GAZETA MEDICA

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Transcript of GAZETA MEDICA

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NO XXVI JUILHO pK>mao,, 1894

GAZETA MEDICADA BAHIA

^UBLICADASOB A D I It E C Ç Ã 6 DO

Dr. A. PACÍFICO PEREIRA, In.U ile liisldffgia ilu Faculdade ile Medicina h lliiliiu

COM A COLIAHO RAÇÃO DOS SRS.Dr. J. F. HA SII.VA tl.HA, medico diretivo ilu Hospital ile Caridade

llr. J. L. D'.U.HKIDA COITO, leiile de clinira medica d» Fiiciililíiile ilu BahiaDr. M. VICTORIXO PEREIRA, lente de clinica cirúrgica da Faculdade de .Medicina da Rahia

Dr. PEDRO S. MAGALHÃES, lente de pilhologia cirúrgica da Faculdade de Medicina do Rio de Jaiuirollr. I'A MIRO A. MOXTEIRO, lente de clinica medica da Faculdade da Rahia

Dr. A, PACHECO MEXRÜS, lente de clinica cirnrgica da Faculdade da RaliiaDr. J. REMÉDIOS MONTEIRO, iiiemliM da Academia Nacional de Medicina

Dr, M. M. PIRES CALDAS, cinir0'iüo cITectivo du Hospital de Caridade

REDACTOR-GERENTEDr. BRAZ DO AMARAL

I<«nte Substituto da Faculdade ua Bahia

1. I

JPreço cia. A.asi&xia.tu.re.PAGAMENTO ADIANTADO

Para a capital 58 Fóra da capital e do EsladoPor um anno . . . . 10*000 ©Por um anno 12$000Por seis mezes .... 5$000 g$ Por seis mezes .... C$000

Fascicnlo avulso l$000Os estudantes de medicina pagarão somente 8*000 por anno ou 4*000 porsemestre.

Os assignantes de fora da capital e do Estado podem rernetter a impor-tancia de sua»assignaturas peto Correio, cm cartas rdriálnidgs mi t>m valepostal, ao rèdactor-gerente Dr. Braz do Amaral. •:,.v**i-"'~--"TTw/vS

v, íXíf .&fâò'WrWiÚnico agente da Gazeta SIcdica da Bahia para a França o Sr. II. UAf-LER

23, rua Riclier, Paris. f"^:?., f*•»—m.,_i. ¦'

LITIIO-TYPOCRIPIIÍA DE JOÃO GONÇALVES TOURINHOLargo das Piincezas n. 15. 2.« andar

1894

1

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SUMMARIOI. Pathologia h.stoiica w4tiit«A.-ii.ia* algumas informações enotas «cerca da pestilencia da bicha (febre amarella) que rei-nou em Pernambuco e na Bahia no século 17. Carta do Dr Gui-lhorme Stndart ao Dr. Silva Lima. Pag. l a 10II. Hyg.ehe PüBtiCA.-Synopse dos trabalhos do Conselho Geral deSaude Publica d. Bahia, desde Setembro de 1892 a Dezembro de1893. Pags. 10 a 24.

III. EpiDEMiotOGiA-Endemo-epidemia da Jacobina, Pelo Dr JulianoMoreira. Pags. 25 a 30.17. Bacteriolog.a -Contribu.çâo para o estudo bacteriológico do ba-ello de Lisboa. Pelo Dr. Luiz Pereira da Costa e Charles Lepi-ere. Pags. 31 a 48.

V. Vaiuedade.-O Brazil na sessão de Seiencias Medica* da E*posicJode Chicago.-Pag 38 a 42.VI. Rev.sta da iiruifu medica. -1, Extmcção d* varíola. í. Tran-sfuçao do sangue em aeu aspecto medico-legat 3. Sobre oreactivo deSpiegler parau Investiga da albumina nas uri-nas 4. Parece escripto para nó*. 5. A hypertrophia da prós-tata tratada pela castração. Pag 42 a 40.

VII. NoTic.AH.o.-Mappa do movimento geral do hospital da Miser icor-dia da Bahia, de 1- de Jultn d3 18)3 a 3) de Jmih> de 1894.

[NBDALHA U PRATA e Mwçíkhonrozana^xpoS

I .. _!?_í_£_FST,vo., COMPLETOELIXIR EUPEPTICO TISYTendo por tose pancmttna, tílastase e pepsina

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COlhereS\^i&™^^ ou no fim das refeições.MBDALSA de PSATA r.a Exposição Internacional de 18*6.VINHO de BAUDON

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ANNO XXVI AGOSTO 1894 VoiGAZETA A

DA BAHIA1EDICA

^UBLICADA', SOB A DIRECCÃO DO

Dr. A. PACIFICO PEREIRA, tentí de Mitologia ila Faculdade Je Hetljcina tia BahiaCOM A COLLABORAÇÃO DOS SRS.

Dr. J. F. DA SILVA LHA, ¦dica tffectiv» ilo Hospital dc CaridadeDr. t. L. D'AL1EIDA COITO, lente d« elíaica merfica da Faculdade da Bahia

Dr. I. VlCmiM PEREIRA, bate Je eiiaiea eira. gira da FaeakMe de ledieioa da Bahia,m lim S. RAfiALBÃIS, late de pfahp»cirúrgica da Faeddade (te Mim» de Rio de Janeiro

aV. RARH0 A. RWtfEH.0, Uutt.de clinica abdica da Faculdade da lábiaDr. A. PACRICO REMES, kcta ée cliaiea tirar;ica da Faculdade da Bahia*. J. RIWIOS HN1BR-9, mato» da Aeadeaua Kaeisia) de ledi.iM

tu. -,-Di^R. I. PIRES CALDAS, eirargüe efleclív» dé Ifnipital de Caridade¦*--t! ' "'; -r fí r' è J •'

REDACTOR-GERENTE¦f . ... ,-.',%?"/•.° Dr. IRAI DO AlARAl

Lente Substituto da Faculdade da Bahia

Preço cia. Assiçrn&UiraPAGAMENTO ADIANTADO

Parà a capital | Fora da capital e do EstadoPor um anno. ..,., . 10*000 a Por am anno. . ioaooaPor seis mezes .... 5$000 g Por seis mezes . i

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Faseiculo avulso. '

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•ei^SâldalltCS * m4!dlctaa P*8ar3° somente 8$ooo por anno ou 4$ooo poOi Mtifnantes de fora da capital e do Estado podem remetter 1 imnnrtoda de sa» assignaturas wío Corivjo. era carlas r^ítradas ou êKíê«•Uai, ao redactor-gerente Kr. Braz do Amaral, ^'"u^ oa em va'e

•«ü25°._?S£te da «faze/o aTedtea da Bahia para aFrança o Sr. B.MAHLERsa, roa Bicner, Paris.

UTH0-TVP06RAPBIA DE JOÃO GONÇALVES T01ÍRIM0Largo das Princezas n. 15. 2.« andar

1894

I. MnicnfA Legal.—Os tnaoultsmos montes e o Código penal. PeloDr.-J.R. daCosta Dorea. Pag. 49 a 60.

II. EpujusOolocu.-Eademo-epidemia da Jacobina. Pelo Dr. JulianoMoreira. Pag. 61 a •.

IU. HTeimx Publica.—Estatistica Sanitária do Bio de Janeiro e des. Paulo. Pyrexias le S. Paulo. Pag. 64 a 91*

IV. Meteorologia.-Res-umo diu observações meteorológicas do mez deJulho. Pag. 91 a 92.Y. Variedades.—Pag. 99.

VI. Noticiário — 1. Faculdade de Medicina da Bahia. $. Publicações re-cebidas. Pag.92 a 93.

VII. Mappa Mensal do Hospital da misericoroia.—Pag. i>4a 95.

DKOCST1VO «Oi•sins.

Tê/uto por bast tancruUna, dlastasi $ ftêfislna.CorrtaWOmêaaant è aafaãtêê êO*CORPOS 6RAXOS, FKCULCMTOS C DAS CARNESA renmao dos Ira fermento* eupéptico* avante a grande «dncacia d'esteeüxir contra qualquer dyspepsia. ET de sabor agradarei, o deindefinida em todos os climas. — Muito aproveiu contra as geetndffieaa dilatação do estornem», o lestio, as dyspepaiee, a dtarrhee dascrunç-t (Cholera infantil) • a etrepeie.Dós»: Uma a duas colhem, da» ãe aja, ao começo ou no fim ias refeições." ' ¦ '

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SVMMABIO

I. Clinica de moléstias nervosas.—Hysteria grave. Cara pela Psycho-therapia Saggestiva. Pelo Dr. A. Barretto Pragoer. Pag. 97 a 105.

II. Hygiene publica.—Saneamento da Babia Projecto d'esgotos. Editalda Intendencia Municipal. Memória justificativa apresentada pelosEngenheiros J. Silveira França e Adolfo Morales de los Rios. Pag.105 a 132.

III. Epidemiologia.—Pyrexias de S. Paulo. Pag. 132 a 141.IV. Meteorologia.-Resumo das observações meteorológicas do mez de

Agosto. Pag. lll a 112.V. Noticiário.—1. Faculdade de Medicina da Bahia. 2. Publicações

novas. Pag. 112.VI. Estatística hospitalar. -Mappa mensal dos doentes do hospital da

Misericórdia. Pag. 143 a 144.

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CORPOS GRAXOS, FECULENTOS E DAS CARNESA reunião dos tres fermenlos eupépticos garante a -grande cfficacia d'este

elixir contra qualquer dyspepsia. £ de sabor agradável, e de conservaçãoindefinida em todos os climas. — Muito aproveita contra as gastralgias,a dilataçâo do estômago, o fastio, as dyspepsias, a aiarrhea dascrianças (Cholera infantil) e a atrepsia.

Dósb : Uma a duas colheres, das de sopa, no começo ou no fim das refeições.1W.T1AT.WA &a PRATA na Expoc-lclo Internacional ds 1875.

VINHO de BAUDONA.NTIM0NI0-PH08PHA.TAD0

TÔNICO RECONSTITUI]Muito superior ao óleo dê <88Ü0 Éê kaulhw, e muito aproveita contra

o Enfraquecimento geral, a Anemia, o Rachitismo. o Lympna-tismo. a Escrofala, a Moléstia de Pott s oulras* tuberculoseslocalisadas, as Affécções catarrhaes, a Tisica e as longassuppuraçôss. — De grande utilidade durante a prenhez e a amammentaç»Ío.Dósb : Um a dou cálices, dos de vinho do Porto, antes ou depois de eaáã re/ttçâo.Por atacado • s ?ando:

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At!ecçJns^k w ¦._._._ WBM_i«__>wn «w vi_rit|a vviu atua» caíu/ uu uauuuuiUJ UdS JT nervosas. Epilepsia. Hysteria. etc, Diabetes e em certos casos em que o bromonto de __T patassio s.> .foi inefficaz. Janto a cada frasco se acha uma colher medida dosando exactamente um gramma de xT Tribromureto que basta diisolrer na oceasião de tonal-e em nm ponco d'acna para ouassnearada xT Dosagem facU. — Conservação indettnita. — Ea nuacos nc 30,60 c 125 chamas ?J p!u nu» GIQON, 7, Rua Coq-Heron, nm, • em Mu ulou pkimacüs. t??*?? »?»»??»???•»»???????»?»»»#?»»??»»»?»»»»?{

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•"TZSZT* Bromureto de Potássio ,Z£T„<Z».a epitepsiu, o hysterico, insomnia das criança, todas aflições nervosa*.

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O corpo medico inteiro concorda em reconhecer a Anti-pyrina como o remédio soberano contra a DÔR» seja qual forsua origem: Enxaqueca, Dores de Cabeça, Rheumatismo agudoe snbãgüdo, Gotta, etc. (Vejam-se as sabias communicações dolente G. Sée á Academia das Scieneias e á Academia de Medicina.)

Sob a fôrma d'Elixir com Casca de Laranjas amargas,a Antipyrina não conserva mais vestígio algum de amargura,possue até um gosto agradável e pôde ser ministrada aos esto-magos mais delicados sem o menor inconveniente.

Cada colher de sopa d Elixir d'Antipyrina Laroze en-cerra exactamente 1 gramma d'Antipyrina chimicamente pura.

*^*>: .T* v.'7*r"*m^^^m^m

ll ANNO XXVI OUtUBRO l8o4

^ZÜÍMEDÍCADA BAHIA

^UBLICADASOBA DIRECCÃO DO

Dr. A. PACIFICO PEREIRA, lente de histologia-da Faculdade de Medicina da BahiaCOM A COLLABORAÇÃO DOS SRS.

Dr. J. F. DA .SILVA UMA, medico tffeetivo do Hospital de CaridadeDr. J. L. DALMEiDA COITO, lente de clinica medica da Faculdade da Bahia

r> Mn»í'íVICTOÜ,XO- PE'tE,1ÍA' 'eille de CÍÍnÍCa **"** ,i8 fitm>át dí MedicÍM da M«ur. pjsüho s. MAGALHÃES, lente de pathologia cirúrgica da Faculdade de Medicina d» Rio de JaneiroDr. KAMIltO A. MOSTEIRO, lente de clinica medica da Faculdade da BahiaDr. A. PACHECO MEXDES, lente de clinica cirúrgica da Faculdade da Babia

Dr. J. REMÉDIOS MOSTEIRO, membro da Academia Nacional de MedicinaDr. M. M. PIRES CALDAS, cirurgião j-fleeiiv. do Hospital de Caridade

R ED ACTOR- GE RENTEDr. BRAZ DO AMARAL

Lente Substituto da Faculdade da Bahia

freço da AssignaturaPAGAMENTO ADIANTADO

Para a capital § Fora da capital e ão EstadoKlcSlaDno- * ' • 10$°001 Por nm anno. . io*,™Por seu mezes .... 5$000 § Por seis mea» . \

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8em°áfreUdânteS de medÍCÍna pagarâo Soraenie 8*°°° P°r anno °n 4$ooo poi.£fl-.a^í!I,ante8 de Í0Fa da capilal e d0 Esfâd0 Podem remetter a imnnrtancia de suas assignaturas pelo Correio, em carL iStatadM ftn iS?SuDOStaJ, ao redactor-gerente Dr. Braz do Amaral reg,slraiJas ou em vale

«uí?SIM™'"*edÍCa daBafiiaW**^ança oSr.H.MAHLER

LITHO-TVPOGRAPflü DE JOÃO GONÇALVES TOURIMOLirgo das Princezas n. 15. 2.* andar

1894

SUMMARIO

I. Clinique Chikurgicale.—Quetques considerations sar le tiaitementcbirorgicat des fistules â 1'anns. Par le Dr. Pacheco Mendes.Pag. 115 a 151.

II. Bacteriologia.-CommonicaçSo sobre o vitiriào do cholera e o dia-gnostico bacteriológico da mesma doença. Pelo Prof. Max Gruber,de Vienna. Pag. 151 a 161.

III. Hygiene Publica.—Saneamento da Bahia. Projecto d'es<,'otos. Memo-ria justiQcaüva apresentada à Intendencia Municipal pelos Enge-Dbeiros J. Silveira Franca e A Morales de los Rios. pjg 165 a 181.

IV*. Revista da Imprensa Medica. —l. Um ciso de ílíartose em indivíduolendo sempre vivido na Europa. ¦>. Tratamento cirúrgico da peri-tonite suppnrada. 3. Tratamento da synovite de giüos rizifortr.espela extirpaçào. 4. Tratamento do eancro do estômago. 5 O mi-crobio do homicídio. 6. A dípblheria.Pag. 181 a 189.

V. Meteorologia.—Resumo das observayo>s meteorológicas do mez deSetembro. Pag. 189.

VI. Movimento do hospital da Misericórdia no mez de outubro. 190.

IflUDALHA &» PRAIA e Menção honroza nos Esportes** de 1876 e 1878.

DIGESTIVO COMPLETOELIMIR EUPÉPTICO TISY

Tando por hase paneraatlna, diastase o pepstna.Correspondendo á digestão dosCORPOS CRAXOS, FECULENTOSE DAS CARNES

A reunião dos tres fermento* eupépticos garante a grande eficácia d'esteelixir contra qualquer dyspepsia. E de sabor agradável, e de conservaçãoindefinida em todos os climas. — Muito aproveita contra as gaatralgiaa,a dilatação do «stomago, o faatio; as dyapepaiaa, a diarrhéa das^nançaa (Cholera infantil) • a atrepaia.

Dós»: Uma a duas colheres, das de sopa, no começo ou no /tm das refeições.MlTíATiKft dt PBATA aa Exposição Internacional da 1875.

VINHO de BAUDONA.irriM0JfI0-t»H08PHA.TJLD0

TÔNICO REOON8TZTUINTBMui»» superior ao o#M de Sfatfo H ÈÊUUlutt, e muito aproveita contra

o Enfraquecimento geral, a Anemia, o Rachitiamo, o Lympna-tiamo, a Baorofula, a Moléstia de Pott a outras tuberculoaealoealiaadaa, as AffecçSea catarrhaes, a Tiaica c as longa*aupparaçõea. — De grande utilidade durante a prenhez e a amammentaçio.Dós»: Um a dou cálices, dos de vinho d» Perto, antes ou depois de cada refeiçò».PorataoadoaaTM^o:OsMB^Tri>OXW.niaCharl«aV.PAJIIZ(

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ELIXIR DANTIPYRINAcom Casca de Laranjas Amargas

Preparado por ÜtaPi LAROZE, PliarznacsutiaoPARIZ - 2, rue des Uons-Salnt-Paul, 2 — pariz

O corpo medico inteiro concorda em reconhecer a Anti-pyrina como o remédio soberano contra a DÔR, seja qual forsua origem: Enxaqueca, Dôrea de Cabeça, Rbeumatismo agudoe subagudo, Gotta, etc. (Vejam-se as sabias communicações dolente G. Sée á Academia «das Sciencias e i Academia de Medicina.)

Sob a forma dElixir com Casca de Laranjas amargas,a Antipyrina não conserva mais vestígio algum.de amargura,possue até um gosto agradável e pôde ser ministrada aos «esto-magos mais delicados sem o menor inconveniente.

Cada colher de sopa dElixir d'Antipyrina Laroze «an-cerra exactamente 1 granuna d'Antipyrina chimicamente pura.

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¦ ANNO XXVI NOVEfBRÔ 1894 I |I - I 1

GAZETA MEDICADA BAHIA

^UBLICADASOB A DIIiECÇÃO DO

Dr. A. PACIFICO PEREIRA, lente tle histologia «Ia Faculdade «le Medicina tia BahiaCOM A COLLA.BORAÇÃO DOS SRS.

Dr. J. F. DA SILVA LIMA, medico elfectko tio Hospital de CaridadeDr. J. L. D'AIMBIBA COITO, lente de clinica medica da Faculdade da Bahia

Dr. I. V1CT0RIX0 PEREIRA, lente de clinica cirúrgica da Faculdade de Medicina da BahiaDr. PEDRO S. MAGALHÃES, lente de plhologia cirúrgica da Faculdade de Medicina da Rio de Janeiro

Dr. RAMIltO A. MOSTEIRO, lente ile clinica medica da Faculdade da BahiaDr. A. PACHECO MEXDES, lente de clinica cirúrgica ila Faculdade da Bahia

Dr. J. REMÉDIOS MOSTEIRO, mentir» tia Academia .Nacional de MedicinaDr. I. M. PIRES CALDAS, cirurgião elTeclivt do Hiwpifcil de Caridade

REDACTOR-GERENTEDr. BRAZ DO AMARAL

Lente Substituto da Faculdade da Bahia

Preço cia Assiç/natvira,PAGAMENTO ADIANTADO

Para a capital | Fôra da capital e ão Estado

Por ura anno . . . . 10$000 e Por ura anno. . 12*000Por seis mezes .... 5Í000 § Por seis mezes . . \ \ l|oooFasciculo avulso. 1$000

wu^Sf5^*11168 de raedicina pa8ara°soraenle 8$000 P°r anno ou 4$000 po

#.2fa^ignan,esde fofa da capital e do Estado podem remetter a imnor-£X5 de80a«a»'S~taras Peío Correio, em cartas registradas ou eTvateDostal.. ao redactor-gerente Dr. Braz do Amaral. e

^mSS %^zetaMedica da Bahia para a França oSr.H.MAHLER

LITflO-TYPOCRAPHr.1 DE JOÃO GONÇALVES TOURINHOLargo das Princezas n. 15. 2.- andar

1894 J

SUMMARIO

I. Clinica Cirúrgica.—Catheterismo retrogrado precedido da talha iiypo-gástrica em nm caso de estreitamento urethra! impenetrável. PeloDr. Pires Caldas. Pag. 193 a 203.

II. Nevro-Pathologia.-Pharyngismo tabetico. Pelo Dr Joliano Moreira,Pag. 203 a 212.

III. Hygiejíe Publica.-Saneamento da Bahia. Projecto de esgotos. Memo-ria justiflcativa apresentada á Intendencia Municipal pelos Énge-nheiros J. Silveira Franca e A Morales de los Rios. Pag. 212a 231.

IV. Variedade. -Gênio e degeneração. Pag. 231 a 237.V. Meteorologia.-Resumo das observações meteorológicas do mez de

Outubro de 1894. Pag. 237 a 238.VI. Noticiário, -l. Sociedade Medico-pharmaceutica de Beneficência Mutua

2. A Sociedade Medico Phannaceutica de Beneficência Mutua. 3.Directoria de Hygiene e Assistência PuDiica. Pag. 238 a 23y.

X3DALEA d0 PRATA e Múcio honrosa nas ExposiçSea de 1876 e 1878.DIGESTIVO COMPLETO

ELIXIR EUPEPTIGO TISYTendo por Jtase pancraatina, diastase e peosina.Correspondendo á digestão dos

CORPOS GRAXOS, FECULENTOS E DAS CARNESA reunião dos tres fermento* eupépticos garante a grande efficacia d'esteehxir contra qualquer dyspepsia. E de sabor agradável, e de conservaçãoindefinida era todos os climas. — Muito aproveita contra as gastralaiasa dilatação do estômago, o fastio, as dyspepsias, a diarrhéa dascrianças (Cholera infantil) e a atrepaia.Dós» : Uma a duas colheres. das de sopa, no começo ou no fim das refeições.

MBPALBA de FEATA na Exposição Internacional de 1875.

VINHO de BAUDONTÔNICO RBOON8TITUINTE

n v3SJüS£f ao f° * **¦*•* *«atot«. «muito aproveita contrao Enfraquecimento geral, a Anemia, o RachitismoT o Lympna-íSSfi-i i?crol,S2f * *olwti* d« *°tt e outras tubercalo.eelooaluadae, as Aifecçffea catarrhees, a Tiaica e as longaseupparaçoes. — De grande utilidade durante a prenhez e a amammentacào.Dôs» -.Um a dou cálices, dos de vinho do Porto, antes ou depois de cada refeição1 .Poreteeadeeawlo: Ceei BAUDON.—a Charlea V. PARIZ IB-MHt),'

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4jÈ mêPM ^^ÊftsSl^fl ll ' ° """ sa^oroso e rtcom-1^1 ^Zj P^fcJ^il **^bm ntendado alimento para criançasI

^^rB PHO^M^/KtíJEfflL principalmente quando começa.íM

1S| M9a ^Facilita e concorreii=M PyvfyJ RM B?Ppara boa formação dos ossos I"*£vlr^^9/IKÊtSK£^^^^^^ PARIZ, Ãvenus Victoria, 6 I.^ « W*« PHARM.CIAS. I

Receitado ha 30 annos M <&V\^ ^ «t* IW contra as AFFECÇÕES daa VIAS , * V^VV" i^0 fldigestivas. m ¦ *jft V*^7*o fl

J P/I/WS, ^wní,e Victoria, no 6. ) fl *° •Eeua«^o,£rdar

IAMMMM^^^MAaJP wL PARI3. irem» Victoria, 6. - im Pliarmnrias JR

? '^UcaçSoeombaMdeABSBVIATOdeAWVnccnrxnín rv>< „^^o^..i„, X

e Rhaumatiamaea do Coração, Hypertrophia cardíacaAstbmas, Catarrho. Bronchite ohronlca, Tiaica no começo.D6SS, DB 2 A 8 «RANULOS POR MA.

?GRANULOS ido Dr PAPILLAUD:

[mealo.0,001 par graniilo, aPerro). +

ANTIHONIAISPERROSOS

¦edloaçloF«rro-ArtMloal(AraanlmtadaAntim .... ,,Pretcrlptoi eom fttli «rifa p$lo corpo medico ha mníáê ^Oãnnòs, ÃPan combater a Anemia, Cbloro-Anemla, Chloroae, Nevralglas e Nevroses ?2 Affecções lymphaticas. as perturbações da circulação por insufüciencia '

#Does. M 2 A 8 MUNULCS POR DU.AGm da evitar as Huneroaaa Cantrafaeçõea exijtt-se a Marca

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Xarope Depurativo""^VZ"1' Iodureto de Potássio «2SU2SJ"

cancerosas, syphiliticas, tumótes brancas, âa curtira ão sangt't, etc. '

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Xarope Sedativode Casca de Laranja ¦DTOm„.fftAn Ap pft+„ ™4n ctJmante certoamarga, ao DlUIÍlUrBlO üe .TOiaSSlO contra ai ncV alffiOS,a epiiepsia, o kysterico, insomnia das criaiiçrn,, todas a/fecòes nervosas.

Deposito em todas boas Drogarias e Pharmacias,SSJtá «("*;'• 1»'

ELIXIR DANTIPYRINAcüjr Casca & Laranjas Amargas

Fre-parado por «J-j-Pi LAROSSE* r5lianr.a,ceuticsopariz — 2, rue des Uons-Saint-Pai!l, 2 — pariz

O corpo medico inteiro concorda em reconhecer a Anti-pyrina como o remédio soberano contra a DÒR, seja qual forsua origem: Enxaqueca, Dôrwa de Cabeça., Rhenm&tismo agudoe SttbagudO, Gotta, etc. (Vejam-se as sabias communicações dolente G. Sée á Academia das Sciencias e á Academia de Medicina.)

Sob a forma d Elixir cam Casca de Laranjas amargas,a Antipyrina não conserva mais vestigio algum de amargura,possue até um gosto agradável e pôde ser ministrada aos esto-magos mais delicados sem o menor inconveniente.

Cada colher de sopa d EUxir d'Antipyrina Laroze-en-cerra exactamente 1 gramma d'Antipyrina chimicamente pura.

.CIAB

^pSSpss*^' T^^^^^^^wSpsÇpvrTjwi1?^^ tvww™ r, ,- i s :- '. a;fjra

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ANNO XXVI DEZEMBRO 1894

GAZETA MEDICAM BAHIA

f UBLICADASOBA DIRECÇÃO DO

Hr. A. PACIFICO PEREIRA, lente de **& da Faculdade de Mediei», da BahiaCOM A COLIABOrtAÇÃO DOS SRS.

»r J. F. DA SILVA LIMA, medico fffectivo d» Hospital de Caridade

De . iJ^Z^ mW' ** ',e Cl,'"Ífa ¦*• * '«¦«• * WhDr PEDR I ÍSíf,8ÍRA,J,e"le

"e C,Í,,ÍC;' *"*¦ "" MMt "' «Cina d» **Dr. RAMIRO A. MO.NTEIRO, |e„tede clinica medica da Faculdade da Bahia

Dr. A. PACHECO IEXDES, lente ile clinico cirúrgica da Faculdade da «adiaDr. 1. REMÉDIOS MOSTEIRO, membro da Academia Nacional de Medicina

Dr. M. M. PIRES CALDAS, cirurgião elürtiv. de Hospital de Caridade

REDACTOR-GERENTEDr. BRAZ DO AMARAl

Lente Substituto da Faculdade da Bahia

P*reço da AssignaturaPAGAMENTO ADlANTAOO

Por um anno .Por seis mezes

Para a capital

Fasciculo avulso

| Fóra da capital e do Estado^ISSJfi £or «m anno mm5|ooo§ Por seis mezes . _\\ ^JJJ

l$OOÔ

sem°4SíndanteS de medÍCÍna pa8arSo somente 8W Por anno ou á$ooo por

postal, ao redactor-gerente £r BmÍ di Am™iS[ reg,slra,las ou em valerf

^rV&X^""""1 "««'""«P"S,França oSr.B.HAMEH

UTIIO-TYPOGRAPHIA DE JOÃO COMALVÉS TOÜWNHOLargo das Princeias n. 15. 2.- andar

1894

|\5 u> qJ|

SUMMARIO

I. Medidas preventivas contra o cholera.—Pags. 141 a 150II. Correspondência.—Carta du Dr. Silva Lima k Semaine Mèdicale de

Paris, a propósito do ainhum. Pags. 150 a 152.III. Bacteriologu medica.—Com mu locação sobre o vibriH.0 do cholera e o

diagnostico bacteriológico da mesma doença. Pelo Prof. Max.. Gru-ber. Pags. 15*2 a 159.

IV. Epidesiioloi.ia.—Endemo-epidemia tia Jacobina. Pelo Dr. Juliano Mo-reira. Pags. 150 a 168.

V. Hygiene publica.— Saneamento da Bahia. Projecto d'esgotos, pelosengenheiros J. Silveira Franca c A. Motales de los Rio?. Pags.109 a 184.

VI. Noticiário. — 3. Código das institui.ães do eiis.no superior. *•*. Penasdisciplina res. 3. Soeieuade de Medicina e Cirurgia da llahia. i.Corpo de saúde do exercito. Pags. 181 a 1 ST.

.'""'¦".lu '* ;•_'*' ";i',w/l|»"-M...^f^?^"MEDALHA dO PRATA c Menção honroza nas Exposições de 1875 e 1878.

DIGESTIVO CCMPLr.TOPCPTBGi TISY

Tendo por base pancreatina, üiastase e pepsina.Correspondendo á digestão dos

CORPOS GFiAXOS, FECULENT03 E DAS CARNESA reunião dos tres ferimentos eupéptkos garante a grande cfíioacia d'este

elixir contra qualquer dyspepsia. E de sabor agradável, e de conservaçãoindefinida em todos os climas. — Muito aproveita contra as gastralgias,a dilatação do estômago, o fastio, as dyspepsias, a diarrhea dascrianças (Cholera infantil) e a atrepsia.

Dose : Uma a duas colàeres, das de sopa, no começo ou no fim das refeições.MEDALHA dO PRATA na Exposição Internacional de 1875.

VIÜHO de BAUDONA.NTJMONIO-PHOSPHATADO

TÔNICO RECONBTITUINTEMuito superior ao óleo de fígado de bacalhau, e muito aproveita contra

o Enfraquecimento geral, a Anemia, o Rachitismo. o Lympna-lismo, a Escrofula, a Moléstia de Pott e oulras tuberculoseslocalisadas, as Affecções catarrhaes, a Tisica e as longa*suppuraçoes. — De grande utilidade durante a prenhez e a amammentação.Dóss: Um a dois cálices, dos de vinho do Porto, antes ou depois ie cada refeiçòotPor atacado e a varejo: Ce» BAUDON, ms Charle» V, PARIZ (BMtMM..

.'¦¦¦'

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principalmente quando começama ser desmammadas e no periodot de crescimento.-, Facilita a dentição e concorrefpara boa iormaçâo dos ossos—*—

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agradável ao paladarlacil de se tomar.PARK.Avtf-m» Victoria. 6. e nas Pliarm.irhs

*? Relatório favorável por í?»„r^rí""??*°<0'°«*PorgranuJo, JV 'dedicação oom base de ARSENX ATO de A»TmnVr«'!1n «« —

DóSE. DK 2 A 8 CRANllloTpORDU B° ^^^ '*»

* I». co.ba.er a Anemia. 9^^^^^j^SS^^^,,^ %

!>oD;papiillaüd!o

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¦¦flV^y^ APROVADOS ^*fèWW' ' pela Junta do Hygiena do Brasil %\

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anemia, doenças de lani/or, rachttismo, etc. j.

Xarope Sedativo \r*m,

de Casca de Laranja nTnmilTPfn fo Pn+ncdn calmante certoamarga, ao DrUlIlUlClU UB rUtdbLLU contra as nevalgias,

a epilepsia, o hysterico, insomnia das criauc u>, todas affecções nervosas.WWVU-tMMWaMWWW^WWaWWWWW^MaMtfWa»

Deposito em todas boas Drogarias e Pbarmacias.

ELI X IR DANTIPYRINAcom Casca de Laranjas Amargas

Preparado s»or «Ia"Pa LAROZEf PharmaceuticoPARIZ — 2, roe des Ligiis-Saint-Paiil, 2 — pariz

O corpo medico inteiro concorda em reconhecer a Anti-pyrina como o remédio soberano contra a DÔR, seja qual forsua origem: Enxaqueca, Dores de Cabeça, Rheumatismo agudoe snbagudo, Gotta, etc. (Vej^m-se as sabias communicaçOes dolente G. Sée á Academia das Scfencias e á Academia de Medicina.)

Sob a forma dElixir com Casca de Laranjas amargas»a Antipyrina não conserva mais vestígio algum de amargura,possue até um gosto agradável e pode ser ministrada aos esto-magos mais delicados sem o menor inconveniente.

Cada colher de sopa d'Elidir d'Antipyrina Laroze en-cerra exactamente 1 gramma <T Antipyrina chimicamente pura.

~^Ú

GAZETA MEDICA DA BAHIAAnno XXVI JULHO, 1894 N. 1^

PATHOLOGIA HISTÓRICA BRAZILEIRAIVIais algumas informações e notas

acerca cia pestilencia da toiclia(fet>re amarella) que reinou ernPernambuco e na Bahia no se-e ulo 17.

Carta do DR. GUILHERME STUDARTao DR. SILVA LIMA

Na Gazeta Medica de Outubro de 1891, a pag. 149 e seguin-les publiquei um documento inédito até então, e três annosanterior ao livro de Ferreira c'a Rosa-

Este documento é um Suminarto, ou interrogatório a queresponderam os offlciaes e tripolação de um navio que em 1691sahiu de Pernambuco, e teve a bordo em viagem para Lisboaalguns casos da moléstia reinante no Recife desde alguns annoscom o nome de males, e na Bahia com o de bicha.

Tinha eu este Summario como o mais antigo documentoconhecido sobre aquella memorável epidemia, e acereseentei-lhe o resumo de outros relativos ao mesmo assumpto, acom-panhados de algumas notas c comentários, nos dous subse-quentes números da Gazeta.

Succedeu, porem, que o meu distineto collega do Ceará,o Sr. Dr. Guilherme Studart, a quem remetti aquelles artigosem fins do anno passado, em tiragem separada, me communi.casse a existência de mais alguns documentos inéditos queencontrara em Lisboa, todos anteriores em data aquelle Sum-

ANNO XXVI SERIE IV VOL, V. r

/

mario; e em carta ullerior, que abaixo vae transcripta, obse-quiou-me com mais particular noticia d'esses documentos, ecom algumas outras informações sobre Ferreira da Rosa e oseu livro.

Esta carta não era destinada á publicidade; mas conside-rando eu o seu valor histórico, e, alem d'isso, o facto de ellaconter diversas rectificações ao meu referido trabalho, e deconstituir verdadeiramente um complemento d'elle, preenchen-do lacunas, e addiccionando-ihe novas informações sobre oassumpto, solicitei, e obtive do illustrado collega a permissãode a inserir nas paginas da Gazeta, em proveito dos leitores aquem possam interessar estes subsídios para a historia medicabrazileira.

O Sr. Dr. Studart, como se sabe, tem sido um estrenuo tra-balhador em investigações históricas relativas ao Brazil, eespecialmente á sua terra natal, do que dá prova, entre outrostrabalhos importantes, oi.' volume das suas— Notas para ahistoria do Ceará—publicado em 1892, onde a pag. 460 íazreferencia á peste da bicha, e a uma sua monographia inti-tulada—Documentes para a historia de algumas epidemias nonorte do 'Brazil.

A seguinte carta, já por si um valioso documento, faz-nosesperar que os demais ali mencionados venham completar ohistórico da grande epidemia dc Pernambuco e da Bahia dosíins do século 17.

S. L.

Illustre mestre e amigo Dr. Silva Lima.—Em additamento ácarta que tive o prazer de endereçar-vos agradecendo o vossoprecioso mimo, e annunciando possuir cinco documentos ante-riores ao Summario que publicastes, relativo á epidemia dabicha, ou males, e para satisfazer o meu compromisso, passo adar-vos com maior minudencia algumas informações sobre olivro de Ferreira da Rosa, o Febreira da Rosa, como lhechamou Littré e reproduziu Charcot na bibliographia que pre-

cede o artigo sobre febre amarella nas suas lições sobre moles-

tias infectuosas.Intitula-se o livro:«Trattado único da Constituiçam pestilencial de Pernambuco

offerecido a El-Rey N. S. por ser servido ordenar por seo

governador aos .Médicos da America, que assistem aonde ha

este contagio, que o compusessem para se conferirem pelos

Coripheos da Medicina aos dictames com que he trattada esta

pestilencial febre. Composto por Joam Ferrcyra da Rosa,

Medico formado pela Universidade de Coimbra, e dos de esti-

pendio Real na ditta Universidade; assistente no Recife dc Per-

nambuco por mandado de Sua Magestade que Deos guarde.

Em Lisboa. Na officina de Miguel Manescal, ímpressor do

Principe Nosso Senhor. Anno 1694».Tem 224 paginas, indice inclusive.Não sei que alguma bibliotheca brazileira possua exemplar

d'essa rarissima obra, mas vi dous (ZZ. 1. 18. ZZ. 1. 19) na

Bibliotheca Nacional de Lisboa, dos quaes muito me utilizei

para os meus estudos.* Principia o livro pelas licenças do uso, sem as quaes nião po-

deria ser impresso e correr murdo, e pela dedicatória, que é

feita a Sua Real Magestade, e ditada do Recife em 3 de Se-

tembro dc 1692. Seguem-se um prólogo ao leitor, uma noticia

dos motivos que teve o auetor para fazer a primeira parte

(disputada lhe chama elle) do seuTrattado, e depois para conti-

nuax com a segunda e terceira; urna carta do Dr. João Bernar-

do de Moraes elogiando o livro, uma carta do Marquez de

Montebello aconselhando o auetor á confecção de um trabalho

sobre a epidemia, e a resposta dada ao Marquez; e, finalmente,

o traslado de um juramento do cirurgiãc Antônio Brebon. Dc-

pois é que começa o Tra/tado propriamente dito, que se com-

põem de vários capítulos, ou duvidas, como elle os chama.

O juramento do cirurgião Brebon vem publicado no Summa-

rio que vos forneceu o Dr. F. Vicente Vianna, ao lado do

depoimento prestado por outros individuos, que fazendo parte

— 4 —

da tripolação da charrua—Sacramento e Almas—, foram cha-mados a depor perante o Corregedor Pereira do Valle; peço,porem, permissão para ajuntar, que convém fazer n'elle asseguintes correcções, para ir melhor de accordo com o original

que tive entre mãos:—Em vez de Sinthamenda, província deHantoes, diz Sinthomenda, provincia de Atantoes. Em vez deestando esta charrua no porto dc Pernambuco, diz no Poço dePernambuco. Em vez de—e examinando a bexiga achou quedentro d'eila havia umas colherinhas, diz umas palhinhas. Apalavra que falta na i," linha da pag. io da vossa monogra-phia, è diante.

O nome do cirurgião da charrua (Brebon) é evidentementefrancez; a terra da sua naturalidade, como vem escripta nodepoimento ou juramento, essa é que nunca existiu em França.Sinthomenda e Atantoes lembram- nos multo de longe nomesasiáticos, ou antes, e penso assim, não passam de pura inven-

ção de Brebon, que teria motivos para não querer que fosseconhecido o logar do seu nascimento.

Pelo t:tulo do livro vistes que com razão assegurou Inno-cencio da Silva que João Fer-eira da Rosa formára-se cmCoimbra. O licenciado João da Rosa, com quem teve relaçõesLuiz Gomes Ferreira, nada tem que ver com o auctor doTr aliado.

Este fclleceu em Portugal. Posso proporcionar-vos uma no-ticia reladva á sua historia pessoal, que ajuntareis ao que secontem a pags. 14 e 15 \nota) do vosso trabalho.

D. Luiza de Albuquerque Mello por seu segundo casamentocom João Baptista Jorge de Sá, sargento mor de auxiiiares deMuribeca, Ipojuca e Cabo, por Patente Real, não teve filhos;mas do primeiro, que foi celebrado com Manuel MartinsVianna, homem distineto da Praça do Recife, houve uma filhaAnna Mana, que foi esposa do Dr. Rosa.

Encontrei esta informação em umas velhas memórias ge-nealogicas escriptas pelo Capitão-mor Xerez Furna Uchoa, e

hoje pertencentes aos membros da familia Linhares, seusdescendentes. São estas as próprias palavras do Capitão-morXerez-

«—D. Anna Maria casou -se com o Dr. João Ferreira da Rosa,Cavalheiro da Ordem de Christo, e embarcou para Portugal, enão tenho noticia da successão, que lá tiveram, e só conheci naBahia no anno de 1738, quando lá estive, um moço, Cavalheiroda Ordem de Christo, que procurou-me para cumprimentar-me

por noticia que de mim teve, dizendo-me ser neto do referido

João Ferreira da Rosa e de D. Anna Maria».D. Luiza de Albuquerque Mello era filha de Margarida dc

Albuquerque, que cazou com o Dr. Domingos Gomes daSilva, e portanto, tataraneta de André de Albuquerque, que foiAlcaide-mor dc Iguarassú, e em 1607 governador da Para-hyba.

O extracto do trabalho do professor Magalhães Coutinhofeito na vossa monographia dá uma perfeita idéia das theoriase modos de ver dos proíissionaes de Portugal e colônias poroccasião da epidemia da bicha, como a apellidavam na Bahia,ou males como a apellidavam em Pernambuco (essa distincçãode nomes sou o primeiro a fazer conhecida); mas visto dizerdes

que nunca lestes o Trattado único vou copiar o trecho que serefere á etiologia, e d'elle concluireis para o mais. Emboraseja o trecho um pouco extenso, o gosto de ser-vos agradávelme tornará suave a escripta.

«—Tendo nós já dado noticia, que o ar se podu viciar pelosAstros (quaesquer que sejão) e principalmente pelos eclipses doSol e da Lua; podemos entender que não faltarão estas causas;

pois no anno de 1635, a dez de Dezembro (conforme Argolo)houve eclipse da Lua pelas seis horas para sette n'este hemis-

pherio, stando a Lua na cabeça do Dragão no Signo de Gemi-nis, e o Sol na cauda do Dragão no Signo de Saggitario, e con-

juncção cora Mercúrio e opposição com a Lua«Precedeo algum tempo antes outro eclipse do Sol,a quem

um insigne Mathematico Padre da Companhia Valentim Estan

cel chamava Aranha do Sol; e conforme a calculaçãoe juizo,que formou des movimentos dos Planetas, alem de outros in-fortunios, prognosticava doenças. E em um Trattado manuscri-ptodiz n'esta forma:

Durarão os effeitos de seus venenosos influxos (se a DivinaMízericordia não se compadecer de suas creaturas) até o annodc 1691; oxalá não passem a mais annos nossas calamidades.

«Sendo tambê capazes de communicar vicio pestilencial aoar os vapores de carnes podres, tambem estes não faltarão, poisse vio evidentemente que ao abrir huas barricas de carne p^drevindas em navegação ce São Thomé, cahio immediatamente ebrevemente morreo um Tanoeiro; o que suecedeo na rua daPraya, c assim mais quatro ou cinco da mesma casa; e se foi

pela mesma rua primeiro communicado.«Quem a vista de nossos peccados deixará dc dar por causa

a ira de Deos, tomando por instrumento af causas referidas,offendido de nossas culpas)

«E irada a Justiça Divina de nossa contumacia, proseguiráeste contagio emquanto se não reformarem nossos péssimoscostumes; como adverte xMiguel Joào Paschalio (lib. Z de febr.pestil. cap. 9).

«A vi:;ta de tão fetaes eclipses antecedentes do Sol pela nevoaou aranha (como lhe querem chamar) e aa Lua em dez de De-zombro, e dos vapores podres das barricas de São Thomé, e deUtntos peccados, todas estas causas se podião nomear singu-larmête cada hua por causa d'este contagio em seos principios,quando não queiramos que todas juntas concorressem parcial-mente para o vicio do ar: porem que todas concorressem me

persuado. E por assim ser, se conheceo mais tarde na Bahia,

porque ainda que os eclipses lá podessem fazer o mesmo effeito,não se teria disposto para tanto vicio o ar tão brevemente (oque n'este Recife mais cedo se conseguio, ajudando os vaporesda carne podre com antecipado tempo a podridão nos ares), emediante a communicaçao viria a ser na Bahia e mais partescommunicada esta peste como contagio extendendo-se ou inten-

~ 7 -

dendo-se muito mais pelas influencias sinistras dos eclipses».Na duvida IV, que tem por epigraphe quaes são os signaes

d'esta consiituiçam} estuda Ferreira da Rosa o symptoma de quese reveste a moléstia. Da descripção de dous d'elles convém quetenhaes conhecimento.

«Sobre todos os signaes ha dous tremendos, que são a Icteri-cia (ou por outro nome Morbo regio) e a suppressão de urinas.O primeiro he presagio trabalhoso e miserável, vindo antes doseptimo; porem ainda que raras vezes comtudo alguns tendoeste signal, suecedia livrarem; o que suecede no quarto dia(quando se move por pares) e no sexto, e quando não, em ter-ceiro e quinto.

«Porem nunca vem suppressão, que deixe de ser acompanha-da de Ictericia.

«Dos dous o ultimo (que he a suppressão alta de urinas) hesignal mortífero, de que não vi nem ouvi que livrasse doentealgum, inquirindo este negocio com toda a diligencia; e infor-mr.ndo-me de Cirurgiões, Barbeiros e de todo o povo nuncaachei quem dissesse que escapou algum doente».

Perfeitamente denunciada a gravidade do sympíoma-anuna.Ides agora ver a explicação da sua gravidade.«O que me parece ser pelo movimento impetuoso com que a

natureza move os humores para o âmbito do corpo symptoma-ticamente; c separando-se só a cólera resulta sempre a Icteri-cia, suecedendo nunca vencer, porque sempre obra irritada, enão transpõe de todo o apparato morboso mais que a cólera,seguindo-se na massa sanguinária total podridão, suffocado ocalor natural com os humores pestilentos crassos».

E então? Bem se vê quão fácil era n'aquelles tempos explicaros phenomenos mórbidos.

Agora um pouco do capitulo consagrado á therapeutica.Ferreira da Rosa diz do tratamento ideiado por Brebon—um

absurdo e fantástico methodo novamente proposto—e paracorroborar a sua opinião affirma, que fazendo-se em 1692 outra

— 8—

anatomia (exame cadaverico) nio foram achadas as tão apre-goadas lombrigas.

Creio bem.Mas o tratamento proposto por elle consistia principalmente

.ia sangria, nos alterantes e n'umas celebres pílulas, invençãode Rufo, que elle prescrevia aconselhando sempre ao doenteque em cima de cada pílula tomasse um copo de água de cardosanto, ou qualquer água cordial.

As pílulas de Rufo compunham-se deAzebre escolhido duas oitavasMyrrha e açafrão, aná _....„_ uma oitavaEm vinho cheiroso.

Mas Ferreira da Rosa empregava-as assim modificadas;-—Myrrha, açafrão, bolo armênio verda-

deiro, alambrc, e coraes preparados—de cada um uma oitava

Myrobolanos chebulos duas oitavasCamphora dous grãosXarope azedo de cidra q. b.Para fazer pílulas que se dourarão.

Aconselhava também que se tomasse de meia oitava até umaoitava duas vezes na semana, e nos mais dias, dous pelomenos, meia oitava até uma oitava da composição seguinte:

—Triaga magna- duas oitavasConfeição de jacinthos dous escropulosPós de diamargaritão frio -••- meyo escrópuloPedra bazar dez grãosMísture-se com umas pingas de azedo de cidra.

Para os pobres receitava pós das cinzas de caranguejosqueimados em iníuso de herva cidreira ou em vinho, folhas dearruda com um pouco de sal, duas pernas de nozes, tudodentro de uma passa de figo, o que, ajunía elle, também acon-sei ha Francisco Mor ato no Trattado das febres peslilenciaes, e osdentes de alho assados, louvados por Galeno, que os chamatriaga dos rústicos.

Prestadas estas informações sobre o livro de Ferreira daRosa, que são o assumpto principal d'esta minha carta, voudizer-vos o assumpto dos documentos, ainda inéditos, ante-riores ao Summario, que ao começo declarei possuir.

Encontrei-os por occasião das pesquizas a que procedi nosmanuscriptos da Bibliotheca Nacional de Lisboa em busca denoticias sobre a historia do Ceará, c muni-me de copias.

O i.° d'elles é uma carta do governador de Pernambuco,Marquez de Montebello, aos Drs. João Ferreira da Rosa eDomingos Pereira da Gama.

O 2.° resposta de Ferreira da Rosa.O 3.* uma carta do Marquez á Câmara de Olinda.O ^.° um regimento contendo instrucções acerca das medidas

preventivas, hygienicas a tomar contra a epidemia.O 5. • uma carta da Câmara de Olinda ao Marquez recusando

satisfazer o pagamento de despezas com hospitaes e emprega-dos encarregados do serviço sanitário.

Todos elles muito interessantes.Também vos dou noticia de outro manuscripto; mas este,

que se oecupa e largamente da bicha, já pertence aos primeirosannos do século i8.

Está egual mente na Bibliotheca Nacional de Lisboa um vo-lume que traz a indicação U. Z. 23. Parece-me ser copia deum manuscripto contendo as impressões e observações dealguém que não era profissional, mas gostava dos estudosmédicos. Tenho alguma razão para acreditar que o auetor é oPadre Antonio da Silva, natural da Bahia, e vigário da matrizdo Recife.

Vou concluir esta, que vae já nào pouco extensa, mas antesquero dizer-vos que a carta escripta pelo,Marquez de Monte-bello á Câmara de Olinda resolve de todo a duvida exarada apag. 28 da monographia, quanto ao tempo cm que começou aepidemia em Pernambuco. Rocha Pitta deu o anno 1686. Deviadizer 16S5. A carta a que me refiro principia assim: «Já queDeos he servido continuar o castigo d'esta terra debaixo do

ANNO XXVI SERIE IV VOL. V. 2

qual a tem a seis annos,..,» Ora, a carta traz a data de 19 deMaio de 1691.

O Regimento enviado á Câmara, e datado de 18 de Maio de1691, diz também:—«Suposto que vay em seis annos que DeosNosso Senhor he servido por seos altíssimos e incomprehensi-veis juizõs castigar esta terra com o terrível contagio, etc.»

Acceitae os meus protestos de respeitosa sympathia, etc.Ceará. Fevereiro de 1894.

Dr. Guilherme Studart.

HYGIENE PUBLICAOonsellio Geral de Saude IPubliea

110 Estado da Baliia, em 4 deAt>rll de 1894

Illm. e Exm. Sr. Dr, Governador do Estado.—Lm cum-primento do que dispõe o art. 16 da Lei n. 30 de 29 de Agostodc 1H92 sobre os serviços de hygiene e vaccinação, e o art. óido Regimento Interno do Conselho Geral de Saude Publica,tenho a honra de passar ás vossas mão a Synopse dos tra-balhos do mesmo Conselho desde a sua installação cm 17 dcSetembro de 1892 até 31 de Dezembro de 1893, e em annexosos pareceres por elle approvados durante o mesmo periodode tempo sob ns. 1 a 18. Fazem parte dos annexos á referidaSynopse o projecto sobre assistência publica que depende davossa approvação, á qual foi submettida em 15 <?e Maio de1893; o projecto de revisão da Lei de 18 de Janeiro de 1890no que concerne ao exercício da medicina, da pharmacia e deoutras profissões que com ellas se relacionam, o qual vosloi remettido em 17 de Junho de 1893, e está dependente daapprovação da Assembléa Legislativa; e finalmente os dousrelatórios annuaes de 1892 e 1893 que ao Conselho commu-nicou o Dr. Director do Instituto Vaccinico, por ser estefunecionario obrigado pelo Regulamento daquella repartição aapresentai*os ao Governo do Estado, relatórios que, se assimo julgardes conveniente, poderão ser impressos conjuneta-

— II —

mente com os trabalhos deste Conselho, de accordo com o re-ferido art. 16 da Lei de sua creação. Estes relatórios contémnão só os trabalhos realisados por aquelle Instituto, comotambém propostas de diverssa medidas tendentes a melhoraro respectivo serviço, e a assegurar e diffundir cada vez maisa sua utilidade pratica, as quaes, pela sua importância enecessiddae, não deixarão de merecer a vossa esclarecidaattençâo e particular solicitude.

Durante os quinze mezes da sua existência o Conselho pro-curou desempenhar conscienciosamente as suas funeções,attendendo quanto lhe foi possivel aos interesses da saudepublica e á estricta observância da legislação sanitária emvigor, como podereis julgar pelos trabalhos que foram sub-mettidos ao seu estudo e consideração, ou por elle espontânea-mente emprehendidos dentro da esphera que traçou a referidaLei.

Dos doze membros com que foi constituído o Conselho,sendo nove de direito cm virtude dos cargos que oecupam, etres de vossa nomeação, um dentre os primeiros não com-pareceu a sessão a que se refere o art. 55 do nosso Regimentointerno, e declarou por escripto que não tomaria parte nostrabalhos do mesmo Conselho, abrindo assim uma vaga im-possivel de preencher, uma vez que a Lei, não tendo previstoo caso de tal recusa, não providenciou sobre o modo de pre-encher esta vaga e outras que por egual motivo se poisam darde futuro, ficando forçosamente incompleto o Conselho. Estefacto foi opportunamente levado ao vosso conhecimento, paraque vos dignasseis providenciar como julgasseis conveniente,e foi em virtude delle que o Conselho, para evitar embaraçosá regularidade dos seus trabalhos, resolveu abrir as suassessões com o minimo de seis membroc, não podendo contarcom mais de onze.

Seria para desejar uma modificação na Lei, que habilite oGoverno do Estado a remediar o referido inconveniente resul-tante de recusa, ou do abandono do cargo a que se reíere o

— ta —

art. 13 da mesma Lei, pelo que respeita aos nove membrospor ella designados para constituir o Conselho.

Outra modificação que me parece de utilidade seria quea Lei estabelecesse a independência do Conselho da Inspe-ctoria de Hygiene, concedendo aquelle um secretario (medico)privativo seu, um continuo, e uma verba suffieiente paraoceorrer ás despezas de expediente, asseio da sala das sessões,etc., ou, no caso de continuarem as duas instituições a terum secretario eommum, como até agora, conceder a estefunecionario uma gratificação annual que remunere o aceres-cimo de trabalho a que elle pela mesma Lei é obrigado, eque desempenha com um zelo e actividade dignos de louvor.

Saúde e fraternidade.©r. José Francisco da Silva Lima—Presidente do Conselho

de Saúde Publica.

~ I) -

SYNOPSE dos trabalhos do Conselho Geral de SaúdePublica da Bahia, creado pela Lei n. 30 de 29 de Agostode 1892, desde Setembro de 1892 a Dezembro de X893.

oSC

<

1892

DATA

17 de Setembro

27 de Setembro,

3 de Outubro.

7 de Outubro.

10 de Outubro.

SESSÃO ASSUMPTO

4."(Extr.)

18 de Outubro. 6/(Extr.)

—Eleição do Presidente. E'nomeada uma commissao paraapresentar um projecto de Re-gimento Interno.

—E' apresentado e mandadoa imprimir o projecto do Regi-mento Interno.

—E' discutido e approvado oRegimento Interno, e são no-meadas commissões para as di-versas secções.

Trata-se, conforme a recom-mcndação do Governo, da es-colha de um local para a collo-cação de uma enfermaria demoléstias infecto-contagiosas;o Conselho resolve ir visitaralgumas localidades indicadas.

—Resolve-se que a commis-são da 5." secçao dc parecersobre as localidades visitadas;e que a mesma commissao for-mule instrucções a respeito deuma epizootia reinante em di-versas cocheiras da Capital.

—Resolve o Conselho visitaro Morro de S. Paulo, para sa-tisfazer a requisição do Ministrodo Interior, que pede a indica-ção de local apropriado paraum Lazáreto neste Estado;—Solicitar do Governo o adia-mento da mudança dos vario-losos da Fortalesa do Barbalho,até que se possa indicar loca-lidade onde se estabeleça arespectiva enfermaria.

— i4-

o•z.<

DATA

1892 25 de Outubro.

io de Novembro

SESSÃO

8.«

25 de Novembro

iode Dezembro. 10,

ASSUMPTO

—Resolve ir visitar outraslocalidades onde se possa es-tabelecer a Enfermaria de va-riolosos.—• Incumbir a commis-são da 2.* secção de organisaras bases de regulamento paraas edificações publicas e parti-culares, no que concerne á hy-gienc geral e local.

—E' approvado o parecer (n.í) sobre as conveniências queoflerece a ilha de Tinharé (Mor-ro de S. Paulo) para estabeleci-mento dc um Lazareto, e deum serviço regular e efficaz dequarentenas.—«Resolve perguntar porcarta ao Professor de HygieneFaculdade de Medicina quaesas suas intenções de tomar ounão parte nos trabalhos doConselho.

—Approva uma moção emque se declara não poder aInspectoria dc Hygiene regularos seus actos por qualquer dis-posição procedente de reparti-ção de hygiene de outro Estado,nem publicar ofíicialmente actosdestas que contraírem as deli-berações tomadas pelas autori-dades competentes na forma dalei.

—Approva o parecer n. 2,sobre a consulta do Sr. Phar-maceutico Euclides Caldas, noqual se estabelece— que aoPharmaceutico incumbido pelaInspectoria de Hygiene de darparecer sobre um preparadosubmettido á sua approvaçãoseja dado conhecimento do re-

- t5 —

oZ<

DATA SESSÃO

15 dc Dezembro.

!2Ódc Dezembro,

18935 de Janeiro.

1 [.'Extr.)

12.

'3°(Extr.)

ASSUMPTO

latorio do autor ou inventor,com a composição do remédio,etc; e que a Inspectoria de Hy-giene não conceda licença paraserem vendidos livremente pre-parados em cuja composiçãoentrarem substancias que nãopossam ser fornecidas ao pu-blico sem receita de medicohabilitado.

—Resolve que a Inspectoriade Hygiene empregue os meiosao seu alcance para combater aepizootia de mormo, emquantoo Conselho estuda o parecerapresentado pelo Dr. Inspectorde Hygiene.

—Apresentação das preten-tenções de L. A. Filgueiras eP. Loques enviadas pelo Go-verno pedindo parecer.—Remettidas á commissaocompetente.

—Approva uma proposta doDr. Pacifico Pereira, motivadapela queixa do Dr. InnocencioCavalcante, de não ter a Inspe-ctoria de Hygiene em dousoflicios expedidos á IntendenciaMunicipal observado a decisãodo Conselho, de 10 de De-zembro, para que o Conselhorepresente ao Governador doEstado contra o Inspector dcHygiene, por elle não se con-formar com a referida decisão.

—Proposta do Dr. Inspectorde Saude do Porto para que oConselho resolva sobre o localonde se deva estabalecer umhospital marítimo; á commis-são da 5." secção para dar pare-

— ió —

^BB99=O

DATA sessão

io de Janeiro.

1893

14.

25 de Janeiro.30 de Janeiro.10 de Fevereiro.

15.»ió.a17."

25 de Fevereiro 18.

ASSUMPTO

cer. Proposta do Dr. Inspectorde Hygiene sobre as águasthermaes do Cipó; á commis-são da 4.' secção.

—E' autorisado o Dr. Presi-dente a contractar a impressãodos trabalhos do Conselho;consultado este sobre quaesdevam ser esses trabalhos, re-solve que sejam o resumo dasactas, pareceres e suas con-clusões, regulamentos, e a sy-nopse no fim de cada anno civil,entrando nesta os trabalhosdos tres últimos mezes de 1892.Approvação do parecer n. 4acerca da proposta do Dr. In-spector de Saude do Portosobre a escolha de local parahospital marítimo, opinandoque seja no Morro de S. Paulocm logar isolado e distante doLazareto.

—Não houve numero,— Não houve numero.—Approva uma proposta de-

clarando que o Conselho, tendoouvido a leitura de uma cartado Professor de Hygiene daFaculdade de Medicina— la-menta que este professor lherecuse a cooperação que era deesperar do seu patriotismo,illustração, etc.

—E' approvada a ultima re-dacção do regulamento dasvaccinas.

—E' apresentado um parecersobre a indicação a respeito daassistência publica, é adiada adiscussão.

—Approva um parecer sobreum recurso do Pharmaceutico

— 17

oDATA sessão

<ASSUMPTO

189;

M. Hermelino Ribeiro sobrelalta de licença—resolvendo queneste e em todos os casos iden-ticos seja mantida a decisão daPresidência da Provincia de 8de Outubro, de .889, parecern. ó.

—Approva outro parecer jn.5) sobre a representação de P.Loques, concluindo que nestee nos casos idênticos satisfaçamos interessados perante a ln-spectoria de Hygiene deste Es-tado as exigências do Regula-mento sanitário de 1890, Arts.76, 79 e 80.

—Apresentação do relatóriodos trabalhos do Instii ito Vae-cinico durante o anno de 1892,pelo seu Director.

—Apresentação do regula-mento sobre estatistic,) demo-grapho-sanitaria; adiada adis*cussão.

—Convocada de accordo como pedido do Dr. Presidente doConselho Municipal, que nãocompareceu.

—O Conselho resolve quepara abrir as sessões só seespere meia hora depois demarcada para o compareci-mento dos seus membros.—Adiamento da discussãodos pareceres para a sessãoordinária', do que se mandoudar conhecimento ao Dr. Pre-sidente do Conselho Muni-cipal.

— Approvação do parecersobre o recurso de Gunter &Mundt, concluindo—que lhes

ANNO XXVI SEKlE IV VOL. V. ^

de Março. 19.(Extr.

10 de Março. 21

- i8 -

1

DATA sessão

27 dc Março.

1 de Abril.

21/(Extr.)

22.(Extr.)

ASSUMPTO

seja relevada a multa e per-mittido vender por atacadodrogas emedicamentos impor-tados, até que a revisão doregulamento de 1890 regule aespécie (Parecer n. 7).—Apresentação de um pro-jecto sobre desinfecções domi-ciliarias; á commissao respe-ctiva.

—Apresentação e leitura dasconclusões do parecer sobreassistência publica; volta auma commissao mixta da 2.'e 5.* secçoes.

—Não houve sessão.

—A' consulta do Dr. Go-vernador sobre a transferenciados variolosos da Fortaleza doBarbalho para uma casa pro-xima, e não se receber maisvariolosos em enfermaria espe-ciai, sendo os indigentes trata-dos em seus domicílios comtodos os requisitos da hygiene,o Conselho, em vista da ur-gencia do caso, e das difficul-dades de executar de promptoas medidas lembradas, acceitao alvitre da transferencia dosvariolosos para a casa de Mont-Serrat, como medida provi-soria, e executada com as de-vidas precauções.—Approva o parecer sobrea transferencia da licença feitapela ínspectoria de Hygiene aocidadão Augusto José da SilvaMarcellino, opinando que noscasos de transmissão de pro-priedade de uma drogaria não

- i9 -

oDATA sessão~~ ——

ASSUMPTO

io de Abril, 23.

1893 25 de Abril.2 de Maio.

10 de Maio.

24.25.

(Extr.)26.

pode ser transferida com ellaa licença concedida ao anteriorproprietário do mesmo esta-belecimento, a qual deve serrenovada sempre que a droga-ria mude de proprietário. (Pa-reeer n. í5.) ,— Parecer sobre assistênciapublica; adiada ainda a dis-cussão.

—Parecer sobre as licençasrequeridas pelo PharmaceutieoJoaquim Lino de Medeiros:adiado.

—Approva o parecer sobre aconsulta da Inspectoria de Hy-giene ao Dr. Governador re-lativa ao laboratório dos dro-guistas Lima, Irmãos & C ,concluindo—que seja cassada aLima Irmãos & C. a licençapara terem laboratório phar-maceutico, e que d'ora em di-ante a Inspectoria não concedaa mesma licença a outros dro-guistas, por não o permittir oFegulamento Sanitário em vi-gor (Parecer n. c).

—Não houve numero.

—Não houve numero.—Recurso do Pharmaceutieo

Galdino Fernandes da Silvarelativo á vendi de preparadosdo Pharmaceutco Collecto An-tonio da Fonseca: á commissãoda 1. secção.

—Approva o parecer sobrelicenças para a venda de pre-parados pharmaceuticos reque-ridos pelo Pharmaceutieo Joa-quim Lino dc Medeiros, con-

20 —

O22<

DATA SESSÃO

I893 25 de Maio ...,

»»

31 de Maio....

10 de Junho...14 de Junho...

28.

29.30.

ASSUMPTQ

cluindo que, negando-se o re-gistro, das referidas licenças,seja indeferida a petição (Pa-recer n. 10).

—Apresentação do projectode revisão da Lei de 16 de Ja-neiro de 1890, no que concerneao exercício da medicina e dapharmacia: vae a imprimir paraser distribuído e discutido.

—Approva o parecer sobre oserviço de assistência publica(Parecer n. 11).

—E* approvado o parecersobre o recurso do Pharma-ceutico Galdino Fernandes daSilva, concluindo—que sejamcassadas as licenças federaesde todos os remédios secretos

;gistrados na Inspectoria delygiene deste Estado depoisa Lei de 23 de Janeiro, e os

i iteressados submcttidos ásíesmas exigen;ias reguhmen-ires estaduaes (Parecer n. 12).—£' adiada a discussão do

projecto de revisão da Lei de18 de janeiro de, 1890

—E' discutido o projecto derevisão da Lei de 18 de Janeirode 1890; encerrada a discussãovae a ultima redacção

—Não houve numero.— E' resolvida affirmativa-

mente a consulta do Presi-dente,—se tendo declarado nãopertencer ao Conselho um dosseus membros natos, pode seraberta a sessão com o min imode seis membros presentes.

— 21 —

z data ísessão_iI —

ASSUMPTO

.893 14 de Junho.

20 de Junho.

28 de Junho.

—E' appròvada a ultima re-dacção do projecto de revisãoda Lei dc 18 de Janeiro dc 1890no que concerne ao exercicio damedicina, da pharmacia e deoutras profissões que com estasse relacionam.

—Resolve esperar que a In-tendência remmetta as bases doserviço do aceio da cidade paraattender á proposta do Dr. ln-

jspector de Hygiene.J° "

I —Resolve que o Dr. Presi-(Lxlr.) dente dirija ao poder competente

a petição do Dr. Secretario, pe-dindo gratificação por excessode trabalho.

31." —Declaração do Dr. Presi-dente de haver remettido ácommissão mixta da 2. e 3.secções um officio que receberada Intendcncia Municipal, pe-dindo parecer sobre a canalisa-ção do novo hospital da Miseri-cordia.

—E' aoresentado o parecerda commissão mixta e discuti-do: è adiada a discussão para odia 28, depois de visitado peloConselho o hospital, e exami-nada a canalisação até ás SetePortas.

—São approvadas as conclu-soes. 1. que se possa installar onovo hospital da Misericórdiaindependentemente da coberturado rio das tripas até ás SetePortas; 2. que prevaleça acláusula da cobertura do rioaté ás Sete Portas posterior-mente a abertura do hospital;3. que se conceda um prazo

— 22 —

o2*.

DATA SESSÃO

io de Julho. 32.

1893

15 de Julho. 11*(Extr.)

25 de Julho.10 de Agosto.25 de Agosto.

34-a35."3ó.a

ASSUMPTO

35 de Agosto. 36/

para o cumprimento desta clau-sula, e que seja a IntendenciaMunicipal quem o determine.

—Para responder á parte dooffieio da Intendencia sobre osmeios de desinfecção dos ex-cretos dos doentes do novo hos-pitai antes de lançados aosesgotos, dará parecer a com-missão na sessão seguinte.

—Sobre a pretenção do Phar-maceutico Joaquim Lino deMedeiros, o Conselho resolve,que só a ínspectoria de Hygienedeste Estado pode conceder li-cenças, mas que por.equidadese acceitem as analyses feitasno laboratório de hygiene daCapital Federal antes de 23 deJaneiro de 1892; e que os peti-cionarios devem requerer as li-cenças à ínspectoria do Estadocom documentos que provem oresultado dessas analyses (Pa-recer n. 15.)

—E' approvado o parecersobre os meios de desinlecçãoapplicaveis ao novo hospitalda Misericórdia, em relação alatrinas, dejectos, mictorios, es-carradores, pavimentos inoveis,roupas, etc. (Parecer n. 16).

' —Não houve numero.—Não houve numero.—Vae á commissao da 5.

secçao um offieio do Dr. lnten-dente Muncipal, pedindo me-didas preventivas contra a in-vasão do cholera-morbus.

—Vae a imprimir o parecersobre estatística demographo-sanitária.

- 23 -

oDATA

31 de Agosto.

2 de Setembro.

SESSÃO ASSUMPTO

37-

(Extr.)

1 1 de Setembro.10 de Outubro.

38.°39."

13 de Outubro. 40.»(Extr.)

—Discute-se o parecer sobreas instrucçoes preventivas con-tra a invasão do cholera-morbus.

— E' approvado o pareceropinando que se indique aosGovernos do Estado e Muni-cipal a necessidade de organi-sar ura serviço de desinfecçãoo mais próximo possivel dodesembarque, para bagagens, ede inspecção sanitária dos pas-sageiros procedentes de portossuspeitos, etc.

—Não houve numero.E' remettido á conmissão

competente um recurso co Phar-maceutico Henrique Diniz Gon-salves, que pretende estabelecerum laboratório de preparadosofficinaes á rua do ConselheiroSaraiva n. n.

—E' adiado para a seguintesessão resolver sobre a decla-ração do Dr. Presidente, desaber que dispõe o Inspector deSaúde do Porto de meios suf-ficientes para impedir a entradade navios procedentes de portosinfeccionados: solicita-se a pre-sença do Dr. Inspector de Saúdena seguinte sessão.

—E* approvada uma indica-ção do Dr. Presidente para queuma commissão do Conselhovisite e examine as fontes pu-blicas e o estabelecimento daCompanhia do Queimado: éincumbida a commissão mixtada 2. e 4. seccões.

—DeclaranaVo Dr. Inspectorde Saúde do Porto não dispor

— 24 —

ozz< DATA

25 dc Outubro.

1893 j 10 de Novembro

18 de Novembro

25 de Novembro30 de Novembro

10 de Dezembro.i6 de Derembro.

SESSÃO ASSUMPTO

4'*°

42/

43-'(Extr.)

44*a45-H

(Extr.)

46'47 S

dc meio de transporte adaptadoao serviço marítimo, e neces-sitar de um medico auxiliar:resolveu o Conselho, por inter-médio do Dr. Presidente, apre-sentar ao Dr. Governador asmedidas indispensáveis e ur-gentes; 1.° Obter do Arsenalde Marinha uma lancha a vaporpara o serviço sanitário doporto; 2.0 Nomear um faculta-tivo auxiliar do Inspectcr; 3.Prover a que não falte o lnspe-ctor o material e pessoal ne-cessario nas actuaes circum-stancias para o serviço marítimoa seu cargo.

—E' remettida á co nmissãoda i." secção a preunção doDr. Ricaldi da Rocha Castro.

—E' approvado o parecersobre o recurso do Phi rmaceu-tico Henrique Diniz Gonsalves,opinando—que seja confirmadoo despacho da Inspectoria deHygiene e negado provimentoao recurso interposto.

—Discussão do projecto sobredemographia sanitária.

—Não houve numero.—Discussão do projecto sobre

demographia sanitária: enviadoá commissao para ultima re-dacção.

—Não houve numero.—Não houve numero.

Sala das sesapes do Conselho Geral de Saude Publica 4de Abril de 1894.

Dr. José Francisco da Silva Lima—PresidenteDr. cAntonio zAuguslo de Figueiredo Pitta—Secretario.

/

( -- 25 -

EPIDEMIOLOGIAEndemo-epidemia da Jacobina

PELO DR. JULIANO MOREIRA

(Continuação da pag. vol.)Em razão das copiosas chuvas que então cahiam, somente a

i.° de Junho pude vir á referida cidade providenciar sobre otransporte da dita ambulância para o Lameirão; a abertura dosvolumes foi feita pelo Dr. Delegado de Hygiene, ao qual, se-gundo as instrucções verbaes da Inspectoria, recebidas pormim ao partir da capital, entreguei alguns medicamentos, parasoecorro dos poucos casos que ainda existiam na cidade.

Do que ahi fica referido teve noticia a Inspectoria por meuofficio de 2 de Junho.

Parti a 3 para o Lameirão; antes do dia 15 tinha-se conclui-do a provisão de sacs de quinino que foi-me enviada!

Para dar ideia do numero de doentes a que forneci remédiobasta dizer que em 3 dias terminei dous grandes frascos dequinina.

A 10 de Junho enviei a Inspectoria o seguinte officio:«Tendo eu sido commissionado para tratar dos indigentes

de uma ampla zona, pois o fui para Cidade do Bomfim, Cam-po Formoso e outros lugares circumvisinhos, bem deveiscomprehender que bastante grande é o numero de pessoas amedicar e por conseguinte também grande deve ser a provisãodos remédios que se fazem precisos; na actual emergênciaepidêmica sendo mais necessário o sulfato de quinina peço-vosque me seja enviada maior porção delle, por isso mesmoque os dous frascos (o 3.0 ficou em mão do vosso Delegadoem Villa Nova) que foram-me fornecidos já acabaram-se.

Os doentes e eu aguardamos a remessa do dito medica-mento.»

Somente aos 7 de Julho foi que obtive resposta a esse offi-cio! Alem de tardia era assim cone cbida:

ANNO XXVI SERIE IV VOL. V. 4

«— 26 —

«Communico-vos para vossa sciencia que o Exm. Governa-dor do Estado, á cuja apreciação submetti o vosso pedido denova ambulância, resolveo que não se effectuasse a dita re-messa, visto ser a quarta ambulância fornecida á commissaode que estaes incumbido. Saúde e fraternidade. O Inspectoretc.»

Quarta ambulância, um simples pedido de sulfato de qui-nina!!! E'claro o meu offieio, pedi renovação do sulfato emjnsufficiente quantidade que foi-me fornecida na ultima ambu-lancia reeebida.

O offieio que transcrevi ha pouco chegou-me ás mãos aos 79de Julho, dia em que cfficiei de novo á ínspectoria nos seguin-tes termos.-

«Illm0. Cidadão Dr. Inspector, etc.Em razão de estar a nove legoas de distancia da Cidade do

Bomfim, somente hoje 19 de Julho é que chega-me ás mãoso vosso offieio de 7.

Li-o com a estupefacção compatível com a inverosimilhançao que me participaes. Julgando que a assistência publica aosindigentes tinha, entre nós como em outras partes, os limitesdas opportunidades epidêmicas que a exigiam, abalancei-me apedir-vos uma nova remessa de sulfato de quinina, mal ter-minou-se a quantidade, relativamente insignificante, vinda naultima ambulância, pois dos -3 frascos que vieram, um ficouem mãos do Dr. Delegado de Hygiene na Cidade do Bomfim;disse insignificante, porque em focos de impaludismo como oem que estou, quando pullulam as remittentes biliosas e asperniciosas; quando as pneumonias e pleurisias que adoentama população são malignisadas pela malária, dous frascos desulfato de quinina são por sem duvida dignos d'aquella desi-gnação. E sendo assim, como é, fico convencido de que se denovo recorrerdes ao Illustre Medico que oecupa o primeiroargo governamental do Estado, elle vos attenderá na minhaequisição, menos minha que dos moradores destas localida-dades circumvisinhas á Cidade do Bomfim; moradores estes

- a? -

que por doentes ainda mais diminuem as minguadas forçasvivas do trabalho agricol*.

Apezar. porem, do que acabo de allegar, se julga a altaadministração que interesso-me em aqui estacionar para maiorrendimento próprio, eu peço-vos que não renoveis o pedido,o que me participareis para que prestes eu apresente-me aesta Inspectoria, dando por finda minha commissão em quetenho consciência de ter cumprido meu dever como o attesta-rão os que me viram a cumpril-o. Por isso mesmo que aguar-do a vossa resposta vos requeiro que ella seja breve.

Saúde e fraternidade.A 29 de Julho telegraphou a Inspectoria ao seu Delegado

pedindo informações acerca do estado sanitário da Cidade doBomfim, Lameirão e etc. Elie deu as desejadas informaçõesquanto a Cidade, porem pediu-mas acerca dos outros lo-gares.

A i."de Agosto enviei-lhe a informação seguinte:Havendo neste momento recebido o vosso officio de 29 do

p. p., apresso-me a responder-vos com a urgência que memereceis, e, o que mais é que tudo, sem dilações, impossíveisem emergências taes como a que vos levou a officiar-me. De-sejais saber o estado sanitário do Lameirão e Bananeiras afimde informardes ao Dr. Inspector da Hygiene publica do Estadoda Bahia; posto ?que em officio a clle ultimamente dirigido,tenha dado uma idéia do grão de morbidade em que acham-se as populações dos supraditos lugares, em attençâo áspraxes governamentaes vou re-circumstanciar, quanto possívelfor, oque no dito particular houver a dizer-vos. Na locali-dade denominada Lameirão se não apresentarem-se mais asfebres remittentes com a freqüência dos fhezes estivaes, toda'via, o que é talvez peior, tem havido vários casos de accessosperniciosos em suas diversas modalidades clinicas principal-mente a pneumonica, por effeito, provavelmente, do intensofrio humido que aqui tem reinado O districto das Bananeirasgraças á parcimônia de medicamentos anti-malaricos que me

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têm sido enviados, ainda tem uma grande parte da populaçãoinactiva pa ra o trabalho por virtude das febres intermittentescujos accessos com facilidade e freqüência apresentam-se per-niciosos; demais disso alli tem havido diversos casos de typho-mala rica &.como effeito das péssimas condições hygienieas dosdoentes. Alem destas duas localidades sobre as quaes me pe-distes informação, ha a margem do Itapicurú, ha a Fumaça,ha a Malhadinha, cujas populações circumvisinhas ao Campo-Formoso, de continuo reclamam de mim soecorros médicos,claro é que não por mero luxo de medicar-se, mas sim porviverem sob o pesado jugo das pyrexias paludosas em todasas suas variantes clinicas; soecorros esses, repito, que devodar, pois com isso não transcendo a orbita de acção que meprelimitou o officio indicativo da commissão em que me acho.

Antes de findar não é demais notar que quando mesmo aperniciosidade não engravecesse as febres marematicas rei-nantes nas supra-referidas localidades, eu, tendo sido com-missionado para tratar febres, claro é que emquanto houver dei-Ias com freqüência epidêmica, tenho o dever de pedir meiosde debellalas.

Por isso mesmo que tendes de responder ao Inspector daHygiene eu vos requeiro que junteis ao vosso officio estaminha informação.

Eis ahi fica o que se me offerece inteirar-vos, após o queapenas tenho, por força do meu dever, de reiterar-vos meussinceros protestos de seria estima e alta deferencia.

Saúde e Fraternidade.Viajando aos 6 de Agosto para a cidade encontrei em cami-

nho um portador que de parte do Dr. Delegado de Hygienelevava-me o seguinte telegramma:

«Convcra que presteis minuciosa informação dessa localida-de referente motivo que ditou vossa commissão afim de satis-fazer requisição governador.

Inspector Hygiene.»

— 2Ç —¦

No mesmo dia 5 enderecei o seguinte officio—informação áInspectoria:

«De volta do Lamarão para esta cidade foi que tive occa-sião de receber o vosso telegramma de 30 do p. p.; por meiodelle me pedis informação minuciosa referente ao motivo queditou a eommissão em que acho-me. Apezar de em data ante-rior já vos ter dado noticia do estado sanitário do segundodistrieto do Campo-Formoso, apezar de a i.' do corrente tereu fornecido ao Dr. Delegado de Hygiene desta cidade as in-formações que por elleforam-me pedidas, eu, para completaconsciência de que cumpro o meu dever, volto a repetir aquio que houver a minudenciar acerca das localidades para asquaes vim commissionado.

A cidade do Bomfim acha-se em bom estado sanitário; aVilla do Campo-Formoso sempre esteve, isto é, lá apenashouve um ou outro caso esporádico de febres paludosas adqui-ridas em outros lugares; quanto porem, ao segundo distrietodo mesmo Campo-Formoso que é constituído pelos seus lu-gares circumvisin/ws, ahi ainda é avantajada' a morbidadepublica.

Neste segundo distrieto deixai que refira-me a algumas lo-calidades com especialisação: (D'aqui em diante esse officiofoi mais ou menos redigido como o que enviei ao Dr. Delegadode Hygiene, por isso dispenso-me dc transcrevel-o até ofim).»

Em fins de Agosto mostrou-me o Illm. Intendente municipalda Cidade do Bomfim um telegramma em que a Inspectoriapedia-lhe informação sobre o estado sanitário da referida cida-de, do Campo-Formoso, etc; compenetrei-me então de quantoestava a Inspectoria e quiçá o governo, duvidosos daveraci*de do que eu com firmeza assegurava! E' certo que esqueci-mede sellar as miahás affirmações com —a fé de meu grau,—mas se esqueci-me foi porque antes de receber o direito de talsello eu tinha na consciência o pudor á verdade e o que mais é

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que isso, tinha por timbre o afiirmar sem juras por isso mes-mo que as tenho visto falsas.

Não me ennodoa aquelle olco moral de desconfiança esuspeita porque a seriedade com que sempre norteei meu pro-ceder e a tranquillidade de minha consciência conservam-melonge do seu eíTeito.

Resolvi-me pois a ir ao Lameirão buscar o que de meu láhavia assim como o restante da ultima ambulância, afim devoltar á capital dando por finda a commissao não porque ti-vessem cessado os fins d'ella, mas porque cireumstancias variastornando precisa uma outra commissao á outra localidade dosertão, tinham leito parar a confiança governamental paracommigo.

Tendo porem ao chegar na cidade recebido o officio peloqual fui dispensado, com pezar meu nullificou-se o meu pro-jecto!

Entreguei ao Dr. Delegado de Hygiene o restante da ambu-lancia constante da relação seguinte: (segue-se a lista que nâotranscrevemos para não enfastiar o leitor.)

Sahi da Cidade do Bomfim a 13 cheguei á capital na tardede 14, a 15 apresentei-me á Inspectoria dc Hygiene. Concluídaesta primeira parte de meu relatório, que é por assim dizer aparte descriptiva das minhas relações com o governo, passa-rei a oecupar-me, com algumas minudencias, da epidemia edos attingidos por ella.

(Continua)

- v —BACTER10L0GIA

Ooiitrtbuioão para o estudo baote-riologico do bacillo de LisboaPELO

DR. LUIZ PEREIRA DA COSTALente cathedratico da Faculdade de Medicina

CHARLES LEPIERREProfessor de chimica na Eschola Industrial de Coimbra

(Trabalho do Gabinete de tMicrobiologia da Universidadede Coimbra

Devido á amabilidade do Sr. Câmara Pestana um de nóstrouxe de Lisboa uma cultura dó bacillo encontrado por aquellebacteriologista nos dejectos das pessoas atacadas da doençaque então grassava na capital.

Com essa cultura semeada em gelose a 28 de Abril e comuma outra da cholera de Paris efferecida lambem pelo Sr. Ca-mara Pestana, encetamos as experiências de que vamos darnoticia.

Fizemos um estudo comparado das duas bactérias collocan-do-nos o mais possivel em condições idênticas.

Estavam terminadas as nossas observações quando appare-ceram publicados os trabalhos dos dois bacteriologistas extran-geiros, o Dr. Chantemesse (1), e o Dr. Netter (2), que emvários pontos não concordam com o que tínhamos observado;fizemos então uma nova serie de trabalhos que veio confir-mar plenamente os nossos primeiros resultados.

MoRpiioLOGiA.—O bacillo de Lisboa apresenta-se com aforma de bastonetes delgados, moveis, medindo em media 2a 4 u; em geral isolados e rectos, algumas vezes ligeiramenteencurvados; não encontramos fôrmas em S bem nitidas e nuncaespirillos ou filamentos. Encontram-se freqüentemente fôrmasde diplos bacillos. Constantemente observamos que as fôrmas

(1) Semaine médicale, 13 Juin 1894.(2) Presse médicale, 16 Juin 1894.

— 32 -

rectas predominam 9obre as fôrmas curvas, qualquer que sejao meio em que se cultivem, sendo a curvatura pouco pronun-ciada.

Não. encontramos nos bastonetes curvos a fôrma de crescente

que assignala o Sr. Chantemesse; o diâmetro é o mesmo na

parte central do bastonete e nas extremidades sendo estas arre-dondadas e não agudas como disse o Sr. Chantemesse.

O vibrião de Paris pelo contrario, apresenta, desde o primeirodia todas as fôrmas consideradas como distinetivas dos vibriões,isto é, bastonete geralmente encurvado, fôrmas em S, espiril-lares ou filamentos abundantes.

Celhas.—A bactéria de Lisboa apresenta celhas como já foiapontado pelos Srs. Câmara Pestana e Annibal Bittencourt.Geralmente tem apenas uma n'uma das extremidades; sãomuito fáceis de córar sem recorrer ao processo dos Srs. Ni-colle e Morax; observamos nitidamente celhas com vibrações eos bastonetes ainda com movimento, depositando uma gotta deuma cultura dc quarenta c oito horas em caldo de carne, n'umalamina e curando a frio, sem seccar, como uma gotta de violetedc mcthylio cm solução aquosa. Este processo permittiu-nosverificar a estreita relação que liga o movimento da bactériacom as celhas que apresenta. Os outros meios dc cultura nãonos deram tão bom resultado para esta observação.

Culturas e.u caldos.—O caldo de carne que nos serviu con-tinha um kilogramma de carne de vacca para dois litros deagua; convenientemente desgordurado e neutralisado de modoa deixar ligeira basicidade (de o gr., 56 de potassa por litro).

O bacillo de Lisboa desenvolve-se bem á temperatura de

30o, não formando nunca pellicula á superfície do liquido. ODr. Netter diz ter observado a formação de pellicula; nuncanotamos semelhante facto.

O vibrião de Paris depois de alguns dias apresenta uma pel-licula bem nitida.

Os resultados foram semelhantes empregando os caldos de

peptona pepsica a 2 % ou de peptona pancreatica; não apresen-

-"3* **

tam pellicula até aos quarenta dias do seu desenvolvimento,período em que ofc observam s. As culturas nas peptonaspassado algum tempo são nitidamente visccsas.

Culturas em gelatina: i.° Cultura em placas.—Nas placassemeadas, com a bactéria de Lisboa, e mantidas á temperaturade 20°, começam a apparecer as colônias passadas vinte e qua-tro a trinta e seis horas Examinadas com pequena ampliíicaçãosão pequenos círculos amarellados com o centro m&is escuro(fig. I).

Passado um dia a colônia augmenta e apresenta o aspecto dafig. II, isto é, uma zona radiada'peripherica com pequeníssimosfilamentos; o centro amarellado formado por granulaçõespequeníssimas; entre a parte central c a parte radiada existeuma zona clara...Continuando *a colônia a desenvolver-se, acircumferencia interna da zona radiada delimita-se mais e vê-seem muitas colcnias pequenas filamentos íóra do circulo peri-pherico (fig. III). Raras são as colônias que apresentam nosegundo dia o aspecio de pequenas espheras de vidro.

De um dia para o outro este aspecto modifica-se; o centrocomeça a liquefazer-se e a extender-se parecendo formado deflocos de algodão; existem então duas zonas claras e a zona ra-diada vai desapparccendo com a liquefacção da gelatina.Emfim a gelatina liquefaz-se toda no sitio da colônia ficandoapenas vestigios da parte radiada, a cultura toma o aspeciodo algodão em rama nadando n'um liquido (quarto e quintodia).

Comparando dia a dia o espirillo da eholera de Paris com abactéria de Lisboa, e desde o primeiro dia nota-se um aspectoabsolutamente differentc; quando a colônia é superficial a suaapparencia a principio é granulosa (espheras de vidros); sendomettida na gelatina é formada de dois círculos concentricos.

O bordo exterior apresenta-se em seguida nitidamentesinuoso fig. II), o que não acontece com a bactéria lisbonense.A colônia apresenta depois suecessivamente os aspectos dasfiguras III, IV, V.

SERIE XXVI ANNO IV VOL. V. 5

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Pôde existir certa semelhança entre a phase V da bactéria deLisboa e a phase IV do vihião cholerico, mas as phases pre-

cedentes nitidamente diferenciam as duas bactérias.Devemos accresccntar que a colônia do bacillo de Lisboa é

muito semelhante á do bacillus mesentericus vulgaris, como sevê pela comparação das estampas.

Verificaremos ainda algumas outras analogias entre estasduas bactérias.

2.° Cultura em picada.—Nada de particular no processo daliquefacção se nota entre o bacillo de Lisboa e o vibrião deParis. Porém este ultimo vinha provavelmente já um poucoattenuado porque a liquefacção, embora passasse pelas mesmasphases, era mais demorada do que geralmente indicam oslivros. A descripção da cultura em picada foi já bem feita pelosbacteriologistas de Lisboa e limitar-nos-hemos a apontar algu-mas divergências.

Dizem estes bacteriologistas que a cultura depois de terprincipiado a liquefacção deixa de se desenvolver no trajectoda picada, limitando-se a liquefacção ás camadas superficiaesda gelatina.

Observamos pelo contrario que a colônia continua a desen-volver-se e a liquefacção também; todos os tubos innoculadosdepois de um mez estão quasi inteiramente liqüefeitos.

Sobre a gelatina que está ainda solida depositam-se flocosbrancos cheios de bactérias.

A gelatina liqüefeita que sc acha por cima d'este deposito éabsolutamente transparente, chegando a não se poder distinguira parte liquida da parte solida, a não ser pelo deposito brancoque indica até onde chegou a liquefacção.

O mesentericus vulgaris também liqüefaz rapidamente a gela-tina apresentando muitos dos aspectos do bacillo de Lisboa edo vibrião de Paris.

Cultura em gelose.—Nada dc particular, senão o que foi jáassignalado em Lisboa.

Cultura na batata,—A cultura na batata do bacillo de Lis-

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boa é abundante no fim de alguns dias; a côr da colônia éamarella-acastanhada, mas não muito pronunciada; alastra-serapidamente á superfície do tuberculo e penetra um pouco namassa. E' ligeiramente viscosa e com uma agulha dc platinaconsegue-se puxar pequenos filamentos. Formam-se pequenasquantidades de glucose pela transformnçâo do amido da ba-tata. Estes dois últimos pontos indicam também algumasanalogias com o tnesenlericus.

Cultura no ovo.—Na albumina do ovo coagulada a culturadesenvolve-se lentamente á temperatura de 20o. Em algunsdias a cultura apresenta uma côr acastanhada com aspecto vis-coso, humido e alastra-se á superfície do ovo. Desenvolve umcheiro nitidamente ammoniacal; a formação do ammoniaco oude uma methylamina verificou se também pelos reauenteschimicos apropriados. E' mais uma analogia com o mesente-ricus.

Cultuha no leite. —Empregamos o leite de vacca e o leitedc cabra. Os resultados foram idênticos. Os leites*foram este-rilisados muito cuidadosamente Desde o segundo dia verificou-se a coagulação do leite e a formação de tres camadas:

i.°—Uma camada de nata superficial que contem muitasbactérias;

2.n--Um liquido incolor ou amarellado ligeiramente vis-coso .

Este liquido filtrado e examinado com papel de tornesol (oucom a tinctura) azul e vermelho apresenta-se como amphoterico,isto é, ácido e básico ao mesmo tempo; esta reacçao é devida áexistência simultânea de saes ácidos e de saes básicos (comoacontece ás vezes nas urinas). Devemos excluir, segundo pare-ce, a idéa da existência de um ácido livre' pelo facto do liquidonão decompor o hyposulfito de sódio.

O papel de tornesol depois de secco apresenta ainda j aspectoamphoterico: o papel vermelho é nitidamente azu'. e o papelazul nitidamente vermelho.

Passados alguns dias o amphoterisvw vai diminuindo tor-

- ,6-hando-seo liquido mais básico do que ácido. Para ter uma idéada basicidade fizemos ensaios alcalimctricos. Para 5CC do li-

quido claro de uma cultuia no leite de quarenta dias foi neces-sario 4CC de ácido sulfurico decinormal para chegar a neutrali-sação chimiea. Calculando em ammoniaco (sem averiguar aque corpos é devida a basicidade) obtem-se uma alcalinidadede 1 gr., 3o por litro ou 7CC de ammonia commercial.

Os leites não semeados, no fim de alguns dias, apresentavamtambém simultaneamente reacção ácida e básica, sem que hajavestígios de coagulaçào.

A coagulação do leite pelo micróbio dc Lisboa parece-nospois independente da reacção do meio e devida á formação deuma diastase.

*.a--Uma camada inferior constituída por caseina precipi-tada.

O mesentericus vulgaris cultivado no leite coagula-o sendobásico o liquido intermediário e também apresenta tres cama-das. O vibrião cholerico dc Paris dá urn:i reacção ácida.

Reacção do indol.—Para verificar a formação do indol fize-mos culturas simultâneas a 30o do bacillo dc Lisboa e dovibrião dc Paris em caldo de peptona pepsica a 2 % e em caldodc peptona pancreatica. Sabe-se pcios trabalhos de Féré que oindol no caso do bacillus coli cominunis se fôrma muito maisrapidamente e com mais abundância nas peptonas produzidaspcla trypsina do pancreas. Verificamos o mesmo facto com ovibrião de Paris o qual em vinte e quatro horas dava a reacçãovermelha muito intensa nos caldos pancreaticos e menos noscaldos pepsicos.

loce de cultura do bacillo de Lisboa, no fim de um, dois,tres, quatro ou mais dias, até um mez, addicionados de icc denitrito de potássio a 1/5000 e de algumas gottas de ácido sul-furico, não deram reacção vermelha nenhuma, tanto á tempe-ratura ordinária como de 35o a 40o.

O Sr. C'/;antemesse acaba de publicar que obteve indol nosmeios peptonisados, empregando como rcagente o nitroprus-

- 37 -

siato de sódio, a soda e ácido acetico (reacção semelhante aque se. emprega para reconhecer a acetona nas urinas). Torna-mos a fazer culturas para novamente verificar este facto, em-pregando simultaneamente os dois reagentes, isto é, o nitrito eo nitroprussiato; tanto um como o outro não nos deu reacçãonenhuma passados oito dias de cultura a ?o° em caldo depeptona pepsica com ou sem phosphato, e em peptona pan-creatica. O vibrião de Lisboafnão fornece pois nem indol nemnitritos, porque lançando simplesmente ácido sulfurico noscaldos não se obteve reacção vermelha alguma.

Poder feraientativo dos assucares.— As experiências foramfeitas com caldos de peptona pepsica a 2 % e de assuear a 5 %neutralisados e esterilisados.

Foram semeados com o vibrião cholcrico c o bacillo de Lis-boa em presença de giz esterilisaclo.

Os assucares empregados ioram um assuear cm Có a gluco-sa, c um em C 12, a saecharosa pura ou assuear commum.

O bacillo dc Lisboa não faz fermentar nenhum d'estes corpos;a cultura porém c abundante e tem um cheiro a urina nítida-mente pronunciado.

O vibrião de Paris faz fermentar energicamente em poucashoras estes dois assucares.

Innoculaçòes nos animaes —Estudando a acção pathogenicasobre os cobayas por innoculação das culturas do bacillo dcLisboa, notou-se que eom icc de cultura recente em gelatinainnoculado no peritoneo, os animaes não apresentam sympto-mas mórbidos observáveis desde a sua innoculação até hoje,isto é, vinte e um dias.

Devemos notar que os bacleriologistas de Li.boa chegaramultimamente a idênticas conclusões empregando culturas cmgelose.

Conclusão.—Pelo estudo bacteriológico que deixamos ex-posto não podemos classificar a bactéria de Lisboa no grupodos vibriões cholcrigenos; não acceitando mesmo a opinião dc

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Chantemesse de que a bactéria dc Lisboa se pôde approximarda de Finkler.

Pelo contrario parece-nos que a bactéria de Lisboa, sobre

que recahiu o nosso estudo, se approxima de uma bactériavulgar, não pathogene, eommum nas fezes e nas águas,—o

bacillas mesentericus vulgaris—à qual portanto não poderiaattribuir-se a epidemia de Lisboa; faltando porém alguns ca-racteres para a sua completa identificação: não podemos affir-mar, por falta de provas, sc a epidemia de Lisboa está ou nãoligada a esta bactéria.

Ao terminar este estudo desejamos testemunhar toda a nossaconsideração para com os Srs. Câmara Pestana e AnnibalBittencourt que sempre esperamos encontrar como amigosn*estes assumptos scientificos tão complicados.

Coimbra, Junho de 1894. (Coimbra ÍMedica)

VARIEDADES

O Brazil ua secção de sciencia»médicas da Exposição de Obicajuço.

O Dr. Júlio Brandão publicou o seguinte relatório das re-

compensas conferidas aos expositores brazileiros da secção de

sciencias médicas:«Cumprindo um rigoroso dever, venho hoje publicamente

desempenhar-me do solemne compromisso, que a tempo tomeicom os expositores brazileiros que, a convite meu como mem-

bro da commitsão brazileira encarregada da secção de scienciasmédicas, concorreram á exposição de Chicago.

Éra quasi excusado repetir aqui o que já foi dito pela im-

prensa d'esta capital c dos Eslados-Unidos da America, isto é,

que o Brazil apresentou-se brilhantemente em todos os depar-támentos e seccões da exposição colombiana dc Chicago; queconsolidou e elevou altamente seus créditos dc nação intelli-

gente, laboriosa, activa e adiantada, capaz dos mais altos em-

prendimentos, fadada ao mais invejável porvir; tudo isto,

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repito, graças a maneira grandiosa e brilhante porque elle seapresentou e fez representar n'aquella exposição memorável.A importante secção de seiencias médicas a meu cargo foi

uma das mais visitadas e admiradas no departamento dc artese manufacturas.

Os produetos medicinaes da rica ílora brazileira, alli exhibi-dos, os preparados pharmaceuticos e dentrificios, alguns dosquaes de incomparavel belleza e perfeição, a proíusão de car-tas, desenhos e photographias, patenteando ás vistas de todosos adiantados elementos de hygiene de que já dispõe esta capi-tal e alguns dos Estados, sob o ponto de vista hospitalar, doslazaretos, dos abastecimentos d'agua e da rede de esgotosd'esta capital, das instituições sanitárias, collegios, etc; final-mente a rica e brilhante bibliothcca de livros, gazetas e trata-dos de hygiene, medicina e cirurgia, de lavra nacional; tudotudo attrahia as vistas c surprehendia o visiante que aindadesconhecia os vastos recursos d'este paiz, ao clima e recursosnaturaes do Brazil; e surprehendidos principalmente pelo gráode adiantamento das seiencias médicas, alli claramente paten-tcado.

Tudo era para elles uma verdadeira revelação! »Encerrada a exposição, choviam dc todas as partes da União

(das universidades, collegios e institutos) pedidos para obten-çao dos produaos medicinaes (naturaes e pharmaceuticos)dos livros e gazetas médicas exhibidas. Foi-me difícil podersatisfazer igualmente aos diversos pedidos dos representantesd'aqucllas instituições scientificas (de Chicago, New-YorkPcnsylvania, etc.,) por ser relativamente pequeno o numerode produetos de que eu podia dispor, visto faltar-me autori-saçao especial dos diversos expositores para esse fim.

Uma vez feita a distribuição, levei tudo ao conhecimento doSr. contra-almirante Maurity, presidente da commissao bra-zileira.

Tendo eu sido o único representante do Brazil no jury in-

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ternacional do departamento de artes liberaes, não tive grandetrabalho em obter prêmios para os expositores brazileiros

abaixo indicados, tão bem acceitos e apreciados foram os pro-duetos por elles exhibidos.

A difliculdade consistia somente no grande numero de

prêmios a conferir, o que poderia despertar suspeitas de par-cialidade. Resolveram então os juizes de minha secção premiar«individualmente» só os expositores de merecimento incontes-

tavel, conferindo um «prêmio collectivo» ás commissões esta-

doaes e da capital, pois que tal prêmio recairia moralmente

nos outros expositores não contemplados.

Os juizes pretenderam mesmo dar um prêmio especial á dro-

garis e pharmacia Werneck e C. e ao laboratório chimico

pharmaceutico militar pelas suas exhibições «hors ligne», o

que não levaram a effeito pela inconveniência de abrir-se um

precedente perigoso, inteiramente em desaccordo com a reso-

lução já tomada e aliás fundada em boas razões, de não con-

ferir-se senão uin «prêmio único», sem mais graduações nem

distineções.

Emquanto não vem a publico a lista official dos prêmiosconferidos aos expositores brazileiros, apresso-me a satisfazer

a justa curiosidade e longa espectativa dos interessados d'esta

capital e dos Estados, apresentando abaixo uma lista com o

nome dos expositores nacionaes que na minha secção obtive-

ram o prêmio acima.E' possível que me tivesse escapado o nome de algum expo-

sitor premiado, ou que tivesse havido qualquer alteração ou

engano de nome, em Chicago, depois da minha partida d'a-

quella cidade, o que aliás eu não acredito, pela confiança queme merece a pessoa que ficou á testa d'esse serviço especial, e

que deve tudo ter previsto; refiro-me ao meu distineto amigo

e secretario da commissão, Dr. A. Aschoft.

Affirmo, porem, que os nomes abaixo inscriptos foram por

mim verificados nas listas officiaes, que me vieram ás mãos,

— 4» —

afim de eorrigir qualquer erro que porventura houvesse nessesmesmos nomes e da qual tirei copia na minha carteira.

Devo ainda prevenir aos srs. expositores cia secção medica epharmaceutica que os respectivos produetos que figuraram naexposição de Chicago foram convenientemente encaixotados emminha presença e *ob as minhas vistas immediatas, os caixõesmarcados e numerados foram entregues com a respectiva listaou notas ás ordens do sr. presidente da eommissão para dar-lhes o conveniente destino.

Artes liberaes—Secção de hygiene c medicina—Grupo 147— i.- Associação promotora da instrucção—2' Companhia CitImprovements-3* Directoria gerai de obras militaras-4- II s-Hospital de marinha- y Hospital nacional de alienados-ò*Inspectoria geral de Hygiene—7- Inspectoria geral dc obraspublica.s-8* Inspectoria geral de saude dos portos-9" SantaCasa de Misericórdia-10 Secretaria do interior.

Grupo 148-11 Alfredo de Carvalho, Rio de Janeiro-12Alves Câmara, S. Paulo-13 Antônio Borges de Castro, Riode Ja ieiro-i4 Antônio Camillo de Oliveira, Minas—ií A. G.ds Araújo Penna eC, Rio de Janeiro-16 A. M. Veras Couto,Pernambuco-i7 Augusto César Marques, Maranhão-18Borba (pharmacia), Amazonas-i9Bragantina (pharmacia), Riode Janeiro-2o Chermont (pharmacia), Pará-2I ColiéctAn-tonio da Fonseca, Piauhy- 22 Commissão bahiana-23 Com-missão cearensc-24 Commissão mineira-25 Commissão pa-raense-26 Companhia de drogas e produetos chimicos,Pernambuco-27 Companhia União Industrial dos Estados doBrazil-28 Cunha Salles (Dr.) Rio dc Janeiro-29 Forzani(pharmacia), Rio de Janeiro-30 Francisco Cardosoára,P -31 Gastão Worms (Dr.), Rio de Janeiro-32 Halfcd (pharma-cia), Estado do Rio-33 João da Silva Silveira. Rio Grande doSul-34 Joaquim Bueno de Miranda.-S. Paulo-35 JoaquimLuiz Ferreira, Maranhão-36 Joaquim Ulysses Sarmento,S. Paulo Campinas-37 Laboratório chimico pharmaceuticomilitar, Rio de Janeiro Marques Leitão e C, Rio de Janeiro—SERIE XXVI ANNO IV VOL. V. ó

— 42 -

Pacheco e Abreu, Rio de Janeiro- Raulindo Horn e Oliveira,

Sanla Catharina—41 Souza Soares, Rio Grande do Sul—42

Vicente Werneck e C, Rio dc Janeiro.

Grupo 152—43 Dr. Antônio Augusto Ferreira da Silva, Es-

tado do Rio—14 Aureiiano Portugal, Rio de Janeiro,—45 Bi-

bliotheca da Faculdade de Medicina, Rio de Janeiro—46 Dr. C,

A. Monconde Figueiredo, Rio de Janeiro—47 Carlos Costa,

Rio de Janeiro—4H Congresso Brazileiro de Medicina e Cirur-

gica, Rio de Janeiro—49 Conselho Superior de saúde publica,Rio de Janeiro—50 Dr. Domingos Freire, Rio de Janeiro—51Faculdade dc Medicina, Rio dc Janeiro—52 «Gazeta Medi;a da

Bahia»—53 Inspectoria geral de hygiene, Rio de Janeiro—54Dr. João Baptista de Lacerda, Rio de Janeiro-55 Dr. Silva

Araujo, Rio de Janeiro—56 Sociedade de Medicina e Cirurgia,

Rio de Janeiro—57. Dr. Vicente Saboia, Rio de Janeiro—58Dr. Virgílio Damasio, Bahia.

Rio de Janeiro, i.* de Maio de 1894.

Dr. Júlio Bhandão.

REVISTA DA IMPRENSA MEDICA

Extincção da varíola.—O professor Chrookshank, no seu

parecer perante a Commissão Real dc Vaccinação (Londres)resume as suas idéas nos seguintes termos:

i.° Notificação internacional—Recommendo que o governoentre em negociações com os governos de outros paizes paraestabelecer algum accordo internacional sobre as medidas de

prevenção contra moléstias preventiveis, como é a varíola.

Lembro uma Junta Sanitária Internacional.

2.0 Systema de suppressão.—Para prevenir a importação de-

veria um Ministro de Saúde Publica obter informações acerca

da existência da invasão de doenças communicaveis. Pelo que

respeita á importação de trapos, por exemplo, de qualquer

— 4? -

logar onde reine a varíola, eu applicaria os regulamentos recen-temente postos em acção para previnir o cholera.

3.0 Notificação e isolamento compulsórios.— Adopto o actualsystema de notificação e isolamento, acreditando que, sendouniformemente executado, seria inteiramente efficaz em suppri-mir a moléstia; mas eu recommendei que elle fosse ainda maisrestrict£mente executado.

4-\Vaccinação; eu a deixaria ao arbítrio do indivíduo, deaccordo com o seu medico, acreditando que mesmo a variola-vaccina produz mui transitório effeito.

Transfusão do sangue em seu aspecto medico-legal.—Diz oseguinte um correspondente de Paris:—Achando-se doente e amorrer um cavalheiro chamado Lefevre, recorreu-se á transfu-são do sangue, e o jardineiro do paciente offereceu-se a fornecero liquido vital, sendo acceita a ofíerta. Tempos depois caetambem doente o jardineiro, que attribuindo a moléstia ao seuacto de generosidade para com o patrão, reclamou 60,000 fran-cos de indemnisação. Foram nomeados tres peritos para exa-minar e relatar o caso, mas antes de prompto o relatório morreo homem.

A viuva proseguiu na acção, e o Tribunal Civil do Sena deusentença em favor da defeza.

O exame cadaverico do jardineiro deu como causa da mortecancro do estômago.

O tribunal declarou que, mesmo quando a transfusão hou-vesse diminuído a força de resistência do homem contra osprogressos da moléstia que lhe trouxe a morte, o facto dc elleter voluntariamente offerecido o seu sangue em beneficio doseu patrão, absolvia a este de qualquer responsabilidade pe-cuniaria que desse logar o processo contra elie.

(Lancf.t.)

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Sobre o reactivo de spiegler tara a investigação da al-bumina nas urinas .--Pelo DR. GUERRIERE RAFFAELEDE MODENA

Diz a 'Reforma Medica de 16 de Setembro de 93:O reactivo dc Spiegler que pela sua sensibilidade promette

prestar grandes serviços aos práticos compõe-se deSublimado corrosivo 8 grammasÁcido tartrico 4 })Assucar 20 »Água distillada 200 »>

O assucar serve para elevar o peso especifico do reactivo a1.060, peso superior a maior parte das urinas.

Colloca-se o reactivo em um tubo de experiências e faz-secahir depois gotta a gotta a urina que se quer analysar, tendo-lhe ajuntado antes uma pequena porção de ácido acetico con-centrado.

Sc a urina é albuminosa forma-se um precipitado branco emforma de annel no ponte de separação dos dois líquidos, fican-do cm baixo o reactivo que é mais pesado.

Segundo o autor se pode por este meio demonstrar a pre-sença de 1/315000 dc albumina ao passo que o cyanureto de

potássio não demonstra mais de 2/50000.

Parece escripto para nós. —No Siglo Medico do 4 de Fe-vereiro do corrente anno, depara-se com o seguinte periodo,logo no artigo de fundo.

«Causa pena, en verdad, ei frio que reina cn nuestras Aea-demias: habiendo en Madrid muchos centenares de médicos ymuchos centenares de alumnos, que debieran mostrar singularempeno en recoger Ias enseiianzas que se desprenden de losactos y debates acadêmicos, son poquísimos los que mirancon interés estas sesiones y acuden á ellas. Revela esto, pormal nuestro, una indifferencia al estúdio que nos honra muy

poço y debicramos corregir.Y si esta censura merece ei público médico en general, en

su rclacíon con los centros todos, mayor Ia merece todavra ese

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grupo de acadêmicos electos de Ia Real Academia dc Medicina,que mostraron un dia sostenido empeno en ser elegidos, com-prometieron, con solicitud, el voto de los acadámicos para serpreferidos á otros solicitantes, y una vez logrado su deseo,mantiencn anulada una vacante que podria cubrir persona demás entusiasmo. Realmente esto merece un correctivo, que seprocedia aplicado, en cierto modo, á los professores que, yaancianos, miran con frialdad este compromiso, estaba muchomás indicado en esos jóvenes de los cuales Ia Academia seprometia una eficaz y calurosa ayuda, que, con verdaderodolor, advierte le falta; professores frios, indiferentes, fieltrasunto de nuestro nacional dcfecto para todo lo que sea labo-riosidad y entusiasmo cientifico.

Sin embargo dè esto, crecmos que muy pronto se celebra-rán en dicha Academia algunas recepciones, pues sabemosque tienen ya presentados sus trabajos los Sres Ribcra y Mo-reno Pozo, y concluído tienc el suyo también el Sr. Gu-tiérrez».

Não parece escripto para nós este severo protesto contra oindifferentismo dos médicos pelas agg remi ações scientiíicas dcsua classe?

Com a differença de que aqui este doloroso espectaculo deabandono e despreso se estende até as mais simples associa-ções médicas, mesmo aquellas que só reúnem uma ou duasvezes por mez.

A HYPERTROIHIA DA PRÓSTATA TRATADA PELA CASTRAÇÃO, PELO

DR, ROCCUM.— Depois de diversas experiências feitas emcães, o Dr. Roccum praticou em 3 de Abril dc 18^3 a ablaçãodos dois testículos err. um velho de 73. annos que soffria deretenção de urina em conseqüência de hypertrophia da próstata.

O sofliimento datava de 15 annos.Dose dias depois da operação o doente foi apresentado á

sociedade de Medicina de Christiania. As feridas estavaminteiramente cicatrisadas e a próstata tinha diminuído conside-ravelmente,

46-

O doeute urinava espontaneamente duas vezes em cadacada noute e tres ou quatro vezes por dia.

Os mesmos resultados íoram obtidos em outro doente quesoffria de uma cystite com hypertrophia da próstata e quetambém foi submettido a castração dupla.

HOSPITAL DA MISERICÓRDIA DA BAHIAMappa do movimento geral de 1.°

de .Julho de 1893 a 30 de Junliode 1894

Operações de alta cirurgiaPelo Dr. Antônio Pacheco Mendes -

« Pedro Emilio de Cerqueira Lima« Manoel Maria Pires Caldas.« João Aggripino da Costa Dorea« Lydio Pereira de Mesquita,o Manoel Vietorino Pereira.« José Valeriano de Souza.« Francisco dos Santos Pereira« Braz Hermenigildo do Amaral« J sé Pedro de Souza Braga.« José Affonso de Moura.

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DOENTES EXISTIÃO ENTRARÃO SAHIRÃO FAI.LECERÃO EXISTEM

Homens' 152 25Ó5 | 2:03 337 ití'j

I

Mulhercs\ 8o s 7:0 555 150 0

Total 232 3275 ; 2728 49') 283

1*

3220

.8188

7ó2

1

1

Total 191

Chi oroformisaçõesChloroíormisarão-se 96 pessoas, sendo:

Homens ^8Mulheres 28Meninos. . . . . ... . . 10

Sala do 'BancoFJxtracções de dentes 155oAberturas de abeessos o2

« « bubòes 20« « panaricios 10

Applicações dc apparelhos de fracturaà 53Reducçôes de luxações 8Operações de urgência 30Curativos simples 2000Aprescntarãò-sc á consulta medica. . 5;^

Total 4235formulas aviadas lóra do Hospital. . . 500« dentro «... 50Total 550

OBSERVAÇÕESVê-se que emquanto que no anno passado tivemos 14 casos

de variola c 2 de febre amarella, neste anno não tivemos umsó caso dc febre amarella e só tivemos 5 casos de variola, osquaes forão removidos para o Hospital dc variolosos, proce-dendo-se a rigorosa desinfecção nas enfermarias.

Forão remettidos pelas differentès authoridades para o ne-croterio do Hospital 101 cadáveres, sendo: 74 de homens ewj dc mulheres.

No anno hospitalar próximo findo houve um movimentogeral dc 3649 doentes, com uma mortalidade de 15,3 % pelosdados tirados do mappa desse anno; ao passo que no annohontem terminado houve um movimento total de 3507 comuma mortalidade de 14,1 %, donde se conclue haver uma di-minuição da mortalidade de r,2 % em telação ao annoanterior.

O Medico-Director—Dr. Guilherme Costa.—Os internos Aurelio de Castro, Lueiano Rocha.—J. Muni^.

Boido Verne. Especifico contra as moléstias do fígado, cachexia deorigem palustre e consecutivas íi longa estada nos paizes quentes, febresremittentes e üyspepsias.

Dysspepsin 0 elixir e pilulas Giez chlorhydro-pepsicos constituemo tratamento mais eíficaz das dyspepsias, da anorexia, vômitos da prenheze perturbações gastro-intestinaes das creanças e diarrhéas chronicas.

Ferro de Quevenne.-Ha 50 annos considerado co mo o primeiro dosíerruginosos por causa de sua pureza, de sua poderosa aclividadó de suafacilidade de administração, e porque não tem a acção cáustica e irritantedos saes de ferro e das preparações solúveis. Para evitar as falsiíicaçõesimpuras e desleaes, ter o cuidado de prescrever sempre: 0 verdadeiro ferrodc Quevenne.

o licor de Laprade, de alhuminalo de ferro, o mais assimilável dossaes de ferro, conslitae o tratamento especifico da chlorose e da anemia.

-Nevraigias. rviígrainos. Cara pelas pilulas aiiti-nevralgicas dobr. Cronier. Pharmacia 23, rue de Ia Monnaie. Paris.

O viniiode Bayard de peptona phosphalada, é um dos poderosoreconstituintes da therapeutica.

GAZETA MEDICA DA BAHIAJ^ublicaçâo Mensal

_

Anno XXVI AGOSTO, 1894 N. «W

MEDICINA LEGALOs ti?au.niatismo.s moraese o Oodigo penal

Pelo DR. J. R. DA COSTA DORIAProfessor de Botânica e Zoologia m Faculdade de Medicina, e de MedicinaLegal na Faculdade Livre de Direito da üatiia

«Mens agitat molem»As perturbações mais ou menos profundas da saúde, ou

mesmo a morte, quando dolosa e culposamente produzidas,ou quando provindas.de negligencia e imprudência, não sãosempre o resultado de uma offensa physica que cause dôr, ai-tere a estruetura dos tecidos e dos órgãos, com ou sem derra-mamento de sangue, segundo a lettra do Código penal. Estaslesões, que constituem o vasto capitulo dos traumatismos, nosentido restricto da palavra, originam-se da acção violenta deinstrumentos vulnerantes apropriados, como o box, o punhal,a bala; ou improvisados, como a bengala, um movei, uma gar-rafa; também da simples mão (punho), e ainda de rodas demachinas (engrenagem) ou de locomotivas, de desmoronamen-tos, de estilhaços de minas, e de um sem numero de instru-mentos que, ou são impellidos contra o corpo humano, ou vice-versa, como no caso de um empurrão ou,da precipitação de umlogar elevado. O Código penal, comprchendendo-as sob o titulode «Lesões-Corporaes», nos arts. 303 a 306, de modo algumabrangeu as offensas de que me quero oecupar, e que consis-tem em attentados contra a saúde c a vida por meio de acçõesviolentas que, sem a intervenção de agentes vulnerantes actuan-

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. n

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do mechanicaraente sobre o organismo, accommettem directa-mente a entidade morai do indivíduo, produzindo um dcsar-ranjo funccional do systema nervoso, sem que se possa de-monstrar as alterações materiaes, e que por isso, segundo adoutrina de Cabanis, merecem a denominação de «.choques outraumatismos moraes: ou «de violências psychicas*.

O systema nervoso reage segundo a impressão recebida, e doseu abalo, determinado pelas emoções súbitas e intensas, assimcomo pelos constrangimentos moraes prolongados, actuandode modo ainda não positiva e precisamente conhecido, resultamaqui alterações funecionaes directas dos centros psychicos, pro-duzindo a loucura, as psychoses; alli excitações da medullaallongada, dando origem a moléstias convulsivas como a epi-lepsia; acolá perturbações dos centros vaso-motores, causandodesordem nas acções do coração e dos vasos, as quaes podemterminar por simples suspensão do fluxo salivar ou por syn-cope; ainda desarranjos na continuidade das vias nervosas,manifestando-se por paralysias.

Estes factos são admittidos eacceitos por todo o mundo, eaabolição dos actos reflexos está em estreita relação com oschoques profundos do espirito.

Passando em revista as diversas moléstias que costumamapresentar-se depois das impressões moraes violentas, e exami-nando-as uma a uma, vê-se que a paralysia agitante ou moles-tia de Parkinson, a qual consiste em movimentos oscillatoriosmais ou menos violentos, devidos á contracção alternativa dosmúsculos oppostos, produzindo um movimento rhythmico daspartes affectadas, limitando-se por algum tempo a um pollegar,a um membro, e estendendo-se mais tarde até ao pescoço, emesmo á lingua, esta doença é, segundo os auetores mais ver-sados em moléstias nervosas, como Hammond, Gowers, Char-cot, muitas vezes causada por emoções vivas e choques vio-lentos de terror, e o ultimo refere que muitosUos seus doentesobtiveram a moléstia por oceasião das commoções políticas cmseu paiz, onde cilas tém sido freqüentes.

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A choréa, ou dansa de S. Guido, nome dado pela primeiravez em Strasburgo á mania dansante epidêmica, prevalecentcnos séculos XIV e XV, quando os doentes eram conduzidos porordem do magistrado da cidade á capella desse santo, paraserem curados por sua influencia, e que manifesta-se por sym-ptomas salientes, como contracções desordenadas e espasmo-dicas dos músculos, e incoordenação dos movimentos volunta-rios, affectando não só a motilidade, como tambem a sensibili-dade e a intelligencia, mais freqüente no sexo feminino, e entreos 6 e 15 annos, é repetidas vezes determinada por impressõesvivas, e diz Gowers que a causa immediata única que se podemencionar com alguma freqüência é a emoção, usualmente omedo. A proporção varia entre um quinto e um quarto, c ointervallo entre o susto e os primeiros symptomas da choréararamente excede de uma semana, poucas vezes é de um dia,ou segue-se immediatamente ao susto, como em um rapaz, noqual os movimentos começaram logo depois de um tiro de pis-tola, dado perto dos seus ouvidos. Outro encontrado a tirarfructos em uma macieira, cahiu da arvore em sua descidaapressada, e em seguida começou a agitar-se: o tremor dosobresalto assumiu o caracter choreico e persistiu como cherca(Gowers). Esta relação da causa ao effeito tem alta importânciamedico-legal. O Dr. Wilks perdeu um doentinho, atacado dechoréa em conseqüência de uma explosão de pólvora, cmWrith

A eptlepsta é uma das doenças que mais freqüentementeresultam dos traumatismos, quer physicos, quer moraes.Constitue um dos males mais prejudiciaes ao homem (1), nãosó pela repugnância que ella causa aos outros indivíduos, como

(1) Lucrecio descreveu-a nos seguintes versos:Quin etiam, súbito vi morbi s;epe coaclus,Ante óculos atiquis nostros, ut íulminis ietu,Conciditetspumas agit, ingemit et tremit artus,Desipit extendat nervos, torquetnr anhelat.Inconstanter, et in jactando membra fatigat.

(Fagge and Pye-Sraitb)

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também pela impossibilidade em que colloca o paciente depreencher muitos empregos e occupaçõís, e ainda pelos peri-gos que corre a vida própria durante um ataque, estando oepiléptico perto do fogo ou da água, onde pode cahir sem sen-tidos, [queimando-se ou afogando-se, e mesmo a vida alheia du-rante um impulso irresistível criminoso, que costuma mani-festar-se na delírio post-epiléptico, ou na forma larvada damoléstia. Na epilepsia distingue-se a forma convulsiva dogrande mal, na qual os músculos são atacados de fortes espas-mos tônicos e clonicos, com perda da consciência, e o pequenomal, consistindo em breve perda de conhecimento, sem espas*mos musculares, ou algumas vezes com ligeiros espasmos.Estes ataques produzem effeitos dos mais sérios e temíveis, qualseja a deterioração mais ou menos profunda do estado mental.Na etiologia da epilepsia considera Gowers as emoções men-taes, o susto, a anciedade, como causas mui poderosas, dizen-do que o susto (frighl) é de todas a mais freqüente e enérgica,principalmente na infância e na transição á idade adulta.Trousseau, que diz que quando a epilepsia é attribuida a susto,sempre nas investigações notou que ella apparecêra mezes emesmo um anno antes do primeiro ataque, refere um facto emque ella foi claramente oriunda do terror causado pela vista deuma disputa entre dois homens, um dos quaes foi ferido e cahiumorto. Conheço nesta cidade um moço epiléptico, cujo primeiroataque suecedeu a um susto á noite. Em 102 casos de liam-mond, de etiologia conhecida, o medo deu 5, a anciedade 4, opesar 6, o excesso de trabalho intellectual 1;, e golpes nacabeça 7.

A hysteria, moléstia proteiforme, affectando todos os territo-rios das manifestações nervosas, da qual se pode dizer comJuvenal:—Orandum est ut sit mens sana in corpore sano, c quefez lembrar a Hammond o desespero em que se achou Dante nonono circulo do inferno (2), tem segundo este e outros auetores,

(2) Chi porria, mai pur con parole sciolli,Oicer dei sangue e delle piagbe appieno.

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entre as causas excitantes as emoções vivas e súbitas, como opesar, a anciedade, a cólera, as decepções, etc.

A loucura, como é vulgarmente sabido, pode igualmente serdeterminada, não só pelos abalos violentos e súbitos do espi-rito, como o medo, o terror, os revezes, como tambem pôrinfluencias actuando mais lentamente, mas que nem por issodeixam de alterar a razão (Esquirol).«Qualquer impressão violenta sobre as faculdades intellectuaes,

diz Bali, produz uma perturbação momentânea nas funeçõescerebraes. Por pouco que a natureza se preste, o effeito torna-se permanente. O terror, a alegria, os pesares podem causar aloucura. Os exemplos superabundam e a dificuldade está naescolha. Tem-se. visto soldados perderem a razão durante umbombardeio, e no campo de batalha ha homens que vendo ca-hirem seus camaradas tornam-se loucos» Conheci um homemexcellente, continua o notável alienista da Faculdade de Pariz,mas a quem faltava inteiramente a coragem, o qual, assistindode longe a uma caçada de veado, julgava-se em segurança,quando de repente achou-se em íace do animal enraivecido,que acabava de atravessar um regato; não recebeu ferimentoalgum, mas teve um accesso de mania aguda que durou 15dias.

O bocio exophthalmico conta entre as suas causas poderosasas emoções moraes deprimentes, como o terror súbito e ospesares prolongados.

As paraplegias ou paralysias dos membros inferiores, asuppressão do iluxo salivar, a perda da palavra persistente porhoras, anesthesias ou perda da sensibilidade da retina, a dys-phagia nervosa ou espasmos nos movimentos da deglutição,são phenomenos observados em conseqüência de emoçõesintensas, como viu Koth durante o bombardeio de Strasburgo,

Cb' i' ora vidi per narrar piú volte?Ogni lingua per certo verria meno,Per Io nostro sermone e per Ia mente.Ch'hanno a tanto comprender poço seno.

(Canto XXVIII)

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onde notou a irregularidade das contracções do coração em um

homem, e também palpitações, sem descobrir outra anoma-lia no órgão central da circulação. Em seguida a terrores e es-

pantos tem-se observado a hcmoptysis (Mofmann) e a ictc-ricia catarrhal formada no espaço de algumas horas.

Posto que a predisposição concorra fortemente como factorna producção das moléstias mencionadas, o que constitue umaattcnuante apenas, nem por isso a acção delictuosa desappa-rece, e é preciso estudar as emoções moraes em relação á idade,ao sexo e ás conseqüências.

A impressionabilidade moral exquisita das crianças, a suatimidez, torna-as muito susceptíveis de adquirirem moléstiasconvulsivas por effeito de sustos e de medo. Vê-se muitasvezes o estado de exaltação nocturna das crianças que témassistido durante o dia a algum espectaculo novo e impressivo

para ellas, que facilmente, soffrem de soltura transitória dasurinas, devida á paralysia momentânea do esphincter da be-xiga, immediatamente depois de uma impressão viva e forte, deum susto e de uma reprehensão severa e inesperada. A choréa

encontra na tenra idade (5 a 15 annos) um terreno muito íavo-ravel, e segue-se ás vezes ao abalo moral.

Narra o prof. Filippi que um rapazote, ameaçado por um

guarda de bosque,-foi atacado de contracções choreicas, comestrabismo do olho esquerdo; e que um outro rapaz, sabendoser um seu amigo muito medroso de cobras, lhe pòz junto umdestes animaes, dando logar, quasi instantaneamente a convul-soes epilépticas, e depois de algum tempo á morte por suffoca-

ção em um accesso convulsivo. Refere Tuke que um rapaz de21 annos, naturalmente medroso, tornou-se o diver^-riento de

uma familia, junto á qual habitava. Um dia a criada entrou no

quarto, e applicou-lhe a bocea de uma pistola, fingindo querermatal-o. Comquanto a arma estivesse descarregada, o desgra-

çado moço perdeu a razão, e passou muitos annos em estado deimbecilidade. No hospital de Montpellier, diz Bouchut ter cs-

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tado um rapaz, que atacado em uma estrada por ladrões, tor-nou-se logo maniaco; o Garris preso por uma tropa de homensarmados no tempo da Liga, cahiu em estado de imbecilidade,do qual não sahiu mais. Taylor conta o facto de um homemque foi aceusado de homicidio por ter causado a morte de umrapaz, a quem appareceu como um phantasma.

Na idade adulta, posto que sejam mais raros esses factos emvirtude da menor susceptibilidade nervosa e da maior cora-gem, mencionam-se a pesar disso casos interessantes e multi-plicados dos da ordem de que trato.

« Maschka, diz Hofmann, cita o caso de um homem de 32 annose de bôa apparencia, mas muito poltrão, que á vista de tres ho-mens que encontrou, á noite, em uma floresta, apesar dc se-guido por dous companheiros, teve tal medo que começou atremer violentamente; tendo os primeiros fingido por brinca-deira um ataque, elie fugiu e cahiu em desmaio ao pé de umaarvore; depois de voltar a si, entrou em um estado de exaltaçãoa ponto de agitar-se como um louco, e só depois de tres horastornou-se calmo. Por muitos dias soffreu de insomnia, tremor efraqueza. Este attentado á saúde foi considerado pelos médicoscomo uma violência grave no sentido do paragrapho 152 do Co-digo austríaco (3), e como uma violência leve pela Faculdade dePraga, que fez valer a disposição individual particular dessehomem, e fez notar que a pilhéria grosseira não podia ser con-siderada romo uma acção capaz, segundo suas conseqüênciasnaturaes fáceis de conhecer, de constituir um perigo para a vidade alguém, no sentido do paragrapho 335 do Código penal (4).

13) Código penal austríaco: § 152-Quem maltratar um homem, não naintenção de matal-o, mas em uma outra intenção hostil, e de tal sorteque resnlte uma alteração de saúde ou uma incapacidade de trabalho devinte dias no minimo, ou um desaranjo de espirito ou um ferimento gra-ve, é réo do delicto de lerimenlos corporaes graves.

(l) C. P. A. § 335 Toda acção ou omissão, cujo auetor devia compre -hendel-a como'capaz de causar uraprejuiso para a vida, para a saúde oupara a segurança corporal de alguém, quer pelas naturaes conseqüências

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Na mulher as alterações da saúde por causas moraes assumeproporções mais elevadas e maior intensidade. A sensibilidadefeminina, sem differir, no fundo, da sensibilidade humana, emvirtude de leis biológicas torna-se especial e mais exagge-rada, o que fez dizer a Halle que o homem representa a partemuscular do gênero humano e a mulher a parte nervosa. Essetemperamento nervoso e excitavel é pois uma condição muitofavorável ás fortes repercussões, aos abalos intensos causadospelas impressões moraes sobre o organismo da mulher, emcuja vida épocas ha, como a puberdade e a idade climacterica,o rhythmo mensal, a prenhez, o parto, nas quaes pode-se dizerque todos os tecidos do corpo se modificam, e a mulher poressas oceasiões deve ser considerada como uma creatura alte-rada. O systema nervoso é notavelmente affectado e torna-sealtamente irritavel, e desta sorte uma mulher nervosamenteconstituída, nas phases'mencionadas, fica duplamente nervosae predisposta. Os factos são multiplicados para comprovar esteasserto. A suppressão das regras pôde ter gravíssimas conse-quencias para a saúde da mulher; é freqüentemente a origemde moléstias convulsivas, como a hysteria, a epilepsia, e mes-mo a loucura. São bem conhecidos os effeitos dos sustos sobrea prenhez, causando o aborto, e no estado puerperal, produ-zindo entre outros males a alienação mental.

Na Gazeta Medica de Paris, em 1869, publicou Bouchut aseguinte observação:— Uma menina de doze annos, que fazia asua primeira communhão em Mont Martre, ficou tão aterrori-zada com os horrores do inferno, nascidos em seu espirito porinfluencia do pregador, que perdeu a consciência, e teve algunsmovimentos convulsivos, assim como algumas das suas com-

panheiras. No dia immediato os ataques reproduziram-se, e aomesmo tempo, durante o dia teve a hallucinação de um cruci-

facilmente conhecidas, quer em virtude de regulamentos expressamenteestabelecidos quer ainda por sua posiçJo, emprego, profissão, officio. oc-capação, ou em geral por sua situação, será punida, se d*ahi resultar umaoffensa corporal grave, como contravenção com um a seis mezes de prisãose resultar a morte, como delicto por seis mezes de prisão severa.

* tt -•

fixo vermelho de fogo no meio do espaço. Esta hallucinaçaomostrou-se muitos dias.

Uma rapariga de bôa linhagem, cuja virtude correspondia aonascimento, diz Raulin, teve uma suppressão súbita das regrasem conseqüência de um escrúpulo de consciência. Logo apre-sentou delírio e convulsões, e a saúde e a razão não voltaramsenão com o apparecimento das regras.

^ O Dr. Alberto Severi menciona entre outros casos de moles-tias por golpes moraes os, dois que transcrevo, como dos maisinteressantes na espécie. Foi recolhida ao hospital uma ra-

panga dc «6 annos, tecelã, tendo pães vivos, sem antece-dentes de loucura, epilepsia ou vicio de embriaguez nosprogen.tores; nunca soffreu traumatismos na cabeça, nem teveconvulsões; foi regrada pela primeira vez, e escassamente,quando trabalhava em um telhe.ro, junto a uma familia de co-lonos. Estava só quando foram atirados no logar alguns tijolosque não a attingiram. Amedrontada fugiu, e voltou acompa-nhada por um rapaz que foi offendido por uma pedra, sem sesaber quem a atirou. Pararam immediatamente as regras, e ellafoi no mesmo dia atacada de convulsões hystero-epilepticas,que duraram, com pequenos intervallos, seis horas; teve febre«o dias, e ma.s alguns accessos convulsivos, nos quaes parecianao conservar a consciência; debatia-se com os punhos cerra-dos e com espuma na beca, e depois ficava aturdida e comdores de cabeça. A causa de tudo isso foi uma velha, que que-rendo que os colonos deixassem a herdade que cultivavamespalhava ser a casa habitada por bruxas (streghe), que batiamnas paredes e atiravam as pedras.Outra mulher que amam-mentava um filho, com o medo, perdeu a secreção do leite, eadoeceu. Descoberta a autora dos assombramentos, foi a ve-lha condemnada a dois mezes de prisão, e á reparação dosdamnos causados.

Uma rapariga de 21 annos, também tecelã, quando sahia dafabrica com outra companheira, por ter uma dellas lançado umapedra em certa loja, foi perseguida pelo proprietário, que poz-SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. g

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lhe a mão sobre o hombro. A moça amedrontou-se por talmodo que suspenderam-se-lhe as regras, e teve no mesmo diaconvulsões epilépticas; tentou duas vezes suicidar-se, e cami-nha para a demência.

