Importância da Estatística na Investigação Cientifica e na Tomada de Decisão . "Análise das...

23
1 Importância da Estatística na Investigação Cientifica e na Tomada de Decisão . “Análise das Monografias Cientificas defendidas entre 2010-2011 na USTM Xai-Xai” Hélio Vasco Nganhane 1 “A ciência reclama pessoas flexíveis e inventivas e não rígidos imitadores de padrões de comportamento estabelecidos.” Paul Feyerabend Resumo O presente estudo pretende ressaltar a importância da estatística na investigação concretamente nas pesquisas monográficas que os estudantes fazem como requisito para conclusão dos seus cursos. Nesta perspectiva o estudo faz uma análise das monografias defendidas entre 2010 à 2011 na USTM-Xai-Xai, quanto ao uso de conceitos estatísticos para operacionalização dos seus objectivos e na apresentação de resultados. Os resultados desta análise demonstram que embora algumas monografias apresentem gráficos e tabelas, a sua interpretação não é muito consistente e com um uso reduzido de alguns parâmetros estatísticos como a média, a moda e o desvio padrão. Assim, a partir desta análise e do inquérito efectuado aos estudantes da USTM que já tiveram a cadeira de estatística torna-se possível propor algumas sugestões metodológicas que possam levar o estudante a valorizar a cadeira de estatística na produção científica e na tomada de decisão. Palavras-Chave: Estatística, Investigação, Monografia Científica 1 Licenciado em Ciências Naturais e Matemática, docente de Matemática no Ensino Secundário Geral e Facilitador de Matemática Cultural na UDEBA-LAB.

Transcript of Importância da Estatística na Investigação Cientifica e na Tomada de Decisão . "Análise das...

1

Importância da Estatística na Investigação Cientifica e na Tomada de Decisão .

“Análise das Monografias Cientificas defendidas entre 2010-2011 na USTM Xai-Xai”

Hélio Vasco Nganhane1

“A ciência reclama pessoas flexíveis e inventivas e não rígidos imitadores de padrões de comportamento estabelecidos.”

Paul Feyerabend

Resumo

O presente estudo pretende ressaltar a importância da estatística na investigação

concretamente nas pesquisas monográficas que os estudantes fazem como requisito para

conclusão dos seus cursos. Nesta perspectiva o estudo faz uma análise das monografias

defendidas entre 2010 à 2011 na USTM-Xai-Xai, quanto ao uso de conceitos estatísticos para

operacionalização dos seus objectivos e na apresentação de resultados. Os resultados desta

análise demonstram que embora algumas monografias apresentem gráficos e tabelas, a sua

interpretação não é muito consistente e com um uso reduzido de alguns parâmetros estatísticos

como a média, a moda e o desvio padrão. Assim, a partir desta análise e do inquérito efectuado

aos estudantes da USTM que já tiveram a cadeira de estatística torna-se possível propor algumas

sugestões metodológicas que possam levar o estudante a valorizar a cadeira de estatística na

produção científica e na tomada de decisão.

Palavras-Chave: Estatística, Investigação, Monografia Científica

1 Licenciado em Ciências Naturais e Matemática, docente de Matemática no Ensino Secundário Geral e Facilitador

de Matemática Cultural na UDEBA-LAB.

2

Abstract

This study aims to highlight the importance of statistics in the research, specifically on

research monograph that students make as a requirement for completion of their courses. In this

perspective the study is an analysis of monographs submitted between 2010 to 2011 in USTM-

Xai-Xai, on the use of statistical concepts to operationalize their aim and presentation of the

results. The results of this analysis show that although some monographs present graphics and

charts, their interpretation is not very consistent, with a reduced use of some statistical parameters

such although, standard deviation and fashion. Thus, from this analysis and survey of students

who have had USTM chair statistic becomes possible to propose some methodological

suggestions that might lead the student to appreciate the chair of the scientific and statistical

decision making.

Key words: Statistics, Research, Scientific Monograph

3

1.0. Introdução A estatística investiga os processos de obtenção, organização e análise de dados sobre

uma determinada população. Ela se limita a um conjunto de elementos numéricos relativos a um

facto social, a números, tabelas e gráficos usados para o resumo, a organização e apresentação

dos dados de uma pesquisa, embora este seja um aspecto da estatística que pode ser facilmente

percebido no quotidiano. Ela é uma ciência multidisciplinar, que permite a análise estatística de

dados de um físico, economista, contabilista, auditor, jurista, matemático, biólogo, sociólogo

psicólogo, cientista político e outros profissionais.

