizava no início

da industrialização e consequente urbanização.

Eram muitos os que queriam e precisavam da escolariza

nomia que estava emergindo e diminuir o descaso com a saúde

de uma população doente e “degenerada”. Tais concepções

também vieram de uma onda de nacionalismo e patriotismo

que emergiu no Brasil com a primeira Guerra Mundial em 1910.

Além disso, com a crise do café no país, as oligarquias

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Estado e, neste contexto, a industrialização e a urbanização

como consequências tornavam máximas da época.

mações nas relações econômicas e sociais, as transações inter

ideias, culturas e costumes. Os grandes intelectuais brasileiros

Medicina e Direito. As ideias inovadoras que eles traziam ao

tre elas o ideal da Escola Nova.

Vários foram os intelectuais que participaram desta re

forma, dentre eles Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Fernando

de Azevedo, dentre outros. De acordo com Saviani (2011), os

ideais de educação e escola trazidos por Lourenço Filho, que

havia estudado nas Escolas Normal e Secundária no Brasil,

estavam pautados nas concepções que a Psicologia Aplicada

mediador do conhecimento que o aluno, ser ativo e não mais

passivo, precisaria experimentar.

a Psicologia buscava mediante o pensamento positivista. A sua

sitivistas. Muitas foram as renovações neste campo, de acordo

cidade intelectual desenvolvida por Galdon, que preconizou a

iniciação dos testes psicológicos utilizados na avaliação esco

lar. Os Laboratórios da Europa e América do Norte que alia

vam a Psicologia à Psiquiatria, a Escala de Binet relacionando

idade mental à cronológica e a ideia das escolas sob medida de

Claraparède que idealizava classes especiais para retardados e

aprendizagem com problemas. Revelavam novos caminhos

aos encaminhamentos médicos dos alunos que apresentavam

problemas com a aprendizagem, uma vez que passaram a não

ser mais considerados como meros seres incapazes por des

Segundo Monarcha (2001), Dewey, Montessori e De

croly também foram estudiosos que despertaram em Louren

ço Filho o espírito da sua “escola nova”. Clarapède e Piéron

apresentaram a Lourenço Filho a Psicologia Experimental

(ALMEIDA JR apud MONARCHA, 2001), o que fez fortale

cer ainda mais o caráter de medição e interdição que os testes

psicológicos deveriam ter nos grupos escolares que o Brasil

possuía. Neste contexto, é que Lourenço Filho iniciou seus es

tudos dos testes e das observações das ações escolares e da

Os Testes ABC de Lourenço Filho

O investimento de reconhecer a Psicologia como ciência

da Pedagogia. Segundo Monarcha (2001), o movimento dos

testes, disseminado na teorização da Psicologia Aplicada, de

senvolveu em seus intelectuais a concepção de que os testes

aperfeiçoavam as técnicas de diagnose e predição auxiliando

nas práticas escolares. Estava em voga a elucidação da reali

dade escolar e articulação ao conceito de rendimento indivi

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Lourenço Filho divulgou em 1921 os resultados de suas

primeiras pesquisas sobre os seus testes aplicados na educa

que se traziam dos testes de medida (AZEVEDO apud MO

NARCHA, 2001, p.11).

Os testes desenvolvidos por Lourenço Filho eram mais

apurados do que aqueles que levavam em consideração ape

nas a inteligência do aluno diante da sua idade mental e cro1), a relação de pes

quisas americanas à inteligência (testes comuns) e o resultado

da aprendizagem nas classes elementares mostram que a cor

relação entre inteligência e leitura variava para os diferentes

(QI) nada ou quase nada discriminava na leitura. Crianças

as de QI alto. Quanto à escrita não havia correlação tal qual

na leitura. De certo modo, Lourenço Filho traduziui a impor

relação ensino e aprendizagem da leitura e escrita.

Pioneiro nas ideias que trouxera dos testes ABC, Lou

renço Filho abriu mão dos testes comuns submetidos na Amé

maturidade das crianças, e não da inteligência, para o ensino

de leitura e escrita. Esta pesquisa iniciou avanços nos proces

sos de formação e crescimento da escola bem como dos ques

tionamentos acerca do futuro que se projetava para aquele

aluno considerado como baixo ou “problema”.