Casos de alteração da saúde, de paralysias, hysteria, e até aloucura são observados depois dc attentados ao pudor, ou desimples tentativa. No serviço do Rostan, no Hotel Dieu, deParis, em 1849, esteve uma menina de onze annos, que ficoumuda e paralytica dos 4 membros, em virtude do medo exces-sivo, causado por uma tentativa de estupro. A cura foi obtidapor uma impressão moral intensa.

Refere Taylor que uma senhora, em cujo leito foi posto umesqueleto para amedrontal-a, foi encontrada no dia seguinte abrincar com os dedos do esqueleto, com extincção completa dopoder intellectual e em estado de demência.

O Prof. Filippi conta que uma rapariga hcbréa de 13 annos,estando em uma escola da Gallicia, freqüentada por meninos deambos os sexos, recebeu do mestre um golpe de junco por tercommcttido uma leve falta. A rapariga foi retirada violenta-mente do seu logar, e posta sobre um joelho. Voltando aologar, e depois de ter aberto o seu livro, a rapariga deu umasúbita gargalhada, e cahiu morta.

A morte pode ainda ser o desfecho de uma emoção moralviva e intensa, mormente dadas certas causas mórbidas predis-ponentes, e não são muito raros os factos em que ella se temverificado. Sabe-se que Luiz de Bourbon, tendo feito abrir atumba de seu pae, enterrado em Mouzolles, para ter a satis-facção dc vêl-o, fez-lhe este espectaculo impressão tão viva etão forte, que expirou immcdiatamente. Foi observado peloDr. Montalti o facto de certo indivíduo, acompanhado de suamulher, que dirigiu-se a um seu colono, afim de obter doisaposentos para passar a estação calmos a. O colono não gos-tava do patrão, e recusou a concessão dos aposentos, pretex-tando precisar delles para seccar trigo. Enfadado o patrão,estava quasi em entrar em lueta corporal com o colono, quando

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a mulher soltou um grito, dizendo que morria. Posta sobreum leito, o medico verificou a morte real, e a autópsia revelouum ligeiro grau de degenerescencia gordurosa do coração.

Priscilla May, de 19 annos, trabalhava em casa de uma cos-tureira, perto do Hyde Parle, em Londres. Uma noite dirigia-se ao quarto da patroa, quando uma criada, vestida de brancopara lhe fazer medo, sahiu subitamente de outro quarto, dandopara a escada, e causou á moça tal terror, que esta cahiu nosbraços de uma pessoa que subia atraz delia, e não recuperou arazão até á morte alguns dias depois. A criada, causa do infor-tunio, foi severamente reprehendida pelo Coroner, e o jury,contentando-se com essa reprehensão, considerou a mortecomo accidental.

Em 1865, em Asnières, perto de Saint-Jean d'Angé!y, ummarchante sangrava um porco. Junto delle estava sua filhinhade 4 annos. Outros meninos notando a face piedosa da pequena,disseram-lhe para amedrontal-a, que eila ia também ser san-grada. Lo.<?o a infeliz criança corre desesperadamente para umacasa cuja porta estava aberta; precipita-se sobre uma moça queestava sentada, e oceultou o rosto no seu avental. Quizerarnlevantar-lhe a cabeça para tranquilised-a, mas estava morta'.Este facto é narrado por Bouchut, que accrescenta ter Stahlvisto uma rapariga que, ameaçada de morte por uns soldados,perdeu todo o sangue pelos poros do corpo e morreu prornpta-mente.

Diante dos factos mencionados, que poderiam ser multipli-cados, se por ventura não bastassem estes, deve-se deixarimpune o individuo que com o fim de maltratar, ou afíligir,causa pelo terror, pelo susto, pela intimidação, por con-strangimento lento uma alteração da saúde ou mesmo a morte,quando estes resultados possam ser ligados directamente áemoção moral, ao traumatismo psychico? Deve-se deixar semuma reprimenda legal aquelle que, por gracejo ou pilhériagrosseira e inconveniente fôr o causador dc males semelhsn-tes? Certamente não. Nestes casos podem não ser encontrados

-» Co >~

os dois elementos capitães dos delidos ou dos crimes; masse não ha dólo, existe culpa, ¦ *

Esses crimes, perfeitamente equiparados na espécie aos com-mettidos directa ou indirectamente por imprudência, negligen-cia, etc., dos arts. 297 e 396 do Código penal, de modo nen-hum podem ser classificados entre as «Lesões corporaes»

Nem tão pouco no capitulo sobre homicídio, no qual o artigo294—matar alguém—apresenta muita latitude, as causas demorte estudadas podem ser comprehendidas, visto que o art,295, que é doutrinário, diz: Para que se repute mortal, nosentido legal, uma lesão corporal, etc,; assim como os paragra-phos que delle se derivam, só consideram a morte por violen-cia, da qual resulte mal corporal.

O Código toscano refere-se especialmente a estes crimes, e édc admirar que estas questões, já consideradas em outras legis-lações, e estudadas por diversos medicos-legistas modernos,não tenham figurado na legislação penal brazileira dc 1890.

Esta aspiração, porem; penso não estará longe de realisar-se,desde que bem avisada andou a commissao parlamentar auetorado projecto substituitivo do Código penal, a qual melhor inspi-rada dá ao capitulo dos traumatismos a denominação maislata dc «Lesões pessoaes», adoptando no primeiro artigosobre o assumpto (art. 316 do projecto) uma forma mais amplae que comprchenda todos os casos.

Bahia, Agosto dc 1894.

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EPIDEMIOLOGIA

Eiidomo-epidemia da Jacobina(1891 a 1892)

Pelo DR. JULIANO MOREIRA(Continuação da pag. 30)

Ao chegar eu, em Abril do corrente anno ([892), á cidadedo Bomfim a endemo-epidemia estava ainda em plena activi-dade. Apezar do trabalho que vi-me obrigado a exercer,apezar da actividade que dispendiam os dous collegas lá esta-belecidos, ouvia de continuo annunciar-se o fallecimento depessoas que não tinham sido vistas por medico; portanto peloobituario da minha estatística nào se pode julgar da morlali-dade geral.

Feita esta passageira observação passo a dizer suscinta-mente quaes as febres reinantes na Cidade do Bomfim c luga-res circumvisinhos no decurso da epidemia.

Desde que progressos surprehendentes se rcalisaram no do-minio da nosologia das moléstias infectuosas, sob o impulsodas descobertas do sábio Pasteur, parecia que a noção bacte-riologica iria bastar a toda explicação e tornar supérfluos equiçá ociosos os outros dados etiologicos. Negar á mesmanoção soberania e preponderância será pyrrhonismo inconce-bivel, mas menosprezar os outros ciados accumulados de lon-gos séculos pela medicina tradicional só o fará quem estudarepidemias sob a influencia de exclusivismos doutrinários. Dcfacto as opportunidades cósmicas, telluricas e hygienicassempre serão necessárias ao viver dos micróbios e ao seu poderde preencher funcções pathogenas.

Ao lado da causa primeira fundamental é indispensável ofactoradjuvante. Meteoros, clima, solo, transvios de regimen.eivas da habitação, predisposições constitucionaes, serão sósou alliados, os motivos que beneficiaram a evolução dos ger-

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mens ou inutilisarão os marcos fronteiriços da resistênciaorgânica á possivel invasão delles.

Em 1858 Felix Jacquot sustentou que a endo-epidemiaannual dos paizes quentes era complexa e não simplesmentepalustre. Não serei eu quem pretenda cm 1892 defender comproveito a concepção do eminente escriptor, á qual não apro-veitou a boa serie dos seus artigos nem o apoio do hygienistaArnould quanto mais uma defeza minha. Todavia narrando oque observei, se evidenciará que um fundo de verdade existeno pensar de Jacquot, apenas se lhe fazendo as restricções queos modernos estudos de pathogenia geral tornam inevitáveis.

Descrevamos a marcha da epidemia, seus grandes cyclos, asvarias modalidades de pyrexias que reinaram, suas differençasde lugar para lugar.

A cpoca estivai do fim do anno de 1891 iniciou-se por fortestemperaturas; o solo apenas molhado a longos intervallos dctempo por pequenas chuvas de curta duração, coincidia comum ar saturado de humidade fluvial sem as íorles brisas neces-sarias para renoval-o. Nesta epocha começaram a apparecerestas febres ditas climáticas: febres ephemeras de inicio repen-tino, elevadas, de rápida defervescencia no 2.0, 3.0 ou .\.° dia'com cephaléa e abatimento. Ao lado dellas vimos febres gas-tricas simples ou biliosas. Ora um simples embaraço gástricocom febre moderada de defervescencia lenta, outras vezes umaalta temperatura, com defervescencia brusca para o 7.0 ou 8.°dia; outras com marcha remittentesão as verdadeiras remitten-tes gástricas. São estas pyrexias realmente climáticas ou sãomanifestações attenuadas da febre typhoidéa? só á bacteriologiaserá talvez possivel resolver este problema.

Nunca vimos ahi o evolver thermico nem os symptomascecaes da verdadeira dothienenteria.

Passado p período estivai vindo o outomnal algumas chuvascomeçaram a cair mais amiudadas, começaram a apparecer asintermittentes, as verdadeiras typho-malaricas e as remittentesbiliosas graves. Com o apparecimento destas não cessaram

-6j~

completamente as outras; de quando em vez víamos ao lado defebres que não dispensavam a acção do quinino, outras para asquaes um emeto-cathartico, um vomitivo, um sudorifico erambastantes.

Na cidade predominaram as climáticas, nos campos, isto énos lugares circumvisinhos, as de ordem palustre. Vimos todasas manifestações possíveis do paludismo, desde a febres inter-mittentes simples a'é as pemiciosas, desde as manifestaçõeslarvadas até a accentuada cachexia. Não se tratasse de umsimples relatório eu intercalaria aqui uma serie de bellissimasobservações.

Pela estatística annexa ver-se-á o numero de pessoas pormim vistas, o numero de malaricos que entre ellas havia e aserie de doentes -de outras affecções que mediquei. Jacquotfazia da diarrhea e da dysenteria elementos da complexidade daendo-epidemia annual dos paizes quentes; realmente a dysen-teria foi freqüente no começo da endemo-epidemia que reinouem toda a zona chamada da Jacobina; e a diarrhea era mais oumenos freqüente conforme era mais ou menos elevado o calor,por outra os máximos de freqüência dos atacados de diarrheacoincidia com os máximos de calor denunciados pelo thermo-metro.

^ Todos os annos soffrem os logares, em que estive commis-

sionado, os effeitos da malária, porém isso em manifestaçõesleves; as intermittentes simples são as commummente obser-vadas. De annos em annos apparecem epidemias como adeste.

Apezar de serem muitos os casos de evolução multiannualda malária, assignalados por vários médicos em vários paizesdo mundo, não temos explicação peremptória para esse lacto.

(Continua.)

t» 64 •—

HYGIENE PUBLICA

Estatística Sanitária do Rio deJaneiro e de S. P*aulo

Temos recebido os boletins de estatística demographo-sani-taria regularmente publicados pelo Instituto Sanitário Federalno Rio de Janeiro e pela Directoria do Serviço Sanitário doEstado de S. Paulo.

São instructivos os dados que n'elles se encontram, e tran-screvemos em seguida alguns que nos parecem de mais impor-tancia para apreciar-se o estado sanitário da Capital federal eda Capital do florescente Estado de S. Paulo.

O boletim quinzenal do Instituto Sanitário Federal, trazdesenvolvidos com quadros estatísticos os capítulos correspon-dentes ao seguinte summario:

Movimento meteorológico—Movimento de população—Óbitospor idades e sexos—Óbitos por estado civil—Óbitos por na-cionalidades—Óbitos por naturalidade dos nacionaes—Óbitospor circumscripções civis (pretorias)—Indicação das casas emque se deram óbitos por moléstias transmissíveis—Óbitos porhospitaes e casas de saúde—Causas de morte.

A população da cidade do Rio de Janeiro está calculada em600,000 habitantes.

O movimento de população na primeira quinzena de Julhofoi o seguinte:

/diária dos nascimentos (dos homens 19 80(1), aM. n „„(das mulheres 21.13 peraI *1,d7

Médias {diária dos óbitos <dos homens 20.33 (_„_.. „¦ qq/ (das mulheres 13 20 (°erai mmtia\diaria dos casamen tos. 6.20

/Em 1.000 nascimentos quati-mortos inclusive.... 822.68 óbitosUm 1.00 nascimentos nascidos-mortos inclusive 71.88 n. mort.

Coefüeieniei/Em 1.000 habitantes 20.88 óbitos./Em 1.000 habitantes 25.38 nasc.\Em 1.000 habitantes 3.77 casam.

(1) Excluídos os nascimentos mortos, sem declaração de sexo, que es-tão incluídos nos homens.

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As observações com que termina o boletim o medico demo-graphista Dr. Fajardo, dizem o seguinte:

Pelo exame dos quadros demographicos da presentequinzena,é fácil concluir que não podem ser mais satisfactorias as condi-ções sanitárias da cidade do Rio de Janeiro. Não só a médiadiária da mortandade geral, cm baixa progressiva desde a pri-rneira quinzena de maio, soffreu nesta sensível reducção (jj.Jj,correspondente 35/5 óbitos, contra 36.66, correspondente a 550óbitos), como ainda a epidemia de febre amarella, que reinoueste anno com intensidade, pôde julgar-se extineta, tendo pro-duzido apenas 4 óbitos, conlra 22 na quinzena precedente.

A contar da primeira quinzena de maio, a mortandade pelaepidemia de febre .amarella., em declínio desde a primeira quin-zena de abril, começou a baixar gradualmente, com rapidez,até á actual quinzena, em que o numero de vidas por ellavictimadas demonstra que esse terrível flagello chegou a seutermo. Foi esta a marcha da epidemia por quinzenas: i» demarço (auge da epidemia), i.m; 2% 818; Ia de abril, 396;2% 253; ia de maio, 151; 2*, 126; i° de junho, 80; 2\ 22; e 18 dejulho, 4 óbitos.

Em relação á quinzena passada, foi a seguinte a mortandadedas outras moléstias zymoticas: variola, y, 3: beriberi, 16: 18;febre typhoide, y. 4, malária, yy. 39; tuberculose, 66: 8r; dysen-teria, 4: 3; e coqueluche, /: 2.

Confrontados os coefficientes de mortalidade, natalidade enupeialidade desta quinzena com os da transacta, encontram-seas seguintes modificações: 20.88 °/oo para 22,30 °/00; 25.38 °/00para 22.95 %o, 3-71 V*>. para 5.63 °/00.

r

O boletim correspondente á ultima quinzena de Abril termi-nava pelas seguintes observações:

Continua a decrescer a mortandade total no Rio de Janeiro.—Nesta quinzena registraram-se / .035 óbitos (t.150 na anterior),nos quaes estão incluídos 25; (contra 396) de lebre amarella e

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. Q

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7o (sobre 40) de beriberi. Esta ultima moléstia é que está recla-mando séria attenção e cuidados.

A mortandade por outras zymoticas, comparada á da quin-zena anterior, foi: varíola 1: 1; diphteria 1: o; febre typhoide8: io; malária uo: 140; tuberculose 97: 81 e dysenteria 7: 8.A média geral da mortandade diária foi de 69 óbitos, contra77.26; as de nascimentos e casamentos foram: ^9.Só para 43.06e tf.çy para 5.6.

Os coeficientes de mortalidade, natalidade e nupcialidadesão os seguintes, em relação á quinzena transacta: 47.9o °/O0

para 46.99 •/._.; 24,24 •/,,, para 26.19 '/•• e 2-9$ '/•• Para7.40 '/..

Nos quadros graphicos que acompanham o presente boletimestão comprehendidos cinco mezes, de r de Dezembro de 1893a 30 de Abril de 1894. O que nelles tem importância palpitanteé a linha correspondente á endemo-epidemia estivai de febreamarella, que este anno foi grave, e forte contingente mortuarioajuntou ao acervo da mortandade geral.

A febre amarella tem, entre nós, o caracter de uma epidemiaannual, que obedece, no seu apparecimento, a uma determinada.fórmula meteorológica, onde prevalece o calor atmospherico.Este não é, todavia, o seu único factor; tanto que só o verão,de per si, não chega a trazer a peste, si ao meio faltam outrascondições; é por isso que a febre amarella surge somente ondea epidemia é levada em dado momento, ou sua endemicidade opermitte, como acontece no Rio de Janeiro. Ella diminue, oudesapparece, até, na estação fria; mas, que não encontra nocalor seu principal elemento pathogenico, é prova o ser estamoléstia indisputavelmente um produeto de importação noBrazil.

A febre amarella é produzida por uma bactéria ainda não co-nhecida no mundo scientifico, a qual se desenvolve á mercê dedesdobramentos biochimicos, favorecidos pela acção do calordo verão sobre os meios atmospherico, tellurico ou hydrico.

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Nos esforços para seu anniquilamcnto se encontram, por-tanto, os obstáculos oppostos pelo circulo de treva em que oadversário mórbido se occulta: a nossa ignorância em relaçãoa essa moléstia começa no leito do doente e não acaba, aindaquando a hygiene precisa de se orientar.

Individuar o agente pathogenico deve ser o primeiro passono ataque. Si tal não fôr antes conhecido, quem garantirá a effi-cacia de quãesquer medidas hygienicas em relação ao ar, áágua ou ao solo?

Que se fez durante a epidemia? Que trabalhos foram empre-hendidos no sentido de esclarecera pathogenia domai, duran-te esses dias de tão acerba provação para o paiz?

Nem foi estudada a pathogenia da febre amarella, nemforam feitas outras investigações scientificas complementarcs,porque especialistas nos faltam de todo: o Rio de Janeiro nãodispõe de um pessoal sanitário ao corrente dos progressos e datechnica da hygiene moderna. Sendo assim, segue-se que amelhor vontade—e ella esteve patente—não conseguirá suppriro defeito original, ea desinfecção, bem como o isolamento, nãopassarão de simulacros. Ao menos nas linhas geraes das me-didas sanitárias a se adoptar, parece que já devera ter influídouma competência estrangeira; e isso tive, com outros collegas'opportunidade de proporcionar ao governo. Si o Brazil não temainda tempo para já possuir homens de preparo tão particular,c preciso, e mais urge convidar um profissional amestrado, quevenha mostrar-nos o caminho a seguir no problema do sanea-mento do Rio de Janeiro, debellando a febre amarella. (i)Como medico e como amigo da Republica, penso no seu bem-estar, sem olhar para a mão que espalha o beneficio. Aindaserá esta a solução do caso.

Emquanto, porém, não chegamos ahi, seria conveniente que,(1) Vá este trecho com vistas a esses que julgam um descrédito parao paiz contraclar no estrangeiro prolissionaes habilitados em especiali-

dades cm que ainda não os temos. N. da Redacção.

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não só o Rio, mas até as cidades do interior, dispuzessem dcvarias estações sanitárias dc desinfecção; ou quando mais nãofosse, estivessem preparadas para desinfectar chimicamente,

pelo sublimado, etc.Nesta epidemia a febre amarella augmentou pouco a pouco»

passando dc individuo a indivíduo, e não partiu dc um ou maisfocos, para se irradiar subitamente, sujeitando toda a popula-ção ao mesmo virus: por isso mesmo, ella terminará lenta-mente. A actual erupção pestilenciai anebatou, de Dezembro aAbril, 4.336 vidas, assim distribuídas: Dezembro 37, Janeiro371, Fevereiro 1.350, Março 1.929 e Abril 6.19. Ora, essahecatombe pede um recurso que a evite no futuro.

O exame dos presentes quadros necrographicos mostra quea mortandade máxima por febre amarella não coincindiu coma máxima thermica (vêr na estampa II, aó de Março a mor-tandadee a 11 c 22 de Janeiro a temperatura); os mezes mais

quentes tendo sido os de Janeiro e Fevereiro (vêr o mappa II),foi, no emtanto, em Março que se verificou a mortandade ma-xima (1.929 óbitos): a somma de Janeiro e Fevereiro sendo1.720 óbitos, é a de Março e Abril igual a 2.578. Conclusão:a febre amarella não ó uma moléstia lão rigorosamente estivai,como se presume, podendo entrar pelo inverno, como actual-mente se dá.

Muito mais amiga do verão é sabidamente a malariaf e isso,ainda uma vez, aqui se demonstra: o seu obituario máximo

(1? de Fevereiro) se approxima muito mais da máxima ther-mica (ti de Janeiro), posto que o algarismo total de Março eAbril conjunetamente (687) exceda o dc Janeiro e Fevcrei-ro (572).

A epidemia dc beriberi, que actualmente se vae desenvol-> vendo, parece mais restrictamente ligada ao contagium vivum,

que ás condições do meio (ver estampa II); estando, até agora'

quasi limitada a alguns focos de infecção.A tuberculose diminuiu com o calor, para recrudescer com o

frio; apresenta uma relação inversa das da febre amarella c

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malária (ver estampa II). Si a população tivesse alguma noçãoprophylactica acerca desta moléstia e os hospitaes geraes nãorecebessem enfermos de phtisica, ou os isolassem em enferma-rias, o seu obituario se reduziria logo: conforme demonstrado,8o % dos tuberculosos são victimas do contagio pelo esputo.

üs algarismos totaes, correspondentes ao lapso dc tempoestudado, foram: febre amarella 4.33o, malária 1.343, tubercu-lose 890 e beriberi 146.

A febre typhoidc não se acha inclusa nos mappas-diagram-mas, por parecer que sua existência, entre nós, não teve aindaprovas sufficientes, quer clinica., quer bacteriológica, c menosanatomo-pathologicamente.

O boletim dc estatística demographo sanitária da directoriado serviço sanitário do Estado de S. Paulo publica-se mensal-mente e traz todos os dados estatísticos correspondentes aoseguinte summario:

Movimento meteorológico. —Movimento da população.—Óbitos por edades e sexos.—Óbitos por estado civil.—Óbitospor nacionalidades.—Óbitos dosnacionaes por naturalidades.—Causas da morte.—Resumo synthetico da mortalidade. —Indi-cação das casas em que se deram óbitos por moléstias transmis-siveis. —Indicação das casas cm que sc deram óbitos por outrasmoléstias.—Observações.

Transcreveremos os mais importantes do boletim do mez dcJunho, que temos á vista.

As observações sobre o movimento meteorológico vemassignadas pelo Sr. F. J. C. Schneider, director da secção dcmeteorologia da commissão geographicae geológica do Estadodc S. Paulo, e terminam pelas considerações seguintes:

«Em Junho do anno passado foram aqui bem extraordinários,como se hão de lembrar os habitantes desta capital, os clemen-los climatologicos mais manifestos; neste anno, porem, forammais extraordinários ainda. Damol-os no quadro acima, na ter

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ceira columna, achando-se na segunda as médias dos mesmoselementos, tiradas das observações dos sete annos de 1887 a1893, e os extremos observados no mesmo tempo.

Vê-se, pois, pelo quadro, que no mez passado a media da

pressão barometrica foi perto de 1.5 mm. maior do que a nor-mal e que á máxima faltou pouco para attingir a maior obser-vada neste mez nos sete annos anteriores; a mínima, porémficou muito acima da notada em Junho de 1887. A oscillaçãoda columna barometrica foi de 11.08 mm. e não foi anormal;

porque só duas vezes em Junho de 1890 e 91, foi cila menosde 10 mm., sendo de 9.07 no primeiro destes annos e dc 9.Ó7no segundo: em 1893 foi de 11.15, em 1888 de 11.49 e em1889 de 11.63 mm-

A causa dessa média extraordinária da pressão foi o frio quereinou no mez inteiro, de modo que sua temperatura média foi2' 21 menor do que a normal, e foi a média menor observadaate aqui no mez de Junho. As que mais se lhe approximaramforam as de Junho de 1889 c 90, que foram de 12'.9 e 13*.3 res-

pectivamente. Em Junho do anno passado foi 14'.58. A médiamenor de um dia no mez passado foi a de 9".28, fio dia 2. Amaior foi a de 15".09. do dia 13. A máxima da temperaturafoi, como mostra o quadro, 22'.o, no dia 12. A média máximanão cahio no mesmo dia, porque de 1 ás 8 da manhã do dia 12

thermometro oscillou entre 7"..8 e 9'.6. Houve somente doisannos nos sete dc que temos observações em que a temperaturamáxima de Junho foi tão baixa como a do mez passado: foramos annos de 1889 e oo, com máximas de 2o*.8 e 22\o respecti-vãmente. A minima da temperatura do mez passado foi baixatambém, mas não tanto como no anno passado, em que foi de

• .0, e menos ainda foi eila tão baixa como a de Junho de 18^9,

que foi perto de 1 gráo abaixo de zerc.Os ventos foram inteiramente anorrnaes; porque, ao passo

que NW costumou ser um dos predominantes do mez, com

porcentagem média dc 11.6 de freqüência, esse vento não

soprou nenhuma vez no mez passado nas três horas de obser-

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vação diária; e o SE, cuja porcentagem média para Junho foiaté agora de 15.7, no mez passado somente alcançou a de 3.3.Estes dois ventos normaes foram substituídos desta vez pelo Ee pelo ESE.

A humidade relativa, a tensão do vapor apjoso contido noar c a evaporação foram mais ou menos normaes; mas a chuvafoi extraordinária, nunca antes tendo-se notado quantidadeigual em Junho. A média dos sete annos para este mez, comosc vê pelo quadro, foi de 60.17 mm., e nesta média já entroua quantidade extraordinária de 131.28 mm. de Junho do annopassado. Neste mez, porém, essa quantidade ainda foi excedidaporque cahiram 134.29 mm., ou mais do dobro da quantidadenormal. Só no dia 1 5 cahio perto cie três vezes mais do quecahira no mez inteiro no anno de 1888. Também houve no mezpassado mais do dobro do numero normal de dias chuvosos,ou cinco mais do que o maior numero havido em Junho emqualquer dos sete annos anteriores, e houve apenas cinco diasno mez inteiro em que a nebulosidade média fosse menos de 5,e que por isso foram registrados como dias claros.

Julgam muitos que o barometro alto seja indicio de bomtempo. A experiência do mez passado mostra quanto é infun-dada esta idéa; porque o barometro estava muito alto durantetodo o mez, e o tempo estava muito ruim.»

A população da capital do Estado de S. Paulo é calculada em150,000 habitantes.

As médias e coefficientes relativos ao movimento da popula-ção na capital e districtos sub-urbanos foram no mez de Junhoos seguintes:

/ diária dos nascimentos t dos homens 9 90*„ „ \ .. '. das mulheres SM) &eraI 18>7GMédias... diária dos óbitos t dos homens 5 10.

j das mnlheres 3,76> &eral 8-86l diária dos casamentos 3 u3

/'Em 1000 nascimentos incl. nascidos mortos 472,46 óbitosCteffieiruki \

10°° nascimentos «nel. nascidos mortos 42,62 n. mortos./ Em 1000 habitantes 21 57 óbitosv Em 1000 habitantes 45^12 nascimentos

*•?*->*

-rs 72 w

O resumo synthetico da mortalidade foi o seguinte:

Por Idades

De a i mez 3o» 12 mezes 35»

'5 annos 37» io • • " '

» 10 » 20 10

» 20 » 30 33» 30 » 40 » 23

» 40 » 50 24» 50 » 60 '7

» 60 » 70 I0

» 70 » 80 5» 80 » 90 3» Mais de 100 '

Ignorada 3Nascidos mortos 24 2Ó6

Por SexosMasculino, sem nati-mortos. . *37

nati-mortos .... 16 '53«prw

Feminino sem nati-mortos . . 105nati-mortos .... 113 266

Por Estado CivilSolteiros !74Casados 59Viúvos r7Estado civil ignorado 16 aóó

Por NacionalidadeBrazileiros ,64Italianos 49Ilespanhoes x

. - 7* -

Portuguezes . . 24Allcmães 0ÍnglezesFrancezes Outros européosHispano-americanos ,Africanos _Nacionalidade ignorada 2Ó6

As observações com que termina este boletim o director doserviço da estatística demographo-sanítsria do Estado de S.Paulo são dignas de interesse, e para complemento dos dadosestatísticos acima transcriptos as trasladamos para estas pagi-nas com os artigos subscriptos pelos Drs. Marcos Arruda,Gonçalves Penna Filho, Mathias Valladão c Adolpho Lutz, queofferecem valioso subsidio para o estudo das pyrexias em S.Paulo.

OsERVAçÕEs-Durante o mez findo ainda melhores foramas condições sanitárias desta Capital: falleceram apenas 2Ó6pessoas, tendo sido, portanto, a media diária 8,86.

Se boas foram as nossas condições de salubridade em osmezes anteriores, no que findou se motivos ainda mais pode-rosos tivemos para isso fazer publico, conforme se tornapatente com os algarismoc.

Em o mez anterior attingiu esse numero a 337, havendo,pois, um diffcrença de 71 para menos no mez de que actual-mente tractamos: estabelecida a comparação com igual mez doanno passado ainda mais notável se torna a proporção emfavor da quadra em que estamos: falleceram então 476 indivi-duos sobre 26 ¦ deste anno, o que dá um diffcrença de 2 12.

Isto tudo torna bem manifesto quanto são salisfactorias asnossas condições de hygiene e de salubridade este anno, equanto temos feito já neste sentido, só nos devendo rego-zijar por tão lisongeiros resultados, a que temos chegado.

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. IO

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De febre amarella morreram 4 pessoas, vindas do Rio de

Janeiro, todas ellas no hospital do Cambucy.De febre typhoide quatro também foram os casos de morte

durante o mez.De febre intermittente e remittente e de cachexia palustre,

onze foram elles.

De moléstias zymoticas não se deram mais fallecimentos:entretanto, 6 foram as mortes de dysenteria sobre 13 do mezanterior, do que se conclúe que tendo reinado a constituiçãomedica á tal enfermidade relativa, ella mesma modificou-se,e acredito que talvez já não exista.

A proporção da mortalidade das creanças ainda guardou-se,pouco mais ou menos, a mesma; mas convém ter sempre emconfronto o grande coefficiente de natalidade, que é emS. Paulo notável, podendo gabar-se de ser uma das cidadesem que elle o é dos maiores, cm o mundo inteiro. Tanto bastadizer-se para suavisar-se a impressão que á primeira vista ogrande algarismo, em relação a mortalidade, produz.

O numero de nascimentos foi de 363, o que dá uma mediadiária de 18,76, que comparada com a da mortalidade perfazuma porcentagem de 47,4/; °/0 em favor da natalidade, o queexprime um saldo enorme em favor do acerescimo da popu-lação da cidade.

Efíectuaram-se 91 casamentos, tendo sido, pois, a suamedia diária 3.

Não foi pequeno o contingente fornecido pela tuberculosepulmonar para a mortalidade; falleceram 22 individuos.

Igualmente os falleeidos por bronchite e broncho-pneumoniaforam em numero de 31, o que explica-se de alguma formaquando nos lembrarmos que foi o mez passado de temperaturamuito baixa, tendo chovido também constantemente.

De enterite, entero-colite e gastro-enterite suecumbiram,como se vê do mappa, 35 individuos. E' essa classe sempredas que mais avultam por serem dessa enfermidade victimas,

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em sua maioria, as creanças, sendo não pequeno, como já ésabido, o tributo por ellas pago á morte.

Dos districtos urbanos foi o da Consolação o que deu menornumero de óbitos: falleceram nelle durante o mez 71 pessoas,inclusive 22 fornecidas pelo hospital da Misericórdia: excluídospois, estes, e ficando reduzida á sua mortalidade própria, vê-seque foi apenas de 49 esse numero: em seguida foi Santa Ephi-genia o que menor algarismo apresentou: foi este de 50; masattendendo a que é elle o mais populoso da Capital chega-se áconclusão de que é esse districto aquelle em que, em geral,menos óbitos se dão: é o do Braz, ao contrario, aquelle emque sempre maior numero de fallecimentos se registra: neste oalgarismo, que se lê no mappa demonstrativo, é de 71.

Succumbiram de lesões orgânicas do coração, sem diagnos-tico differencial, e sem mais detalhes, 20 pessoas. Não deixade ser motivo de serias duvidas tão exagerado numero, etudo fazendo crer que talvez seja isso devido á irregularidadesnos attestados de óbitos, ou no modo de serem elles regis-trados.

Vem a propósito lembrar sc não seria de conveniência seremos certificados de óbitos revestidos de certas formalidades,sendo elles passados pelos facultativos com certas e determi-nadas declarações indispensáveis: seria isto, parece-nos, degrande proveito para a confecção das estatísticas, e para estasmelhor exprimirem a exactidão cm todos os sentidos.

** *

Annexos a este trabalho publicando os artigos, que temapparecido, e que nos tem sido offerecido em relação á questãopor nós mesmo aventada,—as febres em S. Paulo— em nadadesvirtuamos o fim a que elle visa: ao contrario, temos certezade que, por essa forma, damos-lhe maior valor, augmentamoso interesse, que elle possa ter, e até o enriquecemos, suavi-sando por tal forma as faltas e lacunas, de que se ressente.Com isso, em nada preterimos o serviço propriamente dedemographia, que, ao envez, procuramos de dia para dia

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augmentar e ampliar, dando-lhe sempre o desenvolvimentoque requerem taes gêneros dc trabalhos, e cm nada faltandoao cumprimento de nossos deveres como medico demogra-phista.

Procedendor portanto, por esta forma, além de cumprirmosuma obrigação inherente ao cargo, acreditamos também darmais interesse e valor a esta publicação— obrigação a que nosimpuzemos, e com o maior prazer, desde que por nós mesmofoi pr vocada esta questão.

Além disto convém lembrar e atteuder que são artigos essestodos elles cheios de importância e valor, não só como matériascientifiea, revelando todos grandes^ méritos da parte de seusdignos authores, como prova de dedicação e de interesse pelacausa publica; e seria de nossa parte falta indesculpável, sedeixássemos de com elles enriquecer, repetimos, e honrar, estenosso humilde trabalho.

* »Publicamos com o presente os importantes artigos dos Srs.

Drs. Penna Filho e Mathias Valladão, sustentando cada umpor sua vez, e ainda no mesmo terreno, as idéas já emittidas;e bem assim a valiosissima opinião, sobre o mesmo assumpto,expendida pelo Dr. Marcos Arruda, conceituado e por demaisconhecido clinico desta Capital, em carta com que nos distin-guiu, e a communicação importante e de maior valor, com quetambém nos honrou, o digno Direetor do Instituto Bacteriolo-gico do Estado, o Sr. Dr. Adolfo Lutz, todos elles cheios deinteresse. Destes dous últimos o primeiro, como se vêadoptando, e não dispensando o uso dos sáes de quinina, pre-fere a sua administração pelo methodo hypodermico, e consi-dera taes pyrexias como mixtas, typho-malarianas, ou typhopalustres; o segundo, ao contrario, com a grave responsabi-lidode, que lhe dá o cargo, que exerce, combatendo estediagnostico, considera-as, hoje, como febres typhoides,fazendo tal deducção, das mais serias conseqüências, peloexame a que acaba de proceder em um cadáver dc indivíduo

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fallecido no largo do Carmo desta cidade, e em outro daLimeira.

Por motivos de todo valor, e a que resqeitamos, nãopodemos ainda honrar as columnas do presente boletim com aopinião authorizada do nosso distineto e preclaro mestre, odr. Barretto.

Satisfazendo a justa curiosidade e boa vontade com que celte geralmente esperada pelos seus muitos admiradores,pedimos permissão para antecipar que será ella dada no nosso'próximo boletim.

O Íllustre Director do Instituto de Bacteriologia partindodos exames, a que acaba de proceder, e dos resultados a quechegou não duvida em adiantar que coma febres typhoidcsconsiderados deVcm ser os casos de pyrexias que entre nóscommummente se dão.

• •Permitia-se-nos, entretanto, a franqueza, nào podendodeixar de acceitar a opinião official do nossso Instituto Bacte-

riologico, com cila não podendo deixar de nos conformar, cportanto com a convicção que desse juizo nos pode advir,parece-nos que só de um ou dous casos isolados, em que por'seu Íllustre Director foram encontrados bacillos, que tantopela lorma como pelas propriedades biológicas são idênticosaos de Eberth, não se pode ainda partir para o geral, cconcluir-se que são de dothyenenteria todos esses casos queem geral se observam na pratica, e que são a cauza dadiscussão.

Delles se pode quando muito concluir que, realmente, afebre typhoide pode apparecer em São Paulo; curvamo-nosconvencido, perante a evidencia d s factos; mas d'ahi não^sepôde ainda em absoluto concluir que sejam taes todas as febres,que ahi apparecem-essas, principalmente, que são a causa dasnossas duvidas.

Como conciliar, com effeito estes resultados a que acaba dcchegar o distineto bacteriologista com os factos, que cm contra-

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posição nao podem ser contestados, e que por todos os práticossão authenticados todos os dias?

Para não repetirmos o que neste sentido temos já tanto ditoem nossos últimos boletins, apenas em resumo seja-nos licitolembrar o que é sabido: o contagio ainda não foi rec.nhecidonestas nossas febres, e é, ao contrario, por todos contestado; acircumstancia importante do doente melhorar, e até sarar,

quando mudando de clima e de localidade, e isto bruscamente;o facto notável do doente apenas vendo a sua temperatura bai-xar á normal considerar-se completamente curado, e nenhumoutro symptoma mais apresentar-se.—Como explicar-se tudoisto, que é o que, em geral, aqui se observa?

Não deixando de dar o peso que merece a opinião authori-sada do Sr. Dr. Lutz, somos de parecer que não nos devemoscontentar com as observações que acaba elle de realisar, porserem, por ora, muito limitados os casos, e não se poder con-cluir do particular para o geral. Convém que vejamos coníír-mados elles por outros muitos para que se considere resolvidatão importante questão.

E, é o próprio Dr. Lutz quem na communicação, que nosfaz, diz que eram insignificantes as lesões intestinaes obser-vadas no caso aqui consignado; e também raramente muitoaccentuadas as localisações no intestino nos observados na Li-meira e aqui, os dous únicos factos, que serviram de base paraas suas conclusões.

A observação clinica feita á cabeceira dos doentes até aqui, eos resultados a que acaba de chegar o nosso Gabinete deBacteriologia, combinados, e postos em confronto um com ooutro, á estas conjecturas dão logar, e á estas consideraçõesauthorizam a quem attentamente os quizer estudar, e judiciosa-mente apreciar.

De facto: por um lado, não pomos em duvida esse resultado;

por outro, e de conformidade com o que neste sentido é em

geral observado, e attendendo ao que nos ensina a pratica detodos os dias e os estudos dos mestres, como explicar que

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sejam de dothyenenteria, febre typhoide clássica, esses tantoscasos de pyrexias exquisitas, mas não apresentando o cortejodc seus symptomas tão conhecidos, e que todos os dias, o annointeiro, e por todos são vistos e apreciados?

Seria o caso, como bem diz o Dr. G. Penna Filho, de dever-mos passar as magistraes paginas de Trousseau pelas chammaspurificadoras.

Sem que vejamos em todos os casos typicos, ou em a suamaioria, dos que aqui são, de ordinário, conhecidos, isolado,sempre o bacillo de Eberth, e com isto tambem coincidindo averificação de todas as lesões anatomo-pathologicas caracte-risticas, continuaremos a acreditar que os estudos neste sentidonão devem se considerar concluídos.

Ou teremos, além disso, uma outra entidade mórbida, quedeterminada não esteja ainda?

E' a isso que devemos procurar chegar, porque por termos adothyenenteria não se segue que outra pyrexia tambem nãopossa manifestar-se com caracteres seus, e para estas é quetodos convergem a sua attenção.

Admittida a existência da febre typhoide aqui, será, entre.tanto, ella uma, como já temos dito, toda especial, completa-mente differente da que na Europa c no mundo inteiro é obser-vada, uma dothyenenteria modificada. Parece, então, quedessas differenças tambem devera participar o seu micro-orga-nismo produetor: não consta, entretanto, nem mesmo da com-municação feita pelo illustre Director do Instituto de Bacte-riologia, que tenha elle sido verificado com caracteres diffc-rentes dos do bacillo de Eberth, que, aliás, é sempre o mesmo,em todas as partes do mundo, onde já \em vida própria.

A febre typhoide, repetimos, c a mesma, qualquer que sejaa parte do mundo: até aqui são contestes todas as opiniõesneste sentido.

O poder typhogeno do bacillo de Eberth, a sua virulência,pôde variar, em um ou outro logar, e mesmo em epochas diffe-

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rentes, dando logar, somente, á maior ou menor numero devictimas, podendo ser a epidemia mais ou menos vasta e ex-tensa, ou mais ou menos intensa; mas a moléstia em si é amesma em todas as epochas, e em todos os paizes, em quetem sido observada.

Em relação ao assumpto com a áuthoridade, que ninguémlhe desconhece diz o Dr. A. Chantemesse: «Le bacille d'Eberthest fixe dans ses caracteres par une três longue serie d'années,comme est fixée Ia maladie typhique semblable aujourd'hui àce que' elie était dans les siècles derniers. Qu'on l* observe enEurope, dans 1'ancien ou le nouveau monde, elie Irappe de Iamême façon les malades, à 1' autopsie des quels on trouve lemême bacille d'Eberth, avee ses mêmes caracteres dans tousles pays, quels que soient les observateurs. Qu'on étudie unbacille d'Eberth ayant vécu dix ans de cultures en cultures dansun laboratoire, ou um bacille cfEbcrth fraichement retire d'unrate de typhique, il presente toujours les mêmes attributs essen-tiels. II n'a rièn perdu ni rien gagné.»

Só vemos motivos, á vista do exposto, para não nos dever-mos contentar com os resultados até aqui obtidos; para, por-tanto, não considerarmos ainda a questão completamentedecidida; e para, em uma analyse, continuarmos todos a estu-dar a matéria, que sendo por sua natureza difficil demanda eexige ainda sérios estudos, principalmente da parte dos dis-tinetos facultativos encarregados do nosso Gabinete de Bacte-riologia, aos quaes, íncançaveis e dedicados como são, muitoainda teremos a dever, pela proficiência com que desempenham-se sempre das funeções, de que se encarregam, do que acabamde dar as provas mais eloqüentes, como já igualmente o deram

por occasião da apparição entre nós, em o anno passado, dacholera-morbus.

Em um dos últimos boletins de estatística demographo-sani-taria da Capital Federal, o illustre Sr. Dr. Fajardo diz o se-

guinte em relação ás febres typhoides: «A febre typhoide nãose acha inclusa nos mappas—diagrammas por parecer que sua

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existência, entre nós, não teve ainda provas suficientes, querclinica, quer bacteriológica e menos anatomo-pathologica-mente.»

Quanto a nós, em conclusão, e dando por concluída a dis-cussão, admittimos a existência da febre typhoide a vista doque nos communica a authoridade; mas não exclue, entende-mos, este facto a possibilidade da existência de uma outrapyrexia apparecendo com caracteres todos seus.

* *Congregando agora elementos novos, para o que já temos

empregado esforços, e já temos dado os passos necessários,introduziremos nos nossos próximos boletins uma nova secçãorelativamente aos casamentos e nascimentos, estudando-os,—quanto aos nascimentos sob o ponto de vista dos sexos, da legi-timidade e illegitimidadc dos novi-natos, relação de uns paraoutros; e da nacionalidade dos progenitores:— e quanto aos ca-samentos sob o ponto de vista das edades, estado civil ante-rior, relação que possa entre elles haver, de parentesco, enacionalidade dos cônjuges.

Acreditamos que terão grande valor taes questões, mormentepara nós, que residimos em um Estado de população semprecrescente, e em que a immigração toma sempre grandes pro-porções.—Dr. Jayme Serva.

P. S. — Em tempo: depois dc já no prelo este boletim, cmuito adiantada a sua impressão, tivemos a satisfação de lêras criteriosas considerações em relação ás pyrexias de S. Pauloadduzidas pelo Sr. Dr. Thomaz de Aquino em as columnas doDiário Popular, jornal, que com toda dedicação nunca se negaa publicar tudo que a interesse publico diz respeito.

Não podendo, por esta razão, com o nosso trabalho, e a elleappenso, publicar estes interessantes artigos, que com certezaterão sido lidos com a maior attenção, fal-o-emos logo que nosseja possível e permittido.

Este nosso Illustre Collega ao impaludismo attribue as nossasSERI IV ANNO XXVJ VOL . V. I I

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febres, revestindo porém, ellas, como elle diz, fôrmas diversas

e tomando mesmo por vezes feição exquisita e caracteres taes

que, como já também temos dito, põe o espirito do clinico em

dirTiculdades para formar diagnostico; quanto á therapeutica,

pela mesma fôrma, pensa elle, concluindo, porém, por entender

que ao verdadeiro impaludismo póde-se tudo attribuir, e n'elle

se pôde achar explicação.São por sem duvida judiciosas as considerações á respeito

feitas, e de verdadeiro cunho pratico os conceitos emittidos,

sendo realmente isso o que na pratica se observa.

JPyrexias em S. F*auloPresado Collega e Amigo Jayme Serva,— Tendo recebido os

bem elaborados boletins mensaes de estatística demographico-

sanitária que V. S. tão proficientemente dirige e com tanta

gentileza se tem dignadq enviar-me; e acompanhando a quês-tão ventilada sobre as febres entre nós reinantes—ponto sobre

o qual V. S. chama a attenção do corpo medico, já estando

elucidada a questão, não só com os conceitos expendidos porV. S., como por outros hábeis profissionaes; julgo-me no

dever de aceudir ao reclamo de V. S., como medico clinico

aqui residente, e porque em 1889, já, a respeito publiquei ai-

guns trabalhos n'esta Capital, e na Europa dei publicidade a

um Estudo sobre as febres typho-malarianas e a febre amarella,

trabalho que me fez merecer da Academia de Medicina de Pariz

a medalha de mérito pelos serviços de hygiene e de epidemias.

N'aquelle tempo, em todos meus escriptos, eu classifiqueitaes pyrexias, como febres mixtas-typho-malarianas ou typho-

palustres, por suas fôrmas sempre mixtas, predominando asvezes, o quadro do bacillo de Eberth, freqüentemente modali-dades do impaludismo e também o cortejo symptomatico do

typho amarelligeno, conforme as estações e coeficientes

actuando.Hoje, ainda nada o microscópio tendo desvendado, sobre o

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micróbio ou micróbios pathogenicos de taes entidades morbi-das, como clinicos que visamos serviços públicos, nada po-dendo adiantar sobre a referida bacteriologia, para da naturezada moléstia tirarmos a razão da medicação, mas já tendo regis-trado freqüentes curas de taes pyrexias, porque os curativostambém parecem denunciar a natureza das moléstias e indicar atherapeutica; aqui consigno o meu modo de pensar a respeito.

i. Só o microscópio podendo nos explicar a pathogeniaultima de taes pyrexias, devemos esperar a sua resultante,nada aproveitando, por emquanto, as differenças de opiniõessobre a classificação mórbida.

2.' Assim deslocada a face da queslão, deve ella versar, poremquanto, só sobre a prophylaxia e tratamento curativo detaes pyrexias, á custa do que o experimentalismo clinico játenha evidenciado ou possa evidenciar.

Sob este ponto de vista, eu darei, com franqueza, a minhahumilde opinião: considero taes pyrexias, como febres mixtas,typho-malarianas ou typho palustrcs, no sentido lato da pala-vra, podendo assumir quaesquer modalidades intermediárias cexigindo tractamento symptomatico, segundo o cortejo mórbidopredominaníe que indicar a sua lórma

Entre collegas, clientes, antigos empregados e amigos meus,aos quaes aconselhava o uso dc meia gramma de quinina, dia-riamente, e que permanecciam por muito tempo, nos lugaresonde reinavam estas febres, nem um só foi dellas accommettido,o que me levou a acreditar na prorilaxia contra taes pyrexiaspelos referidos preparados de quinina, conforme prescrevi nosescriptos que a respeito publiquei na Europa c que vos envio.

Como meio curativo, justifico serhpre e sempre—formalindicação para os saes de quinina, como tônicos, antifebris,antiperiodicos e reguladores da temperatura, mas raramenteou nunca cs administro pela bôeca, não só porque confio emsua absorpção, cm moléstias taes, como porque entendo ser deprudente pratica, poupar sempre o mais possivcl, ao tubo

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gastro-iníestinal, sempre interessado mais ou menos, nessasmoléstias.

E' pois cm injecções hypodcrmicas, que, desde muito tempo,emprego os saes dc quinina, na dose de uma, duas até quatroseringas Pravas, diariamente, conforme a feição mórbida detaes febres.

Além das injecções de quinina, de preferencia emprego, comohypothérmico, as loções de vinagre, dc álcool, de agua de Co-lonia, os banhos frios e principalmente os clystcres de aguafria. com os quaes lenho conseguido abaixar até 2 gráos defebre.

Internamente, condemno cm absoluto, as poções e palanga-nas cie toda espécie que possam ter acção mechanica de peso—sempre inconvenientes, além das acções medicamentosas; con-cedo as limonadas, as águas mineraes, as águas phenolisadas,geladas ou não e tomadas aos gollcs, e como correctivo, anti-septico é leve purgativo, á qualquer medicação, prefiro—o cal-lomelanos associado á ipecacuanha, cm doses fraccionadas ealternadas, conforme a indicação do momento; porque semencher c sem fazer peso, entretem as eliminações e a humidadedas mucosas, corrigindo e neutralizando as secreções inconve-nientes.

Esta simples medicação secundada pela dieta liquida, porboas condições de hygiene e de asepcia e tambem pela mu-dança de meio do doente, me tem dado sempre, os melhoresresultados sendo certo que muito raramente tenho de recorrera outros agentes medicamentosos, para debellar qualquer im-minencia mórbida que sobrevenha, e sendo facto que as regiõesdas injecções quinicas, immediatamente tractadas por massa-gem e faradisação, nunca apresentam inflammação de espéciealguma.

E' o que me parece mais opportuno dizer sobre o assumptoem questão, relevando V. S. que assim concorra com o meufraco contingente.

Collega e Amigo Admirador,Marcos Arruda

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Quando escrevemos nosso primeiro artigo sobre este as-sumpto, visávamos principalmente concorrer com o nossodepoimento nesse inquérito provocado pelo illustre Dr. JaymcServa, e não sustentar uma polemica. Continuando no mesmopropósito procuramos supprir a falia de informações que oillustrado collega Dr. Mathias Valladão lastima, sobre as con-dições climatologicas peculiares a J uiz de Fora.

Julgo que o collega surprehendeu bem as circumstanciasmais notáveis do nosso clima comparado com o de S. Paulo;pelas informações que renho tido, S. Paulo é de facto mais frio,mais humido do que Juiz de Fora, assim como mais sujeito ásvariações bruscas de temperatura.

Quanto ás temperaturas médias que vi no Relatório sobre amudança da nossa Capital, observarei apenas que cilas são umpouco mais elevadas do que as rcaes, devido isso ás condiçõesde abrigo de que se serviam para o instrumento.

Servimo-nos até este anno da mesma instaliação, por conse-gumte, as nossas observações resentem-se do mesmo vicio.

Só este anno conseguimos uma instaliação rigorosa segundoas indicações de Saintc Blaire Deville e Renoul.

Accrescenta o meu collcga que «Juiz de Fóra"tambcm serecommenda pela profusão dos pântanos e o seu lençol d'aguasubterrâneo abundante e pouco profundo». E' exacto; mas aquiquasi verifica-se o que disse o collega cm seu primeiro artigo—a existência de pântanos simplesmente geographicos. Éramosforçados a registrar nas nossas estatísticas, ás vezes, um nu-mero elevado de óbitos por manifestações diversas do palu-dismo, entretanto, em nossaclinic -. rarissimamente observamosas moléstias palustres. Não nos recordamos mesmo de ter dadoaqui um só attestado de óbito devido a paludismo. De Janeirodo corrente para cá começamos a tomar nota dos doentes quevíssemos accommettidos por qualquer manifestação do palu •dismo; 5 mezes são passados e só observamos 2 casos muitobenignos dc febre intermittente: uma lavadeira que permanecia

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lavando roupas á margem do Parahybuna, uma senhora resi-

dente no largo do Riachuelo (um dos pontos mais humidos da

cidade) e,,além destes um outro indivíduo vietima de infecçãoantiga que se revela de vez emquando por accessos intermit-tentes.

Entramos propositalmente nestas minudencias porque si o

collega lèr o Relatório do Dr. Pires de Almeida, hygienista da

commissão de estudos para a mudança da capital, ficará hor-rorisado com a descripção que faz do paludismo em Juiz deFóra.

O lençol d água, superficial em alguns pontos, tem declivi-dade para o rio Parahybuna e para os diveisos córregos quecortam a cidade; de modo que não só as águas do lençol refor-mam-se constantemente como cm virtude da sua declividadenão se podem dar oscillações importantes do nivel.

* *Voltando ao assumpto principal. Diz o meu collega em seu

segundo artigo que vendo a nova e comprehcnsiva denomina-

ção que dávamos á pyrexia em discussão: «pseudo dothienen-teria, julgou que iamos combater a uniformidade absoluta do

typo das moléstias especificas acceitando a evolução desses

typos, deierminada naturalmente pelas condições do meio e dotempo. Ora si considerássemos as pyrexias que estudamoscomo sendo a dothienenteria modificada simplesmente, deixa-riamos a causa entregue á competência do Dr. Portugal queassim pensa, considerando o typo de Bretonncau como abso-leto.

Si denominamos a pyrexia por pseudo dothienenteria é por-que, encarando-a de um modo original, não queríamos con-fundil-a com as febres typho-paluslrcs, nem com as remittentes

puramente palustres que tomam em sua marcha o aspecto ty-

phico; estas febres que Corre, por exemplo, chama malariannestyphoide formes.

Porém, o collega considerando a pyrexia como uma febre

proporcionada em que collaboram as duas infecções faz bem

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em conservar a denominação de remitlente-typhica consagradapor muitos autores, ou remittente paludosa typhoidéa (TorresHomem). Mas pela nossa parte já dissemos que não acredita-mos que as febres que estudamos sejam devidas á dupla in-fecção: i.° pela inefíicacia dos saes de quinina em seu trata-mento. O distineto collega procura explicar o facto appellandopara circumstancias especiaes, embaraço gástrico, congestãodo figado e para o processo mixto. (Temos empregado semresultado os saes de quinina por via hypodermica).

Entretanto, vejamos o que nes diz Torres Homem, tratandodas febres mixtas typko-palustres ou remiltentes typhicas queelle chama remittente paludosa typhoidéa.

«A semelhança dos symptomas è tal entre as duas pVrexias(febre typhoide e typho palustre) que... Só á pôster iorit isto é,depois do emprego dos saes de quinina é que o diagnostico poderáser definitivamente estabelecido.

Logo os saes de quinina combatem as febres mixtas.Mais adiante «a promptidào com que os phenomenos ceiem

ao sulpkato de quinina, etc, demonstra exhuberantemente essainfluencia (do paludismo).»

Ora, si a quinina administrada por Torres Homem combatiaas febres mixtas typho palustre, apezar do embaraço gástrico,congestão do figado c do processo mixto c si estas que estu-damos são igualmente devidas a dupla infecção, porque razãonão obtemos o mesmo effeito com a administração do medi-camento?

2.0 Dissemos por mera intuição que, si as febres que dis-cutimos fossem devidas a infecção typho palustre, quandoadministrássemos os saes de quinina deveria evoluir isolada-mente a febre typhoide.

A nossa supposição é plenamente confirmada por TorresHomem, diz elle: «no segundo caso (quando no processo mixtopredomina a infecção typhica) apezar do uso methodico e prolon-gado o desle medicamento, apezar da energia com que elle éadministrado os phenomenos que caracterisam a dothienen-

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teria, vão se accenluando de mais a mais até que não pcssa havera duvida a respeito do diagnostico.»

Cita observações, dá um quadro thermographico, provandoa transformação da febre mixta em febre typhoide.

3.' Dissemos que não havendo absolutamente febre typhoideem Juiz de Fóra, como admittirmos a infecção mixta? Não sei

porque motivo este argumento não mereceu a replica do col-lega: entretanto posso affirmar que não ha em nossas estatis-ticas registrado um só caso de óbito por febre typhoide.

4." Si a febre de que nos occupamos é devida á acção con-vergente do plasmodium do paludismo e do bacillus Eberthsendo este ultimo o único que se transmitte de indivíduo a indi-viduo, porque razão, dado um caso da febre que o collega con-sidera mixta, não observamos o apparecimento de casos defebre typhoide por contagio?

5.' Ha em Juiz de Fóra um arrabalde, Morro da Gratidão,

que representa talvez menos de uma vigésima parte da cidade.Como o próprio nome indica, é um dos pontos mais elevadose seccos da cidade, dos menos próprios para as manifestações

palustres. Pois bem, só esse arrabalde fornece á observaçãotantos casos das taes febres, sinão mais, do que toda a parterestante da cidade.

Qual o motivo? Esse arrabalde é abastecido por ura manan-ciai d'agua independente da canalisaçãc geral da cidade. E'abastecido por agua derivada da cascata de Mariano Procopio.O córrego que fôrma esta cascata corta terrenos muito maiselevados do que o valle em que está a cidade e em suas mar-gens não reina o paludismo; mas é uma agua contaminadapelos colonos allemães; ás margens do córrego ha mesmo sévasde porcos!!

Eis ahi a fonte da producção dos germens pseudo typhicos,análogos aos da febre typhoide, produzindo a febre que chamei

por analogia pseudo dolhienenteria.Para meu collega Dr. Valladão ahi está naturalmente a ori-

gem do bacillus Eberth que vem associar-se ao elemento pa-

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lustre. Mas si assim é, como não observamos um só caso degenuína febre typhoide? Porque o paludismo haveria de atacarde preferencia um dos pontos mais seccos da cidade? A vehi-culação dos germcns pela água não é,S em nossa opinião, oúnico meio de infecção do organismo, porquanto não explicariaos outros casos, muito mais raros, que appareeem em diversospontos da cidade. Si culpássemos a água do abastecimentogeral os casos seriam muito mais freqüentes.

Creio que a vehiculação neste caso se faz pelas poeirasathmosphericas. Temos ainda em muitas ruas vallas abertasonde vem ter os exgotos das casas; só agora está se estabele-condo uma boa rede de exgotos: de modo que limpando-se asvallas, em suas margens sempre ficam algumas matérias in-fectas que deseccam-se, pulverisam-se, e são transportadaspelas correntes dc ar e vem determinar a moléstia nos que tema infelicidade de deglutir as poeiras, achando-se predispostos.

6.' Duvidamos da coincidência da dupla infecção pelo pias-modium do paludismo e pelo bacillus Eberth, julgando-a inve-.rosimil. Em these concreta dá-nos razão o Dr. Valladão jui-gando necessária a verificação pelo microscópio, cm thesegeral não.

Diz o collega: «Precisamente por isso mesmo, por terem habilatdiverso é que os dous germens podem co-existir no organismo-, sielles evoluíssem no mesmo órgão ou no mesmo tecido, é que seriao caso de dizer quils hurlent de se trouver ensemble.o

Admira-se que extranhemos «a existência de cousas já tãosabidas.»

Seria bom que o collega nos citasse um único estudo baetc-riologico positivo sobre a dupla infecçãc) do organismo, desen-volvendo-se os germens em órgãos ou tecidos diversos, mór-mente tratando-se de germens de famílias diversas como são oplasmodium do paludismo e o bacillus Eberth.

O que sabemos é justamente o contrario do que affírma ocollega no período que transcrevemos, isto é, que todos os es-tudos feitos sobre associações microbianas em um mesmo

SERt IV ANNO XXVI VOL. V. 12

— 90 -

ponto do organismo tem demonstrado que, longe de se des-truirem, luctando pela vida, os micróbios ficam com a suaactividade reciprocamente exaltada pela associação.

Citamos, rapidamente, dois exemplos.Com as culturas puras do bacillus do tétano foi muito difíicil

conseguir-se a reproducção da moléstia; quando associado aum dos micróbios da supuraçào ou da gangrena reproduzia-sefacilmente a moléstia.

Si o streptocoeus da erysipela inoculado reproduz a moles-tia, associado ao staphilococus aurcus, determina a erysipelaacompanhada dc lymphatite suppurada, etc.

Dc modo que*á pittoresca phrase Us hurlent de se trouver en-semblc, poderiam s accresccntar et quand tis hurlent c'estrhomme qui trcmblc.

Demais, sabe o collega que todas as tentativas que se temfeito para annullar ou attenuar a actividade de um micróbio noorganismo, pela inoculação de outro tem sido infruetiferas.

•Não sabemos porque razão, ha de se querer attribuir tantas e

tão variadas pyrcxias a dois únicos elementos ctiologicos, o dopaludismo e o da febre typhoide; o resultado disso é a con-fusão c o desaccordo que se nota quando procuramos nos ins-truir lendo os diversos pyretologistas, A historia de quasi to-das as moléstias mostra-nos que essas divergências temexistido emquanto ás hypotheses e theorias não suecede umanoção positiva.

• *Esforçamo-nos para pôr o problema em equação de um

modo original, baseando-nos nos factos de observação e entre-gamos a resolução aos Colombos do microscópio. Até lá, paranão ficar parado, o collega caminha para os tempos de Tosti,abraçando a concepção dos proporcionados.

Temos por emquanto exgotado nossos argumentos, e, paraevitar que a discussão traine en longueur, despedimo-nos do

— pi —

distincto collega, agradecendo a attenção que dispensou aonosso trabalho.

A sua disposição fica no escriptorio do Diário o resumo dasobservações metereologicas, tomadas aqui durante o annopassado, pois creio que difficilraente poderiam ser publicadasnum jornal.

Juiz de Fora, 11 dc Junho dc 1894.Gonçalves Penna Filho.

(Continua)

ETEOROLOGIAResumo das observações motoo-

rolo^ioas do mez de J-ullioTemperaturas. —Máxima 26°,o; no mesmo mez do anno

passado 2Ó°,o; Minima tg°,5o, em egual mez do anno passado20,20; Media do mez 23°,65. no anno passado 2^,60; Media aosol 37 ,10, no anno passado 31 -,40; Media Máxima 24,7$; noanno passado 24,50; Media Minima 21,40, no anno passado21,60.

Barometro observado—-Máxima 765,50, no anno passado765,80; Minima 760.80, no anno passado 762,20; Media763,01, no anno passado 76.1,00.

'Barometro calculado a O—Máxima 762,5 1, no anno passado762,54; Minima 757,77; no anno passado 759,17; Media 760,01.no anno passado 761,60.

0 Hygrometro oscillou entre 77* e 90'; humidade relativacorrespondente 65,4 e 83,0. No mesmo mez do anno passado ohygrometro oscillou entre 7; e 93; humidade relativa corres-pondente 65,6 e 88,0.

O vento constante foi SE, havendo S cm 8 dias, NE cm 6 cSW e NW em 2 dias.

Houve durante o mez 21 dias de chuva, marcando o pluvio-metro 1 i2mm,o, eguaes a 418 litros d'agua por metro quadrado;

— 92 —

no anno passado o mez de Julho teve 22 dias de chuva e opluviometro marcou. i49mm,75, correspondente a 599 litrosd'agua por metro quadrado.

Não houve n'este mez trovoada ou relâmpagos, ao passo queno anno passado houve trovões fracos na noite de 30.

Laboratcrio Municipal 4 de Agosto de 1894.O Director, Dr. Innocencio Cavalcante, O Sub-director, Dr.

zAlfredo de Andrade.

VARIEDADESO Dr. Guyon conselheiro geral e maire de Remircmont deu

este anno a sua demissão de maire por ter o conselho municipalda referida localidade recusado collocar contadores na novacanalisaçào d'agua que deve servir para a alimentação dacidade.

Deu-se ultimamente em Marselha um caso de falsa lethargiasegundo refere o Progrés Medicai de 3 de Março ultimo.

E' o caso que Mademoiselle M.... de 18 annos de idade ficouinsepulta seis dias por pedido da sua familia e dos visinhos,aos quaes o maire fez a concessão de mandar suspender ofuneral, apezar da opinião dos médicos chamados que attesta-ram a morte.

No fim de 6.° dia íoi preciso renderem-se á evidencia pelamanifestação da decomposição.

Era uma oceasião em que se devia ter empregado o thermo-metro que teria dissipado todas as duvidas sobre a realidadeda morte diz o Progrés Medicai.

NOTICIÁRIOFaculdade de Medicina da Bahia.—Terminaram as provas

do concurso á cadeira de Pathologia Geral d'esta Faculdade,sendo unanimemente approvado o candidato Dr. GuilhermçPereira Rebeljo.

— 93 —

Concluíram egualmente as provas do concurso ao logar depreparador do laboratório de medicina operatoria os concur-rentes inscriptos, sendo approvado e classificado em primeirologar o Dr. Domingos Emilio de Cerqueira Lima.

Publicações recebidas.— Agradecemos as seguintes publi-cações que nos foram offerecidas:

Estudo geral da infecção.—Pelo Dr. Guilherme Rebello.These apresentada á Faculdade de Medicina da Bahia para oconcurso ao logar de lente cathedratico de Pathologia Geral.

Notas clinicas sobre o tratamento da tuberculose pulmonarpelas injecções hypodermicas de creosoto. — Pelo Dr. A. Re-naldy. Rio de Janeiro.

Do diagnostico na infância. Semeiotica do apparelho uro-poietico.—Pdo Dr. Fernandes Figueira. Rio de Janeiro.

Memória de la Comision directiva dei servido sanitário deiCólera, apresentada al senor Ministro dei Interior, por eiDr. Wenceslao Diaz, Presidente dc la Comision. Santiago dcChile.

Mappa mensal dos doentes do Hospital de Misericórdia «Santa Izabel»

DOENTES

Homens

Mulheres

Somma

Existência dodia 30 de

Junho

i*7

D1FFEREIMÇAS

SaliirãoEntrarão

225

96 | 71

283 296

185

54

2>9

Fnlleceiâo

42

57

Exislenciodo ilin 31 de

Julho

185

r.8

183

Bahia 1 de Agosto de 1894.

O Medico Director, Dr. Guilherme Costa.

O Interno do Serviço, J0Ã0 Luciano Rocha.

Observações

Forâo praticadas 3:> opeiações stndo: 16 pelo Dr. Pá-checo Mendes 1 pelo Dr. Doria, 5 pelo Dr Alfredo Brittò.3 pelo Dr. Lydio, 2 pelo Dr. Caldas e 2 pelo Dr. GonçaloSodré. ,. .

Pelo Dr. Pacheco, 2 aberturas de abcesso, l uielnroto-mia, 1 rectotomia, 3 euretagens, 1 aplastia, 1 kelotomii,l descorticação. 1 extracção de corpo extranbo do nariz,1 ablacçfio de fibroma, 1 âmygdalotomia, 1 excisão 1 e:>tracção de epithelioma, 1 phymosis.

Pelo Dr. Dorea, 2 luneções de hydrocele, 1 descortica-cTão, 1 rasparem.

Pelo Dr. Altredo Drilto, 2 paraceteses, 2 tboracen-teses e 1 einpyema. I

Pelo Dr. Lydio, 1 nretbrotomia interna, 1 phymosis e1 abertura de* alicesso.

Pelo Dr Caldas, 1 raspagem e l castraçãoPelo Dr. Gonçalo Sodre, 2 paracenleses.Dos operados apenas fallecerào 2, sendo 1 de paracert-

tese e o outro de kelotoinia, convindo notar qne este so-mente procurou o hospital 4 dias depois de eslar comahérnia engasgada.

Das chloroformisações 11 forão feitas pelo Dr. JulianoMoreira e 1 pelo 5- annista Rodrigo Bulcão.

- 95 —

SAI.A DO BANCO

Movimento do mez de Julho.Apresentarão-se 777 pessoas.Homens:—Curativos simples 371—curativos de urgência 10

—operações de urgência 4—avulsões de dentes 69—consultasüo.

Mulheres:—Curativos simples 126—curativos de urgência3—avulsões de dentes 28—consultas 42.

Somma 777 pessoas.Das 7 operações de urgência—2 forão praticadas pelo inter-

no João Luciano da Rocha—2 pelo interno Alfredo Aurélio deCastro e 3 pelo interno João Muniz Barreto d'Aragão.

Forão aviadas gratuitamente 42 formulas.Levarão formulas para serem aviadas fora do Hospital 120

pessoas.O medico director, T>r. Guilherme Pereira da Costa,

Internos, Joào Luciano da 'Rocha, joâo Muniz <B. de zAragão,Aurélio de Castro, João Américo Fróes.

Movimento da Pharmacia—Forão aviadas 2696 formulassendo:

Para o asylo de S. João de Deus 20; para o asylo dos ex-postos, 26; para fora do hospital gratuitamente; 42; c para asdiversas clinicas, 2668.

O Pharmaceutico Horacio José Soares, Chefe do LaboratórioEmílio Chenaud. Auxiliar do Pharmaceutico.

feWo de Quevenne.—Ha 50 annos considerado como o primeiro doserruginosos por cansa de sua pureza, de sua poderosa actividadè' de sua

facilidade de administraçào, e porque n3o tem a acçâo cáustica e irritantedos saes de ferro e das preparações solúveis. Pará evitar ás falsificaçõesimpuras e desleaes, ter o cuidado de prescrever sempre :• O verdadeiro ferrode Quevenne. .t.:4í

o vinho de JBayard de peptona phosph atada, é um dos poderosoreconstituintes da tberapeuticai .¦¦*<.'¦ . . .1

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JKlixir e piluins C*rez chlorhydro-pepsicos, amargoS e fer-mentos digestivos, empregado nos hospitaes nas dyspepsías, anorexlai,vômitos da prenhez, diarrhéas chronicas (lienteria).

jVevraigias. Mígraine». Cura pelas pilulas anti-nevralgicas doDr. Cronier. Pharmacia 23, rue de la Monnaie. Paris.

Cápsulas Cognet .-As cápsulas Cognet de Encalyptol absoluto io-doformo-creosotado conshtuem a mais poderosa medicação a oppor á tu-berculosc pulmonar, e em geral às afíccções do apparelho respiratório.Paris, 43 rua de Saintonege eem todas as pharmacias.

VERDADEIROS GRAOSdeSAUDE ^ DPFRANCK-*****,$ÍS^^tRAINSde Santé

du docteur*\Tranckj

APPROVADOS PELA JUNTA DE HYGIENE 00 RIO DE JANEIRO..., Formula do Codex N° 603

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GAZETA MEDICA DA BAHIAAnno XXVI SETEMBRO, 1894 N. 3

CLINICA DE MOLÉSTIAS NERVOSAS•Hysteria grave.—Cura pela F»sj.-eliotlierapia Suggestiva

Observação pelo DR. A. BARRETTO PRAGUERM. A. 21 annos, branca, solteira, sabendo lêr e escrever

moradora na rua do Saldanha. 'Eis a sua historia succinta e rápida.Teve uma infância que passou-se tranquilla e feliz apresen-tando sempre um desenvolvimento normal.Aos 12 annos teve começo a menstruação que não foi acom-

panhada de phenomenos dolorosos, mas principiando d'essaepocha em diante a ser assaltada por terrores nocturnos, sen-tmdo-se durante o dia nervosa e irritavel. Aos ,, annos deedade foi victima de um ataque de congestão cerebral, prós-trando-a no leito durante 16 dias e conseguindo restabelecer-se.nte.rameme. D*essa epocha até aos a, annos, não soffreunenhuma moléstia grave, sendo entretanto muito perseguidapor symptomas nervosos que iam passando desapercebidos,taes como cephalalgias repetidas, tremores, contracçoes dalace, terrores e um caracter irascivel e versátil.

. Portava-se assim a nossa doente quando, ao chegar em casadepo.s de ter v.sitado uma amiga gravemente enferma, sentiuhorrível oppressaõ com a sensação de um bolo que subia-lheaté a garganta quasi a suffocal-a.

_ Sobresaltados os parentes com o seu estado, um medico foi¦mmed.atamente

procurado. Este encontrou-a em plena criseque explodia pela primeira vez, sendo baldados todos os esfor-ços para fazel-a voltar a si.

SERI IV ANNO XXVI VOL. V.

'. O:-'.

•"¦ ¦ ~: ¦ -. -a,. . ... •.¦!¦..

Durou este primeiro ataque três horas sendo suceedido porum estado de fadiga profundíssimo que prostrou-a no leito atéo outro dia. ,

Recrudesceram d'esta data cm diante todos os encommodosnervosos: nimiamente medrosa, impressionável e esquecida,tinha insomnias quasi absolutas que cessavam para dar lugara pesadelos que despertavam-na no mais lastimoso estado.

Mais um anno passou-se e a doente mostrava-se triste, aba-tida, indiíTerente, este estado mental vindo repercutir sobre asfaculdades emotivas e afflictivas transformando-lhe o caracter.Alguns mezes depois suecederam-se accessos de vertigens

guardando um intervallo de 2, 4 e 5 dias nó máximo.Sobrevieram então perturbações para o lado da visão: per-

cepção dupla dos objectos, sensação defaúlhas sahindo-lhe dosolhos, etc. Mas alguns mezes passaram e as crises tornaram-setão freqüentes que acontecia-lhe por vezes ter mais de umataque por dia.

A causa mais insignificante e trivial fazia-o explodir e,muitas vezes mesmo, irrompia um ataque sem' se poder ligará nenhum motivo.

A aura hysterica annunciava-se por uma sensação de bolo

que subia-lhe até a garganta quasi a suffocal-a, por caimferasnos membros superiores e por uma fraqueza que pouco e poucoinvadia-lhe todo o corpo.

Em seguida, modiíicava-se a physionomia, o olhar fixava-seintensamente, vinha uma pallidez enorme, perdia os sentidos ebruscamente cahia victima de movimentos desordenados,

gritos, que cessavam para dar lugar a um delírio durando todoo tempo do ataque.

N'este delírio tinha visões terríveis e fallava de aconteci-mentos passados ha bastante tempo. Succedia depois uma

phase convulsiva que terminava por um prolongado arco decirculo, sendo os únicos pontos de apoio os calcanhares e oocciput.

Findo o ataque a amnésia era completa.

— 99 -

N^ste tempo, outro medico foi procurado e começou elía afazer uso dos remédios.

Apezar da medicação (bromurêtos e antispasmodicos) não semaniíestou nenhuma melhora, continuando o mesmo estadoque a doente apresentava e os ataques que succediam-rse comuma regularidade admirável

Quatro mezes já eram passados neste modo particular deviver, sem que influíssem n'uma modificação alliviadora to-dos os medicamentos ingeridos.

A doente peorava; havia dias em que não abandonava oleito, permanecendo n'uma apathia profunda da qual só desper-tava para dar lugar á explosão de uma nova crise ruidosa eprolongada.

N'esse ínterim um oulro medico prescreveu-lhe novos medi-camentos.

Decorreram semanas, mezes, e nenhuma alteração mani-festou-se em beneficio do seu estado de saúde.

As crises repetiam-se, os demais phenomenos nervosospersistiam e cada vez mais intensamente.

Parecia que já se estabelecera um habito na suecessãod'elles.

As cephalgias prolongavam-se durante noites e dias, haviaphotophobia, blepharospasmo, sensações dolorosas ora nosmembros ora em certas regiões do corpo, contracturas, phe-nomenos deastasia-abasia, inappetencia, anorexia determinadapela sensação de constricção que tinha no pharynge ao deglutira água, dyspnéa, constipação, etc, taes os symptomas quesubstituíam o silencio das crises. Havia entretanto dias decalma, cessando os tormentos e tribulações produzidas por tãopertinaz e cruel enfermidade.

Infelizmente mais seis mezes decorreram e, apezar da medi-cação, tudo marchava no mesmo. '

Houve o intervallo de uns noventa dias em que a doente dei-xára os remédios, abandonando-se aos simples cuidados dafamilia.

¦'tr' :?

-•?[ '*?y ''''-MíS1** tO0-„-T'

Esgotado este prazo, levados pela teimosia que só a espe-rança sabe emprestar, mais uma vez ainda recorreram á um

terceiro medico.Medicamentos equivalentes aos anteriormente ingeridos, for-

mulas variadamente análogas, eis a therapeutica de novoinstituída.

Entretanto, toi esta a phase da moléstia em que a infelizdoente obteve algum allivio c um bem-estar relativo. Mas nãofoi isto de longa duração; quarenta e cinco dias apenas decor-ridos e tudo voltara ao que era anteriormente.

Como que houvera uma trégua e com esta um revigoramentoda cruel nevróse, pois os assaltos foram mais amiudados eenérgicos.

As crises e todo aquelle cortejo de symptomas alarmantes e

dolorosos pareciam succeder-se numa marcha successivamentecontinuada.

O desanimo trazido pelos baldados esforços dos médicos e

pela inefficacia dos variados medicamentos fizera quasi perdera esperança de cura.

Algum tempo passou-se sem nenhuma alteração até que, em

conversação com um amigo que interessava-se pela doente, fui

convidado a vel a.No dia 12 de Março lá achei-me e tive então o ensejo de

examinal-a e por minha vez estabelecer o tratamento hypno-

suggestivo.Nos antecedentes hereditários encontrei: sua mãe tendo

soffrido, por espaço de alguns annos, de ataques nervosos;uma tia também nervosa e que soffrera por algum tempo deabasia cboreiforme (caruára).

Do exame a que procedi, eis o qoe pude colher: uma confor-mação exterior normal, certo grau de emagrecimento, umdesanimo levado a tal ponto que bem indicava a profundadepressão moral da doente. Os reflexos um pouco exagerados,

principalmente o patellar; anesthesia do pharynge, diplopia

que manifestava-se depois de fazel-a fixar por algum tempo

W IOI —

um objecto, retardamento notável da sensibilidade ao calornos membros do lado esquerdo, placas hyperesthesicas disse-minadas quasi que pelo corpo inteiro, amyoslhenia generali-sada, etc. „

Concluido o meu exame, expliquei qual o processo de trata-mento que pretendia empregar e obtido o seu consentimento ede accordo com a sua mãe, dei começo á primeira sessãohypnotica. Sentada numa cadeira, mandei-a fixar um pontobrilhante que eu apresentava-lhe.

Minutos depois era assaltada por um tremor que começarapelos membros generalisando-se por todo o corpo; suspendi asessão e fiz dissipar-se aquelle estado nerveso, persuadindo-ade que tudo ia passar.

Para que não se repetisse a mesma cousa, mudei de pro-cesso.

Meia inclinada, n'uma posição commoda, ordenei que pen-sasse fortemente em dormir; depois,... repetir.do-lhe sempreque dormiria, fui abaixando as suas palpebras vagarosamente,cerrei-lh'as completamente e fazendo pequena pressão sobre osglobos ocuíares affirmei com energia, após poucos minutos,—está dormindo!

Desde então a doente offereceu bem claramente todos osphenomenos da hypnose profunda.

Como é de bôa indicação, realisei esta primeira sessão coma maior brevidade, suggerindo lhe apenas uma noite socegadae um somno muito calmo.

Voltei no dia 140 fui informado de que as suggestões tinhamtido o melhor resultado. Esta segunda sessão foi realisada.usando do mesmo processo para obter a hypnose e fazendo assuggestões seguintes:—Ao acordar ter um ataque na minhapresença e ser este o ultimo, não ter mais tremores, não termais dores de cabeça, ter appetite, continuar a dormir bem.

Insisti fortemente n'estas suggestões, fiz com que ella, du-rante o somno, repetisse quanto eu dissera e, cinco minutosdepois acordava-a, tendo cila, decorridos alguns instantes, um

Ü+^-str-JZ.-r¦•¦¦-' ¦-"¦¦

— roa —

ataque fortíssimo que fiz suspender após alguns momentos,asseverando lhe, ainda uma vez, ser o ultimo.

E' de notar que esta doente mostrou-se sempre perfeita-mente suggestivel, mesmo em estado de vigília, desde a pri-meira sessão.

Dia 18.—A doente estava animadíssima, tivera appetite, dor-mira bem, e de nenhum encommodo se accusava a não ser oestado de fraqueza e abatimento accompanhado de caimbras nosmembros superiores e inferiores.

Hypnotisada, repeti-lhe as suggestões feitas na sessão ante-rior e mais estas:—Não sentir fraqueza, tornar-se forte, achar-se bem disposta para qualquer trabalho, desapparecereminteiramente as caimbras;—sendo esta ultima suggestão accom-

panhada de massagens nas pernas e braços.

Passados oito minutos despertei-a; ella sentia-se bem, dei-

xando-a ainda mais animada e muitíssimo convencida *de

um

prompto e próximo restabelecimento.Dia 22.—Encontrei-a a costurar com um desembaraço e bôa

disposição que bem indicavam a placidez e animação de sua

physionomia. A doente passava bem e as mesmas suggestõesloram repetidas.

Dia 28.—O seu estado era o mais lisonjeiro; dizia comenthusiasmo: «já estou curada! não tive mais ataque, durmobem, tenho vontade para comer, vou me sentindo forte, passo o

dia satisfeita, apenas tenho um esmorecimento nas pernas du-

rante algumas horas do dia.»

Adormecida, faço-a reflectir sobre todas as suggestões feitasnas sessões anteriores e, fazendo-lhe massagejis, insisti eradizer que acordaria livre do esmorecimento das pernas, queestas d'ora em diante seriam fortes.

Despertada, mandei que andasse e após alguns instantesrespondeu-me: «Nada mais soffro, si quizesse poderia subiruma grande escada!»

Dia 8 de Abril.—Apresentou* se-me risonha, animada, sem

— IOJ —

ter de que se queixar, forte, e asseverando estar inteiramente

restabelecida.Apezar d'isto, realisei mais esta sessão, onde suggeri-lhe ser

esta a ultima pois estava curada.No dia 14 de Maio procurei vêl-a e verifiquei què o seu res-

tabelecimento parecia completo.As crises nunca mais se repetiram, as cephaléas que a victi-

mavam, os tremores que prostravam-na o dia inteiro, os phe-nomenos de asíasia-abasia, as insomnias, etc, etc, tinhamdesapparecido de uma vez; a doente gozava de um bem-estar

que até então desconhecera.No dia 19 de Julho, tendo eu regressado de uma viagem que

fizera, procuro vêl-a de novos.Surprehendi-me com o seu aspecto; íorte, bastante nutrida,

corada, mostrava gozar da melhor saúde.Esta apenas fora perturbada por uma grande nevralgia de-

vida á um dente careado. No dia 8 de Julho procurara um den-tista que fez-lhe a extracção no meio de dores atrozes, seguin-do se-lhe uma hemorrhagia que persistira muitas horasdepois.

Apezar da operação continuava a nevralgia e verifiqueicomo causa, a presença de mais dous dentes muito estragados;mas, disse-me, lhe seria imp ssivel extrahil-os lembrando-sede quanto soffrera ao arrancar o primeiro. Animei-a a tiral-os

assegurando-lhe ser feita a extracção d'esta vez sem dôr, e

tendo-a convencido, combinamos acharmo-nos no dia imme-

diato no gabinete dentário do meu amigo Pedro Ramos.Eram 11 horas do dia, depois de tel-a hypnotisado começou

a operação que durou quatorze minutos.Foram duas extracções difficeis, os dentes muito estragados

não offcreciam nenhuma resistência, tornando-se indispensável

o recurso das alavancas. Apezar de laboriosissimo, o trabalho

foi realisado com a maior perícia, e cuidado.Durante todo este tempo dormia a paciente calma e impas-

sivel.

"' r..;-;;.^,|i04.*-- -V

Terminada de todo a operação, o Sr. Pedro Ramos fez-lhe

curiosamente esta pergunta: -Não sentiu dôr nenhuma?—«Não,

mesmo porque não recordo-me de cousa alguma.»Assim respondeu ella.Algum tempo depois, retirava-se tranquilla, muitíssimo

satisfeita.Hoje, após seis mezes, posso asseverar que M. A. está curada

e nada vem indicar que seja temporário tão lisonjeiro resultado,

está forte, gorda, inteiramente regenerada.Eis portanto uma observação que julgo vem servir de subsi-

dio aos créditos de uma therapeutica que ainda entre nós,

infelizmente, não conta muitos proselytos convencidos e dedi-

cados.Um ceito numero d'aquelles que deviam ter idéas as mais

largas, fazem uma opposiçâo quasi systhematica á Psychothe-

rapia Suggestiva. Mas, que ha nisto de espantar? Não se tem

visto a rejeição de idéas, que nem sequer foram julgadas dignas

da mais simples attenção, serem posteriormente acceitas com o

caracter do mais criterioso valor?Apezar de alguns sorrisos estereotypados de incredulidade,

nos casos de sua verdadeira applicação saberemos fazer reco-

nhecer o valor clinico da Psychotherapia.A suggestão para um fim therapeutico, tal como ensina a

Eschola de Nancy, tal como eu pratico e deixei explicado no

meu trabalho inaugural—Da Psychotherapia Suggestiva,—não

apresenta nenhum perigo absolutamente.Clamam entretanto que o hypnotismo faz a hysteria, faz a

alienação mental.Mas, só poderá dizer isto quem não tem a idéa exacta do que

é a suggestão, quem esquece ou ignora a jpbservação dos

factos fazendo valer uma idéa preconcebidamente falsa, quemnão dispondo da aptidão indispensável á tal methodo, encara

a questão do alto de sua incompetência ou tira conclusões, é

verdade que erradas, mas perfeitamente de accordo com os

seus desastres ou echees.

- io5 -

Muito acertadamente diz Bernheim:«Parmi les nombreux névropathes qui réclament le traite-

ment hypno-suggeslif, il est, par exemple, des candidats àPaliénation mentale, que Ia suggestion ne previent, ni neguerit.

Parmi ces névropathes, il y en a des predestines chez quiplus tard peut éclater le germe natif et latent de maladies céré-bro-spinales ou de Paliénation mentale. Attribuer à Ia sugges-tion ce qui est dü à 1'innéité, c'est commettre une errcur cliniquecontrelaquelle proteste ma longue expérience.

Parmi les névropathes traités par le bromure, Ia valériane,il cn est aussí grand nombre, qui un jour ou 1'aulre paient leurtribut au vice originei de leur organisation. Accusera-t-on Iavalériane, le bromure, 1'hydrothérapie de faire de 1'hystérie, defapx de Ia folie?

O que é verdade é que o numero elevadíssimo de rnedicoseminentes dentre os quaes se poderá contar verdadeiros sábios,não viram ainda, praticando a Psychotherapia Suggestiva,segundo as suas verdadeiras indicações, sobre milhares deindividuos, resultar do seu emprego o mais pequeno inconve-niente.

Como um extraeto da veracidade dos factos, concluo dizendo:«A Psychotherapia Suggestiva cura muitas vezes, alliviaquando não cura, é inoffensiva quando não pode curar.»

HYG1ENE_PUBLICASaneamento da Btaliia—IProjecto

cVesgotos QV~Publicamos neste numero o edital da Intendencia Municipal

desta capital abrindo concurrencia para o serviço d'esgotos,e em seguida a memória justificativa do projecto apresentadopelos engenheiros Justino da Silveira França e Adolfo Mo-rales de los Rios, sobre o qual o Conselho Geral de Saúde

[BERI IV ANNO XXVI VOL. V. |q

• :»-'—-p: ;*|<>6. ¦;:-;'-' :.:,dd-.,::-.¦-.¦ or-d

Publica emittio já parecer, que também publicaremos oppor-tunamente.

EDITALAbrindo concutrencia para o serviço de esgotos da cidade

de S. SalvadorA Intendencia Municipal desta capital, no intuito de atten-

der á urgente e inadiável necessidade de prover ao saneamentodesta cidade, dotando-a de um serviço completo de remoçãode immundicies, de accordo com os preceitos da scienciamoderna, particularmente no perimetro urbano propriamentedito, onde é mais condensada a agglomeração de habitantese, por conseguinte, maior a contaminação do solo e o infe-ccionámento da atmosphera, resolve abrir concurrencia para oreferido serviço, convidando os proponentes, pelo presenteedital, a apresentarem seus planos e projectos devidamentelegalisados, e com todas as condições para a estipulação defi-nitiva do contracto, até o dia 31 de dezembro do correnteanno (18931, (1) na secretaria desta intendencia, observadasas seguintes bases.

i.a

O systema de esgotos a se estabelecer obedecerá em tudoao plano do professor de hygiene da Faculdade de Medicinadeste estado, dr. Manuel Joaquim Saraiva, o qual foi appro-vado e adoptado unanimemente pelo 30 Congresso MedicoBrazileiro.

2.»¦ A rede de esgotos, que será do systema unitário ou de ca-nalisação integral, «tudo ao esgoto» comprehenderá toda a áreaentre o Campo Grande e o extremo da península de Itapagipe,dividindo-se por districtos, cujos ramaes e conduetores prin-cipaes se dirigirão ou convergirão todos para um collectorcommum, que sc estenderá por toda a rua da Valia, acom-

panhando o curso do rio das Tripas até sua juneção com oCamorogipe, e d'ahi até á costa do Oceano, ao lado do RioVermelho, alem do Monte do Conselho,

(l) Este primeiro prazo foi prorogado até 31 de Março do corrente anno.

¦ ^ •".'*': — 107 —

As matérias dos esgotos da cidade baixa, das Pedreiras áJequitaia, ás quaes, na opinião actual do dr. Saraiva, se deve-rão incorporar as da Calçada até Itapagipe inclusive, serãosuspensas para a cidade alta, afim de terem destino ao colle-ctor, por meio de uma machina, «systema Farcot», podendoser assentada com uma pequena elevação de 7 a 8 metros, naaltura da ladeira da Soledade, por onde irão altingir ao valledo Camorogipe.

3*"Em nenhuma hypothese, poderá ser aproveitado, em

qualquer de suas partes, o encanamento que serve actualmentenesta cidade para remoção dos dejectos e águas servidas.

4*aAlém das lavagens espontâneas dos esgotos pela água dos

gabinetes de toucador, dos banheiros, dos water-closets, daslavanderias, dos mictorios públicos: e pela água das chuvasque elles recebem das coberturas das casas, dos pateos e dasruas, installar-se-ão cm pontos convenientes, aquém ou noápice dos conductores principaes, bacias 00 reservatórios dechasse automática, devendo ser preferidos os do typo Field-Waring.

Sendo necessário que a água chegue a todos os gabinetes elatrinas, bem como ás bacias de chasse automática, em quanti-dade precisa para realisar uma fluctuacão sufficiente nos esgo-tos, o contractante promoverá os meios para o augmento doseu volume actual, podendo, si fôr necessário, para alimentards referidas bacias, suspender água do mar.

s**Do ponto de partida até sua terminação, a rede dos esgotos

será constituída: pelos apparelhos de latrinas; os tubos decasa (pipe-houses); drenagem das casas, isto é, os tubos dequeda e os conductores existentes no sói o das habitações(soil-pipes); os ramaes particulares (drain-pipes); os esgotosdas ruas; e, finalmente, o collector. Como partes comple-mentares: a machina Farcot; apparelhos convenientes para

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- 108 /- ''

e«mg,r a msuffiaencia de declive do encanamento da Calçadaa *apag,pe; as bacias de cW automática; apparelhos do«esmo gênero, automáticos ou não, para as latrinas; portasde reclusa automáticas para favorecer a citasse no inte ior dosesgotos; syphões e outros obturadoresa

Dentre os apparelhos receptores, «walerclosets»t devem seri vtmai08 rlun:doDam por md° d° *^° „„,: zS>. ventdaao pelo ap.ee, un couronne», isto é, exercendo-se a_ZZZ na curv;saii—- do'syphro ti:d.a.amen.e para traz do reservatório ''água

(garde *__«),tendo ao mesmo tempo o tampão para asseio, como os dosengenheiros Geneste e Herscher.O water-closet de Jennings, f typo, o flr/«a«/«ei e os dosystema de combinação da casa Doulton, representarão o ao-parelho receptor das latrinas das casas, cujo preço de locaçãonao seja elevado. v

Collocar-Bc-á, como complemento indispensável de qualquerd stes apparelhos, quer o reservatório de cH_sse de ferro, ypod Rogcrs-F.cld, quer o apparelho de jorro (cha...) automa-Uco s,mplcs systema Herscher-Carrett, Flicoteaux, AmondHerber ou Dolton, conforme preferirem os respec vos prola

Todos os tubos das casas (tubos de queda o conduetores)poderão ser de metal, ferro ou chumbe, ou de barro, enver-msados mter.ormet.te, sendo imprescindível que a parede in-terna destes últimos seja perfeitamente lisa e duraOs ramaes particulares (drain-pip..) poderâo scr ,.rondTçõeesPreSent S P°r "jb°S dC barr° °U de lou«a ¦«"»

Os canaes dos esgotos propriamente ditos serão constituídospor tubos degrez, lambem envernisados interiormente.

Os ramaes particulares, isto é, os tubos que ligam as casasaos esgotos, terão ,a a ,- centímetros de diamc.ro; os esgo-

— loç —

tos das ruas, 20 a 60; e o collector, 120 centímetros. Estaultima ordem de canaes será constituída por tubos ou blocosde grez.

8.»

As bocas dos esgotos serão providas dos apparelhos rece-piores denominados gullys, sem oceluão hydraulica; pelo que,não deverão absolutamente ser destinadas ao encanamento aságuas de praças, ruas e patcos, que não tiverem calçamento.

Estabelecer-se-ão em pontos convenientes canaes de deri-vação [déversous de necessite), que rejeitarão para o mar,mesmo dentro da bahia, as águas das enchentes grandes esúbitas por chuvas abundantes.

9*'A ventilação dos esgotos se fará, em cada casa, por meio

de um só tubo, partindo do ramal particular e prolongando-sealém do telhado ou cobertura; estabelecer-sc-á sua commu-nicação, por tubos lateraes, com os gabinetes de cada pavi-mento, prestando-se deste modo a ventilar os syphõcs obtu-radores de cada apparelho receptor.

Os receptores das bacias do.* gabinetes de toucador, a mesapara lavagem dos utensílios de louça (ervier) c o banheiro,teião syphõcs, typo Geneste.

Todos os syphõcs serão assim ventilados pelo tubo commum,dispensados os syphões obturadores na juneção destes tubosde descarga.

Os tubos de queda das chuvas da fachada anterior seguirãosem desconnexão ate ao esgoto ou ao ramal particular; osseus correspondentes da fachada posterior dirigir-se-ão parao drain da casa. As aberturas de visitas existentes nos con-duetores desta serão obturadas por meio de tampas herme-ticas com estribos.

Completar-se-á a ventilação dos esgotos, iazendo passar arde entrada, atravez de tubos partindo das lendas praticadas nobordo superior dos passeios, devendo, com o mesmo intuito,

— no —ser perfuradas em vários pontos as placas das aberturas dasruas para visitas.

io.aOs materiaes de construcção, apparelhos e mais disposi-

tivos indicados neste plano, só de accordo com a municipa-lidade poderão ser substituídos por outros que a scienciavenha indicar como de superioridade incontestável, perante ahygiene e a engenharia sanitária, e já tenham sido applicadoscom resultado evidente em alguma cidade importante.

ii."O emprezario se obrigará a contractar conduetores de

obras que possuam pratica adquirida e demonstrada em con-sírucções desta natureza, para se encarregarem de dirigir aexecução de todo o plano do systema de esgotos que se vaeinstallar.

12."

O emprezario gosará da preferencia, em egualdade de cir-cumstancias, para o eontracto das outras duas sub-secções doserviço de esgotos, que terão de ser ulteriormente installadas,no Rio Vermelho, a entroncar-se na extremidade terminal dogrande collector commum, e na Victoria e Barra, degpejan-do-se no Oceano, para alem das Quintas, segundo o systemade Waring ou outro que por ventura venha a preferir o Con-selho Geral de Saúde Publica, opportunamente ouvido arespeito.

Intendencia Municipal da cidade de S, Salvador, capitaldo estado da Bahia, cm 5 de maio de 1893.—Dr. José Luii deAlmeida Couto.

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*s

Saneamento daBahiaPROJECTO DE ESGOTOS

MEMÓRIA JUSTIFICATIVA APRESENTADA A INTENDENCIA MUNÍC1PALPELOS ENGENHEIROS J. SiLVEIRA FlUNÇA E A. MoRALES DELOS Rios.

Considerações preliminaresA digna intendencia municipal da capital da Bahia, no

louvável intuito de attender á urgente e inadiável necessidadede prover ao saneamento d'esta cidade, resolveu, por edital de5 de Maio de 189}, abrir concurrencia para o referido serviço,convidando os proponentes a apresentarem seus planos e projectosdevidamente legalisados e com todas as condições para a (slipu-lação definitiva do contracto, observadas as bases do plano doprofessor de hygiene Dr. Manuel Joaquim Saraiva.

Estas palavras revelam claramente o pensamento c os in-tuitos do benemérito intendente, a respeito da melhor maneirade realisar o importantíssimo mclhoi amento, de que carece estacidade.

Effectivamente não é preciso muito'esforço para chegar ásseguintes conclusões:

i.° A intendencia considera o saneamento da cidade comoum serviço urgente e inadiável, e por consequencia exige impli-citamente de quem se propuzer a realisal-o que o faça no maisbreve tempo possivel.

2.0 Como corollario da r condição os proponentes devemapresentar planos e projectos, além das cláusulas ordináriasque fazem parte de qualquer proposta.

3.0 Estes planos e projectos devem ser feitos de accordo comas bases estabelecidas no edital, e que não são sinão o sys-tema de esgotos proposto pelo provecto professor de hygieneDr. Manuel Joaquim Saraiva.

Não possuindo a intendencia uma planta da cidade, nem osnivelamentos de suas ruas e de outros pontos essenciaes paraa organisação de um projecto de esgotos, e de outro lado con-siderando que si fosse mandar fazer este trabalho antes de

— na — ¦

abrir concurrencia consumir-se-hia muito tempo e adiaria por-tanto a execução das obras do saneamento, preferiu sem du-vida deixar aos proponentes a tarefa de procurar todos os dadosque julgassem necessários para resolver-se o problema.

' *

Foi assim considerando e procurando tornar uma realidadeimmediata o pensamento humanitário e de elevadíssimo ai-cance da intendencia municipal, que mctlemos hombros ásrdua empreza de apresentar um plano completo de sanea-mento e um projecto de esgotos baseado sobre o programmado professor Saraiva.Não foi sem grandes dificuldades que conseguimos apresen-tar um trabalho, sobre cujo merecimento se pronunciarão não< so o d*gno intendente, como também as diversas competências

que tiverem o ensejo de tomar d'elle conhecimento.A falta de uma planta cadastral, ou mesmo de uma plantaordinária da cidade, a carência dos níveis de suas ruas e deoutros pontos necessários, a penúria de dados estatísticos,demographicos, climatologia», etc, obriga.ram-.nos a colligircom grande custo e trabalho todos estes elementos, e n'este

particular, os planos que apresentamos, sinão são absoluta-mente rigorosos, servem todavia de base para ulteriores estu-dos da parte topographica, carecendo apenas de pequenasrectifieações, que em nada alteram a rede de esgotos.Outra dificuldade não menos importante que tivemos devencer foi a que se refere ao traçado do collector geral.Si bem que no edital esteja determinado o valle do Gamo-

rogipe para a directriz do traçado, indo terminar no oceanoalém do Monte Conselho, no Rio Vermelho, os estudos minu-ciosos que fizemos de outros talwegs ou valles, próprios paraeste gênero de trabalhos, levaram-nos a apresentar outra solu-ção que, em nossa humilde opinião, satisfaz melhor a todas ascondições quer de ordem econômica e technica, quer de ordemhygienica.

Em logar opportuno serão discutidos os diversos traçados

que apresentamos, competindo á intendencia pronunciar-sesóbria escolha da solução que julgar mais conveniente.

Outro problema importantíssimo que tivemos de resolverversou sobre a melhor maneira de drenar a parte baixa dacidade e de elevar as águas nocivas para a cidade alta, afim deterem destino ao collcctor geral.

Si bem que a cidade de S. Salvador, na sua parte alta, pelanatureza de sua topographia, adapta-se admiravelmente ainstallação de um serviço de esgoto pelo systema denominado—Tudo ao esgoto—ou integral, no seu littoral, ou na parte baixa,não offerece as mesmas facilidades.

Em logar competente vem indicada a solução que adopta-mos para estes problemas.

Assim, pois, o trabalho tcchnico que offerecemos ao critérioda digna corporação municipal contem todas as ideas geraessobre a queslão, bem como a resolução de todos os proble-mas essenciaes, carecendo apenas de poucos estudos de deta-lhe, para que possa desde logo entrar em execução.

Julgamos d'est'arte ter correspondido aos intuitos da inten-dencia, ás exigências do edital e ao modo mais fácil e judicio-so de realisar o importante e inadiável melhoramento, que virácertamente abrir uma nova era de prosperidade para estacidade.

NECESSIDADE INADIÁVEL DOS ESGOTOS

IUm illustre viajante francez, Mr. Atfred Maré, pouco insus-

peito em seus conceitos pela grande sympathia que, em seusescriptos, tem demonstrado para com o Brazil, referindo-se acidade de S. Salvador, por oceasião de sua visita em 1889,diz: (r).

«O que falta principalmente a uma grande cidade como aBahia é um systema de esgotos", que melhore as condiçõeshygienicas em que vivem seus habitantes. E' mesmo de estra-

Cl) Tomo i- pag. 303 da obra «de Brésil».8ERI IV ANNO XXVI VOL .V. | -

— i'4 -

nhar que não se tenha de ha muito iniciado este trabalho desalubridade publica.

Entretanto, como diz um dos seus administradores, o Conse-lheiro Bandeira de Mello, a disposição topographica d'estacidade não pode ser mais favorável á installação de semelhanteserviço. Ella é montanhosa, muitas das suas ruas offerecemdeclive sufíiciente para uma drenagem ou evacuação geral,poder-se-hia,pois, dotal-a com este melhoramento sem extra-ordinárias despezas. Os quarteirões edificados na base damontanha são muito próximos ao mar e sua superfície é bas-lante reduzida, de modo que a modificação dos encanamentosnão seria muito dispendiosa. E 'precisamente esse centro com-mercial o que mais se acha prejudicado por semelhante estadode cousas.»

Pode-se dizer, sem receio de errar, que esta opinião é parti-lhada pela maioria dos habitantes d'esta cidade c por todos quetêm tido occasião de conhecel-a.

Todas as pessoas que tiveram o ensejo de ver os nossosplanos no eseriptorio e no Rio de Janeiro, mostravam-se sur-prehendidos ao saber que a capital do rico e culto estado daBahia não tinha ainda lão importante c necessário melhora-mento,

Maior, porém, seria a estranheza de todos, si tivessem ocea-sião de conhecer, como nós, os processos quasi primitivosporque se faz a evacuação diária das águas empregadas nosusos domésticos, bem como das matérias fecaes.

A necessidade que tivemos, para organisar o projecto, depercorrer todas as ruas, beccos e viellas d'esta grande cidade,fez-nos conhecer o lastimosíssimo estado em que se acha estacapital no que diz respeito a esgotos.

Muitos dos seus moradores vêem-se na dura necessidade derecorrer ao primitivo systema de despejos, que consiste ematirar o produeto das exonerações intestinal e vesical pelasjanellas sobre a cabeça dos transeuntes ou pelas portas sobreas calçadas das ruas.

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Quem, por vontade ou negocio, precisar ir, por exemplo, aobecco dos Perdões, entie a rua do mesmo nome e o largo deSanto Antônio, terá o ensejo de assistir um espectaculo queem nada abona a hygiene publica de uma cidade. Lá, existe,com effeito, debaixo do convento dos Perdões, uma antigavalia que segue na direccão da '.adeira da Água Brusca, na qualvertem-se as águas e irnmundicies de todo o quarteirão. Oaspecto repugnante da bocea receptora d'aquellas águas, o máocheiro que d'ella exhala, empestaudo o ambiente, é de causarnáuseas.

Muitos outros logares análogos poderíamos contar, sendoporem inútil fazel-o, visto como são bastante conhecidos.

A imprensa quasi diariamente registra diversos pontos, emque é péssimo o estado dos encanamentos existentes e pedeprovidencias no sentido de evitar o desenvolvimento de febresde máo caracter.

Pode-se dizer que semelhante estado de cousas acha-se forado alcance de qualquer providencia eflicaz.

Não ha nem pôde haver auctoridade sanitária ou junta dehygiene que possa impedir estes despejos, visto que estasituação se origina, antes de tudo, da falta absoluta de uma boadrenagem urbana.

D'ahi provem que na cidade se nota esse cheiro especial e suigeneris que ás vezes torna insuportável a passagem em certoslogares.

Dias ha em que esse cheiro de cova, como expressivamenteo denomina um hygicnista, é geral em toda ella, denotando aexistência de grandes massas de matérias orgânicas em decom-posição.

Si dos esgotos públicos passarmos á drenagem domiciliariae aos apparelhos de latrinas geralmente empregados, podemosasseverar, sem receio de sermos taxados de exagerados, que aBahia realisa o programma invertido de um saneamento urbanobem entendido, o qual, segundo o hygienista Ch. Barde, con-sistiria no seguinte regulamento:

w u6 —

1.* Os W. C. ou latrinas achar-?e-hão collocados cmloga-res tão escuros quanto for possivel, sem outra ventilação alémda que lhe fornece um postigo, que ás mais das vezes commu.nicará com a escada, da casa ou da cosinha; ou então serãocollocados no quintal despejando no jardim.

a.* Os apparelhos receptores das latrinas serão collocados demodo a reter o mais possivel as matérias que n'elles cahirem»quer nas platibandas do apparelho, quer no fundo do coneinvertido; quando isto não aconteça, os apparelhos deverão teruma camada de crosta adherente tão forte, quanto for compa-tivel com a ausência d'água e lalta de limpeza.

Os apparelhos receptores deverão ligar-se aos encanamentosde despejos, de maneira que os gazes desprendidos possampenetrar facilmente nos commodos habitados.

O orifício inferior das bacias das latrinas deverá ser suffi-cientemente largo para que por elle possa ser despejado tudoquanto for possivel, até total obturação do encanamento desahida.

3.0 Quando não se achar outro remédio sinão empregar tubosde grez ou de ferro que sejam estanques, deve-se fazer o pos-sivel para que as juntas deixem pelo menos escapar os gazescontidos no tubo de descarga.

Este será de bastante diâmetro para que só possa ser limpoimperfeitamente pelas águas n'elle vertidas e se tomarão todasas precauções precisas, para que esse conduetor despeje o maispossivel os gazes nocivos nas habitações.

4.0 O mais perto possivel do limite inferior do tubo de quedaou onde convier, comtanto que seja dentro da área do prédio,armazenar-se-hão todas as matérias fecaes, cuidando-se aomesmo tempo que ellas ahi permaneçam o mais possivel.

Para obter-se este resultado empregar-se-hão materiaes dosmais porosos, permittindo infiltrações no sub-solo e combi-nando-se estas obras com um systema de tubos de despejomuito complicado, de difíicil escoamento e pouco menos queimpossível de serem examinados.»

— "7 —

Não pode haver critica mais terrível do que este projecto depostura apontado pelo eminente hygienista, no qual parecezombar-se de tudo quanto é hygiene.

O mesmo auetor acerescenta:«Por mais que pareçam impossíveis esses Inconvenientes no

todo ou em parte, acham-se reunidos na maioria das habitaçõese devo accrescentar que, si um estrangeiro fosse enviado peloseu governo para fazer um relatório a respeito da drenagemdomiciliaria de Genebra (2) escreveria pouco mais ou menos oque fica resumido n'esta postura, como eu mesmo tenho tidooccasião de verificar um sem numero de vezes. Raras excepçõesem nada modificam a regra. Estou persuadido de que o mesmoacontece na maioria das cidades.»

A Bahia está comprehendida n'esse numero.E para proval-o, sinão fosse sufíiciente o que precedente-

mente já ficou exposto, vamos transcrever as seguintes palavrasdo eminente professor Dr. M Joaquim Saraiva, na memóriaapresentada ao 3.» congresso medico brazileiro.

O desasseio d'esta capital, os máosTheiros na atmosphera,tanto no interior como no exterior das habitações, provemessencialmente dc causas que a canalisação completa de todasas immundicies faria seguramente desapparecer:— As águasservidas e impregnadas de detrictos lançados nos regos e nas sar-getas das ruas, a pratica detestável do accumulo da integridadedas matérias excrementicias em aberturas ou brechas feitas nospateos, ficando assim entregues ao poder da oxydação do solo, adispersão dos objectos sobre a via publica, confiando-se o seudesapparerimento aos animaes e aos agentes da meteorologia, oc. ie é sem duvida um processo bem inferior ao que Moysés-udinava aos seus nômades.

«As exhalações dos gazes, sobretudo, a suspensão das sub-stancias odorantes, e talvez a suspensão de moléculas orga-nicas, que se escapam da matéria pútrida, sem arrastarem amesma conseqüência especifica, eumo a infecção do ar pelos

(Sj Cidade onde escrevia o referido hygienista.

¦«¦¦"5í»i .. .«» ¦«T.nsii.rTe-.Tr-iTi^»-^;-» ¦?wq^" •:-,¦'?:'íwi'^7J»rin«»7

— 118 —

germens mórbidos, têm, entretanto, uma influencia sanitáriadas mais fataes; ellas tiram ao ar normal suas propriedadesvivificantes e deprimem a vitalidade dos grupos urbanos.»

Que imagens poderíamos nós apresentar á consideração detedos os que se interessam pela resolução do problema, emboa hora encetado pelo digno intendente municipal, quevalham a descripção acima transcripta da memória do illustreprofessor?

A Bahia, achando-se no caso d'aquellas cidades de que faliaCh. Barde, não deve consolar-se por estar em tão numerosacompanhia, devendo, pelo contrario, encetar, quanto antes,como muitas d'ellas, a reacção de um melhoramento tão cara-eteristico do estado de progresso de uma cidade.

Na verdade, não se comprehende como a Bahia, a directorapor tantos annos do espirito publico brazileiro, a pátria detantos homens notáveis na sciencia e no governo, nas artes e nalitteratura, tenha descurado a sua existência edilica, até aoponto em que a vimos hoje e cuja situação não tem a excusa deoutras cidades, em quea topographia torna diflicil a realisaçãodo saneamento, como Amsterdam, Barcelona e Nápoles que,entretanto, já tem realisado este commettimento importantis-simo para o desenvolvimento moral e material de seus habi-tantes.

Só a esplendida situação d'esta capital açoitada por todos oslados pela brisa das montanhas e do alto mar, tendo um solosecco e de profundíssimo lençol d'agua, é que pode explicar aimmunidade de que até agora tem gosado, para determinadaspyrexias, que não tem poupado o Rio de Janeiro, Pará eSantos.

Todavia não são menos terriveis as tristes lembranças depassadas epidemias e de que não poderá escapar, apezar desuas condições naturaes de grande salubridade.

Estas calamitosas circumstancias podem repetir-se, talveznão estejam longe os dias de provação, e n'estas condições não

'— H9-

prever é correr premeditadamente ao suicídio, é cruzar os bra-

ços ante o sacrifício das vidas no altar da incúria.Basta que uma alteração de temperatura, que uma polluição

qualquer venha addicionar-se ás exhalações hydrogeno-sul-

phuradas e ás emanações ammoniacaes que diariamente respi-ramos; que, por circumstancias diversas e ainda pouco conhe-cidas em seus differentes aspectos, venha o terreno, sobre queestá assente a cidade, a paralysar os seus providenciaes effeitosde nitrifícação, basta isto, dizemos, para que a bactéria patho-genica inerte, o micróbio febrigeno, aninhado na poeira, aqueocido pelo sol, humidecido por um accidente atmospheric-

qualquer e levantado pelo ar, se introduza no individuo, pelosbronchios, nos pulmões, pela bocea, nós intestinos, pela águae com o sangue, em todo o organismo, e a pyrexia temidadesenvolver-se-ha rápida e mortal.

D'ahi a transformar-se uma moléstia em pyrexia contagiosanão existe sinão um passo.

O tempo gasto por uma intoxicação palustre em transformar-se em infecção typhoide, de cumplicidade com o mais próximoencanamento ou latrina em más condições hygienicas, o cycloem que se desenvolve uma bactéria determinada, transfor-mando-se em outra de indole contagiosa com a co-participaçãodas águas do primeiro tanque, em que sc lavem as roupas deum doente; a demora d'essas mesmas águas em escorrer nasruas expostas ao calor são causas suflicientes para a manifes-taeão de uma epidemia, irròmpendo-se em todos os ângulos dacidade.

Oxalá não seja isso o que já esteja sc elaborando sob nossos

pés!O saneamento da Bahia impõe-se como uma necessidade

absoluta.O melhoramento das condições hygienicas das cidades além

de ser hoje um marco orgulhoso do gráo de sua civilisaçâo, temtambém um fim econômico.

O seu principal intuito é poupar a mortalidade ás aterra-

120-r-

doras cifras que, em oceasiões dadas, são a causa da ruína deuma comarca ou da estagnação do seu progresso. O máoestado hygienico conservando a existência de organismosenfraquecidos e debilitados, determina a morte dos tempera-mentos fortes e bem equilibrados que, por isso mesmo, sãomais aptos a todas as absorpções quer salubres e reconsti-tuinles, quer mephitícas e insalubres.

Na Bahia, onde existe um corpo medico cujo glorioso nomese acha escripto em lettras de ouro nas paginas de sua historia,não precisamos adduzir argumentos hoje de todos conhecidospara patentear a indeclinável necessidade que ha em melhoraras condições hygienicas d'esta cidade, como preparo aos pro-gressivos impulsos do desenvolvimento de seus habitantes.

Basta reproduzir aqui o que com tanta proficiência tem sidopregado tanto da cadeira de hygiene da Faculdade de Medicina,como das columnas da imprensa diária e profissional e noscongressos médicos pelo insigne professor Dr. Saraiva, dequem já temos feito e teremos ainda de fazer honrosa mençãon'este tosco, trabalho.

Para julgar dos merecimentos d'esle illustre profissional nana questão de que se trata, e da consideração que deve mere-cer sua opinião, é bastante dizer que, quando, cemo theorianova em matéria de saneamento, o celebre Alphand lançou ápublicidade, por occasião de tratar-se do melhoramento deMarselha, as importantes idéias, que são hoje o cathecismo e abase d'este gênero de trabalhos, já ò professor Saraiva, aqui

no Brazil, onde as idéias de seus filhos nem sempre temo echoque merecem, de ha muito havia publicado as mesmas idéias efoi sobre ellas que se organisou o projecto de saneamentod'aquella cidade.

Sirvam, pois, de fecho a este capitulo as seguintes palavrasdo illustre hygienista:

cAs municipalidades, as delegações sanitárias, são hoje emdia obrigadas a tomar resoluções as mais serias sobre a orga-nisação do saneamento urbano.

— 131 — ,

«Desde que sabe-se, como pode dar-se a impregnação pu-blica do sole» e das águas e o empestamento da atmosphera,como pode ser atacada a integridade dos meios, sabe-setambém os modos de protecção d'elles.

Desde que sabe-se, sem que d'isso se possa duvidar, quetodas as moléstias contagiosas e transmissíveis são devidas ágermens que podem ser cultivados e observados, sabe se aomesmo tempo que pode ser estabelecida a preservação contraa producçao generalisada d'estes germens, sabe-se, em umapalavra, que a medicina, quanto a todas estas moléstias, entrana hygiene.»

Emprehenda-se, pois, com denodo, o saneamento d'estacapital e sejam dados encomios eo digno e zeloso intendenteConselheiro Almeida Couto por haver em boa hora mettidohombro.a tão árdua e gloriosa tarefa.

Já se achavam escriptas estas linhas quando a meçou a serpublicado o relatório apresentado ao conselho municipal pelodigno intendente, a quem tanto deve já esta capital.

Da parte que se refere á salubridade publica, transcrevemoso seguinte trecho, que é mais uma confirmação de tudo quantotemos dito n'cste capitulo:

«A necessidade reconhecidamente urgente e inadiável deprover ao saneamento d'esta cidade, principalmente no peri-metro urbano propriamente dito, onde é mais agglomeradae condensada a população e, portanto, maior a contaminaçãodo solo e infeccionamento da atmosphera, não podia deixar deimpor-se ao meu e ao vosso espirito, para procurarmoseffectual o, convertendo assim, em breve tempo, em uma reali-dade, tão reclamado beneficio, ante o qual as condições hygie-nicas d'esta capital passarão por uma transformação, que, fran-camente, assignar-lhe-ha phase especial de progresso, mais doque isso, influirá cfficazmente sobre, a saúde e a vida da popu-lação, amparando-a e resguardando-a, quanto possível, demoléstias accidentaes, endêmicas e epidêmicas, que a possam

SERI IV ANNO XXVI VOL. V. I !j

— 122 —»

por acaso afíligir e dizimar, sob o domínio genérico de factores,que se originam da insalubridade publica e privada.»

IIConsiderações geraes sobre os antigos processos de evacuação

das águas nocivas das cidades e dos dotniciiios

Três grandes divisões abrangem as águas nocivas despejadasdiariamente pelas cidades, a saber:

t.° cAguaspluviaes;2." cAguas servidas;3.0 cAguas fecaes.As primeiras se subdividem, segundo sua procedência, em:i." Águas pluviaes dos telhados;2.' Águas pluviaes dos patcos:3.* Águas pluviaes das ruas.As águas servidas admittem também uma subdivisão, deno-

minando-se:

r.* Águas servidas domesticas as que provêm dos banhos, doíisscio pessoal cm geral, assim como as usadas na lavagem dasroupas, da cosinha e da copa.

2.' cAguas servidas industriaes ou as utilisadas pela industriaem geral.

Vamos examinar suecintamente os diversos systemas empre-gados primitivamente para o esgoto d'estas differentes espéciesde águas.

Emquanto não foram construídas obras especiaes para oescoamento das águas pluviaes, ellas, cahindo dos telhados nosolo das ruas, tomavam por si mesmas a direccão de seu cursonatural, seguindo os declives do terreno até chegarem ao maispróximo talweg.

Deste modo primitivo e natural de evacuação resultava queo movimento d'essas águas ora era violento e rápido, acarre-tando com a sua correnteza a formação de regos e vallas,constantemente modificados e perigosos para o transito dasruas, ora, pelo contrario, era retardado e lento, determinando

— I2J —

a formação, aqui e acolá, de deposit s ou poças de águas mais

ou menos importantes, que, pouco depois, infeccionavam aatrnosphera pela corrupção do seu heterogêneo conteúdo.

Foi para evitar estes inconvenientes que começou-se porsupprimir as gargolas, que do alto dos telhados lançavam aságuas sobre as ruas mais ou menos calçadas das cidades, as

quaes muito se estragavam com aquelle modo violento dedespejo.

Foi ainda por essas razões que começou-se a calçar as ruas,dando á superfície dos calçamentos um talweg artificial nocentro da via publica, de maneira a regularisar o curso cdespejo das águas pluviaes.

Mais tarde substituiu-se a sargeia central pelas sargctas late-raes e foram adoptados o escoamento das águas por meio dcralos receptores, o abahulado das calçadas, os passeios, oscalçamentos estanques, e os conduetores situados sob o solo davia publica.

Finalmente para evitar os mesmos graves inconvenientes,estabeleceu-se o serviço da limpesa publica nas ruas, o qu_dtem por principal objecto, além da varredura das immundiciesespalhadas no chão, dirigir as águas para as vallas ou ralosreceptores, impedindo-se o accumulo de matérias pútridas emdeterminados logares, a filtração no sub solo, e facilitar a sua

evacuação final.Primitivamente, além das águas pluviaes, vinham também

ter ás ruas as águas dos usos domésticos do toiletle, da copa e

da cosinha, bem como as águas empregadas na industria.E' este o caso mais geral que ainda se vê nas antigas cidades

e villas, que não poderam adoptar a reforma de seus esgotos.

Pode-se dizer que tal é o caso da Bahia.Dotada apenas de alguns encanamentos, e, estes mesmos

imperfeitissimos, o escoamento de suas águas opera-se geral-mente pelas ruas.

Um progresso relativo no apparelho de despejo das águas

Servidas das casas constitue, em nossa opinião, antes umperigo hygienico, dc que im verdadeiro melhoramento.

Este só pode considerar-se tal, quando houver immunidadepara os que transitam nas ruas e commodidade para os que,estando em casa, não precisem descer dos andares superiores,afim de despejar na rua os productos do asseio e limpesa dacasa.

Queremos nos referir aos diversos conduetores metallicosque se vêm estabelecidos por vezes na parte de fora das janellasdas copas ou dás cosinhas e outras vezes dentro mesmo d'estasdependências.

E' ahi que por differentes systemas e formas diversas deapparelhos receptores vão ter as águas servidas, e, ás vezes,outras ainda mais nauseabundas.

Acontece que com o tempo forma-se na parede interiord'estes conduetores uma crosta mais ou menos espessa de ma-teria orgânica em constante decomposição e fermentação, devidoa permanente humidade e aquecimento.

Estes tubos aberces em baixo deixam circular o ar de baixopara cima, em virtude da ventilação natural que se estabeleceentre o exterior (a rua) e o interior (a casa).

A conseqüência d'esta disposição é fácil de tirar-se. Todas asvezes que se abre a tampa ou o fecho d'estes conduetores e quepor incúria fique descoberto o receptor (e isto pode dar-se fre-quentemente pelo desmazelo dos encarregados do serviçodoméstico) os gazes contidos nos conduetores espalham-se nointerior da casa, produzindo cheiro nauseabundo, e o que é peorainda, trazendo talvez os germens de alguma moléstia. O factotorna-se ainda mais grave, quando a extremidade inferiord'estes tubos em vez de ir logo para a rua ou pateo, vae sub-mergir-se em algum poço negro de fundo permeável, onde aságuas vão perder-se, deixando depositadas as matérias sólidasorgânicas em suspensão ou então em fossas fixas, onde o effeitoé idêntico.

Cream-se assim nas visinhanças da habitação verdadeiros

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— 135 -*

focos de infecção, que envenenam ao mesmo tempo o solo, aságuas subterrâneas e atmosphera.

Como quer que seja, quando ás águas pluvíaes vertidas nasruas vêm também addicionar-s,e as águas servidas das casas eda industria, e quando aceresce que as ruas tem fracos declives,fazendo com que as águas muito carregadas de matérias sólidasem suspensão sejam arrastadas demoradamente em longospercursos, este processo de evacuação é muito imperfeito e degraves inconvenientes.

A natureza desagradável das dejecções humanas tem feitocom que de ha muito se tenha inventado uma serie de metho-dos ou processos de despejos, cada vez mais aperfeiçoados,tendo todos elles por objectivo leval-os o mais longe possível.

Porém, foi só recentemente, depois que se descobriu que umsem numero dc matérias pathogenicas achavam-se encerradasnas dejecções e nos excrementos humanos, que se comprehen-deu a necessidade de tornal-os inoffensivos, quer transpor-tando-ospara longe, quer destruindo-os.

«Quanto mais povoada é uma localidade—diz Palmberg—mais se torna necessário tomar a este respeito medidas as maisefficazes e rea es.»

Ainda hoje, porém, para as matérias fecaes, o systema maisgeneralisado é o de conserval-as o mais perto possível dosdomicílios, na própria área destes, ás mais das vezes, por umprocesso qualquer de deposito.

Contra semelhante systema de evacuação, si tal nome pode-se-lhe applicar, clamam todas as leis de hygiene, bem como amodernissima theoria bacteriológica, de cuja veracidade scien-tifica não é mais licito duvidar.

Infelizmente muitas vezes é isto clamar no deserto.Embora, hoje, em dia muita gente se se oecupe e falle de

saneamento, salubridade e installações sanitárias, a hygieneestá longe ainda de ser conhecida e a'preciada como deveriasel-o.

Felizes os povos que conscios de seus deveres de progresso

wmrr

— 126—.

nao se detém deante de impedimentos financeiros nem de luctasrotineiras, para levar a effeito estes melhoramentos.

O systema mais commurnente empregado até hoje para aevacuação das matérias fecaes é o das fossas, que se dividemem fixas e inoveis.

Estas ultimas, verdadeiros recipientes, quando são de dimen-sõcs reduzidas e o seu conteúdo é fácil e freqüentemente remo-vido, não offereccm os graves inconvenientes das primeiras.

Todavia a-pratica tem demonstrado que ellas não offerecemboas condições entre as populações menos instruídas e onde amaneira de viver deixa muito a desejar quanto ao asseio.

Assim é que ellas tem dado máos resultados, principalmentequando applicadas em quarteirões habitados por operários.

Foi o que nós mesmos observamos na manufactura deO rgi-vai, apezar dos maiores cuidados que houve na sua instai-lação.

Admiltindo-se mesmo que se tomem todas as precauções nasua construcção, manipulação e remoção, isto não impede queo systema das fossas moveis apresente o inconveniente de con-servarem as matérias fecaes as suas propriedades nocivas. O arfica infectado nas suas visinhanças, um cheiro mais ou menosforte, mas sempre desagradável, se desprende dos depósitos.

Demais, os operários encarregados da remoção podem ser ovehiculo fácil, pelo qual se espalhem ao longe as matériaspathogenicas.

Qualquer que seja o logar onde sejam despejados estes toneisinfectos, elles causarão sempre ahi uma nova infecção. Apyrexia não é destruída, é simplesmente removida para outroponto. \

Para remediar estes inconvenientes tem-se tratado de mis-turar os excrementos com outros corpos capazes de destruir asmatérias pathogenicas, ou tirar-lhes suas propriedades no-civas.

E' o processo de desinfecção pelas matérias chimicas.Cumpre, porém, dizer que, segundo as ultimas descobertas,

— 127 —

as bactérias resistem ao effeito dos mais fortes desinfectantcs,como o chlorureto de ferro e o sublimado corrosivo.

O desinfectante empregado nos hospitaes de Leipzig constade uma massa chamada-massa Suvern-contendo 42L50 decal viva e io2k, de água. Durante a extincção da cal ajuntam-se^,50 de alcatrão de hulha e uma quantidade egual de água.Emprega-se a massa misturando -a com água na razão de ok,5opor pessoa e por dia. As paredes do reservatório movei sãoalém d'isso pintadas inteiramente com a massa desinfectante.

Outro systema de desinfecção, que conhecemos, como umdos mais importantes é o empregado na Allemanha, onde éconhecido pelo nome dc systema Heidelberg, dos auetoresFriedrich e Glass.

Este systema não é inodoro e por conseguinte não possueuma das qualidades requeridas n'este gênero de processos.E , porém, acompanhado das mais enérgicas desinfecções, aponto de ter sido julgado perfeito por hygienistas abalizados.

A desinfecção empregada pelos Srs. Friedrich & Glass édifferente da de Suvern.Ambos estes systemas de desinfecção tem dado bons resul-

tados, quandü empregados sobre matérias fecaes. O primeiro,porém, não exerce esta salutar influencia, quando actúa sobre'certas águas industriaes como as das cervejarias, por exemplo.

Não entra no quadro d'esta memória dar amplos detalhessobre estes systemas. Todavia, pensamos que o seu empregoofferece na pratica um sem numero de complicações, exigindopessoal idôneo, etc; o que torna-os pouco recommendaveis nageneralidade dos casos, em que tem-se de lidar com pessoalpouco zeloso das boas praticas de hygiene.

O processo de misturar as matérias fecaes com substanciasreduzidas a pó, tem tambem dado bons resultados. Tem-seempregado, para isto, a cinza, a terra, o pó de madeira, etc.

Na Inglaterra, sobretudo, tem-se feito muito uso dá terra,processo que é lá conhecido pelo nome de drV-earlh-dosel.

Embora este systema não tenha tido grande desenvolvimento,

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comtudo a pratica tem revelado que elle é conveniente, princi-

palmente nos quarteirões pobres, onde é necessária a vigilância

das latrinas, qualquer que seja sua construcção.

julga-se ordinariamente que estas misturas constituindo um

bom estrume cobrirão as despezas de remoção e poderão ainda

dar lucro.Palmberg acredita que este calculo não e absolutamente

exacto, porquanto si de um lado a producção é maior do que o

consumo, de outro lado o producto não pode supportar as des-

pezas dc transporte e tem de luctar com a concurrencia dc

novos estrumes chimicos, que a industria oflerece hoje em gráo

muito concentrado.O que indubitavelmente convém mais para tirar aos excre-

mentos suai propriedades nocivas é a combustão. Este meio

tem sido empregado em diversas cidades; porém, em parte

alguma o tem sido em grande escala.

Do que fica exposto se deduz que as fossas moveis, apezar

de todos os seus aperfeiçoamentos, estão longe, pelo seu meca-

nismo complicado, de preservar os habitantes de uma cidade

dos effluvios mais ou menos directos dos depósitos, quer

quando esses se acham nas casas, quer quando são transpor-

Los, atravez das ruas, e despejados nas usinas, fabricas ou

terrenos onde são tratados chimicamente.

De resto a utilisação das matérias fecaes na agricultura não

tem applicação no Brazil, onde as terras ricas de húmus nao

precisam de estrume ainda por muito tempo.

As fossas fixas são depósitos de differentes formas e con-

strucção, ordinariamente de grandes dimensões, para nao

serem constantemente limpos, nem acarretarem grandes des-

pezas com a remoção das matérias que n'ellas ficam mezes e

até annos inteiros.

As matérias, n'ellas encerradas, em estado de putrefacção,

desprendem miasmas na atmosphera, qner pelo tubo de queda,

ouer pelo apparelho receptor, quer emfim pela válvula ou tubo

d respiração necessário para prevenir qualquer explosão dos

s^r 129 -»

gazes, que n*ellas se formam, explosão que freqüentementese dá.

Sobre essas fossas diz Palmberg:«Todos os esforços para impedir o solo de ser infeccionado

pelas fossas tem sido inefficazes.Pode-se conseguir este resultado durante algum tempo,

porém, transcorrido este, os muros mais espessos são através-sados pelas matérias contidas nos depósitos.»

Segundo os estudos de Wolffhugel em Munich as immun-dicies sahem das fossas por effeiio da capillaridade, mesmoquando ellas são estanques. Este sábio hygienista achou emtorno de taes fossas, c em uma grande extensão, todo o terrenocontaminado e polluto com grande quantidade de matérias azo •tadas, provenientes sem duvida da fermentação dos depósitosem questão.

Entretanto, estes pareciam estanques e achavam-se rebo-cados á cimento tanto externa como internamente.

Na Inglaterra, onde as fossas fixas devem estar fora da terra,pelo menos orao8 e onde os regulamentos sanitários obrigam afazer limpeza uma vez por semana, tem-se notado os mesmosinconvenientes.

Dando sua auetorisada opinião sobre as fossas tanto moveiscomo fixas, diz com toda a razão o egrégio Dr. Saraiva:

«Ninguém ira permanecer na incerteza si as fossas fixaspodem ou não ter adaptada applicação n'esta cidade. É commuito boas razões que ellas são unanimemente candemnadaspor todos os hygienistas. Além de estarem em incompatibili-dade absoluta com o preceito «não deixar as matérias excre-menticias um momento siquer, no todo ou em parte, na visi-nhança ou a pequena distancia da casa» ellas são rejeitadas, aomenos em principio, para as grandes cidades.

«As fossas moveis constituem um modo de colleccionamentoe de transporte bárbaro e odioso. No momento em que a fossaé esvasiada, o seu exterior suja-sc inevitavelmente, seu fracoconteúdo exige remoções freqüentes—duas ou tres vezes por

SERI IV ANNO XXV[ VOL. V. I-

-130-

semana, isto é, ao menos cem vezes por anno; os sérios perigosque cila apresenta debaixo da relação de disseminação e do

transporte dos germens mórbidos que pode conter, fazem queapenas se recommende sua installação em cireumstancias muitoespeciaes.

Poder-se-ha usar de indulgência para ambos os processos,permittindo-se sua applicacão no campo ou em pequenascidades.»

Por nossa vez acerescentamos que ambos os processos sãoainda preferiveis ao denominado systema cie despejo em fossasperdidas ou poços negros de que já falíamos, e que é o mais an-ligo systema de despejo conhecido, exceptuando-se, bem enten-dido, o de mosaica lembrança.

O hygienista Bechmann, condemnando todos estes atrazados

processos, diz:

«A pratica condemna todos estes meios primitivos dc eva-cuação das águas nocivas; a hygiene os reprova e um dos

grandes progressos que ella se esforça em realisar consiste emfazel-os desapparecer, apezar da resistência e dos esforços darotina».

Felizmente todos estes processos vão pouco a pouco desap_

parecendo para dar logar ao único systema racional de des-

pejo:—o que se faz por meio de encanamentos, de diversos+ypos e sujeitos a determinadas condições technicas, transpor-tando para longe todas as águas servidas de uma localidade,

juntamente com as matérias fecaes produzidas pelos habi-tantes.

A este respeito disse o Dr. Saraiva:«A introducção liberal d'agua nas casas e sobre a via publica

torna-se pouco a pouco a lei primordial do saneamento muni-cipal; é debaixo d'estc titulo que o desenvolvimento completode uma rede de esgotos se impõe como o único processo com-

pativel com a remoção rápida e hygienica de todo o caput mor-tuum das grandes cidades; é debaixo d'este titulo que o col-leccionamento de matérias de despejo nas fossas, seu transporte

.— H» —

bárbaro por meio de barricas, seu tratamento odioso a fogo etc,

debaixo d«este titulo que o velho e«mP de

Milão ereou os terrenos mun.cpaes ^^Jj^

esgotos da Inglaterra e *»— ^o o saneamento de

espaços de utilisação agrícola, pcimittmao

diversas cidades.»au n illustre hvffienista Bechmann:

p„ seu torno .. o .1 ser consideradas noci-

«]á observamos que as agud& ^er-anria* mi-vas desde que eUas se acbem misturadas eom

^™<>Jueraes ou orgânica. quern,casa .que ™^JM

sc faz>perderam sua bmpeza peloemprego, ^ .^

tornando-as impróprias para os usos

;r;::X,ora7aoe .ompta remoto para ionge dos

CTS P0°dVo0aataum se deve admittir que essas águas fiquem

7 eexoclsàs influencias atmospherieas, porquanto.

rslloBr—a^oe eomo conseqüência o despren-

dJou p^aTuao deixem aqu. e acoia depos.to de matertas

so„das cm estado de<;—-os seja inevitável, devem

Caso a existência d estes atpusuu ...„_« ,11...

diStantCS' tftnMm .stas precauções, é preciso

taç6cs, ou o ,rnc«do nr asachar-se d.spostas de ma„« ^ .^^ ^ ^

:Xa=:n:nraioflueneia do virnsqueoaga.es

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carregam, e pela sua acção salutar, contribua efíícazmente paraa transformação de todos os agentes nocivos.