Porém, na disciplina de estatística os estudantes de ciências sócias, económicas,

administração e de outras áreas de conhecimento que não sejam de ciências naturais e exactas,

enfrentam sérios problemas por lidar com conceitos abstractos, usar notações e terminologias

complexas e muitas vezes ambíguas e confusas, ter a matemática como linguagem e lidar com

problemas do mundo real que envolvem tomadas de decisões em condições de incerteza,

implicando em inseguranças, medos, ansiedade, atitudes negativas em relação a esta cadeira.

A USTM-Xai-Xai oferece cursos que nos seus planos curriculares apresentam a estatística

como uma das competências a serem adquiridas pelos estudantes durante a sua formação,

contudo devido ao facto de os estudantes não usarem com frequência a estatística nas sua

monografias, faz-nos presumir que não haja grande simpatia por esta cadeira.

Este artigo analisa o grau de aplicação dos conceitos de estatística nas monografias

científicas que os estudantes defenderam para obtenção de grau de Licenciatura na USTM-Xai-

Xai no período 2010-2011, tendo em conta que a estatística é uma ferramenta básica para a

investigação científica.

Apresenta-se ainda, o sentimento que os estudantes têm em relação a esta disciplina

quanto à sua importância e sua aplicação na ciência e na vida profissional.

A razão para escolha do tema prende-se pelo facto de que a disciplina de estatística é dada

em quase todos os cursos mas muitos estudantes não assumem a sua importância tendo-á como

uma daquelas disciplinas que vem retardar o seu processo de aprendizagem, facto este que tem

sido por vezes confrontado pelo autor ao longo do seu trabalho como monitor desta cadeira.

Assim esta pesquisa atendeu responder a seguinte questão: Será que os estudantes

assumem o uso da estatística como uma ferramenta de pesquisa nas suas monografias

científicas? Essa questão é colocada tendo em conta que o interesse por descobrir novos

4

procedimentos por meio da experiência acumulada tem sido determinante para a necessidade de

os profissionais assim como os investigadores perceberem técnicas básicas de metodologia da

investigação e de algumas mais concretas como a análise de dados, para que se apoiem na

quantificação e no estudo do que se observa diariamente e compreenderem melhor o fundamental

de sua área de trabalho.

Para colecta de dados privilegiou-se inquérito com perguntas fechadas e algumas abertas

de natureza opinativa. As fechadas assumiram respostas de “sim” ou “não”. As perguntas de

escolha múltipla produzem respostas mais facilmente analisáveis, codificáveis e informatizáveis

(Foddy, 1996); mas, por vezes as respostas conduzem a conclusões simples demais e a

informação das respostas é pouco «rica» ( Hill & Hill, 2002). As outras questões eram de

resposta aberta. As perguntas abertas apresentam as seguintes vantagens: podem dar mais

informação; muitas vezes dão informação mais «rica» e detalhada; por vezes dão informações

inesperadas (Hill & Hill, 2002); não sugerem respostas; indicam o nível de informação de que os

inquiridos dispõem; indicam o que é mais relevante no espírito dos inquiridos (Foddy, 1996).

Mas apresentam as seguintes desvantagens: muitas vezes as respostas têm de ser «interpretadas»,

são mais difíceis de analisar e a análise requer muito tempo ( Hill & Hill, 2002).

5

2.0. Referencial Teórico

2.1. Estatística na Pesquisa Cientifica

Pesquisa é um conjunto de acções, propostas para encontrar a solução para um problema,

que têm por base procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem

um problema e não se tem informações para solucioná-lo.

Para GIL (1999), a pesquisa tem um carácter pragmático, é um “processo formal e

sistemático de desenvolvimento do método científico. O objectivo fundamental da pesquisa é

descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”.

Conforme pode-se perceber na definição de Gil, para procurar respostas de um dado

problema é necessário ter procedimentos científicos dos quais a Estatística joga um papel

importante, pois ela apresenta conceitos que possam ajudar para a consecução dos objectivos e

testar as hipóteses formuladas na pesquisa.