Lourenço Filho (apud SGANDERLA & CARVALHO

1

menos amadurecidas, mas aproveitaria os mais capazes na

habilitação mais rápida da produção social. A “lei” de Louren

lizado na era industrial. Bobbitt (ano, apud

colocava o currículo como um conjunto de resultados que a

escola deveria obter, idealizando o mesmo sistema utilizado

pela indústria.

A sociedade da época buscava aqueles que se destaca

riam em meio a competências e habilidades que precisavam

desenvolver em face da moderna economia. Era preciso inves

res burgueses, mais uma vez. Infelizmente, a tendência destes

testes quando se articulavam ao rendimento individual acaba

vam por caracterizar um tipo de aluno ideal ou padrão. Mas

a concepção de Lourenço Filho era outra, avaliar por meio do

teste para ter conhecimento, segregar as classes e intervir di

retamente no problema.

do para se conhecer, ser conhecido por outros e custar menos

e competências de se aprender mais, além do conhecer para

poder intervir pedagogicamente.

prognóstico depois da hipótese de índice de maturidade ne

cessário ao desenvolvimento da leitura e escrita. A sua inter

venção educacional além de estar relacionada à Psicologia es

tava aliada às renovações econômicas e necessidades sociais

que nasciam daquele despertar industrial. O conhecer estava

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o aprendizado da leitura e escrita o aluno estava. Depois de

que a professora pudesse intervir de forma mais consciente e

unânime, até mesmo facilitando o seu trabalho docente. Mas

será que essa divisão não seria uma maneira de segregar os

tipos de mão de obra? Uma das funções da educação é tornar

corresponder à individuação plena (CROCHIK & CROCHIK

outro se media pelas suas individualizações, logo a educação

agregar valores sociais que não o fossem dantes agregados à

escola.

turidade: a redução da reprovação dos alunos nas primeiras

séries de ensino, auxiliando tanto no andamento do desenvol

vimento do próprio aluno como no resgate de verbas públicas

repetências nas primeiras séries de ensino, Lourenço Filho já

estabelecia os critérios de organização das classes escolares.

classes paralelas de Clarapède, Lourenço Filho subdivide cada

classe em uma forte para inteligentes e outra fraca para o que

a seleção de nível do aluno eram vistas como um instrumento

por Bobbitt.

veis: fortes, médios e fracos. Os primeiros podiam apresen

tar a leitura e escrita consolidada, já no primeiro semestre

do ano letivo, os segundos ao término de um ano inteiro e os

últimos precisavam de acompanhamento ou até mesmo di

recionamento a um acompanhamento médico diante do seu

principalmente quando comparados à diminuição dos anos

de repetência por aluno.

locava em seu livro possibilita perceber que o problema da

repetência seria sanado através dos testes, do remanejamento

das classes homogêneas. No entanto, a consolidação da lei

tura e escrita para ele fora explanada de forma a evidenciar a

sua preocupação maior com a estrutura formal e técnica dessa

habilidade e não tanto funcional.

Maturação para quê? Conforme vimos, pela análise anterior: a) para a coordenação de movimentos em ge

a resistência à tendência de inversão na cópia dessas

que permita resistência à fadiga e, assim, um mínimo

to inicial de todos os processos didáticos correntes na

É possível notar que Lourenço Filho colocava a impor

tância da maturidade mais do que a idade mental ou cronoló

gica, pois os objetivos a se atingirem são dependentes do nível

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de maturidade que a criança possui, para isso se baseava nos

níveis de maturação que Gestalt (apud

tos de crescente discriminação conhecidos em seus trabalhos

psicológicos desenvolvidos.

No quadro abaixo, retirado da quinta edição dos Testes

testes adotados:

papel).

2. Resistência à inversão na movimentos).

3. Memorização visualsentadas, em conjunto, por 30’’).

Teste 6 (reprodução de polissílabos não usuais).

6. Resistência à ecolalia ais e não usuais).

corrente).

lado).