Em uma palavra: as novíssimas exigências da hygiene syn-thetisadas no congresso de hygiene de Bruxellas, se resumem,no que diz respeito á evacuação das águas servidas de umacidade, na creação perfeitamente estudada de uma boa rede dcesgotos. As condições que, segundo o mesmo congresso, devepreencher semelhante rede são as seguintes:

i.° Fácil escoamento das matérias e das águas servidase pluviaes, por meio do seu lançamento em galerias especiaes,tubos ou conduetores.

2.0 Neutralisação dos gazes mephiticos dos esgotos.3." Impossibilidade de infiltração das águas corrompidas no

solo.4.0 Meios efflcazcs de ventilação.5.0 Aproveitamento das matérias diluídas nas águas dos

esgotos para o seu emprego na agricultura, ou fácil despejo nomar.

Todas estas condições exigem, como base essencial para umbom funecionamento, uma derradeira cláusula—abundânciad'agua—ou, pelo menos, a água necessária para que, tcchnica-mente, o serviço da rede de esgotos surta o seu convenienteeffeito.

No capitulo seguinte vamos passar cm revista os diversossystemas modernos dc canalisação, e examinar qual o que maisvantagem apresenta na sua applicaçao a esta capital.

(Continua).

IPyrexias em S. JPaulo(Continuação da pag. 91)

E' excusado, na grande maioria dos nossos climas, procurarcm relação a certas moléstias infecciosas aquelles caracteresnítidos e simples com que ellas figuram nos quadros nosogra-phicos.

O impaludismo em geral domina a nossa pathogenia, c essaverdade, com ser banal, nem sempre c reconhecida quando se

trata de interpretar anômalos casos clínicos. A influencia dos

pântanos não se manifesta simplesmente pela profusão dos

casos de lebres intermittentes, accessos perniciosos ou cachexias

palustres, mas tambem nas allianças que os germens da ma-

laria contrahem com outros agentes morbigenicos, dando em

resultado novos typos, complexos, mixtos, irregulares, qUe

desafiam por vezes a sagacidade dos melhores observadores.'

A muitos repugna acceitar essas criações hybridas. Habi-

tuados á licção dos auetores europeus que têm o privilegio de

observar em meios sanificados, isentos de endemias, onde as

moléstias se apresentam sob fôrmas em geral simples, custa-

lhes admittir a existências de processos complexos resultantes

da collaboração no organismo de dous ou mais agentes mor-

bigenicos.A estes, para lhes desvanecer as duvidas, não temos senão

que aconselhar a leitura dos auetores que têm podido observar

em condições diversas, como aquellàs que cream iócos com-

. muns a muitas espécies mórbidas.E1 um dos capítulos mais interessantes da pathologia esse

que trata das associações mórbidas, e por onde se revelam

affinidades ainda mysteriosas entre os micróbios,

Nas epidemias que tem assolado os exércitos em operações

de guerra é que se começou a notar a extensão desses processos

complexos. A's moléstias mais communs que as vtctssitudcs da

guerra fazem nascer, c que accommettem os corpos expcdicio-

narios, como o escorbuto, a dyscnthcria e o typho, ,untam-sc

freqüentemente as moléstias próprias das regiões em que elles

tem de operar, taes como as febres palustre e typhoide, a

diarrhéa, o cholera, etc.

Em seu monumental tratado, por nós já tantas vezes citado

nesta discussão, Kelsch c Kiencr fazem um extenso e aprofun-

dado estudo destas interessantes associações.

Absirahindo de factos antigos, como da moléstia pcatilcn-

ciai que destruio o exercito de Lautrec diante dos muros de

Nápoles, cm ,5a8, , que está provado que era o typho exan-

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— »?4^

thematico, ordinariamente unido ao impaludismo, a historiadas guerras modernas, como a da Criméa e a dos Estados-Unidos, está recheada dessas associações em que os agentesmorbigenicos se uniam em proporções variáveis, dous a dous,tres a tres, etc.

Sobre duzentos doentes recolhidos ao hospital, diz Barudel,o historiador das epidemias da guerra da Criméa, cem pelomenos apresentavam moléstias complexas.

Uma dessas curiosas associações ó a da dysentheria cem afebre typhoide. Sob a acção estupefaciente do germen typhico,as eólicas e o tenesmo sc attenuam; a febre ateia-se, mas équasi sempre moderada; a dothienenteria, que contraria ossymptomas abdominaes e as manifestações dolorosas da dysen-theria, é por sua vez contrariada pela acção hypothermica doveneno desta ultima.

Desta associação resulta uma moléstia proporcionada, naqual dificilmente se poderá reconhecer qualquer das duas mo-lestias componentes.

As relações do cholera com os germens da malária são tam-bem dignas de ser referidas. Pauly Griesinger, Hirsch e outros,observam que as febres intermittentes, em toda a parte ondecilas não fazem senão raras appariçües, tornam-se de umafreqüência e de uma gravidade insólita com a approximação docholera-morbus. Náo é somente isso, o germen cholerigenoallia-se mesmo ao palustrc, e desta combinação resultamaílecções bastardas nas quaes predomina ora um ora outro dosdous elementos componentes.

Mas, incontestavelmente, todas as afinidades da maláriaparecem se dirigir preferencialmente para os germens da febretyphoide.

Em toda parte onde os dous factores morbigenicos se encon-tram reunidos, elles se alliam dando em resultado uma febremixta. Sempre que os exércitos americanos, diz Woodward emseu relatório medico sobre a guerra de seccessão, operavam emregiões pantanosas, os germens da malária se uniam ás moles-

tias que dizimavam as fileiras, sendo principalmente de notar-se suas combinações com a febre typhoide, donde resultava otypo mórbido que elle descreveu soba denominação de febre«typho malariana».De resto, esta pyrexía não tem sido observada somente nestascircumstancias occasionaes.Nas regiões em que o impaludismo 6 endêmico, e onde oclima não contraria o desenvolvimento dos germens typho-e-meos, este typo mórbido se observa com muita freqüência

°

Toda a bacia do Mediterrâneo é notável pelas febres dessanatureza, os inglezes chamam-lhe mesmo a febre do Mediter-raneo (medilerranean fever); e quem lê as suas descripçõesnão pôde deixar de reconhecer nellas as nossas discutidas febresremittentes.

As condições que geram entre nós a moléstia são precisa-mente as mesmas que se notam alli. Climas onde o impaludis-mo é endêmico, e nos quaes entretanto os germens typhoge-nicos sc podem desenvolver livremente.

A moléstia ordinariamente obedece a esta dupla influencia.Em seus traços geraes, ella assemelha-se muito á febre ty-phoide, mas é uma febre typhoide bastarda na qual se trahe ainterferência do impaludismo, pelas irregularidades da curvathermica, e pela tendência á perniciosidade que a moléstiafreqüentemente apresenta.

Dahi a theoria mixta que, baseada nos factos da observaçãoclinica, procura explicar a moléstia admittindo uma dupla in-fecção do organismo.

Não ha duvida nenhuma que desta concepção resultam algu-mas difficuldades para interpretar o modo por que se effectua adupla infecção. Serão ellas contemporâneas? Nada auetorisa acrer nesta fatal coincidência, como lhe chama expressivamenteo distineto Dr. Penna Filho. A'hypothese mais simples éadmittir que, uma vez penetrando no organismo, os germenstyphogenicos caeam condições de facii receptividade para os damalária.

".«8 f0 —

Não será então difficil que se effectue esta nova infecção, poisque os germens da malária existem espalhados por toda a

parte, nos campos, nas praças, nas ruas, nas próprias habita-

ções, onde por não serem respeitadas as prescripções hygi-nicas o individuo não se acha inteiramente a abrigo das em-enações telluricas.

Do impaludismo é que se pode com propriedade dizer—in eosumus et movimus!

Esta lheoria é uma hypothese, objectar-se-á. Mas ella tempor si todos os requisitos das hypothcscs que Littré chamavascientificas, adapta-se maravilhosamente aos factos que pre-tende explicar, e não está em contradicção com qualquer dasleis conhecidas que regem os phenomenos pathologicos.

Algum resultado afinal se colhe desta discussão com quecm boa hora, o Sr. Dr. Jayme Serva inaugurou a publicaçãodo cxcellente Boletim da repartição a seu cargo, nestes temposcm que, graças á poderosa iniciativa do digno secretario doInterior, Sr. Dr. Cesario Motta, a medicina paulista parecequerer sahir do torpor e da inércia, em que tem repousado,para a aetividade e para a lueta.

A questão das febres remittentes, talvez o ponto mais interes-sante de nossa pathologia, acaba de passar por um sever0exame. Quasi todas as hypothescs que a observação clinicapodia suggerir sobre a natureza dessa entidade mórbida, foramaventadas pelo próprio Dr. Jayme Serva, pelo obscuro auetordestas linhas, e por médicos de nomeada como o Dr. AurelianoPortugal e o Dr. Gonçalves Penna Filho. Além disso sabemos,pela recente leitura do ultimo numero do Boletim de estatistica,que brevemente teremos sobre o assumpto a auetorisada opi-nião do eminente Dr. Luiz Pereira Barretto. Já não é pequenoserviço prestado pelo Dr. Jayme Serva trazer novamente parao campo das discussões scientificas um dos espíritos mais bemformados, uma das mais completas e das mais puras glorias da-medicina brazileira.

\

Resta que os especialistas do instituto de bacteriologia, pres-tando ao caso a attenção que elle merece, tragam também oconcurso de suas pesquizas indispensáveis para a completaelucidação do assumpto.

E' um estudo digno de occupar as suas actividades. Pela suafreqüência cada vez maior, e deante das incertezas que asrodeiam ainda, estas febres remittentes constituem um problemacuja solução importa immensamente á saúde publica.

E' tempo de resolver esta quaestio vexata de nossa patho-logia.

Pela nossa parte, dando por terminada a polemica quenenhum interesse mais pôde apresentar uma vez que, de com-mum accordo, todos appellam para as investigações microsco-

picas, aguardamos também o resultado dessas pesquizas quefornecerão de certo uma base mais segura para ulteriores edefinitivas discussões.

Du. Mathias Vallaoão.

Illm.Sr. Dr. Jiyme Seiva.—Peço-lhe o obséquio de inserirno seu Boletim Mensal a seguinte nota sobre as febres gravese de longa duração que reinam cm S. Paulo e sobre as quaesV. S. tem chamado a attenção dos clínicos.

A etiologia destas pyrexias tem sido discutida por váriosmédicos, que apenas basearam-se sobre as impressões recebi-das da observação clinica e os effeitos dos tratamentos empre-

gados; não chegaram a concordar. Parece-nos que o únicomodo de obter um resultado sati*facton'o consiste em abando-nar as theorias e tradições e atacar a questão directamente, istoé, verificar as alterações produzidas pela moléstia e procurar oorganismo causador. Tendo já resolvido a primeira parte da

questão por quatro autópsias na minha clinica privada de 1886a 1889, tratei immediatamente de-occupar-me.com a segunda

parte do problema logo que fui chamado á direcção do labora-torio bacteriológico. Infelizmente esta solução foi demorada

pela falta de oceasiões para praticar autópsias destas pyrexias esó ultimamente chegamos a uma conclusão que nos parece de-

SERI IV ANNO XXVI VOL. V. |8

- i,8 «;

finitiva; porém desejamos augmentar o numero de observaçõese para este fim torna-se indispensável o concurso dos clínicosdesta cidade.

Sobre a natureza das pyrexias de São Paulo ha 4 hypo-theses:

1. Tracta-se de uma fôrma de impaludismo?2. E' uma febre typhoide clássica ou uma fôrma mais ou

menos modificada desta?3. Tracta-se de uma combinação destes dois processos infec-

ciosos?4. A moléstia é sui generis e causada por um organismo

desconhecido?Sabe-se e é hoje geralmente admittido que o impaludismo é

produzido por um hematozoario, primeiro descripto por Lave-ran; por conseqüência fica excluído do impaludismo toda amoléstia que não apresentar esta parasita.'Ora nunca o encon-tramos nas innumeras pesquizas que fizemos do sangue dedoentes soffrendo das febres de São Paulo. Também peloexame anatomo-pathologico nunca verificamos as lesões cara-cteristicas do impaludismo. Não podemos attribuir o resultadonegativo a falta de experiência de nossa parte, visto que nos temsido fácil 'encontrar os hematozoarios em casos de maláriatypica adquirida em outros logares como na Barra de Santos enos arrabaldes da cidade de Baltimore. Verificamos também aexistência de hematozoarios no sangue de passarinhos prove-nientes de logares distantes <jja cidade de S. Paulo,

Negamos então, que ha impaludismo adquirido em S. Paulo,e julgamos prejudicadas a primeira e terceira hypothese.

Quanto á segunda hypothese convém notar que a maiorparte das febres de São Paulo differem clinicameme do typoclássico da febre typhoide. Estas differenças notam-se princi-palmente na marcha da temperatura que é muito menos regu-lar. Nota-se também a raridade do estado typhico e do decu-bito; de outro lado ha hemorrhagias intestinaes e até perforações.Nos brancos observam-se manchas roseas, Sobrevem certas

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complicações muito eommuns na febre typhoide, como sejama pneumonia, parotidite e thromboses nas extremidades iníe-riores; observam-se freqüentemente recidivas que podem atéser repetidas.

Comquanto haja casos graves, a maior parte delles são rela-tivamente benignos. Quando sobrevem a morte, é quasi sempreem periodo adiantado da moléstia devida a exgotamento dosdoentes ou a infecções secundarias, As formulas ambulatóriasou abortivas sâo freqüentíssimas, e ha casos em que a moléstiaé quasi a febril. A diarrhéa pôde faltar, ou ser pouco accusada,e a freqüência do pulso e raras vezes exagerada. No exameanatomo-pathologico de sete casos, dos quaes, cinco eram deS. Paulo e dois da Limeira, notamos que as localisações nointestino raramente são muito accentuadas. Só um dos casosda Limeira apresentou grandes ulceras das placas de Peyer,das quaes tres ou quatro em estado de perforação completa ouimminente. Num caso de São Paulo havia no ileon ulceras ex-tensas, mas irregulares e superíiciaes.

Nos outros casos havia apenas infiltrações dosfolliculos soli-tarios e estas mais no colon, do que no ileon; raras vezes apre-sentava ulcerações. Os gânglios mesentericos eram poucoaffectados, notando-se só um pequeno numero em estado detumefacção bem pronunciada.

Em vista destas observações tornava-se muito necessárioindagar, se o bacillo de Eberth estava presente. Verificamosem primeiro logar nas vísceras de um doente colônias de ba-cillos, parecidos ás que sc costumam encontrar na febre ty-

phoide, mas na falta de cultura ficamos na duvida se estesbacillos, que se devia considerar como caus-a da moléstia, eramidênticos com os de Eberth ou talvez só semelhantes na fôrma,mas differentes nos caracteres biológicos,, Felizmente tivemoslogo depois a oceasião de estudar um caso proveniente doLargo do Carmo. Pelo obséquio do Dr. Bourroul, foi nos pos-sivel vêl-o durante ávida e constatar que apresentava os cara-cteres das" febres de que tractamos, havendo tido também

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fccmorrhagias intestinaes. A morte sobreveio uma semanadepois, tendo a moléstia durado pelo menos 28 dias.

Na autópsias verificamos que as lesões do intestino eraminsignificantes, havendo só infiltração dos folliculos do colon,apresentando um d'elles uma ulceração não cicatrisada. Na basedo pulmão direito havia uma infiltração pneumonica.

Pelo exame microscópico das vísceras foi constatada a exis-tencia de focos bacillares semelhantss aos do outro caso, tantono baço, como n*uma das glândulas mesentericas entumecidas.A pneumonia era causada pelo pneumo-coecus de Fraenkel.

'As culturas feitas com o sangue do baço, polpa deste órgão,

com o sueco dos gânglios mesentericos e com a parte infiltradado pulmão forneceram-nos colônias que, tanto pela fôrma, comopelas propriedades biológicas são idênticas aos baciilos deEberth. Esta verificação foi feita independentemente peloDr. Mendonça e por mim. Devo dizer que estamos familiarisa-dos com os caracteres d'este bacillus por estudos anteriores.

Podemos, pois, afíirmar que n'este caso tractava-sede verda-deiro typho abdominal e de uma fôrma que corresponde aochamado colo-typhus de fôrma benigna. Parece que esta mo-dificaçãoé prevalente" nos paizes quentes e que, pelo menos amaior parte das febres remittentes e typhoideas consideradaspalustres tem a mesma natureza, como se pôde concluir pelasdescripções dos resultados das autópsias praticadas. Nas loca-lidades palustres póde-se encontrar também as lesões de umainfecção palustre anterior, mas a coexistência do hematozoariode Leveran e do bacillo de Eberth parece não ter sido de-monstrado uma só. vez até hoje. Certamente um andar inter-mittente da temperatura n'uma moléstia febril, como a febretyphoide ou amarella não basta, para diagnosticar uma corn-plicação com impaludismo.

Concluímos dizendo que em nossa opinião as febres em dis-cussão observadas em S. Paulo são produzidas unicamentepelo bacillus de Eberth, mas que se tracta de uma fôrma de •febre typhoide um tanto modificada; isto não pódè admirar,

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considerando as variações no complexo symptomatico de quasitodas as moléstias infeccio*sas.

Entretanto temos observado na estação de Santa Barbarauma epidemia de febres que tanto pela apparencia clinica comopela contagioàidade não se podia considerar differentes do typoclássico do typho-abdominal que muitas vezes observei noshospitaes da Europa.

S. Paulo, 3 de Julho de 1894.0 Director Interino do Instituto Bacteriológico do Eslado

Dr. Auolpho Lutz.

METEOROLOGIA

Kesumo cias observasões raetoo-rolosioas do mez: cio Agosto

Temperaturas—Máxima 25,70; no mesmo mez do annopassado 26,30. Mínima 20,'oo; em egual mez do anno passado21,00. Media do mez 2 3,49; no anno passado 24,00. Media aosol ,8,5;. no anno passado ^2,8. Media-maxima 24,55; no ailnopassado 25/90 Media-minima 20/04; no anil° passado 22/30.

Barometro observado— Máxima 76.', 12; no anno passado766,90. Minima 761,80; no anno passado 702,80. Media 762,9 y,no anno passado 76 ,85.

Barometro calculado a 0—Máxima 762,12; no anno passado763,77. Minima 759,01; no anno passado 75 ,79. Media 759,96;no anno passado 761,78.

0 hygrometro oscillou entre 78* e 91*; humidade relativacorrespondente 67,0 c, 80,0, No mesmo mez do anno passado ohygrometro oscillou entre 79- e 94';—humidade relativa corres-pondente 67,0 e íò, j.

Ventos—O vento constante foi SE, reinanto, entretando, E.em o dias, S. em 5 dias e SW. N. e NE em 2 dias.

Houve durante o mez 19 dias dc chuva, marcando o pluvio-metro' i48,mmo eguaes a 592 litros por meti o quadrado, Em o

....... a,,^p:,.,1,,^rii)-Jm..uu;W!UW.^il.^i«

*¦¦•¦¦

.- 142 -

•mesmo mez do anno passado o pluviométro accusou, em i<jdias de chuva,—9.,mao eguaes a 36. litros d'agua.

Dr. Innocemcio Cavalcante, Dr. Alfredo A. Andrade.

NOTICIÁRIO

Faculdade de Medicina da Bahia.—Por decreto do Minis-terio do Interior foi nomeado Lente da Cadeira de PathologiaGeral o Dr. Guilherme Pereira Rebello.

Foi nomeado preparador da Cadeira de Anatomia Cirúrgicao Dr. Juliano Moreira.

Publicações novas.—Recebemos e agradecemos as seguin-tes publicações, que nos foram graciosamente offerccidas:

<As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil.—PeloDr. Nina Rodrigues, Professor Substituio de Medicina Legalna Faculdade da Bahia, 1894.

Lições de Pathologia Cirúrgica —Pelo Dr. José Pedro deSouza Braga, Lente Cathedratico da Faculdade da Bahia, 2.'vol. 1894.

Primeiro supplemento do Catalogo Systemalico da Bibliothecada Faculdade de Medicina doKiode Janeiro.—Pelo Dr. CarlosCosta, Bibliothecario da mesma Faculdade. Rio de Janeiro,1804.

Snr le rhumatisme blenorrhagique chez les enfants.—Leçonsproíessées à Ia Polictinique Generale de Rio de Janeiro. Parle Dr. Moncorvo, 1-^94.

De /' agrandissement momentané du bassin. Rapport lu auCongrès International des Sciences Médicales, tenu à Romedu 29 Mars au ¦, Avril 894. Par Adolphe Pinard, Professeur àIa Faculte. Paris, 1894.

Notes de Pharmacie Pratique 1893—1894. Par GeorgesDethan.

- 143-Estatistioabospitalar-

MAPPA mensal dos doentes do Hospital d. M •Santa Izabel P * Mlsen«>rdia

-ZZ-WHkKtíNÇAS *DOENTES ... .

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<l» «lia 3í de sSmranio Tnliír,,- P . ,inibi- "'"* MleíirSo -/ I,,em «__ ——_____ al "e agosto

Hon,e"s -8; „„ ~^~==~~^~~

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Mulheres o8 8_ IJ \ °7 28 26

131

Somma ^3 207 """297 210 6,

509

Serviço, Fr-Jes. ^ ^ M«*« Co5/a-0 Medico doSALA DO BANCO

Movimento de Agosto

Mulheres: quentes 30—consultas 108.Curativos simolec* tr-,de urgência , pie? J57—curativos de ureench fi -*,«sos™ 7 rPa™ôaoscs de den,es ^-cofx6,"õrraçoe3

.T"^cfa„SodVpgelon1an'teí '"f "P*"" ^ i-interno João Américo Fróes n° Aureli° Castro' 5 peloUma chloroformisaçso""o IterLT™? ]°}° Mun^

.. -m- ;¦.;./- ;;.;i;>;:a,;,. v,::.Os Internos, João Lúcia nn da lancha.—-Joào Moniz.—Attre-

Ho de Castro.—João cAmerico Fróes.Movimento da Pharmacia

Durante o mez dc Agosto foram aviadas pela pharmacia doHospital 3,092 formulas, sendo:

Para o Asylo dos Expostos 21 formulas.Para o Asylo S. João de Deus 11 »Para fóra do Hospital . . . 4o »Para as diversas clinicas d'es-

te Hospital 3.0,4 »Total ...... 3,092 »

• O Pharmaceutico, Horacio José Soares.O Auxiliar da Pharmacia, Emílio Ckenaud.Hospital de Santa Izabel, 1.' de Setembro de 1894.

HoUo Verne.—Especifico contra as moléstias do fígado, cacliexia deorigem palustre e consecutivas íi longa estada nos paizes quentes, febresremittentes e dyspepsias.

Dysgepaía-0 elixir e pílulas Giez chlorhydro-pepsicos constituemo tratamento mais efíicaz das dyspepsias, da anorexia, vômitos da prenlieze perturbações gastro-intestinaes das creanças e diarrhéas chronicas.

Ferro de Quevenne._Ha 50 annos considerado como o piimeirodoserruginosos por causa de sua pureza, de sua poderosa actividade' de suaifacilidade de administração, e porque não tem a acçâo cáustica e irritantepos saes de ferro e das preparações solúveis. Para evitar as falsificaçõesmpuras e desleaes, ter o cuidado de prescrever sempre : 0 verdadeiro ferrode Quevenne.

o licor de Laprade, de albuminalo de ferro, o mais assimilável dossaes de ferro, constitue o tratamento especifico da chlorose e da anemia.

jVevraisias. Mígrainea. Cura pelas pílulas anti-nevralgicas doDr. Cronier. Pharmacia 23, rue de ia Monnaie. Paris.

O vinho de Bayard de peptona phosphatada, è um dos poderosoreconstituiRtes da therapeutica.

Cápsulas Cognet._As cápsulas Cognet de EncalypM absoluto io-doformo-creosotado constituem a mais poderosa medicação a oppor a tu-berculose pulmonar, e em geral ás affecções do apparelho respiratório.Paris, 43 rua de Salntonge eetn todas as pharmacias.

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GAZETA MEDICA DA BAHIAJPWMOAÇXO jWteNSAJC •

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Quelques consídératlons Swie trai-toment elilrurgloal des flstules àlauus.par le DR PACHECO MENDES

f„," d"reS maoifes'^ions anatomiques ,, cliniques de,

« „"es :IT T éVÍdemmem C0"n"eS deP»iS '««U. -cet e etude; nous voulons simplement attirer 1'attention sur Ienr*que ,ious — mis <° «"«*»<°-

Nons croyons que 1'exacee application des régles que nonsavnns concues dei. permetlre d'en,reprendre avec grande

onf I Jeidt:."8'6 P" 'a 'CndCnCe ™<» --«"« ^»«Les observations que nous allons raoporter, et dans les

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quês dimeultés pour expulser le, f/rea „ f , 1 garde robe que|-sujet pendam quatré 1? í ' P ' ,ad'arrhée â quí jl avait ««

ia suite une Dsíole oniTlT " 8pon,anéme<* et i! persista á

Cette íislule persistant toujours tl vint m» tr™™.. ™ ¦ -

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*— 146 —* ¦*¦¦:

gion àno-fessiére, un oriflce Ostuleux, répondant à un trajei dans lequel011 peneire 14 centimétres et par le quel ne sorlent ni gaz ni liquide an-tre que du pus. Au toucber reclal nous avons pubien apércevoir 1« epais-seur considerable de tissus qui separait le doigt placé dans le rectum dustylet intruduitdans le trajet lisluleux. En outre on constate parle tou-cher recta! que le trajet passe au millieu du Ussu celiulaire peri-reclalmduié en dehors des tuniquesdu rectum. Tous ces laits nous portentáfaire lediagnostic suivant: íistule pelvi-rectale supérieure, borgne exter-ne, extra-sphinctérenne.

Le 2 Mars 1891, aprés aneslhésie par ie chloroforme nous avons opéréIa Íistule d'aprés notre procede.

Le foyer se comble réguliéremeni el le 25 Juin lemalade est tout á íaitguéri. Nous l-avons revu, au móis de Juin 1892, puis ic 23 Novembro 1893Le resuilat est demeuré parfait.

Obs. II, C. M. de vingt trois ans, employé. L'elat general est mauvais et1'examen du poumon íait reconnaitre du côté gaúche 1'existence d'uneaffection tubercuieuse iocalisée au sommet. A 18 ans il a un abcés &l-anus ouvert sponlanément et ayant laissé une flstule. Ce malade raconleque quaranle jours avanl. ia premiére eonsultation, il a commencé â res-sentir des douieurs dans ia région anale, et â cause de cela il s-estpré-sente á ma clinique pour se faire opérer ia flsluie. Sur le côté gaúche àtrois centimétres de l-anus une tuméfacüon flucluante que nous avons in-cise. Um peu en arrière de l-anus. trois centimétres á gaúche de Ia lignemédiane postérieure on irouve l-oriílce externe d'un trajet íistuleux dirigede dehors en dedans, vers le rectum, dans lequel il s-cuvre á 8 centimé-três de hauleur. Je diagno.tique-abc.s sous tegumentaire de ia ré»ionano-lessiére gaúche et íistule pelvi-rectale inferieur borgne externe extrasphinctérienne. Nous 1'avons opóré d'aprés notre methode. La guérisonlut rapide.

Obs. III—L. F. Agé,de 26 ans, cordonnier. De constilution assez fortece malade a toujours joui d'une bonne santé.Pas d'antécédenls syphilitiques. II souffre del'anus depuis qualre ansII a eu une dysenterie et des nombreux abcés anales, qui se sont ouvertssponlanément. A' 1'examen de I'anus on constate á droit l'exislence d'uneíistule pelvi-rectale inférieure complete qui s'ouvrait ã huit centimétresdc l«extrèmité inférieure du rectum et par iaquelle sortaient des gaz etmaliéres íécales.Le 20 juin, incision et grattage de Ia flstule. Le 30 aôut, Ia guerlson estcomplete.En janvier 1893 je Ie revis et je pus conslater Ia guérison parfaile.La variété des procedes operatoires employés pour Ia cure

^;!^B3B?raSaH9WBssfai 'U-IJÍ- t

— !47-des fistules anales montre que jusqu' à présent, nous ne pos-sedons pas de ligne véritable de conduite.

Quoique Ia fistule á 1'anus ne soit pas une affection graveelie peut provoquer des aecidents mortels, tels que LèrysipèleIa phlebite et 1'infection purulente. L'antisepSie et fasepsieautonsent à ne pas trop s'arrêter en raison de ia craintequ mspira.t aux anciens chirurgiens houverture large des tégu-ments, cependant il ne faut pas croire que toutes les opérationsdmgees contre les fistules anales soient innocentes

D'ailleurs, 1'innocuité n'est pas le seul élément qui doit êtreconsidere dans Ie choix d'un procede opératoire; 1'intégritérelative des fonctions des organes ou apFareiIs dans les quelsse local.se Ia maladie qu on veut débeller doit aussi être bienconsidcrée.

Et si cette condition represente un élément acccptable pour1 adopt.on d'une opération, il est certain qu'aucun des diversprocedes operatoires proposés contre les fistules à 1'anusepargne les fonctions des sphincteres anales, en donnant occa-sion a 1 incontmcnce des matières fécales.

Cet accident qui n'est pas définitif après 1'incision des fistulesmter-sphinctériennes et lors qu'il existe ne se montre que pourcs matiòres tres liquides, donne des motifs suffisants pourfa.re rejetter Imcesion des fistules extrasphinctériennes. Etbien qu en certains eas le but d-une opération soit de remplacerune mfirmué imcompatible avee Ia vie par une autre qui soitcompatible avee elie, cependant, il me semble que dans les easdes fistules pevL-rectales supérieurs il vaut micux les conserverque d'entreprendre une opération, dont le resultat serait1 mcont.nence complete des gaz et des matières fécales Quei-quês chirurgiens avertis contre les suites désagréables de cetaccident préferent les moyens moins radicaux à seccionerMesparois des fistules. Voici, comme à cet egard s'exprime hemi-nent Professeur Tillaux: «Les malades attcints de cette affectionn en éprouvent en general d'autre inconvénient qu'une suppu-ration plus ou moins abondante: aussi concoit-on qu'on hesite

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à pratiquer une opération grave pour une maladie en apparencelégere. La division de toutes les parties molles comprises entreIes deux onfices constitue en effet un traumatisme importamet de plus les sujets sont fortement exposés à une incontinencécomplete non seulement momentanée, mais définitive. Pourmon compte, je ne me suis pas décidé jusqu' ici à 1'entrepren-dre, car je me demande, en vérité, si, ioGrmité pour infirmité,il ne vaut pas mieux conserver une suppuration permanente* meme avec les accidents quellc est susceptible dentrainer à sasuite, qu'une incontinencé complete des gaz et des matièresfecales.»

En présence des cas de ce genre, je me suis demande s'il n'yavait pas quelque operation à tenterpour supprimer définitive-roem ce terrible accident. Depuis quelques annèes, je me suisefíorcé de decouvrir quelque moyen de résoudre cette questionpour Paffiimative et je ne suis pas éloigné dc croire que j y aiereuss*. dans une certain mesure. Les opérations employèescontre Ies fistules anales consistem dans Ia division des par-•ties molles que séparent Ia fistule de Ia cavité rcctale et tendentà ce même but: rempiacer le trajet fistuleux avec ses délabre-ments, le tissu conjonctif sclérosé qui Tenvironne et le sphinctertoujours en mouvement par une large plaie qui, en peu dctemps, se couvre de granulations et se rétracte au fur et àmesure que sa cicatrisation avance.

Ces résultats, qui sont toujours les mêmes, quelque soit Iamethode choisie, lc bistouri, le thermo-cautère, Ia ligatureélastique, 1'entérotome etc, sont indispensables à Ia cure desfistules anales, mais, il me semble, qu'ils peuvent être obtenuspar le moyen sur lequel je reviendrai à propôs du manueloperateire. En agissant d après notre procede, on obtient lescond.tions de cure sans le grand traumatisme qui provient deIa division de toutes les parties molles comprises entre les deuxonfices de Ia fistule.Jc ne croispas toutefois qu«il soit nécessai-re pour Ia cure des fistules anales Ia section dessphinctcrs in-tçsnnaux Et sj c'est pour determiner l'mmobilisation du rectum

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qu'on pratique la division des sphincters, il me semble néces-saire pour l*obtenirde neutraliser 1'action des muscles releveursde 1'anus qui, comme on le sait, actionnent energiquement dansle phenomène de la production des mouvements de la portionterminale du gros intestin. Les sphincters par leur puissantetoniceté presidem à Tocclusiôn de 1'orifice anale et quand ils secontractent determinem 1'ampliation et le resserrement alter-natif de 1'iniestin.

Ces mouvements sont insiguifiants relativement aux chan-gements de position que les muscles releveurs dTanus impri-ment à 1'intestin en se contractant pour s'accommoder auxvariations de capacite et de tension abdominales.

Quoique Curling, Gosselin et d'autrcs chirurgiens considè-rent la mobilité du rectum comme une entrave à ld cicatrisationdes fistules anales, je crois qu'en modifiant les trajets, commeje propose, on obtiendra toujours la cure radicale de cetteaffectiou. Eneffet, les principaux jalons à remplir dans le trai-tement des fistules sont: enlever la cause d'Írritation morbide,exciter les parois des fistules pour faciliter le développementdes bourgeons charnus et élargir le trajei fistuleux pour 1'ècou-lement facile des produits d'excrétion. Le plan que nous avonsconçu répond à ces desiderata. Après avoir incise le trajet oules trajets fistuleux je procede au grattage de ces parois.

p, Avec l4incision du canal on arrive à detruirc le trajet mor-bidê, à donner ècoulement facile aux produits d'excrctions et àpermettre d'introduire une curette tranchante pour gratter lesparois des fistules. Le grattage du canal fistuleux, le deuxièmetemps de l'opération, enleve les membranes et les travécstapissées de granulations qui couvrent la suriace des conduitsfistuleux etaccèlérent la cicatrisation, activant la production desboutons charnus. Tels sont les résultats. J'arrive au procedeopératoire. La veille on prescrira un purgatif et, le matin même,un lavement vide le rectum des matières qu'il peut contenir.Le malade est endormi par le chloroforme et couché sur lecôté, les çuisses flechies sur le bassin, qui placé sur un

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coussin un peu dur, dépassera le bord de la table. Une fois latoilette antiseptique faite, j^introduis dans 1'orifice du trajetune sonde cannelée et je ia pousse jusqu«au bout du canal.11 importe que la rainure de la sonde regarde la paroi-externe du trajet fistuleux pour ne pas blesser les organesqui se trouvent à la ligne médiane.

La sonde étant ainsi placèe, il ne reste alors qu'à engager lapointe d'un bistouri boutonné dans la rainure de l'instrumentet incser la paroi de la fistule dans toute sa longuer et dansune profondeur de quelques centimètres.

Un débridement de deux centimètres suffit; s'il ne parait pasdonner assez de place, si la curette ne peut s'engager libre-ment dans toute la longuer du canal, on peut avoir recours àun second ou à plusièurs autres débridement,, portant sur unpoint voisin du precedem. Aussitôt apiès, une curette tran-chante est introduite et le grattage est fait la promenant avecforce de manière à faire crier le tissu sous son eflort, sur toutela surface du canal fistuleux. Pour être efficace, il faut que legrattage soít radical. Dans ce but il est nécessaire d'enleveravec la cuiller tranchante les membranes tapissées de granula-tions qui doublent le trajet fistuleux, de manière que toute sasurlace reste sanglante. Dans les cas des fistules multiples onmet d abord en communication les trajets secondaíres de chaquecote de Panus avec Ie trajet principal et, quant au reste, onprocede d<après les règles que nous avons établies plus hautLe pansement après 1'opération, consiste àintroduire dans lapla.e un tampon de gaze iodoformée, que será enleve vers letrois.eme ,our. On le retire alors, et on le renouvelle tous leslours su.vants aprés avoir bien nettoyé et saupoudrè la plaicavec de l'iodoforme.

Les raisons qui millitent en faveur de cette méthode, sontdun côté, la certitude d'éviter l'incontinence des matièresfecales et des gaz, d'autre côté, Pespoir legitime d'une guérisonradicale, comme nous portent à croire les résultats obte-nus. Les dangers habitueis du traitement de la fistule

- t5i -àruuu. par incision sont rhemorrhagie et linfection secou-

auTu t. he",OTrha8Íejn'est V* a«« considérablc, et, cTailleurs

ra.on t T'en " dCVraÍt " laUsCr dé,ourner de ««<= «P^-raspar la cra.nte de ne pouvoir se rendre maitre de ce,

Quant à 1-infeaion, elle est évitable si 1'opération aura è.ée so le couve rigourcuse ant.epsje; d,autreh uri

FaSTC7Pk'eme"t «*» P-r les autres «raitemen.ch..„,g,caux. Tellessom les réflexionsqui .Vasoggéré, lepointde voe operatoire, dom nous avons parle. Au pofnt de vudeons quences, notre manière de proceder consti.ue une opera-o bemgne e, remplissant bien les conditions du traitement

uleux en la.ssant dans tout son parcours les tissus endurés etUsjongos.tés de mauvaise nature, ^ „ ^^

BACTERIOLOGIAC°Xí,UnlCavao^obl'e o vibriao do

^™ <\° diagnostico bacteriologico da mesma doençaEspecialmente eseripta para o jornal >The Lancei,pelo professor MAX GRUBER, de vieNNA (•)Ha de. annos, quando Koch descobriu a presença do com-

rchotaSa7,CO,nent03 ÍnteStinaeS e MS "™^~ d< °~de cho era as.at.co, pensou-se que este micro-organismo pos-su a caracteres mte.ramente dessimilhantes dos de qualquer21 T,e- cr °correr do tempo* - p— «onosso saber, e sabe-se agora que os vibriões obtidos de dilTe-rente, casos d ho,£ra , de ^^nte ramcn lha e n.o s.o inKiraincnte ,m

suas propriedades. De facto, estamos eada ve, mais eonven-.tí«r?. "s^awSai-pSrws «ims» • «*

-J5Í-

cidos de que, lidando com o vibrião do eholera, lidamos comum membro de um grande grupo de micro-organismos sirni-lhantes, e a experiência d'estes últimos annos tem-nos ensinadoque, exactamente similhantes ao vibrião cholerico, ha vibriões—até onde alcança o nosso saber, sem connexão alguma com amoléstia do eholera—amplamente distribuídos por toda a Eu-ropa. Assim se levantam questões da mais alta importânciaetiologica: Que meios possuimos de distinguir o vibrião doeholera de outros gêneros (kinds) de vibrião? Ha uma só espe-cie de vibrião presente no eholera, ou ha varias espécies? Sãoos vibriões que se acham fora do eholera distinguiveis dos doeholera e de espécies differentes da d'elles, ou são todos ellesvariedades da mesma espécie? Sendo assim, vou tentar fazeruma estimação critica do valor diagnostico do vibrião do cho-lera, tarcla difficil e que deve emprehender-se com cuidado,pois é importante não rejeitar cousa alguma bem estabelecida,nem acceitar cousa alguma sujeita a questão e a controvérsia.

Procedamos passo a passo.O numero de espécies de bactérias que teem a fôrma de sacca-

rolhas, espiraes, ou segmentes de espiraes, é muito grande. Nodiagnostico do eholera devemos considerar só aquellas varieda-des de bactérias espiraladas cuja fôrma principal é o commabacillus ou «meia espiral», que teem uma espessura de 0,5 ai,o mm, são capazes de se cultivarem em gelatina e n'outrosmeios, e que mais cedo ou mais tarde produzem a liquefacçãoda gelatina. E como podemos distinguir estas espécies umasdas outras? E' bem sabido que as. differentes espécies debactérias só podem distinguir-se certamente depois de se teremisolado em culturas puras. E' isto o que deve fazer-se no casodos vibriões, e em regra é de todo o ponto fácil. Os vibriõesem questão desenvolvem-se bem e rapidamente na gelatina, epor meio das culturas em placa podem obter-se facilmenteculturas puras, se o numero dos vibriões presentes não é dema-siado pequeno. Muitas vezes, porem, os vibriões são escassos

*53 -

ri7D' °S °Utr0S ge"er0S dc bac,c'ias -'5o preoen.es no ma.e-«ai posto em exame, e então i níccssario usar 0rr0, ° t,íus; Seraeia-sc prime;r° ° mat"iai -inum me.o l,qu,do, ,al como o ealdo, e man.em-se a uma tem-per ora convememe. Qs ^.^ ^ J

so no d0 ,,quld0 dcscnvolvem.sc com (a| rPO°C0 "Cedem ™ SC" CrCSdme"t0 ás »«"¦ bace-nas. Pelo exame microscópico podem elles ser promptamentepaTd

a : • podr obter-secuIturas p-~p« -™Placas de gela.ma. A rapidez do crescimento nas camadassuperiores do iquido depende da temperatura. A* temP2 oraordmana do laboratório, podem passar-se quatro ou cinco diapara que possa observar-se o desenvolvimento; maa, a „'Cao suffic,en,es doze a vinte , quatr0 hora, Q ^ £

*v.bnoes „ esta cultura preliminar c favorecido por uma reacçãofortemente alcabna do meio O exito do methodo de Buchner )em que se faz a cultura preliminar n*uma m.s.ura de caldo comuma cultura esterilisada dc vibrião do cholera cm caldo d -pende essencialmente da a.calinidade que possue esta mistYrEmquanto que Schotte.ius junta uma quantidade comparativa

ZZT: 1 matC'ial a Uma P^"° '"»'M- ^r" 1 (um flo oPd

)mtar Uma PeqUe"a qUamidade d0 -'«¦4a um! : a

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""^ 80Ua da eVaCUa«ao d0 ^lera) a uma grande quantidade de caldo (,o c. c.) Com esta levemod,ficaçao o methodo dc Sch0UeliuSi tan[o Js « aj

como nas de ou.ros, tem dado resultados cxcellentissimosRecentemente, a escola dc Koch reconheceu o valor d*es.e me. odo, e Dunbar (,) ,ornou.o maU delicado substituiu .caldo uma solução de , por cento de peptona na solução depor cento de sa.. Nas camadas superiores d*es,e leio ov« r,oes crescem muito mais rapidamente do que quaesqueoutras bactérias, de modo que dentro d'um certo temoonT(D Munchener Aerzllicbes lotelllgon» Blalt 188^ no P P°dCm(2) Wiener Med. Wochenschr.fi, 1887 n 7 e 8(3) Koch's Zeitschiift f. WAOBund.infeeHoMkranklieiten BI uSERI IV ANNO XXVI VOL. V 17

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elles muitas vezes ser achados n'estas camadas em cultura

pura. Sc se fazem culturas cm placa com a pellicula que sefôrma na superfície d'esta cullura preliminar, podem obter-seculturas puras do vibrião, mesmo quando só muito poucosindividuos estivessem presentes no material original. A modi-licação d'estc methodo, propoòta por Koch (4) para isolar ovibrião da água, é dc grande valor pratico. Juntam-se peptonae sa! a grande quantidade da água (100 c. c ), de modo que setenha uma solução de 1 por cento de cada uma d'estas substan-cias. Esta é então posta n'um incubador a 37o C. A cultura

preliminar naturalmente exclu.c os vibriões que não são moveis,

que não necessitam de oxygeneo, ou que não são capazes de sedesenvolver a altas temperaturas em caldo ou em solução de

peptona e sal. Ha, não obstante, um grande numero devibriões que se desenvolvem na cullura preliminar cia mesmamaneira que o vibrião de Koch, de modo que similhante desen-volvimento não tem per se valor algum diíTcrencial. Devemfazer-se culturas puros em agar c cm gelatina com o produetoda cultura preliminar, e só então podemos tentar distinguir asdifferentes espécies.

Muitas tentativas se teem feilo paro formular differcnças

características nas apparcncias microscópicas entre o bacillo de

Koch e os outros bacillos comma. Estas tentativas, em regra,

teem sido frustradas, tão differentes são 05 caracteres morpho-lógicos que apresenta uma e mesma raça do vibrião do Koch ede outros vibriões, conforme a condição em que se faz o desen-volvimento e a edade da cultura. A differença no aspecto mi-croscopio entre raças e culturas individuaes é muitas vezesmaior do que a notada entre differentes espécies, de modo queé impossível distinguir o vibrião do cholera por este methodo.

.Isto me fez combater (5) a opinião (oppose lhe view) de Cun-ningharn (6) de que ha varias espécies (kinds) de vibriões do(4; loco cito, pag. 3:ió

(5) Aclas ou transacçõ-3 do 7.o Congresso lute rn. de Hygiene vol 2 p. 41ti) \rcliiv far Hygleae LU. li, s. 49.

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cholera capazes de serem distinguidas microscopicamente. Noentretanto, tenho conhecimento com a variedade de vibrião docholera, descripta primeiro por Pasquale (i) n'uma epidemiacm Massauah, e devo admittir que differe da maneira mais no-tavel do vibrião do Koch. E' maior, mais direito, e tem asextremidades pontudas. Estes peculiares teem-se conservadopor anno e meio em culturas cm vários meios e no corpo dosanimaes. .Ainda mais pronunciada é a differença na fôrmaquando se tingem as celhas (ftagella), e pode effectuar se istopelo excellente methodo de Ermengen (2). Examinando umapreparação do vibrião de Massauah, que tenha sabido boa,fica-se admirado dc achar, na extremidade das baíestilhas(rods), grandes c quasi direitas, uma moita composta de quatro,cinco ou seis celhas, ao passo que é bem sabido que o vibriãotypico de Koch tem só uma única eclha na extremidade livre, eé similhante a este respeito a espécies suas alliadas, taes comoo Vibrio berolinensis (3), o V. danubicus (4), o V. Metchnikoff,-o V. proteus, e o V. Deneke. Primeiro, o contraste parece tãogrande que nos sentimos convencidos de que tratamos coraespécies distinetas, c, para os que, com Koch c a sua escola,consideram as bactérias como organismos que possuem umafôrma constante, esse é o único caminho (course) aberto.Aquelles que sabem quanto é commum o polymorphismo emmuitas sm tes de espécies (hinds ofspecies) de bactérias, abster-se-hão de decidir a questão com tanta pressa. Presentementeestou ainda menos inclinado a asseverar que o vibrião de Mas-sauah é uma espécie distineta c não uma simples variedade dovibrião dc Koch, desde que investigações cuidadosas me ensi-naram que as differentes sortes de vibriões do cholera sc nãoextremam tão nitidamente (are nol so sharply defined) umas dasoutras pelo numero das celhac como ao principio sc pensou.Nicolle e Moran, que foram os primeiros e familiarisar-noscom o numero das celhas, estabelecem que cm quasi toda apreparação da espécie uniflagellada sc acham exemplos isola-dos de baciilos comma com duas celhas. Eu mesmo encontrei

-t>6~

muitas culturas da epidemia da Gallicia Oriental, em queainda que a fôrma era typica, uma proporção por modo algummgisn.ficantc possuía, ainda assim, duas ou tres celhas. Isto étudo o que necessitamos dizer com respeito ao numero dascelhas. Ha, alem do mais, a possibilidade de o cholera indianonao dever ser considerado ecologicamente como um só pro-cesso. E, na verdade, é inteiramente concebivel que na índiamuitas sortes de vibriões sejam indígenas e capazes de se des-envolverem no intestino humano e de produzir os symptomasda cholera.-A observação dos movimentos dos vibriões vivose de pouco valor na distincção das differentes espécies, vistoque a mesma espécie varia tanto a este respeito.

Tem-se prestado attenção especial ao aspecto da culturaigrowth) do vibrião do cholera em gelatina e ao modo por quese hquefaz a gelatina. Por muito tempo considerou-se que ummethodo simples de diagnosto consistia na rapidez e na ma-neira por que a gelatina se tornava liquida. Fez-se fincapéespecialmente no aspecto das chamadas «culturas por picada,em gelatina. A liquefacção moderada, decrescendo rápida-mente nas profundidades da gelatina, e a formação d'uma bolhacausada pela evaporação da água, suppoz-se que eram caracte-

nsticos que distinguiam o vibrião do cholera. O caso, porém,não c de modo algum simples. As grandes differenças naspropriedades liquefacientes são certamente de muita impor-tancia: por exemplo, o Vibrio proteus typico pódc sempre serdistinguido por este modo do vibrião do cholera; mas, na dis-tineção de outras espécies que simulam o vibrião do cholerajá não tem validade. O facto é que as differentes gerações do'vibrião do cholera mostram taes differenças na propriedade deliqüefazer a gelalina-liquefazendo-a algumas quasi tão rapi-damente como o vibrio proteus, mal a liqüefazendo apenasalgumas outras - que muitas das espécies de vibriões suasalhadas jazem dentro destes limites. Assim, o valor das eul-turas por picada em gelatina está tão restricto que recentementeo próprio Koch abandonou de todo o uso d'este methodo.

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As culturas em gelatina em placa são de muito mais valor.Mesmo com este methodo, não devemos porém imaginar quepodem sempre descobrir-se aspectos característicos com a vistadesarmada, ainda que se admitta que o caracter da liquefacçãoe a formação de pequenas depressões são indicações úteis paradistinguir as colônias suspeitas. Os meios de confiança paradeterminar a espécie obtem-se somente pelo exame das colo-mas com um augmento de oitenta a cento e vinte diâmetros.Antes de entrar n'este ponto, devo porém indicar que o caracterdo meio nutritivo e as condições geraes do desenvolvimentoteem muita influencia no aspecto das colônias, de modo que sópelo mais melindroso (painstahing) cuidado em manter ascondições ao par é que podem obter-se resultados compa-rativos. A gelatina deve ser sempre da mesma composição.Uso sempre uma gelatina de io por cento, que tem sido pre-parada em conformidade com o methodo de Pctri e Maasene que se tem tornado suficientemente alcalina para dar areacção com o ácido rosalico. As colônias de vibrião apparc-cem mais características n'uma gelatina assim do que na quecontém mais alcali.

A temperatura tem uma influencia especial sobre a energiado desenvolvimento e da liquefacção, e deve ser sempre man-lida em volta do mesmo nivel. A temperatura que mais quadrae entre 20° e 22° C. Por egual importante c o provimento deoxygeneo ás colônias. A differença de aspecto entre as colôniassuperficiaes e as collocadas profundamente depende essencial-mente d'esta circumstancia. A influencia do oxygeneo é lãogrande, que mesmo a espessura da camada de gelatina naplaca altera o aspecto das colônias. Tanto quanto possiveldeveria usar-se a mesma quantidade de gelatina para cada'placa e deve lomar-se cuidado para que as placas estejam per-feitamente niveladas ao fazer a cultura, dc modo que se impeçaalguma differença na espessura das differentes partes da camadade gelatina. E' de importância o numero de germens plantadosno meio, bem como a presença ou a ausência de outras sortes

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de bactérias. O aspecto das colônias de vibrião em culturasfeitas com uma mistura de bactérias é inteiramente diíTerentedo das dc culturas puras, e nas ultimas observam-se diffe-renças, conforme as colônias estão apertadamente empacadasna placa (primeira diluição) ou então escassamente dispersas

(segunda ou terceira diluição). Quanto mais chegadas estão ascolônias umas ás outras, tanto mais pequenas ficam, mas oamollccimcnto c a liquefacj-ão da gelatina procedem mais rapi-damente. São consideráveis as dificuldades produzidas peladependência do aspecto das colônias dc tantas circumstanciasdifferentes, e é só pela pratica c pela experiência que se fôrmaum juizo correcto. Para ser exacto (aceurate) ê necessário fazerem todo o caso culturas em placa com tres ou mais diluiçõesde culturas puras. Devemos tambem lembrar que os caractcr:sdistinetivos das differentes especies só se mostram em certosestádios do desenvolvimento, dc modo que a observação deve

ser repetida a inlervallos definidos de tem; o.Ao observar o que é peculiar ás colônias do vibrião do cho-

lera cm placas de gelatina, devemos fazer dislineção entreaquellas que estão á superfície e aquellas que estão na profun-didade da gelatina, pois o aspecto de umas e outras c inteira-mente diíTerente. As colônias superficiaes de algumas sortes devibriões do cholera n'um periodo do desenvolvimento entre

quinze c quarenta e oito horas depois da semeadura, apresen-tam caracteres que os distinguem de todos os outros vibriõesconhecidos, com excepção do vibrião do queijo, dc Dcneke.Eítas são as fôrmas lypicas, concordantes com a descripçãoclássica de Koch. A colônia mostra se como uma massa deforma irregular, grosseiramente granular, com uma margemrefrangente (refractile). A ultima é uma illusão óptica (opiicctlafpearance), produzida por se evaporar a água da gelatinaliqüefeita na immediata visinhança da colônia, permittindo quea colônia desça para uma pequena depressão com paredes rapi-damente encurvadas. Durante o desenvolvimento subsequente,os «granulos» tornam-se maiores, prosegue a aggregação

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(massing togethcr) dos granulos em troços separados, as de-

pressões tornam-se mais fundas e a refrangencia (refraclilily)mais pronunciada, de modo que, n'um certo estádio, as colôniasse mostram como um monticulo de pequenos cristaes ou de

partículas de vidro. Ainda mais tarde, ficam separadas do restoda vegetação pequenas massas refrangentes {refraclile) e nadam

ao perto na zona liqüefeita, que então tem crescido em tamanho.Ao mesmo tempo, o centro da vegetação torna-se de côr que seinclina a trigueira. A' vista desarmada, a zona de liqucfacçãoneste estádio mostra-se inteiramente transparente. Quantomais oceorrem a liquefacção e a fragmentação (brealánguf) davegetação, tanto mais a colônia perde o scu aspecto caracteris-tico. Nas colônias individuaes observam-se muitas differençasd'este aspecto característico, dependentes do grau da lique-facção c da tenacidade da vegetação. Encontram-se colônias em

que a vegetação se extende mais de pressa do que a liquefacçãoc a evaporação, de modo que apparece como uma camada sobreas paredes da depressão. O aspecto crystallino da vegetação é,todavia, característico para todas as colônias superficiaes typi-cas do vibrião do cholera. Nào devemos esperar achar sempreeste aspecto typico, mesmo em culturas obtidas directamentedos contentos intestinaes. Se o poder de liquefacção c a moti-lidade excedem certo limite, então o aspecto crystallino da ve-

getação, que dejlbnde do cffeito óptico da pequena depressão,nunca é bem pronunciado e pode ficar inteiramente ausente.Uma vez encontrei uma sorte de vibrião dc cholera, cujas colo-nias, após vinte e quatro horas, formavam pequenos copos cir-culares cheios de liquido turvo, no qual fluetuava a vegetação,separada em pequenas massas. Estas colônias eram exacta-mente como as do vibrião de Metchnikoff. Por outro lado, haalgumas sortes de vibrião do cholera que, como o próprio Kochadmittiu ultimamente, liqüefazem muito lentamente. As colo-nias superficiaes teem então um aspecto inteiramente atypico.No menos avançado estádio de desenvolvimento estas colôniasmostram-sc como pequeníssimas gottas ou discos, que se pro-

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jectam á superfície da gelatina não liqüefeita. N'este estádioteem muitas vezes a apparencia de diminutas colônias typhoidescom um contorno dentado similhante e com o mesmo aspectosulcado e finamente (finely) granular. Conforme os peculiaresda sorte especial e conforme a densidade em que esão arranja-das as colônias, leva a gelatina mais tempo a amollecer e aliqüefazer. Algumas vezes isto só tem logar após uns poucosde d.as e não antes de as colônias terem attingido um tamanhocomparativamente grande (um millimetro de diâmetro ou mais)Possuo culturas dó vibrião de Koch que liqüefazem mais len-tamente do que o vibrio berolinensis. A' medida que as colo-nias crescem em tamanho, as finas {fine) granulações uniformestornam-se mais pronunciadas, o contorno torna-se lacerado e asuperfície áspera e fendida em reges. Se no entretanto oceor-rem o amollccimento e a liquefacção da gelatina, a margem dascolônias torna-se mais brilhante (brighter), mas nunca se vê oaspecto refrangente (refraciile) c crystallino das colônias typi-cas. O aspecto d'estas colônias atypicas pôde comparar-semelhor ao de uma couve flor. Mais tarde a fragmentação davegetação cm pequenas massas na gelatina liqüefeita oceorre damaneira usual. Devo insistir no facto.de que certas sortes devtbnao do cholera formam só estas colônias atypicas, ou, aomenos, podem cultivar-se por muito tempo sem alteração doaspecto das colônias e sem a formação de colônias typicas entreas atypicas. As duas sortes (kinds) de colônias são tão dis-tinctas que permittiriam tentar descrever duas espécies (kinds)de vibrião do cholera, fundando-nos simplesmente n'estasdtflerenças. Ainda mais inclinado se ficaria para este modo dcver pelo facto de que em certo material se acha exclusivamenteuma ou a outra sorte, Fiquei muito impressionado ao acharque quasi todas as culturas por mim feitas de casos da GaliciaOriental, bem como dos tres casos oceorrentes este anno emVienna, apresentavam este desenvolvimento atypico. Algumasdas trinta e uma culturas que examinei apresentavam, comtudoo desenvolvimento typico. Provou-se, porém, que muitos dos

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caêos de cholera de que ellas se derivavam eram provavelmentede origem differente da da maioria dos casos da GaliciaOriental que irromperam ao longo do caminho de ferro Szigeth-Stanislau, na lronteira entre a Hungria e a Galicia. A origemde alguns, ainda que poucos casos, com colônias typicas, nãopoude ser definitivamente rastejada. Considerei menos justifi-cavei acceitar uma divisão de espécie com fundamento n'estasdifferenças, porque tinha observado alguns annos antes queuma cultura de cholera, perfeitamente typica, podia assumiruma forma atypica quando cultivada por umas tantas geraçõesem certas condições (por exemplo, em agar).

E' grande infortúnio para o diagnostico do vibrião de Kochque estas differenças oceorram e que a fôrma atypica das colo-nias superficiaes possa apresentar uma similhança que nostorna perplexos, com as fôrmas atypicas de outras espécies devibrião. Devo confessar que, por causa d'isto e d'outras expe-riencias a descrever mais tarde, fui por muito tempo da opiniãode não haver critério digno de confiança para distinguir o vi-brião de Koch de outras espécies similhantes, e de que erainteiramente impossível em muitos casos dizer se um dadovibrião, encontrado sem ser em connexão com o cholera, era ovibrião de Koch ou não. E' bem sabido que vários bacteriolo-gistas experimentados são d'esta opinião.

Investigações ulteriores convenceram-me, porém, de quetodas as sortes de vibriões apresentam aspectos característicosna cultura em placa de gelatina, e aventurar-me-ia a distinguirpor meio das placas de gelatina o vibrião de Koch de todas asespécies similhantes, com a excepção do vibrião de Deneke. Eisto possível por meio dos característicos para os quaes Gun-ther(i) chamou especialmente a attenção: i. As colônias super-ficiaes, no estádio mais precoce (earliest) apresentam umafôrma irregular (nunca simplesmente redonda ou oval) e teemum aspecto, ou grosseiramente granular, ou arregoado e ris-cado (furrowed and lined); ao passo que as colônias de todos osoutros vibriões que temos examinado, com a excepção a que

SERI IV ANNO XXVI VOL. V. 18

acima se alludiu, teem uma fôrma arredondada e se mostraminteiramente sem cstructura, ou, quando muito, são finamenteriscadas. 2. As colônias profundamente situadas, de todas assortes, mesmo em placas ralamente semeadas, apresentam,n'um estádio precoce, uma fôrma irregular, uma superfícieondulada, dcsegual, e, ou um aspecto grosseiramente granular,ou o de um certo numero de ansas de intestino. A fôrma d'estasColônias profundamente situadas faz lembrar forçosamente umaamóra. No caso de culturas velhas, attenuadas, este aspectoirregular, desegual, póde estar só levemente desenhado,.masestá sempre presente. Muitas vezes as colônias profundamentesituadas enviam pequenas protuberancias para a superfície,que se mostram como círculos na colônia, ou brilhantementerefrangentes (refracttle), ou escuros, conforme o loco, e dão aimpressão dc estarem as colônias furadas com uma sovela deestofador (?) (bradawl) (Koch). Pelo contrario, as mais jovenscolônias profundamente situadas de todos os outros vibriõesque temos examinado, com excepção do de Deneke, mostram-se, especialmente nas placas ralamente semeadas, arredon-dadas, inteiramente sem estruclura e com uma superfície lisa.Nas placas bastamente semeadas, nas quaes o amollecimentoda gelatina oceorre cedo, o mais precoce estádio do desenvol-vimento das colônias profundas d'estes vibriões, bem como dassuperficiaes, apresenta uma grandíssima similhança com ovibrião do eholera. A observação determinante deve ser feitadurante as primeiras doze a inte horas, porque mais tarde asdifferenças desapparecem.

Cousa acerca da qual estou bem alerta e para a qual muitasvezes tenho chamado a attenção é a incerteza na determinaçãodas espécies por meio do aspecto das colônias, visto que, alémdo que é peculiar ao micróbio, as condições externas tèem tãogrande influencia, e visto que leves diflerenças quantitativas naproducçao de enzymas proteoliticas, na rapidez do crescimentoe no poder de motilidade podem produzir, e produzem defacto, as mais fiizantes differenças no aspecto das colônias, O

meu discípulo Fritsch (i), mostrou que o vibrio proteus pôdeapresentar quatro modificações duradouras na fôrma das co-lonias, que não possuem similhança alguma umas com asoutras e teriam com certeza sido encaradas como espécies diíTe-rentes, se não se houvesse mantido presente ao espirito o factoda relação genética entre umas e outras. As variedades umtanto constantes do vibriào do cholera, que já foram mencio-nadas, ofíerecem mais um exemplo a este respeito. A raça dovibriào dc Metchnikoff, que tem sido cultivada por muitas ge-rações no meu laboratório durante annos, tem alterado o seucomportamento na gelatina a ponto tal que ninguém a reco-nheceria pela cuidadosa descripção original de Pfeiffer (2).Liqüefaz a gelatina muito lentamente: antes de quarenta a ses-senta horas nenhum signal de liquefacção occorre. Em certoestádio, as colônias superficiaes e as profundas apresentammuitas parecenças com as atypicns do do cholera. Quandooccorre a liquefacção, a gelatina liqüefeita permanece clara, e avegetação está emmaranhada, formando ansa de fitas e cordas

(is malted togelher inlo a coi! of bands and cords) O vibriodanubicus tem soffrido uma mudança muito notável na direcçãoopposta, desde que primeiro íoi descoberto e descripto porHeider. No principio possuia só um moderado pnder de lique-facção, muito menos do que o do vibrião de Metchnikoff, e,consequentemente, cm culturas por picada, era muito simi-lhante ao vibrião typico do cholera. Foi isto admittido pelosmais proeminentes bacteriologistas a quem elle foi mostrado.No decurso de uns mezes o seu poder de produzir uma enzymatem crescido por tal modo que as suas culturas por picada mal

(scarcely) podem distinguir-se agora das do vibrio proteustypico, c, nas culturas cm placa, o aspecto em todos os esta-dios só uma leve similhança tem com o das do vibrião de Koch.

Porém, de modo algum eu asseveraria que a verificação dossupramencionados peculiares do vibrião de Koch prova que

11) Archiv. f. Hygiene, Band. VIII p. 3G9.(2) Zeitschrifl f. Hygiene. Band. VII.

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hão existe um laço de relação (relationship) genético entre ellee uma ou outra das supramencionadas sortes de espécies devibrião. Por outro lado, parece-me ser opposto aos princípiosda historia natural o desprezarmos taes differenças constantes,embora leves, e, sem as considerar, acceitarmos a identidadeentre o vibrião de Koch e qualquer das outras espécies até hojedescriptas.

Não póde dar-se muito valor a muitos dos outros caracteris-ticos attribuidos ao vibrião do cholera. O grau da turvação e aformação d'uma pellicula no caldo a 38o C. são tão variáveis,que se mostra serem tão pouco uma differença de espécie comoo é a frizante differença no desenvolvimento na batata. Aquios effeitos dependem tanto da raça do vibrião, como da diffc-rente constituição das amostras de batata usadas. O caractc-ristico de crescer sobre a batata só a temperaturas acima de 22oC. é também de pequeno valor. O vibrião do cholera de Mas-sauah cresce muitas vezes perfeitamente bem a temperaturasbaixas. O comportamento com o leite é egualmente de pequenovalor. Ao passo que muitas raças obviamente não alteram oleite, outras coagulam-no dentro dc tres a seis dias, da mesmamaneira que o vibrio danuhicus, o vibrio proteus, e outros. Ovíbrio danubicus e muitas outras espécies de vibrião até agoranão descriptas, que Max Teich e E. Wiener teem isolado doCanal do Danúbio, reduzem o caldo de turnesol da mesmamaneira que o vibrião do cholera. As colônias do vibrio danu-bicus e de outras bactérias da água, teem o mesmo cheiro desêmen que as do vibrião de Koch. E' inteiramente impossíveltirar algumas conclusões do aspecto das culturas em agar.Todas as espécies dc bactérias que se parecem com o vibriãodo cholera formam á superfície do agar uma camada peculiartransparente c gris pardacenta (brownishgrey), com superfícielisa brilhante, e certamente podem distinguir-se assim demuilas outras espécies de bactérias, mas não umas das outras.O valor diagnostico das culturas em agar não é, d'este modo,para se comparar com o das em gelatina. (Continua)

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Saneamento da OaliiaPROJECTO DE ESGOTOS

memória Justificativa apresentada á intendencia municipalPELOS ENGENHEIROS J. SlLVElRA FRANÇA li A. MoRALES DELOS Rios.

(Continuação da pag. )III ov-

Si/stemas modernos de esgotos

Os diversos systemas que modernamente tèm vindo substi-tuir os antigos processos de evacuação de águas servidas e deimmundicies têm todos por base o emprego de uma rede decanaes subterrâneos ou esgotos, que se acham cm communi-cação de uma parte com a rua, para d'ella receber as águaspluviaes mais ou menos contaminadas e pollutas por outrasmatérias em suspensão ou arrastadas por cilas, e dc outraparte, com as casas para o despejo das águas servidas, pluviaese ás vezes das águas fecaes.

Alguns hygienistas adoptam o systema de receber nos esgo-tos determinadas águas com exclusão de outras dc naturezadifferente.

Assim, ás vezes, c este é o caso mais geral, só vão ter aosesgotos as águas pluviaes e as águas domesticas com exclusãodas águas c matérias fecaes.

Outras vezes recebem-se n'ellcs as águas fecaes c as águasdomesticas sem admittir-se as águas pluviaes, que têm canali-sação especial.

E' este o systema denominado com o nome pseudo inglez dcseparate system.

Outros hygienistas admittem nos esgotos não só as águaspluviaes das ruas, pateos, etc, mas também todas as outrasespécies de águas nocivas, inclusive as águas e matérias fecaes,sendo todas ellas transportadas a grandes distancias.

E' o systema chamado: Tudo ao esgoto, traducção do Tout áTegout, criado pelo hygienista francez Vauthier. E' este o sys-tema preconisado pelo insigne engenheiro Durand Clave ç

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adoptado pelo Dr. Saraiva e que, por nossa vez, vamos provarque é o único, actualmente conhecido, que é ao mesmo.tempohygienico e pratico e o que melhor se adapta ás condições topo-graphicas d'esta cidade.

Em virtude'dos princípios que já apontamos no capituloanterior, o despejo de todas as matérias deve se elTectuar comrapidez nos encanamentos, sem permittir a formação de depo-sitos no seu percurso, afim dc não crear obstáculos ao livreescoamento das águas.

De outro lado, devem ser tomadas todas as medidas, paraque o ar viciado, que possa se formar nos encanamentos não seescape, espalhando-se pelas ruas e no interior dos prédios,sendo necessário, pelo contrario, obter-se a oxydação das ma-terias por meio de uma corrente continua de ar frcs:o no inte-rior da rede, conseguida mediante disposições especiaes.

A' este respeito diz Ch. Barde:« Já indiquei o papel do oxygeno do ar destruindo os resi-

duos orgânicos das matérias excrementicias, entretanto que afermentação d'estas substancias provêm de sua demorada per-manencia ao abrigo do ar; finalmente a água, diluindo e afo-gando as matérias fecaes no momento mesmo da sua pro-ducção, exerce uma salutar influencia que impede a disseminaçãodos germens.

As condições a impor a um systema dc esgoto não sãoassim sinão a generalisação dos principios indicados para adrenagem das águas servidas das habitações.»

O mesmo hygienista assim se pronuncia sobre as condiçõegeraes, que deve preencher um bom systema de esgotos:

«A evacuação racional e hygienica das immundicies c daságuas residuarias, cm geral, exige: ¦

Uma rede completa de esgotos, que abranja todas as ruas deuma cidade, devendo cada parte componente da mesma tersufficiente declive, para que as águas tenham escoamento con-tinuo, sem que possa dar-se estagnação de gênero algum,çom descargas d'agua, si possivel for, automáticas, que faciü-

r

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tem o escoamento e limpem ao mesmo tempo as paredes doesgoto.

Deve-se pôr um obstáculo a penetração nos esgotos de ma-terias taes, como terra, pedra, areia, etc, e em geral de todocorpo que não tenha a propriedade de lluctuar nos líquidosdespejados.

E' necessário também que, mediante uma ventilação regu-lar, se obtenha uma corrente de ar puro nos esgotos para faci-litar a oxydação das matérias que não são arrastadas immcdia-tamente, entre outras, dos depósitos que se formam nas paredespelo crescimento das águas na oceasião de chuvas fortes.

Esta corrente de ar produzirá também o benéfico resultadode fazer desapparecer os gazes e miasmas deletérios dos esgo-tos á medida que sc produzirem.

Todos os esgotos das ruas deverão ir ter em esgotos col'leclores par ciaes ou secundários, e estes últimos, por sua vez,desembocarão em um ou mais collectores geraes, que terão omister dc evacuar o total das águas colleccionadas.

As paredes dos esgotos devem ser impermeáveis para impe-dir qualquer infiltração das águas do esgoto nos terrenoscircumvisinhos. Estas paredes devem ser arredondadas, demaneira a facilitar o movimento das águas c, finalmente, devemser revestidas de uma matéria dura e polida, que impeça aadherencia das matérias e contribua para actuar o escoamento.

Abundando nas mesmas idéas, diz Palmberg:« O único processo que preenche actualmente as exigências

da hygiene, relativamente ao afastamento rápido e sem incon-venientes dos excrementos, é o systema dos zvater-closets usadosna Inglaterra. A massa d'agua (9 litros) que vem misturar-secom as fezes, o movimento continuo no qual se acham e a tem-

peratura baixa que e.xiste nos encanamentos situados debaixo

do solo, são absolutamente contrários ao desenvolvimento das

bactérias. Os micróbios palhogenicos n'uma massa d'agua fene*-

tem por causa do movimento constante da mesma, por causa

da grande diluição das matérias, do combate que travam com

a- 168 —

as bactérias das águas e talvez ainda por outras razões e cir-cumstancias que nos são desconhecidas.

«Este systema tem o inconveniente, accrescenta o mesmoauetor, de contribuir para a polluição das águas. Porém, dizainda, é um erro julgar-se que as águas fecaes dos water-closetspossam sujar as águas dos esgotos em um grão mais elevadodo que as outras immundicias que n'elles são lançadas.»

Contra esta opinião se levanta Mr. Oppermann, director dosnovos annaes de construcção.

Si for estabelecido, diz elle, que o produeto integral dasfossas seja despejado directa e continuamente nos esgotos,acontecerá inevitavelmente o que já se tem dado em Londrescom a applicação do mesmo systema. A ciiy é de tal modo em-pestada, que o parlamento acha-se na impossibilidade dereunir-se nas margens do Tâmisa, durante certos mezes doanno.

Pelo que, julgo que os esgotos nâo devem servir sinão paratransportar as águas municipaes (do rego e limpeza publica) aságuas pluviaes, as de lavagens das vallas e as águas servidasdomesticas.

Infelizmente, para a causa do illustre engenheiro, os resul-tados do systema acham-se cm opposição ás suas theorias.

Effectivamente, segundo Palmberg, as fezes humanas são de75 a 9° grammas em media por dia.

Ellas contém 75 % de água e 25 % de matérias sólidas, ou56 gr. 25 a 67 gr. 50 de água e 18 gr. 75 a 22, gr. 50 dc mate-nas sólidas. A quantidade dc urina por pessoa e por dia eleva-se a 1.300 grammas. As matérias sólidas n'ellas contidas sãode 3 % ou 39 grammas. A urina contém pois dissolvida cercado duplo das matérias sólidas que se acham nas dejecções. Poisbem, em geral ninguém duvida em mandar para os esgotosgrandes quantidades de urina e de águas domesticas, ao passoque ha quem reprove o envio de matérias fécaes sólidas.

O mesmo auetor accrescenta de accordo com a observaçãoque fizemos a respeito da opinião de Oppermann:

— 169 —

«A experiência da Inglaterra, da maioria das cidades da Êu-ropa e da America, tem demonstrado que são vãos os temoresa este respeitos. Os excrementos dissolvem-se nas águas e nãocausam nos esgotos maiores inconvenientes do que as outrasimmundicies.»

A dissolução é cffectivamente tão psrfeita, como tivemos,muitas vezes, oceasião de verificar, nas usinas de Gennevilliers,perto de Paris que é muito diflicil, mesmo nos grandes collecto-res, descobrir se partes sólidas de excrementos.

O hollandez Lieurnur e o francez Bellier procuraram; porprocessos pneumaticos, complicados de mais para serem pra-ticados, tirar aos excrementos suas propriedades nocivas, tra-tando-os chimicamente cm usinas para onde são transportados.

Fallando d'estes systemas diz judiciosamente o Dr. Saraiva:«O systema Lieurnur teve uma explicação especial. Foi vi-

sando as condições especiaes da cidade de Amsterdam que oengenheiro Lieurnur imaginou o processo que leva o seu nome.Achar um mecanismo para a remoção das matérias fecaes emuma cidade plana, sem declives, na qual o uso de canaes deesgoto seria um árduo, sinão impossível problema a resolver-se, a applicação das clusses d'agua um motivo de complieaçãoe ônus financeiro, foi o valioso resultado que elle tentou con-seguir.»

«O systema tem o seguinte mecanismo; os tubos de queda deum grupo de casas (districtos) reunem-se a tubos da rua; estesterminam n'um reservatório da rua, ligado a uma usina situadafora da cidade. As matérias dirigem-se das latrinas aos reser-vatorios por meio de uma machina grande de aspiração. A aspi-ração exige um aceurado e complicado manejo de chaves etorneiras, que requer grande e continua vigilância e um em-prego de pessoal não pequeno.

«A simples descripção do systema mostra que elle não seadapta ás condições d'esta cidade. E' uma verdadeira peça deluxo, muito dispendiosa, mais do que a canalisação integral, eincompativel com a remoção immediata dos residuos.»

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 19

— 170 -

«O systema Berlier tem muita analogia com o precedente. Oscanaes de evacuação são em ambos de 8 a io centímetros:ambos funccionam por aspiração.

Compõe-se de um reservatório duplo—o receptor e o eva-cuador collocado no sub-solo da casa, abaixo do tubo de quedae communicando com o encanamento especial, no qual é prati-cado o vasio por meio de um orifício fechado hermeticamentepor um fluctuador. Logo que as matérias, misturadas comágua, dirigem-se dos receptores das latrinas e chegam a estereservatório em sufíkiente quantidade, levanta o fluetuador esão logo aspiradas até a usina, installada fora da cidade.

«A este systema cabem as mesmas censuras feitas ao deLieurnur, sem excluir-se uma só. O Dr. Balestra disse deambos: são syslemas muito caros e si acontece um accidente ámachina, ou si a canalisação vem a romper-se, dá-se a infecçãode uma cidade inteira.» O conteúdo partoso dos canaes n'estesdois systemas—iria para o mar dentro do porto ou obrigariaa installarem-se depósitos de matérias fecaes á pouca distan-cia da peripheria da cidade; estes depósitos constituir-se-hiamverdadeiros flagellos públicos, como é fácil de suppor-se.»Apreciando os dois systemas dc Lieurnur e de Berlicr dizPalmberg:

«O temor de introduzir as immundicies nos esgotos de Parisdeu logar a diversas experiências de evacuação das matériasfecaes por meio de conduetores especiaes, porém collocados nasmesmas galerias dos esgotos públicos. Estas experiências fize-ram-se, applicando-se parcialmente em diversos logares darede de esgotos, onde o declive era pouco satisfactorio e oescoamento fraco.

Nos systemas pneumaticos de Lieurnur na Hollanda e deBerlier em França, estes auetores propõe-se pela rarefacçãodo ar nos tubos, por meio de bombas aspirantes, obter otransporte das matérias fecaes para uma usina, onde sãotransformados em estrumes e em saes ammoniacoes. Póde-setambem lançal-os fora da usina, sob a fôrma natural em que

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— 171 —

chegam, por meio de bombas impulsoras até os campos deirrigação.

O systema de Berlier distingue-se do de Lieurnur principal-mente em que o 2." tem um reservatório commum para diversosprédios, ao passo que no i.° cada um dos tubos da quedadesemboca n{um reservatório próprio ligado á canalisaçãogeral.

«O systema Berlier foi posto em pratica em 1883 —1884 noquartel da Pepiniere c em 300 casas particulares do 8.° e 9.0districtos (arrendissements.)

A canalisação publica que comportam os apparelhos Berlier,compõe-se de tubos de ferro de 12 a 15 centímetros de diame-tro, collocad^s dentro do esgoto ordinário publico. Todas aságuas aspiradas vão ter ao reservatório da usina elevadora deLcvallois-Perret.»

Como se vê, pelas transcripções que acabamos de fazer, nemo systema de Lieurnur, nem o de Berlier satisfazem as condi-ções que já indicamos para um bom systema de esgotos e nãopodem além d'isso ser applicados a esta cidade.

Outro systema, que n'estes últimos tempos tem-se genera-lisado em determinadas circumstancias, a ponto de Parismesmo tel-o adoptado no bairro do Marais (pântano), nomeque bem indica as condições do local, é o devido ao norte-americano Geo. Wazing.

Antes de entrar na apreciação d'este systema que, segundo aindicação do Dr. Saraiva, deve ser provavelmente empregadonos bairros d'esta cidade, comprehendidos entre o CampoGrande e Victoria até as Quintas, precisamos elucidar umaquestão, para chegarmos á conclusão de que o systema integralé o que apresenta maiores garantias hygienicas.

A consideração de que as águas servidas domesticas, con-tendo grande quantidade de matérias azotadas, podiam seracceitas nos esgotos suggeriu aos hygienistas a idéa de separard'estcs despejos as materiaes sólidas excrementicias, das quaes

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— 173 —

se recciava a formação de depósitos que, obstruindo os cnca-namentos, impedissem o movimento geral das águas.

N'este sentido, foram modificadas muitas fossas fixas de ma-neira a separar as matérias sólidas das líquidas, fossem ou nãoazotadas.

Emquanto as matérias sólidas eram retidas, no fundo quefossas fixas ou das fossas moveis de construcção especial dasreceberam o nome de tanques filtrantes (tinettes filtrantes) oslíquidos iam escoar-se no esgoto.

Desde que tal processo foi applicado não houve mais empe-cilhos para empregar-se na limpeza dos apparelhos de latrinamaior quantidade d'agua do que a que se empregava primitiva-mente, por causa do limitado volume das fossas.

D'este modo, as matérias sólidas continuando a ficar nas pro-ximidades das habitações não deixavam dc infeccional-as,compromettendo sua salubridade.

Não se conseguia assim o fim que visavam os apóstolos dosystema divisor, porquanto, as águas passando por ei Tia dasmatérias fecaes, ao escoarem-se nos esgotos, arrastavam com-sigo grande quantidade de matérias sólidas.

Ora, está provado que as matérias excrementicias, quandomisturadas com uma grande quantidade d'agua, não produzemmáos cheiros, sendo precisamente isto o que se dá com as fezesque têm estado durante algum tempo expostas ás influenciasmais ou menos directas da atrnosphera. E' por esta ultimarazão que os líquidos que sahem dos apparelhos do systemadivisor para o esgoto, arrastando comsigo parte das matériassólidas, exhalam máos cheiros de que os esgotos são aceusadossem razão.

Foi por isto e por se achar em Paris muito espalhado estesystema que se produziram n'aquella cidade os máos odores,que deram ao engenheiro Oppermann o ensejo de escreverestas linhas:

«Quatro causas simultâneas concorrem para infectar o arde Paris de algum tempo para cá: o cheiro de podridão e de

- «73 —

cadáver espalhado na atmosphera é de tal modo intolerável emcertos bairros que a opinião publica tem reclamado contrasemelhante estado de cousas.

A catastrophe do boulevard Rocheouart, onde quatro ope-rarios dos esgotos foram subitamente asphyxiados pelos gazesdesprendidos dos encanamentos, tem excitado a irritação geral.E' claro que este estado de cousas não pode durar, sendo pre-ciso applicar-se as mais enérgicas medidas para evital-o.»

O Dr. Oppermann cita então as quatro causas da infecção doar de Paris, a saber: os esgotos, as fossas, as fabricas de pro-duetos insalubres e os cemitérios.

Isto deu-se em 1880, quando Paris não contava com aguasufficiente para todos os seus serviços.

N'esta oceasião, o Dr. Oppermann descurou de fazer a criticadas fossas, causa essencial da polluição do ar dos esgotosembirrando contra estes, quando diz:

«Certamente as boceas de esgoto situadas debaixo dos pas-seios desprendem um cheiro absolutamente prejudicial aosvisinhos e ás lojas situadas nas suas proximidades e ao mesmotempo repugnante para os transeuntes.

A aífirmação, por demais leviana, publicada em uma notaofficiosa e segundo a qual o cheiro dos esgotos é apenas sensivee facilmente supportavel, é desmentida pela experiência diáriade qualquer indivíduo.

E' preciso crer que o rédactor dc tal nota nunca teve oceasiãode passar por deante de uma bocea de esgoto para sustentarsemelhante proposição.»

Depois, o Dr. Oppermann ataca o systema de tudo levxr-se aoesgoto e propoz meios de desinfecção que elle mesmo denominameios preventivos, quando o verdadeiro meio prophylatico eraa suppressão radical das fossas fixas e das moveis com a appli-cação do systema divisor, visto como eram, ellas, como foi

provado, a causa verdadeira d'esta polluição.O Dr. Oppermann terminava n'esta oceasião dizendo:«Para impedir de Ama maneira mais completa ainda que as

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boccas de esgoto lancem na atmosphera os seus cheiros nau-seabundos, torna-se preciio appllcar-lhes um processo de,occlusão por meio de tampos automóveis {vannes antomoblles)de chapas de ferro, como existem em muitas cidades comoGenebra, Bruxellas e Lisboa, que se acham melhor admlnis-radas n'este ponto do que Paris.

Estes tampos, quando for conveniente, podem ser levantados«pour donner, a um moment donné,. á Ia venlilation toute sonenergie.»

Quizemos conservar a esta ultima phrase prudhomesca suaredacção franceza para tornar mais saliente a flagrante contra-dicção do eminente publicista que muito dc leve escreveu opi-nião tão contraria aos princípios mais averiguados da scienciahygienica.

O que faltava em Paris em água e sem esta não ha fácil ven-lilação nos esgotos, pois é a correntesa d'agua que determinamais facilmente a direcção da corrente de ventilação.

Apezar da grande auctoridadè do nome do Dr. Oppermann,a sciencia hygienica moderna não condemna, antes exige, osesgotos, comtanto que estes preencham certas condições.

Para ainda mais uma vez proval-o, vamos transcrever asseguintes palavras do Dr. Saraiva, resumo das leis hoje accei-tas cm hygiene, ede cuja veracidade não se pode duvidar:

«Os esgotos nas condições normaes, em que hoje é possívelrealisal-os, não encerram nem espalham na atmosphera dasruas ou das habitações gazes odorantes, nem ar infectado,porque o affluxo do ar no seu interior substitue á putrefacção,quc se poderia temer, uma oxydação incessante das matérias,porque a corrente de ar principal nas differentes partes é deter-minada pela corrente d'agua e marcha no mesmo sentido;porque, emfim, a humidade do ar que n'elle circula precipita osgermens; prova-o a analyse microscópica directa:—ha menornumero de bactérias no ar dos esgotos do que no ar das ruas.»

Accrescenta ainda o mesmo professor:

- »75 ¦*»

«Entretanto, si nos esgotos a rapidez da corrente d'agua forfraca, si a inclinação for insuíficiente, si a quantidade d'aguaque percorrer a rede íor tambem insuficiente, sobretudo nosesgotos de pequeno calibre, assim podendo acontecer que seachem, por vezes, a secco, si em muitos pontos o nivel for va-riavel, resultará um deposito de vasa, de areia e de matérias empu<refacção no leito d'elles, e os meios de asseio empregadosnão remediarão sinão imperfeitamente a estagnação d'estasmatérias.

O augmento da quantidade dlagua que possam receber nãobastará para fazer com que dcsappareçam estes inconvenientes,será necessário praticarem-se asseios freqüentes e limpalostodos os dias como limpa-se um rego da rua.

Debaixo da relação da salubridade seria imprudente admittir-se que matérias fecaes provenientes de indivíduos atacados demoléstias infecciosas podessem penetrar, circular ou estagnarem esgotos semelhantes sem perigo para a saúde publica.»

Julgamos ter dito o sufficiente para provar que o facto dasmatérias fecaes irem para o esgoto nào auetorisa a supposiçãode tornal-os forçosamente infectos. Isto, porem, sc dá quandoas matérias acham-se em estado adeantado de corrupção aosahir das fossas ou dc qualquer outro deposito.

Este systema de despejo bastardo e bárbaro tem, pois, osinconvenientes das fossas ordinárias, com a aggravante detornar criticavel o processo racional de tudo ser enviado aoesgoto.

Como já indicamos, a admissão dc todas as matérias excre-menticias nas galerias de esgoto prevê a chegada directa, imme-diata e fresca de todas as matérias qu'c hão de ser despejadaslonge. O systema tem esta grande vantagem sobre o processodivisor, onde, si de um lado as matérias chegam ao esgoto emmenor quantidade, de outro lado são muito mais perigosaspara a salubridade publica, em virtude do estado de apodreci-mento em que ellas se acham.

— I7Ó —

Ora bem: o que mais se receia no systema integral ou unitário,pelo lançamento no esgoto de todas as matérias sólidas excre-mentidas, é a formação de depósitos no interior dos canaes eque estes depósitos se tornem putresciveis.

N'este caso, é'claro que o esgoto achando-se em communi-cação com a rua as emanações dos gazes não tardam em teracccsso n'esta, produzindo cheiros prejudiciaes.

¦ O Dr. Saraiva, porém, demonstrou que isto não se pode darem casos normaes e, si se admittisse que tal acontecesse, era ocaso de prohibir semelhante systema de despejo.

Esta aceusação, porém, não attingiria somente o systemaintegral.

De facto, a experiência tem demonstrado, á saciedade, que osdepósitos de areia ou vasa, que por vezes se tem formado nosesgotos quando estes recebem somente os líquidos das fossasdo systema divisor, as águas servidas e as industriaes, acham-se tão impregnados de matérias azotadas, como si tivesse vindoaos esgotos, além das referidas águas, a totalidade dos despejosfecaes cuidadosamente armazenados nos fundos das fossas.

E', pois, a grande lei dos esgotos, além do que já ficouapontado:

i.° Os esgotos devem ter declive sufficiente;2.° Devem achar-se providos de agua abundante;3.° A entrada de areias, terra, vasa, etc. deve ser impedida a

todo transe;4.0 As matérias fecaes, ncelles despejadas, devem chegar

frescase recente;5.0 Ellas devem ser facilmente trituradas e diluídas e levadas

para longe.E' melhor, em boa hygiene, não se ter esgotos, do que pos-suil-os sem que possam preencher as condições que ahi ficam

apontadas.O problema assim consftuido pelo systema unitário ou inte-

gral acha-se, pois, limitado a determinadas condições.

— I77 -

Sendo assim, e o caso de se perguntara! as vantagens incon-estáveis qoe apresenta a evaenação imraediata e integral detodas as de^eções do esgoto não podein. ás ve.es, ser conse-en dos de uma maneira mais si..,p|es, em condições menos"Z£T C a íCtUd0

COm mcn0res de3Pezas d<= dinheiro e deagua e com dechves menos pronunciado ¦Esta foi a questão que o coronel norte-americano GeoWaring fo, chamado a resolver, quando em ,8;9 foi convidado

para pio.ec.ar c executar o saneamento da cidade de Memphis,no estado de Teunessée. v 'Esta cidade, que só contava 40000 habitantes em ,87o, tem-se desenvolvido depois do saneamento de uma maneira extraor-dinana Acha-se Situada na manjem esquerda do rio Mississipi,em frente a embocadura do Wolf River.O estado sanitário de Memphis tinhi <*;rU cammáo. ^»i-*i*is tmna sido sempre muitoEm 50 annos haviam-se dado 22 epidemias.A febre amarella em 1S7S fe? m-.*c -1» • .

„i 7 ez mais Je 4000 vjctimas. o oue«brigou a maior parte dos habitantes a abandonar a cidadeChegou-se mesmo a pensar seriamente no abandono e des-.rmçaoda edade, no intuito de evita,- „ contagio da ^em todo o valle do Mississipi. moléstiaFoi „'es.a oceasião que o Sr. Waring, engenheiro especialista2zt:s sTamr°'dcpo:sdeuma**•™"™-:

em tooas ns casas da edade, organisou o programma das obrasde saneamento de Memphis.Mr Lavoiane nos nAnnales industriales. deu a conhecer áEuropa o systema empregado pelo engenheiro WaringEis aqui como elle resume as condições do sysiema"

pe ,uenóTg°na 'T^0 d°SeSS°,0S de »«*»*«-t<-* depe-ueno diâmetro, destinados unicamente d evacuação daságuas servidas com exclusão das águas pluviaes- *

e oTr ^"'^ d,C '°d0S °S man™™°* Por

'tomadas de are por chaminés, eleva„do-se além da cumieira dos telhados-'• c~Xdi™? ^TS os ram- -««"-

— 178

com o conductor da rua, sem interposição de diaphragma ou de

fechadura hydraulica;4.0 Limpeza diária dos encanamentos por meio de descargas

(chasses) para o que se utilisám os depósitos d'agua situados

nos ápices das respectivas secções.Os encanamentos empregados em Memphis são formados de

tubos de grew envernisados no interior e tendo na sua origem

e até uma distancia de 900 metros um diâmetro de o1", 15. Este

diâmetro vae dopois até o 20 c 0,-5. Os collectores onde elles

vão desembocar attingem 0,30 e 0,35, sendo era tubos de grew

ora canos de ferro.A rede projectada primitivamente tinha 32 kilometros; ífo,

depois, estendida até chegar-se a 68 kilometros.

A declividade dos canos seccionaes ou elementares nunca é

inferior a 5 millimetros por metro, descendo nos collectores até

I, 7 millimetros por metro.Os depósitos de descarga d'agua tem capacidade de 500

litros e o seu funccionamento é automático.Toda a rede dos 68 kilometros tem 180 depósitos de des-

carga, ou, em media, um deposito para cada 37o metros.

Os ramaes particulares de ligação tem o. 10 de diâmetro. Re-

conheceu-se, poi cm, depois, que um diâmetro de om, 6 é sufíi-

ciente, porquanto tendo sido applicado um tubo com este

diâmetro em um hotel com uma lotação de 1300 pessoas ficou

elie perfeitamente servido.Actualmenle os pequenos calibres vão tendo applicaçao com

bons resultados tanto na balística para o ataque na guerra,como nos tubos para a defeza da saúde publica.

Tres annos depois de installado o serviço dos esgotos em

Memphis o conselho municipal e os engenheiros da cidade

deram testemunho do perfeito funccionamento do systema.

Graças a elie, o estado sanitário da cidade melhorou de uma

maneira sensível.Entre outras vantagens reconheceu-se que os esgotos não

desprendiam máo cheiro algum.

— «79 —

O êxito da experiência de Memphis resoou em todo o terri-tono da União americana e é pelo mesmo systema que se achamsemeadas as cidades de Omaha (Nebraska), Norfolk (Virginia)Kalamasoo, (Michigan), Keene (New-HamSphire), Phtfield(xMassachusset), BulTalo (New .York) e Birmingham (Alabama).Para se verificar o perfeito estado do systema tem-se empre-gado a passagem das famosas bolas de borracha que de hamimo são usadas no syphão da ponte Alma em Paris, onde foiinstallada pelo celebre Mr. Belgrand.

Tratando de examinar si o systema Waring tem applicaçãoa esta cidade, assim se exprime o Dr. Saraiva:«O systema Waring é um excellente systema, onde achacond.ções de sua applicação; n'esta cidade elle não os tem. Estesystema prestar-se-hia muito bem a representar a rede de es-

gotos que se tenta construir, si, a superfície de nosso solo nãofosse por demais desegual e irregular, o que inhibe estabelece-rem-se os declives sobre que elle basea-seDemais, no systema de Waring, o conteúdo que circula nosseus tubos de diminuto diâmetro é pastoso (So a 9o % d^ua)sendo a progressão rápida d'este conteúdo determinada poruma restricta inclinação d'ella, de sorte que os tubos termi-naes do districto em que se divide a rede geral devem dirigir-seou para um curso d'agUa visir.ho, ou para o mar, si o marachar-se á pouca distancia; mas, onde, na Bahia, irão derra-mar-se estas immundicies? Necessariamente deve ser dentrodo porto da cidade, que é ponto do mar pouco afastado.

Pode-se ajuizar da enormidade das conseqüências que resul-tariam dc tão desastrosa pratha »«O systema Waring deve representar a rede de esgotos dascidades de menor importância situadas á margem de um rio

poderoso, com um volume d'agua capaz de garantir uma com-pleta diluição das matérias e com uma correnteza sufficientepara prcv.nir toda estagnação, ou das cidades que, em virtudeda pequena distancia, podem enviar as matérias dos esgotos

— i8o —

não nas suas enseadas, mas onde suas grandes massas d'aguase renovem e se agitem vivamente.

A vantagem econômica do sy?lema desapparecc quando setrata, de uma cidade, onde é indispensável receberem-se aságuas pluviaes, as de irrigação, etc, pois que torna-se neces-sario uma dupla canalisação.»

O prolessor Saraiva accrescenta:aO systema Marrio é apenas uma modificação do de War-

ring, não tem, pois, applicação a esta cidade.»Em uma palavra, o systema Warring não deve ser empre-

gado na Bahia sinão em determinados logares, visto como, nãosendo esle systema sinão um caso particular do systema ludoao esgoto, só deve ser empregado nos casos em que este nãopode ser applícado.

Ora, a Bahia não se acha n'cstas condições, portanto, ounico systema applicavel a esta cidade é o integral ou uniiarioproposto pelo distineto professor Dr. Saraiva.

Era o que queríamos demonstrar c o que ainda provaremosmais adeante quando tratarmos da topographia da cidade.

Ouçamos, porém, ainda, a opinião de distinctos hygicnistasa respeito d'este systema.

Diz mr. Ch. Borde:

«Este ultimo systema, ao qual tem-se applícado o nome deTudo ao esgoto, propaga-se cada vez mais.

E' o unico que permitte o saneamento de uma cidade me-diante as precauções enumeradas mais acima...

Não se poderia hoje, depois das experiências feitas emdiversas cidades e da leitura de numerosos trabalhos feitos porespecialistas, entre outros pelo engenheiro Durand Claye, pre-ferir-se a este afastamento immediato e rápido de matériastransportadas á razão de uma velocidade superior a 2 kilome-tros por hora o systema de guardal-as, durante mezes, no inte-rior das casas, para ser^m depois transportadas fora das cida-des por meio de carroças.

— i8i —

«Muitas cidades, diz ainda o mesmo hygienista, tem visto oseu estado sanitário melhorar consideravelmente em conse-qucncia da introducção do processo de lançar todas as suaságuas servidas no esgoto.»

(Conlin úa),

REVISTA DA IMPRENSA MEDICAÍ UM CASO DE F1LAR10SE EM INDIVÍDUO TENDO SEMPRE VIVIDOna europa,—Com o titulo— «cDe Ia Filariosis. Exposiciòn deiprimer caso esporádico observado en Europa» M. Font publicouna « Revista de Ciências (Médicas de Barcelona», 1894, n. 4, 5,uma communicação acompanhada de uma estampa com 6photographias, registrando interessante facto de filarioseobservado em individuo permanentemente residindo em Hes-panha. Da referencia do trabalho de Font publicada peloSr. Sentinon cm o n. 2 do XVI volume da Ceníralblatt furBalderiologie und Parasitenkande, de 9 de Julho ultimo, extra-himos a presente nota muito resumida.

O paciente viveu sempre em sua palria, a pequena cidadeCanetde Mar, a 41 Km. ao norte de Barcelona; apenas cmcurto espaço de tempo para serviço militar dc pouca duraçãoesteve em San Sebastian e Vitoria (Hespanha), dc Abril dc

, 1878 a Agosto do mesmo anno, quando logo teve baixa porincapaz.

A affeeção apparcceu em 1S76 pela primeira vez, quando 0paciente contava desoito e meio annos de idade. As manifes-tações começaram por phenomenos dolorosos vários, c consis-tiram depois em lymphangiectasias inguinaes, abscesso lym-phatico ganglionar, accessos repetidos de hemo-chyluria,infiltração escrotal..

As urinas hem o-chylosas continham embryões dc filaria.O exame do sangue extrahide de um dos dedos deu resultado

negativo de dia (? h. t.) c positivo á noite (12 m.); em umadas preparações contava m-sc 25 embryões.

Após longo uso de banhos dc mar o paciente julgava-se

V

— i8"2 '. * j: -*- -¦

curado; entretanto novo exame do sangue mostrou ainda per-sistircm n'elle embryões de filaria.O medico da pequena cidade (5.000 habitantes) informou

que em 12 annos durante, os quaes alli exercia, outros douscasos de hemato-chyluria intermittente haviam sido por cllcobservados: um em um homem de 29 annos de idade, no quala moléstia durara 3 annos, mas já havia desapparecido havian annos; o outro caso fora o de uma mulher semi-idiota, naqual a affecção se apresentara em 3 accessos durante 4 annos,datando já o ultimo de 3 annos.

Na pequena cidade em questão, que possue bôa e abundanteagoa potável canalisada, residem muilas pessoas que adquiri-ram fortuna na America.

A possibilidade da introducção da filaria Wuchereri naEuropa já fora prevista. A facilidade dlessa immigração ento-zoaria cresce em relação aos paizes do sul da Europa. Ahi,*além de a favorecerem condições climatologicas, concorre onumero avultado de individuos que regressam dos paizes tro-picaes quentes, onde reina aparasitose endemícamente. Nemalta mesmo hospedeiro intermediário para o nematoide;das varias espécies dc Culkideos europeus preencherão algu-*mas.as funcções que entre nós exercem as suas congêneres,asmuriçocas. *

As adaptações para a transmigração dos parasitas facilmentese realisam em certos casos

P. M.TratajMento cirúrgico da peritonite suppurada—Lê-se no

Sperimentale de Florença, cArchivos de Pediatria de Novem-bro a Dezembro de 1893.

Uma menina que tinha soffrido ha seis mezes de febre ty-phoide, entrou em 19 de Janeiro de 19 ¦ no hospital Meyercom symptomas dc peritonite tuberculosa.

Decidio-se logo a operação que foi realisada encontrando-seuma peritonite chronica suppurada.

''&?¦'

- .83-

a lavagem do péritoneo. A menina sahio curada em 32 de Feve-ClI O*

JThZTmmidà,ie cl'este caso para indicar i»« «"• ^TOU hypp.heses que explica , efficacia da laparotomia• fr/ ! T^.':

* Pr0babilidade ^ cura ou «elhorí ^™'ação do hqusdo, e portanto o desapparecimento do subst„, mc z': T:dr bac,"os' com°cm a,guns «•-«»consl! °

C°m° """' SC8Ura a **>* luc fazton CUratiVa

da ,aP"°">»ia nos casos de peri-tomte, umeamente no liquido da lavagem que modifica demodo real o péritoneo. moainca de

Tratamento das synovites oe orAos RI21F0WIM pela EXT1R.PAÇAO.-Em nm trabalho que acaba de publicar «obre eiassumpeo, o Dr. Mullie, procura demonstrar q £ ZZl

gados ordmanamente, taes como a punetura, ou mesmo anessao segusda da raspagem são insufficientes para a 2que é prefersvel empregar a extirpação completaA prmcspal ra2ão que milha em favor dWe methodo é quecs prosada a natureza tubercuiosa d*e.,ta forma de sy„ov ,e.an o pel0 mma direct0 que perm.ttc rMonh y ov, o

p oDservaçao clinica que tem demonstndn i <^rrris,encia d'csta mo,estia -—£?..£Ha porém todo o interesse em tratal-a como uma tuberculose

E' o melhor meio de evitar as repetições.

os""" PCnSa qüC 3 °PeraÇa° é indiCad;« « *«i '«dos

Só quando a synovite de grãos riziformes é recente em ummd.vduo moço e de boa constituição é que o cirurgião Ze ,,contentar fazendo a incisão eom a raspagem «5."

— 184 —

dult„ ou de um velho, se existem fis.ulas na pelle, e se %tendoes estão mvadidos í indicada , extirp ^ £Saguado as regras iodieadas por M. Mulliez minuciosa-mente em seo trabalho ehega-se a excellentes resultados

p Uma amÍSePSÍa riS°^ * operação é benigna.

estandoem ?™ ",'• ^ ,UC 2 """'^ qUat0™ ™«'

Scã 1 T eS,CS "S0S °s lendõcs * "»"<«*» Pd»re"n a

'e 7

°Ze "** a rCUniiio Prim!ti- « ^as vezes areunião secundaria.

Tratamento oo canco oo estômago.-No Canadá Lanceiencontra-se o seguinte:O Dr. Brissaud diz que é bem conhecido ha muito tempo que,v T tr0dC~ PMSUCm P-P-dad !rattva. nos ep.theltomas da bocea e em certos cancroides do

esllt" emPreg°U ° meSm° tratam™° "°3 »-«• ^Devido a solubilidade limitada do chlorato de potássio^ e serma,s accentuado o seo caracter tóxico comparado asa d

,: PrCfcrid° P°r Se'' ™en0S >»'*»<> e poder serinjectado sem risco em maiores doses

mente.

recuam de ' "*"" SymPt°raaS ^'™ d«appa.receram. de modo tao permanente algumas vezes, oue quasipareceu em certos casos que se tinha conseguido a cura

O micróbio do homicídio.-Como se não bastassem Lom-ariVd5;"8 ,adePtr dCfe"dCr °S Crimi— -h m £la campo do.s outros .tal.anos, affirmando que a mania do assas-

- i85 -

sinio é uma doença produzida, como tantas outras, por um

micróbio especial.Quando elles communicaram este facto, não houve quem

deixasse de rir dos Srs. Magri e Rivalta, posto que sejam

ambos professores', sendo o ultimo muito considerado.

Os descobridores, porém, de tão surprehendcnte micróbio

não se limitaram simplesmente a annunciar a descoberta, dedi-

caram-se ultimamente a vivos estudos e novas investigações

recolhendo de um homicida o micróbio gerador do crime.

O micróbio de que sc trata é quasi redondo e reside em gra-nulações características no cérebro. Encontra-se nos centros

nervosos e principalmente no cérebro de animaes ferozes,

tendo-o até os Srs. Rivalta c Magri encontrado na massa ence-

phalica de cães de caracter violento. Isto não bastava, e os dois

illustres anatômicos italianos dedicaram-se ao estudo do cere-

bro dos homicidas. Em dezesete cérebros de ctiminosos com-

provaram a existência do micróbio redondo e granulaçõesespeciaes.

Estes micróbios determinam uma intoxicação dos centros

nervosos, communicando a estes um viru.s que, cm momentos

criticos, e sob a influencia de uma sobreexcitação ou de um

gráo mais forte de virulência, produz ataques parecidos com os

de hydrophobia.Os criminosos são, portanto, uma espécie de hydrophobos

intermittentes, segundo esta theoria.O que se ha de fazer em vista d'isso?

Fazer inoculação preventiva nos indivíduos de caracter vio-

lento, a quantos criminosos sejam encerrados n ) cárcere; isto

é, uma vaceina como a que se pratica'para evitar outras enfer-

midades. ^^ }

DiPHTHERiA.—Perante o congresso de Buda-Pesth expoz o

Sr. Loffler, de Greifswald, relator da junta allemã, os seguin-

tes factos e considerações:E'agente pathogenico da moléstia o bacillo diphtherico, cuja

SERIE IV ANNO XXV[ VOL. V. 24

¦*- |86 —

importância etiologica é indiscutível hoje. Devem portantoconsiderar se diphthericas só as doenças por elle causadas.

Ha freqüentes moléstias das primeiras vias respiratórias, queclinicamente simulam bem a cliphtheria verdadeira,, que comoella podem ser graves ou benignas, mas cuja causa são outrosorganismos- esireptococcos, estaphylococcos, pneumococcos—e cujo diagnostico differencial só a bactericlogia logra fazer.Portanto, as estatísticas relativas á extensão epidêmica da

diphtheria só podem ter valor acceitavel quando haja o examebacteriológico a separar seguramente os casos da verdadeiradoença, dos que com ella sc parecem.

Teem andamento variável as epidemias diphthericas, comoas da maior parte das doenças infectuosas. Muita vez benignas;

outras gravíssimas, como demonstram a grande mortalidade, a

freqüente extensão do mal á larynge e fossas nasaes, as lesõesesclerosas do coração e dos rins c as paralysias conseqüentes.Na mesma epidemia se vêem alternar, irregularmente, casos

graves c casos leves,

Dependem, os vários caracteres das epidemias, de muitosfactoves; que são:

i.°—As variações, cm quantidade e em virulência, dos ba-cillos diphthericos; não conhecemos ainda, bem, as causas davirulência;

2.°— As bactérias associadas, pathogenicas ou sapr.phytas;os processos de putrefacção, que se passam nas mucosas,actuam para mal, quer por augmentarem a virulência do mi-crobio, quer por diminuir a resistência do organismo, aoreabsorverem-se-lhe os productos;

3."—Disposições individuaes, por ora desconhecidas.

O bacillo diphtherico pôde estar no nariz ou na pharynge»sem dar effeito nenhum pathologico; só o dá em se fixandon'um ponto. O que suecede em havendo lesões de mucosa (fe-ridas minúsculas; alterações catarrhaes). Algumas condiçõesatmosphericas, humidade, por favorecerem o catarrho, parece

- i87-

que auxiliam o desenvolvimento da moléstia; é ponto aindapara estudar.

Transmitte-se quasi sempre a doença por contacto directo(escarros, tosse, espirro, beijos, mãos sujas das secreções dosdoentes), ou por objectos conspurcados (bebidas, comidas,louças, roupas), mesmo quando sujas ha muito tempo.

O doente é fonte de infecções emquanto tiver bacilios nasmucosas; e, comquanto geralmente desappaieçam estes com ossymptomas locaes, ha casos de se lerem achado bacdlos viru-lentos nas mucosas, ao cabo de semanas e de mezes.

Podem os micróbios viver mezes fora do organismo, quandoenvoltos em matérias orgânicas e fora do contacto da luz; a por-caria, a escuridão e a humidade das casas auxiliam a conser-vação dos bacilios e portanto a dillusão da doença. O queporém mais favorece esta ultima, c a agglomeração dc indivi-duos predispostos; nas escolas, creches, cásernas.

Nunca se achou o bacillo diphtherico como seguro agentepathogenico de doença espontânea dos animaes, análoga ounâo á diphtheria. Não se deve admittir, perante a scienciaactual, a possibilidade de se transmittir diphtheria verdadeira,dos animaes ao homem. Seria bom que os governos mandas-sem estudar os casos de doenças zooticas análogas a esta.

Como medidas prophylactkas devem aconselhar se:i.°—Limpeza, enxugo e arejamento das casas, bem como a

maior illuminação natural;2.0—Cuidados d'aceio da boca e nariz, gargarêjos salgados

ou de bí-carbonato de soda, limpeza freqüente dos dentes,arrancando os arruinados, destruição das cryptas amygdalicasprofundas e corte das amygdalas hypertrophiadas;

3»°—Lavagens frias do pescoço cm tempos de epidemia.Todo o caso suspeito de diphtherico deve ser examinado

bacteriologicamente Deve pôr-se a fácil alcance dos médicos—nas pharmacias por exemplo—quanto seja preciso para fazerculturas, cujo exame seja depois feito por entendidos. Casos

¦¦•, i$i8 —

verificados de diphlheria verdadeira, e casos, suspeitos e nãoexaminados, devem ser notificados á auctoridade.

Deve isolar se o doente diphtherico, quer em quarto especialda casa, quer em hospital apropriado.

Para obstar ao alastramento epidêmico, faça-se desde oprincipio tratamento anti-bacillario local.

Uma das melhores medidas é vaccinar todas as pessoas,mormente creanças, que andem perto dos doentes. Como estádemonstrado ser innocente o soro anti-diphtherico de Behring,bom seria que se lhe estudasse o valor prophylactico, nasfamílias e nas escolas onde tenha apparecido a doença.

Após cada caso deve ser obrigatória a desinfecção—que hadecomprehender: o doente, o quarto e os objectos que lhe tenhamservido. Os convalescentes não devem communicar com ossãos, nem as creanças devem voltar á escola, senão quando sctenha verificado bacteriologicamente que já não teem bacillos.

Declarada uma epidemia diphtherica, devem publicar-se nosjornaes as respectivas instrucções sanitárias.

Med. Contetnp.TRATAMENTO DA TUBERCULOSE PELOS SUPPOSITOR10S CREOSO-

tados.—M. Simon ensaiou de novo o tratamento da tuberculosepor esta medicação, concluindo que de todas as vias de admi-nistração da creosota é o recto a que se deve preferir. A favorda sua opinião, o auetor invoca a fácil absorpção comprovadapela sua passagem nas urinas e pelos casos clínicos que sãotestemunho das numerosas e.rápidas melhoras nos tuberculososnão febricitantes. A formula proposta é a seguinte:

Creosota de faia pura 0,4 gramIodoformio 0,005 »Salol 0,4 »

Para 10 kilos de peso de corpo, dissolvendo em: azeite deoliveira puro, 90 para 10 cc. Empregar uma injecção rectalquotidiana.

Estes detalhes são necessários para mostrar a grande sim-plicidade d'este methodo.

TWY\'Wr-rx^wv^^?T?!r?t'- ^I^wJy^V™.!.? '" '¦¦' '¦- ll1 ¦ fv-ií •

— l89 —

Oulros clínicos hc, que já apresentaram formulas maissimples, mas todos os auetores estão de accordo em reconhecerque o emprego dos suppositorios c mais pratico que o uso declystere6. M. Tingler experimentando em si próprio, provouque quantidades de creosota variando entre um e dous grammaspro die, podem ser absorvidos sem determinarem qualqueraccidente nem irritação local.

Limanski resume todas as vantagens do suppositorio creoso-tado: rapidez de absorpçao egual á do clyster, facilidade deadministração, tolerância quasi certa, doseamento seguro emuito commodo. A formula de que sc serve Limanski é aseguinte:

Creosota de faia pura o,'6ei,'oManteiga de cacau 5 gram.

Este methodo tem a grande vantagem de não faligar o intes-tino e de ser muito bem acccitc pelo doentes.

ETEOROLOGIAResumo das observações meteoro-lógicas cio rnox do Setembro

Temperaturas. -Máxima 27-,00; no mesmo mez do annopassado 27-,80. Mínima 22',00; no anno passado 2^,50; Mediado mez 24-:8.., no anno passado 25-,30; Media ao sol -j4-|W>, noanno passado M-)2Ú; Media máxima 26 ,2., no anno passado35V6; Media minima 22 ,54, no anno passado 23,65.

Barometro observado.-A Máxima 764,70; em egual mez doanno passado 764,90; Minima 760,50, no anno passado760,40; Media 762,2\ no anno passado'762,65.

Barometro calculado a O.-A Máxima jói.Oa. no anno pas-*ado 761,53; Minima 757,32, no anno passado 757,2,; Media759,09, no anno passado 739,37.

O hygrometro oscillou entre 7y e 89- humidade relativacorrespondente 60,3 e 82,0. Em egual mez do anno passado

¦í»-."W ?r'.*r':?.rr>>r« *TÍ'1 &^ty!¥;AlV^il%!.?l

— 1Q0 —

O hygrometrooscillou entr*» •>«• « i ...rcspondc„,c6.,6cC """^ ""'

JrZ°omTte )¦' Sv' COm°n0 ™° "»«''<« '-andoretanto, NE cm ,4 dias N cm g c £

J r :;r:me °mcz - ¦«•• * *».. ircand;:;ludi;no mesmo mez do anno passado o pluviometro em fi H*ac achuva, accusou a,mm 0 eaila„,

P . 10metr°' e™ 8 dias de

M, " »°- eguaes a 132 litros d'agua

Bah,a, Lab„rat„ri0 Municipal 6 dc Outobco dc ,8,4O D.rector, Dr. Innocenc.o CavalcanteO Sub-dn-ector, Dr Alfredo de Andrade.

Estatística hospitalar»MAPPA monsal dos doonteTdo Hospital da Misericórdia

Santa Izabel

^J^FFERÊNCAS "DOENTES E,í(f„f,J -

Homens ,6o 206 i8q

Mulheres ,i5 70 .J 'u &0 20 105

Somma 275 2-6 ¦> „¦,/; 249 5;* 250

Dos fallecidos 9 entraram moribundos.Foram pra ticadas 3, operações c 14 choroformisações.

— «9t -

Sala do BancoMOVIMENTO DO MEZ DE OUTUBRO

Apresentaram-se 842 pessoas, sendo:Homens. — Curativos «•.imnlpc ,,o j„

a» " ples l,iS> de urgência 15, operaçõesde urgenc.a 9, avulsões 60 apolicacfiM A, °PeraÇ°esfractura,, consu.tas ,„. ?? ? "e aPt>arelhos de

MuIherea.-Cura.ivos simples ,06, de urgência ,, operaçõesde urgenca ,. avulsões -7, applicaçõcs de app reli òs defractura 2, consultas .15 r. Pioremos de

Das ,, operações de urgência 4 foram praticadas pelo internoAureho de Castro, entre as quaes a amputação da cL „„ tr 0nfenor, , pelo ,„,er„o J. Moui-, - pe,o interno Luciano daKocha e 2 pelo interno A. Fróes.Foram aviadas pela Pharmacia do Hospital a862 formulasdestnbuidas do seguinte modo: "'mulas

ParaoAsyJodeSJoãodeDeus ;5forraulas1 ara o Asylo dos Expostos. 2Q })Para fora do Hospital „$>

i* .. • • • 28 »1 ara as diversas clinicas 0-r,

n , S°mma • • • 28ó7Durante o mez de Setembro foram aviadas . 2??8Differença para mais. ~~~7~• • • 5 ^4

O Pharmaceutico, Horacio José Soares.O Auxiliar da Pharmacia, Emílio Chenaud.

o

Cápsula* Cogne-fe.—As cápsulas Cognet de Encalypto absoluto io-doformio-creosotado constituem a mais poderosa medicação a oppor á tu-berculose pulmonar, e em geral As affeceôes do apparelho respiratório.Paris, 43 rua de Sainlonge eem todas as pharmacias.

Ferro de Quevenne.—Ha 50annos considerado como o primeiro dosferruginosos por causa de sua pureza, de sua í>;(/erosa actividade' de suafacilidade, de administração, e porque não tem a acçào cáustica e irritantedos saes de ferro e das preparações solúveis. Para evitar as íalsiíicaçüesimpuras e desleaes, ter o cuidado de prescrever sempre: 0 verdadeiro ferrode Quevenne.

o licor de Laprade, de albumínato de ferro, o mais assimilável dossaes de ferro, conslitue o tratamento especifico da chlorose e da anemia.

ü-lixir e pílulas «Gt-res. chlorliy(lro-peps.ico<s, amargos e fe-mentos digestivos, empregado nos hospitaes nas dyspepsias, anorexiavômitos da prenliez, diarrhéas chronicas (lienteria).

üVtívraiíiSiia. Mígraiues. Cura pelas pílulas anti-nevrálgicas doDr. Cronier. Pharmacia -2;), rue de Ia Monnaie. Paris.

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.. , ..... ..... ....... -, (, ,, y,

GAZETA MEDICA DA BAHIAFUB&ICMÇAO

4/jno XX"// NOVEMBRO, 1894 N. 5

CLINiCA CIRÚRGICAHospital tia Caridado

CATHETERISMO RETROGRADO PRECEDIDO DA TALHA HYPOGASTRICAEM UM CASO DE ESTREITAMENTO URETHRAL IMPENETRÁVEL

Operação praticada com resultado satisfactoriopelo DR. PIRES CALDAS

Na visita do dia 14 de Março achei em um des leitos a meucargo um homem de cor escura, com 70 annos de idade, deconstituição apparentemente boa, mas abatido pelos soíTri-mentos.

Não se aceusava dc ter tido outra moléstia além de algunscancros, bubões inguinaes e blcnnorrhagias, a primeira dasquaes de antiga data, e a ultima ha cerca de dous annos.

Desde então foi notando que lhe diminuía o jorro da urinaem força e grossura.

Formaram-se abscessos no escròto e no perinéo, dando logara aberturas espontâneas, por onde se perdia a urina.

Observando ainda o paciente, que a quantidade da que pas-sava pelas vias naturaes decrescia, ao passo que augmentava aque sahia pelos orifícios fistulosos, viu-se na necessidade derecorrer ao hospital. (1)

No exame a que procedi encontrei o escròto volumoso c comgrande endurecimento, que se estendia a todo o perinéo ante-rior. A pelle estava adherente e crivada de numerosos orifíciosterminaes de canaes fistulosos, que percorriam o tecido cellularesclcrosado. Estes canaes communicavarn-se formando lagos,em que se estagnava pus, que misturado com a urina humede-

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 35

¦J

— 194 -

cia a superficie cutânea irritando-a lentamente, e dando-lhe oaspe:to da elephantiase.A sondagem nada adiantava, porque as inflexões dos canaeseram de tal forma, que permittiam apenas que um estyleteche-

gasse a profundidade de 8 a io millimetros.A bexiga conservava-se vazia, porque todo o seu conteúdovmha pelas fistulas, posto que afiançasse o paciente que algu-mas gottas cahiam do meato. A exploração da urethra mostrou

que o estreitamento oceupava a região do bolbo, alem da qualnao M a sonda. Não obstante a afirmação do doente, a quemesforce.-me por acreditar, fiz o possivel para levar á bexigauma sonda filiforme. A presença deste delicado instrumento nocanal encaminharia por entre as suas paredes e as deste aurina dando em resultado certo amollecimento da mucosa euma d.latação sufficlente para se prestar á continuação destemethodo, a tneisão interna da coarctação, ou a qualquer outrome.o crurgtco capaz, senão de restituir _ urethra o seu calibrenormal bastante, pelo menos, para permittir sem esforço pas-sagemaunna. Y K

Deste modo dcsappareceria uma das causas da endocys.ite,dJ-yperthroph,a das paredes vesicaes e da estagnação dunna cu,a prolongação oceasionaria a dilatação dos uretérese dos.bacinetes com suas conseqüências desastrosas.Desde que uma coarctação deka escapar algumas gottas deunna uma sonda apropriada (dizem certos cirurgiões) dirigidapor mao habituada transporá o obstáculo 8Assim deve ser em theoria; mas a clinica fornece provas•rrecusave.s do contrario. A urina corre, e a sonda não entraReconhecda a msufficiencia do ca.heterismo, cumpria lan armao de outro meio que o podesse auxiliar. Este meio era a:z^á:rur provavei da -<>-«"

obstáculo. A dureza do perinêo era capaz de fazer pressão-b» o cana,, e diminuir o diâmetro de uma parte ja ~

- 195 —

Sob estas vistas pratiquei na linha mediana daquella região™ ""'^ "*ofnnd« até 4 »«'*" exclusivamente, tendo porguia uma sonda metalliea introduzida no canal.Feito isto, entreguei o doente ao repouso durante os dias

Z£ , "eCe8SarÍ0S' deiIa"d0 * suppnração tempo deabrandar a dureza daquelles tecidos promovendo o seu desen-gorgitamento, e com elie a pressão que soffria a urethra1*01 tudo uma illusão; o obsteculo era invencível, e a insis-tencia nestas tentativas só podia ser prejudicial ao paciente. Osprogressos do mal e a deterioração da saúde pediam umaintervenção prompta e decisiva; mas este recurso extremo deviaser autorisado pela improficuidade de todos os meios empre-

gados. KA urethrotomia interna ou qualquer outro processo de dila-taçao era impraticável, e a urethrotomia externa não mereciaconfiança.

O limite anterior da ocelusão era reconhecível; o posteriormaccessivel.A incisão perineal por entre tecidos tão espessos iria semorientação até não sei onde. O canal procurado não existia-estava transformado em um cordão fibroso indistinguivel nómeio daquella massa mórbida. Era preciso que certeiramente

se fosse ferir no limite profundo do obstáculo, procedendo-sedetraz para diante com facilidade egual á que se prestava oanterior.A punetura hypogastrica com um trocate cuja canuia rece-besse uma algalia flexível de calibre conveniente, actuandosobre uma bexiga distendida poderia á ventura leval-a aomeato interno; mas no estado de vacuidade, como neste caso

perforana tudo menos a bexiga. 'A cystotomia suprapubiana pelo contrario, tornando patentea abertura vesico-urethral, guiaria com certeza um instrumento

rígido ou flexível. Era pois esta operação a que se apresentava,como recurso supremo para a cura do paciente.

— rç6 —

A talha hypcgastrica, cujo renascimento é devido á afoitezada cirurgia da época, está tão vulgarizada, que seria superflouentrar em minuciosidades sobre o modo de pratical-a. Bastaque mencione as particularidades que occorreram neste actooperatorio.

Deixo de occupar-me dos cuidados de antisepcia empregadosantes, durante e depois da operação, assim como da maneiraporque se fizeram os curativos. Tudo isto está no domínio dapratica corrente.

A interferência do balão rectal, que não ha muito tempo quefazia parte indispensável dos preliminares operatorios, íoiomiltida nesta operação, por julgal-o eu, com bom numero decirurgiões, alem de inútil, inconveniente, senão prejudicial,como tenho verificado nas talhas que tenho praticado no hos-pitai e fora delle. Outro tanto não digo do auxilio que presta ainjecção vesical.

Distendendo a bexiga, a injecção torna-a visivel e palpávelpelo volume a que eleva o hypogastrio, e, cousa mais impor-tante, protege o peritonêo, cujo seio subindo pela convexidadedo globo vesical, fica abrigado e deixa livre o campo em quetemdeactuar o bisturi. Mas seja qual for o serviço prestadopela repleção da bexiga, nào fica o operador dispensado, nomomento opportuno, de, com o dedo curvo em forma degancho, facilitar o escorregamento da sorosa com a gorduraqueaguarnece.

No caso que refiro este concurso faltou. A bexiga vaziaestava abatida, profundamente situada, e não viria á flor daferida abdominal, sc duas pinças de forcipressura collocadasaos lados da linha mediana não a trouxessem presa. Entre ellasfoi feita uma incisão de 4 a 5 centimetros, por onde entrou umaalgalia metallica de curvadura grande, e o dedo que a guiavadirigindo-a até ao orifício vesico-urethral, que penetrou, eseguiu a direcção do canal a encontrar a ocelusão. Neste ponto,mediante uma incisão permeai, appareceu a extremidade do

Pt«(I.IU.J»Vl.l».l'.",Wl.l..ll!.WP|l»,".ll JfWIJHH ' .1 I ,. .1 -—l

'— 197 —

instrumento, que voltando trjuxe comsigo até fóra da feridauma algalia de cautchu, cuja ponta foi aparada para recebermelhor a urina no seu reservatório.

Ahi permaneceu mantida por um fio de seda, que ficou noangulo inferior, fixando-se nas peças do apparelho de curativo,emquanto foi necessária a sua presença.

Este fio tinha por fim evitar que a algalia escapasse, o quefacilmente acontece com os instrumentos de cautchu, porcausa da sua brandura c do seu peso. A abertura vesical foicosida a catgut com excepção do que exigiu a estada do fio, quemantinha a algalia. Esta sutura foi íeita simplesmente com umfio, que entrando sempre do mesmo lado, e passando oblíqua-mente sobre os lábios da ferida, sem que tivesse comprehen-dido a mucosa, loi arrematado por um nó em cada ponta.

A sutura assim praticada resumia de alguma sorte os dous

planos recommendados por alguns autores; por que na pas-sagem transversal abaixo dos dous terços da espessura da pa-rede vesical constituía o plano proiundo, e na obliqüidadesobre as bordas cruentas o plano superficial.

O bom exilo da sutura vesical está subordinado ao perfeitofunecionamento do tubo evacuador. E' elle, que, privando aaccumulação da urina, evita a pressão excêntrica sobre a linhada sutura insuficiente sempre a resistir á forte distensão das

paredes vesicaes.

Não esqueça o contingente que a este resultado pode dar ofio fixador do tubo dc exgoto. Alem de mantel-o e conserval-oem posição útil, constitue-se até certo ponto vavula dc segu-rança. Por mais de uma vez, dirigindo os curativos, presen-ciei que no momento das contracções musculares surdiam pelotrajecto do fio boas gottas de urina e do liquido da injecção,enfraquecendo assim a tensão intravesical. Em aetc continuofoi fechada a fios de seda a fenda da parede abdominal, ficandoem baixo logar para um dreno, por excesso de precaução, contrauma infiltração urinosa, se por fatalidade a sutura falhasse.

Aqui findou o primeiro acto desta laboriosa operação. O pa-ciente por extremo refractario aos effeitos do chloroformio en-m.amente sensível á influencia deste agente, cahiu em talgrau de prostração, que infundiu sérios receios; e ainda maispelo assalto de uns soluços, que quasi sem interrupção sesuccediam, privando o doente do somno e da alimentação, quemuitas vezes era rejeitada.

No meio destas perturbações o peritonêo se conservava se-reno. O tympanismo, e a escassez das evacuações alvinas sópodenam provir de um torpor intestinal, o qual, assim comoos soluços, partia provavelmente de reflexos por impressão daacçao do anesthesico.A'força de cuidados, favorecidos pelo amortecimento gradualdestas impressões, foi o paciente se reanimando e recuperandoas forças desfallecidas; de sorte que no fim de ,2 dias chegou aestado de poder supportar a terminação da operação, e destavez em ausência de chloroíormisação. Preferi supital-o aochoque traumático a expoí-o ás eventualidades de nova anes-thesia. Na primeira operação a algalia installada na bexigasahiu pela ferida perineal; restava que pela extremidade livre

percorresse o canal do perinêo ao meato externo.No ponto indicado por um catheter-canula, que esbarrava deencontro ao obstáculo, foi aberta a urethra, de sorte a permittirpassagem á ponta do instrumento. Guiado pelo rego que elletinha, passou um cstylete de barbatana conduetor de um ure-throtomo que penetrou incisando a parede inferior do canal

para torna-o mais largo, e lóra da ferida perineal recebeu áponta da algaha ,á posta, insinuando-se no seu limiar, e vol-tando a trouxe até fora do meato externo. Desfarte fica-ram em communicação as duas porçaes pervias da urethra;ialtava dar-lhes a continuidade. A resecção da urethra, com-prehendendo a porção impermeável, era uma intervenção queparecia fazer-se inculcar; porem uma previa reflexão bastavapara prever-se, que atravessando-se tecidos endurecidos e

'íyji-í,™;'.-;^ *".".-¦«',¦-*¦.;.' T.'-'.YV,;« "r''í?,','l?f'T^Í-' 11;

f- I99 —

confundidos não com a8 paredes do canal, mas com o cordloaventuraria a um resultado bem aleatório.

diM T ?' " Par'e a r£SeCCar era ^«"amente grande

vTdòp uma rfiC'eSdeSeCÇa0' «-P^-ser consLvduo por uma sutura.

ba!h°orraS ?'aS ™Z3eS ní° " dCV''a SCnSo c0°«" "" o tra-balho da cca.nzaçâo para o restabelecimento, á custa do. Wc.dos crcumv.sinhos, da continuidade das paredes da ureth azzzral8a,ia em permanencia<°ns™ -'»:Em uma palavra, era um canal adventicio em substituição do

sut^lt8"0™3650™^03150^-8^3' «"diante umasotura, obter reun.ao .mmedia.a, porem nas condições em ou!b clataIoamTn:

CaS° .^ qUC " ,rata' «* -"ado seria p!blemafco. Todav.a t,ve cm vista auxiliar a natureza e prati^e:r:,riata-Actua,mcme a •>**«ves.cal esta sohdamente terminada, a reunião fez-se p0r pri-

o ruidn0T0- A b"i8a "^ qUamidadc -«"lar de urina e

tolerado" 'n'CCÍ°eS m°d""*meM° fcitas * impunemente

rauNni3aber',Ura *" ParCd" d° Vemie a SU,U" falh°». ">as areumao se fez com suppuração, e marchou com regularidade.No decurso do tratamento local nada oceorreu que mereçamenção, a excepção do3 cuidados que exigia a conservação dasalgahas e o seu bom funecionamento. Eram mudadas frequen-temente ,4 por se terem escapado da posição conveniente jápor se obstruírem por substancia calcariain *s;;tríati8ama ° traba,h°^ daTOm aa ^»

As callosidades da urethra anterior demoravam a sua pro-gressao do meato â ferida perineal, porem não deixava de sercustoso fazel-as encaminharem-se á bexiga, o que exigia ora o

— 300 -*'

auxilio do dedo na ferida, ora a interferência de um conductor.As aroiudadas reintroducções tornavam-se já muito penosas

ao paciente, e demais interrompiam o fechamento da ferida.Para obviar a estes inconvenientes, e pôr a urethra em condi-ções de permittir a passagem franca aos instrumentos dilata-dores era necessário augmentar sufficientemente a capacidadedo canal. Foi o que me decidiu a incisar com a lamina maislarga do urethrotomo de Maisonneuve a parede superior. Aoperação correu bem, só o primeiro tempo foi por extremodemorado. EÍTectivamente a sonda conduetora do instrumentoembaraçada nas callosidades não poude chegar ao perinêo, masera preciso que ella fosse á bexiga percorrendo toda a urethra,o que consegui do modo artificioso que no momento meoceorreu.

Tentei leval-a pela ferida perineal, certo dc que na parte pro-lunda do canal não encontraria as paredes em tão más con-dições.

Este primeiro acto realisado, outra sonda de muito maiorcalibre passou sem difliculdade do meato ao perinêo; então,prendendo com um fio a extremidade de uma á da outra, reti-rei a segunda, que conduziu a primeira de traz para diante, atéfóra do meato.

As conseqüências desta ultima intervenção foram benignas.Dous dias depois a abertura perineal parecia já não existir; re-tirou-se a algalia, que ficara em permanência, e com a maiorfacilidade deu entrada ás sondas de Beniqué até ao numero 38.

Em virtude da tolerância da urethra para os instrumentos,contra os meus hábitos, precipitei a dilatação, que sem custolevei a tal grau que pareceu bastante para dar á urina passa-gem franca; mas nos poucos dias, em que deixei a urethra emdescanço, disse-me o doente que urinava menos pelo meato,do que pelo perinêo. EÍTectivamente via-se nesta região umorifício subtil no centro da cicatriz, e reconhecia-se na paredeinferior do canal um obstáculo á livre penetração de uma sonda

— JOI —r

metallica, que só se effectuava variando as direcções do instru-mento, principalmente com o abaixamento do pavilhão.

Não havia falta de capacidade, por que sentia-se o catheterfolgado depois de salvo o tropeço era o desvio, »que sofTria oeixo do canal que obstava.

Para desembaraçar o caminho parecia a incisão o recursomais prompto; porem um simples golpe em tecido tao duronada adiantaria, por que as superfícies de secção não se afasta-riam, e o impedimento subsistiria.

Por outro lado, era ainda pouco o tempo de permanênciadas sondas, e a peisistencia nella devia ser a indicação maisrazoável.

O contacto prolongado do corpo extranho com a mucosa eracapaz de abrandal-a e de modificar o tecido subjacente. Foi oque sc realisou. As sondas corriam mais livremente, e jápouco denunciavam o obstáculo.

Todavia, uma vez por outra o catheterismo não se podiaeffectuar, e a dilatação deixava de seguir a sua marcha regular.

Foi em uma destas oceasiões más, que o Dr. Mello, presente,teve a lembrança de que se substituísse as sondas de Beniquépelas de L. Le Fort, attendendo á diversidade das formasdestes instrumentos. Abracei esta idéa, c assim ia continuandoá vontade na dilatação quando um incommodo de saúde me

privou de comparacer por muitos dias no hospital, c durante aminha ausência ficou o doente a cargo do meu collega e amigoo Dr. Moura, que auxiliado sempre pelo Dr. Mello proseguiuno tratamento até o dia 22 de Agosto em que deixou o pa-ciente o hospital em um estado satisfactorio.