Para Matsushita (2010),

O que se entende, modernamente, por Estatística ou Ciência Estatística é muito mais do

que um conjunto de técnicas úteis para algumas áreas isoladas ou restritas da ciência. Por

exemplo, ao contrário do que alguns imaginam, a estatística não é um ramo da

matemática onde se investigam os processos de obtenção, organização e análise de dados

sobre uma determinada população. Também não se limita a um conjunto de elementos

numéricos relativos a um fato social, nem a tabelas e gráficos usados para o resumo, a

organização e apresentação dos dados de uma pesquisa, embora este seja um aspecto da

estatística que pode ser facilmente percebido no quotidiano.

Segundo Rao (1997), um dos mais importantes estatísticos do século, refere que a

estatística pode ser definida de uma forma simples e objectiva. Ele define a estatística pela

equação: Conhecimento incerto + Conhecimento sobre a incerteza = Conhecimento útil. Neste

sentido, o objectivo da Estatística é analisar os dados disponíveis e que estão sujeitos a um certo

grau de incerteza no planeamento e obtenção de resultados.

A estatística é definida como um conjunto de métodos e técnicas que envolve todas as

etapas de uma pesquisa, desde o planeamento, coordenação, levantamento de dados por meio de

amostragem ou censo, aplicação de questionários, entrevistas e medições com a máxima

quantidade de informação possível para um dado custo, a consistência, o processamento, a

organização, a análise e interpretação dos dados para explicar fenómenos socioeconómicos, a

6

inferência, o cálculo do nível de confiança e do erro existente na resposta para uma determinada

variável e a disseminação das informações.

A estatística assume uma larga importância desde há muito tempo, por volta dos séculos

XVI e XVIII, as nações começaram a buscar o poder económico como forma de poder político.

Os governantes, por sua vez, viram a necessidade de colectar informações estatísticas referentes a

variáveis económicas e sociais tais como: população, produção de bens e serviços, produção de

alimentos, comércio exterior, saúde, educação (ENCE, 2010).

Os estudos pioneiros mais importantes,

que criaram um vocabulário estatístico, foram feitos pelo alemão

Gottfried Achenwall em 1746, de onde surge a palavra estatística, que

deriva da palavra latina STATU, que significa estado. Ele foi um dos

intelectuais que mais significativamente contribuíram para o

desenvolvimento da Estatística moderna, pois tratava da descrição

abrangente das características sócio-político-económicas dos diferentes

Estados. No século XVII ocorreu na Inglaterra a primeira tentativa de

tirar conclusões a partir de dados numéricos, que foi chamada de

Aritmética Política, actualmente chamada de demografia

(ESTATÍSTICAS, ATUAÇÃO PROFISSIONAL..., 2010).

Inesul (2010) destaca que foi somente no século XIX que a estatística começou a ganhar

importância nas diversas áreas do conhecimento. A partir do século XX começou a ser aplicada

nas grandes organizações, quando os japoneses começaram a falar em qualidade total, surgindo a

estatística moderna, considerada uma disciplina. A partir daí, a estatística evoluiu de forma

significativa, passando a ser utilizada nos diferentes sectores da sociedade como forma de

obtenção de informações a partir do levantamento de dados com base em métodos de

amostragem complexos.

A utilidade da estatística se expressa no seu uso, na ciência grande parte das hipóteses

científicas, independentemente da área, precisa passar por um estudo estatístico para ser aceita ou

rejeitada. Na área médica, por exemplo, nenhum medicamento pode ser disponibilizado para o

mercado se não tiver sua eficácia estatisticamente comprovada. O grande volume de informações

produzidas pelo mundo moderno (pesquisas por amostragem, censos, internet, mercado

financeiro).

7

A estatística pode ser considerada como uma ciência quando, baseando-se em suas

teorias, estuda grandes conjuntos de dados, independentemente da natureza destes, sendo

autónoma e universal. É considerada um método quando serve de instrumento particular a uma

determinada ciência (como na Agronomia, na Biologia, na Física, na Medicina ou na Psicologia).

Finalmente, é considerada arte quando é aplicada visando à construção de modelos para

representar a realidade (LOPES, 2010).

Ainda nesta perspectiva Segundo Morettin (1981), o cidadão comum pensa que a

estatística se resume a apresentar tabelas e gráficos em colunas desportivas ou económicas de

jornais e revistas ou, ainda, associam-na à previsão de resultados eleitorais. Porém, ressalta que a

estatística moderna não é responsável apenas pela criação de tabelas e gráficos, mas trabalha

também com metodologias científicas muito mais complexas.