9. Índice de atenção dirigida

10. Vocabulário e compreensão geral provas, pelo que envolvem de execução a

uma ordem dada.

car mais de uma análise, pontuando a agilidade da aplicação

ser realizado em um dia por uma professora apenas. Além dis

lhas, lápis e tesoura, recursos materiais que toda escola teria

e seriam utilizados de maneira econômica. Um dos critérios

para os Testes ABC é que eles deveriam ser feitos individual

mente para que a aplicadora (professora) pudesse se concen

trar e conhecer individualmente seus alunos.

Nas edições que se publicaram dos Testes ABC todos

continham a teorização dos conceitos pedagógicos e psico

lógicos trazidos por Lourenço Filho para que se pudesse en

tender a importância e aplicabilidade do teste, bem como um

do teste. Muitos autores criticam a maneira “disciplinadora”

como o aplicador deveria se comportar, no entanto essa pos

tura era essencial na consideração do resultado do teste, pois

ser levadas em consideração somente as respostas dos alunos

sem uma intervenção ou má aplicação do professor. Um passo

fundamental na caracterização das avaliações que posterior

mente seriam disseminadas em larga escala pelo Estado.

Não há como não considerar os avanços que Lourenço

Filho trouxera com esta atividade avaliativa, em que se pon

alunos nas séries iniciais do ensino.

As Contribuições dos Testes ABC para a Educação

As contribuições dos testes ABC foram mais do que apenas

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pois denotou à alfabetização um caráter psicológico dantes não

observado. Mortatti apud

que a preocupação da alfabetização como objeto de estudo se

por meio dos Testes ABC. O primeiro momento se deu início da

ta, em que na leitura se utilizavam os métodos da soletração/

alfabético, fônico e da silabação e a escrita se dava por meio da

dado como a tríade da escrita. O segundo momento se deu com

princípios didáticos de uma nova concepção de criança – início

pelo “todo” para analisar as partes constitutivas, teve como mo

O terceiro momento se deu com a discussão psicológica

sobre a alfabetização. Tendo como culminância os testes ABC,

que determinavam o nível de maturidade da criança para

agrupamento em classes homogêneas para alfabetização. O

mos atualmente é o do construtivismo e desmetodização, no

qual partimos dos traços da psicogênese da leitura e escrita

dade em que a maturidade da criança seria levada em conta

mais do que a idade cronológica tão somente, como o era no

vas pesquisas às ideias de Lourenço Filho.

Lourenço Filho (apud

e que estes se dividiam em quatro categorias:

[...] os que apenas mencionam os Testes ABC como úteis, ou divulgam os resultados de sua aplicação, discutindo questões de aferição e validade de seu teste por

base para investigações relativas a condições de saúde

consideram os testes como instrumento propedêutico em psicologia clínica, isto é, útil à caracterização preliminar de casos de crianças com maiores problemas

fundamentos teóricos gerais da hipótese que os Testes ABC propuseram.

Dessa forma, podemos atribuir aos Testes ABC uma

importância sem igual ao que se pretendia como aluno quali

critica sem fundamentação de tempo e espaço, pois há que

se considerar tudo o que até agora o fora em detrimento ao

contexto histórico, social e econômico que se tinha e precisa

va responder. As ideias de Lourenço Filho subsidiaram pes

suas técnicas desde os anos 1930. Apesar de o seu crescimento

ter sido mais bem observado nos anos 1990 quando agências

de fomentos internacionais viabilizaram as avaliações como

instrumentos de medida aos resultados obtidos.

vários e inúmeros benefícios sociais gerados pelos testes:

ca, por parte dos pais: as escolas puderam ensinar mais, em menor prazo. Depois, em relação a melhor critério de julgamento do trabalho docente, por parte da administração: sabendo que material humano recebeu cada mestre, pôde a administração avaliar com mais justiça do esforço real de cada docente. Ainda depois em relação

A IMPORTÂNCIA DOS TESTES ABC DE LOURENÇO FILHO PARA OS AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DO BRASILALANNA OLIVEIRA PEREIRA CARVALHO • ANA PAULA DE MEDEIROS RIBEIRO38 d d 39

ao estudo objetivo das crianças: a seleção dos alunos veio permitir melhor compreensão das capacidades de aprendizagem dos alunos e tratamento menos empírico de cada grupo homogêneo.