Da leitura desta observação sobresahem alguns pontos decerta importância:

i.° Talha hypogastrica no estado de vacuídade da bexiga,2.° Sutura continua da ferida vesical praticada com um só fio

sem comprehender a mucosa, e seu excellente resultado,3.0 Modo de installação da sonda, e de sua fixação.

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 20

-- 202 —

4.° Importância do fio fixador da sonda quanto á conser-

vação desta fio reservatório da urina, e á sua bôa posição, e

como garantia da sutura contra os effeitos nocivos da repleção

vesical.5.0 Conseqüências excepcionaes da chloroformisação,6.° Desapparecimento gradual das eventualidades post-

operatôrias.7/ Artifícios do momento para as substituições freqüentes da

algalia em permanência no decurso do tratamento,

.8.' Interferência necessária da urethrotomia interna, e relu-

ctancia na collocaçãò da sonda conductora,

g.- Vantagem da prolongada permanência das algalias na

urethra para o fechamento da brecha permeai, e reconstrucção

da urethra. .io.' O aproveitamento que houve na substituição das sondas

cylindricas pelas conicas.

A talha hypogastrica com as suas modificações modernas

tem aberto uma era nova á cirurgia das vias urinarias.

Não podia, portanto, deixar de estender seus benefícios ao

restabelecimento da permeabilidade da urethra, interrompida

por um obstáculo que zomba da acção do meios ordinária-

mente empregados.Tornando patente ao cirurgião o interior da bexiga, convida-o

a intervenções intra-vesicaes de alto alcance.Todas as vezes que o catheterismo antero-posterior fôr

conscienciosamente reconhecido inefíicaz, a abertura da bexiga

pelo hypogastrio mostrará o orifício por onde tem de entrar a

sonda, e percorrer o canal da urethra em direcção inversa alé

qtíe se lhe opponha o obstáculo.E' este modo de intervenção que mereceu a denominação de

catheterismo retrogrado. Esta operação, cuja prioridade na

Bahia me pertence, foi primeiro praticada rior mim em Dezem-

bro de 1889 (2).As condições eram diversas das do caso actual em favor do

primeiro, quanto á edade dos indivíduos, o estado do perinèoe cscrôto, e á localisação da estrictura. A primeira parte da

operação foi a mesma, porém a bexiga não foi cosida, e por isto

a cura foi mais demorada. O modo por que a continuidade do

canal foi restabelecida é que constítue a diíTerença principalentre os dous casos.

Cumprc-me agora manifestar os meus agradecimentos aos

dous collegas que me acompanharam nas diversas interven-

ções que exigiu este caso: ao Dr. Octaviano Pimenta peloscuidados que empregou para a boa direcçâo das chloroformi-

sações de que se quiz encarregar, ao Dr. Domingos Mello pelasua intelligente cooperação, e pelo interesse que mostrou, tanto

nas diversão intervenções, como no correr do tratamento.

NEVRO-PATHOLOGIA

I*liaryngfl.smo tatoeticoPelo Dr. JUL1ANO MOREIRA

( DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA )

Dentre as múltiplas manifestações do tabes dorsalis ha uma

que pela sua pouca freqüência deve ser assignalada sempre

que observada. Quero referir-me ás crises de pharyngo-cs-

pasmo.As determinações laryngeas, estudadas pelo sábio Charcot

sob o nome de laryngismo tabetico, múltiplas, transitórias ou

permanentes, têm sido motivo de repetidos estudes desde queFereol (i) em 1868, frisou a existência das crises laryngeas.

Jean attrahiu especial attenção sobre ellas. Duchenne (de

Boulogne), Tcssier, Michel, Demange, Vulpian, Lhoste deram

contingente para o seu estudo. O.arcot e Krishaber estuda-

ram-nas com cuidado. Cherchewsky (de São Pctersburg) pu-•DDelarou mais. que no Rio de Janeiro soíTrera uma operação na-

urethra, e pelo que deu a entender, o methodo empregado foi o da electró-lyse.

(2) Gaz. Med. da Bahia, março de 1890.

blicôu sob a inspiração de Charcot, um trabalho sobre os

accidentes agudos do laryngismo tabetico (2). James Ross

(Brain 1886 XXXIII, pag. 24) Lardgraf (Bcrl. klin. Wochens-chrift, 188), XXIII, pag. 38) e vários outros tem publicadonotas e observações sobre este assumpto. Os accidentes chro-

nicos do laryngismo tabetico. tambem por sua relativa fre-

quencia tem attrahido a attenção dos mais distinctos neuro-pa-

tho logistas.

Vistas pois as connexões anatômicas do pharynge com a

larynge é admirável que os accidentes a que os proponho se

denomine de pharyngismo agudo tabetico, não tenham tal

freqüência que tivessem já occasionado estudos e maior assi-

gnalamento nos tratatados, lições e monographias. A não ser

o caso dc Oppenheim (aliás differente daquillo em que vou

insistir) nada mais dizem os auctores sobre o pharyngismo.E' porem de justiça exceptuar o sábio Althaus que expri-

me-se do seguinte modo: A paresia ou a paralysia dos ramos

pharyngeos do pneümogastrico pode ser seguido de diílkul-

dade na deglutição e de regurgitação dos líquidos pelonariz etc.»

Não me oecuparei aqui das determinações pharyngeas sc-

guintes: hyperesthesia do pharynge com augmento dos

reflexo pharyngo-laryngeos, da hypoesthesia do mesmo

órgão, etc. Tratarei das crises pharyngo-espasmodicas; do

Verdadeiro pharyngismo tabetico que parece-me poder ser

dividido em tônico e clonico.

O que Oppenheim (Ein Fali von Tabes dorsalis etc. Berlin.klín. Woch. pag. 312—2, de abril de 1887) descreveu sob ònome de crise pharyngéa é o que se pode denominar—pharyn-

d) De quelques symptômes viscéraux et en particulier des sympto-mes laryngo-bronchiques dans l'ataxie locon. Soe. méd. des hopit.1868, méraoire8 p. 82.

(2) Chercbewsky- Contribulion k 1-elude des crises laryngées tabe-fiques. In Bevue de med. 1881-pag. 541.

.— 305 "*"

gismo clonico tabetico. O caso observado pelo illustre neuro-

pathologista berlinense era o dc uma mulher de 33 annos apre-

sentando todos os symptomas da ataxia locomotriz. Ha váriosannos tinha violentos accessos de vômitos e crises rectaes;tinha ainda accessos de tosse convulsiva e uma paralysia dascordas vocaes. As perturbações pharyngeas de que a doenteera a/tingida de tempos em tempos consistiam cm movimentosconvulsivos de deglutição repetindo-se 24 vezes por minuto eacompanhado dc um ruido de gr ou-gr ou e de um silvo. Dezminutos duravam cm geral estas crises; quando se prolonga-vam mais tempo diminuíam de intensidade. Produziam-se

quer expontaneamente quer no momento da deglutição; porempodia-se provocal-os pela pressão ao lado do larynge onde

havia um ponto doloroso.

Em i£88 publicou Oppenheim a mesma observação nosArchiv '¦".-'Psychiatrie, X Heft 2, pag. 131—Neue Beitráege zurPalh. etc) Foi porem na sessão de 14 de maio, do mesmo

anno, da Sociedade de Psychiatria e moléstias nervosas dc

Berlin, que o citado nevropathologista leu a observação com-

pleta da referida doente por isso que, apoz uma pequena me-

lhora, ella tendo sido altacada de uma erysipela, que vieli •

mou-a, foi autopsiada, achsndo-lhe Oppenheim o seguinte:Degeneração dos cordões de Goll e de Burdach; atrophia

das raizes posteriores medullares; integridade dos mucleos

bulbarés dos nervos pneumogastricos, espinhaes e glosso-pha-ryngeos. Atrophia dos feixes radiculares intra-bulbares dos

mesmos nervos; esta atrophia vai até as raizes emergentes

dos referidos troncos nervosos

Accentuada degenerescencia dos ramos pcriphericos c cm

particular dos recuirentes e do glossophí'ryngeo; laryngeosuperior intacto. A nevrite do vago era tal que elle nào con-

tinha quasi nenhuma fibra sã.Dos casos de pharyngismo tônico apenas pude encontrar

na litteratura medica duas observações, Uma publicada em

—- 20Ô —

«876 por jeanno Bulletin de !a Socié.é ana.omiquc (c Progrés

annos SS Ífl d' '° ~" *— ha ^

ryngeos ella tinf ° P°rem d°S esPasmo* P»»-n ngeos ella tinha crises Iaryngeas e estomacaes.As pnmeiras despertavam um prurido ph AIH.*,'

°f a "a° '-queavam o is.hLo da ga

A ,7 de Novembro uma crise mais intensa sobreveio o es-pasmo dos músculos pharyngeos era tal que impossib lúavaa¦gestão de qualquer alimento solido ou liquido A Xfcndo »» coma e morte. Na autópsia alem das IcsVes Jntraes, Jean viu que as origens do pnenmo-gastri o esou rdo edo espinhal estavam delgadas filifnrm.c * "r,C0 esciue,d° e

a,i„aid°o hCrVaÇã° de UíÍ 'rata-Se de um h°"«» ^ „ a„„osaU.ng.dohacncoannosdamoles.iadeDuchenne.

A I2dc Janeiro de 1S81 soba influenrio^-. r- ¦appareceu-lhe um accesso de toss" f na «°

"""'^euirh r?^ ino • ina" sufTocante, se-a. quest ellm -°T "*> M co«™tad»- E""auaques se repetiam varias horas consecutivas Pe'a anv„Hçao achava-se um sibilae passageiro durante Jsce" O e"nos mteressa mais saber é que o doente apresentai

°i °Z

de. SgeA° i:1 qurra impossivei ra2e'-ihe ^"»»a Palavra era um p^b^r*"" ^ ""»***

nuou-se Tf PerSÍS"U P°r algU"S dUlS «P~ « 0-es a.tc-

ffi ü um J P°rCn; " reSPÍraÇâ° ,0™<»-:bruscame„.e di-ni-rl, um espasmo dos músculos larynaeos wnAn.iphixiando o doente O* r -j iaryn&eos Produziu-se as- .

pHa.nglsmo.tr^^1^^ZZ^ *Phagtana forao, peitados em conseque^das flefr

— 207 *""

tracções estomacacs. Não houve autópsia. (Note sur quelquessymptômes laryngo-bronchiques de 1'ataxie'et sur quelquesaccidents bulbaires à début rapide par Lizé-L'union medi-cale 21 Juillet 1881).Vê-se que nas tres observações que acabo de resumir o

pharyngismo era co-existente com outras crises laryngeas ougástricas. Os dous casos porém que tive opportunidade de ob-servar distinguem-se destes pelo isolamento do espasmo pha-ryngeo. Passo a narral-os.

Obs. í. J. A. Bapt., escocez, de 49 annos de idade, capitãode navio.

Antecedentes hereditários. Avô e avó mortos cm ccnsequen-cia do cholera-morbus. Pai rheumatico, morreu aos 5, annos.Mai morta, aos 35 annos, de eclampsia.

Antecedentes fessoaes. Sempre ..adio até o apparecimento damoléstia actual. Um pouco alcoalata em moço; sua profissãofaz.a-o beber um pouco de mais. Syphilis aos 25 annos ciecujas determinações secundarias diz ter sido tratado porHutchinfon.

Ha 12 annos mais ou menos sentiu elle as primeiras doresfulgurantes na perna direita, depois ellas manifestaram-se naperna esquerda, irradiaram-se aos membros superiores. Detempos a esta parte porem ellas desappareceram.

Estado aclual. Perturbações da motilidade: marcha franca-mente ataxica. Signal de Romberg. Perda da noção de po-sição, perda da noção de differenças de peso.

Perturbações da sensibilidade: Anesthesia completa daspernas, sensibilidade retardada nas coxas; falta de localisaçãodas sensações. Perturbações cia reflectividade: Signal deWeslphal.

Orgàos dos sentidos: appareího visual: mydriúse esquerdamyosis direita. Auzencia dos reflexos á luz, á accomodação e ádor. Aos , 5 de Setembro fui chamado para vel-o pois tinha-lhesobrev.ndo um symptoma que impedia-o de alimentar-se; de

¦*¦¦ »-i.- "í y7,-'-'yi.{-fi^ff>

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-* aos —s,r;i*;:rs=r:tc;rjrassisti successivas crises » *«, , i, _, t0'

rcsinavam-se, o doente sentava-se e levantava-;*? « nPn juma posição commoda, agitava-se e P ^de

sabia se fechasse ou abr as fl Z a"gUS"'a; nii0:r:edra^rr„: zrr c^vrdias que °do-momento a momento o projosti

™ Ll

" a^™a"«°podermica de chjorhyd™de moro„

"^ """^ ^Rou*. Appliquei ainda o licor veZ« L

" "^ "*quantidade, „a columna eerv cal A Zl

& ' "* PeqUC"aperar; as crises nao reapparelerlm .^f^

» *» -

desapParecer:::Ptt;:ea:::, ~rrada c ineeri-ao que tinha precedido os JT^ S°8°esquecerei dizer que para o lado do larynge e doLdoente nada apresentava. estômago o

Per vários motivos é infere^-ini* «t, icedentes pessoaes reunião7 obse^ção: Ante-Punha.se

'o ^s^Z^Z^ZT °*

T* ^

intensidade do ph.ry„giSmo, r*^Tt" Z^"' '

»to e sna não coexistência com o larynsiamo ól-gástricas, emfim o desapparecimen o To Z J„ "T'*"

medicação de tão curta duração ,n«^nc.a de uma

muitd!aveld"te aSSÍ8"a,areÍ Um °ut'° «• * desenlace

Obs, II. Libanio Mendonm rL. a,u i?5 annos de idade, naturalda B,*,

" ' '"^ S°"dr°'». de Agosto de ,89 , s^do „4d d lS"!?'

""",D *<o 1'rof. TiUemont Fontes (dc moitZ Z oZ) T^"era eu então Assistem* nervosas) de quem

k

:-7-

— aOÇ —

Antecedentes hereditários: Pai rheumatico, morreu de mo-lestia de coração, Mãi forte, apenas soffre de enxaquecas,ainda vive. Nada mais podemos apurar.

Antecedentes pessoaes. Ha dous annos apenas teve umcancro cu,a espécie ignora, mas que foi acompanhado de umaadenite que resolveu; a cicatriz deixada pelo dito cancro éinsignificante. Ao entrar, porém, ainda tinha uma erupçãomuito provavelmente de syphilide papulo-escamosa, razãopela qual foi enviado para o serviço de moléstias cutâneasdonde foi transferido para o de moléstias nervosas.

Estado actual (26 de Agosto). Homem de estatua medianamusculatura desenvolvida; intelligcnte e sempre alegre apre-senta o seguinte:Perturbações da motilidade: Perda da noção de posição(nos membros inferiores,) perda da noção de differenças de

peso, signal dc Romberg, marcha um tanto ataxica.Perturbações da sensibilidade: sensibilidade retardada nosmembros inferiores, falta de localisação das sensações.Perturbações da reflectividade; Reflexos rotulianos dimi-nuidos e desiguaes.Apparelho visual: Mydriase bilateral. Os dous Íris reagemlentamente á luz e á accomodação. Acuidade visual normal.

^ Apparelho auditivo: Acuidade diminuída á direita. Zum-bidos ás vezes.

^ Nem dores fulgurantes, nem terebrantes etc. Nenhumacrise visceral; nada no Iarynge nem no pharynge19 de Setembro de 1893. Longe de melhorar o doente foi

peiorando progressivamente. Nos primeiros dias de Setembromanifestou-se uma bronchite. A ,3 surgiu intensa diarrhéaO doente que em Agosto ainda andava sempre que lheconvmha, em Setembro viu-se impossibilitado de erguer-se

no leito. A 14 manifestou-se a primeira crise pharyngéa: oespasmo era tal que impossibilitava a ingestão de qu°alqueralimento mesmo liquido. Os accessos repetem-se ao ruenormovimento. A contractura (se assim posso dizer) do pharvnííeserie iv anno xxvi vol. v. pnarynge37

'7:jS, -.

--•— 210—

era tal que o doente simulava perfeitamente um indivíduo em.meia estrangulação. Os accessos não tinham igual intensidade.

Nada para o lado do estômago nem do larynge. A 16 co-meçou a não responder mais ás perguntas que lhe eram feitas;sobreveio um verdadeiro estado comatoso: os espasmos ces-saram. A 1^ porem úm grande espasmo sobreveio occasio-nando a morte do doente. Foi baldada toda a medicaçãoempregada para minorar-lhe os soffrimentos. Tendo faliecidoás 11 e 1/2 de 18 foi impossível autopsial-o porque a Irmã doserviço, apezar do aviso em contrario, mandou inhuroar ocadáver sob o pretexto de que a decomposição deu-se rápida-mente!

Este segundo caso é por tal modo notável que jamaiscessarei de lamentar que a má organisação dos nossos ser-viços clinicos, mau grado a boa vontade dos professores, nãome tivesse permittido autopsial-o, por isso mesmo que é deprever todo o ensinamento dahi resultante. Em todo casomesmo narrado com a máxima simplicidade vê-se o quanto éinteressante. Rapidez insólita da evolução, aggravamento vio-lento e precipitado ás nossas vistas e apezar dos nossos es-forços, pharyngismo tônico, dão-lhe excepcional importância.A proximidade em que se aeha o cancro do apparecimentodos symptomas ataxicos, dá lugar a boa serie de ponderações!Que ligação hverá entre elie e o tabes neste caso?

Parece-me accertado ligar este ultimo caso ao grupo daataxia aguda de Leyden, nevro-tabes peripherico de Dejerine.O modo brusco pelo qual, me dizia o doente, surgiu a mo-lestia, a rapidez de evolução (em que ha pouco falíamos), aausência do signal de Argyll-Robertson são razões sufficientespara justificar o diagnostico a que nesse momento me referi.

Leyden em sua excellente monographia Ueber acute cAtaxiepublicada em 1890 na Zeitschrift f. Hin. Medic. (Bd. XVIIIHft. 5 und 6, pa 576, 587) dividia a ataxia. aguda em dousgrupos: forma central e forma sensitiva ou sensoriah

— 211 —

Dejenne que desde .88, estuda esta importante questãoesclarecendo-a por successivos trabalhos, (3) admitte trez va-nedades no nevro-tabes peripherieo: motriz, sensitiva e mixtaO caso supra-mencionado parece pertencer ao terceirogrupo: era um caso mixto. Supponho ser esta a primeiraobservação assignalada de nevro-tabes peripherieo com es-pasmo-pharyngeo. Qual a causa da moléstia em Lihanio> nadapude apurar acerca disso a não ser a existência da syphilis- ocontingente por ella prestado não sei que peso teve. O què écerto porem é que uma medicação anti-syphilitica foi insti-tüida com cautelosa pertinácia: nenhuma modificação bene-hca premiou a esperança mantida por dias. A suspensão dotratamento nenhuma melhora, tambem, trouxe ao doente-Mas deixo as hypotheses por isso mesmo que o meu intuitoactualmente é oecupar-me do pharyngo-espasmo.

O pharyngismo é uma determinação central ou uma manifes-taçao peripherica ?Apenas temos as duas autópsias de' Oppenheim e de jeanpara fundamentar uma resposta ! é muito poueo, portanto espe-remos novos factos.Ao passo que as crises nos casos de Jean e Lizc não eramsoladas, nos nossos o eram; entre a observação de Oppenheimas nossas vai a differença da espécie da contracção; lá eramelomeas, ca eram tônicas. Acho razoável pois que se divida oharyng-smo tabetico em clonico e tônico.

A maior gravidade do-segundo parece-me illitigaveiEstava na tvpographia eem via de publicação, o artigo supraquando por especal obséquio de um distineto collega (o DrGonçalves de F.guciredo) tive o prazer de ler o n. , da Revuede Medicine do mez p. passado, em o qual vem publicada uma

Ji\T n8S3~ElUCl0o UMe «evro-iabe. périf. Arch. de pl.ys. im

^IlmZ m. " neV''° '^ m'"- U «'" ~

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— aia -áobservado de críseR -i_.Co.r_.ont (de Lyon) cl !^ PhaW«o, pelo ProfessorPo«o, d. co^^ZTZ: agrad° Ven'fiqUeÍ«" "*»

absoluta independência Z! ° IeitorP^bo verá que«mpietamente „ «U^T?."0 <" li"ha **« gorando

Wc .8,4) escripu por Cna„70 v~ ^ * "^ d« L*>»

Courmon.) sobre 2 1''^ ' "^ meSm° Profess<*

Poderia frisar as dZ Phi"'!",gés du tabes "<•'»•Lyonnez e o Zu^sTZT^ ° *",b,M,q d° Proí—ambos trará o sufen e d !

' ^ "" Ve",Ura fere» de

o leitor. C'ente ***** d1Spenso-me pois de fatigar»5 de Outubro de i894.

PROJECTOS DE ESGOTO*

los Rios. J y lRA Franca e A- Morales de(Continuação da pag. WljMr. Bechmann assim se pronuncia:

f-escon.oasa.uasservidaldTmticas *"* ** ™«™

d» salubridade n..»dam afalr n rean'C°S qUC °S ínte™»«

P»«e. si ae tomam as pretu 1 "*" P°SSÍVe'- De ««»

'"b"» de queda, asseguranTaT™ neCCSSari-5 *™ i«*ar os

• «".peza. tem-se „S5^« ventilo«<o respeito a hygiene das btóSeaes ^ *» ÍmpÔe a

E preciso, porém, dizer que a difficuld*.. amais adeant*. porquanto si as !í f d° Caso *cb*-*<

devem, pors„avM>lvaX rua sTo?r,aS "^ "° «*<>">airarua,s, os esgotos se transformam,

como tem acontecido ás vezes, em verdadeiras fossas fixas, nâose teria na realidade saneado a casa sinão para tornar maior ainfecção da rua e a salubridade publica nada teria ganho.Isto, porém, só aconteceria no caso de praticarem-se as eva-cuações nos esgotos, quando estes tivessem um declive fraco,pouca água e pouca limpeza, em uma palavra, quando nãotivessem nenhuma das qualidades pelas quaes em definitivasao adoptados e installados.

Para obter este resultado satisfactorio é preciso que as ma-tenas fermentaveis não fiquem nem nos esgotos nem nos enca-namentos das casas, querhorisontaes, quer verticaes. Isto, porsua vez, exige ou uma corrente d'agua, continua, rápida eabundante, oü então, com um menor despejo de águas de lava-gens, a organisaçâo de um serviço systematico de limpeza com-pletado por descargas freqüentes de água pura com as quaes seobste a formação de depósitos.

Esta condição nem sempre se acha executada conveniente-mente: o que explica os temores do systema integral. Porém,quando isto não se dá, como acontece a maior parte das vezes,'é preciso que todos confessem que o escoamento de todos osresíduos ao esgoto constitue o meio mais satisfactorio de des-pejo sob o ponto de vista da hygiene geral.»

Finalmente o systema Tout a /' egout recebeu uma verda-deira saneção por tudo quanto ha de notavei, em Paris, emsciencias, lettras c artes.

Com effeito, a commissão superior de saneamento em Paris,composta de engenheiros e hygienistas dos mais distinetos,em virtude do projecto formulado em u de abril de 1884, pelo'conselho municipal, votou um conjuneto de resoluções sobreas medidas a tomar para melhorar a salubridade da capitalpelo saneamento das habitações e pela reforma do systema dedespejos.

Estas resoluções serviram de bases á redacçao de um pro-jecto de regulamento e de um projecto de lei que foram sub-

mettidos a um exame e voto públicos nos 20 districtos deC1 nUmero considerável de pessoas que deram seu vo.o

feTVV °PÍnÍâ° Püb,iCa "a° 6C0U -diílerenteaosp -.cotos de reforma da administração.- 5,69 pessoas depuramseu voto, isokdo ou collectivamente

festas foram favoráveis 488.,, sendo apenas «„ dcsfavo.

^Muitos votantes a favor eram auetores de mais alta noto-

irelat, Duvert, Baltre, architectos;-Honoré, Tiebault Hon-^•sr^ VMd"er' ^"^-V^ TrlídeHietra Santa, Nandet, medicos:-Boncher e Crochard nhar-~cos chimicos e muitos outros quc seria Ctn.

o £i;r;c.verdadeiro p,cbiscito'do quai sawu ^^caelo^0"?0'

CSll'dar• n°S CapitU'0S s«°™^ * -PPli-cação d este systema a esta capital.IV

Água

raiva dc que o umeo systema conveniente para o referido servrço e o mtegral ou o de .tudo ao esgoto/ Temos al0Iffiaentemente a nossa escolha para que do nosso estudo sef il" 1

arameme. qUC ° n"SS° '" —do com orelendo professor provém, não de uma simples obediência aosprincípios por elle acceitos mas(!im^ • - , 7oue estamn, A. da convic<?ào absoluta emque estamos de que o svmrrm ri« u •-juc u sysiema, de ha muito precon sado nelnrefendo professor, é o único que sa.isfaa as necessidades abst

— 215 —

lutas de capital no que diz respeito â sua hygiene. Mais adeante««mos aa verdadeiras novidades que apresenta a appli-cação d-esse systema a Bahia. Acceita esta solução theorfca,

esoirito H r" eSSenfaeS C PrÍm°rdiaeS se ""—am aoespmto desde que aquelle systema tem de ser posto em praticaSao, os seguintes: pratica.

mel0. forneciment0 d'aSM dc ««« Precisa o bom funcciona-mento dos esgotos;

2.° O final despejo das águas colleccionadasVamos tratar, no presente capitulo, de estudar o primeirod estesproblemas, reservando o ,* para 0 capitulo ^J™

tal ou ÍT q"e *!, traM ^ rCS0'Ver é dc uma i-*Po«anci»tal, que dado o caso de não se achar solução conveniente parao mesmo .mportaria isto em renunciar de uma maneira abso-luta a .déa de dotar a Bahia de um serviço perfeito de esgotos.Pode-se afirmar sem receio de contestação que todo e qual-quer projecto de esgotos que não for primordialmente baseadonuma boa solução do problema que encaramos é, ipso/aclo¦mpratjçavel A condição fundamental de sua existência é aresolução preliminar do problema d'agua.

Foi, por isto, que tratamos de achar essa solução, antes dprcseguir nossos estudos.Si a Bahia ou qualquer outra cidade chegasse, porventura, aadoptar para o seu serviço de esgotos uma solução que nãocontemplasse a exigência a que nos referimos, valeria mais decerto rcnuncar á idéa de construir a sua rede de canalisação.Mais vale nao ter esgotos do que tel-os imperfeitos.E' porque algumas cidades não tem acautelado sufflciente-mente os interesses da hygiene e obedecido aos seus preceitosque ellas tem deplorado mais tarde esta falta e as despezasconseqüentes. *

«A introducção liberal da água nas casas e sobre a via pu-bhca, diz com toda razão o eminente Dr. Saraiva, torna-sepouco a pouco a lei lundamental e primordial do saneamentomunicipal.»

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pratica^^oria.hoieindlscutiveUa^^^.^

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™do a receberem tudooue P°8l°S (°S 'es*°'o°) d.a-astado sem Z^^J^"*™ «° »*¦ dJser

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«*Se™s»deixaram ° ™>° * *«*"PeHenci/sconsZrp^r3^ °° *""* d"~ r: st:*: --—« «Parem em sacros materiaes ^TJ^T^Eta deve ser a legitima aspiração da Bahia^

elementos conta e„a para atasse bene„co re-

Jo que vamos examinar e resolver.As águas de qUe pode utiIisar.se fid* ^gotos podem classificar-l^l?" ° ^ ""*"

grupos, a saber: e,ementarmente em dous'•* águas constantes;2*,aguasintcrmittentes.AS Primciras P°dem ainda subdividir-se em A ,'*• as águas q„e podem s„

d'r 8e m duas classes:«gotos sem preparo chimico algum Cmpregadas nos

2.' as águas que Dreci«nm a*. 'empregadas. **""" '' Um preParo "P«ial para serem

A8a-a'~-sadmittómtamrmumanovacIaM,

"¦r?'':':-M:^----y;,~:x y-".-x:-' p: ¦:¦<¦-,'*'z;\

ficaçao, conforme possam ser empregadas ou não no serviçodosesgostos.

Na i.- classe acham-se as águas pluviaes dos telhados e dasruas e pateos calçados convenientemente; na 2.' figuram aságuas pluviaes provenientes de pateos e das ruas que não seacham calçados em condições satísfactorias.

Ainda existe uma 3.- classe de águas que não devem ser le-vadasem linha de conta, porque tem de desempenhar umpapel especial, qual o de arrastar as matérias que levamem suspensão até um certo limite, o que em nada modifica noscálculos o coefficiente próprio para a resolução da formula ma-thematica que procuramos.

Referimo-nos ás águas da copa, do toilette, dos tanques delavagem, etc.

Eslas águas são intermittentes por natureza e devem ser des-prezadas noa cálculos.

Não é também conveniente que as águas chamadas inter-mittentes na classificação que adoptamos sejam consideradasno calculo das que são necessatias para a boa circulação dasmatérias nocivas dentro da rede de esgotos.

O seu caracter intermittente, com effeito, deve afastar qual-quer idéa de aproveital-as como elemento constante do perfeitofunecionamento dos ystema.

Além d'isso, na Bahia, a maior parte das ruas e praças nãose acham calçadas nas condições precisas para que se possamutilisar as águas pluviaes; de modo que o volume de águasintermittentes aproveitáveis é por demais reduzido.

As águas dos telhados e das ruas calçadas convenientementepoderão dar em certas oceasiões um supprimento de correntezaaos esgotos, ou mesmo determinar; n'um momento dado, umalavagem perfeita de toda a rede, arrastando as matérias maisdensas que por acaso se tenham depositado entre duas tro-voadas, ou entre dous aguaceiros; porém esta toilette (seja-nospèrmittida a expressão) operando de uma maneira intermit-

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 38

. ." ::Ím3Í8.w'v-V.;V:^:T^'f JS^S>jtente não pode ser acceita como base de um serviço que con-stantemente deve ser attendido de um modo mais efficaz;

Assim como o banho, que em boa hygiene deve ser preceitodiário para os indivíduos, não é sufficiente para satisfazer todasas necessidades de sua economia; da mesma maneira a lava-gem intermittente dos esgotos não constitue a única necessidadepara a boa circulação dentro dos canos de drenagem.

Elles precisam de outras águas constantes, que percorrendotodo o systema, um verdadeiro systema venoso, vão levar paralonge o producto circulante.Por esta razão, as únicas águas com que devemos contar parao perfeito serviço do systema adoptado para o saneamento da

Bahia devem ser as águas constantes.Estas águas são as que devem chegar abundantemente ás

habitações e ás caixas automáticas, etc, estabelecidas no per-curso dos encanamentos para, por seu intermédio, conseguir-se o continuo arrastamento e despejo das matérias.

O supprimento d'estas águas pode ser feito ou pela immensabahia ou pelas nascentes visinhas da cidade ou pelo dique.

Sob o ponto de vista hygienico, as águas do mar não devemser empregadasrsob a sua forma ordinária. O emprego da aguasalgada na lavagem dos encanamentos e dos apparelhos domi-ciliarios apresenta graves inconvenientes, como sejam: i-,formação no interior dos tubos de depósitos de saes de diíTe-rentes espeües, que pelo seu volume e pela sua tenaz adheren-cia obstruiriam os canos e impediriam o livre escoamento daságuas; a.-, grande despeza que motivará a continua desob- •strucção e renovação dos tubos, sobretudo nos domicíliosD'estes inconvenientes e da falta d'agua de que se resentiamalgumas localidades, que procuravam realisar o seu sanea-mento, nasceu a idéa de decompor as águas do mar de maneiraconveniente á sua utilisação.

Dos estudos levados a eflfeito com este Sm se chegou aoprocesso conhecido por electrolyse das águas do mar.

EíTectivamente, submettendo-se uma massa d'agua salgada

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proveniente do oceano á acção de uma corrente fornecida porum poderoso dynamo e por intermédio de electrodos formadosde placas de cobre cobertas de platina e de placas de carvão, ossaes que ella tem em solução, chloruretos, bromuretos, etc.são decompostos e convertidos em hypochloritos, hypo-bro-mitos, etc, forma sob a qual são capazes de destruir toda ma-teria orgânica em cujo contacto se acham. Basta, desde então,para desinfectar os esgotos, estabelecer-se chasses ou descargascom água do mar assim electrolysada.

Este processo, devido a Mr. Alberto Woolf, íoi?já empregadoem Brewters, pequena cidade situada a uns trinta kilometrosde New-York, com suecesso tal que o chefe do servi;o medico-hygienico d'esta ultima cidade propoz-se applical-o na mesma.

Não nos é também desconhecido o emprego de um processosemelhante" conhecido pelo nome de seu auetor, Mr. Hermite.Este methodo acaba de ser enthusiasticamente acceito pelamunicipalidade de S. Sebastião, na Hespanha; recebendo oseu auetor as mais encomiasticas felicitações do corpo de enge-nheiros d'aquella cidade, uma das mais florescentes d'aquellepaiz.

Porém, mesmo reconhecendo-se a bondade scientifica d'estesprocessos quando se os compara ao emprego racional e naturaldas águas doces, que nenhum preparo necessitam, pode-se-lhes applicar as mesmas criticas que o insigne Durand-Clayefazia dos processos Lièurnur e Berlier, quando os comparavacom o systema simples conhecido por integral ou tudo aoesgoto.

Dizia esse insigne e mallogrado engenheiro, tão cedo rouba-do á seiencia: «nada de machinismos emquanto for possivel,nada de alavancas e de processos artificiaes, que em um mo-mento dado venham privar uma cidade inteira do beneficio desua drenagem, infectando-a e prejudicando seus habitantes.»

Mr. Max de Nansouty, referindo-se a estes processos *_ aoseu emprego proposto para o saneamento de Paris, diz n'um

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arngo recente que .em a da.» de a4 dc fevereiro do eorremeaoem

"Qmm, Sab£'P°rím' "-seja preciso, enunciar nofuiur^ao emprego do, systemas de depuração chimica e electrica disquaes alguns tem dado bons resultados!»E' por idênticas razões que o illustre Dr. Saraiva não re-comenda^processo de su^er aguas * mar sinão no casode ser tsto preciso.Pelo que sabemos d'estes novos processos podemos opinar,ue ei e, da nSo chegaram ao ^ ^

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Ou2 ZIT™ S" aCCdt0S M Pra'iCa 8em ™"a «-*»•ma? oue, Z

*" "T " °PP& ~ empreg° daS a«uas d°mar quer no seu estado ordinário (o que é absurdo) quersendo elec.rolysadas, é de ordem econômica, porem da malsignificação e importância.Efetivamente: o emprego das tsguas do mar no serviço dosesgotos necessitaria só por si a construcção especial de estvatonos, estabelecimento de bombas elevadoras, de uma novarede de encanamentos^^ „ partkuhres par ^ T»

na rua e nas habitações. owviço,Semelhante obra, por causa do enorme dispendio que occa-stonana, serra mezequivel, a menos que.não se elevasse a umacrfra exagerad.ss.ma a taxa que cada habitante teria de pagar a

ü«zz::i muito phila"tropic°nso < •«« -dá - p-A consideração de que esta solução acarretaria despezasavuhad.ss.mas, ,á pela natureza das obras e sua conserva „,a pela sua .ncerta eflieacia, aconselha-nos não propol-a sinão

ftT ma,\dem0rad0s «*«• • somente depois deve"ficado que nao ha outro recurso.

Outro não pode ser o nosso procedimento, maxime quando,além de ser nosso firme propósito realisar o melhoramento déque carece esta cidade, somos chamados a ac.mCar o"Tn(

— 3-1 —

resses que nos forflm confiados por capitalistas que serão emdefinitiva os que terão de occorrer ás despezas.

Foi por esta çázão e por julgar que o outro processo satis-fazia, sob todos os pontos de vista, as condições exigidas queabandonamos a primeira solução para adoptarmos definitiva-mente a segunda, isto é, o emprego de água doce no serviçodos esgotos.

Si para este processo de lavagem tivéssemos de empregaruma canalisação especial estaríamos deante dos mesmos incon-venientes econômicos que já apontamos.

Porém, a existência d'essa canalisação especial impõe-sedesde o momento em que outra companhia de águas possuidorana Bahia de privilégios perfeitamente indiscutíveis não podecom seus únicos depósitos fornecer água necessária para oconsumo publico e para o serviço dos esgotos.

Adoptando-se, mesmo, a idéa de ser estabelecida essa novacanalisação não é menos certo que na pratica este systemaapresenta inconvenientes.

A este respeito diz Ch. Barde:«Existem cm algumas cidades dous serviços d'agua: um

dágua especial de nascente para beber, quando esta água épouco abundante, e outro para águas menos puras destinadasás lavagens, irrigações, waler closets, etc.

•Quando se pode ter uma só água, é muilo melhor, porqueum serviço duplo arrasta graves complicações, podendo atéacontecer que se beba água destinada para outros misteres.»

Além d'isso, este trabalho traria grandes difficuldades nasua realisação.

EíTectivamente, a empreza das águas do Queimado, tendoo exclusivo direito de assentar canos para conducção dc águaspotáveis,* não abandonaria este djreito sem preceder indemni-sação.

A solução definitiva do problema ficava assim embaraçadaçpmo d'antes,

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Ora, os meios que se podem promover são os seguintes: ouentrar em accordo com a companhia do Queimado para estasupprir as águas para os esgotos ou então adquirir o direito ouconcessão de estabelecer nova canalisação, captando as águasem mananciaes que se acham a uma dezena de kilometrosd esta capital. A captação de .outras fontes e mananciaes visi-nhos da cidade é absolutamente illusoria.

O primeiro meio era diflicil de censeguir-sc no estado actualdo cambio e de carestia geral, porquanto, ambas estas cir-cumstaneias são desfavoráveis actualmente e talvez, infeliz-.mente, por muito tempo ainda, para uma empreza brazileiraque quizer realisar obras importantes, cujo material tem de seradquirido no estrangeiro.

Não era, pois, rasoavel, exigir da companhia do Queimadoque executasse actualmente obras para augmentar o volumedágua necessário para o serviço dos esgotos.

Quanto ao segundo meio, trazendo-se as águas de manan-ciaes muito distantes da cidade, a despeza com a rede dos en«a-namentos urbanos teria de ficar aggravada com a do encana-mento geral, dos depositas e captação das águas.

Ora, já dissemos na nona proposta que o serviço dos esgo-tos, em si mesmo, não apresenta condições Vantajosas para serexplorado de uma'maneira remuheradora.

Pode-se afirmar que com estes novos encargos o serviço setornaria ruinoso para a companhia que o tivesse de explorar".

Em taes condições só restava-nos uma solução que conci-liava ambas as dificuldades e tornava ao mesmo tempo praticoo melhoramento desejado por esta capital.

Pra a compra da companhia do Queimado, cujo serviço fica-

— 3*33 —„.„¦ j

' ria ligado ao dos esgotos, ficando este em condições de serfeito de uma maneira pratica e podendo ao mesmo tempo aempreza achar remuneração para cobrir o déficit que forçosa-mente produz o serviço dos esgotos.

t * Semelhante compra' nem a todos é dado poder eííectual-apor causa da grande despeza immediata que seria sua conse-quencia.

Felizmente, para o futuro da Bahia e para ò melhoramentoque tantp tem de contribuir para o seu progresso, os nossoscapitalistas acham-se em condições de realisar estes sacrifícios,demonstrando, assim, o propósito firme em que estão de exe-cutar o reíerido melhoramento.

Ella vem resolver uma importantíssima questão de vitalinteresse pára a Bahia.

Nas negociações que foram entaboladas com a patriótica.directoria da empreza das águas do Queimado, fomos atten-didos tanto quanto era possivel conciliar nossa pretenção como interesse dos accionistas.

Estabelecidas as bases em que a mesma compra deverá serdefinitivamente ultimada, será ellarealisada quando a assem-bléa dos accionistas approvar a proposta feita ad referendum daconcessão pedida á intendencia municipal.

Podemos, pois, assegurar que em taes condições o serviçodas águas na rede de esgoto e nas habitações será perfeito. Maisa"deante daremos maiores esclarecimentos a respeito.

Não é, porém, esta a única vantagem publica quc resulta dasolução que conseguimos dar ao problema.

Pela compra da empreza do Queimado, os capitães por ellarealisados virão augmentar o movimento de outros interesseslocaes que, com a collocação d'estes fundos, progredirão e seengrandecerão.

Além d'isso, a nova empreza poderá augmentar o volumed'agua de que tanto precisa esta cidade, fazendo desapparecero possivel augmento ou instabilidade da tabeliã que hoje ouamanhã poderia dar-se, si a empreza do Queimado, amparada

no incontestável direito e privilegio de que pode ainda gosar *

durante ?o annos,. cogitasse somente do lucro dos capitãesn'ella empregados e do interesse dos seus accionistas.

Finalmente, com esta solução, podemos estabelecer a tabeliãreduzida para o fornecimento de água potável que acompanhaa nossa proposta e que é tão vantajosa para as classes menosfavorecidas, isto é, para aqüelles a quem se deve, por assimdizer, impor os hábitos de uma hygiene bem entendida.

Dados estes esclarecimentos, não julgamos ter ainda discor-rido completamente sobre todos os pontos que abrange a

'

questão tratada n'este capitulo.E' vulgar dizer-se e acreditar-se na Bahia que a actuai em-

preza das águas não possue os mananciaes suflicientes paraaugmentar o volume d'agua.Os que assim pensam laboram em erro. Para demonstral-o

não queremos utilisar-nos das nossas próprias observações;basta a transcripção que mais adeante fazemos da opinião doillustré Dr. Saraiva, que n'este como em tantos outros pontostem-se mostrado em invejável altura, prevendo e resolvendocom uma intelligencia sagaz e ura patriotismo admirável todasas difficuldades que abrange a adopção de ura systema de es-gotos na capital d'este estado.

D'este ponto os nossos encomios dirigem-se também aoillustré intendente, que n'este momento dirige com tanto íino orenascimento material d'csta cidade, assim como ao distinetocavalheiro e economista Sr. Luiz Tarquinio, sob cujo governomunicipal começou o Dr. Saraiva a applicar as suas idéas narealisação do melhoramento que, parece, será em breve umarealidade.

Seja-nos desculpada esta digressão, que tem seu logar ecabimento agora, que, pelos nossos humildes esforços, temosconseguido resolver o problema de maior importância para arealisação do plano cuja gloria reverte toda para aqüelles quesouberam inicial-o e leval-o á pratica com firmeza.

Ternando ao ponto em que estávamos vamos transladar para

oi®»

aqui as palavras com que o illustre Dr. Saraiva desfaz a opi-nião vulgar a respeito dos mananciaes e do volume d'agua deque pode dispor a empreza das águas do Queimado.

Diz assim o provecto hygienista:«Que as diversas águas que abastecem o Queimado são mais

que suflicientes para o serviço publico dos esgotos é um factoque pode ser verificado cabalmente por proíissionacs.

Hoje em dia estou persuadido d'isso.Ainda ha pouco, certa do gráo de abundância dos manan-

ciaes de que dispõe, a companhia procurou dar sufíiciente re-forço ao serviço das águas; o que conseguiu montando umanova machina de funeções regulares e suficientemente ener-gicas.

A caldeira d'esta machina veiu da Bélgica c as demais peçasda Inglaterra; ella suspende uma columna d'agua de om,25 dediâmetro á altura de quarenta e tantos metros.

Fazem-n'a trabalhar 4 ou 6 horas diariamente; quanto bastapara proverem-se as necessidades do abastecimento a umagrande extensão da cidade.

Creio que o volume d'agua suspenso regula de 8 a 10 mi-lhões de litros, conforme informações obtidas de fonte insus-peita.

Ora, desde que verificam-se todos estes factos, o meio deobter-se água para esgotos está indicado do modo o mais sim-pies; está evidente. A companhia do Queimado dispõe de umaviação completa d'agua por encanamentos n'esta cidade, dispõedc.um supprimcnto de água superior ás suas necessidades: oque resta a fazer-se? E' a administração entrar em um accordocom a direcção d'esta companhia, respeitando, como deve res-peitar, o direito inviolável dos contractos, para obter-se dc ummodo o mais simples e econômico-a água necessária á funeçãodos esgotos.»

Como o illustre professor, entendemos que só dentro d'cstasolução é que ficava resolvido o problema, por isso propomol-o

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 29

^.ndTf COm° b88e * Príndpi0 de <)'Ial<*uer melhoramentoaa índole do que nos çccupa.

oue^nÍlT-8 ^ nS. aCWad0S "° qUe fi"mos as «paridadesque nos hao de julgar o dirão.

Seja como for. fio, demonstrado que, quiçá, mais do que empa te algumas na Bahia, para nós como para qualqueron.roeoncurranle, a chave dos esgotos é água. ,.muila .£,.

VCollectores geraes

Conforme dissemos no capitulo anterior, o segundo problemaqne tínhamos de resolve, antes de entrar no d.envoWmemdo plano de drenagem no interior da cidade, é o que diz a res-peito ao despejo final das águas edlleccionadas

que\TdteÇld'CSte "T C"V0,Ve a **UeStS° d0 d-;-que 80 deve dar as águas, bem como a determinação do ponto;::: oer;:rdm,na'do

coacaor serai °u ~i°- *—transporte das matérias.O problema acha-se assim enunciado no edital de , cie Maio«A rede de e.sgo„.s que será de systemaunitario ou de cana 1"amo

o"'?0 í*™" •"""^'•'- -da a a a

cu" »^^» dwdi"d°- P" ""«««o.erão ma.. 1

°ndUCt0res Pri"«Paes se dirigirão ou conver-toda a Hua da Valh> acompanhando curso do Rio das Tripa,ZZZT;v T Camorogip°' "'"* °«> ™>°°ls.ei M" "lÍm "° **+C~Mo.»

o ed ~ r ;ddu2

claramente ^ °>™° **«««situado nR adaVa!la ITo m

" ° "*"" ^ ***"finni ' ao mesmo temP° Que o seu desDeioSSra-visinhanças do Monte-c—•~~^zsziz?j. rir-'

— 227 —

Por pouco que se conheça ou se estude a topographía d»estacapital, a resposta não se fará esperar: Pode-se aflirmar de umamaneira absoluta que não existe na Bahia outro ponto maisconveniente para este despejo final.

Vamos desenvolver, como merece, esta importante questãodo saneamento da Bahia.

Desde que o systema de despejo, pelo esgoto, nos seusdiversos processos, tem sido applicado ao saneamento daspovoações, o constante problema dos engenheiros e dos hygie-nistas tem-se resumido na seguinte pergunta: porque meiosefficazes e hygienicos pode-se chegar ao total aniquilamentodo caput-mortuum produzido pelas cidades?

D'este problema constante tem-se originado duas tendênciasou soluções: uns pretendem resolvei-o pelo lançamento daságuas em outras de maior volume e de maior correnteza eforça; outros, pela utilisação agrícola dos productos despejadospor meio da filtraçâo das águas, que lhes servem de vehiculo,em terras apropriadas.

Na antigüidade, o mais notável exemplo de despejo em águasde maior volume acha-se na clnaca máxima dc Roma quedeságua no Tibre. Do segundo pioccsso os mais antigos exem-pios conhecidos são os campos de irrigação dc Milão e dcEdimburgo.

Assim, pode-se ainda uma vez dizer com razão: nihil est subsole novum.

Como quer que seja, o debate ainda não deu solução cabal,da qual possa deduHr-se qual d'cstes dous processos é o quese deva ad ptar, como o melhor, no saneamento das po-voações.

O que, porém, se acha fora de duvida é que, para as grandescidades, o systema de despejos nos campos de irrigação acha-se eriçado de innumeras difficuldades praticas

Com effeito, o que primeiro se precisa é de vastos campos,onde estes enormes despejos possam ter inteiro aproveita-

«crno N«o basta ,„e elle, aejau. el,eM0S( é necMMrlo smedo a offerecer condições apropriada. á fi.,r,í5o d„ ,

OFo, asa.m que Paris começou a irrigar cem as agua. dosesgotes a vasta planície de Génneriliers. veddc-se depois obH-*.da a estender o. despejos aos exten.es terreno» Wm£

IT °°*T "* M" aba"«»«n'« necessário «oseuWée-

2. nt,

Bm0n,en,° 'MCUta ,rabalh<MI coll°"*«» Paraestender ate o Bosque de S. Germain o campo dos ensaio!W.colas,que.,mulad.mente oceultan. a absoluta necessidadeem que se acha aquella vasta metrópole de sanear o rio Senae de amphara aréa necesssariaaos seus despejos immundos.O ,ue e certo 6 que os hygieni.tas não ae lembrarão, d'estealv, re s.nao qúaudo a impossibitid.de d. ter, por «sim disera mao, um no caudaloso ou uma costa marítima, os deixoudeante do problema brutal que tinham de resolver.Pestenermente este recurso deu logar à um ramo especialde estudos agneolas e hydrau.icos, resultando d'ahi £pl -caçoes ma,s conformes com a verdadeira necessidade de eTtru-mar-se campos estéreis. Tal é o caso de Berlim e o de Toulonque, .cachando na margem do Mediterrâneo, nâo se jZuconvememe fazer os despejos n'este vasto lagoAs visinhanças da Bahia não offerecem campos estéreis nemplamaes apropriada, à applicação d W processo.O aprovetamento, poi., d'essas agua. em terreno, já feriei.ddaffi

Mm° * * mai0ria *- ** -cum amtuedade, produziria um effeito contraproducente.

* ÍST dCVe' P°''""^ -abaoluue.ent* p„s,a

Zl ' "DÇ'r °prod,,c,<) doa -w- - <*m ?>*Estas podem «r „„ „ d. um rio ou „ „, ^^- P To ;cir;:: ;r- "v*-noa *¦ «*»•esso v,cioso, que a hyg,ene ho,e reprova em principio.

Os exemplos do Sena e do Tâmisa que são os mais conhecidos,ahi estão demonstrando o envenenamento que resulta para aspovoações situadas ás margens d'estes rios pollutos.

Esta solução intermediária tem, entretanto, seus defensores.Elles tratam de demonstrar por uma serie de experiências

que o mal não é tão grande como se pensa nos grandes cursosd'agua, como o S. Francisco, por exemplo. Porém nem todasas cidades tem ao seu serviço semelhantes artérias fluviaes epode-se affirmar que as taes theorias deixariam de ser verda-deiras, desde que o augmento dos logares habitados no per-curso dos mesmos rios acabasse com a solução de conti-nuidade, deixando então as águas de ter o caracter de purezaque as toma salubres.

A Bahia não apresenta nenhum rio importante para, siquer,pensar-se n'esta solução.

Resta, portanto, o despejo nas águas do oceano.Nem todas estas águas, porém, são convenientes para o fim

que se tem em vista. A' este respeito julgamos conveniente,como já o temos feito repetidas vezes, citar as palavras doDr. Saraiva, para provar, com a auctoridadè quc lhe é própria,que as águas da Bahia não se prestam para receber os despejosda cidade.

Diz o exímio professor:«A concepção de construir-se um collector especial para con-

duzir as matérias dos esgotos desde a cidade baixa até umlogar do oceano, além do arrabalde da Barra, uns 400 ou 500metros, devendo portanto este collector serpentear toda a ex-tensão da costa intermediária a estes pontos, seria irrealisavclpor acarretar uma onerosissima despeza. Este collector nãopoderia ser collocado no solo como são commummente oscanaes de esgotos, porque as condições geológicas e a configu-ração do solo á beira-mar oppor-se-iám a isto; seria necessárioestabelecer-se um viaducto de ferro para servir-lhe de leito; esemelhante dispositivo viria custar a bagatella de uns 2 milcontos de réis seguramente.

— 830 —

Levar a im mundicie para os medíocres espaços da visi-nhança de Itapagipe, cercados de enseadas do mar com as suas.águas mortas, ou de montanhas; sem terras próprias, pelaextensão d'ellas, para a irrigação, ou para a filtração inter-mittente, seria um incrível desaso profissional em engenharia eem hygiene.«Consentir que jsc lance o caput-mortuum dos esgotos da ei-dade baixa nas águas transparentes d'esta Bahia inexcedivel

por qualquer do mundo pela sua extensão, pela süa esplendidabelleza, prestando-se maravilhosamente a recreios salutares eá certas prendas da educação moderna-á todos os exerciciosdo sport nautico-é privar-se para sempre o grande numero dehabitantes d'esta cidade de tão úteis quanto agradáveis pra-ticas; é convertel-a n«um golfo do México, attentando-se contraa vida de uma população inteira.»

Condemnado, pois, o despejo nas águas da formosa Bahia,resta—somente a costa do oceano.

Esta solução é a mais acceita-pela setencia pelas suas con-d.çoes absolutas de inocuidade, e pela pratica por ser a que seacha mais applicada.A exigência do edital para que as águas colleccionadas dacidade vão ter ao alto mar é, pois, a mais conveniente em

principio e no caso vertente a única acceitavel.O Dr. Saraiva diz ser este «o melhor meio a que podemosrecorrer para fazel-as desapparecer.»Portanto, na costa do oceano é que deve ser o terminus do ¦

collector geral.Vejamos agora qual deve ser o ponto inicial do mesmo -A topographia da cidade, de todos conhecida, determinadous planos de drenagem que são:i.' o da cidade alta;a." o da cidade baixa,O da cidade alta tem diversos colleccionamentos secundários,e.,0 detalhe daremos no capitulo competente. O mais impor-tante d elles é o que se entende pela Rua da Valia, desde a Bar-

roquinha, que é o seu ponto mais alto até a ponte que une oBarbalho á Nazareth, e que é o ponto mais baixo.

O seu traçado segue o mais considerável talweg da cidade.E' n'esse collector que devem ser despejadas todas as águas

colleccionadas da parte da cidade alta, que converge para aRua da Valia e da cidade baixa que são elevadas por meio demachinas apropriadas.

Este colleccionamento é, pois, o que deve preceder ao que seopera pelo collector geral.

Isto é tanto mais lógico quanto que é de um ponto do pro-longamento d'esta rua que partem os valles e rios mais impor-tantes que vão ter ao oceano e que devem, por conseguinte,servir de directriz para o seu traçado.

E', pois, n'um ponto da Rua da Valia, convenientementeescolhido, que deve achar-se o inicio do collector geral. Esteponto deve ser o logar denominado Sete Portas, ponto d'ondepartem os valles de que já falíamos e que se dirigem ao oceano.

A direcção indicada pelo edital para o traçado do collectorgeral é a do valle do Rio Camorogipe.

A* este respeito diz o Dr. Saraiva:«Convergindo a área d'esta cidade para certa extensão d'este

valle que dirige-se á costa do oceano torna-se, ella eminente-mente disposta para conduzir por declives naturaes as águasdos esgotos até este ponto de sua convergência, que por suavez as acarretará para o oceano. Portanto, é disposta para umaexcellente viação dc esgotos, permittindo ao mesmo tempo quese estabeleça um bom methodo dc tratamento dos líquidos quetem de ser trazidos á extremidade d4 elles—o lançamento d'estesliquidos no mar.»

E* incontestável, e folgamos muito em declarar, que a pas-sagem do collector geral pelo Camorogipe é a solução naturale,por assim dizer, intuitiva do problema, attenta a topographiado terreno.

Porém, o illustre Dr. Saraiva, que com tanto cuidado temestudado a importante questão do saneamento d'esta cMade,

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na sua memória ao 3.* congresso medico, não mostrou predi-lecção por este ou aquelle traçado, exigindo somente quç adesembocadura do mesmo fosse no mar, além do Monte Gon-6elho e que o seu inicio fosse na Rua da Valia.

Assim diz elle:«Os esgotos dos diversos distriçtos ou secções convergirão

para um collector que se estenderá por toda a Rua da Valia,acompanhando o percurso do pequeno Rio das Tripas, ali pontoconveniente, que poderi ser o dajuncçâo d'este rio com o Camo-rogipe dlahi se o fará continuar até á costa do oceano ao lado doRio Vermelho, além do Monte Conselho.

As dificuldades de diversa Índole que encontramos no tra-çado do collector pelo Rio Camorogipe, e que se traduzem em'ultima analyse por dificuldades de ordem econômica, levaram-nos a estudar outros traçados menos dispendiosos, mas sujei-tos sempre ás condições technicas e hygienicas exigidas peloedital.

Nosso papel de concurrentes a um emprehendimento publico,onde ás mais convenientes soluções devia unir-se o menor ônuspossível para a empreza que representamos, justifica facilmentenosso procedimento n'esta questão.

A nossa eonducta acha-se tanto mais justificada quanto oDr. Saraiva—o verdadeiro iniciador d'este melhoramento—com a prudência que o caracterisa, não determinou expressa'mente que o traçado pelo Camorogipe fosse condição sine quanon para a adopção de um projecto qualquer apresentado áconcurrencia, e claramente diz na memória, que foi a base doedital, que o traçado a dar-se ao collector geral, poderá ser pelajuneção do Rio das Tripas com o Camorogipe.

Desde o momento em que esta recommendação achava-seestabelecida sob a forma condicional, o nosso estudo supple-mentare a apresentação dos diversos traçados, que foram. &conseqüência d'estes estudos, acha-se justificado.

Nosso procedimento acha-se ainda justificado com as seguin-tes palavras do illustre professor, que bem demonstra n'ellas a

liberdade relativa que, n"este çr mo em outros pontos technicos,deixa aos concurrentes para a apresentação de suas propostas,planos c projectos.Diz assim o referido professor:«Si forem introduzidas habilmente na conslrucção d'estesystema certas medidas, de conformidade com as disposiçõeslopographtcas especiaes da capital, torna-se elle muito maissimples e menos dispendioso.»

E accrcscenta: «encarando esta questão econômica sob oponto de vista geral, não posso entrar em todos os detalhes auecomporta o estabelecimento de um completo systema de es JosAos homens especialistas, que estudam com minucinsidade asdifferentes partes de um tão importante organismo do sanea-mento publico, pertence indicar estes detalhes na medida de seusconhecimentos e das suas attribuições.»E' assim que o illustre Doutor, com uma previsão que serevela em todas as partes da sua memória, abriu as portas aosconcurrentes, para que nas questões econômicas, que dizem res-

peito aos interesses das emprezas por elles representados, po-dessem adoptar soluções menos dispendiosas e para'que accnstrucção das partes componentes dos seus projectos se realisesob forma mais simples.Isto entra nas attribuições dos concurrentes, isto é doshomens especialistas que haviam de estudar com minuciosidade

o problema que lhes era proposto «indicando os detalhes, queo mesmo comporta.Na liberdade conferida pelo edital para os proponentes apre*sentarem seus planos e projectos, o nosso dever de engenheiros

consistia também em examinar a questão sob todos os seusaspectos e indicar qualquer possível modificação parcial que,sem prejuízo do plano geral, contribuísse para mais facilmente'ser attingido o fim, que se propuzeram as capacidades queiniciaram o melhoramento de que nos oecupamos.

Si como engenheiros e mediante penosos estudos feitosconscienciosamente sobre o terreno, que valeram a um de nós

r " ¦; 7:i.;x,x^.m^7xx>:..:ficar gravemente doente, durante um mez, de febres apahhadasno Rio Camorogipe, apresentamos diversas soluções do pro-blema, sem rejeitar de modo algum a do traçado pelo valle doCamorogipe, é porque julgamos que a intendencia, bem comoo illustre auetor do edital de 5 de Maio estavam no caso deesperar de nossa parte, como technicos, que cumpríssemos onosso dever onde fossemos chamados a fazel-o.

Nosso papel começou onde terminou o do medico hygie-nista.

í)o parallelo que mais adeante faremos entre os differentestraçados de collectores considerados principalmente sob seuaspecto econômico, da boa vontade de todos em chegar á melhorsolução, resultará a adopçào definitiva da passagem que apre-sentar boas condições technicas e hygienicas dentro das me-nores exigências financeiras.

Antes de proseguir, cumpre-nos declarar que o traçado maiseconômico, isto é, o do valle do Areia Preta, foi o que serviude base para os nossos orçamentos, ficando á intendencia in-teira liberdade de escolher o traçado que julgar mais conve-niente ao interesse publico, único pharol que conduz ao portoseguro, onde se abrigam as boas normas da administraçãopublica. (Ço,dÍnúa)'

VARIEDADEGênio e desoneração

E* um façto estranho, e não ain Ja notadfo, que eu saiba, porLombroso ou por qualquer outro escriptor, que os gênios emmechanica, ou aquelles que, pela maior parte lidam com factosmateriaes, não mostram, em regra, quaesquer indícios de dege-neração. Bastam-me os exemplos de Darwin, Galileo, Edison,Walts, Rumsey, Howe, e Morse, para provar a verdade d'estaaffirmativa. E' só o gênio da esthetica, o gênio das emoções,que é geralmente acompanhadojde signaes manifestos de dege-neração.

Os poemas de Swinburner mostram claramente a tendênciado auetor, que é tido por exquisito e excêntrico. Muitos doshomens de genio que cooperaram para a historia do mundo,eram victimas de epilepsia. Júlio César, chefe militar, esta-dista, politico e escriptor, era um epiléptico. Por duas vezesfoi derrubado por esta moléstia no campo de batalha. Umavez, estando sentado na tribuna, não poude levantar se naoccasião em que os senadores, cônsules e pretores lhe fizeramuma visita de honra e de ceremonia. Agastaram-se por estafalta de respeito, e retiraram-se encolerisados. César voltou acasa, despojou-se das suas vestes, e offereçeu o pescoço a quemquer que lh'o quizesse cortar. Explicou depois o seu procedi-mento no senado, dizendo que era victima de uma moléstia

que algumas vezes lhe não permittia estar em pé.Muitos homens de genio soflreram de movimentos espasmo-

dícos e choreicos, particularmente Lenau, Montesquieu,Buffon, Dr. Johnson, Santeuil, Crebillon, Lombardini, ThomazCampbell, Carducci, Napoleão e Sócrates. O suicídio, essen-cialmente um symptoma de desarranjo mental, tem arrebatadomuitos homens de genio para o desconhecido. Começa a listacom homens taes como Zeno, Cleanthes, Dionysio, Lueano eStilpo, e contem os nomes de immoriaes, como Chaltertori,Blount, Haydn, Clive e David.

O alcoolismo e o morphinismo, ou um desejo invencível

pelo aleool e pelo ópio, de uma forma ou de outra, são actual-mente conhecidos como provas de degeneração. Homens de

genio, quer no velho quer no novo mundo tem mostrado estaforma de degeneração. Entre os homens e mulheres de geniodo velho mundo que abusaram do álcool e do ópio, estão Co-leridge, James Thomson, Carew, Sheridan, Steele, Addison,Hoffmann, Charles Lamb, Madarne de Stael, Burns, Savage,Alfred de Musset, Kleist, Caracci, Jan Steen, Morland, Turner

(o pintor) Gerard de Nerval, Hartley Coleridge, Dussek,Handel, Gluck, Praga, Rovani, e o poeta Somerville. Esta

lista está longe de ser completa, como o leitor instruído conhe-

wmmmm.-af>, .^i^^^ ¦•*". ¦^^-•¦i*-**™™?*^;.,.,.». -1-**-,—^

— 236 —

cerá á primeira vista, mas serve, entretanto, para mostrar

quão freqüente é esta forma de degeneração em homem de

gênio.N'estes homens o senso moral é algumas vezes obtuso,

senão de todo ausente. Sallustio, Seneca e Bacon eram repu-tados criminosos. Rousseau, Byron, Fos:olo e Caresa eram

grosseiramente immcraes, ao passo quc Casanova, o insignemathematico, era um caloteiro vulgar. Murat, Rousseau,Wagner, Clement, Didcrot e Praga foram uns devassos. O

genio, como a loucura, vive em um mundo seu próprio: d'ahio acharmos poucos, se é que achamos provas de affeição hu-mana em homens de genio.

O Dr. Johnson, que padecia da loucura da duvida, tinha

que apalpar todos os postes que encontrava. Se lhe escapavaum voltava atraz para apalpal-o. E tambem se sahia por uma

porta errando o pé que devia ir adeante, entrava de novo, etornava a sahir pondo adeante. o pé que elle julgava ser o com-

petente. Napoleão punha-se a contar e a sommar as filas de

janellas em cada rua por onde passava. Um estadista celebre,amigo, pessoal do auetor, nunca pode supportar o pôr os péssobre uma greta da calçada ou fenda do assoalho. Quando ca-minha tem muito cuidado em saltar por cima dc qualquergreta ou fenda. Desgosta-o muito esta idiosyncrasia, mas oimpulso é imperativo, e elle não lhe pode resistir. As pessoasinteiramente relacionadas com homens de ^enio tem conheci-mento de que elles são freqüentemente amnesicos, ou «alheios».Newton tentou uma vez metter um dedo de uma sua sobrinhana chaminé do seu cachimbo: e Rovelle leccionava sobrequalquer assumpto por horas consecutivas, e acabava pordizer. «Mas isto é um dos meus segredos, que eu nào digo aninguém». Um dos seus. discípulos ia-lhe então segredar aoouvido o que lhe acabava de dizer, e Rovelle acreditava queo seu alumno «penetrara o arcano por sua própria sagacidade,e pedia-lhe que nã » revelasse a ninguém o que elle acabara dcdizer a duzentas pessoas».

— 237 —

Não devemos confundir o gênio com o talento; são cousasmuitíssimo diversas. O gênio é essencialmente original e

espontâneo, ao passo que o talento é até certo ponto adquirido.O gênio é uma anormalidade, mas uma d'aquellas a que o

mundo deve ser religiosamente grato. O psVchos no gênio não

é uniformemente desenvolvido; sendo uma parte mais favere-cida do que outras, absorve e gasta mais do que o seu quinhãod'esse elemento, qualquer que elle seja, que vae constituir a

intellectualidadc; d'ahi o mostrarem degeneração as partesmenos favorecidas ou menos acquisitivas. A razão porqueexiste o gênio é um dos phenomenos ainda nào explicados danatureza, mas que elle seja o resultado de causas naturaes, édo que eu não tenho a minima duvida.

(Trad. do Medicai Record).

METEOROLOGIA

Resumo das observações meteo-rologioas do mez de Outubrode 1894.

Temperaturas— Máxima 2S°,5o; no mesmo mez do annopassado ^o°,o; Mínima 22°,50, em egual mez do anno passado23o,00; Mediado mez 26,22, nn anno [.assado 26o, ^2; Media aosol 42*,00, no anno passado }8 ,32; Media máxima 27 ,40, noanno passado 27",64; Media minima 23-,84, no anno passa-do 24-,45.

Baromelro observado.—Máxima 76 ,50, em egual mez cioanno passado 764, o; Minima 760,50, no anno passado 758,20;Media 761,18, no anno passado 761,20.

Barometro calculado a O.—Máxima 759,27, em egual mczdo anno passado 760,87; Minima 757,25. n0 anno Passado754,72; Media 758,18, no anno passado 757,75.

O hygrornetro oscillou entre 69' c 92*,humidade relativacorrespondente 55,6 e 87,0. No mesmo mez do anno passado ohygrornetro oscillou entre 69- e 86", humidade relativa corres-pondente 54,4 e 78,0.

Os ventos mais constantes forão SE e NE, havendo b, IN eNW em um dia.

Houve durante o mez 7 dias de chuva, marcando o pluvio-metro 2jmm,o, eguaes a 92 litro d'agua por metro quadrado.

a.

— 238 —

No mez do anno passado o pluviometro accusou em io dias dechuva sa—,o, eguaes a 216 litros por metro quadrado

O Director do Laboratório Municipal, Dr. Innocencio Cavai-cante. O Sub-Director, Dr. Aljredo de Andrade.

NOTICIÁRIOSociedade Medico-Pharmaceutica de Beneficência Mu-

,»f^Re7n!Ue a assembléa geral d'es.a utiliss.ma™u u.çaoem sua sessão annua, no qual foram approvados o balancetedo anno findo e o parecer da commissão de contas.

Em seguida procedeo-se á eleição para os diversos cargosda sociedade, sendo o resultado o seguinte:

Conselho administrativo.-Drs. Silva Lima, Monteiro dcCarvalho, Almeida Gouveia, Ansteo de Andrade e 1 harmaceutico Barretto de Menezes.

Assembléa Geral.-Presidente: Dr. Almeida Couto. Vice-Presidente, Dr. Ramiro Monteiro. Secretários: Dr. LJraz cioAmaral e Pharrnaceutico Sant'Anna.

Commissão de contas.—Drs Clodoaldo de Andrade, Do-mingues Lopes e Paraizo Jorge.

A' illustre classe medicado Distrieto Federal.—Assumindonesta data o cargo de director de hygiene e assistência publica,cumpre o dever de dirigir-me á illustrada classe medica doDistrieto Federal, para solicitar-lhe auxilio indispensável evaliosissimo no que se refere á notificação immèdiata dc qual-quer caso de moléstia transmissível, segundo o disposto no8 11 do art. 57 do regulamento municipal de 21 de junho dcÍ803. Taes moléstias, nos termos do art. 58, são: febre ama-rclla, cholera-morbus, peste, sarampão, escarlatina, varíola cdiphiheria. ,

F como no momento actual, preoecupada como se acua aattenção publica, qualquer caso de diarrhea choleritorme,mesmo benigna, deve ser trazido ao conhecimento da auton-dade sanitária, appello para o patriotismo e lealdade da dis-tineta corporação a que me ufano de pertencer, pedindo a todosos collegas, em nome dos sagrados interesses da saude pu-blica que não omittam aquella notificação prompta, ímmc-diata' a qualquer commissario de hygiene ou a esta repartição,para'effectuar-se sem demora a pratica das medidas prophyla-ticas de isolamento e desinfecção imprescindíveis e cujo encargoc por lei exclusivamente commettido ao departamento muni-ei pai dc saude publica, em qualquer ponto do Distrieto fe-dcral.

— 239 —

Capital Federal, 29 de Novembro de i894.-Dr. JoaquimJosé Torres Colrim.

Directoria de Hygiene e Assistência W^^nÍÓ^commtssarios de hygiene, 29 de Novembro.fid%l8?,tT;N/anitalpor emquanto, felizmente, importação verificada nesta capitalda moléstia choleriíorme que tem ar parecido em alguns pontosdos Estados dc S Paulo e Rio, c as medidas sabiamente

postas em pratica pelo governo devem produzir os mais com-nletos resultados prophylaticos. . .^Entretanto, urge" augmentar de prompto a resistência loca á

invasão epidêmica, pelo que vos recommendo, com particularnsistencia, a maior vigilância nas habitações de vossa circum-

seripção e especialmente nas collectivas, onde se agglomeramsem preoecupações hygienicas, individuos das classes inferioresda população. .' .. . „ mn,

Nesse particular devereis inspeccionar assiduamente e comesmerado cuidado todos os receptaculos e conduetos de immun-dicies e de quaesquer águas servidas, a canahsaçao de distn-buição domiciliaria d'agua potável e seus depósitos, seiam

particulares cu públicos, providenciando com urgência pelamaior limpeza, fácil escoamento e reparos indispensáveis, nostermos das disposições regulamentarcs. _

Igualmente inspeccionareis, reclamando providencias destarepartição, sobre o asseio e limpeza das ruas e praças, e bemassim dos estabulos, cocheiras e quaesquer locaes cm que seaccumulem immundicies. .. nf„ ia(S

Insisto na fiscalisação que devcis manter severa e attenta dassubstancias alimentares expostas a consumo e particularmentecarnes de açougue, peixe, fruetos mal sazonados e indigestos^e

quaesquer alimentos deteriorados ou insalubres, piovidenciando para que não sejam utilisados.

Devereis attender com a maior presteza a quaesquer notih-cações que receberdes sobre moléstias transmissíveis e particu-larmente sobre casos suspeitos de diarrhéa cholenforme, pro-videnciando de accordo com as Ínstrucçôès relativas ao isola-mento e desinfecçáo applicaveis á especie.

Confio de vossa solicitude pelo serviço publico que dareis aestas recommendações o mais exacto cumprimento, como sefaz mister na occaaião e como cumpre a todos nos ™™rTC$™°sde velar pela saúde publica.-O director geral, J. J- ionesCotrim.

cabula* Coenet.-As cápsulas Cognet de Eucalypto absoluto io-

do^omio-creosotado constituem a mais poderosa medicação aoppor â tu-

ilrZZ pZtmvr, . «i gera! âs +#m do apparellio «spiraicru,.

Paris, 43 rua de Salnlonge eem todas as pl.armac.as.

«oido Veme.-Especifico contra as moléstias do fígado, cactiexiade

.££ palnstre.e consecutivas . ionga esta Ia nos paizes quentes, feb.es

remittentes e dyspepsias.

m. n Plixir e pílulas Grez chlorhydro-pepsicos constituem

0Sr J£ «dasdyspepsias, da anorexia, vomites da p;en.,eZ

. perdoes gastro-intes.inaes das creanças e diarrbéas c-roo.cas.

dp Q„evenne._Ha 50 annos considerado como o primeiro dosFerro de Qne " '

mnza de sua poderosa actvvidade' de suaferroglnoso. por causa de

f^^ln^ tem a acçào cáustica e irritante

^C;r,**-1 Para'evitar as fa.sHicaçOes

;Z:,:i: 1 dX: t«o InisLo dc prescrever Sfl,,r,-c s 0 r,*,,,. ,,.,,

dí? Qucvcnne.

<, r or de wrnde, de albuminato de ferro, o mais assimilável dos

J2 dX,t cmssLe o tratamento especifico da C.orose e da anemia.

Nev«a«i-. Mí«rame.. Cara pelas pHala. anti-nevralgicas do

Dr Cronier. Pbarmacia 23, me de Ia Uonnaie. Paris.

~ vinuo de Bayard de peptona plwsphatada, é um dos poderoso

recouslituintes da therapeutica.

GAZETA MEDICA DA BAHIAFuBItlCAÇAQ M_fSH9__.I«si

Anno XXVI DEZEMBRO, 1894 Aí. 6

Medidas preventivas contrao cholera

Tendo apparecido, nos últimos dias do mez findo, casos dediarrhéa choleriforme, com caracter epidêmico, em algunspontos dos estados do Rio de Janeiro e S. Paulo comprehcn-didos n'um trecho da zona que percorre o valle do rio Para-hyba, os governos federal e estadoaes puzeram em execuçãomedidas sanitárias rigorosas com o fim de circumscrever amanifestação epidêmica aos pontos atacados, suspendendo poralguns dias o trafego da Estrada de Ferro Central, até que asprovidencias prophylaticas se realisassem de modo a impedirpropagação da epidemia que se estendia ao longo d'esta viaférrea.

Parece que estas medidas postas em pratica com a maioractividade e energia produziram o desejado effeito, pois até adata em que escrevemos, segundo as communicações tclegra-

phicas recebidas n'este Estado a epidemia se acha circumscriptae vae declinando notavelmente.

justificando as medidas empregadas e apontando as causas

que as motivaram, o Diário Official diz o seguinte:«Todas estas medidas se podem resumir na necessidade que

teve a administração publica de fundar, em vários pontos dointerior, um serviço sanitário capaz de debellar a moléstia epi-demica, circumscrevcndo-a nos seus focos de origem, encra-vados na zona interposta de Cachoeira a Belém.

Cortar as communicações com as localidades contaminadasera o mais prompto recurso que as circumstancias impunham.

SERIE IV ANNO XXV1VOL. V. 31

— 142 —

Em seguida, para pôr em eíTeito as medidas, que realisou,de prophylaxia sanitária, procurou o governo, por intermédioda respectiva repartição federal, inteirar-se da condição etiolo-gica da moléstia,-questão esta primordial, porque, á parte ointeresse de ordem scientifica, tinha, na espécie, quanto ao pro-gramma hygienico a seguir, a maior importância de ordempratica.

Enviada aos pontos inficionados uma commissão de profis-sionaes, desde logo verificaram elles tratar-se de casos de diar-rhéa choleriforme, diversos dos de cholera-nostras e demaisdiarrhéas não especificadas pelo seu caracter infecto contagioso;e isso bastou para que o governo organizasse um systema de-fensivo inteiramente idêntico ao que se contrapõe á marcha docholera-morbus epidêmico.

N esse meio tempo, confiados a mãos idôneas, proseguiam-se e completavam-se os estudos conducentes a firmar, poroutros pr. cessos de exame, o diagnostico do mal.

As observações clinicas rigorosas, cotejadas, sempre quepossível, com a investigação anatomo-pathologica, e, ao ladodellas, as peças de informação dadas pela bacteriologia,—tudofoi convergente no sentido das mesmas conclusões.

A prova ba:teriologica foi a primeira a praticar-se por care-cer dc menos tempo. Tambem era a mais urgente; porque anoção que ella subministra é soberana e indiscutível: averi-guada a presença do komma-bacillus, com a competente indi-viduação biológica, isto é, com os requisitos estatuídos porKoch, não ficará, quanto ao diagnostico, sombra de duvida.Ora os vários ensaios que se hão de seguir para authenticar ocaracter especifico do vibrião cholerigeno foram effectuadoscom suecesso positivo A natureza da moléstia que percorria ovalle do Parahyba estava, conseguintemente, estabelecida.

Mas, por felicidade nossa, a maioria dos casos eram e conti-nuam a ser benignos. Nem sempre o cholera asiático offerece agravidade que tanto o singulariza no seu berço originário, nas

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- 14? -

margens do Ganges. O micro-gcrmen que o produz parece quesoffre uma attenuação profunda na sua virulência, cahindonoutros solos.

Todavia, não ha por que se abandone o rigor das cautelasprophylacticas, cuja efficacia é decisiva; a pouca gravidade damoléstia pôde ser ephemera; a simples diarrhéa cholerica ébastante para transmittir os gráos mais intensos da affecçãopestilencial.

As medidas restrictivas que devem acompanhar o rcstabe-lecimento do trafego ferroviário, prescriptas pela administraçãofederal, secundada pela acção dos governos de S. Paulo e doRio de Janeiro, devem merecer inteira confiança da população:n'ellas está a salvaguarda da saúde publica.

Pelos Ministérios dos Negócios Interiores e da Viação eObras Publicas, o Governo Federal, depois de cuvir as repar-tições sanitárias competentes resolveu mandar pôr em execuçãoas seguintes medidas:

«Os passageiros que quizerem embarcar para as estaçõescomprehendidas entre Belém e Rio de Janeiro e entre Cachoeirae S. Paulo ficam prevenidos de que só poderão fazel-o depoisde munidos do competente passaporte sanitário, -que será con-cedido pelo medico para esse fim cornmissionado pelo Go-verno.

Cada passageiro deverá apresentar-se ao medico ao menosum quarto de hora antes da partida do trem, afim de declararqual o ponto de destino e a casa onde ahi vae residir.

As malas de mão, embrulhos, saecos, etc , serão retidos paraa desinfecção em Belém ou Cachoeira. N'essas estações seráentregue aos passageiros um numero impresso correspondenteao que fica collado na sua bagagem.

No fim de quatro dias, contados depois do da chegada, opassageiro reclamará na estação a sua bagagem, apresentandon'gssa occasião o numero impresso e o passaporte visado pelosmédicos incumbidos dc inspeccional-o diariamente.

No ponto de destino o passageiro será inspeccionado durante

— M4 -

os quatros primeiros dias que se seguirem ao da sua chegada,não podendo retirar-se d'ahi sem ter completado este tempo deobservação.

Ficam os passageiros prevenidos também de que não devemlevar em suas malas objectos de valor nem outros capazes dese deteriorarem com o serviço de desinfécção, como sejam, porexemplo: plumas, pellicas, objectos de couro, dc metal, etc.

Fica expressamente prohibido o despacho de bagagens nasestações comprehendidas entre Cachoeira e Belém.

Não se acceitará reclamação algnma sobre deterioraçõesproduzidas pelas desinfecções.

Os passageiros, que embarcarem nas estações comprehen-didas entre Norte e Lorena com destino ao Rio de Janeiro evice-versa, ficam scientificados de que o trem não parará emnenhuma das estações comprehendidas entre Cachoeira eBelém.

Quando o trem parar em algum ponto para tomar água, oupor motivo de necessidade do serviço, os passageiros não po-derão ter communicação alguma com as pessoas do logar, nemsahir dos seus carros, nem comprar objecto algum.

Chegados a Belém ou Cachoeira, os passageiros são obri-gados a submetter-se aos cuidados ahi prescriptos pela com-missão medica, tendo depois livre transito.»

O Director de hygiene e assistência publica do districto fede-ral dirigiu pela imprensa á população d'csse districto os conse-lhos que abaixo transcrevemos, e que estão de accordo com oque a sciencia recommenda para prevenir o insulto do terrívelmorbo e sua propagação.

«Em combinação de esforços na execução ou medidas maisconvenientes collaboram activamente o governo da União e dosEstados dc S. Paulo e Rio, para obviar a disseminação epide-mica da moléstia choleriforme que grassa, embora attenuada,em varias localidades do interior. N'csse encargo cumpre áDireetorià de Hygiene e Assistência Publica o supremo dever

- !4*>-

de procurar evitar a importação e propagação da moléstiadentro do perímetro do Districto Federal; e para conseguir esseresultado, dirijo-me a todos os cidadãos d'este districto, porcujos interesses sanitários devo empenhar-me solicito e dedi-cado, pedindo-lhes que não recusem a esta repartição a contri-buição efficacissíma de seu auxilio, dando cumprimento ásinstrucções e conselhos quc em nome da saúde publica lhesproponho.

Releva ponderar que estas instrucções-conselhos devem serattendidas pela população sem atropello, sem pânico, com aconvicção firme, tal é a segurança dos resultados, de que pre-servam de facto do accommettimento infectuosò.

Acresce que não ha, por emquanto, propagação epidêmica aoDistricto Federal, e para impedil-a trabalham profissionaescommissionados pelo governo nos pontos infeccionados do Es-tado do Rio; não obstante, além dos esforços e providenciasque a esta directoria cabe iniciar e realisar, e que estão em exe-cução regular, e da severa vigilância que procura manter torna-se indispensável que a população auxilie o serviço municipal,procurando cada cidadão obedecer ás indicações prophylaticasque lhes são feitas e cujo alcance preventivo impõe-se como amais segura garantia contra o assalto da moléstia, dada aoccurrencia na propagação a este Districto.

iB, o contagio do cholera reside nas dejeeçôes dos indivíduosa-xommettidos; e é facilmente transportado por impregnaçãod'ellas quer em indivíduos sãos, quer em quaesquer objectosexpostos á contaminação virulenta. Entre estes objectos merc-cem particular importância, e offerecem portanto maior perigo,as roupas de qualquer tecido que possam ter soffrido o contactodas dejeeçôes do doente, ou mesmo permanecido em seu apo-sento sem contaminação aparente:

2o, a água, os alimentos, o leite e quaesquer bebidas vehi-culam também facilmente a moléstia. Para obviar esses perigosde propagação epidêmica as roupas serão rigorosamente des>n-íectadas, a água e o leite previamente fervidos por alguns mi-

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nutos; os alimentos nunca ingeridos sem terem sido bemcosidos ou assados, as bebidas, além da água, evitadas cuida-dosamente;

3°, a desinfecção das roupas será realisada pela immersãoprolongada por meia hora em água fervente ou por espaço deseis horas em solução de sulfato de cobre a 5 % ou de chloru-reto de cal na mesma proporção, ou por immersão de meiahora em solução de sabão commum de potassa: meio kilo desabão para -*o litros de água, com addição de 10 colheresgrandes de ácido phenico liquido;

4o, nunca as roupas do leito ou do corpo do doente, ou asque forem contaminadas pelas dejecções d'elle, serão dadas alavar sem a prévia desinfecção por um dos processos indicados;além da desinfecção realisavel no próprio domicilio, poderão asroupas contaminadas ser eficazmente expurgadas do contagiopela desinfecção nas estufas de vapor sob pressão;

5°, qualquer pessoa victimada pelo cholera, mesmo na fôrmamais attenuada da simples diarrhéa cholerica, pôde tornar-seíóco de propagação epidêmica, quer entre os que com ella coha-bitam no mesmo prédio, quer para com a circumvisinhança;urge, portanto, na occurrencia de qualquer caso suspeito ouconfirmado dar immediata communicação á autoridade sanita-ria local, no interesse do doente e principalmente no de todosque o cercam ou que se acham nas proximidades de sua habi-tação. Esta ncção é capital, constitue a base das operaçõessanitárias que poderão com segurança limitar e circumscrevero mal em quaesquer íócos c assim impedir a marcha e o desen-volvimento da epidemia;

6o, é perigosissima e d.ve ser negada a entrada livre no do-micüio do accommettido, e bem assim prohibida qualquercommunicação com elle ou com as pessoas que o cercam, comexcepção exclusiva das que a isso são obrigados em desem-penho de seus deveres;

7o, as pessoas que por dever tenham dc penetrar no quartode um cholerico ou de conservar-se cm assistência assídua

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junto a elle, nunca deverão comer, beber nem fumar, emquantoestiverem no aposento do doente, e terão sempre o maior cui-dado em não levar aos lábios as mãos ou qualquer objecto dosexistentes para uso do doente ou simplesmente deposto emqualquer logar do seu aposento;

A contaminação possível e freqüente das mãos dos assisten-• tes, dos alimentos, da água e de quaesquer objectos que per-

maneçam n'esse local, justificam essas cautellas de grandevalor prophylatico.

8o, ao sahir do quarto do doente deverá cada qual lavarimmediatamente as mãos com água phenicada a 2 % e sabãode sublimado ou com solução de sulfato de cobre ou chloruretode cal, a 2 % ou, finalmente, no mínimo, com água e sabãoordinário (sabão de lavar roupa); o indispensável é nuncaomittir a lavagem cuidadosa das mãos sempre que sahir dajunto do cholerico. Si as mãos houverem sido contaminadaspelas dejecções mórbidas, a lavagem e desinfecção immediataimpõe-se e n'este caso as soluções desinfectantes serão de chio-rureto de cal ou sulfato de cobre a 5 %, a de sabão commume ácido phenico, ou a de sublimado corrosivo e ácido tartaricoa 1 0ü/0, esta mediante prescripção medica, por ser muito tóxica.

9o, dada a oceurrencia de serem tocadas pelas dejecções viru-lentas as roupas da pessoa que estiver junto ao doente, serãoestas immediatamente substituídas e mergulhadas em qualquerdí?s ultimas soluções fortes para esse expurgo;

10, todas as roupas de uso do leito do cholerico ou que ovestirem durante a moléstia serão destruídas pelo fogo, siforem de pequeno valor ou imprestáveis, no caso contrario,soffrerão a desinfecção immediata e suecessiva pelas mesmassoluções já assignaladas;

ii, ninguém deverá transportar por iniciativa própria roupasou quaesquer objectos que tenham de ser desinfectados fora dodomicilio, aguardando sempre o transporte a cargo da reparti-ção de hygiene, feito em vehiculos especiaes;

ia, as roupas e quaesquer objectos que tenham servido a

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cholericos não deverão ser dadas a indigentes ou necessitados,nem abandonadas no lixo, sem prévia desinfecção pela fôrmaaconselhada.

Do mesmo modo ninguém deve receber quaesquer objèctos,provenientes de logares infeccionados, sem prévia desinfecçãoregular nas estações publicas municipaes, e igualmente convémque não sejam recebidos hospedes das mesmas procedênciassem conhecimento da autoridade sanitária. Em qualquer dashypotheses o risco de contrahir a moléstia é notável;

13, nenhum medicamento de íormula conhecida ou secretatem valor de preservar do accommettimento cholerico; em lo-gar de usai-os deve a população cingir-se á execução das medi-das de defeza que vimos de exarar que cumpridas fielmenteimpedem com segurança o insulto epidêmico, recorrendosempre sem tardança, a0 medico para tratamento, quer damoléstia cholerica, quer de qualquer perturbação digestivadiarrheica.

14, a essas medidas cumpre addicionar a observação da maissevera hygiene individual e local e cujas indicações principaes,no caso concreto, são: sobriedade em todos os actos, abstençãode quaesquer excessos, que solicitando exageramento do orga-nismo o debilitam.

15, evitar cautelosamente todas as occurrencias de pertur-bações no apparelho digestivo e estas podem s^r proporcio-nadas pelo excesso de alimentação, pela ingestão de alimentosindigestos ou deteriorados, taes como: carnes alteradas, con-servas alimentares, productos de salchicharia. queijos fermen-tados, peixe e caça ern começo de decomposição, fruetos malsazonados, indigestos ou oleosos, excessos de bebidas, princi-palmcnte de gelados e alcoólicos;

16, todos os alimentos de origem animal e os legumes serãobem cosidos ou perfeitamente assados e conservados antes deingeridos, fora do contacto da poejra atmospherica;

17, nenhum alimento proveniente de casa onde houver cho.-lerico ou n'ella preparado deverá ser utilisado;

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i8, a ebullição prolongada de água é indispensável para osalimentos que vehiculam facilmente o cholera, taes são: todosos alimentos vegetaes, a manteiga fresca e os queijos do paiz;

19, do mesmo modo, o leite soffrera sempre a ebullição: e aágua, a não ser seriamente filtrada, será sempre fervida du-rante 15 minutos, resfriada, arejada por agitação com umbastão de vidro e conservada em depósitos cobertos, antes deser ingerida.

Entre os filtros dc miciliarios, apenas os do Chamberland(porcellana) e os de Bishop (esponja de ferro) satisfazem ascondições de boa filtração. Mesmo assim as velas de porcellanadevem ser retiradas da bainha metallica, duas vezes poi'semanae lavadas em água fervente, ficando n'ella immersas durante2 horas, antes.de serem recollocadas para ulterior filtração.

Nos filtros Bishp a esponja dc ferro de ser tambem lavadacm água fervente durante 10 minutos dc quatro em quatrodias.

20, a esse regimen associará cada um o maior asseio corpo-ral por meio de banhos geraes, tendo o cuidado de não deglutirqualquer porção da água de lavagem por não estar filtrada nemfervida, pôde conservar virulência si porventura houver sidocontaminada;

21, ao asseio individual é indispensável alliar a maior lim-peza nas habitações pela remoção cuidadosa do lixo, de águasservidos e particularmente pelo meio de desinfecção das latri-nas c mais receptaculos de immundicies em communicaçãocom a rede dc esgoto subterrânea;

22, além da inspecção em entreter o funccionamento regulara esse interesse sanitário, torna se necessária a desinfecçãocontinua das latrinas por meio do leite de cal feito nas seguin-tes proporções: 1 litro de cal para 10 litros de água; começa-scmisturando 1 litro de água com 1 litro de cal, e absorvida eágua, addiciona-se o restante da água, deixa-se depor por pre-cipitação os granulos caicareos maiores, emprega-se o liquidode aspecto leitoso que sobrenada. Essa desinfecção será feita

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em todas as latrinas de cada habitação e tantas vezes quantasforem utilisadas, vasando se no interior das bacias de cada vezum litro da mistura;

2?, essa mesma mistura será preferida para os vasos quetenham de receber dejecções dos doentes, antes de serem va-sados nos feceptaculos do esgoto;—/. J. Torres Colrim, direc-tor de hygiene e assistência publica.

CORRESPONDÊNCIACarta do Dr. Silva Xaliçna a «Semaine

Médicale», de IParis, a propósitodo «aintuim».

Je viens de lire, dans le numero du 5 septembre dernier dela Semaine Médicale, une três interessante leçon clinique deMo de Brun, à propôs d un cas d'a'inhurn observe à l'hôpitalfrançais de Beyrouth, Dans cet article, oú 1'auteur me fait1'honneur de citer mon nom, il se trouve un passage qui me faitun devoir de vous écrire ce qui suit:

Après avoir compare 1'ainhum à la lèpre dactylicnne ou am-putante, M. de Brun me prête une opinion que je n'ai jamaisexprimée: «L'opposition entre les deux malades (un lépreux etun sujet atteint d'ainhum), dit-il, est donc formelle; elle nousrnontre bien la différence qui separe i'a'inhum de la lèpre muti-l&nte, et l'on comprend difficilement comment les médecinsbrésiliens, et en particulier da Silva, ont pu confondre 1'a'inhumavec cette variété de lèpre à laquelle ils ont donné le nom dega féria.»

11 est certain qu'avant 1867, date de mon premier travail surl'aínhum cornme affection spéciale, propre á la race éthiopiquc,nos praticiens la confondaient ordinairement avec la lèpredactylienne et se servaient, pour la designer, du nom que luidonnaient les nègres afriea ins— quijih, corruption du portugaisquisilia, mot qui signific antipathíe, parce que, dans leurs

cuperstitions fétichistcs, ils croyaient que Ia maladie provenaitdu fait d'avoir marche nu-pieds sur des traces de crapauds,de lézards, sur du sang de chien ou d'autres objects reputesimmondes. Mais depuis cette époque, aucun médecin brésilien,á ma connaissance, na soutenu que lVinhum soit une variéléde Ia lèpre; tout au contraire, ceux qui se sont occupés de cettequestion de pathologie tropicale rejettent formellement Iadoctrine qui range lVinhum parmi les affections Iéproules, etje citerai, entre autres, Moncorvo, Martins Costa et PereiraGuimarães (de Rio de Janeiro), ainsi que Pacheco Mendes (deBahia).

pajouterai que ce ne sont pas non plus les médecins bré-siliens qui ont donné á 1'ainhum le nom de gafeira; ce mot aété employé par les auteurs portugais pour designer certainesformes de Ia lèpre, d'oú Ia dérivation de #a/an'a-léproserie;comme on peut voirdans les écrits classiques de B. A. Gomeset de Beirão.

Quant á moi, á qui M. ie professeur de Brun attribue enparticulier, et á tort, Ia confusion de 1'ainhum avec Ia lèpremutilante, je ne saurais opposer á cette assertíon non fondéedes preuves plus convaincantes que Ia reproduction des pas-sages suivants de deux de mes articles publiés dans Ia Ga-zeta Medica da 'Bahia, en 1867 et 1885. Ccs passages expri-ment en résumé et comme conclusions générales ma manièrede voir, qui n'a pas changé depuis vingt-sept ans, en ce quiconcerne le diagnostic différentiel entre les deux maladies.

En 1867, je disais: «On aperçoit facilement qu'entre 1'ainhumIa lèpre dactylienne il existe des différences capitales, etque, exception faite du siège de cette dernière mala'dielorsqu'clle affecte les pieds, il n'y a rien de commun entreelles.»

En 1885, j'écrivais: «Et dans le cas oú les traits cliniquesdela maladie (1'ainhum), si tranches et si nets, ne suffiraientpas, á eux seuls, pour exclure toute possibilite de confusionavec Ia lèpre dactylienne, 1'anatomie et 1'histologie patholo-

giques sont lá pour dissiper le moindre doutc qui puisserester dans les esprits les plus exigeants.»

11 est donc hors de doute que les médecins brésiliens, engeneral, partagent les idces de M. de Brun au point de vue

de Ia distinction qu'il a parfaitement établie entre lainhum etIa lèpre dactylienne,. ou gafeira des auteurs portugais.

Pour ma part, comme je viens de le dcmontrer, je suis éga-lement d'accord avec lui, non seulement sur cette distinctionentre les deux maladies, mais encere sur les diíférences pro-fondes qu'il a si bien fait ressortir de Ia comparaison desprocessus pathologiques de 1'ainhum et des amputations con-génitales.

Bahia, 15 octobre 1894.Dr. J. F. da Silva Lima.

BACTERIOLOGIA MEDICACommunicação sobre o vibrião do

cholera e o diagnostico bacterio-lógico da mesma doença

Especialmente escripta para o jornal The Lancet pelu professorMax GRUBEa, de ViennaTraduzida para portuguez, para o Correio Medico,

segundo a versão inglezado sr. dr. J. W. WASHBOURN, por G. M. DA

SILVA JONES(Continuação da pag. TOU

Devemos tratar com detalhe de dois methodos dc exame—a chamada reacção do vermelho do cholera e a inoculação nosanimaes—visto que Koch ft) fez recentemente grande fincapénestes methodos para os propósitos do diagnostico diffe-rencial.

A reacção do vermelho do cholera, que foi descoberta porPohl, depende da formação de nitroso-indol, e oceorre quandose addiciona ácido sulfurico a um liquido que contenha aomesmo tempo indol e um nitrito. Tem legar em culturas de

/ Loc. cit.

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vibrião de Koch em caldo ou em solução de peptona, porque ovibrião converte os nitratos em nitritos e ao mesmo tempoproduz indol. Koch assevera que o vibrião do cholera differedos outros vibriões em possuir esta propriedade Esta reacçãoobtem-se melhor em culturas puras cultivadas a 37o C. numasolução de 1 porcento de peptona. Depois de cinco a seis horasde crescimento, junta-se gotta a gotta ácido suliúrico concen-trado, livre de azote, e a^ita-se a mistura (junta-se cerca deuma gotta de ácido sulfurico a 1 c. c. do liquido). Appareceuma côr vermelha ou vermelho-azulada, ou desde logo, ou, omais tardar, dentro de um quarto de hora. Não é pequeno in-fortunioique nem todas as sortes de peptona ( 2 ) convenhampara esta reacção. Em conseqüência disto, a peptona deve serprimeiro posta á prova com uma cultura pura de vibrião deKoch. Mesmo- então não é sempre certo que toda a sorte devibrião do cholera ha de dar a reacção. Numa communicaçãode Wiener (3) c minha, mostramos nós que uma raça de vibriãodo cholera, que eu tinha recebido de R. Pfeiffer de Berlim, eque já mencionei ser idêntica com o vibrião do cholera de«Massauah.., de modo algum deu esta reacção. Differentesraças de vibrião do cholera, desenvolvidas na mesma peptona,deram boas reacções. A este respeito, Slavo ( 4 ) deparou comdifíiculdadcs com raças do vibrião de «Massauah... Presente-mente uso uma peptona das de Witte, a qual, com culturasdo vibrião dc «Massauah» dá reacção dentro de cinco horas.Assim, estamos rodeados de dilliculdadcs que n.s põem per-plexos, e, quando ialha a reacção, não ficam certos dc que nãoestamos lidando emo o vibrião do cholera Ainda mais em-baraçador, é o facto de que muitas espécies de vibrião, que sctem visto não terem connexão com o cholera, dão a reacçãointeiramente tão bem como o vibrião'do cholera. Esta reacção

Beriehte der Deutschen Chemischen Geselhchaft. Band XIX i«hcpag. 1102.

Archiv fur Hygiene, Uand XV, p. 2<ü.Rivista d'Igiene e Sanila 1'ubl., 1892, N. li».

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<_ dada dentro de quatro a seis horas, pelo vibrião de Metchni-koff, pelo vibrio berolinensis, pelo V. danubicus, e por tres

ou quatro outros, ao menos, que, como já mencionamos, teemsido isolados por Teich e Wiener da água do canal do Danúbioem Vienna (Vienna üanube Canal), bem como, alem destes,pelo vibrião phosphorescente isolado porDunbar (5) da água doElba. Em vinte a vinte e quatro horas, a reacção é dada pelosvibriões cultivados por BonhoíT( 6,) Sanarelli, e Blachstcin 7,procedentes da água do Sena (Saint-Cloud, Versailles, Pointdu Tour). Muitas outras sortes (hinds) de vibrião dão estamesma reacção á medida que as culturas se tornam maisvelhas. Assim, não temos ahi um peculiar especifico no vibriãodo cholera, existem apenas differencas quantitativas a este res-peito entre muitas espécies differentes de vibriões, e é quês-tionavel a constância destas differencas Mesmo se despre-zamos estas duvidas, tem então a occorrencia da reacção emculturas de cinco horas de edade a significação d'um caracte-ristico de um grupo e não de uma espécie, suppondo-se quedesde um principio se não consideram como variedades dovibrião do cholera todas aquellas sortes que dão a reacçãoneste estádio. Isto, porem, não parece por modo algum cor-responder aos factos do caso.

A reacção do vermelho do cholera possue, ainda assim, umcerto valor, visto que certo numero de bactérias, que simulam

o vibrião do choiera, podem ser differençadas por este meio;por exemplo, o vibrião dc Deneke, que não poude distin-guir-se do vibrião do cholera pelas culturas em gelatina. Quersim, quer não, tal é o caso com o meu vibrião de Deneke, oqual já hoje se não desenvolve a 37o C. Ainda que, infelizmenteme descudei de tomar notas a seu tempo, estou certo, no en-iretanto, de que tenho razão dizendo que elle nem sempre se

Deutsche Med. Wochenschrift, 1893, N. 33.Archiv fur Hygiene, Band XIX, p. 2á8. 23- anno-n. 15-ide agosto

de 1891.Annales de 1'Institut Pasteur, 1893, N. 10, pp. 6*9 e 593.

- 155 ^

comportou assim, mas que no principio se desenvolveu in-teiramente bem a esta temperatura. Ainda é questionável seum vrbnão de Deneke que se desenvolve a ?7° C. dá ou nãoa reacção do vermelho do .holera. Se, de facto, a dá, sópoderá ser distinguido do vibrião io cholera pela formação doac.do lactico dextrorotatorio, como foi observado por Ku-pnanow ( 8. )

O valor diagnostico da inoculação nos animaes é aindamenor do que o da reacção nitroso-indol. Koch eR. Pfeiffcrasseveram que as cellulas do vibrião do cholera conteem umveneno e que, quando se suspendem em caldo pequenas quan-..dades de cultura recente, feita em agar, e _e injectam na ca-vrdade pentoneal d'um cobaya (9) o animal morre duma intoxi-cação com o veneno. Também dizem que 1,5 milligramma decultura recente em agar, é a dose fatal para cobayas de 300 a350 grammas de peso, a que nenhuma outra espécie de vibriãoinoculada da mesma maneira, produz symptomas de algummodo srm.lhantes aos produzidos pelo vibrião do cholera Orae meu dever combater este modo de ver com a maior vehe-mencra (most emphatically). Com respeito á natureza da do-ença produzida no cobaya, devo limitar-me a dizer que aindasou hei a minha opinião primitiva {original) de que é urnaverdadeira infecção, e nào uma intoxicação. E' assumpto de

que devo tratar num artigo especial. Isso nãoobstante, devoconfessar que foi sem rasão que, baseado em numero dema-s.ado limitado de experiências, disse que possuía caracter es-pec.fico a doença fatal produzida nos cobayas pela inoculação¦ntra-peritoneal. Por effeito de novas (/.„/,) experiências,devo concordar com Klein (,o) em que symptomas similhantespodem ser produzidos pela infecção, com as mais diversas* sortes de bactérias. Koch também está em erro com respeitoArcniv fur Hygiene. Band XIX, p. 282.

Cobaya cáviá, porco da índia, porco chino, são por egual traducçSode gumea-pig.. Trad. port. «-uucvjo10 Centralblatt fur fíacleriologie, Band XIU, N. 13. Suhenheim Z/y.giene. Rundschau, III, 1893, N. 22. «««ineim.

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á dose fatal De todas as raças de vibriões obtidas de casosdc cholera, o vibrião procedente de Massauah (os que PfeiíTere os que Metchnikoff tiveram a bondade de me enviar os pri-meiros como os segundos) foi o único que sempre matoucobayas de 300 a 350 grm. em doses de 1,5 milligramma. Erafatal uma dose ainda menor deste vibrião muito virulento. Aocontrario, no caso de todas as outras raças de vibriões docholera, as doses de 1,5 milligramma ciam muitas vezes in-sufficientes, e freqüentemente eram necessárias doses consi-deravelmente maiores. Devo ao Dr. Kroliewicz de Lemberg,que está encarregado do exame bacteriológico dos casos sus-peitos dc cholera na Galicia, a opportunidade de examinar umgrande numero de culturas recentes de casos de cholera naGalicia. Dc géis differentes raças, só uma foi fatal em doses de1,25 a 2,5 milligrammas, no caso de tres animaes, ao passoque tres outras resistiram á inoculaçâo com 0,75 a 5,000milligrammas (caso de cholera de Mlynisko); ao contrario, asraças obtidas de casos em Tulukow, Peczenicyn, Mitulicyn,Krakau e Beskid nunca foram fataes em doses de 1,5 milli-gramma; a ultima, numa oceasião, não foi fatal em doses de3 milligrammas. Uma raça, de um caso de cholera em Go-.arshausen na Allemanha, pela qual estou em divida para comC. Frankel, de Marburg, foi fatal só uma vez em doses de 1,5milligramma, emquanto que dois animaes resistiram ao efleitode uma dose similhante. Dois animaes recuperaram saudedepois da injecção de 2 e de 7 milligrammas duma culturanova, de Budapest. Culturas perfeitamente recentes, que eumesmo fiz com material procedente dos contentos intestinaesde tres casos de cholera que cecorreram este anno em Vienna,não foram fataes em doses de 1,5 milligramma, e nom mesmoem doses de 3 milligrammas. Entre trinta animaes que ino-'culci com doses de 1,5 a 3 milligrammas, só sete morreram, equatro destes tinham recebido doses de 3 milligrammas. Amenos virulenta de todas as jovens raças que até ao presentetenho examinado foi uma obtida dc um caso em Krakau em

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1892, e de que sou devedor ao professor Weichselbaum. Ino-culei cinco animaes, com doses crescentes de culturas em agarde treze, de dezesete, e de vinte e quatro horas de edade deraças de nove a doze dias de edade (doses de 5, 10, 25, ,8 e54 milligrammas). Todos os animaes sobreviveram, e só osque receberam as maiores doses mostraram alguma descidapronunciada da temperatura.

Por estes exemplos torna-se evidente como é differente av,ru!encia de varias raças de vibriões, e, alem disso, nãopode_oIhar.se para a resistência individual dos animaes are.pe.to duma sorte do vibrião como para uma quantidadenvanavel. Isto, só por si, faz não terem valia as opiniões deKoch com respeito á inoculação nos animaes. Elle, não sócons.derou as doses fataes como sendo muito mais pequenasdo que o são, mas tambem se deixou enganar {has been decei-ved) imaginando que outros vibriões sâo, de facto (practically)nao v.rulentos. Tenho feito um grande numero de experien-das sobre a dose fatal minima de muitas espécies de vibrião

por inoculação intra-peritoneal, e cheguei ás seguintes con-clusões. O vibrio Me.chnikoff (cultivado durante annos nola-boratono) é fatal em poucas horas (a few hours) em doses de0.75» 1,5 e 3 milligrammas; o vibrio berolinensis é fatal emdoses de 3, mas não em doses de ^ miII|gramas; Qdanubicus se bem que houve restabelecimentos após doses de0,75. i,5 (tres animaes) 2,5, 3 milligrammas, foi tal em dosesde 1,5, 3,o, e 4,0 milligrammas: c o vibrio proteus (Finkler-Prior), permittindo restabelecimentos após doses de 1 5 , 0(dois animaes), c 6,0 milligrammas, foi, por outro lado,' fatalem doses de 1,5, ho, e 6,0 milligrammas.Com respeito á dose fatal, nâo ha, pois, differença substan-ciai {material) entre o vibrião de Koch c os tres últimos men-cionados Os aspectos nas autopsias( .0 ) são justamente osmesmos depois da infecção com o vibrio berolinensis, com o

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V.

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vibrio danubicus, com o vibrio proteus, e com o vibrião decholera. Devo chamar especialmente a attenção para o facto doque não cccorrem symptomas pneumonicos"depois da infecçãointra-peritoneal com o vibrio danubicus, ainda que são tãopronunciados depois da infecção pela bocea.

O vibrio MetchnikofT é o único que substancialmente diffcredo vibrião do cholera nestas experiências: excede a mais viru-lenta cultura do «Maesaunh» nas suas propriedades patho-genicas e, na sua distrubuição pelos órgãos dos animaes.infe-ctados, differe dc todas as outras espécies.

Mesmo quando a doença percorre o seu curso em tres aquatro horas, pôde achar-se o vibrio Mctchnikoff cm grandesquantidades por tedo o systema vascular, produzindo assimuma verdadeira septicemia, ao passo que nenhuma das outrasespécies de vibrião podem desenvolver-se no sangue do co-baya. Assim, a inoculação nos animaes tem valia para distin-guir o vibrio Mctchnikoff do vibrião do cholera, mas é inútilpara o diagnostico do cholera. Aquelle que se fia na inoculaçãonos animaes e na reacção nitroso-indol ha de necessariamentecahir em erros.

Assim, temos esgotado os noss s methodos para a determi-nação da espécie do vibrião do cholera, e o resultado dasnossas investigações não é para dar segurança. Muitos dosvibriões são de natureza-tão variável e indeterminada, que nãoestamos agora no caso de dizer com certeza se os vibriões docholera estão ou nào em relação genética com outros vibriõesque se lhes assemelham; na verdade, não podemos decidir comcerteza se todas as sortes de vibriões achados no cholera per-tencem a uma espécie singular. Devemos contentar-nos comter achado um caracteristico que parece ser possuído somentepelos vibriões encontrados no cholera.

Até. aqui temos considerado só a investigação bacteriológicada cultura pura dos vibriões, sem referencia á origem d4elles eao material em que são achados. Se apresentássemos aos

— 159 —nossos leitores só este lado da questão, daríamos uma boa re-presentação do que se defronta ao ponto de vista do nossosaber bacteriológico presente, mas levantaríamos duvidas quena minha opinião, não são justificadas. Se olhamos para òvibnao de Koch em connexão com a moléstia do cholera, appa-«ecem cons.derações que, a despeito das difliculdades bacterio-lógicas, parecem pôr fora de duvida a especificidade d'estemicróbio, e mesmo a sua significação etiologica: Olhando bem

üooking over) os faetos, parece que pela experiência da ultimaepidemia Européia tem sido essencialmente sustentada a asser-ção original de Koch, e esta asserção é de que, no choleraasiático, se acham constantemente presentes nas evacuaçõesbacilos comma capazes de serem cultivados em gelatina e deque estão presentes cm grandes quantidades e muitas vezes emculturas puras, ao passo que se não acham presentes nos con-tentos intestmaes e nas evacuações normaes, nem nos casosesporad.cos e endêmicos de diarrheia. Até ao presente, quandoo exame tem sido emprehendido por baeteriologistas experi-mentados e no tempo próprio (at the right time), teem sidoachados vibriões capazes de cultura e com os característicosmencionados, nos contentos inlestinaes de todos os casos ded.arrhe.a ep.demics ou esporádica que teem oceorrido emrelação defin.da com epidemias de cholera indiano.

(Continua.)

Endemo-epidemia da Jacobina (1)Pelo Dr. JULIANO MOREIRA

(Continuação da pag. 63)Se porventura houvesse observações meteorológicas feitasnos annos anteriores aos em que lá estive, principalmente

parte da comarca da íloon/S dí m.» P£I ÍS° "msmo.'lue t011» ei ia feznappas encontra-seaiS 2J nlS ÍOI«dep,ois fles,,«ada: em váriosnova, e JacXa veloa^illjÍVeiha?.11,n*m ** Jacobina nova ^illa

**— i6o —

naquelles em que houve recrudescencias epidêmicas, talvezpodesse tirar conclusões de valor positivo, quanto á explica-çao do que assignalei ha poucos momentos.

Passarei agora a indicar as razões ou melhor algumascausas, senão ce.tas ao menos muito prováveis, da epidemiaque moiivoü o ser eu commissionado pelo governo do Estado.

A observação tendo demonstrado que o «calor meteoricoeommunica maior actividade a mór parte dos agentes infe-ctuosos, e que de outro lado elle dispõe melhor a economia arecebei-os» era natural que nâo houvesse o declinar do períodolongo do intenso calor que reinou na cidade do Bomfim semque surgissem febres das diversas ordens possíveis com aconstituição medica da dita cidade e dos lugares círcumvisi-nhos.

O facto de não ter surgido a epidemia no mais intenso docalor athmospherico não é objecção ao que acabo de dizer porisso mesmo que ao calor faltava certo g*áo de humidade parao despertar dos micro-germens existentes no solo. Com oapparec.mento das primeiras chuvas e o correr dos rios atéentão seccos deu-se a vehiculação dos micro-organismos queno solo existiam mas não pullulavam nem propagavam-se porfalta dc meios.A grande lagoa existente na cidade do Bomfim tem a alta

preponderância na producção da epidemia por isso que foi ogrande laboratório d'onde sahiu grande parte dos germensproductores da epidemia; a nociva influencia alargou-se emvirtude das excavações feitas no fundo e á margem da ditalagoa, excavações essas 'que tornaram-se verdadeiros pântanospois passaram a ser continentes de águas estagnadas. Alemdestas devo assignalar outras não menos nocivas pois que como removimento de terras torna-se «superfície o que era pro-fundidade., faz-se com que despertem micro-organismos queestavam em qnietação; quero referir-me á excavações de ex-tensos vallados, á perfuração de mais ou menos largas cavi-dades para. a extracção de uma argilía humifera para tapagem

- iôi -

de casas; estas escavações e perfurações são muitas vezesorigem de verdadeiros pântanos a'ém da citada nocividaderesultante da própria remoção do solo.Além do que fica dito citarei um matadouro e um açou-ue dedifícil classificação na ordem das nossas misérias publicas'Denomina-se, na c.dade do Bomfim, matadouro um espaço deterreno, muito visinho das habitações urbanas, em que sãoabatidas as rezes para o consumo publico; esse terreno se temcerta inclinação essa é modificada no que dc bom delia po-desse provir, pelo accumulo de detritos que pertenceram aomundo v.vo e que experimentam fermentações mais ou menosrápidas, sensíveis ao mais embotado olfacto! sim, áa-defecçõesdas rezes, que constituem por assim dizer o lastro daquellerepositório de fermentações, vem junetar-sc o sangue dasmesmas rezes, a água que porventura caia sobre esse conjun-cto de immundicies fica estagnada por estas mesmas; o accesso

do ar, cujo oxigeno vai contrair novas combinações e activaras decomposições orgânicas, contribue dc concomitância coma acçao do calor, com as oscillações da atmosphera telluricapara a perpetuidade do estado infeccionista do denominadomatadouro! O açougue tem taes condições de desacceio queeu adm,rava-me que haja immunidades orgânicas capazes deresistir aos g,rmens mórbidos que por sem duvida alli devempullular a cata de organismos a accommetter.

Não quero insistir sobre os diversos hábitos anti-hygienicosque ex,stem em diversas partes da cidades; entre elles poremha nm cuja nocividade convém ser sempre lembrada: quero rc-íenr-me ao facto de atirarem águas residuaes, de lava-em ounao, para diante da porta, acabando por impregnar o Tolo dematérias putresciveis. O sol. de cuja amplitude de efficacia eunao se, quaes os limites, pode desecar as camadas superficiaesovento pode attenuar os cheiros nauseantes, mas quando .obre-vierem águas pluviaes abundantes ou uma humidade perma-nente, as infecções profundas se podem produzir de modo a

¦ oo ;•?«;;

— XÔ2 —

tomar difficil de dar conta da extensão dos perigos que dellaspodem resultar.

O illustre medico delegado da Hygiene na cidade do Bomfimtem toda a intuição dos perigos resultantes de tudo o que ahificou frizado, porém sua posição de delegado ainda nãodeu-lhe a concessão de obter das administrações ao menos aregalia de tornar mais aproximada da mais rudimentar hygieneo que fosse da alçada das mesmas administrações. Má posiçãoé por sem duvida a de quem sabendo o que deve fazer, nãoo faz por não poder!

Nas Bananeiras, na Fumaça, no Itapicurú, no Lameirão, naMalhadinha etc. os rios que atravessam estas localidedes sãograndes factores no estado malarial dellas. Os rios Aipim,fumaça, Lameirão. Itapicurú etc enchem com certa rapidezapoz chuvas um tanto prolongadas; passadas estas elles esva-smm-sc rapidamente deixando a descoberto um espaço de solomanifestamente pantanoso, em que sc vê refocilarem porcos,donde evola-se o cheiro do hydr.geneo sulfurado e o do gazdos pântanos, e onde qualquer exacerbação do calor faz activaa pullulação dos germens malaricos. Ao lado destes rios hapântanos mais ou menos extensos, mais ou menos nocivos.

Depois do que fica citado convém que eu aqui saliente quetodas estas localidades tem cemitérios em péssimas condiçõespara a salubridade publica; apezar de alguns hvgienistas sus-tentarem theorias tranquilisadoras acerca da nocuidade do are da água proveniente dos cemitérios é de bom aviso que atransformação cadaverica se faça a distancia dos centros po-pulosos, a certa profundidade da superfície do solo. Poisdeixarão de ser perigosos túmulos rasos em um cemitério naescolha de cujo local não houve o minimo escrúpulo quantoa qualidade do solo, e a profundidade do sub-solo? Deixarãode ser perigosos, túmulos em que por vezes porcos e cãesforam desencovar cadáveres humanos para alimento próprio edetnmento das populações visinhas? E se as águas pluviaesque caem cm um destes cemitérios vão ter ao rio abastecedor

— !63-

da população ainda é de bom alvitre pensar no nenhum perigodo mesmo cemitério?

As conclusões animadoras da commissão encarregada pelaadministração municipal de Paris apenas visam os cemitériospsrizienses onde Schutzenberger, Miquel, Carnot, O. Du Mes-nil (relator) fizeram estudos que motivaram as suas asserções.

Robinet ( Le prétendus dangers des cimetiéres.) O. Martin,de Lyon, (les cimetiéres et La cremation) e vários outros au-

dores sustentam a innocuidade absoluta dos cemitérios; nãodirei com Rochard que as suas conclusões (sont même un peutrop optimistes», mas lembrarei que as «condições de um bomcemitério» dadas por L. Leonier (i) em 1880 e depois porGenebra) (2) em 1883 em parte alguma teem maior desacatoque nos lugares em que estive.

Eis ahi ficam em largos traços as causas da endemo-epide-mia da cidade do Bomfim e lugares circumvisinhos.

Antes de outras considerações conviria salientar que muitaspessoas faleceram em virtude de falta de alimentação conve.niente! Sempre que possível foi-me procurei cumprir com omeu dever de auxilio alimentar aos que solicitavam-m'o, masbem se comprchende os limites que podia ter minha effi-ciência.

Não menos se comprehenderá que não dispunha de meiospara melhorar, ou mudar, de domicilio aos que muitas vezesdisso precisavam. De facto o quanto de horrível ha cm exa-minar-se um dyarrheico deitado sobre fragmentos do quefoi esteira, coberto por pannos de aspecto innenarravc!, so-mente saberá o quanto isso enausea quem já tiver sido obri-gado a fazer taes exames.

Avaliar o numero de pessoas que faleceram por oceasião daepidemia é impossível, somente se p6de dizer, para dar umaideia do que ella foi. que durante minha viagem para o La-

giénel88oíM6er' °eS condilions á'im hon cimeíiére, ele. Revoe d'liy-

<-2) Du1 choix dn terrain ponr uri cimeíiére—l.- Congrés intern d'hv-giene

".,M..M^-,a/:-:'M

— I64 —

meirão mostraram-me varias casas fechadas em que desap-pareceram familias inteiras victimadas pelas febres!

Por maiores, porem, que sejam as reducções que se laçamno balanço da mortalidade havida, o estado de abatimento emque ficou a população dos lugares circumvisinhos, os innu-meros cacheticos que nella ficaram, suo attestados sufíicientespara justificar o quanto de razoável havia nos meus reiteradospedidos de ambulância.

O Engenheiro Souza Carneiro em um dos seus relatóriosavaliava em 19,000 almas a população do districto da Villa-Nova e em M,ooo a do districto do Campo Formoso; crendoqu nada têm de exaggerado, as estimativas do illustre enge-nheiro, prevaleço-me deilas para relembrar que tendo sido commissionado para prestar soecorros aos indigentes da Cidade doBomfim, Campo Formoso e lugares circumvish.hos não ul-trapasei os limites do razoável pedindo remédios varias'vezes a Inspectoria d- Hygiene, desde que daquellas 3?,ooopessoas, sem duvida uma terça parte adoentou e uma sextaparte estava nas condições de receber auxilio do governo.

Era agora o momento natural de salientar as medidas deprophyiaxia necessárias para'evitar que n'um futuro mais oumenos próximo tenha o governo de enviar medico e ambulânciapara soecorrer a zona em que estive. Prevenir é a grandepreoecupação dos governos dos povos que tem noção da hy-giene.

Um grande estadista inglez disse: A saúde publica é a basesobre que repousa a felicidade dos povos e o poder de um paiz.O cuidado da saúde publica deve ser a primeira preoecupaçãodum homem de Estado». Este deve sempre lembrar-se que avida não consiste somente em ser vivo mas em manter-se são-Non vivere sed valete vita.

Estaremos em tal caso? A eapital pouco sabe se a epidemiadesimou o centro, o governo pouca idéia faz do quanto foi seriaa devastação de vidas e aptidões para o trabalho, portanto seachou-se oneroso para o erário publico uma quarta ambulan-

— i65 —cia, que gráo de onerosidade não teriam as medidas de saneâ-mento da zona, o qual saneamento seria suficiente prophylaxiade futuras epidemias?

Em todo caso direi que o deseccamento dos pântanos, adrenagem do solo por processos mecânicos eram as grandesmedidas necessárias para melhorar toda aquella zona em queo paludismo representa o primeiro papel na constituição me-dica e portanto nas epidemias que de quando em vez devas-tam aquella população digna de melhor saúde.Os resultados práticos tirados do saneamento do solo, pelosprocessos de drenagem, de deseccamcnto por absorpção oupor ascenção e etc, proclamam o alto valor d'estes meios na

prophylaxia das devastações palustres.O norte da França tem sido quasi consideravelmente melho-rado na parte visinha ao mar; os prados baixos da Normandiaos pântanos de Carcntan, as turíeiras de Cotentin, os bordoslodosos das ribeiras dos Calvados, os pântanos da Rochella,os de Rochefort provam o alto proveito que se pode auferir dosaneamento do solo feito com as precauções necessárias aobom êxito da medida, sem grande prejuízo da saúde dos queconcorrerem para sua execução.

^ Se porém não fôr possivel usar dos meios mais dispendiosos

isto é drenagem mechanica, etc, pode-se recorrer as plantaçõesdc eucalyptus globulus (gênero das Myrtaceas-Xerocarpadas) esuas numerosas variedades (marginata, citriodora, amygdalinae etc.,) que ha mais ou menos 40 annos tem sido feitas em di-versos paizes prestando-lhes grandes serviços. E< real que oEucalyptus tem detractores como tem defensores, pois comodiz Tommasi Crudelí, «o fim de um saneamento definitivo émodificar as condições physicas e a composição chimica do so-lo produetor da malária, de modo a tornal-o incapaz de pro-duzil-a.

Se todos os terrenos malaricos tivessem a mesma composi-ção chimica e uma situação topographica uniforme, poderíamos

SERÍE IV ANNO YXV1 VOL. V. ¦».

— x66 —estar certos quasi certos (?) de poder saneal-os applicando osystema de cultura com o qual se lem conseguido sanear algunsdentre elles. Mas a malária desgraçadamente se pode produzirem terrenos os mais diversos de modo que os systemas desaneamento que tem dado effeito em alguns lugares nào temtido nenhuma efficacia em outrosY(Tommasi Crudeli da mala-na de Rome et l<ancien drain.ge des colunes romaines (.88, )Mas se M. Liversidgc (Prof na universidade de Sydney) dizque a malária manifesta-se cm algumas das florestas dc cuca-lyptus do seu paiz, se em ,88a a malária limitou suas devasta-

çoes na Campanha romana exactamente á localidade que todo,suppunham saneada pelo eucalyptus e p0r culturas bemfe.tas, (,) temos de outro lado que o mesmo eucalyptus evpc-nmentado na África em ,867» «dépassa les esperances, comodiz Dronineau; existem hoje por lá milhões de pés e devo-sclhcpor corto o saneamento de muitos pântanos;-Ia Mitidja, AinMakra e etc. Na Corséga, o valle dc Ostriconi foi saneado emtres annos.

O Dr Rcgulus Carlotti falla-nos do valle de Pruno a 7 kile //2 de Ajaccio cuja insalubridade era tal, que era impossívelIa estar uma hora no verão ou no outomno, e que 8o pés dceucalyptus sobre 4 hectares bastaram para mod.ficar.O mesmo deu-se no convento das Tres-Fontes, perto dcRoma e etc.Segundo William Tait a espécie mais própria para terrenos

pantanosos e o eucalyptus viminalis, swamp gum ou gommcirodos pântanos.O crescimento do eucalyptus g.obulus i tal que cinco annosdepo,s de plantado, tem um tronco medindo mais de um metrode circunferência e tres pés de altura, e com dez annos a plan-taçao attmge as proporções de uma floresta secular (Lambert )Resjste maravilhosamente as seccas e secreta uma essência quese oxydando ao ar fornece ozona. Como muito bem affirma

KtooV mTT^ ?r~ AsSa,n,ssement de ,a c^g<»e romaine-J. d<„y-0iene-i88l -1883 et Geaie civil. mai 1883. y

TWWT7*.'. W. -¦--"»— --.---,- -p.K.^^T..n..^Tnr^7nwWw^^«^^..^,.wV"FTW . O.H. I >|qpn|H

— XÔ7 —

E. L.Bertherand (1'eucalyptus) o plantio methodico do euca-Iyptus produz além da sombra, a refrigeração da atmospheraa oecupação dada á actividade do solo, tudo isto ao lado daabsorpçao d*agua (10 vezes seu peso) c emanações odoriferasconsideradas p0r alguns como antiputridas. Deve-se aceres-centar a estas vantagens o seu valor therapeutico na cura devanas affecções, principalmente na das manifestações malari-cas, e assim que C. T. Kingzett em sua obra Natures hygienediz que na ilha Mauricia a infusão das folhas de eucalyptus foiusada com tão bons resultados no tratamento das pyrexiaspaludosas que as folhas chegaram a vender-se cada uma porum valor equivalente a 240 rs da nossa moeda.Nada direi dos outros vegetaes que têm sido preconisadoscomo possuidores de propriedades análogas as do eucalyptusExposto o que deve-se lazer com os pântanos naturaes quantoaos artificiaes pode-se usar do atterro para extinguir os queexistem e de rigorosa fiscal.sação para que outros não sejamleitos.

No que diz respeito a estas .uperficies iníeccionistas creadaspela incúria publica, como o matadouro, o açougue e etc amunicipalidade deve construir edifícios com as condições hy-gienicas suflicientes para que possam ser vistos. Com estasconstrucções o Dr. delegado de hygiene podendo exercer entãoa conveniente fiscalisaçâo fará com que (entre outrr-s bonseffeitos) diminuam os casos ce carbúnculo que convém notarSSin°hoseqUentementC

VÍ15t°S °a Cidade C nos l°S^ cireumvi-

Antes de concluir eu notarei qUC em pleno inverno e com odeclinar da complexa epidemia surgiram muitos casos dc pneu-morna, pleuro-pneumonias e broncho*pneumonias, principal-mente nos logares denominados Maíhadinha e Itapicurú a duasléguas do Lamcirão.De uma verdadeira epidemia de ictericiaque tive oceasião de ver nada direi aqui por isso que pretendod ella fazer um estudo a parte.

— 168 —O sábio pathologista Çouchut escreveu: On détruíra Ia nlu-Pa« des maladies endeuses quand on le veudra. de fã 0

cert To„3tar C°m " ma'arÍa 9UC dizima as P0P»'ações dl

-e sTa„0d,LC?tr° da Bahia= "- »- tetJnJo pede

l iLf d' a,;aS'° Paü' eS,eDdÍd0 P'1™ • Pa'mo sobreas lagunas do mar do Norte? c o batavo não fez para si a con-

Zl ^ 1Unda? QUand° mak "ÓS """ <£>* * P- "anatureza nunca foi madrasta'

Jé em ,858 M. F. Blondel então inspector da assistência po-bhca de Paris escrevia nos Annales d'hygiène publique. (De1 ass,stance publique dans ses rapports avec 1'hygiène): Ce seránous croyons, un des mcrites dc 1'époque actuelle d'avoir pui .'samment a,dé, par Pexamen et par Ia discussion, au deveio-pement de tou.es les idées qui se rattachen, au bien ètre da IaSocietc en general et surtout à l'amelioration du sort de Iaclasse necessiteuse. E* preciso pois. que o governo garanta áspopulações refendas ao menos o saneamento do solo sobre

Fria d "

«'aa<T "' ** "" ^^ mC"0S dÍStant« "aFrança de ,8,8. Para concluir repetirei ainda uma vez as phra-ses escnptas em ,86o pe.o IMustre hygienista Guntner no seuHa,MlKl, der offenllichen SanüaU-pflege: Ne s baseando sobreobservações chegamos ao resultado dc que as epidemias porma.s d.versas, por mais importantes, por mais mortíferas quetenham s,do e ainda sejam, são devidas ao homem e que aactmdade humana digamol-o sem ambages pode suPPrimil-asmars ou menos De pé então para a l„,a contra os maislrr-vds ,n,m,gos do gênero humano de todos os tempos! Queeada Um ar Ic.se en(re cs va|orosos ^^ ^

prafque. espalha pela palavra e pela escripta as doctrinas salultares da nobre hygiene. Que de um polo a outro, a humani-dade, a civ.hsação e a liberdade espalhem-se como os melho-res preservativos contra as epidemias »

" W-' «'r^v.-TjPW

— l6C> —

Saneamento da BaniaPROJECTOS DE ESGOTOS

MEpMA0,RlJlrJUST,F,CAT1VA APRESENTADA Á INTENDENCIA WÜNl«-""os rT"'"0' J' S'LVE'RA FRANCA e A- &

V.Collectores geraes

Continuação da pag. 234Estudada a topographia da área suburbana da capital evisitada detidamente por nós toda ella, tres são as princi-paes directnzes que se nos apresentaram para a resolução doproblema, de que tratamos no presente capitulo, a saber-i*° o valle do rio Camorogipe;

2.' o valle do-rio das Lucayas,'que é um coníluente doprimeiro;

y o valle do rio Areia Preta, em seguimento da parteba,xa do no S. Pedro, que, por sua vez, é confluente doLucayas.Ü percurso d'estes traçados, contados desde sua origemcommum em Sete Portas, será aproximadamente o seguia-

¦•• Pelo Camorogipe 8k m 8oo ma. t elo Lucayas ,3* Pelo S.Pedro-Areia Preta 4 km 95omUs dô.s primeiros traçados vão desembocar perto da fozdo R.o Vermelho, no pé do Monte Conselho; o 3. desem-bocana nos recifes da praia da Areia Preta.

O collector que seguir o valle do Camorogipe, sendo ode maior extensão, será o de menor declividade e assimsuecessivamente ate o ?. traçado nn^ n n„0>• "dçaao, que e o que apresenta odeclive mais vantajoso.Os decüves d'estes collectores, conforme a differenca de24 m existente entre Sete Portas e as águas da costa oce-anica, serão approximadamente os seguintes:

—° '7° 'Wi - para o traçado pelo Camorogipe o,»oo** por toetro.

2. para o traçado pelo Lucayas 0,004 por m.3- para o traçado pelo o S. P.dro e Areia Preta o,»oo,6 m

por metro.

Dos dados expostos se Çonclue que, em geral, para umamesma secção de vasão do collector geral, o traçado pelono Camorogipe è o mais caro: 1. pela sua construecão,que naturalmente se acha na razão directa da extensão;2. pelas desapropriações que comporta.

Pela mesma razão o collector mais barato, em principioseria o de S. Pedro-Areia Preta, sendo o traçado peloLucayas de uma despeza intermediária entre ambos.Sendo o traçado pelo Camorogipe o de maior per-curso e 0 de menor declividade, a despeza com a sua

construecão fica ainda augmentada pela maior secção derazão que é preciso dar-lhe, por causa do maior cubo deáguas que tem dc ser fornecido para augmentar a velocidadedas matérias arrastadas, por quanto esta velocidade esta narazão directa do declive.

Ampliando o estudo comparativo entre estes traçados va-mos examinar as suas particularidades de construecão.Assim achamos que o traçado pelo valle de Camorogipe nc-cessita as seguintes condições supplementares:

i.° Seis syphões metallicos duplos, de 0,40 cada um, pelomenos, para a passagem dos affluentes da margem direita d'esse rio, como o Santo Antônio, o Matatú, o do Engenho etc.2.0 Seis construcções annexas aos mesmos syphões nos

seus extremos.?•• Um grande syphão duplo de 0,60 cada um na passa-

gem da margem direita para a margem esquerda dó Rio Ver-melho, nas visinhanças da sua confluência com o Lucayas.

4-' oonstrucções annexas ao mesmo syphão.5." Estabelecimento de uma machina com força de óo

cavallos para a elevação das águas que, passando debaixo do

•ççMf-M: ¦"?:-.;¦>" ¦-.; M--Ç:•'.¦¦? ¦•;•.-•• ..->_, ¦ ¦-"" .,^-,ç:';íít*mÇívmiC''" '.;''."'.. .-¦' ""'¦' '-''¦¦¦}¦ '¦',

¦*- 171 —

Rio Vermelho, ficarião em nivel inferior ao das marés médiasse não fossem das mais baixas.

O traçado pelo Lucayas precisa:i.* 2 syphões metallicos, duplos dc 0,40 aerca um para

affluentes do mesmo que vem à direita c a esquerda das Ia-deíras sobre que assenta abaixo do Acíi.

2.' Construcções annexas aos mesmos syphões.3.' Um syphão duplo no Rio Vermelho nas mesmas con-

dicções que o indicado para o tragado antecedente.4.' Construcções annexas ao mesmo.5.' Uma casa de machinas análoga a do traçado pelo Ca-

morogipe.Finalmente o traçado pelo rio S. Pedro e Areia Preta ne-

cessita:[.' Um syphão, duplo dc 0,40 para a passagem do rio Lu-

cayas ou então um viadueto de ferro entre as ladeiras visinhasao logar denominado Moinho.

2V Urn tunnel, de uns 200 metros de extensão, situado nologar conhecido por Quebra-Bunda e que passaria por baixoda ponte do caminho que vae do Bom-Gosto, pelo cemitério,para o Rio Vermelho.