Assim, dentre essas tarefas a estatística é responsável pelo planeamento de experimentos,

interpretação dos dados obtidos através de pesquisas de campo e apresentação dos resultados de

maneira a facilitar a tomada de decisões por parte do pesquisador/gestor.

2.2. Estatística no dia-a-dia

Vários são os motivos que podia-se citar aqui para tentar convencer que vale a pena

estudar e entender a Estatística, o estudo da Estatística pode tornar o profissional mais crítico em

sua análise de informações, e menos sujeito a afirmações erróneas que andam por aí no nosso dia-

a-dia, como as que se acham comummente associadas a pesquisas, gráficos e médias.

Qualquer pessoa e sobre tudo um estudante ou profissional que esteja ou já concluído

nível superior deve aguçar sua capacidade para reconhecer dados estatísticos distorcidos e de

interpretar inteligentemente dados que se apresentem sem distorção.

2.2.1. Exemplos de informações estatísticas incorrectas que podem influenciar uma decisão

a) Os motoristas mais idosos são mais seguros do que os mais jovens?

Quantas vezes discursos dessa natureza, na midía, nas conversas com amigos. Para uma

pessoa menos atento pode tomar essa afirmação como padrão para influenciar sua decisão se que

analise primeiro os seguintes aspectos:

8

1º Os motoristas mais idosos não dirigem tanto quanto os mais jovens (Moçambique é um

país jovem).

2º Moçambique é um País jovem então entre jovens motoristas e idosos onde há maior

número?

Então essa afirmação não é correcta por que no lugar de considerar apenas o número de

acidentes deve-se examinar também as taxas de acidentes por faixa etária.

Sofia (2010) na sua tese de mestrado mostra um exemplo estatístico que pode influenciar

erradamente uma decisão….

b) "90% dos carros vendidos nos EUA nos últimos 10 anos ainda estão rodando”.

Milhões de consumidores ouviram esta mensagem e ficaram com a impressão de que esses

carros devem ter sido muito bem construídos para durarem tanto. O que o fabricante não

mencionou foi que 90% dos carros por ele vendido o foram nos últimos três anos. A alegação,

embora tecnicamente correcta, era enganosa, por não apresentar os resultados completos.

9

3.0. Metodologia de Pesquisa A pesquisa desenvolvida baseou-se em metodologias qualitativas e quantitativas, buscou-

se aliar as concepções teóricas relativas ao tema e as necessidades práticas da colecta de dados,

nas monografias defendidas entre 2009 á 2011 no curso de Gestão de Empresas na USTM-Xai-

Xai. A pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso2, envolvendo as opiniões dos estudantes

que já tiveram a cadeira e as observações efectuadas nas monografias.

Na pesquisa qualitativa fez-se uma análise á 29 monografias sendo 16 defendidas em

2009, 04 defendidas em 2010 e 08 defendidas em 2011. A pesquisa quantitativa teve como

instrumento básico de colecta de dados um questionário, aplicado a uma amostra de 40 estudantes

de Cursos de Gestão de Empresas e Contabilidade e Auditoria que já tiveram a cadeira de

Estatística.

Com o questionário privilegiou-se a pesquisa do tipo survey que

“pode ser descrita como a obtenção de dados ou informações sobre

características, acções ou opiniões de determinado grupo de pessoas,

indicado como representante de uma população alvo, por meio de um

instrumento de pesquisa, normalmente um questionário” (TANUR apud

PINSONNEAULT e KRAEMER, 1993).

As principais características do método é produzir descrições quantitativas por meio do

uso de um instrumento predefinido. É apropriado quando o foco de interesse é sobre “o que está

acontecendo” e “como e por que isso está acontecendo”, quando não se tem interesse em

controlar as variáveis dependentes e independentes, quando o ambiente natural é o melhor local

para estudar o fenómeno de interesse e o objecto de interesse ocorre no presente (FINK, 1995a,

1995c).

Durante a análise das monografias, foram observados os aspectos referentes ao uso de

conceitos de estatísticos, como foram definidas as mostras, ao nível de interpretação de gráficos,

cálculos que são apresentados nos relatórios. As observações foram correlacionadas e postas em

uma tabela.

22

Segundo YIN (1981) citado por GIL (199:14), “O estudo de caso é um processo empírico que investiga um fenómeno actual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto são claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidência.