A credibilidade da escola pública estava em baixa, pois

as taxas de reprovação eram altas, com a aplicação dos testes

vação diminuíram consideravelmente. O estado em que mais

Lourenço Filho teve acesso à aplicabilidade e reorganização

conseguiu que os testes chegassem a Belo Horizonte e Distrito

Federal.

Com a boa repercussão que tiveram suas ideias, pesqui

restauração na educação do Estado do Ceará em 1922. Os tes

tes ABC foram utilizados, mas não foram os indicadores mais

bem assistidos. A reforma educacional contou mais além, da

legislação ao processo seletivo e formação que os professo

res primários tiveram de realizar. Segundo Cavalcante apud

o número de matrículas, instituiu concurso para professores,

Os Testes ABC trouxeram repercussões fundamentais

à Psicologia Aplicada relacionada à Educação bem como das

ideias propostas pela Escola Nova em face das teorias e au

tores estrangeiros. É preciso relembrar que o ensino público

começa a se levar em consideração como parte do processo

voga. As ideias de Lourenço Filho foram primordiais a esta

concretização, no entanto, não deixaram de marcar atos e cos

tumes pedagógicos.

As salas homogêneas foram necessárias para atender ao

objetivo de Lourenço Filho naquela determinada ação, tanto é

que hoje elas são criticadas e desvirtuadas do mundo pedagó

gico, pois as ideias posteriores que foram sendo discutidas atri

buíam às salas homogêneas segregação e preconceito. Segundo

convívio entre alunos de desempenhos diferentes, atenuando o

preconceito através das ideias imaginárias e do tratamento do

docente com relação àqueles que são mais capacitados e àque

les que de nenhuma forma conseguirão aprender.

É de fundamental importância que entendamos que

as classes homogêneas foram nos anos 1920 alvo de triunfos

para os objetivos educacionais que se queriam, atualmente es

sas classes já não favorecem aos objetivos que se pretendem.

A atual intervenção de programas de políticas públicas que

atendam o desenvolvimento da criança na leitura e escrita não

O desenvolvimento na leitura e escrita são habilidades que

sugerem bem mais do que as adequações individuais, requer

trato social e interação com os indivíduos e o meio.

Referências

preconceito e desempenho nas classes homogêneas (escola

res)

d 41ALANNA OLIVEIRA PEREIRA CARVALHO • ANA PAULA DE MEDEIROS RIBEIRO40 d

Testes ABC.

MELLO, T. D. de. Os testes ABC: avaliação da aprendizagem

escolar nas décadas de 1930 a 1950. Revista Roteiro, Joaçaba,

Acessado em 21 de janeiro de 2013.

MONARCHA, C. Lourenço Filho e a organização da psicolo-

gia aplicada à educação.

RIBEIRO, A. P. de M. -

gização da educação no currículo e nas formas de avaliar a

aprendizagem. Anais do 2o Congresso Internacional de Ava

SAVIANI, D. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 3.

Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2011.

Testes ABC:

neiro de 2013.

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA REDE FEDERAL DE ENSINO:

O PROEJA EM SEUS AVANÇOS E RETROCESSOS

Alles Lopes de Aquino

Lilianne Moreira Dantas

Eliane Dayse Pontes Furtado

Introdução

Este artigo foi construído em um momento de muitas

indagações, buscas de respostas e está circunscrito ao período

que vai de janeiro de 2011, ano em que atuei como profes

do curso de Telecomunicações do Programa Nacional de In

Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) no

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,

Campus Fortaleza, até abril de 2013, data que marca o início

de minha pesquisa de campo para a consecução do curso de

Mestrado em Educação Brasileira da Faculdade de Educação

da Universidade Federal do Ceará – FACED/UFC. Devido às

circunstâncias de sua escrita, ele não traz em si a proposição

considerações colhidas na experiência relatada bem como no

confronto com as leituras de alguns trabalhos que versam so

bre o tema, sobretudo, da proposta de inclusão da Educação

de Jovens e Adultos no âmbito da Rede Federal de Ensino,

particularmente na unidade escolar mencionada.