Este tunnel é que deve ligar o valle de rio S. Pedro com odo Areia Preta.

Em todos estes traçados é preciso ainda acerescentar a des-peza de uma ponte nictallica, de construcção leve, para des-pejar as águas do collector, adeante, no mar, acima do niveldas mais altas marés.

Orçadas as despezas d'estes differentes traçados, verifica-seque continua a ser o mais oneroso o traçado pelo Camorogipe,o menos dispendioso o de S. Pedro e Areia Preta, o intermédioo das Lucayas.

Antes de proseguir convém dar alguns esclarecimentos a res-peito das construcções que acabamos de julgar necessárias parao bom funecionamento d'estes respectivos collectores.

Nada temos, porém, que dizer a respeito dos syphões neces-

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sarios á passagem do collector atravez dos diversos afluentesdos nos, cujos valles lhes servem de directriz. Estas constru-cções são as únicas indicadas desde o momento em que essapassagem é forçada, visto como não se podem fazer desappa-recer estes affluentes.

Vamos, pois, dar algumas indicações a respeito do syphãonecessário para que o ..• e o 2.- traçados atravessem o RioVermelho no logar que designamos.N'esta passagem, o leito tio collector achar-se-ha muito maisbaixo do que o nivel médio das marés.Quando não se quizesse provar a veracidade d*esta affirmação

de uma maneira mathematica, bastaria o aspecto da barrad'aquelle rio para confirmal-o.

Com effeito, as areias d'essa barra quasi que não se achamcobertas, ás mais das vezes, mesmo em altas marés, sinão poralguns centímetros d'agua. O accumulo das areias n'aquellelogar deixa o leito do rio, á montante, n*um plano inferior ásuperfície das areias da barra, e, portanto, inferior ás mais altasmares.

Sendo a profundidade das águas do rio, n'aquellc logar (salvoo caso de enchentes) de ,™,oo approximadamente, e devendo-seacerescentar a esta altura a de 2™,45, que é a do collector cor-respondente ao traçado Camorogipe, conforme o typo que vemannexo a esta memória, e mais ainda a de 0,80, mínima quedeve ficar entre a abobada do collector e o leito do rio, teremosque a mínima profundidade do leito do collector, abaixo doplano das mais altas marés, será de 4V5, isto é, pouco maisou menos a difíerença sensível entre as marés mais baixas eas mais altas da costa do oceano n'aquelle logar.

Esta cifra de 4V5 ficará, porém, augmentada, depois docollector passar o syphão, pelo declive que é necessáriodar-lhe.

Assim o despejo do collector teria de effectuar-se a maiorparte do tempo abaixo do nivel das águas do mar.

Pode-se, pois, affirmar que si o emprego do syphão é neces-

¦ '*"s:.;^v ¦¦*¦¦' y¦.¦¦¦*:¦ :«

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sario, não é menos certo que a parte do collector comprehen-dida entre esse syphão e o mar receberá constantemente o fluxoe refluxo das águas do mar, isto é, sem dar a vasão necessáriadurante muitas horas, a menos que não se eleve de algunsmetros a desembocadura do collector.

Torna-se, pois, necessário elevar as águas do collector depôsdc sua passagem pelo syphão, por meio de machinas que asaspirarão em poços situados logo após o syphão.

Sabemos que em alguns logares têm-se estabelecido os des-pejos finaes dos collectores abaixo do nivel das mais baixasmarés. Porém, achamos esta disposição muito inconvenientee a este respeito vamos citar uma opinião valiosa, em apoio donosso modo de entender. E' a do capitão de engenharia J. Emi-lio de Sant'Anna da Cunha Castello-Branco, commíssionadopelo governo portuguez em 1877, para visitar e estudar ascanalisações nas principaes cidades da Europa, onde moderna-mente se tem estabelecido para esgoto e saneamento dasmesmas cidades. Este distineto official, no seu importanterelatório diz o seguinte, referindo-se ao saneamento deLisboa:

«Em todo o caso é essencial que o emissário seja estabelecidode modo que as marés, as outras correntes e quaesquer circum-stancias nào exerçam influencia perturbadora na sua vasão, quedeve sempre ser livre e desafogada.»

Em outro ponto, tratando do mesmo assumpto, assim seexprime:

«Só o estudo do regimen e da importância das correntesobservadas na localidade, pode determinar a construcção deuma desembocadura, descarregando constantemente, ou mostrara necessidade do emprego de reservatórios, descarregandoapenas em períodos certos e determinados da maré. Como sys-tema, entendo que deve merecer preferencia o primeiro alvitre,sempre que for acceitavel porque os reservatórios em que a águade esgoto permanece por mais ou por menos tempo, represen-tam uma contravenção á lei da circulação continua c podem em

SERÍE IV ANNO VXVl VOL V. 15 '

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certas circurastancias, quando não haja as sufficientes precau-ções e cuidados, dar logar a symptomas de infecção, especial-mente nos climas quentes.

Estas idéas hoje geralmente acceitas tem sua confirmação noexemplo dc uma das cidades da Inglaterra ultimamente drena-da, a cidade de Brighton, centro da elegância nos mezes dcverão.

O mesmo official, relerindo-se a esta cidade, no ponto de queestamos tratando, disse o seguinte:«Parece que as vantagens obtidas pela construcção d'esta

obra não correspondem aos sacrifícios pecuniários que cilaexigiu.

• Como a soleira. ou leito do collector, na desembocadura,está á altura da baixa mar de águas vivas, o esgoto só podefazer-se hvie e completo algumas vezes cada mez; além d'isto ocollector está fechado durante 18 horas cada dia, e n'este inter-vallo de tempo a corrente dos esgotos tem fraca velocidade, oque produz a deposição dos detritos, apezar dos cuidados quehacm os captar e do estabelecimento de [requentes correntes devarrer; accrcsce ainda quq, pela accumulação suecessiva doslíquidos no collector emquanto a maré está alta, o espaço desti-nado aos gazes diminue progressivamente, refluindo estes ulti-mos para a cidade, onde vão infectar alguns bairros, posto queha,a ventiladores estabelecidos ao longo do emissário e dosseus diversos aííluentes.

Este defeito foi em grande parte evitado por um.processoespecial que não vem ao caso. Depois de descrevel-o, acerescenta o referido engenheiro:«O que fica dito torna bem palpáveis as complicações que podetrazer o estabelecimento de um collector, cuja descarga livre e

continua nâo esteja garantida, isto é, que não obedeça á lei dacirculação continua.»No nosso caso, si for estabelecido que a desembocadura docollector deve achar-se abaixo do nivel das águas, teremos o

grave inconveniente dc que o «fluxo das águas e dos gazes

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virão perturbar o delicado funccionamento do syphão collocadono Rio Vermelho.

De accordo, pois, com estas theorias e com a nossa própriaexperiência, julgamos necessário descarregar as águas do col-lector n'um plano superior, de alguns centímetros pslo menos,ao nível das mais altas marés.

Como conseqüência, acha-se justificado o emprego de ma-chinismos para elevar as águas dos collectores syphonados noRio Vermelho, de modo a despejar desafogadamente nooceano.

O collector pelos rios S. Pedro e Areia Preta, devido á con-figuração dos valles onde se acham estes rios, não precisa desyphões nem tâo pouco de machinas clevadoras.

A sua razão pode ser feita em toda oceasião em nivel supe-rior ao de qualquer maré, e, por conseguinte, é menos onerosodo que os outros dous, não só quanto ás despezas de installa-ção, como também ás de conservação e custeio diário compessoal, carvão, etc.

Quanto á necessidade da ponte de ferro na qual todos oscollectores devem terminar, afim de despejar, em ponto dis-tante da praia, as matérias do esgoto, acha-se ella justificadanão só pelas theorias expostas, como também pela nossa queessas pratica relativa ao serviço pontes devem prestar.

Fallando a tal respeito diz o engenheiro a quem já nos re-ferimos.

«Julgam muitos engenheiros inglezes seria mais vantajoso emais barato do que a solução escolhida para o caso dc Brighton,aproveitar os antigos tubos avançados sobre o mar para as águaspluviaes e construir um collector d'onde aquellas águas fossemexcluídas tanto quanto possivel e que desembocasse no oceano atal altura que podesse descarregar em iodo os estados da maré.»

Não julgamos necessário appellar para outras auetoridadesafim de justificar a disposição que a este respeito temosadoptado.

Com o que acabamos de expor fica provada a classificação

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que fwetnos dos tres traçados em relação ao custo ou despezacom a sua construcção porquanto o dispendio com o tunnel deque precisa o collector de S. Pedro a Areia Preta nunca atttn-giria á cifra dispendida com os trabalhos necessários a de outroscollectores.

Outras razões vêm ainda confirmar esta classificação.Com effeito. o collector pelo rio Camorogipe exige para a suaboa construcção que o terreno sobre que deve ser assente, seja

constantemente preparado e solidificado.Os terrenos que marginam ao rio são effectivamente, na

maior parte do seu percurso, expostos a alagamentos, frouxos,cheios de banhados e portanto impróprios para sustentarqualquer construcção.

Será preciso, pois, consolidar a base do collector com diver-sas obras de grande custo.

Vem augmentar estas despezas a necessidade de desviar-setemporariamente os diversos affluentes atravessados em syphão,tomando necessário o emprego de barragem, vallas de deriva-ção e outras obras hydrawlicas.

Si bem que estas obras'não devam ser consideráveis, porcausa da pequena importância d'aquelles rios, é prudenteleval-as em conta no orçamento, afim de prevenir qualquerdesagradável incidente que possa oceasionar uma enchenteimprevista.

Finalmente, os trabalhos n'cste traçado serão difficeis pelasfebres que hão de appareccr inevitavelmen.e entre os traba-lhadore?f em conseqüência das margens pantanosas do rio.

Os trabalhos pelo Lucayas e pelo Areia Preta, além de seremfeitos <*m terrenos firmes e resistentes, nào apresentam osinconvenientes que acabamos de apontar no !.• traçado.Qualquer que seja o traçado, que em definitiva seja escolhido

pelas pessoas chamadas a apreciar o nosso trabalho, todos oscollectores vão ter ao mar: os dous primeiros sobre os roche- '

dos visinhos ao Monte Conselho e o yx nos compridos recifeda praia do Areia Preta que se adeantam no mar, visivelmente

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uns 200 metros, e formando um verdadeiro canal onde o cal-iector poderia facilmente ser construído, despejando no meiodas ondas, por meio de uma ponte de cem metros approxima-daoiente.

E* vulgaríssimo dizer-se que as águas assim lançadas pre-j udicam as costas visinhas e cita-se como exemplos os de algu-mas cidades que se acham sobre o littoral do mediterrâneo.

A primeira objecção a oppor á semelhante critica é queaquelle mar não está sujeito a marés; é um verdadeiro lagoonde as águas vão e vêm impellidas pelo vento. Quando nasvisinhanças do ponto de despejo não existe uma forte corren-teza nas águas do mar, é lógico que.as matérias n'elle lançadasnão se afastem muito da costa e voltem ás praias, infectando-as.

A culpa d'este máo estado de eousas não deve ser lançada aoprocesso, mas sim aos que não souberam applical-o convenien-temente.

Existe ainda outra razão para não se receiar os inconve-nientes apontados, sobretudo quando á construcção das obrastem precedido um aprofundado estudo das condições hydro-graphicas da costa onde se effectua o despejo.

Com effeito as águas despejadas no mar não devem empestarou infeccionar as costas visinhas.

Não queremos provar esta proposição com as nossas própriaslocubrações, qualquer que seja o valor que ellas possam ter.Como. já temos feito varias vezes, preferimos apoiar nossas opi-niões no critério de hygienistas e de engenheiros mais auetori-sados do que nós. Assim é que, no caso actual, aproveitaremoso bello raciocínio do distineto official de engenheiros do exercitoportuguez de quem já fizemos honrosa menção. Diz elle comtoda razão:

«Tem-se dito que os sulfactos existentes nas águas salgadassoffrem reducçào chimica em presença das matérias orgânicasda água de esgoto e dão logar á producção de sulfuretos, avul-tando entre estes o ácido sulph ydrico, que produz a infecção, ccita-se, para corroborar isto, os casos de Marselha, de Nápoles

e ainda de outras cidades do Mediterrâneo q„e enviam a esteZ1ZT

d7Sg0t0> Ínfecd°"a"d° - P^-idade ddesembocaduras dos respectivos emissários. As pessoas col

ou, ZY P aUS6nCÍa da maré d° Mediterrâneo oTJéjT

' T** « P°rta"t0 á P-^c*. dos sg0.0

^ o ^::™Tçõe* drcanaiisaç8es das ^a&Iia« a a c,rculaÇão continua, chegando asem ssa L?r ,"° ^ """'^ ás ^semboeadn as do,Za ao £ ^

d° PÜÜ£0 <rite™ «« ^ouve na deter!calas! 'ÇOeS

d° eS,ab"--""> bestas deserabo-

decoipoSiçâodt:iH r xrrr'0^quando aque falta ou em que tem diffifl g

" Um md° em

occ^Tve1;8::::::6 rr^ co,kci°- «- *•Bristol, EdimbmHavre na*

' HaS'íngS' S' Leo"ard0'de infeccionam"! „„«"

aPreS-",am SymP'°maS a'BU"5

^^rr^rr-.-^r-- ^.ftlW.^^

T- 179 —

de ser perceptível tal cheiro a pouca distancia da desemboca-dura, ou quando esta se acha coberta pela água do mar.«E« preciso não esquecer que n'um systema de canalisaçãobem estabelecido, as águas de esgoto chegam ao extremo doemissário não putrefactas, porque a velocidade minima quedevem ter estas águas, cerca dc 0767 por ,,*, corresponde aopercurso diário de 58 kilometros e não ha rede dc esgoto conhe-cida que apresente tão considerável desenvolvimento entre osseus pontos mais d.stantes; segue-se que os despejos attingema desembocadura algumas horas depois de introduzidos nacanalisação, isto é, antes que o processo da fermentação pútridacomece.

«Para aquelles a quem restar algnma duvida acerca dosresultados hygienicos do lançamento das águas de esgoto nomar, acrescentarei que, entre as cidades inglezas onde estáadoptado este systema, achâo-se as que teem fama de maissalubres em Inglaterra e são por isso freqüentadas por grandenumero de pessoas doentes; quasi todas ellas são praias debanho muito concorridas.»

Até aqui o illustre engenheiro.Tem-se observado que as águas do mar contribuem maisde que a água doce para conservar a forma dos excrementos.Para obstar a este inconveniente convém que os collectores

sejam algum tanto extensos de maneira a permittir a completatrituração e diluição das matérias nas águas doces, que n'ellesdevem circular.

EíTectivamente nos grandes trajectos, as matérias fecaesconstantemente arrastadas desaggregam-se completamentepelo movimento e pelo attrito, e chegam ás desembocadurasreduzidas á partículas informes. Mais atraz já dissemos queeste facto foi por nós observado na sahida do grande collectorda margem direita do Sena em Paris.

Assim, pois, os collectores de qualquer dos traçados pornós indicados, preencherão as seguintes condições esseneiaes:

TV.K

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i*. Conveniente comprimento para que a trituração e di-luiçao das matérias se operem durante o trajecto-2: Declividade sufíiciente para evitar-se a'formação dedepósitos e facilitar o arrastamento das águas collecionadas;3 ¦ Água doce para a necessária maceração dos produetosfecaes antes do seu despejo final e para formar a corrente con-tmua que deve existir no seu in'erior;

f. Despejo em logar batido pelas ondas do mar e influ-encado pela maré, podendo efTectuar-se a vasão dos líquidosacima do nivel das mais altas águas;

5'. Oxydaçâo fácil dos produetos despejados por meio dapoderosa m,ssa d'agua do oceano, com que se mistura nadesembocadura do collector.

Ainda, porem, precisam preencher uma ultima condiçãoa saber: v '

6'. Inocuidade rbsoluta para as costas visinhas.Vamos mostrar como se realisa esta ultima condição.As águas lançadas na desembocadura do collector caemem pleno oceano, quer se trate dos dois primeiros traçados,

quer do y.Apanhadas estas águas pela forte correnteza conhecidaentre os geographos por «corrente do Brazil,» e que segue avasta costa d'este paiz, são arrastadas immediatamente nad,recção N. S. e N. E., com uma velocieade nunca menor de

4 a 5 milhas por hora, (o gulf-stream tem uma velocidade de8 a 9 kilometros por hora).A direccão d'essas águas será, pois, quasi parella á costa,desenvolvendo sua trajectoria segundo uma curva que co-meça no ponto de despejo e termina ou modifica-se na ocea- ,suio em que encontrar outra forte correnteza, opposta ao seumovimento e direccão inicial.Esta segunda corrente é a que sahe da bahia pela barra ¦

em direccão ao alto mar.A velocidade das águas despejadas da bahia regula ? mi-

!fí?^r^^^.f;'Â**'.', * ¦^^^;^*A'v^;:^.7^-^'v"*r^'VA:--. ¦A'A,''.i."''^*.í/À::T ''^'iíJ^r^^^^^^A^^^A''^-'1.'A "* •'-*'. ''',''' ¦'; V^A-V? A-FA^'.>V5^^;

- 181 —

lhas por hora, a partir do ponto conhecido enlre os navegan-tes com o nome de meia liavessa.

Esta correnteza, combinando-se com a que primitivamentearrebatou as matérias lançadas pelo collector, dá uma resul-tante que passando a oeste de Itaparica se dirige para o altomar, levando comsigo todo o producto nocivo despejado.

Admittindo-se, por simples hypothese, que alguma partemesmo insignificante, das matérias arrastadas na direcção dacorrente da costa, seja desviada para as costas visinhas, éclaro que reduzindo-se o percurso d'essas águas, deante d'a-quellas costas, diminue-se a zona perigosa para as mesmas.

Sob este ponto dc vista o despejo pela embocadura doAreia Preta é mais efficaz do que o dos outros dois tra-çados.

Temos dado este desenvolvimento a questão que nosoecupapara prevenir, como diz um hygienista-a/d os pre-juízos populares, sempre promptos a exagerarem e a interpreta-rem mal os phenomenos naturaes.

A' vista do fica que exposto, pode-se assegurar que poucascidades ficarão mais garantidas doque a Bahia, no que dizrespeito á solução d'este importante problema do seu sanea-mento.

Temos o direito de pensar que, com qualquer das solu-ções apresentada para o traçado do collector ^eral fica resol-vido este problema, acerescentando que, com a resolução daquestão tratada no capitulo anterior, o saneamento da" Bahiapode e deve ser uma realidade.

Para isto concorrem todas as circumstancias favoráveis desua posição gcographica e de sua topographia .Qual será, porém, o mais conveniente traçado a ado-

ptar-se.Já manifestamos a nossa inclinação para o menos dis-

pendioso.Outrcs circumstancias technicas e econômicas vèm accres-

centar-se ás anteriormente expostas para, mais uma vez, pa-

-•-.?¦7 II

— 182 —

tentearem a desvantagem do collector pelo Cámorogipe, com-parado com os outros dois traçados.

Com effeito, pela cláusula 12 do edital, o projecto da in-tendência, é estender o beneficio da drenagem pelo esgoto ásecção comprehendida entre Campo Grande e Barra.

Si bem que d'esta secção possa eliminar-se a parte daVictoria, que se inclina para o littoral da Bahia e que, tem semprejuízo publico, esgota na escarpa do encosto e nos rochedosdo littoral, nào é menos certo que o resto d'ella necessita detão utíl melhoramento.

A esta secção, peta sua topographia. appliear-se-ha, prova-velmente a canalisação pelo systema Waring, segundo diz oreferido edital. E\ porem, fora de duvida, que se pode evitaresta drenagem dc typo especial, applicando-se o mesmo sys-tema que hade de drenar total da cidade, unificando-seassim o serviço e dispensando os diversos despejos que sehaviam de fazer entre o Pharol da Barra e as Quintas.Este beneficio pode ser applicado à maior parte d'essa área,d'esde que se adoptar o traçado do collector, quer pela Areia'Preta, quer pelo Lucayas.

EfTectivamente pelos valles visinhos o despejo poder-se-hiaeffectuar. quer pelo rio S. Pedro (parte alta, ) quer por meiode um boeiro situado perto do entroncamento que vae do Ca-nella ao cemitério, e d'este ultimo ponto em direeçâo ao Ca-marão.Pela parte baixa, do rio S. Pedro as águas assim drenadas

iriam ter no Moinho ou no collector do Lucayas ou no doAreia Preta e poupava-se assim a despeza com os diversosdrenos que deverão ir ter na costa no caso dc não ser acceitonosso alvitre.Outras vantagens econômicas ha ainda a considerar para ostraçados pelo Areia e pelo Rio Lucayas. Vejamos.A importante parte da cidade comprehendida entre o Gar- ¦

cia, Polytheama, Mercês, S.Raymundo, Piedade, Rua da Ale-gna, Chafariz dos Coqueiros, parte N. do Tororó e os Barris

¦

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não tem outro escoamento possível para as suas águas, senãopelo talwegde riacho da Piedade que desemboca no dique, aope da montanha do Tororô.

., Este systema orographio acha-se assim c .mpletamentc se-parado do resto da cidade e os collectores secundários d'ePanao pode receber as águas despejadas n'aquelíe talweg.

Torna-se, pois, necessário mandal-as por outro caminho emdirecção do collector geral, sob pena de deixar sem esgo.o lãoimportante área da cidade.Si o traçado do collector geral fôr pelo Areia Preta ou peloLucayas o problema não apresentará grandes difficuldadeseconômicas.Bastará fazer atravessar o dique as águas colleccionadas.

serv.ndo para isto um simples cano de ferro, como os empre-gados em Paris, em forma de syphão, de 0,4o c/m de diame-tro e, na margem opposta, isto è, no Moinho, elle entroncarianos collectores.

•O caso, porém, não será o mesmo, si se tratar de attingircm bete Portas, o collector que seguir o traçado pelo Camoro-

gipe. Para isto, será necessário construir um collector secun-dano, que seguindo a base da península do Tororó, o contornee attinja Fonte Nova depois de numerosas inflexões.D'ahi resultaria, pois, um acerescimo de despezas com aadopção do traçado pelo Gamorogipe.Temos ainda uma ultima vantagem a apontar para os traça-dos do Lucayas e do Areia Preta, e vem a ser a seguinte: coma sua adopção pode-se fac.lmente utilisar-se, em Fonte Nova,as águas do Dique para serem empregadas nas descargas que'convém, sejam feitas intermittentemente no collector, dispen-sando o emprego de águas potáveis tiradas na canahsação

geral.Isto não se poderia obter sem grandes despezas para o tra-

çado que seguir pelo Camorogipe, por se achar bastante dis-tante do Dique.Os nossos desenhos da folha n. I claramente especificam

«,.-».-;,V v. v'Va. ,¦:¦¦ :..-.• ' . .-.' '-X:<k_-VÍ*\ ..\VV->,. ,-..¦ -.-¦:..,' ...;•¦ ¦¦- ¦¦ :.-:-. -,a-:''. : ¦¦ ¦¦ '¦¦¦¦'. ¦¦-¦,*!&;

— 1^4 —

todos estes traçados e com a sua simples inspccção fica clara-mente provado tudo quanto acabamos de expor.N'estas condições as diversas competências que devem julgaro nosso trabalho decidirão em definitivo qual o traçado quedeve ser adoptado.Considerados sob seu aspecto technico e econômico os cias-sificamos na seguinte ordem:i- collector S. Pedro-Areia Preta.2* collector Lucayas.3'collector Camorogipe. (Continua).

NOTICIÁRIO0

Código das instituições do ensino superior- Decreto n 210—de 7 de Dezembro de 1804. 'Approva com modificações e additamentos o código das dis-posições communs as instituições dc ensino superior, que bâi-xoucom o decreto n. ,.,5q, de 3 de Dezembro de 189;?O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil-Faço saber que o Congresso Nacional decretou e eu na

ZZld° § '¦ d° **>?> da Cons^^o da Republica, pro-mulgo a seguinte resolução: ' pArtigo unico. E' approvado o código das disposições com-

n«nle Tm*0™ dC

Tin° suPe"or,organisadPo pdo gSvS-no, e expedido com o decreto n. 1.150 de 1 dc Dezembro de.892, com as modificações e additamentos seguintes:tnliJruand4°Parao calculo da jubilação de lentes substi-tutosou prolessores concorrerem serviços de magistério eserviços geraes, serão computados: 25 annos de sfrviç0S demagistério como equivalentes a 30 dc serviços geraes; o dosprimeiros a ,6 dos segundos, e assim em todos os casos guar-dada sempre a çqu valencia, para aquelle effeito, entrf unse outros, como de cinco para seis.

§ 2.0 Contar-se-ha na fôrma do art. 37 do codieo o temno Hr>serv,ço effectivo do magistério para calculo deaccrescimcs dlvencimentos ou de jubilações. CSfle§ 3-° A expressão vencimentos, que se lê no código, quandose refere a jubilações de lentes, que contem 30 annoi de ser-viço effectivo, ou ao calculo de acerescimos Jor amiguidadeSX0'"0 e a ?ratificaçSo' p«*firífe

— 185 —

Não poderá ser computada nesse calculo qualquer gratifi-cação transitoriamente percebida em virtude do desempenhode outro cargo, por interinidade ou commissâo, ao tempo emque e feito o mesmo calculo.

§ 4.0 Serão respeitados para a jubilação, além dos declara-dos no código de 3 de Dezembro, os direitos já adquiridos porJentes, substitutos e proíessores, em virtude das leis ante-nores que vigoraram durante o tempo em que elles exerceramo magistério.

do§codiFoa reVOgad° ° art' *'9 das disposições transitórias

Capital Federal, cm 7 de Dezembro de .894-6° da Republica.Prudente J. de Moraes Barros.Dr. Antônio Gonçalves Ferreira.

fenas disciplinar es.-Em data de 12 do corrente foi expe-dido o seguinte acto do poder executivo; *•O Sr. presidente da Republica, tendo em vista o que ex-poz o director da falculdade de medicina da Bahia, em officiosde aa de julho, 9, 13, 2< e 24 de Agosto do corrente anno.cornos quaes transmittiu os papeis relativos ao processo ejulgamento de alumnos punidos pela respectiva congregaçãopor haverem commettido desecatos contra o lente de physicâmeoica Dr. Lu.y AnselmD da Fonseca, bem como os recursosintespostos por alguns dos releridos alumnos, resolveu con-firmar as decisões da mesma congregação quanto ás penasimpostas aos alumnos Francisco Hora de Magalhães da 6-série medica; Augusto de Couto Maia, da 2'; Etclvino Cortez,da r. serie pharrnaceutica, e Luiz Antônio de Aguiar, da 2.'série pharrnaceutica, e Luiz Antônio de Aguiar, da 2. serieodontologica; ficando, outro sim, mantida a resolução temadaem sessão da mencionada congregação de 16 do dito mez dejulho, com referencia ao aiumno da 2' serie medica Oscar loa-quim Texeira. J

Indulto.—Por acto de 14 forem indultados os alumnos aque se refere o decreto anterior.

O presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil*Attendéndo a que os desacatos praticados em jutho ultimopor alguus alumnos da faculdade de medicina da Bahia, contrao respectivo lente de physica medi :af se originaram dairre-liexao própria da idade desses estudantes;

Considerando que nos recursos interpostos para o governocontra as decisões da congregação, que oscondemnou a penasdisciphnares, os ditos estudantes allegam em geral que nen-hum intuito os animara de desacatar o referido lente mastao somente o de protestar pacifica e ordeiramente contrasuppostos aggravos feitos á dignidade de sua classe: o que

"*~''$_r"' *-'•**

— 186 —

taes occurrlndas SV^0 af,m que' Pouco ^pòis derector então S èMI-ctóÔ ÍEr*"0» P^licamonte pelo di-feitas e algunTaté aSeSf T'** d°ceis ás adv<^nciasticado; arrependidos dos actos que haviam pra-viria°âfi„daTa?e«ârede ^r"""-0 " ,\SUa carreira ^cmic,menta„d^lh ?s1s

sacrificaiTd* suas 'T'1^ «í-nas infligidas- 5acrmc,0s' ale™ de pezar resultante das pe-daRers.itiiÍatdedrailrS°a ""^ peb a«' «8 § «•*

os relpectivos cargoT Sendn„drrLuT1dSnegnUÍda *• eWça0 "araPresidente: Dr. Pacheco Mendes

"S"'""-'«.' Vice presdente: Dr. Alfredo f de Bríttnq^^^ZTrcl^'

Thesoureiro: Dr. Aurélio Vianna.•oMís^^ »ara««-.ram o resultado seguihte commissões seccionaes de-

il Secção (Medicina)'Redator; Dr. Alfredo Britto.*í^^»^-. ¦de Mesquita. racneco Mendes, Agnppmo Dorêa e Lydio

cieVianSoeRa,l,(Gyn"°logia * Pedriatia) R^«or; Dr. Deo-

e feSS Satrotetl,^1"- ^ Clin,"*° d< oliveira

Sa4ntofMÇa°: De™a'»-SyPhil.8raphia: Redactor Dr. Ferreira

Fe^r SSamosDr- A,£Hndre Cer^ira< W™ Moreira e '

5.' Secção; sciencia physicas e naturaes.

MMigpgra|W»,;|i ».'h«-*7>?**ev> —.-j-T-è

-187 -

Redactor; Dr. Joaquim de Britto Pereira.s_Commissão:

Drs. Pedro Carrascosa, João Lopes e Dcmetrio6\ Secção; Medicina publica:RcdactorDr. Nnia Rodrigues.Commissão: Drs. Silva Lima, Sá e Oliveira e M Ioaraiva. J'Corpo de Saude do Exercito.—Por actos do ministério daguerra:—Foi nomeado para servir no laboratório chimico phar-maceutico militar o medico de 1. classe Dr. Antônio CarlosCarvalho de Albuquerque, sendo dispensado o medico de igualclasse Dr. l*rancisco Soares ae Andrade,

r* ~~F°v cl,3mado a esta capital o medico de 4. classe Dr.Emílio Freire de Carvalho, que se acha em Pernambuco-Foi exonerado, a seu pedido, o Dr. Euzebio Martins daCosta, do logar de medico adjunto do exercito da gurnição dePernambuco. *—Teve ordem de regressar a esta capital o cirurgião de *.classe, capitão-ienente Dr- João Alves Borges, que se achavaservindo na enfermaria do arsenal de marinha da Bahia, sen-do substituído pelo cirurgião de igual classe Dr. Moniz de Ara-gao.—Pediu exoneração do cargo que exercia junto ao chefe dopessoal chi inspectoria geral do serviço sanitário do exercito, oUr. bandido Manano Damasio.—Pelo inspecter geral do serviço sanitário do exercito, foi

proposto para exercer o iogar de inspector do pessoal da mes-ma inspectoria, o Dr. João Climaco de Araújo.

„ Eí!!ttl.llm" do Tllyroide Ohoix e Itelny. - As Pastilhas Chnlr

oS etc ' Psor,asiâ' d0 eczema, do lúpus, da icthy-.^j-r_-?^_fl5S___¥_í»_-í--__l_W5^^Aspast.lhas

» de thxroide Ct.oix e Heiny apresentam as seguintes van-

maV t^^^2S&í!e,em todas as temperataras, sob os di-

, mSíToo^ SA<*de tflxroide Choix Rem* **™** » 15 centigram-

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GAZETA MEDICA DA BAHIA

CONSELHOGERAL DE SAUDE PUBLICAParecer sobre o serviço desgotos

da BaniaCornmissão da a., secção do conselho geral desande pu-buo.-Rd.tor, dr. Antonb P.cifico Per.ira.-Em sessão dc25 do mez proximo find0 foi esu commissão incumb.da ^cmitlir parecer sobre a questão dos esgotos desta cidade, eapreciar o valor hygienico das propostas apresentadas naconcurrencia para a realisação de tão importante obra de sa-neamcnto, e d.s modificações apresentadas por um dos propo-«entes, o que tudo consta dos documentos que para este fimforam remetidos .o conselho ger.l de saude publio peiodigno intendente do município desta capital.

A cornmissão, desempenhando-se desta incumbência, desejaque fique consignada neste parecer a expressão do louvor eanimação que merece o empenho com que a illustre inten-dencia municipal se propõe a realisar este melhoramento damais alta importância para a hygiene desta cidade.Na excellente posição topographica em que se acha, á bordado mar, situada em grande parte sobre uma coluna, possuindomananciaes que podem provei-a abundantemente d'agua, aBahia reúne optimas condições para uma boa rede de esgotosA necessidade deste grande melhoramento se faz sentir hamuitos annos, e sem duvida a salubridade desta capital járegular pelas sua, condições climatologicas e topographicasaugmentará progressivamente com a realisação desta obrapr.mord.aI de seu saneamento, que, temos fé, será posta empratica, de accordo com os preceitos da sciencia, que temSERIE IV ANNO XXVI VOL. V. j-4

— 19© —

avançado admiravelmente neste ramo de hygiene e de enge-

nharia sanitária.Sc estudarmos a transformação que tem soffrido nos últimos

decennios as cidades da Inglateira, sob o influxo poderoso da

hygiene, cujos preceitos são rigorosamente postos em pratica,especialmente nos systemas completos de canalisação, queteem adoptado, acharemos alli os melhores exemplos dos

enormes benefícios que podem trazer á saude publica as obras

de saneamento de uma cidade, que são hoje consideradas a

neessidade culminante, o encargo mais urgente e o dever mais

patriótico do governo do municipio.Nas cidades inglezas, que eram no começo deste seeulo

sentinas iníectas, em cuja atmosphera respiravam-se as ema-

nações de toda a sorte dc dejectos, a hygiene tem feito sentir o

poder mágico de seus immensos recursos.

Londres, hoje uma das cidades mais salubres do mundo,

com a mortalidade annual dc 21,3 por 1,000, na enorme po-

pulação de 4.^06.461 habitantes, era ainda em 1856 uma

cidade infecta; o Tâmisa enchia-se de uma vasa immunda,

com exhalações pestilenciaes tão repulsivas que, referem as

chronicas do parlamento inglez, houve um anno cm que os

membros das duas câmaras loram obrigados a fugir das

salas de Westminster, enxotados pelas emanações fétidas do

rio.A Allemanha tem seguido os passos da Inglaterra, promo-

vendo a sua reforma sanitária.Berlim, que era ha cerca de vinte annos uma cidade im-

munda, em cujas ruas mal calçadas e ladeadas de profundosregos, escoavam as águas de chuva, as águas domesticas c até

dejectos humanos que se iam lançar directamente no Sprée,

atravessando a cidade com suas águas negras e fétidas,'Berlim

que em 1871 pagava este desprezo da hygiene com o tributo de

uma mortalidade annual de 39 por mil, hoje tem uma rede

de esgotos completa, disposta segundo o systema radial, fun-

ccionando perfeitamente em toda a área urbana e lançando suas

— IQI —

águas nos campos dc depuração situados ao sul e ao norte dacidade. Com a população de 1.550.000 habitantes sua mor-

talidade annual desceu de $9 a 20.2 por mil, o que quer dizerque a hygiene tem salvado 29,760 vidas por anno.

Si compararmos a mortalidade de uma destas capitães,zelosas de seu saneamento, com a de qualquer das grandescidades em que não tenham ainda penetrado os progresso dahygiene, veremos com espanto immensas hecatombes dcvictimas sacrificadas á incúria dos poderes públicos.

O ministério das obras publicas, no Egypto, a instânciasdas potências européas, que teem alli grandes interesses eque se vêem constantemente ameaçadas por epidemias queteem seus íócos permanentes dc irradiação no Oriente, abriuconcurrencia cm 1892 para a apresentação dos projectos desaneamento da cidade do Cairo. O exame destes projectosfoi confiado a uma commissão'internacional de tres enge-nheiros, entre os quaes se achava o engenheiro sanitário aliemão Hobrecht, que publicou recentemente o trabalho destacommissão. O systema usado naquella cidade para a elimi-nação dos dejectos é ainda o das fossas fixas impregnandoe infeccionando o solo. A commissão foi unanime em recom-mendar a canalisação pelo systema «tudo ao esgoto» como omais perfeito e o mais econômico. As obras estão orçadas em

dez milhões esterlinos. A população do Cairo é de 374,858habitantes; sua mortalidade anuual sobe a 52,6 por mil.

Si a hygiene reduzir a taxa de sua mortalidade á de Londressalva annualmente mais de dez mil existências.

Comparando as estatísticas obituarias dos difierentes paizese das diversas cidades, salienta-se sempre como factornormal, constante e poderoso do decrescimento da mortalidadea boa organisação sanitária, a rcalisação das obras de sanca-mento e especialmente das que asseguram a pureza das águaspotáveis e a evacuação prompta dos dejectos das cidades.

Na exposição de motivos com que fundamentou o projectodc lei para a protecção da saúde publica, apresentado á Ca-

— 193 —

mara dos Deputados da Republica Franceza em 1891, o mi-nistro do interior Constans disse:

•Si na França por uma boa legislação e uma boa adminis-tração sanitária se obtivesse um a baixa mento da taxa damortalidade egual a que se obtém na Inglaterra, salvar-se iampor anno mais de 130,000 existências.»

E' realmente a Inglaterra que se pode offerecer como mo-delo na organisação e administração da hygiene publica.

Suas reformas sanitárias começadas desde 1839 sob o influxode William Farre, Edwin Chadwick e continuadas desde 1871com a direeção do Local Government *Board, teem produzidoum abaixamento enorme na taxa da mortalidade annual.

A este paiz cabe o titulo que já lhe foi dado de «primeiranação sanitária do mundo.»

As estatísticas que aqui reunimos, num quadro comparativo,confirmam esta these—que a mortalidade decresce sempre narazão directa dos progressos realisados pela hygiene.

QUADRO COMPARATIVO DA MORTALIDADE EM DIVERSOS PAIZES

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Paizes e numero de cidades que Anno da Ü:comprehende a estatística observação População ©Inglaterra-33 cidades I892 10,188,449 20.GFranca-108 cidades ..„ 1892 8,149,348 21,1Allemanha-toda 1891 19.767.000 23,4lUlla-69 Cidades..— 1892 5,289,000 26,1Anstria-53 cidades 1*92 3.316,543 27,2Hungria-29 cidades— 1892 1,596.961 31,7Rússia-enrnpea.— 1890 97,807,3ò9 46,1SoiSSa-15 Cidades 1892 510,912 19 9Belgica-73 Cidades _.._ 1892 2,166,975 22,3Hollanda—12 cidades.... 1892 1,927 347 21,8Noruega-toda 1892 1,985,000 17,8

Neste quadro e no que em seguida apresentamos com a taxada mortalidade annual de 97 cidades de população superior a

— 193 -

150,000 habitantes, vê-se que os primeiros logares na hie-rarchia sanitária são occupados por pequenos paizes como aNoruega, a Suécia, a Suissa e a Dinamarca, dotados deexcellente administração hygienica, que os colloca a par deopulentos Estamos como a Inglaterra e os Estados-Unidos,cujos serviços são organisados cem admirável profusão dcrecursos; a estes seguem-se em escala descendente a Hol-[anda,

a Bélgica, a Allemanha, a França, a Itália, a Áustria, aHungria e a Rússia.Dos paizes europeus é este ultimo o que oecupa o extremo

inferior da escala: a media annual de sua mortalidade é 46pormil, a média annual na Noruega é 17,8, na Inglaterra é 20,6.QUADRO COMPARATIVO DA MORTALIDADE EM DIVERSAS CIDADES

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«>"..0 |-ri a *>» tí"°Cidades „ -52 ... .,»^¦•s População .§¦

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_sr= j-smü pgffij, 1892 1,637.283 20 1S5SE 18í)3 1.138.000 18 0ÍKffiphia z:z:zz: SS !•{?{ !ííBrooklvn ,, ,., 1,115.562 20 6

HomDay 18{,3 821 ? G, »MOSCOW 1893 753 469 í

¦T^fc^zr::::: St§ I <"

&::::::::::::::::.: 88 .;í_i. |Birramgham im ^1,891 22,0(D No anno de 1892 a mortalidade de Hamburgo foi de 10,6 poi1000, comprebendendo 7908 óbitos por cholera-morbus.

— IÇ4 —

MadridBruxellas 1893 476,882 20,3Boston 1893 469,647 ?i,9CalcuttáBaltimore 1893 4*5127 212Madras mr.i 452J518 39>St LOUÍS 1893 451.770 22.4Boma 1893 410 596 22,7Amsleidam. 1893 437,892 18.7Lvon. 1893 431.051 22 4MilãoSdney 1893 416,370 ir/5Marselha 1893 406 919 29 8Leipzig 1893 301,255 22,1Leeds 1893 382,093 2'> 3Cairo 1893 371,838 E>2.6Mailich 1892 373,000 20.1Breslau 1893 353,551 ?9 0Dublin 1893 319 591 20 9Odessa 1893 336Í190 2-L2Copenbagen 1893 334,000 20.3Sbeffield 1803 333 922 22 3Turim 1893 330,185 2l!2S. Francisco 1893 330,000 17 9Praga 1893 322,910 28*1Cincinnati 1893 305.000 19 9Dresda 1892 301,400 21^2ColOgne 1893 303,503 25,3Cleveland 1893 290,000 18,1Btldalu 1893 285,000 19'3BarcelonaEdimbUTgO 1893 267,672 19,0Betr.islPittsburg 1893 255,000 22,1Nova Orleans 1893 251000 27,4Bordeaux 1893 252 102 231Milw&nkeAnvers „....,_ 1892 248.296 -20.4Stokolmo 1893 218 051 19.3Lisboa 1893 212 297 34,3Alexandria 1893 231,396 38.1Washington 1893 230 392 26 5West Ham 1893 227,405 17*9Louisville 1893 227.000 21*2Brislol 1893 225 028 18*9Migdebnrg 1893 221,303 22,8Montevidéu 1893 222,847 27,1Bolterda.n ...... 1893 222,223 211Bradford 1893 221,611 21NolUngbam 1893 220,551 18,5MineapoliS .... 1893 209,000 15,4HuM 1893 208.709 21,8Bukarest 1893 206,000 30,8Salford 1893 203,431 24,1Havana 1893 200,448 l 33,0Gênova 1893 200,495 22,0Lille _...._ 189 200 325 20.fiNew Caslle 1893 196,997 21.8Franckfort S. M. 1893 193,144 18,4

1893 482.81Í.1893 476,8621893 469,6471891 466.4601893 455.4271893 452,5181893 451,7701893 440 5961893 437,8921893 431.0511893 426.6561893 416,3701893 406,9191893 301,2551893 382,0931893 371,8381892 373,0001893 353,5511893 319,5941893 336,1901893 334,0001893 333,9221893 330,1851893 330,0001893 322,9101893 305.0001892 301,4001893 303,5031893 290,0001893 285,0001893 272,0001893 267,6721893 265,1231893 255,0001893 >JÍ 0001893 252,1021893 250,0001892 248.2961893 218 0511893 242 2971893 231,3961893 230 3921893 227,4051893 227.0001893 225 0281893 221,3031893 222,8471893 222,2231893 221,6111893 220,5511893 209,0001893 208,7091893 206,0001893 203,4311893 200,4481893 200,495189 200 3251893 196,9971893 193,144

27,9

26,0

27,3

25,8

15,8

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LeScester „.„. 1893 x ,

Ip ::::=:::::::::. .13 *~s::=::::::::::: SS SSffl ?J:1SScícz:::,::::: !K ÍStíS ia8fc::::::::: !.?e8jlt «Nureiiberg 1B93 ísSCftoá 223

Altona 1893 252 004 20 31893 150,290 23 0Gand.

O. «Statp Rr"-!**--"! ~r u^„uu, j_ *í,i:.l.;_„_—*c ¦.^ojru ui ncaun» uc micnigan apresentou naexposição de hygiene de Chicago uma notável collecção dedocumentos estatísticos, demographicos e sanitários entre osquaes achavam-se alguns que demonstram perfeitamente ainfluencia de uma boa canalisação com abundante supprimentode água sobre a salubridadc das cidades:

Transcrevemos do Journal d'Hygiene o resumo dc tresquadros desta collecção, que representava em traçados gra-phicos a proporção de mortalidade produzida pela febre ty-phoide nas cidades dotadas de um bom systema de esgotose naquellas que são ainda desprovidas delle.

O primeiro comprehende tresentas e treze cidades semesgotos e 39 cidades que possuem um bom systema de esgotoscom ou sem utilisação agrícola.

N'um periodo de observação de cinco annos, de 1880 a 1884,a mortalidade foi na media na razão de 5 para entre asda primeira e segunda categoria.

O segundo mostra a estatística mortuaria da febre typhoideem Munich, durante o longo periodo de 30 annos, decorridosde 1854 a x>8 \ e comprehendendo as diversas phases pelasquaes passou aquella capital. Na i\ de 1854 a 1859, semesgotos, no regimen das fossas fixas primitivas, a mortalidademedia annual pela lebre typhoide foi de 130 por 10,000 habi-tantes; na 2.1 de 1860 a 1865, construíram-se fossas fixascimentadas e estanques, a media da mortalidade annual pelafebre typhoide foi de 95 por 10,000 habitantes; na 3." de n66

—. io6 ¦— ¦•

a 1873, começaram os primeiros trabalhos de canalisação,

inaugurando-se um systema de esgotes geral e racional, a

mortalidade pela febre typhoide desceu á média annual de 74

por 10,000 habitantes; na 4.', 1874 a 1880, continuaram os tra-

balhos de saneamento e a mortalidade pela febre typhoide

baixou ainda a 50 por 10,000; i.a ultima, de 1881 a 1884, termi-

naram os trabalhos de saneamento, completando-se a rede de

esgotos da cidade, e a mortalidade annual pela febre typhoide

foi de 10 por 10,000 habitantes.O traçado graphico exhibe de modo demonstrativo, coin-

cidindo com o progresso dos trabalhos de canalisação e sa»

neamento da cidade, a progressão descendente da mortalidade

pela febre typhoide, de 130, media annual em 1854, até 10,

media annual em 1884.O terceiro quadro, a que alludimos, da interessante collé-

cção do Bureau d'Hygiene de Michigan mostra em traçados

graphicos acompanhados de minuciosos dados estatísticos,

de um lado as cidades do mundo que possuem bom rystema

de esgotos e boa distribuição d'agua potável, do outro as

cidades sem esgotos ou imperfeitamente canalisadas. Para

umas e outras vem annotada a lethalidade typhica no períodode 5 annos, de 1880 a 1884.

Entre as primeiras estão:

Francfort sobre o Meno 1,4 de mort. typh. em 1000 hab.Danizig 1,5 « «

«««

. ««

«

Broklyn 1.5 « «Mnnich 1,7 « «Vienna 2.1 « «Londres 2,3 « tHamburgo 2,6 « «Berlim 2.9 « «New-York 3,0 « ?28 grandes cidades inglezas 3,2 « «Bresláo 3,3 "Bruxellas 3,3 "

Entre as da segunda catbegoria, cidades sem esgotos oa com canalisaçãoimperfeita, aebam-se: . hNápoles com 7,1 de mort. typhica em 1000 han.Clncinnati 7,3 «Buda rssth 9.2 "Turim 9,5 " « "281 cid. da Itália 9,5 "

— 197 — '

20 çld.

allemães 9,8 de mort. typh. emii«I

ii

1000 balti ssII ««II IIII II

¦ II

S. Petersburgo 9,9Marselha 12,8Palermo 13,1Risa 15,9Catai) ia m,o

Estas cifras não carecem de commentarios. A demonstraçãoevidente produzida por todos estes dados estatísticos, dainfluencia que o saneamento da cidade, por um bom systemade esgotos e abastecimento d'agua potável de boa qualidadeexerce sobre a diminuição da mortalidade geral e especial-mente da lethalidade typhica, deve estimular o governo mu-nicipal á rcalisação destes grandes melhoramentos, os maisrelevantes que poderá prestar actualmente a esta capital.

A commissao examinou as tres propostas apresentadas, massomente n'uma dellas achou elementos para pronunciar-se comsegurança.

A i.« proposta, asslgnada pelo cidadão Fernando Koch, nãoapresenta plano algum, mas declara, na cláusula 5- que.«antes de dar começo ás obras contractadas a empreza su-jeitará ao exame e approvação da Intendencia Municipal notodo ou por partes, os planos de rede de esgotos, acompa-nhados dos respectivos perfis e desenhos de todas as constru-cções projectadas.»

^ A a* proposta, apresentada pelo cidadão Manoel de Araujo

Góes, está egualmente desacompanhada de phno, porém, pelacláusula a« «obriga-se a executar todas as obras, de accordocom o plano definitivo, que será organisado por conta exclu-siva do proponente ou da companhia por elle organisada,plano este que será submettido á approvação da Intendencia.»

Para se poder apreciar si a execução technica do systemade esgotos de uma cidade reúne as condições hygienicas in-dispensáveis, é preciso ter em vista não só o systema ado-ptado, como o plano geral de toda rede, o percurso, a direcção,o declive, a forma e o diâmetro dos colleetores, a installaçãodos apparelhos nos domicílios, a canalisação das casas e daã

SERÍE IV ANNO XXVI VOL. V. 38

-J08rr.

ruas, o material das construcções e todos os detalhes do me-chanismo que tem de estabelecer a circulação e eliminação dosdejcctos urbanos.

A commissão se acha, portanto, inhibida de emittir juízosobre o valor hygienico das propostas que vieram desacom-panhadas de planos.

A a,.* proposta, firmada pelos engenheiros Justino da SilvaFranca e Adolpho Morales de los Rios, vem instruída doselementos indispensáveis para um estudo criterioso e detido,como merece tão importante matéria.

Precedendo-o de uma memória justificativa, cm que ana-lysam os diversos systemas de esgotos, os proponentes apre-sentam um estudo topographico da cidade, sob o ponto devista da canalisação geral, acompanhado de um quadro minu-cioso dos nivelamentos de toda a arca urbana comprehendidano projecto, fazem a descrípção de todo o plano, dos mecha-nismos auxiliares do serviço, de sua adaptação a diversospontos do percurso, da canalisação, e da installação dos ap-parelhos nas casas; determinam a direcção, forma c diâmetrodos collectores geraes, e concluem pelo estudo dos meios deabastecer d'agua o serviço dos esgotos.

Todo este trabalho é illustrado por plantas, desenhos equadros, que definem com precisão scientifica c elucidam comdados instiuctivos os diversos pontos da proposta.

De accordo com a cláusula 2.* do edital da intendencia, osproponentes adoptarão o systema unitário ou de canalisaçãointegral.

Sobre a excellencia deste systema de esgotos, o Congressode hygiene de Paris de I889, exprimio-se nestes termos:«Todas as cidades que quizerem emprehender seu saneamento,si tiverem bastante água e uni declive conveniente para entretera livre circulação e impedir a estagnação das immúndicies edas águas, devem adoptar o systema de «tudo ao esgoto» quese approxima da perfeição mais do que qualquer outrosystema».

O plano apresentado reúne cm seu conjuneto as condiçõesnecessárias para effectuar de modo racional e hygienico aevacuação de todos os dejectos desta extensa cidade, dre-nando-a com uma rede completa de esgotos, que abrangetodas ns ruas actualmente existentes, e poderá estender-seás que no fuiuro se abrirem, graças á bem combinada dispo-sição dos encanamentos em districtos, divisões, secções,ramaes e sub-ramaes, recebendo estes directamente as águasdos prédios que se acham em suas visinhanças «sem outrainterposição, a não ser o ramal particular de ligação dosmesmos prédios».

Acompanhado como se acha o plano por um quadro minu-cioso dos nivelamentos em toda a cidade, mostra que a rêdcde esgotos projectada efícetua a drenagem geral por um sys-tema symples, «aproveitando e combinando os declives na-luraes das ruas, dividindo toda a canalisação cm secções, cor-respondentes ao despejo final nos collectores» na parte baixae alta da cidade.

O plano destes proponentes não se limita ao estudo do peri-metro urbano, mas estende-se a toda península dc Itapagipe,e a todo o systema orographico, examinando os differentestalwegs que vão ter ao oceano e indicando os que offerecemmais vantagens para a installação do collector geral. -

Estuda a topographia da cidade em suas duas partes dis-tinetas: a baixa ao longo do littoral desde a Barra até Itapa-gipe e a alta ou montanhosa, comprehendendo os planaltosc vertentes que se dirigem para o littoral, rua da Valia,Dique c Rio S. Pedro.

Mostra as pequenas differenças de nivel entre os diversospontos da cidade baixa: a cota de a",50 no Cães d'Agua deMeninos e ^",90 na Alfândega, que dá apenas im,40 para dif-ferença do nivel entre estes dous pontos numa extensão de1,100 metros, e daria para o collector que se collocasse entreestes uma taxa de declividade de o,oool apenas.

No trecho comprehendido entre o extremo norte da penin-

— 200 —

sula de Itapagipe e o caes d4Agua de Meninos as cotas verifi-cadas foram de 7,01 no i.' e 2m.50 no jS, o que dá a diffe-rença de nivel dc 4m,50 numa extensão de 5,250 metros ou ofraco declive de o,raooo8.

Esta disposição topographica da parte baixa da cidadetornou necessário dividil-a em seis districtos diíTerentes, desdea Gamboa até Itapagipe, e para facilitar o escoamento daságuas estabelece o plano duas machinas propulsoras, uma naPreguiça, outra em Roma, com encanamentos especiaes quemandam estas águas respectivamente para o Caes do Ouro epara o Caes d*Agua de Meninos, donde são transportados parao collector geral por duas machinas elevadoras do systemaFarcot, atravez das ladeiras que nestes dous pontos unem olittoral á rua da Valia, onde passa o collector geral ou emissa-rio dos esgotos.

Na parte alta da cidade o declive é fácil: 69m.5t no CampoGrande é o ponto mais alto marcado no quadro dos nivela-mentos; combinando as inclinações naturaes do terreno a cana-lisação vae despejar rapidamente nos colíectores dos tresdistrictos em que ella se acha dividida: o «Rua da Valia», o«Dique —Fonte/Nova» e o «Rio S. Pedro». Com os diâmetrosprogressivamente crescentes da canalisação desde os ramaes esub-raraaes, com ora,i2 e om,i5, até os colíectores districtaes,uns de secção circular com om,70, de diâmetro, outros desecção ovalar com om,90, r.joe ."'.35 no menor diâmetro, edestes ao collector geral, também de typo ovalar com im,70de largo e im,^o de alto, e o declive de circulação de oB,,O04por metro; com o volume de águas que recebe directamentedos prédios e das caixas de descarga, umas de ç.000 litros nosápices das secções, outras menores, automáticas, do typoField Waring, de 500 litros, descarregando egual volumed'agua de quatro em quatro horas, a descarga e fluctuacão dosdejectos se fará rápida e constantemente, assegurando assimo escoamento completo nos colíectores e em toda rede deesgotos.

— aoi —

O plano dos Srs. Franca e Morales mede ainda a área dre-nada de cada um dos nove districtos em que dividiu o peri-metro urbano, calcula a proporção de habitantes por áreadeterminada, estabelecendo aproximadamente, attenla a defi-ciência dos nossos dados estatísticos, uma área de dezoitohectares para cada cinco mil habitantes; calcula a quantidadede águas servidas mandadas para os collectores de districtos,adoptando como media a cifra de 120 litros por dia e por ha-bitante, e a quantidade de água, pluvial que cae na cidade,tomando a cifra media de 6 millimetros para ser drenada noespaço de uma hora nos 5.0, 6.°, 7.0, 8.° e 9.° districtos e a de12 millimetros nos primeiro, segundo, terceiro e quarto dis-trictos.

Com estes dados chega á conclusão que o despejo máximodeve ser na Bahia de 240 litros por dia e por habitante. Parauma população de 200.000 habitantes o despejo seria de 48.000metros cúbicos por dia e ^m 333 por minuto. De accordo comestes cálculos foram adoptados os collectores de districto, detypo ovalar, e tendo os diâmetros de lm,70 e lm,35 no i.°districto, im,40 e im 20 no 8/ districto, im,20 e om,QO no 2.'districto, e collectores cylindricos de om,7o nos demais dis-trictos.

Com esta disposição da rede e dos collectores é garantida avelocidade media de om,75 para os despejos feitos nos col-lectores secundários. «Esta velocidade é mais que sufficiente,dizem os proponentes para que os drenos limpem-se por simesmos, e no caso em que o movimento das águas dentrodelles torne-se intermitterite, as descargas estabelecidas garan-tirão a perfeita limpeza.»

Os collectores foram calculados de níodo que ordinária-mente estejam a meia carga, isto é, que se achem cheios atéa metade d'altura com os despejos nelles lançados.

«Do que resulta, accrescentam elles, que o volume das águasservidas e fecaes poderá duplicar sem que os encanamentosdeixem de ser suficientes.»

— J02 —

Estes cálculos e asserções não foram contestados, mas antes,confirmados pelos profissionaes que em commissão da inten-dencia municipal deram parecer sobre as propostas. As basesdestes cálculos, entretanto, não nos parecem muito seguraspara se poder tirar conclusões definitivas.

O volume das águas que num tempo dado pode penetrarnos collectores está sujeito a dous factores que podem cleval-oconsideravelmente,'um de modo brusco, violento, outro regulare periodicamente, em certas horas do dia. A acção destesdeus factores accidentalmente combinada poderia formar,si a hypothese não fosse prevista e calculada, uma onda violenta cujo esforço seria capaz de rebentar os collectores. Noprimeiro caso estão os grandes e copiosos aguaceiros, quesão freqüentes nesta cidade; no segundo o enorme dispendiod'agua, que pelos hábitos da população, toilette, uso de ba-nhos, etc, faz-se entre seis e nove horas da manhã, rela-tivamente ao resto do dia.

Uma circumstancia análoga fez alterar o projecto Cartierpara o saneamento de Marselha. Guerard, engenheiro-chefedos serviços marítimos do porto foi de parecer que se au-gmentasse ao duplo o diâmetro do grande collector propostoneste projecto.

« Os cálculos, diz elle, pelos xjuaes se determinou os vo-lumes d'agua que terão de correr por segundo nos collc-ctores secundários foram estabelecidos na hypothese de umconsumo dágua de 344 litros por habitante e por 24 horas,dos quaes 120 litros para os serviços privados c 126 litrospara os serviços públicos; o que corresponde a uma sahidatotal de 2,383 litros por segundo. Admittiu-se para chegar aesta cifra que o volume d'agua evacuado por segundo era omesmo em cada instante do dia e da noite. Ora esta hypo-these não é conforme á realidade».

«A observação mostra que os dous terços do volume d'agu atotal evacuado em 24 horas são rejeitados em dez horas, das8 da manhã ás 6 da tarde, e que a sahida tem neste periodo

— 20J — *

dois máximos, um ás 8 horas da manhã, outro ás 5 horas datarde, máximos que attingem o duplo da sahida media. Re-sulla disso que no momento em que tiverem lugar estesmáximos, as sahidas que se tem attribuido ás diversas neces-sidades devem ser duplicadas.»

Embora seja adoptado o systema unitário tornam-se in-dispensáveis para os dias de grandes aguaceiros os deriva-dores (deversoirs de necessite) que lancem directamente no maro excesso das águas.

O projecto dos Srs. Franca e Morales supprime estes deri-vadores nos tres primeiros districtos onde os fortes declivesdas ruas e o numeroso seccionamento da çanalisaçâo per-mittem o fácil escoamento das águas. Em toda a área urbanada parte baixa da cidade, do 40 até o 90 districto, o despejodas águas pluviaes é constantemente independente da rede dosesgotos propriamente ditta, pois sua admhsão neste redetraria como conseqüência o augmento de diâmetro do encana-mento geral que teria incoavenientes nesta parte da cidadealta, e viria alem disto augmentar enormemente o volume daságuas que devem ser elevadas nAgua de Meninos e no Cãesdo Ouro, exigindo assim mais força, trabalho e despeza coma installação e conservação dos machinismos respectivos, ex-pondo-os alem disto a ser estragados e entupidos, com asareias, terras e outras matérias que possa m ser arrastadaspelas águas.

Estas razões apresentadas pelos proponentes justificamrealmente a necessidade, nos districtos da cidade baixa, deuma canalisação independente para o despejo das águas plu-viaes e a suppressão dos derivadores nos districtos da cidadealta. E' necessário porem que a intendencia promova com amaior urgência o calçamento a parallelepipedos, o mais pos-sivel estanque, de todas as ruas da cidade, para que aságuas destas ruas possam despejar na rede dos esgotos,sem o que ficará incompleto o saneamento da cidade.

(Continua),

— 304 — "

HYGIENEJUBLICAInstituto Bacteriológico

D0ESTADODE S. PAULO

Resumo dos trabalhos feitos no mez de Dezembro pelo direetore seu ajudante Dr. A. de Mendonça

1. Exame de casos suspeitos de choleraA) Autópsias

Foram feitas 9 autópsias para verificar as causas da mortecom resultado seguinte:

Casos de Cholera agudo 4Casos de Cholera no período typhoide aOutras moléstias 3Os casos de Cholera agudo provinham: de St. Anna (dous

soldados), do Braz (porteiro da E. de F. Ingleza) e da Avenidada Intendencia. Alem dos caracteres anatômicos verificou-sea presença do bacillo vírgula de Koch no conteúdo intestinalde todos estes casos tanto pelo exame directo como pelasculturas.

Nos casos de Cholera typhoide,provenientes de St. Annae da rua João Theodoro, o bacillo de Koch foi isolado tantodo conteúdo intestinal, como da bile. No segundo caso foiachado também em cortes de infiltrações cruposas da mucosavaginal.

Os outros casos eram provenientes do Braz (Chácara daFigueira), do Hospital da Santa Casa e da Immigração. Noprimeiro tratava-se de peritonite, em conseqüência da per-foração de uma ulcera do ileon de naturesa typhoide comofoi provado pela presença de cicatrizes recentes e typicas naparte inferior do intestino delgado. No segundo havia suf-lusão sanguinolenta c gangrena de uma alça do ileon, assimcomo cirrhose do figado, faltando as lesões de Cholera. Doterceiro caso (envenenamento por peixe) fallaremos mais adi-ante.

— 205 ¦**

B) Exames de dejecçõesForam examinadas as dcjccções de 28 doentes suspeitos

de Cholera, dos quaes só 23 eram residentes em S. Paulo.a) Casos dc S. Paulo

Das dejecções examinadas eram typicas ri, diarrheicas commistura de bile amarella 9, diarrheicas verdes 1, de appa-rencia normal 1. Na primeira cathegoria entram as dejecçõescompletamente isentas dc pigmcntos biliares, muito fluidas,com abundantes flocos mucosos de côr branca ou levementecinzenta.

'Dejecções typicas[í. Pr«veDÍcneia Kxaitie dirfeto Kisníc jior culturas Observüfõe,i. Várzea do Tietê negativo negalivo Morte2. Rua de St. Rita positivo Morte3. Ponte do Anastácio positivo Morte4. Rua Miller Cura5. Avenida da Independência Cura6. R. Maria Marcohna positivo Cura7. R. do Gazometro, 131 positivo Cura8. R. St. Ephigenia Cura9. Quartel da Luz Morte

10. Rua da Gr?^a positivo Morte11. R. João Thecdoro, 13 negativo CuraOs casos 5 e9 não deram culturas por serem as dejecções

esterilisadas: no caso 6 não foi feilo exame directo. O diagnos-tico clinico de cholera foi confirmado pela bacteriologia 10 ve-zesem 11 casos. Nos casos 2 e 11 falhou o exame microscópicocomo acontece muitas vezes, principalmente quando não éfeito immediatamente: porem as culturas forneceram as provasnecessárias. Nos casos 4 e y os bacillos vírgulas eram tão pre-dominantes e typicos que parecia tratar-se de culturas puras.

Dejecções diarrheicasDos 10 casos examinados só em um foi verificada a pre-

sença do bacillo de Koch, tanto por exame microscópicodirecto, como por cultura. Trata-se de um soldado mandado

SERÍE IV ANNO XXVI VOL. V. 39

¦mm 306 —

de Baruery para o hospital de isolamento. Evidentemente farç

parte de uma pequena epidemia que lá sc deu entre os soldados .

removidos de St. Anna.Os outros casos pela maior parte devem ser considerados

gastro senterites não infecciosas. Occorrerão isoladamentecm diversas partes da cidade e todos terminaram por cura.Um doente da Rua dos Immigrantes soffria de tuberculosedos pulmões e dos intestinos, fallecendo duas ou tres semanasdepois do exame.

Defecções de apparencia normalAs dejecções de côr normal e de consistência molle que

provinham de um doente da cadeia não continham bacillosvírgula.

b) Casos de foraRecebemos para exame dejecções de doentes de Taubaté,

de São Carlos do Pinhal (dois casos), de Baruery e deGuaratinguetá: estas ultimas erão typicas e deram um rc-

sultado positivo, tanto pelo exame direclo, como pelas culturas.As dejecções diatrheicas um tanto biliosas de um soldado de

Baruery forneceram culturas do bacillo vírgula. O caso deTaubaté deu um resultado negativo, provavelmente pelaaddição de pequenas quantidades de sublimado: as dejecçõeseram typicas c o decurso rápido e fatal da moléstia pareceindicar um caso de cholera asiático. As dejecções de SãoCarlos eram tingidas em côr escura por algum remédio oudesinlectantc e deram resultado negativo.

Approveitamos desta oceasião para lembrar que o examebacteriológico só pode dar resultados seguros, se as deje-cções são completamente livres de o^sinfectantes e substanciaschimicas que podem impedir o desenvolvimento do bacillovigula. Bastam pequenas quantidades, mas deve-se evitar dedemorar o exame.

//. Outras iuvestigaçõesNa noite de 24 para 25 de Dezembro, havendo n'esta ocea-

sião 5ooo immigrantes na hospedaria, grande numero d'ellesforão simultaneamente accommettido de vômitos fortes se-

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guidos freqüentemente dc diarrhéas. O numero dos casos foiestimado em 2000 pelo medico da hospedaria. Esta explosãode um syndroma mórbido um tanto parecido ao do choleraproduziu bastante susto e tratou-se immediatamente de invés*tigar a natureza d'elle.

Forão remcttidas ao laboratório as dejeeções de tres doen-tes e o vomito de um quarto. (Um dos doentes tinha sido ac-commettido na sua casa depois de ter passado o dia inteiro naimmigração, participando das refeições). O vomito parecia-semuito com o vomito typico do cholera; as dejeeções eraríi li-quidas, descoradas, porém não completamente isentas de pig-mento biliar. Em dous casos eram levemente sanguinolentas.

O exame directo d'estas dejeeções, assim, como as culturas,nâo revelarão a existência de baeillos curvados ou outros mi-crobios differentcs dos habitantes regulares do intestino hu-mano. Examinado pelo microscópio o vomito mostrou peque-nas zoogleas de baeillos curvados e spirillos curtos, porémmais finos que os de Koch. Não cresceram em culturas comreinceulações repetidas.

No dia 25 ás tres horas da tarde o abaixo assignado estevena immigração verificando o seguinte. N'esta óccasião, querdizer mais ou menos 17 horas depois da explosão dos pheno-menos mórbidos, a maior parte dos doentes já se tinham res-tabelecido, uns poucos eram recolhidos na enfermaria e acha-vam-se muitos abatidos, porém já em via de melhora. Esteestado de cousas jà indicava que se tratava não de uma infe-cção, mas dos efleitos de alguma substancia tóxica, ingeridamais ou menos ao mesmo tempo.

A maior parte dos doentes aceusavam o bacalháo que ti-nham comido para o jantar âs 4 horas, tendo os symptomasprincipiado mais ou menos as 10 horas da noite. Soube-se queno dia 24 a água proveniente do encanamento do Ypirangaveio muito turva. Levou se amostras de bacalháo, provenien-tes das caixas abertas na véspera, assim como água da tor-ncira, deposito do tanque da cosinha e enduto dc uma vela de

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Chamberland que tinha servido para filtraçao da mesma água.Os immigrantes tinham tambem recebido arroz e batatas,

porém havia boas razões para excluir a idéa de que estes ali-mentos tinham produzido o mal.

O exame da água revelou grande quantidade de organis-mos, como era de esperar, faltando porém qualquer indicio debacillos curvados. Parecia tratar-se só de germens banaes. Ouso d'esta água que não deixa de ser mal encanada, tem sidodiscontiuuado em conseqüência.

O bacalháo examinado parecia de boa qualidade sendo deconsistência solida, cheiro natural e pouco forte e abundante-mente salgado. Havia poucos germens perceptíveis na prepara-ção microscópica.Por cultura isolamos um spirilloque pôde to-mar fôrma de komma, porém facilmente distinguivel do bacil-lo de Koch, por não liqüefazer a gelatina, não produzir indol,etc. Este micróbio que parece novo para a sciencia, injectadona cavidade peritoncal de um rato branco não produziu phe-nomenos mórbidos.

Sabendo que o bacalhau, proveniente de dez caixas diffe-rentes, tinha sido collocado na água por 24 horas para amol-lecel-o e livral-o do excesso de sal, fizemos uma maceraçãoegual na água do Ypiranga. Houve desenvolvimento dos ger-mens ordinários da putrefacção. Concluímos que aconteceu omesmo tempo com o bacalhau da immigração e que favorecido

pela temperatura alta e pelo estado impuro da água houve for-mação de ptomainas que produziram o syndroma mórbido,completamente de accordo com uma intoxicação por ptoma-inas. A oceurrencia de intoxicação por peixes é commum eBrieger tem isolado ptomainas de um peixe da familia do ba-calháu.

Tendo o peixe sido consinhado provavelmente a maior par-te dos germens foram mortos e ficarão só as substancias tóxicas

para produzir symptomas violentos, mas passageiros. Houvesó um caso fatal. Tratou-se de um doente que foi recolhido na

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enfermaria no dia 35, logo depois de nossa visita 0 falleceupouco tempo depois.

A autópsia revelou um estado differente do encontrado nocholera asiático, pela falta de tumefacção dos gânglios mesen-tericos, a presença de urina na bexiga e de liquido nas cavi-dades serosas. O conteúdo do intestino era um tanto bilioso naparte superior do intestino e muito sanguinolento na parte in-fedor do colon. Culturas feitas da bile e dos liquidos intes-ttnaes não forneceram organismos similhantes ao bacillo vir-gula de Koch.

Não tem occorrido outros casos semelhantes na immigraçãodepois do dia 25 de Dezembro.

Tendo apparecido no núcleo colonial de Cascalho, perto deestação de Cordeiros uma epidemia com mortalidade bastanteelevada, o abaixo assignado seguiu para lá, para verificar anatureza da moléstia. Pelo exame dos doentes e as informa-ções recebidas concordou plenamente com o diagnostico Miliariaepidêmica (Suette miliaire), já feito por dous médicos.

S. Paulo, 14 de Janeiro de 1895.O Director Interino, Dr. cAdolfo Lutz.

Legem liabemus.Ha pouco tempo em um artigo publicadOjá propósito do con-

curso de Pathologia Geral, disia esta Gasela que parecia estarainda longe a epocha em que deve ter orientação séria e se-gura o ensino medico no Brasil-

Se fosse necessária ainda uma prova em abono d'esta ver-dade tel-a-hiamos completa no que se acaba de dar com ossubstitutos nomeados pela lei do Congresso de 1893.

Sabe-se que os adjuntos, que foram preteridos por oceasiãoda reforma feita pelo governo dictatorial em Fevereiro de 1891,acharam no seio do corpo legislativo reparação à desegualda-de e injustiça de que foram victimas.

O governo do marechal Floriano, pedio, em obediência a

— ato —

disposição final da lei n.° I38 que a congregação da Faculdadeindicasse as secções para que deviam ser nomeados os novossubstitutos, segundo as habilitações reveladas em concursosanteriores.

A lei é concebida nos seguintes termos:Decieto n.° 138 de 21 de Junho de 1893.O vice-Presidente da Republica dos Estados Unidos do

Brazil;Faço saber que o Congresso Nacional decretou eeu na for-

ma do § 3.0 do art. 37 da Constituição, promulgo a lei se-guinte.

Art. 1.° Serão considerados lentes substitutos das Faculda-des de Medicina os adjuntos que passaram a preparadores, osadjuntos actuaes que não foram contemplados na ultima refor-ma e os preparadores que, tendo feito concurso para adjuntos,íoram classificados, devendo ser destribuidos pelas cadeirasou secções, segundo as habilitações provadas em concursosanteriores e as conveniências do ensino.

Art. 2.0 Revogam-se as disposições em contrario.Capita. Federal 21 de Junho de 1893, 5.0 da Republica.

Floriano Peixoto.Fernando Lobo.

E' evidente,portanto, que os substitutos de que trata o de-creto acima estão nos seus logares firme e legitimamente, porse acharem nelles, não pelo favor de uma dictadura cega eincompetente, mas pela força de uma lei da republica e porum aresto do corpo competente, que ainda não se podia levarpor qualquer influencia de sympathia ou favor, porem simpelo resultado de um julgamento anterior.

E foi sábio e correcto o pensamento do legislador, que-rendo não só reparar uma iniqüidade feita com os que não ío-ram aproveitados, tendo aliás os mesmos direitos que algunsdos que o foram, e mais do que outros, e também impedirao mesmo tempo os prejuisos que resultaram e resultarão parao ensino de muitas d'essas nomeações feitas á esmo, arbitra-rias e pouco escrupulosas, como ficou á saciedade provado

-w 211 —

n*aquelle tempo e depois o tem sido, por diversas causase com especialidade a deslocaçào de alguns professores em lo-gares para os quaes não tinham dado prova alguma de apti-dão e competência.

Applicando ao caso vejamos: Dos quatro nomeados, por lei,em Setembro de 1P9;?,dous foram collocados na 6* secção (cli-nica cirúrgica, pathologia externa e operações) um na 3a eum na 10a.

Os dous primeiros, adjuntos de clinica cirúrgica, antes dareforma, foram encontrar alli,na 6a secção,um collega nomea-do pela dictadura em Fevereiro de 1891 que era até então ad-junto de anatomia topographica e apparelhos, e que nuncatinha regido a cadeira para a qual fez concurso.

Ora, o Regulamento que regia as Faculdades antes de 1891estabelecia que os adjuntos de clinica podiam reger, não sóesta cadeira como as cadeiras theoricas da sua secção; o quese deo muitas veses, o que não era permittido aos adjuntosdas outras cadeiras, e que é bem entendido, scientifico e sen-sato, se attendermos a que é a clinica por sua naturesa mesmacomplexa e vasta, abranjendo as operações e apparelhos, asanatomias, as pathologias e a therapeutica.

O pathologista pode, por exemplo ser emérito n'esta mate-ria sem ser operador, do mesmo modo que outro profissionalpode ser insigne em anatomia e não ter os dotes de clinicoprofessor.

O cirurgião não pode rasoavelmcnte merecer este titulo senão for provecto, não só em operações e apparelhos, comoem anatomia, pathologia, therapeutica etc.

O clinico deve reunir em si quasi a totalidade dos conheci-mentos médicos, e ainda certos dotes éspeciaes que são dohomem.

Tanto não se exige dos que se dedicam a outros ramos dassciencias médicas!

Quanto ao nomeado para a 3* secção (histologia, anato-mia etc,) que era antes de 1801 adjunto de histologia e que,antes de o ser, tinha feito para anatomia descriptiva um con-

W..-V- ;¦¦Sr

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curso que deixou fama nos annaes d'esta Faculdade, foi en-contrar alli um collega nomeado pela dictadura que nunca fezconcurso para cadeira alguma 'da secção, e que era prepara-dor de anatomia pathologica antes da reforma.

O da io*1 (clinica ophlhalmologica) que tinha feito dous con-cursos para essa especialidade foi encontrar n'aquella secçãoum collega que, antes da reforma era preparador de anato-mia topographica.

Estes factos são por si mesmos tão eloqüentes, que dispen-sam commentarios.

Qualquer pessoa ajuisada, séria e justa, poderá dizer quaesregerão com mais vantagem para o ensino as cadeiras dassecções em que se acham.

Parece que n;ngucm se atreverá a affirmar que o poderdiscricionário tenha mais competência e capacidade para cs-colher professores do que os corpos docentes e o estudo!

Entretanto os substitutos creados pela lei do Congressonão pedem nem querem o monopólio da regência de cadeiras!

Pedem que nas substituições temporárias se revesem todosegualmente.

Os substitutos de 180/? não são nem podem ser na Faculda-de excrescencias,nem usurparam posições para as quaes nin-guem sabia que erão aptos!

Os decretos das suas nomeações tem todos a declaraçãodas secções e acham-se devidamente legalisados.

Uma passagem inserta em um artigo do Dr. Azevedo So-dré publicado recentemente no Rio nos obriga a abrir umparenthesis para responder-lhe.

O Dr. Azevedo Sodré, ou por não conhecer a lei dos substi ¦tutos ou por outra rasão, erra quando affirma que os novossubstitutos" nào tem secção designada.

A lei emprega a expressão segundo as habilitações reveladasem eoncursos anteriores e foi precisamente esta disposiçãoclara que tornou necessária a indicação das Faculdades quedesignaram as secções, as quaes vem mencionadas nos de-cretos de nomeação.

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No ultimo aviso expedido pela secretaria da Justiça e In-terior á Faculdade da Bahia se lè também a seguinte passa-gem—os que forem mais idôneos que prova laborar a secreta-ria em egual erro.

Eis aqui o que responde cabalmente ao Dr. Azevedo Sodrée a própria secretaria do Interior.

Ministério da Justi;a e Negócios Interiores—Direetorià Ge-ral da Instrucção—i* secção—Capital Federa!, 2? de Junho de1893.

Tendo sido promulgada,por decreto n. 138, de ai deste mez,a lei do Congresso Nacional que manda considerar lentessubstitutos das Faculdades de Medicina os adjuntos actuaesque não foram coi.templados na ultima reforma e os prepara-dores que, tendo feito concurso para adjuntos, foram classifi-cados devendo ser destribuidos pelas cadeiras ou secções, se-gundo as habilitações provadas em concursos anteriores, e asconveniências do ensino, deveis a tal respeito ouvir a congre-gação dessa Faculdade, tendo em vista o final da mesma lei.

Saúde e fraternidade.—Fernando Lobo.Srs. Directores das Faculdade de Medicina do Rio dc Ja-

nciroe da Bahin.Repugna-nos acreditar que esta supposta ignorância por

parte de S. S\ tenha por único fito estabelecer-se uma jus-tificativa para certa nomeação que só teve por base o patro-nato.

Parece-nos muito arrojado quem procurou enganar o Sr.ministro esclarecendo-o incompletamente, sobre os precedentesd'esta questão, e muito pouco escrupuloso quem,para prepa-rar o advento de uma nomeação lá, não duvidou causar umainjustiça aqui, supplantando d'cst'arte direitos adquiridos.

Em todo o caso a discussão havida ultimamente na CapitaiFederal illumina singularmente as rasõesdi prolixidade d'es-te avisj,que entrou em explanações, que não vinham inteira-mente a pello.

Esta questão será com certesa elucidada mais tarde.SERÍE IV ANNO XXVI VOL. V. 40

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O governo do paiz em 1893 não estabeleceu restricçSo ai-guma antes nem depois da posse, quanto aos direitos e rega-lias dos substitutos do Congresso, nem os mandou addir áFaculdade, porque a lei os fez substitutos para todos os efTei-tos, terminànte e clara como é,e elle não &e julgou authorisadoa torcel-a ou emendal-a.

Começaram logo porem a notar-se, quando se deram assubstituições, as influencias que na secretaria d'esta Faculda-de tem produsido a singularissima hermenêutica que alli gras-sa e que tem causado áquella instituição não poucos desgos-tos e.... humilhações.

Uma espécie de distincção em lunccionarios n.° 1 e n. 2 co-meçou a surgir.

Os substitutos doCongresso reclamaram contra a preferenciadada aos substitutos da dictadura, appellando para as vanta-gens que resultam para o ensino de se habituarem á cathedraos futuros prolessores, lembrando os antigos regulamentosque estipularam sabiamente esta grande necesssidade do ma-gisterio e reivindicando as regalias que a lei lhes garante e de

que só os seus collegas gosavam.O despacho, que teve esta petição, redigido no estylo emba-

raçoso e difficil d'aquella secretaria que lembra as praxes oraemphaticas, ora hesitantes da fraca chancellaria turca, lançoua resolução da questão para o governo federal.

Os reclamantes dirigiram-se por isto em Dezembro ao Sr.ministro do Interior somente.

A quem conhece os antecedentes da questão parecerá decer-to estranha a resposta que veio e que foi a seguinte.

Ministério da Justiça e Negócios Interiores—Directoria Ge-ral da Instrucção—i* secção—Capital Federal, 15 de janeiro de1895.

Em resposta ao officio n. 444, de 27,de dezembro ultimo,com que transmittistes o requerimento em que os lentes substi-tutos dessa faculdade, nomeados em virtude do decreto legis-lativo n. 138.de 21 de junho de 1893, pedem se estabeleça o

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modo por que devem ser feitas as substituições no caso deimpedimento dos cathedraticos das respectivas secções, tenhoa declarar-vos que os requerentes, em sua qualidade de addi-dos, não podem ficar inteiramente equiparados aos substitutos

. anteriormente nomeados e aos quaes cabe, de aceordo com oart. 29 § 1. do código de ensino superior, a substituição doscathedraticos impedidos.

Dada, porém, a hypothese de duas ou mais substituições,deveis designar, depois dos mais antigos, os que forem jul-gados mais idôneos para a regência interina das cadeiras.

Saude e fraternidade.—Gonçalves Ferreira.Sr. Director daFaculdade de Medicina da Bahia.b Compare-se este aviso ao que foi citado acima na sua inte-gra e não se poderá deixar de notar, como uma novidade, oqualificativo de addidos ahi empregado, sendo outra não me-nos curiosa a declaração de que não podem os substitutos de1893 ficar inteiramente equiparados aos anteriormente nomea-dos, disttincçoes que não estão na lei, nem no código do ensi-no, nem em regulamento algum, nem em avisos anteriores.

Os substitutos são todos eguacs perante a lei.E em que não serão elles inteiramente equiparados?Qual a amplitude que se deve dar a esta expressão?Seria preciso que não se deixasse questão d'esta importan-

cia entregue ao vago de semelhante palavra, e que se decla-rasse de que vantagens eregalias são despojados os nomeadospelo Congresso em beneficio dos outros!

Parece-nos que S. Ex". o Sr. ministro do Interior recebeuinformações incompletas e más sobre esta questão, que o le-varam até a restringir regalias, vantagens e direitos de quegosam cidadãos e funecionarios, facultadas por lei e marcadasem código e regulamentos.

Julgamos porem que do alto critério, das habilitações es-peciacs de S. Ex*. em jurisprudência, e dos sentimentos deequidade de que*tem dado provas sahirá uma solução sensatapara este estado de cousas.

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Nós, substitutos por lei, protestamos contra a doutrina doaviso apoiados n'ella e esperamos justiça do governo e damagistratura do nosso paiz.

Legem habemus.cAssis Souza.Domingos Mello.cAlmeida Gouveia.Brai cAmaral,

0 VIBRIAO CHOLERIGENO NA CARNE DEXARQUE

IMrectoria cio InteriorMinistério da Justiça e Negócios Interiores—Directoria do

Interior—2» secção—Capital Federal, 32 de janeiro de 1895.Pelo decreto n. 1940 de 21 do corrente, resolveu o presi-

dente da Republica que o art. 4\ do regulamento annexo aodecreto n. 1558 de 7 de outubro dc 189*5, na parte em que pro-hibe, em absoluto, o recebimento nos portos brazileiros, dacarne de xarque quando procede de logar inficionado ou sus-peito, deve ser executado de modo que possa ser autorisadaa importação d'aquelle producto, e entregue ao mercado,depois de dez dias de permanência em local conveniente, deconformidade com as instrucções que serão expedidas, ouvidaa autoridade sanitária.

A' vista do exposto, recommendo presteis com urgência aoministério a meu cargo os esclarecimentos necessários paraorganisação das alludidas instrucções no tocante ao serviçodo lazareto da Ilha Grande.

Saude e fraternidade.—Gonçalves Ferreira.—Sr. inspectorgeral de saude dos portos.

Sr. ministro—Tendo recebido o vosso ofíicio de 29 de de-zembro passado, dei logo principio aos trabalhos que medeveriam conduzir a alguma conclusão a respeito da vehicu-

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lação do vibrião de Koch pelas carnes salgados, vulgarmen-te conhecidos pelo nome de xarque, Para esse fim submetli aestudo os seguintes quesitos:

I. Pôde o vibrião cholerigeno viver e proliferar no xarquenao esterilisado? No caso affirmativo quanto tempo?

II. Pode o dito vibrão viver e proliferar no xarque es-terilisado.III. Pôde viver e proliferar no caldo esterilisado preparadocom o xarque?IV. Qual a influencia do chlorureto de sódio em soluções

saturadas sobre a vida do mesmo vibrião?Aproveitei o bacillo cholerigeno isolado pelo professorChapot Prévost, epor meio das fezes de uma doente de nome

Ignacia, acommettida de cholera-morbus e em tratamento nolazareto da cidade de Rezende, do que dei conhecimento aoSr. Dr. director do Instituto Sanitário Federal, e com ellefiz as experiências e observações que me poderiam dar a so-Iução do ponto arguido. Em tempo com prazer vos declaroque taes estudos foram realisados no laboratório particular doDr. Oswaldo Cruz e em commum com elle. Eis a summados ensaios praticados, apenas no que interessa mais a intel-ligencia da parte final.

Dia 29 dezembro de 1894Foi tomado um fragmento do xarque e com o fio da platinanelle depositada, em determinado ponto, uma gotla de uma

cultura em solução de peptona inoculada no dia 24. O tubode ensaio, em cujo fundo foi collocado o pedaço de xarque,conservado na estufa a 36'.

Dia joEm um tubo de Roux foi collocado um pedaço de xarque

estinlisado a uo- por 30 minutos e depois inficionado comuma cultura em agua peptonisada feita a 24.

Foram tomados 80 gr. de xarque em pedacinhos, digerido?em .60 cc. de agua esterilisada a banho-maria, coado o produeto em um panno e esterilisado a 100o por uma hora.

— ai8-

A 100 cc. água esterilisada, saturada de chlorureto de sódio,juntou-se uma gr. de peptona secca, filtrou-se e submetteu-seo produeto á esterilisação a 120o por 30 minutos e distribuiu-seem matrazes cylindricos Pasteur, um dos quaes foi inoculadocom cultura do bacillo-virgula a 24 em água peptonisada. Otubo de Roux c as matrazes inficionadas foram collocados noincubador.

Dia yiDo xarque inoculado a 29 foi retirada uma partícula do pon-

to inficionado com agulha de platina e inoculado em soluçãode peptona e chlorureto de sódio a 1 °/0, que é a que nos temservido. Foi inoculada outra matraz com a solucção saturadado Na Cl. a 30. Com uma partícula do xarque esterilisadoe inficionado a 30 foi inoculado um tubo de agar-gelatina.

2/4 solução saturada de chlorureto de sódio inoculada a 30conserva-se estéril.

Filtra-se o caldo do xarque começado a 30 e divide-se emduas partes: uma guardada em tubo tal como vè-se da pre-paração, com reacçao ligeiramente ácida, qual a do xarque emnatureza, e outra em balão, é alcalinisada; e tudo de novoesterilisado a 100o por uma hora. A's 5 horas da tarde foi in-Acionado o tubo do caldo de xarque natural, ácido portanto,com o germen de uma cultura de 24 em solução de peptona.As substancias nutritivas inoculadas foram collocadas na es-tufa incubadora.

Dia 1 de janeiro de 1895O caldo do xarque natural ácido inoculado ás 5 horas da

tarde de 31, examinado ás 10 horas da manhã, apresenta seturvo e uma gotta-pendente indica tratar-se de uma culturapura com abundancias de vibriões cholericos, muito moveis.Os demais meios inficionados com o germen cholengeno perma-necem estéreis, e assim também continua a solução saturada dechlorureto de sodío. E' bom notar que o caldo de xarque na-tural continua ácido.

A' 1 hora da tarde são ieitas as seguintes operações;

— 219 —Tomaram-se fragmentos dc xarque e da respectiva partegordurosa adherente, emergiram-se em uma cultura pura doKommabacillustm sol. peptona feita ás io horas e 45 minu-tos da manhã de 31.Dahi se fizeram quatro tubos de Roux, dous com fragmen-tos (um cada tubo) da parte musculosa A e B, c dous comfragmentos da parte gordurosa, C e D; além disso, mais quatrotubos esterilisados que ficaram descobertos, sendo dous comcarne E e F e dous com gordura G e H.Foi aberto um pedaço de xarque em forma de livro e dentrometleram-se quatro fragmentos inficionados, dous de carne edous de gordura (crystallisados de Petei n. 1).Quatro outros pedacinhos de xarque, dous de carne e dousde gordura, iníicionados.tambem com o vibrio cholerce indico,foram collocadas entre dous pedaços grandes de xarque emcontacto pelas superfícies (placa ... 2)•Em um tubo de ensaio esterilisado foram collocados comotestemunhos vários fragmentos de xarque, parte musculosa eda gordurosa.Foram postos no incubador a 36° os tubos A, C, E e Gbem como as placas ns. 1 e 2; e abandonados na temperam-ra do laboratório (27° cent. á 1 hora da tarde) os tubos B, D,

E' inficionado um balão contendo caldo de xarque alcali-nisado.Dia 2

A reacção da cultura em caldo de xarque natural, no tubo,continua ligeiramente ácida.O balão de caldo de xarque alcalinisado, inoculado a 1, estácom uma cultura exuberantemente profuuda, tendo na superfícieliquida um espesso véo branco, homogêneo.Esta proliferação foi mais abundante que no caso do caldode carne em geral empregado.

^ Dos pedaços de xarque contidos nos tubos A, B, C, D, E,F, G e H, nas placas ns. 1 e 2, retirou-se ás 12 horas do dia,'

— 220 s—

com instrumentos esterilisados na chamma do gaz, partículasque são lançadas em tubos de caldo; fazendo-se outro tantoa um fragmento do tubo testemunha.

Todos estes tubos novos são levados á estufa ficando osoriginaes como anteriormente, uns fora outros dentro delia.

Os meios nutritivos injicionades a yo e i com xarque esterili-sado e não esteritisado e com o sal saturado de chlorureto desódio peptonisado não apresentam cultura, achando-se de todotransparentes. A cultura no tubo de caldo natural inoculado a31 apresenta na superfície uma pellicula ou véo branco.

Dia 4Exame dos meios inoculados a 1 com fragmentos de carne

e de gordura, por meio de preparados corados com fuschina,A, B, C, D, E, F, Ge II, das placas ns. 1 e 2 e do tubo tes-temunho, tudo em tubos de caldo; exame á 1 hora da tarde.

A. Bacilios grossos, rectos e unidos dous a dous, ou iso-lados, sendo os duplos muito menores.

B. Bacilios rectos idênticos aos observadores em A; bacil-los curvos de aspecto variável, 'uns perfeitamente idênticosaos das culturas pura do cholera e bem corados, outros iguaesa estes, porém cm massas e mal coroados, ainda outros for-mando cadeias ou semelhando a raiz de certos vegetaes, ecutros apresentando pontos estrangulados. Tudo faz pensarque se trate até de formas de transição; em um mesmo pontoda preparação havia bacilios curvos bem e mal corados, ou-tros estrangulados, estreptobacillos e fôrmas de involução.

Ha tambem na preparação um bacillo curto e volumoso.C. Bacilios finos e longos, isolados; outros curtos, dous a

dous e biconicos, raros isolados.D. Alguns bacilios curvos e outros espirolados muito mal

corados. Ha espécies cujos curvaturas estão muito afastadas,umas das outras (!) e outras muito juntas. -

(!!) Notam-se bacilios que teem uma chanfradura nas extre-midades, á semelhança do do carbúnculo. Ha muitos bacilioslongos e grossos inteiramente corados, com pontos inteira-

— 221 —

mente claros em sua extenção, á maneira de esporos. Ha pon-tos em que se vêem exclusivamente bacillos curvos, muitopequenos e mal corados.

E. Bacillos oblongos e parecendo csporulados. Estreptoba-cillos que parecem encapsulados. Estaphylococcos, bacillosfinos e longos; outros volumosos e longos, de extremidadesarredondadas, em geral formando cadeias, apresentando douse mais pontos brancos não corados em seu interior. Teem-seainda, raros bacillos curvos, grossos.com pontos claros nãocorados.

F. Bacillos curvos que parecem ligeiramente diminuídos devolume e fracamente corados; outros bacillos rectos muito car-tos; e ainda outros longos muito espessos. Além disso,.ha es-taphyllococcos. .

G. Raros bacillos curvos muito pallidamente corados eabundância de bacillos rectos e finos, uns curtos e outros lon-gos.

H. Bacillos rectos.Placa n. i. Bacillos rectos. Um grosso e grande bacillo es-

pirolado muito mal corado, tendo alguns pontos completa-mente claros.

Notam-se raros bacillos curvos, volumosos, de collocaçãomuito desigual, com vários pontos inteiramente claros; de-mais disso coecos.

Placa n. i. Bacillos rectos e coecos.Testemunho. Bacillos rectos, finos, uns longos e outros

curtos; alguns grossos mal corados e ligeiramente encurva-dos, inteiramente idênticos aos da placa n. i.

Dia 5Com todas as culturas em caldo feitas com fragmentos de

xarque inficionados e lambem o tubo testemunho, foi ensaiadaa reacção indol-nitrosa, que se manifestou negativamente; ex-cepto com B, E e F, com os quaes foi duvidosa.

Foram inoculadas tres matrazes Pasteur, contendo caldo;com partículas dos tubos primitivos A e B e da placa 2.

SERÍE IV ANNO XXVI VOL. V. 41

.?*;

*- 322 —

Z)/.l6Os caldos inoculados a 5 com fragmentos de A, B e placa 2

se apresentam turvos.Com as culturas dos tubos de caldo inoculados a 5 com

fragmentos de. A, Be placa 2, são feitas preparações coradasás 12 heras do dia, as quaes dão o seguinte resultado:

A. Cultura quasi pura de um bacillo curto, um pouco es-pesso, mais fino nas extremidades e com espaço claro no cen-tro (o).

B. Além de bacillos, longos, grossos, munidos dous a dous,nota-se grande abundância de homabacillos, fortemente cora-dos pela fuschina.

Placa 2: Encontram-se raros bacillos curvos, bem corados.Longos bacillos, ligados constituem longos filamentos; ou-tros bacillos se vêem, grossos e longos.

—Com a cultura de B feita a 5 foi ensaiada a reacção in-dol-nitrosa com os ácidos sulfurico, azotico e chlorhydrico, aqual não foi patente.

Da cultura em caldo feita a 5 com um fragmentosinho dacarne do tubo B foi inoculado um tubo de gelatina liquida.

Dia 10Com pedacinhos de xarque retirados com os devidos cui-

dados da. placa 2 e do tubo B são inoculadas duas matrazescom agua peptonisada a 1 %. Das matrazes inoculadas a 5com fragmentos de B e placa 2 são feitas transplantaçõespara outras duas contendo solução de peptona esterilisada.

O tubo de gelatina liquida inoculado a 6, apresenta umapellicula na superfície da gelatina, a qual pellicula,pch provamicroscopia, é constituída de bacülos-virguias em tudo iguaesaos do cholera-indiano (B—1).

Das matrazes de B e da placa 2, inoculadas a 5 são feitospreparados corados que demonstram o seguinte: B. Bacillosrectos e longos e raros curvos; placa 2. Apresenta uma cul-tura que parece pura, de longos e grossos bacillos, os quaesapresentam em differentes pontos espaços não corados, ar-

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redondados, sendc as bordas dos bacillos mais salientes emtaes pontos. Grande numero de taes bacillos apresenta umaligeira curvatura e outros teem-na accentuada.

Via 11O tubo de gelatina liquida B1 com uma bella pellicula nasuperfície serviu para uma transplantação para a solução de

pcptona, Com esta cultua em gelatina a reacção indolnitrosaficou duvidosa. A transplantaçso foi feita ás io horas e 30minutos da manhã.

Dia 12As substancias nutritivas inoculadas a .0 apresentam proli-feração, tendo . s dous matrascs inoculados com B um véobranco na superfície liquida (sendo no que foi inoculado como caldo de 5 muito perfeito o veu).Em preparados corados notam-se o seguinte:B (inoculação feita com o caldo de cinco)-Trala-se aquide uma cultura abundante e quasi pura do vibrião dc Kock

B (inoculado com xarque a 10). Bacillos rectos bem desen-volvidos e volumosos e tetrogenos; não ha bacillos curvos.Com a cultura B transplantada do caldo dt cinco foi tentada areacção indolnitrosa, que só foi positiva com o ácido azotico.

Placa n. a(inoculada em calda a i9)-Raros bacillos rectos,em regra unidos dous u dous; diplòcoccus.

Dia 14O exame do matraz B (agora peptonisado) em que se deitou

a 10 fragmento de carne inficionada, apresenta uma espessis-sima pellicula, accidentada e não homogênea.

Um preparado corado demonstra alli a presença de nu-merosos bacillos rectos, volumosos, com espaços não cora-dos, e bacillos delgados, longos.

Nào é demais dizer aqui que o xarque utilisado nestes estu-dos é de procedência platina.

Julgando ter feito este trabalho dentro do menor prazopossível, submetto á vossa consideração as seguintes conclu-ôões;

— 224 —

IO vibrião cholerigeno pôde viver e proliferar no xarque não

esterilisado durante cinco dias; no fim de dez dias elle não émais alli encontrado.

II• O vibrião cholerigeno não vive no xarque esterilisado.

IIIO vibrião cholerigeno vive c prolifera bem no caldo natu-

ralmente ácido de xarque; e exhuberantemente no dito caldoalcalinisado.

IVO vibrião choierigeno não vive nas soluções saturadas de

chlorureto de sódio peptonisadas.Rio dc Janeiro, 14 de janeiro de I895.—Dr, F. Fajardo.

CLINICA MEDICA.» Contribuições ao estudo do trata-

mento de ankylostomiase

peloDr. Hawelburg

Nos últimos dois decennios, as propriedades vitaes do an-kylostoma foram estudadas com muito interesse, e comgrande zelo foi investigada a sua importância, como causa damoléstia.

Antes do mais devemos dizer que foi Dubini quem primei-ro descreveu este parasita, encontrado em cadáveres. A suaexistência foi tambem verificada no Egypto, por Pruner eBilharz, sem que estes attribuissem ao parasita a causa dagrave anemia.

Este importante progresso devemos á Griesinger, que comtoda clareza demonstrou as suas relações de causalidade coma moléstia, chegando logo depois a ser confirmada esta opi-nião no Brazil por Wucherer da Bahia. A mesma opinião foi

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sustentada em 1875 pelo meu distineto collega e amigo Dr.Azevedo Lima em sua these inaugural, pelo Dr. Ribeiro daLuz e por outros, que então encetaram as suas lides médicas,contra a doutrina em voga, que entendia ser a moléstia devi-da á má alimentação e a outras causas deprimentes. A diver-gencia continuou, porem, predominando a idéa de que estaanemia prolunda era especifica, intertropical.

Ao construir-se o tunnel de S. Gottardo, começaram a ap-parecer nos intestinos de cadáveres de trabalhadores os an-kylostomas, que foram logo reconhecidos como causa da mo-lestia ahi reinante e que por isso era chamada «moléstia dotúnel». Este facto fez redobrar os esforços e conseguiu-seachar vestígios desse parasita nas montanhas da Sardenha, daHungria, etc, cujos pacientes passavam por soffrer da «mo-lestia das montanhas».

Vê-se que a mesma moléstia recebia denominações diffe-rentes e era attribuida a causas também differentes, conformea localidade em que apparecia e os hábitos de vida dos doen-tes; mas pouco a pouco foram sendo ligadas a uma causaúnica. A este parasita e á ankylostomiase o nosso amigoLutz, que também trabalhou no Hospital dos Lázaros, dedi-cou uma excellente e minuciosa monographia, em que compen-dia todos os conhecimentos e observações referentes a este as-sumpto até então (7885).

Depois delle, Leichtenstern continuou, com outros autores,a estudar a questão, encontrando o ankytostoma nas proximi-dades das olarias, perto de Cologne, e attribuiu a estes acausa da „molestia dos oleiros". Nessas circumstancias oankylostoma perdeu os foros de. intertropical e tornou-se umparasita cosmopolita, que se encontra quâsi em todo mundo.Para os oleiros e para os trabalhadores de tunneis e de minasparece quasi uma moléstia profissional.

A fôrma especial de anemia, que nós consideramos aqui eque se impõe também aos profanos como differente da verda-deira chloro-anemia, é conhecida já no Brazil desde muito

— 22Ó <—• ¦

tempo e é distinguida pelo vulgo da anemia commum sob onome de opilação. Já em 1648, Pizon, em um trabalho intitu-lado—©e medecina braziliense citou esta moléstia com estenome; porém gerelmente attribue-se a sua primeira noticia aopadre Labat, da Gaudeloupe, em 1742.

No Hospital dos Lázaros, o ankylostoma foi muitas vezesencontrado como uma causa que, concomitantemcnte com alepra, concorre para produzir a cachexia; por isto fomos leva-dos a despertar a nossa attenção para este assumpto. De 46doentes do sexo masculino, encontrou-se o ankylostoma em 22casos, isto é, 48 0/0; de 21 do sexo femenino, 7 casos, isto è,33 0/0; no total dc 67 indivíduos; 29 'casos* Isto quer dizer,que 40 0/0 de todos os doentes soffreram, além da lepra, daankylostomiase.

O exame das fezes, quanto aos ovos do ankylostoma, é re-almente fácil e rápido, e o resultado certo.

Todas as vezes que repeti o exame dos casos suspeitos,obtive sempre o mesmo resultado. Só uma vez falhou-me aexistência dos ovos, que pude reconhecer depois-

Em casos graves, encontra-se sempre em abundância emcada campo microscópico os ovos característicos. Pôde aconte-cer que de vez em quando, pela cifra dos ovos, um caso li-geiro se imponha como um caso grave e vice versa. A quali-dade das fezes e o numero das evacuações diárias têm no casovertente grande influencia. O resultado, assim obtido, devesorprehcnder.

Lepra e ankylostomiase nada tem de commum; são moles-tias que evoluem independentemente uma da outra.

Os doentes admittidos vêm de differentes logares, do interiordeste vasto paiz. Este facto demonstra que disseminação geraldeve ler o ankylostoma, quando vemol-o em indivíduos pro-cedentes de differentes logares e por acaso reunidos em umhospital.

E4 fora de duvida que a infecção não faz se no hospital; seassim fosse, todos os habitantes, quer doentes, quer não, te-

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riam adoecido de ankylostomiase, o que é contra a observa-cão. Os doentes não têm occupação alguma que os.leve a tocara terra; bebem água que vem do reservatório geral que abas-tece a cidade. Os dejectos vão para o esgoto geral; não ha,pois, qualquer base para se attribuir a infecção á residênciano hospital. Não consta que tenha sido feita observaçãoidêntica em algum outro estabelecimento hospitalar do Rio deJaneiro ou do paiz. Ao nosso hospital dirigem-se indivíduosde differentes procedências c occupações, da mesma fôrma quea outros estabelecimentos, e por isso estamos inclinados apensar que a mesma porcentagem resultaria com referencia aestes.

Classificados os doentes opilados, quanto á idade, temosrDe io a 20 annos 6

20 a 30 "

30 a 40 '• __ 6"40 a 50 ""5° a 60 " „._..

4" 60 a 70 "

Da observação clinica particular podemos accrescentar di-veisos casos em creanças de menos de 10 annos; o menor ti-nha a idade de 8 mezes e pertencia a uma família de nômadesDevemos mencionar que nas fezes dos opilados a que nosreferimos, foram encontrados, de par com os ovos do anky-lostoma, também da toenia solium, ascarides lombricoides edo tnchocephalos.Seria interessante indagar a procedência dos doentes no to-cante ao logar em que elles se infeccionaram.Em geral, não foi difficil sabel-o ao certo, porquanto os do-entes, antes de darem entrada no hospital,linham tido demoramais ou menos longa em certo logar.Do Estado do Ceará trouxe um destes doentes os seus an-kylostomas; de differentes regiões do Estado do Rio de Janei-ro, 7; o vasto território de Minas Geraes deve ter differentesfocos de ankylostomiase; 8 adquiriram lá parasita, não só na

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parte de Oeste, como também ria de Leste. Entre outros,tam-bem nas visinhanças das ciJades de Ouro Preto e Juiz deFóra. E* curioso que6 doentes, entre os quaes 3 menores, de-vem ter-se infeccionado nesta cidade ou nos seus subúrbios,de onde nãotêm sahido, pelo menos a 12 annos. lá menciona-mos que o ankylostoma foi observado na Bahia. Sua existêncianão é rara em S. Paulo. Foi principalmente là que Lutz fez osseus estudos e um de nós o viu freqüentes vezes em Santos,onde uma não pequena parte de opilados veiu das colôniasallemães do Estado de Santa Catharina (Joinville), onde estaanemia especifica é tão freqüente, que a chamam «moléstia dacolônia». Esta vasta disseminação permitte-nos acreditar queo ankylostoma é um parasita existente no vasto território doBrazil e que constitue uma causa de moléstia, capaz de affligire mesmo de pôr em perigo os seus habitantes, principalmenteem certas zonas e em certas classes.

Já dissemos, que o ankylostoma ataca de preferencia os tra-balhadoresde olarias e de minas. Investigados os nossos do-entes, qvanto ás suas occupações, chegamos ao resultado se-

guinte:Dos que trabalham com barro para tijolo l

exclusivamente em lavoura de café. 0mixta 8

em constrocções de linhas de estradas de ferro 1em criação de animaes e em pepuena lavoura 3em horticultura (em Santa Thereza, Rio) 1

Menores sem occupação 3Com informações insuficientes 3

Ficam ainda 3 casos muito duvidosos quanto ao modo deinfecção:

l. Pedro, solteiro, de ?5 annos dc idade, dos quaes 33nesta cidade e 7 mezes no hospital. Foi servente dc uma lojade calçado e cocheiro durante algum tempo. Nunca trabalhoucom terra.

a* Floriano, casado, dc 40 annos dc idade. Durante 13 an-nos esteve empregado n'uma venda e 11 mezes trabalhou nas

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— 229 ~

mattas do Amazonas na extracção da borracha, de onde voltoupara de novo empregar-se na mesma venda, no Ceará, porespaço de 6 annos, de onde veio para o hospital.

V Ventura, solteiro, nascido no Rio de Janeiro, de ondenão sahiu uma sô vez. Occupava-se no serviço de ferreiro.

Do referido colhe-se que o solo próprio para a cultura docafé deve reunir, entre outras propriedades, a de ser um habi-tat favorável ao ankylostoma e que também o solo em que sefaz a cultura do arroz e outros cereaes está nas mesmas con-dições.

Estas conclusões estão de accôrdo com as observações pes-soaes de outros que se têm entregado ao estudo deste as-sumpto. Nos districtos cafeeiros 'de

Minas, Espirito-Santo eRio de Janeiro, assim como nos em que se faz a lavoura dacanna, encontram-se muitos trabalhadores, que, pela côr decera velha do rosto, pelo ligeiro edema dos membros inferi-ores e das palpebras, pela côr opalina das conjunetivas, daabobada palatina e da lingua, pelo abahulamento do ventre erespiração accelerada, permittem fazer o diagnostico á distan-cia, á simples vista e sem microscópio.

Esta gente aqui fala da opilação com tal desprendimento,como os oleiros opilados na Europa, conforme as observa-ções pessoaes de Leichtenstern.

A opinião de que o ankylostoma ataca dc preferencia ospretos, está fora de questão; não poupa de preferencia uns aosoutros. Não ha immunitlade para o ankylostoma. Se no ma-terial europeu os atacados eram na sua maioria mineiros eoleiros, è isto devido a que pessoas em melhores condiçõessociaes não vivem em contacto com o meio perigoso—a terrainfeccionada. Condições idênticas observam-se no Brazil, nocaso de expor-se qualquer ao meio capaz de infeccionar. Porconseguinte o ankylostoma ataca também indivíduos, que,conforme o genero de trabalho e o modo de vida, se associamaos que arroteam a terra. Os opilados das colônias allemãesentregavam-se a differentes oecupacões, artistas e creados.

— 2}0 —

Não é só a occupação, é tambem o modo de vida, que possi-bilita a infecção.

O circulo vicioso quanto á ankylostomiase è bem visível:diversos opilados depoêm as fezes no campo, de modo queovos numerosos ficam em outras condições e em outro meio,do qual depende a possibilidade do desenvolvimento ulterior.A argilla e o húmus têm uma influencia lenta para o seu de-senvolvimento; o barro de tijolo favorece-o muito. O estadofluido da substancia de cultura actúa tambem lenta e destrui-doramente, porém uma certa humidade e temperatura de 25 a30 gráos são condições excellentes.

Parece muito provável que o solo, que se presta á cultura docafé e outras culturas brazileiras, è muito próprio para o an-kylostoma. A qualidade favorável, quanto á humidade do solo,como tambem a temperatura conveniente existem no climatropical; mas em outras condições menos convenientes, mes-mo em seceura c frio, a larva se conserva viva na sua cápsulade chitina, encrustada de saes de cal. Em certo período doseu desenvolvimento rhabditiforme, as larvas, quer encapsu-ladas, quer no estado livre,são levadas ao tubo intestinal e ahidesenvolvem-se em uma geração parasitaria madura e entãocm ankylostoma perfeito.

E* pouco provável que as larvas sejam ingeridas por meioda água que è, como dissemos, um meio desfavorável. Quan-to aos oleiros, é certo, que a infecção se faz, quando comemcom as mãos conspurcadas com terra infeccionada. De igualmodo pode explicar-se a ankylostomiase dos mineiros.Schopf,baseando-se em observações colhidas cm minas da Hungria,sustenta, que a infecção realisa-se pelo ar, quando agitado portiros para quebrar rochas, ou pelo ar que o ventilador agita dofundo da mina para cima. Resta ainda um certo numero deopilados que não se infeccionaram nem em olarias, nem emminas. Leichtenstern conseguiu n'um caso demonstrar a ma-neira como fez-se a infecção: tratava-se de um trabalhador dasmuralhas de Cologne, que infeccionou-se com terra, em que

— 2?! —

com grande probabilidade um opilado reconhecido deixoucom as fezes, os ovos perigosos. Felizmente o solo das mu-ralhasnão era favorável ao desenvolvimento das larvas* senao, ter-se-hia manifestado uma endemia de anemia de'ea-racter grave. E' licito crer que, o que não realisou-se em Co-logne, real.sc-se em larga escala no Brazil.Os nossos exames demonstram que ha um grande numerode pessoas portado,as de ankylo.tomas, que vivem nas cida-des pouco escrupulosas, que, depositam as fezes nem semprenos logares apropriados e não cuidam da sua roupa eontami-nada. A relação dessas pessoas com o solo é muitas vezes di-recta, pois que vivem em terreno chão, sem soalho; as pare-des das casas são feitas de barro.simplesmente amassado queentretem sempre tal ou qual humidade. A limpeza em -eral c

principalmente a das mãos, deixa muito a desejar; nessas cir-cumstancias observamos sempre nas cidades, logares própriospara o desenvolvimento dos ovos do ankylostoma. Numero-sas eventualidades, que se offereeem ao morador de taeschoupanas, possibilitam a infecção directa.Sendo a ankylostomiase uma moléstia que intlue muito

para enfraquecer os doentes, ou mesmo letal, oíTerece-se aquium campo vasto, onde medidas de prophylaxia podem e de-vem ser tomadas com facilidade e com proveito.Sabe-se que os ovos do parasita não se desenvolvem per-feitamente no tubo intestnial do doente e que a sua prol.fera-çao depende de uma nova importação; assim deve se pensarque, existindo para qualquer vida orgânica um fim,tambem osankylostomas pouco a pouco devem suecumbir no interior ed^ahi resultará para o seu portador uma cura espontânea. Talacontecimento foi por um de nós observado em um moço teu-

to-brazileiro, em Santos Repetidas vezes foi instituído trata-mento para a expulsão dos parasitas. O estado gerai do doen-te melhorou, mas a eliminação dos ovos continuou. O moçomudou de vida, indo ser artista em outro logar; nào se medi-cou de então em diante. Examinando-lhe muitas vezes em

— 2J2 —

i886 e 87 as fezes, tive resultado negativo. Aqui trata-se deuma cura espontânea.

Quanto tempo então conserva-se vivo o ankylostoma nosintestinos ? Sonderegger diz, 2 annos; Perroncito, 5; Leich-tenstern cbservou doentes que hospedaram o parasita pelomenos 3 annos. O nosso materiel responde a esta questão dcum modo surprehcndente. Dando como certo que a infecçãorealisa-se antes da entrada dos doentes no hospital, podemostomar a demora delles como termo da comparação. Dos opi"lados, residem no hospital;

13 ha 9 mezes 1 ha 4 1/2 annos4 — 1 a 2 annos 2 — —

— 2 a 3 annos 2—6 —

— 4 annos 2 — —Por consegumte, o ankylostoma só nos dous últimos não

pode deixar de ter existido em prazo inferior a 7 annos.E' ocioso dizer que, nas condições bem determinadas da

ankylostomiase, a nossa observação não offerece motivo ai-gum para suspeitar, relativamente a esta grave anemia dt umoutro agente que não o próprio parasita, sendo pouco os au-tores que sustentam opinião diversa. Nos logares em que de-senvolvem-se os ankylostomas, tambem ha as condições parao plasmodio da malária e suas variantes. Simultaneamente omesmo indivíduo pode ser acommettido pela ankylostomiase epela malária; para debellar cada uma d'estas moléstias é pre-ciso recorrer aos específicos relativos. Pequenas doses dc qui-nino c de preparado de ferro podem curar a malária e melho-rar a hypoemia intertropical, mas não cural-a; ao passo queesta cede só aos vermifugos, independentemente de outrosmedicamentos.

Não è só a perda directa c indirecta do sangue, produzidapelas picadas do ankylostoma, que determina a anemia pro-funda; concorre tambem para este resultado o catarrho intes-tinal extenso e as suas conseqüências, taes como a modificaçãoda secreção dos suecos intestinaes, e tambem a anorexia. Lus-

— ^3? —

saFelice julga não ser bastante, para explicara anemia, aperda de sangue, em vista da força regeneradora do organis-mo humano, e attribue a uma toxina especial, segregada nosintestinos dos doentes pelo próprio verme, uma influencia es-pecifica. Zappert achou tambem que na ankylostomiase a di-minuição da hemoglobina não está em parallelo com a cifrados corpusculos rubros do sangue, que é maior; deixa,porémindecwo si se trata de uma irritação intestinal, se de umaacção tóxica.

A ankylostomiase, mesmo em periodo muito adiantado écuravel pelos anthelminticos. Estes parasitas intestinaes sãomuitas vezes rebeldes aos meios mais adequados. No tocanteao tratamento usual devemos dizer o seguinte: elles não emi-gram, como os outros parasitas, do seu habitai, de um sójacto. E' muito recommendavel a indicação estabelecida porLutz, de iniciar o tratamento dando previamente calomelanosou oleo de ricino com intuito dc diminuir o catarrho intestinale deste modo facilitar a acção mais directa do anthelminticosobre o parasita. Grandes doses de extracto de feto macho,até 40 grammas por dia, aproveitam tanto como grandes dó'-ses de thymol (10 até 15 grammas). Fica sempre no tubo in-testinal um numero maior ou menor de parasitas, principal-mente dos mais novos. D'ahi resulta uma melhora ephemera.As grandes dóses.acima citadas, não deixam por outro lado dcinspirar receios.

A cura completa, depois de uma ou duas applicaçòes dosremédios, de que falam os autores, infelizmente não observa-mos. Entendemos que deve constituir regra e repetir o remédioconveniente tantas e quantas vezes forem necessárias até odesapparecimento completo dos ovos nas fezes por muito tem-po. Quasi sem excepção os doentes oppunham-se a usar estesmedicamentos, mesmo quando administrados em cápsulas, al-legando máo gosto, náuseas, vômitos, catarrho do estômago,etc. Os pós dolearina e ferro do Sr. Peckoldt são pouco apro-veitaveis. Nestas circumstancias lançamos mão do c hiorofor-

mio, que já se havia mostrado lão eíficaz sobre outros hei-minthos e, no caso vertente, não desmentiu as esperanças nellefundadas. Applicamol-o da seguinte forma.

Chloroformio io grammas.Óleo de ncino 100 ''

Óleo de croton 6 gottas.Xarope simples 6o grammas.

para tomar, de manhã e em jejum, 1 colher de sopa de doustm dous dias. Esta prescripção pôde ser usada durante todo otratamento sem se decompor, nem causar qualquer incommo-do ao doente. Formam-se no vaso, que a contém, tres cama-das: na inferior, o chloroformio por ser o que tem maior pesoespecifico ; na média, o xarope e, na superior, o óleo. Destemodo a substancia efficaz não se evapora com o tempo. Antesde usar, é necessário agitar bem o frasco.Esta mistura foi per-feitamente tolerada pelos doentes. Uma a duas horas depois,o paciente tem dejecções. até certo ponto agradáveis, porquesoffrem de obstrucção intestinal. Em geral, não repugnam,mas, querendo, pôde-se modificar a fórmula, dando em cap-sulas o medicamento activo. Como pelos outros meios appli-cados, os ankylostomas foram eliminados em grande numeroe repetindo o medicamento bastantes vezes, a cifra dos ovosespecíficos foi diminuindo até desapparecer. Escolhemos parao uso desta medicação dez doentes, sendo duas mulheres eoito homens; destes, dous deixaram de tomar o remédio logoque melhoraram; os outros ficaram curados no praso máximode trez mezes. Foi prescripto uma vez a uma doente:

Chloroformio 3 grammasOleodericino 20 "

Óleo de croton 1 gotta.Notámos que se apresentaram alguns phenomenos geraes

devidos á absorpção do chloroformio, mas que cederam deprompto. Uma hora depois da applicação houve a primeiradejecção, na qual vinham ankylostomas ainda vivos. Estadose, apezar de elevada, também nào deu resultado definitivo,

r-y..v', -.*;;*,.;¦

— *15 -

porquanto, ainda dias depois, foram encontrados novos ovossendo necessário voltar a novas applicações, embora mais reiduzidas, que, finalmente, vieram libertar o paciente de hospe-des tão incommodos.Devemos mencionar que ultimamente na autópsia que tive-mos de praticar em um doente fallecido de outra moléstia, emcu)as fezes, duas semanas antes, tínhamos encontrado ovos deankylostoma, o que nos levou a empregar a medicação acima

ja nao encontrámos nenhum ankylostoma em todo intestino,não obstante o maior cuidado.No tratamento da aükylostomiase podem dar-se enganosNem sempre apparecem os parasitas logo depois do empregodo remédio; muitas vezes são eliminados no dia seguinte ounos subsequentes. Acontece muitas vezes que os ovos desap-

parecem sob a influencia medicamentosa para reappareceremdias depois. De tal modo, o observador pôde enganar-.esuppondo curados doentes, que entretanto ainda precisam de'tratamento. De accôrdo com outros, verificámos que em pri-me.ro logar são eliminadas as femeas.ao passo que os machosem virtude da sua localisação entre as pregas da mucosa, of-íerecem mais resistência aos meios empregados e.só depois dctratamento mais dilatado,é que se consegue por fim expelil-os.Para o clinico, este facto pôde servir de critério para avaliar amarchado tratamento e o resultado dos agentes empregadosisto e, quando nas fezes só se encontram os machos e não asfêmeas.

Um tratamento ulterior para combater a anemia e outrasconseqüências, resultantes da ankylostomiase, não é indíspen-savel; depois da expulsão dos entozoarios, a força regenerado-ra do organismo, auxiliada por uma alimentação apropriada,basta para trazer o completo restabelecimento do doente.

{Brazil Medico).

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A,uI3„o,&e'"Ii8|,eci,iC0 contra as moléstias do flgado, cachexia deremittentes e dyspepsias

o taSnSoto makpmi«H e £'Ia,aS ?rez chlorliydro-pepsicos constitueme MrtuXcOP?*Ste^d r dysP«Psias- da anorexia, vômitos da prenhezepcituroaçoesgastro-intestiuaesdas creanças e diarrhéas cbronicas.

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e E^tli??mníS»rS?T?1?e °.haíx e »««ny—As Pastilhas ChaixJtia SvxedeiffiPrtn hníf Tent0 do.my*edema, do cretinismo, da idi-Se,

™^edemalosa' d0 b0Cl°. <«a psonasis, do eezema, do lúpus, dá icthy-

a ílíídíS tÍvÍaíhÍSI0*? a?tx.c ftmV a5o s5o outra coisa senãobaíx?deMÍÍM^«5ecadtna t0«a|idade n'uma temperatura muitoffiítíXí ÍShíiS30.6 ?xa?e min«cios«* Elias encerram integral-mtnifi loaa a substancia da glândula thyroidetagenl: d3 mVroide Chaix e *«'»y apresentara as seguintes van-

os1climas8er«n"fLperreilam!n,e em todas as temperaturas, sob todosSfíOceS Í LrtmnlCe,8ea?raí*vei8de lomar* as creanças e as pessoascir eeraf aofm?H,íimfmu,to bem ao 8ea emprego; 3.segundo o pare-afpStuL?L^JMLfrance2e*eí8tran8elro<' qoe as tem experimentado,íJrvícaor?aZ7n£fe qaer como «egm-ançade acção, quer como con.1p?epara?ões. ^ ' nma vantagem notável sobre todas as outras

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M^TFÍfiJ*?.* d?ze!»*««'*«. Perdia,mim eníílindn^íflfao; ,As J»»""»»* de rAyroide CAayx e Remy se to-

P™ cT A Sivfr.PS? g0,?,íe *«**• de ,eite- de «m liquido qualquer.boratorínd?™J? !°° *,?SÍ,/A/M - 3 francos. ¦ Ken«ía por aÀUdo: ia-JíwS pÍi!%SuctolP^Mlogycos Chaix e Rerny,, 10 rua de 1'Orne,riPwyhSne M PbarmaC'a«- Endereço telegrapMco; Organiqnes Pa-

... ;.. ,-, .a.-.,-,,,.-., .,. ... ¦ -; ;V..,^;l.j.i ,..,».¦;..-

GAZETA MEDICA OA BAHIA|*übi,xcaç!q flíwmAlL

l^i^____FEraE//?0; 1895 N, 8

HYGIENE_PUBLiCA

«^r<^er d° conseltio Geral deSaudo Publica sobre o projecto doesgotos da Bahia(Continuação da pa?. 203)

C0LLECT0R GERAL OU EMISSÁRIO DOS ESGOTOSEstudando os tres traçados apresentados pelos proponentespara a directnz do grande coliector, a commissâo pede veniapara reproduzir algumas das ponderações dos distinctos pro-fissionaes que emittiram seu parecer sobre esta parte technicado projecto:•O primeiro traçado, esse de que cogita o edital e que vaeter ao bairro do Rio Vermelho, terminando o grande coliectorjunto ao Monte do Conselho, offerece um percurso deHcm.8oo eom o deelive de o»,oo, por metro e segue o valledono Camorogipe. »«O segundo, desviando-se em certa altura do valle do Ca-morogipe tomar „ ^ ^ ^^ ^ ^^ ^ ^^ponto terminal, o seu percurso é de 5 km.8,o, isto é, menorakm 970 do que o do precedente, e o deelive da circulação de

, 'ÍUT^\Par'Índ° daS Sete Portas' ^«4° Pdo valledo Rio S. Pedro, margem do Dique até o Moinho, vae ter aositio denominado Areia Preta, cuja immensa área se presta aquasquer construcções que porventura ahi possam ser projecta-das posteriormente no sen:ido do approveitamento dos resi-duos transportados.»

«O percurso n'esle ultimo caso é de 4 km,95o, guasi a me-SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. * me

tade apenas do traçado pelo Camorogipe, e o,km88o menosdo que o do segundo traçado, sendo o declive de om,oo6, odobro por conseguinte do declive pelo Camorogipe, e 50 %mais do que o declive pelo Lucaya.»

O collector dos esgotos deve ser lançado ao mar, alem doMoi.te do Conselho, a bem da hygiene e commodidade pu-blica.»

A única vantagem que se encontra na enviatura do collectorpara o oceano, em frente á Areia Preta é o seu menor percur-so, vantagem eita que desappareee ante as imposições dahygiene e da commodidade publica.»

«Em um emprehendimento da ordem do de que sc trata, oponto dé vista capital deve ser a sálubridade e nunca a eco-nomia n'êste ou n'aquelle traçado.»

«Assim sendo, e bastando perleitamente para o completodesideratum o declive de circulação de om,o«»4, porquanto nascondições normaes em que terá de realisar-se a rêdc dos cs-gotos, o diâmetro om,20, om,5o, e om,70, para os esgotos dasruas e ira,20 para a largura do collector, de typo oval, queterá então a altura quasi dupla de sua largura e adoptando avelocidade de om,75, a om,8o, para a correnteza dos líquidosn'esse collector, não sc darão accumulaçoes, porque a pro-gressão das matérias será eflicazmente auxiliada por forteschasses e portas de reclusas automáticas, a

De accerdj com estas observações da illustre commissão,preferimos o collector que com o menor percurso e o maiordeclive, vá desaguar no oceano, o mais longe possivel da ei-dade. O segundo traçado é o que mais se approxima d'estascondições.

A desembocadura dos esgotos deve ser no oceano, que é otúmulo dos microbios.na phrase de Arnould, confirmada pelasinvestigações de Miquel, e de Fischer que demonstram que oanirio mar largo é aseptíco.

Em hypothese alguma deve ser permittido o desaguamentodc qualquer collector, geral ou parcial, dentro d'este porto.

— *?9 —Todas as cidades que teem adoptado o péssimo syst ema delançar os seus dejectos dentro do porto são freqüentementevisitadas pelas epidemias, e para prevenir estas imoortaçõesepidêmicas é indispensável sanear o porto, melhorar e aPer-fe.çoar as condições da cidade, tornando assim o terreno refra-etário á penetração e proliferação do germen.«Um mcendio, dizia Fauvel, não é proporcional á faisca quelhe deu origem, mas á combustibilidade e aglomeração dasmatérias que encontra.»Alexandria, que despeja suas immundicies no porto da ci-dade, e um foco constante de irradiações epidêmicasMarselha, que trata hoje de reformar sua canalisação, tinhaum péssimo systema de esgotos, desaguando no porto da ci-dade, e transformando-o n'uma cloaca immensa, foco perma-nente de infecção.e dc exhalações mephiticasSua insalubridade, como a de Toulon, são bem notórias-as epidemias de cholera assaltam as sempre de preferencia.'A mortalidade annual de Maiselha éde 3, por ,000 habi-tantes, e em alguns districtos da cidade sobe a 47 Com oprojectado saneamento de Marselha, disse Proust, o conhe-e.do hygienista e inspector geral dos serviços sanitários da

frança, .este porto do Mediterrâneo deixará de ser um focode propagação para as moléstias infectuosas, indígenas e evo-ti cas.»

Em Toulon o canal de esgotos se abria tambem no portoinfeccionando-o com suas emanações pest.lcnciaes, e sabemtodos que estas duas cidades teem sido quasi sempre asportas de entrada das epidemias na França.

Na Bahia do Rio de Janeiro as boceas de esgoto do Arsenalde Marinha e do sacco do Alferes polluem tambem as águasdepositando nellas uma vasa immundá. O dr. B urel deRonciére, medico distineto da marinha franceza que por vezesvisitou o Brazil, publicou nos Archives de Medicine navale umartigo sob o titulo-La siation navale du Brésil et de laPlata, em que alludeaesta infecçàb das águas do porto do

— 24P ~*

Rio de Janeiro, e refere que o commandante da fragata fran-ceza, alli estacionada, fazia sempre demorar na bateria ascorrentes da ancora, antes de recclhel-as, afim de mandarlimpal-as da vasa de que ellas se cobriam, em espessa cama-da, viscosa e fétida.

A projecçãb das águas no oceano deve fazer-se em costadeshabitada e o mais longe possível de qualquer povoação, oque não se realisa na directriz pelo valle do rio Areia Preta,que iria levar o emunctorio geral a uma enseada arenosa,larga, de pouca profundidade, em cuja praia o fluxo e re-fluxo das marés estagnaria as águas carregadas de matériaspútridas, e produziria dentro de alguns annos uma polluiçãoimmunda, cobrindo essa bella e aprazível costa, destinada aser uma excellente estação balnear, de vasa infecta e pútrida,que aíugcntaria todos os moradores das círcumvisinhanças eestenderia pouco a pouco seus effeitos até os arrabaldes pro-ximos.

Teríamos aquelle quadro repugnante, que um distinetoescriptor francez, descreve na desembocadura do grande col-lector de Clichy numa das margens do Sena. «Navegávamos,diz elle, a bordo de um yatch a vapor no começo de agosto,e a menos que naveguemos no negro Cocyto, nenhuma ex-cursão deixara em nosso espirito mais espantosas reminis-cencias».

«Desde a desembocadura do collector entramos numa águasinistra, carregada de detritos orgânicos de toda a sorte,legumes, rolhas, pellos, cadáveres de animaes etc. Uma ca-mada de matérias graxas cobria a maior parte da superfíciedo rio, assim como os bancos de vasa formados sobre asmargens; o sol reflectia-se sobre ella e via-se o lodo reme-cher-se e burbulhar. No meio do rio enormes bolhas de gaz,que tinham até lm,5o de diâmetro, vinham rebentar na su-perficie; a cada pancada do helice do nosso pequeno naviolevantavam-se ondas d4cspuma infecta, era como uma ebul-lição na esteira do vapor».

,;e;«;*:<;>í'í

— 24! —•

«A direita e a esquerda derivavam na corrente espécies depequenas ilhotas formadas de matérias fecaes, rolhas, papeis,balsas estranhas sobre as quaes pullulava uma admirávelvegetação».

A desembocadura do grande collector deve ser alem do«Monte do Conselho; ahi o fluxo e refluxo agitadissimo dasmarés, o choque violento das ondas que se quebram contra asrochas pendentes sobre o oceano, certamente diluirão asimpurezas vomitadas pelo grande collector, e sob a acção doare da luz se oxydarão as matérias orgânicas dos dejectos ereahsar-se-á, fácil e rapidamente, o phenomeno da depuraçãonatural das águas, aselbslreinigung, que Pettenkofer demon-strou produzir-se nas águas em movimento, e que no oceanodeve effectuar-se com mais intensidade do que nos rios.parece-nos porem que a desembocadura do emissário dosesgotos ao pé do «Monte do Conselho», na garganta queexiáte entre esse morro e o do Grão xMogol não fica suffi-cientemente distante do arrabalde do Rio Vermelho, parapreserval-o da polluição de suas praias pelas matérias excre-mentidas, incompletamente diluídas, que seriam arrastadaspelo curso natural das águas na direcção daquella costanem resguardal-o das exhalações mephiticaó que poderiam'ser transportados sobre o povoado pelos ventos de S. E.que reinam freqüentemente naquella localidade.

E* necessário que a solução deste problema cerque-se detodas as garantias; que não sejam polluidas as águas da-quella excellente praia dc banhos com a projecção das im-mundicies da cidade, nem contaminada a atmosphera doprocurado arrabalde com as exhalações que se desprenderãoda enorme boca dc esgotos.

O Rio Vermelho é hoje um sanatório, procurado porgrande parte da população desta capital, e, como as locali-dades á beira mar, beneficia-se da pureza dessas corren'es dear aseptico que os ventos impclíem do alto mar para aspraias.

— 24a ws

Theoricamente devemos esperar que, diluídos como vão osdejectos em grande quantidade de água, e agitados pelavelocidade do liquido na rede dos esgotos e em toda a ex-tensão do collector, cheguem á extremidade deste quasi semcheiro; mas estas condições nem sempre se realisam de modocompleto, de sorte que muitas vezes sentem-se exhalaçõesmephiticas perto da bocea dos collectores.

No Rio de Janeiro o desaguadouro do 1 • districto terminavaa dous metros e meio abaixo do paredão do arsenal de ma-rinha, e apesar dos processos de desinfecção empregados, pro-dúzia tal desprendimento de gazes pútridos, que a compa-nhia Cirtif Improvements teve de mudar esse cano para dozemetros abaixo do nivel do mar, dando-lhe a extensão de 75metros.

A costa do Rio Vermelho que se estende além do Montedo Conselhn apresenta ainda dous morros, o do Grão Mogole o da Lagoa. Alem está a praia do mesmo nome, extensae arenosa, desprotegida de rochas e portanto imprestável parao desaguamento dos esgotos.

A commissão julga que seria conveniente estudar esta ex-tensão da costa, e prolongar o collector até maior distancia,fazendo-o desembocar além do Morro do Grão Mogol, queinterceptaria pela sua posição as exhalações trazidas pelosventos dominantes sobre a povoação próxima, e offereccriaalem disto uma superfície de costa rochosa mais extensa, vio-lentamente batida pelo mar e com grande profundidade ondea trituração, dilluição e oxydação das matérias orgânicas se fa-ria mais completa, de modo a tornal-as inteiramente inno-cuas ao chegar ao Rio Vermelho.

De accordo com a proposta, o collector ao entrar no marseria «construído sobre forte muralha de alvenaria defendidapor blocos ou parallelepipedos, formanio quebra-mar, numadistancia de 200 metros, contados do começo da praia, sendoos últimos cem metros construídos de ferro em chapa, for-mando um canal apoiado numa ponte de ferro».