10

Para identificar o nível percepção dos estudantes quanto a importância que atribuem a

estatística, elaborou-se um questionário estruturado, formado por questões fechadas e abertas

onde todos os entrevistados são submetidos às mesmas perguntas e às mesmas alternativas de

respostas (ALENCAR: 1999).

Para a análise dos dados foram utilizadas algumas medidas de estatística descritiva:

frequência e percentagens. Considerou-se que: f- a frequência de respostas; N- representa o

número de alunos.

As respostas às questões abertas foram classificadas em categorias e tratadas por análise

do seu conteúdo, o que permitiu analisar as frequências de respostas.

11

4.0. Análise e Discussão de Resultados Fizeram parte de desta pesquisa 40 estudantes, sendo 65% mulheres e 35% de homens. A

idade dos estudantes abrangidos varia entre 23 á 42 anos. Foram observadas 29 monografias das

quais 16 definidas em 2009 que correspondem a 55%, 4 de 2010 que correspondem a 14% e 9 de

2011 que correspondem a 31%.

4.1. Análise das monografias

O gráfico apresenta resultados da análise feitas as monografias quanto ao uso dos

conceitos de estatística, onde constatou-se que 67% das monografias defendidas em 2009 tinham

défice de conceitos de estatística

quando a definição da amostra,

delimitação da população e outros

parâmetros estatísticos, mas o mesmo

já não acontece quanto as

monografias de fendidas em 2011.

Das monografias observadas 69% os

estudantes apresentam temas que

sugerem um estudo de caso, mas não

indicam o local nem a respectiva

delimitação, facto que a prior

condiciona a escolha com sucesso do

grupo alvo da pesquisa.

Segundo YIN (1981) citado por GIL (1999:14), “O estudo de caso é um processo

empírico que investiga um fenómeno actual dentro do seu contexto de realidade, quando as

fronteiras entre o fenómeno e o contexto são claramente definidas e no qual são utilizadas várias

fontes de evidência.

Para MUNGUAMBE, (2008:48), Estudo de caso Ӄ um estudo profundo e exaustivo

de um ou poucos objectos. Considera-se que a partir de análise, de uma unidade é possível a

compreensão da generalidade do universo.”

12

Olhando a ideia destes dois últimos autores acima referenciado, fica claro que a

monografia que não estabelece fronteiras claras terá resultados não aplicáveis ou que não sugere

uma solução viável.

Os estudantes que apresentam delimitação bem clara e cálculos de parâmetros estatísticos,

tem gráficos e tabelas que depois não fazem uma exploração de modo que ponham os dados a

“falar” ou seja trazer a informação existente por detrás de um número. Apenas uma minoria das

monografias analisadas apresentam o uso das Estatísticas Inferenciais, sendo essas

principalmente de natureza não-paramétrica.

A tabela 1 apresenta percentagem das monografias que na sua metodologia referenciaram

e usaram amostragem para recolha de dados, facto que é muito satisfatório pois esta em 66%.

Verificou-se nas monografias uma tendência de uso correcto da teoria de amostragem,

colocando-se por vezes as fórmulas que conduziram a geração dos números do grupo alvo

inquerido. A maioria destas monografias que apresentam uma preocupação de definir a mostra,

privilegiaram a fórmula de Yamane, que é muito aconselhável para estudos de caso que usam o

questionário para a colecta de dados pois esta, não precisa de conhecer o desvio padrão da

amostra ou a proporção do sucesso da população

Tabela 1 - Distribuição de frequências, em números absolutos e relativos, da utilização de amostragem

nas monografias analisadas

Utiliza amostragem Monografias Percentagem (%)

Sim 19 66

Não 10 34

Fonte: autor

4.2. Análise dos resultados do questionário

Os estudantes foram unânimes em responder a pergunta 6, do questionário (apêndice) que

questionava se eles atribuíam uma importância a disciplina de Estatística onde todos (100%)

responderam sim. Na pergunta 5 apenas 30% responderam que passaram o exame de Estatística

logo no exame normal com boa nota. A maioria (62%) respondeu que passou no exame normal

mas com nota na tangente (10 e 11). Esses dados revelam que apesar de os estudantes atribuírem

13

maior importância a disciplina, eles enfrentam dificuldades para aprimorar os conceitos durante o

processo de aprendizagem.

Na questão 10, constatou-se que os estudantes mostram-se receosos quanto ao uso da

Estatística nas suas monografias, apesar de terem passados da cadeira, onde 82% assumem que

usariam a Estatística mas enfrentariam dificuldades e 10% dizem que usariam a estatística no

caso de o supervisor recomendar, mas não com iniciativa própria.