Ahi será necessário estudar bem a direcção dos ventos rei-nantes nessa parte da costa, e coilocar a bocca do collector emdirecção tal, que o sopro destes não faça recalcar os gazes parao interior da canalisação.Com a solução que propomos para a terminação do emis-

sario dos esgotos, cremos que ficará mais garantido o arra-balde do Rio Vermelho.O exemplo allegado de Marselha vem em apoio de nossaasserção. No plano de esgotos desta cidade, conforme o pro-jecto Cart.er, apresentado em «88o e approvado pelo Comitê

consultivo de hygiene publica de França, com as modificaçõesde Guerard em 1890, a extensão do collector é de 12.11 -,-50.Este grande esgoto emissário, depois de receber as águas de'toda a cidade, do littoral e das aldeias suburbanas de SaintG.nier, Saint Marguerit e Mazargues, vae desembocar alémdas colunas de Marseille Veire na enseada de Cortiou.

«E1 o único logar da costa, diz o parecer do Comitê, ondesc pode lançar sem inconveniente semelhante collector».«A enseada dc Cortiou c com effeito uma costa abruptasem arvores, sem terra vegetal, deshabitada e inhabitavel'

São rochedos a pique, que pendem sobre grandes profundi-dades e contra os quaes passa uma corrente rápida, quesegue sempre de leste para o oeste, dirigindo-se ao sul dePlanier. Todas as matérias são arrastadas para o alto marsem regresso possivel».A menor extensão do collector também não pode ser umarasão de preferencia: o collector geral de Buenos-Ayres tem25 kilometros de extensão.Em questão de saneamento os motivos de ordem econômica

ficam em segundo plano.A's cidades, se pode dizer, na phrase de um distincto cs-cnptor:«Payez et vous serez assainies».

Não cabe neste parecer a discussão de detalhes que sópodem ser apreciados no plano definitivo, mas importa que

- 244 —

uma fiscalísação idônea garanta na execução technica a ob-servancia rigorosa dos preceitos hygienicos recommendadosno edital em relação á ventilação dos esgotos, aos materiaesempregados nas construcções e aos apparelhos e mais dis-positivos que deverão ser de superioridade incontestável,reconhecida perante a hygiene e a engenharia sanitária.

E' necessário que se observe com todo o rigor a regraestabelecida por Bailey-Denton e Durand-Claye, e que é con-dição essencial do systema:—que os esgotos sejam estanques.

Relativamente á cláusula u* do edital, julga a commissãoque em vez de adoptar-se nas sub-secções da Barra e Vi-ctoria o systema Waring com despejo para o oceano, alem dasQuintas, é preferirei, por muitas das razões já expendidasquando tratamos do collector geral, a adopção do systemaintegral, unilicando-se assim a rede de esgotos da cidade efazendo-a convergir para um emissário commum.

A este respeito podemos citar a conclusão formulada pelocongresso de hygiene, cio Paris, cm 1889. «O systema dedupla canalisação com separação das águas de chuva é com-plicado, inneficaz, dispendioso, e de uma conservação difficil.Deve ser condemnado todas as vezes que circumstancias par-ticulares nào recommendem sua adopção».

ABASTECIMENTO d'aGUA PARA O SERVIÇO DOS ESGOTOSPara o funccionamento regular do serviço dos esgotos, es-

pecialmente quando este serviço é feito pelo systema inte-gral, é indispensável um abundante supprimentod'agua.

Os proponentes pretendem fazer acquisição das águas daCompanhia do Queimado, cujos mananciaes julgam suffici-entes não só para o abastecimento d'agua potável a toda apopulação da capital, como para o serviço completo de suarede de esgotos.

A commissão entende que a íntendencia municipal deveexigir seguras garantias de que esse supprimento d'agua selaça com a abundância necessária para o serviço doméstico, oserviço publico e o serviço industrial.

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Comprehende-se que avultada deve ser a quantidade d'aguaque fornecem os mananciaes da empreza para prover:I.' O serviço particular, que comprehende a alimentação eos usos culinários, o asseio individual, a lavagem dos uten-sihos, das roupas, das casas, os serviços de banhos e doswater-closets, a irrigação dos jardins etc;

a.° O serviço publico, que comprehende a lavagem dos es-gotos, a irrigação das ruas e dos jardins públicos, o suppri-mento dos chafarizes, dos water-closets e mictorios públicos,das boceas de incêndio, etc;

•}.° O serviço industrial, em que este liquido serve, oracomo vchiculo, ora como matéria prima, como simples meiode lavagem, ou como força motriz alimentando as machinas avapor.Si é verdade que para o serviço industrial não carecemos

ainda de grande quantidade d'agua, em compensação o ser-viço doméstico e o serviço publico, pelas condições do nossoclima, a exigem em muito maior quantidade do que nas cida-des europeas.

«A quantidade d'agua necessária a uma cidade, diz JulesRochard, não depende somente do numero de seus habitantes-depende egualmente do clima, dos hábitos e das condiçõeslocaes».

*E' pois impossível estabelecer uma escala de proporçãobaseada unicamente no primeiro destes elementos; mas po-de-se fixar 'um mínimo, abaixo do qual não é permittidodescer, sem faltar às leis da hygiene e comprometter a saudepublica. E ainda mais, quando se trata de prover uma cidaded'agua que lhe é necessária, deve-se ter em vista o augmentofuturo da população e de suas exigências crescentes».

«O consumo augmenta em toda a parte, em proporçõesque não se suspeitava outrora, e excede rapidamente as maislargas previsões. Paris offerecc a prova deste asserto. Em1879 havia somente 7986 metros cúbicos d'agua para distri-buir a seus 600,000 habitantes, o que dava 11 litros deSERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 45

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ração quotidiana a cada um, e ninguém se queixava. Hojetemos 550,000 metrcs cúbicos que dão ;oo litros por pessoa*e achamos que não é suficiente. O governo acaba de sub-metter ás câmaras um projecto de lei tendo por fim augmentara quantidade disponível com mais 110,000 metros cúbicos.Talvez quando os trabalhos estiverem terminados, não sejulgue ainda bastante. E' que, com effeito, acontece com aágua o mesmo que se dá com todas as cousas boas: quantomais se usa dc.llas mais se deseja usar. Nada estimula o con-sumo d'agua como o tcl a á mão. A distribuição em todos osandares das casas, o estabelecimento das salas de banhosem todas as construcções novas de alguma importância, ageneralisação do «tudo ao esgoto», que exige mais 10 litrosd'agua por pessoa e por dia, tudo isto vai determinar umaccrescimo do consumo, a que os 1:0,00o metros cúbicos daderivação nova não bastai ão talvez, quando ella chegar aParis».

Os proponentes não ofTerccem dados precisos para avaliar-sea quantidade d'agua que podei ão fornecer diariamente, ecalcular-se a proporção de litros relativamente á populaçãodesta capital.

Numa parte da memória justificativa (pag. 80) dizem elles:• O volume d'agua de que a cidade deve ser dotada, se-

gundo os nossos planos e projectos tem de ser de 200 litrospor dia e por habitante, o que dá para uma população de200,000 almas40,ooo metros cúbicos,ou 27ra),377 por minuto».

A quantidade d'agua de que dispõe actualmente a Com-panhia do Queimado é certamente insufficiente, porque suafalta se faz sentir em muitos pontos elevados da cidade, es-pecialmente durante o verão.

Si, limitando-se quasi exclusivamente aos supprimentos doserviço doméstico, esta falta é sensível, quando o abasteci-mento se estender ao serviço publico de esgotos, de irrigação,etc, certamente será necessária a procura e captação de novos

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mananciaes que proporcionem a esta capital, com os já exis-tentes, pelo menos os 200 litros por cabeça.G. Bechmann, num importante trabalho publicado em 1888sobre salubridade urbana, distribuição d'agua e saneamento,

organisou um quadro do abastecimento d'aguas potáveis a 84cidades da França e do estrangeiro.A media ahi verificada foi de 185 litros por dia e por habi-tante.Por esta estatística vê-se que os paizes mais ricamente do-tados de água são: 1/ Os Estados-Unidos da America doNorte, 2.- a França, 3.- a Allemanha e 4.- a Inglaterra.Transcrevemos aqui um resumo deste quadro que mostra

quaes as cidades que eram em 18 8 providas de mais de 200litros por dia e por habitante, com população superior a100,000 habitantes-,CIDADES QUE DISPÕEM DE MAIS DE 200 LITROS DE AGOA E COM

POPULAÇÃO SUPER.OR A 100.000 HABITANTES (aTÈ i88S)

zAbastecimento'População por

dia e porhabitante

Roma 3°?3§3 .000 litrosWashington 1/2.000 70o »Detroit ~- 118.000 574 »Marselha 318.868 459 »Chica&° 503.501 43,Boston 416.000 348 »New Y°rk 1,206.090 297 »Cincinnati _._ 256.708 287 »SantLouis 346.000 273 »Philadelphia.. 817.544 257 „Glasgow 511.000 '

238 »Paris 2,344,559 230 „Drtísda 229,818 2?8 »Franckfort 136.851 22? „Brooklyn 566089 205 »Cologne.„ 144-772 200 »

— 248 —

A media da estatística de Bechmann era em 1S88 de 185litros por habitante, mas esta cifra se tem modificado paramais nos últimos annos.

O dr. Langlois, preparador do laboratório de physiologiada Faculdade de Medicina de Paris, n'um artigo da GrandeEncydopèdie, diz o seguinte:

«A agoa é indispensável para todos os usos domésticos epúblicos, para as necessidades da casa, da rua, do grupo dehabitações e finalmente da industria.

«Parkes avalia em 112 litros por dia a água inutilisada porum indivíduo adulto em 24 horas: bebida, cocção do alimen-to, toilettc, banhos, lavagem de roupas, asseio da casa, water-closets, desperdício inevitável; ajuntando 22 litros para osanimaes e outro tanto para a industria, chega-se á cifra de 156litros por cabeça, cifra que consideramos insuffieiente para sa-tisfazer a todas as necessidades publicas e principalmente alavagem dos esgotos com poderosos apparelhos de «chasse».

«Algumas cifras mostram que esta apreciação nada tem deexagerada. Paris tem 260 litros por cabeça; as cidades ameri-canas de 300 a40olitios; Lyon, graças á derivação do Aín400; Marscille tem na França o primeiro logar, com 800 litros,e será brevemente excedida por New-York que disporá de ummetro cúbico por habitante».

•11 faut trop d'eau pourqu'il y en ait assez,» disse com razãoFoucher de Careil.

Neste parecer não nos oecuparemos especialmente do abas-tecimento d'agua potável para o consumo da população.

Entendemos, considerando a influencia que as agoas destí-nadas ao consumo exercem na saúde publica e a facilidadecom que ellas podem ser polluidas e tornar se o vehiculotransmissor dos germens morbigenos, que os estudos definiti-vos sobre esta matéria devem ainda ser sujeitos á approvaçãodo Conselho Geral de Saúde Publica, não só em relação áquantidade, como á qualidade, captação, canalisação e distri-buição das agoas.

-V ;7.a. ,,*;? :,0£'^

— 349 —

A hygiene exige uma distribuição abundante, obrigatória atodos os proprietários, e pouco dispendiosa, de modo que sejafacilmente accessivela todas as classes da população.

(Continua)

Sociedade de medicina e cirurgiada Bahia

SESSÃO DE 18 DE DEZEMBRO DE 1894Presidência do Dr. pacheco mendes

Saturnismo e syphilis

pelo Dr. JULIANO MOREIRAE' sempre opportuno nos oecuparmos da syphilis maligna

precoce.A syphilis em lugar de evolver em 3 periodos mais ou me-nos distinctos, precipita por vezes sua marcha de modo queos ditos periodoõ se confundem, os symptomas terciarios sur-

gem precocemente e se misturando por conseguinte aos acci-dentes secundários, legitimam completamente a qualificaçãoque Bazin deu em suas lições de .859,a esta forma Ja syphilis.

Por vezes o periodo secunJario falta, os aceidentes tercia-nos apparecem pouco tempo apoz o cancro ou mesmo aindaem plena evolução delle.

A symptomatologia desta modalidade anormal de syphilistem atírahido constantemente a attenção dos syphilographos,mas no que refere-se á etiologia reconheço que ha muitas in-cognitas, vários factos obscuros. Eis porque julguei digno deapresentar a sociedade de medicina e cirurgia o facto seguinte:

M. Esp. de 26 annos de edade, brazileiro, mestiço, pintorde casas.Antecedentes hereditários. Pae morto subitamente, já velho.Nada de notável do lado materno. Dous irmãos mais velhos,

sadios.(Antecedentes pessoaes. Aos 18 annos contrahiu uma ble-

norrhagia e cancros simples.

— 250 —

A primeira sanou rapidamente sem complicação. Os cancrosforam acompanhados dc uma adenite inguinal, direita, suppu-rada, porém elles cicatrisaram em menos de 24 dias.

Em 1891 teve dous ataques de eólicas de chumbo, tornan-do-se lraco e anêmico. Apezar de seu officio não é àlcoolata.

Em fins do mez de dezembro de 1892, o doente notou quehavia cm a narina esquerda uma tumefacção accompanhada deum engorgitamento ganglionar na região sub-maxillardomes-mo lado.

Esta adenopathia augmentou durante seis dias, depois ficouestacionaria. Até dois de janeiro, apezar de um ligeiro malestar e calafrios repetidos, continua seu trabalho; mas p&ralogo seu estado geral aggrava-se, uma sensação de pruridomanifesta-se nos membros inferiores; tem fortes cephaleas,náuseas e mesmo vomito.

A 3 de Janeiro veio consultar me e eu verifiquei olhando ointerior do nariz que existia no septo, um pouco acima da por-ção coberta por uma dobra cutânea, a dous centimetros maisou menos do rebordo, uma papula de 10 millimetros aproxi-madamente de diâmetro, arredondada, de aspecto liso, comoenvernisado, de côr vermelha escura; no centro um enduetoacinzentado.

Introdusindo o dedo na fossa nasal senti a induração, quasicartilaginosa, do tumor.

Creio incontestável tratar-se ahi d!um cancro syphilitico de-senvolvido sobre a mucosa pituitaria que cobre o septo das fos-sas nasaes.

Nada encontrei nos órgãos genitaes.A 2 de fevereiro menos de dous mezes apoz a apparição do

cancro sobreveio uma erupção de phlyctenas, a principio dotamanho de uma ervilha, e cheias d'um liquido transparente,depois alargando-se pouco a pouco, o conteúdo tornando-sepurulento. Quando cada phlyctena rompe-se vê-se uma ulcera-ção em que o pus seccando, formam crostas espessas, anegra-das, engastadas c adherentes, estratificadas como o rupia.

— 251-

A erupção começou pelos membros inferiores mas esten-deu-se ao dorso. Submctti o doente ao tratamento geral pelobiiodureto iodurado.

Aio de fevereiro o cancro estava mais ou menos curado po-rem restava ainda traços da adenopathia submaxillar. A cc-phaléa, as náuseas desappareceram.

A. 30 de fevereiro o doente considerando-se completamentecurado volta aos seus affazeres cessando completamente otratamento.

A 4 de março vem me consultar por causa de uma novaerupção de rupia que estendeu-se aos membros superiores, aothorax, á.cabeça mesmo.

A 6 de março o doente estando impossibilitado de sahir,fui vel o á sua casa.

Era o seguinte o seu aspecto: Bastante emmagrecido, rostopálido, desfeito tinha a impressão d um soffrimento atroz;absorto pela dor impellia a intervallos gemidos plangentes,torcia-se no leito, deitava-se dc ventre, em uma palavra apre-sentava os symptonas da eólica de chumbo. Procurando estemetal na urina encontrei-o. O doente tinha a orla de Burtoii.

Com a eólica manilestcu-se a aggravação notável das sy •philoses. Estas são ulcerações contendo um pus ichoroso, sa-nioso, talhadas a pie, cercadas de uma orla de infiltração, co-bertas de crostas espessas, estratificadas como escamas deostras.

Estas crostas tinham diâmetros variáveis desde o de umamoeda de 200 rs. de prata ao de uma cie íoors.; ha mesmo duasmedindo aproximadamente 5 centímetros de diâmetro.

A topographia destas crostas é a seguinte: uma na fronte,uma na bochecha direita, uma na esp^dua tambem direita,uma grande na dobra do cotovello direito, uma na parteexterna do antebraço do mesmo lado.

No membro superior esquerdo ha uma muito desenvolvidana parte externa do mesmo; duas na região externa do ante-

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tbraço, uma no dorso da mão . Duas na face anterior de cadacoxa, uma na região externa da coxa esquerda.

Ao lado destas crostas o doente apresentava largas cicatrises,de bordos arredondados, de côr esbranquiçadaj ha d'ellas nafronte, no nariz, ao nível da bochecha direita, no peito, nopescoço e nos membros.

Observei ainda uma placa mucosa na commissura buccal ádireita. A oila de Burton apresentava ao nivel do canino di-reito o aspecto d'uma placa mucosa, parecia que esta se ti-nha vindo implantar sobre a orla.

O exame das differentes vísceras, não revelou nenhuma le-são orgânica.

Tratamento: Combali a eólica dc chumbo com duas injecçõeshypodermicas de morphina. Debellada a dôr e a constípaçãotendo desapparecido com um purgativo, procurei favorecer aeliminação do chumbo. N'estc intuito aconselhei os banhossulphurosos, dei internamente o iodêto de potássio que favore-cendo a eliminação do chumbo pela urina, devia agir ao mes-mo tempo sobre a syphilis. Prescrevi também a medicação to-nica.

Localmente mandei applicar cataplasmas de fecula sobre ascrostas c apoz a queda dellas, o cmplasto dc Vigo sobre asulcerações.

No fim de vinte dias o estado geral do doente tinha me-lhorado, o appetite voltou quasi ao normal, o somno erabom. As ulcerações cicatrisavam pouco a pcuco. O doentechegou a ingerir 5 grammas diárias do iodêto de potássio.

O estado de melhora persistindo estacionario durante ai-guns dias, resolvi fazer duas injecções mercuriaes hypoder-micas (bi-chlorureto de mercúrio) pelo methodo de Lukasie-wiez.

Apoz 16 dias a cicatrisação de todas as ulcerações era per-feita.

Eis ahi estão varias circumstancias que tornam este facto

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ra55 "\particularmente interessante. No entanto dous pontos mere-cem mais especialmente ser postos em relevo.

Em primeiro logar a sede do cancro inicial: septo das fos-sas nasaes; a raridade dos casos desta localisação dá avanta-jado interesse a esta observação.

Como determinar o modo pelo qual o contagio realisou-se?Interroguei o doente a este respeilo, foi-me impossível apu-

rar o quer que seja de positivo.Os cancros extra-genitaes tem sido já aceusados de ter uma

influencia sobre a gravidade dos accidentes consecutivos. Creioinútil demorar-me ainda a contestar esta proposição.

Em segundo logar é digna de nota a etiologia da maligni-dade revestida pela syphilis cm nosso doente. O saturnismodeve ser sem duvida incriminado.

Ausência de outra causa, aggravação das syphilides apoz aeólica de chumbo, melhora apoz a progressiva eliminação dometal torna incontestável essa conclusão.

As obras clássicas não encerram referencia a este factor degravidade. Ha tres annos eu referi-me ligeiramente a um casode syphihde ulcerante gangrenosa e precoce em um saturninotres mezes apenas depois do cancro.

Convém portanto que o saturnismo seja indicado ao lado doalcoolismo, do impaludismo etc. como uma causa de maligni-sação da syphilis.

Discussão: _Dr. Alexandre Cerqueira: diz que muitas vezesa syphilis torna-se maligna sem causa; o saturnismo terá pro-duzido a malignidade neste caso ou haverá somenle umacoincidência? Por conseguinte acha conveniente que a conclu-são seja formulada somente depois da publicação de outrasobservações análogas.

O dr. Juliano diz que não acredita seja possível uma sy-philis maligna sem causa. Escreveu ha trez annos: Qucertteacutissimee syphilis causas et tnvenietis; crê sempre verdadeiroseu aphorismo. Parece incontestável a influencia do saturnismona malignidade que teve a syphilis em seu doente.

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 46

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O dr. Alfredo 'Britto diz que está de accordo com o DrJuliano. Crê que a infecção syphilitica tornou-se grave oumaligna e desenvolveu-se tão rapidamente, por causa da in-toxicação saturnina anterior. Esta, portanto, acluou nestecaso, do mesmo modo que as outras intoxicações ou moléstiasconstitucionaes cujo effeito é jà conhecido. Tudo que diminuiras lorças de iesistencia do organismo terá certamente acçãoidêntica.

Nada mais havendo a tratar-se o Snr. Presidente levantoua sessão ficando para o ordem do dia da sessão immediata oseguinte:

Existe na Bahia o Botão de Biskra} questão proposta peloDr. Juliano Moreira, e um Um caso </e pneumonia syphiliticapelo Dr.Gonçalves de Figueiredo.

Sessaode 3O de Dezembro de 1894Presidência do Dr. paciieco mendes

sumvamo: Existe na Bahia o botão de Biskra? pelo »r. Juliano MoreiraDiscussão: Dr. Pacheco Mendes.—Um caso de pneumonia syphiliticapelo Dr. Gonçalves de Figueiredo (Discussão: Drs. Alfredo de Britto eJuliano.- Atteslados médicos pelo Dr. Alfredo Britto.

Existe na Bahia o Botão de Biskra) Estudo clinico

pelo Dr. JULIANO MOREIRA

Creio incontestável que a affecção cutânea descripta soo onome de Botão de Biskra existe na Bahia.

A attençâo de vários d'entre nossos clínicos era, ha annosattrahida sobre uma variedade de tumores cutâneos cujo dia-gnostico certo, não lhes tem sido possivel estabelecer.

Estudando sempre estas affecções parece-me opportuno af-firmar a identidade dos casos que tenho observado com o bo-tão de Biskra.

Esta rffecção tem recebido um numero illimitado de deno-minações segundo os paizes em que tem sido observada.

- T-{< ,a ,

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Botão de Biskra, botão de Alepo, dc Bagdad, de Cambay,do Nilo, ou do Egypto, do Cairo, de Suez, de Creta, de Del-phos, de Gurerat, doSinhd, de Bombay, do Zab ou dos Zi-bans, doEl-Kantara, etc etc. a Pyrophlyctide endêmica deAlibert, Dermatose ulcerosa de Larrey e de Poggioli, o cancrodo Sahara de L. E. Bertherand, o Botão ou a ulcera do Ori-entede Villemin, olmpetigoannua de Outenil de Bagdad, aulcera dos paizes quentes de Sirus Pirondi etc. são a mesmamoléstia descripta sob nomes diíTerentes.

O estudo clinico seguinte è baseado sobre numerosas obscr-vações.

O Botão de Biskra, (julgo com Besnier, n.ais exacto chamarBotão endêmico dos paizes quentes), apparece ora primitiva-mente ora (e as mais das vezes) secundariamente; suecede en-tão quer a excoriacões, quer a erosões, quer a aíTecções cuta-neas (satna etc).

A' picada de um insecto—o munam, tem sido muitas vezesattribuido por alguns doentes o inicio da affeeção.

Tenho observado o botão em todas as idades, tanto no ho-mem como na mulher. Nenhuma constituição como nenhumaraça (das que habitam este estado) está ao abrigo do Botãodo Oriente.

Sede. Eu o tenho observado cm regiões do corpo descober-tas e expostas ás influencias exteriores; face excepto o courocabelludo, membros, ante-braço sobretudo; algumas vezesporém raramente sobre o tronco; uma vez somente eu vi umbotão sobre os órgãos genitaees e um outro ao nivcl da cristailiaca direita.

Numero: Duas vezes somente vi um botão solitário; c maisordinariamente múltiplo

Symptomatologia: O Botão annuncia-se muitas vezes porum prurido mais ou menos vivo, este precede de um, dois outrez dias a eíflorescencia cutânea que inicia-se por uma peque-na mancha avermelhada, á qual suecede uma popula rosea,acneiíorme ou análoga a varias outras irritações follicularcs."

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Mais ou menos rapidamente a papula erythcmatosa desenvol-ve-se, alarga se, o vértice torna se amarellado, ella transfor-ma-se em um pequeno tuberculo acuminado, vermelho, ao re-dor do qual a epiderma exfolia-se. O vértice amarellado cobre-se dc uma pequena crosta arredondada, mais ou menos ama-rella, algumas vezes escura, secca, como en gastada nc ele-mento. Se porventura è retirada acha-se ás mais das vezesuma pequena ulceração de bordos arredondados ou dentea-dos, de fundo sanioso deixando transudar uma pequena quan-tidade d'um liquido seropurulento. Os bordos da ulceraçãotornam-se edematosos, salientam-se.

Por vezes durante o periodo de augmento examinando atten-tamente, com uma lente, a periphena dos elementos iniciaesvê-se a zona irritativa, nos pontos de desenvolvimento excen-tricô, semeada de pequenos pontos amarellados, io a 13 namedia, salientes ou não. As dimensões das ulcerações sãomuito variáveis.

Ellas podem crescer quer pela peripheria quer pela conflu-encia de novas ulcerações; podem deste modo att ingiras di-mensões de uma moeda de mil reis ou as de uma de dousmil reis. Já tive oppurtunidade de ver um doente cujas duasprincipaes ulcerações tinham dez centímetros.

A ulceração pode ficar descoberta, seu fundo limpar-se eapresentar pequenas granulações irregulares c orifícios compus.

Por vezes no entanto, uma crosta arredondada ou ovalarre-produz-se mais ou menos secca, amarellada ou dc um escuroesverdinhado.

E' bem variável a duração deste periodo de estado. Quandoa ulceração para em sua marcha, a crosta se desecca progres-sivamente, o fundo cobre-se de botões carnosos, a reparaçãotende a produzir-se.

A cicatriz vai ia com o tratamento. A dc um botão tratadosem intervenção cirúrgica forma-se-pouco a pouco, começandopelo centro, saliente, depois deprimindo-sc, a principio viola-

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cea, depois escura, térrea, amarellada ou branco aeinzentado,cercada d*um circulo escuro; mais tarde torna-se lisa e bran-ca, irregular e indelével. Varias destas cicatr zes são ligeira-mente enrugadas ou um tanto pregeadas em sua superfície;seu rebordo é nitidamente accentuado. São em parte mais oumenos pigmentadas em parte descoradas. O aspecto nitido dcseus bordos como tirados á Temporte-piéce, pode fazer a dis-tmeção entre uma cicatriz syphilitica e a que 6 consecutiva aobotão endêmico dos paizes quentes. A cicatrisação motiva dif-fermidades, retracções viciosas, quando o botão tem oecupadopor muito tempo a face e quando a uiceração tem sido muitoprofunda.

Eis aqui a evolução ordinária do botão dc Biskra, todaviaeu tenho observado varias modalidades outras: Ora a affeeçãofica no estado de papulo-tuberculo, não passa do periodo deinduração, o botão fica estacionado sem se ulcerar e torna-sea sede de uma finíssima descamação: eis a variedade abortivadescripta por Deperet et Boinet em Sathonay.

Ora o botão fica err. estado dc papula que tende a ficarsecca e crostosa, è a variedade papulo-crustacea.

Algumas vezes o fundo da uiceração é cheio de granulaçõeslobuladas eo»*no framboesas, é estu a variedade papillomatosa.

Outras vezes a uiceração faz rápidos prosíresios em super-licic e em prolundidade constituindo a forma grave que deter-mina cicatrises irregulares; é a variedade ulcerosa erosiva.Apenas vi um caso desta variedade.

Observei a lymphangitc, a erysipela c a aclenite complican-do o botão de Biskra.

Emprehcndi uma serie dc en.*3aios de inoculação e estudusanatomo-pathologicos sobre a affeeção que eu acabo de des-crever mas tudo isto está ainda muito incompleto. Quandoconseguir terminal-os eu os referirei a esta sociedade.

Antes de concluir acho conveniente dizer que muitos casosdos que serviram para minha descripçâo tinham recebido,mesmo de médicos, o diagnostico dc bobas, donde eu deduzo

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a hypothese de que uma boa porção dos casos que tem sidodescriptos como de Pian entram razoavelmente no quadro doBotão de Biskra.

Discussão.—O Dr. Pacheco Mendes.Diz ter tido em sua pratica diversos doentes portadores de

affecções, cujos symptomas, marcha e tratamento não per-mitem sejam incluídas no grupo das manifestações syphiliti-cas. Estes doentes em geral, ou porque lhes tenham dito osprofissinaes que os medicaram ou levados pela tenacidade damoléstia, o teem procurado dizendo soffrerem de bobas.

Não entra, por ora na questão da natureza das bobas, mas,attendendo a persistência da moléstia, á despeito dos diversostratamentos empregados, considera a affecção alludida umaindividualidade mórbida distinta c perfeitamente distinguivelda syphilis, sob qualquer das suas diversas modalidades.

Convenceo-se que o tratamento, já por elle já por outros col-legas empregado, o anti-syphilitico, o reconstituinte etc, eraineficaz, mesmo quando seguido por longo espaço de tempopelo que ensaiou o emprego das cauterisações profundas pelotermo-cauterio de Paquelin, ou a excitar, quando possivel,pela volta galvanica, conseguindo sempre o restabelecimentorápido e completo dos seos doentes. Tendo o relator da me-moria em discussão, chamado attenção para as analogiasque aproximam a moléstia dos seus doentes das diversas mo-dalidades com que soe manifestar-se o botão de Biskra e tend iverificado que esta moléstia cede sob a acção do cauterioactual, não repelle a identidade pathogenica das affecções alu-didas e do Botão de Biskra.

Entretanto, aproveitando os casos que tem sob seus cuida-dos e os que por ventura aparecerem continuará os seos estu-dos, parecendo-lhe poder affirmar a existência do botão deBiskra n'este Estado.

¦¦¦¦'¦ ¦"**¦.

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Observação de um caso de Pneumonia sijphilitica, feio Dr.Antônio G. de Figueiredo.

Chamado a prestar serviços médicos ao Snr. ÍI. S , ioi-meproporcionado o ensejo de observar o presente caso'clinicoque por sua raridade e pelos episódios de sua evolução jul-go digno de submetterà criteriosa apreciação dos illustradosmembros da Sociedade de Medicina e Cirurgia.

antecedentes hereditarios:-\\, S. tem mãe e dois irmãosdos quaes uma menina de ,3 annos soffre do mal comicial

Seu pai morreu, ha 4 annos, victima de congestão pulmonar.Sua família é de temperamento nervoso.Antecedentespessoaes- 11. S. conta 19 annos de idade.Até cerca de 4 annos, apenas soffreu pequenas accessos pa-lustres, que debellou com algumas doses dc quininoHa 4 annos diz haver contrahido o cancro duro, que des-

appareceu com applicação de um pó branco.Recorda-se perfeitamente, que os seus soffrimcntos datam

d-esse tempo, porém nunca o obrigaram a recorrer á serviçosmédicos.

A' 2 annos manifestou-se uma insomnia imcompleta, que setem agravado progressivamente, nYstes últimos temposNotava desde o começo de sua moléstia ter appetite, masnunca encontrar na alimentação uma reparação completa desuas forças.Ha cerca de um anno foi victimado pelo Rheumatismo arli-cular, que attribue á humidade.Dores osteocopus têm-se localisado na crista do tíbia e na

Parte med<a do estemo.Atormentado pela insomnia resolveu o Snr. II. S. chamar-

me.

Examinei-o com attenção e observei o seguinte:H. S , mestiço, baixo, magro, cabellos negros e olhar vivo,

apresenta palor cutâneo generalisado.O tórax regularmente conformado deixa perceber o contorno

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das costellas, á excepçao do 40. espaço íntercostal direito ondenotei edema e o doente accusa dor á pressão.

Os órgãos thoracicos nada apresentaram de notável.Os órgãos abdominaes occupavam posição normal e não

manifestavam dôr.O exame dos órgãos genítaes externos revelou o seguinte:Uma cicatriz pouco uniforme ao nivel do prepucio, acom-

panhada de endurecimento.Entre todos os gânglios ingumaes existia um, que peío seu

volume, indolência e sensação que transmittia á polpa digital,bem fazia lembrar sua natureza.

Accusa dôr na crista do tibia, que apresenta-se rugosa, ena parte media do esterne.

Reconheci então a existência da Syphilis em transição do2o para o 3" periodo. Prescrevi o lodcto de potássio e as fric-çòes mercuriacs, durante 7 dias, devendo ambos alternar cmigual espaço de tempo, com a solução arsenical de Pcarson.

Depois da ingestão de algumas grammas do Iodeto, sentíoo doente um alivio extraordinário e declarou-me poder concili-ar o somno.

Insisto na medicação c espaço as minhas visitas, recommen-dando ao doente, avisar-mc quando por ventura se sentisseencommodado.

A' cerca de um mez pedio-me licença para passar algunsdias no arrabalde, ao que accedi, recommendando não affas-tar-se da medicação proposta.

Quinze dias depois sou chamado, de novo, á casa do Snr.H. S. que dizia-se seriamente encommcdado.

Examinei-o e encontrei o seguinte:Pontada ao nivel do 5' espaço íntercostal direito, um pouco

para fóra da linha axillar e com irradiação para o epigastro.Calefrio de media intensidade.A temperatura axillar era, na oecasião da visita, de 39*.A' adynamia suecediam períodos dc excitação, que obriga-

vam o doente, a mudar de posição incessantemente.

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Havia voltado a insomnia, que se fazia acompanhar de Ce-phaléa frontal.

Respondia com morosidade ás interrogações que lhe eramdirigidas.

Accusava dores articulares generalisadas.O apparelho circulatório apresentava apenas a rudeza do i»

tom e maior freqüência das impulsões cardíacas.Igual freqüência nos movimentos respiratórios, que foi im-

possivel contar, devido ao estado de agitação, que, de quandoem vez, manifestava o doente.A sonoridade thoracica achava-se augmentada, excepto na

parte postero-inferior do lado direito, onde observei sub-ma-tidez.

O murmúrio vesicular, que em outras regiões era ouvidocom certa intensidade, èra aqui substituído por estertorescrepitantes finos.

Notava-se maior confluência d esses estertores no 5» espaçointercostal próximo da linha axillar.

Feita uma pequena embrocação com tintura de iodo, notei,no dia seguinte, ter esta confluência sido substituída por uma'outra, ao nivel da linha mamillar, voltando a oecupar nos diasseguintes, ora um, ora cutro dos pontos indicados.

Apoz a primeira embrocação manifestou-se no mesmo pontoo seguinte: uma papula, menor que um nickel de ico rs., quedepois revestiu-se dc espessa crosta, amarello-escuro, em tor-no da qual via se a coloração roseo-violacea, vulgarmentedenominada, cor de presunto. Era, se não me engano, umechytima.

A expectoração éra pouco fibrinosa. Augmentava pela ma-nhã e diminuia do meio dia em diante. Comtudo a bocca man-tinha-se amarga.

O fígado excedia o rebordo costal 2 centímetros, porémnão accusava dôr.O baço e o estômago mantinham os seus limites physíolo-

gicosenada aceusavam de notávelSERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 47

»— 2Ó2 —

Observei tympanismo abdominal e o doente declarou havertido diarrhéa.

Deante de semelhante quadro, indaguei do doente o seguin-te:

Se ainda se achava sob acção do lodeto de potássio e dasiricções mercuriaes. Respondeu-me que ha cerca de 4 dias ha-via de modo próprio suspendido a medicação.

Indaguei igualmente das condições nosologicas do legarpara onde se havia transportado. Declarou-me serem os me-lhores possíveis.

Indaguei ainda mais, se não se havia entregu: aos prazeresde Baccho ou de Venus. Nada consegui, que me podesse es-clarecer n'este sentido.

Resolvi, attento aos dados fornecidos pelo doente, medical-ono sentido de uma Pneumonia Syphilitica.

Volto de novo ao lodeto de potássio e procuro corrigirsua acção pulmonar com a belladona.

Foi empregado em dose crescente até 8 grms. diárias, nãocomeçando o doente a experimentar melhoras, relativamenteao acommettimento pulmonar, senão depois do emprego di-ario de 5 grms.

Quanto aos outros symptomas, já haviam desapparecidocom esta dose, sendo, o de mais precoce desaparecimento, acephaléa frontal e em ultimo logar a febre.

O thermometro que no r dia marcou 39*, passou, nas ma-nhãs dos dias seguintes, a marcar: 38°,6, depois 38",37,5 e fi-nalmente 3?°.

O echytima, de que já me oecupei, tornou-se mais secco esua crosta fendeu-se em vários sentidos, ao mesmo tempo quea coloração foi-se attenuando. Depois deu-se a queda comple-ta, deixando apenas no logar uma cicatriz pouco uniforme.

A expectoração tornou-se abundante pela manhã e provo-cou tosse.

Os escarros eram constituídos por muco-pus.De 5 grms. de lodeto de potas"sio em diante, notei que os es-

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tertores foram diminuindo e quando attingi a 7 grms. jà quasihaviam desapparecido. Elevo a dose a 8 grms. e noto que de-sapareceram pela manhã e reapareceram á tarde, porém maisseccos.

Insisto nas 8 grs do Iodeto e os estertores aparecem pelamanhã e reapareceram à tarde com os mesmos caracteres.A expectaração se havia modificado igualmente apresentan-

do-se constituída por saliva cheia de vesiculas aéreas.Resolvi suspender o Iodeto, altento á intolerância, que semanifestava exteriormente, pelo apparecimento de pequenostumores e do coryza iodico.Suspendo o Iodeto de potássio gradativamente e os sympto-

mas pulmonares vão desaparecendo do mesmo modo, atésubstituição completa pelo murmúrio vesicular.Durou este tratamento cerca de ,5 dias, fazendo-se acom-

panhar das fricções mercuriaes que também espacei gradativa-mente.Então, nada mais encontrando no apparelho respiratório, ehavendo desaparecimento completo de todos os outros symp-

tomas, submeti-o, de novo, o doente à solução arscnical dePearson também em dose crescente.Até a data em que escrevo esta observação é lisongeiro o

estado do nosso doente, e garante-nos, em breve tempo, com-pleto restabelecimento.

Os principaes pontos que julgo dignos de serem assignala-

dos n'esta observação são os seguintes:l" A sede dos estertores e bem assim da pontada, no pul-mao direito e no 5* espaço intercostal.2" O declínio da temperatura e igualmente dc todos os ou-tros symptomas pela medicação especifica.V A irregularidade, quanto á sede dos estertores creoitan-tes, .sto é o seu apparecimento, ora na linha axillar, ora na

mamillar.

4° A identidade entre os estertores crepitantes nos acomme-tunentos pulmonares syphiliticos c nos iodicos, no caso pre-

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sente, c a necessidade de julgar pela escuta d'estes dois ele-mentos, quando exteriormente não se apresentem os clássicossymptomas da intolerância.

O Dr. alfredo bruto diz que pela simples audição da ob-scrvação do Sr. Dr. Figueiredo não lhe parece claro si trata-serealmente de uma pneunomia syphilitica ou antes de umapneunomia fibrinosa commum desenvolvendo-se em um sy-philitico. Inclina-se, entretanto, para a segunda hypothese.

Pelo que tem lido e observado sobre o assumpto julga muitomais fácil ou possível a confusão entre as pneumapothias ver-dadeiramente syphiliticas e as pneumonias phymicas ou infil-trações pulmonares tuberculosas.

Mesmo n'cstes casos porem, segundo Potain e Dieulafoy, haquasi sempre hetero-infecção pelo bacillo de Koch.

No caso vertente, é pena que o exame bacteriológico dos es-putos não fosse praticado, pois a presença do bacillo de Fra-cnckel teria cortado toda a discussão.

O Dk. Gonçalves de figueiredo diz ver no caso que des-creve uma evolução anormal que muito o aíTasta da pneumo-nia fibrinosa commun.

Friza de novo os seguintes symptomas:«A sede da pontada no 50 espaço intercostal direito.As alternativas quanto à sede e intensidade dos estertores, a

evolução no espaço de 15 dias e a feliz influencia da medicaçãoiodurada, que certamente aíTastaria a idéa de uma pneumoniaphymica.

O Dr. juliano diz que se porventura a irregularidade dasede dos estertores crepitantes não tem valor para distinguiruma pneunomia syphilitica de uma que não o seja, certamentesó um exame bacteriológico poderia tirar completamente alimpo a etiologia do caso observado. Sc o facto de terem va-rios auetores usado com vantagem do iodêto de potássio nacura das pneumonias, fosse apresentado como capaz de dimi-nuir o valor da opinião do Dr. Figueiredo, poder-se-hia re-plicar lembrando que os casos referidos pelos v arios auetoresnão são também acompanhados de exame bacteriológico: quem

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sabe, pois, se não serão casos de pneumonias dependentes dasyphilis?

Attentados médicosDr. alfredo britto—A 27 de Outubro de 1892, eu fazia á

Sociedade Medica, um largo arrazoado referente á maneiraporque se comprehende entre nós o segredo profissional res-peito ás attestações médicas em geral, e, particularmente, aoscertificados de óbito.

Nada se tendo até hoje resolvido, pareceo-me convenientetrazer o assumpto ao vosso conhecimento.

E' preciso saber, dizia eu n'aquella oceasião, si nos attesta-dos, ou se trate de declaração de óbito ou de qualquer outrofim, deve exarar-se o nome da moléstia a que suecumbio ouque ainda sofire o doente em questão.

E para demonstrar a importância aliás ineluctavel do as-sumpto, citava muitos casos á guisa de exemplo, nos quaesessa declaração compulsória acarretaria grave damno para odoente ou sua familia, e cuja responsabilidade inteira recairiasobre o medico, talvoz sujeito a soffrcr, por esse facto, umprocesso por violação do segredo profissional, como em va-rios paizes já sc tem dado c entre nós autorisa o art. I28 doCódigo penal.

Relativamente aos certificados de óbito, eu acreditava se po-deria harmonisar as exigências salutares da justiça e da de-mographia sanitária com o dever rigotoso do segredo medico,adoptando o seguinte plano, que não seria de certo inteira-mente novo.

O medico assistente subscreveria dois boletins: um destinadoao official do registro civil conteria apenas o nome do morto ea aflirmação de seo óbito, com a designação do dia e da horasempre que possivel; o outro, minucioso segundo modeloprescripto na lei, com todas as indicações para affirmar a iden-tidade, fazia conhecer a causa da morte. Este ultimo seria

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remettido, cm envolucro fechado, á repartição de estatísticademographo sanitária.

Para maior garanda da inviolabilidade do segredo, se pode-ria ahi substituir o nome por um numero de ordem, que de-veria egualmente existir no primeiro d'cstes boletins, afim depermittir, em qualquer tempo, a confrontação entre os dois,caso houvesse necessidade.

Não julgo, porém, indispensável este excesso dc precauçãocomplicadora, visto que o medico demographista será tambémvinculado ao segredo, não só por sua consciência como pelocódigo, tanto quanto os médicos assistente e conferentes.

O conselho geral de saúde publica, em sessão de 25 de Ja-netro de is94, appr0vou e remetteo á saneção do governadordo Estado um projecto de regulamento do serviço de estatisti-ca demographo-sanitaria, no qual tive a satisfacção de ver pro-posta, mais ou menos estas mesmas idéas que infelizmente, nãosei porque motivo, não re traduziram em factos até hoje. N'esseprojecto o numero de ordem é obrigatório, mas deixa-se aomedico a faculdade de enviar, fechada ou não, a parte do cer-tificado referente ao diagnostico. Esta liberdade reputo-a fu-nesta por lazer com razão germinar a suspeita sobre todos oscasos em que semelhante precaução fosse usada a titulo exce-pcional.

Quanto aos attestados sobre o estado dc saúde de um indi-viduo para assegurar sua aptidão ou invaiidez para tal cargoou funeção, me parece que a affirmação solemne do medicoem como o doente é incapaz não perde nada com a omissão donome da moléstia por isso responsável.

Um medico (si é que existe) capaz de faltar á sua honra.men-tir á sua consciência e aviltar sua profissã) attestando falsa-mente a incapacidade de um indivíduo são, inventaria tam-bem, com a mesma facilidade, uma moléstia adequada.

Finalmente, quanto aos attestados exigidos do medico assis-tente pelas companhias de seguro de vida, com relação a ulti-

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ma moléstia, é preciso piotestar bem alto contra esse abomi-navel habito, já tão condemnado por Brouardel e recentementeem seo ultimo livro (Tratado de medicina legal) pelo Dr. Sou-za Lima, illustre professor da Facuidade do Rio. Todos osnossos confrades se devem unir para levantar uma barreiracontra esta exigência intolerável perante as leis imprescripti-veis do segredo medico, um dos mais elevados e dos mais no-bres de nossos deveres para com a sociedade.

Sessão cie 13 de Janeiro de 1895Presidência do Dr. Pacheco mendes

Summario: 0 crime do Uruguay, Relatório medico-Iegal pelo Dr NinaRodrigues Nota sobre o traiamento da ankyloslom.asepelo thvmolpelo ,1r. Alfredo Britto (Discussão: drs. Tillemont Pontese Figueiredo

0 crime do UruguayRelatório medico-legal

pelo Dr. NINA RODRIGUESEu, abaixo assignado, Dr. Raymundo Nina Rodrigues, pro-fessor substituto da Faculdade de Medicina da Bahia, tendo

praticado no laboratório da cadeira de medicina legal que in-terinamente estou dirigindo, exame minuciofo na cabeça deum cadáver, a qual me foi confiada pelo Sr. Dr. 2.' commis-sario, consignei, a pedido da mesma autoridade, o resultadod'esse exame no seguinte relatório.

A cabeça de que se trata foi encontrada, em busca policial,na rua do Uruguay desta cidade, na noite dc 16 do corrente'mez.

Achava-se enterrada a pequena profundidade em lugar pro-ximo áquelle em que no dia anterior havia sido encontradoum corpo de mulher decapitado.

Os collegas, medicos-peritos da policia, haviam praticadonesse dia (16) a autópsia do corpo, do qual, no intuito deobter peças curiosas porá o laboratório de medicina legal, re-

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tirei, com permissão da autoridade competente, o utero, amão direita e a primeira vertebra das que ficaram no corpo,isto é, a 5.* vertebra cervical.

Cheguei ao necrotério ainda ao terminar-se a autópsia e, apedido da autoridade, assignei mesmo como testemunha o cor-po de delicto dos peritos da policia.

Assim, pois, tive ensejo de observar a conformação geral docadáver, a côr e o estado da pelle, a conformação das extre-midades, o estado de putrefacção, a superfície de secção dopescoço etc, pontos as quaes me refiro neste relatório.

Nesse mesmo dia (16) á noite loi encontrada a cabeça e obti-ve que, ao envez de ser enterrada, me fosse também entreguepara o laboratório de medicina legal no que fui promptamenteattendido pelo Sr. Dr. 2.0 commissario.

No dia 17 a cabeça teve de ficar exposta na prefeitura depolicia afim de ser reconhecida pelas pessoas que a quizessemver. Achou-se então em péssimas condições de conservaçãodevido á falta absoluta em que infelizmente vivemos, de locale dispositivos appropriados a estes misteres.

Com a máxima bôa vontade e gentileza, os meus amigosSrs. Affonso Adães, Pharmaceuticos Henrique Diniz Gonçal-ves e Hermelino Ribeiro, prestaram-se a tirar nesse mesmodia tres photographías de que vão junetos exemplares, umarepresentando a cabeça de frente, uma de perfil e uma a sec-ção do pescoço.

A' tarde, a cabeça foi collocada cm liquido conservador,preparado no laboratório de medicina legal para onde foitransferida no dia seguinte pela manhã.

Adiantada como já estava a putrefação, não era mais possi-vel pensar em tentar os processos de Tourdes, Hoffman etc.etc, para a recomposição da physionomia da victima.

Por escassez de álcool amylico, empregamos para conser-vai a um processo mixto, de injecções hypodermicas pelo me-thodo Dubois-Lacassagne e de irnmersão em liquido conser-

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vador de composição especial afim de não provocar a retracçãodos tecidos.

Foi indispensável, no entanto, retirar a massa encephalicaque já se achava reduzida a uma polpa putrefeita, e preferi-mos para isso desarticular do craneo o segmento de columnavertebral que tinha ficado preso á cabeça, fazendo depois la-vagens de álcool pelo buraco occipital.

Graças ao bom auxilio do meu distineto collega, Sr. Dr.Sá e Oliveira, preparador da cadeira de medicina legal, con-segui fazer com que a cabeça esteja hoje perfeitamente con-servada.

Ainda hontem—i o dias depois de nos ter sido entregue—foram tiradas duas novas photographias por meu distinetoamigo Sr. Pharmaceuti:o Diniz Gonçalves que allia a uma pe-ricia reconhecida em trabalhos photographicos, a maior bôavontade em relação ao laboratório de medicina legal a que temprestado excellentes serviços.

Disposta convenientemente como ficou a cabeça, cujos ca-bellos foram arranjados do melhor modo, acredito que estasnovas photographias estão destinadas a dar da victima umaidéia muito mais approximada do que poderiam fazel-o asphotographias tomadas na policia.

Descripção—E' uma cabeça de mulher mestiça, moça ainda,cujos cabellos bem negros e ondulados tem os caracteres doscabellos das mulatas que voltam á raça branca.

São abundantes e tem cerca de 50 cm. dc comprimento.Em conseqüência do estado de pulrefacção e da queda da

epiderme, já os cabellos tinham-se despegado em torno dacabeça, só se mantendo adhercntes na parte mais elevada.

Ainda mesmo nesta parte, na linha media, por onde pareceque a victima costumava repartir habitualmente os cabellos,tinham elles cahido em certa estensão, o que á primeira vistadava idéia de uma falha ou cicatriz antiga.

O rosto é sobre o comprido, medindo 18 cm. do mentoSERIE IV ANNO XXVI VOL. V. 48

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â linha de implantação dos cabellos na fronte e 12 cm. no dí-ametro bimalar.

As sobrancelhas tinham cahido, mas existem ainda adhe-rentes alguns cilios.

Os olhos são grandes, e posto que devessem ter sido escu-ros, de aceordo com os outros attributos da côr morena, ti-nham, ao ser encontrada acibeça, um tom azulado, devidoseguramente a uma alteração cadaverica.

O nariz é pequeno e bem feito com os caracteres do narizna raça branca (leptorrhinia).

A ponta do nariz achava-se desviada á esquerda—disposi-ção reproduzida fielmente nas photographias tomadas na po-licia—,e resultante da posição cm que devia ter ficado pormuitojempo a cabeça descansando em parte sobre o nariz.

Em rigor, a cabeça podra ter esta posição mesmo antes dadecapitação, porem è mais provável que ella fosse tomadapor oceasião de ser a cabeça enterrada, visto como a persis-tenda do desvio do nariz que só poude ser desfeito comdifficuldadc, indica uma duração tão longa que, pelas circum-stancias do crime, só c admissível depois do enterramento.

As orelhas são pequenas, bem conformadas e tem os lobu-los perfurad s para uso de jóias. Quando vimos a cabeça, jáas orelhas não traziam as argolas com que foi encontrada, asquaes foram retiradas pela policia e são de infimo valor.

A bocea é pequena e os lábios finos. A dentadura é per-feita e completa, sendo digno de nola o tamanho dos insicivossuperiores, principalmente os médios bastante grandes e lar-gos e a implantação irregular e viciosa dos incisivos inferioresesquerdos.

As dentições estão completas, com todos os quintos mola-res, dentes queiros ou do sizo.

Os dentes do sizo superiores são menores do que os infe-riores, dos quaes o esquerdo tem a coroa quasi toda des-truida por carie e foi facilmente arrancado por nós.

E', porem, o único dente estragado que existe em toda a

ir '

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dentadura, na qual não ha obturaçoes, nem signaes de defor-mações constitucionaes, accidentáes ou ethnicas.Os dentes não tem coloração especial que denote habito defumar ou outro.A bocea continha areia. Sobre a frente á esquerda, a partirdo olho desse lado até quasi á implantação dos cabellos,existia

uma larga mancha azul escura, parecendo indicativa de umagrande contusão. Para determinar a sua natureza, pratiqueiuma larga incisão crucial, bastante para deixar bem a des-coberto os tecidos subjacentes. Não só a pelle tem ahi espes-sura normal, como não ha vestígio algum de transudaçãoderrame ou infiltração sangüínea; de sorte que esta manchadeve representar apenas um phenomeno de coloração cadave-rica, devido muito provavelmente a uma êxtase sangüíneaprolongada neste ponto, sobre o qual com certesa descansoulambem a cabeça ao mesmo que se apoiava sobre o nariz eproduzia o seu desvio.

Julguei desnecessário para o caso recorrer ao processo dediagnose differencial do professor Tamassia.A secção do pescoço deve ser descripta minuciosamente.

Ella foi 'cita na parte media do pescoço e quasi que em umsoe mesmo plano transversal, pois passou na parte anteriorentre as cartilagens thyroide e cricoide no larynge e entre a4.* e 5/ vertebras cervicaes,

O corte apresenta uma superfície quasi plana e transversal,na qual todos os tecidos acham-se mais ou menos no mesmonivel.

A secção foi feita em dois tempos principaes: secção das par-tes mollcs e secção da columna vertebral. A secção das partesmolles fez-se por quatro golpes principaes que estão per-ieitamentc indicados por quatro pequenos retalhos de pelle equatro caudas correspondentes: um corte anterior, um peste-rior c dois lateraes.

Todos estes cortes não foram feitos no mesmo sentido oudirecção e não é possivel dizer si o furam sempre com a mesma

w. 2;a —

mão, porque se comprehende que para trabalhar mais á von-tade, o criminoso podesse ter mudado de posição.

A secção ou corte anterior tem em todo o caso uma ligeirainclinação da direita para a esquerda e de baixo para cima,sensível principalmente na secção da parle inferior da cartila-

gem thyroidc,- onde o golpe que á direita cahio exaclamenteno espaço ciico-thyroidiano, á esquerda interessou o angulo

e a pequena ponta da thyroide.A secção da columna vertebral foi feita por ultimo e por

tentativas.

A desarticulação da quarta vertetebra foi feita da direita

para a esquerda, tendo sido seccionado um dos ramos da bi-furcação da apophyse espinhosa da 4a vertebra e destacado in-completamente o disco inter-venebral.

Nem na face, nem no pescoço existe signal algum de vio-lencia a não ser no lábio superior uma pequena solução decontinuidade da peite que não foi possivei distinguir si foi feitaem vida eu si depois da morte.

A cabeça com a porção da columna que lhe adheria mede20 cm.

Já se achava em periodo de franca putrefacção com despren-dimento de gazes pelas cavidades nasaes e orbilaria.

Discussão—A descripçao feita deve permittir conclusões

que carecem submettidas á analyse e á discussão.'Raça. A victima era morena com caracteres positivos de

uma procedência mestiça.Idade. A denlição permitte fazer um calculo bastante appro-

ximado da idade da victima, sendo que, se o exigissem as cir-cumstancias, se poderia chegar a conclusões mais positivasainda, mesmo só pelo exame das peças que me foram con-fiadas, as quaes si não foram examinadas nesse sentido foi

porque eu não as quiz deformar.O estado dos quintos molares ou dentes do sizo me leva a

acreditar que a victima devia ler de 20 a 25 annos.A erupção dos quintos molares faz-so, é exacto, em idade

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que varia muito, não só de individuo a indivíduo, mas aindasegundo as raças, e os medico-legistasattribuem-lhe um pra-so bastante longo que pode ir de 18 a 30 annos.

Mas, attcndcndo a que ainda quando quizessemos attribuirá vietima uma influencia atávica, (a vietima era mestiça denegro, e na raça negra a erupção dos quintos molarcs é maisprecoce do que nas outras raças), não lhe pederiamos darmenos de 18 annos que é o limite mínimo ordinário para aerupção dos quintos molares;

attendendo a que não só a natureza excellente da sua den-tadura, mas ainda a bôa constituição da vietima, que tinha,pelo menos apparentemente, todos os attributos de umasaúde vigorosa, não permittem admitlir que nella tivesse ha-vido causas individuaes ou orgânicas, das que costumam per-tubar a evolução dentaria tornando mais precoce ou tardia aerupção dos quintos molares;

attendendo, por outro lado, a que não é justo attribuir ávietima a idade minima de 18 annos que só sc refere á epochada erupção dos quintos molares, ao passo que nella estes den-tes não estão mais em período de erupção, mas sim todoscompletamente desenvolvidos e um até jà destruído por carie;

attendendo a todas estas considerações, parece perfeitamen-te rasoavel calcular o limite inferior da idade provável davietima em 20 ou 21 annos.

Por outro lado, o estado da pelle, dos cabeilos, o aspecto ge-rai da vietima, approximados da precocidade do desenvolvi-mento physico nos climas quentes, não auetorisam a crer queella pudesse ter mais de zó ou 27 annos.

E assim acha-se sufficientemente justificado o calculo quefiz.

Altura. Addicionando os 20 cm. da altura da cabeça aoi,m4i do corpo, temos para a altura total da vietima i,m6oque não permitte consideral-a baixa. O calculo da altura pelomethodo de Marcacci c feito com as medidas do atlas e doaxis, deu uma approximaçâo de i,m52 para o esqueleto.

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Secçào do pescoço.—A secção do pescoço suggere considera-ções que não são destituídas de interesse.

'Primeiro, a decapitação só foi feita depois de morta avicti-ma e muitas horas depois da morte.

Dos diversos meios com que se pode facilmente distinguirsi a decapitação loi feita durante a vida ou depois da morte—meios que omallogrado Paul Loye estudou experimental emagistralmente—só um tem no caso vertente inteira applica-ção:-—o estado da superfície da secção do pescoço.

Com effeito, todos os tecidos se acham no mesmo planopara cada golpe, sem que tivesse havido a menor retracçãodos músculos para coustituir, como acontece na decapitaçãodo vivo, um plano todo desigual.

E' verdade que a secção do lado do corpo nâo tinha icgu-laridade tão perfeita quanto a do lado da cabeça.

Mas este facto é facilmente explicável;—em primeiro lugar,pela rapidez maior da putrefacção no corpo, devida a causasque relatrrei depois; em segundo lugar, por que os movimen-tos impressos aos braços e ao tronco aíim de ser conduzido etransportado o corpo, não podiam deixar de exercer tracçõese repuxamentos sobre os músculos da base do pescoço.

E' impossível, no entanto, fixar um numero preciso de ho-rase ir alem desta affirmação geral — que a decapitação nãose fez immediatamente depois da morte e emquanto todos ostecidos gozavam ainda das suas propriedades vitaes.

Passado este periodo, os caracteres da secção seriam osmesmos qualquer que tivesse sido a hora em que a decapita-ção se fizesse, contanto, bem entendido, que não fosse emestado de adiantada putrefacção.

Segundo: a secção foi feita em condicções favoráveis de luze tranquillidade relativa do criminoso.

A regularidade, a complexidade ea correspondência exactados golpes empregados na decapitação d 3 cadáver, nem per"mittem acriditar que ella tivesse sido feita logo em seguidaao assassinato por um criminoso agitado ou emocionado

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pela pratica do crime, nem tão pouco que tivesse sido prati-cado em lugar escuro, em um encontro occasional á noitenas mattas, ou em estrada deserta.Convém lembrar todavia que as noite de 12, 13 e 14 deOutubro, dias em um dos quaes o crime devia ter sido pra-ticado, eram dc bonito luar.Terceiro: o instrumento cortante sobre ser muito acerado cde lamina forte, não devia ter a lamina muita curta taeseram a regularidade, a estensão das seccões e a resistênciadas partes seccionadas.Quarto: o modo porque íoi praticada a decapitação indicaum indivíduo de pulso forte e talvez habituado a cortarcarnes.Quinto: a direcção da secção ou corte anterior do pescoço,dirigido da direita para a esquerda e de baixo para cima, é cu-nosa e merece attenção.Esta direcção parece indicar que o criminoso era canhoto e

que para a decapitação collocou-se á esquerda da victimaPara um indivíduo que não fosse canhoto a posiçãonatural era a direita do cadáver, segurando e fixando a cabeçacom a mão esquerda e fazendo com a dereita a secção quesena dirigida da esquerda para a direita e mais ou menosdebaixo para cima.

_ Em rigor, no entanto, o corte podia ter sido feito por umindivíduo que não íosse canhoto c que se tivesse collocado ádireito ou á esquerda, mas do lado do corpo e não da cabeça.Lsta posição, porem, é evidentemente forçada e não está deaccordo com a regularidade dos cortes.Ora por seu turno, a sede e a direcção do ferimento dabasedothorax indicam positivamente que o aggressor não -era canhoto, ou pelo menos que devia ter ferido com amão direita.Nestas condições, as duas hypothescs mais naturaes a seformular são: ou o criminoso era ambidextro, ou ao con-trano o crime foi prati:ado por dois indivíduos, dos quaes

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um feriu c o outro, que era canhoto, encarregou-se da deca-pitação do cadáver.

O exame da cabeça não permitte dar uma solução de-finitiva a este problema.

Notarei apenas que a hypothese de dois criminosos, sichegasse a ser provada, explicaria bem o transporte docorpo da victima para o lugar onde foi encontrado, si é ver-dade que não foi assassinada alli; explicaria a regularidadeda decapitação que podia ter sido feita por terceiro, natural-mente auxiliado pelo criminoso; o enterramento da cabeça etc.

Data da morte. Comparando o estado de putrefacção dacabeça com o do corpo, pois, se achavam em períodos desi-guaes de desenvolvimento, acredito que se pode fazer umcalculo todo approximativo da data do crime.

Neste particular penso com o Dr. Angiolo Filippe que, pelomenos em certas condicções, Casper tem mais rasão do queOrfila e que é poscivel, pelo estudo da putrefacção, calcular adata da morte.

No corpo que esteve por muito tempo exposto ao ar e cmtemperatura elevada e em que a marcha da putrefacção eraauxiliada pelas larvas de insectos, de que elle se achava co-berto, havia já grande desenvolvimento de gazes nos tecidos,a pelle estava toda destacada.

Na cabeça que esteve enterrada e em que a separação docorpo permittio um escoamento sangüíneo mais completo a

putrefacção estava muito menos adiantada.Comparando com o que a respeito tenho observado entre

nós, avalio que a morte devia datar de trez ou quatro dias,sendo provável que tivesse tido lugar de sabbado (i?) para

. domingo (14), de Outubro.O fim com que a decapitação foi feita parece ter sido so-

mente evitar o reconhecimento da identidade da victima, comoparece denunciar ainda o cuidado de fazer desappareceras roupas.

Não havia nem na cabeça, nenvno corpo mutilações que in-

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dicassem a saciação de uma vingança selvagem, como é deregra na decapitaçâo criminosa, ou que denunciassem os im-pulsos irresponsáveis dc uma mentalidade enferma.

Comparando o numero das vertebras cervicaes, com asrelações de articulação que guardavam entre si a ultima ver-tebra das que ficaram adherentesá cabeça e a primeira dasque ficaram no corpo, foi facíl verificar que havia perfeitacorrespondência, pertencendo, como era de presumir, aomesmo indivíduo, corpo c cabeça encontrados.

Conclusões. Assim, pois, julgo-me habilitado a concluir:i.° A cabeça, cujo estudo faz objecto deste relatório, per-tencia ao corpo encontrado próximo a ella na rua do Uruguay;2.» Eram de uma mulher mestiça, que não era baixa" ten^do approximadamente de 20 a 25 annos de idade;3." O crime devia ter lugar 3 a 4 dias antes, talvezde Sabbado (13) para domingo (14 de Outubro);4-° A decapitaçâo parece ter sido feila com o'intuito cx-clusivo de impedir o reconhecimento da identidade da victima.5 9 A decapitaçâo teve lugar pelo menos algumas horasdepois da morte, foi praticada sem precipitação, com um bominstrumento cortante c por pessoa de pulso vigoroso e ades-trade, que, por exemplo, talvez fosse (ou cm qualquer cir-cumstancia tivesse sido) carniceiro.As outras peças que ficam em meu poder e estão sendo

submettidas a exame histe lógico, serão objecto de uma outracommunicação que em tempo enviarei á policia.

Bahia, 27 de Outubro de 1894.

Dr. ü\£ma Rodrigues

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REVISTA DA IMPRENSA MEDICAMECANISMO DA MORTE TELA ELECTRICIDADE

Na «Sociedade de biologia», de Paris, houve, a 24 do mezfindo, curiesa discussão acerca d'este assumpto, entre os srs.dWcOnval, Chauveau, Dastrec Laborde.

O sr. d'Arsonvúl estudou experimentalmente a morte causa-da pela passagem de coi rentes clectricas intensas, atravez docorpo. Viu que o mecanismo da morte difieria, conforme aqualidade da coi rente.

Usando corres.tes continuas, de alta tensão, vê-se que dei-xam, nos pontos por onde passam, accentuadas lesões mate-riaes; roturas de vasos e bolhas gazosas, resultado da elec-trolyse dos tecidos.

Correntes alternativas, fortíssimas, matavam por modo dif-ferente; o violento choque da descarga dava reflexo inhibilorioque parava os movimentos da respiração e os cardíacos, massem haver lesão material; fazendo respirar o animal artificial-mente, mesmo após algum tempo de arparente morte, voltaá vida. Assim resuscitaram cães, que pareciam mortos pordescarga de corrente alternativa de 4000 volts, isto è, egualás mais fortes qur a industria emprega para transportar á dis-tancia força e luz.

Já se puderam applicar ao homem estes dados experimen-taes: um operário das ofíicinas clectricas de S. Diniz poz-seinadvertidamente em reduzido circuito de corrente alternati-au de 4 a 5 mil volts, que lhe atravessou o corpo. Ficou hir-to, na posição cm que o surprehendêra a corrente. Só passa-do um quarto d'hora lhe aceudiram com respiração artificial;e o homem, que parecia fulminado, recobrou vida, ficando-lhe—de lesões materiaes—apenas escaras pou;o fundas, nospontos de entrada e.de saldada corrente.

Referiu depois o orador experiências feitas na America e deque já deram noticias os nossos jornaes diários. A um con-demnado á morte e executado pela electricidade (corrente ai-

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ternativa de 4000 volts), fez se tracheotomia e respiração ar-tificial com um folie. Resuscitou o homem! E logo depois sepronunciou sobre isto a opinião publica americana e foramprohibidas muitas execuções electricas projectadas—a des-peito de reclamações dos condemnados, que viam no progres-so scientifico probabilidade de ressuscitarem também!

A par d'estes factos, que demonstram a innocencia das cor-rentes alternativas, tem o sr. d'Arsonval tres exemplos de mor-te irremediável por correntes continuas, aliáz de potencialmuito mais fraco. Viu o cadáver d'um trabalhador que soíTreradescarga dum accumulador de 450 volts; estava todo electro-lysado, com bolhas de gaz em todos os órgãos e queimadu-ras enormes nos pontos de entrada e de saída da corrente.

Portanto são estas correntes continuas muito mais perigo-sas que as alternativas, embora diga Edison o contrario; ver-dade seja que a ofíicina Edison dá ao publico só correntescontinuase as das dos seus émulos são alternativas...

Sáe d'estes factos ainda outra conclusão; é que a paragemde corrente continua não tem effeito eleetrolyüco somente nospontos por onde entra e sáe a corrente, mas também em todoo cerpo.

O organismo parece-se portanto com um conduetor não ho-mogeneo.

Ainda se confirma esta conclusão por uma experiência cita-'da pelo sr. Chauveau, pondo um electrodo sobre músculo ti-rado do corpo, mas ainda com o respectivo nervo, e sobre essenervo o outro electrodo, vêem-se desenvolver phenomenoselectrclytios não só no ponto de contacto dos clectrodos, mastambém na união do nervo com o músculo. Deve pois sup-pôr-se que ha no organismo tantos pontos electroiysadosquantos pontos d2 contacto entre tecidos' differentes houver.

Acha o sr. d'Arsonval não serem estes factos conhecidospelos electrotherapeutas, que parecem adrniuir somente acçãoelectrolytica nos pontos de entrada e saída da corrente e nãoem todo o corpo do enfermo.

*- a?0 **.

Seria curioso saber que impressões scffrem os electrocuta-dos e ficar averiguado se é dolorosa esta espécie de morte.

Do executado americano nada poude saber o sr. d'Arson-vai; mas interrogou o fulminado de S. Diniz, que referiu terprimeiro «visto as estrellas ao meio dia» e depois ter soffridosentimento de lorte constricção e estrangulamento; perdendoos sentidos em seguida, não se lembrando de mais nada, atédespertar. E' especialmente interessante e digna de nota asensação luminosa que acompanha a passagem da corrente;phenomeno constante, estejam ou não os electrodos perto dasregiões oceulares. Se por exemplo, se faz passar a corrente deum a outro trechanter, vê o paciente como se lhe passassempor ante os olhos suecessivos clarões.

Resulta—diz o sr. Chauveau-d'estas observações do sr.Arsonval, que a electro-execução, não mata immediatamente,nãoé, pois, processo acceitavei de execução penal, principal-mente porque se pôde reanimar o executado, após longo pe-riodo depois da operação, o que é evidentemente contrario aofim proposto.

Ha mais, ainda: se se fizer respirar artificialmente o animal,antes, durante ou depois da descarga chamada mortal, appa-rece-lhe tétano muscular, mas não perde os sentidos.

Estes factos, diz osr. Dastre, são perfeitamente compara-veis aos do envenenamento estrychnico e curarico. Não ma-tam estes venenos se houver respiração artificial. Pode-seportanto formular para estes phenomenos uma lei geral: que«sempre que um agente physico ou chimico mate por meraacção dynamica e sem dar lesões destruidi-ras, só ha morteapparente e pôde reanimar se o falso morto. A morte real sóvem quando, por effeito da paragem respiratória e da circula-ção, tenham soffrido os próprios elementos anatômicos modi-ficações incompatíveis com a vida». Quanto tempo dura apossibilidade de reanimação) Está pouco estudada ainda amatéria para se responder á pergunta; mas fique já assenteque o periodo de falsa morte ç v4da latente 3 na realidade

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muito mais extenso do que se suppunha, antes d'estas novasexperiências.

Na espécie, importa porem muito distinguir entre mortepor syncopee por asphyxia. Na primeira pára a circulação aomesmo tempo que a respiração; e pode assim durar muitotempo a vida latente. Na segunda, continua a circular o san-gue ainda tempo depois de parar a hematose, pelo que vaedo coração ao cérebro sangue negro, que inflúe como venenodestruidor dos elementos nervosos; é portanto muito maiscurto o período de vida latente, na asphyxia do que na syn-cope.

E* difficil ainda, na verdade, dizer se o coração está perfeita-mente parado no estado syncopal; seja como for, ê incontesta-vel que em certos casos dura muito tempo a vida latente,Poude o sr. Laborde reanimar um cão, que estava morto ap-parente havia muitas horas, com as trações rythmadas dalíngua; foi mister, comtudo, não parar com as tracções, umdia todo. Para taes casos, mandou fazer apparelho próprio,com que se puxa a língua quanto tempo fôr mister.

E prevê curiosos e extraordinários casos de reanimaçãotar-dia. de que se não deve desesperar cedo de mais, visto teremestas novos experiências rasgado tão inesperados horisonlesn'esta questão de vida latente.

(Medicina Contemporânea).

METEOROLOGIA

Resumo 'das observações metero-lógicas do mez de Novembro

Temperaturas—Máxima 30,00; no mesmo mez do anno pas-sado 39,50. Media do mez 26,84; °o anno passado 26,02.Media ao sol 40,30; no anno passado 40,90. Media máxima28,19; no anno passado 27,54. Media minima 24,50; no annopassído 24,37.

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'Baromeiro observado Máxima 7621,0; em egual mez do annopasado 762,50. Minima 758,80; no anno passado 759,40. Media764,49; no anno passado 760,40.

Baromeiro calculado a O. Máxima 758,82; no anno passado759,37. Minima 755.451 no anno passado 756,00. Media757,11; no anno passado 757,69.

O hygrometro oscillou entre 74 e 90; humidade relativa cor-respondente 60,6 e 84,0. Em egual mez do anno passado ohygrometro oscillou entre 79- e 91; humidade relativa cerres-pondente 67,4 e 85,0.

O vento mais consiante loi SE seguindo-se N em 8 dias, eE em;; NW em 3; S em 2 e SW e NE em um dia.

Houve durante o mez 13 dias de chuva, marcando o pluvi-ometro i3,muioo iguaes a 3^2 litros d*agua por metro quadra-do. No mesmo mez do anno passado o pluviometro marcou,em 15 dias de chuva, io2,m"ioo iguaes a 408 litros d'agua.

Houve trovoada fraca nos dias 18, 27 e 28 e relâmpagos so-mente no dia 30. No anno passado houve trovoada nos dias16, 18, 19c 20 e relâmpagos só nos dias 9c aS.

DEZEMBRO

Temperaturas—Máxima 30,50; no mesmo mez do anno pas-sado 29,00. Minima aj.oo; no anno passado .:3,5o. Media domez 27,71; no anno passado 26,80. (Media ao sol 40,12; no an-no passado 41,90. Media-maxima 29,50; no anno passado27,68. Media-minima 25,0 ; no anno passado 24,61.

Baromeiro observado—máxima 762,00; em egual mez doanno passado 761,00.Mínima 759,10; no anno passado 759,00.(Media 760,55; no anno passado 760,00.

Baromeiro calculado a O. Máxima 758,57; no mesmo mez doanno passado 757,75. Minima 755,65; no anno passo 755,48.Media 757,16; no anno passado 756,62.

O hygrometro oscillou entre 70 e 83»; humidade relativacorrespondente 56,6 c 73,0. No anno passado o hygrometrooscillou entre 74* e 93; humidade relativa correspondente 61,0e 88,0.

Os twi/os constantes foram NE e N pela manhã e SE a tar-de; havendo também E em io dias eNW em 3.Houve durante o mez 5 dias de chuva accusando o pluvio-metro ia «o iguaes a 48 litros dágua por metro quadrado.No anno passado o pluviometro marcou, em. 17 dias de chuva,,3»""D5 iguaes a 451 litros d'agua por metro.

Houve relâmpagos nas noites de 1 e 14. No anno passadohouve n'este mez trovoada nos dias 6, 14 e 15 e relâmpagossomente nos dias 10 e 27.

Dr. Innccencio Cavalcante.Dr. Alfredo y\, cAndrade.

Resumo das observações meteoro-lógicas, tomadas no LaboratórioMunicipal de Hygiene, durante oanno de 1894Temperaturas.A máxima do anno foi 31-,50 em 1 e 4 dc Fevereiro; no

anno passado jo',0 nos dias ai de Fevereiro c 20 de Outu-bro.A minima do anno foi 19-,50 em 2 de Julho; no anno pas-sado 20,2 em 28 de Julho.A media do anno foi 22,23; no anuo passado 25,8o.A media máxima do anno foi 28,55; no anno passado 27,06.A media minima do anno foi 22,50; no pnno passado 24,24.A media ao sol foi 40,67; no anno passado 35,0;.Barometro observado.A maior pressão barometrica observada n'este anno íoi

7Ó5,mm50 em 29 de Julho; no anno passado 766,^90 em 29de Agosto.

A menor pressão barometiica observada n'este anno foi758.""6o em 16 de Janeiro; no anno passado 757,80, em 8 deJaneiro.

A media da pressão barometrica observada do anno foi76i"mn; no anno passado ;6imrajo.

— a?4-rBarometro calculado a O.A maior pressão barometrica calculada a O, n este anno,

foi 762,m»54 em 29 de Julho; no anno passado 763tnajT.A menor pressão barometrica calculada a O foi 755mm45 em

Fevereiro; no anno passado 754,uim50.A media de pressão barometrica calculada a O, n'este anno,

fo*i755,mm24; no anno passado 7ç6,"lm55.O hygrometro oscillou entre 69- e 93 durante este anno; a

humidade relativa correspondente de 55,6 a 88,0! no anno pas-sado o hygrometro oscillou entre 69* e 94', e a humidade re-lativa correspondente de 55,0 a 90,0.

Os ventos mais constantes de anno forão SE, N, NE e S»no anno passado SE, NE, N.

Houve durante este. anno 172 dias de chuva, marcando opluviometro io49,u»n75 iguaes 84199 litros d'agua por metroquadrado; no anno passado houve 189 dias de chuva, mar-cando o pluviometro 1120,^5, iguaes a 4482 litros d'aguapor metro quadrado. O mez, era que houve maior numero dcdias de chuva foi o de Maio, marcando o pluviometro, em 22dias, i76,«»iii0f iguaes 3407 litros d'agua por metro quadrado;no anno passado foi o mez dc Julho marcando o pluviometro,em 23 dias, I4>,,um75. iguas a 599 litros d*agua por metroquadrado.

O mez em que houve menor numero de dias de chuva,n4este anno, foi o de Dezembro, em que o pluviometro mar-cou, em 5 dias, ia,o, iguaej a 48 litros d*agua por metroquadrado; no anno passado, foi o de Setembro, era que o plu-viometro aceusou, em 8 dias, 33,^0f iguaes a I?a lifrogd'agua por metro quadrado.

Houve, durante este anno, 19 dias de trovoada, que torão», «5, 16, 17, 21 e 35 de Janeiro; 17, 18 e ai de Fevereiro; 5,4» 38 e j 1 de Março; 1,1 e .8 de Abril; 18, 27 e 38 de No-vembro; alem d'estesdias de trovoada, houve relâmpagosnas noites: 7 de Janeiro, 16 de Fevereiro, 2, 9 e 10 de Março,30 de Novembro e 1 e 14 de Dezembro; no anno passado houve

ppp"1.... •¦ ^¦yma

- 285 -

13 dias de trovoada que forão 8, 2i e 2j de Fevereiro; 8 deMarço; 25 de Junho; 30 de Julho; ió, 18, 19 e 30 de Novem-bro; 6, 14 e 15 de Dezembro; alem d'estes dias de trovoadas,houve relâmpagos nus noites: 6 e 10 de Janeiro; 6 de Abril; 4e 18 de Maio; 14 e 15 de Setembro; 9 e 28 de Novembro e 10e 27 de Dezembro.

Bahia e Laboratório Municipal de Hygiene, 31 de Dezembrode 1 95.

O Director, Dr. Innocencio Cavalcante.O Sub-Director, Dr. Alfredo cAndrade.

JANEIRO DE 1895Temperatura—Máxima 31,50; no mesmo mez do anno pas-

sado 30,20. Minima 25,"50; no anno passado 3|,°so. Mediado mez 28,-56; no anno passado 27,-42. Media ao sol 41,70;no anno passado 43,34. Media máxima 30,69; no anno pas-sado 28,7o. Media minima 25/07; no anno passado 35,"03.

Barometro observado—Máxima 760,60; em egual mez doanno passado 760,80. Minima, 758,00; no anno passado 758,00Media 759.3°; no anno passado 759,70.

Barometro calculado a O—Máxima 757,03; no anno passa-do 757,30. Minima 754,50; no anno passado 755,->o. Media755,76; no anno passado 756,25.

O hygrometro oscillou entre 73/ e 91/ humidade relativacorrespondente a 60,0 e 86,0.

No mesmo mez do anno passado o hygrometro oscillou en-tre 71/ e 89 humidade relativa ccrrespondente 57,0 e 82,6.

Os ventos mais constantes foram S.E.N. e E. havendo tam-bem NE em 6 dias e N\V em 5 dias.

Houve durante o mez 5 dias de chuva,' marcando o pluvi-ometro 1 i,n,mo, eguaes a 56 litros d'agoa por metro quadradoEm egual mez do anno passado os dias de chuva foram emmunero de 15; marcando o pluviometro 35,mil,75, eguaes a14; litros d'agoa,

SERIE IV ANNO XXVI VOL. V. CJ

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- 286 —

Houve relâmpagos nas noites de 22, 26, 27 e 20.A evaporação á sombra foi de I09,mm6.

O Director, Dr. Innocencio Cavallante.O Sub-director, Dr. .Alfredo de cAndrade.

IVecrologia

Em novembro de 1^94 falleceu na cidade do Recife o dr.Manoel Gomes de Argollo Ferrão, medico da Armada ondetinha o posto de capitão de fragata: era geralmente estimadoe considerado.

Em i de dezembro falleceu na cidade do Rio de Janeiro odr. Luiz Manoel Pinto Netto. Nasceu em 1847 ç doutorou-seem 1882.

Em 1889 o governo nomeou-o director do hospital marítimode Santa Izabel, da íurujuba, cargo do qual se affastou quan-do seguio para Campinas no estado de á. Paulo, durante aterrível epidemia que alli se manifestara, cm commis?ão dogoverno. Tinha também sido encarregado em 1887 de abrir olazareto da Ilha Grande, por oceasião da epidemia de cholera-morbus que se manifestou no Rio da Prata. Por oceasião daentrada nessa localidade do vapor italiano- Matleo Bruso des-tinguiu-se pelos desvelos que dispensou aos passageiros dessevapor atacados pela terrível moléstia.

Quando em 1892 fez-se a reforma policial, o dr. Pinto Nettofoi nomeado delegado da 13* circumscripção urbana, cargoque exerceu com geraes sympathias.

Durante a revolta de Custodio José de Mello, foi envolvidoem um inquérito policial sobre a fuga dos presos políticos,drs. Hilário de Gouvêa e Menezes Doria.

Embora nenhuma culpa lhe podesse ser com fundamentoatlribuida, foi violentamente encerrado n'uma prisão, onde es-teve algum tempo e adquiriu a moléstia a que suecumbiu.

—Depois de prolongados soffrimentos cardíacos falleceu no

** - i,--- ¦,:*-.-M,:f.-

— 287 —

dia 23 de janeiro o dr. José Alexandre de Sousa Gurgel doNasceu nessa cidade a 25 de fevereiro de *837 c bachare-lou-se em leitras no antigo collegio Pedro II em ,8j., contan.do apenas 17 annos.

»8^riülius;sc na fco,a dc mcdicina d° Ri°de j«*~»endoH T

^ C°m '0da 3 di9tinc«â0 ° °™°- «««¦cendo de seus collegas a honra de ser escolhido para oradordo anno na cenmonia da collaçào do grau. Como estudanteexerceu os logares de interno dos hospitaes da Misericórdia éda Marinha por concurso e depois de formado foi logo nome-ado med,co do corpo de saúde naval, cargo que desempenhouate I864, quando deixando esta carreira entregou-se inteira-mente a clinica civil nos municípios de Leopoldina e Juiz de*sz£ waes> ati ° ™de »»*™—.Ri^Ta^r1"'3

Acade-N«iona,de Medicina do

NOTICIÁRIO3* Congresso Brasileiro de Mediei-

na e OirurgiaRecebemos o r volume dos trabalhos do y congresso bra-sile.ro de medicina e cirurgia reunido n'esta cidade em Outu-oro de 1890.E foi o ultimo.D'ahi para cá nenhum mais se fez desgraçadamente 1O quarto congresso que se devia reunir na capital do Estado de S. Paulo não o foi por motivos que não conhecemosde modo que parece estar ex(in:to o estimulo que feZ durantetres annos estreitarem as suas relações na convivência da vidascientifica os professionaes que trabalharam juntos nos dois

:sV

— 288 —

primeiros congressos reunidos no Rio de Janeiro e no terceiro

que se realisou aqui.De 1890 para cá a febre bancaria em primeiro logar e as

ardentes emoções da scena política depois arrastaram paraoutro caminho os espíritos e o labor dos homens capazes eactivos.

Foi um infortúnio para a sciencia brasileira !O trabalho que temos presente, bem impresso e correcto

cora esmero, contem as memórias e communicações apresen-tadas nas tres primeiras secções e os debates a que deramlogar.

Os trabalhos da quarta, quinta e sexta secções formarão as

partes de um volume que deve ser publicado mais tarde,depoisde vencidas certas difficuldades com que luta a commissãoiniciadora do congresso.

O r volume, pode-se dizer, sem receio de errar, que nãodesmerece das honrosas traduções da sciencia brasileira.

As memórias são em geral bem estudadas e tem grandedesenvolvimento e importância algumas d'ellas pelo fundo epela forma.

As communicações elaboradas com verdadeiro espirito sei-entifico são notáveis pela claresa e erudição.

Os debates foram em alguns casos animados e discutidoscom vigor.

O livro do congresso contem*A acta da sessão da sociedade medica da Bahia em que os

sócios resolveram realisar o congresso assignada pelo secre-tario da mesma, Dr. Braz Amaral.

Discurso do presidente do congresso Dr. Silva Lima fa-sendo a abertura solèmne dos trabalhos em 15 de Outubro de1890.

Discurso do Dr. Pacifico Pereira, orador oflicial do con-gresso.

1' secção presidida pelo Dr. Ramiro. Contribuição ao es-tudo da hypochondria pelo Dr- Matheos dos Santos.

«—289 — -

Algumas das dificuldades no diagnostico das nephrites peloCons. Dr. Ramiro Mrnteiro.

Contribuição para o estudo da Astasia Abasia n'este Es-tado pelo Dr. Alfredo Britto.

O beriberi e as polynevrites, especialmente as tóxicas eas infectuosas, analogias c differenças, pelo Dr.Esequiel Britto.

Ligeiras observações sobre um caso de morphinismo.2" secção presidida pelo Cons. Freitas.Resultados comparativos das grandes operações praticadas

nos nossos hospitaes cm egual periodo dc lempo nas epochaspre e post-listerianas peio Dr. Manoel Víctorino.

Da intervenção cirúrgica nas affecções do rim e suas vi-sinhanças pelo Dr. Braz Amaral.

3a secção presidida pelo Dr. Pacifico Pereira.Freqüência das endometrites; suas caus as e seu tratamento

curativo c prophylatico pelo Dr. Pacifico Pereira.O hydrolato de louro-cceja nas affecções laryngéas como

meio anesthesico para facilitar a deglutição pelo Dr. BonifácioCosta.

Nota sobre o methodo de Koettstorfcr para a analysc damanteiga pelo Dr. Manoel Joaquim Saraiva.

Pathologia Histórica c Geographica das Boubas,*do Maculue Dracontiase no Brazil: causas da sua aetual raridade ouextineção pelo Dr. Silva Lima.

Hygiene Publica—O Dr. Inspeetor de hygiene procurandosatisfazer a determinação do Exm. Sr. 'Dr. Governador do Es-tado relativamente ao que solicitou-lhe o Minislerio da Justiça cInterior, dirije a seguinte caria circular aos dislinetos clínicosdo Estado.

Aos illustres profissionaes médicos d*éste Estado.—No in-tuito de satisfazer o Aviso Circular de 7 do corrente do Mi-nisterio dos Negócios da Justiça e Interior, determinado emoffieio de 21, do Exm. Sr. Dr.-Governador do Estado, dirijo-me a illusfada classe medica du Capital e do interior, invo-

— aço —

cando o seu prestigioso auxilio no tocante á notificação im-prescindivel de qualquer caso não só das moléstias transmis-siveis, como: febre amarella, varíola, cholera-morbus, peste,sarampão, escarlatina, diphteria, mas, também dos casos dediarrhéa choleriforme, suspeitos, mesmo benignos, e de ou-trás enfermidades que reinem com caracter epidêmico, espora-dico ou endemo-epidemico. Appelto, pois, para o zelo, abne-gaçâo e patriotismo d'essa nobre classe, a que me orgulho depertencer, que se dignem de honrar -me com o seu valiosissimoapoio em prol dos interesses públicos, revelando com prom-ptidão o que occorrer na clinica medica de cada um, de modoque possa nos dias i e tó de cada mez confeccionar um boletimque devo remelter ao Instituto Sanitário Federal, e se adoptemos meios práticos de debellação contra a irrupção ou propaga-ção de qualquer das enfermidades referidas. E, por mais esseserviço que espero lealmente prestareis á saúde publica,só me resta manifestar-vos o meu profundo reconhecimento naqualidade

De vosso attencioso collega e amigo obrigadoDr. Eduardo Gordilho Costa

GAZETA MEDICA DA BANIAAnno XXVI MARÇO, 1895 Aí. 9

TJm caso do occlusão intestinal (1)pelo DR. DEOLINDO GALVÃO

Deu entrada no Hospital de Caridade no dia 27 de Agosto efoi occupar o leito n. 23 da enfermaria de S. Vicente, ser-viço da clinica propedêutica, o indivíduo de nome Lázaro dosSantos, solteiro, de côr preta, 27 annos de edade, natural deS. Paulo, tendo como oecupação o emprego de servente.

Anemiado e enfraquecido, a physionomia do doente dese-nhava os sofírimentos de que era presa: encontramol-o em.seu leito com o olhar amortecido, os lábios cyanosados, fran-zidos pelo esforço constante que era obrigado a empregar embusca de alivio as suas dores; tinha vômitos e era constante-mente accommettido por dores localisadas no abdômen naporção descendente do colon.

Proveitoso e útil foi o interrogatório procedido.Disse nos o doente soffrer ha tempo que não podia precisar

bem; os seus encommodos tinham por origem a difficuldadcque encontrava no acto da defecação, que, diminuindo de diaem dia, de certo tempo para cá só a custa de repetidos purga-tivos encontrava algum alivio.

Foi o doente criteriosamente examinado pelo illustrado pro-fessorda cadeira, o Dr. A. Brítto, que, valendo-se dos doussymptomas apreciados-os vômitos e a conátipação, e notandoainda abaixo do colon descendente um grande tympanismo acontrastar com a sub-matidez que se estendia por todo o restodo abdômen não meteorisado, lavrou o diagnostico de «ocelusão

(1) Transcripto do livro de registros clínicos da cadeira de clinica pro-pedeutica da Faculdade de Medicina da Bahia.

N. do A.SERIE IV ANNO XXVI VOL.V. eI

\J

— 393 —

intestinal»; firmando n'essa emergência apenas o diagnosticoda sede, garantindo estar o obstáculo no colon descendente, nãopodendo dizer logo sua causa, o que só exames repetidos pode-riam cem tal ou qual confiança determinar

Applicando ao doente uma medicação branda, ao mesmotempo purgativa, estimulante e calmante lhe foi receitado.

01eo cle ricino ÓO,00Ethcr sulfuricoLxtr. de belladona 0 I0

Praticou-se ainda mais a (aradisação do intestino-ái/w etextra, (per não dispor a clinica de maehinas galvanicas) as lava-gens repetidas do estômago e do intestino como meio dealiviar o organismo de substancias que devendo ser eliminadasahi se accumulavam produzindo fermentações e intoxicaçõessubsequentes.

Ef realmente assumpto de máxima difficuldade e impor-táncia a determinação nem só da sede como da causa do obsta-culo intestinal.Diversas sào as causas que difficultam e privam as vezes

completamente a passagem das matérias fecaes no tubo intes-tinal.—o accumulo de fezes endurecidas e de corpos extranhosno canal do intestino, o aperto do intestino por cicatrizes quetenham diminuído a luz do canal, o espasmo, a torsão dointestino ou volvulo, a invaginação e, alem d'isso innumerascausas externas, que podem, comprimindo o intestino, oppor-.sea passagem das fezes, taes como: tumores intestinaes, hérniasbridas provenientes quer do mesentereo ou do peritonco, que'encarcerem o intestino, etc, etc.

Importante sem duvida é, como dissemos, alem do diagnos-tico da sede, o diagnostico da causa da occlusâo intestinal a,mais das vezes difficil e trabalhoso.Quando a occlusâo fôr determinada por um tumor que se

— 393 —

perceba pela apalpação ou pelo toque rectal, quando existiruma hérnia engasgada e irreductivel, claro é o diagnostico;quando, porem, tal não acontecer só o exame minucioso dossymptomas poderá nos levar a conjecturas, e o diagnosticosempre provável não pode ter o cunho de uma certeza mathe-matica: «—o diagnostico exacto de um estrangulamento internoé, como diz Hutchinson, ainda um dos problemas mais difíceisda clinica.

Variada é a symptomatologia nos differentes casos: quandose tratar de uma invaginação, pela apalpação do abdômensente-se um tumor allongado que segue os movimentos peris-talticos do intestino, as fezes são sanguinolcntas e o tenesmoanal é um dos maiores soffrimentos do doente.

Em casos de estrangulamentos por brides peritoneaes, ophenomeno se dã as mais das vezes rapidamente, a dôr cexcessivamente forte e os vômitos fecaloides são abundantes.

Ao contrario, porém, quando o obstáculo é produzido porum tumor que vae pouco a pouco comprimindo o intestino, asalternativas de constipação e diarrhea se vão manifestando, ecomo no nosso doente a deíecação se vae tornando de mais emmais difíicil até ceder dc todo, completamente.

Delimitada pelo Dr. A. Britto a sede da occlusão, não poudeno entretanto firmar um diagnostico seguro quanto a causaproductora d'ella: não era um volvulo. não era um espasmo dointestino, tão pouco um tumor estercoral ou uma hérnia estran-guiada; a difficuldade das dejecções se foi apresentando poucoa pouco, as fezes eram sanguinolcntas,—seria uma invagi-nação? um estreitamento cicatricial do intestino? (o doentesoffrera dyscntheria ha pouco tempo)—seria uma causa externaque determinava o obstáculo?

E estas interrogativas não foram também respondidas pelosDrs. Ramiro Monteiro e Pacheco Mendes, e os assistentes daclinica Dr. Vieira Lima e o escriptor d estas linhas, com osquaes conlerenciou o citado professor dc clinica propedêutica.

— 294-Nem os fortes purgativos e os drásticos, nem o mercúrio»e..l,co, que suppunhar» vencer pelo p„o ; eslg„~n.e .,„.*, c que leve apologia como Ambroise Pafé nem òs

tT" eM°M8 l™"*— P- Beaurnel,, nadad*." .Tfôposto em pratrca, condemnando o ill„strado P „re5sor Ibn-lhante conferência o uso bárbaro d'e<sa, m^; - -

venie„tes quanlo perigosas "™ ^'^^ *° ">c»*

clLTéTcZ *"¦"*; a íaradÍSaÇâ0 d° Ínt»slino* o —o-

K~ • " ,aVagenS d° CS,oraa«° Pel» "«bodo deKussrna»,, taes os meros mcdicos empregados em tal emer-

namcméto TZ^T^ ^ "C Nothn^'*hodi-amcnte tao appiaud.da particularmente na Allemanha mWtt s rraados da -tatura dc ^-Si uao era baldado, porém

™Z7lZTéT° aPParC"—te Gorado, diminu.das

que o enchiAm ,' gestlV0 de §az-s e ptomamas tóxicasque o encl, am c por absorpçâo iam gradualmen.e penelrandn circulação, diminuídos ou desaparecidos os vômitos cou. nuav na .^ ^ £

e n

rti :t:rc::::r:r",us5o-sis--^um com algum meteonsmo pareciam annunchra ímminencia da peritonite. «anunciarNão havia mais que differir

a uCmhaegm„ar,:;;;eZ0dda. CÍrUrgia! ° d°Cn,e ««* ^mnadoa uma morte letal, o diagnostico de invao-inarãn * „„• • •esboçado ruia sem elementos para a sua corfirm

""°único dentre os possíveis na es ecie,Vo" „7™tLtZaa .„ ervenção cirúrgica a nalurc.a pode eLnar po s mesma parte do intestino invaginado

d~T0 T driSÍV°: e ° Í"US,rad° Prüfes- "*> asilou

operação da iaparolomia, encontrando o obslacuiot ll

7*-*- ,t ¦> ;-v,,r---:'-'--i-f1,"-."-r- >, ¦o-^x":,y'N;.,~,-f5

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determinada pelo Dr. A. Britto, devido a encarceração do colondescendente por um neoplasma (2).

Tornando-se impossível desfazer esse obstáculo resolveo-scterminar a operação da laparotomia pela enterostomia no pontoonde se tinha encontrado o obstáculo.

Embora sujeito a cuidados não communs em nosso meiohospitalar, algumas horas após a operação o doente se foitornando algido até fallecer em verdadeiro estado de collapso,no dia immediato pela manhã.

A desinfecção completa, absoluta, foi o grande problema re-solvido que veio animar a cirurgia a conquistas altivas e ousa-das; potente e vigorosa para impedir a infecção, que forçaencontrará ella, ou, generalisar.do, encontrará a seiencia, paraoppor barreiras a um inimigo tão terrível como aquelle: ainhibição nervosa?—Choque traumático ou operatorio devidoa extensão da larga ferida praticada c a exposição ao ar demo-rada do plexo nervoso abdominal, o que não poude ser evi-tado, e ninguém evitaria, tal a causa que, antes da infecção,que poderia ser prevenida, determinou a nosso ver a morte dodoente cuja historia acabamos de referir.

Bahia, 3 de Novembro de 1894.Dr. Dcolindo Galvão.

(Assistente da clinica propedêutica).

(2) 0 illustrado professor de clinica cirúrgica foi ajudado n'esta operarãopelo seu digno assistente o Dr. P. li Cerqueira Lima, e os Drs. A. Britlo,Vieira Lima, D. Galvão e os internos das clinicas cirúrgica e propedêutica.

— .296 —

• XralteHa^t «Péoiflque do rankylos.tomiase par lo thymoipar i.E PR0F. DR> ALFREDO

jBRIITO (•)J'ai 1'honneur de communiquer à Ia société les résultats duztt 8ysiématiifue dc ,vpohémie »--troPi;r u Va

delire " """* dtoi*'* à '¦" W <k* K

fèce,t0oUndhJP^mÍqUe °" 'aÍt ''"ame" --oseopique deste on décele .nvariablement desceufsde 1'ankylostome e,1 on donne, d'après l'avis de M r nt. j

cn poudre ,J ' deUX ^ammes de senné«-n poudre avee cinquante centigrammes de r-,lnm*icachei* ri=>r.c i< • 61*»»»«cí. ae calomel, cn quatrecacheis, dans l'après midi, toutes les heures.L'intestin ainsi délivré/on fait prendxe au malade Ie l,„rrtdsix grammes de ,h-°' - 2E£t

o Zit ÍT ? * hCUr£S' 'ieUn- D'*'""antes * 1»

On n'a plus Len f í °" m°inS 8,'ande P">PO«tion.''efle. p Ía i r

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exccPtio™eIlement, vient àman-quer, on le provoque avee trente gram„,es d'huile de ricinQuelques jonrs ap„Sj on ^^ (si J on trouve encore des cenfc An ™-

Püeation du thymol. 1, e* rcueZ ™?

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niràsonemploLuetrois^/Lr imb"0,ndCrCVe-

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""^ S" amíl-"tions grandsr évi-demment. La numerat.on des hcm.ties dc méme que Pexamen»v, S*ralle ;i la so*,s de •"-"»'"ci"-* * BaUa,

... .. ,, ^,, ,^ .._, ^ ^.-.y.- i ¦ - r.-; :¦? , . .-, .,.,..--... 7-'.-'-,rí>l,;.^.y-:.'.^-.^

hemoglobinimctrique témoignent visiblement Ia rapidité de Iareconstitution globulaire et de Ia crase du sang. Les cedèmesse dissipent sansretard, Ia matité précordiale diminue aussitôt,les souffles s'affaiblissent pour disparaitre sous peu, l*appétitrevient quand il manquait et, dans tous cas, une faim vraimentdévorante s'ensuit sans troubler aucuncment 1'intégrité desfonctions digestivos (').

On voit bien que c'est Ia coníirmation absoluc des vues duDr. Adolphe Lutz, 1'auteur qui a le mieux étudié, sans réfu-tation séricuse, on n'en pcut doutor, 1'ankylostomiase.

Du dossier de mes observations je vais retrancher un petitnombre pris au hasard de Ia clinique, le qucl vous donneraune idec à pcu prós juste de 1'efiicacitc de ce remède et desrapports inéluctables de l'ankylostomiase et de lhypohémie,Sur une série de neuf malades entres à Ia fin de 1'année der-nicre, on a retire 3.321 ankylostomes que je vous apportemaintenant dans cc flacon et qui sont ceux que l'on a pueompter, 145 ascarides lombricoídes et 21 tricocéphales. Lamoyenne a été, par conséquent, dc 369 pour l'ankylostomaduodenale, dans ces malades. .Celui qui avait Ia plus grandequantité d'ankylostomes cn a expulse 541 en trois fois; 487 à Iaprcmière, 48 à Ia deuxieme et ó à Ia troisième 11 y a eu unmalade qui a rejeté, dans une seule fois, 520 ankylostomes et101 ascarides, n'en conservam plus aucun. Ce fait s'est repro-duit encore une fois seulement chez un autre malade, 447 anky-lostomes ayant été elimines.

Des autres sept malades, chez quatre il a suffi de donner1'acide thymique deux fois: chez deux, on en a eu besoin detrois fois; et chez le dernier, finalement, on n'a pu 1'employerplus d'une fois, car il s'agissait d'un vieillard africain agé deplus de cent ans, extrêmement faible par Ia décrépitude, et ilm'a paru raisonnable de ne pas 1'exposer à Ia fatigue d'une

(*/ Apnis 1'application du thymol, j'ai 1'babitude de donner deux a troispilules, par joar, selon les cas, de sulfate de ftr (0,10) sulfate de stry-cünine, (0,002) et extrait de gentiane.

— 398 ~

répétition du traitement à cause d'un petit nombre de vers quiresteraíent dans son intestin, après avoir déjà chassé 298 anky-lostomes, 4 ascarides et 4 tricocéphales, avec Ia premièreapplication.

La moyenne pour ^expulsion complete de ces helminthes aété, donc, de deux fois; mais, clest toujours à Ia première quele plus grand nombre est rejeté. En effet, ayanjt été de 369,ainsi que je l'ai déjà dit, Ia moyenne, de 520 le maximum et de178 le minimum pour Ia première fois, cette moyenne a été,cependant, seulement de 52 pour Ia deuxième et de 18 pour Iatroisième.

J'ai observe aussi que l'effet anthelmintique ou vermífuge nes-exerce pas seulement sur les ankylostomes, mais encore surles autres vers intestinaux, particulièrement sur ceux des genresascaris lombiicoides et tricocephalus díspar. Lc fait suivant m'asurtout frappé 1'attention: chez un malade oü 1'examen micros-copique avait rcvélé, à côté des oeufs d'ankylostomes, ceuxd'ascarides en proportion remarquable, je me suis decide parce motif à employer Ia santonine pour en voir aussi l'action surles ankylostomes. Hé bien, 1'effet a été nul sur ces derniers etinsignifiant sur les autres, tandis que, après quelques jours, lethymol faisait sortir les uns et les autres en grande profusion.

Chez un autre malade ci-contre mentionné, jlai vu aussi Icthymol expulser tout d'un coup 101 ascarides de toute longueur,même des plus petits en proportion notable. D'après ces caset d'autres analogues observes par moi, je m'incline à croireque le thymol, spécifique sans égal jusqu'ici envers les anky-lostomes. est d'ailleurs supérieur à Ia santonine, même àl'égard des ascarides, nonobstant M.M. Baron de Maceió,Grassy et Parona 1'avoir déjà employée contre 1'ankylosto-miase.

En faisant cette communication, je prétends seulementaífirmer Ia priorite de l'introduction chez nous de cette méthodede traitement, excellente sur tous les points de vue et qui mé-

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rite certainement d'être vulgairisée dans un endroit ou 1'hypo-hémie intertropicale, quoiquc l'on ait prétendu le contraire,continue à être si freqüente que dans mon service clinique,l'année dcrnière, il y a eu presque douze pour cent de cas decette maladie. (*)

Sociedade de IVIodiciiia e Oirurgiada 13 ali ia

sessão de 13 nn jam-iro de 1895(Continuação)

Presidência do Dr. Pacheco >Iejuiá»Tratamento especifico da ankylostomiase pelo thymolO Dr. ALFREDO BR1TTO lê uma communicação que vai

publicada na primeira parte da Gazeta (pag. ,^296 ).O Dr. TILLEMONT refere o caso d'uma criança hypohemica

morta, de modo inteiramente imprevisto, pouco dias depois dchaver tomado o thymol, que lhe mandara prescrever no AsyloS. João de Deus.

Confessa nunca mais ter querido empregar esse medica-mento, depois de um tal échec.

^ Relativamente á hypohemia, diz também des ejar saber a opi-

nião do autor da communicação sobre a febre que se observaordinariamente nos casos adiantados, bem como sobre a acçãodo leite de gamelleira cujo uso é tão espalhado, e si é indicadoo tratamento systematico referido, em todos os casos, mesmoquando já existe hydropisia generalisada ou anasarca.

Dr. ALFREDO BRITTO.-Comprehende-se perfeitamenteque o caso relatado pelo distincto collega não pódc provarcousa alguma.

Não se fez uma observação completa, as fezes não foramexaminadas nem antes nem depois da applicacão do medica-

(*) II est de mon devoir de remercier ici mon labourieiu interne, Fran-cisco Bcmlim. qui m'a prêlé son inteliigont concours dans ces expériencescliniques si aouvent ennuyantes.

SERIE IV ANNO XXVI VOL.V. 52

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mento, não sc sabe a dose nem o modo porque o thymol foi

prescripto, o exame Ja ourina não afastou a hypothese mais queprovável d'uma complicação renal que tivesse posto um termoinesperado á vida do doente por uma explosão uremica repen-tina, etc., etc.

Ainda quando minha communicação não pudesse ler nenhumoutro mérito, eu me felicito de ter tido a opportunidade detranquilüsar o Sr. Dr. Tillemont siobre a innocencia e a efii-cacia d'esse tratamento que uma coincidência deplorável lhefez injustamente abandonar.

Quanto ao leite dc gamelleira lão usualmente empregado,eu não pude ainda experimental-o, devido á extrema difíícul-dade com que se luta para obtcl-o n'esta cidade; e bastaria estarazão summaria para fazcl-o substituir pelo thymol, cujo em-

prego é tão fácil, mesmo que fossem ambos dc egual efficacia.Não o creio, entretanto.

Pelo que tenho visto e lido, estou convencido que esse trata-mento de uma duração mais longa e sem nenhuma prova posi-tiva cm seu favjr é muito inferior ao tratamento pelo thymol.

Sem nenhuma acção ankylostomicida, porquanto o Dr. Al-fredo Luz viu os ankylostomos viverem perfeitamente bemn'este leite, os resultados adquiridos, pelo menos os obtidosno hospital, me parece que se pôde bem consideral-os, dcaccordo com o Sr. Dr. Silva Lima, como devidos principal-mente ao afastamento ou remoção do foco da infecção, impe-dindo seu renovamento, e á expulsão lenta dos vermes quese faz naturalmente, por condições múltiplas bem conhecidas,a par de uma alimentação mais substancial e reconstituinte.

Eu não posso de bom grado acceitar a theoria segundo a

qual este leite deve soffrer no tubo digestivo uma elaboração

previa que o desdobra fazendo nascer um óleo essencial, umácido ou um ether, que mataria o destruiria inconlinenti osankylostomos, afim de explicar a falta de sua apparição nasfezes dos doentes que d'cllc usam.

Si estas duas hypothescs, que até agora não foram dc modo

" ' v-. - ™; •

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algum demonstradas, se devessem realisar ambas, si o novocorpo formado tivesse o poder dc digerir, por assim dizer, oenvolucro resistente de chitina que protege exteriormente essesvermes, em tal caso a mucosa intestinal a que elles estão a-ar-rados sollreria lambem necessariamente sua acção dcstruidõrao que se não pode absolutamente admittir em face da inno-cuidade reconhecida de semelhante medicação, ainda quandopor muito tempo prolongada. Alem d'isso, bastaria uma appli-cação única, ou, quando muito, repetil-a uma ou duas vezespara curar o doente, e freqüentemente é justamente o contrario'que se vê, conforme ensinam as observações conhecidas, istoe\ a necessidade de um tratamento longo e demorado.

Quanto á febre hypohemica, de que se oecupou também omeu illustre collega, só a vi uma única vez, n'um caso fatal,quando não se fazia ainda o emprego do thymol em meuserviço, e a considerei dependente da inflammação catarrhalintensa da mucosa digestiva (gastro-enterite), bem como daauto-intox.cação resultante do exagero das fermentações intes-tinacs que é de regra n'estas condições.

Nos casos extremos em que a anasarca se torna excessivapor causa principalmente da cardiectasia com asystolia immi-nente, se deve por certo, ainda segundo os conselhos de Lutzfazer preceder o tratamento especifico pelo uso dos drásticos(aguardente allemã dc preferencia) c depois a digital.

Ao concluir, devo deixar registrado que os resultados dotratamento colhidos em meu serviço fizeram adoptal-o poroutros collegas do hospital, que teem podido verificar a exa-ctidão dc minhas assevera çõs.O Dr. Gonçalves de FiouE.REDO.~Vem communicar á

Sociedade de Medicina e Cirurgia, que, como auxiliar doDr. Almeida Couto, no serviço de Clinica Medica do Hospitalde Santa Isabel, cm fins dc 9,, teve occasiào dc empregar othymol em 6 doentes, segundo a prescripção do Dr. Lutz.

Sente não lhe ter sido possível contar os ankylos tomos,

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attento a falta de fiscalisação do enfermeiro e dos cuidadosda Irmã de Caridade.

Não põe duvida comtudo, em affirmar os cxcellentes resul-tados, que se demonstraram rapidamente pela melhora noestado geral.

Parece-lhe que a medicação do Dr. Lutz é bastante racional,posto que prepara por meio do senne, com a descamação epi-thelial, o descollamento dos ankylostomos c seu fácil ataquepelo thymol.

O Dr. JULIANO MORElRA,diz que depois de ter visto osbons resultados obtidos pelo Dr. 1Britto no seu serviço cli-nico, animou-se a empregar o thymol na ankylostomiase; viuentão que o seu receio contra este ácido era completamenteinfundado: tem-no usado quer na enfermaria de S. Lázaro,temporariamente ao seu cargo, quer em poucos casos da clien-tela particular; até aquelle momento não tinha observado acci-dente capaz de constituir condemnação d'estc excellente ver-mifugo. Notou sempre que cem os ankylostomos eramexpellidos muitas ascarides.

CHOLERA MORBUS

Exgotada a ordem do dia o Dr. Tillemont Fontes pediuao Dr. Nina Rodrigues esclarecimentos sobre o cholera-morbusora existente no Rio de Janeiro e sobre os meios preventivosadoptados pelo Conselho de Saúde Publica para evitar a in-vasão d'este Estado pelo terrível morbus.

O Dr. Nina respondeu que não poderia dar informaçõesexactas sobre a epidemia no Rio de Janeiro e que nas con-dições em que actualmente nos achamos, estamos completa-mente desarmados para impedir a disseminação do choleracaso elle chegue ao nosso porto.

Apoz ligeira discussão ficou deliberado que uma commissãocomposta dos Drs. Tillemont Fontes, Nina Rodrigues e Bo-nilacio Costa dessem parecer acerca dos meios a indicar ao

'fa"-.--

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Governo afim de impedir o desenvolvimento do cholera entrenós caso elle aqui se manifeste.

Nada mais havendo a tratar-se encerrou-se a sessão ficandoannunciado para ordem do dia da sessão immediata o sc-guinte:

Pelo Dr. Alfredo Magalhães: A pesquiza do metal dc umsal, por via humida, que logar deve occupar a platina naseriação analytica?

Pelo Dr. Bonifácio Costa; Uma anomalia dentaria impor-tante—5 dentes caninos superiores.Sessão do ST cio Janeiro do 1895

Presidência do Dr. Pacheco MendessuMMARio: Dr. Alfredo Magalhães: Na pesquiza do metal de um sal, por via

humida que Jogar deve occupar a platina na seriação analytica?-Dr.Bonifácio Cosia.—Uma anomalia dentaria importante;—5 dentes ca-ninos superiores.

Expediente: Recebeu-se o Boletim mensal de estatística demo-grapho-sanitaria do Estado de S. Paulo (mez de Dez. dc1894) e o / .0 volume dos trabalhos do }." Congresso Braüleirode Medicina e Cirurgia.

Na pesquiza do .metal de um sal, por via humida, oue logarDEVE OCCUPAR A PLATINA NA SERIAÇÃO ANALYTICA?

pelo Dr. ALFREDO DE MAGALHÃES

Entre nós o processo seguido n'esta pesquiza c o que divideos metaes em cinco grupos.

Do i.° fazem parte os metaes cujas soluções precipitam peloácido chlorhydrico sendo este precipitado insoluvel n'um cx-cesso de reactivo—são: o chumbo, a prata, o mercúrio (emcompostos ao minimo) e o thallio.

Do 2.' lazem parte os que não dando reacção pelo acídochlorhydrico, si a solução estiver fracamente ácida precipitampelo ácido sulphydrico.

N'clle vê-se figurar alguns corpos que não são metaes e sim

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metalloides, o que se explica pelo facto de poderem elles func-cionar também como elementos electropositivos. Ahi eslãocollocados o antimonio, o ouro, a platina, o molybdeno, oarsênico e o estànho (estes dous ulúnos em compostos aomáximo e ao mínimo), o cadmio, o bismutho, o cobre, ochumbo (este nas soluções diluídas pois n'e?tc caso escapado i.' grupo), o palladio, e o mercúrio (nos compostos aomaxímo).

No 3.0 estão collocados aquelles que, não precipitando pelosreactivos precedentes, dão, em soluções neutras ou alcalinas,precipitado pelo sulfureto de ammonio. São: o zinco, oallu-minio, o chromo, o manganez, o urânio, o cobalto, o nickel,e o ferro (em compostos ao maxímo e ao mínimo).

No 4 " figuram os que não tendo precipitado pelos reactivosanteriores, o fazem quando tratados pelo carbonato de sódio.Estes são: o cálcio, o magnesio, o baryo e o estrondo.

Finalmente no quinto grupo acham se reunidos os metaes

que dão resultados negativos pelos quatro reactivos prece-dentes; e são: o potássio, o ammonio, o sódio c o lithio.

Pelo que fica dito vè-sc que a platina acha-se figurando no2.0 grupo.

Os metaes d'este grupo caracterisam-se pela insolubilidadedos seus sulfuretos em soluções fracamente ácidas Este grupoé dividido, por todos os analystas que se oecupam do assum-pto, em 2 subgrupos: um, dos sulfuretos que se dissolvem nosulfureto de ammonio, outro, dos que não se dissolvem n'estemesmo reactivo.

Os que se dissolvem são os sulfuretos ácidos, isto c, os que,em presença do sulfureto de ammonio, que é um sulfuretobásico, estão em condições de produzir um sulfosal, solúvel.

Os que não se dissolvem são os que não se acham n'estascondições.

A platina, cm qual dos dous subgrupos d'este 2.' grupodeverá ser collocada? Todos os auetores collocam-n'a no \.\dos sulfuretos solúveis no sulfureto de ammonio.

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Collocamol-a no 2.°; vejamos os motivos que a isto nosimpellem.

Dá-se como razão theorica de sua boa collocação n'aquellelogar o pertencer a platina á ultima classe do barão Thenard eserem os sulfuretos dos motaes d;cstas ultimas classes, sulfu-retos ácidos.

Analysemos este ponto: na ultima classe de Thenard, a setima, figuram o ouro, a prata, a platina, o palladio, o ruthenio,o iridio.

Deixemos de lado o ruthenio c o iridio que não costumam serinclusos n'este methodo de pesquiza analytica, pelo facto dcserem metaes raros.

Temos a estudar 03 quatro restantes: o ouro, a prata, aplatina e o palladio. D<estes o ouro e a platina são collocadosno 1.» subgrupo, o palladio no 2:, a prata fica logo no i.-grupo.

Ha auetores que não consideram esle i.- grupo ido ácidochlorhydrico) como reactivo geral) e para os quaes o .. • grupoé o 2.- citado. Para estes a prata figura no 2, subgrupo.Ficam portanto no 1.0 subgrupo apenas o ouro e a platina.Na 6.» classe figuram o mercúrio e o rhodio; este, metalraro, aquelle, collocado, no processo que descrevemos, no 2.-subgrupo os saes ao máximo, no ..• grupo os saes ao mínimo';para os que não consideram oi.- grupo, collocado no 2.'subgrupo tanto os saes ao máximo como ao minimo.

Na 5/ classe acham-se o cobre, o chumbo e o bismuthotodos tres inclusos no 2.- subgrupo da sessão que tem comoreactivo geral o ácido sulphydrico.

Da 4/ classe fazem parte o estanho, o*tungsteno, o pelopioo urânio, o tantalo, o osmio, o molybdeno, o niobio, o antimo-mo, o titano. D'estes o tungsteno, o pelop.o, o tantalo, oosmio, o niobio e o titano são metaes raros e não estão inclusosno processo; o urânio não faz parte do 2.° grupo; o estanho(em saes ao máximo c ao minimo), o molybdeno, o antimonio,

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pelo confario figuram n'elle,— todos tres no i.° subgru-po.

Na 3." classe do barão Thenard encontramos o chromo, ocadmio, o cobalto, o ferro, o manganez, o nickel, o zinco e ovanadio. Dtestes, o ultimo é raro e não figura no processoanalytico, o cadmio figura no 2.- grupo descripto e é collo-cado no ?..' subgrupo dteste, os demais fazem parte do 3/grupo.

Na 2." classe vemos collocados o zirconio, o didymio, oglucinio, o cerio, o thorio, o lanthano, o erbio, o therbio, oyttrio, o magncsio e o alluminio. D'estes os nove primeirossão metaes raros, o magnesio figura no 4/ grupo e o allumi-nio no 3.'.

Finalmente na i.« classe do barão Thenard temos o césio,o rubidio, o baryo, o cálcio, o estrondo, o potássio, o sódioe o lithio. Dtestes o i.* e o 2.; são metaes raros que só podemser caracterisados pela analyse espectral, não fazem parte doprocesso descripco; 03.", 4<* e 5.* fazem parte do 4.* grupo;o 6.•" 7.* e 8.* estão inclusos no 5.* e ultimo grupo.

Resumindo, portanto, temos 7 classes nas quaes figuram 48metaes, assim distribuídos:

8 na 1." dos quaes nenhum faz parte do 2.' grupo da sc-riação analytica.

11 na 2*n dos quaes nenhum faz parte do 2.' grupo.8 na 3.B apenas um faz parte do 2.' grupo e fica no 2.'

subgrupo.10 na 4." dos quaes 3 do 2.' grupo (todos do ..• sub-

grupo).3 na 5.» collocados no 2.* grupo (todos do 2.* sub-

grupo).2 na 6." dos quaes um só collocado no 2.' grupo (este

mesmo no 2.' subgrupo).6 na 7/ dos quaes quatro fazem parte do 2.' grupo (sendo

2 do 1.' e 2 do 2." subgrupo).Portanto dos 12 metaes dtestes 48, (pertencentes 1 á 3.», 3 á

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4a. j á 5/ i á 6.' e 4 a 7.« classes), que são classificados no2. grupo da senação analytica, 7 faxem parte do 2.- subgrupoisto é a maioria d4elles. 'Além cPisto nas 3 ultimas classes (5/, 6.- e 7.-) existindooito metaes do 3, grupo, ó pertencem ao a.- subgrupo capenas a ao primeiro, isto é, J partes pertencem ao 2.' sub-

grupo e apenas iparte fica pertencendo ao i.- subgrupo.Deprehende- se das considerações que venho de fazer queo d.zer-se que a platina, theoricamente, deve figurar no i ¦

subgrupo do segundo grupo, por ser metal de uma das ulti-mas classes de Thenard, e possuírem os metaes d<estes sulfu-retos ácidos, como taes susceptíveis de dissolvercm-se no sul-fureto de ammonio, por íormação de um sulfosal solúvel nãoe razão convincente, uma vez que a maioria, isto é, as y, par-tes dos sulfurctos dos metaes das ultimas classes de Thénardsao insoluveis no sulíureto de ammonio e portanto nào sãoacidos-Que mais é que o mesmo se dê com o sulfureto deplatinarIsto pelo lado theorico.Estudemos a questão pelo lado pratico.O precipitado formado pela corrente dc gaz sulfhydrico sobreum sal de platina, precipitado de sulfureto de platina, nào sedissolve no sulfureto de ammonio, portanto a platina deve serccllocada no 2.' e não no 1.° subgrupo do 2.0 grupo.Afirmamos, contra a opinião geral, que o precipitado do

sulfureto de platina uão se dissolve no suljureto de ammonio-, defacto, tenho verificado isto, qualquer que seja o sulfureto deammonio empregado, seja o recentemente preparado, seja omais antigo de que dispõe o laboratório, ó preparado já ha úmanno.

Será que o sulfureto de ammonio não fosse convenientementepreparado)

Tanto o velho, que já encontrei prompto, como o novo, feitopor mim, foram ambos preparados pelo methodo clássico,' des-

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cripto em todas as obras, muito simples, e ao alcance de

todos.Além de que o professor A. Villiers, aggregado á Eschola

superior dc Pharmacia e encarregado do curso de chimica

analytica, em sua obra sobre analyse dos saes por via humida,

colloca a platina no 2 * subgrupo do %.' grupo.

Será que aquelle prolessor não lenha também preparadoconvenientemente o sullureto dc ammonio de que se utilisou?Parece-me muito pouco provável.

Diante do exposto, acho de conveniência, para evilar enganosde analyse, retirar a platina do i." subgrupo

"do ".' grupo,onde a collocam todos, e fazel-a entrar no numero dos metaesdo 2.* subgrupo.

Anomalia importanteCINCO DENTES CANINOS NO MAXILLAR SUPERIOR

.elo Dr. BONIFÁCIO DA COSTAE' opinião corrente que os dentes caninos não offerecem a

anomalia dc numero, isto é, dentes supranumerarios; c a esterespeito entre outros llarris exprime-sc assim:

Les canines ne présentent jamais de dents sur numera ires, etles petites molaires n'en présentent qu exceptionnellement.

Nunca achei razão n'esle modo de pensar e considerei-osempre um attentado as leis physiologicas uma aberração ma-nifesta contra os principios biológicos conhecidos; mas não

possuindo ate então uma só observação, quer própria, queralheia que militasse em meu favor, cingia-me apenas em

provar aos meus discípulos a impossibilidade de semelhanteexcepção, tomando por base as próprias theorias que explicama existência des dentes supranumerarios, como sejam: A divi-sào dos bolbos dentários; o augmenlo do numero das lâminas dos

folliculos, as quaes partem do barrete primitivo; ou ainda atheoria de Kullmann que pensa que os restos do cordão epithelial

que liga primitivamente o Jclliculo ao barrete, poderr, quando

— ?09 —dssl.ci.io este, repare coiislituii-se em oigio do esnuiHc, ,or.""" * "'"r"de f"*** * '"» »ovo jolliculo.

poderá dl""6 "^ ' lhe0na q" " qUdra a«eilar »»"»-

aos den. CStC eVclus;vismo ™ -loção tão somenteaos dentes caninos.

Deparando eom um brilhante exemplo de anomalia destanatureza nau c, ,„-, pcrder, e tratci immediatamente de obter¦»• «odeio, afim de estampal-o para tornar mais clara e apre-cavei a referida anomalia a qual passo a descrever.E do maxlllar superior e de um mo?o de v.nte e sc.s annosde ,d de branco, de boa constituição gosando da melhor saúdeo molde da peça que vae junto.Po»». excellentes gengivas, bem firmes, sem apresentarema auun. lesío. As arcadas alveolares bem como, a abobada

palatma, e as demais partes da bocea completamente são, ecom a melhor coloração.Todos os dentes bem conservados exceptuando-se o primeiropequeno molar direito onde apenas percebe-se uma pequenacarie do segundo periodo.Os dentes estão dispostos da seguinte maneira, como se po-dera verificar do desenho junto.Os incisivos centraes muito regulares bem como o incisivolateral direito, faltando porém o esquerdo.

Os cinco caninos objecto de nossa observação e estudoacham-se distribuídos no maxillar assim: trez caninos do ladodireito e dous do lado esquerdo; os do lado direito, dous estãocollocados regularmente na borda alveolar e um que se achadesviado tomara a direcção da abobada palatina mas approxi-mando-se assás da borda alveolar correspondente, pela parteinterna, distanciando-se dos deus outros caninos um pouco econservando-se voltado sobre o ei,o e oecupando para dentroo espaço entre elles.Os caninos do lado esquerdo conservam-se na borda alveolarem posição normal. O primeiro canino direito é um canino quese poderia chamar de transição, pois oíTerecendo os caracteres

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dos verdadeiros caninos tem uma ligeira apparencia de incisivolateral, os tres outros são mais ou menos règulares; e o que seencontra na abobada palatina junto aos alveolos é quasi cylin-drico perto do colleto, e possue um corpo mais reforçado queos outros, tendo a parte cylindrica muito curta e o cuspideconstituindo quasi o dente.

Os quatro pequenos molares e < s quatro grossos molaressão muito règulares e estão normalmente implantados nosalveolos.

Os do siso, estes ainda não fizeram a sua erupção, enem olTerecem signaes que indiquem a sua presença, aindamesmo em tempo um pouco longe, pois nem possue o alarga-mento para traz do maxillar onde elles devam apparecer,notando que a pessoa tem, corno já dissemos vinte e seis annosde idade e é sadia e robusta.

Assistência publica cios AlienadosExgotada a ordem do dia o Dr. Tillemont Fontes expoz as

condições horroiosas em que achavam-se os alienados queeram enviados á casa de correcção com o fim de aguardarvaga no Asylo de S. João de Deus; em vista do que propozque a Sociedade de Medicina e Cirurgia proteste desde jácontra semelhante reclusão, attentatoria dos princípios de hu-manídade e deponentes do nosso estado de civilisação.

Na discussão tomaram parte os Drs. Britto e PachecoMendes, ficando estabelecido que a commissão eleita para darparecer acerca do Asylo S. João apresentasse seu trabalho afimde que fosse elle remettido ao Governo que deliberará comolhe aprouver.

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Sessão de 35 de Fevereiro de ISO5Presidência do Dr. Alfredo Britlo

O presidente communica a Sociedade a circular da Inspe-etc™ dc Hygiene do Estado, acerca dos casos de molesLepidêmicas.Em seguida os Drs. Juliano e Alfredo Magalhães requere-

72 um dT d3S dÍSCUSSÕCS S°bre " t!UeS,Ses »roP°='- Porcada um d elles em sessões anteriores.

Sessão de 9 de Marco de 1895Presidência do Dr. Pachrco Mendes

ummario: Expediente. Apresentação de um doente alTeclado de Bolão deBiskra. Nola sob* a hyg.eni au.icular e a audição dos phono^pbwDiscussão: Drs. Brilto e Cerqueira Lima. »°noBiapiio*Expediente: Recepção do Bdetr.n annual de estatística demo-

graphosanilari, do Estado de S. Paulo, e o Bolelim „misal(Janeiro) do mesmo Estad «.Apresento de doenle: O Dr. ju|ia„0 apresenta a Sociedadeum doente, do serviço clinico do Dr. Pacheco Mendes, em suaopinião affectado de botões de Biskra, quatro de forma paniloma.osa, e dous podendo ser classiflcados na varieTde^tiva de Deperet et Boinet.Em seguida o Sr. Presidente deu a palavra ao Dr. BonilaeioU)sta que leu o seguinte:

HYGIENE AURICULARA propósito dos phonographos

pelo Dr. BONIFÁCIO DA COSTAA audição dos phonographos nào é tão innocente como aprimeira vista nos parece.Ha pessoas que impunemente podem auscultar uma oumuitass essões consecutivas; em outras, apenas uma sessão dei-

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xaiá um certo ruido mais, ou menos intenso, e até prolon-gado.

Comprehende-se que estando o apparelho auditivo são,funccionando perfeitamente bem, não tciiJo experimentado emepocha alguma, -a mais ligeira perturbação, é muito naturalque nada haja que deva contraindicar esta agradável diversão;o que não soe acontecer quando o órgão, pelo contrario játiver passado por qualquer alternativa pathologica, maxime,sendo esta recente; ou então quando o organismo, devido auma longa enfermidade, achar-se assás enfraquecido, o syste-ma nervoso superexcitado conservando ainda impresso o cunhoda affecção de que fora victima; é n'este caso sobre modo pru-dente evitar de ouvil-o, e querendo fazel-o, convém não abusarem ouvir mais de uma sessão, e esta mesma interromper, logoque um ruido anormal se faça sentir.

As pessoas nervosas, as hyslericas, as epilépticas, etc. podemvir a soffrer da audição pelo uso de taes apparelhos.

As creanças especialmente de pouca idade será convenienteprohibir-se de auscultal-os, principalmente por muito tempo,com irequencia; porque n'estas condições poder-se-ha mani-festar para o órgão, qualquer perversão cí nsequente de suafragilidade para supportar impressões sonoras de semelhantenatureza.

E' também, por sua vez uma grande e até imperdoável faci-lidade entregar-se a esse exercicio, quem quer que seja, imme-diatamente apoz uma bòa e lauia refeição, especialmente sen'ella houver feito uso dc substancias alcoólicas; porque nãoserá impossível resultados até funestos.

Para a convicção do que acabamos de expor basía-nos estasimples ponderação:

O mechanismo pelo qual nós ouvimos naturalmente é com-pletamcnte alterado, quando levamos um tubo ao conduetoauditivo externo directamente c recebemos por seu intermédioas vibrações sonoras.

A accommodação da orelha media em relação a estes sons,

Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia

/^y'^f. jf y^iy \

Esta gravura é copia do modelo em gesso apresentadaá Sociedade.

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varia consideravelmente, é lacto assente, que ninguém con-testa, portanto as modificações experimentadas por este órgãotão delicado e complexo, sujeito a tantas leis, não poderásoffrer impassivcl eslas transições, desde que haja uma lesãode qualquer que seja a natureza, um desvio em seu íuncciona-lismo, uma predisposição, embora muito exigua e insignifi-cante.

Em 1877 com relação aos telephones, Clarence et Blak exter-narani-se de modo quasi análogo; e mais tarde suas previsõesforam sanccionadas por factos clínicos, transformando suashypotheses em realidades.

Decorrido algum lempo Gele c alguns outros, observaramlesões auriculares, ligadas à auscultação dos telephones.

As revistas de otologia de quando em vez registram um casoclinico d'esta ordem.

Penso não ser fóra de propósito estas minhas cogitações arespeito dos phonographos.

Sou até de parecer que d'entre os que actualmente fazemvida da profissão de fazer ouvir estes apparelhos, pelo habitoconstante de reforçar o ouvido para accompanhar aos queouvem, e ouvirem conjunetamente com elles para bem dirigirsuas machinas possam pela accommodação forçada da orelhamedia, vir a sentir qualquer differença na acuidade audi-tiva; e portanto, acontecerá com estes, o que observa-se mu-tatis mutandi, com os gravadores lithographos, relojoeiros, etc.que por um vicio de accommodação inherente ao jogo do tra-balho, tornam-se myopes; estes tornar-se-hão por sua vez

'semisurdos, ainda que ligeiramente.Citarei trez casos que apoiam a nota supra. O i.° era o de

uma senhora que soílrendo de catarrho das trompas, apoz umaaudição do phonographo, qualquer ruido era percebido comose fossem as peças ouvidas anteriormente n'aquellc appa-relho.

O 2.0 era o de um moço que tendo tido uma nevralgia den-taria, dias depois indo ouvir o phonographo, manifestou-se do

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mesmo lado da odontalgia uma cephalalgia, que incomir.o-dara-o por espaço de alguns dias.

O 3.' caso era o de um moço que tendo acabado de almoçarfoi ouvir o phonographo; apoz a 2 * peça foi obrigado a inter-romper a audição por isso que sentia-se incommodado, mani-festando-se depois symptomas de congestão que detiveram-n opor alguns dias no leito e em tratamento.

O Dr. CERQUEIRA LIMA diz conhecer a primeira obscr-vação a que refere-se o Dr. Bonifácio e que realmente a doentesoffre de um catarrho das trompas, catarrho este já diagnosú-cado por vários collegas.

Sossãodelõ do Março do 1895Presidência do Dr. Pacheco Mendes

suMMARio: Um caso de berne no canal lacrimal pelo Dr. Melgaço. -Parecersobre as medidas prophylacticas contra o cholera pelo tír. TiltemontFonlesdo cathelerisme retrograde pelo Dr. Pacheco Mendes.

Um caso de «Berne» no canallacrimal

pei o Dr. MELGAÇONão sendo freqüente a localisação do bicho Berne no canal

lacrimal, eu julguei conveniente referir a esta Sociedade umcaso, que minha estada recente no sul d'este Estado deu-meensejo de observar.

Nos últimos dias do mez p. p. apresentou-se a consultar-meum rapaz, vaqueiro, de 18 annos de idade.

No angulo interno do olho esquerdo existia um tumor salientee rubro; as conjunetivas quer palpebral quer ocular muito hype-remiadas; dores insupportaveis martyrisavam o rapaz. Tendosido visto por outros collegas, elles suppuzeram tratar-se deum caso vulgar de ophtalmia.

Observando com attenção pude ver que havia no referidotumer um ponto mais escuro, alarguei com um bistouri omesmo ponto, conseguindo com difficuldade e com uma pinçae em varias sessões, a extracção da larva que tenho o prazer

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de apresentar-vos. Comprehende-se quanto será fácil um me-dico, não habituado a observar as determinações do bichoBerne, tardar em estabelecer um diagnostico que sendo feitocedo livra o doente de serias torturas.

0 Dr. JULIANO diz que, sendo o Prof. Raphael Blanchardmuito interessado no estudo do Berne, pede ao Dr. Melgaço e áSociedade a larva apresentada afim de mandal-a ao referidosábio que tem prestado tantos serviços ao estudo dos dipterosparasitas.

Parecer sobre as medidas prophylaticas contrao cholera -morbus

pelo Dr. TILLEMONT FONTESA epidemia reinante de cholera-morbus em localidades de

alguns estados do sul, embora alli se tenha apresentado comcaracter attenuado, deve merecer aqui seria consideração, ten-dente especialmente aos meios de sua prophylaxia. Si é lasti-mavel que, sob estes pontos de vista scientifica, os quaesdominam os interesses mais vitaes de um paiz, estejamos tãoatrazados e desprevenidos no momento actual, quando sãobem conhecidos os meios de vehiculação dos germens mor-bigenos c os recursos seguros contra sua propagação, de tãograve culpa só cabem as responsabilidades a esta serie degovernos, que nos tem dominado com a incompetência.

Em 1805 os meios preventivos conlra a invasão do choleratsão tão nullcs quanto em 1 ^5 }, e talvez mesmo naquella epochaoutras medidas e maior interesse fossem postos em pratica,graças cnião á intervenção do Conselho de Salubridade Pu-blica, pois que agora de nada, absolutamente de nada se temcurado ainda. Entretanto, é força confessar que de então paracá a profissão medica, numerosa e esclarecida, nunca deixou deapontar na imprensa, no ensino, em convívios e nas discussõestaes desidias, e de continuo está a clamar nos convívios e nasdiscussões conlra o abandono em que se tem deixado os di •versos serviços de assistência e de medicina publica, o mais

SERIE IV ANNO XXVI VOI..V. 54

alevantado e instante dever de um governo esclarecido—salusfopuli suprema lex\ mas da profissão as palavras, as luzes,os conselhos, dados sempre com o conhecimento e competênciaque bem poderiam honrar ao nosso paiz, despresados, irri-tantes vão cahindo n'um meio estéril e maldicto.

Não temos uma enfermaria de isolamento, uma estufa dedesinfecção, capaz de inutilisar a virulência das roupas conta-minadas que a lavadeira, imprudente e descuidosa, vae atiraràs lontes publicas, nem um esboço dc regulamento sanitário,que permitta ao clinico colher no recém-chegado do foco epide-mico os prodomos do mal, nem os dados para o exame evi-dente das dejecções suspeitas. Cs mananciaes que abastecem áesta população, não sofírem a minima fiscalisação em seu longopercurso, e estão sujeitos á continuada contaminação pordetritos orgânicos de todos os gêneros e pelos germens daputrefacção.

Si de tão feio quadro não se deve esboçar as negras cores,um brado, erguido embora sem o alento de quem se sente semforçsa, ahi vae e é que, attento á nossa posição gecgraphica,ás condições climatericas c á media thermica, com as condiçõesmeteorológicas congêneres ao clima das índias, em um meiohyper-aturadode calor e humidade, tão próprio a vegetaçãode matéria infinitamente moleculada, aqui onde em longosvallados á flor da teria se espalha a agoa em extensos lençóes,nos lagos que beiram a circumvisinhança da cidade, creandoum meio sui generis, permanente para a disseminação da ma-teria infecciosa, espalhada com a superabundancia com que sederramam na natureza os germens da destruição; poderátornar-se em relação ao cholera-morbus, apoz suecessivasinvasões, um foco reproduetor, tal como já adquirio este soloem relação á febre amarella, tão eminentes qualidades.

Este perigo, para o qual basta simplesmente a contaminaçãode qualquer dos numerosos diques, assignalamos para bemmostrar quanta protecção merecem o: mananciaes d'agoa.

Em synthese, a Sociedade de Medicina e Cirurgia, comoórgão da profissão medica, no direito de representação aospoderes públicos, reclama do Governo do Estado:

— vi —i.° Severa e competente fiscalisação das fontes, atlendendo

ser a agoa o vehiculo ordinário da disseminação e reproducçãodas epidemias cholericas.

2.' Installação de um hospital onde os enfermos suspeitossejam recolhidos e tratados com todas as regras de isolamento

para os doentes e para o pessoal do serviço hospitalar.3." Creação de um pessoal sanitário, idôneo, perante quem

os recém-chegados de logares contaminados devem comparecertodos os dias, deixando simultaneamente esclarecimentos sobreo local de residência, destino e qualquer alteração da saúde.

4. Interdição absoluta para que as roupas de pessoas, vindasde local suspeito, sejam lavadas nas fontes publicas; estasdevem ser submetlidas, em falia de estufa própria, á acçãod'agoa fervente sob os cui lados c vistas do pessoal sanitário.

5/ Destruição, pelo fog >, das roupas que serviram ao chole-rico, assim como de qualquer objecto humidecido pelasdejecções dos doentes

Confiamos que a applicação rigorosa d'estes dados prophy-laticos, soba Jirecção esclarecida, liberal e dis;ricionaria deum pessoal idôneo, em cujo zelo possa confiar a população,valerá mais do que o serviço quarentenario, tão irregularmentefeito entre nós.

I>li OatliótérSwme retrogradepar le Dr. PACHECO MENDES

Le cathétèrisme retrograde datts le Iraüement des rétrécisse-tnents infranchissables de Vurèlhrc. L'urètrostomie pêrinéale etles opérations conservalrices dans Ia thérapeutijue chirurgicaledes rèirècissemenls. Conduite à lenir après Ia taillc hypogas-tricjue et ncuvelle manière de suturer Ia vessie.

James Taylor, anglais, âgé de 40 ans, marin, célibataire,entra à 1'hôpital de Ia Charité le 7 Fevrier 1804. Ce malade,d'une bonnc santé ordinairc, cut plusieurs blennorrhagies entre

quatorze et vingt cinq ans, et à l"àge de quinze ans ii souffrit

¦Cifz:-Zs.-Z'; f^Wz- :y:ís-'

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llopération du phymosis. Enfin, à plusieurs reprises, il eut deschancres simples qui détruisirent presque complétement Iaglande, et ce ne fut qu' après sa dernière blennorrhagie qu«ilcommença à sentir de fréquents bcsoins d'uriner et à s'aper-cevoir dc Ia diminution dans Ie volume du jet dc 1'urine, ainsi-que de Ia lenteur dans les émissions. Sans prendre garde àses souffrances, il contínua à vaquer à ses occupations, maisvoyant son état générale s'aggraver journellement, et Ia mictu-rition augmenter, il se decida à entrcr à 1'hôpital South Deranand East Corniaal dc Plymouth, ou on Iui'fit, en 1882, uneboutonnière urèthralc entre le scrotum et Ílanu3.

De 1*83 à ;89} tout se passaregulièrement, il se portait bienet pouvait sc Hvrer à ses aíTaires, entreprendre des voyages, etc.Maintcnant, c'est à dirc, douze ans après 1'operation, il se faitadmettrc à notre hôpital en se plaignant davoir des enviesfreqüentes d'uriner «ans parvenir à vider sa vessie, malgrétous ses efforts. Appelé pour ílexaminer le jour de son admis-sion, je l«ai trouvé pàle, maigre, febricitant, ay;nt des douleursdanslarégion du rein droit. Les urines, en petite quantité,sentaient mauvais et contenaient b^aucoup de mucus.

L/examen local révélait du côté du périnée, correspondamaudiamètre bi-schiatique et sur ia ligne médiaoe, un orificefistuleux, bourgeonné, d'oü s'échappait 1'urine goutte à gouttelorsqu'il s'cfforcait de Ia rejeter. U verge, privée de sa glande,était rudimentaire et présentait à i'extremit*i une cicatriceílasque, infundibuliforme, ayant au centre une petite ou ver-ture, qui representait le méat. L'urèthre, rétrecie dans toutesalongucur, rendait impossible lc passage d'une beugie n 6;une plus fine, três serrée à deux centimétres du meai,s'arrêtait à 1'extrémité anterieure dc Ia division du canal, à sontour, oblitéré.

Je voulus introduire une bougie fine par Ia fistule peri-néalc, Ia laisser à demeure deux ou trois jours et pratiquer1'uréthrotomie interi e, après avoir refait Ia partie anterieure ducanal; mais l*ayant tente plusieursfois, je dus y renoncer, parce

. — 3i9 —

qu* il me fut impossible de trouver 1'orifice de 1'urèthre. Labougie et le stylet explorateur pénétraient dans les anciennesfausaes routes et jamais dans 1'urèthre.

En présence de ces desordres locaux, dont Ia gravite tar-dive au point dc vue fonctionnel ne laissait aucun doute, je medécidai à pratiquer Ia taille hypogastrique pour faire le calhe-térisme retrograde.

L'exposé circonstancié que je viens de faire justirie, il mesemble, amplement, cette intervention de même que le dia-gnostique—rélrecisscments multiples échelonnés de 1'urèthre.

Le 20 Fevrier, je pratiquai Ia taille hypogastrique médiane,ayant préalablement soulevé Ia vessie seulement avee le ballonde Peterson, à cause de ^impossibilite oú je me trouyais d'yfaire une injectionjje passai par 1'ouverture vésicale de 1'urèthreune bougie qui vint s'arcbouter dans Ia plaie du perinée; unepetite incision Ia fit sortir, me permettant de Ia substilucr parune sonde de Nelaton n. 20. Ne voulant pas prolonger 1'opc-ration, qui dura une heure, à cause de Ia faiblesse du maiade,je fis Ia suture totale de Ia vessie et des parois abdominales,laissant à demeure Ia sonde que j'avais fait sortir par Ia plaiedu périné.e, en ajournant 1'achèvemcnt à une autre session.Les cinq premiers jours après 1'operatton tout alia pour lemieux, point de íièvre, et lc maiade sesentit bien. Au bout dedix jours il eut des frissons, Ia température s'éleva jusqu' à39,8, et Ia Íièvre continua pendant trois jours, ne cessant qu'après 1'incision d'un abcés qui se forma sous ics Icvres de Iaplaie abdominale.

Après cet incident, il lui survint encore un érysipèle auscrotum, dont les lambeaux nècrosés se détachèrent, laissant àdécouvert le testicule droit. Malgré ces graves complications,les plaies vésicale et abdominale cicatrisèrent et je pus finir1'operation le 30 Mars, en passant par lc méat un condueteurde Maisoneuve qui vint de nouveau s'arcbouter dans Ia plaiedu pérince. Une nouvclle petite incision 1'ayant fait sortir, jepratiquai 1'urcthrotomie interne et Ia sonde put descendre

— jao —

jusqu' au méat. Vingt jours après cette dcrnière intervention Iasonde fut cnlevée, Ia plaie périnéale etait presque fermée et lepatient, pour Ia première fois, dcpuis onze ans, put urinernormalcmrnt.

Le jo Mai il qnhta 1'hôpital pour retourner dans son pays.La fonction urinaire se faisait bien, il urinait quand il en avaitenvie ne sentam plus de si fréquents bcsoins; ses urines étaientclaires et son urèthre laissait passer sans effort le n. 40 deGuyon.

Aurais-je, par hasard sacrifié le fonctionnaire en reconsti-tuant dans ce roalade Ia fonction? Cest ce que i.ous allonsvoir.

IIJe lièns à fairc remarque.-, en ce qui concerne Ia premièreintervemion qu' elie a été irreprochable, car Ie cathétérismc

retrograde trouve sun indication principale dans les rétrécisse-ments infranchissables.

Dans un pareil cas on ne peut commen:er autrement, mais,je me demande si jai bien fini, en refaisantun uièthre détruitesur une aussi grande éteudue et rétrécie en plusieurs endroits?

Les partisans de 1'uréthrostomie périnéale, oubliant les res-sources importantes des opérations conservatrices, critique-ront, peut ctre, ma conduite; quoique Verneuil ait ajouté auxindications fournies par M. Poncet pour rurèthrostomie péri-néale, celle qui resulte desrétrécissementsmultiples échelonnésdu canal, comme il s'agit avec ce malade, je suis d'avis qu' ondoit préferer 1'uréthrostomie périnéale aux opérations conser-vatrices dans les cas suivants: 1 ¦ dans les rétrécíssementscompliques d;affections prostatiques, 2.- dans les rétrécisse-ments traumatiques accompagnés de grands ravjgcs du canal,3.- dans les cas de pyclo-néphrite ascendente, lors que le ma-lade est une sorte de noli me tanger*?, chez lequel on doitredouter les interventions chirurgicales répetées.

En présence des accidents que je.viens d'enuraercr coexistant

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- *_2t —

avec un rétrécissement, on pourrait infliger au pacient 1-infir-mité resultam de l*operation de Poncet. Le reproche lc plusfondé fait par les partisans de 1'uréthrostomie aux operationsconservatrices (1'uréthrotomie, 1'uréthrectomie, etc) employeéspour Ia cure d'un rétrécissement uréthral, c'est Ia récidive, carde tels operes sont forces de recourir de temps à autre à Iadilatation.

Si l'on tient compre de ceei, il faut reconnaitre, qu' aucundes procedes operatoires qui constituent Ia thérapeutique desrétrécissements de Puréthre ne garantiisent Ia guérison defini-tive, et que ce n'est qu1 au prix dc cathétérismcs répétés quel'urèthrostomisé conserve le méat contre nature imposé parl'opèration.

A'cet ègard Poncet 1'inventeur de l'urethrostomie dit: Lemeat contre nature a, Ia plupart du temps, une tendance aurétrécissement. 11 faut que le malade ait Ia précaution de ledilater par un cathètcrisme rèpétè.

Cc n*est pas malaisè de resoudre Ia question, si c'est pluspènible de pratiquer le cathéterisme de temps á autre, ou biende mettre un individu dans Ia necessite d'uriner à Ia manicred'une femme, position que l'homme ne pren j jamais volontiers.Bien plus, 1'urèthrostomisè sc transforme en hypospade pèri-nèal, et bien que 1'opèration èpargne les sensations voluptu-euses de 1'ejaculatií n, elle s*oppose á Ia fècondation normale.Du reste, on doit, avant tout, èpuiser des moyens moins radi-caux, attendu qu' un homme supportera avec fort peu dc resi-gnation l'infirmitè que cette thérapeutique lui infligera.

Les rétrécissements ètant d'ordinaiie 1'apanage des adultes,on ne peut dissimulcr aussi que 1'abolition de Ia fècondationconstitue le point noir de 1'uiéthrostomie pèrinèale Quoique1'état de celibataire de ce malade augmente le nombre d'argu-ments qui porteraient un autre chirurgien à pratiquer le mèatcontre nature au périnèe, jai donné Ia prèfèrancc à Ia mèthodeancienne. J'ai pratique 1'uréthrotomie interne tout en laissant

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les tissus bourgeonner autour d'une sonde à demeure, car jesuis convaincu qu' on ne doit pas repousser systèmatiquementIa reparation du pèrinèe par bourgeonnement. L'urèthroto-mie laisse quelquefois des cicatrices d'une soliditè et d'unedilatabilitè três sufíisantes pour garantir, par des cathètèrismesrèpètès de tcmps à autre, le calibre normal de l'urèthre. Leresultat que j'ai obtenu des sondes mètaliques de Guyon en lesintroduisínt progressivement jusqu' au numero 40, après Iareparation de 1'urèthre pèrinèale par bourgeonnement, prouveparfaitement que Ia mèthode ancienne ne doit pas être con-damnèe d'une façon absolue.

Après avoir rencontré tour à lour des partisans et des dctra-cteurs, 1'urèthrotomie externe, dont le martyrologe se char-geait de plus en plus, finit par sombrer. Cette opèration qüin'ètait autrefois que três rarement employèe vient de se releverplus forte que jamais, gràce aux perfectionnements apportés àIa guèriáon des rètrècissements de 1'urèthre par Guyon, Har-rison, et d'autres, bases sur Ia vraie conccption de ses lèsionset sur d'influence bien íaisante de Ia mèthode antiseptique.

II est vrai que ce que je viens de dire à 1'ègard de 1'urèthro-tomie externe est arrivè à une èpoque oü 1'étude de Ia anato-mie morbide des rètrècissements ètait, pour ainsi dire, à peineèbauchèe, mais. le même n'arriverait plus prèsentement auxoperations conservatriceslWèthrelomie interne, l'urèthrotomieexterne, Purèthrectomie, etc, malgrè les charges á fond detrain faites par leurs dètracteurs.

Dans mon opinion l'uréthrostomie pèrinèale doit prendre dateet rang dans Ia thérapeutique chirurgicale des rètrècissementsde 1'urèthre, mais,les indications de cette opèration rèlevent desconditions que j'ai etablièes plus haut. Avec J. Tayior j'aiprefere Ia mèthode ancienne, car si j'ai laissé les tissus bour-geonner autour de Ia sonde, c'est parce que sa deslructioncomprenait seulement Ia paroi inferieure du canal, et alors jen'avais pas une urèthre fait de toute pièce avec du tissu cica-triciel, comme il arriverait si 1'urèthre ètait tout a fait divise.

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D'ailieurs, ou so heurtera indubitablement à un refus de lapart des malades, qui preiereront vivre exposès à une rècidiveàêtreaffligès d'un mèat contre nature au pèrinèc.

L'ajouterai qu' aujourdhui même, ou tout est à la rcunionprimitive, la reparation de 1'urèthre par bourgconncment n'estpas à repousser systèmatiquement; d'autant plus qu' elle pro-duit des cicatrices d'une soiiditè et d'une souplesse biensufíisantes pour garantir la dilatabilitè de l'urèthre, toutes lesfois qu' i! s'agit d'unc rupture partielle.

• •De l'observation que je viens de rapporter on peut encore

faire ressortir une contribution à 1'ètude de la conduite à tcniraprès Topèraticn de la taille hypogastrique. II est vrai quecette conduite varre suivant le but qu' on se propose, mais, ilme semble qu' on doit ètablir comme règle generale la reunionimmediate de la vessie, sauf dans ceriaines conditions oü larèunion secondaire s'impo3e; àsavoir: f) les traumatismes tropètendus de la paroi: 2) les modifications tiop profondes de laparoi vèsicale, 3) les hemorrhagies de Ia paroi vèsicale; 4)1'infection de Pappareil urinaire. Je dèsire seulement apporteraux partisans de la suture lotale de la vèssie des preuves àl'appui de leur thèse. Je n'ai pas 1'inlention d'aborder en cemoment le fond dc la question; je veux seulement nc pas laisserpasscr inaperçu un fait dont Ia science tirera assurèmentprofit. En effet, il y a encore des maitres autorisés, qui con-siderent la suture immediate comme inutile et dangeureuse;quclques uns mème insistem sur les difíicultcs de cette sutureet Albert de Vienne arrive à la conclusion que la réunionpar première intention de la vessie après la suture est uneutopie. II a ecrit dans le n. 13 du—Centralblat für Chirurgiede 1894, pag. 350—que la suture de la ves*ie a plus de raizond'être quand on la fait quelques semaines après 1'operationlors que Ie danger de 1'i.ifiltration de l'urine est passe. Jen'aurais pas besoin de chercher ailleurs des exemples pourdemontrer les beaux effets de la suture immèdiat.e de la vessie;

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si le resultat que j'ai obtenu avec le malade dont il est quês-tion n'ctait par lui-mêmc une conuibution à Pétude de lacon-duite à tenir après la taille hypogastrique, 1'observation que jevais rapportcr tranchara,j'en suis ?úr, la question de larèunion

per primam de la vèssie après la suture, d'autànt plus qu* elledemon:re avec une telle èvidence l'inno:uité de la suture totalede la vèssie et la valeur de mon procede, qu' il peut se passerde toute espèce de commentaire II s'agit d'un malade âgè de

45 ans porteurd'un rclrecissement infranchissabledei'urèthre à

partir de deux centimètres environ du bulbe.Ilsouffredepuis 18ans, et il y a plus de dix qu'il urine par le pèrinèe criblè de fis-tules qui traversent aussi les masses sclèreuscs en augmentantsonepaisseur II urine aceroupi, et le liquide s'echappcdu pèrinéecomme par un arrasoir. A cause de cos lèsions localesqui ren-daient impossible 1'urèihrotomie externe,je medecidai à faire lataille hypogastriqu^ pour lc cathètèrisme rètrograde.L'opèrati-on fut pratique, en suivant exactement les prèceptes usuels;mais, je la terminai par la suture tctale de la vèssie et des paroisabdominales. Le malade fut mis au lit et on lui recommandade rester bien tranquille et d'appeler l'infirmier, toutes les fois

qu' ii en aurait besoin. Malgrè cette prescription il se leva sixfois le jour de 1'opèraticn, tout en parcourant chaque fois 24mètres pour aller à la garde robe. Le lendemain, en arrivant àl'hôpital, je sus immediatement ce qui s'etait passe. Jc m'em-presse d'aller 1'examiner, jc le trouve bien disposé, rapportantavec gaite ses hauts feits, et : ans la moindre idèe^du danger auquel ii s'ètait exposè, il disait plaisammenl que les personnesdistinguèes ne devaient jamais satisfaire leurs besoins au lit, etqu' ayant êtè surpris par une diarrhce il s'ètait vu force à allerà la garde-robe. Uue semaine plus tard la plaie abdominale seferma, il commença à se lever et après quelques jours il quitta1'hôpital pour se Iivrer à ses oecupations. Quant à Ia sutureelle même je cherchai à obtenir un bon affrontement, et, à cedesseln je pratiquai avec du catgut n. 1, un premicr plan desuture comprenant une serie de points separes, distant les uns

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des autres de ; millimètres, et traversant complètement Ia mu-queuse. Sur ce premièr plans je (is un autre superfície!, avec dufil de soie, à Ia Lembert,en passant Ia suture entre Ia musculeu-se et Ia muqueuse. J*ai 1'habitude de drainer Ia vessie avec lessondes de Pezzer et de Malecot, mais, avec ce malade je nePai pas fait. Quant auxsutures, je tache toujours de lesrendremoins compliquées; celleci par exemple que j'ai dèja essayèeplusieurs fois, me patait Ia plus simples. Ia plus solide, Iaplus hermetiquc et, pourtant, Ia plus recommandable. Ensomme, les diffèrents procedes pour Ia conduite a tenir aprèsIa taille hypogastrique ont leurs partisans auctorisès. Dans lesprocès cngagès depuis long-temps, ctest auxfaits cliniques etStatitisques, de venir deposer en fctveur de l'une ou de Pautremethode. !1 ressort de tout ce que je viens de dire sur Ia su-ture immediate, après Ia taille hypogastrique qu' elle doitremplacer le drainage vesical par les tubes syphons. Lesobservations que je viens de rapporter ne font que confirmei*cette pratique qui, dèja adoptèc par Guyon. Albanan, Schwartz,et beaucoup d'autres, doit servir de règle toutes les fois qu' iln'y a pas un interêt majeur à laisscr ¦ uverte Ia cavitè vesicale,commc il arrive dans les conditions que j'ai posècs ci-dcssus.

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METEOROLOGIAResumo das observações meteoro-

lógicas feitas no LaboratórioIMmilcipa) durante o mez de Fe-yereiro.

Temperaturas. Máxima 31 ',o, em egual mez do anno passado31,0; minima 24,5, no anno passado 25,0; media do mez 28,31,no anno passado 27,85; media ao sol 4C,óo, no anno passado44,16; media máxima 30,16. no anno passado 29,62; mediaminima 25,85, no anno passado 25^4. v

Barometro observado Máxima 761,20, em egual mez do annopassado 760,50; minima 759,00, no anno passado 759,00; me-dia 760,00, no anno passado 759,75.

Barometro calculado a O. Máxima 757,65, em egual mez doanno passado 757,17; minima 755,40, no anno passado 75-,57;media 75^,51, no armo passado 756,37.

0 hygrometro oscillou entre 73' e 89", no anno passado 71* e89"; humidade relativa correspondente a 58,8 e 82,2; no annopassado 57,4 e 8i,o.

Os ventos mais constantes foram SE c N, havendo NE e NWem 4 dias. E em 7 e S e 1 no anno passado foi SE, havendoN em 7 dias, E em 5, NW em 3 e SW em 2 dias.

Houve durante o mez 7 dias de chuva, marcando o pluvio-metro 25mmo, eguacs a 100 litros d'agua por metro quadrado;no anno passado o pluviometro marcou 3im,5, egutes a 126litros d'agua por metro quadrado.

Houve trovoadas nos dias 9 e 10 e somente relâmpagos nosdias 15, 16, 17, 8 e 19; no anno passado em 17, 18 e 21 erelampagoó no dia 16.

Evaporação á sombra 88nini,5.

Dr. lnnocencio Cavalcante.Dr. cAljredo v\ndrade.

— ia? —

CORPO DE SAÚDE NAVALNos mezes de Janeiro e Fevérei-

ro ti ouve o seguinte movimenton'este Corpo:

JANEIRO

Desembarcou do Crusador (Almirante Tamandaré o Cirurgião

dc a.a Classe, Capitão de Fragata Dr. João Francisco Lopes

Rodrigues.Embarcou no Couraçado Vinte e Quatro de Maio o Pharma-

ceutico de 4.0 Classe, Guarda Marinha Álvaro Augusto de

Carvalho.Foi desligado da Enfermaria de Copacabana e embarcou na

Canhoneira Braconnoto Cirurgião de 3." Classe Capitão-tenenteDr. Maneei Lopes da Silva Lima.

Passou da Canhoneira Braconnot para a Escola d"Apren-

dizes Marinheiros n. 7, o Cirurgião de 4." Classe, lA tenente-

Dr. José de Cerqueira Daltro.Foi servir na Enfermaria de Copacabana o Cirurgião de 4.'

Classe, i.° tenente, Dr. Casildo Maria da Silva Leal.Foi promovido, por antigüidade, a Cirurgião de 2 * Classe,

Capitão de Fragata, o de ].' Classe Capitão-tenente Dr. Joa-quim Dias Larangeiras.

Reverteu ao Quadro activo o Cirurgião de í." Classe, do

Quadro extraordinário Capitão-tenente Dr. Álvaro Teixeirados Santos Imbassahy.

Passou do Couraçado Vinte c Quatro de Maio para o Crusador Nitheroy o Cirurgião de 3.' Classe Capitão-tenenteDr. Bento da França Pinto de Oliveira Garcez.

-,38-

FEVEREIRO

Foi servir no Corpo de Marinheiros Nacionaes o Cirurgiãode •*).' Classe, Capitão tenente, Dr. João Alves Borges, que foisubstituído na Enfermaria dc Marinha, da Bahia, pelo de igualClasse Dr. Francisco Moniz Ferrão d'Aragão.

Foi concedida ao Cirurgião dc 2.* Classe reformado, Capi-tão de Fragata Dr. Symphronio Olympio Alvares Coelho agraduação de Capitão de Mar e Guerra, visto contar mais de 40annos de serviço.

Cápsulas Cognet- As cápsulas Cognet de Encalyptol absoluto io-doformio-creosotado conslitaem a mais poderosa medicação a oppor átuberculose pulmonar, e em geral às affecções do apparelho respirato-rio. Paris, 43 rna de Saintonge e em todas as pbarmacias.

Verme Solitária,—«Graças á extrema pureza do Extractode Feto, è que se deve attribuír os suceessos constantes quese tem conseguido nos Hospitaes de Pariz, com o emprego dosGlóbulos Secretan que substitnem actualmente mui vantajosa-mente todas as outras preparações tenifugas.» Progrés Medi'cal de Paris, 18 de Novembro de 1890).

Syphilis.—Tratamento hypodermico por meio do Biwduretotnjectavel Roassel. Solução límpida de Biioduruto d'hydrargy-rio em oleo Eucalyptado. Doi* milligramas por cada seringa.

Epilepsia.—-As Grageias Gelineau devem sempre ser toma-das no meio das refeições.

Tísica pulmonar.—Eticalyptol injeclivel de Roussel. Dose:1 seringa todos os dias.

VAJ * •

Insomnia—Uma a duas colheres, das de sopa, de XaropeGélineau, a noite ao deitar.

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o trJ v

minucioso. Ellas encerram integralmente toda a substancia daglândula thyroide,

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EL.IXIR ^TIITOSOA.pprovado pela Junta de hyffiene do RioA Qnina-lAtroehe, contendo a totalidade tios principios daa

tres í-,iulhoresquinquin8S,i.ao é um qualquer preparado, mas sim o resultadode estudos e dc trabalhos que graugt áriío ao seu autor aa mais alta» rceom-pensas. Kecomnicmlado contra as affeiçães do estotaago, chlorm»anemia, febres, otc. paris, 22, «ua okooot k as •¦iiakma-jia.b

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fAülh aa 1 19, mi movot s HUWttCU»

<5 tl

GAZETA MEDICA DA BAHIA

Anno XXVI ABRIL, 1895 N. 10

HYGIENE PUBLICAParecer do Conselho Geral de San-

de F*nV>liea sohre o projecto doesgotos da ESaliia.

(Conclusão da pag. 219)UTlUSAÇÃO AGRÍCOLA DAS ÁGUAS DOS ESGuTOS

A commissão não condemna a utilisação das águas dosesgotos para a fertilisação das terras.

E' certo que o nosso solo, em geral uber.rimo, sobre tudonas immediações c!a cidade, não carece ainda de ser estrumado.Mas trata-se de uma questão que deve ficar aberta para o fu-turo, e attendendc aos resultados admiráveis que tem dado jáem alguns paizes este processo, entende a commissão que nocontracto a effcctuar-se, para a realisação das obras dos esgo-tos d'esta cidade, deve ficar prevista a hypothese de applicar-se, em épocas vindouras, e quando for demonstrada sua conve-niencia, os elementos fertilisantes das águas dos esgotos, emproveito d'agricultura, em granjas que por ventura se venhama estabelecer perto d'esia cidade.

« Uma grande cidade é o mais poderoso dos stercorarios,disse Victor Hugo. Não ha nenhum guano comparável em fer-tilidade aos detritos de uma capital. »

E disse uma grande verdade: as analyses feitas nas águas doscollectores de Cliehy e de Saint Dé.iis, mostram que se dá alliannualmente uma descarga de azoto de 6,090,00o kilos, queao preço minimo de uai franco por kilo daria a elevada sommade 6,990,000 francos.

SERIE IV ANNO XXVI VOL.V. ' 5-

W

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A depuração pelo solo e utilisa;ão agrícola, das águas d'es-gotos é hoje um processo tão extensamente posto em pratica,que já não é licito pôr em duvida seu valor, quer econômico,quer hygienico.

« A filtração pelo solo, que se designa egualmente sob onome de irrigação, epandage, diz o eminente hygienista JulesRochard, é de todos os systemas o mais racional e o mais sim-pies, o mais econômico e o mais seguro. E, um facto que todasas experiências teem confirmado e que é hoje conhecido portodo mundo. »

Larbeletrier, professor na escola de agricultura de Pas deCalais, qualifica-o como o processo mais pratico, sob todos ospontos de vista.

N'este systema diz elle, recorre-se á acção do solo natural ouartificialmente permeável, combinado com a vegetação, paraobter um duplo resultado:

i.° A purificação absoluta d'estas águas, que, tomadas aosahir dos esgotos, são empregadas, em irrigar convenientementeos terrenos, para sahirem d4este filtro natural completamentedesembaraçadas de todas as suas impurezas, e mais própriaspara o consumo do que as águas da maior parte dos rios ordi-narios.

2." A utilisação de todas as matérias retidas para determinara fertilidade de um solo pobre, d'antes impróprio para a cul-tura, e desde então transformado n'um jardim ou n'uma hortade primeira ordem.

O emprego das águas dos esgotos de Paris nos campos deGeneviiliers demonstra este facto de modo incontestável.

As águas do collector de Asnières são aspiradas na emboca-dura d'este esgoto por duas machinas poderosas que as impei-lem por canaes fechados, que passam pela ponte de Clichy e aslevam até a península; as do collector de Saint-Ouen descematé o mesmo ponto pelo próprio peso.

Todas estas águas se distribuem nos differentes pontos daplanície por uma rede de mais dc 40 Rílometros de canalisação,

provida de bocas de irrigação que deixam escapar a água ávontade.

Para evitar a elevação das águas subterrâneas estabeleceram-se de distancia em distancia linhas de drenos destinados a re-

-ceber a água que filtra atravez do solo e conduzil-a ao Sena.A água que sahe é límpida e não tem máu gosto.Uma commissao incumbida de estudar especialmente a

influencia d'estas águas sobre a cultura apresentou as seguintesconclusões:

i.a Abundância de produetos obtidos por esse processo; orendimento comparado elevou-se ao triplo e até ao quintuplo.

2.a A cultura das arvores iruetiferas e das sementeiras offe-recém resultados da mesma natureza.

3." A industria horticola apresenta um êxito completo, prin-cipalmente quanto ás folhas e hastes.

4 " A qualidade dos produetos eguala a da cultura ordinária etorna-se até superior.

5." O emprego das águas dos esgotos ternou possivel a cul-tura de terras que eram até então improduetivas; elevou o ren-dimento, e, portanto, o valor d'estas terras ao nivel dos outroscentros de producção da mesma natureza.

O valor locativo de terras arenosas, que era antes das irri-

gáções de 90 a 150 frances, por he:tare, eleva-se hoje a 450 e500 francos no perímetro irrigado.

Em Genevilliers o uso d'agua dos esgotos para a irrigação élivre; nenhum proprietário é obrigado a acceital-a; cada umpode consumir a que quizer e appliear á cultura que julgar con-veniente.

Entretanto, o emprego d'estas águas tem se tornado cada vezmais ext?nso; em 1870 irrigou-se 21 hectares com 640 000metros cúbicos d'agua; em 1876 subiu a 295 hectares, com10.666.000 metros cúbicos d'agua; em 1881 a arca irrigada erade 500 hectares, com 19.000 000 de metros cúbicos; hoje asirrigações sc estendem a mais de ^00 hectares.

« Os detractoies do systema de irrigação, diz Jules Rochard,

— m —accusam no de tornar insalubres os campos de irrigação sedesenvolver n'estas moléstias infectuosas.

E;ta objecção foi levantada na Allemanha e na Inglaterra edeu logar a longas discussões e investigações repetidas.

Frankland consagrou a este assumpto um capitulo de seurelatório, e demonstrou que os habitantes dos quartéis, dasescolas, das casas particulares, situadas no meio dos camposde irrigação, nada soífreram, nenhuma alteração de saude apre-sentaram. »

« Na Allemanha os resultados foram os mesmos. Os camposde irrigação de Berlim, outr'ora áridos e improductivos, íoramtransformados, uns em prados magnífico:., que dão duas co-lheitas por anno, alimentam 600 a 700 cabeças de gado, efazem a admiração de todos os hygiemstas que vão visitai os,os outros cm campos destinados á horticultura, em que oslegumes e as arvores fructiferas brotam maravilhosamente.»

• E' a municipalidade de Berlim mesma que administra estesdomínios e emprega n'elles mil e quinhentas a mil e oitocen-tas pessoas, cujo estado sanitário, é excellentè, assim como odas aldeias visinhas. Não se tem verificado ahi um caso defebre typhoide; as febres intermittentes são alli menos com-muns do que antes das irrigações, e a municipalidade deu amedida da confiança que lhe inspiram as condições hygienicasd'estas propriedades, installandu em uma d'ellas, em Malchow,seu primeiro asylo de convalescentes, e perto de outra, emLichterfeld, uma escola de menores. »

«Em Dantzig os terrenos de irrigação são cultivados emprados e jardins que produzem íVuctos que sc vende á cidadee flores que se exporta para Pariz e para America. O ter.enoque se alugava por 1 franco pur dia, dá hoje 5 fr. eioc.»

«Lm Par;/, as mesmas objecções deram logar a investiga-ções similhantes com idênticos rcsukad is. Quando se começoua espalhar água dos esgotos em alguns hectares da penínsulade Genevillicrs, as pessoas que não s<r tinham dado ao trabalho

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de ir vel-a, pretendiam que se ia crear alli pântanos infectose perniciosos para a visinhança. »

« Ora, todas as pessoas que, como nós, visitaram os camposde irrigação, quando elles cobriam seiscentos hectares, e a regaestava em plena actividadè, verificaram que não se respira allinenhum mau cheiro, que a agua que corre rápida nos regosnão é mais turva do que a que circula em nossos regatos, queos produetos hortenses que de lá sahem são esplendidos, quea agua des drenos é límpida e bebe-se sem desgosto. »

« Para assegurar-se d'ísto basta ir a Genevilliers, maspoucas pessoas dão-se ao trabalho de incommodar-se paralorniar uma opinião. Na Exposição Universal o serviço de sa-neamento de Pariz tomou o partido de pôr a experiência ásvistas de todo o mundo. Installou no Trocadero um pequenojardim modelo de 200 metros quadrados que era a leproducçãoem miniatura dos de Genevilliers. A camada de terreno depu-rador era de 2 metros. A agua d'csgoto tomada ao collectorda margem direita era levada á superfície do solo por umaturbina e espalhada sobre o pequeno campo por uma boca deirrigação similhante ás de Genevilliers. As irrigações se faziamduas vezes por dia, e via-se brotar sobre este terreno ferti-lisado legumes de toda espécie, hervas, flores e arvores fru-cti'eras. Para verificar a pureza d'agua que tinha filtradoatravez do sóio bastava descerem os visitantes a uma secçãopreparada para este fim e tomar a agua da pequena cascataque murmurava no fundo: a disposição d'esta cascata per-mittia reconhecer a natureza do terreno na altura de 2 metros,

« Esta demonstração tangível, esta lecçáo de cousas, dizRochard, converteu maior numero dc pessoas á causa da ir ri-gação do que os volumes escriptos em sou favor. »

Lma commissaõ especial do comitê consultivo de hjgienepublica de França, compesta dc Brouardel, Chauveau, Collin,Didiot, Paul Dupré. Grancher, Jaequot, G. Pouchet, Proust,Vallin, du Mesnd, Charrin, A J. Martin, Napias, Rochard eOgier emittindo parecer, em sessão de 15 de Outubro de 1 ss *•,

— 3}6 —

sobre o projecto de utilisação agrícola das águas d'esgotos esaneamento do Sena, concluio do estudo das estatísticas quea salubridade das regiões irrigadas não tem sido compro-mettida pela pratica da irrigação com águas dos esgotos pro-venientes das cidades em que esta em vigor o systema • tudoao esgoto », islo é, com águas misturadas a matérias fecaes.

A experiência feita por mais de 16 annos em Genevelliers,e por muitos annos em Berlim e outras cidades, diz a commis-

são, mostra que as águas dos esgotos são restituidas ao rio em

estado de sufficiente pureza.A' questão proposta: Si os germens pathogenos, espalhados

sobre um solo em cultura, penetram na polpa dos fruetos ou

legumes e podem tornar seu consumo perigoso á saúde pu-blica, a commissão respondeu com as experiências dc Gran-

cher, que demonstraram que a polpa dos legumes que brota-vam n*um sele irrigado com agua carregada de bacillos

tjjjincua nau i.viiumia >-a^ L/av-iiiu.

« O perigo que poderia apresentar o consumo de legumes

cultivados nos campos de irrigação resultaria somente da poi-luição accidental da superfície d'estes legumes; e sob este pontode vista seria preferível, diz a ccmmissão, restringir a culturanos campos de irrigação ás plantas qae não se comem cruas. »

O professor Cornil, relator da commissão do Senado, quandoalli agitou-se esta questão em 1888, combateu com a sua com-

petencia dc bacteriologista os argumentos apresentados pelosadversários da utilisação agrícola das águas d'esgotos.

Mostrou a rapidez com que os micróbios pathogenos se alte-

ram e desapparecem sob a influencia do ar e da luz, sobretudo

em presença de innumeros micróbios inoffensivos que se acham

nas águas dos esgotos e que se oppõem ao desenvolvimento

de seus antagonistas, e a vantagem dc entregar-se estes peri-

gosos inimigos á acção do oxigênio e dos raios do sol nos

campos de irrigação.Confirma as experiências de Grancher, Widal e Chante-

tnesse, e diz que si os germens contagiosos podessem se

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transmittir pelos campos de cultura, seria preciso prohibirn'elles os estrumes, de qualquer proveniencia, pois que não sãomenos ricos em micróbios pathogenos e mais perigosos do queos das águas dos esgotos.

Na linguagem singela e eloqüente que faz realçar sua nota-vel erudição, o illustre hygienista Jules Rochard demonstra asuperioridade d'esta depuração natural das águas dos esgotosa todos os systemas artiflciaes até hoje empregados.

« O systema de irrigação não faz mais do que imitar a na-tureza que, por meio das chuvas arrasta atravez do solo todasas impurezas atmosphericas e outras, para submettel-as a umaoxidação progressiva, a uma transformação, depois da qualestas águas filtradas vão alimentar as fontes vivas, que são aságuas potáveis por excellencía. »

«Para applicar estes processos naturaes á depuração daságuas d'esgoto, para calcular a superfície que devem ter oscampos de irrigação, segundo sua eslructura geológica edeterminar a quantidade d'agua que elies devem receber, épreciso conhecer os phenomenos chimicos que soffrem estaságuas atravessando o solo.

« Quando águas jimpuras são espalhadas sobre terrenosmoveis, as matérias sólidas são detidas na superfície; algumaspartículas bastante tênues para atravessar este primeiro obsta-culo são retidas mais abaixo: é este o primeiro effeito produ-zido. E' uma filtração mechanica. A água desembaraçada dassubstancias insoluveis desce mais profundamente. O solo seembebe delia. Cada partícula de areia ou de cascalho aeenvolve de uma delgada camada de iiquido, e a água assimdividida se oíTerece sobre uma superfície enorme á acção doar aprisionado no solo. E' então que começa a segunda ope-ração que consiste na transformação das matérias orgânicas. E4uma combustão lenta, insensível, que se produ^. O oxigêniodo ar queima a matéria orgânica e a transforma em ácido car-bonico, água e azoto; queima até o azoto que o fogo não podeattingir. O azoto é com effeito muito menos combustível que

- ,38 -

o carbono e o hydrogcnio, e sua transformação em ácido car-boníco pode ser considerada eomo o signal de uma combustãoperfeita, operada no solo. As substancias insoluveis retidaspelas camadas de terra mais superíiciaes são oxydadas egual-mente, sobretudo, quando o amanho da terra as tem incorpo-rado. »

Pro:urando demonstrar com o apoio dc opiniões tão auto-risadas a excellencia do processo de depuração natural e asvantagens da utilisação agrícola das águas dos esgotos, acommissâo não pretende aconselhar actualmente esta applica-ção, nem deseja complicar a solução d'este problema sanitárioque se impõe como uma necessidade urgente á hygiene d'estacapital; mas, tendo em vista que sc trata da realisação de umcontracto que tem de vigorar por mais de meio século, entendeque deve-se attender á possibilidade de tornar-se para o futurode reconhecida vantagem o emprego das águas dos esgotosna irrigação dos campos destinados á agricultura, e n'estecaso serádc conveniência prever-se a hypothese de ser estabe-lecido no ponto mais appropriado do collector o apparelho ne-cessario para derivar o volume d'agua que tiver de ser apph-cado ás necessidades agrícolas.

Esta cláusula poderá ter estabelecida sem prejuizo do planoactual.

Em conclusão a commissâo é de parecer:í." que a proposta dos engenheiros Justino da Silva Franca

e Adolpho Morales de los Rios satisfazem aos preceitos scien-tilicos e reúnem cm seu conjuneto as condições necessatias

para effectuar de modo hygienico a evacuação de todos osdejectos d'esta capital, drenando-a com uma rede completa deesgotos.

2.° que a modificação ao traçado do collector pelo valle dorio Camorogipc e sua substituição pelo traçado do valle do rioLucaya, sendo importante em relação á parte tcchnica, nãoaltera ent.-etanto o plano geral c antus melhora suas condiçõeshygienicas;

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3-* que não deve ser acceito o traçado pelo valle do rio AreiaPreta, porque a desembocadura do collector se faria n'este casot/uma praia extensa e arenosa, cuja polluição inevitável seriamuito prejudicial ás povoações próximas c á projectada villabalnear, para a qual offereee essa praia excellentes condições;

4.0 que a desembocadura do grande collector no oceano devefazer-se além do Monte do Conselho, o mais longe possíveld'este, na costa que fica entre este morro e o da Lagoa, prote-gendo-se, por meio das obras de arte, que aconselha a enge-nharia sanitária, a diminuta extensão arenosa que ahi existe, dapolluição pelas águas dos esgotos;

ç.° que deve estabelecer-se no eontracto uma cláusula quepermitia a utilisação agrícola de parte ou de todas as águas dosesgotos, si no futuro fór reconhecida a conveniência d'esse em-prego para fertilisar as terras de granjas próximas a esta ca-pitai;

6." que nas secções da Victoria e da Barra deve ser tambémadoptado o systema integral, uniíicando-se assim a rede dosesgotos da cidade c fazendo-a convergir toda para o collectorgeral;

7.* que o modelos dos water-clcsets para as casas particu-lares e dosmictorios e latrinas publicas fiquem dependentes deulterior approvação, de accordo com as modificações aconse-lhadas pela hygiene, na epocha em }ue se tiver de proceder ásua installação;

8.9 que os estudos definitivos para o abastecimento d'aguasejam submettidos ao conselho para que este possa julgar desua quantidpde e qualidade, e regular o modo de captaçãod'estas águas, sua depuração, canalisação e distribuição;

9.0 que por um.'i regulamentação dos serviços de esgotos eabastecimento d'agua 3e estabeleça rigorosa inspecção sanitáriad'estes serviços, que garanta seu perfeito funcionamento deaccordo com as prescripções hygienicas.

Terminando este parecer, fazemos votos para q-i: as obrasSERIE IV ANNO XXVI « 3

— 14° —

do saneamento da Bahia se realisem de modo que satisfaçamas determinações da sciencia e as exigências imperiosas dasaúde publica.

A obra do saneamento de uma capital é o serviço maià ur-gente c mais relevante a que ella tem direito, e sua execuçãocompleta deixará no coração do povo gratidão inimorredoura atodos '.s que sc esforçarem por affastar-lhe da pátria e do laros germens da moléstia e da morte.

Ainda ha poucos mezes o povo francez rendeu ao sábioDurand-Claye a suprema homenagem, considerando-o pelosseus memoráveis trabalhos um bemfeitor da humanidade.

Em 27 de Abril, anniversario da merte dteste distineto enge-nheiro, inaugurou-se com grande solemnidade, em Asniéres,na praça Voltaire, junto á estrada que vae da usina Clichy aoscampos de Genevilliers, um monumento levantado por sub-scripçâo publica e por proposta do Congresso Internacional deHygiene, reunid} em Paris'em 18S9, « á memória de AHredoDurand-Claye, pelos eminentes serviços que prestou ao sanea-mento das cidades e dos campos. »

No pedestal de granito, que supporta o busto monumental,em bronze, do sábio benemérito, lè-se esta significativa inseri-pção: « A Alfredo Durand-Claye. » « Consagrou sua sciencia ásalubridade das cidades.»» « Foi o grande obreiro do saneamentode Paris ».

Bahia e sala das sessões do Conselho Geral de Saude Pu-blica, 21 de Agosto de 1894.—(Assignados)- Dr. c/l. 'Pacifico'Pereira, relator.—Dr. Silva Linia.—Úr. Lydio de Mesquita.—Dr. Innocencio Cavalcante.—Dr. Jacome ^Martins Baggi.—Dr. Raymundo Nina Rodrigues.—Pharmaceutico, Euclídes E.Pires Caldas.—üc. Eduardo J. de cAraujo.

Conforme.—O secretario, Dr. zAnlonto Augusto de FigueiredoPitta.

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BACTERIOLOGIA MEDICACommTinicaeao sobre o viorif.o do

cholera e o diagnostico bacterio-lógico da mesma doença

ESPECIALMENTE ESCKIPTA PARA 0 JORNaL "TllE LaNCET» PELO

professor MAX GRLBER, de viennaTraduzida jara portuguez, para o Correio Módico,segundo a versão ingleza

do Sr Dr J. W. WASHBÜURN, por G. M. daSILVA JONES'Conclusão da pag. 151-*)

0 numero dos vibriões achados nas evacuações ou nos con-tentos intesiinaes, mesmo no mais íorte da doença, certamentenão tem relação alguma com a gravidade do ataque. Em casosgraves, podem elles estar presentes em pequenas quantidades,e, nos mais brandos casos, podem estar presentes em quan-tidades enormes, como Lustig(r) e eu h) descobrimos primeiroque ninguém. Isto, bem como as experiências de infeeção queteem sido executadas por Pettcnk >fer e Emmerich, Metchnikoff,Hasterlik, e outros, só prova que, além do vibrião, ha outrascondições necessárias para determinar a gravidade do ataque.Por oulro lado, estas experiências de infeeção dão apoio aoque ensina Koch visto que provam, ao menos, que os vibriõestomam parte na producção dos symptomas da doença. Emmuitos casos, o numero de vibriões é tãr grande nas excreções(excreta) dos dcentes e o seu agrupamento tão característico,que cm mais de metade dos casos pôde o diagnostico ser feitocom a maior probabilidade só com um simples exame micros-copico. (Ninguém, excepto V. Finkler (•}), viu jamais taes as-pectos, salvo em casos de cholera asiático). Por outro lado,o numero dc casos de diarrheia no curso de epidemias de cho-

Zeitschriít fur Hygiene. Band lll, s. 11G.Wiener «ed. WocUenschnft, 1887, N.os 7 p 8.Tagebtalt der òh Versammlung Dmtscher tSuturjorscher und Airzte

xu Slrasiburg, p. 738.

-./

— 343 —

lera, que teem sido examinados em differentes partes do mundo

por bacteriologistas experimentados, e em que o vibrião do

cholera não foi achado, é demasiado pequeno para levimar

alguma duvida quanto á significação etiologica dos vibriões (i).Taes casos, podem, com effeito, ter sido casos de cholera

nostras intercorrente.

Qualquer que seja o caso, será necessário, no futuro, seguir

estes casos mais cuidadosamente, pois não pôde perder-se de

vista que, explicando assim taes casos de diarrheia sem vibrião

e oceorrentes ao mesmo tempo e no mesmo logar aonde o cho-

lera é epidêmico, podemos ser levados ás fallacias d'uma petitw

principii. Havia de ser bem grave o golpe feito nas opiniões de

Koch, se podesse mostrar-se que são acompanhamento com-

mum d'uma epidemia dc cholera os casos de diarrheia sem

vibriões, ou se se mostrasse que epidemias íataes, taes como

teem sido descriptas por Carp (2) em VVesel, são de oceorrencia

mais freqüente. Eu porém, nãi julgo isto provável Se assim

fosse, então as observações de Rumpcl (?) e d'outros, do en-

contro [finding) do vibrião de Ko;h nas fezes de individuos

sãos-um facto, por si mesmo, sufficientemente digno de

nota—appareceriam a uma luz inteiramente differente. Estas

observações de Rumpel não derribam as opiniões de Koch,

visto que foram feitas em individuos que estavam em relação

intima {relationship) com doentes de cholera, ou que viviam em

localidades infectadas de cholera, de modo que não poderiahaver duvida acerca da origem dos vibriões. De resto, foi

achado uma vez por Metchmkoíl (4) um vibrião similhante ao

vibrião do cholera, nas fezes d'um doente que soffria de prisãodo ventre. Não se asseverou a absoluta identidade, nem se pu-blicou uma descripção exacta. Nos casos isolados descriptos

l Furbin^r. Deutsche Meti. Wochenschrift, 1892. N.- 37. Gultman:lterltner Klin. Vochenschrift. 1H92 N. 41 Kircdner: Berliner Kiin Wo-chenschrilt. 1899 N. 13. I>u Mesni': Slunehner Med. Woehensehnft,1892. N. 50. Rumpel Deutsche Med. Wochensihrift, 1893 N. 7.

* Deutsche Med. Woehensehnft, 1893, N. 2.3 f.rtc. Cil. '1 Annales de l< Instituí Pasteur. lfc.63. N. 1, psg. 5b5,

- 345 -

por Finkler e Prior (5), e por Prior só, do desenvolvimento devibriõcs no cholera nostras, as culturas foram as do vibrioproteus, uma espécie inteiramente diííerente do vibrião docholera. Nos casos isolados em que se teem obtido culturas doscontentos intestinaes ou das evacuações de individuos sãos, oude doentes que soffriam de outras doenças, parece que sópoucos (a few) vibriões estavam presentes. Accrescentemosque todos os observadores (6) affirmam que os vibriões eramfacilmente distinguiveis do vibrião do cholera. Em qualquercaso, estas observações mostram que deve ter-se grande cui-dado ao fazer o exame bacteriológico de casos suspeitos de cho-lera, e Koch (7) andou certamente mal (iras wrong) ridiculari-sando as precauções tomadas para evitar confusão com o vibrioproteus. Não é verdade que esta espécie foi achada somenteuma vez, em câmaras fedorentas (stinking). Finkler e Prioraffirmam que a acharam em dez casos de cholera nostras, eFinkler (8) affirma que em dous casos a achou em culturaspuras. Achei-a eu (9) nos contentos intestinaes decompostosd'um doente que tinha morrido com symptomas suspeitos decholera, achou-a Lustig (10) duas vezes em casos de chclerasommando-se com o vibrião de Koch, e Knisl (11) nos con-tentos intestinaes d'uma pessoa que tinha commettido o suici-dio. Que o vibrio proteus não é uma espécie muito rara, é oque se mostra pelas observações feitas por Max Teich e E.Wiener no meu instituto durante o outomno do anno passado.Esta espécie foi freqüentemente isolada da água do canal doDanúbio em Vienna. Temol-a cultivado por muitas gerações ealegrar-nos-hemos com dar culturas a quem quer que as re-quesite.

S Erganzungsheft zum Centralblatt fur Alg. (ksundheiUpflege, 1885,4, rase. 5, 6..«6 ^•F,_*he,r ^ib|pi0 helcogener) {Deutsche Med) Vfochenschriit, 1883. N.49. Koch: loc. cit. 338, Zorkénsdorf: Prager Med. Wochenschrift, 1893,n • 10»

Loc. cit.Loc. cit.Wiener Med. Wochenschrift, 1887, Ns. 7 e 8.to Loc. cit.

4f Fortichrítte der Medicin, 1886, N. 4, pag. 144,

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— 344 —

A despeito de todas estas observações, a segunda parte da

proposição de Koch, é, ainda assim, geralmente correcta—istoé, que se não acham, microscopicamente ou por cultura, bacte-rias com forma de espiral simulando o bacillo comma, nas eva-cuações intestinaes de pessoas sãs ou de doentes que soffremde outras doenças. No curso de annos, tenho examinado bacte-riclogicamente vinte casos de diarrheia endêmica (choleranostras) Êm muitos d'estes casos pude achar pelo exame mi-croscopico bactérias espiraes em grandes quantidades; masdisünguiam-se do bacillo comma pelo seu aspecto. Eramlongas, rapidamente encurvadas, e um tanto fôrmas esguias deS (some"'hat slender S forms), tingindo se mal, singelas,(single) ou reunidas em massas de zoogleia, e com as extre-midades pontudas. Estávamos, sem duvida, lidando comos bem conhecidos parasitas do intestino delgado, desciip-tos ha muito tempo por Eschiich. Em correspondência comisto, cu nunca tive êxito na cultura de sorte alguma de vi-brião de caso algum de cholera nostras. Nem tão pouco pu-de jamais obter culturas de vibriões das fezes de pessoas sãs,ou de individuos que soffriam dc diarrheia, nem mesmoquando podiam descobrir-se vibriões similhantes ao bacillocomma por meio do microscópio. Nos primeiros (former)annos fiz grande numero d'estes exames. Estes resultados ne-

gativos em casos de cholera nostras teem uma importânciaespecial, visto que mostram que os bacillos comma achados nocholera asiático não são habitantes normaes do canal intestinal,ou saprophytas amplamente distribuidos, que aproveitam aopportunidade de se multiplicarem, devida ao estado de doençados intestinos.

As conclusões que eu quereria tirar (would draic) são as se-

guintes:— . São verdadeiras as opiniões de Koch de que nocholera estão presentes vibriões que podem dLtinguir-se detodos os outros que oceorrem nos contentos intestinaes. A isto

pôde juntar-se que o vibrião tem significação etiologica, ainda

que muitas observações tornam necessário fazer mais amplas

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investigações, afim de mais provar (Jtirther prove) a verdadedas proposições de Koch.—2. É possível que os vibriões acha-dosem differentes epidemias de cholera pertençam a varias es-pecies proximamente aparentadas (closely related). Em todo ocaso, o vibrião do cholera oceorre em varias sub-especiesmorphologícamente differentes.-3. É difficil distinguir as difle-rentes espécies de vibrião, e especialmente o vibrião do cholera,umas das outras.— 4. Alguns dos característicos até agoraacceitos como distinguindo o vibrião do cholera não teem valorpratico, outros teem só a significação de característicos degrupos de espécies de vibrião, e, por conseqüência, não sãosuficientes, nos casos difíiceis, para distinguir a espécie. Estescaracterísticos são os seguintes: culturas por picada em gela-tina, culturas em agar, culturas em batata, culturas em caldo,o comportamento com o leite, a reacção com o caldo de lichen(lilmus), a reacção nltroso indol, c a ínoculação intra perito-neal nos cobayas.—5. No exame de casos suspeitos de cho-lera, estas difficuldades não são de muita importância, vistoque os vibriões achados nas evacuações de outros casos fácil-mente se distinguem do vibrião do cholera, c que na maioriados casos de cholera os vibriões achados são inteiramentecaracterísticos.-6.'Ao contrario, devemos olhar com suspeiçãopara a descoberta de vibriões do cholera n'outro material quenão sejam as evacuações intestinaes em connexão com casos decholera. Indo pelo mesmo caminho, devemos desconfiar daidentificação, com o bacillus comma, de vibriões achados naágua e que oceorrem sem connexão alguma conhecida com ocholera indiano. Devemos ser especialmente cuidadosos, vistoque estas observações se teem baseado geralmente nos critériosacima mencionados e discutidos.— 7. Os aspectos microsco.picos de colônias perfeitamente recentes {quiteyoung) de vibriãode Koch em gelatina de 10 por cento parecem (appear) ser quasiabsolutamente característicos. Ao menos, nunca encontrei as-pectos similhantes em alguma outia variedade (kind) de espe-cie de vibrião. A observação deve, todavia, ser feita em certascondições definidas para ser de confiança.

— 346 —

SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIADA BAHIA

Sessão de 6 de Abril de 1895Presidência do Dr. Pacheco Mendes

SUMMAR10:

Um caso de hérnia estrangulada: apresentação do doente curadopelo Dr. Pacheco Mendes.-Albuminuria produzida por altas dóie*deantipyrina pelo Dr. Deocleciano Ramos. Da lipotbymia. inversão eemprego do café pelo Dr. Bonilacio Costa. Discussão: Drs. AlfredoBritto e Deocleciano Ramos.

Presentes os Drs. Pacheco Mendes, Braz Amaral, Cerqueira

Lima, Juliano Moreira, Gonçalves de Figueiredo, João Lopes,

Aurélio Vianna, Nina Rodrigues, Alfredo Britto, Tillemont

Fontes, Deocleciano Ramos, João Martins, Demetrio Silva,

Ribeiro da Silva e Bonifácio da Costa, foi lida e approvada a

acta da sessão anterior.

O Presidente declara vago o logar de i.° secretario por isso

que desde o dia 15 do p. p. mez tinha o Dr. Bi az Amaral dado

sua exoneração. O Dr. Braz Amaral em seguida pede a palavra

para fundamentar o facto declarando então que sendo elle Re-

dactor gerente da Gazeta Medica da Bahia não poderia, conti-

nuando secretario, assignar o contracto que a Sociedade ia

effectuar com a mesma Gateta, por isso que não era possivelfigurar duas vezes sua assignatura no mesmo contracto. Pelo

que julgava indispensável sua exoneração, continuando todavia

a prestar a Sociedade os seus serviços na qualidade de Reda-

ctor dos Annaes.

Em seguida prccedcu-se a eleição para o cargo declarado

vago, sendo eleito o Dr. João Lopes que entrou logo após

em exercicio Foi neste dia assignado o contiacto entre a Ga-

zela Medica e a Sociedade para publicação dos Annaes desta.

- 347 ~

Apresentação de doenteO DR. PACHECO MENDES apresenta á Sociedade um ra-

paz de dezenove annos, copeiro, em o qual havia practicado akelotomia e em segnida a operação de cura radical da hérnia.O doente perleitamente curado, como via a Sociedade, eradigno dc ser-lhe apresentado pelos symptomas que apre-sentava no momento da operação: tres placas gangrenosas,sendo a maior do tamanho de uma moeda de 40 rs. já existiamno intestino herniado. Faltando-lhe na occasião o iustrumen-tal necessário para rcalisar a enterotomia viu-se obrigado arecolher o intestino em tão mau estado; mau grado isto o do-ente não tinha tido as conseqüências funestas que era para pre-ver em taes condições. Disse mais o Dr. Pacheco Mendes queo doente continuaria sob suas vistas afim de ver se a hérnia sereproduzia, assim como que mais tarde communicaria à Socic-dade a historia detalhada do mesmo doente, quando lesse pe-rante ella um trabalho sobre vários casos de cura radical dashérnias.

Em seguida pediu a palavra o Dr, Deocleciano Ramos queleu a seguinte communicação.

AlbuminutrvLa produzida por altasdoses do antipyrina

pelo Dr. DEOCLECIANO RAMOSEm princípios de novembro do anno passado veio ao meu

consultório um moço de cerca de 20 annos de idade, cônsul-tar-me sobre o seu estado de sjude profundamente abaladopor encommodos diversos que o tornavam seriamente appre-hensivo.

Da indagação e do exame que fiz-lhe não poude chegar aum diagnostico exaclo da moléstia, ou melhor não formeijuizo algum, e entendi continuar a obscrval-o, sem comtudomedical-o.

Exigi que me trouxesse no dia immediato um pouco da urina,

If*- 348 — '¦'

recolhida pela manhl, e fiz a analyse conveniente, sem encon-trar o que me podesse esclarecer sobre o caso.

Apóz novo exame e mais detalhada indagação cheguei aconvencer-me da necessidade de prescrever-lhe o iodêto depotássio o que fiz, associando-o ao salicylato de sódio e aantipyrina, sendo estes medicamentos na dose de 3 grammaspara 150 de vehiculo.

Dias depois voltou este doente a consulta, melhorado dasdores que sentia na região lombar, muito accentuadamentesobre os rins, porém queixando-se de fraqueza nas pernas etonturas.

Auscultei-o, examinei os differentes órgãos, a região renal,emfim procedi um exame geral e apenas notei um ligeiro edemacm torno dos maleolos.

Pedi-lhe de novo a urina para examinar e foi grande sorpresa

quando tratando-a pelo ácido azotico vi precipitar-se a albu-mina.

A reacção foi feita tanto com a urina a frio como com ellapreviamente fervida.

Quando voltou o doente ordenei-lhe que suspendesse o usodo remédio, que eu havia mandado repetir, e que por algunsdias usasse somente o decoclo de cevada adoçada e o leitecom sal e que quando viesse de novo ao consultório trouxesseum pouco da urina da manhã.

Dois dias depois voltou o doente trazendo a urina; não sentiamais as tonturas, o edema tinha diminuído e a urina não con-tinha mais albumina.

Não soube explicar o facto.

Prescrevi-lhe de novo o iodèto, só, em xarope de guaiaco,com tintura de genciana.

A poucos dias este mesmo doente que chama-se José Fran-cisco da Costa, veio procurar-me, queixando-se de soffrimentosdo estômago.

Um outro caso, oceorrido em lim do mez próximo passado,

prendeu-me bastante a altenção, a ponto de levar-me a con-versar com alguns collegas sobre a possibilidade de uma albu-minuria toxicu , produzida pela antipyrina

Tendo, em logar do meu distincto collega Dr. Nina Rodri-gues, ido ver um doente affectado de eystite e prostatite, en-contrei-o n'um estado desanimador; difficuldade extrema namicção, dores intensas na bexiga irradiando-se até os rins,impossibilitando-o de mover-se, quando o desejo freqüente deurinar o obrigava a procurar uma posição qualquer que lhefacilitasse expeliu- algumas gottas de urina, sede viva, olharbrilhante e agitado.

Não poude examinal-o convenientemente, mas também nãome foi difficil approximar da causa segura de todo aquellecortejo symptomatico".

Convenci-o de que não havia a temer cousa alguma e quemelhoraria certamente com a medicação. Prescrevi-lhe a anti-pyrina na dose de três grammas para i$o de vehiculo, comocostumo fazer sempre, e que commumentc emprego nas inflam-mações agudas da bexiga com resultado bom e evideme. Acon-selhei também os banhos mornos (semicupios) e fricções noperinéo com pomada de belladona e cicuta.

Recommendei que recolhesse toda a urina que o doenteexpelisse pela manhã, até a hora da minha visita.

No dia seguinte quando visitei-o, achei-o sentado; não tinhadormido, urinava ainda com difficuldade e amiudadas vezesas dores porém tinham desapparecido e somente se faziamsentir no acto da micção, com intensidade notável e precisa-mente no collo da bexiga.

A poção de antipyrina tinha sido tomada tpdaemoito doses,com intervallos regulares de urna hora; receitei-lhe então oacetato de potássio na infusão de uva ursina—e insisti nosbanhos e nas fricções belladonadas.

A alimentação era exclusivamente de leite com pouco sal epeixe.

Procedendo a analyse da urina, isto em meu consultório.

— -J50 —

atterrou-me a quantidade enorme de albumina, que precipitou

não só pela acção do calor como do ácido azotico.

A quantidade de mucosidade em suspensão era cons.deravel.

as reacções porém foram feitas com a urina filtrada, ora aque-

cida até a ebulição, ora a frio: sempre o mesmo precipitado

E' fácil dc comprehender se o prognostico que fiz, c o mu.t0

pezar que me ia por não poder restabelecer completamente

° Vo^eÍrtrrde a vel-o, mas não lhe fallei sobre o exame da

urina nem lhe pedi nova porção; não quiz despertar-lhe a at-

tenção para este ponto. _. Limitei-me a mandar continuar eom a medicação que tinha

prescripto pela manhã e a fazel-o tomar a maior quantidade

de leite que podesse, sempre com o sal.

No terceiro dia em que o vi, cerca de 9 horas da manha,

achei-o muito satisíeitoe animado; tinha dormido regularmente,

já urinava mais e sem veixame, sentia-se bem, dizia-me elle,

acreditando no entanto ter algum estreitamento na urethra.

AffirmeUhe que não era de presumir tal cousa e para certiti-

cal-o mandei vir duas sondas de gomma elástica de ns. 6 e 10.

Passei a primeira sem que o doente aceusasse dor própria-

mente, sentindo-a no emtanto na passagem pela região prós-

tática; no dia immediato passei a n. .0, sem dificuldade.

A urina que recolhi levei para examinar. Não continha mais

albumina; nem vestígios, sendo comtudo grande a eliminação

de mucosidades.A ultima prescripção foi o decocto de cevada com o acetato

de potássio c elixir paregorico.Fiz ainda uma terceira analyse sem que encontrasse traço

algum de albumina, nem mesmo outro precip.tado.

O doente acha-se completamente restabelecido.

Como explicar esta albuminuria?

Lembrei-me da possibilidade de um precipitado qualquer que

podesse dar a antipyrina de mistura com a urina e sob a acçao

do ácido azotico. Acabo de fazer uma serie de experimentações

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- 35» -

com urina de differentes pessoas, na qual dissolvia antipyrina

até a proporção de io %; em nenhuma obtive precipitadoalgum.

Costumo aquecer a urina até começar a ebulição para depois

juntar pouco a pouco as gottas de ácido azotico.A primeira serie de experiências consistiu em juntar a anti-

pyrina a urina, agital-a e depois atacar o ácido azotico.A segunda consistiu em juntai- a antipyrina e a urina, aque-

cel-as até a ebulição e deitar o ácido ainda com a urina

quente.A terceira em aquecer a urina, deixar depois arrefecer, juntar

então a antipyrina e apóz o ácido.De forma alguma obtive precipitado.£' de suppor que não seja a antipyrina eliminada nas urinas

que dê logar a um precipitado em tudo idêntico as da albu-

mina.Que causa outra, a não ser o eíTeito tóxico da medicação

poderia determinar uma perda tão grande de aibumina, e quecessou com a suspensão da medicação?

Nestes dois casos que eu aponto, um de rheumatismo de

origem syphilitica, outro de cystite, poderemos encontrar o que

justifique a albuminuria na própria natureza da moléstia?Nada posso affirmar; no entanto seria conveniente que os

meus iliustrados collegas prestassem alguma attençâo ás

prescripções da antipyrina em alta dose, procurando veri-

ficar da existência da albuminuria tóxica, ou de uma outra

causa que explique e justifique este phenomeno, ephemero é

verdade, porém que pode trazer alguma confusão e receio ao

clinico, não avisado.E' bem possivel que muitos dentre vós, já conheçam, este

iacto, e possam affirmar a veracidade desta minha supposição,ou a nenhuma importância delia, deante de outras razões oucausas, que melhor expliquem o que vos acabo de expor.

Na apresentação destas considerações, a esta illustrada So-

çiedade, tenho somente um intuito, despertar-lhe a attençâo

~ 352 —

para um facto que a ser freqüente, pode bastante embaraçar nãosó o diagnostico como a therapeutica de casos muitas vezes osmais simples e livrar os doentes da ac-;ão tóxica de uma sub-stancia tão largamente usada.

Se as observações repetidas vierem provar que as altas dosesdc antipyrina não produzem a albuminuria, talvez tenhamosconseguido por estas mesmas observações, explicar o pheno-meno que eu observei nestes meus doentes, e que somente

poude e por emquanto posso, attribuir á medicação.

_Da lipotliymia inversão e o empregodo café

PF.LO

Dr. BONIFÁCIO DA COSTA

Não existe em cirurgia operação alguma, que sendo simples,como a avulsão de um dente, imprima tanto desanimo.

Este facto é conhecido geralmente por todos os que exercemesse ramo da Medicina, o que se pode ainda inferir das própriaspalavras de Harris: There are feir operatians in sitrgery ihcttexcite stronger feelings of dread, and to which most submit withmore reluetance, tltan the exttaction of a tooth.

ManV endure lhe tortures of loothache for tceeks and evenmonths talher than itndergo the opèration.

E\ alem de outras causas, devido a esse desanimo, a essareluclancia, que, forçando muitas vezes a supportarem o mar-tyrio de uma odontalgia truudante, esgotando desta arte oorganismo, e portanto superexitando o systema nervoso, jápela dor, já pela insuficiência de alimentação, já, emfim, pelasincessantes vigílias, impostas por esta mesma dor, contribueforçosamente para que nesta especialidade, mais que em qual-quer outra, observe-se freqüentemente os casos de lypo-thymias.

Não é facto raro, apoz a extracçâo de um dente, ou a deuma insignificante raiz; a abertura de um abeesso, ou a mais

- 353 —

ligeira excisão das gengtvas, o operado cair desfallecido, tor-nando se algumas vezes completamente cyanotico.

Com a perda do sangue, ou com a evacuação do foco, équasi sempre, que um tal successo tem logar; mas, entretanto,pessoas ha, qua concommitanlemente com a operação ou atéantes,, a própria idéa tão somente, de que vae ser operada; éo indispensável para semelhante manifestação.

Esse incidente, que na maioria dos casos é sem importânciadefinida, pode, e já tem, segundo alguns authores, por vezes,produzido suas victimas.

Fazendo abstracção desta circumstancia, aliás bastante seria,nós convidamos a attenção para o effeito eminentemente des-agradável, que produz semelhante acontecimento, de que res*ponsabilidade alguma pesando ao operador, todavia, tanto,circumstantes, como, interessados procuram attribuir a elle,muito principalmente, se por uma 'fatalidade, acontecer quenaquella pessoa, seja essa, sua primeira apparição.

Attentas estas considerações, julgo de toda a conveniência adivulgação dos meios dc que a sciencia actualmente dispõe paraconjurar, e até prevenir, quando houver prévio conhecimento,tão desagradável successo.

cA inversão e o emprego do cafe são os meios incontestável-mente os mais vantajosos, e dignos de serem aproveitados emtaes emergências, pois tem prestado os mais relevantes ser-viços.

Inversão.^Não é, como viram, da ligeira exposição, que depassagem farei, é um processo novo e desconhecido, que venhotrazer aos illustrados collegas, o meu fim é apenas demonstraro quanto elle vantajoso pela sua alta efficacia, de que geral-mente não se lem assás cogitado; dando êxito a muitas vezes,tantas outras tentativas, umas infruetiferas, e outras sem offe-recer tão lindos e notáveis suecessos.

Piorry. Collecções e memórias publicadas em iSyi falia dainversão.

Nelaton propoz para combater os primeiros accidentes da

- 354 —

chloroformisação, a inversão total aos indivíduos aneslhesiados;

c mais tarde Bouisson, etc.Denonvilliers fizeram applicações, mas não conseguindo

generalisar o processo, e nem mesmo fazel-o gozar de certo

merecimento. .Camphell tratando da tolerância anesthesica em obstetrícia

em 1874 lembrou aos práticos este meio; Marion e Sim demcn-

straram o valor do methodo.Na Salpetrière cita Rottenstein, Tratado de anesthesia cirur.

gica publicado em 1880 o facto de uma agonisante que tinha a

cabeça alta, e que exalara o ultimo suspiro, sendo a vida pro-

longada por mais algumas horas, fazendo-se-lhe dar a cabeça

uma posição assás baixa.Um cão depois de ter perdido uma grande quantidade de

sangue acto que menciona o mesmo Piorry, tivera syncopes

tendo a cabeça elevada, e entretanto quando se lhe dava a po-

sição declive, quando se lhe fazia baixar bem a cabeça, a vida

voltava de novo.São innumcros os factos que se encontram em diversos au-

lhores neste sentido, sem comtudo haver a precisão que

eu desejo que os collegas procurem verificar.A razão de tudo isso não é tão difficil de se comprehender,

não excede a somma dos conhecimentos que possuímos, pelo

contrario é fácil e até convincente.Sempre que se baixar qualquer parte do corpo, em conse-

quencia do próprio peso a circulação affluirá para aquella

parte; ora se essas lipothymias originam-se da anemia cerebral,

se, são devidas á falta deste estimulo neste órgão, desde que

haja o refluxo de sangue para elle, a funcçâo se restabelecerá

e ella tenderá a desapparecer.Uma doente, de que falia Rottenstein, estava prestes a falle-

cer com uma lipothymia ligada a uma hemorrhagia uterina,

conseqüente a um parto.Sendo erguida a bacia elevando-se acima da cabeça a doente

salvou-se da syncopc e ao mesmo tempo da hemorrhagia.

— 355 -

Tenho tido em minha clinica um numero incalculável dclipothymias, e, em todos em que tenho empregado este me-thodo, nada tem deixado a desejar; é por isso que procurocommunicar- vos.

Felizmente já alguns collegas tem presenciado com admi-ração, o valor do referido processo; mas para comprehendcr-seo alcance desta minha exposição, passo a referir um caso doqual podcr-se-ha perfeitamenrc julgar da conveniência de bemconhecer-se o processo, e ao mesmo tempo, as desvantagensresultantes da pouca attenção votada a elle:

Um nosso collega, bom clinico, de merecimento reconhecido,em nosso consultório, foi tomado de certo pânico, vendo umasua filha em quem pela primeira vez tivera logar uma lipo-thymia, quando ia ser praticada a insignificante operação deseparação acima, de um dente.

O collega quando entrei no compartimento em que se acha-va, estava na mais completa anciedade, inteiramente desani-mado, tendo os dedos no puisoe procurando empregar os meiosgeralmente postos em uso.

Contando com a infallibilidade de processo, tranquilisei-o epraticando incontinente a inversão, com surpreza vio o restabe-lecimento rápido e instantâneo operar-se.

Estou inteiramente convencido de que este, effectivamenteteria idéa do processo, mas, como era natural, não dispensandoO gráo de attenção merecida, nem ao seu valor, não poderiaconceder o gráo de apreço de que é credor.

Do emprego do café.—Muitas vezes estas lipothymiastendem a voltar e a reproducção do processo faz-se indispen-savel.

Eu tenho obtido por meio de uma forte "infusão de 6o a 8o

grammas de café torrificado, a completa interrupção e não re-producçao dos accesso?

No caso citadt": a nos->a :lieri'. ¦ estando ameaçada de novoaccesso, empreguei o cai : tu ' ;>rreo in.jgnilicatnente bem.

O emprega do café 20<ã da ; :-,:.tie;la_: .-, lanto, de prevenir

— 356 —

a sua invasão, como a reproducção, o que não sc pode conse-

euir com a inversão.E' assim que eu pratico a inversão, sempre que o accesso

nâo dá logar ao emprego do café; devido â demora de pre-

paral-o; mas quando, de an.e-mão sou avisado de que a pessoa

soffre de lipothymia, eu previno eom o ealé, e prattco a ope-

ração certo do resultado, ou se quando o impalledecmento se

começa a manifestar, passo incon.inentea dar o café. elle .mme-

diatamente suspende a marcha do phenomeno e a operação e

ainda praticada sem receio. .Esta propriedade do café neste ponto é superior a da in-

v.ersão.E' o café ainda importante em relação aos ataques nervosos,

hystericos, etc.

Precedendo o uso do café, nestes casos, é muito difficd

sobrevir estes ataques, e quando, por ventura elles sobrevem,

são de uma forma nimiamenU fraca, dc sorte que, apoz a

operação, fazendo ingerir outra dose immediatamente, nada se

manifestará.Usando o café, tenho tambem observado, urna melhor dis-

posição para as operações. _Muitas pessoas tímidas tem se prestado a extracção de um

certo numero de dentes, quando anteriormente nem consen-

tiam tocar-se em um só.A confiança que tenho actualmente é jus*, c bem firmada,

pois ha dez annos que faço uso destes meios e nada tem podido

desviar o meu propósito. Os meus discípulos que tem acom-

panhado, e seguido este mesmo processo, dizem-me ainda nao

contarem tambem, até o presente, um caso que venha dis-

mentir os resultados obtidos.Como comecei a usar o café?

Observando que lipothymias tinham em grande numero por

causa o enfraquecimento devido a falta de alimentação, porque

muitas pessoas atormentadas noites inteiras, _vinham pela

manhã em iejum praticar extrações, e tinham este encom-

•— 357 —

modo, eu procurava ministrar lhe nestes casos um ligeiro ali-mento liquido: ora o leite, ora o chocolate, ora o café, etc;mas observava que com o café os resultados eram mais se

guros.Observei também, que muitas pessoas que tinham lipo-

thymia e até ataques nervosos não achavam-se em jejum, nemenfraquecidas, mas que usando o café gozavam dos mesmos

privilégios, então reconheci a importância e utilidade destemeio therapeutico, nem só para as lipothymias como para as

pessoas nervosas.

O Dr. ALFREDO BRITTO vê na communicação feita aconfirmação de dois factos geralmente conhecidos e acceitos: oabaixamento da cabeça e o emprego do café na therapeuticaprophylatica e curativa dos accidentes vertiginosos e syncopaes,do domínio medico ou cirúrgico. Trata-se incontestavelmentede uma feliz applicação á arte dentaria, na qual tem o collegacolhido tão brilhante êxito.

De facto, seja a lipothymia, n'estes casos, devida á hemor-rhagia ou á inhibição nervosa de origem emotiva, a abun-dante irrigação sangüínea do cérebro ischemiado, bem como aacção tônica da cafeína, e estimulante da cafeona, só podem serde grande utilidade.

O que, porém, lhe pareceu novo e maravilhou-o mesmo nacommunicação lida, foi ver aconselhado o café como preventivoinfallivel dos ateidentes hystericos, ataques de nervos, etc.Proscrevendo habitualmente a suas doentes hystericas o abusoe em muitos casos o simples uso de bebidas estimulantes ouexcitantes, como o café, o chá, o álcool, etc, vê o orador comremorso que mal lhes ha feito, privando-as* do agente único deeffeito certo n'uma affecção que tem até hoje zombado de todosos meios therapeuticos empregados. Que importante desço-berta para a neuro-pathologia e a humanidade! Não devendoesse estupendo effeito do café limitar-se ao gabinete do den-tista, onde quer que uma hysterica se ache ameaçada de ataque,

- 358-

uma chicara de café, ros casos rebeldes uma segunda, e tudo

se terá sanado.Nós outros especialistas em moléstias nervosas, que como

todos os clinicos, (tal é a freqüência da hysteria entre nós)

vemos diariamente irromperem em nossa presença ataques

d'esta natureza e acabamos muitas vezes por esperar impassi-

veis sua terminação, depois de ver talhar o ether, o chlorofor-

mio, o nitrito d'amyla, a compressão ovariana ou dos globos

oculares, a pesquiza dc qualquer outra zona espasmofrenadora

ou hysteroclasica, a própria suggcstão, mesmo materiahsada

por mil modos differentes, etc, etc, como nos sentiremos

fortes d*ora avante com a simples chicara de café! E' verdadei-

ramente um novo ovo de Colombo. Vulgarisc-se este meio,

seja elle utilisado largamente pelas próprias familias, e teremos

riscado a hysteria convulsiva do nosso quadro nosologico.

Receio muito, porém, que tudo isso não venha passar, no

fim de contas de bella miragem enganadora. Não seria a fir-

meza da injuneção com que era dado o café, cm que tanto confia

com razão o collega para os desfallecimentos, desmaios, verti-

gens, etc, que em algumas hystericas eminentemente sugges-

tiveis, tivesse feito casualmente dcsapparecer o esboço d'um

ataque convulsivo que lhe parecia eminente? Como explicar,

d'outra sorte, essa quasi instantaneidade do effeito, antes que a

absorpção se tenha dado? E realisada esta, como a cafeona

reconhecidamente tão excitante sobre o eixo cerebro-espinhal,

acalmaria assim tão prodigiosamente a inncrvação em delírio,

quando pareceria antes lhe dever ir em auxilio?Custa pouco, entretanto, experimentar.E foi para concitar a esse fim os consocios que entendeu

dever salientar essa face importante da communicação, que lhe

parece não dever passar despercebida.

O DR. DEOCLECIANO RAMOS, diz que apesar deter

vislo extrahir talvez para mais de mil dentes nunca viu produ-zirem-se lipolhymias com a freqüência de que falia o Dr Bo-

nifacio Costa.

-319-

Sessão extraordinária em lo deAbril de 1895

Presidência do Dr. Pacheco Mendes

summario

Voto de pezar pela morte dos Drs. Dujanlin-Beaumetz e Alphonse Guérin,pelo Dr. Alfredo de Britto. Apresentação das peças relativas aocrime do Uruguay pelo Dr. Nina Rodrigues. Relatório sobre as medidaspropbylacticas contra a invasão do cholera entre nós, pelo Dr. NinaRodrigues. Caso de morte durante a chloroformisação pelo Dr. Pa-checo Mendes. Discossào: Dr. Tillemont Fontes, Deocleciano Ramose Gonçalves de Figueiredo.

A i hora da tarde presentes os cidadãos Drs. PachecoMendes, Nina Rodrigues, Alfredo Britto, Aurélio Vianna, Til-lemont Fontes, Juliano Moreira, Gonçalves de Figueiredo, Bo-nifacio Costa, Alfredo Magalhães, Deocleciano Ramos, Gui-lherme Costa, João Martins, Francisco Cardoso, LeopoldoRibeiro da Silva e Pedro E. de Cerqueira Lima, foi aberta asessão.

Foi lida e ápprováda a acta da sessão anterior.

Voto de pezar pelo morte de Dujardin-Bcaumetz e Alphonse Guerin

O Dr. ALFREDO BRITTO fundamenta um voto de pezarpelo desapparecimento dos Drs. Dujardin-Beaumetz e AlphonseGuérin: o primeiro que tão fecunda influencia exerceu na pra-tica medica do ultimo quartel d'este século, vulgansando emsuas múltiplas obras o conhecimento dos novos meios da artede curar, depois de passal-os previamente pelo cadinho purifi-cador da experimentação clinica e lançando assim as bases daverdadeira therapeutica, a qual não deve sair do gabinete dochimico nem do physiologista, e sim da clinica seientifica; osegundo, verdadeiro precursor de Lister, com o seu invento domethodo algodoado, privando o ar dos germens nocivos queinfectavam as feridas, e com quem, portanto se devem repartir

— 360 —

as glorias da antisepsia hioderna tão pródiga de benefícios

á humanidade sofTredora!E' unanimemente approvado.

(Apresentação Jas peças relativas ao estudo medico-legaldo crime do Uruguatj

O dr. Nina Rodrigue pede á Sociedade que por ora, acceite,

como começo aos estudos sobre o crime do Uruguay o rela-

torio que teve oceasião de apresentar a mesma sociedade,

promettendo dar o resumo completo logo que termine esses

estudos. Em seguida mostra a cabeça, uma vertebra, o utero

e uma das mãos pertencentes a victima do referido crime, e

conservadas no gabinete de medicina-legal, relendo ao mesmo

tempo as partes do relatório (já publicado ) relativas á cabeça

e á vertebto.A propósito do utero suscitou-se ligeira discussão em que

tomaram parte parte os drs. Nina, Pacheco Mendes e Deocle-ciano Ramos.

O Dr. NINA RODRIGUES diz que estaria prompto a

subscrever o trabalho que o Sr. Dr. Tillemont por circumstan-

cias especiaes apresentou em seu nome e não no da commissao,

senão entendesse que a Sociedade ao emvez de pedir simples

melhoramentos do actual serviço hygienico do Estado, deve

pedir ao contrario a organisação de um serviço completo e

especialmente destinado a obstar a todo o transe a penetraçãodo cholera n'esta cidade.

Por esse motivo, apresenta o substitutivo abaixo transcripto

afim de que a Socicdide resolva se quer apenas pedir ao go-verno melhoramentos do actual serviço hygienico e então

adopte a proposta do Dr. Tillemont, ou ao contrario quer

pedir medidas especiaes e radicalmente independentes dos

serviços existentes e então adopte, com as modificações queentender, o substitutivo que apresenta.

— 361 —

RelatórioSOBRE AS MEDIDAS PROPHYLACTICAS CONTRA A INVASÃO DO CHOLERA-

MORliUS ENTRE NOS

pelo Dr. NINA RODRIGUES

A Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia, após longodebate sobre a epidemia choleriforme que reina em Estados dosul da Republica, chegou, já pelo estudo da sua marcha e natu-reza, já pelo exame das opiniões e discussões a que tem dadologar, á convicção de que a moléstia de que se trata, é ocholera-morbus, que se não tem tido um desenvolvimentoepidêmico muito rápido, vai em todo caso alastrando lenta-mente e invadindo os Estados circumvisinhos.

E invadidos como se acham o Estado do Espirito-Santo e abahia do Rio de Janeiro, é eminente a invasão d'este Estado

quer pelas povoações do sul que em mais intimo commercio derelações se acham com os Estados infeccionados, quer mesmo

por esta cidade visitada diariamente por embarcações d'aquellas

precedências.Considerando, porém, que a impotência das nossas reparti-

ções sanitárias para a realisação da mais simples medida pro-phylactica é absoluta;

Considerando que é este o resultado já de falta de pessoal, dematerial e de regulamentação do serviço nos diversos ramosda hygiene de defeza, já do caracter desharmonico, fragmen-tario e truncado dos escassos recursos de que ellas dispõem:a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia, usando do di-reito de petição e appellando para o patriotismo e zelo do Go-vernador vem pedir-lhe a realisação das medidas abaixo enun-ciadas que, na sua qualidade de corporação' scientifica e pro-fissional, eila affirma capazes de obstar a invasão do choleradesde que sejam postas em execução com o preciso rigor eenergia.

i.° Organisação de um serviço regular de desinfeccão comlocal appropriado, material necessário e pessoal educado, de

— ^02 —

modo que o serviço possa ser feito com methodo e promptidão,de conformidade com os regulamentos que a pratica e a sciencia

teem aconselhado em serviços d'esta natureza. E' indispen-

savel que a hygiene indígena, absorvida pela preoecupaçãodas estufas Geneste & Herscher, se convença de que estes im-

portantes apparelhos só são cfíicazes quando funecionam em

um serviço regular e que não podem em caso algum constituir

por si só um serviço de desinfeçção.2.0 Installação de um serviço de assistência hospitalar,

prompto a funecionar dc um momento para outro em condições

de perfeito isolamento, e comprehendendo não só o edifício,

mobília hospitalar e pessoal idôneo, mas ainda um serviço,

terrestre e marítimo, dc transporte dos doentes, o qual deve

preencher os tres requisitos dc rapidez, inocuidade e isola-

mento.3." Creaçâo dc uma policia sanitária maritima, com embar-

cações de isolamento, escaleres e lanchas á vapor para com-

municações na Bahia, e pessoal sufficiente para todas as exi-

gencias do serviço. Esta policia deve funecionar de accordo

com a repartição lederal da saude do porto. Não ha disposição

alguma de lei que obste a creaçâo d'este serviço.

4.0 Entregar em commissaõ especial todo o serviço de defeza

da cidade e do estacio a um profissional experimentado, que játenha organisado e dirigido serviços d'esta natureza. E a So-

ciedade de Medicina e Cirurgia que sabe não haver conheci,

mentos theoricos, nem illustração de gabinete que possamsubstituir a pratica que dão a direcção e organisacão de um

serviço sanitário, lembra o neme de um profissional, que ella

não tem a honra de contar no nufhero dos seus membros, mas

que já deo provas exhuberantes de sua competência e praticaem diversas commissões sanitárias importantíssimas—o Dr

Francisco Marques d'Araujo Gocs.E' com efleito dc alta conveniência administrativa que este

serviço não seja preterido pelas múltiplas attribuições das re-

partições sanitárias do estado, è que nelle ponha toda a sua

actividade c zelo um profissional exclusivamente commissío-nado para esse fim, e com pratica demonstrada em serviçosanteriores, caso em que se acha o Dr. Góes.

5." Abrir o governador sob sua responsabilidade os créditosnecessários para a creação de todos estes serviços. A historiaque iníallivelmente íará recahir sobre o actual governo a graveresponsabilidade de ter deixado criminosamente este estado eesta cidade desarmados ante a invasão imminente de um fia-gello terrível como é o cholera, exaltará ao contrario o seu tinoe zelo administrativo se elle souber affastar com firmeza e pre-videncia tão temeroso perigo.

A Sociedade de Medicina e Cirurgia não vem apurar res-ponsabilidades, nem investigar as causas, do lamentável estadodos nossos serviços, sanitários. Seria pueril e estulto no mo-mento da acção e em que se faz mister intervenção enérgicaconsumir o tempo em recnminaçõss inúteis e improficuas.

A Sociedade de Medicina e Cirurgia, appellando para o go-vernador que é um medico, sabe apenas que cm casos de sal-vação publica como este, os governos enérgicos, esclarecidos epatrióticos assumem conscientes, responsabilidade das medidasextremas necessárias, c não contam a economia que então maisseria um escarneo, como um embaraço serio opposto a maislegitima das despezas, a despeza contra a invasão da peste,que è era summa a miséria e a morte.

E a Sociedade de Medicina e Cirargia espera tudo da sabe-doria e providencia do governo

S. R.

Apoz ligeira discussão e declaração do Dr. Tillemont Fontesde que subscrivia o substitutivo do Dr. Nina Rodrigues foielle unanimimente approvado ficando a m.za encarregada deenvial-o ao governo.

SERIE IV ANNO XXVI Ül

— 364 —

Morte pelo cüloroformio

DR. PACHECO MENDES — Communica a sociedade um

caso de morte pelo chloroformio occorrido no seu serviço do

Hospital Santa Izabel.Traz o facto ao conhecimento da sociedade por dous moti-

vos: i para quc o caso seja registrado nos nossos annaes paraservir de elemento estatístico ao estudo comparativo dos re-

sultados occasionados pelos diversos agentes anesthesicos, 2",

para protestar contra o facto de se ter querido responsabilisaro collega que se incumbio da chloroformisação, pretendendo-se fazer acreditar que a morte se deu por falta da observa-

ção dos princípios que devem preceder e regular uma boa

chloroformisação, acabando por assumir inteira responsabili-

dade do facto na qualidade de operador.Depois de historiar o facto como elle foi e dc fazer algumas

considerações sobre o mechinismo da morte acaba prometten-do dar por escripto afim de publicar-se nos annaes da socie-

dade a observação e a opinião que adopta para explicação do

referido mechanismo da morte.E' o quc passamos a publicar.«Tratava-se de reduzir uma luxação tibio-tarsiana de 30

dias de existência em um individuo preto, carroceiro, de 40annos, robusto e no qual a auscultação não revelou lesão ai-

guma que contraindicassc o emprego do chloroformio.Adormecido o doente, o assistente da clinica que dirige, O

dr. João Martins, auxiliado por outro collega e os internos do

serviço, procedeu a reducção, conseguindo-a, após as mano-

bras empregadas em taes casos, sem grande difficuldade.Avisado pelo assistente que a reducção estava feita, deixei

o collega com o qual conversava sobre outros doentes que iam

ser operados, approximei-me do doente, verifiquei a reducção

e ordenei a collocaçuo de um apparelho contentivo.Nesta oceasião observei que o chloroformisador procurava

despertar o doente, cuja respiração havia parado; approximei-

-,,65-

me d'elle, que já havia suspendido a chloroformisação,- prati-quei tracções, rythmicas da lingua, pelo methodo de Laborde,e, desfarte, consegui, sem grande trabalho, despertar o doen-te, que, perfeitamente consciente, abrio os clhos, fallou eco-meçou a respirar regularmente.

Momentos depois, dez minutos, nova syncope manifestou-see o doente falleceu, a despeito dos recursos empregados (res-piração artificial, tracções da lingua, injecções de ether, cor-rentes electricas, etc.

A quantidade total do chloroformio empregado foi de 30grammas.

E' de suppor que neste doente o abuso exagerado das be-bidas alcoólicas determinasse a degencrencia gordurosa dasfibras do coração, enfraquecendo-o, portanto e predispondoassim á dilatação deste órgão, já provavelmente iniciada pelosesforços constantes á que o obrigavam os misteres de sua ar-dua profissão.

Nestas condições, pois, comprehende-se que o coração cm-bora enfraquecido pelos motivos expostos, reagisse sob a in-fluencia dos meios empregados e ressuscitasse o nosso doen-te, por instantes, parando definitivamente em conseqüênciado esgotamento consecutivo ao exíorço supremo que acabarade realizar.

Se é verdade que o chloroformio dimmue a pressão sangui-nea e que esta augmenta a medida que cessão os efleitosd'aquelle anestesico, parece-me acceitavcl a opinião de Ale-xandre Haig, que admitte para a syncope chloroformica omesmo mecanismo da syncope em geral.

A syncope embora reconheça factores diversos para a suaproducção, resulta sempre da sobrecarga do coração quesegue se ao augmento da pressão sanguinea. E, se, comodemonstra a experimentação, a irritação de um nervo sensitivodetermina a contração dos vasos arteriacs, oceasionando oaugmento da pressão sangüínea, e, conseguintemente a sobre-carga do coração, pode-se admittir no nosso caso que a dor

— 366 -

determinada pelas manobras decontensãodo membro reduzido

fosse o factor directo da syncope, de que foi victima o doente

em questão.Demais, diz Marey que as alterações do rythmo cardíaco,

muita vez attribuidas á influencia nervosa, reconhecem como

factor directo modificações que se passam na pressão vascu-

lar.Admittida a concepção exposta sobre a syncope chlorofor-

mica, comprehende-se facilmente que a morte possa seguir-se

ao uzo do chloroformio quando se emprega em individuos

portadores de coração eníraquecido pela degeneração de suas

fibras.»DR. GONÇALVES DE FiGUEIREDO.-Recorda-se per-

feitamente que o dr. Pacheco Mendes, depois de haver feito

considerações acerca da não responsabilidade do chloroformi-

sador, no deplorável incidente que se deu na sua clinica pro-

curou interpretar a morte, no caso presente por uma paradado coração, devida à dihtação das cavidades direitas.

O dr. Gonçalves de Figueiredo acredita, caso o doente ti-

vesse morrido por asystolica aguda, consecutiva á dilatação

das cavidades direitas o faeto seria de natureza reflexa e teria

por ponto de partida as repetidas tracções exercidas sobre o

membro, pois tratava-se dc reduzir uma luxação.

A seu ver e segundo a hypothese, que figura o chloroformi-

sador deveria ser sorprchendido pela dyspnéa súbita, que cm

taes casos compara á da obliteração da artéria pulmonar, e

impediria o doente de inhalar uma só gotta do anesthesico.

A auscultação no foco de audiência da artéria pulmonar re-

velaria a accentuação do tom diastolico a este nivel.O faeto de haver o chloroformisador suspendido as inhala-

ções a i' vez para reimpregal-as de novo fàlla em abono da

hypothese figurada.O dr. Gonçalves de Figueiredo acredita comtudo, tal não se

deu pois na historia da chloroforrhisação, tal qual a referio o

dr. Pacheco Mendes, não figura tal symptomatologia.

— 367 —

O reflexo caso sc tivesse processado, não se faria por inter-médio da circulação cardio-pulmonar.

A seu ver a excitação do lymphatico se transmittiria ao co-ração por intermédio do gânglio cervical inferior e então omyocardio degenerado não podendo mais responder a t exci-tação produzida seria na sua opinião o responsável por tãolamentável acontecimento.

O dr. Gonçalves de Figueiredo lembra a importância quepode advir ao clinico do conhecimento prévio das cardiopathiasreflexas, que sorprehendendo o coração em condicções espe-ciaes dc sua estruetura vem em curto espaço de tempo trazerum desfecho fatal.

A tal respeito recorda-se da leitura que fez da these doprof* Laségue, relativa as cadiopathias reflexas consecutivas iamputações, onde o autor historia um bom numero de casosque bem poderiam ser comparados ao da hypothese figurada.

E' força confessar, que semelhantes hvpotheses estariammuito provavelmente por terra, caso a autópsia tivesse sidopraticada.

DR. TILLEMONT FONTES.-Estava junto ao doente eao chloroformisador, quando deu-se o incidente, e emborajulgue muito louvável e digno o procedimento do illustre ci-rurgião, comtudo pensa que o mesmo não pode assumir aresponsabilidade do facto, por isso que o chloroformisador éum profissional, a quem a lei dá inteira e plena capacidadep«ra o exercício da medicina, c portanto para os revezes emtaes emergências.

O collega chloroformisador acabava de administrar o mesmochloroformio a outro doente operado pelo illustre dr. PachecoMendes, e isto mesmo faz com que o incidente não possa serlevado à conta do medicamento.

Ora, durante o somno normal, como durante o somno anes-thesico, exaltam-se os phenomenos reflexos, por inhibição ce-rebral. De mais, os experimentos dc Goltz, fazendo parar o

— ?68 —

coração nas rans anesthesiadas com ligeiras pancadas sobre ovenlre, como as paradas súbitas deste órgão pelo schocks nostraumas abdominaes, parecem demonstrar que a syncope car-diaca nesses casos é puramente reflexa. Entre grande numerode reflexos, dos melhor estudados, ha o reflexo da dor, consis-tente no abaixamento da tensão arterial pela excilação de umnervo sensitivo; e embora um chloroformisado esteja em estadoinconsciente, é possivel que o reflexo se realise. O doente em

quem se praticar uma reducção, está sujeito pelas fortes trac-ções do manejo operatorio, a excitações violentas c repetidasdos nervos centripetos que de sensibilidade exquisita e muitoaccentuada se distribuem por terminações peculiares nos ten-does dos músculos periarticulares.

Por isso, em concluzão, pensa que as excitações forçadas,necessárias à reducção, foram a determinante de um reflexo,cujo arco perislaltico completou-se para os nervos do plexocardíaco, produzindo a syncope ou a parada do coração, nocaso vertente de myocardio enfranquecido pelo abuso do ai-cool; e o que podia ser era systolt. ou em diastole, conforme-o nervo que do bulbo trouxesse a excitaçào, ou o centro intra-cardíaco inhibido.

As sessões da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahiarealisadas no mez de Abril, não tendo fornecido o materialsufficiente para o preenchimento das 32 paginas deste fascicu-lo dos Annaes da mesma Sociedade, cumprimos, publicando oseguinte artigo, a parte do Art. 2' das «Disposições relativasá publicação dos mesmos Annaes, que obriga'a commissão deredacção a concorrer, quanto possivel, com artigos de sualavra, sobretudo quando for pequena a afíluencia de materialde outra origem.

- 369 —

IMstribuieao geographica do botãoendêmico dos paizes quentes

PELO

DR. JULIANO MOREIRAOs estudos de geographia medica por mais que a muitos

pareçam de mera erudição, a mim sempre se aííiguraram deavantajado valor. Os monumentos deixados por Boudin, Hirsche Lombard certo que não lhes fizeram dispender menor laborque um bom numero de trabalhos outros julgados originaespela novidade do que exponhem.

Por mais que os desconhecedores destes estudos os julguemfáceis e mesmo inúteis, somente quem uma vez os emprehen-deu sabe-lhes as difficuldades, estima-lhes a utilidade.

A distribuição geographica de varias moléstias carece revi-são de annos a annos por isso mesmo que diversas entre ellas,que pareciam não existir em tal ou qual localidade, começama dominar-lhe a nosologia ou ao menos a evidenciar-se sahin-do da serie por vezes avantajada de diagnósticos inexactos.

Estudar a distribuição geographica do botão é missão maisárdua do que a primeira vista parece. Já se fez a carta geo-graphica do botão? Já é possível fazel-a? Estou convicto quenão! Todavia vou assignalar o que sabe-se até hoje. Quizerapoder publicar desde jà a.carta que planejo procurando aslinhas isothermas que por ventura existam entre as localidadesaté hoje indicadas como pontos em que reina o botão; masfoi-me impossível conhecer as médias thermicas de bom nu-mero destas localidade. Uma cousa porem posso affirmar: éque a enumeração que passo a fazer é a mais completa atéhoje escripta.

Antes de começar eu sollicito desculpa para as cuitas di-gressões históricas que de quando em vez faço: tem por fimamenisar a aridez do assumpto.

A Ásia e a África passaram por muite tempo como os do-minios exchsivos do botão endêmico, estudemos pois emprimeiro logar a distribuição do mal nestes dous continentes.

— 370 —

Comecemos nossa perigrinação pela Ásia por isso que é delà que temos os primeiros documentos escriptos acerca dobotão. Por muito tempo julgou-se o norte da Syria ea vasta

planície do Al-Djesireh ou Mesopotamía (entre os rios), comoo domínio exclusivo da moléstia de que ora me occupo.

No curso do Oronte, o Nahr-el-\zi, rio da Syria vindo doAnti-Libano para o Mediterrâneo, encontra-se o botão até emAlepo situado entre o Oronte e o Koik ou Koveik.

Haleb como dizem os seus habitantes, Aleppum, a antigaBercea dos Gregos, assentada sobre o terreno em que floresceua velha Klalebon ou Klalebs (de Strabão), Alepo «laBariole»a velha estação intermediária das caravanas, entre o golphode Alexandretta e o Euphrates, Alepo a capital da Syria, aresidência do Pachà, devastada varias vezes pela peste, quasidestruída aos 13 de agosto de I822 por um tremor de terracelebre ainda pelas varias batalhas sangrentas travadas noseu solo, sitiada pelos cruzados em 1124, íoi o ponto princi-pai em que o viajante inglez Russel (1) em 1756, assignaloua existência do botão endêmico. Hasselguist (Reis in Palaesti-na 1762 pag. 593 e Abhandl der schwedischen Path. t. II pag.456) Volney (Voyage en Egypte en 1867 t. II pag. 130) fazemmenção da endemin de Aleppo.

Diz Baptistian Poujoulat (2) que em Alepo, onde esteve,attribue-se ás águas das fontes de Hailan, situada 2 horas aonordeste da cidade e de onde abastece-se a população, o appa-recimenlo do botão lá denominado Habab-el-sèné (ulcera deum anno.

Este viajante teve 3 botões (um em cada punho e um nocotovello) quatro mezes depois de ter deixado a cidade a queora refiro-me.

Ao ribeiro Koik tem-se também attribuido a producçãodo mal.

Alex. Ro3sel-Th9 natural history of Aleppo and parta adjacenUetc. Lond. 1765, 2- ed. rev. por Patrich Russel—1791 ft vol.

Voyage dans 1'Asie mineure. en Hesopotamie etc. T. II, pag. 95e seg.

- 3?1 -

G^ilhpu que acompanhou Pariset ao Oriente, addiccionou aaua these apresentada a Faculdade de Montpellicr (1833), umacarta levantada por Germain, em que os domínios do botão sãoas margens do ribeiro ha pouco citado.

Ed. Estienne medico da marinha franeeza, em sua theseinaugural (3) sobre o botão do Alepo revolta-se contra a opi-nião dos que attribuem ao Koik a producção da moléstia, elletaxa esta opinião de erro grosseiro, propagado por viajantesque tem apenas levado em conta as idéias populares es-palhacjas nas localidade que visitavam. M. A. Netter (4) nagaz. méd, de Strasbourg, de 24 de Julho de 18çó, affirma-va ^ue o botão não encontra-se em todas as localidadesregadas pelo Koik e marcadas em vermelho na carta de Gui-lhou: Beylan, Ansari, Bellarhamon por exemplo; ao passo quese o encontra nas localidadess distantes do Koikeque eu passoa enpmerar.

Um pouco ao sul de Alepo o botão foi observado na velhaDamasco, tão antiga quanto Jerusalém, coetanea de Babylo-nia, Ninive e Memphis, antiga residência dos Kalifas, semprecercada dos seus bellos e bem cultivados jardins, sempre ásombra de bellas arvores protectoras, dotada de numerososregatos, sempre hospitaleira ás caravanas de Meca.

EmBeyrouth (Beritos), emKillis, em Ophra, Orfa ou Ouría,a antiga Rhoa dos cruzados, a Edessa dos gregos, edificadasobre as ruinas da famosa Ur, capital do primeiro impériochaldaico, contemporânea de Abraham; em Diarbehir ou Díar-beh (cAmida), onde é muito commun e mais temido que emAlepo segundo uma nota fornecida a M. Elisèe Reclus por ME. Chantre (L* Asie anterieure I884—vol. JX pag. 42I).

Em Marrasch ou Marrah onde em nome da*fè tantas cruel-dades praticaram os cruzados, em Mossul, perto da memorávelNinive, capital da Mesopotamia, tta.cBiredjik, a antiga Birtha,a El-Bir (os poços) dos Árabes, Biledjik dos turcos, na mar-

Apnd Barbalier—dict. de med. et chir. t. 5, pag. 495.E'tiologie et nat. du bonton de Biskra.

SERIE IV ANNO XXVI t*J

— 37a ~*

gem oriental do Euphrates, em cAiintab, em Horeroun-Kata,

a 12 legoas ao norte desta ultima cidade, em Hilleh, em Bag-

dad (Caghdad) ou Dar-es-Salam ou morada da paz, a velha

residência dos Kalifas, edificada em meio às velhas ruínas de

Babylonia, de Seleucia e Cteziphon, tão notável por suas ia-

bricas de tecidos de seda e linho, centro do commercio da Ásia,

com a Arábia, Pérsia, o Turkestan e a índia, em Samawa. em-

lím em Bassor.i no golpho pérsico.

Segundo Wortabel (Medicai Times, 2874) 0 botão parece ser

mais freqüente e de caracteres mais accentuados em Aíntab,

no Biredjík, em Mossoul e Bagdad, que em Alepo.

Nos logares da Syria situados ao sul e ao oeste de Alepo

como Alexandretta-Iskanderoun dos turcos e nas populaçõesdo Líbano, em Antara, o botão é esporádico.

Rigler cm 1854 (Wien med. Wochenschr. pag. 433» 449)

encontrou-o em Bursa ou Brusa a antiga e bella capital dos

reis da Bythinia, após o império ottomano, situada ao pé do

Tauro no Olympo myrico ou bithyniano, antiga praça forte.

Antes de passar a Pérsia assignalarei a existência da affec-

ção, que aqui estudo, na ilha de Clniprè, famosa por sua fera-

cidade, famosa pela excellencia de seus vinhos.

Reinhardt no tomo XXXÍIl pag. 434, Hecker wissensch, An-

nal der gesam. Heilk.) citava a existência endêmica do botão

em Eliscibethpol—Kandsag—na Geórgia (Gurdjistan, paiz de

escravosj cm Árabe, persa c turco, e Grousia em Russo, uma

das tres provincias da Transcaucasia.Na Pérsia, região do Iran, iá vemos assignalado por Griffi-

ths(Calcut. Med. Trans., t. VII, AÍT. XXX), Polak (die Hau-

tkrankh. in Teheran und Umgeburg, in Wochenblatt der Ae-

rzt su Wien—1858) e Tholozan (apud le Roy de Mericourt -

dice. des sc. med.}, o botão endêmico como muito freqüente

cm varias localidades: em hpahan, a velha Aspadana, outr'o-

ra Irak-Adjcmi, antiga capital de toda Pérsia, cheia de mo-

numentos notáveis quasi todos-cm ruínas; em Teheran, anti-

ga capital do remo da Pérsia e onde é excessivo o calor, ceie-

bre por seus magnificos jardins, destruída pelos Afgans, re-construída por Kérimkhan que fez delia sua residência; emSchirai a pátria dos celebres poetas Ibaafiz e Saadi, chamadapelos Persas a mansão das sciencias. perto das ruinas de Per-sepolis; em Kaschan; em Kisman .

Mais raro em Hamadan, a antiga Ecbatana, o túmulo dovelho Avicenna e dos poetas Altar e Aboul-IIansif, devastadano século XIV por Temerlaneem 1-24 por Ahmed, pachà deBagdah; rarissimo cmTaiiris, a commerciante e antiga estaçãode caravanas.

Polak na obra supra-citada diz que todas as raças salvo aethiopica são egualmente acommettidas.

Se nos transportarmos a esta parte da vertente aralo-cas-piana de que a Russià apoderou-se sem deixar vestígios dopoder pessoal aos antigos soberanos do paiz, o Turkestanrusso, ao Syr-Darfa, eil-o em Tachkendt seguindo GuillaumeCapus (Médecins et medecine em cAsie centrai e—Da rev. scientif.1884, ier sem. pag. 168). Os sartas do Turkestan chamam amoléstia sarta—pcha-chourda—, má mosca ou afgan-jara, istoé peste afgana. A descripção é de ordem a convencer-nos daidentidade da moléstia sarta com o botão de Biskra, Elle dizque o mal parece desenvolver-se cm razão do uso da águaimpura dos aryks. Em apoio d'isto, Capus acerescenta, poder-sc-ia fazer notar que o botão desenvolve-se dc preferencia naporção da população russa que habita o bairro ourda, alimen-tado por aryks relativamente impuros, ao passo que as outraspartes da cidade eram quasi immunes.

Em 1884 alguns soldados pertencentes ás tropas russas sobo commando do general Romaroff, foram accommettidas deuma moléstia denominada tumor de Pendeh; em I887 a pro-porção dos attacados elevava-se aos 4/5 do contingentetotal; a vista d'isso o governo russo tveste mesmo anno no-meou uma commissão medica sob a direcçâo do Dr. Rapts-chewski, privat-docent na Academia de medic militar de S.Petersbourg, encarregada de ir aos logares estudar minuden-

=¦ 374 -

temente a moléstia e prescrever medidas necessárias afim de

parar os progressos da epidemia.Foi em 1888 que L. Heydenreich publicou sua excellente me-

moria sobre o « Prego dc Pendeh, (prego trópico) symptomas,

diagnose, prognose causas e tratamento 1 vol. e atlas S Pe-

tersbourg». Por este trabalho vê-se que a moléstia reinava

endemicamente nas provincias russas da Ásia central Sobretudo

nas localidades situadas nas margens do rio Mourghab.

Ao ver do illustre auetor o Botão de Pendeh, em nada é diffe-

rente do descripto em Biskra, no Nilo e etc. Eu quizera resu-

mir o trabalho do illustre medico por isso que elle nos traz

maior convicção para a identificação do botão observado entre

nós com os de Bisk-a e etc.R. W. Felkin, nasua obra intitulada—On the geographica

dist. of some tropical Disease-lS8o, diz:. . in ali probabityl

it (o botão) exists in Turkeslan, Afghanistan and Bélutchistan,

Já enumerei as varias localidades da piimeira divisão da Ásia

(Turkes'an) cm que elle tem sido observado quanto ao

Afghanistan basta lembrar que o rir. Mough-ab percorretambem seu território. Apenas nos faltam documentos minu-

dentes para o Beloutchistan.

METEOROLOGIAResumo das observações meteoro-lógicas do mez do Mar00 de 1895Temperaturas. Máxima 31 °,5, em igual mez do anno passado

>o# 2; minima 35°,o, no anno passado 34,50; media do mez2*

'4 no anno passido 37,68; media máxima 30,05, no anno

passado 30,21; media minima 25,75, no anno passado 35,72;media ao sol 43>3<>, no anno passado 40,64.

Barometro observado. Máxima 761,50, em igual mez aoènho passado 761,50; minima 758,20, no anno passado ,5».ao;media 760,02 no anno passado 760,35.

Barometro calculado a O máxima 758'2o> em W1 mcz doanno passado 758,00; minima 754,53. no anno passado 755»°5'.media 756,44, no anno passado 75'»i5«- , ., , . .

O hygromctro oscillou entre 72 e 87'; humidade relativacorrespondente 58,0 e 80,0, em igual mez do anno passado, o

- *75 —

hygrometro oscillou entre 75- e 90" a humidade relativa cor-rcspondente a 62,2 e 83,0.

Os ventos mais constantes foram SE e N; havendo NE em4 dias, NW em i e S em dous; no anno passado o vento maisConstante íoi SE, seguindo N, NW, NE, S e SW.

Houve 18 dias de chuva marcando o pluviometro 93mra,o>iguaes a 372 litros d água por metro quadrado; no anno pas-Sado houve 14 dias de chuva, marcando o pluviometro 8imm,5,iguaes a 326 litros d'agua por metro quadrado.

Evaporação á sombra 104""",o.Houve relâmpagos nas noites 5, 6, 12, 13 e 16.Houve trovoada na noite de 20; em 10 realisou-se o eclypse

total da lua; no anno passado houve trovoada nos dias 3, 4, 28e ji e relâmpagos nos dias 1, 5 e 29.

Q Director Dr, Innocencio Cavalcante, O Sub-Director, Dr.Â!fredo de Andrade.

NOTIGIARIO

Corpo de Saúde Naval. — No mez de março deu-se oseguinte movimento n'este Corpo:

Foi licenciado, para tratamento de sua saúde, o Cirurgião de|.* Classe, Capitão-tenente Dr. Antônio José d'Araujo, quedesembarcou do crusador Nilheroy.

Foram servir: na Escola Naval o Cirurgião de 2.» ClasseCapitão de Fragata Dr. João Francisco Lopes Rodrigues; naEscola de Aprendizes Marinheiros n. 8, o Cirurgião de 3 *Classe, Capitão-tenente Dr. Alfredo Menna Barretto de BarrosFalcão e na Enfermaria de Copacabana o Cirurgião de 4."Classe, ! ' tenente Dr. Cezar Ferreiia Pinto.

POr sentença do Supremo Tribunal, Militar, proferida noProcesso a que respondeu, por crime de deserção, o Cirurgiãode í.* Classe, Capitão de Fragata3 Dr. Severiano Braulio Mon-leiro, foi confirmada a Sentença do Conselho de Guerra, queabsolveu unanimemente o referido official.

Passou do vapor de guerra S. SalvadoK para o Batalhãodlnfauteria de Marinha, o Cirurgião de 3.* Classe, Capitão-tenente Dr. Flavio de Souza Mendes.

Concedeu»se licença para tomar assento no Congresso Es-tadoal dá Bahia, ao Cirurgião de 3.* Classe, Capitão-tenenteDr. Francisco Moniz Ferrão dWragão.

Passou da Canhoneira Braconnoi para Enfermaria de Mari-nha da Bahia, o Cirurgião de 3 B Classe, Capitão-tenenteDr. Manoel Lopes da Silva Lima.

Embarcou no Brigue Recife o Cirurgião de 4.* Classe;I.- tenente Dr. Eduardo Marinho ,_

Foram servir; na Enfermaria de Copacabana, o C™rgiaodea/Classe; Capilão-tenente Dr. Bento da Franca Pinto d Oli-veira Garcez, que desembarcou do Crusádor Naheroy; noCorpo de Marinheiros Nacionaes, o Cirurgião de 4. Uasse,Capitão-tenente graduado Dr. Guilherme Ferreira d Abreu e naFlotilha do Amazonas, o Cirurgião de 4." Classe, 1 • tenente,Dr. Antônio dé Carvalho Palhano. .ri-.—

Embarcou no Crusádor Tonelero, o Cirurgião de 4. Cjassc,i.- tenente Dr. Casildo Maria da Silva Leal, que foi desligadoda Enfermaria de Copacabana.

Em abril deu-se o seguinte movimento neste Corpo:Foi desligado do Corpo de Marinheiros Nacionaes e ícen-

ciado para tratamento de sua saude, o Cirurgião de 3. Classe,Capitão-tenente Dr. João Alves Borges.

Foram nomeados, por concurso, Cirurgiões de 5. Uasse,3 os tenentes, os Drs. Henrique Mangeon e Aurélio Veiga

Reverteu para o Quadro activo, o Cirurgião de a. Uasse,Capitão de Fragata, Dr. Severiano Brauho Monteiro, queestava na Reserva. ru*-.,

Embarcou no Crusádor Trindade, o Cirurgião de 5. Classe,a.- tenente, Dr. Henrique Mangeon. , . •

Passou do vapor de guern Santos para o Crusador-escola- Beniamin Constant - o Pharmaceutico de 3.* Casse,a.- tenente, Cicero Pecarna em substituição ao de igual Classe,Carlos Ramos, que desembarcou. ,_"

Desembarcou do Vapor de Guerra Santos, o Cirurgião de 5.Classe, a.* tenente Dr. .Aurélio Veiga. tm

Foi licenciado para tratamento de sua saude o Cirurgião dea* Classe, Capitão de Fragata Dr. Severiano Brauho Monteiro.

Apresentou-se ao Quartel General de Marinha o Cirurgiãode 4.* Classe, 1 .• tenente, Dr. Thomaz d*Aquino Gaspar frilho,

que acha-se na—reserva-por ter sido considerado desertor

Dr Sailler—Os amidos e discipulos do dr. Lailler, fcllecidoha pouco tempo oíTereceram o busto do grande medico e hu-manitario cidadão ao hospital S. Luiz

O busto foi collocabo em um ponto que da para a entradada sala das conferências, para o museu e a bibhotheca.

\ inauguração deste singeilo e expressivo monumento, queé uma bella obra d'artc, foi uma ceremonia completamenteintima. ,. , ,

Fizeram discursos lembrando as qualidades e nobres servi-

ços do illustre morto os drs. Landouzy, professor da bacul-dade e Peyron, director da Assistência Publica.

3?i_*,bUcaçsão 2/I©r_s.e.l

ANNO XXVI MAIO, 1895 NUMERO 11

HYGIENE PUBLICA

Zttanramcnto da Bahia.— Projecto de esgotos —

Memória apresentada á Intendcm-IuMunicipal pelo» Engenheiros

J. «Silveira Franca e Mora!.-* il4» Eo* Rios

(continuação da pag. 1 -í-8)

Exposição geral do plano de drenagem adop tado para acidade, de accordo com sua tòpographia

Resolvidos os problemas esseneiaes que foram objectodos dois capítulos precedentes, devemos entrar no estudoria tòpographia da c-ida do, comn preliminar necessáriaa melhor distribuição a dar à caimlisarào geral dosesgotos.

¦ Falando sobre este assumpto, d'\y. o eminente Dr. Sa-raiva:

« As especiaes disposições lopographicas do nosso soío,as disposições particulares dos -ic-eidenles de sua c-onfigu-ração, tornam este syslhemti (o unitário) tle uma instai-laçào simples e econômica. .. é preciso notar-se que, já porsi os melhoramentos in.rodnzidos nestes nllimos tempospela engenharia e a hygiene na c-r>nslrucçào.d.rstcs syslemasde esgotos, garantindo completamente o êxito do sanea-mento pela segurança do transporte das matérias o pelasmedidas necessárias que evitam a sua disseminarão e ados germens mórbidos, ao mesmo tempo tornam o custod'esta construecão muito mais favorável.

Serie VI Anno XXVI Vol. tí3

—378-

Estas affirmações amparam-se em provas, que não sendo

difficeis de estabelecer-se, são, entretanto, decisivas.

Esta cidade, cujo plano é em demasia irregular, ou

porque fosse imposto pela natureza do terreno, ou porquefosse dictado por um pensamento dc defeza, ostenta-sesobre a vasta extensão de um solo montanhoso, dc super-ficies mais ou menos deseguaes. Desprezando-se os detalhesde sua topographia, para não encarar sinão o que ha de

geral, prestando-se ao mesmo tempo â viação c ús fun-

cções dos esgotos, o que mais se nos impõe é essa conver-

gencia de toda a área do seu solo, por declivesmoderadamente dispostos, desde os rebordos de sua

peripheria até o extenso valle que emerge do seu centro

e vae ter á costa do Atlântico, após um percurso de algunskilometros.

« Taes são os traços fundamentaes da superfíciedo nosso solo, offerecendo bases naturaes para qualquerplano de esgotos que tenha-se de formular.

Reconhece-se sem esforço que elles impõem como único

systema a adoptar se a canalisação integral, conforme hoje

em dia construem-n'a.

Reconhece-se geralmente sem esforço que as dtsposi-

ções topographicas que ellas apresentam afastam da

applicacão deste systema as dificuldades que em diversas

localidades surgem, as mais das vezes, quando trato-se de

saber o modo mais natural e conveniente da viação

geral dos esgotos c do destino á dar-se as águas impuras

que ahi tem de ser trazidas».Si não fosse uma lei necessária para todo o emprehendi-

mento de obras, o conhecimento topographico do terreno

sobre o qual deve operar um engenheiro, as considerações

que acabamos de transcrever e o caso particular de quetratamos seriam sufíicientes para patentear esta neces-

—379—

sidade, no intuito de resolver-se o problema da viação dosesgotos.

Estudemos, pois, a topographia d'esta capital como basede toda e qualquer solução do mesmo problema.

O perímetro real da cidade propriamente dita é formadode um lado pelo littoral da bahia desde a Jaqueira atéo cães fronteiro á ladeira de S. Francisco de Paula, e deoutro pelas ladeiras de S. Francisco de Paula, talwegvisinho ao Queimado, ladeiras norte da Montanha, daSoledade, entre o largo do mesmo nome e o ramal da ruada Valia, secção da mesma rua comprehendida entreo entroncamento do Retiro e o logar denominado SetePortas, ladeiras 0. de Nazareth, Fonte Nova, ladeira daFonte das Pedras, Cova da Onça, Ferraro, Lapa, penínsulado Tororó, dique, foz do Riacho da Piedade, Coqueiro,Barris, rua dos Curraes Novos, S. Raymundo, respaldo N.da ladeira das Mercês, rua do Polytheama, Campo Grande.Garcia, caminho do cemitério, Graça e Victoria até aGamboa e Jaquoira sobre o littoral do porto.

Dentro d'esse perímetro acham-se as sub-divisões oufreguezias de Santo Antônio, da Victoria, de S. Pedro, doPilar, de SanfAnna, da Conceição da Praia, da Sé e daRua do Paço.

Fora d'esse perímetro a cidade abrange ainda os bairrossubúrbios ou arrabaldes do Pharol da Barra, do Camarão,dos Lázaros, da Areia Preta, do Rio Vermelho, Brotas,Itapagipe, Bomfim, Boa-Viagem, Roma e os Mares.

A topographia da cidade dentro do perímetro real apre-senta dois caracteres bem distinetos entre si, e que são,segundo o que jã foi dito no capitulo antecedente:

1.° A planície ou a parte baixa ao longo do littoral, aqual vae da Gamboa, Jaqueira e Pedreira, até Jequitaia,prolongando-se além desses pontos de um lado, e porladeiras íngremes como as da Conceição, do Areial, dos

—380—

Afflictos, etc, om direcçao ao Pharol da Barra, e do outro

pela Calcada em direcçao- de Itapagipe, Bomíim e Boa-Viagem, constituindo a peninsulu de Itapagipe, que é asuperfície plana mais extensa da área externa da cidade.

2.° As montanhas ou a parte alta da cidade, compre-hendendo os planaltos e ladeiras que se inclinam parao littoral do porto, rua da Valia, Dique e liio -ie S. Pedro.

Estudemos ambas essas formações ou caracteres topo

graphicos.Na primeira, isto ó, na cidade baixa, as differenças do

nivel entre sons diversos [tontos sào fracas, tornando-senecessário o seu seccionamento ou divisão para os fins doesgoto, e devendo-se applicar o systema radisal adoptado

para o .saneamento de Berlim.A realisaçào d'essc systema não offerccc dificuldades

teclmicas insuperáveis.Examinando o nivelamento da lingua de terra que

estamos considerando, reconhece-se que os seus pontosmais altos são:

1.° A Gamboa;2 '•' Conceição ou Portas da Ribeira;ÍJ.° Pilar;í.n Rua de S.Francisco de Paula nas visinhanças do

Forte de S. Alberto e do lado da freguezia dos Mares;5.° A Calçada na península de Itapagipe.Os pontos mais baixos são:1." À preguiça;2.° 0 cães do Ouro;:>.° 0 cães d"Água de' Meninos;3.° Roma.Em virtude das differenças de nivel, da configuração e

natureza do terreno e da despeza considerável que seria

preciso fazer-se coin as obras necessárias para a ligação

—381-

continua da redo de esgotos d'esta parto da cidade,resulta,

1.° Que as alturas formadas pelas Portas das Ribeirac Conceição da Praia difficultariam o escoamento daságuas que viessem da Preguiça em direccão ao caesdo Ouro;

2.° Que a mesma difficuldade apresenta o planalto doPilar para águas que viessem do caes d'Agna de Meninospara o caes do Ouro e vice-verso;

3.° Que idêntica difficuldade se apresentaria em relaçãoâ rua de S. Francisco rle Paula no que diz respeito aságuas que viessem de Roma para o caes de Água deMeninos.

O syslema radical impõe-se, pois, pelo emprego racionaldos declives. que nos propomos adoplar como base maisconveniente da drenagem urbana.

Conhecidos esles dados, a primeira difficuldade a resoí-ver-se é a do final despejo das águas eolleccionadas nospontos mais baixos da rede, que ahi fica indicada deuma maneira embrionária.

Os líquidos collecionados nestes pontos baixos parater destino do collector geral, cujo inicio è em SetePortas, precisam ser elevados para a cidade alta.

Para este lim, é preciso, anles de ludo. determinaro ponlo ou pontos mais convenientes para a passagem daságuas que hão de ser elevadas por meio mecânico.

A topograpbia da cidade mostra que os pontos maisbaixos que se prestam para esla passagem são as visi-nhanças do logar denominado Baixa da Soledade, otalvvegqiie separa o largo do Barbalho do Santo Antônioe as ruas do Taboão.

Falando a respeito diz Saraiva:« As matérias dos esgotos da cidade baixa, os quaes

podem lei um limite das Pedreiras ã Jequitaia, devem se r

-382-

suspensas para o encanamento da cidade alta por meiode uma machina de suspensão «systema Faicoh parater destino ao collector e d'elle ao mar... verifica-se

que entre a. parte alta e a parte baixa da cidade ha um

ponlo correspondendo á altura do Taboão... prestando seao assentamento desta machina.»

E em outro logar.«A suspensão dos líquidos dos esgotos da cidade baixa

para o encanamento da cidade alfa... é de impres-cindivcl necessidade. Esta pratica será a suppressão radi-cal da impregnação pútrida das águas do littoral d'estacapital, delia depende o saneamento urbano.»

Do que acabamos de dizer se deduz que os líquidoselevados terão de passar pelas gargantas, cujos nomes

já indicamos mais acima. Como conseqüência, o collec-cionamento das águas drenadas na parte baixa da cidade,deverá effectuar-se nos pontos mais próximos ás referidas

passagens altas.Estes logares correspondem precisamente a dois dos

pontos mais baixos do littoral, isto é, o caes de Águade Meninos e caes do Ouro.

E\ pois nesles canos que se hão de concentrar aságuas drenadas da cidade baixar. Mais adeante, no capitulocompetente, daremos todas as particularidades do queacabamos de indicar de um modo geral.

De accordo com as bases precedentes., estabelecemosos seguintes principaes*

l.o Entre Gamboa e Preguiça;2.° Entre Preguiça e o caes do Ouro;3.° Entre o caes do Ouro e Pilar;4.° Entre Pilar e o caes de Água de Meninos;5.° Entre o caes de Agna dc Meninos e Jequitai*

(extremo O da rua de S. Francisco de Paula);6,° Entre Jequitaia e Ronaa.

-385-

7.° Entre Roma e Itapagipe, Boa Viagem e Bomfim.Passemos agora ao estudo da parte alta da cidade, queconstitue um systema de montanhas, cujas vertentes ou

ladeiras ora se inclinam para o liltoral, ora para o valle dorio das Tripas, onde se acha a rua da Valia, ora para odique e rio de S. Pedro.

Este sysiema se caracterisa pelos espinhaços das ladei-ras em questão, adoptando a direcção que partindo daLapinha, de um lado, vae pela ladeira e pela Baixa da So-ledade ás ruas de S. José tíe Cima, Barbalho e Curraes Ve-lhos ao encontro das ruas do que marcam o cume das la-deiras do littoral pelo largo de Santo Antonio e rua Direitado mesmo nome, juntando-se ambos os ramaes entre aQuitandinha do Capim e o largo dos Quinze Mysterios.

E' ahi que se encontra a ladeira do Aquidaban, confluen-te da rua da Valia. Esta rua é o ponto mais baixo d'estaparte do systema e determina o colleccionamento da maiorparte da área que acabamos de descrever. As ladeiras deS. Francisco de Paula, Água de Meninos ou da Cruz eÁgua Brusca dào o escoamento na natural das águas ver-tentes da outra parte da mesma área.

Segue o systema caraeterisundo o seu cume pelas ruasda Conceição, Marchantes. Largo da Cruz do Paschoal,Carmo e ladeira do mesmo nome até a Baixa dos Sapa-teiros e o Taboào, onde se acha a garganta mais baixa ede mais fácil accesso de toda esla ramificação de monta-nhas.

D'estc ponto em deanlc, a crista em espinhaço d'esteregimen dc ladeiras mais ou menos altas (cujo typo é aladeira do Motta) com inclinação po ia a rua da Valia, (comas ruas do Bispo c a ladeira da Praça) continua elevan-dose novamente em direcção á Praça do Cruzeiro, doTerreiro e da antiga Sé, seguindo a direcção da rua doCollegio alé â Praça dc Palácio. Outras ladeiras partindo

384

do tahveg, entro a ladeira da Praça e a ma da Assembléa..

eomo a mu dos Capitães e a do Pão dc lot, vem ter á rua

Direita de Palácio, juntando-se eom as primeiras nu Baixa

do Theatro oú Praça Castro Alves nas visinbanças da Bar-

roquinha, que é o ponto mais alto do tahveg da rua da

Valia.Na praça do Theatro acha-se nova garganta, cujas águas

vão de um lado para a ma da Valia pela Barroquinha e de

outro para o littoral pela ladeira «la Conceição e pela Ga-

meleira.Da praça do Theatro o systema de ladeiras continua a

elevar-se de um lado em direcção das igrejas de S. Bento

o de 5 1'edro até a praça da Piedade e de outro lado até a

mesma praça petas mas Carlos Gomes c do Cabeça, dei-

xando ao sul o profundo tahveg das mas de Santa lhe-

reza e ladeira da Conceição nas visinbanças do seminário.

Na planície comprehendida entre S. Pedro e a Piedade

acha-se o pltnato mais elevado da cidade, excepluando-se,

porém, parte das Mercês c o Corredor da Victoria. que tem

contas ainda maiores sobic o nivel do mar.

Da Praça da Piedade, por sua vez, irradia o espinhaço

das ladeiras que seguem pelo Portão da Piedade, Lapa, e

fazendo um cotovello na igreja de Santo Antônio da Mou-

raria, continua pelas mas do Ferram, Cova da Onça, Muro

das Freiras c Caquende em direcção á Bella Vista e Na-

zareth.As mas que caracterisavam estas ladeiras como as da

Independência, da Poeira e do Alvo dirigem-se para a rua

da Valia, ao sul do cume que acabamos de indicar, ao

passo que as ladeiras norle descem rapidamente para o

dique, deixando isolado o monticulo sobre que se assenta

o Tororú.

{Continua)

— 385 —

Os Drs. Malaquias Alvares dus Santos e EduardoFerreira França

Os Drs. Malaquias Alvares dos Santos c Eduardo For-reira Franca furam dois caracteres nobres, duas inlelli-gencias luminosas: morreram sem acabar suas altas mis-soes na sociedade; eram ambos mocos, mas o paiz jã lhesdevia muito.

0 Dr. Malaquias nasceu a .. de Novembro de 181(5; furamseus pais José Alvares dos Santos e D. Lconor Joi.qt.inade S. José.

Nao tinham a riqueza do ouro, mas possuíam a riquezado coração. Eram amhos pobres, mas honrados.

Recebeo o espirito do Dr. Malaquias o primeiro cullivodas màos dc seus irmãos mais velhos Vicente e Estanislâo.Foram elles que lhe ensinaram as primeiras lettras; cum-priam assim um nobre compromisso, satisfaziam uma divi-da sagrada.

Falto dc meios de fortuna, o honrado chefe da familiahavia feito grandes sacrifícios, facultando aos dois primei-ros filhos todos os meios dc uma educação conveniente, deuma instrucçao necessária; mas elles deviam transmittiressa inslrucção aos ihnàos que lhes suecedessem, e assimo fizeram até ao ultimo, por modo que os primeiros sacri-fieios, que não podiam ir além, bastaram para que a pri-meira luz do ensino se derramasse por toda a famiiia.

Foi um grande plano de economia, mas de uma econo-mia que ennobrece, e de que todos se deveram de orgu-lhar; mas ainda mais nobre era a idéa de' um pai, queassim estabelecia a unidade na educação moral e intelle-clual dc seus filhos, fazendo-os beber as primeiras lecçõesde uma san moral na fonte pura do lar doméstico, livres ea bom recato dos grandes perigos, que assalteam a tenra

Serie VI Anno XXY! Vc!. 64

-3S6 —

idade inexperiente c fácil de deixar-se emaranhar nas teias

que a corrupção lhe prepara.Com grande aproveitamento e rápido progresso frequen-

tou o Dr. Malaquias ns nulas de latim, francez c rheloriea,

por modo que, havendo Analisado o estudo da lingua lati-na cm Novembro de 1830, em 1S:>2 já se achava habilitadoa penetrar no santuário da seiencia de Hypoerates, insere-vendo o seu nome no livro dos estudantes do antigo colie-

gio Medico-Cirurgico, o assim o fez mais por obediência esatisfação nos desejos paternos, do que por vocação pro-pria, pois quesenlia-se elle nesse tempo inclinado a lati-

çar-se na avenlurosa carreira da vida marítima!