Outro facto importante para referenciar é que apenas 23% dos estudantes citaram alguns

exemplos práticos que poderiam usar a Estatística, 77% deixaram em branco a questão. Segundo

Mattar (1994), “as perguntas abertas são vantajosas, por que permitem avaliar melhor as atitudes

do respondentes e analisar de uma forma estruturada”. Assim pressupõem duas razões para que

podem terem contribuído para a maioria ter deixado em branco: a 1ª, preguiça para escrever as

respostas por parte do respondente e a 2ª ‘e a falta conhecimento coerente da real importância da

disciplina dado que não conseguem citar exemplos concretos.

4.3. Discussão Crítica dos Resultados

Hoje em dia a pesquisa científica, evidencia a necessidade de superar a dicotomia das

abordagens quantitativa e qualitativa e de se buscar uma maior aproximação da quantificação à

qualquer área do conhecimento, para puder facilitar uma visualização mais completa dos

problemas com os quais a sociedade se depara na realidade. As quantificações fortalecem os

argumentos e constituem indicadores importantes para análises qualitativas. Assim,

a pesquisa quantitativa não se coloca em oposição à qualitativa. Tomo como

pressuposto que as duas convergem para a complementaridade mútua, sem

vincular os procedimentos e técnicas a questões metodológicas e paradigmáticas,

ou seja, o tratamento quantitativo exclusivamente ao positivismo e as abordagens

qualitativas ao pensamento interpretativo (fenomenologia, dialéctica,

hermenêutica...). (OLIVEIRA, Apund GRÁCIO e GARRUTTI, 2005: 44)

Há uma necessidade de reflectir-se sobre os principais objectivos da Disciplina de

Estatística nos Curso de Gestão Empresarial e Contabilidade Auditoria que USTM-Xai-Xai

lecciona.

Com as monografias analisadas e o questionário aplicado, chega-se a uma constatação de

que muitos estudantes ao terem que frequentar a disciplina Estatística “metem na cabeça” que

14

terão de estudar uma série de conceitos sem utilidade prática, apresentam dificuldades no

tratamento do conteúdo e na associação do conhecimento estatístico apresentado em aula com a

realidade do seu campo do conhecimento e não conseguem, por conseguinte, visualizar como a

metodologia estatística será aplicada na sua futura prática profissional, mesmo para uma situação

de pesquisa.

Com esta realidade que a prior não é apenas dos estudantes da USTM-Xai-Xai, o ensino

de Estatística deve tratar de questões da realidade dos estudantes, de forma a instigá-los na

percepção de como as quantificações estão inseridas nos diversos panoramas do seu quotidiano.

É por meio da visualização da utilidade prática da Estatística, que os estudantes perceberão sua

importância no mundo real, ambiente do qual fazem parte.

Segundo Sowey Apund GRÁCIO e GARRUTTI (2005: 44), destaca que “ensinar

coerentemente a Estatística significa inseri-la em um todo maior. A partir do momento em que os

alunos conhecem e compreendem os tratamentos estatísticos, percebendo suas implicações e

significações no todo em que se insere, alarga-se a possibilidade de os conhecimentos comporem

a estrutura cognitiva e serem duradouros”.

Oliveira e Grácio (2003) destacam que o professor de Estatística, nesse contexto,

necessita romper com o modelo reprodutivo no qual tem a função de apenas executar um

programa já pronto, partindo para a construção de cursos que priorizem o instrumental estatístico

mais pertinente à área de actuação do futuro profissional.

Desse modo, especialmente quando trabalhada como disciplina de natureza instrumental,

o acto de vincular o conhecimento estatístico ao universo de conhecimento do estudante requer

do docente a compreensão do campo para o qual se propõe ser instrumento.

O docente de Estatística que actue num desses cursos que USTM-Xai-Xai, lecciona,

necessita, assim, ampliar seus conhecimentos na busca do desenvolvimento de um trabalho mais

contextualizado, integrando os conceitos da própria disciplina com os demais conceitos do curso

(interdisciplinaridade) em que está inserida.

A análise acima proposta, possibilitará a formação de um diagnóstico preliminar da

prática docente na disciplina de Estatística dos cursos de Gestão de Empresas e Contabilidade

Auditoria. Reconhece-se a limitação dessa análise, já que o sucesso de aprendizagem de uma

certa disciplina depende também de do Plano de Ensino embora este também seja uma espécie de

carta de intenções. Nesse sentido, Oliveira (1996: 90) aponta que:

15

o significado e a relevância de uma disciplina dentro de um curso depende não só

dos conteúdos, objectivos e procedimentos contemplados em seu plano de ensino

mas sobretudo da mediação realizada pelo professor, da medida em que esse

plano foi de fato implementado, ou seja, do ensino concretamente realizado em

sala de aula.

Embora consciente dessa limitação, entende-se que a investigação poderá oferecer um

diagnóstico preliminar, revelando a directriz que o docente imprime em seu trabalho com os

estudantes.

Outro facto que deve ser analisado é facto de o estudante entrar na sala de aula pensando

que a disciplina é difícil com forme relatam a análise do questionário onde a maioria, considera a

estatística uma disciplina difícil, que precisa de muita prática. Essa concepção que traz de casa

faz com a sua motivação intrínseca seja inibida.

16

5.0. Considerações Finais

A pesquisa teve como objectivo avaliar o nível de aplicação de conceitos de estatística nas

monografias científicas defendidas e na USTM-Xai-Xai, no intervalo de 2009 á 2011.

A avaliação feita as monografias e através do questionário evidenciaram que os estudantes tem

aprendem a cadeira de estatística mas pouco aplicam nas suas monografias ou seja nas suas

pesquisas. Dentre os motivos para tal realidade, enfatiza-se o desinteresse pela abordagem

quantitativa, por parte dos estudantes, como pode acontecer as outras cadeiras que usam os

cálculos para o suporte das suas teorias, como as Contabilidades, Cálculo Financeiro, etc.

Porém há uma necessidade de tomar a disciplina de estatística como de estrema importância

porque estatísticas confiáveis são cada vez mais indispensáveis para o sistema de informação de

uma sociedade democrática, servindo às diferentes esferas de governo, às empresas privadas e à

população em geral com dados sobre a economia, a demografia e as condições sociais e

ambientais do País.

A importância da estatística para o estudante assim como qualquer pessoa que actual na

sociedade de uma forma consciente pode ser vista através da sua utilização ao nível do Estado, de

organizações sociais e profissionais, do cidadão comum e ao nível académico. Não restam

dúvidas de que uma base de informações qualificada é fundamental para a adequada gestão das

políticas públicas, das organizações, etc.

Neste contexto, a estatística teve e continuará tendo um grande papel na transformação

dos métodos de pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento, aumentando o nível de confiança

das informações divulgadas pelas pesquisas e favorecendo a tomada de decisões acertadas, em

face das incertezas, na implementação e avaliação de políticas socioeconómicas.

Então os fazedores de processo de ensino aprendizagem na USTM-Xai-Xai, devem

redobrar esforços na busca de uma interacção entre docentes das áreas específicas e da disciplina

estatística para desenvolvimento de um trabalho mais contextualizado, integrando os conceitos da

disciplina de estatística com as demais do curso (interdisciplinaridade) em que está inserida.

17

6.0. Referências Bibliográficas 1. ALENCAR, E. Introdução a Metodologia de Pesquisa Social. Lavras: UFLA/FAEPE,1999;

2. ENCE. Aplicações de estatística. Disponível em: <http://www.ence.ibge.gov.br/estatistica/

imprimir.asp?URL=/estatistica/aplicacoes.asp>. Acesso em: 23 jul. 2011;

3. ESTATÍSTICAS, Actuação Profissional, Formação, Mercado de Trabalho. Disponível em:

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/estatisticas/estatisticas-2.php>. Acesso em: 23

jul. 2012;

4. INESUL. Inesul Destaca a Importância da Estatística no Mundo Contemporâneo. Disponível

em: <http://www.inesul.edu.br/maranhao/mat3.htm> . Acesso em: 10 jul. 2012;

5. Foddy, W.. Como Perguntar: Teoria e Prática da Construção de Perguntas em Entrevistas e

Questionários. Celta Editora, Oeiras 1996;

6. HILL, M. & HILL. Investigação por questionário. Edições Sílabo, Lisboa 2002;

7. MATSUSHITA, R. Y. O que é estatística? Disponível em: <http://vsites.unb.br/ie/est/

complementar/estatistica.htm>. Acesso em: 14 jul. 2012;