No seu tirociniu escholar mereceu sempre os elogiosdos seus dignos mestres.

Emquanto prescrutava elle os segredos da diflicil seien-cia a que se linha dedicado, nunca olvidou o estudo daslettras que sempre cultivara com muito ardor, ora enleian-do o espirito com as bcllezas dos grandes poetas portugue-zes. ora traduzindo os poetas e litteratos francezes, prefe-rindo entre os primeiros o inimitável Racine, do (|ual em-

prehendeu e completou algumas tradueções, que nunca

quiz publicar, poeta também elle o era, poeta da alma, dosentimento, que mais allendia a idéa, ao pensamento, do

que a rima e a melodia.Em 18o0 obteve a carta de formatura pelo eollegio Me-

dico-Cirurgico, em 1839 sustentou these para obter o grãode Doutor em Medicina, e nesse mesmo annc inscreveu-se

paru o concurso de substituto da secção de sciencias acces-sorias, ao qual compareceo só, mas não foi acceito.

Nào desanimou por isso.No seguinte anno de novo se apresentou a concurso, e

obteve então o logar de substituto da secção accessoria,logar que exerceo sempre com muita perícia e talento até

— 387 —

iMaio de 1855, epocha em que foi nomeado lente proprie-lario da cadeira de medicina legal.

Durante todo esse lempo nào se limitava elle ao estudoda medicina; sócio de todas as soceidades litteraria* quetem havido entre nós, foi o Dr. Malaquias designado pelasociedade Instructiva para primeiro redactor de seu jornalMosaico,em cujas paginas transluziram por muitas vezesas provas desse talento superior.

Encarregado pelo Governo por diversas vezes fie com-missões scientificas bastante difficcis, sempre as dosem-penhou com dignidade e intelligencia.

Em 1819 deixou-se arrastar para o turbilhão dn política,esteve á frenle da imprensa, redigio uni jornal da opposi-cão, O Século, nas tudo isso só lhe trouxi decepções edesgostos: conhecco a injustiça de alguns-, teve provasirrefragaveis da ingratidão de muitos

Não proseguio: dócil de caracter, mas cheio de brios,elle retirou-se descontente da scena politica, concentrandoas otfensas no coração.

Entre os extraordinários serviços prestados a pátria e ahumanidade, sobrelevam se os que prestou, como medicoe membro da Junta de Hygiene, durante a luetuosa qua-dra de 1855.

0 Dr. Malaquias foi um dos mnis brilhantes luzeiros dasciencia.

A sua morte teve logar no dia 23 de Novembro de 1856.

O Dr. Eduardo Ferreira Franca nasceu a 8 de Junho de1809 debaixo de melhores auspícios, porque seus pais oDr. Antonio Ferreira Fiança e D. Anna Ferreira Françase achavam em condições mais favoráveis para facilita-rem a seu filho os meios de adquirir instrucção.

— 388 —

Estudou o Dr Eduardo no Rio de Janeiro o primeiroanno tle malhcmatieas com muiio proveito; em 1826 partiopara a Europa, foi a Paris, c ahi nesse grande foco da civi-ligação devotou se elle, ávido de .saber, com grande ardor,aoestudu, recebendo, pouco tempo depois da sua chegada,o gráo de bacharel em letlra.s; cm 24 de Fevereiro dc 1829o dc bacharel em scieneias mathenioticas, e cinco annosdepois, no dia 12 de Agosto de 1834, recebia elle dosmaiores mestres da sciencia o honroso diploma de Doutorem Medicina pela Faculdade tle Paris.

Assim laureado com a coroa do saber, voltou á paírianesse m^sino anno de 1884, c ainda no seu decurso, em20 dc Novembro, foi nomeado pelo Governo lente de seien-cias accessorias. Cinco annos depois por nm concurso, emcujas brilhantes provas demonstrou a vastidão de sensconhecimentos na matei ia e ;i riqueza de sua intelligencia,fui elevado o dr. Eduardo França á dislincta posição delente cathedratico de chimica medica e principios elernen-tares de mineralogia da Faculdade de Medicina da Bahia.

Em 4 de Maio de 1835 foi nomeado director do Gabi-nete de Historia Natural; em Julho de 183S me.nbro doConselho do Salubridade Publica, e nesse mesmo anno,durante toda a quadra .revolucionaria, foi encarregadodos doentes no Campo dc Pirajá, ao c;uc se prestou comdedicação e desinteresse.

De outras missões honrosas e scient>ficas foi o dr.Eduardo França encarregado pelo Governo, e sempre asdesempenhou com grande perícia e dignidade.

Algumas obras de grande mérito deixou para enri-quecer o nosso pobríssimo repertório de escriptos ecomposições nacionaes. Ao menos não pode elle ser incre-pado por não haver concorrido com a sua pedra parao alicerce do nosso futuro monumento scientifico.

- 389 —

Os seguintes escriptos seus Da Influencia dnsPântanos, Da Influencia das Emanações Animaes1'utrklas e Da Influencia dos Alimentos sobre ohomem, publicados em 1850 e 1851, e sobretudo o soubem elaborado escripto philosophico sobre a Psychologiadado aos prelos em 1855, honram hoje a memória'doDr. Eduardo França, e formam um nobre padrão de gloriapara sua familia.

(Mirante na scena politica do Brazil, o Dr. Eduardonunca se transviou da sencia honrosa que está demarcadaao homem publico; escolhido do povo, elle sempre pro-moveu na tribuna os interesses do povo.

Falleceu no dia 11 de Março de 1857.Teve por sepultura o Oceano! Foi um magestoso

tumuiu.

-2^^C*v5^-í--j-

— 390—

SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DABAHIA

SESSÃO OIIDI.VIHIA EM 5 DE MAIODE 1SOS

PRESIDENXIA DOS DRS. ALFREDO BR1TTÜ E PACHECO MENDES

SUMMARIO

Considerações sobre a communicação do Dr. Deocleeiano Ramos:« Albuminuria consecutiva ao emprego de alfas doses deantipyrina» pelos Drs. Gonçalves de Figueiredo,-AlfredoBritto e Nina Rodrigues.—Caso de urticaria consecutiva aoemprego da santonina pelo Dr. Gonçalves de Figueiredo.Discussão: Drs. Juliano, Magalhães e Bonifácio Costa.—Reminiscéncias de um caso teratologico, nota pelo Dr. AI-fredo Magalhães.

A 1 hora e 36 minutos presentes os Srs. Drs. AlfredoBritto, Tillemont Fontes, Gonçalves de Figueiredo, JulianoMoreira, Aurélio Vianna, Nina Rodrigues, Alfredo Maga-lhâes, Francisco Cardoso, Bonifácio Costa e CerqueiraLima, abriu d sessão o Dr. Britto 1.° vice-presidente.

Chegando depois o Dr. Pacheco Mendes assumiu a

presidência.Foi lida e approváda a acta da sessão anterior.Passando-se á ordem do dia o Sr. Presidente declara

continuar em discussão a communicação do Dr. Deoele-ciano Ramos, sobre «Albuminuria consecutiva aoemprego de altas doses de antipyrina ».

0 Dr. Gonçalves de Figueiredo faz algumas consíde-rações relativas as duas observações, apresentadas áSociedade pelo Dr. Deocleeiano Ramos.

Declara não poder ajuizar do diagnostico feito por S. S.e lembra a importância d'este ultimo em uma observaçãode clinica therapeutica.

391

Não poude julgar, no primeiro caso, o cjuantum de cadasubstancia ingeria o doente diariamente.

Lembra os inconvenientes e as difficuldade?, que oobservador pode crear para si, quando, associando duasou mais substancias, prpcura ajuizar da ac(;ão thera-peutica de uma só.

Terminadas estas considerações geraes, o Dr. Gonçalvesde Figueiredo passa a interpretar, de accordo com asdoses empregadas, a formula do Dr. Deocleciano e tambémalguns dos symptomas apresentados pelo doente, queconstituiu o assumpto da l.a observação.

Na formula empregada entravam as seguintes substau-cias: iodeto de potássio, salicylatu de sódio e antipyrina,na dose: 3 grammas de cada uma destas substancias.

Assim se exprime o Dr. Deocleciano: «depois do usorfesta poção o doente melhorou das dores lombares(muito accentuadas sobre os rins) porém queixou-se d>;fraqueza nas pernas e to/duras».

Depois de o haver examinado de novo notou o appare-cimento de um ligeiro edema cm torno dos maleolos.

O Dr. Gonçalves de Figueiredo lembra as palavras doprofessor Huchard, quando teve do referir-se ã uma obser-vaçào de Thierry, na qual o auctor empregava a antiprj-mm. associada lio iodeto de potássio. Assim se exprimiao notável professor: «tenho experimentado esta prepa-ração com resultados duvidosos, o que se comprehende,pois que a antipyrina diminuo a excreção renal, poisque ella fecha o rim, como se tem dito e em todas asatíecções arterio-sclerosas é necessário nunca abandonara indicação capital de assegurar e favorecer a diurese».

Lembra ainda a opinião do professor Lepine, que con-sidera na antipyrina três grandes inconvenientes: tendea enfraquecer o coração, diminue a excreção urinaria e émal tolerado pelo estômago.

— 392 —

Finalmente, o Dr. Figueiredo lembra o parecer, nestemesmo sentido, apresentado pelo Comitê therapeuticoda British Medica/ Association de 189í.

E' forçoso capitular, (diz o Dr. Figueiredo) deante detao*. auetoridades e diz<.v eom. Renaut: a antipyrina

fie ha o rim.A dose empregada foi de 3 grammas e eu penso, (diz

o mesmo Dr. Figueiredo) baseado nos trabalhos experivmentaes de Coppula, Lepine e outros, serem sufficientes

para determinar a eschemia renal e conseguintementediminuir a excreção urinaria.

Quanto ao salicylato dc sódio pensa o Dr. Figueiredo,caso tivesse o doente tomado as 3 grammas prescriptas,estas só teriam por fim elevar a tensão arterial, já nãolevando em conta acção que alguns lhe attribuein nadescamaçào' dos tubos uriniferos. Sem mesmo ajuizar do

papel representado pelo iodeto de potássio, acredito (dizo Dr. Figueiredo) serem estas duas substancias capazesde determinar n'um indivíduo dado, arterio-escleioso oucandidato à arterio-esclerosc, o apparecimento de umnlema peri-maleolar, toníuras efraqueza nas pernas,de que nos falia o autor da observação.

O Dr. Gonçalves de Figueiredo acredita que o doente

que serviu de assumpto á l.a observação, com o serrheu-matico, parece igualmente ser um arterio-escleroso, cujasusceptibilidade vaso-motora não poude furtar-se á acçãoáo salicylato de sódio e da antipyrina.

O Dr. Gonçalves de Figueiredo pensa, quanto á 2.a:observação apresentada, que uma simples filtraçào nãoexelue a idéa de uma albuminuria transitória ou

pseudo-albuminuria. Seria necessário ao lado do examechimico, proceder ao exame microscópico.

Os líquidos de secreçào da próstata e da bexiga sãoalbuminosos e mesmo depois da filtraçào é possivel

—393-

encontrar albumina, que precipitará pelo calor e pelosácidos.

N'esle ullimo caso a presença dos leucocytos e dashematias, concumitantemente com a prccipilaçào pelocalor, serão elementos sufíicienles para o diagnostico.

Adjmitlindo mesmo quo a origem da lal atbuminuriaseja renal, a sua eliologia será duvidosa visto que ínulli-pios sâo os factores apresentados pelo Dr. Deocieciano.

Além da complexidade da medicação, se fará lembraros banhos mornos c as fricções repetidas no perinèo.

Quem nos dirá que semelhantes fricções activandoa circulação não aclivaram igualmente a secreção daprostala e da bexiga? Só o exame como ha pouco lembreipoderia resolver cm parte a questão.

0 Dr. Alfredo Britto aguardava para se oecupar doassumpto a rcalisaçào de uma seiie de experiências queresolveu fazer no serviço clinico da cadeira que lecciona.

A abertura do debate por parte do collega que o pre-cedeu leva o, entretanto, a antecipar algumas reflexões.

Nào reputa concludentes as observações lidas. Na pri-meira a complexidade da formula preseiipla impossibilitarealmente qualquer juizo seguro. Na segunda, tratando-sede uma cystile, era imprescindível eliminara hypothcsc dehaver sangue ou pus do mistura com a ourina, para julgarda albuminuria obseivada. K, de facto, só o exame micros-copico resolveria de promplo a questão.

Além d'isso nào foi feito o exame da urina antes dapreseripção da antipyrina, facto capital, poisa albuminuriapodia já ser anterior.

Em nenhum dos casos foi lambem discriminada, oque seria muito conveniente, a natureza da albuminaencontrada, particularmente sob o ponto de vista da

Sede VI Anno XXVI Vol. 65

—394-

serina e da globnlina, cujo valor semiologico é como

sabe-se tào diverso.Sabe que em face da antipyrina os clínicos se tem

dividido: hu terroristas e apologistas á outrance. Inimigo

das posições extremadas em sciencia, ao contrario obser-

vadorlieldo sensato lenmií.— in médio stat virtus —

collocar se-ia, no emtanto, entre os últimos si fosse obri-

gado a escolher entre os dois grupos.Dos primeiros, sinão o primeiro, a empregar largamente

a antipyrina entre nós, jamais teve que se arrepender.

Por via gástrica, hypodcrmica ou rectal, innumeras vezes

tem-na usado, tendo como complicação unica um exan-

thema escarlatiniformc com prurido intenso, em dois indi-

viduos. Como antipynetico ou analgésico, é egual sua

confiança n'esse precioso agente.

Tem visto eólicas hepaticas pu nephrilicas c nevralgiasas mais violentas cederem rapidamente a uma ou duas

injecções sub-cutaneas. Conhece, por experiência própria,o notável bem estar, verdadeira euphoria, que esle medi-

camento produz nas pyrexias.Discorda do autor dá observação eni considerar 3

grammas dose alta.Reputa-a media. Habitualmente dá quatro aos adultos

c, quando preciso, tem chegado a seis; como desde começo

preconisava G. Séc.Mesmo cm therapeutica infantil só tem que sc applaudir

com o emprego da antipyrina. Convenientemente applicada, considera-a como o Dr. Moncorvo, precioso recurso.

Voltando á questão, refere que das experiências queencetou já uma está completa. Foi n'um cardíaco (mitral),febricitante ha dias em plena phasc eusystolica. Prévia-mente examinada, não se encontrou na ourina vestígiosde albumina. Receitada a antipyrina isolada, em dose

— 395—

diária de 3 grs. (tratava-se de um cardiopatha), em julepogommoso, nunca se encontrou albumina rigorosamenteprocurada na totalidade das ourinas emiltidas em 24horas. Quatro dias durou a experiência com egualresultado.

Deve declarar que si fora positivo o resultado, muitomenor seria para o caso seo valor. N'um cardíaco febril,attenta a facilidade, sinão imminencia. de stase renal, acoincidência duma albuminuria transitória nào seria paraadmirar. E, fosse mesmo a antipyrina que directamentea determinasse, dahi nada se deveria concluir para indi-viduos com o apparelho cardio renal integro.

Negativa, porém, como foi a experiência, avulta suaimportância. Torna-se irrefragavel esta conclusão: numcardíaco mesmo febricitante, a antipyrina pode serdada impunemente, sob o ponto de vista da imperma-bilidade do filtro renal para passagem da albumina.

Não sabe si o testis unus testis pullus se applicatambem á clinica. Promette, porém, continuar neste sen-tido a serie de experiências encetada, trazendo opportuna-mente seu resultado ao conhecimento da Sociedade.

Espera fal-o-hão tambem. outros collegas, attento oalio interesse de conhecer positivamente do perigo realou não, sob o ponto de vista diagnostico e prognostico,de uma substancia em tão larga escala empregada todosos dias, até mesmo por pessoas estranhas á profissão.

0 Dr. Nina Rodrigues diz que sem propósito delibe-rado, fez ha poucos dias uma verdadeira experiência noassumpto.

Chamado a ver um menino portuguez de 12 annosde edade que estava desde a véspera com febre muitoalta, cephalalgia intensa e que a familia suppunha acoai-

— 396-

mettido do tvpho icteroide, prescreveu-lhe, convencido

de que não se tratava de febre amarella, uma poçãoanti-lhermíca contendo duas grammas de antipyrina e

tres de salicylato dc sódio, para ser usada ás colheres

de sobremeza de 2 em 2 horas.

Tendo examinado ns urinas e nào tendo encontrado

albumina, reeommendou que cm todo o caso se guardassea urina da manhã seguinle aíim de ser examinada de

novo.A familia no ernlanlo que estava sobremodo assustada

com a elevação Ihoimiea, administrou a poção nào a

colhrres mas a cálices, cie tal modo que o menino tomou

toda a poção cm menos dc 12 horas.

Pela manhã estava o menino apyretico c poude tomar

uma boa dose de sulfato de qq. com que de todo desop-

pareceu a febre.Mas tendo dc examinar de novo a urina recordei-me

só então da communicação do sr. Dr. Dcocleciano Kamos

e reflecti que naquella? condições a albuminuiia nenhum

valor poderia ter para resolver a queslão diagnostica da

febre amarella.No ernlanlo apezar da alta dose de antipyrina e do

uso do salicylalo, a urina não continha nem mesmo traços

de albuminuria.

Communican-lo este caso que bem pode ser uma

excepção, tenho em vista contribuir para. elucidar a

questão, mostrando ao mesmo tempo as conseqüências quua ser verdadeira a observação do collega o facto podeter na pratica.

Não acbnndo-sc presente o Dr. Dcocleciano Ramos o

Sr. Presidente declara continuar em discussão o assumpto

de sua communicação,

-397—

Assistência de alienados

Em seguida o Dr. Tillemont Fontes apresenta ã consi-deração da sociedade a seguinte proprosta de congratu-lação:

«A Sociedade de Medicina o Cirurgia da Bahia, aplau-dindo o generoso procedimento do illustre concidadãoLcllis Piedade, que com todo brilhantismo ha se esforçadopor melhorar as condições sanitárias e nosocomiaes doAsylo S. João de Deus, confia que tão patrióticos e eleva-dos impulsos sejam coroados do melhor exilo, em trans-formando-se aquelle deposito de alienados cm um mani-comiu digno de nossa civilisação e apto às exigênciasfecundas do ensino da Psychiatria moderna, sob direcçãoexclusivamente profissional e responsabilidade directa do(ioverno do Estado que assim organisará o reclamadoserviço e a lei de assistência medico legal dc alienadosnVste Kstado.

Bahia, .«ala das sesões —õ de Maio dc 1895»

Depois da discussão em que tomaram parte osDrs. Brillo,.Nina, Pacheco Mendes, e Magalhães foi unanimementeapprovada a proposta.

Em seguida os Drs. Britlo e Nina expenderam diversasconsiderações sobre as condições em que o governo tencio-nava melhorar o serviço do Asylo S. João de Deus e sãode opinião que a Sociedade exija que a commissão porella nomeada no começo do anno para tratar do assumpto,apresse seus trabalhos afim de se representa/ ao governoapresentando-lhe um plano sobre o qual deva assentar areforma.

Foi unanimemente acceilo o alvitre proposto.Foi designado o dia 13 de Maio para em sessão extra-

ordinária ser lido o relatório que a commissão elaborar.

— 398—

% * Um caso de llrtlcarla consecutiva ao empregoda Santonlna (?)

PKI.O

DR. GONÇALVES DE FIGUEIREDO

0 Sr. F. 0. mandou chamar-me cm uma das tardes do

mez de Dezembro dc 1894. Examinei-o aUenlamentec poude colher o seguinte.

Temperatura axillar, !i(J05, acompanhada de sèdc

intensa.Dor no hypochondrio direito.Suores abundantes e generalisados se manifestavam

após a febre.Ccphalca generalisada, acompanhando-se de forte

injecção das eonjuneticas, e dc dòr no globo ocular.

Dures generalisadas o impossibilitavam de levantar sedo leito.

Declarou-me que, ha cerca de dois dias, sotTrc taes pertur-baí.ões que se apresentam do meio dia, alé cerca de cincohoras da tarde.

- No momento em que o vi, acha o doente, que sua lem-

peratura vai declinando, e aguarda com anciedade o

apparccimento dos suores.Capitulo o facto de uma intermittentepalustrc e pres-

crevo o bi-sulfato de quinino e mando embrocar o rebordocostal direilo com tintura de iodo.

No dia seguinte o doente estava melhor e se me decla-rava bom.

Sigo a regra geralmente empregada para curar taesaccesso?: diminuo a dose do quinino e lermino pelodecocto de quina.

Dias depois estava o nosso doente restabelecido e tendode retirar-me sou interpellado^ afim de examinal-o de novo.

—399—

Declarou ter repetidas náuseas e não dormir bem asnoites. Fallava muito durante a noite e quando acordavaa sua bocea achava sc cheia de saliva.

Soffre de repelidas vertigens, a ponto muitas vezes dereceiar levantar-se.

Acredita soffrcr de vermes inteslinaes c diz lersido accommeüido por elles repelidas vezes na infância.

A pupilla estava dilatada, e o Sr. F. O. declarou-me terum appetite devorador.

Prescrevo a Satitonina do seguinte modo:

Sanlonina 4 centi"-Culomelanos 0 decigAssucar de leile 5 centigo-

Divida em 2 papeis e tome com 2 horas de intervallo.O doente fez uso d'esles papeis no dia seguinte, attento

a hora adiantada.Na tarde do dia seguinte, cerca de 3 horas, sou chamado

com urgência.O Sr. F. O. estava sentado no leito. Ao approximar-me

vi quo suas mãos e rosto estavam cobertos de placas de còrvermelha e um tanto salientes. Deprimidas no centroe irregularmente contornadas apresentavam comtudo seusbordos arredondados.

A pressão digitai dava a sensação de relevo e produziauma mancha exangue que immediatamente desap-parecia, sem comtudo produzir depressão.

Eslas placas que mediam 5 a G centímetros de compri-mento, sobre 5 a C centímetro»do largura, eram separadasde outras semelhantes por espaços de pelle sã e de umroseo muito termo.

Em algumas regiões soldavam-se por seus bordos etomavam enlão as formas as mais irregulares.

-400-

Em poucas horas se haviam generalisado e a byperes-thesia do couro cabclludo bastante encommodava o

doenle.0 prurido era extraordinário e, cm algumas partes do

corpo, o doente havia produzido leves escoriações da

epiderme.Os escrotos avolumaram-se excessivamente obngan-

do-me a empregar um pequeno apparelho suspensivo.As conjunetivas estavam injectadas.

0 Sr. F. O. sentia dor epigastrica, que se exaggerava pela

pressão.Manteve-se alguns minutos em estado nauseo e vertigi-

noso c quando o procurei collocar em attitude convenientecomeçou a vomitar. Isto manifestou-se duas vezes, sendo o

vomito constituído por substancia liquida, tendo em

suspensão alguns detritus alimenlares.A sede era intensa, mesmo antes dos vômitos e o ther-

momelro applicado na axilla marcava 39°.

O Sr. F. 0. delirava. Foi então que o ouvimos cantar,

chorar e falar com eloqüência, procurando conven-cer-me da quantidade enorme de vermes, que havia

expellido poucas horas antes.Deante de um tal quadro, mando applicar-lhe sinapis-

mos nos membros inferiores e bem assim o pò de amidonem todas as outras partes do corpo.

Allendendo particularmente ao delirio que me pareceupuramente nervoso, empreguei o bromureto de potássio.

Algumas horas depois desta medicação, o doenle jánão delirava. As placas de urticaria começavam a perdersua coloração vermelha de modo uniforme, deixando em

seu lugar uma ligeira hyperemia, que se traduzia por uma

coloração rosea, c na qual ainda era possivel deixar a

impressão digital.

-iot-

A temperatura havia baixado a 38° e poucas horasdepois attingio a normal.

A sede e bem assim o estado nauseo já haviam desap-parecido.

0 prurido havia diminuído extraordinariamente e ahyperesthesia do couro cabelludo ainda encummodava odoente.

O Sr. F. 0. assentado no leito conversava tranquilla-mente.

Relatou-me então a ineficácia da Santonina, dizendo-menào haver cxpellido verme algum.

Inlerpellou-me relativamente ã acçâo da Santonina epassou depois a perguntar-me a composição do Calomel-anos e se n'elle nào entrava o mercúrio. Digo-lhe quesim, e o Sr. F. O. começa a relatar-me um facto idênticoao presente e que passou-se egualmente com elle, quandofez uso (ainda solteiro) da pomada mercurial, afim decombater o Pediculii pubts.

Como a hora era adiantada retirei me exigindo no diaseguinte uma conferência, da qual fizes.se parte umespecialista de moléstias cutâneas.

No dia seguinte voltei á casa do doente. A urticariajá havia completamente desapparccido porém o dòrsodas mãos estava áspero c facilmente deixava a im-pressão digital.

Deixando por momentos esta cadeia svmptomatica,digamos algumas palavras acerca do Sr. F. 0.

Tem 2-i* annos de edade e é branco, magro e baixo.Manlem-se sempre em curvatura, anterior, porém pouco

exagerada.Pallido e de olhos pequenos, pretos e vivos, o Sr. F. 0.

passa horas inteiras a bocejar.Os seus movimentos são bruscos e um tanto automa-

ticos.Serie VI Anno XXVI Vol. 66

—Í02-

O seu caracter modifica-po diariamente. Sento so

triste de manha, faügn-ac ao mais levo trabalho, transpira

muito c declara senlir-HC bom com algumas horas dc

1VnoUso. A' tardo muda-se a scena o cnlào o veremos, com

exagero dc actividade, procurar servir aos innumeros fre-

iruezcs de seu estabelecimento.

0 Sr. Y. O., alegre e activo faz completo contraste com

o homem da manhã.

Dias ha em que a mais leve contruriedade o colloca

rm condições especiaes, e entào o veremos palhdo e

logo npòz excessivamente corado.

Ouve mal os seus empregados e admoesta-os pelo que

nào fazem.As preocupações moraes o deprimem extraordinária-

menle.Voltando :i conferência por mim reclamada, é mister

di/cr que teve lugar no dia seguinte, porem o collega era,

eomo em extranho á especialidade, mas de inteira con-

fiança da família.

O Disüuclo collega nào pite divida em asseverar, que a

nrticaria era consecutiva a Santonina e aconselhou-me

„ rmprego do bi-caibonato de sódio.

Fiz lhe vera necessidade de um diagnostico dilTerencial,

allento a dose insignificante (4 eentigramos) de Santonina,., in.oh-rancia do doente pura os preparados incrcnnacs,

e bem assim as perturbações gástricas.

Aceedi comiudo a indicação, que a meu ver não era

causai, mas combateria eom vantagem a lujper.aadcz

gástrica, que me pareceu exigir corretivos.

No dia seguinte volto a ver o nosso doente, que encontrei

nas melhores condições possíveis.Já nào exi=lia traço algum de urticaria, as perturbações

-403-

gástricas haviam cessado e o appetitc devorador reappa-receu como antes do accidente.

O Snr. F. O, sc bem que náo possua a sua intcrmi-tente ou a sua iirticaria, è (omitido o mesmo homem,que ha pouco vos descrevi.

Dr. Jüliano Moreira.— A propósito do caso do meudistineto collega o Dr. Gonçalves de Figueiredo, cxhumeidos meus papeis antigos duas observações, por vários mo-tivos. dignas dc serem lidas ante esta sociedade.

l.a obsf.rvaçjVo.*— Caso de urticaria consecutiva aoemprego da Santonina. Perturbações respiratórias,crises rjastraIgicas.

X. A. de 8 annos de idade, foi visto por mim a lõ deMaio dc 1892.

Antecedentes hereditários.—Pai sadio porém asthma-tico; mãi sujeita a ataques hystericos por oceasião dcfortes emoções. Dous irmãos mais velhos, sadios.

Antecedentes pesseacs.- Aos 4 annos, informa-íam-me, teve elle uma erupção analogu a que observei,conseculivamente ao uso dc um vermifugo, acerca do qualnào poderam dar-me noticia certa. Salvo ligeiras perturba-ções, facilmenlc attribuiveis aos vermes, nunca o affligiumoléstia oulra.

Estado actual (Maio de 1892). — Sendo a criança queé objecto desta observação, atormentada por uma agitaçãonoeturna ajeentuada e durante o dia, de-um enfraqueci-mento dos membros, os pais consultaram-me sobre osmeios de debellar estas perturbações. Informado de que,de quando em vez ella expellia expontaneamente vermes,prescrevi a santonina na dose de 8 centigrammas combi-pada a 4 deci-zrammas de calomelanos. [Ima hora depois

—m—de ingerido o medicamento fui chamado para ver o doen-tinho, que era victima de um prurido intenso acompanhadode uma eiupção generalisada de placas largas de urticaria.A diffieuldade porem com a qual o doente respirava erainquietado!a; sentado no leito, face congesta, respiraçãofrequente, voz quasi extineta; temperatura = 39°,5,

pulso =120.Meia hora depois cederam os symptomas do embaraço

respiratório sobrevindo crises gastralgicas repetidas. Notei

que a cada accesso apparcciam novas placas ou augmen-lavam as existentes.

O doente não apresentava os symptomas habituaes da

intoxicação pela santonina.Prescrevi o o!eo de ricino ethcrisado c mandei deitar

o doente em um banho quente ao qual addicionei o vinagrearomatieo.

Cederam as crises gastralgicas cdesappareceu a erupção.

2.a observação.—Caso de urticaria consecutiva ao

emprego da santonina; e seguida do prurigo simplexaeu tas de Brocq.

O segundo caso que tenho a assignalar é talvez maisinteressante porque á urticaria, suecedéu o prurigo simplexaculus de Brocq.

Obs. J. F. S., de 11 annos de idade, mestiço, foi por mimvisto aos 12 de Fevereiro de 1893.

Antecedentes hereditários.- -Pai rheumatico, màisadia, tio materno epiléptico. Dos avós nào pude obterinforn ações exactas. trez irmãs: a mais velha (22 annos)hysterica, as outras nada teem de notável.

Antecedentes pessoaes.— Alem de uma bronchite aos2 annos, nenhuma moléstia outra.

Eslado a 12 dc fevereiro. — Criança çmmagrecida,

-405-

pallida, de ventre bojudo, era atormentada por eólicasperi-umbilicaes. Tendo vomitado uma ascaridelumbricoidc,prescrevi-lhe a sanlonina na dose de 10 centigrammasmisturada com 4 dceigrammas de calomelanos e 2 gram-mas de assucar de leite. Uma hora e meia após a ingestãosobreveio um prurido intenso e logo acompanhado deplacas deurlicaria; eslas a principio tinham as dimensões deuma ervilha, porém denlro em pouco tínhamos enormes;a erupção gencralisou se. 0 edema palpcbral tornou seconsiderável, e o doente delirante cocava se forte c inces-sanlemente. Com difficuldade consegui tomar lhe a tempe-ralura axillar, que era de 8fl°.8.

Fil o mergulhar n'um banho quente, no qual deilei umpouco de uma solução carbolica a l %. A erupção cedeu.0 doente expelliu grande porção de vermes.

Em o dia seguinte porém, começaram a apparecer nafiice anterior dos a nle-braços pequenas papuias, muitopiiniginosas. Pouco a pouco foram apparecendo análogasn<> dorso da mão direita, no braço esquerdo, no dorso danino esquerda, no braço direilo. As papuias eram pequenasarredondadas eo maior numero dellas tinha as dimensõesde uma cabeça de grande alfinete, dous millimetros maisou menos de diâmetro. Uma pequena crosta facilmenteliravel com a unha cobria o centro da paputa; tirada acrosta via-se uma leve depressão de um vermelho vivo, daqual nada transudava. Nenhuma infiltração existia napelle das regiões sobre que se assestavam os elementoseruptivos.

Em o dia seguinte a erupção extendeu-soao dorso, ásregiões gluteas, ás regiões a nlero-ex ternas das coxas e daspernas, aos cotovcllos e joelhos, ao dorso dos pés. 0 pru-rido nào era continuo mas bastante vivo quando apparecia,de modo tal que varias papuias eram excoriadas e suu-grentas devido á violência delle.

-406-

Nenhuma elevação de temperatura. Urinas normaes.

Submctti o doente a uni regimen alimentar racionale prescrevi banhos quentes ligeiramente phenicadns, nppli-cando depois o seguinte:

Oxydo de zinco 15 grs.

Menthol 1 gr-

Óleo de oliveiras 25 grs.

Deixaram de apparecer novos elementos, os existentesforam desapparccendo, deixando uma pequena mancha

pigmentada; vinte dias depois do inicio da erupção o doenteestava completamente curado.

Estes dous casos tem vários pontos que merecem scrsalientados. Antes porém de fazei o seja-me permittidolembrar que, ao observar o primeiro doente, tratei deverificar se era a urticaria freqüentemente assignaladn,consecutiva ao emprego da santonina.

Encontrei apenas referido por Sieveking no Brictshmedicai journal de 1871 (citado por Morrowe Duhring)um caso de um menino que ingerindo 3 grãos (íò c»Mitigr.)de santonina teve uma urticaria que generalisou se atodo corpo. Uma segunda dose de .1 grãos reproduziu aerupção de modo a tornara criança irreconhecível. Apozum banho quente a dila erupção desapparcccu.

Apezar de ignorar a idade do doente de Sieveking,todavia entre a dose ministrada por elle e as que eu

prescrevi ha notável differença.O embaraço respiratório observado no meu primeiro

caso, seria uma confirmação das idéas de Andrew Clark,

que admittia a asthma fosse devida a uma espécie deurticaria interna? Gucneau du Mussy chtgava a admitiu

que a urticaria se podia localispr exclusivamente sobre o

-4M-

tegumento interno, engendrando phenomenos insólitos e degravidade apparfnte.

A segunda observação tem importância pelo facto daangioneurosc cutânea ter sido suecedida pelo prurigosimples acutus de Broeq.

Nào estando pioseníes os diversos membros da sessãode dermatologia, peço prorogaçào da discussão sobre estaseornmunicações.

0 Dr. Alfredo4e Magalhães diz que ha alguns dias teveconhecimento de que um collega e amigo, tinha sidochamado para ver uma criança moradora á freguezia deN. S. de Nazareth, cuja familla não lhe era extranha.

Indagando do facultativo qual o padecimento destapequena soube ser uma erupção dc urticaria.

Estando com o espirito prevenido por ter ouvido já,particularmente, dos seus collegas, tratar-se dos factosque acabam de relatar a esla Sociedade, perguntou-lhe siella teria tomado santonina (?).

Não podendo o clinico informar-lhe a este respeito,convidou-o a ir no dia iinmediato ver a menina.

Da indagação feita enlão resultou saber que tinha-selhe, havia tres dk\s, dado a santonina em pastilhas,conlra as ascarides lombricoides.

Acontece porém que, sendo feila de um modo muitoirregular a escolha dos alimentos desta criança, não setorna fácil discernir sc deve ser ligada a urticijria ã santo-tonina (o que dado seria de grande valor para. o assumptode que nos oeeupamos) ou antes (o que parece-lhe maisprovável) aos desvios da alimentação, que, como sabe-mos, são muitas vezes o faclor etiologico da urticaria nainfância.

-4Ò8-

Dr. ECflifaciO da Costa diz que cm 1877 teve occasiào

de observar em uma creança de dez annos de idade, a

manifestação da urticaria, hora c meia apóz a adminis-

tração da sanlpuina, associada ao assucar de leile. Esta

urticaria nào durou mais de dia e meio.

A doenle kz uso iinmediato de um laxativo de citrato

de magnesia. Dr. Bonifácio disse ainda que, em 1883

observou de novo o mesmo phenomeno, em uma creança

de 9 annos de idade, cedendo a erupção em dous dias e*cm medicação alguma.

Hemlnificencla de nm eas« teratologlco

NOTA

PELO DR. ALFREDO DE MAGALHÃES

Foi em 1881, era ainda eu collegial, quando o vi pela

primeira vez.Em 1886, observei-o por diversas vezes no pavimento

térreo do edifício da Faculdade de Medicina, onde costu-

roava vir o indivíduo portador desta rr.ontruosidade,

colleceionar nickeis, que obtinha dos rapazes condoídos

da sua situação que impossibilitava-o do trabalho.

Naquella data olhei-o com receio, nesta examinei-o

com curiosidade.Entretanto, cm 188G, incetava o meu curso acadêmico,

calouro, nào tinha conhecimentos, sufficienlcs para julgardo caso.

Encontrei-o mais larde, cm 1891, c o anno passado,

julgo, foi a ultima vez que o vi.

Como não ha facto que não tenha sua utilidade, pre-sente ou futura, darei a descripção, dc accordo com a

— 409—

minha reminiscencia, d'este caso, digno de ligurar nacollecção de um museu anatomo-pathologico.

O indivíduo, do sexo masculino, côr preta, poder-se-lhe-ia dar, a ultima vez que o vi, de 45 a 50 annos; tinhajá brancos os cabellos da cabeça e da barba.

De talhe bem desenvolvido, mais alto que baixo, nãoapresentava anomalia nos membros pelvianos nem nacolumna vertebral, thorax, face e craneo; o mesmo porémnào observava nos membros thoraeicos.

O esquerdo parecia possuir apenas um humero maldesenvolvido, formando um coto terminado por 2 dedos(que pareciam ser o 3.° e o 4.°) com 3 phalanges cada um;o direilo possuindo um humero articulado a um etibitoimperfeito que, com um radio tambem imperfeito e muidesenvolvido, fomava o antebraço, terminando por cotocom tres dedos imperfeitos, correspondendo ao 1.°, 3°e4.°, oecupando esles 2 últimos a supperficie terminal docoto e o 1.° a parte lateral interna delle.

Este monstro, como se vê, é um exemplo do gênerohemimelo (hemimelia bithoracica), da família do.s Ectro-melianos, uma das da l.a tribu da ordem dos aulositas daclasse dos monstros unitários dc Isidoro Geoffrois deSainfHilIaiie.

Não sei se ainda vive o indivíduo; neste caso seria dignade ser tirada a sua photographia, ou o seu modelo feitoem cera, para o museu da Faculdade, tanto mais quandonão será, provavelmente, impossível obter, mais tarde oseu esqueleto.

Infelizmente, entre nós, encontram-se alguns casos demonstruosidades que, como este, sào dignos cie aproveitarpara estudo e observação.

Recordo-me ter visto exhibir-se no nosso Polytheama,ha ar.nos, uma mulher que era um exemplo do gênero

Serie-VI Anno XXVI Vol. 67

ectromelo (ectromelia bithoraciea), da mesma família,

tribu ordem e classe do anteriormente dito.

Eis aqui a reminiseeneia que tenho do caso que vi um

dia, tornei a ver depois, aprendi mais tarde e só então

eomnrehendi.Como disse, não sei si o indivíduo vive o aonde paira,

por isso não o procurei agora paia fazer um exame mais

«curo o, si possível fosse, apresental-o aqui.

Entretanto, penso que, muitos dos que me ouvem,

conheceram no ou conhecem-no ainda.

*1«»ÁO FITIIAOnDIU AHI-4 EM 1» DE

MAIO DF 1S«*

pp.iisinnxciA uo i>n. pacheco mf.ndf.s

SÜMMARIO

Assistência dos alienados na Daliia

A 1 hma o 20 minutos presentes r,s Drs. Pacheco

Mendes. Cerqueira Lima, Francisco Cardoso, Alfredo

Urino. Gonçalves de Figueiredo, Juliano Moreira, Nina

Rodrigues, Tillemont Fontes, Sà e Oliveira, Glyceno

Vellosr» João Martins, Dcoeleciano liamos, Bonifácio da

Cosia, Aurélio Vianna o Demelrio Silva abre se a

sessão.Lida e approvadaa a.ta da sessão anterior, o Dr. Alfredo

Brilto pela ordem pede que o Siir. Presidente lhe informe

sobre o resultado da representação que a Sociedade diri-

rrio ao governo sobre as medidas contra a invasão do

cholera nchlc Estado. 0 Snr. Presidente responde que,apesar de decorridos cerca de 2Q dias que a referida repre-

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sentação foi enviada ao governo do EsUdo, até aquellatiaia nào havia sido accusada a recepção delia.

Em seguida o Presidente r!á a palavra ao Dr. AurélioVianna que na qualidade de membro da commissao encar-regada de estudar o As vio S. .Irão de Deus, leu a parte dorelatório que conseguiu escrevo:-. pedindo desculpa áSocie-dade por nào estar elle completo devido á falta de tempo.

Logo apóz o Dr. Tillomeii! pedindo a palavra leu oseguinte:

Assistência fios Allr-nuilu-s na Bahia

; xo tassaüo 1: >;o presente)

PELO DU. TILLEMONT FONTES

No momento actual, quando os povos civilisados em

justa emulação de glorias, elevam por todas as partes osmodelos hospitalares, que altestam o gráo de zelo e a

philantropia com que largamente procuram attenuar asdores e as afflições da indigencia, é mais do que justo, éaté o primeiro dos deveres de um governo honesto, compe-tente e moralisado a eopartieipação em confortar osinfortúnios e as misérias na sorte de tantos infelizes, cujonumero vae crescendo dia a dia, em razão mesmo dasdiffieuldades e dasexcitaçòes da vida moderna, tào cheiade dolorosas apprehenções e mil inquietitudes nos laboresda luta, tão magoada pelos dois grandes factores da perse-guiçào humana — álcool e syphilis; infelizes, dos quaesa sociedade, por dupla e justa defeza, vê-se obrigada aretirar o maior dos bens, na vida, — a liberdade.

No momento actual. quando gloriíicarnos tanto o nossoséculo por suas grandes descobertas, o especialmente oamamos por suas renovações sociaes, pelo que ha de

grande, generoso em suas tendências humanitárias; é

penoso dizel-o que nòs os da profissão medica, aqui no

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Estado da Bahia reclamamos uma lei que garanta ao louco— « um doente susceptível de cura »— a assistência, o queé a prolcccão na solidariedade social. Melhor comprehcn-elido, melhor estudado, melhor tratado, o doenle, alheio asi próprio, virá oecupar seu destino natural na sociedade,onde tem o direito de viver e da qual nem será maisa viclima nem o inimigo, mas o protegido, o pupillo sob atutelta bemíazeja da lei e da sciencia.— Reclamar, pedirtão instante prolecção para os míseros loucos, é simulta-neamente preparar para os que aUcndercm tão generoso eurgente reclamo a elevação ennobrecida uma regiãoserena de glorias, na culminância qlte cabe ao immortalPinei.

Actualmcnte a prolecção, si assim podemos dizel-o, querecebemos limita-se:

1.° Prisão na casa de Correcção.2.° Internamente no Asylo S. João de Deus,

Casa. de Correcção

Attinge a mais de 100 o numero de alienados queannualmente são recolhidos aos cárceres da casa decorrecção; e a proporção de loucos para o numero totalde presos mantêm-se na proporção de 10 %• Em 189;ientraram para aquella prisão 112 alienados, e então foi

possível estudar de perto as condições em que se achavam.O cspectaculo que elles, os míseros loucos apresentavam

naquelles cárceres, tem tudo de pavoroso e feio, uma clsíign

que não se pode fitar. Mettidos rfum pequeno comparli-mento, tendo por teclo, á semilhança de uma furna, umabaixa abobada espessa de cimento, e onde só entramvestígios de ar por uma grade de ferro, alli estão mtsUi-rados com os presos correciona.es. Ha entre estes, adultos.

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velhos, crianças, todos amontoados, e só tem por alimentoo resto que sobra da boia dos pronunciados.

A lei, por macabra generosidade, dá para o sustento dos

doudos a diária dos presos pobres, isto é os sentenciadosou pronunciados; mas como estào misturados com os

vagabundos e gatunos, famintos, esses lhes arrancamavidamente os restos da feijoada; e tinham por vigias,

juizes da prisão, no calão do calaboiço, a dois criminososde morte!... E' isto um absurdo, uma arbitrariedade, umabuso do poder, um crime mesmo, ao que urge por-setermo, em nome da lei e das garantias individuaes e pordever de consciência das próprias autoridades. Em nomede que lei e de que princípios continua-se a depositar emcárceres, míseros doentes quando as prisões só sào feitas

para réos, para aquelles cujos crimes, especificados em lei,os tornam nocivos á sociedade ?...

Asylo S. João de Deus

Por acto de Abril de 1872 foi assignado um contractoentre o vice-presidente, dezcmbargaaor Almeida Couto, ea

provedoria da Santa Caza de Misericórdia, para a instai-laeào do Asylo.

No tlioor desle contracto, dos quaes dois originaesexistem —um na Secretaria da Santa Caza e outro nado governo— lê-se que: — obrigava-se a Santa Casa deMisericórdia a montar o estabelecimento com todo pes-soai necessário ao serviço clinico, econômico c religioso,obrigação abrangendo explicitamente o fornecimento demedicamentos, comestíveis, roupas etc. como tambem aapropriação do edifício para os lins a que ora destinado,de sorte que n'elies existam os necessários commodostaes como pavilhões ã medida das necessidades, casas de

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banhos de todas as espécies, ccllas de reclusão, enfor-marias, bolica, ele.

Obrigava-se mais a Santa Caza por esto contraclo aorganisar um servido de pensionato com trez euihegorias,sustentar 40 indigentes íceebendo do governo 560 rs. poralienado pobre, excedendo aqueile numero alé 100; dispre-soando essa subvenção desde que permittissem os rendi-mentos do patrimônio e os da extensa quinta.

No relatório do entào Provedor, o benemérito Conselheiro Dantis, lê-se que: < para a installação do Asylo ospoderes públicos provinciaes concorrerão em diversasvezes, com: —

Dinheiro proveniente da subscripção popularé do commercio para as despezas da guer-ra contra o Paraguay—quantia que omesmo Provedor quando Presidente,mandou j:or a juros em estabelecimentosbancários 51:755$730

Dinheiro proveniente da lei n.° 1089, para seapplicará com pra da fazenda. . . Rs. (>0:3GG$2lO

A' edificação 39:033$72OMais para auxílios da cnnalisacào do gaz 500$00ODe duas loterias, ja então exlrahidas . . . 2:000.^000

Total. ...... 155:255^7:30

Manda a Historia que se consigne aqui qne o hene-mérito brazileiro Souza Dantas elevou logo o patrimônio,por varias quantias — a Rs. 70:000.$, em cuja importânciamantém-se até hoje sem mais acréscimo.

De entào para cá, nestes 23 annos, vários donativosalguns até avultados, foram feitos aqueile estabelecimento,

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forão incluídos imprevidemenle em suas despezas — águas

qne passaram sem deixar vestígios de fertilidade nas margenshoje resequídas.

Para confronto entre aquelle lempo e hoje devo dizer

que o pessoal administrativo eompunha-se de um medicodirectoB Conselheiro Demetrio Totirinho, outro ajudante,Dr. Amancio de Andrade, pharmaceutico Raul Pinheiroe medico clinico —a principio o Dr. Silva Lima e depoiso Conselheiro Almeida Couto.

Compulsando ainda os relatórios da Santa Casa deMisericórdia, aqui apresento o bem elaborado parecer doex-mordomo, Dr. Manoel Victorino, cuja penna tào compe-tente deixa consignada a descripção do que seja aquelleestabelecimento.

Desdenhamos de fallar aqui, nesta sociedade medica,da actual administração, exercida por um individuo sem amínima competência, e com poderes discricionários paraexercer, como meihor entender, as funeções de seu cargo.

Repugnamos dizel-o, nós que bem conhecemos aquillo e

que testemunhamos scenas deprimentes, o gráo de deca-densia em que se tem deixado cahir o asylo, em quantoque processos rigorosos de contraint, para attenuar ofacto com a expressão technica, applicam-sc sem a mínimaautorisação ou vigilância medica.

Taes circunstancias bastam para incompatibilisar a

quem ouze ou queira exercer actualmenle cargo clinicono asylo; a sua acção nulliíica-se deante da prepotênciairritante e malévola da administração.

Velhos enfermeiros, com longa pratica alli, foram despe-didos e logo substituídos por alguns alienados, mais dóceis,aos quaes eslá incumbida a tarefa de propinar a medi-caçào.

Entretanto, as condições financeiras do asylo hoje sàolisongeiras, graças ã liberalidade com que o governo do

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Estado paga a diária dos alienados indigentes, na razãode 1$50() por cada um.

Lê-se no ultimo relatório da actual Provedoria:A receita foi- de 47:b58$460, tendo contribuído o gover-

no do Estado com a importância de 36:663$900, e ospensionistas 7:259$000, e a despeza de 45:930$871,havendo uni saldo de T:627$589.

Como um conslraste pungente entre a competência doillustre ex-mordomo, Dr.Manuel Victorino, e o que actual-mente ahi se passa, uma consideração devemos confrontardo ultimo relatório.

Fm apostrophe vehemente acerca do que no eslabele-cimento se chama—a casa forte—. impreca nestes termoso eminente confrade, agora vice presidente da Republica—:permitta Deus que um dia ella desabe quando lá não hajadoudos, para que possa acabar-se com o espectaculorepugnante de guardar presos, eomo se fossem feras emjaulas.

Entretanto, o actual mordomo exprime-se assim em seurelatório á pagina 62:

«A casa forte, insufficiente i?ara o numero de loucos oraadmiltidos no asylo, precisa ser augmentada para o duplode cubículos ora existentes, evitando assim as difficul-dades que se apresentam em certas occasiões quando onumero de loucos furiosos excede ao dos mesmos cubi-culos.

Além disto, augmentando-sc o numero destes, ha a van-tagem de se poder com facilidade trazelos mais asseiados,porque o louco poderá ser removido diariamente do cubi-culo em que tiver permanecido para outro já asseiado.

Fazer-se a limpeza no cubículo com a permanência dolouco traz necessariamente damno ao pobre infeliz, por-que a lavagem ha de ser feita e por conseguinte a humi-

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dade permanecerá por algumas horas, jamais no solo decimento como actualmente o é.»

Estas palavras que attestam dolorosamente a influenciada plutocracia em nosso meio, quanto soam mal deantedos preceitos da PsychiatriaL.

Ao actual asylo S. João de Deus é justamente applicavelo conceito de Maudslcy, do notável alienisüi inglez — uncimiterio delia ragione distrutta.

Nem merece o nome dc asylo o deposito, onde umacentena de alienados, enelaustrados em dois pequenospateos, quando nào presos naquelles celebres cubículos,recebem desabrigados as ardenlias do sol ilo verão, ou asbagas lateganles das. chuvns do inverno; onde mulheresdesnudas, por entre o riso inconscientemente alvar damoléstia, dormitam cm esteiras em mxergões de fenonum pavimento ladrilhado de mármore; onde tudo é acondemnação formal da hygiene, no abandono frivolo dosrecursos da Therapeulica, onde nem ha o registro clinico,nem um só instrumento, destes que a seiencia aconselha.

Como reeuiso de alcance immediato e simples, um tuboesophagiano, por exemplo, para a alimentação forçada emcaso de pertinácia na recuza da nutrição; um nsylo dealienados não será esse deposito, cuja administração nemeslã entregue a um profissional.

Reorganisação do Asylo S. João de Deus

Agora que os poderes públicos eom tào nobres intuitos,

promovem a reotganistiçào d este asylo, deve merecer

peculiar consideração o facto de lornal-o um manicômiocapaz de satisfazer ns condições de um serviço regular deassistência medicolegal de alienados, o do que será onecessário complemento pratico. Próprio do Estado, liberal-mente subvencionado pelos cofres estadoaes, é mister

Serie VI Anno XXVI Vol. 68

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revcrtel-o á administração exclusiva do governo, sem outragerencia, sem oulra dependência, a nào ser a acçâo exclu-siva e directora de profissionaes que para tal fim foremnomeados.

A superintendência administrativa da Santa Casa deMizericordia, que se rege pr-r um regulamento ou alvarácreado nos tempos colonines, sob a proteccão perpetua deS. M. El-rei de Portugal, virá embaraçai*, senão impedir oserviço medico e jurídico da assistência. Neste regulamento,tudo depende da acção da provedoria, responsabilidade evontade dos mordomos, os quaes nem sempre reúnem ascondições de idoneidade e competência.

Quando eni tempos não remotos, a imprensa destacapital denunciou o stupro de uma pensionista, a qual veiodar .\ luz uma criança, si é verdade (pie o presidente daProvincia, Conselheiro Silva Nunes, mandou syndieardo crime, pela promotoria publica, na forma da lei, aprove-doria da Santa Casa recusou-lhe ingresso i/aquelle estabe-lecimento, e o criminoso ficou impune!

Em nosso juiso, pois, é imprescindível que o asyloreverta primeiro á administração do Estado, altentomesmo a natureza dos doentes a que serve, e cuja seques-tração deve sor bem definida em lei. A acçào íiscalisa-dora da autoridade competente torna-se sempre necessária,em visitas repelidas da promotoria publica, como es!áestatuído em todas as legislações,

0 actual modo dc administração dá-lhe um caracter deasylo particular, o qne em todos os pai/os civilisados temsido coaretado.

Na própria Inglaterra, onde o espirito de associação élão amplo, uma disposição da recente lei — Eunaev ActBill—1890, impede a creação tle novos asylos particularespara alienados, somente permittindo continuar aiguns, já

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estabelecidos, c dc accôrdo com o parecer da commissàoíiscalisadora.

«Um asylo pura alienados, um manicômio, escreveKrafl-Ebing, si é para o profano um logar de horror, é

para o alienisty o meio mais influenciadorde cura conlraa moléstia. Ahi encontra o doente üm meio dc defeza con-tia os perigos, especialmente o suicídio; pode entregar scás suas idéas, sem ser castigado ou contrariado; encon-trará bondade e benevolência, e numero maior de immu-nidades, privilégios do que possa gozar na vida familiar, ealém disto distracções e divertimentos, segundo está ounão capaz de apreciar.

As prevenções do perigo, o immenso apparelho curativo

psychico e somático do estabelecimento sào vantagens quese contrapõem ao tratamento livre, onde as resistênciasdos doentes aggiavem a incapacidade dos parentes, ainsufíiciencia de espaço e de meios curativos »

Desde os grandes esforços de Ferrans, na continuidadeda obra do immortal Pinei, que a questão da assistênciados alienados, sob o duplo ponto de vista medico e ceono-mico, tem' seguido em todos os paizes, notavelmente naBélgica, a fecunda direcçao de appliear o mais amplamentea lei do trabalho, aos alienados que vém necessitar dossoecorros públicos. Nem Iodos os loucos sào doentes inva-lidos e a creação de taes serviços, além da diminuição dosencargos públicos, visa oulras mais animadoras c salutaresconseqüências.

Permilte recolher e abranger maior numero, e propor-cionando lhes toda a apparencia da vida livre, concede-lhes, com a attenuativa da sequestração graus diversos deliberdade, que é a suprema aspiração c o apanágio invul-neravel da naturesa humana. Depois, é ainda ponto capital,nào interrompendo, com a cura e com o cxeal, volve o

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seqüestrado á vida commum nas mesmas condições emque d'anles se mantinha. A vida impassível e monótonado asylo habitual-o-ia ás exigências do conforto e negli-gencia, desacoslumando-o a que saiba por si entreter osmeios dc subsistência. E' isto, de facto, uma condemnaçãomoral lançada contra os asylos c estabelecimentos tlereclusão, onde os seqüestrados conservam-se em penna-nente inactividade. Nào basta introduzir n'um asylo aordem, e até o luxo; islo não satisfaz, é antes um erro;preparando-se a miséria futura, quando a razão, paroxisli-camente desiquilibrada, readquirem a plenitude de suasfaculdades. 0 trabalho, sob duplo ponto de vista morale hygienico, eis o único meio de remediar tào deploráveisconseqüências; um trabalho regular, ao ar livre do campovirá estabelecer as energias musculares, harmonisando asfuneções, em proveito da saude dos alienados, em geralalterada e abattida. « Fazei com que o alienado, esc rev;Leurat, seja tào oecupado lão entrelido que nem possamais pensar no objecto constante do seu delírio, o resto dotempo consagrado ao somno, que a cura não se faráesperar largo tempo»

Sob o céu que se distende plácido e azulado eno jardimque o cerca, levado pelo exemplo, o melancholico mudo eimpassível sai dc seo torpor, c vem dispensar atlesiçàocuriosa á vacca que muge e pasta, á ave que se aninha, ásflores que o cercam e reclamam delicados cuidados; oidiota, o imbecil pode tornar-se por hábitos de regularidadee desciplina o obreiro paciente e laborioso; a vida acliva edisciplinada acalma os inais inpacientes.

Si muitos nào si curam, si para estes a reclusão é perpe-tua, restar-lhes á a satisfação consoladòra de que a sciencianunca os abandonará.

,No Congresso de alicnistas írancezcs—1892, ondetomarão parte as grandes celebridades de França, passou em

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julgado, como o melhor methodo de assistência, a creaçãode asylos medico agrícolas c atai respeito assim seexpiimio

'Fournevillc: «A creação de uma quinla n'um asylo, o

preceito de Ferrus, é hoje um axioma passado em julgado,uma conquista definitivan ente resolvida.» —

De outro lado, a direcção physiea e moral dos loucoscabe ao medico; somente elle pode julgar da opporluni-dade, da mudança de regimen, da nature7a c quantidadede trabalho, das visitas, e toda autoridade deve estar con-centrada cin suas mãos, c por isso affirmamos que não sedeve dividir o poder administrativo e medico, sob pena desentirem dissentimentos que só podem prejudicar ao bemestar dos doentes e a prosperidade do estabelecimento.

A vida, a alma dè nm asylo não poderá deixar de seru:u medico, e quando sc reflectir nos immcnsos podtresque a lei concede a seu juizo e arbítrio, desde a reclusão e

permanência até o emprego dc meios eoérclivoseo veredic-tum de responsabilidade moral e civil, funcções estrema-nente delicadas cdifficeis, cheias de exigências e cujoconhecimento exaeto, cuja diagnose está muitas vezes naveitigom fugace e instantânea das epilepsias graves mülti-pias e larvadas,cntào, quando sc reílietir n'essa assistênciadiurna, não poder-seá deixar de exigir até neste medicouma reunião elevada de qualidades dc espirito ecoração.—

Aceidcnles rápidos, freqüentes e imprevistos, algunsespeciaes ã natureza do mal, como a suffocação eminentenas perturbações alaxicas pela penetração do bolo alimen-tar nas vias respiratórias, outros ligados ao emprego düsmeios coercitivos, accidentes por impulsos homicidas esuicidas; a ligadura de um vazo que sangra, tudo isloimpõe a obrigatoriedade de um medico no asylo.

Conhecimentos espcekies sobre tão delicados assumptos,d'esdc a pathologia mental, até opinião a emiltir emcircunstancias difíiceis, em epoehas muito posteriores á

i22

recluzaõ quando o degenerado psychico accidenlalmcnlcpossa comparecer perante os tribunaes por diliclos, oureclamando sua liberdade civil o o direito de testar, allen-cioso, firme e severo deve ser o medico director de umasylo dediçadamente compenetrado da tão pesada c náoambicionavel responsabilidade, e nunca será crtfel salvopor criminosa, ousada charlataniee, digam-se as couzascomo elles são, haja aqui, e onde quer que seja; o fatídicoconsenlimento dc que a suprema direcção dc um asylopossa continuar em mãos exlranhas c incompetentes.

0 serviço clinico deve ter por intuito o ensino em suasexigências fecundas e por base o inlernato onde o moçosempre cheio de obrigação inicia na pralica da caridosamissão a observação continuada e por minucioso, queeleval-o ha um dia á altura de sahio.D'ahi começa a assistência, vem a construção, capa-cidade, condição hygienica doestabelicimento, em har.no-rua sempre com as disposições legaes sobre as exigências

para a scquestraçào e interdicçâo do alienado.A capacidade aetual a de 100 alienados é irrisória, c atal respeito transcrevo essas palavras do benemerilo brazi-leiro Conselheiro Dantas:«Confiemos, porem, que melhores dias, e nào longe, alegislalura provincial convencer-so há de que a institutos

desta natureza nào é possivel limitar a.hitraria, estreita cinílexivelmenlea capacidade, sem com isto eüleriJisal-ostirando-lhes o caraclcr de proveito geral, mais ou menosaccessivel a todos, que os deve rccommendar?

Tal esperança realizar-se-á? ?

Após a leitura dos dous trabalhos ficou resolvido que acommissaõ na sessão immcdiala apresentasse o relatóriocompeto-um plano dc reforma do eslado aclual daAssislcnc.a dos alienados, afim de ser elle enviado aogoverno pela sociedade,

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NOTICIÁRIO

Corpo de Saúde Naval. -Em Junho houve o seguintemovimento neste Corpo:

Foi concedida a cidade por menagem ao Cirurgiãode 4.a Classe, l.o Tenente, Dr. Thomaz de Aquino GasparJúnior.

Apresentou-se ao Quartel General de Marinha, porconclusão de licença, o Cirurgião de 3.» Classe, Capitão-Tenente, Dr. Antonio José de Araújo; foi servir no Com-mando Geral das Torpedeiras.

Apresentou se ao Quartel General de Marinha, proce-dente da Enfermaria de Pernambuco o Cirurgião de3.» Classe, Capitão Tenente, Dr. José Calmon d'AragàoBulcào.

Foi servir na Enfermaria de Beribericos, em Copa-caba na, o Pharmaceutico de 2.» Classe, 1.° TenenteAgenor da Cunha Britto, em substituição ao de 1.» Classe,Capilào-Tenente José Esteves da França Pinto.

Falleceu o Cirurgião de 4.» Classe, l.o Tenente, Dr Ma-noel Affonso da Silva.Apresentou se ao Quartel General de Marinha, porconclusão dc licença, o Cirurgião de 3.» Classe, Capitão-

Tenente Dr. João Alves Borges; foi servir no Corpo deInfanteria de Marinha, cm substituição ao de igual ClasseDr. Flavio de Souza Mendes, que embarcou no coura-çado Vinte e quatro de Maio.

Foi servir na Enfermaria de Beribericos em Copacabanao Cirurgião de 4.» Classe, l.o Tenente, Dr. AntenorGustavo Coelho dc Souza.

Embarcou no couraçado Vinte c quatro de Maio oPharmaceutico de 2.a Classe, l.o tenente, Prudencio José

-424-

dos Santos em substituição ao de 4.a Classe, GuardaMarinha, Álvaro Augusto de Carvalho, que desembarcou.

Liberdade profissional —Em sessão do Instituto daOrdem dos Advogados Brazileiros foram approvadas por35 votos contra 3 as seguintes commissões, que reconhecema necessidade legal de títulos acadêmicos ou provisão parao exercício de certas profissões moraes e intellectuacs(medicina, pharmacia, artc-dentaria e advocacia civil).

« 1.» 0 artigo 72 § 24 da Constituição Federal, que«garante o livre exercício dc qualquer profissão moral,intellectual c induslrial», deve ser interpretado de accordocom o vencido na assemblea constituinte que rejeitou asemendas addilivas ao citado paragrapho:— «independentede títulos ou diploma de qualquer natureza, cessando desdejá os privilégios que a elles se liguem ou delles dimanem(em I.a discussão) —«independente de qualquer titulo dehabilitação official (cm 2.a discussão).

2.a E' restricção constitucional da liberdade consa-grada no art. 72 § 24 a exigência de habilitação por meiode títulos ou diplomas, para o exercício de certas pro-fissões, como a medicina, a advocacia civil, a pharmaciae outras.

3.a Continua em vigor a lei do código penal, na parteque qualifica crime contra a saude publica (L. 2.n, tit. 2.°,cap. 3.°, art. 250) o facto dc exercer a medicina em qual-quer dos seus ramos, a arte dentaria ou a pharmacia, semestar habilitado segundo as leis e regulamentos.

4a Não sào contrarias ao principio consagrado noart. 72 § 24 da Constituição republicana as leis do antigoregimen na parte que veda o exercício da medicina e daadvocacia aos cidadãos não diplomados ou provisionados.

Õ.a Nào infringem o nosso direito constitucional asleis c regulamentos estadoaes que prohibem o exercícioda advocacia aos indivíduos nào diplomados ou provi-sionados.

(IfflT l ID lll Dl BAHIA!

ANNO XXVI JUNHO, 1895 NUMERO 12

HYGIENE PUBLICA VSaneamento da Bahia.—Projecto de esgotos—

Memória apresentada á IntendcnciaMunicipal pelos Engenheiros

J. Silveira Franca e Murales de Ios Rios(continuação da pag. 384)

Exposição geral dp plano de drenagem adoptado para acidade, de accordo com sua topographia

E' emfim, em Nazareth, que uma ponte liga este systemade montanhas corn o da margem opposta da rua da Valia,isto é, com o Barbalho. Depois d'esta ponte se acha o pon-to mais baixo do talweg da mesma rua da Valia.

Fica assim fechado o perímetro do referido talweg e cie-monstrado palpável mente qual a drenagem mais conve-niente a dar ás águas com prehen d idas dentro d'esse peri-metro.

Resumindo: esla parle do systema de montanhas sc ca-racterisa pelas suas duas grandes linhas de cumiada, asaber: da Piedade á Lapinha, e da Piedade a Nazareth.

Entre estas duas trajectorias sc acha o valle oecupadopela rua da Valia e onde corre o riacho das Tripas. Estevalle determina o traçado de um dos principaes colleccio-namentosa adoptar-se para a drenagem "da cidade, comojá dissemos no capitulo anterior.

Os outros escoamentos terão forçosamente de operar-sepelo littoral, pelo dique ou por uma linha quasi normal aambos e que pode ser representada pelo rio de S. Pedro.

Serie VI Anno XXVI Vol. 69

--Í26--

Ficam, porém, separadas, das drenagens que temosconsiderado, tres grandes porções da área urbana a saber:

1.° O Tororó separado por mi talwcg da rua do Ferraro;2.° Os barris separados pelo riacho da Piedade;3.° O Campo Grande, Victoria, Graça e parte das Mercês

e dos Afflictos separados de um lado pelos riachos da Pie-dade e rio de S. Pedro desaguando no dique, c do outrolado pelo riacho dos Afflictos que vae ter no littoral, nafabrica de rape da Jaqueira.

Estas porções integrantes da arca urbana tem por si sósde caracterisar systemas differentes dos anteriormente ex-postos.

Tendo, pois, em vista, as condições topographicas acimaapontadas e a direcção natural e forçada das águas, esta-beleeemos a seguinte divisão da parle alta:

1.° Ladeiras fronteiras ao littoral e com declive mais oumenos rápido para o mesmo, comprehendendo as que vãodesde S. Francisco de Paula até a Gamboa e Afflictos.

2.° Ladeiras que verlcm no dique desde Nazareth até aPiedade e d'csle ponto ate Mercês e Garcia.

3.° Ladeiras que formam o lalvveg da rua da Valia e doriacho das Tripas das Sete Portas ao Barbalho, Barroqui-nha o S. Pedro c deste ponto ao Campo da Pólvora e Na-zareth.

4.° Planalo central da cidade comprehendendo S. Pedro,Piedade, Mercês, Forte de S. Pedro, Campo Grande, Ca-nelia, Victoria e Atflictos.

T).° Bom Goslo, Cemitério, Garcia (ladeiras de leste),ladeira do Forte dc S. Pedro e Polytbeama.

0.° Barris desde a rua dos Curraes Novos alé o chafarizdos Coqueiros sobre o riacho da Piedade.

7.° Tororó desde os Meninos Desvaliclos atè o dique.Do estudo que acabamos dt1 fazer da topographia geral

da cidade s ededuz claramente os dois svstemas alto o

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baixo que fonjunctamente trarão para a Bahia o grandebeneficio hygienico de lotai despejo de suas águas nocivas

Cumpre acerescentar, para esclarecimento da divisãoque acabamos de fazer, qne, por causa de uma configu-raçào especial e secundaria du lopographia de algumasparles da arca urbana, águas que deviam ler, segundo suaorientação, qualquer dos escoamentos correspondentes áárea onde sc originam, operam, pelo contrario, sentidoinverso,, indo escoar-se cin pontos differenles d'aquellesque correspondem á classificação que acabamos deadoptar.

Isto obrigar-nos ha, mas adeante, a não nos conlen-iarmos com essa elementar subdivisão, precisando-arigorosamente, de modo que cada agrupamento da drena-gem corresponda cxaclainenlc a uma determinada porçãoda arca.

E' o que indicamos no nosso plano n. 11.0 estudo definitivo dc todos os seccionamentos ha de

nos levar ao emprego methodico c racional dos de-clices que tão recommendado tem sido, com toda a razão,pelo Dr. Saraiva para a resolução do problema que nosoecupa.

No systema de alturas, ladeiras e planícies que acabamosde descriminar suecintamente, as cotas dos dilTerentespontos, em relação ao nivel cio mar, variam de umamaneira extraordinária em pequenos trechos de umamesma direcção dc nivelamento.

A primeira operação que tivemos de levar a elTeilo parachegarmos ao conhecimento exac-o do ipais convenienteagrupamento a dar aos colleccionamcntos foi o nivela-mento geral da cidade.

Para esle fim nos utilisamos de alguns dados existentesnas repartições publicas c nas diversas companhias consti-tuidas na Bahia, verificando logo a exactidão das cifras

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fornecidas e acceitando tão somente as que deram umconfronto salisfactorio.

Nào foram, porém, estes os nnicos dados colligidos pornós a respeito do nivelamento em questão.

Para completar os níveis de que precisávamos paraa confecção do nosso projecto, cmprehendemos pessoal-mente o trabalho de nivelar os pontos mais necessáriosaquelle fim, e ao mesmo tempo confiamos a profissionaesmuito práticos o trabalho de fornecer-nos os restantesnivelamentos.

A' nossa Memória acompanha um quadro dos maisimportantes níveis obtidos pelos meios que acabamos deindicar.

Julgamos que no momento actual da questão não liaviaabsoluta necessidade de apresentar o nivelamentocompleto de toda a cidade, servindo o que apresentamospara demonstrar sufíicientemente que não íoi de oitiva,nem a capricho, que estabelecemos a rede de esgotosnecessária á drenagem da cidade.

Além d'isso, para termos conhecimento minucioso detodos os detalhes da topographia da cidade, percorremose estudamos convenientemente, uma a uma, todas as ruas,beccos e viellas d'esla grande capital, garantindo que hojepodemos dar conta de todas as suas particularidades,mesmo as mais insignificantes.

Dada esta explicação necessária, vamos continuar nonosso assumpto.

Resumindo o estudo que acabamos de fazer, tanto daparte baixa como da parte alta da cidade, e applicnudoo processo methodico dos declives naturaes na resoluçãodo problema do seccionamento da rede de esgotos,teremos que os seus colleccionamentos parciaes serão osseguintes:

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1.° O da rua da Valia (que em nossos planos—plantan. II —se acha subdividido em dois, designados pelaslettras A B, conforme eslão ao N. ou ao S. da mesma rua).

2.° O do dique —Fonte Nova.3.o O do rio S. Pedro.4.° O da Gamboa á Preguiça.5.° O da Preguiça ao Caes do Ouro.6.° O do Caes do Ouro ao Pilar.7.° O do Pilar ao Caes de Águas de Meninos.8.° O do Caes de Águas de Meninos á Jequitaia.9.° O de Jequitaia á Roma.10.° O de Roma á Itapagipe, Bomfim e Boa-Viagem.ll.° Rio Vermelho.Na classificação que acabamos de fazer acha-se compre-

hendida a parte da cidade entre o Campo Grande a Barra,c o Rio Vermelho.

Sobre este particular temos algumas consideraçõesa fazei'.

O edital de 5 de Maio, na sua cláusula 12.a, diz:O emprezario gosará da preferencia em cgualdade de

condicções para o contracto das outras duas sub-secçõesdo serviço de esgotos, que terão de ser ulteriormenteinstalladas no Rio Vermelho, a cntroncar-se na extremi-dade terminal do grande collector commum, e na Victõriae Barra despejando no oceano ...»

Bem sabemos que na Memória do benemérito Dr. Sa-raiva não entra o estudo da drenagem d'estas duas seccões,cuja eonstrucção deverá ser feita mais tarde.

Não é, porém, menos certo que no estudo do problemageral do saneamento d'esta capital deve levar-se em contaa futura execução d'esse serviço.

Isto é tanto mais lógico quanto o saneamento da Bahia,qualquer que seja a oceasião em quo se executem os tra-balhos d'esta ou d'aquella parle da área urbana, deve ser

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estudado cm conjunclo, afim dc se conseguir uma roso-lucão conveniente do problema completo que visou o editalde b dc Maio dc 1893.

Demais o concurrente, podendo ser chamado um dia

para executar as obras d'cssos subsecções, deve preoceu*par-se desde já eom a resolução dos problemas qne lhesdizem respeilo.

Quando mesmo isto nao se desse, este estudo de con*

juneto impòe-se como uma necessidade inilludivel.Effectivamcnte, tratando-se dc um vastíssimo plano,

como é o saneamento, pelo esgoto, da capital d'este estado,o todo deve ser harmonioso com ns partes.

A acecitação de uma solução parcial para a drenagemde uma certa porção da área urbana nào con.stil.uc suffi-ciente garantia, para que essa parte se ligue conveniente-mente com as outras, cujo traçado definitivo pode ser

pouco menos que desconhecido e cujas difficuldades de

execução são ainda problemáticas. Subsistirá, pois, aduvida dc que essas partes poderão ligar-se eonvenien-temente entre si para formar depois um conjunclo perfeito,que garanta o saneamento que se pretende rcalisar.

0 que é provável é que um estudo feito por partese executado o serviço d'estas partes, antes de se ter

estudado o todo ou o conjuneto, dê um resultado sinãodesastroso, pelo menos exposto á continuas modificações,

quer nos próprios planos, quer nas obras executadas.Esta probabilidade é ainda maior no caso da Bahia, cuja

topographia aceidentada, como já vimos, ha de exporo engenheiro e o construelor á continuas o desagradáveissnrprezas se seguir o processo cuja critica estamos fazendo.

Estudar o saneamento, pelo esgoto, de uma importante*cidade, não consiste somente cm resolver as difficuldades

parciaes que possam se apresentar para o assentamentodos canos de uma determinada secção c o seu despejo

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parcial. Outros importantes problemas ligados aos queassim poderão ficar resolvidos, por partes ou por secções,são os que determinam a bondade absoluta de uma soluçãototal ou cáraeterisam-ii a como inconveniente e má.

As obras que serào a conseqüência destes estudos e aépoca em que devem ser execnladas não dependem de talou qual propósito deliberado de emprchender-sc esta ouaquelia secção antes das outras, porquanto as mais dasvezes, este propósito poderá estar em desaccordo coma conveniência do trabalho, e deverá ser forçosamentemodificado, para o que bastam os obstáculos que a topo-graphia do terreno pode oppor.

Nào se pode pois avaliar da bondade relativa de umasecção sinão quando eila fizer parte de um conjuneto con-veriientemente estudado.

Nào é este tal propósito, acecito a priori, em umapalavra, quem tem de decidir do melhor inicio a dar aosestudos e ás obras que sc tenciona executar, nem tàopouco é elle quem lia de determinar a área precisa quedeve ser primeiramente estudada e drenada.

Tudo isto ha de depender dc uma lei forçada, que seráa da topographia da cidade em primeiro logar, e depoiso despejo final das águas colleccionadas.

Outras razoes convidam o profissional a estudar o planocompleto do trabalho, que pode um dia ser chamado árcalisar sob sua responsabilidade.

Supponhamos, com effeito, que, por qualquer motivo,uma parte ou secção do projecto total tenha deixado deser estudada e que, cm virtude cia topographia, esta sccçàolenha de ligar-se a outra já construída; admitíamos ainda(o que é possivel) que da approvaçâo dos estudos feitospara realisação da parte primitivamente abandonada, setorne necessário a modificação on reforma da parteja construída.

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Perguntamos: n'este caso quam tomará a seu cargo asdespezas feitas com estas reformas? Supportal-as-ha oemprezario? Não julgamos justo, pois elle se obrigoutão somente a realisar uma determinada obra ápprovádapelo poder competente.

Será a in tendência a responsável pelas referidas des-pezas?

Pensamos que tal não se poderia sustentar com justiça.Com effeito, a approvaçào que a intendencia der á tal

ou qual secção ou parte do serviço que se executa, nãopode acarretar-lhe a responsabilidade por este únicofacto.

Ella não estava mais habilitada do que o auetor dotrabalho para saber se aquelle estudo era perfeito e seachava em harmonia eom o conjuneto do projecto. Ellatinha confiança nas habilitações do seu auetor.

O único responsável, pois, pelas reformas e despezasdeverá ser quem as motivou com a sua pouca previdência,isto é, o engenheiro.

Esta responsabilidade deve recahir sobre elle ousobre a empreza ou capitalista, por conta de quem traba-lha, a qual por sua vez, pode chamal-o á responsabilidade.

Isto, porém, sem duvida, nào lhe teria acontecido, siem vez de estudar esta ou aquella parte do problema,tivesse executado seu trabalho de accordo com as boaspraticas, isto é, em conjuneto.

O estudo e a realisação por partes de semelhantestrabalhos é, pois, absurdo.

Por isso entendemos que o nosso estudo devia abrangernão só a parte da cidade que a intendencia tencionasanear immediatamente, si não também; embora de umamaneira geral, todo o resto da área que deverá serdrenada mais ou menos tarde.

(Continua)

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REVISTA DA IMPRIMIA MEDICA

MenstruaçãO profusa. 0 Dr. Chás. P. Noble publicouno Canada Lancet um artigo sobre este assumpto, quedepois de discutido, termina com as seguintes conclusões:

1. A menorrhagia em uma moça virgem é, de ordinário,funccional, devida a perturbações vaso-moloras, ou a rela-xação de, tecidos geralmente causadas pelo rápido cresci-mento na época da puberdade. N'este caso é curavel porum tratamento geral.

2. A metrorrhagia em mulheres jovens que tém filhos éordinariamente devida a algum desarranjo relacionadocom a prenhez ou com o parto, como sejam a retenção deproduetos de concepção, lacerações, retroversão do utero,sub-involução, congestão pei viça e inflammação dos annexosuterinos. A menorrhagia d'esta classe requer tratamentolocal operatorio c é curavel. Quando devida a sub-invo-lução e má posição do utero não é necessária operação.

3. A metrorrhagia em mulheres de quarenta annos omais, costuma ser causada por moléstias orgânicas doutero, como sejam tumores fibrosos, polypos, adenomasou tumores malignos. A menorrhagia n'esta classe de mu-lheres, a não ser devida a affecção maligna adeantada,é curavel, mas reclama tratamento operatorio.

4. Sendo a menorrhagia um symploma de moléstia, enão uma moléstia propriamente dieta, é indispensável umdiagnostico exacto em todos os casos. A nào ser em moçavirgem, é necessário prompto exame dos órgãos pelvicos.

õ. Não ha tratamento para a menorrhagia por si só. Comos meios geraes, com o repouso no leito, o uso de digitalis,pode ser diminuída a congestão pelvica, e d'este modopode a menorrhagia, pelo menos em parte, ser dominada.

Serie VI Anno XXVI Vol. 70

—-iS-i—

Mas nunca será por demais insistir em que em toios oscasos deve ser feito uni diagnostico exacto, e dirigido otratamento apropriado á moléstia existente, PacificDruggist and Physiàan, de 31 de Maio —1895.

Tratamento de tumores malignos Inoperaveis. O Dr. w.B. Coley, em uma recente sessão da American Sur-oical Association, em Washington, leu uma memóriaem que relatou vinte e cinco casos de sarcoma tratado pori noculação das toxinas da erysipela,edo bacillusprodigiosus,com seis curas, nove notavelmente melhorados, e oitomelhorados simplesmente; e também oito casos de cancro,todos os quaes, á excepção de um só, mostraram melhora.

São estas as conclusões do auctor:1. A acção curativa da erysipela sobre os tumores

malignos é facto estabelecido.2. Esta acção é mais enérgica no sarcoma do que no

carcinoma.3. Esta acção é principalmente devida ás toxinas solu-

veis do streptococco da erysipela, as quaes podem serisoladas e empregadas com segurança e precisão.

4. Este effeito é muito augmentado pela addieão dastoxinas do bacillus prodigiosus.

5. Para que tenham valor, as toxinas devem proceder deculturas muito viiulentas, e de preparação recente.

6. Os resultados obtidos com o uso d'estas toxinas semperigo, são quasi, senão inteiramente eguaes aos que saconsegue em um ataque de erysipela, de modo que rarasvezes é preciso recorrer á inoculação. — (Idem)

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SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DA BAHIAN . ANNO 1895 JUNHO

Karl Ludwig, Karl Thiersch e Karl VogtA morte, faetor irrevogável das transformações orga-

nicas, de tempo em tempo expolia a sciencia do concursotutellar de um útil á sua progressão. Mas de quando emvez avantajando sua efficiencia damninho, nulliíica emmui curto espaço duas ou tres energias, dous ou trestrabalhadores do mais elevado mérito. E' assim que osúltimos jornaes nos dão a má noticia do fallecimenlodo grande physiologista Ludwig, do illustre cirurgiãoThiersch e do sábio biologisía Karl Vogt.

Agora mais que nunca eu desejava possuir o encanlador atlicismo de ura Demostlienes ou o dizer terso de um"Cícero, para fazer o elogio dos tres velhos sábios.

Quem percorrer as grandes divisões da physiologia, veráo trabalho utii despendido pelo primeiro delles a bem dosaber humano.

Minha admiração por Ludwig chegaria ás raias do faria.tismo, se nào fora eu tão refractario a esta falha doespirito.

Ludwig, nascido em ISKi, estudou cm Krlangen eMarbourg ondo doclorou-se e de onde foi professor deanatomia comparada. Lá foi elie mestre de Adolf Fick eConrad Eckhard.hoje professores um em Würzburg o oulroem Giessen.

Lá effectuou elie um dos trabalhos que lhe dão maiordireito á admiração dos posteros: imaginou o kymographo;esta invenção do Ludwig que tinha por fim registrar nsoscillaçõus da pressão sangüínea nos animaes, fei seguida

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em poucos annos pelo sphygmographo deVierordt e o bemimaginado apparelho de Helmholtz para avaliar o modoporque uma excitaçào percorre um nervo. Todos os appa-relhos regislradores de movimentos vilães descendem dokymographo de Ludwig.

Adquirindo rápida reputação, foi o sábio physiologochamado em 1849 para exercer o magistério na celebreUniversidade de Zürich, onde fez sábios discípulos LatharMayer (o chimico), Westphal (o neurologo), Cloetta (o pro-fessor de matéria medica) etc. Em 1855 foi nomeadoprofessor no Josepfúnum de Vienna.

Ahi teve por discípulos Czermak, von Rechlinghausen,W. Kühre, Politzer, Leeber, Stephan, Kupffer, Schwanda.Jendrassik, Setschenow, Holmgren, Kowalewsky, Mac-GiUavry, Preyer, e outros.

De taes discípulos provem a influencia de Ludwig sobreo estudo da physiologia na Áustria, na Rússia, na Suécia ena Hollanda.

Apoz dez annos de trabalho fecundo em Vienna, foichamado a Leipzig onde sob sua direcção o Instituto dephysiologia tornou-se o centro de attracção para ondeconvergiam physiologistas de Iodas as partes do mundo,em viagem de aperfeiçoamento. Lá, durante trinta annos,pelas ferias outonaes professores de outras universidadesiam fruir o convívio proveitoso de Ludiwg, aprender novosmethodos, ver suas novas concepções, fazer mesmo pesqui-zas sob suas vistas. Os discípulos a que acima eu referi-menão são simples ouvintes de suas licções; verdadeiro mestrenão deve ser chamadoaquelle em cuja caderneta figuramos,não, mestre é o que Ludwig foi para os que eu ennumerei;ensinou-os com paciência e illimitado desprendimento «aemprehender po^quizas originaes; a muitos levou elle pelamão, digamos assim, ao templo da gloria.

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Longe estou de cogitar em fazer a enumeração de suaspesquizas, como não tive a pretensão de dar a lista dos seusdiscipulos.

A ninguém porem é licito esquecer seus estudos sobre asecrecção urinaria publicados em 1845 sob o titulo:Beitrâge sur Lehre von Mechanismus der Harn-secretion, aquelles sobre a estructura dos ventriculos docoração (Ueber den Bau und die Bewegungen derHerzventrikel—Zeitsch. für rat. Med. t. VII, 1849;aquelles sobre os gazes do sangue (Zasammenstellungder Untersuchungen über die Blutgase etc.— Wienermed. Jahrb. 21 1865, e tantos outros, o seu Lehrbuchder Physiologie des Menschen dedicado a Brücke, Hei-mholtz e Du Bois-Reymond; emfim aquelle monumentopublicado sob sua direcção desde 1886 sob o titulo: Arbei-ter ans der physiologischen Anstalt su Leipzig.

Um dos jornaes inglezes diz: the death of Prof. CarILudwig has deprived the world not only of its greatestteacher of physiology, but of one whose fabours in thisdepartment of science have been of the utmost service topractical medicine.

Realmente quem cotejar nossos conhecimentos actuaessobre a circulação e os meios pelos quaes podemosactuar sobre ella, com o estado nebuloso da physiologiaquando Ludwig começou seu cyclo luminoso, verá aojusto o valor do bem perdido.

Um dos mais importantes jornaes médicos da Itálialamentando a morte de Ludwig diz: Colle suo opere si einalzaio un monumento piú grande e piú duraturo diqualunque altro glie ne possano decretare oggi gli uominericonoscenti.

Sublime na efficacia de sua obra, sublime na eminênciado seu espirito, na sua influencia sobre a physiologia

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hodicrna, poderia com Helmholtz e Du Bois-Rey mond

constituir por elles sós uma coroa perennc de gloria da

physiologia aílcmã.

DE KARL THIERSCH só o cirurgião pode fazer o mere-

cido elogio, por isso que somente elle sabe a amplitude de

sua eflicicncia no campo da cirurgia. Filho do grande phylo-sopho e erudito prussiano Fred. Thiersch, educado na

austereza dos seus principios, discípulo, na 2.a campanha

de Schleswig-Holslein, do grande Stromayer, foi pro-fessor cm Eiiargcn, Munich c Lcipzig onde finou-se.

Auctor dc uns Ensaios de infecção que mereceram ser

coroados pela Academia de Medicina de Paris, auctor

da obra monumental sobre o câncer epithclial da pelle

(DieEpithctial-krcbs, namentlich der Haut) cujo atlas

étypo de perfeicçào artística; auctor de um admirável

artigo sobre aS transformações anatômicas que seguem

as feridas das partes molles [Diefeineren anatomischenVerãnderungen nach Verwundung der Weichtheile)

publicado no Handbuch der allgmeinen undspecicllen

Chirurgic de Pilha und Biltroth(t« vol. B.); Meister

in Wissenschaft und Kunst como diz um jornal allemão,

ficará eterno na lembrança dos cirurgiões pelos estudos

sobre enxertos dermo-epidermicos communicados em

1886 ao 15 Congresso allemão de cirurgia e expia-

nados pelo seu discípulo Plessing nos .4/*c7t. für Kltn

chirurg.

KARL VOGT finou-se em Genebra aos 6 de Maio. Nas-

cido em Giessen aos 6 de Julho de 1817, era filho do ceie-

bre medico Philipp Friedrich Wilhelm Vogt. Começouseus estudos superiores em 1833 na universidade de sua

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cidade natal, sob a direcção de Juslus Liebig. Em 1835tendo sido seu pai nomeado professor da Universidade deBerne, veio lhe a feliz opporlunidade de ouvir as lecçõcsdo celebre physiologista Valentin.

Mal que recebeu o grau, passou-se a Neuchâtel onde foidurante 5 annos, discípulo e collaborador dos naturalistasDesor e Agassiz.

Em 18M foi a Paris onde demorou-se até 1846. Láviveu elle na intimidade de sábios como Milne-Edwards,de Quatrcfages, Lacazc-Dulhiers etc.

Fundou neste decurso a Sociedade scientifica dos me-dicos allemães de Paris, onde travou relações intimas deamizade comStrauss-Durckhcim,o raciente auctor da ana-tomia do besoiro e que era sem igual nas dissecações soba lupa—«um verdadeiro phenomeno de minúcia» no dizerde Yogt, e que depois de ter gasto a vista na anatomia dosiescelos, emprehendcu a publicação de uma anatomia dogato de proporções ião vastas que ficou inacabada.

Fwi de Paris ainda que Vogt escreveu, como folhetins aum dos principaes jornaes allemães, aquellas Cartas phy-siologicas, traduzidas em russo e italiano; a traducçãofranceza foi feita por elle mesmo escu íüho o Dr. EmileVogt distincto medico na capital de França.

Em 46 foi á Itália de volta de cuja viagem escreveusuas impressões no livro: Ocean und Mittclmecr (2 vols.—Francfurt—1848) onde ao lado de descripções indica-tivas da impressão recebida, ha considerações seientificasde ordem elevada.

No outomno de 185-7 foi-lhe olTerecida a cadeira dezoologia em Giessen, mas que Yung crê não ler chegado aoecupar por isso mesmo que sobreveio logo a revoluçãode 1848, na qual representou elle papel saliente: eleitocoronel da guarda cívica, foi depois deputado ao parla-

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mento de Francfurt: ahi distinguiu-se como orador tãobrilhante e denodado quanto violento na defeza da demo-cracia. Dominada a revolução o deputado da esquerda foidestituído de sua cadeira e condemnado a morte; fugiu daAllemanha para a Suissa.

Installado a principio em Berne, foi, aos 5 de maio de1852, chamado a Genebra para oceupar a cadeira de geo-logia da celebre Academia fundada por Calvino e ondepreleccionaram Charles Bonnet, Horace Bénédict, Theo-dore de Saussure, AugustinPyramus, Alphonse de Candolle .August Piclet e etc.

Em 1850 publicou: Bilder aus dem Thierleben; em1851 as celebres Zoologische Briefe (2 vois.)

Naturalisado cidadão suisso foi suecessivamente mem-bro do grande conselho dos Estados e do conselho nacio-nal, em cujos postos sempre se mostrou o propugnador dosprogressos da instrucçao publica. Tendo com a publicaçãodos seus Quadros da vida animal (Bilder aus dem Thier-leben), anteriores a «Força e matéria» de Büchner, con-quistado lugar entre os chefes da eschola materialista,eil-o em 1855, por oceasião de uma polemica contra Ru-dolf Wagner, o anatomo-pathologista de Gõttingen, apublicar aquella celebre brochura: Kòhlerglaube undWissensehaft (a fé do carvoeiro, ou a fé cega, e a scien-cia) na qual elle ataca de modo incisivo e sarcástico reli-gião e crença na immortalidade da alma.

Inflexível na expressão viril de suas convicções, eramprofundos e implacáveis seus desdens. Suas formosaslições pronunciadas no inverno de 62 a 63 e publicadassob os títulos: Vorlesungen über den Menschen, seineStellung und der Schõpfung und der Geschichte derErde (2 vol.) e Ueber die mikrocephalen oder Afféh-menschen, provocaram tão enérgicos protestos que umatarde fazendo elle em Munich uma conferência scienlifica,

—Ul —

lançaram pedras contra as janellas da sala; succedeu queuma dellas cahiu ao pé da tribuna donde elle orava, justa-mente no momento em que mostrava no modo de vidadas populações selvagens da Austrália aelual uma provacia continuidade d'um estado primordial, então elle emsublime animação, abaixou-se apanhou a pedra e disse:Vós vedes que, como eu vos ia affirmando, a idade dapedra não está ainda acabada. %

O seu amor pela França desentranhou-se por oceasiãoda guerra franco-allemã n'aque!las Cartas, attestadosmanifestos de sua elevação de espirito: ellas foramtraduzidas por Alfred Marchand em 1871 sob o titulo:Lettres politiques.

Longe estarei de querer dar a lista de seus traba-lhos, mas não me é licito terminar sem cilar sua ultimaobra: Traité d-anatemie conparée em collaboração comYung.

Karl Vogí escriptor fecundo espirito sempre apto paraorganisar, trabalhador de aptidões complexas, cada depar-tamento da Anatomia comparada, da geologia e da biologialevará á posteridade seu justo renome.

A Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia não podedeixar de participar dos pezares de que se revestiram aculta Germania e a sciencia pelo desapparccimento destastrez capacidades derigenles, destes espíritos superiores,dos trez sábios septuagenários.

Nós, os brazileiros, que ainda não conseguimos livrar-nos das faixas de uma barbaria, por nós a cada passogalvanisada com o rotulo de civilisação, carecemos de,em exemplos como taes, adquirir a compenetração deque ainda muito necessitamos aprender, assim como queassaz precisamos trabalhar.

Afortunados os que a exemplo dc Newton, sentem seem face da imincnsjdade das cousas ignoradas: likc a

Serie VI Anno XXVI Vol. » 7,

—442 —

child picking up pebbles on lhe shoreof the great ocean

of truth. Louvando porém os que devotaram as energias

todas de sua intelligeneia á progressão do saber, é conve-

niente nos convençamos de que ao aproximar-se o ultimo

momento, nada ameigará mais o espirito que a lembrança

do que se deixa escripto, podendo-se ao mesmo tempo

repetir os versos do velho Horacio:

Non omnis moriar, multaque pars mei.

Vitabit. Libitinam....L. III OXXXIII íEpilogus.

Juliano Moreira.

SESSlODE IODE MAIO DE 1885

PRESIDÊNCIA DO DR. ALFREDO BR1TTO

SUMMARIO

Dr. Alfredo Britto chama a attençâo da Sociedade para unscasos de febres que sc tem ultimamente desenvolvidonesta capital. Discusssão: Drs. Gonçalo Mnniz, Gonçalvesde Figueiredo e Nina Rodrigues.

Contribuição para o estudo dos aneurysmas da aorta na Bahia

pelo dr'. Nina. Rodrigues. Discussão: Drs. Cerqueira Lima,Tillemont Fontes, Gonçalves de Figueiredo, Gonçalo Monize Alfredo Britto.

Relatório sobre a assistência dos alienados na Bahia peloDr. Aurélio Vianna (relator) Tillemont Fontes e JulianoMoreira.

Alei horas presentes os Srs. Drs. Alfredo Britto,

Aurélio Vianna, Juliano Moreira, Tillemont Fontes, Gon-

calo Mnniz, Cerqueira Lima. Dr. Francisca Pragiier,«Sâ e

Oliveira, Joãc Martins, Ribeiro da Silva, Deolindo Galvão,

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Nina Rodrigues, Demctrio Silva o Francisco Cardoso foiaberta a sessão sob a presidência do Dr. Alfredo Britto,1.° Vice-presidente.

Foi lida e approvada a acta da sessão anterior. Emseguida:

0 Dr. Alfredo Britto chama a aüenção da sociedade parauns casos dc febres que se tem ultimamente desenvolvidonesta cidade principalmente caraclorisados por manifesta-ções graves no domínio cercbro-espinhal. A principio,grassando com alguma freqüência no quarto] policial dosAfflictos, generalisaram-.se depois a difíerenles pontos.

Não teve ainda oceasião de observar um só destes casos;apenas conhece os por informações.

Do que lem ouvido, porém, inclina sc a suspeitar daorigem ou natureza grippal da moléstia. A circumslanciade terem elles coincidido com outras formas francas dainjluenza, lauto graves como benignas, as quaes ullima-mente sc tem apresentado em larga escala, a physionomiaestranha e anômala dos casos que lem chegado ao seuconhecimento nào penniltindo affirmar com precisãonenhum outro diagnostico, levaram-no ;i desconfiar quese tratasse de formas graves da grippc nervosa, hoje muitomelhor estudada.

Tem visto variarem muito os diagnósticos, sendo osprincipaes: febre perniciosa e meningite cérebro espinhalepidêmica.

Relativamente no primeiro, lembra o facto da duraçãoás vezes demorada dos casos, a inefficacia das altas dosesde quinino opportunameute npplicadas,#a continuidadedas manifestações sem forma definida de accesso, etc.

Quanto ao .segundo observa a imperfeita individuali-sação nosologica dc semelhante morbo, a tendênciamoderna á sua inclusão entre as infecçòes de origem pneu-

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mococcica e grippal, de conformidade com as maisrecentes investigações bacteriológicas, etc.

Avolumaram-se ainda mais cm seu espirito estas sus-

peitas com a leitura de um excellente trabalho publicadon'um dos últimos números da Semainc Médicalesobre as

meningo-enccphalopathias grippaes.A analogia entre os casos ahi citados e o que sabe dos

nossos parece-lhe evidente.Nào podendo nem devendo, porém., formar ainda juizo

algum definitivo a respeito, tanto mais quando, repete,nenhum caso foi sujeito á sua observação, c nem uma sóautópsia foi até agora feita, que lhe conste, propõe a no-meação de uma commissão que por parte da Sociedadeemprehenda o estudo d'essa epidemia.

0 Dr. ConçalO Moniz diz ter visto, no Hospital SantaIzabel, um dos casos a que se refere o Dr. Alfredo Britto,mas não podendo fazer uma observação completa, não seaventura a affirmar categoricamente qual a verdadeiranatureza da moléstia.

Antes de ser transferido para o serviço clinico do Con-selheiro Dr. llamiro, o doente estivera noutra enfermaria,onde começara o tratamento, de sorte que não observou-odesde o começo da doença.

Nào obstante poderá relatar pelo alto, os principaesphenomenos de que se recorda, desde que não tem nenhumapontamento escripto.

Tratava se de um soldado de policia, de côr preta, aindamoço. Ha já alguns dias apresentava uma febre elevada,com freqüência do pulso c prostração; mas o que sobre-sahia no quadro pathologico eram os symptomas nervosos,delírio violento, de palavras e actos, chegando o do*enteuma vez a querer suicidar-se. mas não podendo realisar oseu intento por não ajudalo o instrumento de que dispu-

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nha (uma faca quebrada e romba), mas assim mesmoconseguiu dar alguns golpes aos lados do pescoço, porémsuperficiaes e sem gravidade. 0 delírio exacerbava-se ánoite, porém durava todo o dia mais brandamente.

0 estado era grave, porém no fim de alguns dias sahiucurado, mas ainda em convalescença, constituindo a basedo tratamento o emprego da quinina e dos sedativos.

0 Conselheiro Dr. Ramiro diagnosticou febre perniciosacom manifestações meningo-eneephalicas; foi também oque lhe pareceu mais plausível, confessando entretantoque o caso mórbido offerecia realmente uma physionomiainsólita e anômala, o que não lendo, como disse, feito umexame completo, não se acha por isso autorisado a sus-tentar o diagnostico com firmeza inabalável.

Esperava fazer melhores observações e estudar detida-mente a moléstia, quando se lhe apresentassem outroscasos semelhantes, mas'desde então não têm mais entradopara o hospital indivíduos delia affectados.

Nâo pode, por conseqüência, responder de modo con-veiiiente e satisfactorio á questão ventilada pelo Dr. Al-fredo Britto, pendendo, porém, como disse, para a opiniãodo Conselheiro Dr. Ramiro.

0 Dr. Gonçalves de Figueiredo acredita que, no tempoem que o quinino era somente especifico do Paludismo,a questão ficaria resolvida, mas hoje, que elle o é tambémda Grippc, parece-lhe que só uma symptomatologia com-pleta e muito especialmente o exame bacteriológico poderãoresolver semelhantes hypotheses.

0 Dr. GonçalO Muniz diz que no caso aíludido faltam-lheas investigações etiologicas, notadamente o exame bacte-riologico, que, no estado actual da sciencia, crê, de accordocom o Dr. Gonçalves de Figueiredo, não se poder prescin-

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dir, sem commcttcr-se uma falta notável, principalmentequando se pretende decidir questões desta ordem.

ODr. Nina Rodrigues diz que também leu o artigo daSemainc Mcdicaleix que se refere o Dr. A. Britto.

Esse faclo chamou-lhe a attenção e agora a applieação

que delle fez o Dr. Britto, lhe recorda uma autópsia quefez em 1800, em um doenle de meningite grippal que oDr. Gustavo dos Santos tratava na rua de Baixo e enviouao hospital de Caridade por não ser possível cuntel-o emcasa. Essa observação eslá publicada numa. communica-

ção (jue fe/ ao 3o Congresso medico brazileiro c demonstra

que mesmo enlre nós a possibilidade da localisação me-ningea já tinha sido reconhecida.

Tendo sido approvada a proposta do Dr. Alfredo Britto,de que nomeie-se uma commissão para estudar as febrescm questão, foram designados os Drs. Figueiredo, GonçaloMuniz c Juliano Moreira.

Mova contribuição para o estudo dos aneu-rismas da aorta na Ilalila

PEI.0

DR. NINA RODRIGUES

Esperei sempre que as communicações que cu c o meudistineto coliega e amigo Dr. Alfredo Britlo, fizemos áantiga «So3Íedade de Medicina da Bahia» podessemprovocar largo debate o sérios estudos a respeito da questãodos anenrismas da aorta n'esta cidade, e por esse*modose viesse a completar o pouco que então podemos adiantarno assumpto.

—M7—

Naquella oceasião, divergimos no modo de compre-hender alguns pontos da questão, mas é forçoso confessarque a discussão, à mingua de dados positivos, se haviatravado em pleno dominio de hypolheses e interpretaçõesde todo lheoricas.

A solução mais razoável á pendência, foi aquella queadoptamos ambos; aguardar que uma somma respeitávelde factos e observações podesse autorisar utn examecritico severo das opiniões emiltidas.

Mas infelizmente apezar de ser o assumpto matéria emque todos se julgam habilitados a fallar em nome daprópria experiência, até hoje nào ha colligidos nem factos,nem observações.

Affastado, como vou ficando, dos estudos puramenteclínicos e na impossibilidade de cmprehcnder a elucidaçãode nssumptos, que são questões aberlas lão somente paraos que se especialisam em cardiopathologia, julguei debom aviso trazer ao conhecimento da Sociedade a notaresumida dos casos que depois d'isso me foi dado observarna clinica civil.

Imporia com effeito apressar e facilitar a tarefa dosque, eomo o meu distinclo collega Dr. Alfredo Britto, aquem particularmente endereço a nota dos presentes casos,terão de firmar a solução definitiva d'este problema, aomesmo tempo clinico e hygienico. E só ha para isso umcaminho a seguir, e é fornecer lhes material, colligindoos factos que devem ser submettidos a uma apreciaçãoscientifica rigorosa.

** *

As observações vão publicadas ou antes ennumeradas,mais ou menos pela ordem chronologica em que se apre-sentaram,

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Limitei-me estrictamentc á consignação dos pontos quepodem ter algum valor na apreciação geral do problema,omitlindo todos os detalhes do exame clinico e da marchada moléstia.

Obs. I..— A M. C. 45 annos, casado, vida muito irre-guiar, infecção syphilitico com graves manifestações tercia-rias, cutâneas e ósseas.

Aneurisma da crossa da aorta, com pulsações e maistarde saliência ou tumor á esquerda do esterno, rouquidão,compressão dos bronchios com accessos de suffocação.dores cervicobrachiaes.

Signaes de aortile chronica com alteração das válvulasaorticas.

Com o tratamento pelo iodureto de potássio em altadose (4 e 5 gr. por dia) e applicações esternas de correntescontinuas,«o doente melhorou sensivelmente, a ponto depoder voltar ã vida pouco regular que tinha, a perdernoites, a commetter excessos sexuaes etc. etc.

N'estas condições, a lesão continuou a aggravar-se edelia veio o doente succumbir no fim de alguns mezes.

Obs. II. — A L. 25 annos, casado, portuguez, caixeiro,infecção syphilitica com exostoses etc.

Vi o doente em começo quando a lesão se revelavatão somente por uma dòr localisada á esquerda do esternona altura do 2.° espaço intercoslal, onde havia pulsaçõesdifficilmente perceptíveis.

O diagnostico de aneurisma da crossa da aorta que fizn'essa oceasião foi, confirmado pelo Sr. Dr. Silva Lima,em uma conferência medica.

Tempos depois, fui de novo chamado a ver o doenteque trazia a lesão muito desenvolvida já.

As pulsações haviam desapparecido, mas sobrevieramsignaes de compressões múltiplas. Voz extremamente

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rouca, trachéa fortemente desviada á direita, bronchioscomprimidos a ponto de viver o doente em ameaça cons-tante dc asphyxia.

O coração assim como a porção dos vasos que sepodia explorar não apresentaram no decurso da moléstia,signaes que indicassem ter-se a lesão estendido a elles.O coração apresentou apenas as alterações que n'eslescasos lhe impõe a synergia da funeção circulatória.

A intolerância do doente para o iodureto de potássioera grande, mas a isso aceresceu uma inconstâncianotável a todas as medicações tentadas.

Obs. III. — L. V. 40 annos, empregado publico, casado;vida irregular, com excessos de comida, bebidas e sexuaes,ele; injecção syphilitica, senilidade prematura.

Vi o doente ainda muito em começo da lesão. Aneuris-ma da crossa da aorta.

O doente aceusava palpitações e dyspnéa de esforço,mas nem o coração, nem os vasos apresentam sopros ousignaes de uma lesão orgânica, afora as do aneurisma.

Nào vi mais o doente, mas poucos mezes depois fallcceuem conseqüência do seu aneurisma verificado pelos diver-sos clínicos que o trataram.

Obs. IV—J, A. da SO. 31 annos, alfaiate, solteiro.Nào aceusa, nem apresenta signaes de infecção syphilitica.Abusou de bebidas alcoólicas e diz ter commettido exces-sos sexuaes. Attribue a moléstia a esforços que era obri-gado a fazer.

Aneurisma da aorta ascendente; vasto tumor pulsatil ádireita, thrtl, sopro duplo na base, intermíttencias cardia-cas; dyspnéa.

0 doente melhorou com a medicação iodurada o como abandono dos trabalhos pezados a nue se entregava

Serie VI Anno XXVI Vol. 72

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Ha algum tempo que não me apparece no consultório,nem tenho tido noticias delle.

06s. V—l M. M. da Silva, 40 annos, casado, mar-chante de porcos e fazendo por isso grandes esforços nacondução destes animaes.

Não ha antecedentes alcoólicos, nem syphiliticos: tinha

gozado sempre de boa saude.A moléstia começou um anno antes delle se me apre-

sentar, em conseqüência de um coiee de cavallo que rece-beu na região epigastrica e sob a forma de forte dôrnaquelle ponto.

Aneurisma da aorta abdominal, tumor volumoso e pul-satil, fortes dores gastralgicas.

Atheroma generalisado á aorta e a todas as artérias vi-siveis, sopro mitral e intcrmittencias cardíacas.

0 iodureto associado á sparteina deu pouco resultado.Mais tarde manifestou-se albuminuria e o doente falle-

ceu em asystolia.

Obs. VI— A. P. cerca dc 50 annos, garimpeiro, tendosoffrido muito de febres palustrcs e abusado de bebidasalcoólicas. Nâo aceusa antecedentes syphiliticos.

Aneurisma da aorta abdominal; signaes de compressão,tumor pulsatil.

Atheroma generalisado de medíocre intensidade: dyspnéade esforço, sem sopros cardíacos, apenas reforço do 2otom aortico.

O doente que não reside nesta cidade e tinha vindosomente consultar-me, não voltou mais, nem tenho tidonoticias delle.

Obs. VII—J. C. F. 28 annos, casado, empregado doArchivo Publico, antecedentes alcoólicos, syphiliticos oupnludicos.

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Aneurisma provavelmente da parte inferior da aortathoracica; da classe dos aneurismas de symptomas, semsignaes.

A suspeita da existência de um aneurisma que surgiupara logo no espirito dos diversos médicos que o viam ccuidadosamente o examinaram, só se podia justificar pormeio de uma severa exclusão de outras causas capazes seexplicar a tachycardia c as dores localisadas o intensasque o doente aceusava.

Porfim, o coração cedeu e o doente falleceu sem se terpodido verificar por uma autópsia, que deveria ter sidomuito instruetiva, a sede cxaela da lesào arterial,

O iodureto deu algum resultado, mas havia intolerânciapara uma medicação como o caso exigia.

Como etiologia, só se ponde descobrir a influencia pos-sivel de esforços de uma gymnaslica mal dirigida, e os quefôra obrigado a fazer com o longo tratamento de um eu-nhadoque suecumbiu a um aneurisma da aorta abdominal.

Obs. VIII—M. X. M8 annos, casado, alfaiate, nàoaceusa antecedentes syphiliticos, nem alcoólicos.

Aneurisma da crossa da aorta.Voz completamente ronca, triichéa comprimida c des-

viada á direita, compressão dos vasos venosos da base dopescoço, com edema do mesmo e da face qne está vul-tuosa.

Ausência completa do pulso radial á direita; orthopnéapor accessos.

Nào ha sopros, sem signaes de athcroma.A medicação pelo iodureto de potássio pouco resultado

tem apresentado. O doente, em estado* bastante grave,continua em observação.

Obs. IX— A. P. antigo magistrado, 50 annos, injeccãosyphilitica muito grave, abuso de bebidas alcoólicas.

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Arterio-esclerose generalizada; dilatação aneurismatica,pouco desenvolvida ainda, da çrossa da aorla comprimindoos troncos venosos brachiq-cephalicos; systemas venososdos membros superiores, do tronco e do pescoço, turgidose salientes.

Albuminuriã transitória, tendência á asystolia.Melhora sensível com o iodureto de potássio em alta

dose, associado ora á sparteina ora á digitalis.

Obs. X—A. C. medico, cerca de 50 annos, vida irre-guiar, nào consta antecendentes syphiliticos nem alcoo-licos.

Arterio-esclerose generalisada, aortite chronica, comdilatação aneurismatica da crossa, compressão e desvioda trachéa.

Morte súbita por accesso de angina pectoris.Influencia hereditária possivel, um irmão falíecido tam-

bem de angina pectoris.

Obs. XI—D. L. S. cerca cie 50 annos, viuva, sóbria,senhora respeitável: dous filhos apenas.

Sem antecedentes conhecidos a não ser uma iníluenciahereditária possivel, um irmão falhcido de arterio-cscle-rose, ha pouco tempo. Muito emotiva.

Aneurisma da aorta abdominal, sem signaes de lesãocardíaca, ou de outra lesão arterial. Não lia albuminuriã.

Começou agora, a medicação pelo iodureto de potássio.

Obs. XII—A. B. 37 annos, solteiro, caixeiro de co-branca durante oito annos, andando muito por esta cidade,subindo altas escadas etc.

Nega formalmente qualquer excesso alcoólico, não haantecedentes syphiliticos.

E' agora a 2a vez que febres palustres fazem-no reti-rar-se desta cidade para Alagoinhas, restabelecendo-se

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logo; não é todavia um cachetico, nem tem caracteres depessoa fortemente tocada pela malária.

Ha um anno teve rheumalismo monarücular no joelhoesquerdo, seis mezes depois sentiu-se doente da lesão arte-rial.

Aneurisma do tronco brachio-cephalico, com saliênciana região supra clavicular direita e projecção para fora daporção interna da clavicula: dores intensas extendendo-separa o braço do mesmo lado.

Insufficiencia mitral compensada.Melhora sensível das dores com o iodureto de potássio

em dose elevada (4 gr. por dia).Vi-o ha poucos dias com uma nova complicação. Apre-

senta uma ascite já bem desenvolvida.Não ha albumina nas urinas.Não é fácil fazer actualmente um exame conveniente

do fígado que aliás está auguentado de volume.

Obs. XIII. — Da observação antecedente convémapproxim&r a seguinte que conheço já de alguns annos.

C. caixeiro de cobrança, sem antecedentes mórbidosmuito claros.

Aneurisma cirsoide da borda interna do pé esquerdo.Atheroma arterial; aorta bem comprometida, artériassuperficiaes flexuosas e duras: sopros cardíacos.

Com o iodureto dc potássio e applicações externas deelectricidade, a principio correntes continuas, depois elec-tricidade faradica, o aneurisma diminuiu de volume epor fim desappareceu.

Obs. XIV. — F. Meirelles, 30 annos proximamenteempregado no prolongamento da estrada de ferro de S.Francisco, como conduetor de trem. Casado, não aceusaabusos alcoólicos, sem antecedentes syphiliíicos, palu-dicos etc.

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Aneurisma do tronco brachyo-cephalico. Tumor pulsatile volumoso no espaço superclavicular direito, impedindoquasi o movimento do pescoço para esse lado e chegandoproximamente á altura do mento: dores intensas esten-dendo-se para o braço e para a nuca.

O coração, a aorta e os outros vasos sem signaes delesão.

Tratamento rigoroso pelo iodureto de potássio em altadose (4 a 5. gr. por dia) e applieacões externas de electri-cidade continua.

O tratamento foi feito com o máximo rigor por umdoente intelligente e desejoso de ficar bom. Trazia o braçoimmobilisado em um triângulo poique os movimentosaugmentavam as dores, e porfini, tendo asaprendido faziareligiosamente as applicaçòcs eleçtricas.

No fim de dous mezes, o tumor estava tão redusidoquanto representa a photographia junta, as dores tinhamdiminuído consideravelmente.

No fim de 5 mezes, ns dores desappareceram de todo,o tumor que era pulsatil acha-se reduzido a um núcleoduro e expesso e o doente se reputava capaz de voltarás suas oecupações.

Consegui que elle deixasse o logar de conduetor detrem c Ficasse vivendo no escriptorio da companhia:Muniu se de uma maehina electrica e continuou lá forao tratamento prescripto.

Ha alguns mezes veio a esta cidade para que eu o visse.Os resultados obtidos mantem-se o tanto quanto se podeprejulgar no assumpto o doente está curado.

Serào muito ligeiros os coinmentarios que farei a estasobservações. Devo confessar que longe de confirmar, emmuitos pontos contradizem elles as opiniões que avanceinas discussões c communicações de 1891.

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O numero dos casos observados em uma clinica quenão é das mais extensos, parece indicar que as estatis-ticas hospitalares por mim apresentadas mesmo comos correotivos que lhes fiz, não dào uma idéa exacta dafreqüência dos aneurismas da aorta nesta cidade.

A este respeito a questão continua dependente deobservações mais numerosas, porque as observações dapresente communicaçào nào são todas provenientes d'estacidade.

Elias se destribuem pela seguinte forma:

Desta cidade 11De fora da cidade 3

Total 14

Elias são, porém, muito instruetivas em relação á quêstão auatorno-pathologica.

Guinndo-me per estudos anteriores aos conhecimentosucluaes sobre a arlerio-esclerose, eu adoptei para a expli-cação do antagonismo, pelo menos de freqüência, entre aslesões atheromatosas generalisadas eos aneurismas daaorta, as opiniões de Lancereaux e Birch-Hirchfed.

Segundo estes auetores a razão de ser d'cste antago-nismo é que o ancurisma depende mais de uma lesão cir-cumscripta dos vasos como soem produzir a syphilis e oimpaludismo, do que das lesões generalisadas dos vasosarteriaes como produzem o alcoolismo, a velhice, etc. etc.

Ora, das observações produzidas, vè-se que houve pelomenos seis casos (Obs. IV, VII, VIII, XI, XII, XIV) em queas lesões arteriaes circumscriptas ao ancurisma não seporlem altribuir nem á syphilis nem ao impaludismo, e oque é mais em algumas (Obs. VII, VIII, XI, XIV) nem mesmoé fácil reconhecer uma causa precisa da lesào, que temantes a origem muitas vezes ignorada da arterio-esclerose.

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Por outro lado, nos casos em que a influencia da syphilisou do impaludismo parece fora de duvida só duas vezes(Obs. II e IX) a lesão foi circumscripta, nos outros casos alesão arterial era generalisada, ora talvez por se associarao alcoolismo (Obs. I) ou por influencia directa das causasmencionadas (Ob. IV).

Parece, portanto, que a verdadeira explicação do anta-gonismo a que acima me referi é a que dá Thomaz (deDorpat) e que faz do aneurisma da aorta uma conseqüênciada arterio-esclerose incipiente quando a intervcnçõo pro-vocadora do esforço se manifesta antes do desenvolvi-mento da arterite compensadora. E é esla arlerite queobsta o desenvolvimento do aneurisma nas lesões antigasc generalisadas em que ella teve tempo de se desenvolver.

Por conseguinte, o meu collega Dr. Britto nào deixavade ter razão quando fazia do augmento de freqüência daarterio-esclerose entre nós uma causa do augmento de fre-quencia dos aneurismas de aorta.

Eu discuti largamente nas communicações anteriores ainfluencia da ascenção das ladeiras na producção dosaneurismas.

Não acredito que as observações de hoje invalidem in-totum as conclusões a que cheguei, mas chamo particular-mente a attenção para duas observações (XII e XIII) emque nào é possivel deixar de levar em consideração ainfluencia de caminhadas exageradas.

Em relação ao tratamento, me limitarei a preconisarainda uma vez a applicação externa das correntes conti-nuas pelo methodo de Vigioli ou fluminense.

Esla applicação dá sempre resultado e quando nào curepolo menos melhora sensivelmente o eslado do doente.

A indicação capital a meu ver é que o aneurisma depen-da de uma lesão circumscripta, sem lesões arteriaes gene-ralisadas.

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A obs. XIV demonstra que so o iodureto de potássio éum agente poderosíssimo, não se pode todavia altribuirexclusivamente a elle os resultados colhidos delia.

Quando no curso do tratamento d'esse doente a machinaelectrica solTreu um desarranjo c foi necessário suspenderas applieações por algum tempo, apezar da medicação doiodureto as dores voltaram logo e as pulsações faziam-sesentir de novo.

No emtanto as indicações vindas do Rio de Janeiro pec-cam ao meu ver por insuffieieneia da dose. Não só assessões devem ser muito mais prolongadas (filas de 3/4,1 hora e mais), como ainda ò indispensável augmentargradualmente o numero de milliamperes.

0 Dr. Tillemont diz que na etio-pathogenia dos aneu-rysmas, a cujo estudo entregou se, quando exercia o cargode adjuneto de clinica medica, observando e autopsiandoalguns, tem sempre duvidas e por isso pergunta: é possívelgeneralisar-se ás moléstias infecciosas em geral a acçãopreponderante do paludismo, como Lancereaux acredita,para as placas circumscriptas de eirlarterite, c muitospathologistas para a syphilis? Os aneurismas podem sue-ceder ás pneumonias, ás febres typhicas, á infecção puer-peral, á septicemia?

Nos processos do arterio-sclerose os aneurysmas nuncase circumscrevem, e parece-lhe terem marcha mais bem-gna, longa e menos insólita.

Eliminando-se a syphilis, desejaria saber si ha casos dccura nos aneurysmas por infecção (paludosa na opiniãode Lancereaux) em geral como é levado a crer.

0 Dr. Gonçalves de Figueiredo pergunta ao Dr. Nina seem todas as suas observações usou do Iodelo de potássioc da Electricidade concumitantemente.

Serie VI Anno XXVI Vol. 73

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Lembrou-se ter lido uma lição do Professor Cardarelli,na qual elle relata a ema de um aneurysma do troncoBrachio-ccphalico com alta dose de lodeto, e aconselhaao Dr. Nina tentar uma semelhante medicação.

Acha comtudo que a empregada por S. S. é bastanteracional, posto que, baixando a tensão, determinando arcabsorpção dos coágulos e ao mesnío tempo tonificandoparte da parede arterial, contribue paia restabelecer noterritório lesado as condições physiologicas de circulaçãoe de nutrição.

0 Dr. ConçaiO MoniZ diz ter tido também oceasião deobservar alguns casos, que parecem confirmar o facto sobreo qual o Dr. Nina Rodrigues acaba de chamar a attenção,isto é, casos de aneurisma sem symptomas de arterio-esclerose generalisada. Em primeiro logar acredita quea condição material necessária á producção de um aneti-risma, é uma alteração das paredes arteriaes, a destrui-t,-ào dos elementos contracleis ou elásticos da túnicamedia, que são os que offcrccem maior resistência á pres-são excêntrica do sangue. Mas para que se dê uma dila-taçào parcial do vaso, para que sc forme um aneurismasacciforme, faz se mister, como diz o Dr. Nina, que alesão arterial fique circumscripta a uma porção limitadada parede vascular, ou pelo menos predomine nestaporção, que tornando-se menos resistente,, deixar-se-ámais facilmente distender.

Si as alterações se extenderem uniformemente a todo ovaso, a resistência diminuindo e egualmentc em todosos pontos, crê que sc reproduzirá antes uma ampliaçãototal circumferencial, do que uma dilatação^circumscripta,formando um sacco aneurismal.

Algumas vezes na autópsia de indivíduos que suecum-biram á ruptura de aneurismas da aorta, encontra-se

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este vaso, fora do ponto oecupado pelo aueurisma, appa-rentemenle são, sem nenhuma lesão macroscópica, nãotendo aliás o individuo que era portador apresentado emvida os symptomas geraes da arterio-esclerose.

A lesão material causa primaria do aneurisma, loca-lisára-se manifestamente ou pelo menos predominara naparte que era sede da dilatação. Nos casos que diz terobservado não fez exame microscópico, e por isso nãopôde affirmar a integridade perfeita dos outros pontos dovaso affectado e de toda a arvore arterial, que pareciamnormaes á visla desarmada.

Em todo caso, si lesões existiam, eram mui poucopronunciadas, a ponto de passarem, como disse, desper-cebidas ao exame macroscópico, e não determinaremem vida symptomas de arterio-esclerose.

Refere que ha poucos dias falleceu no Hospital SantaIzabel, no serviço clinico do Cons. Dr. Ramiro, um doenteque soffria de um aneurisma da crossa da aorta.

Era nm homem de robusta constituição, mestiço, 32annos de edade. Apresentava um ligeiro abaúlamentoe pulsações na região thoracica correspondente á porçãosuperior do esterno e á parte interna dos primeiros espa-,ços intercostaes esquerdos. Som massiço á percussãona mesma área.

Ausência completa de sopro. 0 coração achava-seconsideravelmente desviado para iorá c para traz, batendoa ponta na linha oxillar. Symptomas de compressão:dores preeordiaes constantes/irradiadas para a parteposterior, com exacerbações nocturnas, dysphagia,dysphonia notável. Isochronismo das pulsações arteriaes(carótida e radial) dos dous lados. Ausência de signaesde afTecção cardíaca ou renal, e de moléstia generalisadaao systema vascular. Nada de positivo ã etiologia. Após

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9 dias dc estada no .Hospital (28 de Abril a 7 de Maio)o doente suecumbíu rapidamente.

Pela autópsia encontrou uni volumoso sacco ancu-rismnl na porção eoncava, postero inferior da crossada aorta, do tamanho de uma laranja. 0 desenvolvi-mento produziu sc para a parte posterior indo alé aoscorpos verlebraes, que sc achavam corroídos e adherentesás paredes do sacco.

Todos os órgãos da regiüo estavam unidos em uma sómassa, soldados uns aos outros por meio de um tecidointeisticial de nova formação.

A Iraehéa sc achava infiammada no ponto de contactocom a bolsa anenrismal, e pela parte interna apresentavaexcresceneias, formações exuberantes.

ü cosophago fora também accon.mcttido pelo tumor cmsua marcha deslruidora, ca ruptura deu-se justamentepara o seu interior, extravasando-se todo o sangue noestômago, que so achava enormemonte dilatado, contendovolumosos coágulos.

O sacco anenrismal era tapetado interiormente por umacamada espessa de coalhos íibrinosos antigos e resistentes,cuja face interna offereeia uma superfície lisa.

Além deslo grande anourisma, encontrou outros maispequenos na origem o porção ascendente da aorta. Um naparle anterior, cheio de coalho.*- sangnineos; na parle pos-tcrii-i' via se um grupo de \- a f> dilatações, comiminicandoumas com as outras, superpostas, c formando, si assimpode dizer, como que um cacho de anourismas nào muitovolumosos. ,

A aorta, fora dos pontos onde se implantavam os saccosaneurismaes, parecia.normal á vista desarmada.

As origens dos grossos vasos quo nascem da crossa estavam completamente livres.

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As válvulas e os orifícios cardíacos não apresentavamalteração pathologica.

Fste caso lhe faz lembrar oulro que observou, no annopassado, também no Hospital.

Era um velho portuguez que apresentava como principalsymptoma uma dysphagia considerável: havia grande dif-ficuldade na passagem, pelo cesophago, dos alimentos,sólidos ou líquidos, acompanhada de forte sensação dolo-rosa.

Um exame detido nào lhe fez perceber nenhum outrosignal diagnostico de um aneurisma.

Na manhã do dia seguinte ao da entrada o doente mor-reu rapidamente, durante a visita.

Pela autópsia encontrou um sacco aneurismal não muitodesenvolvido (do tamanho de uma tangerina mais oumenos), situado na parte postero inferior da crossa daaorta.

0 tumor se achava adherente ao cesopluigo e a trachéa,inflanimados e ulcerados nos pontos de contado.

Havia-se dado a ruptura da bolsa, derramando se o san-gue, parle na trachéa e parte no a^ophago, c enchendo asramificações bronchicas e o estômago. Ausência de lesõesmacroscópicas em todo o resto do apparelho cardio-vas-cuiar.

Apezar de velho, o indivíduo que faz objecto destaobservação no oiTerecia em vida aos symptomas da arte-rio-esclerose. Desconhece também neste caso os factoresetiologicos.

0 Dr. Alfredo BrittO deseja o adiamenfo da discussão.E' devedor antigo do seu illustre collega Dr. Nina de umaresposta que circumstancias imperiosas obrigaram-n'o acalar.

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Agora, porém, que elle revive a questão e o chama no-minalmente a debate, endereçando-lhe a interessante com-municação que acaba de ler, é rigoroso dever seu acudirao appello.

Fal-o-á na primeira opportunidade, visto a hora adian-tada, a urgepcia de approvar-se o relatório sobre a assis-tencia de alienados que se acha na ordem do dia e anecessidade de procurar e retocar ou modificar as notasque guardou desde aquella epocha, de accordo como tempodecorrido.

E' a discussão adiada.Em seguida tem a palavra o Dr. Aurélio Vianna (relator

da commissão encarregada de apresentar o projecto dereforma da Assistência dos Alienados na Bahia) que leu oRelatório que será publicado no numero seguinte.

NOTICIÁRIO

Annoario Medleo

Recebemos o ultimo numero desta importante publi-cação, que se faz no Rio de Janeiro, graças especial-mente ao esforço do dr. Carlos Costa, o hábil e dedicadobibliothecario da Faculdade de Medicina daquella capital,c que é a única que sae no Brazil, ao que nos consta.

O numero que temos á vista e que corresponde aoanno de 1893 traz, como de costume, criteriosa noticiados trabalhos médicos publicados no Brazil durante o pe-riodo a que corresponde.

São honrosas, lisongeiras e dignas efe ser lidas asreferencias que acompanham o agradecimento da eruditac já bem reputada obra A vida e os Phcnomenos vitacs

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do sempre lembrado professor de Pathologia da nossaFaculdade, dr. Egas C. Moniz S. de Aragão; das Licçõescie Pathologia Externa do illustre professor dr. José P.de Souza Braga; da Memória Histórica da Faculdadeda Bahia de 1891 do digno professor de Physica dr. LuizAnselmo da Fonseca, a qual a redacção do Annuario con-testa em dous pontos.

D'entre as theses da nossa Escola o Annuario men-ciona com elogios a do dr. Henrique Praguer, Psychotera-pia Suggestiva e critica com delicadeza e imparcialidadea do dr. Elias da Rocha Barros Estigmas da dcgene-ração psychica.

Agradecemos.

Hospital de Santa IzabelSala do Basco

Movimento annual

Duraute o anno hospitalar hontem terminado apresen-tarão-se 9342 pessoas, sendo 6495 homens e 2847 mulheres.

Homens: curativos simples 4018; de urgência 265; ope-rações de urgência 143; avulsões 788; consultas 1230;applicações de apparelhos de fractura 43; reducções deluxações 13.

Mulheres: curativos simples 111; de urgência 60;operações de urgência 48; avulsões 495; consultas 1116;applicações de apparelhos de fractura 14; reducções deluxações 3.

Das operações de urgência 6 forão praticadas comchloroformisação.

Para serem aviadas fora do Hospital, forão receitadas2718 formulas.

Forão aviadas gratuitamente pela Pharmacia do Hospi-tal 369 formulas.

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Movimento da Pharmacia

Forão aviadas pela Pharmacia do Hospital 30598 for-mulas, sendo;

Para o Asylo S. João do Deus 4G5« « «* dos Expostos 295« fora do Hospital gratuitamente 369« os diversos serviços clínicos do Hospital 29469

Tola! 30598

0 Medico Direetor. —Dr. Guilherme Pereira d"Costa.

Os internos:—João Moniz- Pharmaceuticos:—Auréliode Castro, Américo Fróes, Antônio Luiz do Rego,Constantino Guimarães e Pedro Americano.

0 chefe do Laboratório: —Pharmaceutico HoracioJosé Soares.

0 Auxiliar da Pharmacia: —Benedicto de OliveiraGue na.

Bahia e Hospital de S. lzabel, 1.° de Julho de 1895.

iVomeações e possesPor decreto de 21 de Fevereiro do corrente anno foi

nomeado lente ealhedratico da cadeira dc Medicina Legalda Faculdade de Medicina da Bahia o Dr. Raymundo NinaRodrigues.

A posse solcmne do novo professor realisou-se com asformalidades do estylo no salào nobre, da faculdade nodia 23 dc Março.

Com os talentos e aptidões que todos lhe reconhecem oDr. Nina Rodrigues continuará a manter o ensino daquella

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matéria na altura em que sempre a conservou o seu emi-nente antecessor.

Por decreto de 28 de Março foi transferido da 9.» paraa õ.a secção o substituto d'esta Faculdade Dr. JoaquimMatheus dos Santos.

Foi empossado em 4 de Abril.Neste ponto o digno subsliU: lo será indubitavelmente o

mesmo laborioso inlclligente e dedicado professor que aFaculdade conhece e admira.

Por decreto de 3 de Maio foi nomeado apoz umbrilhante concurso, lente substituto da 4.a secção o Dr.Gonçalo Muniz Sodré de Aragào.

Filho do sempre lembrado professor de PathologiaGeral Dr. Egas Sodré de Aragào, conhecido desde estu-danle pelo seu serio e perseverante amor ao trabalho éo Dr. Gonçalo tuna excelfcnte promessa para a Faculdade.

O acto da posse foi em 20 de Maio.

Hospital de Santa IzabelMovimento anaual

Durante o anno hospitalar hontem terminado, forãopraticadas 70." operações e 264 chloroformisações.

Das 70."» operações forão praticadas 199 pelo Dr. Pache-co Mendes, 100 pt-Io Dr. Lydio de Mesquita, 132 pelo Dr.Agrippino Dorca, 45 polo Dr. Perouse Pontes, 42 pelo Dr.Cerqueira IJimt, 18 pelo Dr. Santos Pereira, 13 pelo Dr.Moura, li pein Dr. Clodoaldo, 10 pelo Dr. Alfredo Brilto,6 pelo Dr. Cílmerio. 5 pelo Dr. Juliano Moreira, 4 pelo Dr.Braz do Amaral. 4 pelo Dr. Nery, 4 pelo Dr. Raymundode Mesquita, 3 pelo Dr. Caldas, 3 pelo Dr. Irineo Lobo2 peloDr. Almeida Couto, 2 rh> Dr. Gonçalo Moniz, 2pelo Dr. João Gonçalves Martins, 1 pelo Figueiredo e 1pelo Dr. Oeíavkino Pimenta.

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Das 264 chloroformisações, 98 foram feitas pelo Dr.Juliano Moreira, 37 pelo inlerno do Hospital Aurélio deCastro, 31 pelo Dr. Raymundo Mesquita, 14 pelo internode clinica Boaventura, 12 pelo interno do Hospital JoãoMoniz, 11 pelo interno de clinica Rodrigo Bulcão, 7 pelointerno do Hospital Pedro Americano, 7 pelo interno declinica Francisco Bomfim, 7 pelo interno de clinica Henri-que Chenaud, 6 pelo interno doHospila 1J. AméricoFróes,6 pelo interno do Hospital Antonio Rego, 6 pelo internodo Hospital Constantino Guimarães. 4 pelo Dr. FranciscoVianna, 4 pelo Dr. Luciana da Rocha. 2 pelo Dr Figueiredo,2 pelo acadêmico Benicio Chaves, 1 pelo Dr. Nina Rodri-gues, 1 pelo Dr. Alfredo Britto, 1 pelo Dr Irineo Lobo, 1pelo Dr. Oclaviano Pimenta, 1 pelo Dr. Olivera Ramos, 1pelo Dr. Miguel Simões, 1 pelo Dr. Praguer, 1 pelo internode clinica Arthur Nogueira, 1 pelo aspirante Virgílio Moitae 1 pelo aspirante Ferreira Gyrio.

Dos operados fallecerão 12.Exisüão a 30 de Junho de 1894, 283 doentes, sendo

homens 187, mulheres 96; entrarão 3498, sendo homens2647, mulheres 851; sahirão 2930, sendo homens 2300,mulheres 630; fallecerão 578, sendo homens 361, mulhe-res 217; existem 273, sendo homens 173, mulheres 100.

Dos que fallecerão entrarão 54 agonisantes.No anno p. p. tivemos 5 casos de varíola, n'este honlem

terminado só tivemos 3 e 4 de varioloide, sendo estesultimos tratado n'este Hospital e aquelles removidos parao Hospital dos variolosos, procedendo-se então rigorosadesinfecção nas enfermarias.

Forão remettidos pelas differcntes authoridades para onecrotério do Hospital 119 cadáveres, sendo 90 de homense 29 de mulheres.

Bahia e Hospital de Santa Izabel, 1.° de Julho de 1895.0 Medico Director. — Dr. Guilherme Pereira daCosta. ?

Os Internos. — João Moniz Pharmaceutico Auréliode Castro, Pharmaceutico João Américo Fróes Cons-tantino Guimarães Antonio Luiz do Rego, e PedroAmericano.