8. .MUNGUAMBE, Salomão, Texto de Apoio: In Métodos e Técnicas de Investigação

Económica, Faculdade de Economia – Universidade Eduardo Mondlane, Maputo: 2007;

9. OLIVEIRA, E. F. T., GRÁCIO, M. C. C. A Estatística no curso de pedagogia da

UNESP/campus de Marília. In: SEMINÁRIO IASI DE ESTATÍSTICA APLICADA –

“ESTATÍSTICA NA EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO EM ESTATÍSTICA”, 9, 2003, Rio de

Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: IBGE, 2003. 1 CD-ROM. Disponível em:

<http://vsites.unb.br/ie/est/ complementar/estatistica.htm>. Acesso em: 10 jul. 2012

10. RAO, C. R. Statistics and truth: putting chance to Work. 2ed. Singapura: World Scientific,

1997;

_____. Statistics: a technology for the millennium Internal. J. Math. & Statist. Sci., v.8, n.1, p.5-

25, June 1999;

11. GRÁCIO, M. C. C.; GARRUTTI, E. A. A Selecção e Organização de Conteúdos para a

Disciplina Estatística Aplicada à Educação. In: SEMINÁRIO IASI DE ESTATÍSTICA

APLICADA – “ESTATÍSTICA NA EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO EM ESTATÍSTICA”, 9,

2003, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: IBGE, 2003b. 1 CD-ROM. Disponível em:

<http://vsites.unb.br/ie/est/ complementar/estatistica.htm>. Acesso em: 10 jul. 201

Apêndice

Questionário para estudantes.

19

20

Para estudantes que já tiveram a disciplina/cadeira de estatística Este questionário insere-se num estudo que se está a desenvolver sobre a aplicação da disciplina de estatística nas monografias e na tomada de decisão.

O estudo pretende compreender os aspectos relacionados com a importância da estatística atribuída pelos estudantes.

O questionário é anónimo (não se identifique). Solicita-se a sua colaboração respondendo ao mesmo.

II. Formação anterior

3. Qual foi sua formação no nível médio

Ensino geral

Ensino técnico profissional

4. Na sua formação no nível médio teve a disciplina de Estatística ou Matemática

III. Motivação em relação a disciplina

Sim Não

21

5. Quando frequentou a disciplina de estatística: A. Passou logo no exame normal com boa nota

B. Passou logo no exame com nota na tangente

C. Passou na recorrência

D. Deveu a cadeira e passou no ano seguinte

E. Ainda está a dever a disciplina

6. Acha que a disciplina de estatística tem importância na sua formação?

7. Se tivesse tido uma opção para estudar outra disciplina no lugar da estatística teria optado por estatística?

Se sim. O que te levaria estudar a estatística (motivações)? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. Concorda com aqueles que dizem que a estatística não tem muita aplicação na academia, assim como na vida prática?

Se sim, por quê? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. Cite alguns exemplos práticos que poderia usar a estatística? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Sim Não

Sim Não

Sim Não

22

10. Durante a pesquisa da sua monografia se o seu supervisor propor-lhe o uso da estatística irá concordar?

A. Não, por que não entendo bem a estatística. ( ) B. Sim, por que ele quer assim mas teria que procurar alguém para me ajudar. ( ) C. Sim, mas enfrentaria dificuldades. ( ) D. Sim, entendo bem a estatística. ( )

Outros

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. Na sua opinião porquê muitos estudantes têm dificuldades para fazer a cadeira de estatística? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. Tem sugestões que gostaria que fossem aplicadas nas aulas de estatística, de modo a que os estudantes aprendam com facilidade e valorizem esta cadeira?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Fim, Hélio Nganhane

23

Índice Pg 1.0. Introdução ......................................................................................................................................... 3

2.0. Referencial Teórico ........................................................................................................................... 5

2.1. Estatística na Pesquisa Cientifica ................................................................................................... 5

2.2. Estatística no dia-a-dia .................................................................................................................. 7

2.2.1. Exemplos de informações estatísticas incorrectas que podem influenciar uma decisão ............. 7

3.0. Metodologia de Pesquisa ................................................................................................................... 9

4.0. Análise e Discussão de Resultados .................................................................................................. 11

4.1. Análise das monografias .............................................................................................................. 11

4.2. Análise dos resultados do questionário ........................................................................................ 12

4.3. Discussão Crítica dos Resultados ................................................................................................. 13

6.0. Referências Bibliográficas ............................................................................................................... 17